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Sinopse
Inglaterra, 1501. O país inteiro aguardava o casamento de Judith Revedoune e Gavin Montgomery.
Embora Judith prometesse a si mesma que seu marido a possuiria apenas pela força, o primeiro contato entre os dois,
ante o altar florido, ascendeu a chama de uma paixão indisfarçável.
Quando Gavin olhou no fundo dos olhos dourados, sentiu-se consumido pelo desejo....
Mas ele já havia entregue seu coração à outra.
Humilhada e sozinha em um castelo estranho, Judith resolve odiar a seu marido, que toma seu corpo, mas rejeita a
sua alma.
Porem ela sabe que o ama e teme perde-lo.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
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Prólogo Judith Revedoune olhou para o pai por cima do livro contábil.
Sua mãe, Helen, estava ao seu lado. Judith não sentia medo do
homem, apesar de tudo o que tinha feito ao longo dos anos para fazê-
la temê-lo. Seus olhos estavam vermelhos, com profundos círculos
debaixo deles. Ela sabia que seu rosto devastado era devido ao seu
pesar pela perda de seus amados filhos, dois ignorantes, homens
cruéis que eram réplicas exatas de seu pai.
Judith estudou Robert Revedoune com uma certa curiosidade.
Geralmente não se preocupava com sua única filha. Ele não via
utilidade para as mulheres desde que sua primeira esposa morreu e a
segunda, uma mulher assustada, tinha apenas lhe dado uma menina.
— O que você quer? — Judith perguntou calmamente.
Robert olhou para a filha como se a visse pela primeira vez. Na
verdade, a moça tinha sido mantida escondida a maior parte de sua
vida, enterrada com sua mãe em seus próprios aposentos em meio a
seus livros e registros contábeis. Ele notou com satisfação que ela
parecia com Helen naquela idade. Judith tinha aqueles olhos
dourados estranhos que alguns homens adoravam, mas que ele
achava desconcertantes. Seu cabelo era castanho-avermelhado. Sua
testa era larga e forte, como era seu queixo, seu nariz reto, sua boca
generosa. “Sim, servirá”, pensou. Poderia usar sua beleza em
vantagem própria.
— Você é a única que me resta, — disse Robert, sua voz pesada
de desgosto. — Se casará e me dará netos.
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Judith olhou para ele em estado de choque. Durante toda a sua
vida, Helen a treinara e educara para o convento de freiras. Não se
tratara de uma piedosa educação de orações e cânticos, mas de
ensinamentos e práticas, que levam à única carreira aberta a uma
nobre. Ela poderia se tornar uma abadessa antes de completar trinta
anos. Uma abadessa era tão diferente da mulher comum, quanto o rei
de um servo. Ela governava terras, propriedades, aldeias, cavaleiros.
Comprava e vendia de acordo com seu próprio critério. Era procurada
por homens e mulheres por sua sabedoria. Uma abadessa governava e
não recebia ordens de ninguém.
Judith podia contabilizar livros para uma propriedade grande,
podia fazer julgamentos justos em disputas, e sabia quanto trigo
calcular para alimentar certa quantidade pessoas. Podia ler e escrever,
dirigir uma recepção para um rei, dirigir um hospital: Tudo o que ela
precisasse, tinha-lhe sido ensinado.
E agora esperava-se que esquecesse tudo e se tornasse a serva de
algum homem?
— Não o farei.
A voz estava baixa, mas as poucas palavras não poderiam ter
sido mais altas se tivessem sido gritadas do telhado de ardósia.
Por um momento, Robert Revedoune ficou perplexo. Nenhuma
mulher jamais o desafiou com um olhar tão firme antes. De fato, se
não soubesse que ela era uma mulher, sua expressão teria sido
confundida com a de um homem. Quando se recuperou do choque,
esbofeteou Judith, jogando-a no outro lado do pequeno quarto. Mesmo
deitada no chão, com um fio de sangue escorrendo pelo canto da boca,
ela olhou para ele, absolutamente, sem nenhum medo em seus olhos,
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apenas nojo e um toque de ódio. Sua respiração ficou presa por um
momento com o que viu. De certa forma, a garota quase o assustava.
Helen correu para sua filha, sem perda de tempo. Agachou-se ao
lado dela, tirou de entre suas roupas um punhal de mesa. Olhando
para a cena primitiva, o momentâneo nervosismo de Robert o deixou.
Sua esposa era uma mulher que ele podia entender. Apesar da
aparência externa de um animal zangado, no fundo de seus olhos ele
percebia fraqueza. Em segundos, agarrou seu braço, a faca voando
pelo quarto. Ele sorriu para sua filha enquanto segurava o antebraço
de sua esposa em suas poderosas mãos e quebrava os ossos como se
quebrasse um galho.
Helen entrou em colapso a seus pés, sem dizer uma palavra.
Robert olhou de volta para a filha onde ainda estava deitada,
incapaz de compreender sua brutalidade.
— Agora, qual é a sua resposta, moça? Você se casa ou não?
Judith assentiu brevemente antes de se virar para ajudar a mãe
inconsciente.
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Capítulo Um A lua lançava longas sombras sobre a velha torre de pedra, que
se erguia em três andares e parecia franzir o cenho, cansada da
parede quebrada e desmoronada que a cercava. A torre havia sido
construída duzentos anos antes desta úmida noite primaveril do mês
de abril de 1501. Agora era um tempo de paz, um tempo em que as
fortalezas de pedra não eram mais necessárias. Mas este não era o lar
de um homem diligente. Seu bisavô tinha vivido na torre quando tais
fortificações eram necessárias, e Nicolas Valence pensava, se ele
ficasse sóbrio o suficiente para pensar, que a torre era boa o suficiente
para ele e para as gerações futuras.
Um enorme portão olhava para as paredes desintegradas e a
velha torre. Aqui um guarda solitário dormia com o braço em torno de
um odre de vinho meio vazio. Dentro da torre, o piso térreo estava
cheio de cães e cavaleiros dormindo. Armaduras empilhadas contra as
paredes, desarrumadas e enferrujadas, intercaladas com os juncos
sujos que cobriam as tábuas de carvalho.
Esta era a propriedade Valence, um castelo pobre, ultrapassado,
antiquado que era objeto de piadas em toda a Inglaterra. Dizia-se que,
se as fortificações fossem tão fortes como o vinho, Nicolas Valence
poderia deter toda a Inglaterra. Mas ninguém atacou. Não havia razão
para atacar. Muitos anos atrás, a maior parte da terra de Nicolas fora
tirada dele por cavaleiros jovens, ávidos e sem dinheiro, que haviam
acabado de ganhar suas esporas. Tudo o que restava era a antiga
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torre, que todos concordavam que deveria ter sido derrubada, e alguns
campos periféricos que eram o sustento a família Valence.
Havia luz na janela do último andar. Dentro, o quarto estava frio
e úmido, uma umidade que nunca deixava as paredes, mesmo no
tempo mais seco do verão. O musgo crescia entre as fendas da pedra,
e pequenas coisas rastejantes se moviam constantemente pelo chão.
Mas neste quarto estava toda a riqueza do castelo, sentada diante de
um espelho.
Alice Valence inclinou-se para o espelho e aplicou um
escurecedor a seus curtos e pálidos cílios. O cosmético foi importado
da França. Ela se inclinou para trás e estudou-se criticamente. Era
objetiva sobre sua aparência, sabia o que possuía e como usá-lo a seu
favor.
Refletido no espelho ela viu um pequeno rosto oval, com traços
delicados, uma boca parecida com um botão de rosa, um nariz esguio
e reto. Seus olhos longos em formato de amêndoa, de um azul
brilhante, eram o seu traço mais marcante. Seu cabelo era loiro, que
ela constantemente enxaguava com suco de limão e vinagre. Sua
criada, Ella, puxou uma mecha amarelo pálido sobre a testa de sua
ama e então pôs um capuz francês na cabeça de Alice. O capuz era de
um grosso brocado, bordeado por uma ampla franja de veludo
alaranjado.
Alice abriu a boca e olhou os dentes. Eles eram a sua pior
característica: tortos e salientes. Ao longo dos anos, ela aprendeu a
mantê-los escondidos, a sorrir com os lábios fechados, a falar
baixinho, a cabeça ligeiramente abaixada. Esses maneirismos eram
uma vantagem, pois intrigavam os homens. Isso deu-lhes a ideia de
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que ela não tinha noção de como era linda. Eles imaginavam despertar
essa tímida flor para todas as delícias do mundo.
Alice levantou-se e alisou seu vestido por cima de seu corpo
magro. Tinha poucas curvas. Seus seios pequenos repousavam sobre
uma armação reta sem quadris, sem entalhes na cintura. Ela gostava
de seu corpo. Parecia esguio e elegante em comparação com outras
mulheres.
Suas roupas eram exuberantes, parecendo fora de lugar no
quarto sujo. Sobre o corpo, ela usava uma roupa de chemise, tão fino
que era quase gaze. Em seguida, um vestido exuberante do mesmo
brocado pesado do capuz. Tinha um decote profundo e quadrado, o
corpete encaixando muito bem em seu corpo fino. A saia era em
formato de sino, suave e gracioso. O brocado azul com as bordas de
pele de coelho branco; formando os amplos e largos punhos das
mangas penduradas. Sobre a sua cintura estava um cinto de couro
azul, com grandes granadas, esmeraldas e rubis.
Alice continuou analisando-se, enquanto Ella escorregava sobre
seus ombros uma capa de brocado forrada de peles de coelho.
— Minha senhora, não pode se encontrar com ele, não quando
vai...
— Casar com outro? — Alice perguntou enquanto segurava o
pesado manto sobre os ombros. Ela se virou para olhar para si
mesma, satisfeita com o resultado. A combinação do laranja e o azul
eram impressionantes. Ela não passaria despercebida em tal roupa. —
E o que tem meu casamento a ver com o que faço agora?
— Vós sabeis que é um pecado, não pode encontrar um homem
que não é seu marido.
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Alice deu uma risada curta enquanto ajustava as dobras do
pesado manto.
— Quer que eu saia para encontrar o meu prometido, o querido
Edmund? — Ela perguntou com grande sarcasmo. Antes que Ella
pudesse responder, ela continuou.
— Você não precisa ir comigo, eu sei o caminho e o que Gavin e
eu fazemos, não precisamos de mais ninguém.
Ella estava com Alice por muito tempo para ficar chocada. Alice
fazia o que queria, quando queria.
— Não, eu irei, mas só para me certificar que você não sofra
qualquer dano.
Alice ignorou a mulher idosa como fez toda a sua vida. Ela tirou
uma vela do suporte de metal pesado ao lado da cama e foi até a porta
de carvalho reforçado com tiras de ferro.
— Silencio, então — disse a Ella, por cima do ombro enquanto
voltava a encostar a porta, as dobradiças bem lubrificadas.
Juntou o vestido e o manto de brocado em sua mão e jogou-o
sobre seu braço. Não podia deixar de pensar que, em poucas semanas,
deixaria esta decrépita Torre e viveria num castelo — o Castelo de
Chatworth, — um edifício de pedra e madeira rodeado por altas
muralhas protetoras.
— Quieta! — Alice ordenou a Ella enquanto jogava um braço
sobre o estômago mole da mulher e as apertava contra a parede úmida
da escada escura. Um dos guardas de seu pai caminhou
desajeitadamente para além do pé da escada, fez suas necessidades,
amarrou as calças e voltou para a cama de palha. Alice
apressadamente apagou a vela e esperou que o homem não ouvisse o
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suspiro de Ella enquanto a escuridão do velho castelo envolvia as
duas.
— Venha. — Sussurrou Alice, sem ter tempo nem vontade de
ouvir os protestos de Ella.
A noite estava clara e fresca, e, como Alice sabia que seria, dois
cavalos esperavam por ela e sua criada. Alice sorriu enquanto se
jogava na sela do garanhão escuro. Mais tarde, recompensaria o
cavalariço do estábulo que tomava cuidados tão bons e apropriados
para sua senhora.
— Minha dama! — Ella gemeu em desespero.
Mas Alice não se virou porque sabia que Ella era gorda demais
para montar o cavalo sozinha. Não desperdiçaria nem um de seus
preciosos minutos com uma mulher idosa e inútil. Não quando Gavin
a esperava.
A porta de frente para o rio fora deixada aberta para ela. Tinha
chovido mais cedo e o chão estava molhado, mas havia um toque de
primavera no ar. E com ela veio uma sensação de promessa e paixão.
Quando estava certa de que os cascos do cavalo não seriam
ouvidos, inclinou-se para frente e sussurrou para ele.
— Vá, meu demônio negro. Leve-me para o meu amante.
O garanhão empinou para mostrar que compreendeu, então
esticou suas pernas dianteiras, longas e retas. Conhecia o caminho e
partiu a uma velocidade tremenda.
Alice ergueu a cabeça, deixando que o ar soprasse em seu rosto
enquanto ela se entregava ao poder e à força do magnífico animal.
Gavin. Gavin. Gavin, os cascos pareciam dizer enquanto trovejavam na
estrada molhada. Em muitos sentidos os músculos de um cavalo entre
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suas coxas lhe lembravam de Gavin. Suas mãos fortes em seu corpo, a
sua potência que a fazia fraca de desejo. Seu rosto, o luar brilhando
em suas maçãs do rosto, seus olhos brilhantes mesmo na noite mais
escura.
— Oh, meu doce, cuidado agora, — Alice disse suavemente
enquanto puxava as rédeas para trás. Agora que ela estava se
aproximando do local de encontro, começou a se lembrar do que tão
cuidadosamente tentou esquecer. Dessa vez Gavin teria ouvido falar
de seu casamento iminente, e ele estaria zangado com ela.
Ela virou o rosto para pegar o vento diretamente. Piscou
rapidamente até que as lágrimas começaram a se formar. As lágrimas
ajudariam. Gavin sempre odiava as lágrimas, então as usou com
cuidado nos últimos dois anos. Só quando ela desesperadamente
queria algo, recorreu ao truque, deste modo não lhe restava outra
coisa que não a mimar.
Alice suspirou. Por que não podia falar honestamente com Gavin?
Por que os homens devem ser sempre tratados tão suavemente? Ele a
amava, portanto devia amar o que ela fazia, por mais desagradável que
fosse para ele. Era uma esperança inútil, ela sabia disso. Se dissesse a
Gavin a verdade, o perderia. Então onde encontraria outro amante?
A recordação de seu corpo, duro e exigente, fez Alice empurrar os
calcanhares de seus sapatos macios nos flancos do cavalo. Oh sim, ela
usaria lágrimas ou qualquer outra coisa que fosse necessária para
manter Gavin Montgomery, um cavaleiro de renome, um lutador sem
igual... e dela, todo dela!
De repente, quase pôde ouvir as perguntas de Ella. Se desejava
tanto Gavin, por que estava prometida a Edmund Chatworth, um
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homem com a pele da cor do peito de um peixe, com mãos gordas e
macias e uma boca feia e pequena, que formava um círculo perfeito?
Porque Edmund era um conde. Ele possuía terras de um extremo
da Inglaterra a outro, propriedades na Irlanda, País de Gales, Escócia
e, segundo rumores, na França também. Claro que Alice não podia
saber exatamente a extensão de sua riqueza, mas logo saberia. Oh
sim, quando fosse sua esposa, saberia. A mente de Edmund era tão
fraca quanto seu corpo, e não demoraria muito para que ela o
controlasse, assim como a suas propriedades. Ela iria mantê-lo feliz
com algumas putas e atenderia as propriedades pessoalmente, sem
obstrução e interferência de qualquer homem ou de ordens conjugais.
Alice tinha uma paixão pelo belo Gavin, mas isso não obscurecia
seu bom senso. Quem era Gavin Montgomery? Um barão de pouca
importância, mais pobre do que rico. Um guerreiro brilhante, um
homem forte e bonito, mas não rico. Não comparado com Edmund. E o
que seria a vida com Gavin? As noites seriam de paixão e êxtase, mas
Alice sabia muito bem que nenhuma mulher jamais controlaria Gavin.
Se ela se casasse com ele, seria forçada a permanecer dentro de casa,
fazendo trabalho de mulheres. Não, nenhuma mulher jamais
controlaria Gavin Montgomery.
Seria um marido tão exigente, como era em seu papel como
amante.
Instigou o cavalo para frente. Ela queria tudo: a fortuna e posição
social de Edmund e a paixão de Gavin. Sorriu enquanto endireitava os
broches de ouro, um em cada ombro, que segurava o vistoso manto no
lugar. Ele a amava — Alice estava confiante — e não perderia seu
amor. Como poderia? Que mulher se aproximava dela em beleza.
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Alice começou a piscar rapidamente. Algumas lágrimas e ele
entenderia que ela estava sendo forçada a se casar com Edmund.
Gavin era um homem de honra. Entenderia que ela devia manter o
acordo de seu pai com Edmund. Sim, se fosse cautelosa, teria os dois;
Gavin para as noites, e a riqueza de Edmund para o dia.
Gavin esperava em silêncio. A única parte dele que se movia era
um músculo em sua mandíbula, tenso e flexionando. O luar prateado
brilhava nas maçãs de seu rosto, comparando-a a uma lâmina de
punhal. Sua boca firme e reta formava uma linha grave acima de uma
covinha no queixo. Seus olhos cinzentos, escuros de raiva, quase tão
negros quanto os cabelos que se encaracolavam e apareciam pela gola
da jaqueta de lã.
Somente longos anos de árduo treinamento como cavaleiro lhe
permitiram um rígido controle externo. Por dentro, ele estava fervendo.
Esta manhã ele ouviu que a mulher que amava se casaria com outro,
iria para a cama com outro homem, seus filhos pertenceriam a ele.
Seu primeiro impulso foi o de cavalgar diretamente para a torre de
Valence e exigir que ela negasse o que ouviu. Mas seu orgulho o
reteve. Este encontro com ela havia sido organizado semanas atrás,
então se obrigou a esperar até que pudesse vê-la novamente, segurá-la
entre os braços e ouvi-la dizer-lhe, de seus próprios lábios doces, o
que queria ouvir. Ela não se casaria com ninguém além dele. Disso
tinha certeza.
Ele olhou através do vazio da noite, alerta ao som de cascos. Mas
a paisagem permanecia silenciosa, uma massa de escuridão quebrada
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apenas pelas sombras mais escuras. Um cão passou de uma árvore
para a outra, olhando para Gavin, desconfiado do homem quieto e
silencioso. A noite trouxe de volta memórias da primeira vez que ele e
Alice se encontraram nessa clareira, um lugar protegido pelo vento
aberto ao céu. Durante o dia, um homem poderia passar a cavalo por
ela e não notar, mas à noite as sombras transformaram-na em uma
caixa de veludo negro, apenas grande o suficiente para segurar uma
joia.
Gavin conhecera Alice no casamento de uma de suas irmãs.
Apesar dos Montgomery e os Valence serem vizinhos, raramente se
viam. O pai de Alice era um bêbado. Ele pouco se importava com suas
propriedades. Ele vivia, e forçava sua esposa e cinco filhas a viver, tão
mal como alguns servos. Foi por um senso de dever que Gavin assistiu
a um casamento lá, como representante de sua família, seus três
irmãos se recusaram a fazê-lo.
Nesse monte de esterco, de sujeira e negligência, Gavin a viu, sua
bela e inocente, Alice. No começo não podia acreditar que ela pertencia
a essa família de mulheres gordas e feias. Suas roupas eram dos
materiais mais ricos, suas maneiras delicadas e refinadas, e sua
beleza...
Sentou-se para olha-la, como vários dos outros rapazes fizeram.
Ela era perfeita, cabelos loiros, olhos azuis, uma pequena boca que ele
faria sorrir a qualquer custo. A partir deste momento, sem sequer falar
com ela, se apaixonou. Mais tarde, ele teve que abrir caminho a
cotoveladas através dos homens para chegar ao seu lado. Sua
violência pareceu chocar Alice e seus olhos abaixados, sua voz suave o
hipnotizou ainda mais. Ela era tão tímida, tão reticente que mal
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conseguia responder às suas perguntas. Alice era tudo e muito mais
do que podia esperar, virginal e ainda feminina.
Naquela noite, pediu que se casasse com ele. Ela lhe deu um
olhar assustado, e por um momento seus olhos eram como safiras.
Então abaixou a cabeça e murmurou algo sobre a necessidade de
perguntar ao pai.
No dia seguinte, Gavin apareceu diante do bêbado para pedir a
mão de Alice, mas o homem disse algumas asneiras, algo como: a mãe
precisava da moça. Suas palavras soaram estranhamente instáveis,
como se repetindo um discurso aprendido de memória. Nada do que
Gavin lhe disse o fez mudar de ideia.
Gavin saiu em desgosto, furioso por ser impedido de ter a mulher
que queria. Não tinha ido muito longe quando a viu. Seu cabelo estava
descoberto sob o sol poente, o que a fazia resplandecer, e o rico veludo
azul de seu vestido refletia na cor de seus olhos. Estava ansiosa para
saber qual foi à resposta de seu pai. Gavin lhe comunicou furioso,
então viu suas lágrimas. Alice tentou escondê-las, mas ele podia senti-
las, bem como vê-las. Em segundos, ele desmontou e tirou-a de seu
cavalo. Ele não se lembrava de como isso aconteceu. Um minuto, ele a
estava confortando. O seguinte, eles estavam aqui, neste lugar secreto,
suas roupas removidas e na agonia da paixão. Ele não sabia se deveria
se desculpar ou se alegrar. A doce e inocente Alice, não era uma serva
que poderia se deitar no feno, mas uma dama, que um dia seria sua
esposa. Além disso, uma virgem. Disso ele tinha certeza quando viu
duas gotas de sangue em suas coxas magras.
Dois anos! Há dois anos atrás. Se ele não tivesse passado a maior
parte do tempo na Escócia, patrulhando as fronteiras, ele teria exigido
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que o pai dela lhe desse sua mão em casamento. Agora que ele voltou,
planejou fazer exatamente isso. Na verdade, se necessário, iria ao rei
com sua súplica. Valence não era razoável. Alice contou a Gavin suas
conversas com seu pai, implorando e suplicando por ele, mas sem
sucesso. Uma vez, mostrou a ele uma contusão que recebeu por sua
insistência em favor de Gavin. O jovem esteve prestes a enlouquecer.
Desembainhou sua espada e teria ido atrás do homem se Alice não
tivesse se agarrado a ele, com lágrimas nos olhos, e implorasse, por
favor, para não prejudicar seu pai. Ele nada poderia recusar a visão de
suas lágrimas, portanto, embainhou sua espada e prometeu que iria
esperar. Alice assegurou-lhe que o pai acabaria por ver a razão.
Assim, eles continuaram a se encontrar secretamente, como
crianças desobedientes, uma situação que desgostava Gavin. No
entanto, Alice pediu-lhe para não falar com seu pai, assegurando que
ela iria persuadi-lo.
Gavin mudou de posição e escutou novamente. Ainda havia
apenas silêncio. Esta manhã ouviu que Alice casaria com Edmund
Chatworth, aquele pedaço de alga marinha. Chatworth pagava grandes
somas, taxas enormes ao rei para que não fosse chamado a lutar em
qualquer guerra. “Ele não é um homem” pensou Gavin. Chatworth não
merecia o título de conde. Pensar em Alice casada com alguém como
ele estava além da imaginação.
De repente todos os sentidos de Gavin ficaram em alerta quando
ouviu os sons abafados de cascos do cavalo sobre a humidade do solo.
Ele estava ao lado de Alice instantaneamente e ela caiu em seus
braços.
— Gavin — sussurrou — meu doce Gavin.
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Ela se agarrou a ele, quase como se estivesse aterrorizada. O
jovem tentou puxá-la para que pudesse ver seu rosto, mas ela o
segurou com tanto desespero que ele não ousou separa-la de si.
Sentiu a umidade de suas lágrimas em seu pescoço e toda a raiva que
sentira durante o dia o deixou. Segurou-a perto dele, murmurando
palavras de carinho em sua pequena orelha, acariciando seus cabelos.
— O que acontece? Diga-me, o que é que te magoou tanto?
Ela se afastou para poder olhar para ele, segura no conhecimento
de que a noite não poderia trair a falta de vermelhidão em seus olhos.
— É terrível — Alice sussurrou roucamente. — É demais para
suportar.
Gavin ficou um pouco tenso quando se lembrou do que tinha
ouvido sobre seu casamento.
— É verdade, então?
Ela chorou delicadamente, tocou um dedo no canto do olho e
olhou para ele através de seus cílios.
— Meu pai não pôde ser persuadido. Até recusei-me a comer para
fazê-lo mudar de ideia, mas ele fez uma das mulheres... Não, eu não
vou te dizer o que eles fizeram para mim. Ele disse que... Oh, Gavin,
eu não posso repetir as coisas que ele me disse.
Ela sentiu Gavin enrijecer.
— Vou até ele e...
— Não! — Alice disse quase freneticamente, suas mãos apertando
seus braços musculosos. — Você não pode! Eu quero dizer... — Ela
abaixou os braços e os cílios. — Quero dizer, já está feito, o contrato
foi assinado e testemunhado, não há nada que alguém possa fazer
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agora. Se meu pai cancelar, ele ainda teria que pagar meu dote a
Chatworth.
— Eu vou pagá-lo — disse Gavin, com dureza.
Alice deu-lhe um olhar de surpresa, então mais lágrimas se
juntaram em seus olhos.
— Não importa, meu pai não vai permitir que eu me case com
você, já o sabe... Oh, Gavin, o que devo fazer? Eu vou me casar com
um homem que não amo. — Ela olhou para ele com tanto desespero
que Gavin a apertou contra si. — Como posso suportar perder você,
meu amor? — Ela sussurrou contra seu pescoço. — Você é minha
carne e meu sangue, sol e noite. Eu vou morrer, vou morrer se te
perder.
— Não diga isso! Como poderá me perder? Sabe que eu sinto o
mesmo por você.
Ela se afastou para olhar para ele, de repente mais feliz.
— Então você me ama, verdadeiramente me ama, de modo que se
nosso amor for testado, eu ainda estarei segura de você?
Gavin franziu o cenho.
— Testado?
Alice sorriu através de suas lágrimas.
— Mesmo se eu me casar com Edmund, você ainda vai me amar?
— Casar! — Ele quase gritou enquanto a empurrava para longe
dele. — Você pretende se casar com esse homem?
— Eu tenho uma escolha?
Eles ficaram em silêncio, Gavin olhando para ela, Alice com os
olhos baixos.
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— Eu irei então, desaparecerei de sua vista. Você não precisa
olhar para mim novamente.
Estava preparando-se para montar no cavalo quando ele reagiu.
Agarrou-a com força, puxando sua boca para a dele até que a
machucou. Não havia palavras, não eram necessárias. Seus corpos se
entenderam mesmo que não pudessem concordar. A moça tímida
tinha desaparecido. Em seu lugar estava a Alice apaixonada que Gavin
tinha gostado de conhecer tão bem. Suas mãos rasgaram
freneticamente as roupas até que elas rapidamente estivessem
empilhadas no chão.
Ela riu ao vê-lo nu diante de si. Seu corpo era musculoso devido
aos muitos anos de treinamento. Ele era facilmente uma cabeça mais
alto que Alice, que muitas vezes se elevava sobre os homens. Seus
ombros eram largos, seu peito poderosamente grosso. No entanto, seu
corpo era magro, o ventre plano com músculos divididos em cadeias.
Destacava-se as coxas e panturrilhas, fortalecidos pelo uso frequente
da armadura pesada.
Alice deu um passo para trás e respirou entre os dentes,
devorando-o com os olhos. As mãos dele a alcançaram como se fossem
garras.
Gavin puxou-a para si, beijou a pequena boca que se abriu
amplamente por baixo da sua, fundindo-se as línguas. Ele puxou-a
para perto, a sensação de seu vestido contra a pele nua excitava-a.
Seus lábios se moveram para sua bochecha, depois para seu pescoço.
Com a noite toda ainda pela frente, ele tinha a intenção de passa-
la inteira fazendo-lhe amor.
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— Não! — Alice disse impacientemente enquanto se afastava
bruscamente. Ela afastou o manto de seus ombros, descuidada do
caro tecido. Afastou as mãos de Gavin da fivela do cinto. — Você é
muito lento, — declarou sem rodeios.
Gavin franziu a testa por um momento, mas à medida que as
camadas de roupas femininas foram jogadas no chão, seus sentidos
assumiram. Ela estava ansiosa por ele, como ele por ela. Assim, que
importava se não queria perder tempo para unir pele com pele?
Gavin teria gostado de saborear o corpo esbelto de Alice por um
tempo, mas ela o puxou rapidamente para o chão, sua mão guiando-o
imediatamente para dentro dela. Então ele parou de pensar sobre os
preliminares jogos de amor ou beijos lentos. Alice estava debaixo dele,
instigando-o. A voz dela era áspera enquanto dirigia seu corpo, com as
mãos nos seus quadris, o empurrava cada vez com mais força. Gavin,
no entanto, estava preocupado que ele iria machucá-la, mas ela
parecia se glorificar na força dele.
— Agora! Agora! — Exigia debaixo dele, emitiu um som baixo e
gutural de triunfo quando ele obedeceu.
Imediatamente ela se moveu afastando-se para longe dele. Havia-
lhe dito repetidamente que o fazia porque não conseguia conciliar a
paixão que guerreava com sua condição de solteira. No entanto, ele
teria gostado de tê-la abraçado mais, desfrutado mais de seu corpo,
até talvez feito amor com ela novamente. Seria um amor lento desta
vez, agora que o fogo da primeira paixão foi extinto. Gavin tentou
ignorar o sentimento de vazio dentro de si, como se tivesse acabado de
provar algo, mas ainda não estava saciado.
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— Tenho que ir embora — disse ela, sentando-se e começando o
intrincado processo de vestir-se.
Ele gostava de ver suas pernas magras enquanto ela enfiava as
meias leves de linho. Pelo menos observá-la ajudou a dissipar um
pouco do vazio. Inesperadamente, se lembrou de que em breve outro
homem teria o direito de tocá-la. De repente, quis machucá-la como
ela o machucava.
— Eu também tenho uma oferta de casamento.
Alice parou instantaneamente, sua mão na meia e observou-o,
esperando por mais.
— A filha de Robert Revedoune.
— Ele não tem filhas, apenas filhos, ambos casados — disse Alice
instantaneamente.
Revedoune era um dos condes do rei, um homem cujas
propriedades faziam com que as de Edmund parecessem um terreno
de servos. Levou um tempo, mas Alice usou os dois anos passados por
Gavin na Escócia para averiguar e descobrir a história de todos os
condes, de todos os homens mais ricos da Inglaterra, antes de decidir
que Edmund era a captura mais provável.
— Você não ouviu que os dois filhos morreram faz dois meses de
uma terrível doença?
Ela olhou para ele.
— Mas nunca soube que tinha uma filha.
— Uma moça chamada Judith, mais nova do que seus irmãos,
ouvi dizer que ela foi preparada por sua mãe para a igreja, e que a
moça é mantida enclausurada na casa de seu pai.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 26
— E lhe foi oferecida essa Judith em matrimonio? Mas ela seria a
herdeira de seu pai, uma mulher rica. Por que haveria de oferecê-la
a...? — Ela parou, lembrando-se de esconder seus pensamentos de
Gavin.
Ele virou o rosto, e ela podia ver os músculos em sua mandíbula
contraídos, o luar brilhando em seu peito nu, ainda levemente coberto
de suor pelo ato amor.
— Por que ele ofereceria esse prêmio a um Montgomery? — Gavin
terminou para ela, sua voz fria. Em outros tempos a família
Montgomery tinha sido rica o suficiente para atrair a inveja do rei
Henrique IV. Henry declarou a família inteira traidores e então
começou a destruir a poderosa família. Ele foi tão bem-sucedido, que
só agora, cem anos mais tarde, a família estava começando a
recuperar parte do que havia perdido. Mas as lembranças da família
Montgomery estavam intactas, e nenhuma delas se importava de ser
lembrada do que haviam sido uma vez.
— Pelos braços de meus irmãos e o meu também, — disse Gavin
depois de um tempo. - As terras Revedoune fazem fronteira com a
nossa, ao norte, e ele tem medo dos escoceses. Percebeu que suas
terras serão protegidas se ele se alia a minha família Um dos
trovadores da Corte ouviu dizer que os Montgomery, pelo menos,
produzem varões que sobrevivem, por isso, parece, que sou uma boa
oferta para sua filha, para que conceba filhos varões.
Alice estava quase vestida agora. Ela olhou para ele.
— O título passará pela filha, não é? Seu filho mais velho seria
um conde, e você quando Revedoune morrer.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 27
Gavin se virou abruptamente. Ele não tinha pensado nisso, nem
se preocupou com isso. Era estranho que para Alice, que se importava
tão pouco com bens mundanos, ocorrera justamente pensar primeiro
nisso.
— Então você vai casar com ela? — Alice perguntou, em pé ante
ele, observando enquanto às pressas começava a vestir as roupas.
— Não tomei uma decisão, a oferta só veio há dois dias, e então
pensei...
— Você viu ela? — Alice interrompeu.
— Quem? A herdeira?
Alice apertou os dentes. Os homens podiam ser tão insuportáveis
às vezes. Ela se recuperou.
— Ela é linda, eu sei — Alice disse em lágrimas. — E quando você
se casar com ela, nunca se lembrará de mim.
Gavin levantou-se rapidamente. Ele não sabia se estava zangado
ou não. A mulher falava de seus casamentos com outras pessoas como
se não fizessem nenhuma diferença em seu relacionamento.
— Eu não a vi — ele disse calmamente em voz baixa.
De repente, a noite estava se distanciando do que esperava. Ele
queria ouvir Alice negar a conversa de seu casamento, mas em vez
disso se viu falando da possibilidade de seu próprio casamento.
Desejava fugir. Fugir para longe das complexidades das mulheres e de
volta à solidez e lógica de seus irmãos.
— Eu não sei o que vai acontecer.
Alice franziu o cenho quando ele tomou seu braço e a levou para
o cavalo.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 28
— Eu te amo, Gavin — ela disse rapidamente. — Aconteça o que
acontecer sempre te amarei, sempre vou te querer.
Ele rapidamente a ergueu na sela.
— Você deve retornar antes que alguém descubra sua ausência.
Nós não gostaríamos que uma história como essa possa chegar ao
bravo e nobre Chatworth, não é?
— Você é cruel, Gavin, — ela disse, mas não havia nenhum som
de lágrimas em sua voz. — Será que vou ser punida pelo que está fora
das minhas mãos, pelo que não posso controlar?
Ele não tinha resposta.
Alice inclinou-se para frente e o beijou, mas sabia que sua mente
estava em outro lugar e isso a assustou. Ela puxou bruscamente as
rédeas e galopou para longe.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 29
Capítulo Dois Já era muito tarde quando Gavin se aproximou do castelo
Montgomery. Apesar de todos os seus bens lhes terem sido roubados
por um rei ambicioso, estas muralhas continuavam sendo deles. Por
mais de quatrocentos anos habitava ali um Montgomery: desde que
William tinha conquistado a Inglaterra, trazendo consigo a família
normanda, já rica e poderosa.
Ao longo dos séculos, o castelo tinha sofrido ampliações, reforços
e renovações, até que suas muralhas, de quatro metros de largura,
cercavam mais de três hectares. Dentro, a terra foi dividida em duas
partes: a muralha exterior e o interior. A muralha exterior e sua
cidadela abrigavam os servos, os cavaleiros da guarnição e todas as
centenas de pessoas e animais necessários para manter o castelo.
Também abrigava e protegia a muralha interior, onde ficavam as casas
dos quatro irmãos Montgomery e seus servos privados. Todo o
complexo estava situado no topo de uma colina, apoiado contra um
rio. Nenhuma árvore era permitida crescer dentro de meia milha do
castelo: qualquer inimigo teria que se aproximar ao ar livre.
Durante quatro séculos, os Montgomery tinham defendido a
fortaleza contra um rei avarento e guerras privadas entre os senhores
feudais. Foi com orgulho que Gavin olhou para as iminentes muralhas
que eram sua casa. Conduziu seu cavalo em direção ao rio, em
seguida desmontou para leva-lo pela brida através da estreita
passagem do rio. Além do enorme portão principal, que era a única
entrada. O portão principal estava coberto por uma grade terminada
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 30
em lanças, que podia ser levantada ou baixada por meio de cordas.
Àquela hora da noite, os guardas teriam de acordar cinco homens para
levantá-la. Assim, Gavin foi até a estreita entrada escondida, a cerca
de quatrocentos metros da muralha e com dois metros e meio de
altura, o topo das paredes guardado por homens que andavam de um
lado para o outro durante toda a noite. Gavin acenou para os guardas
quando sua presença foi notada. Nenhum homem que valorizava sua
vida dormia enquanto estava de serviço.
Durante o reinado do rei Henrique VII, o atual rei, a maioria dos
castelos caíram em declínio. Quando tomou o trono, dezesseis anos
atrás em 1485, Henry VII proibiu então os exércitos privados e colocou
a pólvora sob o controle do governo. Como os barões não podiam mais
fazer guerras privadas com fins lucrativos, viram suas fortunas
diminuírem. Os castelos eram onerosos de manter, e um após o outro
as grossas muralhas foram sendo abandonadas para o conforto e a
conveniência de uma casa senhorial.
Mas havia aqueles que, através de uma boa gestão e trabalho
árduo, ainda mantinham o uso das poderosas estruturas antigas.
Entre eles, os Montgomery, respeitados em toda a Inglaterra. O pai de
Gavin havia construído uma forte e confortável casa senhorial para
seus cinco filhos, mas no interior das muralhas do castelo.
Uma vez dentro da muralha, Gavin viu que havia muita
atividade.
— O que aconteceu? — Perguntou ao cavalariço que levava seu
cavalo.
— Os mestres acabam de retornar de um incêndio na aldeia.
— Grave?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 31
— Não, Milorde, só algumas casas dos comerciantes. Não havia
necessidade dos amos se preocuparem. — O garoto deu de ombros,
como se dissesse que não havia nenhuma maneira de compreender os
nobres.
Gavin o deixou e entrou na mansão, construída contra a velha
torre de pedra que agora era usado apenas como um depósito. Os
quatro irmãos varões preferiram o conforto da casa grande. Vários
cavaleiros estavam se ajeitando para dormir e Gavin cumprimentou
alguns deles enquanto subia apressadamente a escada de carvalho até
seu próprio quarto no segundo andar.
— Aqui está o nosso irmão desobediente. — Raine comentou
alegremente. — Você pode acreditar Miles, que passa suas noites
cavalgando pelo campo, sem levar em conta suas responsabilidades?
Se nós agíssemos à sua maneira, meia vila teria queimado até o chão.
Raine era o terceiro dos irmãos Montgomery, o mais baixo e mais
musculoso dos quatro, um homem poderoso. Sua aparência seria
formidável no campo de batalha e era com certeza, mas seus olhos
azuis estavam sempre dançando em sorrisos e as bochechas marcadas
com covinhas profundas.
Gavin olhou para os irmãos mais novos, mas não sorriu.
Miles, com as roupas enegrecidas de fuligem, derramou vinho em
um copo e ofereceu-o a Gavin.
— Você recebeu más notícias?
Miles era o irmão mais novo, um homem sério com olhos
cinzentos penetrantes que não perdiam nada. Seu sorriso raramente
era visto.
Raine ficou sério imediatamente.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 32
— Alguma coisa errada?
Gavin tomou o vinho e afundou pesadamente em uma cadeira de
nogueira esculpida, em frente ao fogo A sala onde estavam, era
espaçosa, o piso de carvalho era coberto em parte por tapetes
orientais. As paredes decoradas com tapeçarias de lã com cenas de
caça ou das Cruzadas. O teto era de madeira pesada, arqueada, tanto
decorativa quanto funcional. O gesso branco enchia a abertura entre
as vigas. O mobiliário escuro, de intrincados entalhes, terminou por
dar uma aparência masculina. No extremo sul se via uma janela com
sacada de boa profundidade, com assentos vermelhos. O vidro nos
caixilhos das janelas era da França.
Os três irmãos estavam vestidos com roupas simples e escuras.
Camisas de linho, levemente franzida no pescoço e ajustadas ao corpo;
longos casacos de lã que lhe chegavam às coxas e um casaco pesado,
curto de mangas compridas que passava por cima de um gibão. As
pernas dos homens estavam envoltas em calças de lã escuras, bem
ajustados as enormes protuberâncias de músculos grossos. Gavin
usava pesadas botas de cano alto até os joelhos, uma espada no
quadril, e um cinturão incrustado de pedras preciosas.
Bebeu um longo gole do vinho, depois olhou silenciosamente
enquanto Miles tornava a encher o copo. Ele não podia compartilhar
sua infelicidade com Alice, mesmo com seus irmãos.
Quando Gavin não falou, Miles e Raine trocaram olhares. Sabiam
onde Gavin estivera e poderiam adivinhar que notícia lhe havia dado
um ar de desgraça. Algum tempo atrás, Raine fora apresentado a
Alice, devido a discreta insistência de Gavin, viu nela uma frieza que
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 33
não gostou. Mas para o moço enfeitiçado, ela era a mulher perfeita.
Apesar de seus pontos de vista, Raine sentia pena dele.
Miles não. Não o comovia o menor vestígio de amor por uma
mulher. Para ele eram todas iguais e serviam para a mesma finalidade.
— Robert Revedoune enviou outro mensageiro hoje. — Miles
interrompeu o silêncio. — Acho que ele está preocupado que, se sua
filha não conceber um filho em breve, ela poderá morrer e deixá-lo sem
nenhum herdeiro.
— Ela está doente? — Raine perguntou. Ele era o humanitário
dos irmãos, sempre preocupado, fosse com uma égua machucada ou
um servo doente.
— Não ouvi dizer, — respondeu Miles. — O homem está louco de
dor pela perda de seus filhos e diz que tem apenas uma filha
insignificante. Comenta-se que castiga regularmente sua esposa por
não lhe dar mais filhos varões.
Raine franziu o cenho por cima de sua taça de vinho. Ele não
gostava que punissem as mulheres.
— Você vai lhe dar a resposta? — Miles pressionou, uma vez que
Gavin não estava respondendo.
— Que um de vocês dois a tome por esposa, — propôs Gavin. —
Façam com que Stephen retorne da Escócia. Ou você Raine, precisa de
uma esposa.
— Revedoune só quer o filho mais velho, — Raine respondeu,
sorrindo. — Caso contrário, me declararia mais do que disposto.
— Por que tanta resistência? — Miles disse com raiva. — Você já
tem vinte e sete anos e precisa se casar. Judith Revedoune é rica. Vai
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 34
lhe trazer um condado. Talvez graças a ela, os Montgomery comecem a
recuperar o que já tivemos.
Alice estava perdida para ele e quanto mais cedo enfrentasse,
mais cedo poderia começar a se curar, Gavin então decidiu.
— Está bem, eu concordo com o casamento.
Imediatamente, Raine e Miles soltaram a respiração que não
tinham percebido que estavam retendo.
Miles baixou sua taça.
— Eu pedi ao mensageiro para ficar, contava com a sua resposta.
Quando Miles saiu da sala, o senso de humor de Raine se impôs.
— Ouvi dizer que ela é tão alta e gorda que não levanta isso do
solo, - indicou colocando a mão em volta da cintura - e que tem dentes
do tamanho dos de um cavalo, além disso...
A velha torre era cheia de correntes de ar, o vento assobiava pelas
fendas. O papel oleado sobre as janelas fazia pouco para manter fora o
frio.
Alice dormia confortavelmente, nua sob uma coberta de linho e
um travesseiro de pena ganso.
— Minha lady. — sussurrou Ella a sua ama. — Ele está aqui.
Sonolenta, Alice se virou.
— Como ousa me acordar? — Ela disse em um sussurro feroz. —
Quem está aqui?
— O homem da casa Revedoune.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 35
— Revedoune! — Alice disse enquanto se sentava completamente
acordada agora. — Traga-me o meu manto e mande o homem para
mim.
— Aqui? — Ella ficou horrorizada. — Não, minha lady, não pode.
Alguém poderia ouvi-lo.
— Sim. — Alice disse distraidamente. — É um risco muito
grande, deixe-me vestir, vou encontrá-lo debaixo do olmo, junto à
horta.
— À noite? Mas...
— Vá agora, diga que estarei lá em breve.
Alice rapidamente enfiou seus braços em um manto de veludo
carmesim grosso forrado com pele de esquilo cinzento. Ela enrolou um
cinto largo sobre sua cintura e deslizou seus pés em sapatos de couro
macio tingidos de ouro.
Havia quase um mês desde que vira Gavin, e durante todo esse
tempo ela não tinha recebido nenhuma palavra dele. Mas, alguns dias
depois do encontro no bosque soube que ia se casar com a herdeira
Revedoune. Em todo o país estava sendo anunciado um torneio para
celebrar a boda. Todos os homens importantes estavam recebendo
convites, todo cavaleiro com habilidade foi instado a participar. Com
cada noticia, Alice sentia aumentar o seu ciúme. Quanto teria gostado
de sentar ao lado de um marido como Gavin para testemunhar um
torneio organizado para celebrar suas próprias núpcias! Mas seu
casamento aconteceria sem tais celebrações.
No entanto, por tudo o que ouviu dos planos, em lugar nenhum
encontrou alguém que poderia dizer uma palavra sobre Judith
Revedoune. A moça era um nome sem rosto e sem corpo. Duas
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 36
semanas atrás, Alice tinha concebido a ideia de contratar um espião
que fizesse averiguações sobre essa esquiva Judith, queria saber como
era e com o que ela era forçada a competir. Ella tinha ordens para
alertar sobre a chegada desse homem, sem importar a hora.
O coração de Alice estava batendo rapidamente enquanto corria
pelo caminho do jardim de ervas. Esta Judith era um sapo absoluto,
Alice disse a si mesma. Ela tinha que ser.
— Ah, minha senhora, — disse o espião quando Alice estava
perto. — Sua beleza ofusca o brilho a lua. — Ele agarrou sua mão e
beijou-a.
Aquele homem lhe dava nojo, mas era o único homem que
conseguira encontrar e que tinha acesso à família Revedoune. O preço
que ela teve que pagar era ultrajante! Era um homem viscoso, oleoso,
mas pelo menos era bom fazendo amor. Talvez como ninguém.
— Quais são as notícias? — Perguntou, impaciente, enquanto lhe
retirava a mão. — Você a viu?
— Não... De perto, não...
— Você a viu ou não? — Alice exigiu, olhando diretamente em
seus olhos.
— Sim, eu a vi. — ele respondeu firmemente. — Mas ela está
muito protegida.
Queria agradar a essa beleza loira, então sabia que devia
esconder a verdade. Tinha visto Judith Revedoune, mas só de longe,
enquanto se afastava da mansão montada a cavalo, cercada por suas
damas de companhia. Nem sequer tinha a certeza de qual era a
herdeira.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 37
— Por que ela é mantida guardada? Sua mente não é sã, por isso
não a deixam andar livremente?
De repente, ele teve medo daquela mulher que o interrogava tão
agudamente. Havia poder naqueles olhos azuis frios.
— Há rumores, é claro, ela não é vista por ninguém, exceto suas
damas e sua mãe, viveu sua vida entre elas e foi preparada para a
igreja.
— A Igreja? — Alice começou a sentir que parte da tensão a
deixava.
Era do conhecimento geral que sempre que uma filha deformada
ou retardada nascesse, se a família fosse rica o suficiente, era-lhe
concedida uma pensão e dada aos cuidados das freiras.
— Então você acha que ela poderia ter uma mente fraca ou ser
deformada de alguma maneira?
— Por qual outro motivo haveriam de mantê-la tão oculta,
senhora? Robert Revedoune é um homem duro. Sua esposa ainda
manca desde que ele a jogou das escadas. Com certeza não ia querer
que o mundo visse uma filha monstruosa.
— Mas você não tem certeza de que essa é a razão pela qual ela
está escondida?
Ele sorriu, sentindo-se mais seguro.
— Que outra razão poderia haver? Se ela fosse sã e completa, ele
não iria mostra-la para o mundo? Só a ofereceu em casamento depois
de ser forçado a fazê-lo devido à morte de seus filhos, não foi?
Permitiria que sua única filha entrasse na igreja? Só quando um
homem tem muitas filhas permite isso.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 38
Alice estava olhando fixamente para a noite. Seu silêncio fez o
homem ficar mais ousado. Ele se inclinou para perto dela, colocou sua
mão sobre a dela e sussurrou em seu ouvido.
— Você não tem razão para temer, milady, não haverá noiva linda
para tirar você da cabeça de Lorde Gavin.
Apenas a ingestão aguda da respiração de Alice bruscamente,
deu indicação de que ela tivesse ouvido. Até o mais comum dos
homens sabia sobre ela e Gavin? Com a habilidade de uma grande
atriz, ela se virou e sorriu para o homem.
— Você fez um bom trabalho e será... devidamente
recompensado.
Ela não deixou dúvida quanto ao significado de suas palavras.
Ele se curvou e beijou seu pescoço. Alice se afastou, escondendo sua
repulsa.
— Não, não esta noite, — ela sussurrou intimamente. —
Amanhã, deve ser feitos arranjos para que possamos passar mais
tempo juntos. Ela passou a mão sob o tabardo solto, ao longo da parte
superior de sua coxa, e sorriu sedutoramente quando sua respiração
ficou presa. — Tenho que ir embora. — disse ela com aparente
relutância.
Não havia nem sinal de sorriso em seu rosto quando estava de
costas para ele. Ela tinha mais uma diligencia para fazer antes de
voltar para a cama. O cavalariço ficaria feliz em ajudá-la. Ela não
permitiria que nenhum homem falasse livremente de Gavin e dela... e
este pagaria por suas palavras.
— Bom dia, pai. — Disse Alice, alegremente, enquanto se
inclinava para roçar os lábios contra a bochecha do velho nodoso e
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 39
imundo. Eles estavam no segundo andar da torre, que era uma única
sala aberta. Este era o grande salão: um quarto que os servos
utilizavam para comer e dormir, e todas as atividades diárias. Olhou
para o copo vazio de seu pai.
— Aqui você! — Disse ela bruscamente a um criado que passava.
— Traga mais cerveja para meu pai.
Nicolas Valence pegou a mão de sua filha entre as dele e olhou
para ela com gratidão.
— Você é a única que se importa comigo, minha linda Alice, todas
as outras, sua mãe e suas irmãs tentam me impedir de beber, mas
você entende como isso me conforta.
Ela se afastou dele, escondendo a sensação ao seu toque.
— Mas é claro, querido pai. Isso é porque eu te amo. — Ela sorriu
docemente para ele.
Depois de todos esses anos, Nicolas ainda se admirava de que ele
e sua esposa feia pudessem ter criado uma garota tão adorável. A
pálida beleza de Alice contrastava fortemente com sua própria
escuridão. E quando as outras o rejeitavam e escondiam seu licor,
Alice conseguia e lhe entregava uma garrafa. Era verdade, ela o
amava. E ele também a amava. Acaso não lhe dava roupas com as
poucas moedas que tinha? Sua adorável Alice usava seda, enquanto
suas irmãs usavam tecidos caseiros. Teria feito qualquer coisa por ela.
Por acaso não havia negado sua mão a Gavin Montgomery, seguindo
as orientações de Alice? Claro que Nicolas não entendia por que uma
jovem não queria casar com um homem tão forte e rico como Gavin.
Mas Alice tinha razão. Ele pegou seu copo, que agora estava cheio e
drenou-o. Ela tinha razão, agora iria casar com um conde. Claro que
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 40
Edmund Chatworth não era nada parecido com um daqueles
Montgomery bonitos, mas Alice sempre soube o que era melhor.
— Pai, — Alice disse sorrindo, — eu gostaria de te pedir um favor.
Ele bebeu ainda um terceiro copo de cerveja. Às vezes os favores
de Alice não eram fáceis de serem concedidos. Ele mudou de assunto.
— Você sabia que um homem caiu da parede ontem à noite? Um
estranho, ninguém sabe de onde ele veio.
A expressão de Alice mudou. Agora o espião não contaria a
ninguém de Gavin, ou que ela perguntou sobre a herdeira Revedoune.
Rapidamente descartou o pensamento. A morte do homem não
significava nada para ela.
— Quero ir ao casamento da mulher Revedoune com Gavin.
— Quer um convite para o casamento da filha de um conde? —
Nicolas estava incrédulo.
— Sim.
— É que não posso! O que você quer de mim?
Desta vez Alice rejeitou o servo e encheu o copo de seu pai com
suas próprias mãos.
— Eu tenho um plano. — disse imediatamente com seu sorriso
doce.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 41
Capítulo Três O fogo subia pela parede de pedra e devorava o primeiro andar da
loja, construída em madeira. O ar estava cheio de fumaça, homens e
mulheres que estavam na fila passando baldes de água já estavam
negros. Somente olhos e dentes permaneciam brancos.
Gavin, nu da cintura para cima, usava vigorosamente o longo
machado para destruir a loja vizinha, já incendiada. O vigor com que
trabalhava não traía o fato de que tinha trabalhado assim por dois
dias.
A cidade onde o edifício queimava e onde havia três outros
reduzidos a cinzas lhe pertencia. A circundava muralhas de três
metros e meio, que desciam pela colina do grande castelo Montgomery.
Seus impostos constituíam parte do sustento dos irmãos; em
contrapartida, os cavaleiros protegiam e defendiam os seus habitantes.
— Gavin! — Raine berrou sobre o rugido das chamas. Ele
também estava sujo de fumaça e suor. — Desça daí e venha para fora!
O fogo está muito perto de você!
Gavin ignorou a advertência de seu irmão. Nem mesmo olhou
para a parede ardente e que ameaçava cair sobre ele. Suas
machadadas tornaram-se mais vigorosas, enquanto lutava para
derrubar a madeira seca que revestia a parede de pedra, de modo que
o homem que esperava abaixo poderia encharca-la de água.
Raine sabia que não adiantava gritar com Gavin. Fez um sinal
cansaço para os homens exaustos que o acompanhavam para
continuarem puxando a madeira da parede. Estava exausto, ainda que
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 42
houvesse dormido quatro horas. Quatro a mais do que Gavin. Sabia
por experiência que enquanto um centímetro quadrado da propriedade
de Gavin estivesse em perigo, seu irmão não iria dormir, nem se
permitiria descansar.
Raine permaneceu no solo, prendendo a respiração, enquanto
Gavin trabalhava ao lado da parede em chamas. Iria desabar a
qualquer momento. Só podia esperar que acabasse logo com a sua
tarefa e pudesse descer da escada para algum lugar seguro. Raine
murmurou todos os juramentos que conhecia, enquanto seu irmão
flertava com a morte. Os mercadores e os servos arquejaram quando a
parede de fogo tremeu de um lado para o outro. Raine pensou que
gostaria de forçar Gavin a descer da escada, mas sabia que sua força
não era maior do que a de seu irmão mais velho.
De repente, as madeiras caíram dentro dos muros de pedra.
Gavin imediatamente se jogou pela escada. Assim que Gavin tocou o
chão, Raine se atirou contra seu irmão, para derrubá-lo, jogando-o
longe da cortina de fogo.
— Maldito seja, Raine! — Gavin uivou junto ao ouvido de Raine,
esmagado sob seu peso. — Você está me sufocando. Afaste-se!
Raine estava muito acostumado com Gavin para se ofender. Ele
se levantou lentamente, seus músculos doendo do trabalho dos
últimos dias.
— Então é assim que me agradece por salvar sua vida? Por que
diabo ficou entretido por tanto tempo lá em cima? Poucos segundos a
mais e você teria sido assado.
Gavin se levantou rapidamente, seu rosto enegrecido de fuligem,
virou-se para o edifício que acabara de sair. O fogo estava contido
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 43
dentro das paredes de pedra e não iria passar ao prédio vizinho.
Quando ficou convencido de que os edifícios estavam seguros, voltou-
se para o irmão.
— O que poderia fazer? Deixar que tudo pegasse fogo? —
Perguntou enquanto flexionava seu ombro. Estava raspado e
sangrando onde Raine o tinha derrapado através do cascalho e
detritos. — Se o fogo não tivesse sido interrompido, eu poderia não ter
uma cidade à esquerda.
Os olhos de Raine brilharam.
— Preferia perder cem prédios a você.
Gavin sorriu. Seus dentes brancos brilharam contra a escuridão
de seu rosto sujo.
— Obrigado, — ele disse calmamente. — Mas eu acho que prefiro
perder um pouco de pele a outro prédio.
Ele se virou e foi dirigir os homens no resfriamento da estrutura
dos edifícios vizinhos as construções demolidas.
Raine encolheu os ombros e optou por sair. Gavin era o dono dos
imóveis da família desde que tinha dezesseis anos e levava muito a
sério suas responsabilidades. O que era dele, era dele, e lutaria até a
morte para mantê-los. No entanto, mesmo o servo mais indigno e o
pior dos ladrões recebiam dele um tratamento justo, enquanto
residissem na propriedade Montgomery.
Tarde da noite, Gavin voltou para a mansão. Encaminhou-se até
a sala de inverno, ao lado do grande salão que servia como sala de
jantar da família. O chão estava coberto de tapetes grossos de
Antioquia. Aquela sala era uma adição recente, coberta por um novo
tipo de esculturas em madeira de nogueira que pareciam ondular e
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 44
sair da tela. Uma extremidade foi ocupada por uma enorme lareira. Na
borda de pedra apareciam esculpidos os leopardos heráldicos da
família Montgomery.
Raine já estava ali, limpo e vestido de lã preta, uma enorme
bandeja de prata à sua frente, cheia de carne de porco assada,
pedaços de pão quente, maçãs secas e pêssegos. Pensava em comer
até a última migalha. Ele grunhiu e apontou para uma grande
banheira de madeira cheia de água quente fumegante colocada diante
de uma lareira.
A fadiga estava vencendo Gavin, que retirou as calças, a botas e
entrou na tina. A água causou um efeito desagradável em suas bolhas
e escoriações recentes. Uma jovem criada surgiu das sombras e
começou a lavar as costas de Gavin.
— Onde está Miles? — Raine disse entre bocados.
— Mandei-o para a casa de Revedoune, ele me lembrou que o
compromisso deveria ser concretizado hoje. Foi em meu nome como
procurador. — Gavin inclinou-se para frente, deixando a menina lavá-
lo. Ele não olhou para seu irmão.
Raine quase engasgou com um pedaço de carne de porco.
— O que você fez?
Gavin olhou para cima, surpreso.
— Eu disse que enviei Miles como meu representante para o
compromisso com a herdeira Revedoune.
— Meu Deus, homem! Você não tem um pouco de senso comum?
Não pode enviar outra pessoa como se fosse comprar uma égua de
prêmio. Trata-se de uma mulher!
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 45
Gavin olhou fixamente para o irmão. A luz do fogo destacou as
covas profundas de suas bochechas, quando ele apertou os dentes.
— Estou ciente de que é uma mulher, se não fosse, não me veria
forçado a casar com ela.
— Forçado! Quem o está obrigando?
Raine recostou-se na cadeira, incrédulo. Era verdade que,
enquanto os três irmãos mais novos tinham viajado livremente pelo
país, visitando castelos e mansões na França e até na Terra Santa,
Gavin estava acorrentado a um livro contábil. Tinha vinte e sete anos e
há onze anos, - exceto pela recente revolta na Escócia, - que não
abandonava a sua herança. Gavin não sabia que seus irmãos
frequentemente faziam concessões pelo que consideravam sua
ignorância, uma vez que o primogênito não tinha se relacionado com
mulheres além das filhas das classes mais baixas.
— Gavin, — Raine começou pacientemente — Judith Revedoune
é uma dama, filha de um conde. Tem-lhe sido ensinado a esperar
certas coisas de você, como cortesia e respeito. Você deveria ter ido
pessoalmente dizer-lhe que quer se casar com ela.
Gavin estirou o braço para que a criada lhe passasse o pano
ensaboado. O corpete encharcado da moça agarrava-se a seus peitos
cheios. Ele olhou nos seus olhos e sorriu, sentindo os primeiros sinais
de desejo. Então voltou os olhos para Raine.
— Mas eu não quero me casar com ela, certamente não é tão
ignorante para pensar que estou casando por qualquer motivo além de
suas terras.
— Não pode lhe dizer isso! Deve fazer-lhe a corte e...
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 46
Gavin levantou-se da banheira e ficou em pé enquanto a criada
subia em um banquinho e derramava água quente sobre ele para
enxaguá-lo.
— Ela será minha. — disse sem rodeios. — Fará o que eu lhe
diga. Tenho visto muitas damas de linhagem e sei como são. Passam a
vida sentadas em seus quartos, costurando e fofocando, comendo
frutas com mel e engordam. São preguiçosas e estúpidas, têm tudo o
que querem. Sei como tratar a essas mulheres. Uma semana atrás eu
mandei trazer de Londres algumas tapeçarias flamengas, cenas bobas,
como ninfas brincando na floresta, para que não lhe assuste as cenas
de guerra. Vou pendurá-los em seu quarto, depois vou disponibilizar
todos os fios de seda e agulhas de prata que possa precisar. E estará
satisfeita.
Raine sentou-se em silêncio e pensou nas mulheres que
conhecera em suas viagens pelo país. A maioria delas era como a
descrição de Gavin, mas então, havia mulheres de inteligência e fogo
que eram quase como companheiras de seus maridos.
Gavin saiu da tina e pegou a toalha de algodão macia que a
criada lhe entregou.
— Não se intrometerá no que é meu. Fará o que eu lhe disser ou
vai se arrepender.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 47
Capítulo Quatro A luz do sol entrava em torrentes pelas janelas abertas e caia
obliquamente no chão coberto de juncos, misturados com minúsculos
grãos de poeira que brilhavam como partículas de ouro. Era um dia
perfeito de primavera, o primeiro de maio. O sol estava brilhando e no
ar flutuava aquela doçura que só a primavera podia trazer. A sala,
ampla e arejada, ocupava metade do quarto andar. Suas janelas
davam para o sul e deixavam entrar luz suficiente para aquecer o
ambiente. Este era simples, porque Robert Revedoune não gostava de
desperdiçar dinheiro em coisas que pareciam frívolas, tais como,
tapetes e tapeçarias.
Esta manhã, no entanto, o quarto não parecia tão grande. Cada
cadeira estava coberta com um respingo de cor. Havia roupas em
todos os lugares. Belas, exuberantes, luxuosos objetos brilhantes,
todas novas, todas faziam parte do dote de Judith Revedoune. Havia
sedas da Itália, veludos do Oriente, cashmeres de Veneza, algodões de
Trípoli. As joias piscavam por toda parte: em sapatos, cintos, arcos.
Havia esmeraldas, pérolas, rubis. E tudo foi colocado sobre um fundo
de peles: sabre, arminho, castor, esquilo, cordeiro preto encaracolado,
lince.
Judith sentou-se sozinha em meio a todo este esplendor, tão
silenciosamente que alguém que entrasse no quarto não a teria visto
exceto que sua figura ofuscava o brilho dos tecidos e joias. Seus pés
pequenos estavam envoltos em couro verde macio, forrado e bordado
com pele de doninha branca, com manchas pretas. Seu vestido
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 48
ajustava-se a seu corpo firmemente no corpete, as mangas compridas
drapejadas nos pulsos. A cintura era confortável, revelando sua
aparência esbelta. O decote quadrado exibia com vantagem os seios
cheios de Judith. Acima deles, um colar de pedras repousava
majestoso. A saia formava um sino que balançava suavemente quando
ela caminhava. O tecido era dourado, frágil e pesado, iridescente e
cintilante ao sol. Sua cintura estava cercada por um estreito cinto de
couro dourado, coberto de esmeraldas. Em sua testa havia uma fina
corrente de ouro, uma grande esmeralda suspensa no meio. Um
manto de tafetá verde-esmeralda abraçava seus ombros, totalmente
forrado com arminho.
Em outra mulher o brilho de seu vestido verde e dourado poderia
ter sido esmagadora. Mas Judith era mais bonita do que qualquer
vestido. Embora pequena, suas curvas tiravam o fôlego dos homens. O
cabelo loiro avermelhado caia até à cintura e terminava em cachos
abundantes. Mantinha o queixo alto e as mandíbulas fortemente
apertadas enquanto pensava nos eventos horríveis que viriam, os
lábios mantiveram-se macios e cheios. Mas o que chamava a atenção
eram os olhos. De um ouro rico e profundo que agarrava a luz do sol e
refletia-o sobre o dourado de seu vestido.
Virou a cabeça ligeiramente para olhar para o belo dia. Em
qualquer outro momento teria sentido desejo de cavalgar atravessando
prados floridos, mas naquele dia estava quieta, cuidando para não se
mover e não enrugar o vestido. No entanto, não era a sua roupa que a
manteve tão quieta, mas os pensamentos tristes. Este era o dia de seu
casamento, o dia que tanto temia e que acabaria com sua liberdade e a
felicidade que conhecia.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 49
De repente, a porta se abriu e as duas criadas entraram na
grande sala. Estavam ruborizadas porque vieram correndo da igreja,
onde foram dar uma primeira olhada ao noivo.
— Ah, Milady, — disse Maud. — É muito bonito! Alto, cabelos
pretos, olhos pretos e ombros deste tamanho - esticou os braços em
toda sua extensão, com um suspiro dramático. — Eu não entendo
como passou através das portas. Teve que fazê-lo de lado.
Seus olhos dançaram enquanto observava sua ama. Ela não
gostava de ver Judith tão infeliz.
— E ele anda assim. — Joan acrescentou. Jogou os ombros para
trás até as omoplatas quase ficarem juntas, e deu vários passos longos
e firmes em toda a sala.
— Sim. — disse Maud. — Ele é orgulhoso, tão orgulhoso quanto
todos aqueles homens de Montgomery, que agem como se fossem
donos do mundo.
— Gostaria que fosse assim. — Joan deu uma risadinha, depois
revirou os olhos para Maud, que se esforçou por não rir com ela.
Mas Maud estava mais interessada em sua ama, e apesar de
todas as suas brincadeiras, Judith não tinha dado nenhum m sorriso.
Maud segurou sua mão, indicando a Joan para ficar em silêncio.
— Minha lady. — disse calmamente — há alguma coisa que
deseja? Temos tempo, antes de irmos à igreja. Talvez…
Judith sacudiu a cabeça.
— Não é mais possível me ajudar. Minha mãe está bem?
— Sim, ela está descansando antes de cavalgar para a igreja, é
uma distância longa e seu braço... — Maud parou sensível ao olhar de
dor de sua senhora. Judith culpava-se pelo braço quebrado de Helen.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 50
Sua própria consciência era suficiente sem os lembretes desajeitados
de Maud. A serva queria dar-se um pontapé.
— Então, está pronta? — Perguntou gentilmente.
— Meu corpo está pronto, são apenas meus pensamentos que
precisam de mais tempo. Você e Joan se encarregaram de minha mãe?
— Mas minha senhora...
— Não. — Judith interrompeu. — Eu gostaria de ficar sozinha,
pode ser meu último momento de privacidade por algum tempo. Quem
sabe o que o amanhã trará?
E se virou para olhar para fora da janela.
Joan estava para responder a tamanha melancolia, mas Maud
lhe impediu.
Joan não entendia Judith. Tinha fortuna, este era o dia de seu
casamento e, além disso, ia casar com um cavaleiro jovem e bonito.
Por que não estava feliz? Deu de ombros, resignada, enquanto Maud a
empurrava para a porta.
Os preparativos para o casamento haviam requerido semanas
inteiras. Seria uma festa complexa e suntuosa, que custaria a seu pai
as rendas de um ano. Ela tinha anotado cada registro de compra,
principalmente dos milhares de pedaços de tecidos necessários para
fazer uma grande tenda para abrigar os convidados. E a comida que ia
ser servida! Mil porcos, trezentos bezerros, cem bois, quatro mil bolos
de carne, trezentos barris de cerveja. A lista era infinita.
E tudo por algo que ela desesperadamente não queria.
Quase todas as meninas eram educadas para pensar em
casamento como parte do futuro. Não era o caso de Judith. Desde o
dia do seu nascimento a trataram de forma diferente. Sua mãe já
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 51
estava desgastada pelos abortos e nos últimos anos por um marido
que lhe punia em cada oportunidade, até que finalmente sua filha
nasceu. Helen olhou para o pequeno pedaço de vida ruiva e perdeu
seu coração. Embora nunca se opusesse a seu marido, por aquela
criança enfrentaria o próprio diabo. Queria duas coisas para sua
pequena Judith: proteção contra um pai brutal e violento, e a
segurança de nunca cair nas mãos de homens semelhantes.
Pela primeira vez em muitos anos de casamento, Helen enfrentou
ao marido que tanto temia e exigiu que sua filha estivesse destinada
para a Igreja. Robert pouco se importava com o que ocorria a mãe ou
filha. O que lhe importava a menina? Tinha dois filhos varões de sua
primeira esposa e tudo o que tinha sido capaz de lhe dar essa mulher
medrosa e chorona foram bebês mortos e uma fêmea inútil. Rindo,
aceitou que a criança fosse dada às freiras quando tivesse a idade
certa. Mas para mostrar aquela criatura o que pensava de sua
exigência, jogou-a pelas escadas de pedra. Helen ainda mancava como
resultado de uma perna quebrada em dois lugares, mas valeu a pena.
Manteve sua filha com ela em total privacidade. Às vezes nem mesmo
se lembrava de que era casada. Gostava de imaginar que era viúva e
morava sozinha com sua linda filha.
Foram anos felizes em que treinou sua menina para a carreira
exigente do convento.
E agora, de tudo isso, não restava nada. Judith se tornaria uma
esposa, uma mulher sem mais poder do que o permitido por seu
marido e senhor. Ela não sabia nada da vida de uma esposa,
costurava mal e não sabia tecelagem. Ninguém lhe tinha ensinado a
permanecer sentada e quieta por horas, permitindo que os servos
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 52
trabalhassem por ela. Pior ainda: Judith nem sequer sabia o
significado de subserviência. Uma esposa devia manter os olhos baixos
para o marido e pedir seus conselhos sobre tudo. Mas lhe foi ensinada
que um dia seria abadessa, a única mulher que era considerada igual
aos homens. Olhava seu pai e seus irmãos de frente, nem mesmo se
acovardava quando o pai lhe levantava o punho. Isso, por algum
motivo, parecia divertir Robert. Seu orgulho não era comum entre as
mulheres. Nem tampouco entre a maioria dos homens, na verdade.
Andava com os ombros para trás e as costas retas.
Nenhum homem iria tolerar que com voz calma, analisasse as
relações do rei francês ou expressasse suas opiniões radicais sobre o
tratamento dos servos. As mulheres deviam falar sobre joias e
ornamentos. Judith, em vez disso, costumava deixar que suas criadas
escolhessem seus vestidos, mas quando faltavam nas despensas dois
sacos de lentilhas, sua raiva era formidável.
Helen tinha tido um enorme esforço para separar a filha do
mundo exterior. Temia que qualquer homem quando a visse, pediria a
sua mão, e que Robert aceitaria o enlace. Isso equivaleria a perdê-la.
Judith deveria ter entrado no convento aos doze anos, mas sua mãe
não podia suportar separar-se dela. A conservou consigo ano após
ano, egoisticamente, apenas para que o tempo e todos os seus esforços
se dissolvessem em nada.
Judith teve meses para se acostumar com a ideia de que iria se
casar com um estranho. Não o tinha visto e nem queria vê-lo, estaria
muito com ele no futuro. Não conhecia outros homens que seu pai e
seus irmãos, portanto, esperava uma vida com um homem que odiava
as mulheres e lhe golpearia, o imaginava nada educado e incapaz de
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 53
aprender qualquer coisa, exceto o uso da força. Sempre tinha
planejado escapar de uma existência assim; agora sabia que era
impossível. Durante o curso de dez anos seria parecida com a mãe?
Um ser tremulo, sempre temerosa e cujos olhos se desviavam para os
cantos?
Levantou-se e a saia dourada pesada caiu no chão com um
sussurro agradável. Não seria assim! Nunca mostraria seu medo
aquele homem. Sentisse o que fosse, manteria a cabeça elevada e o
olhar firme.
Por um momento, sentiu seus ombros caírem. Estava assustada
com aquele estranho que devia ser seu senhor e mestre. Suas criadas
riam e falavam de seus amantes com alegria. Poderia o casamento de
um nobre ser assim? Era um homem capaz de amor e ternura, assim
como uma mulher?
Ela saberia em pouco tempo.
Saberia em breve.
Voltou a endireitar os ombros. Daria-lhe uma oportunidade,
pensou consigo mesma. Seria como seu espelho: quando ele se
mostrasse amigável, seria amável. Mas se ele era como seu pai, iria se
encontrar com a forma do seu sapato.
Nenhum homem havia mandado nela e nunca o faria. Esse era o
seu primeiro juramento.
— Minha dama! — Joan chamou animadamente, entrando no
quarto. — Lá fora estão Sir Raine e seu irmão Sir Miles. Eles vieram
para vê-la. — Como sua senhora a olhou fixa e inexpressivamente, pôs
cara de exasperação. — Os irmãos de seu marido, minha senhora. Sir
Raine quer conhecê-la antes do casamento.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 54
Judith fez um aceno de cabeça e levantou-se para receber os
visitantes. O homem com quem se casaria não demonstrava qualquer
interesse nela. Até o compromisso havia sido feito por procuração. E
agora não era ele quem a visitava, mas seus irmãos. Respirou fundo e
forçou-se a não tremer, mesmo estando mais assustada do que
pensou.
Raine e Miles desceram juntos a escadaria larga da casa
Revedoune lado a lado. Chegaram à noite anterior, pois Gavin insistiu
em adiar o iminente enlace até o último momento. Raine tentou
convencê-lo que visitasse sua noiva, mas ele recusou. Convencido de
que veria ela por muitos anos, então porque encarar antecipadamente
a maldição?
Quando Miles voltou do compromisso, depois de oficiar o
contrato, foi Raine que o questionou sobre a herdeira. Como de
costume, Miles disse pouco, mas Raine sabia que ele estava
escondendo algo. Agora que Raine tinha visto Judith, percebeu o que
era.
— Por que não disse nada para Gavin? — Ele acusou. — Sabe o
quanto teme que se trate de uma herdeira feia
Miles não sorriu, mas seus olhos brilharam em memória da visão
de sua cunhada.
— Pensei que talvez lhe fizesse bem reconhecer estar errado ao
menos uma vez.
Raine sufocou o riso. Gavin às vezes tratava seu irmão mais novo
como se ele fosse um menino em vez de um homem de vinte anos. O
silêncio de Miles em não contar a Gavin a beleza de sua noiva era um
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 55
pequeno castigo para tanto autoritarismo e por todas as vezes que
Gavin ordenara a seu irmãozinho. Raine deu uma risada curta.
— Pensar que Gavin ofereceu-me e nem sequer cogitei aceitar! Se
tivesse a visto antes teria lutado por ela. Você acha que é tarde
demais?
Se Miles respondeu, Raine não o ouviu. Seus pensamentos
estavam fixos na pequena cunhada, que mal atingia seu ombro. Havia
apreciado esse detalhe antes de ver seu rosto. Depois de enfrentar os
seus olhos, ouro puro e rico como a Terra Santa, já não viu mais nada.
Judith Revedoune o tinha enfrentado com um olhar inteligente e
sereno, como se estivesse avaliando-o. Raine apenas olhou fixamente,
incapaz de falar, se sentiu sendo puxado para baixo pela corrente
destes olhos, ela não fazia caretas ou ria infantilmente, como quase
todas as jovens donzelas: olhava-o de igual para igual, e essa sensação
era inebriante. Miles teve de cutucá-lo para que falasse, enquanto o
outro imaginava-se levando-a para longe da casa e de todas as pessoas
para torná-la sua. Ele sabia que devia partir antes de ter outros
pensamentos indecentes sobre a esposa de seu irmão.
— Miles, — disse baixinho, com suas bochechas sulcadas pelas
covinhas, como lhe ocorria quando continha o riso, — talvez possamos
tirá-la do nosso irmão mais velho por ter-nos exigido muitas horas no
campo de treinamento.
— O que você planeja? — Os olhos de Miles arderam de interesse.
— Se a memória não me falha, acabo de ver uma anã hedionda
de dentes podres e traseiro incrivelmente gordo.
Miles começou a sorrir. Na verdade, tinha visto um verdadeiro
espantalho ao descer as escadas.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 56
— Eu entendo. Não temos que mentir, mas nada nos obriga a
dizer toda a verdade.
— Isso é o que eu penso.
Ainda era cedo quando Judith seguiu suas criadas pelas escadas,
para o grande salão no segundo andar. O chão estava coberto de junco
fresco; as tapeçarias que estavam guardadas foram penduradas, e o
chão entre a porta e a parte de trás do salão era um caminho de
pétalas de rosas e lírios. Por ali passaria ao sair da igreja, já casada.
Maud andava atrás de sua senhora, segurando no alto a cauda
longa e frágil do vestido dourado e o manto forrado com doninhas.
Judith fez uma pausa por um segundo antes de sair de casa e
respirou fundo para conseguir coragem.
Levou um momento para adaptar-se à forte luz do sol, em
seguida, viu a longa fila de pessoas que vieram para testemunhar o
casamento da filha de um conde. Não estava pronta para receber os
aplausos que a saudaram, gritos de boas-vindas e prazer pela visão de
tão esplêndida jovem.
Judith sorriu como resposta, acenando para os convidados,
servos e mercadores que vieram às festividades.
O trajeto para a igreja seria como um desfile, criado para mostrar
a riqueza e a importância do conde do rei, de Robert Revedoune. Mais
tarde, poderia se gabar de que o casamento de sua filha havia sido
assistido por muitos condes e barões. Os menestréis conduziram a
procissão, com entusiasmo anunciando a passagem da noiva. Judith
foi colocada no cavalo branco por seu próprio pai, que fez um sinal de
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 57
aprovação para o seu traje e comportamento. Para esta grande ocasião
devia montar de lado, uma posição incomum para ela e que a
incomodava, mas dissimulou. Sua mãe cavalgava atrás, ladeada por
Miles e Raine. Os seguiam uma multidão de convidados, em ordem de
importância.
Com grande estrondo de címbalos, os menestréis começaram a
cantar e a procissão se colocou a caminho. Moviam-se lentamente,
seguindo os músicos e Robert Revedoune, que conduzia pelas rédeas o
cavalo de sua filha.
Apesar de todos os seus votos e juramentos, Judith descobriu
que estava ficando cada vez mais nervosa, a curiosidade sobre seu
noivo começou a carcomê-la. Sentou-se ereta, mas apertou os olhos,
tratando de enxergar as duas silhuetas que ocupavam a porta da
igreja: o padre e o estranho que seria seu marido.
Gavin não possuía a mesma curiosidade. Ainda se sentia enjoado
a partir da descrição de Raine: aparentemente, a moça era simplória e
feia. Tratou de não olhar a procissão que se aproximava rapidamente,
mas o barulho dos menestréis e os aplausos ensurdecedores dos
servos e mercadores, que se alinhavam no caminho, o impedia de
ouvir seus próprios pensamentos. Contra sua vontade, seus olhos se
voltaram para o desfile. Ele não percebeu que estavam tão perto!
Olhando para cima, viu uma moça de cabelo vermelho dourado
na sela de um cavalo branco. Não tinha ideia de quem poderia ser, e
levou um minuto para perceber que era sua noiva. O sol brilhava
sobre ela como se fosse uma deusa pagã revivida. Olhou-a
boquiaberto. Depois abriu um sorriso.
Raine!
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 58
Era de se espera que Raine mentisse! Seu alívio e felicidade eram
tais que, inadvertidamente, sem se dar conta, abandonou ao portal da
igreja e desceu a escadaria, de dois em dois e depois de três em três
degraus. O costume ditava que o noivo esperasse até que o pai da
noiva a descesse de seu cavalo e a acompanhasse até a escadaria para
apresenta-la ao seu novo senhor. Mas Gavin queria vê-la melhor. Sem
ouvir os risos e aplausos dos espectadores, afastou seu sogro de lado,
com um empurrão e tomou a cintura de sua noiva para baixa-la do
cavalo.
De perto, era ainda mais bonita. Os olhos de Gavin regozijaram-
se sobre aqueles lábios carnudos, suaves e convidativos. Sua pele era
límpida, cremosa e pura mais suave do que o melhor cetim. E quando
finalmente percebeu seus olhos, esteve prestes a lançar uma
exclamação.
Gavin sorriu para ela com puro prazer, e ela sorriu de volta para
ele, expondo os dentes brancos. O rugido da multidão o trouxe de volta
à realidade. Relutantemente, Gavin colocou-a no chão e ofereceu-lhe
seu braço, apertando sua mão sobre a dela como se tivesse medo de
vê-la fugir. Ele tinha toda a intenção de manter esta nova posse.
Os espectadores ficaram completamente satisfeitos com o
comportamento impetuoso de Gavin Montgomery, e deram voz à sua
aprovação. Robert franziu o cenho ao ser empurrado de lado, então viu
que cada um dos convidados estava rindo.
A cerimônia de casamento foi realizada no átrio da igreja para
que todos pudessem testemunhar o enlace, porque dentro não poderia
caber a todos. O padre perguntou a Gavin se aceitaria Judith
Revedoune para sua esposa. Gavin olhou para a mulher que estava ao
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 59
seu lado, com seus cabelos soltos até a cintura, onde se cacheava à
perfeição, e respondeu:
— Aceito.
Em seguida, o padre perguntou a Judith, que olhava para seu
prometido com a mesma franqueza. Este vestia cinza da cabeça aos
pés. O gibão e o casaco de ombros largo eram de veludo italiano macio.
A jaqueta estava totalmente revestida com um vison escuro, a pele
formava uma volta larga no pescoço, e uma borda estreita na parte
dianteira. Seu único ornamento era a espada que pendia de seu
quadril com o cabo embutido com um grande diamante que brilhava
sob a luz do sol.
Mesmo as servas tendo dito que Gavin era bonito, Judith não
esperava encontrar tal poder e força, mas algum jovem delicado e loiro.
Observou seu espesso cabelo negro que se cacheava ao longo do
pescoço, lábios que lhe sorriam e aqueles olhos que, de repente lhe fez
correr um arrepio na espinha. Para o deleite da multidão, o padre teve
que repetir a pergunta. Judith sentiu que lhe avermelhava o rosto ao
dizer:
— Sim.
Decididamente, estava muito disposta a aceitar Gavin
Montgomery.
Prometeram-se amar, honrar e obedecer. Depois, veio à troca de
anéis, enquanto a multidão, que estava em silêncio até então, soltava
bramidos que ameaçavam o telhado da igreja. Como o dote de Judith
era lido para os convidados e espectadores, dificilmente podia ser
ouvido. Judith e Gavin, dois belos jovens, contavam com o afeto de
todos. Os noivos receberam cestos com moedas de prata, para jogá-los
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 60
para o povo ao pé dos degraus. Em seguida, o casal seguiu o sacerdote
ao interior da igreja, tranquila e relativamente escura.
Gavin e Judith ocuparam lugares de honra no coro, acima da
multidão de convidados. Pareciam crianças pelo modo como se
olhavam ao longo da missa longa e solene. Os convidados estavam
observando com adoração, encantados por esta união que começava
como um conto de fadas. Os menestréis já estavam escrevendo as
canções que entoariam mais tarde, durante o banquete. Os servos e a
classe média se mantiveram fora da igreja, e trocavam comentários
sobre as roupas requintadas dos hóspedes e, acima de tudo, sobre a
beleza da noiva.
Mas havia uma pessoa que não estava feliz. Alice Valence sentou-
se ao lado da figura gorda e adormecida de seu futuro marido,
Edmund Chatworth, e olhou para a noiva com todo o ódio de sua
alma. Gavin tinha feito papel de tolo! Até mesmo os servos riram dele
quando desceu as escadas correndo em busca daquela mulher, como
um menino que corre em direção ao seu primeiro cavalo.
Como alguém poderia pensar que aquela cadela ruiva era linda?
Alice sabia que as sardas sempre acompanhavam os cabelos
vermelhos.
Afastou o olhar de Judith para fixar em Gavin. Era ele quem a
enfurecia. Alice o conhecia melhor do que ele mesmo. Embora um
rosto bonito pudesse fazê-lo saltar como um palhaço, suas emoções
eram profundas. Havia-lhe dito que a amava e era verdade. E ela iria
lembra-lo o mais rapidamente possível. Não lhe permitiria esquecer-se
disso quando estivesse na cama com aquele demônio de cabelos
vermelhos.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 61
Olhou para suas mãos e sorriu. Ela possuía um anel... sim. Um
pouco mais calma, olhou novamente para o casal de noivos, enquanto
um plano estava se formando em sua mente.
Viu que Gavin pegava a mão de Judith para beijá-la, ignorando
Raine que lhe lembrava de que estavam na igreja. Alice balançou a
cabeça, essa tola nem sabia como reagir. Deveria ter baixado os olhos
e ruborizado. De sua parte, sabia corar de uma forma muito lisonjeira.
Mas Judith Revedoune simplesmente limitou-se a olhar para seu
marido, atenta a cada um de seus movimentos enquanto apertava os
lábios contra o dorso de sua mão. Muito pouco feminino, pensou Alice.
Neste momento, Alice não era ignorada, alguém a estava
observando. Raine cravou o olhar em Alice desde o coro e notou o
cenho franzido que enrugou sua testa perfeita. Sem dúvida alguma, a
jovem não tinha ideia de que estava fazendo esse gesto, pois sempre
teve o cuidado de mostrar apenas o que devia ser visto.
— Fogo e gelo — pensou. A beleza de Judith era como o fogo da
sensualidade combatendo a palidez gelada de Alice. Ele sorriu
enquanto pensava como facilmente o fogo derretia o gelo, mas depois
lembrou que tudo dependia do calor do fogo e do tamanho do bloco de
gelo. Seu irmão era um homem sensato e sensível, racional em todos
os aspectos, exceto um: Alice Valence. Gavin a adorava, e se tornava
insano quando qualquer um insinuava as suas falhas. Sua nova
esposa exercia atração sobre Gavin e ao mesmo tempo se sentia
atraída por ele, mas por quanto tempo? Poderia ela superar o fato de
que Alice havia roubado seu coração? Raine esperava que sim. Ao
olhar de uma mulher para a outra, percebeu que Alice poderia ser
uma mulher para adorar, mas Judith era uma mulher para amar.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 62
Capítulo Cinco Ao terminar a longa missa de casamento, Gavin pegou a mão de
Judith e a conduziu pelos degraus até ao altar, onde se ajoelharam
diante do sacerdote para abençoá-los. O homem santo deu permissão
a Gavin para o beijo da paz, que ele transmitiu para sua esposa.
Deveria ter sido um beijo simbólico, realmente foi leve, apesar de ter
acabado rapidamente, os lábios de Gavin permaneceram sobre os dela.
Judith olhou para ele, seus olhos dourados refletiam ao mesmo tempo
prazer e surpresa. Gavin sorriu largamente, cheio de pura alegria.
Tomou-a pela mão novamente e a levou para fora quase correndo.
Uma vez fora, a multidão jogou uma chuva de arroz, que por seu
volume, foi quase mortal. Ele levantou Judith para senta-la em sua
sela, sua cintura era muito fina, ainda que envolta em muitas
camadas de tecido. Gavin queria senta-la em sua montaria, mas já
tinha faltado amplamente aos costumes quando a viu pela primeira
vez. Ocupar-se-ia das rédeas do animal, mas Judith levou seu próprio
animal. Gavin estava satisfeito: sua esposa devia ser uma boa
amazona.
Os noivos encabeçaram a procissão para a casa senhorial de
Revedoune. Gavin segurava a mão dela com força quando entraram no
grande salão, recentemente limpo, Judith olhou os lírios e pétalas de
rosas espalhadas pelo chão. Algumas horas antes, estas flores tinham
lhe parecido o prenúncio de algo terrível, que estava prestes a
acontecer. Agora, olhando para aqueles olhos cinza que lhe sorriam a
ideia de ser sua esposa não parecia horrível em absoluto.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 63
— Daria qualquer coisa para conhecer seus pensamentos, —
disse Gavin, colocando os lábios perto de sua orelha.
— Pensava que este casamento não parece tão ruim como eu
imaginava.
Gavin ficou atordoado por um momento, em seguida, jogou a
cabeça para trás, em uma gargalhada. Judith não tinha ideia de que
acabou de insulta-lo e elogiá-lo na mesma frase.
Uma jovem bem treinada nunca teria admitido que não gostava
da ideia de se casar com o homem escolhido para ela.
— Bem minha esposa. — disse com os olhos brilhando. — Estou
mais do que satisfeito.
Foram as primeiras palavras que trocaram. E não tiveram tempo
para mais. Os noivos tinham que se colocar a frente de uma fila para
saudar as centenas de convidados que iriam felicitá-los.
Judith permaneceu serena junto ao seu esposo, sorrindo para
cada um dos convidados. Conhecia poucos deles, desde que sua vida
fora tão isolada.
Robert Revedoune estava de lado, olhando-a para se certificar de
que não cometesse erros. Não tinha certeza de haver se livrado dela,
pois o casamento ainda não havia sido consumado.
Judith tinha se preocupado com o fato de que suas roupas
seriam excessivamente ricas, mas enquanto observava os convidados,
murmurando "obrigada", percebeu que seu traje era conservador. Os
convidados estavam vestidos com cores de pavão. Vários deles, ao
mesmo tempo. As mulheres usavam vermelhos, púrpuras e verdes.
Havia quadrados, listras, brocados, apliques e bordados exuberantes.
O dourado e o verde de Judith se destacaram por sua discrição.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 64
Raine de repente agarrou a cintura de Judith, levantou-a bem
acima de sua cabeça, então plantou um beijo estalado em cada
bochecha.
— Bem-vinda ao clã Montgomery, irmãzinha. — disse a ela com
doçura, suas bochechas sulcadas por covinhas profundas.
Judith gostou dessa franqueza. Em seguida foi Miles, a quem ela
conhecia por ter oficializado e representado ao noivo no contrato de
compromisso. Aquela vez a olhou com olhos de falcão.
Miles continuava olhando-a de uma forma estranha e penetrante.
Ela desviou os olhos para o marido, que parecia estar repreendendo
Raine por alguma piada sobre uma mulher feia. Raine era mais baixo
do que Gavin, estava vestido de veludo preto com jaqueta em prata;
suas covinhas profundas e brilhantes olhos azuis sorridentes faziam
dele um homem bonito. Miles era tão alto quanto o irmão mais velho,
mas de constituição mais leve.
Dos três, as roupas de Miles eram as mais brilhantes e luxuosas:
usava um gibão verde escuro de lã e jaqueta verde brilhante, forrada
com pele de martas escuras. Seus quadris delgados estavam cingidos
por um cinto largo de couro cravejado de esmeraldas.
Os três eram fortes e galantes, mas ao vê-los juntos, Gavin
ofuscava os outros. Pelo menos, aos olhos de Judith. Ele sentiu seu
olhar fixar-se nele e se virou para ela. Pegou sua mão e aplicou um
beijo em seus dedos. Judith sentiu o coração acelerado: Gavin colocou
a ponta de um dedo em sua boca, tocando-o com a língua.
— Acho que deveria esperar um pouco irmão, embora
compreenda as razões para a sua impaciência. — Raine riu. — Fale-
me outra vez das herdeiras gordas e muito alimentadas.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 65
Gavin relutou em soltar a mão de sua esposa.
— Pode rir de mim o quanto queira e goste, mas sou eu quem a
possui, por isso, serei quem ri por último. Ou talvez não seja
apropriado falar de risos.
Raine soltou um som gutural e cutucou Miles.
— Venha, vamos ver se podemos encontrar mais deusas de olhos
dourados nesse lugar. Dê a sua nova cunhada um beijo de boas-
vindas e vamos embora.
Miles ergueu a mão de Judith e beijou-a prolongadamente, seus
olhos nos dela o tempo todo.
— Creio que vou reservar o beijo para um momento de maior
intimidade. — disse, antes de seguir Raine.
Gavin colocou seu braço nos ombros de Judith possessivamente.
— Não deixe que eles o aborreçam, só estão brincando.
— Eu prefiro suas brincadeiras.
Gavin sorriu para ela, então abruptamente a soltou. Tocá-la
quase o incendiou. Ainda faltavam muitas horas para se deitar com
ela. Se queria chegar ao final do dia, teria que manter as mãos longe
dela.
Mais tarde, enquanto Judith aceitava um beijo de uma mulher
mirrada, condessa de algum lugar, usando um vestido cintilante de
cetim roxo, sentiu que Gavin se encolhia ao seu lado. Ela seguiu a
direção dos seus olhos, estavam em uma mulher tão bonita que vários
homens lhe olhavam boquiabertos. Quando ela ficou diante da noiva,
Judith se surpreendeu com o ódio que ardia nos olhos azuis. Ela
estava quase fazendo o sinal da cruz como meio de se proteger. Os
risos chamaram a atenção de Judith e ela viu que várias pessoas se
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 66
divertiam com o espetáculo destas duas mulheres, belas e muito
diferentes, enfrentando-se entre si.
A loira passou rapidamente junto a Gavin, recusando-se a
encontrar seus olhos. Judith notou uma expressão de dor no rosto de
seu marido. Foi um encontro intrigante e desconcertante, que não
conseguiu entender.
Finalmente, a recepção terminou. Todos os convidados haviam
felicitado os recém-casados, o pai de Judith tinha dado a cada pessoa
um presente, de acordo com sua importância e, finalmente, as
trombetas soaram indicando que o banquete iria começar.
Enquanto os convidados felicitavam o casal, as mesas foram
armadas no grande salão e já estavam cobertas com alimentos:
galinha, pato, perdiz, cegonha, faisão, codorna, carne de porco e
bovino. Havia tortas de carne e doze tipos de peixes. Legumes em
abundância, temperados com especiarias do Oriente. Serviam-se os
primeiros morangos da estação, bem como algumas romãs raras e
dispendiosas.
A riqueza dos objetos da fazenda era visível nos pratos de ouro e
prata utilizados pelos convidados mais importantes sentados na mesa
principal, em uma plataforma ligeiramente levantada. Judith e Gavin
tinham taças iguais: alta, fina, feita de prata e base finamente
trabalhada em ouro.
No centro, havia uma área aberta, onde cantavam os bardos e
atuavam os artistas. Havia: malabaristas, dançarinas do ventre, que
se moviam sedutoramente, acrobatas e um elenco de artistas
itinerantes que representavam uma obra. A tremenda agitação enchia
o imenso hall, cuja altura era de dois andares.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 67
— Não come muito. — observou Gavin, tentando não gritar, mas
era difícil de ser ouvido em meio a tamanho estrondo.
— Não! — Ela o olhou com um sorriso. A ideia de que aquele
estranho era seu marido cruzava a sua mente insistentemente. Sentia
desejo de tocar-lhe a covinha no queixo.
— Venha. — ele propôs.
E tomou-lhe a mão para ajudá-la a levantar-se. Houve aplausos,
gritarias, zombarias, gargalhadas e brincadeiras indecentes a granel,
enquanto Gavin levava sua esposa para fora do grande salão. Nenhum
deles virou a cabeça.
Passaram pelos campos, cheio de flores da primavera que
roçavam a saia longa de Judith. À sua direita estavam às tendas de
quem iria participar do torneio no dia seguinte. Em cada tenda voava
um estandarte identificando o seu ocupante. Em toda parte, o
leopardo dos Montgomery. O estandarte mostrava três leopardos
colocados em sentido vertical, bordados com brilhantes fios de ouro
em um campo verde esmeralda.
— São todos seus parentes? — Judith perguntou.
Gavin olhou por cima de sua cabeça.
— Tios e primos. Quando Raine disse que éramos um clã, não
estava mentindo.
— Você é feliz com eles?
— Feliz? — Gavin deu de ombros. — Somos Montgomery. — Para
ele, parecia resposta suficiente.
Detiveram-se em uma pequena colina, de onde se viam as tendas
se elevando a baixo. Ele segurou a sua mão, enquanto Judith
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 68
espalhava suas saias para sentar. Gavin se estendeu ao seu lado em
todo o seu comprimento, com as mãos atrás da cabeça.
Judith sentou-se de costas para o seu rosto, com as pernas de
Gavin esticadas diante dela. Apreciou a curva dos músculos acima do
joelho, onde se arredondavam para a coxa. Judith sabia sem sombra
de dúvida que cada uma de suas coxas era maior que sua cintura.
Inesperadamente, ela estremeceu.
— Está com frio? — Perguntou Gavin, imediatamente alerta. Ele
se ergueu sobre os cotovelos e observou-a sacudir a cabeça. — Espero
que não tenha se importado em sair por um tempo, e nem que pense
que não tenho boas maneiras, primeiro na igreja e agora isso, mas
estava muito barulhento e queria ficar a sós com você.
— Eu também. — ela disse honestamente enquanto se virava
para encará-lo.
Ele ergueu uma mão e pegou um cacho de cabelo, observando
como se enrolava em seu pulso.
— Fiquei surpreso ao te ver, ouvi dizer que era feia. — Seus olhos
brilharam quando ele esfregou a mecha de cabelo e enrolou entre seus
dedos.
— Onde você ouviu isso?
— Todo mundo era de opinião que se Revedoune escondia sua
filha, só podia ser por isso.
— Pelo contrário, eu era mantida escondida dele.
Judith não disse mais nada, mas Gavin havia compreendido. Não
gostava muito deste homem contencioso, que punia os fracos e se
acovardava diante dos fortes.
Gavin sorriu para ela.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 69
— Estou muito satisfeito com você, é mais do que um homem
poderia esperar.
De repente Judith se lembrou do doce beijo na igreja. Como seria
beijar de novo, sem pressa? Tinha pouca experiência com os costumes
entre homens e mulheres.
A respiração de Gavin parou quando ele a viu olhando para sua
boca. Um rápido olhar para o sol lhe indicou que ainda faltavam
muitas horas para tê-la só para si. Ele não começaria o que não
poderia terminar.
— Devemos voltar. — disse bruscamente. — Nosso
comportamento fará com que as más línguas falem por vários anos.
Ele a ajudou a ficar em pé. Quando a teve tão perto olhou seu
cabelo, inalando sua fragrância especial. Sabia que o sol o tinha
aquecido e sua única intenção era dar um beijo casto em seus cabelos,
mas Judith levantou o rosto para lhe sorrir. Em poucos segundos
abraçou-a e a estava beijando.
O pouco conhecimento que Judith possuía sobre relações sexuais
provinha de conversas escutadas de suas criadas, que riam como
mocinhas, quando comparam as façanhas amorosas de um homem e
outro. Então Judith reagiu ao beijo de Gavin, não com a reticência de
uma dama apropriada, mas com todo o entusiasmo que sentia.
Colocou as mãos atrás da sua nuca, e seus lábios se abriram sob
os dele. Ela apertou seu corpo ao dele. Que musculoso ele era! Os
músculos de seu peito eram duros contra a suavidade de seus seios,
suas coxas eram como ferro. Ela gostava da sensação dele, do cheiro
dele. Seus braços apertaram-se sobre ele.
De repente, Gavin recuou, sua respiração curta, ofegante.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 70
— Você parece saber muito sobre beijar. — ele disse com raiva. —
Tem beijado muito?
A mente e o corpo de Judith estavam cheios demais, de
sensações, da novidade, e de formigamento para ter percebido o seu
tom.
— Eu nunca beijei ninguém, minhas servas me disseram que era
agradável, mas é mais do que isso.
Ele olhou fixamente, sabia reconhecer uma resposta honesta
quando ouvia uma.
— Vamos voltar agora e rezar para que o pôr do sol não
permaneça e escureça cedo.
Judith virou as bochechas avermelhadas para longe e seguiu seu
passo. Caminharam para o castelo lentamente, nenhum deles falando.
Gavin parecia imerso na observação de uma tenda. Se não estivesse
segurando a mão de sua esposa com tanta força, teria pensado que a
esqueceu.
Como estava olhando para o lado oposto, Gavin não viu Robert
Revedoune, que estava os esperando. Judith sim. Reconhecendo raiva
nos olhos dele, se preparou para enfrentá-lo.
— Sua putinha! — Robert sibilou. — Andas ofegando atrás dele
como uma cadela no cio. Eu não vou ter toda a Inglaterra rindo de
mim! — Levantou e baixou as costas da mão no rosto de Judith.
Gavin precisou de um momento para reagir. Ele não imaginaria
um pai golpeando sua filha. Quando reagiu, descarregou o punho no
rosto de seu sogro, que o deixou esparramado no chão em um
completo atordoamento.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 71
Judith olhou para o marido. Seus olhos eram negros, sua
mandíbula transformada em granito.
— Não se atreva a tocá-la outra vez. — ordenou Gavin, com uma
voz baixa e mortal. — O que é meu, eu guardo e cuido. — Voltou a
caminhar em direção a Revedoune.
— Por favor, não. — Judith disse e agarrou o braço do marido. —
Estou ilesa, e você o reembolsou por esse pequeno golpe.
Gavin não se moveu. Os olhos de Robert Revedoune passaram de
sua filha para seu genro. Ele sabia que era melhor não falar.
Lentamente se levantou e se afastou.
Judith puxou a manga do marido.
— Não deixe ele arruinar o dia, não sabe nada, exceto usar os
punhos. — Sua mente estava girando. Os poucos homens que
conhecera pensavam que era um direito do pai golpear sua filha.
Talvez Gavin só pensasse nela como uma propriedade, mas algo na
forma como falara fez Judith se sentir protegida, quase amada.
— Aqui, deixe-me olhar para você, — Gavin disse, sua voz
mostrando que ele estava trabalhando duro para controlar seu
temperamento.
Deslizou as pontas dos dedos sobre seus lábios, procurando
contusões ou cortes. Ela estudou a sombra de seu queixo, que se
escondia sob a pele raspada da barba. O contato amolecia seus
joelhos. Levantou a mão e colocou um dedo na fenda de seu queixo.
Ele interrompeu sua exploração para encontrar seus olhos. Ambos
ficaram em silêncio por um longo momento.
— Devemos voltar. — disse ele, muito triste. Ele tomou seu braço
e levou-a de volta para o castelo. A comida havia sido retirada e as
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 72
mesas de cavalete, estavam desmontadas e empilhadas contra a
parede. Os músicos afinavam seus instrumentos, pois estava prestes a
começar a dança.
— Gavin, — chamou alguém — você vai tê-la pelo resto de sua
vida. Não deve monopoliza-la hoje também
Judith se agarrou ao braço do moço, mas logo foi atraída para
um círculo de dançarinos energéticos. Que a empurravam e a atraiam
com passos vigorosos e rápidos, entretanto, tentou não perder de vista
seu marido. Um homem riu entre dentes, fazendo-a olhar para cima.
— Irmãzinha, — disse Raine — ocasionalmente, deveria reservar
um olhar para nós.
Judith sorriu para ele pouco antes que um braço forte lhe
girasse, levantando-a do chão. Quando voltou ao seu lado, Raine
disse:
— Como ignorar a homens tão bonitos como meus cunhados?
— Falou muito bem, mas se seus olhos não mentem, meu irmão
é o único a pôr a luz das estrelas nesses pedaços de ouro.
Novamente alguém afastou Judith, e quando foi levantada no
braço do homem, viu Gavin enquanto ele sorria para uma
mulherzinha bonita, em um vestido de tafetá roxo e verde. Judith
observou enquanto a mulher tocava o veludo no peito de Gavin.
— Onde está o seu sorriso? — Raine perguntou quando ela voltou
para perto dele na dança. Virou-se e olhou para seu irmão.
— Você acha que ela é bonita? — Perguntou Judith.
Raine se controlou para não rir em voz alta.
— Feia, ela é um pequeno rato marrom de mulher, e Gavin não a
tomaria. — "Porque todo mundo já o fez. Ah!" — Ele suspirou.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 73
— Vamos sair daqui e tomar um pouco de cidra. Ele agarrou seu
braço e levou-a para o lado oposto da sala onde estava Gavin.
Judith ficou quieta na sombra de Raine e observou enquanto
Gavin conduzia a mulher de cabelos castanhos para a pista de dança.
Cada vez que ele tocava a mulher, uma rápida sensação de dor
atravessava o peito de Judith. Raine estava absorvido em alguma
conversa com outro homem. Ela deixou sua taça e caminhou
lentamente pelas sombras do corredor e para fora.
Atrás da mansão havia um pequeno jardim murado. Toda a sua
vida, quando precisava ficar sozinha, Judith tinha ido para este
jardim. A imagem de Gavin segurando a mulher em seus braços foi
marcada em fogo diante de seus olhos. Mas por que ela deveria se
importar? Ela o conhecia nem um dia inteiro. Então o que importava
se ele tocasse a outra?
Sentou-se num banco de pedra, escondido do resto do jardim.
Ela poderia estar com ciúmes? Nunca tinha experimentado a emoção
em sua vida, mas tudo o que sabia era que não queria ver seu marido
olhando ou tocando outras mulheres.
— Pensei que iria encontrá-la aqui.
Judith olhou para a mãe, depois para baixo novamente.
Helen sentou-se rapidamente ao lado da filha.
— Tem algo errado? Ele tem sido indelicado com você?
— Gavin? — Judith perguntou lentamente, gostando do som do
nome. — Não. Ele é mais que amável.
Helen não gostou do que viu no rosto de Judith. Ela também, em
outro tempo, havia sido assim. Ela agarrou os ombros da filha, embora
o movimento machucasse seu braço ainda não curado.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 74
— Você deve me ouvir! Por muito tempo eu adiei esta conversa
com você. Todos os dias eu estive esperando por alguma coisa que
impedisse esse casamento, mas não foi assim. Vou te dizer uma coisa
que precisa saber: nunca confie em um homem.
Judith queria defender seu marido.
— Mas Gavin é um homem honrado. — disse ela, teimosa.
Helen deixou cair às mãos sobre o colo.
— Ah, sim, eles são honrados e honestos entre eles, para os seus
homens, para os seus cavalos, mas para o homem, uma mulher
significa menos do que seu cavalo. Uma mulher é facilmente
substituída, menos valioso. Um homem é incapaz de mentir ao mais
vil de seus vassalos e não dúvida em contar as piores fábulas a sua
esposa. Não tem nada a perder. O que é uma mulher?
— Não! — Disse Judith. — Não posso acreditar que todos os
homens sejam assim.
— Então você terá uma vida longa e infeliz, como eu tive. Se
tivesse aprendido isso em sua idade, minha vida teria sido diferente.
Acreditava estar apaixonada por seu pai Eu mesma o disse isso. Ele
riu de mim. Sabe o que significa para uma mulher dar seu coração a
um homem e ver que ele o recebe com uma risada?
— Mas os homens amam as mulheres... — começou Judith. Ela
não podia acreditar no que sua mãe disse.
— Eles amam as mulheres, mas somente aquela cuja cama
ocupam, e quando eles se cansam dela, amam outra. Há apenas uma
vez em que uma esposa tem qualquer controle sobre seu marido, e
isso é quando ela é novidade para ele, quando a magia da cama está
sobre o homem. Então ele vai “amar” você e então poderá controlá-lo.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 75
Judith estava de pé, de costas para a mãe.
— Não! Todos os homens não podem ser como você diz, Gavin é...
— Ela não pôde terminar.
Helena, alarmada, dirigiu-se a sua filha e parou diante dela.
— Não me diga que você acha que está apaixonada por ele.
Judith, minha doce Judith, você viveu nesta casa por dezessete anos e
não aprendeu nada, não viu nada... Teu pai era assim em outros
tempos. Acredite ou não, eu também era bonita e lhe agradava. É por
isso que te digo essas coisas. Acredita que eu gostaria de revela-las à
minha única filha? Preparei-te para a Igreja, para salva-la destas
coisas. Preste atenção: tem que afirmar-te perante ele desde o início,
deste modo te escutara. Nunca demonstre medo. Quando a mulher
deixa transparecer seu medo, o homem se sente forte. Se estabelecer
exigências desde o início, talvez te escute. Do contrário, será tarde
demais. Haverá outras mulheres e...
— Não! — Judith gritou.
Helen lhe lançou um olhar de grande tristeza. Ela não podia
salvar sua filha da dor que a esperava.
— Preciso voltar para os convidados, você virá?
— Não. — disse Judith suavemente. — Vou segui-la em breve,
preciso pensar um pouco.
Helen encolheu os ombros e saiu pelo portão lateral. Não havia
mais nada que ela pudesse fazer.
Judith sentou-se quieta no banco de pedra, os joelhos dobrados
sob o queixo. Ela defendeu seu marido contra o que sua mãe disse.
Ela pensou em centenas de maneiras de mostrar que Gavin era
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 76
diferente de seu pai, a maioria, invenções criadas a partir de sua
imaginação.
Seus pensamentos foram interrompidos pelo som da abertura do
portão. Uma mulher magra entrou no jardim. Judith a reconheceu
imediatamente. Ela se vestiu para fazer com que as pessoas a
notassem. O lado esquerdo do corpete era tafetá verde; o direito era
vermelho. As cores estavam invertidas em sua saia. Ela se movia com
certo propósito. De seu banco escondido atrás das madressilvas,
Judith observou. Sua primeira impressão ao vê-la na recepção foi que
Alice Valence era linda, mas agora ela não parecia assim. Seu queixo
parecia fraco, sua boca pequena, mesquinha, como a revelar o mínimo
possível. Seus olhos brilhavam como gelo. Judith ouviu uns pesados
passos masculinos do outro lado do muro que conduzia até o portão
menor, que sua mãe havia usado para sair. Queria dar à mulher a
oportunidade de receber o seu amante em particular, mas as
primeiras palavras a fizeram parar. Já reconhecia essa voz.
— Por que você me pediu para te encontrar aqui? — Perguntou
Gavin, rígido.
— Oh, Gavin. — Alice disse, suas mãos indo para seus braços. —
Que frio está comigo. Não foi capaz de me perdoar? Você não pode ter
me esquecido, é o seu amor por esta nova esposa tão forte?
Gavin franziu o cenho para ela, sem tocá-la, mas também não se
afastando.
— Você pode falar comigo de amor? Eu implorei que você se
casasse comigo, me ofereci para te levar sem um dote, para reembolsar
a seu pai o que ele deu a Chatworth, mas mesmo assim você me
recusou.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 77
— Você tem isso contra mim? Guarda rancor por isso? — Ela
perguntou. — Não lhe mostrei as contusões que meu pai me fez, não
falei das vezes em que ele me trancou sem comida ou água, o que eu
deveria fazer? Encontrava-me contigo quando podia, te dei tudo o que
tinha para dar a um homem, contudo é assim que eu sou
reembolsada. Já ama outra. Diga-me, Gavin, você alguma vez já me
amou?
— Por que você fala de meu amor à outra? Eu não disse que a
amo. — Sua irritação permaneceu inabalável. — Me casei porque a
oferta era boa, essa mulher traz riquezas, terras e um título, como
você mesmo me fez ver.
— Mas quando você a viu... — Alice disse rapidamente.
— Eu sou um homem e ela é linda. Claro que fiquei satisfeito.
Judith queria deixar o jardim. Mesmo quando viu seu marido
com a mulher loira, quis partir, mas era como se seu corpo se
transformasse em pedra e não pudesse se mover. Cada palavra que
ouviu Gavin falar empurrou uma faca através de seu coração:
implorou a esta mulher que se casasse com ele e aceitava Judith, por
causa de sua riqueza, como uma segunda escolha. Ela era uma tola!
Ela sentira seus toques, suas carícias, como uma centelha de amor,
mas não era assim.
— Então você não a ama? — Alice insistiu.
— Como poderia? Passei com ela senão umas poucas horas.
— Mas você poderia amá-la. — Alice disse sem rodeios e virou a
cabeça para o lado. Quando ela olhou para ele, havia lágrimas em
seus olhos, grandes, lindas e brilhantes. — Pode garantir que nunca a
amará?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 78
Gavin ficou em silêncio.
Alice suspirou pesadamente, então sorriu através de suas
lágrimas.
— Eu esperava que pudéssemos nos encontrar aqui. Pedi que nos
enviem um pouco de vinho.
— Preciso voltar à festa.
— Não vai demorar muito. — Disse ela docemente enquanto o
conduzia a um banco contra a parede de pedra.
Judith observou Alice, fascinada, estava assistindo uma grande
atriz. Ela viu a maneira como Alice virou a cabeça e habilmente enfiou
a unha no canto do olho para produzir as lágrimas necessárias. As
palavras dela eram melodramáticas. Judith observou Alice sentar-se
cuidadosamente no banco, evitando esmagar o tafetá duro de seu
vestido, então serviu duas taças de vinho. Em um processo lento, com
elaborada produção, ela escorregou um grande anel de seu dedo, abriu
a tampa escondida e, lentamente, derramou um pó branco em sua
bebida.
Quando ela começou a saborear o vinho, Gavin tirou a taça de
sua mão, enviando-a voando pelo jardim.
— O que você está fazendo? — Ele perguntou.
Alice se inclinou languidamente contra a parede.
— Gostaria de acabar com tudo, meu amor, posso suportar
qualquer coisa, se estivermos juntos, suportarei meu casamento com
outro, e que você despose a outra, mas devo ter o seu amor. Sem ele
não sou nada. — Suas pálpebras caíram lentamente e ela estava com
um olhar de tanta paz, como se já fosse um dos anjos de Deus.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 79
— Alice, — Gavin disse enquanto a pegava em seus braços —
você não pode querer tirar a própria vida.
— Meu doce Gavin, não sabe o que o amor é para as mulheres.
Sem ele já estou morta. Por que prolongar a agonia?
— Como você pode dizer que não tem amor?
— Me ama, Gavin? Só a mim?
— Claro. — Ele se curvou e beijou sua boca, o vinho ainda em
seus lábios. O pôr-do-sol aprofundou a cor aplicada em suas
bochechas. Seus cílios escuros lançavam uma misteriosa sombra
sobre suas bochechas.
— Jure-me! — Pediu ela com firmeza. — Tem que jurar que vai
amar só a mim e a ninguém mais.
Parecia um pequeno preço a pagar para evitar que ela se
matasse.
— Eu juro.
Alice levantou-se rapidamente.
— Preciso voltar agora, antes que notem a minha ausência. —
Ela parecia completamente recuperada. — Você não vai me esquecer,
mesmo esta noite? — Ela sussurrou contra seus lábios, suas mãos
procurando dentro de suas roupas. Ela não esperou por sua resposta,
mas escapou de seu aperto e atravessou o portão.
O som de aplausos fez Gavin se virar. Judith estava ali, seu
vestido e seus olhos brilhando em um reflexo do sol poente.
— Essa foi uma performance excelente. — ela disse enquanto
baixava as mãos. — Eu não tenho sido tão entretida em anos. Nunca
tinha visto nada igual. Essa mulher deve tentar o palco em Londres.
Eu ouvi dizer que há necessidade de bons comediantes.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 80
Gavin avançou em direção a ela, seu rosto refletindo sua raiva.
— Pequena mentirosa e falsa! Você estava escondida me vigiando,
não tem o direito de me espionar!
— Espionar-te! — Ela zombou. — Saí do salão para tomar um
pouco de ar depois que meu esposo, pronunciou essa palavra com
ironia, me deixou sozinha. E aqui no jardim, vi como meu esposo
estava se rastejando aos pés de uma mulher cheia de maquiagem,
capaz de manipulá-lo com o dedo mindinho.
Gavin então lhe deu uma bofetada. Uma hora antes ele jurara
que por nada no mundo seria capaz de ferir uma mulher.
Judith bateu contra o chão, aterrissando em uma massa de
cabelos amontoados e seda dourada. O reflexo do sol parecia ter lhe
aproximado uma tocha.
Gavin ficou instantaneamente arrependido. Estava desgostoso de
si mesmo e do que tinha feito. Ajoelhou-se para ajudá-la a se levantar.
Ela se afastou dele e seus olhos brilharam de ódio. Sua voz era
tão calma, tão seca, que ele mal podia ouvi-la.
— Você disse que não queria se casar comigo, que o fez apenas
pela riqueza que lhe trago com o dote. Eu também não queria me
casar com você. Recusei-me até que meu pai diante dos meus olhos
quebrou um braço de minha mãe como se fosse uma farpa. Eu não
tenho amor por esse homem, mas por você eu tenho menos ainda,
nisso pelo menos ele é um homem honesto, pelo menos é sincero. Não
jura amor eterno diante de um padre e centenas de testemunhas, para
jurar esse mesmo amor para outra apenas uma hora depois. Gavin
Montgomery você é inferior à serpente no Jardim do Éden, e sempre
amaldiçoarei o dia em que me uniram a você. Fez um juramento a
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 81
essa mulher. Agora eu te farei outro. Diante de Deus juro que
lamentaras o dia de hoje. Podes obter a riqueza que deseja, mas nunca
me entregarei livremente.
Gavin se afastou de Judith como se ela tivesse se transformado
em veneno. Sua experiência com mulheres limitava-se a prostitutas e
amizades com algumas das damas da corte. Todas elas eram
recatadas e castas como Alice. Que direito tinha Judith de lhe fazer
exigências, de amaldiçoá-lo, de fazer votos perante Deus? Um marido
era o deus de uma mulher, e quanto mais cedo aprendesse isso,
melhor.
Gavin agarrou um punhado de cabelos de Judith e puxou-a para
ele.
— Eu a tomarei o quanto quiser, e quando quiser que me
satisfaça e ao tomá-la, você deveria estar grata. — Ele a soltou e a
empurrou de volta ao chão. — Agora se levante e prepare-se para se
tornar minha esposa.
— Eu te odeio. — ela disse em voz baixa.
— O que isso importa para mim? Eu também não te amo.
Seus olhos se encontraram: aço cinza contra ouro. Nenhum dos
dois se moveu até que chegaram as mulheres encarregadas de
preparar Judith para a noite de núpcias.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 82
Capítulo Seis Haviam preparado um quarto especial para os recém-casados,
separando um grande canto dos aposentos superiores, em torno de
uma lareira. Havia uma enorme cama, coberta com os mais suaves
lençóis de linho e uma colcha de pele de esquilo cinzento, forrada com
seda carmesim. A cama estava coberta com pétalas de rosa.
As donzelas de Judith e várias das convidadas ajudaram a despir
a noiva. Quando ela estava nua, afastaram os cobertores e Judith se
deitou. Sua mente não prestava atenção no que acontecia ao seu
redor. Ela continuava chamando a si mesma de idiota. Em poucas
horas tinha esquecido dezessete anos de experiência sobre os homens;
por algumas horas acreditou que um deles poderia ser bom e amável,
até mesmo capaz de amar. Mas Gavin era como todos; talvez pior.
As mulheres riram com estardalhaço do silêncio de Judith. Mas
Helen sabia que havia mais do que apenas nervosismo envolvido no
comportamento de sua filha. Ela sussurrou uma oração silenciosa,
pedindo a Deus que ajudasse sua filha.
— Você é uma mulher afortunada. — murmurou uma mulher
mais velha ao ouvido de Judith. — Em meu primeiro casamento me
encontrei em uma cama com um homem cinco anos mais velho do que
meu pai. Surpreendi-me que ninguém o ajudara a cumprir com os
seus deveres.
Maud riu bastante.
— Lorde Gavin não precisará de ajuda disso tenho certeza.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 83
— Talvez Lady Judith precise de ajuda, e eu ofereceria meus...
ah... serviços de boa vontade. — Riu outra pessoa.
Judith mal as ouviu. Tudo o que ela lembrava era de ouvir o seu
marido prometendo seu amor à outra mulher, a maneira como ele
abraçava Alice e a beijava. As mulheres cobriram com o lençol até os
seios de Judith. Alguém penteou seu cabelo de modo que eles ficassem
cascateados suavemente sobre seus ombros nus para descansar em
cachos castanho-avermelhados grossos em torno de seus quadris.
Através da porta de carvalho, as mulheres ouviram o ruído dos
homens que chegavam com Gavin carregados em seus ombros, com os
pés para frente e já meio despido, os homens gritando suas ofertas de
auxílio, suas apostas quanto à competência de seu desempenho para a
tarefa à frente. Ficaram em silêncio enquanto o colocavam de pé e
olhavam para a noiva que esperava na cama. O lençol acentuava seus
ombros cremosos e as curvas cheias de seus seios. A luz das velas
acentuando as sombras dos lençóis. Sua garganta nua pulsava com
vida. Seu rosto estava em uma expressão séria e que fez seus olhos
escurecerem, como se jogassem chispas. Seus lábios eram duros,
como se esculpidos em algum cálido mármore vermelho.
— Acabe com isso! Mãos à obra! — Alguém gritou. — Quem vai
atormentar? A ele ou a mim?
O silêncio estava quebrado. Gavin rapidamente se despiu e foi
empurrado para a cama. Os homens observaram avidamente
enquanto Maud afastou as cobertas, dando-lhes um breve olhar dos
quadris e das coxas.
— Agora fora! — Ordenou uma mulher alta. — Deixe-os em paz.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 84
Helen deu um último olhar para a filha, mas Judith olhava para
as mãos cruzadas no colo e não via ninguém.
Quando a porta pesada se fechou, o quarto de repente parecia
naturalmente silencioso e Judith estava dolorosamente ciente do
homem ao seu lado. Gavin ficou sentado, olhando para ela. A única
luz no quarto era das chamas que ardiam na lareira em frente ao pé
da cama. A luz dançava em seus cabelos, brincava com as sombras de
sua delicada clavícula. Neste momento, ele não se lembrava de terem
discutido. Nem possuía pensamentos de amor. Só sabia que estava na
cama com uma mulher desejável. Ele moveu sua mão para tocar seu
ombro e ver se a pele era tão suave quanto parecia.
Judith afastou-se bruscamente dele.
— Não me toque! — Ela disse com os dentes cerrados.
Ele a olhou surpreso. Havia ódio em seus olhos dourados, suas
bochechas vermelhas. Se possível, sua raiva tornava-a ainda mais
bonita. Nunca havia sentido um desejo tão violento. Sua mão rodeou
seu pescoço, seu polegar cavando na carne macia.
— Você é minha esposa. — ele disse em voz baixa. — Você é
minha!
Ela resistiu a ele com todas as suas forças, mas não era nada
comparada a força dele. Facilmente, puxou o rosto de Judith para o
dele.
— Nunca vou pertencer a você livremente! — Ela cuspiu nele
antes que seus lábios a silenciasse.
Gavin queria ser gentil com ela, mas ela o enfurecia. Essa mulher
fazia querer amaldiçoá-la, inspirando o desejo de golpeá-la de novo.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 85
Mas, acima de tudo, queria possuí-la. Sua boca caiu brutalmente
sobre a dela.
Judith tentou afastar-se, mas ele não permitiu. Ele a machucava.
Não era o beijo doce da tarde, mas sim um castigo para discipliná-la.
Ela tentou chutá-lo, mas o lençol que os separava prendia seus pés e
ela mal conseguia se mover.
— Eu vou te ajudar. — Gavin disse e rasgou o lençol, puxando-o
de debaixo do colchão. Sua mão ainda segurava o pescoço de Judith,
quando o lençol foi jogado no chão e ela continuava deitada, nua
diante dele, que relaxou seu aperto enquanto a fitava. Ele a encarou
maravilhado: Seus seios cheios, cintura pequena, quadris redondos.
Olhou de volta para seu rosto, seus olhos brilhando. Seus lábios
estavam vermelhos de seu beijo, e de repente não havia nenhum poder
na terra que pudesse impedi-lo de tomá-la. Ele agiu como um homem
faminto, desesperado por comida, que iria matar ou mutilar para
conseguir o que desejava.
Ele a empurrou para o colchão e Judith viu a expressão em seus
olhos. Ela não entendia, mas tinha medo. Ele planejou mais do que
lhe bater. Disso ela tinha certeza.
— Não! — Ela sussurrou e lutou contra ele.
Gavin era um cavaleiro experiente. Judith não tinha força contra
ele, não mais do que um mosquito para uma peça de granito. E ele
prestou-lhe tanta atenção como a um inseto. Ele não fez amor com ela,
mas usou seu corpo. Gavin estava além de pensar no prazer dela,
como em qualquer outra coisa, somente pensava no que ele desejava e
tão desesperadamente precisava. Ele se jogou em cima dela, abrindo
suas pernas com uma coxa, beijou-lhe novamente, com força.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 86
Quando Gavin sentiu a minúscula membrana que o deteve, por
um momento ficou perplexo. Mas ele mergulhou empurrando,
inconsciente da dor que causava a Judith. Quando ela gritou, ele
silenciou seus lábios com os dele e continuou.
Depois que ele terminou, rolou para o lado, um braço pesado
cruzado sobre seus seios. Para ele, havia sido um alívio; para Judith,
nada parecido com prazer.
Em minutos, ela ouviu sua respiração lenta e soube que ele
estava dormindo. Silenciosamente, saiu de baixo de seu braço e da
cama. O cobertor de peles de esquilo tinha sido arremessado ao chão.
Ela o pegou e envolveu seu corpo. Olhou para o fogo, dizendo a si
mesma que não iria chorar. Por que ela deveria chorar? Casou-se
contra sua vontade com um homem que jurou, no dia do seu
casamento, que nunca a amaria, nunca poderia amá-la. Um homem
que lhe disse que não era nada para ele. Que razão tinha para chorar
quando a vida diante dela parecia ser tão agradável. Esperavam-lhe
anos que nada faria, a não ser para dar-lhe filhos e passar sua vida
em casa, enquanto ele passearia no campo com sua bela Alice.
Ela não iria chorar! Encontraria sua própria vida e, se possível,
seu amor próprio. Não se importaria com seu esposo em absoluto.
Ela ficou em silêncio, controlando suas lágrimas, e tudo o que
parecia relembrar era a doçura do beijo de Gavin naquela tarde, tão
diferente de seu ataque de hoje à noite.
Gavin se mexeu na cama e abriu os olhos. No início, não se
lembrava de onde estava. Virou a cabeça e viu a cama vazia ao seu
lado. Ela tinha ido embora! Cada polegada de sua pele ficou tensa, até
que ele notou Judith na frente da lareira. Esqueceu seu súbito medo,
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 87
aliviado por ela ainda estar com ele. Ela parecia estar em outro
mundo, nem mesmo o ouviu se mexer na cama. Os lençóis estavam
generosamente manchados de sangue e Gavin franziu o cenho. Ele
sabia que a machucou, mas não entendia o motivo. Alice tinha sido
virgem até aquele primeiro encontro, mas ela não demostrou nenhuma
dor.
Ele olhou para sua esposa, tão pequena e sozinha. Era verdade
que ele não a amava, mas a tinha usado com dureza. Uma donzela
não merecia estupro.
— Volte para a cama — ele disse suavemente, sorrindo um
pouco. Ele faria amor com ela lentamente, como meio de desculpas.
Judith endireitou os ombros.
— Não, eu não vou. — disse com firmeza. Ela deveria começar
por não o deixar controlá-la.
Gavin olhou para as suas costas, horrorizado. A mulher era
impossível! Ela fazia de cada frase um concurso de vontades. Com a
mandíbula apertada, levantou-se da cama para ficar diante dela.
Judith realmente não o viu nu antes, pelo menos não na
claridade, e seu peito nu, coberto com cabelo escuro sobre a pele
bronzeada pelo sol, atraiu seus olhos. Ele parecia formidável.
— Você não aprendeu que virá até mim quando eu chamar?
Ela levantou o queixo e encontrou seus olhos.
— Você não aprendeu que não lhe darei nada livremente? — Ela
respondeu.
Gavin estendeu a mão e tirou um cacho de seu quadril,
enrolando-o sobre seu pulso várias vezes, puxando Judith mais perto
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 88
de si, enquanto ela cedia se encolhendo da dor. A coberta caiu e ele
puxou sua pele nua contra a dele.
— Agora você usa a dor para tomar o que quiser, — ela
sussurrou — mas no final eu vou ganhar porque você se cansará de
lutar.
— E o que você ganha? — Ele perguntou, os lábios perto dela.
— Liberdade de um homem que eu odeio, um bruto, mentiroso,
desonroso e fal... — Parou quando ele a beijou. Não era o beijo de uma
hora antes, mas um gentil.
No início, Judith se recusou a reagir a ele, mas suas mãos foram
contra a sua vontade para seus braços. Eles eram duros, os músculos
proeminentes, e sua pele era tão quente. Ela percebeu os cabelos de
seu peito contra seus seios.
Quando seu beijo se aprofundou, ele afrouxou a mão de seu
cabelo, seus braços rodeando seus ombros. Ele moveu-a de modo que
a cabeça dela se encostou à curva de seu ombro.
Judith desistiu de pensar. Ela era uma massa de sensações, cada
sentimento novo e não sonhado. Ela se aproximou, passando as mãos
sobre suas costas, sentindo como os músculos se moviam, tão
diferentes da suavidade de suas próprias costas. Começou a beijá-la
nas orelhas, mordiscando os lóbulos. Emitiu uma risada baixa e
gutural: os joelhos de Judith amoleceram e ela caiu contra a força de
seu braço atrás das suas costas. Ele se inclinou, colocou seu outro
braço sob seus joelhos, sua boca nunca deixando seu pescoço, e a
levou para a cama. Deitando-a, ele beijou seu corpo desde a testa até
os dedos dos pés. Judith ficou em silêncio, apenas seus sentidos vivos.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 89
Em pouco tempo ela não podia suportar mais beijos. Ela tinha
uma absurda dor por toda parte, e puxou seu cabelo para melhor
beijar sua boca. E se perdeu em seus lábios com avidez, famintos.
Os sentidos de Gavin também estavam cambaleando. Nunca teve
o prazer de fazer amor com uma mulher, suave e longamente como
fazia hoje à noite, e nunca imaginara o prazer dela. A paixão de Judith
era tão feroz quanto a sua própria, mas não apressaram o ato de fazer
amor. Quando ele se deitou sobre ela, seus braços o seguraram
firmemente, puxando-o para mais perto. Não havia dor para Judith
desta vez. Ela estava pronta e disposta e se moveu com ele, lentamente
no início, até que eles explodiram juntos no clímax.
Eventualmente, Judith caiu em um sono profundo, exausta, com
a perna jogada sobre a de Gavin, os cabelos torcidos ao redor do
braço.
Mas Gavin não adormeceu imediatamente. Ele sabia que esta era
a primeira vez para aquela mulher suave que ele tinha nos braços,
mas de certa forma sentia como se acabasse de perder a virgindade
também. E essa era certamente uma ideia absurda. Não se lembrava
de todas as mulheres que levara para sua cama. Mas esta noite foi
infinitamente diferente. Nunca havia experimentado tal paixão. As
outras mulheres se retiravam quando ele estava mais excitado. Judith
lhe deu tanto quanto ele lhe dava.
Ele pegou uma mecha de cabelo de seu pescoço e segurou-o,
deixando que a luz do fogo tocasse através dos fios. Ele o segurou
perto do nariz, depois nos lábios. Ela se mexeu contra ele e se
aconchegou mais perto. Mesmo no sono ela o queria nas
proximidades.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 90
Os olhos cinza de Gavin ficaram pesados. Pela primeira vez em
que ele conseguia se lembrar, estava satisfeito e saciado. Ah, mas
havia o amanhã.
Ele sorriu antes de dormir.
Jocelin Laing colocou seu alaúde no estojo de couro e deu um
aceno quase imperceptível para a loira antes de ela sair do salão.
Naquela noite houve várias ofertas de mulheres para compartilhar
suas camas. A excitação do casamento e especialmente de ver o belo
casal se despir e colocar-se na cama enviou muitas pessoas em busca
do próprio prazer.
O cantor era um jovem especialmente bonito, olhos quentes e
escuros sob cílios longos e grossos, os cabelos escuros terminavam em
ondas na pele perfeita, que se estendia sobre maçãs do rosto.
— Ocupado esta noite? — Gritou um dos outros cantores rindo.
Jocelin sorriu enquanto fechava seu estojo de alaúde, mas não
respondeu.
— Eu invejo um homem com uma noiva como essa. — O outro
homem acenou com a cabeça para a escada.
— Sim, ela é linda, — concordou Jocelin. — Mas há outras.
— Não é assim. — O homem se aproximou de seu amigo. — Há
alguns de nós reunidos com algumas das donzelas da noiva. Você é
bem-vindo para vir conosco.
— Não! — Jocelin disse calmamente. — Eu não posso.
O cantor deu a Jocelin um olhar malicioso, juntou seu saltério e
saiu do grande salão.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 91
Quando a enorme sala estava em silêncio, dispersos pelo chão,
cem colchões de palha para os serventes e convidados de menor
importância, Jocelin subiu as escadas. Ele se perguntou como a
mulher que ia encontrar poderia ter arranjado um quarto privado.
Alice Valence não era rica, e embora sua beleza tivesse conquistado o
anel e a promessa de casamento de um conde, ela não era uma das
pessoas mais importantes. Nesta noite, quando o castelo estava
transbordando de convidados, só os noivos tinham um quarto sozinho.
Os outros convidados compartilhavam os leitos instalados nos quartos
das damas ou no dormitório principal. Eram grandes camas de até
dois metros e meio, rodeado por cortinas pesadas que pareciam quase
quartos individuais.
Jocelin não teve dificuldade em entrar no quarto reservado para
as mulheres solteiras, vários homens já haviam escorregado
furtivamente pela porta e estavam lá. Foi fácil ver que as cortinas se
abriram, deixando ver a loira. Aproximou-se dela rapidamente, uma
vez que apenas vê-la o encheu de desejo. Alice estendeu os braços,
com fome por ele, quase violenta em sua paixão e qualquer tentativa
feita por Jocelin para prolongar o prazer de ambos encontrou
resistência. Ela era como uma tempestade, cheia de relâmpagos e
trovões.
Quando terminou, não queria que Jocelin a tocasse. Sempre
atento ao humor de uma mulher, ele obedeceu ao seu desejo não
expresso. Nunca tinha visto uma mulher que não quisesse ser
abraçada depois de fazer amor. Começou a vestir suas roupas
descartadas precipitadamente.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 92
— Vou me casar em um mês. — disse ela calmamente. — Então
você virá ao castelo do meu marido.
Ele não comentou. Ambos sabiam que ele estaria lá.
Ele apenas se perguntou quantos outros homens ela convidou.
Um único raio de sol passou através da janela, seu calor fazendo
cócegas no nariz de Judith. Dormindo, ela o roçou e tentou se afastar,
mas algo a segurava pelos cabelos. Preguiçosamente abriu os olhos e
viu a estranha cama de dossel. Quando se lembrou de onde estava,
sentiu o rosto ficar quente. Até seu corpo parecia corar.
Ela moveu a cabeça para o outro lado da cama e olhou para o
marido adormecido. Seus cílios eram curtos, grossos e escuros, nas
bochechas já aparecia à barba crescida. Adormecido, as maçãs de seu
rosto não eram tão afiadas. Até a fenda profunda no queixo dele
parecia relaxada.
Gavin estava deitado de lado, de frente para ela e Judith deixou
seus olhos vagarem por ele. Seu peito largo estava coberto
generosamente por cabelos escuros e ondulados. Os músculos
formavam montículos grandes e bem modelados. Seus braços estavam
cobertos por um músculo redondo e firme. Seus olhos desceram até
seu ventre duro e achatado. Só depois de um momento seus olhos
baixaram um pouco mais. O que ela viu não parecia tão poderoso
agora, mas enquanto observava, sua masculinidade começou a
crescer.
Ela ofegou e seus olhos voaram de volta para os dele. Ele estava
acordado, observando-a, seus olhos ficando mais escuros a cada
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 93
momento. Não era mais o homem descontraído que ela observara, mas
um homem cheio de paixão. Judith tentou afastar-se, mas Gavin
ainda a segurava presa por seus cabelos. O que era pior, ela realmente
não queria resistir. Lembrou-se de que o odiava; porém mais do que
isso, lembrou-se do prazer quando ele fez amor com suavidade.
— Judith, — ele sussurrou e o tom de sua voz fez arrepios
percorrer seus braços.
Ele beijou o canto de sua boca. Suas mãos empurraram em vão
contra seus ombros, mas mesmo com esse ligeiro toque, seus olhos se
fecharam em rendição. Ele beijou sua bochecha, o lóbulo de sua
orelha. Então, enquanto ela ofegava para respirar, sua boca caiu sobre
a dela. Sua língua tocou docemente a ponta da dela. Ela recuou
assustada. Ele sorriu para ela como se a entendesse. Na noite passada
Judith pensou que aprendeu tudo o que havia para saber sobre o
amor entre um homem e uma mulher, mas agora pensava que talvez
soubesse muito, muito pouco.
Os olhos de Gavin assumiram um tom de fumaça quando a
puxou para ele novamente. Ele correu a língua ao longo de seus
lábios, tocando os cantos internos especialmente. Ela abriu os dentes
para saboreá-lo. Seu sabor melhor do que o mel mais rico. Quente e
frio, macio e firme. Ela explorou sua boca enquanto ele explorava a
dela. Ela não pensava agora em timidez. Na verdade, ela não tinha
ideia nenhuma.
Ela passou as mãos sobre ele enquanto ele baixava a cabeça para
seu pescoço, correndo a língua ao longo do pulso que batia lá.
Instintivamente ela inclinou a cabeça para trás, sua respiração mais
profunda, mais rápida.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 94
Quando os lábios e língua de Gavin tocaram seus seios, quase
gritou. Ela pensou que talvez pudesse morrer sob essa tortura lenta e
deliciosa. Tentou puxar a cabeça dele de volta para a boca, mas ele
deu uma risada profunda e gutural que a fez tremer. Talvez ele a
possuísse depois de tudo.
Quando pensou que iria perder a cabeça, ele se deitou em cima
dela, sua mão acariciando o interior de suas coxas até que ela tremeu
de desejo. Quando ele a penetrou, ela gritou. Não havia alívio para seu
tormento. Agarrou-se a ele, suas pernas em torno de sua cintura
enquanto erguia o quadril para encontrar cada arremesso dele.
Finalmente, quando se sentia prestes a explodir, experimentou as
contrações que a aliviaram. Gavin desmoronou sobre ela, segurando-a
tão perto que quase não conseguia respirar. Mas no momento, ela
realmente não se importava se alguma vez respirasse novamente.
Uma hora depois, as donzelas vieram vestir Judith, acordando os
recém-casados. De repente, cobrou perfeitamente a consciência de que
o seu corpo e os cabelos estavam enroscados em Gavin. Maud e Joan
tinham várias coisas a dizer sobre o abandono de Judith. Os lençóis
estavam manchados e tinha mais roupas de cama no chão que sobre o
colchão. A colcha de pele de esquilo jazia do outro lado do quarto junto
à lareira.
As donzelas puxaram Judith e a ajudaram a se lavar. Gavin
vagava com preguiça na cama e observava cada movimento.
Judith não olhou para ele, não podia. Ela estava envergonhada
até as profundezas de sua alma. Ela detestava o homem. Ele era tudo
o que ela odiava, vil, mentiroso, enganador, ganancioso, mas ela agiu
sem orgulho quando a tocou. Ela fez um voto a ele — e a Deus — de
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 95
que não receberia nada dela, mas ele tomou mais dela do que ela
queria dar.
Ela mal notou quando suas criadas colocaram uma fina camisola
de linho sobre sua cabeça, e depois um vestido de veludo verde escuro.
O vestido tinha sido bordado com intrincados desenhos de ouro. A
parte dianteira da saia foi dividida, revelando uma faixa larga de
anáguas de seda. As mangas eram cheias e recolhidas nos pulsos, com
pequenos cortes em alguns lugares, e o forro de seda verde claro foi
puxado através das barras.
— E agora, minha lady. — disse Maud, entregando a Judith uma
grande caixa de marfim.
Judith olhou para sua serva surpresa enquanto segurava a caixa
aberta. Em um veludo preto estava um grande colar de filigrana de
ouro, os fios minúsculos eram tão finos como o seu cabelo. Ao longo
do fundo do colar havia uma fileira de esmeraldas, muitas delas
perfeitamente combinadas em tamanho, nenhuma delas maior do que
uma gota de chuva.
— É linda. — sussurrou Judith. — Como minha mãe...
— É presente de casamento de seu esposo, minha lady. — Maud
corrigiu com chispas em seus olhos.
Judith podia sentir os olhos de Gavin em suas costas. Ela girou e
encarou-o. A visão dele na cama, sua pele tão morena contra a
brancura dos lençóis, fizeram seus joelhos amolecerem. Foi preciso
muita força de vontade, mas curvou um joelho e fez uma reverência.
— Obrigada, milorde.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 96
A mandíbula de Gavin apertou ante sua frieza. Havia esperado
que o presente a suavizasse um pouco. Como podia ser tão ardente na
cama e tão fria e altiva fora dela?
Judith voltou-se para suas donzelas e Maud terminou de abotoar
os botões do vestido. Joan trançou a camada superior do cabelo de
sua ama, e entrelaçou as tranças com fitas de ouro. Antes que elas
terminassem, Gavin ordenou que saíssem do quarto. Judith preferiu
não olhar para ele enquanto se barbeava às pressas e vestia um gibão
e colete marrom escuro, uma calça e casaco de lã castanho sobre ele, o
forro de lince dourado.
Quando deu um passo em direção a ela, Judith teve que lutar
para acalmar o seu precipitado coração. Gavin ofereceu-lhe o braço e
conduziu-a ao térreo, onde esperavam os convidados.
Assistiram à missa juntos, mas desta vez não se olhavam nos
olhos nem ele beijou sua mão.
Permaneceram solenes e sóbrios ao longo de todo o ritual.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 97
Capítulo Sete No terreno fora da mansão Revedoune, a agitação prevaleceu, o
ar estava carregado de excitação. Em todos os lugares tremulavam
estandartes coloridos, vibrando nas arquibancadas e nas tendas que
cobriam o campo. As roupas brilhavam a luz do sol, como joias.
Crianças corriam entre os grupos de pessoas. Vendedores, com
grandes caixas penduradas no pescoço, vendiam suas mercadorias,
desde frutas e tortas a relíquias sagradas.
A praça em si era um campo coberto de areia de cem metros de
comprimento, com duas fileiras de cercas de madeira ao longo de
ambos os lados. A cerca interna era curta, apenas um metro e vinte de
altura, mas o exterior chegava a quase dois metros e meio. O espaço
interior era para os escudeiros e cavalos dos participantes. Fora da
cerca alta, a classe mercante e os servos se pressionavam por uma
visão dos jogos e das justas.
As damas e os cavaleiros que não participavam sentaram-se em
arquibancadas em terraços suficientemente altos acima das cercas
para ver tudo. As arquibancadas eram cobertas e marcadas com os
estandartes que exibiam as cores das diferentes famílias. Várias áreas
levavam os leopardos dos Montgomery.
Antes de o combate começar, os cavaleiros desfilaram com sua
armadura. A qualidade e desenho das armaduras variavam
consideravelmente, dependendo da riqueza de cada um. As antigas
tinham cota de malha, outras, mais modernas, placas de metal
costuradas sobre couro, os mais ricos usavam a nova armadura
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 98
Maximiliano da Alemanha, que cobria o homem da cabeça aos pés
com aço inoxidável, sem deixar um centímetro desprotegido. Era uma
defesa pesada, ultrapassando os cinquenta quilos. Sobre os elmos
ondulavam penas com as cores do cavaleiro.
Enquanto Judith e Gavin andavam em direção ao terreno do
torneio, ela ficou perplexa com todo o barulho e cheiro que os rodeava.
Era novo e emocionante, mas Gavin tinha seus próprios pensamentos
contraditórios. A noite tinha sido uma revelação. Nunca desfrutou
tanto do gozo com uma mulher como tinha sido com Judith. Com
muita frequência, suas cópulas eram encontros apressados ou
secretos com Alice. Gavin não amava a essa mulher que havia
desposado, pelo contrário, falar-lhe o enfurecia, contudo não conhecia
paixão tão desinibida quanto a sua.
Judith viu Raine aproximar-se deles. Ele estava vestido com
armadura completa para a justa. O aço foi gravado com pequenas
flores de lis de ouro. Ele carregava seu capacete debaixo do braço, e
andava como se estivesse acostumado com o enorme peso da
armadura. E estava.
Judith não percebeu que ela deixou cair à mão do braço de Gavin
quando reconheceu seu cunhado. Raine aproximou-se rapidamente,
um sorriso de covinha no rosto, um sorriso que transformaria muitos
joelhos femininos em água.
— Olá, minha irmãzinha. — ele sorriu para ela. — Esta manhã
acordei pensando que sonhei tal beleza, mas vejo que você é mais do
que real e mais bela do que me lembrava.
Ela ficou encantada.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 99
— E você faz o dia mais brilhante. Você participará dos
combates? — Ela acenou com a cabeça em direção ao campo coberto
de areia.
— Miles e eu vamos participar da justa.
Nenhum dos dois parecia estar ciente de que Gavin olhava para
eles com o cenho franzido.
— E essas fitas que eu vejo os homens usando. — disse Judith.
— O que elas querem dizer?
— Uma dama pode escolher um cavaleiro do seu gosto e dar-lhe
uma prenda.
— Então, neste caso, eu posso lhe dar uma fita? — Ela sorriu
para ele.
Raine estava imediatamente de joelhos diante dela, as dobradiças
da armadura rangendo, o aço contra o aço batendo.
— Eu ficaria honrado.
Judith levantou o véu transparente que cobria seu cabelo e tirou
uma das fitas de ouro de uma trança. Era óbvio que suas criadas
sabiam da concessão de prendas a um cavaleiro.
Raine sorriu para ela enquanto apoiava a mão em seu quadril e
ela amarrava a fita ao redor de seu braço. Antes de terminar, Miles
caminhou para o lado oposto dela e ajoelhou-se também.
— Você não iria favorecer um irmão sobre o outro, iria?
Olhando para Miles, então, Judith descobriu porque outras
mulheres colocavam os olhos sobre ele desde a puberdade. Ontem ela
era virgem e não sabia o significado de seu olhar intenso. Ela corou
lindamente e inclinou a cabeça para deslizar uma fita em volta do
braço de seu outro irmão.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 100
Raine viu o rubor e começou a rir.
— Não comece com ela, Miles. — ele riu, pois, as mulheres de
Miles eram motivo de velhas piadas no castelo de Montgomery.
Stephen, o segundo irmão, costumava reclamar que o jovem tinha
deixado metade das servas grávidas antes dos dezessete anos e a outra
metade antes dos dezoito anos.
— Não pode ver que Gavin está nos fulminando com o olhar?
— Eu vejo vocês dois se fazendo de tolos. — Gavin disse com um
grunhido. — Há outras mulheres aqui, vão encontrar uma delas para
desfilarem, como se estivessem se vangloriando.
Judith mal tinha terminado de amarrar o nó da fita em Miles
antes que os dedos de Gavin lhe apertassem o braço e a afastasse para
longe usando a força.
— Você está me machucando! — Acusou ela, tentando arrancar
os dedos sem sucesso.
— Eu vou mais que te machucar se você se exibir novamente
diante de outros homens.
— Exibir-me? — Ela sacudiu seu braço, mas só conseguiu que
Gavin a segurasse mais forte. Todos ao seu redor eram cavaleiros
ajoelhados diante de damas, recebendo fitas, cintos, mangas de
vestidos, até joias, e ainda assim a acusava de se exibir. — Uma
pessoa desonesta sempre acredita que os outros o sejam, talvez
procure me acusar de suas próprias falhas.
Ele parou e olhou para ela, seus olhos escuros.
— Eu te acuso apenas do que sei que é verdade, você é ardente
com um homem, e eu não vou ter você se fazendo de rameira para os
meus irmãos. Agora sente aqui e não cause mais conflito entre nós. —
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 101
Ele se virou e saiu andando deixando Judith sozinha nas
arquibancadas guarnecida com o estandarte de Montgomery.
Por um momento, os sentidos de Judith não funcionaram. Ela
não podia nem ver nem ouvir. O que Gavin disse era injusto e ela
poderia ter descartado isso sem dar importância, exceto que ele jogou
no seu rosto o que eles fizeram em privado. Isso ela não poderia
perdoar. Ela tinha feito errado em responder a seu toque? Se sim,
como faria para evitar? Mal conseguia se lembrar dos acontecimentos
da noite. Era tudo um delicioso borrão de veludo vermelho para ela.
Suas mãos em seu corpo enviaram ondas de prazer através dela,
depois disso, lembrou-se de muito pouco. No entanto, ele lhe jogava na
cara como se ela fosse imunda. Ela piscou as lágrimas de frustração.
Estava certa em odiá-lo.
Subiu os degraus para sentar nos assentos de Montgomery. Seu
marido a deixara sozinha para encontrar seus parentes. Judith
manteve a cabeça erguida e se recusou a deixar qualquer um ver que
as lágrimas estavam começando a se formar.
— Lady Judith.
Uma voz suave finalmente penetrou seus sentidos, e ela se virou
para ver uma mulher mais velha vestida com o hábito sombrio de uma
freira.
— Eu gostaria de me apresentar, te conheci ontem, mas não
tenho certeza que você se lembrará, sou a irmã de Gavin, Mary.
Mary olhava para as costas de seu irmão. Era estranho que ele se
ausentasse, deixando uma mulher sem vigilância. Todos os seus
irmãos — Gavin, Stephen, Raine e Miles — eram extremamente
corteses. No entanto, Gavin não tinha sorrido uma única vez à sua
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 102
esposa e, embora não participasse dos jogos, estava indo até as
tendas. Mary não conseguia compreendê-lo.
Gavin atravessou a multidão até as tendas no fim das cercas.
Muitas pessoas bateram nas suas costas e deram-lhe piscadas de
olho. Quanto mais perto ele chegava das tendas, mais alto o som
familiar de ferro e aço era ouvido. Ele esperava que a sanidade da
guerra simulada o acalmasse.
Ele manteve os ombros para trás, os olhos em frente. Ninguém
teria adivinhado a raiva cega que o enchia. Ela era uma cadela! Uma
bruxa conivente, magistral! Tudo o que ele podia pensar era que
queria puni-la e fazer amor com ela ao mesmo tempo. Ele tinha ficado
ali, observando como ela sorria tão docemente a seus irmãos, mas
quando o olhou, era como se ele fosse algo detestável.
E tudo o que ele conseguia pensar era o jeito que ela tinha estado
com ele durante a noite. Ela o beijou com avidez, o abraçou com fome,
mas só depois que a forçou a vir até ele. Ele a estuprou na primeira
vez e usou a dor de seus cabelos torcidos ao redor de seu braço para
ordená-la a vir para ele pela segunda vez. Mesmo na terceira vez, teve
que agir contra seu protesto inicial. No entanto, ela riu e deu a seus
irmãos fitas de ouro. Ouro como seus olhos. Se ela deu tal paixão a ele
que admitia livremente odiar, como seria com um homem que ela
gostava? Ele a observara com Raine e Miles, imaginando que ela os
tocava, beijava-os. De repente, foi difícil se controlar, tudo o que Gavin
pôde fazer foi afasta-la para evitar empurra-la no chão. Ele queria
machucá-la, e tinha feito. Pelo menos havia alguma satisfação nisso,
mas não prazer. Na verdade, a expressão em seu rosto só o deixou
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 103
mais furioso. A maldita mulher não tinha o direito de olhar para ele
com tanta frieza.
Com raiva, jogou para trás a aba da tenda de Miles. Como Miles
estava no campo, deveria estar vazia, mas não foi assim. Alice estava
ali, seus olhos baixos, sua boca pequena, serenamente submissa. Ela
era um alívio bem-vindo para Gavin, que não teve muito no último dia
com uma mulher que rosnava para ele, em seguida, o deixava louco
com seu corpo. Alice era o que uma mulher deveria ser: calma,
subordinada a um homem. Sem pensar, ele a abraçou, beijando-a
violentamente. Ele gostava quando ela se derretia em seus braços. Ela
não ofereceu nenhuma resistência, e ele estava feliz com isso.
Alice nunca tinha visto Gavin de tão mau humor, e
silenciosamente agradeceu quem era a responsável. No entanto,
apesar de todo seu desejo, não era nenhuma idiota. Um torneio era
demasiado público, especialmente quando tantos parentes de Gavin
acampavam nas proximidades.
— Gavin, — ela sussurrou contra seus lábios — este não é o
lugar nem o momento certo.
Ele se afastou dela imediatamente, sentindo que naquele
momento não poderia suportar outra mulher relutante.
— Vá então! — Ele disparou quando saiu da tenda.
Alice olhou para ele, uma carranca franzindo sua suave
sobrancelha. Aparentemente, o prazer de dormir com a sua nova
esposa não afastou ele, mesmo assim, não era o mesmo que ela
conhecia.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 104
Walter Demari não conseguia tirar os olhos de Judith. Ela
sentava-se quieta no pavilhão de Montgomery, ouvindo atentamente
seus novos parentes enquanto a recebiam na sua nova família. Desde
a primeira vez que a viu, quando saiu do castelo para ir até a igreja,
ele a observara. Tinha visto Judith escapar para o jardim murado
atrás da torre, viu o olhar em seu rosto quando ela voltou. Ele sentia
como se a conhecesse, e mais do que isso... Ele a amava. Ele amava o
jeito que ela andava, com a cabeça erguida, o queixo firme, como se
estivesse pronta para enfrentar o mundo, não importava o que
houvesse à frente. Ele amava seus olhos, seu pequeno nariz.
Passara a noite sozinho, pensando nela, imaginando-a como sua.
Agora, depois de uma noite sem dormir, começou a se perguntar
por que ela não era dele. Sua família era tão rica quanto à dos
Montgomery e talvez mais. Ele tinha sido um visitante frequente da
mansão Revedoune, um amigo para os irmãos de Judith.
Robert Revedoune tinha acabado de comprar várias tortas fritas
de um dos vendedores e estava segurando uma caneca de refresco.
Walter não hesitou nem tomou tempo para explicar o que se
tornara uma obsessão para ele.
— Por que não me ofereceu a garota? — Perguntou ele, erguendo-
se sobre o homem sentado.
Robert levantou a cabeça, surpreso.
— O que você tem moço? Você deveria estar no campo com os
outros homens.
Walter se sentou e passou a mão pelo cabelo. Ele não era um
homem desinteressante, mas também não era bonito. Ele tinha olhos
de um azul indescritível e um nariz muito proeminente. Seus lábios
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 105
eram finos, sem forma, e podiam facilmente ser cruéis. Seu cabelo
arenoso estava cuidadosamente enrolado para dentro em volta de seu
pescoço.
— A menina, sua filha. — repetiu ele. — Por que você não a
ofereceu para mim? Eu passei bastante tempo com seus filhos. Não
sou rico, mas minhas propriedades rivalizam favoravelmente com as
de Gavin Montgomery.
Robert encolheu os ombros, comendo uma torta, a geleia
escorrendo entre as camadas crocantes e bebendo profundamente do
refresco azedo.
— Há outras mulheres ricas para você. — ele observou evasivo.
— Mas não como ela! — Walter respondeu com veemência.
Robert olhou para ele com surpresa.
— Você não vê que ela é linda? — Walter perguntou.
Robert olhou pelos pavilhões que o separavam de sua filha.
— Sim, vejo que ela é linda. — disse ele com desgosto. — Mas o
que é beleza, isso se desvanece em pouco tempo. Sua mãe já foi assim
e olhe como é agora.
Walter não precisava olhar para trás e nem para a mulher
nervosa e magra que se sentava na borda de seu assento, pronta a
levantar de um salto quando seu esposo decidir dar-lhe uma pancada
na cabeça. Ele ignorou a observação de Robert.
— Por que você a manteve escondida? Que necessidade havia
para mantê-la fora do mundo?
— Foi ideia da mãe dela. — Robert sorriu ligeiramente. — Ela
pagou pela guarda da menina, e isso não fez diferença para mim. Por
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 106
que você me pergunta essas coisas agora? Você não pode ver que a
justa está prestes a começar?
Walter agarrou Robert pelo braço. Ele conhecia bem o homem, e
conhecia a covardia de seus atos.
— Porque eu a quero, nunca vi uma mulher mais desejável, ela
deveria ter sido minha, minhas terras fazem fronteira com as suas,
teria sido uma boa aliança, mas você nem mesmo a mostrou para
mim.
Robert afastou o braço do jovem.
— Você, uma aliança adequada? — Ele zombou. — Olhe para os
Montgomery que cercam a menina: há Thomas, com quase sessenta
anos de idade, tem seis filhos, todos vivos, e todos produziram mais
filhos, ao lado de Ralph, seu primo, com cinco filhos, Hugh em seguida
com...
— O que isso tem a ver com sua filha? — Perguntou Walter,
furioso.
— Filhos! — Berrou Robert no ouvido do homem. — Os
Montgomery produzem mais filhos que qualquer outra família na
Inglaterra. E que filhos! Olhe para a família com que a menina se
casou. O mais jovem, Miles, ganhou suas esporas no campo de
batalha antes dos dezoito anos e já teve três filhos. Filhos das servas.
Raine passou três anos viajando o país de um torneio para o seguinte.
Ele saiu invicto e ganhou uma fortuna própria. Stephen serve agora na
Escócia com o rei, e ele já dirige exércitos embora tenha apenas vinte e
cinco anos. E finalmente o primogênito que aos dezesseis anos, ficou
sozinho com propriedades para administrar, irmãos para cuidar, não
tinha guardião para ajudá-lo a aprender o trabalho de um homem...
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 107
Que outro aos dezesseis anos de idade poderia fazer como ele fez?
Quase todos choramingam quando sua vontade não é feita.
Ele olhou de volta para Walter.
— E agora você pergunta por que eu dou Judith a tal homem? Se
eu não posso produzir os filhos que são fortes o suficiente para viver,
talvez eu possa obter netos fortes e saudáveis.
Walter ficou furioso. Perdera Judith só porque o velho sonhava
com netos.
— Eu poderia lhe dar filhos! — Retrucou Walter, com os dentes
cerrados.
— Você? — Robert começou a rir. — Quantas irmãs você tem?
Cinco? Seis? Eu perco a conta delas E o que você faz? Seu pai dirige
suas propriedades. Você não faz mais que caçar e incomodar as
servas. Agora vá e não volte a gritar comigo. Se eu tiver uma égua e
quero raça, vou dar-lhe o melhor garanhão. Vamos terminar por aqui.
— Ele se virou para olhar a justa, afastando Walter de sua mente.
Mas Demari não era um homem a ser despedido tão facilmente.
Tudo o que Robert dizia era verdade. Walter tinha feito pouco que
merecia mérito em sua curta vida, mas isso era apenas porque ele não
havia sido forçado a fazê-lo como os homens de Montgomery foram.
Walter não tinha dúvidas de que se ele tivesse sido forçado, pela morte
precoce de seu pai, em uma posição de responsabilidade, teria se saído
tão bem, ou melhor, do que qualquer outro homem.
Ele deixou as arquibancadas um homem mudado. Uma semente
havia sido plantada em sua mente e essa semente começou a crescer.
Ele assistiu aos jogos começarem, o leopardo Montgomery de ouro
brilhando por toda parte, como o sol, começou a pensar nele como um
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 108
inimigo. Ele queria provar a Robert e aos Montgomery, mas
principalmente a si mesmo, que não iria ficar para trás. Quanto mais
ele olhava para os estandartes verdes e dourados, mais tinha certeza
de que odiava os Montgomery. O que eles fizeram para merecer as
ricas terras Revedoune? Por que eles deveriam ter o que era para ser
dele? Durante anos ele aguentou a companhia dos irmãos de Judith,
mas nunca tinha tomado nada em troca. Agora, quando havia algo que
ele queria e deveria ter tido, e lhe foi negado por causa do
Montgomery.
Walter deixou a cerca e começou a andar em direção ao pavilhão
de Montgomery. A crescente raiva da injustiça que sentia lhe dava
coragem. Ele falaria com Judith, passaria um tempo com ela.
Afinal, por direito, ela era dele, não era?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 109
Capítulo Oito Judith fechou a porta do quarto com tanta força que até as
paredes de pedra pareciam tremer. Era o fim do primeiro dia de seu
casamento, e poderia facilmente qualificar-se como o dia mais horrível
de sua vida. Deveria ter sido feliz, um dia cheio de amor e risos, mas
não com o marido que ela tinha! Não havia uma oportunidade que
Gavin não usasse para humilhá-la.
Pela manhã, ele a acusou de ser uma prostituta para seus
irmãos. Quando ele se afastou e a deixou sozinha, ela conversou com
outras pessoas. Um homem, Walter Demari, foi gentil o suficiente para
sentar-se ao lado dela e explicar o funcionamento do torneio. Pela
primeira vez naquele dia, começou a se divertir. Walter tinha um
talento para encontrar o ridículo, e gostava muito de seu humor.
Gavin de repente reapareceu e ordenou que o seguisse. Judith
não queria fazer uma cena em público, mas na privacidade da tenda
de Raine, ela disse a Gavin o que achava de seu comportamento. Ele a
deixou sozinha para se conduzir por si mesma, mas quando
demostrou qualquer alegria e divertimento ele tirou isso dela. Ele era
como um menino pequeno com um brinquedo que não queria, mas
também não queria que ninguém mais o tivesse. Gavin respondeu
ironicamente, mas Judith registou com satisfação que não sabia o que
dizer.
Quando Raine e Miles entraram, ela e Gavin pararam sua briga.
Mais tarde, ela caminhou com Miles de volta ao torneio. Foi então que
Gavin realmente a humilhou. Assim que Alice Valence apareceu, ele
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 110
praticamente correu atrás dela. Gavin parecia como se pudesse comê-
la, devorá-la, mas ao mesmo tempo a olhava com reverência, como se
ela fosse santa. Judith não tinha perdido o olhar de triunfo que Alice
lhe deu. Judith afastou os olhos, endireitou as costas e pegou o braço
de Miles. Ela não deixaria ninguém ver como tinha sido publicamente
envergonhada.
Mais tarde, no jantar, Gavin ignorou Judith, embora estivessem
sentados lado a lado na mesa alta. Ela riu do bufão e malabaristas,
fingiu estar contente quando um bardo extremamente bonito compôs e
cantou uma canção para sua beleza. Na verdade, ela quase não ouviu.
A proximidade de Gavin tinha um efeito perturbador sobre ela, sem lhe
permitir desfrutar de nada.
Depois da refeição, as mesas de cavalete foram desmontadas e
empurradas contra a parede para dar lugar às danças. Depois de uma
dança juntos, por razões de aparência, Gavin tinha procedido a dançar
com uma mulher após outra em seus braços. Judith recebeu mais
convites para dançar do que ela poderia aceitar, mas logo contestou
fadiga e subiu correndo as escadas para a privacidade de seu quarto.
— Um banho. — ela exigiu de Joan, que arrastou de um canto da
escada, onde estava entrelaçada com um jovem. — Traga uma
banheira e água quente. Talvez eu possa lavar um pouco do fedor do
dia de hoje.
Ao contrário do que Judith acreditava, Gavin esteve muito
consciente da presença de sua esposa. Não houve um momento em
que ele não soubesse onde ela estava ou com quem. Parecia que
conversou durante horas com um homem no torneio. Ela riu de cada
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 111
uma de suas palavras. Sorrindo para ele até que o homem estava
obviamente enlouquecido.
Gavin a afastou para o seu próprio bem. Ele sabia que Judith
não tinha ideia de como afetava um homem. Ela era como uma
criança. Tudo era novo. Olhava-o sem esconder nada, sem reservas,
abertamente rindo do que ele dizia. Gavin viu que o homem tomava
essa cordialidade como algo mais profundo
Ele pretendia explicar isso a ela, mas quando o atacou,
acusando-o com todo tipo de insulto, de como ele estava se
comportando, preferia morrer em vez de explicar suas ações. Ele
temeu que pudesse envolver suas mãos sobre sua garganta
encantadora e estrangula-la. Pelo menos a breve aparição de Alice o
acalmou. Alice era como um gole de água fresca para aqueles que
acabavam de sair do inferno.
Agora, enquanto ele apoiava as mãos sobre o quadril redondo de
uma jovem atraente, viu Judith subir os degraus. Ele não dançou com
ela, com medo que pudesse se desculpar. Para quê? Ele se perguntou.
Havia sido gentil com Judith até aquele momento no jardim quando
ela começou a agir de forma insana, fazendo juramentos que não tinha
o direito de fazer. Ele estava certo em afastá-la do homem que
obviamente pensava que seus sorrisos significavam mais do que eles
eram, no entanto, se sentia como se tivesse feito algo de errado.
Esperou um pouco, dançou com mais duas mulheres, mas
Judith não voltou ao grande salão. Impaciente, subiu as escadas.
Nesses breves segundos, imaginou todo tipo de coisas que poderia
estar fazendo.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 112
Quando abriu a porta da câmara Judith estava submersa até seu
pescoço em uma banheira de água fumegante. Seus cabelos castanho-
avermelhados estavam recolhidos em cima de sua cabeça em uma
massa macia de cachos. Seus olhos estavam fechados, sua cabeça
descansando na borda da banheira. A água devia estar muito quente
porque seu rosto estava levemente umedecido com suor. Todos seus
músculos se congelaram ao vê-la. Quando ela franzia o cenho para ele,
enfurecendo-o, mesmo assim era magnífica, mas agora de olhos
fechados era a inocência personificada. De repente, ele sabia que era
isso que queria dela, isso era tudo o que precisava. O que importava
que ela o desprezasse? Ela era dele e só dele. Seu coração batia forte
quando fechou a porta atrás de si.
— Joan? — Judith disse languidamente. Não recebendo
nenhuma resposta, seus olhos se abriram. Ela viu o olhar no rosto de
Gavin e conhecia seus pensamentos. Apesar de tudo, seu coração
começou a bater rapidamente.
— Deixe-me sozinha em minha privacidade. — ela conseguiu
sussurrar.
Ele a ignorou enquanto avançava, seus olhos ficaram escuros.
Inclinou-se sobre ela, pegou o queixo em sua mão. Judith tentou
afastar-se, mas ele a segurou rapidamente. Beijou-a grosseiramente
no começo, mas então seus dedos e beijo se tornaram gentis,
profundos.
Judith sentiu-se à deriva. O prazer da água quente, a mão na
bochecha, o beijo a enfraqueceram. Ele se afastou dela e olhou em
seus olhos, o ouro quente e brilhante. Todos os pensamentos de ódio
desapareceram deles. Havia apenas a proximidade de seus corpos. A
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 113
fome de um pelo outro superou qualquer hostilidade ou mesmo
pensamentos de quem não amava quem.
Gavin se ajoelhou junto à banheira, sua mão se movendo para
trás do pescoço de Judith. Ele a beijou de novo, correu a boca pela
curva de seu pescoço. Estava úmida e quente e o vapor ascendente era
como sua paixão, crescente. Ele estava pronto, mas queria prolongar
seu prazer, arrastá-la com ele até o auge da dor suprema. Suas
orelhas eram doces e cheiravam ao sabão perfumado de rosa que ela
usava.
De repente, ele queria vê-la por inteiro. Tudo dela. Gavin colocou
as mãos sob seus braços e a levantou. Ela ofegou ante o movimento
inesperado, e o impacto do ar frio depois do calor da água. Uma toalha
macia e morna pendia ao alcance do braço, e Gavin a envolveu. Judith
não falou. Em algum lugar, enterrado em sua mente, estava o
conhecimento de que as palavras romperiam o feitiço. Ele a tocou
ternamente, sem exigências severas, sem contusões e sem amargurá-
la. Sentou-se em um banco diante do fogo e a colocou entre suas
pernas como se fosse uma criança.
Se alguém falasse de tal cena, Judith teria negado que pudesse
acontecer e diria que Gavin era um bruto insensível. Não sentiu
nenhum embaraço por sua nudez enquanto ele permanecia
completamente vestido, só se maravilhava com a magia do momento.
Gavin a secou cuidadosamente. Ele era um pouco desajeitado, muito
áspero às vezes, mas muito gentil.
— Vire-se. — ordenou e ela obedeceu permitindo que lhe secasse
as costas. Gavin jogou a toalha no chão e Judith conteve a respiração.
Mas ele não falou. Simplesmente passeou o dedo através do sulco
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 114
profundo de sua coluna. Ela podia sentir os calafrios que seu toque
trouxe. Seu dedo disse mais que uma centena de carícias.
— Você é linda. — sussurrou com voz rouca, enquanto colocava
as palmas das mãos sobre a curva de seus quadris. — Tão bonita.
Judith não respirou e não se moveu mesmo quando sentiu seus
lábios no lado de seu pescoço. Suas mãos se moveram em tortura
lenta sobre seu ventre, através de suas costelas, até seus seios, que o
esperavam ansiosos, implorando por ele. Judith soltou sua respiração
reprimida e se recostou contra ele, sua cabeça descansando contra
seu ombro, a boca dele ainda em seu pescoço. Ele passou suas mãos
sobre ela, tocando sua pele, explorando seu corpo.
Quando Judith estava quase louca de desejo, ele a levou para a
cama. Em segundos, suas roupas estavam no chão e ele deitou-se ao
lado dela. Ela puxou-o para si, procurou sua boca. Gavin riu da cobiça
de suas mãos agarrando-o, provocando-o, mas não havia nenhuma
zombaria em seus olhos cinzentos. Havia apenas o desejo de prolongar
seu prazer. Um brilho se acendeu nos olhos de Judith, e soube que ela
teria a última risada. Suas mãos se moveram para baixo. Quando
encontrou o que buscava, não havia mais riso em seus olhos. Estavam
negros de paixão quando ele a penetrou e se moveram numa dança
sensual.
Apenas alguns segundos mais tarde ambos alcançaram o prazer,
soltaram em uníssono um grito, ambos em alivio do doce tormento.
Judith sentiu-se esgotada, os ossos fracos enquanto Gavin se afastava
parcialmente, caindo de lado, embora sua perna ainda estivesse entre
as dela, seu braço sobre seus seios. Ela suspirou profundamente antes
de adormecer.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 115
Judith acordou na manhã seguinte, estirando-se como um gato
depois de uma sesta. Seu braço deslizou através do lençol apenas para
encontrar o vazio. Seus olhos se abriram. Gavin havia ido embora e,
pelo sol que atravessava a janela, a manhã já se fazia tarde. Seu
primeiro pensamento foi sair correndo, mas a cama aquecida e a
recordação da noite anterior a seguravam entre os lençóis. Virou-se
para o lado, deslizando a mão para a marca funda no colchão ao seu
lado, e enterrou o rosto no travesseiro. Ele ainda tinha o cheiro de
Gavin. Quanto tempo levou para identificar o cheiro dele!
Ela sorriu sonhadora. A última noite havia sido o céu. Lembrava-
se dos olhos de Gavin, da boca dele...
Ele preenchia todas as suas visões.
Uma batida suave na porta fez seu coração bater descompassado,
depois se acalmou abruptamente quando Joan abriu a porta.
— Esta acordada senhora? — Perguntou Joan, com um sorriso
no rosto.
Judith se sentiu muito bem para se ofender.
— Lorde Gavin levantou-se cedo e se armou. Está colocando a
armadura.
— Armadura? — Judith sentou-se na cama.
— Ele só quer participar da justa, não entendo porque, como
noivo, não precisa.
Judith deitou-se contra o travesseiro. Ela entendia. Naquela
manhã poderia voar a partir da Torre para pousar-se com leveza no
chão. Ela sabia que Gavin devia sentir o mesmo. A justa era uma
maneira de gastar sua energia.
Ela jogou para trás as cobertas e pulou da cama.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 116
— Tenho que me vestir, já é tarde, você acha que o perderemos
sua participação?
— Não. — Joan riu. — Chegaremos a tempo.
Judith vestiu-se rapidamente com um vestido de veludo azul
índigo com uma capa de seda azul claro. Sobre sua cintura havia um
cinto fino de couro azul macio cravejado de pérolas.
Joan apenas penteou o cabelo de sua ama e colocou um véu de
gaze azul transparente, bordado com pequenas pérolas. O sustentava
com uma tiara de pérolas trançadas.
— Estou pronta. — disse Judith, impaciente.
Caminhou rapidamente para o terreno onde o torneio estava
sendo realizado e sentou-se em seu lugar no pavilhão dos
Montgomery. Seus pensamentos guerreavam uns contra os outros. E
se o que aconteceu na noite anterior tivesse sido pura imaginação? Um
sonho? Gavin fizera amor com ela. Não havia outra palavra para isso.
Claro que ela era muito inexperiente, mas poderia um homem tocar
uma mulher como ele a tocou e não sentir algo por ela? O dia parecia
mais brilhante de repente. Talvez ela fosse uma tola, mas estava
disposta a tentar fazer com que desse certo seu casamento.
Judith esticou o pescoço para ver o fim do campo do torneio,
procurando ver o marido, mas havia muitas pessoas e cavalos no
caminho.
Silenciosamente, Judith saiu das arquibancadas e caminhou em
direção às tendas. Ela parou ao longo da cerca externa, alheia aos
servos e comerciantes que se aglomeravam em torno dela. Passaram
alguns minutos antes de vê-lo. Gavin em trajes normais era um
homem poderoso, mas com armadura era formidável. Ele montava um
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 117
enorme cavalo de guerra cinza escuro, suas rédeas de sarja e couro
verde estampado e pintado com leopardos dourados. Ele movia-se
facilmente na sela, como se os cinquenta quilos de armadura não
pesassem nada. Viu o seu escudeiro lhe entregar seu capacete, escudo
e, finalmente, sua lança.
O coração de Judith saltou até sua garganta e quase a sufocou.
Essa modalidade de jogo na justa era perigosa. Ela observou sem
fôlego Gavin carregando seu grande cavalo, sua cabeça abaixada, seu
braço apoiado contra a lança. Sua lança golpeou o escudo do
adversário exatamente como seu próprio escudo foi atingido. As lanças
romperam e os homens cavalgaram para as extremidades opostas do
campo para obter novas. Felizmente, as lanças usadas na batalha
eram mais fortes do que as de madeira usadas nos jogos. O objetivo
era quebrar três lanças sem perder os estribos. Se um homem for
derrubado antes dos três confrontos, ele deveria pagar o valor de seu
cavalo e armadura para seu adversário e não era uma soma
insignificante. Assim, Raine fez uma fortuna no circuito de torneios.
Mas os homens se machucavam. Acidentes aconteciam
constantemente. Judith sabia disso e observava com medo enquanto
Gavin cavalgava de novo, e novamente nenhum dos dois perdeu os
estribos.
Uma mulher perto de Judith riu, mas ela não prestou atenção até
que as palavras a alcançassem.
— Seu marido é o único homem que não carrega nenhuma
prenda, contudo dá fitas de ouro a seus irmãos. Que pensar de tão má
meretriz?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 118
As palavras eram maliciosas e significavam que eram ditas para
os ouvidos de Judith, contudo, quando ela se virou, ninguém
demostrou nenhum interesse nela. Ela olhou em volta para os
cavaleiros que andavam entre os cavalos ou ficavam no fim do campo
perto dela. O que a mulher disse era verdade. Todos os cavaleiros
tinham fitas ou mangas tremulando em suas lanças ou capacetes.
Raine e Miles tinham várias, e em um braço cada um usava uma fita
de ouro já desgastada.
Judith só queria correr pela borda do campo e alcançar Gavin
antes que ele combatesse seu oponente pela terceira vez. Ela era nova
para a justa e não tinha ideia de que o que iria fazer era perigoso. Os
cavalos de guerra, criados para a força, tamanho e resistência, eram
treinados para ajudar um cavaleiro em tempos de guerra. Eles
poderiam usar seus cascos grandes para matar tão facilmente como
um homem usava uma espada.
Ela não ouviu os suspiros e exclamações enquanto homem após
homem puxava seu cavalo para trás e afasta-los da mulher que se
lançava a toda velocidade para o extremo do campo. Também não
estava ciente de que várias das pessoas que estavam nas
arquibancadas a haviam visto e agora estavam de pé, suas respirações
suspensas.
Gavin afastou os olhos de seu escudeiro quando lhe foi entregue
uma nova lança. Ele podia sentir o silêncio gradual sobre a multidão.
Viu Judith imediatamente e percebeu que não havia nada que pudesse
fazer. Antes que pudesse desmontar, ela já o teria alcançado. Ele
olhou fixamente, esperando, cada músculo rígido.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 119
Ela não possuía uma fita para dar a ele, mas sabia que deveria
lhe dar uma prenda. Ele era seu esposo e era dela! Judith tirou o véu
de gaze transparente enquanto corria pela areia, colocando a tiara de
pérolas sobre seu cabelo.
Quando chegou a Gavin, levantou o véu para ele.
— Uma prenda. — ela sorriu sedutoramente.
Ele não se moveu por um momento, então levantou sua lança e
baixou-a até ela. Rapidamente, Judith amarrou um canto do véu
firmemente acima do eixo. Quando ela o olhou e sorriu, ele se inclinou
para frente, colocou a mão atrás da cabeça dela e quase a levantou do
chão enquanto a beijava. O nariz do capacete estava frio contra sua
bochecha e seu beijo era duro. Quando ele a soltou, seus calcanhares
afundaram na areia, e ela estava aturdida.
Judith não estava ciente da multidão repentinamente silenciosa,
mas Gavin, sim. Sua esposa tinha arriscado a vida para dar-lhe uma
prenda, e então levantou a sua lança em sinal de triunfo. Seu sorriso
parecia chegar de um lado a outro do capacete.
O rugido de aprovação da multidão foi ensurdecedor.
Judith girou, viu que todos os olhos estavam sobre ela. Suas
bochechas arderam e suas mãos cobriram seu rosto. Miles e Raine
correram desde as laterais, colocaram seus braços protetoramente em
torno dela e a levaram para a segurança.
— Se não tivesse agradado tanto a Gavin, eu iria colocá-la sobre
os meus joelhos e te daria uma surra pelo que fez. — Raine disse.
Em meio a novas aclamações, Gavin desarmou seu oponente.
Judith não gostou de ser o alvo de tantas risadas. Recolheu suas saias
e voltou o mais rápido possível para o castelo. Talvez alguns minutos
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 120
sozinha no jardim ajudariam suas bochechas a voltar à sua cor
natural.
Alice entrou abruptamente na tenda do conde de Bayham, um
lugar rico, feito de finas sedas e tapetes bizantinos, erguida para o
conforto de Edmund Chatworth.
— Algo está errado? — Perguntou uma voz profunda atrás dela.
Alice virou para encarar Roger, o irmão mais novo de Edmund.
Ele sentou-se em um banco baixo, sua camisa removida enquanto
corria cuidadosamente a lamina de sua espada ao longo de uma pedra
de amolar que girava com seu pé. Era um homem bonito, cabelos
loiros com reflexos mais claros devido ao sol, nariz aquilino, boca
firme. Em seu olho esquerdo havia uma cicatriz curva que em nada
prejudicava a sua boa aparência.
Muitas vezes Alice desejava que Roger fosse o conde em vez de
Edmund. Ela começou a responder a sua pergunta, depois parou. Ela
não podia contar a ele de sua raiva quando viu a esposa de Gavin
fazendo um espetáculo na frente de várias centenas de pessoas. Alice
lhe ofereceu uma prenda, mas ele não aceitou, disse que já havia
muitos rumores sobre eles e não era adequado provocar mais
— Você joga com fogo, sabe? — Roger disse enquanto corria seu
polegar ao longo da lamina da espada. Quando Alice não fez nenhum
comentário, ele continuou. — Os homens de Montgomery não veem as
coisas como nós fazemos, para elas o certo é certo e o errado é errado,
não há nada no meio.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 121
— Eu não tenho ideia do que você quer dizer. — Respondeu com
altivez.
— Gavin não ficará satisfeito quando descobrir que você mentiu
para ele.
— Eu não menti!
Roger levantou uma sobrancelha.
— E que razão você lhe deu por casar com meu irmão, o conde?
Alice sentou-se pesadamente em um banco ao lado de Roger.
— Você não achava que a herdeira seria tão bonita, não é?
Os olhos de Alice brilharam quando olhou para ele.
— Ela não é linda, seu cabelo é vermelho e ela com certeza deve
estar coberta de sardas. — Ela sorriu maliciosamente. — Tenho que
perguntar qual creme ela usa para cobri-las no rosto, Gavin não a
achará tão desejável quando a ver...
Roger a interrompeu.
— Eu estava na cerimônia de cama e vi uma grande parte de seu
corpo, não havia sardas não se iluda, acha que pode segurá-lo quando
ele estiver sozinho com ela?
Alice se levantou e caminhou até a entrada da tenda. Não
deixaria Roger perceber como as palavras a perturbavam. Necessitava
manter Gavin. A qualquer custo, deveria mantê-lo. Ele a amava,
profunda e sinceramente, como ninguém a amou. Precisava disso
tanto quanto precisava da riqueza de Edmund. Ela não deixava as
pessoas verem dentro dela. Escondeu bem suas mágoas. Desde
criança, havia sido uma linda filha nascida entre um bando de irmãs
feias e doentes. Sua mãe deu todo seu amor às outras, pensando que
Alice tinha atenção suficiente de suas babas e dos visitantes do
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 122
castelo. Desprezada pela mãe, ela se voltou para o pai em busca de
amor. Mas a única coisa que Nicolas Valence amava vinha de uma
garrafa. Alice aprendeu a tomar o que não lhe era dado. Manipulou
seu pai para lhe comprar roupas bonitas e caras, e sua beleza deixou o
ódio de suas irmãs mais forte por ela. Além de sua velha serva, Ella,
ninguém a amava, até encontrar Gavin. No entanto, todos esses anos
de luta, tentando obter algumas moedas, fez com que ela desejasse a
segurança financeira tanto quanto o amor. Gavin não era rico o
suficiente para lhe dar essa segurança, mas Edmund era.
Agora, a metade do que precisava estava sendo tirada dela por
uma bruxa ruiva. Alice não era alguém que se sentava de braços
cruzados e deixava o futuro cuidar de si mesmo. Ela lutaria pelo que
ela queria.
— Onde está Edmund? — Perguntou a Roger.
Ele acenou com a cabeça para a divisão de linho na parte de trás
da tenda.
— Adormecido, muito vinho e muita comida. — disse ele com
desgosto. — Vá para ele, precisará de alguém para segurar sua cabeça
dolorida.
— Acalme-se, irmão! — Raine comandou Miles. — Sua cabeça
está dolorida o suficiente sem precisar bater contra um poste de
tenda.
Levavam Gavin em seu escudo, suas pernas penduradas na
borda, seus pés arrastando na terra. Ele tinha acabado de derrubar
seu segundo adversário quando a lança do homem escorregou se
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 123
elevando para cima, pouco antes de cair. O golpe pegou Gavin logo
acima de sua orelha. Foi um golpe duro, que amassou seu capacete.
Ele viu apenas a escuridão e ouviu um zumbido em sua cabeça que
abafava todos os outros ruídos. Conseguiu ficar na sela, mais por
treinamento do que por força, enquanto seu cavalo girava e voltava
para o fim do campo. Gavin olhou para seus irmãos e seu escudeiro,
deu um sorriso dolorido, então lentamente caiu em seus braços
erguidos para ampara-lo.
Raine e Miles transferiram seu irmão para um colchão de palha
dentro de sua barraca. Eles removeram o danificado capacete e
colocaram um travesseiro sob a cabeça.
— Vou buscar um médico. — disse Raine ao irmão. — E você
encontra a esposa dele. Não há nada que uma mulher goste mais que
um homem impotente.
Vários minutos depois, Gavin começou a recuperar a consciência.
Água fria estava sendo pressionada em seu rosto quente. Mãos geladas
tocaram sua bochecha. Ele ficou aturdido quando abriu os olhos. Sua
cabeça rugiu. A princípio, não conseguia se lembrar de quem via.
— Sou eu, Alice. — Ela sussurrou, Gavin estava feliz que não
havia ruídos mais altos. — Eu vim cuidar de você.
Ele sorriu um pouco e fechou os olhos novamente. Havia algo que
deveria se lembrar, mas não podia.
Alice viu que em sua mão direita ainda apertava o véu que Judith
lhe dera. O mesmo que conseguiu desamarrar de sua lança quando
caiu de seu cavalo. Não gostou do que isso parecia significar. Tirou de
sua mão e o jogou ao chão.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 124
— Ele está muito ferido? — Uma mulher perguntou ansiosamente
de fora da tenda.
Alice se inclinou para frente e colou os lábios na boca dormente
de Gavin, lhe guiando um braço para que rodeasse a sua cintura.
A luz que penetrava da tenda aberta em seu rosto e a pressão em
seus lábios fizeram Gavin abrir os olhos. Em seguida, recuperou seus
sentidos. Viu sua esposa, ladeada pelas figuras de seus irmãos,
franzindo o cenho, olhando para ele fixamente, enquanto abraçava
Alice. Ele a afastou e tentou sentar-se.
— Judith. — ele sussurrou.
Toda a cor drenou de seu rosto. Seus olhos eram escuros e
enormes. E o olhar que ela lhe deu foi novamente de ódio. Então, de
repente, se converteu em frieza.
A rápida mudança de pressão em seu crânio ferido enquanto
tentava se sentar era demais para Gavin. A dor era insuportável. Por
sorte, tudo ficou preto. Caiu pesadamente contra o travesseiro.
Judith virou-se rapidamente no calcanhar e deixou a tenda,
seguida de perto por Miles, que parecia protegê-la de alguma maldade.
O rosto de Raine estava escuro quando olhou para seu irmão.
— Seu bastardo... — ele começou, depois parou quando viu que
Gavin estava novamente inconsciente. Raine virou-se para Alice, que
olhava para ele triunfante. Agarrou seu braço e a puxou com violência.
— Você planejou isso! — Ele acusou. — Deus, como posso ter um
idiota por irmão? Você não vale uma só lágrima de Judith, mas temo
que já causou muitas.
Raine ficou mais enfurecido quando viu um leve sorriso no canto
da boca. Sem pensar, ele puxou para trás seu braço e deu uma
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 125
bofetada em Alice com o dorso de sua mão. Não soltou seu braço.
Quando ela olhou de volta para ele, Raine respirou profundamente
com o que viu. Alice não estava zangada. Em vez disso, olhava para
sua boca. Havia o inconfundível fogo da paixão em seus olhos.
Ele ficou chocado e aborrecido como nunca esteve antes em sua
vida. Atirou-a contra um poste da tenda, tão forte que ela mal
conseguiu respirar.
— Saia de perto de mim! — Ele disse calmamente. — E tema por
sua vida se nossos caminhos se cruzarem novamente.
Quando ela se foi, Raine voltou-se para seu irmão, que estava
começando a se mover novamente. Um médico que veio para atender a
cabeça dolorida de Gavin estava tremendo no canto da tenda. A raiva
de um dos Montgomery não era um espetáculo agradável.
Raine falou com o homem por cima do ombro.
— Tome cuidado com ele e se tiver algum tratamento que cause
mais dor, use-o. — Ele se virou e saiu da tenda.
Era noite quando Gavin acordou de um sono profundo, drogado,
induzido por algo que o médico o fez beber. A tenda estava escura e ele
estava sozinho. Cautelosamente, balançou as pernas sobre a borda da
cama e sentou-se. Sua cabeça parecia como se alguém tivesse feito um
corte profundo de um canto de seu olho, através da parte de trás de
sua cabeça para o outro olho, e agora as duas metades estavam sendo
separadas. Ele apoiou a cabeça em suas mãos, fechando seus olhos
contra a dor terrível.
Gradualmente, Gavin foi capaz de abri-los. Seu primeiro
pensamento foi que era estranho que estivesse sozinho. Seu escudeiro
ou seus irmãos deveriam estar com ele. Endireitou suas costas e
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 126
estava ciente de uma dor nova. Tinha dormido várias horas em sua
armadura, e cada articulação, cada arresta tinha se cravado, através
do couro e o feltro, em sua pele. Por que seu escudeiro não o despira?
Geralmente o rapaz era muito consciente e responsável.
Algo no chão chamou sua atenção, se curvou e levantou o véu
azul de Judith. Sorriu quando o tocou, lembrando claramente como
ela correu para ele, sorrindo, seu cabelo flutuado atrás dela. Nunca
estivera tão orgulhoso em sua vida como quando ela lhe entregou a
prenda, embora tenha segurado sua respiração quando Judith chegou
tão perto dos cavalos de guerra. Ele passou os dedos pela borda de
pérolas em gotas pequenas, segurou a gaze contra sua bochecha.
Quase podia sentir o cheiro de seu cabelo, mas é claro que isso era
impossível depois que o véu esteve perto de seu cavalo suado. Pensou
em seu rosto quando ele olhou para ela. Agora, esse era um rosto que
valia a pena lutar!
Logo Gavin pareceu se lembrar de uma mudança nela. Deixou
cair à cabeça entre suas mãos. Havia peças do quebra-cabeça
faltando. Sua cabeça doía tanto que era difícil de lembrar. Ele podia
ver uma Judith diferente, que não estava sorrindo, mas rosnando
como na primeira noite de seu casamento, uma Judith que o olhava
como se ele já não existisse. Foi uma luta para juntar todas as peças.
Gradualmente, se lembrou da lança bater em sua cabeça, então
alguém falando com ele.
De repente, tudo ficou claro. Judith o viu abraçando Alice. Era
estranho que não conseguisse se lembrar de querer que Alice fosse
reconforta-lo.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 127
Gavin teve que usar todos os esforços para ficar de pé e remover
sua armadura. Estava muito cansado e fraco para andar com tanto
peso. Por mais que lhe doesse a cabeça, tinha que encontrar Judith e
falar com ela.
Duas horas mais tarde, Gavin estava dentro do grande salão. Ele
procurou por toda a parte sua esposa, mas não conseguiu encontrá-la.
Cada passo causava-lhe aflição e agora estava quase cego com a dor
constante e o cansaço de caminhar.
Através de uma névoa, viu Helen que carregava uma bandeja de
bebidas para alguns convidados. Quando ela voltou, a puxou para um
canto escuro do corredor.
— Onde está Judith? — Ele perguntou em um sussurro rouco.
Os olhos de Helen o fulminaram.
— E agora me perguntas onde ela está? A tem feito sofrer, como
todos os homens fazem as mulheres sofrerem. Tratei de salvá-la.
Disse-lhe que todos os homens são bestas vis e maus, que não se
podia confiar, mas ela não quis me ouvir. Não, te defendeu. E o que
ganhou com isso? Na noite de núpcias vi seu lábio ferido. Bateu-lhe
antes mesmo que a tivesse acariciado. E esta manhã muitas pessoas
viram que teu irmão expulsava aquela vadia da Valence, sua rameira,
de sua tenda. Morreria antes de lhe dizer onde está! Lamento não ter
tido a coragem de acabar com nós duas antes de entregar Judith em
mãos como o tuas.
Se a sogra disse algo mais, Gavin não a ouviu. Ele já estava indo
embora.
Encontrou Judith, minutos depois, sentada ao lado de Miles em
um banco no jardim. Gavin ignorou a carranca malévola de seu irmão
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 128
mais novo. Ele não queria discutir. Tudo o que queria era ficar sozinho
com Judith, abraçá-la como havia feito à noite anterior. Talvez, então,
sua cabeça parasse de latejar.
— Vamos para dentro. — disse em voz baixa, com dificuldade.
Ela se levantou imediatamente.
— Sim, milorde.
Gavin franziu a testa levemente e ofereceu-lhe o braço, mas ela
pareceu não ter visto o seu gesto. Ele caminhava lentamente, para que
Judith pudesse estar ao seu lado, mas ela se mantinha um passo
atrás. Ele levou-os para a mansão e para o seu quarto.
Depois do ruído do grande salão, a câmara era um paraíso, e ele
afundou em um banco almofadado para tirar as botas. Ele ergueu os
olhos para ver Judith de pé ao lado da cama, imóvel.
— Por que você me olha assim?
— Estou esperando o seu comando, milorde.
— Meu comando? — Ele franziu a testa, pois todo o movimento
machucava sua cabeça com novas dores. — Então, se dispa para
dormir. — Ele estava intrigado com ela. Por que não se enfurecia com
ele? Ele saberia como tirar sua raiva.
— Sim, meu lorde. — Respondeu Judith. Sua voz era monótona.
Nu, Gavin caminhou lentamente para a cama. Judith já estava
deitada, a coberta até o pescoço, os olhos fixos no dossel. Ele se meteu
debaixo das cobertas e se aproximou dela. Sua pele contra a dele era
calmante. Passou a mão pelo seu braço, mas Judith não reagiu. Ele se
inclinou, começou a beijá-la, mas seus olhos não se fecharam e seus
lábios não responderam.
— O que a aflige? — Perguntou Gavin.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 129
— O que me aflige meu lorde? — Repetiu calmamente, sem
alterar-se, olhando em seus olhos. — Eu não sei o que quer dizer.
Estou às suas ordens, porque sou tua, tal como tens repetido muitas
vezes. Diga-me o que desejas e obedecerei. Queres copular comigo?
Obedeço ao senhor. Ela moveu sua coxa contra a dele e Gavin levou
alguns minutos para perceber que ela tinha aberto as pernas para ele.
Ele olhou para ela, horrorizado. Sabia que a crueza não era
natural para ela.
— Judith, — ele começou — eu queria explicar sobre o que
aconteceu esta manhã. Eu...
— Explicar, meu lorde? O que deves me explicar? Explica suas
ações aos vassalos? Eu não sou nada, talvez menos do que eles,
apenas me diga como posso obedecer e o farei.
Gavin começou a afastar-se dela. Ele não gostou do jeito que
Judith olhou para ele. Pelo menos, quando o odiava, havia vida em
seus olhos. Agora não havia nada. Ele deixou a cama. Sem perceber o
que estava fazendo, vestiu o gibão e as botas, recolheu suas outras
roupas sobre o braço, e saiu da câmara fria.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 130
Capítulo Nove O castelo de Montgomery estava em silêncio enquanto Judith
deixava a cama grande e vazia, e deslizava os braços em um vestido de
veludo verde-esmeralda revestido de vison. Era muito cedo pela
manhã, e os servos do castelo não estavam acordados ainda. Desde
que Gavin a tinha deixado na soleira da propriedade de sua família,
Judith quase não conseguira dormir. A cama parecia grande demais e
deserta para se sentir em paz.
Na manhã seguinte aquela que Judith recusou-se a responder ao
seu amor, Gavin exigiu que partissem para sua casa. Judith obedeceu,
falando com ele apenas quando necessário. Viajaram por dois dias
antes de chegar aos portões de Montgomery.
Ao entrar no castelo, ficou impressionada. Os guardas no topo
das duas enormes torres que ladeavam o portão deram-lhes voz de
alto, embora eles pudessem ver os leopardos Montgomery. A ponte
levadiça foi abaixada sobre o fosso largo, profundo e a pesada porta de
grade foi levantada. A área do setor exterior era alinhada com casas
modestas e limpas, estábulos, o arsenal, cavalariças e galpões de
armazenamento. Outro portão teve que ser destrancado antes que eles
entrassem na área do setor interior onde Gavin e seus irmãos viviam.
A casa tinha quatro andares com vidro nos caixilhos das janelas no
andar de cima. O pátio murado ficava no centro, e Judith podia ver
um jardim com árvores de fruto florescendo atrás de um muro baixo.
Ela queria comentar com Gavin o que pensava de sua
administração, mas ele não lhe deu uma chance. Tinha feito pouco
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 131
mais do que dar algumas ordens, em seguida, abandonou-a em meio à
bagagem. Foi Judith que se apresentou aos serviçais.
Durante a semana seguinte, Judith se familiarizou com o castelo
de Montgomery, e encontrou um lugar alegre para trabalhar. Os
criados não tinham objeções à direção de uma mulher. Ela se enterrou
em tarefas e se esforçou para não pensar no caso de seu marido estar
com Alice Valence. Na maioria das vezes Judith era bem-sucedida.
Somente à noite a sua solidão a atormentava.
Um barulho no pátio a fez correr até a janela. Era muito cedo
para os servos, e só a um Montgomery seria permitido entrar através
do portão traseiro menor. A luz era muito fraca para dizer quem
desmontava dos cavalos.
Ela voou pelas escadas para o grande salão.
— Tenha cuidado, homem. — gritou Raine. — Você acha que eu
sou feito de ferro para que possa estar me batendo tanto?
Judith parou ao pé da escada. Seu cunhado estava sendo levado
para a sala, os pés primeiro, uma perna pesadamente enfaixada.
— Raine, o que aconteceu com você?
— Maldito cavalo! — Ele disse com os dentes cerrados. — Ele não
pode ver para onde está indo mesmo nos dias mais brilhantes.
Ela foi até ele quando seus homens o colocaram em uma cadeira
junto à lareira vazia.
— Devo entender que seu cavalo causou isso? — Ela sorriu.
Raine parou de franzir a testa, as bochechas começando a
ruborizar.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 132
— Bem, talvez tenha sido em parte minha culpa, ele tropeçou em
um buraco e me jogou. Eu caí por cima de minha perna e ele desabou
sob mim.
Judith imediatamente se ajoelhou e começou a desembrulhar seu
pé que estava apoiado em um banquinho.
— O que você está fazendo? — Perguntou ele bruscamente. — O
meu médico já cuidou disso.
— Eu não confio nele e vou ver por mim mesma. Se não está bem
fixo, poderá ficar coxo.
Raine olhou para o topo de sua cabeça, em seguida, chamou seu
escudeiro.
— Traga-me um copo de vinho, tenho certeza de que ela não
ficará satisfeita até que me provoque mais agonia e chamem meu
irmão. Por que ele deveria dormir quando estamos acordados?
— Ele não está aqui. — disse Judith em voz baixa.
— Quem não está aqui?
— Seu irmão, meu marido. — disse Judith.
— Onde ele foi e que negócio o chamou?
— Receio não saber, ele me deixou na soleira da porta e se foi,
não me falou de nenhum assunto que precisasse de sua atenção.
Raine pegou o cálice de vinho que seu vassalo lhe oferecia e
observou sua cunhada, que lhe apalpava o osso da perna. Pelo menos
a dor o impediu de dar plena vazão à raiva que sentia por seu irmão.
Ele não tinha dúvida de que Gavin deixou sua bela esposa para ir
atrás da puta, Alice. Seus dentes apertaram a borda do cálice
enquanto Judith tocava a ruptura.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 133
— Está somente um poucochinho desviado. — observou — Você o
segura pelos ombros — disse ela a um dos homens atrás de Raine —
eu puxarei a perna.
A forte tenda de seda estava coberta de água. Na parte alta se
juntavam grossas gotas que caiam no interior enquanto a chuva
sacudia o tecido.
Gavin lançou um juramento alto quando mais água bateu em seu
rosto. Desde que tinha deixado Judith, pouco havia feito. Não havia
nada que não estivesse molhado. E pior do que as águas era o
temperamento de seus homens, mais negro ainda do que o céu. Eles
estavam vagando pelo campo há mais de uma semana, acampando em
um lugar diferente a cada noite. Os alimentos eram preparados às
pressas entre aguaceiros e, consequentemente, a metade estava crua.
Quando John Bassett, seu segundo em comando, perguntou a seu
lorde o motivo da viagem sinuosa, Gavin explodiu. O olhar de
sarcasmo de John fez Gavin evitar seus homens.
Sabia que todos se sentiam ansiosos e ele também. Mas pelo
menos ele sabia o motivo da viagem aparentemente inútil. Ou não?
Naquela noite, na casa do pai de Judith, quando foi tão fria com ele,
decidiu ensinar-lhe uma lição. Sentia-se segura num lugar onde
passara a vida, cercada de amigos e familiares. Mas ela ousaria agir
tão desagradavelmente quando estivesse sozinha em uma casa
estranha?
Funcionou bem quando seus irmãos decidiram deixar o casal
recém-casado sozinho. Apesar da chuva que gotejava através das
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 134
frestas da tenda, começou a sorrir para uma cena imaginaria. Ele
podia vê-la enfrentando alguma crise, talvez algo cataclísmico, como o
cozinheiro queimando uma panela de lentilha. Ela ficaria frenética
com a preocupação, mandaria um mensageiro até ele, implorando
para retornar e salvá-la do desastre. O mensageiro não seria capaz de
encontrar seu amo, já que Gavin não estava em nenhuma de suas
propriedades. Mais calamidades ocorreriam. Quando Gavin voltasse,
encontraria uma Judith, chorosa e arrependida, que cairia em seus
braços, grata por vê-lo novamente, aliviada por ter vindo salvá-la de
um destino pior do que a morte.
— Oh sim! — Disse ele, sorrindo. Toda a chuva e desconforto
valeriam a pena. Ele falaria severamente com ela e quando ela
estivesse completamente arrependida, beijaria suas lágrimas e a
levaria para sua cama.
— Meu lorde?
— O que é? — Gavin falou quando a deliciosa visão foi
interrompida, exatamente quando estava prestes a imaginar o que ele
permitiria que Judith fizesse no quarto, a fim de obter o seu perdão.
— Estávamos pensando, senhor, quando poderíamos ir para casa
e sair dessa chuva amaldiçoada.
Gavin começou a grunhir que não era assunto do homem, então
fechou a boca. Ele começou a sorrir.
— Voltaremos amanhã. — Judith estava sozinha há oito dias.
Isso foi tempo suficiente para ela aprender alguma coisa sobre
gratidão... e humildade.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 135
— Por favor, Judith. — Raine implorou quando agarrou seu
antebraço. — Estou aqui há dois dias, mas você não me deu um
momento do seu tempo.
— Isso não é verdade. — ela riu. — Só na noite passada passei
uma hora com você no tabuleiro de xadrez, e você me mostrou alguns
acordes no alaúde.
— Eu sei. — ele disse, ainda implorando, as covinhas aparecendo
em suas bochechas, embora ele não sorrisse. — É tão horrível aqui
sozinho. Não posso me mover por causa desta perna amaldiçoada, e
não há ninguém para me fazer companhia.
— Ninguém? Há mais de trezentas pessoas aqui, certamente uma
delas... — Ela parou quando Raine olhou para ela com olhos tão
tristes que ela riu. — Tudo bem, mas só um jogo, tenho trabalho a
fazer.
Raine deu-lhe um sorriso deslumbrante quando ela foi para o
outro lado do tabuleiro.
— Você é a melhor neste jogo, nenhum dos meus homens pode
me bater como fez a noite passada, além disso, você precisa
descansar, o que você faz o dia todo?
— Pondo em ordem o castelo. — Judith respondeu simplesmente.
— Sempre me pareceu estar em ordem. — disse enquanto movia
um peão para frente. — Os mordomos...
— Os mordomos! — Ela disse bruscamente enquanto manobrava
seu bispo para atacar. — Eles não se importam como os donos de
quem possui uma propriedade, devem ser vigiados, verificar as contas,
ler as entradas diárias e...
— Ler. Você lê Judith?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 136
Ela olhou para cima, surpresa, com a mão na rainha.
— Mas é claro, você não?
Raine encolheu os ombros.
— Eu nunca aprendi, meus irmãos, sim, mas isso não me
interessava. Nunca conheci uma mulher que pudesse ler, meu pai
dizia que as mulheres não podiam aprender a ler.
Judith o olhou com desgosto enquanto sua rainha colocava seu
rei em perigo mortal.
— Eu acho que você deve aprender que uma mulher pode muitas
coisas, às vezes até melhor que um homem, até mesmo um rei.
Acredito que ganhei o jogo. — Ela se levantou.
Raine olhou para o tabuleiro com admiração.
— Você não pode ter vencido tão cedo! Eu nem vi isso. Você me
manteve falando para que eu não pudesse me concentrar. — Ele lhe
deu um olhar pelo canto do olho. — E minha perna dói tanto que é
difícil pensar.
Judith olhou para ele com preocupação por um momento, depois
começou a rir.
— Raine, você é um mentiroso de primeira. Agora devo ir.
— Não, Judith. — ele disse enquanto se inclinava, agarrou sua
mão e começou a beijá-la. — Judith, não me deixe! — implorou. — Na
verdade, estou tão entediado que posso enlouquecer, por favor, fique
comigo, só mais um jogo.
Judith estava rindo para ele. Ela colocou a outra mão em seus
cabelos quando ele começou a fazer promessas ultrajantes de amor
eterno e gratidão se ela ficasse com ele mais uma hora.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 137
Foi assim que Gavin os encontrou. Esquecera-se da beleza de sua
esposa em parte. Ela não estava vestida com os veludos e peles que
usara no casamento, mas com um simples vestido de lã azul. Seu
cabelo estava puxado para trás em uma longa e grossa trança
castanho-avermelhado. Se havia alguma dúvida, a roupa simples a
deixava ainda mais bonita e charmosa do que antes. Ela era inocente,
mas as curvas exuberantes de seu corpo mostravam que era toda
mulher.
Judith foi a primeira que ficou ciente da presença de seu marido.
O sorriso em seu rosto morreu imediatamente e seu corpo inteiro
endureceu.
Raine sentiu a tensão em sua mão e olhou para ela
interrogativamente. Ele seguiu a direção de seus olhos e viu seu irmão
franzindo o cenho. Não havia dúvida quanto ao que Gavin pensava da
cena. Judith começou a afastar a mão de Raine, mas ele a segurou
firmemente. Ele não daria a impressão de um homem culpado ao seu
irmão zangado.
— Tenho tentado persuadir Judith a passar a manhã comigo. —
disse Raine levemente. — Fiquei confinado a esta sala por dois dias
sem nada para fazer, mas não consigo convencê-la a me dar mais do
seu tempo.
— E sem dúvida você já tentou todas as persuasões. — Gavin
zombou, seu olhar dirigido a sua esposa que olhava para ele
friamente.
Judith tirou a mão de Raine.
— Tenho de voltar ao meu trabalho. — disse ela rígida, quando
saiu da sala.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 138
Raine atacou primeiro antes que Gavin tivesse a chance de fazê-
lo.
— Onde você esteve? — Ele demandou. — Apenas três dias de
casados, e você a deixa na porta como uma bagagem.
— Ela parece ter tratado bem a situação. — disse Gavin enquanto
ele afundava pesadamente em uma cadeira.
— Se você insinuar alguma coisa desonrosa...
— Não, eu não. — Disse honestamente. Conhecia bem seus
irmãos e Raine não desonraria a cunhada. Foi apenas um choque
doloroso após o que ele esperava e desejava. Encontrá-la esperando
por ele. — O que aconteceu com sua perna?
Raine sentiu-se envergonhado ao confessar que tinha caído de
seu cavalo, mas Gavin não riu como costumava fazer. Cansado, Gavin
levantou-se da cadeira.
— Preciso cuidar do meu castelo, tenho estado longe há muito
tempo e tenho certeza de que está perto de cair sobre minhas orelhas.
— Eu não contaria com isso. — disse Raine enquanto estudava o
tabuleiro de xadrez, examinando cada um dos movimentos de Judith
em sua cabeça. —Nunca vi uma mulher trabalhar como Judith.
— Bah! — Gavin disse condescendente. — Quanto trabalho de
mulher se pode fazer em uma semana? Bordar cinco peças de pano?
Raine olhou para seu irmão, surpreso.
— Eu não disse que fez trabalho de mulher, disse que não vi uma
mulher trabalhar como ela.
Gavin não entendia, mas tampouco pressionou Raine por uma
explicação. Como o Senhor do castelo, Gavin tinha muito a fazer. O
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 139
castelo parecia sempre decair significativamente enquanto ele estava
fora por um tempo.
Raine conhecia os pensamentos de seu irmão e o dispensou com
uma frase alegre:
— Espero que encontre algo para fazer. — E riu.
Gavin não tinha ideia do que seu irmão estava falando e
esqueceu as palavras quando saiu da mansão. Ele ainda estava
furioso de que a cena que sonhara tivesse sido destruída. Mas, pelo
menos, havia esperança. Judith ficaria feliz por ele ter voltado para
resolver todos os problemas que se desenvolveram em sua ausência.
Quando Gavin cavalgava pelos setores naquela manhã, estava
tão ansioso para chegar à sua mulher chorosa que não notou
nenhuma mudança. Agora ele observava as alterações sutis. Os
prédios do pátio exterior pareciam mais limpos, quase novos de fato,
como se tivessem sido recentemente reparados e caiados. Os esgotos
que corriam ao longo da parte de trás dos edifícios pareciam ter sido
esvaziados recentemente.
Deteve-se em frente ao galpão onde os falcões eram treinados.
Tinham diversas aves: merlins, peregrinos, gaviões, águias, tiercels.
Seu falcoeiro estava em frente ao prédio, um falcão amarrado pela
perna a um poste, enquanto o homem lentamente balançava uma isca
sobre o pássaro.
— É uma nova isca, Simon? — Gavin perguntou.
— Sim, milorde, é um pouco menor e balança mais rápido, o
pássaro é forçado a voar mais rápido e seu objetivo deve ter mais
precisão.
— Boa ideia. — Concordou Gavin.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 140
— Não é minha, senhor, mas da senhora Judith. Ela fez a
sugestão.
Gavin olhou fixamente.
— Lady Judith lhe sugeriu, a um mestre falcoeiro, uma melhor
isca?
— Sim, milorde. — Simon sorriu, revelando dois dentes ausentes.
— Eu não sou tão velho para não apreciar uma boa ideia quando ouço
uma. Nossa lady é tão inteligente quanto é bela. Veio aqui na manhã
seguinte que chegou e me observou por um longo tempo. Então, como
eu disse, fez algumas sugestões. Venha, meu lorde, e veja os novos
poleiros que eu fiz. Lady Judith disse que os velhos eram a causa dos
pés feridos das aves. Ela disse que os ácaros minúsculos que estavam
neles feriam os pássaros.
Simon começou a abrir caminho para o edifício, mas Gavin não o
seguiu.
— Não quer vê-los? — Simon perguntou tristemente.
Gavin não tinha se recuperado do fato de que seu falcoeiro
grisalho recebeu tomado conselho de uma mulher. Gavin tentara fazer
centenas de recomendações a Simon, como o seu pai, mas a seu
conhecimento, Simon sempre fez o que queria e não o que se queria
dele.
— Não. — Gavin disse. — Verei mais tarde que mudanças minha
esposa fez. — Ele não conseguiu manter o sarcasmo de sua voz
enquanto girava no calcanhar. Que direito tinha sua mulher de
interferir com seus falcões? Certamente as mulheres gostavam deles
tanto quanto os homens, e certamente Judith teria seu próprio falcão,
mas o cuidado com os falcões era um trabalho de homem.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 141
— Milorde! — Gritou uma garota, e depois corou quando Gavin a
olhou com ferocidade.
Ela fez uma reverência e estendeu uma caneca para ele.
— Eu pensei que talvez você gostasse de um refresco.
Gavin sorriu para a garota. Aqui pelo menos tinha uma mulher
que sabia agir corretamente. Olhou-a nos olhos enquanto bebia. Então
sua atenção foi atraída para a bebida. Estava uma delícia!
— O que é isso?
— São os morangos da primavera e o suco das maçãs do ano
passado depois de serem fervidos, com um pouco de canela.
— Canela?
— Sim, milorde. Lady Judith trouxe-a de sua casa.
Gavin empurrou a caneca vazia de volta para a garota e se virou.
Agora estava realmente começando a ficar irritado. Todos ficaram
loucos? Rapidamente, dirigiu-se para o outro extremo do pátio, para o
seu ferreiro. Pelo menos naquele lugar quente, de ferro forjado, ele
ficaria a salvo da interferência de uma mulher.
A visão que o cumprimentou foi chocante. Seu ferreiro, um
homem enorme, enegrecido da cintura para cima, com os músculos
volumosos de seus braços, sentava-se em silêncio com uma cesta de
costura.
— O que é isso? — Gavin exigiu irritado, já cheio de suspeitas.
O homem sorriu e levantou dois pequenos pedaços de couro. Era
um projeto para uma articulação nova que poderia ser usada na
armadura de um cavaleiro.
—Veja, o jeito que isso é feito, a articulação é muito mais flexível,
inteligente, não é?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 142
Gavin cerrou o queixo com força.
— E onde você conseguiu essa nova ideia?
— Caramba, de Lady Judith. — respondeu o ferreiro, depois deu
de ombros quando Gavin saiu do galpão.
— Como ela ousava! — Pensou. Quem era ela para interferir no
que era dele, para fazer mudança após mudança, sem nem pedir sua
aprovação? Essas propriedades eram dele! Se fossem feitas mudanças,
seriam feitas por ele.
Encontrou Judith na despensa, um vasto quarto anexado à
cozinha, separado da casa por medo do fogo. Ela estava enterrada
cabeça e ombros, dentro de um enorme barril de farinha. Seus cabelos
castanho-avermelhados eram inconfundíveis. Ele parou perto dela,
aproveitando ao máximo sua altura.
— O que você fez na minha casa? — Ele berrou.
Judith imediatamente puxou a cabeça do barril, de forma tão
abrupta que quase bateu com a cabeça na borda. Apesar da altura de
Gavin e da sua voz alta, ela não tinha medo dele. Até seu casamento
há menos de duas semanas, nunca estivera perto de um homem que
não estivesse zangado.
— Sua casa? — Ela respondeu com uma voz mortal. — E eu, o
que sou, a serva que esfrega a cozinha? — Perguntou, estendendo os
braços, cobertos de farinha, até os cotovelos.
Eles estavam cercados por criados do castelo que se apoiavam
contra as paredes com medo, mas que não perderiam uma cena tão
fascinante por nada.
— Você sabe muito bem quem você é, mas não quero que
interfira nos meus negócios. Você alterou muitas coisas: meu falcoeiro,
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 143
até mesmo meu ferreiro. Deve atender a suas próprias tarefas e não as
minhas!
Judith olhou para ele, fulminando-o.
— Então, me diga o que devo fazer para não falar com o falcoeiro
ou com quem mais precisar de aconselhamento.
Gavin ficou intrigado por um momento.
— Bem... Coisas de mulheres. Deve fazer as coisas de todas as
mulheres. Costurar. Inspecionar a comida e a limpeza e... E preparar
cremes para o rosto. — Sentiu que a última sugestão foi inspiradora.
As bochechas de Judith queimaram os olhos brilhando com
pequenos cacos de vidro de ouro.
— Cremes para o rosto! — Ela rosnou. — Então agora eu sou feia
e preciso de cremes para o rosto! Talvez também deva fazer
escurecedor para os cílios e pó para as minhas bochechas pálidas.
Gavin estava perplexo.
— Eu não disse que você era feia, apenas que não deve colocar
meu ferreiro para costurar.
A mandíbula de Judith estava firme.
- Então não voltarei a fazê-lo, deixarei que sua armadura fique
rígida e pesada antes de falar com o homem novamente. O que mais
posso fazer para te agradar?
Gavin olhou para ela. A discussão estava escapando de suas
mãos.
— Os falcões. — disse ele fracamente.
— Então deixarei os pássaros morrerem de patas feridas, há mais
alguma coisa?
Ficou ali, emudecido, sem resposta.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 144
— Agora suponho que nos entendemos, milorde. — prosseguiu
Judith. — Eu não devo proteger-lhe as mãos, devo deixar suas aves
morrerem, e passar meus dias inventando cremes de rosto para
dissimular e cobrir a minha feiura.
Gavin agarrou-a pela parte superior do braço e levantou-a do
chão para que se enfrentassem.
— Maldita seja, Judith, você não é feia, você é a mulher mais
linda que eu já vi. — Ele olhou para sua boca, tão perto da dele.
Seus olhos se suavizaram e sua voz era mais doce do que mel.
— Então posso definir meu pobre cérebro para algo além de
estimuladores de beleza?
— Sim. — Sussurrou, enfraquecido pela proximidade dela.
— Ótimo. — Disse com firmeza. — Depois, há uma nova ponta de
seta que gostaria de conversar com o armeiro.
Gavin pestanejou de espanto, então a pôs no chão com tanta
força que seus dentes se agitaram.
— Você não deve... — Ele parou de falar, enquanto olhava para
seus desafiantes olhos.
— Sim, milorde?
Ele saiu da cozinha.
Raine sentou-se à sombra da muralha do castelo, sua perna
enfaixada diante dele, tomando a nova bebida de canela de Judith e
comendo pães ainda quentes do forno. De vez em quando tentava
reprimir uma risada enquanto observava seu irmão. A ira de Gavin era
aparente em cada um de seus movimentos. Ele montava seu cavalo
como se um demônio o estivesse perseguindo e empunhava sua lança
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 145
furiosamente através do fantoche de palha que representava seu
inimigo.
A discussão da despensa estava sendo contada e recontada. Em
poucos dias chegaria ao rei em Londres. Apesar de sua alegria, Raine
sentiu pena de seu irmão. Ele tinha sido vencido publicamente por
uma mulher.
— Gavin, — chamou — dê ao animal um descanso e venha se
sentar um pouco.
Relutantemente, Gavin fez como seu irmão pediu quando
percebeu que seu cavalo estava coberto de espuma. Ele jogou as
rédeas para seu escudeiro e caminhou, cansado, para sentar ao lado
de seu irmão.
— Tome um refresco. — ofereceu Raine.
Gavin começou a pegar a caneca e parou.
— O refresco é dela?
Raine sacudiu a cabeça ao ouvir o tom de seu irmão.
— Sim, Judith o preparou.
Gavin virou-se para o escudeiro.
— Traga-me uma cerveja da adega. — Ordenou.
Raine começou a falar, em seguida, viu a tensão nos olhos de seu
irmão, fixo no pátio. Judith caminhava da mansão, através do campo
de treinamento coberto de areia, em direção à fila de cavalos de guerra
amarrados na margem. Os olhos de Gavin a observavam
ardentemente. Então, quando ela parou junto aos cavalos, começou a
se levantar.
Raine agarrou o braço de seu irmão e puxou-o para o assento
novamente.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 146
— Deixe-a em paz, você só começará outra briga, que sem dúvida
perderá novamente.
Gavin começou a falar, depois parou quando seu escudeiro lhe
entregou uma caneca de cerveja.
Quando o menino se foi, Raine falou novamente.
— Não faz nada além de berrar com a sua mulher?
— Eu não... — Gavin começou, então parou e engoliu mais
cerveja.
— Olhe para ela e me diga o que está errado. Ela é bonita o
suficiente para rivalizar com o sol. Trabalha todos os dias para manter
sua casa em ordem. Tem todos os homens, mulheres e crianças,
incluindo Simon, comendo na mão dela. Até mesmo os cavalos de
guerra pegam deliciosas maçãs de sua palma, ela é uma mulher de
humor, e joga xadrez como ninguém mais na Inglaterra. O que mais
você poderia querer?
Gavin não tinha tirado os olhos dela.
— O que eu sei de seu humor? — Ele disse tristemente. — Ela
nunca me chama pelo meu nome.
— E por que ela deveria? — Perguntou Raine. — Alguma vez
chegou a dizer-lhe uma palavra gentil? Não te entendo. Te vi cortejar
com mais ardor as servas. Acaso uma beleza como Judith não merece
palavras doces?
Gavin se virou para ele.
— Eu não sou um idiota para que um irmão mais novo me ensine
em como dar prazer a uma mulher. Eu estava de cama em cama, com
mulheres, enquanto você estava com sua ama de leite.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 147
Raine não respondeu, mas seus olhos estavam dançando. Ele se
absteve de mencionar que havia apenas quatro anos de diferença em
suas idades.
Gavin deixou seu irmão e foi para a mansão onde pediu que lhe
preparassem um banho. Sentado na água quente, teve tempo de
pensar. Por mais que odiasse admiti-lo, Raine estava certo. Talvez
Judith tivesse razão para não ser amável com ele. Seu casamento
começou com o pé esquerdo. Foi uma vergonha ter-lhe batido na
primeira noite, uma pena que ela tivesse entrado em sua tenda,
quando menos deveria.
Mas isso era passado. Gavin lembrou-se de seu juramento, que
não receberia nada dela livremente, exceto o que ele tomava. Sorriu
enquanto ensaboava os braços. Ele passara duas noites com ela e
sabia que era uma mulher de grande paixão. Quanto tempo ela
poderia manter-se fora de sua cama? Raine estava certo também,
quando mencionou a habilidade de seu irmão para cortejar uma
mulher. Dois anos atrás, fez uma aposta com Raine sobre certa
condessa gelada. Em um tempo surpreendentemente curto, Gavin
estava em sua cama. Existia uma mulher que ele não poderia
conquistar quando assim se propunha? Seria um prazer dobrar sua
esposa arrogante. Seria doce com ela e a cortejaria até ouvi-la implorar
para ir a sua cama.
Então, pensou, quase rindo em voz alta, ela seria sua. Ele a
possuiria e nunca mais interferiria em sua vida. Ele teria assim tudo o
que desejava: Alice para amar e Judith para aquecer sua cama.
Limpo e vestido com roupas frescas, Gavin sentia-se como se
fosse um novo homem. Estava exultante com a ideia de tentar seduzir
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 148
sua adorável esposa. Encontrou-a nos estábulos, suspensa
precariamente em cima do muro de uma baia, falando calmamente a
um dos cavalos de guerra enquanto o cavalariço limpava e aparava um
casco coberto de pelos. O primeiro pensamento de Gavin foi dizer-lhe
para se afastar da besta antes que estivesse ferida. Então relaxou. Ela
era muito boa com cavalos.
— Ele não é um animal que é facilmente domesticado. — ele
disse calmamente enquanto se aproximava para ficar ao lado dela. —
Você tem jeito com cavalos, Judith.
Ela se virou para ele com um olhar suspeito.
O cavalo sentiu sua tensão e deu um coice, o ferrador quase não
conseguiu se desviar antes que o casco o golpeasse.
— Segure-o ainda, minha lady. — Ordenou o homem sem olhar
para trás. — Eu não terminei e não consigo fazer isso se ele se
movimentar.
Gavin começou a abrir a boca para perguntar ao homem que
direito tinha de falar com sua ama desta forma, mas Judith não
parecia se ofender com as palavras do homem.
— Eu o farei, William. — Ela disse enquanto segurava as rédeas
do cavalo firmemente e acariciava o nariz macio. — Você não foi ferido,
não é?
— Não! — Respondeu o ferrador com voz rouca. — Já está feito
agora. Ele se virou para Gavin. — Milorde, estava prestes a dizer
alguma coisa?
— Sim. Costuma dar ordens à sua senhora como acaba de fazer?
William ficou vermelho.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 149
— Só quando preciso que me deem. — Judith retrucou. — Vá,
William, por favor, e cuida dos outros animais.
Ele obedeceu instantaneamente. Judith olhou desafiante para
Gavin. Em vez da raiva que ela esperava, ele sorriu.
— Não, Judith. — disse ele. — Não vim discutir com você.
— Não sabia que existia outra coisa entre nós, além disso.
Ele estremeceu, então estendeu a mão e pegou a de sua esposa,
puxando-a relutante atrás dele.
— Eu vim perguntar se poderia te dar um presente. Vê o
garanhão no estábulo distante? — Ele perguntou e apontando quando
deixou cair sua mão.
— O negro? Eu o conheço bem.
— Quando veio da casa de seu pai, não trouxe nenhum cavalo
próprio.
— Meu pai preferiria perder todo o ouro que possuí do que um de
seus cavalos. — disse ela, referindo-se as carroças carregadas de
riquezas que a tinham acompanhado até a propriedade de
Montgomery.
Gavin encostou-se no portão de uma baia vazia.
— Aquele garanhão produziu belas éguas, são mantidas em uma
fazenda de criação a certa distância, pensei que talvez amanhã você
pudesse ir comigo e escolher um.
Judith não entendeu sua súbita bondade, nem gostou.
— Há cavalos aqui que são suficientes para minhas
necessidades.
Gavin ficou quieto por um momento, observando-a.
— Você me odeia tanto, ou tem medo de mim?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 150
— Não tenho medo de você! — Judith disse, com as costas tão
retas como uma vara de ferro.
— Então você vai comigo?
Ela olhou fixamente em seus olhos e assentiu secamente.
Gavin sorriu para ela— um sorriso genuíno — e Judith se
lembrou inesperadamente de algo que parecia distante, o dia do seu
casamento, quando ele sorriu para ela muitas vezes.
— Então esperarei o amanhã impaciente. — disse ele antes de
deixar os estábulos.
Judith olhou para ele, franzindo o cenho. O que ele queria dela
agora? Que razão tinha para lhe dar um presente? Ela não pensou
sobre o assunto por muito tempo, pois havia muito trabalho a ser
feito. O lago de peixes era um lugar que negligenciou, e precisava
desesperadamente de limpeza.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 151
Capítulo Dez O grande salão da casa senhorial brilhava com a luz cintilante
das lareiras. Alguns guerreiros mais favorecidos dos homens de
Montgomery estavam jogando cartas, dados, xadrez, limpando armas
ou simplesmente descansando. Judith e Raine estavam sentados
sozinhos na outra extremidade da sala.
— Por favor, toque a música, Raine. — pediu Judith. — Você
sabe que eu não sou boa na música. Eu disse isso esta manhã, e que
iria jogar um jogo de xadrez com você.
— Quer que toque uma música tão longa como suas ausências?
— Dedilhou dois acordes no alaúde. — Aqui está. — Brincou. — Tenho
certeza de que tocarei tanto quanto o tempo do jogo que você precisa
para me derrotar.
— Não é minha culpa que se deixe derrotar facilmente. Usa os
peões apenas para atacar e não te protege de diferentes ataques dos
outros.
Raine olhou-a fixamente, sua boca aberta, então começou a rir.
— Isso é um sinal de sabedoria que ouço, ou um insulto sem
adornos?
— Raine, — começou Judith, — você sabe exatamente o que
quero dizer, gostaria que tocasse para mim.
Raine sorriu para ela, a luz do fogo brilhando em seu cabelo
castanho-avermelhado, o vestido de lã mostrando seu corpo tentador.
Mas sua beleza não era o que ameaçava deixá-lo louco. Beleza às vezes
era encontrada mesmo nas servas. Não, era a própria Judith. Ele
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 152
nunca encontrou uma mulher com a sua honestidade, sua lógica, sua
inteligência. Se ela fosse um homem... Ele sorriu. Se ela fosse um
homem, não estaria em tal perigo de cair irremediavelmente
apaixonado por ela. Ele sabia que precisava fugir de Judith logo,
mesmo que sua perna não estivesse curada.
Raine olhou por cima da cabeça e viu Gavin encostado no marco
da porta, observando o perfil de sua esposa iluminado pelas chamas.
— Aqui, Gavin. — chamou. — Venha e toque para sua esposa. Eu
acho que esta perna me dói demais para desfrutar de qualquer coisa.
Eu tenho dado lições a Judith, mas ela não é boa em tudo. — Seus
olhos brilharam enquanto olhava para sua cunhada, mas ela apenas
olhava fixamente as mãos que estavam unidas em seu colo.
Gavin avançou.
— Estou feliz em saber que há algo que minha esposa não faz à
perfeição. — ele riu. — Sabe que hoje ela limpou o lago de peixes?
Ouvi dizer que os homens encontraram um castelo normando no
fundo. — Parou quando Judith se levantou.
— Devem me perdoar. — ela disse calmamente. — Acho que
estou mais cansada do que imaginava, e quero me retirar. — Sem
outra palavra, saiu do salão.
O sorriso desapareceu de seu rosto, Gavin afundou-se em uma
cadeira almofadada.
Raine olhou para seu irmão com simpatia.
— Amanhã retornarei às minhas propriedades.
Se Gavin ouviu, não fez nenhum comentário.
Raine sinalizou para um dos servos ajudá-lo a chegar a sua
câmara.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 153
Judith olhou para o quarto com novos olhos. Já não era somente
dela. Agora que seu marido voltou para casa, tinha o direito de
compartilhá-lo com ela. Compartilhar o quarto, compartilhar a cama,
compartilhar seu corpo. Despiu-se apressadamente e se meteu sob os
lençóis. Tinha despedido suas donzelas anteriormente, querendo
alguma solidão. Embora Judith estivesse cansada após as atividades
do dia, olhava para a roupa de cama de dossel com os olhos abertos.
Depois de um longo tempo, ouviu passos fora da porta. Prendeu a
respiração por um longo momento, então, hesitante, os passos
recuaram. Estava contente, é claro, Judith disse a si mesma, mas isso
não aquecia a cama fria.
“Por que Gavin não a queria” — pensou enquanto lágrimas
rápidas lhe caíam dos olhos. Sem dúvida ele passara a última semana
com sua amada Alice. E sua paixão estava completamente esgotada,
não precisava de sua esposa.
Apesar de seus pensamentos, o cansaço do longo dia,
eventualmente conspirou para fazê-la dormir.
Ela acordou muito cedo. Ainda estava escuro no quarto. Só a luz
fraca do amanhecer entrava através das persianas. O castelo inteiro
ainda estava dormindo, e Judith achou o silêncio agradável. Ela sabia
que não podia dormir mais, nem queria. Esse momento, ainda escuro
da manhã, era seu favorito.
Vestiu-se rapidamente com um simples vestido de lã azul-escuro
feito com tecido da Pérsia. Seus suaves sapatos de couro não emitiam
nenhum som nos degraus de madeira ou enquanto ela caminhava
através dos homens dormindo no grande salão. Lá fora, a luz era cinza
escuro, mas seus olhos se ajustaram rapidamente. Ao lado da mansão
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 154
havia um pequeno jardim murado. Tinha sido uma das primeiras
coisas que Judith viu em sua nova casa e um dos últimos que poderia
dar a sua atenção. Havia fileiras de rosas, uma grande variedade de
cores, suas flores quase escondidas debaixo das hastes mortas e nos
arbustos muito negligenciados.
A fragrância no frio da manhã era inebriante. Judith sorriu
quando se inclinou sobre um dos arbustos. O trabalho na lagoa de
peixes havia sido necessário, mas a poda das rosas era um trabalho
por amor.
— Elas pertenciam à minha mãe.
Judith ofegou com a voz tão perto dela. Não tinha ouvido
ninguém se aproximar.
— Onde quer que ela fosse, colecionava mudas de rosas de
outras pessoas. — continuou Gavin enquanto se ajoelhava ao lado de
Judith, tocando uma das flores.
O tempo e o lugar pareciam de outro mundo. Quase podia
esquecer que o odiava. Voltou-se para a poda.
— Sua mãe morreu quando era pequeno? — Ela perguntou
calmamente.
— Sim. Muito pequeno e Miles quase não a conheceu.
— E seu pai não se casou novamente?
— Ele passou o resto da vida chorando por ela. O pouco tempo
que lhe restava. Morreu três anos depois dela. Eu tinha apenas
dezesseis anos.
Judith nunca o ouvira parecer tão triste. Na verdade, ouviu
pouco na voz de Gavin além de raiva.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 155
— Você era muito jovem para lidar com a administração das
propriedades de seu pai.
— Um ano mais novo do que você, e você parece saber
perfeitamente como administrar essa propriedade. Muito melhor do
que eu fiz antes, e o tenho feito até agora. — Havia admiração em sua
voz, mas um pouco de dor também.
— Mas fui treinada para este trabalho — ela disse rapidamente.
— Você foi treinado como um cavaleiro. Seria mais difícil para você
aprender o que fazer e o que mudar.
— Fui informado de que você foi preparada para a igreja. — Ele
observou surpreendido.
— Sim. — disse Judith enquanto se movia para outra roseira. —
Minha mãe desejava que eu escapasse de uma vida como a que ela
estava levando, ela passou sua infância em um convento e foi muito
feliz lá. — Só quando ela se casou com... — Judith parou, não
querendo terminar a frase.
— Eu não entendo como a vida em um convento de freiras
poderia prepará-la para o que fez aqui. Pelo contrário, deveria ter
passado os dias orando.
Ela sorriu-lhe quando ele se sentou no caminho de cascalho ao
lado dela. Estava ficando mais claro agora, o céu começando a ficar
rosado. Ela podia ouvir o barulho dos criados à distância.
— A maioria dos homens pensa que a pior coisa que poderia
acontecer a uma mulher seria privá-las da companhia de um homem,
eu lhe asseguro que a vida de uma freira está longe de ser vazia. Olhe
para o convento de St. Anne. Quem você acha que administra essas
propriedades?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 156
— Eu nunca pensei sobre isso.
— A abadessa administra as propriedades que tem pouca
diferença das do rei. As tuas e as minhas poderia caber em um canto
de St. Anne. Minha mãe me levou no ano passado para visitar a
abadessa. Passei uma semana ao seu lado. Ela é constantemente
ocupada. Ela que ordena o trabalho de milhares de homens e acres de
terra. Ela não... — os olhos de Judith brilharam — têm tempo para o
trabalho de mulher.
Gavin ficou assustado por um momento e começou a rir.
— Boa tentativa. — O que tinha dito Raine sobre o senso de
humor de Judith? — Aceito a correção.
— Eu acho que você deveria saber mais sobre um convento já
que sua irmã vive em um.
Um brilho especial caiu sobre o rosto de Gavin quando sua irmã
foi mencionada. Ele sorriu.
— Eu não consigo imaginar Mary administrando as propriedades
de ninguém. Mesmo quando criança era tão doce e tímida que parecia
de outro mundo.
— E então você a deixou entrar em um convento.
— Foi o desejo dela, e quando herdei as propriedades de meu pai,
ela nos deixou, eu queria que ficasse aqui e não se casasse se não
quisesse, mas ela queria estar perto das irmãs.
Gavin olhou para sua esposa, pensando que tinha chegado muito
perto de passar a vida em um convento. A luz do sol parecia fogo em
seus cabelos ruivos, A forma como ela olhou para ele, sem raiva ou
ódio, fez sua respiração parar.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 157
— Oh! — Judith quebrou o feitiço enquanto olhava para seu
dedo, cortado em um espinho da roseira.
— Deixe-me ver. — Gavin disse enquanto pegava sua mão
pequena na sua. Ele afastou uma gota de sangue da ponta de seu
dedo e depois o levou para seus lábios, enquanto a olhava nos olhos.
— Bom Dia!
Os dois olharam para a janela acima do jardim.
— Eu odeio perturbar a cena de amor, — disse Raine da janela
da mansão — mas os meus homens parecem ter-me esquecido, e com
esta maldita perna, sou pouco mais que um prisioneiro.
Judith tirou a mão da de Gavin e desviou o olhar, suas
bochechas, por algum motivo, ruborizaram-se.
— Vou ajudá-lo. — disse Gavin. — Raine disse que ele está
partindo hoje. Talvez eu possa colocá-lo em caminho. Cavalgará
comigo esta manhã para escolher uma égua?
Ela assentiu com a cabeça, mas não olhou para ele antes de sair
do jardim.
— Vejo que você está fazendo algum progresso com sua esposa.
— disse Raine enquanto Gavin o ajudava a descer as escadas.
— Teria progredido mais se alguém não tivesse começado a gritar
pela janela. — Comentou Gavin amargamente.
Raine soprou em riso. Sua perna doía e ele não estava ansioso
pela longa jornada para a outra propriedade, estava de mau humor.
— Nem sequer passou a noite com ela.
— E isso o que a você importa? Desde quando averiguas onde eu
durmo?
— Desde que conheci Judith.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 158
— Raine, se você...
— Não se atreva a dizê-lo. Por que acha que vou partir com a
perna curada pela metade?
Gavin sorriu.
— Ela é linda, não é? Dentro de alguns dias vou tê-la comendo
em minha mão. Então verás onde vou dormir. As mulheres são como
falcões: devemos deixá-los passar fome até que estejam desesperados
por comida, então é fácil domestica-los.
Raine parou na escada, seu braço sobre o ombro de Gavin.
— Você é um tolo, irmão. Deve ser o maior tolo já criado. Não
sabe que o mestre é muitas vezes o servo de seu falcão? Quanta vez já
viu homens carregando seu falcão favorito em seus pulsos, mesmo na
Igreja?
— Está falando tolices, — Gavin disse, — e eu não gosto de ser
chamado de tolo.
Raine apertou os dentes enquanto Gavin sacudia a sua perna.
— Judith vale dois de você e cem daquela cadela gélida que você
acha que ama.
Gavin parou ao pé da escada, deu a seu irmão um olhar malévolo
e afastou-se tão rapidamente que Raine teve que agarrar a parede para
não cair.
— Não volte a mencionar Alice! — Advertiu o irmão mais velho
com voz mortal.
— Maldito seja, vou falar dela, alguém precisa, está arruinando a
sua vida e a felicidade de Judith. E Alice não vale uma mecha de
cabelo de Judith.
Gavin ergueu o punho e deixou-o cair.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 159
— É bom que esteja partindo hoje. Não quero te ouvir dizer mais
nenhuma palavra sobre as minhas mulheres. — Ele se virou e saiu
andando.
— Suas mulheres? — Perguntou Raine. — Uma é dona de sua
alma e a outra você trata com desprezo. Como você pode chamá-las de
suas?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 160
Capítulo Onze Havia dez cavalos dentro da área cercada. Cada um era elegante
e forte, com longas pernas que inspiravam visões dos animais que
galopavam pelos campos floridos.
— Devo escolher um, milorde? — Judith perguntou enquanto se
inclinava para o outro lado da grade da cerca. Ela olhou para Gavin ao
seu lado, observando-o com desconfiança. Toda a manhã fora
excepcionalmente agradável; Primeiro no jardim, e agora com ele
dando-lhe um presente. Ele a ajudara a montar, tomara-lhe o braço
quando ela, em um gesto pouco nobre, subiu sobre a cerca. Ela podia
entender sua irritação, seus cenhos franzidos, mas estava muito
desconfiada dessa nova bondade.
— Qualquer um que você queira, — Gavin respondeu, sorrindo
para ela. — Todos foram domesticados e estão prontos para arreios e
uma sela. Você vê algum que gosta?
Ela olhou para os cavalos.
— Não há um que eu não goste, não é fácil de escolher, acho que
essa, a negra.
Gavin sorriu para sua escolha, uma égua com um passo alto e
elegante.
— Ela é sua. — disse ele. Então, antes que pudesse ajudá-la,
Judith estava no chão e entrando pelo portão. Dentro de minutos, o
homem de Gavin tinha a égua selada e Judith montada nas costas de
seu animal.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 161
Era maravilhoso montar um cavalo outra vez. À direita de Judith
estava o caminho para o castelo. À sua esquerda, a densa floresta, um
campo de caça para os Montgomery. Sem pensar, tomou o caminho
para a floresta. Por muito tempo ficou confinada dentro das paredes e
entre as pessoas. Os grandes carvalhos e faias pareciam convidativas,
seus ramos se ligando acima para formar um abrigo privado. Judith
não olhou para trás para ver se estava sendo seguida, apenas limitou-
se a correr adiante em direção à liberdade esperada.
Ela cavalgou duro, testando a égua e ela mesma. Eram
compatíveis, como sabia que seriam. O animal gostava da corrida
tanto quanto Judith.
— Calma agora, querida. — sussurrou Judith quando estavam
bem dentro da floresta. A égua obedeceu, escolhendo delicadamente o
caminho entre as árvores e os arbustos. O solo era coberto por
samambaias e centenas de anos de folhagem acumulada. Era um
tapete macio e silencioso. Judith respirou profundamente o ar limpo e
fresco e deixou que sua égua decidisse o caminho.
O som da água corrente chamou a atenção de Judith, assim
como de sua égua. Um córrego, profundo e fresco, corria rapidamente
entre as árvores, a luz do sol brincando nos galhos pendentes. Ela
desmontou e levou a égua para a água. Enquanto a égua bebia em
silêncio, Judith puxou pedaços de grama suave e começou a esfregar
nos lados do animal. Elas galoparam durante vários minutos antes de
chegar à floresta, e a égua estava suada.
Judith estava envolvida em sua tarefa agradável, glorificando seu
dia, a água rugindo. A égua ergueu as orelhas e escutou, depois
recuou nervosamente.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 162
— Calma garota. — disse Judith, acariciando o pescoço macio. A
égua deu outro passo mais agudo para trás, jogou a cabeça e
relinchou. Judith girou, agarrando as rédeas do animal assustado.
Um javali se aproximou, cheirando o ar. Estava ferido, seus olhos
minúsculos vidrados de dor. Judith tentou novamente pegar as rédeas
de sua égua, mas o javali começou seu ataque e a égua, selvagem e
com medo, galopou para longe. Ela agarrou suas saias e começou a
correr. Mas o porco era mais rápido do que ela. Judith deu um pulo
em direção a um galho da árvore, agarrou-o e começou a erguer-se.
Forte, de uma vida de trabalho e exercício balançou as pernas para
outro ramo, quando o javali quase a alcançava. Não era tarefa fácil
manter-se na árvore enquanto o javali enlouquecido atacava e sacudia
o tronco a seus pés.
Finalmente, Judith pôde sentar no ramo mais baixo enquanto
segurava outro acima de sua cabeça. Quando olhou para o javali,
percebeu que estava muito acima do chão. Ela olhava fixamente com
medo, quase sem visão, seus nódulos se tornando brancos quando
agarrou o ramo da árvore com toda sua força.
— Temos que nos espalhar. — ordenou Gavin ao seu homem,
John Bassett. — Não somos suficientes para irmos em pares, e ela não
poderia ter ido longe. — Gavin tentou manter o nível de voz. Estava
zangado com sua esposa por galopar em um cavalo estranho em uma
floresta desconhecida para ela. Estava de pé com os cavalos e seus
homens, observando-a se afastar. Esperava que assim que chegasse à
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 163
margem do bosque, voltasse. Demorou um momento para perceber
que Judith estava indo para a floresta.
Agora ele não podia encontrá-la. Era como se tivesse
desaparecido, engolida pelas árvores.
— John, vá para o norte, ao redor das árvores. Odo vá para o sul,
vou tentar o centro.
Dentro da floresta estava silencioso. Gavin ouvia atentamente
tentando perceber qualquer sinal dela. Passou uma grande parte de
sua vida aqui e conhecia cada centímetro do bosque. Ele sabia que a
égua provavelmente iria para o córrego que corria através de seu
centro. Ele chamou Judith várias vezes, mas não houve resposta.
Então seu garanhão ergueu as orelhas.
— O que foi menino? — Gavin questionou, escutando em alerta.
O cavalo deu um passo para trás, as narinas dilatadas. O animal foi
treinado para a caça, e Gavin reconheceu os sinais. — Não agora, —
disse ele. — Mais tarde vamos procurar à presa.
O cavalo não pareceu entender, mas sacudiu a cabeça contra as
rédeas. Gavin franziu a testa, em seguida, não lhe deu rédeas. Ele
ouviu o som do javali atacando a base da árvore antes de vê-lo. Teria
conduzido sua montaria fazendo um rodeio para passar longe da besta
se seu olho não tivesse avistado algo azul em cima da árvore.
— Pelos dentes de Deus! — Ele sussurrou ao perceber que Judith
estava presa na árvore. — Judith! — Ele chamou, mas não obteve
resposta. — Você estará segura em um momento.
Seu cavalo pôs a cabeça para baixo em antecipação ao ataque,
enquanto Gavin tirava sua espada longa da bainha no lado da sela. O
garanhão, bem treinado, correu muito perto do javali e Gavin inclinou-
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 164
se para fora da sela, suas poderosas coxas agarrando-se com força
enquanto se dobrava e enfiava a espada pela espinha do animal. Ele
gritou uma vez e chutou antes de morrer.
Gavin saltou rapidamente da sela e pegou a arma. Ele olhou para
Judith e ficou espantado com o puro terror em seu rosto.
— Judith, está tudo bem agora, o javali está morto, não pode te
machucar. — Seu terror parecia fora de proporção com o perigo. Ela
estava suficientemente segura na árvore.
Ela não respondeu, mas continuou olhando para o chão, seu
corpo tão rígido quanto sua lança de ferro.
— Judith! — Disse bruscamente. — Você está machucada?
Ainda assim ela não respondeu nem reconheceu sua presença.
— É apenas um salto curto. — disse, erguendo os braços para
ela. — Solte o ramo acima e eu te segurarei.
Ela não se mexeu.
Gavin ficou perplexo, lançou um olhar desconcertado ao javali
morto e voltou a observar o rosto de sua esposa, ela estava
aterrorizada. Algo além do porco a assustava.
— Judith é a altura que te causa medo? — Ele disse calmamente
e se moveu para que estivesse na linha de seu olhar vago. Gavin se
agarrou ao ramo mais baixo, perto de seus pés e facilmente subiu e se
instalou ao lado dela. Ele colocou o braço sobre sua cintura, mas ela
não deu nenhum sinal de que estivesse ciente de sua presença.
— Judith, me escute. — disse calmamente. — Vou tomar suas
mãos e baixa-la para o chão. Deve confiar em mim. Não tenha medo.
— Foi preciso lhe soltar as mãos, ela se agarrou a seus pulsos, em
pânico. Gavin buscou apoio em um ramo e a baixou até o chão.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 165
Quando os pés da esposa haviam tocado a terra, ele desceu de um
salto e tomou-a nos seus braços. Judith se agarrou a ele
desesperadamente, tremendo.
— Silêncio, agora. — ele sussurrou enquanto acariciava sua
cabeça. — Você está segura. — Os tremores de Judith não pararam, e
Gavin sentiu seus joelhos cederem. Levantou-a em seus braços, e a
levou a um troco de árvore, onde sentou e segurou-a como se ela fosse
uma criança. Tinha pouca experiência com mulheres fora da cama e
nenhuma com crianças, mas sabia que seu medo era extraordinário.
Segurou Judith firmemente, o mais forte que pôde sem esmagá-
la. Afastou seu cabelo longe de sua bochecha onde começava a
transpirar, seu rosto quente. Embalou-a e abraçou-a mais forte. Se
alguém lhe tivesse dito que estar a poucos metros do chão poderia
causar tanto terror, teria rido, mas agora não achava divertido. O
medo de Judith era muito real e seu coração se encheu de pena que
ela sofresse tanto assim. Seu pequeno corpo tremia, seu coração batia
tão violentamente quanto o de um pássaro e ele sabia que deveria
fazê-la se sentir segura novamente. Gavin começou a cantar, baixinho
no começo, sem realmente prestar atenção às palavras. Sua voz era
rica e reconfortante. Ele cantou uma canção de amor, de um homem
que retorna das Cruzadas para encontrar o seu verdadeiro amor
esperando por ele.
Gradualmente, sentiu que Judith começava a relaxar contra ele,
o terrível tremor diminuindo. Suas mãos se soltando, mas Gavin não a
soltou. Ele sorriu e beijou sua têmpora enquanto cantarolava a
melodia. Sua respiração tornou-se mais uniforme até que ela levantou
a cabeça de seu ombro. Judith afastou-se, mas ele a segurou
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 166
firmemente, não querendo soltá-la. A necessidade que Judith tinha
dele era estranhamente reconfortante, embora Gavin dissesse que não
gostava de mulheres dependentes.
— Você vai pensar que sou uma idiota. — disse suavemente.
Ele não respondeu.
— Não gosto de lugares altos. — prosseguiu Judith.
Ele sorriu e abraçou-a junto a ele.
— Me dei conta disso. — ele riu. — Embora “não gosto" é pouco
para o que vi. Por que te inspira tanto medo lugares altos? — Ele
estava rindo agora, feliz por ela ter se recuperado. Gavin ficou
assustado quando ela se enrijeceu. — O que eu disse, não fique
zangada.
— Eu não estou irritada. — ela disse tristemente, relaxando
novamente, confortável em seus braços. — Não gosto de pensar no
meu pai, só isso.
Gavin a obrigou a apoiar sua cabeça de volta em seu ombro.
— Conte-me sobre isso. — disse seriamente.
Judith ficou quieta por um momento, depois, quando falou,
dificilmente podia ouvi-la.
— Na verdade, eu me lembro de pouco disso, só o medo
permanece comigo. Minhas donzelas me contaram muitos anos depois.
Eu tinha três anos e algo perturbou meu sono. Eu deixei o quarto e fui
para o grande salão, cheio de luzes e música, meu pai estava lá com
seus amigos e todos estavam bêbados. — Sua voz era fria, como se
contasse uma história sobre outra pessoa.
— Ao me ver, meu pai pareceu idealizar uma grande brincadeira.
Pediu uma escada e subiu por ela, comigo debaixo do braço, para
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 167
sentar-me em uma grande janela de uma boa altura. Como eu disse
não me lembro de quase nada. Meu pai e seus amigos foram dormir e
pela manhã minhas donzelas tiveram que me procurar. Não demorou
muito para que elas me encontrassem, embora devesse tê-las ouvido
me chamar. Aparentemente estava tão assustada que não conseguia
falar.
Gavin acariciou seu cabelo e começou a balançá-la novamente. O
pensamento de um homem colocando uma criança de três anos a seis
metros acima do chão, depois deixando-a toda a noite, fez seu
estômago se revirar. Ele agarrou seus ombros e afastou Judith dele.
— Mas agora você está a salvo, veja, o chão está bem próximo.
Ela lhe deu um sorriso hesitante.
— Tem sido bom para mim, obrigada.
Aquele agradecimento não era suficiente para Gavin. Era triste
pensar que a moça havia sido maltratada em sua curta vida, e que o
conforto de seu marido lhe parecia uma dádiva dos céus.
— Você não viu meus bosques, o que você acha de ficamos aqui
por algum tempo?
— Mas há trabalho...
— Você é um demônio para o trabalho. Você nunca se diverte?
— Não tenho certeza se sei como fazê-lo. — Ela respondeu
honestamente.
— Bem, hoje você vai aprender. Hoje o dia será para a colheita de
flores silvestres e observação dos pássaros da mata. — Ele balançou
as sobrancelhas para ela e Judith deu uma risada muito incomum
para ele. Gavin estava encantado. Seus olhos eram quentes, seus
lábios curvados docemente, e sua beleza era uma vista inebriante. —
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 168
Então venha, — disse ele, levantando-a para colocá-la de pé. — Há
uma colina próxima que está coberta de flores e alguns pássaros
bastante extraordinários.
Quando os pés de Judith tocaram o chão, seu tornozelo esquerdo
se dobrou debaixo dela. Ela agarrou o braço de Gavin por apoio.
— Você está ferida. — disse enquanto se ajoelhava para olhar seu
tornozelo. Ele se virou e viu Judith morder o lábio. — Vamos colocá-lo
na água do córrego frio. Isso deve deter o inchaço. — Ele a levou em
seus braços.
— Eu posso andar se você me ajudar um pouco.
— E deixar a minha condição de cavaleiro ser tirada de mim?
Somos ensinados, você sabe, nas regras do amor cortês. As regras são
bastante firmes sobre belas damas em perigo. Elas devem ser levadas
nos braços sempre que possível.
— Então eu sou apenas um meio para promover seu status de
cavaleiro? - Judith perguntou seriamente.
— Claro, já que você é um grande fardo para carregar, deve pesar
tanto quanto meu cavalo.
— Não é assim! — Ela protestou veementemente e então viu seus
olhos brilhando. — Você está me provocando!
— Eu não disse que o dia era para a alegria?
Ela sorriu e se apoiou contra seu ombro. Era agradável estar tão
perto.
Gavin colocou-a na beira do córrego, depois cuidadosamente
retirou seu sapato.
— É necessário tirar à meia. — exigiu e sorriu. Ele observou com
deleite enquanto Judith levantava a saia de seu longo vestido para
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 169
revelar o topo de sua meia, amarrada com uma liga justamente acima
do joelho. — Se você precisar de ajuda... — ele olhava lascivo como ela
rolava a meia de seda em sua perna.
Judith observou Gavin enquanto gentilmente banhava seu pé na
água fria. Quem era aquele homem que a tocava tão gentilmente? Ele
não poderia ser o homem que a esbofeteou, que ostentou sua amante
diante dela, que a estuprou em sua noite de núpcias.
— Não parece ser muito ruim. — disse enquanto olhava para ela.
— Não, não parece. — Disse ela calmamente.
Uma brisa súbita soprou uma mecha de cabelo em seus olhos.
Gentilmente, Gavin afastou-a.
— O que você acha, de fazer uma fogueira e assarmos esse porco
hediondo?
— Isso seria agradável. — Sorriu para ele.
Ele a pegou do tronco e a jogou alegremente no ar. Ela agarrou
ao seu pescoço, morta de medo.
— Talvez comece a gostar deste seu medo. — riu e a pressionou
contra ele. Levou-a através do córrego para uma colina que estava
realmente coberta de flores silvestres, e construiu um fogo debaixo de
uma saliência rochosa. Em minutos, voltou com um pedaço de javali
selvagem, já limpo, no espeto e o colocou para assar sobre o fogo. Ele
não permitia que Judith se movesse ou ajudasse de qualquer maneira.
Enquanto a carne assava e já havia uma abundante fonte de lenha,
Gavin a deixou de novo e voltou após alguns momentos com o tabardo
levantado sobre os quadris, como se carregasse alguma coisa.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 170
— Feche os olhos. — disse, e quando ela obedeceu, derramou
uma chuva de flores sobre Judith. — Você não pode ir até elas, então
elas devem vir até você.
Ela olhou para ele, seu colo e o chão à sua volta cobertos em um
tapete de flores de cheiro doce.
— Obrigada, milorde. — disse ela, sorrindo brilhantemente.
Ele se sentou ao lado dela, uma mão atrás das costas,
inclinando-se para perto dela.
— Tenho outro presente. — disse ele, estendendo três Aquilégias
Columbine frágeis para ela.
Eram belas e delicadas flores, brilhando a luz do sol, de cor
violeta e branca. Ela tentou pegá-las, mas ele as afastou de suas
mãos. Ela olhou para ele surpresa.
— Elas não são gratuitas. — Ele estava brincando com ela de
novo, mas a expressão em seu rosto mostrava que não percebera.
Sentiu um arrepio de remorso por tê-la machucado tanto. De repente
Gavin se perguntou se ele seria melhor que seu sogro. Correu um dedo
levemente pela sua bochecha. — É um pequeno preço a pagar, — disse
suavemente. — Eu gostaria de ouvir você me chamar pelo meu nome
de batismo.
Seus olhos se arregalaram e estavam quentes novamente.
— Gavin. — ela disse calmamente enquanto ele lhe entregava as
flores. —Obrigada, meu... Gavin pelas flores.
Ele suspirou preguiçosamente e se recostou na grama, suas
mãos atrás da cabeça.
— Meu Gavin! — Ele repetiu. — Tem um som agradável. — Ele
moveu a mão preguiçosamente e enroscou um cacho de cabelo sobre a
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 171
palma da mão. Ela estava de costas para ele enquanto reunia as flores
e as colocava em um buquê. “Sempre ordenada” — pensou.
De repente, ocorreu-lhe que transcorreu anos sem passar um dia
tão agradável em suas próprias terras. As responsabilidades do castelo
o cercavam sempre, mas em poucos dias sua esposa tinha organizado
as coisas de tal forma que ele podia estender-se sobre a grama, sem
pensar em nada, para observar o voo das abelhas e a textura sedosa
dos cabelos de uma mulher.
— Você realmente ficou com raiva pelas sugestões que dei a
Simon? —Perguntou Judith.
Gavin quase não se lembrava de quem era Simon.
— Não! — Ele sorriu. — Simplesmente não gostei de uma mulher
conseguir o que eu não podia alcançar, e não tenho tanta certeza de
que essa nova isca seja melhor.
Ela girou para encará-lo.
— Sim, Simon concordou instantaneamente, tenho certeza de
que os falcões vão pegar mais presas agora e... — Ela parou quando o
viu rindo dela. — Você é um homem vaidoso.
— Eu? — Gavin perguntou, apoiando-se nos cotovelos. — Sou o
menos vaidoso dos homens.
— Você não acabou de dizer que estava zangado porque uma
mulher fez o que não pôde?
— Oh... — Gavin disse enquanto relaxava na grama, seus olhos
fechados. — Isso não é o mesmo, um homem fica sempre surpreso
quando uma mulher faz algo além de costurar e cuidar de crianças.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 172
— Oh, você! — Judith disse em desgosto, em seguida, pegou um
punhado de grama com um torrão de terra unida a ele e jogou em seu
rosto.
Ele abriu os olhos em surpresa, em seguida, limpou a sujeira de
sua boca. Seus olhos se estreitaram.
— Você pagará por isso, — disse, enquanto se movia
furtivamente para ela.
Judith recuou, temendo a dor que sabia que lhe causaria. Ela
começou a se levantar, mas ele agarrou seu tornozelo nu e segurou-o
rápido.
— Não... — ela começou antes que ele se jogasse sobre ela... e
começasse a lhe fazer cócegas. Judith se surpreendeu tanto quanto
qualquer outra coisa, então começou a rir. Recolheu os joelhos para os
seios tentando manter as mãos dele longe de seus lados, mas Gavin
era impiedoso.
— Você se retrata?
— Não. — Ela suspirou. — É vaidoso e pretensioso, mil vezes
mais do que qualquer mulher.
Seus dedos corriam para cima e para baixo em suas costelas até
fazê-la chutar em risadas.
— Por favor, pare. — ela gritou. — Eu não aguento mais!
As mãos de Gavin se acalmaram e ele se inclinou perto de seu
rosto.
— Se dá por vencida?
— Não, — disse ela, mas acrescentou rapidamente — embora
você não seja tão vaidoso como eu pensava.
— Isso não é maneira de se desculpar.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 173
— Me arrancou o pedido de desculpa sob tortura.
Gavin sorriu para ela, o pôr-do-sol fazendo sua pele dourada, seu
cabelo espalhado como um pôr-do-sol impetuoso.
— Quem é você, minha esposa? — Ele sussurrou, devorando-a
com os olhos. — Você me amaldiçoa em um momento, me encanta no
seguinte. Você me desafia até me dar vontade de querer matá-la, então
sorri para mim, e fico atordoado com sua beleza. Não é como nenhuma
outra mulher que eu já conheci. Ainda não vi você enfiar uma agulha
para costurar, mas a vi, mergulhada até os joelhos, na lama da lagoa
dos peixes. Você monta um cavalo, assim como um homem, no
entanto, a encontro em uma árvore tremendo como uma criança em
um medo mortal. Você nunca é a mesma, de um momento para o
outro muda? Alguma vez será a mesma pessoa por dois dias seguidos?
— Eu sou Judith, não sou mais ninguém, nem sei ser outra
pessoa.
Sua mão acariciou sua têmpora. Então ele se inclinou e tocou
seus lábios nos dela. Eles estavam quentes do sol e doces. Ele tinha
começado a provar os lábios dela quando o céu se abriu de repente
com uma enorme explosão de trovão e começou a verter uma torrente
de chuva pesada sobre eles.
Gavin pronunciou uma palavra muito suja, que Judith nunca
ouviu antes.
— Para a saliência da rocha! — Ele disse e então se lembrou do
tornozelo dela. Pegou-a e correu com ela nos braços para o abrigo
profundo, onde o fogo crepitava e chiava pela queda da gordura da
carne gotejando nele. O temperamento de Gavin não estava
melhorando com a chuva abrupta. Com raiva, ele foi para o fogo. Um
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 174
lado da carne estava queimado, preto, o outro cru. Nenhum deles
pensou em dar a volta no assado.
— Você é uma pobre cozinheira. — disse ele. Estava aborrecido
por ter um momento perfeito destruído.
Ela lhe deu um olhar vazio.
— Eu costumo ser melhor costurando do que cozinhando.
Ele olhou para ela, então começou a rir.
— Boa resposta. — Estudou a chuva. — Devo ver como está meu
cavalo. Não posso deixa-lo nesta chuva com a sela colocada.
Sempre preocupada com o bem-estar dos animais, Judith voltou-
se para ele.
— Você deixou seu pobre cavalo desacompanhado todo esse
tempo?
Ele não gostou do tom de comando dela.
— E onde, por favor, me diga, está a sua égua? Você se importa
tanto que não sabe o que aconteceu com ela?
— Eu... — ela começou. Estava tão encantada com Gavin que
não pensou em mais nada.
— Então, ponha-se a fazer as lições de casa antes de achar que
tem direito de me dar ordens.
— Eu não estava ordenando nada a você.
— E então, o que mais?
Judith se afastou dele.
— Vá então, seu cavalo espera na chuva.
Gavin começou a falar, depois mudou de ideia quando saiu na
chuva.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 175
Judith sentou-se esfregando o tornozelo, repreendendo-se. Ela
parecia deixa-lo zangado em cada momento. Então ela parou. O que
importava se ela o deixasse com raiva? Ela o odiava, não era? Ele era
um homem vil e desonroso e um dia de bondade não mudaria seus
sentimentos de ódio por ele. Ou poderia?
— Milorde.
Ele ouviu a voz como se viesse de longe.
— Milorde Gavin, Lady Judith. — As vozes se aproximaram.
Gavin resmungou baixinho, ajustando a cilha que acabou de
soltar. Esquecera-se de seus homens. Que magia tinha essa pequena
bruxa lançado sobre ele que o fez esquecer seu cavalo e, pior ainda,
esqueceu os seus homens que diligentemente procuravam por eles?
Agora eles cavalgavam na chuva, molhados, com frio e sem dúvida
com fome. Por mais que tenha gostado de estar com Judith, talvez
passar a noite com ela, seus homens devem vir em primeiro lugar.
Levou seu cavalo a atravessar o riacho e subiu a colina. Até
então, eles já tinham visto o fogo.
— Você está ileso, milorde? — Perguntou John Bassett quando se
encontraram, com a água escorrendo do nariz.
— Sim. — disse Gavin, sem olhar para a mulher que se apoiava
no rebordo de pedra. — Fomos apanhados na tempestade e Judith
machucou seu tornozelo. — ele começou, então parou quando John
olhou intensamente para o céu. Uma nuvem de primavera dificilmente
era uma tempestade, e tanto Gavin quanto sua esposa poderiam ter
montado um só cavalo.
John era um homem mais velho, um cavaleiro do pai de Gavin, e
tinha experiência em lidar com rapazes.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 176
— Eu compreendo milorde, trouxemos a égua da lady.
— Droga... droga... droga! — Gavin murmurou. Agora ela o fizera
mentir para seus homens. Aproximou-se da égua e ajustou a cilha
selvagemente.
Mesmo com toda a dor no tornozelo machucado, Judith correu
rapidamente em sua direção.
— Não seja tão duro com a minha égua. — disse possessiva.
Ele se virou para ela.
— Não seja tão rude comigo, Judith!
Judith olhava silenciosamente entre as persianas semicerradas,
observando a noite estrelada. Usava uma bata de damasco azul índigo,
forrada com seda azul, em torno do pescoço, abaixo da parte dianteira
e em torno da bainha de bordada com arminho branco. A chuva havia
desaparecido e o ar da noite estava fresco. Relutantemente, se afastou
da janela para sua cama vazia. Judith sabia o que estava errado com
ela, embora odiasse admiti-lo. Que tipo de mulher era se estava
morrendo pelas carícias de um homem que a desprezava? Ela fechou
os olhos e quase pôde sentir suas mãos e seus lábios em seu corpo.
Não tinha orgulho de que seu corpo traísse sua mente. Ela tirou a
túnica e deslizou nua, na cama fria.
Seu coração quase parou quando ouviu passos pesados parar
fora da porta de seu quarto. Ela esperou, sem fôlego, por um longo
tempo antes que os passos recuassem pelo corredor. Ela bateu o
punho no travesseiro de penas e foi muito, muito tempo depois que
conseguiu dormir.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 177
Gavin ficou parado fora da porta por alguns minutos antes de ir
para o quarto que agora usava. O que havia de errado com ele?
Perguntou-se. De onde veio esta nova timidez com as mulheres? Ela
estava pronta para ele. Tinha visto isso em seus olhos. Hoje, pela
primeira vez em muitas semanas, sorrira para ele e, pela primeira vez,
o chamara pelo seu primeiro nome. Ele poderia arriscar perder esse
pequeno ganho forçando sua entrada em seu quarto e novamente
correr o risco de causar novo ódio?
O que importava se estuprasse Judith de novo? Ele não tinha
gostado da primeira noite? Despiu-se rapidamente e deslizou para a
cama vazia. Ele não queria violá-la novamente. Não, queria que ela
sorrisse para ele, que chamasse seu nome e estendesse os braços para
ele. De sua mente desaparecera todos os pensamentos de triunfo. Ele
adormeceu lembrando o modo que ela se agarrou a ele quando estava
assustada.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 178
Capítulo Doze Gavin acordou muito cedo depois de uma noite de sono
perturbada. No castelo já havia algum movimento, mas os ruídos
ainda eram fracos. Seu primeiro pensamento foi em Judith. Queria vê-
la. Será que ela realmente sorriu para ele ontem?
Vestiu-se rapidamente com uma camisa de linho e um grosso
gibão de lã, preso com um amplo cinto de couro. Ele puxou a meia de
linha sobre os músculos do quadril e coxas, amarrando-os aos calções
que usava. Depois, desceu apressadamente as escadas até o jardim e
lá cortou uma rosa vermelha perfumada, suas pétalas beijadas por
gotas peroladas de orvalho.
A porta da câmara de Judith estava fechada. Silenciosamente,
Gavin a abriu, ela estava dormindo, uma mão enrolada em seu cabelo
que estava espalhado sobre seus ombros nus e o travesseiro ao lado
dela. Ele colocou a rosa no travesseiro e gentilmente removeu um
cacho de sua bochecha.
Judith abriu os olhos lentamente. Parecia parte de seus sonhos
ver Gavin tão próximo. Ela tocou seu rosto suavemente, seu polegar
no queixo, sentindo a barba crescida, seus dedos em suas bochechas.
Parecia mais jovem do que de costume, as linhas de expressão e
preocupação desapareceram de seus olhos.
— Eu não acho que você seja real. — ela sussurrou, observando
seus olhos enquanto estes se suavizavam.
Ele moveu a cabeça ligeiramente e mordeu a ponta de seu dedo.
— Sou muito real, é você quem parece ser um sonho.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 179
Ela sorriu maliciosamente para ele.
— Então estamos bem satisfeitos com os nossos sonhos, não
estamos?
Ele riu enquanto a rodeava com os braços e esfregava a bochecha
na carne macia de seu pescoço, deleitando-se com seus gritinhos de
protesto enquanto sua barba ameaçava arranhar sua pele.
— Judith, doce Judith. — sussurrou enquanto mordiscava o
lóbulo da orelha. — É sempre um mistério para mim, não sei se eu
gosto de você ou não.
— E isso importaria tanto, se não o gostasse?
Ele se afastou dela e tocou sua têmpora.
— Sim, acho que isso importaria.
— Minha dama!
Ambos levantaram os olhos quando Joan irrompeu no quarto.
— Mil perdões, minha lady. — disse Joan, rindo. — Eu não sabia
que estava tão bem ocupada, mas a hora já se faz tarde e há muitos
que chamam por você.
— Diga a eles para esperar. — disse Gavin acaloradamente
enquanto segurava Judith firmemente enquanto tentava afastá-lo.
— Não! — Judith disse. — Joan, quem me convoca?
— O padre pergunta se deseja começar o dia sem missa. O
homem do Senhor Gavin, John Bassett, manda dizer que alguns
cavalos de Chestershire chegaram. E há três comerciantes de tecidos
que querem ter suas mercadorias inspecionadas.
Gavin enrijeceu e soltou sua esposa.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 180
— Diga ao padre que estaremos lá, vou ver os cavalos depois da
missa e diga aos mercadores... — ele parou, enojado. — Sou senhor
desta casa ou não? — Perguntou ele.
Judith colocou a mão em seu braço.
— Diga aos mercadores que armazenem suas mercadorias e
assistam à missa conosco, eu os verei depois da missa.
— Bem? — Gavin perguntou à donzela. — Foi-lhe dito o que
fazer. Agora vá.
Joan fechou a porta as suas costas.
— Tenho que ajudar a minha lady a se vestir.
Gavin começou a sorrir.
— Vou fazer isso, talvez encontre algum prazer neste dia além do
dever.
Joan sorriu maliciosamente para a ama, antes que ela saísse pela
porta e a fechasse.
— Agora, minha senhora, — disse Gavin, voltando-se para a
esposa. — Estou às suas ordens.
Os olhos de Judith cintilaram.
— Mesmo que minhas ordens se refiram a seus cavalos?
Ele gemeu em fingida agonia.
— Foi uma briga boba, não foi? Eu estava com raiva da chuva
mais do que de você.
— E por que a chuva te deixou com raiva? — Ela brincou.
Ele se inclinou sobre ela.
— Isso me impediu de um esporte que eu tanto desejava.
Ela pôs a mão em seu peito, sentiu seu coração martelar.
— Você se esquece de que o padre nos espera?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 181
Ele se inclinou para trás.
— Bem, se levante que a ajudarei a se vestir. Se não posso
provar, pelo menos posso olhar.
Judith olhou-o nos olhos por um momento. Há quase duas
semanas que não fazia amor com ela. Talvez a tenha deixado logo após
seu casamento para ir encontrar-se com a sua amante. Mas Judith
percebeu que Gavin era seu naquele momento, e tiraria o máximo de
proveito disso. Muitas pessoas lhe disseram que era linda, mas
geralmente as descartava como bajuladores. Ela sabia que as curvas
de seu corpo eram muito diferentes da magreza de Alice Valence. Mais
de uma vez Gavin desejara seu corpo. Ela se perguntou se poderia
fazer aqueles olhos escurecerem de cinza para preto novamente com
prazer.
Ela lentamente puxou uma borda da colcha para trás e estendeu
um pé descalço, em seguida, puxou o lençol até o meio da coxa. Ela
flexionou os dois pés.
— Acho que meu tornozelo já está bem recuperado, não é? — Ela
sorriu inocentemente, mas ele não estava olhando para seu rosto.
Muito lentamente, afastou a coberta de seu quadril firme e
redondo, então expôs seu umbigo, seu ventre achatado. Levantou-se
lentamente para fora da cama e ficou diante dele na luz do amanhecer.
Gavin olhou para ela. Não a via nua há semanas. Apreciou-a.
Suas pernas eram longas e magras, seus quadris redondos, possuía
uma cintura fina, seios cheios e mamilos rosados.
— Ao diabo com o padre! — Gavin murmurou enquanto estendia
a mão para tocar a curva de seu quadril.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 182
— Não blasfeme milorde. — disse Judith seriamente. Gavin olhou
para ela surpreso.
— Sempre me espanta saber que queria esconder tudo isso sob o
hábito de freira. — Gavin suspirou pesadamente quando olhava para
ela, as palmas das mãos, doendo de desejo de tocá-la. — Seja uma boa
menina e traga suas roupas, não aguento mais essa doce tortura. Mais
um momento, e eu a violentaria diante dos olhos do padre.
Judith virou-se para arca e escondeu o sorriso. Perguntava-se se
isso poderia ser chamado de violação.
Judith vestiu-se devagar, desfrutando de seus olhos sobre ela e
seu silêncio tenso. Ela vestiu uma camisa de algodão fino bordada com
minúsculos unicórnios azuis. Não chegava até a metade da coxa. Em
seguida vieram anáguas combinando. Então ela colocou a perna na
borda do banco onde Gavin se sentou rígido, e cuidadosamente puxou
as meias de seda sobre suas pernas, mantidas no lugar por ligas.
Estendeu a mão à frente dele para pegar seu vestido de cashmira
marrom de Veneza. Leões de prata estavam bordados na frente e ao
longo da bainha. As mãos de Gavin tremiam quando ele abotoou os
botões nas costas. Um cinto de filigrana de prata completou o traje,
mas Judith não conseguia fechar a simples fivela por si mesma.
— Pronto. — ela disse depois de muito tempo de lutar com as
roupas não cooperativas.
Gavin deixou escapar sua longa respiração.
— Seria uma boa donzela. — ela riu, girando em um mar de
marrom e prata.
— Não. — Disse Gavin honestamente. — Eu morreria em menos
de uma semana. Agora venha comigo e não me provoque mais.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 183
— Sim, meu lorde; — disse Judith, obediente, com os olhos
brilhando.
Dentro da muralha interior havia um longo campo com uma
pesada camada de areia. Aqui os homens de Montgomery e seus
vassalos principais treinavam. Um fantoche de palha balançava
pendurado na forca onde os homens faziam lançar suas estocadas
enquanto montavam seus cavalos de guerra. Um anel unido entre dois
postes era o objeto de mais uso para os treinamentos. Outro homem
estava atacando um poste de dez centímetros de espessura,
profundamente preso no chão, à espada segura com ambas às mãos.
Gavin sentou-se pesadamente em um banco na beira do campo
de treinamento. Tirou o capacete e passou a mão pelo cabelo molhado
de suor. Seus olhos estavam transformados em poços escuros, suas
bochechas finas, seus ombros doloridos de cansaço. Havia quatro dias
desde aquela manhã que ajudara Judith a se vestir. Durante esse
tempo dormiu muito pouco, comeu ainda menos, de modo que agora
seus sentidos estavam tensos.
Inclinou a cabeça para trás contra a parede de pedra pensando
que não poderia passar mais outro infortúnio. Várias casinhas dos
servos tinham pegado fogo, e o vento enviou faíscas para a leiteria. Ele
e seus homens lutaram contra o fogo por dois dias, dormindo no chão
onde quer que eles caíssem. Uma noite passou nos estábulos com uma
égua que entrou em trabalho de parto de um potro mal posicionado.
Judith ficou com ele durante a noite, segurando a cabeça do animal,
entregando panos e unguentos a Gavin antes que ele soubesse que
precisava deles. Nunca se sentira tão perto de alguém como dela nesse
momento. Ao amanhecer, com um sentimento de triunfo, ficaram
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 184
juntos e observaram o pequeno potro dar os primeiros passos
trêmulos.
No entanto, apesar de toda a sua proximidade em espírito, seus
corpos estavam tão distantes como sempre. Gavin sentiu que a
qualquer momento poderia enlouquecer de tanto desejo que sentia por
ela. Limpou o suor de seus olhos enquanto olhava para o outro lado do
pátio e via Judith andando em sua direção. Ou era puramente sua
imaginação? Ela parecia estar em todos os lugares diante de seus
olhos, mesmo quando ela não estava.
— Trouxe-lhe uma bebida fresca. — ela disse, estendendo uma
caneca para ele.
Ele a olhou atentamente.
Ela colocou a caneca ao lado dele no banco.
— Gavin, você está bem? — Ela perguntou enquanto colocava
uma mão fria em sua testa.
Ele a agarrou violentamente e puxou-a para baixo. Seus lábios
procuraram os dela com fome, forçando-os a se abrir. Não pensava
que pudesse negá-lo. Nada mais importava.
Judith circulou seu pescoço com seus braços e sua resposta ao
seu beijo foi tão ansiosa quanto à dele. Nem se importava que metade
do castelo estivesse olhando. Não havia mais ninguém além dos dois.
Gavin moveu seus lábios para seu pescoço, mas sem suavidade, agia
como se fosse devorá-la.
— Milorde. — Alguém disse impacientemente.
Judith abriu os olhos para ver um menino perto deles, com um
papel enrolado na mão. De repente, se lembrou de quem era e onde
estava.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 185
— Gavin, há uma mensagem para você.
Ele não moveu os lábios de seu pescoço, e Judith teve que se
concentrar muito para manter sua mente no garoto que esperava.
— Meu lorde. — disse o rapaz. — É uma mensagem urgente. —
Ele era muito jovem nem possuía barba e olhava para o beijo de Gavin
com sua esposa como uma perda de tempo.
— Vou ver! — Disse Gavin enquanto pegava o pergaminho do
garoto. — Agora vá e não me incomode mais.
Ele jogou o papel no chão antes de se virar novamente para os
lábios de sua esposa.
Mas Judith estava agora muito consciente de que estavam em
lugar público.
— Gavin. — disse severamente, lutando para descer de seu colo.
— Você deve ler.
Ele olhou-a enquanto se erguia, sua respiração se acelerando.
— Leia você. — pediu enquanto tomava a caneca de refresco que
Judith lhe trouxe, na esperança de resfriar seu sangue.
Judith desenrolou o papel com uma careta preocupada, seu rosto
perdendo a cor enquanto lia.
Imediatamente Gavin ficou preocupado.
— São más notícias? — Quando olhou em seus olhos, sua
respiração parou, pois lá novamente viu a frieza. Seus lindos, quentes
e apaixonados olhos lhe lançavam punhais de ódio.
— Eu sou três vezes uma idiota! — Disse com os dentes cerrados
enquanto jogava o pergaminho em seu rosto. Girou sobre o calcanhar
e caminhou em direção à mansão.
Gavin pegou o pergaminho de seu colo.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 186
Queridíssimo:
Envio-te esta carta em segredo para falar
livremente do meu amor. Amanhã me casarei com
Edmund Chatworth. Ore por mim, pense em mim como
eu o terei em meus pensamentos.
Não se esqueça nunca que a minha vida é sua.
Sem teu amor não sou nada. Conto os instantes até que
volte a ser tua.
Com amor
Alice
— Problemas, meu senhor? — Perguntou John Bassett.
Gavin baixou a carta.
— O pior que já tive. Diga-me, John, você que já é maduro, sabe
acaso algo sobre as mulheres?
John deu uma risadinha.
— Nenhum homem sabe, meu lorde.
— É possível dar o seu amor a uma mulher, mas desejar a outra
quase até enlouquecer?
John balançou a cabeça enquanto observava seu senhor olhando
para a forma como a esposa dele se afastava.
— Este homem também deseja a mulher que ele ama?
— Certamente! — Gavin respondeu. — Mas talvez não... não da
mesma maneira.
— Ah, entendo. Um amor sagrado, como o que se fornece a
Virgem. Sou um homem simples. Se fosse comigo iria ficar com o amor
profano. Creio que se a mulher for encantadora na cama, o amor
acabaria por vir.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 187
Gavin apoiou os cotovelos nos joelhos, a cabeça entre as mãos.
— As mulheres foram criadas para tentar os homens, elas são a
criação do próprio diabo.
John sorriu.
— Eu acho que se encontrasse o velho maligno, poderia
agradecê-lo por essa parte de seu trabalho do mal.
Para Gavin, os três dias seguintes foram o inferno. Judith não o
olhava nem falava com ele. Se possível, não ficava perto dele. E quanto
mais arrogante e altiva o tratava, mais furioso ele se tornava.
— Fique! — Ordenou uma noite quando ela começou a sair da
sala quando ele entrou.
— Claro, milorde. — disse com uma reverencia. Judith manteve a
cabeça inclinada, os olhos dela nunca se encontrando com os dele.
Em uma ocasião Gavin acreditou ver-lhe os olhos vermelhos,
como se tivesse chorado. Isso não poderia ser, é claro. Que razão tinha
essa mulher para chorar? Ele era o único a ser punido, não ela. Ele
havia demonstrado que queria ser bondoso, mas decidiu desprezá-lo.
Bem, isso já havia acontecido no passado, e iria superá-lo novamente.
Contudo os dias se passaram, e Judith continuava sendo fria com ele.
Ouvia seu riso, mas quando se aproximava, o sorriso morria em seu
rosto. Sentia vontade de esbofeteá-la, forçá-la a responder-lhe, até
mesmo sua raiva era melhor do que essa maneira de olhar, como se
ele não estivesse presente. Mas Gavin não podia machucá-la. Queria
abraçá-la e até pedir desculpas. Desculpas por quê? Passava os dias
galopando e treinando exageradamente, mas às noites não conseguia
dormir. Encontrou-se à procura de desculpas para se aproximar dela,
só para ver se poderia tocá-la.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 188
Judith tinha chorado até quase ficar doente. Como ela poderia ter
esquecido tão rápido que ele era um homem tão vil? No entanto,
apesar de toda a angústia que a carta causou, teve que se proteger de
correr para seus braços. Judith odiava Gavin, mas seu corpo ardia por
ele a cada momento, de cada hora, de cada dia.
— Minha dama. — disse Joan em voz baixa. Muitos dos criados
tinham aprendido a andar na ponta dos pés perto de seus amos
ultimamente. — Lorde Gavin pede para vir até ele no grande salão.
— Eu não o farei! — Judith respondeu sem hesitar.
— Disse que é urgente. Trata-se de algo relacionado com seus
pais, minha dama.
— Minha mãe? — Ela perguntou imediatamente preocupada.
— Não sei. Ele só disse que precisava falar com você
imediatamente.
Quando Judith viu o esposo, percebeu que havia algum problema
grave. Seus olhos pareciam carvões pretos. Seus lábios estavam tão
apertados que tinham sido reduzidos a uma linha fina no rosto.
Imediatamente descarregou sua ira contra ela.
— Por que não me disse que estava prometida a outra pessoa
antes de mim?
Judith estava perplexa.
— Eu lhe disse que estava comprometida com a igreja.
— Você sabe que não me refiro à igreja, e quanto a esse homem
com quem você riu e flertou no torneio? Eu deveria ter percebido
então.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 189
Judith podia sentir o sangue começar a correr através de suas
veias.
— Você devia ter sabido o quê? Que qualquer homem seria um
marido mais adequado do que você?
Gavin deu um passo à frente, ameaçando-a a sua maneira, mas
Judith não recuou.
— Walter Demari apresentou uma reclamação sobre você e sobre
as suas terras. Para reivindica-la matou seu pai e tem a sua mãe em
cativeiro.
Imediatamente, toda a raiva deixou Judith. Sentia-se atordoada e
fraca. Agarrou-se a uma cadeira para não cair.
— Quem foi morto? Quem tem em cativeiro? — Ela conseguiu
sussurrar.
Gavin acalmou-se um pouco e colocou uma mão em seu braço.
— Não era minha intenção dar-lhe a notícia desta maneira. É que
esse homem reivindica o que é meu!
— Seu? — Judith olhou fixamente. — Meu pai foi morto, minha
mãe sequestrada, minhas terras usurpadas... E você se atreve a
mencionar o que perdeu?
Ele se afastou dela.
— Vamos falar razoavelmente. Você foi prometida a Walter
Demari?
— Eu não estava prometida a ele.
— Você tem certeza?
Ela apenas olhou para ele em resposta.
— Ele disse que só vai libertar sua mãe se você for se reunir com
ele.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 190
Ela se virou instantaneamente.
— Então eu irei.
— Não! — Gavin disse e puxou-a de volta ao assento. — Você não
pode! Você é minha!
Ela olhou para ele fixamente, sua mente se concentrando em
negócios.
— Se sou sua e minhas terras são suas, como pensa este homem
apoderar-se de tudo? Mesmo que lute contra você, não pode lutar
contra todos os seus parentes.
— Demari não planeja fazê-lo. — Os olhos de Gavin perfuraram
os dela. — Foi-lhe dito que não dormimos juntos. Ele pede uma
anulação, que você terá que declarar diante do rei sua aversão por
mim e seu desejo por ele.
— Se eu fizer isso, vai liberar minha mãe, ilesa?
— É o que ele diz.
— Se eu não fizer essa declaração diante do rei, o que acontecerá
à minha mãe?
Gavin fez uma pausa antes de responder.
— Não sei, não posso dizer o que será dela.
Judith ficou em silêncio por um momento.
— Então, devo escolher entre meu marido e minha mãe? Devo
escolher se vou ceder às exigências gananciosas de um homem que
mal conheço?
A voz de Gavin era diferente de tudo o que já ouvira antes. Estava
frio como aço endurecido.
— Não, você não vai escolher.
Sua cabeça levantou bruscamente.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 191
— Podemos brigar muitas vezes dentro de nossas próprias
propriedades, mesmo dentro de nossas próprias câmaras, e posso
ceder diante de você muitas vezes. Pode mudar as iscas do falcoeiro e
eu posso estar com raiva de você, mas agora não vai interferir. Se você
se comprometeu com ele antes de nos casarmos, ou mesmo se você
passou sua infância na cama com ele, pouco importa. Esta é uma
questão de guerra, e eu não vou discutir isso com você.
— Mas minha mãe...
— Vou tentar tirá-la com segurança, mas não sei se poderei.
— Então deixe-me ir até ele, deixe-me tentar persuadi-lo.
Gavin era inflexível.
— Não posso permitir isso. Agora tenho que reunir meus homens.
Partiremos amanhã ao amanhecer.
E saiu do salão.
Judith ficou parada na janela de seu quarto por muito tempo.
Sua criada veio e despiu-a, colocando os braços de sua ama em um
roupão de veludo verde forrado com vison. Judith mal sabia da
presença de outra pessoa. Sua mãe, que a havia protegido por toda a
sua vida, era ameaçada por um homem que Judith mal conhecia. Ela
se lembrava de Walter Demari apenas vagamente como um jovem
agradável que conversou com ela sobre as regras do torneio. Lembrou-
se claramente da maneira como Gavin dissera que tinha seduzido o
homem.
Gavin. Gavin. Gavin. Sempre de volta nele. Todos os caminhos
levavam ao marido. Ele exigia, ele ordenava o que ela deveria fazer. Ela
não tinha escolha. Sua mãe devia ser sacrificada pela possessividade
feroz de Gavin.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 192
Mas o que ela faria se tivesse uma escolha?
De repente, seus olhos cintilaram em ouro. Que direito tinha
aquele odioso pequeno homem a interferir em sua vida? Ele fingia ser
deus quando, fazia com que os outros escolhessem entre o que não era
seu. “Lutar!” - Sua mente gritou. Sua mãe lhe ensinou a ter orgulho.
Será que Helen queria que sua única filha ficasse calma e sossegada
diante do rei e cedesse de boa vontade a algum palhaço presunçoso
somente porque esse homem assim o decretava?
Não, ela não iria! E Helen não queria isso. Judith voltou-se para
a porta, sem ter certeza de seu destino, mas uma ideia, provocada por
sua nova raiva, deu-lhe coragem.
— Então, os espiões de Demari dizem que não dormimos juntos e
que nosso casamento pode ser anulado. — ela murmurou enquanto
caminhava pelo corredor deserto.
Suas convicções mantiveram-se firme até que abriu a porta do
quarto ocupado por Gavin. Viu-o diante da janela, perdido em
pensamentos, com uma perna apoiada no parapeito da janela. Uma
coisa era fazer bravata do orgulho, mas outra bem diferente era
enfrentar o homem que, todas as noites, encontrava motivos para
evitar a cama de sua esposa. O rosto gelado de Alice Valence flutuou
diante dela. Judith mordeu a língua, a dor mantendo as lágrimas de
seus olhos. Tomou sua decisão e agora devia respeitá-la. Amanhã seu
marido iria para a guerra. Seus pés descalços estavam silenciosos e
não fizeram ruídos no chão coberto de juncos, quando ela se deteve a
poucos metros atrás dele.
Gavin sentiu, mais do que viu, sua presença. Ele se virou
devagar, prendendo a sua respiração. Os cabelos de Judith pareciam
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 193
mais escuros à luz das velas, o verde do veludo fazia brilhar a riqueza
de sua cor. O vison escuro enfatizava a rica cremosidade de sua pele.
Ele não podia falar. A proximidade dela, o quarto silencioso, as luzes
das velas, a cena era ainda melhor do que em seus sonhos. Ela olhou
para ele, então desatou lentamente o cinto de sua bata e deslizou
languidamente sobre sua pele lisa, caindo aos seus pés.
Seu olhar percorreu-a como se não fosse capaz de compreender
plenamente sua beleza. Somente quando olhou para os olhos, viu que
estava perturbada. Essa expressão era medo? Como se esperasse que
ele a rejeitasse? A possibilidade lhe pareceu tão humorística que quase
riu em voz alta.
— Gavin. — ela sussurrou.
Ela mal tinha terminado de murmurar seu nome quando a puxou
para seus braços, e a levou para sua cama, seus lábios já presos aos
dela.
Judith temia tanto a si mesma como a ele. Ele podia senti-la
enquanto a beijava. Gavin tinha esperado muito tempo para ela vir até
ele. Ficara longe dela por semanas, esperando que ela pudesse
aprender a confiar nele. No entanto, agora, enquanto a abraçava, não
sentia a grande sensação de triunfo.
— O que é isso, querida? O que te preocupa?
Sua preocupação por ela a fez querer chorar. Como poderia
contar a ele sobre sua dor?
Quando ele a levou para a cama e a luz da vela dançou sobre seu
corpo, seus ombros, aumentando o ofego a cada respiração, esqueceu
todos os pensamentos de qualquer coisa, menos a proximidade dela.
Suas roupas foram rapidamente jogadas de lado e gentilmente se
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 194
acomodou ao lado dela. Ele queria saborear sua pele tocando-a,
polegada por polegada lentamente.
Quando a tortura foi mais do que ele podia suportar, agarrou-a
ferozmente.
— Judith, senti sua falta.
Ela levantou o rosto para beijá-lo.
Passaram muito tempo separados para avançarem devagar. A
mútua necessidade era urgente. Judith apertou um punhado de carne
e músculos nas costas de Gavin. Ele ofegou e soltou uma gargalhada
rouca. Quando suas mãos o apertaram novamente, ele agarrou ambas
as mãos com uma das suas e as segurou sobre sua cabeça. Ela lutou
para se libertar, mas ele era muito forte. Quando ele a penetrou, ela
ofegou, então empurrou seu quadril para cima para encontrar o dele.
Gavin soltou suas mãos e Judith puxou-o cada vez mais dentro dela.
Eles fizeram amor rapidamente, quase com rudeza, antes de obterem a
libertação que buscavam. Então Gavin caiu sobre ela, seus corpos
ainda ligados.
Eles devem ter cochilado, mas algum tempo depois Judith foi
acordada pelo lento movimento rítmico de Gavin. Meio sonolenta, meio
excitada, começou a responder-lhe com movimentos vagos e
preguiçosos. Minuto a minuto, sua mente se perdeu mais
profundamente aos sentimentos de seu corpo. Ela não sabia o que
precisamente queria, mas não estava satisfeita com sua posição. Ela
não percebeu a surpresa de Gavin enquanto o empurrava para o lado,
sem separar-se. Um momento depois, ele estava deitado de costas e
ela o montava.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 195
Gavin não perdeu tempo em admiração. Suas mãos deslizaram
de seu ventre até seus seios. A cabeça de Judith arqueou para trás e
sua garganta, tão lisa e branca na escuridão, inflamou-o ainda mais.
Ele agarrou seus quadris, ambos perdidos na crescente paixão. Eles
explodiram juntos em um flash de estrelas azuis e brancas.
Judith desmoronou por cima de Gavin e ele a segurou contra seu
corpo, seu cabelo enrolando-se em torno de seus corpos embebidos de
suor, envolvendo-os em um casulo de seda. Nenhum deles mencionou
o que lhes passou pela cabeça.
Amanhã Gavin partiria para a batalha.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 196
Capítulo Treze A mansão Chatworth era de dois andares, feita de tijolos com
janelas de pedra esculpida com vidro importado. Em cada extremidade
da estrutura comprida e estreita, e em ambos os lados havia uma
janela de vidro com vitrais. Atrás da casa havia um encantador pátio
murado. O campo de dois acres antes da casa era de um gramado
exuberante, no final do qual havia uma floresta de caça privada do
conde.
Três pessoas estavam saindo desse bosque, caminhando pelo
gramado em direção à mansão. Jocelin Laing, seu alaúde pendurado
em seu ombro, tinha ambos os braços ao redor de duas cozinheiras,
Gladys e Blanche. Os olhos quentes e escuros de Jocelin ficaram ainda
mais ardentes na tarde em que passara satisfazendo as duas mulheres
gananciosas. Mas Jocelin não se considerava ambicioso. Para ele,
todas as mulheres eram joias, para serem apreciadas por seu próprio
brilho especial. Não havia ciúme ou possessividade nele.
Infelizmente, esse não era o caso das mulheres. No momento,
ambas estavam temendo deixar Jocelin.
— Você veio a convite dela? — Perguntou Gladys.
Jocelin virou a cabeça e olhou para ela até que desviou o olhar e
corou. Blanche não era tão facilmente de assustar.
— É muito estranho que Lorde Edmund permitisse que você
viesse. Ele mantém Lady Alice como uma prisioneira, e nem sequer
permite que ela cavalgue a menos que esteja com ela.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 197
— E Lorde Edmund não gosta de sacudir seu delicado traseiro no
lombo de um cavalo. — Gladys falou.
Jocelin parecia perplexo.
— Eu pensei que esta era uma aliança de amor, uma mulher
pobre que se casa com um conde.
— Por Amor, Bah! — Blanche riu. — Aquela mulher não ama a
ninguém, a não ser a si mesma, pensava que Lorde Edmund era um
simples idiota que poderia usar como desejasse, mas ele não é nada
simples e está longe de sê-lo... Sabemos muito bem... Não é, Gladys...
Desde que vivemos aqui há anos, não é?
— Ah, sim. — concordou Gladys. — Ela pensou que poderia
dirigir o castelo, eu conheço seu tipo, mas Lorde Edmund preferia
queimar o lugar até o chão do que dar-lhe as rédeas.
Jocelin franziu o cenho.
— Então por que ele se casou com ela? Ele poderia ter escolhido
entre tantas mulheres, Lady Alice não possuía terras para oferecer
nessa aliança.
— Ela é linda. —- respondeu Blanche dando de ombros. — Ele
ama mulheres bonitas.
Jocelin sorriu.
— Estou começando a gostar desse homem, concordo com ele
com todo o coração. — Ele deu a Blanche e Gladys olhares lascivos
que fizeram suas bochechas ruborizarem e seus olhos mais baixos.
— Jocelin, — prosseguiu Blanche — ele não é como você.
— Não, de fato. — disse Gladys enquanto passava a mão pela
coxa de Jocelin. Blanche lhe deu um forte olhar de reprimenda.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 198
— Lorde Edmund gosta apenas da sua beleza e não se importa
com a própria mulher.
— Como faz com a pobre Constance. — acrescentou Gladys.
— Constance? — Jocelin perguntou. — Não a conheço.
Blanche riu.
— Olhe para ele, Gladys, tem duas mulheres com ele agora, mas
se preocupa que não conheça uma terceira.
— Ou é que ele se preocupa sempre que há alguma mulher que
não conhece? — Gladys perguntou.
Jocelin colocou a mão em sua testa em desespero fingido.
— Descobriram. Estou perdido!
— Que você é mulherengo?— Blanche riu quando ela começou a
beijar seu pescoço. —Diga-me, meu doce, é fiel a alguma mulher?
Ele começou a mordiscar sua orelha.
— Eu sou fiel a todas as mulheres... Por um tempo. — Chegaram
à mansão, rindo.
— Onde você esteve? — Alice sibilou para ele assim que entrou
no grande salão.
Blanche e Gladys correram para seus deveres em partes
diferentes da casa.
Jocelin estava imperturbável.
— Sentiu minha falta, milady? — Ele sorriu, pegando sua mão e
beijando-a depois de ter certeza de que ninguém estava por perto.
— Não, eu não! — Disse Alice honestamente. — Não como você
quer dizer. Você estava fora com essas rameiras esta tarde enquanto
me sentei aqui sozinha?
Jocelin estava imediatamente preocupado.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 199
— Você estava sozinha?
— Oh, sim, eu estive só! — Alice disse enquanto afundava na
almofada de uma cadeira próxima a janela. Ela era tão delicadamente
adorável como quando a vira pela primeira vez no casamento de
Montgomery. Mas agora tinha um olhar mais refinado, como se ela
tivesse perdido peso, e seus olhos se moveram nervosamente de um
ponto para outro. — Sim — ela disse calmamente. — Estou sozinha,
não tenho ninguém aqui que seja meu amigo.
— Como pode ser isso? Certamente, seu marido deve amar um
ser lindo como você.
— Amar-me! — Ela riu. — Edmund não ama ninguém, ele me
mantém como se fosse um pássaro numa gaiola, não vejo ninguém,
não falo com ninguém. — Ela se virou para olhar para um vulto no
quarto, seu belo rosto retorcido de ódio. — Exceto ela! — Ela rosnou.
Jocelin olhou para o vulto, sem saber se alguém estava perto
deles.
— Saia, sua putinha. — Alice zombou. — Deixe que ele veja você.
Não se esconda como uma ave de rapina. Tenha orgulho do que faz.
Jocelin cerrou os olhos até que viu uma jovem dar um passo à
frente, a figura baixa, os ombros inclinados para frente, cabeça baixa.
— Olhe para cima, sua prostituta! — Alice ordenou.
A respiração de Jocelin parou quando olhou nos olhos da jovem.
Ela era bonita — não com a beleza de Alice ou da mulher que ele tinha
visto como uma noiva, Judith Revedoune, mas adorável. No entanto,
foi seus olhos que o fizeram olhar fixamente. Eram duas piscinas
violeta, cheia de todos os problemas do mundo. Ele nunca viu tanta
agonia e desespero.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 200
— Ele a colocou me seguindo como um cachorro. — Alice disse,
recuperando a atenção de Jocelin. — Eu não posso me mexer sem que
ela me siga, tentei matá-la uma vez, mas Edmund a reviveu, se eu
machuca-la de novo ameaçou me trancar por um mês. — Neste
momento, Alice percebeu que seu marido se aproximava dela.
Ele era um homem baixo e gordo, com grandes mandíbulas, olhar
sonolento e de olhos pesados. Ninguém imaginaria que por trás
daquele rosto poderia ter uma mente que não era das mais simples.
Mas Alice tinha descoberto muito bem a sua astúcia e inteligência.
— Venha para mim. — ela sussurrou para Jocelin antes que
acenasse brevemente para Edmund e saísse do salão.
— Seu gosto mudou. — observou Edmund. — Aquele não parece
nada com Gavin Montgomery.
Alice apenas olhou para ele. Ela sabia que não adiantava falar
nada. Estava casada há apenas um mês, e toda vez que olhava para o
marido, lembrava-se da manhã seguinte ao casamento. Passara a
noite de núpcias sozinha.
Pela manhã, Edmund a chamara. Ele era um homem diferente do
que Alice tinha conhecido pela primeira vez.
— Confio em que você dormiu bem. — Edmund dissera
calmamente, seus pequenos olhos em seu rosto demasiado gordo
observando-a.
Alice abaixou os cílios com delicadeza.
— Eu estava... Só, meu senhor.
— Agora você pode deixar a sua farsa! — Edmund ordenou
enquanto se levantava de sua cadeira. — Então, você achava que
poderia governar a mim e às minhas propriedades, não é?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 201
— Eu... eu não tenho ideia do que você quer dizer. — Alice
balbuciou, seus olhos azuis se encontraram com os dele.
— Você... todos vocês, toda a Inglaterra, pensam que eu sou um
tolo, esses cavaleiros musculosos com quem você se deitava me
chamam de covarde, porque me recuso a arriscar minha vida lutando
as batalhas do rei. O que me interessa as batalhas de outras pessoas?
Só me preocupam as minhas.
Alice ficou atônita sem palavras.
— Ah, minha querida, onde está aquele olhar pequeno, aquele
sorriso de covinhas que você usa para os homens, aqueles que babam
sobre sua beleza?
— Eu não entendo.
Edmund atravessou a sala para um armário alto e serviu-se de
um pouco de vinho. Era um quarto grande e arejado, situado no
último andar da encantadora mansão da propriedade de Chatworth.
Todos os móveis eram de carvalho ou nogueira, finamente esculpidos,
com peles de lobo e esquilo lançadas sobre as costas das cadeiras. O
copo que ele agora bebia era feito de cristal de rocha com pequenos
pés de ouro. Ele segurou o cristal na luz do sol. Havia palavras em
Latim na base do navio, prometendo boa sorte ao dono.
— Você tem alguma ideia por que eu me casei com você? — Ele
não deu a Alice chance de responder. — Tenho certeza que você deve
pensar ser a mulher mais vaidosa da Inglaterra. Provavelmente pensou
que estava tão cego quanto a esse apaixonado Gavin Montgomery.
Nunca se perguntou por que um conde como eu iria querer casar com
uma pobretona, que se deitava com qualquer homem que tivesse o
equipamento para agradá-la?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 202
Alice levantou-se.
— Eu não vou ouvir isso!
Aproximando-se, Edmund a empurrou de volta à cadeira.
— Quem você pensa que é para me dizer o que vai fazer ou não?
Quero que entenda uma coisa, não me casei com você por amor ou
porque eu estava enfeitiçado por sua suposta beleza.
Ele se afastou dela e serviu outro copo de vinho.
— Sua beleza! — Ele zombou. — Não consigo ver o que
Montgomery desejaria com uma mulher como você quando tem aquela
mulher Revedoune... Aquela sim é uma mulher para agitar o sangue
de um homem.
Alice tentou atacar Edmund com as mãos feitas em garras, mas
ele facilmente a derrubou.
— Estou cansado desses jogos, seu pai possui duzentos acres no
meio de minhas fazendas. O velho imundo estava prestes a vendê-lo ao
Conde de Weston, que tem sido meu inimigo e de meu pai há anos.
Você sabe o que teria acontecido com minhas propriedades se Weston
possuísse terras no meio delas? Um riacho corre por ali, se ele o
represasse, eu perderia centenas de acres de lavouras assim como
meus servos morreriam de sede. Seu pai foi muito estúpido para não
perceber que eu só queria pegar as terras.
Alice só podia olhar. Por que não falara seu pai com ela sobre a
terra que Weston queria?
— Mas, Edmund... —ela disse em sua voz mais suave.
— Não fale comigo. Durante os últimos meses a mantive vigiada,
eu conheço cada homem que você levou para a sua cama E esse
Montgomery! Mesmo no seu casamento você se atirou nos braços dele
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 203
Eu sei sobre a cena no jardim com ele. Suicidar-se, você! Sabia que a
esposa dele viu o seu joguinho? Não, não imaginava. Eu fiquei bêbado
para não ouvir os risos de provocação.
— Mas, Edmund...
— Eu lhe disse para não falar comigo, continuei com o
casamento porque não podia suportar as terras indo para Weston. Seu
pai me prometeu as escrituras quando você produzir um neto para ele.
Alice se recostou contra a cadeira. Um neto! Ela quase sorriu.
Quando tinha catorze anos, tinha-se encontrado grávida e procurou
uma velha na aldeia. A bruxa tinha retirado o feto. Alice quase morreu
por causa do sangramento, mas ficara feliz em se livrar do pirralho.
Ela nunca destruiria sua figura esguia pelo bastardo de algum
homem. Nos anos que se passaram, com todos os homens que teve,
não engravidou novamente. Até ficou feliz que esta operação a deixou
estéril. Agora, Alice sabia que sua vida se tornaria um inferno.
Uma hora depois, Jocelin terminou de tocar para um grupo de
garotas da cozinha, andou ao longo da parede do grande salão. A
tensão no castelo de Chatworth era quase insuportável. Os servos
eram desordenados e desonestos. Eles pareciam estar aterrorizados
com seu amo e sua senhora e não perderam tempo em contar a
Jocelin os horrores da vida no castelo. As primeiras semanas após o
casamento, Edmund e Alice haviam discutido violentamente. Até que,
um dos servos rindo, contou que o lorde descobriu que Lady Alice
gostava de uma mão forte. Então Lorde Edmund a trancou longe de
todos e a impediu de todos os divertimentos e, acima de tudo, a
impediu de desfrutar de qualquer um dos seus bens.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 204
Sempre que Jocelin perguntava a razão dos castigos de Edmund,
os criados encolhiam os ombros. Tinha algo a ver com o casamento da
herdeira Revedoune e Gavin Montgomery. Desde o começo, ouviram
frequentemente, Lorde Edmund que gritava que não seria feito de tolo,
já havia matado três homens que supostamente eram os amantes de
Alice.
Todos riram quando o rosto de Jocelin se tornou branco como
pergaminho. Agora, enquanto se afastava dos servos, jurou deixar pela
manhã o castelo de Chatworth. Era muito perigoso continuar aqui.
O mais leve dos sons, vindo de um canto escuro do corredor o fez
saltar. Ele acalmou seu coração acelerado, então riu de seu
nervosismo. Seus sentidos lhe disseram que havia uma mulher nas
sombras e ela estava chorando. Quando ele se moveu para a garota,
ela recuou, como um animal selvagem encurralado.
Era Constance, a mulher que Alice odiava tanto.
— Fique quieta. — ele disse calmamente, sua rica voz
ronronando. — Eu não vou te fazer mal. — Cuidadosamente, moveu
sua mão para tocar seus cabelos. Ela olhou-o com medo, e ele sentiu
seu coração retumbar. Quem poderia ter maltratado essa mulher para
fazê-la tão assustada?
Ela embalava seu braço contra seu lado como se estivesse com
dor.
— Deixe-me ver. — ele disse gentilmente e tocou seu pulso.
Alguns momentos antes ela soltou seu braço o suficiente para que
pudesse tocá-la. A pele não estava ferida e nem tinha ossos
quebrados, como ele suspeitou. Na luz fraca, ele podia ver que estava
avermelhado, como se alguém tivesse virtualmente torcido a pele.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 205
Ele queria abraçá-la, confortá-la, mas seu terror era quase
tangível. Ela estava tremendo de medo. Ele sabia que seria mais
amável deixá-la ir do que forçar sua presença sobre ela por mais
tempo. Ele deu um passo atrás e ela fugiu rapidamente. Jocelin ficou
olhando para ela por um longo tempo.
Era muito tarde da noite quando entrou no quarto de Alice. Ela
estava esperando por ele, seus braços abertos e ansiosos. Apesar de
toda sua experiência, Jocelin ficou surpreso com a violência de suas
ações. Ela o agarrou, suas unhas se cravando na pele de suas costas,
sua boca procurando a dele, mordendo seus lábios. Ele se afastou com
o cenho franzido e ela rosnou com irritação aguda.
— Você planeja me deixar? — Ela exigiu estreitando seus olhos.
— Outros já tentaram me deixar. — Alice sorriu quando viu sua
expressão. — Vejo que já ouviu sobre eles. — ela riu. — Se você me
agradar, não encontrará nenhuma causa para se juntar a eles.
Jocelin não gostava de suas ameaças. Seu primeiro impulso foi
sair. Então a vela à beira da cama tremeu e ele tornou-se agudamente
consciente de como ela era linda, como o mármore frio. Sorriu, seus
olhos escuros brilhando.
— Eu seria um tolo de ir. — ele disse enquanto corria os dentes
ao longo de seu pescoço.
Alice inclinou a cabeça para trás e sorriu, as unhas novamente
cavando em sua pele. Ela o queria rapidamente e com tanta força
quanto possível. Jocelin sabia que ele a machucava e também sabia
que ela gostava. Ele não recebeu qualquer prazer de seu ato de amor.
Era uma demonstração egoísta das exigências de Alice. No entanto, ele
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 206
obedeceu, sua mente nunca longe da ideia de deixá-la e sua casa no
dia seguinte.
Finalmente ela gemeu e o empurrou para longe dela.
— Vá agora. — ela ordenou e afastou-se.
Jocelin sentiu pena dela. O que era vida sem amor? Alice nunca
teria amor, porque não sabia amar.
— Você me satisfez. — ela disse calmamente quando ele começou
a abrir a porta. Ele podia ver as marcas que sua mão fez em seu
pescoço, e podia sentir as feridas das unhas em suas costas. — Vejo
você amanhã. — disse antes que ele partisse.
— Sim, vou escapar deste lugar. — Jocelin disse para si mesmo
enquanto caminhava pelo corredor escuro.
— Aqui rapaz! — Edmund Chatworth disse enquanto abria a
porta do quarto, inundando o corredor com luz das velas. — O que
você está fazendo aqui, a espreita no corredor à noite?
Jocelin encolheu os ombros e voltou a mexer na calça, como se
tivesse acabado de responder a um chamado da natureza.
Edmund olhou para Jocelin, depois para a porta fechada da
câmara de sua esposa. Ele começou a falar, então deu de ombros
como se dissesse que não valeria a pena prosseguir com o assunto.
— Você consegue manter a boca fechada, rapaz?
— Sim, milorde. — respondeu Jocelin com cautela.
— Não me refiro a um assunto pequeno, mas um maior, mais
importante, se você não falar, há um saco de ouro para você. — Ele
estreitou os olhos. — Se não o fizer, vai ganhar a morte.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 207
— Ali. — disse Edmund enquanto se afastava e se servia de uma
garrafa de vinho. — Quem teria pensado que alguns golpes a teriam
matado?
Jocelin foi imediatamente para o outro lado da cama. Constance
estava deitada, com o rosto quase sem reconhecimento, as roupas
arrancadas de seu corpo, penduradas por uma costura em torno de
sua cintura. Sua pele estava coberta por arranhões e pequenos cortes;
grandes machas roxas formadas em seus braços e ombros.
— Tão jovem — Jocelin sussurrou enquanto caia pesadamente de
joelhos. Seus olhos estavam fechados, seus cabelos eram uma massa
emaranhada e sangue seco. Quando se inclinou e puxou seu corpo
suavemente para levantá-la em seus braços, sentiu sua pele fria.
Ternamente, afastou o cabelo para longe de seu rosto sem vida.
— A maldita cadela me desafiou. - Edmund disse atrás de Jocelin
e olhou para a mulher que tinha sido sua amante. — Disse que
preferia morrer a dormir comigo de novo. — Ele bufou em escárnio. —
Em certo sentido, eu só dei o que ela queria. — Ele bebeu o último gole
do vinho e virou-se para obter mais.
Jocelin não se atreveu a olhar para ele de novo. Suas mãos
estavam pressionadas sob o corpo da menina.
— Toma! — Edmund exclamou enquanto jogava uma bolsa de
couro ao lado de Jocelin. — Eu quero que você se livre dela, amarre
algumas pedras e jogue-a no rio Só não deixe que se saiba o que
aconteceu aqui esta noite A notícia pode causar problemas. Eu direi
que ela voltou para sua família. — Ele bebeu mais vinho. — Ela não
valia o dinheiro que gastava para vesti-la, só conseguia arrancar
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 208
qualquer movimento dela se lhe batesse, senão ficava como um tronco
inerte debaixo de mim.
— Por que você a manteve, então? — Jocelin perguntou
calmamente enquanto tirava o manto para envolver a menina morta.
— Aqueles malditos olhos dela. Os mais bonitos que eu já vi. Eu
podia vê-los em meu sono. Eu a coloquei para vigiar minha esposa e
me relatar o que acontecesse, mas a garota era uma pobre espiã.
Nunca me dizia nada. — Ele riu. — Acho que Alice lhe pagava para
certificar-se de que não me dissesse nada. — disse Edmund enquanto
se afastava de Jocelin e da moça. — Você foi pago, leve-a e faça o que
quiser com o corpo.
— Um padre...
— Aquele velho saco de vento? — Edmund riu. — O anjo Gabriel
não conseguiria acordar o homem depois que toma sua habitual
garrafa de vinho noturno. Diga algumas palavras de benção sobre ela,
se quiser, mas ninguém mais! — Ele teve que contentar-se com o
aceno de Jocelin. — Agora saia daqui, estou cansado de olhar para
esse rosto feio.
Jocelin nem falou nem olhou para Edmund enquanto pegava
Constance em seus braços.
— Aqui, rapaz. — disse Edmund, surpreso. — Você deixou o
ouro. — Deixou cair à bolsa no ventre do cadáver.
Jocelin usou cada resto de força que possuía para manter os
olhos baixos. Se o conde visse o ódio que queimava neles, Jocelin não
viveria para fugir pela manhã. Silenciosamente, levou o corpo da
câmara, descendo as escadas e saindo para a noite estrelada.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 209
A mulher do cavalariço, uma velha gorda e desdentada, a quem
Jocelin tratara com respeito e até mesmo carinho, lhe dera um quarto
no alto dos estábulos para usar como seu. Era um lugar quente no
meio de fardos de feno. Era tranquilo e privado. Poucas pessoas
sabiam de sua existência. Ele levaria a menina para lá, iria lavá-la e
preparar seu corpo para o enterro. Pela manhã a levaria para fora dos
muros do castelo e lhe daria um enterro apropriado. Talvez não em um
terreno sagrado, abençoado pela igreja, mas pelo menos em algum
lugar livre e longe do fedor do castelo de Chatworth.
A única maneira de alcançar seu quarto era subindo uma escada
colocada contra o exterior dos estábulos. Cuidadosamente, acomodou
Constance em seus ombros e levou-a para o alto. Uma vez dentro,
colocou-a ternamente sobre uma cama macia de feno, em seguida,
acendeu uma vela ao lado dela. A visão dela no quarto de Edmund
fora um choque, agora era um horror. Jocelin mergulhou um pano
num balde de água e começou a lavar o sangue endurecido de seu
rosto. Ele não percebeu que havia lágrimas em seus olhos quando
tocou a forma surrada. Tirando uma faca de seu quadril, cortou o que
restou de seu vestido e continuou banhando suas contusões.
— Tão jovem. — ele sussurrou. — E tão bonita. — Ela era bonita
ou tinha sido e mesmo agora, na morte, seu corpo era tão adorável,
magro e firme, embora mostrassem demais de suas costelas.
— Por favor.
A palavra foi sussurrada, tão baixa que Jocelin quase não a
ouviu. Ele virou a cabeça e viu que seus olhos estavam abertos, ou um
deles, já que o outro estava inchado.
— Água... — ela ofegou através de uma boca seca e ardente.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 210
No começo ele só pôde encará-la com incredulidade, então sorriu
em pura alegria.
— Viva! — ele sussurrou. — Está viva! — Rapidamente pegou um
pouco de vinho com água, depois cuidadosamente levantou a cabeça
em seu braço enquanto segurava o copo nos lábios inchados.
- Lentamente... - ele disse, ainda sorrindo. — Bem devagar.
Constance recostou-se contra ele, franzindo a testa enquanto
tentava engolir, revelando contusões profundas sobre sua garganta.
Ele passou a mão sobre seu ombro, e percebeu que ainda estava
frio ao toque. Que tolo fora para dar-lhe por morta só porque Edmund
o disse! Ela estava congelada. Foi isso que a fez parecer tão fria. Ela
estava deitada em seu cobertor e, como Jocelin não conhecia outra
maneira de aquecer uma mulher, se deitou ao lado dela, segurando-a
perto do calor dele, enquanto baixava a manta sobre ambos com
grande preocupação. Nunca se deitou com uma mulher assim.
Já era tarde quando Jocelin acordou com a garota entre seus
braços. Ela se mexeu em sonhos, fazendo caretas por causa de seu
corpo dolorido. Jocelin levantou-se e colocou uma toalha fria em sua
testa, acusando o início da febre.
Agora, à luz do dia, Jocelin começou a ver a situação
realisticamente. O que ele tinha a ver com a garota? Ele não podia
anunciar que ela estava viva. Edmund levaria Constance para seu lado
assim que ela estivesse bem. Havia pouca probabilidade de que ela
pudesse sobreviver a uma segunda surra. Se Edmund não a matasse,
Jocelin tinha certeza de que Alice o faria. Jocelin olhou ao redor da
pequena sala com novos olhos, estudando. Era privativo, bem
protegido contra ruídos e difícil de chegar. Com sorte e muito cuidado,
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 211
poderia mantê-la escondida até que ela estivesse bem. Se ele a
mantinha viva e segura, então depois se preocuparia com o que
aconteceria a seguir.
Ele levantou-a e deu-lhe mais do vinho aguado, mas com sua
garganta inchada podia tomar pouco.
— Joss! — Uma mulher chamava ao pé da escada.
— Droga! — Ele disse baixinho, amaldiçoando pela primeira vez
em sua vida a sua falta de liberdade das mulheres.
— Joss, sabemos que você está ai, se você não descer, nós vamos
subir.
Ele caminhou através de um labirinto de feno empilhado ante a
porta aberta e sorriu para Blanche e Gladys.
— Uma bela manhã, não é? E o que vocês senhoras encantadoras
podem querer de mim?
Gladys deu uma risadinha.
— Devemos gritar para que o castelo escute?
Ele sorriu de novo e depois de um último olhar por cima do
ombro, desceu a escada. Colocou um braço ao redor dos ombros de
cada mulher.
— Talvez pudéssemos conversar com o cozinheiro esta manhã,
acho que estou faminto.
Os quatro dias seguintes foram um inferno para Jocelin. Nunca
em sua vida teve que manter um segredo, e seus constantes atos de
subterfúgio eram exaustivos. Se não fosse pela esposa do homem do
estábulo, não teria sido bem-sucedido.
— Não sei o que você escondeu ali — disse a velha — mas já vivi
o suficiente para não me surpreender com nada. — Ela inclinou a
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 212
cabeça para Jocelin admirando sua aparência. — Acho que é uma
mulher. — Ela riu da expressão em seu rosto. — Oh, sim, é uma
mulher, tudo bem, agora devo forçar minha mente para descobrir por
que ela deve ser mantida escondida.
Jocelin começou a falar, mas ela levantou a mão.
— Não há necessidade de explicar. Ninguém ama um mistério
mais do que eu. Deixe-me ter o meu quebra-cabeça e vou ajudá-lo a
manter as outras mulheres fora de seu quarto, embora isso não vá ser
fácil com os números que perseguem você. Deveria ser guardado em
conservante, isso é certo. Nenhum outro homem vivo poderia
satisfazer tantas mulheres quanto você.
Jocelin se afastou, exasperado. Estava preocupado com
Constance, e quase todo mundo tinha começado a notar sua
distração. Todos exceto Alice. Ela exigia mais e mais de Jocelin,
chamando-o constantemente para tocar o alaúde para ela e todas as
noites para sua cama, onde a violência que ela desejava o drenava
mais a cada noite. E constantemente tinha que ouvir o ódio de Alice
contra Judith Revedoune, e de como Alice pensava visitar o Rei
Henrique VII e obter Gavin Montgomery de volta.
Ele olhou para ver se alguém o observava enquanto subia a
escada para o pequeno sótão. Pela primeira vez, Constance estava
acordada para cumprimentá-lo. Ela se sentou, segurando o cobertor
sobre seu corpo nu. Durante dias, enquanto estava aturdida pela
febre, Jocelin cuidara dela, tornando-se familiarizado com seu corpo,
quase tanto quanto com o seu. Não lhe ocorreu pensar que era um
estranho para ela.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 213
— Constance! — Ele disse alegremente, não completamente
consciente de seu medo. Ele se ajoelhou ao lado dela. — Como é bom
ver seus olhos novamente. — Ele tomou seu rosto em suas mãos para
examinar as contusões que estavam curando rapidamente, graças à
sua juventude e aos cuidados de Jocelin. Começou a mover o manto
de seus ombros nus para examinar aos seus outros ferimentos.
— Não. — ela sussurrou, fechando o manto.
Ele olhou para ela surpreso.
— Quem é você?
— Ah, querida, não tenha medo de mim, eu sou Jocelin Laing,
você me viu antes com Lady Alice, não se lembra?
A menção do nome de Alice, os olhos de Constance voaram de
um lado para o outro. Jocelin a puxou para seus braços, um lugar
onde ela passara muito tempo embora não soubesse. Tentou afastar-
se dele, mas estava muito fraca.
— Está tudo acabado agora, está a salvo, está aqui comigo e eu
não vou permitir que ninguém a machuque.
— Lorde Edmund... — ela sussurrou contra seu ombro.
— Não, ele não sabe que você está aqui, ninguém sabe, só eu.
Mantive oculto de todos, ele acha que você está morta.
— Morta? Mas...
— Quieta. — Ele alisou seu cabelo. — Haverá tempo para
conversar depois, primeiro você deve se curar, trouxe uma sopa de
cenouras e lentilhas, você pode mastigar?
Ela assentiu com a cabeça; embora não parecia relaxada, não
estava tão tensa. Ele a apoiou no comprimento do braço.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 214
— Pode sentar? — Ela assentiu de novo, e ele sorriu como se
tivesse realizado uma grande façanha.
Jocelin tornara-se adepto de levar tigelas de comida quentes para
o celeiro. Ninguém parecia achar estranho que ele carregasse seu
alaúde sobre o ombro e a tigela nas mãos. Mas cada noite enchia uma
tigela com comida que esperava que nutrisse o febril corpo de
Constance.
Ele segurou a tigela e começou a alimentá-la como se ela fosse
uma criança. Ela estendeu a mão para tirar a colher dele, mas suas
mãos tremiam demais para segurá-la. Quando ela não pode comer
mais, seus olhos caíram em exaustão. Ela teria caído se Jocelin não a
tivesse amparado. Demasiada fraca para protestar, ele a embalou em
seu colo e ela adormeceu facilmente, de fato, sentindo-se protegida.
Quando Constance acordou, estava sozinha. Levou alguns
momentos para lembrar onde estava. O jovem de grossas pestanas
negras que cantarolava em seu ouvido não poderia ter sido real. O que
era real eram as mãos de Edmund Chatworth sobre sua garganta e
Alice torcendo seus braços, puxando seus cabelos, qualquer método
para dar dor e que não iria mostrar as impressões digitais.
Horas mais tarde, Jocelin retornou, tomou Constance em seus
braços, e a aconchegou profundamente sob o seu manto. Ele não
tinha consciência que o tempo passava. Pela primeira vez em sua vida,
os desejos das mulheres não o governavam. Constance dependia
completamente dele, o que lhe trouxe uma emoção que nunca tinha
conhecido antes, o começo do amor. Todo o amor que ele sentiu por
todas as mulheres estava sendo concentrado em uma paixão feroz e
ardente.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 215
Mas Jocelin não era um homem livre. Havia outros que o
observavam.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 216
Capítulo Quatorze O longo e fino couro preto do chicote serpenteava furiosamente
pelas costas do homem. Suas costas já estavam entrecruzadas com
muitas marcas sangrentas. Ele gritava alto cada vez que o chicote o
golpeava e torcia as mãos freneticamente amarradas em um poste com
tiras de couro cru.
John Bassett olhou para Gavin, que acenou secamente. Gavin
não tinha estômago para o castigo, e ainda tinha menos respeito pelos
gritos efeminados do homem.
John Bassett cortou as ataduras e o homem caiu na grama.
Ninguém fez qualquer movimento para ajudá-lo.
— Devo deixá-lo? — Perguntou John.
Gavin olhou para o castelo através do estreito vale. Levou duas
semanas para encontrar Walter Demari. O homem astuto parecia mais
interessado em uma perseguição de gato e rato do que em conseguir o
que queria. Durante a semana passada, Gavin acampou fora das
muralhas elaborando o seu ataque. Desde os muros lançou seu
desafio contra os guardas do portão, mas suas palavras foram
ignoradas. No entanto, mesmo quando os desafios foram feitos, quatro
homens de Gavin cavavam silenciosamente sob os antigos muros. Mas
as paredes eram profundas, as fundações largas. Levaria muito tempo
para penetrar no castelo. Temia que Demari se cansasse de esperar a
rendição de Gavin e matasse Helen.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 217
Como se não tivesse problemas suficientes, um de seus homens,
essa criatura choramingando a seus pés, decidira que, como era um
dos cavaleiros dos Montgomery, poderia se considerar um Deus.
Durante a noite, Humphrey Bohun tinha cavalgado para a cidade mais
próxima e estuprado a filha de um comerciante, de catorze anos, em
seguida, voltou para o acampamento triunfante. Ficou perplexo com a
raiva do Lorde Gavin quando o pai da moça contou sobre a sua filha.
— Eu não me importo com o que você vai fazer com ele. Apenas
certifique-se que esteja fora da minha vista dentro das próximas
horas. — Gavin puxou suas pesadas luvas de couro de onde elas
pendiam sobre seu cinto. — Chame o Odo para mim.
— Odo? — O rosto de John assumiu um olhar duro. — Milorde,
não pode pensar de novo em viajar para a Escócia.
— Já discutimos sobre isso antes, não tenho homens suficientes
para declarar um ataque total ao castelo, olhe para ele, parece entrar
em colapso e que um bom vento desmoronaria o resto das pedras, mas
eu juro que não sabia que os normandos saberiam construir uma
fortaleza, acho que é feito de rocha derretida. Se quisermos entrar
antes do fim do ano, precisarei da ajuda de Stephen.
— Então me deixe ir até ele.
— E quando foi a última vez que esteve na Escócia? Eu tenho
uma ideia de onde está Stephen, e amanhã pela manhã vou pegar
quatro homens e encontrá-lo.
— Você precisará de mais proteção do que apenas quatro
homens.
— Eu posso viajar mais rápido com menos homens, — disse
Gavin. — Não posso me dar ao luxo de dividir os meus homens,
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 218
metade deles estão com Judith, agora, se eu cavalgar com a metade
novamente, deixarei você desprotegido. Vamos esperar que Demari não
perceba minha ausência.
John sabia que Lorde Gavin tinha razão, mas não gostava que
seu senhor se afastasse sem uma boa guarda. Mas ele aprendeu há
muito tempo que não adiantava discutir com um homem tão teimoso
como Gavin.
O homem a seus pés gemia, chamando sua atenção para ele.
— Tira-o de minha vista! — Gavin disse e caminhou em direção a
onde seus homens estavam construindo uma catapulta.
Sem pensar, John colocou um braço forte sob o ombro do
cavaleiro e o levantou.
— Tudo isso por causa daquela puta! — O homem sibilou,
sangrando pelos cantos de sua boca.
— Cale-se! — John ordenou. — Você não tinha o direito de tratar
a menina como uma pagã. Se tivesse sido eu, o teria feito ser
enforcado. — Arrastou o homem sangrando para a margem do
acampamento, onde John lhe deu um empurrão que o esparramou no
chão. — Agora saia daqui e não volte.
Humphrey Bohun tirou a grama de sua boca e olhou para John
se afastando.
— Oh, eu voltarei e serei eu quem vai segurar o chicote na
próxima vez.
Os quatro homens estavam em silencio enquanto se dirigiam
para os cavalos que os esperavam. Gavin não tinha dito a ninguém,
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 219
exceto para John Bassett, de sua jornada para encontrar Stephen. Os
três homens que cavalgariam com ele lutaram com Gavin na Escócia e
conheciam a paisagem áspera e selvagem. O grupo viajaria o mais
rápido possível, sem um arauto carregando a bandeira de Montgomery
diante deles. Todos os homens usavam marrom e verde na tentativa de
atrair a menor atenção possível para eles.
Eles montaram silenciosamente em suas selas e cavalgaram para
longe do acampamento adormecido.
Estavam a apenas dez milhas do acampamento quando foram
cercados por vinte e cinco homens usando as cores de Demari.
Gavin tirou a espada e se inclinou para Odo.
— Eu vou atacar e abrir um caminho através deles, você escapa e
tente chegar a Stephen.
— Mas meu lorde, você será morto!
— Faça o que eu digo. — ordenou Gavin.
Os homens de Demari cercaram o pequeno grupo lentamente.
Gavin olhou em volta para encontrar seu ponto mais fraco. Olharam
para ele presunçosamente, como se soubessem que a batalha já estava
ganha. Então Gavin viu Humphrey Bohun. O estuprador sorriu de
prazer ao ver seu antigo senhor encurralado.
Imediatamente, Gavin soube onde tinha cometido seu erro. Ele
tinha falado com John sobre sua viagem na frente deste pedaço de
sujeira. Gavin acenou com a cabeça para Odo, ergueu sua longa
espada de aço com as duas mãos no punho e se lançou a luta. Os
homens de Demari ficaram surpresos. Eles tinham ordens de levar
Lorde Gavin prisioneiro. Presumiram que quando Gavin se visse
superado em número superior a seis para um, se renderia docilmente.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 220
Esse momento de hesitação custou a Humphrey Bohun sua vida
e permitiu que Odo escapasse. Gavin cutilou o traidor que morreu
antes que pudesse desembainhar sua espada. Um após o outro caíram
sob a espada de Gavin enquanto brilhava contra os raios do sol
nascente. O animal bem treinado de Odo pulou sobre os cadáveres e
os cavalos relinchando, e galopou para a segurança da floresta. Não
teve tempo de ver se alguém o seguia. Odo manteve a cabeça baixa e
moldou-se a silhueta de seu cavalo.
Gavin escolheu bem seus homens. Os dois que estavam ao seu
lado, retrocederam os cavalos, os animais treinados para seguir os
comandos recebidos através dos joelhos de seus senhores. Os três
homens lutaram valentemente e quando um deles caiu, Gavin sentiu
parte de si mesmo cair. Eram seus homens e os unia uma relação
estreita.
— Cessar! — Uma voz ordenou sobre o choque do aço contra o
aço, os gritos de angústia.
Os homens recuaram rapidamente e, quando seus olhos se
serenaram, começaram a avaliar os danos. Pelo menos quinze dos
homens de Demari estavam mortos ou feridos, incapazes de
permanecer em suas montarias.
Os cavalos dos homens agrupados no meio ainda mantinham-se
firmes, garupa a garupa formando um circulo. O homem à esquerda
de Gavin tinha um corte profundo no alto de seu braço. Gavin,
ofegante com o esforço, estava coberto de sangue, mas muito pouco
era o dele.
Os restantes dos homens de Demari olhavam em silencioso
tributo aos combatentes mortos.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 221
— Peguem-no! — Disse o homem que parecia ser o líder dos
atacantes. — Mas cuidado, que Montgomery não sofra nenhum dano,
é necessário vivo.
Gavin ergueu a espada novamente, mas de repente sentiu um
estalo afiado e suas mãos estavam imobilizadas. Um fino chicote fora
atirado, e seus braços estavam presos a seus lados.
— Amarrem-no.
Mesmo quando Gavin foi retirado de seu cavalo, seu pé abateu
um homem na garganta.
— Tem medo dele? — Perguntou o líder. — Você vai morrer de
qualquer maneira se não me obedecer, amarre-o àquela árvore.
Gostaria que ele assistisse como tratamos os cativos.
Judith estava ajoelhada no jardim de rosas, com o colo cheio de
flores. Gavin já se ausentava há um mês, sem nenhuma palavra nos
últimos dez dias. Não houve um momento em que ela não olhasse por
uma janela ou uma porta para ver se um mensageiro chegava. Ela
vacilou entre querer vê-lo e temer seu retorno. Exercia muito poder
sobre ela, como provou quando ela foi para seu quarto na noite antes
que partiu para lutar por suas terras. No entanto, sabia muito bem
que ele não tinha sentimentos tão ambíguos em relação a ela. Para ele,
só a loira Alice existia. Sua esposa era apenas um brinquedo para ser
usado quando precisava de diversão.
Ela ouviu o barulho dos cascos enquanto os homens
atravessavam o portão duplo que separava as muralhas interna do
exterior. Ela se levantou rapidamente, as rosas caindo aos seus pés
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 222
enquanto pegava suas saias e começava a correr. Nenhum deles era
Gavin. Judith soltou sua respiração reprimida, baixou as saias e
andou mais calmamente.
John Bassett sentou-se em cima de seu cavalo de guerra
parecendo anos mais velho do que quando saiu algumas semanas
antes. Seus cabelos, cinzentos nas têmporas, estavam ainda mais
brancos. Seus olhos estavam afundados, círculos escuros sob eles. O
lado de sua cota de malha estava rasgado e as bordas enferrujadas de
sangue. Os outros homens não tinham melhores aspectos. Seus rostos
abatidos, suas roupas rasgadas e sujas.
Judith ficou em silêncio enquanto John descia.
— Pegue os cavalos; — disse ela a um cavalariço. — Veja para
que eles sejam bem cuidados.
John olhou para ela por um momento, então, com resignação,
começou a se ajoelhar para beijá-la nas mãos.
— Não! — Judith disse rapidamente. Era muito prática para
permitir que ele desperdiçasse mais energia no que, para ela, era um
gesto inútil. Ela colocou o braço sobre a cintura dele, guiando seu
outro braço sobre seus ombros.
John ficou rígido, surpreso com a familiaridade de sua pequena
ama. Então sorriu carinhosamente por sobre sua cabeça.
— Venha sentar-se junto à fonte. — disse ela, conduzindo-o até a
piscina de azulejos que ficava perto da parede do jardim. — Joan! Ela
ordenou. — Chame algumas das criadas e envia alguém a cozinha
para trazerem comida e vinho.
— Sim milady.
Ela se virou para John.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 223
— Vou te ajudar a remover sua armadura. — disse antes que ele
pudesse protestar.
As mulheres vieram de dentro do castelo e logo os quatro homens
ficaram nu da cintura para cima, suas armaduras enviadas para o
reparo. Cada homem comia vorazmente das tigelas, um guisado
quente e espesso.
— Você não me perguntou notícias. — disse John entre
colheradas, o cotovelo levantado para que Judith pudesse limpar e
atar a ferida em seu lado.
— Você vai me dizer. — disse ela. — Se fossem boas, meu marido
também teria retornado. Posso esperar mais tempo por más notícias.
John colocou a tigela e olhou para ela.
— Ele está morto? — Ela perguntou, não olhando para ele.
— Eu não sei. — ele disse calmamente. — Fomos traídos.
— Quem o traiu? — Exclamou ela, pedindo desculpas quando
percebeu que tinha causado dor a ferida de John.
— Um dos cavaleiros da guarnição, um novo homem chamado
Bohun, fugiu a noite para dizer a Demari que Lorde Gavin planejava
sair ao encontro de seu irmão ao amanhecer, para pedir ajuda. Lorde
Gavin não tinha ido longe quando foi emboscado.
— Ele não foi morto? — Judith sussurrou.
— Eu acredito que não, não encontramos seu corpo. — disse
John com dureza, voltando a sua comida. — Dois dos homens que
cavalgaram com meu senhor foram mortos. Assassinados de tal forma
que me entristece, certamente. Este não é um homem comum com
quem lidamos, mas um demônio!
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 224
— Não houve nenhuma mensagem de resgate ou qualquer
palavra que o fizesse ciente de que o tem prisioneiro?
— Não. Nada. Quatro de nós chegamos momentos depois da
batalha, havia alguns homens de Demari ainda lá, nós lutamos com
eles.
Ela amarrou o último nó na bandagem e olhou para ele.
— Onde estão os outros homens? Não é possível que restem
somente quatro.
— Eles ainda acampam fora das muralhas de Demari, viemos em
busca de Lorde Miles e seus homens, a perna de Lorde Raine não teria
tido tempo de curar.
— E você acha que Miles será capaz de libertar Gavin? — John
não respondeu, mas concentrou-se no guisado.
— Anda, pode me dizer a verdade.
Ele olhou para ela.
— É um castelo forte, só pode ser tomado sem reforços se
sitiarmos.
— Mas isso levaria meses!
— Sim milady.
— E quanto a Gavin e a minha mãe que estão prisioneiros ali,
não seriam eles os primeiros a morrerem de fome se a comida
estivesse faltando?
John olhou para sua tigela.
Judith estava de pé, o punho apertado, as unhas cravadas nas
palmas das mãos.
— Existe outro jeito. — disse ela, igualmente. — Irei até Walter
Demari.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 225
A cabeça de John se elevou, uma sobrancelha erguida.
— E o que você poderá fazer que os homens não podem? — Ele
perguntou cinicamente.
— Tudo o que é exigido de mim. — Judith respondeu
calmamente.
John quase jogou sua tigela. Em vez disso, ele agarrou seu braço,
sua mão forte quase a machucá-la.
— Não, não sabe o que está dizendo, acha que lidamos com um
homem sensato, acha que ele livrará Lorde Gavin e a sua mãe se você
lhe der o que ele quer? Se tivesse visto como deixou os homens — ele
acrescentou — que cavalgavam com o milorde Gavin, não consideraria
se entregar a este Demari. Não havia necessidade de tal tortura, mas
ele precisava fazê-lo com alegria. Se fosse um homem, eu consideraria
sua ideia, mas ele não é.
Ela sacudiu o braço até que John a soltou.
— O que mais há para fazer? Um cerco certamente causaria a
morte dos prisioneiros, sem qualquer duvida, mas você disse que um
cerco é a única maneira de atacar. Se eu entrasse no castelo, talvez
pudesse encontrar Gavin e minha mãe e organizar uma fuga para eles.
— Uma fuga! — Ele bufou. John tinha esquecido que ela era Lady
Judith e tinha autoridade para ordená-lo. Neste momento a via apenas
como uma menina jovem e inexperiente. — E como você sairia?
Existem apenas duas entradas, ambas bem guardadas.
Judith ergueu os ombros, o queixo levantado.
— Temos alternativas? Se Miles liderasse um ataque, Demari
certamente mataria Gavin, assim como minha mãe. Você ama tão
pouco a Gavin que não se importa se ele morre ou não?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 226
De repente, John sabia que ela estava certa. E sabia que seria ele
quem a entregaria às mãos sangrentas de Walter Demari. Judith tinha
atingido o coração de John quando mencionou o amor por Lorde
Gavin. John não poderia amar o jovem mais se ele fosse seu próprio
filho. Judith estava certa ao dizer que havia uma chance de salvar
Gavin se ela se rendesse. O lorde poderia mandá-lo enforcar por
colocar em perigo Lady Judith, mas sabia que ia obedecê-la.
— Você está tentando se matar. — disse John em voz baixa. — O
que vai impedir Demari de te matar também?
Judith sorriu para ele, colocou as mãos em seu ombro, pois sabia
que tinha vencido.
— Se ele me matasse, perderia as terras de Revedoune, e se eu
não soubesse nada, pelo menos descobrirei a que extremo os homens
chegarão pelas minhas propriedades. — Seus olhos cintilaram por um
momento. — Agora, entre onde podemos conversar mais livremente.
Você e eu temos muitos planejamentos a fazer.
Ele a seguiu, sem graça. Ela agia como se eles preparassem o
cardápio para um almoço na floresta em vez de se entregarem, como
um cordeiro ao matadouro, de um açougueiro.
Judith queria sair imediatamente, mas John a convenceu a
esperar e dar-lhe um descanso. Na verdade, esperava falar com ela de
sua loucura e encontrar um plano alternativo, mas sua lógica o
perturbava.
Cada razão que ele dava para que ela não fosse Judith dava dez
mais sensatas por que deveria ir. E acabou concordando com ela. Não
havia outra maneira de salvar os prisioneiros, se eles estivessem ainda
vivos.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 227
Mas, oh, como temia a ira de Lorde Gavin! Ele disse isso à Lady
Judith. Ela riu.
— Se ele está em condição suficiente para dar vazão a sua ira,
irei beijar sua mão em sinal de gratidão.
John sacudiu a cabeça, maravilhado. A mulher era muito
esperta. Ele não invejava Lorde Gavin na tarefa de doma-la.
Não podiam levar muitos homens com eles, não podiam deixar a
propriedade desprotegida e muitos dos cavaleiros de Gavin esperavam
por eles diante do castelo Demari. Deveriam agradecer por ser apenas
dois dias de viagem até a propriedade de Demari.
Judith trabalhou sem parar enquanto John descansava e comia.
Ela ordenou o carregamento de várias carretas de grãos e carnes
preservadas para serem consumidas no acampamento. Outra carreta
levava às suas roupas. As mais bonitas sedas, veludos, brocados,
cashmeres, juntamente com um grande baú de ferro repleto de joias.
Quando John murmurou algo sobre as mulheres serem
ostensivas, Judith o acusou.
— Walter Demari deseja uma mulher que ele acredita ser bela,
gostaria que eu aparecesse diante dele vestida em tecidos rústicos? Ele
diria que mudou de ideia e me jogaria no fundo de um poço. Deve ser
um homem vaidoso, ou não exigiria que uma mulher que mal conhece
repudie seu marido e o reivindique como seu verdadeiro amor.
Portanto, vou jogar com a sua vaidade e vestir minhas roupas mais
requintadas para ele.
John olhou para ela por um momento, depois se virou. Ele não
sabia se deveria elogia-la ou ficava zangado consigo mesmo por não ter
pensado antes no que ela acabara de dizer.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 228
Apesar da serenidade que ela mostrava ao mundo, Judith estava
assustada. Por mais que tentasse não poderia pensar em qualquer
plano alternativo.
Ficou acordada toda a noite pensando. Demari não enviara
nenhuma mensagem pedindo algo pela troca dos reféns. Talvez já
tivesse matado Gavin e Helen, e Judith estava se entregando a ele sem
nenhuma razão.
Ela passou as mãos sobre o ventre, sabia que ainda estava duro e
plano, mas tinha certeza de que carregava o filho de Gavin. O bebê era
parte da razão pela qual insistia tanto em salvar o marido?
Quando o sol se levantou, Judith vestiu-se lentamente um
vestido de lã prático. Ela estava estranhamente serena, quase como se
caminhasse para uma morte certa. Foi até a pequena capela para
ouvir a missa. Ela rezava por todos, por seu marido, sua mãe e seu
filho por nascer.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 229
Capítulo Quinze
Walter Demari estava sentado diante de uma mesa de madeira no
grande salão da propriedade de seu pai. Em outros tempos a mesa
tinha sido um móvel finamente esculpido, mas com o tempo a maioria
das cabeças dos animais foram quebradas, os pescoços já não se
erguiam. Abstratamente, Walter chutou um frango que bicava nas
pernas das calças curtas e finas. Ele estudou o pergaminho na frente
dele e se recusou a olhar para o seu entorno. Seu pai recusou-se a
dar-lhe qualquer coisa, menos esta velha, decrepita e descuidada
torre. Walter enterrou profundamente seu ressentimento e
concentrou-se na tarefa que tinha diante dele. Quando estivesse
casado com a herdeira das terras de Revedoune, seu pai não o trataria
como se não existisse.
Atrás de Walter estava Arthur Smiton, um homem que Walter
considerava seu amigo. Arthur ajudou-o em cada passo, concordando
que Walter deveria ter tido a encantadora herdeira em vez de Gavin
Montgomery. Para retribuir sua lealdade a Arthur, Walter havia feito
do homem seu principal vassalo. Foi Arthur quem conseguiu capturar
Lorde Gavin.
— Arthur, — reclamou Demari — eu não sei como escrever a
mensagem, e se ela não vir, se ela odeia realmente a seu marido, por
que se arriscaria tanto por ele?
Arthur não deixou suas emoções se mostrarem.
— Você se esquece da velha que temos? Não é a mãe da menina?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 230
— Sim. — disse Walter, voltando sua atenção para o pergaminho
que tinha diante dele. Não era fácil perguntar o que queria. Ele queria
casar-se com Lady Judith em troca da liberdade de seu marido e mãe.
Arthur ficou de pé atrás de Walter por um momento, depois se
afastou para servir uma taça de vinho. Precisava de um estômago
firme para poder suportar as lamentações de Walter. O jovem doente
de amor deixava Arthur com náuseas. Walter voltou do casamento de
Montgomery com a herdeira Revedoune tão fascinado com a noiva que
mal conseguira fazer outra coisa a não ser falar dela. Arthur olhou
para ele com desgosto. Walter possuía tudo, terras, riqueza, família,
esperança para o futuro. Não era como ele, que se levantou da lama
que nasceu. Tudo o que possuía havia adquirido através da
inteligência, da força física e, muitas vezes, da traição e da mentira.
Não havia nada que ele não fizesse para conseguir o que queria.
Quando viu o fascínio de Walter pela mulher Revedoune, Arthur
desenvolveu um plano.
Não demorou muito para saber que havia brigas entre os recém-
casados. Arthur, apenas era um cavaleiro na guarnição de Walter, no
entanto, achou o ouvido atento de seu senhor ao sugerir que Judith
poderia pedir uma anulação do seu matrimonio para se casar com
Walter. Arthur não se importava com a moça, mas pelas terras de
Revedoune valia a pena lutar. Walter resistiu em atacar Robert
Revedoune, mas Arthur sabia que Revedoune não se deteria diante de
nada para manter sua filha casada com o Montgomery. Tinha sido
fácil matar o velho uma vez que ele permitiu, como amigos, que
entrassem nos muros do seu castelo. Sua esposa, Helen, os seguiu
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 231
docilmente e Arthur riu, reconhecendo uma mulher bem domada
quando via uma. Ele admirava Revedoune por isso.
— Meu lorde — anunciou um nervoso criado — há visitantes lá
fora.
— Visitantes? — Walter perguntou seus olhos nebulosos.
— Sim, milorde é Lady Judith Montgomery, cercada por seus
homens de armas.
Walter levantou-se de um salto, batendo na mesa de escrever,
enquanto seguia atrás do criado.
Arthur agarrou seu braço.
— Rogo-lhe, meu lorde, tome cuidado, talvez seja uma armadilha.
Os olhos de Walter ardiam.
— Que armadilha poderia haver? Os homens não vão lutar e
colocar em perigo sua lady.
— Talvez a própria dama...
Walter se afastou dele.
— Está indo muito longe, tenha cuidado para não se encontrar
no mesmo porão que Lorde Gavin. — Saindo precipitadamente, deixou
a velha torre, chutando os juncos secos para fora do seu caminho. As
palavras de prudência de Arthur haviam penetrado em seu cérebro, e
agora ele corria pela estreita escada de pedra até o topo do muro para
ter certeza de que era realmente Lady Judith que esperava lá embaixo.
Não havia como confundi-la. O cabelo castanho-avermelhado que
caía pelas costas não havia como confundir com outra.
— É ela. — ele sussurrou excitadamente, então aparentemente,
voou escadas abaixo, através do pátio do portão principal.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 232
— Abra homem! — Gritou para o porteiro. — E seja rápido! — A
pesada porta de ferro com lanças nas pontas era levantada
lentamente. Walter aguardava com impaciência.
— Meu lorde. — disse Arthur ao seu lado. — Não pode deixar que
ela venha com seus homens para dentro, há mais de uma centena
deles. Poderíamos ser atacados aqui dentro.
Walter desviou os olhos do portão que roncou em protesto
enquanto se elevava. Ele sabia que Arthur tinha razão, mas não sabia
o que fazer.
Arthur fixou os olhos azuis débeis nos olhos desbotados e
escuros de Walter.
— Eu vou montar para encontrá-la Você não pode se arriscar.
Ficarei longe do alcance dos arqueiros Quando tiver certeza que é Lady
Judith, meus homens e eu a escoltaremos através do portão.
— Sozinha? — Perguntou Walter, ansioso.
— Ela pode ter um guarda pessoal se insistir, mas nenhum
outro, não podemos permitir que toda a sua guarnição entre.
O portão foi levantado, a ponte levadiça baixada enquanto Arthur
montava seu cavalo e cavalgava para fora, seguido por outros cinco
cavaleiros.
Judith sentou-se imóvel em sua montaria enquanto observava a
elevação do portão. Precisou de toda a sua coragem para não se
afastar. O antigo castelo poderia estar desmoronando em vários
lugares, mas de perto era formidável. Ela sentia como se estivesse
prestes a engoli-la.
— Ainda há tempo para partirmos, minha lady. - Observou John
Bassett, inclinando-se para frente.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 233
Seis homens estavam cavalgando em sua direção, e ela queria
muito se afastar. Então seu estômago revirou e teve que engolir um
súbito ataque de náuseas. Seu filho estava lembrando-a de sua
presença. O pai e a avó do bebê estavam dentro daquelas muralhas
velhas e, se pudesse, iria tirá-los dali.
— Não! — Ela disse a John com mais força do que realmente
sentia. — Tenho que tentar cumprir minha missão.
Quando o líder dos homens que se aproximavam estava perto de
Judith, ela soube imediatamente que ele era o instigador de toda a
trama. Lembrou-se de Walter como suave e gentil, mas os olhos
escuros e zombeteiros deste homem não mostravam qualquer
fraqueza. Suas roupas brilharam com joias de todas as cores,
variedades e tamanhos. Seu cabelo escuro estava coberto por um
pequeno gorro de veludo, cuja larga faixa continha pelo menos cem
joias. Parecia quase uma coroa.
— Minha lady! — disse ele, curvando-se ao sentar-se em cima do
cavalo. Seu sorriso era zombeteiro, quase um insulto. Judith olhou
para ele, seu coração batendo rapidamente. Havia uma frieza em seus
olhos que a assustava. Ele não seria um homem fácil de dominar.
— Sou Sir Arthur Smiton, segundo em comando de Lorde Walter
Demari, que lhe manda as boas-vindas.
— Bem vinda! — Judith pensou, controlando-se para não cuspir
a palavra para ele, pensando em seu pai assassinado, seu marido e
sua mãe em cativeiro, várias vidas perdidas. Inclinou a cabeça para
ele.
— Você mantém minha mãe cativa?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 234
Ele a olhou especulativamente, como se tentasse entende-la. Ela
não tinha recebido nenhuma mensagem, mas sabia o que havia
acontecido.
— Sim minha lady.
— Então eu irei até ela. — Judith incitou seu cavalo para frente,
mas Arthur agarrou as rédeas.
Os cem cavaleiros que cercavam Judith desembainharam suas
espadas.
Arthur não perdeu o sorriso.
— Não pode pensar em entrar em nossas muralhas com tantos
homens.
— Quer que eu vá sozinha? — Ela perguntou, horrorizada. Era o
que se esperava, mas talvez pudesse convencer Smiton a permitir que
alguns de seus homens a acompanhassem. — Você quer que eu deixe
minha donzela para trás ou minha guarda pessoal?
Ele a observou atentamente.
— Um homem, uma mulher, nada mais.
Judith assentiu, sabendo que não adiantava discutir. Pelo menos
John Bassett estaria com ela.
— Joan. — chamou quando se virou e viu a serva olhando para
Arthur especulativamente. — Preparem a carreta com os meus bens e
siga-me. John. — ela se virou e viu que já estava dando ordens para o
estabelecimento de um acampamento fora das muralhas do castelo.
Judith atravessou a ponte levadiça, sob o portão de pedra
arqueado, com as costas retas. Perguntou-se se alguma vez deixaria as
paredes vivas. Walter Demari estava esperando para ajudá-la a
desmontar. Ela se lembrava dele como um jovem gentil, nem bonito,
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 235
nem feio; Mas agora seus olhos azuis mostravam fraqueza, seu nariz
era muito grande, e seus lábios finos pareciam cruéis.
Ele olhou para ela.
— Você é ainda mais bonita do que me lembrava.
Vestira-se com cuidado naquela manhã. Uma faixa de pérolas
cercava sua cabeça. No corpo usava uma saia de seda vermelha com
uma larga faixa de pele branca. Seu vestido era de veludo marrom, a
bainha bordada com ouro. As mangas estavam apertadas, exceto no
ombro, onde o veludo era cortado e a seda vermelha transpassava. O
decote era cortado em profundidade, seus seios faziam volume acima
do tecido. Quando caminhava, ela levantava a bainha de veludo e
expunha a seda e peles margeando por baixo.
Judith conseguiu sorrir para este homem traiçoeiro, mesmo
quando se afastou das mãos sobre sua cintura.
— Você me lisonjeia, milorde — disse ela, olhando-o docemente.
Walter ficou encantado.
— Deve estar cansada e precisa de um refresco. Teríamos
preparado comida, mas não a esperávamos.
Judith não queria que ele pensasse em por que ela veio sem um
chamado. Enquanto observava o olhar de adoração de Walter, sabia
que faria bem em converter-se em uma jovem tímida, uma recém-
casada envergonhada.
— Por favor, — ela disse, com a cabeça inclinada. — eu gostaria
de ver minha mãe.
Walter não respondeu, mas continuou a olhar para ela, seus
grossos cílios tocando sua suave face, as pérolas em sua testa ecoando
a cremosidade de sua pele. John Bassett avançou, com a mandíbula
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 236
rígida. Era um homem grande, alto como Gavin, mas mais lento com a
idade. O aço-cinza de seu cabelo só enfatizava a dureza de seu corpo.
— A senhora deseja ver a mãe. — disse ele severamente. Sua voz
era uniforme, mas irradiava poder.
Walter mal notou John, estava muito arrebatado por Judith. Mas
Arthur estava muito consciente dele e reconheceu o perigo. John
Bassett precisava ser eliminado imediatamente. Tal homem livre pelo
castelo poderia causar muitos problemas.
— Claro, minha lady. — disse Walter, oferecendo seu braço para
ela. Alguém teria pensado que sua visita era de prazer.
Chegaram à entrada do primeiro andar da torre, em tempo de
guerra, os degraus de madeira eram cortados para que a entrada
ficasse a vários metros do chão. Judith estudou o interior enquanto
atravessavam o grande salão em direção aos degraus de pedra. Era
um lugar sujo, repleto de pedaços de ossos entre os juncos secos no
chão. Cães preguiçosamente cheiravam e fuçavam restos de alimentos.
As janelas profundamente rebaixadas não tinham persianas de
madeira e, em alguns lugares, as pedras caíram porque a fenda estava
desmoronando. Ela se perguntou se tal estrutura pobre era indicativo
da má administração do lugar. Ela queria descobrir.
Helen estava num pequeno quarto, sentada numa cadeira
recostada nas espessas paredes de pedra do segundo andar. Carvão
vegetal queimava em um braseiro de bronze. A torre foi construída
antes de serem inventadas às lareiras.
— Mãe! — Judith sussurrou e correu para frente, colocando a
cabeça contra os joelhos de sua mãe.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 237
— Minha filha! — Helen ofegou, então puxou Judith para seus
braços. Passou um tempo até que suas lágrimas se acalmassem o
suficiente para que pudessem falar. — Você está bem?
Judith assentiu, depois olhou para os homens que estavam ali.
— Não teremos privacidade?
— É claro. — disse Walter, voltando-se para a porta. — Você
também pode sair. — disse ele a John Bassett.
— Não. Não deixarei minha lady sozinha.
Walter franziu o cenho, mas não queria aborrecer Judith de
forma alguma.
— Você deveria ter saído com eles. — Judith disse severamente
quando Walter e Arthur foram embora.
John sentou-se pesadamente em uma cadeira perto do braseiro
de carvão.
— Não vou deixá-la sozinha.
— Mas eu desejo um pouco de privacidade para falar com minha
mãe!
John não respondeu e nem olhou para ela.
— Ele é um homem teimoso. — disse Judith com desgosto para
Helen.
— Sou teimoso quando não deixo você mandar em todas as
oportunidades? —Ele perguntou. — Você é teimosa o suficiente para
rivalizar com um touro.
Judith abriu a boca para responder, mas a risada de Helen a
deteve.
— Você está realmente bem, minha filha. — Ela se virou para
John. — Judith é tudo o que sempre quis que ela fosse, e ainda mais.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 238
— Disse ela carinhosamente, acariciando o cabelo de sua filha. —
Agora me diga por que você está aqui.
—Eu... Oh, mãe. — ela balbuciou com lágrimas começando a se
formar em seus olhos novamente.
— O que se passa? Pode falar livremente.
— Não, eu não posso! — Ela disse, apaixonadamente, enquanto
olhava para John tão perto.
John deu-lhe um olhar tão sério que ela quase teve medo dele.
— Não duvide da minha honestidade. Fale com sua mãe.
Nenhuma palavra do que eu ouvir será repetido.
Sabendo que podia confiar nele, Judith relaxou enquanto se
sentava sobre uma almofada aos pés de sua mãe. Ela queria
conversar, desesperadamente precisava conversar.
— Eu quebrei um voto que fiz a Deus. — ela disse suavemente.
A mão de Helen se deteve por um momento na cabeça da filha.
— Explique-se. — sussurrou ela.
As palavras saíram por si mesmas se atropelando. Judith contou
como havia tentado obter repetidas vezes um pouco de amor em seu
casamento, mas tinha sido frustrada em todos os esforços. Nada que
ela fizesse poderia soltar o laço que unia Alice Chatworth a Gavin.
— E seu voto? — Helen perguntou.
— Prometi que não lhe daria nada exceto o que ele tomasse, mas
livremente fui até Gavin na noite anterior à sua partida para vir aqui.
— Ela corou, pensando naquela noite de amor, as mãos e os lábios de
Gavin em seu corpo.
— Judith, você o ama?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 239
— Eu não sei se o odeio, o amo, o desprezo, o adoro, não sei! Ele
é tão grande, há tanto dele, que me devora. Quando entra em uma
sala, ele a enche. Ainda o odeio mais quando o vejo abraçando outra
mulher ou lendo uma carta dela, não consigo livrar-me dele. É amor
ou meramente posse do diabo? — Ela perguntou enquanto olhava
suplicante para a mãe. — Não é gentil comigo, tenho certeza que não
tem amor por mim, ele até me disse isso. O único lugar que ele é bom
para mim é...
— Na cama? — Helen sorriu.
— Sim. — Judith disse e desviou o olhar, suas bochechas
vermelhas.
Passaram-se vários segundos antes que Helen respondesse.
— Me pergunta de amor. Quem sabe menos disso do que eu? Seu
pai também tinha controle sobre mim. Você sabia que uma vez salvei
sua vida? Na noite anterior havia me castigado, e na manhã seguinte,
cavalguei com ele, meu olho estava preto e inchado, cavalgávamos
sozinhos, longe da escolta, e o cavalo de Robert se assustou e o
derrubou, caiu no pântano ao longo da margem norte de uma das
propriedades. Quanto mais se mexia mais profundo se afundava. Meu
corpo inteiro doía de sua surra, e meu primeiro pensamento foi
cavalgar e deixá-lo morrer, mas não pude. Você sabe o que ele fez
quando o salvei? Riu de mim, me chamou de tola.
Ela fez uma pausa.
— Eu te digo isso para te mostrar que entendo esse poder. É o
mesmo que meu marido tinha sobre mim. Eu sei o poder que Gavin
tem sobre você, pois o meu próprio casamento era do mesmo modo.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 240
Eu não posso dizer que era amor. E não posso dizer que o seu caso
seja.
Ficaram em silêncio por um momento, ambos olhando para o
carvão brilhante.
— E agora resgatarei meu marido como você resgatou o seu —
disse Judith. — Mesmo que o seu viveu para novamente castiga-la, e o
meu para voltar para outra mulher.
— Sim. — disse Helen tristemente.
— O fato de ter um filho, troca as coisas?
Helen pensou.
— Talvez no meu caso tivesse mudado se os primeiros tivessem
vivido, mas os três nasceram mortos, todos meninos. Então você veio,
e era uma menina... — Ela não terminou a frase.
— Você acha que teria mudado se o primeiro tivesse vivido e
tivesse sido um varão? — Judith persistiu.
— Não sei. Não acredito que ele espancasse a sua primeira
esposa, que lhe deu filhos. Mas era mais jovem. — Ela parou
abruptamente. — Judith, você carrega uma criança?
— Sim. Há dois meses.
John levantou-se de um pulo batendo a armadura e a espada de
aço contra a pedra.
— Você cavalgou por todo esse caminho estando gravida! — Ele
demandou. Estava tão quieto que as duas mulheres esqueceram a sua
presença. Pôs a mão na testa. — Enforcar-me será muito pouco. Lorde
Gavin vai me torturar, bem como eu mereço, quando ele se inteirar
disso.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 241
— E quem vai dizer-lhe? Você jurou segredo! — Judith estava de
pé instantaneamente, os olhos dourados brilhando.
— Como planeja manter isso em segredo? — Ele perguntou com
forte sarcasmo.
— Quando a gravidez estiver evidente, pretendo estar longe deste
lugar. — Seus olhos se suavizaram. — Você não diria, não é, John?
A expressão do Bassett não mudou.
— Não tente esse ardil comigo milady. As economize para esse
homem, o canalha do Walter Demari.
A risada de Helen os interrompeu. Era bom ouvi-la rir, as
gargalhadas era um som muito pouco escutado em sua infeliz vida.
— Faz-me bem ver-te assim, minha filha, temia que o matrimônio
te domasse e quebrasse o teu caráter.
Judith não estava prestando atenção. John ouviu demais. Ela
tinha dito muitas coisas íntimas em sua presença, Agora suas
bochechas estavam começando a ficar vermelhas.
— Não. — disse John, com um suspiro. — Seria preciso mais do
que um mero homem para domar esta mulher. Não peça mais nada,
criança. Não direi nada do que ouvi a menos que me peça isso.
— Nem mesmo para Gavin?
Ele lançou-lhe um olhar preocupado.
— Eu não o vi ainda. Daria qualquer coisa para saber onde ele
está sendo mantido preso e se está bem.
— Judith! — disse Helen, atraindo a atenção deles de volta para
ela. — Você ainda não me disse por que está aqui. Walter Demari
mandou chamá-la?
John sentou-se pesadamente na cadeira.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 242
— Estamos aqui porque Lady Judith disse que deveríamos vir.
Não escuta a razão.
—Não havia outro jeito. — Judith disse, sentando-se novamente.
— O que eles disseram? — Perguntou à mãe.
— Nada. Fui trazida aqui depois da morte de Robert. Não falei
com ninguém por uma semana. Até mesmo a serva que esvazia o
penico da câmara não fala comigo.
— Então não sabe onde Gavin é mantido?
— Não, deduzi por suas palavras, que ele também está
prisioneiro, o que Lorde Demari espera ganhar?
— A mim. — Judith disse simplesmente, então baixou os olhos
antes de explicar brevemente o plano de Walter para anular suas
bodas.
— Mas não pode haver anulação se você carrega o filho de Gavin.
— Sim. — disse Judith enquanto olhava para a mãe ao lado de
John. — É por isso que devemos manter em segredo.
— Judith, o que você vai fazer? Como você espera salvar a si
mesma, Gavin, Joan, o homem do seu marido, a mim e partir deste
lugar? Como vai sair destes muros de pedra?
John grunhiu de acordo.
— Não sei. — respondeu Judith exasperada. — Não consegui
achar alternativa. Pelo menos agora tenho a chance de tirá-los daqui,
mas primeiro preciso encontrar Gavin.
— Você trouxe Joan? — interrompeu Helen.
— Sim. — disse Judith, sabendo que sua mãe tinha alguma
ideia.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 243
— Diga a Joan para encontrar Gavin. Quando se trata de
encontrar um homem, ela pode fazê-lo. Ela é pouco mais do que uma
cadela no cio.
Judith assentiu com a cabeça.
— E agora, quanto a Walter Demari? — Helen continuou. — Só o
vi algumas vezes.
— Ele é de confiança?
— Não! — John disse. — Nem ele nem aquele arremedo de
homem de confiança dele podem ser confiáveis.
Judith o ignorou.
— Demari me acha bonita. E pretendo continuar sendo bonita,
até encontrar Gavin e planejar a fuga.
Helen olhou para a filha, tão adorável no brilho das brasas.
— Você sabe tão pouco de homens. — Observou ela. — Os
homens não são como livros de contas, onde você adiciona números e
eles lhe dão uma soma gerenciável. São todos diferentes e muito mais
capitalistas do que você ou eu.
De repente, John se levantou e olhou para a porta.
— Eles retornam.
— Judith, escute-me. — disse Helen rapidamente. — Pergunte a
Joan como lidar com Walter, ela sabe muito sobre os homens, me
prometa que vai seguir o conselho dela e não deixe que seus próprios
pensamentos a influenciem.
— Prometa-me! — Exigiu Helen, com as mãos segurando a
cabeça da filha.
— Eu vou fazer o meu melhor, é tudo que posso prometer.
— Então assim deve ser.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 244
A porta se abriu com violência e não se falaram mais palavras.
Joan e uma das donzelas do castelo vieram buscar Judith para que ela
pudesse se preparar para o jantar com o senhor do castelo. Ela
apressadamente se despediu de sua mãe, depois seguiu as mulheres,
com John próximo a elas.
O terceiro andar continha o solar das senhoras, uma sala grande
e arejada, recém-limpa com juncos frescos no chão, as paredes de
pedras caiadas, quase como se tivessem sido preparadas para a espera
de uma convidada. Judith ficou sozinha com sua donzela. John estava
fora, vigiando a porta. Pelo menos Walter confiava nela o suficiente
para não lhe atribuir um espião. Joan trouxe uma bacia de água
aquecida para a ama.
Enquanto Judith lavava o rosto e as mãos, olhou para Joan.
— Sabe onde está o Gavin?
— Não, minha senhora. — disse Joan com desconfiança. Ela não
estava acostumada a ser interrogada por sua senhora.
— Poderia descobrir onde ele está?
— Tenho a certeza de que posso. — Joan sorriu. — Este é um
castelo cheio de fofocas.
— Você vai precisar de moedas de prata para obter essa
informação?
— Não minha lady, vou perguntar aos homens. — Judith estava
chocada
— E eles vão te dizer apenas porque você perguntou?
Joan estava ganhando confiança. Sua encantadora lady sabia
pouco além de propriedades e contas.
— É muito importante o modo como é perguntado a um homem.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 245
Judith usava um vestido de tecido de prata. A saia se dividia na
frente para revelar uma grande extensão de cetim verde-escuro. As
mangas eram grandes e em forma de sino, drapejando graciosamente
do pulso até a metade da saia. As mangas estavam forradas com mais
cetim verde. Seu cabelo estava coberto com um capuz francês bordado
com flores de lis prata.
Judith sentou-se num banquinho enquanto Joan organizava o
capuz.
— E se uma mulher quisesse obter alguma coisa de Lorde
Walter?
— Dele! — Disse Joan choramingando, acalorada. — Eu não
confiaria nele, embora Sir Arthur, que o segue como a um cão não seja
mal favorecido.
Judith girou para encarar a criada.
— Arthur tem olhos tão duros, qualquer um pode ver que ele é
um homem ganancioso. Então como pode dizer isso?
— Lorde Walter não é o mesmo? — Joan girou a cabeça de sua
ama. Se sentindo superior no momento. — Ele é igualmente
ganancioso, traiçoeiro, brutal e egoísta. — Ele é tudo isso e muito
mais.
— Então, por que...?
— Porque com Artur é sempre o mesmo, uma mulher saberia o
que esperar dele, e isso seria, com o que melhor se adaptasse às suas
necessidades. Você poderia lidar com isso.
— No caso de Lorde Walter não é o mesmo?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 246
— Não, minha senhora. Lorde Walter é uma criança, no corpo de
um homem. Ele muda com o vento. Agora quer uma coisa, então,
quando a tiver, não a quererá mais.
— E isso também acontece às mulheres?
Joan caiu de joelhos diante da ama.
— Você deve me ouvir e ouvir bem. Eu conheço os homens como
a nada mais neste mundo. Lorde Walter arde por você agora. Ele está
louco de desejo, e contanto que ele mantenha essa fúria dentro dele,
você estará segura.
— Segura? Eu não entendo.
— Ele matou seu pai e tomou sua mãe e seu marido como
prisioneiros só por causa dessa paixão. O que você acha que será de
todos vocês quando este fogo se apagar?
Judith ainda não entendia. Quando ela e Gavin fizeram amor,
nenhum fogo foi extinto por mais de alguns momentos. Na verdade,
quanto mais tempo passavam na cama, mais ela o desejava.
Joan começou a falar com paciência.
— Nem todos os homens não são como Lorde Gavin. — disse ela,
lendo a mente de Judith. — Se se entregar para Lorde Walter, não terá
mais domínio sobre ele. Para homens como ele, a caça é tudo.
Judith estava começando a entender.
— Como posso afastá-lo de mim? — Ela estava totalmente
preparada para entregar-se a cem homens se salvasse a vida daqueles
a quem amava.
— Ele não vai força-la, deve acreditar que a cortejou e
conquistou. Você pode pedir o que quiser e ele vai dar-lhe de bom
grado, mas deve ser inteligente e agir com astucia. Ele estará
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 247
ciumento. Não sugira que se interessa por Lorde Gavin. Deixe-o
acreditar que o despreza. Segure a cenoura diante do seu nariz, mas
não lhe permita mordiscar.
Joan levantou-se e deu uma última olhada crítica para o vestido
de sua lady.
— E o que dizer de Sir Arthur? — Perguntou Judith.
— Lorde Walter o governa e no pior dos casos, pode ser
comprado.
Judith levantou-se e olhou para a criada.
— Acreditas que alguma vez aprenderei tanto sobre os homens?
— Só quando eu aprender a ler. — disse Joan, rindo da
impossibilidade de tal afirmação. — Por que precisa saber de muitos
homens quando você tem Lorde Gavin? Ele vale mais a pena que todos
os meus homens juntos.
Quando saíram da câmara para descer as escadas para o grande
salão, Judith pensou: — Tenho realmente Gavin? Quero a ele?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 248
Capítulo Dezesseis — Milady! — disse Walter, tomando a mão de Judith e beijando-
a. Ela manteve os olhos baixos, como se estivesse tímida. — Faz muito
tempo desde que a vi pela última vez e parece ter ficado mais adorável,
venha sentar-se à mesa comigo, preparamos um jantar para você.
Ele levou-a para a longa mesa colocada em uma plataforma. A
toalha de mesa era velha e manchada, e os pratos eram de estanho
amassado. Quando se sentaram, ele se virou para ela.
— Seu quarto é confortável?
— Sim. — ela respondeu calmamente.
Ele sorriu, inchando um pouco o peito.
— Ora, milady, não precisa me temer.
— Medo de você! — Ela pensou furiosamente, seus olhos se
encontraram com os dele. Então ela se recuperou.
— Não é medo que eu sinto, mas estranheza. Eu não estou
acostumada com a companhia de homens, e aqueles que eu conheci...
não foram gentis comigo.
Ele pegou sua mão na dele.
— Eu corrigiria isso se pudesse. Eu sei muito sobre você, embora
você saiba pouco de mim. Sabia que era um amigo de seus irmãos?
— Não. — disse ela, espantada, — eu não sabia. Foi quando meu
pai me prometeu em casamento a você? — Ela perguntou com
inocência e olhos arregalados.
— Sim... Não... — Walter gaguejou.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 249
— Ah, eu entendo, milorde, foi depois da morte prematura de
meus queridos irmãos.
— Sim, foi depois. — Walter sorriu.
— Meus pobres irmãos tinham tão poucos amigos. Fico feliz que
eles tivessem você por um tempo. Em termos de meu pai. Eu não
falaria mal do homem, mas estava sempre perdendo as coisas. Talvez
ele tenha perdido o acordo de compromisso matrimonial entre nós.
— Não houve... — começou Walter, depois tomou um gole de
vinho para interromper suas palavras. Ele não podia admitir que não
houvesse tal documento.
Judith pôs uma mão trêmula em seu antebraço.
— Eu disse algo errado, você vai me bater?
Ele rapidamente se voltou para ela e viu que havia lágrimas em
seus olhos.
— Doce Judith. — ele disse enquanto beijava sua mão
apaixonadamente. — O que há de errado com o mundo que uma bela
inocente como você está tão aterrorizada com os homens?
Judith limpou ostensivamente, uma lágrima de seu olho.
— Perdoe-me, eu conheci tão poucos e... — Ela baixou os olhos.
— Vamos me dê um sorriso. Pergunte-me qualquer coisa, peça-
me qualquer tarefa ou presente, e eu vou lhe dar.
Judith ergueu os olhos imediatamente.
— Gostaria de ter um quarto melhor para a minha mãe. — disse
ela com firmeza. — Talvez no mesmo andar que o meu.
— Meu Senhor! — Sir Arthur interrompeu-o sentado do outro
lado de Judith. Ele estava ouvindo cada palavra de sua conversa. —
Há muita liberdade no terceiro andar.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 250
Walter franziu o cenho. Ele queria muito agradar a sua doce e
tímida cativa, e ser repreendido diante dela por seu homem não era
um meio para esse fim. Instantaneamente, Arthur viu seu erro.
— Eu quero dizer, milorde, que ela deveria ter um guarda de
confiança perto dela, para o seu próprio bem. — Olhou para Judith. —
Diga-me, minha senhora, se você tivesse apenas um homem para
protegê-la, quem escolheria?
— John Bassett — disse rapidamente. Ela poderia ter mordido a
língua assim que as palavras foram pronunciadas.
Arthur deu a ela um olhar presunçoso antes de voltar seu olhar
para Walter.
— Vê, da própria boca da dama, ela escolheu o guarda de Lady
Helen.
— E me deixa sem ajuda se eu tentar escapar — Judith pensou.
Sir Arthur olhava para ela como se pudesse ler seus. pensamentos.
— Uma excelente ideia! — Exclamou Walter. — Está satisfeita,
milady?
Ela não podia pensar em nenhuma razão para manter John para
si mesma, e talvez sua ausência lhe desse mais liberdade.
— Isso me agradaria muito, milorde. — disse ela docemente. —
Eu sei que John vai cuidar bem de minha mãe.
— E agora podemos nos voltar para assuntos mais agradáveis. O
que acha de cavalgarmos e caçarmos amanhã?
— Caçar, milorde? Eu...
— Sim. Você pode falar com franqueza comigo.
— É um desejo tolo.
— Vamos, me diga. — Walter sorriu tolerantemente.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 251
— Eu só recentemente saí de casa, e estava sempre confinada a
uma parte das propriedades. Nunca vi um desses antigos castelos.
Você vai rir de mim!
— Não, eu não vou. — Walter riu.
— Gostaria de ver tudo, os estábulos, currais, até mesmo os
campos.
— Então eu a levarei em um percurso completo amanhã. — ele
sorriu. — É um pedido simples, e eu faria qualquer coisa para lhe dar
prazer, milady. — Seus olhos ardiam para ela e Judith abaixou os
cílios, principalmente para evitar que ele visse a raiva que brilhava nos
dela.
— Meu senhor, — ela disse suavemente — eu acho que estou
muito cansada. Pode me dar licença?
— Claro, seu desejo é uma ordem para mim. — Ele se levantou e
ofereceu-lhe sua mão enquanto ela se levantava de sua cadeira.
John manteve-se muito próximo, com os braços cruzados no
peito.
— Gostaria de falar com meu homem por um momento. — disse
ela, indo até ele antes que Walter pudesse responder. — Sir Arthur fez
de você um guarda para minha mãe. — disse ela sem preâmbulo.
— Não vou aceitar. Lorde Gavin...
— Silêncio! — Ela disse enquanto colocava a mão em seu braço.
— Eu não quero que nos escutem. Que razão você daria para não
deixar a minha porta? Aquele idiota pensa que eu já sou dele.
— Ele teve atrevimentos com você?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 252
— Não, ainda não, mas ele vai tentar. Você deve ficar com minha
mãe, não creio que Sir Arthur a deixe sair daquele lugar úmido se você
se recusar. Ela não resistirá por muito tempo
— Você pensa demais em sua mãe e muito pouco em si mesma.
— Não, você está errado, estou segura. Mas ela poderia ficar
doente dos ossos. Se eu estivesse na umidade, eu exigiria tratamento
igual.
— Você mente. — John disse sem rodeios. — Você poderia estar
segura em casa se não fosse tão teimosa.
— E agora está me dando sermões? — Judith protestou,
exasperada.
— É inútil. Assim ficarei com Lady Helen se você prometer não
fazer coisas tolas.
— Claro, posso até mesmo jurar, se quiser.
— Você é muito faladeira, mas não há tempo para discutir, eles
estão vindo, eu esperarei mensagens com frequência, talvez mantenha
minha mente longe das torturas que Lorde Gavin aplicará a mim.
Quando Judith e sua donzela estavam sozinhas, Joan soltou
uma gargalhada.
— Eu nunca vi uma representação igual à desta noite, milady. —
Ela riu. — Você atuaria bem em Londres. Onde aprendeu o truque de
tocar sua unha em seu olho para produzir lágrimas?
Judith respirou fundo. As palavras de Joan trouxeram uma
imagem vívida de Alice nos braços de Gavin.
— Aprendi o truque de uma mulher que vive de falsas palavras
em meio a mentiras. — disse ela, sombria.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 253
— Quem quer que seja que tem que ser insuperável. Eu mesmo
estava meio convencida. Espero que tenha conseguido o que queria.
— Como tem certeza que queria algo?
— Que outra razão há para uma mulher mostrar as suas
lágrimas a um homem?
Judith pensou em Alice novamente.
— Por que mais? — Ela murmurou.
— E conseguiu o que queria? — Joan insistiu.
— Em grande parte. Arthur me enganou, John foi enviado para
vigiar minha mãe. Guarda-la, Bah! Como dois prisioneiros, trancados,
se guardam? Meu homem de armas foi convertido em dama de
companhia e colocado a chaves, e estou novamente sozinha com você
para organizar e tentar tirar todos deste lugar.
Joan desfez os laços ao lado de Judith.
— Tenho certeza de que era seu interesse tirar John de você.
Convinha-lhe.
— Você tem razão, mas Lorde Walter é um tolo, a língua do
homem se perde com ele, tenho que ter mais cuidado de falar com ele
apenas se Sir Arthur estiver longe.
— Isso, minha senhora, pode ser a tarefa mais difícil de todas. —
Joan puxou as cobertas para sua ama.
— O que você vai fazer Joan? — Judith perguntou enquanto
observava sua donzela passar um pente pelo cabelo castanho.
— Vou encontrar Lorde Gavin — ela sorriu. — A serva e a ama
estavam assumindo um papel mais igualitário. — Vejo você amanhã, e
então terei notícias dele.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 254
Judith quase não ouviu a porta se fechar atrás de sua criada. Ela
pensava que estava muito preocupada para dormir, mas não era
assim. Adormeceu quase instantaneamente.
Walter e Arthur estavam a um lado do grande salão. As mesas
tinham sido limpas e os homens de armas espalharam seus colchões
cheios de palha no chão para passarem a noite.
— Não confio nela. — disse Sir Arthur em voz baixa.
— O que não confia nela? — Walter explodiu. — Como você pode
dizer uma coisa assim depois que você a viu? Ela é uma flor delicada
de menina. Foi punida desde criança e tão maltratada que tem medo
de qualquer cenho franzido.
— Ela não parecia tão assustada quando exigiu um quarto
melhor para sua mãe.
— Ela nunca poderia exigir nada, não é da sua natureza fazê-lo,
apenas estava preocupada com Lady Helen, e esse é outro exemplo de
sua natureza doce.
— Essa natureza doce obteve muito de você hoje à noite, veja
como você quase admitiu que não houvesse um acordo escrito de
casamento com seu pai.
— O que isso importa? — Perguntou Walter. — Ela não quer seu
casamento com Gavin Montgomery.
— E o que o torna tão certo disso?
— Já ouvi...
— Bah! Rumores! Por que ela veio aqui? Não pode ser tão tola
que acredite que não há perigo aqui para ela.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 255
— Você insinua que eu iria machucá-la? — Perguntou Walter.
Arthur olhou fixamente para seu senhor.
— Não, enquanto ela for novidade para você. — Ele conhecia bem
o Walter. —Vocês devem se casar antes de você dormir com ela. Só
assim você realmente a terá. Se você a tomar sem a benção da igreja,
pode te odiar como diz que odeia seu marido.
— Eu não preciso de você para me dar conselhos sobre mulheres!
Eu sou o senhor aqui. Você não tem deveres a fazer?
— Sim, meu senhor. — Arthur sorriu em tom de ironia. —
Amanhã devo ajudar meu senhor a mostrar nossas defesas a nossa
prisioneira. — Ele se afastou quando Walter jogou uma taça de vinho
em sua cabeça.
Judith acordou muito cedo, enquanto o quarto ainda estava
escuro. Imediatamente se lembrou de Joan dizendo que pela manhã
traria notícias de Gavin. Ela rapidamente levantou o cobertor e
colocou um manto de brocado Bizantino, cor de canela, com flores
mais claras que o tecido e cashmere creme forrado de flores. O colchão
onde Joan devia dormir estava vazio. Judith apertou os dentes com
raiva e de repente começou a se preocupar. Joan teria deixado ela
também? Arthur descobriu Joan em algum ato de espionagem?
A porta se abriu quase em silêncio, e uma Joan, com olhos
inchados, caminhou na ponta dos pés.
— Onde você esteve! — Judith exigiu em um sussurro tenso.
A mão de Joan voou para cobrir a boca e abafar o grito que
estava prestes a emitir.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 256
— Minha senhora, me deu um susto, por que não está na cama?
— Como se atreve a me perguntar por que não estou na cama? —
Judith sibilou antes de se controlar. — Venha, fale-me, dê-me notícia.
Soube alguma coisa sobre Gavin? — Judith pegou o braço de sua
donzela e puxou-a para a cama. Ambas sentaram-se de pernas
cruzadas no espesso colchão de penas. Mas os olhos de Joan não
olhavam diretamente para o intenso olhar dourado de sua ama.
— Sim, minha senhora, eu o encontrei.
— Ele está bem? — Judith pressionou.
Joan respirou fundo e se apressou em sua descrição.
— Foi difícil encontrá-lo, ele está bem vigiado em todos os
momentos e a entrada é... difícil. — Ela sorriu. — Mas tive sorte, um
dos guardas pareceu gostar muito de mim, e passamos muito tempo
juntos. Que homem! Esteve toda a noite...
— Joan! — Judith disse bruscamente. — Você está escondendo
alguma coisa de mim, não é? E o meu marido, como está?
Joan olhou para sua senhora, começou a falar, depois baixou o
rosto entre as mãos.
— É horrível demais, milady. É incrível que eles pudessem fazer
uma coisa dessas com ele, é um nobre, mesmo os piores servos não
são tratados desta maneira.
— Diga-me — Judith disse em uma voz mortal. — Conte-me
tudo.
Joan ergueu a cabeça, lutando contra as lágrimas e a náuseas.
— Poucos servos do castelo sabem que ele está aqui, foi trazido
sozinho, durante a noite e... atirado para baixo.
— Para baixo?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 257
— Sim, minha lady, há um espaço abaixo do porão, um pouco
mais do que um buraco cavado entre os alicerces da torre... A água do
fosso penetra pelo chão e coisas... coisas viscosas... se reproduzem lá.
— E é ali que Gavin é mantido?
— Sim, minha lady. — disse Joan em voz baixa. — O teto do
buraco é o piso do porão, e é elevado acima do buraco, que é muito
profundo. O único meio de descer é por uma escada.
— Você viu este lugar?
— Sim milady. — Ela curvou a cabeça novamente. — E eu vi
Lorde Gavin.
Judith agarrou os braços da serva com ferocidade.
— Você o viu e esperou tanto tempo para me contar?
— Eu não acreditava que... aquele homem fosse Lorde Gavin. —
Ela olhou para cima, a agonia gravando seu rosto. — Ele sempre foi
tão bonito, tão forte, mas agora a pouco mais do que a pele em seus
ossos. Seus olhos são círculos negros que queimam ao olhar. O
guarda, o homem com quem passei a noite, abriu o alçapão e segurou
uma vela. O fedor! Eu mal podia olhar na escuridão. No principio não
tive tanta certeza de que era Lorde Gavin. Ele cobriu os olhos do brilho
de apenas uma vela. O chão, milady... estava cheio de bichos
rastejando! Não havia um só lugar seco. Como ele dorme? Não tem um
lugar para se deitar.
— Tem certeza de que esse homem era Lorde Gavin?
— Sim. O chicote do guarda ameaçou toca-lo, e ele afastou a mão
e olhou para nós com ódio.
— Ele a reconheceu?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 258
— Creio que não. No começo acreditei que sim, mas agora, eu
acho que é incapaz de reconhecer alguém.
Judith desviou o olhar.
Joan tocou seu braço.
— Minha lady, é tarde demais. Não demorará muito tempo neste
mundo. Não pode durar mais do que alguns dias, no máximo.
Esqueça-o. Estará melhor morto.
Judith lançou-lhe um olhar duro.
— Você não disse que ele está vivo?
— Apenas meio vivo. Mesmo que fosse tirado hoje, a luz do sol o
mataria em alguns instantes.
Judith saiu da cama.
— Tenho que me vestir.
Joan olhou para as costas retas de sua ama. Estava contente por
ter desistido de qualquer ideia de resgate. Aquele rosto magro ainda a
assombrava. Ainda assim, Joan estava desconfiada. Vivia com Judith
por muito tempo, e sabia que sua pequena ama raramente deixava um
problema sem solução. Havia momentos em que Joan estava
completamente exausta de arrumar e reorganizar algumas coisas para
que Judith pudesse vê-lo de todos os ângulos. No entanto, Judith
nunca desistiu. Se ela se concentrasse na colheita de um campo antes
de uma certa data, esta era ceifada, mesmo que Judith tivesse que
ajudar na tarefa.
— Joan vou precisar de uma roupa de pano tosco, muito escuro,
como a que usam os servos, e botas de cano alto, não importará se
elas são muito grandes, porque eu posso amarrá-las com força. E um
banco. Terá que ser longo, mas estreito o suficiente para caber através
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 259
do alçapão. Também, vou precisar de uma caixa de ferro presa a um
cinto, não muito grande, mas um que eu possa carrega-lo no cinto
ligado a meu ventre.
— No ventre? — Joan conseguiu balbuciar. — Você não pode
estar pensando... não acabei de lhe explicar que ele está quase morto,
que não pode ser resgatado? Não pode levar um banco para ele e achar
que ninguém vai notar. Alimentos, talvez, mas... — O olhar de Judith
a deteve. Ela era uma mulher pequena, mas quando aqueles olhos
dourados se tornavam tão duros como agora não havia desobediência.
— Sim, minha senhora — disse Joan, mansamente. — Um banco,
botas, roupas de servos e... uma caixa de ferro com cinto na medida de
seu ventre. — Ela disse sarcasticamente.
— Sim, a medida da minha cintura. — disse Judith sem humor.
— Agora me ajude a me vestir. — Ela levantou uma saia amarela de
seda do grande baú junto à cama. Por cima dela, deslizou um vestido
de veludo dourado com mangas largas e penduradas. Havia vinte
botões de pérolas do pulso ao cotovelo. Um cinto de seda marrom
rosqueados com pérolas pendia de sua cintura até o chão.
Joan pegou um pente de marfim e começou a arrumar os cabelos
de sua ama.
— Não deixe que ele saiba que se preocupa com Lorde Gavin.
— Não preciso que me diga isso, vá agora e encontre as coisas
que quero e não deixe ninguém te veja com elas.
— Eu não posso trazer um banco em segredo.
— Joan!
— Sim, milady, farei o que me manda.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 260
Horas mais tarde, depois de passar a manhã visitando estábulos
e leitarias Walter disse:
— Minha lady, deve estar cansada, certamente tudo isso deve ter
pouco interesse para você.
— Oh, pelo contrario! — Judith sorriu. — Qual a espessura das
paredes do castelo? Elas são tão espessas! — Exclamou ela com
inocência e olhos arregalados. O castelo era simples. Ele continha uma
grande torre de pedra de quatro andares colocada dentro de um único
muro de três metros e meio de espessura. Havia alguns homens no
topo das paredes, mas eles pareciam sonolentos e não muito alertas.
— Talvez a minha lady gostasse de inspecionar a armadura dos
cavaleiros e procurar defeitos — disse Arthur enquanto a observava.
Judith conseguiu manter seu rosto sem expressão.
— Não entendo o que quer dizer, senhor. — disse ela confusa.
— Nem eu, Arthur! — Walter acrescentou. Ela compreendeu que
tinha um inimigo: o cavalheiro tinha interpretado com facilidade seu
interesse pelas fortificações. Ela se voltou para Walter:
— Acredito que estou mais cansada do que pensei... Foi
realmente uma longa viagem, talvez eu devesse descansar.
— Claro, minha lady.
Judith queria se afastar dele, se livrar de sua mão, tantas vezes
em seu braço ou sua cintura. Felizmente, ele a deixou na porta da
câmara. Ela caiu sobre a cama completamente vestida. Durante toda a
manhã, sua mente estava cheia do que Joan lhe dissera sobre Gavin.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 261
Podia imaginá-lo meio morto na imundície do lugar horrível onde era
mantido.
A porta se abriu, mas ela não prestou atenção. Uma nobre
raramente era permitida a privacidade. As donzelas sempre entravam
e saíam do quarto. Ela ofegou quando uma mão masculina tocou seu
pescoço.
— Lorde Walter! — Exclamou, olhando rapidamente pelo quarto.
— Não tenha medo. — Ele disse calmamente. — Nós estamos
sozinhos. Cuidei disso e os servos sabem que minhas punições são
duras se me desobedecerem.
Judith estava nervosa.
— Tem medo de mim? — Ele perguntou, seus olhos mexendo-se.
— Não há razão para ter medo. Não sabe que eu te amo? Eu te amei
desde a primeira vez que te vi. Esperava no meio da procissão que te
seguiu para a igreja, devo lhe dizer como você olhou para mim? — Ele
pegou um cacho de cabelo e enrolou-o em torno de seu dedo. — Você
ficou na luz do sol, e era como se o dia escurecesse diante do seu
esplendor. Seu vestido de ouro, seus olhos dourados.
Ele ergueu a mecha de cabelo, esfregando-a com os dedos da
outra mão contra a sua palma.
— Como eu queria tocar esses finos fios! Foi então que eu soube
que você devia ser minha. Mas você se casou com outro! — Ele
acusou.
Judith estava assustada, não por ele ou pelo que poderia
acontecer com ela, mas pelo que perderia se a tomasse agora. Ela
enterrou o rosto em suas mãos como se estivesse chorando.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 262
— Minha dama, minha doce Judith, perdoe-me, o que é que eu
fiz? — Perguntou Walter perplexo.
Ela fez um esforço para se recuperar.
— Eu sou a única a pedir perdão, é apenas que os homens...
— Os homens o que? Você pode me dizer, eu sou seu amigo.
— De verdade? — Ela perguntou, seus olhos suplicantes e
excessivamente inocentes.
— Sim. — sussurrou Walter, confortando-a o melhor que pôde.
— Eu nunca tive um amigo antes, primeiro meu pai e meus
irmãos... Não, não falarei mal deles.
— Não há necessidade. — disse Walter, enquanto lhe tocava o
dorso da mão com as pontas dos dedos. — Eu os conhecia bem.
— E então meu marido! — Judith disse ferozmente.
Walter piscou para ela.
— Você não gosta dele então? É verdade?
Seus olhos dourados brilharam quando ela olhou para ele com
tanto ódio que ficou surpreso. Era quase como se fosse para ele em vez
de seu marido.
— Todos os homens são iguais! — Ela disse com raiva. — Eles só
querem uma coisa de uma mulher, e se ela não dá de bom grado, é
forçada. Você sabe como é horrível o estupro de uma mulher?
— Não, eu... — Walter estava confuso.
— Os homens sabem pouco das coisas mais refinadas da vida:
música e arte. Eu gostaria de acreditar que existe um homem em
algum lugar da terra que não me apalpe e faça exigências.
Walter lançou-lhe um olhar perspicaz.
— E se encontrasse um homem como este você o recompensaria?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 263
Ela sorriu docemente.
—- Eu o amaria com todo meu coração. — ela disse
simplesmente.
Ele levou sua mão aos lábios e beijou-a com ternura. Judith
abaixou os olhos.
— Eu vou guardar suas palavras. — ele disse calmamente. —
Porque eu faria qualquer coisa para ter seu coração.
— Não pertencerá a mais ninguém..— sussurrou Judith.
Ele soltou a mão dela e se levantou.
— Vou deixá-la descansar. Lembre-se que eu sou seu amigo e
vou estar por perto quando precisar de mim.
Ao sair do quarto, Joan entrou.
— Lady Judith, ele não...?
— Não, nada aconteceu. — Ela disse enquanto se recostava
contra a cabeceira da cama. — Consegui dissuadi-lo.
—- Dissuadi-lo! Por favor, me explique… Não, não o faça. Não
tenho nenhuma necessidade de saber como dissuadir a um homem
que deseje me fazer amor. O que quer que tenha feito foi bom, poderá
afastá-lo de você?
— Eu não sei, ele pensa que eu sou uma idiota ingênua, e eu não
sei quanto tempo posso mantê-lo enganado. Odeio-me quando minto
assim! — Judith virou-se para a criada. — Está tudo preparado para
esta noite?
— Sim, embora não tenha sido fácil.
— Vai ser bem recompensada quando sairmos daqui, se
sairmos... Encontre outras mulheres e prepare-me um banho, devo
esfregar onde quer que esse homem me tenha tocado.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 264
John Bassett andava pelo chão do quarto, com passos pesados.
O dedo do pé de sua bota pegou em algo enterrado nos juncos, e ele
chutou com ira. Um osso de carne, velho e seco, voou contra a parede
distante.
— Uma criada de companhia. — Ele amaldiçoou. Trancado
dentro de um quarto, sem liberdade alguma e, sua única companhia
era uma mulher que tinha medo dele.
Na verdade, não era culpa dela que ele estivesse ali. Ele se virou e
olhou para ela, enrolada com uma coberta diante do braseiro. Ele
sabia que suas longas saias escondiam um tornozelo muito torcido
que ela não permitia que sua filha visse. De repente, sua raiva o
deixou. Não lhe fazia bem deixar-se remoer por este sentimento.
— Sou uma má companhia. — disse ele enquanto movia um
banquinho para o outro lado do braseiro e se sentava. Helen olhou
para ele com olhos assustados. Sabia de seu marido, e estava
envergonhado que ele também inspirasse medo nela. — Não é você que
me irrita minha lady, mas aquela filha sua... Como poderia uma
mulher calma e sensata como você gerar uma moça tão teimosa?
Queria resgatar dois prisioneiros, mas agora tem quatro para salvar e
sem ajuda a não ser daquela donzela louca. Do que aquela dama de
sangue quente é feita?
Ele se virou e viu Helen sorrindo. Um sorriso de puro orgulho.
— Você se orgulha de uma filha assim? — Perguntou atônito.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 265
— Sim. Ela não tem medo de nada e sempre pensa nos outros
primeiro.
— Ela deveria ter sido ensinada a temer. — John disse
ferozmente. — O medo é bom às vezes.
— Se ela fosse sua filha, ter-lhe-ia ensinado a temer?
— Eu teria ensinado a... — começou John e se interrompeu. —
Obviamente, punir não era a resposta; Ele tinha certeza de que Robert
Revedoune lhe causara muita dor. Ele se virou para Helen e sorriu. —
Não acredito que poderia lhe ensinar. Mas se ela fosse minha filha... —
Ele sorriu mais amplamente. — Eu ficaria orgulhoso dela. Embora
duvide que tal beleza pudesse ter vindo de algo tão feio quanto eu.
— Oh, mas você não é feio absolutamente. — Helen disse, suas
bochechas ficando rosa.
John olhou para ela pela primeira vez. Durante o casamento
quando a vira a considerou desleixada e simples, mas agora podia ver
que ela não era nenhuma coisa e nem outra. Um mês longe de Robert
Revedoune lhe tinha feito muito bem. Ela não parecia tão nervosa
como antes, e suas bochechas ocas estavam se enchendo. Exceto pela
touca bico de viúva, seu cabelo estava coberto, mas ele podia ver que
era castanho avermelhado, mais escuro que o de sua filha. E seus
olhos pareciam ter pequenas manchas de ouro neles.
— Por que me olha, senhor?
Com sua habitual brusquidão, John disse o que pensava.
— Você não é velha.
— Farei trinta e três anos este ano. — respondeu ela. — Essa é
uma idade avançada para uma mulher.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 266
— Bah! Eu me lembro de uma mulher de quarenta anos que... —
Ele parou e sorriu. — Talvez não devesse contar a uma dama essa
história, mas trinta e três anos está longe de ser velha. — De repente
lhe veio uma ideia. — Sabe que agora é uma mulher rica, é uma viúva
com grandes propriedades e logo terá homens batendo à sua porta.
— Não. — ela riu, suas bochechas coradas. — Você está
brincando.
— Uma viúva rica e bonita, além disso, — brincou ele. — Lorde
Gavin terá que cortá-los a espada para afugentá-los e encontrar um
marido para você.
— Marido? — Helen subitamente ficou séria.
— Vamos, não faça essa cara! — Ordenou John. — Poucos são
como aquele vilão que você se casou.
Helen piscou para o que deveria ser considerado rudeza. Mas
vindo de John, era uma declaração do fato.
— Lorde Gavin encontrará um bom homem para você.
Ela olhou para ele como se estivesse especulando.
— Você já foi casado, John?
Ele esperou um momento antes de responder.
— Sim, uma vez quando eu era muito jovem, ela morreu da
praga.
— Não houve filhos?
— Não, nenhum.
— Você... a amava? — Helen perguntou timidamente.
— Não. — Ele respondeu honestamente. — Ela era uma criatura
simples. Infelizmente, não suporto a estupidez, em um homem, em um
cavalo ou em uma mulher. — Ele riu de algum pensamento privado. —
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 267
Uma vez eu me gabei que só colocaria meu coração diante de uma
mulher que poderia jogar um bom jogo de xadrez. Sabe que cheguei
uma vez a jogar com a rainha Elizabeth?
— E ela ganhou?
— Não. — Ele disse com desgosto. — Ela não conseguia manter
sua mente no jogo. Eu tentei ensinar a Gavin e a seus irmãos o jogo,
mas eles são piores do que algumas mulheres. Só seu pai se igualava
comigo em um desafio.
Helen olhou para ele com seriedade.
— Eu conheço o jogo, pelo menos eu conheço os movimentos.
— Você? De verdade?
— Sim. Ensinei Judith a jogar, embora nunca pudesse me
vencer. Era como a rainha, sempre preocupada com outro problema,
não podia dar a concentração que o jogo merecia.
John hesitou.
— Se vamos passar algum tempo aqui, talvez possa me dar
lições. Eu apreciaria qualquer ajuda.
John suspirou. Talvez fosse uma boa ideia. Pelo menos ajudaria a
passar o tempo.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 268
Capítulo Dezessete A câmara de Judith estava tão quieta quanto o resto do castelo
de Demari quando ela começou seus preparativos para ir até Gavin no
calabouço.
— Dê ao guarda isso, — disse Judith, enquanto entregava a Joan
um odre de vinho — e ele dormirá durante a noite. Poderíamos colocar
barris de óleo queimando ao lado dele, e não acordará.
— O que vai acontecer quando Lorde Gavin a vir? — murmurou
Joan.
— Eu pensei que você acreditava que ele estava quase morto,
agora não fale mais, apenas faça como eu digo. Está tudo pronto?
— Sim. Está se sentindo melhor? — Joan perguntou preocupada.
Judith assentiu, engolindo saliva ao recordar de sua recente
náusea.
— Se deixou algo em seu estômago, vai perder quando você
entrar naquele poço vil.
Judith ignorou seu comentário.
— Vá agora e dê ao homem seu vinho. Vou esperar um pouco,
então a seguirei.
Joan saiu silenciosamente do quarto, uma arte que aprendera
durante longos anos de prática. Judith esperou nervosamente por
quase uma hora. Amarrou a caixa de ferro sobre seu ventre, então
deslizou o vestido de lã áspera sobre sua cabeça. Se alguém notasse a
serva que caminhava silenciosamente entre os cavaleiros adormecidos,
só veriam uma mulher em estado avançado de gravidez, com as mãos
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 269
na parte inferior das costas, apoiando o peso de sua barriga. Judith
teve alguma dificuldade em descer as escadas de pedra, sem corrimão
que levavam ao porão.
— Minha dama? — Joan sussurrou.
— Sim. — Judith dirigiu-se à única chama de vela que Joan
segurava. — Ele está dormindo?
— Sim. Não consegue ouvi-lo roncar?
— Eu não consigo ouvir nada sobre as batidas do meu coração.
Coloque a vela em algum lugar e me ajude a desatar esta caixa.
Joan caiu de joelhos enquanto Judith levantava suas saias até a
cintura.
— Por que precisa da caixa? — Perguntou Joan.
— Para armazenar os alimentos, para manter os ratos longe da
comida.
Joan estremeceu quando suas mãos frias trabalharam os nós do
couro cru.
— Há mais do que ratos lá embaixo. Minha senhora, por favor,
não é tarde demais para mudar de ideia.
— Você está dizendo que vai em meu lugar?
O suspiro de horror de Joan foi sua resposta.
— Silêncio, então, pense em Gavin, que é forçado a viver lá.
Enquanto as duas mulheres puxavam o alçapão o ar viciado do
poço, as fez virar a cabeça para o lado.
— Gavin! — Judith chamou. — Você está aí?
Nenhuma resposta veio.
— Dê-me a vela.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 270
Joan entregou para sua ama o castiçal e desviou o olhar. Não
queria voltar a olhar para o poço.
Judith esquadrinhou o buraco negro com a luz. Preparou-se para
o pior, e não ficou desapontada. No entanto, Joan se enganara quanto
ao fundo do poço. Não era totalmente desprovido de área seca, ou pelo
menos relativamente seco. O chão de terra inclinava-se para longe das
paredes de pedra, de modo que um canto era apenas lama em vez da
água infestada de lodo. Neste canto Judith viu uma figura encurvada.
Só os olhos brilhantes que a olhavam lhe disseram que a silhueta
encolhida no canto estava viva.
— Me dê à escada, Joan. Quando eu estiver no fundo, envie
primeiro o banco para baixo, então a comida e o vinho. Você
entendeu?
— Eu não gosto deste lugar.
— Nem eu.
Não foi fácil para Judith descer naquela escada para o inferno.
Não ousava olhar para baixo. Não havia necessidade de ver o que
estava no chão. Ela podia sentir o cheiro e ouvir os movimentos
rastejantes. Colocou a vela sobre uma pedra protuberante da parede,
mas não olhou para Gavin. Sabia que ele lutava para sentar-se.
— O banco agora. — Judith ordenou. Não era fácil descer a peça
pesada pela escada, e sabia que os braços de Joan estavam puxados
pelo esforço a ponto de desconjuntar. Foi mais fácil levantá-lo e
colocá-lo contra a parede ao lado de Gavin. A caixa de comida veio em
seguida, depois um grande odre de vinho.
— Pronto! — Ela disse enquanto colocava os itens em cima do
banco, então deu um passo em direção ao marido. Sabia por que Joan
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 271
dissera que estava perto da morte. Estava enfraquecido, abatido e com
as maçãs do rosto que eram altas, afinadas.
— Gavin. — Disse calmamente e estendeu a mão para ele, com a
palma para cima.
Gavin moveu sua mão fina e imunda lentamente para tocá-la,
como se esperasse que ela desaparecesse. Quando sentiu sua carne
quente contra a dele, olhou para ela surpreso.
— Judith. — A palavra era áspera, sua voz rouca pelo desuso
prolongado e a garganta ressequida.
Judith pegou a mão dele firme nas suas, o ajudou a erguer-se
para sentar no banco. Segurou o odre de vinho e o levou a seus lábios.
Passou um tempo até que ele entendeu que devia beber.
— Lentamente. — disse Judith, enquanto ele começava a engolir
grandes goles do doce líquido. Ela pôs o odre de lado, então pegou um
frasco com rolha da caixa e começou a alimentá-lo com um guisado
rico e encorpado. A carne e os legumes haviam sido cozidos até
transformarem-se em uma pasta fácil dele mastigar.
Gavin comeu pouco antes de se recostar contra a parede, seus
olhos fechados em cansaço.
— Faz muito tempo que não tenho comida, um homem não
aprecia o que tem até que lhe seja tirado. — Ele descansou um
momento, depois se sentou de novo e olhou para a esposa. — Por que
você está aqui?
— Para lhe trazer comida.
— Não. Não me referi a isso. Por que você está nas propriedades
de Demari?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 272
— Gavin, você deve comer e não falar. Se você continuar a comer
eu vou te contar tudo. — Ela lhe deu um pedaço de pão escuro
mergulhado no guisado.
Gavin voltou sua atenção para a comida.
— Meus homens estão ai em cima? — Perguntou, com a boca
cheia. — Acho que posso ter esquecido como andar, mas quando tiver
comido mais, estarei mais forte. Eles não deveriam ter mandado você
para cá.
Judith não tinha calculado que sua presença faria Gavin
acreditar que ele estava livre.
— Não. — Ela disse enquanto piscava para conter as lágrimas. —
Eu não posso te tirar daqui... ainda.
— Ainda? — Ele olhou-a. — O que você está dizendo?
— Estou sozinha, Gavin. Seus homens não estão acima, você
ainda é cativo de Walter Demari, como é minha mãe e agora John
Bassett.
Ele parou de comer, sua mão parou sobre a garrafa,
abruptamente, como se ela não tivesse dito nada, continuou
mastigando.
— Diga-me tudo. — Ele disse sem rodeios.
— John Bassett me disse que Demari o tinha capturado. John
não via nenhuma forma de resgatá-lo a não ser através do cerco ao
castelo. — Ela parou como se terminasse com a história.
— Então você veio aqui e pensou em me salvar? — Ele olhou para
ela, seus olhos afundados e ardentes.
— Gavin, eu...
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 273
— E, ora, diga-me, por favor, como esperava consegui-lo?
Desembainhar uma espada e ordenar a minha libertação?
Ela apertou sua mandíbula, tensa.
— Eu vou ter a cabeça de John por isso.
— Foi o que ele disse. — murmurou ela.
— O que?
— Eu disse que John sabia que você ficaria zangado.
— Zangado? — Disse Gavin. — As minhas propriedades ficaram
desprotegidas, os meus homens sem liderança, a minha mulher é
mantida presa por um louco, e você diz que estou com raiva? Não,
esposa, não. Estou muito mais do que zangado.
Judith endireitou suas costas, apertou sua mandíbula.
— Não havia outro jeito, um cerco teria matado você.
— Um cerco, sim! — Disse ele furioso. — Não há outras maneiras
de tomar este lugar do que por cerco.
— Mas John disse...
— John! John é um cavaleiro, não um líder. Seu pai seguiu o
meu, assim como ele me segue. Deveria ter ido a Miles ou mesmo
Raine, apesar de sua perna quebrada. Eu matarei John na próxima
vez que eu o veja!
— Não, Gavin, ele não tem culpa. Disse-lhe que viria sozinha se
não me trouxesse.
A luz da vela fez seus olhos brilharem. O capuz de lã tinha caído
deixando descobertos o seu cabelo.
— Eu tinha esquecido como você é linda. — Ele disse
calmamente. — Não vamos mais brigar, não podemos mudar o que foi
feito e agora me diga o que está acontecendo lá em cima.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 274
Ela contou-lhe como conseguiu um quarto melhor para sua mãe,
mas também tinha conseguido fazer John tornar-se prisioneiro.
— Mas está bem assim. — continuou ela. — Ele não me
permitiria vir aqui.
— Desejaria que não tivesse feito isso, Judith, nunca deveria ter
pisado neste lugar.
— Mas tinha que lhe trazer comida! — Protestou ela.
Ele olhou para ela, então suspirou. Então começou a sorrir para
ela.
— Tenho pena de John por ter que lidar com você.
Ela olhou para ele surpresa.
— Ele disse o mesmo de você. O que faço de errado?
— Sim. — respondeu Gavin honestamente. — Colocou em perigo
um bom numero de pessoas, e qualquer resgate agora será muito mais
difícil.
Ela olhou para as mãos.
— Venha, olhe para mim. Já faz muito tempo que não vejo nada
bonito e que estivesse limpo. — Ele entregou-lhe o frasco vazio.
— Eu trouxe mais comida e uma caixa de metal para mantê-la
dentro.
— E um banco. — Ele disse enquanto balançava a cabeça. —
Judith, você sabe que os homens de Demari saberão quem enviou
estas coisas para cá quando as virem. Você deve levá-las de volta.
— Não, você precisa deles.
Ele olhou para ela. Tudo que fizera foi queixar-se dela.
— Judith! — ele sussurrou — obrigado. — Levantou a mão, como
se fosse tocar sua bochecha, mas parou.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 275
— Você está irritado comigo. — Ela disse sem rodeios, pensando
que era por isso que ele não a tocava.
— Eu não quero te sujar. Estou muito sujo. Eu sinto coisas
rastejarem em minha pele mesmo agora com você tão perto de mim.
Ela pegou a mão dele e guiou-a até a bochecha.
— Joan disse que você estava quase morto. Mas também falou
que olhava para o guarda em desafio, se ainda odiava, não poderia
estar tão perto da morte. — Ela se inclinou para ele e Gavin tocou sua
boca na dela. Judith tinha que contentar-se com isso. Ele não a
contaminaria mais com seu toque.
— Escute-me, Judith, você deve me obedecer. Não vou tolerar a
desobediência, entendeu? Eu não sou John Bassett, que você pode
mandar com o dedo mindinho. E se você me desobedecer, o preço será
muitas vidas, sem dúvida. Você entendeu?
— Sim. — ela balançou a cabeça, ansiosa para receber as
indicações.
— Antes de ser capturado, Odo conseguiu fugir do cerco e foi à
procura de Stephen na Escócia.
— Seu irmão?
— Sim, você não o conhece. Ele será informado de tudo o que
Demari fez. Stephen virá em breve, ele é um guerreiro experiente e
essas velhas paredes não ficarão muito tempo erguidas ante ele. Mas
vai demorar vários dias para chegar da Escócia mesmo se o
mensageiro conseguiu encontrá-lo imediatamente.
— Então, o que devo fazer?
— Você deveria ter ficado em casa e esperado com seu bastidor
de bordados. — Disse ele com desgosto. — Então teríamos tempo,
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 276
agora você deve fazer tempo para nós agirmos. Não concorde com nada
do que Demari propor. Fale com ele das coisas das mulheres, mas não
fale da anulação de nosso casamento ou de suas propriedades.
— Ele acha que sou uma tola.
— Deus livre todos os homens de mulheres tão tolas como você.
Agora deve ir.
— Vou trazer mais comida amanhã. — Ela falou.
— Não! Mande Joan, ninguém prestará atenção na gata que
escorrega de uma cama para a outra.
— Mas eu virei disfarçada.
— Judith, quem mais tem cabelos de sua cor? Se um fio escapar,
será reconhecida, e se for descoberta, não haveria razão para manter
os prisioneiros vivos. Demari deve pensar que você vai aceitar seus
planos. Agora vá e me obedeça pelo menos uma vez.
Ela se levantou e assentiu enquanto se virava para a escada.
— Judith. — ele sussurrou. — Me beijaria de novo?
Ela sorriu feliz e antes que ele pudesse detê-la, seus braços
estavam sobre sua cintura, segurando-o perto dela. Podia sentir a
mudança em seu corpo, o peso que perdera.
— Fiquei assustada, Gavin. — confessou ela.
Ele levantou o queixo em sua mão.
— Você é mais valente do que dez homens juntos. — Ele a beijou
com angustia. — Agora vá e não volte mais.
Judith subiu a escada com pressa para sair do porão escuro.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 277
Capítulo Dezoito
O castelo estava silencioso quando Arthur finalmente permitiu
que sua raiva explodisse. Sabia que deveria ter mantido seu
temperamento sobre controle, mas tinha visto muito em um dia.
— Você é um tolo! — Arthur disse com um sorriso sarcástico. —
Não vê como aquela mulher te manuseia como um musico harpista
interpreta um saltério?
— Você se excede. — avisou Walter.
— Alguém deve adverti-lo! Você está tão cego que ela poderia
cravar uma faca entre as suas costelas e o único que murmurarias
seria: Obrigado.
De repente, Walter olhou para sua caneca de cerveja.
— Ela é uma mulher linda, doce e adorável. — murmurou.
— Doce! Ela é tão doce quanto o limão. Ela está aqui há três dias,
e diga-me, quanto você tem progredido com as negociações para uma
anulação do matrimonio? O que ela diz quando pergunta? — Não deu
tempo a Walter para responder. — Essa mulher tem uma perda
auditiva conveniente. Às vezes ela só lhe sorri quando você lhe faz uma
pergunta. Acha que ela é surda e muda. Você nunca a pressiona, em
vez disso olha-a com outro sorriso estupido.
— Ela é uma mulher linda. — disse Walter em defesa.
— Sim, ela é sedutora. — Reconheceu Artur e sorriu para si
mesmo. Judith Montgomery estava começando a mexer com seu
sangue também, embora não do modo que ela afetava Walter. — Mas o
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 278
que adianta sua beleza se não estás mais perto do teu objetivo do que
quando ela chegou?
Walter bateu com sua taça na mesa.
— Ela é uma mulher, maldito seja! Não um homem com quem se
possa argumentar. Deve ser cortejada e conquistada. As mulheres
devem ser amadas. Além disso, recorda seu pai e seu vil marido com
quem a casaram. Eles a assustaram.
— Assustada! — Arthur bufou. — Nunca vi uma mulher menos
assustada em minha vida. Uma mulher assustada teria ficado em
casa, em sua cama, atrás das muralhas do seu castelo. Essa, no
entanto, veio cavalgando para nossos portões e...
— E não pede nada! — Retrucou Walter, triunfante. — Ela pediu
nada além de um quarto melhor para sua mãe, um pedido simples.
Ela passa seus dias comigo e é uma companhia agradável. Judith não
perguntou sobre o destino de seu marido. Isso demonstra que não está
interessada nele.
— Não tenho tanta certeza. — disse Artur, pensativo. — Eu não
acho tão natural que pouco se importe com ele.
— Ela o odeia, eu te digo! Não vejo por que não matá-lo para
encerrar o caso. Casar-me-ia com ela em cima do cadáver do homem
morto se o sacerdote permitisse isso.
— Então você teria o rei sobre a sua cabeça. Ela é uma mulher
rica. Seu pai tinha o direito de entregá-la a um homem em
matrimonio, mas ele está morto. Agora ninguém tem o direito de dá-la
em matrimônio, exceto o rei. No momento em que seu marido é morto,
ela se torna tutelada do rei, os produtos de suas propriedades serão
dele. Você acha que o rei Henry daria uma viúva rica para o homem
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 279
que torturou e matou seu marido? E se você tomá-la sem sua
permissão, ele ficaria ainda mais irritado Eu lhe disse mais de uma
vez, a única maneira é ela se apresentar diante do rei e pedir
publicamente uma anulação de seu casamento e declarar que quer ser
entregue a você. O rei Henry ama muito a rainha e ficará comovido por
tal sentimentalismo.
— Então, estou indo bem. — disse Walter. — Estou fazendo com
que a mulher me ame. Eu posso ver isso em seus olhos quando me
olha.
— Digo de novo, você é um tolo! Vê o que deseja. Não estou tão
certo de que ela não esteja planejando algo, talvez, um plano de fuga.
— Escapar de mim? Eu não a mantenho cativa. Ela é livre para ir
onde ela quiser.
Artur olhou para o homem com repulsa. Ele não era apenas um
idiota, mas também estúpido. Se Arthur não fosse cauteloso, todos os
seus planos cuidadosamente arquitetados seriam destruídos por uma
deusa de olhos dourados.
— Você diz que ela odeia o marido?
— Sim. Eu sei que sim.
— Você tem provas além das fofocas dos servos?
— Ela nunca fala dele.
— Talvez o amor que ela tem por ele a machuque demais para
falar dele. —Disse Arthur franzindo o cenho. — Talvez devêssemos
testar seu ódio.
Walter hesitou.
— Você não tem tanta certeza agora?
— Eu estou! O que você planeja?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 280
— Vamos trazer o marido do poço, levá-lo diante dela e ver sua
reação. Chorará horrorizada ao vê-lo como deve estar agora, ou será
que ela ficará contente em vê-lo tão torturado?
— Ela ficará contente. — disse Walter com firmeza.
— Esperemos que tenha razão, mas acredito que não.
O novo quarto que Judith tinha conseguido para Lady Helen era
grande, arejado e limpo. Uma sólida divisória de madeira havia sido
pregada nas paredes do terceiro andar, criando o quarto. Estava
afastado do resto do castelo, protegido por uma porta de carvalho
temperado de quatro polegadas de espessura.
Havia poucos móveis. Uma grande cama coberta com linho
pesado ocupava um canto. Um colchão de palha estava do outro lado
da câmara. Duas pessoas se sentavam em frente ao brilhante braseiro,
as cabeças quase se tocando sobre um tabuleiro de xadrez colocado
em uma mesa baixa.
— Você ganhou novamente! — Exclamou John Bassett, surpreso.
Helen sorriu para ele.
— Você parece satisfeito.
— Sim. Pelo menos esses dias não foram aborrecidos. —Durante
o tempo em que estiveram juntos, ele tinha visto muitas mudanças
nela. Ela ganhou peso, suas bochechas estavam perdendo suas
cavidades. E ela começara a relaxar na sua presença. Seus olhos não
mais se moviam de um lado para o outro. Na verdade, raramente seus
olhos deixavam John.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 281
— Você acha que minha filha está bem? — Helen perguntou,
levando de volta, as peças xadrez a suas posições originais.
— Só posso deduzir que sim. Se ela tivesse sofrido algum dano,
acho que saberíamos. Não acho que Demari perderia tempo ao nos
fazer sofrer o mesmo destino.
Helen assentiu com a cabeça. Ela achou a dura veracidade de
John refrescante depois de ter vivido com mentiras por tanto tempo.
Ela não vira Judith desde aquela primeira noite, e se não fosse a
firmeza de John, teria adoecido de preocupação.
— Outro jogo?
— Não. Devo ter um descanso de seus ataques.
— É tarde, talvez... — começou ela, não querendo ir para a cama
e deixar sua companhia.
— Você pode sentar-se comigo um momento? — Ele perguntou,
levantando-se e agitando as brasas no braseiro.
— Sim. — Ela sorriu. Aquela era a parte do dia em que ela
amava, ser levada de um lugar para outro nos braços fortes de John.
Tinha certeza de que seu tornozelo estava bem, mas ele não perguntou
e ela não mencionou.
John olhou para a cabeça encostada em seu ombro.
— Você se parece mais com sua filha a cada dia. — Ele disse
enquanto a levava para uma cadeira mais perto do fogo. — É fácil ver
que ela saiu com a sua beleza.
Helen não falou, mas sorriu contra seu ombro, deleitando-se com
a força dele. Ele tinha acabado de deposita-la na cadeira quando a
porta se abriu.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 282
— Mãe! — Judith disse enquanto corria para os braços abertos
de Helen.
— Fiquei preocupada com você — Helen disse ansiosamente. —
Onde eles te mantiveram? Eles te fizeram mal?
— Que notícias têm? — A voz profunda de John interrompeu.
Judith afastou-se da mãe.
— Não, estou ilesa. Não pude vir antes porque não tive tempo,
Walter Demari me retém a cada momento, se menciono uma visita a
você, ele encontra um lugar em que devo ir. — Ela se sentou em um
banquinho que John colocou atrás dela. — Quanto a notícias, eu vi
Gavin.
Nem João nem Helen falaram.
— Eles o mantêm em um buraco abaixo do porão. É um lugar
viscoso e mal cheiroso. Ele não pode viver muito tempo nele. Eu fui a
ele e...
— Você entrou no poço? — Perguntou Helen, atônita. — Não
podia! Você carrega uma criança e colocou em risco o bebê!
— Quieta! — Ordenou John. — Quero que ela fale de Lorde
Gavin.
Judith olhou para a mãe, que geralmente se afastava dos tons
agudos de um homem, mas Helen apenas obedeceu e não mostrou
medo.
— Ele ficou muito bravo comigo por estar aqui e disse que já
havia preparado nosso resgate. Um de seus homens foi mandado para
buscar seu irmão Stephen.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 283
— Lorde Stephen? — Perguntou John, depois sorriu. — Ah, sim,
se pudermos aguentar até que ele venha, seremos salvos, é um bom
guerreiro.
— Isso foi o que Gavin disse, que mantivesse Demari longe de
mim o máximo que puder, para dar a Stephen o tempo de trazer seus
homens.
— O que mais disse Lorde Gavin?
— Muito pouco, ele passou a maior parte do tempo listando tudo
o que há de errado comigo. — Disse Judith com desgosto.
— E você é capaz de manter Demari longe de você? — Helen
perguntou.
Judith suspirou.
— Não é fácil. Se ele toca meu pulso, sua mão desliza para o meu
cotovelo. Se coloca a mão na minha cintura, desliza até as minhas
costelas. Eu não respeito esse homem. Se ele se sentasse e falasse
razoavelmente comigo, eu lhe daria a metade das terras Revedoune se
nos deixasse livres. Em vez disso, me oferece guirlandas de margaridas
e poemas de amor. Há momentos em que tenho vontade de gritar de
frustração.
— E Sir Arthur? — Perguntou John. — Não consigo ver aquele
homem fazendo guirlandas de margarida.
— Não. Ele só me observa. Nunca estou longe de seus olhos,
Sinto que há algo que ele planeja, mas não sei o que.
— Será o pior, tenho certeza. — disse John. — Eu gostaria de
poder te ajudar!
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 284
— Não. No momento não preciso de ajuda, só posso esperar que
Lorde Stephen chegue e negocie ou lute. O que for necessário fazer e
então falarei com ele.
— Conversar? — John levantou uma sobrancelha. — Stephen é
pouco dado a falar sobre seus planos de batalha com mulheres.
Uma batida soou na porta.
— Joan espera por mim, não sei se quero que Demari saiba que
estive aqui.
— Judith. — Helen agarrou o braço de sua filha. — Você está
cuidando de si mesma?
— Tanto quanto possa Estou cansada... Só isso. — Ela beijou a
bochecha de sua mãe. — Eu preciso ir.
Quando estavam sozinhos, John se voltou para Helen.
— Não chore. — Ele disse severamente. — Não vai ajudar em
nada.
— Eu sei. — concordou Helen. — Ela está tão sozinha, sempre
esteve sozinha.
— E o que há com você? Também não esteve sempre sozinha?
— Não tenho importância, sou velha.
John agarrou-a com força pelos braços e levantou-a para si.
— Você não é velha! — John disse furioso antes que sua boca
caísse sobre a dela.
Helen não fora beijada por ninguém, exceto pelo marido e só no
início de seu casamento. Ficou assustada com o frio que subia pela
espinha. Ela devolveu seu beijo, seus braços em volta de seu pescoço,
atraindo-o para mais perto dela. Ele beijou sua bochecha, seu
pescoço, seu coração batendo forte aos seus ouvidos.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 285
— É tarde! — Ele sussurrou, então a pegou em seus braços e a
levou para a cama. Cada noite a ajudava a desabotoar seu vestido
simples, já que não tinha uma serva. Ele sempre foi respeitoso e
manteve os olhos voltados para o outro lado enquanto ela se deitava
na cama. Agora a colocou de pé junto à cama, depois se virou para ir
embora.
— John, — ela chamou — você não vai me ajudar com os botões?
Ele olhou para ela, seus olhos escuros de paixão.
— Não esta noite. Se te ajudo a se despir, não iria subir para a
cama sozinha.
Helen olhou para ele, o sangue correndo em seu corpo. Suas
experiências com um homem na cama tinham sido épocas brutais.
Mas agora olhava para John e sabia que com ele seria diferente. Como
seria ficar feliz enroscada nos braços desse homem? Mal podia ouvir
sua própria voz quando falou.
— Ainda vou precisar de ajuda.
Ele caminhou até ficar diante dela.
— Tem certeza? Você é uma dama, sou apenas vassalo do seu
genro.
— Veio a significar muito para mim, John Bassett. Agora eu
quero que você seja tudo para mim.
Ele tocou o capuz que cobria seus cabelos, então o puxou
completamente.
— Venha, então. — Sorriu. — Deixe-me lidar com esses botões.
Apesar das palavras valentes de Helen, tinha medo de John. Ela
chegou a amá-lo nos últimos dias, e queria lhe dar algo. Ela não
possuía nada exceto seu corpo. Ela se entregaria como uma mártir.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 286
Sabia que os homens recebiam um grande prazer da relação sexual,
mas para ela só foi um assunto rápido e sujo. Ela não tinha ideia de
que poderia ser diferente.
Ela ficou surpresa quando ele a despiu. Ela pensava que o
homem jogaria suas saias sobre seu rosto para acabar de uma vez
com isso. John parecia gostar de tocá-la. Seus dedos ao longo de suas
costelas enviaram pequenos arrepios em sua pele. Ele tirou seu
vestido sobre sua cabeça, e depois sua camisa. Afastou-se dela e
olhou-a enquanto estava vestindo apenas a camisola de algodão fina e
suas meias. Ele sorriu calorosamente para ela como se seu corpo lhe
agradasse. John colocou as mãos em sua cintura, então tirou sua
camisola. Suas mãos estavam em seus seios instantaneamente, e
Helen ofegou de prazer ao seu toque. Ele levou seus lábios aos dela,
beijando-a. Ela manteve os olhos abertos enquanto olhava
maravilhada. Sua gentileza enviou ondas de prazer através de seu
corpo. Seus braços dobraram-se contra a lã áspera de seu gibão. Ela
fechou os olhos e se apoiou contra ele, seus braços apertados. Nunca
experimentara esse sentimento antes.
John se afastou dela e começou a tirar a roupa. O coração de
Helen estava pulsando.
— Deixe-me fazê-lo. — Ela se ouviu dizer, então recuou da sua
própria ousadia. John sorriu para ela com a mesma expressão que ela
estava sentindo de crescente paixão.
Ela nunca despiu um homem antes, exceto para ajudar um
visitante que estava por tomar banho. O corpo de John era grande e
musculoso, e ela tocou sua pele enquanto cada peça caia ao chão.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 287
Seus seios tocaram seu braço, enviando pequenas faíscas através de
seu corpo.
Quando John estava nu, levantou Helen em seus braços e a
colocou cuidadosamente na cama. Ela teve um momento de pesar ao
pensar que o prazer terminara e começaria a dor. John ergueu-lhe o
pé e colocou-o em seu colo. Enquanto Helen observava sem fôlego,
desatou a liga e tirou a meia de algodão, beijando sua perna a cada
centímetro do caminho, no momento em que ele alcançou seus dedos
do pé, Helen não conseguia mais se segurar. Seu corpo estava
estranhamente fraco, seu coração estava martelando em sua garganta.
Ela estendeu os braços para ele vir até ela, mas ele não a atendeu.
John estendeu a mão para a outra perna. Uma eternidade se
passou antes que ele removesse a beijos a outra meia. Helen sabia que
não podia suportar mais. Seu corpo começava a doer por ele. John riu
rouco e afastou as suas mãos.
Helen deitou-se contra os travesseiros, fraca. John aproximou-se
dela, beijou-a. Ela cravou suas mãos em seus ombros. Ele passeava as
mãos firmemente por seu lado. Helen pressionou-se contra ele, podia
sentir que estava pronto para ela. Mas John não tinha acabado com
sua tortura. Sua cabeça inclinada foi para seus seios, sua língua e
dentes fazendo círculos e mordiscando os mamilos cor-de-rosa e
duros. Helen gemeu, a cabeça movendo-se de um lado para o outro no
travesseiro.
John lentamente moveu uma perna em cima dela. Depois a
cobriu com todo o seu peso. Como ela se sentia bem! Ele era tão forte e
pesado. Quando ele a penetrou, ela gritou. Sentia-se como uma virgem
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 288
sem experiência do que era o prazer. Seu marido tinha usado seu
corpo, mas John fazia amor com ela.
Sua paixão era tão feroz quanto à de John, e eles alcançaram
juntos o clímax em uma tremenda explosão. Ele puxou-a para perto de
si, seu braço e uma perna jogados em cima dela como se pensasse que
ela tentaria escapar. Helen se aproximou ainda mais dele. Se possível,
ela teria gostado de deslizar dentro de sua pele. Seu corpo começou a
relaxar do delicioso prazer de uma noite de amor. Ela adormeceu com
a suave respiração de John no ouvido e no pescoço.
Judith sentou-se na mesa alta entre Walter e Arthur. Estava
mordiscando alimentos mal preparados incapaz de engolir. Mesmo que
tivessem sido os mais deliciosos pratos, não teria importância. Ela
usava saia de seda creme sob a túnica e sobre ela um vestido de
veludo azul royal. As grandes mangas penduradas do vestido estavam
forradas de cetim azul bordado com minúsculas meias-luas de ouro.
Um cinto de filigrana de ouro com uma fivela definida com uma única
safira grande rodeava a sua cintura.
As mãos de Walter a tocavam constantemente. Elas estavam em
seus pulsos, seu braço, seu pescoço. Ele não parecia perceber que
estavam em um lugar público. Mas Judith estava muito consciente
dos vinte e cinco cavaleiros que a olhavam descaradamente. Ela podia
sentir a especulação em seus olhos. Enquanto punha o garfo em um
pedaço de carne, desejou que fosse o coração de Walter. Era uma coisa
difícil engolir o próprio orgulho.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 289
— Judith. — sussurrou Walter em seu ouvido. — Eu poderia te
devorar. — Ele pressionou seus lábios contra seu pescoço, e ela podia
sentir tremores de repulsa sacudindo-a. — Por que esperarmos? Não
sente meu amor por você? Não percebe o meu desejo?
Judith manteve-se rígida, recusando-se a se permitir puxar seu
corpo para longe. Ele mordiscou seu pescoço, acariciou seu ombro
com o nariz e ela não podia mostrar como se sentia.
— Meu senhor, — ela conseguiu engolir várias vezes com
dificuldade — você não se lembra de suas próprias palavras, disse que
devemos esperar.
— Eu não posso. — Ele ofegou. — Eu não posso esperar mais.
— Mas você deve! — Judith disse com mais raiva do que
pretendia e empurrou a mão dele violentamente. — Ouça-me, e se eu
ceder às suas paixões e permitir-lhe vir para a minha cama? Você não
acha que uma criança seria feita? O que o rei diria quando
aparecermos diante dele com minha barriga inchada? Quem
acreditaria que a criança não é do meu marido? Não haverá anulação
se eu levar seu filho. E você sabe que um divórcio é concedido pelo
papa. Ouvi dizer que leva anos.
— Judith... — começou Walter, depois parou. Suas palavras
faziam sentido. Elas também apelavam para sua vaidade. Como se
lembrava de Robert Revedoune dizendo que deu sua filha para os
homens de Montgomery para obter filhos. Sabia que ele — Walter —
poderia lhe dar seus filhos! Ela estava certa. Se eles deitassem juntos,
gerariam um filho no primeiro acasalamento. Ele tomou um gole de
vinho, sua mente misturada com orgulho e frustração.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 290
— Quando iremos ao rei, meu senhor? — Judith perguntou sem
rodeios. Talvez pudesse arranjar uma fuga em sua jornada.
Sentavam-se à mesa do jantar, mas Walter prestou pouca
atenção ao que perguntou. Foi Arthur que respondeu.
— Você está ansiosa para declarar seu desejo de uma anulação
de casamento ao rei? — Ele perguntou e Judith não respondeu. —
Vamos, minha lady, somos seus amigos, pode falar livremente de sua
paixão por Lorde Walter que é tão profunda que não pode esperar para
declará-la ao mundo?
— Não gosto do seu tom. — Disse Walter. — Ela não tem que
provar nada, é convidada, não prisioneira. Não foi forçada a vir até
aqui.
Arthur sorriu, seus olhos se estreitaram.
— Sim, ela veio livremente. — disse ele em voz alta. Então,
quando estendeu a mão na frente de Judith para pegar um pedaço de
carne, baixou a voz. — Mas por que minha lady veio? Ainda não me
deu uma resposta.
A refeição parecia horrivelmente longa para Judith e não podia
esperar mais para sair do recinto. Quando Walter voltou às costas
para falar com seu mordomo, Judith aproveitou a oportunidade para
se levantar da mesa. Subiu correndo a escada, o coração batendo
violentamente. Quanto tempo mais poderia aguentar Walter Demari?
Cada minuto seus avanços se tornavam mais atrevidos. Ela parou de
correr e encostou-se à pedra fria da parede, tentando recuperar-se. Por
que sempre acreditava que poderia lidar com tudo sozinha?
— Aí está você!
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 291
Judith ergueu os olhos e viu Arthur de pé perto dela. Eles
estavam sozinhos em um recesso profundo das paredes grossas.
— Está procurando uma rota de fuga? — Ele sorriu
maliciosamente. — Não há ninguém, estamos sozinhos. — Seu forte
braço se estendeu e sua mão rodeou sua cintura, puxando-a para
perto dele. — Onde está sua língua afiada? Vai tentar me convencer a
não tocar em você? — Sua mão correu por seu braço, acariciando-a. —
É adorável o suficiente para fazer com que um homem perca a cabeça,
quase compreendo a insistência de Walter em possuir você. — Olhou
para o rosto dela. — Não vejo medo nesses olhos dourados, mas
gostaria de vê-los resplandecer com o calor da paixão. Você acha que
eu poderia fazê-los arderem por mim?
Seus lábios duros caíram sobre os dela, mas Judith não sentiu
nada. Ela permaneceu rígida contra ele. Ele se separou dela.
— Você é uma cadela gelada. — Ele rosnou e então a apertou
com mais força. Ela ofegou enquanto o ar ficava preso em seus
pulmões. O que a fez abrir a boca. Arthur aproveitou a oportunidade
para beijá-la novamente. Agarrou-a novamente, empurrando a língua
para dentro da boca de Judith. Seu abraço a machucava. Sua boca
dava-lhe náuseas.
Arthur afastou-se dela, afrouxando os braços, mas não a soltou.
Seus olhos mostraram raiva em primeiro lugar, depois mudou para
zombaria.
— Não, você não é fria. Nenhuma mulher com esses cabelos e
olhos poderia ser... Mas quem é que derrete o gelo? Walter com beijos
da mão, ou talvez seja esse seu marido?
— Não! — Judith disse então apertou os lábios.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 292
Arthur sorriu.
— Embora Walter pense de outra maneira, você é uma pobre
atriz. — O rosto de Arthur ficou duro. — Walter é um homem estúpido,
mas eu não sou. Acha que veio a este lugar por amor a ele, mas eu
não acredito. Se eu fosse uma mulher, esperaria usar minha beleza
para libertar aqueles a quem amo. É seu plano negociar com seu corpo
a liberdade de sua mãe e seu marido?
— Me deixar ir embora! — Judith exigiu, retorcendo-se em seus
braços. Ele a segurou com mais firmeza.
— Você não pode escapar de mim, nem tente.
— E quanto a Walter? — Ela desafiou. Arthur riu.
— Você faz bem o seu jogo, mas lembre-se que está brincando
com fogo e pode se queimar. Acha que temo um lixo como Demari? Eu
posso lidar com ele. Quem você acha que pensou nesta ideia de
anulação?
Judith parou de lutar.
— Ah sim, agora tenho a sua atenção. Ouça-me: Walter vai ter
você em primeiro lugar, mas será minha mais tarde. Quando ele se
cansar de você e começar a tomar outras mulheres, será minha.
— Eu preferiria dormir com uma víbora. — Ela sibilou enquanto
a mão de Arthur apertava seu braço.
— Mesmo para salvar a sua mãe? — Ele disse em uma voz
mortal. — Já fez muito por ela, o que mais faria?
— Você nunca saberá!
Ele a puxou de novo contra si.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 293
— Não? Acha que tem algum poder enquanto mantenha esse tolo
do Demari em suas mãos, mas vou mostrar-lhe quem tem o poder
aqui.
— O que? O que você quer dizer com isso?
Ele sorriu.
— Você saberá em breve.
Ela tentou se recuperar dos terríveis presságios que suas
palavras lhe deram.
— O que você vai fazer? Você não machucaria minha mãe?
— Não. Não sou tão insensível assim. Só um pouco de diversão.
Far-me-á bem ver você se contorcer. Quando tiver tido o suficiente,
venha para minha cama à noite e conversemos.
— Nunca!
— Não seja tão precipitada. — De repente, Arthur a soltou. —
Preciso ir. Tem minhas palavras para pensar.
Quando estava sozinha, Judith ficou quieta, respirando
profundamente para se acalmar. Ela se virou para ir para seu quarto,
mas ficou espantada ao ver um homem parado silenciosamente nas
sombras. Ele se inclinou preguiçosamente contra a parede oposta do
salão. Um alaúde estava pendurado em seus amplos ombros, e usava
uma faca para cortar as unhas. Judith não sabia o que a fazia olhar
para ele, exceto que poderia ter ouvido algumas das ameaças de
Arthur. No entanto, seus olhos se fixaram nele, embora não levantasse
a cabeça para olhar para ela. De repente, ergueu o rosto para olhá-la.
Seus olhos azuis escuros a olhavam com tanto ódio que ela ofegou.
Sua mão voou até sua boca, e ela mordeu o dorso.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 294
Ela se virou e correu pelo corredor até seu quarto onde se jogou
na cama. As lágrimas vieram aos poucos, formando-se acima do ventre
antes que encontraram a liberação.
— Minha lady, — sussurrou Joan enquanto acariciava o cabelo
de Judith. Tinham se tornado mais intimas nos últimos dias
diminuindo a diferença social entre as duas. — Ele a machucou?
— Não, eu me machuquei. Gavin disse que deveria ter ficado em
casa com o meu bordado, temo que tenha razão.
— Bordado? — A criada questionou, sorrindo. — Teria enroscado
os fios pior do que fez com as coisas aqui.
Judith olhou para cima, horrorizada. Então, através de suas
lágrimas, ela disse:
— Você é boa para mim. Senti pena de mim por um momento.
Você levou comida a Gavin ontem à noite?
— Sim.
— E como ele estava?
Joan franziu o cenho.
— Mais fraco.
— Como posso ajudá-lo? — Judith perguntou a si mesma. —
Gavin disse que devia esperar por seu irmão Stephen, mas por quanto
tempo? Devo tirar Gavin daquele buraco!
— Sim, milady, você deve.
— Mas como?
Joan falou sério.
— Só Deus pode responder a isso.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 295
Naquela noite, Arthur respondeu à pergunta de Judith.
Sentaram-se à ceia, uma refeição de sopa e guisados. Walter estava
silencioso, quieto, sem tocar em Judith como costumava fazer, mas
olhando para ela com o canto do olho, como se estivesse julgando-a.
— Você gosta da comida, Lady Judith? — Arthur perguntou.
Ela assentiu com a cabeça.
— Esperemos que o entretenimento também lhe agrade.
Ela ia perguntar o que ele queria dizer, mas não o fez. Ela não
daria ao homem tal satisfação.
Arthur inclinou-se para olhar para Walter.
— Você não acha que é hora, milorde?
Walter começou a protestar, mas depois pareceu pensar melhor.
Era algo que obviamente ele e Arthur tinham discutido
minunciosamente. Walter acenou com a mão para dois homens de
armas que esperavam junto à porta, e estes se retiraram.
Judith não conseguia engolir a comida de sua boca e tinha que
empurrá-la com vinho. Sabia que Arthur planejava algum truque, e
queria estar pronta para isso. Olhou nervosamente para o salão. Viu o
homem que tinha visto no corredor naquela tarde. Ele era alto e
magro, com cabelos loiros escuros com alguns fios mais claros. Sua
mandíbula era forte e estava em uma linha firme acima de um queixo
com uma covinha. Mas seus olhos eram o que a perturbava. Eram de
um azul escuro profundo e que ardia com o fogo do ódio. Esse ódio se
dirigia a ela. Ele a hipnotizava.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 296
O repentino e anormal silêncio do salão foi quebrado com o som
de correntes arrastadas, chamando sua atenção. A luz brilhante do
grande salão impediu Judith em primeiro lugar, de reconhecer como
humana, a forma que trouxeram arrastando entre os dois cavaleiros.
Era mais uma pilha de trapos fedorentos do que um homem. Foram
esses poucos segundos de não reconhecimento que a salvaram.
Percebeu que Artur e Walter olhavam para ela, observando-a. Judith
olhou-os perplexa e um olhar interrogativo. Percebeu que a figura
arrastada para o salão era Gavin. Ela não olhou para ele novamente,
mas manteve os olhos fixos em Walter. Isso lhe daria tempo para
pensar. Por que o apresentavam assim? Não sabiam que ela queria
correr para ele e ajudá-lo?
A resposta veio imediatamente quando percebeu que era
exatamente o que Arthur queria que ela fizesse. Ele queria mostrar a
Walter que ela não odiava seu marido.
— Você não o reconhece? — Walter perguntou.
Judith olhou para cima, fingindo surpresa, para o homem
imundo sendo conduzido para o salão. Então ela começou a sorrir,
muito lentamente.
— É como sempre quis vê-lo.
Walter deu um grito de triunfo.
— Traga-o aqui! Minha linda lady deve vê-lo como desejava que
ele estivesse. — Declarou a todos no salão. — Deixe-a desfrutar deste
momento. Ela o ganhou.
Os dois guardas trouxeram Gavin à mesa. Seu coração batia
loucamente. Judith não poderia arriscar-se a cometer erros agora. Se
ela mostrasse como seu coração se apiedava do marido, esse
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 297
sentimento, sem dúvida causaria muitas mortes. Ela se levantou sua
mão tremendo, e levantou sua taça de vinho. Ela jogou o conteúdo em
seu rosto.
O líquido pareceu reviver Gavin, que olhou para ela. Seu rosto,
magro e afinado, mostrava surpresa. Então perplexidade. Lentamente,
olhou para Walter e Arthur, que estavam ao lado de sua esposa.
Demari pôs o braço possessivamente sobre os ombros de Judith.
— Olhe agora quem a abraça. — ele se gabou.
Antes que alguém pudesse reagir, Gavin se jogou para atacar
Walter por cima da mesa. Os guardas que seguravam suas correntes
foram puxados para frente, tropeçando e caíram nos pratos de comida.
Walter não conseguiu sair rápido o suficiente, e as mãos imundas de
Gavin se fecharam em torno do pescoço do homem menor, de
aparência elegante, sobre a mesa.
— Segure-o! — Walter ofegou fraco, usando as unhas para tentar
afastar as mãos de Gavin de sua garganta.
Judith ficou atônita, assim como os guardas. Gavin já devia estar
meio morto, mas sua força ainda era o suficiente para fazer dois
homens perder o equilíbrio e quase matar seu captor.
Os guardas se recuperaram e puxaram as correntes em torno dos
pulsos de Gavin. Foram necessários três poderosos puxões antes de
conseguirem libertar Walter. O final de uma corrente estava
pesadamente rodeado nas costelas de Gavin. Ele gemeu de dor e caiu
sobre um joelho por um momento antes de endireitar as costas.
— Vou matá-lo por isso — disse Gavin, seus olhos fixos em
Walter antes que outra corrente fosse colocada em suas costelas.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 298
— Leve-o embora! — Walter ordenou enquanto esfregava sua
garganta quase esmagada. Ele estremeceu enquanto ainda olhava
para Gavin.
Quando Gavin foi removido, Walter desabou em sua cadeira.
Judith percebeu que ele estava mais vulnerável naquele
momento.
— Isso foi agradável. — Ela sorriu e então se virou rapidamente
para o Walter trêmulo. — Não, é claro, que não me refiro ao que ele fez
com você... Não era isso, mas estou feliz que ele me viu com alguém
que sinto... carinho.
Walter olhou para ela, sua coluna se endireitou um pouco.
— Mas é claro que eu deveria estar com raiva de você. — Ela
baixou os olhos sedutoramente.
— O que eu fiz?
— Você realmente não deveria ter trazido tal sujeira na presença
de uma lady. Ele parecia tão faminto. Acho que o que o excitava era a
comida. Como ele poderá se afligir em ver o que eu tenho agora,
enquanto tudo o que pensa é nutrição e nas coisas que rastejam em
sua pele?
Walter olhou-a pensativo.
— Você está certa. — Ele se virou para alguns homens perto da
porta. — Diga aos guardas para limpá-lo e alimentá-lo. — Estava
extasiado. Arthur havia dito que Judith choraria quando visse seu
marido em tal estado, mas ela tinha sorrido!
Só Joan sabia o que aquele sorriso custou à sua ama.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 299
Judith se afastou de Walter, querendo sair da sala e,
especialmente, deixar sua presença. Manteve a cabeça erguida
enquanto caminhava através dos servos.
— A mulher merece o que a espera! — Disse alguém perto dela.
— Nenhuma esposa tem o direito de tratar um marido assim.
Todos e cada um deles desprezavam-na. E ela também estava
começando a se odiar. Judith subiu lentamente as escadas para o
terceiro andar, querendo apenas privacidade. No topo dos degraus, um
braço voou sobre sua cintura, e ela foi jogada contra o peito de um
homem que parecia ferro. Uma adaga se aproximou de sua garganta, a
lamina afiada quase perfurando sua pele delicada. Judith tentou
afastar seu braço, mas não teve sucesso.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 300
Capítulo Dezenove — Diga uma palavra e cortarei a cabeça de uma serpente. —
disse a voz profunda, que ela nunca ouvira antes. — Onde está John
Bassett?
Judith mal podia falar, mas este era um homem a ser
desobedecido.
— Me responda! — Ele disse enquanto seu braço se apertava e a
adaga se pressionava mais forte contra sua garganta.
— Com minha mãe, — ela sussurrou.
— Mãe! — Ele zombou em seu ouvido. — Que essa mulher
amaldiçoe o dia que ela deu à luz a um ser como você!
Judith não podia vê-lo, e mal podia respirar com seu braço
apertando suas costelas e cortando o ar dos pulmões.
— Quem é você? — Ela perguntou ofegante.
— Sim, você pode perguntar. Eu sou seu inimigo, e gostaria de
acabar com sua vil existência aqui se não precisasse de você. Onde
eles estão guardando John?
— Não consigo respirar.
Ele hesitou, então soltou seu aperto, a adaga afastando-se de sua
garganta.
— Me responda!
— Há dois homens fora da porta do quarto que ele compartilha
com minha mãe.
— Que andar? Anda, me responda. — Ele ordenou enquanto
apertava-a mais uma vez. — Não pense que alguém virá para salvá-la.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 301
De repente, foi demais para Judith e ela começou a rir.
Suavemente no início, mas ficando cada vez mais histérica com cada
palavra.
— Salvar-me? Minha mãe é mantida prisioneira Meu único
guarda também é mantido prisioneiro. Meu marido é mantido no
fundo de um esgoto. Um homem que eu detesto pensa que tem o
direito de me por as mãos diante de meu marido, enquanto o outro me
sussurra ameaças. Agora sou atacada por um estranho no escuro do
salão! — Suas mãos em seu antebraço puxaram a adaga para perto de
sua garganta. — Faça-o, senhor, quem quer que você seja. Termine o
que começou, acabe com minha vida, eu imploro. Para que me serve?
Devo ficar de pé e testemunhar o assassinato de todos os meus amigos
e parentes abatidos diante de mim? Não desejo viver para ver esse fim.
O braço do homem relaxou sua pressão. Então ele afastou a mão
que empunhava a adaga. Embainhou a lâmina, segurou seus ombros
e virou-a. Judith não se surpreendeu ao reconhecer o menestrel do
grande salão.
— Quero saber mais. — disse ele, com uma voz menos áspera.
— Por quê? — Perguntou enquanto olhava para seus olhos azuis
mortíferos. — Você é um espião enviado por Walter ou Arthur? Já lhe
disse muito.
— Sim, é verdade. - ele concordou sem rodeios. — Se eu fosse um
espião, teria muito que contar ao meu amo.
— Vá. Diga-lhes então!
— Não sou um espião, sou Stephen, o irmão de Gavin.
Judith olhou fixamente, os olhos arregalados. Ela sabia que era
verdade. Por isso se sentira atraída por ele. Havia algo nas atitudes de
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 302
Stephen, e não em sua aparência, que a lembrava de Gavin. Ela não
estava ciente de que lágrimas corriam por suas bochechas.
— Gavin disse que você viria. Ele disse que eu tinha feito uma
confusão, mas que você iria arrumar tudo de novo.
Stephen piscou para ela.
— Quando o viu que ele disse isso?
— Na segunda noite que cheguei aqui. Fui até ele no poço.
— No...? — Stephen ouviu falar do lugar onde seu irmão era
mantido prisioneiro, mas ele não conseguiu se aproximar de Gavin.
— Venha, sente aqui. — Ele disse, levando Judith para um banco
na janela. — Temos muito que discutir, conte-me tudo desde o início.
Stephen ouviu atentamente e em silencio enquanto ela contava
que tinham assassinando seu pai e reivindicando suas terras, de como
Gavin foi para combater Walter.
— E Gavin e sua mãe foram feitos prisioneiros?
— Sim.
— O que você está fazendo aqui se Demari não pediu um resgate?
Deveria estar dando ordens aos servos.
— Eu não esperei até que ele pedisse. Eu vim com John Bassett,
e fomos recebidos no castelo.
— Sim, imaginei isso. — Stephen disse sarcasticamente. — Agora
Walter Demari tem todos: você, Gavin, sua mãe e o segundo em
comando do meu irmão.
— Eu não sabia mais o que fazer.
— Você poderia ter procurado qualquer um de nós! — Stephen
disse furioso. — Até Raine, com a perna quebrada, teria feito melhor
do que você, uma mulher. John Bassett deveria ter sabido...
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 303
Judith colocou a mão no braço de Stephen.
— Não o culpe. Eu ameacei vir sozinha se ele não me guiasse.
Stephen olhou para a mão pequena e depois para os olhos.
— E o que eu vi lá baixo? Os servos do castelo dizem que odeia
Gavin e faria qualquer coisa para se livrar dele. Talvez você queira que
seu casamento termine.
Judith afastou rapidamente a mão dela. Ele estava começando a
lembrá-la muito do comportamento de Gavin. Seu temperamento era
feroz.
— O que eu sinto por Gavin é entre ele e eu, e não para os outros
saberem.
Os olhos de Stephen brilharam em fúria. Ele agarrou seu pulso
até que ela apertou os dentes de dor.
— Então é verdade que você se importa com esse Walter Demari?
— Não, eu não o quero!
Ele apertou mais forte.
— Não minta para mim!
A violência dos homens sempre deixava Judith furiosa.
— Você é como Gavin! - Ela retrucou. — Vê apenas o que deseja
ver. Não, eu não sou tão desonesta como o seu irmão. É ele quem se
arrasta aos pés de uma mulher má. Mas eu não vou me rebaixar
assim.
Stephen olhou intrigado e afrouxou sua pressão.
— Que mulher má? Que conversa é esta de desonestidade?
Judith afastou o pulso e esfregou-o.
— Vim salvar meu marido porque ele me foi dado diante de Deus
e porque agora carrego seu filho. Tenho a obrigação de tentar ajudá-lo,
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 304
mas não o faço por amor a ele. — Ela disse apaixonadamente. — Ele
dá o seu amor a essa loira! — E se interrompeu para olhar para o
pulso.
A gargalhada de Stephen fez com que ela levantasse os olhos.
— Alice. — Ele sorriu. — Não é uma guerra séria pelas
propriedades, mas uma briga de amante, um problema de mulheres.
— Mulheres?
— Silêncio, seremos ouvidos.
— É mais do que problema de mulheres, eu lhe asseguro! — Ela
sibilou.
Stephen ficou serio.
— Você pode lidar com Alice mais tarde, mas tenho que ter
certeza que não irá ao rei e pedirá uma anulação. Não podemos perder
as propriedades Revedoune.
Então era por isso que ele se importava se ela queria ou não
Walter. Não importava se Gavin a traísse com outra mulher. Que o céu
a ajudasse se ela alguma vez pensasse em se apaixonar por outro
homem.
— Eu não posso ter o casamento anulado enquanto carrego seu
filho.
— Quem mais sabe sobre essa criança? Certamente não Demari?
— Só minha mãe e John Bassett... e minha serva.
— Gavin não?
— Não. Não houve tempo de dizer a ele.
— Bom. Ele vai ter o suficiente em que pensar. Quem conhece
melhor este castelo?
— O mordomo está aqui há doze anos.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 305
— Você sempre tem a resposta certa. — Stephen observou
suspeito.
— Por mais que você e seu irmão pensem de outra forma, eu
tenho um cérebro para pensar e olhos para observar.
Ele a estudou sob a luz fraca.
— Foi corajosa em vir aqui, embora estivesse agindo errado.
— Devo tomar isso como um elogio?
— Como quiser.
Judith estreitou os olhos.
— Sua mãe deve ter ficado contente por seus filhos mais novos
não serem como seus dois primeiros.
Stephen olhou para ela, então começou a sorrir.
— Deve levar meu irmão a uma vida bem alegre. Agora pare de
me provocar e deixe-me ver uma maneira de solucionar o desastre que
você fez.
— Eu! — Ela exclamou, mas se interrompeu. Ele estava certo, é
claro.
Stephen ignorou sua explosão.
— Você conseguiu tirar Gavin do poço e que fosse limpo e
alimentado, embora seus métodos fossem desagradáveis ao meu
estomago.
— Deveria ter corrido e abraçado ele? — Ela perguntou
sarcasticamente.
— Não, você fez certo. Não acredito que ele esteja bem o
suficiente para viajar ainda, e seria um obstáculo para nós como está.
Mas ele é forte. Em dois dias, com cuidado, vai se recuperar o
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 306
suficiente para iniciar viagem. Tenho que sair do castelo para procurar
ajuda.
— Meus homens estão lá fora.
— Sim, eu sei. Mas os meus homens não estão aqui, cheguei
quase sozinho quando ouvi que Gavin precisava de mim. Os meus
homens me seguem, mas demorará pelo menos mais dois dias para
chegarem. Tenho que encontra-los e trazê-los até aqui.
Ela tocou seu braço novamente.
— Estarei sozinha de novo.
Ele sorriu, acariciando com um dedo seu queixo.
— Sim, você vai! Mas vai conseguir... Veja que Gavin seja cuidado
e recupere suas forças... Quando eu voltar, vou tirar todos daqui.
Ela assentiu, depois olhou para as mãos. Stephen ergueu-lhe o
queixo e olhou-a nos olhos.
— Não fique zangada comigo. Pensei que você queria que Gavin
morresse, agora vejo que não é assim.
Ela sorriu hesitante.
— Não estou zangada. Só estou farta deste lugar, daquele homem
me tocando, do outro...
Ele colocou o dedo nos lábios dela.
— Mantenha-o longe de você um pouco mais, você pode fazer
isso?
— Vou tentar, estava começando a perder a esperança.
Ele se curvou e beijou sua testa.
— Gavin tem sorte, — sussurrou ele. Então se levantou e a
deixou.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 307
Capítulo Vinte
— Você já o viu? — Judith perguntou enquanto se levantava de
sua cama. Era a manhã depois de ter visto Stephen, e agora
perguntava a Joan o que descobrira sobre Gavin.
— Sim. — respondeu Joan. — E mais uma vez está bonito. Temia
que a sujeira daquele lugar tivesse tirado sua boa aparência.
— Você pensa demais em aparências.
— E talvez você pense muito pouco! — Joan retrucou.
— Mas Gavin está bem? Ele não ficou doente naquele lugar sujo?
—Tenho certeza de que o alimento que você enviou o manteve
vivo.
Judith fez uma pausa. E a sua mente? Como ele reagiu ao fato de
que sua esposa jogou vinho em seu rosto?
— Tragam-me a roupa de serva que eu usei. Ela foi lavada?
— Não pode ir até ele. — Joan disse categoricamente. — Se for
pega...
— Traga-me o vestido e não me dê mais ordens.
Gavin estava sendo mantido dentro de um quarto aberto na base
da torre. Era um lugar triste aonde nenhuma luz chegava. A sua única
entrada era uma porta de carvalho e ferro.
Joan parecia estar bem familiarizada com os guardas que
estavam de cada lado da porta. A disciplina era frouxa na propriedade
de Demari, e Joan usou isto em seu benefício. Ela piscou
sugestivamente para um dos homens.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 308
— Abra! — Joan gritou diante da porta. — Trazemos alimentos e
remédios enviados pelo Lorde Walter.
Cautelosamente, uma mulher velha e suja abriu a enorme porta.
— Como eu sei que Lorde Walter envia-lhe?
— Porque eu lhe digo. — Joan disse, empurrando-a para entrar.
Judith manteve a cabeça abaixada, o capuz de lã áspera cobrindo com
cuidado seu cabelo.
— Pode vê-lo. — A mulher disse com raiva. — Ele dorme e não fez
mais nada desde que veio para aqui. Está sob meus cuidados e faço
um bom trabalho.
— Certamente! — Disse Joan sarcasticamente. — A cama parece
imunda!
— Mais limpo do que onde ele estava.
Judith deu uma pequena cotovelada na serva para impedir que
ela continuasse a provocar a velha.
— Deixe-nos então e vamos cuidar dele. — disse Joan.
A mulher, com os cabelos grisalhos e gordurosos, a boca cheia de
dentes apodrecidos, parecia ser estúpida, mas não era. Ela viu a
mulher pequena escondida cutucar a outra. Esteve ciente de que o
desagradável temperamento da moça se acalmou instantaneamente.
— Bem, o que você está esperando? — Perguntou Joan.
A velha queria ver o rosto debaixo do capuz.
— Preciso de alguns remédios. — disse ela. — Há outros que
estão doentes e precisam de mim, mesmo que este não precise. —
Quando tinha um frasco na mão, passou pela mulher que a intrigava.
Quando estava perto da vela, deixou cair o frasco. A mulher,
assustada, levantou os olhos, dando a velha um breve vislumbre deles.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 309
A luz das velas dançava nas lindas esferas douradas. A velha fez o
possível para não sorrir abertamente. Ela viu aqueles olhos em apenas
uma pessoa.
— Você é desajeitada e estúpida. — Sibilou Joan. — Saia antes
que eu ponha esses trapos que usa nas chama.
A mulher deu a Joan um olhar malévolo antes de sair
ruidosamente do quarto.
— Joan! — Judith disse logo que estavam sozinhos. — Sou eu
quem te jogará nas chamas se tratar alguém assim de novo.
Joan ficou chocada.
— O que importa ela a alguém?
— Ela é uma das filhas de Deus, assim como eu e você. — Judith
continuaria, mas sabia que era inútil. Joan era uma esnobe incurável.
Ela menosprezava qualquer pessoa que não fosse melhor do que ela.
Judith se aproximou do marido, preferindo usar seu tempo cuidando
dele, em vez de dar um sermão à sua criada.
— Gavin. — Ela disse calmamente enquanto se sentava na beira
da cama. A luz das velas brilhava sobre ele, brincando com as
sombras das maçãs do seu rosto e a linha da mandíbula. Ela tocou
sua bochecha. Era bom vê-lo limpo de novo.
Ele abriu os olhos, o cinza profundo deles tornou-se ainda mais
escuro à luz das velas.
— Judith. — Ele sussurrou.
— Sim, sou eu. — Ela sorriu enquanto empurrava o capuz do
manto para trás e revelava seus cabelos. — Agora que está limpo é
melhor de olhar.
A expressão de Gavin estava fria e dura.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 310
— Não tenho que lhe agradecer por isso, ou talvez ache que me
limpou o vinho que me jogou no rosto.
— Gavin, me acusa erroneamente, se tivesse corrido até você com
qualquer saudação, Walter teria acabado com sua vida.
—Isso não lhe serviria bem?
Ela recuou.
— Não vou brigar com você, podemos prosseguir o assunto
quando estivermos livres. Eu vi Stephen.
— Aqui? — Gavin disse enquanto começava a sentar-se, as
mantas caindo de seu peito nu.
Tinha passado muito tempo desde a noite em que Judith fora
abraçada contra aquele peito. A pele bronzeada pelo sol mantinha sua
atenção completamente.
— Judith! — Exclamou Gavin. — Stephen está aqui?
— Ele esteve aqui. — Voltou seus olhos para os dele. — Voltou
para encontrar seus homens.
— E quanto aos meus homens, o que estão fazendo, vadiam fora
das muralhas?
— Não sei, não perguntei.
— Não, você não faria. — Disse ele irritado. — Quando ele volta?
— Esperamos que amanhã.
— Menos de um dia. Por que você está aqui? Tem apenas um dia
para esperar, se for encontrada aqui, poderia causar grandes
problemas.
Judith apertou os dentes.
— Poderia fazer outra coisa a não ser discutir. Eu vim para este
inferno porque você foi feito prisioneiro. Arrisquei muito para ver se
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 311
estava sendo cuidado, mas você me amaldiçoa a cada oportunidade
Diga-me, milorde, o que lhe agradaria?
Ele olhou para ela.
— Tem muita liberdade neste castelo, certo? Parece ir onde
quiser sem nenhum impedimento. Como sei que Demari não está
esperando lá fora por você? — Gavin agarrou seu pulso. — Você está
mentindo pra mim?
Ela foi liberada com uma torção.
— Eu estou espantada com sua vileza. Que razão tem para me
chamar de mentirosa? Você é o único que mentiu desde o início. Pode
acreditar em tudo o que você quiser. Eu não deveria ter tentado
ajudar. Talvez devesse não havê-lo feito e teria agora um pouco de paz,
ou ainda mais, deveria ter aceitado Walter Demari quando ele me
ofereceu casamento pela primeira vez, o que certamente teria sido
preferível a uma vida com você.
— Isso é o que eu pensava. — Gavin observado, cruel.
— Sim, é como você pensou! — Judith respondeu da mesma
forma. A raiva por suas insinuações e acusações a tornava tão cega
quanto ele.
— Minha dama! — Joan interrompeu a discussão. — Precisamos
ir, já passamos muito tempo aqui.
— Sim — concordou Judith. — Eu preciso ir.
— Quem espera para acompanhar minha esposa de volta ao
quarto dela?
Judith apenas olhou para ele, muito zangada para falar.
— Lady Judith! - disse Joan com urgência. Judith se afastou de
seu marido.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 312
Quando estavam ao lado da porta, Joan sussurrou para a ama.
— Não adianta tentar falar com um homem quando ele está
corroído de ciúmes.
— Com ciúmes! — Judith disse. — Para ser ciumento é
necessário que o outro nos interesse. Obviamente, ele não se importa
comigo. — Ela endireitou o capuz para dissimular seu cabelo.
Joan começou a responder enquanto abriam a porta e deixavam
a cela. Ela parou abruptamente, seu corpo rígido. Judith, atrás dela,
seguiu seu olhar para ver o que causava a preocupação da serva.
Arthur estava ali, com as mãos nos quadris, a perna aberta, o
rosto sisudo. Judith abaixou a cabeça e se virou, esperando que ele
não a tivesse visto.
Arthur caminhou em sua direção, seu braço estendido.
— Lady Judith quero falar com você.
Para Judith, os três degraus que levavam para o quarto de
Arthur eram os mais longos que já tinha feito. Seus joelhos tremiam
de medo e, o que era pior, o mal estar que sentia pela manhã estava
aumentando em sua garganta. Sua impetuosidade provavelmente
arruinou os planos de Stephen e... e... Ela não podia deixar de pensar
no resultado se Stephen não chegasse a eles a tempo.
— Você é uma idiota. — comentou Arthur quando estavam
sozinhos em seu quarto.
— Já fui chamada assim antes. — disse Judith, com o coração
batendo forte.
— À luz do dia, você foi para ele! Não foi capaz de esperar até a
noite.
Judith manteve a cabeça baixa, concentrada em suas mãos.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 313
— Diga-me, que planos tinha? — Arthur parou de repente. — Sou
um idiota ao pensar que isso poderia ter funcionado. Sou mais
estúpido do que o homem a quem sirvo. Diga-me como planejava se
livrar dessa rede de mentiras?
Seu queixo levantou-se.
— Não lhe direi nada.
Arthur estreitou os olhos.
— Ele vai sofrer as consequências e você se esquece de sua mãe?
Estava certo em não confiar em você. Sabia muito bem, mas eu
também estava meio cego por você. Agora estou tão profundamente
envolvido quanto você. Sabe quem Lorde Walter vai culpar quando
seus planos forem destruídos? Quando souber que não deverá ter a
mão da bela Revedoune? Não será você, milady, mas a mim. Será
como uma criança que perdeu o poder.
— Quer que sinta compaixão por você? Foi você que destruiu
minha vida de tal modo que minha família e eu estamos à beira da
morte.
— Nós entendemos um ao outro, então, a nenhum importa nada
do outro. Queria suas terras e Walter seu corpo. — Ele parou e olhou
fixamente para ela. — Embora seu corpo tenha me intrigado muito nos
últimos dias.
— E como espera se livrar dessa desordem que você criou? —
Judith perguntou, mudando de assunto e virando o jogo contra ele.
— Bem, você pode perguntar. Há apenas um caminho aberto
para mim. Preciso ter essa anulação ao fim. Você não vai comparecer
perante o rei, mas vai assinar um papel dizendo que deseja uma
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 314
anulação. Será elaborado de modo que não possa recusar o seu
pedido.
Judith levantou-se da cadeira, outro ataque mais forte de náusea
invadiu-a. Correu para o canto do quarto, para o urinol de cerâmica e
aliviou seu estômago de seu magro conteúdo. Quando se recuperou,
voltou-se para Arthur.
— Perdoe-me, o peixe da noite passada devia estar estragado.
Arthur serviu uma taça de vinho aguado. Ela o tomou com mãos
trêmulas.
— Você carrega seu filho. — Ele declarou afirmativamente.
— Não, eu não! — Judith mentiu.
O rosto de Arthur endureceu.
— Devo chamar uma parteira para examiná-la?
Judith olhou para a taça e sacudiu a cabeça.
— Não pode pedir uma anulação. — Ele continuou. — Eu não
tinha pensado em uma criança concebida tão cedo. Parece que nos
afundamos mais e mais na pilha de dejetos.
— Vai contar para o Walter?
Arthur bufou.
— Esse idiota pensa que é pura e virginal. Fala de amor e
compartilhar sua vida com você. Não sabe que é duas vezes mais
inteligente do que ele.
— Você fala demais. — Judith disse, seu estômago mais uma vez
se estabelecendo. — O que você quer?
Artur olhou para ela com admiração.
— É uma mulher de inteligência e beleza, eu gostaria de ser seu
dono. — Ele sorriu, depois ficou sério. — Walter vai descobrir a
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 315
respeito de sua traição e da criança. É só uma questão de tempo...
Você daria um quarto das terras de Revedoune se eu levá-la para fora
daqui?
Judith pensou rapidamente. As propriedades significavam pouco
para ela. Artur era mais seguro do que esperar por Stephen? Se ela
recusasse Arthur poderia dizer a Walter e todos perderiam suas vidas
depois que Walter se cansasse dela.
— Sim, você tem a minha palavra. Somos cinco, e se você nos
tirar a todos em segurança, um quarto das terras será seu.
— Eu não posso garantir que todos saiam.
— Todos nós ou não haverá barganha.
— Sim. — disse ele. — Eu sei que você está falando sério. Preciso
de tempo para arrumar as coisas e você deve se apresentar para o
jantar. Lorde Walter ficará bravo se você não estiver ao seu lado para
as brincadeiras.
Judith se recusou a aceitar o braço enquanto saíam do quarto.
Ele entendeu que o desprezava. Menos ainda por se voltar contra seu
senhor, e isso o fez rir. A ideia de lealdade para com alguém além de si
próprio o divertia.
Quando a porta do quarto de Arthur se fechou atrás deles, a
câmara parecia estar vazia. Por vários minutos ficou envolta em
silêncio. Em seguida, o fraco ruído de deslizamento podia ser ouvido
debaixo da cama. A velha saiu de seu esconderijo com grande cautela.
Ela sorriu quando olhou novamente para a moeda apertada
firmemente em sua mão.
— Prata! — Ela sussurrou. O que o amo daria para saber o que
acabara de ouvir? Ouro! Ela não entendera tudo, mas tinha ouvido Sir
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 316
Arthur chamar Lorde Walter de estúpido. Sabia que ele queria trair
seu senhor por alguma terra que a mulher de Montgomery possuía.
Havia também algo sobre um bebê que a lady estava esperando. Isso
parecia muito importante.
Judith sentava-se em silêncio perto de uma grande janela no
salão. Vestia uma saia cinza clara e um vestido de lã flamenga de rosa
escura. As mangas eram revestidas com pele de esquilo cinzento. O sol
estava se pondo, tornando o salão mais escuro a cada momento.
Estava começando a perder parte do medo que a invadira naquela
manhã depois de conversar com Arthur. Ela olhou para o sol com
gratidão. Só mais um dia, e Stephen voltaria e tudo estaria bem.
Não viu Walter desde o jantar. Convidara-a para ir cavalgar com
ele, mas não apareceu para levá-la. Judith presumiu que alguns
negócios do castelo o mantinham afastado.
Começou a se preocupar quando o sol se pôs e as mesas foram
colocadas para o jantar. Nem Arthur nem Walter apareceram. Enviou
Joan para descobrir o que podia, mas isso não foi suficiente.
— A porta do Lorde Walter está selada e guardada. Os homens
não responderam as perguntas, embora eu tentasse todas as
persuasões.
Algo estava errado! Judith entendeu isso quando ela e Joan se
retiraram para seu quarto naquela noite e ouviram que corriam o
ferrolho da porta pelo lado de fora. Nenhuma das duas dormiu muito.
Pela manhã, Judith usava um terno de lã marrom escuro. Não
usava ornamentos nem joias. Esperou em silêncio. O ferrolho foi solto
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 317
e um homem, vestido com cota de malha como se fosse a uma batalha,
entrou em seu quarto.
— Siga-me. — disse ele.
Quando Joan tentou seguir com sua ama, foi empurrada para
trás e a porta fechada com ferrolho por fora. O guarda levou Judith à
câmara de Walter.
A primeira visão que teve quando a porta foi aberta foi o que
restava de Arthur acorrentado à parede. Ela virou o rosto para longe,
seu estômago revirando.
— Não é um belo espetáculo minha dama?
Ela olhou para Walter descansando em uma cadeira almofadada.
Seus olhos injetados de sangue e sua atitude mostrou que ele estava
muito bêbado. Suas palavras estavam ligeiramente arrastadas.
— Claro que você não é uma verdadeira dama, como eu descobri.
— Ele se levantou, parou um momento enquanto tentava se equilibrar,
depois foi até uma mesa e serviu mais vinho. — As damas são
verdadeiras e boas, mas você, doce beleza, é uma prostituta. — Ele
caminhou em sua direção e Judith permaneceu imóvel. Não havia
para onde correr. Agarrou seu cabelo, puxando a cabeça para trás.
— Eu sei de tudo agora. — Ele virou a cabeça de Judith para que
ela olhasse para a figura sangrando. — Olhe bem para ele. Disse-me
muito antes de morrer. Sei que acha que sou estúpido, mas não sou
tão estúpido que não consiga controlar uma mulher. — Ele a virou
para olhar para ele. — Você fez tudo isso por seu marido, não foi? Veio
aqui para encontrá-lo. Diga-me: quanto teria feito para salvá-lo?
— Eu teria feito qualquer coisa. — Ela disse calmamente.
Walter olhou para ela e sorriu, empurrando-a para longe dele.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 318
— Você o ama tanto assim?
— Não é uma questão de amor. Ele é meu marido.
— Eu lhe ofereci mais amor do que ele poderia te oferecer — disse
Walter, com lágrimas nos olhos. — Toda a Inglaterra sabe que Gavin
Montgomery morre por Alice Chatworth.
Judith não tinha resposta para dar.
Os lábios finos de Walter se transformaram em um grunhido.
— Não vou tentar mais fazê-la raciocinar. Tem tido amplas
oportunidades. —Aproximou-se da porta e abriu-a. — Tirem essa coisa
e joguem-no aos porcos, e quando tiverem terminado com ele, tragam
Lorde Gavin e acorrentem-no da mesma maneira.
— Não! — Judith gritou quando correu para Walter e colocou
ambas as mãos em seu antebraço. — Por favor, não o prejudique mais,
eu farei o que você quer.
Ele bateu a porta.
— Sim, fará como eu digo. E fará diante desse marido pelo qual
você se prostitui.
— Não! — Judith sussurrou.
Walter sorriu ao vê-la empalidecer. Virou-se e abriu a porta
novamente e viu como os guardas arrastaram o corpo de Arthur.
— Venha aqui! — Walter ordenou quando eles estavam
novamente sozinhos. — Venha e me beije como você faz com esse seu
marido.
Ela balançou a cabeça aturdida.
— Vai nos matar de qualquer maneira, por que devo obedecer a
você? Talvez nossa tortura tenha um fim mais rápido se eu
desobedecê-lo.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 319
— Você é realmente astuta. — Walter sorriu. — Eu quero que
seja o oposto, pois para cada coisa que me negar, cortarei um pouco
da carne de Lorde Gavin.
Ela olhou para ele com horror.
— Sim, você me entendeu.
Judith mal conseguia pensar. — Stephen não demore mais do que
disse — ela implorou silenciosamente. Talvez pudesse prolongar o
sofrimento de Gavin até que Stephen e seus homens começassem seu
ataque. A porta se abriu de novo. Quatro guardas corpulentos
entraram, Gavin acorrentado entre eles. Desta vez, Walter não se
arriscava.
Gavin olhou de Walter para sua esposa.
— Ela é minha. — Gavin disse em voz baixa e deu um passo à
frente. Um dos guardas bateu com o punho da espada na cabeça de
Gavin que caiu para frente, inconsciente.
— Acorrentem-no! — Ordenou Walter.
As lágrimas vieram rapidamente aos olhos de Judith. Lágrimas
da bravura de Gavin. Mesmo estando acorrentado, ainda tentou lutar.
O corpo de Gavin estava machucado e maltratado, fraco por estar
quase morrendo de fome, mas ainda lutava. Poderia ela fazer menos?
Sua única chance era ganhar tempo até que Stephen chegasse. Ela
faria o que Walter pedisse.
Walter viu a resignação em seus olhos.
— Uma decisão sábia. — Walter riu quando os braços de Gavin
foram abertos por anéis de ferro em torno de seus pulsos. Ele
dispensou os guardas. Soltou uma gargalhada e jogou um copo de
vinho no rosto de Gavin. — Acorde, meu amigo, não deve dormir
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 320
enquanto tudo que quero acontece. Ocupou meu porão por muito
tempo, e sei que de lá não podia desfrutar de sua esposa. Olhe para
ela, não é linda? Estava pronto para lutar uma batalha por ela. Agora
acho que não será preciso. — Ele estendeu a mão. — Venha aqui,
minha dama, venha para o seu senhor.
Gavin deferiu um chute contra Walter que mal teve tempo de
recuar.
Um pequeno chicote pendia sobre uma mesa. O couro ainda
estava manchado com o sangue do corpo de Arthur. Walter deu uma
chicotada, cortando Gavin no rosto. Um longo corte apareceu
imediatamente, mas Gavin não pareceu notar. Ele ergueu o pé
novamente, mas Walter estava longe do alcance.
Enquanto Walter levantava o chicote uma segunda vez, Judith
correu ficando na frente de seu marido, jogando os braços para
protegê-lo.
— Afaste-se! — Gavin rosnou para ela. — Lutarei minhas
próprias batalhas.
Judith só podia responder ao absurdo de suas palavras. Seus
dois braços estavam acorrentados a uma parede que já estava coberta
com o sangue de outro homem, mas ele pensava que poderia lutar
contra um louco. Ela afastou-se.
— O que você quer? — Judith perguntou a Walter numa voz
fraca. Ela podia sentir os olhos de Gavin furiosos em suas costas.
— Venha aqui. — Ele disse lentamente, com cuidado para não
chegar ao alcance dos pés de Gavin.
Judith hesitou, mas sabia que devia obedecer. Ela pegou a mão
dele, embora sua carne úmida fizesse sua pele arrepiar-se.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 321
— Que mão tão linda. — disse Walter, enquanto a segurava
diante dos olhos de Gavin. — Vamos, não tem nada a dizer?
Gavin virou os olhos para Judith, e um calafrio percorreu sua
espinha.
— Minha querida, creio que desejamos ver mais do seu corpo
requintado. — Walter voltou-se para Gavin. — Tenho visto e apreciado
com frequência. Ela foi feita para um homem, ou devo dizer muitos
homens? — Walter olhou para Judith, com os olhos bem duros. — Eu
ordenei-lhe que deveria nos deixar ver o que está por baixo dessas
roupas. Interessa-se tão pouco por seu marido que lhe negaria um
último olhar?
Com as mãos trêmulas, Judith trabalhava nos laços do vestido
da lã marrom. Queria levar o máximo de tempo possível.
— Ah, você é muito lenta! — Walter soltou uma gargalhada
quando jogou a taça de lado e puxou a espada. Cortou a túnica e o
corpete do vestido e enfiou os dedos no decote da camisola. Suas
unhas rasgaram a pele macia de seu pescoço. Sua roupa interior foi
arrancada dela de uma maneira semelhante.
Ela se curvou como para se cobrir, mas a ponta da espada de
Walter sobre seu ventre a fez ficar em linha reta.
Seus ombros cremosos deram lugar a seus seios fartos que,
apesar da angustia, se erguiam orgulhosos. Sua cintura ainda era
pequena, ainda não distendida pela criança. Suas pernas eram longas
e magras.
Walter olhou-a admirado. Ela era mais do que ele imaginava que
fosse.
— Linda o suficiente para matar. — sussurrou Walter.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 322
— Como vou matá-lo por isso! — Gavin gritou. Esforçou-se
violentamente para libertar-se das correntes.
— Você! — Walter riu. — O que pode fazer? — Ele agarrou
Judith, seu braço em torno de sua cintura. A virou para que ela
encarasse o marido, acariciando seu seio. — Acha que arrancará as
correntes da parede? Olhe bem para ela, pois será a última coisa que
você verá.
Sua mão deslizou para a barriga de Judith.
— E olhe para aqui. Agora está plano, mas logo crescerá com
meu filho.
— Não! — Judith gritou.
Ele apertou sua cintura até que ela não podia respirar.
— Eu plantei minha semente e ela cresce. Pense nisso enquanto
você apodrece no inferno!
— Eu não pensaria em nenhuma mulher que você tenha tocado.
— Gavin disse, sem tirar os olhos de sua esposa. — Preferia copular
com um animal.
Walter afastou Judith.
— Você vai se arrepender dessas palavras.
— Não, não! — Judith disse enquanto Walter avançava para
Gavin com espada empunhada.
Walter estava muito bêbado e a lâmina passou o distante das
costelas de Gavin, especialmente quando ele a esquivou.
— Você vai ficar quieto! — Walter gritou e apontou novamente,
desta vez para a cabeça do seu prisioneiro. A arma, tão imprecisa na
manipulação, não atingiu o alvo visado e sim pegou de lado. A larga
lâmina atingiu a orelha de Gavin e sua cabeça caiu para frente.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 323
— Adormeceu? — Walter gritou quando jogou a espada para o
lado e foi para a garganta de Gavin com suas mãos nuas.
Judith não perdeu tempo. Correu para a espada. Antes que
pudesse pensar no que estava fazendo, segurou o punho com as duas
mãos e enterrou com toda a força entre as omoplatas de Walter. Ele
ficou equilibrado e suspenso por um momento. Então, muito devagar,
virou-se e olhou para Judith antes de cair. Ela engoliu em seco
enquanto começava a perceber que tinha matado um homem.
Sem aviso prévio, um enorme estrondo balançou a torre até seus
próprios alicerces. Não tinha tempo a perder. A chave dos anéis de
ferro dos pulsos de Gavin estava pendurada na parede. Assim que
destrancou os anéis, Gavin se mexeu.
Gavin recuperou o equilíbrio antes de começar a cair. Abriu os
olhos para ver sua esposa de pé perto dele, seu corpo nu salpicado de
sangue. Walter estava ao seus pés com uma espada sobressaindo-se
de suas costas.
— Cubra-se! — Ele ordenou furioso.
Judith esqueceu que estava despida durante o tumulto. Suas
vestes jaziam amontoadas, cortadas, inúteis. Gavin abriu um baú ao
pé da cama. Estava cheio de roupas de Walter. Ela hesitou. Não queria
tocar em nada daquele homem.
— Tome isso! — Gavin disse, jogando uma túnica de lã. — É
apropriado que use seu traje. — Ele foi até a janela, não lhe dando
tempo para responder.
Na verdade, ela não podia. A enormidade de ter matado um
homem pesava sobre ela.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 324
— Stephen está aqui. — anunciou Gavin. — Ele fez um túnel
debaixo da parede e as pedras desmoronaram. — Foi até Walter, pôs o
pé sobre as costas do morto e retirou a espada. — Você cortou sua
coluna. — observou Gavin calmamente. — Tomarei nota para não lhe
virar as costas. Você é hábil.
— Gavin! — Uma voz familiar chamou de fora da porta.
— Raine! — Judith sussurrou as lágrimas começando a se formar
em seus olhos. Gavin abriu o ferrolho.
— Você está bem? — Raine perguntou enquanto abraçava os
ombros de seu irmão.
— Sim, tanto quanto se pode esperar. Onde está Stephen?
— Abaixo, com os outros. O castelo foi facilmente tomado assim
que a muralha caiu. A serva e sua sogra esperam com John Bassett,
mas não conseguimos encontrar Judith.
— Ela está aqui. — disse Gavin friamente. — Cuide-a enquanto
encontro Stephen. — Ele passou por Raine e saiu do quarto.
Raine entrou. No primeiro momento não viu Judith, que estava
sentada em um baú ao pé da cama vestida com a túnica de um
homem. Suas pernas nuas apareciam abaixo da bainha. Ela olhou-o
com os olhos cheios de lágrimas, como uma criança abandonada,
preenchendo seu coração de compaixão, Raine atravessou a sala em
direção a ela, sua perna ainda fortemente enfaixada.
— Judith. — Ele sussurrou e estendeu os braços para ela.
Judith não hesitou em procurar conforto de sua força. Soluços
saiam dela.
— Eu o matei. — chorou.
— Quem?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 325
— Walter.
Raine estreitou-a mais apertada, os pés longe do chão.
— Ele não merecia morrer?
Judith enterrou o rosto em seu ombro.
— Eu não tinha direito, Deus...
— Silêncio! — Raine ordenou. — Fez o que devia ser feito. Diga-
me de quem é o sangue que mancha a parede?
— O de Arthur, ele era o vassalo de Walter.
— Venha, não chore tanto. Tudo ficará bem. Vamos lá embaixo, e
sua criada a ajudará a se vestir. — Ele não queria saber por que suas
roupas estavam caídas no chão.
— Minha mãe está bem?
— Sim, mais do que bem. Ela olha para John Bassett como se ele
fosse o Messias.
Ela se afastou dele.
— Você blasfema!
— Não eu, mas sua mãe. O que vai dizer quando ela acender
velas a seus pés?
Ela ia repreender Raine. Então sorriu, as lágrimas secando em
suas bochechas. Ela o abraçou com força.
— É tão bom vê-lo novamente.
— Como sempre, você dá mais ao meu irmão do que a mim. —
Veio uma voz solene da porta.
Ela olhou para porta e viu Miles, seus olhos cravados em suas
pernas nuas. Ela tinha passado por muitas coisas para corar. Raine
deixou-a no chão e ela correu para abraçar Miles.
— Tem sido dias ruins? — Ele perguntou enquanto a abraçava.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 326
— Mais do que ruins.
— Bem, tenho novidades para te alegrar. — relatou Raine. — O
rei convoca-a ao Tribunal da Corte. Parece que ele ouviu tantos
comentários sobre você e do seu casamento que deseja ver nossa
irmãzinha de olhos dourados.
— Ao tribunal? — Perguntou Judith.
— Deixe-a no chão! — Raine ordenou a Miles, fingindo irritação.
— É muito tempo para ser um abraço de afeto fraternal.
— É apenas uma nova moda que se usa. Espero que isso se
imponha. — Miles disse enquanto a colocava no chão.
Judith olhou para eles e sorriu. Então suas lágrimas começaram
de novo.
— É bom ver vocês dois, eu vou me vestir. — Ela disse enquanto
se virava.
Raine tirou o manto de seus ombros e envolveu-o nela.
— Vamos. Iremos esperar lá embaixo. Partiremos hoje, não quero
voltar a ver este lugar.
— Eu também não. — Sussurrou Judith, sem olhar para trás,
mas com uma imagem vívida do quarto em sua mente.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 327
Capítulo Vinte e Um — Você sabe da criança? — Stephen perguntou a Gavin enquanto
caminhavam lado a lado no castelo de Demari.
— Foi-me dito. — disse ele friamente. — Aqui, vamos sentar na
sombra. Eu ainda não estou acostumado com a luz do sol.
— Eles te mantiveram em um poço?
— Sim, por quase uma semana.
— Você não parece muito enfraquecido. Alimentaram-no?
— Não, Jud... minha esposa mandava comida pela serva.
Stephen olhou para o que restava da velha torre.
— Ela arriscou muito para vir aqui.
— Ela não arriscou nada. Queria Demari tanto quanto ele a
queria.
— Isso não pareceu ser verdade quando falei com Judith.
— Então você está errado! — Disse Gavin em voz alta.
Stephen encolheu os ombros.
— Ela é assunto seu. Raine disse que você foi convocado a corte.
Podemos viajar juntos, também vou comparecer perante o rei.
Gavin estava cansado e não queria nada além de dormir.
— O que o rei quer conosco?
— Ele quer ver sua esposa e quer me apresentar uma.
— Você vai se casar?
— Sim, uma rica herdeira escocesa que odeia todos os ingleses.
— Eu sei o que é ser odiado por sua esposa.
Stephen sorriu.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 328
— Mas a diferença é que você se importa, eu não. Se ela não se
comportar adequadamente, a trancarei e nunca mais a verei. Direi que
ela é estéril e adotarei um filho que herdará suas terras. Por que não
faz o mesmo com sua esposa se ela te desagrada?
— Nunca mais vê-la? — Gavin disse e surpreendeu-se quando
seu irmão punha-se a rir.
— Ela aquece o seu sangue? Não precisa me dizer, eu a vi. Você
sabia que ameacei sua vida depois que a vi jogar o vinho em seu rosto?
Ela agarrou minha adaga e me implorou para terminar com a vida
dela.
— Você foi enganado. — Disse Gavin com desgosto. — Como
Raine e Miles. Sentam-se a seus pés e olham para ela encantados.
— Falando de olhos embevecidos, o que pretende fazer com John
Bassett?
— Deveria casá-lo com lady Helen. Se Lady Helen for como sua
filha, a vida dele será um inferno. É uma boa punição para sua
estupidez.
Stephen ria as gargalhadas.
— Você está mudando irmão. Judith te deixou obcecado.
— Sim, como uma adaga em minhas costas. Venha, vamos
apressar nossa gente a deixar este lugar.
Fora da propriedade de Demari estava o acampamento que Gavin
tinha deixado. John Bassett não sabia sobre o túnel que Gavin
mandara escavar sob as muralhas, pois nunca contava a nenhum de
seus homens todos os seus planos. Quando Gavin foi levado cativo e
John retornou à propriedade de Montgomery, os homens que Gavin
escolhera continuaram com suas escavações. Tinha demorado dias,
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 329
sem que ninguém tivesse mais do que algumas horas de sono.
Enquanto os homens cavavam, faziam a sustentação da terra sobre
suas cabeças com vigas. Quando chegaram ao outro lado, construíram
uma fogueira dentro do túnel. Uma vez que as vigas se queimam, uma
parte da muralha desmoronou com um estrondo ensurdecedor.
Na confusão que se seguiu à captura do castelo e enquanto o
grupo levantava acampamento, Judith conseguiu escapar sozinha por
um tempo. Havia um rio na floresta, atrás das barracas. Caminhou
pelos bosques e encontrou um lugar isolado onde ela estava
escondida, mas capaz de apreciar o som e a visão da água.
Ela não percebeu o quão tensa tinha estado durante a última
semana. As incessantes mentiras que contara enquanto Walter a
mantinha cativa e a dissimulação a deixaram esgotada. Era bom se
sentir tranquila e livre novamente. Nesses breves momentos, não
pensaria em seu marido ou em qualquer outro de seus muitos
problemas.
— Também procura conforto? — Veio uma voz calma.
Ela não ouvira ninguém se aproximar. Olhou para cima para ver
Raine sorrindo para ela.
— Eu irei, se quiser ficar sozinha. Não é minha intenção te
incomodar.
— Não me incomoda. Venha sentar-se comigo. Eu só queria ficar
longe do barulho e das pessoas por um tempo.
Raine se sentou ao lado dela, suas longas pernas esticadas
diante dele, suas costas contra uma pedra.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 330
— Esperava que as coisas tivessem melhorado entre meu irmão e
você, mas parece que não é assim. — Ele disse sem preâmbulo. — Por
que você matou Demari?
— Porque não havia outro jeito. — disse Judith, inclinando a
cabeça. Ela olhou para ele, seus olhos cheios de lágrimas. — É terrível
ter tirado a vida de alguém.
Raine encolheu os ombros.
— É necessário às vezes. E Gavin, não lhe explicou isso, não lhe
ofereceu conforto pelo que fez?
— Quase não tem falado comigo. — ela respondeu francamente.
— Mas vamos falar sobre outras coisas. Sua perna está melhor?
Raine começou a falar, então ambos olharam para o rio quando
ouviram uma risada de mulher. Helen e John Bassett caminhavam ao
longo da beira da água. Judith ia chamar sua mãe, mas Raine a
deteve. Pensava que os amantes não deviam ser incomodados.
— John... — Helen disse, olhando para ele com amor. — Acho
que não posso suportar.
John afastou ternamente uma mecha de cabelo de sua bochecha.
Ela parecia uma jovem radiante.
— Não será fácil ter você tirada de mim. Vê-la casada com outro.
— Por favor, — ela sussurrou. — eu não posso suportar a ideia.
Não existe outra solução?
John colocou as pontas dos dedos nos lábios dela.
— Não, não diga de novo. Não podemos nos casar. Nós só temos
essas poucas horas.
Helen apoiou os braços sobre o peito dele, segurando-o o mais
forte que podia. John a abraçou até que quase a esmagou.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 331
— Eu deixaria tudo por você. — Ela sussurrou.
— E eu daria qualquer coisa se pudesse ter você. — Ele encostou
seu rosto contra o topo de sua cabeça. — Vamos, vamos! Alguém pode
nos ver aqui.
Ela assentiu com a cabeça e os dois se afastaram, lentamente,
seus braços envolvendo-os pela cintura.
— Eu não sabia. — disse Judith finalmente.
Raine sorriu para ela.
— Acontece às vezes. Eles vão superar a dor. Gavin vai encontrar
um novo marido para sua mãe, e ele vai preencher sua cama.
Judith virou-se para ele, seus olhos uma chama de ouro.
— Um novo marido? — Ela sibilou. — Alguém que preencha sua
cama! Os homens não pensam em alguma outra coisa?
Raine a olhava fascinado. Ela nunca tinha mostrado sua ira para
ele. Não era apenas sua beleza que o fascinava, mas seu caráter. Ele
novamente sentiu os movimentos de amor por ela. E sorriu.
— No caso das mulheres, não há muito mais em que pensar. —
brincou ele, meio sério.
Judith ia replicar até que viu o riso nos olhos de Raine, as
covinhas em suas bochechas.
— Não há solução para eles?
— Os pais de John não eram nobres de nascimento, e sua mãe
era casada com um conde. — Ele colocou a mão em seu antebraço.
— Gavin encontrará um homem bom para ela. Um que irá
gerenciar bem sua propriedade e que será gentil com ela.
Judith não lhe respondeu.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 332
— Eu devo ir. — Raine disse abruptamente e desajeitadamente se
levantou. — Droga de fratura! — Ele disse com veemência. — Tive um
ferimento de machado na minha perna que não me causou tanta dor
como esta ruptura.
Ela olhou para ele.
— Pelo menos curará bem. — disse ela, com os olhos brilhando.
Raine estremeceu ante a lembrança da dor quando Judith
reajustou sua perna.
— Me lembrarei de não recorrer a você se alguma outra vez
precisar de um medico. Não sou homem o suficiente para suportar sua
cura. Você vai voltar agora para as tendas?
— Não. Ficarei sentada aqui sozinha por algum tempo.
Ele olhou ao redor do lugar. Parecia seguro o suficiente, mas não
podia ter certeza.
— Não fique além do pôr-do-sol. Se não a vir antes de escurecer,
virei buscá-la.
Ela assentiu e olhou para a água enquanto ele se afastava. A
preocupação de Raine sempre a fazia sentir-se viva e protegida.
Lembrou-se de como estava feliz quando ele estava no castelo. Seus
braços ao redor dela faziam-na sentir-se segura. Então por que não
olhava para ele com paixão? Era estranho que sentisse apenas a
afeição mais fraternal por um homem que a tratava tão gentilmente,
enquanto seu marido...
Não pensaria em Gavin enquanto estivesse naquele lugar calmo.
Qualquer lembrança dele deixava-a irritada. Ele acreditou nas
palavras de Walter de que ela estava carregando o filho daquele
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 333
homem. Suas mãos foram para seu ventre protetoramente. Seu filho!
O que quer que aconteça, o bebê sempre será meu.
— O que planeja para ela? — Raine perguntou enquanto se
acomodava com exagero numa cadeira na tenda de Gavin. Stephen se
sentou a um lado, correndo uma adaga ao longo de uma pedra de
amolar.
Gavin estava do outro lado, comendo, como fazia desde que saiu
do castelo.
— Suponho que se refira a minha esposa. — disse Gavin
enquanto empunhava um pedaço de carne de porco assado. — Parece
preocupado com ela. — acusou.
— E você parece ignorá-la! — Raine contra-atacou. — Ela matou
um homem por você. Isso não é fácil para uma mulher e mesmo assim
não fala com ela.
— Que consolo poderia lhe dar depois que meus irmãos lhe
deram tanto?
— Ela não encontra o suficiente em outro lugar.
— Quer que meu escudeiro pegue as espadas? — Perguntou
Stephen sarcasticamente. — Ou talvez prefiram armadura completa?
Raine relaxou imediatamente.
— Você está certo, Stephen. Só queria que esse meu outro irmão
fosse tão sensato quanto você.
Gavin olhou para Raine e voltou-se para a comida.
Stephen observou Gavin comendo por um momento.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 334
— Raine, você está tentando se interpor entre Gavin e sua
esposa?
Raine encolheu os ombros e ajustou a perna.
— Ele não a trata bem.
Stephen sorriu em compreensão. Raine sempre foi um defensor
dos oprimidos. Iria defender qualquer causa que sentia ser necessário.
O silêncio entre os irmãos ficou pesado até que Raine se levantou e
saiu da tenda.
Gavin o seguiu com os olhos. Então, saciado finalmente,
empurrou o prato. Levantou-se e caminhou em direção a sua cama.
— Ela carrega o filho desse homem. — Gavin disse depois de um
tempo.
— De Demari? — Stephen perguntou. Em seguida, deu um
assobio baixo ao assentimento de Gavin. — O que você vai fazer com
ela?
Gavin afundou em uma cadeira.
— Eu não sei. — Ele disse calmamente. — Raine disse que não a
confortei, mas como poderia? Ela matou o amante dela.
— Ela foi estuprada?
Gavin baixou a cabeça.
— Não acredito. Não, isso não é possível. Ela podia ir e vir através
do castelo à vontade. Veio até mim no poço e novamente quando fui
trazido de lá e levado para uma cela de torre. Se fosse a força, não
teria tido tal liberdade.
— Isso é verdade, mas a visita dela não significa que desejava
ajudá-lo?
Os olhos de Gavin faiscaram.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 335
— Não sei o que ela deseja. Parecia estar do lado de quem a
tivesse. Quando veio até mim, disse que tinha feito tudo por mim. No
entanto, quando estava com Demari era inteiramente dele. É uma
mulher astuta.
Stephen correu o polegar ao longo da borda da adaga, testando-o.
— Raine parece pensar muito bem dela, e Miles também.
Gavin bufou.
— Miles é muito jovem para saber que as mulheres têm algo além
de um corpo e Raine tem defendido a causa de Judith por muito
tempo.
— Você pode declarar que a criança é de outro e repudia-la.
— Não! — Gavin disse quase com violência, depois desviou o
olhar. Stephen riu.
— Você ainda arde por ela? É linda, mas há outras mulheres
bonitas. E quanto a Alice? A quem você declarou amar?
Stephen era a única pessoa que Gavin havia confidenciado sobre
Alice.
— Ela se casou há pouco com Edmund Chatworth.
— Edmund, aquele bocado de lixo? Não ofereceu casamento a
ela? — O silêncio de Gavin foi sua resposta. Stephen embainhou a
adaga do seu lado. — Mulheres. Não vale a pena se preocupar tanto
com elas. Traga para a cama sua esposa e nunca mais pense sobre
isso. — Ele finalizou o assunto e levantou-se. — Eu acho que vou
dormir, foi um dia longo. Vejo-te amanhã.
Gavin sentou-se sozinho em sua tenda, a escuridão se
intensificando rapidamente. — Deixá-la de lado. Repudiá-la — ele
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 336
pensou. Podia fazer isso já que ela carregava o filho de outro homem.
Mas não podia imaginar ficar sem vê-la.
— Gavin, — Raine interrompeu seus pensamentos. — Judith
voltou? Eu disse a ela que não deveria ficar fora depois do pôr do sol.
Gavin levantou-se, com a mandíbula apertada.
— Você pensa demais em minha esposa, onde ela estava? Vou
encontrá-la.
Raine sorriu para seu irmão.
— Ao longo do riacho, por ali — apontou.
Judith estava ajoelhada ao lado do córrego, movendo a mão sobre
a água límpida e fresca.
— É tarde. Já deveria ter voltado ao acampamento.
Ela olhou para cima, assustada. Gavin estava diante dela em
toda a sua estatura, seus olhos cinza pareciam mais escuro no inicio
do crepúsculo. Sua expressão era fechada.
— Eu não conheço esses bosques. — Ele continuou. — Pode
haver perigo.
Ela se levantou, os ombros eretos.
— Isso seria conveniente, não é? Uma esposa morta é certamente
melhor do que uma esposa desonrada. — Ela levantou as saias e
passou por ele.
Ele agarrou seu antebraço
— Precisamos conversar seriamente e sem ficar com raiva.
— Houve alguma outra coisa entre nós, exceto a raiva? ? Diga o
que quer. Estou cansada. — A expressão se suavizou.
— O fardo da criança te cansa?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 337
Judith levou suas mãos até seu ventre. Então ela se endireitou,
levantando o queixo.
— Este bebê nunca será um fardo para mim.
Gavin olhou para o outro lado do rio, como se estivesse lutando
com algum grande problema.
— Por tudo o que aconteceu, acredito que quando se entregou
nas mãos de Demari, o fez com boas intenções. Sei que não tem amor
por mim, mas ele também tinha prisioneira a sua mãe. Somente por
ela teria se arriscado como que fez.
Judith assentiu, franzindo ligeiramente o cenho.
— Não sei o que aconteceu depois que veio para o castelo. Talvez
Demari tenha sido gentil e você precisava de bondade. Talvez, ainda
durante as bodas... ele ofereceu-lhe amabilidade.
Judith não podia falar enquanto sua bílis se elevava.
— Quanto à criança, você pode mantê-la e não vou te repudiar,
como talvez devesse fazê-lo. Porque, de fato, se a verdade for
conhecida, talvez uma parte da culpa seja minha. Eu vou cuidar da
criança como se ela fosse minha E lhe será dada algumas de suas
terras para herdar. — Gavin fez uma pausa e olhou para ela. — Você
não diz nada? Eu tentei ser honesto e justo. Acho que você não
poderia pedir mais
Judith levou um momento para se recuperar. Seus dentes
estavam apertados quando falou.
— Honesto! Justo! Você não sabe o significado dessas palavras,
basta olhar para o que está dizendo. Está disposto a admitir que eu
vim ao castelo por fins honrosos, mas depois disso, me insulta
horrivelmente.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 338
— Insultar você? — Gavin perguntou perplexo.
— Sim, insulta-me. Acredita que sou tão vil, que me entregaria
livremente a um homem que ameaçava minha mãe e meu marido?
Porque diante de Deus é quem você é. Diz que eu precisava de
bondade! Sim, eu preciso, porque nunca recebi de você. Mas não sou
leviana ao ponto de quebrar meus votos diante de Deus por um pouco
de atenção. Uma vez quebrei meu juramento, mas não vou fazê-lo
novamente. — Ela desviou o olhar, seu rosto quente com a recordação.
— Não sei o que quer dizer — Gavin começou, perdendo de vez a
calma. — Você fala por enigmas.
— Você insinua que sou uma adúltera. Isso é um enigma?
— Leva no ventre o filho de outro homem. De que outro modo
posso chamar-te? Ofereci-me para cuidar da criança. Deveria
agradecer que não te repudie
Judith olhou para ele fixamente. Gavin não perguntou se a
criança era dele. Ele supôs que as palavras de Walter eram as
verdadeiras. No casamento, a mãe de Judith havia dito que um
homem acreditaria no servo mais baixo antes de acreditar em uma
mulher. Era verdade. E se Judith negasse ter dormido com Walter? Ele
acreditaria nela? Não haveria maneira de provar suas palavras.
— Você não tem mais nada a dizer? — Gavin exigiu, com os
lábios cerrados.
Judith lhe deu um olhar fulminante, mudo.
— Então concorda com meus termos?
Bem, ela iria jogar o jogo à sua maneira.
— Você diz que dá a meu filho minhas terras. Você sacrifica
pouco.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 339
— Te manterei a meu lado. Poderia te repudiar por direito.
Ela riu.
— Claro que você poderia. Os homens têm esse direito. Vai me
manter enquanto me deseja. Não sou tola. Deveria receber algo mais
do que apenas um legado para meu filho.
— Você pede pagamento?
— Sim, por ter vindo por você no castelo. — As palavras doíam.
Estava chorando por dentro, mas se recusou a mostrar.
— O que você quer?
Que minha mãe seja dada em matrimônio ao John Bassett.
Gavin arregalou os olhos.
— Agora você é o parente mais próximo. — observou Judith. —
Só você tem esse direito.
— John Bassett é...
— Não me diga, sei muito bem. Mas não vê como ela o ama?
— O que tem o amor a ver com isso? Há propriedades a serem
consideradas, propriedades a serem unidas.
Judith apoiou as mãos em seus braços, os olhos implorando.
— Não sabe o que é viver sem amor. Entregaste o seu, e não
tenho nenhuma chance de obtê-lo. Minha mãe nunca amou um
homem como ama John. Está em seu poder dar-lhe o que ela mais
quer. Peço-vos, não permita que teu ódio por mim te impeça de deixar
que ela tenha alguma felicidade.
Ele a observou. Era tão linda, mas também viu uma jovem
solitária. Tinha sido tão duro com ela que precisara de Walter Demari,
mesmo que por alguns instantes? Ela dissera que deu o seu amor à
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 340
outra, mas naquele momento não conseguia se lembrar do rosto de
Alice.
Ele puxou Judith para seus braços. Lembrou-se de como estava
assustada quando foi atacada pelo javali. Apesar desta falta de
coragem, ela enfrentou um inimigo como se fosse capaz de matar
dragões.
— Não odeio você. — Ele sussurrou, abraçando-a, seu rosto
enterrado em seu cabelo. Raine uma vez perguntou o que estava
errado com ela, e agora Gavin se fazia a mesma pergunta. Se ela
carregava o filho de outro homem, não era culpa dele por deixá-la
desprotegida? Em todo o casamento, Gavin lembrava-se de ser amável
com ela apenas uma vez. O dia que passaram juntos na floresta. Agora
sua consciência machucava-o. Tinha planejado aquele dia apenas para
conquistá-la e trazê-la de volta para sua cama. Pensava apenas em si
mesmo e não nela. Ele se curvou e colocou a mão sob seus joelhos,
erguendo-a nos braços. Sentou-se na grama de cheiro doce, de costas
contra uma árvore e segurou-a enrolada em seus braços.
— Diga-me o que aconteceu no castelo. — disse ele gentilmente.
Ela não confiava nele. Sempre, quando confiava nele, jogava suas
palavras de volta em seu rosto. Mas seu contato físico a reconfortava.
— Esse sentimento é tudo o que compartilhamos — pensou Judith. —
Só a luxúria que existe entre nós. Não há amor ou compreensão ou o
mais importante, confiança.
Judith deu de ombros, recusando-se a revelar qualquer coisa a
ele. Seus lábios estavam tão perto de seu pescoço.
— Já passou, é melhor esquecer.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 341
Gavin franziu o cenho, querendo pressioná-la a falar com ele,
mas sua proximidade era mais do que podia suportar.
— Judith. — Ele sussurrou quando sua boca caiu sobre a dela.
Seus braços rodearam seu pescoço e puxou-o para mais perto,
sua mente se apagou ao toque dele. Foram esquecidas quaisquer idéia
de compreensão e confiança.
— Eu senti sua falta. — Gavin sussurrou contra seu pescoço. —
Sabe que quando a vi pela primeira vez no fosso de Demari, pensei que
estava morto?
Ela inclinou a cabeça, dando a Gavin o arco de sua garganta
esbelta.
— Foi como um anjo trazendo luz, ar e sua beleza naquele lugar.
Tinha medo de tocá-la por receio de que não era real, ou que era real,
e seria destruída se ousasse tocar em você. — Ele se atrapalhou com
os cordões atados do lado do vestido.
— Sou muito real. — Judith sorriu.
Ele ficou tão encantado com seu olhar que a atraiu para si e
beijou-a profundamente.
— Seus sorrisos são mais raros e mais preciosos do que os
diamantes. Eu vi tão poucos deles. — Seu rosto escureceu de repente
perdido em lembranças. — Poderia ter matado vocês dois quando vi
que Demari te tocava.
Ela olhava para Gavin horrorizada, depois tentou afastar-se.
— Não! — Ele disse e a abraçou. — Daria a ele mais do que dá a
mim, seu marido?
Judith estava em uma posição embaraçosa, mas conseguiu
retirar a mão e lhe dar uma bofetada no rosto.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 342
Seus olhos brilhavam quando pegou sua mão na dele,
esmagando seus pequenos dedos juntos. De repente, elevou a mão
dela para a boca e beijou-a.
— Você está certa, sou um tolo. Está feito, está atrás de nós.
Vamos olhar para o futuro e para esta noite somente. — Sua boca
capturou a dela e Judith lutou contra qualquer raiva. Na verdade, não
pensava em nada, enquanto suas mãos vagavam sob suas roupas.
Estavam famintos um do outro, mais do que famintos. A fome
que Gavin havia experimentado no fosso não era nada comparada com
o que sentia por ter ficado sem a esposa.
O vestido de lã azul índigo foi rasgado, assim como as anáguas de
linho. O tecido despedaçado aumentou a paixão, e as mãos de Judith
lutaram com as roupas de Gavin. Mas as mãos dele eram mais rápidas
que as dela. Instantaneamente, suas roupas estavam em um monte
em cima das dela.
Freneticamente, Judith puxou-o para ela e Gavin igualou e
superou-a com o seu ardor. Em poucos instantes consumavam o ato
de amor em uma violenta explosão de satisfação que os levou as
estrelas e os deixou exaustos.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 343
Capítulo Vinte e Dois — Ele acha que é melhor que nós — disse Blanche com desdém.
Ela e Gladys estavam na adega de Chatworth, enchendo jarras com
vinho para a refeição das onze horas.
— Sim. — disse Gladys com menos veneno. Ela sentia muita falta
de Jocelin, mas não estava zangada com isso, como Blanche.
— Que negócio você acha que o afasta de nós? — Blanche
perguntou.
— Ele passa pouco tempo com ela. — Ela empurrou a cabeça
para cima para indicar o quarto de Alice Chatworth. — E raramente
está no salão. — Gladys suspirou.
— Ele parece passar a maior parte de seu tempo sozinho no
celeiro.
Blanche de repente parou sua tarefa.
— Ele está sozinho mesmo? Não tínhamos pensado nisso. E se
tiver uma mulher lá em cima? — Gladys riu.
— Por que Jocelin vai querer apenas uma mulher quando pode
ter muitas? Qual das mulheres falta no castelo? E que mulher está
ausente? A menos que seja uma das servas, não conheço ninguém que
possa ter estado ausente por tanto tempo.
— Então, o que mais poderia segurar um homem como Jocelin?
Aqui, você! — Blanche chamou uma das moças de serviço. — Termine
de encher estas canecas.
— Mas eu... — a menina ia protestar, mas Blanche deu um
beliscão no seu braço, e a serva cedeu.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 344
— Está bem! — Disse ela, chorosa.
— Venha, Gladys! — chamou Blanche. — Enquanto Jocelin está
ocupado em outro lugar, vamos pôr fim a este mistério.
As duas mulheres deixaram o castelo e caminharam a curta
distância até os estábulos.
— Veja, ele remove a escada toda vez que sai. — Observou
Blanche. Caminharam silenciosamente para os estábulos. Gladys logo
atrás dela. Blanche colocou um dedo em seus lábios e apontou para a
mulher gorda no estábulo.
— O velho dragão, vigia. — sussurrou ela.
As moças pegaram a escada, tomando cuidado para não fazer
barulho. Colocaram-na contra a parede externa, a extremidade
apoiada contra a abertura do quarto de Jocelin. Blanche levantou as
saias e subiu. Quando estavam dentro, a visão da pequena sala
bloqueada pelas pilhas de feno, uma voz de mulher chegou até elas.
— Jocelin, é você?
Blanche sorriu em triunfo malicioso para Gladys e abriu o
caminho para a área aberta.
— Constance!
O lindo rosto da mulher ainda estava maltratado, mas estava
começando a se curar. Constance recuou, de costas contra uma pilha
de feno.
— Então, você é a razão pela qual Jocelin nos negligencia. Pensei
que tivesse saído do castelo. — disse Gladys.
Constance só podia balançar a cabeça.
— Não! Ela não se foi! — Disse Blanche. — Viu Jocelin e decidiu
que deveria ser dela. Ela não podia compartilhá-lo.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 345
— Isso não é verdade. — disse Constance, tremendo o lábio
inferior. — Quase morri, ele cuidou de mim.
— Sim, e você se importa com ele, não é? Que bruxaria você usou
para encantá-lo?
— Por favor, eu não quis fazer nenhum mal.
Blanche não estava ouvindo os apelos da mulher. Ela sabia que
Jocelin não tinha colocado as marcas que Constance usava no rosto e
no corpo. Somente Edmund Chatworth poderia ter feito isso.
— Diga-me, Lorde Edmund sabe onde você está?
Os olhos de Constance se arregalaram de horror.
Blanche riu.
— Veja, Gladys, ela é a amante do lorde, contudo, o trai com
outro, acha que devemos devolvê-la ao seu senhor?
Gladys olhou para a jovem aterrorizada com simpatia.
Blanche agarrou os braços de sua amiga, seus dedos cravados na
carne macia.
— Ele nos traiu, mas você hesita em dar um pouco de sua
própria moeda? Esta pequena cadela coniventemente nos tomou Joss.
Ela tinha Lorde Edmund, mas queria mais. Não estava satisfeita com
um homem, mas tinha que ter todos eles a seus pés.
Gladys virou-se para Constance com um olhar de ódio.
— Se não vir conosco, contaremos para Lorde Edmund que
Jocelin está escondendo você. — Blanche sorriu.
Constance as seguiu silenciosamente pela escada. Não se
permitia pensar, bastava ter em mente que deveria proteger Jocelin.
Em toda a sua vida, ninguém lhe ofereceu tanta ternura. Seu mundo
estava cheio de pessoas como Edmund, Blanche e Alice. No entanto,
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 346
por quase duas semanas, tinha vivido um sonho nos braços de
Jocelin. Ele tinha falado com ela, cantado para ela, abraçou-a e fez
amor com ela. Ele sussurrou que a amava e ela acreditou nele.
Seguir Blanche e Gladys era como acordar de um sonho. Ao
contrário de Jocelin, Constance não fazia planos para quando deixasse
o castelo de Chatworth, quando estivesse completamente curada.
Sabia que o tempo que eles tiveram no sótão seria o único que iriam
viver. Docilmente, seguiu as mulheres, aceitando seu destino. A ideia
de fuga ou luta nunca entrou em sua mente. Sabia onde elas a
levavam e quando entrou na câmara de Edmund, seu peito apertou
como se faixas de ferro estivessem se fechando.
— Fique aqui e vou buscar Lorde Edmund. — ordenou Blanche.
— Ele virá? — Gladys perguntou.
— Oh, sim, quando ouvir o que eu vou dizer a ele. Não a deixe
sair da sala.
Blanche estava de volta em poucos momentos, com um furioso
Edmund logo atrás. Não gostava de interromper o jantar, mas a
menção do nome de Constance o fez seguir a presunçosa criada.
Entrando no quarto, bateu e fechou a porta atrás dele, seus olhos em
Constance, ignorando os olhares nervosos das duas empregadas.
— Então minha doce Constance, você não morreu, afinal. —
Edmund colocou a mão sob seu queixo e levantou seu rosto para
encontrar o dele. Ele só via resignação. Seus machucados marcavam
sua beleza, mas ela se curaria. — Esses olhos, — ele sussurrou. —
Têm-me assombrado por muito tempo.
Ele ouviu um barulho atrás de si e se virou observando as duas
servas tentando puxar o ferrolho da porta.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 347
— Aqui! — Ele comandou e agarrou o braço da mais próxima,
Gladys.
— Para onde acha que vão?
— Aos nossos deveres, meu lorde. — Blanche disse, com a voz
trêmula. — Somos suas servas mais leais.
Gladys tinha lágrimas nos olhos enquanto os dedos de Edmund
lhe apertavam a pele. Tentava afastar os dedos de seu amo, sem o
conseguir. Edmund jogou a garota no chão.
— Vocês acham que poderiam trazê-la aqui e deixá-la com tanta
facilidade e irem saindo? Onde ela estava?
Blanche e Gladys trocaram olhares. Elas não tinham pensado
nisso. Tudo o que queriam fazer era deixar Constance longe de Jocelin.
Elas queriam as coisas do jeito que eram antes, com Jocelin lhes
dando diversão e fazendo amor com elas.
— Não sei meu senhor! — Blanche gaguejou.
— Acham que sou um idiota? — Edmund disse e avançou para
elas. — A moça esteve bem escondida. Seria informado sobre a
presença dela, através das fofocas do castelo.
— Não, meu senhor, ela... — Blanche não podia pensar rápido o
suficiente para criar uma história. Sua língua a traia.
Edmund parou, depois olhou para Gladys encolhendo-se no
chão.
— Há alguma coisa nesta história que escondem. A quem tentam
proteger? — Agarrou o braço de Blanche e torceu-o dolorosamente
atrás das costas.
— Milorde, está me machucando!
— Farei mais do que isso se mentirem para mim.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 348
— Foi Baines da cozinha — disse Gladys em voz alta, querendo
proteger sua amiga.
Edmund soltou o braço de Blanche enquanto pensava nisso.
Baines era um homem profundamente detestado, mal-humorado,
sabia disso. Mas Edmund também sabia que Baines dormia na
cozinha. Ele não tinha privacidade, certamente não o suficiente para
esconder uma moça maltratada até que ela fosse curada. Teria
ocasionado conversa por todo o castelo.
— Você mente. — disse Edmund com uma voz mortal, depois
avançou lentamente para ela.
Gladys se afastou dele, meio rastejando pelos juncos.
— Meu senhor! — disse ela, com todas as fibras de seu corpo
tremendo.
— É sua última mentira. — Ele disse enquanto a segurava pela
cintura. Ela começou a lutar quando o viu carregando-a em direção à
janela aberta.
Blanche olhava horrorizada enquanto Edmund arrastava Gladys
para a janela. A serva segurou o marco da janela, com toda a força de
seus braços, mas não era páreo para a força de Edmund. Ele deu um
empurrão nas costas de Gladys que voou para frente, golpeando o ar
com a sua queda. O grito dela ecoava enquanto caia do terceiro andar
para o pátio, fazendo as paredes tremerem.
Blanche só conseguia olhar fixamente, com os joelhos tremendo e
o estômago revirando.
— Agora, — disse Edmund, voltando-se para Blanche. — quero
saber a verdade, quem a manteve? — Ele acenou para Constance, que
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 349
estava em silêncio, encostada na parede. O assassinato de Gladys por
Edmund não tinha chocado Constance. Era o que ela esperava.
— Jocelin. — Blanche sussurrou.
Ao nome, Constance levantou a cabeça.
— Não! — Ela não podia suportar que Jocelin fosse traído.
Edmund sorriu.
— Esse bonito cantor? Foi quem a levou naquela noite. — um
fato que Edmund tinha esquecido. — Onde ele dorme que pôde mantê-
la despercebida?
— Acima, no sótão dos estábulos. — Blanche mal podia falar. Ela
olhava fixo para a janela. Apenas um momento antes, Gladys estava
viva. Agora seu corpo estava quebrado e esmagado no pavimento.
Edmund concordou com a resposta de Blanche. Sabia reconhecer
a verdade quando a ouvia. Deu um passo em direção a ela que se
encolheu e recuou com medo, colando as costas na porta.
— Não, meu lorde. Disse-lhe o que queria saber. — Ele continuou
avançando em sua direção, um leve sorriso em seu rosto. — Eu trouxe
Constance. Sou uma serva leal
Edmund gostava de seu terror. Provava seu poder e que era forte.
Parou frente a ela, levantou a mão gorda para acariciar a linha de sua
mandíbula. Havia lágrimas em seus olhos. Lágrimas de medo. Sorriu
quando a esbofeteou.
Blanche caiu no chão, com a mão no lado do rosto, o olho já
roxo,
— Vá! — Ele disse, meio rindo enquanto abria a porta. — Você
aprendeu bem sua lição.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 350
Blanche saiu correndo do quarto antes que a porta se fechasse.
Desceu as escadas e saiu pelo salão. Atravessou correndo o pátio do
castelo e saiu pelo portão aberto. Não respondeu aos chamados dos
homens de cima das muralhas. Só sabia que queria estar longe de
qualquer coisa que tivesse a ver com a propriedade Chatworth.
Somente quando as dores em seu lado a tomaram, ela parou. Então
continuou andando, nunca olhando para trás.
Jocelin deslizou quatro ameixas dentro de seu gibão. Sabia o
quanto Constance amava frutas frescas. Nas últimas semanas, sua
vida começou a girar em torno do que Constance gostava ou não
gostava. Observando-a desabrochar, pétala por pétala macia, tinha
sido o que de mais delicioso já lhe aconteceu. Sua gratidão por cada
prazer, por menor que fosse, o reconfortava, embora seu coração
doesse ao pensar em sua vida antes, onde um simples buquê de flores
poderia fazê-la chorar.
Na cama, ele sorriu maliciosamente. Não era um mártir a tal
ponto de renunciar a todos os prazeres egoístas. Constance queria
recompensá-lo por sua bondade e queria demonstrar-lhe seu amor. A
princípio, sua expectativa da dor a tinha feito rígida, mas a sensação
das mãos de Jocelin em seu corpo, sabendo que não iriam machucá-
la, a deixava louca de paixão. Era como se ela quisesse reunir todo o
amor de sua vida em poucas semanas.
Jocelin sorriu ao pensar em seu futuro juntos. Ele pararia de
viajar e se instalaria, faria uma casa para Constance e para si mesmo.
Teriam vários filhos de olhos violetas. Nunca em sua vida quis mais do
que a liberdade, uma cama confortável e uma mulher quente. Mas
nunca esteve apaixonado antes. Constance mudou toda a sua vida. Só
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 351
mais alguns dias e ela estaria bem o suficiente para suportar a longa
viagem. Eles iriam embora.
Jocelin assobiava quando saiu da mansão e passou pela cozinha
em direção aos estábulos. Congelou quando viu a escada encostada na
parede. Ultimamente tinha tido o cuidado de remover a escada. A
esposa do cavalariço manteve um olho nítido para ele, e Jocelin
recompensou-a com muitos sorrisos e alguns abraços genuinamente
afetuosos. Ele não pensou em nenhum perigo para si mesmo, mas
apenas para Constance.
Correu os últimos trechos e subiu pela escada. Seu coração batia
violentamente enquanto procurava no pequeno quarto, como se ele
pudesse encontra-la sob o feno. Sabia sem dúvida que Constance não
partiria sozinha. Não, ela era como uma corça, tímida e temerosa.
As lágrimas nublaram seus olhos enquanto ele descia a escada.
Onde a encontraria? Talvez algumas das mulheres estivessem
brincando e ele a encontraria segura em algum canto, mastigando um
bolo de passas. Jocelin não acreditava nisso, mesmo quando
imaginava a cena.
Não se surpreendeu ao ver Chatworth ao pé da escada, rodeado
por dois guardas armados.
— O que você fez com ela? — Jocelin exigiu, saltando do segundo
degrau da escada, suas mãos indo para a garganta de Edmund.
O rosto de Edmund estava começando a ficar azul antes que seus
homens pudessem libertá-lo e afastar Jocelin. Seguraram-no
firmemente pelos braços.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 352
Edmund levantou-se e bateu a poeira olhando com desgosto para
sua roupa arruinada. O veludo nunca mais seria o mesmo. Ele
esfregou a marca da garganta.
— Você vai pagar por isso com sua vida.
— O que você fez com ela, pilha de esterco? — Jocelin perguntou.
Edmund ofegou. Ninguém jamais ousara falar com ele assim.
Recuou a mão e deu um murro no rosto de Jocelin, cortando o canto
de sua boca.
— Sim, vai pagar por isso.
Ele saiu do alcance dos pés de Jocelin, mais cauteloso do que
tinha sido. Atrás daquele rosto espreitava um homem que ele não
imaginava que existisse. Pensava que Jocelin era apenas um garoto
muito bonito.
— Eu vou gostar disso. — Ele zombou. — Hoje à noite você vai
passar na masmorra, e amanhã vai ver o seu último nascer do sol.
Todo o dia você vai sofrer, mas esta noite talvez, sofra mais. Enquanto
sofre na cela, vou possuir a mulher.
— Não! — Jocelin gritou. — Ela não fez nada, deixe-a ir, pagarei
por tê-la tomado.
— Você vai pagar, sim. Quanto ao seu nobre gesto, não faz
sentido. Você não tem nada para negociar: Eu tenho ambos. Ela na
minha cama. Você, para qualquer outro prazer que possa pensar.
Levem-no para meditar no que significa desafiar um conde.
Constance sentou-se à janela do quarto de Edmund. O animo e a
coragem afastaram-se dela. Não voltaria a ver Jocelin. Não mais a
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 353
seguraria em seus braços e lhe juraria que a amava mais do que a lua
amava as estrelas. A única esperança era que ele tivesse conseguido
escapar. Viu a maneira que Blanche correu do quarto. Constance
rezou para que a mulher tivesse ido avisar Jocelin. Sabia que Blanche
se importava com ele, tinha a ouvido chamando-o. Certamente,
Blanche avisou Jocelin, e juntos estavam seguros.
Constance não sentia ciúme. Na verdade, só queria a felicidade
de Jocelin. Se a tivesse pedido para morrer por ele, o faria com prazer.
O que importava sua pobre vida?
Uma comoção no pátio e um raio do sol em uma cabeça familiar
chamaram sua atenção. Dois corpulentos guardas arrastraram Jocelin
lutando pelo pátio. Enquanto observava, um dos homens golpeou
Jocelin com força na clavícula, fazendo com que ele caísse para um
lado. Com dificuldade, manteve-se de pé. Constance prendeu a
respiração, querendo chamá-lo, mas sabia que o colocaria em um
perigo maior. Como se a sentisse, ele se contorceu e olhou para a
janela. Constance ergueu a mão. Através de suas lágrimas, podia ver o
sangue em seu queixo.
Quando os guardas empurravam Jocelin, Constance percebeu de
repente onde estavam levando-o, e seu coração parou. A cela do
castigo era um invento horrível. Uma câmara em forma de frasco
lapidada nas entranhas da rocha sólida. O prisioneiro era abaixado
através da garganta estreita da rocha por uma roldana. Uma vez lá
dentro, não podia se sentar e nem ficar de pé, mas deveria estar meio
agachado, as costas e o pescoço continuamente dobrados. Havia
pouco ar e muitas vezes não havia comida ou água. Ninguém poderia
durar mais do que alguns dias, e só os mais fortes sobreviviam.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 354
Constance observou os guardas atarem Jocelin na roldana e
abaixá-lo naquele inferno. Observou por alguns instantes enquanto a
tampa da cela estava sendo presa, depois desviou o olhar. Não havia
esperança agora. Amanhã Jocelin estaria morto, se vivesse a noite
toda, pois Edmund certamente inventaria alguma tortura adicional.
Em uma mesa havia um jarro de vinho e três copos. Eles eram
para uso privado de Edmund, que reservava para si os mais belos
objetos. Constance agiu sem pensar, porque sua vida estava acabada.
Um último ato era necessário para completar a ação. Quebrando um
copo contra a mesa, pegou a base dentada em sua mão e foi para a
janela, sentando-se na cadeira almofadada.
Era um dia lindo, o verão em plena floração. Constance mal
sentiu a ponta afiada quando cortou um pulso. Ela olhou para o
sangue fluindo de seu corpo com uma sensação de alívio.
— Em breve. — Ela sussurrou. — Logo estarei com você, meu
Jocelin.
Constance cortou seu outro pulso e recostou-se contra a parede,
um pulso em seu colo, o outro no parapeito da janela, seu sangue
escorrendo na argamassa das pedras. Uma suave brisa de verão
soprou em seus cabelos e ela sorriu. Certa noite, ela e Jocelin haviam
ido ao rio, passando a noite sozinhos nas gramíneas suaves. Eles
haviam voltado muito cedo na manhã seguinte antes do castelo estar
completamente acordado. Tinha sido uma noite de arrebatamento e
palavras de amor sussurradas. Lembrou-se de cada palavra que
Jocelin lhe tinha falado.
Gradualmente, seus pensamentos tornaram-se mais preguiçosos.
Era quase como se ela fosse dormir. Constance fechou os olhos e
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 355
sorriu levemente, o sol acariciando seu rosto, a brisa no cabelo, e não
pensou mais.
— Garoto, você está bem? — Uma voz chamou Jocelin em um
sussurro rouco.
Estava aturdido e tinha dificuldade em entender as palavras.
— Moço? — Perguntou a voz novamente. — Me responda!
— Sim — respondeu Jocelin. Um forte suspiro foi ouvido.
— Jocelin está bem. — Disse uma voz de mulher. —Coloque isso
em torno de você e eu vou puxá-lo para cima.
Jocelin estava atordoado demais para perceber o que estava
acontecendo com ele. As mãos da mulher guiaram a corda pela
garganta da rocha e depois o puxaram até o ar fresco da noite. O ar —
a primeira respiração real que tinha tido em varias horas — começou a
limpar sua mente. Seu corpo estava dormente, rígido e cheio de dores
corporais. Quando seu corpo tocou o chão, desamarraram a correia da
roldana.
O cavalariço e sua gorda esposa o encararam.
— Meu querido, — ela disse — você deve partir imediatamente.
Ela o conduziu através da escuridão para o estábulo.
A cada passo, a cabeça de Jocelin se tornava mais consciente.
Como nunca antes em sua vida experimentou o amor até
recentemente, tampouco tinha conhecimento sobre o ódio. Agora,
atravessando o pátio, olhou para a janela escura de Edmund. Ele
odiava Edmund Chatworth, que agora estava com Constance.
Quando estavam nos estábulos, a mulher falou de novo.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 356
— Você deve ir depressa, meu marido pode ajuda-lo a passar pela
muralha. Aqui, preparei um pacote de comida para você que vai durar
alguns dias se for cuidadoso.
Jocelin franziu o cenho.
— Não, não posso ir. Não posso deixar Constance com ele.
— Eu sei que não irá até que saiba. — A velha disse. Ela se virou
e fez um gesto para que Jocelin a seguisse. Acendeu uma vela na
outra parede e levou Jocelin para uma baia vazia. Um pano estava
cobrindo vários feixes de feno. Lentamente ela puxou o pano.
No início Jocelin não acreditou no que viu. Tinha visto Constance
uma vez assim, quando pensou que estava morta. Ajoelhou-se a seu
lado e tomou o frígido corpo em seus braços.
— Ela está com frio. — Disse ele com autoridade. — Tragam
cobertores para que eu possa aquecê-la.
A velha pôs a mão no ombro de Jocelin.
— Todos os cobertores do mundo não vão ajuda-la, ela está
morta.
— Não, ela não está! Já esteve assim antes e...
— Não se torture, o sangue da garota se foi e não tem mais
nenhuma gota.
— Sangue?
A mulher moveu o pano para trás e segurou o pulso sem vida de
Constance, a veia exposta, cortada. Jocelin observou-a em silêncio.
— Quem foi? — Ele finalmente sussurrou.
— Ela tirou a própria vida, ninguém fez isso.
Jocelin olhou para o rosto de Constance, finalmente percebendo
que ela tinha ido embora. Curvou-se e beijou sua testa.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 357
— Ela está em paz agora.
— Sim. — Disse a mulher, aliviada. — E você deve ir.
Joss afastou-se da mão insistente da mulher e caminhou
deliberadamente em direção à mansão. O grande salão estava coberto
de homens dormindo em colchões de palha. Jocelin silenciosamente
retirou uma espada da parede onde estava no meio de muitas armas.
Seus sapatos macios não fizeram barulho enquanto subia as escadas
para o terceiro andar.
Um guarda dormia na frente da porta de Edmund. Jocelin sabia
que não teria chance se o guarda acordasse, pois a força de Jocelin
não era páreo para um cavaleiro experiente. O homem não emitiu
qualquer som quando Jocelin empurrou a espada através de sua
barriga.
Jocelin nunca matou um homem antes e faze-lo não lhe deu
prazer.
A porta de Edmund não estava trancada. Ele se sentia seguro em
seu próprio castelo, em seu quarto. Jocelin abriu a porta. Não gostava
do que faria, nem desejava demorar-se sobre o cenário deleitando-se
como alguns teriam feito. Agarrou os cabelos de Edmund em suas
mãos. Os olhos de Chatworth abriram-se e alargaram-se ao ver
Jocelin.
— Não!
Foi à última palavra que Edmund Chatworth falou. Jocelin
deslizou a espada pela garganta do homem. Na morte, o conde
desgostava Jocelin tanto como em vida. Jocelin jogou a espada para o
lado da cama e caminhou até a porta.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 358
Alice não conseguia dormir. Não conseguira dormir bem durante
semanas — desde que o menestrel deixara de ir à sua cama. Ela o
ameaçara repetidamente, mas sem sucesso. Jocelin tinha apenas
olhado para ela através de seus longos cílios e não disse nada. Na
verdade, estava um pouco intrigada que um homem a tratasse tão
mal.
Ela jogou as cobertas de sua cama para trás e vestiu uma bata.
Seus pés não fizeram nenhum barulho no chão coberto com juncos.
No corredor, Alice percebeu que algo estava errado. A porta do quarto
de Edmund estava aberta, o guarda estava sentado em uma posição
estranha. Curiosa, caminhou em direção a ele. Seus olhos estavam
acostumados à escuridão, e o corredor estava iluminado apenas pelas
tochas ao longo da parede.
Um homem deixou o quarto de Edmund, sem olhar para a direita
e nem para a esquerda, caminhou direto para ela. Viu o sangue em
seu gibão antes de ver seu rosto. Alice ofegou e colocou a mão na
garganta. Quando ele parou diante dela, mal o reconheceu. Já não
havia nenhum moço risonho, mas um homem que a olhava com
ousadia. Um pequeno arrepio de medo subiu por sua espinha.
— Jocelin.
Ele passou por ela como se não a tivesse visto ou não se
importasse com sua presença. Alice olhou para ele, depois caminhou
lentamente até o quarto de Edmund. Passou sobre o guarda morto,
seu coração batendo. Quando viu o corpo de Edmund, o sangue ainda
escorrendo da garganta rasgada, ela sorriu.
Alice foi até a janela, sua mão no peitoril, cobrindo uma mancha
feita pelo sangue da outra inocente no dia anterior.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 359
— Viúva. — Ela sussurrou. — Uma viúva! — Agora ela tinha
tudo: riqueza, beleza e liberdade.
Durante um mês estivera escrevendo cartas, pedindo um convite
para a corte do rei Henrique. Quando chegou, Edmund riu dela,
dizendo que se recusava a gastar dinheiro em tais frivolidades. Na
verdade, na corte ele não poderia jogar servas das janelas como fizera
em seu próprio castelo. Agora, decidiu Alice, poderia ir para a corte do
rei sem que ninguém a impedisse.
E haveria Gavin! Ah sim, arranjou isso também. Aquela
prostituta de cabelos vermelhos o teve por muito tempo. Gavin era
dela e continuaria sendo. Se ela pudesse se livrar de sua esposa, então
seria dela completamente. Ele não negaria seus vestidos de tecidos
dourados. Não, Gavin não lhe negaria nada. Será que não era capaz de
conseguir o que queria? Queria Gavin Montgomery novamente, e iria
tê-lo.
Alguém andando pelo pátio chamou sua atenção. Jocelin dirigiu-
se para a escada que levava ao topo da muralha, um saco de couro
sobre o ombro.
— Você me fez um grande favor. — Ela sussurrou. — E agora vou
te retribuir. — Ela não chamou os guardas. Em vez disso, ficou em
silêncio, planejando o que faria agora que estava livre de Edmund.
Jocelin tinha dado a ela acesso a uma grande riqueza, mas, acima de
tudo, lhe devolveu Gavin.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 360
Capítulo Vinte e Três Estava quente na tenda. Gavin não conseguia dormir. Ele se
levantou e olhou para Judith, dormindo pacificamente, um ombro nu
exposto acima do lençol de linho. Silenciosamente, vestiu suas roupas,
sorrindo para sua esposa adormecida. Passaram boa parte da noite
fazendo amor, e agora ela estava exausta. Mas ele não estava. Não,
longe disso. Amar Judith parecia lhe acender uma faísca e um fogo
que não se apagava.
Tirou um manto de veludo de um baú, tirou-lhe o lençol e
envolveu-a no manto. Ela se aconchegou contra ele como uma criança,
sem acordar, dormindo o sono do inocente. A levou para fora da tenda,
acenou com a cabeça para os guardas de plantão e caminhou em
direção à floresta. Inclinou a cabeça e beijou sua boca adormecida.
— Gavin. — Murmurou ela.
— Sim, sou eu.
Ela sorriu contra seu ombro, seus olhos sem se abriram.
— Para onde está me levando?
Ele riu e a abraçou mais perto.
— Te interessa?
Ela sorriu mais largo, seus olhos ainda fechados.
— Não, nenhum pouco. — Sussurrou.
Ele deu uma risada profunda. Ao lado do rio, sentou-a e ela
começou gradualmente a acordar. A frieza do ar, o som da água e a
doçura das ervas adicionaram à qualidade onírica da situação.
Gavin sentou-se ao lado dela, sem tocá-la.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 361
— Você disse uma vez que quebrou um voto a Deus. Que voto foi
esse? — Ele ficou tenso esperando por sua resposta. Eles não tinham
falado da temporada que ela viveu no castelo de Demari, mas Gavin
ainda queria saber as coisas que aconteceram lá. Ele queria que ela
negasse o que sabia ser verdade. Se amava Demari, por que o matara?
E se ela tinha ido aos braços de outro homem, não era culpa de
Gavin? Ele sabia que o voto que ela quebrou foi o que fez diante de um
padre e centenas de testemunhas.
A escuridão dissimulou o rubor do Judith. Ela ignorava a direção
que tomava a linha de pensamento de Gavin. Lembrou-se apenas de
ter ido até ele antes que partisse para a batalha.
— Sou um ogro tão grande que não pode me dizer? — Ele
perguntou calmamente. — Diga-me apenas isso, e não vou pedir mais
nada a você.
Para ela era algo íntimo, mas era realmente verdade, Gavin não
pedia muito. Havia uma lua cheia e a noite era brilhante. Manteve os
olhos virados para o outro lado.
— No dia do nosso casamento e eu fiz um juramento... E faltei a
ele.
Gavin assentiu. Era o que ele temia.
— Eu sei que o quebrei quando fui para tua cama naquela noite
— continuou ela. — Mas esse homem, não tinha o direito de dizer que
não dormíamos juntos. Aqueles eram os nossos problemas que
devemos resolver nós mesmos.
— Judith, eu não entendo.
Ela olhou para ele, assustada.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 362
— Falo do juramento. Não me perguntou? — Ela percebeu que
ele ainda não entendia. — No jardim, quando eu vi você e... — Ela
parou e desviou o olhar. A lembrança de Alice em seus braços ainda
era vívida para ela, e muito mais dolorosa agora do que era então.
Gavin olhou para ela, tentando se lembrar. Quando finalmente
recordou, começou a rir. Judith virou-se para ele, os olhos brilhando.
— Está rindo de mim?
— Oh, Sim! O voto de ignorância! Quando você o fez era virgem.
Portanto, não podia conhecer os prazeres que teria em minha cama, e
ignorava que não poderia ficar sem mim.
Ela olhou para ele, depois se levantou.
— Você é um homem vaidoso e insuportável, eu lhe dou minha
confiança, lhe conto um segredo e você ri de mim! — Ela jogou seus
ombros para trás, o manto envolto firmemente sobre ela, e
arrogantemente começou a se afastar dele.
Gavin, com um sorriso lascivo em seu rosto, deu um puxão
poderoso na capa e puxou-o dela. Judith ofegou e tentou cobrir-se.
— Você vai voltar para o acampamento agora? — Ele provocou,
enrolando o manto de veludo e colocando-o atrás de sua cabeça.
Judith olhou para ele, estirado na grama, sem sequer olhar para
ela. — Assim! Acredita que ganhou, não é? — pensou.
Gavin permaneceu quieto, esperando a qualquer momento que
ela voltasse e implorasse por suas roupas. Ouviu um monte de
sussurro nos arbustos e sorriu com confiança. Ela era muito pudica
para voltar ao acampamento sem suas roupas. Houve silêncio por um
momento, depois ouviu um movimento rítmico de folhas, como se...
Ele levantou-se em um instante, seguindo o som.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 363
— Você é uma pequena travessa! — Ele riu em pé diante de sua
esposa. Ela usava um vestido muito dissimulado de folhas de árvores e
ramos de vários arbustos. Ela sorriu para ele em triunfo.
Gavin colocou as mãos nos quadris.
— Alguma vez ganharei uma discussão com você?
— Provavelmente não. — Disse Judith, presunçosa.
Gavin riu diabolicamente. Estendeu sua mão e arrancou a frágil
roupa.
— Você acha? — Ele perguntou enquanto a segurava pela cintura
e a levantava. As curvas nuas de seu corpo pareciam o luar prateado.
Ele a elevou nos braços, rindo de seu suspiro de susto.
— Não ensinaram que uma boa esposa não discute com o
marido? — Ele brincou.
Ele a sentou no ramo de uma árvore, seus joelhos ao nível dos
seus olhos.
— Acho-te particularmente interessante assim. — Olhava para
seu rosto com os olhos sorridentes, então congelou quando viu o puro
terror em seus olhos.
— Judith! — Ele sussurrou. — Esqueci seu medo. Perdoe-me. —
Teve que tirar suas mãos do ramo da árvore, as juntas brancas.
Mesmo quando a tinha solta, ainda assim pegou-a nos braços,
arranhando seu traseiro nu na casca áspera. — Judith, me perdoe. —
Ele sussurrou enquanto ela se agarrava a ele.
Ele a levou de volta à beira do rio e envolveu o manto sobre ela,
segurando-a em seu colo e abraçando-a. Sua estupidez o enfureceu.
Como poderia ter esquecido algo tão importante como seu terrível
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 364
medo de alturas? Ele ergueu-lhe o queixo e beijou-a docemente na
boca.
De repente, seu beijo se transformou em paixão.
— Abrace-me. — Ela sussurrou desesperadamente. — Não me
deixe.
Ele ficou impressionado com a urgência em sua voz.
— Não, querida. Não a deixarei.
Sempre tinha sido uma mulher de paixão, mas agora estava em
frenesi. Sua boca se agarrou a dele. Seus lábios percorreram ao longo
de seu pescoço. Nunca fora tão agressiva.
— Judith — murmurou ele. — Doce, doce Judith. — O manto
caiu e seus seios nus apertaram-se contra ele, insolentes e exigentes.
A cabeça de Gavin começou a girar.
— Tirará essas roupas? — Ela perguntou em um sussurro áspero
enquanto suas mãos percorriam sob o tabardo solto. Gavin mal podia
suportar deixar a proximidade de seu corpo por alguns instantes até
remover sua roupa. Seu gibão foi rapidamente tirado por sobre sua
cabeça, depois sua camisa. Ele não tinha se incomodado com roupas
íntimas quando saiu da tenda.
Judith o empurrou para o chão e se inclinou sobre ele. Gavin
permaneceu quieto, quase sem poder respirar.
— É você que parece estar com medo agora. — ela riu.
— Estou. — Seus olhos cintilaram. — Vai satisfazer tua vontade
comigo?
Sua mão se moveu sobre seu corpo, deleitando-se em sua pele
lisa, a espessa camada de cabelo em seu peito. Então se moveu mais
para baixo, então mais baixo ainda.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 365
Ele ofegou, seus olhos ficando negros.
— Faça o que quiser! — disse ele com voz rouca. — Só não retire
essa mão daí.
Ela riu gravemente, sentindo-se invadida por uma onda de poder.
Ela o controlava. Mas no momento seguinte, sentindo seu membro
duro em sua mão, percebeu que ele tinha o mesmo poder sobre ela.
Ela estava louca de desejo. Subiu em cima dele, inclinou-se e
procurou avidamente sua boca.
Gavin permaneceu imóvel enquanto ela cavalgava sobre ele, mas
logo não pôde ficar quieto. Pegou-a pelos quadris para guiá-la, com
mais força, mais rápido. Sua ferocidade começando a corresponder a
de Judith.
E então eles explodiram juntos.
— Acorde, louquinha! — Gavin riu e deu um tapa nas nádegas
nuas de Judith. — O acampamento já acordou e virão nos procurar.
— Que nos procurem. — Judith murmurou e puxou o manto
mais perto dela.
Gavin de pé, tinha seu corpo entre seus tornozelos. Nunca
experimentou uma noite como a que acabou de passar. Quem era sua
esposa? Uma adúltera? Uma mulher que passava de um amor a outro,
quando o vento a carregava? Ou era boa e gentil, como seus irmãos
pensavam? Seja o que for, ela era um demônio quando se tratava de
fazer amor.
— Devo chamar sua serva para te vestir aqui? Joan terá algumas
palavras para dizer, sem dúvida.
Quando Judith sonolenta pensou nos sorrisos maliciosos de
Joan, demorou pouco tempo para ficar completamente acordada.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 366
Sentou-se e olhou para o rio, então respirou fundo, ar fresco da
manhã. Bocejou e espreguiçou-se, o manto caindo, expondo seios
cheios, sem pudor algum.
— Pelos dentes de Deus! — Gavin jurou. — Cubra-se, ou nunca
chegaremos a Londres e ao rei.
Ela sorriu para ele, sedutora.
— Pode ser melhor ficarmos aqui. O Tribunal não deve ser tão
bom, na verdade.
— Certamente. — Gavin riu então se curvou e envolveu-a em seu
manto e gentilmente elevou-a em seus braços. — Venha, vamos voltar,
Miles e Raine nos deixam hoje, e quero falar com eles.
Voltaram para a tenda em silêncio. Judith se aconchegou contra
o ombro de Gavin. — Será que não poderia sempre ser assim. — ela
pensou. Ele podia ser gentil e terno quando queria. — Por favor, Deus,
— ela rezou — deixe como está entre nós. Não nos deixe discutir mais
uma vez.
Uma hora depois, Judith andava entre Raine e Miles, cada
homem segurando sua mão. Pareciam ser um grupo incongruente:
dois homens grandes vestidos com roupas de viagem de lã pesada,
Judith entre eles, mal chegando até os ombros.
— Vou sentir falta de vocês dois. — disse Judith, apertando-lhes
as mãos. — É bom ter toda a minha família perto, embora minha mãe
raramente deixe o lado de John Bassett.
Raine riu.
— Ouço ciúmes nisso?
— Sim. — Disse Miles. — Não somos suficientes para você?
— Gavin parece ser o suficiente. — brincou Raine.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 367
Judith riu, as bochechas ficando rosadas.
— Existe alguma coisa que um irmão faça que os outros não
conheçam?
— Raramente. — Raine disse então olhou por cima da cabeça de
Judith para Miles. — Há a questão de onde o nosso irmãozinho passou
a noite passada.
— Com Joan. — disse Judith antes de pensar.
Os olhos de Raine dançavam em risadas enquanto Miles estava,
como de costume, ilegível.
— Eu sei, Joan falou muito sobre ele. — Disse Judith,
balbuciando.
As covinhas de Raine se aprofundaram.
— Não deixe que Miles te assuste. Está curioso para saber o que
a mulher disse.
Judith sorriu.
— Vou dizer-lhe da próxima vez que eu o vir, talvez assim, possa
encorajá-lo a visitar-nos mais cedo do que o planejado.
— Bem dito! — Raine riu. — Agora, na verdade, temos de ir. Não
seríamos bem-vindos na corte, a menos que paguemos para entrar, e
eu não posso arcar com despesa extra.
— Ele é rico. — disse Miles. — Não o deixe enganar.
— Nenhum de vocês me engana. Obrigada por todo o seu tempo e
preocupação. E obrigada por ouvir meus problemas.
— Quer que choremos, quando poderíamos beijar essa mulher
deliciosa? — Miles perguntou.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 368
— Você está certo por uma vez, irmãozinho. — disse Raine,
enquanto levantava Judith do chão e lhe dava um beijo no rosto. Miles
fez o mesmo rindo de seu irmão.
— Você não sabe como tratar uma mulher. — Ele disse enquanto
erguia Judith em seus braços e roçava-lhe um beijo a sua boca
fraternal.
— O que significa isso, Miles? — Perguntou uma voz mortal.
Judith se separou de seu cunhado e virou-se para Gavin que
olhava para eles com olhos escuros. Raine e Miles trocaram olhares.
Era a primeira vez que Gavin mostrava algum ciúme real.
— Coloque-a no chão antes que Gavin o atravesse com uma
espada. — Disse Raine.
Miles reteve Judith por um momento mais e olhando para ela
falou:
— Pode valer a pena. — Ele a pôs gentilmente no chão.
— Vamos vê-lo novamente em breve. — Disse Raine a Gavin. —
Talvez no Natal possamos nos reunir. Gostaria de conhecer a dama
escocesa com quem Stephen vai se casar.
Gavin colocou uma mão possessiva no ombro de Judith e puxou-
a para perto dele.
— Até o Natal! — disse ele. Seus irmãos montaram seus cavalos e
foram embora.
— Suponho que não está realmente com raiva? — Perguntou
Judith.
— Não. — Gavin suspirou. — Mas não gosto de ver nenhum
homem te tocando. Até mesmo meu irmão.
Judith respirou fundo.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 369
— Se vierem no Natal, o bebê deverá já ter nascido.
— O bebê. — pensou Gavin. — Não meu bebê ou nosso bebê, mas
o bebê. —Ele não gostava de pensar na criança.
— Venha, precisamos levantar o acampamento, ficamos aqui por
muito tempo.
Judith o seguiu, piscando as lágrimas. Eles não mencionaram o
tempo passado no castelo de Demari nem falaram do bebê. Deveria
dizer-lhe que a criança só poderia ser dele? Deveria implorar que a
ouvisse, e acreditasse nela? Podia contar os dias e dizer-lhe o tempo de
gravidez, mas Gavin uma vez havia insinuado que ela poderia ter
deitado com Demari durante os festejos de suas bodas. Ela voltou para
a tenda para dirigir a sua serva para empacotar sua bagagem.
Acamparam cedo naquela noite. Não havia pressa para chegar a
Londres, e Gavin apreciava o tempo da viagem. Começara a sentir-se
próximo de sua esposa. Eles costumavam conversar como se fossem
amigos. Gavin surpreendeu-se compartilhando segredos da infância
com ela, dizendo-lhe dos medos que teve quando seu pai morreu e o
deixou com tantas terras para administrar.
Finalmente, se sentou em uma mesa com os registros contábeis
abertos diante dele. Cada moeda gasto deve ser registrado e
contabilizado. Era um trabalho tedioso, mas seu mordomo tinha ficado
doente com alguma febre, e Gavin não podia confiar a um dos seus
cavaleiros as contas.
Tomou um gole de uma caneca de sidra e olhou para a esposa.
Sentava-se num banquinho junto à aba aberta da barraca, com uma
bola de fios azuis no colo. Suas mãos lutavam com um longo par de
agulhas de tricô. Como ele observava, ela fazia um emaranhado de fios
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 370
sem resultados em seu trabalho manual. Seu lindo rosto estava
contorcido com o esforço, a pequena ponta de sua língua mostrando
entre os lábios. Olhou novamente para os livros e percebeu que sua
tentativa de tricotar era um esforço para agradá-lo. Havia falado
muitas vezes do seu desagrado quando ela interferiu nos negócios do
castelo. Gavin sufocou uma gargalhada quando ela rosnou para o fio e
murmurou algo baixo.
— Judith, — disse com calma — talvez possa me ajudar. Você
não se importa de pôr isso de lado? — perguntou ele com toda a
seriedade que conseguiu reunir. Tentou não sorrir enquanto ela
atirava ansiosamente os fios e as agulhas contra a parede da barraca.
Gavin apontou para o livro.
— Gastamos muito nessa jornada, mas não sei por quê.
Judith virou o livro para ela. Finalmente algo que ela
compreendia. Ela correu os dedos pelas colunas, seus olhos se
movendo de um lado para o outro. Ela parou de repente.
— Cinco marcos de pão, quem vem cobrando tanto?
— Não sei. — Gavin disse honestamente. — Limito-me a comê-lo,
não cozê-lo.
— Bem, você tem comido ouro! Vou cuidar disso imediatamente.
Por que não me mostrou isso antes?
— Porque minha querida esposa, pensei que pudesse dirigir
minha vida sozinho. Tenho pena de qualquer homem que pense assim.
Ela olhou para ele.
— Vou ajustar contas com esse padeiro! — Ela disse indo em
direção à saída.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 371
— Você não deveria levar o seu tricô? Talvez não vá encontrar o
suficiente para ocupá-la.
Judith olhou por cima do ombro para Gavin e viu que ele estava
brincando com ela. Ela devolveu seu sorriso, então pegou a bola de fio
e jogou para ele.
— Talvez você seja a pessoa que precisa de ocupação. — Ela
olhou intensamente para os livros, depois saiu da tenda.
Gavin sentou-se e segurou o fio por um momento, girando-o em
suas mãos. A tenda ficou vazia quando ela se foi. Aproximou-se da aba
aberta e encostou-se ao poste, observando-a. Nunca gritava com um
servo, mas de alguma forma conseguiu mais trabalho deles do que ele
jamais obteve. Ela cuidava da comida, da lavanderia, do
acampamento, tudo com facilidade. No entanto, ela nunca demostrou
qualquer nervosismo e nunca se poderia imaginar que ela conseguia
comandar seis coisas ao mesmo tempo.
Ela terminou de falar com o homem cujo carrinho estava cheio de
pão. O homem baixo e gordo foi embora, sacudindo a cabeça, e Gavin
sorriu divertido. Ele sabia como o padeiro se sentia. Quantas vezes
perdeu uma discussão com Judith? Ela podia rebater as palavras até
que uma pessoa não pudesse se lembrar de seus próprios
pensamentos.
Gavin a observou caminhar pelo acampamento. Ela parou para
provar o guisado em uma panela, falou com o escudeiro de Gavin, o
menino estava sentado em um banquinho polindo a armadura de seu
amo. O menino acenou com a cabeça e sorriu para ela, e Gavin sabia
que haveria alguma pequena mudança feita no procedimento simples.
E a mudança seria para melhor. Nunca viveu ou viajou com tanto
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 372
conforto, e com tão pouco esforço feito de sua parte. Lembrou-se das
vezes em que deixou sua tenda pela manhã e pisou em uma pilha de
esterco de cavalo. Agora Judith não permitia que a lama e dejetos se
amontoassem no chão. Seu acampamento era o mais limpo que já viu.
Judith sentiu que ele a olhava e se virou sorrindo, afastando a
atenção das galinhas que ela inspecionava. Gavin sentiu seu peito
apertar. O que sentia por ela? Importava que carregasse o filho de
outro homem? Tudo o que sabia era que a queria. Atravessou a grama
e tomou-lhe o braço.
— Venha comigo.
— Mas eu devo...
— Prefere que façamos amor aqui fora? — perguntou, levantando
uma sobrancelha.
Ela sorriu encantada.
— Não, acho que não.
Eles fizeram amor vagarosamente, saboreando o corpo um do
outro até que a paixão crescesse. Era isso que Gavin adorava em fazer
amor com Judith. A variedade. Ela nunca parecia ser a mesma por
duas vezes. Uma vez era calma e sensual, a próxima agressiva e
exigente. Em outros momentos, estaria rindo e provocando, em outros,
gostava de experimentar novidades e era quase acrobática. Mas não
importava como ela era. Adorava amá-la. Até o pensamento de tocá-la
o excitava.
Agora a abraçava, seu nariz enterrado em seus cabelos. Ela se
moveu contra ele como se pudesse aproximar-se mais. Não era
possível. Ele beijou o topo de sua cabeça sonolenta e adormeceu.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 373
— Você está se apaixonando por ele. — disse Joan na manhã
seguinte, penteando os cabelos de sua ama. A luz atravessando as
paredes da tenda era cheia de bolinhas. Judith usava um vestido de
suave de lã verde, um cinto de couro trançado em volta da cintura.
Mesmo na roupa de viagem simples e sem adornos, sua pele brilhava e
seus olhos eram as únicas joias que precisava.
— Suponho que você se refere ao meu marido.
— Oh, não! — Disse Joan, indiferente. — Eu me referia ao
homem da pastelaria.
— E como você reparou?
Joan não respondeu.
— Não é certo que uma mulher ame seu marido?
— É, se seu amor é correspondido. Tenha cuidado e não vá se
apaixonar tanto ao ponto de se sentir despedaçada, se ele for falso e te
faltar.
— Ele quase não sai de minha vista — disse Judith em sua
defesa.
— É verdade, mas quando estiver na corte do rei? Não ficará
sozinha com Lorde Gavin. Haverá as mulheres mais belas da
Inglaterra, e qualquer homem irá desviar os olhos.
— Cale a boca! — Judith ordenou. — E cuide de meu cabelo.
— Sim, minha lady. — disse Joan, zombando.
Durante todo o dia, enquanto viajavam Judith pensou nas
palavras de Joan. Estava começando a se apaixonar por seu marido?
Ela o viu uma vez nos braços de outra mulher, o que a enfureceu. Mas
o que a deixou zangada, de fato, era que ele lhe tinha tão pouco
respeito. Mas agora a ideia de vê-lo com outra mulher a fazia sentir-se
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 374
como se pequenos dardos de gelo estivessem sendo conduzidos através
de seu coração.
— Judith, você está bem? — Gavin perguntou do cavalo ao lado
dela.
— Sim... Não.
— O que aconteceu?
— Estou preocupada com a corte do rei Henrique. Há muitas
mulheres bonitas lá?
Gavin olhou para Stephen.
— O que você acha irmão? As mulheres na corte são adoráveis?
Stephen olhou para a cunhada, sem sorrir.
— Eu acredito que vai saber por si própria. — Ele disse
calmamente. Desviou seu cavalo para se juntar a seus homens. Judith
se voltou para Gavin.
— Não queria ofendê-lo.
— Stephen não se ofendeu. Embora não tenha comentado, ele
teme o seu casamento, e não o culpo, a dama odeia os ingleses e
certamente fará da sua vida um inferno.
Judith assentiu e olhou para a estrada.
Somente quando pararam para o jantar que ela foi capaz de
escapar por alguns momentos. Ela encontrou um arbusto de
framboesa selvagem nas margens do campo e começou a encher a saia
de sua túnica.
— Não deveria estar aqui sozinha.
Judith ofegou.
— Stephen, você me assustou.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 375
— Se eu fosse um inimigo, poderia estar morta agora ou então
sequestrada e mantida para resgate.
Judith olhou para ele.
— Você é sempre tão sombrio, Stephen, ou é apenas essa
herdeira escocesa que tanto o preocupa?
Stephen soltou a respiração.
— Sou tão transparente?
— Não para mim, mas para Gavin. Venha! Vamos sentar um
pouco, acha que poderíamos ser completamente egoístas e comermos
todas essas framboesas nós mesmos? Você já viu sua escocesa?
— Não. — Stephen disse, colocando uma framboesa aquecida
pelo sol em sua boca. — E ela ainda não é minha. Sabia que seu pai a
fez Laird do clã MacArran antes de morrer?
— Uma mulher que herda um clã por conta própria? — Os olhos
de Judith tinham um olhar distante.
— Sim. — disse Stephen com desgosto.
Judith recuperou-se.
— Então você não sabe como ela é?
— Oh, sim, eu sei! Tenho certeza de que pequena, escura, e
enrugada como uma pinha.
— Ela é velha?
— Talvez ela seja um cone de pinheiro jovem e gordo.
Judith riu de seu ar de desgraça.
— Como são diferentes os quatro irmãos. Gavin é pavio curto, é
gelo em um momento e fogo dentro de um segundo. Raine é riso e
brincadeira, Miles é...
Stephen sorriu para ela.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 376
— Não tente me explicar Miles, esse garoto tenta povoar toda a
Inglaterra com seus filhos.
— E quanto a você? Que lugar compartilha? É o segundo filho,
mas me parece o menos fácil de conhecer.
Stephen desviou o olhar.
— Não foi fácil quando eu era menino. Miles e Raine tinham um
ao outro, Gavin a preocupação das propriedades e eu...
— Você foi deixado sozinho.
Stephen olhou para Judith, atônito.
— Você me enfeitiçou! Em poucos momentos lhe disse mais sobre
mim do que já disse a qualquer outra pessoa.
Os olhos de Judith cintilaram.
— Se esta sua herdeira escocesa não tratá-lo bem, me avise e
arrancarei os dois olhos dela.
— Vamos primeiro esperar que ela tenha os dois para começar.
Eles começaram a rir.
— Vamos nos apressar em comer estas frutas ou teremos que
compartilhá-las. Se não me engano, meu irmão mais velho se
aproxima.
— Sempre a encontrarei na companhia de outros homens? —
Gavin franziu o cenho para eles.
— Você nunca vai me cumprimentar com outra coisa que não
uma crítica? — Judith retrucou.
Stephen soltou uma gargalhada.
— Acho que deveria voltar para o acampamento. — Ele se
inclinou e beijou a testa de Judith. — Se você precisar de ajuda,
irmãzinha, eu também sei arrancar os olhos das pessoas.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 377
Gavin agarrou o braço de seu irmão.
— Ela o conquistou também?
Stephen olhou de volta para sua cunhada, seus lábios
manchados de rosa escuro com suco de framboesas.
— Sim. Se você não a quiser...
Gavin lançou-lhe um olhar de desgosto.
— Raine já a pediu.
Stephen riu e se afastou.
— Por que você deixou o acampamento? — Gavin perguntou
enquanto se sentava ao lado dela e tirava um punhado de framboesas
de seu colo.
— Chegaremos a Londres amanhã, não é?
— Sim. O rei e a rainha não te assustam, não?
— Não, não eles.
— E o que a assusta então?
— As mulheres da corte.
— Está com ciúme? — Ele riu.
— Eu não sei.
— Como eu poderia ter tempo para outras mulheres quando você
está perto? Você me mantém tão cansado, que mal posso ficar sobre
meu cavalo.
Ela não riu com ele.
— Só tem uma mulher que me dá medo. Ela nos separou antes.
Não deixe que ela...
A expressão de Gavin ficou endurecida.
— Não fale dela. Tratei-te bem, e não me intrometo com o que fez
com Demari. Mas você quer aprisionar minha alma.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 378
— E ela é sua alma? — Judith perguntou calmamente.
Gavin olhou para ela, seus olhos quentes, sua pele suave e
perfumada. As noites passadas de paixão inundaram sua memória.
— Não me pergunte. — Ele sussurrou. — Só tenho certeza de
uma coisa, que minha alma não me pertence.
A primeira coisa que Judith notou em Londres foi o mau cheiro.
Ela pensava que conhecia todos os cheiros que os humanos poderiam
criar tendo passado verões em castelos invadidos pelo calor e excesso
de população. Mas nada a preparara para Londres. Esgotos abertos
corriam de cada lado das ruas de paralelepípedos, transbordando de
todo tipo de lixo. De cabeças de peixe e vegetais apodrecendo, aos
resíduos dos penicos, tudo estava nas ruas. Porcos e ratos corriam
livremente, comendo o lixo e espalhando-o por toda parte.
As casas, de madeiras e estruturas de pedra tinham dois ou três
andares de altura, e tão perto um do outro que pouco ar e nenhum sol
circulavam entre eles. O horror que Judith sentiu deve ter se mostrado
em seu rosto, pois tanto Gavin quanto Stephen riram dela.
— Bem-vinda à cidade dos reis. — disse Stephen.
Uma vez dentro das paredes de Winchester, o ruído e mau cheiro
eram menores. Um homem veio tomar seus cavalos, e assim que Gavin
ajudou Judith a desmontar do dela, virou-se para dar ordens sobre a
bagagem, móveis e carretas.
— Não. — Disse Gavin. — Tenho certeza de que o rei foi
informado de nossa chegada, e não vai gostar de esperar enquanto
você coloca ordem em seu castelo.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 379
— As minhas roupas estão limpas? Não estão muito amassadas?
— Judith vestiu-se com cuidado naquela manhã, com uma túnica de
seda preta e um vestido de veludo amarelo brilhante. As longas
mangas penduradas estavam revestidas com o melhor sabre russo.
Havia também uma larga margem de sabre ao longo da bainha do
vestido.
— Está perfeita. Agora venha e deixe o rei olhar para você.
Judith tentou acalmar seu coração palpitante com a ideia de
encontrar o rei da Inglaterra. Não sabia o que a esperava, mas achou
que o salão era bastante comum. Homens e mulheres sentados,
jogando xadrez e outros jogos. Três mulheres sentavam-se nos
banquinhos aos pés de um homem bonito que tocava um saltério. Em
nenhum lugar viu um homem que poderia ser o rei Henry.
Judith ficou espantada quando Gavin parou diante de um
homem de meia-idade, de olhos azuis e cabelos brancos. Ele parecia
muito cansado. Judith recuperou-se e rapidamente fez uma
reverência.
O rei Henry pegou sua mão.
— Venha para a luz e deixe-me olhar para você. Ouvi muito sobre
sua beleza. — Ele a levou para o outro lado, elevando-se sobre ela,
pois ele tinha um metro e oitenta de altura. — Você é tão bonita
quanto me disseram, venha aqui, Bess, — disse o rei Henry — e veja
Lady Judith, a esposa de Gavin.
Judith virou-se e viu uma bela mulher de meia-idade atrás dela.
Se estava surpresa de que Henry fosse o rei, não havia dúvida de que
aquela mulher era a rainha. Era uma mulher régia, tão segura de si
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 380
mesma, e demonstrava ser gentil e generosa. Seus olhos expressavam
boas-vindas para Judith.
— Sua Majestade! — disse Judith e fez uma reverência.
Isabel estendeu a mão.
— Condessa! — disse a rainha. — Estou tão feliz que você pôde
vir ficar conosco por um tempo. Eu disse algo errado?
Judith sorriu com a sensibilidade da mulher.
— É a primeira vez que me chamam de "condessa". Já faz algum
tempo desde a morte de meu pai.
— Sim, foi uma tragédia, não foi? E o homem que fez a ação?
— Ele está morto. — Judith disse com firmeza, lembrando-se
muito bem da sensação da espada afundando na espinha de Walter.
— Venha, deve estar cansada depois de sua viagem.
— Não, eu não estou.
Isabel sorriu com carinho.
— Então, talvez gostasse de vir ao meu quarto para um pouco de
vinho.
— Sim, Majestade, eu gostaria.
— Vai me desculpar, Henry?
Judith de repente percebeu que tinha virado as costas para o rei.
Virou-se, as bochechas coradas.
— Não se preocupe comigo, criança. — disse Henry, distraído. —
Tenho a certeza de que Bess vai coloca-la para trabalhar nos planos de
casamento do nosso filho mais velho, Arthur.
Judith sorriu e fez uma reverência para ele antes que seguisse a
rainha pela larga escada até o andar de acima.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 381
Capítulo Vinte e Quatro Alice sentava-se num banquinho diante de um espelho numa
grande sala no último andar do palácio. Ao seu redor havia uma
profusão de cores vivas. Havia cetim roxo e verde, tafetás escarlates,
brocados alaranjados. Cada tecido, cada peça foi escolhida como um
instrumento para chamar a atenção para si mesma. Ela tinha visto os
vestidos de Judith Revedoune em seu casamento e Alice sabia que o
gosto da herdeira inclinava-se para as cores simples, tecidos finos e
exuberantes. Alice queria chamar a atenção de Gavin com suas roupas
brilhantes.
Usava uma túnica rosa pálido, os braços bordados com tranças
rodadas e negras que desciam em redemoinhos. Seu vestido de veludo
carmesim tinha profundas aberturas no lado e na saia foram aplicadas
enormes flores silvestres de todas as cores conhecidas. A capa sobre
seus ombros era seu orgulho. Era de brocado italiano, com chamativos
animais entretecidos na trama, cada um tão grande quanto à mão de
um homem, tecido em verde, roxo, laranja e preto. Ela tinha certeza de
que ninguém a superaria hoje.
Era muito importante que Alice chamasse a atenção para si hoje
porque voltaria a ver Gavin. Ela sorriu para si mesma no espelho.
Sabia que precisava do amor de Gavin depois daquelas horas horríveis
que passara com Edmund. Agora que era viúva, podia olhar para
Edmund quase com carinho. É claro que o pobre homem só agiu
assim porque estava com ciúmes.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 382
— Olhe esta tiara! — Alice de repente ordenou a sua serva, Ella.
— Acha que essa pedra azul combina com meus olhos, ou é muito
clara? — Com raiva, arrancou o círculo dourado de sua cabeça. —
Maldito seja o ourives, ele deve ter usado seus pés para fazer uma arte
tão desajeitada.
Ella pegou a tiara de sua ama irritada.
— O ourives é o do próprio rei. O melhor de toda a Inglaterra, e a
tiara é a mais bonita que ele já criou. — Ella a tranquilizou. — É claro
que a pedra parece clara, nenhuma pedra poderia igualar a cor rica de
seus olhos.
Alice olhou de volta para o espelho e começou a se acalmar.
— Você realmente acha isso?
— Sim. — Ella respondeu honestamente. — Nenhuma mulher
poderia rivalizar com sua beleza.
— Nem mesmo aquela cadela Revedoune? — perguntou Alice,
recusando-se a usar o nome de Judith.
— Minha lady, não planeja algo que vai contra a igreja, não é?
— Como poderia estar contra os ensinos da Igreja o que eu faço
com ele? Gavin era meu antes que ela o tomasse, e será meu de novo!
Ella sabia por experiência que era impossível raciocinar com Alice
quanto tinha algo em sua mente.
— Se lembra de que chora a morte de seu marido enquanto ela
chora seu pai?
Alice riu.
— Eu imagino que sentimos o mesmo sobre esses dois homens,
ouvi dizer que seu pai era ainda mais desprezível do que o meu amado
marido.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 383
— Não fale assim dos mortos.
— E não me repreenda, ou vou ver você servir a outra pessoa. —
Era uma ameaça a que Ella não dava mais atenção. O pior castigo que
Alice poderia imaginar era privar a uma pessoa de sua companhia.
Alice levantou-se e alisou seu vestido. Todas as cores e texturas
brilharam e competiram umas com as outras.
— Você acha que ele vai me notar? — Ela perguntou sem fôlego.
— Quem não notaria?
— Sim. — Alice concordou. — Quem poderia não notar?
Judith estava silenciosa ao lado de seu marido, aturdida pelos
muitos convidados do rei. Gavin parecia à vontade com todos eles. Um
homem respeitado, sua palavra valorizada. Foi bom vê-lo em outro
ambiente além de um estritamente pessoal. Apesar de suas brigas e
disputas, ele cuidava dela e a protegia. Ele sabia que ela não estava
acostumada a multidões, então a manteve perto dele, sem força-la a
ficar com as mulheres, onde estaria entre estranhas. Recebeu muitas
provocações sobre isso, mas sorriu de bom humor, sem
constrangimento, ao contrario do que a maioria dos homens teria feito
em sua situação.
As mesas de cavalete longas estavam sendo armadas para o
jantar, os trovadores organizando seus músicos, os jograis, os
acrobatas ensaiando suas acrobacias.
— Está se divertindo? — Gavin perguntou, sorrindo para ela.
— Sim. É tudo tão barulhento e ativo.
Ele riu.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 384
— Vai ficar pior. Avise-me se ficar cansada, e nós nos
retiraremos.
— Não se importa que eu fique tão perto de você?
— Me importaria se não o estivesse. Não te quereria em liberdade
entre esta gente. Há muitos jovens e velhos, por exemplo, que te
devoram com os olhos.
— Serio? — Judith perguntou inocentemente. — Não notei.
— Judith, não provoque esses homens. A moral da corte é muito
fugaz, e não gostaria que você se visse presa em alguma rede de
confusão por sua própria inocência. Fique comigo ou com Stephen. A
menos que... — seus olhos endureceram em lembrança de Walter
Demari — você deseje encorajar alguém.
Judith estava por dizer-lhe o que pensava de suas insinuações,
mas um conde de algum lugar — ela nunca poderia recordar tantos
nomes — veio falar com Gavin.
— Vou ficar com Stephen. — disse ela e caminhou ao longo da
enorme sala até onde seu cunhado estava encostado na parede.
Stephen, como Gavin, estava vestido com uma rica roupa de lã
escura. O de Stephen era marrom, o de Gavin era cinza. Os duplos
coletes, ajustado no corpo, eram também de lã escura finamente
tecida. Judith não pôde deixar de sentir um arrepio de orgulho por
estar acompanhada de homens tão magníficos.
Judith notou uma jovem bonita, de rosto sardento, com um nariz
virado para cima que insistentemente olhava para Stephen por trás
das costas do pai.
— Ela parece gostar de você. — disse Judith.
Stephen não levantou os olhos.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 385
— Sim. — Disse abatido. — Mas meus dias estão contados,
verdade? Algumas semanas a partir de agora, e eu vou ter uma
mulher anã marrom pendurada no meu braço, e terei que suportar
seus chiados diante de algo que eu faça.
— Stephen! — Judith riu. — Certamente não poderia ser tão
ruim quanto você pensa que ela é. Nenhuma mulher poderia ser. Olhe-
me. Gavin não me viu antes de nosso casamento. Acredita que ele
também se preocupava que eu era feia?
Ele olhou para ela.
— Você não sabe o quanto invejo meu irmão, não é apenas bela,
mas sábia e gentil também. Gavin é o mais afortunado dos homens.
Judith sentiu as bochechas ficarem rosadas.
— Você me lisonjeia, mas eu gosto de ouvir.
— Não sou nenhum bajulador. — disse Stephen sem rodeios.
De repente, a atmosfera agradável no salão mudou, e tanto
Stephen como Judith olharam para as pessoas ao seu redor, sentindo
que uma parte da tensão estava voltada para eles. Muitas pessoas
olhavam para Judith. Algumas em apreensão, algumas sorrindo
friamente, outras em perplexidade e estranheza. Judith não entendia o
que estava acontecendo.
— Judith, — disse Stephen — você viu o jardim? A rainha Isabel
tem alguns lírios bonitos, e suas rosas são magníficas.
Judith franziu o cenho para ele, percebendo que a queria fora do
salão por alguma razão. Várias pessoas se afastaram e ela viu o motivo
da tensão. Alice Chatworth caminhava regiamente pelo salão, a cabeça
alta, um sorriso quente em seu rosto. E o sorriso era para uma pessoa,
Gavin.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 386
Judith observou Alice em seu vestido que parecia espalhafatoso e
mal combinado. Não encontrou beleza alguma naquela pele pálida,
seus olhos, obviamente, obscurecidos por meios artificiais.
A multidão ficou mais calma quando o "segredo" de Alice e Gavin
foi sussurrado de uma pessoa para outra. Judith virou-se da mulher
para olhar para o marido. Gavin olhava para Alice com uma
intensidade que era quase tangível. Seus olhos estavam hipnotizados
por ela, e nada parecia quebrar o contato. Ele a observou aproximar-se
lentamente e, quando ela estava perto, estendeu a mão. Ele a pegou e
a beijou.
O riso do rei foi ouvido acima dos pequenos sons do salão.
— Vocês dois parecem se conhecer.
— Em efeito, conhecemo-nos. — Gavin respondeu, sorrindo
lentamente.
— Certamente. — Alice respondeu, dando-lhe um sorriso
recatado, de lábios fechados.
— Acho que gostaria de ver o jardim agora. — Judith disse
rapidamente e pegou o braço estendido de Stephen.
— Judith ouça-me... — começou Stephen quando eles estavam
sozinhos no lindo jardim.
— Não me fale dela. Não há nada que você possa dizer que me dê
conforto, sempre soube dela, desde o dia de nosso casamento. — Ela
olhou para um arbusto de rosa, o ar pesado com a fragrância. — Ele
nunca mentiu a respeito. Não me escondeu que a ama ou tentou fingir
que sente carinho por mim.
— Judith, basta! Pare com isso. Não pode aceitar a essa mulher.
Judith voltou-se para Stephen.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 387
— E o que mais posso fazer? Ora, me diga o que, por favor! Ele
acredita que eu sou perversa em cada coisa que faço. Se fui até ele
quando foi mantido em cativeiro, acredita que fui para o meu amante
Se concebi seu filho, acredita que pertence para outro.
— A criança é de Gavin?
— Vejo que ele lhe disse o que pensa, que meu bebê é do Demari.
— Por que não lhe diz a verdade?
— Para que me chame de mentirosa? Não, obrigada, essa criança
é minha, não importa o pai.
— Judith, significaria muito para Gavin saber que a criança é
dele.
— Você vai correr e contar a ele? — Ela perguntou
acaloradamente. — Derrubará a sua amante para chegar perto dele? A
notícia vai fazê-lo muito feliz, tenho certeza. Ele tem as terras
Revedoune, um herdeiro a caminho, e sua loira Alice para amar.
Perdoe-me se eu sou egoísta o suficiente para querer manter alguma
coisa pequena para mim, por um tempo.
Stephen sentou-se em um banco de pedra e olhou para ela. Ele
sabia que era melhor não confrontar seu irmão mais velho no
momento em que estava tão zangado. Uma mulher como Judith não
merecia tanta negligência e maus tratos como Gavin a tratava.
— Minha lady. — chamou uma mulher.
— Aqui, Joan. — respondeu Judith. — O que quer?
— As mesas estão preparadas para o jantar e você deve vir.
— Não, não vou. Por favor, diga que estou indisposta. Meu estado
servirá de desculpa.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 388
— E deixar que a puta o tenha? — Joan gritou. — Você deve
participar.
— Concordo Judith. — Disse Stephen.
Joan girou, sem ter percebido a presença de Stephen. Ela ficou
ruborizada. Ela ainda não havia superado a surpresa pela beleza
impressionante dos homens da nova família de sua ama. Até mesmo o
modo como se moviam a fazia tremer de desejo.
— Você planeja atacá-lo aqui? — Perguntou Judith. — Você às
vezes se esquece de onde está, Joan.
— São os homens que me obrigam a esquecê-lo. — murmurou a
criada. — Lorde Gavin perguntou por você.
— Estou feliz por ele se lembrar de mim. — Ela disse sarcástica.
— Sim, eu me lembrei de você. — Gavin disse do portão. — Vá —
disse ele à serva. — Gostaria de falar com minha mulher a sós.
Stephen ficou de pé.
— Eu também irei. — Dirigiu a seu irmão um olhar duro, depois
saiu.
— Não me sinto bem. — disse Judith. — Preciso ir ao meu
quarto.
Gavin agarrou seu braço e aproximou-se dela. Seus olhos
olharam-no friamente. Quanto tempo se passou desde que ela olhou
para ele assim!
— Judith, não me odeie de novo.
Judith tentou afastar-se dele.
— Você me humilha, e não posso demostrar raiva, não sabia que
você pensava que eu era uma santa. Talvez eu devesse fazer um
pedido de canonização.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 389
Ele riu de sua aguda inteligência.
— Eu não fiz nada além de olhar para ela e beijá-la na mão. Não
a via faz um tempo.
Judith zombou dele.
— Olhar para ela? — Ela sibilou. — Os juncos estavam quase
incendiando.
Gavin olhou para sua esposa com admiração.
— Você está com ciúmes? — Ele perguntou calmamente.
— Daquela loira que deseja o meu marido? Não, encontraria uma
candidata mais digna se eu tivesse ciúmes.
Os olhos de Gavin brilharam por um momento. Ele nunca tinha
permitido ninguém dizer nada contra Alice.
— Sua raiva diz que você mente.
— Raiva! — Disse ela, depois se acalmou. — Sim, estou zangada
porque você exibe sua paixão para todos verem. Você me envergonhou
diante do rei. Não viu como as pessoas olhavam-me e sussurravam? —
Ela queria machucá-lo. — Quanto ao ciúme, é preciso amar para que
essa emoção ocorra.
— E você me dá amor? — Perguntou friamente.
— Eu nunca disse isso, não é? — Ela não podia ler sua
expressão. Não sabia se machucava ou não Gavin. Mas mesmo que o
machucasse, suas palavras cruéis não lhe davam prazer.
— Venha, então. - disse ele, tomando seu braço. — O rei espera
por nós, e você não vai insultá-lo com sua ausência. Se for realmente o
seu desejo parar a fofoca, deve representar o papel de esposa amorosa.
Judith o seguiu docilmente, sua raiva estranhamente
desaparecida.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 390
Como convidados recém-chegados e aqueles a serem
especialmente honrados, Gavin e Judith foram sentados ao lado do rei
e rainha, Judith à direita do rei, Gavin à esquerda da rainha e ao lado
de Gavin, Alice.
— Você parece perturbada — disse o rei Henry a Judith.
Ela sorriu.
— Não, é só a jornada e a criança que me cansam.
— Uma criança, tão cedo? Tenho certeza de que Lorde Gavin está
especialmente satisfeito com isso.
Ela sorriu, mas não pôde responder.
— Gavin, — Alice disse suavemente para que nenhum outro
ouvido escutasse suas palavras — faz tanto tempo que não te via. —
Ela era cautelosa com ele, pois sentia que as coisas haviam mudado
entre eles. Evidentemente, não esquecera seu amor por ela, e ainda
podia olhá-la como antes. Mas ele acabava de beijar sua mão quando
seus olhos se afastaram dela e esquadrinharam o salão. Eles pararam
quando viu a esposa se retirar. Momentos depois, ele a abandonou e
seguiu Judith.
— Minhas condolências pela morte precoce de seu marido. —
disse Gavin friamente.
— Você vai achar que sou cruel, mas lamento muito pouco sua
morte. — murmurou Alice tristemente. — Ele era... indelicado comigo.
Gavin olhou-a bruscamente.
— Mas ele não era o marido de sua escolha?
— Como você pode dizer isso? Eu fui forçada a aceitar esse
casamento... Oh, Gavin, se você tivesse esperado, poderíamos estar
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 391
juntos agora, mas tenho certeza de que o rei nos permitirá casarmos.
— Ela pôs a mão em seu braço.
Ele olhou para a mão dela, tão fina e pálida, e então de volta para
seus olhos.
— Você se esquece de que estou casado, que tenho uma esposa?
— O rei é um homem compreensivo. Ele nos ouvirá. Seu
casamento pode ser anulado.
Gavin voltou-se para a comida no seu prato.
— Não me fale de anulação. Eu ouvi essa palavra o suficiente
para me durar uma vida. Ela carrega uma criança. Mesmo o rei não
dissolveria um casamento nestas condições.
Gavin dedicou sua atenção à rainha e começou a fazer perguntas
sobre o casamento do príncipe Arthur com a Catalina, princesa da
Espanha, que estava próximo.
Alice ficou silenciosa, pensando nas palavras de Gavin. Queria
saber por que ele estava cansado da palavra “anulação” e por que se
referia ao bebê de sua esposa como "uma criança" quase como se não
o tivesse gerado.
Uma hora depois, as mesas estavam limpas e empilhadas contra
a parede, dando espaço para qualquer pessoa que se quisesse dançar.
— Você dançaria comigo? — Perguntou Gavin à esposa.
— Devo pedir permissão? — Perguntou ela, olhando para Alice,
que se sentava entre vários jovens admiradores.
Os dedos de Gavin apertaram o braço de Judith.
— Está sendo injusta comigo, não foi eu quem distribuiu os
assentos para o jantar. Estou fazendo tudo o que estiver ao meu
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 392
alcance para tranquilizá-la, mas há algumas coisas que não consigo
controlar.
— Talvez eu esteja agindo de forma irracional — ela pensou.
— Sim, vou dançar com você.
— Ou talvez prefira um passeio no jardim. — Ele sorriu. — É
uma noite quente.
Ela hesitou.
— Venha comigo, Judith.
Eles mal passaram pelo portão quando ele a puxou para seus
braços e a beijou com fome. Ela se agarrou a ele desesperadamente.
— Minha doce Judith. — ele sussurrou. — Não sei se posso
suportar mais a sua raiva. Machuca-me profundamente quando me
olha com ódio.
Ela se derreteu contra ele. Era o mais próximo que chegou de
dizer que se importava com ela. Poderia confiar nele, acreditar nele?
— Venha para cima comigo. Vamos para a cama, e não voltemos
a discutir novamente.
— Está me dizendo palavras suaves na esperança de que eu não
fique fria na cama? — Ela perguntou suspeitosamente.
— Digo palavras suaves porque eu as sinto. Não quero que elas
sejam jogadas de volta para mim.
— Eu... Peço desculpas, foi cruel contigo.
Ele a beijou novamente.
— Pensarei em algum jeito de que me peças desculpas pelo seu
temperamento precipitado.
Judith deu uma risadinha e ele sorriu calorosamente, sua mão
acariciando sua têmpora.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 393
— Venha comigo se não quer que a possua no jardim do rei.
Ela olhou para o lugar escuro, como se estivesse considerando.
— Não! — Ele riu. — Não me tente. — Ele pegou sua mão e a
levou subindo as escadas até o último andar da mansão. O enorme
quarto havia sido dividido em pequenos quartos para a noite com
biombos de carvalho.
— Milady. — disse Joan sonolenta quando os ouviu se
aproximar.
— Esta noite não precisaremos de seus serviços. — Gavin disse
dispensando-a.
Joan revirou os olhos e saiu pelo labirinto de biombos.
— Ela está de olho em seu irmão. — disse Judith.
Gavin levantou uma sobrancelha.
— Por que você se importaria com o que Stephen faz com suas
noites?
Judith sorriu para ele.
— E você desperdiça a nossa em conversa desnecessária. Vou te
ajudar com esses botões.
Gavin estava se tornando bastante eficiente em despir sua
esposa. Quando começou a tirar suas próprias roupas, Judith
sussurrou:
— Deixe-me fazê-lo, serei teu escudeiro esta noite. — Ela
desabotoou o cinto que segurava o gibão sobre seu ventre duro e
achatado e passou sobre sua cabeça. A túnica de mangas compridas
veio em seguida, expondo seu peito e a parte superior das coxas entre
a calça e as roupas íntimas.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 394
Uma grossa vela queimava junto à cama. Ela empurrou Gavin
para perto da luz, olhando para seu corpo com interesse. Judith o
explorou com as mãos, mas nunca tão completamente com os olhos.
As pontas de seus dedos corriam sobre os músculos de seu braço e
seu ventre ondulado.
— Você gosta? — Perguntou, com os olhos escuros.
Ela sorriu-lhe. Às vezes ele parecia ser um garotinho, preocupado
se ela gostava ou não. Ela não respondeu, mas o deitou na cama e
desamarrou sua calça, jogando-a para longe de suas pernas
musculosas. Gavin ficou imóvel, como se tivesse medo de quebrar o
feitiço. Judith deslizou suas mãos desde seus pés, pelos os lados até
seus quadris, e habilmente desamarrou o calção de linho preso a
cintura por um cadarço. Suas mãos percorreriam seu corpo.
— Você me agrada. — ela disse enquanto o beijava. — E a você,
eu agrado?
Ao invés de responder, empurrou-a para a cama e deitou-se em
cima dela. Sua paixão era tanta que não podia esperar por ela muito
tempo, mas Judith também precisava dele, tão ferozmente quanto ele
necessitava dela.
Mais tarde, Gavin segurava-a estreitamente em seus braços
ouvindo sua respiração serena. Perguntava-se quando se apaixonara
por ela. Talvez já estivesse apaixonado quando a levou para casa e a
deixou na soleira da porta. Sorriu lembrando-se de como estava bravo
porque ela ousou desafiá-lo. Beijou sua testa adormecida. Judith
seguiria desafiando-o mesmo quando tivesse noventa anos. A ideia
realmente era atrativa.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 395
E quanto a Alice? Quando havia deixado de amá-la? Alguma vez
a amou? Talvez tenha sido somente a paixão de um jovem por uma
bela mulher. Ela era linda, era verdade, e esta noite ficou surpreso
quando a viu de novo, seu brilho o havia ofuscado de certo modo. Alice
era uma mulher gentil, suave e boa, tão doce quanto Judith era ácida.
Mas nos últimos meses ele tinha aprendido a gostar um pouco de
vinagre com sua comida.
Judith se moveu em seus braços e ele a trouxe para mais perto.
Acusava-a de desonestidade, mas ele realmente não acreditava em
suas próprias palavras. Carregava o filho de outro homem, então, o
tinha concebido enquanto tentava proteger seu marido.
Equivocadamente, com certeza, mas no fundo seu coração era cheio de
bondade. Ela desistiria de sua própria vida para salvar a mãe, e até
mesmo um marido que não a tratava bem.
Abraçou-a tão forte que ela acordou, lutando para respirar.
— Está me estrangulando! — Ela ofegou. Ele beijou seu nariz.
— Já lhe disse que gosto de vinagre? — Ela o olhou sem
compreender.
— Que tipo de esposa é você? — Perguntou Gavin. — Não sabe
como ajudar seu marido a dormir? — Esfregou sua pélvis contra o
corpo dela e ela arregalou seus olhos. — Dormir assim me causaria
muita dor. Você não gostaria disso, não é?
— Não. — Ela sussurrou com os olhos meio fechados. — Não tem
que suportar tanta dor.
Era Gavin quem estava excitado, Judith estava envolta em uma
luz vermelha e prateada. Ele passava as mãos sobre seu corpo como se
nunca tivesse tocado nela antes, e sua carne fosse algo novo. Depois
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 396
que suas mãos se familiarizaram com sua pele macia e lisa, começou a
explora-la com os olhos.
Judith gritou em um desejo desesperado, mas ele somente riu e
afastou suas mãos de seus ombros. Quando ela estava tremendo de
desejo, a penetrou e juntos, quase que instantaneamente, alcançaram
o alivio de sua paixão. Eles adormeceram acoplados. Gavin ainda em
cima dela.
Quando Judith acordou na manhã seguinte, Gavin não estava na
cama. A cama estava deserta e vazia. Joan a ajudou a colocar um
vestido de veludo marrom, o decote quadrado e profundo. Suas
mangas estavam forradas com pele de raposa. Sobre o peito e ao redor
da cintura usava cordões dourados, presos no ombro com um broche
de diamante. Na ceia, haviam falado sobre um dia de caça com arcos,
e ela queria participar.
Gavin a esperava ao pé da escada, seus olhos dançando de
prazer.
— Que dorminhoca é! Tinha a esperança de encontrá-la na cama
e talvez me juntar a você.
Ela sorriu provocadora.
— Devo voltar?
— Não, não agora. Tenho notícias para dar-te. Falei com o rei e
ele concorda em permitir que John Bassett se case com sua mãe. O rei
Henrique era galês, descendente de plebeus.
Ela o olhou fixamente.
— Isso não te agrada?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 397
— Oh, Gavin! — Judith se lançou dos degraus em seus braços. O
abraçou tão apertado pelo pescoço, que ele quase sufocou. — Muito
obrigada, milhares de vezes, obrigada.
Ele a abraçou rindo.
— Se soubesse que sua reação teria sido assim, teria conversado
com o rei ontem à noite.
— Pois ontem à noite não poderia assimilar mais do que tinha. —
Judith disse seca.
Ele riu e apertou-a até que ela pediu por liberdade a gritos, suas
costelas quase quebrando.
— Acredita que não? — Gavin desafiou. — Provoque-me um
pouco mais e vou levá-la para a cama e mantê-la lá até que esteja
muito dolorida para andar.
—Gavin! — Ofegou, seu rosto vermelho. Ela olhou ao redor para
ver se alguém estava ouvindo.
Ele riu por entre dentes e beijou-a levemente.
— Minha mãe sabe do casamento dela?
— Não. Pensei que talvez você gostaria de dizer pessoalmente a
ela.
— Tenho vergonha de dizer que nem sei onde ela está.
— Mandei John cuidar do alojamento dos meus homens.
Suponho que a sua mãe esteja perto dele.
— É verdade, ela não costuma sair do lado dele. Gavin, obrigada,
foi muito gentil de sua parte me conceder esse favor.
— Eu gostaria de poder lhe conceder tudo o que desejasse. — Ele
disse suavemente.
Ela o olhou, maravilhada.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 398
— Vá então. — Ele sorriu. — Dê a sua mãe a noticia, depois se
junte a mim no pátio para a caçada. — Colocou-a no chão, e deu-lhe
uma olhada com preocupação. — Está bem o suficiente para montar?
Era a primeira vez que mencionava a criança sem raiva.
— Sim. — Respondeu ela sorrindo. — Estou muito bem. A rainha
Isabel disse que o exercício me fará bem.
— Bem, apenas não exagere. — Gavin advertiu.
Ela sorriu e se virou reconfortada por aquele interesse. Sentia-se
leve de felicidade.
Judith desceu as escadas e saiu do grande salão. O enorme
pátio, que estava dentro das muralhas vigiadas estava cheio de gente.
O barulho era quase ensurdecedor quando homens e mulheres
gritavam com os criados e os criados gritavam uns com os outros.
Tudo parecia tão desorganizado que Judith se perguntou como tudo
era feito. Um longo edifício ficava no fim do pátio. Os cavalos
galopavam pelo lado de fora, segurados pelos cavalariços. Era
obviamente o estábulo.
— Ah, se não é a pequena ruiva. — Murmurou uma voz
ronronante que parou Judith instantaneamente. — Está indo para
algum encontro com um amante, talvez?
Judith parou e olhou para Alice Chatworth. Sua inimiga, cara a
cara.
— Tenho certeza que você deve se lembrar de mim. — Alice disse
docemente. — Nos conhecemos no seu casamento.
— Lamento não ter podido assistir ao seu, embora Gavin e eu
compartilhássemos sua mensagem de amor eterno. — Judith
respondeu no mesmo tom.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 399
Os olhos de Alice dispararam fogo azul, seu corpo endureceu.
— Sim, é lamentável que tudo tenha terminado tão cedo.
— Terminado?
Alice sorriu.
— Não soube? Meu marido, pobrezinho, foi assassinado enquanto
dormia. Agora, sou viúva e livre. Oh, sim, muito livre. Presumi que
Gavin lhe contou... Ele estava muito interessado em meu novo... ah,
estado civil.
Judith virou-se e saiu andando rapidamente. Não, ela não sabia
que Alice havia enviuvado. Agora só ela estava entre aquela mulher e
Gavin. Já não havia Edmund Chatworth para impedi-los.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 400
Capítulo Vinte e Cinco Judith continuou a caminhar em direção aos estábulos, embora
não tivesse ideia para onde estava indo. Sua mente só estava ciente do
fato de que Alice Chatworth era uma viúva.
— Judith.
Ela levantou a vista e conseguiu sorrir para a mãe.
— Vai participar da caçada hoje?
— Sim. — Ela disse, havia perdido a alegria de seu dia.
— O que está errado?
Judith tentou sorrir.
— É que eu vou perder a minha mãe, só isso. Sabia que Gavin
deu permissão para seu casamento com John Bassett?
Helen olhou para a filha. Não falou nem sorriu. Lentamente, a cor
sumia de seu rosto. Caiu para frente nos braços da filha.
— Socorro! — Judith conseguiu exclamar.
Um jovem alto que estava perto correu para elas e rapidamente
levantou Helen.
— Para os estábulos. — Ordenou Judith. — Onde não tenha sol.
Quando ficaram na sombra, Helen começou a se recuperar quase
que instantaneamente.
— Mãe, está bem?
Helen olhou significativamente para o jovem. Que entendeu o
olhar.
— Vou deixá-las sozinha. — disse ele e afastou-se antes que
Judith pudesse agradecê-lo.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 401
— Eu... não sabia. — Helen ofegou. — Quero dizer, não sabia que
Lorde Gavin sabia do meu amor por John.
Judith conteve uma gargalhada.
— Pedi-lhe permissão há algum tempo, mas ele queria consultar
o rei. O seu casamento será incomum.
— E em breve. — murmurou Helen.
— Em breve, mãe!
Helen sorriu como uma criança presa em alguma travessura.
— Sim... a verdade... Vou ter o seu filho.
Judith afundou em uma pilha de feno.
— Devemos dar a luz juntas? — Judith perguntou maravilhada.
— Quase!
Judith começou a rir.
— Os arranjos do casamento devem ser rápidos, assim o bebê
poderá ter direito a um sobrenome.
— Judith! — Ela levantou a cabeça e viu Gavin se aproximando
delas.
— Um homem disse que sua mãe passou mal.
Ela se levantou e pegou seu braço.
— Vamos. Temos que conversar.
Momentos depois, Gavin balançava com a cabeça.
— E pensar que acreditei que John Bassett fosse um homem
sensato!
— Ele está apaixonado. Homens e mulheres fazem coisas
insensatas quando estão apaixonados.
Gavin olhou em seus olhos, o ouro especialmente brilhante à luz
do sol.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 402
— Estou bem ciente disso.
— Por que não me disse que ela estava viúva? — Judith
perguntou calmamente.
— Quem? — Ele perguntou honestamente intrigado.
— Alice, quem mais?
Ele encolheu os ombros.
— Não pensei em lhe contar. — Sorriu. — Acho que tenho outros
pensamentos quando você está perto de mim.
— Você está tentando mudar de assunto?
Ele agarrou Judith pelos ombros, levantando-a do chão.
— Não sou eu que vive obcecado com essa mulher, mas você! Se
não posso te fazer raciocinar, vou tentar faze-la compreender a
sacudidas. Você gostaria de ser sacudida em público?
Ele balançou a cabeça em admiração quando ela sorriu-lhe
docemente.
— Prefiro participar da caçada. Pode me ajudar a montar meu
cavalo?
Ele olhou para ela por um momento, depois a colocou no chão.
Nunca entenderia as mulheres. A caçada foi emocionante para Judith.
Um pequeno falcão repousava em um poleiro preso a sua sela. Seu
falcão derrubou três cegonhas, e ela ficou satisfeita com a caçada do
dia.
Gavin não teve tanta sorte. Ele acabava de montar sua sela
quando recebeu uma mensagem sussurrada no seu ouvido por uma
donzela. Stephen queria se encontrar com ele por assuntos
particulares, há três milhas fora das muralhas do castelo. Seu irmão
pedia que ele não contasse a ninguém sobre o encontro, nem mesmo a
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 403
sua esposa. Gavin ficou intrigado com a mensagem, pois não soava
como sendo de Stephen. Ele deixou o grupo de caça enquanto Judith
estava envolvida no voo de seu falcão, amaldiçoando seu irmão por
afastá-lo de uma visão tão linda.
Gavin não foi direto ao local indicado, mas amarrou seu cavalo a
certa distância e se aproximou cautelosamente, a espada
desembainhada.
— Gavin! — Alice disse, sua mão sobre o peito. — Você me deu
um susto terrível.
— Onde está Stephen? — Gavin perguntou, ainda olhando para o
lugar com cautela.
— Gavin, por favor, afaste sua espada. Assusta-me! — Alice
sorria, mas em seus olhos não se via medo algum.
— Você me chamou aqui, e não Stephen?
— Sim, era a única maneira para trazê-lo aqui. — Ela baixou os
olhos. — Pensei que você queria me ver a sós.
Gavin guardou sua espada. Era um lugar calmo e isolado, bem
parecido com aquele onde ela costumava encontrá-lo quando eram
solteiros.
— Ah, então você também pensa naqueles tempos. Venha, sente-
se perto de mim, temos muito que conversar.
Gavin olhava para ela e sem querer, começou a compará-la com
Judith. Alice era bonita, sim, mas sua pequena boca, com seu sorriso
de lábios fechados, parecia pouco generosa e quase mesquinha. Seus
olhos azuis lembravam mais o gelo, em vez de safiras. E o vermelho,
laranja e o verde que usava pareciam chocantes ao invés de
brilhantes, como costumava recordar de suas roupas.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 404
— As coisas mudaram tanto que se senta tão longe de mim?
— Sim, é verdade. — Gavin não viu o breve franzido de
sobrancelha que cruzou sua fronte pálida.
— Ainda está bravo comigo? Eu disse a você uma e outra vez que
me casaram contra minha vontade com Edmund. Mas agora que eu
estou viúva poderemos...
— Alice, — ele interrompeu — por favor, não fale mais sobre isso.
— Tinha que dizer a ela, e temia feri-la. Ela era tão suave e delicada,
tão incapaz de suportar as dores da vida. — Não deixarei Judith, nem
por anulação, nem divórcio ou qualquer outro meio antinatural.
— Não... não entendo. Agora temos a oportunidade de ficarmos
juntos.
Ele cobriu a mão dela com a sua.
— Não, não temos.
— Gavin, o que você está dizendo?
— Eu a amo. — Ele disse simplesmente.
Os olhos de Alice brilharam por um momento. Logo recuperou o
domínio de si.
— Mas me disse que não se apaixonaria. No dia do seu
casamento, me prometeu que não a amaria.
Gavin quase sorriu com a recordação. Dois votos foram feitos
naquele dia. Judith havia jurado não dar-lhe nada de boa vontade,
apenas o que ele tomasse. E que encantadoramente havia quebrado
esse juramento! E ele também quebrou o juramento dele.
— Não se lembra de que ameaçou tirar a própria vida? Eu teria
feito ou dito qualquer coisa para impedi-la.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 405
— E agora não se importa mais com o que eu faça com minha
vida?
— Não, não se trata disso! Sabe que sempre terá um lugar no
meu coração. Foi meu primeiro amor, e jamais vou te esquecer.
Alice olhou para ele, de olhos arregalados.
— Você fala como se eu já estivesse morta. Diga-me, ela tomou
todo o seu coração sem deixar-me nada?
— Te disse que tinha uma parte, Alice. Não faça isso conosco.
Deve aceitar o que aconteceu.
Alice sorriu, seus olhos começando a encher-se de lágrimas.
— Devo aceitar com a fortaleza de um homem? Gavin, eu sou
uma mulher. Uma mulher débil e frágil. Mesmo que seu coração tenha
esfriado para mim, o meu não faz nada que não arder mais e mais
quando te vejo. Sabe o que foi como estar casada com Edmund? Ele
me tratou como uma serva, trancava-me no meu quarto
constantemente.
— Alice...
— E pode adivinhar por quê? Porque mandou me vigiar no dia de
seu casamento. Sim, ele sabia que estivemos sozinhos no jardim.
Também sabia dos momentos em que estivemos sozinhos em sua
tenda. Lembra-se do beijo que me deu com tanto carinho, na manhã
após seu casamento?
Gavin assentiu, não querendo ouvir aquela confissão.
— Durante nossa vida de casados, ele nunca perdeu um
momento para me lembrar do tempo que passei com você. Mas eu
aguentei tudo, de boa vontade, quase com alegria, porque sabia que
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 406
você me amava. Cada noite solitária que passei acordada e pensando
em você, e seu amor por mim.
— Basta Alice, você deve parar.
— Diga-me... — ela insistiu em voz baixa. — Não pensou uma vez
em mim?
— Sim. — Ele respondeu com honestidade. — No principio sim.
Judith é uma boa mulher, gentil, bondosa e amorosa. Nunca pensei
que a amaria. Bem sabes que era um casamento de conveniência.
Alice suspirou.
— O que devo fazer agora? Meu coração é seu. Como sempre foi e
sempre será.
— Alice, isso não vai ajudar em nada. Entre nós está tudo
acabado. Agora estou casado e amo minha esposa. Seu caminho e o
meu precisa se separar.
— Que frio está comigo. — Alice tocou seu braço, então moveu
sua mão até seu ombro. — Em outros tempos não era tão frio.
Gavin lembrava-se claramente de como faziam amor. Ele cego por
seu amor por ela, acreditava que qualquer coisa que ela fizesse, era a
maneira como deveria ser feito. Mas agora, depois de meses de paixão
com Judith, a ideia de deitar com Alice quase o repugnava. O jeito que
ela não suportava ser tocada nem antes ou depois da copula. Não, com
Alice era puro sexo, um impulso animal, nada mais.
Alice viu a expressão em seu rosto, mas não a compreendeu.
Continuou acariciando-lhe até que tocou seu pescoço. Gavin se
levantou imediatamente. Alice também se levantou, tomava sua
relutância a seu toque como um sinal de seu desejo crescente por ela.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 407
Ela se colou corajosamente contra ele, seus braços ao redor de seu
pescoço.
— Eu vejo que você se lembra. — Ela sussurrou, erguendo o
rosto para beija-lo. Gavin desviou com suavidade. Gentilmente retirou
seus braços de seu pescoço.
— Não, Alice.
Alice o fulminou com o olhar, suas mãos apertadas em punhos
aos seus lados.
— Tanto te impressiona essa mulher que tem medo dela?
— Não. — Gavin disse surpreso, tanto com o seu raciocínio,
quanto com sua explosão. A raiva não era natural para Alice, que era
sempre tão doce.
Alice rapidamente percebeu que cometeu um erro ao revelar suas
verdadeiras emoções. Ela piscou os olhos até que grandes lágrimas se
formaram como pedras preciosas.
— Isto é um adeus. — ela sussurrou. — Não posso nem ter um
último beijo? Negaria-me isso, depois de tanto que nos amamos?
Era tão delicada e ele a tinha amado tanto. Ele limpou uma
lágrima de sua bochecha com a ponta do dedo.
— Não! — Ele sussurrou. — Não negaria um último beijo. — Ele
tomou-a suavemente em seus braços e a beijou docemente.
Mas Alice não queria doçura. Gavin esquecera-se de sua
violência. Ela empurrou sua língua em sua boca, esfregando os dentes
contra seus lábios. Ele não sentiu qualquer sinal de ardor como o teria
sentido antes, mas apenas uma fraca sensação de aversão. Queria
afastar-se daquela mulher.
— Preciso ir. — disse ele, escondendo sua repugnância.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 408
Alice sentiu que algo estava muito errado. Ela pensou em
domina-lo através desse beijo, mas não havia sido assim.
Contrariamente, Gavin estava mais distante do que antes. Ela mordeu
a língua para não soltar suas palavras afiadas e conseguiu um olhar
adequadamente triste, enquanto ele caminhava através das árvores
para o seu cavalo que o esperava.
— Maldita seja sua cadela! — Alice disse com os dentes cerrados.
Aquela bruxa de cabelos ruivos roubou seu homem!
Ou pelo menos ela pensava que tinha. Alice começou a sorrir.
Talvez aquela mulher Revedoune pensasse que conquistou Gavin, que
pudesse manobra-lo com seu dedo mínimo. Mas ela estava enganada!
Alice não permitiria que alguém tomasse o que era dela. Não, ela iria
lutar pelo que lhe pertencia e Gavin era dela... ou seria novamente.
Esforçou-se muito para chegar onde estava, na corte do rei e
perto de Gavin; Ela até permitiu que o assassino de seu marido
escapasse. Observaria a mulher e descobriria sua fraqueza. Então
Alice recuperaria o que era dela. Mesmo que decidisse depois se
desfazer de Gavin, essa era sua decisão e não dele!
Gavin voltou rapidamente para a caçada. Tinha partido por um
longo tempo, mas esperava que ninguém tivesse sentido a sua falta.
Elevou uma oração silenciosa de agradecimento que Judith não o viu
beijando Alice. Nenhuma explicação no mundo a teria pacificado. Mas
tudo isso acabou. Fora difícil, mas tinha dito a Alice e agora estava
para sempre livre dela.
Gavin viu sua esposa à frente, balançando sua isca para atrair
seu falcão de volta ao poleiro. De repente, desejou-a de forma intensa.
Incitou sua montaria para frente até que estavam quase galopando
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 409
juntos quando alcançou seu cavalo. Ele se inclinou para frente e tirou-
lhe as rédeas.
— Gavin! — Gritou Judith enquanto agarrava-se a sela. Seu
falcão batendo as asas de medo.
As pessoas ao seu redor riam as gargalhadas.
— Estão casados há quanto tempo?
— Não o tempo suficiente! — Veio à resposta.
Gavin parou os dois cavalos quando estavam a alguma distância,
em uma clareira isolada.
— Gavin, você perdeu a cabeça? — Perguntou Judith.
Ele desmontou de seu cavalo, em seguida, tirou-a do dela. Não
falou uma palavra sequer, começou a beijá-la com fome.
— Estava pensando em você. — Ele sussurrou. — E quanto mais
pensava em você, mais meu desejo... crescia.
— Eu posso sentir sua necessidade. — Ela olhou em volta. —
Este é um lugar bonito, não é?
— Não poderia ser mais bonito.
— Sim, poderia. — ela respondeu enquanto se deixava beijar.
O doce ar do verão ao ar livre aumentava a sua paixão, assim
como a ideia ligeiramente impertinente, que estavam fazendo algo que
não deveriam em algum lugar inapropriado. Judith riu quando Gavin
fez um comentário sobre as numerosas crianças do Rei Henrique. Ele
interrompeu seu riso com os lábios.
Desfizeram-se das roupas um do outro apressadamente e fizeram
amor como se não tivessem se visto há anos. Saciados, permaneceram
abraçados envoltos na aquecida luz solar e o delicado cheiro de flores
silvestres.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 410
Capítulo Vinte e Seis Alice olhava por cima das muitas cabeças dos homens ao seu
redor para o homem magro, loiro, bonito, encostado na parede. Ele
tinha uma expressão pensativa no rosto que ela reconheceu como a de
alguém apaixonado. Ela sorriu docemente para um homem próximo,
mas Alice não estava ouvindo. Sua mente estava completamente
absorvida lembrando-se desta tarde, quando Gavin disse que estava
apaixonado por sua esposa. Ela observou-o enquanto Gavin segurava
a mão de sua esposa e a conduzia pelos intrincados passos de uma
dança. Não importava que Alice tivesse vários homens jovens a seus
pés. Ser desprezada por Gavin só a fez querer-lhe mais. Se ele tivesse
jurado que a amava ainda, talvez, ela tivesse considerado uma das
muitas propostas de casamento oferecidas a ela. Mas Gavin a rejeitou,
e agora sabia que devia tê-lo. Somente uma coisa estava em seu
caminho, e que ela planejava tirar.
O jovem loiro olhava para Judith com fascínio, seus olhos nunca
a deixando. Alice notara-o no jantar quando olhou para a mesa alta,
nem sequer piscando enquanto olhava insistentemente para Judith.
Alice percebeu que a mulher era estúpida demais para sequer tomar
consciência de um admirador, pois os olhos de Judith nunca saíam de
Gavin.
— Pode me dar licença? — Alice murmurou poderosa e descartou
os homens ao redor dela enquanto caminhava em direção ao jovem
apoiado contra a parede.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 411
— Ela é linda, não é? — Alice perguntou, rangendo os dentes com
as palavras.
— Sim. — ele sussurrou. A palavra vindo de sua alma.
— É triste ver uma mulher como ela tão infeliz.
O homem se virou e olhou fixamente para Alice.
— Não parece infeliz.
— Não, porque dissimula bem, mas a infelicidade existe.
— Você é Lady Alice Chatworth?
— Sim, e você?
— Alan Fairfax, minha linda condessa — respondeu, curvando-se
e beijando-lhe a mão. — A seu serviço.
Alice riu alegremente.
— Não sou eu quem precisa do seu serviço, mas Lady Judith.
Alan olhou para os dançarinos.
— Ela é a mulher mais linda que já vi. — Sussurrou.
Os olhos de Alice soltaram chispas como vidro azul.
— Confessou-lhe o seu amor?
— Não! — Ele disse, franzindo a testa. — Eu sou um cavaleiro, fiz
um juramento de honrar. E ela é uma mulher casada.
— Sim, ela é. Ainda que este matrimônio seja infeliz.
— Ela não parece ser infeliz. — Repetiu enquanto observava o
objeto de suas afeições que olhava para seu marido com grande ardor.
— Conheço-a a muito tempo. Em verdade está angustiada.
Ontem estava chorando dizendo-me que precisava desesperadamente
de alguém para amar. Alguém que fosse doce e gentil com ela.
— O marido dela não é? — Alan estava preocupado.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 412
— Não é do conhecimento comum, — Alice baixou a voz — mas
ele bate nela com frequência.
Alan voltou a observar Judith.
— Não acredito em você.
Alice deu de ombros.
— Não é minha intensão espalhar fofocas. Ela é minha amiga e
eu gostaria de ajudá-la. Não ficarão na corte por muito tempo, e eu
esperava que antes de partirem Judith pudesse encontrar apenas
alguns momentos de prazer.
Era verdade que Lady Judith era adorável, graças a seu cabelo
radiante que brilhava com a fascinante coloração. O cabelo dourado-
avermelhado era visível sob um véu de gaze transparente. O tecido de
prata de seu vestido abraçava curvas exuberantes. Mas o que
chamava a atenção de Alan e que parecia ser ainda mais
impressionante do que sua beleza, era a vitalidade que parecia
emanar. Ela olhava para todos, do rei aos servos, com calma, que
demonstrava que se interessava por todos. Nunca ria, nem flertava,
nem brincava como uma donzela tímida. Alan estava realmente
fascinado. Ele daria qualquer coisa para receber sequer um olhar
daqueles quentes olhos dourados.
— Gostaria de vê-la sozinha?
Os olhos de Alan cintilaram.
— Sim, gostaria.
— Então me encarregarei de arrumar isso. Vá para o jardim e eu
vou mandá-la para lá. Nós somos grandes amigas e ela sabe que pode
confiar em mim. — Alice parou e pôs uma mão no braço de Alan. —
Sem duvida estará preocupada com a possibilidade de seu marido
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 413
encontrá-la. Diga-lhe que ele está comigo, então vai saber que não há
perigo de ser descoberta.
Alan assentiu com a cabeça. Não faria mal passar algum tempo
com a dama, e como seu marido raramente a deixava fora de sua
vista, Alan aproveitaria esta oportunidade.
Judith estava perto de Gavin, bebendo uma caneca de sidra fria.
Estava com calor por causa da dança, e era agradável encostar-se à
pedra fria e observar os outros. Um homem se aproximou com uma
mensagem para Gavin, que transmitiu calmamente, no ouvido dele.
Gavin franziu o cenho.
— Você teve más notícias? — Ela perguntou.
— Eu não sei, alguém diz que necessita me ver.
— Não sabe quem é?
— Não. Estive falando com um comerciante de cavalos sobre uma
égua, Talvez seja isso. — Ele se virou e acariciou sua bochecha. — Ali
está Stephen, vá ficar com ele, não demorarei muito.
— Se eu puder encontrar uma maneira de passar através das
mulheres em torno de Stephen! — Ela riu.
— Faça o que te digo.
— Sim, meu lorde. — disse ela zombeteiramente.
Ele sacudiu a cabeça para Judith, mas sorriu depois se virou e
saiu.
Judith foi ao encontro de Stephen, que tocava um alaúde e
cantava para um grupo de mulheres bonitas e adoráveis. Stephen lhe
disse que pretendia usar seus últimos dias de liberdade para se
beneficiar.
— Lady Judith?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 414
— Sim. — Ela se virou para uma donzela que não reconheceu.
— Há um homem esperando por você no jardim.
— Um homem? Meu marido?
— Não sei milady.
Judith começou a sorrir. Sem dúvida, Gavin planejou um
encontro ao luar.
— Obrigada — disse ela, saindo do salão para ir ao jardim. O
jardim estava escuro e frio, com muitas sombras secretas que
revelavam vários casais entrelaçados.
— Lady Judith?
— Sim. — Não era possível ver claramente, mas viu um rapaz
alto, magro, com os olhos brilhantes, um nariz proeminente e os lábios
um pouco cheios.
— Permita que eu me apresente, sou Alan Fairfax de
Lincolnshire.
Ela sorriu para ele enquanto pegava sua mão e beijava.
— Estava procurando alguém?
— Pensei que meu marido estaria aqui.
— Não o vi.
— Você o conhece então?
Ele sorriu, mostrando dentes brancos.
— Os tenho observado, sei quem os rodeia e estou ciente de
quem está perto de você.
Ela o olhou, maravilhada.
— Bonitas palavras senhor.
Alan ofereceu seu braço para ela.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 415
— Vamos sentar aqui um momento enquanto esperamos seu
marido?
Ela hesitou.
— Como você vê, o banco está à vista. Não peço nada, a não ser
que se sente e converse com um cavaleiro solitário.
O banco estava diretamente sob uma tocha brilhante fixada na
parede do jardim. Judith podia vê-lo com mais clareza. Seus lábios
eram sensuais, seu nariz magro e aristocrático. Seus olhos eram quase
negros na escuridão. Judith estava cautelosa. O último homem com
quem se sentou e conversou foi Walter Demari e isso levou ao
desastre.
— Não esta tranquila, milady.
— Não estou acostumada aos costumes da corte. Tenho passado
muito pouco tempo com homens que não sejam meus parentes.
— E gostaria de sanar esta falta? — Ele encorajou.
— Não tinha pensado nisso. Conto com meu marido e meus
cunhados. Com eles me parece ser o suficiente.
— Mas aqui, na corte, uma dama pode desfrutar de mais
liberdade. É aceitável ter muitos amigos, homens e mulheres. — Alan
tomou sua mão de seu colo. — Eu gostaria muito de ser seu amigo.
Ela afastou a mão bruscamente, franzindo a sobrancelhas,
depois se levantou.
— Preciso voltar para o salão e para meu marido.
Alan também se levantou e ficou ao lado dela.
— Não há necessidade de temê-lo. Ele está se distraindo com sua
amiga Alice Chatworth.
— Não! Insulta-me!
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 416
— Não, por favor, não era essa a minha intenção. — disse Alan,
perplexo. — O que eu disse?
Então Gavin estava com Alice! Talvez tenha conspirado para que
ela passasse esse tempo com outro homem no jardim, na esperança de
que se mantivesse ocupada. Mas não tinha nenhum desejo de ficar
com um estranho.
— Devo ir. — Disse rapidamente, virando-se em seu calcanhar.
Gavin vinha a seu encontro antes que ela chegasse ao salão.
— Onde você esteve? — Gavin exigiu.
— Com meu amante. — Ela disse serena. — E você?
Suas mãos apertaram seus braços.
— Está me provocando?
— Possivelmente.
— Judith! — Ela lhe cravou um olhar fulminante.
— Não estava Lady Alice especialmente bonita esta noite? O
tecido dourado vai bem com seu cabelo e seus olhos, não acha?
Gavin afrouxou o aperto no braço, sorrindo ligeiramente.
— Não reparei nela. Está com ciúmes?
— Tenho motivos?
— Não, Judith, não o tem. Disse-lhe que a tirei de minha vida.
Ela zombou dele.
— Em seguida, vai me dizer que seu amor é agora meu.
— E se eu o disser? — Gavin sussurrou com tanta intensidade
que Judith quase sentiu medo.
Seu coração vibrou.
— Não sei se eu acreditaria em você. — Ela disse calmamente.
Temia de que, se dissesse que a amava, ela lhe devolveria com
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 417
palavras iguais? E se ele as recebesse com escarnio? E se
ridicularizasse nos braços de Alice, quando estivessem deitados, um
nos braços do outro, o que para ela era uma questão de vida e morte?
— Venha, entremos. Já é tarde.
O que havia na voz de Gavin que a inspirava querer consolá-lo?
— Vai embora amanhã? — Gavin perguntou enquanto enxugava
suor de sua testa. Estava treinando desde o amanhecer no longo
campo coberto de areia do rei. Havia muitos cavaleiros e escudeiros
presentes de toda a Inglaterra.
— Sim. — disse Stephen com um ar de tristeza. — Sinto como se
estivesse indo para a forca.
Gavin riu.
— Não vai ser tão ruim, olhe para o meu casamento.
— Sim, mas só existe uma Judith.
Gavin sorriu e arranhou a pesada armadura que usava.
— Sim, e ela é minha.
Stephen lhe devolveu o sorriso.
— Isso significa que está tudo está bem entre vocês?
— Está se arranjando. Ela está com ciúmes de Alice e sempre me
acusa de todo tipo de convivência com ela, mas Judith acabará por
compreender.
— E quanto a Alice?
— Não estou mais interessado, disse-lhe isso ontem.
Stephen deu um assobio baixo.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 418
— Você disse a sua Alice, a quem você tanto amava que agora
prefere outra? Eu temeria por minha vida se eu fosse você.
— Talvez de Judith, mas não de alguém tão doce como Alice.
— Doce? Alice Chatworth? Verdadeiramente é cego, meu irmão.
Como sempre, Gavin ficou irritado quando alguém falava mal de
Alice.
— Não a conhece como eu. Doeu-lhe muito quando disse a ela,
mas aceitou regiamente, como eu esperava. Se Judith não tivesse me
capturado tão completamente, ainda pensaria em Alice como uma
possível esposa.
Stephen achou melhor não comentar mais.
— Hoje à noite planejo uma farra alcoólica esplêndida. Vou beber
tudo que tenha no castelo. Então, será menos duro conhecer a minha
famosa prometida. Gostaria de se juntar a mim? Vamos celebrar os
meus últimos momentos de liberdade.
Gavin sorriu antecipadamente.
— Sim. Não celebramos nossa fuga de Demari, Stephen, não lhe
dei meus agradecimentos.
Stephen bateu em seu irmão nas costas.
— Devolverá o favor quando eu precisar de você.
Gavin franziu o cenho.
— Talvez possa me encontrar um homem para substituir John
Bassett.
— Pergunte a Judith. — Stephen disse, seus olhos brilhando. —
Talvez ela seja capaz até de dirigir seus homens.
— Não pense em dar uma ideia dessas a ela. Reclama que tem
muito pouco para fazer aqui.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 419
— A culpa é sua, irmão. Não a mantém ocupada?
— Tenha cuidado. Posso começar a desejar que sua herdeira
escocesa seja tão feia quanto você pensa que é.
Judith sentava-se no grande salão entre um grupo de mulheres.
Todas elas, incluindo a rainha, estavam sentadas atrás de belos
bastidores de madeira rosa e bronze. Suas mãos voavam habilidosas e
rapidamente sobre o tecido, belas cores de seda fluindo de suas
agulhas. Judith sentou-se calmamente em uma cadeira, um pedaço de
bordado diante dela, também, mas apenas olhava fixamente, sentindo-
se embaraçada, sem saber o que fazer. Pelo menos Gavin poderia fazer
seu treinamento mesmo se estivesse longe de casa. Mas ele a proibiu
de limpar o tanque de peixes do rei, a sua despensa ou qualquer outra
coisa, próxima a esse assunto.
— Acho que o bordado é a mais feminina das artes, não
concorda, Majestade? — Alice disse calmamente.
A rainha Isabel nem sequer levantou a vista.
— Eu acredito que iria depender a mulher. Já vi algumas
mulheres usarem um arco, mas mantêm a sua feminilidade, enquanto
outras que pareciam ser doces e desempenham todas as artes do sexo
feminino com perfeição, serem cruéis em seu interior.
Judith levantou a cabeça e olhou surpresa, quando uma
risadinha escapou de uma jovem bonita ao lado dela.
— Você não concorda Lady Isabel? — Perguntou a rainha Isabel.
— Oh, sim, Majestade, certamente. — As duas mulheres
trocaram olhares de compreensão.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 420
Alice, furiosa por ter sido colocada em seu lugar, continuou.
— Mas acredita que uma verdadeira mulher desejaria usar um
arco? Não posso compreender a necessidade, se as mulheres estão
sempre protegidas por homens.
— Acaso uma mulher não deve ajudar seu marido? Uma vez me
coloquei diante de uma flecha que estava destinada a John. — disse
Lady Isabel.
Várias das mulheres arquejaram exclamações de horror. Alice
olhou para a mulher de olhos verdes com desgosto.
— Mas uma verdadeira mulher não poderia cometer um ato de
violência. Não é verdade Lady Judith? Quero dizer, uma mulher não
pode matar um homem, não é?
Judith olhou para seu bastidor vazio, sem bordado.
Alice inclinou-se para frente.
— Lady Judith, não poderia matar um homem, não é?
— Lady Alice! - disse a rainha Isabel. — Acredito que você se
mete em assuntos que não são da sua conta.
— Oh! — Alice fingiu surpresa. — Não sabia que a destreza de
Lady Judith com uma espada era segredo. Não voltarei a falar sobre
isso.
— Não, você não vai, — Lady Isabel atacou — agora que você já
disse tudo.
— Minha dama! — Joan anunciou em voz alta — Lorde Gavin a
chama imediatamente.
— Alguma coisa errada? — Judith perguntou, levantando-se
rapidamente.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 421
— Eu não sei. — Joan disse, uma expressão estranha, vazia em
seu rosto. — Como milady sabe, ele não pode suportar que fique fora
de sua vista por muito tempo.
Judith lançou-lhe um olhar de espanto.
— Venha depressa, ele não gosta de esperar muito.
Judith se absteve de repreender sua criada diante da rainha. Ela
se virou e desculpou-se com as mulheres, feliz por ver que os olhos de
Alice ardiam de raiva. Quando estavam longe, Judith voltou-se para
sua criada.
— Você se esquece de se manter em seu lugar.
— Não, eu só queria te ajudar. Essa gata te rasgaria em pedaços.
Não é páreo para ela.
— Ela não me assusta.
— Então talvez devesse, é uma mulher má.
— Sim. — concordou Judith. — Estou ciente disso. Sinto-me
grata por ter me tirado daquele lugar. Quase prefiro a companhia de
Alice ao bordado, mas as duas coisas juntas são mais do que posso
suportar! — Ela suspirou. — Suponho que Gavin não mandou me
chamar.
— Por que deveria mandar chamá-la? Não acredita que ficará
feliz em vê-la?
Judith franziu o cenho.
— Você é uma mulher tola. — disse Joan, arriscando-se a receber
palavras duras de sua ama. — Esse homem a deseja, mas você não se
dá conta.
Quando se encontrou fora, sob a luz do sol, Judith esqueceu
todos os pensamentos de Alice. Gavin estava inclinado sobre um
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 422
grande canal de água, nu da cintura para cima se lavando. Judith
caminhou silenciosamente por trás dele, então se inclinou e deu-lhe
um beijo mordiscando-o no pescoço. No momento seguinte, ela ofegou
quando Gavin girou e a derrubou no cocho. Ambos ficaram igualmente
surpresos.
— Judith, você está ferida? — Perguntou Gavin enquanto lhe
estendia a mão.
Ela empurrou sua mão bruscamente, limpando a água de seus
olhos, olhando para seu vestido encharcado e arruinado, o veludo
carmesim colado em seu corpo.
— Não seu pedaço de bruto desajeitado. Acha que sou seu cavalo
de guerra, para ser tratada como um animal, ou talvez pensa que sou
seu escudeiro?
Pôs a mão no lado da calha para se levantar, mas os pés dela
escorregaram e voltou a cair novamente. Ela ofegou um protesto
enquanto olhava para Gavin. Seus braços estavam cruzados em seu
peito e um largo sorriso no rosto.
— Você está rindo de mim! — Ela sibilou, enfurecida. — Como se
atreve?
Ele agarrou seus ombros e levantou seu corpo gotejando da água
— Posso oferecer minhas desculpas? Não estou exatamente
calmo desde o episodio de Demari. Demorei demais para reconhecer
seu beijo como mostra de carinho. Não deveria se esgueirar por trás de
mim sem qualquer aviso.
— Não precisa temer isso não acontecerá novamente. — Disse
Judith sombria.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 423
— Não conheço outra mulher, minha pequena esposa, que pareça
tão tentadora enquanto está sendo mantida sobre um coche de água.
Eu poderia deixá-la cair nela novamente.
— Você não ousaria!
Sorrindo Gavin a abaixou lentamente até que os dedos dos seus
pés se aproximaram da água novamente.
— Gavin! — Exclamou, meio implorando.
Ele a estreitou contra si, mas o contato com seu corpo frio o fez
espirrar energicamente. .
— Você bem que merece. — riu ela. — Espero que se congele.
— Contigo por perto? Duvido. — Ele levantou-a em seus braços.
— Vamos para o nosso quarto para que eu te tire essas roupas
molhadas.
— Gavin, você não pode pensar...
— Pensar, enquanto está em meus braços, é uma perda de
tempo. Se você não quer chamar mais a atenção sobre si, fique em
silêncio, e me deixe leva-la para o quarto.
— E se eu não quiser?
Ele esfregou a bochecha contra a dela molhada.
— Verá que essas lindas bochechas ficam muito vermelhas.
— Então eu sou cativa?
— Sim. — Ele respondeu com firmeza e a levou escada acima.
A rainha Isabel caminhava ao lado de seu marido. Pararam
quando viram que Gavin derrubava Judith na água. Isabel teria ido
ajudar Judith, mas Henry a deteve.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 424
— Olhe, são somente brincadeiras de amor. Agrada-me quando
vejo um casal tão apaixonado. Nem sempre um casamento de
conveniência se transforma em felicidade.
Isabel suspirou.
—.Estou feliz em vê-los demonstrar amar um ao outro. Não tinha
certeza se havia amor entre eles. Lady Alice parece pensar que Lady
Judith não é uma esposa adequada para Lorde Gavin.
— Lady Alice? — Perguntou o rei Henry. — Aquela mulher loira?
— Sim. A viúva de Edmund Chatworth.
Henry assentiu com a cabeça.
— Gostaria de vê-la casada em breve. Estive observando-a, ela
brinca com os homens, como um gato com um rato. Ela dá a
impressão de interessar-se por um, depois por outro distinto. Os
homens estão apaixonados por sua beleza e suportam qualquer coisa.
Não gostaria de vê-los chegarem a uma disputa de espadas. Mas o que
essa mulher tem a ver com Lorde Gavin e sua linda esposa?
— Não tenho certeza — disse Isabel. — Há rumores que antes de
casar-se, Gavin esteve muito apaixonado por Lady Alice.
Henry acenou com a cabeça em direção a Gavin enquanto ele
levantava sua esposa em seus braços.
— Pois não é assim agora, como todos podem ver.
— Talvez nem todos possam ver, Lady Alice provoca Lady Judith
constantemente.
— Temos que por um fim nesta situação. — disse Henry.
— Não. — Isabel pôs a mão no braço do marido. — Não podemos
dar ordens, temo que isso só faça com que Alice fique mais irritada, e
ela é o tipo de mulher que encontraria uma maneira de expressar a
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 425
sua vontade, não importa as ordens que lhe forem dadas. Em minha
opinião o melhor é a sua ideia de casá-la. Você consegue encontrar um
marido para ela?
Henry observava Gavin levando sua esposa para a mansão,
provocando-a e fazendo-lhe cócegas, fazendo o riso de Judith ressoar
através do pátio.
— Sim, vou encontrar um marido para Lady Alice, e rapidamente
Não gostaria de ver nada se interpondo entre esses dois.
— Você é um bom homem. — Isabel disse e sorriu alto para seu
marido.
Henry deu uma risadinha.
— Só para alguns, minha querida. Deve perguntar aos franceses
quem é um bom rei ou não.
Isabel mudou o tema com um gesto da mão.
— Você é muito macia, muito boa para eles.
Ele se curvou e beijou sua testa.
— E se eu fosse um rei francês, tenho certeza de que diria o
mesmo dos ingleses.
Ela sorriu amorosamente. O rei estreitou o abraço.
Havia outra pessoa que tinha um interesse especial no jogo do
Montgomery. Alan Fairfax tinha começado a avançar, sua mão no
punho de sua espada quando viu Gavin jogar Judith no cocho. Então
olhou a sua volta com ar culpado. Um homem podia tratar sua esposa
da maneira que quisesse, e Alan não tinha o direito de interferir.
Enquanto Alan observava, viu a preocupação de Gavin com
Judith. Observou como ele a tirou da água, abraçou-a e beijou. Esta
não era a conduta de nenhum homem que castigava sua esposa! Alan
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 426
franziu as sobrancelhas quando começou a perceber que foi feito de
tolo. Quando voltou para a mansão encontrou Alice Chatworth
atravessando o grande salão.
— Gostaria de ter uma palavra com você, minha lady. — Disse
ele, segurando seu braço.
Ela engasgou uma exclamação pela dor, mas sorriu.
— Claro Sir Alan. Pode dispor de meu tempo à vontade.
Ele a atraiu a um lado do salão, para as sombras.
— Você me usou, e não gosto disso.
— Usei você? Por favor, sir, diga-me como?
— Não finja para mim timidez virginal. Conheço os homens que
frequentam sua cama. Não falta-lhe inteligência, sem duvida, e tenho
certeza, que me manipulou para seus propósitos.
— Liberte-me ou eu vou gritar!
Ele cravou-lhe os dedos com mais força.
— Acaso não é seu gosto milady? Meus amigos me dizem que não
tem aversão à dor.
Alice olhou para ele furiosa.
— O que quer insinuar?
— Que não gosto de ser usado. Suas mentiras, milady, poderiam
ter ocasionado à Lady Judith um grande problema, e eu teria sido a
causa.
— Não disse que queria alguns momentos sozinho com ela? Não
fiz nada além do que dar-lhe a oportunidade.
— Mediante armadilhas! Ela é uma mulher honrada e feliz em
seu matrimônio. E não sou um vilão para recorrer à violação.
— Então você a deseja? — Alice sorriu.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 427
Ele a soltou rapidamente.
— Que homem não a deseja? Ela é linda.
— Não! — Alice sibilou. — Ela não é tão bonita como... — Ela se
deteve. Alan sorriu.
— Como você, Lady Alice? Não, você está errada. Há vários dias
tenho observado Lady Judith, e aprendi a conhecê-la. Ela não é
apenas bonita no exterior, mas por dentro também. Quando for uma
velha e tenha perdido seu resplendor, é tão adorável, que seguirá
sendo bem amada. Mas você, em troca, é bela somente por fora. Se
fosse tirada essa beleza, só permaneceria uma mulher queixosa, de
mente malvada e inclinada a crueldade.
— Vou te odiar por isso! — Alice disse numa voz mortal.
— Algum dia, cada segundo que passou odiando vai mostrar-se
em seu rosto. — Alan observou-a calmamente. — Sejam quais forem
seus sentimentos por mim, não importa, não pense que poderá me
usar novamente. — Deu as costas para ela e a deixou sozinha.
Alice observou sua retirada. Mas sua vingança era para Judith e
não para Alan. Aquela mulher era a causa de todos os seus problemas.
Nada tinha sido o mesmo desde que Gavin decidira se casar com a
cadela. Agora, Alice foi insultada por um jovem por causa da crueldade
desta Revedoune. Alice estava ainda mais determinada do que nunca a
pôr fim a um casamento que ela considerava errado.
— Minha doce Judith, fique na cama. — murmurou Gavin contra
a bochecha sonolenta. — Você precisa descansar, e a água pode ter
lhe dado um resfriado.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 428
Judith não respondeu. Saciada com o ato de amor, estava se
sentindo sonolenta e lânguida.
Ele esfregou seu nariz contra seu pescoço mais uma vez e
levantou da cama. Vestiu-se rapidamente, sem deixar de observa-la.
Quando ele estava vestido, se despediu dela com um sorriso, beijou
suas bochechas e saiu do quarto.
Stephen o encontrou ao pé da escada.
— Não posso dar um passo pelo salão que não ouça mais fofocas
de você!
— E agora o que acontece? — Gavin perguntou suspeitosamente.
— Dizem que você castiga sua esposa, a joga no coche de água,
então a exibe diante de todo mundo.
Gavin sorriu.
— É verdade.
Stephen devolveu o sorriso de seu irmão.
— Agora nos entendemos, pensei que não soubesse como tratar
uma mulher. Ela está dormindo?
— Sim. Não descerá até amanhã. — Gavin levantou uma
sobrancelha. — Pensei que você teria um barril de vinho pronto.
— E tenho. — Stephen sorriu. — Não queria que você se sentisse
reduzido por ver-me beber duas vezes mais do que você.
— Você! O dobro você, meu irmão mais novo? — Gavin bufou. —
Não sabia que fiquei bêbado pela primeira vez antes de você nascer?
— Eu não acredito em você!
— É verdade, vou lhe contar a história, embora seja muito longa.
Stephen deu um tapa nas costas de seu irmão.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 429
— Dispomos de toda a noite. Amanhã nos arrependeremos do
que fizemos.
Gavin riu entre dentes.
— Você se arrependerá com sua prometida escocesa feia, mas eu
vou colocar minha cabeça cansada no colo da minha bela esposa e
gentilmente permitir que ela me mime.
Stephen gemeu.
— Você é um homem cruel!
Para ambos os irmãos, a noite foi um momento especial de
proximidade. Eles celebraram a vitória sobre Demari. Celebraram a
boa sorte de Gavin em seu casamento, e lamentaram juntos a
perspectiva das bodas de Stephen.
— Vou devolvê-la ao seu povo se ela me desobedecer. — Disse
Stephen. O vinho que bebiam era tão ruim que eles tiveram que coa-lo
através de seus dentes, mas nenhum deles notou.
— As mulheres desobedientes! — Gavin exclamou com voz
embolada levantando sua caneca. — Se Judith me obedecesse,
pensaria que algum demônio tinha roubado sua mente.
— E só deixou seu corpo? — Stephen sugeriu com luxuria.
— Eu vou desafiá-lo para um duelo por esta sugestão. — Gavin
protestou buscando torpe por sua espada.
— Ela não me aceitaria. — Stephen respondeu enquanto enchia
sua caneca novamente.
— Você acha isso? Ela certamente parecia muito satisfeita com
Demari. —Gavin mudou de felicidade para tristeza em segundos, como
só um bêbado poderia.
— Não, ela odiava o homem.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 430
— E está gravida dele! — Gavin disse, soando como um garotinho
prestes a chorar.
— Não tem cérebro, irmão? A criança é sua, não de Demari.
— Não acredito em você.
— É verdade, ela me contou.
Gavin sentado na solida mesa, silenciou por um momento, então
começou a se levantar, mas sua cabeça girava.
— Por que não me contou?
— Disse que queria manter alguma coisa para si mesma.
Gavin deixou-se cair na cadeira.
— E meu filho é “alguma coisa” e nada mais?
— Não. Não compreende as mulheres.
— E você sim? — Perguntou Gavin indignado.
Stephen encheu a caneca do irmão.
— Não mais do que você, sem duvida. Talvez menos, se isso for
possível. Raine poderia explicar-te o que ela disse melhor do que eu.
Ela disse que você já possuía as terras Revedoune e Alice, por isso não
queria dar-te mais.
O rosto de Gavin enegreceu quando se levantou. De repente, se
acalmou e sentou-se novamente, com um leve sorriso no rosto.
— Ela é uma bruxa, não é? Ela rebola seu quadril diante de mim
até que fique cego de desejo. Amaldiçoa-me quando troco umas poucas
palavras com outra mulher.
— Uma que você admitiu livremente que amava.
Gavin acenou com a mão como se isso não importasse.
— E, no entanto, ela tem a chave que destrancaria todos os
segredos e nos liberaria da tensão que existe entre nós.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 431
— Não vejo nenhuma objeção de sua parte. — disse Stephen.
Gavin deu um sorriso leve.
— Não, de minha parte nenhuma, mas eu tenho sido relutante
em... impor-me a ela. Eu pensei que Demari significava algo para ela.
— Só um meio de salvar seu pescoço desagradável.
Gavin sorriu.
— Passe-me esse vinho. Temos mais para celebrar esta noite,
além de sua princesa escocesa.
Stephen pegou a caneca antes que Gavin pudesse tocá-la.
— Você é um irmão cruel.
— Aprendi com minha esposa. — Gavin sorriu e encheu sua
própria caneca.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 432
Capítulo Vinte e Sete
— Não posso permitir isso! — Ella disse, com a espinha dorsal
rígida. Estava de pé ao lado de Alice em uma pequena câmara dividida
no castelo.
— Desde quando você permite ou não o que eu quero? — Alice
desdenhou. — Minha vida é minha, e tudo o que você faz é me ajudar
a me vestir.
— Não é certo que você se jogue nos braços desse homem. Não há
um dia em que alguém não a peça em matrimônio. Não pode se
contentar com um deles?
Alice voltou-se para a criada.
— E deixar que ela fique com Gavin? Eu morreria primeiro.
— Realmente você o quer? — Ella insistiu.
— O que isso importa? — Alice perguntou enquanto ajustava o
véu e a tiara. — Ele é meu e seguirá sendo meu.
A escada estava escura quando saiu do quarto. Alice logo
descobriu que a corte do rei Henry era um lugar fácil para descobrir o
que ela queria saber. Havia muitos que estavam dispostos, por um
preço, a fazer qualquer coisa que ela pedisse. Seus espiões lhe
disseram que Gavin estava sentado com seu irmão, longe de sua
esposa. Alice sabia o quão confuso um homem poderia ficar com a
bebida, e ela planejava usar a oportunidade para tirar vantagem. Ele
não seria capaz de resistir a ela quando sua mente estivesse toldada
de bebida.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 433
Amaldiçoou quando chegou ao grande salão e nem Gavin nem
seu irmão estavam à vista.
— Onde está o Senhor Gavin? — Alice perguntou duramente a
uma serva que bocejava. O chão estava cheio de serventes em colchões
de palha.
— Ele saiu, é tudo o que sei.
Alice agarrou o braço da menina.
— Para onde foi?
— Eu não faço ideia.
Alice tirou uma moeda de ouro do bolso e viu os olhos da garota
brilharem.
— O que você faria por isso?
A menina ficou completamente acordada.
— Faria qualquer coisa.
— Bom — Alice sorriu. — Então me escute com atenção.
Judith acordou de seu sono profundo ao ouvir uma fraca batida
na porta. Estendeu o braço antes de abrir os olhos, apenas para
encontrar o lado da cama de Gavin vazio. Ela se sentou, franzindo as
sobrancelhas, depois se lembrou de ter dito algo sobre despedir-se de
Stephen.
As batidas na porta continuaram. Joan, que muitas vezes ficava
com sua ama quando Gavin estava fora, não estava no quarto.
Relutantemente, Judith jogou as cobertas para trás e enfiou os braços
na bata de veludo verde esmeralda.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 434
— O que está acontecendo? — Perguntou, abrindo a porta para
uma criada.
— Não sei milady. — A serva disse com um sorriso afetado. —
Foi-me dito que milady era necessária e deve vir imediatamente.
— Quem disse isso, meu marido?
A serva encolheu os ombros em resposta.
Judith franziu o cenho. A corte era cheia de mensagens
anônimas, e todos elas pareciam leva-la a lugares que não tinha
interesse em estar. No entanto, talvez sua mãe precisasse dela. Mais
provável que Gavin estivesse muito bêbado para subir as escadas e
devia ajudá-lo. Ela sorriu ao pensar no sermão que lhe daria.
Seguiu a serva pelas escadas de pedra escura até o andar de
baixo. Parecia mais escuro do que de costume. Algumas das tochas
nas paredes não tinham sido acesas. Cortado dentro das paredes de
doze metros de espessura haviam quartos pequenos e feios, que os
hospedes mais nobres não os frequentavam. A serva se deteve diante
de um desses aposentos, que ficava perto da escadaria circular.
A serva deu a Judith um olhar incompreensível e desapareceu na
escuridão. Judite estava ofendida por este ar de mistério, e ia protestar
quando a voz de uma mulher chamou sua atenção.
— Gavin. — a mulher sussurrou alto.
Era um sussurro de paixão. Judith só podia permanecer
congelada no lugar. Uma pedra de fogo foi riscada e uma vela acesa.
Judith podia ver claramente então. Alice, seu corpo magro e ósseo nu
da cintura para cima, estava meio debaixo de Gavin. A luz da vela
revelou a pele bronzeada do cavaleiro, não havia nada escondido. Ele
estava deitado sob seu ventre, com a perna nua cobrindo a de Alice.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 435
— Não! — Judith sussurrou com a mão na boca, os olhos
borrados de lágrimas. Ela queria que fosse um pesadelo, mas não era.
Ele mentira para ela, repetidas vezes. E ela estava tão perto de
acreditar nele!
Ela se afastou deles, Gavin não se movendo, Alice segurando a
vela, de sua posição debaixo Gavin, observava Judith, sorrindo para
ela.
— Não! — Era tudo o que Judith podia dizer. Moveu-se cada vez
mais para trás, sem perceber a escada sem corrimão.
Com pés inseguros, Judith nem sequer estava consciente quando
deu um passo em falso, perdendo o equilibro e voando pelo ar. Gritou
quando caiu um degrau, depois dois, cinco. Freneticamente tentou se
agarrar, gritando de novo quando seu corpo caiu de lado e
completamente fora da escada. Judith caiu no chão, lá em baixo, com
um baque terrível, mesmo que sua queda foi amortecida pelo colchão
de um dos cavaleiros do rei Henrique.
— O que é que foi isso? — Gavin perguntou com uma voz
arrastada enquanto tentava levantar a cabeça.
— Não foi nada. — Alice murmurou. Seu coração batendo
rapidamente com pura alegria. Talvez a mulher tivesse morrido com a
queda e Gavin realmente seria de Alice novamente.
Gavin se ergueu sobre um cotovelo.
— Meu Deus, Alice, o que está fazendo aqui? — Seus olhos
percorreram seu corpo nu. O único pensamento que lhe ocorreu foi
que não havia percebido que ela era tão magra. Não havia desejo por
aquele corpo que ele uma vez amou.
A alegria de Alice morreu diante da expressão nos olhos de Gavin.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 436
— Você não lembra? — Perguntou com voz entrecortada. Ela
estava realmente chocada com a reação de Gavin. Teve tanta certeza
de que quando o tivesse em seus braços ele voltaria a ser seu.
Gavin franziu o cenho para ela. Ele estava bêbado, era verdade,
mas não tão bêbado que não se lembrasse da noite anterior. Sabia
muito bem que não tinha ido para a cama de Alice, nem a convidou
para a dele.
Suas acusações estavam prontas para serem lançadas, mas de
repente o grande salão abaixo deles estava vivo com luz e barulho. Os
homens gritavam um para o outro. Então escutou um grito que
balançou as vigas.
— Montgomery!
Gavin saltou da cama em um rápido movimento, jogando a
túnica sobre sua cabeça. Desceu os degraus de dois em dois, mas se
deteve na última curva da escada em espiral. Judith jazia logo abaixo
em um colchão, seus cabelos ruivos em uma massa emaranhada sobre
sua cabeça, uma perna dobrada sob o corpo. Por um momento, seu
coração parou de bater.
— Não toque nela! — Ordenou com um grunhido gutural
enquanto saltava os últimos degraus e se ajoelhava ao lado dela.
— Como? — Ele murmurou enquanto tocava sua mão, então
buscou o pulso no pescoço dela.
— Parece ter caído pelas escadas. — Stephen disse enquanto se
ajoelhava ao lado de sua cunhada.
Gavin levantou a cabeça e olhou para cima e viu Alice no
patamar, apertado sua bata com um leve sorriso. Gavin sentiu que
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 437
havia algo faltando no quebra-cabeça, mas não tinha tempo de
procurá-lo.
— O médico foi chamado. — disse Stephen, segurando a mão de
Judith. — Ela não abria os olhos.
O médico veio lentamente, vestido com uma rica camisola de
gola.
— Dê-me espaço. — ele exigiu. — Preciso procurar por ossos
quebrados.
Gavin se afastou e viu o homem passar as mãos sobre o corpo
fraco de Judith. Por quê? Como? Gavin continuava perguntando sem
cessar. O que ela estava fazendo na escada no meio da noite? Seus
olhos voltaram para Alice. A mulher ficou em silêncio, com um ávido
interesse no rosto, enquanto o médico examinava Judith. O quartinho
onde Gavin acordou na cama, entre os braços de Alice estava no final
da escada. Sentiu o sangue escorrer de seu rosto enquanto olhava de
novo para sua esposa. Judith o tinha visto na cama com Alice! Ela
recuou provavelmente muito alterada para olhar onde pisava, isso
explicava a queda. Mas como ela sabia onde encontra-lo? Somente
mediante informação de alguém.
— Ao que parece não há nenhum osso quebrado. — Disse o
médico. — Leve-a para a cama e deixe-a descansar.
Gavin murmurou uma oração de agradecimento, depois se
inclinou e levantou a forma relaxada de sua esposa. A multidão de
pessoas ao seu redor soltou uma exclamação quando ele a levantou. O
colchão e seu vestido estavam encharcados de sangue.
— Ela aborta a criança. — Disse a rainha Isabel junto a Gavin. —
Leve-a para cima. Vou fazer com que minha própria parteira a atenda.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 438
Gavin podia sentir o sangue de Judith em seu braço através das
mangas de sua túnica. Uma mão forte foi colocada em seu ombro, e
ele sabia sem olhar que Stephen estava lá.
— Minha dama! — Joan ofegou quando Gavin entrou no quarto
carregando Judith. — Acabo de voltar e não a encontrei. Ela foi ferida!
— A voz de Joan mostrava o amor que sentia por sua ama. — Ela vai
ficar bem?
— Não sabemos. — respondeu Stephen.
Gavin colocou gentilmente a esposa na cama.
— Joan. — disse a rainha Isabel. — Pegue água quente na
cozinha e lençóis limpos.
— Lençóis, Sua Majestade?
— Para absorver o sangue. Ela está perdendo o bebê. Quando
tiver os lençóis, chame Lady Helen, ela vai querer estar com a filha.
— Minha pobre dama — sussurrou Joan. — Ela queria tanto
essa criança. — Havia lágrimas em sua voz quando saiu do quarto.
— Vão agora. — Isabel insistiu enquanto se voltava para os dois
homens. — Devem deixá-la. Vocês não são de utilidade agora. Nós
vamos cuidar dela.
Stephen passou o braço pelos ombros de seu irmão, mas Gavin
encolheu os ombros.
— Não, Majestade. Não vou embora... Se eu estivesse com ela
esta noite, não estaria ferida.
Stephen ia falar, mas Isabel o deteve. Sabia que seria inútil.
— Pode ficar. — Acenou com a cabeça para Stephen e ele partiu.
Gavin acariciou a testa de Judith enquanto olhava para a rainha.
— Me diga o que fazer.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 439
— Tire sua bata.
Gavin desatou cuidadosamente a peça de vestuário, então
gentilmente levantou Judith e tirou os braços das mangas. Ficou
horrorizado ao ver o sangue em suas coxas. Por um momento
permaneceu imóvel olhando-a.
Isabel o observava.
— O parto não é uma visão agradável.
— Isto não é um parto, mas um... — Ele não pôde terminar.
— Sem duvida a gravidez estava em estado avançado para que
haja tanto sangue. Será de fato um parto, embora com resultados
menos agradáveis.
Ambos levantaram a vista. A parteira, uma mulher gorda e de
rosto vermelho irrompeu na câmara.
— Querem matar de frio a pobre menina? — Ela perguntou. —
Não precisamos de homens, saia. — Disse a Gavin.
— Ele vai ficar. — disse a rainha Isabel com firmeza.
A parteira olhou para Gavin por um momento.
— Vá então e traga a água. A donzela leva muito tempo para
subir pelas escadas.
Gavin reagiu imediatamente.
— É o esposo, Majestade? — Perguntou à parteira quando Gavin
se foi.
— Sim, é seu primeiro filho.
A mulher gorda bufou.
— Deveria ter cuidado melhor dela, Majestade, e não deixá-la
vagar pelos corredores à noite.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 440
Assim que Gavin colocou a água no interior do quarto, a mulher
continuou dando mais ordens para ele.
— Encontre alguma roupa e mantenha-a aquecida.
Joan, que tinha entrado atrás de Gavin, revirou um baú e
entregou-lhe um vestido de lã quente. Gavin cuidadosamente vestiu
Judith, o tempo todo observando o sangue escoar lentamente dela. A
transpiração apareceu em sua testa e ele limpou-a com um pano
molhado.
— Ela vai ficar bem? — Ele sussurrou.
— Não posso responder a isso. Depende se podemos tirar todo o
feto e se conseguirmos parar o sangramento. — Judith gemeu e moveu
sua cabeça. — Mantenha-a quieta ou ela vai fazer nosso trabalho mais
difícil.
— Judith... — disse Gavin em voz baixa. — Não se mova. —
Pegou as mãos dela e quando começou a movê-las, ela abriu os olhos.
— Gavin? — Ela sussurrou.
— Sim. Não fale agora, fique quieta e descanse. Logo estará bem.
— Bem? — Ela não parecia estar plenamente consciente de seu
estado. Em seguida, uma violenta contração a sacudiu. Suas mãos
apertaram as de Gavin. Judith olhou para ele, perplexa.
— O que está acontecendo? — Ela gemeu, em seguida, seus olhos
começaram a se concentrar claramente. A rainha, a donzela e outra
mulher estavam ajoelhadas ao seu lado, olhando-a com preocupação.
Outra contração a envolveu.
— Vamos. — disse a parteira. — Devemos massagear seu ventre
para ajudá-la.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 441
— Gavin! — Judith exclamou assustada, ofegando depois da
última dor.
— Calma, meu amor, em breve estará bem. Logo teremos outros
filhos.
Seus olhos se abriram em horror.
— Outros filhos? Meu bebê? Meu filho! Estou perdendo meu
bebê? — Sua voz se ergueu quase histericamente.
— Judith, por favor! — rogou Gavin, acalmando-a. — Teremos
outros.
Outra dor atravessou Judith enquanto olhava para Gavin, sua
lembrança retornando.
— Eu caí da escada. — Ela disse calmamente. — Te vi na cama
com sua prostituta e caí da escada.
— Judith, este não é o momento...
— Não me toque!
— Judith. — repetiu Gavin, quase implorando.
— Te decepciona que eu não tenha morrido? Como meu filho está
morto? — Seus olhos piscavam para afastar as lágrimas. — Vá para
ela, se a quer tanto. Fique com ela e boa sorte!
— Judith... — Gavin queria falar, mas a rainha Isabel lhe
segurou o braço.
— Talvez seja melhor que saia.
— Sim. — concordou enquanto Judith se recusava a olhar para
ele. Stephen esperava junto da porta por ele, suas sobrancelhas
levantadas em uma pergunta.
— Perdeu a criança e ainda não sei se Judith viverá.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 442
— Vamos para baixo. — Disse Stephen. — Elas não vão permitir
que você fique com ela?
— Judith não permite. — disse Gavin inexpressivo.
Stephen não voltou a falar até que estavam fora da mansão. O sol
estava apenas começando a nascer, o céu estava cinza. A comoção
causada pela queda de Judith fez o castelo se levantar mais cedo do
que o habitual. Os irmãos sentaram-se num banco junto à muralha do
castelo.
— Por que ela estava andando pelo corredor à noite? — Stephen
perguntou.
— Eu não sei, quando eu e você nos separamos, caí em uma
cama, a mais próxima no final da escada.
— Talvez tenha acordado, descobriu que você não estava e saiu a
procurá-lo.
Gavin não respondeu.
— Há mais nisso que você não está me contando.
— Sim. Quando Judith me viu, eu estava na cama com Alice.
Nunca antes Stephen havia expressado sua opinião sobre seu
irmão, mas naquele momento seu rosto estava escurecido.
— Poderia ter causado a morte de Judith, e por quê? Somente
por essa cadela... — se interrompeu quando viu o perfil triste de
Gavin. — Estava bêbado demais para desejar uma mulher. E se
desejava fazer amor, Judith esperava por você no quarto.
Gavin olhou para o outro lado do pátio.
— Eu não a levei para a cama. — Disse em voz baixa. — Estava
dormindo e ouvi um barulho que me acordou. Encontrei Alice ao meu
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 443
lado. Mas não estava tão bêbado na noite passada, como para tê-la
levado para a minha cama e não recordar.
— O que aconteceu então?
— Eu não sei.
— Eu sim! — Stephen disse com os dentes cerrados. — Você é
um homem sensato em tudo, exceto quando se trata daquela bruxa!
Pela primeira vez, Gavin não defendia Alice. Stephen continuou.
— Nunca foi capaz de vê-la como ela é. Não sabe que ela dorme
com metade dos homens da corte?
Gavin se virou e olhou para ele.
— Pare de olhar para mim com incredulidade. E não ponha essa
cara. Está na boca de todos os homens e tenho certeza que na da
maioria das mulheres. De moço do estábulo a conde, ela não se
importa, contanto que eles tenham o equipamento necessário para o
prazer dela.
— Se ela é assim, talvez seja por minha culpa. Ela era virgem
quando a tomei pela primeira vez.
— Virgem? — Stephen gargalhou — O conde de Lancashire jura
havê-la feito sua quando ela tinha apenas doze anos de idade.
A expressão de Gavin era de incredulidade. Não podia acreditar
em tudo aquilo.
— Olhe para o que ela fez com você, te dominou e utilizou. E você
permitiu. Até tem suplicado pedindo mais. Diga-me, que método ela
usou para impedi-lo de amar Judith desde o inicio?
Gavin olhava-o fixamente sem o ver. Estava revivendo a cena no
jardim no dia do seu casamento.
— Ela jurou se matar se eu amasse minha esposa.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 444
Stephen encostou as costas contra o muro de pedra.
— Pelos pregos do Cristo! E você acreditou? Essa mulher mataria
de boa vontade milhares de pessoas antes de colocar em risco um fio
de cabelo em sua própria cabeça.
— Mas pedi que ela se casasse comigo. — insistiu Gavin. — Antes
de eu ouvir falar de Judith, pedi que se casasse comigo.
— No entanto, ela preferiu escolher um conde muito rico.
— Mas o pai dela...
— Gavin, não pode olhá-la com olhos nítidos? Acredita que seu
pai, esse bêbado, deu na vida uma só ordem a alguém? Nem mesmo
seus servos o obedecem! Se ele fosse um homem enérgico, ela poderia
escapar tão facilmente, com liberdade para encontrar-se contigo em
um campo aberto a noite?
Era difícil para Gavin acreditar em tudo isso de sua Alice. Ela era
tão bonita, tão delicada, tão tímida. Quando o olhava com grandes
lágrimas nos olhos, seu coração se derretia. Recordou de como se
sentiu quando ameaçou tirar a própria vida. Teria feito qualquer coisa
por ela. Mesmo assim, sua atração por Judith era enorme.
— Você não está convencido. — disse Stephen.
— Não tenho certeza. É muito difícil matar os velhos sonhos. Ela
é uma mulher linda.
— Sim, e você se apaixonou por essa beleza. Nunca se
questionou o que mais havia debaixo dela. Diz que não a levou para a
cama, então como ela apareceu ali?
Como Gavin não respondeu, Stephen continuou.
— A vagabunda tirou suas próprias roupas e se deitou ao seu
lado. Depois mandou alguém chamar Judith.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 445
Gavin levantou-se. Não queria ouvir mais nada.
— Preciso ir ver se Judith está bem. — murmurou.
Caminhou até a mansão. Toda sua vida, desde que tinha
dezesseis anos, Gavin tinha sido responsável pelas propriedades e
pelos homens. Nunca teve tempo desocupado como seus irmãos para
cortejar as mulheres e aprender a conhecer seu caráter. Na verdade,
as mulheres que passaram por sua cama, desapareceram
rapidamente. Nenhuma mulher passou algum tempo com ele, rindo e
conversando. Ele crescera acreditando que todas as mulheres eram
como se lembrava de sua mãe, bonita, doce e gentil. Alice sempre
pareceu ser a representação desses traços, e como resultado, se
apaixonou por ela quase que imediatamente.
Judith tinha sido, de certo modo, a sua primeira mulher. A
princípio, ela o enfureceu por não ser obediente, como uma dama
deveria ser. Ela preferia se preocupar com os livros de conta de sua
casa do que com as sedas de cores usadas em bordados. Ela era de
tirar o fôlego, mas parecia desconhecer sua beleza. Não passou horas
dedicando-se as suas roupas. Na verdade, deixava nas mãos de sua
donzela Joan que muitas vezes escolhia o traje de sua ama. Judith
parecia ser tudo o que era indesejável, e pouco feminina. No entanto,
Gavin se apaixonara por ela. Era honesta, corajosa, generosa e ela o
fazia rir. Alice, em troca, nunca demostrou até mesmo um toque de
humor.
Gavin se deteve do lado de fora da porta da câmara de Judith.
Estava seguro de que já não amava Alice, mas poderia ser tão
traiçoeira quanto Stephen disse? Como Raine e Miles também
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 446
disseram? Como ela havia aparecido em sua cama, exceto pela razão
que Stephen deu?
A porta se abriu e a parteira saiu no corredor. Gavin agarrou seu
braço.
— Como ela está?
— Dormindo agora, a criança nasceu morta.
Gavin respirou fundo e calmamente.
— Minha esposa vai se recuperar?
— Eu não sei. Perdeu muito sangue, não sei se era do bebê, ou
talvez tenha sofrido algum dano interno com a queda.
O rosto de Gavin se tornou pálido.
— Não disse que ela perdia o sangue da criança? — Ele não
queria acreditar que algo mais poderia estar errado.
— Há quanto tempo está casado com ela?
— Quase quatro meses. — Ele respondeu surpreso.
— E ela era virgem quando a tomou?
— Sim — disse ele, se lembrando da dor que lhe causara.
— A gravidez estava avançada, a criança estava bem formada. Eu
diria que ela concebeu nos primeiros dias de casados... Talvez por isso
perdeu tanto sangue, porque a criança estava muito crescida. É muito
cedo para dizer.
Ela se virou para ir, mas Gavin agarrou seu braço.
— Como saberá?
— Quando o sangramento parar e ela ainda estiver viva.
Ele soltou seu braço.
— Você diz que ela dorme. Posso vê-la?
A velha riu entre dentes.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 447
— Oh, jovens! Eles parecem não negarem nada a si mesmos. São
incansáveis. Deitam com uma mulher enquanto outra o espera. Agora
ronda a primeira. Deveria escolher entre uma ou outra.
Gavin engoliu sua resposta, mas seu cenho franzido fez com que
o sorriso deixasse seu rosto.
— Sim, você pode ir até ela. — A mulher disse calmamente, então
se virou e desceu a escada.
A chuva caia como chicotes cortantes. O vento dobrava as
árvores quase ao meio. Relâmpagos lançavam feixes de luz e, ao longe,
uma árvore se partiu e caiu. Mas as quatro pessoas que estavam ao
redor do pequeno caixão, depositado há pouco na terra, não
reparavam na torrente fria. Seus corpos balançavam com o açoite do
vendaval, mas não o notaram.
Helen estava de pé junto a John, seu corpo relaxado, se apoiava,
inclinando-se pesadamente contra a força dele. Seus olhos estavam
secos e irritados. Stephen estava perto de Gavin, pronto a ajudar se
seu irmão precisasse dele.
John e Stephen trocaram olhares, a chuva correndo por seus
rostos, pingando em suas roupas. John gentilmente levou Helen para
longe da pequena sepultura e Stephen guiou seu irmão Gavin. A
tempestade começou de repente, depois que o padre começou a ler o
ritual de sepultamento sobre o pequeno caixão.
Stephen e John pareciam estar conduzindo duas pessoas cegas e
desamparadas pelo cemitério. Levaram Helen e Gavin para um
mausoléu e os deixaram lá enquanto foram buscar os cavalos.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 448
Gavin caiu pesadamente em um banco de ferro. A criança tinha
sido um varão. Seu primeiro filho. Cada palavra que dissera a Judith
sobre a criança, pensando que não era dele ressoava em seus ouvidos.
E o bebê estava morto por causa dele. Baixou a cabeça em suas mãos.
— Gavin. — Helen disse enquanto se sentava ao lado dele e
colocava seu braço sobre seus ombros. Tinham tido muito pouco para
dizer um ao o outro, desde aquele dia que Helen gritara que desejava
ter matado a filha e a si, antes de permitir que ela se casasse com ele.
Mas ao longo dos meses, muitas coisas mudaram. Helen descobriu o
que era amar alguém, e agora reconhecia o amor nos olhos de Gavin.
Ela viu a dor que ele sofreu por perder seu filho e o medo de perder
Judith.
Gavin virou-se para sua sogra. Esquecera qualquer hostilidade
entre eles. Viu-a e lembrou-se apenas que Helen era a mãe da mulher
que ele amava. Abraçou-a, mas sem aperta-la. Não. Era Helen que
abraçava seu genro, e sentia o calor de suas lágrimas através de seu
vestido molhado pela chuva. E finalmente, Helen desafogou sua dor e
suas próprias lágrimas.
Joan estava sentada perto à sua ama que dormia. A cor de
Judith havia desaparecido, o cabelo úmido de suor.
— Em breve estará bem. — Respondeu Joan à pergunta não
formulada de Gavin.
— Não tenho tanta certeza. — Ele tocou a bochecha quente de
sua esposa. Observando-a com atenção.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 449
— Foi uma queda terrível que ela tomou. — disse Joan, olhando
fixamente para Gavin.
Gavin apenas balançou a cabeça, mais preocupado com Judith
do que com qualquer conversa.
— O que você pretende fazer com ela? — Joan continuou.
— Que posso fazer? — Perguntou Gavin. — Só espero vê-la bem o
quanto antes melhor.
Joan acenou com a mão de forma depreciativa.
— Não. Refiro-me à Lady Alice. Que punição planeja aplicar-lhe
pelo truque que ela fez? — Joan bufou. — Um truque que pode custar
à milady sua vida!
— Não diga isso. — Gavin rosnou.
— Te pergunto novamente, que punição você planeja aplicar?
— Segure sua língua, mulher, não sei nada sobre um truque.
— Não? Então, neste caso direi o que devo esclarecer. Há uma
serva na cozinha, que chora mares e mares. Ela tem uma moeda de
ouro e diz que Lady Alice lhe deu para levar a minha lady até aonde
estava na cama com essa meretriz. Ela disse que teria feito qualquer
coisa pela moeda, mas não estava pensando em assassinato. Disse
que é culpada pela morte do bebê e a possível morte de Lady Judith.
Teme ir para o inferno.
Gavin percebeu que era hora de encarar a verdade.
— Eu gostaria de ver essa mulher e falar com ela. — Disse ele em
voz baixa.
Joan levantou-se.
— Vou buscar a menina se puder encontrá-la.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 450
Gavin sentou-se com Judith, observando, notando que sua cor
natural estava retornando.
Algum tempo mais tarde, Joan voltou, puxando uma serva
assustada e encolhida atrás dela.
— Esta é a porca! — Joan disse e deu a serva um empurrão
violento. — Olhe para minha lady, que está ali deitada. Matou um
bebê, e agora pode matar a minha senhora. Ela nunca machucou
ninguém. Sabe que me ensinou muitas vezes a não maltratar a escória
como você?
— Silêncio! — Ordenou Gavin. A serva estava, obviamente, com
muito medo. — Diga-me o que sabe do acidente de minha esposa.
— Acidente! — Joan gargalhou depois se calou diante do olhar de
Gavin.
A serva, com os olhos correndo de um canto do quarto para o
outro, contou sua história em frases desconexas e hesitantes. No final,
se atirou aos pés de Gavin.
— Por favor, meu senhor, salve-me, Lady Alice vai me matar!
O rosto de Gavin não mostrou nenhuma piedade.
— Você me pede ajuda? Que ajuda você deu à minha esposa, ou
a nosso filho? Devo levá-la a tumba onde enterraram a criança?
— Não. — A serva chorava desesperadamente, sua cabeça
tocando o chão.
— Levante-se! — Ordenou Joan. — Você suja o chão deste
quarto!
— Leve-a daqui! — Ordenou Gavin. — Não suporto a visão dela.
Joan agarrou os cabelos da serva e puxou-a violentamente para
cima, então deu-lhe um duro pontapé em direção à porta.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 451
— Joan. — interveio Gavin. — Leve-a para John Bassett e diga
que a mantenha segura.
— Segura? — Joan explodiu então seus olhos endureceram. —
Sim, meu senhor. — Ela disse em uma voz falsamente submissa.
Fechou a porta, torcendo o braço da serva atrás de suas costas. — Ela
mata o bebê da minha senhora, e eu vou vê-la segura! — Ela
murmurou. — Não, vou me inteirar de que receba o que merece.
No topo da escada em espiral, a mão de Joan apertou com mais
força o braço da serva aterrorizada.
— Aqui, pare com isso! Fique quieta! — John Bassett rosnou.
Nunca esteve longe da porta do quarto de Judith nos últimos dias. —
Esta é a mulher que Lady Alice subornou? — Não havia uma só
pessoa no castelo que não estivesse ciente da história da traição de
Alice.
— Oh, por favor, senhor — pediu a moça, caindo de joelhos. —
Não deixe que me matem. Não voltarei a fazer nada parecido com isso
novamente.
Joan tentou falar, mas John cravou-lhe um olhar de desgosto e
levantou a criada. Joan permaneceu de pé por vários minutos,
observando-os com o olhar enquanto se afastavam.
— Que pena que ele a tenha levado, poderia ter-me resolvido o
trabalho. — disse uma voz calma atrás dela.
Joan girou para encarar Alice Chatworth.
— Preferia vê-la arrojada no pé da escada. — disse Joan com
desprezo.
Os olhos azuis de Alice brilharam em chamas.
— Pagarás com tua vida por isso!
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 452
— Aqui? Agora? — Joan provocou. — Porque vacilas? Estou na
beira da escada. Não. Esse não é o seu modo de agir. Contrata gente
para fazer o trabalho sujo para você, e depois, finge ser uma dama
inocente.
Ninguém nunca ousou dizer essas coisas a Alice!
Ela estava tentada a dar um duro empurrão à donzela, mas Joan
parecia ser mais forte, e Alice não podia arriscar perder a luta.
— Depois do que me disse cuidado com a sua vida. — Alice
advertiu.
— Não, vou cuidar de minhas costas, onde pessoas como você
atacam por ai. — Joan olhou para a mulher, depois começou a rir. Ela
riu todo o caminho, das escadas até chegar ao quarto de sua lady.
A parteira e Gavin velavam Judith.
— A febre começou. — Disse a velha em voz baixa. — Agora as
orações ajudarão tanto quanto qualquer outra coisa.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 453
Capítulo Vinte e Oito Judith estava sonhando. Seu corpo estava quente e dolorido, e
tinha problemas para se concentrar no que estava acontecendo. Gavin
estava lá, sorrindo para ela, mas seu sorriso era falso. Atrás dele
estava Alice Chatworth, seus olhos brilhando em triunfo.
— Ganhei. — sussurrou a mulher. — Eu ganhei!
Judith acordou devagar, saindo do sonho que parecia real,
quando sentiu as dores de seu corpo, como se tivesse dormido durante
dias em uma taboa. Ela moveu a cabeça para um lado. Gavin dormia
em uma cadeira junto à cama. Até adormecido, ele parecia tenso,
como se estivesse pronto para se colocar de pé. Seu rosto estava
abatido, as maçãs do rosto proeminentes debaixo de sua pele. Estava
há vários dias sem se barbear, e havia círculos escuros sob seus olhos.
Judith ficou perplexa por alguns instantes, perguntando-se por
que Gavin parecia tão cansado e por que seu corpo doía tanto. Sua
mão se moveu sob as cobertas e tocou seu ventre. Já não estava tão
duro e ligeiramente arredondado, agora estava afundado e vazio. E que
horrível vazio!
Lembrou-se de tudo! Lembrou-se de Gavin na cama com Alice.
Ele havia dito que já não se importava com ela, que já não a queria e
Judith começara a acreditar nele. Começou a sonhar em uma vida
juntos, na felicidade quando seu filho nascesse. Que idiota ela havia
sido!
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 454
— Judith! — murmurou Gavin com uma voz estranhamente
rouca. Rapidamente se sentou ao lado dela na cama, sua mão
sentindo sua testa.
— A febre passou. — disse ele, aliviado. — Como você está se
sentindo?
— Não me toque. — Ela sussurrou. — Saia de perto de mim!
Gavin assentiu com a cabeça, os lábios em uma linha fina e
firme.
Antes que qualquer um dos dois pudesse falar de novo, a porta se
abriu e Stephen entrou. A expressão preocupada em seu rosto deu
lugar a um amplo sorriso quando viu que ela estava acordada.
Rapidamente foi para o lado da cama em frente Gavin.
— Doce irmãzinha. — murmurou ele. — Nós pensamos que
poderíamos perdê-la. — Tocou seu pescoço gentilmente.
Ao ver um rosto familiar e amado, Judith sentiu lágrimas nos
olhos.
Stephen franziu o cenho e olhou para seu irmão, mas Gavin
balançou a cabeça.
— Vamos, tesouro. — disse Stephen, apertando Judith em seus
braços. — Não chore! — Ele sussurrou enquanto acariciava seus
cabelos.
— Era um menino? — Perguntou.
Stephen só pode assentir.
— Eu o perdi! — Exclamou desesperada. — Ele não teve sequer
uma chance de vida e eu o perdi. Oh, Stephen, eu queria tanto o bebê.
Ele teria sido bom, gentil e muito bonito!
— Sim. — concordou Stephen. — Alto e moreno como o pai.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 455
Os soluços de Judith rasgaram-na.
— Sim. Pelo menos meu pai tinha razão em relação a ter um
neto. Mas está morto!
Stephen olhou por cima da cabeça dela para o irmão. Não sabia
quem era o mais desesperado, Gavin ou a mulher que ele confortava.
Gavin nunca viu Judith chorar. Ela mostrou-lhe hostilidade,
paixão, humor, mas nunca esta dor horrível. Sentiu uma profunda
tristeza por ela não ter compartilhado seu pesar com ele.
— Judith. — disse Stephen. — Você deve descansar, esteve muito
doente.
— Há quanto tempo estou doente?
— Três dias. A febre quase a tirou de nós.
Ela soluçou e então abruptamente se afastou dele.
— Stephen, não deveria estar em viagem? Chegará atrasado para
o seu próprio casamento.
Ele assentiu sombrio.
— Teria que casar com ela esta manhã.
— Então você a abandonou no altar.
— Espero que tenha percebido meu atraso antes de chegar até
esse ponto.
— Enviou-lhe alguma mensagem?
Ele balançou sua cabeça.
— Que a verdade seja dita, esqueci-me. Estávamos muito
preocupados com você. Não sabe o quão perto chegou da morte.
Em realidade Judith se sentia fraca e extremamente cansada.
— Agora deve voltar a dormir.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 456
— E você irá conhecer sua noiva? — Judith perguntou enquanto
a ajudava a deitar-se.
— Posso ir agora que sei que a febre cedeu.
— Prometa-me — disse ela, cansada. — Não gostaria que você
começasse seu casamento como começou o meu. Quero o melhor para
você.
Stephen olhou rapidamente para seu irmão.
— Sim, prometo. Partirei dentro de uma hora.
Ela assentiu, fechando os olhos.
— Obrigada. — Sussurrou e adormeceu.
Gavin levantou-se da cama ao mesmo tempo que seu irmão.
— Eu também esqueci o seu casamento.
— Você tinha outras coisas em mente. — Respondeu Stephen. —
Ela ainda está brava com você?
Gavin deu a seu irmão um olhar cínico.
— Mais do que zangada, eu diria.
— Fale com ela. Explique como você se sente. Diga-lhe a verdade
sobre Alice Acreditará em você.
Gavin olhou para sua esposa adormecida.
— Tem que preparar seu grupo e sua bagagem. Essa sua noiva
escocesa lhe esfolará.
— Se isso fosse tudo o que ela deseja, meu couro, o daria de boa
vontade.
Os dois homens saíram do quarto, fechando a porta. Gavin
abraçou seu irmão.
— No Natal. — Ele disse sorrindo. — Traga sua esposa para o
Natal.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 457
— Sim. Vai falar com Judith?
Gavin assentiu.
— Quando ela estiver mais descansada e eu banhado.
Stephen sorriu. Gavin não saiu do lado de sua esposa durante os
três dias de febre. Stephen deu um afetuoso golpezinho em seu irmão,
virou-se e se afastou pelo corredor.
Quando Judith acordou novamente, estava escuro no quarto.
Joan estava dormindo em um colchão perto da porta. A cabeça de
Judith estava mais leve e se sentia mais forte e com muita fome.
— Joan. — ela sussurrou.
A serva ficou de pé imediatamente.
— Minha lady. — Ela disse e sorriu alegremente. — Lorde Gavin
disse que estava bem melhor, mas eu não acreditei nele.
— Quero um pouco de água. — disse Judith através dos lábios
ressecados.
— Sim. — Joan riu alegremente e aproximou o copo os lábios de
sua ama. — Não tão rápido. — disse enquanto Judith bebia com
avidez.
A porta se abriu e ambas se viraram para ver Gavin entrando
com uma bandeja de comida.
— Não quero vê-lo. — disse Judith com firmeza.
— Saia! — Ordenou Gavin a Joan.
A criada pousou o copo e saiu apressadamente.
Gavin colocou a bandeja em uma pequena mesa ao lado da cama.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 458
— Está se sentindo melhor? — Ela olhou-o firme, mas não
respondeu.
— Te trouxe um pouco de caldo e um pedaço de pão. Deve estar
com muita fome.
— Não quero nada de você. Nem comida e nem companhia.
— Judith, — disse ele com grande paciência — está agindo como
uma criança, falaremos disso novamente quando estiver bem.
— Acha que o tempo vai mudar minha ideia? O tempo vai me
devolver meu bebê? Será que o tempo me deixará abraça-lo, amá-lo,
me deixará ver a cor de seus olhos?
Gavin tirou as mãos da bandeja.
— Também era meu filho. Eu também o perdi.
— Então, pelo menos disso está sabendo. Devo dar-lhe os
pêsames por tê-lo perdido? Deveria sentir pena de sua tristeza? Nem
sequer acreditou que ele fosse seu. Ou mentiu sobre isso também?
— Não menti para você, Judith. Se puder me escutar, eu lhe
contarei tudo.
— Escutar-te? — Ela disse com seriedade. — Quando você já me
ouviu? Desde o momento em que nos casamos tenho tentado agradá-
lo, mas havia pouca coisa que eu podia fazer que não o deixasse
enfurecido. Sempre sentia que estava me comparando com outra
pessoa.
— Judith. — disse, tomando-lhe a mão de seu colo.
— Não me toque. Teu toque me suja. — Seus olhos mudaram de
cinza para preto.
— Tenho algo a dizer, e o direi, mesmo que tente arduamente me
impedir. Muito do que você disse é verdade. Estive apaixonado por
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 459
Alice, ou pensei que estava. Apaixonei-me por ela antes mesmo de
ouvir uma palavra de sua boca. Inventei uma imagem de mulher, e ela
se converteu nessa imagem. Nunca passamos muito tempo juntos,
apenas momentos rápidos aqui e ali. Em realidade, nunca soube como
ela era realmente, apenas o que eu desejava que ela fosse.
Judith não respondeu. Gavin não conseguia ler seus
pensamentos.
— Lutei contra te amar, — ele continuou — convencido de que
meu coração pertencia a Alice. Mas agora sei que estava enganado,
Judith. Te amo faz um longo tempo. Talvez tenha te amado desde o
início. Sei agora, com certeza, que te amo com todo o meu coração e
alma.
Ele parou e olhou para ela, mas sua expressão não mudou.
— Devo cair em seus braços e declarar meu grande amor por
você também? É isso que espera de mim?
Gavin ficou surpreso. Talvez tivesse esperado que ela dissesse
que o amava.
— Sua luxúria matou meu filho!
— Não foi a minha luxúria! — Gavin disse apaixonadamente. —
Eu fui enganado. Fizeram-me uma armadilha. Stephen e eu bebemos
demais juntos. Poderia ter deitado com um leopardo e eu não saberia!
Judith sorriu friamente.
— E gostou do leopardo e suas garras como antes?
Gavin lhe lançou um olhar frio.
— Tentei explicar-lhe minhas ações, mas não me escuta. Declarei
meu amor, o que mais posso fazer?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 460
— Não parece entender. Não me importa que me ame ou não. Teu
amor precisa ser real, porque o tem dado livremente a quem o
reclama. Em outros tempos teria feito qualquer coisa para ouvir essas
palavras, mas elas já não são doces ao ouvi-las. A morte do meu filho
tirou da minha mente contos de fadas, como o amor.
Gavin se recostou, olhando para ela. Não sabia mais o que dizer.
— Tenho errado em todos os aspectos. Tem todo o direito de estar
zangada.
— Não. — Ela sorriu — Não estou zangada, nem te odeio.
Simplesmente a vida contigo ficou intolerável.
— O que você quer dizer?
— Implorarei ao rei que peça ao Papa meu divórcio. Creio que
nem mesmo o Papa me exija que viva com você depois disso. Reterás a
metade da minha terra e... — Ela parou quando Gavin se levantou.
— Vou mandar Joan para você. Tem que comer. — Disse Gavin,
depois saiu do quarto.
Judith deitou-se contra o travesseiro. Sentia-se esgotada. Como
poderia acreditar que ele a amava quando tudo que podia ver era Alice
se levantando debaixo de seu corpo nu?
Por mais três dias, Judith não saiu de sua cama. Dormia muito e
comia obedientemente. Seu animo estava tão baixo que a comida
significava pouco para ela. Recusou-se a ver qualquer pessoa,
especialmente seu marido. Preferindo manter sua opinião para si
mesma, Joan mal falou com sua ama.
Na manhã do quarto dia, Joan puxou as cobertas de Judith.
— Não vai permanecer na cama hoje, há trabalho a ser feito e
deve se exercitar. — Joan tirou uma túnica nova que estava ao pé da
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 461
cama. Uma túnica para substituir a de veludo verde manchada de
sangue. A túnica nova era de veludo cinza com uma larga manga de
vison, uma bainha, também de vison, ao longo da frente e ao redor. O
intrincado bordado de ouro corria em volta dos ombros.
— Eu não quero me levantar. — Judith disse e se virou.
— Você irá!
Judith ainda estava muito fraca para resistir. Joan facilmente
tirou sua ama da cama e a ajudou a vestir a roupa de veludo.
Conduziu Judith para um assento próximo da janela.
— Agora fique aqui enquanto coloco lençóis limpos.
A brisa do verão refrescava agradavelmente o rosto de Judith.
Tinha uma vista maravilhosa do jardim. Recostou-se contra o marco e
observou as pessoas embaixo.
— Gavin? — Alguém disse calmamente ao seu lado.
Sentava-se sozinho no jardim, um lugar onde passara muito
tempo ultimamente. Virou rapidamente para a voz familiar. Era Alice,
sua pele radiante na luz do amanhecer. Ele propositadamente havia
adiado o confronto com ela. Não confiava em suas próprias reações.
— Como se atreve a aproximar-se de mim?
— Por favor, permita-me explicar...
— Não. Você não pode explicar nada.
Alice desviou o olhar, levando sua mão ao seu olho. Quando
voltou a olha-lo, havia grandes lágrimas brilhantes. Gavin olhou-a e se
perguntou como suas lágrimas tiveram uma vez o poder de comovê-lo.
Quão diferentes eram das de Judith! Grandes soluços dilacerantes,
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 462
que se rasgaram através dela. Ela chorava de tristeza, não para
aumentar sua beleza.
— Eu fiz isso só por você. — Disse Alice. — Meu amor por você é
tão forte que...
— Não me fale de amor. Pergunto-me se você sabe o significado
desta palavra. Sabe que interroguei a garota que pagou para trazer
Judith até você? Planejou bem, não é?
— Gavin, eu...
Ele a agarrou pelos braços e a sacudiu.
— Mataste a meu filho! Isso não significa nada para você? E
quase matou minha esposa. A mulher que amo. — Afastou Alice com
um empurrou para longe dele. — Poderia leva-la diante de um tribunal
pelo que fez, mas me sinto tão culpado quanto você. Fui um estúpido
em não ter compreendido como você era.
Alice levantou a mão e deu um tapa na cara de Gavin. Ele
permitiu, sentindo que o merecia.
— Saia da minha frente e não me tente. Ou torcerei seu pescoço.
Alice virou sobre o calcanhar e fugiu do jardim. Ella saiu das
sombras.
— Eu disse para você não ir até ele. Disse para esperar. Ele está
muito zangado com você e bem o merece. — Ella ficou perplexa
quando sua ama caminhou por atrás da cozinha, em um beco. Alice
encostou-se à parede. Seus ombros tremiam. Ella foi até sua ama e
puxou sua cabeça para seu amplo peito. Desta vez, Alice chorou
genuinamente.
— Ele me amava. — Ela disse através de soluços dolorosos. — Me
amou e agora não mais. Não tenho mais ninguém.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 463
— Silêncio, querida! — Ella acalmou-a. — Tem a mim. Sempre
me teve. — Ella segurou-a como quando Alice era uma criança e a
linda menina tinha chorado por negligência de sua mãe. — Lorde
Gavin é apenas um homem, há outros. Você é tão linda. Haverá
muitos homens para te amar.
— Não! — Alice disse com tanta violência que sacudiu todo o seu
corpo. — Eu o quero, quero Gavin. Outro homem não me serve!
Ella tentou acalmar sua ama, mas não conseguiu.
— Você vai tê-lo então. — Ella disse finalmente.
Alice ergueu a cabeça, os olhos e o nariz vermelhos e inchados.
— Você promete?
Ela assentiu.
— Eu não te dou sempre o que quer?
— Sim. — Alice concordou. — E você trará Gavin para mim?
— Eu juro.
Alice deu um pequeno sorriso. Então, em uma rara explosão de
afeto, deu a Ella um beijo rápido na bochecha. Os velhos olhos da
empregada brilharam. É claro que faria qualquer coisa por essa doce
garota, que era tão mal compreendida pelas pessoas ao seu redor.
— Vamos para cima — disse Ella docemente. — Vamos planejar
um vestido novo.
— Sim. — Alice sorriu, fungando alto pelo nariz. — Um
comerciante trouxe algumas lãs francesas esta manhã.
— Vamos vê-las.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 464
Judith observou da janela apenas parte da cena. Tempo
suficiente para ver o marido se voltar e falar com a amante.
— Joan, eu gostaria de ver o rei. — disse ela, afastando-se da
janela.
— Minha lady, não pode pedir ao rei Henry para vir aqui.
— Não tenho a intenção de fazê-lo. Tem que me ajudar a me
vestir e vou descer para vê-lo.
— Mas...
— Não discuta comigo!
— Sim, milady! — Disse Joan com voz rouca.
Uma hora mais tarde, Judith apareceu no grande salão,
apoiando-se pesadamente no braço da criada. Um jovem veio saudá-la.
— Alan Fairfax, minha dama, se você não se lembra.
— Claro que lembro. — Ela conseguiu esboçar um pequeno
sorriso. — Você é gentil em me ajudar.
— É um prazer. Quer ver o rei?
Ela assentiu gravemente. Pegou o braço de Alan e ele a conduziu
para a câmara real. Era uma elegante sala com um teto de grandes
vigas, painéis de madeira e pisos de carvalho cobertos com tapetes
persas.
— Condessa! — Disse o rei quando a viu. Tinha um manuscrito
iluminado no colo. — Não deveria ter deixado sua cama tão cedo. —
Ele colocou o livro de lado e pegou seu outro braço.
— Ambos são muito amáveis. — Disse ela enquanto Alan e Henry
a ajudavam a sentar. — Gostaria de falar com vós, Sua Majestade,
sobre um assunto particular.
Henry acenou para Alan e o cavaleiro os deixou.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 465
— Agora, que assunto é tão importante que a obrigou a cansar-se
para falar comigo?
Judith olhou para as mãos dela.
— Gostaria de me divorciar.
O rei Henrique ficou em silêncio por um momento.
— O divórcio é um assunto sério. Tem motivos?
Havia dois tipos de divórcio e três razões para cada um. O melhor
que Judith podia pedir era uma separação, permitindo-lhe viver
separada de seu marido pelo resto de sua vida.
— Adultério. — Ela disse em voz baixa. Henry estudou a
resposta.
— Se autorizarem o divórcio por esse motivo, nenhum dos dois
poderá se casar de novo.
— Não quero voltar a me casar. Entrarei em um convento, como
fui preparada.
— E o que dizer de Gavin? Negar-lhe-ia o direito de tomar uma
nova esposa que lhe daria filhos para segui-lo?
— Não. — sussurrou. — Ele tem seus direitos.
Henry a observava atentamente.
— Então, neste caso, devemos buscar um divórcio que declare
seu casamento nulo e sem efeito. Não estão ligados por vínculos de
parentesco?
Novamente ela balançou a cabeça, pensando em Walter Demari.
— E Gavin, não estava comprometido com outra?
Judith ergueu o queixo.
— Pediu a outra mulher que se casasse com ele.
— E esta mulher quem é?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 466
— Lady Alice Chatworth.
— Ah... — Henry suspirou e se recostou na cadeira. — E agora a
dama é viúva e ele quer se casar com ela?
— Sim, ele o quer.
O rei Henry franziu o cenho.
— Não gosto de divórcio, mas também não gosto que meus
condes e condessas sejam infelizes. Isso vai custar muito, estou seguro
de que o Papa exigirá que lhe dê uma capela ou um convento.
— Eu farei isso.
— Lady Judith, eu devo pensar sobre isso. Falarei com os outros
envolvidos antes de tomar uma decisão. Alan, — ele chamou — leve a
condessa para seu quarto e veja para que ela descanse.
Alan sorriu amplamente enquanto ajudava Judith a se levantar.
— Lady Judith parecia muito triste. — comentou a rainha Isabel
quando entrou na sala no momento que Judith estava saindo e se
sentou ao lado de seu marido. — Eu sei como ela se sente depois de
ter perdido uma criança.
— Não é isso. Ou pelo menos a criança não é tudo que pesa sobre
ela. Pediu o divórcio de Gavin.
— Não! — Exclamou Isabel, deixando cair o tecido no colo. —
Nunca vi duas pessoas mais apaixonadas. Eles discutem, é verdade,
mas vi como Lorde Gavin levantou-a nos braços e a beijou.
— Parece que Lady Judith não é a única mulher que Gavin beija.
Isabel ficou em silêncio. Poucos homens eram fiéis a suas
esposas. Ela sabia que mesmo seu marido, às vezes...
— Lady Judith pede o divórcio por esse motivo?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 467
— Sim. Gavin parece ter pedido para Lady Alice Chatworth que se
casasse com ele antes de se casar com Judith. É um contrato verbal e
o motivo do divórcio, isto é, se essa mulher aceitar Gavin.
— O aceitará — disse Isabel, furiosa. — Para ela será uma alegria
ficar com Gavin, esforçou-se muito por conquistá-lo.
— Do que está falando?
Isabel rapidamente disse a seu marido sobre os rumores que
circulavam pelo castelo de como Lady Judith havia caído e abortado
seu filho.
Henry franziu o cenho.
— Não gosto desses acontecimentos entre os meus súditos. Gavin
deveria ter sido mais discreto.
— Há algumas dúvidas se ele levou a mulher para sua cama ou
se ela mesma se colocou ali.
O rei riu entre dentes.
— Pobre Gavin! Não queria estar em sua situação.
— Falou com ele? Não acho que queira o divórcio. — Afirmou
Isabel.
— Mas se estava comprometido com Lady Alice antes de seu
casamento...
— Neste caso por que ela se casou com Edmund Chatworth?
— Entendo. — disse Henry seriamente. — Acho que vou
investigar isso mais a fundo, há mais aqui do que aparece na
superfície. Falarei com Gavin e Lady Alice.
— Espero que demore muito com essas conversações.
— Não compreendo.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 468
— Se Judith tiver permissão para se separar de seu marido, seu
casamento vai realmente acabar, mas se eles forem forçados a ficar
perto um do outro, poderiam compreender que se amam.
Henry sorriu afetuosamente para sua esposa. Ela era uma
mulher sábia.
— Vou levar muito tempo antes de enviar uma mensagem ao
papa, aonde você vai? — Ele perguntou enquanto se levantava.
— Desejo trocar umas palavras com Sir Alan Fairfax, pergunto-
me se ele estaria disposto a ajudar uma dama em perigo.
Henry deu a ela um olhar intrigado, logo recolheu seu
manuscrito.
— Sim, minha querida. Tenho certeza de que vai lidar com tudo
isso sem minha ajuda.
Duas horas depois, a porta da câmara de Judith foi aberta com
violência, Gavin entrou no quarto em grandes passadas com o rosto
enegrecido pela fúria. Judith levantou o olhar do livro que tinha em
seu colo.
— Você pediu o divórcio ao rei! — Vociferou ele.
— Em efeito. — respondeu ela com firmeza.
— Pensa revelar nossas diferenças ante o mundo?
— Sim, se for necessário para me liberar de ti. — Gavin a
fulminou com os olhos.
— Que mulher tão teimosa! Alguma vez vê além de sua opinião?
Alguma vez raciocina?
— A sua ideia de raciocinar não é a mesma que a minha. Quer
que te perdoe por adultério uma e outra vez. Já fiz tantas vezes, mas
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 469
agora não posso mais, pretendo me livrar de você e entrar num
convento. Como eu deveria ter feito há muito tempo.
— Um convento! — Disse incrédulo, depois sorriu zombeteiro.
Deu um rápido passo em direção à esposa e lhe rodeou os ombros com
um braço. Levantou-a da cama e sua boca cobriu a dela. Não foi um
beijo suave, mas mesmo em sua brutalidade deixou Judith excitada.
Seus braços rodearam seu pescoço, estreitando-se violentamente
contra ele. Gavin a soltou de repente e a deixou cair no colchão de
penas. Os lados do colchão macio se ergueram ao redor dela.
— Pois vá aceitando que nunca se libertará de mim. Quando
estiver disposta a admitir que sou o homem que necessita, venha até
mim. Talvez aceite-a ao meu lado outra vez. — Ele se virou e saiu do
quarto antes que Judith pudesse dizer uma palavra.
Joan estava na porta aberta, um olhar de adoração em seu rosto.
— Mas, como se atreve? — Balbuciou Judith. Mas se
interrompeu ante a expressão de sua donzela. — Por que me olha
assim? — Perguntou.
— Porque está errada. Este homem a ama, já o disse, mas você
não quer escutá-lo. Estive do seu lado desde que se casaram, mas
agora não.
— Mas aquela mulher... — protestou Judith com uma voz
estranha e suplicante.
— Não pode perdoá-lo? Ele pensou que a amava: Seria menos
homem se estivesse disposto a esquecê-la quando viu pela primeira
vez a sua linda esposa?
— Mas meu bebê! — Judith disse, com lágrimas em sua voz.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 470
— Eu lhe falei da traição de Alice. Por que segue jogando a
responsabilidade sobre os ombros de seu marido, senhora?
Judith ficou em silêncio por um tempo. A perda da criança a
machucou muito. Talvez ela quisesse alguém para culpar e Gavin era
uma pessoa adequada para infligir tudo. Sabia que Joan dizia a
verdade com respeito à Alice. Naquela noite, as coisas aconteceram tão
rapidamente. Mas agora, passados vários dias, dava-se conta de que
Gavin tinha estado muito inerte sobre o corpo de Alice.
— Ele diz que te ama. — Joan continuou com uma voz mais
calma.
— Você faz alguma coisa além de ouvir atrás das portas? —
Perguntou Judith.
Joan sorriu.
— Eu gosto de saber o que acontece com aqueles que me
importo. Ele diz que te ama milady, o que você sente por ele?
— Eu... eu não sei.
Joan resmungou um juramento que fez os olhos de Judith se
arregalarem.
— Sua mãe deveria ter lhe ensinado algo além dos registros
contábeis, minha lady. Não acredito que tenha visto uma mulher amar
um homem como você ama Lorde Gavin. Seus olhos não o deixaram
desde que ele desmontou daquele cavalo branco em seu casamento.
Entretanto, resiste a cada instante… e ele a você — ela acrescentou
antes que Judith pudesse interromper. — Por que os dois não param
de brigar e fazem mais bebês? Eu gostaria de ter um para cuidar.
Judith sorriu. Seus olhos se encheram de lágrimas.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 471
— Mas ele não me ama, em realidade. E embora assim fosse, está
furioso comigo. Devo ir para ele e dizer-lhe que eu não quero o
divórcio, que eu... eu...
Joan riu.
— Não pode nem dizê-lo. Ama-o, não é verdade?
Judith estava muito séria antes de responder.
— Sim, eu o amo.
— Agora, devemos fazer nossos planos. Não pode ir até ele, dar-
lhe-ia motivos para se regozijar com isso por muitos anos. Além disso,
não saberia como fazê-lo. Mostrar-se-ia fria e lógica, em vez de chorar
e suspirar.
— Dar-se conta do que quero dizer, milady? Certa vez me disse
que eu dava muita importância ao aspecto pessoal, e eu disse que você
dava para isso muito pouco valor. Pelo menos uma vez têm que usar
sua beleza em benefício próprio.
— Mas como? Gavin me viu de todas as maneiras, minha
aparência não terá efeito sobre ele.
— Acha que não? — Joan riu. — Ouça-me, e dentro de alguns
dias teremos Lorde Gavin rastejando aos seus pés.
— Seria bom para variar. — Judith sorriu. — Sim, gostaria disso.
— Então, as coisas de minha conta, há um comerciante de
tecidos italiano lá embaixo e...
— Não preciso de mais roupas! — Judith disse, olhando para os
quatro grandes baús no quarto.
Joan sorriu de maneira secreta.
— Deixe que eu me encarregue dos homens, basta descansar, vai
precisar de sua força.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 472
A notícia do desejo de Judith por um divórcio se espalhou por
toda a corte como um incêndio. O divórcio não era incomum, mas
Judith e Gavin haviam se casado há pouco tempo. A reação do povo
da corte foi estranha. As mulheres herdeiras, órfãs e as jovens viúvas
se aglomeravam em torno de Gavin, percebendo que seu longo
romance com Alice Chatworth terminou. Obviamente, sua adorável
esposa não deveria fazer reclamação alguma. Para elas, Gavin era um
homem solteiro que logo precisaria escolher uma delas por esposa.
Mas os homens não correram para Judith. Não era jogo de dados
a atuar primeiro e pensar depois. A rainha mantinha Judith ao seu
lado, dando-lhe um tratamento preferencial ou, como os homens a
viam, guardando-a como uma ursa com seus filhotes. Os homens
também sabiam que era incomum para o rei Henry manter o casal
separado na corte. O rei não gostava de divórcio e geralmente
mandava o casal embora. É verdade que Lady Judith era linda,
encantadora e muito rica, mas com muita frequência um homem
sentia os olhos de Gavin em cima dele quando contemplava durante
muito tempo a essa beleza de olhos dourados. Mais de um homem
expressou a opinião de que uma boa surra teria impedido Judith de
trazer suas diferenças a público.
— Minha dama?
Judith levantou os olhos do livro e sorriu para Alan Fairfax. O
vestido novo que usava era extremamente simples. Tinha um pescoço
quadrado e mangas longas e apertadas. Descia por seus pés, de modo
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 473
que formava um pequeno amontoado de tecido no chão quando ela se
levantava. Para caminhar, precisava carregar parte da saia sobre o
braço. Os lados estavam amarrados com força. Mas o que realmente
era original no vestido era a sua cor. Era preto-sólido, preto de meia-
noite. Não havia cinto, nem manto. Sobre seu pescoço tinha um colar
de filigrana de ouro com grandes rubis. Seu cabelo estava descoberto,
solto, caindo em suas costas. Tinha vacilado ante o vestido negro,
perguntando-se até que ponto era adequado; não suspeitava que o
negro fizesse brilhar sua pele como uma pérola. O ouro do colar
refletia o tom de seus olhos e os rubis ficavam em um segundo plano
sob o fulgor de sua cabeleira dourado-avermelhado.
Alan quase não conseguiu conter-se para não olhá-la com a boca
aberta. Pelo visto, Judith ignorava que estava deixando loucos aos
homens da Corte, e não só ao seu marido.
— Vai permanecer aqui dentro em um dia tão lindo? — Ele
finalmente conseguiu dizer.
— Parece que sim. — Ela sorriu. — Verdade seja dita, faz vários
dias que não me afasto muito destes muros.
Ele lhe ofereceu seu braço.
— Então talvez goste de andar um pouco comigo?
Judith se levantou, aceitando seu braço.
— Seria um verdadeiro prazer, amável senhor. — Judith segurou
seu braço firmemente. Ela estava feliz em falar com um homem
novamente. Durante dias, todos pareciam afastar-se dela. O
pensamento a fez rir em voz alta.
— Algo te diverte? — Perguntou Alan.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 474
— Estava pensando que você é um homem corajoso. Na última
semana, comecei a temer que tivesse doente da peste ou talvez algo
ainda pior. Basta eu olhar para um homem e ele foge como se
estivesse em um perigo mortal.
Foi a vez de Alan rir.
—Não é você, mas seu marido quem os afugenta para as
sombras.
— Mas possivelmente… logo não seja meu marido.
— Possivelmente? — Alan perguntou, levantando uma
sobrancelha. — Ouço uma nota de incerteza?
Judith ficou quieta por um momento.
— Temo ser muito transparente.
Ele cobriu sua mão com a dele.
— Estava muito zangada e com razão. Lady Alice... —
interrompeu-se ao notar que ela ficava rígida. — Foi indelicadeza de
minha parte mencioná-la. Perdoou seu marido então?
Judith sorriu.
— Pode-se amar sem perdoar? Se for possível, então esse é o meu
destino.
— Por que não vai até ele e acaba com esse distanciamento?
— Oh, não conhece Gavin, Lorde Alan. Teria que suportar sua
arrogância e sermão sobre a minha rebeldia.
Alan riu entre dentes.
— Então deve fazê-lo vir até você.
— É o que diz a minha donzela, embora não me tenha dado
nenhuma lição sobre como devolver a meu lado meu marido.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 475
— Só há uma maneira. Seu marido é homem ciumento, milady.
Se dedicar parte de seu tempo a outro, Lorde Gavin não demorará em
reconhecer seu engano.
— Mas que homem? — Judith perguntou, pensando que
conhecia tão poucas pessoas na corte.
— Me ofende gravemente. — Alan riu, levando a mão ao peito,
fingindo desespero.
— Você? Mas se não tem interesse algum em minha causa!
— Neste caso, devo me forçar a passar um tempo com você,
certamente, será uma tarefa muito difícil, mas, sinceramente, devo-lhe
um favor.
— Você não me deve nada.
— Não. Fui usado para agir em favor de um truque contra
milady, e gostaria de compensá-la.
— Um truque? Não sei o que quer dizer.
— É o meu segredo. Agora, não falemos mais de assuntos sérios,
este é um dia de prazer.
— Sim. — concordou ela. — Sabemos pouco um do outro, fale-me
sobre você.
Alan sorriu provocando.
— Eu tive uma vida longa e interessante, tenho certeza que
minha história vai levar o dia inteiro.
— Neste caso, comece agora mesmo. — Judith riu.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 476
Capítulo Vinte e Nove Alan e Judith deixaram o barulho e confusão da casa real e
caminharam em direção ao parque arborizado que rodeava as
muralhas do castelo. Foi uma longa caminhada, mas que ambos
desfrutaram com alegria.
Foi uma tarde interessante para Judith. Ela percebeu como tinha
conhecido poucos homens em sua vida. Alan era divertido e o dia
passou rapidamente. Ele estava fascinado que Judith fosse uma
mulher bem educada. Riram juntos ante as confissões de Judith, que
contou como suas donzelas estavam acostumadas lhe levar em
segredo contos românticos para que ela os lesse em voz alta. Alan
estava certo de que Judith não tinha plena consciência de quão pouco
ortodoxa havia sido sua infância. Só no final da tarde ela falou de sua
vida de casada. Contou sobre sua reorganização no castelo de Gavin,
mencionou brevemente suas conversas com o ferreiro. Alan começou a
compreender a causa das explosões de Gavin. Seria preciso uma
grande força de vontade em um homem para ser capaz de ficar de lado
e permitir a sua esposa impor suas ordens à cima das dele.
Conversavam e riam até que o sol estava baixo no céu.
— Devemos voltar. — disse Alan. — Mas eu odeio terminar a
diversão deste dia.
— Concordo. — Judith sorriu. — Foi realmente agradável e estou
feliz por me afastar da corte, há muita fofoca e maledicência lá para
mim.
— Não é um lugar ruim, a menos que você seja o objeto da fofoca.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 477
— Como sou agora? — Judith estremeceu.
— Sim. Fazia anos que não se contava com tão bom tema de
conversação.
— Sir Alan, — ela riu. — é cruel comigo. — Colocou a mão em
volta do braço dele e sorriu.
— Encontrei-os! — Uma voz sibilou perto deles. — Aqui é onde
vocês se escondem?
Judith voltou-se para ver Alice de pé perto deles.
— Ele será meu em breve! — Alice gabou-se e se aproximou de
Judith. — Quando ele se livrar de você, virá a mim.
Judith deu um passo atrás. A luz nos olhos azuis de Alice era
antinatural. Seus lábios se curvaram e mostraram seus dentes
desiguais e tortos, que costumava ter o cuidado de esconder.
Alan colocou-se entre Alice e Judith.
— Parta Lady Alice! — Alan disse em uma voz baixa e
ameaçadora.
— Está se escondendo atrás de seu amante? — Alice gritou,
ignorando Alan. — Não pode esperar o divórcio antes de tomar outros
homens?
A mão de Alan apertou o ombro de Alice.
— Vá e não volte. Se a vir perto de Lady Judith, será a mim que
responderá.
Alice quis dizer algo mais, mas a mão de Alan cravada em seu
ombro a impediu. Ela virou e se afastou.
Alan voltou-se para Judith, que seguia olhando para a mulher.
— Você parece assustada.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 478
— E estou. — ela reconheceu, esfregando-os braços. — Essa
mulher me dá calafrios. Antes acreditava que ela fosse minha inimiga,
mas agora quase sinto pena dela.
— Você é bondosa. A maioria das mulheres a odeiam pelo que ela
fez a você.
— Eu também a odiava. Talvez ainda sinta o mesmo, mas não
posso culpá-la por todos os meus problemas. Muitos foram causados
por mim mesma e por….
— E por seu marido?
— Sim. — Ela sussurrou. — Por Gavin.
Alan estava muito perto dela. A escuridão estava rapidamente
caindo, e ele passara o dia inteiro com ela. Talvez fosse a luz delicada
em seus cabelos e olhos, mas ele não pode se abster de beijá-la.
Tomou o queixo dela em sua mão e levantou seu rosto. Seus lábios
encontraram os dela.
— Querida, linda Judith, — ele sussurrou — se preocupa muito
pelos outros e muito pouco por si mesma.
Judith ficou assustada, mas não achou a carícia de Alan
ofensiva. Nem achou isso particularmente excitante. Seus olhos
permaneceram abertos, e observou os cílios de Alan em sua bochecha.
Seus lábios eram suaves e agradáveis, mas não acenderam o fogo nela.
No momento seguinte, o chão se abriu e brotou o inferno. Judith
foi violentamente separada de Alan e jogada de lado, suas costas
bateram em uma árvore. Por um instante perdeu os sentidos. Olhou
ao seu redor, aturdida. Alan estava no chão, o sangue escorrendo pelo
canto da boca. Ele esfregava a mandíbula, flexionando-a. Gavin se
inclinou para atacá-lo outra vez.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 479
— Gavin! — Judith gritou e atirou-se contra seu marido.
Gavin afastou-a descuidadamente.
— Você ousa tocar no que é meu? — Ele rosnou para o cavaleiro.
— Vou tirar a sua vida por isso!
Alan ficou imediatamente de pé, sua mão indo para a espada.
Eles olhavam fixamente um para o outro, sem falar, suas narinas
dilatadas de raiva.
Judith colocou-se entre os dois homens, de frente para Gavin.
— Quer brigar por mim depois de me haver abandonado
voluntariamente?
Ao princípio Gavin não pareceu ouvi-la ou até mesmo estar ciente
de sua presença. Lentamente, afastou os olhos de Alan para olhar
para sua esposa.
— Não fui eu quem te abandonou, — disse ele calmamente — foi
você.
— Foi você quem me deu motivo! — Ela justificou. — Foi você que
durante todo o nosso casamento lutou contra mim quando eu tentei
lhe oferecer amor.
— Nunca me ofereceu amor — disse ele calmamente.
Judith o olhava fixamente. Esquecendo sua fúria.
— Gavin, não fiz outra coisa desde que nos casamos. Tentei fazer
e ser o que você queria de mim, mas você queria que eu fosse... ela!
Não poderia ser ninguém além de mim mesma. — Judith inclinou a
cabeça para esconder as lágrimas.
Gavin deu um passo na direção dela, mais se voltou para olhar
Alan com ódio. Judith sentiu a tensão e levantou a vista.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 480
— Se tocar um só fio de cabelo em sua cabeça, vai se
arrepender,. — ela advertiu.
Gavin, com o sobrecenho franzido, quis dizer algo, mas pouco a
pouco acabou sorrindo.
— Tinha começado a pensar que minha Judith já não existia. —
sussurrou. — Mas só estava oculta sob um manto de doçura.
Alan tossiu para dissimular o riso que ameaçava escapar.
Judith endireitou sua espinha e jogou seus ombros para trás
quando começou a afastar-se para longe de ambos os homens,
desgostosa por que riam dela.
Gavin a observou por um momento, dividido entre sua briga com
Alan Fairfax e seu desejo de correr atrás de sua esposa. Judith ganhou
facilmente o cabo-de-guerra. Gavin deu três passos longos, e a teve em
seus braços. Alan se apressou a deixá-los sozinhos.
— Se não ficar quieta, pôr-te-ei no ramo de uma árvore até que
não possa te mover.
A horrível ameaça a imobilizou. Gavin sentou-se no chão com ela
e segurou seus braços entre seus corpos.
— Assim eu gosto mais. — disse, ao vê-la mais serena. — Agora
eu falarei e você escutará. Humilhaste-me em público. Não! —
interrompeu-se. — Não diga nada até que eu tenha terminado. Posso
suportar que me ridicularize em meu próprio castelo, mas já estou
farto de que o faça diante do rei. E agora toda a Inglaterra ri de mim.
— Pelo menos tenho prazer nisso. — disse Judith, presunçosa.
— Seriamente, Judith? Isto te deu prazer? — Ela piscou com
rapidez.
— Não, não me deu. Mas não foi minha culpa.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 481
— É verdade. É inocente da maior parte. Mas disse que te amava
e pedi seu perdão.
— E eu lhe disse...
Ele colocou dois dedos sobre seus lábios e sufocou suas palavras.
— Estou cansado de brigar contigo. É minha esposa, pertence-
me, e planejo tratá-la como tal. Não haverá divórcio. — seus olhos se
obscureceram. — Tampouco voltará a passar à tarde com jovens
cavaleiros. Amanhã deixaremos este lugar cheio de fofocas e
voltaremos para casa. Lá, se for necessário, te trancarei em um quarto
na torre e só eu terei a chave. Levará um longo tempo em sossegar as
risadas em toda a Inglaterra, mas pode ser feito. — Ele fez uma pausa,
sem que Judith falasse. — Eu sinto muito pela armadilha que Alice
fez. Também derramei minhas próprias lágrimas por nosso filho que
perdemos, mas nos divorciarmos não mudará o passado. Só espero te
deixar grávida logo, para que isso cure sua ferida. Mas se não acredita
que seja assim, não importa: vou fazer as coisas ao meu modo.
Gavin dissera tudo isso de uma maneira deliberada. Judith sem
responder, permaneceu quieta em seus braços.
— Não tem nada a dizer? — Ele perguntou.
— E o que poderia dizer? Não acredito que me permita dar uma
opinião
Ele não olhava para ela, e sim para o campo verde.
— A ideia é tão repulsiva para você?
Judith não podia conter-se mais. Começou a rir e ele a encarou
admirado.
— Disse que me ama e que me manterá separada de todos,
exceto de você, trancando-me em um quarto na torre onde passaremos
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 482
noites de paixão. Admite que a mulher a quem jurou amar, foi falsa e
preparou armadilhas. Diz-me tudo isto e me pergunta se me repugna a
ideia. Dar-me-á o que mais quis desde a primeira vez que te vi na
igreja. — Continuou olhando-o.
— Judith... — murmurou ele hesitante.
— Eu te amo, Gavin! — Ela sorriu. — Isso é tão difícil de
entender?
— Mas há três dias... o divórcio...
Esta vez foi ela quem lhe apoiou dois dedos nos lábios.
— Pediste-me perdão. Poderá também me perdoar?
— Sim. — ele sussurrou enquanto se inclinava e a beijava. Mas
se retirou bruscamente. — E o que me diz desse homem que te beijou,
vou matá-lo!
— Não! Foi apenas um sinal de amizade.
— Pois não me parecia…
— Está se encolerizando outra vez? — Perguntou ela, seus olhos
disparando faíscas. — Passei dias inteiros vendo como lhe
manuseavam as mulheres. — Riu entre dentes
— Eu deveria ter gostado, mas não foi assim. Arruinaste-me para
toda a vida.
— Não compreendo.
— As mulheres só falavam de roupas e — os olhos de Gavin
cintilavam — cremes para o rosto. Eu tive problemas com as notas
contábeis e nenhuma delas soube me ajudar.
Judith se preocupou imediatamente.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 483
— Novamente permitiu que algum padeiro nos roubasse? — quis
afastar-se dele. — Venha, vamos, tenho que cuidar disso
imediatamente. — Gavin a apertou com os braços.
— Não irá! Ao diabo com os registros! Não pode usar sua doce
boca para algo que não seja tagarelar? — Sorriu-lhe com ar inocente.
— Pensei que era apenas sua propriedade e você o amo. — Ele
ignorou seu sarcasmo.
— Venha, escrava, e encontremos uma guarida secreta neste
bosque escuro.
— Sim, meu amo! Irei de boa vontade. — Andaram de mãos
dadas na floresta.
Judith e Gavin não estavam sozinhos. Suas palavras de amor,
seus jogos, foram testemunhadas por Alice. Observou-os com olhos
azuis febris.
— Venha pequena! — Ella disse enquanto forçosamente afastava
sua ama. Ella olhou com ódio para o casal que andava pelas árvores,
seus braços e corpos entrelaçados. — Esses diabos brincavam com
Alice! — ela pensou. Provocavam-na e riram dela, até enlouquecer a
pobre menina. Mas pagariam bem caro, jurou.
— Bom dia — sussurrou Judith e se aconchegou mais perto de
seu marido. Ele beijou o topo de sua cabeça, sem responder.
— Nós realmente vamos embora hoje?
— Se você desejar.
— Oh, sim, quero. Estou cheia de tantas fofocas, de olhares
maldosos e de homens me fazendo perguntas indecentes.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 484
— Que homens? — Gavin franziu o cenho.
— Não me confunda. — Ela respondeu. De repente se sentou na
cama, as cobertas caindo. — Devo falar com o rei, agora mesmo! Não
pode continuar acreditando que quero o divórcio. Talvez o mensageiro
possa ser alcançado.
Gavin puxou-a para deita-la na cama ao lado dele. Correu os
dentes pelos tendões do pescoço. Fizera amor com ela na floresta
ontem e na maior parte da noite passada, mas não estava nem um
pouco saciado.
— Não há necessidade de tanta pressa, nenhuma mensagem
chegará ao papa.
— Nenhuma mensagem? — Judith perguntou enquanto se
afastava de Gavin. — O que está dizendo? Faz vários dias que pedi o
divórcio ao rei.
— Nenhuma mensagem foi enviada.
Judith afastou-se violentamente dele.
— Gavin, eu exijo uma explicação, você fala em enigmas. —
Sentou-se na cama.
— O rei Henry me falou de sua solicitação e perguntou se eu
queria um divórcio. Disse-lhe que era um absurdo, que agiu enquanto
estava zangada comigo. Disse-lhe que iria se arrepender em um curto
espaço de tempo.
Judith abriu a boca para falar, os olhos arregalados.
— Como você ousa! — Ela finalmente ofegou. — Eu tinha todo o
direito!
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 485
— Judith, —- interrompeu ele — um divórcio não pode ser
concedido a cada esposa que está furiosa com seu marido. Desse
modo não ficariam matrimônios.
— Mas você não tinha direito…
— Eu tenho todo o direito. Sou seu marido e te amo. Quem pode
ter mais direitos que eu? Agora vem aqui e deixa de falar.
— Não me toque! Como posso encarar o rei depois do que você
disse?
— Enfrentou-o por dias e não parece ter sofrido nenhum dano. —
Gavin olhava para seus seios nus. Ela cobriu-se com as cobertas até o
pescoço.
— Você riu de mim!
— Judith! — Exclamou Gavin em voz baixa e ameaçadora. —
Suportei muitas coisas neste caso. Suportei as risadas e o ridículo,
tudo com intenção de te apaziguar. Mas já basta. Se não te comportar
devidamente, pôr-te-ei sobre meus joelhos para dar uma boa surra
neste bonito traseiro. Agora vem aqui!
Judith ia desafiá-lo, mas então, sorriu e se aconchegou contra
seu peito.
— O que lhe fez ter tanta certeza de que não me divorciaria de
você?
— Sabia que te amava o bastante para proibi-lo. Realmente teria
te encerrado em uma torre antes de vê-la nos braços de outro.
— Mas suportou as brincadeiras sobre o divórcio.
Gavin emitiu uma risada depreciativa.
— Não tinha intenções de fazê-lo. Não sabia que sua raiva
chegaria a ser de conhecimento público. Claro que esqueci até que
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 486
ponto é fofoqueira a Corte. Aqui ninguém faz nada sem que todos
saibam
— Como se espalhou a notícia?
Gavin encolheu os ombros.
— Pelas servas, suponho. Como se espalhou a armadilha de
Alice?
Judith levantou a cabeça.
— Não mencione o nome dessa mulher!
Ele apertou Judith de volta ao peito.
— Você não tem perdão em seu coração? Essa mulher me ama,
tal como em outros tempos acreditei amá-la. Tem feito tudo por esse
amor
Judith deu um suspiro de exasperação.
— Você ainda não acredita em nenhum mal que ela tenha feito,
não é?
— Você ainda está com ciúmes? — Ele perguntou, sorrindo.
Ela olhou para ele, seus olhos muito sérios.
— De certo modo, estou. Ela sempre será uma mulher perfeita
para você. Tudo o que faz você interpreta como um ato de amor a você.
É uma mulher pura, perfeita, como você acredita que seja e sempre
será. A mim em troca... eu sou terrestre. Represento à mulher que tem
e pode possuir. Alice representa o amor etéreo.
Ele franziu o sobrecenho.
— Diz que eu estou errado, mas por que mais ela teria feito o que
fez?
Judith moveu negativamente a cabeça.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 487
— A ganância. Ela acredita que você é dela e eu roubei-o dela.
Não te ama mais do que me ama, exceto que você tem os recursos
para dar ao seu corpo algum prazer... por mais breve que seja.
— Me insulta? — Ele levantou uma sobrancelha.
— Não, são os rumores que correm. Os homens se queixam de
sua inclinação pela violência.
Gavin respirou profundamente.
— Não vamos falar mais sobre isso. — Disse ele friamente. —Você
é minha esposa e eu te amo, mas mesmo assim, não quero que se
enfureça com ela e não vou escutar que maldiga a uma mulher tão
infeliz. Você ganhou e ela perdeu. Isso deveria ser suficiente para você.
Judith piscou as lágrimas.
— Eu te amo, Gavin. Amo-te profundamente, mas temo que não
tenha seu amor íntegro enquanto essa doença por Alice Chatworth
siga instalada em seu coração.
Gavin franziu o cenho, estreitando-a com mais força.
— Não tem motivos para ter ciúmes dela.
Judith ia falar, mas se calou. Do que serviriam suas palavras?
Sempre teria que ceder um pedaço do coração de seu marido a uma
gélida beleza loira. E não havia palavras que pudessem alterar esses
sentimentos.
Dizer adeus ao povo que Judith gostava na corte não foi fácil. A
rainha especialmente se tornara sua amiga. Enquanto Judith fazia
uma reverência diante do rei, sentiu seu rosto ficar quente. Ela
lamentou a publicidade de sua busca de um divórcio, mas se ela não
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 488
tivesse percebido o seu erro, ela e Gavin não estariam juntos agora. Ao
levantar a cabeça para o rei, ela sorriu. Saber que Gavin a amava e
que ela o amava valia todo o embaraço e provocação.
— Sentiremos falta do seu lindo rosto. - sorriu o rei Henry. —
Espero que volte a nos visitar logo.
Gavin colocou um braço possessivamente sobre os ombros de
sua esposa.
— É o rosto dela ou a diversão que ela oferece?
— Gavin! — Judith ofegou horrorizada.
O rei jogou a cabeça para trás e rugiu de riso.
— É verdade, Gavin. — Disse ele depois de um tempo. — Juro
que não me divertia assim há tanto tempo. Tenho certeza de que
nenhum outro casamento será tão fascinante como este.
Gavin devolveu o sorriso de seu rei.
— Então pode observar o de Stephen. Acabei de ouvir que sua
noiva escocesa lhe ameaçou com uma adaga em sua noite de núpcias.
— Ele foi ferido? — Perguntou Henry, preocupado.
— Não, — foi a sorridente resposta — mas imagino que não pôde
dominar igualmente seu caráter. Talvez a mulher tivesse motivos para
encolerizar-se. Depois de tudo, Stephen chegou a suas próprias bodas
com três dias de atraso.
O rei Henry sacudiu a cabeça, incrédulo.
— Não invejo o homem. — Ele sorriu de novo. — Pelo menos tudo
está bem com um dos irmãos Montgomery.
— Sim. — disse Gavin enquanto acariciava o braço de Judith. —
Tudo está bem.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 489
Terminaram de despedir-se e abandonaram o grande salão.
Tinha-lhes tomado a maior parte do dia fazer a bagagem para iniciar a
viagem de volta. Em realidade deveriam ter esperado até o dia
seguinte, mas todo mundo parecia tão disposto a partir como Judith e
Gavin. Contando o tempo passado no castelo de Demari e a estadia na
Corte, levavam muitas semanas ausentes.
Quando montaram seus cavalos e se despediram das várias
pessoas que se reuniram para saudá-los, apenas um observava com
preocupação. Alan Fairfax não conseguiu ficar um momento a sós com
Judith, como esperava. Cedo naquela manhã Alice Chatworth deixou o
castelo, com seus servos e pertences. Todos na corte pareciam
acreditar que a mulher aceitou a derrota quando Judith e Gavin se
reconciliaram. Mas não Alan. Ele sentia que conhecia Alice melhor do
que isso. Alice foi humilhada. Sabia que ela iria se vingar.
Quando o pátio ficou limpo e o grupo Montgomery partiu para
fora das muralhas do castelo, Alan montou em seu cavalo e seguiu a
uma discreta distância. Não fazia mal ser cauteloso, pelo menos até
que Lady Judith estivesse segura dentro das muralhas do próprio
castelo. Alan sorriu e flexionou sua mandíbula dolorida onde Gavin o
havia atingido no dia anterior. Ele não expressou abertamente seus
medos de Alice, ele sabia que Lorde Gavin acreditava que ele tinha
uma preocupação não cavalheiresca por sua esposa. Talvez fosse
verdade, pensou Alan. Talvez no início. Finalmente, quando a
conheceu melhor, começou a olhar para ela como a uma irmã mais
nova. Ele suspirou e quase riu em voz alta. Pelo menos podia dizer a si
mesmo. Com a maneira como ela olhava para Lorde Gavin, não havia
esperança para mais nada.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 490
Capítulo Trinta A temperatura da água morna era algo celestial contra a pele nua
de Judith. Melhor do que a água era a liberdade. Não havia nenhuma
fofoqueira da corte observando-os, comentando sobre seu
comportamento impróprio. Pois seu comportamento, agora, era muito
impróprio para um conde e sua condessa, os governantes de vastas
propriedades. Eles haviam viajado por três dias quando viram o belo
lago azul, um canto escondido e isolado por salgueiros chorões
pendurados. Aparados pelos salgueiros, Gavin e Judith brincavam
como crianças.
— Oh, Gavin! — Judith disse em uma voz que era meio riso e
sussurro.
O riso de Gavin ressonou profundamente em sua garganta
quando a tirou da água e a jogou de volta. Estavam brincando na água
por uma hora, perseguindo um ao outro, beijando e se tocando. Suas
roupas estavam em um monte na margem enquanto se moviam sem
estorvos na água.
— Judith, — sussurrou Gavin ao aproximar-se dela — você me
faz esquecer meus deveres. Meus homens não estão acostumados a
esse tipo de negligência.
— Nem eu estou acostumada a tanta atenção. — disse ela,
mordiscando seus ombros.
— Não! Não comece de novo, preciso voltar para o acampamento.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 491
Ela suspirou, mas sabia que ele estava certo. Caminharam até a
margem onde Gavin se vestiu rapidamente, e esperou
impacientemente por sua esposa.
— Gavin, — ela sorriu — como posso me vestir quando com você
olhando assim? Volta para o acampamento e seguirei em alguns
minutos.
— Eu não gosto de te deixar sozinha. — protestou ele, com o
sobrecenho franzido.
— Estamos muito perto do acampamento. Nada me acontecerá.
Gavin se inclinou para lhe dar um abraço apertado.
— Deve me perdoar por ser muito protetor. É que estive muito
perto de te perder por causa da perda da criança.
— Não foi por isso que esteve a ponto de me perder. — Retrucou.
Ele riu e deu-lhe uma palmada no traseiro molhado.
— Se vista moça atrevida, e volte rapidamente ao acampamento.
— Sim, meu senhor — ela sorriu.
Quando Judith ficou sozinha, vestia-se lentamente, sentindo
como era bom ter um momento de solidão para sua reflexão. Os
últimos dias foram de felicidade. Gavin era finalmente dela. Não
ocultavam seu mútuo amor. Quando esteve vestida, não voltou para o
acampamento, mas sentou-se em silêncio sob uma árvore,
desfrutando o lugar pacífico.
Mas Judith não estava sozinha. Não muito longe estava um
homem que mal deixara seu lado desde que saíram da corte, contudo,
não o havia visto e não tinha nenhuma ideia que permanecia tão
próximo. Alan Fairfax se mantinha discretamente oculto, mas a vigiava
sem incomodá-la, onde podia ver o verde-esmeralda do vestido de
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 492
Judith, mas suficientemente longe para não interferir em sua
privacidade. Depois de dias seguindo-a, começava a relaxar. Várias
vezes se perguntara exatamente o que estava fazendo quando tinha
seu marido que quase não deixou seu lado.
Alan estava se amaldiçoando por sua estupidez e não ouviu os
passos que se aproximavam por trás. Uma espada desceu ao lado de
sua cabeça com força brutal. Ele caiu para frente, com a cabeça no
peito e depois caiu pesadamente nas folhas do chão da floresta.
Sem aviso, um capuz foi jogado sobre a cabeça de Judith e seus
braços presos atrás dela, lhe impedindo toda a resistência. O tecido
sufocante abafou seus gritos. Ela foi atirada em um ombro de homem,
o ar quase forçado de seus pulmões.
O sequestrador passou junto ao corpo inerte de Alan e jogou um
olhar interrogativo à mulher montada.
— Deixe-o. Ele dirá ao Gavin que esta desapareceu. Gavin virá
até mim e veremos qual de nós ele escolhe.
O rosto do homem não traiu seus pensamentos. Ele
simplesmente recolheu seu dinheiro e realizou as tarefas. Colocou o
corpo de Judith sobre a sela e seguiu Alice Chatworth pela floresta.
Alan despertou algum tempo depois, seus pensamentos confusos,
com uma horrível dor de cabeça. Ele pôs a mão contra uma árvore
para se firmar. À medida que lhe esclarecia a visão, ele se lembrou de
Judith e sabia que precisava encontrar Gavin para que pudessem
procurá-la. Ele tropeçou desajeitadamente em direção ao
acampamento.
Gavin o encontrou no meio do caminho.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 493
— O que você está fazendo aqui? — Ele demandou. — Não basta
que tivesse tocado minha esposa na corte? Você acha que eu vou
perdoar a sua vida de novo?
— Judith foi sequestrada! — Alan exclamou, levando uma mão à
cabeça palpitante.
Gavin agarrou Alan pela gola de suas roupas, levantando-o do
chão.
— Se você tiver tocado em um só fio de seu cabelo eu...
Alan ofegou, esquecendo a cabeça e empurrando as mãos de
Gavin.
— É você quem pode ter lhe machucado. Embora não acredite,
Lady Alice é capaz de qualquer maldade, e deixou Judith desprotegida.
— O que você está dizendo?
— Você é um homem estupido! Alice Chatworth sequestrou sua
esposa, levou ela prisioneira e você não faz nada a não ser ficar
falando.
Gavin olhou para ele.
— Alice... minha esposa... eu não acredito em você!
Alan lhe voltou às costas.
— Acredite em mim ou não, não vou perder mais tempo
conversando. Vou atrás dela sozinho.
Gavin não voltou a pronunciar palavra, girou e retornou ao
acampamento. Em poucos minutos, ele e vários de seus homens
selaram seus cavalos e rapidamente alcançaram Alan.
— A mansão de Chatworth?
— Sim. — respondeu Alan gravemente.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 494
Essas foram às únicas palavras trocadas enquanto os nobres
cavaleiros cavalgavam lado a lado seguindo os captores de Judith.
— Bem-vinda à minha casa. — Alice disse quando o capuz foi
tirado do rosto de Judith. Alice observava a jovem sequestrada
respirar ofegante. — Não gostou do passeio? Sinto muito, uma mulher
como você não está habituada as melhores alegrias da vida, tenho
certeza.
— O que você quer de mim? — Judith perguntou, tentando
aliviar a dor de seus ombros, pois as cordas em seus pulsos quase
deslocavam seus braços.
— De você eu não quero nada. — Alice disse. — Mas tem o que é
meu e eu desejo seu retorno.
Judith levantou o queixo.
— Você quer dizer Gavin?
— Sim. — Alice zombou. — Quero dizer Gavin. Meu Gavin.
Sempre meu Gavin.
— Então por que não se casou com ele quando lhe propôs
matrimônio? — Judith perguntou calmamente.
Os olhos de Alice se arregalaram, seus lábios se curvaram em um
grunhido, expondo seus dentes tortos, suas mãos formaram garras
indo para o rosto de Judith.
Judith se virou e as garras não a alcançaram.
Ella agarrou forte o braço de sua ama.
— Vamos, tesouro, não se altere. Ela não vale a pena.
Alice parecia relaxar.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 495
— Por que não vai descansar? — Ella apaziguou. — Eu vou ficar
com ela. Deve mostrar seu melhor aspecto quando Lorde Gavin
chegar.
— Sim. — Alice disse calmamente. — Tenho que estar mais bela
do que nunca. — Ela saiu sem olhar para Judith.
Ella sentou seu corpo grande e mole em uma cadeira perto da
que Judith estava amarrada, manuseando um novelo de tricô.
— De quem é essa casa? — Perguntou Judith.
Ella não levantou a vista.
— É a propriedade de Chatworth, uma das que lady Alice possui.
— Ela respondeu orgulhosa.
— Por que estou aqui?
Ella fez uma breve pausa no tricô, depois retomou.
— Minha lady deseja voltar a ver Lorde Gavin.
— E acredita nisso? — Judith exigiu, sua calma deixando-a. —
Você acha que essa louca só quer ver meu marido?
Ella jogou a malha no colo.
— Não se atreva a chamar de louca a minha lady! Você não a
conhece como eu. Não levou uma vida fácil. Há motivos. — E cruzou o
quarto a grandes passos para a janela.
— Você sabe, não é? — Judith perguntou calmamente. — Ela
está louca. A rejeição de Gavin a levou à loucura.
— Não! — Gritou a anciã donzela, mas se acalmou — Lorde
Gavin não poderia rechaçar a minha Alice. Nenhum homem poderia
rechaçá-la. É formosa e sempre foi. Inclusive quando era um bebê, era
a mais bela que alguém já tinha visto.
— Você está com ela desde criança?
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 496
— Sim. Eu estive com ela sempre. Tinha passado a idade de ter
meus próprios filhos quando ela nasceu. Foi entregue aos meus
cuidados e foi como uma dadiva do céu para mim.
— Não há nada que não faria por ela, verdade?
— Sim. — Disse Ella com firmeza. — Eu faria qualquer coisa por
ela.
— Até me matar para que ela fique com meu marido.
Ella olhou para Judith, seus velhos olhos preocupados.
— Você não vai morrer. É que lady Alice precisa voltar a estar
com Lorde Gavin, e você não permite. É uma mulher egoísta. Tomou o
homem que era dela, sem ter piedade ou simpatia pela dor de minha
senhora.
Judith podia sentir seu temperamento subir.
— Mentiu para mim, me enganou, fez tudo o que podia para tirar
meu marido. Uma de suas armadilhas de traição custou à vida do meu
filho.
— Uma criança! — Ella sussurrou. — Minha linda lady não pode
ter filhos. Não sabe o quanto ela quis um filho de Lorde Gavin. E até
isso você roubou dela. É justo que você tenha perdido o que deveria ter
sido de Lady Alice.
Judith ia dizer algo, mas parou. A donzela estava tão louca como
sua ama. Não importava o que alguém dissesse, ela defenderia Alice.
— Quais são seus planos para mim?
Ella percebeu que Judith estava mais calma e ela retomou o
tricô.
— Você será nossa... hóspede por alguns dias. Lorde Gavin virá, e
ele passará algum tempo com Lady Alice. Quando voltarem a estar
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 497
juntos, compreenderá que a ama. Alguns dias, talvez apenas algumas
horas para que esqueça você, pois na verdade já amava Alice muito
antes de te conhecer. Esse será um verdadeiro matrimônio por amor,
não por interesse, como o que o levou a você. Agora minha lady é uma
viúva rica, que pode contribuir com vastas terras à família
Montgomery.
Judith permanecia em silêncio e observava Ella tricotar. A velha
tinha uma expressão de satisfação no rosto. Havia muitas perguntas
que Judith gostaria de fazer, como Alice planejava liberar Gavin para
que pudessem se casar. Mas Judith, sabiamente, não fez mais
perguntas à serva. Teria sido inútil.
Durante todo a dura e rápida cavalgada para a mansão
Chatworth, Gavin permaneceu em silêncio. Não podia acreditar que
encontraria Judith prisioneira de Alice. Sabia que Alice cometera
enganos na corte e o que os outros diziam dela, mas na verdade não
encontrava maldade naquela mulher. Ainda considerava-a uma
mulher de natureza doce, que cometera erros, devido ao seu amor e
sua adoração por dele.
O portão da frente estava aberto. Gavin deu a Alan um olhar de
triunfo. Este não era um lugar que mantinha uma herdeira cativa.
— Gavin. — Alice exclamou enquanto ela corria pelo pátio para
encontrá-lo. — Esperava que você viesse me visitar. — Estava mais
pálida que nunca em um vestido de seda azul que combinava com
seus olhos.
Gavin desmontou e se manteve rígido, distante dela.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 498
— Minha esposa está aqui? — Perguntou friamente.
Os olhos de Alice se arregalaram.
— Sua esposa? — Ela perguntou inocentemente.
A mão de Alan agarrou o braço da mulher.
— Onde ela está sua cadela? Não tenho tempo para seus jogos!
Gavin deu a Alan um empurrão forte que jogou o jovem contra
seu cavalo.
— Não volte a tocá-la! — Ele avisou. Voltou-se para Alice. —
Quero uma resposta à minha pergunta.
— Entrem. — convidou Alice. Mas se interrompeu ao ver a
expressão de Gavin. — Ela não é dada a me visitar.
— Neste caso, vamos. Sequestraram-na e temos que procurá-la.
— Se virou para montar seu cavalo novamente.
— Não, Gavin, não me abandone! — Exclamou ela, lançando-se
para ele. — Por favor, não me deixe sozinha!
Gavin virou-se para colocá-la longe dele.
— Sua esposa está aqui.
Ele se virou para ver Ella de pé na soleira da porta.
— Sua esposa é mantida aqui, segura. Mas não estará tão segura
se você desprezar Lady Alice.
Gavin estava ao lado da anciã gorda em segundos.
— Você me ameaça velha bruxa? — Voltou-se para Alice. — Onde
ela está? — Gritou.
Dos olhos de Alice transbordavam grandes e encantadoras
lágrimas. Não disse uma palavra.
— Você perde tempo! — Advertiu Alan. — Vamos destruir este
lugar para encontrá-la.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 499
Gavin deu um passo para a mansão.
— Não vai encontrá-la!
Gavin girou. Era uma versão distorcida da voz de Alice, alta e
gritando. Sua pequena boca contraída e repuxada para trás em uma
careta, mostrava seus dentes desiguais e tortos. Como era possível que
não tivesse reparado nenhuma vez neste detalhe?
— Está onde nem você nem homem algum poderá encontrá-la. —
Alice continuou, pela primeira vez deixando cair sua mascara de
doçura diante de Gavin. — Você acha que eu daria a essa prostituta o
meu melhor quarto? Ela merece apenas o fundo do fosso!
Gavin deu um passo para ela, sem poder acreditar naquela
drástica mudança. Não se parecia sequer remotamente à mulher que
ele amou.
— Não sabe que ela se entregou a muitos homens, sabe? Que o
menino que perdeu nem sequer era seu, mas sim do Demari. — Alice
lhe pôs uma mão em seu braço. — Eu poderia te dar filhos varões! —
sua voz e seu rosto eram uma caricatura da mulher que ele acreditou
conhecer.
— Foi por isso que você negligenciou Judith? — Disse Alan em
voz baixa. — Vê agora o que todos outros veem?
— Sim! Eu vejo. — Gavin disse em desgosto.
Alice retrocedeu, pegou suas saias, se virou e se afastou correndo
dos cavaleiros, seus olhos enlouquecidos. Ella seguindo-a.
Quando Alan começou a persegui-la, Gavin disse:
— Deixe-a! Eu prefiro recuperar minha esposa a punir Alice.
Alice correu de um prédio para o outro, escondendo-se,
espreitando, olhando furtivamente. Gavin olhou para ela como se lhe
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 500
desse asco. Em algum lugar em sua mente, sabia que Ella a seguia,
mas não parecia ser capaz de pensar a não ser em uma só coisa de
cada vez. Neste momento, só podia compreender que outra mulher lhe
tinha roubado seu amante. Subiu apressadamente os degraus da
torre, assegurando-se de que ninguém a seguisse.
Judith levantou a vista. Alice estava no vão da porta, com o
cabelo emaranhado, o véu torto.
— Bem! — Alice gritou, seus olhos brilhando
descontroladamente. — Acredita que vai tê-lo de volta?
Judith encolheu-se contra as cordas. Sua garganta irritada,
portanto, não adiantaria gritar. As paredes eram muito grossas para
que ela fosse ouvida.
Alice cruzou o quarto pegando uma lamparina de barro com óleo
quente do braseiro. Um fio flutuava sobre o óleo, pronta para ser
acesa. Alice segurou a lamparina com cuidado enquanto caminhava
em direção à sua prisioneira.
— Ele não vai acha-la tão adorável, quando o óleo tenha comido
metade do seu rosto.
— Não! — Judith sussurrou e recuou o máximo que pôde.
— Dou-te medo? Faço da sua vida um inferno como você fez a
minha? Eu era uma mulher feliz antes que você se intrometesse.
Minha vida não tem sido a mesma desde que ouvi seu nome pela
primeira vez. Eu tinha um pai que me amava, Gavin me adorava, um
rico conde que pediu para casar comigo. Mas você me tirou tudo. Meu
pai mal me reconhece, Gavin me odeia, meu rico marido está morto e
tudo por sua culpa.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 501
Afastou-se de Judith e enterrou a lamparina de óleo mais
profundo entre as brasas.
— Tem que estar quente, fervendo. O que acha que acontecerá
quando sua beleza se for?
Judith sabia que era impossível tratar de fazê-la raciocinar, mas
ainda tentava.
— O que pretende fazer comigo não vai trazer de volta seu marido
para você. Quanto a seu pai, nem sequer o conheci.
— Meu marido? — Alice desdenhou. — Acha que o quero de
volta? Era um porco. Mas em algum momento me amou. Ele mudou
depois de assistir à suas bodas. Você o fez acreditar que eu não era
digna dele.
Judith não podia falar. Mantinha a vista fixa na lamparina
aquecendo.
— Milorde! — disse Ella, nervosa. — Tem que vir. Tenho receio.
— O que é sua velha bruxa? — Perguntou Gavin.
— Sua esposa. Temo por ela.
Gavin teria feito grandes esforços para evitar ferir a uma mulher.
Mesmo vendo Alice como ela realmente era não podia exigir que lhe
dissesse onde Judith estava. Mas agarrou o braço de Ella.
— O que você está dizendo? Estou farto desse jogo de esconde-
esconde. Onde está minha esposa?
— Eu não queria fazer mal algum. — sussurrou a donzela. — Só
tentei trazer você de volta para Lady Alice porque era o que ela
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 502
desejava. Sempre trato de lhe dar o que deseja. Mas agora estou com
medo. Não desejo para Lady Judith nenhum mal.
— Onde está? — Insistiu Gavin, lhe apertando o braço com mais
força.
— Ela fechou a porta com chave e…
— Vamos! — Gavin disse e empurrou a mulher. Ele e Alan a
seguiram pelo pátio até a torre.
— Por favor, Deus! — Gavin orou. — Não deixe nada acontecer a
Judith.
Aos primeiros golpes descarregados contra a porta, Alice pulou.
Sabia que o ferrolho não resistiria muito tempo. Tirou de entre suas
roupas uma adaga longa e afiada e a segurou contra a garganta de
Judith enquanto desamarrava as cordas amareladas.
— Vamos! — Alice ordenou enquanto segurava a lamparina de
óleo na outra mão.
Judith sentiu o fio da lamina contra seu pescoço e o calor da
lamparina de óleo fervente perto de sua bochecha. Sabia que o menor
movimento poderia assustar a nervosa Alice lhe fazendo derramar o
óleo ou afundar a adaga em sua garganta.
— Vamos! — Alice ordenou a Judith que lentamente subissem
por uma estreita escada de madeira até o telhado. Alice se mantinha
longe das bordas, seu braço rodeando Judith, segurando a faca perto
de seu pescoço.
Gavin, Ella e Alan derrubaram a porta segundos depois. Quando
viram a câmara vazia, seguiram Ella pelas escadas. Todos ficaram
paralisados ao ver Alice com expressão enlouquecida ameaçando
Judith.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 503
— Minha doce Lady Alice... — Começou Ella.
— Não me dirija à palavra! — Ordenou Alice, apertando as mãos.
— Disse que o recuperaria para mim, mas ele me odeia. Eu sei que
sim!
— Não! — Ella disse, dando um passo adiante. — Lorde Gavin
não te odeia milady. Protege sua esposa porque é sua propriedade,
nenhuma outra razão. Agora vamos conversar, tenho certeza que
Lorde Gavin vai entender por que tudo isso aconteceu.
— Não! — Alice desdenhou. — Olhe para ele! Despreza-me. Rosna
para mim e me olha como se eu fosse o mais detestável dos insetos. E
tudo por esta puta ruiva!
— Não lhe faça mal! — Advertiu Gavin.
Alice gargalhou.
— Não lhe fazer mal? Far-lhe-ei algo mais que isso. — Ela
segurou a lamparina de óleo fervente no alto. — Está muito, muito
quente. Vai lhe encher o rosto de cicatrizes. O que vai dizer e fazer
quando ela já não for tão bonita?
Gavin deu um passo à frente.
— Não! — Alice gritou. — Suba! — Ordenou à Judith,
empurrando-a mais para a borda, perto do tubo de saída de fumaça da
chaminé.
— Não! — Judith sussurrou. Estava muito assustada, mas seu
terror das alturas era ainda maior.
— Faça o que ela diz. — Gavin disse em voz baixa, percebendo
finalmente que Alice estava louca.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 504
Judith assentiu e se aproximou da beira do telhado. A sua frente
estava o condutor de fumaça da chaminé. Judith agarrou-o, seus
braços firmemente rígidos.
Alice começou a rir.
— Tem medo de estar aqui! É como uma menina. E você prefere a
esta cadela! Eu sou uma verdadeira mulher.
Ella pôs a mão no braço de Gavin que ia adiantar-se. As duas
mulheres estavam em uma posição precária. Os olhos de Judith
estavam vidrados de medo, os nódulos brancos pela força com que
apertava os tijolos. Alice meneava a adaga, a lamparina de óleo
fervente na mão.
— Sim. — disse Ella. — Você é verdadeiramente uma mulher.
Desça dai e Lorde Gavin logo compreenderá isso.
— Está tentando me enganar? — Alice perguntou.
— Já lhe enganei alguma vez?
— Não. — Alice disse e sorriu para a anciã por um momento. — É
a única que sempre foi boa para mim.
O momentâneo lapso de distração fez Alice tropeçar. Ella agarrou
freneticamente sua amada ama, empurrando seu corpo para a
segurança do telhado de ardósia da mansão. Alice tentou agarrar-se a
sua criada ao mesmo tempo em que Ella caiu pelo lado da casa,
demorando alguns segundos antes de bater ruidosamente no chão de
pedras abaixo. Alice caiu para trás, longe do limite da borda, graças ao
sacrifício de sua donzela. Mas a lamparina de óleo fervente em sua
mão caiu sobre ela, derramando seu liquido desde sua testa até
bochecha. Alice começou a dar gritos espantosos.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 505
Gavin deu um salto através do telhado para onde Judith imóvel
ainda se agarrava. Seu medo extremo de alturas tinha feito que se
aferrasse à chaminé com mão de ferro, lhe salvando a vida.
Os gritos de Alice enchiam o ar.
Gavin afrouxou os dedos de sua esposa do tijolo, um a um, e a
estreitou contra si. Estava tensa e com o coração palpitante.
— Olha o que me fizeste! — Alice gritou através de suas dores. —
Ella! Você matou minha Ella, a única que realmente me amou.
— Não. — Gavin respondeu, olhando para o rosto mutilado de
Alice com grande pena. — Não fui eu e nem Judith que te feriu e te fez
mal. Foi você mesma. — Ele se virou para Alan enquanto pegava
Judith em seus braços. — Não a deixe morrer, talvez essa cicatriz seja
o justo castigo por suas mentiras.
Alan olhou com desgosto para a mulher encolhida, então
caminhou em direção a ela.
Gavin levou Judith pelas escadas para o quarto abaixo. Ela
demorou alguns minutos para relaxar.
— Já acabou, meu amor. — sussurrou Gavin. — Está segura
agora. Ela não poderá mais te fazer mal. — Ele a abraçou apertado.
Os gritos de Alice, pouco mais que gemidos roucos, se
aproximaram. Gavin e Judith observaram como Alan a conduzia para
baixo. Alice se deteve e lançou a Judith um último olhar cruel, depois
se virou quando viu a expressão de pena nos olhos de Judith. Alan a
levou da sala.
— O que acontecerá com ela agora? — Judith perguntou em voz
baixa.
Promessa Audaz — Jude Deveraux
LRTHistóricos 506
— Não sei. Poderia entregá-la ao tribunal, mas acho que talvez já
tenha sido punida o suficiente. Sua beleza não voltará a servir de
armadilha aos homens.
Judith olhou para ele surpreendida e estudou sua expressão.
— Olha-me como se me visse pela primeira vez. — observou ele.
— Talvez assim seja. Está livre dela.
— Já lhe disse antes que já não a amava.
— Sim, mas sempre houve uma parte de você que era dela, uma
parte que eu não podia tocar. Agora ela não mais a possui. Você é
meu. Total e completamente meu.
— E isso lhe agrada?
— Sim — sussurrou. — Agrada-me muito.
Fim