É o fim do sms?

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Fundação Pedro Leopoldo MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO É o fim do SMS? O comportamento do consumidor frente aos novos aplicativos de comunicação pelo smartphone Gustavo Tanure Passos Mestrando em Administração pela Fundação Pedro Leopoldo FPL e-mail: [email protected] RESUMO A disseminação dos aparelhos smartphones e assinaturas de internet banda larga fomentam o uso de aplicativos de comunicação pelo celular, conhecidos por OTT (over the top). Tais aplicativos revolucionaram a forma como os indivíduos se comunicam e socializam. Este artigo investiga a relação entre o uso de aplicativos de comunicação OTT, tais como o WhatsApp, Facebook Messenger e Snapchat, e o uso da comunicação por voz e SMS (short message service) pelos consumidores, além do interesse em receber ações de mobile marketing nestes aplicativos. A pesquisa teve uma etapa. Para tanto foi realizada uma pesquisa quantitativa com questionário estruturado enviado a diversas pessoas de diferentes classes sociais e diferentes estados da federação, obtendo o total de 411 respostas. Através da pesquisa conclui-se que com o uso de tais aplicativos a troca de mensagens de texto (SMS) e a conversação pelo telefone celular sofreram importante redução. Mas, mesmo em desuso, os consumidores não avaliam o SMS como um serviço obsoleto e ainda consideram pacotes de SMS na compra do plano de sua operadora. PALAVRAS CHAVE: Celular, Facebook Messenger, OTT, Smartphone, SMS, Snapchat, WhatsApp 1 INTRODUÇÃO Desde que foi criado em 1973 por Martin Cooper, o celular tem evoluído. Nos primeiros anos, os equipamentos pesavam muito e eram enormes, além de custarem cerca US$ 4 mil. Os avanços tecnológicos para os serviços de telefonia móvel e acesso banda larga têm se tornado cada vez mais evidentes nos últimos anos. A necessidade de acesso rápido à informação, o aumento da mobilidade das pessoas, a necessidade de aumento de produtividade seja em atividades pessoais ou profissionais e a necessidade de estar mais tempo conectado à internet determinaram o crescimento da demanda e oferta de smartphones. Dado que a oferta aumentou, estes dispositivos se tornaram mais baratos e acessíveis à maioria da população brasileira, que não mais se interessava em um dispositivo que apenas fazia ou recebia chamadas telefônicas e enviava ou recebia mensagens de texto. Uma vez que o número de potenciais consumidores de internet em alta velocidade, doravante consumidores de dados, aumentou as companhias de telefonia celular e as empresas de banda larga passaram a fazer ofertas de planos com velocidades cada vez maiores e um custo cada vez menor, tornando-os também acessíveis à maioria da população brasileira. Segundo a pesquisa nacional

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Fundação Pedro Leopoldo MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

É o fim do SMS? O comportamento do consumidor frente aos novos aplicativos

de comunicação pelo smartphone

Gustavo Tanure Passos

Mestrando em Administração pela Fundação Pedro Leopoldo – FPL

e-mail: [email protected]

RESUMO

A disseminação dos aparelhos smartphones e

assinaturas de internet banda larga fomentam o uso

de aplicativos de comunicação pelo celular,

conhecidos por OTT (over the top). Tais aplicativos

revolucionaram a forma como os indivíduos se

comunicam e socializam. Este artigo investiga a

relação entre o uso de aplicativos de comunicação

OTT, tais como o WhatsApp, Facebook Messenger

e Snapchat, e o uso da comunicação por voz e SMS

(short message service) pelos consumidores, além

do interesse em receber ações de mobile marketing

nestes aplicativos. A pesquisa teve uma etapa. Para

tanto foi realizada uma pesquisa quantitativa com

questionário estruturado enviado a diversas pessoas

de diferentes classes sociais e diferentes estados da

federação, obtendo o total de 411 respostas. Através

da pesquisa conclui-se que com o uso de tais

aplicativos a troca de mensagens de texto (SMS) e a

conversação pelo telefone celular sofreram

importante redução. Mas, mesmo em desuso, os

consumidores não avaliam o SMS como um serviço

obsoleto e ainda consideram pacotes de SMS na

compra do plano de sua operadora.

PALAVRAS CHAVE: Celular, Facebook Messenger, OTT, Smartphone, SMS, Snapchat, WhatsApp

1 INTRODUÇÃO

Desde que foi criado em 1973 por Martin Cooper, o

celular tem evoluído. Nos primeiros anos, os

equipamentos pesavam muito e eram enormes, além

de custarem cerca US$ 4 mil. Os avanços

tecnológicos para os serviços de telefonia móvel e

acesso banda larga têm se tornado cada vez mais

evidentes nos últimos anos. A necessidade de

acesso rápido à informação, o aumento da

mobilidade das pessoas, a necessidade de aumento

de produtividade seja em atividades pessoais ou

profissionais e a necessidade de estar mais tempo

conectado à internet determinaram o crescimento da

demanda e oferta de smartphones. Dado que a

oferta aumentou, estes dispositivos se tornaram

mais baratos e acessíveis à maioria da população

brasileira, que não mais se interessava em um

dispositivo que apenas fazia ou recebia chamadas

telefônicas e enviava ou recebia mensagens de

texto. Uma vez que o número de potenciais

consumidores de internet em alta velocidade,

doravante consumidores de dados, aumentou as

companhias de telefonia celular e as empresas de

banda larga passaram a fazer ofertas de planos com

velocidades cada vez maiores e um custo cada vez

menor, tornando-os também acessíveis à maioria da

população brasileira. Segundo a pesquisa nacional

Fundação Pedro Leopoldo MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

por amostra de domicílios de 2012, 83 milhões de

pessoas no Brasil são usuários de internet. Segundo

dados do IDC compilados pela ABINEE, em Maio

de 2014 os smartphones passaram a representar

76% do total de celulares comercializados no

Brasil. A tabela abaixo apresenta a evolução

ocorrida entre o primeiro celular e um dos mais

atuais, utilizando aparelhos intermediários como

exemplo.

Tabela 1: Evolução do Telefone Celular

Figura do Celular Características

Motorola DynaTac

Primeiro celular criado pela Motorola tinha 13

polegadas, pesava 794 gramas e custava US$ 4 mil

Motorola PT 550 (1990)

Media 22,8cm e pesava 348 gramas.

Motorola StartTac

Um dos primeiros símbolos de consumo do telefone

celular, com abertura estilo flip. Media 9,4cm e

pesava 88 gramas

Fundação Pedro Leopoldo MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

J -Sho4

A Sharp também produziu celulares. Em 1999 ela

apresentou como novidade o primeiro celular com

câmera digital. A câmera possui 110 mil pixels e tela

colorida com 256 cores em seu aparelho.

iPhone

Primeiro celular da Apple, o iPhone foi lançado por

Steve Jobs em 9 de janeiro de 2007 e logo viraria um

sucesso. Em sua apresentação durante a convenção

Marcworld de 2007, Jobs apresentou o celular como

“um iPod, um celular e um comunicador de internet

móvel” em um único aparelho. Atualmente o iPhone

está na versão 5s (foto) e reconhece o dono do celular

e suas preferências através da impressão digital.

Fonte: globo.com (2010)

As figuras abaixo apresentam, respectivamente, o

volume de telefones celulares comercializados entre

Maio de 2013 e Maio de 2014 e o percentual de

smartphones comercializados no mesmo período.

Figura 1: Evolução do Mercado de Telefones Celulares

Fonte: IDC

Fundação Pedro Leopoldo MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

Figura 2: Smartphones x Celulares Tradicionais

Fonte: IDC

A consequente familiaridade no uso destas novas

tecnologias tem determinado como as pessoas se

comportam e, por conseguinte, a forma como as

pessoas se comunicam e interagem ultimamente.

Esta afirmação pode ser identificada através do

aumento uso das redes sociais por indivíduos de

diferentes faixas etárias e renda, e consumo de

aplicativos de comunicação.

As redes sociais Facebook e Instagram são

amplamente utilizadas por pessoas e empresas

como forma de aproximá-las. Inicialmente estas

ferramentas eram utilizadas somente por indivíduos

para se socializarem virtualmente, mas atualmente

diversas empresas utilizam tais plataformas para se

conectarem com seus clientes. As ferramentas

Facebook Messenger e WhatsApp são amplamente

utilizadas para comunicação entre os contatos do

usuário, sendo para o WhatsApp necessário ter um

número de telefone celular e o aplicativo instalado

no aparelho.

O WhatsApp afirmou no dia 22 de abril de 2014 ter

atingido no mundo 500 milhões de usuários.

Grande parte deste crescimento se deve a países

como Brasil, Índia, México e Rússia. Até o dia 26

de fevereiro de 2014 o Brasil contribuía com 38

milhões de usuários. Esta quantidade é comparada

com a da Índia, que tem cinco vezes mais

habitantes que o Brasil. Já o Facebook reivindica

ter aproximadamente 1,23 bilhão de usuários que

acessa a rede pelo menos uma vez por mês. Destes,

83 milhões de usuários são brasileiros. Segundo o

Facebook, 76% dos usuários acessam a rede

utilizando um aparelho móvel, como um

smartphone, e 61,5% acessa a rede diariamente.

Embora estes aplicativos existam há mais tempos

nos Estados Unidos do que no Brasil, a velocidade

de disseminação e a penetração destes aplicativos

no Brasil é algo notável. De acordo com o site

teleco.com.br, o número de assinaturas de serviços

de telefonia móvel no mundo atingiu 6,8 bilhões de

acessos. Isto indica que aproximadamente cada

Fundação Pedro Leopoldo MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

pessoa do globo possui uma assinatura de telefonia

móvel. Especificamente no Brasil, o número de

assinaturas de telefonia móvel superou 271 milhões

de acessos no final do ano de 2013, indicando que

boa parte da população possui mais de uma

assinatura de telefonia móvel.

As mensagens de texto que eram normalmente

trocadas através das plataformas de SMS fornecidas

pelas empresas de telefonia celular vêm sendo

substituídas por outros aplicativos que necessitam

de acesso a internet banda larga, tais como

WhatsApp e Facebook Messenger. Embora sem

força o SMS ainda resiste como uma forma de

aproximação entre empresas e consumidores,

notadamente para a prestação de serviços. Alguns

bancos têm estreitado o relacionamento com o seu

cliente ao informar o saldo e extratos parciais

através de mensagens SMS, enquanto algumas

concessionárias de energia elétrica informam o

valor a pagar da conta ou recebem informações de

falta de luz. Outras empresas utilizam o SMS como

forma de mobile marketing. Ultimamente sua

utilização é bastante restrita, limitando-se a ofertas

e promoções da própria operadora celular ao qual o

cliente é assinante ou ofertas de imóveis.

A justificativa para escolha do tema “É o fim do

SMS” se deve basicamente às características

mercadológicas, teóricas e acadêmicas. Em relação

à característica mercadológica, observa-se que o

mercado brasileiro é consumidor de aplicativos

OTT e internet, mas não temos levantamentos se

mesmo utilizando tais aplicativos os serviços de

SMS e voz providos pelas empresas de telefonia

celular são preteridos e se o consumidor aceitaria

receber ações de marketing através de aplicativos

OTT. Em relação à característica teórica, diversos

teóricos como Schiffman, Kanuk (2009),

McCracken (2003), Engel, Blackwell e Miniardi

(2000), Solomon (2002) e Pinheiro (2012), etc

publicaram estudos sobre o comportamento do

consumidor envolvendo influências ambientais,

cultura, influência pessoal, o reconhecimento de

necessidade, mudança de atitude e comportamento.

A utilização destes aplicativos OTT, embora

atualmente sejam gratuitos, ainda assim é uma

forma de consumo e também passa pelos processos

decisórios. Finalmente existe a importância

acadêmica dado que pouquíssimos trabalhos

acadêmicos investigam ou permeiam o tema

proposto. Os artigos que tangenciam a problemática

são “Recebi Um SMS, e Agora? O Consumidor De

Baixa Renda Frente Às Ações De Mobile

Marketing” cujos autores são Patricia Regina

Caldeira Daré Artoni, Camila Zanatta, Emilyn

Harasin, Manuela Sanches, Odair Andrade, Priscila

Falcão publicado no XXXIV encontro da ANPAD,

“Isto não é um telefone”, de Hugo Cristo e outros

internacionais, tais como “Perceptions of Mobile

Phone Use in Public Settings: A Cross-Cultural

Comparison” de Scott W. Campbell e um relatório

chamado “The effects of mobile telephones on

social and individual life” de Sadie Plant.

O objetivo da pesquisa é testar as seguintes

hipóteses: consumidores que utilizam aplicativos

OTT para comunicação com seus contatos reduzem

as ligações para estes contatos (H1), consumidores

que utilizam aplicativos OTT para comunicação

com seus contatos reduzem a troca de mensagens

de texto com estes contatos (H2), consumidores que

utilizam aplicativos OTT para comunicação com

seus contatos não consideram pacotes de SMS ao

contratar planos de operadoras celulares (H3),

consumidores que utilizam aplicativos OTT para

comunicação com seus contatos não aceitariam

Fundação Pedro Leopoldo MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

receber ações de mobile marketing através dos

aplicativos OTT (H4) e, por fim, consumidores que

utilizam aplicativos OTT para comunicação com

seus contatos avaliam o SMS como um serviço

obsoleto (H5).

O artigo é dividido em quatro partes, além desta

introdução. No referencial teórico o foco é para

temas do comportamento do consumidor de

serviços, notadamente. Tangencia-se também

definições de difusão de inovação. Em seguida é

apresentado o método do estudo, descrevendo-se a

forma de coleta de. Em seguida são apresentados os

resultados da pesquisa quantitativa. Finalmente, a

conclusão resgata os principais resultados da

pesquisa.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O referencial teórico se divide em duas etapas,

sendo que na primeira é apresentado o

embasamento teórico para cultura e consumo e na

segunda etapa abordam-se as questões de difusão de

inovação de forma apresentar a sustentação teórica

dos constructos.

2.1 CULTURA E CONSUMO

O mudança do comportamento de consumo é algo

constante e representa não apenas uma mudança

nos gostos de cada indivíduo, mas sim uma

mudança mais profunda, permeando os conceitos de

tempo, espaço, família, sociedade e estado. O

consumo moderno é, acima de tudo, um fenômeno

histórico. O consumo moderno é resultado de vários

séculos de mudanças sociais, econômicas e

culturais. Cultura e consumo assumiram uma

relação sem precedentes no mundo contemporâneo.

Entretanto, as ciências sociais demoraram a

perceber esta relação e mais ainda para avaliar a sua

significação e entender que o consumo é um

fenômeno também cultural (McCRACKEN, 2003).

Num contexto onde o smartphone tornou-se uma

“extensão do corpo humano” (HULME; PETERS,

2001, p. 3; LEMISH; COHEN, p.517; DAVIDE,

2004, p.2), e a conexão com a internet tornou-se

uma necessidade na relação entre pessoas e

consumidores reflexões devem ser feitas de maneira

mais profunda, sendo necessário entender essa nova

lógica do consumo que provoca profundas

alterações sociais e culturais na sociedade

(McCRACKEN, 2003).

O consumo de tecnologia de comunicação e

informação na sociedade pós-moderna torna-se

cada vez mais onipresente na vida dos indivíduos e

influência a construção de identidades sociais

(HARVEY, 1993).

Srivastava (2004) ao citar Wellman (2001) expõe

que os telefones celulares permitem aos usuários

estar “em casa” o tempo todo, independentemente

de onde se encontra fisicamente. Esta é uma

reflexão feita baseada no fato que até o início da

década de 90, as pessoas normalmente faziam ou

recebiam chamadas telefônicas em casa, através do

telefone fixo.

A expressão “intimidade tecnológica” apresentada

por Srivastava (2004, p.122) pode ser associada à

realidade que o indivíduo pode levar o smartphone

para diversos lugares e continuar conectado à

internet. Dado que 76% dos celulares

comercializados atualmente são smartphones, pode-

se depreender que este dispositivo tornou-se, mais

que um objeto de desejo, uma necessidade na

sociedade contemporânea, dado suas capacidades,

Fundação Pedro Leopoldo MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

aplicativos que podem ser utilizados e a facilidade

que ele proporciona no desenvolvimento de

diversas atividades cotidianas, além de prover

entretenimento e socialização.

Os consumidores ao consumirem determinado

produto, também estão comprando toda uma gama

de significados simbólicos que expressam

pertencimento ao mundo social Douglas e

Isherwood (2006). A relação entre a cultura e o

consumo, e a visão simbólica que este representa é

também discutida sob a perspectiva da geração das

identidades dos grupos sociais.

2.2 DIFUSÃO DE INOVAÇÃO

Quando os aplicativos de comunicação OTT foram

lançados eram algo novos no mercado e, portanto

passariam pelo processo de difusão de inovação.

Algumas inovações são apresentadas como uma

nova maneira de usar um produto existente. Ela

pode ser eficiente, mas a mudança de alguns hábitos

é requerida (SOLOMON, 2010 p.616). Assim, a

utilização do WhatsApp é uma nova maneira de

usar o SMS e MMS do celular, pois de forma

sugestiva e no mesmo aplicativo o usuário pode

enviar fotos, videos, mensagens de voz ou apenas

texto de forma rápida e dinâmica, assim como o

Facebook Messenger é outra maneira de utilizar as

antigas plataformas de bate-papo. Uma vantagem

de ambos é que são móveis e podem ser utilizados

através do celular.

Para uma inovação ser bem sucedida, ela deve ser

compatível com o estilo de vida dos consumidores e

oferecer vantagem relativa a outras opções. O

consumidor, portanto, deve acreditar que o uso de

determinado produto ou serviço proporcionará

benefícios que outros produtos ou serviços não

oferecem (SOLOMON, 2010 p.616).

A complexidade de uso de determinado produto

determina se a inovação será aceita ou não

(SHIFFMAN, 2009; PINHEIRO, 2013;

SOLOMON, 2010). Os aplicativos OTT objeto

deste artigo são bastante fáceis de usar, com

comandos básicos de fácil compreensão e uso, o

que determinou seu sucesso estrondoso nos Estados

Unidos e, posteriormente, no Brasil. Outro fator

importante na difusão de inovação é o sistema

social, que é um ambiente físico, social ou cultural

ao qual as pessoas pertencem. A orientação de um

sistema social tende a influenciar a aceitação ou

rejeição de novos produtos (SCHIFFMAN, 2009 p.

361).

A velocidade com que uma inovação se espalha por

um mercado depende do seu canal de comunicação.

Existem diversas fontes que podem influenciar uma

inovação tais como fontes impessoais (propaganda

e material editorial) e fontes pessoais (vendedores,

formadores de opinição, redes sociais). Os blogs

são ferramenta bastante utilizadas hoje em dia e há

pessoas chamadas de bloggers com milhares de

seguidores que podem influenciar a difusão de uma

inovação (SCHIFFMAN, 2009; SOLOMON,

2010).

A difusão de inovação é o processo pelo qual uma

inovação (nova idéia) é comunicada por meio de

certos canais em um determinado tempo entre um

grupo de um sistema social (ROGERS, 1962)

A adoção de inovação pelo consumidor passa por

alguns estágios e os consumidores são qualificados

e agrupados baseado no momento em que a

inovação foi aceita. As seguinte classes de

adotantes são identificadas: Inovadores, adotantes

Fundação Pedro Leopoldo MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

iniciais, maioria inicial, maioria tardia e

retardatários (SOLOMON, 2010). A figura abaixo

apresenta o percentual de adotantes da inovação em

cada classe:

Figura 3: Classe de Adotantes Inovação

A maioria dos consumidores é considerada,

portanto, maioria inicial ou maioria tardia. Os

aplicativos OTT, base deste estudo, tiveram sua

difusão inicial nos Estados Unidos e foram

responsáveis pelo amadurecimento dos próprios

aplicativos.

3 METODOLOGIA

Com o propósito de entender o comportamento do

consumidor frente a adoção dos aplicativos OTT de

comunicação, o SMS e as próprias chamadas

telefônicas, foi feita uma pesquisa aplicada e

exploratória utilizando um questionário estruturado

telematizado, com 13 questões fechadas e 1 questão

aberta, sendo esta a pergunta do estado do

respondente. A coleta de dados foi feita através da

distribuição do questionário, hospedado no google

docs, a diversas pessoas através de e-mail,

Facebook e WhatsApp. O período de coleta de

respostas foi do dia 16/06/2014 até o dia

15/07/2014, quando 411 respostas foram obtidas.

O questionário estruturado com questões fechadas e

abertas foi escolhido de forma a atingir o máximo

de pessoas possível, a um custo baixo.

4 RESULTADOS

A análise foi feita utilizando todas as respostas do

questionário. Do total de respondentes, quanto ao

gênero, a distribuição foi de 51,3% do sexo

masculino (n=211) e 48,7% do sexo feminino

InovadorAdotante

InicialMaioria Inicial

MaioriaTardia

Retardatário

Classe de Adotantes (%) 2,5 13,5 34 34 16

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Classe de Adotantes (%)

Fundação Pedro Leopoldo MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

(n=200). Quanto a idade, 79,6% dos respondentes

(n=327) têm até 40 anos de idade, sendo que 24,6%

(n=101) têm até 20 anos, 19,9% (n=82) têm entre

21 e 30 anos e 35% (n=144) têm entre 31 e 40 anos.

Com relação a escolaridade a maioria absoluta da

amostra já concluiu ou está fazendo o curso

superior. Da amostra coletada, 47,5% (n=195) são

estudantes de curso superior ou já o concluíram e

36,1% (n=148) são estudantes de pós-graduação ou

já o concluíram.

Na análise da renda a seguinte distribuição de renda

foi encontrada: 19,7% (n=81) possuem renda até

R$1.449,99 (Classe E); 11,9% (n=49) possuem

renda entre R$1.450,00 e R$2.899,99 (Classe D);

29,7% (n=122) possuem renda entre R$2.900,00 e

R$7.249,99 (Classe C); 25,6% (n=105) possuem

renda entre R$7.250,00 e R$14.499,99 (Classe B);

9,5% (n=39) possuem renda superior a

R$14.500,00 (Classe A) e apenas 3,6% (n=15) não

responderam esta questão do questionário.

Na distribuição entre estados, os respondentes de

Minas Gerais foram responsáveis por 73% (n=300)

e os respondentes de São Paulo foram responsáveis

por 15,6% (n=64). Os demais respondentes ficaram

distribuídos nos demais estados da federação, tais

como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pará,

Rondônia, Maranhão, etc.

Dado que o universo de entrevistados foi atingido

através do envio de questionário por Facebook

Messenger, WhatsApp e e-mail era esperado

encontrar elevado número de respondentes com

smartphone, totalizando 95,4% (n=392), e com

internet móvel em seu aparelho, totalizando 84,4%

(n=347). A classe social dos respondentes não é um

influenciador na assinatura do plano de dados da

operadora ou na aquisição do smartphone, pois em

todas as classes identificou-se que pelo menos 90%

dos respondentes possuem um smartphone e que, a

partir da classe D, pelo menos 80% possuem plano

de dados. Na classe E, 67% dos entrevistados

possuem plano de dados.

Todos os respondentes utilizam pelo menos um

aplicativo OTT para comunicação com seus

contatos, e todos os respondentes utilizam o

WhatsApp ou Facebook Messenger como um dos

aplicativos para comunicação. Embora não listados

no questionário, sabe-se que há outros aplicativos

para comunicação, tais como Skype, Viber e

Snapchat, sendo este último um aplicativo mais

recente, lançado em 2011.

Foi definida como primeira hipótese do estudo (H1)

que os usuários que utilizam aplicativos OTT para

comunicação com seus contatos reduzem as

ligações telefônicas para estes contatos. Esta

hipótese foi confirmada já que 46,2% (n=190)

informaram que as chamadas de voz reduziram

muito e 42,3% (n=174) informaram que as

chamadas de voz reduziram pouco.

A segunda hipótese (H2) afirmava que os usuários

que utilizam aplicativos OTT para comunicação

com seus contatos reduzem o envio de mensagens

de texto (SMS) para estes contatos. Esta hipótese

foi confirmada já que 74,5% (n=306) informaram

que o envio de SMS reduziu muito e 17% (n=70)

informaram que o envio de SMS reduziu pouco.

A terceira hipótese (H3) afirma que usuários de

aplicativos OTT para comunicação com seus

contatos não consideram pacotes de SMS ao

contratar planos de operadoras celulares. Esta

hipótese foi parcialmente confirmada, pois 58,9%

(n=242) dos respondentes informaram que não

consideram pacotes de SMS.

Fundação Pedro Leopoldo MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

A quarta hipótese (H4) afirma que consumidores

não aceitariam receber ações de mobile marketing

através de aplicativos OTT. Esta hipótese se

sustenta, pois 93% (n=382) não aceitariam receber

estas ações, considerando estes aplicativos pessoais.

A quinta e última hipótese (H5) afirma que

consumidores de aplicativos OTT para

comunicação com seus contatos consideram o

serviço SMS obsoleto. Esta hipótese não foi

confirmada, pois apenas 49% dos respondentes

consideram o serviço SMS obsoleto.

O objetivo da pesquisa é verificar se os

consumidores que utilizam aplicativos OTT para

comunicação com seus contatos reduzem as

ligações para estes contatos (H1), reduzem a troca

de mensagens de texto com estes contatos (H2), se

consideram pacotes de SMS ao contratar planos de

operadoras celulares (H3), se aceitariam receber

ações de mobile marketing através dos aplicativos

OTT (H4) e, por fim, se avaliam o SMS como um

serviço obsoleto (H5).

5 CONCLUSÃO

A pesquisa teve como objetivo avaliar o

comportamento do consumidor de aplicativos OTT

e sua influência nas chamadas de voz e trocas de

mensagens de texto (SMS).

Em termos de resultados, o estudo comprovou que

os usuários de aplicativos OTT para comunicação

com seus contatos apresentam redução nas ligações

para estes contatos e trocas de mensagens de texto

(SMS). Isto identifica que dos serviços ofertados

pelas operadoras de telefonia celular, o serviço de

dados é, portanto, o mais interessante e utilizado.

Esta conclusão permite depreender que ajustes nos

planos de tarifação das operadoras de telefonia

celular para conter planos de dados cada vez mais

baratos é uma necessidade e, também, um viés uma

vez que a contribuição da receita de chamadas

telefônicas e SMS no mix de serviços será cada vez

menor. Assim, pode-se concluir que a fusão de

operadoras móveis e fixas em grandes

conglomerados para prover serviços de telefonia

móvel, telefonia fixa, internet e TV é um

movimento importante para que estas empresas

prestem serviços em diversas frentes, aumentando o

mix de produtos, mantendo ou aumentando a

receita da empresa. É necessário, também, criar

outros tipos de serviços voltados para o uso de

dados tais como backup de fotos, vídeos e músicas

em servidores da própria operadora, atualmente

chamado de hospedagem nas nuvens, ao invés de

armazená-los exclusivamente no celular e serviços

de navegação segura, propiciando mais segurança

em transações bancárias, e nas próprias conversas

utilizando os aplicativos OTT, dificultando

invasões por hackers e ataques por vírus.

Uma conclusão surpreendente neste estudo reside

no fato do SMS, que mesmo em desuso, não ser

considerado obsoleto. Assim, eles o utilizam como

uma forma alternativa de comunicação quando

serviços de dados estão indisponíveis, por exemplo.

Limitações deste estudo residem no fato de a

amostra não ter atingido de forma massiva diversos

estados da federação, concentrado os resultados

notadamente em Minas Gerais e São Paulo,

desconsiderando, portanto, comportamentos de

outros estados.

Por fim, como sugestão de outros estudos, acredita-

se ser importante refazer estes testes no momento

em que as redes 4G e LTE, além da comunicação

de voz utilizando a rede de dados, estiverem

Fundação Pedro Leopoldo MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

disseminadas no Brasil. Sugere-se também ampliar

este questionário de forma a atingir outras regiões

do Brasil, tais como Nordeste e Norte.

6 REFERENCIAS

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