trabalho suino ii

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2 INTRODUÇÃO A suínocultura atual é altamente tecnificada e tem exigido atingir maiores índices de produtividade, e para tanto, além de animais geneticamente melhorados, nutrição e manejo adequados há necessidade de instalações bem planejadas, que proporcionam um bom conforto térmico, permitindo aos animais expressarem ao máximo o seu potencial de crescimento. Atualmente o sistema intensivo "confinamento total dos animais" tem sido questionado, mas ainda prevalece na maioria das criações de suínos. Esse sistema afastou os suínos de seu ambiente natural, o que não raramente tem gerado problemas quanto ao manejo e instalações, e isso coloca os fatores ambientais em situação de relevada importância para a produção. Entre os fatores do meio ambiente, o clima é um dos mais importantes, em especial a temperatura e a umidade relativa do ar. Estes devem ser cuidadosamente considerados na eficiência produtiva dos suínos em confinamento, principalmente na fase de maternidade onde as necessidades térmicas da porca e dos leitões recém-nascidos, são diferentes. Nas regiões tropicais, os suínos estão freqüentemente expostos a temperaturas acima das requeridas para seu

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2 INTRODUÇÃO

A suínocultura atual é altamente tecnificada e tem

exigido atingir maiores índices de produtividade, e para

tanto, além de animais geneticamente melhorados, nutrição e

manejo adequados há necessidade de instalações bem

planejadas, que proporcionam um bom conforto térmico,

permitindo aos animais expressarem ao máximo o seu potencial

de crescimento.

Atualmente o sistema intensivo "confinamento total dos

animais" tem sido questionado, mas ainda prevalece na maioria

das criações de suínos. Esse sistema afastou os suínos de seu

ambiente natural, o que não raramente tem gerado problemas

quanto ao manejo e instalações, e isso coloca os fatores

ambientais em situação de relevada importância para a

produção.

Entre os fatores do meio ambiente, o clima é um dos mais

importantes, em especial a temperatura e a umidade relativa

do ar. Estes devem ser cuidadosamente considerados na

eficiência produtiva dos suínos em confinamento,

principalmente na fase de maternidade onde as necessidades

térmicas da porca e dos leitões recém-nascidos, são

diferentes.

Nas regiões tropicais, os suínos estão freqüentemente

expostos a temperaturas acima das requeridas para seu

conforto térmico, que aliadas à elevada produção de calor

endogêno, podem afetar substancialmente sua produtividade.

Entretanto, as pesquisas sobre os efeitos climáticos nos

parâmetros de produção e reprodução nestas regiões ainda não

são totalmente esclarecedoras e são em número relativamente

pequeno.

Segundo TINOCO (1988), nas regiões tropicais,

principalmente na região de cerrado do Triângulo Mineiro, é

freqüente a utilização do sistema de ventilação dentro das

instalações zootécnicas com o objetivo de resfriá-las. No

entanto, o abaixamento da temperatura não atinge índices

satisfatórios em épocas e dias mais quentes do ano, o que faz

refletir em menor produtividade e maior mortalidade animal.

A suinicultura no Brasil foi desenvolvida a partir de

construções improvisadas para um sistema de produção

extensivo ou semi-confinado. A partir da década de 60, com a

consolidação de agroindústrias, principalmente no sul do

país, e com as novas descobertas tecnológicas, a suinicultura

brasileira vem experimentando rápida modificação, passando,

gradativamente, de um “status" de baixa para alta tecnologia.

No entanto, nesse período, houve importação tecnológica e

pouca atenção foi dada à questão da adaptação dos modelos de

construções importadas da Europa e dos EUA, especialmente com

relação as condições ambientais para máxima produtividade em

condições climáticas brasileiras.

Provavelmente, o aspecto de ambiente ideal para máxima

produtividade tenha sido relegado a segundo plano, por causa

do sensível "input" de produtividade que um suinocultor, que

adotava as novas tecnologias, muitas vezes importadas,

obtinha, pois foram registrados casos de aumento de

produtividade de oito a nove para 16 a 18 suínos

terminados/porca/ano. Além desse fato, é bom ressaltar as

maiores rusticidade e adaptação dos animais a ambientes

adversos no passado, pois, até meados da década de 80, ainda

se considerava como rebanho tecnificado aquele cuja idade

média de abate de animais com 95 kg fosse de 180 dias ou

menos e cuja espessura de toucinho média da carcaça fosse

menor que 3,O cm.

Devem ser ressaltados os avanços tecnológicos obtidos

atualmente. Têm-se observado, em rebanhos de alta tecnologia,

índices de 22 a 24 suínos terminados/porca/ano, 135 a 142

dias de idade média de abate de animais com 98 kg e espessura

de toucinho média abaixo de 2,0 cm. Dessa forma, há que se

supor que, atualmente, os padrões de rusticidade e de

adaptação dos animais, a ambientes adversos, não devem ser os

mesmos.

Observando essa realidade, PERDOMO e NICOLAISWSKY (1988)

analisaram as condições ambientais de diferentes tipos de

construções para suínos, em época quente, em 23 municípios

do sul do Brasil, e constataram que as temperaturas internas,

nas edificações em geral, eram elevadas para ótimo desempenho

dos animais (exceto para leitões em aleitamento), que a

ventilação interna era pouca e inadequada e que os criadores

não utilizavam adequadamente os dispositivos para

modificações ambientais (janelas, tampões, cortinas e

outros), visando minimizar os efeitos estressantes.

Dentre as instalações suinícolas, as maternidades são as

mais difíceis de serem projetadas, pois devem propiciar

condições de conforto térmico para ambos, porcas e leitões,

contemplando as exigências de temperaturas médias efetivas,

que englobam os efeitos combinados de temperatura, umidade do

ar, vento e radiação, em torno de 18°C, para as porcas, e de

28"C, para os leitões.

Nos últimos anos, alguns estudos têm sido realizados,

visando à melhoria do acondicionamento ambiental dos animais

na maternidade, com resultados promissores. Dentre esses

destacam-se aumento do ganho de peso de leitões ao desmame,

em função do uso de ventilação com ar resfriado próximo à

região da cabeça das porcas (HEARD et aI., 1986), e melhoria

de produtividade das porcas em ambientes com resfriamento

evaporativo em salas de maternidades de suínos

(TEIXEIRA,1995).

Face ao exposto, realizou-se uma pesquisa para se

estudarem os efeitos de diferentes sistemas de

acondicionamento térmico, em maternidades para suínos, sobre

o conforto térmico e a produtividade de porcas e leitões, em

condições de verão e inverno.

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 Bases fisio1ógicas dos suínos

Os suínos são animais homeotérmicos, portanto, a

temperatura dos seus órgãos vitais deve manter-se dentro de

uma faixa relativamente estreita, entre 38 a 40OC, segundo

LEIPZIG (1976). Sua pele possui cerdas curtas e inadequadas

para proteção contra o frio ou a radiação solar. Por outro

lado apresentam deposições de gordura no tecido subcutâneo

que proporcionam um bom isolamento térmico contra o frio.

Outra peculiaridade fisiológica é o grande número de

glândulas sudoríparas presentes na pele sem sudoração ativa,

portanto, sem nenhuma função termorreguladora, o que torna

esses animais ainda mais susceptíveis ao calor do que ao

frio. A pele sofre constante dessecação natural por

evaporação, sendo necessário seu umidecimento (HAFEZ, 1973;

ALUJA & BERRUECOS, 1978; COSTA, 1979). A perda de calor por

via evaporativa é maior no ar expirado devido ao aumento da

freqüência respiratória.

Quando um animal é submetido a um ambiente mais frio do

que a sua temperatura corporal, de acordo com as leis físicas

de transferência de calor, certa quantidade de calor é

removida de seu corpo. Se esta situação permanecer por muito

tempo sem nenhuma compensação fisiológica, haverá uma redução

na temperatura corporal. Os animais poderão compensar esta

perda adicional de calor aumentando sua produção de calor

e/ou reduzindo a perda através de uma série de ajustamentos

físicos e químicos (TEIXEIRA, 1990).

0 suíno confinado passa por uma fase de fadiga

(catabolismo) e por uma fase de repouso (anabolismo). 0

catabolismo, sob o ponto de vista fisiológico, envolve três

tipos de fadigas: (1) a física e muscular, resultante da

movimentação; ( 2) a termo-higrométrica, relativa ao calor ou

ao frio; ( 3) a nervosa, particularmente visual e sonora. As

de origem térmica são as que estão relacionadas com a

temperatura e umidade relativa do ar ambiente, movimentação

do ar e radiação (HANZEN & MANGOLD, 1960).

Segundo HINCKLE & JONES (1974), alta umidade relativa

juntamente com temperaturas elevadas, influenciam

decisivamente no desempenho de suínos confinados.

HEITMAN et al. (1958), trabalhando com suínos nos EUA,

verificaram a existência de uma correlação positiva entre

crescimento do suíno e aumento da sua susceptibilidade aos

efeitos dos fatores climáticos, especialmente os provocados

pelas altas temperaturas. Segundo POND & MÃNER (1974),

diversas informações comprovam a influência do clima sobre o

desempenho econômico dos suínos em condições de laboratório e

de campo.

3.2 Zona de termoneutralidade

A zona de termoneutralidade ou de conforto térmico,

corresponde a uma faixa de temperatura ambiente na qual

torna-se dispensável qualquer atividade metabólica por parte

do animal para aquecer ou esfriar o corpo. Nesta faixa de

temperatura o metabolismo animal está no seu mínimo. Abaixo

ou acima desta temperatura há elevação da atividade

metabólica numa tentativa de manter o ponto de equilíbrio.

Para cada espécie animal existe uma temperatura de

conforto, a qual varia consideravelmente em função da idade,

tipo de cruzamento, estado nutricional, entre outros fatores.

É nesta faixa de temperatura que se consegue obter o máximo

de desempenho dos animais.

POND & MANER (1974), define como ótimas as faixas de

temperaturas de 20º C a 23º C para suínos em fase de

crescimento e de 17º C a 22º C para suínos em fase de

terminação.

Os leitões recém-nascidos são propensos ao esfriamento,

chegando a perder de 1,7º C a 7,2º C na temperatura corporal

após o nascimento (CÀVÀLCÀNTI, 1987), retornando ao normal

(39,2"C) só no 2ç ou 3Q dia. Essa perda de calor e devido a

falta de pelos no animal, à ausência de gordura subcutânea, à

escassa reserva de glicogênio para produção de energia (o que

provoca a hipoglicemia) e ao controle imperfeito da

homeostase da temperatura corporal. Esta particularidade na

termorregulação dos leitões e bastante diferente da porca,

dificultando o controle ambiental nas gaiolas de parição.

Como paliativo para resolver essa situação criam-se

microclimas no "Creep", com aquecimento através de lâmpadas

ou resistências, procurando manter a temperatura entre 32-

34'C. Entretanto, a temperatura na maternidade deve estar

entre 15 e 22'C, acima da zona de conforto, para que os

animais consumam mais alimento e os leitões não sintam muito

frio fora do "Creep" (VAN'KLOOSTER, 1991).

3 - 3 Índices de conforto térmico

Vários índices têm sido estabelecidos e usados para

avaliar o conforto ou desconforto do animal em relação às

condições do ambiente. De maneira geral, só a Temperatura do

Bulbo Seco (TBS) e a Umidade Relativa (UR) têm sido usados. O

índice de conforto mais usado é o Índice de Temperatura e

Umidade (ITU). Desde então, esse índice vem sendo adotado

para determinar o índice de conforto ambiente, que é

determinado pela equação

ITU = TBS + 0,36 TPO - 330,08, (eq. 1)

onde' ITU = índice de temperatura e umidade;TBS =

temperatura do bulbo seco, em K;

TPO = temperatura do ponto de orvalho, em K.

CARGIL & STEWART (1966) verificaram que o ITU deveria

ser limitado a um valor igual a 75, representando o índice de

conforto máximo para o gado leiteiro da raça holandesa. No

entanto Jonhson citado por CARGIL & STEWART (1966), verificou

que o declínio da produção de leite estava ligado ao

acréscimo do ITU. Com valores de ITU iguais ou inferiores a

70, as vacas leiteiras experimentavam um desconforto muito

pequeno. Se o nível atingisse valores superiores a 75, a

produtividade decrescia vertiginosamente.

Sob condições de clima tropical, um animal pode estar

exposto a uma carga térmica de radiação maior do que sua

produção de calor metabólico, resultando, portanto, em alto,

nível de desconforto (BOND et al. , 1967). Neste caso, o ITU

não reflete a carga térmica radiante, portanto, não pode ser

efetivamente empregado para avaliar o desconforto e

subseqüente perda de produção sobre essas condições.

Outra medida, conhecida como índice de Temperatura do

Globo Negro e da Umidade (ITGU), que incorpora a temperatura

do bulbo seco, a temperatura do bulbo Úmido, a radiação e

movimento do ar, foi desenvolvida pela inclusão da

Temperatura do Globo Negro (TGN) na equação do ITU, em lugar

da temperatura do bulbo seco. A equação é a seguinte:

ITGU = TGN + 0,36 TPO - 330,08, (eq. 2)

onde,

TGN = temperatura do globo negro, em .K.

Estudos realizados por BUFFINGTON et al. (1979)

mostraram que não há diferença significativa entre os índices

ITGU e ITU, para condições de sombreamento, quando o material

da cobertura apresenta uma camada de 10 cm de isolamento

térmico. Esses mesmos autores, argumentaram que, para locais

cobertos, os ITU não apresentaram diferenças significativas,

ao nível de 5% de probabilidade. Já o índice ITGU, com o

mesmo nível de probabilidade, mostrou ser superior para

locais descobertos, quando comparados a locais cobertos.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Ambiente térmico

O ambiente compreende centenas de fatores físicos, entre

esses os térmicos, químicos e biológicos, que variam no

espaço e no tempo (CURTIS, 1983).

Segundo BOND (1967), os fatores térmicos ambientais

considerados importantes são: temperatura, umidade do ar,

velocidade do ar e radiação solar.

A temperatura é considerada o principal fator térmico do

ambiente, não só pelo seu efeito direto sobre a intensidade,

das trocas térmicas entre o animal e o ambiente, como

indiretamente pela influência que exerce sobre os demais

componentes do microclima.

Para cada espécie animal, existe uma faixa de

temperatura de conforto térmico, que varia consideravelmente

em função da idade, do tipo de cruzamento, e do estado

nutricional, entre outros fatores, e é nessa faixa de

temperatura que se consegue obter o máximo desempenho dos

animais.

A faixa de temperatura de conforto, também conhecida

como zona de conforto, corresponde a uma faixa de temperatura

ambiente na qual se torna dispensável qualquer atividade

metabólica por parte do animal para aquecer ou esfriar o

corpo (equilíbrio entre a produção e dissipação de calor).

Nessa faixa de temperatura, o metabolismo animal é mínimo

(TEIXEIRA, 1996).

A zona de termoneutralidade é limitada pela temperatura

crítica inferior, ou seja, pela temperatura ambiental abaixo

da qual o animal aciona seus mecanismos termorregulatórios,

no sentido de, significativamente, produzir o calor

necessário para balancear a dissipação de calor para o

ambiente frio, e pela temperatura crítica superior, que é a

temperatura ambiental, acima da qual ocorre a

termorregulação, no sentido de auxiliar o animal na

dissipação de calor corporal para o ambiente. Pode ser

citada, como exemplo, a ocorrência de tremor muscular, quando

a temperatura ambiental está abaixo da crítica inferior, ou

de respiração acelerada ou suor, quando essa temperatura está

acima da crítica superior (CURTIS, 1983).

Os animais domésticos podem se adaptar a ambientes

quentes ou frios, como por exemplo: o búfalo adapta-se a

ambientes tropicais úmidos e o camelo adapta-se a ambientes

quentes secos do deserto, já a espécie suína é muito sensível

a condições climáticas adversas, tanto em climas frios,

quanto em climas quentes. Em climas frios, os suínos recém-

nascidos são mais afetados por causa da falta de controle

termorregulatório, da pequena camada de gordura subcutânea e

das poucas reservas corporais de glicogênio, já em climas

quentes, os suínos adultos são os mais afetados, pois, à

medida que o suíno adquire maior camada de gordura

subcutânea, toma-se inábil para dissipar o calor corporal.

Em condições de verão, as temperaturas elevadas exercem

grande influência na produtividade das porcas, com

conseqüente diminuição do consumo alimentar, dificuldades de

detecção de estro, redução da taxa de ovulação, redução da

taxa de concepção e aumento da mortalidade embrionária.

Convém ressaltar, ainda, que o estresse por calor pode ser

agravado pela produção de calor endógeno, especialmente na

fase de gestação e lactação, exigindo uma dissipação , de

calor adicional. Nesse estado fisiológico, as fêmeas passam a

desenvolver uma respiração mais superficial e pouco eficiente

para dissipar o calor corporal em virtude do menor tempo

disponível para a saturação do ar expirado (PERDOMO et al.,

1985).

Tem sido detectado efeito direto do estresse por calor

sobre a ingestão de alimentos nos suínos, principalmente se a

elevada temperatura estiver associada a uma elevada umidade

relativa do ar. Quando porcas são expostas a ambas,

temperatura e umidade elevadas, o consumo alimentar diminui e

ocorre aumento no consumo de água, com conseqüente redução do

ganho de peso. TEAGUE et aI. (1968), pesquisando o efeito de

altas temperaturas em porcas gestantes, verificou que, à

temperatura de 33.3°C, ocorreu redução de 21 e 45% no consumo

médio diário e no ganho de peso, respectivamente, não sendo,

nesse experimento, verificada influência da umidade relativa.

A redução no consumo das porcas na lactação pode chegar a 0,1

kg/dia para cada grau celsius de acréscimo da temperatura

ambiente, além do limite de temperatura critica superior.

HEITMAN e HUGUES (1949), estudando os efeitos da

temperatura, desde 4 até 43°C com 50% de umidade relativa,

sobre o desempenho de suínos em várias faixas de peso, desde

45 até 160 kg, verificaram que, quanto mais pesado o animal,

maior sua sensibilidade ao calor, ou seja, maiores são os

efeitos do estresse por calor. Por isso, talvez, que porcas

gestantes e lactantes, bem como reprodutores, apresentam as

menores temperaturas criticas superiores.

A diminuição do consumo, em virtude das condições

climáticas, afeta o desempenho reprodutivo das porcas, como

também sua produção de leite e, consequentemente, o ganho de

peso e a saúde dos leitões. A temperatura ambiente elevada

afeta o ganho de peso das porcas lactantes.

A estação do ano, ou seja, condições térmicas

proporcionadas pelas condições do ambiente, pode exercer

influência sobre o peso médio dos leitões e das leitegadas,

em função das diferentes condições climáticas, do manejo das

matrizes e das maiores disponibilidade e qualidade dos

alimentos.

A alta temperatura e a diminuição do consumo alimentar,

também, podem interferir na detecção do estro nas fêmeas.

TEAGUE et aI. (l 968) observaram que, em temperaturas acima

de 33oC, sendo que não foram observados os dados de umidade

relativa, o número de marras com anestro foi maior do que em

temperaturas inferiores. Esses autores sugeriram que a

ovulação deve ter ocorrido de maneira normal, porém sem

qualquer sinal externo de estro e, por isso, o estresse por

calor pode ter dificultado a detecção do estro.

O número de fêmeas em estro pode cair em cerca de 4%

para cada grau celsius de acréscimo na temperatura ambiente

em relação à considerada ótima para a porca e isso pode

significar, que, acima de 35OC, o estro seja suprimido.

2.2, Modificações ambientais

As instalações para criação de animais confinados podem

ser classificadas em fechadas ou abertas, dependendo da

finalidade para que foram projetadas. A fechada é aquela

projetada para que a temperatura interna da instalação

independa da temperatura externa, demandando mais

modificações ambientais, e a instalação aberta é aquela

projetada para que a temperatura interna varie de acordo com

a temperatura externa (CURTlS. 1983).

No Brasil, a maioria das instalações de suínos e aves é

de instalações abertas. PERDOMO et al. (1985) apresentaram

quatro modelos de instalação, utilizados na criação de suínos

nos Estados de Santa Catarina e Paraná, que eles denominaram

de unilateral fechado, bilateral fechado, aberto e misto. O

unilateral fechado foi conceituado como sendo aquele que

apresenta fechamentos (janelas, janelões, tampões ou outros)

em uma das laterais e a outra é aberta e esse modelo é muito

popular e característico de pequenas criações de suínos. O

bilateral fechado foi conceituado como sendo aquele em que os

edifícios, especialmente de maternidade e creche, apresentam

fechamento em ambas as laterais e esse modelo tem sido

utilizado por médios e grandes produtores. O aberto foi

conceituado como sendo aquele em que os edifícios apresentam

as laterais abertas, isto é, sem qualquer tipo de fechamento

nas laterais, sendo comum em todos os níveis de criação. O

misto foi conceituado como sendo aquele com um só prédio

dividido em seções, com fechamentos unilaterais e, ou,

bilaterais de concepção mais recente, que tem sido

característico nos "sistemas integrados de produção de

suínos", desenvolvidos por alguns frigoríficos, cooperativas

e empresas diversas.

Na análise realizada por PERDOMO et al. (1985), os

principais problemas verificados por eles, nesses modelos,

foram: elevadas temperaturas internas em relação às

consideradas como ótima para a maximização do desempenho do

suíno, com exceção dos animais jovens; altas taxas de umidade

relativa do ar interno consideradas inadequadas para o bom

desempenho da espécie, especialmente quando relacionada às

altas temperaturas observadas nos períodos analisados;

utilização inadequada dos recursos disponíveis no edifício

(janelas, tampões, cortinas e outros), de forma a minimizar

os efeitos negativos e estressantes dos fatores ambientais

excessivos (radiação solar, temperatura, ventilação e umidade

relativa do ar).

A ventilação adequada de uma instalação zootécnica é de

extrema importância, pois é responsável pela renovação da

umidade, dispersão dos gases nocivos, provenientes do

metabolismo animal, e dispersão do excesso de calor. Em

épocas frias, quando se deseja manter o calor dentro das

instalações, a ventilação deve ser mínima, apenas para

renovação de ar e eliminação de gases e umidade. Quando a

temperatura ambiente ultrapassa a crítica superior de

conforto, é necessário aumentar a taxa de ventilação a fim de

eliminar o calor dissipado pelos animais mais o recebido em

virtude da radiação solar para se evitar uma temperatura

excessiva dentro das instalações.

A ventilação natural deve ser usada prioritariamente nas

instalações para criação confinada de animais. Porém, se o

conforto térmico não for alcançado com a ventilação natural,

pode-se lançar mão de sistemas de ventilação forçada e

resfriamento artificial.

Para maximizar a ventilação natural, pode-se e deve-se

promover um criterioso estudo sobre: possibilidades

propiciadas pelo clima e pela topografia do terreno,

localização e organização espacial das instalações e

paisagismo natural e da própria construção (TINÔCO, 1995).

A ventilação natural pode ser devida ao vento e à

diferença de temperatura entre o ar interno e externo, também

chamada de termossimo. A ventilação, por causa do vento,

depende da velocidade e da direção do mesmo e da

interferência de obstruções, como morros ou construções,

tamanho do projeto e localização das aberturas de entrada e

saída. A ventilação, por causa do termossifào, é diretamente

proporcional às diferenças de altura entre as aberturas de

entrada e saída de ar e da área das aberturas.

COSTA (1982) considerou que a ação dos ventos, que é

intermitente, e do termossífào ocasiona o escalonamento das

pressões no sentido horizontal, no interior das instalações,

provocando movimentação do ar, e que essa ventilação pode ser

intensificada por meio de aberturas dispostas

convenientemente. Contudo, os dispositivos para a ventilação

natural, em virtude do termossífào, são calculados para

ausência de vento, condições que, normalmente, acompanham as

elevadas temperaturas.

O aquecimento do ar, no interior de um galpão com

animais, provoca variação na densidade do mesmo, de modo que

o ar mais aquecido tenha uma tendência natural à ascensão e,

se o galpão possuir aberturas próximas ao piso e no teto, o

ar poderá sair pelas aberturas mais altas e provocar a

penetração do ar externo nas aberturas mais baixas, sendo que

a temperatura é mais baixa dentro do galpão.

Quando a ventilação natural não proporcionar a renovação

de ar necessária, a ventilação forçada pode e deve ser

adotada, por propiciar um fluxo de ar independentemente das

condições atmosféricas.

A ventilação forçada, também denominada de sistema de

ventilação mecânica, pode ser implantada com o uso de

ventiladores, controladores e, freqüentemente, de outros

equipamentos, como aquecedores e resfriadores que condicionam

o ar (CURTIS, 1983).

Segundo CURTIS (1983), os sistemas de ventilação

mecânica necessitam de ventiladores com controle automático,

com moduladores termostáticos e "timer", para promover níveis

múltiplos de fluxo de ar, de acordo com temperatura e outros

parâmetros a serem regulados, dependendo do clima e das

condições de operação.

Geralmente, recomenda-se que os ventiladores usados nas

instalações zootécnicas abertas devam ser dispostos com o

fluxo no sentido da largura do galpão, de forma a succionar o

ar fresco do exterior, injetando-o para o interior e,

expulsando o ar viciado pelo lado posterior, e,

primordialmente, que os ventiladores devam ser posicionados

no sentido do vento dominante para que não tenham sua

eficiência reduzida.

Outra recomendação importante é que os ventiladores

devem ser instalados a uma altura que permita que o jato seja

direcionado levemente para baixo, sem, entretanto, incidir

diretamente sobre os animais. Com esse procedimento, é

possível conseguir-se a retirada do ar quente e umedecido

próximo à área de ocupação dos animais. O Número de

ventiladores a ser usado em uma instalação, segundo TINÔCO

(1995), depende de sua vazão, volume da instalação, época do

ano e idade dos animais.

No Quadro 2, estão apresentadas taxas de ventilação e

velocidades do ar, a serem usadas para as instalações de

suínos, em função da época do ano, segundo dados compilados

de alguns autores por PERDOMO (1995), em que se pode perceber

que, na maternidade e na gestação, é que se requerem maiores

taxas de ventilação e isso, provavelmente, esteja em função

das menores temperaturas críticas superiores exigidas para os

animais abrigados nessas instalações.

O mal planejamento dos sistemas de ventilação de

instalações zootécnicas, especialmente suinícolas, é

proporcionado pela baixa eficiência na remoção do calor

interno e, praticamente, não reduz o estresse sobre os

animais, tendo sido observado com frequência no Brasil

(PERDOMO et al.. 1985).

Em condições de calor, a ventilação natural ou

artificial, mesmo quando bem planejada, pode ser insuficiente

para propiciar condições ambientais confortáveis. Isso porque

a ventilação não possibilita redução da temperatura do ar e,

dessa forma, a temperatura mínima que se conseguirá obter no

interior do galpão será exatamente aquela do ar externo usado

na ventilação, a qual, muitas vezes, assume valores acima do

desejável. Assim, o possível favorecimento da ventilação, na

dissipação do calor corporal, anula-se quando a temperatura

do ar equipara-se à temperatura corporal do animal. Nesses

casos, recomenda-se o resfriamento do ar.

Segundo relato de TINÔCO (1995), uma das formas de

resfriamento do ar que pode ser adotada, em instalações

abertas e fechadas, é o resfriamento evaporativo, o qual

possibilita redução da temperatura do ar de até 12OC, nas

regiões secas, e, em média, 6OC nas condições brasileiras. O

sistema de resfriamento evaporativo pode ser obtido por

vários processos, destacando-se resfriamento do ar interno,

por meio de nebulização associada a ventilação, e o de passar

o ar através do material poroso umedecido.

O processo que utiliza o material poroso acoplado a

ventilador tem sido usado em maternidade para suíno. O ar

não-saturado entra em contato com a superfície liquida

livremente exposta, promovendo troca simultânea de calor e de

massa, ocorrendo a vaporização de água. O calor necessário

para essa mudança de estado vem do calor sensível contido no

ar e na água, resultando em um decréscimo da temperatura de

ambos. O ar pode sair saturado ou com certa umidade

especifica. dependendo dos controles empregados. Porém, em

qualquer caso, a quantidade de água empregada no aumento da

umidade especifica é igual a quantidade de água circulante

evaporada.

Como no sistema de resfriamento evaporativo ocorre

redução da temperatura de bulbo seco, com conseqüente aumento

da umidade do ar, espera-se que sua maior eficiência dê-se em

climas quentes e secos. No entanto, alguns trabalhos têm

demonstrado que, por causa do ciclo diurno de certas regiões

úmidas onde a maior temperatura de bulbo seco tem sido

acompanhada pela menor umidade relativa, o sistema de

resfriamento evaporativo tem sido importante nas horas de

maior estresse por calor nessas regiões (Tinoco, 19953).

2.3. Índices do ambiente térmico

O estudo de índices do ambiente térmico foi

primeiramente desenvolvido para se determinar a sensação de

conforto ou de desconforto para os homens. Pesquisadores como

Houghten e Vaglou (1923), citados por BAÊTA (1985),

desenvolveram um índice denominado de temperatura efetiva,

descrito como sendo uma função da temperatura, umidade e do

movimento do ar, para se compararem as sensações térmicas

sentidas pelo homem quando esse era exposto a diferentes

ambientes. Desde então, vários índices foram determinados

para os seres humanos.

No entanto, de acordo com BOND et al (1967), o animal

exposto à radiação solar pode receber a carga térmica de

radiação, maior que sua produção de calor metabólica,

resultando em alto nível de desconforto. Nesses casos, o ITU

pareceu não refletir a carga térmica radiante e, assim, não

pode ser empregado para predizer o desconforto e a

subseqüente perda de produção nessas condições.

BUFFINGTON et al.( 1977), citados por Costa (1979),

propuseram um índice para se avaliar o ambiente térmico.

incorporando os efeitos da umidade, da velocidade do ar, da

temperatura do bulbo seco e da radiação em um único valor e o

denominaram-no de ITGU, que e representado pela seguinte

equação:

ITGU = Tgn + 0.36Tpo - 330.08

em que

Tgn - Temperatura de globo negro, em K;

Tpo - - Temperatura de ponto de orvalho, em K,

A temperatura de globo negro é obtida a partir de uma

esfera oca de cobre, com 0,05 cm de espessura e l5,O cm de

diâmetro, pintada com tinta preta fosca, contendo em seu

interior, o elemento sensor de um termômetro.

BUFFINGTON et aI. (1977), citados por Costa (1979),

relataram que, quando comparadas medições em locais com e sem

cobertura, os ITU's não apresentaram diferenças

significativas, a 5% de probabilidade. Já o ITGU, em relação

a mesma probabilidade, mostrou-se bem superior para locais

sem cobertura.

Outro indicador das condições térmicas ambientais tem

sido a carga térmica radiante (CTR), que, em condições de

regime permanente, expressa a radiação total. recebida pelo

globo negro, de todos os espaços ou partes da vizinhança. A

carga térmica de radiação quantifica a radiação ambiente

incidente sobre o animal e seu cálculo baseia-se na

temperatura radiante média (TRM), podendo ser obtida, segundo

ESMAY ( 1969), pela equação de Stefan-Boltzman:

em que

CTR = carga térmica de radiação, em W m-2.

u = constante Stefan-Boltzmann ($,67 x 10-' W m-ZK-4) .

TRM = temperatura radiante média, em K.

A TRM pode ser obtida segundo a equação:

TRM = l 00,~2,$ lx,l-x(tgn - tbs) + (tgn / l 00)4

em que

TRM = temperatura radiante média, em k;

v - velocidade do vento, em m/s;

tbs = temperatura de bulbo seco (do ar), em K.

Outros índices desenvolvidos, além de considerarem os

fatores climáticos (temperatura do ar, umidade relativa do

ar, velocidade do vento etc.), consideram, também, outras

variáveis fisiológicas, como, por exemplo, o índice

desenvolvido para suínos, denominado de índice bioclimático

(IBC), elaborado a partir da equação de Petit , que se baseia

na sensação térmica do animal em função do equilíbrio

existente entre a temperatura de bulbo seco (Tbs, 0C) ou de

globo (Tgn, 0C), da umidade relativa do ar (UR.%), da

velocidade do vento (V. m/s), da variação do peso animal (P,

kg) e da temperatura retal (TR, 0C), e é expressa pela

seguinte equação:

iBC - - 0.89Tbs+ O.O$UR - 1.8 1~ + 0,0ZP- 0,$43TR

As condições de neutralidade térmica devem ser obtidas

para o valor de IBC igual a zero.