elza dias pacheco

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - Escola de Comunicações e Artes Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação Área: Interfaces Sociais da Comunicação Linha: Educomunicação Disciplina: Educomunicação – Fundamentos, Áreas e Metodologias Prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares ELZA DIAS PACHECO Autoras Carla Daniela Rabelo Rodrigues Carolina Escobar Paula Hernandes Barrozo Renata Yumi Shimabukuro Sumário 1. Introdução......................................................... .....................................4 2. Idéia Força ............................................................. ................................5 3. Trajetória ........................................................ .......................................5 4. Criação do LAPIC.............................................................. ........................9 5. Televisão, criança e imaginário............................................................ ......11 3

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Page 1: Elza dias pacheco

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - Escola de Comunicações e Artes

Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação

Área: Interfaces Sociais da Comunicação

Linha: Educomunicação

Disciplina: Educomunicação – Fundamentos, Áreas e Metodologias

Prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares

ELZA DIAS PACHECO

Autoras

Carla Daniela Rabelo Rodrigues

Carolina Escobar

Paula Hernandes Barrozo

Renata Yumi Shimabukuro

Sumário

1. Introdução..............................................................................................4

2. Idéia Força .............................................................................................5

3. Trajetória ...............................................................................................5

4. Criação do LAPIC......................................................................................9

5. Televisão, criança e imaginário..................................................................11

5.1 Metodologia.................................................................................11

5.2 Conclusões e Resultados................................................................12

6. O desenho animado na Tevê: mitos, símbolos e metáforas............................13

6.1 Metodologia.................................................................................13

6.2 Os cinco desenhos mais citados......................................................14

6.3 Conclusão: a criança e a noção de violência.....................................15

7. Lapic e NCE............................................................................................16

8. O Lapic hoje ..........................................................................................19

9. Orientandos............................................................................................20

10. Considerações Finais..............................................................................21

11. Referências...........................................................................................23

1) INTRODUÇÃO

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Page 2: Elza dias pacheco

Para percorrer a história acadêmica e profissional da

Professora Elza Dias Pacheco é preciso, antes de tudo,

reconhecer – com a pesquisadora – a condição de sujeito

atribuída à criança, com identidade formada, para, somente

então, desvendar, sem pré-julgamentos, o universo infantil:

“Para conhecer a criança não adianta lermos livros de

Psicologia, de Psicanálise, ou de qualquer das outras ciências

humanas.

Precisamos, antes, conhecê-la nos vários lugares onde se encontra, em seus

vários espaços, os mais diferentes possíveis, nos vários tempos de sua vida”,

comenta Pacheco no vídeo “O LAPIC conta a sua história”1. Esta idéia, na verdade,

passou a representar a essência do trabalho da fonoaudióloga, pedagoga,

psicóloga, comunicadora e, por que não dizer também, educomunicadora!

Buscamos, neste trabalho, traçar a trajetória de uma pesquisadora

determinada, que trouxe muitas contribuições para os estudos sobre a infância que

qualquer outro pesquisador da ECA-USP. A elaboração deste artigo teve sua base

estabelecida em algumas de seus depoimentos e publicações e, principalmente,

nas palavras do professor Claudemir Edson Viana2, seu orientando no mestrado e

no doutorado.

2) IDÉIA FORÇA1 Vídeo produzido em VHS pelo LAPIC no ano de 2004, a fim de preservar a memória do núcleo de pesquisas. 2 - Após a aposentadoria da Profa. Elza Pacheco, seus orientandos, preocupados em dar seguimento às pesquisas iniciadas pelo LAPIC (Laboratório de pesquisa sobre Infância, Imaginário e Comunicação), trabalham voluntariamente para a manutenção do núcleo e na prestação de serviços a professores da rede pública de ensino e a ONGS ligadas à questão da infância. Na Entrevista que nos concedeu, com o consentimento da Profa. Elza, Claudemir Viana enfatiza toda a trajetória acadêmica de Pacheco, através de suas produções, a fundação do núcleo de pesquisa, a relação com o NCE (Núcleo de Comunicação e Educação), as metodologias das pesquisas desenvolvidas, e, por fim, a relação com a Educomunicação. Viana, além das formações em História e Pedagogia, começou a atuar na área de comunicação quando iniciou sua terceira graduação, em Rádio e TV na ECA/ USP. Na época, já atuava como professor de história para o Ensino Fundamental e Médio. A experiência no âmbito escolar foi um fator importante para que recebesse o convite de Elza Dias Pacheco para integrar o núcleo de pesquisa como projeto de iniciação científica. Na época, o LAPIC precisava de um pesquisador apto para analisar 700 falas de crianças sobre a televisão e a maneira como o meio atuava junto ao imaginário delas. O envolvimento na primeira pesquisa integrada do núcleo, “Televisão, Criança e Imaginário: contribuições para a integração escola, universidade e sociedade”, em 1996, o levou a trancar o curso de graduação em Rádio e TV e se candidatar a uma vaga de mestrado sob a orientação da Professora Elza, na linha de pesquisa em Comunicação e Educação. Nesse mesmo campo, desenvolveu seu doutorado – “O lúdico e a aprendizagem na cibercultura: jogos digitais e internet no cotidiano infantil“ - concluído em 2005. Claudemir é autor da primeira dissertação de mestrado que trabalha o conceito de Educomunicação no Brasil, sob o título: “O Processo Educomunicacional: a mídia na escola”, defendida em 2000. Atualmente, Viana é diretor da Faculdade Montessori (FAMEC) e ministra palestras em nome do LAPIC, como forma de divulgar o trabalho iniciado pela professora Elza Dias Pacheco. Nesse sentido, traçou um painel do pensamento da profa. Elza e de sua trajetória profissional, destacando seu papel no desenvolvimento de trabalhos cujo tema central é a relação da criança com o conteúdo televisivo.

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Page 3: Elza dias pacheco

Dentre os temas de pesquisa na área hoje denominada de educomunicação,

no programa de pós-graduação da ECA/USP, destaca-se o pioneirismo da professora

Dra. Elza Dias Pacheco ao tratar da recepção infantil, trazendo a criança e sua

programação favorita, em especial os desenhos animados, para o centro das

discussões acadêmicas sobre mídia e educação.

Contrária ao senso comum habituado a subestimar a capacidade de

discernimento da criança diante da televisão, Pacheco foi precursora ao considerar

a criança um sujeito com vontade própria, consciente da programação que escolhe

para assistir e totalmente pronta para re-elaborar os conteúdos televisivos dirigidos

a ela ou não. Esta foi sua idéia-força. Segundo Viana, Pacheco considera que “a

criança recria os significados segundo seus desejos e necessidades, assim como

segundo os interesses de conhecimento que ela tenha no momento da recepção. A

criança sabe se defender. Ela mesma sabe o que fazer, escondendo, por exemplo, o

rosto, sempre que a programação for incompatível com a motivação que ela tenha

para continuar assistindo a programação. A criança é mais sábia do que nós. Ela

sabe o que assiste, por que assiste, e para que assiste, o que ela retira e o que ela

recria de tudo que assiste”. Para Claudemir Viana, foi com esta segurança que a

Profa Elza Pacheco, fundou o LAPIC – Laboratório de Pesquisa sobre Infância,

Imaginário e Comunicação, em 1994, contribuindo não só para o início, mas

principalmente com a continuidade dos estudos sobre a relação entre criança e

televisão.

3) TRAJETÓRIA

Elza Dias Pacheco nasceu na cidade de São Paulo, no dia 29 de dezembro de

1928. Iniciou-se na leitura com o livro “O patinho feio”, descobrindo, assim, ainda

menina, a literatura infantil. Estudou para ser professora primária na Escola da

Praça. Foi lá que ocorreu seu primeiro contato com crianças e o início de seus

primeiros questionamentos sobre sua identidade, seu lugar no mundo e sua própria

carreira.

Nos anos 50, Pacheco ingressou no serviço público, prestou concurso para

trabalhar como Jardineira3 e como Recreacionista4 em parque infantil. E foi

aprovada nos dois, mas preferiu ser Jardineira por causa de seu maior interesse por

crianças pequenas.

3 Jardineira era a profissional que tomava conta das crianças de um a sete anos de idade.4 Recreacionista era a profissional que tomava conta das crianças de sete a oito anos.

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Page 4: Elza dias pacheco

Como não queria abandonar seus filhos, pois estava acostumada a ver no

parque infantil como as crianças sofriam com a ausência da mãe, Pacheco adiou o

início de sua carreira acadêmica. Mas nada a impediu que, nos anos 60, fizesse

especialização em Educação de Excepcionais e em Fonoaudiologia, na Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e, ainda na mesma universidade,

concluísse a graduação em Pedagogia.

Envolvida cada vez mais com o universo infantil, montou um consultório cujo

foco passou a ser o tratamento da Dislexia. Um tipo de distúrbio de linguagem, que

se manifesta tanto na linguagem oral quanto na linguagem escrita. E foi

exatamente a paixão pelo estudo da Dislexia que a levou a defender, em 1974, a

tese de mestrado intitulada “Incidência de erros disortográficos em crianças

alfabetizadas por diferentes métodos”, introduzindo-a inclusive na área da

Psicologia Social. Em paralelo, mais especificamente de 1973 a 1974, trabalhou

como professora adjunta da graduação em Psicologia, na Universidade

Presbiteriana Mackenzie, ministrando a disciplina Psicologia da Administração.

Professora nata, antes mesmo de concluir o mestrado, Pacheco JÁ ministrava

aulas de Psicologia da Comunicação na graduação da Escola de Comunicações e

Artes da Universidade de São Paulo. Por ser uma das primeiras professoras da

graduação e do programa de pós-graduação, recebeu um Voto de Louvor, em 1985,

por parte Conselho do Departamento de Comunicações e Artes da ECA-USP.

No início de sua carreira, simultaneamente à atuação acadêmica, Pacheco

continuou com o atendimento a crianças em seu consultório particular que

funcionava mais como um laboratório que a possibilitava observar e aprender mais

do relacionamento com as crianças. E foi exatamente em seu consultório que

começou a perceber o crescente interesse das crianças pela televisão, mais

precisamente pelos desenhos animados: “As crianças queriam falar do Pica-pau, do

Tom & Jerry e eu não conhecia essas figuras. Achava que era uma falha minha. Foi

assim que decidi fazer a tese de doutorado sobre aquilo que as crianças gostavam”.

Na verdade, a própria Pacheco ficou inquieta ao definir seu objeto de

pesquisa: “Eu fiquei contente quando o Pica-Pau foi escolhido pelas crianças,

porque eu pensava que era ‘O sítio do Pica-Pau amarelo´, e não era. Era o Pica-Pau

bichinho malandro. E por que elas gostavam? Porque o Pica-Pau é malvado, pica

todo mundo. Então, as crianças gostam do Pica-Pau, porque o Pica-Pau é mal em

defesa da sua propriedade, do que é seu. Ele luta com unhas dentes para defender

o que é seu. É um pensamento típico da sociedade capitalista”. Por isso, sua tese

de doutorado - na época, tema de estudo ainda inédito no Brasil -, chamou-se “Pica-

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Page 5: Elza dias pacheco

pau: herói ou vilão? Representação social da criança e reprodução da ideologia

dominante”.

Além do pioneirismo do tema, é importante chamar a atenção para os outros

dois aspectos inovadores da tese de doutorado defendida, em 1981, pela profa.

Elza: a pesquisa foi considerada o primeiro estudo de recepção televisiva tendo

como alvo o público infantil desenvolvida no Brasil e também revolucionou na

questão do método ao valorizar a criança como fonte de informação ao percebê-la

como sujeito.

Para se ter uma idéia da importância deste trabalho na vida de Elza Dias

Pacheco, ela mesma garante que, tanto a criação da linha de pesquisa

“Comunicação e Educação” no programa de pós da ECA quanto outros trabalhos e

observações sobre a relação TV e criança elaborados por outros autores foram

resultados práticos de sua pesquisa de doutorado.

Em fins da década de 80, por sempre manter suas preocupações advindas

do estudo da psicologia e da pedagogia, Elza assumiu trabalhos internos com os

estudantes da graduação. Assim surgiu o LAPEG - Laboratório de Apoio Pedagógico

aos Estudantes de Comunicação, que deu origem à sua Livre-Docência na ECA-USP,

intitulada “A ECA por dentro e por fora – escola e trabalho: o poder SER e o poder

FAZER dos jovens”, que se constituiu em uma denúncia sobre a realidade

acadêmica.

Em 1990, coordenou o curso de extensão “Comunicação, educação e arte na

cultura infanto-juvenil”, para um público de 300 pessoas. Esse evento gerou a

publicação do livro de mesmo nome. Como conseqüência da grande repercussão,

Elza organizou um segundo curso de extensão com a mesma temática, para o qual

se inscreveram 600 profissionais de várias áreas do conhecimento.

Em 1991, recebeu uma bolsa do CNPq de Pós-Doutorado, com duração de

um ano, para o desenvolvimento da pesquisa "TV e criança: produção cultural,

recepção e sociedade", na Universidad Complutense de Madrid – Espanha. Essa

pesquisa tinha como objetivo estabelecer um paralelo cultural sobre a relação

TV/criança na Espanha e no Brasil: “Fui para Europa para analisar como era o

intervalo das crianças de lá, se eles assistiam televisão ou não. E conversando com

as crianças das escolas espanholas, descobri que assistiam os mesmos desenhos

animados que as brasileiras e os preferidos delas eram os mesmos. A única

diferença é que eles assistiam mais desenhos japoneses. Não sei por que também,

uma vez que a resposta delas era: porque gostamos”.

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Page 6: Elza dias pacheco

Até 1996, coordenou na INTERCOM o grupo de trabalho sobre o Imaginário

Infantil. E desde então, presta consultoria na área de Ciências da Comunicação para

dois importantes órgãos: o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico - CNPQ e o Ministério da Educação e do Desporto – MEC.

Quando professora livre-docente de dedicação exclusiva à Universidade de

São Paulo, ministrava as seguintes disciplinas na pós-graduação da ECA:

TV/Criança: uma cultura de lazer ou de alienação?; Infância, Cotidiano e Imaginário

Infantil; Meios de Comunicação, Infância e Educação: representações e imaginário

social.

Atualmente, Pacheco está aposentada, finalizando apenas algumas

orientações de doutorado. Sua aposentadoria ocorreu em dezembro de 1998.

Porém, neste período ela ainda deu continuidade à coordenação da segunda

pesquisa do LAPIC “O Desenho Animado na Tevê: Mitos, Símbolos e Metáforas”,

cuja conclusão ocorreu em dezembro de 2000, o que a fez continuar atuando

oficialmente na ECA até esta data.

Segundo o professor Claudemir Viana, a visão “apocalíptica” da professora

Elza sobre os efeitos da TV sobre a criança, apresentada em sua tese de doutorado,

foi mudando a partir da sua prática como docente da ECA. Neste momento, ela se

debruçou sobre uma série de questões em torno da psicologia da comunicação,

estudos pontuais sobre a programação televisiva, sobre o caso do filme “O Pequeno

Príncipe”, sobre a literatura infantil, avançando nos estudos sobre a relação entre a

criança e a cultura infantil.

Lança, então, um livro sobre a cultura e a arte no público infanto-juvenil.

Organiza seminários na ECA sobre esses assuntos; promove cursos de extensão

cultural de muito sucesso na rede pública, chegando a lotar auditórios e tendo que

realizar sessões extras para atender ao público. Assim, a própria decisão de formar

o LAPIC dez anos depois, demonstra uma grande mudança de visão, bem mais

ampla sobre a relação criança e mídia.

4) CRIAÇÃO DO LAPIC

No final dos anos 90, a ECA passou por uma reestruturação departamental.

O Departamento de Comunicações e Artes (CCA) sofreu reformulação nos seus

cursos de graduação, pós e extensão. Um dos resultados dessas mudanças foi o

aumento do apoio às pesquisas, possibilitando a criação de novos Núcleos de

Pesquisa.

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Page 7: Elza dias pacheco

Dentro desse contexto surgiu, em 1994, o LAPIC - Laboratório de Pesquisas

sobre Infância, Imaginário e Comunicação – idealizado e organizado pela professora

Elza, e que aglutina, até hoje, pesquisadores de várias instituições de ensino.

O LAPIC foi o segundo núcleo/projeto aprovado, após a Revista

“Comunicação e Educação”. A proposta da professora Elza foi a de transformar o

LAPEG - Laboratório de Apoio Pedagógico aos Estudantes de Comunicação, de

caráter mais pedagógico de apoio aos estudantes, em LAPIC - Laboratório de

Pesquisas sobre Infância, Imaginário e Comunicação, que ia ao encontro de seus

ideais do doutorado sobre a relação criança e mídia.

Os principais objetivos do LAPIC, extraídas de seus estatutos são:

- Realizar pesquisas que visem à produção de novos conhecimentos e o

desenvolvimento de novos paradigmas para o estudo das mediações no processo

de recepção, da leitura crítica e na análise de conteúdo da produção cultural para a

infância, com a participação integrada de pesquisadores de várias instituições

acadêmicas;

- Colaborar na formação de novos pesquisadores na área de

Comunicação/Educação e Tecnologia, a partir de alunos bolsistas de Iniciação

Científica;

- Desenvolver grupos de estudos avançados com especialistas que já

tenham produzido trabalhos sobre representações da infância, a fim de abrir espaço

para a discussão acadêmica e a sistematização de temas conjunturais relevantes

para a integração Universidade/Escola/Sociedade: "Mais do que integrar academia,

escola e sociedade, o LAPIC discute a necessidade do professor - através da

Comunicação Social, de seus recursos midiáticos, das novas linguagens e da mídia

eletrônica - trabalhar as disciplinas curriculares a partir de eixos temáticos

globalizados e que fazem parte do cotidiano de uma sociedade plural, considerando

temas como: SAÚDE, que inclui a qualidade do desenvolvimento físico, emocional,

sexual, intelectual, moral e social; CULTURA, que inclui o conhecimento e respeito

pela diversidade cultural (incluindo etnias, religiões, ideologia...); EDUCAÇÃO, que

não inclui apenas o direito ao ingresso e permanência na escola (educação

democrática), mas o amor e respeito por tudo que é nosso e do outro, como a

cidade, o bairro, a escola, o clube, as instituições públicas e privadas, as matas (...);

TRABALHO, que sem opressão, permita a satisfação das necessidades básicas;

LAZER, não apenas para o descanso dos fins de semana, mas para o

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Page 8: Elza dias pacheco

desenvolvimento da criatividade. Só uma educação, formal ou informal, que

considere esses eixos temáticos, como "fins" e como "meios", estará possibilitando

a formação do cidadão consciente e crítico dos seus direitos e responsabilidades,

permitindo-lhes assim, a análise crítica da realidade para que seja co-participante

das transformações sociais" (Pacheco, 1998:10).

Segundo Claudemir Viana, o LAPIC surge como proposta, mostrando uma

visão ampliada da professora Elza Dias Pacheco dez anos depois do seu doutorado,

desse percurso dela como docente, pesquisadora e orientadora.

Trata-se uma visão dentro de um outro contexto acadêmico: o do próprio

departamento, que havia criado uma linha de pesquisa chamada Comunicação e

Educação. Esse contexto deve ser entendido como próprio da época, porém, com

seus enfoques, objetivos e limitações. Foi o caso de destacar a televisão como o

meio em questão na análise da primeira pesquisa, o que trouxe uma série de

inovações na recepção infantil, enquanto pesquisa integrada.

O LAPIC foi pioneiro no Brasil em pesquisas sobre crianças envolvendo a

comunicação e o imaginário infantil. O núcleo vem colaborando com o processo

educomunicativo da criança com a mídia, através do enfoque na recepção infantil,

um diferencial. Há ONGs que dirigem suas preocupações ao aspecto mercadológico,

ao conteúdo voltado para as crianças ou desenvolvidos por elas, aos espaços na

mídia dedicados ao universo infantil; mas sempre através da análise do conteúdo

ou da produção - casos da ANDI e da Midiativa. Por isso, os estudos realizados pelo

LAPIC relacionados à recepção e ao imaginário infantil têm atraído o interesse de

pesquisadores de todo o país e também do exterior.

5) "TELEVISÃO, CRIANÇA E IMAGINÁRIO: CONTRIBUIÇÕES PARA A

INTEGRAÇÃO ESCOLA/UNIVERSIDADE/SOCIEDADE"

Seqüencialmente, a pesquisadora formou um grupo para elaborar a proposta

da primeira pesquisa integrada, a fim de conseguir financiamento público para o

seu desenvolvimento. De 1994 a 1997, o LAPIC, com a subvenção do CNPq, realizou

a Pesquisa "Televisão, Criança e Imaginário: contribuições para a Integração

Escola/Universidade/Sociedade".

A pesquisa necessitava de uma grande verba, por sua longa duração (04

anos), pela quantidade de crianças a serem pesquisadas (mais de 700), e pelo

grande número de bolsistas. Conseguir financiamento não foi tarefa fácil, pois nos

anos 90 havia uma maior valorização das pesquisas das ciências exatas e

biológicas, além do fato do CNPQ não estar tão habituado a financiar pesquisas

10

Page 9: Elza dias pacheco

integradas. Contudo, o tema foi considerado de grande importância na época

devido à estruturação da proposta de pesquisa.

Por conta desse primeiro trabalho, o LAPIC durante muito tempo

desenvolveu mais pesquisas voltadas ao estudo da relação das crianças com a

televisão. Assim, em 1995, o CNPQ autorizou um financiamento de apoio de

estrutura (02 salas no prédio principal da ECA, 02 computadores e em torno de 12

bolsistas). Ocorreu então um aumento do núcleo: além da coordenadora geral,

professora Elza, havia uma coordenadora auxiliar, profa. Dra. Lígia Assumpção

Amaral (da área de psicologia da USP), um grupo grande de aperfeiçoamento (com

bolsistas graduados) e outro de iniciação científica (com estudantes de graduação

da ECA).

5.1 Metodologia

Essa primeira pesquisa foi bastante formal, baseada em questionário semi-

aberto. O mapeamento da recepção infantil se deu através do estudo histórico da

cultura de todos os bairros nos quais as escolas pesquisadas estavam localizadas.

Só assim seria possível entender como a TV, durante esse processo de urbanização,

tornou-se importante dentro do contexto lúdico da criança.

Foi levantada a história da cultura religiosa dos bairros, da cultura rural e de

como essa cultura foi se transformando com o processo de urbanização. Dentre os

bairros estudados destacam-se: Brás, Mooca, Bexiga, Ipiranga, Butantã, Lapa e

Barra Funda, desde o século XVII até o século XX. Essa pesquisa trouxe uma série

de resultados, convivendo com vários empecilhos financeiros e burocráticos.

Resultou em três volumes com mais de 900 páginas, com todo o contexto histórico

e cultural da cidade, das escolas, das famílias das crianças, principalmente da

terceira idade para fazer um resgate oral de como era o lúdico e as brincadeiras

naquele bairro, e uma sistematização inicial da fala das crianças sobre suas

preferências televisivas.

Na verdade, essa primeira pesquisa não se aprofundou na análise da fala da

criança ou da produção televisiva para a criança, mas se preocupou,

essencialmente, em fazer um grande mapeamento sobre quem é essa criança,

como se torna sujeito frente à programação televisiva, e o que é a televisão como

um meio de exercício lúdico para a criança, em razão de um contexto sócio-urbano,

sempre levando em consideração a cultura que a envolvia.

5.2 Conclusões e Resultados

11

Page 10: Elza dias pacheco

A escolha da televisão como principal objeto das pesquisas posteriores do

LAPIC foi resultado dessa primeira pesquisa. Através desses instrumentos, o LAPIC

constatou que A TV é o meio mais presente no cotidiano infantil. Antigamente o

rádio já dispensava alguma atenção ao público infantil, mas foi a TV o primeiro

grande meio de comunicação de massa que obteve importância para a vida da

criança, e ela própria manifesta isso. Esse dado também era evidente tanto na tese

de doutorado da profa. Elza, quanto durante os atendimentos a crianças em sua

época de fonoaudióloga.

Dentre as conclusões alcançadas estão a desmistificação de estereótipos de

que a criança assistia somente uma programação destinada a ela; a prova de que a

criança em idade escolar tem, sim, opinião a respeito da TV, e que ela sabe, sim,

distinguir ficção de realidade. Além de comprovar que a criança considera a

programação televisiva como um espaço lúdico, relacionando o conteúdo

apresentado com diversos outros elementos, expressando isso fisicamente e

verbalmente ao brincar, sendo o sujeito da interação, recriando os seus sentidos a

partir do seu próprio contexto.

O principal resultado de todo esse complexo trabalho foi um ensaio

destinado aos professores da rede pública sobre a televisão e a criança. Foi um

subproduto da pesquisa, financiado pelo CNPQ, distribuído gratuitamente durante

as palestras organizadas pelo LAPIC. Esse ensaio mostra ao professor como utilizar

os programas televisivos, separados em diferentes gêneros, no ensino de diversos

conteúdos.

6) “O DESENHO ANIMADO NA TEVÊ: MITOS, SÍMBOLOS E METÁFORAS”

Iniciada em 1998, a segunda pesquisa integrada do LAPIC se propôs a

analisar a representação infantil por meio dos desenhos animados. Enquanto a

primeira objetivou um mapeamento das preferências do público infantil no que

concerne à programação televisiva, esta fez o recorte de gênero e procurou

entender as razões pelas quais um determinado desenho alcançava popularidade

entre as crianças. O interesse principal era desvendar o papel do desenho animado

no desenvolvimento do imaginário infantil.

Nesse sentido, o LAPIC inovou ao trazer referenciais teóricos da psicanálise

para os estudos de recepção, pois se fazia necessário interpretar o discurso das

crianças no que diz respeito ao conteúdo de cada desenho analisado. O resultado

da pesquisa só foi alcançado devido ao fato de ter sido feita uma análise de

conteúdo minuciosa dos cinco desenhos mais citados pelas crianças, antes de

12

Page 11: Elza dias pacheco

interpretar o significado de suas falas e entender as mediações implicadas no

processo de recepção.

6.1 Metodologia

Para alcançar as metas e comprovar a hipótese de que o desenho animado

traz uma série de mitos, símbolos e metáforas que possibilitam entender sua

atuação junto ao desenvolvimento infantil, o LAPIC formou um grupo heterogêneo

de pesquisadores, composto por estudantes de Teatro, Pedagogia, Rádio, TV e

Ciências Sociais, responsável por um método de pesquisa de campo considerado

inovador pelo fato de unir as especialidades de cada um objetivando a coleta de

dados.

O método, de corte educomunicativo, consistia em abordar as crianças em

lugares informais, em que elas sentissem liberdade para se expressarem de

maneira natural. Para isso, foram escolhidos cinco parques públicos em diferentes

regiões da cidade de São Paulo: Ipiranga, Aclimação, Água Branca, Ibirapuera e

Parque da Previdência. A coleta era realizada aos domingos, dia de maior

movimento nestes locais.

A equipe de pesquisadores entrava no parque, parte vestida de palhaço,

parte portando instrumentos musicais ou registrando o trabalho com uma

filmadora. Cantavam músicas infantis populares de modo a atrair as crianças para a

encenação dos palhaços que dialogavam entre si e interagiam com a platéia que se

formava. Um dos palhaços se referia ao momento de lazer que todos tinham

naquele momento no parque, mas o outro dizia que apesar de gostar do lugar,

preferia estar em casa assistindo a desenhos animados. E interagia então com a

platéia, perguntando se alguém havia assistido um determinado desenho animado.

Ao chegar este momento, a equipe se dirigia a seu público com gravadores

de mão e aplicava um questionário que consistia basicamente em saber o nome e a

idade da criança, se esta assistia televisão, se gostava de desenhos animados,

quais os preferidos, a razão pela preferência e se gostaria de falar algo a respeito

deste desenho.

Este procedimento resultou em 311 falas utilizáveis, que foram transcritas e

categorizadas de acordo com idade, sexo e desenho animado.

6.2 Os cinco desenhos mais citados

13

Page 12: Elza dias pacheco

Dentre os 176 desenhos mencionados durante a pesquisa de campo, os

cinco mais citados passaram por uma análise de conteúdo. A equipe de

pesquisadores foi surpreendida pelo fato de o “Pica-Pau” continuar o preferido das

crianças, passados 17 anos do doutorado da Professora Elza Dias Pacheco,

defendido em 1981 e publicado em 1985.

Os outros desenhos mais citados foram nesta ordem: “Pernalonga”,

“Pateta”, “O Máskara”, deixando em quinto lugar uma outra surpresa para os

pesquisadores: “Yu Yu Hakusho”, desenho animado japonês, na época exibido pela

extinta TV Manchete, que segue uma outra linha estética e de narrativa.

Estes cinco desenhos foram submetidos a uma detalhada análise da

narratividade, levando-se em conta elementos das linguagens cinematográfica, do

desenho animado norte-americano e do desenho animado japonês. Aspectos das

culturas norte-americana e japonesa foram estudados para que fosse possível

entender os recursos utilizados na linguagem cinematográfica de cada um.

Após a análise de conteúdo dos desenhos, passou-se à análise de conteúdo

das falas das crianças, por meio de referenciais teóricos não só da comunicação,

mas também da psicanálise, como Freud e Jung.

Feito o estudo do meio e do sujeito, a última fase da pesquisa caracteriza-se

pela análise de recepção propriamente dita: o cruzamento do conteúdo com a

interpretação da criança sobre o mesmo.

6.3 Conclusão – A criança e a noção de violência

“O Desenho Animado na Tevê: Mitos, Símbolos e Metáforas” revelou que a

criança reelabora todo e qualquer conteúdo. Nem sempre o significado atribuído a

um determinado conteúdo é o que ele realmente expressa e nem sempre atribui o

mesmo sentido que o adulto no que se refere a determinados elementos

veiculados.

Um exemplo desta conclusão é o significado da violência. O que para um

adulto pode ser considerado conteúdo violento, pode ter um outro significado para

a criança. Isso fica claro ao contrapor o conteúdo do desenho animado “Yu Yu

Hakusho” à fala das crianças. O que para os pesquisadores era algo violento, para

as crianças era um exemplo de heroísmo, pois a narrativa central da atração é a

história de um grupo de jovens da Terra com poderes sobrenaturais que utilizavam

14

Page 13: Elza dias pacheco

estes poderes para se defender de um outro grupo de jovens que ameaçavam o

planeta.

O mito do herói foi identificado em quase todas as narrativas de preferência

das crianças. Por esse motivo, os desenhos trazem algo essencial para a construção

da personalidade e da identidade infantil: Trata-se da confiança em si mesmo. É se

projetando em histórias, principalmente em personagens do bem, que vencem o

mal, que as crianças aprendem a lidar com seus instintos. Segundo Viana, “a

pesquisa verificou que as problemáticas abordadas se relacionavam com processos

da psiquê humana, dentre as quais, a evolução dos instintos. O indivíduo ao nascer,

passa por um processo de conscientização da existência destes instintos para

aprender a lidar com eles. Passa também por um processo inconsciente de

canalizar essa energia própria e aplicá-la em situações socialmente aceitas. É o

caso do ato de brincar, que nada mais é do que uma forma que a criança tem de

perceber a realidade, lidando com seus instintos. Logo, ela também é violenta, tal

como o adulto, pois a violência é inerente ao ser humano”.

O resultado desta pesquisa trouxe à discussão um tema recorrente na mídia

e no discurso escolar conservador: a hipótese de que a exposição a um conteúdo

violento pode transformar uma criança em um adulto violento. Nesse sentido, “O

desenho animado na tevê: mitos, símbolos e metáforas”, desmistifica tal discurso

do senso comum ao mostrar que o ser humano, independentemente dos meios de

comunicação, sempre teve, em seu processo de desenvolvimento, que aprender a

lidar com seus instintos de violência.

O desenho animado pode, portanto, servir como catarse de uma violência

natural que a criança tenta compreender. De acordo com o estudo, somente a

recepção de um conteúdo midiático não torna uma pessoa violenta. Há que se

analisar o contexto sócio-cultural de cada um. São as mediações.

A pesquisa também ajudou a explicar as razões pelas quais o desenho “Pica-

Pau”, faz sucesso por gerações. Segundo o Professor Claudemir Viana, este

programa oferece uma narrativa que facilita a projeção da criança no personagem

principal, um ser aparentemente frágil que, ao se sentir ameaçado, utiliza a astúcia

para escapar da situação-problema: “Para o adulto, o Pica-Pau é vilão, pois o adulto

tem uma visão moralista. Para a criança, é o herói, pois faz o que toda criança

gostaria de fazer: defender-se da violência de seu próprio contexto”, diz, referindo-

se não somente à violência física, mas também a simbólica, como as imposições e

repreensões dos pais.

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Page 14: Elza dias pacheco

7) LAPIC e NCE

Em outubro de 2001, houve um incêndio na ECA, fato que impossibilitou o

funcionamento do NCE no espaço que ocupava no prédio central da Escola. O

acidente veio, contudo, aproximar o Núcleo de outro organismo de pesquisa da

unidade, o LAPIC, levando em conta que a administração definiu que a melhor

solução diante das dificuldades de espaço seria ambos ocuparem uma mesma sala,

no Bloco 9, um dos barracões existentes no espaço em frente à ECA, do lado oposto

da Rua Prof. Lucio Martins Rodrigues.

A principal atividade conjunta entre o NCE e o LAPIC ocorreu através da

participação de pesquisadores do Laboratório num dos projetos que o NCE dava

início, na ocasião, o Educom.rádio. Foi desta forma que – com a anuência da Profa

Elza - os pesquisadores Claudemir Viana, Jurema Brasil e Milada Tornarelli

aceitaram convite do Prof. Ismar de Oliveira Soares para integrar a equipe que

assumiria a primeira fase do Educom.

Esse projeto tinha como objetivo colaborar com a Prefeitura de São Paulo no

sentido de reduzir os índices de violência nas escolas públicas através da formação

de um grupo de 25 docentes, alunos e membros das comunidades educativas, em

cada uma das 455 escolas do ensino fundamental, mediante a implantação de

procedimentos educomunicativos. A linguagem radiofônica foi a escolhida para que

as equipes pudessem dominar um dos recursos da comunicação que em projetos

desenvolvidos em outros países, como a África do Sul, e mesmo no Brasil, vinha

demonstrando seu potencial no sentido de aumentar a auto-estima e a confiança

dos jovens, garantindo condições para um diálogo com seus professores e pais.

Ainda que a proposta estivesse clara na mente de seu idealizador, o

Prof.Ismar de Oliveira Soares, bem como da equipe que o acompanhou, no primeiro

momento, especialmente de suas orientandas Patrícia Horta e Grácia Lopes, não

contava, o NCE, com uma equipe com autonomia suficiente para implementar um

trabalho de tamanha envergadura. É preciso lembrar que, somente na primeira fase

do projeto (segundo semestre de 2001) estariam sendo envolvidas no projeto um

total de 26 escolas, o que significava um público de 312 professores, 260 alunos e

78 membros das comunidades educativas, para o que o NCE necessitava contar

com aproximadamente 40 capacitadores.

Foi neste momento que o trio gestor do projeto (Professor Ismar, Patrícia e

Grácia) entenderam a importância de contar com pesquisadores experientes no

16

Page 15: Elza dias pacheco

trabalho pedagógico, o que era o caso dos pesquisadores orientados pela Profa Elza

Pacheco.

Claudemir Viana recorda-se deste início, explicando: “Alguns desafios foram

lançados, pois era um projeto de grandes proporções e necessitava de diversos

elementos tanto técnicos quanto humanos. Alguns problemas foram surgindo como

a falta de materiais para montar as rádios ou pelo menos a captação de som. Estes

equipamentos foram prometidos pela prefeitura, porém não chegaram durante a

realização do curso, obrigando a equipe a improvisar através do uso de gravadores

de mão. Mesmo assim, os trabalhos foram aumentando e o projeto ganhou

proporção, estruturando-se. A falta de recursos já não era um grande problema

para a continuação dos trabalhos e o conhecimento da equipe sobre

Educomunicação foi sendo modelado durante a realização do projeto, levando em

conta que todo o trabalho realizado dava-se de modo integrado, e os promotores

(mediadores) dedicavam parte substancial de seu tempo em reuniões de formação,

na própria ECA”5.

O Professor Claudemir manteve-se fiel ao Educom.rádio em todas as sete

fases do projeto (do segundo semestre de 2001 ao final do segundo semestre de

2004), oferecendo, inicialmente, sua contribuição como “Articulador”, ou

coordenador de um dos pólos em que a capacitação ocorria, aos sábados e, a partir

da quinta fase, como um dos coordenadores de formação das equipes, com

parceria com Ana Marotto.

Claudemir fala com entusiasmo do projeto: “Foi criado um Conselho Gestor

formado pelos coordenadores das várias áreas do projeto: formação e capacitação

da equipe de mediadores, comunicação, memória audiovisual, administração do

site, finanças. Uma das tarefas dos coordenadores pedagógicos, solicitada pelo Prof.

Ismar, foi a elaboração de um planejamento antecipado. Nesse sentido, os

articuladores e mediadores, recebiam no início do semestre a seqüência das

atividades a serem desenvolvidas a cada sábado. Sob a coordenação geral de

Patrícia Horta, foi formado um mutirão para produzir todos os materiais que

serviriam como suporte para o trabalho das equipes. Foi assim que as teorias

ligadas ao tema Educomunicação ganharam força junto à equipe. Todos do NCE

trabalharam demasiadamente com encontros aos sábados para treinamento de

equipes e sua capacitação. Foram formados e-groups para cada uma das 17 turmas

de formadores, uma novidade na época, permitindo que todos os formadores se

conversassem durante a semana visando a otimização do processo das aulas.

Assim, os encontros passaram a permitir vivências das propostas. Essa produção

5 - A cada semestre os integrantes da equipe dedicavam 100 horas de trabalho para atender os cursistas, nos pólos, aos sábados, durante 8 horas. Dedicavam outras 60 horas para sua auto-formação, na ECA, o que incluía três horas semanais para avaliação e preparação das ações em desenvolvimento.

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coletiva gerou os Simpósios de Educomunicação, realizados ao final de cada

semestre, mantendo todas as equipes do projeto sintonizadas com um mesmo

tema”.

Claudmir lembra que o Educom.Rádio chegou a ser matéria do Jornal da

Globo, em meados de 2004, em que a repórter Sandra Moreyra afirmava: “Nesta

escola (EMEF Carlos Pasquale), 10 jovens educomunicadores formaram outros, que

formaram outros, e agora são 400 especialistas em rádio, educação e cidadania”.

Segundo o que testemunha Claudemir, é possível concluir que a

Educomunicação acabou sendo incorporada à rotina do LAPIC, que, por sua vez,

através de três de seus integrantes, ofereceu uma rica contribuição ao trabalho do

NCE.

8) O LAPIC hoje

O LAPIC sempre representou um modo de continuar as pesquisas propostas

ou orientadas pela professora Elza Dias Pacheco. Mesmo com sua aposentadoria,

em 2000, ela continuou atuando indiretamente no núcleo como orientadora de dois

últimos doutorandos e dando seu aval para os projetos desenvolvidos por seus ex-

orientandos Claudemir Viana, Luri Yanaze, Jurema Xavier, Paulo Vasconcelos, entre

outros.

Esses pesquisadores são voluntários já que, devido à aposentadoria da

fundadora, os financiamentos através de órgãos de pesquisas ficaram praticamente

inviabilizados. Mesmo assim, essa atuação garante as novas produções do LAPIC,

como um vídeo sobre o núcleo e cursos rápidos de capacitação de alunos nas

escolas, existindo inclusive atendimento ao público, vendas de ensaios, bem como

algumas publicações.

Além disso, o LAPIC está propondo um curso de extensão cultural de 20h

sobre “Criança e Mídia”, com 8 encontros. Com vários temas, cada encontro seria

ministrado por um integrante do núcleo. A abordagem será a relação Criança e

Mídia, em diversos segmentos como Psicologia, Sociologia, entre outros campos.

Esse projeto está em tramitação como curso de aprimoramento ou

aperfeiçoamento. O Laboratório pretende, ainda, transformar seu site e publicar o

livro “O cotidiano infantil violento”, resultado dos últimos seminários promovidos

pelo LAPIC.

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Com isso, o Prof. Claudemir e os demais ex-orientando da Profa Alza

pretendem continuar oferecendo uma contribuição específica ao desenvolvimento

dos estudos sobre a relação entre a criança e os meios de comunicação,

alimentando, com os resultados de suas pesquisas a perspectiva educomunicativa

do trabalho de seu maior aliado na Escola, o NCE.

9) ORIENTANDOS

Foram diversas orientações de Mestrado e Doutorado nesse longo percurso

como atuante pesquisadora e livre-docente. A professora Elza Dias Pacheco sempre

propôs um diálogo com outras áreas visando o alto grau da compreensão crítica aos

problemas encontrados no universo infantil. Extraído de seu currículo lattes, segue

relação com nomes de seus orientandos e as áticas de pesquisas trabalhadas.

Mestrado:

- Milada Tornarelli. “Panorama da Comunicação através dos contos de

fadas: A Bela Adormecida”. 2004. 176 f. Dissertação.

- Jurema Brasil Xavier. “A relação entre Tecnologias da Comunicação e

Educação na Perspectiva da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos” -

1944/1994. 2002. Dissertação.

- Márcia Aparecida Giuzi Mareuse. “50 Anos de Desenho Animado na

Televisão Brasileira”. 2002. Dissertação.

- Alexandre Dias Paza. “A Infância Capturada: o mito de Mid(í)as”. 2002.

Dissertação.

- Raimundo Nonato Silva Câmara. “A Inserção do Programa Castelo Ra-

Tim-Bum, nos propósitos da TV Cultura, a partir de sua produção, estrutura e

conteúdo”. 2001. Dissertação.

- Claudemir Edson Viana. “O Processo Educomunicacional a Mídia na

Escola”. 2000. Dissertação

- Carla Rosa Loureiro. “Representação Social dos Professores

Capacitandos do Programa de Educação Continuada (PEC) sob a luz da LDB

9394/96”. 2000. Dissertação.

- Paulo Alexandre Cordeiro Vasconcelos. “Uma Abordagem Piagetiana

do Jogo”. 1994. Dissertação.

- Rita de Cassia S.L. Vasquez. “Análise do Conteúdo de Programas

Infanto-Juvenis quanto a Influência de Ídolos e Mitos no Comportamento em geral”.

1994. Dissertação

- Sophia C. de Covo. “Comunicação, Arte e Educação: A Magia da

Descoberta dos Sons e das Imagens”. 1991.

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Page 18: Elza dias pacheco

- Sonia C. Castaneda. “A Análise do Papel Social da Mulher e Sua Evolução

No Desenho Animado”. 1990. Dissertação.

- Sylene Castejon Guerra Vieira. “Os Nove Heróis da Tapeçaria: Prática

Social Com Mulheres da Periferia. 1990”. Dissertação.

- Sara Rosenberg. “Criança e Seu Espaço de Brincar”. 1990. Dissertação.

- Doris Fagundes Haussen. “Rádio e Criança: Um estudo sobre a ausência

de programação infantil nas emissoras de Porto Alegre. 1989. Dissertação.

Doutorado:

- Claudemir Edson Viana. “O lúdico e a aprendizagem na cibercultura:

jogos digitais e internet no cotidiano infantil”. 2005.

- Liriam Luri Yamaguchi Yanaze. “As representações Sociais do receptor

infantil de duas escolas da cidade de São Paulo, a partir dos comerciais de TV”.

2005. 476 f. Tese

- José Luiz Cecherello. “A utilização da Multimídia como ferramenta de

expressão da ficção do Lúdico e do Imaginário”. 1998. Tese

- Paulo Alexandre Vasconcelos. “Jean Baudrillard - Comunicação e

Psicanálise, uma contribuição aos estudos de comunicação”. 1995. Tese.

- Cleide Marly Nebias. “Ciclo Básico e Democratização do Ensino: do

Discurso dos Programas às Representações”. 1990. Tese.

- Maria Ângela Barbato Carneiro. “Estratégias Alternativas e Criativas em

sala de aula”. 1990. Tese

- Sideney Carlos Aznar. “Vinheta: do Pergaminho ao Vídeo”. 1990. Tese

10) Considerações finais

A partir da investigação da trajetória da vida pessoal, acadêmica e

profissional da Professora Elza Dias Pacheco foi possível identificar referências à

Educomunicação, sem que ela se apropriasse claramente do termo em suas

pesquisas, obras e estudos.

Uma primeira aproximação importante com o termo acontece quando, em

sua tese de doutorado, passa a trabalhar como a criança recebe as informações

transmitidas pela televisão. Ou seja, a partir do momento em que Pacheco, como

mãe, educadora e psicóloga, começa a se preocupar não só com a influência da

televisão no desenvolvimento da criança, mas, sobretudo, quando começa a

questionar de que forma a televisão poderá ser trabalhada a favor da sua própria

aprendizagem.

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Um forte exemplo dessa preocupação foi a elaboração do ensaio “Televisão,

criança e imaginário: contribuições para a integração escola-universidade-

sociedade”, destinado aos professores da rede pública. Este trabalho foi resultado

da pesquisa integrada, realizada no LAPIC, juntamente com o Departamento de

Tecnologia do Centro de Educação da PUC/SP, sob financiamento do CNPQ, no

período de março de 1994 até fevereiro de 1997.

O ensaio apresenta uma caracterização concisa de 12 programas televisivos

indicados pelas crianças, nos quais as verbalizações e as estruturas dos mesmos

são analisadas conforme os gêneros televisivos a que pertencem. A seguir os que

gêneros que foram utilizados: telenovela, programas infantis e desenhos animados.

A finalidade principal do ensaio foi a de sensibilizar os profissionais da área

da Educação sobre a importância de trabalhar a televisão na sala de aula a fim de

ampliar e motivar o trabalho educacional. Afirmava, na ocasião, Pacheco:

“Considero que a televisão é muito importante na escola, importantíssima para o

currículo escolar. Mas você não precisa necessariamente ter na escola o aparelho

televisão, porque não tem criança que não assista televisão em casa. Você pode

chegar na escola e perguntar para turma toda o que assistiram ontem. É capaz de

todo mundo ter assistido a mesma coisa, por possuírem a mesma faixa etária. A

televisão serve de referência para o professor desenvolver a sua aula de português,

geografia etc. Mas eu penso que Educação é responsabilidade minha, do pai e da

mãe. Não é responsabilidade da televisão, ela põe no ar o que dá ibope, o que dá

ibope é porcaria”.

Enfim, durante a realização desse trabalho sobre a profa. Elza, o que mais

transpareceu foi que ela não faz distinção entre o uso do termo Comunicação e

Educação e Educomunicação. Para ela, o mais importante é que essa relação se

estabeleça de alguma forma, já que os meios de comunicação, em especial a

televisão, mantêm uma comunicação com a criança que não pode ser ignorada

tanto no que diz respeito ao processo de aprendizagem como enquanto recurso

para que o professor atue melhor na sala de aula.

Assim, entendemos que a Educomunicação está a serviço das pesquisas de

Recepção e vice-versa, já que em um é possível esclarecer a construção do discurso

midiático, enquanto noutro é possível visualizar os efeitos e possíveis impactos

causados pela mídia.

11) Referências bibliográficas

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Page 20: Elza dias pacheco

PACHECO, E.D. Televisão, Criança, Imaginário e Educação: Dilemas e Diálogos.

"Paper" apresentado no "Salão Internacional do Livro de São Paulo, 1999, Expo

Center Norte, Brasil. Disponível em:

http://www.aurora.ufsc.br/artigos/artigos_alfabeto_TV.htm.

 PACHECO, E. D. Televisão, criança, imaginário e educação: dilemas e diálogos.

Campinas, Papyrus, 1998.

 

 PACHECO, E. D. O Pica-pau: herói ou vilão: representação social da criança e

reprodução da ideologia dominante. São Paulo, Loyola, 1985.

“O LAPIC conta a sua história”, 2004. Em VHS. Vídeo que conta a trajetória do

LAPIC.

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