formaÇÃo de agentes culturais da juventude negra – nufac -minas gerais
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FORMAÇÃO DE AGENTES CULTURAIS DA JUVENTUDE NEGRA – NUFAC - MINAS GERAIS
CARDOZO, Kelly A.
Mestranda em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável – MACPS – Universidade Federal de
Minas Gerais – UFMG (2012); Especialista em Estudos Africanos e Afro-Brasileiros – Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais / PUC – Minas (2006); Historiadora pelo Centro Universitário de
Belo Horizonte – UNI-BH (2002); Bolsista do Programa de Iniciação Científica da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CNPQ; Ex-Secretária Municipal de Patrimônio Cultural
e Natural e Ex-Secretária de Desenvolvimento Social de Sabará (2009 a 2012); Professora Substituta
de História do Instituto Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - IFMG (2013).
Coordenadora Executiva e Pedagógica do Núcleo de Formação de Agentes Culturais da Juventude
Negra – NUFAC-MG – IEDS (2013).
RESUMO
Esta Comunicação é pautada no Projeto Agentes Culturais da Juventude Negra – NUFAC-MG, objetivo é a promoção de cursos de qualificação profissional em Figurinista; Produtor Cultural e Web Designer para jovens de 15 a 29 anos para os de Belo Horizonte, Betim, Contagem, Mariana, Ribeirão das Neves, Sabará e Santa Luzia em Minas Gerais, Brasil. A proposta de formação profissional de agentes culturais, aptos a atuar como promotores da cultura afro-brasileira no mercado de trabalho, em suas comunidades e entendimento sobre a forte influência da cultura africana na identidade brasileira.
A implantação do Núcleo de Formação, teve o objetivo cumprir as diretrizes formuladas pelo Fórum Nacional dos Direitos da Cidadania do Governo Federal. A Fundação Cultural Palmares idealizadora e financiadora do NUFAC Brasil, sendo o NUFAC-MG executado pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável – IEDS. A proposta foi a criação de ações na área cultural e social, cujo principal eixo temático vai direcionar a atuação do governo federal durante o ano de 2012, principalmente na profissionalização e valorização da juventude negra. Os cursos buscam fortalecimento da identidade negra dos jovens, através de metodologia que privilegia o contato do aluno com o mundo que o cerca e com a universidade, dele com a comunidade e dele com o campo profissional. Duração de 10 meses, dividas em módulos com aulas específicas, práticas e interativas, além de abordar a temática étnico-racial utilizando ferramentas didáticos pedagógicas da lei federal de educação 10.639/2003, História de África e Afro-Brasil desenvolvendo a consciência crítica, inserção da comunidade afrodescendente por meio da história e por outro lado amplia o debate sobre a exclusão do negro e suas manifestações nas esferas político-econômico e social, com intuito de conscientizar outras parcelas da população sobre a importância desse debate, além de fazerem senti-los (os não-brancos) como elemento pertencente dessa cultura miscigenada.
Para inserção desses jovens ao mercado de trabalho, o projeto possui um plano de intervenção e parcerias com as universidades (estadual e federal) que facilitará o ingresso desses jovens nas universidades para complementar os estudos (usufruindo o sistema de COTAS); ONG’s e Empresas do setor Cultural para absorver esses jovens no mercado de trabalho após os cursos.
Palavras-chave: Formação Profissional. Cultura Negra. Inclusão.
INTRODUÇÃO
No Brasil, um país que teve aproximadamente quatro séculos de trabalho escravo,
sempre houve deficiência na produção e construção do material histórico-cultural sobre a
cultura afro; em geral, localizar o que descrevesse ou analisasse a África sem julgamentos
pejorativos era considerado ineditismo. Isso dificultava a desconstrução de equívocos
advindos de uma antropologia positivista do século XIX.
Em 2003, o Governo Federal, atendendo às demandas sociais relativas à revisão das
relações étnico-raciais no país, aprova a Lei Federal de Educação 10.639 — “Obrigatoriedade
do ensino da História e da Cultura Africana e Afro-Brasileira na rede de ensino”. A nível de
estado, em Minas Gerais, onde houve grande contribuição da cultura negra para o cenário
nacional, infelizmente as instituições universitárias (assim como a grande maioria dos centros
de pesquisas) ainda realizam pouco investimento na implementação de cursos que
atendessem a demanda exigida pelo Ministério da Educação – MEC.
No quesito saúde, em 2010, o Sistema de Informação sobre a Mortalidade (SIM) do
Ministério da Saúde lançou dados sobre a mortalidade da juventude brasileira com índices
alarmantes. Foi constatado que a violência contra juventude tinha cor, gênero, idade,
escolaridade e região. No Brasil morreram neste ano 49.932 pessoas vítimas de homicídios,
ou seja, 26,2%, de cada 100 mil habitantes, 70,6% das vítimas eram negras. De 26.854 jovens
entre 15 e 29 anos foram vítimas de homicídio, total, 74,6% dos jovens assassinados eram
negros. E 91,3% das vítimas de homicídio eram do sexo masculino. Estados como Bahia, Rio
de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais lideraram essa estatística. Relatório de Enfrentamento
da Violência Contra a Juventude Negra. (WAISELFISZ, 2012, pág.52)
Já o documento “Mapa da Violência 2011: Os Jovens do Brasil” apresenta outros
dados importantes de 2002 a 2010:
• O número de vítimas brancas caiu de 18.852 para 13.668, o que representa uma
queda da ordem de 27,5%.
• Já entre os negros, o número de vítimas de homicídio aumentou de 26.952 para
33.264, equivalente a um crescimento de 23,4%. Com isso, a brecha que já existia em
2002 cresceu mais ainda e de forma drástica. A Tabela 2.4.2 relaciona o número de
homicídios com a população de cada unidade federativa (UF), desagregada por
raça/cor, além de calcular os Índices de Vitimização Negra que resulta da relação entre
as taxas de brancos e as taxas de negros. Em que proporção temos mais vítimas de
homicídio negras do que brancas. Se o índice é zero, morre a mesma proporção de
negros e brancos. Se o índice é negativo, morrem proporcionalmente mais brancos
que negros. Se positivo, morrem mais negros que brancos. Assim, um índice nacional
de vitimização de 82,7 como mostra a Tabela 2.4.2 para o ano de 2006, indica que,
nesse ano, morrem proporcionalmente 82,7% mais negros do que brancos. Essa
Tabela nos permite verificar que as taxas de homicídio de brancos caíram de 20,6 para
15,0 em cada 100 mil brancos; queda de 27,1% entre 2002 e 2010. Já na população
negra, as taxas passaram de 30,0 em 2002 para 35,9 homicídios para cada 100 mil
negros em 2010, o que representa um aumento de 19,6%. Desagregando por região,
e mais ainda por estado, o panorama fica muito heterogêneo, principalmente quando
se observa a taxa de homicídios de negros. Os dados apresentam números
preocupantes sobre a violência contra jovens, negros e principalmente do gênero
masculino:
• Em 2002, o índice nacional de vitimização negra foi de 45,8. Isto é, nesse ano, no país,
morreram proporcionalmente 45,8% mais negros do que brancos.
• Quatro anos mais tarde, em 2006, esse índice pula para 82,7 (morrem
proporcionalmente 82,7% mais negros do que brancos).
• Já em 2010, um novo patamar preocupante: morrem proporcionalmente 139% mais
negros que brancos, isto é, bem acima do dobro! (WAISELFIS, 2012, pág. 62 e 63).
O documento também mostra na sua versão em 2012, manteve a linha de crescimento
da violência em várias cidades. No caso de Minas Gerais, a lista que aponta o índice de
homicídio na população jovem, de estados brasileiros se encontra na 22ª posição. No ranking
(132 cidades), por número absoluto de homicídios contra jovens negros em 2010, Belo
Horizonte se encontra na 10ª posição; Contagem 24ª, Betim 25ª, Ribeirão das Neves 62ª,
Montes Claros 63ª, Governador Valadares 65ª, Ibirité 83ª; Uberlândia 91ª, Juiz de Fora 101ª,
Sete Lagoas 122ª.
A realidade apresentada de Belo Horizonte, cidade de Minas Gerais, destacamos a
situação de vulnerabilidade social, falta de perspectivas para os jovens, faltam de
oportunidades principalmente entre os jovens negros, historicamente excluídos e tendem a
repetir a história dos seus pais se não tiver ações de políticas públicas para mudar esta
situação.
Diante disso, em 2011 foi criado Fórum Nacional de Direitos da Cidadania, que é a
instância responsável, no âmbito do Governo Federal, por promover a articulação política e
gerencial das ações voltadas para a garantia e expansão do exercício da cidadania e do
desenvolvimento sustentável.
O Fórum é coordenado pela Secretaria-Geral da Presidência da República, com a co-
coordenação das Secretarias de Direitos Humanos, Políticas para as Mulheres e Políticas de
Promoção da Igualdade Racial, além dos Ministérios da Cultura (Fundação Cultural Palmares)
e do Esporte. Conta ainda com a participação de membros dos Ministérios da Saúde, Justiça,
Comunicações, Agricultura e Pesca, Trabalho e Emprego, Educação, Desenvolvimento Social
e Combate à Fome, Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrário, da Secretaria Nacional de
Políticas sobre Drogas (Senad/MJ) e da Fundação Nacional do Índio (Funai/MJ), e com a
parceria da Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, BNDES, Correios, Petrobras,
Eletrobrás e Sebrae.
Diante desse cenário negativo sobre a violência contra os jovens, o Ministério da Cultura
através da Fundação Cultural Palmares lançou em 2012 o programa chamado Núcleo de
Formação de Agentes Culturais da Juventude Negra – NUFAC. O NUFAC foi idealizado para
atender uma das demandas do Fórum Nacional, considerando principalmente o Eixo 2: Brasil
de paz, sem violência, que diz:
“A partir das estatísticas da última década que demonstram o crescimento do número de homicídios de jovens negros simultâneo à diminuição desses crimes contra jovens não negros, elegeu-se como foco o enfrentamento da violência contra jovens negros. Este eixo aponta ações coordenadas entre ministérios para o enfrentamento ao racismo institucional e na sociedade brasileira, considerando as especificidades da questão juvenil. Além disso, traça estratégias de
redução das desigualdades por meio do acesso a serviços públicos”. Fórum Nacional dos Direito da Cidadania. http://www.secretariageral.gov.br/forum-direitos-e-cidadania. Acesso 15/08/2013.
Para fortalecer o Eixo 2, outras parcerias foram firmadas na busca de redução do alto
índice de violência contra juventude, por exemplo, o Plano Juventude Viva. O Plano vem
responder a estas demandas e em parceria com o Ministério da Cultura / Fundação Palmares.
Para isso a proposta da Fundação Cultural Palmares foi criar e implantar 10 NUFAC’s
distribuídos nas cinco regiões do país. Os NUFAC’s será uma tentativa de criar as condições
necessárias para a formação, qualificação e encaminhamento dos jovens negros no mercado
de trabalho; especialmente na área da cultura, pois é uma das áreas com maior potencial de
acolhimento desses jovens excluídos cultural e socialmente. Um outro dado importante foi o
nível de escolaridade desses jovens. Grande parte dos jovens que sofrem violência possuem
alto índice de abandono escolar, ou seja, esses jovens não completam os ciclos escolares,
principalmente os ciclos elementares entre 5 ao 9 ano e ciclo do ensino médio entre 1 e 3
anos. Para tentar sanar esse déficit escolar e tentar diminuir a violência contra esses jovens,
a Fundação Cultural Palmares, criou um edital em 2012 de implementação desses NUFAC’s.
O programa propôs formar jovens em cursos culturais de caráter profissionalizante para
jovens entre 15 a 29 anos, que possuísse ensino fundamental incompleto a ensino médio
completo, com intuito de inclusão das diferentes faixas etárias e nível escolar. E com um
modulo obrigatório sobre história e cultura africana e afro-brasileiro, para que os alunos
tivessem acesso a informação e formação da identidade e cultura negra no Brasil. A Fundação
através de edital nacional, convocou Organizações Não-Governamentais para implementar
os Núcleos, sendo um deles em Minas Gerais. Os cursos propostos, pretendem-se a inserção
de jovens que serão preparados para serem protagonistas, empreendedores, capazes de
definirem um projeto futuro de vida e se protegerem da situação de risco a qual eles se
encontram submetidos. Os NUFAC’s foram distribuídos nas 05 regiões do país, da seguinte
forma: 01 (uma) na região Norte; 03 (três) na região Nordeste; 02 (dois) na região Centro-
oeste; 03 (três) na região Sudeste; e 01 (uma) na região Sul. A meta da Fundação é viabilizar
a qualificação profissional de 2.000 (dois mil) jovens negros e negras do ensino fundamental
e médio, completo e incompleto, oriundos das classes sociais C, D e E de todas as regiões
brasileiras, no período de 12 meses.
As finalidades dos NUFAC’s perpassam pela a formação de agentes culturais, aptos a
atuar como promotores da cultura afro-brasileira no mercado de trabalho e em suas
comunidades, conscientes das habilidades específicas necessárias à execução das
atividades e com amplo entendimento sobre a forte influência da cultura africana na identidade
brasileira; Além de preparar os jovens negros e negras para acesso às diferentes fases da
cadeia produtiva da cultura, visando uma formação continuada.
EXPERIÊNCIA NUFAC- MINAS GERAIS
Cursos de Extensão em Web Designer, Produtor Cultural e Figurinista.
A proposta do programa Núcleo de Agentes Culturais da Juventude Negra é promover
a formação cidadã através de curso de qualificação profissional utilizando ferramentas
didáticos pedagógicas da lei federal de educação 10.639/2003, História de África e Afro-Brasil.
O objetivo desses cursos são fortalecer a identidade negra dos jovens de 15 a 29 anos sobre
a temática étnico-racial, desenvolver a consciência crítica, por um lado, inserção da
comunidade negra, por meio da história de resgate do continente africano, da manifestação
cultura de origem africana e afro-brasileira, valorizando a cultura entre as populações
vulneráveis, residentes em periferias e favelas, além reconfigurar as experiências culturais e
recreativas populares tradicionais dentro de um discurso preponderantemente étnico e
político; e por outro lado amplia o debate sobre a exclusão do negro e suas manifestações
nas esferas político-econômico e social, com intuito de sensibilizar outras parcelas da
população sobre a importância desse debate, além de fazerem senti-los (os não-brancos)
como elemento pertencente dessa cultura miscigenada.
Outro ponto relevante do programa criado pela Fundação Cultural Palmares foi a
obrigatoriedade do engajamento dos diferentes stakeholders na execução dos cursos, tais
como, parceria com uma universidade pública (estadual ou federal) como projeto de extensão
e emissão dos certificados aos alunos. Como já mencionado anteriormente, há poucas opções
de qualificação profissional na área cultural para as camadas C, D e E e ao mesmo tempo um
distanciamento da maioria das universidades com projetos de extensão que dialoguem com
os problemas sociais. A exigem da parceria, foi umas das medidas pensadas pela Fundação
Palmares de aproximar a academia nas questões étnicos raciais e ao mesmo tempo, valorizar
os cursos de formação. No quesito certificado, o relatório apresentando pela Palmares
também apontou que os certificados emitidos pelas organizações não-governamentais,
geralmente não são reconhecidos por grande parte dos stakeholders (empresas e
organizações) com a chancela da universidade pública e do ministério da educação,
demonstra o comprometimento tanto da ONG quanto da universidade em oferecer cursos de
qualidade para seus alunos beneficiários, bem como o reconhecimento de um órgão oficial.
O projeto proposto pelo Instituto de Estudos do Desenvolvimento Sustentável – IEDS
que firmou parceria com a Universidade Federal de Minas através da Escola de Arquitetura e
Urbanismo no projeto de extensão do Mestrado interdisciplinar em Ambiente Construído e
Patrimônio Sustentável – MACPS. A formação de jovens, criará ambiente favorável para o
desenvolvimento de metodologias de inclusão, o uso das tecnologias sociais, para
proporcionar a troca de experiência entre o governo e as organizações, entre as organizações
e o público beneficiado, que busca resultar em oportunidades para a vida dos jovens
vulneráveis.
Para reforçar essa consciência cidadã de pertencimento étnico e profissional, são
ofertados os cursos de qualificação de caráter profissional com foco na cultura de Web
Designer, Produtor Cultural e Figurinista para os jovens negros e negras, (de acordo com as
orientações do IBGE1 no quesito auto declaração raça/cor) das cidades da Região
Metropolitana e Belo Horizonte.
Os Cursos
A criação do Curso de Extensão em Web Designer, Figurinista e Produtor Cultural, se
faz necessária pela carência de escolas especializadas e disciplinas específicas desta área.
O crescimento atual da demanda na área, com o aquecimento do setor de serviços, reforça
essa necessidade, mostrando a contribuição efetiva que estes cursos poderão oferecer à
comunidade beneficiada. A criação de um curso específico de formação profissional
qualitativa, que contribua, ao mesmo tempo, para o desenvolvimento social, econômico e
profissional dos jovens negros e negras e para o fortalecimento de sua identidade, é de suma
importância para ampliar a inclusão desses jovens no mercado de trabalho, diversificando a
possibilidade de atuação dos mesmos. Sobre os cursos:
O curso de Web Designer tem por objetivo criar, planejar e coordenar a implantação
de projetos de comunicação visual para internet, adequando-os ao respectivo ambiente
midiático da rede. Esse curso foi escolhido para atrair jovens a partir de 15 anos e com ensino
fundamental incompleto. Estimulando o jovem, através da tecnologia social, criar e produzir
conteúdos de qualidade e a importância ter uma formação continuada para ser competitivo no
mercado de trabalho.
O curso de Produtor Cultural facilitará ao aluno acessar as formas e metodologias de redação
de projetos, suas responsabilidades, execução de projetos e eventos culturais e mecanismos
de financiamentos público, privado e terceiro setor. Apresentação das regras e conteúdos
necessários para redação de projetos (perguntas e respostas), planilhas, além demonstração
materiais práticos para os alunos. O curso de Produtor Cultural é o único curso que exige
ensino médio completo ou cursando o 3° ano do segundo grau. Os alunos terão aulas teóricas
e práticas desde a elaboração, execução, avaliação e prestação do projeto e isso exige maior
comprometimento dos alunos.
1 - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – Conceito Cor ou Raça - característica declarada pelas pessoas de acordo com as seguintes opções: branca,
preta, amarela, parda ou indígena.
Por isso, será ofertado uma turma de 40 anos e manter a qualidade do ensino aprendizado.
O figurinista cria e compõe o figurino para personagens de teatro, dança, grupos de
manifestações culturais populares, para isso, pesquisa de moda, costumes e vestuário para
compor os personagens. Tem uma atuação diversificada, acompanhando o processo de
desenvolvimento de peça teatral, espetáculo de dança e várias linguagens culturais.
Desenvolvem acessórios e adereços para épocas específicas. Utiliza técnicas de desenho
para desenvolvimento e apresentação de peças do vestuário. Para alunos, a partir do ensino
fundamental incompleto, serão estimulados a desenvolver criativamente figurinos para os
diversos seguimentos das artes cênicas com conteúdos étnicos culturais.
Por fim, um módulo obrigatório sobre a Juventude Negra, Identidade e Diversidade
Cultural e noções sobre a Lei Federal de Educação 10.639/2003 para todos os cursos.
Programa
Os cursos têm duração de 200 horas (cada curso), incluindo a mostra final de
conclusão. São divididos em módulos com 160 h/a de aula teórica e prática na área fins
(profissionalizante) e o interessante da proposta foi exigir 40 h/a do módulo obrigatório sobre
a Juventude Negra, Identidade de Diversidade Cultura e noções sobre a Lei Federal de
Educação 10.639/2003. Assim, considerando-se todas as atividades pode-se estimar um
prazo de 10 (dez) meses para a conclusão do curso, entre maio de 2013 a fevereiro de 2014.
A intensão será formar profissionalmente os jovens negros e negras beneficiários, de modo a
lhes permitirem a atuação nas diversas áreas que envolvem a construção de
projetos/propostas e sua execução. O curso de Web Designer fará a criação, o planejamento
e coordenação de implantação de projetos de comunicação visual para internet e meios de
comunicação em geral. O curso de Produtor Cultural facilitará ao aluno acessar as formas e
metodologias de redação de projetos, suas responsabilidades, execução de projetos e
eventos culturais e mecanismos de financiamentos público, privado e terceiro setor. No caso
do curso de Figurinista é oferecer competências para desenvolver projetos culturais na
composição de figurinos para espetáculos de teatro, festas populares, guardas de congado,
capoeira, moda com referência à matriz africana.
Por exigência do Edital e do Programa NUFAC-Brasil, será atendidos jovens negros e
negras (prioritariamente) que autodeclare de acordo com as orientações do IBGE, com
escolaridade mínima de ensino fundamental incompleto para os cursos Web Designer e
Figurinista, e mínimo de escolaridade ensino médio completo para curso de Produtor Cultural
para os jovens de Belo Horizonte, Betim, Contagem, Ibirité, Mariana, Ribeirão das Neves,
Sabará e Santa Luzia, que tenham interesse em conhecer e atuar na área de produção e
atividades culturais.
Metodologia
Considera-se pertinente reforçar que a metodologia de projetos sócio-culturais não
possui os mesmos critérios de projetos acadêmicos e científicos. Para isso, utiliza-se módulos
para facilitar a interação dos alunos com diversos professores e suas experiências
acadêmicas e práticas, metodologia de diagnóstico participativo, avaliação e monitoramento
(marco-lógico), planejamento estratégico, além de usar metodologias de experimentação em
alguns momentos. Basicamente os cursos, ofertam aulas expositivas, aulas práticas em
módulos nas três modalidades (Web Designer, Produtor Cultural e Figurinista). Também são
realizadas aulas específicas em locais externos, para conhecer acervo de teatros e grupos
independentes de produção artística, proporcionando ao aluno contato direto com trabalhos
dos respectivos cursos e participação em seminários relativos a temática. Pretende-se dotar
os alunos de conhecimentos teóricos e práticos acerca de projetos e obras realizadas das
diversas áreas do conhecimento cultural com intuito de apresentar quais são as demandas no
mercado de trabalho. Busca-se principalmente fortalecer sua identidade e incentivá-los a
continuar os estudos, bem como, auxiliá-los na escolha profissional futura.
Resultados Alcançados (maio a setembro/2013)
Ao implementar o NUFAC-MG, foi uma ação de muita responsabilidade do dinheiro
público investido e com os alunos, por isso, teve-se o critério de convidar profissionais
qualificados para atender a demanda vigente. Todo processo tem suas dificuldades iniciais,
porém após alguns meses de projeto, considera-se o mais complexo é manter as taxas de
evasão com menos índice possível, primando sempre pela qualidade da formação dos alunos.
Isso porque no Brasil existem vários programas sociais para a juventude, seja pela esfera
governamental ou organizações não-governamentais. A coordenação do NUFAC-MG avaliou
alguns programas, tais como, pró-jovem adolescente, pró-jovem urbano, pró-jovem
trabalhador, pró-jovem do campo e poupança jovem, que são programas ofertados pelas
estâncias governamentais públicas (federal e estadual). Percebeu-se que é grande a
demanda de jovens dessa faixa etária atendidos, porém são programas com alto índice de
evasão. Exceto o programa do governo do estado de Minas Gerais – Poupança Jovem, pois
oferece uma bolsa de R$ 1.000,00 ano para aluno que tenha frequência, notas e outros
requisitos e poderão retirar o valor de R$ 3.000,00 acumulados com juros no final do último
ano do ensino médio, o ponto negativo desse programa é a inclusão de poucas cidades de
Minas Gerais, o estado possui 853 municípios e muito caro2.
2 – Para outras informações sobre o programa consultar: http://www.poupancajovem.educacao.mg.gov.br. Acesso em 2010.
Mesmo a proposta do NUFAC de qualificação profissional oferecendo incentivos como
auxílios de transporte, de alimentação e uma bolsa de 100,00 mês não é garantia de
permanência do aluno. Por isso, estruturou juntamente com os módulos de aula teórica e
prática um “Serviço de Encaminhamento e a criação do Banco de Talentos” como
procedimento de encaminhamento de alunos ao mercado de trabalho como:
• Site: O Serviço de Encaminhamento ao Mercado de Trabalho localizado no site do
Projeto divulgará ofertas de trabalho efetivo e temporário com o objetivo de auxiliar o
aluno a entrar no mercado de trabalho antes de concluir o curso. A divulgação será
feita através de publicações no site e envio de e-mail para os alunos.
Identificação de Parceiros:
• Identificar parceiros na área correspondente aos cursos oferecidos e a intermediação
tem sido realizada diretamente entre os coordenadores do curso (IEDS), o
Empregador, e o aluno, com o objetivo de facilitar a inserção destes no mercado de
trabalho. A título de exemplo, oficializada a parceria com Fundação Municipal de
Cultural de Belo Horizonte e os alunos do curso Produtor Cultural irão desenvolver
atividades em ações específicas da prefeitura como: “Primavera de Museus”, Virada
Cultural de BH” e FAN – Festival de Arte Negra /2013.
• Identificar cursos de formação continuada e também formação superior nas áreas
correspondentes aos cursos ofertados para que os alunos sejam estimulados a
continuar sua formação se assim for de seu interesse.
• Oferecer infraestrutura necessária como sala, mesa, internet, para que os alunos
recebam seus potenciais clientes na oferta de trabalho autônomo –
Microempreendedor individual.
• Oferecer auxílio na formatação e produção de material de divulgação bem como a
elaboração de currículo para serem encaminhados aos possíveis contratantes.
Ações Futuras
O processo de formação demanda tempo e dedicação de ambos os atores (Projeto e
aluno), por isso, para alcançar efetivamente a redução do índice de violência contra juventude
negra, o IEDS pretende ofertar novamente os cursos com a ressalva de somente um curso
que é o de Web Designer. Diante da dificuldade na manutenção de laboratórios para o curso
será substituído na próxima oferta por outros 02 cursos (Ilustrador e Assistente de Projeto
Gráfico). O curso de produtor cultural aqui proposto visa dar continuidade a uma experiência
bem sucedida no NUFAC 2012-2013 em parceria com a Coordenadoria de Políticas da
Igualdade Racial de Belo Horizonte – CPIR, curso em andamento de formação de agentes
culturais responsáveis pela implementação das políticas públicas na área da cultura, bem
como a criação de propostas que venham ampliar as oportunidades para jovens vulneráveis,
apresentando-lhes meios de atuação na área da cultura que vão além do espaço da criação,
como, por exemplo, o papel fundamental dos gestores que atuam na implementação de
políticas públicas na área da cultura.
O curso de Figurinista, por sua vez, além de também reforçar uma experiência de
sucesso em curso, tem como objetivo fortalecer a parceria com o Centro de Referência da
Moda (C.R.M) da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, onde se dá a formação
dos alunos, que constitui num importante pólo de criação e produção da Moda em Belo
Horizonte. Em analises internas do programa, percebe-se que investir na formação e
qualificação de técnicos que vão atuar neste mercado, contribui de maneira significativa para
a criação de oportunidades para jovens negros, até então excluídos desta etapa da produção
relativa à criação. Esta conexão feita entre Cultura/Moda/Mercado de Trabalho é a base da
chamada Indústria Criativa, instrumento tão defendido atualmente como ferramenta de
geração de trabalho e renda.
Já os cursos de Ilustrador e de Assistente de Projeto Visual Gráfico se complementam,
vindo responder a uma proposta de formação ligada a um projeto em andamento na área
visual. Para esses dois cursos, será implantada uma “incubadora”, projeto/empresa que tem
como objetivo a criação ou o desenvolvimento de pequenas empresas ou microempresas,
apoiando-as nas primeiras etapas de suas vidas. Iniciaremos a execução desse projeto com
a formação técnica de ilustradores (20 alunos) e de assistentes de Projeto Visual Gráfico (20
alunos); paralelamente a essa formação, convidará os alunos para a experiência de se
reproduzir as condições de uma agência de publicidade, na qual a tarefa principal será a
criação do projeto gráfico de uma Revista. Para essa “empresa júnior” serão oferecidos pelo
IEDS, como contrapartida, além de auxílio na modelagem básica do negócio, criação de
networking, assistência de marketing, ajuda com contabilidade / gestão financeira, ajuda com
técnicas de apresentação, acesso a parceiros, identificação de investidores-anjos ou capital
de risco, treinamento de negócios, ajuda na etiqueta empresarial, auxilio na comercialização,
formação para o cumprimento das normas, formação de gestão da propriedade intelectual,
entre outros. Ao final do curso, o aluno terá experimentado diversas etapas da cadeia criativa
e como produto teremos uma revista (protótipo), que será lançada na conclusão do curso.
Nossa experiência nos mostra que apenas a formação técnica é insuficiente para a
inclusão dos jovens no Mercado de Trabalho, para isso, é preciso criar oportunidades de
experimentação com o mundo real, exigindo-se do aluno uma atitude pró-ativa na conquista
dos seus espaços e realizações dos seus objetivos como cidadão e como trabalhador.
CONCLUSÃO
O NUFAC-MG está no 5º mês de execução, ainda é cedo para apresentar indicadores
consistente de mudança na estrutura da juventude atendida pelo projeto. Porém, é importante
validar o processo e mostrar aos leitores que alguns registros são qualitativos importantes, na
medida que observa-se mudança na atitude dos jovens atendidos, por meio do aumento da
autoestima, facilidade de mobilizar e organizar ações entre eles, além do comprometimento
nos cursos da grande maioria dos alunos. A equipe de profissionais também foi um fator
importante para a coordenação, os professores com responsabilidade, estimulam a produção
do saber, através de ferramentas didático-pedagógicas necessárias para qualificação
profissional dos mesmos. Acredita-se que a experiência de formação desses jovens de forma
continuada, em breve, poderá dar resultados positivos e contribuir efetivamente na diminuição
do auto índice de violência contra os nossos jovens negros e negras do país.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2012 - Os novos padrões da violência
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Relatório de Enfrentamento da Violência Contra a Juventude Negra.
http://www.educafro.org.br/site/cariboost_files/violencia_contra_juventude_negra.pdf.
Acesso, 15/08/2013.