formaÇÃo de agentes culturais da juventude negra – nufac -minas gerais

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FORMAÇÃO DE AGENTES CULTURAIS DA JUVENTUDE NEGRA – NUFAC - MINAS GERAIS CARDOZO, Kelly A. Mestranda em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável – MACPS – Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG (2012); Especialista em Estudos Africanos e Afro-Brasileiros – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais / PUC – Minas (2006); Historiadora pelo Centro Universitário de Belo Horizonte – UNI-BH (2002); Bolsista do Programa de Iniciação Científica da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CNPQ; Ex-Secretária Municipal de Patrimônio Cultural e Natural e Ex-Secretária de Desenvolvimento Social de Sabará (2009 a 2012); Professora Substituta de História do Instituto Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - IFMG (2013). Coordenadora Executiva e Pedagógica do Núcleo de Formação de Agentes Culturais da Juventude Negra – NUFAC-MG – IEDS (2013). RESUMO Esta Comunicação é pautada no Projeto Agentes Culturais da Juventude Negra – NUFAC-MG, objetivo é a promoção de cursos de qualificação profissional em Figurinista; Produtor Cultural e Web Designer para jovens de 15 a 29 anos para os de Belo Horizonte, Betim, Contagem, Mariana, Ribeirão das Neves, Sabará e Santa Luzia em Minas Gerais, Brasil. A proposta de formação profissional de agentes culturais, aptos a atuar como promotores da cultura afro-brasileira no mercado de trabalho, em suas comunidades e entendimento sobre a forte influência da cultura africana na identidade brasileira. A implantação do Núcleo de Formação, teve o objetivo cumprir as diretrizes formuladas pelo Fórum Nacional dos Direitos da Cidadania do Governo Federal. A Fundação Cultural Palmares idealizadora e financiadora do NUFAC Brasil, sendo o NUFAC-MG executado pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável – IEDS. A proposta foi a criação de ações na área cultural e social, cujo principal eixo temático vai direcionar a atuação do governo federal durante o ano de 2012, principalmente na profissionalização e valorização da juventude negra. Os cursos buscam fortalecimento da identidade negra dos jovens, através de metodologia que privilegia o contato do aluno com o mundo que o cerca e com a universidade, dele com a comunidade e dele com o campo profissional. Duração de 10 meses, dividas em módulos com aulas específicas, práticas e interativas, além de abordar a temática étnico-racial utilizando ferramentas didáticos pedagógicas da lei federal de educação 10.639/2003, História de África e Afro-Brasil desenvolvendo a consciência crítica, inserção da comunidade afrodescendente por meio da história e por outro lado amplia o debate sobre a exclusão do negro e suas manifestações nas esferas político-econômico e social, com intuito de conscientizar outras parcelas da população sobre a importância desse debate, além de fazerem senti-los (os não-brancos) como elemento pertencente dessa cultura miscigenada. Para inserção desses jovens ao mercado de trabalho, o projeto possui um plano de intervenção e parcerias com as universidades (estadual e federal) que facilitará o ingresso desses jovens nas universidades para complementar os estudos (usufruindo o sistema de COTAS); ONG’s e Empresas do setor Cultural para absorver esses jovens no mercado de trabalho após os cursos. Palavras-chave: Formação Profissional. Cultura Negra. Inclusão.

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FORMAÇÃO DE AGENTES CULTURAIS DA JUVENTUDE NEGRA – NUFAC - MINAS GERAIS

CARDOZO, Kelly A.

Mestranda em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável – MACPS – Universidade Federal de

Minas Gerais – UFMG (2012); Especialista em Estudos Africanos e Afro-Brasileiros – Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais / PUC – Minas (2006); Historiadora pelo Centro Universitário de

Belo Horizonte – UNI-BH (2002); Bolsista do Programa de Iniciação Científica da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CNPQ; Ex-Secretária Municipal de Patrimônio Cultural

e Natural e Ex-Secretária de Desenvolvimento Social de Sabará (2009 a 2012); Professora Substituta

de História do Instituto Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - IFMG (2013).

Coordenadora Executiva e Pedagógica do Núcleo de Formação de Agentes Culturais da Juventude

Negra – NUFAC-MG – IEDS (2013).

RESUMO

Esta Comunicação é pautada no Projeto Agentes Culturais da Juventude Negra – NUFAC-MG, objetivo é a promoção de cursos de qualificação profissional em Figurinista; Produtor Cultural e Web Designer para jovens de 15 a 29 anos para os de Belo Horizonte, Betim, Contagem, Mariana, Ribeirão das Neves, Sabará e Santa Luzia em Minas Gerais, Brasil. A proposta de formação profissional de agentes culturais, aptos a atuar como promotores da cultura afro-brasileira no mercado de trabalho, em suas comunidades e entendimento sobre a forte influência da cultura africana na identidade brasileira.

A implantação do Núcleo de Formação, teve o objetivo cumprir as diretrizes formuladas pelo Fórum Nacional dos Direitos da Cidadania do Governo Federal. A Fundação Cultural Palmares idealizadora e financiadora do NUFAC Brasil, sendo o NUFAC-MG executado pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável – IEDS. A proposta foi a criação de ações na área cultural e social, cujo principal eixo temático vai direcionar a atuação do governo federal durante o ano de 2012, principalmente na profissionalização e valorização da juventude negra. Os cursos buscam fortalecimento da identidade negra dos jovens, através de metodologia que privilegia o contato do aluno com o mundo que o cerca e com a universidade, dele com a comunidade e dele com o campo profissional. Duração de 10 meses, dividas em módulos com aulas específicas, práticas e interativas, além de abordar a temática étnico-racial utilizando ferramentas didáticos pedagógicas da lei federal de educação 10.639/2003, História de África e Afro-Brasil desenvolvendo a consciência crítica, inserção da comunidade afrodescendente por meio da história e por outro lado amplia o debate sobre a exclusão do negro e suas manifestações nas esferas político-econômico e social, com intuito de conscientizar outras parcelas da população sobre a importância desse debate, além de fazerem senti-los (os não-brancos) como elemento pertencente dessa cultura miscigenada.

Para inserção desses jovens ao mercado de trabalho, o projeto possui um plano de intervenção e parcerias com as universidades (estadual e federal) que facilitará o ingresso desses jovens nas universidades para complementar os estudos (usufruindo o sistema de COTAS); ONG’s e Empresas do setor Cultural para absorver esses jovens no mercado de trabalho após os cursos.

Palavras-chave: Formação Profissional. Cultura Negra. Inclusão.

INTRODUÇÃO

No Brasil, um país que teve aproximadamente quatro séculos de trabalho escravo,

sempre houve deficiência na produção e construção do material histórico-cultural sobre a

cultura afro; em geral, localizar o que descrevesse ou analisasse a África sem julgamentos

pejorativos era considerado ineditismo. Isso dificultava a desconstrução de equívocos

advindos de uma antropologia positivista do século XIX.

Em 2003, o Governo Federal, atendendo às demandas sociais relativas à revisão das

relações étnico-raciais no país, aprova a Lei Federal de Educação 10.639 — “Obrigatoriedade

do ensino da História e da Cultura Africana e Afro-Brasileira na rede de ensino”. A nível de

estado, em Minas Gerais, onde houve grande contribuição da cultura negra para o cenário

nacional, infelizmente as instituições universitárias (assim como a grande maioria dos centros

de pesquisas) ainda realizam pouco investimento na implementação de cursos que

atendessem a demanda exigida pelo Ministério da Educação – MEC.

No quesito saúde, em 2010, o Sistema de Informação sobre a Mortalidade (SIM) do

Ministério da Saúde lançou dados sobre a mortalidade da juventude brasileira com índices

alarmantes. Foi constatado que a violência contra juventude tinha cor, gênero, idade,

escolaridade e região. No Brasil morreram neste ano 49.932 pessoas vítimas de homicídios,

ou seja, 26,2%, de cada 100 mil habitantes, 70,6% das vítimas eram negras. De 26.854 jovens

entre 15 e 29 anos foram vítimas de homicídio, total, 74,6% dos jovens assassinados eram

negros. E 91,3% das vítimas de homicídio eram do sexo masculino. Estados como Bahia, Rio

de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais lideraram essa estatística. Relatório de Enfrentamento

da Violência Contra a Juventude Negra. (WAISELFISZ, 2012, pág.52)

Já o documento “Mapa da Violência 2011: Os Jovens do Brasil” apresenta outros

dados importantes de 2002 a 2010:

• O número de vítimas brancas caiu de 18.852 para 13.668, o que representa uma

queda da ordem de 27,5%.

• Já entre os negros, o número de vítimas de homicídio aumentou de 26.952 para

33.264, equivalente a um crescimento de 23,4%. Com isso, a brecha que já existia em

2002 cresceu mais ainda e de forma drástica. A Tabela 2.4.2 relaciona o número de

homicídios com a população de cada unidade federativa (UF), desagregada por

raça/cor, além de calcular os Índices de Vitimização Negra que resulta da relação entre

as taxas de brancos e as taxas de negros. Em que proporção temos mais vítimas de

homicídio negras do que brancas. Se o índice é zero, morre a mesma proporção de

negros e brancos. Se o índice é negativo, morrem proporcionalmente mais brancos

que negros. Se positivo, morrem mais negros que brancos. Assim, um índice nacional

de vitimização de 82,7 como mostra a Tabela 2.4.2 para o ano de 2006, indica que,

nesse ano, morrem proporcionalmente 82,7% mais negros do que brancos. Essa

Tabela nos permite verificar que as taxas de homicídio de brancos caíram de 20,6 para

15,0 em cada 100 mil brancos; queda de 27,1% entre 2002 e 2010. Já na população

negra, as taxas passaram de 30,0 em 2002 para 35,9 homicídios para cada 100 mil

negros em 2010, o que representa um aumento de 19,6%. Desagregando por região,

e mais ainda por estado, o panorama fica muito heterogêneo, principalmente quando

se observa a taxa de homicídios de negros. Os dados apresentam números

preocupantes sobre a violência contra jovens, negros e principalmente do gênero

masculino:

• Em 2002, o índice nacional de vitimização negra foi de 45,8. Isto é, nesse ano, no país,

morreram proporcionalmente 45,8% mais negros do que brancos.

• Quatro anos mais tarde, em 2006, esse índice pula para 82,7 (morrem

proporcionalmente 82,7% mais negros do que brancos).

• Já em 2010, um novo patamar preocupante: morrem proporcionalmente 139% mais

negros que brancos, isto é, bem acima do dobro! (WAISELFIS, 2012, pág. 62 e 63).

O documento também mostra na sua versão em 2012, manteve a linha de crescimento

da violência em várias cidades. No caso de Minas Gerais, a lista que aponta o índice de

homicídio na população jovem, de estados brasileiros se encontra na 22ª posição. No ranking

(132 cidades), por número absoluto de homicídios contra jovens negros em 2010, Belo

Horizonte se encontra na 10ª posição; Contagem 24ª, Betim 25ª, Ribeirão das Neves 62ª,

Montes Claros 63ª, Governador Valadares 65ª, Ibirité 83ª; Uberlândia 91ª, Juiz de Fora 101ª,

Sete Lagoas 122ª.

A realidade apresentada de Belo Horizonte, cidade de Minas Gerais, destacamos a

situação de vulnerabilidade social, falta de perspectivas para os jovens, faltam de

oportunidades principalmente entre os jovens negros, historicamente excluídos e tendem a

repetir a história dos seus pais se não tiver ações de políticas públicas para mudar esta

situação.

Diante disso, em 2011 foi criado Fórum Nacional de Direitos da Cidadania, que é a

instância responsável, no âmbito do Governo Federal, por promover a articulação política e

gerencial das ações voltadas para a garantia e expansão do exercício da cidadania e do

desenvolvimento sustentável.

O Fórum é coordenado pela Secretaria-Geral da Presidência da República, com a co-

coordenação das Secretarias de Direitos Humanos, Políticas para as Mulheres e Políticas de

Promoção da Igualdade Racial, além dos Ministérios da Cultura (Fundação Cultural Palmares)

e do Esporte. Conta ainda com a participação de membros dos Ministérios da Saúde, Justiça,

Comunicações, Agricultura e Pesca, Trabalho e Emprego, Educação, Desenvolvimento Social

e Combate à Fome, Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrário, da Secretaria Nacional de

Políticas sobre Drogas (Senad/MJ) e da Fundação Nacional do Índio (Funai/MJ), e com a

parceria da Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, BNDES, Correios, Petrobras,

Eletrobrás e Sebrae.

Diante desse cenário negativo sobre a violência contra os jovens, o Ministério da Cultura

através da Fundação Cultural Palmares lançou em 2012 o programa chamado Núcleo de

Formação de Agentes Culturais da Juventude Negra – NUFAC. O NUFAC foi idealizado para

atender uma das demandas do Fórum Nacional, considerando principalmente o Eixo 2: Brasil

de paz, sem violência, que diz:

“A partir das estatísticas da última década que demonstram o crescimento do número de homicídios de jovens negros simultâneo à diminuição desses crimes contra jovens não negros, elegeu-se como foco o enfrentamento da violência contra jovens negros. Este eixo aponta ações coordenadas entre ministérios para o enfrentamento ao racismo institucional e na sociedade brasileira, considerando as especificidades da questão juvenil. Além disso, traça estratégias de

redução das desigualdades por meio do acesso a serviços públicos”. Fórum Nacional dos Direito da Cidadania. http://www.secretariageral.gov.br/forum-direitos-e-cidadania. Acesso 15/08/2013.

Para fortalecer o Eixo 2, outras parcerias foram firmadas na busca de redução do alto

índice de violência contra juventude, por exemplo, o Plano Juventude Viva. O Plano vem

responder a estas demandas e em parceria com o Ministério da Cultura / Fundação Palmares.

Para isso a proposta da Fundação Cultural Palmares foi criar e implantar 10 NUFAC’s

distribuídos nas cinco regiões do país. Os NUFAC’s será uma tentativa de criar as condições

necessárias para a formação, qualificação e encaminhamento dos jovens negros no mercado

de trabalho; especialmente na área da cultura, pois é uma das áreas com maior potencial de

acolhimento desses jovens excluídos cultural e socialmente. Um outro dado importante foi o

nível de escolaridade desses jovens. Grande parte dos jovens que sofrem violência possuem

alto índice de abandono escolar, ou seja, esses jovens não completam os ciclos escolares,

principalmente os ciclos elementares entre 5 ao 9 ano e ciclo do ensino médio entre 1 e 3

anos. Para tentar sanar esse déficit escolar e tentar diminuir a violência contra esses jovens,

a Fundação Cultural Palmares, criou um edital em 2012 de implementação desses NUFAC’s.

O programa propôs formar jovens em cursos culturais de caráter profissionalizante para

jovens entre 15 a 29 anos, que possuísse ensino fundamental incompleto a ensino médio

completo, com intuito de inclusão das diferentes faixas etárias e nível escolar. E com um

modulo obrigatório sobre história e cultura africana e afro-brasileiro, para que os alunos

tivessem acesso a informação e formação da identidade e cultura negra no Brasil. A Fundação

através de edital nacional, convocou Organizações Não-Governamentais para implementar

os Núcleos, sendo um deles em Minas Gerais. Os cursos propostos, pretendem-se a inserção

de jovens que serão preparados para serem protagonistas, empreendedores, capazes de

definirem um projeto futuro de vida e se protegerem da situação de risco a qual eles se

encontram submetidos. Os NUFAC’s foram distribuídos nas 05 regiões do país, da seguinte

forma: 01 (uma) na região Norte; 03 (três) na região Nordeste; 02 (dois) na região Centro-

oeste; 03 (três) na região Sudeste; e 01 (uma) na região Sul. A meta da Fundação é viabilizar

a qualificação profissional de 2.000 (dois mil) jovens negros e negras do ensino fundamental

e médio, completo e incompleto, oriundos das classes sociais C, D e E de todas as regiões

brasileiras, no período de 12 meses.

As finalidades dos NUFAC’s perpassam pela a formação de agentes culturais, aptos a

atuar como promotores da cultura afro-brasileira no mercado de trabalho e em suas

comunidades, conscientes das habilidades específicas necessárias à execução das

atividades e com amplo entendimento sobre a forte influência da cultura africana na identidade

brasileira; Além de preparar os jovens negros e negras para acesso às diferentes fases da

cadeia produtiva da cultura, visando uma formação continuada.

EXPERIÊNCIA NUFAC- MINAS GERAIS

Cursos de Extensão em Web Designer, Produtor Cultural e Figurinista.

A proposta do programa Núcleo de Agentes Culturais da Juventude Negra é promover

a formação cidadã através de curso de qualificação profissional utilizando ferramentas

didáticos pedagógicas da lei federal de educação 10.639/2003, História de África e Afro-Brasil.

O objetivo desses cursos são fortalecer a identidade negra dos jovens de 15 a 29 anos sobre

a temática étnico-racial, desenvolver a consciência crítica, por um lado, inserção da

comunidade negra, por meio da história de resgate do continente africano, da manifestação

cultura de origem africana e afro-brasileira, valorizando a cultura entre as populações

vulneráveis, residentes em periferias e favelas, além reconfigurar as experiências culturais e

recreativas populares tradicionais dentro de um discurso preponderantemente étnico e

político; e por outro lado amplia o debate sobre a exclusão do negro e suas manifestações

nas esferas político-econômico e social, com intuito de sensibilizar outras parcelas da

população sobre a importância desse debate, além de fazerem senti-los (os não-brancos)

como elemento pertencente dessa cultura miscigenada.

Outro ponto relevante do programa criado pela Fundação Cultural Palmares foi a

obrigatoriedade do engajamento dos diferentes stakeholders na execução dos cursos, tais

como, parceria com uma universidade pública (estadual ou federal) como projeto de extensão

e emissão dos certificados aos alunos. Como já mencionado anteriormente, há poucas opções

de qualificação profissional na área cultural para as camadas C, D e E e ao mesmo tempo um

distanciamento da maioria das universidades com projetos de extensão que dialoguem com

os problemas sociais. A exigem da parceria, foi umas das medidas pensadas pela Fundação

Palmares de aproximar a academia nas questões étnicos raciais e ao mesmo tempo, valorizar

os cursos de formação. No quesito certificado, o relatório apresentando pela Palmares

também apontou que os certificados emitidos pelas organizações não-governamentais,

geralmente não são reconhecidos por grande parte dos stakeholders (empresas e

organizações) com a chancela da universidade pública e do ministério da educação,

demonstra o comprometimento tanto da ONG quanto da universidade em oferecer cursos de

qualidade para seus alunos beneficiários, bem como o reconhecimento de um órgão oficial.

O projeto proposto pelo Instituto de Estudos do Desenvolvimento Sustentável – IEDS

que firmou parceria com a Universidade Federal de Minas através da Escola de Arquitetura e

Urbanismo no projeto de extensão do Mestrado interdisciplinar em Ambiente Construído e

Patrimônio Sustentável – MACPS. A formação de jovens, criará ambiente favorável para o

desenvolvimento de metodologias de inclusão, o uso das tecnologias sociais, para

proporcionar a troca de experiência entre o governo e as organizações, entre as organizações

e o público beneficiado, que busca resultar em oportunidades para a vida dos jovens

vulneráveis.

Para reforçar essa consciência cidadã de pertencimento étnico e profissional, são

ofertados os cursos de qualificação de caráter profissional com foco na cultura de Web

Designer, Produtor Cultural e Figurinista para os jovens negros e negras, (de acordo com as

orientações do IBGE1 no quesito auto declaração raça/cor) das cidades da Região

Metropolitana e Belo Horizonte.

Os Cursos

A criação do Curso de Extensão em Web Designer, Figurinista e Produtor Cultural, se

faz necessária pela carência de escolas especializadas e disciplinas específicas desta área.

O crescimento atual da demanda na área, com o aquecimento do setor de serviços, reforça

essa necessidade, mostrando a contribuição efetiva que estes cursos poderão oferecer à

comunidade beneficiada. A criação de um curso específico de formação profissional

qualitativa, que contribua, ao mesmo tempo, para o desenvolvimento social, econômico e

profissional dos jovens negros e negras e para o fortalecimento de sua identidade, é de suma

importância para ampliar a inclusão desses jovens no mercado de trabalho, diversificando a

possibilidade de atuação dos mesmos. Sobre os cursos:

O curso de Web Designer tem por objetivo criar, planejar e coordenar a implantação

de projetos de comunicação visual para internet, adequando-os ao respectivo ambiente

midiático da rede. Esse curso foi escolhido para atrair jovens a partir de 15 anos e com ensino

fundamental incompleto. Estimulando o jovem, através da tecnologia social, criar e produzir

conteúdos de qualidade e a importância ter uma formação continuada para ser competitivo no

mercado de trabalho.

O curso de Produtor Cultural facilitará ao aluno acessar as formas e metodologias de redação

de projetos, suas responsabilidades, execução de projetos e eventos culturais e mecanismos

de financiamentos público, privado e terceiro setor. Apresentação das regras e conteúdos

necessários para redação de projetos (perguntas e respostas), planilhas, além demonstração

materiais práticos para os alunos. O curso de Produtor Cultural é o único curso que exige

ensino médio completo ou cursando o 3° ano do segundo grau. Os alunos terão aulas teóricas

e práticas desde a elaboração, execução, avaliação e prestação do projeto e isso exige maior

comprometimento dos alunos.

1 - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – Conceito Cor ou Raça - característica declarada pelas pessoas de acordo com as seguintes opções: branca,

preta, amarela, parda ou indígena.

Por isso, será ofertado uma turma de 40 anos e manter a qualidade do ensino aprendizado.

O figurinista cria e compõe o figurino para personagens de teatro, dança, grupos de

manifestações culturais populares, para isso, pesquisa de moda, costumes e vestuário para

compor os personagens. Tem uma atuação diversificada, acompanhando o processo de

desenvolvimento de peça teatral, espetáculo de dança e várias linguagens culturais.

Desenvolvem acessórios e adereços para épocas específicas. Utiliza técnicas de desenho

para desenvolvimento e apresentação de peças do vestuário. Para alunos, a partir do ensino

fundamental incompleto, serão estimulados a desenvolver criativamente figurinos para os

diversos seguimentos das artes cênicas com conteúdos étnicos culturais.

Por fim, um módulo obrigatório sobre a Juventude Negra, Identidade e Diversidade

Cultural e noções sobre a Lei Federal de Educação 10.639/2003 para todos os cursos.

Programa

Os cursos têm duração de 200 horas (cada curso), incluindo a mostra final de

conclusão. São divididos em módulos com 160 h/a de aula teórica e prática na área fins

(profissionalizante) e o interessante da proposta foi exigir 40 h/a do módulo obrigatório sobre

a Juventude Negra, Identidade de Diversidade Cultura e noções sobre a Lei Federal de

Educação 10.639/2003. Assim, considerando-se todas as atividades pode-se estimar um

prazo de 10 (dez) meses para a conclusão do curso, entre maio de 2013 a fevereiro de 2014.

A intensão será formar profissionalmente os jovens negros e negras beneficiários, de modo a

lhes permitirem a atuação nas diversas áreas que envolvem a construção de

projetos/propostas e sua execução. O curso de Web Designer fará a criação, o planejamento

e coordenação de implantação de projetos de comunicação visual para internet e meios de

comunicação em geral. O curso de Produtor Cultural facilitará ao aluno acessar as formas e

metodologias de redação de projetos, suas responsabilidades, execução de projetos e

eventos culturais e mecanismos de financiamentos público, privado e terceiro setor. No caso

do curso de Figurinista é oferecer competências para desenvolver projetos culturais na

composição de figurinos para espetáculos de teatro, festas populares, guardas de congado,

capoeira, moda com referência à matriz africana.

Por exigência do Edital e do Programa NUFAC-Brasil, será atendidos jovens negros e

negras (prioritariamente) que autodeclare de acordo com as orientações do IBGE, com

escolaridade mínima de ensino fundamental incompleto para os cursos Web Designer e

Figurinista, e mínimo de escolaridade ensino médio completo para curso de Produtor Cultural

para os jovens de Belo Horizonte, Betim, Contagem, Ibirité, Mariana, Ribeirão das Neves,

Sabará e Santa Luzia, que tenham interesse em conhecer e atuar na área de produção e

atividades culturais.

Metodologia

Considera-se pertinente reforçar que a metodologia de projetos sócio-culturais não

possui os mesmos critérios de projetos acadêmicos e científicos. Para isso, utiliza-se módulos

para facilitar a interação dos alunos com diversos professores e suas experiências

acadêmicas e práticas, metodologia de diagnóstico participativo, avaliação e monitoramento

(marco-lógico), planejamento estratégico, além de usar metodologias de experimentação em

alguns momentos. Basicamente os cursos, ofertam aulas expositivas, aulas práticas em

módulos nas três modalidades (Web Designer, Produtor Cultural e Figurinista). Também são

realizadas aulas específicas em locais externos, para conhecer acervo de teatros e grupos

independentes de produção artística, proporcionando ao aluno contato direto com trabalhos

dos respectivos cursos e participação em seminários relativos a temática. Pretende-se dotar

os alunos de conhecimentos teóricos e práticos acerca de projetos e obras realizadas das

diversas áreas do conhecimento cultural com intuito de apresentar quais são as demandas no

mercado de trabalho. Busca-se principalmente fortalecer sua identidade e incentivá-los a

continuar os estudos, bem como, auxiliá-los na escolha profissional futura.

Resultados Alcançados (maio a setembro/2013)

Ao implementar o NUFAC-MG, foi uma ação de muita responsabilidade do dinheiro

público investido e com os alunos, por isso, teve-se o critério de convidar profissionais

qualificados para atender a demanda vigente. Todo processo tem suas dificuldades iniciais,

porém após alguns meses de projeto, considera-se o mais complexo é manter as taxas de

evasão com menos índice possível, primando sempre pela qualidade da formação dos alunos.

Isso porque no Brasil existem vários programas sociais para a juventude, seja pela esfera

governamental ou organizações não-governamentais. A coordenação do NUFAC-MG avaliou

alguns programas, tais como, pró-jovem adolescente, pró-jovem urbano, pró-jovem

trabalhador, pró-jovem do campo e poupança jovem, que são programas ofertados pelas

estâncias governamentais públicas (federal e estadual). Percebeu-se que é grande a

demanda de jovens dessa faixa etária atendidos, porém são programas com alto índice de

evasão. Exceto o programa do governo do estado de Minas Gerais – Poupança Jovem, pois

oferece uma bolsa de R$ 1.000,00 ano para aluno que tenha frequência, notas e outros

requisitos e poderão retirar o valor de R$ 3.000,00 acumulados com juros no final do último

ano do ensino médio, o ponto negativo desse programa é a inclusão de poucas cidades de

Minas Gerais, o estado possui 853 municípios e muito caro2.

2 – Para outras informações sobre o programa consultar: http://www.poupancajovem.educacao.mg.gov.br. Acesso em 2010.

Mesmo a proposta do NUFAC de qualificação profissional oferecendo incentivos como

auxílios de transporte, de alimentação e uma bolsa de 100,00 mês não é garantia de

permanência do aluno. Por isso, estruturou juntamente com os módulos de aula teórica e

prática um “Serviço de Encaminhamento e a criação do Banco de Talentos” como

procedimento de encaminhamento de alunos ao mercado de trabalho como:

• Site: O Serviço de Encaminhamento ao Mercado de Trabalho localizado no site do

Projeto divulgará ofertas de trabalho efetivo e temporário com o objetivo de auxiliar o

aluno a entrar no mercado de trabalho antes de concluir o curso. A divulgação será

feita através de publicações no site e envio de e-mail para os alunos.

Identificação de Parceiros:

• Identificar parceiros na área correspondente aos cursos oferecidos e a intermediação

tem sido realizada diretamente entre os coordenadores do curso (IEDS), o

Empregador, e o aluno, com o objetivo de facilitar a inserção destes no mercado de

trabalho. A título de exemplo, oficializada a parceria com Fundação Municipal de

Cultural de Belo Horizonte e os alunos do curso Produtor Cultural irão desenvolver

atividades em ações específicas da prefeitura como: “Primavera de Museus”, Virada

Cultural de BH” e FAN – Festival de Arte Negra /2013.

• Identificar cursos de formação continuada e também formação superior nas áreas

correspondentes aos cursos ofertados para que os alunos sejam estimulados a

continuar sua formação se assim for de seu interesse.

• Oferecer infraestrutura necessária como sala, mesa, internet, para que os alunos

recebam seus potenciais clientes na oferta de trabalho autônomo –

Microempreendedor individual.

• Oferecer auxílio na formatação e produção de material de divulgação bem como a

elaboração de currículo para serem encaminhados aos possíveis contratantes.

Ações Futuras

O processo de formação demanda tempo e dedicação de ambos os atores (Projeto e

aluno), por isso, para alcançar efetivamente a redução do índice de violência contra juventude

negra, o IEDS pretende ofertar novamente os cursos com a ressalva de somente um curso

que é o de Web Designer. Diante da dificuldade na manutenção de laboratórios para o curso

será substituído na próxima oferta por outros 02 cursos (Ilustrador e Assistente de Projeto

Gráfico). O curso de produtor cultural aqui proposto visa dar continuidade a uma experiência

bem sucedida no NUFAC 2012-2013 em parceria com a Coordenadoria de Políticas da

Igualdade Racial de Belo Horizonte – CPIR, curso em andamento de formação de agentes

culturais responsáveis pela implementação das políticas públicas na área da cultura, bem

como a criação de propostas que venham ampliar as oportunidades para jovens vulneráveis,

apresentando-lhes meios de atuação na área da cultura que vão além do espaço da criação,

como, por exemplo, o papel fundamental dos gestores que atuam na implementação de

políticas públicas na área da cultura.

O curso de Figurinista, por sua vez, além de também reforçar uma experiência de

sucesso em curso, tem como objetivo fortalecer a parceria com o Centro de Referência da

Moda (C.R.M) da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, onde se dá a formação

dos alunos, que constitui num importante pólo de criação e produção da Moda em Belo

Horizonte. Em analises internas do programa, percebe-se que investir na formação e

qualificação de técnicos que vão atuar neste mercado, contribui de maneira significativa para

a criação de oportunidades para jovens negros, até então excluídos desta etapa da produção

relativa à criação. Esta conexão feita entre Cultura/Moda/Mercado de Trabalho é a base da

chamada Indústria Criativa, instrumento tão defendido atualmente como ferramenta de

geração de trabalho e renda.

Já os cursos de Ilustrador e de Assistente de Projeto Visual Gráfico se complementam,

vindo responder a uma proposta de formação ligada a um projeto em andamento na área

visual. Para esses dois cursos, será implantada uma “incubadora”, projeto/empresa que tem

como objetivo a criação ou o desenvolvimento de pequenas empresas ou microempresas,

apoiando-as nas primeiras etapas de suas vidas. Iniciaremos a execução desse projeto com

a formação técnica de ilustradores (20 alunos) e de assistentes de Projeto Visual Gráfico (20

alunos); paralelamente a essa formação, convidará os alunos para a experiência de se

reproduzir as condições de uma agência de publicidade, na qual a tarefa principal será a

criação do projeto gráfico de uma Revista. Para essa “empresa júnior” serão oferecidos pelo

IEDS, como contrapartida, além de auxílio na modelagem básica do negócio, criação de

networking, assistência de marketing, ajuda com contabilidade / gestão financeira, ajuda com

técnicas de apresentação, acesso a parceiros, identificação de investidores-anjos ou capital

de risco, treinamento de negócios, ajuda na etiqueta empresarial, auxilio na comercialização,

formação para o cumprimento das normas, formação de gestão da propriedade intelectual,

entre outros. Ao final do curso, o aluno terá experimentado diversas etapas da cadeia criativa

e como produto teremos uma revista (protótipo), que será lançada na conclusão do curso.

Nossa experiência nos mostra que apenas a formação técnica é insuficiente para a

inclusão dos jovens no Mercado de Trabalho, para isso, é preciso criar oportunidades de

experimentação com o mundo real, exigindo-se do aluno uma atitude pró-ativa na conquista

dos seus espaços e realizações dos seus objetivos como cidadão e como trabalhador.

CONCLUSÃO

O NUFAC-MG está no 5º mês de execução, ainda é cedo para apresentar indicadores

consistente de mudança na estrutura da juventude atendida pelo projeto. Porém, é importante

validar o processo e mostrar aos leitores que alguns registros são qualitativos importantes, na

medida que observa-se mudança na atitude dos jovens atendidos, por meio do aumento da

autoestima, facilidade de mobilizar e organizar ações entre eles, além do comprometimento

nos cursos da grande maioria dos alunos. A equipe de profissionais também foi um fator

importante para a coordenação, os professores com responsabilidade, estimulam a produção

do saber, através de ferramentas didático-pedagógicas necessárias para qualificação

profissional dos mesmos. Acredita-se que a experiência de formação desses jovens de forma

continuada, em breve, poderá dar resultados positivos e contribuir efetivamente na diminuição

do auto índice de violência contra os nossos jovens negros e negras do país.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUESSY, Honorat. “Visões e percepções tradicionais”. In: Introdução à cultura africana. Lisboa: Edições 70, 1977.

Fundação Cultural Palmares. http://www.palmares.gov.br/2013/08/nufac-2013-inscricoes-

abertas-ate-29-de-agosto/. Acesso 15/08/2013.

Fórum Nacional dos Direito da Cidadania. http://www.secretariageral.gov.br/forum-direitos-e-

cidadania. Acesso 15/08/2013.

HALL, Stuart. Identidade cultural. São Paulo: Fundação Memorial da América Latina, 1997.

65 p. (Coleção Memo – Ensaio Ficção).

WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2012 - Os novos padrões da violência

homicida no Brasil. Instituto Sangari. São Paulo, 2012.

____________________. Mapa da Violência 2011: Os Jovens do Brasil.

http://mapadaviolencia.org.br/pdf2011/MapaViolencia2011.pdf. Acesso 15/08/2013.

____________________. Mapa da Violência 2012: A Cor dos Homicídios no Brasil.

http://mapadaviolencia.org.br/pdf2012/mapa2012_cor.pdf. Acesso 15/08/2013.

OLIVEIRA, Eduardo. Cosmovisão africana no Brasil: Elementos para uma filosofia

afrodescendente. 2. ed. Curitiba: Editora Gráfica Popular, 2006.

Plano de Juventude Viva. http://www.juventude.gov.br/juventudeviva/. Acesso 15/08/2013.

Relatório de Enfrentamento da Violência Contra a Juventude Negra.

http://www.educafro.org.br/site/cariboost_files/violencia_contra_juventude_negra.pdf.

Acesso, 15/08/2013.

ANEXOS

Turma de Produtor Cultural – Módulo Planejamento para Gestão. NUFAC-MG maio/2013 Fonte: Kelly Cardozo

Alunos do NUFAC-MG em atividades complementares no “Seminário de Gestão Cultural” UNA/2013. Fonte: Kelly Cardozo