capÍtulo clÍnica ampliada em fonoaudiologia

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TÍTULO: A CLÍNICA AMPLIADA DA FONOAUDIOLOGIA: REDEFININDO PRÁTICAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE AUTORES: Vanessa de Lima Silva – Doutora – Universidade Federal de Pernambuco Fonoaudióloga pela Universidade Federal de Pernambuco (2004), Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Pernambuco (2007) e Doutora em Saúde Pública pelo Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães - Fiocruz (2012). Docente do curso de Fonoaudiologia e do curso de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da UFPE. Tem experiência nas áreas de Fonoaudiologia e Saúde Coletiva, atuando principalmente nos seguintes temas: Epidemiologia, Saúde do idoso, Atenção primária à saúde, Fonoaudiologia e planejamento e gestão em saúde. Paulette Cavalcanti de Albuquerque – Doutora – Universidade de Pernambuco e Fundação Oswaldo Cruz Médica pela Universidade Federal de Pernambuco (1987), mestrado em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (1994) e doutorado em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (2003). Atualmente é professora adjunta da Universidade de Pernambuco e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Atenção Primária à Saúde e dedica-se a ensino, pesquisa e extensão em Saúde da Família, Avaliação de Políticas de Saúde, da Educação na Saúde e Educação Popular. Tatiane Fernandes Portal de Lima – Mestre – Ministério da Saúde

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TÍTULO:

A CLÍNICA AMPLIADA DA FONOAUDIOLOGIA: REDEFININDO PRÁTICAS NA

ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

AUTORES:

Vanessa de Lima Silva – Doutora – Universidade Federal de

Pernambuco

Fonoaudióloga pela Universidade Federal de Pernambuco (2004),

Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Pernambuco

(2007) e Doutora em Saúde Pública pelo Centro de Pesquisas Aggeu

Magalhães - Fiocruz (2012). Docente do curso de Fonoaudiologia e

do curso de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da

UFPE. Tem experiência nas áreas de Fonoaudiologia e Saúde

Coletiva, atuando principalmente nos seguintes temas:

Epidemiologia, Saúde do idoso, Atenção primária à saúde,

Fonoaudiologia e planejamento e gestão em saúde.

Paulette Cavalcanti de Albuquerque – Doutora – Universidade de

Pernambuco e Fundação Oswaldo Cruz

Médica pela Universidade Federal de Pernambuco (1987), mestrado em

Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (1994) e doutorado em

Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (2003). Atualmente é

professora adjunta da Universidade de Pernambuco e pesquisadora da

Fundação Oswaldo Cruz. Tem experiência na área de Saúde Coletiva,

com ênfase em Atenção Primária à Saúde e dedica-se a ensino,

pesquisa e extensão em Saúde da Família, Avaliação de Políticas de

Saúde, da Educação na Saúde e Educação Popular.

Tatiane Fernandes Portal de Lima – Mestre – Ministério da Saúde

Fonoaudióloga pela Universidade Federal de Pernambuco (2004),

Residência em Saúde Coletiva (regime integral de 3.840 horas) e

mestrado acadêmico em Saúde Pública pelo Centro de Pesquisas Aggeu

Magalhães/ Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Experiência em

atividades de docência em disciplinas de metodologia de Pesquisa e

saúde Pública em Curso de Graduação na Universidade Federal de

Pernambuco (UFPE). Ministrou em disciplinas de Pos-graduação na

Universidade de Pernambuco (UPE). Desenvolveu pesquisas

científicas no Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães nas áreas de

Saúde Coletiva, com concentração nas temáticas de Saúde indígena,

Epidemiologia e análise de Política de informação em saúde. Foi

gestora na IX Gerência Regional de Saúde (GERES) no Sertão do

Araripe Pernambucano e atualmente é Técnica de Nível Superior do

Ministério da Saúde/ Área de atuação em Planejamento em

Saúde/Gestão de serviços, programas de Saúde, desenvolvimento e

avaliação de projetos e programas na área de saúde e

desenvolvimento de Políticas Públicas em Saúde.

Ivana Arrais de Lavor Navarro Xavier – Especialista – Universidade

Federal de Pernambuco

Fonoaudióloga pela Universidade Católica de Pernambuco (2002).

Pós-graduada em Disfagia pela Universidade Federal de Pernambuco

(2004). Pós-graduada em Saúde da Família pela Universidade de

Pernambuco (2010). Fonoaudióloga do departamento de fonoaudiologia

da Universidade Federal de Pernambuco. Coordenadora municipal do

NASF de Recife. Tem experiência nas áreas de Fonoaudiologia e

Saúde Coletiva, atuando principalmente com os seguintes temas:

Saúde da Família e Fonoaudiologia.

Renata Morais de Santana – Especialista -

Fonoaudióloga pela Faculdade Integrada do Recife, fez

especialização na modalidade de residência multiprofissional em

Saúde da Família pela Faculdade de Ciências Médicas da

Universidade de Pernambuco. Atualmente é fonoaudióloga do NASF de

Vitória de Santo Antão-PE.

Cynthia Maria Barboza do Nascimento – Mestre – NASF Secretaria

Municipal de Saúde de Camaragibe-PE

Fonoaudióloga pela Universidade Federal de Pernambuco (2004),

especialização em Saúde Pública (2005), Mestre em Saúde Pública

(2008) pelo Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães – CPqAM/ FIOCRUZ.

Atualmente cursa Doutorado em Saúde Pública pelo CPqAM/FIOCRUZ.

Desenvolve atividades docentes em Especializações e Residências

Latu Sensu, participa como colaboradora de pesquisa do

observatório de recursos humanos do Centro de Pesquisas Aggeu

Magalhães e atua como fonoaudióloga do NASF do município de

Camaragibe-PE. Tem experiência na área de Fonoaudiologia com

ênfase em Saúde Coletiva, atuando principalmente nos seguintes

temas: Atenção Primária à Saúde e Fonoaudiologia.

I INTRODUÇÃO

O presente capítulo buscou, a partir de um caso real,

vivenciado em uma Unidade de Saúde da Família (USF) no município

do Recife-PE, discutir o conceito de clínica ampliada na

Fonoaudiologia. Acredita-se que este conceito pode colaborar no

fortalecimento do lugar da clínica fonoaudiológica na Atenção

Primária à Saúde.

Trata-se da descrição do caso de Das Dores (nome fictício),

usuária atendida pelo núcleo de Fonoaudiologia da Residência

Multiprofissional em Saúde da Família da Universidade de

Pernambuco.

II “TEM ALGUÉM PRA FONO”?

Das dores está na sala de espera da Unidade de Saúde da Família

aguardando para fazer o seu exame de prevenção ao câncer de colo

uterino, na companhia de sua irmã, Amparo.

A fonoaudióloga aparece perguntando:

- Tem alguém pra fono?

- Ah! Tem fono aqui? Como eu faço pra marcar? (Perguntou sua

irmã)

É então agendada a primeira consulta de Das dores com a

fonoaudióloga.

A atenção primária à Saúde caracteriza-se por quatro

princípios básicos: primeiro contato, também descrito no Brasil

como porta de entrada do sistema; coordenação do cuidado, que

corresponde a capacidade de articular as diversas ações de saúde

relacionadas à família ou ao indivíduo, em todos os níveis de

atenção; longitudinalidade, que faz referência ao acompanhamento

do usuário no decorrer do tempo, desde a infância até a velhice;

baseado na comunidade, princípio vinculado à responsabilidade e

adequação das ações ao território de abrangência da equipe e a

característica de ser um recurso escasso, devendo por isso ter sua

atuação otimizada possibilitando o atendimento equânime de todos

os usuários (STARFIELD, 2002).

No caso descrito, percebe-se que a fonoaudióloga residente fez

um contato direto com a usuária, a partir de uma consulta de

rotina, o exame de prevenção de câncer de colo de útero. Este

contato foi possível em virtude na unidade de saúde ser território

de ação da residência multiprofissional em saúde da família. Na

rotina dos serviços de saúde, o caminho natural é a Unidade de

Saúde da Família referenciar a usuária para o serviço de

Fonoaudiologia ou discutir o seu caso em parceria com o Núcleo de

Apoio à Saúde da Família e fazer os encaminhamentos necessários.

As redes de atenção à saúde são organizadas em níveis de

atenção: atenção primária, atenção especializada e atenção

hospitalar. A interface entre estes níveis de atenção é realizada

através do sistema de referência, ou seja, o encaminhamento do

usuário a partir da atenção primária à saúde, conhecida como porta

de entrada do sistema.

Tal fato leva à reflexão sobre o primeiro contato, um dos

princípios da APS. O primeiro contato é uma forma de garantir o

acesso e a utilização do serviço de saúde para cada novo evento.

Um serviço é porta de entrada quando a população e a equipe

identificam-no como o primeiro recurso de saúde a ser buscado

quando há uma necessidade/problema de saúde (STARFIELD, 2002).

III A PRIMEIRA CONSULTA

Das dores chegou à consulta agendada acompanhada por sua irmã,

Amparo. A fonoaudióloga pediu para que ela entrasse sozinha no

consultório e perguntou sua idade e sobre sua família. Ela

respondeu que tem 16 anos, mora com os pais e quatro irmãos.

Procura saber também se ela estuda e ela responde que saiu da

escola há algum tempo e que não sabe ler nem escrever. No início,

Das dores apenas respondia o que lhe era perguntado e, aos poucos,

vai ficando mais à vontade. Contou que tem muita vontade de

aprender a ler, escrever e falar: “Eu falo errado”. Disse que é o seu

sonho, que acha lindo uma pessoa de roupa branca e que queria ser

doutora, porém sua mãe diz que precisa estudar muito. Ela conta

também que o sonho de sua mãe é aposentá-la. Continua dizendo

que só pode sair de casa com “alguém colado” e que não pode ficar

só em casa. Que conversa muito com Deus e não gosta de falar com

a mãe sobre seus sentimentos, nem com as irmãs que dizem que ela

é doida, “queimam meu filme”, e quando brigam elas contam tudo

para seu pai. Este, continua Das dores, é muito chato, não deixa usar

roupa curta e nem namorar. Ele fala que vai matar se fizer alguma

coisa. A fonoaudióloga pergunta se ela sabe escrever seu nome, ela

responde que não. Inicia, então, sua avaliação.

Das dores não sabe escrever, inclusive seu próprio nome. Não

reconhece letras, nem números. É desorientada no tempo e no

espaço, faz confusão entre menor/maior; mais novo/mais velho, tem

boa discriminação visual. Não sabe lidar com dinheiro.

Após avaliação a fonoaudióloga chama a irmã de Das dores para

conversar. Amparo contou que Das dores parou de estudar na 5a

série, há quatro anos, com o argumento de que os colegas riam

dela. Nesta época, foi encaminhada para uma escola especial, mas

como não tinham como pagar a passagem, ela não chegou a

frequentar esta escola.

Conversam sobre a avaliação de Das dores, e sobre a importância de

estimularem sua linguagem e também sua autonomia. Por exemplo,

com relação ao dinheiro, que Das dores não conhece as cédulas,

entretanto, ela não tem a oportunidade de usá-las, pois a família

não deixa.

A fonoaudióloga questiona se há interesse no retorno à escola e elas

afirmam que sim.

Na primeira consulta com a fonoaudióloga, foi identificado que

Das dores fala, no entanto, há comprometimento da linguagem

escrita e de alguns aspectos relacionados à vida em sociedade. A

análise dessas informações iniciais a respeito de Das dores

levanta alguns questionamentos em relação à conduta terapêutica.

Nesse caso, o que caberia ao fonoaudiólogo? Focar a sua

intervenção nos aspectos relacionados à linguagem escrita? E

quanto às outras questões apresentadas?

Na abordagem tradicional da clínica, seria colocado em prática

o fluxo de atendimento e encaminhamentos. Das Dores seria

encaminhada ao ambulatório de Fonoaudiologia para o trabalho com a

linguagem escrita, e para os ambulatórios de psicologia e de

psiquiatria. Este decidiria por uma terapia medicamentosa ou não.

Nesse caso, as necessidades de Das Dores foram estratificadas

nos núcleos de saber de cada especialidade. E cada profissional

iria realizar intervenções dentro do seu escopo de ações. No

entanto, as necessidades de Das Dores seriam realmente supridas?

O presente capítulo procura aproximar a Fonoaudiologia da

abordagem de uma nova clínica, a clínica ampliada. Essa nova

abordagem da clínica considera a ampliação do objeto de trabalho

dos profissionais, que devem buscar ver a pessoa em toda a sua

complexidade, não apenas a “parte” que cabe à sua especialidade.

A proposta de clínica ampliada se direciona a todos os

profissionais de saúde na sua prática de atenção aos usuários.

Toda profissão faz um recorte, um destaque de sintomas e

informações, cada uma de acordo com seu núcleo profissional.

Ampliar a clínica significa justamente ajustar, articular e

integrar os recortes teóricos de cada profissão às necessidades

dos usuários (CUNHA, 2004; BRASIL, 2009).

A clínica ampliada considera as dimensões biomédica, social e

psicológica dos indivíduos, podendo, a depender do momento, haver

predominância de um enfoque, sem a negação de outros. Para se

trabalhar na perspectiva da clínica ampliada, é necessária a

identificação de todo o quadro do indivíduo. Um importante

dispositivo trazido por essa nova abordagem é a anamnese ampliada

(CUNHA, 2010).

IV ANAMNESE AMPLIADA, NÃO DIRIGIDA PARA O SINTOMA

Fazer uma anamnese ampliada significa abrir o olhar e a escuta

para perceber o que a pessoa nos seus mais diversos

aspectos/âmbitos. Trata-se da capacidade de ampliar a anamnese

para além da sua especialidade restrita. Cunha (2010) propõe a

utilização de conceitos da homeopatia para o aprofundamento da

identificação do quadro do indivíduo. Para ele, a homeopatia

propõe que a história clínica seja feita abordando o maior número

de sintomas possível, com um detalhamento interessante: os

sintomas referidos espontaneamente são mais valorizados que os

descobertos a partir do questionamento do profissional de saúde.

Outra característica interessante da homeopatia é que ela valoriza

muito os sintomas emocionais e mentais em relação aos sintomas

físicos, para efeito de escolha da medicação e definição de

evolução.

Esta abordagem leva a uma organização dos sinais e sintomas em

problemas, incluindo todos os identificados para o paciente, e não

apenas aqueles relacionados ao núcleo profissional. Assim, a

partir do caso, pode-se identificar as principais características

e problemas sentidos pela paciente.

No caso de Das Dores, pode-se identificar como características

importantes:Queixa Principal: Distúrbio da fala

“Eu falo errado”

Tenho vontade de aprender a ler, escrever e falar

Queria ser doutora

Acham que sou doida

As irmãs “queimam meu filme”

Mãe quer aposentá-la

Não sabe escrever o nome

Desorientada no tempo e no espaço

Boa discriminação visual

Não estuda já há algum tempo

Quer namorar

Pai repressor

Só posso sair de casa com “alguém colado”

Conversa muito com Deus

Observa-se que as questões destacadas como problemas vão muito

além do núcleo profissional da Fonoaudiologia e que foram

valorizadas na construção do cuidado da paciente como um todo.

Observa-se uma vontade de se inserir na sociedade, porém há

barreiras relativas à linguagem, à autonomia e às relações

familiares e sociais.

A Fonoaudiologia pode fazer grande uso da anamnese ampliada,

uma vez que tem como objeto a saúde da comunicação humana, objeto

complexo de natureza biopsicossocial. Para abranger a magnitude

das questões que permeiam a comunicação dos indivíduos, a

abordagem ampliada torna-se imprescindível.

No entanto, para se ter um olhar ampliado em relação à

situação de saúde ou doença de um indivíduo, um encontro não é

suficiente. Avaliar o contexto é um passo fundamental para se

compreender a magnitude de questões que permeiam uma dada

situação.

Outra questão importante quando se trata da atuação segundo a

clínica ampliada é o compartilhamento do caso com outros

profissionais, pois o olhar de uma categoria não é suficiente, uma

vez que a abrangência do olhar é direcionada de acordo com as

teorias e valores de cada categoria profissional. Para se

trabalhar em uma abordagem ampliada, é necessária a inserção de

outros olhares.

Nesse sentido, a abordagem interdisciplinar torna-se

fundamental para uma caracterização ampliada da situação de um

indivíduo. Cada núcleo de saber profissional pode contribuir para

a identificação de aspectos-chave de um determinado caso e para

uma abordagem integral do cuidado, evitando procedimentos

fragmentados.

Após a realização da consulta com a fonoaudióloga, o caso de Das

Dores foi levado para discussão na reunião de equipe da Unidade de

Saúde da Família a qual a mesma faz parte. Na reunião estavam

presentes a Equipe de Saúde da Família: médico, enfermeiro,

agentes comunitários de saúde e cirurgião dentista; como também

os residentes atuantes nesse território, a saber: fonoaudiólogo,

fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo, assistente social,

farmacêutico e nutricionista.

Durante a reunião, o caso foi apresentado e as primeiras

informações da anamnese ampliada foram discutidas por com todos

os profissionais.

Na discussão de um caso como o de Das Dores, há a necessidade

de se pensar a escola, a infância, os estímulos, a família, a

aposentadoria, dentre outros aspectos de sua vida. E assim,

definir a importância de suas necessidades, através da

hierarquização de suas necessidades principais, para então pensar-

se em um plano de intervenção. (Proposta para o parágrafo para

reduzir a repetição da palavra “necessidade”: Na discussão de um

caso como o de Das Dores, é mister considerar todas as dimensões

da vida que ressoa durante a escuta feita pelo profissional

fonoaudiólogo, quais sejam: a escola, a infância, os estímulos, a

família, a aposentadoria, dentre outros aspectos. E assim, tentar

definir a importância dos anseios do sujeito (Das Dores), através

da hierarquização de suas necessidades principais, para então se

pensar em um plano de intervenção.

A análise do contexto social e familiar é de extrema

importância em casos complexos. Para tal, o recurso utilizado na

rotina de trabalho da Atenção Primária à saúde é a visita

domiciliar.

V AS PRIMEIRAS VISITAS: A APROXIMAÇÃO DO CONTEXTO

A visita domiciliar agendada acontece quinze dias após a primeira

consulta. Após discutirem o caso na USF, vão juntas à casa de Das

Dores a fonoaudióloga, a enfermeira, a assistente social e a

terapeuta ocupacional, acompanhadas pelo agente comunitário de

saúde.

Elas são recebidas por Socorro, mãe de Das Dores. Entram, e ficam

no terraço, fora da casa. A assistente social olha o ambiente

domiciliar. Este é amplo, organizado e bem ventilado. Conversamos

sobre a consulta de Das Dores e ela diz que tem muita vontade de

saber o que a filha tem. Conta que só descobriu que estava grávida

de Das Dores aos seis meses de gestação e que já estava “ligada”.

Acredita que quando fez laqueadura já estava grávida dela.

Continua, dizendo que a gravidez não foi na barriga.

Socorro diz que a filha só andou por volta dos dois anos de idade e

falou com quase três anos. Por volta dos 12 anos de idade, fez

fonoterapia, entretanto, por apenas três meses. A mãe relata que por

causa do trabalho não conseguia levá-la às consultas. Nesta mesma

época, Das Dores apresentou problemas para dormir, sendo

consultada por um psiquiatra numa policlínica do município, que lhe

receitou Carbamazepina. Ela fez uso deste medicamento por 3

meses, suspendendo por conta própria. Apresenta o diagnóstico de

retardo mental moderado: CID: F- 71.

Comenta ainda, que Das Dores tem mania de limpar a casa, vive

varrendo. Porém, não gosta de tomar banho, nem de escovar os

dentes e que, nos últimos dias teve dor de dente. Após falar sobre

Das Dores, Socorro conta sobre ela e os demais membros da família.

Das Dores está em casa e também o seu pai, que em alguns

momentos grita lá de dentro, de forma grosseira com Das Dores,

sem se intimidar com a nossa presença. Segundo relatam, ele

costuma “implicar”, especialmente com Das Dores, que “treme

quando ele chama por ela”. Consome álcool com frequência e já

chegou a quebrar objetos dentro de casa. Durante nossa conversa, o

pai vem até o terraço falar com a equipe e a terapeuta ocupacional

o convida para participar da conversa, também para que possa

avaliá-lo. Ele está afastado do trabalho há três anos, recebendo

benefício devido acidente de trabalho com lesão em membro

superior esquerdo. Conta que, nos últimos meses, tem estado

depressivo e sem paciência devido afastamento do trabalho e ao

falecimento de três irmãos de forma violenta. O convidamos para ir

à USF com Das Dores no dia de sua consulta e também para

participar do grupo de homens. Ele se mostra interessado. Socorro,

que é empregada doméstica, está de licença há cerca de dois meses

para tratamento de câncer de ovário direito. Fez histerectomia e está

na expectativa de iniciar quimioterapia.

Quanto aos irmãos, Aparecida (22 anos) está desempregada, já teve

um companheiro, mas voltou para casa e mantém (têm) conflitos

relacionais com o pai. Conceição (21 anos) é auxiliar de limpeza e

ajuda na manutenção do lar, sendo a renda familiar total de três

salários mínimos. Dionísio (19 anos) abandonou a escola no último

mês (2º ano do Ensino Médio), faz “bico” e é usuário de drogas.

Amparo (18 anos) é estudante (2º ano do Ensino Médio), não relata

conflitos, demonstra bom relacionamento com Das Dores. Esta, por

fim, exibe o desejo de ser compreendida e de mudar sua família.

Após a visita, Das Dores foi à USF acompanhada de sua mãe.

Durante a conversa, a mãe relata histórias de violência do pai e que

não as contou no dia da visita por ele estava presente. Inclusive uma

das filhas já prestou queixa dele [...].

Com base na leitura do texto acima, observa-se a complexidade

do contexto familiar de Das Dores. Quando se trabalha na

perspectiva da clínica ampliada, não há como dissociar o caso do

indivíduo foco do cuidado e o seu contexto familiar e social, em

virtude do grande impacto gerado pelas relações existentes.

Destacam-se como fatores importantes identificados na visita

domiciliar o relato do atraso no desenvolvimento neuropsicomotor

de Das dores; seu diagnóstico de retardo mental moderado; o

abandono da terapia medicamentosa; o câncer da mãe; a relação

conflituosa com o pai, desempregado e alcoolista; a prole de cinco

filhos e um irmão usuário de drogas. Esta família apresenta uma

série de problemas de saúde importantes, acompanhados de relações

conflituosas, comuns no cotidiano das comunidades cobertas pelas

equipes de saúde da família.

Um importante recurso utilizado para a análise do contexto

familiar é o genograma. Tradicionalmente conhecido como “árvore da

família”, é um instrumento gráfico com representação do usuário

foco do cuidado e seus familiares. Representa também as relações

existentes entre os membros da família.

O genograma facilita a visão do contexto psicossocial e das

situações de estresse agudas ou crônicas, tanto para o paciente (e

seus familiares), como para o profissional de saúde, ampliando as

formas de detecção das situações conflituosas e problemáticas. Sua

apresentação gráfica, condensada em uma única página, indica seu

uso no prontuário médico, servindo de consulta para os membros da

equipe de saúde e facilitando o acesso à situação psicossocial,

para uma visão integral do paciente (Substituir trecho riscado

por: Ademais, essa ferramenta possibilita o acesso facilitado à

situação psicossocial do sujeito-paciente, garantindo uma visão

integral da família (MUNIZ; EISENSTEIN, 2009).

A aplicação do Genograma em saúde da família permite uma

visualização do processo de adoecer, facilitando o plano

terapêutico e, à família, uma melhor compreensão sobre o

desenvolvimento de suas doenças (MELLO et al, 2005).

O genograma da família de Das Dores está representado na

figura abaixo. Pode-se encontrar o método para a construção do

genograma no trabalho de Muniz e Eisenstein (2009).

Considerando a família como um sistema cujos membros mantêm

relações de interdependência, o surgimento de doenças, transtornos

ou quaisquer outras disfunções, seja na forma aguda ou crônica,

irá afetar intensamente o sistema familiar, provocando necessárias

adaptações de todos os envolvidos direta ou indiretamente (MUNIZ;

EISENSTEIN, 2009).

O uso do genograma permitiu identificar o lugar de Das Dores

na sua família e as relações existentes na mesma. Permitiu também

um questionamento. O foco do problema pode não estar em Das Dores,

como relatado e sentido pelos familiares.

Após a análise do contexto individual, familiar e social,

chega-se ao momento de construção do Projeto Terapêutico Singular

(PTS) para Das Dores.

VI A CONSTRUÇÃO DO PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR

Participaram da reunião para elaboração do projeto terapêutico

singular de Das Dores: a equipe de saúde da família (médico,

enfermeiro, técnico de enfermagem e agentes comunitários de

saúde), os residentes da Residência Multiprofissional em Saúde da

Família (enfermeiro, cirurgião dentista, fonoaudiólogo,

fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo, assistente social,

educador físico, nutricionista e farmacêutico).

A fonoaudióloga iniciou a apresentação do caso e os demais

profissionais foram acrescentando os dados e opiniões ao longo da

reunião.

Foi discutido sobre a gravidade do câncer da mãe de Das Dores e foi

priorizado o seu cuidado. Foi ressaltada a importância do

acompanhamento mais próximo pelo médico da família, apesar da

paciente estar em quimioterapia e acompanhamento psicológico em

hospital especializado. O médico ficou de fazer contato com o

hospital para recolher informações mais detalhadas sobre o seu

tratamento no respectivo estabelecimento.

O PTS pode ser considerado como um arranjo operador e gestor

de cuidado, em que acontece cooperação, trocas e compartilhamento

de saberes, centrado no usuário. É o momento onde os sujeitos que

fazem parte do processo trazem para discussão desejos, crenças,

valores, projetos, ideologias, interesse, visão de mundo e

subjetividade (OLIVEIRA, 2008).

Trata-se de um conjunto de comportamentos, procedimentos e

condutas terapêuticas articuladas e integradas, desenvolvidos para

um individuo e/ou coletivo, proveniente de uma discussão

compartilhada de uma equipe interdisciplinar, que pode ser

realizado com apoio matricial, se necessário. Este projeto

frequentemente é desenvolvido quando se tem um caso complexo

(BRASIL, 2010). O interessante é que a sua construção, não é feita

baseada apenas em saberes clínicos e diagnósticos. Busca-se, além

disso, o subjetivo, o contexto de vida das pessoas e da

coletividade.

O projeto terapêutico deve ser um instrumento que responda às

demandas objetivas e subjetivas, ou seja, vai além da clínica e

tem como foco principal a busca pela produção de autonomia do

sujeito ou coletividade e, apropriação de seu processo de cuidado

(MERHY, 1998).

A singularidade é, portanto a razão de ser do projeto

terapêutico, é o lócus onde, em função de um ser humano singular

ou coletivo singular, é determinada a ação de saúde oferecida para

alcançar o objetivo de produzir saúde (ARANHA; SILVA, 2005,

p.442).

Dessa forma, o PTS deve ser pensado na direção de atos

comprometidos com as necessidades do usuário, a partir da

incorporação de novos objetivos usuário-centrado, através da

ampliação das percepções do que sejam as necessidades de saúde

legítimas.

Esse dispositivo busca transformar a prática do cuidado à

saúde pelos profissionais, é importante que ele seja desenvolvido

em momentos. Segundo Oliveira (2007), pode ser dividido em quatro

etapas dentre elas: o diagnóstico, momento onde se pretende

levantar todos os aspectos envolvidos no caso, sejam eles

individuais ou coletivos. É importante conhecer desde aspectos

objetivos, até os mais subjetivos, visando favorecer a construção

singular e a resolução dos problemas. Definição de metas: a partir

do momento em que se tem um diagnóstico, se definem metas a serem

cumpridas, vale salientar que essas metas podem ser a curto, médio

e longo prazo. Divisão de responsabilidades: da mesma forma que se

definem as tarefas é necessário deixar claro que serão os

responsáveis por determinadas ações. Avaliação: etapa em que se

avalia o PTS. Esta etapa perpassa por todos os momentos da

construção e operacionalização do projeto.

Construir e utilizar protocolos, parâmetros rigorosos na

operacionalização do PTS, pode favorecer normatizações que

distanciam da particularidade que a proposta tanto prioriza. No

entanto, é necessária a criação de um roteiro para apoiar a equipe

quanto à direcionalidade na construção e efetivação do projeto

(OLIVEIRA, 2007).

A discussão de caso em equipe para construção do PTS é um

recurso clínico e gerencial importantíssimo. A existência desse

espaço de construção da clínica é privilegiada para o trabalho dos

profissionais da saúde da família e dos residentes.

Buscou-se, no caso de Das Dores, a elaboração de um projeto

terapêutico centrado na produção do cuidado, no acolhimento e

vínculo. Valorizando a escuta, levando em consideração suas

singularidades e o que há além da queixa principal.

Para a construção do PTS, após os primeiros encontros com Das

Dores e a família, foram realizadas as seguintes ações: 1)

sistematização do caso vivenciado, incluindo o diagnóstico

situacional, as principais queixas e necessidades apontadas, os

principais achados da avaliação clínica e as impressões, afetos e

sentimentos percebidos; 2) apresentação do caso para a equipe

interdisciplinar da atenção básica; 3) Discussão do caso em equipe

destacando as práticas a serem adotadas e organizando-as em ordem

de prioridade; 4) Síntese do PTS, escolha do terapeuta de

referência para o caso e, por fim, revisão dos encaminhamentos e

atribuições para os demais profissionais envolvidos no caso.

As ações para a condução do caso de Das Dores estão descritas

no quadro abaixo.

METAS PRAZO RESPONSÁVEL

Socorro – mãe de Das dores

Prioridade: cuidar da mãe. Foi discutido emreunião sobre a gravidade do câncer da mãe(ovário) e foi elencado como prioridade oseu cuidado;

Avaliação e orientação do médico clínico daUSF;

Encaminhamento para hospital de referênciaem câncer e acompanhamento e monitoramentona USF;

Encaminhamento da mãe para psicóloga paraavaliação e orientação.

Curto Médico da USF

Das dores

Encaminhamento para escola: Conhecer asescolas para entender em qual ela seencaixaria melhor ou até, mais além,conhecer a professora, levar em consideraçãoo tamanho da turma, uma localizaçãoestratégica, o ambiente da sala de aula.(Orientar a professora sobre comootimizar/estimular);

Benefício e acesso livre para viabilizar otratamento e dinheiro para a atenção ao seucuidado. Há relato dos familiares de nãolevá-la aos tratamentos e à escola por nãoter dinheiro para o transporte;

Profissionalização: Entrar em contato centro

Curto emédio

Fonoaudiólogaresidente;AssistenteSocialresidente;Enfermeira daUSF

especializado para pessoas com deficiênciapara uma orientação sobre o caso;

Queixa ginecológica: Acompanhamentoperiódico pela profissional de enfermagem eencaminhamento ao planejamento familiar;

Encaminhamento para ambulatório deFonoaudiologia, Psiquiatria e Psicologiapara avaliação e acompanhamento, senecessário;

Investigar relação com o pai; Avaliação e acompanhamento pela equipe desaúde bucal;

Orientação para participação de grupos deadolescentes na USF.

Pai de Das dores Avaliação e orientação do médico clínico daUSF;

Avaliação e orientação da psicóloga e, sepossível, encaminhamento para ambulatório.

Curto emédio

Médico daUSF,Psicólogaresidente

Amparo – Irmã de Das dores

Irmã cuidadora: Orientar com relação aocuidado. Encaminhar ao curso de cuidadorespara entender o cuidado, direitos, higiene,atividades de vida diária. Mesmo Das doresnão sendo acamada.

Avaliação e acompanhamento da enfermeira emédico da USF.

Curto Enfermeira emédico da USF

Irmão de Das dores

Encaminhamento para CAPSad; Visitas domiciliares para monitoramento dafamília.

Curto Equipe deSaúde daFamília

Durante a discussão do caso e elaboração do PTS, a fonoaudióloga

residente foi denominada como técnica de referência para a

coordenação do cuidado a Das Dores.

Técnico de Referência (TR) é o profissional responsável pela

condução do “projeto terapêutico” do usuário, sendo um operador do

cuidado, atuando clinicamente como um gerente do processo de

cuidar. Tal processo é conduzido através da administração de toda

a rede necessária para a realização do projeto terapêutico.

Faz, portanto, um papel de clínico nas relações com o usuário

de acolhimento, responsabilizações e vínculos, bem como de

administrador das relações com os vários núcleos de saberes

profissionais que atuam nessa intervenção, ocupando um papel de

mediador na gestão dos processos multiprofissionais e

disciplinares que permitem agir em saúde diante do caso (MERHY,

1999).

Vale ressaltar, que todo profissional de saúde, independente

do papel que desempenha como produtor de atos de saúde é sempre um

operador do cuidado. Ao ser identificado como gestor do cuidado,

será responsável pela condução do PTS, feito em parceria com a

equipe de referência, passando a administrar as relações com as

unidades de produção que necessita para compor o cuidado. O

técnico de referência é, na maioria das vezes, o profissional que

possui maior vínculo com o usuário. É quem responde por este

diante da equipe de saúde.

Considerado um dos princípios da Atenção Primária à Saúde, a

coordenação do cuidado é um conceito inter-relacionado à ideia de

uma atenção continuada (Starfield, 1992), permeada pela construção

de vínculo e por um conhecimento de realidade de vida do usuário.

A gestão do cuidado se resume à somação de vários

procedimentos realizados de maneira fragmentada por vários

profissionais separadamente (MERHY, 1999). O usuário é um paciente

que tem suas reais necessidades de saúde enquadradas em um

determinado prognóstico.

Após a elaboração do Projeto Terapêutico Singular de Das Dores, a

equipe de saúde inicia a implementação do mesmo e agenda uma

reunião dentro de dois meses para acompanhamento e avaliação

das ações.

VI REFLEXÕES SOBRE A CLÍNICA AMPLIADA NA FONOAUDIOLOGIA

O objeto de trabalho da Fonoaudiologia é a saúde da

comunicação humana, objeto complexo que possui uma série de

fatores relacionados. A comunicação humana permite ao indivíduo a

inserção em sociedade, uma vez que “A função primordial da linguagem é a

comunicação, o intercâmbio social” (VYGOTSKY, 1988). Sendo também um fator

determinante social para a sua saúde. Trabalhar com um objeto tão

complexo e importante exige do profissional uma abordagem

ampliada, sem esta a atuação torna-se reducionista e não

resolutiva.

Tratando-se da atuação fonoaudiológica no contexto da Atenção

Primária à Saúde, a complexidade do trabalho torna-se maior em

virtude da multiplicidade de fenômenos envolvidos no processo de

cuidado à saúde das populações. A clínica ampliada é um importante

dispositivo para o trabalho no contexto da Atenção Primária à

Saúde.

A comunicação encontra-se destacadamente aqui, como inter-

relação entre o encontro do cuidador com o que necessita de

cuidado. O Fonoaudiólogo que atenta para este tipo de tecnologia e

a utiliza poderá perceber queixas e problemas de saúde que mesmo

não ditas como “patológicas” no campo dos distúrbios da

comunicação, o serão para aquele sujeito singular a sua frente.

Fazer clínica ampliada implica em quebrar a atuação segundo

princípios da clínica tradicional, conduzida a partir da técnica.

A atuação profissional segundo a clínica ampliada conduz o

processo de cuidado a partir das necessidades do sujeito foco do

cuidado. Tais necessidades precisam ser levadas em consideração

para uma condução resolutiva do processo de cuidado.

O quadro abaixo apresenta a contribuição da clínica ampliada

para a Atenção Primária à Saúde segundo os princípios da mesma.

Apresenta também algumas contribuições da Fonoaudiologia para a

construção da clínica ampliada na Atenção Primária à Saúde.

PRINCÍPIOS APS(Starfield, 1992)

CLÍNICA AMPLIADA(Cunha, Mehry)

CLÍNICA AMPLIADA NAFONOAUDIOLOGIA

Primeiro contato Porta de entrada do usuárioda rede de saúdeCompromisso permanente coma tarefa de acolher Anti-protocolo

Abrir o “ouvido” – escutaConsiderar o contexto(olhar sobre o ambiente)

Longitudinalidade(profundidade daclínica)

Abrir o “coração” – afetoscompromisso permanente coma tarefa de responsabilizarCapacidade cuidadora dostrabalhadores da saúdeCompromisso efetivo com adefesa da vida do usuário.Redes de conversa

Compromisso com odesenvolvimento de um agircomunicativo em prol doexercício da cidadania dousuário do SUS.

Coordenação docuidado

Centrado no usuário –Tecnologia leve dependenteGestão, articulada,partilhada e coletiva dosprocessos de trabalhoCompromisso permanente coma tarefa de resolver eautonomizarCuidado em saúde baseado emum "projeto terapêutico",Avaliação mensal daprodução dos atos de saúdepor equipe.

Redes de conversa.

Construção de projetosterapêuticos individuaisintegrados e partilhados aoutras práticas de saúde(construção coletiva apartir das rodas deconversa)

Fonoaudiólogo enquantoterapeuta de referencia

Integralidade Integralidade focalizada –É aquela que se dá nosdiversos serviços de saúde,fruto do esforço de equipesmultiprofissionais. Nesseespaço, ela se dá pelocompromisso dosprofissionais de escutaratenta e cuidadosamente osusuários para identificarsuas necessidades de saúde.

Ação ampliada. Resgate dacapacidade cuidadora dofonoaudiólogo comprometidocom a saúde da comunicaçãohumana e não focado nosdistúrbios da comunicação.

REFERÊNCIAS

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OLIVEIRA, G. N. Apoio matricial como tecnologia de gestão earticulação em rede. In: Campos, S. W. G.; GUERRERO, A. V. P.Manual de práticas de atenção básica saúde ampliada ecompartilhada. São Paulo: Ed. Hucitec, p. 273-281, 2008.

OLIVEIRA, G. N. O projeto Terapêutico como contribuição para a mudançadas práticas de saúde. [Dissertação]. Campinas, 2007. Faculdade deCiências Médicas, Universidade Estadual de Campinas.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS.Clínica ampliada e compartilhada. Brasília : Ministério da Saúde,2009. 64 p.

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Starfield B. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: UNESCO, Ministério da Saúde, 2002. 726p.

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