paper sobre mkt esportivo
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Universidade de São Paulo (USP)
Escola de Comunicação e Artes (ECA)
Departamento de Relações Públicas, Publicidadee Turismo
Marketing esportivo e os resultados dentro de campo: comoum afeta o outro
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Nome: Arthur Deantoni
NºUSP: 8000342
Disciplina: Marketing
Professor: Felipe Chibás Ortiz
Indíce
1 – Resumo...................................................................................pág. 3
2 – Objetivos do Paper................................................................pág. 4
3 – Desenvolvimento....................................................................pág.53.1 – Breve histórico do assunto.................................................pág. 53.2 – Abordagem conceitual.......................................................pág. 63.3 – Elaboração pessoal: opiniões e comentários.....................pág. 10
4 – Cases: Real Madrid x Borussia Dortmund.........................pág. 124.1 – Case Real Madrid...............................................................pág. 12
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4.2 – Case Borussia Dortmund...................................................pág. 164.3 – Metodologia comparativa de análise dos cases.................pág. 21
5 – Conclusão...............................................................................pág. 23
6 – Referências Bibliográficas....................................................pág. 27
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1 – Resumo
Os anos da década de 70 foram revolucionários para a
história do esporte no planeta. Foi nesse intervalo de
tempo que as grandes competições esportivas receberam
enormes volumes de dinheiro graças a patrocínios e ações de
marketing. O responsável por essa evolução tem nome e
sobrenome: Horst Dassler.
Dassler era o herdeiro da família Adidas. Ele foi o
primeiro a entender que o produto envolvido nas competições
esportivas não eram os uniformes, os ingressos ou mesmo os
troféus e as medalhas, mas, sim, o espetáculo em si. A
partir dessa compreensão, Dassler revolucionou as ações de
marketing esportivo e fez da Adidas praticamente um
monopólio da área (embora, comprovadamente, usando alguns
métodos ilegais para tanto, mas esse artigo não discorrerá
sobre o assunto), até sua morte, em 1987. Desde então, as
ações de marketing esportivo evoluíram muito.
Faremos, a partir de agora, um breve histórico do
assunto e apresentaremos teorias modernas que se relacionam
com o assunto: a do próprio marketing esportivo e da
definição de produto de uma empresa. Com isso, buscamos
compreender a visão que Dassler teve à época e como hoje os
principais atores do marketing esportivo enxergam o tema.
Para ilustrar essa proposta, estudaremos os cases de dois
dos principais times de futebol da atualidade: O Real
Madrid, da Espanha, e o Borussia Dortmund, da Alemanha.
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Contudo, toda rosa tem seus espinhos. Ao longo do
artigo (principalmente, durante a análise dos cases),
discutiremos como a falha deste esquema: o fato do
espetáculo prometido pelo marketing não ser cumprido
durante as competições, algo que o próprio Dassler
identificou e tentou corrigir ao fazer de sua empresa
principal fornecedora de materiais esportivos das
principais competições esportivas do planeta. Mas, isso não
evitou que a concorrência soubesse aproveitar de seus
métodos e aumentar a própria lucratividade.
2 – Objetivos do Paper
Este paper tem como finalidade discutir a influência
do espetáculo “esporte” nas ações de marketing esportivo de
uma entidade esportiva. Para tanto, foram pesquisadas as
seguintes informações: o grande “boom” do marketing
esportivo (durante os anos 70, como será trabalhado mais a
frente), a nova percepção do produto trabalhado por essas
entidades e a aplicação dessas informações em cases atuais.
Para trabalhar melhor essas situações, foram
pesquisadas informações sobre marketing esportivo, no livro
dos autores Bernard Mullins, Stephen Hardy e William
Sutton, intitulado “Marketing Esportivo”, no livro do
Professor Mitsuru Yanaze, estudado ao longo do semestre, e
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informações sobre grandes campanhas de marketing de dois
dos maiores clubes de futebol da atualidade, o Real Madrid,
da Espanha, e o Borussia Dortmund, da Alemanha.
Para concluir o estudo, mostraremos como o espetáculo
“esporte” (que é o verdadeiro produto dessas
empresas/entidades esportivas) pode influenciar positiva ou
negativamente as ações de marketing esportivo, da mesma
forma que um produto de uma empresa qualquer pode
influenciar em suas campanhas publicitárias de modo
similar.
3 – Desenvolvimento
3.1 – Breve histórico do assunto
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Horst Dassler1 assumiu a Adidas no fim da década de
60, com o objetivo de superar a concorrência da empresa de
materiais esportivos criada por seu tio, Rudolf Dassler,
chamada Puma. Naquela época, a empresa de Rudolf tornava-se
conhecida mundialmente por fornecer as chuteiras do craque
brasileiro Pelé, além de alguns atletas de outras
modalidades esportivas, fazendo com que fosse líder no
mercado de fornecimento de material esportivo.
Buscando novas oportunidades mercadológicas para lidar
com a desvantagem em seu próprio mercado, Horst Dassler
viaja o mundo entre os anos de 1968 e 1971. Durante os anos
de 1968 e 1970 (anos de Jogos Olímpicos e de Copa do
Mundo), ele fica hospedado em hotéis nos países sedes das
competições esportivas mencionadas, de modo a ter livre-
circulação naquelas áreas, tanto entre os altos dirigentes
quanto do próprio público. Dassler percebeu algo que
deveria ser óbvio até mesmo na cabeça do mais ignorante dos
dirigentes esportivos: os espetáculos promovidos pelas
competições esportivas promovem o consumo de vários tipos
de produtos, não apenas produtos esportivos. Isso se deve
ao caráter de festa e entretenimento que o esporte tem para
aqueles que não fazem parte da competição (os
consumidores), o que os leva ao consumo, por exemplo, de
alimentos, roupas (uniformes dos times), ingressos e outros
tipos de produtos. Mas, se a Puma já patrocinava atletas de
1 A história da ascensão da Adidas no mercado de fornecimento de material esportivo está disponível em JENNINGS, Andrew. Jogo Sujo: O Mundo Secreto da FIFA. São Paulo: Panda Books, 2011
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sucesso e não conseguia tantos lucros a nível mundial,
tendo em vista que o fornecimento de material esportivo só
gerava lucro na época quando o material era usado (essa é a
razão do Santos de Pelé fazer tantas excursões pela
Europa), o que a Adidas teria de fazer de diferente para
lucrar mais e superar a concorrência da Puma?
Aí está a grande sacada de Dassler: ele percebeu que o
fascínio pelo espetáculo era tamanho que mesmo quando a
equipe para a qual se torcia era eliminada, o consumidor do
espetáculo acaba por escolher outra equipe para torcer ao
longo da competição, de modo a não abandonar o espetáculo
(esse foi, por exemplo, o caso dos torcedores do país-sede
da Copa de 1970, o México, que ao verem seu país eliminado
nas oitavas de final, passaram a torcer em massa para o
Brasil). Então, Adidas deveria estar presente em toda a
competição, para o caso de uma determinada equipe por ela
patrocinada, ao ser eliminada precocemente, não prejudicar
a imagem da empresa. Ao invés de fazer o marketing dos
atletas, a Adidas, portanto, deveria fazer o marketing das
grandes entidades esportivas, o que implicava ser
fornecedora de materiais esportivos das principais
competições esportivas.
Para intensificar os lucros e tendo em vista que as
competições citadas ocorrem de quatro em quatro anos,
Dassler, sugeriu promover novas competições para expor a
marca tanto da Adidas quanto da entidade esportiva a ela
associada (no caso da Federação Internacional de Futebol
Associada, FIFA, foram criadas as chamadas “competições de
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base”, isto é os Mundiais Sub-20 e Sub-17). Para cobrir os
gastos que as entidades teriam, Dassler mediou acordos
entre essas entidades e fornecedores de produtos que giram
em torno dessas competições (alimentos, roupas e aparelhos
eletrônicos para assistir a essa competições, por exemplo),
de modo que essas indústrias pagariam muito dinheiro para
terem exclusividade comercial em lojas e nos arredores das
arenas esportivas, cobrindo os gastos com as competições e
gerando enormes volumes de lucros tanto para as entidades
esportivas quanto para a Adidas, o que tornou Dassler
conhecido como “pai do patrocínio”.
O plano de Dassler dera tão certo que, até 1981, sua
empresa tinha exclusividade de contratos com a FIFA, a NBA,
o COI, a MLB e a IAAF (esse artigo não tem a intenção de
discutir o modo comprovadamente ilegal de como alguns
dirigentes, por iniciativa do próprio Dassler, foram
eleitos em suas entidades), e continua com alguns desses
contratos até hoje. Porém, a morte de Dassler deixou uma
lacuna no comando da Adidas, e a empresa alemã viu a norte-
americana Nike fazer o mesmo que ela fazia com as
entidades, mas dessa vez com os atletas, como a Puma fazia,
mas com muito mais lucratividade. E com uma grande
novidade: a Nike fez produtos esportivos especiais
inspirados no estilo de jogo de seus atletas patrocinados
(os casos mais conhecidos foram o jogador de futebol
brasileiro Ronaldo e com o jogador de basquete norte-
americano Michael Jordan).
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Desde então, o marketing esportivo tornou-se uma
atividade altamente rentável e, portanto, de concorrência
extremamente feroz, inúmeras possibilidades e,
principalmente, muito complexa. Para entender melhor como
funciona o marketing esportivo, muitos estudos foram e
ainda são feitos, de modo a esclarecer, inclusive para o
próprio consumidor do esporte (tradicionalmente chamado por
um veículo midiático de “fã do esporte”), como essa
atividade pode melhorar o espetáculo que ele contempla, e
vice-versa.
3.2 – Abordagem conceitual
Marketing pode ser entendido como a definição e o
conhecimento de determinado produto e serviço e a forma
como eles são elaborados e colocados no mercado. Portanto,
marketing nada mais é do que o planejamento adequado da
relação produto-mercado. Assim, quando falamos em marketing
atualmente, estamos pensando nas estratégias implementadas
por uma empresa para a colocação de determinado produto ou
serviço no mercado com o objetivo de atender e satisfazer
às demandas e às necessidades de seu público-alvo,
identificado como clientes. Ao mesmo tempo em que procura
focar suas próprias ações no mercado, o marketing, como
forma de gestão empresarial, pressupõe um compromisso de
investimentos internos e externos e à previsão de seu
retorno.
É dessa forma que as empresas lidam com os seus
respectivos mercados na atualidade. E, se o esporte moderno
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exige cada vez mais profissionalismo na gestão de suas
entidades esportivas, então é exatamente do mesmo modo que
essas entidades tem de lidar com os chamados “fãs de
esporte”. Para tanto, foi criada uma nova forma de se
comunicar com esses clientes, o marketing esportivo (que
tem em Horst Dassler um de seus principais idealizadores,
como já foi mencionado anteriormente neste artigo).
O marketing esportivo, considerando que, assim como
toda outra forma de marketing, reúne todas as atividades
designadas a satisfazer as necessidades e os desejos por
meio de processos de troca, desenvolveu dois eixos
principais: o marketing de produtos e serviços de para os
consumidores esportivos e comunicação de marketing de
outros produtos e serviços através da utilização de
promoções esportivas. Nesse sentido, precisamos de uma
definição mais detalhada dos produtos envolvidos nesses
eixos do marketing esportivo.
Mas, afinal, o que é um produto2? Esta é uma definição
que até mesmo grandes corporações têm dificuldade em tratar
(ou seja, não tem uma clara definição dos produtos que
estão disponíveis no mercado e a que necessidades eles
atendem). Este é, na verdade, o ponto de partida da
definição de um produto: estabelecer sua função no
atendimento das necessidades existentes. Depois de
estabelecida essa função, é necessário entender que os
2 A definição de produto está disponível em YANAZE, Mitsuru H. Gestão de Marketing e Comunicação: avanços e aplicações. São Paulo: Saraiva, 2da. Edição, 2011
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produtos são adquiridos e consumidos com o intuito de
aumentar o grau de satisfação dos desejos do consumidor,
envolvendo, portanto, todos os seus atributos físicos
(qualidade percebida, os chamados atributos tangíveis) e os
atributos simbólicos (prestígio e status, conhecidos como
atributos intangíveis).
Hoje não encontramos produtos que sejam totalmente
tangíveis ou intangíveis. Um serviço de marketing, por
exemplo, exige tanto atributos tangíveis (como trabalho e
pesquisa de campo, presença física dos profissionais de
marketing, relatórios bem formatados, por exemplo) quanto
atributos intangíveis (confiança, experiência no mercado,
competência, entre outros). O conhecimento efetivo desses
atributos permite à empresa incrementá-los, de forma a
chamar a atenção de seu público-alvo para eles. Com a cada
vez mais feroz concorrência da atualidade, a percepção
diferenciada dos fatores intangíveis de um produto é fator
decisivo na decisão de compra de um determinado produto por
determinado cliente. Assim, quanto maior o número de
atributos intangíveis agregados a um produto e percebidos
por seus consumidores, maior seu diferencial em relação aos
concorrentes, o que explica a razão das empresas
adicionarem valores intangíveis que combinem com os
atributos tangíveis de seus produtos. É a combinação desses
atributos que faz do produto algo diferente, único.
Outro fator que diferencia um produto de seus
concorrentes é seu posicionamento perante o mercado. Este
nada mais é do que uma série de decisões direcionadas,
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fundamentadas nas estratégias de marketing, que direcionam
o consumidor em suas decisões de compra. Desse modo, o
posicionamento de um produto significa a apresentação dele
ao mercado revestido das condições mais favoráveis para
conquistar a preferência do consumidor, caracterizando-o
por sua diferenciação em relação aos concorrentes (isto é,
pelas situações e características favoráveis que distinguem
o produto de sua concorrência). Tudo o que a empresa
pretende fazer para impactar a percepção do consumidor
sobre um produto deve ser planejado com o intuito de se
desenvolver uma posição mais privilegiada, incluindo não
apenas decisões estratégicas relacionadas ao produto em si
e a sua comunicação, mas também a sua marca, a sua política
de preços e seu sistema de distribuição, por exemplo.
Assim sendo, entendemos que o produto esportivo reúne
e combina qualidades e capacidades das quais um comprador
espera obter a satisfação desejada, na medida em propiciam
a esse consumidor alguma necessidade básica, como saúde,
entretenimento, sociabilidade e conquista. Estas três
últimas, características intangíveis do produto esportivo,
estão extremamente vinculadas ao espetáculo proporcionado
pelas competições esportivas. Logo, pensar o marketing
esportivo nos coloca diante de duas situações distintas de
marketing.
Na primeira, as ações se organizam ao redor do
“produto esporte”3. Este se caracteriza por ser o conjunto 3 As definições de “produto esporte”, “produto relacionado ao esporte” e “produto não relacionado ao esporte” estão disponíveis em: MULLIN, Bernard; HARDY, Stephen e SUTTON, William. Marketing Esportivo. São Paulo: Bookman Companhia, Edição de 2004
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que engloba todas as atividades físicas e modalidades
esportivas (futebol, por exemplo), além dos eventos
esportivos (competições). Atletas, seleções, times, clubes
e equipes são os protagonistas do espetáculo esportivo. São
considerados “produto esporte” porque tem valor de mercado
que, por sua vez, variam de acordo com o espetáculo que
realizam. Instituições, comitês, federações, clubes, entre
outros tipos de entidades esportivas, viabilizam tanto
serviços do esporte com vistas à prática espontânea de seus
clientes como espetáculos de entretenimento para eles.
O esporte como espetáculo, por sua vez, é uma
representação de tudo que o esporte evoca, dos sentimentos
que mobiliza, como a felicidade numa conquista e a
frustração numa derrota. Isto é, o espetáculo não está
reduzido ao entretenimento em si. A imagem do esporte que o
marketing trabalha está baseada na magia que o envolve como
recurso de emoções que se reforça na mente do consumidor
que se deseja atingir, e o atrai para o consumo do produto.
Na segunda situação do marketing esportivo,
encontramos uma divisão entre “produtos relacionados ao
esporte” e “produtos não relacionados ao esporte”. Os
primeiros são produtos industrializados e tangíveis, cuja
concepção norteia-se pelos critérios das práticas das
atividades esportivas e físicas. Eles são os chamados
equipamentos esportivos (vestimentas esportivas, bolas,
aparelhos de musculação, raquetes, nadadeiras, entre
outros) e cujas ações de marketing são voltadas para os
esportistas e praticantes de atividades físicas em geral,
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mas também atendem consumidores que se servem de seus
produtos como parte de seu vestuário, não necessariamente
fazendo uso deles para praticar atividades físicas. Já os
chamados “produtos não relacionados ao esporte” são todos
os produtos que não tem relação direta com a prática
esportiva (são, por exemplo, os produtos que patrocinam
competições esportivas, como são os casos de Coca-Cola e
McDonald’s com relação à Copa do Mundo, organizada pela
FIFA). Ambos os tipos de produtos tem suas ações de
marketing baseadas no esporte como apelo ao consumo, seja
por meio de um cenário esportivo ou por intermédio dos
grandes astros do esporte. Procura-se a imagem do esporte
para agregar valor à imagem do produto trabalhado por essas
ações, às quais fazem da publicidade e do patrocínio para
atingir esse objetivo.
O patrocínio, por sua vez, é uma ação tradicional do
marketing esportivo (como o breve histórico anteriormente
apontado pode ilustrar). Essa ação caracteriza-se como uma
relação jurídica em parceria com objetivos comuns entre as
partes envolvidas (patrocinador e patrocinado). Isso se dá
porque o patrocinador tem uma participação com dinheiro,
produtos e serviços na organização e/ou celebração de um
evento esportivo em troca de benefícios, como exibir sua
marca e divulgar mensagens para o público-alvo do evento,
divulgar o próprio patrocínio em outros contextos ou contar
com grandes esportistas em eventos da própria empresa.
Marcas ou produtos, relacionados ou não ao esporte, se
colocam como patrocinadores de eventos esportivos para
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associar sua imagem à da competição patrocinada (como no já
citado caso da Coca-Cola e do McDonald’s, patrocinadores
oficiais da Copa do Mundo FIFA).
Por fim, depois de definirmos que tipo de produto é
trabalhado nas ações de marketing esporte (com destaque,
novamente, para o “produto esporte” espetáculo), precisamos
agora classificá-lo, tomando por base que tipo de bem de
consumo esse produto é. O espetáculo promovido pelas
entidades esportivas (principalmente os clubes, dos quais
trataremos em dois cases bem ilustrativos) pode ser
classificado como um serviço. Isso se deve pelo alto grau
de intangibilidade que cerca esse tipo de espetáculo (já
tratamos um pouco dos sentimentos que podem estar
envolvidos quando se é um consumidor do espetáculo
esportivo), o que faz com que não haja um prazo de validade
do produto a ser vencido, tendo em vista que algumas das
necessidades que esse serviço satisfaz em seus
consumidores, como entretenimento, sociabilidade e
conquista, são necessidades básicas não só de seus
consumidores, mas de todo ser humano.
3.3 – Elaboração pessoal: opiniões e comentários
Os mecanismos de marketing que se organizaram ao redor
do esporte, indiscutivelmente, conquistaram mercado
mundial, tornando-se objeto da curiosidade de pesquisadores
no que concerne aos limites de sua atuação. O fato de a
publicidade e de o marketing terem compreendido a força do
esporte para a conquista dos consumidores gerou importante
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complexidade das abordagens e a evolução do pensamento
sobre o esporte acabou por suscitar diferentes
interpretações sobre o marketing esportivo.
Devido ao fato de o principal produto esportivo ser o
espetáculo em si, que pode muito bem ser classificado como
um serviço devido ao seu alto grau de intangibilidade,
alguns preceitos não devem deixar de serem trabalhados numa
ação de marketing do gênero. Tendo em vista essa
intangibilidade que um serviço possui, o marketing
esportivo (principalmente aquele que é feito pelos clubes
esportivos) deve fazer sua publicidade em função de
aspectos intangíveis que produzam identificação e, se
possível, fidelização do consumidor (que passará a ser
torcedor). Dentre esses aspectos intangíveis, podemos
destacar a presteza (identificação daqueles que fornecem o
serviço com a qualidade deste, o que, no caso, representa,
por exemplo, a identificação dos jogadores pelos clubes nos
quais jogam futebol) e a empatia (identificação do
consumidor com o responsável pelo serviço ou, como
continuação do exemplo anterior, do torcedor com seu clube
de coração, seja essa identificação feita por fatores
geográficos, econômicos e/ou políticos).
Além disso, diferente do que muitos autores acreditam,
entendemos que os resultados dos espetáculos esportivos
afetam, em grande escala, as ações de marketing esportivo.
Assim como a qualidade de qualquer produto de uma marca não
esportiva pode afetar positiva ou negativamente uma
campanha de marketing da própria marca, os resultados do
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produto esporte (no caso, o espetáculo em si) podem
alavancar ou afundar uma marca esportiva. Um clube de
futebol não garante nem títulos e nem um bom marketing
montando um time cheio de bons jogadores, e mesmo a
conquista de títulos por um bom time não garante o
marketing necessário para a marca se manter. Mas, um clube
que quer crescer deve tentar equilibrar seu orçamento
buscando os três fatores: um bom time, um bom marketing e,
por fim, títulos.
4 – Cases: Real Madrid x Borussia Dortmund
Apresentar a forma como esse dois times de futebol
trabalham o marketing sobre o “produto esporte” que
oferecem também é apresentar um pouco da história desses
times, principalmente no que diz respeito às equipes mais
vencedoras montadas por esses clubes. Portanto,
introduziremos os cases com um pouco da história das
equipes mais vencedoras de Real Madrid (1955-60, o
pentacampeão europeu) e de Borussia Dortmund (1994-97,
primeiro time alemão, além do Bayern Munique, que
conquistou o Mundial Interclubes), para então apresentar
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como esses clubes trabalham seu marketing atualmente, de
modo a perceber que algumas decisões tomadas nesses
períodos influenciam até hoje.
4.1 - Case Real Madrid
Em meados da década de 50, o Real Madrid teve projeção
mundial ao reunir em sua equipe uma verdadeira constelação
de jogadores, que haviam se destacado em competições por
suas respectivas seleções nacionais. Entre 1955 e 1960, o
único time que conquistou a UEFA Champions League cinco
vezes seguida contou com, entre outros grandes nomes do
futebol mundial da época, Kopa (francês), Puskás (húngaro),
Didi (brasileiro), Gento Lopéz e Rial (ambos espanhóis),
Santamaria (uruguaio) e, principalmente, Di Stéfano
(argentino e grande craque do time). A maioria desses
jogadores foi comprada de outros times, o que atraiu para o
Real Madrid uma imagem muito positiva sobre as perspectivas
de negócio da equipe.
Em 2000, com a vitória do magnata da construção civil
Florentino Pérez na eleição para a presidência do clube,
uma política de contratações muita parecida com a dos anos
1950 foi iniciada, de forma a aprimorar a imagem do time. O
“produto esporte” espetáculo passou a ser prioridade e,
para evidenciar essa perspectiva, Pérez desenvolveu um
trabalho centrado na competência dos jogadores, pois
acreditava que, se o time propiciasse um grande espetáculo,
ele se destacaria entre os demais times que buscam o maior
título de futebol da Europa, a UEFA Champion League. Entre
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2000 e 2002, o Real Madrid fez as contratações mais caras
da história do futebol mundial: o português Luís Figo
(aproximadamente 54 milhões de euros), o francês Zinedine
Zidane (aproximadamente 67 milhões de euros) e o brasileiro
Ronaldo (“o Fenômeno”, por aproximadamente 42 milhões de
euros).
A iniciativa foi um sucesso tanto do ponto de vista do
marketing quanto dos resultados dentro de campo. No
primeiro, a imagem do Real Madrid como “seleção mundial”
ganhava força ao redor do planeta e, durante o período de
pré-temporada das equipes europeias, o clube recebia
enormes quantias em dinheiro (o que ocorre até hoje) para
jogar em países de menor expressão futebolística, de modo a
exibir seus craques nos gramados desses países. Além disso,
alguns jogadores (casos de Ronaldo e Zidane) rendiam ao
clube valores muito próximos aos valores pagos para obtê-
los só com a venda de camisas como o nome do respectivo
jogador, isso sem falar nas campanhas de marketing
envolvendo esses atletas (eles estavam se pagando, como
disse o próprio Pérez quando sua política de contratações
fora criticada). Nos gramados, o Real Madrid conquistou
dois Campeonatos Espanhóis, três Copas do Rei (ou Copa da
Espanha) e a tão sonhada UEFA Champions League, em 2002.
Pérez continuou sua política de contratações, mas
relativizou a questão do resultado dentro de campo. Para
ele, o resultado do jogo não é fundamental porque não é o
placar do jogo que fica na memória de um torcedor, mas,
sim, o espetáculo, isto é, no caso, a arte do jogo e a
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plástica dos lances apresentada por uma seleção de craques
é o que forma uma memória nesse torcedor. Angel Sanchez,
diretor de marketing do Real Madrid, em entrevista à
revista “The Economist”, disse que “Nós somos um provedor
de satisfações, como um estúdio de cinema”. Esta entrevista
fora dada sob o contexto da mais nova contratação do time,
o inglês David Beckham que, embora fosse um grande jogador,
era muito mais conhecido por participar de grandes ações de
marketing, tanto no mundo esportivo quanto fora dele. A
chegada do astro inglês dinamizou as ações de marketing do
clube, transformando-o no mais rico do mundo e no que mais
arrecadava em marketing na história do futebol mundial.
Afinal, se os melhores jogadores do mundo conferem ao time
a melhor imagem do mundo, a presença de determinado jogador
no elenco madrilenho confere a ele a imagem de um dos
melhores do mundo, e ambas as imagens ajudam a agregar
valor ao marketing do clube.
Porém, a contratação de Beckham tinha uma
incongruência grave com relação ao time dentro de campo: o
inglês jogava na mesma posição de Luís Figo, um dos
melhores do mundo e, com certeza, o melhor na meia-direita.
Isso, a ascensão do Barcelona com um futebol fantástico e a
contratação de outras estrelas do futebol mundial por parte
do Real Madrid que não afetaram o marketing do clube e
ainda pioraram as relações do já conturbado vestiário
(casos de Owen, Robinho e Gravensen), fizeram o futebol do
Real minguar, o que resultou na saída de algumas dessas
estrelas entre 2004 e 2007, como Ronaldo, Zidane e Figo.
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Sem o “produto esporte” espetáculo tão aclamado pelas ações
de marketing do clube e sem conquistas dentro dos gramados,
Florentino Pérez perde as eleições do clube realizadas em
2006, dando lugar a Ramón Calderón.
Calderón assumiu a presidência do clube com a promessa
de conquistar a UEFA Champions League novamente investindo
em jogadores “um pouco mais coadjuvantes”, que completariam
a presença das estrelas do time. Para tanto, o novo
presidente do clube decidiu intensificar as campanhas de
marketing que se relacionavam com craques permaneceram na
equipe, principalmente Beckham e Cannavaro (o zagueiro
italiano havia sido eleito melhor do mundo na temporada
anterior). Na primeira temporada, embora não tenha
conquistado o título europeu, o Real Madrid venceu mais uma
edição do Campeonato Espanhol e recuperou o espaço do
marketing esportivo que havia perdido no fim do primeiro
mandato de Pérez. Os problemas, porém, apareceram na
temporada seguinte.
Calderón percebeu algo grave, uma herança da política
de Pérez retornava com a ascensão do time no cenário dos
negócios. O Real Madrid não conseguia contratar jogadores
pelos preços de mercado, estava sempre pagando muito acima
por eles (este o caso, por exemplo, do volante africano
Mahamadou Diarra, que veio do Lyon, da França, por quase 40
milhões de euros. Sua multa recisória não chegava a 25
milhões), o que limitava os investimentos em novas
contratações, na área de marketing do clube e na reforma do
estádio (uma promessa feita na época de Florentino Pérez e
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que ainda não tinha sido cumprida). A imagem de clube mais
rico do mundo, por incrível que pareça, estava atrapalhando
o time madrilenho, que ainda por cima via seu time dentro
de campo fracassar em nova tentativa de vencer a UEFA
Champions League (eliminado pelo próprio Lyon, de onde
viera Diarra), o que, desta vez, fez os rendimentos do
clube com marketing esportivo diminuírem de vez, a ponto
dos grandes clubes ingleses (Manchester United, Chelsea,
Arsenal e Liverpool) ultrapassarem em números nessa área.
Ao fim da temporada 2008-09, o presidente Calderón, além de
todo o fracasso com sua estratégia comercial para o clube,
ainda foi envolvido em um escândalo político na Espanha e
foi obrigado a deixar o cargo. Eleições foram convocadas e
Florentino Pérez havia retornado ao comando do clube.
Ele retomou sua política de contratações, mas, dessa
vez, com uma diferença: ele passou a se aproveitar da
imagem de seleção do mundo que seu time fazia para fazer
ações de marketing com todos os atletas do clube (antes, o
foco era o fato dos jogadores serem os melhores do mundo
era o destaque das campanhas de marketing do clube, o que
concentrava demais as ações em poucos jogadores e muitos
outros atletas sequer participavam dessas campanhas). Para
maximizar essa ideia, Pérez gastou aproximadamente 160
milhões de euros para contratar o brasileiro Kaká e o
português Cristiano Ronaldo, eleitos melhores do mundo nos
dois anos anteriores. Além disso, o Real Madrid concluiu a
reforma de seu estádio e, dentro dele, refundou o Museu do
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Real Madrid, o que possibilitou uma maior aproximação e
identificação de seus torcedores com o time.
O período que se segue desde então no time madrilenho
é de altos e baixos. A equipe ganhou títulos nacionais e
melhorou seu desempenho na competição europeia, mas algumas
contratações deram errado, problemas de vestiário ocorreram
entre as novas estrelas do clube, brigas entre o elenco e
os treinadores aconteceram. Mesmo assim, desta vez, o Real
Madrid não perdeu tanto espaço no mercado quanto das outras
vezes. Isso se deve à compreensão de que devia ser dado ao
seu torcedor um melhor tratamento (reformas no estádio e no
museu do time) e na ascensão do Barcelona da época, que tem
na política de formação (totalmente contrária à do Real
Madrid) do time o aproveitamento da base para redução de
custos e formação de jogadores, o que acirrou a rivalidade
entre essas equipes, e angariou, pelo mundo mais torcedores
ao time madrilenho, que não gostavam do Barcelona por não
se identificarem com a equipe catalã.
4.2 – Case Borussia Dortmund
Embora tenha quase a mesma idade do Real Madrid, a
história de sucesso do Borussia Dortmund é bem mais
recente. Ela data do fim dos anos 1980, quando o clube se
recuperava financeiramente de uma crise vivida na década
anterior, que culminou com rebaixamento da clube a segunda
divisão. De volta à primeira divisão alemã, a equipe do
Borussia se destacava por um bom projeto de categoria de
base, que revelava alguns bons jogadores. Nessa época, o
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futebol alemão não era um dos mais ricos da Europa, e era
comum que times que tinham o destaque da base que o
Dortmund tinha venderam seus jogadores para as maiores
ligas. E foi exatamente o que aconteceu com os jogadores
Thomas Hassler e Andreas Moller, que foram a preço de ouro
para a Juventus, da Itália.
O Borussia enxergou nisso uma oportunidade de renovar
a identificação entre o time e a torcida. Ao invés de fazer
contrações mirabolantes e caras, decidiu-se por investir em
jogadores do próprio país que se destacavam em times
menores e em jogadores do norte e do leste europeu que se
destacavam internacionalmente (os times alemães contratavam
jogadores dessas regiões nos anos 1970 para manter lucro
com a venda de seus jogadores para gigantes europeus e
ainda conseguir contratar jogadores de nível parecido). A
estratégia deu certo e, enquanto o Borussia vencia o
Campeonato Alemão de 1990 e a Copa da Alemanha em 1991, a
torcida fazia sua parte dando ao time uma das maiores
médias de público do continente europeu.
Assim, a equipe alemã tratou de priorizar os torneios
internacionais, de modo a expandir a marca. Porém, em sua
primeira tentativa, a Copa da UEFA de 1992, uma acachapante
derrota por 3x0 para a própria Juventus, fez o clube
perceber que precisaria primeiro rever sua política de
contratações para só então expandir sua marca. A partir de
então, o Borussia passou a compor uma equipe de olheiros,
que ficariam responsáveis por observar ou jogadores
nascidos em países sem muita expressão ou jogadores com os
26
contratos acabando, pois em ambos os casos as contratações
sairiam mais baratas para os cofres da equipe alemã. E foi
justamente na Juventus que alguns jogadores desse perfil
foram achados: o português Paulo Sousa, o brasileiro Júlio
César e o alemão Kohler vieram praticamente a custo zero.
Na temporada seguinte, o Dortmund juntou dinheiro e
repatriou Moller (que veio por menos da metade do preço que
custou a Juventus) e ainda conseguiu o escocês Paul
Lambert, dispensado de seu time, o Glasgow Celtic, da
Escócia. Eles se juntavam às revelações da base da equipe
(como Klos e Lars Ricken), aos talentos tirados de outros
times do país (Herrlich e Riedle, por exemplo) e aos
jogadores que vieram de ligas menores (como o suíço
Chapulsat e o dinamarquês Povlsen) para formar um dos
maiores times da história da Alemanha, único além do Bayern
Munique a ganhar o Mundial Interclubes, em 1997.
Como consequência direta dos títulos (e à qualidade do
espetáculo) e da identificação dos torcedores com os ideais
transmitidos no período, que desejavam cada vez os produtos
relacionados da equipe, houve uma reforma geral no estádio
do time, expandindo sua capacidade de 60 mil para 75 mil
lugares e colocando lojas oficiais da equipe dentro dele. O
problema dessa decisão é que a reforma só ficou pronta na
temporada 1998-99, obrigando o time de Dortmund a jogar
fora de sua cidade por mais de um ano e, nesse intervalo de
tempo, o Borussia perdeu alguns de seus principais
jogadores que ou se aposentaram (devido à idade ou a
lesões) ou foram vendidos para pagar a reforma do estádio.
27
De modo a atrair novamente os torcedores, que ficaram
desconfiados com o desempenho da equipe nas duas temporadas
que se seguiram, a diretoria passou a investir pesado na
contração de jogadores de países referenciais no esporte,
caso do brasileiro Amoroso. No começo, o resultado dentro
de campo e a conquista de títulos nacionais acalmaram os
ânimos da torcida, mas esta acabou se distanciando com nova
reforma do estádio, desta vez para a Copa do Mundo de 2006,
e com a continuação dessa política de contratações caras,
que, em 2005, chegou a prejudicar o clube de tal forma que
a falência quase lhe foi decretada.
Em 2006, ao fim da Copa do Mundo, em julho, eleições
são convocadas no clube alemão e Reinhard Rauball, diretor
de futebol do Borussia em sua época mais vitoriosa, vence e
se torna presidente do clube. Como primeira medida, ele
contrata Lars Ricken (sim, aquele mesmo meia alemão do time
nos anos 1990 formada nas categorias de base e agora
aposentado) para ocupar o cargo que fora seu na década
anterior. O fato de ter pessoas altamente ligadas à
história de sucesso do Borussia em cargos administrativos
do clube provou ser extremamente importante para o recente
sucesso no cenário europeu do futebol.
Primeiramente, os dois perceberam que, embora tivessem
herdado a estrutura de um dos estádios mais modernos do
mundo, o Borussia não teria dinheiro para sustentá-lo se,
pelo menos 75% dos ingressos não fossem vendidos todos os
jogos (o que não ocorria desde a “época de ouro”, quando
Ricken ainda era jogador). A partir de então, começou uma
28
intensa campanha de marketing junto à torcida do Dortmund,
de forma a conscientizar esse torcedor do como é importante
para a equipe tê-lo por perto, principalmente nas partidas
(algo parecido com que o Corinthians fez no Brasil, mas o
marketing do clube brasileiro não estava tão focado no
“produto esporte” espetáculo quanto o do time alemão). A
campanha deu resultado rapidamente e, em 2007, a média de
público do Borussia, já girava em torno dos 74 mil por
jogo. A única parte desse plano que ainda não havia dado
resultado era o desempenho dentro de campo. Com os altos
gastos com marketing e com a infraestrutura do time, a
equipe de Dortmund passou 2006 e 2007 praticamente sem se
reforçar no mercado de contratações, e amargou as piores
posições do time nos últimos dez anos de campeonato (nona
colocação em 2006 e 13ª, em 2007).
Mas, em 2008, as coisas começaram a engrenar mais
rápido para a equipe alemã. O Borussia fechou parcerias com
empresas da mesma região da Alemanha que a cidade de
Dortmund pertence, a Vestfália (repare que, neste caso, a
administração do Borussia adotou com os patrocinadores a
mesma postura que tinha com relação à contratação de
jogadores no início dos anos 1990, de modo a trabalhar
melhor a identificação do torcedor com o clube). Assim a
Evonik se tornou a principal patrocinadora da camisa da
equipe e a Signal Iduna comprou os “naming rights” do
estádio, que passou a se chamar Signal Iduna Park (antes
era Westfallen Stadium). Com uma nova injeção de dinheiro e
com uma empresa dividindo os custos do estádio, o Borussia
29
pode a ir ás compras pra valer e conseguiu algumas
aquisições que até hoje fazem sucesso no time, caso dos
zagueiros Hummels e Subótic (ambos, somados, não custaram
nove milhões de euros), o meia polonês Blaszczykowski (por
três milhões de euros), além da chegada, a custo zero, do
também polonês Piszczek e do atual treinador da equipe, o
alemão Jurgen Klopp. Outras contratações que foram feitas
nessa janela de transferências foram as do paraguaio Lucas
Barrios e do húngaro Hajnal (ambos custaram cerca de nove
milhões de euros cada). O clube de Dortmund repetia sua
política de contratações que teve sucesso nos anos 1990 e,
com isso, o torcedor se identificava e se aproximava mais
da equipe, consumindo mais seus produtos e, dessa forma
gerando mais caixa (e a “bola de neve” só crescia).
Em 2009, o Borussia faz a melhor campanha no
Campeonato Alemão desde a conquista do título em 2002: o
quinto lugar na tabela e, com isso o retorno às competições
europeias. Porém, a eliminação precoce na primeira fase da
Copa da UEFA e a manutenção do quinto lugar no campeonato
alemão de 2010 fizeram a diretoria perceber que precisariam
de alguns reforços para continuar evoluindo a imagem do
time com conquistas. Assim sendo, em 2011, chegaram o
polonês Lewandowski e o japonês Kagawa (ambos por 4 milhões
de euros cada). Eles se juntaram aos ascendentes jogadores
da base do Borussia, como os alemães Schmelzer,
Grosskreutz, Bender e Gotze e o turco Sahin (novamente,
destaque para a política de contratações e de revelações
que o time alemão tem) para fazer a campanha mais vitoriosa
30
como mandante da história do Campeonato Alemão até então
(17 vitórias, um empate e uma derrota em 19 jogos) e sagrar
a equipe como campeã da Alemanha na temporada. A sinergia
entre torcida e time era tamanha que a média de torcedores
presentes na Signal Iduna Park saltou de 72 mil para 79 mil
ao longo da competição, a maior média da Europa no momento.
A temporada seguinte, porém, começou com uma decepção
para a torcida de Dortmund: o Borussia havia vendido o
turco Sahin (considerado o melhor jogador do Alemão de
2011) para o Real Madrid, por “apenas” 12 milhões de euros,
um valor muito abaixo daquele que time de Madrid estava
acostumado a pagar e os time alemães a vender. Claramente,
a equipe alemã ainda se ressentia de ter que resguardar
parte de seus lucros para continuar a saldar dividas da
década passada. Contudo, isso não impediu o Borussia
contratasse um dos destaques do Campeonato Alemão anterior:
Gundogan chegou a Dortmund por menos de cinco milhões de
euros. Em campo, Gundogan fez a torcida não sentir falta de
Sahin, e Kagawa, Lewandowski e Gotze chamaram a
responsabilidade e decidiram o Campeonato Alemão de 2012
para o Borussia que, além disso, também conquistou a Copa
da Alemanha (primeira vez na história do clube que ambas as
competições são conquistadas em um mesmo ano). Ao fim da
temporada, melhores notícias para a torcida de Dortmund:
foram anunciados novos patrocinadores, casos da Puma e da
Turkish Airlines (empresas da região da Alemanha e da
Europa Oriental, o que mostra a fidelidade da equipe com a
política de identidade entre clube, empresas e torcida), o
31
que fazia da equipe uma das que mais cresciam em números de
arrecadação com marketing, houve a contratação do alemão
Marco Reus (pouco mais de 17 milhões de euros), considerado
o melhor jogador do Campeonato Alemão de 2012, e o retorno
do turco Sahin4, ídolo da torcida, sem custo algum para os
cofres do time alemão. A política de contratações do
Borussia tornava-se famosa mundialmente, como a imagem5 a
seguir demonstra.
Meme sobre as negociações envolvendo Borussia Dortmund e o turco 4 De acordo com o analista e especialista em marketing esportivo, gestão e negociações esportivas, as negociações envolvendo Sahin e Gundogan pelo Borussia Dortmund podem ser consideradas entre as dez melhores já feitas na história do futebol, pois envolveram a venda de um jogador, a contratação de outro melhor por menos da metade do preçoe, depois, o retorno do primeiro, de graça, para jogar ao lado do segundo.5 As imagens presentes nesse paper são memes, de facebook, de tom humorístico, mas que apresentam valores reais de transferências de jogadores de futebol. Estão disponíveis em <https://www.facebook.com/soccermemes?ref=ts&fref=ts>
32
Sahin, com destaque para o técnico e manager do time, Jurgen Klopp, que avalizou as negociações. A imagem faz referência ao técnico francês Arsene Wenger, do time inglês Arsenal, que, acostumado a revelar grandes jogadores, viu, entre 2011 e 2012, alguns deles serem vendidos para concorrentes ingleses, e faturarem títulos nesses anos.
Em 2013, apesar da venda do japonês Kagawa, por 18
milhões de euros para o Manchester United, da Inglaterra, o
Borussia parece não ter sentido a perda de seu principal
jogador na temporada passada (como ocorreu com Sahin), e
continuou apresentando grandes espetáculos para sua
torcida, que também contribuía para o espetáculo: o time de
Dortmund batera o recorde de público da Europa em 2012, com
81mil pagantes (atual capacidade máxima do estádio) para
ver um jogo de futebol e, em 2013, a média de público do
Borussia ultrapassou os 80.500 pagantes por jogo, outro
recorde continental. A aposta da equipe alemã no “produto
esporte” espetáculo, feito não só por seus jogadores, mas
também por sua torcida, a partir do momento em que esta se
identifica com o time e com a diretoria da equipe, trouxe
muitos benefícios ao time, desde ao aumento no faturamento
com o marketing (quase dobrou em relação a 2008, passando a
ser de 254 milhões de euros)6, o completo pagamento das
dívidas e ao bom desempenho na UEFA Champions League,
chegando a final pela primeira vez desde 1997, o que, sem
dúvida, internacionalizou a marca Borussia Dortmund.
4.3 – Metodologia de análise comparativa dos cases
6 As informações sobre orçamentos dos clubes analisados, evolução em arrecadação com marketing e quanto cada clube lucra com essa atividadeforam divulgadas na lista produzida por Amir Somoggi, disponível na seção de esportes do portal R7 (vide referências bibliográficas)
33
Robert Yin desenvolveu uma metodologia de pesquisa de
estudo de caso que pode ser aplicada tanto para estudo de
casos únicos, quanto de casos múltiplos. Para realizar a
comparação dos casos deste trabalho, utilizaram-se as
recomendações de Robert Yin para casos múltiplos e
incorporados. A primeira segmentação é evidente, haja vista
que trata da análise de dois casos. A segunda segmentação
se deve ao fato da investigação dos casos envolver apenas
as questões pertinentes ao Marketing Esportivo, não havendo
a preocupação com a natureza global dos mesmos. Com o
objetivo de comparar os casos estudados neste trabalho, foi
elaborada uma matriz para avaliação dos mesmos em cinco
dimensões. Essa matriz é apresentada a seguir. A explicação
dos critérios adotados e das avaliações concedidas virá
após a tabela.
Casos Real Madrid Borussia DortmundEmpatia 4 5Sinergia 4 5Satisfação com o produto
3 5
Expansão da marca 5 4Tangibilidade 5 5
A empatia é a identificação entre o serviço e seus
prestadores (no caso do “serviço espetáculo de futebol”,
podemos citar a diretoria dos clubes e aqueles que ela
responsável por contratar, como jogadores e comissão
técnica). Nos cases analisados, ambas as diretorias estão
altamente identificadas com seus respectivos clubes, mas,
no caso do Real Madrid, alguns jogadores não condizem com a
34
imagem de “seleção do mundo” (como no caso de Diarra, já
comentado anteriormente), enquanto que, no caso do time
alemão, os jogadores contratados faziam parte da política
de contratações do clube e com ele se identificaram. Já a
sinergia nada mais é do que a empatia entre os consumidores
do serviço (os torcedores, no caso) e os provedores desse
serviço. Para o Borussia, a sinergia foi total, prova disso
é a elevada média de público de seu estádio, que beira os
100% da capacidade. Já para o time espanhol, a
identificação também existe, mas não tão grande quanto à do
time de Dortmund devido ao descumprimento das promessas
feitas pelo marketing do clube de um espetáculo
diferenciado, que seria consequência da reunião de astros
do futebol. Isso gerou insatisfação dos clientes/torcedores
com o produto espetáculo/serviço, o que explica o terceiro
critério. Além desse fator, devemos considerar que o número
de títulos das duas equipes não é muito diferente (nos
últimos dez anos, o Real Madrid conquistou três Campeonatos
Espanhóis e duas Copas do Rei, enquanto o Borussia, no
mesmo intervalo de tempo, ganhou três Campeonatos Alemães
e uma Copa da Alemanha), mas o orçamento desses times é
muito diferente. Enquanto os torcedores do Borussia parecem
satisfeitos com o desempenho da equipe, não são raras as
manifestações de insatisfação da torcida madrilenha, como
quando o Barcelona vencera o Real Madrid por seis a dois,
na capital espanhola, e a torcida passou a bater palmas
para os jogadores do time catalão, em 2009.
35
Apesar disso, a expansão da marca do time espanhol é
maior que a do time alemão devido a sua história vencedora
de longa data e ao fato de ter “caixa” para comprar
estrelas de vários países do mundo o que chama muito a
atenção dos consumidores desses países. Porém, vale
destacar a chegada à final da UEFA Champions League, por
parte do Borussia, na temporada passada, dinamizou sua
relação com consumidores de outros continentes, agregando
valor à marca. Por fim a tangibilidade do serviço oferecido
por ambos os clubes é excelente: ambos têm estádios que
estão entre os melhores do mundo e uma política de
distribuição de subprodutos (isto é, produtos cujo valor
está agregado ao “produto esporte”, como camisas do time e
acessórios) que atinge diferentes países pelo planeta, de
modo que nenhum consumidor precise solicitar algum desses
subprodutos a uma loja oficial do clube.
36
5 – Conclusão
O marketing esportivo é uma das formas mais rentáveis
de se fazer publicidade com uma marca e/ou produto. Se
olharmos para os clubes de futebol, como os que foram
tomados como exemplos de cases, o marketing se caracteriza
como a principal fonte de renda dos mais ricos do mundo.
Logo, as entidades esportivas provam como ações de
marketing podem ser muito lucrativas, não só para esse tipo
de entidade, mas também, para qualquer empresa ou
organização que queira expandir sua marca. Mas, para tanto,
o marketing deve ser muito bem planejado e suas mensagens
aos clientes e consumidores, muito bem analisadas antes de
ser emitidas.
O Real Madrid apostou que, ao repetir a política de
contratações da era mais vencedora de sua história,
enfatizando o espetáculo dentro de campo como “carro-forte”
da empresa, seria tão vencedor quanto foi nos anos 1950.
Mas, dessa vez não só no campo, e sim no marketing também.
Até 2002, essa estratégia deu muitos resultados em ambos os
âmbitos. Porém, em 2003, com a chegada de David Beckham,
houve uma inversão de valores na política do clube. O
marketing tornou-se mais importante que os resultados
dentro de campo (não que Beckham não fosse um grande
jogador, mas, como já explicado, o time de Madrid já outro
jogador que executava a mesma função dentro de campo), e
estes começaram a rarear, a ponto do marketing do clube
também ser afetado negativamente. Mesmo assim, os altos
gastos com jogadores de futebol, mesmo no período de grande
37
crise econômica que a Espanha enfrenta desde 2008,
continuaram e sobrepujaram àqueles do começo da década
passada, e os resultados dentro de campo ainda são
irregulares, e o tão sonhado título europeu ainda não foi
conquistado. Isso sem falar que mesmo o time pentacampeão
europeu entre 1955 e 1960 ainda sabia aproveitar jogadores
formados na base (casos de Del Sol e Rial, por exemplo),
enquanto que Florentino Pérez vendia suas “crias” (casos de
Morientes e Helguera, por exemplo) para conseguir lugar
para mais “galácticos” no time, o que gerou um certo
distanciamento entre a torcida e a equipe. Não são raras as
manifestações virtuais que satirizam a política de
contratações que o Real Madrid adotou para esse novo
século, como bem ilustra a imagem a seguir.
Meme satirizando o fato de o Real Madrid ter gasto mais de um bilhão
38
de euros nos últimos dez anos e não ter conquistado a UEFA Champions League. A contagem começa com a contratação de David Beckham, em 2003,e se encerram com a contratação do galês Gareth Bale, feita há três meses, por 100 milhões de euros.
O Borussia, por sua vez, devido às crises e dívidas
que o cercavam, fez uma aposta diferente, embora no mesmo
“produto esporte” espetáculo. Houve uma campanha para
conscientizar o quão importante a torcida era (e ainda é)
na formação desse espetáculo. A promessa, portanto, do time
alemão era bem diferente do time espanhol: ao invés de
tentar contratações caras, o Borussia produziria um
espetáculo com o qual seu torcedor se identificasse e dele
pudesse participar influenciando o desempenho do time em
campo com sua presença no estádio, como ocorreu com o
vitorioso time dos anos 1990. O time de Dortmund soube
aproveitar uma característica muito importante do marketing
esportivo: a fidelização do torcedor, que, mesmo com time
em crise, pode até deixar de consumir produtos de seu clube
de coração, mas dificilmente vai “virar a casaca”. Assim, o
Borussia reconquistou seu torcedor e, a partir disso, mais
que dobrou seu faturamento com o marketing (superando os
250 milhões de euros, saindo do 30º para o 7º lugar na
lista dos clubes de futebol) e montou um time vencedor, que
chegou à final da UEFA Champions League (algo que o Real
Madrid não faz há 10 anos), em cinco anos.
É claro que a expansão da marca Real Madrid é maior
que a marca Borussia Dortmund. Mas, alguns fatores que
estão ligados a isso não são representativos, como o fato
da campanha de marketing do time espanhol ter se iniciado
39
há 10 anos, enquanto a do time alemão iniciou-se em 2008.
Além disso, o Real Madrid já era uma marca mundial antes,
devido a toda sua história de sucesso e conquistas nas
décadas anteriores. Já o time de Dortmund, com suas
conquistas nos anos 1990, ficou famoso apenas na Europa, e
sua expansão como marca global começou apenas esse ano, com
a chegada à final da UEFA Champions League. O Borussia
provou que pode fazer muito com menos investimento e tempo,
como prova a imagem abaixo.
Meme que compara a quantidade de dinheiro que o Real Madrid gastou
40
para ter Bale e Cristiano Ronaldo e quanto o Borussia Dortmund gastou para montar o time que ganhou dois Campeonatos Alemães e chegou à final da UEFA Champions League nos últimos três anos.
Se o objetivo do marketing é o pleno conhecimento do
produto oferecido e suas respectivas oportunidades no
mercado, não resta dúvida de que o Borussia fez um
marketing esportivo, voltado ao “produto esporte”
espetáculo, melhor que o do Real Madrid (como constatamos
na análise baseada na teoria de Robert Yin). Isto se deve a
mensagem vinculada pelo seu marketing, que gerou
identificação entre torcida e time, estimulou o consumo e
atraiu novos patrocinadores. Não que a campanha do time de
Madrid não tenha feito isso, mas não o fez todos ao mesmo
tempo (e também, em alguns momentos, não gerou tanta
identificação com seu torcedor, como já foi debatido). Uma
nova temporada começou há três meses, e ela parece que vai
trazer bons frutos para ambos os times, que continuaram com
suas respectivas estratégias de marketing e de
contratações. Se o Borussia se tornará tão grande
mundialmente quanto o Real Madrid, se este vencerá a UEFA
Champions League e se os bons resultados do time alemão se
manterão, isso só o tempo pode responder.
41
6 – Referências Bibliográficas
YANAZE, Mitsuru H. Gestão de Marketing e Comunicação: avanços e aplicações. São Paulo: Saraiva, 2da. Edição, 2011
YIN, Robert K. Applications of case study research. Thousand Oaks, California: Sage Publications. 1993.
MULLIN, Bernard; HARDY, Stephen e SUTTON, William. Marketing Esportivo. São Paulo: Bookman Companhia, Edição de 2004
JENNINGS, Andrew. Jogo Sujo: O Mundo Secreto da FIFA. São Paulo: Panda Books, 2011
Informações sobre os cases Real Madrid e Borussia Dortmund.Disponíveis em: <http://www.mktesportivo.com/>. Acesso entre 22 de novembro de 2013 e 28 de novembro de 2013
42
História do Real Madrid. Vários Autores. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Real_Madrid_Club_de_F%C3%BAtbol#T.C3.ADtulos/>. Acesso entre 22 de novembro de 2013 e 28 de novembro de 2013.
História do Borussia Dortmund. Vários Autores. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ballspiel-Verein_Borussia_1909_e._V._Dortmund/>. Acesso entre 22 de novembro de 2013 e 28 de novembro de 2013.
SOMOGGI, Amir. Lista dos clubes europeus que mais arrecadaram com marketing em 2012. Disponível em: <http://esportes.r7.com/futebol/fotos/clubes-europeus-faturam-milhoes-com-marketing-veja-a-lista-11102013-1#!/foto/7/>. Acesso entre 22 de novembro de 2013 e 28 de novembro de 2013.