escassez de recursos hÍdricos e grandes...

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ORGANIZADORES: WELLINGTON RIBEIRO JUSTO DENIS FERNANDES ALVES SUSIANE DA SILVA BEZERRA 13/02/2016 ESCASSEZ DE RECURSOS HÍDRICOS E GRANDES PROJETOS ECONÔMICOS NO NORDESTE

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ORGANIZADORES:

WELLINGTON RIBEIRO JUSTO

DENIS FERNANDES ALVES

SUSIANE DA SILVA BEZERRA

13/02/2016

ESCASSEZ DE RECURSOS HÍDRICOS E GRANDES PROJETOS

ECONÔMICOS NO NORDESTE

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XV SEMANA DE

ECONOMIA DA URCA: ESCASSEZ DE RECURSOS

HÍDRICOS E GRANDES

PROJETOS ECONÔMICOS NO

NORDESTE

2015

Realização:

Apoio:

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Ficha Catalográfica Elaborada pela

Biblioteca Central da URCA

Os artigos apresentados neste livro são de inteira responsabilidade dos seus autores. As

opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista dos

organizadores do evento.

U74d

XV Semana de economia da URCA: escassez de recursos hídricos e grandes

projetos econômicos no Nordeste/ organizadores: Wellington Ribeiro Justo;

Denis Fernandes Alves; Susiane da Silva Bezerra. – Crato-CE: URCA, 2015.

203p.; il.

ISBN: 978-85-65425-21-6

1. Ciências econômicas – URCA; 2. Recursos Hídricos – escassez; 3.

Projetos econômicos – Nordeste; 4. Semana de Economia; I. Justo,

Wellington Ribeiro; II. Alves, Denis Fernandes; III. Bezerra, Susiane

da Silva; IV. URCA;

V. Título.

CDD: 330

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Comissão Organizadora do Evento

Docentes: Prof. Dr. Wellington Ribeiro Justo

Prof. Dr. Marcos Antônio de Brito

Prof. Dr. Francisco do O’ de Lima Jr.

Discentes: Antonio Bruno Fernandes Marcelino

Denis Fernandes Alves

Eduardo Benício do Nascimento

José Álison Batista Oliveira

Maria Valeria da Silva Freire

Matheus Oliveira de Alencar

Samuel Sousa Santos

Susiane da Silva Bezerra

Tayná Parente Timóteo

Yunna D’ávila Carvalho Batista

Comissão Geral

Docentes:

Prof. Dr. Francisco do O’ de Lima Jr.

Prof. Dr. Marcos Antônio de Brito

Discentes:

José Álison Batista Oliveira

Maria Valeria da Silva Freire

Comissão Científica

Docente:

Prof. Dr. Wellington Ribeiro Justo

Discentes:

Denis Fernandes Alves

Susiane da Silva Bezerra

Comissão de Divulgação

Discentes:

Samuel Sousa Santos

Tayná Timóteo Parente

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Comissão de Infraestrutura

Discentes:

Antonio Bruno Fernandes Marcelino

Yunna D’ávila C. Batista

Comissão de Logística

Discentes:

Matheus Oliveira de Alencar

Eduardo Benício do Nascimento

Denis Fernandes Alves

Presidente da Comissão Organizadora

Presidente do Centro Acadêmico de Economia Martins Filho

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APRESENTAÇÃO

O Curso de Ciências Econômicas da Universidade Regional do

Cariri – URCA, foi fundado sob os auspícios da necessidade de pensar a

promoção do desenvolvimento Sul Cearense sob a perspectiva da

qualificação de pessoal técnico em nível superior com base nas

estruturas que forjaram a formação de capital na região. Ligado

inicialmente à Associação Comercial do Crato, o curso foi fundado em

1960. Posteriormente foi encampado por várias instituições de Ensino

Superior como a Universidade Federal do Ceará – UFC e a

Universidade Estadual do Ceará – UECE, até ser incorporado à URCA

na sua criação, em 1986, juntamente como outros cursos superiores

existentes nas cidades de Crato e Juazeiro do Norte e pertencentes à

UECE e à Faculdade de Filosofia do Crato.

Desde 1986, já enquanto parte da URCA, o Curso de Ciências

Econômicas vem consolidando de forma mais concreta a sua ação

atendendo ao objetivo que mobilizou a sua criação. Nesta estratégia,

expandiu as suas ações no que concerne à promoção do ensino de

Economia antenado com os macro processos que envolvem esta

formação, avançando em atividades de Pesquisa e Extensão.

A realização da Semana de Economia em suas diversas versões

ao longo destes anos tem sido um instrumento destas ações, se

constituindo enquanto fórum de debate para temáticas e inquietações

das Ciências Econômicas e dos processos de desenvolvimento, tendo

como ponto de partida a inserção global de nossa realidade específica.

Dada a sua tradição e regularidade de realização, o evento já se

consolida inclusive na agenda de eventos regionais do Nordeste.

Em 2015, não obstante o predomínio das discussões que

detinham no seu cerne central as problemáticas voltadas para a crise

econômica e política, a XV Semana de Economia foi pensada pela sua

Comissão Organizadora trazendo uma outra discussão de crise ao tratar

da gestão de recursos hídricos face ao paradigma de políticas públicas

vigente.

Com o tema “Escassez de recursos hídricos e Grandes Projetos

Econômicos no Nordeste”, reitera as preocupações com um ativo

relevante para a reprodução da humanidade e seu confronto com uma

das formas de tratamento do problema de sua gestão na atualidade por

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parte das políticas públicas, que são os grandes projetos como a

controversa transposição de águas do São Francisco. A pertinência da

temática sumariza também as características particulares da Região do

Cariri Cearense que, não obstante ter sua natureza diferenciada em

pleno semiárido nordestino por possuir recursos naturais mais férteis em

decorrência da sua formação geológica, vive as dificuldades de

instauração do debate de uso racionalizados destes recursos.

A programação científica contou com palestras, conferências e

minicursos de pesquisadores e professores com destaque no tema, da

URCA e de outras instituições do Nordeste e do Brasil. Ademais, os

trabalhos submetidos à Comissão Científica do evento renderam esta

publicação, que explora sob diversas perspectivas a temática do evento,

ou que faz articulação com outros problemas do desenvolvimento

nordestino, tendo destaque algumas questões da agricultura.

Assim, esta publicação é composta de dez trabalhos que

pontuam aspectos como: a análise das principais culturas da agricultura

familiar cearense no período de 1990 a 2011; identificação das

atividades agropecuárias e também das aglomerações produtivas do

Ceará com o uso do índice de Normalização; impacto do PRONAF na

produção agrícola familiar cearense; consumo sustentável e cidadania

no uso da água nos municípios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha;

aplicação do índice de desenvolvimento sustentável e exploração da

dimensão econômica na RM Cariri; estimação dos fatores determinantes

da taxa de mortalidade infantil nos municípios brasileiros; comparação

dos efeitos distributivos do salário mínimo nos mercados de trabalho da

Bahia e do Ceará; instrumentos normativos e econômicos das políticas

públicas de recursos hídricos do Estado do Ceará; produção de mamona

com utilização de metodologia de Vetores Auto regressivos.

Dada a diversidade e amplitude de pesquisas apresentadas pelos

presentes trabalhos, a sua leitura e uso como suporte de evidencia

empírica para outros trabalhos é, portanto, uma boa recomendação. Vale

salientar que além dos esforços dos organizadores do evento - o Centro

Acadêmico Martins Filho, o Departamento de Economia, a

Administração Superior da Universidade Regional do Cariri -, estes

trabalhos contam com a estimada dedicação dos pesquisadores que

submeteram seus trabalhos ao evento, bem como das agências de

fomento que financiaram suas pesquisas e suas instituições de filiação.

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Prof. Dr. Francisco do O’ de Lima Júnior

Professor do Departamento de Economia

Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Territorialidades

Econômicas e Desenvolvimento Regional e Urbano - GETEDRU

Vice-reitor da Universidade Regional do Cariri – URCA

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SUMÁRIO

COMPARAÇÃO DOS EFEITOS DISTRIBUTIVOS DO

SALÁRIO MÍNIMO NO MERCADO DE TRABALHO BAIANO E

CEARENSE 10

Joyciane Coelho Vasconcelos; Jair Andrade Araujo; Janaildo Soares de

Sousa; Andréa Ferreira da Silva. .

ANÁLISE DA PRODUÇÃO DAS PRINCIPAIS CULTURAS DA

AGRICULTURA FAMILIAR NO CEARÁ: CONSIDERAÇÕES

PARA O PERÍODO 1990 A 2011 COM O MODELO SHIFT

SHARE 29

Nataniele dos Santos Alencar; Wellington Ribeiro Justo; Kelvio Felipe

dos Santos.

ESTIMAÇÃO DOS FATORES DETERMINANTES DA TAXA DE

MORTALIDADE INFANTIL DOS ESTADOS

BRASILEIROS 47

Janaildo Soares de Sousa; Robério Telmo Campos; Andréa Ferreira da

Silva; Joyciane Coelho Vasconcelos; Gerlânia Maria Rocha Sousa.

IDENTIFICAÇÃO DE AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS NO

ESTADO DO CEARÁ NOS ANOS 2006 E 2012 VIA ÍNDICE DE

CONCENTRAÇÃO NORMALIZADO (ICN) 66

Daniele Cruz dos Santos; Otácio Pereira Gomes; Alan Marcel Braga

Feitosa; Domingos Isaias Maia Amorim.

PRODUÇÃO E ÁREA PLANTADA DA MAMONA NO ESTADO

DO CEARÁ: UMA APLICAÇÃO DO MODELO DE VETORES

AUTORREGRESSIVOS (VAR) 87

José Bruno Tavares Macedo Simões; Wellington Ribeiro Justo.

CONSUMO SUSTENTÁVEL E CIDADANIA: UMA ANÁLISE

DA UTILIZAÇÃO DA ÁGUA NAS CIDADES DE CRATO E

JUAZEIRO DO NORTE, CEARÁ 106

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Isac Alves Correia; Maria Rosa Dionísio Almeida; Otácio Pereira

Gomes.

APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL MUNICIPAL NAS CIDADES DA REGIÃO

METROPOLITANA DO CARIRI - CE: ANÁLISE DA

DIMENSÃO ECONÔMICA 120

Everton Paulo Gonçalves Vieira; Wellington Ribeiro Justo.

IDENTIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES

AGROPECUÁRIAS NO ESTADO DO CEARÁ: UMA

ABORDAGEM PARA O PERÍODO 1995-2010 139 Cicero Jair Sales Alencar; Carlos Henrique Miranda de Alencar; José

Márcio dos Santos.

IMPACTO DO PRONAF NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA

FAMILIAR DO CEARÁ 162 Ladislau da Silva Fernandes; Wellington Ribeiro Justo; Wanny

Vieira Pereira; Nataniele dos Santos Alencar.

INSTRUMENTOS NORMATIVOS E ECONÔMICOS NAS

POLÍTICAS PÚBLICAS DE RECURSOS HÍDRICOS: UM

OLHAR SOBRE O ESTADO DO CEARÁ 184

Rárisson Jardiel Santos Sampaio; Ivanna Pequeno dos Santos.

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10

COMPARAÇÃO DOS EFEITOS DISTRIBUTIVOS DO SALÁRIO MÍNIMO NO

MERCADO DE TRABALHO BAIANO E CEARENSE

Joyciane Coelho Vasconcelos1

Jair Andrade Araujo2

Janaildo Soares de Sousa3

Andréa Ferreira da Silva4

RESUMO:

Este artigo investiga a contribuição do salário mínimo (SM) para o processo de

desconcentração dos rendimentos do mercado de trabalho dos Estados da Bahia e do Ceará no

período 2002-2012. Os microdados utilizados são oriundos da Pesquisa Nacional por Amostra

de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Utilizou-se a

metodologia de simulação proposta em DiNardo, Fortin e Lemieux (1996) a partir da

estimativa de funções densidade Kernel contrafactuais. As simulações foram realizadas para

pessoas do gênero feminino e masculino. Os resultados revelaram por meio das

decomposições que o salário mínimo, o grau de formalização e os atributos pessoais tiveram

impactos desconcentradores para trabalhadores do gênero feminino e masculino para os

Estados do Ceará e da Bahia. Todavia, para as mulheres, o efeito desconcentrador do salário

mínimo é mais intenso na amostra em relação aos homens no Estado da Bahia. Em síntese, as

simulações apontam a importância do salário mínimo para a redução da dispersão dos

rendimentos do trabalho no período recente.

Palavras-chaves: Concentração dos rendimentos. Salário mínimo. Mercado de trabalho.

ABSTRACT:

This paper investigates the contribution of the minimum wage (MW) for the devolution of

income from the labor market of the state of Bahia in the period 2002-2012. The micro data

used are from the National Sample Survey (PNAD) of the Brazilian Institute of Geography

and Statistics (IBGE). Used the simulation methodology proposed in DiNardo, Fortin and

Lemieux (1996) from the estimated counterfactual Kernel density functions. The simulations

were performed for people females and males. The results revealed by the decompositions

than the minimum wage, the degree of formalization and the personal attributes had impacts

1Economista. Mestre em Economia Rural. Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente

pela Universidade Federal do Ceará–UFC. Fone: (88)999240854. E-mail:

[email protected] 2Doutor em Economia. Professor do Programa de Pós-graduação em Economia Rural

(MAER) da Universidade Federal do Ceará – UFC. Fone: (85)33669720.E-mail:

[email protected] 3Especialista em Políticas Públicas Sociais e de Habitação – UNIARA. Economista.

Mestrando em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará–UFC. Fone:

(85)33669781. E-mail: [email protected] 4Economista. Mestre em Economia Rural. Doutoranda em Economia pela Universidade

Federal da Paraíba- UFPB. Fone: (85)33669781. E-mail: [email protected]

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not concentrators to workers female and male to the states of Ceará and of Bahia. However,

for women, the de-concentrating effect of the minimum wage is more intense in the sample

compared to men in state of Bahia. In summary, the simulations indicate the importance of the

minimum wage to reduce the dispersion of labor income in recent years.

Keywords: Concentration of income. Minimum wage. Labor market.

1. INTRODUÇÃO

Os Estados do Ceará e da Bahia possuem elevada desigualdade socioeconômica, pois

a má distribuição de renda é um dos problemas da economia. Embora continue ocupando um

patamar alto, a concentração de renda apresenta, nos últimos anos, uma trajetória de queda

para ambos os Estados. Oliveira (2010) destaca que existem diversos determinantes para esta

queda na desigualdade, no entanto, destaca-se a contribuição da parcela do rendimento

proveniente do trabalho.

Segundo Pinho Neto e Miro (2011), sendo localizado na Região Nordeste,

reconhecidamente a mais pobre e desigual do Brasil, o Estado do Ceará apresenta uma

elevada proporção de pobres e um grau de concentração de renda relativamente elevado. A

análise da evolução da desigualdade de rendimentos do trabalho é um elemento fundamental

para se entender as mudanças na desigualdade de renda como um todo.

Já que grande parcela da redução da desigualdade, nos anos recentes, deve-se a

mudanças nos próprios rendimentos do mercado de trabalho, cabe compreender os

determinantes desta parcela da renda. Nota-se, que há uma valorização do salário mínimo

(SM) nos últimos anos no Brasil. A guisa de ilustração, quando se compara o valor real do

SM do ano de 2002 e o de 2012, observa-se um aumento de 66% (DIEESE,2014).

Dado que o salário real é um dos principais determinantes dos níveis de emprego, bem

como um dos indicadores de distribuição de renda do país. Assim sendo, surge-se a

necessidade de analisar o impacto que esta evolução do SM real teve sobre a desigualdade de

renda nos Estados do Ceará e da Bahia. A análise deste artigo será para pessoas do gênero

masculino e feminino, pois se observa na literatura que existe discriminação de sexo onde os

homens são melhores remunerados que as mulheres. Este artigo se diferencia da literatura,

pois se compara, no entanto, qual é o efeito da elevação do salário mínimo real sobre os

rendimentos das diferentes categorias de empregados para os Estados.

Isto posto, este trabalho tem como objetivo investigar a contribuição do salário

mínimo para o processo de desconcentração dos rendimentos do trabalho no intervalo de 2002

a 2012. A amostra estudada contempla todos os trabalhadores que recebem renda com valor

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12

positivo e com idade maior do que 15 anos e menor do que 60 anos, dummies de gênero e

raça como fatores de discriminação, sindicato, formal, ocupação e setor de atividade.

Como procedimento delineado, constrói-se a chamada distribuição contrafactual, a

qual pode ser confrontada com a distribuição original dos salários da população. As variáveis

causais consideradas neste artigo foram salário mínimo (SM), o grau de formalidade e os

atributos pessoais. Pelo exercício contrafactual busca-se saber qual seria a contribuição das

variáveis causais na distribuição de renda dos empregados. Para tanto, utiliza-se a abordagem

não paramétrica tal qual apresentada por DiNardo, Fortin e Lemieux (1996) que mensura, por

meio da função densidade, o fator que influencia no comportamento dos salários e os efeitos

que ele incide sobre os mesmos.

Além da introdução, o presente trabalho está organizado da seguinte forma: a seção

dois mostra alguns fatos estilizados. A terceira faz uma revisão da literatura em termos de

arcabouços teóricos e empíricos. A quarta é apresentada a metodologia de DiNardo, Fortin e

Lemieux (1996). A quinta seção faz uma descrição da base de dados. A sexta seção apresenta

os resultados e as discussões. E por último, são tecidas as considerações finais.

2. FATOS ESTILIZADOS

A discussão acerca da desigualdade de renda vem se apresentando como tema

recorrente tanto no meio acadêmico quanto nas distintas esferas de governo. Reduções no

grau de desigualdade de renda são metas perseguidas por determinadas políticas públicas que

promovem a igualdade entre os indivíduos, além de diminuir a pobreza e principalmente, a

extrema pobreza.

Trabalhos como de Hoffmann (2009), Barros et all. (2010), ressaltam uma

convergência decrescente nos indicadores da desigualdade de renda no Brasil no período de

2001 a 2007. Entretanto, nota que esse declínio não segue homogêneo entre as regiões

brasileiras.

A gráfico 1, a seguir, mostra a evolução do salário mínimo real durante o período de

2002 a 2012, nota-se que o mesmo passou por um processo de recuperação de seu valor real

perdido ao longo das décadas anteriores, pode-se ver que seus valores foram de 200,00 e

305,69 para os anos 2002 e 2012, respectivamente. Logo, ocorreu uma valorização 52,8% no

salário real que é um dos principais determinantes dos níveis de emprego.

Para Dedecca (2006), a política de valorização do salário mínimo real, além de ter

contribuído com a queda recente da desigualdade, tende a ter efeitos cumulativos sobre os

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níveis de renda. Significa dizer que a elevação do seu valor real tem grande potencial

enquanto política de combate à desigualdade.

Gráfico 1- Evolução do Salário Mínimo Real: 2002-2012

Fonte: Elaboração dos autores a partir dos dados da IPEA/ ano base 2002-IPCA.

Seguindo a tendência da economia brasileira, no mesmo período, na tabela 1, os

Estados do Nordeste também apresentaram uma diminuição na desigualdade de renda, com

exceção para o Maranhão. O Ceará apresentou uma queda na desigualdade de 0.61 para 0.52

no período analisado, o que representou um decréscimo de 0.147 pontos, ou seja, uma

redução de 14.7%. Já o Estado Bahia apresentou uma queda na desigualdade de 0.59 para

0.54 no período analisado, o que representou um decréscimo apenas de 0.088 pontos, ou seja,

uma redução de 8.8%.

Note que com as informações na Tabela 1, nem todos os Estados sofreram uma queda

ininterrupta na desigualdade de renda medida pelo Gini no período estudado. Os Estados

Alagoas, Pernambuco e Ceará, nessa ordem, apresentaram as maiores reduções de

desigualdade. Em linhas gerais, quando se analisa a variação da desigualdade no período,

nota-se que o único Estado que, desde 2001, apresentou um aumento na desigualdade foi o

Maranhão, com 7.1%.

A simultaneidade dessa redução sugere que o aumento do salário mínimo teria

contribuído para a redução das desigualdades de rendimento. Desta forma dado que a

desigualdade de renda existente entre as regiões brasileiras é um problema recorrente.

Constitui-se importante campo de pesquisa o entendimento dos efeitos do salário mínimo

sobre os diferentes setores da economia e as diversas categorias de empregados.

R$160,00

R$180,00

R$200,00

R$220,00

R$240,00

R$260,00

R$280,00

R$300,00

R$320,00

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

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14

Tabela 01 – Índice de Gini para os Estados da Região Nordeste do Brasil: 2001-2012

Ano Brasil Maranhão Piauí Ceará RGN Paraíba Pernambuco Alagoas Bahia Sergipe

2001 0.572 0.571 0.596 0.609 0.581 0.593 0.616 0.604 0.593 0.570

2002 0.570 0.566 0.620 0.588 0.581 0.599 0.608 0.602 0.591 0.556

2003 0.559 0.576 0.601 0.567 0.562 0.567 0.588 0.606 0.590 0.577

2004 0.553 0.608 0.588 0.574 0.569 0.591 0.606 0.572 0.555 0.559

2005 0.548 0.519 0.589 0.577 0.595 0.578 0.585 0.564 0.553 0.553

2006 0.544 0.596 0.599 0.546 0.557 0.562 0.580 0.624 0.556 0.558

2007 0.540 0.555 0.593 0.547 0.559 0.595 0.558 0.607 0.552 0.539

2008 0.529 0.520 0.572 0.537 0.550 0.583 0.564 0.579 0.558 0.536

2009 0.533 0.537 0.554 0.542 0.557 0.588 0.551 0.569 0.555 0.573

2011 0.518 0.541 0.507 0.537 0.559 0.536 0.525 0.522 0.553 0.556

2012 0.511 0.611 0.541 0.520 0.525 0.524 0.501 0.491 0.541 0.537

Diferença

(2001-2012) 0.107 -0.071 0.093 0.147 0.096 0.116 0.186 0.188 0.088 0.058

Fonte: Elaboração dos autores a partir dos dados da PNAD. Nota: A PNAD não foi realizada no ano

2010.

3. REVISÃO DA LITERATURA

3.1 Os impactos distributivos do salário mínimo

No Brasil, o debate sobre os efeitos do mínimo sobre a desigualdade ganhou eficácia

com o artigo de Macedo e Garcia (1978), no qual os autores contestaram a importância do

salário mínimo na determinação dos salários dos trabalhadores não qualificados. Tal artigo

desencadeou uma série de trabalhos que investigavam a importância do mínimo sobre a

distribuição de salários. Hoffmann (1998) investigou a influência do salário mínimo sobre a

pobreza e a desigualdade no Brasil, entre os anos de 1979 e 1997. Ajustando equações para

captar o efeito do salário mínimo, o autor encontrou que aumentos no salário mínimo

contribuem para reduzir a desigualdade. .

Fajnzylber (2001) por sua vez, utilizou dummies para cada faixa de salários em suas

regressões a fim de captar esses efeitos diferenciados e investiga os efeitos do SM sobre os

rendimentos e o emprego dos trabalhadores, por meio dos dados longitudinais da Pesquisa

Mensal de Emprego (PME) do IBGE no período de 1982 a 1997. O autor utilizou a

metodologia desenvolvida por Neumark, Schweitzer e Wascher (2000) e estimou a variação

percentual dos ganhos de um indivíduo como função da variação percentual do salário

mínimo e da variação percentual do salário mínimo defasado em um ano, além de alguns

controles. Os resultados revelaram efeitos significativos do SM sobre os rendimentos

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15

individuais em toda a distribuição de renda dos trabalhadores formais e informais. As

elasticidades obtidas são próximas de um para aqueles com remuneração próxima do mínimo

e caem à medida em que os rendimentos ficam maiores. Esses efeitos tendem a serem maiores

no curto prazo, para homens, para chefes de famílias e valem tanto para os trabalhadores do

setor formal como para os do setor informal.

Na mesma perspectiva, Firpo e Reis (2006) analisaram o papel do aumento do salário

mínimo (SM) na redução da desigualdade dos rendimentos do trabalho principal de 2001 a

2005. Obtém a contribuição do salário mínimo para a desigualdade pela diferença entre o

indicador de desigualdade medido por meio da distribuição ressalvada e o indicador calculado

via distribuição contrafactual dos rendimentos. Os resultados identificam que o salário

mínimo teria contribuído como 36% da redução do índice de Gini no período de 2001 a 2005.

Já, Neder e Ribeiro (2010) investigaram a contribuição do salário mínimo para o

procedimento de desconcentração dos rendimentos do trabalho no intervalo de 2002 a 2008,

utilizaram a metodologia proposta em DiNardo, Fortin e Lemieux (1996), com alguns

ajustamentos. As variáveis causais consideradas no estudo foram o SM, o grau de formalidade

e os atributos pessoais. Os efeitos das simulações para trabalhadores do gênero feminino e

masculino assinalaram que o salário mínimo teve impacto equalizador em ambos os casos,

contudo o impacto referente às mulheres é mais acentuado.

3.2 Desigualdade de renda e características individuais

Na economia, a discriminação é definida como tratamento desigual de iguais baseados

em critérios irrelevantes para a atividade envolvida. Entre os diversos tipos de discriminação

econômica a discriminação no mercado de trabalho é destaque na literatura. De fato,

rendimentos desiguais podem ser reflexos de discriminação tanto incluso quanto fora do

mercado de trabalho, no que tange as condições de acesso à educação e a outros recursos.

De acordo com Lam (1999), no Brasil, os negros, que têm pais menos educados,

permanecem com um baixo nível educacional em virtude da forte correlação entre níveis

educacionais dos pais e dos filhos. Logo é refletido no mercado de trabalho na forma de

rendimentos inferiores para os negros.

Segundo Ramos e Vieira (2000) disparidades salariais, podem ser geradas por quatro

grupos de fatores: forma de ressarcimento por postos de trabalho que tem diferenças como

risco de acidente, insalubridade, mas ocupados por trabalhadores com idêntico potencial

produtivo; heterogeneidade de trabalhadores como educação e experiência; segmentação no

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mercado entre trabalhadores igualmente produtivos sem base em critérios tangíveis, como

posição geográfica; atributos não produtivos, discriminatórios, como raça e gênero.

Já Cambota (2005) analisou a discriminação salarial por raça e gênero dentro das

densidades das distribuições de rendimento dos setores de atividade, comparando as regiões

Nordeste e Sudeste. A autora utilizou os dados da PNAD 2002 e uma metodologia semi-

paramétrica e outra paramétrica. Concluiu que existe discriminação contra mulheres e negros

no mercado de trabalho nas regiões, e que esta é maior contra mulheres.

Como destaca Cacciamali e Hirata (2005), a discriminação existe quando pessoas com

atributos iguais, exceto pela sua raça e gênero, são remuneradas de forma diferente, tendo em

vista apenas estes atributos não produtivos. Se não houvesse discriminação, pessoas com as

mesmas características produtivos, independente de raça ou gênero, teriam salários similares.

Recentemente, Souza et al. (2013) analisaram para o Brasil e regiões, a partir dos

dados das PNADs de 2001 e 2011 quanto da desigualdade de renda entre os grupos de raça e

gênero é explanada pela discriminação e quanto pela diferença de habilidades dos

trabalhadores. Utilizaram a decomposição de Oaxaca-Blinder (1973) e de Machado e Mata

(2005) que leva em consideração o resultado por quantil, a partir de regressões quantílicas.

Concluíram que a discriminação é o que explica a diferença salarial entre gêneros; diferenças

de atributos produtivas é a principal causa da diferença salarial entre as raças; há diferentes

padrões regionais e por quantis da discriminação.

Bourguignon et al. (2002) por meio de uma extensão de Oaxaca- Blinder (1973)

analisam as diferenças entre a distribuições de renda do Brasil, EUA e México, essa

metodologia consiste na simulação de distribuições contrafactuais construídas a partir da

substituição dos valores originais dos parâmetros da distribuição outro país. Mede o efeito na

distribuição de renda de um país caso alguma atributo dos indivíduos, identificada por um

parâmetro da distribuição de renda, seja igualada a de outro país. Concluem que a

desigualdade de dotação de capital humano e transferências explicam cerca de 2/3 da

diferença de desigualdade entre o Brasil e o EUA.

4. METODOLOGIA

4.1 Estimador Kernel

As funções de densidade Kernel com ponderação, em especial o método intitulado

“Adaptive kernel density estimation”5, e o comando denominado akdensity foram utilizados

5 Ver Kerm (2003) e Jann (2007).

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17

nas estimativas em nosso estudo. Esse método propicia melhores resultados para

distribuições multimodais com bandwidth variável. A função de densidade Kernel é expressa

por meio da seguinte equação:

f̂(x) =1

nh∑ K

n

i=1

(x − Xi

h) (1)

Sendo que: K(.): é uma função simétrica chamada Kernel, satisfazendo as seguintes

propriedades: ∫ 𝐾(𝑡)𝑑𝑡 = 1∞

−∞, ∫ 𝑡𝐾(𝑡)𝑑𝑡 = 0

−∞ e ∫ 𝑡2𝐾(𝑡)𝑑𝑡 = 𝑘 ≠ 0

−∞. Quando K(.) for

uma função não negativa ela será uma função densidade de probabilidade, o que implica que

f̂ (x) será também uma função densidade de probabilidade; h: é a largura dos intervalos de

classes também conhecida como parâmetro de suavização.

No caso das funções de densidade Kernel estimadas para os anos de 2002 e 2012,

utilizou-se os pesos da PNAD, porém normalizados para assegurar que o somatório dos pesos

fosse igual a um. Em relação às funções de densidade contrafactuais, os pesos são obtidos por

meio do produto dos pesos de amostragem da PNAD e os pesos obtidos pela metodologia de

reponderação. Mais uma vez, esse produto foi normalizado para assegurar que o somatório

dos pesos fosse igual a um. Os valores das funções de densidade Kernel foram estimados em

1000 pontos da variável x, que corresponde ao logaritmo natural do rendimento mensal do

trabalho principal.

No presente trabalho, acompanhando as sugestões de DiNardo, Fortin e Lemieux

(1996) e Butcher e DiNardo (1998), adota-se o núcleo gaussiano e trabalha-se com o

logaritmo da renda do trabalho para reduzir o problema de assimetria.

A estimação de densidades contrafactuais é realizada conforme proposto por DiNardo,

Fortin e Lemieux (1996), onde se escolhe funções de reponderação da amostra. Pode-se

considerar que cada observação da amostra é um vetor (w,z), onde w representa os salários

(uma variável contínua) e z, os atributos de cada indivíduo.

A densidade de salários em um ponto do tempo ft (w) pode ser escrita como a integral

da densidade de salários condicionada a um conjunto de atributos individuais e ao tempo tw,

sendo expressa como f(w|z,tw;mt), sobre a distribuição de atributos individuais F(z|tz) na data

tz:

,( ) ( , | ; ) ( | , ; ) ( | )

( ; , , )

z z

t w z t w t z

z z

w z t

f w dF w z t t m f w z t t m dF z t t

f w t t t t m

Em que : zé o domínio de definição dos atributos individuais.

(2)

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Conforme DiNardo, Fortin e Lemieux (1996), para a estimação das funções de

densidade contrafactuais, é necessária a combinação de diferentes períodos do tempo. A

última linha da equação (2) tem como finalidade completar essas condições ao introduzir a

notação que leva em conta essa combinação. Por exemplo, 2002( ; 2002, 2002, )w zf w t t m é

a função densidade efetiva de salários em 2002; 𝑓(𝑤, 𝑡𝑤 = 2002, 𝑡𝑧 = 2012, 𝑚2002) é a

função densidade (contrafactual) que prevaleceria em 2002 se a distribuição dos atributos

individuais fosse a mesma de 2012.

No intuito de estimar a função de densidade contrafactual anterior, considera-se a

hipótese de que a estrutura de salários de 2002 (representada por 2002( ; , 2002, )wf w z t m)

não depende da distribuição de atributos. Nesse caso, a densidade hipotética 𝑓(𝑤, 𝑡𝑤 =

2002, 𝑡𝑧 = 2012, 𝑚2002) é:

𝑓(𝑤, 𝑡𝑤 = 2002, 𝑡𝑧 = 2012, 𝑚2002) =

∫ 𝑓(𝑤|𝑧, 𝑡𝑤 = 2002, 𝑚2002)𝑑𝐹(𝑧|𝑡𝑧 = 2012) =

𝑓(𝑤|𝑧, 𝑡𝑤 = 2002, 𝑚2002)𝜓𝑧(𝑧)𝑑𝐹(𝑧|𝑡𝑧 = 2002)

A equação (3) define a densidade de renda do trabalho de 2002, que prevaleceria se as

condições fossem similares às de 2012 e, conforme pode ser observado, é idêntica à definição

em (2), exceto pela função de reponderação. Na verdade, o problema de estimação da função

de densidade contrafactual desejada fica reduzido ao cálculo de ponderações apropriadas.

Logo, estima-se as funções de densidade contrafactuais usando o método de estimadores de

núcleo ponderados, onde usa-se um novo ponderador que contém uma estimativa para 𝜓𝑧.

Sendo que 𝜓𝑧 é uma função de reponderação definida por:

𝜓𝑧(𝑧) = 𝑑𝐹(𝑧|𝑡𝑧 = 2012)/𝑑𝐹(𝑧|𝑡𝑧 = 2002)

e

f̂(w; tw = 2002, tz = 2012, m2002) = ΣiϵS2002

θi

hψ̂z(Zi)K(

w−Wi

h) (5)

O termo h é o parâmetro que regula o grau de suavidade de uma densidade Kernel.

Esse parâmetro é denominado de janela ou bandwidth.

4.2 Efeitos das mudanças no grau de formalidade do mercado de trabalho e outros atributos

Os atributos individuais z consiste do status de formalização da ocupação u

(representado por uma variável dummy) e um vetor x de atributos que inclui experiência6,

6 A variável experiência corresponde à diferença entre a idade do trabalhador e a idade em que esse

trabalhador começou a trabalhar.

(3)

(4)

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19

escolaridade, raça, formal, região e área censitária. Em uma linguagem algébrica, a

distribuição dos atributos F(z|tz=t) é igual ao produto de F(u|x,tu|x=t) e F(x|tx=t).

A função densidade dos salários em 2002 é definida a partir da equação (2). Ou seja,

essa equação corresponde a:

| 2002

2002 |

( ; 2002, 2002, 2002, )

( | , , 2002; ) ( | , 2002) ( | 2002)

w u x x

w u x x

f w t t t m

f w u x t m dF u x t dF x t

O primeiro passo na estimação da função densidade hipotética corresponde à

construção da função densidade de salários que teria prevalecido em 2002 se os graus de

formalidade e informalidade, mas não os outros atributos, tivessem o mesmo nível de 200127.

A partir desse objetivo, introduz-se uma hipótese adicional em que a função densidade

condicional( | , , ; )w tf w u x t m

não depende do grau de formalidade e informalidade. Assim,

calcula-se a função densidade que prevaleceria em 2002 se os graus de formalidade e

informalidade fossem os mesmos registrados no ano de 2012, embora os demais atributos

permanecessem nos níveis de 2002. Essa função é na verdade uma versão re-ponderada da

função densidade de 2002:

𝑓(𝑤, 𝑡𝑤 = 2002, 𝑡𝑢/𝑥 = 2012, 𝑡𝑥 = 2002, 𝑚2002)

∬ 𝑓(𝑤|𝑢, 𝑥, 𝑡𝑤 = 2002, 𝑚2002)𝑑𝐹(𝑢|𝑥, 𝑡𝑢/𝑥 = 2012) 𝑑𝐹(𝑥|𝑡𝑥 = 2002)

∬ 𝑓(𝑤|𝑢, 𝑥, 𝑡𝑤 = 2002, 𝑚2002)𝜓𝑧(𝑢, 𝑥)𝑑𝐹(𝑥|𝑡𝑢/𝑥 = 2002) 𝑑𝐹(𝑥|𝑡𝑥 = 2002) (7)

O termo | ( , )u x u xé uma função re-ponderada e definida como:

𝜓𝑢/𝑥(𝑢, 𝑥) = 𝑑𝐹(𝑢|𝑥, 𝑡𝑥 = 2012)/𝑑𝐹(𝑢|𝑥, 𝑡𝑥 = 2002) =

𝑢.𝑃𝑟(𝑢 = 1|𝑥, 𝑡𝑢|𝑥 = 2012)

𝑃𝑟(𝑢 = 1|𝑥, 𝑡𝑢|𝑥 = 2002)+ [1 − 𝑢]

𝑃𝑟(𝑢 = 0|𝑥, 𝑡𝑢|𝑥 = 2012)

𝑃𝑟(𝑢 = 0|𝑥, 𝑡𝑢|𝑥 = 2002) (8)

A última parte da equação (8) é obtida e considera que o status de formalidade u toma

somente os valores de zero (setor informal) e 1 (setor formal), e portanto,

| | |( | , ) Pr( 1| , ) [1 ]Pr( 0 | , )u x u x u xdF u x t u u x t u u x t .

7 O texto de DiNardo et al. (1996) investigou o impacto da variável sindicalização sobre os indicadores de

desigualdade, porém no mercado de trabalho Brasileiro os ganhos auferidos na negociação coletiva são

repassados para todos os trabalhadores, independente da sindicalização. Diante disso, optou-se por substituir

essa variável pelo grau de formalidade ou informalidade do mercado de trabalho, na medida em que esses

mercados têm determinantes dos rendimentos distintos.

(6)

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20

Para levar em consideração a influência dos demais atributos (vetor x), considera-se a

densidade de salários que teria prevalecido em 2002 se a distribuição de u e x fossem as

mesmas de 2012:

𝑓(𝑤, 𝑡𝑤 = 2002, 𝑡𝑢/𝑥 = 2012, 𝑡𝑥 = 2012, 𝑚2002)

∬ 𝑓(𝑤|𝑢, 𝑥, 𝑡𝑤 = 2002, 𝑚2002)𝑑𝐹(𝑢|𝑥, 𝑡𝑢/𝑥 = 2012) 𝑑𝐹(𝑥|𝑡𝑥 = 2012)

∬ 𝑓(𝑤|𝑢, 𝑥, 𝑡𝑤 = 2002, 𝑚2002)𝜓𝑧(𝑢, 𝑥)𝑑𝐹(𝑥|𝑡𝑢/𝑥 = 2002) 𝑑𝐹(𝑥|𝑡𝑥 = 2002)

Em que 𝜓𝑥(𝑥) = 𝑑𝐹(𝑥|𝑡𝑥 = 2012)/𝑑𝐹(𝑥|𝑡𝑥 = 2002). Aplicando a regra de Bayes,

esta relação pode ser escrita como:

𝜓𝑥(𝑥)

=𝑃𝑟(𝑡𝑥 = 2012|𝑥)

𝑃𝑟(𝑡𝑥 = 2002|𝑥).𝑃𝑟(𝑡𝑥 = 2002)

𝑃𝑟(𝑡𝑥 = 2012) (10)

4.3 Efeitos das mudanças no SM

Para construir a função densidade contrafactual em 2002, sob a hipótese de vigência

do SM em seu nível mais elevado de 2012, seleciona-se parte da função de densidade de 2002

acima do SM de 2012 e parte da função densidade de 2012 que corresponde ao valor exato do

SM em 2012, bem como os valores inferiores a esse valor.

Outro procedimento adotado é que se pré-multiplique a função densidade de 2012 por

uma função de reponderação 𝜓𝑤(𝑧, 𝑚2012) para assegurar que a integral definida total da

função obtida seja igual a 1. Em linguagem algébrica, essas operações correspondem à

equação abaixo:

f(w|z, tw = 2002, m2012) = I (w ≤ m2012)𝜓𝑧(𝑧, m2012)f(w|tw =

2012, m2012) + [1 − I(w ≤ m2012)]f(w|z, tw = 2002, m2002)

Em que:

𝜓𝑧(𝑧, m2012) =Pr(w ≤ m2012|z, tw = 2002)

Pr(w ≤ m2012|z, tw = 2008) (12)

Para obter o efeito do SM sobre a distribuição total de salários em 2002, integra-se a

densidade condicional na equação (13) sobre a densidade de atributos:

f(w; tw = 2002; tz = 2002; m2012) =

∫(𝑤|𝑧, 𝑡𝑤 = 2002, 𝑚2012)𝑑𝐹(𝑧|tz = 2002) =

∫ I (w ≤ m2012)𝜓𝑤(𝑧, m2012)f(w|tw = 2012, m2012) 𝑑𝐹(𝑧|tz = 2002) +

[1 − I(w ≤ m2012)]f(w|z, tw = 2002, m2002)𝑑𝐹(𝑧|tz = 2002)

(09)

(13)

(11)

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∫ I (w ≤ m2012)𝜓𝑤(𝑧, m2012)f(w|tw = 2012, m2012) 𝜓𝑧(𝑧)−1𝑑𝐹(𝑧|tz = 2012) +

[1 − I(w ≤ m2012)]f(w|z, tw = 2002, m2002)𝑑𝐹(𝑧|tz = 2002)

O termo 𝜓𝑤(𝑧, m2012) é definido na equação (14) e o termo 𝜓𝑧(𝑧)−1 segue definido

abaixo:

𝜓𝑧(𝑧)−1 =Pr (tw = 2002|z, w ≤ m2012)

Pr (tw = 2012|z, w ≤ m2012).Pr (tw = 2012)

Pr (tw = 2002) (14)

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados utilizados nesse trabalho foram extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra

de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O trabalho

faz uma análise dos determinantes dos rendimentos entre os empregados do gênero feminino e

masculino para os Estados do Ceará e da Bahia. As estimativas serão geradas a partir dos

períodos, 2002 e 2012. Abaixo segue o quadro completo das variáveis analisadas.

Quadro 01 – Descrição das Variáveis para os Estados VARIÁVEL DESCRIÇÃO

Renda do trabalho

principal

Variável do rendimento mensal do trabalho principal para pessoas de 10 anos ou mais.

Número de horas trabalhadas por semana nesse trabalho. Em seguida denomina-se

variável “remuhorar” representa remuneração por hora.

Ano2 Variável binária que assume valor unitário quando o ano for 2002 e valor nulo se o ano

for 2012

Educação

Assume valores de 0 a 15. O valor nulo mostra que o indivíduo não completou o

primeiro ano de escolaridade. Os valores de 1 a 14 mostram o número de anos de

educação completos do indivíduo. O valor 15 significa que o indivíduo possui 15 ou

mais anos de escolaridade.

Formal

Variável binária que representa a filiação do trabalhador a alguma entidade sindical;

assume valor unitário quando o trabalhador é sindicalizado e valor nulo em caso

contrário

Gênero Variável binária que assume valor unitário para mulheres e nulo para homens.

Exp Experiência potencial (Idade – anos de estudo).

Exp2 Experiência potencial ao quadrado.

Raça Variável binária que toma valor unitário para trabalhadores de raça branca e valor nulo

em caso contrário.

Idade

Varia de 18 a 59 de acordo com os anos completos de idade do indivíduo. Para mostrar

que o logaritmo natural dos salários não varia linearmente à idade, a variável idade2

também é utilizada.

Sind

Variável binária que representa a filiação do trabalhador a alguma entidade sindical.

Assume valor unitário quando o trabalhador é sindicalizado e valor nulo em caso

contrário.

Ocupação

Dummies de ocupação (empregados sem carteira de trabalho assinada, conta própria,

empregadores) e empregados com carteira de trabalho assinada é a base de

comparação. Por possuírem uma dinâmica salarial diferente, os servidores públicos,

civis ou militares, foram excluídos da amostra.

Setor de atividade

Dummies de setor de atividade (indústria de transformação, construção civil, comércio

e serviços, administração pública, educação saúde e cultura, serviços domésticos) e

agricultura é à base de comparação.

Urbano Variável binária que toma valor unitário para área rural e valor nulo caso contrária

Fonte: Elaboração dos autores.

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22

Na tabela 1 e 2, a seguir, têm-se os resultados da decomposição dos indicadores

calculadas a partir dos valores que constam efetivamente nas PNADs no período estudado

para os Estados do Ceará e da Bahia, respectivamente. Os fatores de decomposição são o SM

real, mercado formal, considera-se os trabalhados que pertencem carteira de trabalho assinada

e atributos pessoais.

Ademais, tem-se os valores dos indicadores de desigualdade estimados para as

funções de densidade contrafactuais do ano de 2002. Primeiramente, essa função contrafactual

é construída para o valor real do salário mínimo de 2012 (2002cf), em seguida estima-se essa

função a partir da manutenção das características de formalidade de 2012 sobrepostas à

distribuição contrafactual anterior (2002cfFormal). Por último, na estimação da função

densidade hipotética do ano de 2002, utilizam-se os atributos individuais de 2012 sobrepostos

às distribuições contrafactuais anteriores (2002cfAtributo). Após a estimação de cada função

densidade contrafactual, calculam-se os indicadores de desigualdade.

A construção da quinta coluna da Tabela 1 e 2 por meio dos cálculos das medidas de

desigualdade de renda (índices de Theil e de Gini) a partir das funções de densidade Kernel

efetivas estimadas em 2002 e 2012. Os valores da diferença (dif) dos resíduos são obtidos a

partir da diferença entre o indicador de concentração dos rendimentos correspondente à

função densidade contrafactual dos atributos individuais dos trabalhadores e o valor real de

2012.

Os valores do salário mínimo são obtidos a partir da diferença entre o valor do

indicador de desigualdade correspondente à função densidade efetiva em 2002 e o valor do

indicador de desigualdade correspondente à função densidade contrafactual do salário SM e o

valor real de 2012 no ano de 2002.

A linha do mercado formal corresponde à diferença entre o valor do indicador de

concentração de rendimentos correspondente à função densidade contrafactual do SM e o

valor do indicador de desigualdade para a função densidade contrafactual do grau de

formalização. Caso, o valor dessa diferença é negativo significa que o efeito sobreposto das

condições de formalização do mercado de trabalho é redistributivo.

Já a última linha, atributos, encontram-se os valores das diferenças entre o indicador

de desigualdade correspondente à função densidade contrafactual do grau de formalização e o

indicador de concentração dos rendimentos correspondente à função densidade contrafactual

dos atributos individuais dos trabalhadores.

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23

Os valores positivos da coluna Dif devem ser interpretados como efeitos

desconcentradores, enquanto que valores negativos referem-se a efeitos concentradores dos

fatores. Ou seja, caso se verifique que o resultado dessa diferença tem valor negativo,

observa-se que a elevação do SM real quando sobreposta à distribuição de salários de 2002,

causaria efeito equalizador sobre essa distribuição de rendimentos.

A Tabela 1 contém os indicadores de desigualdade estimados para trabalhadores do

gênero masculino e feminino para o Estado do Ceará. No caso das pessoas do sexo feminino,

o índice de Theil se reduziu em 0,1383 entre 2002 e 2012. Desse total, 0,2494 pode ser

atribuído ao salário mínimo, 0,0930 se deve ao grau de formalização e 0,0721 aos atributos.

Assim, na construção da função densidade hipotética, considera-se os efeitos da

elevação do valor real do salário mínimo, do grau de formalização e dos atributos sobre os

indicadores de desigualdade dos rendimentos do trabalho em 2002. Constata-se que ambos

teriam efeitos desconcentradores, ou seja, reduziriam o grau de concentração dos

rendimentos. O resíduo da decomposição do indicador da desigualdade corresponde a -

0,0351.

Focalizando a contribuição desses fatores para a variação total do índice de Theil em

termos relativos, pode-se observar que o salário mínimo, o grau de formalidade, os atributos e

o resíduo contribuíram respectivamente com 180,4%, 67,26% e 52,14% dessa variação. Ou

seja, ambos tiveram impactos desconcentradores. Esse exercício de decomposição refeito para

o índice de Gini revela resultados semelhantes aos encontrados na decomposição do índice de

Theil. O elevado valor relativo do resíduo da decomposição se deve ao fato de que não

utilizamos fatores de variação na oferta e demanda do trabalho8. Esses fatores, no trabalho de

DiNardo, Fortin e Lemieux (1996), tiveram uma contribuição relativa da ordem de 30%,

enquanto os resíduos assumiram um valor equivalente a tal contribuição. Cabe lembrar que os

resíduos contemplam fatores desconhecidos que certamente estão afetando a distribuição dos

rendimentos, mas o seu valor elevado não invalida os valores relativos estimados para os três

fatores considerados.

Por outro lado, os indicadores de desigualdade estimados para as mulheres sinalizam

uma queda na dispersão dos rendimentos. A título de exemplo, o índice de Theil variou de

0,56 em 2002 para 0,39 em 2012. As decomposições revelam também um impacto maior do

salário mínimo para pessoas do gênero feminino.

8 Esse procedimento foi adotado por DiNardo, Fortin e Lemieux (1996).

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24

A decomposição do índice de Gini calculado para homens revelou o mesmo impacto

dos fatores, embora o efeito do salário mínimo seja menos elevado, do grau de formalidade e

os atributos maiores em termos absolutos, quando comparados com os resultados do índice de

Theil.

Tabela 1 - Resultados da decomposição de índices de distribuição de renda pelo método DFL para

todos para todos os trabalhadores do gênero masculino ou feminino do Estado do Ceará - 2002 e 2012

Ano Índice Fator Mulheres Homens

Valor dif % valor dif %

2002 Theil

0,6245 0,1383

0,5569 0,1708

2012 Theil Resíduo 0,4862 -0,2762 -199,79 0,3861 -0,1460 -85,46

2002cf Theil Salário mínimo 0,3751 0,2494 180,40 0,3083 0,2486 145,53

2002cfFormal Theil Formal 0,2821 0,0930 67,26 0,2730 0,0353 20,65

2002cfAtributos Theil Atributos 0,2100 0,0721 52,14 0,2401 0,0329 19,28

2002 Gini

0,5163 0,0497 35,93 0,5146 0,0829 48,53

2012 Gini Resíduo 0,4666 -0,1698 -122,83 0,4317 -0,1020 -59,69

2002cfminimo Gini Salário mínimo 0,3965 0,1198 86,65 0,3719 0,1428 83,57

2002cfFormal Gini Formal 0,3450 0,0515 37,25 0,3550 0,0169 9,90

2002cfAtributos Gini Atributos 0,2968 0,0482 34,86 0,3298 0,0252 14,75

Fonte: Elaborado pelos autores

Observa-se na tabela 2, a seguir, os indicadores de desigualdade estimados para

trabalhadores do gênero masculino e feminino para o Estado da Bahia. No caso das pessoas

do sexo feminino, o índice de Theil se reduziu em 0,1647 entre 2002 e 2012. Desse total,

0,2519 pode ser atribuído ao salário mínimo, 0,0020 se deve ao grau de formalização e 0,0803

aos atributos.

Assim, na construção da função densidade hipotética, considera-se os efeitos da

elevação do valor real do salário mínimo, do grau de formalização e dos atributos sobre os

indicadores de desigualdade dos rendimentos do trabalho em 2002. Constata-se que ambos

teriam efeitos desconcentradores, ou seja, reduziriam o grau de concentração dos

rendimentos. O resíduo da decomposição do indicador da desigualdade corresponde a -

0,1695.

Focalizando a contribuição desses fatores para a variação total do índice de Theil em

termos relativos, pode-se observar que o salário mínimo, o grau de formalidade, os atributos e

o resíduo contribuíram respectivamente com 152,94%, 1,20% e 48,77% dessa variação. Ou

seja, ambos tiveram impactos desconcentradores. Esse exercício de decomposição refeito para

o índice de Gini revela resultados semelhantes aos encontrados na decomposição do índice de

Theil, exceto para o grau de formalidade que apresentou efeito concentrador.

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Por outro lado, os indicadores de desigualdade estimados para as mulheres sinalizam

uma queda na dispersão dos rendimentos. A título de exemplo, o índice de Theil variou de

0,65 em 2002 para 0,52 em 2012. As decomposições revelam também um impacto maior do

salário mínimo para pessoas do gênero feminino para os Estados do Ceará e da Bahia.

Comparando os Estados, nota-se que o índice de Theil obteve uma variação maior no

Estado da Bahia para sexo feminino e já para sexo masculino a variação do índice foi maior

no Estado do Ceará. As decomposições revelam também um impacto maior do salário

mínimo para pessoas do gênero feminino para o Estado da Bahia. E para o sexo masculino, as

decomposições revelam um impacto maior do salário mínimo para pessoas do Estado do

Ceará. Os atributos têm maior importância na desconcentração para ambos os sexos no Estado

do Ceará.

Observa-se que o grau de formalidade para as mulheres no Estado da Bahia não

explica muito essa redução da desconcentração de renda, mas para os homens já é mais

notório o seu efeito, sendo que é maior para o Estado da Bahia a importância da formalização

para desconcentração do que para o Estado do Ceará.

Tabela 2 - Resultados da decomposição de índices de distribuição de renda pelo método DFL para

todos para todos os trabalhadores do gênero masculino ou feminino do Estado da Bahia - 2002 e 2012

Ano

Índice

Fator

Mulheres Homens

Valor dif % valor dif %

2002 Theil

0,6905 0,1647

0,6509 0,1359

2012 Theil Resíduo 0,5258 -0,1695 -102,91 0,5150 -0,1691 -124,43

2002cf Theil Salário mínimo 0,4386 0,2519 152,94 0,4412 0,2097 154,32

2002cfFormal Theil Formal 0,4366 0,0020 1,20 0,3554 0,0857 63,08

2002cfAtributos Theil Atributos 0,3563 0,0803 48,77 0,3459 0,0096 7,03

2002 Gini

0,5304 0,0581 35,30 0,5262 0,0464 34,17

2012 Gini Resíduo 0,4722 -0,0907 -55,05 0,4798 -0,0961 -70,68

2002cfminimo Gini Salário mínimo 0,4323 0,0980 59,52 0,4280 0,0982 72,27

2002cfFormal Gini Formal 0,4379 -0,0056 -3,38 0,3964 0,0316 23,26

2002cfAtributos Gini Atributos 0,3816 0,0564 34,22 0,3837 0,0127 9,33

Fonte: Elaborado pelos autores

6. Considerações finais

A metodologia de simulação, adaptada do estudo de DiNardo, Fortin e Lemieux

(1996), foi aplicada para as diferentes categorias de empregados do gênero masculino e

feminino do Estados do Ceará e da Bahia, tanto para a decomposição do índice de Theil

como para a decomposição do índice de Gini. A decomposição do índice de Theil para os

trabalhadores do sexo feminino revelou que a maior contribuição relativa correspondeu ao

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salário mínimo que, assim como o grau de formalização e os atributos pessoais, tiveram

impactos desconcentradores sobre os rendimentos. Idêntico exercício de decomposição,

repetido para o índice de Gini, revelou resultados semelhantes.

As decomposições revelam também um impacto maior do salário mínimo para pessoas

do gênero feminino para os Estados. Nota-se que o índice de Theil obteve uma variação maior

no Estado da Bahia para sexo feminino e já para sexo masculino a variação do índice foi

maior no Estado do Ceará. Observa-se que o grau de formalidade para as mulheres no Estado

da Bahia não explica muito essa redução da desconcentração de renda, mas para os homens já

é mais notório o seu efeito, sendo que é maior para o Estado da Bahia a importância da

formalização para desconcentração do que para o Estado do Ceará. Isso pode ser explicado

por meio da discriminação de sexo no mercado de trabalho.

Em suma, as simulações confirmam a importância do salário mínimo para a

desconcentração dos rendimentos no mercado de trabalho no período 2002 a 2012 para os

trabalhadores do Estados do Ceará e da Bahia. Dessa forma, pode-se inferir que a política de

elevação gradual do salário mínimo real estabelecida no período de 2002 a 2012 não coincidiu

com uma elevação do desemprego e, simultaneamente, permitiu uma redução na dispersão

dos rendimentos do trabalho. Noutras palavras, o impacto das variações nominais do salário

mínimo sobre o nível de demanda possivelmente ultrapassou seus efeitos sobre os custos,

permitindo uma elevação do patamar de produção e do emprego.

As simulações ratificam a importância do salário mínimo, como o grau de

formalização e os atributos individuais para a desconcentração dos rendimentos no mercado

de trabalho cearense e baiano no período 2002 a 2012. Logo promover políticas públicas

focando essas variáveis casuais tem efeito importante para redução da desigualdade de renda

tanto para as mulheres como para os homens.

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ANÁLISE DA PRODUÇÃO DAS PRINCIPAIS CULTURAS DA AGRICULTURA

FAMILIAR NO CEARÁ: CONSIDERAÇÕES PARA O PERÍODO 1990 A 2011 COM

O MODELO SHIFT SHARE

Nataniele dos Santos Alencar1

Wellington Ribeiro Justo2

Kelvio Felipe dos Santos3

RESUMO:

O presente trabalho tem como objetivo analisar o comportamento das principais culturas da

agricultura familiar no Ceará e em suas mesorregiões no período de 1990 a 2011, para

identificação dos efeitos explicativos. As culturas analisadas são: arroz, feijão, milho e

mandioca. O foco foi na área plantada e colhida, rendimento e produção. Para a identificação

dos efeitos explicativos utilizou-se da metodologia shift share. Logo, foi possível decompor o

efeito total em efeito área, rendimento e localização assim como o efeito total em termos de

taxa de crescimento para cada uma das culturas no estado e nas mesorregiões. Os resultados

apontaram que a cultura do milho foi a mais expressiva em termos de área. O modelo shift

share por sua vez apontou um efeito total positivo para as culturas do milho e feijão e

negativo para as culturas do arroz e mandioca.

Palavras-chaves: Agricultura Familiar, Produção, Ceará, Shift Share.

ABSTRACT:

This study aims to analyze the behavior of the main crops of the family farm in Ceará and its

regions, in the period 1990-2011 as well to identify the explanatory effects. Cultures analyzed

are: rice, beans, maize and cassava. The focus was on planted area and. To identify

explanatory purposes we used the methodology shift share. Thus it was possible to

decompose the total effect on area effect, yield and location, as well as the overall effect in

terms of growth rate for each crop in the state and in the regions. The results showed that the

corn crop was the most significant in terms of the production area while the highlight was

cassava. The shift share model in turn showed a total positive effect for crops of corn and

bean and negative for rice and cassava.

Keywords: Family Farming, Production, Ceará and Shift Share.

1Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri. Bolsista de

Iniciação Científica. E-mail: [email protected] 2Engenheiro Agrônomo (UFRPE). Economista (URCA). Mestre em Economia Rural (UFC).

Doutor em Economia pelo PIMES (UFPE). Professor Associado do Curso de Economia da

URCA. Professor do PPGECON (UFPE-CAA). E-mail: [email protected] 3 Formado em Ciências Econômicas pela (URCA). Mestre em Economia Rural (UFC).

Professor do Instituto Federal de Brasília (IFB- Campus Taguatinga Centro) E-mail:

[email protected]

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1. INTRODUÇÃO

Devido às condições precárias na qual vivem as pessoas da zona rural, muitas migram

em busca de melhores condições de vida, por isso o grande êxodo rural, crescendo então a

população da zona urbana, como também no que se refere ao número de favelas. Contudo,

recentemente foram adotadas políticas voltadas para o fortalecimento e a criação de novas

unidades familiares no meio rural, medidas estas que tem como objetivo propor melhores

condições de vida, diminuindo assim a miséria e a pobreza nesse meio e contribuindo para a

fixação do homem no campo.

Segundo VASCONCELOS (2013), o mercado está cada vez mais globalizado e

competitivo, de modo que a agricultura brasileira vem passando por transformações

principalmente a partir de meados da década de 1990, isso decorrente da abertura comercial.

Logo observa-se que durante vinte e um anos ocorreram mudanças na produção, de acordo

com o presente estudo analisado, de forma a atender a demanda desse novo cenário

econômico.

Além das desigualdades entre regiões e estados, os instrumentos de políticas utilizados

pelo Governo, acabaram por gerar crescimento desigual também entre os produtos cultivados,

programas importantes de incentivo ao setor, como o crédito rural, não chegou a contemplar

de maneira homogênea os estados, as regiões e até mesmo as lavouras.

As alterações ocorridas no meio rural foram enormes, principalmente a partir da

década de 1990, entre essas alterações teve-se o incremento tecnológico, a abertura comercial,

a perda de capacidade de financiamento da agricultura pelo estado e a carência quase que total

de informações no tocante ao cultivo das lavouras temporárias. Com os avanços tecnológicos

de máquinas para produção, os agricultores passaram a ter a possibilidade de aumentar a sua

produção, utilizando-se de máquinas modernas na plantação, colheita e transformação da

matéria prima em produto final.

Nos últimos anos, os países intensificaram a procura para melhorar as condições de

vida da população de um modo geral. Nesse contexto, a agricultura familiar como forma de

produção sustentável, vem sendo intensamente estudada, impulsionada pela discussão

corrente sobre desenvolvimento sustentável, como instrumento de geração de emprego e

renda no meio rural. Nas últimas décadas, os países de um modo geral têm se empenhando em

promover o desenvolvimento econômico (SOUSA; KHAN; PASSOS, 2004).

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Em particular ao Ceará, a grande fornecedora dos produtos que compõem a cesta

alimentar é a agricultura familiar, segundo JÚNIOR (2010), aproximadamente dois terços do

que chega à mesa do cearense são produzidos em terras cultivadas por agricultores familiares.

A agricultura sempre colaborou com a geração de riqueza do país e o Estado do Ceará.

Busca-se, portanto com este trabalho, analisar o comportamento das principais culturas da

agricultura familiar no período de 1990 para 2011, não só para o estado, mas também para as

mesorregiões, rumo a identificar quais culturas tem efeitos positivos na produção no Ceará,

como também as de efeitos negativos.

Este trabalho avança na literatura ao tratar de forma conjunta as quatro principais

culturas da agricultura familiar no Ceará bem como compreendendo um período de tempo

maior. Outra contribuição é a metodologia utilizada que possibilita identificar o efeito área,

rendimento e efeito localização. Assim é possível contribuir para adoção de políticas públicas

com enfoque mais específicos.

O presente trabalho está estruturado em seis seções, incluindo esta introdução; a seção

dois faz uma retrospectiva de alguns conceitos e conhecimentos literários no que se refere a

agricultura familiar e as principais culturas cultivadas. Na seção três descreve-se a

metodologia trabalhada; na seção quatro são apresentados os resultados e discussões. Já a

seção cinco se refere às considerações finais.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Agricultura Familiar

É fundamental compreender previamente a definição do que vem a ser agricultura

familiar, para que assim haja o desenvolvimento dessa área. Nesse contexto, é importante

ressaltar que ela não pode ser confundida com agricultura de subsistência, logo, a mesma é

uma definição bem prática de agricultura familiar, pois ao mesmo tempo em que a família

detém os meios de produção, ela própria trabalha no estabelecimento produtivo.

Agricultura familiar pode ser entendida basicamente como um modo de produção,

onde há interação, pois o próprio agricultor familiar é quem comanda o processo produtivo,

sendo lembrada por sua importância no que cerne ao fluxo de emprego e na produção de

alimentos voltada principalmente para o autoconsumo.

É notório observar algumas características da agricultura familiar:

A agricultura familiar tem como características, a gestão e trabalho intimamente

ligados; o processo produtivo dirigido diretamente pelo produtor; a ênfase na

diversificação; a ênfase na durabilidade dos recursos naturais e na qualidade de vida;

o fato do trabalho assalariado ser apenas complementar; as decisões imediatas,

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adequadas ao alto grau de imprevisibilidade do processo produtivo; as decisões

tomadas “in loco”, condicionadas pelas especificidades do processo produtivo e a

ênfase no uso de insumos internos. (AZEVEDO; PESSÔA, 2011).

Em relação à agricultura familiar no Nordeste, esta apresenta uma diversidade de

condições agroecológicas e de relações sociais de produção. Dessa forma, determina uma

formação de multiplicidade de sistemas agrários e de produção, muitos dos quais em

acelerado processo de transformação. Essa região caracteriza-se pela concentração de

estabelecimentos familiares em algumas áreas geográficas, pelas unidades produtivas que

geram um baixo nível de renda, por ter uma escassa base de recursos naturais, hídrico e

fundiário. Segundo EVANGELISTA (2000), o Nordeste é a região brasileira que detém a

maior parcela dos estabelecimentos agrícolas familiares do país (49,7%), comparado com as

demais regiões.

Para muitas famílias no Ceará, o cultivo de arroz, feijão, milho ou mandioca é uma

fonte de renda e emprego, onde com o investimento e planejamento em atividades que

facilitem esse trabalho, é obtida a partir desse momento, uma inclusão produtiva e social da

agricultura familiar, consequentemente aumento da renda, assim é possível evitar o êxodo

rural para as cidades.

No Estado do Ceará de acordo com os dados da FUNCEME (Fundação Cearense de

Meteorologia e Recursos Hídricos), citado por JACINTO (2014), é possível afirmar que nos

anos de 1990, 1992, 1993, 1998, 2001, 2002, 2005 e 2010 o Estado enfrentou imensas

dificuldades devido à seca, afetando assim diretamente a produção agrícola, onde nesse

sentido, os agricultores possuem na maioria das vezes perspectivas negativas em relação à

chuva para os anos seguintes, mas mesmo assim eles arriscam e apostam na plantação com

objetivos de bons colhimentos e pequenos prejuízos, sendo dessa forma surpreendido com a

estiagem além do esperado, causando assim prejuízo financeiro e consequentemente afetando

o bem estar familiar.

2.2 Principais Culturas da Agricultura Familiar

No que se refere à produção, o cultivo, entre outros procedimentos necessários, é

interessante compreender individualmente cada cultura e sua posição, ou seja, as facilidades e

dificuldades encontradas pelos produtores cearenses.

O arroz é uma cultura que necessita de muita água para ser produzido, perdendo assim

espaço para culturas mais econômicas, que facilmente se adaptam ao clima semiárido. Com o

passar do tempo, percebe-se uma redução no seu plantio, podendo ser destacado alguns

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fatores como: baixo preço de comercialização, elevado custo de produção, ocorrência de secas

e até mesmo inundação das áreas tradicionais de cultivo em decorrência das cheias dos açudes

e lagoas, tudo isso fazendo que os produtores desistam da atividade.

O feijão por outro lado é um vegetal que é pouco exigente, ele necessita apenas de

solos de fertilidade média e climas que não sejam nem muito quentes ou frios, nem muito

chuvosos ou muito secos. Assim, o plantio de feijão é feito com razoável facilidade em quase

todas as áreas agrícolas do país. Sendo assim, essa cultura é uma das mais importantes do

Brasil e envolve uma grande área da produção cultivada na maior parte por pequenos

agricultores. Segundo Távora e Diniz (2006), o Brasil é o maior produtor mundial de feijão,

responsável por 16,5% da produção mundial, seguido pela Índia e México, responsáveis

respectivamente por 16,4% e 9% da produção.

De acordo com o Ministério da Agricultura, nas safras de 2009 para 2010, o Brasil foi

o terceiro maior produtor mundial de milho. A maior parte da produção deste é utilizada como

ração, partes menores são destinadas ao consumo humano, como também é usada de maneira

indireta na composição de outros produtos, ela é ainda uma das culturas mais cultivadas pela

agricultura familiar brasileira. No Ceará, é possível encontrar uma vasta expansão do cultivo

de milho, segundo DUARTE (2008) a expansão do cultivo de milho se deve ao aumento da

demanda por este produto, que foi impulsionada pelo crescimento da produção de aves no

Estado e no vizinho Pernambuco.

Tratando-se da cultura da mandioca, segundo GROXKO (2012) o Brasil está entre os

principais países produtores. Sendo que o fato da substituição do consumo de mandioca pelas

rações balanceadas na suinocultura, juntamente com a mudança nos hábitos alimentares como

maior demanda pelos produtos do trigo, a competição de culturas mais rentáveis, de menor

ciclo e a falta de mão-de-obra, certamente está impactando para a estagnação ou até mesmo

redução na produção da mesma em alguns Estados.

A mandioca tem concentração maior no Nordeste, apesar de ser cultivada em todos os

Estados brasileiros, é nessa região que devido às frequentes secas, a cultura da mandioca

apresenta maior resistência se comparada aos plantios do milho e do feijão que são mais

exigentes em volume de chuvas. Tem como principais produtores a Bahia, Maranhão e Ceará.

3. METODOLOGIA

3.1 Área de Estudo

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O trabalho terá como foco o Estado do Ceará e as principais lavouras da agricultura

familiar. As culturas selecionadas foram: arroz, feijão, milho e mandioca. A área de estudo

compreenderá sete mesorregiões cearenses, segundo a classificação do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE): Centro-Sul Cearense, Jaguaribe, Metropolitana de Fortaleza,

Noroeste Cearense, Norte Cearense, Sertões Cearense e Sul Cearense conforme a figura 1.

Figura 1 Estado do Ceará por Mesorregiões

Fonte: IPECE (2014).

O Ceará tem como principais atividades econômicas: agricultura, pecuária, comércio,

indústria, turismo e mineração. Segundo o IPECE (2012) o PIB per capita em 2010, do Ceará

foi de R$ 9.217,00, enquanto o do Nordeste foi de R$ 9.561,00 e o do Brasil de R$ 19.766,00.

Já se tratando da população, observa-se na tabela 1 que a população urbana é a que mais

cresce.

Tabela 1- Taxa média geométrica de crescimento anual da população (%) Situação do domicílio 1980/1991 1991/2000 2000/2010

Total 1,7 1,7 1,3

Urbana 3,6 2,8 1,8

Rural -1,1 -0,5 -0,1

Fonte: IPECE/ Ceará em números 2011.

3.2 Natureza e Fonte de Dados

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Com o propósito de analisar o comportamento da produção das principais culturas da

agricultura familiar no Ceará, no período 1990 a 2011, o estudo abordou as seguintes

variáveis: área plantada, área colhida e quantidade produzida e produtividade, para o Estado e

suas mesorregiões.

Os dados foram extraídos da Produção Agrícola Municipal (PAM), do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O período analisado compreende os anos de

1990 a 2011. Em termos de localização geográfica, o estudo compreende o Estado do Ceará e

suas sete mesorregiões, onde segundo a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), são: Centro-Sul Cearense, Jaguaribe, Metropolitana de Fortaleza, Noroeste

Cearense, Norte Cearense, Sertões Cearenses e Sul Cearense.

3.3 Modelo Shift Share

O modelo "shift-share" busca explicar a dinâmica da produção agrícola através da

decomposição dos fatores no qual são responsáveis pela variação da produção. Segundo

Almeida et al (2006), o crescimento das culturas pode ser explicado por dois componentes: o

estrutural, ligado à composição setorial das atividades da região, e o diferencial, associado às

vantagens locacionais comparativas. Assim, podem-se relacionar três efeitos explicativos na

variação da produção:

I - efeito área - EA;

II - efeito rendimento ou produtividade - ER;

III - efeito localização geográfica - EL;

O efeito área aponta as mudanças na produção que advém de modificações na área

cultivada, mantendo os demais efeitos constantes ao longo do tempo. Assim, um aumento na

produção é relacionado à incorporação de novas áreas que implica o uso extensivo do solo.

O efeito rendimento mostra a variação na produção gerada da variação da

produtividade, mantendo-se os outros efeitos fixos. Afirma Almeida et al (2006) que a

variação no rendimento pode refletir mudanças tecnológicas pela adoção de novos insumos,

técnicas de produção e melhoria do capital humano.

O efeito localização geográfica reflete as alterações na produção produzidas das

vantagens locacionais, ou seja, originadas de mudanças na localização das culturas entre

regiões, mantendo-se fixos os demais componentes.

O sub-índice “c” indica a cultura estudada e varia de 1 a n, com c assumindo os

valores {1, 2, 3, 4}, representando, respectivamente, as culturas de arroz, feijão, milho e

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36

mandioca, para o Ceará e para cada mesorregião. O subíndice “m” representa a mesorregião

de estudo, variando de 1 a k (com m variando de 1 a 7).

O subíndice “t” define o período de tempo. O período inicial é representado por “i” e o

período final por “f”.

3.4 Descrição das Variáveis Utilizadas

𝑋𝑐𝑡 → quantidade produzida da c-ésima cultura no estado, no período t;

𝑊𝑐𝑚𝑡 → área total cultivada com a c-ésima cultura, na m-ésima mesorregião, no período t;

𝑊𝑐𝑡 → área total cultivada com a c-ésima cultura no estado, no período t;

𝑊𝑚𝑡 → área total cultivada das culturas, em hectares, na m-ésima mesorregião do estado, no

período t;

𝑊𝑡 → área total cultivada com as culturas, em hectares, no estado, no período t;

𝑍𝑐𝑚𝑡 → rendimento da c-ésima cultura, na m-ésima mesorregião do estado, no período t;

𝑈𝑐𝑚𝑡 → proporção da área total cultivada com a c-ésima cultura na m-ésima mesorregião, na

área cultivada da c-ésima cultura no estado (𝑊𝑐𝑚𝑡 / 𝑊𝑐𝑡), no período t;

𝑃 → coeficiente que mensura a modificação na área total cultivada das culturas entre o

período inicial e final (𝑊𝑓 /𝑊𝑖).

3.5 Descrição do Modelo Matemático

Na tentativa de medir efeitos explicativos, foram utilizadas as transformações

matemáticas feitas por Almeida et al (2006).

A quantidade produzida, no estado, da c-ésima cultura, no período t, pode ser

apresentada pela seguinte equação:

𝑋𝑐𝑡 = ∑ (𝑊𝑐𝑚𝑡𝑍𝑐𝑚𝑡)

𝑘

𝑚=1

(1)

Com base na equação (1), pode-se determinar a quantidade produzida, no estado, da c-

ésima cultura, no período inicial "i".

𝑋𝑐𝑖 = ∑ (𝑊𝑐𝑚𝑖𝑍𝑐𝑚𝑖)

𝑘

𝑚=1

= ∑ (𝑈𝑐𝑚𝑖𝑊𝑐𝑖𝑍𝑐𝑚𝑖)

𝑘

𝑚=1

(2)

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37

As variáveis 𝑊𝑐𝑚𝑓 e 𝑍𝑐𝑚𝑓 são, respectivamente, área cultivada e rendimento da c-

ésima cultura na m-ésima mesorregião no período final ( f ), assim, a quantidade produzida da

c-ésima cultura no período final (𝑋𝑐𝑓) pode ser mensurada da seguinte forma:

𝑋𝑐𝑓 = ∑ (𝑊𝑐𝑚𝑓𝑍𝑐𝑚𝑓)

𝑘

𝑚=1

= ∑ (𝑈𝑐𝑚𝑓𝑊𝑐𝑓𝑍𝑐𝑚𝑓)

𝑘

𝑚=1

(3)

Se, no período considerado, apenas a área total cultivada com a cultura no estado se

alterar, a produção final (𝑋𝑐𝑓𝑊) será:

𝑋𝑐𝑓𝑊 = ∑ (𝑈𝑐𝑚𝑖𝑊𝑐𝑓𝑍𝑐𝑚𝑖)

𝑘

𝑚=1

(4)

No entanto, se a área e o rendimento variarem, permanecendo constantes a localização

geográfica e a composição da produção, a quantidade produzida no período “f” (𝑋𝑐𝑓𝑊𝑍) será:

𝑋𝑐𝑓𝑊𝑍 = ∑ (𝑈𝑐𝑚𝑖𝑊𝑐𝑓𝑍𝑐𝑚𝑓)

𝑘

𝑚=1

(5)

E se, por último, variarem a localização geográfica, juntamente com a área e com o

rendimento, a produção final será descrita por:

𝑋𝑐𝑓𝑊𝑍𝐺 = ∑ (𝑈𝑐𝑚𝑓𝑊𝑐𝑓𝑍𝑐𝑚𝑓)

𝑘

𝑚=1

= 𝑋𝑐𝑓 (6)

Pode-se expressar a mudança total da quantidade produzida da c-ésima cultura do

período inicial “i” para o período final “f” (𝑋𝑐𝑓 − 𝑋𝑐𝑖) pela equação:

𝑋𝑐𝑓 − 𝑋𝑐𝑖 = ∑ 𝑈𝑐𝑚𝑓𝑊𝑐𝑓𝑍𝑐𝑚𝑓

𝑘

𝑚=1

− ∑ (𝑈𝑐𝑚𝑖𝑊𝑐𝑖𝑍𝑐𝑚𝑖)

𝑘

𝑚=1

(7)

Que também pode ser expressa da seguinte forma:

𝑋𝑐𝑓 − 𝑋𝑐𝑖 = (𝑋𝑐𝑓𝑊 − 𝑋𝑐𝑖) + (𝑋𝑐𝑓

𝑊𝑍 − 𝑋𝑐𝑓𝑊) + (𝑋𝑐𝑓 − 𝑋𝑐𝑓

𝑊𝑍) (8)

Onde:

(𝑋𝑐𝑓 − 𝑋𝑐𝑖) → variação total da produção da c-ésima cultura entre o período inicial e final;

(𝑋𝑐𝑓𝑊 − 𝑋𝑐𝑖) → variação total da quantidade produzida da c-ésima cultura entre o período

inicial e final, quando apenas a área cultivada se altera, sendo denominada de efeito área

(EA);

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38

(𝑋𝑐𝑓𝑊𝑍 − 𝑋𝑐𝑓

𝑊) → variação total da produção da c-ésima cultura entre “i” e “f”, quando o

rendimento varia e as outras variáveis permanecem constantes, sendo chamada de efeito

rendimento (ER);

(𝑋𝑐𝑓 − 𝑋𝑐𝑓𝑊𝑍) → variação total da quantidade produzida da c-ésima cultura entre os períodos

“i” e “f”, devido à mudança da localização geográfica, mantendo constantes as outras

variáveis, sendo conhecida por efeito localização geográfica (EL).

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1. Produção das Quatro Culturas no Ceará

As variáveis, área plantada, área colhida e quantidade produzida, são muito

importantes na análise da produção de cada cultura, que são: arroz, feijão, milho e mandioca.

Deste modo, foi feita uma análise sobre as mesmas, envolvendo o período estudado que

compreende os anos de 1990 a 2011.

No Ceará o milho é a cultura mais plantada no decorrer dos anos, como mostra o

gráfico 1, com exceção apenas dos anos 1990, 1991, 1992, 1993, 1994 e 1995, onde segundo

os dados da FUNCEME estes anos foram respectivamente de seca, normal, seca, seca, normal

e chuvoso. Nesses anos a cultura com maior área plantada foi o milho.

Já o arroz foi a cultura menos plantada na maioria dos anos, pois diferentemente do

milho, esta cultura não pode ser plantada facilmente em qualquer área agrícola, em virtude da

elevada necessidade desta cultura por água para ser produzida ficando limitada nas áreas de

baixio. Os anos de 1996 e 1997 são aqueles em que a mandioca ocupa sua posição de menor

área plantada.

Gráfico 1: Área Plantada por cultura no Estado do Ceará no período: 1990-2011.

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SIDRA.

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

800.000

900.000

199

0

199

1

199

2

199

3

199

4

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5

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6

199

7

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8

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9

200

0

200

1

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2

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3

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4

200

5

200

6

200

7

200

8

200

9

201

0

201

1

Arroz

Feijão

Milho

Mandioca

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39

Tratando-se da área colhida no estado, o milho continua sendo a cultura que apresenta

uma maior área no decorrer dos anos, como mostra o gráfico 2, com exceção apenas dos anos

de 1990, 1991, 1992, 1993, 1994, 1995 e 1998, anos estes que a maior área esteve para o

feijão. O arroz continua apresentado uma área menor com exceção dos anos de 1996 e 1997,

pois nesses anos foi a mandioca a cultura com menor área colhida.

Gráfico 2: Área Colhida por cultura no Estado do Ceará no período:1990-2011.

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SIDRA.

Conforme o gráfico 3, a mandioca é a cultura com a maior quantidade produzida no

decorrer dos anos no Ceará. A explicação é em função da diferença de produtividade. Pois a

cultura da mandioca apesar de apresentar baixa produtividade em relação às demais regiões

brasileiras, ainda assim é bem superior à produtividade, também baixa, das demais culturas no

estado. Com exceção apenas dos anos de 1996 e 2011, anos estes que o milho apresentou a

maior quantidade produzida a mandioca apresentou a maior produção.

Gráfico 3: Quantidade Produzida por cultura no Estado do Ceará no período: 1990-2011.

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SIDRA.

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

800.000

900.000

199

0

199

1

199

2

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3

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4

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5

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6

199

7

199

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9

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0

200

1

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2

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3

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5

200

6

200

7

200

8

200

9

201

0

201

1

Arroz

Feijão

Milho

Mandioca

0

200.000

400.000

600.000

800.000

1.000.000

1.200.000

1.400.000

199

0

199

1

199

2

199

3

199

4

199

5

199

6

199

7

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8

199

9

200

0

200

1

200

2

200

3

200

4

200

5

200

6

200

7

200

8

200

9

201

0

201

1

Arroz

Feijão

Milho

Mandioca

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40

4.2 Efeitos Explicativos na Variação da Produção: Modelo Shift Share

Com o modelo shift-share, foi possível obter três efeitos explicativos para análise do

comportamento da produção das principais culturas da agricultura familiar no Ceará, os

cálculos foram feitos para o Estado e para cada uma das mesorregiões no período analisado.

O efeito total é decomposto nos efeitos área, rendimento e localização. Assim

consegue-se identificar a parcela de cada um no resultado final.

As tabelas de 2 a 5 apresentam em conjunto estes efeitos para o Estado e mesorregiões

para cada uma das culturas além de constar a taxa de crescimento do efeito total no período

analisado.

Observa-se na tabela 2 que tanto para o Estado como para as mesorregiões, todos os

efeitos área são negativos, o que implica dizer que a área plantada do arroz em 1990 foi maior

que a produção de 2011 em todas as mesorregiões e, por conseguinte no Estado. Já os efeitos

rendimento e localização são positivos, mas não suficientes para compensar o efeito área.

Desta maneira, tem-se um efeito total negativo para o Estado. O efeito total em taxa foi

negativo em 2,17%. Ou seja, em média a área plantada de arroz no Estado declinou nesta

magnitude anualmente ao longo do período analisado.

Analisando o efeito área por mesorregião observa-se que o maior efeito negativo foi

na mesorregião do Centro Sul Cearense e o menor foi na Metropolitana de Fortaleza. Vale

salientar que estas são respectivamente as que apresentam a maior e menor área plantada

desta cultura no Ceará.

Em relação ao efeito rendimento todas as mesorregiões apresentaram efeito positivo.

O maior efeito absoluto foi na mesorregião Centro Sul e a menor na Metropolitana de

Fortaleza.

Analisando o efeito localização observa-se comportamento similar em relação ao

efeito rendimento. Isto é, em todas as mesorregiões o efeito foi positivo. Contudo, o maior

efeito foi na Mesorregião Sul Cearense e o menor na Metropolitana de Fortaleza.

O efeito total para a produção de arroz foi positivo em quatro das mesorregiões

indicando que o efeito rendimento e localização compensaram o efeito negativo área.

Enquanto em três mesorregiões estes efeitos apesar de positivo não compensaram o efeito

área finalizando um efeito total negativo. O maior efeito positivo foi na Mesorregião

Noroestes Cearense e o menor no Centro Sul Cearense.

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41

Em termos relativos o maior efeito total positivo foi na Mesorregião Noroeste que

apresentou um crescimento anula de 2,17% enquanto o maior efeito total negativo na

produção de arroz foi na Metropolitana de Fortaleza com uma diminuição anual de 9,36%.

Tabela 2 - Efeitos explicativos na variação da produção do arroz

Unidade da Federação e

Mesorregiões Geográficas Efeito Área

Efeito

Rendimento

Efeito

Localização Efeito Total

Efeito Total

(taxa)

Ceará -135.894,55 6.021,65 75.228,73 -54.644,17 -2,17

Noroeste Cearense -3.499,93 163,03 5.503,02 2.166,12 2,17

Norte Cearense -6.619,61 353,00 7.093,57 826,95 0,52

Metropolitana de Fortaleza -2.018,85 4,07 247,96 -1.766,82 -9,36

Sertões Cearense -3.827,83 265,30 4.491,05 928,52 1,01

Jaguaribe -32.310,37 1.208,38 31.122,70 20,70 0,00

Centro-Sul Cearense -70.480,45 3.014,89 19.743,05 -47.722,51 -4,41

Sul Cearense -17.137,51 1.012,99 7.027,39 -9.097,13 -3,23

Fonte: Elaboração própria, a partir dos resultados obtidos com os dados do SIDRA/IBGE.

Analisando a decomposição do efeito total da produção de feijão nos efeitos área,

rendimento e localização para o Ceará observa-se que o efeito área é negativo enquanto o

efeito rendimento e localização são positivos e compensam o efeito área. Desta forma, o

efeito total é positivo. Em termos relativos observa-se que o efeito total cresce a uma taxa

anual de 3,36% no Estado entre 1990 e 2011 conforme a tabela 3.

Na mesma tabela tem-se que em todas as mesorregiões o efeito área é negativo. O

maior efeito negativo é na Mesorregião dos Sertões Cearense e o menor na Metropolitana de

Fortaleza.

Por outro lado, o efeito rendimento é positivo em seis das mesorregiões. É negativo,

apenas na Metropolitana de Fortaleza. O efeito rendimento positivo é maior na Mesorregião

Sertões Cearense.

O efeito Localização na produção de feijão é positivo em todas as mesorregiões, com

maior e menor magnitude nas Mesorregiões Sertões Cearense e Noroeste Cearense,

respectivamente.

Apenas na Mesorregião Metropolitana de Fortaleza o efeito total é negativo. Nas

demais mesorregiões os efeitos rendimento e localização são positivos e compensa o efeito

área negativo. Em termos absolutos o maior efeito total positivo é na Mesorregião Sertões

Cearense. Já em termos relativos o maior efeito é no Noroeste Cearense com crescimento

anula do efeito total de 5,56%. Já na metropolitana de Fortaleza o efeito total diminuiu

anualmente a uma taxa de 0,20%.

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42

Tabela 3 - Efeitos explicativos na variação da produção do feijão

Unidade da Federação e

Mesorregiões Geográficas Efeito Área

Efeito

Rendimento

Efeito

Localização Efeito Total

Efeito Total

(taxa)

Ceará -109.071,62 29.472,87 211.776,54 132.177,79 3,36

Noroeste Cearense -15.708,52 6.420,83 52.669,49 43.381,80 5,56

Norte Cearense -18.463,44 2.713,84 33.909,89 18.160,29 2,88

Metropolitana de Fortaleza -4.222,21 -11,46 4.060,01 -173,67 -0,20

Sertões Cearense -25.108,41 15.005,67 58.567,64 48.464,91 4,17

Jaguaribe -22.701,82 2.292,82 25.692,39 5.283,39 0,93

Centro-Sul Cearense -9.635,34 413,46 10.892,38 1.670,50 0,73

Sul Cearense -13.231,88 2.637,72 25.984,74 15.390,57 3,52

Fonte: Elaboração própria, a partir dos resultados obtidos com os dados do SIDRA/IBGE.

Os efeitos explicativos para a cultura do milho pode ser visto na tabela 4. Tem-se um

efeito área negativo para o Estado do Ceará. Contudo. Porém, os efeitos positivos do

rendimento e da localização contrapõem este efeito e tem-se um efeito total positivo para esta

cultura no período analisado. Em termo relativo, verifica-se um efeito total positivo que

cresce a uma taxa anual de 7,45% no Ceará.

Examinado os efeitos por mesorregião para a cultura do milho observa-se que em

todas as mesorregiões há um efeito área negativo. A Mesorregião Sul Cearense foi a que

apresentou a menor redução de área. Assim como aconteceu para o Estado como um todo,

observa-se que tanto o efeito rendimento como o efeito localização é positivo em todas as

mesorregiões. O maior efeito rendimento positivo foi na região Sul Cearense enquanto o

maior efeito localização positivo foi na Mesorregião Sertões Cearense. Ressalta-se que o

efeito rendimento no Sul Cearense se dá, em parte, pelo programa de plantio direto

implantado na região através da EMATERCE.

Em termos absolutos todas as mesorregiões apresentaram efeito total positivo com

destaque para a Mesorregião Sertões Cearense. Já em termos relativos, também quem

apresentou a maior taxa de crescimento anual do efeito total foi a Mesorregião Sertões

Cearense com a taxa de 9,14%.

Tabela 4 - Efeitos explicativos na variação da produção do milho

Unidade da Federação e

Mesorregiões Geográficas Efeito Área

Efeito

Rendimento

Efeito

Localização Efeito Total

Efeito Total

(taxa)

Ceará -156.257,81 146.395,68 722.681,49 712.819,36 7,45

Noroeste Cearense -20.787,32 11.713,74 99.970,11 90.896,53 7,26

Norte Cearense -28.947,84 10.558,75 92.076,73 73.687,64 5,48

Metropolitana de Fortaleza -1.915,54 64,63 8.044,64 6.193,73 7,06

Sertões Cearense -31.153,17 84.419,80 224.471,24 277.737,87 9,14

Jaguaribe -14.351,45 4.392,22 44.424,32 34.465,10 5,79

Centro-Sul Cearense -16.329,01 3.770,17 59.804,95 47.246,12 6,42

Sul Cearense -42.773,50 31.476,37 193.889,49 182.592,36 7,41

Fonte: Elaboração própria, a partir dos resultados obtidos com os dados do SIDRA/IBGE.

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43

A tabela 5 traz a decomposição da variação total da produção de mandioca nos efeitos

área, rendimento e localização assim como o efeito total em termos relativos para o Estado do

Ceará e as Mesorregiões.

Observa-se que há um efeito área negativo para o Estado seguido de um efeito

rendimento e localização positivo. Contudo estes efeitos em conjunto não contrapõem o efeito

área negativo o que resulta em um efeito total negativo para o Estado na cultura da mandioca.

A taxa de crescimento anual do efeito total para a cultura da mandioca no Ceará no período

1991 a 2011 é de -0,91%.

Analisando o efeito área para esta cultura nas mesorregiões do Estado do Ceará,

observa-se que este efeito é negativo em todas elas e com maior magnitude no Norte

Cearense. Já o efeito rendimento é positivo em cinco das mesorregiões e negativo em duas. O

maior efeito rendimento positivo é ocorreu no Norte Cearense e o maio efeito negativo

ocorreu no Sul Cearense.

O efeito localização, por sua vez apresentou-se positivo em todas as mesorregiões do

estado. Porém o seu maior efeito positivo foi registrado no Noroeste Cearense.

O efeito total na produção da mandioca foi positivo apenas no Noroeste Cearense. Em

todas as outras seis mesorregiões o efeito total foi negativo. O maior impacto negativo no

efeito total ocorreu no Sul Cearense. Já em termos relativos, na única mesorregião que

apresentou efeito total positivo, este efeito cresceu anualmente a uma taxa de apenas 0,03%.

Já o destaque em termos relativos no efeito total da produção de mandioca foi O Centro Sul

Cearense onde a produção de mandioca declinou a uma taxa anual de 15,67%.

Tabela 5 - Efeitos explicativos na variação da produção da mandioca

Unidade da Federação e

Mesorregiões Geográficas Efeito Área

Efeito

Rendimento

Efeito

Localização Efeito Total

Efeito Total

(taxa)

Ceará -858.525,22 42.086,45 623.624,16 -192.814,60 -0,97

Noroeste Cearense -216.472,84 24.442,66 193.782,10 1.751,93 0,03

Norte Cearense -247.677,79 15.617,86 187.527,38 -44.532,54 -0,70

Metropolitana de Fortaleza -61.669,89 1.455,57 58.903,24 -1.311,08 -0,10

Sertões Cearense -52.658,45 140,77 13.249,43 -39.268,26 -6,19

Jaguaribe -87.639,05 507,25 35.386,66 -51.745,13 -3,94

Centro-Sul Cearense -14.594,89 -1,15 403,33 -14.192,71 -15,67

Sul Cearense -177.812,31 -76,51 134.372,02 -43.516,81 -1,18

Fonte: Elaboração própria, a partir dos resultados obtidos com os dados do SIDRA/IBGE.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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44

A Agricultura Familiar tem um papel de destaque no desenvolvimento rural de

qualquer economia, pois o seu fortalecimento é capaz de fixar o homem no campo

contribuindo para a diminuição do êxodo rural e com ele problemas causados como o

crescimento desordenado das cidades.

No Nordeste, e especificamente no Ceará, os sistemas baseados na produção de

subsistência é utilizado entre os agricultores familiares mais pobres, tendo a característica de

produzir alguma renda externa, contando também com uma pequena produção para o

autoconsumo.

Este trabalho examinou a produção de arroz, feijão milho e mandioca que são as

principais culturas da agricultura familiar do Estado do Ceará no período de 1990 a 2011.

Observou-se que a cultura do milho destacou-se por apresentar a maior área plantada. Um

programa da EMATERCE em conjunto com a associação dos criadores de Aves do Estado

contribuiu, em parte para este desempenho. Por outro lado, a cultura do arroz foi a que

apresentou a menor área plantada nesse período.

Em um segundo momento foi feita a decomposição do efeito total da produção de cada

uma das culturas nos efeitos área, rendimento e localização assim como o efeito total relativo,

ou seja, teremos a taxa de crescimento tanto para o Estado do Ceará como para as

mesorregiões do Estado utilizando a metodologia do shift share.

Em geral tem-se um efeito área negativo para todas as culturas e praticamente em

todas as mesorregiões do Estado. Contudo, tem-se um efeito rendimento e localização

positivo nas culturas em quase todas as mesorregiões. Em algumas mesorregiões a soma

destes efeitos positivos contrapõe o efeito área negativo e tem-se um efeito total positivo. Para

o Ceará, o efeito total positivo ocorreu para as culturas do milho e feijão, o negativo para as

culturas do arroz e da mandioca.

Desta forma foi possível identificar de forma mais detalhada o que vem ocorrendo

com a produção das principais culturas da agricultura familiar no Estado do Ceará o que pode

contribuir para adoção de políticas agrícolas mais direcionadas para este setor de grande

importância do ponto de vista social na economia cearense.

Extensão deste trabalho se dará no sentido de identificar os determinantes dos efeitos

explicativos em cada uma das sete mesorregiões do Estado.

Referências

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ESTIMAÇÃO DOS FATORES DETERMINANTES DA TAXA DE MORTALIDADE

INFANTIL DOS ESTADOS BRASILEIROS

Janaildo Soares de Sousa1

Robério Telmo Campos2

Andréa Ferreira da Silva3

Joyciane Coelho Vasconcelos4

Gerlânia Maria Rocha Sousa5

RESUMO:

O artigo tem por objetivo mensurar os fatores determinantes da Taxa de Mortalidade

Infantil - TMI no Brasil. Esta análise será mensurada por outras variáveis que são

condicionantes na redução da TMI, como: Cobertura do Programa Saúde da Família -

PSF, desigualdade de renda mensurada pelo coeficiente de Gini, renda per capita, média

de anos de estudos das mulheres com 25 anos ou mais e domicílios com acesso a

saneamento sanitário. A série temporal do estudo compreende o período de 2001 a 2011,

o que diferencia o referente trabalho da literatura empírica já existente, além do uso de

novas variáveis na análise que não foram utilizados em outros estudos com tal

metodologia. Para esta análise utilizou-se a metodologia dados em painel, utilizando

ainda os modelos efeito fixo e aleatório. Os resultados estimados confirma a hipótese de

que as variáveis e, análise são fatores determinantes na redução infantil da mortalidade

para o Brasil. As evidências empíricas desse estudo podem ser utilizadas para o

planejamento e/ou formulação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento e

crescimento socioeconômico como estratégica de redução da TMI.

Palavras - chave: Taxa de Mortalidade Infantil. Desigualdade de renda. Políticas

públicas.

ABSTRACT:

The article aims to measure the determinants of infant mortality rate - TMI in Brazil.

This analysis will be measured by other variables that are determinants in reducing TMI,

1Especialista em políticas públicas sociais e de habitação. Economista. Mestrando em

Economia Rural (MAER) – Campus do Pici/UFC Fortaleza/Ceará. E-mail:

[email protected] – Tel: (83)-99664-2666. 2Prof. Dr. Adjunto do Curso de Mestrado em Economia Rural (MAER) - Campus do

Pici/UFC. Fortaleza/Ceará. E-mail: [email protected] – Tel: (85)-98883-5252. 3Economista. Mestre em Economia Rural. Doutorando em Economia pela Universidade

Federal da Paraíba – UFPB. E-mail: [email protected] – Tel: (88) 99729-

0750. 4Economista. Mestre em Economia Rural. Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente

pela Universidade Federal do Ceará–UFC, Campus do Pici/UFC. Fortaleza/Ceará. E-mail:

[email protected] - Tel: (85)33669781. 5Economista, Mestre em Economia Rural, Professora substituta da Universidade Federal

Rural do Semi – Árido (UFERSA).E-mail: [email protected] - Tel: (88) 997710020).

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such as Health Program coverage Family - PSF, income inequality measured by the Gini

coefficient, per capita income, average years of women's studies aged 25 and more

households with access to sanitary sanitation. The study of time series covers the period

2001-2011, which sets the related work of the existing empirical literature, and the use of

new variables in the analysis that were not used in other studies with this methodology.

For this analysis we used the methodology panel data, even using fixed and random

effects models. The estimated results confirm the hypothesis that the variables and

analysis are key factors in child mortality reduction for Brazil. The empirical evidence of

this study can be used for planning and / or development of public policies for the

development and socioeconomic growth as a strategic reduction of TMI.

Key words: Infant mortality rate. Income inequality. Public policies.

1. INTRODUÇÃO

Durante meados do século XX ocorreram mudanças favoráveis às condições de saúde

no Brasil, principalmente na mortalidade infantil. Tais mudanças trouxeram como melhorias,

a qualidade de vida da população e a queda da mortalidade infantil, aliadas aos avanços

tecnológicos.

Segundo Palloni (1980) as mudanças ocorridas durante o século XX se deram por

meio da incorporação das políticas de saúde para a redução da mortalidade infantil, porém nos

países menos desenvolvidos essa redução foi prematura, diferente dos países desenvolvidos,

em que alcançaram ganhos importantes na esperança de vida, com elevada redução da

mortalidade infantil; por sua vez, o declínio da mortalidade no primeiro ano de vida não

evoluiu de forma tão acentuada entre os países menos desenvolvidos.

A Taxa de Mortalidade Infantil (TMI) é um indicador comumente utilizado por

organismos internacionais para acompanhar os avanços das condições básicas de saúde dos

países em desenvolvimento. É um indicador muito importante, haja vista que tem um peso

significante na expectativa de vida ao nascer. A redução da mortalidade infantil na infância

faz parte dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), compromisso assumido

pelos países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) para que, com a

globalização, o mundo se torne mais inclusivo e equitativo no novo milênio (GARCIA;

SANTANA, 2011).

No Brasil, as taxas de mortalidade infantil têm mostrado declínios importantes nas

últimas décadas, no périodo de 1980 a 2010, houve um declínio de 82,80 para 15,97 dessa

taxa, mas são ainda maiores do que o esperado quando comparadas com outros países com

economias semelhantes. (SILVA, 2015) Em relação aos principais determinantes da tendência

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de queda observada, os estudos apontaram para a importância da implementação de políticas

públicas de saneamento básico e nutrição, na década de 1980; e a expansão da atenção

primária de serviços de saúde, especialmente materna e infantil ( AQUINO; OLIVEIRA;

BARRTETO, 2009).

Na literatura empírica nacional e internacional há diversos estudos que abordam a

estreita relação que a mortalidade infantil apresenta com os fatores sociais e econômicos,

sendo reconhecida há muito tempo, tais como: Monteiro; Szarfarc, 1987; Paim et al.

2011,Yunes; Albuquerque, 1983, Sousa; Leite Filho, 2008, Aquino; Oliveira; Barreto, 2009,

Silva et al, 2011, Almeida; Szwarcwald, 2012, Lourenço et al, 2014.

Levando em consideração a complexidade e o dinamismo dos processos que envolvem

a mortalidade infantil, faz-se necessário o seu contínuo acompanhamento, de modo que se

possa dispor de informações que permitam a análise da situação de saúde em nível local,

regional e em nível nacional para que se possam programar medidas de controle pertinentes à

redução.

A contribuição deste estudo em relação aos anteriores realizados no Brasil, citados

acima, é, primeiro, desenvolver uma análise mais robusta da real situação da TMI no Brasil

com base no modelo de dados de painel; a metodologia de dados em painel permite considerar

de modo mais eficiente o efeito específico das variáveis não observadas ao cobrir o período de

2001 a 2011, um período recente de análise. Dessa forma, o estudo apresenta uma análise

empírica inovadora, haja vista que busca analisar se o Programa Saúde da Família (PSF)

reduz a TMI, mas as condições socioeconômicas participam e influenciam nesse processo de

redução.

A justificativa em delimitar esse período, se deu por ser um período após a Declaração

dos Objetivos do Milênio, sendo o Brasil um dos signatários. Vale resaltar, que umas das

metas dos Objetivos do Milênio é a redução da mortalidade infantil. Com bases na literatura

nesse período (2001 a 2011), ocorreram algumas mudanças nas políticas de saúde e

saneamento, crescimento de alguns indicadores, bem como na redução de outros, inclusive da

TMI e da pobreza.

Assim, o presente trabalho tem como objetivo mensurar os fatores determinantes da

redução da Taxa de Mortalidade Infantil (TMI) no Brasil entre os anos de 2001 a 2011. A

despeito de a mortalidade infantil ser resultado de uma série de processos sociais, econômicos

e demográficos complexos, este trabalho propõe um modelo econométrico detalhado por

Mendonça (2006) para tentar definir seus principais determinantes. Assim, procura-se avaliar

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a situação dos estados brasileiros quanto aos níveis e determinantes da mortalidade infantil

uma vez que o diagnóstico preciso da situação é o primeiro passo para a proposição de

políticas públicas mais eficazes.

Além desta introdução, o artigo tem mais quatro seções: (ii) referencial teórico em que

aborda a taxa de mortalidade infantil e seus condicionantes; (iii) metodologia que trata da

base de dados utilizada na pesquisa e o modelo econométrico empregado para as estimações;

(iv) análise dos resultados e discussão e, por fim, (v) são apresentadas as principais

conclusões do estudo.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.2 A Taxa de Mortalidade Infantil – TMI e seus condicionantes socioeconômicos: Algumas

evidências empíricas

O debate sobre os determinantes da TMI foram tema de uma ampla discussão que

envolve diversas áreas, especialmente a de saúde e de economia aplicada. Atualmente, as

discussões sobre a temática são bastante instigantes, haja vista que vários estudos demonstram

algumas das causas da Mortalidade Infantil no Brasil. Vários pesquisadores já apresentaram

contribuições sobre a referente temática, os estudos divergem em razão do uso de

metodologias e modelos empíricos diferentes, porém os resultados são semelhantes, o que

evidencia que de fato tais variáveis são fatores condicionantes da redução da TMI.

As pesquisas já realizadas até abordam uma parte das variáveis do presente estudo,

entretanto o estudo inova pela análise em conjunto das mesmas e pela série temporal a ser

analisada (2001 a 2011). Sendo assim, nessa seção serão apresentados alguns relatos

empíricos internacionais e nacionais que tratam sobre os fatores condicionantes da redução da

TMI.

Alves e Belluzo (2004) estudaram a saúde da criança e a mortalidade infantil no

Brasil. O objeto da análise foi investigar os determinantes da mortalidade infantil, em nível

municipal, e para obter uma análise mais detalhada, considerando os fatores que afetam a

saúde infantil a nível tmunicipal, utilizaram o modelo de dado em painel dinâmico. Utilizaram

como base de dados, os dados censitários de 1970 a 2000. Os principais resultados da

pesquisa indicam que o saneamento, educação e renda per capita contribuiu para o declínio

da mortalidade infantil no Brasil no período, sendo o efeito mais forte no longo prazo do que

no curto prazo.

Aquino, Oliveira e Barreto (2009) analisaram a execução da Programa Saúde da

Família - PSF nos municípios brasileiros. O estudo teve como objeto de pesquisa analisar o

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51

impacto do Programa Saúde da Família – PSF na redução da mortalidade infantil nos

municípios brasileiros. Os dados utilizados na pesquisa foram: a cobertura do PSF e a Taxa de

Mortalidade Infantil – TMI para 771 de 5.561 municípios brasileiros no período de 1996 a

2004.

Para estimarem os efeitos do PSF sobre a TMI utilizaram a técnica de regressão

análise multivariada.as taxas de cobertura e de mortalidade infantil do PSF para 771 de 5.561

municípios brasileiros de 1996 a 2004. Foi realizada a técnica de análise multivariada para

dados em painel com uma resposta binomial negativa usando modelos de efeitos fixos que

controlaram as variáveis demográficas, sociais e econômicas. Os principais resultados

revelaram que o impacto do PSF sobre a TMI é altamente significativo.

Garcia e Santana (2011) avaliaram a evolução das desigualdades socioeconômica e a

mortalidade infantil no Brasil. O estudo teve como objetivo investigar a evolução temporal da

magnitude das desigualdades na mortalidade infantil e na infância, segundo a escolaridade

materna

e a renda domiciliar per capita, no período 1993-2008, no Brasil. Foram utilizados

microdados das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (PNAD). A medida de

desigualdade empregada foi o índice de concentração (IC), calculado para os óbitos infantis e

na infância, segundo escolaridade materna e renda domiciliar per capita.Os resultados

apontaram que no período em análise (1993 a 2008), houve uma acentuada redução das

desigualdades na mortalidade infantil. E que a escolaridade materna e a renda domiciliar per

capita influenciam significativamente na redução das mesmas. Em 2008, a concentração dos

óbitos na infância entre crianças cujas mães tinham menor escolaridade era maior do que a

concentração dos óbitos infantis.

E por fim, Nishimura e Sampaio (2014) estudaram o efeito do Programa “Pacto pela

redução da Mortalidade Infantil - PMI” no Nordeste de na Amazônia legal. O objeto de

estudo foi analisar se a execução do PMI conseguiu reduzir mortes infantis. Os dados

utilizados para as estimações foram coletados do Departamento de Informática do Sistema

Único de Saúde (DATASUS) e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

Humano (PNUD).

A metodologia utilizada se deu por meio da técnica de dados em painel em nível de

município e a estratégia de identificação via modelo de diferença em diferenças. Os resultados

mostram que o Pacto pela Redução da Mortalidade Infantil atinge seu objetivo ao reduzir

significativamente mortes de crianças de 0 a 1 ano de idade, particularmente atingindo grupos

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que se encontram em regiões de baixa renda e com maiores índices de mortalidade. Revelou

que a pobreza, e as condições de moradia são determinantes na taxa de mortalidade infantil.

Além da explanação, é preciso então que haja o redirecionamento do debate acerca dos fatores

condicionantes da redução da TMI, e o ponto de partida são as análises empíricas.

3 BASE DE DADOS

Os dados básicos utilizados no presente estudo foram coletados do Departamento de

Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), do banco de dados do Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (IPEADATA), e da Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílios (PNAD) referentes aos anos de 2001 a 2011. Sendo que o ano de 20106 foi feito

uma interpolação por não ter PNAD para o ano, em função da realização do Censo.

A partir dos dados do DATASUS, IPEADATA e das PNADs serão utilizadas

informações econômicas, demográficas, educacionais, de infraestrutura e saúde de cada

estado brasileiro referente aos anos de 2001 a 2011, tais variáveis serão confrontadas com a

TMI de cada estado brasileiro.

Os dados extraídos do DATASUS foram: Taxa de Mortalidade Infantil – TMI;

Cobertura do Programa Saúda da Família – PSF. Espera-se que quanto maior a cobertura do

PSF no Brasil, menor seja a TMI. A TMI é o número de óbitos de menores de um ano de

idade por mil nascidos vivos na população residente em determinado espaço geográfico, tais

variáveis foram logaritimizadas.

Já as variáveis: Índice de Gini (GINI), Renda familiar per capita (RENPERCAP) e

anos de estudo (ANOSEST) foram retiradas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

– PNAD. A renda familiar per capita foi construída pelos dados da PNAD, a preços

constantes em reais do ano de 2011, deflacionados pelo deflator para rendimentos da PNAD.

O Índice de Gini é um indicador utilizado para medir o grau de concetração de renda,

o qual varia entre o e 1. Quando o índice tem valor igual a 1 há uma concentração máxima de

renda, ou seja, existe perfeita desigualdade, isto é, a renda domiciliar per capita é totalmente

apropriada por

um único indivíduo. Quando ele tem valor igual à zero (0), há total ausência de concentração,

tem-se perfeita igualdade, isto é, a renda é distribuída na mesma proporção para todos os

domicílios. Quanto mais próximo da unidade, maior a desigualdade na distribuição de renda

6 No ano de 2010 utilizou o método matemático de interpolação, haja vista que não há dados disponibilizados

pela PNAD por ter sido um ano de Censo. Logo a interpolação obedeceu ao seguinte procedimento: An2010=

(Σani2009+Σani2011)/n. Nesse caso n=2.

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53

(NORONHA; ANDRADE, 2005). Espera-se que o sinal do índice de Gini seja positivo, o que

evidencia que a desigualdade de renda é um fator determinante da TMI. A variável Índice de

Gini foi logaritimizada, logo, sua interpretação será descrita como elasticidade da

desigualdade de renda.

Enquanto que a renda per capita é um indicador que contribui para a análise do grau

de desenvolvimento de um país ou região e consiste na divisão da renda nacional (produto

nacional bruto menos os gastos de depreciação do capital e os impostos indiretos) pela sua

população (SILVA; JUSTO, 2004). Espera- se que um aumento na renda reduza a TMI, uma

vez que as famílias estariam auferindo novas condições de qualidade de vida que dependem

diretamente da renda. Assim, o sinal esperado dessa variável é negativo.

No presente estudo a média da escolaridade das mulheres 25 anos ou mais

(ANOSEST), será utilizada como a variável de mensuração de educação das mães, embasada

pela literatura, em que define a escolaridade das mães influi nos cuidados, e com isso, reduz o

risco de mortalidade.. Espera-se também um sinal negativo, o que valida à hipótese de que a

escolaridade da mãe faz parte do conjunto de fatores responsáveis pela TMI. A variável foi

também logaritimizada.

E por fim, a variável domicílio com acesso a saneamento sanitário (DOASAN).

Conforme Mendonça e Mota (2007) o acesso às condições adequadas de saneamento está

ligada a renda do indivíduo. Acredita-se que o sinal dessa estimação apresente um sinal

negativo, sinalizando que o acesso a saneamento básico reduz a TMI. A variável domicílios

com acesso a saneamento básico sanitário também foi logaritimizada, logo, sua interpretação

será descrita como elasticidade dos domicílios com acesso a saneamento.

Há na literatura especializada a comprovação empírica da existência da forte relação

entre anos de estudos e renda, quanto maior o tempo em que às pessoas se dedicam aos

estudos melhores serão as suas rendas, pois as pessoas se tornariam bem mais qualificadas

para ingressar no mercado de trabalho e por isso conseguiriam melhores salários, devido ao

capital humano por elas adquirido (SACHSIDA; LOUREIRO; MENDONÇA, 2004).

4 METODOLOGIA

O modelo empírico escolhido busca incorporar explicitamente, para o nível agregado,

os fatores condicionantes mais importantes da redução da Taxa de Mortalidade Infantil –

TMI, isto é, a probabilidade de óbitos da criança antes do primeiro ano de vida. Vale destacar

que esse conjunto de variáveis é similar ao utilizado em outros trabalhos empíricos que

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54

utilizam dados agregados, como Corman et al. (1987), apud Serra (2004), Frank et al. (1992),

apud Serra (2004), Hanratty (1996), apud Serra (2004), Goldman e Grossman (1982), apud

Serra (2004) e Joyce (1987), apud Serra (2004), entre outros

O objeto da análise econométrica empreendida foi verificar estimação das variáveis

socioeconômicas resulta em um impacto positivo na redução da TMI, que sirva para a adoção

e/ou formulação de políticas públicas direcionadas a cada um dos estados em análise.

A hipótese do modelo econométrico pode ser justificada pela equação (1), utilizada

por Andrade (2012).

TMI = f(cpsf,Gini,Ren,Anest,Dsan) (1)

Em que: TMI é a variável dependente do modelo proposto. Essa variável depende de

um vetor (cpsf) de cobertura do Programa Saúde da Família – PSF na área, da renda familiar

per capita local (Ren) - a qual serve como proxy para a capacidade de aquisição de insumos

não observados no modelo, como calorias -, de um vetor de variáveis exógenas de risco para a

saúde infantil medidas em nível local (Anest) e (Dsan), ditas como variáveis condicionantes a

saúde materno-infantil.

Entretanto, em razão de o presente estudo adotar um modelo de regressão com dados

em painel com n observações, T períodos e k variáveis, a equação (1) pode ser reapresentada

conforme mostra a equação (2).

𝑌𝑖𝑡 = 𝛼𝑖 + 𝛽𝑋𝑖𝑡 + 𝑢𝑖𝑡, i =1,…., N; t =1,…., T (2)

Em que uit = αi+μit

Dessa forma, Yit é a variável dependente da análise e compreende a TMI condicionada

pelos fatores socioeconômicos inadequados dos estados nordestinos i no ano t, Xit representa

um vetor de variáveis explicativas associadas ao modelo. Como pode ser observado numa

estrutura básica do modelo de dados em painel, o distúrbio εit é formado por dois

componentes, αi é o termo estocástico inerente às unidades individuais, de forma que αi ~(0,

σα²) que se denomina efeito individual, ao passo que μit é um distúrbio estocástico, tal que uit

~(0, σn²). Além disso, tem-se ainda que E[uit αi ] = 0 e E[uit xit]= 0.

4.1 Dados em painel

O uso de dados em painel possibilita uma melhor investigação sobre a dinâmica das

mudanças nas variáveis, tornando possível considerar o efeito das variáveis não observadas

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55

pelo modelo. Assim, o presente estudo utilizará o modelo de regressão com dados em painel

para contribuir numa melhor estimação e análise das possíveis correlações entre a Taxa de

Mortalidade Infantil - TMI e seus fatores condicionantes. Uma característica dos dados em

painel é por terem observações em duas dimensões, em geral, o tempo e o espaço, em que as

unidades observáveis são os estados brasileiros e o período de tempo compreende os anos de

2001 a 2011.

A especificação do modelo linear simples com dados em painel pode ser representada

a seguir:

𝑌𝑖𝑡 = 𝛼𝑖 + 𝛽𝑋𝑖𝑡 + 𝑢𝑖𝑡 (3)

em que 𝑌𝑖𝑡 é a variável dependente, 𝑋𝑖𝑡 representa a matriz das variáveis explicativas, 𝛽 é o

vetor de coeficientes angulares a serem estimados, 𝛼𝑖 refere-se ao parâmetro de intercepto

desconhecido para cada indivíduo e representa a heterogeneidade não observada do modelo,

𝑢𝑖𝑡 é o erro estocástico em que, por suposição 𝐸( 𝑢𝑖𝑡 𝑋𝑖, 𝛼𝑖⁄ ) = 0. O subscrito i denota i = 1,

2, ..., n, para as diferentes unidades observáveis. E o subscrito t representa t = 1, 2, ..., t, para o

período de tempo que será analisado.

Conforme Cameron e Trivedi (2005), o uso de dados em painel fornece informações

sobre os indivíduos tanto por meio do tempo, quanto entre eles, utilizando uma gama muito

maior de modelos e estimadores.

Enquanto que na visão de Loureiro e Costa (2009), nas análises que usam dados em

painel há uma melhor compreensão das variáveis, haja vista, tal método possibilitar uma

melhor investigação da sinergia das mudanças nas variáveis, tornando presumível considerar

o efeito das variáveis não observadas. Outro benefício é a avanço na inferência dos

parâmetros estudados, pois eles proporcionam mais graus de liberdade e maior variabilidade

na amostra em análise com dados em cross-section ou em séries temporais, o que valida à

eficiência dos estimadores econométricos.

4.1.1 Heterogeneidade Não-observada

Nos estudos empíricos com dados em painel um dos problemas é a heterogeneidade

não observada. Nesse caso, teriam outros fatores condicionantes que estariam influenciando a

variável dependente, mas que não estão sendo levados em consideração no modelo da

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equação do conjunto de variáveis explicativas, por não serem absolutamente observáveis ou

quantificáveis (LOUREIRO; COSTA, 2009).

Induzindo o problema da heterogeneidade não observada, a equação (4) pode ser

reescrita da seguinte forma:

𝑌𝑖𝑡 = 𝛼𝑖 + 𝛽𝑋𝑖𝑡 + 𝑐𝑖 + 𝑢𝑖𝑡 (5)

em que 𝑐𝑖 representa a heterogeneidade não observada em cada unidade observacional (no

presente caso, cada estado) constante ao longo do tempo.

Se a heterogeneidade não observada (𝒄𝒊) apresentar correlação com qualquer variável

em 𝑿𝒊𝒕 e tentar aplicar o modelo tradicional por Mínimos Quadrados Ordinários (MQO),

nesse caso as estimativas serão não só viesadas, como também inconsistentes

(WOOLDRIDGE, 2002).

4.1.2 Modelo efeito fixo

No intuito de estimar a equação (1) de forma consistente, a abordagem mais usual no

contexto de dados longitudinais é a de Efeitos Fixos. Nesse método de estimação, a ideia é

eliminar o efeito não observado, 𝒄𝒊. A estimação é feita considerando que existe

heterogeneidade entre os indivíduos e que ela é captada pela constante de modelo, que é

diferente de indivíduos para indivíduos. Ou seja, supõe-se que o intercepto varia de um

indivíduo a outro, mas é constante ao longo do tempo.

O modelo de Efeitos Fixos é representado pela expressão abaixo:

𝑌𝑖𝑡 = 𝛼𝑖 + 𝛽𝑋𝑖𝑡 + 𝑢𝑖𝑡 (6)

em que 𝛼𝑖 representa a constante que é diferente para cada indivíduo e capta as diferenças que

são invariantes no tempo.

Neste estudo serão utilizados dois modelos para cada efeito. O modelo 1 compreende

as duas equações (7 e 8):

lnTMIit = αi +β0lncbrpsf +β1lngini +β2lnrenpercapit +β3lnsaneasan + uit (7)

Em que:

αi= intercepto

β0lncbrpsf= Elasticidade da cobertura do Programa Saúde da Família

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57

β1lngini= elasticidade do índice de gini

β2lnrenpercapit= elasticidade da renda per capita

β3lnsaneasan= elasticidade dos domicílios com acesso a saneamento sanitário

Enquanto que a equação do modelo 1 pode ser representado da seguinte forma:

lnTMIit = αi +β0lngini +β1lnrenpercapit +β2lnanosestudm + β3lnsaneasan +uit (8)

Em que:

αi= intercepto

β0lngini= elasticidade da desigualdade de renda

β1lnrenpercapit= elasticidade da renda per capita

β2lnanosestudm= elasticidade de anos de estudos das mulheres com 25 anos ou mais

β3lnsaneasan= elasticidade dos domicílios com acesso a saneamento sanitário

4.1.3 Modelo de efeitos aleatórios

A estimação no modelo de Efeitos Aleatórios é realizada avaliando o efeito não

observado 𝑐𝑖, que é posto junto com o termo de erro estocástico, 𝑢𝑖𝑡. Considerando a

heterogeneidade dos indivíduos como sendo parte integrante do termo de erro. O modelo é

representado da seguinte forma:

𝑌𝑖𝑡 = 𝛼𝑖 + 𝛽𝑋𝑖𝑡 + (𝑐𝑖 + 𝑢𝑖𝑡) (9)

em que 𝛼𝑖 = 𝛼 + 𝑐𝑖 e 𝑐𝑖 representam o efeito aleatório individual não observável. Ou seja, os

modelos de efeitos aleatórios consideram a constante não mais como sendo parâmetro

constante, mas como um parâmetro aleatório não observável.

Assim, a principal diferença entre os dois modelos está no fato de que o modelo de

efeitos fixos considera que as diferenças entre os indivíduos são captadas na parte constante,

enquanto que, no modelo de efeitos aleatórios, essas diferenças são captadas no termo de erro.

No modelo 2 via o efeito aleatório será utilizado o seguinte equação:

lnTMIit = αi +β0lngini +β1lnrenpercapit +β2lnanosestudm + β3lnsaneasan +(ci + uit) (10)

em que:

αi= intercepto

β0lngini= elasticidade da desigualdade de renda

β1lnrenpercapit= elasticidade da renda per capita

β2lnanosestudm= elasticidade anos de estudos das mulheres com 25 anos ou mais

β3lnsaneasan= elasticidade dos domicílios com acesso a saneamento

4.1.4 Teste de Hausman

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A escolha da abordagem entre os dois efeitos (Efeito fixo e Efeito aleatório) será

definida pelo teste de Hausman. O teste de Hausman é um teste de especificação de referência

para inferir sobre a endogeneidade dos repressores. Podendo ser utilizado noutro contexto, o

teste de Hausman procura comparar estatisticamente dois estimadores �̂�𝐸𝐹e �̂�𝐸𝐴 para o mesmo

modelo de vetor de parâmetros �̂�.

Seja �̂�𝐸𝐹 o vetor de estimativas de efeitos fixos e �̂�𝐸𝐴 o vetor de estimativas de efeitos

aleatórios, sob a hipótese nula de:

𝐻0: �̂�𝐸𝐹 − �̂�𝐸𝐴 = 0 (i.e efeitos aleatórios é válido), a estatística:

𝐻 = [�̂�𝐸𝐹 − �̂�𝐸𝐴]′[𝑉 (�̂�𝐸𝐹) − 𝑉 (�̂�𝐸𝐴) ]

−1[�̂�𝐸𝐹 − �̂�𝐸𝐴]

(11)

Possui distribuição 𝑋2com K-1 graus de liberdade. Se essa estatística exceder o valor

tabelado, devemos utilizar efeitos fixos.

Assim sendo, o Teste de Hausman determina qual o modelo adequado para cada

estimação. O Modelo de Efeitos Fixos é adequado quando a estatística do teste rejeita a

hipótese nula. Não obstante, o Modelo de Efeitos Aleatórios é o melhor modelo quando aceita

a hipótese nula do Teste de Hausman.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os estimadores da equação (7 e 8) foram estimados usando um modelo linear de dados

em painel, em que, após a realização do teste de Hausman (11), identificou-se que a estimação

por efeito fixo é a mais adequada para a presente estrutura dos dados. Ao rejeitar a hipótese

nula, o modelo de efeitos fixos é o mais apropriado para explicar as variações na redução da

taxa de mortalidade infantil. A diferença entre os estimadores obtidos pelos dois métodos

revela esse resultado. Logo, essa análise dará ênfase aos resultados estimados pelo efeito fixo.

A Tabela 1 apresenta a regressão para um painel de dez anos (2001 a 2011), no qual

foram considerados todos os estados brasileiros. Os resultados mostram que a Cobertura do

Programa Saúde da Família - PSF (cbrpsf) apresentou significância estatística de 1%, bem

como exibiu o sinal esperado. Essa variável negativa valida à hipótese de que o aumento dos

investimentos na política pública (PSF) reduz a Taxa de Mortalidade Infantil - TMI.

Tais dados corroboram com Aquino, Oliveira e Barreto (2009) que analisaram o

impacto do PSF na redução da TMI nos municípios brasileiros. Segundo os autores após a

implantação da política houve uma redução constante da TMI, isso se deu pelo fato de que o

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PSF inclui um vasto conjunto de ações (promoção do aleitamento materno, pré-natal,

neonatal, e ações para a prevenção e tratamento das doenças prevalentes na infância)

identificado como intervenções eficazes em saúde para reduzir a TMI.

Conforme o esperado, a elasticidade da desigualdade de renda (Lngini) apresentou o

sinal esperado (+), e foi significativa a 1%. Essa variável positiva mostra que a desigualdade

de renda contribui para o aumento da TMI, o que pode ser observado para o Brasil no período

em análise. Esse resultado corrobora com os estudos de Silva (2014), Campelo (2013),

Andrade et al (2013), Wilkinson e Pickett (2006) e Marmont (2002).

As demais variáveis (renpercapit e saneasan) condicionantes da redução da TMI

também tiveram sinais conforme a literatura empírica. A variável renda per capita foi

utilizada para demonstrar que a pobreza familiar é um dos fatores condicionantes da TMI, o

que pode ser confirmado na análise de países com menor renda per capita (WORLD BANK,

2013). Logo, um aumento de 1% em investimentos que ampliem o saneamento básico, irá

contribuir em torno de 0,14% na redução da TMI.

No período de 1993 a 2003 as evidências empíricas comprovam que renda per capita é

um contributivo para o aumento da TMI, onde foi possível estimar que o maior número de

óbitos infantis se deu em famílias cujas mães tinham menor renda (GARCIA; SANTANA,

2011).

Tabela 1 – Estimações do Modelo 1 para os efeitos fixos e efeitos aleatórios da redução da

TMI para o Brasil, 2001-2011. Estimadores Modelo 1

(Efeito fixo)** Estimações do Modelo 1

(Efeito aleatório)

Constante α 7.827051

(0.3146236)

0.000*

7.677169

(0.2551542)

0.000*

Lncbrpsf -0.0807513

(0.0256401)

0.002*

-0.0925869

(0.0197481)

0.000*

Lngini 0.8075439

(0.1661797)

0.000*

0.7323991

(0.1535451)

0.000*

Lnrenpercapita -0.6526951

(0.0551304)

0.000*

-0.6296481

(0.0423731)

0.000*

Lnsaneasan -0.1389123

(0.0284149)

0.000*

-0.145926

(0.025675)

0.000*

R2

0.7668 0.7665

N 297 297

Test Hausman Chic2

1.96<5%

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60

Fonte: Resultados obtidos pelos autores a partir dos dados do IPEADATA, DATASUS e PNADs de 2001 a

2011. Obs: (i) Os valores entre parênteses são os desvios padrão (ii) *Indica nível de significância de 1% (iii)

**Modelo a ser analisado (Efeito Fixo)

A variável saneamento sanitário capta os domicílios que possuem saneamento

sanitário, ou seja, mostra as condições sanitárias da população, sendo estaticamente

significativa para os estados brasileiros. Conforme os dados da Tabela 1, a redução da

privação de saneamento básico reduz a TMI nos estados brasileiros. Tais dados corroboram

com os estudos de Mendonça e Motta (2005).

As estimações das elasticidades da Cobertura do Programa Saúde da Família – PSF na

Tabela 1, pelo efeito fixo (modelo 1), foi de (-0.0807513), enquanto que o índice de gini,

renda per capita, e acesso a saneamento sanitário nas Tabela 1 e 2 (modelo 1 e 4) foram de

(0.8075439 e 0.8052376), (-0.6526951 e -0.484411) e (-0.1389123 e -0.140472),

respectivamente.

Os resultados indicam que a variável de maior impacto no modelo 1 (Tabela 1) foi o

índice de Gini e renda per capita. Dessa forma, tais dados servem para auxiliar o processo de

elaboração de políticas públicas de combate da redução da TMI, haja vista que apresentaram

maior impacto na análise (efeito fixo).

A Tabela 2 apresenta os resultados do modelo da equação (9) e (10) respectivamente.

Foram estimados também usando o modelo linear de dados em painel, em que, após a

realização do teste de Hausman (11), auferiu-se que a estimação por efeito aleatório é a mais

apropriada para a estrutura dos dados. Ao aceitar a hipótese nula, o modelo efeitos aleatórios é

o mais apropriado para explicar as oscilações na TMI. Dessa forma, a análise será pautada

apenas com os estimadores de efeitos aleatórios.

Tabela 2 – Estimações dos modelos 2 para os efeitos fixos e aleatórios da redução da TMI para o Brasil, 2001-

2011.

Estimadores Modelo 2

(Efeito fixo) Modelo 2**

(Efeito aleatório)

Constante α 7.448414

(0.3419479)

0.000*

7.26441

(0.2808977)

0.000*

Lngini 0.6222696

(0.1814485)

0.001*

0.8052376

(0.1632928)

0.000*

Lnrenpercapit -0.4597256

(0.0831672)

0.000*

-0.484411

(0.0678874)

0.000*

Lnanosestud -0.6693192

(0.1694054)

0.000*

-0.4330015

(0.1449601)

0.003*

Lnsaneasan -0.126851

(0.0282852)

-0.140472

(0.0263619)

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61

0.000* 0.000*

R2

0.7715 0.7694

N 297 297

Test Hausman Chic2 126.01>5%

Fonte: Resultados obtidos pelos autores a partir dos dados do IPEADATA, DATASUS e PNADs de 2001 a

2011.

Obs: (i) Os valores entre parênteses são os desvios padrão. (ii) *Indica nível de significância de 1%. (iii)**

Modelo a ser analisado (Efeito Aleatório).

As variáveis que causaram maior impacto no modelo 2 (efeito aleatório) foram: a

média de anos estudos das mães com 25 anos ou mais, índice de Gini e a renda per capita. Os

resultados foram de (0.8052376), (-0.484411) e (-0.4330015), seguido da variável saneamento

sanitário com impacto de (-0.140472), respectivamente.

A determinação da TMI via a renda per capita e a escolaridade corrobora com estudos

da literatura especializada, pois revela que o maior número de óbitos infantil se dá em

famílias de renda baixa, e nas famílias em que as mães possuem uma baixa escolaridade. De

conformidade com Maia, Sousa e Mendes (2012) esse resultado assume significância uma vez

que a escolaridade materna é tida como um indicador da condição socioeconômica da mãe e

de sua família, relacionando-se nesse contexto com o perfil cultural e comportamental,

ligados aos cuidados de saúde, agindo como importante determinante da mortalidade infantil .

O presente estudo corrobora os resultados encontrados por Macinko et al. (2006), no

qual realizou o estudo ecológico incluindo 537 microrregiões no Brasil, onde observou que

depois de controlarem outros determinantes da saúde, notaram que um aumento de 10% dos

investimentos do PSF acarretava uma queda de 0,45% na taxa de mortalidade infantil. Uma

redução maior que o impacto da renda per capita, e anos de estudo das mães, além de

confirmar a hipótese que em áreas não cobertas pelo PSF tende a uma maior ocorrência de

óbitos infantis (LIRA et al., 2004).

6 CONCLUSÃO

O objetivo do artigo foi analisar os fatores condicionantes da redução da Taxa de

Mortalidade Infantil – TMI nos estados brasileiros no período de 2001 a 2011. A metodologia

empregada utilizada consistiu na estimação de uma equação linear, na qual a variação da

redução da TMI é explicada por características socioeconômicas como: cobertura do

Programa Saúde da Família, índice de Gini, renda per capita, anos de estudos das mulheres

com 25 anos médios de estudo ou mais, e domicílios com acesso a condição de saneamento

sanitário para um painel de dados com 26 estados do Brasil mais o Distrito Federal, no

período de 10 anos que compreende de 2001 a 2011.

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62

Em geral, os resultados mostraram que a redução da TMI está intrinsecamente

relacionadas às políticas públicas de combate, bem como as condições socioeconômicas do

país, região, estados e municípios. Revelou que políticas públicas de combate da desigualdade

de renda são mais eficientes na redução da TMI do que a própria política vigente (PSF), bem

como políticas de combate a pobreza e de acesso à educação são fatores condicionantes a

redução da TMI, e por fim políticas que expandam o saneamento básico.

Dessa forma, infere-se que a redução da desigualdade de renda, do aumento na renda

per capita, ampliação à educação e saneamento compõe uns dos principais determinantes da

Taxa de Mortalidade Infantil. Se políticas públicas não forem criadas com base nessas

evidências empíricas, corre o risco de uma estagnação da TMI.

As evidências deste estudo contribuem para o debate sobre as tendências futuras da

TMI nos estados brasileiros. Os resultados indicam que a medida que há aumentos de

investimentos no PSF, e em políticas públicas e/ou programas que reduzam a desigualdade de

renda, que aumente a renda per capita, expanda o acesso à escolaridade e saneamento, a TMI

reduz de forma altamente significativa.

Portanto, os resultados dessa pesquisa podem ser utilizados para o planejamento e/ou

formulação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento e crescimento

socioeconômico como estratégica de redução da TMI. Uma vez detectada os fatores

determinantes da TMI.

Cabe ainda resaltar que outros fatores devem ser considerados na análise para futuros

trabalhos, a exemplo nos municípios brasileiros no mesmo período do presente estudo, e/ou

por regiões, e por fim nos municípios de cada Estado.

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IDENTIFICAÇÃO DE AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS NO ESTADO DO CEARÁ

NOS ANOS 2006 E 2012 VIA ÍNDICE DE CONCENTRAÇÃO NORMALIZADO

(ICN)

Daniele Cruz dos Santos1

Otácio Pereira Gomes2

Alan Marcel Braga Feitosa3

RESUMO

O presente artigo visa identificar as aglomerações produtivas (consideradas especializadas)

nos anos de 2006 e 2012 no Estado do Ceará, fazendo uma análise comparativa entre dois

anos. Com dados extraídos do Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA,

utilizando-se da metodologia do Índice de Concentração Normalizado (ICN), identificou-se

um aumento no número de atividades especializadas, destacando-se o setor industrial com

oito atividades entre as doze classificadas, aumento da participação do setor de serviços e

redução da participação do setor agropecuário.

Palavras-chave: Setores produtivos. índice de concentração. Aglomeração.

ABSTRACT

This article aims to identify the productive agglomerations (considered specialized) in 2006

and 2012 in the state of Ceará, making a comparative analysis of two years. With data

extracted from IBGE Automatic Recovery System - CIDER, using the methodology of

Normalized Concentration Index (ICN), we identified an increase in the number of specialized

activities, with emphasis on the industrial sector with eight activities among the twelve

classified, increased share of the services sector and reducing the contribution of the

agricultural sector.

Keywords: Productive sectors. Concentration Index. Clusters.

1Professora do curso de economia da Universidade Regional do Cariri – URCA, campus Iguatu e pós graduanda

em Gestão financeira e consultoria empresarial pela URCA. E-mail: [email protected]; Cel. (88)

9 9911-1695. 2Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA), Mestre em

Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará (UFC-MAER) e atualmente é professor temporário da

URCA-UDI, campus Iguatu-Ce. Email:[email protected]; Cel.(88)99601-1930. 3 . Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA), Unidade Descentralizada

de Iguatu (UDI). Email: [email protected] Cel.(88)99989-7294.

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1 INTRODUÇÃO

Estudar a estrutura produtiva das regiões, visando a identificação de aglomerações

particulares locais e, ao mesmo tempo, poder 4entendê-las, construindo propostas assertivas de

redistribuição de atividades e setores, para a melhoria dos resultados individuais regionais,

não é uma tarefa fácil. Promover um planejamento regional com vistas a atender as

expectativas locais de crescimento e aproveitar a mão-de-obra endógena (para implementar

empreendimentos com os menores custos de produção), são algumas das premissas que

estudiosos como Losch, Thünen, Weber e Isard se utilizaram para fundamentar suas teorias

sobre localização das atividades socioeconômicas (FERREIRA, 1989).

Para apreender a estrutura local de formação de fatores de produção como capital e

trabalho, é preciso lançar mão de algumas metodologias, as quais visam identificar em quais

setores estes fatores estão mais concentrados, que pode ser em parte, devido à dinâmica e

estrutura produtiva adotada na região.

O planejador regional necessita conhecer essa estrutura, para propor políticas que

aproveitem o caráter fértil da região a ser desenvolvida, reduzindo os custos com

aperfeiçoamento dos meios de produção. O principal deles, o fator trabalho, e o fator não

menos importante, os investimentos, devem estar atrelados a atividades que consigam extrair

a produtividade ótima com o mínimo de recursos possíveis. Não se pretende com este estudo,

esgotar o pensamento sobre desigualdades regionais ou o esmiuçar o caráter dinâmico da

formação econômica do Ceará, por já existirem diversas literaturas direcionadas a discutir

esse debate, alguns inclusive, utilizados para embasar o referencial teórico desta pesquisa.

Daniele Cruz dos Santos. Professora do curso de economia da Universidade Regional do Cariri – URCA,

campus Iguatu e pós graduanda em Gestão financeira e consultoria empresarial pela URCA. E-mail:

[email protected]; Cel. (88) 9 9911-1695.

Otácio Pereira Gomes. Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri

(URCA), Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará (UFC-MAER) e atualmente é

professor temporário da URCA-UDI, campus Iguatu-Ce. Email:[email protected]; Cel.(88)99601-1930.

Alan Marcel Braga Feitosa. Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri

(URCA), Unidade Descentralizada de Iguatu (UDI). Email: [email protected] Cel.(88)99989-7294.

Domingos Isaias Maia Amorim. Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional

do Cariri (URCA), Unidade Descentralizada de Iguatu (UDI). Email: [email protected]

Cel. (88)99713-0521

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Porém pretende-se sim, apresentar alguns setores que foram fundamentais no processo de

crescimento do emprego no período estudado.

A problemática que remeteu os autores desta pesquisa foi a de identificar os setores

com aglomerações produtivas do emprego no Estado do Ceará nos anos de 2006 e 2012 e

compará-los, visando a identificação de tendência à concentração das classes de atividade

estudadas. Apresentar-se-á quais os setores-chave propulsores do crescimento do Ceará e

buscar-se-á também, as variações estruturais que ocorreram durante esse período.

O objetivo principal deste estudo é o de conhecer os setores com aglomerações

produtivas no ano de 2006 e 2012. Este estudo se justifica pelo fato de apresentar as possíveis

transformações ocorridas na estrutura de empregos nos anos de 2006 para 2012, através do

Índice de Concentração Normalizado (ICN) que identifica quais os setores são mais

especializados em determinadas regiões.

Tem caráter exploratório e descritivo, utilizando-se do método dedutivo de

investigação. Para os dados teóricos, buscou-se fontes bibliográficas em livros impressos e

artigos científicos de eventos que foram disponibilizados na internet (anais eletrônicos). O

ICN irá identificar quais classes de atividade possuem maior especialização de acordo com a

metodologia proposta.

Além desta introdução, o artigo está dividido em cinco seções. Na seção dois serão

abordadas as teorias de economia regional, de localização e distritos industriais para dar

embasamento ao estudo ora proposto. Na seção 3, será apresentada a dinâmica produtiva do

Ceará de acordo com estudiosos na área e o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do

Estado do Ceará – IPECE. Na seção 4, descreve-se a metodologia proposta e as fontes de

dados. Na seção 5 serão discutidos os resultados e na 6ª. e última seção, apresenta-se as

considerações finais.

2 ECONOMIA REGIONAL, TEORIAS DE LOCALIZAÇÃO DE EMPRESAS E OS

DISTRITOS INDUSTRIAIS

O crescimento das regiões é desigual, tanto em detrimento da estrutura produtiva e

política local, quanto da disponibilidade de fatores de produção, além do fator histórico que

caracteriza a formação econômica das cidades, estados e nações. Essas diferenciações, se

utilizadas como objeto de estudo de planejadores regionais, podem contribuir na identificação

dos motivos que expliquem porque alguns setores são dinâmicos em determinadas áreas,

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promovem crescimento econômico, atração de novas empresas e fatores de produção, mas

esses mesmos setores não são capazes de promover o desenvolvimento em outras regiões,

vizinhas ou não.

Haddad e Andrade (1989) explicam que “o crescimento do emprego é maior em

alguns setores do que em outros, e em algumas regiões do que outras”. É partindo dessa

análise empírica que se fundamenta este trabalho, com vistas a explorar a dinâmica setorial do

Estado do Ceará a partir de dados quantitativos. Sabe-se que já existem estudos na mesma

temática, mas, de forma rudimentar, esta pesquisa visa apresentar o processo de identificação

de especialização setorial a partir do Índice de Concentração Normalizado (ICN), utilizando

como região estudada o Estado do Ceará e a região de referência, o Brasil. Neste intento,

pretende-se também abrir portas para a execução de novas investigações na área, ampliando o

horizonte de pesquisa para identificar como essas aglomerações podem contribuir na

promoção do crescimento regional.

2.1 AS TEORIAS DE ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO

Um fator que pode ter contribuído para as pesquisas na área regional segundo Souza

(1981), seria a ineficiência das teorias neoclássicas em explicar as crescentes desigualdades

regionais, a exemplo as diferenças de renda per capita, como também a existência de custos

de transporte; o fator distância, que monopoliza determinados produtos, trouxeram à tona

conclusões de que a urbanização e industrialização das regiões ocorreram de maneiras

distintas no espaço, acentuando as divergências entre regiões ricas e pobres dentro de um

mesmo país (SOUZA, 1981).

Marshall foi um dos estudiosos que primeiro lançou mão desses estudos. Analisando

os distritos industriais da Inglaterra na segunda metade do século XIX, visualizou que a

aglomeração de firmas numa mesma região produz vantagens competitivas que não seriam

possíveis em instalações isoladas, ratificando seu pensamento com a teoria dos retornos

crescentes de escala, essas empresas seriam capazes de apropriarem-se das economias

externas5 gerada por essa concentração (OLIVEIRA; RIBEIRO, 2012).

5 Economias externas na visão de Marshall “são aquelas geradas por mecanismos externos a firma, ou seja, pela

aglomeração como um todo em determinada região e devido à especialização desses agentes. Essas economias,

embora não possam ser atribuídas aos esforços de indivíduos pontuais, podem ser apropriadas por grande parte

dessas firmas” (OLIVEIRA, CARDOSO, 2012). 4 Para maiores informações, ver MATTEO (2011)

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Para Ferreira (1989), há dois tipos de teorias que tentam explicar como o espaço se

desenvolve, se concentrando e se desconcentrando à medida que surgem oportunidades

melhores para o capital. Para ele, as do tipo a) acreditam que os consumidores se concentram

em pontos discretos do espaço geográfico e as do tipo b) considera que os consumidores estão

espalhados em diversas áreas de mercado e de diversos tamanhos.

Para explicar as do primeiro tipo, leva-se em consideração as teorias de Thünen e

Weber e as do segundo, de Losch a Isard (FERREIRA, 1989).

Fatores aglomerativos tais como proximidade de empresas auxiliares, melhor

comunicação com o mercado, etc. e fatores desaglomerativos como a renda da terra, tendem a

reunir ou afastar as indústrias em determinada região, concentrando-as ou dispersando-as

(FERREIRA, 1989).

A concentração de atividades econômicas correlatas pode contribuir com o

desenvolvimento regional local. Entretanto, é preciso identificar quais os tipos de

aglomerações estão se desenvolvendo para que a partir dessas informações, possa se instaurar

políticas públicas voltadas ao atendimento das necessidades regionais.

3 A DINÂMICA SETORIAL NO ESTADO DO CEARÁ

A historicidade econômica do Brasil e do Ceará implica a atual estrutura de produção

do Estado. Sobre a integração do atual território brasileiro, Macedo, Lima Junior e Morais

(2014) relatam que

[...] à expansão ultramarina europeia, como o padrão espacial do complexo

nordestino não permitiu condições objetivas de uma integração econômica. Isto

porque estava ausente um dos elementos centrais desse processo: uma rede de vilas

e cidades capazes de mobilizar, extrair e concentrar quantidades significativas de

produtos socialmente definido (MACEDO; LIMA JUNIOR; MORAIS, 2014).

Os padrões de desenvolvimento urbano que deram origem à rede urbana cearense, colocando

no centro de desenvolvimento sua capital Fortaleza, principalmente a partir do avanço da

atividade industrial e da sua região metropolitana, postergaram-se desde então, configurando

aos dias atuais essa mesma caracterização (MACEDO; LIMA JUNIOR; MORAIS, 2014).

Essa desconcentração só se inicia com a interiorização dos investimentos a partir do século

XX segundo os autores, embora não haja redução da concentração na Região Metropolitana

de Fortaleza (RMF).

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É a partir da década de 1990 que o Ceará se destaca, impulsionado pelo projeto de

modernização do Estado capitalista do país (MACEDO; LIMA JUNIOR; MORAIS, 2014).

Políticas públicas de incentivo a iniciativa privada industrial, contribuíram para o Estado

aumentar sua participação na pauta de exportações, de 1,1% em 1989 para 13,8% em 2008.

Grande parte dessa exportação foi alavancada pelo setor calçadista, que possui “um

forte viés exportador que indica uma forma de apropriação do território com vistas a uma

maior articulação local-global promovida pelas grandes empresas do setor[...]”(MACEDO;

LIMA JUNIOR; MORAIS, 2014).

O Resultado positivo dessa formação urbana de acordo com Macedo, Lima Junior e

Morais (2014), “foi uma maior diferenciação do espaço cearense, marcado por algumas áreas

dinâmicas, que conseguiram articular-se às economias nacional e internacional”. Entretanto,

também surgem externalidades negativas que segundo os mesmos autores resultou em regiões

“[...] com baixo dinamismo, fortemente dependentes de transferências intergovernamentais”.

De acordo com o IPECE (2013), a economia do Ceará apresentou um crescimento nos

últimos anos superior à economia do país. De 2011 para 2012, o PIB do Ceará cresceu 3,65%

enquanto que no Brasil esse crescimento foi de somente 0,9%. O Instituto atribui o bom

resultado em 2012 pelo crescimento do Valor Adicionado dos Serviços (5,81%) e da indústria

(2,63%).

Ainda segundo o Boletim do IPECE (2013):

[...] a expansão da Indústria foi favorecida pelo crescimento da Construção civil

(4,72%) e em função do aumento no Valor Adicionado de Eletricidade, gás e água

(8,79%). A Indústria de Transformação apresentou uma queda de 1,5%, seguindo o

comportamento dessa atividade a nível nacional, onde verificou-se uma queda de

2,5%. O setor de Serviços foi o que apresentou maior crescimento, e dada a sua

elevada participação na composição do Valor Adicionado do Ceará (72,13%), essa

atividade foi a que mais contribuiu para o crescimento do PIB cearense. Dentre as

atividades que a compõe, as que apresentaram maiores taxas de crescimento foram:

Transportes (7,99%), Comércio (7,95%) e Alojamento e Alimentação (6,65%).

Nota-se uma particularidade de crescimento do Estado do Ceará fortalecido pelas

políticas desenvolvimentistas nacionais e sua formação urbana. Esse crescimento também

carrega consigo os desarranjos das desigualdades regionais do país, com regiões dinâmicas

articuladas com a economia nacional e internacional e outras dependentes de transferências

governamentais.

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72

4 METODOLOGIA

A região selecionada para estudo foi o Estado do Ceará. Está localizado na região

Nordeste do Brasil, com limites geográficos ao Norte, com o Oceano atlântico e todos os

limites terrestres são com estados pertencentes ao Nordeste que são: ao sul com o Estado do

Pernambuco, a Leste com os Estados do Rio Grande do Norte e paraíba e a Oeste com o

Estado do Piauí. Possui uma área territorial de 148825,6km2 (aproximadamente 10% do

território nordestino e 2% do Brasil) (IPECE, 2007).

No que concerne a divisão político-administrativa, é composto por 184 municípios,

que estão agregados em 18 microrregiões administrativas, 2 regiões metropolitanas e 8

macrorregiões de planejamento pela divisão da Secretaria do planejamento e Gestão –

SEPLAG (IPECE, 2007). O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) subdivide o

Estado em 7 mesorregiões e 33 microrregiões geográficas, agregadas por aspectos físicos e

características semelhantes (IPECE, 2007).

Foram selecionados artigos de eventos publicados em anais eletrônicos (internet) para

formação do referencial teórico, bem como livros consagrados em economia regional, como é

o caso do Economia regional de Haddad (1989).

No site do Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA, foi escolhida a tabela

987 e selecionados o número de pessoal ocupado nos anos de 2006 e 2012 para formar a

matriz de dados que serviram para identificar os índices propostos pela metodologia de

Crocco et al. (2003).

Haddad (1989) sugere que se faça a desagregação dos setores para não incorrer em

erros de interpretação por conta de valores muito altos devido ao agrupamento das classes.

Então optou-se nesse trabalho por uma análise das classes de atividade da CNAE 2.0, por ser

uma desagregação bem superior as demais classificações de atividade setorial. A escolha do

período analisado foi pela disponibilidade de dados da CNAE 2.0 no SIDRA.

A seleção do emprego formal como variável de análise se deu pelo fácil acesso aos

dados e também pelo fato de ser uma variável que não sofre alterações em termos absolutos,

não precisando de conversão (como é o caso de Renda em determinadas metodologias e séries

temporais).

Essa metodologia foi escolhida por se encaixar perfeitamente nos estudos que se

pretende compor sobre exploração da concentração setorial por classe de atividade em 2006 e

2012.

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Nesse estudo, o cálculo do Índice de Concentração Normalizado (ICN) foi aplicado,

visando à identificação da participação das classes das atividades e identificar quais possuem

maior representatividade na economia do Ceará. O ICN é composto por três índices: O

quociente Locacional (QL), O índice de Hirschmann-Herfindahl (IHH) e de Participação

Relativa (PR). O cálculo do QL é dado pela equação (1):

QL = Eij / E.j (1)

Ei. / E..

Onde o Eij representa o emprego no setor “i” na região “j”; E.j é o número do emprego

total na região “j”; Ei. É o emprego do setor “i” em todas as regiões e; E.. , o emprego total

nacional.

Na parte do numerador tem-se por dedução, a participação do setor na região estudada

em relação ao emprego total da mesma, enquanto que no denominador verifica-se a

representatividade percentual do setor total nacional. Monastério (2011) afirma que os valores

de ICN maiores do que 1, significam que mais especializada é essa região em relação ao setor.

Em contrário, os valores menores que um indicam que a região é importadora do bem

produzido naquele setor, pois o mesmo tem uma menor representação na região do que no

Estado.

Ele também sugere alguns cuidados na interpretação desse índice:

Se uma região possui uma tecnologia mais intensiva em trabalho do que outras

regiões, seu QL pode ser enganoso, sugerindo exportações que não existem. Da

mesma forma, caso exista uma diferença sensível no padrão de demanda local, o QL

também poderá ser maior do que 1, e a região ser uma importadora do bem. Além

disso, o QL é bastante sensível ao nível de análise e ao grau de detalhamento

setorial. Em níveis de agregação maiores, o indicador tende a convergir para a

unidade (MONASTÉRIO, 2011, p.318).

O (QL) visa identificar neste estudo, quais os subsetores econômicos que apresentam

uma participação relativa superior à verificada na média do Estado.

Utilizando da metodologia de análise proposta por Crocco et al. (2003) e Monastério

(2011), se o valor do QL for superior a 1, o Estado do Ceará é, em termos relativos,

significativamente especializado naquela atividade. Mas a análise dos critérios do QL deve ser

utilizada com mais detalhamento, pois segundo Crocco et. al. (2003), um Quociente

Locacional maior que um (QL>1) indicaria apenas certa diferenciação produtiva da atividade;

este conceito se aplica possivelmente por conta da dissimetria existente entre as atividades da

região e ainda da alta representatividade que uma firma pode representar em uma região. É

bastante importante não realizar afirmações concretas acerca do resultado do QL, sem antes

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mensurá-lo junto a outros índices, o que pode não apresentar resultados não significativos ou

dar significância a dados que não expressam a realidade local.

Visando reduzir esses erros, Crocco et. al (2003) incluíram o IHH, o qual é extraído a

partir da equação (2):

IHH = (2)

Para McCann (2001) apud Monastério (2011)

O IHH indica o quanto um setor está concentrado espacialmente. Ele se assemelha

ao coeficiente de localização6, mas os afastamentos das regiões em relação à

estrutura produtiva do país são elevados ao quadrado. Dessa forma, o IHH, que varia

entre 0 e 2, é mais sensível a tais afastamentos do que o CL.

O resultado positivo deste índice indica que o Ceará está concentrando a produção do

setor em análise e por isso ele terá maior poder de atração econômica devido ao seu nível de

especialização. No trabalho de Crocco et al. (2003) este índice é utilizado sem elevação ao

quadrado, mas no presente trabalho acredita-se que a elevação ao quadrado capta a maior

sensibilidade ao afastamento entre as regiões como explica McCann (2001) apud Monastério

(2011).

O PR destaca o grau de participação do setor da região estudada. Este índice tem

variação entre zero e um, onde quanto mais próximo de um, maior a representatividade da

atividade na estrutura do Estado. É adquirido através da equação (3).

PR = Eij / E.j (3)

Os indicadores acima relacionados são capazes de apresentar os dados necessários

para a elaboração de um único indicador de concentração do subsetor de atividade econômica,

o Índice de Concentração normalizado (ICN).

Crocco et al. (2003) destacam que:

Haja vista que cada um dos três índices utilizados como insumos do ICn podem ter

distinta capacidade de representar as forças aglomerativas, principalmente quando se

leva em conta os diversos setores industriais da economia, faz-se necessário calcular

6 O CL (coeficiente de localização) é um índice que mensura o quanto um setor está concentrado espacialmente

(quanto mais próximo de 1). Para monastério (2011) o IHH tem uma maior precisão em relação ao CL. Grifo

nosso.

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pesos específicos de cada um dos insumos em cada um dos setores produtivos

(CROCCO et. al. 2004, p.6).

A metodologia utilizada por Crocco et al. (2003) propõe uma combinação linear dos

três índices, separada para cada subsetor da região estudada, que segue na equação (4):

ICnij = θ1 QLn

ij + θ2 PRn

ij + θ3 HHn

ij (4)

Os θ são os pesos de cada um dos indicadores para cada índice correspondente. Este

índice visa corrigir algumas falhas de análise que por ventura os demais índices em separado

possam demonstrar (CROCCO et al., 2003, p.7). Eles serão extraídos a partir da análise

fatorial (A.F) a parti do método dos componentes principais (ACP).

Caso se tomasse como base o QL isolado, numa cidade cuja sua PR não seja

significante em relação ao país, tende-se a acreditar numa especialização inexistente, cujo

aumento do índice se deu em detrimento de uma única fábrica numa cidade de pequeno porte,

por exemplo.

Assim, o uso do ICN da forma como está sendo proposta pode ponderar tais distorções

(CROCCO et al., 2003, p. 7).

Antes, porém, da efetiva substituição dos respectivos pesos encontrados, foi realizada

a normalização dos indicadores, para que não haja interferência da significância de um ou

outro dado da amostra, tornando-os relativos e deixando-os com a mesma carga de

importância na construção e análise do índice. Essa normalização se deu através do cálculo do

desvio padrão e da média de cada indicador em cada setor. Ela é feita subtraindo-se do valor

do indicador a média e o resultado é dividido pelo desvio padrão, como mostrado na equação

5. Os valores em negativo representam os setores que ficaram abaixo da média estadual. O

cálculo da normalização é dado pela fórmula:

In = (Ii – IMédia) / IDesvio_padrão (5)

Onde:

In = Indicador normalizado

Ii = Valor do Indicador no setor correspondente

IMédia = Média do Indicador

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IDesvio_padrão = Desvio Padrão do Indicador

4.1 A ANÁLISE FATORIAL (A.F) E O MÉTODO DOS COMPONENTES PRINCIPAIS (ACP)

A análise fatorial se baseia na suposta existência de um número de fatores causais

gerais, cuja presença dá origem às relações entre as variáveis observadas, de forma que, no

total, o número de fatores seja consideravelmente inferior ao total de variáveis. Isso porque

muitas relações entre as variáveis são, em grande medida, decorrentes do mesmo fator causal

geral.

O modelo matemático (conforme FÁVERO et al., 2009) da análise fatorial poderá

ser representado de forma simplificada por:

Zj=Σ ajiFi+djuj (j=1,2,…,n); (i=1,2,…,m) (6)

Em que:

Zj = j-ésima variável padronizada;

aji = é o coeficiente de saturação referente ao i-ésimo fator comum da j-ésima variável;

Fi= é o i-ésimo fator comum;

dj = é o coeficiente de saturação referente ao j-ésimo fator específico da j-ésima variável;

uj= é o j-ésimo fator específico da j-ésima variável.

Assim, o objetivo da análise fatorial consiste em determinar um número menor de

fatores que representem a estrutura das variáveis originais. Nesta etapa, é determinado o

número de fatores comuns necessários para descrever adequadamente os dados, cabendo ao

pesquisador a decisão de qual método de extração dos fatores e o número de fatores

selecionados para representar a estrutura latente dos dados.

A fim de verificar a adequabilidade dos dados para a análise fatorial, serão utilizados

o Índice Kaiser-Mayer-Olkin (KMO), o Teste de Esfericidade de Bartlett (BTS).

O Índice Kaiser-Mayer-Olkin (KMO), que varia de 0 a 1, serve para comparar as

magnitudes dos coeficientes de correlações observados com as magnitudes dos coeficientes de

correlações parciais. Portanto, o KMO é uma medida de homogeneidade das variáveis, que

compara as correlações parciais observadas entre as variáveis, conforme a seguir:

é o coeficiente de correlação observado entre as variáveis i e j

i j

ij

i j

ij

i j

ij

ar

r

KMO22

2

ija

ijr

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é o coeficiente de correlação observado entre as mesmas variáveis, que é,

simultaneamente, uma estimativa das correlações entre os fatores. Os deverão estar

próximos de zero, pelo fato de os fatores serem ortogonais entre si.

A estatística do KMO (Kaiser-Mayer-Olkin) é a seguinte: quanto menor o valor do

respectivo teste, menor a relação entre as variáveis e os fatores, podendo o índice variar de 0 a

1. O índice menor do que (0,5) se caracteriza como inaceitável; o uso dessa técnica, caso

contrário, com o índice próximo de 1, a utilização da técnica com os dados se torna bastante

eficaz.

O Teste Bartlett de Esfericidade pode testar a hipótese nula de que a matriz de

correlações é uma matriz identidade (o que inviabiliza a metodologia da análise fatorial

proposta).

Caso a matriz de correlações seja matriz identidade, significa que as inter-relações das

variáveis são iguais a zero e, portanto, a análise fatorial não deverá ser utilizada, sendo a

hipótese H0 (a matriz de correlações é uma matriz identidade) e a hipótese Ha (a matriz de

correlações não é uma matriz identidade). Caso H0 seja aceita a análise fatorial deve ser

desconsiderada; se rejeitada, haverá indícios de que existam correlações entre as variáveis

explicativas do processo.

A ACP ao tomar p variáveis X1, X2,... Xp, encontra combinações lineares para elas,

produzindo as variáveis Z1, Z2,... Zp sendo que

Zi = αi1X1+ αi2X2 + ... + αipXp (7)

Variando tanto quanto possível, desde que condicionadas a

αi12 + αi2

2 + ... + αip

2 = 1 (8)

As variâncias dos componentes principais são os autovalores dessa matriz, ao passo

que os coeficientes ai1, ai2, ... aip são os seus autovetores associados. A matriz de variância é

simétrica e tem a forma:

λ1 + λ2 + ... + λp = C11 + C22 + ... + Cpp (9)

Em que: λi são os autovalores, ou variância, de cada um dos i componentes.

ija

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4.1.1 Calculando os pesos via ACP.

Uma característica dos autovalores é que a soma desses é igual à soma dos elementos

da diagonal principal da matriz de covariância:

C= ||

C11 C12⋯ C1p

C21 C22 ⋯ C2p

⋮ ⋮ ⋮ ⋮Cp1 Cp2

⋯ Cpp

||

Conforme explica Crocco et al. (2006) apud Piccicini, Finamore e Oliveira (2011), o

procedimento para o cálculo dos pesos se inicia com os resultados extraídos conforme seguem

na Tabela 1. Já a Tabela 2 mostra a matriz de coeficientes ou os autovetores da matriz de

correlação. Na Tabela 3, apresenta os autovetores recalculados ou a participação relativa de

cada índice nos componentes.

Tabela 1 - Os autovalores da matriz de correlação ou variância explicada pelos componentes

Componente Variância explicada da

componente

Variância explicada total

1 ß1 ß1

2 ß2 ß1 + ß2

3 ß3 ß1 + ß2 + ß3 (100%) Fonte: Piccicini, Finamore e Oliveira (2011)

Tabela 2 - Matriz de coeficientes ou autovetores da matriz de correlação

Indicador Componente 1 Componente 2 Componente 3

QL α11 α12 α13

IHH α21 α22 α23

PR α31 α32 α33 Fonte: Piccicini, Finamore e Oliveira (2011)

A Tabela 3 é calculada com os resultados obtidos das Tabelas 1 e 2.

Tabela 3 - Matriz de auto vetores recalculados ou participação relativa dos indicadores em cada

componente

Indicador Componente 1 Componente 2 Componente 3

QL α'11 ≡α11

𝐶1 α12≡

α12

𝐶2 α13≡

α13

𝐶3

IHH α21≡α21

𝐶1 α22≡

α22

𝐶2 α23≡

α23

𝐶3

PR α31≡α31

𝐶1 α32≡

α32

𝐶2 α33≡

α33

𝐶3

Fonte: Piccicini, Finamore e Oliveira (2011).

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Os valores de α'ij da Tabela 3 correspondem aos pesos que cada uma das variáveis

assume dentro de cada componente e os autovalores ß1, ß2 e ß3 fornecem a variância dos

dados associada ao componente, o peso final de cada indicador insumo é o resultado da soma

dos produtos dos α'ij pelo auto valor correspondente em cada componente. Apresentando-se

nas equações 10, 11 e 12:

Ɵ1 = α’11ß1 + α’12ß2 + α’13ß3 (10)

Ɵ2 = α’21ß1 + α’22ß2 + α’33ß3 (11)

Ɵ3 = α’31ß1 + α’32ß2 + α’33ß3 (12)

Onde respectivamente os pesos Ɵ1, Ɵ2 e Ɵ3 representam o QL, IHH e PR, sendo que a

soma dos três pesos deve ser igual a um. Outra observação que deve ser considerada é que o

cálculo dos pesos não deve ser feito para a economia como um todo, mas individualmente

para cada uma das atividades que se deseja estudar.

5 RESULTADOS

O total de empregos no Ceará em 2006 foi de 1107464 e em 2012 foi de 1573239,

uma variação positiva percentual de 42,06%. No Brasil essa variação percentual foi menor,

passando de 39622751 em 2006 para 53384262 em 2012, o que representa 34,73%. Esse

crescimento do emprego no Estado representa uma média anual de 6% contra 4,96% nacional.

A divisão do emprego em grandes setores fica assim distribuída como mostra o

Gráfico 1.

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GRÁFICO 1 - Distribuição percentual do emprego por grandes setores no Ceará - 2012

Vê-se que em 2012 o setor de serviços obteve a maior participação no emprego no

Ceará com 72% do total. Em seguida vem o setor industrial, com 27% e por último a

agropecuária com 1% do total de empregos no Estado. Para cada cem pessoas empregadas no

Ceará, 1 estava na agropecuária, 27 estavam na indústria e 72 no setor de serviços. A estrutura

do setor de serviços é muito diversificada, possuindo um número elevado de classes de

subdivisões do emprego, apresentando diversificação das atividades.

Inicialmente, com o intuito de verificar a coesão dos dados coletados, foi calculado o

teste Kaiser-Mayer-Olkin (KMO). Assim, observou-se, pela Tabela 4, considerando-se

distribuição normal dos dados, que o KMO revelou valor de 0,514, portanto, indicando que os

dados são consistentes, ou seja, é um índice medíocre e aceito para análise fatorial.

O Teste de Esfericidade de Bartlett indicou valor 302,507, sendo considerado

médio para garantir que a matriz de correlações não é uma matriz identidade, ao nível de

significância 1%, rejeitando a hipótese nula (H0) de que a matriz de correlação é uma matriz-

identidade. Conclui-se, portanto, que os da dos amostrais são adequados para uso da análise

fatorial.

Tabela 4 - Teste de KMO (Kaiser Mayer Olkin) e BTS (Teste de Esfericidade de Bartlett)

KMO 0,514

Teste de Esfericidade de Bartlett 302,507

Sig 0,000 Fonte: Resultados da Pesquisa (2015)

De acordo com a Tabela 5 abaixo, foram selecionadas em 2006, 246 classes de

atividade segundo a CNAE 2.0 atendendo aos procedimentos metodológicos apresentados

Fonte: SIDRA/IBGE

1 %

27 %

72 %

Agropecuária Indústria Serviço

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anteriormente. Dentre elas, apenas dez puderam ser consideradas especializadas e para não

apresentar tabelas longas que não contenham dados significantes para estudo, optou-se nesse

trabalho a apresentar e descrever aquelas que de acordo com a metodologia, apresentassem

ICN acima de um (considerada especializada).

Tabela 5 - Relação das classes de atividade segundo o CNAE 2.0, por ordem descendente do ICN –

2006.

Ranking Código e Atividade CNAE 2.0 ICN

1º. 15.3 Fabricação de calçados 2,30

2º. 86.6 Atividades de apoio à gestão de saúde 1,86

3º. 03.2 Aquicultura 1,73

4º. 10.3 Fabricação de conservas de frutas, legumes e outros vegetais 1,56

5º. 13.2 Tecelagem, exceto malha 1,52

6º. 01.1 Produção de lavouras temporárias 1,43

7º. 10.6 Moagem, fabricação de produtos amiláceos e de alimentos para

animais 1,38

8º. 01.2 Horticultura e floricultura 1,33

9º. 11.2 Fabricação de bebidas não-alcoólicas 1,22

10º. 03.1 Pesca 1,14

Tabela de elaboração dos autores com dados extraídos da metodologia.

NOTA: números arredondados.

Em 2006, a atividade principal, que possuía o índice de concentração normalizado

com o valor mais expressivo era fabricação de calçados, com ICN de 2,3. Nesse mesmo ano, a

atividade possuía pouco mais de 56 mil empregos e no Brasil esse valor era de

aproximadamente 319 mil, representando 17,55% do total da classe nacional e 5,06% do

emprego total no Ceará.

No grande setor agropecuária, destacam-se quatro subsetores considerados

especializados em 2006. Pela ordem do maior para o menor, a aquicultura vem em primeiro

lugar com ICN de 1,74, seguida da produção de lavouras temporárias com ICN de 1,43,

posterior tem-se horticultura e floricultura com 1,33 e por último a atividade de pesca com

1,14.

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No setor de Indústria, obtiveram destaque cinco subsetores: a atividade de fabricação

de calçados como primeiro lugar com ICN 2,30, em segundo lugar veio a fabricação de

conservas de frutas, legumes e outros vegetais com ICN de 1,53. Em terceira colocação vem a

atividade de tecelagem, exceto malha com ICN de 1,52; em quarto, moagem, fabricação de

produtos amiláceos e de alimentos para animais com ICN de 1,38 e finaliza com o subsetor

fabricação de bebidas não alcoólicas com ICN 1,14.

No setor de serviços, apenas o subgrupo de Atividades de apoio à gestão de saúde,

com ICN de 1,86 foi setor dinâmico expressivo.

Caracteriza-se aqui, que o setor industrial no ano de 2006 possui um número maior de

atividades que concentram a dinamização produtiva, que em grande parte é explicado pelas

políticas de desenvolvimento do Estado, iniciado com o governo de mudanças de Tasso

Jereissati em 1989 e que deram continuidade pelos governadores sucessores Cid Gomes e

Ciro Gomes.

Tabela 6 - Relação das classes de atividade segundo o CNAE 2.0, por ordem descendente do ICN –

2012.

Ranking Atividade CNAE 2.0 ICN

1º. 03.2 Aquicultura 3,45

2º. 15.3 Fabricação de calçados 3,15

3º. 86.6 Atividades de apoio à gestão de saúde 1,89

4º. 10.6 Moagem, fabricação de produtos amiláceos e de alimentos para

animais 1,60

5º. 11.2 Fabricação de bebidas não-alcoólicas 1,41

6º. 78.3 Fornecimento e gestão de recursos humanos para terceiros 1,37

7º. 24.3 Produção de tubos de aço, exceto tubos sem costura 1,24

8º. 10.3 Fabricação de conservas de frutas, legumes e outros vegetais 1,23

9º. 13.1 Preparação e fiação de fibras têxteis 1,18

10º. 01.2 Horticultura e floricultura 1,10

11º. 10.2 Preservação do pescado e fabricação de produtos do pescado 1,07

12º. 42.2 Obras de infraestrutura para energia elétrica, telecomunicações, água,

esgoto e transporte por dutos 1,04

Tabela de elaboração dos autores com dados extraídos da metodologia.

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83

NOTA: números arredondados

Ao todo, em 2012, puderam ser observadas 256 atividades, dez a mais que o ano base.

Dentre essas classes, puderam ser identificadas doze atividades especializadas e que serão

classificadas, analisadas e descritas a seguir.

Vê-se que no setor agropecuário, houve uma redução de quatro para dois subsetores

dinâmicos. A aquicultura foi uma das classes de atividade que permaneceram no ranking

inclusive, com elevação do índice para 3,45 e tomando a primeira posição dentre todos os

subsetores estudados. O outro setor que permaneceu com especialização produtiva em 2012

foi a atividade de horticultura e floricultura com ICN de 1,09, que teve redução da

participação em comparação com 2006. O aumento do índice da aquicultura na economia

cearense se deu por dois motivos: o primeiro é a redução do emprego nacional no setor, que

foi de 10115 em 2006 para 9412, com queda de 6,95%. O segundo motivo foi em detrimento

do aumento do valor absoluto do emprego no setor no Ceará, que foi de 1382 empregos em

2006 para 2544 em 2012, representando um crescimento de 84,08%. A atividade de

horticultura e floricultura, cresceu a nível nacional, passando de 8551 empregos em 2006 para

15618, um salto de 82,65%, enquanto que no Ceará essa modificação apesar de ter sido

expressiva, não fora na mesma proporção, passando de 900 empregos em 2006 para 1343 em

2012, totalizando um crescimento de 49,22%.

A indústria, ao contrário do que aconteceu com a agropecuária, aumentou

significativamente a participação do número de atividades que concentram dinamismo e

especialização produtiva, passando de cinco em 2006 para oito em 2012.

O setor de Fabricação de calçados teve um aumento expressivo do seu dinamismo.

Com ICN de 3,14, ocupa a segunda posição no ranking de especialização no ano de 2012. O

emprego na atividade também aumentou no Brasil, de 319249 em 2006 para 337213 em 2012,

o que configura um aumento de 5,63%, gerando 17964 novos postos na atividade. Ainda

assim, esse número é bem menor se for comparado ao do Estado, tanto em termos absolutos

quanto em valor percentual, que cresceu 45,56% no período analisado, passando de 56034

para 81560 emprego registrados com o incremento de 25526 novos trabalhadores. O Ceará

cresceu na geração de emprego na atividade calçadista, em comparação com o crescimento

nacional, 42,09% a mais.

A atividade de moagem, fabricação de produtos amiláceos e de alimentos para animais

obteve um ICN de 1,60, um número um pouco maior que o ano de 2006. Esse setor possuía

no Brasil e no Ceará respectivamente em 2006, 102309 e 11049 empregos. Em 2012 esses

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números aumentaram para 139226 a nível nacional e 17366 no Ceará, representando

crescimentos de 36,08% e 57,17%. Também nessa atividade, o Ceará obteve crescimento

superior que o crescimento nacional em termos percentuais.

Fabricação de bebidas não alcoólicas teve um incremento na sua especialidade

produtiva, atingindo um ICN de 1,41. Este setor obteve um crescimento no número de

empregos no Ceará de 62,04%, maior que o restante do Brasil, que foi de 42,86% no período

analisado.

A atividade de fabricação de conservas de frutas, legumes e outros vegetais, teve uma

leve queda no índice de ICN para 2012, saindo do 4º. Lugar em 2006 e ocupando no ranking

geral a 8ª. colocação, com índice de 1,23. Isso pode ter sido ocasionado pelo número do

emprego nessa atividade, que no Brasil teve crescimento de 18,07%, enquanto que no Ceará,

houve queda de 6,87%.

Algumas atividades do setor industrial, porém, apresentaram-se dinamicamente

produtivas apenas para o ano de 2012. É o caso das atividades de produção de tubos de aço

com o ICN de 1,24, preparação e fiação de fibras têxteis com ICN de 1,18, preservação do

pescado e fabricação de produtos do pescado com ICN de 1,07 e obras de infraestrutura para

energia elétrica, telecomunicações, água, esgoto e transporte por dutos com ICN de 1,04. A

seguir, a Tabela 04 mostra o número dos empregos dessas atividades para os anos de 2006 e

2012 e o percentual de crescimento:

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Das 291 atividades extraídas do banco de dados do SIDRA, só foram observadas 246

em 2006 e 256 em 2012, devido a não obtenção dos dados numéricos como já fora explicado

na metodologia. A maioria dos setores teve o número percentual de empregos crescendo no

período estudado maior do que a variação percentual do Brasil. Isso pode ser considerada uma

externalidade positiva, mostrando que na maioria das atividades concentradas, o Ceará cresce

mais do que o Brasil.

Esse crescimento só corrobora com o valor crescimento do emprego total, que também

no comparativo entre Ceará e Brasil, aquele obteve números percentuais maiores que este.

Observa-se em 2012, uma tendência aglomerativa do setor industrial cearense,

impulsionado por algumas classes de atividade específicas que no ano de 2012 surgiram com

número do emprego bastante significativo, onde passaram de cinco atividades para oito no

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período de seis anos. Esse resultado pode ser explicado por conta das políticas

governamentais de incentivo a industrialização do Estado do Ceará, iniciado em 1989.

O setor de calçados se manteve no ranking das classes especializadas nos dois anos

estudados. Essa informação corrobora com o que afirmam Macedo, Lima Junior e Lacerda

(2014) que o setor de calçados é o setor mais dinâmicos da economia cearense. Isso graças as

configurações de produção para exportação segundo esses autores.

Já no setor de serviços, verifica-se convergência para a diversificação da estrutura

produtiva, ou seja, há muitos empregos em muitas classes de atividade, o que também se

configura uma externalidade positiva, tendo em vista que a diversificação pode ser uma

maneira de preservar certo nível de emprego quando uma ou mais atividades estiverem em

crise.

Faz-se necessário, porém, realizar outras análises, tais como a diferenciação da

estrutura produtiva do Ceará, a diversificação dessa produção, entre outras investigações que

possam explicar a tendência de aumento no emprego no setor industrial e a diversificação no

setor de serviços.

Abre-se aqui um parêntese para estimular a produção de novos trabalhos (tendo em

vista o caráter exploratório deste estudo) visando identificar esses pontos, a partir da

metodologia aqui utilizada ou com o incremento de outras que expliquem tais fenômenos.

O que se pode considerar sobre os setores produtivos do Estado do Ceará ao longo de

2006 para 2012 é que: 1) o setor industrial passou a ter uma maior participação em atividades

especializadas; 2) que o setor agropecuário ao longo do mesmo período, houve uma retração

de atividades especializadas.

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88

PRODUÇÃO E ÁREA PLANTADA DA MAMONA NO ESTADO DO CEARÁ: UMA

APLICAÇÃO DO MODELO DE VETORES AUTORREGRESSIVOS (VAR)

José Bruno Tavares Macedo Simões1

Wellington Ribeiro Justo2

Resumo

Neste artigo foram examinados os efeitos de choque de oferta e demanda na produção e área

plantada da mamona no estado do Ceará. Com dados compreendendo o período entre 1947 e

2014 e foi utilizada a metodologia de Vetores Autorregressivos (VAR). Os resultados

apontaram que há um forte efeito inercial na dinâmica das duas variáveis tanto através da

função de impulso resposta como pela análise da composição da variância. Dito de outra

forma, em sua maior magnitude a dinâmica da produção é explicada pelo comportamento da

própria variável. Isto é, choques de oferta através da produtividade e demanda através do PIB

não influenciam a produção. Já a dinâmica da área plantada é explicada em sua maior parte

pela própria dinâmica, mas também em menor magnitude através do choque na produtividade

e no preço e não foi influenciada pelo choque de demanda.

Palavras-chave: Mamona; produtividade; VAR.

Abstract

This paper examined the supply shock effects and demand in production and acreage of

castor bean in the state of Ceará. With data covering the period between 1947 and 2014 and

using the Vector Autoregressive methodology (VAR). The results showed that there is a strong

inertial effect on the dynamics of the two variables both through the impulse response

function as the analysis of the composition of the variance. In other words, in its greatest

magnitude the dynamics of the production is explained by the very variable behavior. That is,

supply shocks through productivity and demand of the GDP do not influence the production.

However the dynamics of the planted area is explained mostly by the own dynamics, but also

to a lesser degree through the shock on productivity and price and it was not influenced by

the demand shock.

1Economista (URCA). Especialista em Administração Financeira (URCA).

[email protected]

2Professor Associado da URCA. Prof. do PPGECON (UFPE-CAA). Doutor em economia

pelo PIMES (UFPE). [email protected]

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Key words: Castor bean; productivity; VAR.

1. INTRODUÇÃO

O atual cenário econômico mundial busca a renovação de sua matriz energética, haja

vista a necessidade de crescimento aliado à sustentabilidade, pois devido a vários acordos e

normas internacionais os níveis de gases causadores do efeito estufa deverão ser reduzidos, o

que ajudará a manter a temperatura da terra em níveis aceitáveis3 sem que haja danos à

natureza e que tal redução ocorra sem grandes prejuízos à economia global.

Fato esse que mobilizou um acordo feito por EUA e China, que prevê novas metas

para redução de gases-estufa, gesto que antecipa a pauta da Conferencia do Clima de Paris4,

prevista para o fim do ano, onde novas fontes e métodos menos poluentes devem ser

incorporados a matriz energética já existente.

Dentre inúmeras fontes renováveis de energia temos os chamados biocombustíveis;

combustíveis fabricados a partir de matéria orgânica, principalmente de origem vegetal.

Diferentemente do que ocorre com os combustíveis fósseis, os quais não podem ser

“produzidos”, cultivados, os biocombustíveis são fontes renováveis de energia, ou seja, fontes

que podem ser repostas, aliando crescimento à sustentabilidade, além de propiciarem geração

de emprego e renda em diversos setores da economia e nas diversas classes sociais.

Segundo HOLANDA (2004, p.200):

Para cada 1% de substituição de óleo diesel por biodiesel produzido com a

participação da agricultura familiar, podem ser gerados cerca de 45 mil empregos no

campo, com uma renda anual de aproximadamente 4.900,00, por emprego.

3 O aumento da concentração de gás carbônico na atmosfera terrestre, decorrente da queima de combustíveis

fósseis, provoca um aumento na temperatura da Terra, acentuando o efeito estufa. O aumento de 1°C nas médias

de temperatura já é suficiente para causar efeitos desastrosos, como os sentidos em 2014, o ano mais quente

desde que as temperaturas começaram a ser registradas, secas e chuvas inventaram o cenário nacional.

4 Conferência Internacional do Clima (COP 21), que pretende estipular novas metas até 2020, substituindo o

Protocolo de Kyoto, 1997, que obteve resultados decepcionantes.

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E como afirma Abreu, Vieira e Ramos (2006,p. 11):

Admitindo-se que, para cada emprego no campo, são gerados até três empregos no

restante da cadeia produtiva, podem ser criados até 180 mil empregos para cada um

ponto percentual de substituição do combustível fóssil. A produção de matérias-

primas seria uma atividade complementar à agricultura de subsistência, representando

uma forma de obtenção de renda monetária e ocupação da força de trabalho familiar

por mais tempo, no próprio estabelecimento.

Dentre os biocombustíveis podemos destacar o biodiesel que é produzido a partir de

plantas oleaginosas como a soja, algodão, mamona, girassol, babaçu, amendoim, dendê e

também a partir da gordura animal. Podendo ser utilizado in natura, puro, ou adicionado ao

óleo diesel, combustível de origem fóssil, permitindo assim um melhor rendimento e redução

na emissão de dióxido de carbono – CO2.

Sendo assim, a produção do Biodiesel pode ser adequada à realidade do País e/ou

região em que se deseja utilizar tal fonte de energia. No Brasil são produzidos vários tipos de

oleaginosas nas suas diferentes regiões (SILVA; BISERRA, 1986).

Segundo Meirelles (2003) destacam: as produções de dendê, babaçu e soja no Norte

brasileiro; soja, mamona, algodão, girassol, dendê, milho e nabo forrageiro no Centro-Oeste;

soja, mamona, algodão, milho e girassol no Sudeste; soja, canola, girassol, algodão, milho e

nabo forrageiro no Sul; e babaçu, pinhão manso, dendê, milho, algodão e mamona na Região

Nordeste.

Na região do semiárido nacional, que ocupa aproximadamente 900.000km², de acordo

dados da SUDENE (1996), poucas culturas apresentam as características encontradas na

mamona, Ricinus communis L., a qual apresenta excelente resistência a períodos de seca

(WEISS, 1983) e mesmo exposta a tais condições extremas, apresenta excelente produção,

com altos níveis de rentabilidade.

Além da alta capacidade de resistência e ótimos níveis de produtividade a mamona

pode ser consorciada a outras culturas dentro da agricultura familiar, haja vista que o chamado

cultivo solteiro ou isolado se mostra mesmo rentável, segundo a Embrapa (2003).

Sendo assim, a mamona pode a vir a tomar um cenário de destaque dentro da produção

agrícola familiar, deixando de ser um elemento apenas secundário ou cultivo de sequeiro e

passando a ser cultura principal na geração de renda dos agricultores familiares, não só do

Ceará mais de outras partes do Semiárido Nordestino.

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Portanto, este estudo tem como objetivo mensurar a trajetória da produção e área

plantada de mamona no estado do Ceará no período entre 1947 e 2014 e avaliar os impactos

de choque de oferta e demanda na sua dinâmica.

Este artigo avança na literatura ao estimar choques de oferta e demanda na produção e

área plantada da mamona no estado do Ceará com base na maior série histórica disponível e

utilizando-se de instrumental teórico e metodológico amplamente testados.

O artigo está estruturado em cinco seções além desta introdução. A seção dois trata de

aspectos culturais da mamona. A seção três trata de características edafoclimáticas do Ceará.

Na seção quatro apresenta-se o modelo teórico. Na seção cinco é apresentada a metodologia.

A seção seguinte traz os resultados e discussão e a última seção traz as principais conclusões.

2. MODELO ECONÔMICO PROPOSTO

O modelo aqui apresentado utiliza as ideias básicas desenvolvidas por Blanchard e

Quah (1989), e adaptadas ao setor agrícola por Spolador (2006) e Alves (2006), que atribui a

evolução da economia a choques de oferta (produtividade) e demanda (oferta monetária).

Neste caso, o estudo pretende verificar em que medida o desempenho da produção e da área

colhida de mamona no Ceará pode ser atribuído a choques de oferta (produtividade), de

demanda (renda nacional – mercado interno), assim como qual a influência dos preços sobre

estas variáveis. Contrariando o modelo de Blanchard e Quah (1989), não será imposta

restrição de longo prazo para captar os efeitos permanentes e temporários.

Neste modelo, a demanda pela mamona cearense (em logaritmos) seguindo Alves

(2006) é dada por:

d

t t ty = m -p (1)

onde y é a quantidade produzida, m a renda nacional real e p é o preço do produto.

O produto (em logaritmos) é dado ainda por:

t t ty = -s (2)

em que η é a área plantada e θa produtividade da terra.

Os impactos no modelo são dados pelos seguintes choques:

-choques de renda interna (de ):

t-1m = - ed

t tm (3)

-choques de produtividade, que afetam a oferta (se ):

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t-1= - es

t t (4)

-choques de preços (pe ):

t-1= p - ep

t tp (5)

-choques de área colhida ( e ):

η η

t-1 t= E(p) - e em que e = e + ut t

(6)

Todos os choques, exceto tu , têm média zero, são não-correlacionados e não

apresentam autocorrelações.

O modelo econômico apresentado anteriormente será estimado através da metodologia

de Auto-Regressão Vetorial (VAR). Segundo Alves (2006), a metodologia VAR é bastante

utilizada na análise de questões macroeconômicas, assim como em estudos relacionados à

economia agrícola, podemos citar, nesse caso, Barros (1991), Barros (1992), Myers, Piggot e

Tomek (1990), Bacchi (1994), Burnquist et al. (1994), Aguiar (1994), Barros e Bittencourt

(1997), Bacchi e Burnquist (1999), Alves (2002), Bacchi e Alves (2004) entre outros.

3. METODOLOGIA

A metodologia VAR foi introduzida por Sims (1980) como uma técnica que poderia

ser usada na macroeconomia para caracterizar comportamentos dinâmicos conjunto de um

conjunto de variáveis sem requerer fortes restrições para identificar os parâmetros estruturais.

Embora a estimação do VAR não exija fortes restrições como hipóteses, algumas das

mais úteis aplicações como a função de impulso resposta ou a decomposição da variância

requerem a identificação das restrições. Uma típica restrição é a hipótese sobre a relação

dinâmica entre um par de variáveis, por exemplo, se x afeta y somente com uma defasagem,

ou se x não afeta y no longo prazo.

Um VAR contém um conjunto de m variáveis, cada uma das quais expressa como

função linear de p defasagens delas mesmas e de todas as outras m-1 variáveis mais o termo

de erro. Com duas variáveis x e y. Um VAR de ordem p seria expresso por:

y

t y0 yy1 t-1 yyp t-p yx1 t-1 yxp t-p t

x

t x0 xy1 t-1 xyp t-p xx1 t-1 xxp t-p t

y = β + β y + + β y + β x + + β x + ν

y = β + β y + + β y + β x + + β x + ν (7)

Uma característica fundamental da equação (7) é que não há variáveis contemporâneas

aparecendo no lado direito de qualquer das equações. Isto torna mais plausível, embora nem

sempre certo, que os regressores de (7) são fracamente exógenos e que, se todas as variáveis

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são estacionárias e ergódicas, a estimação por Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) pode

produzir estimadores assintoticamente desejáveis. Variáveis que são conhecidas por serem

exógenas podem ser modeladas ao adicionar ao lado direito das equações VAR sem

dificuldade, e, obviamente, sem incluir equações adicionais para modelá-las.

Quando se estima um modelo VAR com mais de duas variáveis devemos considerar a

possibilidade de mais de uma relação de cointegração entre as variáveis.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A figura 1 traz o comportamento da série histórica das variáveis: produção, área,

produtividade, preço e PIB no período 1946 a 2014. Observa-se uma grande queda tanto na

produção como na área plantada a partir do final da década de oitenta e início da década de 90

em virtude do fechamento de grandes empresas que produzia torta e óleo da mamona. Entre a

década de 90 e início dos anos 2000 há uma grande variação tanto na produção como na área

plantada, ora com grandes aumentos, ora com grandes reduções. A partir de 2003 as séries

apresentam uma tendência de crescimento com mais uma oscilação negativa no final da série.

Possivelmente estes últimos movimentos sejam em virtude do programa de biodiesel que

influenciou a produção e a área plantada de mamona especialmente na região Nordeste. A

queda no final do período ocorre justamente em virtude da queda da produção nordestina com

o fechamento de algumas usinas de biodiesel na região, bem como pela seca que vem

assolando a região nos últimos três anos5.

A produtividade, contudo, oscila dentro de uma média indicando possivelmente que a

série é estacionária. Uma variação mais acentuada ocorre no final da série. Como dito

anteriormente, provavelmente afetada pelo fechamento das usinas de biodiesel no Nordeste e

pela seca.

A série de preços apresenta alguns picos nas décadas de 70 e 80 e depois uma ligeira

tendência de queda até o início dos anos 2000. A partir de então, a tendência é de

crescimento até o final da série. Esta tendência ascendente coincide com o período em que é

implantado o programa do Biodiesel.

5 Um dos objetivos do programa de biodiesel era incentivar a agricultura familiar nas regiões Norte e Nordeste

com a produção da mamona como matéria-prima para as indústrias de Biodiesel. Contudo, como apontam

Nunes, Justo e Rodrigues (2014) em virtude de não conseguirem oferta suficiente de mamona dos agricultores

familiares nestas regiões que permitisse que as empresas se enquadrassem no regime de incentivos fiscais de

acordo com a legislação, várias empresas mudaram para estados do Centro-Oeste e passaram a produzir

biodiesel a partir da soja. Outras que permaneceram substituíram a mamona pela soja e sebo animal.

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Finalmente no último gráfico da figura 1 observa-se que a série do PIB apresenta uma

tendência de crescimento ao longo do período. Contudo, observa-se que há oscilações

negativas nos anos 80 com a crise da dívida e início dos anos 2000 com os efeitos das crises

internacionais do México, Rússia, Argentina, Tigres Asiáticos e o próprio Brasil e uma ligeira

queda no final da série, esta refletindo o efeito da crise financeira internacional iniciada nos

Estados Unidos com a bolha no mercado imobiliário e posteriormente se estendendo para o

lado real da economia refletindo em toda a economia mundial.

Figura 1: Produção, Área Plantada, Produtividade e Preço da Mamona e PIB: 1947-2014.

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da SEAGRI e CONAB.

A figura 2 apresenta a série das variáveis: produção, área plantada, produtividade e

PIB no período 1946 a 2014 com as variáveis em logaritmo. A suavização das séries com as

variáveis em logaritmo tende a tornar as séries estacionarias.

0

2000

040

000

6000

0

1940 1960 1980 2000 2020Anos

Produção Área

0

200

400

600

800

1000

Pro

dutiv

idad

e

1940 1960 1980 2000 2020Anos

01

23

4

Pre

ço

1940 1960 1980 2000 2020Anos

0

1000

2000

3000

4000

5000

Pib

1940 1960 1980 2000 2020Anos

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Figura 2: LnProdução, LnÁrea Plantada, LnProdutividade e LnPreço da Mamona e LnPIB: 1947-2014.

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da SEAGRI e CONAB.

Na tabela 1 são apresentadas as estatísticas descritivas das variáveis. A produção

média anual da mamona é de cerca de 15,6 mil toneladas. A produtividade é de pouco menos

de 563 kg/ha. Contudo, o valor mínimo é de 189 kg/ha e o valor máximo de 920,2kg/ha. O

preço médio é de R$ 1,23/kg. O PIB médio é de aproximadamente US$ 2 trilhões. A

produtividade é a variável que apresenta a menor variabilidade. Já a produção é a que

apresenta a maior variabilidade.

Tabela 1: Estatística Descritiva

Variável Média Desvio padrão Mínimo Máximo CV (%)

Produção 15637.04 11778.53 284 39280 75,32

Área 28013.85 18551.3 662 57565 66,22

Produtividade 562.59 189.08 79.88 920.22 33,61

Preço 1.23 0.62 0.40 3.45 50,41

PIB 1999.534 1408.412 199.456 4844.815 70,43

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da SEAGRI e CONAB.

A tabela 2 traz o resultado dos testes de identificação das defasagens que devem ser

incorporadas no modelo. Segundo Baum (2013) se forem introduzidas muitas defasagens há

perda de muitos graus de liberdade. Por outro lado, se forem incluídas poucas defasagens

67

89

1011

1940 1960 1980 2000 2020Ano

Lnprodução Lnárea

4.5

55.

56

6.5

7

Lnpr

odut

1940 1960 1980 2000 2020Ano

-1-.5

0.5

11.

5

Lnpr

eço

1940 1960 1980 2000 2020Ano

56

78

9

Lnpi

b1940 1960 1980 2000 2020

Ano

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pode ocasionar erro de especificação do modelo e autocorrelação dos resíduos. Desta forma, é

necessária a utilização de testes para identificar a quantidade ótima de defasagens no modelo.

A maioria dos testes aponta para a necessidade de incorporar uma defasagem. Desta forma, o

modelo estimado incorpora uma defasagem de cada uma das variáveis.

Tabela 2: Testes para identificar o número de defasagens do modelo

Lag LL LR df p FPE AIC HQIC SBIC

0 5.5122 0.000011 -0.048008 0.00551 0.088065*

1 34.825 58.627 16 0.000 7.3e-06 -.470653* -0.20306* 0.009707*

2 53.0254 36.4 16 0.003 6.9e-06* -0.540487 -0.058827 0.684161

3 59.442 12.834 16 0.685 9.5e-06 -0.236266 0.459466 1.53267

4 85.914 52.945* 16 0.000 7.0e-06 -0.568724* 0.341079 1.7445

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da SEAGRI e CONAB.

A tabela 3 traz os resultados do teste de Dickey-Fuller aumentado para analisar a

estacionaridade das séries. Os resultados apontam que apenas a série do logaritmo da

produtividade é estacionária considerando a confiabilidade de 95% para o teste de Dickey-

Fuller Augmented.

Tabela 3: Teste de raiz unitária: Dickey-Fuller Augmented

Variável Estatística Z(t) Valor Crítico (1%) p-value

LnProdução -2.286 -3.558 0.1765

LnÁrea -1.711 -3.558 0.4254

LnProdutividade -3.832 -3.558 0.0126

LnPreço -2.562 -3.558 0.1087

LnPIB -2.860 -3.558 0.0501

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da SEAGRI e CONAB.

A tabela 4 apresenta o resultado do teste de Phillips-Perron para analisar a

estacionaridade das séries. Percebe-se que apenas a série do logaritmo da produtividade e do

LnPIB seriam estacionárias com a confiabilidade de 99% segundo este critério. Assim,

partimos para a diferenciação das séries não estacionárias a fim de torná-las estacionárias.

Tabela 4: Teste de raiz unitária: Phillips-Perron

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Variável Estatística Z(t) Valor Crítico (1%) p-value

LnProdução -2.881 -3.556 0.048

LnÁrea -1.797 -3.556 0.381

LnProdutividade -5.870 -3.556 0.000

LnPreço -3.741 -3.556 0.036

LnPIB -3.549 -3.556 0.007

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da SEAGRI e CONAB.

A tabela 5 traz os resultados do teste de Phillips-Perron para as séries em primeira

diferença e os resultados apontam que as séries em primeira diferença são estacionárias.

Tabela 5: Teste de raiz unitária com as variáveis em primeira diferença:

Variável Estatística Z(t) Valor Crítico (1%) p-value

DlnProdução -7.722 -3.559 0.0000

DlnÁrea -6.729 -3.559 0.0000

DlnPreço -9.163 -3.559 0.0000

DlnPib -3.945 -3.559 0.0000

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da SEAGRI e CONAB.

Na figura 3 é possível observar a função impulso-resposta do VAR estimado6.

Observa-se que um choque no LnIB afeta de forma positiva o preço e este efeito dissipa-se

após 2 períodos.

6 Uma vez que as séries não são integradas de mesma ordem o que indica que não há necessidade de inclusão de

vetores de cointegração para recuperar, se for o caso, as relações de longo prazo das séries. Para os dois modelos

estimados o primeiro englobando produção e o outro com área plantada. Por falta de espaço, optou-se em

apresentar o resultado da estimação do VAR para os dois modelos com as variáveis em logaritmo apesar de

algumas não serem estacionárias. Foram estimados também o VAR para os dois modelos com todas s variáveis

estacionárias em primeira diferença. Os resultados são similares. Vários autores, como por exemplo, Silva,

Souza e Maia (2013) sugerem que ainda que as variáveis não sejam todas estacionárias que seja estimado o VAR

com todas as variáveis em nível ou em primeira diferença como foi realizado, neste artigo.

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Já um choque na variável LnPreço tem um forte efeito positivo na própria variável,

mas este efeito permanece positivo, mas com menor magnitude ao longo do tempo. O efeito

deste choque no LnPreço, contudo, incialmente é menor, cresce e depois se estabiliza nas

variáveis LnProdução e LnProdutividade.

Por sua vez, um choque na variável LnProdutivade tem um forte efeito inicial, cresce e

estabiliza após 10 períodos na própria variável. O efeito deste choque, praticamente não é

sentido nas demais variáveis. Exceto na produção que tem um pequeno efeito positivo que

logo se estabiliza.

Finalmente um choque na variável LnProdução não tem efeito inicial na variável

LnPreço, mas após o segundo período o efeito é crescente até se estabilizar a partir do décimo

período. Este choque é positivo, porém decrescente na variável LnProdutividade. Este mesmo

choque tem um forte efeito positivo na própria variável, mas decresce até o quinto período e

passa a diminuir lentamente ao longo do tempo.

Figura 3 Função impulso resposta do modelo 1

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da SEAGRI e CONAB.

Uma das hipóteses para que o VAR seja estável é que os valores absolutos dos

autovalores da matriz dinâmica fiquem dentro do círculo unitário. Conforme a figura 4 os

resultados apontam que o VAR estimado é estável atendendo a hipótese.

-.5

0

.5

1

-.5

0

.5

1

-.5

0

.5

1

-.5

0

.5

1

0 2 4 6 8 0 2 4 6 8 0 2 4 6 8 0 2 4 6 8

Modelo1, lnpib, lnpib Modelo1, lnpib, lnpreço Modelo1, lnpib, lnprodut Modelo1, lnpib, lnprodução

Modelo1, lnpreço, lnpib Modelo1, lnpreço, lnpreço Modelo1, lnpreço, lnprodut Modelo1, lnpreço, lnprodução

Modelo1, lnprodut, lnpib Modelo1, lnprodut, lnpreço Modelo1, lnprodut, lnprodut Modelo1, lnprodut, lnprodução

Modelo1, lnprodução, lnpib Modelo1, lnprodução, lnpreço Modelo1, lnprodução, lnprodut Modelo1, lnprodução, lnprodução

95% CI orthogonalized irf

step

Graphs by irfname, impulse variable, and response variable

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99

Figura 4 Teste de estacionaridade do modelo.

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos resultados do VAR

A validação dos resultados do VAR estimado pressupõe, também, ausência de

autocorrelação nos resíduos do modelo. Conforme o resultado do teste LM apresentado na

tabela 7 é observado que os resíduos não são autocorrelacionados, haja vista que é aceita a

hipótese nula.

Tabela 7: Testando a ausência de autocorrelação no modelo: teste LM1

Lag chi2 Df Prob>chi

1 19.5325 16 0.24202

2 21.1642 16 0.17229

3 13.1891 16 0.65889

4 20.3177 16 0.20625

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos resultados do VAR a partir dos dados da SEAGRI e CONAB.

Nota: H0: no autocorrelation at lag order.

A figura 5 traz a decomposição dos erros de previsão da variância, na qual a variável

LnPIB é praticamente explicada por ela mesma. O mesmo ocorre com a variável LnPreço e

LnProdutividade. Já para a variável LnProdução a decomposição dos erros de previsão da

variância mostra que esta é explicada com maior magnitude pela própria variável e pela

variável produtividade em menor magnitude.

-1-.

50

.51

Imag

inary

-1 -.5 0 .5 1Real

Roots of the companion matrix

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100

Figura 5: Decomposição da Variância do primeiro modelo.

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos resultados do VAR a partir dos dados da SEAGRI e CONAB.

A figura 6 traz a função impulso resposta para o segundo modelo. Ou seja, a ideia

como dito anteriormente é tentar captar possíveis efeitos de choques de oferta e demanda na

área plantada da mandioca no estado do Ceará. São apresentados os resultados do VAR com

as variáveis logaritmizadas.

Figura 6: Função impulso resposta do VAR com as variáveis em nível do segundo modelo.

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos resultados do VAR a partir dos dados da SEAGRI e CONAB.

0

.5

1

0

.5

1

0

.5

1

0

.5

1

0 2 4 6 8 0 2 4 6 8 0 2 4 6 8 0 2 4 6 8

Modelo1, lnpib, lnpib Modelo1, lnpib, lnpreço Modelo1, lnpib, lnprodut Modelo1, lnpib, lnprodução

Modelo1, lnpreço, lnpib Modelo1, lnpreço, lnpreço Modelo1, lnpreço, lnprodut Modelo1, lnpreço, lnprodução

Modelo1, lnprodut, lnpib Modelo1, lnprodut, lnpreço Modelo1, lnprodut, lnprodut Modelo1, lnprodut, lnprodução

Modelo1, lnprodução, lnpib Modelo1, lnprodução, lnpreço Modelo1, lnprodução, lnprodut Modelo1, lnprodução, lnprodução

95% CI fraction of mse due to impulse

step

Graphs by irfname, impulse variable, and response variable

-.2

0

.2

.4

.6

-.2

0

.2

.4

.6

-.2

0

.2

.4

.6

-.2

0

.2

.4

.6

0 2 4 6 8 0 2 4 6 8 0 2 4 6 8 0 2 4 6 8

Modelo2, lnarea, lnarea Modelo2, lnarea, lnpib Modelo2, lnarea, lnpreço Modelo2, lnarea, lnprodut

Modelo2, lnpib, lnarea Modelo2, lnpib, lnpib Modelo2, lnpib, lnpreço Modelo2, lnpib, lnprodut

Modelo2, lnpreço, lnarea Modelo2, lnpreço, lnpib Modelo2, lnpreço, lnpreço Modelo2, lnpreço, lnprodut

Modelo2, lnprodut, lnarea Modelo2, lnprodut, lnpib Modelo2, lnprodut, lnpreço Modelo2, lnprodut, lnprodut

95% CI orthogonalized irf

step

Graphs by irfname, impulse variable, and response variable

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101

Podemos observar que um choque na variável LnÁrea tem um choque positivo na

própria variável, mas que vai se dissipando ao longo do tempo. O efeito desaparece após 8

períodos. Este choque praticamente não afeta a variável LnPIB. Causa inicialmente um

pequeno efeito negativo e depois positivo, mas que logo se dissipa na variável LnPreço. Há,

contudo, um efeito inicial positivo seguido por efeito negativo que também se dissipa após 4

períodos na variável LnProdutividade.

O choque na variável LnPreço causa impactos positivos na variável LnÁrea. No

entanto, este efeito desaparece após quatro períodos. Além deste efeito, ocorre um pequeno

efeito negativo seguido de efeito positivo, mas que também desaparece após quatro períodos

na própria variável.

Finalmente, um choque na variável LnProdutividade causa um efeito positivo na

variável LnÁrea que é dissipado após dois períodos. Este choque causa também um forte

efeito positivo na própria variável, contudo este efeito desaparece já no segundo período.

A figura 7 mostra a decomposição da variância do segundo modelo com as variáveis

em logaritmo na qual a variância do logaritmo do PIB é praticamente explicada pela própria

variável. Comportamento similar ocorre com a variável LnPreço e LnProdutividade. Já a

decomposição da variância da variável logaritmo da área é explicada em maior magnitude

pela própria variável, mas em menor magnitude por todas as variáveis do modelo.

Figura 7: Decomposição da variância do segundo modelo com as variáveis em logaritmo.

0

.5

1

0

.5

1

0

.5

1

0

.5

1

0 2 4 6 8 0 2 4 6 8 0 2 4 6 8 0 2 4 6 8

modelo2, deltalnpib, deltalnpib modelo2, deltalnpib, deltalnpreço modelo2, deltalnpib, deltlnarea modelo2, deltalnpib,lnprodut

modelo2, deltalnpreço, deltalnpib modelo2, deltalnpreço, deltalnpreço modelo2, deltlnapreço, deltalnrea modelo2, deltalnpreço, lnprodut

modelo2, deltlnarea, deltalnpib modelo2, deltalnrea, deltalnpreço modelo2, deltalnrea, deltalnrea modelo2, deltalnrea, lnprodut

modelo2,ln produt, deltalnpib modelo2, lnprodut, deltalnpreço modelo2ln, produt, deltalnrea modelo2,ln produt,ln produt

95% CI fraction of mse due to impulse

step

Graphs by irfname, impulse variable, and response variable

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102

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos resultados do VAR a partir dos dados da SEAGRI e CONAB.

Similarmente como foi feito no primeiro modelo, partimos para testar a estabilidade

do modelo. A figura 8 mostra que as condições de estabilidade são satisfeitas.

Figura 8: Estacionaridade do modelo.

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos resultados do VAR a partir dos dados da SEAGRI e CONAB.

A tabela 8 traz o teste LM para verificar a hipótese que os resíduos são não

autocorrelacionados no segundo modelo. Os resultados apontam para a aceitação da hipótese

nula.

Tabela 8 Testando a ausência de autocorrelação no modelo: teste LM7

Lag chi2 Df Prob>chi

1 17.9954 16 0.32416

2 21.3697 16 0.16473

3 10.5685 16 0.83531

4 22.0505 16 0.14157

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos resultados do VAR a partir dos dados da SEAGRI e CONAB.

Nota: H0: no autocorrelation at lag order.

5. CONCLUSÕES

Este artigo procurou mensurar a trajetória da produção e área plantada de mamona no

estado do Ceará no período entre 1947 e 2014, avaliando-se, os impactos de choque de oferta

e demanda na sua dinâmica. Os resultados obtidos pela metodologia VAR puderam ser 7 Nos dois modelos foram feitos testes de normalidade dos resíduos com as variáveis estacionárias em primeira

diferença com duas defasagens e aceitou-se a hipótese nula da normalidade dos resíduos.

-1-.

50

.51

Imag

inary

-1 -.5 0 .5 1Real

Roots of the companion matrix

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103

analisados através das funções de impulso respostas e pela decomposição da variância. Nos

dois casos, verificou-se que a produção de mamona é explicada não apenas por ela mesma,

mas também pela produtividade e preço. Os efeitos de um choque na produção, contudo, se

dissipam rapidamente.

Estes resultados puderam ser observados com as variáveis em logaritmo como em

primeira diferença, embora tenham sido apresentados apenas os resultados da primeira.

A dinâmica da área plantada de mamona no estado do Ceará é explicada em maior

magnitude pela própria variável e em menor magnitude pela produtividade e preço. Isto é,

choque de oferta afeta a área plantada. O mesmo não pode ser observado no choque de

demanda. Observou-se, no entanto, que o efeito de um choque na área plantada tem um efeito

mais duradouro na sua dinâmica quando comparado com o efeito na produção.

Estes resultados apontam que há um forte efeito inercial na dinâmica destas duas

variáveis, o que em parte é explicado pelo fato da mamona ser uma cultura voltada para o

mercado mesmo que a produção seja realizada em grande medida pelos agricultores

familiares. Assim, há uma resistência por parte do agricultor tanto na decisão de iniciar a

exploração desta cultura como substituí-la por culturas mais tradicionais, como feijão e milho,

quando avaliar que o preço não é atrativo.

No Ceará, nos últimos anos, o governo procurou incentivar o cultivo da mamona

estabelecendo uma política de preço mínimo com o intuito de garantir uma produção, através

da agricultura familiar, suficiente para que as empresas que se instalaram no estado com o

objetivo de produzir biodiesel utilizando a mamona como matéria prima conseguisse oferta

suficiente para viabilizar a produção. Contudo, como pode ser observado, esta política parece

não ter sido suficiente, haja visto o baixo impacto do preço na produção e área plantada. Estes

resultados corroboram com outros trabalhos, como por exemplo, Nunes, Justo e Rodrigues

(2014) que se utilizando de outra metodologia apontaram que esta política não tem

conseguido viabilizar as empresa produtoras do biodiesel no estado e que as empresas

remanescentes têm substituído a mamona pela soja e sebo animal na produção do biodiesel no

estado.

6. Referências

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CONSUMO SUSTENTÁVEL E CIDADANIA: UMA ANÁLISE DA UTILIZAÇÃO DA

ÁGUA NAS CIDADES DE CRATO E JUAZEIRO DO NORTE, CEARÁ

Isac Alves Correia1

Maria Rosa Dionísio Almeida2

Otácio Pereira Gomes3

RESUMO Em pleno século XXI há uma crescente preocupação com relação ao consumo desenfreado

das pessoas, e isso tem se refletido no comportamento das mesmas. Por outro lado, o debate

acerca da preocupação com a escassez dos recursos naturais por parte de ONGs em defesa do

meio ambiente tem passado a ser prioridade dos governos de países que almejam o

desenvolvimento sustentável e essa ideia tornou-se também uma das mais discutidas nas

pautas empresariais, decorrente do marketing embutido nas campanhas de preservação

ambiental e de investimento em tecnologia e sustentabilidade, além dos incentivos fiscais e

financeiros concedidos a empresários com atitudes ecologicamente corretas. A água, por ser

um recurso tão essencial à sobrevivência, se tornou o ponto de maior discussão por parte dos

ambientalistas. O cenário atual aponta para uma intensa necessidade de planejamento da

distribuição e de gestão dos recursos hídricos. A metodologia empregada é de natureza

bibliográfica utilizando-se literatura relacionada ao tema, como Daniela Gomes de

Vasconcellos, além de dados provenientes de entidades e órgãos como IBGE, IPECE SRH e a

Organização das Nações Unidas para Educação Ciência e Cultura. Desse modo, a presente

pesquisa pretende promover um debate acerca da utilização da água nas cidades de Crato e

Juazeiro do Norte, marcada pela geração do consumismo do mundo capitalista ao passo em

que são introduzidos os conceitos de cidadania e desenvolvimento sustentável, com intuito de

contribuir para uma reflexão construtiva sobre a conservação dos recursos naturais a fim de

garantir as necessidades das gerações futuras.

Palavras-chaves: Consumo Consciente. Sustentabilidade. Juazeiro do Norte. Crato.

ABSTRACT

In the twenty-first century there is a growing concern about the rampant consumption of

people, and this has been reflected in the behavior of the same. On the other hand, the debate

about the concern over the shortage of natural resources by NGOs in defense of the

environment has come to be a priority of governments of countries that aims sustainable

development and this idea has also become one of the most discussed in corporate guidelines,

due to the built-in marketing campaigns for environmental preservation and investment in

1Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA). E-mail:

[email protected] 2Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA). E-mail: [email protected]

3 . Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e Mestre em Economia

Rural pela Universidade Federal do Ceará (MAER-UFC). E-mail: [email protected].

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108

technology and sustainability and the tax and financial incentives to entrepreneurs with

environmentally friendly attitudes. Water, as a resource so essential to survival, became the

point of further discussion by the environmentalists. The current scenario points to an intense

need for distribution planning and management of water resources. The methodology is

bibliographical using literature related to the theme, the Daniela Gomes de Vasconcellos, and

data from bodies and organs as IBGE, IPECE SRH and the United Nations Educational

Scientific and Cultural Organization. Thus, this research aims to promote a debate about the

use of water in the cities of Crate and Juazeiro, marked by consumerism generation of the

capitalist world while on the concepts of citizenship and sustainable development are

introduced, aiming to contribute for constructive reflection on the conservation of natural

resources to ensure the needs of future generations.

Key words: Conscious Consumption. Sustainability. Juazeiro. Crato.

1 INTRODUÇÃO

Situadas no triângulo CRAJUBAR – termo utilizado para designar a área dos

municípios de Crato, Juazeiro e Barbalha – as cidades de Crato e Juazeiro estão localizadas na

Bacia do Araripe, Região do Cariri e possuem os melhores aquíferos do Ceará por serem

possuidoras das maiores reservas de água subterrânea. O abastecimento é feito através de

água subterrânea e complementado por fontes do Crato. (CAVALCANTE et al., 2006).

A localização da área de estudo é ao Sul do estado do Ceará a pouco mais de 500 km

da capital, Fortaleza. Possui clima semiárido, com um período seco de duração de 4 a 6meses

e outro chuvoso de 7 a 8 meses e temperaturas que variam durante o ano com média de 35°C.

A cidade de Juazeiro do Norte, com área de 248 Km² é a metrópole da Região

Metropolitana do Cariri por ser o mais populoso e com maior economia da região. Possui 263

mil habitantes (IBGE – 2014) e é o terceiro maior polo da indústria de calçados brasileiro e

também considerado o maior centro universitário do Ceará com 104 cursos superiores. O

município de Crato destaca-se na região pela sua área de 1.176 Km², IDH alto e uma das

maiores reservas florestais do país.

A região detém de grande potencial de recursos naturais hídricos e minerais,

favorecendo a exploração de diversas atividades, tais como agrícolas, com fruticultura

irrigada, floricultura, cultivo de arroz, feijão e cana de açúcar, bovinocultura, apicultura e

exploração de minérios de alto valor comercial (SOUZA e AMARAL FILHO, 2004).

Sabe-se, porém que o desenvolvimento assume formas variadas e muitas vezes

desequilibradas conforme cada região. Desse modo, busca-se analisar as relações de consumo

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109

com a conservação dos recursos naturais, sobretudo da água nas cidades de Crato e Juazeiro

do Norte com o intuito de promover uma discussão teórica a respeito do assunto e de gerar

iniciativas que busquem uma economia mais sustentável.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Consumo sustentável e cidadania

No Brasil, assim como também em todo o planeta, tem se discutido bastante em

consumir de forma consciente, não no que tange somente a questão puramente econômica,

mas também de forma a não comprometer a capacidade que o planeta tem de satisfazer as

necessidades das gerações futuras.

Segundo relatório das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Água (2015) “Até

2030, o planeta enfrentará um déficit de água de 40%, a menos que seja melhorada

dramaticamente a gestão desse recurso precioso”. A água influencia diretamente o nosso

futuro, logo, precisamos mudar a forma como avaliamos, gerenciamos e usamos esse recurso,

em face da sempre crescente demanda e da superexploração de nossas reservas subterrâneas

(ONU, 2015).

Ainda de acordo como o relatório apresentado pela Organização das Nações Unidas

para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 2015) mostra que há no mundo água

suficiente para suprir as necessidades de crescimento do consumo, mas não sem uma

mudança dramática no uso, gerenciamento e compartilhamento.

O consumo sustentável compreende uma relação em que os agentes estão atentos às

causassem que o ato de consumir poderá levar a toda sociedade. Além disso, o consumidor

consciente preocupa-se na decisão ao colocar em primeiro lugar os produtos que são

ambientalmente e socialmente responsáveis, a fim de contribuir com a melhoria das condições

ambientais do meio (SOBRINHO, 2006).

A relação entre consumo e desenvolvimento sustentável está expressa na preocupação

com as gerações futuras. Desse modo, a ideia de consumo consciente vai de encontro com a

sustentabilidade, ao passo em que a geração atual utilize os recursos naturais sem

comprometer a capacidade de suprir as necessidades de outras gerações (FARIAS, 2013).

Para ser alcançado o desenvolvimento sustentável através do consumo com

responsabilidade no que se refere à preocupação com a qualidade de vida e nas consequências

desses atos para o planeta é necessário investir em conhecimento em educação ambiental para

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110

que a humanidade tome conhecimento do agravamento que a má utilização dos recursos pode

causar (WWF BRASIL, 2013).

O consumo consciente surge como uma nova perspectiva em relação a estratégias

públicas e/ou privadas quanto à esfera do consumo, as novas formas de produção das

empresas, bem como as mudanças no comportamento dos indivíduos no mercado. Desse

modo, produção, mercado e consumo formam um regime de interdependência e

coenvolvimento em relação a atividades organizacionais como tecnologia, regras, práticas de

consumo (PORTILO, 2005).

Consumir de forma sustentável está diretamente ligado ao ato da escolha ou uso de

produtos naturais. O indivíduo leva em conta, dessa forma, o equilíbrio entre utilidade,

conservação dos recursos naturais existentes e as possibilidades dos efeitos coletivos de sua

decisão (FABI et al., 2010).

Seguindo a mesma linha de pensamento do desenvolvimento sustentável, o consumo

consciente é entendido como “a forma de consumo que utiliza os recursos naturais para

satisfazer as necessidades atuais, sem comprometer as necessidades e aspirações das gerações

futuras”. (GOMES, 2006).

Surge, assim, o ser cidadão-consciente. Relacionam-se ainda aos padrões de consumo

resultante os atores sociais (Governo, Empresa e Sociedade) em busca do desenvolvimento

sustentável (SILVA, 2010).

2.2 Breve histórico sobre a água

Até os dias atuais o aparecimento da água continua sem explicação convincente, pois

existem pelo menos três hipótese que procuram explicar a origem da água no Universo: a

religiosa, a do choque de cometas com planetas do sistema solar e da poeira cósmica

(VATSMAN. D; VASTSMAN M, 2005).

Quase toda a superfície do planeta Terra está coberta por água: água dos oceanos, água

dos rios e lagos, arroios e sangas. Água das calotas polares em forma de gelo, água da chuva

sendo que 1.370.000.000 km³ é constituída basicamente de dois tipos: água salgada dos mares

e água doce dos rios, lagos e subsolo. A água salgada ocupa 97% do total, o que vem a ser

impossível para o consumo, restando apenas 3% para o consumo humano e atividades

dependentes.

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O território brasileiro contém cerca de 12% de toda a água doce do planeta. Ao todo,

são 200 mil microbacias espalhadas em 12 regiões hidrográficas, como as bacias do São

Francisco, do Paraná e a Amazônica a mais extensa do mundo e 60% dela localizada no

Brasil. É um enorme potencial hídrico, capaz de prover um volume de água por pessoa 19

vezes superior ao mínimo estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) que é

cerca de 1.700 m³/s por habitante por ano (MMA, 2015).

De acordo com IBGE (2010) o Brasil com uma área de aproximadamente 8.514.876

Km² e com uma população de mais de 190 milhões de habitantes, o torna hoje o quinto país

do mundo tanto em extensão territorial como populacional. Em virtude de suas dimensões

continentais, o Brasil apresenta grandes contrastes em sua vegetação, clima, topografia,

distribuição populacional e no seu desenvolvimento econômico e social.

Segundo Lima (1999), o Brasil é um país bem privilegiado quanto ao volume de

recursos hídricos, pois possui cerca de 13,7% da água doce do mundo, a bacia Amazônica

concentra a maior parte desse recurso, em torno de 73% desse volume e concentra em seu

território menos de 5% da população brasileira. Apenas 27% dos recursos hídricos são

distribuídos desigualmente para atender toda a população brasileira.

Não só a disponibilidade de água não é uniforme, mas a oferta de água tratada

reflete os contrastes no desenvolvimento dos Estados brasileiros. Enquanto na região

Sudeste 87,5% dos domicílios são atendidos por rede de distribuição de água, no

Nordeste a porcentagem é de apenas 58,7% (SOBRINHO, 2006, p.29).

Apesar da abundância, os recursos hídricos brasileiros não são inesgotáveis. O acesso

à água não é igual para todos. As características geográficas de cada região e as mudanças de

vazão dos rios, que ocorrem devido às variações climáticas ao longo do ano, afetam a

distribuição.

O Nordeste possui menos de 5% das reservas e grande parte da água é subterrânea,

com teor de sal acima do limite aceitável para o consumo humano (Ministério do Meio

Ambiente et al., 2005). Diante dessa situação, são necessários cada vez mais investimentos

em métodos alternativos de abastecimento, como o processo de dessalinização com

reaproveitamento de rejeitos, a implantação de cisternas, transfusão do Rio São Francisco,

construção de barragens e açudes, poços cartesianos, dentre outros, projetos estes tratados

como prioritários na promoção do desenvolvimento econômico, social e ambiental do

semiárido brasileiro.

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Como se isso não fosse suficiente, o Brasil também apresenta um elevadíssimo nível

de desperdício, o Ministério do Meio Ambiente et al. (2005), relata que cerca de 20% a 60%

da água tratada para consumo se perde no processo de distribuição devido as redes de

abastecimentos, em quase sua totalidade, estarem em péssimas condições de conservação.

Além dessas perdas de água do seu trajeto das estações de tratamento até o consumidor, temos

também um grande desperdício em nossas casas, ao tomarmos banhos prolongados, usos de

descargas com grandes capacidades de litros, lavagem de louças com a torneira aberta,

lavagens de carros, uso da mangueira como vassoura na limpeza de calçadas etc.

2.3 Como utilizamos nossa água

O consumo de água no nosso país divide-se da seguinte forma: 22% para uso humano,

19% são destinados para as indústrias e 59% para a agricultura (Manual de Educação para o

Consumo Sustentável, 2005).

Uso Doméstico

Em conformidade com o Ministério da Saúde para que a água seja potável e adequada

para o consumo humano, ela tem que apresentar características físicas, químicas,

microbiológicas e radioativas de acordo com o padrão de potabilidade estabelecido. Ou seja, a

água apropriada para o consumo humano não deve apresentar nem coloração, cheiro e sabor,

tem que ser pura.

Para tanto, quando não encontrada com tanta pureza na natureza, devido

contaminarmos nossos rios e lençóis freáticos, só chega água limpa em nossas torneiras

quando esta passa por estações de tratamentos, onde são realizados processos de desinfecção

para garantir seu consumo sem riscos à saúde.

Como se não bastasse o uso indevido por parte dos consumidores, através dos

desperdícios de água deixando as torneiras abertas sem estarem utilizando-as, vazamentos

escondidos, descargas soltas, dentre outros fatores, ainda contribuem com a poluição

ambiental ao limpar suas casas exagerando no uso de produtos de limpeza, como os

detergentes e desodorizador de ambiente, vilões estes, que contaminam os rios e degradem

cada vez mais os recursos hídricos do Brasil.

Uso Industrial

As indústrias consomem grandes quantidades de água, elas utilizam cerca de 22% do

consumo total de água limpa disponível. Todo esse gasto ocorre devido ao seu longo processo

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industrial, que vai desde a incorporação de água nos produtos até a lavagem de materiais,

equipamentos e instalações, como também pelo uso prolongado de sistemas de refrigeração e

geração de vapor.

Tabela 1: Consumo de água nas indústrias

Tipo de indústria Consumo

Refinação de aço 85 m³por t de aço

Indústria têxtil 290 m³ por barril

Couros (curtumes) 1000 m³ por t tecido

Papel 55 m³ por t de papel

Saboarias 250 m³ por t de sabão

Usinas de açúcar 2 m³ por de açúcar

Fabricas de conservas 75 m³ por t de conservantes

Laticínios 2 m³ por t de produto

Cervejaria 20 m³ por m³ de cerveja

Lavanderia 10 m³ por t de roupa

Matadouros 3 m³ por animal abatido

Fonte: Barth (1987) apud Manual de Educação para o Consumo Sustentável, 2005.

De acordo com a Secretária do Meio ambiente, estima-se que a cada ano as indústrias

são responsáveis por lançar cerca de 300 mil a 500 mil toneladas de dejetos nos rios. Isso vai

depender muito de qual tipo de industrial e tecnologias são adotadas no processo de

fabricação, já que a agua resultante dos processos indústrias podem carregar grandes

quantidades de resíduos tóxicos e restos de materiais em decomposição, que ao serem

lançados nos rios e nos mares podem ocasionar a morte de peixes, e mesmo quando

conseguem sobreviverem carregam em seu organismo substâncias tóxicas, que quando

ingeridos pelos os seres humanos podem ocasionar sérios problemas de saúde.

Não só as indústrias químicas são as grandes poluidoras, mas também as indústrias

alimentícias, como por exemplo, as produtoras de salsichas, estas podem contaminar uma

grande área se não adotar um processo de tratamento de água utilizada na lavagem dos

resíduos dos suínos antes de ser despejada nos rios.

Uso Agrícola

Em proporção as mudanças climáticas inesperadas e muitas vezes de estiagens

prolongadas, a água da chuva não são suficientes para umedecer toda a terra necessária para

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produção agrícola. Para ter uma boa colheita é necessário que os agricultores recorram para

outras alternativas, uma delas é o uso da irrigação, método esse que demanda mais de dois

terços de água doce potável do planeta.

O processo de umedecer a terra por intermédio de irrigadores, além de ter um elevado

consumo de água, ainda tem a questão do desperdício por não ser um método mais eficaz de

aproveitar melhor a água.

Não muito diferente das outras formas de usos da água, a agricultura também é

responsável por afetar drasticamente a os recursos hídricos e a qualidade dos solos. A prática

de usar fertilizantes e agrotóxicos no processo de cultivação de alimentos, quando chovem são

arrastados para os corpos d’água, contaminando tanto a água superficial, quanto à subterrânea.

3 METODOLOGIA

3.1 Área de estudo

Os municípios de Crato e Juazeiro do Norte estão localizados ao Sul do Estado do

Ceará distantes 400 e 396 km em linha reta da capital cearense. O município de Crato possui

dois tipos de climas; tropical quente semiárido brando e tropical quente subsumido os meses

mais chuvosos são de janeiro a maio a pluviosidade média é 1090,9 mm a temperatura varia

entre 24ºC a 26ºC (FUCEME apud IPECE, 2014).

O município de Juazeiro do Norte também predomina o tropical quente semiárido

brando difere em relação ao clima quente semiárido, os meses mais chuvosos são de janeiro a

maio a pluviosidade média é 925,1 mm a temperatura varia entre 24ºC a 26ºC. (IPECE,

2014). Segundo o Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatísticas a estimativa da população

do município de Crato em 2014 é de 127.657 habitantes e de Juazeiro do Norte é 263.704

habitantes.

3.2 Natureza dos dados

A presente pesquisa foi realizada através de leitura sistemática de livros, revistas e

artigos relacionados extraídos da internet. A área de estudo concentra-se nas cidades de Crato

e Juazeiro do Norte, localizadas ao sul do Estado do Ceará. Foram utilizados dados

secundários, especialmente extraídos da base de dados disponibilizados pelo IBGE (Instituto

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115

Brasileiro de Geografia e Estatística), ONU (Organizações das Nações Unidas) e SEMARH

(Secretaria do Meio Ambiente dos Recursos Hídricos) e nos estudos de Cavalcante et

al.(2006) sobre as águas subterrâneas do CRAJUBAR (Crato, Juazeiro e Barbalha).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

É perceptível o caráter de urgência de uma nova estratégia de gestão ambiental.

Enquanto camadas da população são movidas pela sociedade do consumo e os prazeres do

modelo capitalista, porém sem instrução ou com pouco reconhecimento da gravidade da

problemática, o planeta sofre com as mazelas do consumo exacerbado e o sistema capitalista

inviabiliza cada vez mais o processo.

A maioria das reservas de água doce estão destruídas de maneira desigual vem sendo

exauridas por agentes patogênicos e poluídos por substancias químicas e biológicas o que leva

a preocupação por parte do aumento demográfico mundial.

A verdade é que a possibilidade de ocorrer escassez dos recursos hídricos tornar-se

mais alarmante quando de gerar problemas para o consumo de atividades essências para o

desenvolvimento de uma nação.

A região do Cariri é a segunda mais desenvolvida e populosa no estado do Ceará,

depois da Região Metropolitana de Fortaleza. Devido à sua compartimentação

geológica, representada pela Bacia Sedimentar do Araripe, a região tem condições

extremamente favoráveis à exploração de água subterrâneas, ao contrário do que

ocorre na maior parte do estado do Ceará (85%), que se localiza em terrenos

cristalinos. Tanto é que no Cariri a quase totalidade da água para abastecimento

público e irrigação é proveniente de poços (KIMURA; LOUREIRO, 2004, p.1).

A espessura de cada camada da Chapada do Araripe do topo a ate a base é classificada

com, formação Exu, Santana, Rio da batateira, Missão Velha, Brejo Santo e Mauriti. Em

geral, as formações Exu, Rio da Batateira, Abaiara, Missão Velha e Mauriti são definidas

como unidades aquíferas da região, enquanto as formações Santana e Brejo Santo se

comportam predominantemente como unidades confinantes, com baixos valores de

condutividade hidráulica.

As águas subterrâneas do Cariri representam a mais importante fonte de abastecimento

da região, tanto para as populações urbana e rural, quanto para projetos de irrigação da região,

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os municípios de Crato e Juazeiro do Norte são abastecidos por meio de reservas subterrâneas,

qualquer que seja a teoria que busque explicar as água subterrâneas, inclui os tipos

classificadas como mineiras ou potáveis de mesa, que podem aflorar naturalmente através de

poços tubulares verticais com sondas de percussão ou por equipamentos rotativos.

A exploração racional e sustentável dos recursos hídricos subterrâneos requer que

sejam realizadas, antes do uso real desses aquíferos, simulações que possam nos

indicar o comportamento dos aquíferos quando submetidos aos vários tipos de

bombeamento e recarga reais. Tais simulações atualmente são feitas através de

Modelos Computacionais Numéricos, os quais exigem um conhecimento preciso de

características hidrogeológicas dos aquíferos, tais como Condutividade Hidráulica

(principal característica), Coeficiente de Armazenamento e Retenção específica

(SOUZA et al., 2009, p.3).

Segundo a Companhia de Gestão de Recursos Hídricos – COGERH (Portal

Hidrológico do Ceará), 2015 o município de Crato possui 94% dos domicílios com

abastecimento de água e somente 25,2% com instalações sanitárias a quantidade de poços

chegam 237. Em relação a Juazeiro do Norte este tem 338 poços, sendo que 97,6% dos

domicílios possuem instalações sanitárias, como 52,2% possuem instalações sanitárias.

Estudos realizados pela COGERH, além de análises de controle de qualidade da água

da CAGECE e de Relatórios de Fiscalização da ARCE, demonstram redução da qualidade da

água destes mananciais, notadamente em função da presença de nitrato nas amostras,

indicando a existência de poluentes na água. Esses fatos podem ser justificados pela

infiltração dos esgotos das fossas domésticas, bem como pela existência de esgotos lançados a

céu aberto. Fica nítido que esses resíduos estão causando a contaminação da água subterrânea.

É válido ressaltar que os mesmos estudos apontaram a traços de metais pesados, provenientes

possivelmente das atividades das indústrias que atuam principalmente em Juazeiro do Norte

(ARCE, 2013).

Além da preocupação de manter a qualidade do lençol freático, a ausência de um

saneamento básico adequado, tanto para Juazeiro do Norte como para o município do Crato

impacta principalmente sobre a população pela exposição dos moradores aos vetores

causadores de doenças de veiculação hídrica, dado que os municípios com piores índices de

saneamento possuem maiores taxas de mortalidade provocadas por diarreia onde as crianças

são as principais vitimas.

Logo, torna-se necessário a conscientização da população sobre importância a coleta

de lixo para que não sejam despejados nos rios, como sobre o tratamento de esgotos, pois tais

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117

atitudes são decisivas para termos uma qualidade de vida melhor, se prejudicarmos as

gerações futuras.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cultura de consumo é resultado não somente das atitudes individuais das pessoas,

mas da forma como a sociedade foi organizada, com a estrutura do capitalismo dominante

além da profundidade ideológica que permite estruturar e subordinar as outras culturas

(SLATER, 2002).

No consumo doméstico, por exemplo, deve-se adotar uma postura a partir de uma

reeducação nos conceitos adotados no consumo sustentável de água no dia-a-dia, levando

menos tempo no banho, escovar os dentes com a torneira fechada, não utilizar a mangueira

para lavar carros e calçadas.

As ações mais adequadas para reduzir o desperdício e controlar o uso da água na

produção industrial são através da introdução de técnicas de reuso de água e da utilização de

equipamentos e métodos de irrigação que demande menos quantidade.

Por outro lado, o próprio sistema capitalista inviabiliza a adoção de métodos que

facilitem a preservação desses recursos. Através de sistemas tecnológicos avançados, a

sociedade deveria promover um método capaz de utilizar menos a capacidade do planeta,

porém ela alimenta a ideia de consumir desenfreadamente.

É bastante comum a opinião em que as pessoas defendem uma pressão para com as

empresas, para que estas produzam produtos de limpeza e embalagens que causem menos

impactos ao meio ambiente, sendo os mesmos bem significantes no processo de degradação,

poluição de rios e poços que servem como fontes de distribuição para o uso humano.

Não adianta, porém, exigir que a esfera governamental faça tratamento adequado dos

resíduos, como por exemplo, instalar sistemas de coleta seletiva e reciclagem, aterros

sanitários, estações de recebimentos de produtos tóxicos, entre outros, sem que seja diminuída

a contaminação por parte da agricultura, através do menor uso de agrotóxico e fertilizantes, da

adoção de medidas de combate a erosão de solos e de redução de assoreamento de corpos

d’água, tanto no campo como na cidade se não houver uma mudança na atitude das pessoas

com relação ao uso e a forma como tratam os recursos naturais.

É necessário, ainda, que a decisão parta do coletivo e os esforços individuais sejam

predominantes na luta pela conservação do meio, pois através do consumo consciente ao

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mesmo tempo em que é exercido o papel da cidadania é garantida uma melhor qualidade de

vida para as pessoas e os outros seres que habitam o planeta.

Não era propósito da pesquisa, desenvolver uma teoria capaz de resolver o problema

da escassez da água. Tomou-se como objetivo principal, o de promover um debate acerca da

necessidade de estudar uma política de educação ambiental no sentido de trabalhar a

sensibilização da sociedade do consumo sobre as questões que afetam o meio ambiente e a

qualidade de vida na terra. Sabe-se, portanto, que é de grande valor fazer um estudo sobre a

qualidade da água devido a presença de bactérias e íons além de um estudo de planejamento e

de gestão dos recursos hídricos da região, para que não sejam comprometidas a qualidade e o

potencial.

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APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MUNICIPAL

NAS CIDADES DA REGIÃO METROPOLITANA DO CARIRI - CE: ANÁLISE DA

DIMENSÃO ECONÔMICA

Everton Paulo Gonçalves Vieira1

Wellington Ribeiro Justo2

RESUMO:

O conceito de desenvolvimento sustentável, para os economistas, passou do campo teórico

para o prático há poucas décadas, pois foram surgindo metodologias que permitiram

incorporar este conceito através de indicadores. A disponibilidade de dados das diversas

variáveis que contemplam estes conceitos possibilitou os avanços na mensuração de

desenvolvimento nesta visão mais ampla. Este artigo buscou mensurar o índice de

desenvolvimento sustentável dos nove municípios da região metropolitana do Cariri cearense

a partir dos dados do IPECE para o ano de 2010. A metodologia utilizada foi a estimação do

Índice de desenvolvimento Sustentável. Os resultados apontaram que a depender do

indicador, há discrepância entre os municípios. No índice geral, destacaram-se os municípios

de Crato e Juazeiro do Norte por apresentarem nível de desenvolvimento aceitável.

Palavras-chaves: Índice de desenvolvimento; Sustentabilidade; Dimensão econômica.

ABSTRACT:

The concept of sustainable development, for the economists, has moved from the theoretical

field for practical a few decades ago, because Methodologies have emerged that allowed

incorporate this concept through indicators. The availability of data of different variables that

come with these concepts enabled advances in the measurement of development in this

broader view. This paper aims to measure the sustainable development index of the nine

1Graduado em Administração (UFC); Pós-graduando em Administração Financeira na

Universidade Regional do Cariri (URCA). Administrador na Universidade Federal do Cariri

(UFCA). Email: [email protected] Telefone: (88) 997140559 2Engenheiro Agrônomo (UFRPE). Economista (URCA). Mestre em Economia Rural (UFC).

Doutor em Economia (PIMES-UFPE). Professor Associado do Curso de Economia da

URCA.

Professor do PPGECON (UFPE).Email: [email protected]

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122

municipalities in the metropolitan region of Cariri in Ceará with IPECE data for the year

2010. The methodology used was the estimation of the Sustainable Index. The results pointed

that depends on the indicator; there is a discrepancy between the municipalities. Overall

index, stood out the municipalities of Crato and Juazeiro do Norte by presenting acceptable

level of development.

Keywords: Index of development; sustainability; economic dimension.

1. INTRODUÇÃO

A questão da sustentabilidade tem sido discutida intensamente nas últimas

décadas. O Brasil teve contribuição importante na busca por um planeta mais sustentável com

a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, evento que

aconteceu no Rio de Janeiro, em 1992, e contou com a presença de representantes de mais de

150 países. A Rio 92, como ficou conhecida a conferência, obteve entre os principais

resultados a criação da Agenda 21, documento contendo diretrizes para a construção de uma

sociedade mais sustentável para as gerações futuras.

Da escala global para a municipal, a preocupação com o bem-estar do meio

ambiente e de todos que fazem parte dele, visando o futuro, passou do campo conceitual para

a busca por ferramentas práticas com o objetivo de descobrir os reais problemas e solucioná-

los. A criação de um índice foi uma maneira objetiva para atender esta demanda.

Dessa forma, o Índice de Desenvolvimento Sustentável Municipal (IDSM) foi

uma metodologia criada pelos pesquisadores paraibanos Martins e Cândido (2008), tendo

como base o Índice de Desenvolvimento Sustentável - IDS Brasil, com o objetivo de verificar

as condições da sustentabilidade dos municípios comparadas à situação dos demais que

compõem o Estado da Paraíba.

Este artigo tem como objetivo principal aplicar o IDSM nas cidades que compõem

a Região Metropolitana do Cariri³. Como o IDSM é bastante amplo, aborda diversos

indicadores na formulação de seus índices, e estes são obtidos pela comparação com todas as

cidades do estado (para simular um cenário de ambiente similar a todos os municípios),

optou-se trabalhar apenas com parte dele: a dimensão econômica.

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123

O IDSM mostra-se uma ferramenta de análise mais completa em relação a outros

indicadores, pois engloba as cinco dimensões da sustentabilidade, e dentro delas, diversas

variáveis. Além disso, este indicador se utiliza do contexto regional dos municípios que

compõem o estado como parâmetro de avaliação.

Esta pesquisa tem o ano de 2010 como base, pois este é o ano mais recente que

possui dados mais completos para o cálculo da dimensão econômica.

Além desta introdução este artigo está dividido em mais três seções. A segunda

sessão trata de apresentar alguns conceitos básicos sobre desenvolvimento sustentável. A

terceira busca explicar a metodologia utilizada, referindo-se a natureza e fonte dos dados,

caracterização da área de estudo e a metodologia do IDSM. A última sessão refere-se aos

resultados e discussão acerca da aplicação do indicador.

2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A premissa básica para a formação do conceito de sustentabilidade é justamente a

preocupação com o planeta nos anos que virão. Com base neste princípio, o Relatório

Brundtland ou “Nosso Futuro Comum” definiu, em 1987, desenvolvimento sustentável como

“aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das

gerações futuras de atenderem as suas próprias necessidades” (COMISSÃO MUNDIAL

SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO apud SANTOS, 2011).

Por mais simples que o conceito de desenvolvimento sustentável possa parecer,

ele é motivo de discussões há várias décadas. A complexidade deste tema é visível a partir da

percepção do quão abrangente ele é. Para Sachs apud VASCONCELOS (2011, p. 23) a

sustentabilidade é formada pela integração de cinco dimensões:

Figura 1: Dimensões da Sustentabilidade

Fonte: Sachs apud Vasconcelos (2011)

De acordo com Silva et al. (2012, p. 29) “a pluridimensionalidade abordada por

Sachs sinaliza diretrizes que devem, sobretudo, buscar soluções para o sistema como um todo,

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124

interagindo com as diferentes demandas quer sejam em aspecto ambiental, social, econômico,

geográfico ou espaço-territorial, político e cultural”.

Das cinco dimensões da sustentabilidade é importante destacar a econômica.

Goodland & Ledoc apud Baroni (1992, p. 2) relatam que “o objetivo primeiro do

desenvolvimento sustentável é alcançar um nível de bem-estar econômico razoável e

equitativamente distribuído que pode ser perpetuamente continuado por muitas gerações

humanas”.

Na visão de Martins & Cândido apud Vasconcelos (2011, p. 147) a dimensão

econômica “engloba um conjunto de informações relacionadas aos objetivos ligados ao

desempenho econômico e financeiro e aos rendimentos da população, considerados de

extrema relevância para a implementação do desenvolvimento sustentável”.

3. METODOLOGIA

3.1 Natureza e Fonte dos Dados

Os dados contidos neste trabalho são de natureza secundária e foram em sua

totalidade obtidos através de pesquisas em livros, artigos e web sites, principalmente nas

páginas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Atlas do

Desenvolvimento Humano do Brasil e Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará.

O tipo de pesquisa realizada na produção deste artigo é a pesquisa bibliográfica, definida por

Lima (1997, p. 63) como “atividade de localização e consulta de fontes diversas de

informações escritas, para coletar dados gerais ou específicos a respeito de um tema”.

Para Vergara (2006, p. 48), “pesquisa bibliográfica é o estudo sistematizado

desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas,

isto é, material acessível ao público em geral”.

A maneira como são coletados os dados neste tipo de pesquisa e, principalmente,

de que forma serão utilizados eficientemente são questões importantes enfatizadas por Laville

e Dionne (1999, p. 167-168):

Os documentos aportam informação diretamente: os dados estão lá, resta fazer

sua triagem, criticá-los, isto é, julgar sua qualidade em função das necessidades

da pesquisa, codificá-los ou categorizá-los [...]. Para simplificar, pode-se

concluir que a coleta da informação resume-se em reunir os documentos, em

descrever ou transcrever eventualmente seu conteúdo e talvez em efetuar uma

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125

primeira ordenação das informações para selecionar aquelas que parecem

pertinentes.

3.2 Caracterização da Área de Estudo

Este trabalho tem como objeto de estudo a Região Metropolitana do Ceará

(RMC). Esta região é “constituída pelo agrupamento dos municípios de Juazeiro do Norte,

Crato, Barbalha, Jardim, Missão Velha, Caririaçu, Farias Brito, Nova Olinda e Santana do

Cariri para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de

interesse comum” (CEARÁ, 2009). O Quadro abaixo mostra dados sobre estes municípios:

Quadro 1: Informações básicas – Municípios da RMC

Município Informações Básicas

Barbalha

Área: 479,18 km²; População: 55.323 (2010); Distância em linha reta a capital:

405 km; Clima Tropical Quente Semi-árido Brando. (IPECE, 2012)

Caririaçu

Área: 623,82 km²; População: 26.393 (2010); Distância em linha reta a capital:

375 km; Clima Tropical Quente Semi-árido e Tropical Quente Semi-árido Brando.

(IPECE, 2012)

Crato

Área: 1.009,20 km²; População: 121.428 (2010); Distância em linha reta a capital:

400 km; Clima Tropical Quente Semi-árido Brando e Tropical Quente Sub-úmido.

(IPECE, 2012)

Farias Brito

Área: 503,7 km²; População: 19.007 (2010); Distância em linha reta a capital: 375

km; Clima Tropical Quente Semi-árido e Tropical Quente Semi-árido Brando.

(IPECE, 2012)

Jardim

Área: 457,03 km²; População: 26.688 (2010); Distância em linha reta a capital:

435 km; Tropical Quente Semi-árido Brando e Tropical Quente Sub-úmido.

(IPECE, 2012)

Juazeiro do Norte

Área: 248,55 km²; População: 249.939 (2010); Distância em linha reta a capital:

396 km; Clima Tropical Quente Semi-árido e Tropical Quente Semi-árido Brando.

(IPECE, 2012)

Missão Velha

Área: 651,11 km²; População: 34.274 (2010); Distância em linha reta a capital:

395 km; Clima Tropical Quente Semi-árido e Tropical Quente Semi-árido Brando.

(IPECE, 2012)

Nova Olinda

Área: 284,40 km²; População: 14.256 (2010); Distância em linha reta a capital:

393 km; Clima Tropical Quente Semi-árido, Tropical Quente Semi-árido Brando e

Tropical Quente Sub-úmido. (IPECE, 2012)

Santana do Cariri

Área: 768,77 km²; População: 17.170 (2010); Distância em linha reta a capital:

406 km; Clima Tropical Quente Semi-árido, Tropical Quente Semi-árido Brando e

Tropical Quente Sub-úmido. (IPECE, 2012) Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do IPECE (2012)

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126

Visto que as informações básicas sobre desenvolvimento sustentável e a região

que será objeto de estudo desta pesquisa foram apresentados, a metodologia do cálculo do

Índice de Desenvolvimento Sustentável Municipal é a próxima etapa na construção desta

pesquisa.

3.3 Metodologia do Cálculo do IDSM

Martins & Cândido (2011) afirmam que a construção da metodologia do Índice de

Desenvolvimento Sustentável Municipal foi formulada com base em critérios mundiais para

este tipo de índice, e que as dimensões e variáveis tem por referência propostas de Waquil et.

al. (2006) e da publicação “Indicadores de desenvolvimento sustentável: Brasil 2004”.

Sinteticamente, o IDSM é um índice que propõe calcular o nível de

sustentabilidade de determinado município, tomando como orientação a comparação com os

demais municípios que fazem parte do mesmo estado. As dimensões da sustentabilidade

compõem o IDSM, porém, a dimensão espacial foi dividida em demográfica e em político-

institucional, e a ecológica foi renomeada como ambiental. No quadro abaixo estão

discriminadas as dimensões da sustentabilidade e suas respectivas variáveis:

Quadro 2: Dimensões e variáveis da sustentabilidade

Fonte: Martins & Cândido (2008).

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127

As variáveis possuem unidades de medidas diferentes, por isso, foi necessário

ajustar os valores numa escala de 0 (zero) a 1 (um). Determinada a variação mínima e máxima

da escala, constatou-se que algumas variáveis apresentam relações positivas e negativas. A

relação positiva significa que quanto maior o indicador, melhor seu índice, e quanto menor o

indicador, pior será o índice. Já a negativa é o oposto. Para a conversão de variável em índice,

estas relações podem ser calculadas da seguinte forma (Martins & Cândido, 2011):

Figura 2: Fórmulas da relação positiva e negativa das variáveis do IDSM

Fonte: Martins & Cândido (2011).

Após o cálculo da relação positiva ou negativa (dependendo de qual dos dois

contextos esteja inserido), o índice é classificado em um nível de sustentabilidade (crítico,

alerta, aceitável ou ideal) de acordo com o valor obtido. O quadro a seguir mostra as

classificações dos índices dentro da escala de 0 a 1 e suas respectivas representações em

cores:

Quadro 3: Classificação e representação dos índices em níveis de sustentabilidade.

Fonte: Martins & Cândido (2008)

Na relação positiva, o menor resultado dentre todos será classificado como 0,0000

e o maior como 1,0000, sendo que os outros resultados variantes entre estes extremos serão

classificados a partir do cálculo da relação positiva na figura 2. O mesmo acontece com a

relação negativa obedecendo a sua singularidade.

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128

Definidos todos os pontos principais do IDSM, o passo seguinte é a aplicação dos

indicadores que fazem parte da dimensão econômica, no conjunto de municípios que formam

a Região Metropolitana do Cariri.

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129

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A tabela 1 traz a estatística descritiva das variáveis das nove cidades da RMC,

além dos valores mínimos e máximos de cada variável em todo estado do Ceará (necessário

para o cálculo do IDSM), as médias e os desvios padrão:

Tabela 1: Variáveis e Estatísticas Descritivas

Município PIB per

capita

Participação da

Indústria no

PIB

Saldo da Balança

Comercial

Renda per

capita

Rendimentos

Provenientes do

Trabalho

Índice de Gini

de Distribuição

de rendimento

Barbalha 8.206 0,32 -17.324.605 362,9 67,57 0,16

Caririaçu 3.603 0,13 0 243,1 57,05 0,23

Crato 6.969 0,16 8.372.625 470,46 71,17 0,23

Farias

Brito

3.894 0,11 0 231,88 43,64 0,36

Jardim 3.849 0,09 0 241,09 54,93 0,27

Juazeiro

do Norte

7.842 0,19 873.663 439,53 76,46 0,18

Missão

Velha

4.428 0,18 0 293,16 56,46 0,23

Nova

Olinda

4.571 0,23 0 272,1 62,53 0,33

Santana

do Cariri

4.282 0,12 0 212,7 50,03 0,29

Mínimo 3.169 0,06 -492.754.287 171,62 33,48 0,11

Máximo 39.997 0,58 150.238.212 846,36 79,75 0,69

Média 5.444,64 0,16 -4.856.837,4 267,64 56,46 0,26

Desvio-

padrão

4.024,56 0,09 57.169.295,92 76,34 9,46 0,09

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do IPECE (2012/2013), DataSus (2010), Ministério do

Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (2010) e Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil

(2010).

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130

Devido à especificidade da variável “Renda familiar per capita”, foi necessário a

inserção dos dados em uma tabela à parte, conforme pode ser visto na tabela 2.

Tabela 2: Variável Renda Familiar per capita e Estatísticas Descritivas

Município

Renda Familiar per capita (%)

Até ¼

(salário

mínimo)

Mais de ¼ a

½ (salário

mínimo)

Mais de ½ a 1

(salário mínimo)

Mais de 1 a 2

(salário mínimo)

Mais de 2 a 3

(salário mínimo)

Mais de 3 (salário

mínimo)

Barbalha 21,5 32,11 29,59 9,52 2,27 3,07

Caririaçu 36,74 25,45 26,45 5,73 0,78 0,85

Crato 16,92 29,82 29,65 12,01 3,77 5,12

Farias

Brito

35,82 22,98 26,78 7,15 0,87 0,7

Jardim 36,17 26,13 25,12 5,62 0,94 1,1

Juazeiro

do Norte

15,77 31,6 31,31 11,21 2,89 3,75

Missão

Velha

34,48 28,31 26,13 6,66 1,19 1,32

Nova

Olinda

32,78 29,19 24,29 5,43 1,18 1,16

Santana

do Cariri

42,28 21,57 23,59 5,63 1,06 0,98

Mínimo 7,76 21,57 17,05 2,72 0,38 0,25

Máximo 48,59 39,34 35,73 17,57 6,04 11,86

Média 32,33 27,57 26,16 6,57 1,25 1,24

Desvio-

padrão

7,96 3,53 3,44 2,1 0,65 1,12

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do IPECE (2012).

4.1 Produto Interno Bruto per capita

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131

A tabela 3 apresenta os índices do Produto Interno Bruto per capita dos

municípios da RMC, em 2010. A relação é positiva, pois quanto maior a variável, maior será

a renda média da população local.

Tabela 3: Índices do Produto Interno Bruto per capita dos municípios da RMC em 2010.

Município Saldo

Barbalha 0,1368

Caririaçu 0,0118

Crato 0,1032

Farias Brito 0,0197

Jardim 0,0185

Juazeiro do Norte 0,1269

Missão Velha 0,0342

Nova Olinda 0,0381

Santana do Cariri 0,0302

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do IPECE (2013).

Todas as cidades da Região Metropolitana do Cariri apresentaram nível crítico de

sustentabilidade em relação ao Produto Interno Bruto per capita, no ano de 2010. Barbalha,

Juazeiro do Norte e Crato, respectivamente, foram as que obtiveram os resultados mais

expressivos. A primeira, no entanto, é a maior em território e a menor em população das três.

4.2 Participação da Indústria no PIB

A tabela 4 traz os índices da participação da indústria no PIB. A relação dessa

variável é positiva, pois quanto maior a participação da indústria no PIB, melhor para a

economia da região que, prioritariamente, depende da agricultura e comércio.

Tabela 4: Índices da Participação da Indústria no PIB dos municípios da RMC em 2010.

Município Saldo

Barbalha 0,5000

Caririaçu 0,1346

Crato 0,1923

Farias Brito 0,0962

Jardim 0,0577

Juazeiro do Norte 0,2500

Missão Velha 0,2308

Nova Olinda 0,3269

Santana do Cariri 0,1154

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do IPECE (2013).

As cidades de Barbalha e Nova Olinda foram as únicas entre as nove cidades a

apresentarem o nível de sustentabilidade alerta. As demais se encontram em estado crítico. É

importante destacar os resultados das cidades de Juazeiro do Norte e Crato, que apesar de

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132

possuírem grandes indústrias instaladas em seus territórios, não obtiveram, sequer, o nível de

alerta. Isso provavelmente deve-se à participação do comércio no PIB desses municípios,

caracterizando-se como principal atividade econômica, principalmente em Juazeiro do Norte.

4.3 Saldo da Balança Comercial

A tabela 5 apresenta os índices do saldo da balança comercial. A relação dessa

variável é positiva, pois realizado o cálculo de subtração entre as exportações e importações,

quanto maior o resultado, melhor para a economia.

Tabela 5: Índices do saldo da balança comercial dos municípios da RMC em 2010.

Município Saldo

Barbalha 0,7394

Caririaçu 0,7663

Crato 0,7794

Farias Brito 0,7663

Jardim 0,7663

Juazeiro do Norte 0,7677

Missão Velha 0,7663

Nova Olinda 0,7663

Santana do Cariri 0,7663

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do Ministério do Desenvolvimento Indústria e

Comércio Exterior (2010).

Os resultados acima demonstram que oito cidades que compõem a RMC estão em

situação ideal, pois obtiveram índices superiores a 0,7501. A única cidade que obteve um

resultado menor, entretanto, considerado aceitável, foi o município de Barbalha.

4.4 Renda Familiar per capita em Salários Mínimos

A tabela 6 traz os índices da renda familiar per capita em salários mínimos

divididos em seis faixas salariais. A relação é negativa até um salário mínimo e positiva para

os que recebem acima.

Tabela 6: Índices da renda familiar per capita em salários mínimos dos municípios da RMC em 2010. Município Até 1/4 + de ¼ a 1/2 + de ½ a 1 + de 1 a 2 + de 2 a 3 + de 3

Barbalha 0,6635 0,4069 0,3287 0,4579 0,3339 0,2429

Caririaçu 0,2902 0,7817 0,4968 0,2027 0,0707 0,0517

Crato 0,7757 0,5357 0,3255 0,6256 0,5989 0,4195

Farias Brito 0,3128 0,9207 0,4791 0,2983 0,0866 0,0388

Jardim 0,3042 0,7434 0,5680 0,1953 0,0989 0,0732

Juazeiro do Norte 0,8038 0,4356 0,2366 0,5717 0,4435 0,3015

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Missão Velha 0,3456 0,6207 0,5139 0,2653 0,1431 0,0922

Nova Olinda 0,3872 0,5712 0,6124 0,1825 0,1413 0,0784

Santana do Cariri 0,1545 1,0000 0,6499 0,1960 0,1201 0,0629

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do IPECE (2012).

A tabela 6 difere das demais por destrinchar o indicador em diversos segmentos,

compreendendo desde a faixa de renda familiar daqueles que recebem ¼ do salário mínimo

até os que recebem mais de três salários mínimos. É possível notar que os índices acima de

um salário mínimo pioram à medida que o valor aumenta, chegando a nível crítico em sete

cidades, no índice referente a mais de três salários mínimos. Em relação ao resultado geral,

Crato foi o município que apresentou o resultado mais regular, pois não demonstrou nível

crítico em nenhuma faixa salarial. Por outro lado, a cidade de Santana do Cariri foi a mais

irregular entre as nove, apresentando nível crítico em quatro das seis faixas salariais.

4.5 Renda per capita

A tabela 7 apresenta os índices da renda per capita dos municípios da RMC em

2010. A relação é positiva, pois quanto maior a variável, maior será o índice.

Tabela 7: Índices da renda per capita dos municípios da RMC em 2010. Município Saldo

Barbalha 0,2835

Caririaçu 0,1059

Crato 0,4429

Farias Brito 0,0893

Jardim 0,1030

Juazeiro do Norte 0,3971

Missão Velha 0,1801

Nova Olinda 0,1489

Santana do Cariri 0,0609

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil

(2010).

Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte obtiveram os melhores resultados em relação

ao indicador renda per capita, porém, não alcançaram o nível aceitável de sustentabilidade.

4.6 Rendimentos provenientes do trabalho

A tabela 8 traz os índices de rendimentos provenientes do trabalho. A relação é

positiva, ou seja, quanto maior a variável, maior será o índice.

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134

Tabela 8: Índices de rendimentos provenientes do trabalho dos municípios da RMC em 2010. Município Saldo

Barbalha 0,7368

Caririaçu 0,5094

Crato 0,8146

Farias Brito 0,2196

Jardim 0,4636

Juazeiro do Norte 0,9289

Missão Velha 0,4967

Nova Olinda 0,6278

Santana do Cariri 0,3577

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil

(2010).

Cinco das nove cidades que formam a Região Metropolitana do Cariri

apresentaram nível aceitável ou ideal de sustentabilidade em relação ao indicador de

rendimentos provenientes do trabalho. Apenas a cidade de Farias Brito estava em nível crítico

no ano de 2010.

4.7 Índice Gini de distribuição de rendimento

A tabela 9 traz o índice Gini de distribuição de rendimentos. A relação é negativa,

visto que quanto maior a variável, menor será o índice e vice-versa.

Tabela 9: Índice Gini de distribuição de rendimento dos municípios da RMC em 2010.

Município Saldo

Barbalha 0,9138

Caririaçu 0,7931

Crato 0,7931

Farias Brito 0,5690

Jardim 0,7241

Juazeiro do Norte 0,8793

Missão Velha 0,7931

Nova Olinda 0,6207

Santana do Cariri 0,6897

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do DataSus (2010).

Cinco cidades apresentaram nível ideal de sustentabilidade e as outras quatro,

nível aceitável. Isso significa que todos os municípios da Região Metropolitana do Ceará

tinham, em 2010, uma distribuição equilibrada de rendimentos.

4.8 Dimensão Econômica

Calculando a média aritmética de todos os índices, é possível obter o índice da

dimensão econômica dos municípios, conforme tabela 10:

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135

Tabela 10: Dimensão Econômica dos municípios da RMC em 2010.

Município Saldo

Barbalha 0,4801

Caririaçu 0,3725

Crato 0,5313

Farias Brito 0,3497

Jardim 0,3654

Juazeiro do Norte 0,5117

Missão Velha 0,3916

Nova Olinda 0,3930

Santana do Cariri 0,3717

Fonte: Elaborado pelos autores com base na média das variáveis da IDSM (2015).

Crato e Juazeiro do Norte, respectivamente, foram as cidades com níveis de

sustentabilidade superiores as outras, encontrando-se em situação “aceitável” no ano de 2010.

As demais mantiveram equilíbrio e apresentaram o nível alerta de sustentabilidade.

Realizando uma comparação com a dimensão econômica dos municípios da

Paraíba, é possível notar estreita semelhança entre as duas regiões. Crato e Juazeiro do Norte

se juntam ao rol de nove cidades da Paraíba que obtiveram resultado “aceitável”. Todos os

outros duzentos e quatorze municípios encontravam-se em situação de “alerta”.

Tabela 11: IDHM dos municípios da RMC em 2010

Município IDHM

Barbalha 0,683

Caririaçu 0,578

Crato 0,713

Farias Brito 0,633

Jardim 0,614

Juazeiro do Norte 0,694

Missão Velha 0,622

Nova Olinda 0,625

Santana do Cariri 0,612

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil

(2015).

Em comparação ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM),

calculado considerando três dimensões (longevidade, educação e renda), os municípios de

Crato e Juazeiro do Norte, novamente, demonstram obter os melhores resultados da RMC.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisar a situação dos municípios da Região Metropolitana do Cariri conclui-

se que a dimensão econômica é bastante contrastante em relação aos sete indicadores que a

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compõem. Enquanto o saldo da balança comercial e o índice Gini de distribuição de

rendimento dos municípios estudados apresentam resultados excelentes, nos quais todas as

cidades alcançaram níveis de sustentabilidade aceitáveis ou ideais, os indicadores de renda

familiar per capita em salários mínimos e rendimentos provenientes do trabalho não possuem

regularidade nenhuma entre os próprios municípios. A pior situação encontra-se na análise

dos indicadores de Produto Interno Bruto per capita, participação da indústria no PIB e renda

per capita, tendo estes, quase em sua totalidade, apresentados níveis críticos de

sustentabilidade.

Em relação às cidades individualmente, Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte

foram as que mantiveram nível alto de sustentabilidade em praticamente todos os indicadores,

mesmo que em alguns, o nível fosse crítico. No lado oposto, Caririaçu, Farias Brito, Jardim e

Santana do Cariri demonstraram um cenário negativo em diversos indicadores. Missão Velha

e Nova Olinda não apresentaram bons resultados no geral, mas também não foram ruins, o

que mostra que estão no caminho certo para o desenvolvimento econômico sustentável. Em

geral, nenhum município estava, em 2010, em estado crítico em relação à dimensão

econômica no todo, sendo que Crato e Juazeiro do Norte destacaram-se pelos níveis aceitáveis

de sustentabilidade.

A partir desta aplicação inicial, fica aberto o caminho para que mais pesquisas

sejam realizadas englobando todas as variáveis propostas por Martins & Cândido (2008).

Ainda que a aplicação da metodologia do Índice de desenvolvimento Sustentável

Municipal tenha apontado resultados interessantes, percebemos que a aplicação do índice em

todas as suas dimensões da sustentabilidade é muito importante. Sendo assim sugerimos,

como pesquisas futuras, que este estudo seja realizado com dados mais recentes e que

contemple todas as dimensões de sustentabilidade.

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IDENTIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS NO ESTADO

DO CEARÁ: UMA ABORDAGEM PARA O PERÍODO 1995-2010

Cicero Jair Sales Alencar1

Carlos Henrique Miranda de Alencar2

José Márcio dos Santos3

RESUMO:

Apesar da sua redução da participação no PIB estadual, a agropecuária mantém relativa

representatividade na economia do Estado do Ceará. Isto porque a maioria dos empregos

formais deste segmento está ligada a pequenos empreendimentos. Dentro deste contexto, o

objetivo do trabalho é identificar, à nível microrregional, a distribuição espacial dos

estabelecimentos agropecuários no Estado do Ceará. A metodologia empregada na pesquisa

constituiu-se da estimação das medidas de localização e especialização referentes às 33

microrregiões do Estado do Ceará entre o período de 1995 a 2010. A base de dados

empregada consistiu nos números de empreendimentos agropecuários obtidos através da

Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). Os resultados demonstraram que, mesmo após

com o avanço das atividades industriais, as atividades agrícolas ainda apresentam elevados

graus de representatividade em microrregiões específicas do Estado do Ceará, podendo, com

isso, considerar a hipótese de que as políticas de incentivo à pequena produção são de

significativa importância para manutenção destes estabelecimentos, e consequentemente, dos

empregos deste setor.

Palavras-chaves: Agropecuária, Estabelecimentos Agropecuários, Economia Cearense.

ABSTRACT: Despite its reduced contribution to the state GNP, agriculture remains relative representation

in the economy of the State of Ceará. This is because most of the formal jobs in this segment

is connected to small businesses. Within this context, the paper objective is to identify the

micro-regional level, the spatial distribution of agricultural establishments in the State of

Ceará. The methodology used in the research consisted of estimating the location of measures

and expertise relating to 33 micro-regions of Ceará between the period 1995 to 2010. The

database used consisted of the number of agricultural enterprises obtained through the Annual

Information social (RAIS). The results showed that, even after with the advancement of

industrial activities, agricultural activities still have high levels of representation in specific

micro Ceará State, and may, therefore, consider the hypothesis that the incentive small

production policies are significant importance for the maintenance of these properties, and

therefore the jobs in this sector.

1Graduando, URCA-CESA, Ceará[email protected]: (88)

997123185). 2Graduando, URCA-CESA, Ceará-Brasil. [email protected]. Telefone: (87)

996557777). 3Mestre, URCA-CESA, Ceará[email protected]. Telefone: (88)

999805070).

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141

Keywords: Agricultural, Agricultural Establishments, Ceará Economics.

1. INTRODUÇÃO

Ao longo do seu processo de formação histórica, a economia nordestina adquiriu

características que lhe deram a identidade de economia voltada para o meio rural; devido a

uma maior concentração de atividades agrícolas e um número reduzido de empreendimentos

de caráter industrial ou produtivo. Guimarães Neto (1989) afirma que dado à concentração do

desenvolvimento de novas técnicas na Região Sudeste do país, a Região Nordeste volta-se

basicamente para a exploração de atividades primárias.

Dadas as disparidades crescentes entre as Regiões Sudeste e Nordeste, o Governo

Federal implementa, a partir de 1950, algumas políticas de incentivo ao desenvolvimento

local no Nordeste; no intuito de fortalecer as atividades terciárias e secundárias. Tais ações

seriam oriundas de estratégias decorrentes da implementação de órgãos federais para a região,

como a Subintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), o Banco do Nordeste

(BNB), o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), dentre outros.

Tais estratégias focaram, especialmente, a implantação e desenvolvimento da

atividade industrial como forma de promover o crescimento econômico regional. Contudo,

isto implicou na reversão da tendência histórica da economia nordestina em ser caracterizada

como economia majoritariamente agrícola. A respeito dessa afirmação, Gomes e Virgulino

(1995) destacam que de 1965 à 1990 a participação do setor agrícola na formação do PIB

nordestino caiu de 29,1% para 14,4%, enquanto o setor industrial e de serviços aumentavam

seus níveis de participação, sendo uma elevação de 23,1% para 28,2% na indústria e de 47,8%

para 57,4% no setor de serviços.

No contexto da economia cearense, a dinâmica expressa é semelhante à apresentada

pela Região Nordeste, conforme ressalta Beltrão (2003) na tabela 1 a seguir.

Tabela 1 – Composição do PIB setorial do estado do Ceará entre 1980-2000

Anos Agropecuária Indústria Serviços

1980 28,30 25,60 46,10

1990 13,56 25,64 60,80

2000 9,47 47,80 42,73

Fonte: Beltrão, 2003.

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142

Como se observa na tabela 1 a participação da agropecuária na formação do PIB

estadual passa por uma significativa redução ao longo das décadas finais do século XX.

Porém, mesmo diante de tal retrocesso, o setor agropecuário carrega consigo uma

representatividade no que diz respeito a sua composição – haja vista que é atualmente é

formado, sobretudo, de pequenos empreendimentos.

Dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) mostram que 72,4% dos

empreendimentos agropecuários formais do Estado do Ceará são caracterizados com

microempresas, aquelas com limite máximo de 19 trabalhadores, enquanto que apenas 0,3%

das empresas do setor são de grande porte – unidades com número superior a 499

empregados. Desta forma, a pequena unidade produtiva assume no contexto atual a

representatividade das atividades agropecuárias no âmbito da economia cearense – refletindo

uma tendência deste segmento no cenário nacional (IBGE, 2010).

Ciente desta tendência, o Governo Federal vem desenvolvendo programas de

estímulos à pequena produção agrícola como forma de promover a manutenção destes

empreendimentos de menor tamanho – e que, sobretudo, não dispõe de muito capital. Dentre

estas estratégias, a mais representativa política pública criada para esta finalidade fora o

Programa Nacional de Fortalecimento à Agricultura Familiar (PRONAF). Constituído com

um conjunto de ações direcionado ao pequeno produtor, o programa parte do princípio que a

pequena produção é a base da agropecuária, sobretudo aquelas de caráter informal. Segundo

Malysz e Chies (2012) o PRONAF se constituiu instrumento importante de manutenção da

pequena produção familiar no espaço agrário brasileiro, promovendo, se não a ampliação, a

conservação destes empreendimentos produtivos e se constituindo uma ferramenta eficaz para

a fixação do trabalhador rural na sua atividade econômica.

Diante do contexto ressaltado, fica visível à importância das pequenas unidades rurais

no âmbito da agropecuária cearense. Sendo assim, o presente trabalho se prontifica a

identificar, a nível microrregional, a distribuição espacial dos estabelecimentos agropecuários

no Estado do Ceará, tal como indicar as microrregiões onde as atividades agropecuárias

apresentam uma maior representatividade dentro da economia cearense. Desta forma, o

trabalho se mostra relevante no sentido de que contribui na possibilidade de identificar as

áreas do Estado do Ceará que concentraram empreendimentos ligados às atividades

agropecuárias, o que permite traçar um panorama sobre a estrutura e organização da atividade

produtiva no interior do estado.

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143

A metodologia empregada consiste no uso das medidas de localização e especialização

propostas por Haddad (1989) expressas pelo Quociente Locacional, Coeficiente de

Localização, Coeficiente de Redistribuição e o coeficiente de Reestruturação; como forma de

dimensionar através dos indicadores a serem obtidos o perfil da concentração e da

especialização do setor de agropecuária, silvicultura e pesca no estado do Ceará. Os dados são

oriundos da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), e compreendem valores

referentes ao numero de empreendimentos ligados à agropecuária no Estado do Ceará entre o

período de 1995 a 2010.

Além desta introdução, o presente trabalho apresenta outras quatro partes. Na segunda

parte discutir-se-á como os programas de estímulo impactam sobre a pequena produção. Na

terceira parte, será apresentada a metodologia empregada na análise realizada. Na quarta

parte, serão apresentados e discutidos os resultados obtidos. Por fim, serão feitas as

considerações finais sobre o trabalho e os resultados obtidos.

2. IMPACTO DOS PROGRAMAS DE INCENTIVO À AGRICULTURA

FAMILIAR SOBRE OS PEQUENOS EMPREENDIMENTOS AGRÍCOLAS

2.1 Conceito da agricultura familiar

Ultimamente, o conceito de economia familiar tem ganhado difusão no cenário

acadêmico tendo em vista os constantes debates em torno das questões sociais que a cercam.

Contudo, também é importante destacar a essência do que venha a ser agricultura familiar no

âmbito econômico, não só em torno das questões acerca das condições do trabalho, mas

também refleti-la como um modelo de produção que tem importância representativa, haja

vista que em sua maioria os empreendimentos agrícolas podem ser classificados como micro e

pequenas empresas – quando estes apresentam o registro formal.

França (2009) descreve que a Região Nordeste continha metade do total dos

estabelecimentos familiares (2.187.295) e 35,3% da área total deles. Nela, os

estabelecimentos familiares representaram 89% do total dos estabelecimentos e 37% da área

total, sendo que no Ceará tem 341.510, ou 7,8% do total.

Assim, como modelo de produção, a agricultura familiar pode ser abordada por

diversos aspectos. Segundo Denardi (2001), a economia familiar pode ser caracterizada

quando há um processo econômico sob qual orbita os próprios membros da família que detêm

os meios de produção, a terra e as ferramentas, podendo ou não conter ajuda de pessoas que

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não sejam moradores daquele ambiente familiar. Assim, segundo este autor, os

empreendimentos familiares possuem como características fundamentais o fato de serem

administrados pelas próprias famílias e por estes membros trabalharem diretamente nela, com

ajuda ou não de terceiros contratados sob diferentes formas de remuneração.

Para Malysz e Chies (2012), a agricultura familiar é um trabalho direcionado e

realizado pela própria família, que o exerce em torno de certa área de terra, através dos seus

próprios membros diretos e mais próximos – parentes em primeiro e segundo grau. Contudo,

tal dimensão familiar por vezes não se faz totalmente apta nos períodos de safra, onde neste

momento as unidades de produção familiar demandam trabalhadores terceirizados – que em

sua maioria são assalariados por dia que recebem em função do auxílio de forma

complementar ao trabalho familiar.

Altafin (2009) destaca que o termo ou expressão agricultura familiar ainda é

relativamente novo dentro do debate acadêmico atual, decorrente da sua recente aceitação

dentro deste meio. Segundo este autor, residia sobre este modelo de produção forte

preconceito e discriminação dentro das escolas acadêmicas, e mesmo na esfera da sociedade

tecno-científica, por serem vistos como reflexo de um reduto de atraso, precariedade, pobreza

e produção ineficiente.

Ainda segundo Altafin (2009), o reconhecimento da condição da produção familiar

mostra-se como sendo o resultado do modelo de desenvolvimento adotado para o campo, que

procura classificar o conjunto dos trabalhadores empregados nestas atividades de acordo com

o tamanho de suas áreas e do seu volume de produção; dividindo-os finalmente entre

pequenos, médios e grandes produtores. Apesar de tais classificações esconderem as

dificuldades existentes nos pequenos empreendimentos, esta segmentação permitiu

reconhecer a existência de categorias de produção distintas, permitindo a criação e o

direcionamento de políticas e ações públicas voltadas para estes agentes de forma particular.

2.2 As características do programa

Nas últimas décadas muitas políticas para incentivo do setor agropecuário foram

criadas, com o intuito de dinamizar esse setor, que vem puxando o crescimento do PIB

brasileiro. Verifica-se que a maioria dos estabelecimentos da agricultura brasileira é de base

familiar. De acordo com o Censo Agropecuário, IBGE 1995/96 os estabelecimentos

familiares (85,2% do total) ocupam 30,5% da área total de estabelecimentos rurais e

correspondem a 37,9% do valor bruto da produção.

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145

Dentre as mais importantes políticas de incentivo à pequena produção agrícola, o

Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) mostrou-se como

sendo o mais relevante em termos de atuação e de maior abrangência sobre a agricultura

brasileira.

Como é retratado por Silva (2000), o PRONAF é uma das políticas públicas do

Governo Federal para apoiar os agricultores familiares, cuja coordenação do programa esta a

cargo do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), que custeia projetos individuais ou

em grupo que gerem renda aos agricultores familiares e assentados da reforma agrária. O

mesmo possui as mais baixas taxas de juros dos financiamentos rurais, além das pequenas

taxas de inadimplência entre os sistemas de crédito do País.

O PRONAF foi criado em 1995 e vem a cada ano adquirindo grande importância e

tornando-se uma das mais importantes políticas públicas que atuam no meio rural brasileiro,

estando presente na maioria dos municípios do país. Alem disto, tem se tronado o acesso ao

crédito mais democrático quebrando as barreiras existentes a um público que até então tinha

grandes dificuldades de acesso ao crédito (SCHNEIDER, 2005).

Os objetivos principais do PRONAF são descritos por Magalhães (2006) da seguinte

forma: (1) reduzir a pobreza na agricultora familiar; (2) promover facilidades de acesso ao

crédito com juros baixos para os pequenos produtores; (3) alocar os pequenos produtoresem

outros programas de desenvolvimento rural.

De acordo com Corrêa (2007), o PRONAF abrange em sua área de atuação três

modalidades, são elas:

(1) Crédito, essa objetiva conceder apoio financeiro às atividades agropecuárias e não

agropecuárias. Esta modalidade estende-se a vários grupos, liberando recursos financeiros de

acordo com o tipo de agricultor, classificados de “A” a “E”, de acordo com critérios típicos de

cada um, ou seja, de acordo com a renda familiar;

(2) Infraestrutura e serviços, essa busca priorizar a implantação, ampliação e

modernização da infraestrutura necessária ao fortalecimento da agricultura familiar;

(3) Capacitação, objetiva habilitar os agricultores familiares e técnicos no

levantamento das demandas por crédito, obedecendo a determinadas prioridades, definindo as

ações a serem desenvolvidas para atendimento às demandas, e na elaboração e monitoria dos

Planos Municipais de Desenvolvimento Rural (PMDRs).

2.3 Reflexos as políticas de incentivo a pequena produção agrícola

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146

Conforme visto, o PRONAF liga os produtores rurais ao crédito; em outras palavras,

abre as portas dos bancos para os produtores rurais financiarem seus projetos de

empreendedorismo rural, amenizando as dificuldades sofridas no campo - principalmente

pelos pequenos produtores.

Outro grande benefício fornecido pelo PRONAF é a redução do êxodo rural e regional

através de linhas de crédito acessíveis à produção familiar. Quanto a isso Malysz e Chies

(2012) descrevem que esse programa é uma estratégia vinculada às políticas públicas

direcionadas ao agricultor familiar, com objetivo de apoiar e promover incentivos aos

produtores em trabalhar a terra, tanto para sua subsistência quanto para proporcionar

rentabilidade.

A evolução da distribuição regional do crédito do PRONAF entre 1996 e 1999 é

descrita por Fernandes (2013), na tabela 2, a seguir:

Tabela 2 – Distribuição regional do crédito do PRONAF de 1996 a 1999 (em %)

Regiões 1996 1997 1998 1999

Norte 0,91 2,06 2,06 3,12

Nordeste 6,66 11,91 15,74 25,67

Sudeste 12,05 21,26 17,37 16,63

Sul 78,28 62,28 61,78 48,99

Centro-Oeste 2,1 2,49 3,05 5,59

Fonte: Fernandes (2013)

Como se observa nas informações descritas na tabela 2, a Região Sul é a que mais

concentrou volumes de crédito do PRONAF entre os períodos analisados, notando-se também

uma evolução significativa e constante do número de contratos do PRONAF realizados no

Nordeste. A partir destes números pode-se deduzir que as atividades agropecuárias continuam

em vigor e ganhando força no âmbito das Regiões Sul e Nordeste.

Essa idéia pode ser reforçada com as informações contidas na tabela 3, descritas

também por Fernandes (2013).

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Tabela 3 – Porcentagem de contratos do PRONAF por ano agrícola

ANO-

AGRICOLA

NORTE NORDESTE SUDESTE CETRO-

OESTE

SUL

2002/2003 7% 61% 25% 6% 0%

2003/2004 7% 39% 14% 4% 36%

2004/2005 10% 59% 25% 6% 0%

2005/2006 5% 42% 16% 4% 33%

2006/2007 7% 42% 16% 4% 32%

2007/2008 8% 33% 18% 4% 37%

2008/2009 7% 31% 17% 3% 42%

2009/2010 7% 35% 15% 3% 39%

Fonte: Fernandes (2013)

Como se observa as informações descritas na tabela 3, a partir do intervalo 2002 –

2003 os contratos do PRONAF passam a se concentrar com maior frequência no Nordeste. Os

fatores relacionados a este elevação pode ser associado a um avanço das atividades rurais na

região, refletindo positivamente na melhoria das condições de vida do homem do campo, haja

vista que o princípio fundamental do PRONAF é amenizar as dificuldades sofridas pelo

pequeno produtor.

Dessa forma, entende-se que o PRONAF surge como uma grande inovação na

estrutura das políticas públicas brasileiras, fortalecendo produção agropecuária à nível de

pequenos estabelecimentos, promovendo melhoria na formação de renda dos pequenos

produtores e, em consequência disso, a redução do êxodo rural. Em outras palavras, o

PRONAF acaba por promover a fixação e manutenção dos estabelecimentos rurais.

3.PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para uma melhor compreensão acerca dos procedimentos metodológicos que serão

empregados na pesquisa, a descrição da metodologia a ser empregada na pesquisa será

constituída de duas partes, onde será abordado o modelo teórico e a base de dados.

3.1.Modelo teórico: Medidas de localização e especialização

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O modelo teórico a ser empregado na pesquisa constitui da estimação das medidas de

localização e especialização. As medidas de localização e especialização são indicadores

capazes de identificar os padrões de crescimento de uma dada variável em termos regionais,

demonstrando se este crescimento ocorre de forma centralizada ou desconcentrada. Desta

forma, estes métodos têm sua base analítica nas informações sobre a distribuição espacial da

variável em termos de região e atividades econômicas em um dado período de tempo.

Atualmente, estas medidas são empregadas em diversos estudos de natureza exploratória que

abrangem a questão geográfica ou espacial. No presente caso, a variável base a ser analisada é

o número de estabelecimentos econômicos relacionados à atividades agropecuárias; onde ser

averiguará sua distribuição ao longo do espaço sobre as diversas atividades econômicas.

Segundo Haddad (1989), diversos estudos usam tais variáveis como variável-base

devido a maior disponibilidade de informações em nível de desagregação setorial e espacial

desejável, ao certo grau de uniformidade para medir e comparar a distribuição dos setores ou

atividades no tempo e pela sua representatividade em refletir o crescimento econômico da

região. Apesar da sua popularidade e poder explicativo, esta variável também apresenta

limitações à medida que o mesmo não consegue captar os diferenciais de produtividade e

tecnologia presentes nas distintas localidades (HADDAD, 1989).

3.1.1 Medidas de localização

As medidas de localização são indicadores que permitem identificar padrões de

concentração ou dispersão espacial de uma dada variável, no presente caso emprego,

distribuída entre setores específicos para um dado período de tempo, ou entre períodos de

tempo distintos. Sua relevância se concentra na análise setorial, buscando avaliar a

localização de variáveis-base distribuídas nas atividades econômicas dispersas regionalmente.

As principais medidas de localização empregadas em avaliações regionais são o Quociente

Locacional, Coeficiente de Localização e o Coeficiente de Redistribuição.

O Quociente Locacional é empregado para comparar a participação percentual da

variável em análise de uma área com a participação percentual no total de outra área de maior

dimensão. O Quociente Locacional pode ser analisado a partir de setores específicos ou no

seu conjunto. A importância da área no contexto geral (maior dimensão), em relação ao setor

estudado, é demonstrada quando o QL assume valores > 1. Nesse caso, há representatividade

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do setor em uma microrregião específica. Assim, a interpretação dos resultados mostra que

quando o QL ≥ 1 o parâmetro é significativo indicando os ramos de atividade que são de

exportação, ou seja, os setores básicos (exógenos). Quando os valores se encontram entre 0,50

≤ QL ≤ 0,99 o grau de exportação é médio, enquanto QL ≤ 0,49 é tido como de fraco grau de

representatividade. Ao contrário, quando o QL < 1, as atividades são não-básicas ou

endógenas, sem efeitos de exportação ou repercussão sobre as outras áreas (HADDAD, 1989).

O Coeficiente de Localização relaciona a distribuição percentual da variável estudada

de um dado setor entre as mesorregiões, em relação à distribuição percentual da variável a

nível estadual. Se o Coeficiente de Localização for igual a zero (0), significa que o setor i

estará distribuído regionalmente da mesma forma que o conjunto de todos os setores. Se o

valor for igual a um (1), demonstrará que o setor i apresenta um padrão de concentração

regional mais intenso do que o conjunto de todos os setores.

O Coeficiente de Redistribuição relaciona a distribuição percentual de uma variável de

um mesmo setor em dois períodos, um período base e um período futuro. Seu objetivo é

verificar se está prevalecendo para o setor algum padrão de concentração ou dispersão

espacial ao longo do tempo. Coeficientes próximos à zero (0) indicam que não ocorreram

mudanças significativas no padrão espacial de localização da atividade produtiva, e próximos

a um (1) demonstram que ocorreram mudanças no padrão espacial de localização das

atividades produtivas (HADDAD, 1989).

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3.1.2 Medidas de especialização

As medidas de natureza regional se concentram na análise da estrutura produtiva de

cada região, com o objetivo de investigar o grau de especialização das economias regionais

num dado período, assim como o processo de diversificação observado entre dois ou mais

períodos. As medidas de especialização difundidas são o Coeficiente de Especialização e o

Coeficiente de Reestruturação.

O Coeficiente de Reestruturação avalia a estrutura do numero de estabelecimentos por

área (microrregião) entre dois períodos, um período base e um período futuro. Tal indicador

busca verificar o grau de mudanças na especialização das mesorregiões que compõem o

estado. Coeficientes iguais a zero (O) indicam que não ocorreram modificações na estrutura

setorial da mesorregião, e iguais a um (1) demonstram uma reestruturação bem substancial

(HADDAD, 1989).

Através do Coeficiente de Especialização, compara-se a economia de uma

microrregião com a economia do estado como um todo. Para resultados iguais a O (zero), a

mesorregião tem composição idêntica à do estado. Em contrapartida, coeficientes iguais ou

próximos a 1 demonstram um elevado grau de especialização ligado a um determinado setor,

ou uma estrutura de estabelecimentos totalmente diversa da estrutura regional (HADDAD,

1989).

3.2.Base de dados

Em relação à base de dados utilizada, foram usados dados sobre o número de

estabelecimentos (empresas) coletados no banco de dados on-line do Ministério do

Trabalho e Emprego, sendo oriundos de forma específica da Relação Anual de

Informações Sociais (RAIS). Seguindo a Classificação Nacional de Atividades

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Econômicas (CNAE), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), de 1994, que quando segmentada pelo critério “divisão” da CNAE, permite

decompor a economia em 58 tipos de atividades econômicas distintas, sendo que a

segmentação pelo critério “grupo” permitiu desmembrar as atividades agropecuárias

nas seguintes modalidades estudadas: Agricultura, Pecuária e Serviços Relacionados,

Silvicultura, Exploração Florestal e Serviços Relacionados e Pesca, Aquicultura e

Serviços Relacionados.

Em termos geográficos, a pesquisa abrangeu o Estado do Ceará como um todo,

decompondo-o a nível microrregional a área de análise, permitindo identificar áreas

especificas de localização do emprego. Utilizando a divisão a nível microrregional

proposto pelo IBGE, foram selecionados os dados provenientes do emprego alocado

no interior do Estado do Ceará, representado em suas 33 microrregiões. Em termos de

periodicidade, o estudo abrangeu o período de 1995 a 2010, com cortes qüinqüenais.

Desta forma, procedeu-se o estudo do intervalo compreendido pelo tempo descrito,

mas a necessidade de abordar a serie como um todo. Isto porque alguns dos

indicadores necessitam de pequenos intervalos para ser feita a avaliação da sua

variação ao longo do tempo, permitindo o descarte da análise da serie como um todo.

4. INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Esta seção abordará a interpretação dos resultados obtidos em cima da pesquisa

realizada sobre os setores agropecuários das microrregiões cearenses nos períodos, 1995,

2000, 2005 e 2010, sendo analisados os indicadores de Quociente Locacional (QL),

Coeficiente de Localização (CL), Coeficiente de Redistribuição (CRd) e Coeficiente de

Reestruturação (CRe) e Coeficiente de Especialização (CE).

4.1. Análise do Quociente Locacional

Sabendo-se que o QL indica que determinado setor em determinado período é

significativo se representar valores maiores que 1 (um), e considerando o requisito de que

quanto mais significante for o valor do QL mais representativo será o setor, retiram-se as

seguintes conclusões:

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Agricultura, Pecuária e Serviços Relacionados

Para o período de 1995 observou-se, de acordo com os critérios do QL, que das 33

microrregiões analisadas apenas seis apresentaram grau de representatividade fraco em

relação ao setor de “Agricultura, Pecuária e Serviços Relacionados”, ou seja, os valores do

QL foram iguais ou menores que 0,49. As microrregiões que apresentaram valores do QL

entre 0,50 e 0,99 totalizaram quatro, assim dentre as 33 microrregiões analisadas quatro

tiveram um médio grau de exportação quanto à atividade de “Agricultura, Pecuária e Serviços

Relacionados”. As demais microrregiões (23) apresentaram elevados graus de

representatividade (valores do QL maiores ou iguais à 1), sendo assim, esse setor identifica-se

como sendo de exportação nessas microrregiões, os principais destaques foram em Meruoca

(QL=7,56), Baixo Curu (QL=8,55), Chorozinho (QL=13,61), Cascavel (QL=9,81) e Pacajus

(QL=11,16).

Para o período de 2000, os principais destaques foram nas microrregiões de Meruoca

(QL=18), Chorozinho (QL=7,2), Cascavel (QL=7,01) e Pacajus (QL=6,14), o que diferenciou

esse período do anterior foi à elevação do número de microrregiões com elevados graus de

significância para o setor em questão, ou seja, com valores do QL iguais ou maiores que um

(passou de 23 em 1995 para 24 em 2000). As microrregiões que passaram a ter graus de

representatividade foram Iguatu e Lavras da Mangabeira. Outra modificação importante

ocorreu na microrregião de Sertão de Crateús na qual o valor do QL passou de 1,18, em 1995,

para 0,38, em 2000; ou seja, o tal segmento, que antes era tido como representativo, passou a

ser tido como fraco nessa microrregião.

No período de 2005, observou-se que as principais modificações nos resultados do QL

com relação ao setor analisado em comparação ao período anterior foram nas microrregiões

de Iguatu, de Caririaçu e de Barro, onde o setor em questão saiu de um elevado para um baixo

grau de representatividade; e de Sobral e Várzea Alegre, nas quais ocorreu situação inversa à

ocorrida nas microrregiões de Iguatu e de Barro. Com isso o resultado quantitativo das

microrregiões onde o setor em questão apresentou elevados graus de significância foi de 23

das 33 analisadas.

Para o período de 2010 os resultados apresentaram maiores mudanças em relação ao

período anterior, sendo que em três microrregiões os valores do QL para o setor em questão

evidenciaram a passagem significante para não significante, onde os valores do QL passaram

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a ser menores que um - Sobral, Sertão de Senador Pompeu e Várzea Alegre. Apenas em uma

microrregião o setor em questão apresentou valor do QL com passagem de menor para maior

que um, tornando-se representativo. No geral, em 21 microrregiões, o setor em questão

apresentou-se representativo.

Em resumo, não ocorreram mudanças drásticas entre os períodos e os principais

resultados do QL foram observados sempre nas microrregiões descritas no início dessa seção:

Meruoca, Baixo Curu, Chorozinho, Cascavel e Pacajus.

Silvicultura, Exploração Florestal e Serviços Relacionados

Para o setor de “Silvicultura, Exploração Florestal e Serviços Relacionados”, no

período de 1995, observou-se que Fortaleza (QL=1,17) e Iguatu (QL=7,89) foram às únicas

microrregiões que apresentaram resultados do QL acima de um, e assim indicando elevados

graus de representatividade; sendo que as demais microrregiões (31) não manifestaram

nenhum valor expressivo no cálculo do QL.

Passados cinco anos, período de 2000, o número de microrregiões que apresentaram os

valores do QL em níveis significantes aumentou. Porém, nas microrregiões que haviam

apresentado o setor em questão como representativo os valores do QL tornaram-se menores

que um, ou seja, deixaram de ser representativos. No geral Baixo Curu, Baturité, Cascavel,

Pacajus e Litoral de Aracati foram às únicas microrregiões que apresentaram elevados graus

de representatividade, sendo as demais, exceto Fortaleza (QL= 0,71), com valores do QL

iguais a zero.

Para o período de 2005, observou-se que o número de microrregiões onde o setor em

questão foi representativo passou de cinco, em 2000, para seis, em 2005; sendo que fazendo

um paralelo entre os dois períodos observa-se que três microrregiões onde não havia

representatividade passaram a ter comportamento expressivo: Médio Curu, Chorozinho e

Baixo Jaguaribe. Neste momento, deixaram de ser representativos as áreas de Baturité e

Pacajus.

No período de 2010, seis microrregiões apresentaram representatividade para o

segmento analisado, mas apenas a microrregião de Litoral de Aracati demonstrou altos graus

de representatividade em períodos anteriores. As demais microrregiões em destaque foram

Coreaú, Itapipoca, Sertão de Quixeramobim, Sertão de Senador Pompeu e Cariri.

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Pesca, Aquicultura e Serviços Relacionados

Ao analisar o setor de “Pesca, Aquicultura e Serviços Relacionados” no

período de 1995 observou-se que um pequeno número de microrregiões apresentou

valores do QL superiores a um, sendo Litoral de Camocim e Acaraú (QL= 22,65),

Cascavel (QL= 12,6) e Litoral de Aracati (QL= 28,71); tornando-as as microrregiões

mais representativas na análise; haja vista que as demais microrregiões todos os

valores do QL foram iguais a zero.

Para o período de 2000, o número de microrregiões onde o setor estudado foi

representativo, sendo identificada a variação positiva nas microrregiões de Litoral de

Camocim e Acaraú (QL= 25,01), Cascavel (QL= 6,43) e Litoral de Aracati (QL=

18,49). O setor em questão manteve-se representativo em outras três microrregiões:

Itapipoca (QL= 4,09), Baixo Curu (QL= 12,28) e Médio Curu (QL= 20,61).

No período de 2005, além do setor em questão ter sido representativo nas

mesmas microrregiões do período anterior (Litoral de Camocim e Acaraú, Cascavel,

Litoral de Aracati, Itapipoca, Baixo Curu e Médio Curu), o mesmo também apresentou

expressividade nas microrregiões de Canindé, Pacajus, Sertão de Senador Pompeu e

Baixo Jaguaribe. Assim em dez microrregiões o setor em questão apresentou-se com

elevados graus de representatividade.

Para o período de 2010, observou-se que houve elevados graus de

representatividade nas microrregiões de Litoral de Camocim e Acaraú,Santa Quitéria,

Itapipoca,Baixo Curu, Médio Curu, Baturité, Cascavel, Pacajus, Litoral de Aracati,

Baixo Jaguaribe e Médio Jaguaribe. Neste período foi identificado o maior número de

microrregiões com índices de representatividade em relação aos outros períodos

estudados.

4.2. Coeficiente de Localização

O Coeficiente de Localização (CL) indica se em determinada microrregião um

determinado setor tem um padrão de concentração elevado, ou seja, se determinado setor e

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distribuído com mais intensidade que o conjunto dos demais setores em determinada

microrregião. Para avaliar os resultados do CL considera-se que determinado setor em

determinada região é consideravelmente mais intenso que os demais se ele apresentar valor do

CL igual a um, sendo que se o valor do CL for igual a zero o setor e distribuído na

microrregião com a mesma intensidade do conjunto de todos os setores.

Diante dessas informações buscou se valores do CL iguais ou maiores que um para com

isso indicar os setores de maiores intensidades nas microrregiões analisadas. Contudo, para

todos os períodos os valores do CL encontrados foram todos menores, iguais ou bem

próximos a zero. Isso indica que nos seis períodos em análise nenhuma das microrregiões

analisadas apresentou setores com elevado grau de distribuição microrregional.

4.3. Coeficiente de Redistribuição

O Coeficiente de Redistribuição (CRd) demonstra a ocorrência de algum padrão de

concentração ou dispersão espacial ao longo do tempo, ou seja, de um período para outro.

Para que mudanças no padrão espacial de localização sejam observadas é necessário que o

valor do CRd seja próximo de um, se o valor do CRd for próximo de zero não conclui-se que

não ocorreu mudanças significativas no padrão espacial de localização.

Com base nessas informações constata-se que nos períodos e nas microrregiões em análise

não ocorreu nenhuma mudança no padrão espacial de localização significativa em nenhum

dos setores analisados, haja vista que os valores gerais do CRd encontrados foram todos

diferentes dos exigidos, pois para todas as microrregiões e todos os setores em todos os

períodos os valores do CRd foram menores, iguais ou bem próximos a zero.

4.4. Coeficiente de Reestruturação

O Coeficiente de Reestruturação (CRe) visa demonstrar se ocorreram mudanças na

estrutura dos setores produtivos para cada microrregião em relação de um período para outro.

Os requisitos abordados indicam que para valores do CRe iguais a um, em nível

microrregional, o setor em questão apresentou um significativo padrão de reestruturação,

sendo que o caso inverso ocorre para valores do CRe iguais a zero.

As conclusões retiradas para o estudo do CRe nos períodos e nas microrregiões em

questão são que não ocorreram em nenhum período mudanças nas estruturas setoriais de

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nenhuma microrregião, dado que os valores do CRe foram no geral insignificantes, pois foram

menores, iguais ou bem próximos de zero.

4.5. Coeficiente de Especialização

O Coeficiente de Especialização (CE) busca através de sua análise demonstrar se uma

determinada microrregião apresentou em sua estrutura setorial um determinado setor com alto

nível de especialização a nível estadual, sendo que para apresentar índice de especialização

em certo setor a microrregião deve apresentar o valor do CL próximo ou igual a um.

Com base no estudo realizado verificou-se que em nenhuma das microrregiões analisadas

ocorreu um caso de um setor com elevado nível de especialização, ou seja, que fugiu do

padrão estadual, pois em todos os períodos os resultados do CL foram menores, iguais ou bem

próximos à zero.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho procurou analisar a dinâmica das atividades agropecuárias no Estado

do Ceará. Fazendo uma abordagem da importância de tais atividades para a economia do

estado, traçou-se uma breve discussão a respeito dos pequenos estabelecimentos familiares

dentro da estrutura econômica do estado; além de se discutir acerca das políticas públicas de

incentivo aos pequenos produtores, visto aqui como meio de fixar do pequeno produtor no

campo e evitar o êxodo rural a partir do desenvolvimento da produção familiar.

Dentro desta perspectiva, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

(PRONAF) surge como instrumento de credito destinado a pequena produção, proporcionado

estimulo aos pequenos produtores através de credito em condições mais acessíveis em

comparação a outras modalidades de financiamento. Sua importância reside ainda na

sustentação que o mesmo proporciona as atividades agropecuárias na Região Nordeste,

especialmente no Estado do Ceará; haja vista que estas ainda expressam numero relativo de

emprego nas pequenas unidades produtivas rurais.

Com base nas informações descritas na interpretação dos resultados, que as informações

mais relevantes foram as apresentadas na interpretação do Quociente Locacional, dado que os

resultados dos outros indicadores não apresentarão nenhuma ocasião que tornasse uma ou

mais microrregião com um ou mais setores de comportamentos diferenciados, seja na

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estrutura, seja no padrão de dispersão ou concentração. Assim conclui-se, para os resultados

do Quociente Locacional, que ao longo dos períodos, mesmo com o desenvolvimento

industrial recente, as atividades ligadas à agropecuária ainda demonstram elevados graus de

representatividade a nível microrregional, porém para os coeficientes que indicam

especialização da produção os resultados não foram bons, isso indica que os setores em estudo

(Agricultura, Pecuária e Serviços Relacionados; Silvicultura, Exploração Florestal e Serviços

Relacionados; e Pesca, Aquicultura e Serviços Relacionados) não se especializaram ao longo

dos períodos estudados.

Dada à significância dos setores rurais, principalmente do setor de agricultura e pecuária

que demonstrou elevados índices de representatividade em todos os períodos na maior parte

das microrregiões estado do Ceará (ver anexos), pode-se considerar que as políticas de apoio à

pequena produção deram certo dinamismo aos setores componentes da agropecuária, sendo

que além de as atividades que compõem a agropecuária estarem ativas, os setores que

englobam essas atividades demonstram elevados graus de representatividade em determinadas

microrregiões.

Nota-se que os principais graus de representatividade foram visualizados nas

microrregiões do interior do estado, nessas perspectivas pode-se considerar a idéia de que as

políticas de apoio ao pequeno produtor estão garantindo a manutenção dos estabelecimentos

agropecuários e dessa forma evitando o êxodo rural, permitindo a diversificação produtiva no

estado.

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47 p. Disponível em: <http://www.gipaf.cnptia.embrapa.br>. Acesso em: 10 de setembro

2014.

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Anexos

Tabelas com valores do Quociente Locacional

AGROPECUARIA SILVICULTURA

ANO 1995 2000 2005 2010 1995 2000 2005 2010

Litoral de Camocim e

Acaraú 2,13 1,45 2,73 2,62 0,00 0,00 0,00 0,00

Ibiapaba 2,78 2,80 3,22 4,46 0,00 0,00 0,00 0,00

Coreaú 0,00 0,00 0,85 0,00 0,00 0,00 0,00 52,14

Meruoca 7,56 18,00 12,79 5,64 0,00 0,00 0,00 0,00

Sobral 0,87 0,95 1,15 0,79 0,00 0,00 0,00 0,00

Ipu 0,00 0,00 0,25 0,66 0,00 0,00 0,00 0,00

Santa Quitéria 2,21 3,21 2,57 1,71 0,00 0,00 0,00 0,00

Itapipoca 3,56 1,54 2,99 1,72 0,00 0,00 0,00 12,86

Baixo Curu 8,55 4,31 9,14 6,91 0,00 20,06 17,73 0,00

Uruburetama 2,91 1,80 1,46 1,50 0,00 0,00 0,00 0,00

Médio Curu 4,99 3,10 2,33 3,93 0,00 0,00 34,27 0,00

Canindé 2,32 2,08 1,96 1,77 0,00 0,00 0,00 0,00

Baturité 2,62 3,01 3,12 3,16 0,00 10,88 0,00 0,00

Chorozinho 13,61 7,20 6,77 5,49 0,00 0,00 41,58 0,00

Cascavel-Ce 9,81 7,01 7,58 5,75 0,00 15,75 23,27 0,00

Fortaleza 0,65 0,65 0,47 0,44 1,17 0,71 0,45 0,30

Pacajus 11,16 6,14 4,58 3,67 0,00 14,79 0,00 0,00

Sertão de Cratéus 1,18 0,38 0,30 0,25 0,00 0,00 0,00 0,00

Sertão de Quixeramobim 3,10 4,63 2,62 3,30 0,00 0,00 0,00 6,04

Sertão de Inhamuns 1,91 1,39 1,10 1,06 0,00 0,00 0,00 0,00

Sertão de Senador Pompeu 1,46 1,39 1,15 0,94 0,00 0,00 0,00 10,60

Litoral de Aracati 3,60 3,30 2,87 2,59 0,00 11,32 9,18 9,32

Baixo Jaguaribe 2,41 2,11 3,95 5,00 0,00 0,00 3,99 0,00

Médio Jaguaribe 0,71 0,49 0,33 0,85 0,00 0,00 0,00 0,00

Serra do Pereiro 1,65 3,37 2,48 1,10 0,00 0,00 0,00 0,00

Iguatu 0,95 1,08 0,98 0,89 7,89 0,00 0,00 0,00

Várzea Alegre 0,00 0,00 1,07 0,52 0,00 0,00 0,00 0,00

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Lavras da Mangabeira 0,00 1,12 1,62 1,78 0,00 0,00 0,00 0,00

Chapada do Araripe 0,00 0,00 0,00 0,67 0,00 0,00 0,00 0,00

Caririaçu 2,65 2,25 0,00 1,40 0,00 0,00 0,00 0,00

Barro 2,15 1,53 0,45 0,69 0,00 0,00 0,00 0,00

Cariri 0,49 0,66 0,74 0,48 0,00 0,00 0,00 4,03

Brejo Santo 1,72 1,89 1,33 1,06 0,00 0,00 0,00 0,00

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da RAIS.

PESCA E AQUICULTURA

ANO 1995 2000 2005 2010

Litoral de Camocim e

Acaraú 22,65 25,01 19,83 21,01

Ibiapaba 0,00 0,00 0,00 0,00

Coreaú 0,00 0,00 0,00 0,00

Meruoca 0,00 0,00 0,00 0,00

Sobral 0,00 0,00 0,17 0,34

Ipu 0,00 0,00 0,00 0,00

Santa Quitéria 0,00 0,00 0,00 1,71

Itapipoca 0,00 4,09 8,58 5,72

Baixo Curu 0,00 12,28 5,88 4,50

Uruburetama 0,00 0,00 0,00 0,00

Médio Curu 0,00 20,61 3,79 5,35

Canindé 0,00 0,00 1,14 0,00

Baturité 0,00 0,00 0,51 1,02

Chorozinho 0,00 0,00 0,00 0,00

Cascavel-Ce 12,60 6,43 5,14 3,72

Fortaleza 0,67 0,55 0,36 0,21

Pacajus 0,00 0,00 1,43 2,52

Sertão de Cratéus 0,00 0,00 0,00 0,00

Sertão de Quixeramobim 0,00 0,00 0,00 0,34

Sertão de Inhamuns 0,00 0,00 0,00 0,00

Sertão de Senador Pompeu 0,00 0,00 1,34 0,00

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Litoral de Aracati 28,71 18,49 19,27 23,81

Baixo Jaguaribe 0,00 0,82 3,08 2,40

Médio Jaguaribe 0,00 0,00 0,00 2,84

Serra do Pereiro 0,00 0,00 0,00 0,00

Iguatu 0,00 0,00 0,00 0,00

Várzea Alegre 0,00 0,00 0,00 0,00

Lavras da Mangabeira 0,00 0,00 0,00 0,00

Chapada do Araripe 0,00 0,00 0,00 0,00

Caririaçu 0,00 0,00 0,00 0,00

Barro 0,00 0,00 0,00 0,00

Cariri 0,00 0,00 0,00 0,00

Brejo Santo 0,00 0,00 0,00 0,00

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da RAIS.

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IMPACTO DO PRONAF NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA FAMILIAR DO

CEARÁ

Ladislau da Silva Fernandes1

Wellington Ribeiro Justo2

Wanny Vieira Pereira3

Nataniele dos Santos Alencar4

RESUMO: O PRONAF é uma das principais políticas agrícolas implantada no Brasil nos

últimos anos voltadas para o agricultor familiar. O objetivo deste trabalho é estimar uma

função de produção para as principais culturas cultivadas pelos agricultores familiares: arroz,

feijão, milho e mandioca no estado do Ceará. Buscou-se também analisar possíveis efeitos do

PRONAF na produção destas culturas, assim como fazer uma análise comparativa da

produção entre as mesorregiões do estado. Utilizaram-se dados do SIDRA-IBGE para o

período 1990 a 2011. Foram estimados modelos de regressão múltipla com variáveis

dummies com dados em painel. Os resultados apontaram que o PRONAF impactou de forma

positiva apenas na produção do Arroz, elevando-a em mais de 50%. A mesorregião Sul

destacou-se na liderança da produção das culturas analisadas.

Palavras-Chave: Agricultura Familiar; PRONAF; Função de Produção.

ABSTRACT

PRONAF is a major agricultural policies implemented in Brazil in recent years focused on

the family farm. The objective of this paper is to estimate a production function for the main

crops cultivated by the farmers: rice, beans, maize and cassava in the state of Ceará. Attempt

was also made to analyze possible effects of PRONAF in the crop yields as well as a

comparative analysis of production between the areas of the State. We used data from

SIDRA-IBGE for the period 1990 to 2011. Multiple regression models were estimated with

dummy variables with panel data. The results showed that the PRONAF positively impacted

only in raising the production of rice production by over 50%. The South mesoregion stood

out in the lead crop production analyzed.

Key-Words: Family Farming; PRONAF; Productivity.

1 Graduando, Universidade Regional do Cariri (URCA). [email protected]

2Engenheiro Agrônomo (UFRPE). Economista (URCA). Mestre em Economia Rural (UFC).

Doutor em Economia pelo PIMES (UFPE). Professor Associado do Curso de Economia da

URCA. Professor do PPGECON (UFPE-CAA). E-mail: [email protected] 3 Graduanda, Universidade Regional do Cariri (URCA. [email protected]

4 Graduanda, Universidade Regional do Cariri (URCA). [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

Muito se discute sobre a importância da agricultura familiar, pois se sabe que ela é

responsável por grande parte dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros, assim como

pela geração de emprego e renda no campo contribuindo para a permanência do homem no

campo.

Em território brasileiro, por volta da década de 1990, “a agricultura foi fortemente

afetada pelo processo de abertura comercial e de desregulamentação dos mercados”

(CASTRO; CAMPOS, 2010, p. 95). Ainda segundo Castro e Campos (2010), atualmente

pode-se ter uma noção que estes elementos realmente eram submetidos a uma concorrência

intensa com países do MERCOSUL, em face das sucessivas dificuldades que se instalou a

partir da crise da segunda metade da década de 1980.

Segundo a AIAF (Ano Internacional da Agricultura Familiar - 2014) a agricultura

familiar consiste em um meio de organização da produção rural que são gerenciadas e

operadas por uma família e predominantemente dependente de mão de obra familiar. Ou seja,

a agricultura familiar inclui todas as atividades agrícolas de base familiar e está ligada a

diversas áreas do desenvolvimento rural.

Nesse sentido, este artigo busca estimar a função de produção para as principais

culturas cultivadas pelos agricultores familiares cearenses, com finalidade de identificar

possíveis impactos do Pronaf na produção destas culturas.

Para uma melhor visão das análises feitas, o presente trabalho está estruturado em

cinco seções, incluindo esta introdução. A seção dois faz uma retrospectiva de alguns

conceitos e conhecimentos literários em relação a agricultura familiar e o programa nacional

de fortalecimento da agricultura familiar (PRONAF); na seção três apresenta-se a

metodologia utilizada para a construção deste estudo e as variáveis utilizadas. A seção quatro

traz os resultados das análises iniciais assim como das estimações e finalmente a última seção

traz as conclusões e sugestões.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Agricultura Familiar

Em nível mundial há uma grande dificuldade de definição homogênea para a

agricultura familiar. No Brasil, de acordo com a lei 11.326 de 24 de julho de 2006, agricultor

familiar é toda pessoa que desenvolve atividades econômicas no âmbito rural e que possui

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propriedade de até 4 módulos fiscais (5 a 100 ha) bem como, apresenta mão de obra da

própria família e que tenha sua renda advinda em maior parte da atividade agropecuária

(BRASIL, 2006).

O termo agricultura familiar não é necessariamente uma novidade, mas seu uso

recente vem adquirindo novos significados, por conta da vasta abrangência nos meios

acadêmicos, nas políticas governamentais e nos movimentos sociais.

A definição do que vem a ser agricultura familiar é fundamental para que haja o

desenvolvimento dessa área. Nesse contexto, é importante ressaltar que esta não pode ser

confundida com agricultura de subsistência.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), que

consiste no órgão responsável pelas políticas nacionais de desenvolvimento social, agricultura

familiar pode ser entendida basicamente como um modo de produção onde há interação, pelo

fato do próprio agricultor familiar já ser a pessoa que comanda o processo produtivo. Assim, é

evidenciada por sua importância no que cerne ao fluxo de emprego e na produção de

alimentos, voltada principalmente para o autoconsumo. Desse modo, o segmento familiar da

agricultura brasileira, ainda que muito heterogêneo, responde por importante parcela da

produção agropecuária.

No que se refere ao estado do Ceará, de acordo FUNCEME (Fundação Cearense de

Meteorologia e Recursos Hídricos), apud O Povo (2013), é possível afirmar que nos anos de

1990, 1992 e 1993 o estado enfrentou imensas dificuldades devido à seca5, afetando assim

diretamente a produção agrícola e as perspectivas dos agricultores sobre a produção futura e o

bem estar familiar.

Diante deste contexto, o governo tem se preocupado, implantando políticas públicas

no combate à redução das desigualdades e buscando melhorar o bem estar das famílias

inseridas no meio rural. Busca-se também, promover o acesso democrático aos recursos

produtivos, atribuindo assim diversos mecanismos de fomento à produção, o combate à fome

e geração de emprego e renda (DAMASCENO; KHAN; LIMA, 2011).

5 Existem diversos conceitos de seca. “A seca climatológica refere-se à ocorrência, em um dado espaço e tempo,

de uma deficiência no total de chuvas em relação aos padrões normais que determinaram as necessidades. Esse

tipo de seca tem como causa natural a circulação global da atmosfera e pode resultar em redução na produção

agrícola e no fornecimento de água, seja para abastecimento, seja para outros usos” (CAMPOS e STUDARD,

2001,pg 3.).

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166

Nesse sentido, de imediato, a iniciativa concreta ocorreu em meados dos anos 1996,

com a instituição do PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

Familiar), na qual o elevado custo e a escassez de crédito eram apontados como os principais

problemas enfrentados pelos agricultores (GUANZIROLI, 2002). Em suma, o PRONAF

surge, portanto, com o objetivo de promover o aumento da capacidade produtiva, ampliação

da renda e, consequentemente, contribuir com a melhoria da qualidade de vida dos

agricultores e familiares. A seguir será abordado de forma mais detalhada ações desta política

pública.

2.2. Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF

O PRONAF é uma das principais políticas brasileira, tanto na área social quanto na

área da agricultura. Iniciou-se na segunda metade da década de 1990, mais precisamente em

1995, pela resolução CMN/BACEN nº 2.191 de 24/08/95, porém, só foi criado

definitivamente em 28 de junho de 1996, pelo decreto presidencial nº 1.946. Visando

melhorar as condições do produtor familiar. O PRONAF oferece crédito para financiar

investimentos no âmbito rural.

O PRONAF, em 1996, foi criado para atender a uma antiga reivindicação das

organizações dos (as) trabalhadores (as) rurais, as quais demandavam a formulação e

a implantação de políticas de desenvolvimento rural especificas para o maior

segmento da agricultura brasileira, porém o mais fragilizado em termos de

capacidade técnica e de inserção nos mercados agropecuários (GRYBOWSKI et al,

2006, p.8).

O PRONAF foi desenvolvido pelo ministério do desenvolvimento agrário (MDA),

num momento em que os custos elevadíssimos e a falta de financiamento eram vistos pelos

agricultores como os principais problemas que impediam o desenvolvimento da produção

familiar (GUANZIROLI, 2007). Desse modo, o programa veio a oferecer custeio para

projetos agropecuários sejam eles grupais, coletivos ou individuais. Tal programa, com suas

baixíssimas taxas de juros proporcionam assim, facilidade nas negociações e diminui a

inadimplência dos financiamentos rurais. Essa ideia surgiu a partir da década de 1990 quando

o Governo a criou numa tentativa de proporcionar uma melhoria de vida para os agricultores.

Com relação ao funcionamento do programa, podem-se destacar, de acordo com o

Banco Central do Brasil, quatro instrumentos básicos: (1) oferta de linhas de crédito especiais,

a taxas de juros preferenciais, e com menores exigências de garantias do que as existentes no

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mercado; (2) financiamento, a fundo perdido, de investimentos em infraestrutura econômica

de sustentáculo aos pequenos produtores; (3) oferta de assistência técnica aos beneficiários do

programa; (4) oferta de oportunidades de capacitação profissional. O PRONAF encontra-se

dividido em várias modalidades, entre as quais o PRONAF (A, A/C, B, C, D, E) bem como

linhas especiais (PRONAF semiárido, mulher, jovem, agroecologia, eco, custeio e

comercialização entre outros) (BRASIL, 2006).

A partir do surgimento do PRONAF, os agricultores familiares passaram a dispor de

crédito com juros mais barato e em maior quantidade, no qual possibilitou deslumbrarem

novas perspectivas de investimento e financiamento da produção buscando elevar a sua renda.

Por serem responsáveis por uma parcela significativa da produção dos principais alimentos

consumidos pela população, os agricultores almejavam obter significantes resultados

positivos através desse programa.

2.2.1 Declaração de Aptidão ao PRONAF

A Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP), de acordo com o Manual do Credito

Rural (MCR) consiste em um instrumento de identificação dos agricultores familiares bem

como, suas formas associativas organizadas em pessoas jurídicas, aptos a realizarem

operações de crédito rural ao amparo do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

Familiar (PRONAF). Esse documento pode ser emitido em qualquer órgão ou entidades

credenciadas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MCR p. 12).

No que se referem às características, a DAP apresenta distinções com relação à

emissão, podendo ser enquadradas em (I) DAP para pessoa física, onde cada unidade familiar

pode adquirir apenas uma, com validade de seis anos a contar da data de envio e tem sua

origem vinculada ao município onde reside a família. (II) DAP para pessoa jurídica que, por

sua vez tem validade de um ano ou quando o número de associados superar 10% do número

de associados considerados inicialmente e por fim a (III) DAP para entidade familiar, que

compreende o conjunto da família nuclear (marido ou companheiro, esposa ou companheira, e

filhos) e eventuais agregados, que explorem o mesmo estabelecimento rural sob as mais

variadas condições de posse, de gestão estritamente da família, incluídos os casos em que o

estabelecimento seja explorado por indivíduo sem família.

2.2.2 Tipos de PRONAF que se enquadra o Agricultor Familiar

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Podem-se destacar entre as diversas modalidades do PRONAF, o PRONAF B, C,

A/C, D e E, como sendo as que enquadram mais adequadamente o agricultor familiar. Diante

disso, na sequência serão apresentadas as características de cada um deles.

De acordo com o Manual do Credito Rural (MCR) (2013) o grupo "B" enquadra

agricultores familiares que explorem parcela de terra na condição de proprietário, posseiro,

arrendatário ou parceiro; residam nas propriedades ou em local próximo; não disponham, de

área superior a 4 (quatro) módulos fiscais, quantificados segundo a legislação em vigor;

obtenham, no mínimo, 30% (trinta por cento) da renda familiar da exploração agropecuária e

não agropecuária do estabelecimento; tenham o trabalho familiar como base na exploração do

estabelecimento e obtenham renda bruta anual familiar de até R$4.000,00 (quatro mil reais),

excluídos os benefícios sociais e os proventos previdenciários decorrentes de atividades

rurais.

Para o grupo "C" destacam-se agricultores familiares que explorem parcela de terra

na condição de proprietário, posseiro, arrendatário, parceiro ou concessionário do Programa

Nacional de Reforma Agrária (PNRA); residam na propriedade ou em local próximo; não

disponham, a qualquer título, de área superior a 4 (quatro) módulos fiscais, quantificados

segundo a legislação em vigor; obtenham, no mínimo, 60% (sessenta por cento) da renda

familiar da exploração agropecuária e não agropecuária do estabelecimento; tenham o

trabalho familiar como predominante na exploração do estabelecimento, utilizando apenas

eventualmente o trabalho assalariado, de acordo com as exigências sazonais da atividade

agropecuária e obtenha renda bruta anual familiar acima de R$4.000,00 (quatro mil reais) e

até R$18.000,00 (dezoito mil reais), excluídos os benefícios sociais e os proventos

previdenciários decorrentes de atividades rurais.

Para o grupo "A/C" cabem os agricultores familiares egressos do Grupo "A" ou que

já contrataram a primeira operação no Grupo "A", que não contraíram financiamento de

custeio nos Grupos "C", "D" ou "E" e que apresentarem a DAP para o Grupo "A/C" fornecida

pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) para os beneficiários do

PNRA ou pela Unidade Técnica Estadual ou Regional (UTE/UTR) para os beneficiados pelo

Programa Nacional de Crédito Fundiário.

O grupo "D" também se assemelha aos anteriores já que conta com agricultores

familiares que explorem parcela de terra na condição de proprietário, posseiro, arrendatário,

parceiro ou concessionário do PNRA; residam na propriedade ou em local próximo; não

disponham, a qualquer título, de área superior a 4 (quatro) módulos fiscais, quantificados

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segundo a legislação em vigor; obtenham, no mínimo, 70% (setenta por cento) da renda

familiar da exploração agropecuária e não agropecuária do estabelecimento; tenham o

trabalho familiar como predominante na exploração do estabelecimento, podendo manter até

2 (dois) empregados permanentes, sendo admitido ainda o recurso eventual à ajuda de

terceiros, quando a natureza sazonal da atividade o exigir e obtenham renda bruta anual

familiar acima de R$18.000,00 (dezoito mil reais) e até R$50.000,00 (cinquenta mil reais),

incluída a renda proveniente de atividades desenvolvidas no estabelecimento e fora dele, por

qualquer componente da família, excluídos os benefícios sociais e os proventos

previdenciários decorrentes de atividades rurais.

E por fim o grupo "E" que, por sua vez, conta com agricultores familiares que

explorem parcela de terra na condição de proprietário, posseiro, arrendatário, parceiro ou

concessionário do PNRA; residam na propriedade ou em local próximo; não disponham, a

qualquer título, de área superior a 4 (quatro) módulos fiscais, quantificados segundo a

legislação em vigor; obtenham, no mínimo, 80% (oitenta por cento) da renda familiar da

exploração agropecuária e não-agropecuária do estabelecimento; tenham o trabalho familiar

como predominante na exploração do estabelecimento, podendo manter até 2 (dois)

empregados permanentes, admitido ainda a eventual ajuda de terceiros, quando a natureza

sazonal da atividade o exigir e obtenham renda bruta anual familiar acima de R$50.000,00

(cinquenta mil reais) e até R$110.000,00 (cento e dez mil reais), incluída a renda proveniente

de atividades desenvolvidas no estabelecimento e fora dele, por qualquer componente da

família, excluídos os benefícios sociais e os proventos previdenciários decorrentes de

atividades rurais.

Nota-se, nestes casos, que as características para cada tipo de PRONAF são quase

idênticas modificando, apenas, o valor bruto anual da renda e o percentual mínimo da renda

familiar obtida a partir da exploração agropecuária.

2.2.3 Créditos de Custeio, Comercialização e Investimento

De acordo com o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (SICOOB), que

consiste no órgão responsável pela disponibilização de linhas de crédito, o crédito de

comercialização é destinado a auxiliar o produtor rural na comercialização de seus produtos

no mercado. Por sua vez, esse recurso pode ser repassado por três tipos de programas: pré-

comercialização a partir de recursos obrigatórios; desconto de duplicata e nota promissória

rural e pré-comercialização PRONAF.

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O crédito de custeio agrícola destina-se à aquisição de insumos, realização de tratos

culturais e colheita, beneficiamento ou industrialização do produto financiado e produção de

mudas e sementes certificadas e fiscalizadas. Os recursos para estes programas são oriundos

do PRONAF (agricultura familiar); PRONAMP (médio produtor) e poupança Rural.

A linha de crédito destinada para investimentos agrícola dispõe de recursos para a

ampliação e modernização da produção. Inclui a aquisição de tratores, máquinas agrícolas,

colheitadeiras, caminhões, carrocerias, implementos, projetos de correção e recuperação do

solo, construção, reformas ou ampliação de armazéns, silos, galpões, implantação de sistemas

de armazenagem, de irrigação, de beneficiamento, industrialização e comercialização, ações

de adequação e preservação ambiental, entre outros. Tendo como programas de distribuição

os mesmos citados no custeio.

3. METODOLOGIA

3.1. Área de Estudo e Fonte de Dados

O presente estudo tem como foco, analisar a dinâmica de produtividade das principais

culturas da agricultura familiar no estado do Ceará, a partir das mesorregiões: Centro-Sul

Cearense, Jaguaribe, Metropolitana de Fortaleza, Noroeste Cearense, Norte Cearense, Sertões

Cearenses e Sul Cearense. As culturas que estão sendo analisadas são: arroz, feijão, milho e

mandioca.

3.2. Variáveis Utilizadas e Modelo Empírico

As variáveis utilizadas nos modelos estimados são: produção, área plantada,

produtividade, valor da produção, dpronaf que é uma dummy que assume valor 1 para os anos

onde ocorreram contratações, nas mesorregiões, de alguma das modalidades do Pronaf:

Custeio, Investimento e Comercialização. Foram criadas variáveis dummies para as seis

mesorregiões para captar possíveis comportamentos distintos da produção das culturas

analisadas entre as mesorregiões. A mesorregião de referência é a Sul Cearense.

O modelo empírico utilizado é o de regressão linear múltipla com dados em painel

com variáveis dummies. As variáveis estão em logaritmo, assim têm-se as elasticidades

parciais da produção em relação a cada uma das variáveis explicativas. O modelo a ser

estimado é o modelo com efeitos aleatórios. Os modelos com efeitos aleatórios consideram a

constante não como um parâmetro fixo, mas como um parâmetro aleatório não observável. O

modelo a ser estimado segue a seguinte equação seguindo Greene (2008):

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171

itit

N

i

iiit ubXDaY

...1

(1)

Com Di a variável Dummy referente ao indivíduo i (mesorregião). T compreende o

período: 1991 a 2011. Admite-se que todos os erros são homoscedásticos e não

autocorrelacionados. A autocorrelação dos erros dentro do próprio indivíduo (within-unit

autocorrelation) torna os estimadores OLS não eficientes e os erros padrão inválidos. A

solução é estimar o modelo de efeitos aleatórios pelo método GLS (Método dos Mínimos

Quadrados Generalizados), obtendo-se estimadores eficientes. Para corrigir problemas de

heteroscedasticidade serão estimados erros padrões robustos por meio de bootstrap. As

estimações serão feitas no STATA 11.2.

4. RESULTADOS

4.1. Estatística Descritiva

Nesta seção optou-se por organizar as estatísticas descritivas das variáveis por

mesorregião. Desta forma tem-se não somente uma visão de cada variável ao longo do tempo,

mas também a distribuição geográfica destas. O período de análise vai de 1990 a 2011.

Nas tabelas 1, 2, 3 e 4 são apresentadas respectivamente as variáveis: área plantada,

produção, produtividade e contratos do PRONAF. Sendo feito uma análise comparativa entre

todas as culturas estudadas, referindo-se aos valores da média, desvio padrão, do valor

mínimo, máximo e do coeficiente de variação.

Na tabela 1 pode ser observa que na cultura do arroz destacam-se com maior média

de área plantada ao longo do período as mesorregiões do Centro-Sul e Sul Cearense, áreas

estas tradicionais na produção desta cultura. A maior variabilidade, contudo é na mesorregião

Metropolitana que também apresenta a menor média entre todas as áreas analisadas.

Na área plantada com a cultura do feijão destacam-se respectivamente a mesorregião

dos Sertões e Noroeste, respectivamente com as maiores médias de área plantada. A

Mesorregião do Jaguaribe, contudo foi a área com maior variabilidade desta variável ao longo

do período analisado.

A área plantada do milho apresentou as maiores médias nas mesorregiões dos

Sertões e Sul Cearense. Vale ressaltar que estas áreas têm recebido atenção especial da

Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (EMATERCE) que implantou o

programa de plantio direto. Este projeto recebe o apoio da associação dos criadores de aves do

estado.

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172

Tabela 01: Área plantada das principais culturas da agricultura familiar nas mesorregiões do Estado do Ceará

VARIÁVEL: ÁREA PLANTADA

ARROZ

MESORREGIÕES MÉDIA DESVIO

PADRÃO

MÍNIMO MAXIMO COEFICIENTE

DE VARIAÇÃO

CENTRO-SUL CEARENSE 14.997,35 6.358,094 5.598 26.689 0, 4239

METROPOLITANA DE

FORTALEZA 1.726,043 1.993,714 159 6.891 1,1551

JAGUARIBE 6.413,043 2.203,042 2.393 10.344 0,3435

NOROESTE CEARENSE 5.292,348 1.074,526 1.986 7.433 0,2030

NORTE CEARENSE 5.090,087 2.177,769 3.016 9.342 0.4278

SERTÕES CEARENSE 3.997,87 1.843,785 1.547 7.891 0,4612

SUL CEARENSE 12.484,17 6.329,297 2.469 23.627 0,5070

TOTAL 7.142,988 5.774,317 159 26.689 0,8084

FEIJÃO

CENTRO-SUL CEARENSE 33.457,65 5.881,105 25.180 46.362 0, 1758

METROPOLITANA DE

FORTALEZA 10.546,78 3.627,491 4.435 18.915 0,3439

JAGUARIBE 55.248,83 20.174,62 24.736 99.350 0,3652

NOROESTE CEARENSE 126.306,7 25.245,68 74.558 153.860 0,1999

NORTE CEARENSE 92.621,96 20.190,54 41.907 118.425 0.2180

SERTÕES CEARENSE 174.604,3 31.156,91 129.659 246.325 0,1784

SUL CEARENSE 72.137 16.643,68 40.676 99.884 0,2307

TOTAL 80.703,33 55.648,45 4.435 246.325 0,6895

MILHO

CENTRO-SUL CEARENSE 48.624,83 22.548,34 31.487 129.930 0, 4637

METROPOLITANA DE

FORTALEZA 15.021,57 32.525,08 4.947 164.059 2,1652

JAGUARIBE 35.320,52 12.571,87 13.116 66.825 0, 3559

NOROESTE CEARENSE 121.420 21.847,8 71.634 145.605 0,1799

NORTE CEARENSE 98.271,57 16.786,86 60.556 120.645 0.1708

SERTÕES CEARENSE 202.828,2 49.430,31 24.310 259.317 0,2437

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173

SUL CEARENSE 105.788,1 13.007,15 75.753 128.700 0,1230

TOTAL 13.333,15 14.399,64 37 54.337 1,0800

MANDIOCA

CENTRO-SUL CEARENSE 306, 6522 352, 0262 37 1.243 1, 1480

METROPOLITANA DE

FORTALEZA 5.833,304 2.030,071 2.945 10.356 0,3480

JAGUARIBE 4.914,348 2.815,381 356 11.240 0,5729

NOROESTE CEARENSE 35.464,57 10.157.62 9.258 54.337 0,2864

NORTE CEARENSE 30.873,83 10.959,22 9.806 53.105 0.3550

SERTÕES CEARENSE 3.322,478 1.898,661 1.161 7.875 0,5715

SUL CEARENSE 12.616,87 4.427,697 4.366 21.117 0,3509

TOTAL 13.333,15 14.399,64 37 54.337 1,0800

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SIDRA/IBGE.

As mesorregiões com a maior média de área plantada com a cultura da mandioca no

Ceará são, respectivamente, Noroeste Cearense e Norte. A maior variabilidade, contudo é na

Centro-Sul que não apresenta tradição no cultivo desta cultura. A variabilidade da produção

da mandioca é a maior entre as culturas analisadas. A mandioca diferentemente das demais

culturas que são anuais tem o seu ciclo maior levando cerca de 18 a 24 meses para ser colhida.

Desta forma está mais exposta a variação dos invernos que são irregulares no estado.

A tabela 2 traz a estatística descritiva da variável Produção das culturas de arroz,

feijão, milho e mandioca no período analisado, ou seja, entre 1990 e 2011. Na qual a maior

média anual da produção do arroz é na mesorregião Centro-Sul com um valor de mais de 33

mil toneladas. A mesorregião Metropolitana de Fortaleza, é a que apresenta a menor média

anual de produção com cerca de 2 mil toneladas e com a maior variabilidade na produção.

Ressalta-se que, em geral, a variabilidade da produção do arroz é maior que a variabilidade da

variável área plantada. Este resultado é de certa forma esperado, pois se tem tanto a produção

de sequeiro como em áreas de várzea e irrigadas o que faz especialmente as áreas de sequeiro,

mais vulneráveis às estiagens comuns no estado.

Ainda na tabela 2 observa-se que a mesorregião Sertões Cearenses se destaca com a

maior média anual da produção do feijão com cerca de 43 mil toneladas. A Mesorregião

Metropolitana de Fortaleza apresenta a menor média anual com cerca de 3,5 mil toneladas,

assim como a maior variabilidade. A produção do feijão, em média tem uma variabilidade

menor que a produção do arroz. Em parte, isto é explicado em virtude do tipo de feijão mais

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174

cultivado no estado ser o feijão do tipo macassar 6 que tem ciclo menor que 90 dias o que o

torna menos exposto às variações que o arroz que tem ciclo de vida maior. Há também uma

maior homogeneidade da produção do feijão entre as mesorregiões do estado quando

comparado ao arroz.

A produção do milho é bastante concentrada nas mesorregiões Sertões e Sul

Cearense, com média anual de 127 e 114 mil toneladas, respectivamente. A menor média da

produção do milho é na mesorregião Metropolitana de Fortaleza com cerca de 4 mil

toneladas. Contudo, a maior variabilidade da produção ocorre na área que mais produz, isto é,

os Sertões Cearenses, tornado assim a produção do estão bastante instável. Em geral, a

variabilidade da produção do milho é maior que a cultura do feijão.

Tabela 02: Produção das principais culturas da agricultura familiar nas mesorregiões do Estado do Ceará

VARIÁVEL: PRODUÇÃO

ARROZ

MESORREGIÕES MÉDIA DESVIO

PADRÃO

MÍNIMO MAXIMO COEFICIENTE

DE VARIAÇÃO

CENTRO-SUL CEARENSE 33.526,39 23.115,17 9.956 81.609 0,6895

METROPOLITANA DE

FORTALEZA 2.042,957 3.769,064 60 13.933 1,8449

JAGUARIBE 24.467,17 14.735,93 3.692 58.053 0,6023

NOROESTE CEARENSE 2.992,174 1.982,082 528 8.444 0,6624

NORTE CEARENSE 4.782,783 3.924,103 1.148 15.656 0,8205

SERTÕES CEARENSE 3.118,957 2.775,589 229 9.917 0,8899

SUL CEARENSE 12.889,48 11.044,4 1.077 38.437 0,8569

TOTAL 11.974,27 16.111,4 60 81.609 1,3455

FEIJÃO

CENTRO-SUL CEARENSE 9.723,913 3.912,444 4.168 17.360 0,4024

METROPOLITANA DE

FORTALEZA 3.583,391 2.330,574 782 10.158 0,6504

JAGUARIBE 22.614,39 12.121,04 4.377 56.694 0,5360

NOROESTE CEARENSE 31.429,3 15.195,67 8.007 63.928 0,4835

NORTE CEARENSE 22.0591 11.979,24 5.248 46.999 0,5431

SERTÕES CEARENSE 43.402,65 26.253,16 3.032 89.031 0,6049

SUL CEARENSE 22.733,04 11.833,65 6.350 42.192 0,5205

TOTAL 22.220,81 18.376,34 782 89.031 0,8270

MILHO

6 Também conhecido popularmente como feijão de corda abrange variedades da espécie Vigna unguiculata.

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CENTRO-SUL CEARENSE 31.541,13 19.007,82 3.432 73.908 0,6026

METROPOLITANA DE

FORTALEZA 4.398,217 2.027,094 276 8.138 0,4609

JAGUARIBE 23.075,83 12.794,6 2.675 49.686 0,5545

NOROESTE CEARENSE 57.201,00 30.237,85 6.186 117.990 0,5286

NORTE CEARENSE 50.354,83 31.227,35 3.328 109.266 0,6201

SERTÕES CEARENSE 126.677,5 92.050,89 1.845 330.520 0,7267

SUL CEARENSE 114.288,7 70.935,02 17.313 234.886 0,6207

TOTAL 58.219,6 63.406,71 276 330.520 1,0891

MANDIOCA

CENTRO-SUL CEARENSE 2.683,304 3.036,654 219 11.758 1,1317

METROPOLITANA DE

FORTALEZA 50.852,7 17.571,92 26.505 85.516 0,3455

JAGUARIBE 32.737,91 23.816,38 5.048 90.730 0,7275

NOROESTE CEARENSE 259.038,2 79.295,35 114.462 391.784 0,3061

NORTE CEARENSE 225.2070 74.925,33 78.839 386.817 0,3327

SERTÕES CEARENSE 25.020,96 12.662,7 3.421 56.969 0,5061

SUL CEARENSE 124.211,7 51.305,7 9.860 224.831 0,4131

TOTAL 102.821,7 106.183,6 219 391.784 1,0327

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SIDRA/IBGE

Ainda na tabela 2 têm-se as informações da produção da cultura da mandioca entre

as mesorregiões estaduais. A produção desta cultura é bastante concentrada nas mesorregiões

Noroeste e Norte Cearense com média anual de produção, respectivamente, de 259 e 225 mil

toneladas. A mesorregião do Jaguaribe apresenta a menor média anula de produção, mas com

a maior variabilidade. A cultura da mandioca é das mais tradicionais no estado e tem como

objetivo maior a produção de farinha e goma, muito utilizada na culinária cearense,

especialmente a primeira, na mesa dos mais pobres.

As estatísticas descritivas da produtividade das culturas: Arroz, Feijão, Milho e

Mandioca nas mesorregiões cearenses são apresentadas na tabela 3. A maior produtividade

média anual da cultura do arroz foi na mesorregião do Jaguaribe, o que de certa forma era

esperado, já nesta mesorregião têm-se maiores áreas irrigadas e de várzeas mais propícias

para esta cultura. A produtividade média anual nesta mesorregião é de cerca de 3,6 mil kg/ha

e é bastante superior que a produtividade nas demais mesorregiões. A produtividade na

mesorregião Noroeste, que é a menor entre as mesorregiões é de cerca de 547 kg/ha. A

produtividade do arroz apresenta uma das mais baixas variabilidades entre todas as variáveis

analisadas.

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Em geral a produtividade do feijão é bastante baixa em todas as mesorregiões do

estado. A menor produtividade média anual foi na mesorregião Noroeste com cerca de 238

kg/ha e maior na mesorregião do Jaguaribe com cerca de 409kg/ha. Contudo, a máxima

produtividade conseguida foi de 553 kg/ha na mesorregião dos Sertões Cearenses.

A maior produtividade média anual do milho foi na mesorregião Sul com cerca de

1050 kg/ha. Foi também nesta mesorregião que se registrou a maior produtividade nesta

cultura com cerca de 2090kg/ha. Este resultado é esperado tendo em vista o programa de

plantio direto adotado pela EMATERCE que tem forte impacto na produtividade por manter

por mais tempo a umidade do solo assim como melhorar a sua conservação.

Dentre todas as culturas analisadas a mandioca foi a que apresentou menor

variabilidade da produtividade média entre as mesorregiões do estado. O destaque fica por

conta da mesorregião Sul com produtividade acima das 10t/ha enquanto a menor foi

registrada em Jaguaribe. A cadeia produtiva da mandioca tem recebido atenção especial no

município de Araripe na Mesorregião Sul Cearense. Este município destaca-se entre os

maiores produtores de mandioca no Ceará (OLIVEIRA e JUSTO, 2013).

Tabela 3: Produtividade das culturas: Arroz, Feijão, Milho e Mandioca nas mesorregiões do Estado do Ceará

VARIÁVEL: PRODUTIVIDADE

ARROZ

MESORREGIÕES MÉDIA DESVIO

PADRÃO

MÍNIMO MAXIMO COEFICIENTE DE

VARIAÇÃO

CENTRO-SUL CEARENSE 2,1483 0,7896 0,7142 3,5793 0,3675

METROPOLITANA DE

FORTALEZA 0,8874 0,5136 0,0804 2,2088 0,5787

JAGUARIBE 3.6349 1.3690 1.0735 6,4591 0,3766

NOROESTE CEARENSE 0,5471 0,2796 0,1005 1,1360 0,5111

NORTE CEARENSE 0,9111 0,4450 0,1895 1,6791 0,4884

SERTÕES CEARENSE 0,7519 0,4785 0,0497 1,4989 0,6364

SUL CEARENSE 0,9817 0,5590 0,0884 1,9496 0,5694

TOTAL 1,4089 1,2461 0,0497 6,4591 0,8844

FEIJÃO

CENTRO-SUL CEARENSE 0,2898 0,1049 0,1276 3,5793 0,3622

METROPOLITANA DE

FORTALEZA 0,3336 0,1177 0,0497 2,2088 0,3527

JAGUARIBE 0,4049 0,1424 0,0982 6,4591 0,3516

NOROESTE CEARENSE 0,2480 0,1070 0,0597 0,4754 0,4316

NORTE CEARENSE 0,2383 0,1152 0,0455 0,4440 0,4833

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SERTÕES CEARENSE 0,2444 0,1352 0,0160 0,4800 0,5533

SUL CEARENSE 0,3169 0,1550 0,0864 0,5721 0,4891

TOTAL 0,2966 0,1363 0,0160 0,6254 0,4598

MILHO

CENTRO-SUL CEARENSE 0,7002 0,4209 0,0659 1.5438 0,6011

METROPOLITANA DE

FORTALEZA 0,5300 0,2433 0,0116 0,8830 0,4591

JAGUARIBE 0,6696 0,3145 0,0400 1,3596 0,4696

NOROESTE CEARENSE 0,4584 0,2096 0,0527 0,8103 0,4572

NORTE CEARENSE 0,5017 0,2781 0,0307 0,9998 0,5543

SERTÕES CEARENSE 0,5823 0,3610 0,0096 1,2854 0,6199

SUL CEARENSE 1.0515 0,5840 0,1784 2,0905 0,5554

TOTAL 0,6368 0,3973 0,0096 2,0905 0,6239

MANDIOCA

CENTRO-SUL CEARENSE 9,6112 3,1518 1,8177 17,9764 0,3279

METROPOLITANA DE

FORTALEZA 9,0225 2,2675 4,0716 11,4573 0,2513

JAGUARIBE 7,0917 2,7475 1,3320 14,1798 0,3874

NOROESTE CEARENSE 7,8198 3,4096 2,5548 21,6345 0,4360

NORTE CEARENSE 7,7022 2,2870 2,5302 15,1800 0,2969

SERTÕES CEARENSE 8,2025 3,2795 1,9037 12,1505 0,3998

SUL CEARENSE 10,0148 3,1315 0,8696 17,7314 0,3127

TOTAL 8,4950 3,0427 0,8696 21,6345 0,3582

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SIDRA/IBGE

Na tabela 4 é apresentada a estatística descritiva do número de contratos do pronaf:

Custeio, Investimento, Comercialização e Total por mesorregião do estado do Ceará.

Tratando-se do número de contratos de custeio, a maior média anual ocorreu na mesorregião

Sertões Cearense com 4,8 mil contratos. Contudo, a menor média anual destes contratos

ocorreu na mesorregião Metropolitana de Fortaleza onde apenas 159 contratos foram

efetivados anualmente. O maior valor de contratos anuais do Pronaf Custeio, no período

analisado, foi de quase 15 mil contratos na Mesorregião Sertões enquanto o menor número foi

na Metropolitana de Fortaleza com apenas 34 contratos.

Tabela 4: Estatísticas descritivas do número de contratos do PRONAF por finalidade nas mesorregiões do

Estado do Ceará

VARIÁVEL: CONTRATOS DO PRONAF

CUSTEIO

MESORREGIÕES MÉDIA DESVIO MÍNIMO MAXIMO COEFICIENTE

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178

PADRÃO DE VARIAÇÃO

CENTRO-SUL CEARENSE 1.740,357 840,2211 287 3.602 0,4828

METROPOLITANA DE

FORTALEZA 159,5714 208,9125 34 847 1,3092

JAGUARIBE 1.697,714 2.528.912 257 5985 1,4896

NOROESTE CEARENSE 2.070,143 1.309,956 297 4.403 0,6328

NORTE CEARENSE 1.697,714 1.602,169 257 5.985 0,9437

SERTÕES CEARENSE 4.820,929 3.813,783 674 14.776 0,7911

SUL CEARENSE 2.969,214 1.810,36 885 6.258 0,6097

TOTAL 2.603,816 5.169,494 34 48.098 1,9854

INVESTIMENTO

CENTRO-SUL CEARENSE 1.081,929 1.197,02 22 4.540 1,1064

METROPOLITANA DE

FORTALEZA 1.586,714 1.383,467 67 3.956 0,8719

JAGUARIBE 3503.786 2528.912 538 9044 0,7218

NOROESTE CEARENSE 7.747,143 5.109,277 708 14.074 0,6595

NORTE CEARENSE 3.503,786 2.528,912 538 9.044 0,7218

SERTÕES CEARENSE 5.626,643 6.190,441 94 22.466 1,1002

SUL CEARENSE 2.635,714 2.190,261 135 7.907 0,8310

TOTAL 4.228,184 6.759,81 22 57.140 1,5988

COMERCIALIZAÇÃO

CENTRO-SUL CEARENSE 1,4286 1,696797 0 6 1,1878

METROPOLITANA DE

FORTALEZA 84,5714 42,8768 40 197 0,5070

JAGUARIBE 3,142857 7,336496 0 28 2,3343

NOROESTE CEARENSE 11,64286 10,54373 1 39 0,9056

NORTE CEARENSE 6,428571 6,1107 0 19 0,9506

SERTÕES CEARENSE 3,443071 3,16812 0 10 0,9201

SUL CEARENSE 0,5714286 0,9376145 0 3 1,6408

TOTAL 15,88983 32,88715 0 197 2,0697

PRONAF

CENTRO-SUL CEARENSE 2.823,714 999,7071 1.465 4.829 0,35403

METROPOLITANA DE

FORTALEZA 1.830,857 1.341,44 318 4.200 0,7327

JAGUARIBE 3.170,043 3.225,472 0 9305 1,0750

NOROESTE CEARENSE 9.828,929 5.476,103 1.621 17.284 0,5571

NORTE CEARENSE 5.207,929 2.485,288 1.222 9.305 0,4772

SERTÕES CEARENSE 10.451,01 8.743,442 940 37.243,2 0,8366

SUL CEARENSE 5.605,5 3.156,54 1.694 12.105 0,5631

TOTAL 6.847,89 11.314 318 105.266 1,6522

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SIDRA/IBGE

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179

Em relação ao número total de operações de contrato do PRONAF, tem-se ainda,

segundo a tabela 4, que a maior média ocorreu na mesorregião Sertões com mais de 10 mil

contratos. A menor média do número total de operações do PRONAF ocorreu na mesorregião

Metropolitana de Fortaleza. Isto não surpreende haja vista esta área compreender vários

municípios com alto índice de urbanização e pouca tradição na agricultura.

4.2 Resultados das Estimações

A tabela 5 traz os resultados das estimações da equação (1) para as culturas da

Mandioca, Arroz, Feijão e Milho para o período 1991 a 2011. Para cada uma das culturas

analisadas tem-se que a variável dependente é o logaritmo da produção. Na função de

produção da mandioca, tem-se que os coeficientes das variáveis: Lnárea, Lnprodv, são

significantes a 1% e apresentam os sinais esperados. Ou seja, uma elevação de 1% na área

plantada eleva a produção em 0,85%. O mesmo aumento na produtividade eleva a produção

em 0,93%.

O coeficiente da variável valor da produção não foi significante, desta forma não se

pode afirmar sobre o efeito desta variável na variável dependente. O coeficiente da dummy

pronaf não foi significante. Este resultado indica que não há diferença na produção da

mandioca no Ceará antes e depois da implantação do PRONAF. O coeficiente da dummy2 foi

significante a 1% e negativo. Este resultado mostra uma diferença de aproximadamente 9%

desfavorável à produção média da mandioca da mesorregião Norte em relação à mesorregião

Sul que é a área de referência. Como os demais coeficientes das dummies das mesorregiões

não foram significativas indica não haver diferença na produção média destas em relação à

mesorregião Sul.

Na estimação da função de produção do arroz, tem-se pela tabela 5 que os

coeficientes das variáveis Dpronaf foram significantes a 1%, ou seja, há uma diferença na

produção média do arroz, após a implantação do PRONAF, de cerca de 58%. O coeficiente da

variável Lnvp também é significante a 1%, logo uma elevação no valor da produção em 1%

eleva a produção em 0,79%. O coeficiente da variável LN área foi significante a 10%, neste

caso, uma elevação de 1% da área eleva a produção em 0,21%. O coeficiente da variável

Lnprodv foi significante a 5%, sendo assim uma elevação de 1% na produtividade do arroz

eleva a produção desta cultura em 0,24%.

Não há diferença na produção média das mesorregiões Noroeste, Norte e Centro-Sul

em relação à mesorregião Sul, haja vista que os coeficientes das dummies destas mesorregiões

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180

não foram significantes. Contudo, a produção média anual de arroz nas mesorregiões:

Metropolitana, Sertões e Jaguaribe são menores que à produção média anual da mesorregião

Sul em aproximadamente, 21,5%, 12,6% e 8,5%, respectivamente.

Não se observou diferença na produção média anual do feijão entre as sete

mesorregiões analisadas tendo em vista que os coeficientes das dummies regionais não forma

significantes. Contudo, os coeficientes das variáveis Lnvp, Lnárea e Lnprodv são significantes

a 1% no modelo que estima a função de produção do feijão. Um aumento de 1% no valor da

produção do feijão eleva a produção em 0,3%. Aumentando a área plantada em 1% a

produção do feijão cresce 0,67%. Já um aumento de 1% na produtividade do feijão, que é

bastante baixa, como verificado na estatística descritiva, eleva a produção em 0,78%. A

implantação do PRONAF não teve efeito na produção do feijão haja vista que o coeficiente da

variável Dpronaf não foi significativo.

Tabela 5: Função de produção das culturas: Arroz, Feijão, Milho e Mandioca nas Mesorregiões do Estado do

Ceará: 1991-2011

Mandioca Arroz Feijão Milho

Variável Coeficiente Coeficiente Coeficiente Coeficiente

Dpronaf 0.110 0.580 0.078 0.085

(1.08) (4.25) * (1.30) (1.21)

Lnvp 0.099 0.749 0.303 0.805

(1.62) (6.71) * (2.33)* (22.55)*

Lnárea 0.851 0.213 0.665 0.040

(9.80)* (1.82)*** (4.43)* (1.97)**

Lnprodv 0.929 0.241 0.779 0.166

(18.60)* (1.96)** (7.09)* (2.77)*

dum1 -0.247 -0.018 -0.086 -0.229

(1.80) (0.36) (1.58) (3.94)*

dum2 -0.090 -0.060 -0.141 -0.375

(2.12)* (0.84) (1.96) (5.42)*

dum3 -0.078 -0.215 -0.168 -0.593

(1.56) (2.27)* (1.31) (4.68)*

dum4 0.071 -0.126 -0.016 -0.148

(1.40) (2.24)* (0.29) (2.52)*

dum5 0.035 -0.085 -0.081 -0.191

(1.43) (1.81)*** (1.65) (3.33)*

dum6 -0.108 -0.091 -0.050 -0.076

(1.96) (1.67) (0.73) (0.94)

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181

Constante 0.695 0.652 0.253 2.420

(1.62) (2.62)* (0.42) (5.42)*

N 161 161 161 161

Wald chi2(10) 721919.3 135009.0 37058.8 35121.2

Prob (0.0000) Prob (0.0000) Prob (0.0000) Prob (0.0000)

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do SIDRA/IBGE.

Nota: Estatística “t” entre parêntesis.

* Significante a 1%, ** significante a 5% e *** significante a 10%.

A estimação da função de produção do Milho no estado do Ceará pode ser visto na

última coluna da tabela 5. Os coeficientes das variáveis Lnvp, Lnprodv foram significantes a

1% e o coeficiente da variável Lnárea foi significante a 5%. Um aumento de 1% no valor da

produção, na área plantada e na produtividade do milho, eleva respectivamente à produção do

milho em: 0,8%, 0,04% e 0,17%.

O PRONAF também não se mostrou relevante na produção do milho haja vista a não

significância do coeficiente desta variável. A média anual da produção do milho na

mesorregião Centro-Sul não difere da mesorregião Sul. Contudo, as demais mesorregiões

apresentaram médias anuais de produção menores. As diferenças são aproximadamente:

Noroeste - 22,9%; Norte -37,5%; Metropolitana de Fortaleza -59,3%; Sertões -14,8% e

Jaguaribe -19,1%.

Os modelos estimados das funções de produção da Mandioca, Arroz, Feijão e Milho

foram validados como pode ser vistos pelos prob dos testes de Wald.

5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES

O Pronaf é uma política pública que busca permitir os agricultores familiares acesso

ao crédito rural com intuito de elevarem o seu bem estar através da elevação da renda das

propriedades familiares.

Este trabalho buscou estimar a função de produção das culturas do arroz, feijão,

milho e mandioca que são as principais culturas cultivadas pelos agricultores familiares no

Ceará. Com base nos SIDRA-IBGE, utilizando dados em painel tendo como unidade as

mesorregiões do estado do Ceará e compreendendo o período de 1990 a 2011.

Os resultados apontaram que as variáveis: área plantada, valor da produção e

produtividade são importantes para explicar a produção das culturas analisadas. O Pronaf foi

significativamente importante para a elevação da produção do arroz com impacto na produção

de mais de 50%. O mesmo, contudo, não aconteceu nas demais culturas. A cultura de arroz,

mesmo entre os agricultores familiares, costuma ter um nível de tecnologia mais avançado

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182

incluindo a irrigação. É possível, então, que agricultores que cultivem esta cultura tenham

buscado maior volume de crédito do Pronaf explicando em parte estes resultados.

Observaram-se também, diferenças significativas na produção destas culturas entre

as mesorregiões do estado. A mesorregião Sul destacou-se na produção liderando

isoladamente ou dividindo a liderança com outra mesorregião a depender da cultura analisada.

Estes resultados, contudo devem ser vistos com cautela haja vista que a ausência de

dados de outras variáveis para o período analisado pode mascarar estes resultados. Outra

questão é que não foi possível obtenção dos valores do Pronaf isoladamente para cada uma

das culturas, mas somente o número de contratos e valor por modalidade do Pronaf. Uma

variável omitida é a seca. Não há consenso, no entanto, em classificar os anos de seca para as

mesorregiões dada a irregularidade das chuvas em cada um dos municípios das mesorregiões.

Fica como sugestão para trabalhos futuros estimar os modelos com variável que

apreenda os anos de seca assim como os valores dos contratos do Pronaf por cultura.

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185

INSTRUMENTOS NORMATIVOS E ECONÔMICOS NAS POLÍTICAS PÚBLICAS

DE RECURSOS HÍDRICOS: UM OLHAR SOBRE O ESTADO DO CEARÁ

Rárisson Jardiel Santos Sampaio1

Ivanna Pequeno dos Santos2

RESUMO:

O presente artigo tem como objetivo fazer uma abordagem das principais políticas públicas de

recursos hídricos, desenvolvidas atualmente no Brasil e, especificamente, no Estado do Ceará.

Com esse intuito, pretende-se estudar a legislação vigente, sob o enfoque do direito de acesso

à água potável, enquanto direito humano fundamental reconhecido pela ONU. Verificar-se-á

se os fundamentos e instrumentos utilizados nas políticas públicas estão garantindo a efetiva

realização do direito à água. A água não se limita somente a um recurso fundamental para a

vida. Não se pode descaracterizar o valor econômico, como um recurso finito. É sobre esse

fundamento que se fará a análise das atuais políticas públicas, verificando se estas atentam

para todas as qualidades da água, e quais as prioridades estabelecidas, a fim de garantir a

necessária quantidade de água para as atuais e futuras gerações. A metodologia adotada no

artigo foi a pesquisa bibliográfica de natureza exploratória.

Palavras-chave: Recursos Hídricos. Políticas Públicas. Estado do Ceará. Efetividade. Acesso

à água.

ABSTRACT: The present article has for objective to make an approach of the hydric resources' main

public policies currently developed in Brazil, and specifically, in the state of Ceará. With this

intention, we intend to study the current legislation from the standpoint of the right of access

to drinking water as a fundamental human right recognized by the UN. It will be examined

whether the fundamentals and instruments used in public policy are ensuring the effective

realization of the right to water. The water is not limited only to a basic resource for life. We

can’t to withdraw its economic value, as a finite resource. It is on this fundamental that will

analyze the current public policies, making sure that they pay attention to all the qualities of

water, and what the priorities established to ensure the necessary amount of water for present

and future generations. The methodology used in the article was the bibliographic research of

an exploratory nature.

Keywords: Hydric Resources. Public Policies. State of Ceará. Effectiveness. Water access.

1Graduando em Direito pela Universidade Regional do Cariri – URCA; bolsista do PIBIC-

URCA; membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Direitos Humanos Fundamentais –

GEDHUF. [email protected]. (88) 997140554. 2 Mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza; professora assistente do

curso de Direito da Universidade Regional do Cariri – URCA; membro do Grupo de Estudos

e Pesquisas em Direitos Humanos Fundamentais - GEDHUF. [email protected] (88)

999592675.

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186

1. INTRODUÇÃO

A água é um recurso natural finito e de suma importância para toda a vida na Terra.

É um bem universal que deve ser usado de forma racional, visando ao futuro das próximas

gerações. Diante de suas múltiplas utilidades, a água vem sendo explorada de forma irracional

e descontrolada, ao longo do tempo, assim como outros recursos naturais. O ser humano não

tinha a concepção finita da água, devido à demanda que era inferior, se comparada ao quadro

atual.

Faz-se relevante destacar que aproximadamente 97% das águas do planeta

apresentam um alto grau de salinidade (água salgada, imprópria para o consumo), enquanto a

porção de água possuidora de um teor menor de sal (água doce) representa o restante de 3%,

desse percentual 2% encontram-se em estado sólido, e o restante de 1%, em estado líquido,

está, em sua grande maioria, depositado em reservatórios subterrâneos (aquíferos).

Diante desse cenário, percebe-se o quão escasso é esse recurso que, além de todas as

causas naturais que limitam o seu uso, vem sofrendo um intenso processo de poluição,

ocasionado pela ação humana, o que dificulta ainda mais a sua conservação. (VIEGAS, 2005,

p.24).

É para fins de conservar e garantir o acesso de todos à água potável que se faz

necessária a intervenção do Estado, o qual atuará diretamente no consumo e exploração dos

recursos hídricos, através da instituição de políticas públicas. Antes de adentrar-se no estudo

das políticas públicas voltadas para os recursos hídricos, é necessário, primeiramente, uma

abordagem geral do conceito de políticas públicas, a maneira como são formuladas e os

instrumentos que as compõem.

Historicamente, a aplicação de políticas públicas estava relacionada com a

efetividade de determinados direitos que não poderiam vir a existir, por meio da omissão do

Estado – como ocorrem com os direitos de liberdade, conhecidos como direitos de primeira

dimensão. Com o advento de outra categoria de direitos, os direitos sociais, também ditos

direitos de segunda dimensão, uma nova etapa dos direitos fundamentais se firma.

Diferentemente dos direitos de primeira geração, que são direitos que visam a proteger a

individualidade de cada pessoa, por meio de limitações à arbitrariedade do Estado, os direitos

sociais surgem para garantir a igualdade entre os povos, para que todos tenham o acesso a

uma vida digna e aos mesmos pontos de partida.

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187

A atual Constituição Federal do Brasil contempla dois conceitos de igualdade aos

seus cidadãos, sendo um a igualdade formal, que busca assegurar a todos um tratamento

isonômico, diante da lei, conforme o art. 5º, I; e de outro lado tem-se a igualdade material,

que garante igualdade do ponto de partida, ou seja, igualdade no acesso aos direitos sociais,

como educação, moradia, lazer. Estes direitos, por sua vez, necessitam de políticas públicas

para serem efetivados, pois de nada adianta um direito estar positivado na Constituição, se

não há uma ação concreta que possibilite a sua realização, ficando somente no plano das

intenções. (CASADO FILHO, 2012, p.107).

Saliente-se que o fundamento de uma política pública não é somente um direito

social, visto que existem diferentes exemplos de atividades que se fundamentam num conceito

de desenvolvimento, as quais não se inserem na realização de direitos sociais, mas também

necessitam de uma política pública para serem realizadas. Isso, entretanto, não quer dizer que

sejam atividades desvirtuadas do interesse social, muito pelo contrário, a política de

desenvolvimento visa a uma elevação do nível de vida e, consequentemente, da qualidade de

vida da população, o que interfere diretamente no contexto social.

Diferentemente dos direitos de liberdade, os direitos sociais, econômicos e culturais

precisam do empenho ativo do Estado para se manifestar. Desde as Emendas Constitucionais

nº 26, de 2000, e nº 64, de 2010, a Constituição Federal passou a incluir os direitos à moradia

e alimentação, respectivamente, no rol de direitos sociais, lembrando que a ação do Estado

não se limita aos direitos sociais, mas que a sua principal função é promover o bem-estar da

sociedade. Para que isso aconteça, entretanto, o Governo precisará desenvolver um conjunto

de ações e atuar diretamente em diversas áreas. Esse conjunto de ações desenvolvidas pelo

Estado é definido como uma Política Pública.

Para este estudo far-se-á uma breve análise das principais políticas e programas

implantados no território cearense, tentando extrair as informações mais importantes e aquelas

que se correlacionam com a política Nacional.

Assim, primeiramente se fará uma abordagem geral do conceito e formulação de

políticas públicas, e como estas atuam na área de recursos hídricos. Subsequentemente, será

feita uma análise dos principais pontos da Política Nacional de Recursos Hídricos, destacando

os instrumentos da outorga de direitos e da cobrança dos usos de recursos hídricos. Em

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seguida, tratar-se-á da Política Estadual de Recursos Hídricos do Estado do Ceará,

estendendo-se ao estudo de alguns programas pontuais do governo.

Por fim, verificar-se-ão alguns avanços e conquistas das referidas políticas públicas e

programas, bem como os resultados que foram alcançados, desde as suas implantações. Será

possível verificar se estão atuando de forma efetiva, no contexto sócio-político atual, além de

saber se o acesso à água vem sendo realmente garantido aos cidadãos.

Como o tema “água” é assaz abrangente, o escopo deste trabalho limitar-se-á às

águas doces, sem exame direto das águas marítimas e minerais, devido às suas peculiaridades.

Os termos água e recursos hídricos serão usados como sinônimos, assim como o faz parte da

doutrina e legislação brasileira.

2. O CONCEITO DE POLÍTICA PÚBLICA

As Políticas Públicas são instrumentos de ação do Governo e estão intrinsecamente

relacionadas com a atividade administrativa. Quando um governo assume a gestão de um

município, por exemplo, a primeira coisa que se busca fazer é verificar os anseios da

população, qual a necessidade dela e, a partir daí, estabelecer as prioridades a serem

desenvolvidas, ao longo do mandato, a fim de atender ao máximo possível de carências. O

governo, conjuntamente com o povo, desenvolve o interesse social em dado momento, pois

este não é algo pré-estabelecido, é mutável e seu processo de transformação é constante.

Devido ao caráter mutável do interesse público, a formulação de uma política pública deve

passar por algumas etapas fundamentais para o seu efetivo desempenho.

Esse processo é chamado de Ciclo das Políticas Públicas e se inicia com a seleção

das prioridades, pois é impossível que o agente público se concentre em resolver todos os

problemas existentes, visto que são abundantes - lembrando que as políticas devem ter um

objeto determinado e um tempo certo. Na escolha das prioridades são analisadas questões

relevantes para o contexto social que se passa no momento; eventos simbólicos ou até mesmo

resquícios de políticas passadas que apresentaram alguma falha, as quais podem ser

aprimoradas. Tudo isso depende do interesse político somado à manifestação da população e à

visão de que as consequências de certo problema podem custar mais caro do que a solução

dele. Selecionadas as prioridades, serão definidas as linhas de ação, as atitudes que podem ser

tomadas, as devidas soluções cabíveis. É nesse momento que são definidos os objetivos e as

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diretrizes da política pública, bem como os programas que serão implementados juntamente

com ela. Posteriormente, segue-se para o processo em que são tomadas as decisões, definindo

recursos, prazos, dentre outras providências. (LOPES, 2008, p. 10).

Todas as escolhas serão expressas, através da legislação, por meio de normas,

decretos, leis e outros. Dessa forma, o poder Legislativo atua diretamente no processo de

formulação, discutindo os temas polêmicos e as diferenças ideológicas de pensamento, pois

não é raro uma política pública passar por resistência de alguns segmentos representantes da

população. A legislação instituirá oficialmente a política, sendo posteriormente publicada.

Logo após, começa a etapa principal, que fica a encargo do poder Executivo, o qual irá pôr

em prática as opções expressas na legislação. Nessa mesma etapa, inicia-se uma atividade de

avaliação dos resultados atingidos e consequências causadas, após a instituição da política, o

que irá contribuir para futuros ajustes que irão demandar novas decisões.

Pode-se salientar que as políticas públicas visam a atingir determinados fins e para

isso podem demandar a formação de outras políticas que serão meios para se alcançar o

objetivo almejado. Por exemplo, no tocante aos recursos hídricos, a finalidade de uma política

pode ser o acesso à água potável para todos os cidadãos de uma determinada localidade. Para

tanto, terão que ser implementadas outras medidas de menor escala, mas de mesma

importância para se chegar à finalidade, como a construção de estações de tratamento de água

e esgoto, que fazem parte de uma política de infraestrutura. Ou seja, a criação de uma política

principal não exclui a possibilidade de criação de outras inferiores que servirão de sustentação

da superior, como meios para se chegar ao resultado final. Essa é uma distinção hierárquica,

que é bem retratada por Bucci, em que a execução de políticas de “fins” pressupõe a

formulação de políticas de “meios”. (BUCCI, 1997, p. 95).

3. A POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

Como já mencionado, as políticas públicas objetivam concretizar direitos, atuando

diretamente em atividades que agem no meio social, contribuindo para o desenvolvimento da

região na área econômica, cultural e, de igual modo, na ambiental, a fim de melhorar a

qualidade de vida da população. Nessa perspectiva é que se encontram enquadrados os

recursos hídricos, dada a sua importância tanto como fator fundamental para a vida, como

pelo seu relevante valor econômico. Em tal contexto, fez-se necessária a criação de uma

Política que pudesse abranger a proteção dos recursos hídricos, ao mesmo passo que

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possibilitasse o acesso da população a água potável de qualidade, sem descaracterizar o seu

caráter econômico.

Uma política de recursos hídricos deve se destinar a proporcionar o acesso igualitário

à água, bem como os meios para que ela seja usada de forma econômica e racional, evitando o

desperdício, sempre priorizando atender às necessidades vitais do ser humano, em detrimento

das diversas outras atividades que demandam o consumo do recurso hídrico. Foi justamente

sobre esses fundamentos que, no dia 9 de janeiro de 1997, foi publicada no Diário Oficial da

União a lei nº 9.433 que instituí a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), bem como

o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (SINGREH), visando a cumprir

o que estava previsto no art. 21, XIX, da Constituição Federal de 1988.

A Lei nº 9.433/97 satisfaz a todos os requisitos de uma política pública, dispondo de

fundamentos, objetivos, diretrizes e instrumentos que viabilizem a sua implementação. A

referida lei é organizada em quatro títulos: da Política Nacional de Recursos Hídricos; do

Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; das Infrações e Penalidades; e das

Disposições Gerais e Transitórias. Para este trabalho iremos nos ater apenas ao Título I que

trata da PNRH.

Primeiramente, são estabelecidos os fundamentos (art. 1º, Lei nº 9.433/97), sobre os

quais será baseada a política de recursos hídricos, que inova, ao dispor expressamente que a

água é um bem de domínio público. Assim, primeiramente, se estabelece o preceito da

dominialidade pública da água, revogando tacitamente regra presente no Decreto nº 24.643/34

(Código de Águas), que admitia a figura das águas particulares, adequando-se ao texto

constitucional que atribui a dominialidade da água à União e aos Estados:

Art. 20. São bens da União:

[...]

III – os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que

banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a

território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as

praias fluviais; [...]

Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:

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I – as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito,

ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União; [...]

O Código de Águas, em seus primeiros artigos, classifica a água como pública,

comum e particular. Com o advento da Lei da Política Nacional dos Recursos Hídricos, essa

norma foi totalmente modificada, de forma que não se admite mais a existência de águas

particulares no ordenamento jurídico brasileiro.

O legislador não se esqueceu de atribuir valor econômico à água e como segundo

fundamento da PNRH, dispõe que a água é um recurso natural, limitado e dotado de valor

econômico, razão pela qual se admite a cobrança pelo seu uso.

Em relação às legislações anteriores, pode-se dizer que houve um retrocesso no que

tange ao uso prioritário da água. Um dos fundamentos da política hídrica é o uso múltiplo das

águas e que, somente em situações de escassez, esta seria usada, de forma prioritária para o

consumo humano e dessedentação de animais, de forma contrária ao que está explícito no

Decreto nº 24.643/34, o qual dispõe em seu art. 36, § 1º, que, em qualquer hipótese, a

preferência à derivação das águas públicas será para o abastecimento das populações.

Outra inovação, que a PNRH trouxe, foi a adoção da bacia hidrográfica como

unidade territorial de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e a atuação

do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, o que pode implicar o

gerenciamento compartilhado, visto que uma bacia pode abranger mais de um Estado. Por

fim, tem-se a gestão descentralizada dos recursos hídricos, que inclui a participação do poder

público nas decisões que são tomadas, sendo os Comitês de Bacia (integrantes do SINGREH)

um dos meios para garantir o acesso da população às deliberações da sua respectiva bacia

hidrográfica.

Entre os objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos estão os de assegurar à

atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidades

adequados aos seus respectivos usos; e a utilização racional e integrada dos recursos hídricos,

bem como a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de causa natural ou

decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais. (Art. 2º da Lei nº 9.433/97).

Com a finalidade de cumprir os seus princípios ou objetivos, a PNRH estabelece, em

seu art. 5º, os instrumentos que de fato irão viabilizar a sua implementação e o gerenciamento

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dos recursos hídricos. Como instrumentos, têm-se: os Planos de Recursos Hídricos; o

enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água; a

outorga dos direitos a uso de recursos hídricos; a cobrança pelo uso de recursos hídricos; a

compensação a municípios (o qual teve a sua seção revogada) e o Sistema de Informações

sobre Recursos Hídricos.

Dispostos no art. 6º da lei nº 9.433/34, os Planos de Recursos Hídricos são planos

diretores que visam a fundamentar e orientar a implementação da PNRH e o gerenciamento

dos recursos hídricos. Os Planos são elaborados, prioritariamente, por Bacia Hidrográfica, já

que esta foi a unidade territorial adotada pela Política Nacional. Podem ser ainda elaborados

por Estado ou pela União, devendo sempre o primeiro integrar-se às prioridades estabelecidas

pelos Planos de Recursos Hídricos de bacia hidrográfica.

O enquadramento dos corpos de água em classes está elencado como segundo

instrumento da PNRH, que objetiva estabelecer patamares de qualidade relacionados com os

seus usos pretendidos e diminui os custos de combate à poluição das águas, mediante ações

preventivas. Esse enquadramento dos corpos de água em classes assegura que a água tenha a

qualidade compatível com o uso que lhe for dado, estando, portanto, intrinsecamente

relacionado com o instrumento de outorga. A lei dispõe que cabe à legislação ambiental

estabelecer as classes de águas, a qual foi feita através da Resolução nº 357/05, expedida pelo

Conselho Nacional de Meio Ambiente. (Art. 9º e art. 10 da lei 9.433/97).

Diante da escassez dos recursos hídricos, muitos países optaram por tornar público

esse recurso ambiental, a fim de geri-lo melhor, como é o caso do Brasil. Nesse cenário, a lei

nº 9.433/97 instituiu a outorga dos direitos a uso de recursos hídricos, visando a assegurar o

controle quantitativo e qualitativo dos usos das águas e o efetivo exercício dos direitos de

acesso à água (art. 11). Segundo Gasparinni, a outorga “[...] é o que permite à administração

pública atribuir a quem o requerer um direito. [...] Desse processo são exemplos os que têm

por objeto a concessão de serviço público e a permissão de uso de bem público”, no caso, dos

recursos hídricos. (GASPARINNI, 2010, p. 1075).

É por meio da outorga que o Poder público atribui ao interessado, seja ele público ou

privado, o direito de utilizar privativamente o recurso hídrico, fixando as condições e limites

para o seu uso. Vale lembrar que a outorga não é uma inovação da PNRH, pois o Código de

Águas já disciplinava a “derivação” dos recursos hídricos no seu Capítulo IV, nos arts. 43 a

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52. O art. 12 da Lei nº 9.433/97 elenca os usos de recursos hídricos, que estarão sujeitos à

outorga, sendo eles os seguintes:

I – derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para

consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo;

II – extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de

processo produtivo;

III – lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou

gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;

IV – aproveitamento dos potenciais hidrelétricos

V – outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente

em um corpo de água.

Segundo o art. 13 da referida lei, todas as outorgas estarão condicionadas às

prioridades de uso estabelecidas nos Planos de Recursos Hídricos e deverá respeitar a classe,

em que o corpo de água estiver alocado, e a manutenção de condições adequadas ao

transporte aquaviário, quando for o caso, além de que o ato de outorga também deverá

preservar o uso múltiplo das águas. Cabe ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos

(CNRH) estabelecer quais os critérios para que se possa efetivar a outorga, a qual será

realizada por meio de ato da autoridade competente, que dependerá da dominialidade do

corpo de água onde está enquadrado (União, Estado ou DF). Pode ainda o poder Federal

delegar aos Estados e ao Distrito Federal competência para conceder outorga de direito ao uso

dos recursos hídricos, desde que estes sejam de domínio da União.

Poderá haver suspensão parcial ou total da outorga, em definitivo ou por prazo

determinado, quando se verificar: o descumprimento dos termos da outorga pelo outorgado; o

desuso do recurso hídrico concedido, por três anos consecutivos; em casos de necessidade em

que o Poder público terá que atender a situações de calamidade, incluindo as que decorrem de

condições climáticas adversas (como longos períodos de seca, em regiões pouco habituadas

com esse clima), ou a necessidade de se prevenir ou reverter grave dano ambiental decorrente

da degradação. Pode ainda haver suspensão com a finalidade de atender a usos prioritários de

interesse coletivo, para os quais não se disponha de fonte alternativa, ou mesmo para manter

as características de navegabilidade do corpo de água. Resolução expedida pelo CNRH – nº

16/2001 – determinou a inexistência do direito a indenização, pela suspensão da outorga, nos

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casos previstos na lei nº 9.433/97, visto que esta decorre ora por negligencia do outorgado,

ora por supremacia do interesse público, lembrando que o uso desses recursos, para qualquer

finalidade que seja, sem a respectiva outorga, implicará as penalidades previstas na legislação,

salvo nos casos que se considerem insignificantes (art. 12, § 1º).

Portanto, a outorga é um meio eficaz de promover o controle qualitativo e

quantitativo dos usos dos recursos hídricos. Esse instrumento está diretamente vinculado com

outro instituído na PNRH, a cobrança pelo uso de recursos hídricos (Art. 5º, IV). “A cobrança

está atrelada à outorga de uso dos recursos hídricos. Desse modo, a outorga é o instrumento

antecedente e indispensável à viabilização da cobrança legalmente instituída”. (VIEGAS,

2005, p. 107).

A Cobrança pelo uso de recursos hídricos se justifica pelo valor econômico que é

atribuído à água, juntamente com o seu fator de escassez, e torna-se uma forma eficaz de

racionalizar o seu uso, fazendo com que o usuário reconheça o seu valor. Entretanto não se

deve confundir a cobrança pelo uso de recursos hídricos outorgados com o serviço de

saneamento básico, que a maioria dos cidadãos paga, visto que o segundo consiste apenas no

tratamento da água, um serviço de abastecimento.

Outro objetivo importante da cobrança é obter recursos financeiros para o

financiamento dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos.

Os valores arrecadados serão aplicados, prioritariamente, na bacia em que foram gerados. O

poder público faz-se presente na fixação dos valores, pois esta passa pela aprovação das

agências de água, dos comitês de bacia hidrográfica e pelos conselhos de recursos hídricos.

O Brasil não inova no que tange à cobrança pelo uso de recursos hídricos. Alguns

países, como os Estados Unidos, Alemanha, França, México, dentre outros, já adotaram esse

modelo de controle, que visa a estimular o pensamento racional no uso da água. O Brasil é

privilegiado, quando se trata de potencial hídrico. Possui o Rio Amazonas, o maior rio do

mundo, além de imensos aquíferos. A problemática está na distribuição de água potável e na

conscientização dos usuários, quanto ao seu uso.

Ressalte-se que a cobrança pelo uso dos recursos hídricos não implica a limitação do

acesso à água, pois aqueles que não apresentam condições de pagar estão automaticamente

enquadrados no uso insignificante do recurso (Art. 12, § 1º), o qual dispensa a outorga que

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por sua vez, dispensa a cobrança. Só haverá cobrança, nos casos em que se fizer obrigatória a

outorga.

Finalmente, como último instrumento utilizado pela PNRH, tem-se o Sistema de

Informações sobre Recursos hídricos, o qual consiste em um sistema de coleta, tratamento,

armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos e fatores intervenientes

em sua gestão (art. 25).

4. POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA RECURSOS HÍDRICOS NO ESTADO

DO CEARÁ

Antes de tratarmos propriamente da legislação estadual, dentre outros programas

instituídos pelo governo, cabe explicar um pouco acerca da dominialidade dos recursos

hídricos e da competência legislativa atribuída aos Estados.

A Constituição Federal de 1988 elenca, no seu art. 20, III, as águas que compõem os

bens da União, a fim de melhor gerenciá-las e evitar conflitos entre os Estados, tomando para

si águas fronteiriças e compartilhadas. No art. 26, I, da CF/88, são expressos os bens dos

Estados que incluem as águas em seu domínio específico. Na Constituição do Estado do

Ceará, mais precisamente em seu art. 19, se observa a seguinte disposição:

Art. 19. Incluem-se entre os bens do Estado:

I - os que atualmente lhe pertencem;

II - os lagos e os rios em terrenos de seu domínio e os que têm nascente e foz em seu

território;

[...]

Quanto à competência para legislar sobre os recursos hídricos, a Constituição Federal

estabelece, em seu art. 22, inciso IV, que é competência privativa da União legislar sobre as

águas. Entretanto, o parágrafo único do mesmo artigo abre um espaço para que, por meio de

Lei Complementar, a União autorize os Estados a legislarem sobre os recursos hídricos. Foi

sob essa autorização e sob a previsão do art. 326 da Constituição do Estado do Ceará que, em

1992, foi publicada a lei nº 11.996, que instituía a Política Estadual de Recursos Hídricos do

Estado do Ceará e o Sistema Integrado de Gestão dos Recursos Hídricos - SINGERH.

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Com o advento da Lei Federal nº 9.433/97, fez-se necessária a adequação da Política

Estadual aos parâmetros estabelecidos na Política Nacional. Então, no dia 30 de dezembro de

2010, foi publicada a Lei Estadual nº 14.844 que revoga expressamente a legislação anterior,

resguardando em muito os seus princípios, objetivos e diretrizes.

A mais recente Política Estadual de Recursos Hídricos é um pouco mais extensa do

que a lei federal, justamente por abordar cada tema, de forma minuciosa, além de dar a devida

atenção à regulamentação das águas subterrâneas e ao reuso das águas, reservando dois

capítulos exclusivos para isso. Fazendo um comparativo entre as leis federal e estadual, nota-

se, quanto aos objetivos, que a política do Estado do Ceará se volta para a gestão dos usos da

água, visando ao desenvolvimento social e econômico e ao equilíbrio com o meio ambiente.

Ressalta que a água é um recurso natural essencial à vida e que deve ser ofertada, controlada e

utilizada, em padrões de qualidade e de quantidade satisfatórios, por seus usuários atuais e

para gerações futuras. O seu terceiro objetivo engloba alguns dos que são retratados na lei

federal, como o uso múltiplo das águas e a gestão descentralizada e participativa.

Em relação aos princípios estabelecidos pela lei nº 14.844/2010, destaca-se o acesso

à água como um direito de todos (art. 3º, I), por tratar-se de um bem de uso comum do povo e

recurso natural indispensável à vida, à promoção social e ao desenvolvimento sustentável.

Segue a mesma linha da lei federal, ao adotar a bacia hidrográfica como unidade territorial de

gestão, além de reconhecer o valor econômico da água e instituir a cobrança pelo uso de

recursos hídricos, como meio fundamental para a racionalização de seu uso e sua

conservação.

A outorga também se faz presente nos princípios – e instrumentos – da lei cearense,

bem como a institucionalização do Sistema Integrado de Gestão de Recursos Hídricos

(SIGERH), que promove a gestão dos recursos em âmbito estadual, semelhante ao

SINGREH, no âmbito federal. Um dos grandes diferenciais principiológicos da Política

Estadual de Recursos Hídricos é a promoção da educação ambiental, justificando que esta é

fundamental para a racionalização, utilização e conservação dos recursos hídricos,

demonstrando mais uma vez a responsabilidade que teve o legislador em atentar para a

questão ambiental.

A Política Estadual de Recursos Hídricos adota praticamente os mesmos

instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, acrescentando dois incisos que

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instituem o Fundo Estadual de Recursos Hídricos – FUNERH e a fiscalização de recursos

hídricos (art. 5º, lei nº 14.844/2010). No que tange à outorga, instrumento de grande

importância para o controle dos usos de recursos hídricos, o Ceará foi mais além do que a lei

federal e regulamentou a outorga de execução de obras e/ou serviços de interferência hídrica

(art. 12), que será efetivada, através de ato administrativo de competência do Secretário dos

Recursos Hídricos do Estado do Ceará, no qual será outorgada a execução de obras ou

serviços que alterem o regime, quantidade ou a qualidade dos recursos hídricos.

O Fundo Estadual de Recursos Hídricos está descrito no art. 21, tem por finalidade

dar suporte financeiro à Política Estadual de Recursos Hídricos e será regido pelas normas

estabelecidas na Lei e em seu regulamento. Sua base de financiamento está disposta no art. 23

e conta, por exemplo, com recursos financeiros provenientes da União ou Estados vizinhos,

destinados à execução de planos e programas de recursos hídricos de interesse comum.

O artigo 14 da lei estadual descreve a fiscalização de recursos hídricos, um

importante instrumento para a efetividade da PERH. Essa fiscalização será exercida nas águas

superficiais e subterrâneas de domínio do Estado do Ceará, e terá por base os objetivos,

princípios e diretrizes estabelecidos na Lei, focando na orientação dos usuários, a fim de

assegurar o cumprimento da legislação de recursos hídricos e ambientais.

No decorrer dos demais artigos, a lei nº 14.844/2010 irá descrever cada instrumento,

além de outras providências, como a atuação do SIGERH e dos demais órgãos que o

compõem. Atualmente, o gerenciamento e disciplinamento de mais de 90% das águas

acumuladas no Estado são feitos pela COGERH (Companhia de Gestão dos Recursos

Hídricos), de forma descentralizada, integrada e participativa, conforme prevê a PERH. Estão

sob a administração da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos 153 dos mais importantes

açudes públicos estaduais e federais, além de reservatórios, canais e adutoras da bacia

metropolitana de Fortaleza. (COGERH, 2015).

5. PROGRAMAS E AÇÕES DESENVOLVIDOS NO ESTADO DO CEARÁ

Além da Política Estadual de Recursos Hídricos, existem outras legislações que

atuam diretamente nesse contexto. Os programas e ações são elaborados, em sua grande

maioria, pelo poder federal e executados em conjunto com a gestão estadual. Dentre os vários

programas existentes podem-se destacar dois, que possuem grande atuação no Estado do

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Ceará, e serão tratados especificamente. São eles: a Operação Carro Pipa e o Programa Água

para Todos, sendo o primeiro desenvolvido pelo Ministério da Integração Nacional, através da

Secretaria Nacional de Defesa Civil, em parceria com o Exército Brasileiro; e o segundo, pelo

Governo Federal em conjunto com os Estados. Ambos são fundamentais a fim de garantir o

acesso à água potável para a população que vive no semiárido brasileiro e tem de enfrentar

longos períodos de estiagem.

O Programa Água para Todos foi instituído pelo Decreto nº 7.535, publicado no

Diário Oficial da União, em 27 de julho de 2011, e tem por objetivo universalizar o acesso à

água, garantindo o amplo acesso desta às populações rurais que estão dispersas e em situação

de extrema pobreza. Esse programa é desenvolvido, através da construção de cisternas com

um sistema de coleta que armazena a água vinda da chuva. Sua utilização pode ser para o

consumo próprio, para a produção de alimentos ou para a criação de animais, visando a

possibilitar a geração de excedentes comercializáveis que poderão ampliar a renda familiar

dos produtores rurais.

Esse programa recebe apoio do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à

Fome (MDS), do Ministério do Meio Ambiente (MMA), da Fundação Nacional de Saúde

(FUNASA), da Fundação Banco do Brasil (FBB), do Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES), da PETROBRAS, da Companhia de Desenvolvimento dos

Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF), do Departamento Nacional de Obras

Contra as Secas (DNOCS), da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

(SUDENE) e dos Estados. Vale lembrar que o programa tem abrangência nacional, mas se

iniciou pela região do semiárido, que inclui o Ceará.3

A Operação Carro Pipa surgiu de uma parceria entre o Ministério da Integração e o

Exército Brasileiro. Foi oficializada através da Portaria nº 01/MI/MD, publicada no Diário

Oficial da União, em 25 de julho de 2012. O projeto visa à distribuição de água potável à

população situada nas regiões afetadas pela seca ou estiagem, especialmente no semiárido

nordestino e Norte de Minas Gerais. A execução do programa, incluindo contratação, seleção,

fiscalização e pagamento dos pipeiros, é de responsabilidade do Comando de Operações

3 Informação retirada do site do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Disponível

em: <http://www.mds.gov.br/falemds/perguntas-frequentes/superacao-da-extrema-pobreza%20/inclusao-

produtiva-rural/agua-para-todos>. Acesso em: 29 jun. 2015.

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Terrestres do Exército Brasileiro (COTER). Essa operação tem ajudado inúmeras famílias que

sobrevivem apenas com água distribuída pelo programa, triste realidade que muitos

brasileiros desconhecem existir, chegando, em alguns casos, a se comparar com a realidade

vivida em países subdesenvolvidos, como ocorre na grande maioria do continente africano.

6. EFETIVIDADE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE RECURSOS HÍDRICOS

Em documento publicado, em 2011, pelo Ministério do Meio Ambiente, foi feito

levantamento das prioridades que seriam estabelecidas para os anos seguintes, apontando as

dificuldades que a implementação da PNRH enfrentava. O texto diz o seguinte:

Pode-se observar que neste primeiro período avaliado da implementação do PNRH,

quatro fatores apresentam-se como limitadores ao efetivo progresso esperado:

• dificuldades na montagem do arranjo institucional e da máquina necessária para a

coordenação e acompanhamento da implementação do PNRH;

• falta de alinhamento dos atores estratégicos na condução das atividades mínimas

necessárias;

• baixa velocidade de partida, fato peculiar na fase de arrancada dos programas; e

• finalização do detalhamento de alguns programas entre 2007 e 2009, ao longo do

período da implementação do PNRH. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE –

MMA, 2011).

Uma das causas apontadas para o retardamento do progresso esperado foi a

fragmentação do procedimento de implementação. Houve uma nítida falta de integração dos

atores participantes da política, requisito presente nos fundamentos da Lei nº 9.433/97.

Posteriormente, durante o XII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste, que

ocorreu na cidade de Natal-RN, em 2014, Ubirajara Patrício Álvares da Silva, gerente de

Gestão Participativa da COGERH – CE, na época, discutiu juntamente com outros

convidados os avanços, conquistas, e também dificuldades, na execução da Política Nacional

de Recursos Hídricos, até o presente ano.

Dentre vários pontos abordados, os principais mostraram que a Política Nacional de

Recursos Hídricos vem construindo uma condição favorável à gestão da água, apesar de ser

relativamente nova, com 17 anos, na ocasião, o que seria um período curto para a plena

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realização de uma política pública. Mostrou-se também que vários Sistemas de Gestão de

Recursos Hídricos Estaduais são pouco estruturados, muitos deles por estarem priorizando

outras demandas sociais, afetando consequentemente a efetividade da gestão, pois, segundo

Ubirajara, “onde a Gestão Estadual é mais efetiva, também é mais efetiva a Gestão Federal”.4

Quanto aos programas Água para Todos e Operação Carro Pipa, um balanço

publicado pelo Ministério da Integração, juntamente com o Ministério da Defesa Social,

mostrou que até o mês novembro de 2014, cerca de 183.933 (cento e oitenta e três mil,

novecentas e trinta e três) cisternas foram construídas por todo o território cearense, enquanto

126 (cento e vinte e seis) municípios foram contemplados com a Operação Carro Pipa que, até

dezembro de 2014, havia contratado mais de 1.220 (mil duzentos e vinte) pipeiros, mostrando

um notável desenvolvimento no setor de distribuição de águas à população, e a real efetivação

do direito de acesso à água. (COTER/MD e CENAD/MI, 2014)5.

7. CONCLUSÃO

O acesso à água potável de qualidade é direito humano fundamental, reconhecido

pela Organização das Nações Unidas (ONU), por ser extremamente necessário à preservação

e manutenção da vida, estando a água intimamente relacionada com a dignidade da pessoa

humana. Além de políticas que regulamentem o seu uso, precisamos de políticas que

garantam, acima de tudo, o efetivo acesso da população a este recurso natural.

Desde o século XX, com a queda na atenção dada à exploração de matrizes de

energia, como o petróleo, passou-se a dar devida atenção à água, percebendo que esta é um

recurso finito e está cada vez mais escassa, exigindo a implementação de políticas e

regulamentos que controlem o seu uso, a fim de garantir a necessária disponibilidade de água

à atual e às futuras gerações. Entretanto, a tendência é que a água se valorize ainda mais, a

ponto de que, em tempos futuros, este seja o bem mais cobiçado da humanidade, se já não o

for.

4 Apresentações disponíveis no site do XII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste. Disponível em:

<http://www.abrh.org.br/xiisrhn/apresentacoes.php>. Acesso em 29 jun. 2015.

5 Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/observatoriodaseca/operacao-carro-pipa.html>. Acesso em 30 jun.

2015.

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Ainda não se tem expressamente, no ordenamento jurídico brasileiro, nenhum

documento que enquadre a água como um direito humano fundamental, apesar de já estar

enquadrada como tal, de forma implícita. Alguns documentos ainda priorizam o seu caráter

econômico, em detrimento da sua importância para o uso humano, e isto é notável, quando

comparamos a lei federal nº 9.433/97 com a lei estadual do Ceará, nº 14.844/2010; a primeira

trata, de forma muito singela, do direito de acesso à água, enquanto a segunda assume,

repetidamente, em seus princípios, objetivos e diretrizes, que esse recurso é bem de uso

comum essencial à vida, e o seu acesso é direito de todos.

Percebe-se que a evolução das políticas públicas que envolvem os recursos hídricos

dá-se de modo gradual, estando estas ainda em processo de consolidação e com muitos

desafios a superar. Muitas conquistas já foram alcançadas, mas o objetivo esperado ainda está

por vir. Pois espera-se que, no futuro, a população possa ter o mínimo de água suficiente para

uma vida digna. Entretanto, as previsões não são nada favoráveis. A tendência é que o quadro

de escassez se agrave, a cada ano, em virtude do grande crescimento populacional que se

desenvolve em progressão geométrica, enquanto os recursos, que são limitados, continuam a

ser desperdiçados, ou mesmo utilizados inadequadamente.

O reconhecimento do acesso à água como direito de todos, torna-se então uma

questão de preservação da própria existência humana, a ponto de, conflitos que

hodiernamente surgem por conta de territórios e matrizes energéticas, acontecerem

futuramente, por conta da mais inestimável riqueza de toda a história da humanidade, a Água.

Referencias

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<http://www.mi.gov.br/web/guest/entenda-o-programa>. Acesso em: 29 jun. 2015.

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Disponível em: <http://www.mds.gov.br/falemds/perguntas-frequentes/superacao-da-

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março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Diário Oficial da

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