entrevista com judicäel perroy
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Guitarra Clássica
de aulas correu de modo relativamente difícil pois tive dificuldade em ajustar‐me às aulas.
Tinha um imenso respeito por Ponce enquanto professor, alguém que é muito dedicado aos
seus alunos mas aquilo que me queria ensinar não se adequava de todo a mim e foram aulas
muito difíceis. Após este período de estudo, fiz poucos concursos, fiz o GFA em 1997 e a partir
desse momento comecei a ter bastantes concertos o que também motivou que fizesse poucos
concursos em comparação com muitas pessoas. Devo ter feito 7 concursos tendo começado
em concursos internacionais aos 14 anos. Nessa idade ganhei o segundo prémio, pois aos 14
anos já tinha as mesmas capacidades técnicas que actualmente possuo. Musicalmente
diferente como seria de esperar mas tecnicamente era bastante semelhante ao que sou hoje.
RGC – Em entrevistas mais antigas, refere frequentemente o piano como instrumento de referência. Que outros músicos considera que influenciaram a sua maneira de pensar a música?
JP ‐ Quando era mais novo nunca ouvi outra música sem ser a erudita e até aos 13‐14 anos ouvi
unicamente música para guitarra clássica. A partir dos 14 anos comecei a ouvir outras coisas, comecei
com as cassetes que existiam em casa dos meus pais e consistiam em Polonaises de Chopin tocadas por
Maurizio Pollini e obras de Granados interpretadas por Alicia de Larocha. Fui de certo modo influenciado
pelo meu pai que ouvia bastantes vezes os Impromptus de Schubert por Brendel e assim fiquei também
eu imerso nesta música.
Na altura em que parei de estudar guitarra, por coincidência, fui ver um concerto do pianista Nikita
Magaloff que estava a fazer a integral de Chopin e partir desse momento comecei a ouvir cada vez mais
este instrumento. No que respeita aos intérpretes não diria que me influenciaram, mas sim que
marcaram, pois não tenho a pretensão de dizer que tenho a influência de tais músicos na maneira como
toco. Muito especificamente, existem quatro: Pollini que devo ter visto em concerto pelo menos umas
vinte vezes; Brendel que vi igualmente em diversas ocasiões; Richter que vi apenas uma vez em 1995 e
finalmente Rudolf Serkin que conheci através dos seus discos de Beethoven. Após ter ganho o concurso
Bartoli, a primeira coisa que fiz foi comprar a integral das sonatas de Beethoven.
RGC – E o que admira mais em cada um desses músicos?
JP – É bastante difícil definir. Evidentemente, após alguma reflexão chegamos à conclusão que existe um
ponto comum: a ausência de compromisso perante o repertório há muito estandardizado, algo que o
piano permite com alguma facilidade pois o seu repertório é de facto enorme. E cada um desses
músicos tem as suas características: destaco em Brendel a maneira como cada interpretação é estudada
e aprofundada, mesmo que tenha gravado várias vezes as mesmas obras, cada gravação apresenta
sempre novidade e frescura e é algo que acho admirável, tal como o facto de ser alguém que escreveu
bastante sobre a música, análise, interpretação e a sua profissão. Em Richter, que é o meu pianista
favorito, admiro as suas escolhas radicais. Tem uma quantidade de repertório alucinante, maior que
qualquer outro pianista. O facto de tomar riscos em concerto e há mais do que essa ausência de
compromisso: quando o vi ao vivo, tocava no escuro e com alguém ao lado que lhe virava as páginas.
Guitarra Clássica
Não víamos as mãos e como não as víamos, tínhamos a capacidade de ouvir muito melhor. Para ele
havia esta necessidade de concentração na audição por parte do público. Em Pollini salientaria a
perfeição técnica mas esta perfeição não é um objectivo em si, como se nota nos concertos onde
sentimos uma urgência em comunicar. Sinto, no entanto, que acabo por ter uma maior ligação com
Brendel.
RGC – Quais os factores que o motivam a escolher determinadas obras e qual o seu método de estudo e
aproximação às peças?
JP – É um método muito lento e está a tornar‐se cada vez mais lento (o que é um pouco inquietante). Há
muitas obras que gosto muito e à medida que as vou trabalhando dou‐me conta que "não, não é isto
que quero fazer". Como agora não tenho de fazer concursos, não tenho imposições. Há imensas obras
que gosto de ouvir e que gostaria de tocar, mas uma vez que para tocar bem as peças preciso de as
trabalhar muito, eu tenho de gostar muito delas o que acaba por limitar a minha escolha. Por exemplo,
a sonata de Tedesco, é uma peça que gosto muito e que trabalho frequentemente com os meus alunos.
Já a comecei a estudar 3‐4 vezes porque tinha evidentemente vontade mas de cada vez que a estudava
perdia o interesse pela obra.
Como sou alguém bastante ocupado com concertos e aulas, preciso de uma enorme motivação para
encetar o estudo de uma obra nova. Por exemplo, um amigo transcreveu a partita de Bach (Tristan
Manoukian – Partita nº2) e essa obra sim, tive uma grande vontade de estudar pois era algo que gostava
mesmo muito. Uma peça que comecei por tocar e depois deixei, seja por achar que não era capaz de a
tocar bem ou porque não tinha inspiração suficiente, foi a Introdução e Capricho de Regondi. Portanto,
o mais importante agora é considerar que as obras valem realmente a pena.
RGC – E foi esse o critério para o novo disco que irá sair brevemente editado pela Naxos?
JP – Os dois discos anteriores a solo foram discos com programa tipo recital, diversas obras sem uma
verdadeira ligação entre elas. O próximo disco, com obras de Bach, não surgiu com esse propósito de ter
uma coerência temática porque é algo que já foi feito. Não reivindico o facto de tocar bem Bach, não
tenho essa pretensão, aliás quando me pedem para falar da música de Bach sinto‐me completamente
incapaz de o fazer. Mas, é uma música que sempre esteve comigo e sem me dar conta apercebo‐me que
quando tinha 16 anos, bastante isolado a nível guitarrístico, já tocava duas suites (uma para alaúde,
outra para violoncelo e a Chaconne).
A vontade de tocar a música de Bach esteve portanto sempre presente e para este novo disco, esta
escolha, muito pessoal, foi aceite pela Naxos especialmente graças à Partita nº2. A suite BWV 997 foi a
primeira peça de Bach que estudei seriamente, aprendi‐a quando tinha 13 anos. Para este trabalho tive
de a reaprender após um hiato de mais de 20 anos e evidentemente surgiram muitas alterações tal
como o grau de exigência e trabalho que se modificou substancialmente. É sobretudo um projecto
pessoal e tal fará com que toque bastante Bach, não sendo no entanto uma reivindicação, é obviamente
Guitarra Clássica
um dos grandes compositores de sempre e o prazer que retiro das suas obras é suficiente para justificar
esta escolha.
RGC – Em outros artigos seus menciona frequentemente a música de Bach e a problemática que dela
surge. Nomeadamente o Prelúdio, Fuga & Allegro BWV 998.
JP – Sim, comecei a tocar essa obra há cerca de 4 anos. De vez em quando retiro‐a do repertório e
depois volto a tocá‐la e isso é algo que acontece com alguma frequência. Não sei porque tal acontece,
pois tenho a sensação que a trabalhei bem e tenho a obra tecnicamente bem dominada. Há no entanto
sempre algo que não me agrada e acho que esse é um problema que acontece com muitas pessoas, não
apenas em Bach mas em toda a música (talvez particularmente evidente em Bach). Há um equilíbrio
hiper‐complicado entre o rigor e a vertente mais lírica e podemos sempre pensar na frase "tocar Bach
como Chopin e Chopin como Bach" pois Chopin é um compositor muito clássico, longe da imagem ultra‐
romântica que temos actualmente.
A música de Bach, por seu lado, tem muita sensualidade e penso que esse equilíbrio é realmente difícil
de atingir. Convém dizer que estudei parcamente as disciplinas de análise e contraponto e a capacidade
de análise que possuo surgiu de modo instintivo. Desenvolveu‐se muito com a audição de discos e a
verdade é que aprendemos muito de análise e solfejo ao ouvir. É muito difícil fazer a ligação entre
aquilo que estudamos e o que tocamos e parece‐me urgente a necessidade de criar a disciplina de
"estudos de interpretação". Por exemplo, analisar boas interpretações e ver quais os pontos que fazem
com que gravação X ou Y se destaque das outras. Tal permitiria uma ligação entre a análise e a
interpretação e é algo sobre o qual tenho vindo a pensar recentemente e faço‐o regularmente com
alunos, ouvindo diferentes versões da mesma obra. Em França, e em mais países, temos a análise de um
lado e o instrumento de outro e estes dois nunca estão conectados e é frequente ver pessoas que são
muito boas em análise e que quando tocam fazem erros típicos de pessoas que não têm uma boa
capacidade de análise.
RGC – É curioso notar como existe muitas vezes uma sobrecarga de disciplinas teóricas sem uma
verdadeira aplicação prática na disciplina principal.
JP – É um facto. E consideremos ainda o facto de muitas vezes os guitarristas trabalharem
paralelamente ao curso, todos estes elementos que "roubam" tempo são flagrantes sobretudo nesta
altura em que surgem guitarristas muito bons cada vez mais novos. Tenho alunos que tiveram muito
sucesso por volta dos seus 20 anos e por outro lado tenho outros alunos que são muito bons também
mas que com 23‐24 anos têm a impressão de já estarem completamente ultrapassados e "velhos". É
algo que compreendo mas não deixo de achar absurdo pois quando alguém toca bem, simplesmente
toca bem seja qual for a sua idade e aos 23‐24 anos temos uma vida inteira para continuar a evoluir.
Contudo, estes alunos têm a impressão de estar atrasados porque com esta idade não ganharam o GFA
por exemplo.
É preciso notar que nem todas as pessoas que tocam bem vão ganhar este tipo de concurso e é por isso
que é importante desenvolver outros caminhos. Para além disso, o facto de ganhar concursos ou fazer
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Guitarra Clássica
RGC – A sociologia é uma das suas grandes paixões. Sente que a situação de crise económica tem
paralelo com uma crise cultural?
JP – É muito difícil comparar as histórias das diversas culturas. É certo que há cerca de uma/duas
centenas de anos, a cultura pertencia a 0,1% da população. Existe actualmente o fenómeno da cultura
de massa mas simultaneamente temos sempre tendência a pensar que no passado era bastante melhor.
O que tenho a certeza é que quando dou aulas a alunos jovens, que estão a começar a estudar guitarra,
parece‐me sempre milagroso como estes jovens de 10‐11 se interessam por música erudita uma vez que
esta é muito pouco valorizada. É algo que me impressiona sempre, como se a necessidade de cultura do
Homem, não pudesse ser apagada, independentemente da necessidade, da crise, do desemprego ou da
necessidade de fazer mais dinheiro.
Como disse, durante algum tempo imaginei a minha vida sem música, mas penso que a vida sem Arte,
sem cultura, ficaria desprovida de sentido. Sobra certamente o Amor mas falta‐lhe uma vertente
espiritual (e não sou crente) que apenas a Arte poderá dar. Acredito que a mais forte espiritualidade
reside na cultura e é algo vital. Se nos contentarmos meramente com comida, dormir e por aí fora, se
perdermos a componente cultural da nossa existência não seremos diferentes dos animais. O Amor, é
difícil saber o que é, existem definições complicadas mas muitos animais vivem em casal para sempre e
isso acaba por ser amor também. Ao fim ao cabo, a Cultura é uma produção exclusivamente do Homem
e é uma necessidade, infelizmente pouco valorizada no momento presente.
RGC – Enquanto professor (e um dos professores mais pretendidos actualmente) o que procura
especificamente nos seus futuros alunos?
JP – É complicado de definir. Tenho a sorte de, desde há 9‐10 anos, ter alunos muito bons à partida.
Quer isto dizer que chegam com um nível já muito alto o que como é evidente, torna mais fácil o
trabalho futuro. Actualmente, tenho também a sorte de poder escolher e é um pouco difícil de dizer o
que motiva a selecção. Mas, gosto que os valores que tenho na vida musical sejam semelhantes aos dos
futuros alunos. Se um aluno quer apenas ser muito famoso e tocar coisas de um gosto duvidoso aí tenho
a certeza de não querer trabalhar com ele. Procuro alguém que seja realmente dedicado à Arte, que
tenha necessidade da Música para se exprimir, que tenha necessidade de viver a Música que seja
relativamente similar à minha.
Depois deste período de aulas, cada um terá o seu próprio percurso e vejo isso nos alunos que tenho
pois todos fazem percursos incrivelmente diferentes, e dentro desses percursos, vejo que a minha
influência é relativamente fraca o que é muito bom, pois o percurso deve pertencer exclusivamente às
pessoas. Poderão ser pessoas com objectivos comuns: melhorar ou trabalhar determinados aspectos
mas no fundo ficarão sempre eles mesmos.
RGC – E quais são aqueles que considera como os seus principais ensinamentos?
Guitarra Clássica
JP – Fico muito contente se sentir que os alunos são felizes enquanto estão a fazer música ou que
eventualmente vão continuar a fazer música durante muito tempo, sempre com esta felicidade
presente. Tal felicidade poderá tomar formas diferentes pois nem todos serão concertistas, como por
exemplo Gabriel [Bianco] ou Florian [Larousse], mas se todos chegarem a esta relação positiva com a
música, seja com um concerto por ano ou por ser um professor entusiasta que faz com que os seus
alunos gostem de música, ou músicos de ensembles maiores. Em resumo, quando as pessoas estão vivas
no que respeita a música, posso dizer que cumpri a minha missão quanto ao que deveria acrescentar à
vida de cada um dos alunos. É preciso compreender que não tenho espaço para todos os alunos mas há
espaço para que cada aluno encontre o seu caminho.
Durante um curso que leccionei inserido num festival e cursos de outros instrumentos, havia muitos
violinistas entre 15 e 18 anos, mais novos que os guitarristas, que queriam estudar exclusivamente
concertos. Durante esse curso, foi‐lhes pedido que fizessem música de câmara com outros
instrumentos, algo que não tinham muita vontade, de tal modo que sabotaram o concerto final e
tocaram mal de propósito. Apercebi‐me que dentro destes 300‐400 alunos que estudavam unicamente
concertos, apenas um número restrito irá realmente tocar ao longo da sua vida estas obras e é pena que
não desenvolvam outros aspectos para além deste. E é isso que gostava de expandir no trabalho com os
meus alunos, que possam gostar de música de câmara, que possam gostar de ensinar, que possam estar
vivos com a Música. Evidentemente, sinto‐me muito feliz com o facto de ensinar e sinto que há uma
comunicação e retorno maior durante as aulas do que por exemplo durante um concerto, onde toda a
gente diz que foi muito bem no final, onde não é possível saber exactamente o que as pessoas pensam,
que é algo que acho meio frustrante: perceber que há pessoas que gostam dos concertos por razões
absurdas como tocar rápido. Durante as aulas temos a noção do que a pessoa ouviu e compreendeu
pois houve um verdadeiro intercâmbio de comunicação.
RGC – Como utilizador frequente das novas tecnologias de comunicação, quais as principais vantagens e
desvantagens que destaca deste enorme mundo?
JP – No campo da música, há imensas possibilidades. Se, eu fiz poucos concursos e nunca parti para o
estrangeiro para estudar, tal se deve ao facto de na minha altura ser bastante mais complicado e caro
viajar. Nesse sentido é de invejar a comunicação possível actualmente, comunicação entre alunos e
comunicação também possível com determinados professores. Tenho alunos de diversos países graças a
este poder de correspondência. Do mesmo modo, determinados aspectos mais pueris, como por
exemplo a questão do ataque à esquerda vs ataque à direita, desapareceram pois as pessoas viajaram
muito e consequentemente evoluíram.
Enquanto cada um estava isolado no seu canto ou país, referíamo‐nos a escolas de uma pessoa, "Escola
Lagoya", "Escola Carlevaro", "Escola Ponce" e por aí fora. A partir do momento em que viajamos
apercebemo‐nos que há coisas interessantes um pouco por todo o lado e isso foi muito positivo.
Naturalmente, o verdadeiro problema coloca‐se na indústria discográfica, mesmo que tal não afecte do
mesmo modo os músicos clássicos que não são os principais motivos de venda das editoras. Ao gravar
Guitarra Clássica
para a Naxos, fiquei muito contente naturalmente mas pensei que foi muito bom gravar para eles antes
que deixassem de fazer discos. Os 1500 discos que comprei, perfazem uma bela soma mas se os
comprasse actualmente seria muito mais barato. E este desconto dos preços é demonstrativo da perda
de valores que damos à música. Comprei uma integral de piano, 100 discos por 90 euros, e cada disco é
realmente incrível. É fantástica esta possibilidade mas ao mesmo tempo é perigoso pois podemos
pensar: "Por quê comprar um disco a 15 euros quando posso comprar 100 a um euro cada?" A
globalização faz com existam muitos guitarristas que estejam constantemente em tournée mas de igual
modo faz com que muito poucos sejam realmente conhecidos, não só em guitarra mas em todos os
instrumentos. O que torna impossível que exista um novo Karajan, Rostropovich, etc, pessoas que se
tornam conhecidas apenas pela música.
Actualmente, existe uma razão paralela à música para que os intérpretes sejam conhecidos. Por
exemplo, Lang‐Lang é um representante do novo poderio asiático, Helène Grimaud apoia os lobos, e
cada um tem algo que para além da música faz com que tenha destaque através do media. Antes
existiam pessoas como Horowitz, Rubinstein, Rampal, Lagoya, que eram muito conhecidos unicamente
por aquilo que faziam musicalmente.
RGC – Mas é preciso considerar a força que o marketing tem…
JP – Sem dúvida que há um marketing muito forte. Li recentemente uma entrevista de uma pianista
chinesa que ganhou diversos concursos e nesta entrevista falou de Lang‐Lang e menciona como muitas
histórias em torno deste pianista não correspondem propriamente à verdade. É verdade que o
marketing joga uma carta muito importante mas não deixo de o constatar sem sentir alguma pena. É
óptimo que se queira dar cultura a todas as pessoas mas observo que em vez de levarmos, ou
levantarmos o nível cultural das pessoas, estamos constantemente a baixar o nível da cultura para que
corresponda à média das pessoas.
É algo que não posso fazer na minha vida. Vivo confortavelmente, tenho os alunos que quero, os
concertos, portanto não tenho razões para me deixar controlar por um determinado marketing. Estou
num contexto onde uma vez que não morro de fome, não tenho razões para fazer coisas que não
correspondem com a minha forma de ser. Naturalmente, é preciso pensar que nem todas as pessoas se
encontram nesta situação, que cada um de nós tem os seus próprios motivos, e a verdade é que
infelizmente pode ser muito lucrativo. Certas pessoas fazem certas coisas para serem conhecidas, é a
sua escolha. Se vivemos correctamente não há grandes razões para criticar.
RGC – No entanto a escolha que uma pessoa faz no sentido de querer mais ou menos mediatismo e
exposição acaba por influenciar a sua maneira de pensar a música.
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