draco saga: o despertar (vol. 1)

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Imagine entrar em coma, acordar alguns anos depois e descobrir que sua sociedade e sua cultura estão sendo destruídas por uma praga que se propaga mais rápido do que é possível conter. A praga, porém, somos nós. Humanos, mortais, gananciosos, sedentos por poder e riqueza em um mundo novo. Mundo este já anteriormente dominado por seres de inteligência muito superior que nos permitiram viver em paz em seus domínios por muito tempo. No entanto, não valorizamos a liberdade que nos fora dada. Agora o preço a pagar pode ser alto demais!

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Fábio Guolo

DRACO SAGAO Despertar

(Volume 1)

2ª Edição

CuritibaEdição do Autor

2010

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Draco Sagapor Fábio Guolo

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios

existentes sem autorização por escrito dos editores.

Preparo de originais: Fábio GuoloRevisão: Fabiano Guolo, Valéria de Lurdes do Valle e Gabriela Coiradas.

Capa e diagramação: Leandro BitencourtImpressão e acabamento: Gráfica Athena

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Guolo, FábioDraco Saga : O Despertar / Fábio Guolo. – 1.

ed. – Curitiba, PR : Ed. do Autor, 2010. --(Draco Saga ; v. 1)

ISBN 978-85-910789-0-5

1. Ficção brasileira I. Título. II. Série.

10-05697 CDD-869.93Índices para catálogo sistemático:

1. Ficção: Literatura brasileira 869.93

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Dedico este livro às pessoas mais importantes da minha vida:Minha amada esposa Cassiana e meu amado irmão Fabiano.

Agradeço imensamente a minha querida sogra, Valéria de Lurdes do Valle e a minha amiga Gabriela Coiradas pela paciência e dedica-ção na revisão desta obra. Ao meu grande amigo de infância Leandro Bitencourt pela capa e a todos os amigos, colegas e conhecidos que me aturaram falando, falando e falando desse projeto durante cinco anos nos quais esgotei a paciência de alguns, pedindo que fizessem inter-mináveis leituras teste. Sem todas essas pessoas eu estaria às cegas e certamente não teria persistido até aqui.

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SUMÁRIO:

I – DESPERTAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7II – PROLE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28III – PUPILO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46IV – MUDANÇAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65V – CASAMENTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82VI – OVO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108VII – FUGA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131VIII – SENTINELA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155IX – GUERRA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187X – VINGANÇA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 228

PERSONAGENS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 252

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I – DESPERTAR

— Ah! Que sono formidável! Há séculos eu não dormia tão bem assim — falei comigo mesmo ao acordar naquele dia.

Ainda estava zonzo pelo recém-despertar. Sentia em minha barriga o friozinho dos belos amontoados de metais e pedras que formavam meu leito. Abri um dos olhos para contemplar a penumbra do salão e percebi que alguns tímidos raios de sol entravam pelas estreitas fendas superiores de minha residência rochosa: minguados fachos de luz que jamais seriam suficientes para iluminar minha sombria, fria, úmida e agradável caverna. Senti também que lá de fora vinha um odor de flores frescas. A generosa primavera chegara e eu nem vira o inverno passar. Valeu a pena, afinal eu precisava mesmo de um longo descanso. Abri então meus braços, pernas, asas e estiquei bem o pescoço em um longo espreguiçar seguido de um, até para mim, ruidoso bocejo. Ao fazer isso ouvi os metaizinhos e pedrinhas crepitarem e se espalharem sob minha barriga em um agradá-vel tilintar que soou como música a meus aguçados ouvidos. Levantei e, em pé sobre as quatro patas, olhei para cima, para a entrada de meu lar. Enquanto olhava para lá, abri minhas asas e com algumas batidas comecei a flutuar suavemente. O deslocamento de ar provocado fez meu lindo leito se espalhar por todo o salão, produzindo um som que, mais uma vez, soou-me como uma agradável sinfonia. Nem me importava em sempre ter de arrumá-lo novamente ao voltar, somente pela melodia produzida no momento em que saía de casa. Flutuei acima pelo túnel vertical que, em seguida, descrevia tortuosos caminhos até chegar ao topo da mon-tanha e, finalmente, à saída ao ar livre. O túnel vertical, porém, cheio de curvas, tornava meu lar praticamente inviolável. Apenas outro de nós conseguiria entrar com facilidade pelo túnel, mas mesmo assim não teria motivos para fazê-lo. Apenas algum ser inferior que soubesse de tudo que eu tenho lá embaixo se arriscaria a tentar. E poucos, além de mim, sabiam o que o fim do túnel escondia. Apenas Drwfr, meu irmão mais velho, que eu já não via há várias décadas, e minha mãe, a grande anciã falecida há pouco mais de uma década. Pelo menos assim eu pensava. Quando cheguei ao fim do túnel, ou seja, ao topo da montanha, pousei

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abaixado para observar ao redor antes. Precaução nunca é demais até mesmo para alguém tão poderoso quanto eu. Fiquei parado por alguns minutos observando o horizonte.

O sol estava alto e brilhava maravilhosamente, despejando seus raios alaranjados e fazendo minhas belas escamas douradas reluzirem. A brisa do meio-dia passava entre elas causando agradável sensação de frescor. Por um momento deixei-me levar pelo sentimento de natureza à flor-da--pele e me levantei, ficando em pé sobre minhas patas traseiras. Estiquei todos os membros, inclusive asas e pescoço em um gostoso espreguiçar. Contemplei todo o esplendor da primavera desabrochando com o calor do sol e o frescor do vento, surrando todo meu corpo sofrido nas batalhas de outrora. Ainda havia um pouco de neve no cume de minha montanha, mas lá embaixo os vales já estavam lindos, floridos e verdejantes, justifi-cando o agradável aroma que, fora da caverna, tornara-se mais forte. Os animais silvestres estavam todos em plena atividade novamente, acasalan-do, caçando, brincando e fazendo tudo o mais que fazem na primavera.

Meus devaneios foram então interrompidos por meus estômagos que começaram a roncar em uma grave sinfonia. Fome, muita fome. Minha última refeição havia sido antes de hibernar, na entrada do inverno.

Comecei a farejar para saber onde encontrar uma farta refeição mais facilmente. Com uma cafungada ao sul senti o aroma de búfalos selva-gens. Pelo cheiro pareceu-me que algumas búfalas tinham dado boas crias recentemente. Bezerros suculentos! Sim, eu via a manada, naqueles campos, mesmo a uns trinta quilômetros de distância, mas mesmo gos-tando do que senti, decidi analisar as outras opções primeiro, com toda a paciência que um ser poderoso e glorioso deve ter. Ao norte, deliciosas girafas. “Ainda prefiro os suculentos e tenros bezerros” — pensei. Além disso, aquelas pescoçudas inúteis deviam estar escondidas sob árvores, comendo folhas e eu teria que arrancar algumas delas para entrar na mata, o que iria assustá-las, correriam e me dariam muito trabalho. Apenas pensar nisso me dava preguiça.

A leste, cavalos. Adoro cavalos. Sua carne é excelente, de um sabor inigualável. Seria uma boa opção, se não estivessem tão afoitos, o que também me daria muito trabalho caso optasse por eles. Tentei imaginar por que estavam correndo tanto. Pareciam fugir de algo. Não importava afinal. Ainda preferia os bezerros suculentos, refeição fácil e deliciosa. Mas antes, uma cafungada a oeste.

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Foi quando uma grande interrogação surgiu em minha cabeça. Um cheiro que jamais havia sentido. Havia cavalos, dava para distinguir. E não apenas cavalos, mas sim saudáveis garanhões e éguas. Muitos deles. O que chamou minha atenção, no entanto, foi o que havia junto deles: alguma outra criatura que eu desconhecia até então. “Mas como?” — pensei sem encontrar a resposta.

Deviam estar a mais de cinquenta quilômetros, mas mesmo assim me abaixei no cume da montanha, pois seres inferiores não devem ter o prazer de vislumbrar tão majestosa criatura como eu, apesar de que difi-cilmente aquela ou qualquer outra criatura inferior conseguiria ver-me de tão longe. Forcei ao máximo minha visão e verifiquei que estavam se aproximando. Eram criaturas parecidas com elfos, montando cavalos, porém mais corpulentas que os fúteis elfos e ao mesmo tempo mais altas que os repugnantes anões.

— Que criaturinhas inferiores teriam surgido desta vez? — falei em voz alta.

Galopavam velozes em seus cavalos que arrancavam do chão nacos de grama e terra, levantando uma grande cortina de poeira por onde pas-savam. Certamente com pressa. “Mas, por quê?”

Concluí que também não serviriam como desjejum, pois o cheiro não era dos melhores. Portanto decidi pegar três ou quatro bezerros e vol-taria o mais rápido possível para não perdê-los de vista. Foi o que fiz, mas me atrasei na volta porque a fome era enorme. Muito mais do que o normal. Por isso devorara mais dois grandes búfalos que finalmente saciaram minha fome.

Voltei quase ao fim da tarde e vi que aqueles seres inferiores tinham se aproximado bastante. Deviam estar a uns dez ou vinte quilômetros, mas pararam. Armaram acampamento e pareciam estar descansando. Acenderam algumas fogueiras e estavam assando carne de porco selva-gem, constatei pelo cheiro. Tentei novamente entender que prazer alguns seres inferiores sentem em comer carne assada. Todo o sabor maravi-lhoso que a carne fresca tem, perde-se assim. Porém isso não importava naquele momento e então concentrei-me no que realmente interessava: eles estavam se aproximando da minha casa e isso não me agradava. Por isso abaixei-me o máximo que pude sobre a montanha e observei todos os detalhes. Contei cento e vinte e dois cavalos e cada um devia carregar um ser desses, mas estavam desmontados naquele momento e não consegui

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ver todos os cavaleiros. Alguns estavam à volta das fogueiras e os outros deviam estar nas tendas ou na mata próxima. Eu precisava saber por que estavam indo para minha casa. E mais do que isso, eu precisava saber que seres eram aqueles, o que queriam e, acima de tudo: por que raios eu ainda desconhecia todas estas informações.

A noite caía veloz e fiquei observando durante quatro horas, mais ou menos. Logo percebi que, embora certamente não fossem nem elfos e nem anões, aquelas criaturinhas tinham hábitos parecidos com os deles, como a necessidade de comer e dormir em tempos periodicamente curtos. Também como os elfos e os anões era provável que tivessem o hábito de dormir, principalmente à noite. Sendo assim, dormiriam à noite toda, o que me daria tempo para buscar as respostas as minhas dúvidas. E eu sabia exatamente onde buscá-las e quem poderia provê-las: o grande Mestre.

Alcei voo e parti ao encontro do meu grande amigo e venerável Mestre, o ancião Wyrmygn. Com duas horas de voo alto e tranquilo cheguei ao Velho Vale. Observando do alto tive a nítida impressão que várias coisas estavam diferentes lá em baixo, em relação à última vez que eu fizera aquele percurso. Porém não dei muita atenção a essa impressão, pois o prazer de retornar àquele lugar mágico, em cada uma das incontáveis vezes em que lá estive, era simplesmente indescritível.

Ah! O velho e grandioso vale! Nosso eterno santuário. Mesmo à noite consigo vislumbrá-lo belo como sempre, com grandes despenhadeiros de rochas avermelhadas e violentos rios espumantes correndo em pro-fundas fissuras esculpidas ao longo dos séculos por turbulentas águas, procurando incessantemente o caminho para o mar.

Como eu já esperava, minha chegada não foi despercebida. Rywrd, o Incansável e sempre atento, viu-me chegar e observou enquanto eu ainda voava. Fiz então a manobra aérea que lhe comunicaria uma visita de paz e amizade. Depois fiz a manobra que me identificava. Protocolo apenas. É obvio que apesar da grande distância e da noite Rywrd, favorecido por uma visão irretocável, já me reconhecera. Então, sem perder muito tempo, aproximei-me e posicionei-me para o pouso na grande plataforma de pedra que se projetava para fora no descomunal paredão rochoso. Rywrd lá estava, como sempre, guardando o portal de entrada da grande forta-leza de pedra escavada na montanha. Aterrissei, flutuando suavemente a frente dele e cumprimentei-o.

— Como vai Rywrd, o Incansável? Bem, espero eu!

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Ele abriu as asas em uma incomum expressão mista de alegria e surpresa. Parecia que não me via há séculos. Então disse:

— Bem estou, é claro, Dryfr, o Grande Guerreiro! E ao que parece estás muito bem também, mesmo depois de tantas décadas sem nos visitar.

Reagi com uma ruidosa, grave e breve gargalhada. Finalmente disse:— De bom humor como sempre, Rywrd. Eu não esperava menos. Porém

assuntos muito importantes me trazem aqui hoje e tenho pressa. Preciso ter uma audiência com o Mestre. Ele já deve estar me aguardando, não?

— Sim, é claro. Podes ir até lá sozinho. Sabes o caminho, bem como sabes que para ti esta casa está sempre aberta e sem restrições.

— Sei, sim, e sinto-me honrado com isso como tu também deves saber. No entanto, paremos com tanta formalidade Rywrd, pois tenho pressa. Prometo voltar outro dia com mais tempo para conversarmos.

Rywrd observou-me com surpresa. Parecia não entender algumas de minhas palavras e eu muito menos as dele bem como sua expressão. Preferi não dar muita atenção àquele estranho diálogo naquela hora. Preferi concentrar minha atenção no assunto que me levara lá, sem des-confiar que estava prestes a entender todas as observações estranhas que fizera até o momento. Adentrei então à fortaleza esculpida nas entranhas rochosas do grande vale e direcionei-me ao salão do Mestre. Chegando à entrada do salão, sempre muito bem organizado e protegido, os dois guardiões discípulos que guardavam a entrada, e que surpreendentemente eu não conhecia, barraram-me.

— Identifique-se, senhor — disse um deles.Quase ao mesmo tempo, a voz do Mestre soou grave lá de dentro:— Deixem-no entrar, Mwlgr e Mwrgr.Não pude deixar de notar os nomes que evidenciavam, além de sua cor

igualmente amarelada, serem irmãos gêmeos. Fenômeno muitíssimo raro entre nós.

— Gêmeos? — indaguei. — Coisa rara. Meus cumprimentos, jovens discípulos.

— Deveis reverenciar esse que está a vossa frente, gêmeos — disse o Mestre aos jovens — pois é Dryfr, o Grande Guerreiro.

Os dois me olharam maravilhados com os olhos brilhando, abrindo as asas e curvando os pescoços de escamas amareladas em uma longa reverência que evidenciava minha notoriedade entre eles.

— Agradeço pela justa reverência, jovens, mas tenho pressa no momento.

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Com licença.Então passei entre os dois jovens e pelo perfeito arco entalhado com

riqueza de detalhes nas rochas avermelhadas do vale, adentrando ao salão maravilhoso e finamente trabalhado, internamente cinzelado como se fosse uma escultura gigante em profundidade. Havia um orbe de luz flutuando no centro e na altura acima de nossas cabeças, proporcionando uma pálida iluminação ao ambiente. Após minha entrada, o Mestre com um gesto acende mais quatro orbes flutuantes e mais brilhantes que o anterior, iluminando por completo o grande salão de audiências. Além de todos os entalhes nas paredes de pedra, o que torna o salão sua pró-pria e belíssima decoração, o recinto ainda era adornado com relíquias e estátuas antigas herdadas em tempos imemoriais. As paredes tinham formatos irregulares e ângulos diversos. Uma das estátuas em específico era a imponente imagem de um dragão, em tamanho natural, esculpida em Ônix: de asas abertas e de pé sobre as duas patas traseiras segura um ovo como se oferecesse a quem o observa de frente. A escultura era um mistério até mesmo para o Mestre. Ela foi encontrada em uma grande caverna que servira de residência a um ancião contemporâneo do Mestre, já falecido em uma batalha ancestral.

Na única parede de ângulo perfeitamente reto do salão havia uma grande peça em couro pendurada, constituída de várias peles depiladas de búfa-los selvagens coladas umas as outras, na qual fora desenhado a fogo um mapa de todos os nossos domínios, ou seja, o mapa do planeta inteiro. O mapa é, na verdade, mais uma relíquia do que uma utilidade, feito pelo próprio Mestre Wyrmygn em um tempo em que os orbes de luz ainda não eram tão difundidos. Ele também criou os orbes de luz que utilizamos há milênios para projetar o mapa do planeta e conjecturar acerca dele. Aliás, não só para isso. Os orbes de luz são magias dinâmicas utilizadas com inúmeras finalidades, dentre elas, iluminação e projeção de imagens e principalmente comunicação, o que dispensa a necessidade de língua escrita, como fazem todos os seres pouco evoluídos, tais como elfos, anões e outros.

Ainda havia no salão outras obras de arte, tesouros de nossa cultura, além de várias peças em ouro e prata e pedras coloridas, preciosas e perfeitas. Exatamente como deve ser a morada do mais poderoso ser de todo o multiverso.

O Mestre me recebeu calorosamente. Até mais do que o normal.

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Abraçou-me, inclusive com as asas transparentes, em seguida olhou-me por algum tempo no rosto como se estivesse extasiado. Finalmente disse:

— Meu discípulo! A que devo esta honrosa visita? — fez uma pequena pausa e antes que eu pudesse responder, interrompeu a si mesmo subs-tituindo aquela feliz expressão pela comum seriedade.

— Bem, não precisas responder a essa pergunta, — continuou — pois já conheço a resposta. Portanto responda-me o que não sei: por que demo-raste tanto a vir? — a voz era um misto de saudade e apreensão como eu jamais ouvira vindo dele.

— Desculpe-me, Mestre, mas uma estação é tempo demais apenas para os inferiores seres mortais... — então abruptamente ele me interrompeu.

— Uma estação? Dryfr faz mais de vinte e nove décadas que não apareces aqui. O que aconteceu contigo? Por acaso foste contaminado pelos fúteis hábitos dos seres inferiores?

— Contaminado? Claro que não, Mestre! Mas por que me falas em décadas quando na verdade estive aqui no último outono antes de me recolher para descansar?

A primeira reação foi de surpresa, mas rapidamente sua expressão passou a pensativa. Desviou os olhos e permaneceu assim por alguns instantes, com olhar distante diante de minha última pergunta. Em seguida, como se tivesse tido uma visão, disse:

— Esqueça. Já conheço as respostas. Vou falar novamente: faz vinte e nove décadas que não apareces aqui. Entendeste? — falou calma e tranqui-lamente deixando mais do que claro que esta informação estava correta.

— Sim, Mestre.— Estiveste hibernando por vinte e nove décadas. Um descanso muito

longo. Nunca soube de alguém que tenha hibernado por tanto tempo — disse com expressão pensativa, mas não surpresa.

Nada poderia surpreender um ser tão infinitamente evoluído. Pelo menos não por muito tempo.

— De qualquer forma estás bem descansado agora e com os aconteci-mentos recentes tua força é necessária — completou.

— Acontecimentos recentes? Mestre, — falei confuso e envergonha-do por assim estar — para mim, realmente estive apenas uma estação hibernando. Não contesto tuas palavras de forma alguma, mas então logicamente aconteceu algo que fugiu a minha percepção. O que acon-teceu em minha ausência?

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Mais uma vez aquele breve olhar distante. O Mestre realmente tinha uma inteligência muito à frente de qualquer outro ser encarnado no multiver-so. Por isso até para mim era dif ícil acompanhar seu rápido raciocínio. Depois de poucos instantes ele respondeu:

— Palavras lógicas. Agora me surpreendo por não ter previsto isso. Vou te contar tudo resumidamente agora e em outra ocasião cuidaremos de mais detalhes. No inverno seguinte ao teu sumiço aconteceu um evento desencadeado por seres inferiores, porém de dimensões consideráveis, até para nós. Um grupo de elfos tentou conjurar um grande ritual mágico para fins que nem ao menos merecem ser citados. Fins fúteis objetivados por seres fúteis. O que importa é que o trabalho deles fracassou e gerou consequências desastrosas. É claro. O que poderia se esperar de seres inferiores e obviamente incompetentes? A invocação desse ritual levou muito tempo e consumiu enorme quantidade de mana. Na verdade todo o mana da região em um raio de centenas de quilômetros...

Mana é como chamamos a energia fundamental vital, natural, invisível, inodora, incolor, totalmente pura, produzida pela natureza e presente em todo multiverso em menor ou maior quantidade. Alguns seres inteligentes conseguem controlar essas energias através de sua vontade, produzin-do os mais diversos efeitos desejados. O resultado dessa manipulação é conhecido como magia ou mágica. Alguns seres inteligentes, conseguem manipular o mana somente através de fórmulas prontas, como receitas, produzindo efeitos estáticos com parâmetros fixos. À magia resultante dessas fórmulas prontas chamamos magia estática. Já os seres super-dotados de inteligência, mais evoluídos como nós, podem manipular o mana a seu bel-prazer produzindo efeitos tão variados quanto queiram. A esses efeitos chamamos magia dinâmica.

— Dryfr, — continuou o Mestre — sei que nossas residências particulares normalmente são mantidas em sigilo até mesmo entre nós, e dificilmen-te um de nós tem interesse na residência do outro por motivos óbvios que tu já conheces, mas me diga: tua casa fica na região das Montanhas Chatas, certo?

— Correto, Mestre, mas o que tem isso a ver? — perguntei cedo demais, é claro, pois é lógico que o grande ancião, Mestre de todos nós, que tinha uma inteligência muito superior a minha, já havia se dado conta dos fatos,

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antes que qualquer outro pudesse fazê-lo com tão poucas evidências.— Então minhas suspeitas se confirmam. Como eu já disse, esse ritu-

al consumiu todo o mana da região onde fora realizado, e a região em questão é a grande floresta próxima a tua casa. Todos os seres mágicos sofreram com a drenagem da energia promovida. A maioria morreu. Essa magia ritual sugou mana de uma vasta área a sua volta, o que inclui tua casa. Como consequência, ficaste adormecido muito mais tempo do que o normal. Aliás, o fato de ainda estares vivo é surpreendente.

— Entendo, Mestre. Isso significa que no momento em que os elfos começaram seus trabalhos ritualísticos eu já estava em plena hibernação. Certamente é uma novidade até mesmo para ti. Continue, por favor.

— Exatamente, mas estou apenas começando. As consequências geradas por essa irresponsabilidade são complexas e catastróficas, e ao conjunto de efeitos colaterais gerados nós demos o nome de Caos. Dentre os vários efeitos, um deles se destaca: espécies de outros mundos começaram a ser teletransportadas para Nosso Planeta oriundas de muitas partes do multiverso. Em alguns casos vilas inteiras apareceram repentinamente; em outros seres isolados vieram. Os casos são tão variados quanto são numerosos. Criaturas, as mais diversas, apareceram em nossas terras do dia para a noite, mas o pior de tudo é que todas as criaturas são seres infe-riores e desprovidos de inteligência. No máximo, inteligência comparável aos elfos e anões. Ou seja, muito inferiores. Como se as criaturas pouco evoluídas que já tínhamos aqui não fossem suficientes!

Praguejou o ancião e prosseguiu quase sem parar.— Dentre todas, uma espécie em especial é o foco de nossas preocu-

pações. Parecidos com os elfos em estatura, porém mais corpulentos, quase tanto quanto os anões, mas não tão atarracados. Eles não tinham nada em especial que merecesse destaque em princípio, mas tornaram-se nossa principal preocupação por mais incrível que pareça. Esses seres autodenominam-se humanos. São verdadeiras pragas! Têm prazer em destruir e conquistar. Conquistar seria até prazer comum conosco, se os hábitos deles não fossem mil vezes mais fúteis que os dos elfos. Eles querem e tentam conquistar tudo que lhes é possível. Chegam ao absur-do de demarcar terras e se declararem donos delas. Nessas terras culti-vam plantações de todos os tamanhos e tipos de vegetais, criam animais domesticáveis, constroem várias tocas de pedra, argila e madeira de todos os tipos e tamanhos. As terras usadas para cultivo e criação de animais

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alguns chamam de fazendas, outros de feudos. Pouco importa a diferença. As terras onde constroem o maior número de tocas chamam de cidades ou vilas dependendo do tamanho da aglomeração. Algumas tocas são usadas também para comercializar o que é produzido nas fazendas ou feudos, outras são usadas para moradia. Nas cidades maiores sempre há uma grande toca que chamam “castelo”, onde normalmente mora alguém muito importante para eles. Ou muito rico cercado de inúmeros vassalos, empregados ou mesmo escravos, dependendo da cultura. Mas isso tam-bém pouco importa. Os humanos usam tudo que encontram pela frente como insumo de sua futilidade. Constroem grandes edificações, máqui-nas de guerra e atacam todos que se opõem à vontade deles, chegando ao absurdo de fazerem grandes guerras até mesmo entre si. Devastam grandes quantidades de matas virgens para transformar em outro tipo de plantação que queiram; agrupam grandes quantidades de animais domes-ticáveis, fazendo-os reproduzirem-se mais rápido, crescer e engordar mais rápido para finalmente abatê-los mais rápido e comercializá-los como alimento. Abrem grandes minerações para garimpar minerais preciosos e não preciosos ou simplesmente pedreiras tirando tudo o que julgam útil e comercializável da terra e da rocha, deixando para trás um rastro de erosão e fissuras imprestáveis. Em resumo, um rastro de destruição desnecessária, descabida e desenfreada. Logicamente não dão conta ou não têm inteligência suficiente para aproveitar tudo o que extraem ape-nas para sua própria subsistência, mesmo depois de comercializar, então jogam fora o que sobra. O resultado disso é um enorme desperdício de recursos naturais. E degradam nosso mundo com a poluição das águas e terras. Recentemente até mesmo o ar tem sofrido. Se essa devastação desenfreada continuar, em alguns séculos nossos recursos naturais se esgotarão. Não preciso dizer que é inadmissível que seres inferiores domi-nem nossas preciosidades dessa forma. Além de tudo isso, como se já não bastasse, essas criaturinhas infames e pouco evoluídas chegaram ao intolerável absurdo de sonhar — frisou esta palavra — que podem chegar aos nossos pés! E maior absurdo ainda: sonhar — frisou novamente — que podem até dominar-nos!

Ao concluir a frase o Mestre soltou fumaça pelas narinas. Obviamente lembrando de algo que o irritou. A princípio não entendi por que tanta preocupação e irritação com uma raça inferior. E ele continuou.

— Esses “homens”, porém, diferem em vários aspectos dos elfos e dos

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anões, que cito tanto, por serem as referências de comparação mais pró-ximas que temos. Eles se reproduzem a uma velocidade alucinante, che-gando um casal a gerar uma prole de, às vezes, mais de dez indivíduos. Além disso, há casos em que um macho fecunda várias fêmeas durante toda a vida, podendo gerar dezenas de filhotes que, por sua vez, atingem a idade reprodutiva em pouco mais de uma década. Têm comportamento egoísta. Cada indivíduo preocupa-se primeiramente consigo mesmo. São totalmente desorganizados socialmente e cada qual quer a todo custo ser mais poderoso do que o outro, ter mais posses do que o outro, ser mais notório do que o outro. Um fator que ameniza levemente essa situação é que vivem pouco, normalmente não mais que seis ou sete décadas. E ameniza pouco porque ao morrerem deixam sempre herdeiros que conti-nuam os trabalhos, dando sequência assim ao ciclo de descabimento que promovem. Para agravar ainda mais a situação, essa praga, dentro de sua desorganizada hierarquia social, gera indivíduos muito versáteis. Fazem de tudo: mineram tão bem quanto os anões, cultivam terras, constroem, produzem todo tipo de material, inventam todo tipo de máquina para todo tipo de fim, utilizando-se de indivíduos que trabalham em pesquisas de novas coisas as mais variadas possíveis. Além disso, para acelerar e baratear os trabalhos mais pesados, escravizam qualquer indivíduo que capturem em batalha, inclusive os da própria espécie! Assim, depois de se multiplicarem, atingiram uma população enorme — após uma peque-na pausa, respirou fundo e continuou. — Então um dos grandes e ricos entre eles juntou em torno de si vastas quantidades de terras e fundou o primeiro do que eles chamam de reino. Um reino é uma tentativa de organizar a população que vive em um território sob um mesmo esquema de regras que todos devem seguir. Logicamente não dá certo, é óbvio, mas eles insistem e sempre que algum cidadão “infringe a lei” — enfatizou debochadamente essa expressão — ele é penalizado e na maioria das vezes com a morte. Sempre que algo não sai como gostariam, inventam uma guerra ou dentro de seu próprio território ou contra outro território. Seres estúpidos! Há vinte e nove décadas repetindo os mesmos erros e ainda não perceberam que os resultados são sempre os mesmos! E isso somente depois que chegaram ao Nosso Planeta, o que sugere que já tinham esses costumes desde sempre! De fato, eles são tão subdesenvolvidos que eu preferiria que alguma planta exótica tivesse sido teletransportada pra cá em vez deles.

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— Mestre, mas por que ainda não varremos essa praga da face de Nosso Planeta?

Soltando novamente fumaça pelas narinas, mas desta vez mais como um suspiro de tédio, sugerindo que havia muita coisa a contar ainda, o Mestre respondeu:

— Calma, Dryfr, ainda não terminei...E depois de uma breve pausa para tomar fôlego e acalmar-se um pouco,

continuou:— Inicialmente esses seres não conheciam magia. Certamente o nível

de mana do planeta natal deles é muito baixo o que impossibilitava que dominassem a magia. Com o tempo os tais pesquisadores, sábios entre eles, começaram a perceber que o nível de mana do nosso mundo pos-sibilita a qualquer ser de baixa inteligência, como eles, aprender magia. Nesse momento nossos problemas começaram de verdade. Como são muito versáteis e têm vida curta, são obrigados a aprender tudo mais rápido que outras raças inferiores mais longevas como elfos, anões e outros. Logo construíram o que chamam de escolas de magia. Construções destinadas a abrigar os mais sábios da magia entre eles, para que esses ensinem magia aos discípulos e para que deixem informações acumula-das em bibliotecas. Bibliotecas são coleções de vários escritos ordenados por assunto. Como têm vida e memória muito curtas, seus trabalhos são continuados de geração em geração. Um indivíduo começa suas pesquisas a partir de onde outro parou, valendo-se destes escritos que na prática servem para transmitir os estudos, pesquisas e experiências já realizados, para as gerações futuras. Para possibilitar isso, cada pesquisador sempre produz volumosos escritos, documentando tudo, para que as gerações futuras possam estudar. Isso gerou magos muito poderosos, alguns che-gando inacreditavelmente até mesmo aos nossos pés. Ainda bem que eles não são tão inteligentes a ponto de produzir magia dinâmica. O que eles conseguiram até hoje foram alguns efeitos a partir de experiências cuidadosamente anotadas. Assim, as gerações seguintes simplesmente seguem as receitas para produzirem os efeitos descritos e, uma vez ou outra, arriscam adaptar ou modificar as fórmulas. Aqueles que continuam pesquisando e sempre descobrindo novas receitinhas — e o Mestre falou isso em tom zombeteiro — são bem poucos, mas são os mais inteligentes entre eles...

Então fez mais uma pequena pausa, mas logo continuou novamente.

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— Logicamente passaram a usar a magia para a guerra como fazem com tudo de novo que inventam e encontram. As guerras desencadeadas por eles fazem sua tecnologia evoluir assustadoramente rápido, pois nessas situações inventam imediatamente meios de transpor qualquer barreira que se ponha entre eles e seus objetivos. Com a magia não foi diferente. Com essas guerras eles destruíram uma infinidade de outras espécies, tomando tudo que lhes pertencia e formando novas colônias de homens. Espalharam-se por todo o Nosso Planeta, rapidamente chegando até mesmo a terras distantes e desligadas do continente. Fizeram isso com grandes embarcações. Não barcos, como os que conhecíamos, de outros seres, mas sim grandes galeões que poderiam abrigar alguns de nós de uma só vez! Suas guerras são especialmente violentas, principalmente quando travadas entre si, pois, quando é o caso, o lado conquistado tem os indivíduos machos quase todos mortos selvagemente, com exceção dos ricos e bem nascidos que são capturados e mantidos vivos para se extorquir as famílias. São devolvidos sob pagamento de vultuosos res-gates. As crianças quase sempre são poupadas, todavia nesse caso quase sempre tornam-se escravos para a vida toda. Às mulheres é reservado um destino bem peculiar: os machos conquistadores copulam com elas à força e ainda agridem violentamente aquelas que oferecem resistência. Normalmente, depois disso, são mortas ou levadas para que continuem a ser violentadas, no caso das mais atraentes para eles.

Eu, pasmo diante das últimas revelações acerca dessas criaturas infe-riores, comecei naquele momento a desprezá-los. Então, o Mestre con-tinuou. E meu desprezo por eles aumentou, cresceu mais rápido do que eles próprios se multiplicam.

— Tudo isso é uma descrição básica do que aconteceu em tua ausência. Existem variações de acordo com cada cultura, é claro, mas todas igual-mente desprezíveis. O que de fato interessa agora é que existem fatos ainda mais graves. Como essa praga cresceu muito e muito rápido, foi inevitável nosso primeiro contato com eles. Logicamente, eles tomaram conhecimento de nossa existência muito depois que nós tomamos deles. Era de se esperar que nunca houvessem visto nenhum ser nem parecido conosco, mas não foi bem assim. A primeira vez que eles viram um Draco foi quando um de nossos jovens, um desatento Vermelho chamado Fyr, filho da sábia Wkyf, atacou alguns bovinos para se alimentar. Ele não sabia que esses bois faziam parte de uma fazenda de criação de gado

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dos homens. E também não percebeu que perto dele havia um casal de humanos escondido no matagal, copulando. Saíram nus de lá, aos berros, quando perceberam o jovem Vermelho devorando o gado no pasto. Ele ficou surpreso com aquilo, seu olfato embriagado com o aroma da carne fresca ainda morna, fê-lo pensar estar sozinho com o desjejum. O mais interessante, porém, foi o relato que nos fez das palavras que aqueles humanos proferiram aos gritos. Em voz alta repetiram coisas como “o demônio veio nos castigar por nossos pecados” ou “satanás continua nos perseguindo” ou ainda “o enviado do demônio veio para nos destruir”. Então começaram a chamar por um tal de “deus” e um outro tal de “jesus cristo” para ajudá-los. O jovem Vermelho disse que não se conteve e desmanchou-se ao chão, rolando às gargalhadas.

Então, o próprio Mestre deu uma grave risada ao que não pude me conter e ri junto.

— Pobres criaturas tolas! — continuou. — Não sabem que nada nem ninguém poderia ajudá-los naquele momento se o jovem Vermelho esti-vesse interessado neles. Bem, depois desse relato passamos a observar esses seres mais de perto. Observamos, estudamos e hoje sabemos tudo a respeito deles. Ou quase tudo. Aquele casal, por exemplo, saiu gritando e proferindo aquelas palavras por causa de uma coisa a que eles chamam “religião”.

E, sem dar atenção para minha expressão de curiosidade, o Mestre con-tinuou no mesmo fôlego.

— Existem várias religiões, mas a daqueles jovens humanos em específico era a “religião cristã” como eles chamam. Religiões são parecidas com seitas. Vários indivíduos se reúnem em um lugar sagrado ao comando de um sacerdote, para reverenciar algo. O mais curioso disso é que seus lugares sagrados são construídos por eles mesmos, e os sacerdotes são praticamente eleitos por eles mesmos. Nessa religião eles adoram um “deus” sem nome que dizem ser o único deus onipresente, onipotente e onisciente, criador de tudo. Pelo menos, é considerado sem nome para muitos. Alguns o chamam Jeová. Existe também nessa religião uma figura chamada Jesus Cristo, que mais tarde confirmamos ser aquele a quem os dois jovens chamavam. Em um livro que eles chamam de sagrado, mais especificamente “a bíblia sagrada” está escrito, entre outras coisas, que esse tal “Jesus” é “o messias”, profeta que veio à Terra para salvar os homens de seus “pecados”. Certamente uma lenda do planeta natal deles.

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Pecados, no caso, seriam as coisas que “deus” não gostaria que os homens fizessem. No tal livro diz também que o tal Jesus é o filho de deus e tem também lá uma série de códigos de conduta dos humanos. Algumas seitas cristãs ainda consideram que Jesus é o próprio deus. A bíblia também é chamada por alguns de “a palavra de deus” e todo cristão deveria seguir o que está escrito nela, mas o fato é que muito poucos sequer a leram alguma vez. Aliás, a maioria deles também sequer sabe ler, tornando-se fantoches nas mãos de clérigos, padres, bispos e outros títulos de hierar-quia dentro da religião, logicamente gananciosos que se auto-intitulam portadores da salvação. Costumes tolos para uma espécie tola que não pratica nem mesmo aquilo em que acredita. Ou diz que acredita. O que poderia se esperar deles, não é?

Depois de uma breve pausa desdenhosa e uma inspiração renovada, o Mestre continuou sem dar-me chances de indagar qualquer coisa.

— Mais ao sul existem outros povos de homens que falam outras línguas e têm outras religiões. Vou citar apenas a outra religião mais numerosa dos humanos em Nosso Planeta atualmente: o islamismo. A religião em si é muito parecida com o cristianismo, pois acredita no mesmo deus, que na língua deles é chamado “alá”, ou algo assim, não importa. Também têm um livro sagrado que chamam “alcorão” e um profeta chamado Maomé, como Jesus, só que não é tido como filho de alá e sim apenas como “o profeta”. As histórias de Jesus e Maomé são bem diferentes, mas os livros sagrados têm conteúdos semelhantes, códigos de conduta e outras coisas fúteis aplicáveis apenas a seres inferiores. Há ainda um reino formado há poucas décadas que é dominado por povos pagãos. Os cristãos os chamam de “hereges” e os consideram inimigos mortais. E eles são mortais de fato. Os mais violentos, sanguinolentos e brutais humanos. São a escória da escória. A boa notícia é que não se dedicam à magia, pois sua inteligência é ainda mais precária do que a dos outros humanos.

Então o Mestre fez uma pausa maior do que as anteriores, suspirou profundamente e finalmente disse:

— Historinhas de seitas inferiores de seres inferiores me cansam. Portanto, vou logo para o motivo pelo qual estou contando isso tudo. Nos livros sagrados deles também é descrito um lugar chamado “infer-no”. Esse lugar, se é que existe, certamente é outro plano de existência do multiverso, mas o que importa é que é governado por alguém chama-do “satanás” ou “diabo” ou “lúcifer” ou ainda “belzebu” e outros nomes.

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Alguns dizem se tratar da mesma criatura, outros dizem serem criaturas diferentes, mas isso, dentre outras futilidades, também não importa. O que importa realmente é que o nosso jovem Vermelho faminto, aparente-mente assemelha-se com essa, ou alguma dessas criaturas fantásticas, ou com algumas das criaturas que vivem nesse tal de inferno. As semelhan-ças seriam a cor avermelhada, os chifres, asas, dentes e a aparência, que para os humanos não é muito agradável. Por isso a histeria daquele casal de humanos ao verem nosso jovem discípulo Vermelho com os dentes ensanguentados, dilacerando a carne fresca do gado. Ainda mais porque naquele momento estavam “cometendo o pecado” de copular fora do que eles chamam de “casamento” que seria a união de um macho com uma fêmea diante dos olhos de “deus”. União que deveria durar para o resto da vida dos casados que juram fidelidade um ao outro diante desse “deus”.

Fazendo esse comentário, o Mestre deu mais uma breve e grave garga-lhada zombeteira, de desprezo, e disse:

— Ah, Dryfr, falei demais dessa praga, muito embora ainda haja muita coisa que devas saber. Portanto, antes que eu continue, meu valoroso discípulo, diga-me, o que lhe aflige tanto para vires aqui abruptamente no meio da noite?

— Sim, Mestre. Como já sabes, venho por causa desses seres inferio-res. O que não deves saber ainda é que ao acordar deparei-me com eles rondando as terras próximas a minha casa. Algumas dúzias montando cavalos e dirigindo-se para a minha montanha. Como deves supor, fiquei surpreso ao deparar-me com seres até então nunca vistos por mim. O que me fez vir até aqui buscar as informações, as quais já deste.

— Espere, Dryfr. Disseste “algumas dúzias montando cavalos e dirigindo--se para a minha montanha”! O que o levou a concluir isso?

— Observei-os durante umas doze horas, parando apenas para o desje-jum, é claro. Agora devem estar dormindo no acampamento deles, mais ou menos a quinze quilômetros da minha montanha. Presumo que ao amanhecer devam continuar a cavalgada até chegarem lá, mas para que e o que querem ainda não sei.

— Eu sei — disse o Mestre convicto, surpreendendo-me mais uma vez.— Sabes? Como... — imediatamente me interrompi. — Desculpe, Mestre.

Continue, sim?— Dryfr, antes de hibernar fazia quanto tempo que não vias teu irmão

Drwfr? — emendou sem dar muita atenção as minhas desculpas.

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— Pouco mais de seis décadas.— Como suspeitei. Bem, tenho o ingrato dever de te dar uma triste

notícia: teu muito caro irmão está morto!Naquele momento fui tomado por um misto de saudade e raiva, porém

recuperei quase imediatamente o autocontrole, que nos é característico, sem deixar que nenhum sentimento transparecesse.

— Obviamente, como manda a tradição, o Mestre conceder-me-á o direito de retaliação ao indivíduo que fez isso a meu irmão. E eu, sem dúvida, quero retaliar. Mas o que tem essa triste notícia a ver com os homens perto da minha montanha, Mestre?

— Quem fez isso não foi um de nós, Dryfr. Lembra-te que eu disse que os humanos chegaram ao absurdo de pensar que podem dominar até a nós Dracos? Entendeste agora o porquê de minha ira ao lembrar?

— Aqueles humanos mataram meu irmão? — perguntei sem acreditar que fosse possível, mas ao mesmo tempo já tendo entendido o que o Mestre dissera. — Sendo assim não preciso que me concedas direito de retaliação algum. Estraçalharei aqueles vermes imediatamente! — vocife-rei tomado pela raiva e com meu desprezo por eles aumentando cada vez mais. — Mas antes me diga Mestre: como o fizeram? Seres tão inferiores! Como conseguiram fazer tombar meu tão poderoso irmão? E por quê?

— O porquê é obvio, Dryfr: saquear a casa dele. O “como” é o que nos preocupa. Como eu já te disse, existem poderosos magos entre os humanos atualmente. Um desses magos foi quem localizou teu irmão e juntamente com um pequeno exército de algumas dúzias de cavaleiros invadiu a casa dele e o matou enquanto dormia. Eu sei que isso é bem dif ícil de acreditar, mas o mago em questão lançou um feitiço de sono de nível altíssimo para que teu irmão dormisse mais profundamente enquan-to entravam na casa dele. Isso é recente. Aconteceu há pouco mais de quatro décadas. O mais cruel é que quando teu irmão já estava bastante ferido e sem chance de reação, o mago o reanimou para interrogá-lo a respeito de outros de nós. Neste interrogatório teu irmão foi fria e cruel-mente torturado e em seguida assassinado por esses vermes imprestáveis. Evento sem precedentes. Nunca nenhuma outra criatura sequer havia tido coragem de chegar perto de um de nós com tais intenções. Pelo menos nenhuma que tenha sobrevivido para contar. Então, Dryfr, eu te pergunto já tendo quase certeza da resposta: teu irmão sabia onde é tua casa e o que guardas lá?

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— Sim, Mestre, sabia. Mas acho quase impossível que tenha contado a essas criaturas repugnantes.

— Não sejas tolo, Dryfr! Um Draco não “acha”! Diga-me: teu irmão não falaria nem sob encanto? Sob tortura? Por que esses humanos estariam procurando tua casa?

O raciocínio era lógico demais para ser improvável.— Tens razão, Mestre. Desculpe-me. Nesse caso tenho contas a acertar

com algumas criaturas inferiores agora. Voltarei dentro de alguns dias, — bradei, condenando aqueles, que rumavam para minha montanha, pela morte de meu irmão.

Na verdade eu não podia saber se foram estes, mas decidi que pagariam de qualquer forma, pois se não tinham sido eles, outros com intenções semelhantes fizeram-no.

— Cuidado, Dryfr. Embora esta palavra nunca tenha sido adequada a nós, eu te peço. Pelo menos certifique-se antes se há algum mago entre eles. Caso haja, deverá ser este o primeiro a morrer.

— Com toda certeza, Mestre.A estas palavras ele abraçou-me e despedimo-nos rapidamente. Em

seguida, despedi-me de todos os outros e voei.

Eu estava voando alto quando me aproximei do acampamento. A lua, totalmente cheia, iluminava a noite estrelada. Voei mais vagarosa e sua-vemente para evitar ruídos com o bater de minhas asas. Fiquei planando em círculos por um tempo e de cima eu via as fogueiras ainda ardentes no acampamento e as tendas. Algumas totalmente escuras e outras com algumas tímidas fontes de luz dentro. Algumas nuvens encobriram a lua e eu sobrevoei o acampamento de muito alto em uma parte limpa do céu. Felizmente nossa visão é privilegiada e por isso consegui ver claramen-te sentinelas guardando o acampamento. Havia dez delas espalhadas, descrevendo um esboço de pentagrama. Em cada ponta do pentagrama tinha duas sentinelas juntas. Usei minhas perícias mágicas para verificar se havia algum mago, arma ou item mágico presente. Para minha sur-presa não havia apenas um mago, mas dois, dividindo a mesma tenda, e, portando, itens mágicos diversos. Ainda havia pelo menos dez outros homens portando armas mágicas. Talvez alguns desses itens até tenham feito parte da coleção de meu irmão, mas mesmo que não fizessem, eu precisava tirá-los daquelas criaturas inferiores que não os mereciam.

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O ataque teria que ser certeiro e sem chances para reação. Eu teria que dizimar a todos rapidamente, começando pelos magos. Seria fácil com um ataque surpresa, mas eu teria que esquematizar a sequência para evitar qualquer possibilidade de defesa por parte deles.

As tendas estavam razoavelmente próximas, com os magos na tenda do centro, e os homens com armas mágicas nas tendas adjacentes, formando um círculo em torno da tenda dos magos.

— Hierarquia bastante óbvia... mas como são tolos. Subestimam seus inimigos! Vêm caçar dragões e não esperam um ataque de cima? Vai ser muito fácil — afirmei a mim mesmo em voz baixa.

Mergulhei em direção à tenda central e na distância certa lancei a pri-meira baforada flamejante que atingiu exatamente a tenda do centro onde estavam os magos. Houve um grande estrondo e as chamas esparrama-ram-se pelas barracas adjacentes. Alguns indivíduos ainda tiveram tempo de gritar, mas somente até o momento em que pousei, esmagando-os e dilacerando-os, com minhas quatro patas e com minha cauda, vermes que são. Sentia os corpinhos sendo estraçalhados por todas as minhas quatro garras e minha cauda, através dos tecidos grossos das tendas que se encharcavam de vermelho tão rápido quanto eram queimados. Tudo ao mesmo tempo em que eu girava em torno de mim mesmo, bafejando minhas chamas mortais por toda a extensão do acampamento. O som das vozes gritando, e contorcendo-se ao sentirem seus corpos inúteis queimando, foi como música para meus ouvidos, enquanto eu lembrava e tentava entender como seres tão tolos, inutilmente fracos e subdesenvolvi-dos conseguiram assassinar Drwfr, meu amado e poderoso irmão. Quando lembrei-me dos motivos deles, a melodia dos gritos de dor e pavor foi mais agradável ainda aos meus ouvidos. Apenas alguns indivíduos saídos das tendas periféricas, conseguiram ver quem estava confiscando-lhes a vida e então gritaram por “deus” e por “Jesus”, mas não por muito tempo. Mortais inúteis! Não têm honra nem mesmo na hora da morte! Precisam apelar para algo superior! Quando ouvi aquelas apelações tive vontade de lhes falar que contra mim não adiantaria apelar para nenhum outro ser, pois nada poderia salvá-los! Ao terminar esse pensamento já os havia transformado em cinzas. Quando tudo e todos estavam ardendo, flutuei novamente, em seguida, bati as asas com mais vigor e subi. Foi quando lembrei-me de um pequeno detalhe: as sentinelas. Certamente se escapas-sem, outros viriam em maior número avisados por elas. Rapidamente voei

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alto novamente para procurá-las. Eram dez, mas no momento conseguira avistar apenas sete. Sete ardilosas sentinelazinhas que se dispersaram em sentidos diferentes para tentar me confundir. Porém, tudo é mais fácil para quem voa. Mesmo correndo em sentidos diferentes, visualizei-os como se fossem pontinhos a se ligar, como eu fazia na juventude com as estrelas do céu. Os pontinhos interligados formavam um arco imper-feito, o que facilitou bastante meu trabalho. Voei descrevendo este arco e os estraçalhei um a um com minhas garras traseiras. Faltavam três. Voei mais alto e vi dois correndo e chegando à grande floresta próxima. Não podia deixá-los entrar lá, do contrário seria bem mais dif ícil pegá--los. Com um mergulho, consegui interceptar os dois de uma vez! Estes estavam juntos e não correndo em sentidos diferentes, logo, o último já devia ter entrado na mata.

Parei e pousei suavemente na entrada da floresta. Olhei atentamente para o interior escuro e, como nada vi, farejei calma e profundamente. Minhas narinas confirmaram minhas suspeitas. Percebi também que não estava longe. Voei, mas mesmo lá de cima não foi possível vê-lo, pois a mata era fechada. Por isso comecei a atear fogo descrevendo um semicír-culo na intenção de prendê-lo em uma jaula ardente. A única chance de escapar seria voltar, mas isso somente se eu não incendiasse o caminho de volta... O que, logicamente, eu fiz. Em seguida voei alto novamente e fiquei observando por várias horas lá de cima e nenhum movimento constatei a não ser o das criaturas selvagens que fugiam do fogo.

Queimei uma grande área de mata nativa naquela noite, mas de acordo com a história do Mestre nem se comparava com a devastação promovida pelos humanos. A incerteza de ter matado aquela sentinela me incomo-dava e por isso permaneci sobrevoando o local por mais duas horas, até que finalmente desisti. Afinal, se viessem outros, teriam o mesmo fim que seus amiguinhos... Além disso, essas criaturas seriam demasiado tolas se fossem até lá depois de ouvirem uma história como a que a sentinela contaria se tivesse escapado. Eu precisava recuperar minhas energias e então rumei para meu aconchegante lar.

No caminho passei novamente pelo acampamento destruído e constatei que aqueles seres eram ainda mais frágeis do que pensei. Não sobraram nem os ossos. Tudo virou cinzas. O mau cheiro dos corpos queimados podia ser sentido a muitos quilômetros de distância e eu havia transfor-mado aquela clareira em um buraco de cinzas, carvão e terra vitrificada.

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Recolhi todos os objetos mágicos que resistiram ao ataque. Seres inferiores não deviam ter acesso tão fácil a tais itens. Dentre todos os objetos um deles chamou mais minha atenção: um colar de prata com um grande pingente de diamante que parecia um prisma. Nunca vira nada igual. Parecia haver algo lá dentro, pois tinha um brilho púrpura que tremeluzia dançando ao centro. No entanto, eu estava sem disposição para analisá-lo mais a fundo. Teria mais tempo para isso mais tarde, pois todos aqueles objetos passaram a fazer parte da minha coleção. Finalmente, depois de resgatar os itens e observar a destruição que promovi, recolhi-me ao meu valioso leito sob a montanha. Era o momento de deixar aflorar minha tristeza pela morte de meu amado irmão: sozinho e no escuro de minha caverna. Fiquei por algum tempo pensando em Drwfr com saudades e preparando-me para o triste fato de que nunca mais o veria. A certa altura lágrimas verteram de meus olhos e subitamente levantei, gritei, urrei e soquei o chão e as paredes arrancando nacos de rocha. Depois de algum tempo deitei-me novamente, de costas desta vez, com as asas, braços e pernas abertos. Ainda tinha lágrimas nos olhos, mas aos poucos o can-saço me acalmou, as lágrimas secaram e lentamente meus olhos foram se fechando e minha visão se turvando. Finalmente dormi e pelo menos assim e, por enquanto, teria alguma paz.

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Acesse um dos canais acima e deixe seus comentários, dúvidas, sugestões, críticas, elogios... e aproveite para ler o trecho já disponível de:Draco Saga: A Sentinela (Vol. 2)Obrigado e até a próxima!Fábio Guolo

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