projecto planeamento familiar
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Sexualidade no puerpério em mulheres com VIH/SIDA ________________________________________
INTRODUÇÃO
Cortesão (1992, p.81) refere que o conceito de projecto é ambíguo e polissémico, servindo para
designar diferentes realidades, tais como: “(...) plano de acção, intenção, desígnio, intento,
projéctil, roteiro, empresa, esboço, lançamento...”. No entanto, apesar da sua polissemia, pode
afirmar-se que no caso do projecto/plano ele é o resultado da conjugação da identificação de um
problema e da estruturação de um conjunto de intervenções necessárias à sua resolução prática.
São pois, a necessidade e o desejo dele decorrente que impulsionam a acção.
Foi desejo do grupo optar por trabalhar o tema: “comportamentos sexuais de risco no contexto
das infecções sexualmente transmissíveis” e abordar a área da sexualidade no puerpério em
mulheres com VIH/SIDA.
O VIH/SIDA é uma infecção incurável, com elevada morbilidade e mortalidade, em que o
espectro do contágio é permanente. Continua a ser uma das principais causas de mortalidade
mundial e a principal na África sub-Sahariana.
Segundo UNAIDS e WHO (2007) a nível Mundial no ano de 2007, existiam 33.2 milhões de
pessoas infectadas com o VIH, das quais 2,5 milhões constituem novas infecções e 2,1 milhões
de mortes devidas à SIDA, sendo 76% verificadas na África sub-Sahariana (anexo I). Todos os
dias mais de 6800 pessoas são infectadas com VIH e mais de 5700 morrem de SIDA,
principalmente devido ao inadequado acesso a serviços de prevenção do VIH.
Em todo o mundo, 90% das infecções por VIH nas mulheres, ocorrem por contágio
heterossexual, 5% a 10% por partilha de material injectável contaminado e 3% através de
transfusão de sangue ou produtos contaminados. As mulheres representam actualmente metade
das pessoas que vivem com SIDA no mundo e 60% da população africana contaminada com o
vírus. Mais de metade de todos os novos casos de infecção com o VIH diz respeito a jovens com
menos de 25 anos. Tornou-se a principal causa de morte no mundo entre homens e mulheres com
idades compreendidas entre os 15 e os 59 anos.
A infecção VIH/SIDA continua a ser o mais sério desafio à saúde pública, exigindo uma resposta
organizada da sociedade, e dos governos em particular; de políticas que solucionem de facto os
problemas de cada indivíduo e de cada comunidade. A indispensável promoção da saúde, as
medidas de prevenção da doença e a disponibilização de cuidados terapêuticos (sofisticados e
dispendiosos), não se tornam efectivas sem a capacidade de decisão colectiva e de actuação
multi-sectorial, que complementam e ultrapassam o esforço individual. Mas a responsabilidade
não se aplica apenas àqueles que detêm posições de autoridade. Aplica-se também a todos nós!
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Rodrigues, Pereira e Barroso (2005) afirmam que a saúde de cada pessoa depende do seu
projecto de vida, do seu sentido de felicidade e da sua forma específica de estar no mundo.
A concretização de políticas de saúde adequadas depende também das políticas de educação e do
desenvolvimento educativo das pessoas e comunidades. Educar é uma acção determinante na
procura de competências de cidadania, que sejam também transformadoras e criadoras de
condições de vida saudáveis. A Educação para a Saúde constitui assim uma ferramenta essencial
na prevenção da doença e promoção da saúde, sendo, então, uma actividade fundamental na
prática dos enfermeiros.
Delineámos como objectivos gerais para este trabalho:
Desenvolver competências na elaboração de projectos de educação para a saúde;
E como objectivos específicos:
Apresentar um projecto de educação para a saúde na área da sexualidade no puerpério em
mulheres com VIH/SIDA
O trabalho está estruturado da seguinte forma: inicia-se pelo diagnóstico da situação,
justificando-se a pertinência do tema escolhido para este projecto, passando depois ao
desenvolvimento do projecto em si, com todas as etapas que lhe estão inerentes e á posterior
contextualização teórica das áreas abordadas pelo projecto de educação para a saúde, dando
ênfase ao papel do EESMO neste contexto. Terminaremos com uma conclusão, na qual iremos
reflectir sobre o desenvolvimento deste trabalho, referindo os principais constrangimentos
sentidos e, acima de tudo, as principais aprendizagens adquiridas.
A metodologia utilizada para a elaboração do presente trabalho escrito, foi a pesquisa
bibliográfica e pesquisa de campo, a discussão e reflexão em grupo e duas entrevistas de
orientação com a docente orientadora. Para a apresentação do trabalho optou-se pela
metodologia de role playing acompanhada por método expositivo, como forma de melhor expor
o trabalho de projecto elaborado. Ficam em anexo o guião da dramatização, o power point e o
plano da sessão (anexo II, III e IV).
1. DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO
Tal como está escrito na Carta de Ottawa (1986), “as estratégias e programas de promoção da
saúde deverão ser adaptadas às necessidades locais e às possibilidades de cada país e região,
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considerando os diferentes sistemas sociais, culturais e económicos”. Por conseguinte, o
primeiro passo deverá ser, fazer o ponto da situação em relação à comunidade na qual estão
inseridos os clientes, para adaptar as estratégias aos problemas identificados, conseguindo desta
forma adequar as acções à necessidades, mobilizando apenas os recursos indispensáveis, nos
momentos oportunos, rentabilizando os recursos disponíveis.
Em Portugal a situação da infecção VIH/SIDA não é menos inquietante do que no resto do
mundo. De acordo com a Coordenação Nacional para a Infecção VIH/SIDA (2007), tal como
consta no Programa Nacional de Prevenção e Controlo VIH/SIDA 2007-2010 o primeiro caso de
SIDA em Portugal foi diagnosticado em Outubro de 1983 e até 31 de Dezembro de 2006 foram
notificados ao CVEDT 30.366 casos de infecção VIH/SIDA, dos quais 45% corresponderam a
utilizadores de drogas injectáveis, 37,5% associados a transmissão heterossexual, 11,9% a
transmissão homossexual e 5,6% a outros modos de transmissão. Do total acumulado de 13.515
casos de SIDA, 17,7% ocorreram em mulheres, 84,6% ocorreram no grupo etário dos 20 aos 49
anos.
Em 2005 a incidência da infecção em Portugal foi de 251,1 casos por 1.000.000 habitantes, o que
corresponde a 2.635 novos casos, ocupando o nosso país o segundo lugar no contexto europeu
(52 países). Anualmente morrem em Portugal cerca de 1.000 pessoas por SIDA.
Segundo dados emanados pelo CVEDT referentes à situação até 31 de Dezembro de 2005,
incidindo especificamente na infecção VIH/SIDA na gravidez, em relação à causa provável de
transmissão da infecção VIH/SIDA em grávidas (de 1986 a 2005) regista-se o maior número de
casos por transmissão sexual (577 casos), seguindo-se a toxicodependência (71 casos) e a
transfusão sanguínea (3 casos).
No relatório técnico final do “Projecto de intervenção psicossocial em famílias afectadas
pelo VIH/SIDA”, implementado no serviço de obstetrícia e consulta de
pediatria/imunodeficiência do HGO, no período de Junho a Dezembro de 2004, (financiado pela
C.N.L.C.S.), abrangendo um grupo de oito grávidas e sete puérperas num total de quinze
mulheres seropositivas para o HIV é referido que “Um elemento que deve ser tido em especial
atenção é o facto de que 50% das mulheres infectadas deste grupo, tiveram conhecimento da sua
infecção no momento da gravidez e 14,3% teve conhecimento do diagnóstico no período do
Puerpério; de todas as mulheres infectadas, pelo menos um terço desconhece o momento, a via e
o contexto em que foram infectadas. Ou seja, a maior parte das mulheres (64,3%) conheceram o
estatuto de portadoras do VIH no contexto da gravidez sem que esse diagnóstico tivesse inerente
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a consciência do comportamento de risco que poderá ter estado na origem da infecção. Esta
evidência, por um lado, põe em destaque a desadequação dos comportamentos de saúde por parte
de um determinado grupo populacional, que deverá ser adequadamente caracterizado e, por
outro, coloca em questão a verdadeira dimensão do problema da infecção pelo VIH/SIDA uma
vez que estas mulheres, bem como os seus companheiros, se não tivessem engravidado não
teriam conhecimento do seu estado de infecção pelo VIH. Coloca-se aqui em consideração,
também, a inexistência de um planeamento reprodutivo e de parentalidade adequado (…).
Estas reflexões são indicadoras de que existem grupos populacionais específicos aos quais
devem ser dirigidas as campanhas de prevenção e de formação/informação, bem como de que é
imperativo um maior investimento político e social no planeamento familiar e na educação
sexual.” (HGO e C.N.L.C.S, 2004, p.9)
A presente conjuntura governamental reconhece como prioridade factual a problemática
social inerente à epidemia VIH/SIDA no país. De tal forma que uma das metas consagradas no
Programa Nacional de Prevenção e Controlo VIH/SIDA 2007-2010 será a de reduzir em
Portugal o número de infecções VIH e diminuir o número de novos casos e de mortes por SIDA,
pelo menos em 25%.
No objectivo 4.2 da mesma fonte pode ler-se: “Garantir meios de prevenção às pessoas que
vivem com infecção VIH/SIDA” através, nomeadamente, das estratégias seguintes: “ - Reforçar
a componente de aconselhamento continuado e educação para a saúde, que favorecem a
aquisição de competências preventivas pelos doentes seguidos em consulta hospitalar; -
Promover activamente o apoio aos parceiros sexuais e aos conviventes das pessoas com infecção
por VIH, nomeadamente no sentido de conhecerem o seu estado serológico; - Promover a auto-
-vigilância e auto-cuidado em parceria com organizações representativas dos doentes”
(Coordenação Nacional para a Infecção VIH/SIDA, 2007, p.49).
O enfermeiro, como profissional que se debate quotidianamente com as vivências e
problemáticas destas pessoas, dotado de um corpo de saberes científicos, comunitários, culturais
e relacionais revela-se como um profissional com um potencial de intervenção precioso!
Tal como alega a OE (2008), é vital que os enfermeiros tenham acesso a informação actualizada
sobre o VIH e estejam preparados social e culturalmente para maximizar a prestação de
cuidados, prevenir o estigma do VIH e que o objectivo do acesso universal - dos portadores de
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VIH, aos cuidados e tratamentos, até 2010 – acordado por todos os países membros das Nações
Unidas, seja uma realidade.
No âmbito mais restrito e específico que concerne ao EESMO, e dada a proximidade e
conhecimentos detidos acerca da mulher, inserida no respectivo contexto familiar e social, mas
também de educação para a saúde, de sexualidade, e mesmo de humanidade cabe-lhe zelar pelos
interesses e direitos destas mulheres, que vivem com o peso e estigma de um diagnóstico
sufocante como é o de VIH/SIDA. De uma vez por todas, urge debelar a sombra social que
permanece sobre estas pessoas! É tempo de lutar pela dignidade, direitos e humanidade das
mulheres com VIH, ousando contrariar alguma da discriminação ainda presente no contexto da
prestação de cuidados de saúde, mas também a que inequivocamente se detém nas construções
mentais de cada um, que por sua vez edificam o todo que é a nossa sociedade! Lutar pela
estruturação de formas de ajuda a estas mulheres é também agir em prol do todo em que elas se
inserem!
Por tudo isto, decidimos dirigir o presente projecto de educação para a saúde para as puérperas
com VIH/SIDA. Num contexto de vida tão particular como o atravessado por estas mulheres
parece-nos útil encetar um projecto com estas características, no sentido da consideração da sua
sexualidade, entendida não na sua forma mais redutora (acto de se experienciarem relações
sexuais, que podem contaminar o(s) outros(s), tendo apenas como foco de atenção a doença )
mas vista como necessidade e característica humana, que necessita de ser trabalhada e
promovida nestas situações. Só assim se poderão prevenir comportamentos sexuais de risco no
futuro destas pessoas. Acima de tudo estar-se-á a contribuir para que estas mulheres sejam mais
saudáveis, usufruindo de um conjunto de vivências, sentimentos e reciprocidades... ao fim ao
cabo, não deixaram de ser pessoas... com necessidade de comunicar, tocar, amar e receber... de
Existir!
A população abrangida pelo projecto consubstanciar-se-á à assistida no serviço de internamento
de puérperas do HGO. Esta instituição localiza-se em Almada e o respectivo internamento de
obstetrícia organiza-se em dois serviços: o de Grávidas e o de Puérperas, ambos situados no piso
5. A lotação do serviço em análise corresponde a um total de 31 camas.
O serviço de Puerpério tem um staff de enfermagem constituído por um total de 23 profissionais.
Destes fazem parte um EESMO (para além da Chefe de Serviço) e um enfermeiro especialista
em saúde infantil, em que entre ambos se partilha a responsabilidade da gerência do mesmo a
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vários níveis, nomeadamente no que diz respeito ao apoio/acompanhamento na prestação directa
de cuidados aos utentes.
As idades das puérperas estão compreendidas habitualmente entre os 14 e 44 anos. De um modo
geral, o internamento dura cerca de 48 horas nos partos eutócicos, 72 horas nos partos distócicos
por ventosa e/ou fórceps e de 96 horas nos por cesariana.
A população assistida por esta instituição é variada e oriunda de múltiplas localidades, mas é
pertencente maioritariamente às áreas de influência do HGO - os concelhos de Almada, Seixal e
Sesimbra - servindo uma população de 348.663 residentes , segundo informação dos Censos de
2001(INE, 2008). A maior densidade populacional situa-se entre os 20 e os 34 anos de idade,
quer nos homens, quer nas mulheres, o que corresponde a uma parcela importante da população
sexualmente activa e sobretudo da mulher em idade fértil.
O número de puérperas que anualmente são acolhidas na referida instituição ronda as 4000. No
que se refere mais concretamente às puérperas com VIH estima-se que se tratem de 30 por ano
(valor médio).
Os cuidados prestados a estas mulheres são individualizados e adaptados aos contornos dos
respectivos contextos existenciais. Contudo, e sendo duas das enfermeiras do grupo pertencentes
ao referido serviço, a abordagem que é actualmente efectuada ao tema da sexualidade é
essencialmente médico-sanitária! Como enfermeiras sentimos necessidade de impregnar as
nossas práticas neste âmbito de um outro sentido: o de considerar as necessidades
comunicacionais, relacionais e sexuais destas pessoas, ultrapassando os contornos redutores do
estanque (que muitas vezes ofusca o discernimento) e investindo numa tónica de reconhecimento
e de valorização permanentes!
Para que haja acompanhamento consistente e estruturado neste âmbito, o grupo decidiu
acompanhar as utentes com VIH/SIDA pertencentes ao CS do Seixal após o regresso a casa.
Uma das razões da escolha deste CS residiu no facto de um dos elementos do grupo, dele ser
proveniente e ter noção muito particular não só das características e necessidades da população
que a ele recorre como também dos recursos humanos e físicos aí existentes.
O CS do Seixal – Extensão do Seixal encontra-se localizado no Concelho do Seixal, integrado no
Distrito de Setúbal (Península de Setúbal). De acordo com o relatório da de Saúde Pública do
Seixal de 2006 residem cerca de 150.271 habitantes na respectiva área de assistência, sendo que
73,718 correspondem a indivíduos do sexo masculino (49,1%) e 76.553 a mulheres (50,9%). O
grupo etário maioritário é o compreendido entre os 25 e os 64 anos de idade. Encontram-se cerca
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de 29.709 utentes inscritos neste CS, verificando-se uma afluência mais significativa por parte
das crianças, grávidas e idosos. Os contornos descritos da população parecem-nos absolutamente
complacentes com a necessidade de intervenção sentida ao nível da sexualidade e prevenção de
comportamentos de risco em puérperas com VIH/SIDA.
No que se refere aos recursos humanos a equipa de enfermagem do CS é composta por 19
profissionais de enfermagem, todos enfermeiros generalistas.
O programa de Saúde Materna/Planeamento Familiar actualmente vigente é operacionalizado
quotidianamente, entre as 8 horas e as 18 horas, dirigido a todas as grávidas/puérperas e
mulheres, com ou sem médico de família, pertencentes à área de abrangência da Extensão de
Saúde do Seixal. No que se refere ao âmbito mais específico do puerpério, a actual vigilância de
enfermagem passa pela avaliação do peso e tensão arterial, educação para a saúde relativamente
à evolução dos lóquios e respectiva vigilância, cuidados com a episiorrafia/laceração suturada,
aleitamento materno, cuidados com as mamas e mamilos, contracepção pós-parto, repouso e
actividade física e realização de registos na folha de consulta da puérpera. Também a este nível
constata-se existirem lacunas na abordagem da sexualidade, numa perspectiva mais complacente
com o carácter intimista que comporta.
Apelando-se à participação das pessoas no projecto de saúde de si mesmas e das suas famílias
(em que está inserido um ser acabado de nascer), identificando-se factores de risco e factores de
prevenção e protecção, em orientações centradas na pessoa e respectivo contexto, estar-se-á
certamente a propiciar a aquisição de competências tão adaptadas e específicas que
potencialmente geradoras de mudanças no sentido da adopção de comportamentos sexuais
seguros e, consequentemente, da vivência de uma sexualidade positiva.
2. PROJECTO
Bonvalot (1986) citado por Cortesão (1992, p.89), define projecto como sendo “ a passagem do
desejo à intenção e da intenção à acção, mas uma acção reflectida, esclarecida e planeada”
Torna-se impreterível passar então à concepção do próprio projecto.
2.1. TEMAConsulta de planeamento familiar
Consulta da Menopausa
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Rastreio do cancro do colo do útero.
2.2. FINALIDADEPromover a vivência da sexualidade de uma forma saudável e segura, evitando gravidezes
indesejadas.
Promover uma adaptação saudável da fase do climatério
Proceder à colheita de espécimes para realização de colpocitologia de forma a rastrear o cancro
do colo do útero.
2.3. POPULAÇÃO ALVOConsultas de Planeamento Familiar
A população alvo referente às consultas de planeamento familiar é constituída por todas as
mulheres/casais em idade fértil.
Consultas de Climatério
A população alvo abrange todas as mulheres que se encontram no período da perimenopausa.
Rastreio Cancro do Colo Útero
A população alvo para o rastreio do cancro do colo útero é constituída por mulheres com idades
compreendidas entre os 25 e os 60 anos.
que tenham efectuado citologia há mais de um ano, que tenham iniciado a actividade sexual há
três anos e com idade até aos 65 anos. Se for o desejo inequívoco e explícito de alguma utente
em termos de inclusão do companheiro nos momentos de aconselhamento, essa será com certeza
uma mais valia.
Critérios de exclusão – mulheres tratadas por cancro do colo do útero, histerectomizadas, que
não iniciaram actividade sexual, com incapacidade física que impossibilite o exame ginecológico
ou em seguimento em consulta de patologia cervical.
2.4. PROGRAMAÇÃO
Tal como refere Dewey (1992) a concepção de um projecto subentende a visão de um fim e
implica prever as consequências que decorrem da acção do impulso inicial e do desejo. Para tal é
necessário a observação, informação e avaliação objectiva das condições e circunstâncias em que
o projecto se poderá realizar.
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Para que o desejo se converta em projecto e o projecto em plano de acção, a equipa conceptora
do projecto em causa sentiu a necessidade de realizar vários contactos. A justificação conceptiva
de todos os contactos efectuados encontra-se perante a percepção de que embora as conceptoras
sejam profissionais cujo known how deriva da sua experiência e do saber fazer em prestação de
cuidados, é fundamental o contributo que outros profissionais, com a sua experiência e com
outras perspectivas e realidades de uma mesma problemática, nos podem oferecer.
A realização dos seguintes contactos foi facilitada pelo facto de a equipa conceptora do projecto
ser constituída por elementos que prestam cuidados nas instituições onde se pretende
desenvolver o projecto. Perante isto, foi essencial contactar:
Enfermeira-chefe do Serviço de Internamento de Puérperas do HGO e do CS do Seixal e
Enfermeira Coordenadora do CSI SEIXAL, onde será implementado o projecto e cujo
espaço físico será fulcral.
Assistente Social e Psicóloga de referência do Serviço de Internamento de Puérperas do
HGO, que na complementariedade da equipa multidisciplinar apresentam saberes das suas
áreas de conhecimento, que são uma mais valia na abordagem da população alvo.
Médica e Enfermeira da consulta de risco de Obstetrícia do HGO , que fazem a ponte entre
a gravidez e o puerpério da população alvo.
Enfermeira do CAT de Almada responsável pela Consulta de Saúde Materna de mulheres
toxicodependentes com VIH/SIDA, com a experiência de uma realidade complementar e
que poderá alcançar outra franja desta população.
Delegação de Saúde Pública do Seixal , que transformam ideias e números concretos em
valores estatísticos.
Instituições da comunidade :
SORRISO (por ser uma instituição dirigida ao VIH/SIDA da área de influência).
APF (por ser uma Associação com credibilidade e experiência no âmbito da
sexualidade).
ABRAÇO (Instituição Particular de Solidariedade Social dirigida ao VIH/SIDA).
SOL (Instituição Particular de Solidariedade Social vocacionada para dar apoio às
crianças infectadas e afectadas pelo vírus da SIDA prestando ajuda às famílias através
de acções de apoio domiciliário, entre outras).
As instituições da comunidade escolhidas são o elo para a comunidade e foram estas as eleitas
visto terem largas demonstrações dadas nas áreas centrais onde incide este projecto.
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Consideramos que os contactos efectuados constituem um alicerce fundamental para que o
projecto erga numa realidade sentida como necessária por todos os envolvidos e implicados nesta
área. O subsídio de todos estes parceiros complementa e enriquece mutuamente toda esfera de
saberes teórico/práticos e poderão num futuro permitir alargar horizontes na concretização deste
projecto. O projecto poderá ser também beneficiado pelo contributo de dois projectos já
existentes, sobre a dinâmica da “linha SIDA” e “sexualidade em linha”.
Para que o projecto possa ser implementado e tenha continuidade, tem de ser submetido à
avaliação e posterior autorização das instituições em causa, sendo também imprescindível
identificar e mobilizar meios que impliquem automaticamente recursos financeiros. Como tal, foi
efectuada uma pesquisa sobre possíveis apoios do Ministério da Saúde. A Portaria nº1548/2007
de 13 de Dezembro de 2007 (anexo V) financia projectos e acções do Programa Nacional de
Prevenção e Controlo da Infecção VIH/SIDA – Programa AIDS, a qual abarca em pleno o
projecto em causa, pretendendo submete-lo à sua avaliação. É objectivo do grupo, aquando da
aplicação do projecto, submete-lo a avaliação governamental a este nível.
Sendo as puérperas assistidas no HGO a população alvo deste projecto, faz sentido investir na
preparação de um regresso a casa abordando a sexualidade e a adopção de comportamentos
sexuais seguros. Por uma questão de estruturação, de consistência e manutenção de apoio a este
nível, decidimos incluir também a prestação de cuidados de enfermagem na comunidade,
referenciando a puérpera para o CS do Seixal de forma a dar continuidade ao acompanhamento.
Este far-se-á em mais dois momentos: aquando da primeira ida ao CS, entre o 3º e o 6º dia após o
parto aquando da realização do diagnóstico precoce do Rn e um outro, na consulta de revisão do
puerpério, entre as 4 e as 6 semanas pós-parto.
Para além destes, e porque a sexualidade permanece como sendo um tema tabu, ainda
impregnado de mitos e preconceitos, principalmente no contexto de uma pessoa portadora de
VIH/SIDA, considerámos relevante colocar à disposição das utentes abrangidas por este projecto
um nº de telefone e um endereço de e-Mail, que viabilizassem o esclarecimento rápido de
dúvidas imprevistas ou de aspectos de carácter tão íntimo que quase inconfessáveis, com
possibilidade de manutenção de anonimato e sigilo absolutos. E, ainda a criação da consulta de
enfermagem de saúde sexual e reprodutiva com atendimento personalizado em horário flexível.
Para viabilizar a possibilidade de acompanhamento, nestes moldes, destas pessoas, consideramos
serem essenciais momentos de diálogo/sensibilização com os enfermeiros quer do serviço de
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internamento de puérperas do HGO, quer do CS do Seixal, no sentido de passarem eles a
protagonizar práticas menos médico-sanitárias no âmbito da sexualidade no puerpério das
mulheres com VIH/SIDA. Como forma de referenciação destas pessoas ao CS do Seixal
utilizar--se-á a já existente folha de articulação de cuidados de enfermagem (FACE) (anexo VI)
ou um contacto telefónico entre profissionais, com garantia absoluta da salvaguarda da
intimidade e do sigilo profissional a que estas mulheres têm todo o direito.
2.5. CONTEÚDOS A ABORDAR: Saúde Sexual (promoção de comportamentos sexuais seguros e responsáveis, etc.);
Contracepção;
Consulta pré-concepcional,
Puerpério,
Climatério,
Incontinência urinária;
Importância de colpocitologia (como se faz, objectivo, regularidade)
2.6. INTERVENIENTES:O trabalho em equipa constitui a chave de uma intervenção consistente e coesa que privilegia o
utente como um todo, tornando-se activo e pleno dos seus direitos enquanto ser humano.
Para que o projecto seja sustentado é necessário a existência de um trabalho em rede que permita
a articulação entre os vários intervenientes do projecto, sendo estes:
Enfermeiras conceptoras do projecto Cláudia Guerreiro,
Médico de Referência e articulação do ACES SEIXAL SESIMBRA.
2.7. METODOLOGIA E EXECUÇÃO:
A Metodologia de Projecto tem como finalidade “(...) determinar quando há que agir neste ou
naquele sentido – sucessão de acções – o que há a fazer – conteúdo das acções – e como fazer,
que meios, técnicas a utilizar – processo” (Leite, 1991, p.75).
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Estabelecer parcerias/protocolos de colaboração com recursos da comunidade
ACTIVIDADES A DESENVOLVER
Levantamento dos recursos existentes na comunidade.
Marcação de reuniões através de contactos telefónicos e e-mail.
Formalização de parcerias.
RECURSOS A UTILIZAR
Suporte teórico; Computador; Internet; Impressora; Telefone/Fax ; Recursos Humanos
Realizar Consultas de Planeamento Familiar
ACTIVIDADES A DESENVOLVER
Acolhimento.
Estabelecer relação terapêutica.
Realizar colheita de dados.
Antecedentes Familiares
Antecedentes Pessoais
Antecedentes Ginecológicos
História Actual
Avaliação Física:
Monitorizar Tensão Arterial e Frequência Cardíaca;
Avaliação Ponderal/.Estatura/ IMC.
Esclarecer as dúvidas da mulher.
Promover a adopção de comportamento saudáveis através de educação para a saúde
de acordo com as necessidades da mulher sobre:
Alimentação saudável;
Hábitos nocivos;
Actividade física.
Sexualidade:
Papel de género.
Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino/masculino.
Disfunções sexuais.
Infecções sexualmente transmissíveis.
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Métodos contraceptivos.
Fornecer o/os método/ métodos contraceptivo/contraceptivos gratuitamente.
Incontinência urinária.
Identificar vitimas ou agressores de violência domestica
Incentivar a auto-observação da mama
Realizar o exame ginecológico.
Observar a vulva para identificar possíveis desvios da normalidade como
condilomas, fissuras, inflamações, prolapsos, herpes, etc.
Identificar a existência de mutilação genital.
Colheita de espécimes para realização de colpocitologia (rastreio do cancro do colo
do útero)
Início do rastreio: três anos após a primeira relação sexual vaginal.
Anual até aos 30 anos.
Após os 30 anos, se a mulher apresentar três ou mais citologias consecutivas
satisfatórias e normais, a colheita será realizada de três em três anos. Caso apresente
alterações deverá realizá-la anualmente.
Critérios de exclusão – mulheres tratadas por cancro do colo do útero,
histerectomizadas, que não iniciaram actividade sexual, com incapacidade física que
impossibilite o exame ginecológico ou em seguimento em consulta de patologia
cervical.
Efectuar os Registos de Enfermagem nos seguintes documentos:
Boletim de Saúde Reprodutiva/ Planeamento Familiar;
Ficha do Planeamento Familiar.
Agendar próxima Consulta de Enfermagem de Planeamento Familiar no BSR/PF e no
processo
RECURSOS A UTILIZAR
Suporte teórico; Meios audiovisuais; Computador; Internet; Impressora; Sala de reuniões;
Poster de divulgação.
Realizar Consultas de Menopausa
ACTIVIDADES A DESENVOLVER
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Acolhimento.
Estabelecer relação terapêutica.
Realizar colheita de dados.
Antecedentes Familiares
Antecedentes Pessoais
Antecedentes Ginecológicos
Genograma e Ecomapa
História Actual
Avaliação Física:
Monitorizar Tensão Arterial e Frequência Cardíaca;
Avaliação Ponderal/.Estatura/ IMC.
Esclarecer as dúvidas da mulher.
Promover a adopção de comportamento saudáveis através de educação para a saúde
de acordo com as necessidades da mulher sobre:
Alimentação saudável;
Hábitos nocivos;
Actividade física.
Sexualidade:
Papel de género.
Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino/masculino.
Disfunções sexuais.
Infecções sexualmente transmissíveis.
Métodos contraceptivos.
Desconfortos físicos e alterações emocionais/ psicológicas associadas ao
climatério.
Incontinência urinária.
Osteoporose
Fornecer o/os método/ métodos contraceptivo/contraceptivos gratuitamente.
Incentivar a auto-observação da mama.
Realizar o exame ginecológico.
Observar a vulva para identificar possíveis desvios da normalidade como
condilomas, fissuras, inflamações, prolapsos, herpes, etc.
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Sexualidade no puerpério em mulheres com VIH/SIDA ________________________________________
Identificar a existência de mutilação genital.
Colheita de espécimes para realização de colpocitologia.
Após os 30 anos, se a mulher apresentar três ou mais citologias consecutivas
satisfatórias e normais, a colheita será realizada de três em três anos. Caso apresente
alterações deverá realizá-la anualmente.
Critérios de exclusão para a colheita – mulheres tratadas por cancro do colo do
útero, histerectomizadas, que não iniciaram actividade sexual, com incapacidade
física que impossibilite o exame ginecológico ou em seguimento em consulta de
patologia cervical.
Efectuar os Registos de Enfermagem nos seguintes documentos:
Boletim de Saúde Reprodutiva/ Planeamento Familiar;
Ficha Clínica do Planeamento Familiar (Mod. nº128.01).
Agendar próxima Consulta de Enfermagem de Planeamento Familiar no BSR/PF e no
processo
RECURSOS A UTILIZAR
Computador; Impressora; Recursos Humanos; Telefone; Internet; Poster.
Realizar Rastreio do Cancro do Colo do Útero.
ACTIVIDADES A DESENVOLVER
Preparar todo o material necessário à realização do exame
Espéculo adequado à altura da mulher.
Lâminas dentro do cartão.
Espátula de Ayre.
Cito-brush.
Adesivo.
Fixador.
Assegurar a privacidade da mulher
Manter a porta da unidade móvel fechada, certificando-se que ninguém entra.
Evitar que existam mais pessoas na unidade móvel, devido à exposição da mulher.
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Sexualidade no puerpério em mulheres com VIH/SIDA ________________________________________
Dar uma bata aberta atrás para a mulher vestir antes de se despir da cintura para
baixo.
Explicar à mulher a importância da colpocitologia (objectivo, procedimento,
regularidade, etc.)
Proceder à colheita de espécimes para realização de colpocitologia
Introduzir o espéculo (humedecido em água ou soro fisiológico) na posição
vertical e lentamente rodá-lo para a posição horizontal.
Identificar o colo e fixar o espéculo.
Evitar limpar o colo com compressa, apenas se houver corrimento abundante.
Com a espátula de Ayre rodar 360° no exocolo e depositar as células na lâmina.
Com o cito-brush introduzir no endocolo, rodar 360° e depositar na outra lâmina.
Fixar as células com o produto próprio.
Encerrar o cartão com adesivo.
Identificar o cartão com:
Nome,
Idade,
1º dia da Última menstruação,
Medicação,
Aspecto do colo.
Colocar o cartão num envelope fechado.
Assegurar que a mulher está bem-disposta e que se pode levantar.
RECURSOS A UTILIZAR
Suporte teórico; Computador; Meios audiovisuais; Internet; Impressora; Recursos
Humanos; Métodos contraceptivos.
Para a execução do projecto foi planeado:
Divulgação do projecto aos diferentes elementos da equipa multidisciplinar que prestam
cuidados directos à população alvo.
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Sexualidade no puerpério em mulheres com VIH/SIDA ________________________________________
2.8. DURAÇÃO PREVISTAA duração da execução do projecto realiza-se ao longo de dois anos, podendo posteriormente e
de acordo com a avaliação dar continuidade e/ou alargar a dimensão deste projecto a outros CS
da área da influencia do ACES da Península Setúbal II - Seixal - Sesimbra
A calendarização do projecto encontra-se esquematizada no cronograma em anexo (anexo VII).
2.9. AVALIAÇÃOPara a realização deste item serão criados vários momentos de monitorização ao longo de todo o
processo de forma intercalar:
Reuniões semestrais com os enfermeiros de referência das instituições, de forma a
obter o feed back dos profissionais que trabalham no terreno relativamente aos aspectos
positivos e negativos do projecto com relatórios escritos.
Números de contactos efectuados pelas mulheres via telefone e via e-Mail.
Realizar 75% de Consulta de Enfermagem a mulher identificadas S/medico de
família nos projectos moveis da UCC no período de Gravidez, Puerpério ,Fase Fertil e
Fase do Climatério
Realizar 60% de Colpocitologia a mulher identificadas S/medico de família nos
projectos moveis da UCC no período de Gravidez, Puerpério ,Fase Fertil e Fase do
Climatério
Avaliar a eficácia dos instrumentos de registo utilizados no projecto a nível da
articulação e continuidade de cuidados prestados.
O conjunto de todos indicadores acima descritos irão permitir avaliar a pertinência da
implementação e continuidade do projecto, que constará de um relatório final a ser entregue nas
instituições envolvidas no projecto.
3. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
A realização de um projecto implica uma dinâmica entre a teoria e a prática que decorre da (ou
leva à) formulação do problema. Há uma relação idiossincrática entre a teoria e a prática, isto é,
a “ (...) prática alimenta a teoria e a teoria fundamenta a prática. Pela prática se humaniza, se
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Sexualidade no puerpério em mulheres com VIH/SIDA ________________________________________
socializa o saber; a teoria ajuda a ultrapassar o empirismo, a estrutura e aprofunda esse saber”
(leite, 1991, p.77).
O desbravamento do presente projecto foi, assim, sustentado num conjunto de constatações de
índole teórica que, perpendicularizadas a todo um trabalho intelectual e crítico resultou no
conjunto de considerações que passaremos seguidamente a expor.
Sendo este trabalho referente a um projecto de prevenção da doença , importa primeiramente
reflectir acerca da relevância das práticas de promoção da saúde no contexto da prestação de
cuidados de enfermagem.
A promoção da Saúde insurge-se, inquestionavelmente, como uma actividade fundamental na
prática dos enfermeiros, na descoberta de condições circunstanciais que viabilizem a satisfação
das necessidades dos seus clientes, tendo como objectivo último a utilização plena do potencial
em saúde de cada um. Para tal é determinante considerar os determinantes de saúde
envolvenciais e adoptar estratégias para a promoção da saúde como as divulgadas na carta de
Ottawa (1986), nomeadamente, Advogar pela saúde dos clientes, Capacitar os clientes para a
completa realização do seu potencial de saúde e Mediar os diferentes interesses da sociedade na
prossecução da saúde. Não se trata, de uma acção estanque e limitada, consubstanciando-se antes
a um processo contínuo, persistente e empenhado que visa desenvolver capacidades e
competências individuais e colectivas de agir sobre factores que condicionam positiva ou
negativamente a saúde.
No âmbito da promoção da saúde parece-nos relevante reconhecer o potencial da Educação
para a Saúde como uma ferramenta essencial na prevenção da doença e promoção da saúde, se
a entendermos como um conjunto elaborado e coerente de intervenções, que devem ajudar a
pessoa a querer, poder, saber escolher e adoptar, de uma forma responsável, livre e esclarecida,
as atitudes e comportamentos adequados de maneira a favorecer a sua saúde e a do grupo em que
está inserido.
Rodrigues, Pereira e Barroso (2005) entendem que a decisão de alterar um comportamento
depende de dois factores: por um lado a sensação de ameaça pessoal pelo facto de manter
determinado comportamento, ou seja, a consciencialização de que tal comportamento é
prejudicial para si próprio e, por outro lado, a convicção de ser capaz de mudar. Na decisão
pessoal de mudança de comportamento os factores ambientais e o meio envolvente são também
determinantes. Assim sendo, o sucesso da mudança de comportamentos envolverá que se evitem
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Sexualidade no puerpério em mulheres com VIH/SIDA ________________________________________
mecanismos de resistência psicológica e se valorizem/promovam a expressão de necessidades e
preocupações.
É fundamental perceber quando é que as pessoas percepcionam uma situação como sendo de
risco, para que consigamos compreender porque é que a informação só por si por vezes não é
suficiente. As mensagens quando são percepcionadas pelos sujeitos podem gerar múltiplos e
diferenciados efeitos tais como a aceitação, interesse, negação ou medo. As pessoas ainda que
confrontadas com comportamentos de risco manifestam evidente desconforto, porque
pressionadas com a eminência da mudança. Pode mesmo acontecer que, apesar de conhecerem o
risco, persistam e resistam no comportamento de rotina.
Para Russel (1996, p.5) “as actividades de educação para a saúde são muito amplas e incluem
aconselhamento a doentes, formação em serviço, educação formal, campanhas publicitárias e
trabalho comunitário”.
O desenvolvimento de programas e acções de educação para a saúde torna-se um imperativo
ético para os profissionais de saúde. Estes programas devem ser elaborados face a situações
problemáticas identificadas, serem cuidadosamente planeados, implementados e avaliados de
forma sistemática. A avaliação é o que permite avaliar o real impacto do projecto na população a
que se dirige e cujas necessidades primeiramente o justificaram.
Saúde Reprodutiva corresponde a “um estado de bem-estar físico, mental e social, e não apenas a
ausência de doença ou enfermidade, em todos os aspectos relacionados com o sistema
reprodutivo, suas funções e processos” (DGS, 2008)
E, segundo o Programa de Acção da Conferência Internacional sobre População e
Desenvolvimento
No âmbito em análise, da mulher infectada pelo VIH/SIDA, Honoré (2002) alerta para a
necessidade de mudança nas práticas dos agentes do sistema de saúde, devendo privilegiar-se o
doente em prol da doença. Deste modo, os intervenientes envolvidos neste processo têm que
perceber quais as suas concepções de saúde, passíveis de influenciar a sua prática, ajudando-os “
(...) a situar no espaço e no tempo cada abordagem concreta de uma prática, captando motivações
e intenções”. (Honoré, 2002, p.129)
Especificamente na infecção pelo VIH/SIDA (anexo VIII) , Almeida [et al] (2004) chama a
atenção para a necessidade de uma intervenção pública urgente e eficaz, pelos inerentes efeitos
sobre a sexualidade activa e respectiva relação com as IST’s. Rocha (2005) corrobora
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Sexualidade no puerpério em mulheres com VIH/SIDA ________________________________________
adjectivando a problemática como sendo de ordem social, com múltiplas implicações na
comunidade, onde os profissionais de saúde desempenham um papel activo.
O Ministério da Saúde (2007), no Plano Nacional de Saúde 2004-2010 preconiza alguns
componentes integrantes dos cuidados básicos de saúde à mulher portadora de IST’s, entre eles,
a informação, a educação e o aconselhamento individualizado, promovendo um comportamento
sexual saudável e responsável. O comportamento sexual encontra-se integrado no âmbito
inesgotável da sexualidade humana, em que se transcende uma visão meramente reprodutiva,
passando-se a assumir uma vertente mais ampla e fecunda, de fenómeno social e psicológico.
A sexualidade, segundo a Organização Mundial de Saúde, é “uma energia que nos motiva a
procurar amor, contacto, ternura e intimidade; que se integra no modo como nos sentimos,
movemos, tocamos e somos tocados; é ser-se sensual e ao mesmo tempo sexual; ela influencia
pensamentos, sentimentos, acções e interacções e, por isso, influencia também a nossa saúde
física e mental.” (cit. por Cortesão [et al], 2005, p.18).
Tal como refere Gomes, Albuquerque & Nunes (1987) a sexualidade pode constituir uma forma
privilegiada de enriquecimento pessoal e relacional se expressa de forma satisfatória, podendo
proporcionar um aumento da auto-estima, ao garantir a satisfação das necessidades de afecto,
amor e segurança. Por outro lado, pode revelar-se como fonte de sofrimento, de afecção
profunda das vivências humanas, quer a nível de realização pessoal e relacional, como a nível
das inerentes repercussões subjacentes, se expressa de forma imatura, ignorante, culpabilizada
e/ou violenta. Pode estar associada a acontecimentos como: problemas emocionais, gravidezes
não desejadas, interrupções voluntárias de gravidez, contágio de IST’s e abuso sexual.
Segundo Dias [et al] (2003) parece subsistir um silêncio perverso em relação à psico-
sexualidade e aos direitos reprodutivos da mulher infectada pelo VIH/SIDA, que atinge
fundamentalmente a faixa etária mais produtiva da sociedade. De acordo com o mesmo autor, a
sociedade actual continua a estigmatizar estas mulheres através do isolamento e da rejeição
social. Esta forma de discriminação é percepcionada pelas próprias, o que contribui para um
impacto negativo a nível do auto-conceito, auto-imagem e auto-estima. Há perda de estatuto
social e passa-se a encarar a mulher com VIH/SIDA como um ser de “alto risco”, culpada e
responsável por ter adquirido o vírus, visto adoptar comportamentos de risco que, em última
instância, irão adulterar os bons costumes da comunidade.
Ressalve-se que na infecção pelo VIH/SIDA as mulheres deparam-se com maiores riscos e
vulnerabilidades que os homens, não só pelas diferenças biológicas, mas também pelas
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Sexualidade no puerpério em mulheres com VIH/SIDA ________________________________________
desigualdades nas relações sociais e realidades económicas. Também Pardal (2001) alerta para a
importância de se considerar o grau de vulnerabilidade à infecção relativamente às mulheres.
Historicamente a mulher é um ser oprimido e subjugado detendo um poder bastante restrito nas
relações afectivo-sexuais, subordinando-se consciente e frequentemente às preferências, decisões
ou desejos do companheiro. Em termos sociais a mulher está mais vulnerável o que se repercute
no acesso às oportunidades de educação e emprego. Num contexto sócio-económico pobre
muitas mulheres encontram nas relações com os companheiros um meio de sobrevivência
económica, o que conduz à acrescida possibilidade de sexo coercivo, violência diária, exploração
e, consequentemente, a uma maior predisponência para a infecção VIH/SIDA. Tudo isto justifica
o facto de mais de metade dos indivíduos infectados pelo VIH serem mulheres, constatando-se
um aumento progressivo das taxas de infecção neste grupo a nível mundial. O mesmo autor
adverte que a constituição dos órgãos femininos da mulher contribui para um aumento do
número de casos na transmissão por via sexual (sendo duas a quatro vezes superior em relação
ao homem).
A problemática do VIH/SIDA nas mulheres, traz questões complexas associadas à gravidez
e maternidade. O diagnóstico da infecção VIH, a decisão de interromper ou não a gravidez, a
discussão acerca da laqueação tubária ou outros métodos anti-concepcionais, a transmissão
vertical, de um vírus que pode trazer consequências mais ou menos graves para a mãe e para o
bebé e as suas implicações quer na vivência psicológica da grávida e puérpera, quer na sua
relação com o companheiro durante a gravidez e no pós–parto, quer na sua relação com o bebé.
No seio de uma família em que um dos pais ou os dois estão infectados desencadeiam muitas
vezes sentimentos de culpa, negação, auto-imagem desvalorizada, e ambivalência; confronto
com dificuldades afectivas, comunicacionais, relacionais e familiares (Bastos; Teixeira; Paixão,
1995 e Pinto, 1995).
No âmbito da maternidade, a mulher infectada pelo VIH/SIDA é com frequência rejeitada pela
sociedade, quaisquer que sejam as suas vivências e desejos afectivos. No entanto algumas
mulheres infectadas pelo VIH/SIDA consideram que parir uma criança é uma condição essencial
à sua própria vida, quer para concretização do seu papel como mulher, quer como refere
Papiernik (2001) a forma de dar “continuidade” a uma vida que tem uma morte anunciada.
Contudo o parto pode afectar a vida sexual do casal profundamente. As alterações fisiológicas da
gravidez e do parto modificam os contornos do corpo da mulher o que pode reduzir a sua
confiança sexual (Farré [et al], 1997). A exaustão e a ansiedade decorrentes da parentalidade
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Sexualidade no puerpério em mulheres com VIH/SIDA ________________________________________
recente pode também diminuir consideravelmente a líbido sendo a mudança emocional tão
profunda que certas mulheres podem nem sequer sentir necessidade de sexo. A actual concepção
social dominante passa pelo investimento no sistema parental em prol conjugal, no sentido da
construção de uma família. À medida que o tempo decorre e ao haver menos cansaço,
gradualmente, criam-se espaços e disponibilidades a um outro nível de intimidade sexual. É
possível emergir uma percepção de maior proximidade ao se recuperar e se resolver a
experiência partilhada do parto e da existência de um bebé (Figes, 2001). Neste sentido, a
sexualidade passa a ser vivida habitualmente de forma mais afectiva e emocional. Segundo
Soares (1993), pode esta ser a oportunidade para explorar zonas eroticamente sensíveis a que
normalmente não se está tão atento.
O reinício da actividade sexual no puerpério1 depende de vários factores. Após o parto as
relações sexuais podem ser retomadas ao ritmo e no tempo que faça sentido para o casal. A
forma de compatibilizar o romance com a paixão, o bebé e a falta de privacidade será um
percurso a delinear tendo por base o diálogo, a partilha de sentimentos e a compreensão mútua
(Canavarro, 2001; Kitzinger, 1992).
Outro conceito que nos parece relevante explorar é o de Educação Sexual. De acordo com
vários autores, a expressão «Educação Sexual» pode facilmente tornar-se sinónimo de uma
educação relativamente específica, como correspondendo ao conjunto de actividades que
permitem transmitir informação relacionada com a anatomia e fisiologia da reprodução, com as
alterações pubertárias, com a contracepção e IST’s. “(...) desligada da educação global do
indivíduo, como se a sexualidade fosse um comportamento estanque, não envolvendo toda a
nossa personalidade, os nossos projectos, a nossa afectividade, a nossa forma de estar na vida.”
(Cortesão [et al], 2005, p.18; Paiva [et al], 2002 ; Vaz [et al], 1996).
Uma designação mais abrangente é a de «educação sexualizada». Esta educação pressupõe não
só, englobar toda a informação teórica sobre a sexualidade, como também abrange a discussão
da afectividade e da relação social que os indivíduos vão sentindo como emergente de um “(...)
processo de socialização que se faz através da família, da escola e de toda a envolvente social
(…).” (Cortesão [et al], 2005, p.18). Esta concepção parece-nos ser mais complacente com os
objectivos e características do projecto em desenvolvimento.
A APF (APF, 2002, cit. por Marques [et al], 2002) concretiza que a Educação para a
Sexualidade:1 Período de tempo que decorre desde a expulsão da placenta até que os órgãos reprodutores da mulher retomem as características anteriores às da gravidez, com a duração de cerca 6 semanas.
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Sexualidade no puerpério em mulheres com VIH/SIDA ________________________________________
É um direito para todos, sejam crianças, jovens, adultos ou uma família.
Garante o direito de aceder à informação adequada no domínio da vivência sexual
Garante o usufruto livre dos benefícios inerentes à discussão de ideias sobre a
multiplicidade moral;
Permite evitar situações problemáticas, uma vez que se detém o conhecimento sobre os
meios que existem para as prevenir;
Permite a utilização dos recursos disponíveis de forma a que a sexualidade seja
vivenciada de uma forma saudável e gratificante.
Segundo o GTES (2005) a Educação para a Sexualidade tem como objectivo desenvolver
competências nos indivíduos que possibilitem uma tomada de decisão responsável e informada
no âmbito da sexualidade. Desta forma consegue-se “(...) uma melhoria dos seus
relacionamentos afectivo-sexuais, ao mesmo tempo que pretende reduzir as possíveis
consequências negativas dos comportamentos sexuais.” (GTES, 2005, p.6).
O profissional de saúde tem um papel fundamental neste processo mas deve, contudo, ter em
conta que as mudanças de comportamentos de saúde são difíceis de conseguir. O esforço
dispendido na elaboração de estratégias de promoção e educação para a saúde pode por vezes
parecer inglório. No entanto, há que compreender que mudanças neste domínio se dão de forma
lenta e gradual, por pequenas “conquistas”, e é nestes aspectos que os profissionais se devem
concentrar, não ficando demasiado presos aos aparentes insucessos. Tal como afirma Russel
(1996, p.7), “os educadores de saúde devem empenhar-se em manter uma perspectiva centrada
no amplo papel da Educação para a Saúde e, ao mesmo tempo, reconhecerem-lhe as suas
limitações”. Apesar das limitações, o potencial de desenvolvimento saudável da população, com
os inerentes ganhos em saúde subsequentes, justificam a sua complacência às necessidades da
população da actualidade.
O enfermeiro, é um dos profissionais de saúde melhor capacitados e localizados para o
desenvolvimento de competências nesta área. Estrategicamente, a sua actividade desenrola-se a
par e passo com uma notória relação de particular sincronia com o utente. Segundo a Ordem dos
Enfermeiros (2008) uma das competências destes na prestação de cuidados é actuar “… como
um recurso para os indivíduos, para as famílias e para as comunidades que enfrentam desafios
colocados pela saúde, …” (p.19) reconhecer “… o potencial da educação para a saúde nas
intervenções de enfermagem” (p.20), aplicar “… conhecimentos sobre recursos existentes para a
promoção da saúde e educação para a saúde” (p.19), participar “…nas iniciativas de promoção
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Sexualidade no puerpério em mulheres com VIH/SIDA ________________________________________
da saúde e prevenção da doença, contribuindo para a sua avaliação” (p.19) e “…fornecer
informação de saúde relevante para ajudar os indivíduos, a família e a comunidade a atingirem
os níveis óptimos de saúde …” (p.20) de forma a “dar poder ao indivíduo, família e comunidade
para adoptarem estilos de vida saudáveis.” (p.20).
Mais especificamente e no que diz respeito às “Competências essenciais para a prática da
Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia” determinadas pelo ICM (2002) é da competência
dos EESMO prestar cuidados de alta qualidade, educação em saúde e serviços para todos na
comunidade, respeitando a cultura do indivíduo e comunidade.
Ainda as directivas da União Europeia, que regulam o “Exercício da Parteira”, mencionam que é
da competência da parteira permitir o acesso do casal a toda a informação que lhes permita a
vivência da sua sexualidade de forma segura e consciente. Deste modo, promovem-se famílias
saudáveis, mais responsáveis e informadas, gravidezes planeadas com vivências positivas da
parentalidade e também da sexualidade (Artº 4º da Directiva 80/155/CEE).
O ICM (2002) refere ainda que o EESMO no seu desempenho trabalha em parceria com a mulher
promovendo o auto-cuidado e a saúde das mães, crianças e famílias. Quanto aos conhecimentos e
perícias básicas destes enfermeiros, uma das suas competências compreende o desenvolvimento
de estratégias de defesa e empowerment da mulher/família. Ou seja, é preciso que estas mulheres
se transformem em agentes activos de prevenção, libertando-se da sua (ainda) subjugação sexual
e torna-se necessário melhorar a acessibilidade destas aos serviços de saúde, de aconselhamento e
de apoio social, desenvolvendo todos os suportes necessários para si e para as suas famílias. Só
assim se conseguirá agir eficazmente sobre o bem-estar das mulheres e do respectivo contexto
familiar.
No que se refere ao âmbito mais específico do puerpério, os elementos do casal podem
manifestar algum desconforto na abordagem desta temática. É fundamental que o enfermeiro
discuta os possíveis efeitos físicos e psicológicos que o parto pode acarretar na vivência da
sexualidade. Cardoso (2000, p. 30) afirma que as sessões de educação para a saúde com vista ao
regresso a casa devem “...iniciar-se precocemente e decorrer de forma gradual e sistematizada,
maximizando o tempo de permanência no hospital”. Os enfermeiros conscientes das respectivas
capacidades e limites na abordagem dos aspectos sexuais devem encaminhar para outros colegas
ou mesmo para especialistas na área quaisquer situações que o mereçam.
Neste contexto, a intervenção do EESMO na promoção da saúde da puérpera infectada pelo
VIH/SIDA, assim como do seu companheiro é essencial, através da orientação e o
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Sexualidade no puerpério em mulheres com VIH/SIDA ________________________________________
aconselhamento a proporcionar, que inclui a valorização e capacitação do próprio com o intuito
de promover os comportamentos sexuais seguros e responsáveis. Pretende-se assim contribuir
para uma melhor aceitação da situação, promovendo um maior envolvimento no respectivo
processo de tratamento, desenvolvendo a sua capacitação (empowerment), a mudança de
comportamentos e, consequentemente, a redução do risco de transmissão quer vertical, quer
horizontal. Estar-se-á assim a agir sobre a saúde das pessoas directamente implicadas, mas
também sobre a das que elas se relacionam. Em última instância, estar-se-á a investir na saúde da
população da actualidade e do futuro.
CONCLUSÃO
O trabalho de projecto constitui um modelo privilegiado de intervenção na educação para saúde.
Os projectos de educação para a saúde deverão ter sempre em conta a singularidade do tema e
considerar as suas estratégias específicas, pois só terão efectivamente sucesso se os principais
envolvidos participarem activamente no processo, se trabalharmos por e com as pessoas,
melhorando a sua capacidade de agir e a capacidade dos grupos, organizações ou comunidades
influenciarem as determinantes da saúde, constituindo uma forma essencial para conseguir
ganhos em saúde.
O trabalho de projecto insere-se numa metodologia activa, orientada para a pesquisa e a análise,
estando a teoria e prática articuladas em termos de regulação.
Começámos por identificar e analisar as situações profissionais reais e significativas para o
grupo, estando a escolha do tema deste projecto intimamente ligada à prática, emergindo dos
problemas encontrados nos nossos contextos de trabalho.
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Sexualidade no puerpério em mulheres com VIH/SIDA ________________________________________
Partindo das nossas necessidades e desejos “nasceu” este projecto. A problemática por nós
abordada no projecto – a sexualidade no puerpério em mulheres com VIH/SIDA - foi
equacionada, debatida e reflectida, em função do nosso contexto profissional, motivadas a tentar
dar resposta aos problemas que essa população alvo nos coloca. Consideramos fundamental o
questionar, o problematizar dos factos e das situações com que nos deparamos diariamente, para
que possamos não só compreender, mas também agir sobre a realidade em que vivemos!
Pela análise das situações em contexto de trabalho organizámos o nosso projecto de intervenção.
A prática do projecto provocou em nós uma vontade de agir, de reflectir, numa relação agradável
com a aprendizagem constante, com o novo saber, com a procura do saber fazer com alternância
responder/questionar, questionar/responder... mas ao mesmo tempo foi um processo muitas
vezes divergente, conduzindo a períodos de reflexão e de tomada de decisões e de reorganização
do trabalho e gestão do mesmo. Existiram alguns constrangimentos, ao longo da concepção do
projecto, que se prenderam com as dificuldades de gestão do tempo disponível de cada um dos
elementos do grupo e de um manancial de bibliografia acerca das temáticas abordadas no
projecto, o que requereu da nossa parte uma grande capacidade de síntese e selecção do material
bibliográfico, mais significativo no âmbito deste trabalho e por isso exigiu de nós, na prática,
mais tempo, maior investimento e empenhamento. O maior grau de auto-gestão do trabalho de
projecto, deu também maior motivação pois fomos o sujeito do projecto, sujeito da nossa própria
formação, responsáveis pelas nossas próprias aprendizagens.
Procurámos construir um projecto de intervenção que para além de capacitar as pessoas, nas suas
decisões de saúde, com informação adequada, pudesse também criar condições para uma
mudança efectiva nos seus comportamentos. Neste projecto o “potencial de saúde” traduz-se, no
desenvolvimento de uma sexualidade “imbuída” de valores positivos e atitudes preventivas e
promotoras da saúde sexual e reprodutiva ao nível das puérperas com VIH/SIDA
A grande mais valia de implementação deste projecto deve-se à imprescindível articulação entre
os diferentes profissionais das várias áreas e instituições no sentido de uma satisfação mais
completa e integrada das necessidades desta população.
Com toda a complexidade que um trabalho de projecto implica, baseado no modelo de resolução
de problemas, este constituiu um desafio e um percurso de aprendizagem muito enriquecedor,
especialmente porque se tem a clara percepção da aquisição de novas competências e
capacidades.
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Sexualidade no puerpério em mulheres com VIH/SIDA ________________________________________
Consideramos que se um projecto tem inicio num impulso e/ou sonho e se como alguém referiu
“ …o sonho comanda a vida…” (António Gedeão) os projectos de formação serão uma constante
durante o nosso percurso profissional. Um projecto pode e deve, não só levar à resolução de
alguns problemas que se nos levantam em determinados momentos , mas também ao suscitar de
novas inquietações, gerando assim novos impulsos e consequentemente abrindo-nos novos
horizontes…
Por tudo isto consideramos que os objectivos a que nos propusemos inicialmente foram
atingidos.
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