music therapy and alcoholism: contributions in the rehabilitation and treatment
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Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento
Artur Jorge Rodrigues Malícia Correia 1
APRESENTAÇÃO
Musicoterapia e Alcoolismo:
Contributos na reabilitação e tratamento
Artur Jorge Rodrigues Malícia Correia
Neste trabalho pretendemos observar as questões multi-sistémicas entre o álcool, o alcoolismo
e a pessoa com alcoolismo, bem como fazer uma revisão bibliográfica sobre a musicoterapia
nesta problemática.
Para tal iniciaremos com a apresentação do tema álcool e alcoolismo, onde abordaremos
aspetos neurobiológicos, e outros modelos explicativos como os aspetos da personalidade, da
aprendizagem social e psicodinâmicos. Em seguida iremos abordar alguns aspetos subjetivos
da observação clinica em pessoas com problemas de alcoolismo, quer na fase aguda, quer na
fase de abstinência
No ponto três contextualizamos a musicoterapia, o princípio de iso e o objeto intermediário,
como pressupostos musicoterapêuticos para a intervenção, e as respetivas experiências
musicais segundo Bruscia. Ainda nesta temática da musicoterapia, fazemos uma revisão
bibliográfica sobre intervenções com recurso à musicoterapia em contextos de tratamento e
reabilitação do alcoolismo.
No ponto quatro, contextualizamos o modelo de abordagem terapêutico centrado na pessoa e
a forma como o mesmo se correlaciona na improvisação clinica em grupo, ao nível do
desenvolvimento das competências de escuta, empatia e congruência.
Por fim, sistematizamos um modelo de intervenção, com recursos de monitorização para
intervenção musicoterapêutica em contexto de centros de tratamento e reabilitação do
alcoolismo.
Palavras-chave: Musicoterapia, Alcoolismo, Alexitímia, Abordagem Centrada na Pessoa
Reabilitação.
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PRESENTATION
Music Therapy and Alcoholism:
Contributions in the rehabilitation and treatment
Artur Jorge Rodrigues Malícia Correia
In this work we intend to observe the multi-systemic issues between alcohol, alcoholism and the
person with alcoholism, as well as to review existing literature on music therapy in this problem.
To do this we will start with the presentation of the topic and alcoholism, where we discuss
neurobiological aspects, and other explanatory models as aspects of personality, social
learning and psychodynamic. Then we will consider some aspects of subjective clinical
observation in people with alcohol problems, either in the acute phase or during withdrawal
In section three, we contextualize music therapy, the principle of iso and intermediate object,
such assumptions of music therapy for intervention, and their respective musical experiences
by Bruscia. Also in this issue of music therapy, we review the literature on interventions using
music therapy in the treatment and rehabilitation contexts of alcoholism.
In section four, we contextualize the model of person-centered therapeutic approach and how it
correlates in clinical improvisation group, in the level of development of listening skills, empathy
and congruence.
Finally, systematize an intervention model, with resources for monitoring intervention in the
context of treatment centers and rehabilitation of alcoholism.
Palavras-chave: Music Therapy, Alcoholism, Alexithymia, Person Centred Approach
Rehabilitation.
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SUMÁRIO
1. O Álcool e o Alcoolismo .................................................................................. 5
1.1. Modelos explicativos do alcoolismo ......................................................... 7
1.2. A Pessoa com perturbação Alcoólica ..................................................... 10
2. A musicoterapia ............................................................................................ 13
2.1. Definição ................................................................................................ 13
2.2. O Princípio de ISO ................................................................................. 13
2.2.1. O Objeto Intermediário ..................................................................... 14
2.1. experiências musicais em musicoterapia .............................................. 15
2.1.1. Experiências Receptivas .................................................................. 15
2.1.2. Experiências de Recriação .............................................................. 16
2.1.3. Experiencias de Composição ........................................................... 16
2.1.4. Experiências de Improvisação ......................................................... 16
3. Intervenções Musicoterapêuticas no Alcoolismo .......................................... 18
4. Abordagem Terapêutica Centrada na Pessoa .............................................. 22
4.1. A Relação e a Experienciação em Musicoterapia ................................. 23
4.1.1. A(s) escuta(s) de si e do outro ......................................................... 24
4.1.2. A(s) empatia(s) de si e do outro ....................................................... 25
4.1.3. A(s) congruência(s) de si e de nós ................................................... 25
5. Plano de Intervenção Musicoterapêutica ....................................................... 27
5.1. Identificação de Necessidades ............................................................... 28
5.1.1.1. Aspetos Psicossociais: .............................................................. 28
5.1.1.2. Aspetos Criativos e Pró Activos ................................................. 28
5.1.1.3. Aspetos Psicofisiológicos .......................................................... 29
5.1.1.4. Aspectos Psico-afectivos ........................................................... 29
5.2. Objetivos gerais e específicos da Intervenção ....................................... 29
5.3. Instrumentos e abordagem de Diagnóstico ............................................ 30
5.4. Instrumentos de Avaliação e monitorização ........................................... 31
6. Metodologia de Intervenção ......................................................................... 33
6.1. A sessão de musicoterapia ..................................................................... 33
6.1.1. Contato ............................................................................................ 34
6.1.2. Implementação ................................................................................ 34
6.1.3. Improvisação .................................................................................... 34
6.1.4. Integração ........................................................................................ 35
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7. Discussão ..................................................................................................... 36
8. Conclusão ..................................................................................................... 37
9. Bibliografia .................................................................................................... 38
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1. O ÁLCOOL E O ALCOOLISMO
O consumo de bebidas alcoólicas está profundamente agarrado aos padrões culturais dos
povos. Arqueólogos descobriram montículos de grainhas acumuladas como prova do fabrico
do vinho. Estas descobertas datam do período que medeia entre 7000 -5000 a.c. (Johnson,
1999). A substância álcool, ou etanol bebível, resulta da fermentação de carbohidratos
vegetais, sendo possível criar 14% a 15% de álcool. Com o processo de destilação obtêm-se
mais percentagem de álcool. O álcool é da família das substâncias psicodislépticas,
perturbadoras do sistema nervoso central (Patrício, 1997), identificadas como depressoras do
sistema nervoso central. No entanto as baixas concentrações de álcool e os seus efeitos
iniciais podem ser estimulantes ou redutores de estados de tensão (Iglesias, 1998).
Segundo Neves Cardoso (2006), os efeitos neurobiológicos do álcool no sistema nervoso
central, depende do nível de consumo. Exist indo os consumidores moderados,
no qual existem indicadores de efeitos benéf icos ao nível da saúde, e o
consumidor excessivo, designado como alcoólico crónico. Sendo necessário entender as
características individuais para que, em algumas pessoas esse consumo torna-se compulsivo
e é definido como alcoolismo.
Segundo Di Pardo (in Iglesias, 1998), o álcool tem inúmeras funções, como: psicotrópicas,
terapêuticas, alimentar (fonte de calorias para o esforço físico), como mecanismos de
coesão grupal, integração social e estruturação cultural, controlo social, instrumento de
identificação, e diferenciação cultural, de transgressão, de adaptação em situações de
mudança, solução para preenchimento de “vazios”. O alcoolismo é uma patologia médica ou
clínica que afeta a vida familiar e social, tendo inúmeras repercussões físicas: lesões
hepáticas, alterações do funcionamento do aparelho digestivo, síndromas neurofisiológicos,
doenças musculares, perturbações endócrinas, hiperuricemia, osteopenia, doenças
oncológicas, hipertensão arterial, bem como situações de co-morbilidade como é o caso da
doença mental e disfunções psicossociais.
O álcool atua no sistema nervoso central, através dos neurotransmissores, interferindo com
os opioídes e endocanabinóides. Esta interação relaciona-se com o lado do prazer, da
tranquilidade, e do prazer do consumo do álcool. O recetor GABA-A é mediador da ansiólise,
da sedação, e da falta de coordenação motora. O recetor NMDA, afeta a atenção e a
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memória. (Cardoso, 2006) O resultado desta interação leva a uma ativação do sistema
dopaminérgico. A ativação da dopamina vai associar o consumo agradável com a procura
desse consumo. Esta procura está associada ao c ó r t ex pré-frontal e capacidade
decisória. Num consumo exagerado existe uma ativação excessiva que leva a uma procura
de forma incontrolada. Na situação aguda do consumo, existem sintomas de abstinência,
ansiedade, excitação, disforia e delirum tremus. O sistema nervoso central adapta-se a este
tipo de consumo, causando a necessidade da sua autorregulação e manutenção da
excitação, recorrendo-se às benzodiazepinas em sintomas de abstinência por auto medicação
ou prescrição medica. A degeneração neuronal num alcoólico crónico, faz perder a mielina,
nas regiões do lobo frontal, zona que regula as decisões. Fazendo que o alcoólico vá
gradualmente perdendo o controlo e capacidade de decisão. O acetaldeído, metabilizador do
próprio álcool, extremamente tóxico, cria uma inibição de manter a mielina. Causando
situações de demência, défice cognitivo, perturbações da coordenação e em alguns casos,
psicose. (Cardoso, 2006)
Existem ainda fatores genéticos e ambientais para o consumo excessivo de álcool. Como a
metabolização do álcool, variantes como o acetaldeído para a metabolização do álcool;
variantes do recetor do GABA – A, tornando as pessoas mais sensíveis ou não ao álcool, e
a sentirem efeitos tranquilizadores da ansiedade. A influência no sistema dopaminérgico,
sujeito a variantes genéticas possíveis, e modeladas pelo ambiente, relaciona-se com o facto
de as pessoas terem mais ou menos controlo sobre a sua esfera de motivação. Existem
também fatores de vulnerabilidade à substância, agravando os traços de personalidade, do
comportamento e tendências para psicopatologias de co-morbilidade. (Cardoso, 2006)
O Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM) IV da American Psychiatric
Association, considera que existem fenómenos de conduta humana associados a situações
de alcoolismo. Elas são a intoxicação, o abuso, a dependência, e a abstinência. A
intoxicação caracteriza-se por uma s í n d r o m e reversível, específico de uma
determinada substância, devido à ingestão recente de álcool, surgindo alterações
desadaptativas, comportamentais ou psicológicas, clinicamente significativas, devido ao efeito
de uma substância sobre o sistema nervoso central. Este processo de intoxicação pode levar
a padrões desadaptativos como é o caso do não cumprimento das obrigações sociais,
profissionais, familiares, entre outras. Colocando-se em situações de perigo físico como é o
caso da condução de viaturas ou máquinas, tendo nalguns casos comportamentos agressivos
e perigosos. Esta intoxicação tende a ter um padrão de continuação da utilização da
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substância apesar dos problemas sociais ou interpessoais, persistentes ou recorrentes
causados ou exacerbados pelos efeitos da substância (por exemplo, discussões com o
cônjuge sobre as consequências da intoxicação; lutas físicas).
A dependência é identificada no DSM-IV, como um “conjunto de sintomas cognitivos,
comportamentais e fisiológicos, indicativos de que o sujeito continua a usar a substância
apesar dos problemas significativos relacionados com esta.” Este “Padrão desadaptativo da
utilização de substâncias leva a um défice ou sofrimento clinicamente significativo”, na qual
existem os seguintes indicadores: a tolerância, na qual existe mais necessidade de
consumo, maior adaptação do organismo e diminuição do efeito, e a abstinência, na qual a
mesma substância é consumida para aliviar ou evitar os sintomas da abstinência.
Esta substância é frequentemente consumida em quantidades superiores ou por um período
mais longo do que se pretendia. E apesar de existir desejo persistente ou esforços, sem
êxito, para diminuir ou controlar a utilização da substância. E acrescida a esta situação o
dispêndio de grande quantidade de tempo em atividades necessárias à obtenção das
substâncias.
1.1. MODELOS EXPLICATIVOS DO ALCOOLISMO
Existem um conjunto de teorias explicativas dos comportamentos aditivos, como as
biomédicas, as psicodinâmicas, as de aprendizagem, as de personalidade, as sociais e
compreensivas (modelo biopsicossocial). Na intervenção psicológica, os estudos de Bandura
baseados na aprendizagem social, pretendem integrar fatores individuais e sociais, sendo esta
considerada como uma abordagem compreensiva. (Iglesias, 1998)
Os modelos médicos consideram que existe uma propensão genética, alterações do
metabolismo, ou em última análise como forma de automedicação, pois o alcoolismo é
considerado um sintoma, no qual sofrem de perturbações endógenas com substrato biológico
e que podem acabar por ser dependentes de consumo de substâncias. (Iglesias, 1998)
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Em oposição ao modelo biológico surgiu o modelo de aprendizagem social, no qual o
fenómeno do alcoolismo segue um conjunto de leis de condicionamento operativo e social.
Segundo Schippers (in Iglesias, 1998) a teoria cognitiva social parte de que o comportamento
adicto está relacionado com as cognições compostas de expectativas, que são crenças sobre
os efeitos do comportamento do consumo. Estas cognições estão/são acumuladas através da
interação social durante o desenvolvimento, por outro lado, é através das experiências com
efeitos farmacológicos diretos e interpessoais indiretos do comportamento aditivo por outro. As
principais determinantes do consumo são: os significados funcionais do comportamento
adicto (por exemplo: para aliviar o stress que é maior que a sua capacidade de gestão de
adaptação) em combinação com a eficácia esperada das condutas alternativas. Os hábitos
de consumo desenvolvem-se porque, após cada episódio de consumo, pode exacerbar a
posterior formação do hábito pelo incremento do stress e por limitar as opções de conduta
alternativa. Por fim, a recuperação depende do desenvolvimento de capacidade de coping
através de métodos alternativos e complementares.
A conduta de beber, desde a abstinência, ao beber socialmente e abuso de álcool, baseiam
se em princípios semelhantes aos da aprendizagem, cognição e reforço. (Bandura, Azzi, &
Polydoro, 2008)
Abrams e Niaura (1987) consideram também a existência de fatores de pré-disposição
intrapsíquica da personalidade. Como é o caso da revisão feita sobre a aprendizagem social
do uso das drogas e álcool. Estes autores referem que: a) a aprendizagem de beber álcool faz
parte do desenvolvimento psicológico e sociológico de uma cultura; b) existem fatores de
predisposição para iniciar os padrões iniciais de consumo de álcool; c) que as experiencias
associadas ao consumo tendem a ser aumentadas e continuas; d) existem períodos de abuso
porque o individuo sente que não pode ou não consegue enfrentar o problema; e) a
tolerância é adquirida e existem momentos de reforço, que o álcool provoca, como é o caso da
diminuição do stress; f) o consumo é continuado ao longo do tempo desenvolvendo
dependência física e/ou psicológica, neste momento o individuo considera este o único meio
de enfrentar os problemas psicossociais, tais como mudanças do estado de humor,
ansiedade social e défice de habilidades sociais; g) cada episódio de abuso passa a ter
consequências recíprocas quer individual e socialmente, que por sua vez aumentam os
processos de stress em situações de abstinência, e deste modo o consumo é visto como um
equilíbrio entre a relação que o individuo tem com o ambiente e vice-versa; h) que existem
vários fatores sociais, situacionais, ou intra-individuais que o consumo de álcool varia entre
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indivíduos e a forma e relação que tem com o consumo; i) que e a recuperação depende das
competências/habilidades individuais para explorar diferentes modos de capacidades coping
para as competências da vida diária, do auto controlo do comportamento aditivo de consumo
de álcool.
Os défices nas competências pessoais e sociais demonstram como existem práticas de abuso
que resultam de uma dificuldade ou ausência nas capacidades para lidar com a ansiedade
social, pois quando o indivíduo não a tem, pode encontrar na bebida uma resposta adaptativa.
Atualmente existem diversos modelos de intervenção terapêutica, que melhoram as
intervenções sendo os mais comuns: os programas orientados para a assistência como é o
caso da terapia aversiva que tem como objetivo eliminar o desejo do individuo pelo álcool,
grupos de psicoeducação, grupos de treino de competências sociais e de coping, treino do
comportamento e auto controlo, terapias de grupo, terapia familiar, programas de gestão da
ansiedade e stress, prevenção das recaídas e dos lapsos. (Iglesias, 1998) Estes planos
procuram sempre implicar o doente e a sua rede de suporte social num contrato e plano de
intervenção adaptado as circunstâncias biopsicossociais a cada sujeito e sua rede.
Numa abordagem psicodinâmica, o alcoolismo é uma doença e simultaneamente um
sintoma, (Levin , 1994 in Dias, 2006). Para a autora, entende que “ uma doença é útil na fase
inicial da recuperação, em que é importante ajudar o indivíduo a lidar com sentimentos de
culpa, de reconhecer a necessidade de abstinência total para progredir no tratamento e iniciar
transformações psíquicas.”, Dias (2006) considera que “não é suficiente o individuo alcançar a
abstinências de álcool, é importante que o sucesso de tratamento também seja medido em
termos de qualidade de vida, expresso pelo grau de “conforto” interno do individuo, possível
se o tratamento puder progredir, posteriormente para a resolução dos conflitos básicos.(…) A
alcoolização encontra-se, também ela, inscrita na história do indivíduo e pode ser um sintoma
gerado ao longo do seu desenvolvimento.”
Em síntese, os modelos explicativos são consensuais, considerando que a abordagem deverá
ser multidimensional com recurso a um modelo compreensivo biopsicossocial do fenómeno do
alcoolismo e que a mesma tem diferentes áreas de continuidade na intervenção preventiva,
farmacológica, psicoterapêutica (individual e de grupo), psicoeducativa, e de envolvimento dos
sistemas familiares. Este trabalho pretende integrar a musicoterapia nesta intervenção.
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1.2. A PESSOA COM PERTURBAÇÃO ALCOÓLICA
Na definição proposta pelo DSM IV, são apontados aspetos afetivos envolvidos na gênese do
uso abusivo de drogas: a ambivalência (utilização da substancia, apesar dos problemas
relacionados com o seu uso); a compulsão (o comportamento de procura é incontrolável) e
seu carácter repetitivo (de certa forma ritualístico).
Um conjunto de outras características de observação cl inica, da pessoa com
comportamento adicto em relação ao álcool, foram identificadas por Donovan (in Dias, 2006)
onde menciona que a depressão e a sociopatia, são os traços mais estudados, sendo que
outros, como: neuroticismo, ansiedade, histeria, hipocondria, esquizoidia, hostilidade,
imaturidade sexual, fragilidade egóica, baixa tolerância à frustração, impulsividade,
comportamento passivo dependente, ilusão de omnipotência, elevada ansiedade e
preocupações somatoformes, foram menos estudados, mas relevantes para o entendimento
da pessoa com alcoolismo.
Para Dias (2006) “a personalidade dos alcoólicos caracterizar-se-ia pela presença de
relações de objeto mais perturbadas, dificuldade em harmonizar as conceções do Self e dos
outros, com particular vulnerabilidade à perda de controlo, dificuldade em modelar as
emoções, comportamentos contraditórios e estados alterados de dependência e
desvalorização dos outros.”
Acrescentando a esta contextualização da personalidade da pessoa com alcoolismo, nos
últimos anos foram investigados aspetos relacionados com outros fatores de co-morbilidade
psicopatológica no alcoolismo. (Evren, Dalbudak e Çakmak, 2008), no qual se identifica
perturbações psicossomáticas, stress pós-traumático, dissociação, depressão, perturbação
obsessiva compulsiva, hipocondria, perturbações alimentares, prevalência da alexitímia em
homens alcoólicos do que em mulheres, etc.
Existem também estudos sobre o estilo de vinculação (segurança vs. Insegurança)
existente nas pessoas com alcoolismo (Rick e Vanheule, 2007). A ideia central deste
trabalho é que a vinculação estabelece-se nas pessoas com um sistema de representação
simbólica, e esta representação precisa de uma regulação de estados de afeto que se
desenvolve pela interacção de figuras de vinculação. Estas figuras de vinculação espelham o
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estado afetivo da criança e ajudam a construir representações de afeto. (Vanheule, S.;
Desmet, M; Meganck, R. Bogaerts, S. , 2007). Onde se verifica que os alcoólicos que tenham
tido situações de insegurança na vinculação tendem a ver as suas mães como controladoras,
tem mais problemas psiquiátricos, apresentando resultados mais altos no Inventario de
Depressão de Beck, demonstrando ter personalidade esquizoide e depressiva, e tem maior
dificuldade em comunicar as suas emoções. (Rick e Vanheule, 2007).
A alexitímia, inicialmente proposta por Sifneos (1973) “alexithymia”, que vem do grego a=sem,
lexis= palavra, thymos=afecto, literalmente: “sem palavras para o afeto”, para designar o
ponto mais relevante do constructo, que seria para ele, a dificuldade de comunicação e
expressão afetiva. (Caldas, 1999). A formalização deste constructo deu-se a partir da junção
de quatro características fundamentais: dificuldade de identificar e descrever sentimentos;
dificuldade em distinguir sentimentos de emoções corporais; diminuição da vida imaginativa e
do pensamento simbólico e estilo cognitivo predominantemente direcionado para a realidade
externa, em detrimento da própria subjetividade. (Caldas, 1999)
Haviland, Warren e Riggs (2000) procuram dar continuidade a este trabalho no qual
procuram encontrar outros indicadores para a alexitímia através duma escala de observação
no qual são focados aspetos como a distância, a incapacidade de insight, a somatização, a
falta de humor, e a rigidez.
O primeiro texto sobre a alexitímia e a abordagem psicoterapêutica (Krystal, 1979) indica
que a alexitímia apresenta uma perturbação nas funções afetivas e cognitivas para além
do diagnóstico associado existente. As emoções não são diferenciadas e a verbalização das
mesmas é pobre. A imaginação livre é limitada. A alexitímia interfere seriamente em
abordagem psicoterapêuticas verbais, sendo sempre necessário explorar as causas desta
perturbação e intervir eficazmente, onde a pessoa com alcoolismo e alexitímia possa fazer
parte ativa do processo de reabilitação e entendimento de si.
Odrodniczuk, Pipper e Joyce (2008) identificam que as expressões emocionais do cliente
como um mediador da relação entre o terapeuta e paciente alexitímico. O estudo demonstrou
que quanto mais alto era o nível de alexitímia menor era a expressão de sentimentos positivos
por parte do cliente e que por sua vez mais negativas eram as reações do terapeuta. Para
além deste estudo, existe ainda outro (Helmes, Mc Neill, Holden, e Jackson, 2008) que
menciona a associação com mecanismos de defesa imaturos e com dificuldades de
adaptação e a alexitímia.
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Identificadas as várias relações sobre as co morbilidades psicológicas, somáticas e sociais, e
quem em alguns casos, o fenómeno da alexitímia, compromete as intervenções terapêuticas
verbais, podemos refletir sobre a necessidade de um trabalho continuado, para as
transformações intra-psicológicas e inter-relacionais que precisam de maturação para a
melhoria da qualidade de vida das pessoas com alcoolismo. Como nos processos de
reparação da vinculação, do reconhecimento, do processamento experiencial, e da expressão
das emoções. E que a falta de fatores de vinculação, de segurança, de perceção de si, de
aceitação de sí, de expressão de si, estão a contribuir para um agravamento da co-
morblidade da pessoa com alcoolismo, para além os fatores sociais e culturais já
anteriormente referenciados.
Deste modo, o processo de maturação no sentido de encontrar congruência interna, o que
permite “harmonizar as conceções do Self e dos outros” (Dias,2006) podem ser
experienciados num processo terapêutico feito em grupo.
Em musicoterapia desenvolvem-se competências e habilidades que permitem modelar
emoções, lidar com incongruências emocionais, comportamentais e afetivas, bem como
reconhecer valor em si e no outro como forma de melhorar as suas competências intra e
inter-relacionais. Permitindo ainda estabelecer novos modos de vinculação e segurança
(Correia,2008).
A musicoterapia enquanto intervenção de expressão corporo-sonoro-musical, baseada numa
relação terapêutica, de abordagem centrada na pessoa, é um contributo para o tratamento e
reabilitação no alcoolismo.
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2. A MUSICOTERAPIA
2.1. DEFINIÇÃO
Para começar a abordar a questão do campo da Musicoterapia, será pertinente, recordar a
definição de musicoterapia de Bruscia (1991), onde considera a musicoterapia: “um processo
interpessoal no qual o terapeuta utiliza a música e todas as suas facetas – físicas, emocional,
mental, social, estética e espiritual – para ajudar o cliente a melhorar, restabelecer ou manter
a sua saúde. Em alguns casos, as necessidades do cliente são trabalhadas diretamente
através dos próprios elementos da música; noutros casos essas necessidades são
trabalhadas através das relações interpessoais que se desenvolvem entre cliente e terapeuta
ou entre cliente e grupo. (…) A música utilizada em terapia pode ser especificamente criada
pelo cliente ou pelo terapeuta ou pode ser extraída da literatura ou reportório existente nos
vários estilos e períodos musicais.”
Esta definição releva a pertinência de alguns aspetos no trabalho musicoterapêutico: um
processo interpessoal (modelo de terapia relacional/interpessoal/experiencial), o uso da
música como mediador da relação terapêutica, uma pessoa em estado de incongruência e um
terapeuta.
Para além destes elementos, existem outros, que se situam nos conceitos e pressupostos
teóricos usados em musicoterapia, como o princípio de ISO, o objeto intermediário.
2.2. O PRINCÍPIO DE ISO
O princípio de ISO parte da noção da existência de um conjunto fenómenos sonoros que nos
caracteriza e identifica, do ponto de vista psicofisiológico e sociocultural e que permite a auto-
regulação. Este conceito surgiu como resultado dos trabalhos pioneiros de Altshuler (1944)
em hospitais psiquiátricos, no qual verificou-se efeitos homeostásicos durante a escuta de
peças musicais, quer na estimulação muscular, quer na diminuição da tensão.
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No seu trabalho comprovou que a utilização da música igual aos estados de ânimo dos seus
pacientes, e do seu tempo mental, era útil para facilitar a respostas mentais e emocionais.
Deste modo, constatou que os estados de humor e as respostas emotivas se alteravam de
acordo com as escutas musicais e constatou ainda nas suas observações clínicas que as
pessoas em estados deprimidos poderiam ser mais estimuladas com peças musicais de
carácter melancólico, enquanto que pessoas com situações de humor maníaco em estados de
exaltação e euforia reagiam mais a peças musicais com um andamento mais vivo e de
carácter mais alegre.
Estes fenómenos sonoros e movimentos internos são a síntese dos arquétipos sonoros, das
vivências primordiais, desde a gestação até ao presente momento. (Benezon, 1984) O ISO é
um som estruturado dentro de um mosaico sonoro, que por sua vez, estrutura-se com o
tempo e que, fundamentalmente, encontra-se em perpétuo movimento. O ISO é um elemento
dinâmico que potencia a perceção do sujeito sobre si no tempo passado e presente. Esta
experiência é também em si um momento de atualização das experiências organísmicas.
O ISO, segundo Benezon (1984), é ativado em processo musicoterapêutico em: ISO
Gestáltico, como um canal de comunicação por excelência; ISO Complementar, caracterizado
pelas mudanças que ocorrem durante as sessões de musicoterapia; ISO Grupal, estando este
ligado ao esquema social que o individuo integra, necessitando de tempo para estabelecer-se
e estruturar-se, sendo também observável na dinâmica que flui no grupo como a síntese em si
mesma de cada identidade sonora, estando directamente ligada à identidade sociocultural; e o
por fim o ISO Universal, que é a identidade sonora que caracteriza ou identifica todos os seres
humanos, independente dos seus contextos sociais, culturais, históricos e psicofisiológicos
particulares. Exemplo: o batimento cardíaco, os sons da inspiração e expiração.
2.2.1. O OBJETO INTERMEDIÁRIO
Bermudez (1984), responsável pelo conceito de objeto intermediário, vê-o como um
instrumento de comunicação capaz de atuar terapêuticamente sobre a pessoa em relação,
sem desencadear estados de desconforto ou alarme. Este objeto caracteriza-se por uma
existência concreta, inócua, maleável, transmissora da comunicação, adaptada as
necessidades da pessoa, assimilável permitindo uma relação íntima, instrumental, como
forma de identificação, e identificável pelo reconhecimento automático. A música para
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Bermudez "não é por si um objeto intermediário, mas pode funcionar como se fosse. Não é
porque não possui a maioria das características do O.I., mas em certas condições permite
restabelecer a comunicação perturbada” (p.170).
Segundo Bermudez (1984), considera o uso da música como objeto intermediário, como:
música dirigida ao indivíduo como complementaridade, suplementaridade ou indutora
(estimulando ou facilitando sentimentos ou experiencias afectivas); e música dirigida ao grupo
como promotor de experiências de “homogeneidade”, como facilitadora, e como inibidora
(estratégia de aquecimento, “catarse”, ou términos da sessão). Em musicoterapia o objecto
intermediário permite restabelecer a comunicação da pessoa consigo mesmo e com o
humano assim como é parte importante da vida do homem.
2.1. EXPERIÊNCIAS MUSICAIS EM MUSICOTERAPIA
Cada tipo de experienciação musical tem diferentes aplicações de possibilidades e
potencialidades terapêuticas. As experiências musicais existentes em musicoterapia segundo
Bruscia (1998) são: a improvisação musical; a recriação; a composição e a escuta musical.
2.1.1. EXPERIÊNCIAS RECEPTIVAS
As experiências recetivas o cliente escuta as musicas e responde à experiência de acordo
com objetivos terapêuticos centrados nas suas necessidades, que podem ser de carácter
físico (relaxamento, controlo da dor), emocional, intelectual, estético e espiritual, quer de
forma verbal, quer com outro mediador expressivo (movimento, pictórico, drama).
Esta experiência musical permite a promoção da recetividade, reação e respostas a estímulos
musicais, facilitar o relaxamento ou a estimulação, evocar estados afetivos, explorar ideias
e sentimentos, reminiscências, evocação de fantasias e atividade imagénica, como é o caso
do uso da música em terapia verbal que estimula imagens; fantasias; associações e
memórias que ajuda ao processo.
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2.1.2. EXPERIÊNCIAS DE RECRIAÇÃO
Na experiência de recriação musical o cliente produz uma performance musical através da
reprodução de uma canção já existente, interpretando-a. Centrando-se em atividades
musicais estruturadas o cliente desempenha papéis previamente acordados por ele, sendo
esta escolha centrada na sua história musical.
Esta experiência musical, indicada para pessoas que precisam de adaptação às ideias dos e
sentimentos dos outros mantendo a sua identidade, tem como objetivos terapêuticos o
desenvolvimento de competências sensório-motoras, de adaptação e organização do
comportamento, da memória, de promoção da identificação com os outros e empatia, da
comunicação e interpretação de ideias e sentimentos, da aprendizagem de papéis e respetiva
melhoria da interação.
2.1.3. EXPERIENCIAS DE COMPOSIÇÃO
Nas experiências de composição, o terapeuta faculta os seus conhecimentos musicais ao
serviço do cliente ajudando-o a escrever canções, letras, executar peças instrumentais,
vídeos, e gravações áudio. Apesar do terapeuta assumir uma responsabilidade mais técnica
centra-se nas capacidades musicais do cliente. Exemplo, a manutenção de suporte
harmónico repetitivo para que o cliente possa improvisar de acordo com as suas capacidades
e potencialidades.
Esta experiência musical permite o desenvolvimento de competências de planificação e
organização, resolução de problemas, promoção da responsabilidade pessoal, exploração de
experiências/vivências pessoais, comunicando-os, integrando-os e gravando-os, para si
enquanto pessoa em processo.
2.1.4. EXPERIÊNCIAS DE IMPROVISAÇÃO
Na experiência de improvisação musical o cliente está ativo e desempenha um papel
central nas produções musicais, quer tocando, cantando de forma espontânea, sendo o
responsável pelo produto/processo musical, facilitado e apoiado com a presença do
musicoterapeuta. O cliente inicia o processo criando melodias, estruturas rítmicas, construção
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de canções, e a respectiva execução instrumental com recurso a qualquer mediador de
produção sonora (voz, corpo, percussão, sopros, teclados, etc.).
Esta improvisação poderá ser individual, em duo ou em grupo. O musicoterapeuta facilita os
procedimentos com pequenas demonstrações de uma ideia ou estrutura musical para
improvisar, ou apoia uma ideia não musical do cliente como é o caso das imagens ou
histórias.
Esta experiência musical tem, como possibilidade, o estabelecimento de canais não-verbais
de comunicação; providenciar significações da expressão da self; explorar aspetos pessoais
da dimensão relacional; desenvolver capacidades de intimidade comunicacional intra e inter
pessoal, promover o desenvolvimento da vivência da criatividade, expressão livre e prazer,
fomentar a liberdade interior, facilitar o conhecimento de si e do outro, a valorização
pessoal, e claro está uma maturação das competências cognitivas.
Estas experiências musicais são recursos existentes na intervenção musicoterapêutica
que, apresentando-se como técnicas, permitem integrar, segurar e suportar a experiência
imediata do cliente.
Estas experiências são por vezes organizadas em procedimentos, sequências organizadas
de operações, e oferecem uma metodologia de intervenção usada no diagnóstico, enquanto
conhecimento feito a dois, tratamento, enquanto experiência de relação e criatividade, e
avaliação, enquanto reconhecimento das necessidades.
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3. INTERVENÇÕES MUSICOTERAPÊUTICAS NO ALCOOLISMO
Existe desde os últimas quatro décadas artigos de musicoterapia, e/ou revistas relacionadas
com a intervenção terapêutica com recurso a mediadores expressivos, aplicados às diferentes
fases de intervenção com pessoas com alcoolismo e/ou comportamento aditivo.
Em 1970, Miller lança as primeiras aplicações num grupo de alcoólicos do exército, sendo um
trabalho resultante e intervenção sócio - comunitária e implicação de pessoas com
comportamentos alcoólicos em bandas e grupos de orquestra.
Em 1973, Tyson aborda o papel de programas de musicoterapia clínica em comunidades
terapêuticas, estruturas administrativas, a equipa de terapeutas certificados, o financiamento
da estrutura, a importância da intervenção ser feita em unidades de centros de dia para
processos reabilitativos na área da saúde mental e comportamentos aditivos. Brooks (1973)
refere a importância da musica na aplicação de programas de prevenção de abuso de
drogas nas comunidades locais, implicando e aceitando o combate da estigmatização da
identidade dos grupos sociais que tinham por um lado apreciações musicais próprias do
seu contexto sócio-comunitário e integrando-as como forma de combate ao abuso de
substancias psicoativas.
Em 1983, Murphy sistematiza uma forma de intervenção de musicoterapia em grupo de ajuda
para pessoas consumidoras de substâncias psicoativas, em setting de hospital psiquiátrico.
Neste artigo refere que as experiências musicais no processo de tratamento permitiam um
envolvimento no programa de desabituação, pois tinha como objetivo diminuição do
isolamento social. Para atingir este objetivo recorria a atividades/experiencias musicais
como: escrita de canções, permitindo aos utentes falar sobre a sua vivência de
hospitalização, sobre eles mesmos, sobre a sociedade. Esta técnica permitia os pacientes
encontrar metas para a mudança de comportamentos face à adição. Outra técnica usada
neste programa era a improvisação musical permitindo o desenvolvimento das competências
da comunicação, encorajando a expressão emocional, trabalhando comportamento como a
baixa tolerância à frustração através da confrontação das improvisações musicais, interagir
para combater o isolamento, valorizar a pessoa e a estima de si, e libertar tensões para
suportar a abstinência.
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Murphy (1983) fundamenta que a sua intervenção segue uma abordagem da terapia gestalt
no qual a terapia permite desbloquear aspetos da criatividade como: medo de falhar,
relutância em participar, a perceção condicionadora da criatividade, o evitamento da
frustração, a necessidade de conformidade, a relutância em deixar acontecer, em liderar e
uma vida emocional percecionada bastante pobre. Estes fatores, que condicionam a
expressividade e a ligação com o mundo interior, são o objetivo da intervenção
musicoterapêutica, e acontecem no interior da experiência da improvisação musical em grupo.
Dougherty (1984) sistematiza as sessões de musicoterapia para pessoas doentes
alcoólicas. Nas sessões procuram enfatizar a expressão de sentimentos e pensamentos no
aqui e agora, estando centradas no compromisso da abstinência e da recuperação. No
processo de grupo os utentes são convidados a escolher uma peça musical de um disco que
conheçam para mudar o estado emocional em que se encontram, uma que provoque
memórias, e outra para dedicar a alguém dentro do grupo. Além deste procedimento,
recorre ainda a técnicas de recriação musical com participação musical dos restantes
membros do grupo.
O primeiro trabalho de revisão da intervenção da musicoterapia no alcoolismo foi elaborado
por James (1988) no qual faz um revisão da literatura, já referida anteriormente, e os
princípios dos serviços de musicoterapia em pessoas com alcoolismo. Neste último, sugere
que a intervenção deve-se pautar por dois objetivos gerais dos serviços de musicoterapia: 1º
servir de intervenção complementar e de reforço da implicação do processo reabilitativo, e o
2º proporcionar intervenção terapêutica individualizada integrado na equipa multidisciplinar e
clínica.
Em relação aos objetivos terapêuticos para clientes com alcoolismo James (1988), indica:
apoiar e reforçar a manutenção do processo terapêutico; aumentar a interação de pares e no
grupo; melhorar a perceção da coesão do grupo; aumentar a confiança entre a pessoa e os
membros do grupo; aumentar a consciência de sí e clarificação de valores pessoais; potenciar
a reflexão verbal de si e aumento do locus de controlo interno; promover a aceitação da
opinião dos outros; expressar sentimentos e emoções apropriados com os estados
emocionais emergentes; aumentar a assertividade; melhorar as competências de
comunicação; reconhecer novas atividades de lazer e prazer; aumentar as competências na
resolução de problemas (coping skill); desenvolver uma autoimagem saudável; melhorar o
controlo dos impulsos; e capacitar para trabalho cooperativo.
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Em síntese, facilitar a interação entre pares e a coesão de grupo, promover e facilitar os
processos de tomada de consciência e clarificação de valores pessoais, reduzir tensões
e promover o relaxamento, e por último expressar sentimentos e emoções.
Para a coesão de grupo James (1988) indica atividades de escrita de canções, sessões de
improvisação, e espetáculo de talentos. Na tomada de consciência, refere a importância da
análise das letras das canções já existentes e das que foram acontecendo durante o
processo, bem como os comportamentos e cremosas a eles associados. Na promoção do
relaxamento e redução do stress, indicando técnicas como imaginação guiada, feedback
assistido, auto hipnose, treino de competências autogénicas. Na expressão de sentimentos,
que decorrem durante as sessões, indica que a vida psicológica do alcoólico está envolvida
em mecanismos de defesa como: racionalização, minimização, manipulação, projeção,
mentira, e negação, que são barreiras necessárias de proteção, mas tornam-se os objetivos
da intervenção musicoterapêutica nos utentes alcoólicos.
O trabalho de Bednarz e Nikkel (1992) fala-nos no papel da musicoterapia no tratamento de
jovens com duplo diagnóstico de doença mental e abuso de substâncias. Este trabalho
sistematiza em categorias os tipos de intervenção musicoterapêuticas (debate musical,
formação musical, grupo musical participativo, escuta musical, e musica expressiva) e a
relação com cada fase do tratamento (envolvimento, intervenção na crise, estabilização,
tratamento activo, e recuperação).
Mais recentemente Dijkstra e Hakvoort (2004) abordam o desenvolvimento de estratégias de
coping em pessoas com comportamentos aditivos com o recurso a sessões de
musicoterapia. Seguindo um modelo de intervenção biopsicossocial, os autores referindo-se
às estratégias de coping (modo como as pessoas reagem emocionalmente,
comportamentalmente, e cognitivamente) a uma situação que necessitam de ser adequadas
a cada situação. O que não acontece a pessoas com comportamentos aditivos.
Organizando as atividades musicoterapêuticas com recursos ao círculo de precursões
(drum circle), Rutten-Saris (2002) pretendem trabalhar as cinco estruturas básicas de
interacção mencionadas por que são: sintonizar (mover na mesma direção que o outro se
move); alternância (mover na mesma direção que o outro em alternância), transformar
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(adicionar novos movimentos enquanto age em alternância); jogo de diálogo (jogar com a
expectativa que emerge da mudança) e tarefa/tema (executar uma tarefa ou a utilização de
um tema). As fases de intervenção musicoterapêutica procuram envolver o uso de diferentes
tipos de atividades musicais que trabalhem estas interações, como forma de estruturar e
desenvolver a base das estratégias de coping.
Estes trabalhos permitem observar na relação existente entre as atividades musicais, a
terapia expressiva e o processo psicoterapêutico de grupo desejado numa intervenção
musicoterapêutica. Deste modo a intervenção será um construída como um espaço
terapêutico com recurso a mediadores expressivos, música, e atividades de pintura, tendo em
vista a criação de condições para a experienciação de vivências musicais que tenham em
conta alguns itens importantes à maturação das relações intra e interpessoais, adequação
das estratégias de coping, e diminuição das condicionantes da criatividade. (Murphy,1983); e
facilitar os participantes à tomada de consciência da perceção dos fenómenos corporo –
sonoro – musicais que conduzem a uma perceção de si mesmo e do outro, que implicam
uma mudança nas relações interpessoais levando a um processo de autonomia na auto-ajuda
no grupo.
Em síntese, verificamos que existem evidências de intervenção musicoterapêutica na
reabilitação e tratamento de pessoas com alcoolismo. No entanto esta intervenção deve estar
integrada num modelo que crie as condições para proporcionar a autonomia na
capacidade de ajuda do grupo, e criar condições para que estes possam também ser
atores terapêuticos no seu processo individual processo dos seus pares. Neste sentido
iremos agora mencionar a abordagem terapêutica que esta subjacente a esta intervenção e a
relação com os aspetos experienciais do processo terapêutico.
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4. ABORDAGEM TERAPÊUTICA CENTRADA NA PESSOA
A Abordagem Centrada na Pessoa, de acordo com os princípios orientadores de Carl
Rogers (1977;1984), no qual o terapeuta, é visto como um cuidador das necessidades da
pessoa e/ou grupo, através das competências de relação de ajuda como a escuta, a
aceitação, e a empatia, e a convicção na potencialidade da pessoa e do grupo, favorecendo
na pessoa a disponibilidade para a criatividade, a expressão e exploração de si mesmo.
Quando estas experiências são vivenciadas pelo grupo, e/ou pessoa, na experiência de
improvisação musical, a integração de um clima de segurança e confiança psico-afectiva,
permite a auto-organização do grupo no sentido da sua “tendência atualizante”, enquanto
“organismo vivo” com as suas singularidades.
A Abordagem Centrada na Pessoa entende o ser humano como um organismo total que se
experiencia, um ser biopsicossocial, que encontra as melhores formas para reorganizar e
encontrar a sua auto regulação a caminho de uma maior hiper-complexidade e tendência à
atualização. De acordo com esta tendência, a melhor forma de se facilitar esta vivência é
através de experiencias sonoro musicais com recurso à improvisação musical e/ou atividades
centradas na experiencia da tarefa musical em grupo.
A experiência musical deve ter em conta, perante este grupo de pessoas em processo de
reabilitação da perturbação de dependências de álcool, aspetos como: as experiências
proprioceptivas, as memórias, a tomada de consciência entre o corpo, a sensação, a imagem
e o sentimento, permitindo que exista um aumento da consciência da sensação, e por sua vez
um aumento do vocabulário experiencial psicofisiológico das sensações, a qualidade das
mesmas, e a respetiva comparação. Estas perceções são um ponto de partida para todo o
trabalho, no Aqui e Agora, de uma experiencia integradora que inclui nela, imagens,
vocabulário do contexto proprioceptivo do cliente, sentimentos, associações de sensações,
imagens, memórias, etc. (Punkanen, 2006)
Deste modo, torna-se necessário intervir nas experiências corporais e de inter-relação com
a criação de atividades musicais que trabalhem a pulsação individual vs grupo, ritmos
individual vs grupo, com recurso ao ostinato rítmico e a exploração do arrítmico, dinâmica, e
diversidade tímbrica, como catalisador para diversas sensações e correlação com aspetos
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emocionais diversos, a sintonia melódica, e harmónica, a ressonância orgânica dos sons e
melodias vocais, entre outros.
4.1. A RELAÇÃO E A EXPERIENCIAÇÃO EM MUSICOTERAPIA
Na relação musicoterapêutica consideramos a presença de um terapeuta, com competências
de relação de ajuda e conhecimentos musicais e da ciência da musicoterapia, por outro
temos uma pessoa que procura, em alguns casos, de forma a poder facilitar, recuperar e
reparar o seu bem-estar biopsicossocial.
Além desta dupla, existe um produto sonoro musical que se escuta, apreende-se, se
aceita incondicionalmente, comunicando sonoramente essa experiência, e que reconhecemos
como motor da promoção de estados de congruência interna.
Nesta relação são percecionadas as escutas, as empatias e as congruências, que surgem na
experiência de improvisação musical em grupo. Estamos a usar o plural pelo motivo de que
temos vindo a experienciar em relação, a importância da alteração preceptiva desses
mesmos conceitos, e verifico que o sitiar da palavra num movimento organísmico de
unicidade é retirar a amplitude hípercomplexa da experiência das escutas, das empatias e
das congruências internas que vão construindo a pessoa em relação. O lugar do plural
evidência a constante mutação e refinamento dessa experiência.
Quando se trata de um grupo musicoterapêutico, estamos perante competências de ajuda
que emergem no ato coletivo de criatividade sonoro musical. A pessoa do cliente escuta,
empatiza e experiência momentos de congruência interna em relação a si e em relação à
experiência do outro em sí. O que lhe proporciona movimentos de congruência interna
psicoafectiva e organísmica.
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4.1.1. A(S) ESCUTA(S) DE SI E DO OUTRO
O som produzido, enquanto conteúdo sonoro, com os aspetos quer acústicos,
neurofisiológicos, sensitivos, emocionais, viaja em direção tridimensional, com todo o
potencial experiêncial que acarreta, ressonando e entoando experiências de si em sí
Permitindo uma recetividade direta e imediata à experiência, o conteúdo sonoro musical, da e
na relação musicoterapêutica, facilita a abertura à recetividade e à experienciação. Este
estado sonoro e psíquico permite vivências propriocetivas na pessoa do cliente. Como se
de um diálogo ontológico interno se tratasse. Neste conhecimento a “dois”, a
conscientização (Freire, 1970) ganha a sua intencionalidade.
Sendo a música, um mediador expressivo, intrinsecamente ligado ao desenvolvimento
humano, e às suas constantes tomadas de consciência, com todas as suas características
psicológicas, fisiológicas, culturais e espirituais, permitirá, então o música, uma abertura da
pessoa às múltiplas dimensões do Humano, facilitando o percurso para o funcionamento
óptimo da pessoa (Baltordano , 1998).
A escuta de si, torna-se cada vez mais ativa, e é experienciada como forma de relação de
ajuda sonoro musical. Num grupo de musicoterapia com recurso a experiência musical da
improvisação a pessoa do cliente, com os outros membros do grupo, e as atitudes autênticas
do musicoterapeuta, permitem gradualmente uma abertura à expressão autêntica de
sentimentos autênticos verbais e não-verbais) que está de acordo com a intencionalidade de
escutas internas que o individuo tem da sua experiência, permitindo uma aproximação aos
conteúdos afetivos de si mesmo.
Na improvisação musical, a pessoa do cliente transporta um campo fenomenológico que
atua constantemente com o seu mundo de produção sonora, o som criado passa a ter uma
possibilidade intencional “aqui e agora” na escuta do cliente, enquanto escutas, o “eu” e o
“tu”, escutam-se mutuamente, atualizando experiências de empatia e congruência interna.
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4.1.2. A(S) EMPATIA(S) DE SI E DO OUTRO
A compreensão empática do fenómeno sonoro/musical, durante a experiência da improvisação
musical, permite uma abertura de um canal de comunicação entre a pessoa e a sua
experienciação, bem como a presença da aceitação incondicional por parte do terapeuta. Ao ir
aproximando a sua experiência do campo fenomenológico do seu Self, com recurso ao
sonoro, a pessoa do cliente, experimenta uma vivência da liberdade de criar com
autenticidade, e a descoberta da atualização do seu potencial criativo, consciencializando-se
do seu movimento interno para o deslumbramento da mutação dos valores sonoros,
estéticos, e relacionais, de acordo com a sua coerência interna entre as suas emoções e
sentimentos e a produção sonora. Como uma empatia sonoro musical de si mesmo.
Vivenciando esta experiência, a pessoa, quando está em grupo de musicoterapia, está em
relação com um constante exercício de simultaneidade entre as suas produções sonoras e
a dos outros elementos, entre os estados emocionais dos outros e os seus. Isto é, atua na
paisagem sonora, na qual é um todo e uma parte.
4.1.3. A(S) CONGRUÊNCIA(S) DE SI E DE NÓS
O processo sonoro ou musical, enquanto expressão na história do desenvolvimento humano,
procura a busca de um estado de acordo interno entre a produção sonora e o campo
fenomenológico do sujeito na sua realidade subjetiva de mundo. O cliente, no percurso da
sua improvisação musical, vai viajando por um conjunto de estados emocionais, buscando
uma coerência interna do/no momento. Podemos recordar que a própria dinâmica da
improvisação musical passa de momentos mais consonantes para dissonantes, ou vice-
versa, de estados de excitação para momentos de relaxamento, entre outros, demonstram
o quanto a intenção do campo fenomenológico da experienciação sonoro musical,
produzida aqui e agora, do sujeito é congruente com o seu estado emocional.
Esta experienciação, por parte da pessoa do cliente, na qual é aceite nos seus movimentos
sonoro/musicais internos, presenciados com uma aceitação incondicional positiva por parte do
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musicoterapeuta, facilita a autenticidade da experiência sonora com estados emocionais, e
promove uma aceitação de si e dos campos proprioceptivos. Esta aceitação de si permite uma
aproximação à autenticidade que o leva a disponibilizar-se para se experienciar, como um ser
capaz de ser, de transformar, de criar, de vivenciar uma liberdade psicológica de aceitar-se e
escutar-se como um organismo na sua tendência atualizante.
A experienciação do fenómeno musical em musicoterapia é percecionada como um processo
de mudança criativa e construtiva. Um dado experienciado em processo, está a acontecer
num campo fenomenal da pessoa, com as possibilidades de observação interna, bem como
por si ou pelos outros, não só em si mas também na relação com os outros.
A Improvisação Musical, enquanto tipo de experiência musicoterapêutica, é um movimento
auto dirigido, que rebusca-se e reencontra-se nas necessidades terapêuticas de cada um. O
organismo na sua procura sonora vai em direção da sua autenticidade de acordo com o
aqui a agora do momento.
Promotora de processos de conhecimento, a improvisação clinica em musicoterapia facilita a
confiança para a prática da autonomia e enquanto promoção de valores de estima, bem
como, a experienciação da capacidade autorreguladora do grupo para a promoção colectiva
da autoestima e bem comum dos elementos do grupo.
Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento
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5. PLANO DE INTERVENÇÃO MUSICOTERAPÊUTICA
Em primeiro lugar devemos considerar as capacidades e interesses pelas atividades
musicais dos elementos que vão participar num grupo de musicoterapia, não numa lógica de
diagnóstico psicopedagógico de habilidades musicais, mas sim de forma a considerar quais e
como usar as preferências e estilos musicais existentes na pessoa do cliente, bem como a
sua identidade sonoro musical e necessidades psico afetivas.
As reações adversas – psicológicas / psicofisiológicas – que emergem do discurso verbal “Eu
gosto disto!”; “ Este som irrita!”, ou perante o discurso não verbal, exemplo: a troca de
instrumento, mudança repentina de ritmo, dinâmica, etc., devem entender-se como material
a ser trabalhado dentro de um quadro compreensivo de acordo com as necessidades do
cliente. Por exemplo: experiências traumáticas com a atividade musical quando
frequentaram a escola ou temas de um reportório musical associado a memórias
desagradáveis ou ameaçadoras. Nestes casos deverá fazer-se um levantamento junto de
cada indivíduo sobre momentos e memórias associadas a experiências agradáveis e
desagradáveis, seus contextos emergentes, pessoas associadas a essas experiências, etc.
Num conjunto de pessoas em situação de abstinência de álcool, em processo de
reabilitação, existem diversos tipos de necessidades biopsicossociais de acordo com a co-
morbilidade associada, condicionando o tratamento e a evolução.
Entre elas podemos identificar: experiências de Delirium de abstinência, Demência,
Perturbação Mnésica, Perturbação Psicótica, Perturbação do Humor, Perturbação da
Ansiedade, Disfunção Sexual, Perturbação do Sono, e Perturbação Persistente da
Perceção Induzida por Alucinogénios, Perturbações do Comportamento, Perturbações
Borderline e Anti Social da Personalidade, Esquizofrenia, Perturbações do Humor.
Gostaria ainda de referir que na história corporal, psicológica, social, cultural da pessoa com
dependência de álcool, existem um conjunto de experiências, emoções, simbolizações,
sentimentos, que não tiveram espaço para um entendimento de si, em si, como é o caso
Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento
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das sintomatologias descritas pelo DSM – IV em relação à Abstinência do Álcool (por
exemplo, diaforese ou pulsação superior a 100; tremor das mãos aumentado; insónias;
náuseas ou vómitos; alucinações ou ilusões visuais, tácteis ou auditivas, transitórias; agitação
psicomotora; ansiedade; convulsões.
5.1. IDENTIFICAÇÃO DE NECESSIDADES
A identificação das necessidades devem ter em conta diferentes aspetos para a
elaboração dos objetivos gerais da intervenção, objetivos específicos das sessões e
atividades de experiencia musical.
5.1.1.1. ASPETOS PSICOSSOCIAIS:
a) Valorização da identidade pessoal resultado da partilha da identidade sonoro musical
e da narrativa autobiográfica, em grupo.
b) Alternância de liderança e aceitação do papel de líder como orientador da tarefa
c) Disponibilidade para percecionar os outros como validos e importantes para o grupo
d) Desenvolvimento da identidade grupal e contributos para diminuição da inibição
social resultado de isolamento social
e) Capacidade para entender o padrão de comunicação com os outros, os limites, as
alternâncias e as sincronias
f) A improvisação musical permitiu a perceção e consciência do tipo de comunicação,
e intensidade e intencionalidades que os elementos do grupo têm entre si e com as
suas redes sociais.
g) Reconhecimento da atividade musical cativa como comportamento de viver formas
alternativas de prazer e relacionamento psicoafectivo consigo e com os outros
5.1.1.2. ASPETOS CRIATIVOS E PRÓ ACTIVOS
a) As experiencias positivas perante algo construído num contínuo com a aceitação
dos membros do grupo e do terapeuta, diminuindo a relutância do medo de falhar,
o arriscar, a intenção de participar, a capacidade de contribuir com o que cada
Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento
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elemento do grupo pode disponibilizar para a experiencia num sentido de elevação
estética na apreciação do grupo.
b) A aceitação da espontaneidade criativa com recurso ao verbal com a criação de
canções
5.1.1.3. ASPETOS PSICOFISIOLÓGICOS
a) Melhoria da descrição das experiencia emocionais e afetivas e aumento do
vocabulário relativo a experiencias traumáticas ou conflituosas
b) Diminuição e alívio da tensão e reconhecimento experiencias da participação
nesse movimento interno
5.1.1.4. ASPECTOS PSICO-AFECTIVOS
a) Experienciar tomadas de consciência
b) Capacidade de entender a dificuldade na exploração de sentimentos e emoções
c) Aceitação da valorização interna da experiencia positiva de expressão emocional
d) A perceção do compromisso pessoal na manutenção do processo de desabituação
e) Exploração da memória do alcoolismo e das vantagens da abstinência
5.2. OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS DA INTERVENÇÃO
Com este quadro de necessidades, o tempo limitado das intervenções, o f a c t o d e s e r
u m g r u p o a b e r t o , deveremos dividir entre, objetivo geral para a intervenção da
musicoterapia como linha orientadora, e objetivos específicos nas sessões de musicoterapia
independentemente das atividades de experiência musical.
Deste modo, pretendemos criar condições necessárias e suficientes como forma de facilitar
processos de mudança e transformação de acordo com um modelo centrado na pessoa.
Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento
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Para os objetivos gerais, considerei os seguintes: promover e favorecer um espaço
terapêutico com recurso a mediadores expressivos e sonoro musicais, tendo em vista a
criação de condições para a experienciação de vivências musicais que tenham em conta
alguns itens importantes à maturação das relações intra e interpessoais, adequação das
estratégias de coping, e diminuição das condicionantes da criatividade. (Murphy,1983); e
facilitar os participantes à tomada de consciência da perceção dos fenómenos corporo –
sonoro – musicais que conduzem a uma perceção de si mesmo e do outro, que implicam
uma mudança nas relações interpessoais levando a um processo de autonomia na autoajuda
no grupo.
Em síntese criar condições para proporcionar a autonomia na capacidade de ajuda do
grupo, e criar condições para que estes possam também ser atores terapêuticos no seu
processo individual processo dos seus pares.
Para os objetivos específicos de cada sessão considerei que a abordagem deveria criar
condições para facilitar: a exploração de sentimentos que emergem na experiencia musical; a
exploração e o entendimento de si e tomadas de consciência; a promoção de mudanças nos
estados emocionais e de humor; a expressão a si mesmo de forma verbal e não verbal; as
experiências de sucesso proporcionando uma sensação de controlo; o desenvolvimento de
competências para relaxamento e gestão da ansiedade; a expressão de sentimentos e ideias
positivas sobre as experiencias vivenciais; a adaptação de formas positivas de
comportamento aceitando as dinâmicas musicais que resultam no grupo; o desenvolvimento
da capacidade de tomadas de decisões na relação musical em grupo; a melhoria da
concentração e a atenção em si na experiencia musical do grupo; a construção da narrativa
da identidade com recurso às memórias sonoro- musicais.
5.3. INSTRUMENTOS E ABORDAGEM DE DIAGNÓSTICO
O diagnóstico, diagnose ou psicodiagnóstico refere-se ao processo de classificação de
informações relevantes quanto ao estado emocional e comportamental do indivíduo. O
diagnóstico é, em muitas orientações, a primeira fase de um processo terapêutico, mas
numa abordagem de orientação humanista considera-se como uma condicionante que pode
ser prejudicial ao processo terapêutico. Por este motivo, cria-se um diagnóstico “on going”,
integrando as necessidades imediatas na sessão, como forma de explorar, com o
cliente/grupo, a experiência da pessoa sobre a sua vivência, quer na sessão, quer no seu
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percurso reabilitativo, como uma transição de uma identidade padecente para uma
identidade curativa ou potenciadora de cura e bemestar.
No entanto, na observação direta da intervenção, deveremos ter em consideração algumas
áreas de intervenção. Como por exemplo: a comunicação (expressão verbal e não verbal,
compreensão recetiva e linguagem expressiva); a área cognitivo (atenção, concentração,
processamento, estilo de aprendizagem); a área física – estado geral de saúde,
capacidades sensório motoras e percetivas (ouvir, ver, tato, olfacto, movimento); a área
musicais – (interesses, respostas, preferências, competências instrumentais e vocais,
discriminação de afinações, perceção rítmica, criatividade) a área psicossocial – (consciência
de si, conceito de si, estima de si, participação, cooperação, relação com o terapeuta,
competências interpessoais e interação com outros; aspetos emocionais – afectos e
sentimentos); e outras áreas relevantes como: as necessidades psicológicas, as atividades
e ocupação de tempos livres, a adaptação pessoal, a vocação, as necessidades
espirituais, etc.
5.4. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO E MONITORIZAÇÃO
A avaliação de uma intervenção em musicoterapia tem de ter em conta a avaliação inicial;
avaliação intermédia (on going) e avaliação final. Na avaliação inicial podemos recorrer a
testes já validados, como fichas diagnosticas, criadas para o efeitos da intervenção, que
permitem, por exemplo, avaliar sintomatologias associadas. (ex. SCL-90R e TAS – Toronto
Alexithymia Scale) Nesta avaliação poderão incluir uma avaliação inicial em relação às
preferências musicais do cliente ou grupo; seus condicionamentos; identificar possíveis
problemas e alguns aspetos da identidade do cliente (psicológica, pessoal, social, sonora e
musical). Devemos, ainda, recorrer à informação já existente por parte de outros técnicos.
Na relação direta com o cliente que deverá ser prévia à integração no grupo, o
musicoterapeuta deverá elaborar uma avaliação compreensiva, no qual poderá ter em conta
o historial do cliente, as observações de resposta à atividade de musicoterapia, comunicação,
cognição, capacidades físicas, preferências e competências musicais, competências
psicossociais e emocionais. De forma a identificar necessidades especificas de cada cliente
e levantar hipótese de intervenção musicoterapêutica.
Para a avaliação on-going devemos dispor de diversos tipos de documentos que nos
permitam registar acontecimentos, verbais e não-verbais de acordo com as necessidades
Musicoterapia no Alcoolismo: Contributos na reabilitação e tratamento
32
terapêuticas individuais de cada membro do grupo. Neste caso, recorrer às filmagens como
forma de monitorizar a intervenção.
Para o visionamento dos vídeos deveremos criar grelhas para registar as sessões, os
contextos da análise do produto musical, conteúdo das narrativas de grupo ao longo das
sessões. Tipo de opções de atividade musical, experiências, escolha de instrumentos, etc.
.
Musicoterapia no Alcoolismo
Artur Jorge Rodrigues Malícia Correia
6. METODOLOGIA DE INTERVENÇÃO
Durante o processo de in tervenção musicoterapêutica centrado na pessoa e no processo
de grupo, poderemos recorrer a atividades musicais, privilegiando a improvisação, e a
integração de técnicas verbais/vocais e musicais.
A intervenção em grupo permite aos membros a tomada de consciência, a expressão e a
exploração de estados emocionais, a capacidade de insight sobre determinados problemas,
bem como encontrar soluções e aprendizagem de competências de coping.
Tendo em consideração as idades dos participantes, e diversidades expressivo-sonoras, as
sintomatologias, as necessidades individuais e grupais, em relação a cada fase do processo
reabilitativo, o grupo é um facilitador do surgimento de rituais de identidade, emergência de
papéis, que facilitam o processo de terapia em grupo.
Neste trabalho em grupo, a criação das condições necessárias e suficientes nas sessões de
musicoterapia devem ter em consideração momentos de estrutura e organização de grupo
como: o contacto, a implementação, a improvisação e a integração, que passamos a clarificar.
6.1. A SESSÃO DE MUSICOTERAPIA
A sessão tem uma estrutura e é nesta que emergem as experiências relacionais entre o
terapeuta, cliente, membros do grupo e o produto sonoro, na qual o musicoterapeuta
disponibiliza-se para envolver a pessoa num conjunto de experiências emocionais e
musicais. Estas são: centradas nas necessidades e do cliente, tendo em conta as suas
capacidades musicais, as suas preferências musicais, a sua história sonoro musical, o tipo de
atividade musical (improvisação, recriação, escuta ou composição), o contexto relacional (solo,
duo ou grupo), o tipo de instrumento, o papel na execução musical e no estilo musical. Estas
sessões recorrem a uma estrutura composta por contato, implementação, improvisação e
integração.
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6.1.1. CONTATO
Este momento permite observar os participantes. Os instrumentos estão dispostos no centro
da sala com cadeiras em redor. Quando os elementos do grupo começam-se a instalar
procuramos fazer um levantamento direto sobre seu modo de estar, se exis tem
acontec imentos s igni f icat ivos durante a semana , se houve alguma coisa da
semana passada, ou outro assunto que queiram partilhar com o grupo.
Após este momento é criado um suporte harmónio e/ou rítmico para proporcionar a
experiência sonora com indução guiada que proporcione um estado de relaxamento com
suporte harmónico por parte do terapeuta com recurso à atividade respiratória. Deste
modo procuro situar os elementos do grupo no aqui e agora da experiência musicoterapêutica.
Após o percurso do grupo existem momentos nos quais esta fase poderá ser posterior.
6.1.2. IMPLEMENTAÇÃO
Nesta fase são apresentadas as propostas musicais, a demonstração de como tocar os
instrumentos, a sua distribuição, que será neste tipo de população de livre escolha.
Esta fase permite que a escolha do instrumento não seja um ato de incongruência, mas que
permita uma tomada de decisão consciente com o tipo de sonoridade (timbre, intensidade)
e de execução. Pois cada instrumento reporta a sí um imaginário quinestesico que o individuo
quer para si num determinado momento. Nesta fase sugerimos ainda a possibilidade de
troca de instrumentos durante o processo da improvisação.
6.1.3. IMPROVISAÇÃO
Antes do início da improvisação, solicitar breves momentos de silêncio antes do início da
mesma. Desta forma procuramos facilitar o processo criativo sem nenhum condicionamento.
Após o início da improvisação, recorremos a um suporte de várias técnicas como o
espelhamento rítmico e/ou vocal, criação de ostinatos, construção de sugestões com recurso
às tonalidades e acordes da guitarra, de modo a ampliar, contrapor, alterar, estruturar as
sugestões musicais que vão emergindo no grupo, criando formas de integração e coesão
sonoro musical. Deste modo facilitamos o experiênciar do produto sonoro e do processo
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criativo enquanto individuo e/ou grupo. As improvisações musicais podem terminar de forma
espontânea e/ou com recurso a linguagem não-verbal por parte dos elementos do grupo e/ou
do terapeuta.
6.1.4. INTEGRAÇÃO
O espaço de integração da experiencia musical deverá ter em conta a compreensão dos
aspetos emocionais e sentimentais da vivencia individual de cada elemento do grupo. “A
exploração de sentimentos permite ao cliente entrar em lugares que nunca foi antes” (Borczon,
1997). Neste momento a atividade de improvisação permite a libertação de experiências
bloqueadas. Facilitando a abertura à experiencia do membro do grupo e sua partilha em
grupo. Nesta fase o musicoterapeuta devolve a perceção que foi tendo em relação a cada
elemento, bem como o movimento do grupo e as fases de improvisação. Mencionando as
d inâmicas no grupo, l ideranças, a forma como interagiram, os comportamentos
observados, procurando canalizar estas observações para aspetos coerentes com a
necessidade terapêutica dos elementos do grupo.
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7. DISCUSSÃO
Na pessoa com alcoolismo sabemos que a racionalização, a minimização, a manipulação, a
projeção, a mentira, e negação, são barreiras necessárias de proteção, e são os objetivos
da intervenção musicoterapêutica nos utentes alcoólicos (James, 1988)
Para além disto, a alexitímia é segundo (Freire, 2010) como: “o circuito neuronal que permite a
autoconsciência emocional (perceção consciente das sensações subjetivas que acompanham
as emoções) não é completado de forma satisfatória, resultando num circuito que não permite
a regulação (experienciação e expressão) emocional adequada. Esse circuito deficiente
impede a geração do sentimento consciente, um processo cognitivo-experiencial. Não havendo
geração de sentimento, não há também a possibilidade de seu cultivo. Instala-se o círculo
vicioso referido.”
Diferente do “círculo virtuoso” que é entrar em contacto com o saber o que estamos a sentir,
facilitado por processos de aprendizagem expressiva centrados na pessoa e que emergem dos
processos relacionais. A existência desta experiência, envolvida num clima de condições de
confiança, empatia, aceitação e congruência, com recurso ao mediador corporo sonoro
musical, integra a vivência de expressão emocional.
Freire (2010) realizou um ensaio para diferenciar emoções de sentimentos, partindo das ideias
de Ledoux e Damasio, relacionando com as origens e construto da alexitímia. Neste ensaio
questiona-se se o alexitimico não expressa ou não tem sentimentos. Concluindo que as
emoções ocorrem normalmente mas que os sentimentos, que necessitam de outros circuitos
cerebrais adicionais não estão desenvolvidos de forma adequada.
Como já foi referido, as diferentes experiencias musicais (Bruscia, 1991), como a
improvisação, tem como possibilidade, o estabelecimento de canais não-verbais de
comunicação; providenciar significações da expressão da self; explorar aspetos pessoais da
dimensão relacional; desenvolver capacidades de intimidade comunicacional intra e inter
pessoal, promover o desenvolvimento da vivência da criatividade, expressão livre e prazer,
fomentar a liberdade interior, facilitar o conhecimento de si e do outro, a valorização pessoal,
e claro está uma maturação das competências cognitivas. Bem como as atividades de
percussão para trabalhar as estruturas básicas de interação: sintonia, alternância,
transformação, jogo/dialogo e tarefa/tema. (Rutten-Saris, 2002)
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8. CONCLUSÃO
Este trabalho procurou criar uma relação entre diferentes eixos de intervenção. Por um lado a
problemática do alcoolismo, da pessoa com alcoolismo, alexitímia e contributos para a
reabilitação e as diferentes fases e necessidades que possam acontecer quer no internamento,
quer nos programas em ambulatório de reabilitação. Por outro a abordagem expressiva da
musicoterapia e os contributos que a mesma oferece em diferentes aspetos nas fases de
tratamento e reabilitação. E contextualizar um modelo de intervenção e atitudes terapêuticas
como a abordagem centrada na pessoa e a musicoterapia na vivencia emocional da pessoa
com alcoolismo.
O método experimental proposto foi anteriormente aplicado no nosso trabalho em 2009. Os
procedimentos de identificação de necessidades, definição de objetivos terapêuticos, a
metodologia e os instrumentos de monitorização apresentados neste trabalho, servem como
orientação para investigação/intervenção qualitativa. Tendo de ser adaptados às
especificidades dos contextos de intervenção e respetiva singularidade humana.
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