escola estadual “dr. josÉ marques de oliveira - … · trabalho de estudos independentes nome...
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Ser jovem
Ser jovem é não perder o encanto de qualquer espera. É sobretudo, não ficar fixado
nos padrões da própria formação. Ser jovem é ter abertura para o novo na mesma medida do
respeito ao imutável.
É acreditar um pouco na imortalidade em vida, é querer a festa, o jogo, a brincadeira,
a lua o impossível, distante. Ser jovem é ser bêbado de infinitos que terminam logo ali. É só
pensar na morte de vez em quando. É não saber de nada e poder tudo.
Ser jovem é ainda acordar, pelo menos de vez em quando, assobiando uma canção
antes mesmo de escovar os dentes. Ser jovem é não dar bola para o síndico mas reconhecer
que ele está na sua. É achar graça do riso, ter pena dos tristes e ficar ao lado das crianças.
Ser jovem é estar sempre aprendendo inglês, é gostar de cor, xarope, gengibirra, e
pastel de padaria. Ser jovem é não ter azia, é gostar de dormir e crer na mudança; é meter o
dedo no bolo e lamber o glacê.
É cantar fora do tom, mastigar depressa e engolir devagar a fala do avô. É gostar de
barca da Cantareira, carro velho e roupa sem amargura. É bater o papo com a baiana, curtir o
ônibus e detestar meia marrom.
Ser jovem é beber muitas chuvas, ter estranhas, súbitas e inexplicáveis atrações. É
temer o testemunho, detestar os solenes, duvidar das palavras. Ser jovem é não acreditar no
que está pensando exceto se o pensamento permanecer depois. É saber sorrir e alimentar
secretas simpatias pelos crentes que cantam nas praças em semicírculo, Bíblia na mão, sonho
no coração.
É gostar de ler e tentar silêncios quase impossíveis. É acreditar no dia novo como a
obra de Deus. É ser metafísica sem ter metafísica. É curtir trem, alface fresquinha, cheiro de
hortelã. É gostar até de talco. Ser jovem é ter ódio de cachimbo, de bala jujuba. De
manipulação de ser usado.
Ser jovem é ser capaz de compreender a tia, de entender o reclamo da empregada e
apoiar o seu atraso. Ser jovem é continuar gostando de deitar na grama. É gostar de beijo, de
pele, de olho. Ser jovem não é perder o hábito de se encabular. É ir para ser apresentado (“-Já
conhece o fulano?’’) morrendo de medo.
Ser jovem é permanecer descobrindo. É querer ir à lua ou conhecer Finlândias,
Escócias, e praias adivinhadas. É sentir cheiro de férias, cheiro de mãe, chegando em casa em
dia de chuva, cheiro de festa, aipim, camisa nova, marcenaria ou a toalha lá d o clube.
Ser jovem é andar confiante com quem salta, se possível de mãos dadas com o ar. É ter
coragem de nascer a cada dia e embrulhar as fossas no celofane do não faz mal. É acreditar em
frases, pessoas mitos, forças, sons, é crer no que não vale a pena mas ai da vida se não fosse
isso.
É descobrir um belo que não conta. É recear as revelações e ir para casa com o gesto
de seu silêncio amargo ou agridoce.
ESCOLA ESTADUAL “DR. JOSÉ MARQUES DE OLIVEIRA - ANO 2018 Trabalho de Estudos Independentes
Nome
Nº Turma
1º
Ano Data Nota
Disciplina Lingua Portuguesa Prof. Alessandra A. Silva Valor 30
Ser jovem é ter a capacidade do perdão e andar com os olhos cheios de capim
cheiroso. É ter tédio passageiros, é amar a vida, é ter uma palavra de compreensão. Ser jovem
é lembrar pouco da infância por não precisar fazê-lo para suportar a vida. Ser jovem é ser
capaz de anestesias salvadoras.
Ser jovem é misturar tudo isso com a idade que tenha trinta, quarenta, cinquenta,
sessenta, setenta ou dezenove. É sempre abrir a porta com emoção. É esperar dos outros o
que ainda não desistiu de querer. Ser jovem é viver em estado de fundo musical de
superprodução da Metro é abraçar as esquinas, mundos, espaços, luzes, flores, livros, discos,
cachorros, e a menininha com um profundo, aberto e incomensurável abraço feito de festa,
cocada preta, dentes brancos e dedos tímidos, todos prontos para os desencontros da vida.
Com uma profunda e permanente vontade de SER.
O texto se propõe a discutir o que é ser jovem.
1) O jovem de que o texto trata é particularizado, ou seja, é um único jovem, ou
representa toda a juventude?
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2) O tema é tratado de modo científico e objetivo ou poético e literário?
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3)As características do texto associam-no a que tipo de gênero: texto de opinião,
argumentativo ou texto científico?
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4)Logo, a finalidade central do texto diz respeito a qual ou quais destes elementos:
informar, transmitir conhecimentos científicos promover reflexões acerca do tema,
emocionar, propiciar uma experiência estética?
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5) Com base em uma visão pessoal e abordando múltiplos aspectos da juventude, o
autor do texto tenta definir o que é ser jovem. Considerando a natureza do objeto
(o jovem), você acha que seria possível definir de modo único e objetivo o que é ser
jovem? Por quê?
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Dê uma interpretação a estes trechos do texto:
6) “Ser jovem é ser bêbado de infinitos que terminam logo ali.’’ (2* Parágrafo)
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7)“É não saber de nada e poder tudo.’’ (2* Parágrafo)
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8)“É ser metafísica sem ter metafísica.’’ (7* Parágrafo)
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O texto aborda diferentes características do jovem.
9 )Em alguma situação, o jovem é descrito fisicamente? Que aspectos do jovem são
enfocados?
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10)Identifique a característica do jovem destacada em cada um destes trechos:
. “Ser jovem é ter abertura para o novo’’ (1* Parágrafo)
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11) . “E querer a festa, o jogo, a brincadeira, a lua, o impossível, o distante’’
(2* Parágrafo)
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12) . “É [...] detestar os solenes, [...] é ter ódio [...] de manipulação de ser usado’’
(6* e 7* Parágrafos)
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13) . “É querer ir à lua ou conhecer as Finlândias, Escócias e praias adivinhadas’’
(9* Parágrafo)
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14) .” É ter coragem de nascer a cada dia e embrulhar as fossas no celofane do
não faz mal’’ (10* Parágrafo)
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De acordo com o último parágrafo:
15) Ser jovem depende da idade? Por quê?
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16) Interprete: “Ser jovem é viver em estado de fundo musical de
superprodução da Metro’’
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17) Ser jovem é “abraçar esquinas, mundos, espaços[...] com um profundo,
aberto e incomensurável abraço feito de festa’’. Na sua opinião, como seria
esse tipo de abraço?
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18) Nessa trajetória do jovem, tudo fica fácil e maravilhoso? Justifique sua
resposta com um trecho do texto.
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Na última frase do texto lemos: “Com uma profunda e permanente vontade de SER.’’
19) Essa frase pode sintetizar a posição do autor sobre o que é ser jovem?
Justifique sua resposta.
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20) Por que a palavra SER está escrita com letras maiúsculas.
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21) E para você, o que é ser jovem? Escreva dez linhas, apresentando seu ponto
de vista sobre o tema.
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22) Leia cuidadosamente o Pop Card abaixo:
Assinale a alternativa que apresenta uma leitura ADEQUADA sobre o texto acima. a) A expressão facial do senhor não representa o estado de espírito de quem padece de diabetes. b) O semblante do homem não pode significar que ele possui o plano de saúde em
questão. c) O fato de o ator escolhido ser um idoso pode não prestar à associação entre a idade
dele e a doença como sendo típica dessa faixa etária.
d) Fotografado numa piscina, o personagem se afasta de um modelo de homem
ativo e saudável, fim do plano de saúde divulgado.
e) O uso do advérbio “sempre” e do adjetivo “cheio” pode se relacionar ao fato de
o homem ter uma idade avançada.
23)
LAERTE. Disponível em:
<http://blog.educacional.com.br>. Acesso: 8 nov. 2015.
Que estratégia argumentativa leva o personagem do terceiro quadrinho a
persuadir sua interlocutora? a) prova concreta, ao expor o produto ao consumidor. b) consenso, ao sugerir que todo vendedor tem técnica. c) raciocínio lógico, ao relacionar uma fruta com um produto eletrônico. d) comparação, ao enfatizar que os produtos apresentados anteriormente são
inferiores. e) indução, ao elaborar o discurso de acordo com os anseios do consumidor.
24) Na modernidade, o corpo foi descoberto, despido e modelado pelos exercícios
físicos da moda. Novos espaços e práticas esportivas e de ginástica passaram a
convocar as pessoas a modelarem seus corpos. Multiplicaram-se as academias de
ginástica, as salas de musculação e o número de pessoas correndo pelas ruas.
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Caderno do
professor: educação física. São Paulo, 2008.
Diante do exposto, é possível perceber que houve um aumento da procura por
a) exercícios físicos aquáticos (natação/hidroginástica), que são exercícios de baixo
impacto, evitando o atrito (não prejudicando as articulações), e que previnem o
envelhecimento precoce e melhoram a qualidade de vida.
b) mecanismos que permitem combinar alimentação e exercício físico, que permitem
a aquisição e manutenção de níveis adequados de saúde, sem a preocupação com
padrões de beleza instituídos socialmente.
c) programas saudáveis de emagrecimento, que evitam os prejuízos causados na
regulação metabólica, função imunológica, integridade óssea e manutenção da
capacidade funcional ao longo do envelhecimento.
d) exercícios de relaxamento, reeducação postural e alongamentos, que permitem
um melhor funcionamento do organismo como um todo, bem como uma dieta
alimentar e hábitos saudáveis com base em produtos naturais.
e)dietas que preconizam a ingestão excessiva ou restrita de um ou mais
macronutrientes (carboidratos, gorduras ou proteínas), bem como exercícios que
permitem um aumento de massa muscular e/ou modelar o corpo.
25) O “Portal Domínio Público”, lançado em novembro de 2004, propõe o
compartilhamento de conhecimento de forma equânime e gratuita, colocando à
disposição de todos os usuários da Internet, uma biblioteca virtual que deverá
constituir referência para professores, alunos, pesquisadores e para a população em
geral. Esse portal constitui um ambiente virtual que permite a coleta, a integração, a
preservação e o compartilhamento de conhecimentos, sendo seu principal objetivo o
de promover o amplo acesso às obras literárias, artísticas e científicas (na forma de
textos, sons, imagens e vídeos), já em domínio público ou que tenham a sua
divulgação devidamente autorizada.
BRASIL. Ministério da Educação. Disponível em: <http://www.
dominiopublico.gov.br>. Acesso em: 29 jul. 2009 (adaptado).
Considerando a função social das informações geradas nos sistemas de
comunicação e informação, o ambiente virtual descrito no texto exemplifica a) a dependência das escolas públicas quanto ao uso de sistemas de informação. b) a ampliação do grau de interação entre as pessoas, a partir de tecnologia
convencional.
c) a democratização da informação, por meio da disponibilização de conteúdo
cultural e científico à sociedade.
d) a comercialização do acesso a diversas produções culturais nacionais e
estrangeiras via tecnologia da informação e da comunicação.
e) a produção de repertório cultural direcionado a acadêmicos e educadores.
26)
A campanha institucional em destaque, em sua frase de impacto “Não fique
em silêncio”, traz a desconstrução de um discurso formal e tradicional, próprio do
ambiente hospitalar, gerando um novo contexto temático, que se propõe a
a) refletir sobre a importância do silêncio para a restituição da saúde dos indivíduos
que estão em recuperação nos hospitais das redes públicas.
b) revisitar a antiga ideologia de que os ambientes médicos precisam de silêncio
absoluto, distanciando os pacientes de uma dinâmica mais social.
c) convidar os interlocutores a discutir, de forma aberta, os atos de racismo que
ainda acontecem em relação a muitos profissionais da área de saúde.
d) revelar à população como as segregações sociais ou as discriminações raciais
comprometem a saúde de muitas pessoas.
e) incentivar a população a denunciar qualquer situação que envolva discriminação
racial nas unidades da rede de saúde.
Texto para a questão 27
Na tira, o efeito de humor é provocado pela
a) linguagem utilizada pela mãe, de difícil compreensão para uma criança pequena.
b) fala da mãe, que, apesar de adulta, ainda se emociona com histórias infantis e
demonstra claramente suas preferências por determinados tipos de
personagens.
c) presença de um rato, animal repugnante e perigoso, no quarto de uma criança
que ainda necessita da atenção da mãe para adormecer.
d) reação do rato, que se sente preterido pelo fato de a mãe ter induzido a criança
a rejeitar a história que tem um ratinho como personagem principal.
e) reação da criança, que demonstra preferir a história do “Chapeuzinho
Vermelho” à história do rato, embora conviva com um rato em seu quarto.
Leia a tirinha abaixo e responda à questão 28 e 29.
QUESTÃO 28
Na tirinha, o uso da linguagem informal deve-se ao fato de que a personagem queria
a) dar a impressão de ser amiga dos leitores.
b) demonstrar que não tinha preconceito linguístico.
c) indicar o modo de falar do rei dos Molungos.
d) descrever as características de seu planeta.
e) mandar um recado carinhoso para seu público.
QUESTÃO 29
Ao relacionar o texto e o cenário do último quadrinho, o leitor descobre que
a) os habitantes do lugar não dependiam de amor e afeto como alimentos de carinho.
b) os habitantes do planeta fugiram com receio de os dois vulcões entrarem em
erupção.
c) os súditos do rei e ele próprio estão à beira da extinção pelo fato de não se
alimentarem adequadamente.
d) o rei dos Molungos é o único habitante que restou no lugar.
e) as pessoas esgotaram o ecossistema do planeta.
Leia o texto abaixo e responda a questão 30
O GATO E O ESCURO
Vejam, meus filhos, o gatinho preto, sentado no cimo desta história. Pois ele
nem sempre foi dessa cor. Conta a mãe dele que, antes, tinha sido amarelo, às
malhas e às pintas. Todos lhe chamavam o Pintalgato. Diz-se que ficou desta
aparência, em totalidade negra, por motivo de um susto. Vou aqui contar como
aconteceu essa trespassagem de claro para escuro. O caso, vos digo, não é nada
claro.
Aconteceu assim: o gatinho gostava de passear-se nessa linha onde o dia faz
fronteira com a noite. Faz de conta o pôr do Sol fosse um muro. Faz mais de conta
ainda os pés felpudos pisassem o poente. A mãe se afligia e pedia: – Nunca
atravesse a luz para o lado de lá.
Essa era a aflição dela, que o seu menino passasse além do pôr de algum Sol. O
filho dizia que sim, acenava consentindo. Mas fingia obediência. Porque o
Pintalgato chegava ao poente e espreitava o lado de lá. Namoriscando o proibido,
seus olhos pirilampiscavam. Certa vez, inspirou coragem e passou uma perna para
o lado de lá, onde a noite se enrosca a dormir.
Foi ganhando mais confiança e, de cada vez, se adentrou um bocadinho. Até que
a metade completa dele já passara a fronteira, para além do limite. Quando
regressava de sua desobediência, olhou as patas dianteiras e se assustou. Estavam
pretas, mais que breu. Escondeu-se num canto, mais enrolado que o pangolim. Não
queria ser visto em flagrante escuridão.
(Mia Couto. “O gato e o escuro”. Lisboa:
Caminho, 2000. Adaptado.)
QUESTÃO 31
Analise as afirmativas abaixo:
I. O vocábulo “breu” reforça a ideia da cor negra na comparação estabelecida.
II. O verbo “pirilampiscar” pode ser substituído pelo verbo “zunir” sem
qualquer alteração de significado no texto.
III. Ao invés de usar a célebre expressão “Era um vez” para reportar ao passado, o
narrador faz uso da expressão “Aconteceu assim”, seguida de dois-pontos,
obtendo um efeito similar.
IV. “Nunca atravesse a luz para o lado de lá” representa uma fala do narrador da
história.
É correto o que se afirma em
a) I e II apenas.
b) I e III apenas.
c) II e III apenas.
d) II e IV apenas.
e) II, III e IV apenas.
Texto para a questão a 32
O símbolo do ouro
Contaram-me que, no fundo do sertão de Goiás, numa localidade de cujo nome
não estou certo, mas acho que é Porangatu, que fica perto do rio de Ouro e da serra
de Santa Luzia, ao sul da Serra Azul – mas também pode ser Uruaçu, junto do rio
das Almas e da serra do Passa-Três (minha memória é traiçoeira e fraca; eu esqueço
os nomes das vilas e a fisionomia dos irmãos, esqueço os mandamentos e as cartas
e até a amada que amei com paixão) –, mas me contaram que em Goiás, nessa
povoação de poucas almas, as casas são pobres e os homens pobres, e muitos são
parados e doentes indolentes, e mesmo a igreja é pequena, me contaram que ali tem
– coisa bela e espantosa – um grande sino de ouro.
Lembrança de antigo esplendor, gesto de gratidão, dádiva ao Senhor de um grão-
senhor – nem Chartres, nem Colônia, nem S. Pedro ou Ruão, nenhuma catedral
imensa com seus enormes carrilhões tem nada capaz de um som tão lindo e puro
como esse sino de ouro, de ouro catado e fundido na própria terra goiana nos
tempos de antigamente.
É apenas um sino, mas é de ouro. De tarde seu som vai voando em ondas mansas
sobre as matas e os cerrados, e as veredas de buritis, e a melancolia do chapadão,
e chega ao distante e deserto carrascal, e avança em ondas mansas sobre os campos
imensos, o som do sino de ouro. E a cada um daqueles homens pobres ele dá cada
dia sua ração de alegria. Eles sabem que de todos os ruídos e sons que fogem do
mundo em procura de Deus – gemidos, gritos, blasfêmias, batuques, sinos, orações,
e o murmúrio temeroso e agônico das grandes cidades que esperam a explosão
atômica e no seu próprio ventre negro parecem conter o germe de todas as
explosões – eles sabem que Deus, com especial delícia e alegria, ouve o som alegre
do sino de ouro perdido no fundo do sertão. E então é como se cada homem, o mais
pobre, o mais doente e humilde, o mais mesquinho e triste, tivesse dentro da alma
um pequeno sino de ouro.
Quando vem o forasteiro de olhar aceso de ambição, e propõe negócios, fala em
estradas, bancos, dinheiro, obras, progresso, corrupção – dizem que esses goianos
olham o forasteiro com um olhar lento e indefinível sorriso e guardam um modesto
silêncio. O forasteiro de voz alta e fácil não compreende; fica, diante daquele
silêncio, sem saber que o goiano está quieto, ouvindo bater dentro de si, com um
som de extrema pureza e alegria, seu particular sino de ouro. E o forasteiro parte,
e a povoação continua pequena, humilde e mansa, mas louvando a Deus com sino
de ouro. Ouro que não serve para perverter, nem o homem nem a mulher, mas para
louvar a Deus.
E se Deus não existe não faz mal. O ouro do sino de ouro é neste mundo o único
ouro de alma pura, o ouro no ar, o ouro da alegria. Não sei se isso acontece em
Porangatu, Uruaçu ou outra cidade do sertão. Mas quem me contou foi um homem
velho que esteve lá; contou dizendo: “eles têm um sino de ouro e acham que vivem
disso, não se importam com mais nada, nem querem mais trabalhar; fazem apenas
o essencial para comer e continuar a viver, pois acham maravilhoso ter um sino de
ouro”.
O homem velho me contou isso com espanto e desprezo. Mas eu contei a uma
criança e nos seus olhos se lia seu pensamento: que a coisa mais bonita do mundo
deve ser ouvir um sino de ouro. Com certeza é esta mesma a opinião de Deus, pois
ainda que Deus não exista ele só pode ter a mesma opinião de uma criança. Pois
cada um de nós quando criança tem dentro da alma seu sino de ouro que depois, por
nossa culpa e miséria e pecado e corrupção, vai virando ferro e chumbo, vai virando
pedra e terra, e lama e podridão.
(Rubem Braga. Os melhores contos de Rubem Braga. 10. ed. São Paulo:
Global, 1999, p. 1
No trecho “E a cada um daqueles homens pobres ele dá cada dia sua ração de
alegria”, o autor sugere que o sino é considerado pelos homens do povoado
como
a) o símbolo de ouro existente na região.
b) um alimento espiritual.
c) um perfeito instrumento musical.
d) uma obra de arte, como uma pintura.
e) uma grande riqueza material
Leia o texto a seguir. E responda às questões 33 e 34
A publicidade na TV
O pesquisador Jesus Martín Barbero diz que, através da publicidade,
nossa sociedade constrói dia a dia a imagem que cada um tem de si. Para
ele, a publicidade é u espelho, apesar de bem deformado, pois a imagem
do lado de lá é muito mais bela que a imagem do lado real.
A publicidade, no passado, teve a função de vender produtos. Era
sua razão de ser. Hoje, ela tem outra função muito especial: a de
demonstração de modelos a serem seguidos, isto é, apresentação de
padrões físicos, estéticos, sensuais, comportamentais, aos quais as
pessoas devem se amoldar. A publicidade dita regras de reconhecimento
e valorização social. (...)
Se no passado ela funcionava como a TV, as revistas A, o cinema,
apresentando indiretamente esses modelos estéticos, hoje, a venda de
mercadorias – sua aparente razão de ser – tornou-se secundária.
Em primeiro lugar, ela vende, define, idealiza os modelos
estéticos¹, sexuais e comportamentais.
Além disso, a publicidade na sociedade industrial capitalista
funciona como um reforço diário das ideologias², do princípio da
valorização das aparências, da promoção de símbolos de status (carros,
roupas, ambientes, bebidas, joias, objetos luxuosos de uso pessoal). De
certa maneira, como no humor B, a publicidade reforça também
tendências negativas, encobertas ou disfarçadas, da cultura. Ela confirma
diferenças, segregações³, distinções, trabalhando em concordância com
os preconceitos sociais e com as discriminações de toda espécie (...). Em
suma, ela é produzida para estar de acordo e, portanto, para reforçar as
desigualdades e os problemas sociais, culturais, étnicos ou políticos. Essa
função reforçadora é seu suporte para a venda de mercadorias, pois, ao
mesmo tempo que incita4 ao consumo, é o próprio veículo, o transporte
dos valores e dos desejos que estão ancorados na cultura que as consome.
As mercadorias trazem em si, incorporado, tudo aquilo que a sociedade
(...)
A publicidade, especialmente a de TV, veicula valores: a raça
branca (dominante) é transmitida, por exemplo, como a única bela,
modelar5, válida. No Peru, na África, no Nordeste
brasileiro, a criança branca de olhos azuis, docemente cuidada por sua
mãe loira, de cabelos sedosos e aveludados, é o tipo ideal de publicidade.
A pesquisadora alemã Karin Buselmeler realizou uma interessante
pesquisa sobre a imagem da mulher na televisão. Ela constatou, em
primeiro lugar, que a mistificação6 do trabalho doméstico ocorre de
forma mais clara na publicidade, colocando os afazeres7 de casa como
um "trabalho nobre" de mulher. A mulher aparece nesses quadros como a
responsável pela
felicidade da família, felicidade só atingível pela aquisição de produtos
oferecidos pela publicidade. O filho teria poucas chances de brincar, no
parque infantil, se não cuidasse atentamente de seus cabelos; o marido,
se não possuir a camisa branca, brilhante, será olhado de modo
atravessado pelos colegas. De tudo isso a mulher tem de cuidar. (...)
Em resumo, concluímos então que a publicidade trabalha através
da promoção de puras aparências: não se compram mercadorias por suas
qualidades inerentes8, nem pelo seu valor de uso9, mas pela imagem
que o produto veicula no ambiente da vida do consumidor. Nenhuma dessas
mercadorias realiza de fato o que promete, isto é, nenhum cigarro propicia
aventuras, nenhum carro traz vida luxuosa, nenhum uísque conquista
mulheres. Em todos esses casos, o produto é inteiramente secundário: as
pessoas são seduzidas por alguma coisa que está fora e muito além dele.
FILHO, Ciro Marcondes. Televisão — A vida pelo vídeo. São Paulo: Moderna, 1988. p. 77-
80.
Vocabulário:
1. estético: relativo à beleza.
2. ideologia: o conjunto das ideias próprias de um grupo ou de uma classe social; reflete-se nos seus valores, comportamentos e modo de ver o mundo. 3. segregação: discriminação. 4. incitar: estimular, instigar. 5. modelar: que serve de modelo.
6. mistificação: ato ou efeito de mistificar; elevar a uma condição de destaque, envolver em mistério. 7. afazeres: trabalhos, ocupações. 8. inerente: próprio; que está naturalmente ligado a alguma coisa. 9. valor de uso: valor ou importância que tem a mercadoria para a pessoa que a consome.
No 1º parágrafo do texto, a "publicidade" é comparada a um
espelho. Com base na leitura de todo o texto, responda:
33)Por que é feita essa comparação? Explique.
34)Por que a imagem, oferecida pelo espelho, é distorcida? Explique.
35)O que, na "publicidade" atual, ganha mais importância do que o próprio produto oferecido?(0,5)
Questão 36:
a) A "publicidade" tem cumprido um papel conservador ou transformador, em relação aos valores ideológicos da sociedade? Explique.(0,5)
b) De acordo com o penúltimo parágrafo do texto, a publicidade demonstra a imagem de que os afazeres domésticos da mulher são “nobres”. Por quê?
37)Indique o tema e o tipo de argumento utilizados no texto.
I) Tema
II) Argumento:
Analise a charge a seguir e responda:
Fonte: http://www.conteudojuridico.com.br/questao,analista-de-transito-gestao-2010-detranpe-funcab-portugues
– 16/02/2016 – adaptado.
38) Questão:
A ironia destacada na charge, quando o personagem do carro diz
‘legal’ ao assaltante que propõe assaltá-lo, tem o objetivo de
a) alertar sobre o cuidado no trânsito. b) exibir o golpe de um ladrão. c) indicar harmonia nos diálogos. d) mostrar o perigo dos furtos. e) interagir de forma amigável com o interlocutor
Leia o texto abaixo para responder às questões 39 e 40
PONTOS DE VISTA
Como aproveitar oportunidades, ser criativo e transformar
situações difíceis
Por Sérgio Savian*
Quanto esforço! Quanta energia jogamos fora ao defendermos com
unhas e dentes nosso próprio ponto de vista!
[...]
Se você quer viver bem, aceite outros pontos de vista, diferentes
do seu. Relaxe diante da realidade. Não tente persuadir as outras pessoas
para que elas assumam a sua forma de pensar e agir. Quando você
permanece aberto a todos os pontos de vista, sem prender-se a nenhum
deles, você vive muito melhor. Amplia sua visão de mundo. A existência é
muito criativa e lhe proporciona um constante aprendizado. Quando se
abre ao desconhecido, às novas informações, você se recicla, tudo fica
mais fresco e a vida adquire um colorido fantástico.
A gente planeja algo, mas nem sempre as coisas acontecem da
forma que imaginamos. Você pode ficar tenso e bravo com isso, mas pode
também ter senso de humor e aceitar os fatos como eles se apresentam.
Nada de ficar culpando os outros pelo que aconteceu. Se você assumir a
responsabilidade a cada momento, sentir-se-á mais potente e senhor de
seu próprio destino.
Todo problema traz em si uma oportunidade, portanto não o veja
como algo que está contra você. Por isso, pare de lutar tanto, não há
motivo. As coisas são como são. Tudo está certo e nada está errado.
*Sergio Savian é terapeuta e escritor especializado em relacionamentos, autor de dez
livros.
Fonte: http://www.maisde50.com.br/editoria_conteudo2.asp?conteudo_id=7835 – 19/2/2016 –
adaptado.
39ª Questão: .
Segundo o autor do texto, a sugestão para vivermos
tranquilamente nas relações sociais é atuar de forma que o nosso ponto
de vista seja a) rejeitado. b) inexistente. c) interagido. d) autoritário. e) único.
40 Questão:
‘Quando se abre ao desconhecido, às novas informações, você se
recicla, tudo fica mais fresco e a vida adquire um colorido fantástico’.
O vocábulo destacado, inserido no contexto presente no discurso do
escritor Sérgio Savian, nos apresenta uma maneira adequada de a) rejeitar o ponto de vista do outro. b) restaurar nossa ação anterior. c) reforçar ao outro o nosso argumento. d) recordar o nosso ponto de vista. e) relançar o nosso ponto de vista.