music therapy and alcoholism: contributions in the rehabilitation and treatment

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Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento Artur Jorge Rodrigues Malícia Correia 1 APRESENTAÇÃO Musicoterapia e Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento Artur Jorge Rodrigues Malícia Correia Neste trabalho pretendemos observar as questões multi-sistémicas entre o álcool, o alcoolismo e a pessoa com alcoolismo, bem como fazer uma revisão bibliográfica sobre a musicoterapia nesta problemática. Para tal iniciaremos com a apresentação do tema álcool e alcoolismo, onde abordaremos aspetos neurobiológicos, e outros modelos explicativos como os aspetos da personalidade, da aprendizagem social e psicodinâmicos. Em seguida iremos abordar alguns aspetos subjetivos da observação clinica em pessoas com problemas de alcoolismo, quer na fase aguda, quer na fase de abstinência No ponto três contextualizamos a musicoterapia, o princípio de iso e o objeto intermediário, como pressupostos musicoterapêuticos para a intervenção, e as respetivas experiências musicais segundo Bruscia. Ainda nesta temática da musicoterapia, fazemos uma revisão bibliográfica sobre intervenções com recurso à musicoterapia em contextos de tratamento e reabilitação do alcoolismo. No ponto quatro, contextualizamos o modelo de abordagem terapêutico centrado na pessoa e a forma como o mesmo se correlaciona na improvisação clinica em grupo, ao nível do desenvolvimento das competências de escuta, empatia e congruência. Por fim, sistematizamos um modelo de intervenção, com recursos de monitorização para intervenção musicoterapêutica em contexto de centros de tratamento e reabilitação do alcoolismo. Palavras-chave: Musicoterapia, Alcoolismo, Alexitímia, Abordagem Centrada na Pessoa Reabilitação.

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Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento

Artur Jorge Rodrigues Malícia Correia 1

APRESENTAÇÃO

Musicoterapia e Alcoolismo:

Contributos na reabilitação e tratamento

Artur Jorge Rodrigues Malícia Correia

Neste trabalho pretendemos observar as questões multi-sistémicas entre o álcool, o alcoolismo

e a pessoa com alcoolismo, bem como fazer uma revisão bibliográfica sobre a musicoterapia

nesta problemática.

Para tal iniciaremos com a apresentação do tema álcool e alcoolismo, onde abordaremos

aspetos neurobiológicos, e outros modelos explicativos como os aspetos da personalidade, da

aprendizagem social e psicodinâmicos. Em seguida iremos abordar alguns aspetos subjetivos

da observação clinica em pessoas com problemas de alcoolismo, quer na fase aguda, quer na

fase de abstinência

No ponto três contextualizamos a musicoterapia, o princípio de iso e o objeto intermediário,

como pressupostos musicoterapêuticos para a intervenção, e as respetivas experiências

musicais segundo Bruscia. Ainda nesta temática da musicoterapia, fazemos uma revisão

bibliográfica sobre intervenções com recurso à musicoterapia em contextos de tratamento e

reabilitação do alcoolismo.

No ponto quatro, contextualizamos o modelo de abordagem terapêutico centrado na pessoa e

a forma como o mesmo se correlaciona na improvisação clinica em grupo, ao nível do

desenvolvimento das competências de escuta, empatia e congruência.

Por fim, sistematizamos um modelo de intervenção, com recursos de monitorização para

intervenção musicoterapêutica em contexto de centros de tratamento e reabilitação do

alcoolismo.

Palavras-chave: Musicoterapia, Alcoolismo, Alexitímia, Abordagem Centrada na Pessoa

Reabilitação.

Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento

Artur Jorge Rodrigues Malícia Correia 2

PRESENTATION

Music Therapy and Alcoholism:

Contributions in the rehabilitation and treatment

Artur Jorge Rodrigues Malícia Correia

In this work we intend to observe the multi-systemic issues between alcohol, alcoholism and the

person with alcoholism, as well as to review existing literature on music therapy in this problem.

To do this we will start with the presentation of the topic and alcoholism, where we discuss

neurobiological aspects, and other explanatory models as aspects of personality, social

learning and psychodynamic. Then we will consider some aspects of subjective clinical

observation in people with alcohol problems, either in the acute phase or during withdrawal

In section three, we contextualize music therapy, the principle of iso and intermediate object,

such assumptions of music therapy for intervention, and their respective musical experiences

by Bruscia. Also in this issue of music therapy, we review the literature on interventions using

music therapy in the treatment and rehabilitation contexts of alcoholism.

In section four, we contextualize the model of person-centered therapeutic approach and how it

correlates in clinical improvisation group, in the level of development of listening skills, empathy

and congruence.

Finally, systematize an intervention model, with resources for monitoring intervention in the

context of treatment centers and rehabilitation of alcoholism.

Palavras-chave: Music Therapy, Alcoholism, Alexithymia, Person Centred Approach

Rehabilitation.

Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento

Artur Jorge Rodrigues Malícia Correia 3

SUMÁRIO

1. O Álcool e o Alcoolismo .................................................................................. 5

1.1. Modelos explicativos do alcoolismo ......................................................... 7

1.2. A Pessoa com perturbação Alcoólica ..................................................... 10

2. A musicoterapia ............................................................................................ 13

2.1. Definição ................................................................................................ 13

2.2. O Princípio de ISO ................................................................................. 13

2.2.1. O Objeto Intermediário ..................................................................... 14

2.1. experiências musicais em musicoterapia .............................................. 15

2.1.1. Experiências Receptivas .................................................................. 15

2.1.2. Experiências de Recriação .............................................................. 16

2.1.3. Experiencias de Composição ........................................................... 16

2.1.4. Experiências de Improvisação ......................................................... 16

3. Intervenções Musicoterapêuticas no Alcoolismo .......................................... 18

4. Abordagem Terapêutica Centrada na Pessoa .............................................. 22

4.1. A Relação e a Experienciação em Musicoterapia ................................. 23

4.1.1. A(s) escuta(s) de si e do outro ......................................................... 24

4.1.2. A(s) empatia(s) de si e do outro ....................................................... 25

4.1.3. A(s) congruência(s) de si e de nós ................................................... 25

5. Plano de Intervenção Musicoterapêutica ....................................................... 27

5.1. Identificação de Necessidades ............................................................... 28

5.1.1.1. Aspetos Psicossociais: .............................................................. 28

5.1.1.2. Aspetos Criativos e Pró Activos ................................................. 28

5.1.1.3. Aspetos Psicofisiológicos .......................................................... 29

5.1.1.4. Aspectos Psico-afectivos ........................................................... 29

5.2. Objetivos gerais e específicos da Intervenção ....................................... 29

5.3. Instrumentos e abordagem de Diagnóstico ............................................ 30

5.4. Instrumentos de Avaliação e monitorização ........................................... 31

6. Metodologia de Intervenção ......................................................................... 33

6.1. A sessão de musicoterapia ..................................................................... 33

6.1.1. Contato ............................................................................................ 34

6.1.2. Implementação ................................................................................ 34

6.1.3. Improvisação .................................................................................... 34

6.1.4. Integração ........................................................................................ 35

Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento

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7. Discussão ..................................................................................................... 36

8. Conclusão ..................................................................................................... 37

9. Bibliografia .................................................................................................... 38

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1. O ÁLCOOL E O ALCOOLISMO

O consumo de bebidas alcoólicas está profundamente agarrado aos padrões culturais dos

povos. Arqueólogos descobriram montículos de grainhas acumuladas como prova do fabrico

do vinho. Estas descobertas datam do período que medeia entre 7000 -5000 a.c. (Johnson,

1999). A substância álcool, ou etanol bebível, resulta da fermentação de carbohidratos

vegetais, sendo possível criar 14% a 15% de álcool. Com o processo de destilação obtêm-se

mais percentagem de álcool. O álcool é da família das substâncias psicodislépticas,

perturbadoras do sistema nervoso central (Patrício, 1997), identificadas como depressoras do

sistema nervoso central. No entanto as baixas concentrações de álcool e os seus efeitos

iniciais podem ser estimulantes ou redutores de estados de tensão (Iglesias, 1998).

Segundo Neves Cardoso (2006), os efeitos neurobiológicos do álcool no sistema nervoso

central, depende do nível de consumo. Exist indo os consumidores moderados,

no qual existem indicadores de efeitos benéf icos ao nível da saúde, e o

consumidor excessivo, designado como alcoólico crónico. Sendo necessário entender as

características individuais para que, em algumas pessoas esse consumo torna-se compulsivo

e é definido como alcoolismo.

Segundo Di Pardo (in Iglesias, 1998), o álcool tem inúmeras funções, como: psicotrópicas,

terapêuticas, alimentar (fonte de calorias para o esforço físico), como mecanismos de

coesão grupal, integração social e estruturação cultural, controlo social, instrumento de

identificação, e diferenciação cultural, de transgressão, de adaptação em situações de

mudança, solução para preenchimento de “vazios”. O alcoolismo é uma patologia médica ou

clínica que afeta a vida familiar e social, tendo inúmeras repercussões físicas: lesões

hepáticas, alterações do funcionamento do aparelho digestivo, síndromas neurofisiológicos,

doenças musculares, perturbações endócrinas, hiperuricemia, osteopenia, doenças

oncológicas, hipertensão arterial, bem como situações de co-morbilidade como é o caso da

doença mental e disfunções psicossociais.

O álcool atua no sistema nervoso central, através dos neurotransmissores, interferindo com

os opioídes e endocanabinóides. Esta interação relaciona-se com o lado do prazer, da

tranquilidade, e do prazer do consumo do álcool. O recetor GABA-A é mediador da ansiólise,

da sedação, e da falta de coordenação motora. O recetor NMDA, afeta a atenção e a

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memória. (Cardoso, 2006) O resultado desta interação leva a uma ativação do sistema

dopaminérgico. A ativação da dopamina vai associar o consumo agradável com a procura

desse consumo. Esta procura está associada ao c ó r t ex pré-frontal e capacidade

decisória. Num consumo exagerado existe uma ativação excessiva que leva a uma procura

de forma incontrolada. Na situação aguda do consumo, existem sintomas de abstinência,

ansiedade, excitação, disforia e delirum tremus. O sistema nervoso central adapta-se a este

tipo de consumo, causando a necessidade da sua autorregulação e manutenção da

excitação, recorrendo-se às benzodiazepinas em sintomas de abstinência por auto medicação

ou prescrição medica. A degeneração neuronal num alcoólico crónico, faz perder a mielina,

nas regiões do lobo frontal, zona que regula as decisões. Fazendo que o alcoólico vá

gradualmente perdendo o controlo e capacidade de decisão. O acetaldeído, metabilizador do

próprio álcool, extremamente tóxico, cria uma inibição de manter a mielina. Causando

situações de demência, défice cognitivo, perturbações da coordenação e em alguns casos,

psicose. (Cardoso, 2006)

Existem ainda fatores genéticos e ambientais para o consumo excessivo de álcool. Como a

metabolização do álcool, variantes como o acetaldeído para a metabolização do álcool;

variantes do recetor do GABA – A, tornando as pessoas mais sensíveis ou não ao álcool, e

a sentirem efeitos tranquilizadores da ansiedade. A influência no sistema dopaminérgico,

sujeito a variantes genéticas possíveis, e modeladas pelo ambiente, relaciona-se com o facto

de as pessoas terem mais ou menos controlo sobre a sua esfera de motivação. Existem

também fatores de vulnerabilidade à substância, agravando os traços de personalidade, do

comportamento e tendências para psicopatologias de co-morbilidade. (Cardoso, 2006)

O Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM) IV da American Psychiatric

Association, considera que existem fenómenos de conduta humana associados a situações

de alcoolismo. Elas são a intoxicação, o abuso, a dependência, e a abstinência. A

intoxicação caracteriza-se por uma s í n d r o m e reversível, específico de uma

determinada substância, devido à ingestão recente de álcool, surgindo alterações

desadaptativas, comportamentais ou psicológicas, clinicamente significativas, devido ao efeito

de uma substância sobre o sistema nervoso central. Este processo de intoxicação pode levar

a padrões desadaptativos como é o caso do não cumprimento das obrigações sociais,

profissionais, familiares, entre outras. Colocando-se em situações de perigo físico como é o

caso da condução de viaturas ou máquinas, tendo nalguns casos comportamentos agressivos

e perigosos. Esta intoxicação tende a ter um padrão de continuação da utilização da

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substância apesar dos problemas sociais ou interpessoais, persistentes ou recorrentes

causados ou exacerbados pelos efeitos da substância (por exemplo, discussões com o

cônjuge sobre as consequências da intoxicação; lutas físicas).

A dependência é identificada no DSM-IV, como um “conjunto de sintomas cognitivos,

comportamentais e fisiológicos, indicativos de que o sujeito continua a usar a substância

apesar dos problemas significativos relacionados com esta.” Este “Padrão desadaptativo da

utilização de substâncias leva a um défice ou sofrimento clinicamente significativo”, na qual

existem os seguintes indicadores: a tolerância, na qual existe mais necessidade de

consumo, maior adaptação do organismo e diminuição do efeito, e a abstinência, na qual a

mesma substância é consumida para aliviar ou evitar os sintomas da abstinência.

Esta substância é frequentemente consumida em quantidades superiores ou por um período

mais longo do que se pretendia. E apesar de existir desejo persistente ou esforços, sem

êxito, para diminuir ou controlar a utilização da substância. E acrescida a esta situação o

dispêndio de grande quantidade de tempo em atividades necessárias à obtenção das

substâncias.

1.1. MODELOS EXPLICATIVOS DO ALCOOLISMO

Existem um conjunto de teorias explicativas dos comportamentos aditivos, como as

biomédicas, as psicodinâmicas, as de aprendizagem, as de personalidade, as sociais e

compreensivas (modelo biopsicossocial). Na intervenção psicológica, os estudos de Bandura

baseados na aprendizagem social, pretendem integrar fatores individuais e sociais, sendo esta

considerada como uma abordagem compreensiva. (Iglesias, 1998)

Os modelos médicos consideram que existe uma propensão genética, alterações do

metabolismo, ou em última análise como forma de automedicação, pois o alcoolismo é

considerado um sintoma, no qual sofrem de perturbações endógenas com substrato biológico

e que podem acabar por ser dependentes de consumo de substâncias. (Iglesias, 1998)

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Em oposição ao modelo biológico surgiu o modelo de aprendizagem social, no qual o

fenómeno do alcoolismo segue um conjunto de leis de condicionamento operativo e social.

Segundo Schippers (in Iglesias, 1998) a teoria cognitiva social parte de que o comportamento

adicto está relacionado com as cognições compostas de expectativas, que são crenças sobre

os efeitos do comportamento do consumo. Estas cognições estão/são acumuladas através da

interação social durante o desenvolvimento, por outro lado, é através das experiências com

efeitos farmacológicos diretos e interpessoais indiretos do comportamento aditivo por outro. As

principais determinantes do consumo são: os significados funcionais do comportamento

adicto (por exemplo: para aliviar o stress que é maior que a sua capacidade de gestão de

adaptação) em combinação com a eficácia esperada das condutas alternativas. Os hábitos

de consumo desenvolvem-se porque, após cada episódio de consumo, pode exacerbar a

posterior formação do hábito pelo incremento do stress e por limitar as opções de conduta

alternativa. Por fim, a recuperação depende do desenvolvimento de capacidade de coping

através de métodos alternativos e complementares.

A conduta de beber, desde a abstinência, ao beber socialmente e abuso de álcool, baseiam

se em princípios semelhantes aos da aprendizagem, cognição e reforço. (Bandura, Azzi, &

Polydoro, 2008)

Abrams e Niaura (1987) consideram também a existência de fatores de pré-disposição

intrapsíquica da personalidade. Como é o caso da revisão feita sobre a aprendizagem social

do uso das drogas e álcool. Estes autores referem que: a) a aprendizagem de beber álcool faz

parte do desenvolvimento psicológico e sociológico de uma cultura; b) existem fatores de

predisposição para iniciar os padrões iniciais de consumo de álcool; c) que as experiencias

associadas ao consumo tendem a ser aumentadas e continuas; d) existem períodos de abuso

porque o individuo sente que não pode ou não consegue enfrentar o problema; e) a

tolerância é adquirida e existem momentos de reforço, que o álcool provoca, como é o caso da

diminuição do stress; f) o consumo é continuado ao longo do tempo desenvolvendo

dependência física e/ou psicológica, neste momento o individuo considera este o único meio

de enfrentar os problemas psicossociais, tais como mudanças do estado de humor,

ansiedade social e défice de habilidades sociais; g) cada episódio de abuso passa a ter

consequências recíprocas quer individual e socialmente, que por sua vez aumentam os

processos de stress em situações de abstinência, e deste modo o consumo é visto como um

equilíbrio entre a relação que o individuo tem com o ambiente e vice-versa; h) que existem

vários fatores sociais, situacionais, ou intra-individuais que o consumo de álcool varia entre

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indivíduos e a forma e relação que tem com o consumo; i) que e a recuperação depende das

competências/habilidades individuais para explorar diferentes modos de capacidades coping

para as competências da vida diária, do auto controlo do comportamento aditivo de consumo

de álcool.

Os défices nas competências pessoais e sociais demonstram como existem práticas de abuso

que resultam de uma dificuldade ou ausência nas capacidades para lidar com a ansiedade

social, pois quando o indivíduo não a tem, pode encontrar na bebida uma resposta adaptativa.

Atualmente existem diversos modelos de intervenção terapêutica, que melhoram as

intervenções sendo os mais comuns: os programas orientados para a assistência como é o

caso da terapia aversiva que tem como objetivo eliminar o desejo do individuo pelo álcool,

grupos de psicoeducação, grupos de treino de competências sociais e de coping, treino do

comportamento e auto controlo, terapias de grupo, terapia familiar, programas de gestão da

ansiedade e stress, prevenção das recaídas e dos lapsos. (Iglesias, 1998) Estes planos

procuram sempre implicar o doente e a sua rede de suporte social num contrato e plano de

intervenção adaptado as circunstâncias biopsicossociais a cada sujeito e sua rede.

Numa abordagem psicodinâmica, o alcoolismo é uma doença e simultaneamente um

sintoma, (Levin , 1994 in Dias, 2006). Para a autora, entende que “ uma doença é útil na fase

inicial da recuperação, em que é importante ajudar o indivíduo a lidar com sentimentos de

culpa, de reconhecer a necessidade de abstinência total para progredir no tratamento e iniciar

transformações psíquicas.”, Dias (2006) considera que “não é suficiente o individuo alcançar a

abstinências de álcool, é importante que o sucesso de tratamento também seja medido em

termos de qualidade de vida, expresso pelo grau de “conforto” interno do individuo, possível

se o tratamento puder progredir, posteriormente para a resolução dos conflitos básicos.(…) A

alcoolização encontra-se, também ela, inscrita na história do indivíduo e pode ser um sintoma

gerado ao longo do seu desenvolvimento.”

Em síntese, os modelos explicativos são consensuais, considerando que a abordagem deverá

ser multidimensional com recurso a um modelo compreensivo biopsicossocial do fenómeno do

alcoolismo e que a mesma tem diferentes áreas de continuidade na intervenção preventiva,

farmacológica, psicoterapêutica (individual e de grupo), psicoeducativa, e de envolvimento dos

sistemas familiares. Este trabalho pretende integrar a musicoterapia nesta intervenção.

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Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento

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1.2. A PESSOA COM PERTURBAÇÃO ALCOÓLICA

Na definição proposta pelo DSM IV, são apontados aspetos afetivos envolvidos na gênese do

uso abusivo de drogas: a ambivalência (utilização da substancia, apesar dos problemas

relacionados com o seu uso); a compulsão (o comportamento de procura é incontrolável) e

seu carácter repetitivo (de certa forma ritualístico).

Um conjunto de outras características de observação cl inica, da pessoa com

comportamento adicto em relação ao álcool, foram identificadas por Donovan (in Dias, 2006)

onde menciona que a depressão e a sociopatia, são os traços mais estudados, sendo que

outros, como: neuroticismo, ansiedade, histeria, hipocondria, esquizoidia, hostilidade,

imaturidade sexual, fragilidade egóica, baixa tolerância à frustração, impulsividade,

comportamento passivo dependente, ilusão de omnipotência, elevada ansiedade e

preocupações somatoformes, foram menos estudados, mas relevantes para o entendimento

da pessoa com alcoolismo.

Para Dias (2006) “a personalidade dos alcoólicos caracterizar-se-ia pela presença de

relações de objeto mais perturbadas, dificuldade em harmonizar as conceções do Self e dos

outros, com particular vulnerabilidade à perda de controlo, dificuldade em modelar as

emoções, comportamentos contraditórios e estados alterados de dependência e

desvalorização dos outros.”

Acrescentando a esta contextualização da personalidade da pessoa com alcoolismo, nos

últimos anos foram investigados aspetos relacionados com outros fatores de co-morbilidade

psicopatológica no alcoolismo. (Evren, Dalbudak e Çakmak, 2008), no qual se identifica

perturbações psicossomáticas, stress pós-traumático, dissociação, depressão, perturbação

obsessiva compulsiva, hipocondria, perturbações alimentares, prevalência da alexitímia em

homens alcoólicos do que em mulheres, etc.

Existem também estudos sobre o estilo de vinculação (segurança vs. Insegurança)

existente nas pessoas com alcoolismo (Rick e Vanheule, 2007). A ideia central deste

trabalho é que a vinculação estabelece-se nas pessoas com um sistema de representação

simbólica, e esta representação precisa de uma regulação de estados de afeto que se

desenvolve pela interacção de figuras de vinculação. Estas figuras de vinculação espelham o

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estado afetivo da criança e ajudam a construir representações de afeto. (Vanheule, S.;

Desmet, M; Meganck, R. Bogaerts, S. , 2007). Onde se verifica que os alcoólicos que tenham

tido situações de insegurança na vinculação tendem a ver as suas mães como controladoras,

tem mais problemas psiquiátricos, apresentando resultados mais altos no Inventario de

Depressão de Beck, demonstrando ter personalidade esquizoide e depressiva, e tem maior

dificuldade em comunicar as suas emoções. (Rick e Vanheule, 2007).

A alexitímia, inicialmente proposta por Sifneos (1973) “alexithymia”, que vem do grego a=sem,

lexis= palavra, thymos=afecto, literalmente: “sem palavras para o afeto”, para designar o

ponto mais relevante do constructo, que seria para ele, a dificuldade de comunicação e

expressão afetiva. (Caldas, 1999). A formalização deste constructo deu-se a partir da junção

de quatro características fundamentais: dificuldade de identificar e descrever sentimentos;

dificuldade em distinguir sentimentos de emoções corporais; diminuição da vida imaginativa e

do pensamento simbólico e estilo cognitivo predominantemente direcionado para a realidade

externa, em detrimento da própria subjetividade. (Caldas, 1999)

Haviland, Warren e Riggs (2000) procuram dar continuidade a este trabalho no qual

procuram encontrar outros indicadores para a alexitímia através duma escala de observação

no qual são focados aspetos como a distância, a incapacidade de insight, a somatização, a

falta de humor, e a rigidez.

O primeiro texto sobre a alexitímia e a abordagem psicoterapêutica (Krystal, 1979) indica

que a alexitímia apresenta uma perturbação nas funções afetivas e cognitivas para além

do diagnóstico associado existente. As emoções não são diferenciadas e a verbalização das

mesmas é pobre. A imaginação livre é limitada. A alexitímia interfere seriamente em

abordagem psicoterapêuticas verbais, sendo sempre necessário explorar as causas desta

perturbação e intervir eficazmente, onde a pessoa com alcoolismo e alexitímia possa fazer

parte ativa do processo de reabilitação e entendimento de si.

Odrodniczuk, Pipper e Joyce (2008) identificam que as expressões emocionais do cliente

como um mediador da relação entre o terapeuta e paciente alexitímico. O estudo demonstrou

que quanto mais alto era o nível de alexitímia menor era a expressão de sentimentos positivos

por parte do cliente e que por sua vez mais negativas eram as reações do terapeuta. Para

além deste estudo, existe ainda outro (Helmes, Mc Neill, Holden, e Jackson, 2008) que

menciona a associação com mecanismos de defesa imaturos e com dificuldades de

adaptação e a alexitímia.

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Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento

Artur Jorge Rodrigues Malícia Correia

Identificadas as várias relações sobre as co morbilidades psicológicas, somáticas e sociais, e

quem em alguns casos, o fenómeno da alexitímia, compromete as intervenções terapêuticas

verbais, podemos refletir sobre a necessidade de um trabalho continuado, para as

transformações intra-psicológicas e inter-relacionais que precisam de maturação para a

melhoria da qualidade de vida das pessoas com alcoolismo. Como nos processos de

reparação da vinculação, do reconhecimento, do processamento experiencial, e da expressão

das emoções. E que a falta de fatores de vinculação, de segurança, de perceção de si, de

aceitação de sí, de expressão de si, estão a contribuir para um agravamento da co-

morblidade da pessoa com alcoolismo, para além os fatores sociais e culturais já

anteriormente referenciados.

Deste modo, o processo de maturação no sentido de encontrar congruência interna, o que

permite “harmonizar as conceções do Self e dos outros” (Dias,2006) podem ser

experienciados num processo terapêutico feito em grupo.

Em musicoterapia desenvolvem-se competências e habilidades que permitem modelar

emoções, lidar com incongruências emocionais, comportamentais e afetivas, bem como

reconhecer valor em si e no outro como forma de melhorar as suas competências intra e

inter-relacionais. Permitindo ainda estabelecer novos modos de vinculação e segurança

(Correia,2008).

A musicoterapia enquanto intervenção de expressão corporo-sonoro-musical, baseada numa

relação terapêutica, de abordagem centrada na pessoa, é um contributo para o tratamento e

reabilitação no alcoolismo.

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Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento

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2. A MUSICOTERAPIA

2.1. DEFINIÇÃO

Para começar a abordar a questão do campo da Musicoterapia, será pertinente, recordar a

definição de musicoterapia de Bruscia (1991), onde considera a musicoterapia: “um processo

interpessoal no qual o terapeuta utiliza a música e todas as suas facetas – físicas, emocional,

mental, social, estética e espiritual – para ajudar o cliente a melhorar, restabelecer ou manter

a sua saúde. Em alguns casos, as necessidades do cliente são trabalhadas diretamente

através dos próprios elementos da música; noutros casos essas necessidades são

trabalhadas através das relações interpessoais que se desenvolvem entre cliente e terapeuta

ou entre cliente e grupo. (…) A música utilizada em terapia pode ser especificamente criada

pelo cliente ou pelo terapeuta ou pode ser extraída da literatura ou reportório existente nos

vários estilos e períodos musicais.”

Esta definição releva a pertinência de alguns aspetos no trabalho musicoterapêutico: um

processo interpessoal (modelo de terapia relacional/interpessoal/experiencial), o uso da

música como mediador da relação terapêutica, uma pessoa em estado de incongruência e um

terapeuta.

Para além destes elementos, existem outros, que se situam nos conceitos e pressupostos

teóricos usados em musicoterapia, como o princípio de ISO, o objeto intermediário.

2.2. O PRINCÍPIO DE ISO

O princípio de ISO parte da noção da existência de um conjunto fenómenos sonoros que nos

caracteriza e identifica, do ponto de vista psicofisiológico e sociocultural e que permite a auto-

regulação. Este conceito surgiu como resultado dos trabalhos pioneiros de Altshuler (1944)

em hospitais psiquiátricos, no qual verificou-se efeitos homeostásicos durante a escuta de

peças musicais, quer na estimulação muscular, quer na diminuição da tensão.

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Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento

Artur Jorge Rodrigues Malícia Correia

No seu trabalho comprovou que a utilização da música igual aos estados de ânimo dos seus

pacientes, e do seu tempo mental, era útil para facilitar a respostas mentais e emocionais.

Deste modo, constatou que os estados de humor e as respostas emotivas se alteravam de

acordo com as escutas musicais e constatou ainda nas suas observações clínicas que as

pessoas em estados deprimidos poderiam ser mais estimuladas com peças musicais de

carácter melancólico, enquanto que pessoas com situações de humor maníaco em estados de

exaltação e euforia reagiam mais a peças musicais com um andamento mais vivo e de

carácter mais alegre.

Estes fenómenos sonoros e movimentos internos são a síntese dos arquétipos sonoros, das

vivências primordiais, desde a gestação até ao presente momento. (Benezon, 1984) O ISO é

um som estruturado dentro de um mosaico sonoro, que por sua vez, estrutura-se com o

tempo e que, fundamentalmente, encontra-se em perpétuo movimento. O ISO é um elemento

dinâmico que potencia a perceção do sujeito sobre si no tempo passado e presente. Esta

experiência é também em si um momento de atualização das experiências organísmicas.

O ISO, segundo Benezon (1984), é ativado em processo musicoterapêutico em: ISO

Gestáltico, como um canal de comunicação por excelência; ISO Complementar, caracterizado

pelas mudanças que ocorrem durante as sessões de musicoterapia; ISO Grupal, estando este

ligado ao esquema social que o individuo integra, necessitando de tempo para estabelecer-se

e estruturar-se, sendo também observável na dinâmica que flui no grupo como a síntese em si

mesma de cada identidade sonora, estando directamente ligada à identidade sociocultural; e o

por fim o ISO Universal, que é a identidade sonora que caracteriza ou identifica todos os seres

humanos, independente dos seus contextos sociais, culturais, históricos e psicofisiológicos

particulares. Exemplo: o batimento cardíaco, os sons da inspiração e expiração.

2.2.1. O OBJETO INTERMEDIÁRIO

Bermudez (1984), responsável pelo conceito de objeto intermediário, vê-o como um

instrumento de comunicação capaz de atuar terapêuticamente sobre a pessoa em relação,

sem desencadear estados de desconforto ou alarme. Este objeto caracteriza-se por uma

existência concreta, inócua, maleável, transmissora da comunicação, adaptada as

necessidades da pessoa, assimilável permitindo uma relação íntima, instrumental, como

forma de identificação, e identificável pelo reconhecimento automático. A música para

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Bermudez "não é por si um objeto intermediário, mas pode funcionar como se fosse. Não é

porque não possui a maioria das características do O.I., mas em certas condições permite

restabelecer a comunicação perturbada” (p.170).

Segundo Bermudez (1984), considera o uso da música como objeto intermediário, como:

música dirigida ao indivíduo como complementaridade, suplementaridade ou indutora

(estimulando ou facilitando sentimentos ou experiencias afectivas); e música dirigida ao grupo

como promotor de experiências de “homogeneidade”, como facilitadora, e como inibidora

(estratégia de aquecimento, “catarse”, ou términos da sessão). Em musicoterapia o objecto

intermediário permite restabelecer a comunicação da pessoa consigo mesmo e com o

humano assim como é parte importante da vida do homem.

2.1. EXPERIÊNCIAS MUSICAIS EM MUSICOTERAPIA

Cada tipo de experienciação musical tem diferentes aplicações de possibilidades e

potencialidades terapêuticas. As experiências musicais existentes em musicoterapia segundo

Bruscia (1998) são: a improvisação musical; a recriação; a composição e a escuta musical.

2.1.1. EXPERIÊNCIAS RECEPTIVAS

As experiências recetivas o cliente escuta as musicas e responde à experiência de acordo

com objetivos terapêuticos centrados nas suas necessidades, que podem ser de carácter

físico (relaxamento, controlo da dor), emocional, intelectual, estético e espiritual, quer de

forma verbal, quer com outro mediador expressivo (movimento, pictórico, drama).

Esta experiência musical permite a promoção da recetividade, reação e respostas a estímulos

musicais, facilitar o relaxamento ou a estimulação, evocar estados afetivos, explorar ideias

e sentimentos, reminiscências, evocação de fantasias e atividade imagénica, como é o caso

do uso da música em terapia verbal que estimula imagens; fantasias; associações e

memórias que ajuda ao processo.

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2.1.2. EXPERIÊNCIAS DE RECRIAÇÃO

Na experiência de recriação musical o cliente produz uma performance musical através da

reprodução de uma canção já existente, interpretando-a. Centrando-se em atividades

musicais estruturadas o cliente desempenha papéis previamente acordados por ele, sendo

esta escolha centrada na sua história musical.

Esta experiência musical, indicada para pessoas que precisam de adaptação às ideias dos e

sentimentos dos outros mantendo a sua identidade, tem como objetivos terapêuticos o

desenvolvimento de competências sensório-motoras, de adaptação e organização do

comportamento, da memória, de promoção da identificação com os outros e empatia, da

comunicação e interpretação de ideias e sentimentos, da aprendizagem de papéis e respetiva

melhoria da interação.

2.1.3. EXPERIENCIAS DE COMPOSIÇÃO

Nas experiências de composição, o terapeuta faculta os seus conhecimentos musicais ao

serviço do cliente ajudando-o a escrever canções, letras, executar peças instrumentais,

vídeos, e gravações áudio. Apesar do terapeuta assumir uma responsabilidade mais técnica

centra-se nas capacidades musicais do cliente. Exemplo, a manutenção de suporte

harmónico repetitivo para que o cliente possa improvisar de acordo com as suas capacidades

e potencialidades.

Esta experiência musical permite o desenvolvimento de competências de planificação e

organização, resolução de problemas, promoção da responsabilidade pessoal, exploração de

experiências/vivências pessoais, comunicando-os, integrando-os e gravando-os, para si

enquanto pessoa em processo.

2.1.4. EXPERIÊNCIAS DE IMPROVISAÇÃO

Na experiência de improvisação musical o cliente está ativo e desempenha um papel

central nas produções musicais, quer tocando, cantando de forma espontânea, sendo o

responsável pelo produto/processo musical, facilitado e apoiado com a presença do

musicoterapeuta. O cliente inicia o processo criando melodias, estruturas rítmicas, construção

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de canções, e a respectiva execução instrumental com recurso a qualquer mediador de

produção sonora (voz, corpo, percussão, sopros, teclados, etc.).

Esta improvisação poderá ser individual, em duo ou em grupo. O musicoterapeuta facilita os

procedimentos com pequenas demonstrações de uma ideia ou estrutura musical para

improvisar, ou apoia uma ideia não musical do cliente como é o caso das imagens ou

histórias.

Esta experiência musical tem, como possibilidade, o estabelecimento de canais não-verbais

de comunicação; providenciar significações da expressão da self; explorar aspetos pessoais

da dimensão relacional; desenvolver capacidades de intimidade comunicacional intra e inter

pessoal, promover o desenvolvimento da vivência da criatividade, expressão livre e prazer,

fomentar a liberdade interior, facilitar o conhecimento de si e do outro, a valorização

pessoal, e claro está uma maturação das competências cognitivas.

Estas experiências musicais são recursos existentes na intervenção musicoterapêutica

que, apresentando-se como técnicas, permitem integrar, segurar e suportar a experiência

imediata do cliente.

Estas experiências são por vezes organizadas em procedimentos, sequências organizadas

de operações, e oferecem uma metodologia de intervenção usada no diagnóstico, enquanto

conhecimento feito a dois, tratamento, enquanto experiência de relação e criatividade, e

avaliação, enquanto reconhecimento das necessidades.

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Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento

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3. INTERVENÇÕES MUSICOTERAPÊUTICAS NO ALCOOLISMO

Existe desde os últimas quatro décadas artigos de musicoterapia, e/ou revistas relacionadas

com a intervenção terapêutica com recurso a mediadores expressivos, aplicados às diferentes

fases de intervenção com pessoas com alcoolismo e/ou comportamento aditivo.

Em 1970, Miller lança as primeiras aplicações num grupo de alcoólicos do exército, sendo um

trabalho resultante e intervenção sócio - comunitária e implicação de pessoas com

comportamentos alcoólicos em bandas e grupos de orquestra.

Em 1973, Tyson aborda o papel de programas de musicoterapia clínica em comunidades

terapêuticas, estruturas administrativas, a equipa de terapeutas certificados, o financiamento

da estrutura, a importância da intervenção ser feita em unidades de centros de dia para

processos reabilitativos na área da saúde mental e comportamentos aditivos. Brooks (1973)

refere a importância da musica na aplicação de programas de prevenção de abuso de

drogas nas comunidades locais, implicando e aceitando o combate da estigmatização da

identidade dos grupos sociais que tinham por um lado apreciações musicais próprias do

seu contexto sócio-comunitário e integrando-as como forma de combate ao abuso de

substancias psicoativas.

Em 1983, Murphy sistematiza uma forma de intervenção de musicoterapia em grupo de ajuda

para pessoas consumidoras de substâncias psicoativas, em setting de hospital psiquiátrico.

Neste artigo refere que as experiências musicais no processo de tratamento permitiam um

envolvimento no programa de desabituação, pois tinha como objetivo diminuição do

isolamento social. Para atingir este objetivo recorria a atividades/experiencias musicais

como: escrita de canções, permitindo aos utentes falar sobre a sua vivência de

hospitalização, sobre eles mesmos, sobre a sociedade. Esta técnica permitia os pacientes

encontrar metas para a mudança de comportamentos face à adição. Outra técnica usada

neste programa era a improvisação musical permitindo o desenvolvimento das competências

da comunicação, encorajando a expressão emocional, trabalhando comportamento como a

baixa tolerância à frustração através da confrontação das improvisações musicais, interagir

para combater o isolamento, valorizar a pessoa e a estima de si, e libertar tensões para

suportar a abstinência.

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Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento

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Murphy (1983) fundamenta que a sua intervenção segue uma abordagem da terapia gestalt

no qual a terapia permite desbloquear aspetos da criatividade como: medo de falhar,

relutância em participar, a perceção condicionadora da criatividade, o evitamento da

frustração, a necessidade de conformidade, a relutância em deixar acontecer, em liderar e

uma vida emocional percecionada bastante pobre. Estes fatores, que condicionam a

expressividade e a ligação com o mundo interior, são o objetivo da intervenção

musicoterapêutica, e acontecem no interior da experiência da improvisação musical em grupo.

Dougherty (1984) sistematiza as sessões de musicoterapia para pessoas doentes

alcoólicas. Nas sessões procuram enfatizar a expressão de sentimentos e pensamentos no

aqui e agora, estando centradas no compromisso da abstinência e da recuperação. No

processo de grupo os utentes são convidados a escolher uma peça musical de um disco que

conheçam para mudar o estado emocional em que se encontram, uma que provoque

memórias, e outra para dedicar a alguém dentro do grupo. Além deste procedimento,

recorre ainda a técnicas de recriação musical com participação musical dos restantes

membros do grupo.

O primeiro trabalho de revisão da intervenção da musicoterapia no alcoolismo foi elaborado

por James (1988) no qual faz um revisão da literatura, já referida anteriormente, e os

princípios dos serviços de musicoterapia em pessoas com alcoolismo. Neste último, sugere

que a intervenção deve-se pautar por dois objetivos gerais dos serviços de musicoterapia: 1º

servir de intervenção complementar e de reforço da implicação do processo reabilitativo, e o

2º proporcionar intervenção terapêutica individualizada integrado na equipa multidisciplinar e

clínica.

Em relação aos objetivos terapêuticos para clientes com alcoolismo James (1988), indica:

apoiar e reforçar a manutenção do processo terapêutico; aumentar a interação de pares e no

grupo; melhorar a perceção da coesão do grupo; aumentar a confiança entre a pessoa e os

membros do grupo; aumentar a consciência de sí e clarificação de valores pessoais; potenciar

a reflexão verbal de si e aumento do locus de controlo interno; promover a aceitação da

opinião dos outros; expressar sentimentos e emoções apropriados com os estados

emocionais emergentes; aumentar a assertividade; melhorar as competências de

comunicação; reconhecer novas atividades de lazer e prazer; aumentar as competências na

resolução de problemas (coping skill); desenvolver uma autoimagem saudável; melhorar o

controlo dos impulsos; e capacitar para trabalho cooperativo.

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Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento

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Em síntese, facilitar a interação entre pares e a coesão de grupo, promover e facilitar os

processos de tomada de consciência e clarificação de valores pessoais, reduzir tensões

e promover o relaxamento, e por último expressar sentimentos e emoções.

Para a coesão de grupo James (1988) indica atividades de escrita de canções, sessões de

improvisação, e espetáculo de talentos. Na tomada de consciência, refere a importância da

análise das letras das canções já existentes e das que foram acontecendo durante o

processo, bem como os comportamentos e cremosas a eles associados. Na promoção do

relaxamento e redução do stress, indicando técnicas como imaginação guiada, feedback

assistido, auto hipnose, treino de competências autogénicas. Na expressão de sentimentos,

que decorrem durante as sessões, indica que a vida psicológica do alcoólico está envolvida

em mecanismos de defesa como: racionalização, minimização, manipulação, projeção,

mentira, e negação, que são barreiras necessárias de proteção, mas tornam-se os objetivos

da intervenção musicoterapêutica nos utentes alcoólicos.

O trabalho de Bednarz e Nikkel (1992) fala-nos no papel da musicoterapia no tratamento de

jovens com duplo diagnóstico de doença mental e abuso de substâncias. Este trabalho

sistematiza em categorias os tipos de intervenção musicoterapêuticas (debate musical,

formação musical, grupo musical participativo, escuta musical, e musica expressiva) e a

relação com cada fase do tratamento (envolvimento, intervenção na crise, estabilização,

tratamento activo, e recuperação).

Mais recentemente Dijkstra e Hakvoort (2004) abordam o desenvolvimento de estratégias de

coping em pessoas com comportamentos aditivos com o recurso a sessões de

musicoterapia. Seguindo um modelo de intervenção biopsicossocial, os autores referindo-se

às estratégias de coping (modo como as pessoas reagem emocionalmente,

comportamentalmente, e cognitivamente) a uma situação que necessitam de ser adequadas

a cada situação. O que não acontece a pessoas com comportamentos aditivos.

Organizando as atividades musicoterapêuticas com recursos ao círculo de precursões

(drum circle), Rutten-Saris (2002) pretendem trabalhar as cinco estruturas básicas de

interacção mencionadas por que são: sintonizar (mover na mesma direção que o outro se

move); alternância (mover na mesma direção que o outro em alternância), transformar

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Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento

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(adicionar novos movimentos enquanto age em alternância); jogo de diálogo (jogar com a

expectativa que emerge da mudança) e tarefa/tema (executar uma tarefa ou a utilização de

um tema). As fases de intervenção musicoterapêutica procuram envolver o uso de diferentes

tipos de atividades musicais que trabalhem estas interações, como forma de estruturar e

desenvolver a base das estratégias de coping.

Estes trabalhos permitem observar na relação existente entre as atividades musicais, a

terapia expressiva e o processo psicoterapêutico de grupo desejado numa intervenção

musicoterapêutica. Deste modo a intervenção será um construída como um espaço

terapêutico com recurso a mediadores expressivos, música, e atividades de pintura, tendo em

vista a criação de condições para a experienciação de vivências musicais que tenham em

conta alguns itens importantes à maturação das relações intra e interpessoais, adequação

das estratégias de coping, e diminuição das condicionantes da criatividade. (Murphy,1983); e

facilitar os participantes à tomada de consciência da perceção dos fenómenos corporo –

sonoro – musicais que conduzem a uma perceção de si mesmo e do outro, que implicam

uma mudança nas relações interpessoais levando a um processo de autonomia na auto-ajuda

no grupo.

Em síntese, verificamos que existem evidências de intervenção musicoterapêutica na

reabilitação e tratamento de pessoas com alcoolismo. No entanto esta intervenção deve estar

integrada num modelo que crie as condições para proporcionar a autonomia na

capacidade de ajuda do grupo, e criar condições para que estes possam também ser

atores terapêuticos no seu processo individual processo dos seus pares. Neste sentido

iremos agora mencionar a abordagem terapêutica que esta subjacente a esta intervenção e a

relação com os aspetos experienciais do processo terapêutico.

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Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento

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4. ABORDAGEM TERAPÊUTICA CENTRADA NA PESSOA

A Abordagem Centrada na Pessoa, de acordo com os princípios orientadores de Carl

Rogers (1977;1984), no qual o terapeuta, é visto como um cuidador das necessidades da

pessoa e/ou grupo, através das competências de relação de ajuda como a escuta, a

aceitação, e a empatia, e a convicção na potencialidade da pessoa e do grupo, favorecendo

na pessoa a disponibilidade para a criatividade, a expressão e exploração de si mesmo.

Quando estas experiências são vivenciadas pelo grupo, e/ou pessoa, na experiência de

improvisação musical, a integração de um clima de segurança e confiança psico-afectiva,

permite a auto-organização do grupo no sentido da sua “tendência atualizante”, enquanto

“organismo vivo” com as suas singularidades.

A Abordagem Centrada na Pessoa entende o ser humano como um organismo total que se

experiencia, um ser biopsicossocial, que encontra as melhores formas para reorganizar e

encontrar a sua auto regulação a caminho de uma maior hiper-complexidade e tendência à

atualização. De acordo com esta tendência, a melhor forma de se facilitar esta vivência é

através de experiencias sonoro musicais com recurso à improvisação musical e/ou atividades

centradas na experiencia da tarefa musical em grupo.

A experiência musical deve ter em conta, perante este grupo de pessoas em processo de

reabilitação da perturbação de dependências de álcool, aspetos como: as experiências

proprioceptivas, as memórias, a tomada de consciência entre o corpo, a sensação, a imagem

e o sentimento, permitindo que exista um aumento da consciência da sensação, e por sua vez

um aumento do vocabulário experiencial psicofisiológico das sensações, a qualidade das

mesmas, e a respetiva comparação. Estas perceções são um ponto de partida para todo o

trabalho, no Aqui e Agora, de uma experiencia integradora que inclui nela, imagens,

vocabulário do contexto proprioceptivo do cliente, sentimentos, associações de sensações,

imagens, memórias, etc. (Punkanen, 2006)

Deste modo, torna-se necessário intervir nas experiências corporais e de inter-relação com

a criação de atividades musicais que trabalhem a pulsação individual vs grupo, ritmos

individual vs grupo, com recurso ao ostinato rítmico e a exploração do arrítmico, dinâmica, e

diversidade tímbrica, como catalisador para diversas sensações e correlação com aspetos

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emocionais diversos, a sintonia melódica, e harmónica, a ressonância orgânica dos sons e

melodias vocais, entre outros.

4.1. A RELAÇÃO E A EXPERIENCIAÇÃO EM MUSICOTERAPIA

Na relação musicoterapêutica consideramos a presença de um terapeuta, com competências

de relação de ajuda e conhecimentos musicais e da ciência da musicoterapia, por outro

temos uma pessoa que procura, em alguns casos, de forma a poder facilitar, recuperar e

reparar o seu bem-estar biopsicossocial.

Além desta dupla, existe um produto sonoro musical que se escuta, apreende-se, se

aceita incondicionalmente, comunicando sonoramente essa experiência, e que reconhecemos

como motor da promoção de estados de congruência interna.

Nesta relação são percecionadas as escutas, as empatias e as congruências, que surgem na

experiência de improvisação musical em grupo. Estamos a usar o plural pelo motivo de que

temos vindo a experienciar em relação, a importância da alteração preceptiva desses

mesmos conceitos, e verifico que o sitiar da palavra num movimento organísmico de

unicidade é retirar a amplitude hípercomplexa da experiência das escutas, das empatias e

das congruências internas que vão construindo a pessoa em relação. O lugar do plural

evidência a constante mutação e refinamento dessa experiência.

Quando se trata de um grupo musicoterapêutico, estamos perante competências de ajuda

que emergem no ato coletivo de criatividade sonoro musical. A pessoa do cliente escuta,

empatiza e experiência momentos de congruência interna em relação a si e em relação à

experiência do outro em sí. O que lhe proporciona movimentos de congruência interna

psicoafectiva e organísmica.

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Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento

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4.1.1. A(S) ESCUTA(S) DE SI E DO OUTRO

O som produzido, enquanto conteúdo sonoro, com os aspetos quer acústicos,

neurofisiológicos, sensitivos, emocionais, viaja em direção tridimensional, com todo o

potencial experiêncial que acarreta, ressonando e entoando experiências de si em sí

Permitindo uma recetividade direta e imediata à experiência, o conteúdo sonoro musical, da e

na relação musicoterapêutica, facilita a abertura à recetividade e à experienciação. Este

estado sonoro e psíquico permite vivências propriocetivas na pessoa do cliente. Como se

de um diálogo ontológico interno se tratasse. Neste conhecimento a “dois”, a

conscientização (Freire, 1970) ganha a sua intencionalidade.

Sendo a música, um mediador expressivo, intrinsecamente ligado ao desenvolvimento

humano, e às suas constantes tomadas de consciência, com todas as suas características

psicológicas, fisiológicas, culturais e espirituais, permitirá, então o música, uma abertura da

pessoa às múltiplas dimensões do Humano, facilitando o percurso para o funcionamento

óptimo da pessoa (Baltordano , 1998).

A escuta de si, torna-se cada vez mais ativa, e é experienciada como forma de relação de

ajuda sonoro musical. Num grupo de musicoterapia com recurso a experiência musical da

improvisação a pessoa do cliente, com os outros membros do grupo, e as atitudes autênticas

do musicoterapeuta, permitem gradualmente uma abertura à expressão autêntica de

sentimentos autênticos verbais e não-verbais) que está de acordo com a intencionalidade de

escutas internas que o individuo tem da sua experiência, permitindo uma aproximação aos

conteúdos afetivos de si mesmo.

Na improvisação musical, a pessoa do cliente transporta um campo fenomenológico que

atua constantemente com o seu mundo de produção sonora, o som criado passa a ter uma

possibilidade intencional “aqui e agora” na escuta do cliente, enquanto escutas, o “eu” e o

“tu”, escutam-se mutuamente, atualizando experiências de empatia e congruência interna.

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Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento

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4.1.2. A(S) EMPATIA(S) DE SI E DO OUTRO

A compreensão empática do fenómeno sonoro/musical, durante a experiência da improvisação

musical, permite uma abertura de um canal de comunicação entre a pessoa e a sua

experienciação, bem como a presença da aceitação incondicional por parte do terapeuta. Ao ir

aproximando a sua experiência do campo fenomenológico do seu Self, com recurso ao

sonoro, a pessoa do cliente, experimenta uma vivência da liberdade de criar com

autenticidade, e a descoberta da atualização do seu potencial criativo, consciencializando-se

do seu movimento interno para o deslumbramento da mutação dos valores sonoros,

estéticos, e relacionais, de acordo com a sua coerência interna entre as suas emoções e

sentimentos e a produção sonora. Como uma empatia sonoro musical de si mesmo.

Vivenciando esta experiência, a pessoa, quando está em grupo de musicoterapia, está em

relação com um constante exercício de simultaneidade entre as suas produções sonoras e

a dos outros elementos, entre os estados emocionais dos outros e os seus. Isto é, atua na

paisagem sonora, na qual é um todo e uma parte.

4.1.3. A(S) CONGRUÊNCIA(S) DE SI E DE NÓS

O processo sonoro ou musical, enquanto expressão na história do desenvolvimento humano,

procura a busca de um estado de acordo interno entre a produção sonora e o campo

fenomenológico do sujeito na sua realidade subjetiva de mundo. O cliente, no percurso da

sua improvisação musical, vai viajando por um conjunto de estados emocionais, buscando

uma coerência interna do/no momento. Podemos recordar que a própria dinâmica da

improvisação musical passa de momentos mais consonantes para dissonantes, ou vice-

versa, de estados de excitação para momentos de relaxamento, entre outros, demonstram

o quanto a intenção do campo fenomenológico da experienciação sonoro musical,

produzida aqui e agora, do sujeito é congruente com o seu estado emocional.

Esta experienciação, por parte da pessoa do cliente, na qual é aceite nos seus movimentos

sonoro/musicais internos, presenciados com uma aceitação incondicional positiva por parte do

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Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento

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musicoterapeuta, facilita a autenticidade da experiência sonora com estados emocionais, e

promove uma aceitação de si e dos campos proprioceptivos. Esta aceitação de si permite uma

aproximação à autenticidade que o leva a disponibilizar-se para se experienciar, como um ser

capaz de ser, de transformar, de criar, de vivenciar uma liberdade psicológica de aceitar-se e

escutar-se como um organismo na sua tendência atualizante.

A experienciação do fenómeno musical em musicoterapia é percecionada como um processo

de mudança criativa e construtiva. Um dado experienciado em processo, está a acontecer

num campo fenomenal da pessoa, com as possibilidades de observação interna, bem como

por si ou pelos outros, não só em si mas também na relação com os outros.

A Improvisação Musical, enquanto tipo de experiência musicoterapêutica, é um movimento

auto dirigido, que rebusca-se e reencontra-se nas necessidades terapêuticas de cada um. O

organismo na sua procura sonora vai em direção da sua autenticidade de acordo com o

aqui a agora do momento.

Promotora de processos de conhecimento, a improvisação clinica em musicoterapia facilita a

confiança para a prática da autonomia e enquanto promoção de valores de estima, bem

como, a experienciação da capacidade autorreguladora do grupo para a promoção colectiva

da autoestima e bem comum dos elementos do grupo.

Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento

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5. PLANO DE INTERVENÇÃO MUSICOTERAPÊUTICA

Em primeiro lugar devemos considerar as capacidades e interesses pelas atividades

musicais dos elementos que vão participar num grupo de musicoterapia, não numa lógica de

diagnóstico psicopedagógico de habilidades musicais, mas sim de forma a considerar quais e

como usar as preferências e estilos musicais existentes na pessoa do cliente, bem como a

sua identidade sonoro musical e necessidades psico afetivas.

As reações adversas – psicológicas / psicofisiológicas – que emergem do discurso verbal “Eu

gosto disto!”; “ Este som irrita!”, ou perante o discurso não verbal, exemplo: a troca de

instrumento, mudança repentina de ritmo, dinâmica, etc., devem entender-se como material

a ser trabalhado dentro de um quadro compreensivo de acordo com as necessidades do

cliente. Por exemplo: experiências traumáticas com a atividade musical quando

frequentaram a escola ou temas de um reportório musical associado a memórias

desagradáveis ou ameaçadoras. Nestes casos deverá fazer-se um levantamento junto de

cada indivíduo sobre momentos e memórias associadas a experiências agradáveis e

desagradáveis, seus contextos emergentes, pessoas associadas a essas experiências, etc.

Num conjunto de pessoas em situação de abstinência de álcool, em processo de

reabilitação, existem diversos tipos de necessidades biopsicossociais de acordo com a co-

morbilidade associada, condicionando o tratamento e a evolução.

Entre elas podemos identificar: experiências de Delirium de abstinência, Demência,

Perturbação Mnésica, Perturbação Psicótica, Perturbação do Humor, Perturbação da

Ansiedade, Disfunção Sexual, Perturbação do Sono, e Perturbação Persistente da

Perceção Induzida por Alucinogénios, Perturbações do Comportamento, Perturbações

Borderline e Anti Social da Personalidade, Esquizofrenia, Perturbações do Humor.

Gostaria ainda de referir que na história corporal, psicológica, social, cultural da pessoa com

dependência de álcool, existem um conjunto de experiências, emoções, simbolizações,

sentimentos, que não tiveram espaço para um entendimento de si, em si, como é o caso

Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento

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das sintomatologias descritas pelo DSM – IV em relação à Abstinência do Álcool (por

exemplo, diaforese ou pulsação superior a 100; tremor das mãos aumentado; insónias;

náuseas ou vómitos; alucinações ou ilusões visuais, tácteis ou auditivas, transitórias; agitação

psicomotora; ansiedade; convulsões.

5.1. IDENTIFICAÇÃO DE NECESSIDADES

A identificação das necessidades devem ter em conta diferentes aspetos para a

elaboração dos objetivos gerais da intervenção, objetivos específicos das sessões e

atividades de experiencia musical.

5.1.1.1. ASPETOS PSICOSSOCIAIS:

a) Valorização da identidade pessoal resultado da partilha da identidade sonoro musical

e da narrativa autobiográfica, em grupo.

b) Alternância de liderança e aceitação do papel de líder como orientador da tarefa

c) Disponibilidade para percecionar os outros como validos e importantes para o grupo

d) Desenvolvimento da identidade grupal e contributos para diminuição da inibição

social resultado de isolamento social

e) Capacidade para entender o padrão de comunicação com os outros, os limites, as

alternâncias e as sincronias

f) A improvisação musical permitiu a perceção e consciência do tipo de comunicação,

e intensidade e intencionalidades que os elementos do grupo têm entre si e com as

suas redes sociais.

g) Reconhecimento da atividade musical cativa como comportamento de viver formas

alternativas de prazer e relacionamento psicoafectivo consigo e com os outros

5.1.1.2. ASPETOS CRIATIVOS E PRÓ ACTIVOS

a) As experiencias positivas perante algo construído num contínuo com a aceitação

dos membros do grupo e do terapeuta, diminuindo a relutância do medo de falhar,

o arriscar, a intenção de participar, a capacidade de contribuir com o que cada

Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento

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elemento do grupo pode disponibilizar para a experiencia num sentido de elevação

estética na apreciação do grupo.

b) A aceitação da espontaneidade criativa com recurso ao verbal com a criação de

canções

5.1.1.3. ASPETOS PSICOFISIOLÓGICOS

a) Melhoria da descrição das experiencia emocionais e afetivas e aumento do

vocabulário relativo a experiencias traumáticas ou conflituosas

b) Diminuição e alívio da tensão e reconhecimento experiencias da participação

nesse movimento interno

5.1.1.4. ASPECTOS PSICO-AFECTIVOS

a) Experienciar tomadas de consciência

b) Capacidade de entender a dificuldade na exploração de sentimentos e emoções

c) Aceitação da valorização interna da experiencia positiva de expressão emocional

d) A perceção do compromisso pessoal na manutenção do processo de desabituação

e) Exploração da memória do alcoolismo e das vantagens da abstinência

5.2. OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS DA INTERVENÇÃO

Com este quadro de necessidades, o tempo limitado das intervenções, o f a c t o d e s e r

u m g r u p o a b e r t o , deveremos dividir entre, objetivo geral para a intervenção da

musicoterapia como linha orientadora, e objetivos específicos nas sessões de musicoterapia

independentemente das atividades de experiência musical.

Deste modo, pretendemos criar condições necessárias e suficientes como forma de facilitar

processos de mudança e transformação de acordo com um modelo centrado na pessoa.

Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento

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Para os objetivos gerais, considerei os seguintes: promover e favorecer um espaço

terapêutico com recurso a mediadores expressivos e sonoro musicais, tendo em vista a

criação de condições para a experienciação de vivências musicais que tenham em conta

alguns itens importantes à maturação das relações intra e interpessoais, adequação das

estratégias de coping, e diminuição das condicionantes da criatividade. (Murphy,1983); e

facilitar os participantes à tomada de consciência da perceção dos fenómenos corporo –

sonoro – musicais que conduzem a uma perceção de si mesmo e do outro, que implicam

uma mudança nas relações interpessoais levando a um processo de autonomia na autoajuda

no grupo.

Em síntese criar condições para proporcionar a autonomia na capacidade de ajuda do

grupo, e criar condições para que estes possam também ser atores terapêuticos no seu

processo individual processo dos seus pares.

Para os objetivos específicos de cada sessão considerei que a abordagem deveria criar

condições para facilitar: a exploração de sentimentos que emergem na experiencia musical; a

exploração e o entendimento de si e tomadas de consciência; a promoção de mudanças nos

estados emocionais e de humor; a expressão a si mesmo de forma verbal e não verbal; as

experiências de sucesso proporcionando uma sensação de controlo; o desenvolvimento de

competências para relaxamento e gestão da ansiedade; a expressão de sentimentos e ideias

positivas sobre as experiencias vivenciais; a adaptação de formas positivas de

comportamento aceitando as dinâmicas musicais que resultam no grupo; o desenvolvimento

da capacidade de tomadas de decisões na relação musical em grupo; a melhoria da

concentração e a atenção em si na experiencia musical do grupo; a construção da narrativa

da identidade com recurso às memórias sonoro- musicais.

5.3. INSTRUMENTOS E ABORDAGEM DE DIAGNÓSTICO

O diagnóstico, diagnose ou psicodiagnóstico refere-se ao processo de classificação de

informações relevantes quanto ao estado emocional e comportamental do indivíduo. O

diagnóstico é, em muitas orientações, a primeira fase de um processo terapêutico, mas

numa abordagem de orientação humanista considera-se como uma condicionante que pode

ser prejudicial ao processo terapêutico. Por este motivo, cria-se um diagnóstico “on going”,

integrando as necessidades imediatas na sessão, como forma de explorar, com o

cliente/grupo, a experiência da pessoa sobre a sua vivência, quer na sessão, quer no seu

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percurso reabilitativo, como uma transição de uma identidade padecente para uma

identidade curativa ou potenciadora de cura e bemestar.

No entanto, na observação direta da intervenção, deveremos ter em consideração algumas

áreas de intervenção. Como por exemplo: a comunicação (expressão verbal e não verbal,

compreensão recetiva e linguagem expressiva); a área cognitivo (atenção, concentração,

processamento, estilo de aprendizagem); a área física – estado geral de saúde,

capacidades sensório motoras e percetivas (ouvir, ver, tato, olfacto, movimento); a área

musicais – (interesses, respostas, preferências, competências instrumentais e vocais,

discriminação de afinações, perceção rítmica, criatividade) a área psicossocial – (consciência

de si, conceito de si, estima de si, participação, cooperação, relação com o terapeuta,

competências interpessoais e interação com outros; aspetos emocionais – afectos e

sentimentos); e outras áreas relevantes como: as necessidades psicológicas, as atividades

e ocupação de tempos livres, a adaptação pessoal, a vocação, as necessidades

espirituais, etc.

5.4. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO E MONITORIZAÇÃO

A avaliação de uma intervenção em musicoterapia tem de ter em conta a avaliação inicial;

avaliação intermédia (on going) e avaliação final. Na avaliação inicial podemos recorrer a

testes já validados, como fichas diagnosticas, criadas para o efeitos da intervenção, que

permitem, por exemplo, avaliar sintomatologias associadas. (ex. SCL-90R e TAS – Toronto

Alexithymia Scale) Nesta avaliação poderão incluir uma avaliação inicial em relação às

preferências musicais do cliente ou grupo; seus condicionamentos; identificar possíveis

problemas e alguns aspetos da identidade do cliente (psicológica, pessoal, social, sonora e

musical). Devemos, ainda, recorrer à informação já existente por parte de outros técnicos.

Na relação direta com o cliente que deverá ser prévia à integração no grupo, o

musicoterapeuta deverá elaborar uma avaliação compreensiva, no qual poderá ter em conta

o historial do cliente, as observações de resposta à atividade de musicoterapia, comunicação,

cognição, capacidades físicas, preferências e competências musicais, competências

psicossociais e emocionais. De forma a identificar necessidades especificas de cada cliente

e levantar hipótese de intervenção musicoterapêutica.

Para a avaliação on-going devemos dispor de diversos tipos de documentos que nos

permitam registar acontecimentos, verbais e não-verbais de acordo com as necessidades

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terapêuticas individuais de cada membro do grupo. Neste caso, recorrer às filmagens como

forma de monitorizar a intervenção.

Para o visionamento dos vídeos deveremos criar grelhas para registar as sessões, os

contextos da análise do produto musical, conteúdo das narrativas de grupo ao longo das

sessões. Tipo de opções de atividade musical, experiências, escolha de instrumentos, etc.

.

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6. METODOLOGIA DE INTERVENÇÃO

Durante o processo de in tervenção musicoterapêutica centrado na pessoa e no processo

de grupo, poderemos recorrer a atividades musicais, privilegiando a improvisação, e a

integração de técnicas verbais/vocais e musicais.

A intervenção em grupo permite aos membros a tomada de consciência, a expressão e a

exploração de estados emocionais, a capacidade de insight sobre determinados problemas,

bem como encontrar soluções e aprendizagem de competências de coping.

Tendo em consideração as idades dos participantes, e diversidades expressivo-sonoras, as

sintomatologias, as necessidades individuais e grupais, em relação a cada fase do processo

reabilitativo, o grupo é um facilitador do surgimento de rituais de identidade, emergência de

papéis, que facilitam o processo de terapia em grupo.

Neste trabalho em grupo, a criação das condições necessárias e suficientes nas sessões de

musicoterapia devem ter em consideração momentos de estrutura e organização de grupo

como: o contacto, a implementação, a improvisação e a integração, que passamos a clarificar.

6.1. A SESSÃO DE MUSICOTERAPIA

A sessão tem uma estrutura e é nesta que emergem as experiências relacionais entre o

terapeuta, cliente, membros do grupo e o produto sonoro, na qual o musicoterapeuta

disponibiliza-se para envolver a pessoa num conjunto de experiências emocionais e

musicais. Estas são: centradas nas necessidades e do cliente, tendo em conta as suas

capacidades musicais, as suas preferências musicais, a sua história sonoro musical, o tipo de

atividade musical (improvisação, recriação, escuta ou composição), o contexto relacional (solo,

duo ou grupo), o tipo de instrumento, o papel na execução musical e no estilo musical. Estas

sessões recorrem a uma estrutura composta por contato, implementação, improvisação e

integração.

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6.1.1. CONTATO

Este momento permite observar os participantes. Os instrumentos estão dispostos no centro

da sala com cadeiras em redor. Quando os elementos do grupo começam-se a instalar

procuramos fazer um levantamento direto sobre seu modo de estar, se exis tem

acontec imentos s igni f icat ivos durante a semana , se houve alguma coisa da

semana passada, ou outro assunto que queiram partilhar com o grupo.

Após este momento é criado um suporte harmónio e/ou rítmico para proporcionar a

experiência sonora com indução guiada que proporcione um estado de relaxamento com

suporte harmónico por parte do terapeuta com recurso à atividade respiratória. Deste

modo procuro situar os elementos do grupo no aqui e agora da experiência musicoterapêutica.

Após o percurso do grupo existem momentos nos quais esta fase poderá ser posterior.

6.1.2. IMPLEMENTAÇÃO

Nesta fase são apresentadas as propostas musicais, a demonstração de como tocar os

instrumentos, a sua distribuição, que será neste tipo de população de livre escolha.

Esta fase permite que a escolha do instrumento não seja um ato de incongruência, mas que

permita uma tomada de decisão consciente com o tipo de sonoridade (timbre, intensidade)

e de execução. Pois cada instrumento reporta a sí um imaginário quinestesico que o individuo

quer para si num determinado momento. Nesta fase sugerimos ainda a possibilidade de

troca de instrumentos durante o processo da improvisação.

6.1.3. IMPROVISAÇÃO

Antes do início da improvisação, solicitar breves momentos de silêncio antes do início da

mesma. Desta forma procuramos facilitar o processo criativo sem nenhum condicionamento.

Após o início da improvisação, recorremos a um suporte de várias técnicas como o

espelhamento rítmico e/ou vocal, criação de ostinatos, construção de sugestões com recurso

às tonalidades e acordes da guitarra, de modo a ampliar, contrapor, alterar, estruturar as

sugestões musicais que vão emergindo no grupo, criando formas de integração e coesão

sonoro musical. Deste modo facilitamos o experiênciar do produto sonoro e do processo

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criativo enquanto individuo e/ou grupo. As improvisações musicais podem terminar de forma

espontânea e/ou com recurso a linguagem não-verbal por parte dos elementos do grupo e/ou

do terapeuta.

6.1.4. INTEGRAÇÃO

O espaço de integração da experiencia musical deverá ter em conta a compreensão dos

aspetos emocionais e sentimentais da vivencia individual de cada elemento do grupo. “A

exploração de sentimentos permite ao cliente entrar em lugares que nunca foi antes” (Borczon,

1997). Neste momento a atividade de improvisação permite a libertação de experiências

bloqueadas. Facilitando a abertura à experiencia do membro do grupo e sua partilha em

grupo. Nesta fase o musicoterapeuta devolve a perceção que foi tendo em relação a cada

elemento, bem como o movimento do grupo e as fases de improvisação. Mencionando as

d inâmicas no grupo, l ideranças, a forma como interagiram, os comportamentos

observados, procurando canalizar estas observações para aspetos coerentes com a

necessidade terapêutica dos elementos do grupo.

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7. DISCUSSÃO

Na pessoa com alcoolismo sabemos que a racionalização, a minimização, a manipulação, a

projeção, a mentira, e negação, são barreiras necessárias de proteção, e são os objetivos

da intervenção musicoterapêutica nos utentes alcoólicos (James, 1988)

Para além disto, a alexitímia é segundo (Freire, 2010) como: “o circuito neuronal que permite a

autoconsciência emocional (perceção consciente das sensações subjetivas que acompanham

as emoções) não é completado de forma satisfatória, resultando num circuito que não permite

a regulação (experienciação e expressão) emocional adequada. Esse circuito deficiente

impede a geração do sentimento consciente, um processo cognitivo-experiencial. Não havendo

geração de sentimento, não há também a possibilidade de seu cultivo. Instala-se o círculo

vicioso referido.”

Diferente do “círculo virtuoso” que é entrar em contacto com o saber o que estamos a sentir,

facilitado por processos de aprendizagem expressiva centrados na pessoa e que emergem dos

processos relacionais. A existência desta experiência, envolvida num clima de condições de

confiança, empatia, aceitação e congruência, com recurso ao mediador corporo sonoro

musical, integra a vivência de expressão emocional.

Freire (2010) realizou um ensaio para diferenciar emoções de sentimentos, partindo das ideias

de Ledoux e Damasio, relacionando com as origens e construto da alexitímia. Neste ensaio

questiona-se se o alexitimico não expressa ou não tem sentimentos. Concluindo que as

emoções ocorrem normalmente mas que os sentimentos, que necessitam de outros circuitos

cerebrais adicionais não estão desenvolvidos de forma adequada.

Como já foi referido, as diferentes experiencias musicais (Bruscia, 1991), como a

improvisação, tem como possibilidade, o estabelecimento de canais não-verbais de

comunicação; providenciar significações da expressão da self; explorar aspetos pessoais da

dimensão relacional; desenvolver capacidades de intimidade comunicacional intra e inter

pessoal, promover o desenvolvimento da vivência da criatividade, expressão livre e prazer,

fomentar a liberdade interior, facilitar o conhecimento de si e do outro, a valorização pessoal,

e claro está uma maturação das competências cognitivas. Bem como as atividades de

percussão para trabalhar as estruturas básicas de interação: sintonia, alternância,

transformação, jogo/dialogo e tarefa/tema. (Rutten-Saris, 2002)

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8. CONCLUSÃO

Este trabalho procurou criar uma relação entre diferentes eixos de intervenção. Por um lado a

problemática do alcoolismo, da pessoa com alcoolismo, alexitímia e contributos para a

reabilitação e as diferentes fases e necessidades que possam acontecer quer no internamento,

quer nos programas em ambulatório de reabilitação. Por outro a abordagem expressiva da

musicoterapia e os contributos que a mesma oferece em diferentes aspetos nas fases de

tratamento e reabilitação. E contextualizar um modelo de intervenção e atitudes terapêuticas

como a abordagem centrada na pessoa e a musicoterapia na vivencia emocional da pessoa

com alcoolismo.

O método experimental proposto foi anteriormente aplicado no nosso trabalho em 2009. Os

procedimentos de identificação de necessidades, definição de objetivos terapêuticos, a

metodologia e os instrumentos de monitorização apresentados neste trabalho, servem como

orientação para investigação/intervenção qualitativa. Tendo de ser adaptados às

especificidades dos contextos de intervenção e respetiva singularidade humana.

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