a publicidade e o ensino de geografia: a propaganda como instrumento no processo de aprendizado do...
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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GT 5: Linguagens no ensino de Geografia: novas
possibilidades
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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TECNOLOGIAS EDUCATIVAS: UTILIZAÇÃO DAS TICs
(TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO) PELOS
PROFESSORES DE GEOGRAFIA DA REDE MUNICIPAL DE OURO
PRETO - MINAS GERAIS
Flávio Nasser Drumond1
Daiana de Cássia Ferreira2
RESUMO É inegável a presença da tecnologia nos dias atuais, que acabam por influenciar e interferir nas
mais variadas relações sociais. Diante de tal afirmação essa pesquisa tem por objetivo analisar a
utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) por parte dos docentes de
Geografia das escolas municipais de Ouro Preto-MG. Para tanto, foi feita pesquisa bibliográfica
voltada para o uso das tecnologias de informação e comunicação no contexto educacional de
uma maneira geral e em especial para a Geografia. A partir das leituras percebeu-se que a
constante presença das tecnologias no cotidiano social tem exigido novas práticas daqueles/as
envolvidos/as no processo de ensino aprendizagem, focalmente o educador (mediador no
processo ensino/aprendizagem). Após a pesquisa bibliográfica, foi feita a coleta de dados,
através da aplicação de questionário. Através da realização dessa pesquisa, anseia-se contribuir
com as discussões em torno de um tema amplo e merecedor de atenção.
Palavras-chave: Escola, Tecnologias de Informação e Comunicação, Geografia.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Vivemos no século XXI, marcado por uma revolução técnico-científica, a qual
provoca mudanças nos diferentes campos de atuação do ser humano. Segundo Lévy
(1996) apud Silveira (2011, p.5) a era atual, das TICs (Tecnologias da Informação e
Comunicação), estabelece uma nova forma de pensar sobre o mundo, que vem
substituindo princípios, valores, processos, produtos e instrumentos que intervêm na
ação do homem com o meio.
Inserida nessa lógica, a escola passa por mudanças em sua organização. Os
impactos e as implicações da relação entre educação e tecnologia evoluem à medida que
a escola vem incorporando essas tecnologias em sua prática pedagógica, o que provoca
um debate constante no campo do trabalho docente.
1 CODAGEO; Instituto Federal de Minas Gerais campus Ouro Preto; [email protected]
2 CODAGEO; Instituto Federal de Minas Gerais campus Ouro Preto; [email protected]
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Estudos realizados por autores como Martins (2005), Almeida (2008) e Souza
(2008) expõem que as ações governamentais no Brasil para a incorporação de
equipamentos tecnológicos na educação ocorreram mais expressivamente nas três
últimas décadas do século XX. No entanto, não fica clara a extensão alcançada por tais
investimentos.
Souza (2008) em sua dissertação cita que:
uma das ações de inclusão digital realizada pelo governo teve início com a parceria entre
o Ministério da Educação (MEC) e a Prefeitura Municipal de Ouro Preto para a criação
da Casa do Professor de Ouro Preto. Com este projeto, pretende-se que os professores
das escolas públicas do município encontrem ambiente propício à aquisição de
conhecimento em informática e, como consequências, tenham a oportunidade de serem
incluídos digitalmente.” (SOUZA, 2008,)
Além do referido espaço, algumas escolas do município foram dotadas de
equipamentos como: computadores com acesso a internet, impressoras, televisões,
projetores de imagens, através ações governamentais como o programa PROINFO1, do
MEC. Mas, em contrapartida, a precária condição da infraestrutura (rede de internet,
rede elétrica, antena de televisão e demais mídias), em conjunto com professores que
não receberam incentivos e preparo técnico para lidarem com os novos recursos, faz
com que em muitos casos esses equipamentos estejam subutilizados.
Sendo assim, este trabalho buscou verificar a utilização ou não das TICs em
sala de aula de 14 escolas da rede municipal de Ouro Preto2, durante as aulas de
Geografia, que oferecem o ensino Fundamental II, de 5série/6ºano a 8ªsérie/9ºano.
OBJETIVOS
1 “ProInfo (Programa Nacional de Tecnologia Educacional) é um programa educacional criado pela
Portaria nº 522/MEC, de 9 de abril de 1997, para promover o uso pedagógico de Tecnologias de
Informática e Comunicações (TICs) na rede pública de ensino fundamental e médio”. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/index.php>. Acesso em: dez 2012.
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Averiguar se os professores de geografia da Rede Municipal de Educação de
Ouro Preto-MG fazem uso das TICs como ferramenta pedagógica no processo
de ensino e aprendizagem na escola ou mesmo em espaços alternativos.
Constatar se as escolas de Ouro Preto possuem TICs que possibilitem as mesmas
serem utilizadas como ferramentas pedagógicas de auxílio aos professores de
Geografia.
Averiguar se os professores de Geografia das escolas municipais de Ouro Preto
recebem algum tipo de treinamento para o uso de TICs.
Verificar se os professores de Geografia de Ouro Preto se sentem aptos para
utilizar recursos de informação e comunição durante as aulas.
Constatar a frequência do uso de TICs nas aulas de Geografia em Ouro Preto.
Diagnosticar problemas na utilização das TICs pelos professores de Geografia
de Ouro Preto.
JUSTIFICATIVA
Justifica-se este trabalho pela raridade de estudos que relatem informações
acerca desse tema em Ouro Preto, o que ampliou a necessidade de obtenção de dados
sobre a utilização das TICs nas aulas de Geografia no referido município. Os resultados
alcançados poderão contribuir com a discussão das políticas públicas municipais
voltadas para melhoria do ensino da Geografia e ainda na reformulação de disciplinas
ofertadas nos cursos de licenciatura em Geografia do Institutos Federais de Educação
Ciência e Tecnologia.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para realizar este trabalho, as técnicas e métodos empregados foram divididos
em três etapas, descritas a seguir:
1ª etapa - foi realizado um levantamento bibliográfico com um propósito de
nortear a pesquisa de campo e a discussão dos resultados proposta por um tema tão
amplo quanto a tecnologia aplicada ao ensino de Geografia.
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2ª etapa - Sequencialmente, foi realizada uma busca no site da prefeitura
Municipal de Ouro Preto com o objetivo de buscar o endereço das escolas. Após essa
passo veio a aplicação do questionário aos professores de Geografia das 14 escolas da
rede municipal de Ouro Preto, contendo 07 perguntas fechadas, as quais subsidiariam as
discussões posteriores. Lakatos & Marconi (1985) definem questionários como “um
instrumento para recolher informação. É uma técnica de investigação composta por
questões apresentadas por escrito a pessoas”, por esse possibilitar uma delimitação no
volume de informações conseguindo dessa forma um direcionamento maior ao tema. Os
referidos questionários foram realizados no período de 21de maio a 05 de junho 2012.
3ª etapa - Os dados obtidos foram convertidos em gráficos para melhor elucidar
os resultados alcançados, sistematicamente analisados e confrontados com a bibliografia
estudada.
TICS APLICADAS AO ENSINO DE GEOGRAFIA
Ao implicar uma abordagem das TICs na educação, faz-se importante clarear tal
conceito.
O termo Tecnologias Aplicadas à Educação pode ser considerado sinônimo de
Tecnologias Educativas, pois trata-se de aplicações da tecnologia, qualquer que ela seja,
aos processos envolvidos no funcionamento da educação, incluindo a aplicação da
tecnologia à gestão financeira e administrativa ou a outro qualquer processo, incluindo,
como e óbvio, o processo educativo ou instrutivo propriamente dito. (MIRANDA, 2007,
p. 43)
Partindo do pressuposto de que as inovações tecnológicas vem sempre
acompanhadas de mudanças na estrutura das sociedades, o que provoca novas formas de
adaptação social, Cornu (1995) apud Ribeiro et. al. (2011 p.3), diz que os avanços
tecnológicos que a sociedade assiste atualmente, refletem uma mudança, também no
nível educativo. O paradigma educacional está sendo influenciado pelo atual panorama
sócio-tecnológico, constituindo as TICs, possíveis ferramentas para a construção de
conhecimento. Logo, a educação precisa considerar sua existência e sua utilização.
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Palmeira et. al. (2005) apontam que as TICs têm colocado recursos a serviço da
educação, tais como; computadores, retroprojetores, TVs, aparelhos celulares, dentre
outros, concordando com o pensamento de Ponte & Serrozina (1998 p. 10) os quais
referem que “as novas tecnologias têm tendência para se constituir cada vez mais como
um elemento presente em toda a actividade educativa”.
À parte, a Geografia encontra-se imersa nesses questionamentos mencionados ao
longo deste trabalho. Breno (2011), a partir das leituras de Callai (2000), Cavalcanti
(2002) e Lacoste (1993) afirma que:
A Geografia deve ajudar na construção do cidadão crítico, para que saiba pensar
não apenas seu espaço vivido, cotidiano, rotineiro, mas como ele é determinado
por eventos externos, isto é, como a escala local se relaciona com a escala global
na produção e transformação do espaço geográfico. E, também, que a geografia
deve fazer com que o aluno perceba a importância desta disciplina, e se
reconheça sujeito que produz e é produzido pela sociedade. (BRENO, 2011, p.
7).
A figura do professor junto ao planejamento da escola é importante para a
estruturação da aula, aplicando técnicas que possibilitem ao aluno apreender o conteúdo
com maior dinamismo e facilidade.
Breno (2011) observa que:
A produção e disseminação do conhecimento geográfico tiveram um incremento a partir
dos novos recursos tecnológicos no formato SIG (Sistema de Informações
Geográficas)... além do desenvolvimento de softwares específicos para o ensino de
geografia que já permitem aplicações didáticas”, entretanto não se limita a tais, as
inovações são colossais (re) organizando o espaço geográfico indo de encontro a novos
desafios e possibilidades.
Esse autor (Ibid., p. 9 e 10) apresenta três desafios:
O primeiro desafio é construir com o aluno conhecimentos geográficos
acerca das implicações que o mundo global traz para o espaço local ou, em
outras palavras, as determinações externas sobre a vida nos lugares, para isso
utilizando as TIC.
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O segundo desafio para o ensino de Geografia é incorporar as
Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) ao cotidiano das aulas, de
modo a contribuírem para a aprendizagem efetiva do aluno, e não apenas para
ilustrar conteúdos, a exemplo do que se fazia nos primeiros tempos da inserção
das TICs nas escolas.
O terceiro desafio envolve o primeiro e segundo desafios. Consiste na
construção de conhecimentos geográficos sobre o mundo global, por meio das
TIC, no intuito de permitir ao aluno desenvolver habilidades e construir
competências – no caso dos cursos técnicos, na área específica de atuação –, bem
como capacitá-lo a refletir criticamente sobre o papel das tecnologias na
configuração do espaço geográfico.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), somente a área da Geografia,
seguida pela Matemática e Língua Portuguesa, fazem referência às TICs como
instrumentos para a construção de conhecimentos em suas áreas (RIZZA, 2009).
Assim, a Geografia “tem procurado pensar seu papel nessa sociedade em
mudança, indicando novos conteúdos, reafirmando outros, reatualizando alguns outros”
(CAVALCANTI, 2002, p.11). É necessário que se façam discussões voltadas sobre
como beneficiar-se das ferramentas tecnológicas em favor do ensino da Geografia
Escolar, assimilando, portanto, as possibilidades das TICs.
Marçal et. al. (2006) apud Rizza (2009) afirmam que “a Geografia tem uma
função privilegiada na grade curricular da escola, uma vez que proporciona uma maior
integração entre o ambiente do aluno e o mundo do qual ele faz parte”. O mundo do
aluno contemporâneo está envolto em novas tecnologias, informação processada,
proporcionando assim que ele viva entrelaçado em redes de comunicações.
Notadamente, a influência tecnológica atua sobre a tradicional forma de ensinar
a Geografia, como exemplifica Taylor (1991) em relação à cartografia: “inovações
tecnológicas e científicas têm levado a uma revisão do conceito tradicional de
cartografia, que passa a ser vista como a organização, apresentação, comunicação e
utilização de geo-informação em forma gráfica, digital ou táctil”.
A aproximação da tecnologia e do ensino de Geografia se dá de forma tão
expressiva que se criou a terminologia Geotecnologia,“ utilização da informação para a
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análise do espaço geográfico, realizada por meio da tecnologia” (CORREA et al.2010,
p.92). A Geotecnologia propicia ferramentas de análise espacial, como o GPS (Global
Positioning System) e softwares que facilitam a interpretação e a visualização dos
fenômenos humanos e naturais. Dentre os softwares, o mais popular é o Google Earth.
Monteiro (2010) cita que as imagens de satélites obtidas por meio do
sensoriamento remoto, por exemplo, são capazes de imprimir um dinamismo maior ao
ensino, apresentando um grau de abstração menor quando comparadas aos mapas
tradicionais, proporcionando observações mais claras e, portanto, mais elucidativas.
Concordando com a fala de Santos (2001), “o uso escolar dos produtos e técnicas de
sensoriamento remoto apresentam-se como recurso para o processo de
discussão/construção de conceitos pelos alunos, e como conteúdos em si mesmas”.
Outra ferramenta diz respeito à utilização de vídeos também abordada por
Monteiro (2010, p.7) que diz: “filmes proporcionam esforços amplos de reflexão e
estabelecem a noção de espaço (...) tem como vantagem a ludicidade (...) pois apresenta
uma característica própria: a imagem em movimento, a qual vai aproximar-se da
realidade do aluno”.
Exemplifica-se também o uso de jogos em favor do ensino de Geografia, “uma
vez que eles podem promover estímulos para a melhor compreensão do assunto,
desenvolvendo as habilidades, competências e inteligências do educando” (Pereira,
2012). O referido autor apresenta alguns jogos3 como Montando o Brasil, Jogo do
Relevo, Climas do Brasil, Vegetação Brasileira.
Por meio do acesso a internet os professores podem acessar diversas
plataformas, tais como o Portal do Professor4 e a TV Escola
5, que disponibilizam dicas
e materiais digitais que poderão servir de apoio ao trabalho em sala de aula.
Depara-se então com inúmeros recursos para serem utilizados a favor da
educação, sugerindo novas formas de pensar, de aprender e de ensinar. Nas palavras de
Rangel e Targino (1997) “o trabalho escolar precisa considerar que é fundamental que
cada sujeito possa utilizar diferentes linguagens de comunicação para possibilitar as
diversas formas de entender, interpretar, sintetizar e explicar o mundo real”.
3 Os jogos apresentados por Pereira, assim como diversos outros, estão inseridos em um CD que pode ser
adquirido pelo site: www.sogeografia.com.br. Outros jogos eletrônicos que podem ser utilizados no
ensino de Geografia também podem ser obtidos por meio de outros sites, como:
http://www.baixaki.com.br/busca.asp?go=&q=geografia e http://www.softonic.com.br/s/geografia. 4 Disponível em <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/index.html> Acesso em: jan 2012
5 Disponível em <http://tvescola.mec.gov.br/> Acesso em jan 2012.
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RESULTADOS E CONCLUSÕES
A rede municipal de Ouro Preto conta com 14 escolas que oferecem o ensino
fundamental II (6º ao 9º ano). Porém, apenas 10 participaram da presente pesquisa,
através das respostas empreendidas pelos professores de Geografia ao questionário
aplicado entre os dias 21 de maio a 05 de junho 2012. Das 14 escolas mencionadas, uma
estava sem professor por problemas não divulgados, e as demais não participaram pelo
fato de seus professores não terem respondido ao questionário.
Ao responder o questionário, os professores contribuíram com dados para que
fossem gerados os seguintes dados.
01 - FREQUÊNCIA COM QUE OS
PROFESSORES UTILIZAM TICS.
02 - PROFESSORES QUE UTILIZAM
COMPUTADOR.
03 - PROFESSORES QUE UTILIZAM
PROJETOR DE SLIDES.
04 - PROFESSORES QUE UTILIZAM
RETROPROJETOR.
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05 - PROFESSORES QUE UTILIZAM TVS E
VÍDEOS.
06: PROFESSORES QUE UTILIZAM TVS.
07: PROFESSORES QUE UTILIZAM
APARELHOS DE SOM.
08: AUTO AVALIAÇÃO EM RELAÇÃO À
QUALIFICAÇÃO PARA O USO DAS TICS.
09: COMO OS PROFESSORES
APRENDERAM UTILIZAR TICS.
10: PORQUÊ DOS PROFESSORES NÃO
UTILIZAREM TICS.
11: FREQUÊNCIA COM QUE OS
PROFESSORES LEVAM OS ALUNOS AO
LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA.
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Tendo por base os dados e todo o referencial já apresentado, é oportuna uma
reflexão mais característica em torno dos resultados alcançados sobre o uso de TICs nas
aulas de Geografia em Ouro Preto.
Um primeiro ponto que merece destaque é o reconhecimento dos professores
como sujeitos participantes da sociedade de informação, pois ela existe independente do
grau de relação com as TICs e do tipo de tecnologia utilizada. Todos os professores
entrevistados afirmaram usar TICs, variando de uma escala mínima a máxima, essa
diferença é plausível mesmo porque cada um possui uma metodologia, conforme
declaram Abreu & Santos (2011, p.6) “cada professor procura encontrar a forma mais
viável de integrar as várias tecnologias e procedimentos metodológicos à sua disciplina
e conteúdo a ser trabalhado”. Mesmo com a unanimidade no uso das TICs, por conta da
técnica e método utilizados em cada tema tratado pela Geografia Escolar, os
entrevistados indicaram utilizar tecnologias distintas com destaque para o binômio TV
& Vídeo, em detrimento do retroprojetor, menos utilizado.
Diante do exposto, quando notamos que as ferramentas tradicionais não foram
abandonadas, fica claro que os professores de Geografia lidam com o paradoxo de
continuidade/ruptura, em função das constantes sucessões tecnológicas enfrentadas
pelas TICs.
Os computadores, projetos de slides, retroprojetores, vídeos, TVs, aparelhos de
som, dentre outros, são apenas uma parte de um contínuo desenvolvimento de
tecnologias, a começar pelo giz e os livros, todos podendo apoiar e enriquecer a
aprendizagem. Porém, cada um possui suas peculiaridades e por tal necessita de uma
capacitação singular.
Ao responderem que se sentem aptos a lidar com as TICs, é notável que de
acordo com a tecnologia escolhida não há necessidade de uma preparação para o uso. É
o caso de equipamentos menos complexos como TV e vídeo. Porém, outras ferramentas
mais elaboradas, como computadores, não são utilizadas pela totalidade dos inquiridos e
essa lacuna ressalta um desafio: agregar as possibilidades digitais à prática docente de
todos os professores.
Vale ressaltar que os estudantes regulares do Fundamental II estão na faixa
etária entre 11 e 14 anos, cuja geração está bastante adaptada ao uso de ferramentas
dessa natureza. Nas falas de Coscarelli e Novais (2010, p. 43) “os computadores estão
nas escolas, mas o professor não tem recebido orientação adequada e não conta com
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projetos de educação continuada para o trabalho com esses equipamentos”.
Concordando com os dados obtidos; apenas 6% dos entrevistados disseram já ter
recebido qualificação por parte da escola para usar TICs. A falta de conexão entre
ter/usar evidencia uma escola descompromissada frente às necessidades que o uso das
TICs demanda.
O impasse fundamentado por docentes que querem usar TICs nas rotinas de sala
de aula, mas, em contrapartida, se deparam com uma estrutura escolar apática ao
processo de utilização de tais recursos, evidencia o papel desconectado com as
tecnologias de comunicação assumido pela escola. Pois, a inclusão das TICs carece de
um conjunto de medidas: é preciso disponibilizar aparatos sim, mas, é necessário
também treinar os profissionais, estimular práticas pedagógicas com uso de TICs, fazer
a manutenção dos aparatos, enfim, a postura assumida pela escola não se adéqua às
necessidades impostas por uma educação orientada pelas práticas tecnológicas.
Não pode ser negligenciado o fato de 20% dos professores não saberem montar
os equipamentos. Tudo bem que seja um índice pouco expressivo, todavia ele atenta a
um problema que aqui não será discutido, no entanto, que não poderia deixar de ser
lembrado. Trata-se dos que dizem saber usar, mas, em compensação, não conseguem
explorar as potencialidades das TICs, invibializando assim bons resultados.
A deficiência de uma formação e/ou capacitação apropriada do professor para o
uso das tecnologias no ambiente escolar pode comprometer o desempenho das funções
direcionadas pelas TICs, limitando suas aplicabilidades. Principalmente no que se refere
às Geotecnologias, visto que os softwares geográficos carecem de uma especialização
peculiar de uso.
Por outro lado, para suprir a carência em relação ao preparo para lidar com as
TICs, 26% dos inquiridos se qualificaram por conta própria e a maioria dos inquiridos
recorreram à informalidade - 67% afirmaram ter recebido ajuda de amigos para se
instruir.
De acordo com FUSER (2010, p. 105), o índice de acesso a internet na América
Latina chega a 23%. Quando se fala em Brasil, os dados são mais característicos: “89%
das pessoas da classe A acessam a internet, mas 61% dos brasileiros jamais entraram na
rede, e esse percentual sobe para 87% quando se trata das classes D e E”. Um outro
dado ainda mais pertinente diz que a “utilização da internet para fins de educação e
aprendizado caiu de 71,7% para 65,9%”. Nas escolas investigadas nesta pesquisa, a
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subutilização dos laboratórios de informática é um reflexo de tais dados: 42% dos
professores perguntados disseram que as escolas onde trabalham não possuem
laboratório de informática em condições de uso, mas, 67% dos professores utilizam em
sala de aula o computador. Permitindo dizer que, mesmo sendo falha a estrutura da
escola no que tange a aproximação do computador com as práticas pedagógicas no
laboratório de informática, elas acontecem em sala de aula por meio da ação do
professor. Dessa forma, o trabalho do professor pode se limitar; mas não deve-se
desqualificar o uso de um único computador em sala de aula em detrimento do uso de
vários computadores no laboratório de informática, e sim chamar a responsabilidade da
escola diante um professor que está disposto a trabalhar com tecnologias digitais porém,
não está sendo respaldado.
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GEOGRAFIA E LITERATURA
POR UM ENTRELAÇAMENTO FÉRTIL NA SALA DE AULA -
SUGESTÕES DE ATIVIDADES GEOGRÁFICAS A PARTIR DO
ROMANCE NÃO VERÁS PAÍS NENHUM.
Leandro Lopes Fiuza Santos1
RESUMO
O que pode o entrelaçamento entre Geografia e Literatura? Entendendo que o contato entre
esses dois ramos do saber e fazer humanos pode ser muito fértil, esse trabalho representa uma
tentativa modesta de demonstrar como a Literatura constitui uma linguagem singular para
apreensão por alunos e professores de conteúdos geográficos. Apropriando-se, nessa
perspectiva, do romance ‘Não Verás País Nenhum’ do escritor brasileiro Ignácio Loyola
Brandão, sugere-se aqui a realização de práticas diferenciadas de ensino que tenham como
fundamento o contato significativo entre a Geografia e Literatura.
Palavras-Chave: Ensino de Geografia, Literatura, Não Verás País Nenhum.
INTRODUÇÃO
“Viver dentro de uma realidade é um fato.
Aceitar, achar que tal realidade é boa, é outra história.
Nunca pensou que a vida pode ser diferente?
Você não imagina que as coisas possam ser de outra maneira?”
(Brandão, 2007, p.83)
A citação que inicia esse trabalho é uma entre tantas outras contidas na obra
“Não Verás País Nenhum” do escritor brasileiro Ignácio Loyola Brandão, obra essa que
nos possibilita uma série de reflexões acerca de variados temas que atualmente
preenchem as agendas políticas, os discursos científicos e não científicos dos diferentes
espaços mundiais. Na esteira dessas reflexões as discussões sobre a educação – na sua
ampla gama de questões – é uma das mais presentes no Brasil, afirmação essa que pode
ser corroborada facilmente em razão da ampla divulgação de estudos, reportagens,
1 Universidade Federal da Bahia; [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4103
assim como de políticas governamentais voltadas para essa temática. Nessa perspectiva,
a Geografia, como não poderia deixar de ser, insere-se nos variados espaços –
geográficos? – de discussão e realiza-ação transformadora no que concernem as suas
práticas escolares, em outras palavras, revigora-se e realiza metamorfoses para se
mostrar mais eficaz e menos burocrática. Nessa condição uma pergunta pertinente que
se faz presente é: eficaz para quem e para quê? Yves Lacoste (1988) já nos brindou com
reflexões sérias a respeito do saber geográfico, da sua utilização estratégica a serviço do
poderio do Estado e sua função ideológica que no século XIX atrelava o conhecimento
geográfico a um saber eminentemente escolar, tido como inócuo e supérfluo. No Brasil,
o processo de renovação crítica que pretendeu libertar a disciplina desse incômodo
rótulo de saber dispensável, realizou-se entre outras questões afirmando que o saber
geográfico era uma ferramenta que possibilitava antes de tudo uma forma singular para
se pensar e transformar o espaço. Se ainda é – e acreditamos que seja – um saber capaz
de realizar uma transformação na capacidade de pensar e agir no espaço, a Geografia
constitui um conhecimento essencial para a sociedade como um todo, sendo assim, os
variados indivíduos que preenchem os espaços formais ou informais de ensino na
condição de estudantes estão aí incluídos e devem a partir desse saber vislumbrar
diferentes formas de transformar os seus espaços na perspectiva de uma cidadania atual
e atuante, correndo o risco de ser redundante, a geografia deve-lhes servir para saber
pensar e agir no espaço.
Exposto isso, o presente trabalho retoma a citação inicial do texto e imaginando
que as ‘coisas’ possam ser de outra maneira, propõe para o caso específico da geografia
escolar a realização de práticas diferenciadas de ensino com base no entrelaçamento
entre Geografia e Literatura como meio para se alcançar a compreensão de conteúdos
geográficos em uma tentativa de fugir da geografia como ‘pastel de vento, geografia
fast food’ que nos fala KAERCHER (2007, p.30) “pastel de vento porque vistoso por
fora, recheio pobre. Fast food porque sacia-nos rápido – há muito conteúdo a ver -, mas
de forma pouco nutritiva, reflexiva.”.
Diante dessas questões o romance de Ignácio de Loyola Brandão emerge como
uma opção metodológica para demonstrar sob a nossa perspectiva como o espaço
geográfico pode ser apreendido a partir do contato desses dois ramos do saber e fazer
humanos ricos em significações. Para esse trabalho os conteúdos privilegiados no que
concernem às práticas diferenciadas de ensino são: Espaço Urbano, Globalização e
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4104
Meio Ambiente. Temas esses selecionados em razão da sua ampla discussão nos
variados espaços da vida social, assim como também em virtude da importância que
possuem no ensino médio, nível básico foco desse trabalho, onde concordando com
CALLAI (1999, p.63) ao se referir aos conteúdos e sua importância para os alunos,
argumenta que:
[...] se os conteúdos trabalhados neste nível o são numa perspectiva de erudição, de
formação humanista para construir os instrumentos que o levem a compreender o
mundo e agir nele, não se pode desconsiderar que existe um profundo conteúdo social
no que é ensinado. E, em última análise, é a formação da consciência social do aluno,
isto é, de sua cidadania.
CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A OBRA.
No ano de 1981 Ignácio de Loyola Brandão publica o livro “Não Verás País
Nenhum”, obra na qual nos debruçamos para propor atividades com um olhar
geográfico e um tanto filosófico, visto que a Geografia será muito pouco se não for um
tanto de Filosofia. “Não Verás País Nenhum” assusta pela atualidade e pela antevisão
do autor perante a realidade, entre outras questões possibilita uma séria reflexão do que
podemos vir a ser. A leitura do romance nos desperta diversas idéias que não
poderíamos deixar de contextualizar no atual ritmo de modificações que se sucedem na
nossa sociedade, em certo ponto nos perguntamos até que ponto a ficção abraça a
realidade e se torna capaz de vislumbrar cenários tão reais.
O livro tem o seu foco central na vida de Souza, um ex-professor de história que
em virtude de instigar os seus alunos a pensar e questionar criticamente o ‘sistema’
sociopolítico do país em um período de plena censura e rígido controle das atividades
sociais pelos aparelhos do Estado, acaba por ser aposentado compulsoriamente. Souza
vive em uma São Paulo caótica, sua vida social se restringe aos deslocamentos diários
entre o seu apartamento e o local de trabalho, uma atividade inútil de analisar papéis –
dos quais o próprio não sabia ao certo a importância – que passou a se dedicar após
abandonar suas obrigações docentes na universidade.
Souza e Adelaide, sua esposa, vivem de forma conformada perante a realidade
opressora e desigual da qual fazem parte. Esse cenário altera-se a partir de um furo na
mão, nas palavras do próprio personagem, “junto a mim carrego um carro de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4105
justificativas para permanecer como sou. Por isso amo este furo. Ele me mostra de
repente que existe o não. A possibilidade de tudo mudar. De um dia para o outro”
(BRANDÃO, 2007, p.54). A partir dessa mudança e do encontro com um antigo amigo,
Tadeu Pereira, um ser já ‘despertado’ no seio daquela multidão de subservientes ao
Estado, Souza passa a questionar e procurar ‘saídas’ para aquele sistema que a cada dia
mais se eternizava, em uma das suas elucubrações, o mesmo afirma, “se ninguém
impede, as coisas continuam eternizadas. É preciso sempre intervenção, que alguém se
interponha, se transforme em obstáculo à repetição” (BRANDÃO, 2007, p.103).
Com essa mudança de comportamento Souza passa a refletir mais criticamente
sobre as coisas do mundo, a narrativa se torna mais reveladora e o véu que encobria os
olhos do personagem se desmancha nos apresentando um cenário social extremamente
problemático. Escassez de água, projetos de produção energia ineficazes, movimentos
migratórios incessantes, superpopulação, engarrafamentos, produção de alimentos
fictícios, extinção de fauna e flora, segregação social e etc. são apenas algumas questões
colocadas de forma crítica ao longo do romance.
Muito dos elementos contidos na obra são passíveis de comparações com a
realidade existente no Brasil no período compreendido entre 1964-1985, durante a
ditadura militar, como afirma Antonia Pereira de Souza:
A escassez de alimentos no romance pode ter uma conexão com a realidade em que
vivia o Brasil no período pós-64, uma vez que devido ao baixo poder aquisitivo da
população, mesmo com homens, mulheres e crianças trabalhando, as famílias não
tinham condições financeiras para comprar os alimentos necessários para o sustento e
o país liderava a triste estatística de ter a população predominantemente subnutrida.
(SOUZA, 2011, p.12)
Exposto essas questões gerais e tendo em vista que o objetivo desse trabalho não
é uma exaustiva análise geográfica da obra, passemos às propostas diferenciadas de
atividades de geografia a serem realizadas no ensino da disciplina.
GEOGRAFIA E LITERATURA – SUGESTÕES DE ATIVIDADES.
ATIVIDADE 1 – O ESPAÇO URBANO.
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4106
“Estudando as cidades mais antigas, os esquemas governantes descobriram que
o homem circulava sempre dentro de certos limites. Raramente ultrapassava um número
estabelecido de ruas e locais. ‘Portanto a proibição não vai afetar o sentido de liberdade
que o homem goza’, concluíram” (BRANDÃO, 2007, p.42).
“Curioso, a gente vive anos numa cidade e não a conhece. Jamais ouvi falar que
por estes lados tivesse algum parque, horto. Teria sido particular?” (BRANDÃO, 2007,
p.134).
Esses dois trechos possibilitam uma ótima oportunidade de refletir e discutir
juntamente com os alunos questões ligadas a mobilidade dos cidadãos no espaço
urbano, a apropriação desses espaços, seus diferentes usos, entre outras questões que
atreladas ao conceito de cidade podem se aprofundadas. Dessa forma, propõe-se como
atividade em um primeiro momento que os alunos redijam um texto onde os mesmos
possam discorrer sobre os locais mais conhecidos por eles no espaço da cidade. A fim
de que a atividade torne-se mais interessante pode-se pedir que os mesmos descrevam
esses espaços sem informar o nome das localidades, isso possibilitaria uma descrição
mais detalhada das ruas, avenidas, praças e etc. aguçando assim o senso de observação
dos mesmos perante a paisagem. Em um segundo momento os alunos trocariam essas
redações entre eles e tentariam identificar de quais espaços o seu colega de turma estaria
se referindo. Por fim, propõe-se que os alunos demarquem em um mapa da cidade
aqueles espaços por eles mais utilizados, dando assim um panorama geral do quanto a
cidade é por eles conhecida. A atividade tornar-se-ia assim uma porta de entrada para as
discussões pertinentes aos conceitos tratados no temário geral do espaço urbano.
ATIVIDADE 2 – GLOBALIZAÇÃO
“Me responde? Onde está o país?
- Aqui, ali, tudo em volta.
- Deste tamanhinho? Pensa um pouco, raciocina. Quando eu era jovem, o país
tinha 8 milhões e meio de quilômetros quadrados. Sabe quanto tem agora?
- De cabeça, não.
- Consulta. E, quando souber a resposta, vem me contar. Está pouco maior que a
palma da minha mão.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4107
- Tio, os conceitos de nação mudaram. O que vale agora é o internacionalismo.
A multiplicidade. Aqui é um pedacinho. Você soma os pedacinhos que temos por aí
afora. Reservas no Uruguai, na Bolívia, pedação do Chile, na Venezuela. Cada savana
na África, quero ser transferido para África, triplica o soldo e a gente tem casa, comida,
economiza.
- Pois é, entregamos o nosso e fomos colonizar outros territórios.
- Não é colonização, tio, é diferente. São reservas multi-internacionais. O mundo
se globaliza.
- Talvez eu seja velho, com idéias antigas. Mas queria meu país inteiro, não um
mundo de países dentro do meu.” (BRANDÃO, 2007, p.80)
Esse diálogo entre Souza e seu sobrinho comporta em si uma fértil gama de
proposições a serem trabalhadas em sala de aula. A provocação inicial, “onde está o
país?” é uma ótima forma de iniciar a temática da globalização e discutir a partir disso,
conceitos como os de país, nação, colonização, território entre outros. Propõe-se que a
turma dividida em grupos opte cada uma por defender a opinião de cada personagem
existente nesse diálogo, em outras palavras, objetiva-se que os alunos enriqueçam o
diálogo dando um maior amparo conceitual aos interlocutores na justificativa dos seus
argumentos. Essa atividade, em virtude da necessidade dos alunos defenderem uma
posição, proporciona uma ótima forma para que os mesmos entendam melhor os
conceitos trabalhados em sala de aula. O objetivo não é por fim entender quem está ou
estaria certo na defesa dos argumentos, mas sim problematizar temas e entender melhor
sob quais óticas a globalização pode interferir na soberania nacional, nos lugares e na
vida cotidiana em seus diferentes momentos de realização.
ATIVIDADE 3 – MEIO AMBIENTE.
“Certa vez, estava no mato, olhando os machados arrancarem das árvores lascas
brancas, vermelhas. Aquele enorme V ia surgindo ao pé do tronco, até a árvore desabar.
Meu pai me instalou num tronco recém-cortado, cheio de anéis. Meu avô contou os
anéis, um a um, e me disse:
- Esta tinha trezentos anos. Oitenta metros. Foi dura de cair.” (BRANDÃO,
2007, p.140).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4108
“Os homens faziam daquilo o seu ganha pão. Não era simples extermínio. A
luta entre meu avô e a árvore era um mano a mano intensamente disputado. O homem
contra a árvore era diferente da máquina contra a árvore. A máquina é o poderio
desenfreado, o abate descontrolado. Destroçamento” (BRANDÃO, 2007, p.141).
“[...] Homem contra árvore era um sistema lento, dava à floresta chance de
reposição” (BRANDÃO, 2007, p.142).
Esse trecho da obra é bastante significativo e coloca questões muito atuais no
que concerne à temática ambiental. O autor coloca explicitamente, e isso chama atenção
de forma imediata, a temporalidade e espacialidade contida no modo de realização da
atividade do desmatamento/desflorestamento. Machado ‘vs’ máquina, esse é um debate
pertinente e abre as portas para discutir a questão ambiental sob a ótica dos meios
tecnológicos utilizados para a realização das diferentes práticas ambientais e quais
implicações isso pode provocar. Temas como a revolução verde, soberania alimentar,
sociedades originárias, agro – negócio ou cultura? –, e etc. são alguns dos temas
possíveis de serem discutidos em sala de aula a partir desses fragmentos. Propõe-se
como atividade diferenciada que os alunos busquem e explicitem em sala de aula as
espacialidades e temporalidades contidas no uso das terras dos domínios
morfoclimáticos do Brasil no que concerne a temática ambiental. Posteriormente com o
auxílio de ferramentas como o google earth os alunos podem comparar imagens de
satélite dos domínios e a partir das mesmas produzir um mosaico dos impactos
ambientais existentes no Brasil em forma de painéis a serem expostos e fixados nas
salas de aula ao longo do ano, podendo assim ser utilizadas em diferentes momentos
como aparato para explicação e contextualização de outras temáticas que estarão
presentes ao longo do ano letivo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As diferentes linguagens que possibilitam uma maior gama de atividades perante
os alunos em sala de aula são atualmente de suma importância para ampliar as práticas
de ensino e aumentar o repertório de professores e alunos perante os variados temas a
serem trabalhados em sala de aula. Música, literatura, filmes e etc. são apenas alguns
exemplos das novas linguagens a serem apropriadas e exploradas por aqueles que
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4109
pensam a escola como um lócus extremamente importante da vida social. Essa pequena
e modesta contribuição é apenas mais uma entre várias outras que expandem os
horizontes da sala de aula para além das práticas burocráticas e repetitivas e espera
assim aumentar o caudal de opções metodológicas para aqueles que a interessam.
Referências Bibliográficas
CALLAI, Helena Copetti. A Geografia no ensino médio. Terra Livre, Sao Paulo, v.
14, p. 56-89, 1999.
LACOSTE, Yves. A geografia - isso serve, em primeiro lugar, para fazer a
guerra. Campinas SP: Papirus, 1988.
PINHEIRO, Délio José Ferraz; SILVA, Maria Auxiliadora da.Visões imaginárias da
cidade da Bahia: diálogos entre a geografia e a literatura. Salvador, BA: EDUFBA:
SOUZA, Antonia Pereira de. O fantástico no romance Não verás país nenhum:
discursos ambíguo e hiperbólico. Desenredos, v. 11, 2011.
KAERCHER, N. A.. A Geografia escolar: gigante de pés de barro comendo pastel
de vento num fast food. Terra Livre, v. 1, p. 27-44, 2007
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4110
VULCANISMO: UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DO PIBID NA
ESCOLA ESTADUAL SÃO BENEDITO (UBERABA/MG)
Karine de Freitas Amaral1
Ângela Maria Soares2
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo divulgar as atividades desenvolvidas pelo Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência – PIBID da Universidade Federal do Triângulo
Mineiro, mas especificamente as ações do subprojeto Interdisciplinar II Geografia e Ciências
Biológicas na Escola Estadual São Benedito, localizada no município de Uberaba/MG. O artigo
aborda uma atividade que foi desenvolvida na escola durante o mini curso “Paisagens Terrestres
e Desastres Naturais”. Trata-se de uma experiência sobre o vulcanismo, onde os alunos da
escola tiveram aulas teóricas e práticas sobre o tema.
Palavra-chave: Pibid; ensino; vulcanismo.
INTRODUÇÃO
O PIBID tem como objetivo geral contribuir para a formação acadêmica de
graduandos das licenciaturas de diversas Instituições Públicas de Ensino Superior
(IPES), valorizando as ações acadêmicas direcionadas à formação inicial de professores
nos cursos de licenciatura, assim como tornar protagonistas os diversos profissionais da
escola básica, com ênfase aos docentes, que atuam como co-formadores dos futuros
professores (CAPES, 2009).
O subprojeto interdisciplinar II Geografia e Ciências Biológicas vêm se integrar
ao Projeto Institucional da Universidade Federal Triângulo Mineiro, edital 2009. O
subprojeto tem como objetivo tratar a questão transversal da temática Meio Ambiente,
envolvendo alunos das Licenciaturas em Geografia e Ciências Biológicas. No Tema
Transversal Meio Ambiente o enfoque está na conscientização dos alunos diante da
problemática ambiental para que se sintam integrantes, dependentes e capazes de
1 Bolsista PIBID/CAPES – Universidade Federal do Triângulo Mineiro; [email protected] 2 Professora do Departamento de Geografia; Coordenadora do PIBID/CAPES – Projeto
Interdisciplinar II; [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4111
transformar o ambiente. Para isso o trabalho pedagógico deverá buscar o
desenvolvimento de atitudes e posturas éticas (BRASIL, 1998), desenvolvendo o senso
de responsabilidade no uso dos recursos naturais e bens comuns, respeitando o ambiente
e as pessoas.
O trabalho foi realizado na Escola Estadual São Benedito, do município de
Uberaba/MG, onde se reuniu os alunos do Ensino Fundamental II para participar do
Projeto do PIBID na escola. Os pibidianos elaboraram projetos para serem
desenvolvidos na escola, de forma individual, em forma de mini cursos. Desta forma, os
mini cursos oferecidos foram: Paisagens Terrestres e Desastres Naturais, Artes Visuais,
Reaproveitamento de alimentos, Reciclagem, Produção de instrumentos musicais a
partir de materiais recicláveis e Utilizando ferramentas tecnológicas para compreender o
meio ambiente.
O mini curso de Paisagens Terrestres e Desastres Naturais. Foi ministrado em
oito encontros de quatro horas cada, com dez alunos da escola e foi dividido em duas
etapas, sendo que na primeira foram trabalhadas as Paisagens Terrestres e na segunda
etapa os Desastres Naturais. O objetivo geral do mini curso foi abordar o tema meio
ambiente e os objetivos específicos trataram das paisagens terrestres e dos biomas
mundiais. Os biomas mundiais estudados foram: florestas tropicais, florestas
temperadas, savana, pradaria, deserto, taiga e tundra. Além dos biomas foram
trabalhados os desastres naturais, sendo eles: tsunamis, tornados, furacões, terremotos,
erupções vulcânicas, raios e relâmpagos, enchentes e inundações.
ENCONTRO SOBRE ERUPÇÕES VULCÂNICAS
A segunda etapa do mini curso foi embasado em um cd-rom denominado
“Desastres Naturais – enciclopédia interativa”. Trata-se de um material interativo e
educativo voltado para professores e estudantes do Ensino Fundamental e Médio.
Contém informações, vídeos, fotos, infográficos e animações sobre alguns dos
principais desastres naturais conhecidos. O cd-rom foi produzido pelos Laboratórios de
Climatologia Geográfica – LCGea e de Geoiconografia e de Multimídias – LAGIM do
departamento de Geografia da Universidade de Brasília – UnB, em parceria com o
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT/MCT.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4112
Inicialmente foi realizado um diagnóstico, onde foram feitas perguntas sobre o
conhecimento dos alunos a respeito do tema desastres naturais e as erupções vulcânicas.
De acordo com as respostas dos alunos, pudemos perceber que eles tinham poucas
informações e as que tinham eram superficiais.
Assim, iniciamos nossas atividades com a apresentação do vídeo sobre os
desastres naturais, que aborda a questão do risco e do perigo dos desastres. Em seguida
foram apresentados os desastres naturais e os conceitos básicos, que foram pesquisados
em uma apostila do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, intitulada:
Desastres Naturais e Geotecnologias: conceitos básicos, 2007.
Logo após essa apresentação iniciou-se a explicação sobre as Erupções
Vulcânicas. A apresentação ficou dividida na seguinte sequência: Quem sabe o que é,
palavra do especialista, o que é, como se formam, classificação, aonde ocorrem, efeitos,
medidas preventivas e no Brasil. Todos esses pontos foram levantados e explicados aos
alunos em relação às erupções vulcânicas.
Durante a atividade os alunos ficaram bem atentos, fizeram várias perguntas,
participaram bastante. Isso evidenciou que quando se traz algo diferente para a escola,
os alunos se interessam, participam e adquirem conhecimento.
ATIVIDADE PRÁTICA
Como atividade prática deste encontro foi proposto aos alunos que fizessem
representações e/ou desenhos de vulcões em uma folha de papel A4, de forma criativa,
usando a imaginação.
Figura 1 – Desenho do aluno X representando o vulcão. (2013)
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4113
A segunda etapa da atividade prática foi a elaboração de uma maquete de
vulcão, feita de argila. E com a produção da maquete foi realizado um vídeo do
processo de construção da maquete, ou seja, o passo a passo, este produzido pelos
alunos.
Os materiais que utilizamos para a construção da maquete de vulcão foram:
argila, uma tábua para servir de base, um copinho de plástico, corante vermelho,
detergente, água, vinagre e fermento em pó.
O passo a passo da construção da maquete:
Pegamos a tábua e começamos a construir o vulcão com a argila. Abrimos um
buraco no meio para facilitar a colocação do copo descartável que vai servir de base
para o cone do vulcão. Depois de modelado, já com o copo dentro do vulcão, colocamos
uma colher de sopa de fermento em pó.
Em um outro copo, misturamos uma xícara de café de detergente, uma colher de
chá de corante vermelho, uma xícara de café de vinagre e meio copo de água,
misturamos com a colher todos esses ingredientes. Depois despejamos essa mistura
dentro do copinho que já estava com o fermento dentro do vulcão, e assim o nosso
vulcão entrou em erupção!
Assim, tentamos retratar de forma simples o que acontece na natureza. Quando o
vinagre é misturado ao fermento acontece uma reação, produzindo um gás. É o gás
carbônico que empurra a lava para fora da terra. A água, a anilina e o detergente ajudam
a dar forma à mistura. Na natureza o processo é bem mais complexo. A lava é rocha em
fusão que é expelida quando o vulcão entra em erupção. Quando ainda está em
subsuperfície e em sua constituição original, a rocha em fusão e os gases associados são
denominados magma.
Durante a produção da maquete um aluno ficou responsável por filmar todo o
processo de construção da mesma, e depois o vídeo foi editado, e ficou para a escola
como um material paradidático, disponível para que outros professores possam ter
acesso ao material para realizar a mesma atividade com outras turmas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Constatamos que a partir do encontro cujo tema era desastres naturais – erupções
vulcânicas, os alunos puderam compreender melhor o processo de formação, os efeitos
e causas dos vulcões. Após a aula explicativa e a atividade prática, repetiu-se o
questionário diagnóstico feito inicialmente sobre o conhecimento dos alunos sobre
desastres naturais e erupções vulcânicas.
O resultado foi positivo, pois no primeiro diagnóstico os alunos tinham um
conhecimento superficial sobre o tema, já no segundo diagnóstico os alunos
surpreenderam, pois todos eles souberam responder as perguntas relacionadas ao
conteúdo do mini curso.
Dessa forma, podemos concluir que o mini curso foi proveitoso tanto para os
alunos da escola que adquiriram um conhecimento sobre o tema, quanto para o
pibidiano que ministrou o mini curso. Pois o PIBID visa essa aproximação do
graduando e futuro professor com as salas de aula. Fazendo assim, uma articulação
entre a educação superior e as escolas.
Referências Bibliográficas
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais.
Brasília: MEC/SEF, 1998. 436 p.
CAPES. FUNDAÇÃO COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL
DE NÍVEL SUPERIOR. Edital do programa institucional de bolsa de iniciação à
docência – PIBID, Edital CAPES/DEB Nº 02/2009 – PIBID, 2009.
MARCELINO, Emerson Vieira. Desastres Naturais e Geotecnologias: conceitos
básicos. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Santa Maria, 2007.
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A OBRA LITERÁRIA COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DE
GEOGRAFIA: ABORDAGEM DO ROMANCE “SUOR”
RIOS, Irialinne Queiroz1
ASSIS, Antônio César Chaves2
RESUMO
O trabalho tem por objetivo propor a aplicação de obras literárias como recurso didático no
ensino da Geografia, tendo como referência uma análise do romance “Suor” de Jorge Amado.
Paralelamente, busca-se evidenciar a possibilidade de trabalhar com conceitos geográficos a
partir de uma abordagem literária, levantando a alternativa de material pedagógico que sirva de
complementação para as atividades com o livro didático. Para tanto, foi necessária a seleção de
trechos da obra, os quais podem ser associados a conceitos e categorias de análise da Geografia,
seguida de interpretações e do estabelecimento de correspondências, de modo a exemplificar o
emprego dos conceitos na realidade, partindo do contexto da obra e da sua descrição.
Evidenciou-se na produção, a possibilidade de produzir o conhecimento geográfico a partir da
valorização da literatura, da prática da leitura, do contato com a cultura e o contexto próximo. A
utilização da obra pode ser vista como uma estratégia para tornar interessantes exercícios que
são considerados pelos alunos como de difícil aprendizado e por isso pouco atraentes, como a
produção e entendimento da aplicação dos conceitos geográficos.
Palavras-chave: Literatura, Ensino, Geografia.
INTRODUÇÃO
As grandes preocupações voltadas para a educação atualmente direcionam-se
para o processo de ensino-aprendizagem. O uso recente do termo conjugado busca
defender a ideia de articulação e dependência entre dois processos até então
considerados distintos, ensino e aprendizagem. Apesar de considera-los indissociáveis,
pensar o exercício docente nos remete a levantar algumas questões pertinentes quanto
ao ato de ensinar, como a seleção e utilização do recurso didático.
São múltiplos os materiais pedagógicos disponíveis, mas o uso que se faz nem
sempre facilita o trabalho do professor. Para Alonso (1998) a decisão didática sobre os
meios a serem utilizados não deve ser feita tanto em função da sua modernidade ou
1 Universidade Estadual de Feira de Santana, [email protected]
2 Universidade Estadual de Feira de Santana, [email protected]
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provável eficiência, mas sim da adequação às metas educacionais previstas. Ao mesmo
tempo em que, diante da disponibilidade de recursos tecnológicos atrativos e de fácil
acesso, tem sido cada vez menos estimulante debruçar-se sobre numerosas páginas de
textos didáticos, ou mesmo ouvir professores com apresentações desinteressantes e
desvinculadas com o que se ouve e se vê fora da escola (SANTOS, 2009).
Tem-se por objetivo propor a aplicação de obras literárias como recurso didático
no ensino da Geografia, tendo como referência uma análise do romance “Suor” de Jorge
Amado. Paralelamente, busca-se evidenciar a possibilidade de trabalhar com conceitos
geográficos a partir de uma abordagem literária, levantando a alternativa de material
pedagógico que sirva de complementação para as atividades com o livro didático.
Como afirma Araújo (2007) a abordagem da cidade pode ser feita através da
literatura, no diálogo entre as vivências urbanas e a sensibilidade dos escritores. Neste
caso, da literatura pode-se extrair mais que a interpretação e análise dos signos
arquitetônicos e espaciais: ela interpreta e relata os dilemas humanos, seus sentimentos
e as ações vividas no espaço.
No caso específico, o romance “Suor” escrito em 1934 constitui a terceira obra
publicada por Jorge Amado. Retrata o cotidiano de seiscentas pessoas num velho
sobrado de número 68 na Ladeira do Pelourinho, onde se misturam modos de ser e
viver, culturas e etnias diferentes, reunindo operários, mendigos, lavadeiras, prostitutas,
desempregados, anarquistas e muitos ratos. As cenas se repetem em torno de uma
realidade miserável e promíscua também marcada pela prostituição, pela sujeira, pelas
histórias de vida e suor derramado com o trabalho de cada um que ali vivia.
A obra apresenta diversos fragmentos passíveis de associações com temáticas
que abrangem a ciência geográfica. A Geografia, principalmente enquanto disciplina
escolar, deve proporcionar a construção de conceitos que possibilitem ao aluno
compreender o seu presente e pensar o futuro com responsabilidade, ou ainda,
preocupar-se com o futuro através do inconformismo com o presente, o qual deve ser
visto como algo em constante movimento (STRAFORINI, 2004). Neste sentido, é
através da análise do contexto que deve-se ter a criação de conceitos, permitindo uma
contínua aproximação com aquilo que é vivido.
A viabilidade de trabalhar com o romance em questão está diretamente ligada à
possível contribuição dada na necessária formação de conceitos, ao mesmo tempo em
que reproduz uma realidade próxima narrando o cotidiano na cidade de Salvador.
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Em suma, a literatura, como ficção, como qualquer forma de ficção, nos fornece
modos de existência com os quais dialogamos, munidos também de modos de existir.
Nesse sentido, a literatura é mais que um produto – palavras impressas em papéis
encadernados –, é processo de (re)criação constante, sempre que alguém se põe a ler
(ALMEIDA, 2012). Ou seja, o trabalho com romances em sala de aula possibilita o
exercício da leitura e da interpretação, a partir do qual o aluno aos poucos desenvolve a
reflexão e constrói uma nova visão de mundo.
METODOLOGIA
A primeira etapa metodológica empregada para o desenvolvimento do trabalho
foi caracterizada pela leitura da obra e seleção de trechos, os quais poderiam ser
associados a conceitos e categorias de análise da Geografia.
Consistindo numa das principais fases da produção, foi realizada uma Revisão
Bibliográfica, buscando a ampliação do arcabouço teórico sobre as diferentes
abordagens das categorias e o conjunto de autores que discutem sobre as mesmas. Essa
busca mostrou-se constante durante todo o processo de estruturação do artigo, uma vez
que, fragmentos diferentes, referentes a um só conceito geográfico ou categoria, não
foram contemplados com a mesma concepção dada, impulsionando uma contínua
pesquisa a fim de encontrar uma melhor aplicação.
Após a sistematização dos fragmentos de textos foram feitas interpretações e
estabelecidas correspondências, de modo a exemplificar o emprego dos conceitos na
realidade, partindo do contexto da obra e da sua descrição.
Por fim, novos levantamentos bibliográficos foram realizados com o intuito de
fortalecer a discussão sobre a utilização da obra literária como recurso no ensino de
Geografia na educação básica, como auxílio ao trabalho com o livro didático.
CONCEITOS GEOGRÁFICOS E A OBRA “SUOR”
A utilização de alguns conceitos geográficos e sua associação com trechos da
obra literária em questão é colocada como objetivo e estrutura do trabalho. Por vezes,
serão analisados segmentos sem seguir a ordem de apresentação no texto de Amado
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(1986), porém, agrupados os conceitos em suas diferentes concepções. Num primeiro
momento, e logo no início de “Suor” a paisagem é descrita:
“Visto da rua o prédio não parecia tão grande. Ninguém daria nada por ele. É
verdade que se viam as filas de janelas até o quarto andar. Talvez fosse a tinta
desbotada que tirasse a impressão de enormidade. Parecia um velho sobrado
como os outros, apertado na Ladeira do Pelourinho, colonial, ostentando
azulejos raros. Porém era imenso. Quatro andares, um sótão, um cortiço nos
fundos, a venda do Fernandes na frente, e atrás do cortiço uma padaria árabe
clandestina. Nos 116 quartos, mais de 600 pessoas. Um mundo. Um mundo
fétido, sem higiene e sem moral, com ratos, palavrões e gente. Operários,
soldados, árabes de fala arrevessada, mascates, ladrões, prostitutas, costureiras,
carregadores, gente de todas as cores, de todos os lugares, com todos os trajes,
enchiam o sobrado. Bebiam cachaça na venda do Fernandes e cuspiam na
escada, onde, por vezes, mijavam. Os únicos inquilinos gratuitos eram os ratos.
Uma preta velha vendia acarajé e mungunzá na porta (p.10-11)”.
De acordo com Santos (1997) tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão
alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a
vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos,
odores, sons etc. A observação e descrição da construção, realizada pelo autor e
associada ao conceito, faz menção à capacidade de alcance do sentido que nos permite
enxergar. O tamanho do prédio, a quantidade de quartos e de pessoas admite uma
analogia ao volume da paisagem. O desbotado das paredes e os próprios tons de pele
referem-se à cor; a dinâmica do dia-a-dia, os costumes dos moradores e suas atividades,
aos movimentos; bem como, o mau cheiro do cortiço, as condições de moradia e o
resultado do comportamento dos indivíduos estão relacionados ao elemento odor. Por
fim, as falas e mesmo os ruídos que suspostamente provem da agitação e da
dinamicidade do prédio representam os sons que compõem uma paisagem, a qual não é
puramente materializada e estática.
Do mesmo modo, os fragmentos a seguir podem ser trabalhados a partir desse
mesmo conceito, porém limitando-se a alguns dos elementos. “Na Ladeira do
Pelourinho. O número não sei, mas é o maior sobrado da rua, pintado de cor-de-rosa,
com tinta desbotando (p.114)”. Ainda com breves descrições, Amado (1986) escreve:
“Do quarto, o preto Henrique via o céu azul-claro com farrapos de nuvens brancas e o
mar verde, que se perdia dos seus olhos (p.147)”.
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4119
O tamanho do sobradinho e a imensidão do oceano, citados no primeiro e no
segundo trecho, respectivamente, podem relacionar-se ao volume, bem como o colorido
desbotado da parede, e os tons da atmosfera e das águas fazem ligação com a cor. Nos
dois casos, a descrição remonta a ideia de paisagem enquanto dimensão aparente do
espaço, as quais marcam a percepção do homem ao ponto de lembrar-se dos traços mais
destacantes, como mostra em um dos fragmentos.
Partindo da ideia de Santos (1997) de que a paisagem toma escalas diferentes e
assoma diversamente aos nossos olhos, segundo onde estejamos, ampliando-se quanto
mais se sobe em altura, porque desse modo desaparecem ou se atenuam os obstáculos à
visão, e o horizonte vislumbrado não se rompe, o segundo trecho torna-se ainda mais
válido para uma analogia. Ou seja, o personagem tem uma perspectiva que depende da
sua localização, estando no quarto e alcançando no visível apenas aquilo que a sua
posição possibilita.
Num outro trecho, Amado (1986) descreve novamente a paisagem:
“Debaixo do humilhado número 1 da sua casa haviam rabiscado um nome
cabeludo que o pai sempre prometia apagar e jamais apagava. Só o tempo
mesmo conseguiu tirá-lo dali. Hoje, essa casa transformou-se num sobradinho
com uma quitanda embaixo, bem fornecida de bananas e laranjas, mas assim
mesmo ficou um sobradinho baixo, metade apenas do amarelo, que hoje é
esverdeado, continua a passar várias janelas, moças e flores, continua a atrair os
rapazes e ainda é o número 1 (p. 32-33)”.
A paisagem não é dada para todo o sempre, é objeto de mudança. É um resultado
de adições e subtrações sucessivas. É uma espécie de marca da história do trabalho, das
técnicas. (SANTOS, 1997). Passível de constantes mudanças, associadas a somas e
substituições de elementos, a paisagem conceituada por Santos é ligeiramente descrita
no trecho acima. O passar do tempo consiste na peça fundamental para o entendimento
dessas transformações, a qual justifica a atuação dos fenômenos naturais sobre os
produtos da ação humana, como o desaparecimento dos rabiscos sobre a parede; da
mesma forma que, orienta a transição de conjuntos de formas e funções que lhe são
empregadas, como a conversão de uma residência em um sobrado e um pequeno
estabelecimento comercial.
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Desse modo, pode-se afirmar que, a referida transformação refere-se também ao
materialismo histórico, no qual novas adaptações às necessidades de produção e
trabalho são cobradas, deixando impressões das mesmas sobre a paisagem.
A paisagem é formada pelos fatos do passado e do presente. A compreensão da
organização espacial, bem como de sua evolução, só se torna possível mediante a
acurada interpretação do processo dialético entre formas, estruturas e funções através do
tempo. [...] Como o valor técnico da forma é determinado não a partir da própria forma,
mas das necessidades da estrutura donde ela surge, ou que nela se encaixe, segue-se que
o valor da forma deve mudar na proporção em que muda a estrutura (SANTOS, 1985).
Essa ideia pode ser observada no seguinte fragmento da obra de Amado (1986):
“O pátio nem sempre estava à inteira disposição das mulheres. Já por duas vezes
o proprietário o alugava a levas de imigrantes, que nele estendiam as suas
esteiras para comer rapadura e dormir, enquanto esperavam o navio que os
levasse para a escravidão das fazendas de cacau de Ilhéus, Belmonte e
Canavieiras. Como não valia a pena protestar, as lavadeiras coravam a roupa na
varanda, nas salas e nos quartos, secando o resto a poder de ferro quente, o que
lhes trazia uma despesa bem maior de carvão (p. 101)”.
A dinâmica da paisagem proposta por Santos (1985) está diretamente ligada à
produção e organização do espaço. A utilização de cômodos da casa pelas mulheres,
para lavarem roupa e realizarem o seu serviço, conferem os novos valores que podem
ser dados a uma mesma forma, uma vez que, o pátio servia para hospedagem de
personagens que estavam de passagem com destino às fazendas de cacau no sul da
Bahia. Ou seja, aquela forma a qual era utilizada diariamente pelas lavadeiras tomou
função diferente em decorrência da necessidade que se instalava no momento.
Destaca-se também o trecho:
“Todos do mesmo tamanho, oito embaixo, oito suspensos sobre as primeiras, as
paredes de tábua, os telhados de zinco. Quando o sol batia parecia que o cortiço
ia incendiar. Então ninguém podia tolerar os apartamentos abafados, uma sala,
um quarto e um simulacro de cozinha, onde, sobre quatro pedras, descansava a
panela de feijão (p.100)”.
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Em suma, o fragmento serve para o entendimento da paisagem, enquanto
dimensão aparente do espaço, produto social e condicionante da dinamicidade da
sociedade, o que, junto aos elementos naturais, faz da própria paisagem algo também
dinâmico.
Em outro plano, a obra de Amado (1986) pode servir de instrumento para o
entendimento do conceito e dos processos que envolvem o espaço urbano, como
mostra o trecho a seguir.
“Elevavam-se, no centro da Cidade, novas casas de apartamentos, arranha-céus
de dez andares que humilhavam os sobrados coloniais, mas os arranha-céus
possuíam um porteiro fardado de roupa azul com botões de general que não
permitia sequer que os mendigos se aproximassem da porta de entrada para
recolher um níquel (p.113)”.
De acordo com Corrêa (1995) a atuação espacial dos promotores imobiliários se
faz de modo desigual, criando e reforçando a segregação residencial que caracteriza a
cidade capitalista. Os recentes prédios residenciais feitos, e em construção, localizavam-
se na área central de Salvador, estando necessariamente onde concentravam-se as mais
diversas atividades e serviços, ao pensar numa lógica de organização urbana. O nível e
o tamanho das novas casas superavam e contrastavam enormemente com as moradias e
cortiços do período colonial, o que mostravam-se reflexo da crescente estruturação do
sistema capitalista e sua influência na organização social. De modo desigual, o direito à
cidade é conquistado, produzindo um espaço heterogêneo tanto em função dos estilos
das residências quanto ao direcionamento e acesso dos habitantes a estas últimas.
Embutida na origem da cidade há uma (outra) diferenciação, a social: ela exige
uma complexidade de organização social só possível com a divisão do trabalho
(SPOSITO, 1997). Essa concepção pode também ser utilizada em sala de aula a partir
de sua associação com trechos da obra de Amado (1996).
“Mulheres que vendiam frutas, lavavam roupas, trabalhavam em fábricas,
costuravam, vendiam o corpo. Mulheres sem sobrenome, mulheres do 68 na
Ladeira do Pelourinho e de outros sobrados iguais, para quem os poetas nunca
fizeram um soneto, elas simbolizavam bem a humanidade proletária que se
move nas ladeiras e nas ruas escuras (p. 141)”.
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A população feminina do prédio 68 representava fortemente o grupo social,
formado por trabalhadores que desempenhavam diversas atividades em busca do
sustento. Tais atividades correspondiam desde serviços domésticos até ocupações em
indústrias, descrevendo a inerente divisão social do trabalho para a configuração e
estruturação de um centro urbano, de acordo com a autora.
Os elementos desse espaço da mesma forma podem ser encontrados no
fragmento que se segue: “Admirava que em meio àquela imensidade de gente, a mais
diversa, de raças diferentes, sem outro traço de ligação que a escada do 68, não se
ouvisse uma voz discordantes, uma voz que apoiasse o proprietário (p.152)”.
Ou seja, o espaço urbano, é também, o cenário e o objeto das lutas sociais, pois
estas visam, afinal de contas, o direito à cidade, á cidadania plena e igual para todos
(CORRÊA, 1995). O grupo de pessoas formado no prédio, ante as diversidades culturais
e sociais encontradas, consiste na manifestação dos interesses compartilhados pela
classe social. A expressão da opinião, sendo esta contrária à do dono da propriedade
imóvel, configura-se como reconhecimento dos direitos dos indivíduos enquanto
cidadãos e na busca do seu exercício.
Ainda de acordo com Corrêa (1995), fragmentada, articulada, reflexo e
condicionante social, a cidade é também o lugar onde as diversas classes sociais vivem
e se reproduzem, como mostra o segmento. “Mais além das rusgas, de indiferença pela
vida dos outros, dos comentários malévolos, havia entre eles uma solidariedade de
classe da qual não se podia duvidar desde o incidente do sótão (p.152)”.
A cidade, enquanto espaço composto por diferentes usos da terra interligados,
produto e base para estruturação e desenvolvimento da sociedade, é também onde os
grupos procuram sua afirmação. Para mais da desordem, das confusões e divergências
entre vizinhos do prédio, notava-se a partilha de princípios, a convivência em classe e
reprodução desta.
Ao se constatar que o espaço urbano é simultaneamente fragmentado e
articulado, e que esta divisão articulada é a expressão espacial dos processos sociais,
introduz-se um terceiro momento de apreensão do espaço urbano: é um reflexo da
sociedade. Assim, o espaço da cidade capitalista é fortemente dividido em áreas
residenciais segregadas, refletindo a complexa estrutura social em classes (CORRÊA,
1995). Essa ideia pode ser trabalhada com o trecho citado posteriormente.
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“Alguns davam níqueis, outros diziam ‘hoje não tem’. Ela respondia sempre:
- Deus ajude todos desta casa!
Numa casa da Barra, palacete com mangueiras na frente e bancos sob a sombra,
a empregada levou o requerimento. A mulher sentou-se no portão da garagem
para amamentar o menino. Ouviu risos lá dentro e ruídos de talheres. Ela ainda
não tinha almoçado, suava e os pés doíam-lhe da caminhada. As gargalhadas,
dentro da casa, redobraram (p.77)”.
O ato de pedir esmola retratado no texto confere um dos símbolos mais comuns
das contradições sociais nos centro urbanos, bem como a segregação do espaço através
de áreas com diferentes padrões de construções residenciais. Isso faz da cidade um
condicionante e produto social, um espaço de afirmação das classes e dos conflitos entre
elas, geralmente engendrados pelas discrepâncias nas condições e direitos ao espaço
urbano. Neste sentido, diariamente os diferentes gestos, como relatados no trecho,
traduzem as realidades vividas de forma contrastante.
Ao considerar a organização do espaço urbano, a toponímia também configura-
se interessante elemento de análise. Constitui-se em relevante marca cultural e expressa
uma afetiva apropriação do espaço por um dado grupo cultural. É ainda um poderoso
elemento identitário. [...] As relações entre toponímia e identidade também estão
presentes no espaço urbano, traduzindo-se nos significados dos nomes de bairros e
logradouros (CORRÊA, 2007).
“Ali embaixo, no centro da ladeira empedrada, ficava o pelourinho, montado
pelos colonizadores portugueses. Hoje o pelourinho desaparecera, mas a ladeira
que lhe tomara o nome era como um pelourinho também. Todos que ali viviam
passavam vida apertada, sem pão, sem trabalho (p.87)”.
A nominação dada à rua está diretamente atrelada a traços e heranças do passado
colonial da cidade, os quais acabaram por fornecer um grande significado. As colunas
de pedras ou madeiras construídas e utilizadas naquele período para castigar os negros e
escravos não faz parte da paisagem atual, porém, denota uma identidade preservada ao
espaço e moradores do Pelourinho. Ainda nota-se um cotidiano em condições precárias,
ligeiramente comparado à dolorosa condição de propriedade humana quando da
escravidão. Os elementos culturais aí encontrados, neste sentido, justificam o emprego
do nome à ladeira.
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Deve-se destacar que, a obra “Suor” oferece paralelamente meios para se
discutir o conceito de lugar a partir de outros segmentos, como o citado a seguir.
“Também, somente o proprietário chamava aquilo de casa. Os moradores diziam ‘meu
buraco’. E tinham razão (p.100)”. De acordo com Cavalcanti (1998) são as relações
pessoais, a experiência vivida, que dão significados aos lugares. Os lugares são,
portanto, “recortados afetivamente”.
As denominações diferentes dadas ao mesmo cômodo, por indivíduos distintos,
representam também conjuntos desiguais de significados impregnados. Por manterem
um vínculo diário com aquele determinado espaço, os residentes acabam por criar laços
de pertencimentos, manter relações constantes com as pessoas e com o próprio lugar,
assim constituído por caracterizar aquilo que é vivido e familiar.
Em seguida, Amado (19986) conta que, “os homens encostavam-se no balcão ou
sentavam-se nos caixões de sabão. Perto das 6 horas da tarde, diariamente, a venda do
Fernandes se enchia (p.130)”. Neste sentido, o estabelecimento comercial mostra-se um
ambiente de convivência diária de certas personagens. A comodidade alcançada ao
chegar ali representa o espaço configurando um lugar, à medida que apoderam-se
através do contato, das afetividades construídas, das visitas habituais ao
empreendimento do Fernandes. Tem-se essa consideração a partir da concepção de
lugar enquanto porção do espaço apropriável para a vida — apropriada através do corpo
— dos sentidos — dos passos de seus moradores (CARLOS, 2007).
Ainda segundo Carlos (2007) o lugar é a base da reprodução da vida e pode ser
analisado pela tríade habitante - identidade - lugar. [...] As relações que os indivíduos
mantêm com os espaços habitados se exprimem todos os dias nos modos do uso, nas
condições mais banais, no secundário, no acidental. É o espaço passível de ser sentido,
pensado, apropriado e vivido através do corpo.
Esse conceito pode fazer menção ao fragmento: “outra pessoa qualquer sentiria
os percevejos, as pulgas, o calor, o suor e a caatinga do cinema. Eles não. Tinham tudo
isso no 68 e estavam acostumados (p.68)”.
O fato dos personagens não se incomodarem com as condições débeis
encontradas na sala ao assistir ao filme, justifica-se na convivência habitual de mesmo
estado no prédio onde moravam. Isto é, essas relações de uso fazem destes espaços,
lugares, no sentido de constituírem meios de afirmação, de vivência. A tríade proposta
pela autora é, nesta perspectiva, contemplada a partir da apropriação do espaço em
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4125
vários modos, desde material até afetivamente, como uma necessidade para a
sobrevivência, intrínseca na particularidade do ser humano.
Por sua vez, tem-se que o território é produzido espaço-temporalmente,
temporários ou mais permanentes, pelo exercício de poder de um determinado grupo ou
classe social (SAQUET, mimeo apud SOUZA; PEDON, 2007). Contudo, esse conceito
pode servir de fundamento para o seguinte trecho:
“Logo que se mudara para o sobrado amarelo, Ângelo tentou fazer
camaradagem com os molecotes, mas eles eram terríveis, acostumados a quedas
e surras e com um grande adiantamento sexual. Houve ameaças e propostas
sujas a Ângelo, que não podia correr com eles, nem tomar parte dos furtos de
banana e sapoti (p.34)”.
A posição de destaque dos garotos, enquanto conjunto de amigos, já conhecidos
pela habilidade de encarar pequenas aventuras, referencia uma determinada autoridade
conquistada e exercida, a partir de relações de poder, sobre o novo morador do pequeno
prédio. A perceptível resistência deles em aceitar Ângelo como integrante do grupo
explica-se pela possível territorialização já produzida por eles em torno dos ambientes
onde costumavam apoderar-se de frutos. Territórios que podiam ser produzidos
provisoriamente, mas representavam a influência dos mesmos sobre determinados
espaços.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo do espaço geográfico, a partir da obra literária, pode se dar por meio de
outros conceitos. Partindo da ideia de que, o espaço constitui o objeto de estudo da
geografia, através da relação entre natureza e sociedade, compreende-se que a sua
análise permite associar diferentes categorias de análise e muitas vezes aproximá-las.
Acredita-se que a sua complexidade admite a produção de novos conceitos que
facilitam de certa forma a sua compressão, uma vez que, o espaço geográfico consiste
no conceito mais abrangente. Dentre os trechos selecionados observa-se a possibilidade
de trabalhar a obra literária a partir da paisagem, do espaço urbano, do lugar e do
território, em diferentes concepções e aplicações.
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Por sua vez, compreender como se dá a produção do espaço geográfico requer
pensar nos agentes e na dinâmica que possibilita imprimir uma organização. E, neste
sentido, mais uma vez, Amado (1986) em sua obra “Suor” exprime claramente essa
dinâmica ao descrever o movimento diário do Pelourinho, dos objetos e sujeitos que lhe
dão vida. Dentre os agentes/atores atuantes nessa produção pode-se citar o mendigo
Cabaça, a jovem Linda, Dona Risoleta, a preta velha que vendia acarajé, Vermelho, o
dos dentes de fora, Chico e Henrique, negros e trabalhadores, prostitutas, lavadeiras,
entre outros.
Em suma, ensinar geografia a partir de conceitos mostra-se, simultaneamente,
necessário e complexo. Tendo em vista o uso facilitador de alguns recursos didáticos,
no sentido de tornar mais interessante e menos monótona a aprendizagem dos mesmos,
a obra literária, apesar de ser mais aplicada ao ensino de Língua Portuguesa e Literatura,
também mostra-se viável no ensino de Geografia.
Evidenciou-se na produção do trabalho a possibilidade de produzir o
conhecimento geográfico a partir da valorização da literatura, da prática da leitura, do
contato com a cultura e o contexto próximo. A utilização da obra pode ser vista como
uma estratégia para tornar interessantes exercícios que são considerados pelos alunos
como de difícil aprendizado e por isso pouco atraentes, como a produção e
entendimento da aplicação dos conceitos geográficos.
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“BRASIL: PÁTRIA AMADA? MÃE GENTIL?” REPRESENTAÇÕES
SOCIAIS E GEOGRAFIA DO BRASIL EM IMAGENS E EM
REFLEXÕES.
Fábio Poletto Franco1
RESUMO
Este artigo busca um diálogo entre as representações sociais do Brasil e de contradições
socioeconômicas, buscando as leituras de mundo de um grupo de alunos através da produção de
desenhos, e a geografia escolar, operacionalizada pelos conceitos de Espaço Geográfico e de
Território. Enquanto prática de sala de aula, a intenção foi a de identificar os conhecimentos
prévios dos alunos abordando as seguintes palavras: Brasil, Vila, Desigualdades Sociais. A
partir dos desenhos elaborados sobre cada uma, foi possível perceber, ainda que sem uma
profundidade rigorosa, como os alunos leem e representam os espaços habitados, bem como o
senso comum sobre os termos empregados e possíveis argumentações que fossem ao encontro
dessas concepções. Seguindo, tomamos como referência as produções para elaborarmos
questões que estivessem relacionadas aos temas, a partir das quais os alunos deveriam fazer
interagir o senso comum e os conteúdos abordados. Cabe ressaltar que esse artigo não propõem
um modelo ou um plano de aula; o que elaboramos foi, apenas, um relato de uma experiência
pedagógica ancorada em pressupostos teóricos da educação e da geografia.
Palavras-chaves: Representação Social; Espaço Geográfico Escola; Geografia Escolar.
INTRODUÇÃO
É com umas das premissas de Jean Piaget que iniciamos nossas discussões: o
sujeito se constrói; tanto a subjetividade quanto a objetividade são construções do
próprio sujeito. (PIAGET, 1937, p. 330 apud BECKER, 2012, p. 47). E é a partir dessa
afirmação que poderíamos contestar uma parta das práticas pedagógicas que insistem
que o professor ensina ao aluno, dando-lhe ou transferindo-lhe conhecimentos; o que
lhe coloca, a este último, em uma posição de passividade. Assim, quando ele não
aprende, é porque não estudou, não exercitou ou não revisou conteúdos ensinados,
retirando do professor qualquer culpa. Surge aí a falsa constatação: os baixos índices de
aprendizagem em escolas são uma consequência, entre outros argumentos, do não
comprometimento do aluno com o aprender. Em parte verdadeira; em parte desculpa de
professor.
1 UFRGS – Pós-graduação em Geografia; [email protected]
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Os autores supracitados sustentam que o ato de aprender está centrado na ação
do aluno, mas, sem desconsiderar o papel do professor nesse processo: o responsável
por criar as situações em que o aluno constrói o seu próprio conhecimento. E tal ação,
ou operação, se dá de forma processual, apoiando-se em conhecimentos já construídos
anteriormente. Essa é outra importante premissa: “A ideia [...] é a de que o sujeito
constitui-se na medida em que ele faz. Ele extrai do que ele já fez hoje, o que ele será
amanhã.” (BECKER, 2012, p. 57). Há no desenvolvimento da aprendizagem um
constante ir e vir entre o que já se sabe e o que será aprendido – ou não, por não ser
ainda capaz ou por não querer aprender. Assim, abordar determinado conteúdo e
justificá-lo por estar enquadrado no planejamento escolar sem antes conhecer os alunos
pode comprometer o trabalho em sua efetividade.
Parece ficar evidente, então, nossa preocupação em ensinar o que se pode
aprender. Assim, entre ensinar e aprender, entre o professor - consciente da sua difícil
tarefa de ensinar e devidamente preparado para tal – e o aluno – para o qual as atenções
do primeiro devem voltar-se –, a construção do conhecimento pelo educando depende
da compreensão, por parte do educador, de onde partir e onde queremos chegar.
Acreditamos que, para a construção de conhecimentos, e também para saber ensinar, é
fundamental o encontro entre o senso comum e aquele que se apoia em metodologias
científicas: o que Freire chama a curiosidade ingênua e a criticidade, respectivamente
(FREIRE, 2010). Quanto à superação do primeiro pelo segundo, ela se dá
[...] na medida em que a curiosidade ingênua, sem deixar de ser curiosidade, se
criticiza. [...] Ao critizar-se, tornando-se então [...] curiosidade epistemológica,
metodologicamente ‘rigorizando-se’ na sua aproximação ao objeto, conota seus
achados de maior exatidão. (FREIRE, 2010, p. 31).
Abordando a exigência da criticidade como requisito do professor, o autor
salienta a dialógica que deve existir no ato de ensinar (e de aprender). Portanto o
educador deve ensinar com o aluno, pois este aproximará conhecimentos, dialogando
com os saberes da ciência e da experiência. É na práxis – do pesquisador e do aluno –
que se aprende. Portanto se aprende no espaço. Pois é nele que convergem (ou
divergem) ações.
As escolas, assim, constituem-se enquanto espaços geográficos, portanto foram
criados e reconstroem-se no cotidiano. Além do mais, obrigatoriamente elas recebem
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milhões de estudantes cujas leituras de mundo podem ser reconstruídas a partir das
nossas aulas. Acreditamos na Geografia, então, como um instrumento de mudança
social, e que seus conceitos sejam capazes de tornarem-se instrumentos aos alunos,
transformando-se em sujeitos mais conscientes das suas próprias vidas e do(s) mundo(s)
em que (con)vivem. Pensamos, então, que a ciência não é aquilo que se pratica apenas
sob um método rigoroso ou que seja exclusividade de poucos cientistas das diversas
áreas do conhecimento. Mas, também, não imaginamos nossos alunos saindo do ensino
fundamental dotados de métodos altamente arrojados para aplicação em seus cotidianos.
Para tal ensino de Geografia parece ser impossível não contextualizá-la, não
referenciá-la e apoiá-la sobre as experiências dos alunos. Nesse sentido faremos aqui
um relato sobre uma sequência de aulas que envolveram três turmas de Ensino Médio,
estudantes do segundo ano. Na escola, Instituto Estadual Isabel de Espanha, localizado
em Viamão, município conurbado a Porto Alegre, os planejamentos para a referida série
concentram-se nos estudos de Brasil.
Partimos do princípio de que as leituras de Brasil não eram homogêneas, embora
acreditássemos em uma Representação Social mais ou menos consensual. Então, para
nossos planejamentos das aulas seguintes apoiarem-se sobre os conhecimentos
subjetivos, solicitamos que cada aluno representasse 3 palavras através de um desenho
para cada uma: Brasil, Vila e Desigualdade Social.
OBJETIVOS
Desenhos prontos, concentramo-nos na análise das representações, pois
acreditamos que elas continham os significados que os alunos atribuíam aos espaços
relacionados às palavras. Com eles objetivamos: (a) Buscar as Representações Sociais
de Brasil, dos espaços habitados e das contradições (desigualdade social). (b) Construir,
partindo das Representações Sociais (tratadas com os alunos como senso comum)
encontradas, os conceitos de território e espaço geográfico. (c) Problematizá-los
contextualizados pelas próprias vivências de mundo dos alunos, buscando construir
princípios de cidadania.
Concomitantemente a essas práticas de sala de aula, também queríamos
averiguar que possibilidades os desenhos ofereciam aos alunos de expressarem suas
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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opiniões, seus conhecimentos. Justifica-se nosso interesse por esse recurso porque nossa
pesquisa de mestrado (em andamento junto ao Posgea/UFRGS) está concentrada no uso
dos fanzines enquanto linguagem pedagógica no ensino de Geografia nas séries de
Ensino Médio. Portanto esse artigo é fruto de aproximações com o tema – o fanzine,
espécie de revista artesanal com assuntos e meios de expressões variados, necessita que
os alunos sejam capazes de representar conhecimento por meio de diferentes formas
como textos, letras de música, poemas, desenhos, história em quadrinhos.
METODOLOGIAS
Apoiados na teoria da Complexidade (MORIN, 2003, 2007, 2008) e na
Epistemologia Genética (PIAGET, 1978; BECKER, 2012) concebemos que o
conhecimento constrói-se na interação complexa entre sujeito e objeto. O sujeito, ao
agir sobre o objeto, se transforma para dar conta do mundo, que também é modificado
pala ação do primeiro. Portanto a relação sujeito-objeto é, segundo Piaget (1978), a
essência da construção do conhecimento e da aprendizagem. Sendo a complexidade
uma tessitura conjunta, uma construção que abarca inúmeras possibilidades de
transformação dos sujeitos e dos objetos, cabe uma aproximação entre as duas teorias.
Mas, cremos que teorias pedagógicas, os planejamentos políticos pedagógicos e
a própria gestão do espaço escola não dão conta da totalidade de suas realidades. “O
distanciamento entre os conteúdos programáticos e a experiência dos alunos certamente
responde pelo desinteresse e até mesmo pela deserção que constatamos em nossas
escolas.” tornando, por conseguinte, os conteúdos e os conhecimentos “[...] quase
sempre esquecidos ou que não se consegue aplicar, por se desconhecer suas relações
com o real.” (BRASIL, 2000, p. 22). Perde-se aí uma oportunidade de re-significar
conteúdos estudados em Geografia e o espaço escola.
Orientados por essas premissas, para conhecer, entender, enfim, estudar o Brasil
formalmente, as aulas de Geografia procuraram considerar os conhecimentos dessa
ciência, além dos pedagógicos obviamente, e também os conhecimentos dos alunos, ou
seja, as suas leituras de mundo. No embate entre saberes cotidianos (representados pelos
desenhos) e os científicos (os conteúdos escolares de Geografia), pusemos as aulas
como palco, como campo de tensões, de discussões. Ao analisarmos as produções dos
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4132
alunos, ficou evidente que havia uma homogeneidade relativa quanto à sua
representação. Cremos, assim, que estávamos frente às representações sociais daquele
grupo, embora não fossem unânimes.
Representações sociais e senso comum – ambos variando em diferentes
contextos temporais e espaciais – são conceitos semelhantes, cuja noção traz a ideia de
que existem explicações, práticas sobre/no (o) mundo compartilhados entre certos
grupos. (MOSCOVICI, 2003, p. 199). Sobre o senso comum
[...] ele não é substituído pelas teorias científicas e pela lógica. Ele continua a descrever
as relações comuns entre os indivíduos, explica suas atividades e comportamento
normal, molda seus intercâmbios no dia-a-dia (MOSCOVICI, 2003, p. 199).
Então trataremos, nesse texto, o senso comum como uma representação social.
Um segundo passo foi dado em direção da construção dos conceitos que nos
operacionalizassem as discussões. Portanto concentramos esforços para entender o que
define um território e um espaço geográfico. Os territórios foram entendidos aqui como
“[...] um espaço definido e delimitado por e a partir das relações de poder.” (SOUZA,
2007, p. 78). Mas, o tradicional território da Geografia política, cuja área é engendrada e
governada pelo Estado, fica aquém da complexidade de suas entranhas. Ruas, bairros,
entorno de escolas podem ser considerados territórios, seguindo as correntes que os
concebem enquanto relações de poder que efetivam-se no cotidiano, nas relações sociais
não institucionalizadas. Para esse caso, ele seria muito mais um campo de forças em que
são (re)construídos ou descontruídos, em escalas e temporalidades das mais diversas
(SOUZA, 2007, p. 78). Quanto ao espaço geográfico, Santos (2009) é nossa base
conceitual: conjunto de objetos e de ações que interagem que “De um lado, os sistemas
de objetos condicionam a forma como se dão as ações e, de outro lado, o sistema de
ações leva à criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes. É assim
que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma.” (SANTOS, 2009, p. 63).
Procuramos trazer situações concretas para a sala de aula. Realizada no primeiro
trimestre letivo de 2012, época em que as eleições legislativas e executivas municipais
já começavam a entrar em pauta, abordamos os conceitos sob esse enfoque. Moradores
de bairros periféricos e com infraestrutura deficitária, a responsabilização dos políticos
é recorrente para explicar essas condições.
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Inseríamos, assim, nas discussões o conceito de território com alguns
questionamentos: ao atravessarmos o limite municipal entre Viamão e Porto Alegre é
possível observar diferenças de infraestrutura nos territórios? Por que há tanta diferença
entre a cidade de Viamão e de Porto Alegre? Que consequências ocorreriam se nos
limites municipais fossem construídos muros que impedissem a passagem de pessoas e
de mercadorias? Solicitamos que analisassem as suas carteiras de identidades – para que
servem? Qual a sua finalidade? Ela nos possibilita acessar direitos? Como poderíamos
utilizar serviços e direitos que a constituição nos garante se não comprovarmos se
somos brasileiros de fato? Quanto pagamos para estudar nessa escola?
Quanto ao espaço geográfico, contra-argumentamos o senso comum de que os
problemas vividos por nós nas cidades são culpa exclusiva dos políticos. Após
votarmos, acabam as nossas responsabilidades enquanto cidadãos? Se os vereadores
representam o povo, não deveríamos nos fazer ouvir? Você conhece alguém que já foi
procurar o vereador em que foi eleito para avaliá-lo e reivindicar algo?
Como último ato, problematizamos algumas contradições observadas e
vivenciadas pelos alunos que foram representadas nos desenhos, em especial aqueles
relacionados ao tema Desigualdade Social. A segregação social, evidenciada pelos atos
de preconceitos e pelos condomínios fechados de padrão elevado; e a violência,
evidenciada pela criminalidade e pela insegurança foram marcantes para esse tema.
Partindo dessa constatação, analisamos uma frase contida no Hino Nacional do Brasil
que diz “Dos filhos deste solo, és mãe gentil.”. Solicitamos que os alunos fizessem uma
análise desse trecho tomando como base os conceitos estudados anteriormente.
RESULTADOS E PERCEPÇÕES
Como sabemos, as práticas nem sempre andam em sintonia com os
planejamentos. A efetividade das propostas de ensino depende de uma série de fatores
que tornam o fazer pedagógico uma incessante busca pelo aprimoramento. E, nesse mar
de emoções, foram os acertos e os erros que nos motivaram a buscar as razões pelas
quais as práticas de sala de aula são sempre uma tarefa que, mesmo amparadas pelas
mais diversas e fecundas teorias, nos apresenta surpresas. Talvez essa não-linearidade
seja melhor entendida quando lembramos que não há receita para boas aulas porque os
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4134
alunos não são ingredientes, elementos estáticos e sem vida. A riqueza do ser humano
parece convergir para as subjetividades, produtoras de tantas realidades quanto for o
número de homens e mulheres. Nossas histórias de vida são tão complexas que, por
meio da razão tecnicista e fria, pensamos ser impossível compreendê-las, tornando-nos
produto(re)s de nosso passado e futuro, do que nos condicionou e do que desejamos.
Portanto, se o nosso destino não se controla em sua totalidade, não seriam os dos
vinte e poucos (ou dos trinta e tantos) alunos que o faríamos assim. Parece estar aqui o
grande desafio de ser professor: para construir conhecimentos e para provocar a
reconstrução do ser biológico, cognitivo e psicológico deveremos nos comunicar
evocando conceitos, saberes de mundo que não estão apenas nos conteúdos escolares
(que sintetizam fenômenos, realidades) ou em nós (que interpretam a realidade pela
ciência). Será na interação do sujeito – que traz consigo as suas construções – com o
objeto que aquele se reconstruirá, portanto a tarefa do professor é maior do que saber de
sua ciência. Precisará saber de si, de sua ciência e do outro, o seu aluno – quem é, de
onde vem e o porquê, o que sabe, por que sabe, como aprende. Haja fôlego!
É para o aluno e para o seu aprendizado que as nossas ações enquanto
professores deverão se inclinar. E é na certeza de que é o aluno que aprende, e não o
professor que lhe transfere o saber, e que ele o faz agindo através dos seus próprios
meios que cogitamos que as aulas cujos educandos possam manifestarem-se,
construindo respostas e questionamentos – experienciando -, tendem a significar
conhecimentos. Não estamos, nesse momento, afirmando a efetividade dos meios pelos
quais queremos ensinar; nossa certeza é de que quem aprende é o aluno, e não o
professor quem lhe deposita conteúdos: “[...] a experiência é necessária ao
desenvolvimento da inteligência.” (PIAGET, 1978, p. 339).
Acreditamos que a busca no do que se conhece, do que se sabe, invertendo a
posição de emissor de conhecimento a um aluno passivo, foi fundamental para
iniciarmos os trabalhos. Antes de tudo, as palavras a serem representadas (Brasil, Vila,
Desigualdades Sociais) forçam os alunos a refletirem sobre o que as definiria. Para
Brasil as imagens que representavam o futebol, a natureza, o desmatamento, a pobreza
são recorrentes. Convém salientar que as produções não eram compartilhadas, pois a
atividade era individual. Parece que ainda existe o mito do país desabitado, cuja
natureza exuberante está presente em todos os espaços. Ou que ela já fora destruída –
representada pelo desmatamento. Para os dois casos a natureza é marcante.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4135
O futebol é marcante quanto ao aspecto cultural. O que foi alvo de críticas de
alguns alunos – um povo que diverte-se em excesso não trabalharia. Porém, na
representação da palavra Vila, o futebol aparece novamente como o momento da
diversão, da alegria, da descontração. Contraditoriamente agora ganha uma conotação
positiva. Ou seja: em uma escala geográfica menor, no contexto do bairro, do espaço
vivenciado no cotidiano, o futebol é alternativa de vida, de lazer frente à falta de
parques e de quadras esportivas públicas, enquanto que em uma escala maior de análise
é algo desfavorável. Parece haver um descompasso entre as representações. Talvez o
futebol relacionado à palavra Brasil seja associado ao profissional, à seleção brasileira
de futebol, aos grandes clubes milionários; por outro enfoque, associado com a palavra
Vila, relaciona-se ao futebol enquanto lazer, esporte entre amigos.
Ainda analisando os desenhos para a palavra Vila pudemos observar que a
desigualdade social é percebida e representada a partir da vivência dos alunos. Como já
havíamos expressado anteriormente, a escola recebe a parcela da população menos
privilegiada economicamente. A violência, representada por armas, assaltos, tráfico de
drogas esteve insistentemente associada à Vila. Por outro lado, o conceito de lugar
torna-se mais concreto nas produções no momento em que as Vilas são representadas de
maneira positiva, evidenciando a relação de proximidade, de efetividade com os espaços
geográficos. Foge-se, nesse caso, do senso comum em que a Vila é representada assim
como ela é pela mídia, cuja imagem está, normalmente, associada, à criminalidade, à
violência, ao tráfico de drogas.
Nos desenhos das Vilas são, de forma geral, representadas as condições
precárias das habitações, enfileiradas sem uma organização rígida, dando um caráter de
formação espontânea e desregrada. Chama nossa atenção que as pessoas transitam nas
ruas, lugar onde se pratica o futebol. Os carros tendem a serem suprimidos, e as pessoas
estão mais presentes nos espaços (brincando, conversando), o que nos faz pensar que as
comunidades interagem paralelamente às práticas criminosas e ilegais.
As discussões sobre o porquê de representarmos as três palavras das formas
como foram expressas foram ricas. As opiniões nem sempre são homogêneas. Basta
fazermos questionamentos polêmicos como de quem é a responsabilidade pela pobreza
que os argumentos surgem e reconstroem-se progressivamente. Foi possível notar que
há um senso comum de que a pobreza e as vilas são uma consequência direta da falta de
vontade e de empenho dos cidadãos em estudar e em trabalhar. Não há uma
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4136
contextualização da situação de vida dos menos favorecidos. E, ainda mais paradoxal, é
que grande parte dos alunos são de famílias pobres, mesmo assim não inserem-se no
grupo social desprivilegiado economicamente.
Levamos, por fim, a discussão para as questões relativas ao território e ao espaço
geográfico, problematizando as desigualdades sociais existentes no Brasil pela análise
da frase “Dos filhos deste solo, és mãe gentil [...]” trecho do Hino Nacional. Solicitamos
que os alunos respondessem a uma série de perguntas que evocavam os conceitos
estudados e que operacionalizassem as reflexões. Somos “filhos” do Brasil? Que
conceito mais se aplicaria a essa figura de linguagem? Por que há pobreza se todos
somos “filhos” do Brasil? As nossas ações e as nossas omissões influenciam nas
decisões políticas que deixam de ser criadas a favor dos menos favorecidos
economicamente? O Brasil é gentil com você? Dê exemplos que evidenciam que sim,
mas também que evidenciem que não é gentil. Como o poder e a posse sobre os
territórios podem produzir a pobreza? Afinal, a pobreza é natural ou uma consequência
da própria organização da sociedade?
Sem a pretensão de construir modelos de aulas ou receitas infalíveis,
acreditamos que a tarefa do professor de Geografia tem muito a contribuir para a
formação de um sujeito crítico, como se afirma há algumas décadas, e consciente de sua
cidadania, ou seja, de seu poder de transformação. E, talvez, um passo importante, seja
dado na direção da conscientização das classes menos favorecidas que o espaço
geográfico é um palco cujas ações cotidianas podem condicionar mudanças. Porém, as
transformações não são instantâneas: elas necessitam ser entendidas enquanto um
processo contínuo e infinito. E isso, acreditamos, deve estar intimamente atrelado às
nossas atitudes diárias. Se queremos a mudança e se oferecemos estratégias para que ela
ocorra, em parte, aos nossos alunos, antes devemos nos transformar.
Os discursos de tolerância às minorias, aos segregados e aos excluídos sempre
devem estar acompanhados das ações. Portanto, embora tão simples, aparentemente, é
fundamental que seja dado voz aos alunos – se aprende a participar, questionar, criticar,
discutir, ouvir quando se pratica em sala de aula, ou seja, participando, questionando,
criticando... Assim, as experiências de vida dos alunos, ao serem integradas aos
cotidianos escolares, poderão significar os conteúdos escolares. Como afirma Canclini,
“Conhecer implica socializar-se na aprendizagem das diferenças, no discurso e na
prática dos direitos humanos interculturais.” (2005, p. 237). E também é tarefa do
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educador ensinar a viver com o outro - e isso implica em conhecê-lo e respeitá-lo. É ao
ouvir o aluno que aprendemos sobre ele, sobre as suas histórias, sobre os seus anseios.
Como ensinar a alguém aquilo que não lhe faz sentido? Ou como ele pode aprender o
que ensino se não sei o que ele sabe, como ele pensa?
Reafirmamos o que salientamos anteriormente: a violência, a pobreza, a
criminalidade, o uso de drogas ilícitas, a favelização são temas que, quando discutidos
em sala de aula, caem em discursos fatalistas, simplificados por demais. Em discussões
com nossos alunos, é comum que eles atribuam esses problemas às particularidades
pessoais como desinteresse pelo trabalho, pelos estudos e até mesmo algo que os
sujeitos já trariam em sua bagagem hereditária – como a propensão ao crime, ao uso de
drogas, à violência.
Porém, tão fatalista quanto o aluno pode ser o professor, que desacredita os seus
alunos por não acreditar em si enquanto professor e na sua tarefa de educador, de
transformador. “O mundo não é. O mundo está sendo” (2010, p. 76) diria Paulo Freire.
Será que não estamos fazendo um outro mundo nas salas de aula? O que estamos
fazendo com o mundo e com os alunos em sala de aula? O que estamos fazendo nas
salas de aulas? Que Representações Sociais estaríamos construindo sobre nós mesmos,
sobre as nossas aulas, sobre a Geografia, sobre a escola? A escola é representada como
instrumento do Estado ineficaz pela mídia? Se sim, não temos a mídia para re-situarmos
os problemas e o lugar que a escola ocupa nos planos governamentais, mas temos a
escola: porque não a reconstruímos?
Eis a tarefa de nossas vidas profissionais.
BIBLIOGRAFIA
BECKER, Fernando. Educação e construção do conhecimento. 2 ed. Porto Alegre:
Penso, 2012
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Acesso em: 22 dez. 2012. 19:05 hs.
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modernidade. São Paulo: Edusp, 2005.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
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Roberto Lobato. Geografia: conceitos e temas. 10 ed. Rio de janeiro: Bertrand Brasil,
2007.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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A IMPORTÂNCIA DOS MATERIAIS DIDÁTICOS NO PROCESSO DE
APRENDIZAGEM DOS CONTEÚDOS DE CLIMATOLOGIA EM NÍVEL
ESCOLAR1
José Wanks Mendes Brito
2
Isorlanda Caracristi3
RESUMO
Trabalhar com a construção de materiais didáticos para o aprimoramento do estudo do clima é
importante por que faz uma interação entre teoria e prática, procurando relacionar os diferentes
tipos de clima e, ao mesmo tempo, trazendo uma discussão entre os alunos dos elementos e
fenômenos atmosféricos/climáticos do ambiente vivido pelo aluno e daqueles de âmbito global,
com o objetivo de propiciar bases técnico-pedagógicas voltadas para o estudo do clima no
contexto do ensino de Geografia, buscando uma melhor compreensão dos conceitos
climatológicos. A elaboração dos materiais didáticos se processa tendo como referência os
instrumentos científicos utilizados em estações meteorológicas, com metodologia fundada nos
princípios socioconstrutivista de Vygotsky (CASTROGIOVANNI, 2007) e no conceito de
clima da Climatologia Dinâmica, especificamente na proposição conceitual de Sorre (apud
CARACRISTI, 1996, p. 05). O material didático forma a base da construção do conhecimento e
possibilita a contextualização da teoria vista em sala de aula com a realidade social, é por isso
que, aliados à teoria, são fundamentais no processo educacional.
Palavras chave: Materiais didáticos; Estudo do Clima; Ensino de Geografia
ABSTRACT
Working with building materials for the improvement of the study of climate is important for
making an interaction between theory and practice, linking the different kinds of weather and at
the same time bringing a discussion among the students of the elements and atmospheric
phenomena / climatic environment experienced by the student and those of the global, with the
objective of providing technical and pedagogical foundations concerned with the study of
climate in the context of teaching Geography, seeking a better understanding of the
climatological concepts. The preparation of learning materials takes place with reference to the
scientific instruments used in weather stations, using a methodology based on the principles of
social constructivist Vygotsky (CASTROGIOVANNI, 2007) and the concept of climate
dynamics of Climatology, specifically the conceptual proposition Sorre (apud CARACRISTI,
1996, p. 05th). The teaching material forms the basis of knowledge construction and enables
contextualization theory views in the classroom with social reality, which is why, along with the
1 O presente trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo Brasileiro voltada para a
formação de recursos humanos. 2 Estudante do curso de Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA e bolsista do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID/UVA 2011; [email protected] 3 Professora do Curso de Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA.
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theory, are fundamental to the educational process.
Keywords: Instructional materials; Climate Study, Teaching Geography
INTRODUÇÃO
Clima é tudo o que se vê no espaço atmosférico, desde nuvens de tempestade até
um céu ensolarado. O meteorologista é o cientista que estuda o clima, que também é
estudado pelo geógrafo. Todos os tipos de tempo – ensolarado, chuvoso, nublado, com
neve, até mesmo os tornados e furacões – representam a dinâmica climática e são
formados a partir de três ingredientes fundamentais: água (precipitação, umidade),
vento (diferenças de pressão) e calor (radiação, diferenças de temperatura). Juntos, eles
formam a tríade básica do clima terrestre, que está em constante mudança.
Trabalhar com a construção de materiais didáticos para o aprimoramento do
estudo do clima é importante por que faz uma interação entre teoria e prática
procurando relacionar os diferentes tipos de clima e, ao mesmo tempo, trazendo uma
discussão entre os alunos dos elementos e fenômenos atmosféricos/climáticos do
ambiente vivido pelo aluno e daqueles de âmbito global. A construção desses materiais
tem como objetivo principal propiciar bases técnicas-pedagógicas voltadas para o
estudo do clima no contexto do ensino de Geografia, buscando uma melhor
compreensão dos conceitos climatológicos, onde o professor possa interagir com os
alunos mostrando uma prática diferenciada e motivadora do estudo do clima. O
professor poderá, ainda, desenvolver atividades voltadas às noções climáticas,
demonstrar para os alunos a importância das técnicas a partir das confecções de
materiais didáticos na compreensão dos conceitos geográficos e obter uma prática
pedagógica que desperta o interesse e o entendimento por parte dos alunos sobre
assuntos tão complexos como os sistemas climáticos.
A construção desses equipamentos em sala de aula deverá ser com materiais do
nosso cotidiano, geralmente recicláveis e atóxicos, contribuindo com processo de
educação ambiental.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
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A elaboração dos materiais didáticos se dá tendo como referência os
instrumentos científicos utilizados em estações meteorológicas, visando mostrar aos
alunos a interação entre a sala de aula e o campo e entre o conhecimento científico e
conhecimento prático para melhor compreensão dos conteúdos e formação do aluno.
A metodologia é fundada nos princípios socioconstrutivista de Vygotsky
(CASTROGIOVANNI, 2007) e no conceito de clima da Climatologia dinâmica,
especificamente na proposição conceitual de Sorre (apud CARACRISTI, 1996, p. 05)
que diz “[...] o clima é a série de estados atmosféricos acima de um lugar e sua sucessão
habitual”. A partir desses pressupostos, e tendo a realidade escolar como balizadora de
todo o processo de ensino-aprendizagem, procurou-se pensar uma atividade adaptada
aos alunos, aqui entendidos como um processo interativo entre circulação atmosférica e
os elementos do clima.
Seguindo essas orientações, foi proposta uma oficina para trabalhar a construção
de materiais didáticos voltados ao estudo do clima na aula de Geografia no Ensino
Fundamental II. Portanto, a mesma mostra que esses materiais são ferramentas
importantes no processo de ensino aprendizagem, e traz consigo sua relevância no que
se refere à possibilidade de visualização e manuseio, materializando os conteúdos
teóricos e conceituais.
A oficina foi aplicada no 9º Ano do Ensino Fundamental, para uma turma de 43
alunos4, e para sua aplicação, foram necessários dois dias para serem tratados os
conceitos do que é clima, como também toda sua dinâmica, e mostrar a prática dos
instrumentos meteorológicos e suas aplicações da relação com o clima.
O primeiro dia foi demonstrado como funciona os principais instrumentos para a
coleta de informação referente à atmosfera. Nessa etapa da oficina, foram apresentados
à turma os instrumentos meteorológicos através de imagens e também, com os materiais
já confeccionados e que já utilizamos no nosso dia-a-dia, em práticas educacionais.
Portanto, são estes os instrumentos: Pluviômetro, Anemômetro, Higrômetro e Cata-
vento.
Já no segundo dia os alunos construíram, tendo como referência todo o
embasamento teórico anterior, esses instrumentos com diversos materiais que estão
presentes no cotidiano deles, ou seja, materiais recicláveis descartados. Nessa etapa, a
4 O trabalho foi realizado na E.E.F.M. Ministro Jarbas Passarinho, no município de Sobral-CE.
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turma foi dividida em seis (06) equipes e cada uma irá confeccionar um determinado
instrumento de acordo com o que desejar, proposto na oficina. Todos esses
procedimentos foram desenvolvidos coletivamente, sob a orientação docente,
estimulando-se a interação entre teoria e prática e cooperação entre os alunos, seguindo
os pressupostos socioconstrutivistas.
O material necessário para as confecções desses instrumentos está de acordo
com cada um, dependendo de suas funções e constituições.
RESULTADOS OBTIDOS
A intenção dos materiais didáticos construídos pelos alunos é de se alcançar, o
máximo possível, a aproximação do real, já que os materiais didáticos não são
cientificamente testados, e que na proposta da oficina, são utilizados para fazer uma
interação entre a teoria explicada na sala de aula e a prática do estudo de campo.
Os instrumentos foram construídos da seguinte maneira:
PLUVIÔMETRO
O pluviômetro (figura 01) serve para medir a quantidade de água no decorrer das
chuvas ou precipitações pluviais. É composto de uma proveta que possui capacidade de
400 mm³ de captação de água. Sua eficiência é vista na coleta de água que é acumulada
pela proveta e quando se abre a torneira é perceptível a elevação da água pela escala
dada no determinado dia e hora do ano na proveta graduada.
Figura 01: Pluviômetro Científico
Fonte: BRITO, J.W.M. 2012
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Para construir um pluviômetro, os materiais utilizados foram os seguintes: bolas
de gude; régua; garrafa pet; tesoura; fita adesiva; jarra de água. Seguindo o passo a
passo, fazemos as seguintes etapas: pegar a garrafa pet e fazer um corte onde a largura
da garrafa é igual à base; grude finas tiras de fita adesiva no lado da garrafa, elas serão a
escala, que serão de 10 mm; logo depois, colocar as bolas de gude no fundo da garrafa;
virar o topo de cabeça para baixo e prendê-la na garrafa com fita adesiva; despejar água
até a tira inferior da escala para que a garrafa não vire e as bolas sirvam como contra-
peso. Após todos esses procedimentos, levar o pluviômetro para fora em local afastado
de casas e árvores. Após a chuva, ver qual o ponto da escala for atingindo pela água. Na
figura 02, podemos observar os alunos construindo um pluviômetro utilizando os
materiais recicláveis.
Figura 02: Alunos construindo um Pluviômetro
Fonte: BRITO, J.W.M. 2012
O pluviômetro possui seu topo largo onde recolhe a água da chuva, que é
conduzida por um tubo estreito para dentro de um medidor. As chuvas são registradas
todos os dias.
ANEMÔMETRO
O anemômetro (figura 03) é acionado em contato ar em movimento e faz a leitura
da direção e intensidade dos ventos, tão quanto sua velocidade. Eles podem ser
colocados suspensos e/ou em algum tipo de base ou no solo.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4144
Figura 03: Anemômetro Científico
Fonte: BRITO, J.W.M. 2012
Para construir um anemômetro, foram utilizados os seguintes materiais: garrafa
de água; fita adesiva; espetinho de churrasco; canudo; papelão ou cartolina grossa;
massinha de modelar; régua de 15 cm; tesoura e lápis. Seguindo o passo a passo,
segurar a régua em um dos cantos da cartolina e firmar o lápis na outra ponta e depois
girar a régua para traçar uma curva; trace as linhas do canto ate a borda da curva e
depois recortar. Os espaços entre as linhas devem estar iguais, pois essa é a escala;
prenda a régua em uma das pontas do espeto e o canudo na tampa da garrafa; fixar o
canudo de modo que um dos lados fique sobre a borda da tampa; enfiar o espeto no
canudo e por uma bola de massinha em sua extremidade; fixar a escala de modo que a
régua penda sobre o canto. Observa-se na figura 04 os alunos construindo um
anemômetro.
Figura 04: Alunos construindo um Anemômetro
Fonte: BRITO, J.W.M. 2012
Está feito o anemômetro. Logo após, levar o anemômetro para fora e de acordo
com a força do vento, ele empurra a régua e vai marcando a sua força ou velocidade.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4145
A velocidade do vento depende das diferenças de pressão atmosférica, ou seja, a
força com que o vento empurra as coisas depende das diferenças de densidade do ar (se
mais leve ou mais pesado). O ar move-se de regiões de alta pressão para regiões de
baixa pressão. Quanto maior a diferença de pressão, mais forte é o vento.
HIGRÔMETRO
O higrômetro (figura 05) é um instrumento que serve para medir o grau de
umidade, ou seja, a quantidade de vapor de água encontrada no ar. É utilizado
principalmente em estudos do clima, mas também em locais fechados onde a presença
de umidade excessiva ou abaixo do normal poderia causar danos, por exemplo, em
peças de museus, documentos de bibliotecas e elementos de laboratórios.
Figura 05: Higrômetro Cientifico
Fonte: BRITO, J.W.M. 2012
Para construir um higrômetro foi preciso os seguintes materiais: furador de papel;
canudo de refrigerante; caneta hidrográfica; mata-borrão; cola; caixa de papelão;
palitinho; tesoura; alfinete; massinha de modelar; tira de papel cartão. O passo a passe
segue as etapas: recortar vários quadrados de mata-borrão, fazer furos no meio de cada
quadrado e enfileirá-los no lado cumprido do canudo; use a massinha para fixar o
palitinho no outro lado do canudo, para servir de ponteiro; se o dedo ficar muito
próximo do mata-borrão, acrescente massinha para mudar o ponto de equilíbrio; logo
em seguida, colocar o alfinete no ponto de equilíbrio do canudo; logo, dobre o cartão
para fazer um suporte, e cole-o em uma das extremidades da caixa; equilibre o ponteiro
no suporte e faça uma escala na tira de papel e cole-a na caixa e marque o ponto inicial;
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4146
em seguida, levar o higrômetro para lugares secos e úmidos. Na figura 06, alunos
construindo um higrômetro seguindo as recomendações.
Figura 06: Aluno construindo um Higrômetro
Fonte: BRITO, J.W.M. 2012
No ar úmido, o mata-borrão absorve o vapor de água e ele fica mais pesado e o
ponteiro sobe; se o ar estiver seco, o mata-borrão resseca e fica leve e o ponteiro desce.
O higrômetro deve ser levado para lugares como uma cozinha, sótão, perto de um
aquecedor de ar, num banheiro, contanto que seja longe de correntes de ar.
CATA-VENTOS
Os cata-ventos (figura 07), e/ou também chamados popularmente de “Birutas”,
são indicadores de direção do vento, com setas que giram sobre um eixo vertical. São
usados na maioria dos casos em aeroportos para indicar a direção do vento.
Figura 07: Cata-veto
Fonte: BRITO, J.W.M. 2012
Para construir um cata-vento, foram utilizados os seguintes materiais: papel-
cartão; papel comum; cola; massinha de modelar; vaso de cerâmica; tesoura; espetinho
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4147
de churrasco; régua; lápis; caneta hidrográfica e dois canudos. Para construir o cata-
vento vamos seguir as seguintes etapas: primeiro, devemos cortar o papel-cartão em
forma de triângulo e em seguida cortar a ponta; faça dois cortes no canudo e encaixar
num deles a ponta do triângulo e em outro, a base: esta é a seta de indicação. Enfie a
ponta do espeto no meio do canudo; trace duas linhas entre as vértices do papel,
colocando o buraco do vaso em cima do lugar onde as duas linhas se cruzam; recorte o
circulo externo e faça um corte até o circulo interno; em seguida, recortar e colar na
base do vaso; com as sobras do papel-cartão, fazer ponteiros para as linhas, para servir
de marcação das direções N, S, L e O. Logo depois, inserir o outro canudo no buraco do
vaso e introduzir a seta. Esse é o cata-vento. Na figura 08, observa-se os alunos
construindo o cata-vento a partir das recomendações da oficina.
Figura 08: Alunos construindo um Cata-vento
Fonte: BRITO, J.W.M. 2012
O Cata-vento (ou Biruta) é utilizado em aeroportos, portos e campos de pouso
para direcionar o vento e, na maioria das vezes, em fazendas localizadas em áreas com
presença maciça de furacões ou tornados, para servir de alerta.
Depois de construídos, os instrumentos foram levados a campo pelos alunos para
que fizessem essa interação a partir das observações.
É notável a busca pelos conhecimentos obtidos pelos materiais didáticos, tanto
do professor como dos alunos. Essa busca de conhecimentos mostra o quanto é
importante trabalhar com materiais didáticos no ensino da Geografia.
O uso desses instrumentos trouxe para os alunos capacidade de extrair
informações capazes de desenvolver ações que fazem da prática escolar em práticas
utilizadas no dia-a-dia, despertando-os para as questões científicas voltadas à
conscientização ambiental das questões pertinentes aos seus espaços de vivência.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4148
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que analisamos ainda hoje no ensino de Geografia Física, principalmente no
ensino do Clima nas escolas de ensino fundamental é a permanência de uma Geografia
de caráter positivista, onde se trabalha apenas a quantificação e a classificação dos
fenômenos ocorridos nas paisagens ou sistemas naturais.
Os materiais didáticos usados serviram de instrumentos para a compreensão dos
conteúdos escolares, aumentando a dinâmica educacional e auxiliaram o professor a
transformar os fenômenos climáticos em temas de aulas interessantes para os alunos
(2011).
A partir do desenvolvimento desses materiais, os alunos envolvidos tiveram um
conhecimento mais abrangente nos assuntos que diz respeito à Climatologia e serviram
de base para a construção de uma nova forma de vê e compreenderem a realidade em
que vivem.
Os materiais didáticos constituem um belo modelo de ensino e compreensão dos
fenômenos climáticos que não são trabalhados em livros didáticos, auxiliando na
materialização dos conceitos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, Francisca Costa. A construção de materiais didáticos pelos licenciandos
em Geografia: uma contribuição ao ensino. – Sobral – CE, Monografia de
Graduação, Curso de Geografia – UVA, 2007.
ARDLEY, Neil. Coleção Jovem Cientista. Tradução de Marcelo Pen Parreira. Editora
Globo S/A. Rio de Janeiro, 1996.
CARACRISTI, Isorlanda - A Climatologia: Domínios e Métodos - Jornal Espaço -
Tempo. Ano 1, nº 1 - Casa da Geografia de Sobral/UVA – Sobral/CE, 1996.
CAVALCANTE, Lana de Souza. A formação critica do profissional em Geografia:
elementos para o debate. In: _______. Geografia e práticas de ensino. Goiânia:
Alternativa. 2002.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.
São Paulo: Paz e Terra, 1996.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4149
MUNIZ, F. Gerson Lima - A Construção de Materiais Didáticos como Técnica de
Aprendizagem da Climatologia Geográfica nas Séries Iniciais do Ensino
Fundamental – Sobral/CE, Monografia de Graduação, Curso de Geografia – UVA,
2010.
REGO, N.; CASTROGIOVANNI, A.C.; KAERCHER, N. A. (orgs) Geografia – Porto
Alegre: Artmed, 2007.
VESENTINI, J. W. Realidades e perspectivas do ensino de geografia no Brasil. In:
VESENTINI, J. W. (org.). O ensino de geografia no século XXI. Campinas, SP:
Papirus, p.219-248, 2004.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4150
A EMERGÊNCIA DIALÓGICA ENTRE PROFESSOR DE GEOGRAFIA
E A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Prof. Dr. Paulo Roberto Florencio de Abreu e Silva
1
Prof. Dr. Antonio Carlos Castrogiovanni2
Profa. Ms. Ijaciara Barros de Abreu3
RESUMO
A emergência dialógica, entre os professores de Geografia e a tecnologia da informação, é uma
necessidade contemporânea. Para atender esta emergência, o professor precisa sair do seu
arcabouço tradicional e (re) construir a importância da pesquisa, como sendo uma exigência do
ensino atual. A tecnologia da informação participa desta exigência através de seu uso, pois as
aulas de Geografia parecem sair da linearidade, tendo como consequência o gostar de ensinar e
aprender. As novas tecnologias da informação, como os computadores e as comunicações, que
gradualmente se vão difundindo, em toda sociedade, buscam profundas alterações no modo de
produzir, como também na forma de transmitir, analisar e representar a informação. Este
trabalho visa despertar nos graduandos do curso de Licenciatura em Geografia, nos professores
egressos desses cursos e nos estudantes do Ensino Fundamental e Médio, a importância das
novas tecnologias no ensino da Geografia, bem como na construção do conhecimento
cartográfico. Na educação, essas novas tecnologias, abrem novas relações entre quem aprende e
quem orienta a aprendizagem, agindo como potencializador nestas novas relações e abordagens
ao sistema educativo.
Palavras chave: Tecnologia da Informação, Sistema de Informação geográfico/cartográfica,
Ensino de Geografia.
INTRODUÇÃO
A Geografia tem por tarefas descrever, analisar e produzir os acontecimentos
terrestres e, para exercê-las, o geógrafo ou o professor de Geografia tem a necessidade
de recorrer à representação da superfície terrestre em suas atividades.
Neste contexto, o entendimento das relações espaciais é fundamental para a
leitura das representações cartográficas, e nos permite interpretar os fenômenos que
ocorrem no espaço geográfico, configurando, pois, a dialógica entre a Geografia e a
Cartografia.
1 FAMASUL (Faculdade de Formação de Professores da Mata Sul de PE – Brasil);
([email protected]) 2 UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) ;([email protected])
3 FBV (Faculdade Boa Viagem – PE- Brasil) ;([email protected])
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4151
Verifica-se, no entanto, que essas relações quase não são vivenciadas nas
escolas, principalmente no Ensino Fundamental. As crianças não recebem informações
das representações espaciais. Parece que o problema está na falta de habilidade do
professor em trabalhar a Cartografia.
As novas tecnologias da Informação, como os computadores e as comunicações,
que gradualmente se vão difundindo em toda sociedade, buscam profundas alterações
no modo de produzir, transmitir, analisar e representar a informação.
Na educação, as tecnologias abrem novas relações entre quem aprende e quem
orienta a aprendizagem, agindo como potencializador destas relações educativas. A
Tecnologia da Informação parece que, progressivamente, tem chegado às aulas de
Geografia, porém, de forma lenta, por conta da formação do professor de Geografia, ou
não?
Neste contexto, entendemos que os professores passam a ser meros observadores
e não participantes do processo tecnológico de ensino.
Na elaboração deste trabalho, a estrutura ficou assim delineada:
As novas tecnologias no ensino de Geografia. Apresentamos uma análise da
importância, nos dias de hoje, da implantação das novas tecnologias no ensino da
Geografia. A TIC oferece vantagens no processo ensino-aprendizagem, que contribuem
para o desenvolvimento e participação no processo de aquisição de dados, bem como,
na análise e na representação da informação. Indicamos, ainda, o esquema da obviedade
do professor, quando em sala de aula.
AS NOVAS TECNOLOGIAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA
Identificamos dificuldades na construção do conhecimento cartográfico no
ambiente escolar, das escolas pesquisadas em nossa tese de doutoramento. Diante dos
processos retroativo e recursivo, envolvidos no processo ensino/aprendizagem, bem
como na forma de ensinar Geografia, na escola dita tradicional, que inibe a criação do
aluno, inibe o processo afetivo e desenvolvem atividades lineares, as TIC oferecem
condições para um trabalho não linear.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (1997) que apresentam as
diretrizes curriculares nacionais do Ensino Fundamental e Médio apontam, como uma
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4152
das tarefas do Ensino Fundamental, a utilização, pelos alunos, de diferentes fontes de
informação e recursos tecnológicos, para adquirir e construir conhecimentos.
A Geografia trabalha com imagens, recorre a diferentes linguagens na busca de
informações e como forma de expressar suas interpretações, hipóteses e conceitos. Pede
uma cartografia conceitual, apoiada numa fusão de múltiplos tempos e numa linguagem
específica, que faça da localização e da espacialização uma referência da leitura das
paisagens e seus movimentos.
Crianças e jovens já convivem com uma realidade virtual, através de jogos
eletrônicos, internet, televisão, e vivenciam, também, os produtos em diversas escalas,
como fotografias aéreas. Até mesmo, interagem com escalas diferentes, quando
observam a cidade de cima de seus apartamentos, ou quando viajam de avião. Muitos já
têm alguma percepção do espaço geográfico que convivem e, estão em condições de
interpretá-lo, no entanto, a maioria, deve ser preparada para a percepção do espaço
geográfico. Corroborando com essa afirmativa, Papert (2012 p. 65) nos ilumina:
Espalhado pelo mundo existe um caso de amor entre crianças e computadores. Trabalhei
com crianças e computadores na África, Ásia e América, em cidades e subúrbios , em
quintais e no mato. Trabalhei com crianças ricas e pobres, com filhos de pais letrados e
filhos de pais analfabetos. No entanto, essas diferenças não parecem ter importância. Em
todo lado, com poucas exceções, vi o mesmo brilho nos olhos, o mesmo desejo de se
apropriarem dessa coisa. Não se limitando a desejá-lo, parecia que lá no fundo já sabiam
que lhes pertencia. Sabiam que o podiam dominar mais facilmente e mais naturalmente
do que os seus pais. Sabem que pertencem à geração dos computadores.
Neste contexto, o aprendizado pode ser intrinsecamente motivador quando o
professor, num trabalho de conhecimento prévio com seus alunos, for capaz de
identificar as diferentes formas de aprender que, segundo Gardner (1994), são:
Linguística, Lógico Matemática, Espacial, Corporal Cinestésica, Musical, Interpessoal,
Intrapessoal, Naturalista.
Um processo motivador de ensino parece ser a forma Espacial, que desenvolve a
capacidade de pensar em formas tridimensionais, bem como perceber imagens internas
e externas, recriar, transformar ou modificar imagens, transportar a si mesmo e a objetos
pelo espaço, produzir ou decodificar informação gráfica (CHRISTENSEN; HORN e
JOHNSON, 2009). Assim, o professor de Geografia, utilizando as imagens em suas
aulas, poderá desenvolver esta forma de aprender, com os sujeitos alunos, saindo de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4153
aulas tradicionais pautadas em conteúdos meramente descritivos, decorativos, pois nos
dias de hoje, com a diversidade tecnológica disponível, este professor poderá
desenvolver atitudes não lineares em suas aulas.
A construção do conhecimento cartográfico, na contemporaneidade, exige aulas
não lineares e, corroborando com a prática do professor, existe a tecnologia, com a
diversidade de softwares e ferramentas disponíveis na Internet, possibilitando condições
didáticas para trabalhar este conhecimento.
Pensamos que o professor de Geografia não deve trabalhar, em sala de aula, com
uma só nota musical ou com instrumentos de uma corda só, ele deve construir o
conhecimento geográfico/cartográfico, com melodias onde possa dispor de todas as
cordas do seu potencial e com todas as notas musicais, para buscar novas atenções,
novas ações, pois, segundo Piaget, o sujeito só aprende através de uma ação. O
professor que trabalha de maneira horizontal, não tem como ver acima dessa
linearidade, mas, o que trabalha de forma vertical, pode criar horizontes e escalas para
metas planejadas. Portanto, o professor de Geografia deve deixar de ser professor óbvio,
isto é, não trabalhar a mesmice no seu dia a dia, pois como diz Heráclito, “Uma
oportunidade perdida está perdida para sempre”. Podemos identificar a obviedade do
professor através do sistema:
ESQUEMA 1– SISTEMA DO PROFESSOR ÓBVIO
Fonte: Autores
As atitudes do professor óbvio são representadas pelas ações: o professor fala, e
o aluno escuta, o professor pede para abrir o livro didático, faz a leitura, faz algum
comentário do texto lido; pede para fazer exercícios da determinada página. Faz a
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4154
chamada e diz até a próxima aula. “Penso que o professor age assim porque acredita que
o conhecimento pode ser transmitido para o aluno. Ele acredita no mito da transmissão
do conhecimento”, (BECKER, 2012, p.16).
Na maioria das escolas públicas e privadas, no Estado de Pernambuco, existem
laboratórios de informática, com disponibilidade para uso da Internet. Mas esses
laboratórios parecem ser pouco utilizados, ou com uso fora das disciplinas, isto é, os
professores das disciplinas não utilizam o laboratório, cujas atividades no laboratório
são disponibilizadas pelos “amigos da escola” que ensinam informática aos alunos.
Segundo Silva e Castrogiovanni (2011, p.25):
A facilidade gerada com o avanço da informática, aliada aos conhecimentos
cartográficos desenvolvidos durante séculos de estudo, que agora estão dispersos nos
computadores, tiram do docente aquele velho pretexto de que não sabe cartografia
devido a sua formação superior deficiente.
Corroborando com os autores, essa prática deve ser desenvolvida, também, na
formação desses professores, pois elas poderão ser irradiadas no ensino escolar.
A TIC E A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO DA GEOGRAFIA
Neste momento, em que estamos vivenciando uma mudança cultural das nossas
crianças, no convívio diário e consecutivo com a tecnologia, parece fazer emergir
perspectivas tecnológicas no processo ensino aprendizagem, irradiando esse convívio na
sala de aula.
Segundo Sancho e Hernández (2006, p.19) “Muitas crianças e jovens crescem
em ambientais altamente mediados pela tecnologia, sobretudo a audiovisual e a
digital”. Entendemos que a TIC atrai, de forma especial, esses sujeitos, e que o
professor de Geografia deve utilizar essa tecnologia, no sentido de abrir possibilidades
interativas. Ainda conforme o autor,
O computador e as suas tecnologias, associadas, sobretudo a Internet, tornaram-se
mecanismos prodigiosos que transformam o que tocam, ou quem os toca, e são capazes,
inclusive, de fazer o que é impossível para seus criadores. Por exemplo, melhorar o
ensino, motivar os alunos ou criar redes de colaboração. (p.17)
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4155
Neste contexto, os professores contemporâneos estão também fascinados pelo
uso da TIC, ou não? Entendemos que alguns começam a despertar e se apropriar dessas
tecnologias, mas outros parecem que estão ainda longe de saberem utilizar e/ou para
convertê-los em conhecimento.
Pensamos que a educação contemporânea se insere numa realidade tecnológica
que caminha numa grande velocidade. A Sociedade da Informação dispõe de redes
digitais de serviços integrados que conectam, ao mesmo tempo, diversos equipamentos
eletrônicos que permitem interagir dados, texto, imagens e som. Esses avanços
tecnológicos trouxeram um leque de possibilidades para serem utilizados no âmbito
educacional, e para a construção do ensino da Geografia, mais ainda. Nós professores
trabalhamos com muitos conceitos de diversas disciplinas e que, por serem conceitos
representativos, as TICs parecem favorecer a motivação e a capacidade cognitiva dos
sujeitos.
Como professores, precisamos estar atentos para não cairmos nos abismos da
alienação, desprezando assim, elementos fundamentais, como são os aspectos
filosóficos, políticos e epistemológicos da educação. O governo de Pernambuco
anunciou a entrega de tablets para professores e alunos da Rede Estadual de Ensino.
Parece que a simples presença dos tablets nas aulas de Geografia não significa uma
mudança pedagógica, se não são trabalhados os conteúdos da Geografia/Cartografia.
Daí a nossa inserção em que os professores de Geografia possam planejar suas aulas no
tablet e disponibilizar aos alunos a interatividade Geografia/Cartografia/Internet; pois os
professores de Geografia na utilização das TIC nas aulas, desperta a convicção que uma
nova forma de ensinar, no processo retroativo, corresponderá a uma nova forma de
aprender. Na teoria construtivista, essa possibilidade de oferecer aos sujeitos novas
ferramentas para que construam seus conhecimentos, desenvolvam sua própria base de
conhecimento, desmistifica o transmitir qualquer conhecimento.
Pensamos que a introdução das TIC no sistema educacional parece ser um
tormento para muitos docentes, mas para esses professores podem ser visto como uma
desordem no sentido de mudança pedagógica, a dúvida funciona como estratégia de
reflexão para aprender e ensinar com a tecnologia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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A emergência dialógica entre professor de Geografia e a Tecnologia da
Informação, parece que não terá um fim, o processo de dialogicidade entre o professor e
as novas tecnologias, parece estar num processo ascendente.
Para atender esta exigência o professor precisa sair do seu arcabouço tradicional
e (re) construir a importância da pesquisa, como sendo uma necessidade do ensino atual.
Sabemos que a ciência apresenta a realidade articulada numa linguagem científica e
que, o conhecimento teórico projeta paradigma que orienta a investigação; para isso, é
necessário o professor se autoanalisar epistemologicamente.
Ser professor neste século, como foi no anterior, é um desafio, não pequeno. Por
termos sido formados na escola tradicional, o nosso movimento no ensinar não obriga
necessariamente o aprender. No envolvimento neste paradigma conservador, somos
cegos na compreensão do caos, da ordem fazendo parte da desordem, da incerteza
fazendo parte da certeza, como também da linearidade; muitas vezes transferindo o não
aprender ao sujeito aluno.
Desta forma, o professor de Geografia, sendo um professor pesquisador, fará
com que seus alunos também os sejam; e no movimento com as novas tecnologias
possam deixar de serem alunos copiadores, para serem alunos pesquisadores.
REFERÊNCIAS
CHRISTENSEN, C.M.; HORN, M.B.; JOHNSON, C.W. Inovação na Sala de Aula:
como a inovação de ruptura muda a forma de aprender. Porto Alegre: Bookman,
2009.
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
Geografia (PCN– 5ª à 8ª séries) – Brasília; MEC/SEF,1997.
BECKER, F. Educação e construção do conhecimento. Porto Alegre: Penso, 2012
GARDNER, H. Estruturas da Mente: A teoria das inteligências múltiplas. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1994.
PAPERT, S. A Máquina das Crianças: Repensando a Escola na Era da Informática.
Porto Alegre: Penso, Ed. Revisada, 2012.
SANCHO, J. M.; HERNÁNDEZ, F. Tecnologia para transformar a Educação. Porto
Alegre: Artmed, 2006.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4157
SILVA, Paulo R.F. de Abreu; CASTROGIOVANNI, A. C. A Dialógica Emergente da
Geografia e da Cartografia no Ensino Escolar. IX Enampege, Goiânia, 2011
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4158
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DOS TEXTOS DE GEOGRAFIA: O
TRABALHO COM IMAGENS E CHARGES ENQUANTO
ALTERNATIVA COMPLEMENTAR À LEITURA
José Márcio Santos SILVA - ID1
Josandra Araújo Barreto de MELO2
RESUMO
O problema da leitura e interpretação de textos vem se configurando como um entrave na
educação do país, fruto, sobretudo, do não aprimoramento dessas habilidades ainda nos anos
iniciais da educação básica. A partir desta constatação, este artigo vem apresentar os resultados
de um trabalho que vem sendo desenvolvido na atuação junto à Universidade Estadual da
Paraíba, através do Programa Institucional de Bolsas e Iniciação à Docência (PIBID),
Subprojeto de Geografia, nas turmas do primeiro ano do Ensino Médio, na Escola Estadual de
Ensino Fundamental e Médio Senador Argemiro de Figueiredo (Polivalente), em Campina
Grande/PB. A partir do mesmo, vem sendo possível analisar o desenvolvimento das turmas
envolvidas com relação à leitura e interpretação de textos geográficos, com a utilização de
imagens e charges, recursos de grande importância para o estudo de Geografia em sala de aula.
Fundamentado em teorias de estudiosos da área em questão, o presente estudo relaciona a teoria
e a prática, objetivando conseguir fazer com que os alunos sejam capazes de compreender a
Geografia a partir da inter-relação entre a linguagem escrita e a linguagem das imagens, como
também das informações e experiências cotidianas de cada aluno, em busca da transformação
desses conhecimentos em conhecimento cientifico, a partir da inter-relação entre as diversas
escalas geográficas. Por fim, estima-se que a intervenção/colaboração com a utilização de
imagens e charges, tenha sido responsável pela melhoria no ensino nas turmas envolvidas no
PIBID/CAPES/UEPB/Subprojeto de Geografia.
Palavras-chave: Ensino de Geografia; Leitura e interpretação de textos; Imagens e charges.
INTRODUÇÃO
São muitos os estudos que buscam, além da compreensão, resultados que
ajudem a desenvolver boas práticas de leitura ao longo da vivência escolar. Segundo
matéria publicada na revista Veja, em Maio de 2011, no Brasil, estima-se que ao final
do ensino básico 62% dos jovens são incapazes de ler e interpretar de maneira eficiente
determinados textos, científicos ou não, e 89% não sabem fazer operações aritméticas
1 Graduando em Geografia. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência –
PIBID/CAPES/UEPB. E-mail: [email protected] 2 Coordenadora da Área de Geografia do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência –
PIBID/CAPES/UEPB. E-mail: [email protected].
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4159
básicas, isso em um país que ainda abriga 14 milhões de analfabetos e que aparece na
53º posição entre os 65 avaliados pelo Programme for International Student Assessment
- PISA, o mais rigoroso teste comparativo internacional de desempenho escolar.
A transformação da educação depende de mudanças na sociedade, pois a forma
de organização socioeconômica interfere no trabalho escolar e no rendimento dos
alunos. Muitas crianças precisam trabalhar ao invés de irem à escola. A pobreza e as
condições adversas de vida das crianças e jovens e de suas famílias, sem dúvida, geram
dificuldades para a aprendizagem dos alunos, conforme destaca José Carlos Libâneo:
Um dos mais graves problemas do sistema escolar brasileiro é o fracasso escolar,
principalmente das crianças mais pobres. O fracasso escolar se evidencia pelo grande
número de reprovações nas séries iniciais do ensino de 1º grau, insuficiente
alfabetização, exclusão da escola ao longo dos anos, dificuldades escolares não
superadas que comprometem o prosseguimento dos estudos (LIBÂNEO 1994, p. 40).
Isso tudo significa que se devem compreender os problemas na educação pública
dentro da problemática maior da estrutura social.
Por outro lado, as estatísticas brasileiras fazem acreditar que a escola terá
cumprido sua missão se criar um sujeito ajustado, ainda que não saiba as operações
básicas nem consiga escrever dois parágrafos inter-relacionados. Isto é uma constatação
que se presencia na prática. Ao ingressar em sala de aula por intermédio do estágio
supervisionado, exigência da licenciatura e, posteriormente através do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), percebeu-se a dificuldade dos
alunos quanto à leitura e interpretação de textos da disciplina Geografia.
Nesse contexto, a proposta de intervenção vem sendo realizada nas aulas de
Geografia da professora supervisora do PIBID na E.E.E.F.M. Senador Argemiro de
Figueiredo (Polivalente), Campina Grande/PB. Nas turmas de 1ª Série do Ensino
Médio, foi diagnosticada uma lacuna nas habilidades de leitura e interpretação dos
textos do livro didático por parte dos alunos, o que motivou o uso de imagens e charges
que ilustram os conteúdos, procurando articular as diversas escalas geográficas.
Fundamentado em teorias acerca da questão, a ação implementada na escola e
analisada neste artigo, procurou fazer com que os alunos fossem capazes de
compreender a Geografia a partir da inter-relação entre a linguagem escrita e a das
imagens, como também das informações e experiências cotidianas em busca de sua
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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transformação em conhecimento cientifico, a partir da articulação entre as escalas
geográficas.
A proposta em análise se encontra fundamentada em alguns trabalhos já
realizados e que apresentaram resultados proveitosos para o processo de ensino-
aprendizagem, podendo-se citar Silva (2004), Souza (2009), Santos (2009), Gonçalves
(2009), em que se buscou com o uso de imagens e charges facilitar o entendimento de
temas essencialmente geográficos.
METODOLOGIA
LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Senador Argemiro de
Figueiredo - Polivalente localiza-se na Avenida Elpídio de Almeida, bairro do Catolé,
em Campina Grande-PB.
Fundada há mais de 30 anos, a escola representa um espaço significativo dentre
as escolas públicas da cidade. Atende a alunos de diversos bairros nas modalidades
Ensino Fundamental e Médio, além de trabalhar com Educação de Jovens e Adultos. É
mantida pela Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Paraíba e recursos do
FUNDEB (Fundo Nacional de Educação Básica), PDE (Plano de Desenvolvimento da
Educação) e PDDE (Plano de Desenvolvimento Direto para a Escola).
A escola, além de direcionar suas ações à comunidade, estabelece parceria com
o meio acadêmico, recebendo estagiários das variadas áreas do conhecimento e
envolvendo-se em programas e projetos que julgam capazes de contribuir para a
elevação da qualidade do ensino oferecido na instituição, a exemplo do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID).
MÉTODO
O trabalho desenvolvido na escola faz uso prioritário do método
fenomenológico-humanista que, segundo Sposito (2000), utiliza “técnicas não
quantitativas como entrevistas livres, depoimentos, vivências, memórias, narrações,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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histórias de vida etc. O concreto é colocado em suspensão para que se alcance o eu puro
frente ao qual esta o fenômeno puro” (SPOSITO, 2000, p. 351).
Nestes termos, ao considerar o ensino sob uma visão humanizada, destaca-se a
importância do professor selecionar meios de trabalhar os conteúdos geográficos, inter-
relacionando a escala global com a local, ou seja, com o cotidiano do aluno.
TÉCNICAS
As técnicas implementadas começaram com a aplicação de questionários nas
turmas dos 1º anos “A” e “D” do Ensino Médio, envolvidas no PIBID, subprojeto de
Geografia, visando diagnosticar a percepção dos alunos em relação à disciplina, as
principais dificuldades no ensino-aprendizagem dos conteúdos, dentre outras questões.
Identificadas às demandas, foi elaborado um projeto de
intervenção/colaboração3 para as referidas turmas, que objetivou trabalhar com imagens
e charges, procurando atingir os objetivos da proposta e, consequentemente, amenizar
as deficiências diagnosticadas pelos questionários e conhecimento prévio da turma.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nas aulas de Geografia, foi possível perceber um desinteresse por parte dos
alunos em relação aos conteúdos do livro didático que, em quase sua totalidade,
distanciam-se bastante da realidade. Isto, de certa forma, contribui para o descrédito da
disciplina, pois somente uma pequena parcela consegue fazer conexões entre o
conhecimento geográfico apresentado no livro com a sua realidade. Além disso, foi
possível observar como é difícil para os alunos conseguirem compreender os conteúdos
do livro, visto que não apresentam boa prática de leitura e interpretação textual,
configurando-se como uma deficiência trazida das séries iniciais da educação básica.
Mediante essas constatações, foi posta em prática a proposta de intervenção, a
partir do trabalho com o uso de imagens e charges relacionadas aos conteúdos
trabalhados em sala de aula, na sequencia relatada a seguir. Primeiramente, foi
3 Projeto que vem sendo executado com a anuência da professora titular de Geografia, que exerce o papel
de supervisora no âmbito do projeto PIBID/UEPB.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4162
trabalhado o capítulo do livro didático5, que mostra a relação entre sociedade e natureza
na organização do espaço, em que se destaca a cidade de São Paulo e uma área rural
próxima a Londrina no Paraná, associando ao fato do ser humano atuar no espaço
geográfico, transformando-o constantemente.
É possível verificar a distância entre os conhecimentos dos alunos de C. Grande
e a área escolhida como exemplo para a temática pelos autores do livro didático. Dessa
forma, em consonância com a opinião de Cavalcanti (2002) quando diz que “a escola
deve fazer uso de outras linguagens e de outras formas de expressão para procurar se
aproximar mais da realidade dos educandos”, procurou-se fazer uma articulação com a
escala local, trazendo-se para a sala de aula uma fotografia aérea da cidade de Campina
Grande (Figura 2), identificando os espaços rurais contidos no urbano que, dependendo
das necessidades socioeconômicas, vem sendo transformado pela ação humana,
contribuindo para configurar o espaço geográfico.
FIGURA 02: CAMPINA GRANDE: O URBANO E O RURAL
Fonte: Google Imagens.
Procedimentos semelhantes foram utilizados por Souza (2009) nas aulas de
Geografia do ensino médio do Colégio Estadual Polivalente de Castro Alves, BA.
5 BIGOTTO, José Francisco. Geografia: Sociedade e Cotidiano, fundamentos. José Francisco Bigotto,
Márcio Abondanza Vitiello, Maria Adailza Martins de Albuquerque. -1ed – São Paulo: Escala
Educacional, 2010. – (coleção Geografia: Sociedade e Cotidiano).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4163
Ainda no capítulo inicial do livro didático, tratando da elaboração dos primeiros
mapas, cujo objetivo predominante era localizar-se na superfície terrestre para a
conquista de novos territórios, utilizou-se a Rosa dos Ventos (Figura 3) com a
finalidade de localização e orientação no espaço vivido pelos alunos. Para isso, utilizou-
se o mapa da cidade de Campina Grande, também integrante da Figura 3.
FIGURA 03: ROSA DOS VENTOS E MAPA DA CIDADE DE CAMPINA GRANDE.
Fonte: Acervo dos Autores Fonte: Google Imagens
Já em sala de aula e de posse do mapa (Figura 3), pediu-se aos alunos que
identificassem seu bairro e rua, evidenciando os pontos de orientação (cardeais,
colaterais e subcolaterais). Tal atividade possibilita, além do conhecimento do espaço
vivido sob um ângulo diferente, uma melhor localização e orientação do/no lugar. Além
disso, tal atividade também ajudou a desmistificar a cartografia, considerada complexa
pela maioria dos alunos, e até por professores.
O segundo capítulo do livro abordou as categorias de análise paisagem, lugar e
região. Para se trabalhar com imagens e relacionar com a escala local, utilizou-se
fotografias que representam os processos naturais e socioeconômicos que moldam as
feições da paisagem, além do tempo histórico, cíclico e geológico na formação e
transformação da mesma, ficando mais perceptível sua modificação pela ação humana.
Para comprovar as metamorfoses ocorridas na paisagem da área urbana da
cidade de Campina Grande, buscaram-se espaços da cidade disponíveis e frequentados
pelos moradores e estudantes que, no pensamento de Gonçalves et al. (2009):
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4164
Neste caso é fundamental que a leitura de diferentes tipos de imagens seja oferecida aos
alunos no intuito de buscar a aquisição de habilidades de leitura, tomando-se como
referencia que uma mesma imagem pode ser interpretada de diferentes aspectos,
permitindo a comparação e o confronto das diferentes leituras e das limitações dos
próprios leitores (GONÇAVES, 2009, P. 16).
Optou-se por fotografias que retratam o passado e o presente, (“rugosidades”
termo usado por Milton Santos referindo-se a formas do passado visualizadas no
presente), na paisagem. A Figura 4 apresenta as imagens utilizadas.
FIGURA 04: SERIE DE FOTOS DO ENTORNO DO AÇUDE VELHO – CAMPINA
GRANDE/PB, EM DIFERENTES EPOCAS. (1975; 1999; 2009; 2013).
Fonte: Retalhos históricos e acervo dos autores.
O mecanismo de trabalhar a paisagem local, além de proporcionar uma
discussão quanto à evolução do espaço urbano, analisando as formas e funções urbanas,
também possibilita aos alunos perceberem a dinâmica do espaço geográfico, o qual está
em constante transformação pelos agentes modeladores.
Também foi realizado um resgate sobre o lugar enquanto categoria de análise,
tendo em vista atentar-se para a sua importância no contexto escolar, conforme destaca
Ab’Saber (2001) quando diz o seguinte: “a principal missão do professor de Geografia é
ajudar o aluno a entender o local onde vive e atuar sobre ele”. Nesse sentido, para
trabalhar o lugar na perspectiva de aproximar o aluno de sua realidade, precisou-se
selecionar as imagens de forma que retratassem o lugar e o cotidiano vivenciados.
A partir dessa constatação e da compreensão de que todos os fatores
característicos do lugar podem ser observados no próprio ambiente escolar, onde o
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4165
sentimento de pertencimento, a afetividade, as relações sociais que aproximam os
alunos e possibilitam a vivência do lugar na sua totalidade estão presentes, foram
utilizadas imagens do pátio e redondezas da Escola Polivalente, no intuito de
demonstrar os elementos que caracterizam a categoria lugar e que são vivenciados pelos
alunos. Atitude semelhante pode ser identificada no trabalho desenvolvido por Santos
et al. (2011) como subsídio às aulas de Geografia em uma escola estadual de Itabuna-
BA. Estas experiências estão ancoradas na compreensão de Travassos (2001):
A partir da percepção que os alunos têm do meio em que vivem, é possível que o
currículo da Geografia possa ser trabalhado de uma forma dialogada e interativa,
caracterizada por uma constante troca de experiências, permitindo que os limites da
escola possam ser extrapolados e que nossos alunos se tornem atores biopsicosociais
capazes de adquirirem uma postura crítica em relação aos fatores naturais, científicos e
sociais (ibidem, p. 2).
Para abordar a categoria região, devem-se considerar dois aspectos primordiais
- os econômicos e os culturais. A concepção econômica refere-se ao fato de as relações
sociais estarem associadas ao meio técnico-cientifico-informacional que penetra com
mais força em determinadas regiões e com menor intensidade em outras. Referindo-se
aos aspectos culturais de uma região, destaca-se o conjunto especifico de relações
culturais entre um grupo e o lugar, que constitui sua identidade.
No intuito de demonstrar aos alunos como os fatores evidenciados estão
presentes no cotidiano, utilizou-se fotografias que demonstram características peculiares
da região de Campina Grande, conforme Figura 5.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4166
FIG. 05: RUA MACIEL PINHEIRO (COMÉRCIO PUJANTE) E MOSAÍCO REPRESENTANDO
O ARTESANATO REGIONAL.
Fonte: Acervo dos autores
Mecanismo pedagógico semelhante buscando “aproximar” o global do local
pode ser identificado através do trabalho de Silva (2006), que destaca a importância de
orientar os alunos na perspectiva de que não sejam influenciados pela mídia nas
análises, em sua maioria, superficiais acerca das particularidades de cada região, pois:
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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As informações vêm de forma global e desconexa através dos múltiplos apelos da
sociedade tecnológica. A escola precisa aproveitar essa riqueza de recursos externos,
não para reproduzi-los em sala de aula, mas para polarizar essas informações, orientar as
discussões, preencher as lacunas do que não foi apreendido, ensinar os alunos a
estabelecer distâncias críticas com o que é veiculado pelos meios de comunicação
(KENSKI, 2005, p. 143).
A categoria geográfica território remete a ideia de poder, seja ele sob a visão
antropológica associada à área vivida por uma comunidade indígena, na qual sobrevive
e mantém sua cultura e, ainda na perspectiva econômica em que, segundo Santos
(1999), para aqueles que têm o poder econômico e político o território constitui-se como
um conjunto de recursos a serem explorados; para os que não tem, ele constitui um
abrigo onde busca uma adaptação constante ao meio geográfico. Nas turmas em
evidência, o território foi abordado com o apoio de charges dispostas na Figura 6.
FIGURA 06: CHARGES UTILIZADAS PARA TRABALHAR O TERRITÓRIO
Fonte: Google Imagens
Ambas as charges passam a ideia de poder exercido sobre o território pelos
diferentes agentes atuantes no espaço geográfico. Passam respectivamente o domínio
dos grandes proprietários de terras que, com seu potencial econômico, se sobressaem
em relação aos demais. Na charge seguinte, identifica-se a influência das relações de
poder paralelo que ameaçam a vida social regulada pelo poder democrático. Atividade
similar foi desenvolvida por Souza (2009) nas aulas de Geografia do Ensino Médio (3ª
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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série), do Colégio Estadual Polivalente de Castro Alves (Castro Alves/BA) obtendo-se
retorno satisfatório, por parte do alunado.
A partir do uso das charges, verificou-se que foi bem mais fácil e agradável aos
alunos discutirem sobre o que estavam tratando. Ao entender que os conteúdos
geográficos apresentados pelo currículo oficial necessitam de recursos pedagógicos, no
intuito de “facilitar” a compreensão, apoiamos Souza (2009) quando diz que “a junção
da música com imagens (charges, fotos, figuras, vídeos), a fim de trabalhar conteúdos
geográficos de forma dinâmica e integrada à realidade dos alunos, pois sabemos que
vivemos numa sociedade midiática, onde a força das imagens também é muito grande”.
Ao longo das aulas, percebeu-se o avanço que estava acontecendo, pois já se
estava conseguindo obter da fala dos alunos à relação que existia entre a imagem e o
texto. Foi possível verificar que ao se utilizar os recursos de imagens e charges,
relacionando-os aos elementos geográficos inseridos no cotidiano, houve um maior
reporte ao espaço vivido, estimulando a curiosidade e a vontade dos alunos em conhecê-
lo melhor, principalmente por ser raro o trabalho com imagens que retratam a realidade
próxima e não ficando somente com as selecionadas pelo livro didático.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O período de atuação no programa PIBID está proporcionando experiências e
oportunidades ímpares que só na prática como futuros professores de Geografia poder-
se-ia experimentar. Viver o contexto escolar como profissionais em formação e não
mais como alunos, fez emergir uma série de indagações e questionamentos de como
proceder em sala de aula, como intervir/colaborar nos conteúdos junto às turmas e de
quais os resultados iriam sair desta experiência.
Implantar a proposta de se trabalhar com a utilização de imagens e charges no
intuito de aprimorar a leitura e o entendimento das categorias geográficas está envolto
de expectativas positivas que se conseguirá minimizar a grave deficiência da “leitura e
compreensão” originados já nos anos iniciais da educação básica e que se configura
numa espécie de “bola de neve” que transpassa todos os demais ciclos, chegando
inclusive até os mais superiores.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4169
A mudança na metodologia trouxe um grande desafio, principalmente o de
despertar nos alunos o interesse pela leitura, sua maior dificuldade. Assim, recorreu-se
ao uso de imagens e charges, como fotografias do espaço de vivência, charges e mapas
que se inter-relacionassem com o contexto de vida de cada um, e construir também a
relação que estas imagens e informações possuem com os textos de Geografia.
Por fim, estima-se que a intervenção/colaboração com a utilização de imagens e
charges, tenha sido responsável pela melhoria no ensino nas turmas envolvidas no
PIBID/UEPB/Subprojeto de Geografia.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem o apoio concedido, mediante bolsas, efetuado pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, através do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID.
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4171
A TROCA DE EXPERIÊNCIAS: UMA ÓTIMA FERRAMENTA PARA OS
DOCENTES
Silvana Pires de Matos1
André Ricardo Furlan2
Ana Maria de Oliveira Pereira3
Dilermando Cattaneo da Silveira4
RESUMO O presente trabalho oriundo de experiências vivenciadas nas atividades desenvolvidas pelo
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), de Geografia Licenciatura,
da Universidade Federal da Fronteira Sul- Campus Erechim, propõe apresentar alguns
acontecimentos sobre o evento Jornadas Pedagógicas: Educação Geográfica em movimento. O
evento ocorreu em parceria entre o PIBID Geografia UFFS, do referido campus e a Associação
dos Geógrafos Brasileiros (AGB), seção de Porto Alegre. Buscou-se na oportunidade apresentar
e trocar informações e conhecimentos sobre a didática no ensino de Geografia na escola de
ensino fundamental e médio entre os professores inscritos, e mostrar na oportunidade a
importância de novas didáticas do ensino desta disciplina em sala de aula. Assim, serão
relatadas aqui, duas experiências realizadas por dois professores de Geografia. Após
apresentamos a importância da socialização das práticas pedagógicas.Ressaltamos que há muito
a se explorar e investigar a respeito dessa prática de socialização, pois nos coloca frente á frente
com muitos dos desafios enfrentados no ensino e aprendizagem, e desenvolvimento das
atividades docentes. A ferramenta “troca de experiências” é um modo de se discutir e pensar em
novas propostas de ensino que venham a contribuir efetivamente no processo de aprendizagem
dos estudantes.
Palavras-chave: Docente. Troca de experiência. Prática pedagógica.
INTRODUÇÃO
Com base nas atividades, até então desenvolvidas pelo subprojeto PIBID de
Geografia, percebemos que o mesmo contribui efetivamente para a construção de
conhecimentos, saberes e experiências entre o profissional docente e bolsistas. Este
valoriza o trabalho do professor de modo a envolver e motivar os futuros docentes, seja
através de práticas de ensino ou de reflexões críticas a cerca desta profissão. Iniciativas 1 Universidade Federal da Fronteira Sul- UFFS, [email protected]
2 Universidade Federal da Fronteira Sul-UFFS [email protected]
3 Universidade Federal da Fronteira Sul- UFFS,[email protected]
4
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4172
como esta proporcionam momentos de grande relevância e significativos para todos
participantes, seja a coordenação, supervisão ou bolsistas. As experiências vivenciadas é
uma das principais ferramentas enriquecedoras em relação aos conhecimentos didáticos
de ensino.
Desse modo, o presente artigo, de cunho descritivo, visa apresentar o evento
itinerante Jornada Pedagógica: Educação Geográfica em movimento, realizado em
2012 na Universidade Federal da Fronteira Sul-Campus Erechim. Evento esse, realizado
pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) subprojeto
Geografia - Licenciatura, do referido campus, em parceria com a Associação dos
Geógrafos Brasileiros (AGB), de Porto Alegre. Assim, neste trabalho, apresentar-se-á
alguns resultados alcançados durante a Jornada Pedagógica enfatizando a importância
da realização de trocas de experiências entre docentes da mesma área e discutir-se-á
algumas questões acerca dos desafios dessa prática profissional.
O trabalho justifica-se, pois acreditamos que atualmente está cada vez mais
difícil e complexo trabalhar como docente, fato que faz não existir uma integração e
socialização de todas as dimensões do cotidiano dos docentes. Nota-se que as aulas
mantêm-se pautadas em estudos dos materiais didáticos, com aulas expositivas, que por
vezes reproduzem conhecimentos e conteúdos da disciplina, havendo poucas práticas
pedagógicas diferenciadas. Por isso, relatar as trocas de experiências oportunizadas na
referida Jornada torna-se relevante para avaliar e compreender as dificuldades que o
professor de Geografia encontra na sua prática profissional.
Para tratar desse assunto, dividimos o trabalho em quatro partes. Na primeira,
apresentamos as motivações para a elaboração da Jornada Pedagógica, bem como a
descrição das atividades propostas para o evento. Na segunda seção destacamos as
trocas de experiências ocorridas no evento, na terceira seção apresentamos os resultados
obtidos e por fim as considerações finais.
Os profissionais da educação não podem aplicar modelos pré-estabelecidos, mas
sim aplicar novas formas de metodologias que possibilitam a atração e a curiosidade dos
estudantes, (VLACH, 2002 apud NASCIMENTO; SILVA, 2009).
DESENVOLVIMENTO DA JORNADA PEDAGÓGICA
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4173
A falta de eventos que busquem discutir e relatar experiências de ensino-
aprendizagem na área de Geografia foi o que motivou a realização de uma Jornada
Pedagógica. Na oportunidade, visamos apresentar e trocar informações e conhecimentos
sobre a didática no ensino de Geografia na escola de ensino fundamental e médio.
Ademais, procuramos fazer uma avaliação da realidade vivenciada pelos docentes.
Foram convidados para participar do evento todas as escolas da 15° Coordenadoria
Regional de Educação (15°CRE) do Rio Grande do Sul, sendo que algumas escolas da
cidade de Erechim foram convidadas pessoalmente pelos bolsistas do PIBID-Geografia,
bem como, todos os estudantes da UFFS e demais subprojetos do PIBIDs que
desenvolvem atividades no âmbito da UFFS.
Desse modo, devido à falta de eventos deste gênero na região que abrange a 15º
CRE e a escassa socialização das práticas pedagógicas com os demais docentes do curso
de Geografia, propomos a realização de uma Jornada Pedagógica. Na oportunidade,
visamos apresentar e trocar informações e conhecimentos sobre o ensino de Geografia.
A atividade contou inicialmente com uma mesa redonda, que discutiu os temas:
“O desafio de ser professor na sociedade da informação” e “Inclusão de conteúdos afro-
brasileiros no currículo de Geografia”. Referente à primeira temática, abordada pela
professora da UFFS Ana Maria Pereira de Oliveira que possui Mestrado em Educação
pela Universidade de Passo Fundo (UPF) e a professora do departamento de Geografia
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Adriana Dorfman Doutora em
Geografia pela Universidade Federal de Santa Catariana (UFSC), destacou-se que o fato
de os alunos terem acesso a uma grande quantidade informações não significa que estas
são transformadas em conhecimento. Assim, segundo Ana Maria, o papel do professor é
transformar, dentro da escola, as informações em novos questionamentos que
possibilitem aos alunos uma aprendizagem significativa.
Já sobre a segunda temática, abordada por Adriana Dorfman, destacou-se que o
professor deve estar em frequente atualização, uma vez que são os professores que têm
grande participação na produção da identidade dos alunos. Para ela, o professor ensina o
que aprende e é um profissional de representação. A postura que o professor irá manter
em sala de aula é muito relevante, pois as trocas de conhecimentos que serão feitas entre
alunos e professores se transformam em uma relação harmoniosa. Por fim, foi afirmado
que sobre ensino da “África” é relevante destacar que não deve se mostrar somente a
África pobre, e sim elementos afirmativos, no sentido de desconstruir estereótipos que
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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se faz em relação a negros e a pobreza. Compreendemos que deve-se começar a
apresentar os conteúdos também por uma visão multicultural envolvendo todos os
aspectos geográficos, deixando de lado a hierarquia eurocêntrica que é a dominante nos
livros didáticos.
“Faz-se necessário um repensar constante sobre o ensino de Geografia, os quais
precisam estar contextualizados com o espaço escolar, e, consequentemente [sic], levar
em conta as especificidades da cidade e do campo.” (LIMA; VLAVH, 2002, p.47).
A jornada teve continuidade com uma saída de campo pelas ruas de Erechim.
Essa atividade foi desenvolvida com o intuito de se trabalhar a importância de
atividades além da sala de aula para fazer o aluno se questionar sobre o que há em seu
entorno o espaço em que abita. Durante a atividade de campo, pudemos avaliar as
diferentes percepções ambientais e espaciais que se tem sobre um mesmo lugar. É
relevante trabalhar com os alunos diálogos e entrevistas, efetivando uma proximidade
com a comunidade. Além disso, devemos criar recursos didáticos como mapas
temáticos, mentais e identificação de imagens de satélite. Destacamos que o professor,
ao trabalhar com o trabalho de campo, deve compreender este como um processo de
ensino que integra o que é passado em sala de aula com o cotidiano do estudante, de
modo a proporcionar e estimular o aluno através de observações diferenciadas sobre um
determinado espaço, buscando o entendimento de sua realidade.
Entendemos que um bom docente sabe fazer uso de práticas e metodologias de
ensino diferenciadas, tendo domínio do conteúdo e sempre procurando desenvolver
formas criativas de dar aulas, apresentando capacidade para tornar o conteúdo mais
interessante e produtivo, o que, consequentemente, proporcionará ao estudante, seja do
ensino fundamental ou médio, a possibilidade de construção efetiva de seu
conhecimento.
Segundo Kaercher (2010, p.11): “Resumindo: a geografia existe desde sempre,
e nós a fazemos diariamente. Devemos romper então com aquela visão de que geografia
é algo que só veremos em aula de geografia”.
TROCAS DE EXPERIÊNCIAS
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Durante a Jornada Pedagógica, realizou-se trocas de experiências de aulas de
Geografia entre os professores inscritos. Dentre os oito trabalhos apresentados pelos
docentes, notou-se a relevância de um período para que essas trocas e diálogos ocorram.
Neste aspecto destacamos mais uma vez a relevância de se realizar estas práticas
reflexivas sobre a profissão docente, que favoreça o acréscimo de conhecimentos para
que ocorra a inovação da capacidade de desenvolver as práticas pedagógicas. Assim
como, Perrenoud destaca que: “Permita enfrentar a crescente complexibilidade das
tarefas” (2002, p.48).
Destaca-se aqui a apresentação realizada por Tarso Germany Dornelles,
representante da AGB e licenciado em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica
(PUC) Porto Alegre. Esse professor possui necessidades visuais assim, teve uma
formação e estágio diferenciados durante sua graduação. Tarso teve seu estágio com
carga horária reduzida, trabalhou com alunos também com necessidades visuais. No seu
relato, ele expos que em seu estágio fez uso de metodologias que pudessem alcançar a
aprendizagem dos alunos, com esta dificuldade para ajudar na compreensão do
conteúdo estudado com a ajuda de seus colegas da universidade confeccionaram mapas
em braile (fotografia 1). É importante que o docente que tem alunos com dificuldade
visual deve expor sua aula com uma metodologia diferenciada que consiga envolver o
aluno no conteúdo tratado. Tarso ressaltou que mesmo dando aula em uma escola para
deficientes visuais a mesma teve preconceito em recebê-lo como estagiário, enquanto os
alunos, ao contrário, o ajudaram.
FOTOGRAFIA 1: MAPA SOBRE CORRENTES MARÍTIMAS ADAPTADOS
PARA DEFICIENTES VISUAIS.
Fonte: Jornada Pedagógica, 10 de novembro de 2012.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4176
Outra relato de experiência foi o realizado pelo supervisor do subprojeto PIBID,
Geografia, UFFS, campus Erechim/RS, Vital Benito Arpini, que falou sobre a atividade
Geografia Show que encontrava-se em fase de pesquisa. Esta é uma atividade que
envolveu todas as turmas do ensino médio da Escola Estadual de Ensino Médio
Professor Mantovani, de Erechim, em que as mesmas desenvolveram pesquisas
bibliográficas e de campo sobre os seguintes temas: sistema solar, camadas da terra,
urbanização, industrialização, o continente africano: conflitos, riquezas minerais e
energéticas, cultura e etnias, conflitos no mundo Árabe, globalização no local de
trabalho e economia informal. Além da fala do professor, estiveram presentes alguns
alunos que também expuseram o trabalho que estavam desenvolvendo e explicaram
como se daria a apresentação final do trabalho. Através da fala do professor e supervisor
do PIBID, ressaltou-se a importância de propor desafios aos alunos e incentivar a busca
de novos conhecimentos nos mais variados locais e fontes.
Entendemos que atividades, como a Jornada Pedagógica, aqui relatada, é uma
forma de aproximar os docentes e efetivar trocas de experiências e conhecimentos que
cada um tem em relação a sua prática pedagógica. Atualmente, vemos muitos docentes
em sala de aula que apenas reproduzem o que está nos manuais didáticos, ou seja,
professores desatualizados, que pode ocasionar a transmissão de conhecimento com
falhas e erros por vezes graves.
Segundo Lima & Vlach (2002, p.45):
O conhecimento do conteúdo geográfico precisa ser repassado de forma apropriada, de
maneira que reproduza os conhecimentos construídos culturalmente pela humanidade,
redefinindo possibilidades de reconstrução contínua pelo aluno e pelo professor, no
cotidiano da sala de aula.
A partir desta socialização de experiências, percebemos a necessidade de realizar
práticas de ensino diferenciadas com os alunos, uma vez que com base nos relatos
percebe-se o atual desinteresse dos estudantes não apenas pelos temas geográficos, mas
sim por todos os conteúdos repassados em sala de aula na forma da “decoreba”, sem
que o aluno possa aprender e compreender os assuntos abordados na disciplina. Além
disso, destacamos que existem muitas dificuldades e problemas que atinge o ensino
brasileiro como a desvalorização do professor e a carga horária elevada e as
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4177
“multifunções” empregadas pelo professor. A defasagem que se vivencia no ensino
brasileiro também torna-se um grande inimigo como um todo, que acaba por prejudicar
o trabalho do docente e consequentemente o processo de ensino.
Porém, compreendemos que o docente tem infinitos e inesgotáveis meios para
transmitir conhecimento aos alunos, como através de aulas expositivas, uso de músicas,
vídeos, mapas, aulas de campo, entre outros, que são meios nos quais o educando irá
adquirir e produzir conhecimento. De certo modo, contradizendo isto, Perrenoud (2002,
p.190) afirma que:
[...] apesar das tecnologias, da modernização dos currículos, da renovação das ideias
[sic] pedagógicas, o trabalhos dos professores evolui lentamente, pois depende muito do
progresso técnico, a relação educativa, obedece a uma trama bastante aceitável, e suas
condições de trabalho e sua cultura profissional estabelecem rotinas entre os
professores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi relevante a parceria neste evento, da AGB e PIBID de Geografia, pois ambas
conseguiram articular bases para que se efetivasse este momento de diálogo, que é de
grande relevância tanto para a discussão e debate de práticas pedagógicas, como para
detectar os problemas enfrentados pelo profissional docente. Compreendemos que a
ferramenta “troca de experiências” é um modo de se discutir e pensar em novas
propostas de ensino que venham a contribuir efetivamente no processo de aprendizagem
dos estudantes.
Os desafios e inquietação por busca de novas práticas possibilitam uma nova
construção de metodologias de ensino e aprendizagem, a experiência do dia a dia
vivenciada na escola pelo professor, possibilita a inovação e produção de novos
materiais para auxilio didático. (NASCIMENTO; SILVA, 2009, p.04). Por isso a
Jornada Pedagógica se caracterizou um evento de fundamental importância para todos
os cursos de licenciatura, pois não é apenas a Geografia que tem dificuldades em suas
praticas didáticas.
É importante artigos deste gênero, pois, encontra-se poucos materiais
bibliográficos que abordam o tema troca de experiências didáticas no ensino
fundamental e médio em eventos. Nosso objetivo enquanto bolsistas do PIBID não é
melhorar a escola, mas sim demonstrar nosso interesse em buscar e trazer novas
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4178
iniciativas para dentro da mesma adaptando-as aos novos contextos sociais que temos
vivenciado nos últimos anos.
BIBLIOGRAFIA
KAERCHER. Nestor. A. Geografia: ultrapassar a própria gênese da palavra. In:
CASTROGIOVANNI. Antonio. C (org). Geografia em sala de aula: práticas e
reflexões. 5. ed. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2010. p.11-21.
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degeografia%2Farticle%2Fdownload%2F15289%2F8588&ei=tYV6UbDCI9bh4APswI
CIBA&usg=AFQjCNEu1-0e08Px7nqFUGYeB_z-hrBsyA& sig2=20D Xlw-YBdM-
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NASCIMENTO, M. A.G. do; SILVA, C. N. M. da. Rodas de conversa e oficinas
temáticas: experiencias metodológicas de ensino-aprendizagem em Geografia. In
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Claúdia Shilling. Porto Alegre. Artimed. 2002. p.189-210.
PERRENOUD,P. Saber refletir sobre a própria prática: objetivo central da formação dos
professores. In:______A prática reflexiva no ofício de professor: profissionalização
e razão pedagógica. Tradução Claúdia Shilling. Porto Alegre. Artimed. 2002. p.47-70.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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DUAS ATIVIDADES DE ENSINO DE GEOGRAFIA USANDO
LINGUAGENS CARTOGRÁFICAS NO QUARTO ANO DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Leandra de Lourdes Rezende1
Fernanda Lamanes Gomes2
Prof. Dr. Antonio Marcos Machado de Oliveira3
RESUMO
Este artigo é parte de um projeto do Programa de Bolsas de Graduação – PBG da Universidade
Federal de Uberlândia – UFU, desenvolvido numa escola da rede municipal de educação de
Uberlândia, MG, e teve como objetivo elaborar e aplicar atividades didáticas de cartografia para
o ensino de Geografia nas séries iniciais do ensino fundamental e de atender à demanda por
recursos didáticos apresentada pelos professores. Nesse trabalho serão apresentadas duas
atividades de ensino: zonas rural e urbana de Uberlândia e; o município e seus distritos, ambas
utilizando linguagens cartográficas. A partir da análise dos planos de ensino e das diretrizes
curriculares do município foram avaliados quais os materiais didáticos necessários para sua
aplicação que melhor contribuiriam para o professor, considerando, acima de tudo, os temas
relacionados ao ensino de cartografia no currículo da Geografia Escolar. Por meio das
atividades aplicadas foi possível perceber o quanto os alunos se interessam pela Geografia, pois
perceberam que a mesma os auxilia no reconhecimento do lugar que vive o que foi constatado a
partir do envolvimento e do interesse demonstrado por eles durante o trabalho.
Palavras-chave: Ensino de Geografia. Cartografia. Material didático.
INTRODUÇÃO
Nesse artigo pretende-se discutir a respeito da aplicação de atividades
cartográficas para o ensino de Geografia no quarto ano do ensino fundamental,
desenvolvidas a partir do projeto “Elaboração e aplicação de atividades cartográficas
para o ensino de Geografia nas séries iniciais”, que foi realizado com duas turmas numa
escola da rede municipal de ensino, durante o ano letivo de 2012.
Segundo Almeida (2008), para se estabelecer uma boa relação de aprendizagem
no ensino de geografia faz-se necessário, desvencilhar-se de uma abordagem apenas
descritiva e pautar-se em uma ciência problematizadora, capaz de investigar e discutir,
1 Instituto de Geografia – Universidade Federal de Uberlândia; [email protected] 2 Instituto de Geografia – Universidade Federal de Uberlândia; [email protected] 3 Instituto de Geografia – Universidade Federal de Uberlândia; [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4180
buscando soluções para os problemas apresentados de forma que se tenham condições
de transpor, também, novos obstáculos no ensino.
Assim, a ideia de apresentar para os alunos das séries iniciais esses novos
posicionamentos da ciência geográfica justifica-se pelo fato de que o quanto antes eles
obtiverem esses ensinamentos melhor será sua compreensão em relação a sua realidade
sócio-espacial. Neste sentido, Callai (2003, p.77) argumenta que:
O período das séries iniciais é o de construir os conceitos básicos da área, e que
são básicos para a vida. São os conceitos de grupo-espaço-tempo que permitem
responder: Quem sou eu? Onde vivo? Como vivo? Com quem? Ao dar conta
destas perguntas, estamos definindo a nossa identidade, reconhecendo a nossa
história, identificando o espaço e o pertencimento ao mundo. Isso pode ser feito
através da realização de atividades que dêem conta de exercitar os conceitos
acima referidos. Essas atividades vêm estar assentadas em uma realidade
concreta para a vida das crianças e num tempo e espaço claramente definidos e
próximos dele.
Para se construir uma geografia mais palpável, notória e participativa, precisa-se
de atividades de ensino que envolva o aluno, para que o mesmo se sinta convidado a
interagir, ou seja, algo que se aproxime de sua realidade e vivência, fator que o fará
relacionar com maior facilidade a matéria aplicada em sala de aula com sua dinâmica de
vida extra-escola. Tendo isto como base, ressaltamos a importância do argumento de
Simielli (2008, p.90), em relação ao ensino de cartografia:
Todo procedimento para se trabalhar a cartografia, ou suas noções básicas nas séries
iniciais, enfatiza o trabalho da criança em um processo no qual ela realmente participa,
para assim melhor compreender a representação do espaço. Desmistificando-se assim a
cartografia-desenho e passa-se a considerar a linguagem gráfica como um meio de
transmissão de informação.
Tendo como base os conceitos acima relacionados, o trabalho apresentou
estratégias pautadas no planejamento anual/bimestral de Geografia elaborado para o 4º
ano, bem como propostas apresentadas pelos professores.
O critério definidor do que foi trabalhado se assentou na dinâmica da própria
aula e da turma de alunos – o que é significativo para eles em cada momento, conforme
indicado por Callai (2003, p.77). Dessa forma, foi possível identificar os materiais
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4181
didáticos necessários, segundo o conteúdo previsto nos seus planos de ensino, de forma
a proporcionar êxito no desenvolvimento das atividades aplicadas.
O trabalho seguiu as seguintes etapas: a) reunião com a professora para
definição dos temas e das atividades a serem trabalhadas em sala de aula, de acordo
com as diretrizes curriculares e com planejamento anual/bimestral de Geografia
elaborado para o 4º ano; b) leituras e discussões de textos; c) seleção e confecção de
material para as atividades didáticas; d) determinação de estratégias, juntamente com a
professora, para a aplicação das atividades didáticas em sala de aula; e) aplicação das
atividades didáticas em sala de aula e; f) avaliação.
PLANEJAMENTO, SELEÇÃO, ELABORAÇÃO E APLICAÇÃO DAS
ATIVIDADES DIDÁTICAS
O planejamento das atividades didáticas aconteceu na escola por meio de
reuniões com a professora, com o objetivo de selecionar o conteúdo a ser trabalhado e
levantar os materiais didáticos necessários para o desenvolvimento dessas atividades.
Dessa forma, definiu-se que as atividades didáticas, num primeiro momento,
deveriam contemplar os estudos sobre as zonas rural e urbana e sobre o município e
seus distritos em Uberlândia, MG.
Em seguida procedeu-se a uma seleção de materiais didáticos já existentes, a
saber: onze fotos da zona urbana, rural e de transição de Uberlândia; imagem de satélite
contemplando parte do município de Uberlândia e Araguari; e dois mapas referente ao
município de Uberlândia e seus distritos.
Com o material didático selecionado foram feitas reuniões com a professora para
a definição das estratégias referentes a aplicação das atividades em sala de aula.
Também foram confeccionados mapas dos Distritos de Cruzeiro dos Peixotos e
Martinésia, utilizando o COREL DRAW, para o uso no trabalho de campo.
O uso desses materiais permitiu que as atividades fossem realizadas com maior
êxito, pois houve uma aproximação dos conteúdos ministrados em sala de aula com a
vivência cotidiana dos alunos.
ATIVIDADE 1: ZONA URBANA E RURAL DE UBERLÂNDIA
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4182
A primeira atividade aplicada teve como objetivo aperfeiçoar as noções
espaciais que eles já possuíam e também inserir novos conceitos sobre espaço rural e
espaço urbano, suas diferenças e semelhanças e características de cada espaço, dentre
outras questões.
Nesta primeira atividade a sala foi dividida em grupos, cada grupo recebeu um
envelope com fotos numeradas que contemplavam imagens da zona urbana, rural e de
transição de Uberlândia. Os alunos deviam observar, discutir, separar as fotos e
posteriormente fazer anotações em um quadro sobre as características de cada uma.
Com esta atividade os alunos perceberam que as diferenças ocorrem entre as
zonas rural e urbana e que também ocorrem dentro delas, como observado entre o
comércio da periferia e o comércio da área central. Além disso, puderam constatar que
há áreas de transição entre a zona rural e a zona urbana.
Para que os alunos pudessem visualizar de um ponto de vista de cima a zona
rural e a zona urbana, foi utilizada uma imagem de satélite na escala 1:100.000, que
possibilitou observar a cidade de Uberlândia, a cidade de Araguari, o Rio Araguari, o
Rio Uberabinha, a represa de Miranda e parte da zona rural de Uberlândia e Araguari.
Ao apresentar a imagem de satélite aos alunos, foi necessária uma explicação
prévia da forma de aquisição e da sua importância. Em seguida, salientou-se que por
meio da imagem de satélite, uma parte da zona urbana e rural dos municípios de
Uberlândia e Araguari seria visto do alto, ou seja, numa perspectiva vertical.
Com base no exposto, partiu-se para a confecção de um croqui, relacionando
com a forma que se constrói um mapa, destacando a importância da inserção de um
título e, principalmente da elaboração da legenda, que segundo Romano, (2005, p.158)
tem “a função de, por meio de símbolos, representarem objetos, fenômenos e lugares
destacados no mapa, devendo, por essa razão, ser clara e objetiva, no sentido de facilitar
a leitura do mapa.
Com uma folha de papel vegetal sobre a imagem, os alunos foram orientados a
delimitar as zonas urbana e rural, rios e represa, a construírem uma legenda e
posteriormente atribuírem um título ao croqui. Dessa forma, foi possível introduzir
alguns atributos essenciais do mapa, como simbologia e ponto de vista.
ATIVIDADE 2: O MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA E SEUS DISTRITOS
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4183
Com o mapa do município em mãos é importante, neste momento, levar os
alunos a algumas reflexões: O que conseguimos observar no mapa? Quais são os limites
deste município e por quais elementos naturais são representados? Quais as diferenças
entre vila e cidade sede do município? Outros questionamentos podem ser inseridos de
acordo com o mapa a ser trabalhado.
A segunda atividade de ensino teve como objetivo introduzir a noção de
Município como uma unidade localizada no território, delimitada por divisões político-
administrativas e detentora de uma zona urbana e uma zona rural e, para que essa noção
ficasse mais clara para os alunos, retomamos o conceito já trabalhado sobre área urbana
e área rural.
Conforme Callai (2003, p. 81-82)
Estudar o município tem pelo menos duas vantagens: o aluno tem condições de
reconhecer-se como cidadão em uma realidade que é da sua vida concreta, aprimorando-
se das informações e compreendendo como se dão as relações sociais e a construção do
espaço. A outra vantagem é pedagógica, pois, ao estudar algo que é vivenciado pelo
aluno, são muito maiores as chances de sucesso, de se tornar um aprendizado mais
conseqüente.
Para a realização desta atividade foi entregue a cada aluno um mapa do
Município de Uberlândia representando os limites por terra e água, suas vilas e
municípios vizinhos. Os alunos elaboraram uma legenda e coloriram o mapa da seguinte
forma: os limites por água foram coloridos em azul, os limites por terra em marrom, a
zona rural em verde, a zona urbana (cidade sede do município) em amarelo.
Também foi introduzido o conceito de distrito e para isso, utilizou-se de um
segundo mapa, o qual retrata a divisão político-administrativa do município de
Uberlândia, incluindo os cinco distritos.
Assim, pode-se trabalhar a noção de que Uberlândia é uma cidade e também é o
distrito sede do município e, que possui quatro distritos (Cruzeiro dos Peixotos,
Martinésia, Miraporanga e Tapuirama).
O mapa político-administrativo do município do Uberlândia foi confeccionado
com a seguinte legenda; amarelo para área urbana do distrito sede, laranja para as vilas
e os alunos ficaram livres para escolherem as cores para as áreas rurais dos distritos
(figura 1).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4184
Esta atividade foi finalizada com a percepção de que a cada mapa que foi
confeccionado mais informações foram acrescentadas, tais como, o croqui nos mostrou
a zona urbana e rural das cidades de Uberlândia e Araguari; o primeiro mapa, o
município de Uberlândia, suas vilas e a divisão com outros municípios; o segundo
mapa, a divisão político-administrativa do município do Uberlândia.
MAPA POLÍTICO-ADMINISTRATIVO – MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA
Figura 1. Mapa do município de Uberlândia e seus distritos colorido por aluno
Fonte: BRITO e LIMA (2007). Adaptado por Antonio Marcos Machado de Oliveira e
Sérgio Luiz Miranda
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo do trabalho foi alcançado, pois foi elaborada e aplicada atividades
didáticas para o ensino de cartografia nas séries iniciais do ensino fundamental com a
finalidade de atender à demanda por recursos didáticos apresentada pelos professores,
de maneira geral, que atuam na área da educação municipal.
Também, propiciou ao professor o domínio dos conhecimentos básicos acerca
das atividades de ensino envolvendo as linguagens gráfica e cartográfica como
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4185
conteúdos do ensino nas atuais orientações curriculares, estabelecendo seus
fundamentos teórico-práticos nos conhecimentos geográficos, cartográficos e
pedagógicos, não somente fornecendo-lhes os mesmos já prontos, mas, estimulando-os
a aprender os procedimentos para usá-los como instrumentos que facilitarão a produção
do seu próprio material.
Portanto, o intuito dessa pesquisa foi o de promover a autonomia do professor
dando-lhe segurança para elaborar suas próprias atividades didáticas e, principalmente,
usar a cartografia para auxiliá-lo nas aulas de Geografia, abrindo assim, novos
horizontes para a sua prática docente.
Contudo, para atingir tais objetivos considerou-se às necessidades apresentadas
pela professora e pelos alunos e, ainda, considerou-se o local de aplicação das
atividades, a fim de garantir uma maior aproximação com a realidade e, assim,
dinamizando o processo de ensino-aprendizagem.
Nesse trabalho foram elaboradas atividades cartográficas referentes ao espaço
próximo e vivenciado pelas crianças, assim, foi necessário adaptar e adequar os
materiais didáticos à realidade dos alunos, fato que se torna sempre desafiador, uma vez
que, os livros didáticos possuem conteúdos genéricos e mapas que na maioria das vezes
retratam realidades distantes daquelas vivenciadas por eles.
Por meio das atividades aplicadas foi possível perceber o quanto os alunos se
interessam pela Geografia, pois perceberam que a mesma os auxilia no reconhecimento
do lugar que vive o que foi constatado a partir do envolvimento e do interesse
demonstrado por eles durante o trabalho.
A contribuição deste trabalho para as séries iniciais está na interação do
conteúdo de geografia com técnicas didático-pedagógicas capaz de enriquecer as aulas
com materiais atraentes aos alunos, partindo das experiências cotidianas dos mesmos, o
que resulta numa aproximação da teoria com a prática.
As atividades foram bem avaliadas pela direção, pela coordenação, pela
professora e, principalmente, pelos alunos que participaram com empolgação de todas
as ações propostas.
Dessa forma, entende-se que as atividades de ensino que conciliam as
linguagens cartográficas com os fundamentos teórico-práticos da Geografia oferecem
novas possibilidades de ensino, contribuindo para um maior aprendizado e,
principalmente para um desenvolvimento do senso crítico dos alunos das séries iniciais.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4186
REFERÊNCIAS
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2007.
CALLAI, Helena Copetti. O ESTUDO DO MUNICIPIO OU A GEOGRAFIA NAS
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Carlos Catrogiovanni... [ET al.]. – 4.ed. – Porto Alegre: Editora da UFRGS/Associação
dos Geógrafos Brasileiros – Seção Porto Alegre, 2003, pp. 77-82
CASTROGIOVANNI, Antônio Carlos. O MISTERIOSO MUNDO QUE OS MAPAS
ESCONDEM. In: Geografia em sala de aula práticas e reflexões/org. Antonio Carlos
Catrogiovanni... [ET al.]. – 4. ed. – Porto Alegre: Editora da UFRGS/Associação dos
Geógrafos Brasileiros – Seção Porto Alegre, 2003, pp.31-48
FURLAN, Sueli Ângelo. A Geografia na sala de aula: a importância dos materiais
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vertical e a formação de professores. In: Educação geográfica: teorias e práticas
docentes. CASTELLAR, S. (org.). São Paulo: Contexto, 2005. pp.157-167
SIMIELLI, Maria Elena. O MAPA COMO MEIO DE COMUNICAÇAO E A
ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA. In: Cartografia Escolar/Rosângela Doin de
Almeida (org.). 1.ed. São Paulo: Contexto, 2008 pp. 71-94
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4187
A PRODUÇÃO DE RECURSOS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DE
GEOGRAFIA: CARTILHAS TEMÁTICAS E MAQUETES.
Anjerlany Souza Oliveira1
Andreza Nara Freitas Malveira2
José Natanael Nunes Pereira de Lima43
Leonor de Maria Rodrigues Melo54
RESUMO
É sabido que as proposições didáticas e metodológicas ganharam grande força nos estudos sobre
o processo ensino-aprendizagem em Geografia. Tendo o espaço geográfico como seu elemento
de estudo, a geografia se depara com diversas situações e elementos que fazem parte do
cotidiano e da história dos sujeitos. No espaço escolar, esse aporte ao qual a geografia faz uso
direta ou indiretamente, pode ser explorado por meio de atividades e instrumentos que
trabalham com o lúdico e o cotidiano. O trabalho a ser apresentado, tem como finalidade propor
ao professor de ensino fundamental e médio, as produções de recursos didáticos para
complementar o ensino de geografia, uma vez que mediante as produções os alunos tendem a
compreender melhor as temáticas trabalhadas. Partindo do pressuposto da importância das
disciplinas pedagógicas no currículo dos cursos de licenciatura, aborda-se a necessidade da
produção de instrumentos didático-pedagógicos por parte dos licenciados, uma vez que ha
necessidades de novas práticas para o processo de ensino-aprendizagem. Por tanto, a utilização
desses materiais serve para ajudar no direcionamento do aluno para uma visão mais ampla e
crítica, por meio da qual o mesmo seja capaz de melhor interagir com os assuntos temáticos
abordados.
Palavras-Chaves: cartilhas temáticas; desenvolvimento; ensino-aprendizagem.
INTRODUÇÃO
Com o desenvolvimento e a crescente popularização das tecnologias, a gama de
possibilidades para a produção de instrumentos didático-pedagógicos se alastrou e
aparece como fundamental para o ensino das mais diversas ciências, em especial a
Geografia que, por trabalhar com o espaço geográfico, possui um grande leque de
1 Licencianda em Geografia da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos – FAFIDAM;
[email protected] 2 Licencianda em Geografia da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos - FAFIDAM
[email protected] 3 Licencianda em Geografia da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos - FAFIDAM
[email protected] 4 Professora Ms. da Universidade Estadual do Ceará - UECE
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4188
possibilidades didático-pedagógicas para seus conteúdos. Nas salas de aula as apostilas
e os livros didáticos dividem, cada vez mais, a tarefa de auxiliar o professor no processo
de ensino-aprendizagem com novas ferramentas como vídeos, músicas, fotos, revistas,
jornais e outros. Nas universidades isso representa uma mudança na estruturação do
ensino e leva a uma necessidade de adequação dos professores e dos currículos dos
cursos de licenciatura à essas novas possibilidades. Agora “o modelo que definia apenas
a competência do professor pelo saber acadêmico está superado, pois há necessidade de
outras competências para desenvolver bem a sua tarefa” (PONTUSCHKA, 2010, P.
131).
Levando em consideração as diferentes linguagens no ensino, que se apresentam
das mais variadas formas, cabe ao professor à função de utilizar estas novas ferramentas
como recurso complementar ao livro didático, contribuindo para aprendizagem do
ensino da Geografia, com o fim de despertar no aluno uma percepção crítica da
realidade. Ou seja, a intenção é proporcionar uma maneira mais didática de aprender
Geografia, levando em consideração o conteúdo que será ministrado, os objetivos a
serem atingidos e o público alvo.
O curso de Licenciatura em Geografia da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano
Matos – FAFIDAM – possui em sua grade curricular oito disciplinas voltadas para as
práticas pedagógicas dos conteúdos estudados ao longo do curso. As disciplinas de
Oficinas em Geografia; Geografia e Ensino e os Estágios Supervisionados, representam
importante fase na formação do licenciado, pois configuram um período de
desenvolvimento da capacidade criadora de possibilidades que refujam dos moldes
tradicionais da aplicabilidade maçante e decorativa da disciplina. Além disso, tem papel
fundamental para inicializar os discentes a reflexões pertinentes ao ensino, em seu
arcabouço teórico. Sobre essa temática NASCIMENTO (2009) afirma que: “[...] No
âmbito da reformulação curricular e da inserção de um novo componente nos cursos de
licenciatura, qual seja a atividade prática, percebe-se a oportunidade de potencializar as
habilidades voltadas à criação e difusão de instrumentos de suporte didático-pedagógico
ao processo ensino-aprendizagem [...].”.
O recurso didático, por sua vez, não tem a capacidade de garantir inteiramente a
aprendizagem do aluno, mas diante de um contexto trabalhado, pode muito bem
despertar no mesmo um interesse maior na aula, pois oferece ao educando a
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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oportunidade de trabalhar com elementos que o permitam ser protagonista na
construção do conhecimento.
Este trabalho tem como finalidade socializar reflexões oriundas das produções
de cartilhas temáticas e maquetes, voltadas para as aulas de geografia das séries do
ensino fundamental, assim como, para o ensino médio, além de mostrar como os
recursos didáticos podem contribuir para uma aprendizagem significativa do ensino de
Geografia.
Assim sendo, essa experiência de produção de novas ferramentas
metodológicas desencadeou uma série de apreensões sobre o “fazer geografia” para a
escola. O trabalho expõe reflexões e sugestões para a criação de novos instrumentos
pedagógicos a serem trabalhados no ensino básico, propondo também contribuir na
formação do professor.
MATERIAL E MÉTODOS
Na totalidade em que as diferentes linguagens do ensino se apresentam, cabe ao
professor a função de utilizar ferramentas como recurso complementar ao livro didático,
onde as mesmas agem contribuindo significativamente, no que diz respeito à
aprendizagem do ensino da Geografia, com o fim de despertar no aluno uma percepção
crítica da realidade.
O recurso didático, por sua vez, não tem a capacidade de garantir absolutamente
a aprendizagem do aluno, mas tem como finalidade, despertar no mesmo um interesse
maior na aula, pois oferece ao educando a oportunidade de trabalhar com elementos que
o permitam ser protagonista na construção do conhecimento.
Esse trabalho está pautado nas experiências oriundas na construção das cartilhas
temáticas e maquetes voltadas para séries do ensino fundamental e médio, e nas
discussões sobre as práticas metodológicas dos estudantes de magistério. No decorrer da
produção alguns referenciais teóricos foram estudados a fim de alicerçar e justificar a
importância de atividades lúdicas e pedagógicas, como a posta em xeque neste trabalho.
Autores como NASCIMENTO e SILVA (2009), PONTUSCHKA (2010) e
CAVALCANTI (2005) serviram de fundamentação para a ratificação da prática de
construção de instrumentos metodológicos.
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Assim sendo, a metodologia deste trabalho será dividida em dois momentos, um
momento onde serão discutidos os métodos que foram utilizados para a produção das
cartilhas temáticas e outro momento que discutirá a produção de maquetes.
Na primeira fase, a qual foi necessária para organizar o processo de produção
das cartilhas temáticas foi imprescindível o ordenamento de atividades em um
cronograma. O debate e a definição dos temas a serem abordados configuram os
primeiros passos da produção. Nessa etapa foram apontados também os objetivos gerais
e específicos do material a ser construído.
A produção e sistematização dos textos configuram a etapa mais duradoura e
dificultosa que fundamentou-se em (re)produzir-se os conteúdos geográficos com um
caráter mais simplista, ou melhor, em uma linguagem acessível ao público alvo.
Palavras de cunho técnico e acadêmico foram evitadas, a fim de não fornecerem
dificuldades da leitura. Ressalta-se que os conceitos geográficos não foram
negligenciados nessa atividade.
A proposição de metodologias de explicações dos conteúdos trabalhados, a
escolha de cores, imagens e personagens utilizados nas cartilhas, foram agrupadas numa
mesma etapa. Essa ação se fez necessária para manter uma coerência no caráter lúdico e
explicativo da cartilha.
A respeito da metodologia de explicação dos conteúdos, foram utilizados em
todas as cartilhas distintos personagens que acompanham o desenrolar da leitura dando
suporte e interligando os conteúdos. Além disso, atividades, jogos, músicas, rimas e
quadros com informações extras sobre os temas tratados, foram adicionados com o
objetivo de dinamizar o estudo.
Durante o processo de sistematização da cartilha foram utilizados os respectivos
materiais que contribuíram para a confecção, sendo estes: Procura de figuras ilustrativas
no Google; Programa PowerPoint; o livro didático como referencial teórico; notebook,
dentre outros, dessa forma pode-se finalizar a produção.
Já na segunda etapa se desenvolveu a produção das maquetes, que teve um
processo mais diferenciado, uma vez que essa produção é totalmente manual. Nesse
contexto, enquanto elemento cartográfico e geológico, as maquetes se apresentam como
uma importante ferramenta para o ensino da Geografia, pois simulam uma forma de
representação tridimensional. Além disso, propiciam uma identificação do aluno com a
realidade demonstrada, uma vez que trabalham com imagens icônicas, ou seja, com
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símbolos próprios de cada cultura, utilizados para representar os elementos contidos nas
maquetes.
A seleção do mapa, ou área a ser representado, tem um caráter bastante
significativo, pois o mesmo trata de trabalhar uma temática bastante expressiva para os
alunos do município de Limoeiro do Norte-CE, uma vez que ele representa toda a
altimetria da cidade. Ou seja, a produção dessa maquete traz para o aluno uma
identidade conhecida. A ideia central, é que o aluno tenha facilidade de perceber as
formas de relevo que serão apresentadas pelas curvas de nível que, neste caso aparecem
na maquete em uma sequência de cores e altura diferenciadas, registradas na legenda.
A maquete transforma-se numa grande aliada do professor, pois tem a
capacidade de dinamizar as aulas, revelar detalhes do espaço representado, permitindo
por meio de seu aspecto tridimensional a percepção da interdependência dos
fenômenos.
A Maquete, assim sendo, constitui-se num recurso pedagógico que potencializa
o Ensino da Geografia através da tridimensionalidade, revelando detalhes do mapa
desenvolvendo a capacidade de espacialização, de orientação, de visualização de
informações cartográficas e geográficas, a percepção da interdependência de fenômenos
e a construção dos mapas mentais, permitindo que o aluno deixe de ser um simples
leitor.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O fato de novos recursos didáticos oferecerem uma grande variedade de formas
de se expor conteúdos se enquadrou na objetivação de expor a Geografia de maneira
lúdica, mais simplista e que ao mesmo tempo traz em suas produções uma gama
riquíssima de conhecimentos. Além disso, o tamanho e a forma diferenciada, a
interligação dos textos com imagens, atividades, músicas e personagens atribuem um
caráter menos formal aos conteúdos trabalhos.
O importante é o professor ter ciência de que os recursos didáticos por si só não
tem a capacidade de produzir aulas construtivas. Cabe ao ele a decisão de contribuir na
educação dos alunos e prepará-los para intervir na sociedade de forma crítica e
consciente.
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Ressalta-se ainda, a capacidade de materializar nas cartilhas e maquetes
elementos da realidade e do espaço geográfico do aluno como exemplos para os termos
e conteúdos trabalhados. Essa materialização deve sempre está contida nas produções
de instrumentos pedagógicos, uma vez que os livros didáticos não conseguem trabalhar
a geografia no âmbito do espaço e das vivencias dos alunos.
Figura 01 – Capa da cartilha e Maquete
A elaboração dessas novas ferramentas didáticas possibilita ao discente trabalhar
o conteúdo abordado de modo mais aprofundado, possibilitando expor os conteúdos em
de sala de aula de forma mais simplificada e atrativa ao aluno, seja ele da educação
básica ou do ensino médio.
A variedade dos modos de exposição dos conteúdos e do fazer novas produções
didáticas, demonstram a gama de possibilidades que se tem para com a construção de
instrumentos pedagógicos como esses.
Assim, podemos apontar três significativos resultados:
1) a criação de cartilhas e maquetes como instrumentos didático-pedagógicos a
serem utilizados no ensino básico e médio;
2) a reflexão sobre a prática e a importância da produção de recursos didáticos; e
3) o exercício da capacidade de criar metodologias pelo futuro professor quanto
aos seus conhecimentos geográficos de acordo com o nível cognoscente dos seus
futuros alunos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Cabe ao professor a tarefa de encontrar novos caminhos para que essa visão que
se tem de que o ensino geográfico acaba-se por tornar uma matéria enfadonha se
desfaça e desperte nos estudantes a consciência de que a Geografia é uma ciência de
fundamental importância, pois tem a capacidade de levá-los ao entendimento dos
fenômenos que atuam no mundo, partindo de uma escala local para uma global e vice-
versa.
Segundo CAVALCANTE (2005) é por meio da visão sócio construtivista, onde
o professor aparece como intermediador do processo de aprendizagem do aluno, tido
como sujeito da construção do próprio conhecimento, tendo o estudo e entendimento do
espaço local a base para a construção do conhecimento sistemático de um todo maior,
possibilitando ao educando a inovação em suas aulas práticas e proporcionando ao
aluno um aprendizado diferencial.
Mostra-se a importância da produção desses novos recursos didáticos para além
do objetivo simples de fornecer novos métodos de apreensão da geografia, abarcando
também a necessidade de se pensar no desenvolvimento de habilidades e competências
didáticas e metodológicas no estudante (profissional) dos cursos de licenciatura.
Assim sendo, a discussão a respeito das diferentes linguagens que podem ser
aplicadas ao ensino-aprendizagem da Geografia não objetiva-se em estabelecer receitas
“prontas” para o ensino de tal disciplina, mas construir propostas que trabalhem a
criatividade dos educadores nas diferentes formas de abordar os conteúdos, além de
despertar uma reflexão crítica nos educandos acerca do espaço político-econômico-
social ao qual estamos inseridos.
Para além do objetivo final de produzir cartilhas e maquetes como instrumentos
didático-pedagógicos, as produções possibilitam uma reflexão sobre a necessidade de
adequação dos conteúdos teóricos adquiridos ao longo do curso de licenciatura com
práticas educativas e pedagógicas. No ato de exercer suas próprias capacidades
criadoras e de buscar referencias que trabalham com as discussões sobre as alternativas
e necessidades da pedagogia do ensino.
Diante do exposto, conclui-se que as diferentes linguagens de ensino são
importantes ferramentas no processo de aprendizagem da Geografia, apresentando-se
como uma forma de resgatar nos alunos a vontade e o prazer pela ciência geográfica.
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REFERENCIAS
CAVALCANTI, Lana de Sousa. Ensino de geografia e diversidade: construção de
conhecimentos geográficos escolares e atribuição de significados pelos diversos
sujeitos do processo de ensino. São Paulo: Contexto, 2005.
NASCIMENTO, M. A. G. e SILVA, C. N. M. Rodas de conversa e oficinas
temáticas: experiências metodológicas de ensino-aprendizagem em geografia.
Anais do ENPEG, Porto Alegre, 2009.
PONTUSCHKA, Nídia Nacib. A geografia: pesquisa e ensino. In. CARLOS, A. F. A.
(org.). Novos caminhos da geografia. – São Paulo: Contexto, 2010.
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A CONSTRUÇÃO DE METODOLOGIAS DE ENSINO MEDIADAS
PELO USO DA POESIA NA GEOGRAFIA ESCOLAR
OLIVEIRA, M. F. S1
ANDRADE, C. S. P2
RESUMO
O presente artigo analisa as práticas pedagógicas mediadas pelo uso da poesia como um recurso
didático não convencional aplicado à Geografia Escolar no Ensino Médio, abordando o diálogo
interdisciplinar da ciência geográfica com a literatura, em especial com o gênero poético,
evidenciando assim, a relevância de trabalhos na perspectiva de colocar em pauta as discussões
sobre a aproximação da Geografia com outras áreas do conhecimento. Trata-se portanto, de
parte dos resultados da pesquisa de dissertação de mestrado intitulada: Geografia e Poesia:
Diálogo Possível no Ensino da Geografia Escolar, defendida no Programa de Pós-Graduação em
Geografia pela Universidade Federal do Piauí. Serão explicitados o método e o percurso
metodológico selecionado para efetivação da pesquisa, descritos os conteúdos geográficos
trabalhados, as poesias utilizadas e os objetivos pretendidos durante o desenvolvimento do
plano de trabalho geopoético. Descreve-se a aplicação das atividades desenvolvidas na
mediação dos conteúdos estudados em cada série e as análises dos resultados obtidos no
desenvolvimento da pesquisa. Considerando que a referida disciplina nas últimas décadas
recorre a diferentes mecanismos metodológicos na tentativa de aproximar o ensino da realidade
do aluno e possibilitar uma aprendizagem significativa, intenciona-se refletir no viés da
interdisciplinaridade, mediante pesquisa colaborativa com professores e alunos do Ensino
Médio, como a poesia pode contribuir na compreensão dos conteúdos de Geografia e funcionar
como um recurso facilitador da aprendizagem. Espera-se que a pesquisa, fomente discussões
sobre a importância da construção de metodologias aplicadas ao ensino de Geografia, a partir do
uso do texto poético na sala de aula, para promover a aprendizagem dos conteúdos geográficos.
E que este estudo, possa ainda contribuir para o desenvolvimento e publicação de futuros
trabalhos no âmbito da Geografia Escolar.
Palavras -chave: Ensino. Geografia Escolar. Poesia
INTRODUÇÃO
A Geografia Escolar passa por um processo de renovação e busca novas
definições, no tocante a metodologias e significados inovadores para a formação de uma
sociedade que convive com as transformações oriundas do mundo globalizado. Tal
processo revela questões que devem ser incorporadas aos conhecimentos geográficos,
1 Mestra em Geografia pela Universidade Federal do Piauí- UFPI e professora da Educação Básica da
Rede Estadual de Ensino do Maranhão, [email protected] 2 .Doutor em Geografia pela UFPE e Professor do Programa de Pós Graduação da UFP,
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tornando-se necessário refletir no sentido da aplicação de metodologias de ensino
diferenciadas na Geografia Escolar, utilizando para efetivação desse propósito,
abordagens que incluam os diálogos interdisciplinares.
Nessa direção a referida pesquisa está voltada para o ensino da Geografia
Escolar no que concerne a formas diferentes de trabalhar os conteúdos geográficos
considerando a ação pedagógica assentada no pensamento sistematizado e nas práticas
cotidianas dos alunos. Acredita-se que possa haver contribuição científica à Geografia,
ao considerarmos as representações diárias dos educandos e elevá-las a um nível
considerável de sistematização, mediante o uso de ferramentas alternativas no ensino de
Geografia, aqui em especial, a poesia
Busca-se através deste artigo evidenciar a importância da implementação de
práticas metodológicas que contribuam para a construção do conhecimento geográfico
na escola, aliando o gênero poético à produção e reprodução de saberes pertencentes a
Geografia, destacando os elementos culturais e estéticos da poesia como ferramenta
pedagógica, no intuito de mostrar as diversas possibilidades de aplicação desse gênero
literário no ensino da disciplina, como recurso didático alternativo para a compreensão
dos conteúdos geográficos.
A PESQUISA, O MÉTODO E PROCEDIMENTOS INVESTIGATIVOS
ELEITOS.
No decorrer do processo educacional e no âmbito do ensino da disciplina
Geografia é possível constatar as dificuldades didático-pedagógicas, advindas da
aplicação dos conhecimentos da Geografia acadêmica para a Geografia Escolar. O
problema passa pela forma como os conteúdos geográficos são trabalhados, devendo
estes serem teorizados e representados de maneira adequada, para que ocorra a relação
entre os ensinamentos geográficos e a realidade do educando, havendo assim a
ressignificação destes conteúdos.
Considerando os procedimentos metodológicos utilizados, o referido estudo
constitui-se numa pesquisa qualitativa com ação colaborativa, que conforme Thiollent
(2003, p. 14), nesse tipo de pesquisa o pesquisador e sujeitos interlocutores estão
envolvidos de modo cooperativo, realizando ações que incluem planejamento,
diagnóstico da situação, a formulação de estratégias de trabalho, desenvolvimento de
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atividades, avaliação, análise e compreensão dos resultados. Estas ações possibilitam a
construção de metodologias e reconstrução de saberes geográficos, mediante a inserção
da poesia como recurso pedagógico no ensino aprendizagem de Geografia.
O construto teórico desta pesquisa tomou forma a partir da pesquisa
bibliográfica, em literatura diversificada e documentos oficiais referentes a Geografia
escolar. Centrou-se inicialmente nas contribuições teóricas de autores e pesquisadores
que discutem o ensino de Geografia e produziram livros, artigos, dissertações e teses
sobre as formas de utilização de metodologias diferenciadas no ensino de Geografia,
sobretudo as produções que se referem a relação da Geografia e Arte, Geografia e
Literatura e estudos que se aproximam da discussão sobre o diálogo da Geografia com a
poesia na sala de aula com vistas a produção do conhecimento.
A pesquisa se desenvolveu no âmbito da escola pública estadual, Centro de
Ensino Aluísio Azevedo, em Caxias- MA, no período de setembro a dezembro do ano
letivo de 2012. Teve como sujeitos interlocutores os alunos da 1ª, 2ª e 3ª série do Ensino
Médio, cada turma com 35 alunos e optou-se pela intervenção de uma turma de cada
série, com professores diferentes, o que nos possibilitou verificar diferenças e
semelhanças na aplicação e resultados das atividades de mediação dos conteúdos
geográficos por meio da poesia, analisar e comparar as produções dos envolvidos, com
dados de amostragem suficientes para atingir os objetivos propostos e manter a
qualidade científica do estudo.
A pesquisa pautou-se na metodologia colaborativa que conforme Thiollent
(2003) os pesquisadores e os interlocutores interagem de forma participativa. Portanto
foram discutidos com os professores, o percurso metodológico, definido os conteúdos e
acertadas as datas de inicio das atividades em cada turma, seguindo a rotina de cada
professor. A partir de então, iniciamos a busca por poesias relacionadas com os
conteúdos selecionados para elaboração do trabalho geopoético, para em seguida partir-
se para a execução do mesmo.
O desenvolvimento das atividades de mediação dos conteúdos geográficos por
meio da poesia exigiu do aluno o exercício das habilidades de leitura e interpretação de
texto, para que estes estabelecessem os nexos entre o poético e o geográfico de forma
coerente. Esta prerrogativa nos remete “a importância do ato de ler” como defende
Freire (2011, p. 20) onde este diz que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”.
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E ainda que, “[...] a compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica
a percepção das relações entre o texto e o contexto”.
A concretização do plano de trabalho ocorreu mediante atividades individuais e
de grupo, utilizando poesias relacionadas aos conteúdos, conforme os objetivos
previamente articulados, envolvendo procedimentos como a leitura silenciosa e oral,
análise oral e escrita, relato escrito, produção de cartazes, paródias, produção de
poemas, dramatizações, produção de texto dissertativo e comentários ilustrados, como
forma de representação do que foi compreendido, servindo como indicativos para
análises dos resultados da pesquisa. Este foi elaborado seguindo o roteiro abaixo:
FIGURA 1 - ROTEIRO DO PLANO DE TRABALHO GEOPOÉTICO
Fonte: Elaborado pela autora (2012).
No final de cada aula de Geografia mediada pelo uso de poesias, o aluno foi
avaliado individualmente ou no coletivo, mediante a aplicação de atividades que
contemplaram a relação do poema com o conteúdo abordado, representadas através de
exposição oral, relato escrito, ilustração de poesias de forma contextualizada, confecção
de painéis e produção de poemas geográficos. Esta avaliação ocorreu em dois
momentos que convergiram para a obtenção dos resultados desse estudo.
PLANO DE TRABALHO GEOPOÉTICO
SÉRIE CONTEÚDOS OBJETIVOS
PROCEDIMENTOS
METODOLÓGICOS RECURSOS DIDÁTICOS
AVALIAÇÃO
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O primeiro durante o desenvolvimento das atividades, observando o
comportamento, o nível de motivação, o interesse da turma na aula e participação na
leitura, interpretação e relação das poesias com o assunto, analisando os efeitos iniciais
da metodologia aplicada. E o segundo momento com a análise das representações dos
alunos, sendo possível perceber o nível de assimilação do assunto estudado e como a
poesia facilitou a aprendizagem, a partir do que o aluno foi capaz de demonstrar nas
suas produções e representações, para enfim, confrontar os resultados obtidos com os
objetivos pretendidos na pesquisa.
A metodologia teve como uma das metas primordiais aproximar a poesia do
tema geográfico estudado para facilitar a compreensão do aluno em relação ao
conteúdo, o estabelecer das correlações e o representar do seu entendimento através das
atividades propostas. Assim como propiciar ao professor ministrar as aulas de Geografia
de maneira diferente, tentando problematizar o conteúdo com os alunos, mediante o uso
recurso didático não convencional, buscando sempre uma aproximação com o
cotidiano.
QUADRO 1- CONTEÚDOS GEOGRÁFICOS MEDIADOS PELA POESIA
1ª série
2ª série 3ª série
Industrialização
Dinâmica Populacional
Brasileira
Japão na Segunda Guerra
Mundial:
Terceira Revolução Industrial
Etnias do Brasil
África
Biomas e Paisagens Vegetais
do Mundo
Migrações no Brasil
Conflitos no Oriente Médio
Sociedade de Consumo
Espaço Agropecuário
Brasileiro
População Mundial
Comércio Mundial e
Consumo
Espaço Industrial Brasileiro
População Mundial:
Desigualdades Sociais
Economia Global
Urbanização Brasileira
Urbanização Mundial
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Fonte: Elaborado pela autora (2012)
A MEDIAÇÃO DOS CONTEÚDOS GEOGRÁFICOS PELA POESIA E OS
RESULTADOS
APLICAÇÃO DA METODOLOGIA NA 1ª SÉRIE
Para trabalhar o tema sociedade de consumo, o professor fez uso do texto
poético como uma ferramenta didática no intuito de reforçar o entendimento do
conteúdo anteriormente trabalhado. A poesia selecionada para a mediação do conteúdo
foi Shopping Center, de José Paulo Paes, que aborda mediante linguagem acessível, as
motivações e implicações do consumismo na sociedade globalizada, fatos estes bastante
comuns no nosso cotidiano.
O professor fez uma retrospectiva do assunto através de exposição oral e
entregou a poesia aos alunos, solicitando a leitura, seguida de comentários sobre o tema
abordado no texto poético, relacionando com o assunto estudado em Geografia. Além
disso, produziram relatos escritos respondendo as seguintes questões: Qual a relação da
poesia com o assunto estudado em Geografia? Qual tipo de crítica a poesia estabelece
em relação a nossa sociedade? O uso do texto poético facilitou a aprendizagem do
conteúdo estudado? Como? Segue abaixo a poesia e os relatos dos alunos
QUADRO 2- ANÁLISE DA POESIA SHOPPING CENTER (JOSÉ PAULO PAES)
Poesia
Relatos dos Alunos
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Shopping Center
Pelos teus círculos vagamos sem rumo
nós almas penadas do mundo do consumo
De elevador ao céu pela escada ao inferno
os extremos se tocam no castigo eterno
Cada loja é um novo prego em nossa cruz
Por mais que compremos estamos sempre nus
Nós que por teus círculos vagamos sem
perdão à espera (até quando?) da Grande
Liquidação
(JOSE PAULO PAES, 1992)
“Está relacionada com o assunto que estudamos
por que fala do consumo exagerado das pessoas
que se deixam levar pelas ofertas nas
liquidações e acabam se endividando, facilitou a
aprendizagem porque mostra fatos da realidade
e foi uma forma interessante de aprender mais
do conteúdo estudado”. (Ruth Teixeira – 1ª
série)
“A poesia critica a prática do consumismo. Está
relacionada a Geografia porque trata de
assuntos como o setor terciário, o comércio e os
serviços, falam da realidade do mundo em que
vivemos de coisas de nosso cotidiano. Ler a
poesia sobre o conteúdo foi um jeito diferente de
aprender Geografia”. (Guilherme Almeida – 1ª
série)
Fonte: Elaborado pela autora (2012)
Após a produção dos relatos escritos, o professor sugeriu que em dupla os alunos
produzissem uma paródia ou poesia sobre consumismo, tendo como base a poesia
anteriormente lida e interpretada de modo a inserir também o conteúdo de Geografia
estudado. Esta atividade provocou inquietação entre os alunos, que se mostraram
entusiasmados e desafiados a acatar a sugestão, produzindo algumas paródias, que
foram socializadas na sala. Entre estas, uma será aqui apresentada:
Adrenalina
O meu cheque foi bloqueado, meu cartão está estourado,
consumismo exagerado que me faz endividar,
meu nome no SPC é o que posso esperar
Sou viciada em PC, shoppings. baladas,
não dá nem pra descrever.
Simplesmente é impossível dizer não,
a Armani, Gabana, Lacoste e as calças da Cantão.
E se chegar mais perto você vai ver,
minha linda camisa polo e meu novo celular LG.
Consumismo que me domina, minha carteira é pura adrenalina.
(ELLEN, Ruth e MELO, Thaicilane de – 1ª série)
Observa-se mediante os relatos e as paródias produzidas que os alunos
demonstraram facilidade para entender a poesia e estabelecer elos de ligação com o
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conteúdo estudado, identificando que o consumo e o consumismo estão diretamente
relacionados com a indústria e o comércio mundial, bem como perceberam as críticas
contidas nas entrelinhas em relação ao consumo em exagero e contextualizaram com os
aspectos da realidade vivenciada, considerando a atividade interessante, por tratar-se de
uma maneira diferente de abordar um assunto da Geografia que despertou mais a
atenção, a curiosidade e a criatividade.
APLICAÇÃO DA METODOLOGIA NA 2ª SÉRIE
A atividade desenvolvida na 2ª série abordou o tema urbanização brasileira e no
planejamento optou-se por utilizar poesias que sejam de autoria de poetas brasileiros,
maranhenses e caxienses para trabalhar o urbano na escala nacional e na escala local e
na perspectiva das cidades grandes e pequenas. As poesias selecionadas foram: Retrato
de uma Cidade e Cidadezinha Qualquer, (Carlos Drummond Andrade), Cidadezinha
Cheia de Graça (Mario Quintana), Morro do Alecrim (Gonçalves Dias).
Desse modo, após a exposição dialogada, com discussão pertinente ao
conteúdo, o professor dividiu a turma em grupos e distribuiu as poesias relacionadas ao
assunto abordado, poesias estas que foram lidas e em seguida interpretadas pelos alunos
com a mediação do professor. No intuito de sistematizar as informações e captar a
percepção subjetiva e individual do aluno, na qual buscamos analisar as possibilidades
concretas de ressignificação dos conteúdos a partir da utilização da poesia como recurso
didático, algumas questões importantes foram aplicadas pelo professor.
Através destes questionamentos os alunos produziram relatos a respeito do que
aprenderam com o estudo da urbanização brasileira e o espaço urbano da sua cidade
mediante o uso de textos poéticos, bem como refletiram se a leitura, análise e produção
de poesias facilitou a aprendizagem dos conteúdos trabalhados. Como forma de amostra
segue uma das poesias utilizadas em sala de aula e os comentários dos alunos:
QUADRO 3- ANÁLISE DA POESIA CIDADEZINHA CHEIA DE GRAÇA (MARIO
QUINTANA)
Poesia
Relatos dos Alunos
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Cidadezinha Cheia de Graça
Cidadezinha cheia de graça... Tão pequenina
que até causa dó! Com seus burricos a pastar
na praça... Sua igrejinha de uma torre só...
Nuvens que venham, nuvens e asas, Não
param nunca nem um segundo... E fica a torre
sobre as velhas casas, Fica cismando como é
vasto o mundo!... Eu que de longe venho
perdido Sem pouso fixo (a triste sina!) Ah,
quem me dera ter lá nascido! Lá toda a vida
pode morar! Cidadezinha. tão pequenina Que
toda cabe num só olhar. (MARIO
QUINTANA, 2005)
“Gostei da atividade de analisar e criar poesia
relacionada ao conteúdo estudado, aprendi mais
coisas sobre o assunto, com mais facilidade. As
poesias eram de fácil entendimento e a maneira
como foram apresentadas foi diferente do que
estamos acostumados a fazer na sala de aula”.
(Mayla Daniele Pereira – 2ª série)
Com a poesia ficou mais fácil entender o
conteúdo, onde foi possível saber mais coisas
sobre minha cidade que antes eu não sabia,
chamou mais nossa atenção por ser uma forma
diferente de aprender o conteúdo e aprofundar o
conhecimento. Antes eu pensava que poesias só
retratava sentimentos, mas vi que também fala
da nossa realidade ”. (Francisco Alef – 2ª série )
Fonte: Elaborado pela autora (2012)
.
De acordo com os depoimentos dos alunos da 2ª série, as atividades realizadas,
contribuíram para incentivá-los a construir o conhecimento, pois foi dada oportunidade
aos alunos de desenvolver habilidade de buscar respostas, criar e recriar seus
argumentos de uma forma denominada por eles de “diferente” daquela de costume.
Portanto através da interpretação pessoal das poesias, fazendo analogia com o conteúdo
geográfico estudado, o aluno exercita o seu senso crítico, pode chegar um “olhar
produtivo”; fazer associações de sua própria experiência com aquela do autor, compará-
la, assimilá-la e ainda opor-se a ela, como defende (SNYDERS, 1996, p.114).
APLICAÇÃO DA METODOLOGIA NA 3ª SÉRIE
A aplicação do plano de trabalho geopoético na 3ª série, seguiu o planejamento
prévio elaborado, obedecendo a sequência dos conteúdos a serem trabalhados no quarto
período letivo do ano de 2012. O primeiro conteúdo mediado pela poesia foi a situação
do Japão na Segunda Guerra Mundial, destacando o ataque nuclear nas cidades
japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Para a mediação, fez-se uso da poesia Rosa de
Hiroshima de Vinícius de Moraes, no intuito de discutir as consequências desse ataque
para a população do Japão e a repercussão no espaço geográfico mundial.
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O professor fez a exposição dialogada do conteúdo com auxílio de slides
produzidos sobre o tema, fazendo um retrospecto histórico do Japão, partindo do
contexto da Segunda Guerra Mundial até a situação do país na atualidade. Logo após
entregou a poesia para os alunos solicitando fizessem a leitura de forma compartilhada,
onde cada aluno lia uma frase da poesia e no final teciam os comentários a respeito do
texto e da relação com o tema geográfico, com a complementação do professor na
conclusão das ideias. Eis a poesia analisada e os relatos dos alunos
QUADRO 4- ANÁLISE DA POESIA ROSA DE HIROSHIMA (VINÍCIUS DE MORAES)
Poesia
Relatos dos Alunos
Rosa de Hiroshima
Pensem nas crianças mudas telepáticas
Pensem nas meninas cegas inexatas
Pensem nas mulheres rotas alteradas
Pensem nas feridas como rosas cálidas Mas
oh não se esqueçam da rosa da rosa ,da rosa
de Hiroshima
A rosa hereditária A rosa radioativa
Estúpida e inválida A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica em cor sem perfume
Sem rosa sem nada
(VINICIUS DE MORAES, 2005)
A poesia transmite um sentimento de dor, lembra
guerra e morte, me chamaram atenção as frases
“pensem nas crianças”, “pensem nas
mulheres”, pois foram as principais vitimas
dessa tragédia que afetou o”.. Está relacionada
ao que estamos estudando no momento, que é o
Japão na Segunda Guerra Mundial”. (Francisca
dos Santos – 3ª série)
“A poesia mostra de uma forma realista as
consequências da bomba atômica, lançadas nas
cidades japonesas. [...] a relação entre poesia e
o conteúdo é que a situação do Japão na
Segunda Guerra Mundial até o momento atual é
o tema estudado no momento e a poesia descreve
um dos piores momentos vividos por esse país”.
(Renata Carlos – 3ª série)
Fonte: Elaborado pela autora (2012)
Face às concepções em relação a mediação de conteúdos geográficos por meio
da poesia, observamos por parte do educando, avanços significativos no interesse e
participação nas discussões durante as aulas, pois praticamente a totalidade dos alunos
das turmas trabalhadas se empenharam nas atividades aplicadas e corresponderam ás
expectativas do estudo. Desse modo, constatamos que as primeiras intervenções
discentes postas sobre os conteúdos geográficos analisados por meio de textos poéticos
atingiram considerável nível de cognição desencadeada pela criatividade e coerência
impressas em seus relatos orais e escritos.
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Com o desenvolvimento do plano de trabalho geopoético nas turmas
selecionadas, pretendeu-se demonstrar que o sentimento, o pensamento, a emoção e a
razão, provocados pela arte poética, podem e devem ser considerados como, partícipes
da ação pedagógica, em especial, no ensino de Geografia em sala de aula, e que o aluno,
enquanto sujeito ativo e social, deve ter acesso a recursos e informações que lhe
possibilite ampliar as diversas maneiras de conceber e representar os fenômenos
geográficos que ocorrem nas escalas global, nacional e local.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Face à dinamicidade da realidade analisada, ao apresentar as considerações
finais desta pesquisa, cabe refletir que existe a necessidade de constante de renovação e
retorno as bases, tanto epistemológicas como pedagógicos, no tocante ao ensinar e o
aprender Geografia. Nessa perspectiva, acredita-se que a análise de conteúdos
geográficos por meio de poesias funciona como base metodológica, como recurso
didático importante no fazer pedagógico de Geografia, pois a emoção e razão são
constituintes naturais dos textos poéticos, exploraram, de modo criativo e crítico os
saberes naturais, ambientais, culturais e sociais, intrínsecos a esta disciplina.
Ademais todos os conteúdos trabalhados e mediados pela poesia foram
representados pelos alunos de forma coerente nas diversas produções requeridas pelo
professor regente como relatos escritos, confecção de cartazes, produção de paródias,
produção de poesias, todos estabelecendo a relação da poesia com o conteúdo estudado
de forma a explicitar o resultado da aprendizagem. Conquanto pudemos confirmar a
validade das afirmações nos depoimentos dos alunos em relação as atividades aplicadas
no decorrer do corpo da pesquisa.
Foi possível notar no desenvolvimento das atividades mediadas pela poesia que
o aluno ao sentir-se agente produtor do conhecimento, pode adquirir nova visão
cognitiva diante da disciplina Geografia, pois ao ressignificar o conteúdo geográfico por
meio da poesia, os alunos refletiram em diversos momentos de forma individual e
coletiva que a Geografia pode ir além do que consta no livro didático e que existem
várias maneiras de estudar, analisar e representar os temas geográficos.
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Constatou-se através da análise dos dados obtidos por meio da pesquisa que a
proposta da poesia no ensino de Geografia, superando seu uso como mera ilustração é
uma alternativa metodológica que possibilita ir além de termos e fazeres geográficos
rotineiros, levando o aluno a sentir-se inserido dentro da Geografia que permeia o
cotidiano, isto é, a Geografia real e impregnada de sentidos e que os auxilia na
compreensão do mundo, permitindo assim uma mudança de valores e hábitos em
relação a concepção da disciplina.
Compreendendo a pesquisa sobre ensino de Geografia Escolar, como espaço de
reflexão sobre o processo de ensino e aprendizagem desta disciplina, espera-se que a
referida pesquisa possa contribuir para fomentar a discussão na perspectiva de
revitalização de abordagens inovadoras com vistas ao incremento de metodologias que
possam tornar o ensino de Geografia mais dinâmico e instigante, posto que mediante os
resultados obtidos na referida pesquisa, entende-se a utilização da poesia no ensino de
Geografia como uma importante contribuição para o desenvolvimento do educando, no
sentido do despertar de interesses, apreensão de conteúdos e para a construção de
saberes, sem comprometer a cientificidade da disciplina.
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4208
A PUBLICIDADE E O ENSINO DE GEOGRAFIA: A PROPAGANDA
COMO INSTRUMENTO NO PROCESSO DE APRENDIZADO DO
DISCENTE
Gabriel Lecoque Francisco
1
Josimar Nunes Pereira de Freitas2
RESUMO
A escola influencia e é influenciada por toda a dinâmica ao seu redor. Tanto físico, quanto
cibernético. Diversos autores têm se dedicado a compreender tais relações existentes entre o
cotidiano escolar e a conjuntura social que a rodeia. Dentre os fatores que influenciam
diretamente no comportamento, temos a mídia, seja ela a televisão, o computador, o rádio, o
jornal impresso, outdoors etc. Todos estes, geram impacto no comportamento da população
como um todo. E o aluno, por compor esta configuração social, também é muito impactado,
sendo diretamente alvo de diversos informes publicitários. A todo o momento o que vemos nas
mídias são comerciais lindos, cheios de tecnologias, efeitos e em meio a tudo isso, nas
entrelinhas, mensagens que despertam no consumidor, cada vez mais o desejo de comprar, de
forma descontrolada, o produto anunciado. Porém, tais publicidades, como muitas coisas por ai,
possuem também um lado importante, que podem ser explorados em sala de aula. Muitas vezes,
temas comumente presentes nos conteúdos teóricos de disciplinas na escola, podem ser
abordados, fazendo com que, aquele material audiovisual, dotado de mensagens subliminares,
possa ser aproveitado em sala de aula, dando assim, uma nova utilidade a tal ferramenta. O
presente artigo objetiva-se a analisar tais propagandas, buscando apontar aspectos geográficos
presentes nestas, que podem ser aproveitados como materiais didáticos em sala de aula,
possibilitando assim, que o aluno possa de forma lúdica, aferir na prática, conteúdos massivos,
tornando-se assim, o processo de aprendizagem, mais prazeroso.
Palavras-chave: Propaganda, Educação, influência.
INTRODUÇÃO
No presente século em que vivemos, o qual a correria do dia-a-dia e o avanço da
tecnologia estão cada vez mais presentes na vida dos brasileiros, a propaganda
publicitária, passa despercebida do nosso olhar. Estas são de grande importância para
empresas contratantes, por exercerem em seu público alvo, enorme influência. Aliado a
isso, conforme aponta Júnior (2009), “a televisão é um veículo de massa que melhor
transmite informações por ser de fácil aquisição, devido ao seu baixo valor aquisitivo”.
Com isso, o poder de influência, juntamente, com o baixo custo, e a maior possibilidade
1 Universidade Federal do Espírito Santo – Depto de Geografia – UFES/CCHN;
[email protected] 2 Universidade Federal do Espírito Santo – Depto de Geografia – UFES/CCHN; [email protected]
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4209
de contato direto com a grande massa da população, faz com que, cada vez mais,
empresas invistam pesado nas mídias televisivas.
E tal influência, tem despertado o interesse de diversos estudiosos de áreas
variadas do conhecimento, onde estes têm buscado compreender o quanto tais
propagandas têm impactado nos modelos de comportamento da sociedade atual,
conforme aponta Ruberti e Pontes (2001):
“Nas últimas décadas inúmeras publicações confirmam de uma maneira rigorosa, a
importância que as mensagens audiovisuais estão adquirindo na configuração da cultura
e nos modelos de comportamento da sociedade atual.” (p.23).
Em meio a toda esta dinâmica capitalista de comercialização, encontra-se a
escola, agente este, que tem por função, prover a educação, que segundo a LDB (Lei de
Diretrizes e Bases), no Brasil, tem por objetivo “desenvolver o educando, assegurar-lhe
a formação indispensável para o exercício da cidadania e fornecer meios para progredir
no trabalho e em estudos posteriores” (Artigo 22, LDB 9394/96). Assim sendo, a
Educação, aponta Teixeira (1997), “[...] é a função natural pela qual a sociedade
transmite a sua herança de costumes, hábitos, capacidades e aspirações aos que nela
ingressam para a continuarem [...]”. Cabe a escola, portanto, fazer um diálogo entre o
cotidiano do aluno, e o conteúdo teórico. Em cumprimento a esta função, a disciplina de
geografia, assume o papel de mediador, em que, busca “estimular raciocínios e
procedimentos geográficos na leitura crítica do mundo e a ação cidadã no espaço
geográfico”, conforme indica o Currículo Básico Comum da Secretaria de Educação do
Espírito Santo (p.109).
Ruberti e Pontes, (2001), afirmam que “a televisão é hoje em dia um membro da
família e as imagens e informações que são transmitidas configuram e condicionam
gradualmente as opiniões e os gostos de nossas crianças e adolescentes de uma maneira
quase inconsciente.” (p.24). Sabendo-se da influencia sofrida pela escola, o presente
artigo, propõe em seu desenvolvimento, a utilização de audiovisuais, como proposta de
trabalho em sala de aula, auxiliando a fixação do conteúdo por parte do discente.
Recursos estes que, nas palavras de Júnior (2009), “[...] são os que estimulam a visão
e/ou a audição. Esses recursos contribuem para a absorção de conteúdos através de
comparações com fatos e elementos do cotidiano do aluno.”.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Nas páginas seguintes, será discutida a importância da utilização de audiovisuais como
ferramenta auxiliadora do trabalho do professor, e também será analisada como
exemplo, uma propaganda publicitária vinculada em rede nacional pela empresa Vivo
S/A, no ano de 2012. Serão apontadas as temáticas que podem ser trabalhadas neste
vídeo, bem como resultados obtidos após aplicação desta, numa turma de 6ª série6, da
Escola de Ensino Fundamental Aristóbulo Barbosa Leão, da rede municipal de Vitória,
capital do Espírito Santo.
Antes, porém de que se iniciem as discussões a respeito do uso da propaganda
publicitária em sala de aula, faz-se necessário apontar a diferença entre propaganda e
publicidade. Assim sendo, aponta Farias (2006) que:
“Segundo Vidal Serrano Nunes Júnior
37, propaganda é “toda forma de comunicação,
voltada ao público determinado ou indeterminado, que, empreendida por pessoa física
ou jurídica, pública ou privada, tenha por finalidade a propagação de ideias relacionadas
à filosofia, à política, à economia, à ciência, à religião, à arte ou à sociedade. [...].
“[...] publicidade é “o ato comercial de índole coletiva, patrocinado por ente público ou
privado, com ou sem personalidade, no âmago de uma atividade econômica, com a
finalidade de promover, direito ou indiretamente, o consumo de produtos e serviços.”“.
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
Discutir e analisar propagandas vinculadas na mídia televisiva, dando foco à
propaganda publicitária da Vivo S/A, utilizando-a como instrumento didático facilitador
na aferição de conteúdos teóricos geográficos discutidos em sala de aula.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
6 Atual 7º ano, conforme determina a Emenda Constitucional 53, datada de 19 de dezembro do ano de
2006 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc53.htm).
7 Mestrado (em1995), Doutorado (2000) e Livre-docência em Direito (2000) pela PUC - São Paulo.
(http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=C500591).
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4211
Tem-se como objetivos específicos, o de compreender aspectos geográficos
intrícicos na propaganda publicitária da Vivo S/A, utilizando-os como instrumento
didático no processo do ensino em geografia; Buscar apontar formas de se utilizar em
sala de aula, tal audiovisual, de maneira a tornar lúdica a compreensão dos blocos de
conteúdos estudados em sala de aula; Potencializar o aprendizado do alunado.
A TELEVISÃO E A DISCIPLINA DE GEOGRAFIA
A propaganda é um meio de comunicação importante na sociedade. Através da
propaganda são passados recados e recomendações a diversos tipos de pessoas. São
vendidos produtos de empresas privadas e/ou públicas, bem como divulgadas
campanhas com variados objetivos (comerciais sociais etc.). Essas podem ser
vinculadas em revistas, jornais, outdoor, na televisão, internet, e em outros meios, que
captem as pessoas. A de se enfatizar que as propagandas no meio televisivo8 são as que
atingem a maior quantidade de pessoas, de diferentes classes sociais. Isso, segundo
Júnior (2009), devido ao a facilidade de acesso que esta permite as variadas classes
sociais em detrimento do seu baixo valor. Tal afirmação é comprovada ao se analisar os
indicadores do senso demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE, onde segundo este, cerca de 95% dos domicílios brasileiros,
possuem pelo menos um televisor.
Por se tornar tão comum nos ambientes familiares brasileiros, todo o aparato de
informação, trazido pelos programas jornalísticos, novelas, desenhos, propagandas
publicitárias etc., leva a televisão a exercer uma grande influencia no cotidiano da
população, como um todo. Seja esta, na moda, no modo de pensar e julgar determinado
fato que ocorreu, ou simplesmente no convencimento de um cliente, de que comprar o
produto anunciado, é o melhor pra vida daquele consumidor. E de acordo com Ruberti e
Pontes (2001):
“[...] considerando os significativos avanços das tecnologias de informação e
comunicação, à escola de nosso tempo compete o árduo trabalho de incorporar em suas
práticas e teorias uma nova forma de ensino-aprendizagem, um processo voltado para a
potencialização de competências para o uso de múltiplas linguagens que convergem,
8 Contudo é crescente o número de propagandas vinculadas na internet, sendo que algumas são criadas
apenas para este meio de comunicação.
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além disso, a destreza para se auto-gerenciar em situações de comunicação que
constroem as novas redes telemáticas multimídia.” (p.23).
De maneira que, “a televisão pode ser usada como um instrumento auxiliar do
processo ensino-aprendizagem [...].” (JÚNIOR 2009). Tornando assim, o processo de
assimilação do conteúdo teórico, que muitas vezes é extremamente massivo, mais
lúdico e prazeroso, facilitando assim, a mediação do conhecimento por parte do
professor.
A programação da televisão, ai enfatizamos os canais abertos de televisão,
geralmente passam uma grande quantidade de propaganda. Essas transmitem
informações a âmbito regional e/ou nacional, sendo algumas para o global. Em cada
propaganda podemos visualizar ações presentes na cultura, na percepção de mundo, e
aspectos que podem ser trabalhados na sala de aula. Entre esses elementos, destacamos
os geográficos.
Os aspectos geográficos contidos em uma propaganda podem ser trabalhados em
sala como complementação do ensino. E nesta perspectiva, destaca Júnior (2009), que
“o aluno busca algo novo, algo atrativo, e a educação deve acompanhar essa busca”.
Assim sendo, a utilização de um audiovisual em sala de aula é de extrema valia, pois,
podem-se desenvolver novas formas descontraídas de fazer com que o aluno crie maior
afinidade com o conteúdo programático das disciplinas.
Além de prender a atenção do aluno, pois o ser humano consegue através da
imagem captar mais informações, o audiovisual possibilita que o que é aprendido
obtenha forma, e não somente forma, como também sons. Seguindo esta proposta,
lança-se o desafio para os professores. O desafio de compreender, se atualizar, e
começar a se utilizar desta excelente ferramenta, pois, nas palavras de Júnior (2009):
“Vários estudos e pesquisas feitos a partir de instituições de ensino cujos alunos
alcançaram pontuação elevada em provas feitas pelo Ministério da educação, apontam
com fatores presentes nessas escolas, gestores com capacidade de liderança e autonomia
para desenvolver projetos personalizados, são professores com boa autoestima e
comprometidos com o sucesso escolar e um ambiente escolar caracterizado pela
pluralidade de estratégias didáticas.” (JÚNIOR, 2009).
A propaganda televisiva, sendo um audiovisual que está ficando a cada dia mais
presente no cotidiano das pessoas, torna-se uma característica a mais a ser discutida,
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4213
pelo fato que por mais que tenham sido vistas as imagens, nos foram percebidos os
detalhes do espaço inserido e suas peculiaridades. Além disso, os sons, nisso
destacamos as músicas dentro da propaganda, por várias vezes, trazem uma mensagem
interessante, que reforça e complementa o que é mostrado na propaganda. Contudo
muitas pessoas ficam focadas apenas no ritmo da música.
A sociedade vive em constantes transformações, e as relações e processos que a
modifica é percebido nas propagandas e em outros meios de comunicação. Todos esses
fatores contribuem para a educação que em toda a história tem permanecido até aos dias
atuais na sua forma de praticas educativas.
Sobre as praticas educativas Freire (1993) diz:
“Em face, finalmente, das relações entre educação, enquanto processo permanente e a
vida das cidades, enquanto contextos que não apenas acolhem a prática educativa, como
prática social, mas também se constituem, através de suas múltiplas atividades, em
contextos educativos em si mesmas.” (FREIRE, 1993).
PROPAGANDA DA EMPRESA VIVO S/A
A referida propaganda publicitaria da Vivo S/A foi idealizada pela Agência
África e produzida pela Vetor Zero/Lobo, conforme informa o sitio eletrônico
“Tudibão”. Com duração de 01 minuto e 37 segundos, esta foi vinculada no ano de
2012 em toda a rede de televisão aberta que possui contratos com a Vivo S/A. Intitulada
“Conectados vivemos melhor”, esta chama muito atenção por tratar-se de uma
animação e nesta, conter diversas paisagens e projeções do que seria a cultura do povo
brasileiro.
Fica nítido que o objetivo é transmitir a ideia de que, por meio dos serviços da
empresa, é possível o consumidor se manter constantemente conectado com o mundo e
com todo o contexto social que o rodea ao mesmo tempo, em vários locais.
OS ASPECTOS QUE PODEM SER TRABALHADOS ATRAVÉS DA
PROPAGANDA DA VIVO.
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Os aspectos geográficos que podem ser explorados através da propaganda, não
se limitam a uma série específica, tendo uma abrangência no ensino fundamental e
médio. Entretanto discutiremos a sua utilização com a 6ª série, atual 7º Ano do ensino
fundamental.
No 7º Ano, em geografia, os alunos aprendem sobre a formação do povo
brasileiro e suas características gerais, assim como a população brasileira. E Através das
imagens de diferentes biótipos de pessoas, além de diferentes localidades e até de
relevo, o que nos remete a uma revisão do que é aprendido no 6º Ano do ensino
fundamental, podemos conversar com os alunos e realizar junto com os eles a
aprendizagem dessas características.
Uma das primeiras imagens da propaganda, as 0 min. e 24s, mostra uma criança
aparentemente descendente de povos do extremo oriente em frente ao Museu de Arte de
São Paulo, localizado em uma das mais importantes e conhecidas avenidas do Brasil, a
Avenida Paulista.
Outra imagem que aparece na propaganda, ao 0 min. e 28s, é o elevador Lacerda
em Salvador- Bahia, além de um homem e uma criança, que nos induz a crer pai e filho.
Estes dois personagens estão caracterizados com biótipo e “roupas de baianos”.
Sabemos que nem todas as pessoas dessa região possuem estas características físicas, e
utilizam estas vestimentas, contudo o intuito da propaganda é abordagem geral, o que
foi alcançado com êxito.
Em outra cena da propaganda, ao 0 min. e 37s, é mostrado um casal em um
balão de gás, com a música dizendo: “conectados sempre em qualquer lugar”. A
paisagem, ao 0 min. e 39s, atrás deste casal é uma das mais conhecidas, e por vezes
retratadas nos livros didáticos; se trata da Chapada Diamantina, que se localizada nos
estados de Minas Gerais e Bahia.
Através de uma das cenas seguintes, ao 0 min. e 45s, podemos trabalhar com os
alunos a questão das regiões brasileiras, e também a questão do relevo brasileiro,
realizando uma abordagem do conceito de chapada e falando das demais formas de
relevo, como é o caso do planalto, que aparece em uma cena mais a frente, como plano
de fundo, quando mostra um gaúcho tomando seu chimarrão. Esse gaúcho é
caracterizado pelo seu traje. O plano de fundo desta imagem como foi dito é um
planalto com os campos gaúchos.
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Outro trecho da propaganda, 0 min. 41s, mostrar um homem segurando um
cachorrinho, e ao fundo o famoso relógio Big Bang, em Londres, Inglaterra. O rapaz
está transmitindo uma imagem do cachorrinho. Enquanto passa esse trecho, a música da
propaganda diz: “pra chegar mais longe, pra estar do lado”. E no trecho seguinte da
propaganda, ao 0 min. 43s, uma mulher, entende-se que esposa do homem que está na
Inglaterra, mostra a imagem do cachorrinho a uma criança. Através desse trecho
podemos trabalhar com os alunos, a globalização, e o avanço tecnológico, além de
poder se abordado o relato sobre onde fica a Inglaterra, e as características gerais desse
país.
Estes são alguns exemplos de trechos da propaganda da Vivo, que podemos
abordar em sala, explorando suas potencialidades.
MATERIAIS E MÉTODOS
Materiais
Revisão Bibliográfica; Propaganda da empresa Vivo S/A: “conectados vivemos
melhor”;
Datashow; Notebook;
Metodologia
Iniciou-se a aula, fazendo conversando com os alunos sobre o conteúdo: a
formação do povo brasileiro e suas características gerais, assim como a população
brasileira. Todos estes conteúdos já foram trabalhados em aula, e o audiovisual foi
utilizado como complementação da aprendizagem.
Foram feitas perguntas aos discentes presentes, como: O que vocês recordam do
conteúdo já trabalhado em sala de aula este ano? Bem como uma série de outros
questionamentos.
Antes de se apresentar o audiovisual, foi feito uma breve conversa sobre alguns
aspectos que poderiam ser observados no vídeo.
Posteriormente o vídeo foi apresentado duas vezes para a turma.
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Foram apontados inicialmente alguns aspectos geográficos, como: População,
Paisagens, a globalização em seu aspecto tecnológico, e as diferentes regionalidades
presentes no Brasil, bem como os estereótipos criados com determinadas regiões, como
é o caso do baiano e do gaúcho presente no vídeo.
Nos slides, contendo prints, feitos do vídeo, destacaram-se os aspectos visuais
mais marcantes, e incentivamos os alunos que começassem a falar sobre o que estava
sendo observado.
O que se observou inicialmente a percepção dos alunos que conseguiram
identificar as diferentes imagens dos diferentes locais.
Um dos alunos presentes identificou todos os aspectos solicitados, como, as
paisagens (Cristo Redentor no Rio de Janeiro, Museu de Arte de São Paulo, os Pampas
Gaúchos. Inclusive, a torre do Relógio Big Bang em Londres na Inglaterra, além de
dizer que a torre localiza na cidade de Londres).
A turma como um todo, conseguiu acompanhar a atividade, de forma bem
tranquila, inclusive, em alguns momentos, demonstrando domínio sobre o que
argumentavam. Como foi o caso do momento quando eles identificaram uma das
paisagens, onde se encontrava um jovem com uma “periferia” ao fundo. Colocamos este
termo anterior entre aspas, pois foi exatamente o que eles disseram. Alegaram que
conseguiram identificar, devido ao padrão de organização das casas.
Por fim, propomos uma atividade para casa que consistia na produção de um
texto.
Os alunos deveriam procurar em casa figuras de paisagens em jornais, revistas e
outros locais possíveis. Estas figuras de paisagens deveriam ser preferencialmente do
Brasil e seriam recortadas e coladas em uma folha separada, e através dessa imagem os
alunos produziriam um texto descrevendo a imagem e também escrevendo o que eles já
sabiam sobre aquele local, se já estiveram neste local, ou se já tinha visto algum local
parecido, como forma de o aluno interagir com o meio que está inserido e outros locais,
muitas vezes conhecidos apenas por imagens.
O exercício deveria ser recolhido na próxima aula. Alguns alunos não fizeram
este exercício, e estes tiveram a oportunidade de fazer na sala de aula. À medida que os
exercícios eram produzidos algumas orientações eram passadas aos alunos de forma que
eles percebessem detalhes das paisagens das figuras escolhida.
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RESULTADOS E DISCUSSÕES
A aula foi satisfatória para compreensão da formação do povo brasileiro e suas
características gerais, assim como a população brasileira, sendo uma complementação
do que vinha sendo trabalhado com os alunos.
Os alunos sentiram motivação e ansiedade quando ficaram sabendo que haveria
um vídeo naquela aula, ainda mais por ser uma propaganda. Alguns alunos haviam
assistido esta propaganda em suas casas.
Os textos produzidos abordaram o que eles entenderam sobre as características
dos diferentes ambientes que encontramos no Brasil e populações inseridas, por mais
que sejam brasileiros, possuem características diferentes.
Locais de outros países também foram lembrados com a torre Eiffel, em Paris-
França; e a paisagem de barcos em meio a várias casas, de Veneza-Itália.
CONCLUSÃO
A inclusão de audiovisuais em sala de aula tem se tornado um método eficaz de
trazer a atenção do aluno e muitos mais quando este audiovisual está presente no seu
dia-a-dia. Além disso, pode ser ensinada a percepção e leitura dos audiovisuais
vinculados na televisão. Como diz Magaldi (2003):
Educar para a televisão consistiria em introduzir nas escolas um processo de
aprendizagem de leitura e análise de comerciais, programas de TV, filmes e obras
videográficas. Do mesmo modo que a leitura da linguagem verbal, essa
aprendizagem exige basicamente uma prática devidamente apoiada e orientada. A
leitura audiovisual mais qualificada expande a capacidade de compreender,
distinguindo e ao mesmo tempo integrando conteúdos e formas. Apura a percepção
visual e auditiva, permitindo identificar e apreciar a composição imagem/ som/
texto, que é a própria essência dessa linguagem e fonte de sua atração. Possibilita,
assim, aprender bastante sobre como ela é escrita, ou seja, como se dão as etapas
de criação, produção e edição de cada mensagem – seja ela um comercial, um
telejornal, um programa de auditório ou um capítulo de novela. (MAGALDI, 2003.
p117).
A propaganda além de ser um audiovisual em que os estudantes têm um maior
contato; e eficaz por ser de breve duração e assim pode ser trabalhado em apenas uma
aula sem a necessidade de modificações e trocas de aulas entre os professores.
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A possibilidade de frutos conquistados através desse trabalho faz refletir da
dinâmica em sala de aula e da participação ativa dos alunos nas discussões e
aprendizado.
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http://www.educacao.es.gov.br/download/SEDU_Curriculo_Basico_Escola_Estadual.p
df> Acesso em 30 de abril de 2013.
TEIXEIRA, Anísio. O problema brasileiro de educação. IN: Educação para
democracia. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997. p.39-52.
Quem somos. Disponível em < http://www.telefonica.com.br/institucional/sobre-a-
telefonica/quem-somos> Acesso em 02 de maio de 2013.
ZAMPAR, Silvia. Comercial da VIVO com personagens em animação 3D. IN:
Tudibão. Disponível em < http://tudibao.com.br/2012/04/comercial-da-vivo-com-
personagens-em-animacao-3d.html > Acesso em 02 de maio de 2013.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE
GEOGRAFIA DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Aline Camilo Barbosa1
Albert Isaac Gomes Viana2
Josélia Saraiva e Silva3
RESUMO
O presente trabalho foi realizado dentro do Programa Institucional de Iniciação Científica
Voluntária – ICV (2011/ 2012). Teve como objetivo analisar a utilização das histórias em
quadrinhos nos livros didáticos de geografia adotados nas escolas públicas do município de
Teresina-PI. Neste texto relatamos os achados relativos aos anos inicias do Ensino
Fundamental. A metodologia adotada constou de pesquisa bibliográfica, aplicação de
questionários junto aos professores de Geografia e a análise dos livros didáticos adotados por
estes professores nas escolas públicas. Buscamos dialogar com autores como Silva (2011),
Zabala (1998), Cavalcanti (2011) dentre outros que contribuem com pesquisas de novas
metodologias para o ensino de geografia. Uma das constatações da pesquisa foi que grande
parte dos livros trazem as histórias em quadrinhos sendo a maioria delas do tipo tiras de humor
e quadrinhos produzidos como forma de auxiliar o ensino, mas poucos professores utilizam esse
recurso, por desconhecerem as suas potencialidades. Outro aspecto constatado na pesquisa foi a
pouquíssima diversificação metodológica sugerida nesse material didático para a utilização das
histórias em quadrinhos. Nesse contexto ressaltamos a necessidade de uma atenção maior dos
autores de livro didático e do próprio professor para essa ferramenta de auxilio a aprendizagem.
Palavras-chave: Geografia. Ensino Fundamental I. História em Quadrinhos.
INTRODUÇÃO
A educação geográfica no Brasil vem passando por mudanças significativas. Na
atualidade busca-se a superação da perspectiva tradicional, caracterizada pelo ensino
descritivo, mnemônico com conteúdos desvinculados da realidade, que descreve o
espaço como neutro, objetivo, abstrato, onde os conteúdos de aspectos físicos e
humanos são concebidos como separados, os assuntos tratados de maneira linear, uma
educação que tinham como foco a formação do nacionalismo patriótico. Práticas
pedagógicas associadas a tais características conservadoras, não condizem com a nova
1 UFPI; [email protected]
3 UFPI; [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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realidade, e tem como consequência a apatia dos alunos pela disciplina, pois não
conseguem se perceberem como seres participantes do espaço.
Segundo Cavalcanti (2011 p. 24) “A finalidade de ensinar geografia para as
crianças e jovens deve ser justamente a de ajudar a formar o raciocínio e concepções
mais articulados e aprofundados a respeito do espaço”. O desafio desse século é
vincular o ensino de geografia ao contexto das transformações e a partir destas trabalhar
o espaço geográfico e suas diferentes categorias de análises: lugar, paisagem, região,
território, mostrando aos alunos que eles são agentes deste espaço participando
diretamente de suas transformações.
A superação desse modelo tradicional de ensino vincula-se, dentre outras coisas
a compreensão, por parte dos professores, das mudanças que estão ocorrendo na ciência
geográfica e no processo educativo. Essa apreensão lhes possibilita perceber os
inúmeros recursos existentes a sua volta que podem contribuir para uma nova
significância a sua prática em sala de aula, e proporcionar aos estudantes uma vivência e
análise mais adequada da realidade contemporânea. Muitos autores (KEARCHER 1999;
SILVA, 2007) ressaltam que os professores de geografia utilizam, com frequência,
somente o livro didático. Esse recurso é importante, pois sistematiza conteúdos, porém,
não é o único disponível para a escola. Há uma variedade de produtos culturais que
podem torna-se bons recursos didáticos. São considerados recursos não convencionais e
podem contribuir para o desenvolvimento de aprendizagem mais significativa.
Os recursos didáticos não convencionais são aqueles que não surgiram
inicialmente para serem utilizados em sala de aula. Segundo Silva (2011 p.17)
Definimos, portanto, como recursos didáticos não convencionais os
materiais utilizados ou utilizáveis por professores, na Educação
Básica, mas que não tenham sido elaborados especificamente para
esse fim. Em geral são produções sociais, com grande alcance de
público, que revelam o comportamento das pessoas em sociedade ou
buscam refletir sobre esse comportamento. Para exemplificar,
podemos mencionar os meios de comunicação tais como o rádio, a
televisão, os jornais e a internet; ou, ainda, as produções artísticas em
geral, o cinema, a poesia, a música, a literatura de cordel, a fotografia,
artes plásticas em geral e as historias em quadrinhos.
Observando a conceituação de Silva tais recursos, mesmo não sendo exclusivos
para a educação, podem ser incorporados ao processo de ensino, ensejando uma nova
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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forma de pensar a prática pedagógica e uma possibilidade de ensinar geografia de
maneira diferente, reinventar novos caminhos para aprendizagem. No entanto, é
importante salientar, para que o docente utilize esses recursos não convencionais é faz-
se necessário um conhecimento prévio sobre ele, suas características, suas
potencialidades didáticas, suas aplicações e adequação aos objetivos educacionais.
As vantagens da utilização dos recursos não convencionais para o ensino são
principalmente por estes fazerem parte da realidade diária dos alunos, muitos deles
estão associados aos seus gostos particulares, e com isso torna-se atrativos por estarem
presentes na vida cotidiana. Soma – se a isso os aspectos visuais e auditivos e por
apresentarem uma clareza em sua compreensão.
Feita essas considerações ressaltamos que o presente texto tem o propósito de
apresentar e discutir o uso da historia em quadrinhos (HQ) como um recurso didático
não convencional. A história em quadrinhos (HQ) apresenta uma linguagem fácil,
imagens e muitas vezes são coloridas tornando-se atrativas ao olhar do leitor. São
críticas e lúdicas e aguçam a curiosidades das crianças. Desse modo pretendemos
mostrar as possibilidades de suas aplicações nas aulas de geografia.
Este artigo é resultado da pesquisa intitulada: “O processo de ensino-
aprendizagem em geografia escolar mediado pela linguagem dos quadrinhos”, do
Programa Institucional de Iniciação Científica Voluntária – ICV (2011/ 2012). Essa
pesquisa teve como objetivo analisar a utilização das histórias em quadrinhos no ensino
de geografia, através dos livros didáticos adotados nas escolas públicas do município de
Teresina-PI. Em seu processo forma incluídos livros do Ensino Fundamental I e II e do
Ensino médio. Neste texto relatamos os achados relativos aos anos inicias do Ensino
Fundamental I. A metodologia adotada constou de pesquisa bibliográfica, aplicação de
questionários de pesquisa junto aos professores de Geografia e a análise dos livros
didáticos adotados por estes professores nas escolas públicas.
Iniciamos a apresentação dos resultados com um breve histórico da presença de
HQ na cultura mundial e o processo de inserção no campo educacional. Em seguida
realizaremos uma reflexão sobre o ensino de Geografia nos anos inicias do Ensino
Fundamental e finalizaremos com a análise dos dados obtidos na pesquisa de campo.
HISTORIA EM QUADRINHOS: BREVE EVOLUÇÃO E INSERÇÃO NA
EDUCAÇÃO
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4223
Nas primeiras décadas do século XX as histórias em quadrinhos que se tem
notícia eram em grande parte humorísticas e possuíam como temas principais as
crianças, animais e travessuras infantis. No final da década de 1930 sugiram as
primeiras HQs com personagens de super-herói e identidades secretas (JARCEM,
2007).
A partir da Segunda Guerra mundial, as HQs adquiriram um caráter ideológico,
despertando interesses políticos e foram alvo de discussões, neste período tem-se o
surgimento como exemplo da História em Quadrinhos O Homem de Ferro.No mundo
pós-guerra, temos um período denominado de Guerra Fria, que contribui para evolução
da historias em quadrinhos influenciados pelo avanço tecnológico. As personagens
tinham poderes e características relacionadas às descobertas da época.
Outras formas de HQs que tiveram impulso ao longo dos anos foram os Mangás,
mais seu surgimento data do sec. XIX. Segundo Vergueiro (2009, p, 108) “na década de
50 após a Segunda Grande Guerra os japoneses começaram a investir em Histórias em
Quadrinhos como uma forma de preservar sua cultura, mas, foi com a criação de
mangás como Dragon Ball, Cavaleiros do Zodíaco, Pokémon, e outros que essas HQs
começaram a ganhar mais atenção dos leitores no mundo”.
No Brasil o movimento das Histórias em Quadrinhos iniciou quando as HQs
internacionais foram traduzidas para o português. A primeira a revista de história em
quadrinhos que se tem noticia no Brasil é O Tico-Tico e data de 1905, e era voltada para
o público infantil. Em 1934 temos publicações de revistinhas em modelos norte-
americanos como o Suplemento Juvenil do jornalista Adolfo Aizen. Em 1951 temos a
primeira Exposição Internacional de História em Quadrinhos na cidade de São Paulo.
Portanto somente em meados do século XIX deu-se inicio a produção das HQs
brasileiras. A sua introdução foi realizada pelo Italiano, naturalizado brasileiro, Ângelo
Agostini, que elaborou o logotipo para a revista O Tico-Tico, publicada pela Editora O
Malho, sendo esta a primeira revistinha em quadrinhos infantil Brasileira
(VERGUEIRO 2007, p.27).
Nos anos de 1970, nos Estados Unidos, as HQs tiveram como estilo o
movimento underground, influenciadas pela cultura hippie. Nessa época, no Brasil,
presenciamos o lançamento das HQs infantis como a Turma da Mônica, publicação de
Maurício de Sousa, que passou de tirinhas de jornais para uma revista. Nos anos de
1980 a produção nacional foi parcialmente esquecida, Esse fato ocorreu por que nesse
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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período surgiu uma nova forma de expressão, os fanzines, essas publicações tinham
pequenas tiragens, e eram entregues de forma gratuitas nas ruas pelos seus autores. A
partir de 1990 inicia-se uma produção brasileira mais ativa, com produções das HQs de
celebridades como Xuxa, Os trapalhões e Seninha. Nas escolas as histórias em
quadrinhos foram progressivamente sendo adotados como uma leitura que poderia
incentivar o ensino, com isso, os autores de livros didáticos brasileiros passaram a
introduzi-las em suas obras como intuito de tornar os assuntos mais atrativos e
agradáveis ao serem trabalhados em sala de aula.
ENSINO DE GEOGRAFIA: OS ANOS INICIAIS
O Ensino Fundamental I corresponde aos anos iniciais do primeiro ciclo do
Ensino Fundamental (1° ao 5° ano), e compreende as crianças na faixa etária de 6 a 10
anos. Esta etapa da Educação Básica segundo a LDB 9394/96 deve ser é obrigatória e
gratuita na escola pública. Esse período é essencial para a criança, pois muitas vezes em
consequência da deficiente oferta de vagas na Educação Infantil que antecede o
fundamental lhes proporciona o primeiro contato com o ensino sistematizado.
O ensino de geografia nos anos iniciais aborda principalmente o espaço vivido
pelo aluno, é uma introdução da concepção de espaço e tempo, com isso é importante
que nesse primeiro contato com a geografia o aluno inicie a compreensão de que é um
agente ativo nas transformações do espaço geográfico. As Histórias em Quadrinhos,
utilizado como recurso nesse primeiro ciclo, potencializa a aprendizagem do educando,
pois contribui para ampliar a sua criatividade e despertar sua a curiosidade
proporcionando uma maior concentração e atenção dos discentes na hora da aula, além
disso, boa parte dos livros dispõe desse material, facilitando assim sua aplicação em
sala. É importante salientar que para utilização da HQs em sala de aula é necessário que
se tenha objetivo e se determine habilidades e competências a serão desenvolvidas nos
pequenos educandos. Entretanto, selecionar conteúdos para ministra em sala de aula é
um tanto complexo, pois os alunos são heterogêneos e possuem capacidades de
aprendizagens diferentes. Compreendendo esta dificuldade buscamos como referência
as ideias de Zabala (1998) a cerca da aprendizagem significativa.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4225
Aprendizagem significativa é o conceito central da teoria de Ausubel (1976), um
psiquiatra norte americano, que se dedicou a carreira de psicólogo educacional. Esse
autor afirma que o processo de aprendizagem significativa ocorre quando um novo
conhecimento liga-se em conceitos prévios do sujeito. Com isso para ensinar algo novo
aos educando é necessário partir do que o aluno já sabe. “Ou seja, um conteúdo é
aprendido de forma significativa quando se articular com outras ideias, conceitos ou
proposições relevantes e inclusivos disponíveis na estrutura cognitiva do sujeito,
funcionado como ancoras” (PAIXÃO, 2009, p. 92). Para explicar como é possível
promover a aprendizagem significativa, Zabala (1998) indica que para aprendizagem os
conteúdos podem diferenciar-se em quatros tipos: factuais, conceituais, atitudinais e
procedimentais. Entende-se por conteúdos factuais os que englobam o conhecimento de
fatos, fenômenos, uma característica, para sua apreensão é necessário à leitura e uso da
memória. Segundo Zabala (1998, p.41) “Consideremos que o aluno ou aluna aprendeu
um conteúdo factual quando é capaz de reproduzi-lo”. Os conteúdos conceituais
compreendem os conceitos e princípios. Quando o aluno aprendeu o conteúdo
conceitual ele é capaz não só de repetir sua definição, mas também utilizá-la para a
interpretação e compreensão de fenômenos, situação, fatos onde o conceito pode ser
utilizado. (ZABALA, 1998, p.43). Os conteúdos procedimentais é o conjunto de ações
ordenadas, para realizar um objetivo, é o saber fazer. Os conteúdos atitudinais envolvem
valores, atitudes e normas. São conteúdos que trabalham a conduta e a vivencia em
sociedade.
A distribuição dos conteúdos ocorre de forma diferente no currículo escolar. Em
relação aos anos iniciais, Zabala (1998, p.23-24) nos alerta que:
O mais provável é que nos cursos iniciais exista uma distribuição mais
equilibrada dos diversos conteúdos, ou que se dê prioridade aos
procedimentais e atitudinais acima dos conceituais, e que à medida
que vai se avançando nos níveis de escolarização se incremente o peso
dos conteúdos conceituais em detrimentos dos procedimentos e
atitudinais.
Os conteúdos que são abordados nos anos iniciais são principalmente os
conceitos básicos de Geografia: lugar, paisagem, natureza, sociedade, território e região.
Esses conceitos são essenciais para compreensão do espaço geográfico, pois são eles
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que dão condição ao aluno de perceber a produção do espaço e suas modificações. É
também nos anos iniciais que os alunos entram em contato com conteúdos da
cartografia, compreendo o saber fazer – conteúdo procedimental, que tem como
objetivo fazer com que o aluno compreenda a linguagem cartográfica. Os alunos devem
construir seus próprios mapas e interpretar diferentes tipos de mapas e os elementos
cartográficos. Esse conteúdo nos livros didáticos obedece a uma complexidade
crescente ao longo das series dos anos iniciais. Outros conteúdos priorizados nesse
período educacional são os chamados temas transversais que valorizam a formação de
cidadão, o respeito a diferentes culturas e a preservação ambiental. São conteúdos com
caráter atitudinal que priorizam o desenvolvimento de alunos conscientes e
responsáveis, assimilando o conceito de cidadania.
O LIVRO DIDÁTICO DOS ANOS INICIAIS
A pesquisa de campo foi realizada nas escolas públicas municipais e estaduais
que ofereciam o Ensino Fundamental I. Foram visitadas um total de 9 escolas
contemplando todas as zonas da Cidade de Teresina. O questionário foi respondido por
10 (dez) professoras. Essa predominância do sexo feminino é comum entre os formados
em Pedagogia ou Normal Superior, ou seja, entre os cursos responsáveis por habilitar os
profissionais que irão atuar no ensino fundamental I.
Em relação ao livro didático, observamos, durante a pesquisa, algo que já é
muito relatado na literatura, ou seja, o livro didático é o recurso mais utilizado pelos
professores. Um total de 70% dos pesquisados responderam que utilizam esse recurso,
diariamente, sendo este o seu único instrumento. Nesse mesmo tópico da pesquisa
questionamos se os livros adotados continham HQs. Um percentual de 60% das
professoras responderam que “não”. Outro questionamento importante em relação às
histórias em quadrinhos é referente à orientação didática para sua utilização, quando
questionadas se os livros possuíam tal orientação, 90% das professoras disseram que
“não”. Observamos nessas respostas um desencontro com a análise realizada por nós
nos livros didáticos adotados por estas professoras, pois constatamos que 62,5% deles
apresentavam as Histórias em Quadrinhos, acompanhados de uma orientação
metodológica para sua utilização. Acreditamos que a falta de percepção das HQs como
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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um recurso facilitador da aprendizagem explica por que apenas 10% das professoras
fazem uso desse instrumento.
Foram analisadas 4 (quatro) coleções de Geografia, sendo um total de 16
(dezesseis) livros. Classificamos as HQ dessas coleções seguindo as orientações de
Calazans (2008). Esse autor agrupa as HQs em 9 (nove) conjuntos: tiras humorísticas de
jornal; revistinhas – gibis de consumo; quadrinhos de jogos e fliperamas; gibis de TV;
gibis clássicos; álbuns de quadrinhos; HQ eróticas; HQs religiosas e quadrinhos
produzidos como forma de auxiliar o ensino. Desses conjuntos foram encontrados
apenas dois nas coleções analisadas: as tiras humorísticas de jornal e os quadrinhos
produzidos como forma de auxiliar o ensino. Conforme quadros 1 e 2.
QUADRO 1. CONTEÚDOS E METODOLOGIAS A SEREM ABORDADOS NAS TIRAS
HUMORÍSTICAS
Livro/Capítulo/Conteúdo Metodologia sugerida
Projeto Prosa 3°ano / Unidade 3 / Cartografia. Apresentação do tema a ser estudado e
questionário. Projeto Prosa 5°ano / Capitulo 2 / Tempo e Clima. Para explorar o quadrinho foi proposto um
Questionário
Hoje é dia de geografia 5° ano / Capitulo 2 /
Projeções Cartográficas.
Para explorar o quadrinho foi proposto um
Questionário e reflexão sobre o tema.
Projeto Buriti – 3° ano / Capitulo 4 / Poluição. Para explorar o quadrinho foi proposto um
Questionário e reflexão sobre o tema
Projeto Pitanguá - 4° ano / Unidade 5/ Indústria das
Secas.
Para explorar o quadrinho foi proposto um
Questionário
Fonte: Pesquisa direta
O quadro 1 mostra a classificação de Tiras Humorísticas de Jornal, encontradas
em cinco livros diferentes, pertencentes a quatro coleções distintas. Nesse formato tiras
de humor, percebemos uma variedade de conteúdo, entretanto a abordagem
metodológica não varia. Os quadrinhos são utilizados como fonte, como um texto a ser
interpretado para dar respostas a algumas perguntas. Esse modelo repete-se em todos os
livros. Conforme pode ser observado no quadro 2 a seguir.
QUADRO 2. CONTEÚDOS E METODOLOGIAS A SEREM ABORDADOS NOS
QUADRINHOS PRODUZIDOS COMO FORMA DE AUXILIAR O ENSINO
Livro/Capítulo/Conteúdo Metodologia
Hoje é dia de geografia - 3° ano / Capitulo 1 /Poluição. Para explorar o quadrinho foi
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4228
proposto um Questionário
Hoje é dia de geografia -4° ano / Capitulo 1 e 3 / Indústria e
Cartografia.
Apresentação do tema a ser
estudado como também para
resolução de questionário. Projeto Pitanguá - 2° ano / Capitulo 2 / Reciclagem. Apresentação do tema a ser
estudado e questionário.
Projeto Pitanguá - 3° ano / Unidade 6 / Clima Apresentação do tema a ser
estudado e questionário.
Projeto Pitanguá - 2° ano / Capitulo 2 / Clima Para explorar o quadrinho foi
proposto um Questionário.
Fonte: Pesquisa direta
Para finalizar nossa analise concluímos que os livros didáticos trazem as HQs
em quantidade suficiente. As orientações metodológicas que acompanham as HQs
embora pouco elaboradas favorecem, em sua maioria, a aprendizagem significativa dos
mais variados tipos de conteúdo. Na figura 1 a seguir observamos as orientações para a
aprendizagem de um conteúdo conceitual. Apresenta o assunto tempo e colabora para
que o aluno demonstre o seu aprendizado através da aplicação no seu cotidiano.
Outro exemplo de conteúdo abordado pelos quadrinhos no livro didático é a
cartografia, compreendida aqui como um conteúdo do tipo procedimental. A HQ a
seguir (figura 2), classificada como tiras de humor, apresenta legendas e possibilita um
primeiro contato do aluno com a alfabetização cartográfica.
FIGURA 1- QUADRINHOS PRODUZIDOS COMO FORMA DE AUXILIAR O ENSINO
FIGURA 2- TIRAS HUMORÍSTICAS DE JORNAL
DANELLI, Sonia Cunha de Souza. Projeto Pitanguá: geografia. 3° ano. 2º ed. São Paulo:
Moderna, 2008. p. 92.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
No trabalho observamos que as das historias em quadrinho, são recursos
didáticos não convencionais de ensino que facilitam a aprendizagem significativa dos
educandos, sendo uma ferramenta importante no ensino e aprendizagem de geografia.
Para isso, os profissionais da educação responsáveis pelos anos iniciais precisam aguçar
sua sensibilidade e compreender as mudanças que vem ocorrendo no ensino geográfico,
principalmente utilizado recursos que estão, inclusive, no seu instrumento diário de
trabalho - o livro didático. Observamos que todas as coleções possuem as histórias em
quadrinhos e metodologias que orientam sua utilização em sala, assim é importante que
os professores busquem essas novas metodologias de ensino, pois esta incluem o lúdico
e o colorido, e favorecem o processo de construção de conhecimento das crianças. Com
isso as Histórias em quadrinhos como uma nova ferramenta metodológica para o ensino
de geografia é uma proposta pedagógica significativa para o processo de ensino e
aprendizagem no Ensino fundamental I, sendo um instrumento de socialização e
aquisição de conhecimento.
REFERÊNCIAS
CAVALCANTI, Lana de Sousa. Geografia, escola e construção de conhecimento.
Campinas, SP: Papirus,1998.
RAMA, Ângela; PAULA, Marcelo Morais. Projeto Prosa: geografia 3°ano. 1°ed. São
Paulo: Saraiva 2008. p. 85.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4230
SILVA, Josélia Saraiva e. Recursos didáticos não convencionas no ensino de geografia.
In: SILVA, Josélia Saraiva e. Construindo Ferramentas para o ensino de geografia.
Teresina: EDUFPI, 2011.
JARCEM, René Gomes Rodrigues. História das Histórias em Quadrinhos. Faculdade
Maurício de Nassau. Disponível em:
<http://www.historiaimagem.com.br/edicao5setembro2007/06-historia-hq-jarcem.pdf>.
Acesso em: 08 dez. 2011.
VERGUEIRO, Waldomiro; RAMOS, Paulo (Orgs.). Quadrinhos na educação: da
rejeição à prática. São Paulo: Contexto, 2009.
VERGUEIRO, Waldomiro. A atualidade das histórias em quadrinhos no Brasil:
a busca de um novo público. Disponível
em: <http://www.historiaimagem.com.br/edicao5setembro2007/01-w-vergueiro.pdf>.
Acesso em 07 dez. 2011
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Tradução Ermani F da F. Rosa.
Porto Alegre: Artmed. 1998.
PAIXÃO, Maria do Socorro Santos Leal; FERRO, Maria da Gloria Duarte. A teoria da
aprendizagem significativa de David Ausubel. In: CARVALHO, Maria Vilani Cosme
de; MATOS, Kelma Socorro Alves Lopes de. Psicologia da Educação: teorias do
desenvolvimento e aprendizagem em discussão. 2ed. Fortaleza: Edições UFC, 2009.
CALAZANS, Flávio. Histórias em quadrinhos na escola. São Paulo. Paulus, 2008
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UTILIZAR A MÚSICA COMO SUBSÍDIO PARA O ENSINO DA
GEOGRAFIA
Patrícia Soares de Meireles1
Maria Juliana Leopoldino Vilar2
Emmanuelle Alexandre de Souza3
Maria Juciara Ferreira Silva4
RESUMO
O presente estudo foi realizado em 2012, pelo PIBID de Geografia do Campus III da UEPB, na
Escola Monsenhor Emiliano de Cristo que esta localizada no Bairro do Nordeste na cidade de
Guarabira, a mesma encontra-se na mesorregião do agreste paraibano. O ensino da geografia
deve despertar nos alunos uma visão crítica do mundo onde os mesmos possam entender o meio
natural e social e por fim a relação entre ambos. Para que isso ocorra é essencial que as aulas
desta ciência sejam algo prazeroso onde o educando sempre busque o conhecimento e para que
isso ocorra temos que usar recursos capazes de deter a atenção e a participação dos discentes,
portanto além do livro didático devemos utiliza outros recursos como, por exemplo, a música.
Este trabalho tem como objetivo geral analisar duas aulas de geografia sobre bacia hidrográfica
com o uso da música “Riacho do Navio” de Luiz Gonzaga. Já os objetivos específicos são:
avaliar a eficaz da utilização da música como ferramenta para o ensino da geografia; evidenciar
que para termos aulas mais dinâmicas não devemos nos prender ao livro didático; mostrar que
as aulas de geografia podem transmitir mais conhecimentos de uma forma mais prazerosa com o
uso de recursos auditivos; verificar por meio de uma atividade se os alunos conseguiram
enxergar o conceito de Bacia Hidrográfica na letra da música. Para concretização deste trabalho
foi realizado na revisão bibliográfica, uma analise das discussões apresentadas em livros de
autores como Antunes (2012), Callai (1995), Ferreira (2010), Masetto (1997), Pontuschka et. al.
(2009) e Selbach (2010). Em campo foi aplicado um questionário com a direção da escola e
também com a turma que trabalhamos para podermos conhecer ambos. Já para comprovarmos
a eficácia da música como recurso didático no ensino da geografia foi realizado uma
intervenção de 90 minutos na turma do 2° ano EJA “B”. De acordo com relatos dos próprios
estudantes a utilização desse recurso permitiu que o conteúdo trabalhado fosse compreendido de
forma mais rápida. Portanto chegamos à conclusão de que o professor deve buscar novos
recursos didáticos para o ensino da geografia, para que isso ocorra o mesmo precisa ter uma
carga horária menor.
Palavras-chave: música, recurso didáticos, ensino da geografia.
INTRODUÇÃO
1 Graduanda-UEPB; [email protected] 2 Professora. Msc. – UEPB;[email protected] 3 Graduanda-UEPB; [email protected]
4 Graduanda– UEPB; [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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O homem ao longo de sua existência na terra foi adquirindo vários
conhecimentos que são repassados para as gerações futuras através da educação formal
e não formal. Os conhecimentos adquiridos em ambos os modos de educação são
importantes para que o homem consiga se relaciona com os demais seres humanos e
também para sua própria sobrevivência no planeta e na sociedade. Saviani (2007),
afirma que:
[...] a escola surge como um antídoto à ignorância, logo um instrumento para equacionar
o problema da marginalidade. Seu papel é difundir a instrução, transmitir os
conhecimentos acumulados pela humanidade e sistematizados logicamente. (SAVIANI,
2007, p. 6)
O professor como membro da escola tem o importante papel de ensinar coisas
que sejam úteis à vida do cidadão. Para isso o educador dispõe de uma variedade de
recursos didáticos que podem ser utilizados para transferir conhecimentos cabe a ele
pesquisar, alguns desses recursos podem deixar as aulas mais atrativa, fazendo com que
o aluno tenha interesse em aprender cada vez mais. O livro didático muitas vezes é a
única ferramenta que o professor usa em suas aulas, isso pode fazer com que as mesmas
se tornem cansativas.
O tema “Utilizar a música como subsídio para o ensino da geografia” tem por
justificativa mostrar que as aulas de geografia podem ser mais prazerosas e transmitir
mais conhecimentos se o professor além do livro didático utiliza outros recursos como a
música.
Este trabalho tem como objetivo geral analisar duas aulas de geografia sobre
bacia hidrográfica com o uso da música “Riacho do Navio” de Luiz Gonzaga. Já os
objetivos específicos são: avaliar a eficaz da utilização da música como ferramenta para
o ensino da geografia; evidenciar que para termos aulas mais dinâmicas não devemos
nos prender ao livro didático; mostrar que as aulas de geografia podem transmitir mais
conhecimentos de uma forma mais prazerosa com o uso de recursos auditivos; verificar
por meio de uma atividade se os alunos conseguiram enxergar o conceito de bacia
hidrográfica na letra da música.
O presente estudo ocorreu por meio do PIBID de geografia, do Campus III da
UEPB. Para concretização do mesmo, foi realizado na revisão bibliográfica, uma
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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analise das discussões apresentadas em livros de autores como Antunes (2012), Callai
(1995), Ferreira (2010), Masetto (1997), Pontuschka et. al. (2009) e Selbach (2010). Já
para comprovarmos a eficácia da música como subsídio no ensino da geografia foi
realizado uma intervenção de 90 minutos na turma do 2° ano EJA “B” da Escola
Monsenhor Emiliano de Cristo.
A Escola de Ensino Fundamental e Médio Monsenhor Emiliano de Cristo esta
localizada no Bairro do Nordeste na cidade de Guarabira, a mesma encontra-se na
mesorregião do agreste paraibano. Essa escola foi fundada em 1982, nesta época tinha
400 alunos e 35 professores. Já no ano de 2012 foram matriculados 670 alunos dos
quais desistiram 67, e restaram 603 alunos e o quadro de professores era composto por
41 docentes dos quais apenas 5 lecionavam a disciplina de geografia.
REFERENCIAL TEÓRICO
Nesta parte do presente trabalho temos o objetivo de fazer uma apresentação de
algumas abordagens teóricas, bem como de algumas significações referente à temática
discutida. Veremos como cada autor tem seu modo particular de se referir à importância
do planejamento e dos recursos didático para o ensino de uma determinada disciplina.
O PLANEJAMENTO
Segundo Antunes (2012), o educador para organizar uma aula necessita de
planejar, portanto ele deve pensar sobre as suas etapas, como irá apresenta-la aos
alunos, que perguntas vai fazer, quais desafios devem propor e que recursos utilizarão: o
quadro, o livro didático, uma transparência, mapas, slides entre outros.
Ao planejar uma aula o professor esta organizando as suas ações dentro da sala
de aula. Para Masetto (1997), o ato de planejar é uma atividade intencional: onde
buscamos determinar fins. Nele torna-se presente e explícito nossos valores; como
vemos o homem; o que pensamos da educação. Por isso, é um ato político-ideológico.
O professor de geografia ao planejar as suas aulas deve sempre procurar uma
forma de mostrar o conteúdo trabalhado a partir de exemplos do cotidiano e do meio em
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que vive os alunos, só desta forma os educando poderão entender o local e o global. O
ensino da geografia deve fundamentar-se em um corpo teórico-metodológico baseado:
[...] nos conceitos de natureza, paisagem, espaço, território, região, rede, lugar e
ambiente, incorporando também dimensões de análise que contemplam tempo, cultura,
sociedade, poder e relações econômicas e sociais e tendo como referência os
pressupostos da geografia como ciência que estuda as formas, os processos, as
dinâmicas dos fenômenos que se desenvolvem por meio das relações entre a sociedade e
a natureza, constituído o espaço geográfico. (ORIENTAÇÕES CURRICULARES
PARA O ENSINO MÉDIO, 2008, p. 43).
Para ensinar os conceitos geográficos o docente necessita de utilizar
procedimentos metodológicos, que são os caminhos que regem o processo de
aprendizagem dos conteúdos através de técnicas e recursos didáticos.
Todo professor deve proporcionar que os seus alunos desenvolvam a curiosidade
e a capacidade crítica. Só assim os alunos podem estar sempre em busca de novos
conhecimentos e também terão a capacidade de interpretar e interferir nos
acontecimentos que ocorrem em sua volta. Segundo Callai (1995) a educação que
queremos é:
[...] emancipatória, e não de ajustar o aluno ao meio em que vive. Conhecer geografia
não é para glorificar o que existe de bom no mundo, não é saber que existem condições
ás quais se deva se adaptar apenas. Pelo contrário, é abrir caminhos para exercitar de
fato a democracia, para conhecer o mundo, o espaço em que vivem os alunos e poder
criticá-lo e mudá-lo, ao menos no que for possível. Nada melhor que exercitar isto em
sala de aula. (CALLAI, 1995, p.234).
RECURSOS DIDÁTICOS
Para Pontuschka et. al. (2009), os recursos didáticos na qualidade de
mediadores do processo de ensino-aprendizagem nos diferentes níveis, obedecem, em
sua seleção e utilização, a alguns critérios, tais como adequação aos objetivos propostos,
aos conceitos e conteúdos a ser trabalhados, ao encaminhamento do trabalho
desenvolvido pelo professor em sala de aula e às características da turma, do ponto de
vista das representações que trazem para o interior da sala de aula. Essa autora afirma
que sob a denominação de recursos didáticos, inscrevem-se vários tipos de materiais e
linguagens:
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4235
[...] como livros didáticos, paradidáticos, mapas, gráficos, imagens de satélite, literatura,
música, poema, fotografia, filme, videoclipe, jogos dramáticos. Algumas dessas
produções já foram incorporadas pelos livros didáticos, colaborando para a
compreensão dos textos e aprofundando o conhecimento do espaço geográfico
(PONTUSCHKA et. al., 2009, p.216).
Nos próprios livros didáticos o professor pode encontrar sugestões de outras
ferramentas que podem ser utilizadas nas aulas de geografia. Em alguns livros do ensino
fundamental ou médio utilizados pelas escolas o professor pode encontrar algumas
sugestões de outras fontes que podem ser usadas para transmitir conhecimento como
sites, músicas, filmes e obras literárias. Cabe ao docente explorar esses recursos da
melhor forma possível e também pesquisar outros meios.
Nas aulas de geografia ou de outra disciplina pertencente ao currículo do ensino
fundamental ou médio o principal recurso didático utilizado é o livro, mas não deve ser
o único, pois nem sempre ele é capaz de suprir as necessidades de uma determinada
turma. O livro didático deveria configurar-se de modo que o professor pudesse tê-lo
como instrumento auxiliar de sua reflexão geográfica com seus alunos, mas existem
fatores limitantes para tal (PONTUSCHKA et. al., 2009, p.343).
Um dos fatores que faz com quer os nossos professores utilize apenas o livro
didático é a falta de tempo para buscar novos recursos. Os docentes do nosso país se
dedicam muito pouco para preparar as aulas de uma determinada turma, isso ocorre
porque muitos deles têm mais de um emprego. Geralmente eles têm mais de um
emprego pelo fato de seus salários serem muito baixo é não dar para suprir todas as suas
necessidades.
De acordo com Masetto (1997), ao centrar a construção do conhecimento
somente sobre o livro didático, cria-se um ambiente de aprendizagem parado no tempo,
fora de contexto e desinteressante. Para que isso não ocorra o professor deve enriquecer
o seu trabalho pedagógico com a utilização de outros recursos que além de transmitir
conhecimento possa descontrair o ambiente escolar.
As músicas, vídeos, filmes, textos literários entre outros, só devem ser usados
nas aulas se for adequado para transmitir conhecimento e que o professor saiba usa-los
com esse propósito. Esses recursos, se adequadamente utilizados, permitem melhor
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4236
aproveitamento no processo de ensino e aprendizagem, maior participação e interação
aluno-aluno e professor-aluno (PONTUSCHKA et. al., 2009, p.216).
Segundo Ferreira (2010), a prática de associar qualquer disciplina à música
sempre foi bastante utilizada e demonstrou muitas potencialidades como auxiliar no
aprendizado, porém grande parte dos sistemas educacionais da sociedade moderna,
entre os quais a maioria dos vigentes no Brasil, tem esquecido sua aplicação como
método de ensino.
As linguagens alternativas podem ser utilizadas como um importante recurso
didático para a aprendizagem da geografia. Entre elas esta a música popular que tem
ocupado espaço, como instrumento pelo qual se expõem os aspectos naturais e sociais
do nosso planeta. A música pode provocar uma rica discussão entre professores e alunos
e gera interessante produção didática com base nas reflexões feitas em suas letras.
Para Ferreira (2010), a principal vantagem que o professor obtém ao utilizar a
música é o auxilio que a mesma proporciona ao ensino de uma determinada disciplina e a
abertura de um segundo caminho comunicativo fora o verbal que é o comumente usado. O
mesmo também diz que com a música, é possível ainda despertar e desenvolver nos alunos
sensibilidades mais aguçadas na observação de questões próprias à disciplina alvo.
Segundo Pontuschka (2009), as músicas e todos os textos impregnados de
poesias são importantes porque muitos deles foram construídos com base no
conhecimento e na reflexão sobre as realidades locais ou regionais que, em interação
com os eixos temáticos da Geografia e seus conceitos básicos, permitem fazer um
trânsito entre diferentes disciplinas.
O USO DA MÚSICA “RIACHO DO NAVIO” DE LUIZ GONZAGA COMO
RECURSO DIDÁTICO
Boa parte das músicas de Luiz Gonzaga pode ser utilizada nas aulas de
geografia. Isso porque elas retratam aspectos geográficos, principalmente da Região
Nordeste. Riacho do Navio e uma delas, pois descreve de forma simples a bacia
hidrográfica do Rio São Francisco.
Antes da realização das duas aulas sobre “Bacias Hidrográficas” no 2° ano EJA
“B” da Escola Monsenhor Emiliano de Cristo, ocorreu o planejamento onde foi
realizado: a escolha da música que iria ser usada; selecionado as imagens dos rios;
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elaborado perguntas para provocar à participação dos alunos; preparação da atividade;
montagem do slide e pensado as etapas destas aulas.
Bem antes de concretizarmos o planejamento descrito acima, fizemos algumas
pesquisas na internet e no livro didático utilizado pelos alunos para então decidirmos
como seriam essas aulas. Um simples planejamento como esse nem sempre é possível
ser realizado, pois os nossos professores dispõem de muito pouco tempo para suas
tarefas docentes.
As etapas dos 90 minutos de aulas fora as seguintes: 1° apresentação do tema; 2°
investigação do que os alunos já sabiam sobre o assunto; 3° explicação sobre o conceito
de Rio, Bacia Hidrográfica e Rio Afluente; 4° explanações sobre as principais bacias
hidrográficas do Brasil e da Paraíba e exibição das imagens dos rios principais dessas
bacias hidrográficas; 5° distribuição da letra da música “Riacho do Navio” e escuta-la;
6° os alunos respondera a uma atividade sobre o assunto discutido.
Utilizamos à música “Riacho do Navio” para que os alunos pudessem entender
melhor que uma bacia hidrográfica é formada por um rio principal e seus afluentes e
também para que eles conhecessem um pouco mais sobre a principal bacia hidrográfica
da Região Nordeste. Se bem trabalhada essa música pode transmitir muito
conhecimento, cabe ao professor escolher a melhor forma de usa-la como recurso
didático, veja abaixo a sua letra:
Riacho do Navio
Riacho do Navio
Corre pro Pajeú
O rio Pajeú vai despejar
No São Francisco
O rio São Francisco
Vai bater no "mei" do mar
O rio São Francisco
Vai bater no "mei" do mar
(Bis)
Ah! se eu fosse um peixe
Ao contrário do rio
Nadava contra as águas
E nesse desafio
Saía lá do mar pro
Riacho do Navio
Eu ia direitinho pro
Riacho do Navio
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Pra ver o meu brejinho
Fazer umas caçada
Ver as "pegá" de boi
Andar nas vaquejada
Dormir ao som do chocalho
E acordar com a passarada
Sem rádio e nem notícia
Das terra civilizada
Sem rádio e nem notícia
Das Terra civilizada.
(Luiz Gonzaga)
Boa parte dos alunos conseguiu perceber na letra da música trabalhada que o rio
São Francisco é um rio principal de uma bacia hidrográfica e que o rio Pajeú e o Riacho
do Navio são afluentes do mesmo. Para chegarmos a esse resultado, os alunos não
apenas escutaram a música como também responderam uma atividade onde uma das
questões era interpretar de acordo com o assunto estudado a primeira estrofe da música.
Segundo Pontuschka et. al. (2009), à medida que o aluno aprofunda sua
capacidade de análise e compreensão, torna-se possível desenvolver um olhar mais
crítico sobre o texto e exercitar sua capacidade de expressar-se por meio da criação de
um texto que seja seu. A interpretação feita pelos alunos sobre a música “Riacho do
Navio” serviu para que cada um deles criasse o seu próprio conceito de bacia
hidrográfica e não apenas reproduzissem o conceito de um determinado autor.
Para Antunes (2012), uma boa aula é aquela na qual os alunos aprendem e
sabem fazer uso do que aprenderam em seu trabalho e em sua leitura de mundo.
Portanto o tema das aulas analisadas neste trabalho é extremamente importante, pois
pode ajudar os alunos a compreender o conceito de Bacia Hidrográfica e com isso eles
podem enxergar, por exemplo, que quando poluímos um riacho estamos também
poluindo um rio e por fim o mar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com Selbach et. al. (2010), para que ocorra uma aprendizagem
significativa cabe ao professor tornar os conteúdos trabalhados algo interessante, novo,
surpreendente, criativo, desafiador, etc. Por isso que os professores não podem apenas
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utilizar o livro didático, pois nem sempre essa importante ferramenta para o ensino é
capaz de proporcionar tudo isso que a autora menciona.
Com a utilização da música “Riacho do Navio” nas duas aulas de geografia
analisadas percebemos que os alunos prestaram mais atenção e também participaram
mais. De acordo com relatos dos próprios alunos a utilização desse recurso permite que
os conteúdos trabalhados sejam compreendidos de forma mais rápida. Portanto
enquanto professores, devemos cada vez mais buscar recursos didáticos diferentes para
que as aulas de geografia sejam algo prazeroso e que transmita conhecimento.
Para realizar uma aula como a mencionada no presente trabalho, o professor
precisará de tempo para prepara-la e como sabemos boa parte dos nossos docentes
dispõem de muito pouco tempo para planejar as suas aulas e por isso que muitas vezes
utilizam apenas o livro como recurso didático. Para que essa realidade mude os
professores necessitam principalmente que sua carga horária de trabalho diminua para
então poder buscar novas formas de ensinar os conteúdos propostos para cada série.
Além da falta de tempo para buscar novos recursos para as aulas muitos
professores ainda tem outra grande dificuldade que é não saber manusear determinadas
ferramentas como, por exemplo, o computador e data show, isso geralmente ocorre com
os professores mais velhos. Como qualquer outra profissão o profissional da educação
precisa esta sempre se qualificado para acompanhar as mudanças no modo de ensinar,
quando ele não acompanha as mudanças pode ter um rendimento inferior aos seus
colegas de trabalho que acompanharam.
Portanto podemos concluir que para as aulas de geografia ou de qualquer outra
disciplina sejam sempre algo que detenha a participação, atenção e aprendizagem dos
alunos o professor precisa antes de tudo de tempo para buscar novos recursos e de
qualificação para usar os mesmos. Se o professor não dispuser dessas duas coisas ele
continuará a utilizar apenas o livro didático e o grande prejudicado nisso será o aluno.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, Celso. Geografia para a educação de jovens e adultos. Petrópolis:
Vozes, 2012.p.126
CALLAI, Helena Copetti. Geografia: Um certo espaço, um certa aprendizagem.
Tese de Doutorado. São Paulo: USP, 1995.
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4240
FERREIRA, Martins. Como usar a música na sala de aula. 3° edição. São Paulo:
Contexto, 2010.
GOMES, Camila de Andrade. ARAÚJO, Elizabeth da Silva. Manual de orientação e
normalização de livros. Campina Grande: Eduepb, 2010.
MASETTO, Marcos. Didática: a aula como centro. 4° edição. São Paulo: FTD, 1997.
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO. Ciências Humanas e
suas Tecnologias. Brasília: Ministerio da Educação, Secretaria de Educação Básica,
2008.
PONTUSCHKA, Nídia Nacib; PAGANELLI, Tomoko Iyda Paganelli; CACETE, Núria
Hanglei. Para ensinar e aprender Geografia. 3ª edição. São Paulo: Cortez, 2009.p.383
SELBACH, Simone. Geografia e didática. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
SAVIANI, Dermerval. Escola e democracia: polemica do nosso tempo. Campinas:
Autores Associados, 2007.
Luíz Gonzaga. Luíz Gonzaga Canta Seus Sucessos Com Zé Dantas. São Paulo: RCA
Victor, 1959.
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ENSINO DE GEOGRAFIA E LITERATURA: CONTRIBUIÇÕES DA
OBRA AUTO DA COMPADECIDA DE ARIANO SUASSUNA
Juliana Gonçalves Santos1
Gustavo Oliveira Silva2
RESUMO
A partir da necessidade de propostas para um ensino interdisciplinar, a Geografia e a Literatura
são áreas do conhecimento que possuem diversas afinidades, possibilitando a construção de uma
visão crítica da realidade. O presente trabalho teve por objetivo demonstrar como a Literatura
pode contribuir para o ensino de Geografia. A obra escolhida para tratar da temática foi Auto da
Compadecida, escrita por Ariano Suassuna em 1955. Para a realização desse trabalho foi
constituído um referencial teórico, na qual foram reunidos diversos trabalhos sobre a temática.
A partir da realização dessa pesquisa foi possível constatar que a obra de Ariano Suassuna é
muito interessante para se trabalhar nas aulas de Geografia de maneira interdisciplinar com a
Literatura, possibilitando o desenvolvimento de uma série de temas relacionados à Região
Nordeste, ao coronelismo, ao papel da Igreja, os cangaceiros, ao modo de produção capitalista e
as desigualdades sociais decorrentes.
PALAVRAS CHAVE: Geografia. Literatura. Interdisciplinaridade.
INTRODUÇÃO
O modelo de ensino para a educação básica, baseado em disciplinas
compartimentadas, contribui cada vez mais para um conhecimento deslocado da
realidade. Contrário a essa vertente observa-se a necessidade de propostas para um
ensino interdisciplinar levando em consideração a comunicação entre os diversos
saberes.
No ensino de Geografia, ciência que possui um objeto de estudo tão abrangente,
o espaço geográfico, e visa a compreensão da realidade, a comunicação com outros
saberes é fundamental e enriquece as atividades propostas. De acordo com Olanda
(2008, p. 11):
Os diversos campos do saber, a religião, a arte, a filosofia e a ciência
convergem para um único ponto: a apreensão da realidade, resguardadas, claro, suas
1 Universidade Federal de Uberlândia- [email protected]
2 Universidade Federal de Uberlândia- [email protected]
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4242
peculiaridades investigativas e metodológicas. A ciência geográfica atual procura
novas alternativas de apreensão do espaço geográfico, especialmente, a abordagem
cultural na Geografia se lança com novas perspectivas nos estudos sócio-espaciais.
Nesse sentido, Geografia e a Literatura, são áreas do conhecimento que possuem
diversas afinidades e, em se tratando da literatura nacional, contribuem para a
construção de uma visão crítica da realidade, levando em consideração as minorias e as
classes de poder:
Dentre as muitas formas assumidas pelas produções discursivas destaca-se a literatura:
configurando-se como uma porção bastante flexível do discurso, ela é o espaço de constante
embate entre uma exposição integral do discurso visando reproduzir-se e a infiltração
corrosiva de dúvidas e perplexidades. Pela literatura, o “coro dos contentes” também se
desafina a partir dos inconformados e dos socialmente mal-ajustados, mostrando-se enquanto
um importante campo estratégico para o descortinamento das forças e tensões pertinentes às
estruturas sociais. (LEITÃO JÚNIOR, 2009, p.3)
Partindo do pressuposto, o presente trabalho teve por objetivo demonstrar como
a Literatura pode contribuir para o ensino de Geografia. A obra escolhida para tratar do
ensino de Geografia e Literatura foi Auto da Compadecida, escrita por Ariano
Suassuna, em 1955.
Para a realização desse trabalho, foi constituído um referencial teórico, na qual
foram reunidos diversos trabalhos sobre a temática do ensino de Geografia e Literatura
e a obra de Ariano Suassuna, Auto da Compadecida.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
BIOGRAFIA DO AUTOR
Ariano Suassuna nasceu em 1927 na cidade de Nossa Senhora das Neves, atual
João Pessoa, é filho do antigo governador João Suassuna (1924-1928) da Paraíba, que
foi assassinado no Rio de Janeiro em decorrência de lutas políticas às vésperas da
revolução de 1930. No mesmo ano, com apenas três anos de idade, Ariano e mais nove
irmãos acompanharam a mãe que se mudou para Taperoá-PB. No início da década de
40, mudaram-se para Recife onde Ariano iniciou o curso de Direito e terminou em
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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1950. Em 1951, Ariano retornou para Taperoá onde escreveu a peça “Torturas de um
coração”. (PORTARI; RODRIGUES, 2013).
Em 1955, o autor escreveu a obra Auto da Compadecida que foi encenada dois
anos depois. No início de 1957, Ariano se casou com Zélia de Andrade Lima e tiveram
seis filhos. Ariano foi membro fundador do Conselho Federal de Cultura, no qual fez
parte de 1967 a 1973 e do Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco, no período de
1968 a 1972. Em 1969, foi nomeado Diretor do Departamento de Extensão e Cultura da
Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, ficando no cargo até 1974. Ainda na
década de 70, o autor foi secretário de Educação e Cultura do Recife (1975-1978). Na
UFPE, doutorou-se em História em 1976, onde foi professor por mais de 30 anos
ministrando as disciplinas: Estética e Teoria do Teatro; Literatura Brasileira e História
da Cultura Brasileira. (PORTARI; RODRIGUES, 2013).
PERÍODO HISTÓRICO
A obra foi escrita na década de 1950, apelidada de “Anos Dourados”. Em
relação aos acontecimentos globais, a década de 50 pode ser considerada o período de
transição entre a época de guerras e os avanços tecnológicos na segunda metade do
século XX. No Brasil, os anos 50 foram de profundas transformações políticas, na
indústria, urbanização e tecnológica. Foi nesse período que os primeiros aparelhos de
televisão chegaram ao país. Em relação à cultura, segundo Jawsnicker (p.1, 2008):
A década de 50 estabeleceu-se como um tempo de efervescência de movimentos e
expressões artístico-culturais, como o concretismo, a bossa nova, a arquitetura urbanística de
Oscar Niemayer, o cinema novo e o teatro do oprimido – todas manifestações que
expressavam o espírito do novo e o desejo pela experimentação.
Em relação à política, o início da década de 50 se caracterizou pelo nacionalismo
de Getúlio Vargas (1951-1954) e das políticas de desenvolvimento no qual se destacam
a criação da Petrobras, que garantia o poder sobre o petróleo extraído no território
brasileiro e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE). A partir de
1955, Juscelino é eleito presidente e inicia sua política de desenvolvimento baseada no
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4244
Plano de Metas, na expansão industrial e na integração do território por meio da
construção da capital federal, Brasília.
A questão agrária no Brasil também passou por importantes mudanças,
principalmente no final dos anos 50. Foi nesse período que se iniciou o debate sobre a
situação agrária no país, dominado desde os tempos de colônia pelas propriedades
latifundiárias e desigualdade na distribuição de terra. Segundo Silva (2008), o Brasil era
um país de passado colonial que havia herdado uma agricultura baseada no latifúndio e
em relações pré-capitalistas de trabalho, com o predomínio da produção agropecuária
no conjunto da economia.
Ainda em 1950, o país acelerou o processo de industrialização e consequente
urbanização. De acordo com os estudos de Caputo e Melo (2003), a década de 50 foi
marcada pelo avanço do processo de industrialização brasileira. Esse desenvolvimento
econômico do país foi fortemente influenciado pelo vigoroso investimento público por
meio dos investimentos diretos do Estado ou de empresas estatais e, de maneira menos
ostensiva, pelo capital internacional e privado nacional. A chegada dos capitais
estrangeiros foi uma das formas de financiamento desse desenvolvimento e sua entrada
no Brasil foi resultado da expansão mundial pela qual passavam os capitais norte-
americanos, europeus e japoneses, além de políticas internas de atração destes capitais,
vigentes então na economia brasileira.
GÊNERO LITERÁRIO E ESTILO DA OBRA
O gênero literário da obra é dramático e em relação ao estilo da obra, mesclam-
se uma série de características. Inicialmente o texto se propõe como um auto,
semelhante aos teatros medievais portugueses, dentro das perspectivas do
Quinhentismo. O “auto” é um subgênero do gênero literário dramático, na qual, se
apresenta em três eixos importantes: o autor, o texto e o público.
Além disso, a obra apresenta características da literatura de cordel, tradição da
cultura nordestina com uma linguagem mais próxima possível da oralização. Ariano
Suassuna discorre sobre as características da sua obra em uma entrevista:
Quando eu estava escrevendo a peça Auto da Compadecida, muita gente me perguntava se
era uma peça regionalista. Eu dizia que era, porque não tinha nem como explicar na época.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4245
Mas eu sabia desde logo que haveria uma distinção fundamental. Porque eu não sou um
escritor naturalista. Existe no que escrevo uma dose de fantástico e de poético que vem da
literatura de cordel e de outros tipos de escritos pelos quais eu tenho muita admiração.
(PORTARI; RODRIGUES, 2013)
ENREDO E PERSONAGENS
A estória se passa no sertão nordestino e é escrita na forma de peça teatral, de
forma que o autor faz uma sugestão compondo três atos: o enterro do cachorro, o
julgamento e o renascimento de João Grilo. O Palhaço é o personagem que abre e fecha
os atos.
Inicialmente o Palhaço apresenta a peça e os personagens. O Palhaço é o
personagem anunciador da peça e que também intervém em algumas cenas servindo
como um personagem de ligação. É irônico e se dirige de forma direta ao espectador,
representando o autor.
Os personagens principais são João Grilo e Chicó. João Grilo é um sertanejo que
enfrenta inúmeras dificuldades. Apesar da miséria em que vive e de muitas vezes ter
passado fome, demonstra ser alegre e age com “esperteza” arquitetando planos e
cometendo trapaças, justificando os meios que utiliza para atingir o fim, sobreviver.
Aparece em todos os atos, se apresentando como o centro da obra. Chicó é amigo fiel de
João Grilo, também é muito pobre e só apresenta ter João como companheiro. Relativo
á personalidade é mais medroso do que João, sendo submisso e fazendo tudo o que ele
pede. Apesar da covardia, Chicó também comete delitos e inventa uma série de histórias
inacreditáveis e as defende até o fim, representando um verdadeiro contador de histórias
do nordeste.
O primeiro ato se inicia na cena em que o cachorro da mulher do Padeiro está
doente e a mesma deseja que o cachorro receba a bênção do padre. O Padeiro é um
comerciante, representa o capitalismo e burguesia local. A mulher do padeiro, bem
como seu marido é comerciante e pensa somente em seus interesses e caprichos, sendo
submissa ao marido, ao mesmo tempo em que o trai.
Chicó e João Grilo armam um plano para que o cachorro da mulher do Padeiro
seja benzido e, posteriormente enterrado em latim, de maneira que uma confusão é
criada por eles, envolvendo os sacerdotes, o Padeiro e sua mulher e o major Antônio
Morais. Nessa cena, cada personagem pensa somente nos seus interesses, esses muitas
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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vezes relacionados ao dinheiro. Os sacerdotes são egoístas e representam a cobiça, a
corrupção e a submissão da igreja ao poder local. Já o major Antônio Moraes representa
os coronéis do sertão, possuindo imensas extensões de terra, representando o poder
local.
Em meio a essa confusão, chegam o cangaceiro Severino e seu bando, que
assassinam os sacerdotes, o padeiro e sua mulher. Severino é um cangaceiro,
extremamente violento e apesar disso, muito religioso. Possui tais características
influenciadas pelo assassinato de sua família pela polícia. No momento em que
Severino decide matar Chicó e João Grilo, novamente Chicó engana o cangaceiro lhe
prometendo conhecer São Francisco no céu e voltar à vida pelo tocar de uma gaita. O
plano surtiu efeito, porém no momento em que João volta para pegar o dinheiro
usurpado pelo cangaceiro, o capanga de Severino o mata.
No segundo momento da obra ocorre o julgamento dos personagens
assassinados. Nessa cena participam além dos personagens citados, Manuel que os
julga, o Encourado que deseja a condenação de todos pelos seus pecados e a
Compadecida, que representa a misericórdia e deseja a salvação de todos. Ao final da
cena, todos os candidatos são levados ao purgatório e a João Grilo é dada uma segunda
chance de voltar à vida. O Encourado e o Demônio são os mais maléficos personagens,
desejam que todos sejam punidos pelos seus atos. Manuel representa o bem e a justiça
maior e é negro, o que causa desconfiança dos personagens, pois vai contra a tradição
da Igreja Católica. A Compadecida se caracteriza por ser extremamente bondosa,
representa a misericórdia, pois não condena nenhum personagem.
Na terceira parte, João Grilo ressuscita no momento em que Chicó está
preparando seu enterro. Assim, Chicó fica extremamente feliz, tanto pela volta de João
quanto pelo dinheiro usurpado do cangaceiro por eles. Porém, logo em seguida, Chicó
lembra que prometeu todo o dinheiro à Nossa Senhora Aparecida se João se salvasse.
João é relutante no início, pois não se recorda do momento do julgamento, mas logo
aceita, e juntos, os dois doam todo o dinheiro para a igreja.
O Auto da Compadecida e o Ensino de Geografia
A maior contribuição da obra para a Geografia é resgatar a tradição e o
regionalismo típico da cultura nordestina. Tal fato fica claro na fala e no modo de vida
da cidade de Taperoá. A miséria do sertão nordestino também é mostrada na obra, o que
fica evidente na situação em que vivem os personagens principais: Chicó e João Grilo,
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que alegam terem passado fome e que não possuem um trabalho estável e uma condição
de vida digna, como pode ser observado no trecho do filme O Auto da Compadecida,
adaptado da obra, em que a personagem A Compadecida descreve João Grilo:
João foi um pobre como nós, meu filho, e teve que suportar as maiores dificuldades
numa terra seca e pobre como a nossa. Pelejou pela vida desde menino. Passou sem
sentir pela infância, acostumou-se a pouco pão e muito suor. Na seca comia
macambira, bebia os frutos do xiquexique. Passava fome e quando não podia mais
rezava, e quando a reza não dava jeito ia se juntar a um grupo de retirantes, que ia
tentar sobreviver no litoral. Humilhado, derrotado, cheio de saudade. E logo que
tinha notícia da chuva pegava o caminho de volta, animava-se de novo, como se a
esperança fosse uma planta que crescesse com a chuva. E quando revia sua terra,
dava graças a Deus por ser um sertanejo pobre,
mas corajoso e cheio de fé. (O AUTO DA COMPADECIDA, 2000).
Outro aspecto relevante demonstrado na obra é o político. No período histórico a
região nordestina é controlada por coronéis como o major Antônio Morais de um lado, e
pelos cangaceiros de outro, que ditam as ordens e desejam principalmente explorar a
população. O coronelismo, estrutura de poder das oligarquias agrárias, está presente na
estrutura política no período histórico de análise, assim, os coronéis usam seu poder
para influenciar o comportamento político da população local, forçando laços de
fidelidade e lealdade aproveitando-se da dependência econômica. Desse modo, os
coronéis representam os maiores exploradores na hierarquia social da época.
O cangaço é outro movimento social importante. Os cangaceiros foram sertanejos
armados, muitos ex-funcionários de latifundiários, que percorriam o nordeste assaltando
propriedades e pequenos povoados. Tal movimento reivindicava o abandono social das
comunidades sertanejas. A sua moralidade muitas vezes é contestada, pois seria correto
matar e roubar os responsáveis pela sua miséria, ou ver seus filhos morrerem de fome e
permanecer indiferente? Dessa forma, muitos os viam como heróis por se sentirem
representados contra a subordinação às elites dominantes e outros como bandidos por
serem alvo de sua violência. O personagem Manuel comenta sobre a história e os
motivos que levaram os personagens Severino e o cangaceiro a serem violentos
“Enlouqueceram ambos, depois que a polícia matou a família deles e não eram
responsáveis por seus atos.” (SUASSUNA, 1997, p. 180).
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4248
O papel do capitalismo na sociedade e a conseqüente exploração do homem pelo
homem também fica evidente nessa estória. Os personagens são todos individualistas e
desejam satisfazer seus desejos acima de tudo, sendo o principal elemento de cobiça, o
dinheiro, uns o desejam para sobreviver, outros por ganância e alguns para aumentar seu
poder. Praticamente em todos os momentos ele está presente na obra demonstrando
como o capital está presente na nossa sociedade. Dessa forma, o capital tem
influenciado a construção moral e o seu poder de tornar as pessoas essencialmente
individualistas e competitivas, justificando os meios para atingir determinado fim.
A igreja, que representa a moral e a ética na sociedade, aparece totalmente
desfigurada do seu papel na obra, pois nota-se que até os altos escalões clérigos estão
subordinados aos interesses capitalistas e que a igreja não representa os interesses
sociais, mas sim, aos interesses dos coronéis.
A moralidade e a ética são totalmente contestados nessa obra. O principal
questionamento que fica é “Onde fica a moral em uma sociedade capitalista?”, marcada
pelo individualismo, pela ganância, pela exploração. Em uma sociedade em que até a
igreja, que representa a moral, é corrompida, qual espaço seria destinado para a
sensibilidade humana? A personagem A Compadecida comenta o assunto “(..) é preciso
levar em conta a pobre e triste condição do homem (...) os homens começam com medo,
coitados! E terminam fazendo o que não presta quase sem querer.”(SUASSUNA, 1997,
p. 175).
Dessa forma, Auto da Compadecida é uma obra muito rica e interessante para se
trabalhar nas aulas de Geografia de maneira interdisciplinar com a Literatura. Em
relação à Geografia, o estudo da obra possibilita o desenvolvimento de uma série de
atividades relacionadas à Região Nordeste, ao coronelismo, ao papel da Igreja, os
cangaceiros, ao modo de produção capitalista e as desigualdades sociais decorrentes.
Em relação à Literatura, outras temáticas podem ser relacionadas, uma delas é a
literatura de cordel.
Dentre as atividades proposta lista-se a partir da obra: a composição de uma
peça teatral, a realização de debates, a exibição do filme, a composição textos a partir da
literatura de cordel, dentre outras possibilidades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4249
A realização dessa pesquisa explicitou a importância da
interdisciplinaridade das ciências na educação básica. Além disso, esse trabalho
possibilitou outra visão sobre o processo de ensino-aprendizagem que nem sempre se
limita aos livros didáticos e ao quadro negro.
A preparação das aulas a partir de um livro de literatura exige do professor e dos
alunos um maior esforço intelectual e didático, enriquecendo, assim, o conteúdo
trabalhado e tornando-o mais próximo da realidade do aluno. Nesse sentido, a obra de
Ariano Suassuna é riquíssima em possibilidades para o ensino de Geografia.
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4250
LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA: UMA POSSIBILIDADE NO
ENSINO DE GEOGRAFIA DO IFAL
Arthur Breno Stürmer1
Elis Angela pradal2
RESUMO
O objetivo deste artigo é discutir o processo de ensino e aprendizagem da Geografia, mediado
pela linguagem cinematográfica. Nele são apresentados os resultados parciais de projeto de
pesquisa que toma o cinema como recurso didático para agregar qualidade ao processo de
construção do conhecimento geográfico no âmbito do Instituto Federal de Alagoas (IFAL).
Investigando as dificuldades encontradas no estudo da geografia entre estudantes de oito turmas
do Ensino Médio Técnico através de questionários abertos. O projeto está em andamento, mas
os resultados parciais já indicam que a linguagem cinematográfica tem papel importante a
desempenhar nas aulas de geografia. Salientam-se como resultados parciais a constatação de
que os alunos têm dificuldades com temas como Geopolítica, Cartografia, Clima, Relevo e
Vegetação, embora tenham grande interesse por eles. Para melhorar o ensino de geografia os
alunos sugerem aulas mais dinâmicas, razão pela qual aqui se investiga o uso da linguagem
cinematográfica como recurso e método de ensino de geografia a partir da apostila Geocinema:
a geografia em ação, que vem sendo elaborada.
Palavras-chave: geografia escolar; cinema; aprendizagem.
INTRODUÇÃO
A linguagem cinematográfica, por mais comum que possa parecer, ainda é um
recurso que ainda pode ser muito explorado para uso no ensino de Geografia. O
presente artigo descreve e reflete sobre o desenvolvimento de um projeto de pesquisa
iniciado em 2011 no Instituto Federal de Alagoas (IFAL) – Campus Palmeira dos
Índios-Al. Em fase de desenvolvimento e apresentando resultados parciais, foi orientado
pelos professores da disciplina e o trabalho voluntário de monitores, na oportunidade se
passou a problematizar a necessidade de recursos audiovisuais para incrementar as aulas
de Geografia.
Realizaram reuniões periódicas entre orientadores e monitores, nas quais
surgiram reflexões e discussões sobre o processo de ensino e aprendizagem da
1 IFAL; [email protected]
2 IFAL; [email protected]
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4251
Geografia, onde as metodologias geográficas e o uso de filmes como recurso didático
toda vez se sobressaíam. Desses encontros saíam sugestões de títulos de filmes,
desenhos animados, documentários, entrevistas, programas televisivos e outros que
foram analisados criticamente, recebendo nova sinopse, instruções para uso em sala de
aula, atividades e planos de aula.
As discussões sobre linguagem cinematográfica como possibilidade no processo
de ensino e aprendizagem de Geografia originou, assim, uma proposta piloto. Uma série
de filmes foi elencada para utilização em sala de aula com duas turmas do Ensino
Médio Técnico. A proposta foi acompanhada e o potencial de cada filme avaliado.
Diante das constatações positivas quanto à sua viabilidade, achou-se por bem dar
continuidade aos trabalhos sobre a temática.
A experiência apontou desde logo para a possibilidade de a linguagem
cinematográfica contribuir para melhorar o desempenho dos estudantes na disciplina de
Geografia, tornando-a mais interessante e atraente para os alunos. Precisava-se de meios
de aproximação dos alunos aos conteúdos, especialmente quando o assunto
praticamente o exigisse: a análise da paisagem, dos arranjos espaciais, ecossistemas,
domínios geomorfoclimáticos e outros. Na ausência de laboratório de Geografia,
reforçara-se no grupo a certeza de que a linguagem cinematográfica supriria a carência
desse recurso técnico comum em outras áreas do conhecimento, ao menos na Rede
Federal de Ensino.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Apesar do movimento de renovação da geografia datar da década de 1970,
pouco dela se verifica no cotidiano das escolas públicas, sempre marcado por
concepções geográficas arcaicas e ultrapassadas, que consideram a geografia como uma
disciplina meramente descritiva, conteudística e apoiada em escassos recursos
cartográficos.
A geografia escolar é rica em seu conteúdo, tendo o espaço geográfico como seu
campo de abrangência. A partir do legado de Milton Santos (2002, 1986), o espaço
geográfico é concebido como um conjunto de sistemas de objetos, de sistemas de ações
e de sistemas de informações, que ultrapassam a mera visão da materialidade como
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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teatro de ação, mas é condição para a ação, e é a partir desse entendimento que surge o
homem livre que igualmente se afirmará no grupo.
Com base nessa visão, o ensino da Geografia terá por objetivo formar gente
capaz de se situar corretamente no mundo e de influir para que se aperfeiçoe a
sociedade humana como um todo. É inconcebível uma educação feita mercadoria,
porque ela reproduz e amplia as desigualdades, sem extirpar as mazelas da ignorância.
Apesar das tentativas de renovação da Geografia, o que ocorre na prática é o
predomínio da memorização, sem que se desenvolvam a criticidade, a reflexão e a
compreensão do espaço geográfico. Assinala o professor Kaercher (1999, p. 71) que “o
movimento de renovação da Geografia brasileira já tem mais de quinze anos, mas seu
sopro renovador ainda está distante da maioria das salas de aula do Ensino Fundamental
e Médio”.
O ensino da Geografia, como, aliás, o de qualquer área, só será válido se conseguir fazer
um diálogo com o mundo real, extraescola, isto é, que supere uma visão, ainda muito
arraigada no professor, de que o estudo serve para o genérico iluminar cabeças, ilustrar
mentes, uma espécie de enciclopedismo ilustrado, uma cultura geral. A Geografia
escolar tradicional se enquadra bem dentro deste perfil de ciência desinteressada,
repassadora de informações atualizadas, contemporâneas aos alunos. Precisamos superar
essa visão ingênua e descompromissada. (KARCHER in NEVES, 1998, p.71).
A Geografia é uma área de conhecimento comprometida em tornar o mundo
compreensível para os alunos, explicável e passível de transformações (BRASIL, 1998).
De acordo com Andrade (1999, p. 18), “o papel do ensino em geral (e da geografia, em
particular) neste século é a busca de novas formas de melhorar a realidade”.
Entretanto, é possível trabalhar com esse campo do conhecimento de forma mais
dinâmica e instigante para os alunos, por meio de situações que problematizem os
diferentes espaços geográficos materializados em paisagens, lugares, regiões e
territórios; que disparem relações entre o presente e o passado, o específico e o geral, as
ações individuais e as coletivas; e que promovam o domínio de procedimentos que
permitam aos alunos “ler” e explicar as paisagens e os lugares. (BRASIL, 1998, p. 135).
Tornar a Geografia mais interessante para o estudante é um desafio que deve
ser assumido pelo professor dessa disciplina. O primeiro passo é torná-la concreta,
prática. Segundo Schäffer in Neves (1998, p. 71), “A atual prática pedagógica da
Geografia, tem buscado desenvolver os conteúdos associados com a prática através de
saídas de campo, de imagens, de leituras e ainda através da escrita”.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4253
Relacionado a isso, Kimura descreve:
(...) a Geografia constitui-se em um campo fértil de oportunidades para experimentar de
maneira muito rica e estimulante de várias habilidades e, desta forma, possibilitar ao
aluno desenvolver competências criativas de percepção e cognição a serem incorporadas
ao seu crescimento (KIMURA, 2001, p. 26).
Neste contexto, a linguagem cinematográfica é uma possibilidade no ensino de
geografia, pois é uma fonte de cultura e informação. É um meio de expressão artística,
um importante instrumento de comunicação e, por isso, ignorá-lo como meio didático-
pedagógico pode se omitir, no processo educativo, uma discussão sobre valores cuja
riqueza somente o cinema pode transmitir.
É um recurso que pode ser usado para criar condições para um conhecimento
maior da realidade e para uma reflexão mais profunda. Além disso, a quantidade cada
vez maior de filmes, documentários e curta-metragem de valor científico de boa
qualidade, torna desejável – ou talvez, obrigatória – sua utilização como um
instrumento de complementação e/ou substituição do material pedagógico tradicional
(CAMPOS, 2006).
A utilização da linguagem cinematográfica tem a vantagem de comunicar com
profundidade e envolvimento a realidade. Ganha movimento, leva os estudantes a
descobrirem novos cenários e ambientes, além de ser a expressão, direta ou
indiretamente, dos valores do autor do roteiro, do diretor, da sociedade e do momento
histórico no qual foi realizado.
Assim, a escola não deve apenas repassar conteúdos, mas fazer com que os
estudantes se sintam parte integrante da sociedade e do mundo, de forma que possam
melhor agir para o bem da comunidade e do meio em que vivem. Desta forma, o
modelo pedagógico curricular seguido pela geografia escolar – conteudístico e
fortemente padronizado – despreza tanto a consciência crítica da maioria da sociedade
quanto sua capacidade de participação.
Oliveira (2006) resume o modo como a Geografia torna-se refém de certo
recurso didático:
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4254
O processo didático-pedagógico na geografia escolar limita-se, meramente, à utilização
de um determinado livro didático e este é escolhido pelo possível “conhecimento” do
conjunto de conteúdos nele contido; porque dispõe de caderno do professor e sugestões
de atividades e, ao uso dos programas e provas do vestibular para listar o conteúdo
programático a ser desenvolvidos no decorrer do ano letivo. (OLIVEIRA, 2006, p. 13-
14).
Para além dessa constatação, é necessária a proposição de alternativas que
complementem o uso do livro didático, sem que se caia no senso comum da reprodução
aleatória de filmes. A linguagem cinematográfica, apesar de bastante difundida, todavia
é pouco problematizada. As tendências sinalizam que, associada a outros meios – como
os da informática e da internet – influencie na renovação das práticas pedagógicas do
professor de Geografia, mesmo em escolas dotadas com o mínimo de recursos.
A proposta curricular do Estado de São Paulo (2011) já recomenda a abordagem
dos conteúdos básicos de Geografia a partir de um rol sortido de recursos e meios,
pressupondo-se que o professor trabalhe com informações e dados variados:
Para tanto, no processo de construção do conhecimento, é fundamental adotar
metodologias que usem – além dos recursos didáticos tradicionais, como os livros
didáticos e paradidáticos – os diferentes meios de comunicação e expressão, assim como
os recursos da informática e da internet, instrumentos indispensáveis para a circulação
de informações e difusão da ciência e da tecnologia no mundo contemporâneo. (SÃO
PAULO, 2011, p. 79).
Superar o uso dos recursos didáticos tradicionais torna-se quase um imperativo
nos dias de hoje. Além da profusão sem limites dos DVDs gravados em domicílio e
distribuídos entre os próprios alunos, é usual acessarem-se vídeos (de filmes) com
grande facilidade por tablets e smartphones de qualquer lugar. Há uma grande
valorização da linguagem cinematográfica por reunir de maneira única sons e imagens.
Como diz Pontshuka et al (2007), “a linguagem cinematográfica é, com efeito, a
integração de múltiplas linguagens”, todas sendo um produto do trabalho humano e,
portando, devem ser aprendidas no seu contexto, razão pela qual seu uso deve ser
consciente e planejado para que o estudante possa ter certa autonomia na leitura de
imagens e descoberta de novos cenários e ambientes.
Assim, a utilização da linguagem cinematográfica como metodologia de ensino
permite inserir os estudantes no seu contexto social através do contato dialógico com
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4255
outras realidades apresentadas pelas películas. Juntamente com círculos de debates, a
linguagem cinematográfica torna o ensino de Geografia algo bastante produtivo porque
envolvente e desafiador.
OBJETIVO GERAL
O objetivo do projeto cujos resultados serão aqui relatados e discutidos é discutir
o uso da linguagem cinematográfica no ensino de Geografia, agregando qualidade ao
processo de construção do conhecimento geográfico no âmbito do Instituto Federal de
Alagoas.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Os objetivos específicos, descritos abaixo, dizem respeito ao detalhamento que
permitiu atingir o objetivo geral. Por sua natureza, contextualizam a proposta
investigativa. São eles:
1. Identificar as dificuldades no aprendizado da geografia entre estudantes do
Ensino Médio Técnico Integrado do Instituto Federal de Alagoas (IFAL) – Campus
Palmeira dos Índios-AL;
2. Utilizar filmes selecionados como recurso didático nas aulas de Geografia,
visando à montagem de um acervo que facilite a assimilação dos conteúdos e desperte o
interesse dos estudantes do Ensino Médio Técnico Integrado;
3. Elaborar a apostila “Geocinema”, contendo um roteiro de estudo e discussão
de temas importantes para a Geografia através dos filmes elencados no acervo, para
posterior divulgação.
O projeto ainda tem como metas: melhorar o desempenho na aprendizagem de
Geografia dos estudantes; estimulá-los a se envolver com esta área de conhecimento,
adotando nova postura diante do saber geográfico; constituir um grupo de estudo que
parta da experiência adquirida com o projeto, viabillizando o envolvimento de docentes
e discentes; além de induzir o desenvolvimento de novos trabalhos na área e consolidar
um centro de referência em estudos de recursos didáticos de geografia e novos métodos
de ensino utilizando a linguagem cinematográfica.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4256
METODOLOGIA
A pesquisa realizada é de cunho exploratório e aplicado, em que a revisão
teórica sustentará as proposições práticas. Como menciona Freire (1988), “toda prática
contém uma teoria, ambas são indissociáveis e se constroem reciprocamente” (FREIRE,
1998, p. 17). A pesquisa exploratória proporciona maior familiaridade com o problema,
permitindo desde o levantamento bibliográfico à aplicação de questionários e
entrevistas. Sua aplicação tem como objetivo investigar, comprovar ou rejeitar hipóteses
(RODRIGUES, 2007).
Para identificar as dificuldades enfrentadas pelos estudantes no aprendizado da
geografia do Ensino Médio Técnico Integrado, foram selecionadas oito turmas de 1º, 2º
e 3º anos, no Instituto Federal de Alagoas (IFAL) – Campus Palmeira dos Índios-AL,
distribuídas em dois turnos – matutino e vespertino – e pertencentes aos três cursos
oferecidos: Informática, Edificações e Eletrotécnica.
O instrumento de pesquisa utilizado consistiu em um questionário com questões
fechadas, objetivando captar o envolvimento dos estudantes do Ensino Médio Técnico
com o estudo da geografia, em especial identificar os assuntos que os discentes
apresentam maior dificuldade de aprendizagem e compreensão.
Os dados obtidos fora, em seguida, tabelados e alimentaram gráficos elaborados
com o auxílio do software Microsoft Excel. Estes dados geraram informações, por
exemplo, sobre os temas geográficos de maior dificuldade de assimilação para, assim,
auxiliar na seleção de filmes, curta-metragens, documentário, entre outros que
facilitassem a aprendizagem.
A seleção dos materiais, após revisão bibliográfica, concentrou-se em filmes,
curta-metragens e documentários, adotando como critério principal a adequação aos
conteúdos estabelecidos na ementa da disciplina de Geografia para os cursos. Para a
efetivação desta etapa do projeto foi formada uma equipe multidisciplinar, integrada
inicialmente por quatro componentes: dois licenciados em Geografia, um em História e
um em Línguas. A seleção seguiu quatro etapas: 1) buscar o material; 2) assistir às
produções cinematográficas; 3) elaborar atividades sobre cada produção; 4) aplicá-las
em contexto de sala de aula; 5) construir roteiros de aula para uso do material.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4257
A busca concentrou-se em títulos reconhecidos pela sua contribuição à reflexão
sobre determinado tema, aqueles reconhecidos pela sua qualidade na elucidação de um
tema em específico, e outros que já ocupam lugar consagrado nas aulas de Geografia,
além de vídeos postados – mesmo recentemente – em sites de compartilhamento de
vídeos, mas que se mostram úteis ao ensino de geografia devido ao seu conteúdo
geográfico explícito ou não.
O objetivo da equipe interdisciplinar será de dar uma função pedagógica a
diversas produções cinematográficas nacionais e estrangeiras, fazendo a ponte entre o
material coletado e o aluno. Por essa razão, o material selecionado respeitou o
levantamento dos temas de maior dificuldade de compreensão pelos alunos (através do
instrumento de pesquisa).
Concluída esta etapa, será elaborada uma apostila denominada Geocinema: a
geografia em ação, com as indicações dos filmes, atividades didático-pedagógicas
relativas a cada filme, além de roteiros de estudo temáticos. A apostila Geocinema virá
acompanhada de um tutorial contendo orientações sobre o uso das Tecnologias da
Informação e Comuicação (TICs), tal como os passos para instalação de aplicativos,
formatos de arquivos e conversão de vídeo e armazenamento do material
cinematográfico e outros.
RESULTADOS PARCIAIS
Questionados se gostam de geografia e do porquê, os alunos do Ensino Médio
Técnico respondem, na sua maioria absoluta (54%), que possuem afinidade com a
matéria, enquanto percentual significativo (34%) a reconhecem como uma matéria
atraente por permitir se atualizarem. Neste sentido, a geografia ganha status como
disciplina de conhecimentos gerais; daí se originando o seu valor em comparação com
outras disciplinas do currículo do Ensino Médio Técnico.
Um grupo de alunos, representando 12% do universo pesquisado, reúne aqueles
que não compreendem a matéria, não possuem qualquer afinidade com a Geografia e –
uma parcela mínima – atribui à ampla variedade de assuntos suas dificuldades em se
entender e se interessar em geografia (Ver Figura 1).
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FIGURA 1 – INTERESSE EM GEOGRAFIA
Questionados acerca dos diferentes assuntos (“matérias”) abordados nas aulas de
Geografia, os alunos apontaram a Geopolítica como o assunto preferido, seguido por
Cartografia. Na sequência, e juntos, Clima, Relevo e Vegetação figuram entre os
assuntos mais bem aceitos, conforme gráfico abaixo (Figura 2). São assuntos tanto da
Geografia dita “Humana” quanto daqueles da Geografia “Física”.
FIGURA 2 – MATÉRIAS PREFERIDAS
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4259
A Geopolítica representa bem o gosto pela Geografia “Humana”, que inclui o
estudo da sociedade no espaço e, assim, outros temas como: a construção de cidades, os
movimentos populacionais, o exercício da territorialidade e as novas ordenações
imprimidas pela globalização. Embora a Geografia “Humana” seja a preferida pelos
alunos, geralmente oferece alguma dificuldade, porque envolve conteúdos de História,
Geografia, Economia e Política em um só assunto, como se percebe na figura abaixo
(Figura 3).
Por outro lado, há grande interesse pelo estudo do Clima, Relevo e Vegetação
(15% dos alunos) e pela Cartografia. Esta, ainda que preferida por 16% deles, é
declarada como um assunto difícil. Mesmo sendo uma mera técnica utilizada para a
obtenção de dados e produção de conhecimento geográfico, a Cartografia é
deslumbrante, mas considerada de difícil compreensão.
FIGURA 3 – DIFICULDADES EM GEOGRAFIA
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4260
A causa das dificuldades com a Cartografia pode ser explicada pela pouca
dedicação ao estudo desse assunto integrante da Geografia enquanto componente
curricular no Ensino Médio (Ver Figura 4). Se 58% declaram estudar somente em época
de avaliações e 31% apenas 1 hora por dia, a questão fica mais clara. São 89% dos
alunos agindo segundo o costume ainda corrente de se tomar a Geografia como
disciplina que requer apenas a habilidade de memorização para ser estudada.
Quando, porém, os alunos têm oportunidade de sugerir melhorias no ensino de
geografia, 51% apontam aulas mais dinâmicas (Ver Figura 5). É dessa observação que
se pode partir para a discussão das formas de abordagem dos diferentes assuntos e fazer
o uso adequado da linguagem cinematográfica, como recurso e método de ensino.
Em relação aos métodos tradicionais de ensino – quadro e giz – a cinematografia
sempre oferecerá o dinamismo que as aulas de Geografia podem ter. É pelo cinema
assistido e produzido que se espera melhorar o nível de apreensão dos conteúdos e de
compreensão da disciplina de Geografia.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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FIGURA 4 – TEMPO DE ESTUDO FORA DO HORÁRIO DE AULA
FIGURA 5 – IDEIAS PARA MELHORAR O ENSINO DE GEOGRAFIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A linguagem cinematográfica encontra terreno fértil para seu uso no ensino de
geografia no Ensino Médio Técnico, ao se detectar que os alunos sentem dificuldades
em aprender certos assuntos. Verificou-se que os alunos acham difícil estudar
Geopolítica, Cartografia, Clima, Relevo e Vegetação, embora tenham grande interesse
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por eles. Para melhorar o ensino de geografia os alunos sugerem aulas mais dinâmicas,
razão pela qual aqui se investiga o uso da linguagem cinematográfica como recurso e
método de ensino de geografia a partir da apostila Geocinema: a geografia em ação, que
será elaborada em fase posterior do projeto de pesquisa.
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ALTERNATIVAS DE ENSINAR-APRENDER GEOGRAFIA FÍSICA
Paulo Adriano Santos Silva
1
Fernanda Flores Silva dos Santos2
Mônica Silveira Santana3
Sônia de Souza Mendonça Menezes4
RESUMO
Conhecer as dinâmicas internas e externas da Terra e entender o comportamento da sociedade
em meio a esses processos naturais é uma preocupação da Geografia. O presente artigo foi
desenvolvido com base em atividades desenvolvidas no Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação a Docência (PIBID) da Universidade Federal de Sergipe no Colégio Estadual Olavo
Bilac, na cidade de Aracaju. Objetiva-se com o mesmo enfatizar sobre o uso de metodologias na
educação básica que facilitem o processo de ensino-aprendizagem por meio de atividades
lúdico-pedagógicas relacionadas à área da Geografia Física. Como procedimento metodológico
foi realizado um levantamento bibliográfico por meio de consultas a livros, artigos e periódicos
disponíveis em meios eletrônicos e em acervos públicos. Ainda houve a aplicação de um
questionário junto aos alunos para nortear as atividades práticas de acordo com as dificuldades
que estes apresentavam sobre os conteúdos geográficos, havendo muita incidência nos aspectos
relacionados à área física. Neste ínterim, foram executadas três oficinas com experimentos
utilizando maquetes e simulações em pequena escala dos processos erosivos. Estes recursos
didáticos são ferramentas que podem ser utilizadas no ensino da Geografia como forma de
apresentar aos discentes novas alternativas de aprender e construir o conhecimento.
Palavras-chave: Atividades lúdicas. Geografia física. PIBID.
INTRODUÇÃO
O presente artigo foi desenvolvido a partir da iniciação na prática de ensino em
Geografia, realizada através do Programa Institucional de Iniciação à Docência
(PIBID), da Universidade Federal de Sergipe. O objetivo do texto é enfatizar sobre a
utilização de recursos didáticos que facilitem o processo de ensino-aprendizagem na
área da Geografia Física, com ênfase na realização de experimentos e desenvolvimento
de maquetes.
1 Universidade Federal de Sergipe; [email protected]
2 Universidade Federal de Sergipe; [email protected]
3 Universidade Federal de Sergipe; [email protected]
4 Universidade Federal de Sergipe; [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4265
Os estudos que envolvem os temas pertinentes à estrutura física do Planeta Terra
são essenciais para o processo de construção do conhecimento geográfico. Diante disso,
foram elucidados por meio de três oficinas os conteúdos sobre movimento de placas
tectônicas, tipos de rochas e processos erosivos, pertencentes às dinâmicas geo-
morfoclimáticas e morfoestruturais. Procurando demonstrar o funcionamento da
dinâmica interna e externa da terra, bem como a relação e implicação destes aspectos
naturais com as sociedades humanas.
Para a realização das atividades foram utilizados como procedimentos
metodológicos um levantamento bibliográfico por meio de consultas a livros, artigos e
periódicos disponíveis em meios eletrônicos ou em acervos públicos. Para desenvolver
as práticas, foi fundamental a vivência no ambiente escolar através das observações das
aulas ministradas pelo professor regente. Ainda, um questionário foi aplicado junto aos
alunos para identificar o perfil dos educandos e suas dificuldades no âmbito educativo.
O diagnóstico escolar também foi aplicado junto à equipe diretiva com o intuito de
conhecer a estrutura física, os recursos didáticos existentes e disponíveis para utilização,
entre outras informações necessárias para o conhecimento do estabelecimento escolar.
Em sequencia, foram planejadas e desenvolvidas as oficinas fundamentadas pelos
conteúdos que envolvem o ensino de Geografia Física.
As práticas executadas obtiveram um resultado satisfatório, de modo que
ocorreram indagações positivas dos alunos que se mostraram interessados pelas
dinâmicas e pelos conteúdos abordados.
O trabalho segue estruturado em discussão teórica sobre as metodologias
aplicadas nas aulas de Geografia e a experiência empírica vivenciada com os alunos no
1º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Olavo Bilac. Em seguida, são apresentadas
as considerações finais e as referências utilizadas.
A GEOGRAFIA ESCOLAR CONTEMPORÂNEA
Diante do atual contexto sócio-espacial em que o homem e o meio se fazem
presentes de forma ativa no constante processo de produção e reprodução do espaço é
imprescindível analisar e refletir concomitantemente a relação entre a sociedade e o
meio, e conhecer cada dia mais o ambiente de sobrevivência dos sujeitos. É, portanto de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4266
interesse da Geografia aprender como cada sociedade estrutura e organiza o espaço
físico-territorial em face das transformações do meio natural. (ROSS, 2008). A ciência
geográfica se fundamenta a partir das relações espaciais, de modo que o espaço
corresponde ao seu foco de abrangência.
As escolas da rede básica de ensino são ambientes propícios e adequados para
gerar temas com a proposta de conscientizar os indivíduos partindo da escala do espaço
vivido, “trazendo para tais ações aspectos da interdisciplinaridade a valorização local e
global e principalmente, a participação social de professores e alunos (SANTOS E
SOUZA, p. 144, 2009)”. Além disso, é necessário que haja uma articulação e interação
entre os membros da comunidade local, como os pais, secretarias, ONGs, conselhos
tutelares, e demais responsáveis pela educação, com os integrantes da escola com a
finalidade de estreitar as relações entre esses sujeitos que atuam cotidianamente no
espaço geográfico.
Para compreender essa dinâmica é necessário que o aluno realize a leitura do
seu lugar para compreender a totalidade, o qual traz em si todas as marcas das ações
humanas. Callai (2000), assevera que ler o mundo da vida, ler o espaço e compreender
que as paisagens que podemos ver são resultado da vida em sociedade, dos homens na
busca da sua sobrevivência e da satisfação das suas necessidades, onde o espaço é
criado e recriado, fazendo com que as paisagens se modifiquem constantemente diante
das ações antrópicas e dos fenômenos naturais, presentes no cotidiano, no ambiente
vivido e concebido das pessoas, aonde a geografia é feita no dia-dia, seja através da
construção de uma casa, da plantação de uma lavoura ou através das decisões
governamentais ou dos grandes grupos econômicos (empresas transnacionais). Ou,
ainda, em nossas andanças/ações individuais pela cidade (pegar ônibus, fazer compras,
etc) (KAEECHER, 2001). Nesse segmento a geografia se caracteriza como uma ciência
fundamental para compreender e responder a dinâmica dessas ações cotidianas. No
intuito de facilitar o exercício da compreensão das relações do espaço geográfico
Kimura aponta:
A Geografia constitui-se em um campo fértil de oportunidades para experimentar de
maneira muito rica e estimulante várias habilidades e, desta forma, possibilitar ao aluno
desenvolver competências criativas de percepção e cognição a serem incorporadas ao
seu crescimento. (KIMURA, 2001, p. 26).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4267
Com isso, é imprescindível que os docentes reflitam sobre as suas práticas
cotidianas e aprimorem suas maneiras de lecionar, a fim de constituir conceitos junto
aos escolares, com a necessidade de uma reflexão crítica, sem a qual a teoria pode
tornar-se apenas discurso e a prática uma produção alienada, sem questionamentos
(FREIRE, 2007). Como resultado desses exercícios tem-se o refinamento da
materialização das relações na sociedade contemporânea em sintonia com os recursos
da natureza. Vieira (2010), afirma que a busca por metodologias que consigam levar o
conteúdo ao aluno de maneira mais compreensível, seja através do livro didático, o qual
é um importante apoio, não devendo ser o único meio, ou através de outras tecnologias
e criatividades é que irá diferenciar um educador de qualidade, aonde o estudante irá
aprender “de uma maneira simples, brincando, muitas vezes sem perceber que está
estudando, de uma forma dinâmica e atrativa, aproximando o aluno do conhecimento
geográfico.” (RUPEL, 2009, p. 3).
O objetivo que se propõe com a inovação no ensino de Geografia é que os
discentes consigam fazer uma leitura crítica e analítica partindo do seu cotidiano. Nesse
contexto, Libâneo, 2010, assevera que:
O que estar em questão, portanto, é uma formação que ajude o aluno a transformar-se
num sujeito pensante, de modo que aprenda a utilizar seu potencial de pensamento, por
meios de meios cognitivos de construção e reconstrução de conceitos, habilidades,
atitudes e valores. (LIBÂNEO, 2010, p. 31).
Para além de simples atividades, espera-se que os discentes em sintonia com o
corpo docente, a equipe gestora e os grupo familiar, discutam, verifiquem e reflitam
sobre a importância de ascender os temas que conduzem a geografia escolar na
contemporaneidade, onde “o aluno possa ser capacitado, a partir das atividades de
aprendizagem, a não apenas repetir os conteúdos, mas também organizar, comparar,
relacionar, analisar as informações.” Castellar & Vilhena (2010, p. 140).
Para a superação do ensino tradicional da geografia, o professor necessita
inovar, passar pelo ato criativo, tornando a disciplina com “recheio e gosto” e
principalmente importante para o dia-a-dia dos educandos. Como forma de exemplificar
essa superação da geografia escolar tradicional, apresentaremos abaixo o processo de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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renovação do ensino com a elaboração e aplicação das oficinas lúdico-pedagógicas na
Escola Estadual Olavo Bilac.
INOVANDO COM TEMAS DA GEOGRAFIA FÍSICA: TRABALHANDO COM
EXPERIMENTOS PARA UMA ABORDAGEM DIDÁTICA DIFERÊNCIADA
Sabe-se que um dos objetivos do PIBID é estimular e possibilitar ao alunado um
melhor aprendizado. Para tal, os estagiários passam por fazes que os preparam para
propiciar aos discentes um contato com uma geografia diferenciada, inovadora e acima
de tudo significativa.
Para iniciar os trabalhos com a aplicação das oficinas, primeiramente deve-se
observar as aulas do professor regente, para fazer um diagnóstico do ensino ministrado.
Nota-se que na maioria das vezes a forma de ministrar as aulas está pautada, sobretudo,
numa geografia tradicional, caracterizando-se pela explicação do professor e por
atividades escritas propostas pelo mesmo. Dessa forma, observa-se que muitas vezes a
esta disciplina acaba por ser considerada pelos alunos uma matéria decorativa e
cansativa para ser estudada, e cabe ao docente em seu planejamento anual disponibilizar
algumas aulas com metodologias diferenciadas, que fujam da rotina enfadonha do dia-a-
dia escolar.
O professor da turma hospedeira do PIBID apesar de se posicionar a favor de um
ensino inovador e apoiar as atividades programadas, afirma que não utiliza variados
recursos em suas aulas por uma questão de habilidade e falta de tempo de planejar.
Então, com o intuito de possibilitar ao alunado um maior aprendizado, ao final de cada
unidade de conteúdo é disponibilizado um momento para a aplicação de oficinas, com
duração em média de 50 minutos, onde os alunos podem ter um contato com os
conteúdos ministrados de forma descontraída, revisando-os para as avaliações seguintes.
Os assuntos ministrados pelo docente para a unidade em questão retratavam
aspectos físicos da geografia, tais como: Estrutura Geológica e Relevo. Após a
explicação e conclusão dos conteúdos pelo professor, foi aplicado na aula subsequente a
primeira etapa da atividade sobre o tema, ficando decidido para esta uma revisão dos
assuntos por meio de apresentação com data show. Os estudantes foram direcionados ao
laboratório de informática no qual optou-se por organizar em formato de círculo.
Inicialmente, foi exibido um vídeo que continha partes selecionadas do filme “A Era do
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4269
Gelo 4”. Advertiu-se a turma que tentassem identificar e relacionar as cenas com as
temáticas a serem discutidas.
Em seguida cada estagiário ficou responsável por abordar em 12 minutos os
conteúdos referentes à Estrutura da Terra, Placas Tectônicas e Agentes Externos
formadores e modeladores do Relevo. Posteriormente, circularam entre os alunos cinco
tipos de rochas que foram adquiridas no Departamento de Geografia na Universidade
Federal de Sergipe, sendo estas, um basalto, uma pedra polmes, um granito, um gnaisse
e um calcário, representando as rochas magmáticas “intrusivas e extrusivas”,
sedimentares e metamórficas, essa etapa da atividade foi de grande relevância, pois
possibilitou um contato físico entre os discentes e as rochas, podendo estes observar as
características estruturais e litológicas das mesmas com as próprias mãos.
Os alunos mostraram-se atentos e curiosos com as exposições, de forma que
participavam através de perguntas, dúvidas e curiosidades que surgiam e eram retiradas
no decorrer da aula levando a discussão dos temas principalmente a partir do que os eles
identificaram com o uso do recurso ilustrativo, e para que estes ao longo da explicação
dos estagiários pudessem contribuir com a aula de alguma forma, e como afirma
Banhara,
Nessa busca por novas formas de ensinar, de modo a envolver o aluno nesse processo de
ensino-aprendizagem, favorecendo sua participação em sala, é possível pensar que a
utilização de recursos áudios-visuais se torna um instrumento que contribui para a
aprendizagem. (BANHARA, 2008, P.2)
Ficou demonstrado com isso, a validade e eficácia da utilização de variados
recursos didáticos pedagógicos desde o uso de filmes, para a provocação de debates, a
utilização de rochas para aquisição de conhecimentos práticos que poderão facilitar a
esse aluno reconhecer a presença da geografia física em seu dia-a-dia.
Na etapa subsequente da oficina, foram aplicados três experimentos em uma
mesma aula. Dividiu-se a turma em três grupos e cada estagiário ficou responsável por
coordenar uma equipe.
O Grupo 1 realizou a construção de uma maquete onde fizeram um vulcão em
erupção, com o propósito de que entendessem o funcionamento da estrutura interna da
Terra e de sua dinâmica em superfície, bem como, a formação e ação do vulcanismo
como importante modelador do relevo. Para isso, foi distribuído aos alunos isopor,
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4270
tintas, pincéis, lápis de cor, copos descartáveis, garrafas PET, massas de modelar, e
substâncias para simular a erupção como vinagre, água, bicarbonato de sódio e
detergente.
FIGURA 1: ALUNOS CONSTRUINDO A MAQUETE E O EXPERIMENTO
Fonte: Os autores, 2012.
FIGURAS 2, 3, 4, 5, e 6 ALUNOS REALIZANDO EXPERIMENTO DO VULCANISMO
Fonte: Os autores, 2012.
O segundo grupo elaborou um cartaz representando as placas tectônicas do
planeta. Os materiais utilizados foram isopor, tesoura, tinta guache e pincéis. O objetivo
foi de que os educandos fizessem a diferenciação entre os tipos e movimentos de placas
e percebessem como são gerados os tsunamis, terremotos, abordando os impactos destes
fenômenos na vida humana.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4271
FIGURAS 7 E 8- ALUNOS REPRESENTANDO AS PLACAS TECTÔNICAS
Fonte: Os autores, 2012
Já o ultimo grupo, realizou uma prática de deslizamento de terra simulando um
dos principais agentes externos modeladores do relevo, a água. Durante a construção
desse experimento foi explicado que as áreas correspondentes ao nordeste do Brasil são
bastante suscetíveis à erosão e a formação de modelados externos, tais como voçorocas,
ravinas e sulcos. Pois,
Grande parte do nordeste e sudeste do Brasil localiza-se em áreas de rochas graníticas e
gnáissicas do embasamento cristalino. Na maioria destas áreas, sobretudo nas mais
úmidas, o embasamento está recoberto por espessa capa de regolito, muito susceptível à
erosão por voçorocas. (MORAIS; BOCELLAR; SOBREIRA, 2004. p.2)
Para essa experiência foi necessário à utilização de um aquário vazio, areia,
plantas e uma casinha de brinquedo. Os alunos montaram a maquete da seguinte forma:
preencheram com areia até a metade do aquário de modo a deixar um modelado
declivoso, posteriormente colocaram as plantas e a casinha representando a ocupação
superficial da vertente. Em seguida houve a simulação da ação de um dos agentes
externos do relevo, a água em forma de chuva, que foi representada por um regador.
Sendo assim, com essa dinâmica foi demonstrado a ação de um dos principais
agentes erosivos, e de sua dinâmica sobre determinado espaço, ressaltando a formação
do processo de escoamento da água e da formação dos modelados externos como sulcos
e ravinas. Aproveitou-se o ensejo para abordar que os agentes erosivos como o utilizado
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4272
na dinâmica, conjuntamente em áreas de declive, e habitadas inapropriadamente pelo
homem podem acentuar os ricos, e tornar um processo natural algo catastrófico. Dessa
forma,
Enquanto elemento cartográfico, as maquetes se apresentam como uma importante
ferramenta para o ensino da Geografia, pois simulam uma forma de representação
tridimensional do espaço, em grande escala cartográfica que não distorce a realidade.
Além disso, propiciam uma identificação do aluno com a realidade demonstrada, uma
vez que trabalham com imagens icônicas, ou seja, com símbolos próprios de cada
cultura, utilizados para representar os elementos contidos nas maquetes. (SILVA;
MUNIZ, 2012, p.3).
FIGURA 9: MAQUETE CONSTRUÍDA PELOS ALUNOS NA OFICINA SOBRE DINÂMICA
INTERNA E EXTERNA DA TERRA
Fonte: Os autores, 2012
Deve-se destacar aqui que apesar do tempo reduzido para a elaboração e
realização dos experimentos, todas as atividades foram compartilhadas entre a turma e
cada grupo juntamente com o estagiário explicaram para os demais sobre o que seu
tema tratava, ou seja, ao passo que algo era construindo havia uma pausa para sua
apresentação aos demais, sendo notada a compreensão por parte dos alunos.
Diante das atividades expostas, e das experiências relatadas, observou-se que os
discentes transformaram os conhecimentos teóricos em práticos, de forma a entender
melhor os conteúdos de maneira lúdica, buscando sempre relaciona-los com seu
cotidiano, intercalando os processos físicos da geografia com os humanos, pois,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4273
Ao estudar o espaço geográfico, o aluno refletirá sobre a análise da dinâmica social, da
dinâmica da natureza e da inter-relação delas. É importante destacar que, no ensino,
professores e alunos deverão procurar entender que ambas, sociedade e natureza,
constituem a base objetiva sobre a qual o espaço geográfico é construído. (ROSATO
2007, p. 104)
Com isso, observa-se que são indissociáveis os estudos geográficos físicos e
humanos, uma vez que para a compreensão das transformações que ocorrem no espaço
deve-se analisar a totalidade conjuntamente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através do desenvolvimento das oficinas, foi possível estabelecer durante as
aulas uma metodologia atrativa e dinâmica, por meio da construção de maquetes e
realização de experimentos com aporte temático alusivo a geografia física, que
constituía uma grande dificuldade de compreensão dos alunos na instituição. Sendo a
referida temática essencial para os discentes aprenderem a ler o espaço geográfico na
educação básica, essas experiências teórico-práticas são consideradas importantes por
contribuírem na inserção dos educandos no processo de ensino através da simulação do
real em pequena escala. De modo que visualizando os processos que na maioria das
vezes não estão próximos a realidade vivida destes, a aproximação do conhecimento
torna mais fácil a assimilação dos conteúdos trabalhados.
É necessário ressaltar, também, as contribuições que a atividade de iniciação a
docência proporciona aos licenciandos, pois, à medida que os mesmos vivenciam a
ambiência escolar “do outro lado”, acabam conhecendo as problemáticas existentes, os
desafios no âmbito docente, e consequentemente passam a caminhar na busca de
soluções com o objetivo de aprender e se preparar para que possam ser futuramente
profissionais atuantes, comprometidos e engajados com o ensino. Dessa maneira, a
academia ao manter uma troca de experiências com o nível básico torna-se mais
capacitada para formar docentes qualificados para superar os desafios que envolvem a
educação na contemporaneidade.
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aprendizagem de geografia. Colégio Estadual Lúcia Alves de Oliveira Schoffen –
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KAERCHER, Nestor André. CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos (Orgs). Geografia
em sala de aula: práticas e reflexões. 3º ed. – Porto Alegre: Editora da
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2001.
LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor adeus professora? Novas exigências
educacionais e profissão docente. 12. ed. – São Paulo: Cortez, 2011.
MORAIS. F, BOCELLAR. L.A, F.G. SOBREIRA, Análise da Erodibilidade de
Saprolitos de Gnaisse. 2004. Disponível em:
www.scielo.br/pdf/rbcs/v28n6/22927.pdf.> Acesso em: 13 de abril de 2013.
ROSATO, M. S. Da cotidianidade do tempo meteorológico à compreensão de conceitos
climatológicos. In: REGO, N. (org.) Geografia. Porto Alegre: Artmed, 2007.
ROSS, Jurandyr L. Sanches (org.). Geografia de Brasil. São Paulo: EDUSP, 2001.
RUPEL, Márcia Aparecida Pavelski. Atividades lúdicas: proposições metodológicas
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formação de professores: planejando ações territoriais. In: SOUZA, Rosemeri Melo e
(org.)Território, planejamento e sustentabilidade: conceitos e práticas. – São
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SILVA, Vládia da.; MUNIZ, Alexsandra Maria Vieira. A Geografia Escolar e os Recursos
Didáticos: o uso das Maquetes no Ensino-Aprendizagem da Geografia. In: Geosaberes,
Fortaleza, v. 3, n. 5, p. 62-68, jan./ jun. 2012.
VIEIRA, Rejane. Metodologias de ensino utilizadas nas aulas de geografia.
Disponível em:
http://www.ufpel.edu.br/fae/dialogoscompaulofreire/METODOLOGIAS%20DE%20E
NSINO%20UTILIZADAS%20NAS%20AULAS%20DE%20GEOGRAFIA.pdf.
Acessado em Abril de 2013.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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OFICINAS PEDAGÓGICAS: METODOLOGIA DE CONSTRUÇÃO DO
CONHECIMENTO NA CARTOGRAFIA ESCOLAR
Marina Castilho Pradal1
Jéssica Bianca dos Santos2
Tatiana Aparecida de Freitas3
Thais Hayumi Suzumura4
RESUMO
O ensino cartográfico nas instituições escolares de ensino fundamental e médio esta passando
por muitos problemas. Parte disso se deve ao processo histórico que a Geografia passou durante
o predomínio da corrente da Geografia Critica no Brasil. Assim passou a ter vários problemas
no processo de ensino-aprendizagem nessa área do saber. O presente trabalho relata uma das
oficinas pedagógicas aplicadas pelo projeto PIBID/Alfabetização Cartográfica da Universidade
Estadual de Londrina no Colégio Estadual Professora Maria José Balzanelo Aguilera. A oficina
apresenta como principal objetivo a compreensão das espacialidades do bairro Cafezal IV e
adjacentes (Londrina-PR). Para se chegar aos objetivos foi feito um levantamento bibliográfico,
assim como a confecção e aplicação de uma oficina, que propiciou ao aluno encontrar objetos
que fazem parte do seu cotidiano, desta forma mostrando a importância do aprendizado da
cartografia.
Palavras chaves: Oficinas pedagógicas, Ensino de Geografia, Cartografia Escolar
INTRODUÇÃO
O presente trabalho surgiu a partir da aplicação de oficinas pedagógicas do
projeto PIBID/Alfabetização Cartográfica5 desenvolvidas com os alunos do 8° ano, do
Colégio Estadual Professora Maria José Balzanelo Aguilera, localizado no município de
Londrina-PR.
Este trabalho busca refletir sobre a atual situação do ensino de cartografia,
através de leituras a respeito de cartografia escolar, e aplicação de oficinas pedagógicas,
com a intenção de estimular os alunos no sentido de ensino aprendizagem. Para
1 Universidade Estadual de Londrina; [email protected]
2 Universidade Estadual de Londrina; [email protected]
3 Universidade Estadual de Londrina; [email protected]
4 Universidade Estadual de Londrina; [email protected]
5 O PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) Geografia, da Universidade
Estadual de Londrina iniciou suas atividades em Agosto de 2012, participamos do projeto desde essa fase
inicial.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4276
encontrar novas estratégias para trabalhar a cartografia em sala de aula são aplicadas
oficinas, dando destaque para a planta do bairro, realizada com dois 8° anos, desta
forma trabalhando objetos que são de conhecimento dos alunos, fugindo um pouco a
prática tradicional que geralmente ocorre, assim também foram trabalhados os
elementos do mapa, como legenda, título, orientação, em um mapa no qual eles
reconheciam o local, onde vivem.
Há na literatura trabalhos que destacam a importância de se trabalhar oficinas
pedagógicas como facilitadora de aprendizagem de cartografia, para que a partir da
prática os alunos se tornem leitores de mapas e conheçam efetivamente o espaço onde
estão inseridos. Este ensaio surgiu através do levantamento e leitura de bibliografias que
falam a respeito da cartografia escolar e das aplicações de oficinas pedagógicas.
Ao analisar o ensino cartográfico e as oficinas aplicadas percebemos a grande
dificuldade dos alunos em compreender a Cartografia, isto se deve pela falta de
instrumentos pedagógicos atrativos para sua explicação, alem da sua explicação não ser
voltado primeiramente ao lugar vivido do aluno. A compreensão da categoria “lugar” é
muito importante para que o aluno consiga interpretar diversas escalas de análise, do
local para o global. Neste sentido, o presente trabalho apresenta uma oficina pedagógica
como exemplo de se trabalhar o lugar vivido para os alunos, pretendendo também
contribuir cartograficamente para o aperfeiçoamento pedagógico do professor.
Desta forma ressalta-se a importância do ensino de cartografia, não esquecendo
que há grande dificuldade por parte dos alunos no aprendizado, por isso a importância,
do trabalho prático, através do qual o aluno reconhece o espaço no qual esta inserido.
O PROJETO PIBID: FORMAÇÃO DE PROFESSORES E ELEVAÇÃO DA
QUALIDADE DA EDUCAÇÃO DA ESCOLA PÚBLICA.
O projeto PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) é
uma iniciativa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes), que apresenta como objetivo o aperfeiçoamento dos alunos de graduação dos
cursos de licenciatura, incentivando-os com sua formação acadêmica a lecionar na
educação básica. (CAPES, 2013)
De acordo com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (2013) participam do Projeto 195 Instituições de Educação Superior de todo o
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4277
país que desenvolvem 288 projetos de Iniciação à Docência em cerca de 4 mil escolas.
Atualmente o Projeto concede 49.321 bolsas aos alunos de licenciatura.
O Projeto PIBID proporciona aos alunos, futuros professores, uma formação
diferenciada, pois permite aos alunos um contato antecipado em seu futuro local de
trabalho, ou seja, a escola, e permite que o aluno a vivencie a realidade da escola,
aplique a teoria em sala de aula, e vivencie a relação aluno-professor/professor-aluno.
O PIBID teve início na Universidade Estadual de Londrina (UEL) no ano de
2009 e atualmente todos os 15 cursos de licenciatura da Universidade estão envolvidos
no Projeto. O PIBID é organizado em subprojetos, cada um composto por 28 pessoas
(sendo que um é coordenador docente da UEL, 3 são supervisores professores da rede
pública e 24 bolsistas de iniciação à docência). Cada curso de licenciatura da UEL
possui dois subprojetos, ou seja, 30 subprojetos que abrangem 720 graduandos de
iniciação à docência, 90 supervisores (professores da escola básica), 30 sub-
coordenadores, e um coordenador institucional, além de inúmeros colaboradores (UEL,
2013).
O curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina iniciou as
atividades no projeto PIBID em agosto de 2012 e possui um projeto que discute a
temática Agenda 21 e o outro, Alfabetização Cartográfica, e é neste último que estamos
inseridos. O PIBID procura aplicar um trabalho diferente do modelo aula existente
através de uma proposta de trabalho dinâmica e ao mesmo tempo completa para que os
alunos compreendam a leitura do espaço geográfico com um olhar diferente, de modo
que o aprendizado se torne mais fácil.
O objetivo do PIBID/Alfabetização Cartográfica é levar aos alunos a
alfabetização cartográfica de maneira mais didática, lúdica e criativa, com base no
cotidiano dos alunos, e também auxiliar o professor nas dificuldades do ensino
cartográfico. O PIBID/Alfabetização Cartográfica atua no Colégio Estadual Maria José
Balzanelo Aguilera em quatro turmas do 8º Ano Vespertino sendo que cada turma
apresenta aproximadamente 35 alunos.
O Colégio Estadual Professora Maria José Balzanelo Aguilera - Ensino
Fundamental, Médio e Profissionalizante - está localizado na Rua Tarcisa Kikuti, nº 55,
e atende em média 1.700 alunos. É composto por 19 turmas no período matutino, 19
turmas no período vespertino, 16 turmas no período noturno e 05 turmas do CELEM –
Centro Estadual de Línguas Estrangeiras Modernas - modalidade espanhol.
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4278
A equipe pedagógica do Colégio é composta por 04 pedagogas no período
matutino e vespertino e no período noturno é composto por 1 pedagoga (AGUILERA,
2010) e há no Colégio 07 professores de Geografia que se dividem nos três períodos de
aula.
CARTOGRAFIA ESCOLAR: INSTRUMENTO DE LEITURA E
COMPREENSÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO
A Geografia, uma disciplina considera simples com uma única função de
descrever o mundo, acaba por se tornar desinteressante no universo escolar. Assim,
além da descrição do mundo, a localização dos fenômenos locais são alicerces para a
Geografia, sendo a cartografia com a função de localização destes fenômenos. Por
muito tempo a Geografia era apenas a descrição de locais, os viajantes percorria
diversas áreas, onde relata e desenhava o que encontrava, quando a Geografia entra nas
instituições de ensino, ela é apresentada como uma simples e mera representação do
espaço, porém esta Geografia e com ela a Cartografia era utilizada como forma de
poder.
No período de conquistas territoriais, o mapa se tornou uma força política na
sociedade, apenas quem o possuía tinha compreensão do espaço geográfico, sendo
assim este tinha poder sob a minoria, o poder político, religioso e mercantil. Como diz
Harley “Os mapas foram uma invenção similar no controle do espaço; eles facilitaram a
expressão geográfica dos sistemas sociais e são um meio de consolidar o poder do
Estado” (2009).
A utilização dos mapas consolidou a formação de grandes impérios como o
Islâmico, Otomano, entre outros; era o Estado que patrocinavam a confecções dos
mapas e utilizavam para fins militares, políticos e religiosos. Assim como contribui
Lacoste (1988), os mapas eram utilizados para fazer a guerra, como a previsão de
batalhas, conhecimento do território do adversário, assim como seus caminhos, mas
também para organizar o território, controle dos homens sob o qual o Estado tem
autoridade.
Neste sentido, a Geografia nas escolas foi considerada elemento de pura
localização e descrição geográfica. Ao passo que chega ao Brasil a corrente da
Geografia Crítica, sob a influência de Milton Santos com sua obra Por uma Geografia
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Nova (1978), toda Geografia Tradicional ensinada nas instituições de ensino foi negada,
considera regressiva. A Cartografia como era considerada pura representação do espaço
e não levava em conta a compreensão geográfica também foi descartada. Hoje sabemos
que para compreensão do espaço geográfico há necessidade do entendimento da
linguagem cartográfica, sendo este pensamento atualmente é considerado equivocado.
Ao final da década de 1980, as pesquisas e os estudos desenvolvidos por muitos
profissionais trouxeram de volta as discussões sobre a importância do uso da linguagem
cartográfica no ensino de Geografia (TSUKAMOTO, 2004). Como forma de inclusão
da Cartografia assim como outros conteúdos considerados importantes no ensino, foi
elaborado os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998). Entretanto uns dos problemas
que ocorre, é que a cartografia incluída nas diretrizes e que são passadas para os
professores seguirem apresentam a cartografia em sua totalidade, apresentada na sexta
serie do ensino fundamental, sendo este um processo construído ao longo do período
escolar por meio da abordagem dos conteúdos.
Neste sentido, começa haver um descontentamento do professor em ter que
seguir os parâmetros, já que não são eles que os produz, mas um conjunto de pessoas do
Governo do Estado, que não sabe o que é uma sala de aula e as dificuldades encontradas
na mesma.
Portanto é dever do professor readequar sua aula para que esta alfabetização
cartográfica não seja descartada no ensino, pois é através dela que os alunos começam a
se perceber no espaço, seja ele global ou local. Porém a Cartografia como objeto de
ensino-aprendizagem é renegada várias vezes principalmente pelos alunos, por não ter
formas atrativas para sua explicação, o que provoca um desinteresse do saber
cartográfico, seguido de uma falta de consciência de que a informação na qual eles
necessitam seria facilmente obtida com a utilização dos mapas (KATUTA, 2001).
É preciso, encarar a cartografia alem de seus aspectos formais de aprendizagem,
propondo alternativas para a sua utilização e objetivando a compreensão da realidade
que o individuo vive e que pode transformar se tiver o domínio deste conhecimento.
Para Castellar:
Buscar metodologias inovadoras não é achar que vamos encontrar a solução da escola nem dos
alunos, fazendo com que entendam cartografia; porém este é um processo longo, mas pode trazer
atrativos, tornando o conteúdo interessante aliando a teoria e a prática. Quando assumimos que a
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4280
linguagem cartográfica é uma estratégia para o ensino, não é considerar que ela também seja
técnica, mas entender que para o ensino a linguagem é muito importante (2011, p. 121).
Uma das maneiras de trazer os alunos próximos da Cartografia é remeter-se ao
seu cotidiano, trazendo o conteúdo próximo a sua realidade. Neste sentido a categoria
de analise da Geografia “Lugar” deve ser entendida por eles, pois nada adianta aprender
a localização e as complexidades globais se não conseguem ter a noção espacial do
bairro onde vive. Então, estudar e compreender o lugar em geografia significa
compreender as relações que ali ocorrem interrelacionadas, e isso remete novamente a
importância do aluno conhecer o lugar onde mora para compreender a relação entre
escalas maiores do regional para o local. (HASSLER, 2009)
A partir disto, conhecer o lugar vivido é de extrema importância para a
compreensão geográfica e aprender a partir de oficinas pedagógicas é um meio de
alargamento de seu conhecimento.
LEITURA, INTERPRETAÇÃO DAS ESPACIALIDADES: O BAIRRO
CAFEZAL IV E ADJACENTES – LONDRINA/PR
A oficina pedagógica a ser proposta nesse artigo foi realizada nas turmas de 8º
ano em que o PIBID/Alfabetização Cartográfica atua no Colégio Estadual Professora
Maria José Balzanelo Aguilera. O objetivo da oficina é levar os alunos a
compreenderem, através da leitura e interpretação do espaço geográfico, o bairro em
que o Colégio está, neste caso, o conjunto Cafezal IV, Londrina-PR.
Foi utilizado para a oficina uma planta do bairro, disponível em listas
telefônicas, papel vegetal e lápis de cor. Os alunos foram separados em duplas para a
realização da atividade e primeiramente foi entregue aos alunos uma planta que abrange
o bairro Cafezal IV e bairros adjacentes juntamente com uma folha de papel vegetal. Foi
feita uma rápida conversa para saber se os alunos tinham conhecimento do local,
pedimos que eles comentassem do que se tratava a planta, após responderem,
perguntamos se sabiam onde o Colégio estava localizado e praticamente todos os alunos
responderam corretamente.
Com o papel vegetal colocado acima da folha com a planta do bairro os alunos
devem fazer uma nova representação, com o lápis de cor, que represente não somente as
ruas e áreas, mas também objetos geográficos conhecidos por eles. A oficina apresenta
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4281
três etapas que devem ser explicadas minuciosamente aos alunos para que
compreendam a finalidade da oficina. A planta que trabalhamos apresenta muitas
avenidas, há uma grande área urbana, uma rodovia, uma estrada rural e o IAPAR
(Instituto Agronômico do Paraná) e cada uma destas espacialidades foi representada de
forma diferente da convencional na nova planta confeccionada pelos alunos.
A primeira etapa da oficina (Figura 1) consiste na diferenciação das
espacialidades, no papel vegetal, em que os elementos foram distinguidos da seguinte
maneira: Rodovia colorida de preto; Avenidas em amarelo; Área urbana pintada de cor
rosa; Área do IAPAR em verde; Estrada Rural pintada de marrom.
FIGURA 1 - PRIMEIRA ETAPA NA CONSTRUÇÃO DA PLANTA DE
ESPACIALIDADES DO BAIRRO CAFEZAL IV E BAIRROS ADJACENTES
Fonte: Marina Castilho Pradal (2013)
A segunda etapa (Figura 2) consiste na introdução dos objetos geográficos do
bairro, como por exemplo, o Colégio, o Terminal Urbano de Transporte Público, o 5º
Batalhão da Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros - Posto Zona Sul, e até mesmo a
casa dos alunos, porém nesta etapa ficou a critério de cada dupla escolher quais objetos
geográficos e como tais objetos seriam representados em suas espacialidades. Vários
alunos confeccionaram diversos símbolos, como por exemplo, chapeu de bombeiro para
representar o Corpo de Bombeiros e ônibus para representar o Terminal Urbano.
FIGURA 2 - SEGUNDA ETAPA NA CONSTRUÇÃO DA PLANTA DE
ESPACIALIDADES DO BAIRRO CAFEZAL IV E BAIRROS ADJACENTES
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Fonte: Marina Castilho Pradal (2013)
Na terceira etapa da oficina (Figura 3) os alunos devem colocar os elementos
fundamentais para que a atividade se tornasse um mapa completo, como título, legenda
e orientação e escala. Também deve ser explicada qual a finalidade de cada elemento
que compõe o mapa. Muitos alunos não sabiam da real importância de tais elementos,
por isso a explicação é de extrema importância.
FIGURA 3 - TERCEIRA ETAPA NA CONSTRUÇÃO DA PLANTA DE
ESPACIALIDADES DO BAIRRO CAFEZAL IV E BAIRROS ADJACENTES
Fonte: Marina Castilho Pradal (2013)
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4283
Os alunos foram muito participativos e demonstraram grande interesse na
realização da atividade, um dos motivos é que o espaço representado na planta faz parte
do cotidiano dos alunos, do espaço vivido por eles. Assim puderam agregar maior
clareza à visão que tinham do bairro, podendo assim conhecê-lo melhor e, por exemplo,
se deslocar de forma mais racional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É um desafio tornar as aulas de geografia e a cartografia mais interessante aos
alunos, fugir de padrões estabelecidos e encontrar maneiras de fazer com que ela seja
mais dinâmica, e que realmente chame a atenção, fazendo com que o discente se torne
participativo, e não somente faça a reprodução de mapas com fenômenos que muitas
vezes não entende e muito menos se interessa, pois esta muito longe da sua realidade.
Dessa forma cabe ressaltar a importância do PIBID, com o projeto Alfabetização
Cartográfica, que busca atividades que tornem o ensino de cartografia mais interessante
aos alunos, buscando contribuir com maneiras diferentes se trabalhar cartografia, com
o intuito de fazer com que o aluno aprenda de forma gradativa a fazer a leitura de mapas
e assim comece a entender o próprio local no qual está inserido.
Com a oficina que foi proposta e realizada pelos alunos, ouve a inserção de toda
a simbologia cartográfica presente em mapas, acrescentando objetos dos quais fazem
parte da realidade dos alunos e estão presentes no bairro, permitindo assim que eles
reconheçam os objetos que estão presentes no dia a dia, entendendo desta forma que a
cartografia não se resume apenas aos mapas que retratam os fenômenos de forma
global, mas que também estão inseridos no lugar, do qual fazem parte.
Portanto é de fundamental importância a criação de projetos como o Pibid que
além de inserir estudantes das diversas áreas da licenciatura, como neste caso da
geografia, onde é proporcionado o convívio dos futuros profissionais no cotidiano
escolar, a procura por uma nova forma de trabalhar conteúdos, neste caso através de
oficinas pedagógicas praticas, buscando trabalhar de maneira diferenciada com os
alunos, para tornar o aprendizado mais prazeroso e produtivo para os alunos.
É de suma importância a busca por novas alternativas, para trabalhar o ensino
aprendizado na área cartográfica, e dessa forma a oficina, se torne um instrumento de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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ensino muito positivo, pois faz com que o aluno trabalhe a teoria e a pratica, percebendo
assim a importância de conhecer o seu próprio espaço para entender os fenômenos que
ali ocorrem.
Tornar a cartografia mais interessante é um dos desafios que esta presente nas
aulas de geografia,assim como abolir a imagem existente por parte dos alunos de que
ela é sem importância, e algo muito distante de sua realidade, a partir disto a
importância do projeto PIBID, a partir do qual é possível trazer novas formas de se
trabalhar a cartografia com os alunos, onde eles possam reconhecer o seu espaço vivido,
para conseguir detectar objetos que realmente estejam, presentes em sua vida.
É importante lembrar a importância da alfabetização cartográfica dos alunos,
pois é a partir dela que eles conhecerão o espaço no qual estão inseridos, com a oficina
da planta da lista telefônica foi possível colocar em prática a cartografia de outra forma,
pois nela os alunos localizaram os elementos que estão presentes em sua vivencia diária,
é importante deixar que os alunos elaborem os símbolos de forma que estejam presentes
em seu dia a dia.
O PIBID desta forma contribui muito para a busca de atividades, que façam com
que o aluno se torne ativa, e entenda a importância da cartografia em sua, além de
permitir aos alunos de graduação que fazem parte do projeto um contato com a vida
escolar, e também o desenvolvimento e pesquisa por atividades que seja atraente ao
aluno, que o faça participativo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Pedagógico. Disponível em <http://www.ldamariajaguilera.seed.pr.gov.br/rede
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2013
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Abril 2009. Disponível em: <http//confins.revues.org-5724;DOI:10.4000-confins.5724>
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HASSLER, Márcio Luís. Contribuição geográfica para o estudo do lugar. Mercator -
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TSUKAMOTO, R. Y, OLIVEIRA, C. C.; A utilização do mapa nas aulas de geografia
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA. Pibid/UEL. Disponível em:
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2013
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O ENSINO DE GEOGRAFIA ATRAVÉS DE IMAGENS Francisco Hermínio Ramalho de Araújo
1
Leidy Daiane Araújo Alves2
Profa. Dra. Sandra Kelly de Araújo3
RESUMO
O presente trabalho expõem os resultados alcançados no projeto “Aqui é o meu lugar”,
realizado na Escola Estadual Professor Antônio Aladim (EEAA), na cidade de Caicó/RN, no
ano de 2012. Esse projeto foi desenvolvido no âmbito do Programa de Bolsas de Iniciação à
Docência (PIBID), subprojeto de Geografia do CERES/UFRN, e teve como objetivo trabalhar
as práticas de ensino de Geografia através de imagens abordando os conceitos de lugar,
paisagens e região. Tendo em vista as mudanças ocorridas no ensino de Geografia desde a
década de 70 que visava deixar de lado o ensino tradicional para uma nova perspectiva de
ensino, a geografia crítica, e com o surgimento da geografia cultural no início dos anos 90. Esse
foi, portanto, o contexto que nosso projeto baseou-se para trazer algo novo para a referida
escola. Contamos com os aparatos tecnológicos oferecidos pelo Laboratório de Ensino de
Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Campus de Caicó e pelo
PIBID como: computadores, data-show, caixa de som, pendrive, texto impresso e câmeras
fotográficas. Através desses recursos foram trabalhados através de imagem três conceitos-chave
da geografia, lugar, paisagem e região, levando sempre para uma perspectiva local. As imagens
coletadas foram colocadas nos sites http://www.panoramio.com e http://www.projectnoah.org.
Palavras-chave: Ensino de Geografia. Conceitos geográficos. Imagem.
INTRODUÇÃO
A prática docente é de grande importância para o desenvolvimento do educando,
não só como estudante, mas também como um ser humano inserido em uma sociedade
de pessoas pensantes. As profundas modificações que vêm ocorrendo na sociedade
contemporânea trazem consigo novos desafios para as escolas e, consequentemente, pra
a profissão de professor. Devido a tal fato é que o ensino de geografia vem passando por
significativas tentativas de mudanças desde a década de 70, quando o ensino tradicional
de geografia passou a receber muitas críticas. Na tentativa de aniquilar a geografia
tradicional surgiu a geografia crítica e a geografia cultural nos anos 70 e 90,
respectivamente.
1 UFRN; netinho_serra.sr@ Hotmail.Com
2 UFRN, [email protected]
3 (orientadora)/UFRN; [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4287
Tendo em vista essa tentativa de mudança de ensino, este presente trabalho foi
realizado com objetivo de promover a geografia do lugar através da imagem, dando
ênfase a três conceitos-chave da Geografia: o de lugar, o de paisagem e o de região.
Esse projeto recebeu o nome de “Aqui é o meu lugar” e foi realizado na Escola Estadual
Antônio Aladim (EEAA), localizada no bairro Boa Passagem na cidade de Caicó/RN. O
projeto “aqui é o meu lugar” foi realizado pelo PIBID, subprojeto de Geografia do
Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES), campus de Caicó.
A realização desse projeto foi feito por etapas, as quais foram: a divulgação do
projeto na escola sede do subprojeto de Geografia e inscrever os interessados; Oficina
de fotografia, onde foi capacitado os alunos para fotografar, capturar/obter imagens;
Oficina de cartografia, onde os alunos tiveram uma orientação sobre cartografia e de
como ampliar a base cartográfica dos bairros Boa Passagem e Recreio que estão
envolvidos nas atividades; foi produzido um painel para apresentação dos resultados;
apresentação e capacitação para o uso do suporte digital das imagens nos sites
http://www.panoramio.com e http://www.projectnoah.org, nesse ato foi criado uma
conta para o projeto em cada site; no ato da inscrição tiveram a participação de catorze
alunos da EEAA.
O ENSINO DE GEOGRAFIA E AS TENTATIVAS DE MUDANÇAS
A partir da década de 70 o ensino de geografia passou a ser questionado por
muitas autoridades, por educadores a ate mesmo por partes da sociedade em geral que
considerava como um saber ultrapassado que não dava conta de explicar a nova
configuração do espaço atual. Esse tipo de ensino tradicional da geografia e rotulado no
rol das disciplinas decorativas, sempre baseado na memorização de nomes como: de
rios, cidades e qualquer outro aspecto do espaço. “Uma coisa é certa: o ensino
tradicional de geografia-mnemônico e descritivo, alicerçado no esquema ‘a terra e o
homem’ não tem lugar na escola do século XXI” (Vesentine, 2008, p. 220).
Com a tentativa de mudança surgiu nos Estados Unidos, em meados da década
de 70, a geografia crítica. No Brasil ela começou a se expandir a partir dos anos 80.
Para Vesentine (1985), a geocrítica concebe o espaço geográfico como espaço social,
onde ocorrem construções, lutas e conflitos sociais. Com a geografia crítica o ensino era
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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mais debatido, onde o professor em vez de transmitir conhecimento constrói
possibilidades para que os alunos possam construir a sua própria aprendizagem.
A partir da década de 90, uma nova tendência passou a ser discutidos nos
currículos escolares. Foi à geografia cultural com novos temas e novas propostas de
ensino para a geografia. Essa tendência vê a necessidade de temas culturais nas escolas
tendo em vista a diversidade cultural existente num ambiente escolar. “O entendimento
da escola como lugar de culturas implica que o conteúdo das diferentes matérias
escolares e os procedimentos por elas adotados levam em conta a cultura dos agentes, a
cultura escola, o saber sistematizado, a cultura da escola” (Calvacanti, 2010, p. 67).
Essas foram as tendências mais recentes que tentaram mudar a forma de ensinar
a geografia. Mas vale salientar que elas não conseguiram aniquilar por completo a
prática do ensino tradicional. Hoje ainda é possível encontra nas escolas o ensino de
geografia tradicional.
O PROJETO “AQUI É O MEU LUGAR”
O projeto “Aqui é o meu lugar” é uma documentação por imagens das
particularidades onde viviam os alunos da EEAA. Foi desenvolvido na EEAA pelo
programa PIBID, subprojeto de Geografia do CERES com objetivo de trazer algo de
novo para o ensino de geografia da referida escola, ao tempo que proporcionou estudar
a Geografia através de imagens levando para uma perspectiva mais local. Foram
trabalhados conceitos importantes da geografia com foco principal nos de lugar,
paisagem e região, além de desenvolver as noções de localizações e bases cartográficas.
O referido projeto foi desenvolvido em três etapas: A primeira etapa consistiu
em capacitar os alunos para fotografar, capturar/obter imagens; em um segundo
momento os alunos foram conduzidos a registrar algumas imagens dos bairros Recreio e
Boa Passagem, onde se encontra as residências dos mesmos. As principais imagens
capturadas foram: praças públicas, pontos comerciais, corpos hídricos (açude recreio),
fauna e flora entre outros.
Na segunda etapa foi realizada uma oficina de cartografia, onde os alunos foram
instruídos a cerca dos principais elementos que compõem um mapa, em seguida eles
deram inicio a produção de uma carta cartográfica dos bairros já citados. Isto foi de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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grande importância, pois possibilitou aos alunos a localização das suas ruas naquele
croqui.
A terceira etapa efetuou-se com a capacitação para o uso do suporte digital das
imagens. Com isso foi apresentado dois sites: http://www.panoramio.com e
http://www.projectnoah.org. Na oportunidade, foram criadas contas nos mesmo com o
nome da escola EEAA, onde foram postadas as imagens que foram tiradas na primeira
etapa do projeto. Ao acessarmos estes sites: http://www.panoramio.com/user/eeaa
http://www.projectnoah.org/users/eeaa, nos depararmos com as imagens lá postadas nos
levam a ver que elas nos trazem um sentido com relação dos conceitos abordados no
projeto “Aqui é o meu lugar”.
O Panoramio é um serviço do Google onde é possível armazenar e compartilhar
fotografias através da internet, anexadas a mapas e localizações dos lugares onde as
mesmas foram tiradas. As fotos passam por uma avaliação e em seguida são anexadas
ao programa do Google Earth, sendo que fotos de pessoas e comerciais não são
relacionadas podendo ate ficar armazenada na conta do Panoramio. O objetivo do site é
explorar as paisagens dos lugares através de fotografias.
Project Noah foi criado a partir de uma iniciativa da National Geographic
Society para proporcionar às pessoas de todas as idades um meio simples e fácil de
compartilhar suas experiências com animais selvagens. O objetivo é compartilhar fotos
ou imagens de animais silvestres e caracterizá-los como específicos de cada região. No
site você confere na seção de mapas, os animais encontrados em cada região.
OS PRINCIPAIS CONCEITOS ABORDADOS NA REALIZAÇÃO DO
PROJETO
Os principais conceitos-chaves da Geografia abordados nesse trabalho foram:
Lugar, paisagem e Região. O foco principal desses conceitos foi de acordo com os
objetivos do projeto. Ao expormos a geografia do local através de imagens já nos da
certa clareza dos conceitos utilizados no trabalho. Através das imagens capturadas, na
primeira fase do projeto, podemos tirar varias informações dos locais vivenciados pelos
alunos inscritos. E assim trabalharmos os três conceitos já citados.
O conceito de lugar vem ganhando uma nova compreensão, que foge ao senso
comum, quando visualizado pelas mais recentes correntes do pensamento geográfico: a
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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geografia humanística e a geografia marxista, que viabilizaram mudanças não só do
conceito de lugar, mas nos de outros conceitos da ciência geográfica. Com essas
mudanças o lugar deixa de ser compreendido como um espaço produzido, ao um
determinado período, pela natureza e pelo homem, para ser visto como uma experiência
vivida carregada de simbolismo e que agrega ideias e sentidos produzidos por aqueles
que o habitam. Espaço e o lugar são intimamente estudados na geografia, “Espaço e
lugar são termos familiares que indicam experiências comuns” (Tuan, 1983, p.3). Dessa
forma a localização das ruas de suas residências permitiu aos alunos vivenciar sua
realidade no conceito espaço e lugar, utilizados no projeto “aqui e o meu lugar”.
Paisagem é tudo que a nossa visão consegue abarcar, é perceptível através de
nossos sentidos (visão, olfato, tato e audição). Podemos considerámos dois tipos de
paisagem: natural, intocável pelo homem, e artificial, transformadas pela atividade
antrópica. Com isso Santos (2008) diz “tudo o que nós vemos, o que nossa visão
alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a
vista abarca. É formada não apenas de volumes, mas também de cores, movimentos,
odores, sons etc.” (Santos 2008, p. 67).
Já a o conceito de região para a Geografia possui diferentes significados que
com bases de outras disciplinas e conceituado de acordo com as correntes do
pensamento geográficos, pode ser estudado como: região natural, região geográfica,
região homogênea, etc.. A etimologia da palavra região significa domínio de um poder
central e um determinado espaço diversificado. Para Gomes (1995), a denominação
região remonta desde os tempos do Império Romano, quando a palavra regione era
utilizada para designar áreas que estavam subordinadas ao Império. Dai surgiu à
interpretação do conceito de região como a centralização do poder e a extensão dele
sobre as diversas áreas.
APRESENTAÇÃO DO PROJETO “AQUI É O MEU LUGAR”
A apresentação do projeto “Aqui é o meu lugar” ocorreu durante a III Amostra
Científica Artística e Tecnológica (ACART) da EEAA, realizado no dia 26 de outubro
de 2012 durante o turno matutino e vespertino. O projeto ficou numa sala exclusiva
onde montamos uma apresentação de slides no data show; decoramos as paredes com
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mapas cartográficos cedidos pela escola e com imagens tiradas pelos alunos; expomos
uma carta cartográfica dos bairros Boa Passagem e Recreio, reproduzida e ampliada
pelos alunos que estavam envolvidos no projeto e os bolsistas do PIBID. Durante a
exposição do projeto 250 pessoas visitaram a sala e lá ocorreram algumas explicações
relacionadas ao projeto, onde elas poderiam localizar na carta cartográfica, o lugar em
que mais se identificava e como foi realizado o projeto.
CONCLUSÃO
O desenvolvimento do projeto “Aqui é o meu lugar” apresentou para a EEAA
uma possibilidade de integração de tecnologias de informação e comunicação no ensino
de Geografia. Essa foi baseada no uso de aparatos ou instrumentos tecnológicos que
estavam disponíveis em nossas mãos, recursos esses oferecidos pelo Laboratório de
Ensino de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
Campus de Caicó, e pelo PIBID. Com ênfase em três conceitos-chave da Geografia
(lugar, paisagem, e região), expomos a geografia do local, onde residem os alunos da
escola e inscritos no projeto, através de imagens.
Portanto, pode-se afirmar que o ensino de Geografia pode ser realizado em
amplas dimensões e utilizar varias técnicas. Uma dessas técnicas foi aplicada nesse
trabalho através de imagens, as quais despertaram novas perspectivas de aprendizagem
nos alunos envolvidos no “Aqui é o meu lugar”. Pois com isso pode ser observado que a
Geografia possui a capacidade de ser analisada numa perspectiva local abordando as
experiências vivenciadas em cada cenário.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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conhecimentos Geográficos Escolares e atribuição de Significados Pelos Diversos
Sujeitos do Processo de Ensino. In: CASTELLAR, Sonia (Org.). EDUCAÇÃO
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Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995.
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IMAGENS COMO RECURSO DE ÁNALISE ESPACIAL NO ENSINO DE
GEOGRAFIA: RELATOS DE UMA EXPERIÊNCIA1
Rafael da Cruz/UFS2
Crislaine Beatriz da Silva/UFS3
Simone Neves Cunha/SEED-SE4
RESUMO
Diante das mudanças ocorridas na sociedade e da crescente falta de estímulo dos estudantes em
participar das aulas, é fundamental desenvolver novas práticas educacionais. A inserção dessas
metodologias é uma possibilidade de ampliar e diversificar as formas de construir o
conhecimento dos alunos. O objetivo desse artigo é discutir a utilização de imagens no processo
de ensino/aprendizagem como um recurso que facilite e instigue a criticidade dos discentes
diante dos conteúdos trabalhados em sala, assim como retratar as experiências vivenciadas com
a elaboração e a prática de uma oficina pedagógica sobre analise do espaço geográfico dos
bairros Coroa do Meio, Santa Maria e São Conrado. A presente atividade se desenvolveu a
partir da iniciação na prática de ensino em Geografia, realizada através do Programa
Institucional de Iniciação a Docência (PIBID), da Universidade Federal de Sergipe, em turmas
do 9º ano “A, B e C” do Ensino Fundamental no Colégio Estadual Professor Gonçalo
Rollemberg Leite em Aracaju - SE. Na qual incentivamos a participação dos alunos tendo em
vista as dificuldades expressas pelos mesmos com relação ao conteúdo geográfico abordado na
unidade. Os resultados foram positivos, pois além da atenção dos discentes, a atividade
proporcionou e/ou facilitou o entendimento sobre o conteúdo de forma descontraída, divertida e
prazerosa, provocando uma maior interação entre nos bolsistas do PIBID e os alunos.
PALAVRAS CHAVES: Ensino/Aprendizagem, Imagens e Espaço Geográfico.
INTRODUÇÃO
Diante das mudanças que vem ocorrendo na sociedade e do crescente
desestímulo dos estudantes em participar das aulas, é de fundamental importância
desenvolver novas práticas educacionais, a fim de que as regências sejam mais atrativas
e motivem a participação dos discentes. A utilização de imagens no processo de ensino
1 Artigo elaborado com o resultado de atividades de prática de ensino em Geografia, realizada através
do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência (PIBID)- CAPES da Universidade Federal de
Sergipe. 2 Acadêmico do curso de Geografia licenciatura da Universidade Federal de Sergipe. Bolsista do
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência (PIBID)-CAPES. 3 Acadêmica do curso de Geografia licenciatura da Universidade Federal de Sergipe. Bolsista do
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência (PIBID)-CAPES. 4 Professora da Educação Básica da Secretaria de Educação do Estado de Sergipe.
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aprendizagem possibilita e/ou facilita a compreensão dos conceitos na geografia, pois
ao utilizar tal recurso o aluno visualizará o espaço geográfico em diferentes períodos de
modo a perceber as alterações inseridas pelo homem no passado e presente. A inserção
desse recurso proporcionará aos discentes a leitura do contexto, reforçando o caráter
social no ensino da geografia.
O objetivo deste artigo é retratar as experiências vivenciadas com a elaboração
de uma oficina pedagógica sobre o processo de transformação do espaço nos Bairros
Coroa do Meio, Santa Maria e São Conrado no município de Aracaju- SE, sendo
desenvolvida através do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência
(PIBID), da Universidade Federal de Sergipe.
A referida atividade foi executada no Colégio Estadual Professor Gonçalo
Rollemberg Leite em turmas do 9° ano “A, B e C” do ensino fundamental. Escolhemos
esses bairros em virtude desses espaços abrigarem os alunos das citadas turmas.
Antecedendo o desenvolvimento da atividade aplicamos um questionário com a
finalidade de conhecer o perfil dos discentes e identificar a aceitação por parte dos
mesmos em participar da oficina. A adesão e a participação dos alunos foram
marcantes, tendo em vista, tratar da realidade do seu espaço de vivência.
UTILIZAÇÃO DE IMAGENS COMO FERRAMENTA PARA O ENSINO DE
GEOGRAFIA
O uso de imagens no ensino/aprendizagem em geografia contribui para uma
melhor compreensão dos discentes, permitindo que os mesmos percebam-se como
transformadores do espaço onde estão inseridos.
A Geografia é uma ciência social. Ao ser estudada, tem de considerar o aluno e a
sociedade em que vive. Não pode ser uma coisa alheia, distante, desconhecida da
realidade. Não pode ser um amontoado de assuntos, ou lugares (parte do espaço), onde
os temas são soltos, sempre defasados ou de difícil (e muitas vezes inacessível)
compreensão pelos alunos. Não pode ser feita apenas de descrição de lugares distantes
ou de fragmentos do espaço. (CALLAI, 2003, p. 57)
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Fazer uso de imagens que retratem as transformações do espaço em que os
alunos estão inseridos aguça o olhar geográfico dos mesmos tornando-os mais críticos e
reflexivos por meio da contextualização dos conteúdos.
Para alguns, a importância das imagens é questionável, contudo não podemos
ignorar o seu uso no processo educacional, e como recurso metodológico para a
compreensão da geografia. Pontuschka et al (2009) ressaltam que,
A imagem, no ensino de Geografia, geralmente é empregada como mera ilustração.
Mesmo que os autores de um texto tenham integrado as figuras ao conteúdo, o que nem
sempre ocorre, elas não são utilizadas no espaço escolar como complementação do texto
ou recurso de onde é possível extrair informações e promover a articulação com o
conteúdo da escrita. (p. 278)
A utilização desse recurso atrai a atenção dos discentes a partir das análises que
envolvem o seu próprio cotidiano, nesse caso, a realidade que eles vivenciam poderá ser
analisada e relacionada ao conteúdo geográfico trabalhado durante as atividades. De
acordo com Pontuschka (2007, p.311). “a leitura das paisagens in lócus, das fotografias
frontais, oblíquas, verticais e das imagens de satélites permite aproximar os documentos
geográficos da realidade dos alunos”.
Desta forma, no processo de ensino o educador deverá buscar o uso de recursos
diversos que facilitem a análise, o entendimento e a assimilação dos conteúdos
científicos. O uso de imagens tem despertado o interesse de vários profissionais da
educação, por ser uma rica fonte de informação à disposição dos professores, a qual
permitirá que os discentes tenham uma maior compreensão do espaço vivenciado no seu
cotidiano. Logo, analisar a paisagem é importante para o entendimento das
transformações do espaço. Nesse sentido, Santos (1998) ressalta,
Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança é paisagem. Esta pode ser
definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de
volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc. (...) A percepção é
sempre um processo seletivo de apreensão. (p. 61-62)
Ao possibilitar a leitura das imagens em sala de aula que retratam as paisagens
dos bairros onde os alunos residem, estamos oportunizando aos mesmos um ambiente
rico em discussões e ideias, propício para reflexões.
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Segundo Castrogiovanni (2005), “a paisagem revela a realidade do espaço em
um determinado momento do processo”. Assim, o propósito é que com os
questionamentos e indagações partidas do docente os educandos possam analisar
corretamente as imagens expostas, observando as transformações ocorridas no espaço
em diferentes períodos.
É válido ressaltar que um dos indicadores que mede o desempenho e a qualidade
do ensino no último estágio da educação básica é o ENEM (Exame Nacional do Ensino
Médio), uma modalidade alternativa ou complementar dos processos de seleção para o
acesso ao ensino superior. Esse exame utiliza prioritariamente de imagens nas questões
relacionadas à Geografia ou aos conhecimentos humanos. Sendo assim, Sayão e Nunes,
destacam que “A utilização de diversas linguagens, principalmente imagéticas,
presentes nas questões, demonstram a importância da Geografia escolar trabalhar com
estas desenvolvendo habilidades fundamentais ao processo de alfabetização
geográfica”. (2011, p. 36)
Esse modelo de linguagem é bastante presente nas questões pertinentes a
geografia nas provas do ENEM, o que evidencia a importância de ser utilizado na sala
de aula, na elaboração de atividades que valorizem as habilidades dos discentes na
leitura de diversas paisagens, facilitando desta forma o entendimento da Geografia.
Logo, fundamentados na leitura desses autores, utilizamos as imagens dos bairros a fim
de facilitar a análises do espaço urbano de Aracaju.
TRANSFORMAÇÕES NO ESPAÇO URBANO DOS BAIRROS COROA DO MEIO,
SÃO CONRADO E SANTA MARIA
A atividade desenvolvida foi resultado das observações realizadas nas aulas
ministradas pela professora regente do 9° ano no Colégio Estadual professor Gonçalo
Rollemberg leite, localizado no Bairro Grageru. Após algumas anotações, planejamos
uma oficina que contribuísse no ensino/aprendizado dos discentes com intuito de
motivarmos o desenvolvimento dos mesmos, então juntamente com a docente
decidimos trabalhar com a exposição de imagens.
A oficina intitulada “Transformações no Espaço urbano dos Bairros Coroa do
meio, São Conrado e Santa Maria” contemplou os alunos do 9° ano “A”, “B” e “C” do
turno matutino, com faixa etária entre 12 e 15 anos, oriundos dos bairros acima citados.
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Segundo Cavalcanti (1998, p.129). “a geografia na escola deve estar, voltada
para o estudo de conhecimentos cotidianos trazidos pelos alunos e para seu confronto
com o saber sistematizado que estrutura o raciocínio geográfico”. Este comentário
reflete bem o modelo de realização deste trabalho, pois corrobora com o papel das
vivências sociais dos alunos como fonte rica de saberes que devem ser levados em conta
na escola para uma efetiva aprendizagem da geografia.
A metodologia utilizada para a aplicação da atividade foi à explanação sobre o
histórico dos Bairros abordados. No primeiro momento comentamos sobre o
Crescimento Urbano da Cidade de Aracaju (tema que já tinha sido trabalhado pela
professora regente), exploramos imagens antigas e recentes da cidade, apresentando
apenas a data para que os alunos identificassem o local retratado. No segundo momento
apresentamos as imagens de satélite obtidas pelo Google Earth, destacando apenas o
ano, no qual os alunos iriam identificar o Bairro que estava sendo exposto (Fig. 1).
Logo após, foram exibidas algumas imagens antigas e recentes da Cidade de Aracaju e
em seguida dos Bairros São Conrado, Coroa do Meio e Santa Maria.
Figura: 1. DISCENTE ANALISANDO A IMAGEM DE SATÉLITE DO GOOGLE EARTH
Fonte: Os autores, 2012.
O objetivo da leitura das imagens em períodos diferentes fez com quer os
discentes analisassem as mudanças que ocorreram e as suas consequências para a
população. Esse tipo de prática incentiva o aluno a relacionar o conteúdo trabalhado
com as experiências que acontecem na vida cotidiana.
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Cavalcanti (2010) ressalta, “a importância da inovação das metodologias de
ensino na Geografia escolar não ser tradicional e buscar práticas alternativas, que se
distanciem do verbalismo, formalismo, memorização de conteúdos considerados
inquestionáveis tornando as aulas dinâmicas”.
Para a realização das atividades, os discentes foram divididos em dois grupos e
com o auxílio dos bolsistas e da professora regente, elaboraram um texto e produziram
um mini jornal referente à temática trabalhada, dando ênfase as transformações
espaciais ocorridas nos bairros onde residem, destacando os pontos positivos e
negativos (Fig. 2 e 3).
Figuras: 2 e 3. ACOMPANHAMENTO DOS BOLSITAS AOS GRUPOS
Fonte: Os autores, 2012.
Antes do final da aula solicitamos aos grupos a apresentação das atividades para
toda turma a fim de que fossem debatidas e o conhecimento compartilhado com todos,
como podemos observar nas (Fig. 4 e 5) abaixo.
Figuras: 4 e 5. APRESENTAÇÃO DAS ATIVIDADES ELABORADAS PELOS GRUPOS
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Fonte: Os autores, 2012.
O grupo A, que ficou responsável pela elaboração de um texto, descreveu os
pontos positivos e negativos das transformações ocorridas na cidade de Aracaju. Os
alunos comentaram a falta de segurança, terrenos baldios, a deficiente infraestrutura dos
bairros, sobretudo, com o período das chuvas uma vez que a falta de pavimentação
dificulta o deslocamento da população.
O grupo B, elaborou um tele jornal, no qual uma aluna transformou-se em
repórter entrevistou dois moradores do Bairro São Conrado, que relataram as
problemáticas existentes no bairro. Os discentes criaram nomes para os personagens e
elaboraram algumas perguntas, tais como:
Como está o transporte público no Bairro?
Fale sobre a segurança no Bairro?
Verificamos que, através da atividade, estabeleceu-se na aula de geografia um
caráter educativo, atrativo e dinâmico, incentivando aos alunos a participação e
construção do conhecimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a organização dessa oficina percebemos a importância do uso de recursos
visuais no ensino da geografia. Essa atividade proporcionou para nós estagiários do
PIBID, uma experiência relevante em nossa formação como futuros professores.
Percebemos o interesse e a participação ativa dos alunos, revelando o senso crítico na
análise do conhecimento geográfico. A inserção desse recurso propicia aulas dinâmicas,
estimulando o desenvolvimento do raciocínio, da criatividade e do pensamento dos
alunos. A interpretação de imagens contribui para que o ensino de geografia cumpra seu
papel enquanto instrumento de libertação social, na medida em que aproxima o discente
da realidade que o cerca.
Constantemente, no processo de formação do professor as disciplinas voltadas
para a área de educação, abordam metodologias diversificadas, estratégias de como
trabalhar o conteúdo geográfico em sala de aula. Pontuschka (2009, p.278), destaca que,
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4300
“As imagens estão a invadir nossas casas, os painéis e outdoors, acompanhando-nos
onde quer que estejamos. Vivemos no mundo das imagens e pouco sabemos sobre elas”.
Sendo assim, é indispensável problematizar e propor os novos métodos e técnicas de
ensino.
Desse modo, fica evidente que a utilização de imagens como instrumento
pedagógico é um recurso que estimula e motiva o aluno a participar das aulas
reconhecendo-se como agentes ativos na construção do conhecimento, tornando o
ensino/aprendizagem em Geografia significativo.
REFERENCIAS
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4302
A EDUCOMUNICAÇÃO E SUAS POSSIBILIDADES
METODOLOGICAS PARA PROFESSORES DE GEOGRAFIA
Luis Pessoa de Araujo Junior
1
Ana Roberta Duarte Piancó2
RESUMO
O presente artigo apresenta enfoque sobre possíveis procedimentos metodológicos com
contribuições referentes a uma discursão ainda não popular que inclui uma relação entre
comunicação e educação potencializando uma significante aliada para as práticas de ensino em
geografia. O uso da informação dentro do espaço escolar provoca uma nova dinâmica nesse
ambiente possibilitando o uso de tecnologia na escola e promovendo a renovação das atividades
pedagógicas, abrindo espaço para a aprendizagem multidisciplinar que pode ser facilmente
gerenciada pela ciência geográfica que dialoga entre vários campos de pesquisa. A informação
vai ser uma base importante para procedimentos futuros, pois com esse elemento podemos
aplicar ações educomunicativas que podem ligar as realidades locais na logica empírica e teoria
do ensino contribuindo na inclusão do estudante como protagonista do processo de pesquisa, a
partir da busca de uma relação de intervenção social e métodos de ensino implicando numa
sedimentação de conceitos científicos e realidade. O embasamento dessa pesquisa surge a partir
de contribuições teóricas que fomentaram a sede por novas possibilidades metodológicas para
as aulas de geografia, visando estimular a formação de crianças e jovens com capacidade
criativa a elucidação de melhoras e estímulos no processo comunicativo e educativo.
Palavras chaves: Metodologia de ensino em Geografia, Educomunicação e Tecnologia na
escola, Práticas pedagógicas.
INTRODUÇÃO
O presente artigo desenvolve-se a partir de conjunturas teóricas que contribuirão
com uma busca continua de conceitos referentes a temática Educomunicação para o
ensino de Geografia, vendo que existe a necessidade da inovação pedagógica, assim
abrindo espaço para propagar novas metodologias com aplicabilidade de seus conceitos
e ampliando novas possibilidades nas práticas no ensino.
1 Luis Pessoa de Araujo Junior, licenciando em Geografia pela Universidade Regional do Cariri – URCA,
Bolsista da CAPES no PIBID e membro do Laboratório de Educação, cultura, espaço e memória -
[email protected]. 2 Ana Roberta Duarte Piancó, Professora do Departamento de Geociências da Universidade Regional do
Cariri – URCA, Líder do Grupo de Pesquisa em Território, espaço e movimentos sociais -
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4303
Dentro do revisado corpo conceitual temporalmente deparado entre o fim do
século XX até os meados da nossa contemporaneidade a geografia vivencia uma
revolução dentro dos paramentos contextuais da ciência, em que incluí-se a informação
e a tecnologia. Essa renovação incorporou diversos incrementos que provocaram uma
nova dinâmica espacial promovida por grandes desafios como, por exemplo, a
globalização não atingindo os princípios da sua conceituação, o crescimento
desorientado das cyber cidades, o desgaste do sistema capitalista, a mega produção de
aparelhos com alta tecnologia, o crescimento do credito, a falta de uso da tecnologia no
ensino, dentre outras diversas atividades que se multiplicam no que se glorifica o
chamado desenvolvimento não sustentável.
Contamos com uma complexa rede de tecnologias monopolizadas pelos lideres
detentores do combustível mais importante da atualidade “capital”. Atualmente nossa
sociedade conta com uma ampla rede de sistemas que produzem os mais diferentes
conteúdos, através das mais diversas tecnologias. Assim essa geração esta cada vez
mais acostumada com o manuseio de equipamentos e não veem a possibilidade da vida
sem o uso dos mesmo.
Por isso, a inclusão de aparelhos tecnológicos deve ser um importante aliado na
elaboração de aulas diferentes, principalmente na disciplina de geografia, devido aos
interesses multiplicados em livros didáticos com relação a tecnologia e o
desenvolvimento da humanidade.
Este conteúdo contextualiza a possibilidade do uso das tecnologias da
informação nas aulas de geografia, abrindo espaço para desenvolver um aluno ativo
com bases bem formadas sobre o que é geografia e onde encontra-se, assim
aproximando o conceito didático da realidade, sendo verdadeiramente útil o saber
cientifico propagando discursões com liberdade da critica tornando uma ciência viva no
ambiente escolar. Como reflexo pode-se hipnoticamente existir desenvolvimento da
capacidade expressiva e competência criativo-comunicativa sobre o uso da informação
torna o uso do método educomunicativo tendencial para germinação de gerentes
geográficos que aprendem, pesquisam, aplicam, materializam e ampliam a inovação da
geociência na comunidade escolar ou até mesmo para o mundo através de meios de
comunicação digital.
Diante dos assuntos aqui já ressaltados, o desenvolvimento dessa pesquisa vai
buscar contribuir com os seguintes questionamento: Quais seriam as dificuldades que
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uma escola encontraria para inserir o uso de ferramentas tecnológicas e de comunicação
em práticas educacionais?; Quais seriam as contribuições da educomunicação para a
formação de alunos e professor?;A geografia deve ou não incorporar esse método ao seu
programa de ensino?; Então esses serão caminhos dos quais, espero fomenta-los ao
decorrer dos seguintes tópicos.
UMA GERAÇÃO DA COMUNICAÇÃO, DAS REDES E DOS FLUXOS
INFORMACIONAIS.
Grande parte da população brasileira tem acesso a jornais, revistas, rádio,
noticiários, programas, novelas, documentários e outros produtos que recheiam o
universo das mídias com intenção de atingir o maior numero de pessoas para multiplicar
os lucros de uma minoria. Assim se for questionado qual maior bem na vida das
pessoas,alguns poderia dar como resposta minha família, a felicidade, a saúde, o
dinheiro, o amor, o poder e as justificavas não faltariam, mas pode-se afirmar que o bem
mais desejado sempre será a comunicação, pois tratasse do impulso humano mais
profundo, a principal engrenagem que vai possibilitar a realização de todas as respostas
aqui já citadas. A comunicação é composta por mutáveis possibilidades que constroem e
entrega-se a vida em uma sociedade, as pessoas a procuram 365 dias por ano, 24 horas
por dia, no ar, no olhar, no som, no não explicável, ou seja, em todos momentos de uma
vida e em cada lugar do planeta. Se hoje podemos estudar um espaço geográfico será
claro que tudo é reflexo do fluxo das informações, antes esperávamos um jornal para a
noticia advir, hoje anda no tempo próprio do acontecimento, em seguida é aprofundada,
analisada, discutida, corrigida, editada, atualizada, curtida e compartilhada.
Segundo Elian Alabi Lucci in Manuel Castells (volume 71 em 1999sobre a era
das informações):
A era da informação: economia, sociedade e cultura —, a nossa
sociedade está constituída em tomo de fluxos: fluxos de capital, fluxos
da informação, fluxos da tecnologia, fluxos de imagens, sons e
símbolos. Esses fluxos não representam apenas um elemento da
organização social, mas são a expressão dos processos que dominam
nossa vida econômica, política e simbólica. O tipo de rede de
visualização mais fácil para representar o espaço de fluxos é a rede
constituída pelos sistemas de processos decisórios da economia
global, especialmente os do sistema financeiro.
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Vivemos em uma rede invisível conectada por pontos alternantes ativados pelas
necessidades humanas, das quais, a economia, a política, a imaginação e a cultura são
elementos da vida virtual, uma ação instantânea da contemporaneidade que necessita
“bombardear” conteúdos para sustentar as bases alimentares da globalização, ação que
prejudica a continuidade do valor da essência de muitos lugares obrigando-as a viver
uma cultura prostituida em seu conceito mais transparece e desfigurada quando se
incorpora em uma sociedade cujos seus traços históricos não tenham nem uma relação
com o lugar transmissor, ou seja, com o “aliciador” das chamadas culturas
comercializadas.
Nossas crianças ou mesmo os jovens estão numa era de facilidades em relação
ao tempo e percurso para ter o que precisam, necessitando apenas obter capital para
materializar seus desejos consumistas, essa realidade é promovida pela grande mídia e
encontrada em toda parte, até mesmo em ambientes onde não deveria conter esse tipo de
informação.
O sistema prende as pessoas em seus diversos setores fiquem presos nessa teia
de informação que é frágil, mas bem planejada, sua estrutura necessita de alimentação
criativa e consumidores de informação para que assim possam criarem novidades e
vender seus produtos. Cabe aos educadores usufruírem dos artifícios dessa sociedade
virtual introduzindo equipamentos e uso de técnicas com criatividade dentro de ensino
de geografia caminhando junto com a nova era das informações.
A ESCOLA E AS NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO.
Talvez seja um grande desafio para os professores Comprender toda quantidade
de informações que os estudantes consomem diariamente em suas vida extra sala de
aula ou até mesmo dentro do espaço escolar, junto ao processo de aprendizagem,
através de uso de aparelhos como tables, smartfone ou computadores.
Segundo Paulo Freire: (1975, p. 77)
A educação que se impõe aos que verdadeiramente se comprometem
com a libertação não pode fundar-se numa compreensão dos homens
como “seres vazios” a quem o mundo “encha” de conteúdos; não pode
basear-se numa consciência especializada, mecanicistamente
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compartimentada, mas nos homens como “corpos conscientes” e na
consciência como consciência intencionada ao mundo. Não pode ser a
do depósito de conteúdos, mas a da problematização dos homens em
suas relações com o mundo.
Para muitos alunos ir para a escola é uma rotina não muito interessante
principalmente com a diversidade de coisas para fazer em casa ou no convívio com os
amigos, o que mais prende a atenção dessa geração do século XXI são as tecnologias,
uma importante arma sedutora do mundo comercial possibilita dar par de uma
diversidade jamais existente no passado, essa revolução técnica deve sim ser controlada
pois o uso abusivo implica no pouco rendimento quando não orientado.
Falar do uso de novas ferramentas na escola é algo complicado já que a
realidade da maioria das escolas desses país não estão em um mesmo patamar, porém,
estamos possivelmente entrando em um novo ciclo de investimento nessa área de
acordo com os atuais manejos das secretarias governamentais, claro que ainda muito
tímido em relação a sede de investimentos em relação a demanda necessária.
A inclusão digital é um setor ainda atrasado em diversas regiões do Brasil,
porém temos que criar demanda para atingir bons resultados, principalmente com as
exigências criadas pelos alunos, o professor contemporâneo tem que ter habilidadescom
os aparelhamentos tecnológicos sempre seguindo no caminho de educar, nortear,
provocar e disseminar o conhecimento. As práticas pedagógicas devem ter uma relação
efervescente com a realidade dos alunos e levar em consideração que os mesmo temos o
direito de ser um jovem apropriado dos equipamentos digiatais com capacidade de
manipular mesmo que basicamente equipamentos comuns na atualidade, quando o
discente proporciona ele acaba que desenvolvendo uma ação de cidadania na
instauração de novos cidadão.
Mais como será possível entrar numa era de inserção de uma cultural digital com
os paramentos da comunicação no ambiente escolar se as nossas escolas em uma grande
maioria não tem estrutura ou abertura para ingressar nesse novo mundo. A educação
tradicional ainda habita os corações de muitas pessoas que não se abrem para o novo,
essa preguiça engessa as renovações dos procedimentos e bloqueia a inovação. Os
alunos podem ser bons aliados para quem quer mudar e para quem preferir permanecer
com metodologias limitadas no passado vão ter que sugar toda experiência para
permanecerem ativos no atual espaço pedagógico da escola.
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O uso de celulares, câmera digital, notebook, tabletes, TV, DVD, aparelho de
gravação de voz, dentre outros produtos já podem estar incorporando nas pesquisas,
para isso existe a necessidade de ter um facilitador que indique os procedimentos para
obter resultados, mesmo que orientador tenha que explicar com usar esses equipamentos
ou mesmo usar dos conhecimentos de outros para compartilharem com os demais.
Como enfatizaUlisses Araújo (web, 2004):
“... a construção dos conhecimentos, na forma que concebemos,
pressupõe um sujeito ativo, que participa de maneira intensa e
reflexiva das aulas – um sujeito que constrói sua inteligência e sua
identidade por meio do diálogo estabelecido com seus pares, com os
professores e com a cultura, na própria realidade cotidiana do mundo
em que vive...”.
A escola pode ser considerada como uma geladeira, mais caberá ao educador
enche-la de opções que seduzamtornando um ambiente dinâmico, interativo, criativo e
intenso. Que o aluno entenda o valor do aprender, com responsabilidade de transmitir o
conhecimento para as pessoas que compõe o lugar onde mora, com ou sem aparelhos
tecnológicos mais demonstrando uma responsabilidade social com a ciência geográfica.
EDUCOMUNICAÇÃO E O ENSINO DE GEOGRAFIA
Segundo Ismar de Oliveira ( web in Vol. 24, n.9
140, julho 1998, p.47):
“(...) A geografia está na vanguarda de muitas frentes de trabalho. Do
ponto de vista teórico lidera uma das correntes mais respeitadas, pois
decidimos enfrentar o desafio de procurar uma maior aderência da
nossa disciplina para fazer face às rápidas mudanças do mundo de
hoje. Assim, tivemos de revisitar todos os seus conceitos básicos:
espaço geográfico, território, região, lugar, cidades, entre outros. Com
isso, esperamos oferecer um conhecimento geográfico mais
competente e ajustado às características do mundo em que vivemos. A
velha geografia descritiva, analítica, sem teoria perde hoje para as
imagens. A descrição foi superada pelo vídeo, pelo cinema, pela
fotografia. Esse é o problema maior da velha geografia. Assim, ao
enfrentarmos esse problema, teremos condição de avançar do ponto de
vista teórico e sermos mais necessários para a compreensão do
mundo, fazendo face ao mundo da globalização, do processo de
fragmentação dos territórios que caracteriza a geopolítica
contemporânea e assim por diante. Isto sem falar nos agudos
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problemas das metrópoles, da chamada questão ambiental. Mas, do
ponto de vista técnico, a geografia aliada à cartografia — pois são
inseparáveis —também avançou, graças aos Sistemas de Informação
Geográfica (SlGs) e ao sensoriamento remoto, permitindo uma
cartografia de precisão, além de uma interpretação mais ágil e correta
sobre os processos na superfície do planeta.
A Educomunicação é a forma de instruir o aluno ao uso de recursos tecnológico
como Câmeras, captadores de imagem e som, computadores, tabletes, celulares, GPS e
dentre outras, diversidades de opções que estão disponíveis de acordo com o poder
aquisitivo, o principal objetivo de desenvolver atividades com esses produtos podem ser
variáveis, porem criam uma arquivo documentado em mídias que possibilita um maior
envolvimento dos alunos e tem uma maior durabilidade do processo na memória do
produtor.
Segundo Kimura ( 2001, p. 26):
...a Geografia constitui-se em um campo fértil de oportunidades para
experimentar de maneira muito rica e estimulante várias habilidades e,
desta forma, possibilitar ao aluno desenvolver competências criativas
de percepção e cognição a serem incorporadas ao seu crescimento.
Esses procedimentos dispõem de uma conjuntura de elementos tecnologicos e
criativos, que são encontrados no dia-a-dia de muitas pessoas ou podem a partir de
estudos a ser inserido como metodo de ensino de geografia.
O geografo aprendiz deve ser desafiador em todas as suas atividades sejam com
crianças ou com os adolescentes assim, devem abusar da sua criatividade, e o apoio
técnico será um sucesso nas salas de aula, pois crianças e adolescentes se fascinam com
o mundo digital, abrindo espaço para uma junção do conhecimento geociêntifico com a
possibilidade de informar e contribuir com o desenvolvimento local e principalmente
pessoal. A educomunicação como parceira da geografia vai contribuirpositivamente
com seu método de ensino que é embasado no uso da comunicação e seus equipamentos
técnicos. A mídia sempre disponibilizou conteúdos educativos que facilitam a
visualização de elementos que não serão fáceis de localizar, porem o uso desses
métodos apenas colaboram e não dispensa sempre que possível a procedimento prático.
Os Parâmetros curriculares nacionais (1997, p. 76):
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4309
O estudo de Geografia possibilita, aos alunos, a compreensão de sua
posição no conjunto das relações da sociedade com a natureza; como e
por que suas ações, individuais ou coletivas, em relação aos valores
humanos ou à natureza, têm consequências — tanto para si como para
a sociedade. Permite também que adquiram conhecimentos para
compreender as diferentes relações que são estabelecidas, na
construção do espaço geográfico no qual eles se encontram inseridos;
tanto em nível local, como mundial, e perceber a importância de uma
atitude de solidariedade e de comprometimento com o destino das
futuras gerações.
A educomunicão é a forma de instruir o aluno ao uso de recursos tecnológico
como Câmeras, captadores de imagem e som, computadores, tabletes, celulares, GPS e
dentre outras diversidade de opções que estão disponíveis de acordo com o poder
aquisitivo, o principal objetivo de desenvolver atividades com esses produtos podem ser
variáveis, porém criam um arquivo documentado em mídias que possibilita um maior
envolvimento dos alunos e tem uma maior durabilidade do processo na memória do
produtor.
Segundo Ismar de Oliveira (web, 2012):
... na área da geografia, um elo com o passado do conceito de
educomunicação, que surge junto com aqueles que estavam
preocupados com o meio ambiente, com o espaço. Na prática, o
professor de geografia estará realizando uma prática educomunicativa
se conseguir motivar os seus meninos para que produzam mídia, um
programa de rádio, internet, vídeo e assim por diante, mas discutindo
essa produção para que seja coerente com a verdade científica e
coerente com os anseios de cidadania. Porque você pode ter a
perspectiva científica e não ter cidadania nenhuma. Então, tem que
associar a ciência com a cidadania e propiciar que esses meninos e
meninas produzam. Ou que eles observem como a mídia está fazendo
e façam uma crítica do comportamento dessa mídia sobre o tema do
espaço. Isso é uma prática educomunicativa.
O geógrafo aprendiz deve ser desafiador em todas as suas atividades sejam
crianças ou adolescentes assim devem abusar da sua criatividade, e o apoio técnico será
um sucesso nas salas de aula, pois se fascinam com o mundo digital, abrindo espaço
para uma junção do conhecimento geociêntifico com a possibilidade de informa e
contribuir com o desenvolvimento local e principalmente pessoal. A educomunicação
como parceira da geografia vai contribuirpositivamente com seu método de ensino que
é embasado no uso da comunicação e seus equipamentos técnicos. A mídia sempre
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4310
disponibilizou conteúdos educativos que facilitam a visualização de elementos que não
serão fáceis de localizar, porem o uso desses métodos apenas colaboram e não dispensa
sempre que possível a procedimento prático.
Segundo Eduardo Monteiro e Márcia Feldman (OLIVEIRA, web, 2012):
... as linguagens, as tecnológicas da comunicação são instrumentos
que constroem o pensamentoe as formas de dialogar com arealidade,
sendo fundamentais para a constituição de indivíduos, das
comunidades e da cidadania. Não são luxo ou alternativas
educacionais supérflua, mas direito prioritário dos cidadãos que vivem
na era da informação e do conhecimento.
Talvez a parte mais complicada para utilizar desse método será o desafio de
mobilizar os alunos na incorporação de novas maneiras de ensino, pois o professor tem
que estabelecer uma boa relação com os mesmo para obter bons resultados, a produção
com qualidade vai definir o entendimento sobre o assunto e detalhar todo processo de
pesquisa, isso só tornara possível positivamente se existir uma facilitador que os oriente
corretamente sobre fontes confiaveis.
Segundo Ismar de Oliveira quando ao responder sobre quais resultados podem
ser adquiridos no uso da educomunicação:( web, 2012)
As crianças acabam se apaixonando quando elas têm um microfone ou
uma câmera na mão e elas conseguem produzir algo que os colegas
possam ver. E elas passam a se apaixonar por essa prática e por
aqueles que propicia essa prática. Então, o professor ganha frente aos
alunos grande admiração e afeição, quando esses meninos passam a
contar com a colaboração de um professor que seja capaz de permitir
que eles produzam. E a geografia é o grande espaço, todos nós temos
a dizer do pedaço onde vivemos. E, na verdade, o grande desafio é
salvar o planeta. E isso se faz com pequenas ações e essas ações
podem ser promovidas por essas crianças, por meio de práticas
educomunicativas.
A mídia áudio visual é uma linguagem de forte referencia no atual espaço de
comunicação, com grande potencial de propagação de conteúdos informativos de
diferentes ciências que possibilita o enriquecimento pedagógico. Assim cabe aos
docentes usarem desse meio para enriquecer a formação de seus discentes, através do
uso criativo que favorece o trabalho em equipe e potencializa a sedimentação dos
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4311
conteúdos contidos pelo programa de ensino da escola em que trabalha. A geografia tem
uma diversidade de conteúdos dos quais podem tornar os alunos em personagens da
comunicação, pelo meio de ações de extensão de ensino como as produções de vídeos
sobre os assuntos trabalhados em sala de aula dos quais; a orientação, a pesquisa, e a
dedicação são as principais ferramentas dentro dessa metodologia que tem como
objetivo principal a busca por novas maneiras de aprendizado. Questões importantes
para o êxito desse projeto será a orientação para que o aluno possa usar corretamente os
meios técnicos de manuseio dos equipamentos como angulação da filmagem, assim
tornando agradável ver a imagem. Além da produção textual que será expressa no
decorrer das informações, que para isso o professor terá uma importante função
evitando erros que fujam do conhecimento relativo. O material deve ser editado e
avaliado de acordo com o desenvolvimento, valorizando a questão ética e o
compromisso social. O fundamental é usar a criatividade dos alunos como forma de
expandir o conhecimento geográfico dentro da sua realidade.
Outras opções sempre serão disponíveis dependendo da criatividade do
educador, principalmente com a quantidade de opções contidas na atualidade através
das redessociais, sites de informação geográfica, equipamentos mais acessíveis e a
curiosidade dos alunos que querem participar da construção de um processo dinâmico e
prazeroso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A possibilidade de lidar com novas ferramentas metodológicas sempre será
complicada, pois sair da rotina implica pisar em novos territórios das quais o sucesso
dependerá do desenvolvimento da equipe praticante.
O uso de Tecnologias na escola sempre vai ser um grande desafio para a maior
parte dos alunos e professores, devido ao valor estabelecido pelo uso doméstico com
direcionamentos irregulares da rede de informação, pode gerar uma instabilidade nos
procedimentos práticos.
Cabe ao bom profissional estabelecer uma boa relação com seus alunos,
possibilitando um desenvolvimento sustentável do conhecimento e abrindo porta de
novos caminhos para o desenvolvimento da ciência geográfica tornando-a ativa dentro
do ambiente escolar e efetivamente útil na vida dos estudantes.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4312
REFERENCIAL TEÓRICO
CALLAI, Helena Copetti. Outras leituras para o ensino de geografia. (16-19)
IN:VERDUM, Roberto, STROHAECKER. Ensino de geografia, Planejamento ambiental
eGestão territorial. Porto Alegre: AGB, 2001.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 13ª ed. - Coleção O Mundo Hoje. Rio de
Janeiro:Paz e Terra.,v.21, 1983. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo:
Paz e Terra, 1997.
CASTELS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo, Paz e Terra, 1999.
ARAÚJO, Ulisses. Temas transversais e Estratégia de Projetos. São Paulo: Moderna,
2003.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:
história e geografia / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF,
1997.
PESSO,Silvério. musica Na Boleia da Toyota, Álbum Cabeça Elétrica.
OLIVEIRA, Ismar.Revista online de Geografia, editora Escala – Entenda a
educomunicação visitado em dezembro de 2012. Enderesso:
http://geografia.uol.com.br/geografia/mapas-demografia/26/artigo145874-2.asp
ALABI, Elian. Uma visão Premonitória – Homenagem ao geografo Milton Santos
“Redes”: site visitado em dezembro de 2012,
http://www.hottopos.com/mirand13/elian.htm
TAVARES, Renato. Educomunicação e expressão comunicativa – Biblioteca de Teses
visitado em dezembro de 2012 no endereço:
www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27154/tde.../3111545.pdf
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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ABORDAGEM DE JOGOS NO ENSINO DE GEOGRAFIA
Jessica Martins Lima Albuquerque1
Noemi Silva Pachu Gomes2
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo analisar e refletir sobre a prática pedagógica dos jogos
aplicados ao Ensino de Geografia nas escolas. Acreditamos que o uso dos jogos é de
fundamental importância para a apreensão de conceitos, de maneira lúdica e dinâmica, afim de
que com tal metodologia, o assunto selecionado pelo professor ganhe significado concreto.
Também possibilita uma maior interação com o tema, leva a construção de valores educativos,
que permitem o trabalho coletivo, estimula o raciocínio lógico e motiva o aluno a buscar,
adquirir conhecimento. Isto quer dizer que a aplicação de jogos com o objetivo de aquisição de
conhecimentos. Desta forma propomos refletir sobre a importância deste recurso didático,
destacando sua aplicação relacionada ao estudo do meio, para construção de uma aprendizagem
significativa.
Palavras - chave: metodologias de ensino; Geografia; Ensino-Aprendizagem.
INTRODUÇÃO
A ideia deste artigo surge a partir do trabalho desenvolvido nas escolas
envolvidas no sub projeto “Desvendando novas fronteiras: o uso de diversas linguagens
para a abordagem dos conteúdos curriculares da Geografia”, pertencente ao Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, área de Geografia do Instituto
Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, coordenado pela
professora Cristiane Cardoso.
A fim de desvendar novas fronteiras com a Geografia, são necessários
construções e (re)construções dos conteúdos curriculares e trabalhos com diferentes
linguagens, desde as mais didático-pedagógicas até as mais simples, para a viabilidade
da compreensão do e para o outro.
1 Bolsista de Iniciação à Docência PIBID/CAPES na UFRRJ / Discente do curso de Geografia da UFRRJ
[email protected] 2 Bolsista de Iniciação à Docência PIBID/CAPES na UFRRJ / Discente do curso de Geografia da UFRRJ
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4314
O projeto em questão visa abordar os conteúdos geográficos a partir do uso de
linguagens diversificadas, neste artigo trabalharemos com o jogo, abordando a realidade
do aluno na construção de jogos didáticos, a fim de facilitar o processo de ensino
aprendizagem nas aulas de geografia, dando significado às aulas de geografia e atraindo
a participação dos alunos nestas.
Para o desenvolvimento deste artigo realizamos uma reflexão sobre o trabalho
realizado desde 2011. A pesquisa foi desenvolvida em três momentos, não
isoladamente, mas de forma integrada: o primeiro momento refere-se a análise teórica
(leitura bibliográfica, reflexão da práxis e planejamento das atividades) e discussão
realizada no grupo de pesquisa. Nesta etapa promovemos debates e estudos semanais
que visam subsidiar o desenvolvimento de formas de diálogos através de produção e
analise materiais didáticos, oficinas, maquetes e outros recursos didáticos. Para o
embasamento teórico e conceitual do projeto vem sendo discutidas pesquisas e trabalhos
de autores vinculados à área de pesquisa em geografia e ensino com destaque para
Santos (2001) e Rocha (1998), ao analisarem principalmente a história curricular da
geografia no ensino escolar e aprofundar as conceituações do local ao global, assim
como o estudo do PCN (1998), nos apontando os eixos temáticos que devem ser
direcionados a cada série e livros didáticos. A visita às escolas complementou a parte
teórica proporcionando um encontro entre a teoria e a práxis. Neste momento também
discutimos e planejamos as atividades que estão sendo desenvolvidas nas escolas
envolvidas. É o momento de produção do material didático, reflexão teórica, discussão
dos problemas encontrados, entre tantas outras atividades.
No segundo momento realizamos trabalho de campo (desenvolvimento das
oficinas, atividades nas escolas). Mapeamos o perfil das escolas, discentes envolvidos, e
iniciamos o trabalho didático. Nas oficinas são colocadas em prática as metodologias de
ensino e os conceitos adquiridos nos debates e estudos. Contribuindo para o
desenvolvimento das práticas cotidianas escolares, envolvendo diversas formas de
diálogo, relacionadas aos conteúdos oficiais dos programas pedagógicos curriculares.
Tais diálogos permitem a reflexão sobre os conteúdos para que o aluno possa fazer
ligações entre teoria-prática.
Já no terceiro momento realizamos a análise e reflexão de todo o trabalho. Esta
fase é fundamental pois, além de divulgar o nosso trabalho, conseguimos refletir sobre
nossa pesquisa, buscar algumas soluções e trocar experiências com outros projetos.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4315
Ao longo do projeto o PIBID – Geografia manteve parceria com quatro
instituições de ensino do Município de Nova Iguaçu no Rio de Janeiro: a Escola
Municipal Osires Neves, Colégio Estadual Dom Adriano Hipólito, CIEP 317 e Instituto
Educacional Rangel Pestana. Todos localizados no Município de Nova Iguaçu, Baixada
Fluminense, RJ.
Este trabalho tem por objetivo apresentar como as relações socioambientais e
socioeconômicas presentes no meio em que aluno vive, ou seja, em sua realidade,
podem ser abordadas através da aplicação de jogos didáticos, a fim de tornar as aulas
mais dinâmicas e interessantes e estimular a participação do aluno nas aulas de
geografia como sujeito ativo na construção do conhecimento, além de contribuir para o
trabalho em equipe e desenvolvimento de habilidades como o raciocínio lógico e
capacidade de desenvolver estratégias para superar situações problema.
A IMPORTÂNCIA DA ABORDAGEM DO ESTUDO DO MEIO
O ensino de geografia apresenta-se fundamental para contribuir à formação de
um sujeito crítico e reflexivo, capaz de intervir em sua realidade, entendendo-se como
sujeito ativo nela, já que esta disciplina tem como objeto de estudo o espaço, não um
espaço vazio, mas vívido e de relações sociais. Um espaço vivido, percebido pelos
estudantes. Porém, a realidade vista nas escolas de educação básica é uma geografia
distante da realidade do aluno, que a faz parecer sem sentido e aplicabilidade a esta
realidade, as aulas apresentam-se maçantes por seu conteúdo extenso e característica
decorativa. Segundo Castellar (2005):
[...] para muitos – leigos ou não – a geografia é uma área do
conhecimento escolar que tem como objetivo apenas fornecer
informações e que não há necessidade de desenvolver um raciocínio
estratégico para aprendê-la. Contudo pensar a geografia como uma
disciplina que ensina a memorizar informações soltas é uma idéia
equivocada.
A necessidade da construção de uma geografia para além dos livros didáticos faz
com que a aplicação de métodos inovadores tome conta das discussões sobre o ensino
de geografia, a fim de fazer com que esta incorpore sua função de ensinar a ler mundo
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4316
“... e é no ensinar a fazer a leitura do mundo e, portanto, no como ocorre esse processo
de aprendizagem que se poderia tirar da geografia esse rótulo de matéria decorativa”
(CASTELLAR, 2005, p. 212).
O estudo do meio constitui-se uma atividade de analise das diversas relações
presentes no espaço, podendo ser feito em um meio urbano ou rural, ou seja, é “...um
movimento de apreensão do espaço social, físico e biológico que se dá em múltiplas
ações combinadas e complexas” (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007, p.
174) que necessita de articulação de diferentes áreas da ciência para que haja maior
compreensão destas relações, podendo ser este método apropriado pela geografia como
forma de melhor aprofundar os assuntos abordados por essa disciplina, já que ela
trabalha a relação sociedade – natureza, relação essa que envolve diversos aspectos e
necessita da busca de subsídios em outras áreas de ensino.
A introdução de novas linguagens tem sido de fundamental importância para o
desenvolvimento de aulas de geografia mais dinâmicas e interativas, e a associação de
novas metodologias à realidade do aluno apresenta-se como método eficaz para
despertar o interesse pelas aulas, pois eles poderão aplicar seus conhecimentos prévios e
avançar ao aprofundar-se no estudo sobre seu local de vivência. Por isso estudar o meio
pode ser uma maneira de desvelar a realidade vivida e conduzir o aluno ao processo de
conscientização, ou seja, ao estágio de reflexão e ação. Para o estudo do meio de forma
lúdica a aplicação de jogos apresenta-se eficaz, pois através do jogo é possível simular
situações do real, apresentando informações e as inter-relações entre diversos fatores na
dinâmica de determinado lugar.
O uso de textos extensos e aplicação de questionários sem relação com a
realidade do aluno, não é capaz de levá-lo ao entendimento desta, tampouco o atrai as
aulas de geografia. Portanto, o estudo da cidade pode se apresentar como ponto de
partida para a compreensão do real, dando inicio com a cidade de vivência do aluno, ou
seja, a cidade pode ser laboratório de pesquisa para a construção de uma geografia
escolar que tenha conexão com a realidade do aluno, atraindo-o a essa disciplina
considerada muitas vezes desinteressante, decorativa e maçante por seu conteúdo
abstrato, por isso:
A análise do “fenômeno cidade” pode ocorrer, do ponto de vista
teórico, trazendo para o currículo escolar a cidade enquanto espaço de
aprendizagem, compreendendo sua função, sua gênese e o processo
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4317
histórico em que foi produzida, estabelecendo uma nova referência
para a geografia escolar. (CASTELLAR; VILHENA, 2010, P. 120)
A história de uma cidade pode contribuir de forma positiva para o processo de
ensino aprendizagem nas aulas de geografia, a busca pela origem da cidade, sua
evolução urbana e crescimento econômico podem carregar as aulas de significado para
os alunos que fazem parte da dinâmica urbana. O seu estudo pode ocorrer por meio de
métodos que apresentem ou simulem situações do real, levando o aluno a estabelecer
relações e desenvolver a habilidade de lidar com situações problema apresentadas,
tornando as aulas atrativas e prazerosas. Segundo Castellar ( 2005 )
O saber agir sobre o lugar de vivência é importante para que o aluno
conheça a realidade e possa comparar diferentes situações, dando
significado ao discurso geográfico – isso seria a concretização da
educação geográfica, do mesmo modo que ocorre com a Matemática,
a Física, ou outras áreas do conhecimento escolar.
Estudar o meio não deve ser um mero exercício de descrição deste ou de
aquisição de informações, este estudo deve contribuir para reflexão e ação, formando
sujeitos críticos, capazes de intervir na realidade e apresenta-se como um grande desafio
para o professor de geografia, pois exigirá o auxilio de outras disciplinas, ou seja, o
estudo do meio é uma atividade interdisciplinar. No entanto, ainda que, se relacionando
com outras ciências, o professor de geografia não pode perder o enfoque geográfico e,
além disso é necessário considerar o saber do aluno neste estudo, pois este não é apenas
um receptor de conhecimentos, ele é sujeito ativo no processo capaz de enriquecer as
aulas com informações sobre seu local de vivência, auxiliando o professor no processo
de ensino ao proporcioná-lo desenvolver métodos adequados aos alunos e não transmitir
uma educação pré-fabricada que desvaloriza os saberes. MOURA e ALVES ( 2002, p.
313) salientam esta questão:
Ao estudar essas relações sociais materializadas no espaço, a
geografia se coloca entre as disciplinas do currículo escolar, capaz de
contribuir efetivamente com a proposta de educar para o exercício da
cidadania. Mas é importante ressaltar ainda que numa educação
voltada para a formação cidadã, devem-se redimensionar os conteúdos
escolares como ferramentas que servirão para os alunos produzirem
seus próprios conhecimentos, desde de que haja sentido e se relacione
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4318
com a prática cotidiana e com os demais conhecimentos anteriormente
construídos por esse sujeito social.
Por isso o uso do meio pode contribuir para o desenvolvimento de uma
geografia escolar significativa, que faz uso da realidade do aluno e contribui para a
formação de um sujeito ativo na sua realidade, já que a compreenderá melhor devido ao
aprofundamento realizado em sala de aula através de uma atividade que o atrai e
conseqüentemente facilita sua aprendizagem.
UTILIZAÇÃO DE JOGOS PARA APREENSÃO CONCRETA DO
CONHECIMENTO
Nossa sociedade presencia uma intensidade telecomunicativa. As informações
que são transmitidas chegam a todo o momento, com muita rapidez, sem termos muitas
vezes tempo de abstraí-las e compreender determinados processos socioespaciais que
estão ocorrendo diariamente. Os PCN’s orientam quais conteúdos devem ser
trabalhados, mas certos assuntos não são aprofundados, devido à alta demanda de
informações. Além disto, tem-se percebido uma falta de concentração dos alunos, que
trazem graves reflexos na dispersão do conhecimento. Desta maneira, cabe ao professor
chamar a atenção de seus alunos, motivando-os a partir de metodologias atrativas e que
gerem significado concreto no processo de ensino-aprendizagem.
É um desafio para o professor instigar o interesse, a curiosidade em temas tão
ricos e importantes. Por isso é preciso atraí-los cada vez mais com os recursos didáticos
disponíveis, mas, sobretudo romper com práticas tradicionais que permeiam o processo
de ensino-aprendizagem e ter como objetivo garantir que com o contato direto dos
conteúdos, os alunos tenham a oportunidade de trazer assuntos para o ‘seu mundo’,
ganhando assim significado real o que está sendo trabalhado.
Segundo VESENTINI, 1976 “As crianças não são verdadeiras admiradoras da
natureza enquanto esta não tiver alguma ligação com a humanidade.” Isto deixa clara a
importância dos conteúdos não serem trabalhados como propostas já idealizadas, mas
que sempre busque estimular a criatividade, agilidade, coletividade dos indivíduos para
a construção do saber. Foi destacada a utilização de jogos como recurso didático para a
compreensão eficaz do conhecimento porque “o jogo é um resultado reflexivo sobre
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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algo concreto no qual estão presentes sistemas de regras, condutas, valores, conceitos e
identidades que fazem parte da cultura de uma determinada sociedade” (CASTELLAR
e VILHENA, 2010). Para Piaget (apud Brougère, 2003, p.85):
O jogo é o desenvolvimento da representação, da possibilidade de
evocar, de manipular signos (criação de um instrumento indispensável
ao desenvolvimento da inteligência). Enfim, a representação traduz o
aparecimento do pensamento pré-conceitual: é a possibilidade de
representar a realidade ausente, sair de uma inteligência sensório-
motora para uma inteligência operatória.
Para que a abordagem de jogos no ensino ocorra eficientemente, no que diz
respeito à aquisição de conhecimentos e estímulo ao raciocínio, é preciso definir quais
objetivos pretendem-se alcançar, a organização dos materiais que serão utilizados e o
planejamento prévio para a execução na aula. Assim este recurso torna-se um auxílio na
aprendizagem e os alunos tem a oportunidade de pensar sobre o espaço vivido,
tornando-se então sujeitos do seu próprio aprendizado, a partir de problematizações que
de fato promovam autonomia para resolver situações cotidianas, e não que reproduza
apenas uma memorização, mas questionamentos lógicos e transferíveis, “melhorando a
autoestima no processo de aprendizagem” (CASTELLAR e VILHENA, p.51, 2010), ou
seja, dando a possibilidade de se tornarem agentes ativos do conhecimento.
O que deve ser compreendido e considerado ao utilizar o jogo como recurso é
que este método não deve ser banalizado, como se fosse apenas para passar tempo,
porém é uma estratégia para que o aluno aprenda brincando, de acordo com o contexto
dado em sala de aula, Verri e Endlich (2009) afirmam que:
[...] o jogo pelo jogo, [...] parece uma situação pouco estruturada e
sem perspectivas relevantes quanto ao processo de desenvolvimento
dos indivíduos. Estamos pensando no seu uso como recurso
pedagógico, pois no jogar o aluno articula tanto a teoria quanto a
prática, fazendo com que ele estude sem perceber tornando o processo
de ensino aprendizagem mais interessante e atrativo.
É preciso utilizar recursos didáticos com objetivos pré-determinados, para que
não seja repercutida uma prática tradicional que consiste em uma geografia simplista e
pautada em meras discrições, fazendo da disciplina geográfica um simples “decoreba”
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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de dados. Por este motivo é necessário refletir sobre a importância de ferramentas para a
aprendizagem promovendo assim a construção do conhecimento.
RESULTADO DE EXPERIÊNCIA: RELATANDO NOSSO TRABALHO
Os resultados obtidos com a aplicação do jogo foram muito satisfatórios pois
atingiu os objetivos determinados. Ao verificarmos a participação ativa de cada aluno
foi identificado que a aprendizagem pode sim ser construída de maneira lúdica, a partir
da união entre teoria-prática, assim cada um pode expressar o conhecimento cotidiano e
o aprendido em sala de aula, entre professores e alunos.
O tema trabalhado no Projeto (1° semestre 2013) por nós bolsistas do PIBID-
Geografia UFRRJ, na Escola Municipal Professor Osires Neves em Nova Iguaçu (RJ),
engloba o Estado do Rio do Janeiro (aspectos como: localização, características físicas,
culturais, socioespaciais, ambientais). Diante de inúmeros recursos didáticos utilizados
para aplicação dos subtemas, como caça-palavras, filme, textos, reportagens, maquetes,
destacamos então o uso de um jogo de tabuleiro, denominado “Passeando no Rio em
Janeiro”.
Este jogo contribuiu para auxiliar e aproximar os alunos do que estava sendo
abordado com o intuito de facilitar o aprendizado. De acordo com a sistematização
teórica que havia sido desenvolvida, o jogo serviu como uma adaptação do que foi
trabalhado, dinamizando a aula de maneira que promoveu a interação e participação
ativa de alunos agitados e que apresentam dificuldades de concentração.
O jogo “Passeando no Rio em Janeiro” é um jogo com tabuleiro (com o intuito
de facilitar a visualização das divisões administrativas do Estado, através de um mapa
Regional) e cartas com perguntas e respostas (questões de múltipla-escolha). Tem por
objetivo fazer com que os participantes sejam capazes de compreender de maneira
lúdica, a importância de medidas preventivas na ida á passeios, viagens, para evitar
possíveis transtornos em momentos que deveriam ser para o lazer. Este jogo foi
desenvolvido a partir da grande ocorrência de desastres sócio-ambientais, típicos no
verão e especificamente no mês de janeiro, devido ao clima Tropical e a vegetação de
Mata Atlântica, predominante na Região Sudeste tendo significativamente um aumento
dos índices pluviométricos. É um fator natural, mas que todos os anos nos chocam com
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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freqüentes notícias alarmantes. Este jogo destacou a cidade do Rio de Janeiro, e as
regiões que mais são atingidas, tendo em vista refletir sobre nosso papel como cidadãos
conscientes e preventivos, além de como o poder público tem tomado as devidas
providências para a segurança da população.
À princípio foi apresentada uma breve descrição do jogo, seus objetivos e regras.
Os alunos foram divididos em duplas, cada dupla girava o dado (cada face representava
uma região administrativa do Estado do Rio de Janeiro) e ao ser selecionada a região,
eles respondiam questões referentes ao que foi sorteado, ao acertarem ficavam com a
carta (cada região apresenta uma cor diferente). Após cinco rodadas de perguntas e
respostas o mediador contabiliza quais as regiões mais acertadas por cada dupla (o
mínimo de acertos é 1), cada dupla recebe no final um passaporte para visitar a região
mais acertada, pois assim demonstra que já estão aptos ou já sabem previamente como
se prevenir em situações comuns ocorridas no verão, devido ao aumento dos índices
pluviométricos, que coincidem com o período de férias.
Os alunos ficaram muito entusiasmados com o jogo e o mais interessante é que
todos saíram como vencedores, pois não tínhamos o intuito de estimular a competição e
sim a apreensão do conhecimento através de medidas preventivas, reconhecimento das
regiões que compõem o Estado e às vezes não tem tanto destaque quanto outras, saber
se localizar através do mapa, aprender as causas e conseqüências de ações antrópicas e
naturais, etc.
Através desta metodologia é possível perceber que o jogo é uma alternativa
dinâmica que melhora a interação do aluno com o conteúdo estudado em sala de aula e
com toda a turma, fica entendido que esta atividade possui um alto valor de motivação e
uma forte incidência na agilização da atividade mental do aluno. Conforme Klimek,
(apud 2007, p. 121), a aplicação dos conhecimentos pelo professor nos jogos faz com
que os alunos adquiram habilidades que são e serão utilizadas em toda a vida, como
atenção, raciocínio, observação, parceria, cooperação, classificação e outras. Mas, além
disto, é importante aproveitar determinados temas e chamar a atenção dos alunos para
sua realidade, ou seja, aplicar o estudo do meio, afim de que o conhecimento seja
construído por eles mesmos, relatando suas experiências vividas, e a partir disto foi
enfatizado sobre o processo das relações sócio-ambientais ocasionadas na cidade, como
por exemplo, as enchentes que ocorrem com o aumento dos níveis dos rios. Desta
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4322
maneira o jogo de fato ganha significado quando refletido os processos de causa e
conseqüência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A necessidade de construir uma geografia escolar capaz de contribuir para a
formação de sujeitos mais envolvidos e atuantes em sala de aula e na sociedade levou
professores de geografia a repensarem sua prática em sala de aula, deste modo, o
desenvolvimento de métodos que favoreçam o processo de ensino aprendizagem,
despertando nos alunos um maior interesse pelas aulas de geografia e tirando dessa
disciplina o rótulo de matéria de “decoreba” tem estado presente na construção da
geografia escolar. A escola, enquanto ambiente de construção de conhecimento e troca
de saberes, apresenta-se como local propício a realização de reflexão sobre as relações
sócio-espacial e socioeconômica presentes no meio, aparecendo a geografia, em
especial, como disciplina contribuinte para discussão dessas relações, já que essa
apresenta-se como disciplina que estuda o espaço, um espaço vívido, de reprodução das
relações de produção, que reflete de forma crítica as mudanças nele ocorrentes. Estudar
essas relações necessita de grande esforço por parte dos professores de geografia, pois
são complexas e muitas vezes de difícil assimilação, necessitando do uso de
metodologias que tornem as aulas mais dinâmicas e significativas para os alunos,
facilitando o processo de ensino aprendizagem.
O jogo como método estudo do meio e, portanto, apreensão da realidade
apresentou-se capaz de desenvolver um ambiente de descontração, porém sem se
desviar do objetivo principal, a saber, a construção do conhecimento. Este método
permitiu o desenvolvimento de habilidades, o estímulo ao trabalho em equipe e também
uma melhor relação professor-aluno, podendo ser apresentado na elaboração de
variados jogos, com temáticas diversas, trabalhando a inter-relação de múltiplos fatores
e simulando situações presentes na realidade do aluno.
Conclui-se assim, que a construção do conhecimento ocorre através da troca de
saberes e esta troca deve ser estimulada pelo professor, ao valorizar o saber do aluno e
buscar métodos que facilitem sua aprendizagem, desenvolvendo uma educação
apropriada à realidade vivida por ele, desta forma, contribuindo para a construção de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4323
uma sociedade com sujeitos críticos que sejam capazes de estabelecer relações para
compreensão da mesma, não conformados com as condições impostas por uma classe
dominante, mas sujeitos conscientes de sua realidade e de suas ações.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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geografia/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. 156 p.
______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de
1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em:
<portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/lein9394.pdf>.
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conhecimento escolar. Cad. Cedes, Campinas, vol.25, n. 66, p. 209 – 225, maio/ago.
2005.
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problemas. In: In: Ensino de geografia. São Paulo: Cengage Learning, 2010. p 43 - 63
- (Coleção Idéias em Ação).
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geografia. São Paulo: Cengage Learning, 2010. p 119 – 137 (Coleção Idéias em Ação)
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<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/geografia/article/viewFile/6733/6075>
Acesso em: 09 de maio 2013.
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VESENTINI, José William. O que a Geografia deve ser. “What Geography ought t
be”, excertos selecionados e traduzidos de Antipode: a Radical Journal of Geography,
vol.10/11, n° 1/3, 1976, pp. 6-15. Mas este ensaio de kropotkin foi originalmente
publicado in The Nineteenth Contury, XXI, Londres, dezembro de 1885. [Seleção,
tradução e notas de José William Vesentini]. Disponível em:
<http://www.geocritica.com.br/texto08.htm> Acesso em: 09 de maio 2013.
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OS MEIOS RURAL E URBANO, SUAS PAISAGENS E
TRANSFORMAÇÕES, NA MÚSICA: UMA NOVA LINGUAGEM PARA O
ENSINO DE GEOGRAFIA
Artur Czermainski Klassmann
1
Antonio Carlos Castrogiovanni2
RESUMO
O presente trabalho apresenta uma proposta pedagógica para o ensino de Geografia com o
objetivo desenvolver a competência de “entender as transformações técnicas e tecnológicas e
seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social”
através da construção de habilidades como “reconhecer as transformações que determinam as
várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano” (Matriz de Referência do ENEM
– 2011). A atividade propõe a análise e a dicotomia do espaço geográfico em meios rural e
urbano utilizando-se do conceito de paisagem e canções tradicionais do Funk e do Sertanejo,
explorando a percepção musical dos alunos, através da análise das melodias, ritmos e textos.
Após a caracterização, se traça tendências de transformações da paisagem destes espaços pela
busca de qualidade de vida ou aumento de produtividade e, claro, o reflexo na música. A
característica interdisciplinar já exposta no título do trabalho salienta a possibilidade de ser
construída com professores de outras áreas. Novas linguagens no ensino de Geografia não
precisam, necessariamente, serem custosas e trabalhosas na sua aplicabilidade em sala de aula,
assim esta oficina pedagógica fora pensada, desenvolvida e aplicada.
Palavras-chave: Rural; Urbano; Música.
DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE PEDAGÓGICA
Musicalizar a Geografia, bem como “Geografizar” a Música, pode ser uma
forma agradável e muito eficaz para a construção do conhecimento geográfico em sala
de aula. A Geografia está em tudo, bem como, de alguma forma, tudo se reflete na
música, todo mundo, em algum momento, escuta música. Assim, esta proposta
pedagógica apresenta uma forma simples e lúdica que visa desenvolver habilidades e
competências na Geografia. Aborda um dos mais importantes conceitos da ciência
geográfica, Paisagem, analisando os processos de uso e ocupação dos meios rural e
1 UFRGS – [email protected] 2 UFRGS – [email protected]
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4326
urbano, pensando os costumes e a qualidade de vida das pessoas do campo e da cidade e
traçando tendências de transformações das paisagens destes meios.
Nas Artes, trabalha-se a percepção musical dos educandos, explorando noções
de ritmo e melodia e, ainda, com desenhos. A música pode ser associada a
determinados espaços quando se analisa sua composição textual, com características
sociais e ambientais no texto. Sua melodia e ritmo, formas de linguagem não verbal,
também são passíveis de interpretações. Os desenhos a serem propostos pelo professor
ajudam na síntese das informações, na organização do pensamento de cada aluno,
possibilitando o aprender com maior facilidade.
A dinâmica divide-se em três momentos, todos relacionados entre si, claro,
mantendo uma continuidade na aula. Os alunos produzem desenhos e contribuem com
suas experiências durante todos os momentos no diálogo com o docente. Basicamente
explora-se a paisagem do meio urbano, partindo do cotidiano dos alunos e contrapondo-
o com o meio rural. Então, para auxiliar esta construção e posteriormente sintetizá-la, o
professor utiliza representações desenhadas pelos alunos e a música como ferramentas
didáticas. O mesmo é feito com o meio rural no segundo momento da atividade, sem
esquecer-se de mantê-los relacionados, sendo a cidade a consumidora do meio rural
produtor. O terceiro e último momento trabalha a rurbanização, um termo que será,
provavelmente, novo no vocabulário dos alunos, mas seus conhecimentos prévios
acerca destes conteúdos e os materiais produzidos os auxiliarão na compreensão do
processo. Este é o momento em que se utiliza tudo o que fora produzido pelos alunos
em aula como base para a síntese do conhecimento.
A avaliação pode ser feita sobre suas produções, além dos critérios subjetivos,
tais como comportamento e empenho em aula; os alunos são autores de parte do
material didático utilizado nas reflexões, valorizando seus trabalhos e colocando-os
como atores fundamentais para o sucesso na aprendizagem. Sem a contribuição dos
alunos não há material de apoio para a aula e isto deve ficar evidente para estimular a
autoria e participação, além de desenvolver a oralidade nos discentes.
Os três momentos básicos em que se divide a aula possuem características
semelhantes no que diz respeito à valorização do conhecimento prévio dos alunos e os
desequilíbrios através da exploração de seus sentidos e da retirada de suas zonas de
conforto. Os educandos produzem, discutem e escutam as músicas em todos os
momentos.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4327
No primeiro momento, pensa-se a paisagem da cidade, do urbano e analisa-se
como está descrita na música, porém sem deixar de relacioná-lo com o meio rural.
Dialogando como deve-se fazer durante todo o tempo de aula, envolvendo o aluno e
incitando a sua participação, o professor pergunta sobre o cotidiano dos alunos inseridos
neste meio. Propõe situações hipotéticas à rotina do aluno como, por exemplo,
perguntando como fariam para ir à escola caso não tivessem os meios de transporte que
utilizam. Desenvolvendo assim, através do diálogo com determinadas problematizações,
noções de distância e de tempo relativo das pessoas que moram na cidade. Como
correm contra o tempo e como se deslocam. Como a cidade é dinâmica, repleta de
fluxos, cheiros e temperaturas diferentes; poluições sonora, visual, atmosférica e
luminosa. O diálogo promove a reflexão e dá o embasamento necessário para fazerem
um desenho da cidade, uma paisagem. Este desenho deverá conter estas sensações. O
professor então utiliza destas paisagens representadas pelos alunos para pensar nos
porquês. Por que tantos edifícios, pessoas aglomeradas em pequenas caixas chamadas
apartamentos? O que há nesses desenhos, embora não tenha sido desenhado? Barulho,
poluição...
A fim de pensar a cidade de forma crítica, propõe-se, então, o uso de uma
música que retrate problemas sociais urbanos. O Rap e o Funk tradicionais, menos
comerciais como uma onda canções mais recentes, são estilos musicais que costumam
retratar características da cidade. A música “Eu só quero é ser feliz”, por Cidinho e
Doca, é uma opção de música que retrata problemas sociais decorrentes do crescimento
desordenado das cidades, por exemplo. Se reproduzida com imagens ilustrativas, como
há em vídeo, os alunos prestam atenção na letra e nas imagens, relacionando e
refletindo acerca do assunto. A linguagem imagética contribuirá complementando a
letra da música e impactando visualmente, mantendo a atenção dos educandos. Estes
estilos musicais atuam sobre uma base rítmica forte, descontínua, com altos e baixos,
fazendo a base para o desenrolar do texto. Observando as características musicais e
aguçando a percepção musical dos alunos, o professor pergunta, então, a qual destas
grafias analógicas de ritmo abaixo os educandos associariam o Funk (ver Figura 1).
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4328
Figura 2 - Grafias Analógicas de Ritmo.
A tendência é que a associação da música se faça com a segunda representação
da figura 1. Descontínua, angulosa... Alguma semelhança com um centro urbano e seus
edifícios e formas? Sobrepondo-se uma paisagem do centro de Porto Alegre, por
exemplo, as linhas da representação coincidirão com a verticalidade das metrópoles.
O segundo momento começa com a música sertaneja tradicional, porém não
antiga, contemporânea, cantada por uma dupla provavelmente conhecida dos alunos
pelo sucesso que faz. Musicalmente, contrapõe-se ao funk recém escutado, atraindo
imediatamente a atenção dos educandos para a diferença rítmica e melódica. Sugere-se
a utilização da música “Deus e Eu no Sertão”, por Vitor e Léo, preferencialmente
apresentada em vídeo, também. Como é este ritmo? Alguma semelhança das imagens
do videoclipe com o ritmo de vida das pessoas do campo?
Os cantores, compositores e ritmistas tendem a interpretar e instrumentalizar o
som de acordo com as características de onde vivem, sob influência do contexto em que
estão inseridos. Toda a música traz consigo um pouco da história e/ou do interesse de
quem está por trás, bem como uma poesia, um livro, uma obra de arte, ou outras formas
de expressão. Analisando-se, novamente, a Figura 1, que contém duas grafias
analógicas do som: a qual delas se poderia associar esta canção sertaneja? A linha
sinuosa tende a ser a escolhida. Ela é suave, pouco angulosa, contínua... pode ser
sobreposta a uma paisagem do campo, sendo o contorno daquela superfície com colinas,
tomada por plantações. Ritmicamente, a música progride como um veículo movido a
tração animal; remete às velocidades aparentes das pessoas que lá vivem.
O mesmo exercício de discussão é feito em torno do meio rural. O professor
provoca e questiona os alunos quanto aos costumes das pessoas que vivem no campo e
sua relação com a cidade. Como é o céu no campo? Cheiros, sons, variações de
temperatura? Em ambos os locais, os dias têm uma duração de 24 horas, mas em qual
destes o tempo passa aparentemente mais rápido? Ao final desta conversa, os alunos
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4329
terão subsídio para um desenho bem completo sobre os elementos constituintes da
paisagem do meio rural. A partir da produção dos alunos, cabe ao professor trazer
elementos do desenho que não foram desenhados, como o som que pode-se ouvir nas
paisagens representadas, por exemplo.
O terceiro e último momento da oficina pedagógica é desafiador e exige a
reflexão dos alunos. Com base nas relações feitas entre as músicas, as paisagens e as
pessoas, o professor promove a discussão sobre as transformações que acontecem no
campo, e nas cidades. O que muda no campo com a busca do aumento na
produtividade? O que muda na disposição geográfica da população no meio urbano com
a busca pelo sossego e qualidade de vida?
O meio rural passa a agregar elementos que transformam a vida, o cotidiano, de
quem lá vive, alterando costumes, velocidades e até mesmo características mais
subjetivas. A energia elétrica se espalha pelas residências, leva iluminação e internet,
por exemplo, conectando as pessoas consideradas isoladas com o mundo. Os veículos
de tração animal são ultrapassados por grandes automóveis com tração nas quatro rodas.
O agronegócio dita novas velocidades no campo mecanizado, que nem sempre
coincidirão com o tempo da natureza, causando problemas ambientais como a
degradação do solo, por exemplo. Influência da busca da maior produção em menor
tempo, por demanda de uma economia globalizada.
Enquanto isso, as pessoas que vivem no meio urbano buscam maior qualidade
de vida. Aquelas que têm boas condições para locomoverem-se, independem dos
serviços oferecidos em maior quantidade no centro e possuem uma rotina que
possibilite se afastarem do centro urbano; buscam a vida em condomínios fechados.
Complexos de residências que propiciem segurança e a sensação de contato com a
natureza, urbanizando, aproximando-se de áreas verdes, ocupando regiões ainda pouco
povoadas.
Essas tendências e transformações das paisagens, como visto ao longo da
oficina, não passam despercebidas pelas músicas. É importante que o professor
promova a reflexão, novamente, através do diálogo e provocações. Que novos ritmos
surgem no cenário musical tradicional? Que influências sofrem a música sertaneja
tradicional, que retrata os costumes e a paisagem do meio rural? E a música gauchesca
tradicional, como as que retratam o pampa, as milongas, como evidenciam as
influências de outras culturas? Está na moda e, portanto, na realidade dos alunos o
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4330
Sertanejo Universitário e a nova Tchê Music. Adaptações dos ritmos tradicionais que,
assim como os meios rural e urbano, agregaram características de ritmos hegemônicos
do cenário musical.
Esta proposta de oficina pedagógica possibilita um momento agradável a todos
os atores do processo de aprendizagem. O professor utiliza a música como uma
ferramenta de ensino, o que dá leveza a sua aula. Valoriza a produção dos alunos,
trabalha comunicativamente e a partir da cooperação com os alunos constrói o
conhecimento. Os educandos se sentem atores fundamentais do processo de
aprendizagem, como de fato são. Ganham confiança e trabalham em parceria com o
educador a medida em que gostam de estar naquele ambiente.
É possível realizar a atividade com diversas séries, introduzindo o tema ou
aprofundando-se no estudo da dicotomia entre os meios rural e urbano. A experiência
fora realizada através do PIBID Geografia UFRGS com turmas de 8º ano, no ensino
fundamental de uma escola em Porto Alegre;
Salientam-se as possíveis parcerias com outras áreas do conhecimento para
aplicação desta oficina caracterizada pela possibilidade interdisciplinar de trabalho. As
Artes poderiam se empenhar na elaboração dos desenhos que retratam as paisagens e a
percepção sonora, bem como as grafias analógicas; As Ciências Sociais poderiam
problematizar questões sociais dos meios rural e urbano; A área da Língua Portuguesa
contribuiria muito com a interpretação das músicas, propondo produções textuais acerca
dos temas trabalhados.
Trabalhar a Geografia através da percepção sonora dos alunos, aguçando seus
sentidos e sentimentos, humaniza a ciência e enriquece o momento, tornando o processo
de aprendizagem agradável e eficaz para todos os atores envolvidos. É importante
desenvolver a criticidade nos alunos; com esta oficina, os alunos veem que a música é
muito mais do que um passatempo: ela é, também, Geografia. Alunos bem instruídos
pelos professores de Geografia deverão desde (re)pensar a forma com que produzem e
são produzidos pelo espaço até a forma com que consomem a música!
REFERÊNCIAS
FONTOURA, Luiz Fernando Mazzini. A relação campo-cidade como método. In:
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4331
MEDEIROS, Rosa Maria Vieira; FALCADE, Ivanira (orgs). Tradição versus
tecnologia: as novas territorialidades do espaço agrário brasileiro. Porto Alegre: Editora
da UFRGS, 2009.
Videoclipe da música “Eu só quero é ser feliz” – Cidinho e Doca:
http://www.youtube.com/watch?v=W5FO0buG_eo
Videoclipe da música “Deus e eu no Sertão” – Vitor e Léo:
http://www.youtube.com/watch?v=hmr-aSHO-Gc
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4332
GEOGRAFIA, TEATRO E OPRESSÃO: DESAFIOS PARA A
LIBERDADE DO ENSINO
Iure Santos de Souza1
Orientador: Prof. Dr. Vilmar José Borges
RESUMO
Este trabalho se propõe a refletir sobre as possíveis contribuições do Teatro do Oprimido como
alternativa metodológica para o ensino da Geografia Escolar, com vistas a uma educação
cidadã. Parte-se do pressuposto de que em um contexto social onde o bombardeio de
informações é implacável, os estudantes absorvem ideologias que, muitas vezes, são
ferramentas de dominação e alienação para os mesmos. Assim, após uma pesquisa bibliográfica
e implementação de uma proposta alternativa de ensino, envolvendo as técnicas do Teatro do
Oprimido com o ensino de Geografia na educação básica, buscamos evidenciar como essa
associação torna possível a desconstrução de tais mecanismos na disseminação dessas
ideologias e formas de opressão. Ressalta-se que tais formas de opressão, geralmente são
realizadas pelo excesso de informações veiculadas na sociedade (bombardeio de informações).
Nesse sentido, o Teatro do Oprimido possibilita a libertação desse indivíduo que é espectador,
passivo e transforma-o em espect-ator (BOAL, 1977), sujeito atuante nos processos sociais.
Essa essência da proposta do Teatro do Oprimido é, implicitamente, compartilhada pela
Geografia, que busca oportunizar condições para que os estudantes sejam cidadãos, com
capacidade crítica para posicionamento e atuação. Deste modo, desenvolveu-se uma atividade
prática-alternativa de ensino, envolvendo tais áreas, no intuito de testar e validar a aproximação
da linguagem do Teatro do Oprimido à Geografia escolar. Os resultados e avaliações desta
atividade evidenciaram que experiências como esta, contribuem para atrair a atenção dos
alunos, envolvendo-os no processo de construção do saber e, assim, possibilitando-lhes
condições de se posicionarem diante de diferentes situações sociais, sejam opressoras ou não.
Palavras-chave: Geografia, Teatro, Opressão.
OS CARCEREIROS DA INFORMAÇÃO
Estamos vivendo um momento em que a produção de informações e
conhecimentos está acelerada. Em decorrência, conforme salienta Dimenstein, (1999) é
preciso formar o aprendiz permanente, pois o que se sabe hoje torna-se obsoleto
rapidamente. Assim, pode-se afirmar que o processo de ensino-aprendizagem torna-se
um grande desafio, tanto para o professor quanto para o estudante. Não é simples a
tarefa de educar, buscando transformar a informação em conhecimento, sobretudo num
mundo onde a quantidade de informações é criada e imposta de forma tão imponente.
1 Graduando em Geografia pela Universidade Federal do Espírito Santo; [email protected]
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4333
Segundo Hilbert e López, (2011) a quantidade de informações produzidas no
período de 1986 a 2006 chegou à exorbitante soma de 295 exabytes2. Depreende-se daí,
que estamos vivendo em um mundo onde somos cotidianamente bombardeados por
inúmeras e diferentes informações, pode-se dizer que nunca na história da humanidade
houve tanta informação disponível. E, lamentavelmente, também, tanta informação
desnecessária. Faz-se, portanto, necessário preparar os jovens estudantes para serem
capazes de selecionar as informações que lhes são necessárias e úteis, bem como a se
posicionarem diante delas.
Santos (2000) fornece importantes contribuições para que se compreenda esse
caráter agressivo da informação. Segundo o referido autor as informações, no presente
contexto histórico, atuam de maneira despótica, onde um pequeno grupo de atores
utiliza-se das mesmas para imporem seus interesses. Beneficiados pela posse e controle
dos meios de produção e circulação das informações, disseminam algumas “idéias
especiais”.
O que é transmitido à maioria da humanidade é, de fato, uma
informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde. Isso
tanto é mais grave, porque, nas condições atuais da vida econômica e
social a informação constitui um dado essencial e imprescindível. Mas
na medida em que o que chega às pessoas, como também às empresas
e instituições hegemonizadas, é já o resultado de uma manipulação, tal
informação se apresenta como ideologia... (SANTOS, 2000, p.39).
Depreende-se daí, que o problema é ainda pior, pois, conforme ressalta o
referido autor, além da imensidão de informações que existem no planeta, elas são
manipuladas e misturadas como substancias de laboratório, provocando os efeitos
desejados pelo “bioquímico ideológico”, numa população com imunidade escolar
defasada pela falta de alimentação cultural adequada. O problema não consiste na
carência de alimentação cultural, mas no excesso do açúcar artificialmente ideológico e
na carência da diversidade das vitaminas culturais autóctones.
Nessa direção, encontramos em Chauí (1980), importantes contribuições para
auxiliar-nos na compreensão dos efeitos dessa “dieta tendenciosa”, denunciada por
Santos (2000).
2 Unidade de medida de informação, onde 1 EB equivale 1.000.000.000.000.000.000 Bytes (segundo SI).
Portanto, um exabyte equivale a aproximadamente um bilhão de gigabytes
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4334
De acordo com Chauí (1980), o discurso ideológico se caracteriza por criar uma
lógica que consiga unificar pensamento, linguagem e realidade, obtendo a identificação
de todos os sujeitos sociais com uma imagem particular universalizada: a imagem da
classe dominante. Ainda segundo a referida autora, o Estado oculta conflitos
antagônicos de classes que se encontram em luta permanente, trazendo a idéia de uma
sociedade idêntica, homogênea e harmoniosa. Além disso, elabora a idéia de que o
Estado representa a sociedade como um todo o que legitima a dominação como normal.
Dessa forma os elementos culturais não são simples representações da classe
economicamente dominante, mas também elementos que determinam o funcionamento,
manutenção e transformação da sociedade.
Portanto a nossa sociedade (capitalista) se mantém porque veicula entre seus
membros valores que não são os seus fazendo-os acreditar que são. E assim uma falsa
realidade se impõe ao conjunto da sociedade.
ARISTOTELIC WAY OF CÁRCERE: A GÊNESE DO TEATRO DO
OPRIMIDO
Augusto Boal (1977) descreve solidamente, como funciona um sistema de
coerção propagado pelo teatro, mas que acontece, hodiernamente, nos meios de
comunicação em massa, de forma geral, o sistema trágico coercitivo de Aristóteles.
Começa o espetáculo, a novela, o filme, o seriado. O herói é apresentado e
rapidamente o público estabelece com ele uma relação de empatia3 e identificação.
Surpreendentemente o herói apresenta uma falha em seu comportamento, a
harmatia4. E talvez o mais surpreendente seja que em função dessa harmatia é que o
personagem alcança a felicidade que é ostentada. Inesperadamente acontece algo que
muda tudo. Ocorre uma modificação radical no destino do personagem, o que constitui
3Quando o espetáculo começa se estabelece uma relação entre o personagem (especialmente o
protagonista) e o espectador. Esta relação tem características bem definidas: o espectador assume uma
atitude passiva e delega o poder de ação ao personagem. Como o personagem se parece a nós mesmos,
como indica Aristóteles, nós vivemos, vicariamente, tudo o que vive o personagem. Sem agir, sentimos
que estamos agindo, sem viver, sentimos que estamos vivendo. Amamos e odiamos quando odeia e ama o
personagem. 4 É também conhecida como a falha trágica. É a única impureza que existe no personagem. A harmatia é,
portanto a única coisa que pode e deve ser destruída, é a causadora do conflito. É a única tendência que
não se harmoniza com a sociedade, com o que quer a sociedade.
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a peripécia. Até agora o espectador sentia sua harmatia estimulada, no entanto, agora,
ele sente crescer o terror da iminente desgraça. É a peripécia que torna mais extenso o
caminho entre a felicidade e a desgraça.
Essa mudança inesperada, quando ocorre com o personagem, ocorre igualmente
com o espectador. Porém para evitar que o espectador perca a empatia pelo personagem
durante a peripécia, é preciso que esse ser fictício, passe pela explicação de sua falha,
por meio do discurso, e seu reconhecimento. Portanto o personagem, aceita e confessa
seu erro, para que o espectador, empaticamente aceite como nociva, sua própria
harmatia, sua falha. Claro que a grande vantagem do espectador é que não cometeu o
erro de fato e por isso não precisa pagar por ele.
No entanto, para que o espectador possa sentir as terríveis conseqüências de
cometer o erro, de fato. Aristóteles exige um final terrível para a tragédia, que é a
catástrofe. Não é preciso que o personagem portador da falha, morra. Algumas vezes ele
morre, outras, fica com graves seqüelas ou perde algum de seus entes queridos. Tudo
isso, para provocar no espectador a catarse5, a destruição de sua própria harmatia.
Vivenciadas estas etapas, o espectador presencia com assombro, a catástrofe
vivida pelo personagem e sofre a catarse, se purificando de sua própria falha. Criam-se,
assim situações onde o espectador é impelido a reagir, a viver, a desejar um
comportamento que lhe foi imposto.
DA COERÇÃO À EDUCAÇÃO
Talvez em decorrência desse mundo de fantasias, de sonhos, a escola e a
educação, por requerer esforço e dedicação, seja vista como algo desinteressante e
desestimulante para o imediatismo da ascenção social, que ideologicamente é passada
pelo sistema coercitivo. Especificamente no tocante à realidade do ensino, nossas
vivências enquanto professores de Geografia nos evidenciam que, esses mecanismos
destacados são, provavelmente, divisores de águas que influenciam os estudantes a
estarem desinteressados pelos estudos na escola.
5 De acordo com Boal (1977), trata-se da purificação da harmatia. Destruição do ímpeto revolucionário.
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4336
Vale aqui lembrar a contribuição de, Brecht “segundo o consenso geral, existe
uma grande diferença entre aprendizado e diversão. Aquele pode ser útil, mas somente
esta ultima é agradável” (BRECHT, 1967, p.98).
Portanto, comunga-se com Brecht e defende-se a idéia e mesmo a necessidade
de associar a diversão com o e aprendizado. São possíveis alternativas de ensino na
perspectiva do Teatro Pedagógico, ligando ensino, à escola e aprendizagens à vida
cotidiana, aos momentos de diversão e prazer.
O TEATRO E O ENSINO
O teatro é tão antigo quanto a própria humanidade. Desde o principio da
existência humana já havia traços da existência do teatro primitivo. Uma dança antes da
caça, o dançarino mascarado que afasta os demônios, as transformações arquetípicas das
expressões humanas, o ator que põe em vida um personagem. Todas são criações e
representações de uma realidade, mais verdadeira, mais fantástica.
Segundo Berthold (2006), o teatro como conhecemos hoje, teve suas origens na
antiga Grécia quando por volta do século VI, antes de Cristo, oriundo das festas
populares que aconteciam por dias seguidos. Durante a primavera, na época onde o
vinho era colhido. Era um ritual sagrado e popular em homenagem ao deus Dionísio,
deus do vinho, do teatro e da fertilidade. O povo cantava livremente sendo o autor e
também o próprio destinatário deste “canto ditirâmbico”6. Porém a aristocracia chegou e
criou algumas divisões, separações.
Algumas pessoas passaram a ir para o palco e representar, enquanto outras
ficavam na platéia assistindo a tudo passivamente. Daí surgiu a platéia de espectadores,
a massa popular. Além dessa divisão a aristocracia criou ainda outra subdivisão. Dos
atores que representavam no palco, haveriam os protagonistas (aristocratas), separados
do coro, que representariam a massa, o povo. Criando as bases para o sistema trágico
coercitivo de Aristóteles, conforme discutido anteriormente.
Apesar da força e disseminação desse sistema aristotélico, alguns autores
buscaram ultrapassar esse sistema opressivo. Bertold Brecht, por exemplo, apesar de ter
6 Cortejos festivos cantados nas ruas com participação popular.
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trabalhado seu teatro épico e dialético permitindo que o espectador pensasse por si
mesmo podendo, se não, devendo discordar do personagem, esse ainda agia e encenava
por aquele. Foi a América Latina o palco para a destruição e superação das barreiras
impostas pelas classes dominantes nas atividades teatrais, BOAL (1998). Primeiramente
foi quebrada a barreira entre público e atores, em seguida todos passaram a representar,
a protagonizar as transformações necessárias à sociedade. Essas mudanças eclodiram no
teatro do oprimido.
EM BUSCA DA LIBERDADE: O TEATRO DO OPRIMIDO...
De acordo com Boal (1977), esta interessante maneira de se fazer teatro, surge
no início da década de 70 com o grupo Teatro de Arena em São Paulo dirigido por
Augusto Boal. A primeira forma do teatro do oprimido encenada foi o teatro jornal,
sendo que existem outras, que serão melhor explicadas em seguida.
De acordo com esse autor brasileiro a poética aristotélica, vigente nos meios de
comunicação de massas oprime os espectadores que:Passivamente delegam poderes aos
personagens para que atuem e pensem em seu lugar (...). O mundo é dado como
conhecido, perfeito ou à caminho da perfeição e todos os seus valores são impostos aos
espectadores (...) Ao fazê-lo os espectadores se purificam de sua falha trágica – isto é de
algo capaz de transformar a sociedade” (BOAL, 1977, P.168, 169).
Algumas vezes a sala de aula pode ter alguma semelhança com essa poética
aristotélica. Exemplo disso pode ser observado em práticas docentes, tais como, quando
o professor repassa ao estudante informações “oficiais” sobre o descobrimento do
Brasil, ou, ainda, quando exige do mesmo a memorização de todas as capitais e
respectivos estados brasileiros. Visualiza-se, aí uma espécie de mecanismo de
dominação. O que se defende aqui é que essas imposições servem mais para afastar os
estudantes do conhecimento do que aproximá-los.
Assim, ressalta-se, é importante que o professor procure utilizar mais
mecanismos que permitam que o estudante seja um agente ativo no processo de
produção do conhecimento, rompendo com práticas onde o estudante seja apenas um
sujeito passivo e recebedor de informações, sem sentido e desconectadas de seu mundo
e de seus interesses.
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Nessa direção, a aproximação da essência do Teatro do Oprimido pode ser um
caminho a ser seguido, pois conforme ressalta Boal, A poética do oprimido é
essencialmente uma poética de liberação: o espectador já não delega poderes aos
personagens nem para que pensem nem para que atuem em seu lugar. O espectador se
libera: pensa e age por si mesmo! Teatro é ação! (BOAL, 1977, p. 169).
Para conseguir viabilizar esse ideal libertador, Boal (1977) propõe algumas
técnicas para trabalhar o teatro do oprimido, que podem ser adaptadas ao ensino, tais
como: teatro jornal, teatro invisível, teatro-fórum, teatro estátua, teatro trem, teatro
imagem e o sistema coringa. De modo que a base de seu trabalho, presente em todas as
técnicas citadas, consiste em transformar esse espectador. Em suas palavras, (BOAL,
1977, p.168) “espectador, ser passivo, é menos que um homem e é necessário re-
humanizá-lo, restituir-lhe sua capacidade de ação em toda a sua plenitude”. Dessa forma
Boal introduz o termo espect-ator. Aquele que enquanto observa a ação do outro,
planeja a sua própria ação. Deixa de ser um ser passivo, objeto, passando a ser sujeito
atuante.
Nesse sentido e, a título de exemplificação, apresentamos a seguir, algumas das
técnicas para trabalhar o Teatro do Oprimido, defendidas por Boal (1998), buscando
uma aproximação das mesmas com o ensino de Geografia:
a) Teatro-Imagem
Para tanto, a primeira técnica analisada será a do teatro imagem Boal (1998)
onde os espectadores, ou como Boal prefere chamá-los, espect-atores esculpem os
corpos de outros espect-atores de modo a mostrar visualmente uma idéia, um
pensamento coletivo sobre algum tema. Os espect-atores criam suas estátuas. Uma
pessoa vai até à frente e cria uma estátua. Caso o público não esteja de acordo, outra
pessoa vai à frente e altera essa imagem. Podem ser feitas várias alterações por várias
pessoas até que o público esteja satisfeito com a imagem criada. Essa imagem, segundo
o referido autor, será sempre uma imagem que representa uma opressão.
Depois se pede à platéia que construa uma imagem ideal, onde essa opressão não
mais esteja presente. Uma imagem idealizada, um sonho, a paz, a pureza, o amor. E em
seguida retorna-se à imagem primeira, da opressão. Abre-se, então, espaço para o
debate. Nesse sentido, cada espect-ator irá fazer as modificações necessárias para que a
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imagem real se transforme na imagem ideal, construindo assim, as imagens de
transição. É importante que os espect-atores transformem as estátuas de maneira
eficiente, como se fossem escultores, onde pensem e se expressem por meio das
imagens criadas.
Por último, pede-se às estátuas, os atores, que gradualmente, mudem da imagem
real, a primeira, à imagem ideal, de modo que encarnem os personagens estátuas
criados, transformando lenta e gradualmente a imagem de opressão numa imagem ideal,
libertária.
b) Teatro-Fórum
Outra técnica que pode oferecer grande potencial no trabalho pedagógico é a do
teatro-fórum. Essa técnica teatral é uma espécie de jogo e como tal possui regras.
Todavia as regras desse tipo de teatro conforme destaca Boal (1977) não foram criadas,
mas descobertas, essas regras, serão discutidas, abaixo a fim de melhor compreensão de
como funcionam os mecanismos de opressão e assim evitar que os mesmos aconteçam.
Esse tipo de espetáculo é uma espécie de jogo. Primeiramente o espetáculo
ocorre como qualquer outro, onde é encenada uma representação de um conflito onde
ocorra uma opressão que se deseja combater. Em seguida pergunta-se ao público se ele
concorda com as soluções propostas em cena. Geralmente eles dirão que discordam. Em
seguida os atores novamente representarão a cena modificando-a, porém sem alterar a
estrutura de opressão utilizada, eles manterão a visão de mundo utilizada. A fim de
provocar os espect-atores a intervirem e mudarem a cena. Pois da mesma maneira se
eles não tomarem a iniciativa e propuserem uma mudança para que o mundo venha a ser
como o desejado isso não acontecerá, analogamente, o espetáculo não mudará de
estrutura sem a devida intervenção.
Então informa-se aos espect-atores que quando eles virem alguma falha, alguma
cena que eles acreditam precisar de mudança eles deverão chegar perto do palco e gritar
para que pare, em seguida tomar o lugar do protagonista e a cena será refeita com todos
os atores mas agora o novo protagonista irá alterar a cena.
O ator que agora cede lugar ao espect-ator não deverá sair do palco, mas ficar
próximo ao novo protagonista a fim de encorajá-lo e auxiliá-lo para que ele não
enverede por caminhos incoerentes. Como, por exemplo, Hitler gritar socialismo ou
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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morte. Caso isso ocorra o primeiro ator estará próximo ao novo como se fosse uma
espécie de consciência e lhe esclarecerá o fato.
Logo que o espect-ator tome o lugar do protagonista todos os outros personagens
se transformarão em opressores, com exceção dos personagens aliados a ele. Caso já
fossem opressores, eles irão intensificar a opressão para que o espect-ator perceba e
sinta o quanto é difícil transformar a realidade.
Evidentemente o objetivo deste fórum ou jogo não é que alguém descubra a
grande verdade e se torne o vencedor. Este é um exercício onde cada pessoa pode botar
em prática suas idéias exercitando-as. É um grande ensaio para a vida real.
Após cada encenação um personagem especial o curinga, como se fosse o
mestre de cerimônias, fará um resumo das alternativas propostas a fim de explicitá-las
ao público e ainda indagar se alguém discorda, para melhor esclarecer o que foi
experimentado.
Se num dado momento algum espect-ator conseguir romper com a opressão
imposta estruturalmente pela peça os atores poderão abdicar de seus personagens e
cederem lugar a outros espect-atores convidados para que possam exercer a mesma
opressão de maneira diferente. O objetivo é discutir e analisar as inúmeras formas de
opressão e igualmente as suas formas de combate.
O professor pode, por meio de jogos teatrais, cenas, espetáculos criados pelos
alunos ou mesmo um monólogo do próprio professor, criar situações favoráveis para
que os alunos-espectadores (espect-atores) possam interagir. Além de várias outras
formas possíveis de utilização/adaptação das técnicas do teatro do oprimido para, atrair
e estimular a participação, o pensamento geográfico e crítico contribuindo para o
questionamento e posicionamento dos estudantes diante das questões geográficas,
políticas e geopolíticas. Nessa direção, vale a contribuição de Boal:
A atividade artística é natural a todos os homens e a todas as
mulheres. São as repressões que sofremos ao sermos “educados” que
nos limitam e estreitam nossa capacidade de expressão. As crianças
dançam e cantam e pintam. Depois, com a repressão que sofrem na
família, na escola, no trabalho, convencem-se de que não são
bailarinos, nem cantores, nem pintores. Porém devemos compreender
que todos os homens são capazes de fazer tudo aquilo que um homem
é capaz de fazer. É claro que nem todos farão com a mesma maestria,
mas todos poderão fazê-lo. Todo mundo pode fazer teatro – até
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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mesmo os atores! O teatro pode ser feito em todos os lugares – até
mesmo dentro dos teatros! (1979, p.19)
É pensando, nessas premissas e ideais utilizados por esse dramaturgo da contra-
opressão, acreditamos que o teatro pode ser utilizado como elemento auxiliar nas
atividades de ensino, seja dentro da sala de aula, ou fora, no pátio, na quadra, no
auditório e até no teatro. O mesmo pode estimular o pensamento geográfico, o
posicionamento do estudante, o desenvolvimento de sua capacidade crítica, sua
educação e sua própria cidadania.
SE A ESCOLA NÃO VAI AO TEATRO O TEATRO VAI À ESCOLA
Após as reflexões possíveis e propiciadas com as leituras que embasaram o
primeiro capítulo, formulamos possibilidades de desenvolver uma experiência de
ensino, visando “testar” e “validar” as hipóteses iniciais, ou seja, de aproximação das
técnicas do Teatro do Oprimido como alternativas para a formação de uma consciência
crítica dos estudantes.
Acreditando que a maior parte do conteúdo da geografia escolar, se não toda, é
passível de estudo e vivência por meio do teatro, procurei algum colega que estivesse
exercendo a função docente e consultei-lhe sobre a possibilidade de ceder-me algumas
aulas para a realização da atividade pedagógica, envolvendo o teatro do oprimido e o
conteúdo escolar que estava sendo trabalhando por aquele professor, naquele momento.
Foi assim que encontrei o professor Douglas Salaroli7, o qual estava trabalhando
aulas para turmas de ensino fundamental, em uma Escola da Rede Pública Estadual da
cidade de Serra (ES).
Assim, entabulamos um diálogo onde foi explicado ao referido professor os
objetivos e proposta de minha pesquisa teatral pedagógica.
Em seguida, procedemos a um levantamento bibliográfico, em livros didáticos,
acerca do conteúdo e a maneira como o mesmo estava sendo abordado naquelas turmas
7 O referido professor não só se mostrou acessível ao desenvolvimento da atividade, como também nos
autorizou identificá-lo em nosso relatório, não tendo sido, portanto,necessário utilizarmos do critério de
invisibilidade.
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Ressalta-se que, de acordo com a revisão bibliográfica nos livros didáticos
adotados para o sétimo ano do ensino fundamental, podemos observar que os mesmos
abordam o processo de formação do território nacional de maneira interligada aos ciclos
econômicos, com destaque para o ciclo da cana-de-açúcar, do ouro do café.
Ao iniciar a aula o professor Douglas explicou a proposta de aula para os alunos
e então começamos explicando e discutindo algumas regras para o bom funcionamento
da aula. Primeiro foi destacado o respeito para com todos os participantes da aula,
também foi explicitado a importância de saber ouvir o professor e colegas, além da
concentração e também sobre a necessidade de diversão.
Após esses comentários fizemos alguns exercícios e jogos teatrais para provocar
o aquecimento dos participantes bem como trabalhar alguns ideais do teatro como
trabalho em grupo.
Após esse rápido aquecimento. Os grupos se sentaram em seus lugares
correspondentes para receberem e desenvolverem a atividade. Nesta atividade, um
grupo recebeu um papel com as seguintes orientações:
Tema: Ciclo da cana-de-açúcar. Atividade: criar uma cena onde os senhores de
engenho determinem aos feitores a obrigarem os escravos a trabalharem na lavoura da
cana. A lavoura vai crescendo e se expandindo e o território utilizado vai igualmente
aumentando. Portanto os personagens são, senhor de engenho e talvez familiares,
feitores e escravos.
O outro grupo recebeu outro papel com as seguintes orientações:
Tema: bandeiras. Atividade: criar uma cena onde o senhor das terras determina
expedições que vão adentrar as terras da colônia portuguesa, para oeste, à procura de
índios para dominá-los e trazê-los cativos para o trabalho forçado, como na extração do
pau-brasil. Portanto os personagens são, senhor de engenho e talvez familiares, feitores
e escravos-índios.
Então, após o prazo dado para criação e execução dessa tarefa os grupos
ensaiaram e apresentaram os resultados. Seguindo sempre de um debate e utilização das
técnicas do teatro do oprimido, como o fórum e sistema curinga.
Essa atividade pedagógica, como tudo que é novo, teve sucessos e insucessos.
As turmas receberam a proposta com evidente entusiasmo e, portanto, aceitaram
participar sem preconceitos. Na medida do possível, se esforçaram para vivenciar o
mundo do teatro. Claro, aquele foi o primeiro contato com o fazer teatro para a maioria
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da turma. Por isso algumas questões básicas a respeito da interpretação precisaram ser
esclarecidas, mas nada que impedisse a vivência teatral, pois é exatamente durante a
experimentação que é possível perceber e aperfeiçoar a performance.
O conteúdo geográfico pôde ser trabalhado com o Teatro do Oprimido, o que
consideramos o maior sucesso dessa vivência. A matéria trabalhada pôde ser
experimentada e vivida pelos estudantes.
No entanto, é necessário ressaltar, conforme bem nos adverte o professor
Douglas, que nem tudo são flores. Algumas vivências foram mais educativas para os
próprios professores, que também foram “espect-atores”. Em primeiro lugar o tempo
para desenvolver as atividades foi escasso, o que atrapalhou, em parte, o processo.
Exigindo que algumas atividades fossem aceleradas, porém foi o tempo que tivemos e
mesmo assim foi muito válido e construtivo, até mesmo para perceber que realmente
seria pouco tempo.
No geral, essa atividade foi aceita com enorme entusiasmo pelos estudantes que
puderam se divertir e aprender de uma maneira não convencional, apesar da dificuldade,
já exposta, que alguns estudantes tiveram.
Essa vivência e experimentação do teatro do oprimido em sala de aula foi muito
enriquecedora e estimulante, tanto para os alunos, quanto para o professor e mesmo para
o pesquisador, pois pudemos observar e praticar técnicas potencialmente
transformadoras e atrativas. As falhas encontradas serviram mais para estimular o
aperfeiçoamento do processo.
A Geografia, igualmente, se propõe a criar um posicionamento crítico dos
estudantes. Um estímulo ao pensamento e à consequente ação, uma busca à
transformação social. Ao tornar os indivíduos bombardeados e estimulados por
ideologias exógenas em cidadãos pensantes e atuantes.
Essa é uma ciência rica e poderosa, que aliada ao arsenal de técnicas do teatro do
oprimido pode ter sua eficácia multiplicada. Proporcionando maior força e riqueza na
educação que é imprescindível às atitudes de um cidadão crítico, pensante e atuante.
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Ática. (Col. Grandes Cientistas Sociais, 1986.
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REPENSANDO O ENSINO DO MAPA: UMA PROPOSTA DE ENSINO
Viviane Lousada Cracel1
Mauricio Compiani2
Fernanda Keila Marinho da Silva3
RESUMO
A cartografia é uma linguagem bastante presente no ensino de Geografia, ainda que trabalhada
de maneira superficial, e os estudantes têm contato com mapas desde os primeiros anos de
escolarização. Mas será que aprendemos de fato a lê-los? Qual a visão/concepção de mapas que
ensinamos aos nossos alunos? Neste artigo, que apresenta algumas discussões iniciais de uma
pesquisa de doutorado, o objetivo é apresentar algumas metodologias de ensino-aprendizagem
que buscam a desconstrução da visão bastante corrente do mapa como um retrato fiel da
realidade, fazendo com que os alunos o compreendam como uma construção histórica e social.
O pressuposto de que os mapas se configuram como construtos histórico-sociais é sustentado
pelas ideias de Bakhtin acerca do enunciado. Esse referencial vem colaborando para a defesa e
compreensão dos mapas como linguagem eminentemente ideológica. As metodologias de
ensino aqui apresentadas foram desenvolvidas com alunos do segundo ano do ensino médio de
uma escola pública da rede estadual de Campinas/SP e a análise preliminar dos dados da
pesquisa de doutorado que é aqui apresentada corroboram as interpretações de diversos autores
acerca da compreensão superficial e neutra dos estudantes. Sem dúvida, esses resultados
apontam para a necessidade da continuidade de investigações que tenham como objeto central o
ensino-aprendizagem da cartografia desde as séries iniciais.
Palavras-Chave: ensino de cartografia, Bakhtin, metodologia de ensino.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho é parte das discussões realizadas em uma pesquisa de
doutorado que está em andamento pelo Instituto de Geociências da Unicamp. O objetivo
principal é pensar em metodologias de ensino-aprendizagem que desconstruam a visão
que temos do mapa como um retrato fiel da realidade, objetivo e neutro, buscando que
os alunos o compreendam como uma construção sócio-histórica, uma visão de mundo
dentre várias possíveis.
A representação do espaço esteve continuamente presente no pensamento
humano desde a pré-história, quando a finalidade era expressar deslocamentos e
1 UNICAMP; [email protected]
2 UNICAMP; [email protected]
3 UFSCar – Sorocaba; [email protected]
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4346
registrar informações relacionadas à exploração do espaço. Os mapas surgem, então,
como meio de expressão e comunicação precedendo, inclusive, a própria linguagem
escrita e implicam, por conseguinte, uma “escrita” e “leitura” dos significantes neles
expressos (OLIVEIRA, 2007).
Os homens sempre procuraram conservar a memória dos lugares e dos
caminhos úteis às suas ocupações. Aprenderam a gravar os seus
detalhes em placas de argila, madeira ou metal, ou a desenhá-los nos
tecidos, nos papiros e nos pergaminhos. Assim, apareceram no Egito,
na Assíria, na Fenícia e na China os primeiros esboços cartográficos
(JOLY, 2005, p. 31).
Em geral, os alunos têm contato com mapas desde os primeiros anos de
escolarização, em especial nas aulas de Geografia, no entanto essa relação em sua
maioria é bastante superficial, resultado da existência destes nas paredes da sala de aula
ou então em decorrência da sua presença nos livros didáticos, em sua maioria como
ilustrações junto aos textos ou na localização de fenômenos (CAVALCANTI, 1998;
PASSINI, 1998; CASTELLAR, 2005), sem serem explorados de forma mais
aprofundada e contribuírem expressivamente com a aprendizagem e a leitura do espaço
em que vivem.
Mas como realmente o compreendemos? Sabemos de fato lê-los e interpretá-los?
Conseguimos extrair todas as informações e relações que eles trazem em sua
representação? Seemann (2011) comenta em seu artigo que muitas pessoas em nosso
país ainda associam mapas às suas experiências escolares na disciplina de Geografia em
que precisavam decorar os nomes das capitais, países, rios e seus afluentes, além de
suas localizações, sem compreendê-los como um recurso dotado de informações e
conhecimentos. Talvez venha daí nossa dificuldade em lidar com os mapas.
Ainda segundo este autor, a cartografia ensinada em sala de aula ainda está
fortemente pautada na precisão e na objetividade das informações representadas e
quando não contemplam algum dos elementos tidos como essenciais (orientação, escala,
por exemplo) são considerados “incompletos” ou “errados”. A ideia aqui é pensar em
estratégias e reflexões para a cartografia escolar que não se prendam a aspectos formais,
embora não os ignore completamente.
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Conforme aponta Simielli (1999, p. 97), “os elementos cartográficos e suas
posições relativas no mapa não seguem uma sequência linear (da esquerda para a
direita), mas exigem um olhar múltiplo que perambula pela folha de papel para localizar
e analisar, correlacionar e sintetizar”. Assim, essa leitura não pode e nem deve se
restringir ao mapa em si, incluindo também seu contexto de produção e significação,
isto é, ler “entre suas linhas” e, nesse sentido, compreender o mapa como dialógico e
polifônico nos traz muitas contribuições. “Numa imagem simbólica, como o mapa,
nenhum detalhe está hermeticamente desvinculado de seu contexto” (ARNHEIM, 1989,
p. 206). Destacamos também a percepção visual do mapa que num primeiro momento é
a simultaneidade de um todo representado, essa primeira visão é pré-sintética, e depois a
análise direciona para as partes. Nossa primeira observação não é analítica.
Nesse sentido, concebemos o mapa de forma menos tecnicista, entendendo que
são produções simbólicas de diferentes culturas e civilizações, o que “possibilita
considerar como mapas figurações espaciais tanto de adultos como de crianças de uma
mesma época e sociedade, como a de culturas e épocas diferentes” (KATUTA, 2005, p.
43). Considerando que cada sociedade teve (e tem) um jeito próprio de perceber e
produzir imagens sobre o espaço, conforme destaca Harley (1991), compartilhamos
com este autor a visão de que “mapas são representações gráficas que facilitam
entendimentos espaciais de coisas, conceitos, condições, processos ou eventos no
mundo humano” (p. 5).
Essa proposta de desconstruir a concepção que temos dos mapas e avançar em
seu trabalho no ensino de Geografia para além de uma cartografia tradicional não é
nova e tampouco individual. Nesse sentido, trazemos a seguir as concepções
desenvolvidas por alguns pesquisadores para, em seguida, descrever um conjunto de
possibilidades práticas que contribuem nessa linha aqui defendida.
REPENSANDO O MAPA: É PRECISO APRENDER A LER NAS
ENTRELINHAS...
“La desconstrucción nos insista a leer entre las líneas del mapa, en los
márgenes del texto, y a través de sus tropos, para descobrir los
silêncios y las contradicciones que desafían la aparente honestidade de
la imagen. Comenzamos a saber que los hechos cartográficos son sólo
hechos dentro de certa perspectuva cultural. Empezamos a
comprender que los mapas, al igual que el arte, lejos se ser una
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‘ventana aberta al mundo’ no son más que ‘una forma humana
particular [...] de ver el mundo” (p. 188-189)
Harley (2005) considera a cartografia não como uma ciência que se ocupa da
descrição de lugares por meio dos mapas, mas sim como uma ciência capaz de
contribuir com uma visão social e para isso é preciso com reender o verdadeiro
significado de ver.
Os mapas sempre foram imagens mentais. Hoje continuamos a
considerá-lo uma forma de ver, mas começamos a entender o
significado de “ver”. Em vez de pensarmos que os mapas são um
espelho do mundo, passamos a vê-lo como um simulacro: algumas
vezes mais importante que o território representado; frequentemente,
uma redescrição do mundo em toda a sua diversidade (HARLEY,
1991, p. 7)
Massey (2009) também levanta algumas discussões e críticas sobre como o
espaço aparece representado nos mapas, não contribuindo como deveria e poderia com
o aprendizado da visão e relações espaciais. Uma das formas de se ver os lugares é
através dos mapas, mas ficar preso à superfície plana deste recurso é como abandonar
essa visão de lugar. O espaço nos mostra uma “heterogeneidade prática e processo (...)
então ele não será um todo já conectado, mas um produto contínuo de interconexões e
não conexões. Assim, ele será sempre inacabado e aberto. Esta arena do espaço não é
um terreno firme para ficar. Não é de forma alguma, uma superfície” (p. 160).
Girardi (2000, 2009), por sua vez discorre sobre os mitos dos mapas. Segundo a
autora, a naturalização é a principal competência do discurso do mapa e é o que lhe
confere o status de verdade. “Todo mapa deseja que olhemos seus signos não como algo
grafado numa superfície, mas como a própria superfície manifestada diante de nós”. E
mais, “o mapa, em verdade, dá existência para aquilo que quer ‘representar’: o espaço
como uma superfície lisa onde se distribuem fenômenos simultâneos e integrados num
único sistema, numa única história (natural e social)” (2009, p. 153). São esses mitos e
“verdades” que pretendemos desconstruir com as estratégias de ensino.
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O MAPA COMO LINGUAGEM E AS DIFERENTES VOZES QUE O
HABITAM
Harley e Woodward (1987) consideram a cartografia como a linguagem de todas
as civilizações, como um meio de intercâmbio cultural, uma forma de saber e poder
com concepções ideológicas sobre o mundo. Para Harley (2009), os mapas nunca estão
livres de juízo de valor e com exceção ao sentido euclidiano mais estrito, não são por
eles mesmos nem verdadeiros nem falsos.
Neste sentido, o autor considera os mapas a partir de três pontos de vista
diferentes, que possibilitam perceber certos contornos ideológicos mais específicos: (1)
os mapas são um forma de linguagem, que se traduz mais facilmente em prática
histórica, o que permite falar em uma “literatura” dos mapas e de um discurso
cartográfico que ele carrega, com carga apreciativa, avaliativa, persuasiva e retórica; (2)
os mapas possuem uma carga simbólica, em que se reflete interesses políticos; (3) os
mapas são uma forma de conhecimento e, portanto, de poder.
Considerando o primeiro aspecto, acreditamos que os trabalhos desenvolvidos
por Bakhtin e seu Círculo referentes à concepção de linguagem têm muito a contribuir
com essa discussão. Mesmo diante de tantos trabalhos sobre o autor e/ou seus conceitos,
suas contribuições ainda são pouco conhecidas e utilizadas pela Geografia e, em
decorrência disso, este artigo pretende aproximá-los. A escolha por essa abordagem
como parte do alicerce teórico se deu por compartilharmos sua concepção histórica,
social, dialógica e ideológica da linguagem, compreendida também como um processo
interativo e que não pode ser estudada fora da sociedade e seu contexto.
A proposta é compreendermos o mapa como um enunciado, concebido por
Bakhtin (2009) como a “verdadeira unidade de comunicação verbal”, como unidade de
significação, implicando, necessariamente, relação com o contexto. Os mapas precisam
ser lidos e analisados assim: a partir do seu contexto de produção, uma vez que “como
linguagem, os mapas conjugam-se com a prática histórica [e geográfica], podendo
revelar diferentes visões de mundo” (MARTINELLI, 2007, p. 52).
Um elemento constitutivo de todo enunciado é a dimensão dialógica,
característica vital da linguagem e que dela não pode ser abstraída, sendo condição de
seu sentido, ou seja, ainda que as diversas vozes não apareçam em sua estrutura
composicional, o enunciado é dialógico. O dialogismo, além de ser a noção fundante da
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concepção bakhtiniana de linguagem, é o elemento que instaura a sua natureza
interdiscursiva. Refere-se, portanto, ao constante diálogo, nem sempre simétrico e
harmonioso, entre os diversos discursos que configuram a enunciação e que se realizam
nas e pelas interações sociais. Cada discurso, intencionalmente ou não, interage com
outros discursos antecedentes ou que o sucedem. Ele não é individual, pelo contrário,
possui uma dimensão intertextual que pode ser caracterizada tanto pela presença de pelo
menos dois interlocutores, duas vozes que constroem este discurso, quanto pelo fato de
manter relações dialógicas com outros discursos na enunciação.
Para Bakhtin (2009) o diálogo é concebido como um processo que ultrapassa a
interação face a face, que é apenas uma das condições em que ele ocorre, pois
compreende a palavra diálogo em um sentido amplo, incluindo toda a comunicação de
qualquer tipo que seja. Nesse sentido, os pressupostos bakhtinianos podem contribuir e
muito com a análise desta linguagem essencial para o ensino de Geografia, inclusive
descontruindo uma imagem do mapa bastante difundida - como algo estático e neutro.
O mapa é um produto social e ideológico e este caráter tem sido deixado de lado
quando o utilizamos no ensino. “Um signo não existe apenas como parte de uma
realidade; ele também reflete e refrata uma outra. Ele pode distorcer essa realidade, ser-
lhe fiel, ou apreendê-la de um ponto de vista específico etc. Todo signo está sujeito aos
critérios de avaliação ideológica” (BAKHTIN, 2009, p. 32)
Mas de que maneira tal ideia se relaciona com os mapas? O mapa aparece para
nós como uma representação, um reflexo fiel da realidade mapeada. Esse é um discurso
bastante veiculado. Entretanto, ao mesmo tempo em que de fato reflete este real, pode
mostrar ou esconder determinados elementos conforme interesses de quem os produz ou
para quem ele é endereçado, isto é, o mapa e seu discurso não são neutros. Assim, a
representação tem como base elementos comuns aos diversos grupos sociais, mas as
escolhas de como e o que mapear não necessariamente contém impressões objetivas. O
mapa é um enunciado concreto porque compreende a parte percebida (representação) e
a parte presumida. Incorpora discursos anteriores e se relaciona com enunciados futuros,
ou seja, possui dimensões comunicativas interativas; é dotado de ideologia e parte
integrante de uma discussão ideológica mais ampla, respondendo a alguma coisa,
refutando, confirmando, antecipando respostas etc.
O mapa é uma forma de representar, entretanto, a percepção que temos
normalmente do mapa não é essa, como portador de um discurso sobre determinado
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espaço geográfico e lugar, mas sim como o discurso, único, verdadeiro, retrato fiel da
realidade. Isso evidencia um discurso ideológico com grande poder de convencimento e
pouco contestado. São exatamente as escolhas feitas das informações a serem mapeadas
um dos fatores que nos possibilita considerar o mapa como um discurso e não o único
sobre o real. “Mapas dizem respeito ao espaço, são formas de representação, certamente
formas icônicas; representação é compreendida como espacialização. Mas um mapa de
uma geografia não é aquela geografia – ou aquele espaço” (MASSEY, 2009, p. 159-
160).
UMA POSSIBILIDADE DE ABORDAGEM...
As atividades apresentadas a seguir foram desenvolvidas no primeiro semestre
de 2013 com alunos do segundo ano do ensino médio de uma escola pública da rede
estadual de Campinas/SP. A primeira autora é também a professora desses alunos,
mediadora do processo de ensino e aprendizagem.
A proposta surge a partir de dificuldades/deficiências demonstradas pelos alunos
diante da leitura de mapas. Questionados em uma conversa inicial sobre o contato que
tiveram com os mapas ao longo da vida escolar, a maioria respondeu que foi mínimo,
em geral com pinturas dos mesmos ou nos livros didáticos, e por isso a professora
resolveu retomar este conteúdo, que é específico do primeiro ano do ensino médio. Vale
ressaltar que compreendemos a cartografia como um conteúdo da Geografia, neste caso
restrito a algumas séries/anos, mas como uma metodologia também e aí perpassa toda a
vida escolar.
Uma primeira atividade foi o levantamento de ideias prévias. O objetivo era que
os alunos expressassem conhecimentos acerca do mapa e o uso que faz dele em seu dia
a dia. Conforme já citado, as respostas mostraram que a maioria pouco usa o mapa no
dia a dia, algumas vezes o Google Mapas ou GPS. Ao perguntar sobre dificuldades ao
visualizar um mapa a maioria respondeu que não possui nenhuma, mas ao analisar a
imagem de satélite do bairro tiveram dificuldade em visualizar alguns elementos
espaciais. Comentaram ainda que todos os elementos do espaço e da sociedade podem
ser mapeados, mas poucos exemplificaram quais são esses elementos.
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Logo depois, com o intuito de mostrar que o mapa é uma construção histórica e
social a professora iniciou uma discussão com os alunos:
Profa.: Desde quando vocês acham que existem mapas?
Aluno 1: Desde a época das viagens, navegações.
Aluno 2: Desde que surgiu a humanidade.
Profa.: Antes da escrita?
Vários alunos: Sim, antes da escrita.
Profa.: Certo, os mapas precederam a escrita. Vocês acham que os mapas
sempre foram como os vemos hoje?
Aluno 1: Não, eles eram diferentes...
Profa.: E por que eles eram diferentes?
Aluno 1: Porque as pessoas eram diferentes...
Profa.: E será que o conhecimento era o mesmo também?
Vários alunos: Não!
Depois disso, a professora mostrou a imagem da Fig. 1 aos alunos:
FIG. 1: EXEMPLO DE MAPA PRÉ-
HISTÓRICO.
FIG. 2: O MUNDO INTEIRO NUMA
FOLHA DE TREVO – EXEMPLO DE
MAPA COM SIMBOLISMO RELIGIOSO
Fonte: TRHOWER, 2007, p. 4 Fonte: IBGE Teen
Profa.: Vocês acham que essa imagem é um mapa?
Alunos 3 e 4: Não!
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Aluno 1: Sim!
Profa.: Por que não é para quem disse que não?
Aluno 3: Porque não parece um mapa.
Profa.: E o que é um mapa?
Aluno 3: O que a gente tem hoje.
Profa.: Mas vocês não disseram que os mapas eram diferentes?
Aluno 3: Mas não acho que seja um mapa...
Profa.: Bom... e para quem disse que é um mapa, por que é?
Aluno 1: Eu acho que é porque representa algo. Só porque não tem título,
legenda e escala não quer dizer que não seja um mapa.
Profa.: Vocês concordam?
Vários: Sim!
Aluno 3: É estranho...
Depois a professora apresentou o mapa da Fig. 2 fazendo a mesma pergunta e
aqueles que haviam considerado a primeira imagem como mapa também consideraram
a segunda, mas o aluno que disse que não, manteve a sua opinião apesar das
considerações dos colegas. Ele continuava a achar estranho.
Em seguida a professora passou o vídeo A grande história dos mapas, disponível
no youtube (http://www.youtube.com/watch?v=NCi-Tsd86ec e
http://www.youtube.com/watch?v=O6wEO6c89Y0) que retrata a história da cartografia
de 1000 a. C. até o surgimento do Google Earth, mostrando as funções dos mapas ao
longo da história, os conhecimentos relacionados e a influência do contexto político e
científico para a evolução da cartografia. Após as discussões sobre as mudanças nas
representações e como alguns mapas na época das guerras foram manipulados a fim de
atender determinados interesses, os alunos tiveram que responder as seguintes questões:
“Mapas representam a verdade das superfícies terrestres ou são criações humanas, úteis,
porém imperfeitas? Você acha que os mapas atuais representam toda a complexidade do
espaço geográfico? Justifique”. Grande parte dos alunos respondeu que mapas
representam a verdade das superfícies terrestres, mas são construções sociais, ou seja,
muitos alunos pensam esses aspectos de forma separada e não relacionadas. Um
exemplo pode ser evidenciado na resposta do aluno 3:
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“Eu acredito que os mapas representam a verdade das superfícies terrestres,
porém, com o passar do tempo o mapa sofre alterações feitas pelos humanos, seja por
novas construções, ou desmatamentos, que sofrem alterações geográficas no mapa. Por
isso acredito que também são criações humanas, úteis, porém imperfeitas.
Creio que os mapas atuais não representam toda a complexidade do espaço
geográfico, pois em apenas 1 mapa não é possível colocar todas as informações que
queremos. Deixo claro que é possível mapear tudo o que quisermos, mas apenas em
mapas diferentes, assim conseguimos dar 1 nome ao mapa, legendas específicas e
ordem no mapa. Portanto não acho que os mapas atuais representam toda a
complexidade do espaço geográfico”.
Apesar das discussões com os mapas e os vídeos, das desconstruções que foram
feitas em sala de aula, a concepção que alguns alunos possuem do mapa está tão
enraizada que é difícil mudar. Como diz Girardi (2000, 2009), estamos mexendo com
mitos dos mapas e, porque não, com concepções de ciência que estão implícitas no
imaginário de nossos alunos como algo verdadeiro, muitas vezes incontestável. Há uma
crença dos mapas que não é facilmente desconstruída, sobretudo quando ela foi
reafirmada ao longo de praticamente toda a vida escolar.
Por fim, foi solicitado aos alunos que desenhassem um mapa da sala de aula
indicando onde sentaram ao longo dos últimos anos, quais são os grupos existentes na
sala e as relações entre eles. Como era esperado, as representações foram as mais
diferentes possíveis, embora o espaço representado e as pessoas sejam as mesmas.
Como podemos perceber pelos exemplos abaixo, a quantidade e as relações entre os
grupos variam. Depois de elaborado os mapas, a professora selecionou alguns e
projetou, iniciando discussões sobre as representações, sobretudo sobre a diversidade de
produções. Os alunos perceberam que todos representavam a mesma sala de aula e os
mesmos alunos, porém, com óticas diferentes e que isso não tirava a verdade de nenhum
dos mapas. Nesse momento puderam perceber melhor o que foi discutido anteriormente
sobre o mapa ser apenas uma visão de mundo, uma possibilidade dentre várias de
representação do espaço.
FIG. 3: MAPA DA SALA A FIG. 4: MAPA DA SALA B
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Fonte: mapa elaborado pelos alunos
Fonte: mapa elaborado pelos alunos
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao desconstruirmos a visão do mapa como algo pronto, descontextualizado cuja
utilização se restringe apenas à localização de lugares e fenômenos, auxiliamos nossos
alunos a compreender a relevância e importância dos mapas no ensino, como
construções sociais e passamos a pensar, perceber e discutir relações da sociedade com
o espaço, aproximando o mapa dos alunos. Nesse sentido, a compreensão dos mapas
como enunciados colabora para o reconhecimento de que nesses faz-se presente debates
intensos expressos na sociedade acerca do papel ideológico que impregna a sua
construção e posterior leitura. Certamente isso não pode ser silenciado em uma sala de
aula.
Ao concebermos a cartografia como uma linguagem, é preciso compreender sua
leitura através dos tempos. O mapa é construído socialmente e, por isso, está
intimamente relacionado ao seu contexto sócio-histórico, a partir do qual deve ser
entendido. Nesse sentido, somos concordantes com Martinelli (2011) de que é preciso,
portanto, o entrelaçamento de duas linhas básicas: o ensino do mapa e o ensino pelo
mapa. O primeiro refere-se ao aprendizado teórico-metodológico sobre a construção da
noção de espaço e respectiva representação pelo aluno. Já o segundo, diz respeito à
promoção do conhecimento do mundo a partir da inclusão e continuidade espacial,
daquilo vivenciado pelo estudante e do desconhecido também, sendo capaz de
raciocinar e refletir acerca do contexto representado pelo mapa, ou seja, construir
conhecimentos a partir deles e com eles.
O mapa possui um potencial que ainda foi muito pouco explorado no ensino e
que merece destaque em sala de aula uma vez que podemos inferir diversos significados
que estão ali no mapa, “maravilhosamente mudos enquanto falam para quem os olha”
(SOUZA NETO, 2008), mas que só compreende quem vê além da representação. Essa é
a chave e fica aqui o convite para que possamos olhar com novos olhos para o mapa.
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4359
A IMPORTÂNCIA DO USO DE DIFERENTES TÉCNICAS
DIDÁTICAS NO ENSINO DA GEOGRAFIA
Hellen Caroline de Jesus Braga1
Ítalo Roberto Oliveira da Silva2
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo fazer uma análise sobre a importância do uso das
diferentes técnicas do ensino da geografia aplicando atividades práticas para os alunos do ensino
médio. O conceito de geografia e a noção do espaço são importantes para a construção do
conhecimento dos alunos. Verifica-se também que o livro didático ainda é o recurso mais
acessível até o momento e, um importante recurso nas escolas. Para atingir o objetivo, foi
realizada uma pesquisa bibliográfica e levantamento de dados, através de aplicação de
questionários, com o objetivo de analisar como o ensino da geografia vem sendo abordado nas
séries iniciais do ensino médio também como a contribuição do uso das novas tecnologias
podem melhorar o processo de ensino-aprendizagem dos alunos. Conclui-se que o ensino
tradicional ainda prevalece nas aulas de geografia, e quanto aos docentes da escola pesquisada,
nota-se que há uma falta de incentivo e motivação para a inovação de suas metodologias.
Portanto, repensar seu método pedagógico é primordial para a melhoria do ensino aprendizado
do adolescente.
Palavras-chave: atividades práticas, geografia, ensino-aprendizagem.
INTRODUÇÃO
O ensino da geografia e o uso dos recursos didáticos no ensino médio são de
suma importância, pois através dessa disciplina o aluno pode desenvolver o seu senso
de localização e assim compreender-se no espaço em que vive e a partir dessa
compreensão ter uma visão critica das diversas situações do seu dia a dia. O ensino
dessa disciplina proporciona o alcance e o aperfeiçoamento de determinados conceitos
que contribuem de forma significativa para o desenvolvimento do aluno não só como
indivíduo no seu meio ambiente, mas também como cidadão em seu meio social.
Promover mudanças no ensino da geografia não cabe somente aos professores,
mas também ao governo, através de políticas públicas educacionais eficientes, mas
também a participação da família, com o apoio e acompanhamento da vida escolar do
1 Bolsista PIBID/ UEA/ CAPES; bragaelle@ R7.com
2 Bolsista PIBID/ UEA/ CAPES; [email protected]
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4360
aluno. A parceria família/escola é de suma importância na aprendizagem dos alunos,
pois, é no seu cotidiano que eles começam a desenvolver seus próprios conceitos sobre
o meio que o cerca. Ao considerar o espaço em que os educando estão inseridos, pode-
se sugerir a elaboração de diversas atividades como, por exemplo, a construção de
mapas (do percurso que os alunos fazem diariamente da escola para sua casa, do bairro
da sua cidade) e aplicação de oficinas (mostrando através da prática o uso da cartografia
no dia a dia) depois das atividades pode-se aplicar perguntas que incitam os mesmos a
explorar seus conhecimentos já desenvolvidos ao longo de sua vida.
Portanto este artigo tem como objetivo descrever as aulas ministradas pela
professora, e posteriormente a intervenção dos bolsistas do pibid, mostrando que as
atividades dinâmicas são de grande importância para a ficção dos assuntos expostos em
sala de aula.
Com a intenção de atingir o objetivo proposto, foi realizado um diagnóstico
escolar, aplicação de questionários, diagnóstico com o professor e anotações das aulas
dadas pelo mesmo, em uma escola estadual, no município de Manaus-Am.
USO DE DIFERENTES TÉCNICAS DIDÁTICAS NO ENSINO DA
GEOGRAFIA NO ENSINO MÉDIO.
Foi observado por meio das aulas ministradas e pelos questionários aplicados o
segmento do método tradicional (aula expositiva, aplicação de questionários e provas.),
o que se observa é que quando se fala de renovação de diferentes técnicas didáticas
utilizadas pelos professores em sala de aula podemos identificar alguns considerados
basilares, como por exemplo, os baixos salários como item desmotivador; comodismo
do quadro docente, e o sistema que não sofre modificações, acabam levando o professor
a repetir os mesmos conteúdos durante anos, com isso o professor se torna vítima do
sistema. Conforme Dimenstein, Gilberto e Alves, Rubens (2003)
“Devido à condição do professor, que sempre tem de dar o mesmo
programa todo ano, isso é destruir completamente a curiosidade do
mesmo, tornando-se vítima da “chatice” da escola. Eu brinco que eles
se parecem com aqueles guias turísticos, que vão todos os dias mostrar
o mesmo monumento para um grupo diferente... chega o ponto em que
você não aguenta mais, porque, aí, acabou a curiosidade. ”
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Portanto, a perpetuação de uma geografia tradicional ligada à memorização e a
descrição.
Por conta do baixo salário o professor é levado a lecionar nos três períodos do
dia (manhã, tarde e noite), o que acarreta a falta de tempo para o planejamento de suas
aulas, sendo assim prejudicando não só o aluno mais a si próprio, pois não consegue
desenvolver-se profissionalmente. Lembra-nos, Dimenstein, Gilberto (2003):
“ No fundo o professor não se sente um aprendiz a mais tempo.E
como não acreditar nele como um aprendiz, também não acreditam no
estudante. Como não cultiva a incógnita dentro dele, também não
cultiva no estudante. Geramente, o professor não é um curioso. Então,
o circulo vicioso vai se formando.”
O aluno percebendo que o professor está cansado e que muitas vezes não tem o
domínio do assunto, o mesmo se acha no direito de não prestar atenção à explicação do
professor, utilizando-se das conversas paralelas, o uso do telefone celular e o entra e sai
desordenado da sala. Alves, Rubem (2003) ressalta que: quando o docente precisa pedir
disciplina é porque Logo, o professor se sente desmotivado para realizar outras técnicas
do ensino-aprendizagem. O docente culpabilizava os alunos e o sistema, e os alunos
culpabilizavam o professor, com isso não existe um diálogo para uma suposta solução
desse problema.
Com a intervenção dos bolsistas do PIBID, começa haver mudanças
significativas nas aulas, os mesmo vem com intuito de dinamizar as aulas junto ao
professor, usando técnicas diferenciadas tais como, a mídia, mapas, globo terrestre,
aulas dinamizadas, oficinas e promoveu a I Mostra Geográfica, o que ocasionou um
debate onde todos os alunos puderam expor suas opiniões sobre o tema, fixando assim o
conteúdo abordado.
Após o uso das diferentes técnicas aplicadas nas aulas, os alunos começaram a
cobrar aulas nos moldes das quais os pibidianos apresentaram juntamente com a
professora. Com isso houve uma motivação da professora, pois percebeu um maior
interesse dos alunos com a disciplina de geografia.
Posteriormente foi realizada uma oficina de cartografia, onde os discentes
tomaram conhecimento dos conceitos da cartografia, logo em seguida construíram a
rosa dos ventos, contendo os pontos cardeais, colaterais e sub-colaterais, que serviu de
base para outras atividades como, por exemplo, o ‘‘caça tesouro’’, onde utilizamos o
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espaço da escola como o percurso do jogo. Que despertou bastante a curiosidade dos
alunos, pois se colocou em prática todo o assunto exposto pelo professor.
Segundo PIMENTA (2005) o professor é “apenas um orientador, e organizador
das situações de ensino”, ou seja, é o elemento incentivador, orientador e controlador da
aprendizagem, o aluno não é um sujeito passivo que só recebe a informação, mas um
sujeito ativo que expõe suas ideias, de acordo com Leude Rodrigues e Lucilene Moura:
O aluno. Colaborador, participativo, ele, ao dominar solidariamente os
conteúdos, que lhe são apresentados, percebe-se que o determinado e
capaz de operar conscientemente mudanças na realidade. Busca
informações, aprende a localizá-las, analisá-las. Relacionam estas
novas informações com os conhecimentos anteriores, dando-lhes
significado próprio. Redefine conclusões. (...) O aluno assume um
papel ativo. (RODRIGUES E MOURA, 2005, p. 5 e 6. ).
No decorrer das atividades dinâmicas e interativas houve mais interesse do aluno
em relação à geografia, pois conseguiram relacionar os conhecimentos geográficos em
seu cotidiano, ou seja, deixaram de ver a geografia como uma disciplina decorativa e
monótona.
Houve também uma significativa mudança nos métodos didáticos da professora,
a mesma pode compreender através do uso de novas técnicas (utilizadas pelos
pibidianos) que é importante se fazer uma aula atrativa e interativa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consideramos que os usos de diferentes técnicas permitem que o ensino da
disciplina de geografia, tenha um caráter mais dinâmico e interativo. O aluno é
participante e juntamente com o professor construtor do conhecimento.
A participação dos bolsistas do PIBID auxilia o professor da matéria a planejar
sua aula mais atrativa para o aluno. Não só o aluno e professor efetivo são motivados,
mas também os bolsistas do Pibid, pois os mesmos são incentivados a buscar novas
técnicas e assim aperfeiçoarem-se como futuros profissionais da educação de qualidade.
REFERÊNCIAS
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4363
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cotidiano. Porto Alegre:Mediação, 2000.
DIMENSTEM, Gilberto. ALVES. Rubem. Fomos maus alunos. Campinas, SP: Papiros,
2003. P. 62.
RODRIGUES. Leude, Pereira. MOURA, Lucilene, Silva. O tradicional e o moderno
quanto à Didática no ensino superior. Revista Científica do ITPAC, Araguaína, v.4, n.3,
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Superior. 2ª. Ed. São Paulo: Cortez, 2005.
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O USO DAS TECNOLOGIAS COMO INOVAÇÃO NA EDUCAÇÃO:
SUAS RELAÇÕES HISTÓRICAS E SUAS DIVERGÊNCIAS EM - UM
ESTUDO DE CASO NA ESCOLA PADRE CASAVECHIA , RIO
BRANCO-AC
Francisca Pereira Mota1
Alexsande de Oliveira Franco2
RESUMO
Estamos diante de novas maneiras de compreender, de perceber, de sentir e de aprender, nas
quais a afetividade, a imaginação e os valores não podem deixar de ser considerados. Neste
estudo, algumas reflexões foram feitas, e procurou-se compreender a maneira como os
professores estão lidando com as mudanças advindas da presença dos recursos tecnológicos na
escola, a partir do seu fazer pedagógico, analisando as formas e condições concretas e efetivas
do trabalho, refletir sobre as relações entre a ação educativa escolar e as tecnologias, para, num
segundo momento, fazer uma investigação da evolução das TICs, e como os professores estão
lidando com essa nova ferramenta e suas dificuldades com a mesma, Iremos também abordar
uma experiência de aplicação das TICs na escola de ensino fundamental Profª Carlos Padre
Casavecchia, através do programa de iniciação cientifica Pibid.
Palavra chave: tecnologia; educação; sala de aula.
INTRODUÇÃO
Com o surgimento das TIC`s (Tecnologia de Informações e Comunicações) no
processo de ensino aprendizagem nas escolas, vimos o começo de um grande desafio,
fazer com que os professores tornem-se parte desse processo, acompanhando os avanços
tecnológicos e utilizando-os da melhor forma possível na integração do ensino. Nota-se
grande investimento em computadores nas escolas, entretanto o número de professores
que necessitam preparação para lidar com essa ferramenta torna-se considerável. Faz
necessário, programas de formação continuada para capacitar este profissional,
professor, para o uso das TICs no contexto educativo. O professor precisa ter um papel
ativo na integração das TICs junto aos alunos e as escolas devem iniciar um esforço
1 Universidade Federal do Acre, Bolsita de Iniciação a docência Pibid, [email protected]
2 Profº Msc Orientador, [email protected]
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para melhorar a qualidade do ensino através da qualificação de seus profissionais na
utilização das tecnologias
Esse seria um dos pontos necessários para um bom desempenho das aulas, é
claro que não estamos defendendo somente o uso desses recursos tecnológicos no
aprendizado, mais o auxilio do mesmo no processo ensino-aprendizado. Os
equipamentos tecnológicos de comunicação e informação já se constituem uma
ferramenta imprescindível na aprendizagem, quer sejam aplicadas no ensino presencial
ou à distância. Autores como Romanó (2008) e Belloni (2001) reforçam este ponto e
fornecem respaldo à posição de que o processo de ensino-aprendizagem já não pode
funcionar sem se articular dinâmicas mais amplas, que extrapolem a sala de aula.
As Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), segundo Moran (2005),
chegam às salas de aulas para facilitar a prática de professores e alunos, unindo as
atividades em grupos de aprendizagem, sendo bem mais proveitoso. As instituições
precisam estar bem preparadas e equipadas, com profissionais e recursos para
transformar o espaço escolar inovadores. Professores têm desenvolvido projetos e
atividades referentes às tecnologias no ensino escolar como laboratório de informática,
pelo avanço da integração das tecnologias, e com programas atualizados que propiciem
o melhor aprendizado.
Com a internet surgem novas possibilidades para ensinar e aprender. Surge
também a necessidade de repensar a educação, os educadores e os educando em vista de
um paradigma que requer reflexão. Atualmente o educando se encontra cada vez mais
negligente com seus estudos e som suas realidades. É papel da escola então, oferecer
recursos mais favoráveis aos processos de ensino e aprendizagem e as Tecnologias da
Informação e da Comunicação - TIC podem contribuir para a melhoria desta qualidade
de ensino.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS TICS
Tecnologia na perspectiva pedagógica envolve uma dimensão maior e mais
complexa do que simplesmente geração e uso de informações. É a união da práxis
educativa em conformidade com o projeto pedagógico da escola.
O processamento, armazenamento e transmissão de informações através dos
meios tecnológicos, facilitam e intensificam a comunicação interpessoal. O homem
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desde os tempos mais remotos teve necessidade de se comunicar e foi aperfeiçoando e
adaptando a sua capacidade de criação e invenção. Grandes descobertas foram feitas e a
comunicação evoluiu. Desde os desenhos nas cavernas até o atual sistema de
comunicação e informação através das redes de computadores o homem busca passar
adiante um conhecimento, uma experiência, um fato ou uma descoberta.
Para isso analisemos alguns momentos históricos das TICs, e necessário uma
analise das principais tendências, ou seja, os momentos ou as ondas em que este campo
tecnológico tem estado numa aproximação com os ambientes educacionais, ora
exercendo um fascínio e ora temor. Agrupamos estas situações em cinco momentos.
Para Simão Neto (2000ª), “um balanço crítico dessa tendência possibilita um olhar para
o futuro ao mesmo tempo em que abre espaço para uma nova trajetória frente o uso dos
recursos tecnológicos em educação”.
A primeira onda é caracterizada pelo contato que a escola tem com a
informática, esta se faz por meio da informatização do seu setor administrativo. Neste
momento nem todos os professores das escolas tem acesso ao computador, muito menos
os alunos. Os professores passaram a usá-lo como recurso que facilitaria a sua vida,
começou a preparar as suas atividades principalmente as provas.
A segunda onda foi voltada a dotar os alunos de conhecimento de programação,
principalmente, no sistema LOGO10
. Mesmo com a possibilidade de o aluno
experimentar, observar e até superar erros e deficiências, essa proposta privilegiou um
pensamento linear e sequenciado, que não atendia aos estudos ou pesquisa sobre
praticas pedagógicas voltados para a formação integral do homem, era apenas uma
proposta desvinculada do estudo das artes e das ciências humanas.
Dizia Candau (1991), que desde os anos 60 no Brasil, as Propostas de
tecnologias educacionais ocorreram de modo dissociado da educação e de seus
problemas mais emergentes. Por exemplo, limitação pedagógica gestada durante a onda
de fascínio que a proposta exerceu, passou despercebida dos educadores. O mercado
mais atento ás necessidades do aluno e buscando formas para melhorar a produção e os
lucros, trouxe uma nova proposta, conhecida como terceira onda, a informática básica.
Essa tendência popularizou o uso da informática sendo comum ouvir a frase: “O
10
Logo é uma linguagem de programação interpretada, voltada para crianças, jovens e até adultos. É
utilizada com grande sucesso como ferramenta de apoio ao ensino regular e por aprendizes em
programação de computadores.
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analfabeto do futuro será aquele que não souber utilizar computador”. Como o professor
e o estudante que não faz uso do computador ficaria na sociedade do conhecimento?
A escola não encontrou outra saída senão a de equipar suas dependências com
laboratório e informática. Alunos pais e professores passaram a acreditar nessa
necessidade. Essa impensada política de criação de laboratórios nas escolas passou a
beneficiar a indústria de computadores. Mais foi a própria escola que começou a sentir
que a proposta não era tão fantástica assim, diante do impasse que ela enfrentava: como
repetir os cursos básicos de informática, em cada um dos durante onze anos de
escolarização? Como melhor utilizar as salas equipadas com computadores que
custaram grande investimento financeiro?
Além da repetição outro agravante, os alunos apresentavam uma posição passiva
frente á maquina e ao professor que ensinava. O professor era o instrutor, apenas
ensinava comandos a serem seguidos. Um processo linear rotineiro e cansativo. A
tendência da escola tradicional novamente, vencia os recursos tecnológicos, e ai surgia
a resposta das empresas ligadas á educação, apresentado o software educativo.
Essa quarta onda, procurava reativar os laboratórios sub - utilizados pelas
escolas, ofertando programas prontos assim os professores poderiam utilizar os
laboratório de forma mais proveitosa com seus alunos ao invés de ficar em sala de aula.
Desta maneira a proposta do software educativo procurava inovar as aulas, e o professor
poderia organizar suas aulas no laboratório, fazendo uso do software educativo,
Segundo Vieira (1998, p.5) o valor da informação está “diretamente ligado à maneira
como ela ajuda os tomadores de decisões a atingirem as metas da organização”.
Lembrando que esse material não substitui a aula tradicional, mais se bem
utilizado se torna um bom recurso didático. Para isso, o processo de formação do
professor ficou-lhe “devendo” Os subsídios necessários para uma ação das práticas
pedagógicas com as novas tecnologias.
Desta forma os estudos e pesquisas questionam o uso do software educativo sem
uma proposta pedagógica. As escolas questionam os resultados, principalmente em
relação aos investimentos, agora também nos programas educativos além dos
laboratórios.
A quinta onda está ligada com a ajuda as escolas e seus profissionais a usarem as
novas tecnologias atendendo as mudanças das ações pedagógicas no âmbito da escola,
a internet. Com a utilização adequada da internet, aparentemente tem-se o acesso ás
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informações necessárias á construção de conhecimento num processo mediado pelo
professor. Para alguns autores, as previsões geradas pela sociedade do conhecimento no
que diz respeito á velocidade de surgimento e renovação dos saberes e savoir –faire são
alarmantes. Segundo Levy (1999, p.157). “pela primeira vez na história da humanidade,
a maioria das competências adquiridas por uma pessoa no começo do seu percurso
profissional serão absoletas no fim de sua carreira”. De ( Masi 1999, p.15) explicita que
“ o conhecimento que evidenciou-se a partir da segunda Guerra Mundial ainda não está
difundido e radicado, apesar dos novos tempos estarem aí sob olhos de todos”.
A UTILIZAÇÃO DAS TIC PELO PROFESSOR: SUAS DIFICULDADES E
RESISTÊNCIAS
A questão da formação de professores para o uso das TIC tem sido tema de
inúmeras discussões no meio educacional. Sabe-se que muitos cursos de formação ainda
não contribuem de forma efetiva para a implantação de mudanças na prática
pedagógica. Em geral, o professor ao se deparar com obstáculos que dificultam sua
prática, perde o interesse e se acomoda.
Porém, a formação de professores é fundamental e exige dos formadores, não só
elementos para que ele construa conhecimento sobre computadores, mas também que o
ajudem a compreender como e porque integrar o computador à sua prática pedagógica e
que ainda consiga superar barreiras e criar condições para se atingir os objetivos
pedagógicos a que se propõe.
A concepção do uso da informática na escola amplia a visão de educação e
extrapola os domínios do espaço educativo.. As informações agora estão disponíveis
mais facilmente com as TICs e o professor do século XXI não se encontra mais como
detentor único do conhecimento. Existem outras fontes informação e conhecimento
alias são dois termos que se confundem, mas não significam a mesma coisa. Informação
pode ser compreendida como um conjunto de dados organizados para informar, e
conhecimento exige compreensão, argumentação, interpretação e intervenção neste
conjunto de dados para gerar algo novo. Conhecimento exige relação entre sujeito e
objeto e é neste aspecto que percebemos a importância do mediador, neste caso o
professor.
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Por isso, os cursos de formação e capacitação de professores devem cuidar para
que este profissional se sinta confortável e não ameaçado pelo uso das TICs em sala de
aula. Na visão de Gianolla, (2006, p. 55), “os sentimentos relacionados com o
computador acontecem sob alguns aspectos principais: recusa medo e sedução”. O
professor se sente inseguro na medida em que precisa demonstrar suas dificuldades. Isto
cria uma situação de dependência do outro. Portanto é preciso estar disposto a uma
aprendizagem constante e disponível aos erros e acertos. A troca de experiências e o
trabalho em grupo favorecem um aprendizado com autonomia.
Lembrando que “quando o inesperado se manifesta, é preciso ser capaz de rever
nossas teorias e ideias, em vez de deixar o fato novo entrar à força na teoria incapaz de
recebê-lo”, (Morin, 2000, p.30) percebemos que ensinar através das TIC, requer uma
profunda reflexão sobre a visão de conhecimento fragmentada e fora da realidade.
Requer também, uma revisão sobre o papel do professor para que o mesmo torne-se um
promotor da aprendizagem. E que tal aprendizagem seja fruto da interação do aluno
com o conhecimento em construção.
Porém, repensar os processos, requer reaprender a ensinar. Do professor atual se
exige que ele seja um gestor aberto, equilibrado e inovador. Exige que esteja bem
preparado e motivado a atualizar sua contínua formação pedagógica. É uma nova
postura do professor que poderá ajudar seus alunos na organização das inúmeras
informações, contradições e visões de mundo.
Buscar nova postura, não é fácil. As escolas com seus programas de formação
continuada devem preparar seus profissionais para se tornarem capazes de superar
barreiras. Segundo Nóvoa, (2002, p.23), “o aprender contínuo é essencial e se concentra
em dois pilares: a própria pessoa, como agente, e a escola, como lugar de crescimento
profissional permanente”. Então, a formação continuada que promove estudos,
pesquisas e experiências, realizadas com o objetivo de crescimento profissional e
pessoal, orienta o docente para um melhor desempenho em sua prática pedagógica.
Baseado nos quatro pilares norteadores da educação, citado por Jacques Delors
(1998) no Relatório da Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI, no
que se refere a “aprender a conhecer”, deve haver uma reflexão sobre a formação de
educadores. Um programa de formação de professores deve propiciar ações e reflexões.
Buscar teorias que ajudem a compreender a prática. Quando há uma reflexão sobre suas
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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potencialidades e dificuldades o professor se propõe a mudanças e se sente estimulado a
enfrentar situações desafiadoras.
A utilização do computador na escola, como ferramenta pedagógica, exige uma
compreensão maior do que seja o processo de aprendizagem, para que não se confunda
as ideias de “informar-se sobre o mundo com o formar-se no mundo” (Gianolla, 2006,
p.52). Com isso, é preciso conhecer não só a parte técnica, mas, também, o que fazer
com elas, parte-se daí a importância de formações continuadas e planejamento para o
uso das TIC em sala de aula. Formar-se no mundo exige construção do conhecimento,
através do computador, envolvendo não só professores e alunos, mas toda a comunidade
educativa. É necessário que todos compreendam as mudanças na visão do ensino, hoje
dividida em disciplinas e horários fragmentados para uma visão interdisciplinar através
de projetos que despertem o interesse dos alunos para que possam recontextualizar o
aprendizado e integrá-lo a sua realidade de vida.
ESTUDO DE CASO NA ESCOLA PROFº CARLOS PADRE CASAVECCHIA
A escola profº Padre Carlos Casavecchia de ensino fundamental está localizada
no município de Rio Branco/AC, no bairro Xavier maia. Onde foram desenvolvidas
atividades: como oficinas do Google Earth, como parte do programa de Iniciação a
docência Pibid3. O software Google Earth, uma excelente ferramenta de assimilação
didática através de imagens de satélites podemos ministrar vários conteúdo pragmático,
tanto relacionado com a disciplina de geografia quanto às demais disciplinas. Neste caso
foi utilizada a disciplina de geografia como base para a aplicação do projeto.
Os alunos da escola mostraram-se bem receptivos com a aplicação das
atividades em especial das oficinas. Quando indagados eles sobre o conhecimento que
eles têm sobre o software a resposta e bem surpreendente, pois apesar do Google Earth
ser um software livre e bem acessível a resposta mais respondidas pelos alunos que
estavam sendo apresentado o software. Foram as seguintes: “Nunca tivemos contato
com esse programa de computador”, e surpreendente que jovens que passam boa parte
do tempo acessando as redes sociais, na Internet, não tenham tido contato ou ao menos
conheçam esses programas, fato este que nós leva a uma reflexão. “As TICs não e
3 PIBID. Programa de Iniciação a docência da Universidade Federal do Acre, bolsistas alunos do curso de
licenciatura plena em geografia.
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somente fazer com que os estudantes tenham acesso as tecnologias mais direciona-los
para que estes façam bom uso das mesmas”.
Realizarmos oficinas com software Google Earth utilizando imagens de toda
região amazônica, buscando mostrar aos alunos como o índice de desmatamento na
Amazônia e no estado do Acre contribui de forma negativa na vida da sociedade, Dando
ênfase aos conteúdos dos referencias curriculares e algumas bibliografias como auxilio:
FEARNSIDE, P. M. A floresta Amazônia nas mudanças globais. Manaus, Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), 2003, 134 p. INSTITUTO NACIONAL DE
PESQUISAS ESPACIAIS (Inpe). Monitoramento da Floresta, São José dos Campos
2004. Entendemos que essa metodologia integrada com o uso das TICs, seria de grande
importância no processo de ensino aprendizagem, principalmente para as séries iniciais,
onde os professores encontram dificuldades em atrair a atenção das turmas, pois o
público alvo são alunos pré-adolescente com imersa dificuldade de concentração e
déficit comportamental muito grande, com isso tentamos fazer com que eles entendam
todo o processo de desmatamento, suas causas e suas consequências.
Lembrando que não foi fácil a realização das Atividades, pois a escola não
detém de equipamentos adequados para realização da mesma, tivemos várias
dificuldades entre elas destacamos o laboratório de informática que apesar de estarem
bem equipadas com as máquinas todas novas em quantidade suficiente para atender uma
turma de 30 alunos, entretanto as máquinas não funcionavam,verificamos também que
não há suporte nem manutenção, e o sinal de internet não funcionava. Isso nos
impossibilitou de estamos fazendo uso do mesmo. Tivemos então que arrumar outra
forma de estamos aplicando as atividades sem prejuízos aos alunos, improvisadamente
as oficinas foram realizadas na própria sala de aula com a ajuda de um projetor
multimídia; Notebook; software Google Earth; e Quadro branco.
Os resultados foram alcançados de acordo com os objetivos traçado e
discutidos Abaixo:
Utilizar o conteúdo programático com a inserção de novas tecnologias como o
software Google Earth; para melhor assimilação do conteúdo.
Demonstrar o desmatamento ocorrido na Amazônia e no Acre, em linhas gerais.
Para que os alunos possam conhecer a realidade do lugar onde vivem.
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Analisar imagens que demonstrem onde houve grandes índices de
desmatamento. Para que os alunos possam ter a real dimensão do desmatamento e as
inúmeras áreas já devastadas.
O Pibid como programa de iniciação a docência tem mostrado a sua importância
também para a formação dos alunos dos cursos de licenciatura, à medida que vêm
reduzindo a distancia entre a academia em sua teoria cotidiana com a realidade da
profissão docente, logo que nos primeiros anos dos cursos de licenciatura o aluno tem a
oportunidade de adentrar nesse mundo, fazendo um feedback ensino aprendizado.
Não podemos deixar de mencionar a evolução considerável do aprendizado dos
alunos da escola Pofª Carlos Padre Casavechia, a presença dos futuros professores
fazendo aplicação de conteúdos com a inserção de novas tecnologias deixam as aulas
mais prazerosas e ofuscam a curiosidade dos alunos, fazendo assim um resgate com
alunos que estavam com dificuldade com notas ou mesmo com desestimulado com o
conteúdo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para aprimorar as TICs em sala e na escola o primeiro passo é procurar de todas
as formas tornar viável o acesso frequente e personalizado de professores e alunos à
novas tecnologias” e procurar compreender e mediar as inseguranças e os medos que
são comuns entre os professores quando estão diante de situações novas. A apropriação
das novas tecnologias na prática educativa deve acontecer de forma consciente e com
tranquilidade.
Se tratando de tecnologia tudo é muito rápido e o professor deve desenvolver
autonomia na busca deste conhecimento. Trata-se então de utilizar o máximo possível
as novas tecnologias para melhorar a formação do professor e criar condições para que
ele aprenda com as experiências, adquira hábitos de acessar, processar, organizar dados,
participar de fóruns, chats.
Podemos verificar essa situação na prática com o uso das TICs como parte do
projeto de Iniciação a docência PIBID, com as Oficinas realizadas na escola de ensino
fundamental Profº Carlos Padre Casavecchia, desta maneira percebemos que, com
professores dispostos, aulas, mas planejadas, material didático adequado, alunos mais
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interessados e escolas promotoras de cidadãos mais livres e criativos é possível
visualizar uma educação de melhor qualidade para as novas gerações.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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WWW.pucpr.br/eureka> área : > PUCPR 200> Pós –graduação 2000,Mestrado em
Educação :Tecnologia E. – T 2.Acesso em 31 agos.2000ª.
O ENSINO DA GEOGRAFIA POR MEIO DE JOGOS E ATIVIDADES
LÚDICAS
Ana Juscelina dos Santos Araujo1
Cíntia Silva Tanan2
1 UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana; Graduanda em Geografia;
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Jersonita Brito Santos e Santos3
Luciene Rios dos Santos4
RESUMO
O presente artigo refere-se a práticas de ensino através de jogos e atividades lúdicas, pretende-se
ressaltar a importância da utilização dessas práticas para o ensino da disciplina de Geografia.
Visto que a Geografia era e ainda é tida como uma disciplina que decorava assuntos como
capitais, estados, países dentre outros, essa ideia vem sendo modificada, ou seja, o ensino da
geografia tem sido mais proveitoso pelos alunos na medida em que se dá relevância aos
conteúdos apresentados fazendo com que os educandos dê sentido a disciplina, incorporando o
conhecimento e vivenciando-os nas práticas cotidianas.O referido artigo vai destacar que a
Geografia é uma disciplina que incorpora o conhecimento fazendo valer a pena o aprendizado,
já que a medida que se adquire os conhecimentos se aprendem em como aplicar no dia a dia, e
para se aprender existem formas e meios que proporciona prazer sem ser necessariamente ficar
presos a livros e leitura , muitas das atividades lúdicas e jogos são possíveis de se tornar o
conhecimento mais dinâmico, lembrando que isso não será feito de forma isolada, o conjunto de
tudo isso é que torna possíveis um aprendizado eficiente.Vale salientar que será feito uma
discussão sobre as práticas do professor para com os educandos, a fim de verificar como se dá a
forma de ensino, nas escolas atuais. E para tal, serão feitas revisões teóricas de grandes teóricos
que discutem a temática.
Palavras-chave: Geografia, Ensino, Jogos.
INTRODUÇÃO
A Geografia é consagrada por muitos como uma disciplina “decoreba”, fato esse
que pode ser atribuído pelo desenvolvimento das aulas, que muitas vezes não consegue
fazer despertar o interesse dos alunos pela Geografia, o que dificulta muito a
aprendizagem dos educandos, o ensino dos conteúdos de geografia, devem ser
atribuídos a vivências dos alunos, assim a compreensão será de forma eficiente, sem que
fiquem presos a decorar as temáticas.
Por se tratar de uma disciplina muito ampla, repleta de conceitos, se forem
aplicados os conteúdos de forma descontextualizada acaba se tornando muito cansativa
2 UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana; Graduanda em Geografia;
[email protected] 3 UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana;
Graduanda em Geografia; [email protected] 4 UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana; Graduanda em Geografia;
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para os educandos e até mesmo para os professores. Os jogos servem para auxiliar na
construção dos conhecimentos tornando as aulas mais dinâmicas, e atrativas de fácil
compreensão.
O motivo de muitos alunos não gostarem de estudar geografia talvez esteja no
modo como são trabalhados os conteúdos na sala de aula, por esta razão é que os
educados tem procurado melhorar cada vez mais o ensino e para tal, os professores têm
adotado como instrumento de ensino as atividades lúdicas que vem enriquecendo o
ensino, sendo que estas atividades são atrativas e despertam o desejo pelas aulas de
Geografia, fazendo com que o aluno se envolva de forma bastante atuante na construção
do ensino/aprendizagem.
Nesse contexto, as atividades lúdicas podem ser de grande contribuição, pois
elas facilitam o conhecimento, pois é desenvolvida a imaginação, a socialização e
estimulam os alunos a serem mais criativos. As brincadeiras são fundamentais para o
desenvolvimento de qualquer criança, o jogo é o brincar em um contexto de regras onde
se perde ou se ganha. Mas para se trabalhar com esse meio, não podemos brincar por
brincar, as atividades desenvolvidas devem ter intencionalidades que é justamente
voltada para a aprendizagem dos alunos.
Com o intuito de melhorar a compreensão e aprendizagem dos alunos de forma a
despertar neles habilidades e atitudes e por acreditarmos que através de atividades
práticas seja possível motivar e levar o aluno a ouvir, prestar atenção, despertando a
curiosidade, iniciativa, produtividade é que surgiu o interesse de pesquisar sobre a busca
de novas linguagens e metodologia para o ensino de geografia e apresentar algumas
reflexões de que forma a utilização de jogos e atividades lúdicas podem contribuir na
construção do conhecimento e ao tempo em que se concentre nas questões do mundo,
ou seja, é preciso voltar-se a concentrar não só nas questões da geografia escolar, mas
dá importância para as coisas que nos cercam, acreditar nas habilidades e competências
que os alunos tem para conhecer o mundo como ele é, e a partir dessa prática de ensino
provocar o aluno a rever as questões que os envolvem neste universo tão grande
chamado de mundo.
Na geografia há uma ampla quantidade de conteúdos que podem ser trabalhados
por meio de atividades lúdicas. Por exemplo, localização, orientação, representação
dentre outros podem ser desenvolvidos por este meio de ensino, o que torna os
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conteúdos mais dinâmicos podendo ter ampla participação dos alunos e assim um
despertar para aprender com prazer.
Atualmente vemos muitos alunos desmotivados e desinteressados, e fazem com
que a sala de aula se transforme em um ambiente dispersivo e desfocado, onde esse
desinteresse deve estar associado a vários fatores e não só apenas à aulas de geografia,
talvez deva-se a uma escola que não valoriza a dúvida, as incertezas, e sim a uma
escola que nos apresentam verdades prontas e acabadas sobre a própria geografia,
história e as demais áreas de conhecimentos. É por isso que talvez não se percebe a
presença do desejo de aprender por parte dos educandos, eles simplesmente optam em
decorar os conteúdos, no entanto, é necessário que os educadores crie possibilidades
que possa instigar aos alunos a querer fazer, e a utilização de jogos pode servir como
desencadeadores e despertadores de ações.
Algumas atividades podem ser feitas com conteúdos de localização e orientação,
fácil de serem aplicados e entendidos pelos educandos por meio das atividades lúdicas,
o jogo de caça ao tesouro é um ótimo exemplo, onde os alunos vão ter noção de
proporção de escalas. Esse tipo de atividade é de grande relevância na vida dos alunos
pois além de favorecer a interação com a coletividade do grupo desenvolve meios que
lhe permitem ter noção de espaço.
Essas atividades podem tornar as aulas de Geografia mais dinâmicas, auxiliando
na aprendizagem dos alunos, que é a única coisa que realmente interessa no processo de
ensino. Vale ressaltar que o lúdico deve está casado com um sentido não deixando de
lado o verdadeiro significado da escola.
Acreditamos que através do jogo, é possível a liberação de tensões,
desenvolvimento de criatividade, espontaneidade e habilidades o sujeito acaba jogando
não como uma obrigação, mas como algo livre e prazeroso. Cabe ao professor de
geografia saber aproveitar e poder adequar o jogo ao conteúdo, dando sentido ao
conteúdo e aproximando o aluno da realidade dessa forma o aluno poderá trabalhar
produzindo seu próprio conhecimento de forma mais concreta, interativa e prazerosa.
Sabemos que além de estimular o desenvolvimento cognitivo, o jogo pode
também auxiliar na criação de estratégias para a solução de alguns problemas que
podem surgir no decorrer do processo de aprendizagem.
De acordo com os estudos de Piaget, em especial sobre a gênese do
conhecimento, o jogo é tido como um processo de assimilação: “se o ato de inteligência
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culmina num equilíbrio entre a assimilação e a acomodação [...] pode-se dizer que o
jogo é essencialmente assimilação, ou assimilação predominando sobre a acomodação”.
É fundamental à presença e a orientação do professor na sala de aula para a
aplicação dos jogos, até porque os jogos por si só não dão conta de ensinar o conteúdo.
Ele é tido como uma ferramenta de auxílio no processo de ensino, onde tanto o jogo
como o professor, deve assumir um papel de intermediador. Segundo Freire (1996,
p.27), ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua
própria produção ou a sua construção. Os jogos é uma possibilidade que se cria de para
mediar o conhecimento nas salas de aula.
As atividades lúdicas devem ser bem organizadas e interessantes, e para tal, o
docente deve preparar com antecedência as práticas, onde deverão ser sempre com base
no conteúdo trabalhado com o mérito de alcançar sua intencionalidade no processo
ensino-aprendizagem.
O PROFESSOR É O MEDIADOR DE CONHECIMENTOS
O professor é um profissional que desempenha um papel essencial na sociedade,
ele media conhecimentos ao mesmo tempo em que prepara pessoas para formação de
outras profissões, a prática aplicada pelos docentes nem sempre é a mesma utilizada a
muitos tempo atrás, pois, a medida que as coisas evoluíram, o ensino também deu uma
boa avançada, o ato de ensinar exige muita dedicação, e não se restringe a apenas
aplicar conteúdos, é necessário ir além buscar meios que envolva os educando de tal
forma que eles se sintam motivados a querer aprender e uma das formas que vem sendo
bastante discutida e aplicada nas escolas são as atividades lúdicas que melhor dinamiza
o ensino e aprendizagem.
O professor tem um papel de orientador, frente à verdade de que é o aluno que
constrói seu próprio conhecimento, ninguém pode fazê-lo por ele, entretanto, os
mecanismos e estratégias resultantes da tomada de decisão de cada professor nessa
dinâmica, podem favorecer a aprendizagem do aluno, ajudando-o a conseguir bons
resultados.
E vale ressaltar, que ao participar de atividades lúdicas o educando desenvolve a
imaginação, além de praticar a interação e a integração com os colegas e essas ações
favorecem uma aprendizagem de qualidade em todas as áreas do conhecimento. Visto
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que na medida em que se “brinca” o individuo demanda um interesse maior nas
atividades propostas e produz um sentimento de euforia, entusiasmo o que favorece a
concentração, imaginação, o raciocínio e a criatividade é estimulada. Através do lúdico
é possível haver uma conexão entre gostar e aprender tendo como resultando uma
aprendizagem prazerosa.
É possível haver uma educação mais eficiente com práticas inovadora e dentre
essa técnica didática está os jogos e o lúdico. Estes são capazes de provocar uma
aprendizagem significativa que ocorre gradativamente de forma espontânea, através do
lúdico os docentes poderão desenvolver atividades que sejam divertidas e que acima de
tudo assuma um papel de apoio didático para concretização daquilo que se pretende
alcançar que é a real aprendizagem dos estudantes, é por isso que a sua utilização deve
ser de forma consciente e planejada para alcançar o seu principal objetivo que é a
construção de um sujeito capaz de discernir valores sejam estes éticos ou morais além
da formação de cidadãos críticos e consciente do seu papel na sociedade.
No caso da geografia, para tornar os conteúdos geográficos mais atrativos, já que
alguns educando se sentem desinteressados a autora Rupeln a firma ser:
[...] “necessário oferecer aos educandos oportunidades para que
desenvolvessem em sala de aula atividades diversificadas,
propiciando o desenvolvimento da ludicidade, levando o aluno a
gostar de aprender, ou seja aprendendo de uma maneira simples,
brincando, muitas vezes sem perceber que está estudando, de
uma forma dinâmica e atrativa, aproximando o aluno do
conhecimento geográfico”.(Rupeln, 2008-2009)
Nas aulas de Geografia, um dos momentos em que há maior interatividade com
as atividades são nos momentos das atividades lúdicas, a didática que o professor
utilizar para conseguir despertar o interesse e atenção dos alunos é muito importante,
pois, em alguns casos específicos, o não gostar das aulas de Geografia está na maneira
na qual as aulas são aplicadas, o autor Freire diz que:
[...] é pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que
se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico,
necessário à reflexão critica, tem de ser de tal modo concreto
que quase se confunda com a prática (FREIRE, 2004, p.39).
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4379
Portanto, o trabalho do professor implica constantemente uma reflexão critica
sobre sua prática, onde esta deve ser rica de métodos para poder motivar a construção
do conhecimento. Buscando meio para que ocorra uma aprendizagem significativa e o
aluno se sinta responsável na construção do conhecimento e não apenas um mero
receptorde informações, despertando motivos para a aprendizagem, tornando as aulas
interessantes para os estudantes, e dessa forma será possível tornar a sala de aula um
ambiente estimulante para que ocorra a real aprendizagem.
È importante levar em consideração o estudante enquanto pessoa com suas
limitações, seus sonhos, seus desejos e anseios e criar possibilidades para que ele
enxergue o mundo a sua volta, assuma uma postura critica diante da realidade vivida se
tornando um sujeito capaz de passar pelo processo de aprendizagem com entusiasmo,
animo, envolvimento e a certeza que está seguindo pelo caminho correto, aprendendo
com seus próprios esforços ainda que seja por meio de um mediador. É por meio de
provocação, de perguntas, a inserção de conteúdos que tenha nexo com a vida cotidiana
do aluno que o leva a abstrair o que está sendo trabalhado.
E porque não sair do ensino tradicional, com aulas expositivas professor falando
e aluno ouvindo com se estes fossem apenas seres desprovidos do conhecimento e que o
professor é o detentor do conhecimento que simplesmente despeja o que sabe e o aluno
assume apenas o papel de absorvedor de um certo conteúdo dado, pronto e acabado?
Cabe ao professor refletir sobre sua prática para que haja a mudança dessa realidade.
Evitando que o aluno tenha apenas uma aprendizagem mecânica onde o que foi
ensinado é esquecido depois de algum tempo ou após a realização de uma avaliação
escolar.
A IMPORTÂNCIA DAS ATIVIDADES LÚDICAS NA SALA DE AULA
Os educando estão cada vez mais inquietos e para trabalhar com eles em sala de
aula é necessário que o educador esteja atento a lidar com essa situação, é de grande
relevância destacar que o desenvolvimento dos jogos no ensino seja implantado, pois
esta prática desenvolve nos educandos formas de pensar, refletir e desenvolver formas
que lhes permitem usar o raciocínio através da sua ativação, como afirma Macedo
(2005)
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4380
Jogar não é simplesmente apropriar-se das regras. É muito mais do
que isso! , (...) não é somente jogar que importa (embora seja
fundamental!), mas refletir sobre as decorrências da ação de jogar,
para fazer o jogo um recurso pedagógico que permita a aquisição de
conceitos e valores essenciais à aprendizagem (MACEDO, 2005).
Vale ressaltar que os jogos transcendem o ato de jogar, sendo assim ele é, no
contexto da aprendizagem um instrumento muito importante por ser bastante complexo
e exigir diversos recursos para ser executado. É importante que os jogos tenham uma
intencionalidade, sempre seguido de práticas pedagógicas de acordo com os conteúdos
que se queiram trabalhar, adequando-se a faixa etária dos educandos. Na realidade a
maioria das escolas de educação básica ou até mesmo infantil não dá tanto valor aos
aspectos lúdicos como ferramenta de conhecimento e simplesmente recorrem a simples
aplicação de conceitos e conteúdos de forma cansativa e nem um pouco atraente para os
educandos.
Para MACEDO, PETTY e PASSOS (2005, p.37) considerar as ações na
perspectiva dos jogos é transformar gradativamente as proposta e os conteúdos em
desafios a serem solucionados e obstáculos. E dessa forma pode-se contribuir para que a
aprendizagem torne-se mais significativa para os alunos lhes ajudando a construir
relações mais cooperativas, norteadoras pelo respeito mútuo e pela consciência da
importância do seu papel na constituição de um ambiente mais favorável para a
aprendizagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabendo da real situação que as escolas enfrentam no ensino, percebemos que há
grande deficiência no ensino das disciplinas, principalmente na de Geografia, e para que
as aulas sejam aceitas com interesse e motivação pelos educandos foi que surgiu uma
maneira diferente de ensinar e que tem dado certo, já que o professor percebendo o
desinteresse que os alunos têm pelas diversas aulas de Geografia, propõe as atividades
lúdicas para expor diversos conteúdos onde através destas práticas foi constatado que o
aprendizado melhorou, pois os educando começaram a gostar das aulas e assim pôde
aprender brincando sem achar as aulas cansativas, e a partir daí despertaram um grande
apego pelas diversas aulas que são trabalhadas com os jogos e as atividades lúdicas.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4381
O resultado de um bom aprendizado resulta dos saberes profissionais, ou seja, à
medida que é percebido que não está havendo uma compreensão pelos conteúdos
aplicados o professor partirá para outros método usando novos saberes adquiridos ao
longo da sua experiência pedagógicas, e sua competência a fim de alcançar o objetivo
principal que é o de fazer com que os educandos tenham um ensino aprendizado de
qualidade e, é para isso que os professores estão adotando essa medida de ensino por
meio dos jogos e das atividades lúdicas que estão sendo tão bem aceita pelas classes
estudantis e que tem tornados as aulas mais atrativas.
O uso de metodologias e materiais, às vezes, simples e baratos, em sua maioria,
não quer dizer uma escassez ou impossibilidade de aquisição de materiais mais caros
evidencia sim, uma opção didática. Pressupõe o entendimento de que as possibilidades
pedagógicas são muito mais ricas, já que as mesmas se constroem desde o próprio
sujeito e/ou recebem as suas contribuições durante a sua dinâmica de elaboração. Essa
especificidade ativa está adiante da própria metodologia e/ou do uso de determinado
material, ou do conhecimento do fazer e de como fazer e o que foi apreendido. As
vivências permitem em si mesmas, uma capacidade de associação futura quando o aluno
é capaz de transformar o aprendido e associá-lo com outros conhecimentos.
Muitos, erradamente, podem considerá-los simplórios, imediatistas ou com
ausência de planejamento pedagógico, todavia, a decisão de utilizá-los implica em um
planejamento apurado e sério. Em se tratar do ensino da geografia, é importante
salientar que os saberes disciplinares exigem no campo da geografia a necessidade de se
trabalhar com materiais que desenvolvam nos alunos o interesse pelas aulas dessa
ciência que é de tão grande relevância no contexto sócio espacial de cada individuo, e
para tal, os materiais didáticos tem grande influência para obter o mérito do ensino, que
é o aprendizado. Portanto, os jogos se tornam grande aliados para a construção e
desenvolvimento do conhecimento geográfico, no processo ensino aprendizado.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 29.
ed, São Paulo: Paz e Terra, 2004.
MACEDO, Lima de ; PETTY, Ana Lucia Sícoli; PASSOS, Norimar Christe. Aprender
com Jogos e Situações-Problema.Porto Alegre: ARTMED, 2000.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4382
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15 Abr. 2013.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4383
O USO DA CARTOGRAFIA COMO FERRAMENTA PARA CONHECER
O ESPAÇO VIVIDO
Viviane Paiva dos Santos - ID1
Josandra Araújo Barreto de Melo2
RESUMO
Este trabalho analisa as experiências do projeto de intervenção/colaboração desenvolvido no
âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID/CAPES/UEPB,
realizado na Escola Estadual de Ensino Médio Inovador e Profissionalizante Hortênsio de Sousa
Ribeiro (PREMEN), Campina Grande-PB, que teve como objetivo principal proporcionar aos
alunos formas de conhecimento do espaço vivido e interpretá-lo através da cartografia articulada
à geopolítica local. O intuito foi desenvolver o conhecimento cartográfico dos alunos, visando
usar o espaço vivido como ferramenta, ou seja, mapear a cidade através da percepção dos
mesmos. A partir da realização da atividade, foi possível observar o interesse dos alunos pela
temática e a curiosidade dos discentes pelo conhecimento dos espaços da cidade em que vivem.
O resultado alcançado com estas atividades confirmou que trabalhar com a realidade dos alunos
usando diferentes metodologias, incentiva o interesse pela construção do conhecimento.
Palavras-Chave: Ensino de Geografia; Cartografia e Espaço Vivido.
INTRODUÇÃO
Quando se reflete sobre o ensino de Geografia nas escolas atualmente, logo se
percebe o quanto este se encontra desvalorizado, muitos veem a referida disciplina
apenas como um componente utilizado apenas como ferramenta para descrição do
mundo (LACOSTE, 2010, p.20). Mas, de fato, seria esta disciplina algo cansativo, cuja
única importância seria conhecer o espaço em que vivemos? Apenas a titulo de
informação. Mas que serventia tem estas informações, a princípio tão relevantes?
Ao se discutir a função/papel da Geografia, várias respostas surgiram para estas
perguntas. Cabe aos professores da disciplina mostrar o verdadeiro significado e valor
1 Graduanda em Licenciatura em Geografia, Universidade Estadual da Paraíba-UEPB; bolsista do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID/CAPES/UEPB;
[email protected] 2 Coordenadora da Área de Geografia no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência –
PIBID/CAPES/UEPB. E-mail: [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4384
do componente curricular, sobretudo quanto à possibilidade de compreensão do mundo
vivido. É preciso mostrar que ela está presente em seu cotidiano, no seu dia-a-dia.
Algumas vezes, o conhecimento geográfico é repassado aos alunos, como algo
sem aplicabilidade fora da escola. Por isso, após terminar o secundário, os alunos não
compreendem a importância que a Geografia tem fora do ensino e não são capazes de
ver como a mesma está presente no seu cotidiano, e como isto diretamente ou
indiretamente afeta sua história. Segundo Pontuschka et al. (2009):
A Geografia, como disciplina escolar, oferece sua contribuição para
que alunos e professores enriqueçam suas representações sociais e seu
conhecimento sobre as múltiplas dimensões da realidade social,
natural e histórica, entendendo melhor o mundo em seu processo
ininterrupto de transformação, o momento atual da chamada
mundialização da economia (ibidem, p. 39).
Portanto, é preciso procurar a raiz do problema, entender os motivos da falta de
interesse dos alunos e buscar possíveis soluções. Tendo em vista tal compreensão, a
presente intervenção/colaboração com a utilização da cartografia e geopolítica do
espaço vivido dos alunos partiu da compreensão de que é de suma importância
desenvolver no ensino diferentes metodologias, visando melhorar a participação dos
alunos nas aulas e possibilitar a aproximação do conteúdo visto na sala de aula com o
cotidiano dos alunos. A cartografia contém propriedades que, junto à realidade cotidiana
dos alunos, tornam-se um valioso instrumento no desenvolvimento da capacidade de
interpretação, compreensão, análise, expressão de ideias, construção de conhecimento e
mudança de atitudes. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais:
A Geografia tem por objetivo estudar as relações entre o processo
histórico na formação das sociedades humanas e o funcionamento da
natureza por meio da leitura do lugar, do território, a partir de sua
paisagem. Na busca dessa abordagem relacional, trabalha com
diferentes noções espaciais e temporais, bem como com os fenômenos
sociais, culturais e naturais característicos de cada paisagem, para
permitir uma compreensão processual e dinâmica de sua constituição,
para identificar aquilo que na paisagem representa as heranças das
sucessivas relações no tempo entre a sociedade e a natureza em sua
interação. (BRASIL, 2011, p.26)
Nesta perspectiva, espera-se que através desta iniciativa possa-se facilitar o
aprendizado dos alunos em relação à interpretação e construção de mapas, levando-os a
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4385
relacionar seu espaço vivido, cartografia e a ciência geográfica. Além disso, perante os
desafios encontrados no ensino atual, se tornam necessários estudos acerca de
metodologias que possibilitem a inserção do aluno no processo de construção do saber.
Diante desses desafios, foi proposto um maior/melhor trabalho acerca da cartografia e
geopolítica da cidade de Campina Grande, fragmentado através dos seus bairros.
A partir do exposto, foi realizada uma pesquisa empírica e, no decorrer do
último bimestre escolar de 2012, colocada em prática esta proposta, desenvolvida na
Escola Estadual de Ensino Médio Inovador e Profissionalizante Hortênsio de Sousa
Ribeiro (PREMEN), nas turmas do “3º ano E” e “3º ano F” do Ensino Médio,
cumprindo exigências do projeto PIBID/CAPES/UEPB, Subprojeto de Geografia, que
tem como finalidade proporcionar aos estudantes de licenciatura a inserção no ambiente
escolar e, a partir disto, que estes desenvolvem projetos de intervenção/colaboração nas
aulas dos professores, a partir de um diagnóstico das principais lacunas identificadas no
ensino-aprendizagem de Geografia, possibilitando um diferencial no ensino e auxiliando
o professor com diferentes metodologias e uso de recursos didáticos.
O projeto de intervenção implementado nas turmas teve como objetivo geral que
o aluno interpretasse o seu espaço, representando/codificando segundo a sua percepção.
Como objetivos específicos buscou-se relacionar os conhecimentos cartográficos ao
conteúdo da Geopolítica; debater a construção de ordens mundiais e seus reflexos em
múltiplas escalas; abordar o contexto de desordem mundial nas dimensões política e
econômica, bem como seus rebatimentos no cotidiano discente.
Mediante o exposto, este artigo tem por objetivo principal analisar as
experiências do projeto de intervenção/colaboração desenvolvido no âmbito do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID/CAPES/UEPB.
METODOLOGIA
CONTEXTUALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE
INVESTIGAÇÃO
O projeto desenvolvido faz parte das atividades propostas pelo
Subprojeto de Geografia, integrante do PIBID/CAPES/UEPB, dentre as quais o bolsista
tem como tarefa intervir de forma participativa nas aulas do professor supervisor,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4386
colaborando para que inove suas aulas, através de diferentes metodologias e recursos
didáticos. Após conhecer os anseios, opiniões e sugestões da(s) turma(s) deve-se, junto
ao professor supervisor, desenvolver um projeto de intervenção/colaboração. O
ambiente escolhido para o desenvolvimento destas atividades foi a Escola Estadual de
Ensino Médio Inovador e Profissionalizante Dr. Hortênsio de Sousa Ribeiro
(PREMEN).
Esta escola atualmente contempla atividades do Ensino Médio Inovador e,
embora tenha um bom espaço físico, ainda necessita de algumas infraestruturas para
atender melhor, visto que conta com um grande número de estudantes,
aproximadamente 863, distribuídos em cerca de 20 salas, nos turnos manhã e tarde. A
escola também dispõe de sala de vídeo, informática e os laboratórios de química e
biologia que, em 2012, eram usadas como sala de aula, mas este ano (2013) voltaram a
ter suas reais funcionalidades. A escola também possui um corpo docente com cerca de
36 professores. As Figuras 1 e 2 apresentam aspectos da estrutura física da escola.
FIGURA 1: ESTRUTURA FÍSICA DA ESCOLA FIGURA 2: BIBLIOTECA DA ESCOLA
Fonte: Paiva, Viviane. Setembro-2012.
As turmas escolhidas para o desenvolvimento das atividades foram “3º ano E” e
“3º ano F”. As atividades do PIBID nestas turmas se iniciaram no final do mês de
agosto de 2012. Durante os meses de setembro e outubro foi aplicado um questionário
para identificar o perfil de cada turma, conhecer as deficiências e dificuldades que os
alunos têm em relação aos conteúdos da disciplina de Geografia. Após a análise dos
questionários, traçou-se um perfil, onde se identificou uma série de informações, entre
estes a deficiência dos alunos com relação à cartografia. Diante deste fato, iniciaram-se
as atividades de intervenção nas aulas e, junto ao professor supervisor, o projeto
começou a ser planejado, desenvolvido para em seguida ser executado.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4387
MÉTODO
Baseando-se na ideia de que os alunos já possuem uma noção espacial
desenvolvida a partir do senso comum e da sua vivência no espaço, procurou-se
construir uma abordagem socioconstrutivista de ensino-aprendizagem, fundamentada na
fenomenologia, pois através da cartografia os alunos pensam e representam seu espaço,
de acordo com sua percepção conseguindo, assim, desenvolver as atividades propostas.
TÉCNICAS
A metodologia proposta foi composta por etapas:
a) Inicialmente, foi realizada intervenção nas aulas ministradas pelo professor
supervisor, com sua anuência, buscando abordar os conteúdos de Cartografia e
Geopolítica, oportunidade em que foi feita uma revisão sobre os elementos da
cartografia, assim como se tratou a geopolítica na escala geográfica local;
b) Em sequência, as turmas foram divididas em grupos, de acordo com os
bairros em que residem os alunos, oportunidade em que foram solicitadas as
informações que deveriam compor o mapa (presença de escolas, saneamento, áreas
verdes, prédios e verticalização, pontos de comércio (supermercado, farmácia, padaria);
c) Após o levantamento dos dados, partiu-se para representação através dos
mapas, seguida de descrição textual sobre a experiência da produção dos mapas e a
representação dos bairros (seu espaço vivido) através de sua percepção.
d) Apresentação dos trabalhos pelos alunos, seguida de discussão dos problemas
do cotidiano que afetam os mesmos, já explicitados acima;
e) Por fim, produção de um mural com a exposição dos trabalhos realizados.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Ao iniciar o projeto havia certo receio quanto à aceitação dos alunos, já que se
tratava de algo novo e que requeria interesse, participação e empenho de todos para que
os resultados esperados fossem alcançados. Dessa forma, no primeiro dia destinado à
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4388
implementação do projeto junto ao professor supervisor, apresentou-se os objetivos aos
alunos. Em ambas as turmas, surgiram dúvidas quanto à implementação da proposta,
mas no decorrer das aulas, estas foram sanadas.
No segundo momento, quando foi repassada aos alunos a tarefa de buscar
conhecimentos acerca dos pontos que deveriam ser representados nos mapas, em ambas
as turmas, alguns alunos acabaram por ficar com mais responsabilidades que outros,
porém para estimular a participação de todos, foi avisado que, caso apenas um aluno
ficasse responsável por esta atividade, este estaria liberado das demais, logo o restante
da equipe faria as próximas etapas do trabalho, o que fez com que todos participassem.
Após a coleta dos dados de cada bairro, iniciou-se a construção do mapa de
Campina Grande-PB. A partir deste momento, foi possível notar uma forte participação
de todos os componentes das equipes, uns queriam desenhar, outros pintar, outros
auxiliavam no posicionamento do mapa matriz, etc. A partir deste momento, foi
possível notar o quanto o projeto estava sendo importante para os alunos e que o mesmo
teria êxito, apesar das dificuldades. No decorrer das atividades, houve a preocupação de
sempre mostrar aos alunos a relação entre as atividades que estavam sendo realizadas e
o conhecimento que eles poderiam adquirir a partir da experiência, usando subsídios de
seu aprendizado anterior, em consonância com o pensamento de Barbosa (2012):
É importante frisar aos alunos o impacto subjetivo e, portanto,
ideológico dos mapas, neste sentido, educar cartograficamente
significa educá-los via linguagem geográfica por meio de suas
categorias e conceitos. Os discursos ideológicos cartografados serão
identificados e analisados por alunos atentos e que tenham subsídios
teóricos para entender e apontar tais elementos. Ensinar Geografia é
potencializar uma linguagem específica que permite ir além do
mundo, a cartografia histórica é uma dessas ferramentas que
potencializam o conhecimento e o avançar intelectual e prático do
aluno no mundo (ibidem, p.17).
As preocupações existentes não eram direcionadas apenas à compreensão
dos alunos em relação ao cumprimento das atividades, infelizmente ocorreram alguns
impasses, como por exemplo, a escola não dispunha de mesas adequadas para a
realização de uma atividade deste porte, envolvendo o uso de material específico para a
atividade, mas os alunos, com muita criatividade, irreverência e improvisação,
procuraram vencer os obstáculos, conforme representação através da Figura 3.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4389
FIGURA 3: INICIO DAS ATIVIDADES, DIFICULDADES NA CONSTRUÇÃO DOS MAPAS.
Fonte: Paiva, Viviane. Setembro-2012.
Após reproduzirem o mapa da cidade, os alunos colocaram os elementos
cartográficos e ressaltaram os traços da imagem para ficar mais nítida. Em todas as
etapas, foi possível notar a atenção de todos os participantes, até mesmo os alunos que
eram mais dispersos se mostraram participativos e envolvidos com a atividade.
Na etapa seguinte, partiu-se para a inserção das imagens que
representavam as informações coletadas pelos alunos a respeito da organização espacial
de cada bairro (Figura 4). Neste momento, as equipes puderam interagir e comparar os
diferentes elementos encontrados em cada bairro e como eles se organizavam
percebendo, assim, como a organização espacial da cidade de Campina Grande diverge
entre cada bairro.
FIGURA 4: COLAGEM DAS FOTOGRAFIAS NOS MAPAS.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Fonte: Paiva, Viviane. Setembro-2012.
Para finalizar a etapa de construção dos mapas, foi explicado aos alunos a
importância da legenda e esta foi acrescentada ao mapa. Para que o mapa tivesse uma
base sólida, à folha de papel manteiga, foi anexada a uma folha de isopor (Figura 5).
FIGURA 5: ANEXAR À FOLHA DE PAPEL MANTEIGA AO ISOPOR.
Fonte: Paiva, Viviane. Setembro-2012.
Como parte final das atividades, os alunos puderam fazer uma pequena
apresentação acerca da estrutura de cada bairro (Figuras 6 e 7).
FIGURA 6: APRESENTAÇÃO DO MAPA, ALUNOS DO 3º ANO E.
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Fonte: Paiva, Viviane. Setembro-2012.
FIGURA 7: APRESENTAÇÃO DO MAPA, ALUNOS DO 3º ANO F.
Fonte: Paiva, Viviane. Setembro-2012.
Ao final da atividade, os alunos tiveram a oportunidade de expressar a opinião
quanto à experiência proporcionada pelo projeto de intervenção do
PIBID/CAPES/UEPB, Subprojeto de Geografia. Dentre os relatos, apresentam-se:
“Essa foi uma das atividades que eu mais gostei de fazer aqui na escola, foi
algo diferente, que me fez aprender mais sobre minha cidade” (Aluno X, 3º “E”).
“Gostei muito desse projeto, pois graças a vocês, pude aprender um pouco
sobre cartografia” (Aluno Y, 3º “F”).
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4392
O que mais chamou atenção foi que, ao iniciar o projeto, quando foi apresentado
o mapa de Campina Grande, 95% dos alunos ficaram perplexos, pois mesmo sendo
alunos do 3º ano do Ensino Médio, nunca haviam visto o mapa da própria cidade.
Com o desenvolvimento do projeto, foi possível notar o quanto a experiência foi
válida para os bolsistas e para os alunos que se dispuseram a participar e demonstraram
satisfação com a inovação nas aulas a partir das atividades de projeto. Tais resultados
estão em consonância com os resultados obtidos por Sales e Silva (2007):
[...] mais do que uma tecnologia e ciência, a Cartografia tem uma
vertente artística, sendo o cartógrafo o artista que elabora sua arte (o
mapa) de forma a se comunicar diretamente com a sensibilidade do
leitor, e foi assim o observado durante as aulas expositivas e práticas
da Disciplina Cartografia Temática (ibidem, p. 4).
Diante desta visão acerca da cartografia, os alunos conseguiram sentir a emoção,
o prazer de construir um mapa. Todo o processo de desenhar, colorir, acrescentar as
informações coletadas e as fotografias foi extremamente válido para o aprendizado dos
alunos. Constatou-se que a utilização e construção de mapas conceituais enriqueceram a
aula, em conformidade com a citação de Falcão (2011).
Estimulando os alunos a raciocinarem para construir conceitos (...)
que caracterizem os respectivos conteúdos, comprovando (...) que os
mapas conceituais favorecem a aprendizagem significativa, auxiliando
os estudantes a fazerem as conexões conceituais enquanto realizam
experimentos (ibidem, p. 8).
A partir desta atividade, foi possível estabelecer uma relação entre o ensino de
Geografia e o espaço vivido, alcançando um dos objetivos do projeto. Os alunos se
dedicaram visivelmente à realização das atividades propostas, despertaram a vontade de
conhecer melhor a cidade como um todo, na medida em que apreciaram as informações
apresentadas pelos colegas. Adicionalmente, as atividades proporcionaram mostrar um
lado da Geografia que os alunos ainda não conheciam, ou seja, eles conseguiram
construir o seu próprio conhecimento geográfico e isto mudou a visão deles acerca da
Geografia. Resultado semelhante foi também encontrado no trabalho de Goís (2012):
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4393
[...] foi possível estimular os alunos a mergulharem na temática
cartografia a consequência disso foi o despertar da curiosidade dos
discentes pelos espaços da cidade em que eles vivem. Transformando
assim a geografia de uma matéria chata, simplória e enfadonha em
uma disciplina instigante e apaixonante (ibidem, p. 13).
Os alunos estão abertos para novas experiências, requerendo empenho da parte
docente para inovar nas aulas e procurar meios para conquistá-los, para que eles
percebam a importância que a Geografia tem, não apenas para adquirir conhecimento
escolar, mas como conhecimento para suas experiências de vida, conhecendo melhor o
mundo em que habita e compreendendo o significado que suas ações ou a falta delas,
como cidadãos atuantes, tem para a sociedade em que vive.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após o término das atividades, foi possível constatar que o trabalho obteve
resultados positivos, observou-se a interação entre os alunos, os bolsistas e o projeto.
Com o ciclo de apresentações e o compartilhamento de experiências durante as
atividades, estabeleceu-se uma troca de conhecimentos acerca do espaço estudado,
comum à realidade de todos os envolvidos, a Cidade de Campina Grande. Durante
todas as etapas da construção dos mapas, as turmas se mostraram participativas e
interessadas em cumprir as tarefas sugeridas. Em relação ao conhecimento cartográfico,
foi possível notar que houve uma melhora significativa no aprendizado.
Por conta dos obstáculos que o ensino como um todo enfrenta, algumas vezes há
o receio de desenvolver-se um projeto ou até mesmo uma aula diferente, mas mesmo
diante das dificuldades o professor não pode desistir ou se abater. É preciso
perseverança, pois atualmente o acesso aos materiais didático pedagógicos é bem maior,
na maioria das vezes, levar algo simples, porém diferente já engrandece a aula.
Um mapa, uma música, um vídeo curto, são recursos que podem ser usados. As
ideias de atividades ou projetos devem ser executadas, pois é necessário cativar os
alunos, pois, a cada dia, o mundo fora das paredes da escola se torna mais atrativo, as
novas tecnologias seduzem os alunos, mas é possível usá-las a favor do estudo, da
escola. Com algumas complementações metodológicas é possível incentivar o aluno
para a aprendizagem, possibilitando uma maior compreensão do espaço vivido.
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4394
Levando em consideração o ensino nas escolas públicas do país, o PIBID tem
sido uma alternativa inovadora no ensino, pois proporciona que algumas turmas possam
participar de experiências diferentes, possibilitando que o professor supervisor junto
com os bolsistas desenvolva atividades que busquem preencher as expectativas dos
alunos em relação ao ensino, buscando contribuir para o processo ensino-aprendizagem,
utilizando recursos que estão ao alcance de todos os alunos das escolas públicas.
AGRADECIMENTOS
As autoras agradecem o apoio concedido, mediante bolsas, efetuado pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, através do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID.
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4397
O VÍDEO COMO INSTRUMENTO DE ENSINO: UMA PROPOSTA DE
DINAMIZAÇÃO DO ENSINO DE GEOGRAFIA
Luís Enrique da Silva (UEL)1
RESUMO
Diante de um contexto histórico de evoluções e inovações tecnológicas, tendo estas, modificado
significativamente as relações e o mundo em que vivemos, visto que em cada ciclo e segmento
social, encontramos a presença de instrumentos tecnológicos, que evoluem concomitantemente
com a sociedade. Dessa forma, numa escola de todos e para todos, a nosso ver, a escola não
pode ficar excluída desta realidade, devendo apropriar-se dos avanços tecnológicos e incorporá-
los à prática educativa. Faz-se então, o propósito deste trabalho, de dinamizar o ensino de
geografia com a utilização do vídeo como instrumento de ensino. Visto que, a geografia tem
conteúdos que requerem do educando grande abstração mental, dificultando o processo de
ensino-aprendizagem, distanciando ainda mais teoria e prática. Nesse contexto, o vídeo, como
parte desse mundo tecnológico e informático, parte do concreto, do visível, do imediato, do
próximo, que toca todos os sentidos. Aproxima o real do abstrato, ilustra, desafia, indaga e
motiva a curiosidade sobre as relações espaciais. O vídeo pode alterar as práticas sociais de
alunos e professores, concepção esta, que prevê a formação e desenvolvimento da autonomia,
que deve levar professores e alunos ao estabelecimento de uma relação consciente com o
processo de construção do conhecimento.
Palavras-chave: Vídeo Como Instrumento de Ensino; Ensino de Geografia;
Dinamização do Ensino
INTRODUÇÃO
As inovações tecnológicas vêm modificando, significativamente, as relações e o
mundo em que vivemos, visto que em cada ciclo e segmento social, encontramos a
presença de instrumentos tecnológicos, que evoluem concomitantemente com a
sociedade. A escola não pode ficar excluída desta realidade, devendo apropriar-se dos
avanços tecnológicos e incorporá-los à prática educativa.
Situando-se no campo da educação, este trabalho configura-se a análise do uso
do vídeo no processo pedagógico. O vídeo parte do concreto, do visível, do imediato,
próximo, que toca todos os sentidos. O vídeo combina a comunicação sensorial-cinética
1 Professor de Geografia da Educação Básica, da Secretaria de Estado da Educação, do Núcleo Regional
de Londrina e estudante do curso de Especialização: Ensino de Geografia, da Universidade Estadual de
Londrina – UEL; [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4398
com a audiovisual, a intuição com a lógica, a emoção com a razão. Combina, mas
começa pelo sensorial, pelo emocional e pelo intuitivo, para atingir posteriormente o
racional.
Partimos do pressuposto de que a educação deve habilitar o aluno para leitura e
entendimento do seu mundo e considera que o vídeo altera as práticas sociais de alunos
e professores, requerendo, portanto, da escola, a análise e a reflexão sobre as mensagens
que veiculam, para formar cidadãos emancipados, críticos e conscientes.
Esta concepção de educação prevê a formação e desenvolvimento da autonomia,
que deve levar professores e alunos ao estabelecimento de uma relação consciente com
o processo de construção do conhecimento, o qual deve estar comprometido com a
universalidade e a historicidade do homem, reconhecido como um ser de relações com o
mundo e a importância de adotar o vídeo como ferramenta na formação social dos
alunos.
A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO PARA A SOCIEDADE
O Homem é um sujeito ativo na sua existência e, além disso, é um sujeito social
e histórico, o qual é dotado da capacidade de acumular saberes e aperfeiçoá-los, fazendo
com que sua vida social seja a condição para sua própria existência. O homem necessita
dos outros homens. Estas ideias nos aproximam do reconhecimento sobre a
continuidade da existência humana, a qual é a essencialidade da educação, ou seja,
insere-se no processo de promoção da vida humana, a sobrevivência do homem é
garantida e mantida pela capacidade de aprender e adaptar-se a novos contextos, e, ao
mesmo tempo, acumular conquistas, aprendizagens e “conhecimentos”. (SAVIANI,
2003).
O conhecimento que a humanidade produz sobre si mesma, graças às
contribuições de todas as modalidades de saber, leva à conclusão de
que a existência/essência humana é fundamentalmente prática, ação,
atividade. Tal processo só se desdobra num espaço social e num
tempo histórico. (SEVERINO, 2002, p. 44).
O domínio dos conhecimentos pode colaborar para que os sujeitos não sejam
apenas moldados pelo contexto social, conscientizando-se das ideologias e
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4399
estabelecendo conflitos e contradições, podem alterá-lo, ou melhor, construí-lo
objetivando a vida comum e justa para todos. (DUSSEL, 2007)
É na apropriação de conhecimentos, que se estabelecem processos educativos
favorecedores do desvelamento da dinâmica social, e isto é realizado através da
compreensão, análise, conflito e contradição. A educação media a realização da
plenitude, o que implica para o educando a descoberta de si como humano, sendo seu
valor básico a dignidade de ser pessoa, consciente e livre. (SEVERINO, 2002, p.80).
Saviani (2003, p.13), afirma que “[...] o objeto da educação, diz respeito, de um
lado, a identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados, pelo outro
lado e concomitantemente, a descoberta de formas mais adequadas para atingir este
objetivo”. “[...] Portanto a escola diz respeito ao conhecimento elaborado e não ao
conhecimento espontâneo; ao saber sistematizado e não ao saber fragmentado; a cultura
erudita e não a cultura popular”. (SAVIANI, 2003, p.14).
A educação é, ao mesmo tempo, produto da Cultura e produtora de culturas,
portanto “práxis”. (SEVERINO, 2002), que media, articula conhecimentos e práticas
históricas, a educação intencionaliza as ações humanas no sentido de favorecer e
garantir a existência dos homens.
A educação escolar tem como finalidade última a aprendizagem humana,
portanto, a aprendizagem é o meio e o fim da educação escolar. Todos os esforços
empreendidos pelos educadores que compõem a educação escolar concentram-se no
processo social da humanidade, de tornar o homem, humano, ou seja, o objeto da gestão
é a promoção da vida. (SAVIANI, 2003)
Assim, o homem do século XXI, faz-se por um processo sócio-cultural, sob o
cenário de uma globalização em ascensão, sob moldes de políticas neoliberais e
sistemas econômicos que produzem diferentes e variadas realidades, palco de estudos da
ciência geográfica, que se consolidou como uma disciplina que tem como objeto: o
estudo das relações que se desenvolvem entre os homens e dos mesmos com o seu meio
(natureza), se concentrando no estudo do espaço geográfico, que aborda tais relações.
Mesmo com toda dificuldade teórico-metodológica, a solidificação da Geografia
como disciplina científica, exigiu-se uma construção de um sistema de categorias e
conceitos particulares, com o objetivo de formular um conhecimento prévio de parcela
da realidade.
Santos (apud SUERTEGARAY, 2001, p.3) explica que o espaço geográfico
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4400
[...] é formado por um conjunto indissociável, solidário e também
contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não
considerados isoladamente, mas como um quadro único na qual a
história se dá. No começo era a natureza selvagem, formada por
objetos naturais, que ao longo da história vão sendo substituídos por
objetos fabricados, objetos técnicos, mecanizados e, depois
cibernéticos fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar
como uma máquina.
Para completar Santos (1978, p. 171) explica que:
[...] O espaço por suas características e por seu funcionamento, pelo
que ele oferece a alguns e recusa a outros, pela seleção de localização
feita entre as atividades e entre os homens, é o resultado de uma práxis
coletiva que reproduz as relações sociais, [...] o espaço evolui pelo
movimento da sociedade total.
Em outras palavras, o espaço geográfico discutido pela geografia aborda os
processos que influenciam na formação e construção do indivíduo – o seu contexto
social, visto que, o conhecimento da organização do espaço geográfico é fundamental
para a compreensão do mundo de hoje, pois as suas várias etapas e transformações
explicam os atuais sistemas econômicos, sociais, políticos e culturais. Mundo este, que
o indivíduo habita, manifesta as suas ações e se desenvolve socialmente.
O ato de compreender o contexto social nos possibilita o reconhecimento de que
a rede social, os percursos históricos, econômicos e políticos são, ao mesmo tempo,
conhecer, construir história e educação (SEVERINO, 1998).
Dessa forma, buscaremos a seguir, expor o propósito deste trabalho, de
dinamizar o ensino de geografia com a utilização do vídeo como instrumento de ensino.
Visto que, a geografia tem conteúdos que requerem do educando grande abstração
mental, dificultando o processo de ensino-aprendizagem, distanciando ainda mais teoria
e prática. Nesse contexto, o vídeo, como parte desse mundo, tecnológico e informático,
tem grande auxílio no processo de ensino-aprendizagem.
POR QUE TRABALHAR COM VÍDEOS EM SALA DE AULA?
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4401
Constata-se, atualmente, a importância e a necessidade de integração das
tecnologias ao trabalho escolar, em especial as novas tecnologias da informação e
comunicação, considerando que elas estão cada vez mais presentes no cotidiano,
especialmente dos jovens, e que sua aplicação na educação, no trabalho e em outros
contextos relevantes, é uma competência básica a ser propiciada pelos educadores no
conjunto do currículo escolar e de suas disciplinas.
No ensino de geografia, existe certa dificuldade em ser passado o conteúdo em
sala de aula, talvez por ser uma disciplina rotulada de memorativa, de capitais, de países
e de estados. Coincidindo ainda, com a falta de interesse dos alunos, leva-se então, a
uma tentativa de inovar a aula, como afirma Moura e Asari (apud ASARI;
ANTONELLO; TSUCAMOTO, 2004, p. 20).
A preocupação em relação à maneira de se ensinar conteúdos
geográficos em sala de aula, concomitantemente à falta de interesse
dos alunos e o pouco desenvolvimento que eles vêm demonstrando em
relação aos seus objetivos propostos para a disciplina, levou a busca
de uma nova alternativa de trabalho [...].
Nessa perspectiva, o uso de recursos visuais no ensino é um importante objeto
de aprendizagem. E, segundo (ALMEIDA, 2005), as crianças prestam atenção em 10%
do que elas leem, em 20% do que elas escutam, 30% do que elas veem, 50% do que elas
veem e escutam ao mesmo tempo, 80% do que ela diz e 90% do que ela diz e faz ao
mesmo tempo. Dessa forma, a incorporação do vídeo, em qualquer que seja a disciplina
ministrada, acarretará em novas e diferentes maneiras de produção de saberes,
descobertas de conhecimentos e senso crítico serão alcançadas pelos discentes.
O vídeo parte do concreto, do visível, do imediato, próximo, que toca
todos os sentidos. Mexe com o corpo, com a pele - nos toca e
"tocamos" os outros, estão ao nosso alcance através dos recortes
visuais, do close, do som envolvente. Pelo vídeo sentimos,
experienciamos sensorialmente o outro, o mundo, nós mesmos. Ele
explora também e, basicamente, o ver, o visualizar, o ter diante de nós
as situações, as pessoas, os cenários, as cores, as relações espaciais
(próximo-distante, alto-baixo, direita-esquerda, grande-pequeno,
equilíbrio-desequilíbrio). (SILVA JUNIOR; TORRES, 2009, p. 19).
O vídeo possibilita o entrecruzamento de imagens, sons, textos, mapas,
fotografias, imagens por satélites etc. Que podem estimular os alunos para a
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4402
aprendizagem da disciplina de Geografia. Dessa forma, as questões atuais são: como a
utilização de vídeo contribui para o ensino e aprendizagem? De que forma mais
proveitosa e educativa é possível trabalhá-lo em sala de aula?
Perante este questionamento, este trabalho busca uma possível dinamização do
ensino de Geografia por meio do uso do vídeo. Destacamos, a seguir, alguns benefícios
em que uma aula utilizando-se do vídeo, pode proporcionar ao aluno e professor:
Traz para a sala de aula, realidades distantes a serem conhecidas;
Desperta o interesse dos alunos em aprender, conhecer e aprofundar seus
conhecimentos;
Propicia uma maior interação do aluno com os conteúdos, visto que minimiza a
abstração por parte do aluno, aproximando o concreto (realidade) do abstrato (conceito);
Maior absorção e entendimento do conteúdo;
Ocorre a dinamização da aula, saindo da maneira corriqueira (quadro negro, giz
e livro didático), para a “dinâmica da ação”;
Maior interação e aproximação entre professor e aluno;
Coloca em prática o papel da escola, quanto à sua função social;
Conduz à maior disciplina por parte dos alunos em sala de aula;
É claro que tais benefícios já ditos, são almejados por um prévio planejamento
por parte do professor, na exposição do vídeo, em que segue ter claro os objetivos a
serem alcançados com o mesmo. Dessa maneira, apresentaremos a seguir, algumas
formas de trabalhar com o vídeo em sala de aula, tido como referência o trabalho de
Moran (1995). Dessa forma, sugerimos que não haja uma ordem rigorosa no uso e que
seja de total liberdade de adaptação destas propostas à realidade de cada professor e dos
seus alunos.
FORMAS DE TRABALHO COM VÍDEO EM SALA DE AULA
Vídeo Como Sensibilização: sendo considerado de suma importância, pois este
tem a função de despertar a curiosidade no aluno, de sensibilizá-lo, de motivá-lo a
assuntos vindouros. Isso facilitará o desejo de pesquisa nos alunos para aprofundar-se
no conteúdo. Pode ser usado para introduzir um novo tema ou explicitar e tornar-se de
fácil compreensão um tema já tratado em aulas anteriores.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4403
Vídeo Como Ilustração: O vídeo muitas vezes ajuda a exemplificar o que é
explicado em sala, aproximando o concreto (realidade) do abstrato (conceito). Por
exemplo, um vídeo que exemplifica como a Terra transformou-se durante todo o seu
período de formação até o tempo em que vivemos.
Vídeo Como Simulação: Seria uma ilustração mais sofisticada. Como por
exemplo, o vídeo poderia simular experiências de química que seriam perigosas em
laboratório ou que exigiriam muito tempo e recursos ou na falta dos mesmos.
Vídeo Como Conteúdo De Ensino: Vídeo que mostra determinado tema, de
forma direta ou indireta, como, por exemplo, documentários. Na forma direta, quando
informa sobre um tema específico orientando a sua interpretação, um vídeo sobre as
coordenadas geográficas, por exemplo. De forma indireta, quando mostra um tema,
permitindo abordagens múltiplas, interdisciplinares. Exemplo, documentários sobre a
questão de resíduos na natureza.
Vídeo Como Produção: O vídeo como produção pode nos trazer três formas de
utilização: a) como documentação, registro de eventos, de aulas, de estudos do meio, de
experiências, de entrevistas, depoimentos. Isto, por ventura, ajudaria no trabalho do
professor, que o ajudaria nas aulas expositivas; dos alunos para uma maior compreensão
da aula e; dos futuros alunos. O professor deve poder documentar o que é mais
importante para o seu trabalho, ter o seu próprio material de vídeo assim como tem os
seus livros e apostilas para preparar as suas aulas. O professor estará atento para gravar
o material audiovisual mais utilizado, para não depender sempre do empréstimo ou
aluguel dos mesmos programas; b) como intervenção: interferir, modificar um
determinado programa, um material audiovisual, acrescentando uma nova trilha sonora
ou editando o material de forma compacta ou introduzindo novas cenas com novos
significados. O professor precisa perder o medo de utilizar outros recursos didáticos,
como apenas o quadro e o retroprojetor, podendo, assim, interferir/modificar, assim
como ele interfere num texto escrito, modificando-o, acrescentando novos dados, novas
interpretações, contextos mais próximos do aluno, ou seja, criando seus próprios vídeos;
c) como expressão, como nova forma de comunicação, adaptada à sensibilidade
principalmente das crianças e dos jovens. Desse modo, as crianças poderiam criar seus
próprios vídeos e expor suas idéias a todos da sala de aula. A produção em vídeo tem
uma dimensão moderna, lúdica, haja visto, que os alunos demonstram suas realidades,
seus anseios e desejos por meio de vídeos confeccionados por eles próprios. Moderna,
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como um meio contemporâneo, novo e que integra linguagens. Lúdica, pela
miniaturização da câmera, que permite brincar com a realidade, levá-la junto para
qualquer lugar. Filmar é uma das experiências mais envolventes tanto para as crianças
como para os adultos. Os alunos podem ser incentivados a produzir vídeos que retratam
sua realidade: seu bairro, sua comunidade, a poluição de sua cidade, suas férias etc.,
dentro de uma determinada matéria, ou dentro de um trabalho interdisciplinar e expor
aos alunos e professores qual sua visão diante de algum fato. E também produzir
programas informativos, feitos por eles mesmos e colocá-los em lugares visíveis dentro
da escola e em horários em que muitas crianças possam assisti-los.
Desta forma, trabalho com vídeo requer planejamento, objetivo, metodologia,
entre outros. Com estes requisitos, as atividades têm grande chance de tornarem-se
agradáveis e construtivas. Dito isto, apontaremos a seguir, alguns usos inadequados com
os vídeos, embasado no trabalho de Moran (1995), em que, desfavorece o ensino e
desvaloriza o vídeo como instrumento de ensino.
USOS INADEQUADOS COM VÍDEOS
Vídeo Tapa-buraco: colocar vídeo quando há um problema inesperado, como
ausência do professor. Usar este expediente eventualmente pode ser útil, mas se ocorrer
frequentemente desvaloriza o uso do vídeo e pode associar o aluno de que o vídeo é
sinal de não haver aula.
Vídeo-enrolação: exibir um vídeo sem fundamento, sem ligação com a matéria
que está sendo repassada. Assim, o aluno pode perceber que o vídeo é usado como
forma de camuflar a aula. Pode concordar na hora, mas discorda do seu mau uso.
Vídeo-deslumbramento: O professor que acaba de descobrir o uso do vídeo
costuma empolgar-se e passa vídeo em todas as aulas, esquecendo outras dinâmicas
mais pertinentes. O uso exagerado do vídeo diminui a sua eficácia e empobrece as aulas.
Vídeo-perfeição: Existem professores que questionam todos os vídeos possíveis
porque possuem defeitos de informação ou estético. Os vídeos que apresentam
conceitos problemáticos podem ser usados para descobri-los, junto com os alunos e
questioná-los.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Só-vídeo: não é satisfatório didaticamente exibir o vídeo sem discuti-lo, sem
integrá-lo com o assunto de aula, sem voltar e mostrar alguns momentos mais
importantes, sem “objetivo de ensino”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O vídeo parte do concreto, do visível, do imediato, próximo que toca todos os
sentidos. Ele explora também o ver, o visualizar, o ter diante de nós as situações, as
pessoas, os cenários e as cores. Aproxima o real do abstrato, ilustra, desafia, indaga e
motiva a curiosidade sobre as relações espaciais. Assim, as escolas e os professores
poderiam aproveitar o vídeo de uma forma mais eficiente nas atividades escolares para
agregar qualidade humanizadora ao processo educativo, promovendo a aprendizagem e
a reflexão. Porém, fatores podem limitar o uso pedagógico do vídeo. Alguns materiais
podem provocar uma descontinuidade na atenção dos alunos e ausência na compreensão
das mensagens.
O vídeo combina a comunicação sensorial-cinética com a audiovisual, a intuição
com a lógica, a emoção com a razão. Combina, mas começa pelo sensorial, pelo
emocional e pelo intuitivo, para atingir posteriormente o racional. Dessa maneira, o seu
uso implica no incutir a curiosidade e o interesse no aluno, feito possível pelo seu uso
adequado, planejado e objetivado previamente pelo professor, possibilitando estes
requisitos, que as atividades desenvolvidas em sala, tenham grandes chances de
tornarem-se agradáveis e construtivas.
Desse modo, podemos fazer com que os alunos tenham a capacidade de
reconhecimento das diversas possibilidades por meio da leitura de um vídeo, seja ela
falada ou observada, de emancipá-los com o conhecimento do seu mundo, por essa
diversidade de leitura. Demonstrar, também, a possibilidade de agregar os recursos
audiovisuais ao trabalho pedagógico cotidiano, para preparar os alunos ao uso
inteligente desses recursos, além de definir estratégias metodológicas coerentes com
objetivos de aprendizagem direcionados ao desenvolvimento da cidadania consciente
por meio dos professores.
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4407
OFICINA DE MAPAS E MAQUETES
Felipe Mendes de Souza.
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO
Ao quarto bimestre de 2012 iniciou-se, no Instituto Estadual Professor Ismael
Coutinho, a oficina de confecção de mapas e maquetes com o objetivo de facilitar entre
os alunos a compreensão das diferentes formas de representação espacial a fim de
facilitar a tarefa de apreensão do espaço.
Nessa época alunos do sexto ano do colégio estadual IEPIC abordariam a
relação clima/vegetação como parte do curriculum da série. Identificando-se uma
carência generalizada por parte dos alunos do colégio em cartografia, foi elaborada uma
atividade que fosse capaz de relacionar essas duas áreas do conhecimento geográfico.
Através da confecção de dois mapas temáticos mundiais coloridos com as regiões
climáticas da classificação de Köppen* e ilustrados com fotos dos biomas dos dez
climas que compõem a classificação.
Mapa climatológico feito durante a primeira atividade da Oficina de Mapas e Maquetes.
Fruto de um trabalho de pesquisa e transposição de saber acadêmico para
ensino escolar a confecção deste mapa múndi foi a primeira tarefa a ser realizada na
Oficina de Mapas e Maquetes encaixando-se na proposta do Programa Institucional de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Bolsas para Iniciação a Docência. A segunda atividade desta oficina será apresentada
mais a diante no tópico 3 e consiste na elaboração de uma maquete hipsométrica do
centro da cidade de Niterói.
INTRODUÇÃO DOS ALUNOS À MATÉRIA.
Para realizar esse trabalho os alunos foram introduzidos ao assunto através de
uma atividade que contou com recursos didáticos diversos tais como: um globo
terrestre, uma lâmpada que representou o Sol e um mapa mundial consumindo um
tempo de aula. Com o mapa mundial exposto no quadro e o globo terrestre sobre a mesa
os alunos foram convidados a observar o globo de perto atentando para semelhanças e
diferenças entre o globo e o mapa que está no quadro. A lâmpada foi introduzida na
dinâmica, sendo posta em paralelo com o globo ela serviu para ilustrar a relação do eixo
de inclinação da terra com os principais meridianos e as principais zonas climáticas
através da observação dos ângulos de incidência dos raios solares.
Os alunos apesar de interessados, devido ao conteúdo interativo da aula, se
mostraram inaptos a identificar diferenças e semelhanças entre o globo e o mapa, esse
problema foi contornado apontando-se um lugar no mapa e pedindo aos alunos que o
encontrassem no globo, apesar disso o objetivo dessa atividade parece ter sido
alcançado uma vez que pareceu bem claro a todos como o eixo de inclinação da terra
influencia na recepção dos raios solares e nas estações do ano.
DA CONFECÇÃO DO MAPA
Para essa atividade a turma foi dividida em oito grupos competindo a cada dois
grupos um quadrante do mapa mudo mundial impresso em uma folha A3. Em cada
quadrante o grupo teve entre duas e três figuras que ilustram biomas típicos de cada
clima para colar em lacunas no mapa, o objetivo dessa atividade é ilustrar na mente do
aluno os diferentes climas do planeta.
Em seus quadrantes os grupos tiveram também que pintar os climas e identificar
os principais paralelos do globo com auxilio de um mapa colorido que cada equipe
recebeu, o objetivo dessa atividade é fazer com que o aluno relacione os principais
paralelos que são círculos polares, Ártico e Antártico os trópicos de Câncer e de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4409
Capricórnio bem como o Equador com as três grandes zonas climáticas que são as
polares as temperadas e as tropicais.
No primeiro quadrante, América do Norte e Central estão ilustrados o clima
mediterrâneo pela sequoia-gigante, e o clima temperado pelas florestas canadenses.
Figura 1. “A sequoia-gigante é a maior árvore do mundo em termos de volume.
Ela cresce em média 50–85 m e 5–7 m em diâmetro. A sequoia-gigante mais velha
conhecida possui 4.650 anos de idade e se encontra no Parque Nacional da Sequoia, na
Califórnia. Medidas recordes de sequoias como 94,8 metros de altura e 17 metros.”
Figura 2. “A floresta temperada diz-se decídua ou cadulcifólia quando as árvores
perdem as folhas periodicamente (outono/inverno). A queda das folhas está associada a
uma adaptação das plantas na defesa contra seca fisiológica, uma vez que o inverno,
que dura cerca de três meses, é bastante rigoroso e a água congela no solo.
No outono as folhas adquirem coloração típica, do vermelho ao castanho,
passando pelo alaranjado, dourado e cobre.”
No segundo quadrante está Ásia e o subcontinente europeu e parte do
norte da África, A tundra e a taiga biomas presentes na Russia representam o clima
polar e frio respectivamente, já a terceira figura mostra o Saara representando o clima
desértico.
Figura 3 e 4. “Como as formações vegetais dependem do tipo de solo e
principalmente do clima a Ásia apresenta muitas variedades vegetais, ainda que
parcialmente destruídas ou alteradas pela milenar ocupação humana.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4410
No extremo norte do continente, junto ao pólo, não há vegetação, porém mais ao
sul, na planície Siberiana, começam a surgir formações de tundra. Ainda rumo ao sul,à
medida que o clima polar se torna menos intenso e o frio se estende por um numero
menor de meses aparece a vasta região da taiga.”
Figura 5. “O Saara é o maior deserto quente do mundo terceiro maior depois da
Antártida e do Ártico. Com mais de 9.400 mil quilômetros quadrados, que abrange a
maior parte do norte da África, tornando-se quase tão grande como a china ou Estados
Unidos.”
O terceiro quadrante mostra apresenta a África subsaariana e Oceania, nas
figuras são representados o clima Equatorial na primeira figura em Bornéu, e o clima
semi-árido representado pelo Parque Nacional de Serengeti, no Quênia
Figura 6.“O Parque Nacional de grande dimensões (cerca de 40.000Km^2) na
ecorregião do Quênia, na África Oriental, famoso pelas migrações anuais de gnus,
zebras e gazelas que acontecem de maio a junho.
No parque vivem mais de 35 espécies de grandes mamíferos como leões
hipopótamos, elefantes, leopardos, rinocerontes, girafas, antílopes búfalos. O parque
também possui hienas, chitas, macacos, além de mais de 500 especies de pássaros.
Serengeti, na linguagem da tribo masai, significa "imensas planícies". Essa tribo
vive nas dependências do parque e adjacências e parte do Quênia.”
Figura 7. “Parque nacional do monte kinabalu no Bornéu apresenta uma grande
variedade de flora incluindo plantas carnívoras e orquídeas selvagens.”
No quarto quadrante América do Sul estão representados os climas de altitude o
tropical e o sub-tropical, uma foto da cordilheira dos andes nevada representa o clima de
altitude, uma foto da floresta amazônica representa o clima tropical em quanto a foto da
mata atlântica está representando o clima subtropical.
Figura 8. “A Mata Atlântica é um bioma presente na maior parte do território
brasileiro, abrangendo ainda parte do território do Paraguai e da Argentina. As florestas
atlânticas são ecossistemas que apresentam árvores que atingem de 20 a 30 metros de
altura. Há grande diversidade de epífitas, como Bromélias e orquídeas. Não deve ser
confundida com Floresta Amazônica, ou Selva Amazônica que é um outro bioma
presente na America do Sul.”
Figura 9. “A amazônia é uma floresta latifoliada úmida que cobre a maior parte
da Bacia Amazônica na América do Sul. Esta bacia abrange sete milhões de quilômetros
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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quadrados, dos quais cinco milhões e meio de quilômetros quadrados são cobertos pela
floresta tropical. Esta região inclui territórios pertencentes a nove nações. A amazônia
representa mais da metade das florestas tropicais remanescentes no planeta
compreendendo a mais biodiversa floresta tropical do mundo. é um dos seis grandes
biomas brasileiros.”
Figura 10. .”“Devido à extensão no sentido dos meridianos, os andes incluem
distintas zonas climáticas. o clima (clima semi-arido) da zona tem variação constante,
assim como a sua vegetação. o clima frio é predominantemente, com nevascas em
altitude sendo muito comuns.”
Na confecção do mapa, processo que consumiu três tempos de aula, foram
encontradas algumas falhas a serem corrigidas no material criado. A primeira delas foi o
comando de pintura, onde mapas mundiais de classificações climáticas foram divididos
em quatro quadrantes de forma que apenas o primeiro e o quarto quadrante tinham o
nome dos paralelos tornando o trabalho de nomeá-los mais fácil para uns do que para
outros. Outro problema surgiu no mapa em A3 que deveria ser pintado, o mapa
utilizado era mudo e contava apenas com paralelos nos oceanos e hidrografia nos
continentes, dificultando aos alunos a percepção de onde começava um clima e
terminava outro.
CONCLUSÃO DA ATIVIDADE.
Para concluir a atividade um pequeno questionário de quatro questões foi
aplicado, com a finalidade de avaliar o aprendizado dos alunos. Na primeira questão,
com ajuda de um esquema explicativo da orbita da terra em quatro diversas posições
durante o ano, os alunos deveriam relacionar as características dos dias com as posições
da terra escrevendo corretamente os dias do esquema nas lacunas do lado das descrições
nos dias. Na segunda questão foi pedido aos alunos que explicassem como a inclinação
do eixo da terra influencia o clima e as estações do ano. Já na terceira questão os alunos
deveriam observar as figuras que colaram nos mapas e identificar os climas
predominantes nos biomas representados. A quarta e ultima questão os alunos deveriam
relacionar o clima á vegetação com o apoio de um texto e do conteúdo visto nas aulas.
Avaliação: Avaliados em oito pontos sendo dados dois pontos em cada questão,
os alunos fizeram a média de 5,3 (cinco pontos e três décimos). Na primeira questão a
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4412
média foi de 1,7 (um ponto e sete décimos) sendo a questão com maior índice de
acertos. Já a segunda questão, sobre a relação do eixo de inclinação da terra com as
estações do ano e os climas, os alunos tiveram pior rendimento mostrando a
complexidade do assunto a média da turma na segunda questão foi 0,9 (nove décimos).
A terceira questão obteve uma média de 1,5 (um ponto e meio). A ultima questão fez a
media de 1,1 (um ponto e um décimo).
Este histograma de frequência ilustra a quantidade de acertos em cada questão (ver tabela
nos anexos).
Apesar de somente um aluno ter tirado nota máxima a maior parte dos alunos foi
capaz de fazer os exercícios tirando boas notas, poucos foram os alunos que não tiraram
boas notas sendo o motivo da baixa nota a não realização da tarefa. Observando esse
quadro os objetivos das atividades realizadas parecem ter sido alcançados com sucesso.
Acredito que as notas ruins obtidas nas questões que exigem maior trabalho de
interpretação pode revelar uma falta de identificação, pelos alunos, da escola como
lugar representativo de seus saberes cotidianos. Isso pode se dever ao fato de que a
educação não significa, para alunos oriundo de áreas periféricas, um caminho para o seu
sustento, na medida em que a informalidade e a marginalidade, assim como o sub-
emprego, tem participado do modo de vida destes alunos. Desta forma, de maneira
contraditória, a educação pode representar, para muitos alunos, um elemento de
intensificação da segregação e hierarquização dos saberes, tornando-se a cada dia mais
complexa e exigente, elemento de dominação no cotidiano da sociedade urbana
brasileira. Passa a se constituir então mais um eixo de atuação do PIBID, qual seja o de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4413
dar importância e centralidade aos saberes cotidianos dos alunos, fazendo a ponte com
os saberes formais. Esta observação deverá definir alguns dos nossos próximos passos.
UM PRÓXIMO PASSO.
Para o ano de 2013 pretende-se elaborar de uma maquete hipsométrica do centro
da cidade de Niterói com o objetivo de facilitar entre os alunos a compreensão das
diferentes formas de representação espacial a fim de facilitar a tarefa de apreensão do
espaço.
Mapas da cidade de Niterói foram cedidos pela Unidade de Departamento de
Urbanismo (UDU) de Niterói para a realização de uma maquete do centro de Niterói, o
mapa 288A que compreende a área entre 22º55’00’’S 43º07’00’’W e 22º52’30’’S
43º03’45’’W (no Datum SAD-69) foi escolhido para a realização desta maquete por
compreender a área do colégio e adjacências, sendo provavelmente parte do espaço
vivido de uma parcela significativa dos alunos.
O mapa em formato dwg foi manipulado pelo programa AutoCAD, a fim de
deixa-lo menos poluído para a confecção da maquete, sobrando somente as curvas de
níveis com equidistância de 25m, nomenclatura geomorfológica, coordenadas UTM e
paralelos imaginários. Para a realização da maquete folhas de EVA (Espuma Vinílica
Acetinada) coloridas serão cortadas no formato das curvas e coladas umas sobre as
outras em um degrade hipsométrico do verde escuro ao vermelho sobre uma base de
madeira um pouco maior que contara elementos como a legenda e a escala.O mapa
impresso em uma folha A2 assume uma escala de 1:13.000 tornando ideal o uso de
folhas de EVA de 2mm para a confecção da maquete que preservará a escala vertical
com uma distorção de um metro para cima ou 0,1mm para cima na maquete.
A maior altitude no mapa manipulado e a linha de isovalor correspondente a 325
metros no morro de Santo Inácio dessa forma o mapa apresenta 14 isovalores diferentes
que ficarão dispostos em 7 classes de cores na maquete azul para os valores abaixo de
0m, verde escuro para os valores entre zero e 50m, verde claro para as curvas de 75 e
100 metros, amarelo claro para as curvas de 125 e as de 150 metros, amarelo escuro
para as curvas de 175 e as de 200 metros, laranja para as curvas de 225 a 250 metros e
vermelho para as curvas de 275 metros para cima observado que altitudes maiores que
250 metros são raras.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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A maquete ficará a disposição dos alunos professores do IEPIC bolsistas PIBID
no laboratório de ciências humanas do Instituto Estadual Ismael Coutinho compondo o
espaço físico do laboratório e aproximando os alunos do colégio do laboratório e de
nosso projeto, alem de servir para a realização de futuras tarefas na oficina de confecção
de mapas e maquetes.
TESTE DE MATERIAIS.
Ainda no ano de 2012 foi realizado um piloto desta maquete onde foram
utilizadas folhas de EVA coladas sobre uma base quadrada (um azulejo). Para essa
experiencia foi utilizado um revestimento de bisquit que foi pintado, o revestimento de
bisquti após secar empenou-se e deformou algumas camadas de EVA mostrando-se
inapropriado para essa atividade.
As folhas de EVA coloridas em padrão hipsométrico puramente expostas sem
revestimento tornam o modelo sem o bisquit mais pedagógico no sentido de explicar
esse tipo de mapa temático. A utilização de azulejos como base também não logrou o
sucesso esperado a medida que tornou a maquete pesada e limita-se em áreas quadradas.
NOTA:
Köppen: Wladimir Peter Köppen geógrafo, meteorólogo, climatólogo e botânico russo.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Wladimir_K%C3%B6ppen
ANEXOS:
nº Notas Q1 Q2 Q3 Q4
1 1,5 1,5 0 0 0
2 5,5 0,5 2 2 1
3 7 2 2 2 1
4 8 2 2 2 2
5 2,5 0,5 2 0 0
6 8 2 2 2 2
7 2 2 0 0 0
8 1,5 0,5 1 0 0
9 5 2 0,5 2 0,5
10 6 2 1 2 1
11 7 1,5 2 2 1,5
12 7 1,5 2 2 1,5
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13 5,5 2 1 2 0,5
14 6 2 0 2 2
15 5 2 1 0 2
16 6 2 0 2 2
17 6 2 0 2 2
18 7 2 2 2 1
19 7,5 2 2 2 1,5
20 5,5 2 0 2 1,5
21 5,5 1,5 0 2 2
22 5 2 0 2 1
23 5 2 0 2 1
24 2 2 0 0 0
M 5,29 1,73 0,94 1,50 1,13 Os alunos são representados por numeros afim de preservar suas identidades.
(M é a média dos alunos na prova e em cada questão.)
BIBLIOGRAFIA:
PONTUSCHKA, Nidia, TOMOKO, Yida., CACETE, Nuria. Para ensinar e aprender
Geografia. 3 ed. São Paulo, Ed. Cortez, 2009.
FREIRE, Paulo. A educação na cidade. 4 ed. São Paulo: Ed.Cortez, 2000.
SIMIELLI, Maria Elena. Cartografia no ensino fundamental e médio. In: CARLOS,
FANI.Ana (org.) A geografia na Sala de Aula. São Paulo: Ed. Contexto, 1999. p.92-
108.
ALMEIDA, Rosanângela D. de e PASSINI, Elza Y. Espaço Geográfico Ensino e
Representação. Editora contexto 2008.
SENE. Eustáquio, MOREIRA. João Carlos. GEOGRAFIA Geral e do Brasil.Editora
Scipione. 1999.
HASLAM, Andrew, TAYLO, Barbara.Maos a obra! Mapas A geografia na prática.
Editora Scipione 1996.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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PARA ONDE FORAM OS MAPAS!? CONHECENDO NOSSOS
EDUCANDOS A PARTIR DO MAPA
Leonardo Pinto dos Santos1
Francisco Ednardo Gonçalves2
Profa. Dra. Roselane Zordan Costella3
RESUMO
O presente trabalho se propõe a trazer algumas reflexões sobre o uso de mapas dentro das aulas
de Geografia, colocando-os como ponto pacífico de um processo de conhecimento onde o
estudante tenha voz ativa e que a partir de suas contribuições possamos tecer uma rede de
relações entre a fala discente e os conteúdos geográficos. Com a prática discorrida no escopo
deste artigo, esquadrinhamos um espaço de cultivo ao diálogo entre educador e estudante,
multiplicando as vozes dentro do ambiente escolar e o plantio da fecunda dúvida entre os
estudantes com quem travamos relações diárias na sala de aula. A partir dela buscamos
interlocutores, não admiradores; oferecemos diálogos, não espetáculo. Escrevemos a partir de
uma tentativa de encontro, para que o jovem comungue, com palavras que nos chegam dele e
que voltam a ele como ânimo e inquietude. O pensar que a educação sozinha, irá mudar a
realidade, a nosso ver é um ato de loucura e presunção, mas refletimos que, de alguma forma ela
pode auxiliar nessa mudança tão sonhada e que se contorna de roupas quiméricas que
transparece ser algo impossível dentro da sociedade atual. A ideia de se trabalhar com o mapa
no momento de adentrarmos uma nova turma se relaciona ao “quebrar o gelo” e assim, de forma
descontraída e tranquila trocar informações para que nós como professores, conheçamos um
pouco daqueles educandos com quem iniciamos uma nova jornada de aprendizagem, para que
assim possamos concretizar o que pensamos ser objetivo da ciência geográfica, construirmos
uma aula que não ajude os demais a dormir, mas que lhes tire o sono
Palavras-chave: Mapas; Ensino de Geografia; Geografia.
INTRODUÇÃO
Geografia??? Se perguntarmos aos nossos educandos o que lhes vem à mente
quando escutam a palavra Geografia muitos dirão mapas como traz a pesquisa da
professora Callai (1999, p.60) que explicita que “ao serem solicitados (na pesquisa
referida) a “citar” cinco palavras que lhe vem à cabeça quando se fala de Geografia,
individualmente a palavra MAPA é a que mais aparece. Geografia, para muitos, tem
1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRGS, [email protected]
2 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRGS, [email protected]
3 Faculdade de Educação FACED/UFRGS, [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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sido, portanto, sinônimo de mapa.” Mas se formos analisar a nossa própria docência,
onde estão os mapas tão essenciais a nossa ciência?
As causas de seu abandono são muitas, dentre estas poderíamos citar a falta
deste tipo de material nas instituições de ensino que convivem com uma contínua
depreciação quando de suas infraestruturas. Podemos colocar também a dificuldade do
próprio professor em trabalhar com os produtos cartográficos dentro do ambiente
escolar, já que, na academia a maioria convive com ideários de uma cartografia
predominantemente técnica e quase nunca em formas de utilizá-la dentro de um
ambiente escolar. Além da inexperiência, comum aos licenciados a pouco egressos das
instituições de ensino, como colabora Santos (2011, p.60) que resume uma problemática
comum no início da vida de educador:
Para muitos professores, encarar a sala de aula se assemelha a entrar
em um labirinto, cujos caminhos são incógnitos que, mesmo com o
passar os anos de docência, são difíceis de resolver. No começo da
vida profissional, a insegurança e o estranhamento que provocam um
sentimento de incompletude e uma sensação de impotência diante das
questões da sala de aula, as quais se materializam sob a forma de
desgaste da disciplina, de aulas desinteressantes, de professores
fragilizados pela precarização do trabalho docente e pela
desqualificação social.
Para o uso de mapas dentro da sala de aula recomendamos a leitura dos trabalhos
de Castrogiovanni; Costella (2012), Kaercher (2007), Schäffer; Kaercher; Goulart;
Castrogiovanni (2011) e Passini (2012). Estes autores trazem uma miríade diversa de
atividades baseadas em mapas e no globo que podemos levar até os nossos educandos,
tanto da educação básica, bem como, no ensino superior onde são forjados os futuros
educadores que necessitaram de um maior arcabouço teórico e prático para sua
docência.
Acreditamos que o trabalho com mapas com nossos discentes é de grande valia
para a construção do saber geográfico, tendo neste tipo de material o alicerce necessário
para a constituição de uma rede de relações que transponha o cotidiano para dentro da
sala de aula conectando-o aos conteúdos geográficos, o que se torna facilitado pelo uso
dos mapas. Como Cavalcanti (2012, p.50) traz, “a cartografia é um importante conteúdo
do ensino, por ser uma linguagem peculiar da geografia”, assim, devemos nos valer dela
pela própria relação intrínseca existente com a ciência geográfica.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4418
Mesmo sendo uma linguagem marcante em nossa ciência, ela parece continuar
alheia a nossa docência, ficando mais como objeto decorativo da sala de aula do que um
material didático amplamente utilizado por nós educadores.
É nesse sentido que desenvolvemos o trabalho com mapas como forma de (re)
conhecer os discentes, sendo uma atividade inicial para compreensão quem é aquele
jovem com que iniciamos mais um ano letivo e a carga de saberes que os mesmos
trazem para esta ambiência. Travando uma série de relações entre a fala do jovem com a
Geografia, como bem coloca Callai (1999, p.82):
Ao confrontar várias situações entre si e com as condições concretas
do seu próprio mundo próximo, ele vai construindo um conhecimento
próprio e, mais do que isto, a compreensão de regras e leis que regem
este mundo atual e podem até buscar o que as funda e compreendê-las
como historicamente construídas.
Ao propiciar um ambiente onde o diálogo é colocado em primeiro plano,
estamos desejosos de levar o educando a uma posição de desequilíbrio, onde a parir das
relações que vão sendo realizadas entre educador/educando e educando/educando, ele
possa novamente se reequilibrar e assim, construir novos saberes. Além de ser esta, uma
atividade descontraída, aonde o estudante vai calcando conhecimentos a partir de um
ambiente sem a carga do “quantos pontos vale este trabalho professor?”.
DESENVOLVIMENTO
A escola deve incentivar a comunicação entre as diversas áreas do saber e a
busca das relações entre os campos do conhecimento, desmoronando as fronteiras que
inibem e reprimem a aprendizagem. Com isso, o professor deve detestar a quietude da
classe, e, amar as discussões e não desdenhar dela com medo de perder o posto do
intelectual sem falhas.
O questionar é importante, bem como traz o jornalista e escritor uruguaio
Eduardo Galeano (1999, p.45)
[...] E descobri perguntando. Perguntando e me perguntando de onde
vinha este planeta que habitamos, que a cada minuto gasta um milhão
de dólares em armamento para que, a cada minuto, morram trinta
crianças, impunemente, de doença ou fome. Perguntando e me
perguntando: este nosso mundo, este matadouro, este manicômio, é
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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obra de Deus ou dos homens?? Que tempo passado pariu este tempo
presente? Por que uns países se fizeram donos de outros países, e uns
homens donos de outros homens, e os homens donos das mulheres, e
as mulheres das crianças, e as coisas donas das pessoas?
Essa quebra da quietude leva a uma reflexão maior por parte do estudante, que
ao perguntar abre o espaço para ir tecendo uma teia que interliga distintos pontos até
que se torne uma armadinha perfeita para os mais espertos insetos. Com as relações a
partir de um ponto que pode transparecer nada de geográfico, o discente vai
constituindo um conhecimento próprio, pois, parte do seu cotidiano para uma concepção
escalar maior.
Essa busca por um processo de ensino-aprendizagem baseado em relações
embate-se com o ensino tradicional que se torna enfadonho em sua maior parte do
tempo, como corrobora Demo (2008, p.124) que afirmar: “a escola reprodutiva
considera conhecimento processo linear. Por isso, aposta em sua simples transmissão”.
Ao quebrarmos essa linearidade a partir do diálogo e de um processo de inter-relações,
vamos chegando a um ensino além do “dar o conteúdo” como Callai (1999, p.83)
expõem:
A aula de geografia deve ir além de passar informações, de apresentar
dados e mapas, de descrever lugares estranhos. Deve deslocar sua
preocupação maior em “dar o conteúdo”, e organizá-lo de modo mais
consistente para ser capaz de ter um significado para além do saber.
Mas, com certeza, ir além deles.
Rego (2007, p.10) corrobora ao levantar o questionamento “para que tantas
informações se não é exercitado o pensamento sobre o que é possível fazer com elas?”
Já passou aquele tempo da Geografia descritiva, esta não chega nem perto de responder
os anseios dos jovens do século XXI.
Nós professores podemos facilmente nos esconder atrás dos conteúdos, já que,
estes são praticamente intermináveis. O passar informações se torna o comum por ser a
saída mais fácil e requerer menor esforço.
Nesse momento é que devemos (re) pensar em nossa docência, qual o nosso
papel como educador?
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Como educadores de uma sociedade de muitas heterogeneidades, não podemos
simplesmente pautar nossas aulas em despejar informações, sem maiores ponderações.
Como conhecedores da ciência geográfica devemos buscar a leitura do mundo por seus
diferentes vieses, não há uma só linguagem possível para um mundo que contém tantos
mundos.
Com essa concepção de diálogo e questionamento é que pensamos na atividade
com o mapa, uma vez que, vemos nesse tipo de material uma potencialidade grande
para o ensino não só da Geografia, bem como, de outras áreas do conhecimento.
A ATIVIDADE
Com esta prática dentro do ambiente escolar de um segundo ano do ensino
médio da rede pública de ensino, objetivamos romper com a inércia característica do
sistema escolar, trabalhando com as relações “Eu – Meio Ambiente”, “Eu – O Outro” e
“Eu – Comigo Mesmo” de forma vivencial e reflexiva.
Levando sempre como ponto comum a voz do aluno na atividade, sem
modismos e qualquer hierarquia que possa melindrar o discente. É ele que coordena os
pensamentos a serem postos na mesa do diálogo, com todos os atores envolvidos no
ambiente escolar como possíveis fontes de contribuição e enriquecimento da discussão.
Ela consistia em um espaço de reflexão e diálogo entre educador e educando,
fazendo com que o discente conseguisse localizar determinados países dentro do mapa-
múndi (figura 1 e figura 2) e a partir daí realizar conexões com outras nações e as
nuances presentes dentro das fronteiras do Estado escolhido ou da região a qual ele está
inserido.
O jovem decide por um espaço mundial que gostaria de conhecer e a partir deste
ínterim se desencadeava uma série de discussões e reflexões acerca do porque de se ter
escolhido, por exemplo, Espanha e não Moçambique? O que acarreta a escolha
majoritária dos estudantes pelo continente europeu? Qual a razão do Egito ser o único
país africano a ser escolhido? Quais as relações mundiais dentre os continentes?
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Figura 1 – ATIVIDADE COM MAPA
Figura 2 – ATIVIDADE COM MAPA
Com a atividade se tornou possível trabalhar ainda com noções de lateralidade,
rosa dos ventos, convenções cartográficas entre outros fatores geográficos. Além de
curiosidades e características de lugares do globo terrestre, relacionando-se sempre ao
espaço cotidiano do educando.
Ainda conseguimos possibilitar o manuseio com mapas por parte do discente
que inúmeras vezes permanecem inexplicavelmente fora das aulas de Geografia,
fazendo com que o discente não tenha a possibilidade concreta de ler um mapa, uma vez
que, nunca possui contato com ele.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Lacoste (2009, p.38) vem afirmar que “cartas, para quem não aprendeu a lê-las e
utilizá-las, sem dúvida, não têm qualquer sentido, como não teria uma página escrita
para quem não aprendeu a ler”.
Com este tipo de leitura com a qual compartilhamos, vemos uma lacuna latente
dentro do ensino de se trabalhar com mapas. O que pode ser contornado com práticas
simples como a proposta aqui, onde o foco persiste no estudante e em suas relações
construídas.
CONCLUSÃO
O estudante vai tendo sua curiosidade enclausurada quando adentra a educação
básica brasileira, o que leva aos bancos da academia mentes não acostumadas ao
questionamento. Todo docente possui/deveria ter o serviço de levar seus jovens a serem
pessoas mais espontâneas, não tendo maiores medos de serem considerados estúpidos
por consequência dos questionamentos propostos.
É muito gratificante quando observamos as vozes dos educandos ganhando ecos
nos áridos palcos das salas de aula, o que gera uma gama de discussões relevantes com
pensamentos de as causas e consequências que levaram a educação brasileira quase que
com sua totalidade a realidade atual.
Aflige-nos perceber quanto às vozes e ideias ficam enclausuradas dentro de
gavetas, uma comunicação muda que paralisa o diálogo. Urge a necessidade de
trabalharmos com práticas voltadas ao diálogo e ao trabalho com produtos cartográficos
para que o jovem se acostume com este tipo de linguagem que irá lhe acompanhar por
muitos descaminhos desta vida.
Um trabalho docente que considere o sujeito como ser de vontade, com opiniões
contrárias (ainda bem que é assim!) a nossa, e com voz ativa na construção do espaço.
Levando a uma real transformação social, sendo que a mesma não ocorre na escola, mas
impreterivelmente passa por ela.
Vivemos em um meio onde a educação transparece impossibilitada de ser
transformada, como era impossível atingirmos a lua, mas lá persiste a pegada do
homem, como persistirá no campo educacional as marcas dos educadores que
lutam/lutaram por uma educação mais justa e democrática.
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Este olhar pessimista/acusatório da pós-modernidade rotula a escola
simplesmente de conservadora e desqualificada para uma educação emancipatória,
punindo-a como única responsável pelas mazelas educacionais brasileiras, mesmo sendo
sabido das dificuldades da construção de uma educação qualitativa em um Estado que
prima pela verticalização de comandos, inexplicavelmente mantendo os principais
atores desta novela – os educadores - fora da escritura dos diálogos.
Com um olhar utópico/esperançoso ainda vislumbramos um final feliz para essa
novela que dura mais de 500 anos, vendo as possibilidades que cercam as instituições de
ensino como ambiências propícias para rupturas significativas, retirando os educandos
de sua zona de conforto como meros ouvintes do processo de ensino-aprendizado,
dando-lhes uma visão de concretude do espaço.
Os mapas devem permanecer como materiais a serem utilizados, e, não somente
como objeto harmônico de enfeite de uma parede.
Nos produtos cartográficos observamos uma riqueza muito grande, essa riqueza
e beleza que buscamos como educadores que somos.
Então ao mar educadores, “Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é
pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar
o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu” (PESSOA, 1992, p.39).
REFERÊNCIAS
CALLAI, Helena Copetti. A Geografia no Ensino Médio. In: Terra Livre. São Paulo:
nº 14, 1999. p.56-89.
CASTROGIOVANNI, Antonio. Carlos.; COSTELLA, Roselane. Zordan. Brincar e
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CAVALCANTI, Lana de Souza. O Ensino de Geografia na Escola. Campinas:
Papirus, 2012
DEMO, Pedro. Complexidade e Aprendizagem: a dinâmica não linear do
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GALEANO, Eduardo. A descoberta da América (que ainda não houve). 3. ed. Porto
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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KAERCHER, Nestor André. Práticas geográficas para lerpensar o mundo,
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4425
POROSIDADE DO SOLO: ONDE FICA O AR DO SOLO
Mirlane Sampaio Cunha1
RESUMO
O solo é um componente do ambiente natural e humano que está presente em nosso dia a dia.
Em vista disso propomos neste trabalho o uso de oficinas que abordem esse conteúdo na
perspectiva da educação geográfica. A Geografia sendo a ciência das relações, tanto homem e
natureza, como as relações que mantém com outras ciências, consegue contemplar a ciência do
solo. No entanto sabemos que o tema é pouco abordado no livro didático e pouco discutido em
sala de aula. Por isso vemos a necessidade de aproximarmos esse conhecimento ao cotidiano
dos alunos, de forma que conhecendo o solo possam conserva-lo, reconhecendo sua
importância. Pretendemos levar esse conhecimento aos alunos por meio das oficinas, por
considerarmos que as mesmas contribuem para contemplar o ensino de solos de forma sistêmica
e dinâmica. Para tanto analisamos a oficina Porosidade do solo: Onde fica o ar do solo. Durante
a mesma foi possível constatar que falta um estímulo aos estudantes em relação à temática
quando vista em sala de aula, pois é trabalhado superficialmente nas escolas. Foi percebido por
meio das oficinas que ao verem o conteúdo de uma maneira mais dinâmica, os alunos se
mostram mais instigados a aprender, pois participam do processo de aprendizagem.
Palavras-chaves: oficina, ensino de solos, Geografia.
INTRODUÇÃO
Embora o solo seja um conteúdo bastante importante no currículo de geografia,
este não é abordado nas escolas como deveria ser. Considerando-se que o solo é um
componente do ambiente natural e humano, presente no cotidiano das pessoas, que é
familiar e significativo para todos, o Laboratório de pedologia e Processos Erosivos em
Estudos Geográficos do curso de Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú
vem desenvolvendo um projeto intitulado “A Produção de Material Didático no
contexto colaborativo ao estudo de solos”.
O objetivo principal desse projeto é a elaboração de materiais didáticos sobre
ensino de solos, como banners informativos, kits de experimentos, minhocário,
macropedolitos, confecção de tintas à base do solo, dentre outros, para serem aplicados
na Geografia escolar ampliando a conscientização a respeito da importância desse
1 Graduanda do Curso de Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú;
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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recurso natural e da necessidade de conservá-lo. Além disso, o laboratório recebe visitas
monitoradas das escolas municipais e estaduais públicas e particulares de Sobral onde
expõem os materiais desenvolvidos.
Acreditamos que ao fazermos uma abordagem interdisciplinar sobre os solos, os
alunos se interessam mais pelo tema conseguindo compreender melhor o papel e as
funções que este realiza na natureza, permitindo assim que entendam o solo como
elemento ecológico que também necessita ser preservado.
Neste sentido nos dias 15 e 16 de abril de 2013 foi realizado no Centro de
Ciências Humanas (CCH) um evento para comemorar o Dia Nacional da Conservação
do Solo (Lei Federal 7867, de 13 de novembro de 1989), onde os alunos de algumas
escolas de Sobral e da Universidade puderam assistir no período da manhã do dia 15 de
abril a duas palestras, a primeira intitulada “Por que devemos conservar o solo?”, com a
professora Cleire Lima da Costa Falcão. A segunda abordagem foi o relato de
experiências com a professora Maria Cristina Ribeiro, agrônoma do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Além destas professoras compuseram
a mesa de trabalhos, o pró-reitor de extensão da UVA, professor José Falcão Sobrinho,
a coordenadora do curso de Geografia, Antonia Neide da Costa Santana e a
representante do Colégio Estadual Dom José Tupinambá da Frota, professora Patrícia
Kelly.
Dentro desse evento realizamos oficinas referentes ao tema solo e sua
conservação. Dentre estas se encontrava a oficina Porosidade do Solo: onde fica o ar do
solo. Nela discutimos em um primeiro momento sobre o solo de uma maneira geral, no
segundo momento abordamos mais especificamente sobre sua porosidade.
Vimos à necessidade de abordar o solo através de oficinas por considerarmos
uma maneira mais dinâmica de trabalhar esse conteúdo, pois a mesma foge aquela ideia
de aula chata, com mera descrição de conceitos, além disso, os alunos interagem com
outras escolas o que torna as oficinas bem interessantes. Achamos que o dia da
conservação do solo é uma ótima data para realizarmos essas oficinas, pois objetivamos
conscientizar os alunos a cuidarem do solo para que não este perca a qualidade.
No entanto é importante ressaltar que o solo não deve apenas ser preocupação de
uma data comemorativa, mas deve está sempre presente nas discussões ambientais, já
que é um componente fundamental do ecossistema terrestre. O objetivo deste trabalho é
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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fazer com que os alunos compreendam o conteúdo solos, trazendo esse conhecimento
para sua realidade, detectando os problemas relacionados a esse tema.
EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA E ENSINO DE SOLOS
O ensino de solos torna-se fundamental na compreensão e na ação da cidadania
perante o meio ambiente. É necessário que assim como qualquer outro recurso natural, o
solo seja também protegido, pois sabemos que esse corpo natural demora anos para
nascer, não se reproduz e “morre” com facilidade.
Muitas das dúvidas que envolvem o atual professor de Geografia dizem respeito
a melhor forma de fazer com que os alunos se interessem pela disciplina e se
convençam da importância da Geografia no seu dia a dia. Ou seja, os professores estão
preocupados em encontrar caminhos para propiciar o interesse coletivo dos alunos,
aproximando os temas de espacialidade local e global dos temas da espacialidade vivida
no cotidiano. CAVALCANTI, 2010.
Algumas das dificuldades encontradas pelo professor referem-se à metodologia,
que muitas vezes baseia-se na utilização somente do livro didático. Sem desprezar a
importância do livro que é a base dos conteúdos queremos ressaltar que o ensino
somente com esse recurso não atrai a atenção dos alunos, pois na maioria das vezes eles
consideram uma aula entediante, onde é comum percebe-los dispersos, inquietos.
O professor não deve ter apenas o livro didático como recurso por que alguns
livros trabalham os conteúdos de maneira bastante fragmentada. Como é o caso da
temática solo que é tão pouco trabalhada na sala de aula, em vista da falta deste conceito
no livro ou mesmo pelo pouco conhecimento que o professor tem do tema, e o mais
agravante é que ele não procura aprofundar-se no assunto. Como aponta Silva, Falcão e
Sobrinho (2008):
De maneira geral, os livros didáticos (...) presenciam definições
equivocas, pautadas em denominações geológicas e agronômicas para
caracterizar os solos, não dão ênfase ao tratamento dos processos a
qual os solos são submetidos desde a pedogênese até os processos de
perdas da massa pedológica.
Normalmente o solo é estudado de maneira muito superficial no ensino
fundamental e médio, por isso vários trabalhos de pesquisa e projetos são desenvolvidos
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4428
nas universidades visando formar professores capacitados a compreender e ensinar esse
conteúdo.
Entendemos que o solo sendo um recurso natural do qual o ser humano está
totalmente envolvido traz na Geografia uma relação de sociedade e natureza. Portanto o
estudo do solo deve ser compreendido em uma visão sistêmica. Chistofoletti, (2007)
explica:
(…) a ciência sistêmica demonstra que os sistemas não podem ser
compreendidos através das partes, pois estas não são propriedades
intrínsecas, mas só podem ser entendidas dentro do contexto do todo
maior.
Sendo assim o solo é um elemento integrante da natureza que está em conjunto
com outros elementos transformando-a continuamente, onde o ser humano atua
diretamente nessa transformação. Isso pode ser percebido pelos diversos problemas que
ele tem causado ao solo como a poluição e a sua má utilização.
Acreditamos que à Geografia cabe demonstrar que essa temática encontra-se
relacionada com outros conteúdos como urbanização, agricultura, indústria, dentre
outros, portanto os alunos precisam compreender que o solo está presente no seu dia a
dia. Como afirma CASTELLAR, (2005) “Então, pensar o ensino de Geografia na busca
de analisar pedagogicamente os saberes geográficos de modo significativo para os
alunos implicando em desenvolver ações que reestruturem os conteúdos, inovem os
procedimentos e estabeleçam com clareza os objetivos”.
MATERIAL E MÉTODOS
Baseados na visão construtivista de Vygotsky optamos por realizar oficinas
objetivando expandir o conhecimento da temática solo. A oficina Porosidade do solo:
onde fica o ar do solo foi oferecida pelo laboratório durante o evento realizado nos dias
15 e 16 de abril para comemorar o dia Nacional da Conservação do Solo. No evento
aconteceram nove oficinas. Na presente oficina encontravam-se 10 estudantes das
escolas estaduais e municipais de Sobral, esperava-se 15 estudantes por oficina, porém
alguns imprevistos com transportes ocorreram impedindo que alguns alunos
comparecessem, além disso, eles estavam passando por um período de avaliações, o que
dificultou que eles comparecessem as oficinas. Os recursos didáticos utilizados para a
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oficina foram o quadro branco, pincel, data show, papel, caneta, amostras de solo com e
sem vegetação, esponja e uma rocha para o experimento.
No primeiro dia fizemos uma primeira abordagem sobre o solo, mostrando para
os alunos o vídeo “Conhecendo o Solo”, produzido na Universidade Federal do Paraná,
no Projeto Solo na Escola, o recurso foi bastante importante, pois demostrou de forma
bem didática o conteúdo. Começamos a discussão fazendo a pergunta: o que é o solo?
Pedimos para que eles escrevessem as respostas, nos surpreendemos com as mesmas,
não se tratavam de definições com uma palavra, como por exemplo, o solo é terra ou é o
chão, eles conseguiam descrever como o solo é formado, do que é composto,
conseguiam perceber que o solo não é “algo fixo, um espaço que deve ser conservado,
pois é nele que há o cultivo” ou “o solo é um elemento essencial à vida”, conhecimento
este já adquirido na palestra de abertura e em outras oficinas oferecidas pelo
Laboratório.
Após a discussão com os slides, partimos para a prática, construímos junto com
os alunos um terrário, para a construção deste utilizamos: um recipiente para montar o
terrário, solo para jardim, areia, folhas e fita isolante, a ideia era que eles pudessem
acompanhar o terrário por vários dias, percebendo as transformações, como não foi
possível explicamos que as mudanças ocorridas no solo nem sempre são perceptíveis
rapidamente, pois os eventos na natureza ocorrem muitas vezes de maneira lenta.
Além disso, no primeiro dia falamos de nossa experiência acadêmica,
conversando com eles sobre o futuro que seguiriam em relação à educação, pois
sabemos que na maioria das vezes esses alunos não pensam em entrar em uma
Universidade, pretendíamos mostra-los que as oportunidades encontram-se bem
próximas deles e que não eles podem restringir o seu conhecimento ao ensino médio.
No segundo dia os alunos foram conhecer o museu de Geologia que está situado
no Campus do Junco na Universidade Estadual Vale do Acaraú. O museu reúne um
importante conjunto de espécies minerais e de rochas, provenientes de várias regiões do
Brasil. Os principais objetivos da obtenção e organização do referido acervo estão
centrados principalmente em sua utilização como recurso didático para a aprendizagem
dos conteúdos geológicos ministrados nas disciplinas de Geografia, Biologia e Química.
O museu está ligado a atividades de extensão que envolvem visitas monitoradas de
alunos de escolas públicas e particulares.
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4430
FOTO 1: VISITA AO MUSEU DE GEOLOGIA
Nesta visita em que os alunos da oficina realizaram ao museu de Geologia
tiveram uma aula, onde foram apresentadas explicações sobre a origem e evolução das
rochas, visto que o solo se forma das mesmas. Após esse momento revisamos nosso
conteúdo e encerramos a oficina com um experimento onde eles participaram da
construção, inclusive alguns alunos estavam bem empolgados a participar.
A ideia do experimento partiu do Projeto Solo na Escola do Departamento de
solos e Engenharia agrícola da UFPR. Os objetivos deste seriam demonstrar a existência
de poros no solo, demonstrar a infiltração da água ocupando seu espaço poroso e a
existência de ar contido neste. Para tanto utilizamos torrões de solo seco, amostra de
rocha, esponja seca, água e copo transparente. Os procedimentos foram:
1. Pegar a rocha, a esponja seca e o torrão de solo seco e colocar sobre uma
mesa forrada algo para não ser molhada, nesse caso utilizamos uma
bandeja.
2. Pingar um pouco de água sobre cada um deles. Observar o que acontece;
3. Encher o copo com água;
4. Pegar outro torrão de solo seco e colocar dentro do copo com água.
Observar o que acontece:
5. Discutir em sala junto com os alunos.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4431
FOTO 2: EXPERIMENTO, MATERIAIS MOLHADOS.
Antes de iniciarmos o experimento fizemos algumas indagações como: o que
acontecerá quando jogarmos água sobre a pedra? O que acontecerá quando jogarmos a
água sobre a esponja? E sobre o torrão de solo? Ele absorverá água como a pedra ou
como a esponja? Quando jogarmos o torrão de solo seco na água, o que poderá
acontecer?
As respostas foram que nada acontecerá quando a pedra for molhada, quanto à
esponja absorveria a água, sobre o torrão seco molhado não souberam expressar bem o
que aconteceria, ficaram com um pouco de dúvidas, mas souberam dizer que o solo
absorveria água como a esponja e não como a rocha e quando jogássemos o torrão de
solo na água desmancharia.
Após o experimento os alunos puderam entender que no solo há espaços vazios
que são os poros, onde ficam guardados o ar e a água. O resultado da experiência é que
o solo funciona como uma esponja que tem ar e água dentro dela. Quando esta seca,
seus poros são ocupados pelo ar, mas quando está molhada, acontece a penetração da
água e a saída do ar. É isso que ocorre com o solo. Não podemos compara-lo a rocha
por que a água não penetra em uma rocha, pois não espaço nela para isso. Quanto ao
que acontece quando jogamos o torrão de solo dentro do recipiente com água é que ele
formará bolhas, em vista do ar que tem dentro do solo.
Acreditamos que esse experimento mesmo sendo simples serve para contribuir
bastante com a aprendizagem dos alunos em relação à porosidade do solo. Segundo
Falconi e Sacramento:
A prática do ensino dos solos permite que o aluno, além de utilizar materiais
diferenciados do cotidiano escolar, como brita areia, argila, água, ou outros materiais de
modelagem, compreendam os modelos ou as informações que estão dentro das
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4432
sequências das aulas, na qual o professor deve associar acontecimentos do cotidiano
para organizar o raciocínio espacial do aluno em relação às mudanças na paisagem.
O professor precisa fazer com que a prática seja capaz de explicar a teoria, pois a
prática sem uma fundamentação teórica é vazia de conteúdo, assim como somente a
teoria sem a prática não é capaz de transformar a sociedade e a natureza. Portanto ao
“colocar a mão na massa” os estudantes compreendem melhor os conceitos sobre solos
aplicados na aula, fazendo vínculo deste com a paisagem em que se inserem.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O que podemos constatar por meio da oficina é que os alunos quase não veem
nas escolas o conteúdo solo, a sua abordagem é muito superficial. Como afirma Silva,
Falcão e Sobrinho (2008):
É bastante perceptível, o caráter de descaso dado ao estudo dos solos
nos livros didáticos, ocupando espaços vazios em poucas páginas.
Paralelo a essas características de secundariedade, a análise da
Pedologia nos livros didáticos do ensino fundamental II, trabalha o
assunto de forma simplificada e resumida, não proporcionando o seu
entendimento de maneira integrada, como sendo o solo um elemento
que compõe a paisagem e nela mantêm relação com os seus elementos
componentes.
Portanto quando acontecem esses eventos eles têm a oportunidade de aprender
de uma forma dinâmica sobre o conteúdo, o que nem sempre ocorre na sala de aula, por
meio de experimentos do qual eles mesmos participam, constroem seu aprendizado.
Os alunos gostaram bastante do vídeo “Conhecendo o Solo”, por que ele trata de
forma bem didática sobre o solo, explicando a sua formação, os horizontes, perfis e
principalmente a importância de conserva-lo. Nas discussões a cerca do mesmo, eles
foram bem participativos, demostrando que conseguiam compreender a temática a partir
dessa metodologia. No momento dos experimentos os alunos se colocavam, fazendo
perguntas e respondendo as perguntas que lhes foram feitas a respeito do tema.
Como o número de estudantes da oficina era um número pequeno, a discussão
foi mais proveitosa. Existiam aqueles que ficavam mais recuados, o que é normal, pois
dificilmente todos tem o mesmo interesse, por outro lado havia aqueles que falavam
mais, que demonstravam um melhor conhecimento, estes já tinham participado de outra
oficina com o tema solo. De uma forma bem interessante eles haviam visto na oficina
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4433
anterior pigmentos feitos com o próprio solo, inclusive esses alunos fizeram pinturas
que foram mostradas no evento do dia Nacional da Conservação do Solo. Na foto
abaixo podemos observar os alunos interagindo:
FOTO 3: OFICINA POROSIDADE DO SOLO
ONDE FICA O AR DO SOLO
Os estudantes se envolveram com as oficinas a ponto de quererem novamente
participar de outras que trabalhassem a respeito desse tema, inclusive um dos alunos
colocou que gostaria de repetir a mesma oficina e que dois dias eram poucos, afirmou
ele que esses eventos deveriam acontecer mais vezes.
Notamos que os estudantes se engajam bem mais quando o conteúdo é
apresentado acompanhado de uma prática, pois é o momento que se concretiza esse
conhecimento, além disso, quando se deparam com o solo fora da escola fazem uma
melhor identificação das características vistas durante a aula, podendo fazer uma análise
a respeito da dinâmica do solo como elemento essencial a sociedade.
A prática na oficina torna-se essencial para o entendimento do solo. Ao ter um
contato direto com o solo, seja através do toque ou da visão os alunos podem analisar
sua cor, fazendo comparações com diferentes solos, entendendo a razão de diversas
cores, poderá ver a textura por meio do tato, a consistência, composição, perfis,
horizontes, dentre outros fatores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Ao analisarmos o evento como um todo e as oficinas especificamente, é possível
concluirmos que os alunos desenvolvem uma aprendizagem bastante significativa nesse
momento. Embora inicialmente eles se mostrem mais reservados, isso pode estar
relacionado ao fato de acreditarem que vão ter uma aula normal de Geografia, logo
depois vão percebendo que ali é um momento mais dinâmico, onde podem construir seu
próprio aprendizado.
Acreditamos que a oficina constitui uma metodologia que contribui bastante
para a aprendizagem sobre os solos. Além de poderem adquirir o conhecimento fora do
seu cotidiano escolar, esses educandos tem a oportunidade de ter um contato com a
Universidade, o que é bastante importante para eles. Para os ministrantes da oficina é
um momento único, é muito satisfatório perceber os alunos interessados a conhecerem
sobre esse elemento tão fundamental ao ser humano que é o solo.
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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A GEOGRAFIA NO ATUAL CONTEXTO ESCOLAR: UMA LEITURA
DA CIDADE POR MEIO DA FOTOGRAFIA
Ana Kércia Sousa Mariano1
Virgínia Célia Cavalcante de Holanda2
RESUMO
O presente artigo é fruto da pesquisa intitulada: “Lugar e Paisagem: Uma Leitura através do
uso da Fotografia”, trabalho vinculado ao Projeto de monografia, no curso de Licenciatura em
Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú. A pesquisa tem como objetivo principal
analisar as potencialidades da imagem fotográfica como recurso didático nas aulas de
Geografia, em especial, para a compreensão dos conceitos de lugar e paisagem apresentados nas
dinâmicas do espaço urbano da cidade. Nesse contexto discutimos como trabalhar em sala de
aula com imagens fotográficas. A proposta não é somente fazer com que os alunos admirem as
imagens, mas analisá-las de forma a se apropriar dos conteúdos existentes por trás da fotografia
e, a partir disso, construir novos conhecimentos. A metodologia deste estudo tem por base uma
abordagem qualitativa de caráter teórico-prático, na qual, inicialmente, foi realizado um
levantamento bibliográfico para a construção de um referencial teórico sobre o conceito de
cidade no Ensino de Geografia para o entendimento de Lugar e Paisagem, e a utilização do
recurso visual, principalmente, das fotografias no âmbito escolar. Posteriormente, como prática
da pesquisa, foi desenvolvida uma oficina intitulada: “Uma leitura da cidade através da
fotografia” com os alunos do 3º ano do Ensino Médio da Escola Ministro Jarbas Passarinho,
localizada na cidade de Sobral/CE. No primeiro momento, realizamos uma discussão teórica
sobre o conceito de cidade atrelado ao nosso recorte espacial, ou seja, a cidade de Sobral. No
segundo dia, trabalhamos exclusivamente com as fotografias antigas e atuais da cidade,
mostrando as múltiplas paisagens urbanas. E por último, como atividade prática, os alunos se
dividiram em grupos e fotografaram a cidade de acordo com suas percepções. A partir das
fotografias trabalhadas pelos alunos foi possível desenvolver reflexões sobre diversos temas.
Dessa forma, repensar o Ensino de Geografia a partir de novas metodologias contribui para o
encantamento do aluno pela disciplina de Geografia, facilita a integração dos colegas, melhora a
relação professor-aluno e, principalmente, desenvolve de forma mais efetiva os conhecimentos
geográficos.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Geografia; Conceitos Geográficos; Imagem
fotográfica.
INTRODUÇÃO
A pesquisa que se encontra em fase de desenvolvimento é decorrente da
investigação intitulada: “Lugar e Paisagem: Uma Leitura através do uso da Fotografia”,
1 Graduanda do Curso de Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú –UEVA;
[email protected] 2 Prof.ª Dr.ª do Curso de Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UEVA;
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4437
realizada inicialmente como Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso para a pesquisa
de monografia, no curso de Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú.
O presente estudo tem como objetivo ressaltar a utilização da imagem
fotográfica como recurso didático nas aulas de Geografia, em especial, para a
compreensão dos conceitos de lugar e paisagem apresentados nas dinâmicas e
contradições do espaço urbano da cidade. Tendo como parte prática a elaboração de
uma oficina - “Uma leitura da cidade através da fotografia” - realizada no Núcleo de
Estudos Urbanos e Regionais/ Curso de Geografia (UEVA), para os alunos do 3º ano do
Ensino Médio da Escola Ministro Jarbas Passarinho.
Em se tratando da Geografia, é extremamente importante a superação de um
ensino mnemônico, mecânico, cartesiano, ou seja, da mera memorização, da repetição
de conteúdos descontextualizados da realidade do aluno. Vale também superar,
principalmente, nos países periféricos como o nosso, a funcionalidade da Escola "como
“utilidade”, em termos mercantis, do conhecimento, sendo secundária sua importância
para desenvolver as potencialidades do educando” (VESENTINI, 2009, p.39).
Em contrapartida, o Ensino de Geografia do atual século XXI passa por
transformações que consistem em novas demandas nas práticas metodológicas no
âmbito escolar e científico, iniciadas em fins do século passado. Essas mudanças
surgiram pós década de 1980, quando se manifestou um “movimento de renovação da
geografia” (VESENTINI 2009; ZANATTA 2003). Constata-se, inicialmente, uma
geografia de cunho “tradicional” até meados do século XX, e outra que vêm se
estruturando e busca ultrapassar a tradicional, que se classifica como geografia “crítica”,
fortemente influenciada pelo marxismo. Alguns autores contribuíram para a base teórica
dessa discussão no Brasil, como: Milton Santos, Ariovaldo de Oliveira, William
Vesentini, dentre outros.
A Escola do século XXI é um reflexo da globalização da produção e do
consumo, das práticas sociais, dos avanços das tecnologias de comunicação e da
sociedade que é diariamente bombardeada por informações, entre outros aspectos.
Então, como nossos educadores, em especial os de Geografia, podem contribuir para
que os nossos alunos possam compreendê-las ou, como ressaltam alguns autores,
entender “o mundo em transformação”? Como essas informações podem ser
trabalhadas em sala, de forma que contribuam para uma leitura que permita uma
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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formação mais cidadã? Acreditamos que isso pode ser adquirido por meio de novas
metodologias de ensino-aprendizagem.
Tendo isso em vista, tentaremos discutir como trabalhar em sala de aula com
imagens fotográficas, já que essas se mostra um excelente instrumento para expressar as
potencialidades do indivíduo. A proposta não é somente fazer com que os alunos
admirem as imagens, mas também analisá-la e, a partir disso, construir novos
conhecimentos, em especial, abrangendo os conceitos geográficos de paisagem e de
lugar na cidade, no espaço vivido. Além disso, é importante desenvolver a sensibilidade
do olhar dos educandos que recebem cotidianamente imagens que modificam seus
hábitos, escolhas e consumos.
Consideramos que se esse recurso for utilizado adequadamente na Escola,
auxiliando o professor a possibilitar o aluno a realizar uma leitura da paisagem para
compreender o seu lugar do cotidiano, contribuiremos para o desenvolvimento da
capacidade crítica do educando e para a construção de uma interatividade e
dinamicidade na Geografia Escolar.
QUESTÕES METODOLÓGICAS DA PESQUISA
O desenvolvimento deste estudo tem por base uma abordagem qualitativa de
caráter teórico-prático. A pesquisa qualitativa, segundo Negrine (2004, p.61), “se centra
na descrição, análise e interpretação das informações recolhidas durante o processo
investigatório, procurando entendê-las de forma contextualizada”. Dessa forma, essa
vertente não busca quantificar os dados e generalizar fatos, mas abrange os valores, as
crenças e a aprendizagem dos indivíduos.
Na pesquisa qualitativa, o pesquisador ressalta o conhecimento do educando,
compreendendo que o mesmo é construído mediante a questão social, política e familiar
em que ele se encontra. Por essa razão, foi necessário conhecer a realidade escolar e a
realidade dos alunos para propor uma metodologia que auxiliasse o ensino de geografia
na Escola, na perspectiva do lugar, do cotidiano, das transformações da paisagem no
meio urbano. Porque é na cidade que se materializa com mais intensidade a
complexidade das relações econômicas, culturais e política da sociedade.
A metodologia utilizada nesta pesquisa compreendeu, inicialmente, um
levantamento bibliográfico para a construção de um referencial teórico sobre o conceito
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de cidade no Ensino de Geografia, para o entendimento dos conceitos de Lugar e
Paisagem. Ademais, realizamos leituras sobre a utilização do recurso visual,
principalmente, das fotografias no âmbito escolar.
Posteriormente, foi organizada a oficina “Uma leitura da cidade através da
fotografia” com os alunos do 3º ano de ensino médio da Escola Ministro Jarbas
Passarinho, localizada na cidade de Sobral/CE. Inicialmente, realizamos uma discussão
teórica para fundamentar a oficina. Em seguida, apresentamos fotografias antigas da
cidade de Sobral, comparando-as com as fotografias da paisagem atual. E ao final da
oficina, como atividade prática, os alunos foram a campo fotografar sua cidade,
mostrando sua percepção quanto aos conhecimentos de Geografia, em particular, da
Geografia urbana.
APORTES TEÓRICOS
Nas últimas décadas houve um significativo avanço metodológico que vem
contribuindo para a construção do saber geográfico no âmbito do espaço escolar. Nesse
aspecto é imprescindível salientar a utilização de música, filme, jornais, revistas, jogos
eletrônicos, etc.
Nesses primeiros anos do século XXI, diante da realidade exposta, algumas
preocupações teóricas surgem para modificar a prática de Ensino de Geografia. Entre
elas, podemos citar: a reafirmação do lugar como dimensão espacial e como escala de
análise; a articulação local-global como um conjunto de processos, de relações, de
estruturas de um dado espaço, que tem um significado peculiar em cada lugar, mas que
deve ser apreendido em sua totalidade. A compreensão dessa totalidade passa pelo
entendimento dos conceitos geográficos instrumentalizadores do pensamento espacial:
valorizando o conhecimento do espaço vivido do aluno, do seu cotidiano; discutindo
temas emergentes para interpretar a espacialidade contemporânea, como gênero,
turismo, violência urbana, étnico-raciais; desenvolvendo a linguagem cartográfica, a
educação ambiental e a preocupação com a questão ambiental e a qualidade de vida;
incorporando outras formas de linguagem, como o cinema, a música, a literatura, a
charge, a internet (CAVALCANTI, 2008).
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4440
Nesse aspecto se torna relevante a Escola buscar inovações metodológicas que
vinculem o atual movimento tecnológico que se encontra a sociedade ao mundo
globalizado. Dessa forma, repensar o Ensino de Geografia a partir de novas
metodologias contribuirá no encantamento do aluno pela disciplina, ao mesmo tempo
em que facilita a construção de conhecimento no processo de ensino-aprendizagem. No
entanto, Santos ressalta uma questão fundamental:
O uso de técnicas e metodologias inovadoras não garante o
aprendizado do aluno sem que o professor reflita sobre sua prática e
defina quais objetivos desenvolver. Assim, o uso de jogos, de vídeos,
de excursões e de tantas outras atividades ou recursos em sala de aula
pode vir a ser apenas uma estratégia para o professor não “dar aulas”,
ficando escondido nessas atividades. (2011, p.64-65).
A ideia consiste em ter clareza metodológica, pensar e refletir sobre os objetivos
que se busca alcançar com o recurso didático, pois a questão principal é que os discentes
redescubram saberes geográficos, e isso é possível quando os conteúdos têm significado
na vida dos alunos. Nessa perspectiva, apresentamos a importância do recurso visual na
geografia escolar.
Atualmente, o recurso visual vem sendo trabalhado no Ensino de Geografia na
forma de documentários, filmes, mapas cartográficos, fotos ilustradas nos livros
didáticos, etc. Percebe-se o valioso poder desse recurso, quando os estudantes são
atraídos pela imagem em movimento, pelo brilho emitido, pela associação da mesma
com o conteúdo geográfico.
Posto isso, temos como proposta inserir a imagem fotográfica como ferramenta
metodológica que também pode colaborar no processo em pauta. Para compreendermos
as potencialidades dessa ferramenta, tornam-se importante as contribuições de
pesquisadores, como: Recuero (2006), Ciacarali (2011), Silva (2003), Damiani (2002),
Travassos (2001), Dantas (1999), dentre outros. Como ponto de partida podemos citar
Recuero (2006, p.3) que ressalta:
A fotografia capta um momento, uma realidade presente/passado, no
momento que ocorre, momento único, jamais repetido, jamais
revivido. A foto é a testemunha ocular do fato, é a comprovação do
ocorrido, é a existência contida na imagem. O registro fotográfico
proporciona comunicação, é fator de reflexão e de questionamento,
revela mil possibilidades de interpretações, ainda que num momento
congelado e guardado para sempre.
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Recuero (2006, p.4) destaca, ainda, que “os avanços desta técnica e a sua
integração foram de tais formas incorporadas à vida social, que o homem desde o seu
nascimento até a sua morte vai se vendo cercado por imagens fotográficas”. O ato de
compreender a realidade através da fotografia ou de um recorte de um contexto social é
um aprendizado.
No entanto, ao analisarmos imagens é preciso estarmos atentos quanto às
possíveis modificações, pois a fotografia é uma das formas de expressão do ser humano,
é um registro de sua maneira de ser, pensar e agir (CIACARALI, 2011). Desde que seja
trabalhada corretamente não há como desprezar sua magnificência para as aulas de
Geografia.
Nesse contexto, a imagem torna-se uma importante ferramenta metodológica
que pode contribuir sobremaneira para a compreensão dos conceitos geográficos, em
especial, os de paisagem e de lugar no cotidiano urbano. O aluno, ao analisar uma
imagem fotográfica com a mediação do professor, irá decodificá-la, observará a
paisagem e buscará entender as complexidades da cidade quanto aos aspectos sociais,
culturais e naturais.
Dessa forma, observando as vivências na Escola, o uso da imagem em sala de
aula, principalmente por estar nos livros didáticos, ainda é negligenciado e utilizado
apenas como mera ilustração do texto. Isso assegura que a problemática pode estar
contida na própria formação do professor, na resistência de aceitar novas metodologias
em sala, restringindo-se a uma educação mnemônica, tradicional, onde se privilegia o
ler, escrever e contar, e menospreza uma leitura crítica da imagem, que muitas vezes,
contribui melhor para a compreensão do mundo (CIACARELI, 2011).
O estudo do conceito geográfico de lugar, juntamente com o conceito de
paisagem, auxilia o aluno na compreensão das múltiplas paisagens que o cercam, no seu
lugar de vivências, no espaço vivido. Segundo Silva (2003, p.45) ,
[...] é através do estudo do lugar que a geografia contribui para que o
aluno compreenda o seu lugar no mundo, isto é, seu papel enquanto
habitante que busca o exercício da existência plena. Santos (1996:273)
nos coloca ainda que “cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma
razão global e de uma razão local, convivendo dialeticamente”.
Quando pensamos nesse conceito de lugar, surge a ideia de explorar o espaço do
aluno, o cotidiano urbano, o qual sofre influências do global. Porque ao conhecer uma
paisagem local através da fotografia, o estudante irá perceber que o peso de fora e do
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4442
mundo se acumula, [...] através dessa mediação do cotidiano no lugar, somos levados
dos fatos particulares à sociedade global (DAMIANI, 2002).
Estudar o lugar possibilita ao educando compreender sua história e compreender
o espaço geográfico como uma construção da sociedade, propagada nas paisagens que
expressam as relações entre os homens e a natureza. Nessas relações, o papel do
professor é mediar o entendimento do lugar, mostrando as contradições existentes que
transformam o espaço e são cada vez mais complexas.
Quanto ao conceito de paisagem, nota-se que o estudo geográfico, atualmente, é
entendido de várias formas, como: descrição, observação, análise, interpretação,
integração, dentre outras. Isso possibilita uma leitura mais abrangente e crítica das
paisagens, que é um dos principais conceitos-chave da Geografia. Sobre a temática,
Silva (2003, p.45) afirma:
[...] a paisagem é o aspecto visível e diretamente perceptível do espaço
geográfico e a ação do homem no decorrer do tempo histórico
transforma a paisagem natural em paisagem humanizada. A ideia de
paisagem pode ser elucidada de acordo com Santos (1997:83): “a
paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem
as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre
homem e natureza. Dito de outra forma, paisagem é um recorte
particular que sintetiza diferentes tempos que teceram a atual
fisionomia do lugar.
Ao se referir especificamente à paisagem urbana, Cavalcanti (2008, p.66)
considera a mesma “como dimensão formal, expressa o conteúdo, as relações sociais
que a formam. Assim, ela é histórica, social e concreta”. Ao mesmo tempo, ela é o
conjunto formado pelos elementos e sua disposição, pelos sons e odores, pela sociedade
e seus movimentos. Daí decorre a necessidade de desvelar a cidade como materialidade
da paisagem ao observarmos as disparidades sociais; a segregação socioespacial; a
pobreza urbana; as áreas nobres; os espaços públicos com uso privatizado; a valorização
do solo em determinadas áreas; dentre outras questões visíveis ao analisarmos a
paisagem com um olhar dialético. É válido destacar que é no lugar de vivência que
percebemos essas interações e contradições dinâmicas, é onde se desenvolvem os
sentimentos de identidade, de afetividade, de topofilia e o de repressão, isto é, a
topofobia.
Vejamos que é na cidade que tudo ocorre, onde são tomadas decisões políticas e
econômicas, é o lócus dos conflitos sociais. A cidade é “por excelência, o lugar das
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4443
Quadro 01: Resumo das atividades da oficina. Fonte: Mariano, 2013.
trocas, do comércio, das inter-relações de pessoas e lugares. É lugar para onde
convergem os fluxos materiais e imateriais, da sociedade (de riqueza, de poder, de
saber...)” (BRAGA; CARVALHO, p. 03). Então, nada mais imperativo que analisar
esse espaço com o uso de fotografias, percebendo a historicidade e a dinâmica da
sociedade no espaço urbano a partir de formas antigas que continuaram com distintas
funcionalidades.
Seguindo o pensamento de Cavalcanti (2008), a cidade é um espaço educativo,
ela forma valores, crenças, comportamentos. Ela expressa sua dinamicidade no espaço,
com seus sinais e com suas imagens. No entanto, uma leitura da cidade depende de uma
formação cidadã. Assim, a Escola, principalmente com a Geografia, tem a finalidade de
formar cidadãos ativos e críticos do mundo.
De uma forma geral, verificamos a importância da imagem fotográfica como
auxílio na compreensão dos conceitos de lugar e paisagem na cidade. Com o recurso
visual, o professor pode utilizar várias formas para a aula ser instigante e atrativa, como
as imagens de distintas épocas, imagens de satélite, imagens nos livros didáticos, de
jornais, revistas, entre outros. Nessa perspectiva, acreditamos que a imagem fotográfica
possa se mostrar uma importante ferramenta de apreensão de diversos conteúdos
geográficos. O quadro a seguir é um resumo das muitas possibilidades do planejamento
do trabalho com a fotografia.
A OFICINA: UMA LEITURA DA CIDADE ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA
RESUMO DAS ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO DA OFICINA
DIA DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE
1º (15/04/2013)
Dinâmica de apresentação do grupo;
Discussão do texto introdutório “Por que a cidade existe?”;
História da cidade de Sobral/CE.
2º (16/04/2013)
Trabalhar exclusivamente, relacionando as fotografias antigas e
atuais da cidade de Sobral.
Destaque para as diferentes paisagens da cidade.
3º (22/04/2013)
Apresentação dos grupos com suas respectivas fotografias trazidas
de suas cidades;
Discussão final sobre os conceitos geográficos apreendidos.
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4444
A proposta dessa oficina surgiu a partir de observações e regências nos Estágios
Supervisionados, ao verificamos a fragilidade dos alunos quanto aos conceitos
geográficos trabalhados em sala de aula. Em seguida, desenvolvemos a ideia de uso da
fotografia, pois talvez ela pudesse despertar o interesse dos alunos para aprender
Geografia. A imagem fotográfica se mostra como uma importante linguagem para além
das tradicionais, com suas cores e símbolos e possibilidade de envolver os olhares.
Inicialmente, visitamos as turmas do 3° ano do ensino médio da Escola Ministro
Jarbas Passarinho, para que os alunos participassem da oficina sobre conteúdos
geográficos. Lembrando que a oficina não ocorreu na Escola para não interferir nos
planejamentos do Professor, decidimos realizá-la na Universidade, pois seria também
uma forma de integração Escola-Universidade.
O conteúdo trabalhado durante a oficina foi a Cidade como forma de apreensão
dos conceitos geográficos de lugar e paisagem. Esse conteúdo sobre “Espaço Urbano”
estava na grade curricular da turma naquela ocasião.
Para a concretização efetiva da oficina, dividimos a oficina em três dias para
trabalhar o que apresentamos no quadro 01. No primeiro momento, desvelamos o
conhecimento adquirido pelos alunos sobre a temática, realizamos uma discussão
teórica sobre o conceito de cidade atrelado ao nosso recorte espacial, ou seja, a cidade
de Sobral. No segundo dia, trabalhamos exclusivamente com as fotografias antigas e
atuais da cidade, mostrando as múltiplas paisagens urbanas, sempre relacionando-as
com os momentos marcantes da cidade, com questões políticas, sociais e econômicas.
Ao final dessa segunda atividade, após a discussão teórica, explicamos aos alunos o
nosso objetivo e, em seguida, como realizar uma exposição fotográfica.
Dessa forma, no último momento, como atividade prática, os alunos se
dividiram em grupos e fotografaram a cidade de acordo com suas percepções. É válido
ressaltar que embora o objetivo tenha levado em consideração fotografar a cidade, foi
colocado aos alunos que eles não precisariam ficar restritos a mesma. Depois ocorreram
as apresentações das fotografias dos discentes, com o auxílio de Datashow. Durante as
exposições, verificamos um rico debate entre os alunos referente às imagens,
principalmente quando os questionamentos partiam deles, a partir disso, diversas visões
foram notadas sobre uma mesma fotografia (ver figura 01). Além disso, as
apresentações foram espontâneas, com os alunos interagindo entre si, perguntando e
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4445
Figura 01: Imagem panorâmica da cidade e a construção de um
conjunto habitacional da Prefeitura de Sobral-CE. Fonte: Aluna
Tarciane, abril de 2013.
discutindo. Despertamos as dúvidas nos como ponto crucial para o desenvolvimento do
conhecimento.
A partir das fotografias trabalhadas pelos discentes, foi possível desenvolver
reflexões sobre diversos temas, como: educação, disparidades sociais, moradia,
poluição, trânsito, cidadania, violência, política, vegetação, entre outros. Aliás, a
discussão possibilitou também aos alunos olhar para além das fotos, fazendo relações
com fatos que ocorrem no seu cotidiano. Percebemos que suas falas estavam ricas no
que se refere às diversas paisagens, a lugares específicos, desenvolvendo uma abstração
da materialidade da cidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após o desenvolvimento preliminar do trabalho, é importante considerar que os
jovens, atualmente, são também consumidores e produtores de imagens fotográficas,
sobretudo, influenciados pela internet e pela televisão. Daí a iniciativa de pesquisar
criticamente a relevância desse instrumento artístico no âmbito educacional. Nesse
sentido, Dantas (1999, p.4) coloca que, “as fotografias são resíduos que narram os
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4446
modos de ver e conceber o mundo, a partir de cenários, poses, recortes. São, portanto,
portadoras de sentidos. Falam, interrogam, comunicam”. A fotografia é uma linguagem
educacional.
Tal estratégia, explicitada anteriormente, dependerá dos critérios tomados pelo
Professor e pelo planejamento construído junto com a turma, de acordo com as
finalidades que se deseja alcançar. Acreditamos que a utilização da fotografia não se
restringe apenas as abordagens de Geografia Urbana, mas deve, também, permear
outros conteúdos geográficos que contenham sentido na formação e no cotidiano do
aluno.
Investigar a relevância desse recurso é tomar partido pelo viés da imagem e do
imaginário, da subjetividade do educando, partilhando a explosão imagética que habita
na sociedade contemporânea (DANTAS, 1999). Dessa forma, tais ideias estão pautadas
na pesquisa da fotografia interligadas à educação como prática de ensino.
Nesse pensamento, repensar o Ensino de Geografia a partir de novas
metodologias contribuirá no encantamento do aluno pela disciplina, ao mesmo tempo
em que facilitará a integração dos colegas, e principalmente desenvolverá
conhecimentos geográficos para a compreensão do mundo.
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Marília: Unesp. 2003.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4448
TRANSPOSIÇÃO DIDÀTICA: EXPERIÊNCIAS E TROCA DE
EXPERIÊNCIAS COM PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL
DE IMPERATRIZ-MA
Jardeane da Silva RODRIGUES
Acadêmica de Geografia Licenciatura. UEMA/CESI
Bolsista de Iniciação à Extensão FAPEMA
Msc. Ronaldo dos Santos BARBOSA,
Professor Assistente da UEMA/CESI
RESUMO
O ensino do conteúdo de Cartografia inserido na disciplina de Geografia vem sendo nos dias
atuais o centro das atenções, para, debates e discussões relacionados à ausência da prática para
auxilio de transposição do conteúdo. Este trabalho é resultado de uma preocupação em meio à
efetivação do ensino-aprendizagem, nesta concepção reformulamos a ideia primordial do saber
universitário transplantado para o saber ensinado, mas que um trabalho reflexivo e critico, é
uma pesquisa oriunda da observação de professores do ensino fundamental e médio em suas
atividades em um “Curso de Alfabetização Cartográfica” realizado pelo LabcartE/CESI/UEMA.
Delimitamos como objeto de estudo as metodologias e os materiais utilizados pelos docentes em
sala de aula no exercício de sua função e a apresentação de novos artifícios. Durante o curso, os
professores demonstraram suas experiências e caracterizaram suas dificuldades, sendo uma
delas a transposição didática do saber universitário para o saber ensinado sem desvaorização de
conteúdo. Além do conteúdo cientifico, abordaremos a junção do espaço experimentado pelos
alunos e as dificuldades dos professores em estarem aproximando os fenômenos próximos dos
discentes com o assunto estudado, tendo como foco a ferramenta cartográfica da geografia.
Esperamos que os educadores sejam capazes de aproximar o conteúdo empírico com o espaço
real do aluno, e assim criamos mentalidades reflexivas nos mesmos.
Palavras-chave: Transposição Didática. Professor. Aluno.
1 - INTRODUÇÃO
Construir um “mapa” para registrar um percurso, abrir guias de ruas para
entendermos a localização ou assistirmos a previsão do tempo na televisão. Tudo isto
são ações realizadas pelo cidadão atual. Ações que muitas vezes são realizadas de forma
errada e precipitada. Tais atitudes exigem conhecimentos adquirido na escola, através
de atividades práticas que contribuam para o fazer e entender por parte do aluno.
Ser uma criança autônoma pressupõe-se em relacionar e conhecer o meio o qual
esteja inserido, ou seja, é fundamental que um aluno de geografia conheça o seu
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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ambiente vivido, juntamente com as mudanças ao qual ele produz e reproduz
diariamente. Levando em conta o conhecimento prévio da criança e a possibilidade de
ampliação do mesmo um dos maiores desafios encontrados pelos graduados de
geografia é elaborar meios para que os conteúdos sejam aprendidos através da análise e
interpretação do espaço geográfico.
Este trabalho relaciona-se com os desvios no processo de ensino e
aprendizagem dos conteúdos de cartografia na disciplina de geografia. A abordagem da
proposta esta direcionada na reconstrução do saber geográfico sobe bases parcialmente
diferentes, pois os objetivos na universidade e no ensino fundamental e médio não são
os mesmos. O presente trabalho tem como objetivo, notificar a não apresentação de
métodos que facilitem a aprendizagem dos alunos de forma graduada no ensino
fundamental. Durante o processo de ensino aprendizagem nas escolas, verifica-se que o
conhecimento cartográfico é repassando sem a devida preocupação com a organização
do currículo junto ao conhecimento.
2 - TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA: NOÇÕES PRELIMINARES
A educação tem suas bases no papel atribuído ao professor em transpor o
conteúdo em sala de aula para os alunos de forma passiva e eficiente. Porém este
profissional não tem exclusividade, ou se quer prioridade para repassar os conteúdos,
visto que muitas vezes o assunto e trabalhado com professores de outras formações
acadêmicas, como cita Brito et. al. (2011, p.3).
Há uma delegação imprópria, de vários profissionais de diferentes
áreas do conhecimento exercendo uma atividade incompatível com
sua formação, simplesmente porque a sua carga horária não foi
preenchida, pela sua disciplina, ou pelo fato de um professor ocupar
um cargo administrativo, e não ter momentaneamente um profissional
da área. O único problema é que esta ocupação indevida, si perpetua
por muito tempo.
Com isso, percebe-se que o docente é visto como um militante que produz ou
repassa apenas o conteúdo visto muitas vezes de forma indevida na faculdade. Ou seja,
um professor de saberes que reproduz o conhecimento de outras épocas da sociedade.
Que não procura meios de exceder suas informações, procurando enriquecer suas aulas
com atividade que envolva o aluno.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Convém evidenciar que a transposição do conhecimento não segue uma regra
geral dos procedimentos pedagógicos que se preocupa com a aprendizagem do aluno,
conforme a sua capacidade de assimilação, assim como a sistematização do
conhecimento em cada nível de ensino. Em meio a tais características propõe-se o uso
de metodologias que facilitem o ensino de cartografia mediante as necessidades do
processo de aprendizagem.
O dever de todo professor é preparar o aluno atual para enfrentar as novidades
futuras, é importante que o aluno tenha conhecimento das nações que estão por vir e do
mundo em que ele vive e convive, mais também é necessário que este esteja preparado
para o ambiente ao qual ele vai viver. Desta forma é de suma importância o uso de
mapas locais, não apenas mapas de localização, mais também relevo, político,
econômico dentre outros.
3 - A RELAÇÃO ENTRE O SABER UNIVERSITÁRIO E O SABER ENSINADO
Simielli, (2003) coloca que é de fundamental importância a diferenciação entre o
saber universitário e o saber ensinado pelos professores na educação básica, assim como
entre o saber ensinado e aquele realmente aprendido pelos alunos. Desta forma, o saber
universitário está voltado ao conhecimento mais apurado do professor, no caso da
cartografia a produção de mapas com conteúdo elaborado cientificamente; e o saber
ensinado, que trata da capacidade de absorção do conhecimento transmitido, é o caso
das informações adquiridas pelos alunos. A relação existente entre os dois saberes,
conhecidas por transposição, é uma readaptação do saber universitário para o saber
ensinado, neste caso não devemos subjugar que há uma perda de valorização das
informações, mas sim uma reformulação dos procedimentos pedagógicos.
Convém evidenciar que a transposição do conhecimento não segue uma regra
geral dos procedimentos pedagógicos que se preocupa com a aprendizagem do aluno,
conforme a sua capacidade de assimilação, assim como a sistematização do
conhecimento em cada nível de ensino. Em meio a tais características propõe-se o uso
de metodologias que facilitem o ensino de cartografia mediante as necessidades do
processo de aprendizagem.
A reconstrução dos métodos de ensino aprendizagem deve ser feita em vários
níveis. Dentre eles está, a reconstrução e a aplicabilidade dos programas oficiais, que
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4451
propõem diretrizes elaboradas para sanar as necessidades da aprendizagem. O segundo
nível, que tem como objetivo reconstruir o nível dos professores reformulando ou
adaptando o conhecimento universitário aos domínios cognitivos do aluno, claro sem
perder a essência do conteúdo universitário. No terceiro nível a reconstrução da lição,
procedimento este que reformula os métodos de ensino com base no curso
anteriormente aplicado e sua característica de desenvolvimento, isso só é possível se os
docentes notificarem todas as observações advindas das dificuldades dos alunos, assim
como o avanço do ensino.
E por fim, o quarto nível, onde nesta proposta o objetivo é identificar o nível do
aluno em meio ao seu saber construído, aprender a trabalhar com os diferentes níveis de
aprendizagem dentro da sala de aula e reconstruir método para o ensino do fundamental
e médio conforme o saber universitário. Esta reconstrução das matérias e dos
procedimentos didáticos trata-se de uma reclassificação dos conteúdos ou das propostas
universitárias, dentro do crescimento da capacidade e da coerência de aprendizagem do
aluno (SIMIELLI 2003).
4 - A CARTOGRAFIA NO ENSINO DE GEOGRAFIA: ELEMENTOS DA
CONTRADIÇÃO
Os mapas são ferramentas de caracterização espacial, tendo assim a síntese dos
eventos geográficos, pois através da utilização do mesmo o aluno compreenderá a
organização da sociedade. Há todo momento utilizamos os mapas para leitura do espaço
mediante as diferentes informações que obtemos, e para maior obtenção de dados é
necessário utilizar técnicas e instrumentos. Não se esquecendo dos diferentes produtos
representados para diferentes finalidades.
A alfabetização cartográfica é uma proposta de transposição didática da
Cartografia Básica e da Cartografia Temática para usuários do ensino fundamental, em
que se aborda do ponto de vista metodológico e cognitivo. Passar dos “mapas-
desenhos” para um mapa do ponto de vista metodológico que a Cartografia Escolar se
propõe a discutir. O ensino da Geografia e da Cartografia é indissociáveis e
complementares na primeira trabalha os conteúdos na outra a forma. Não há
possibilidades de se estudar o espaço sem representá-lo, assim como não podemos
representar um espaço vazio de informações (PASSINI, 2007).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4452
Castellar (2005) também contribui, afirmando que a cartografia, então, é
considerada uma linguagem, um sistema-código de comunicação imprescindível em
todas as esferas da aprendizagem em geografia, articulando fatos, conceitos e sistemas
conceituais que permitem ser e escrever as características do território. Nesse contexto,
ela é uma opção metodológica, o que implica utilizá-la em todos os conteúdos de
geografia, para identificar e conhecer não apenas a localização dos países, mais entender
as relações existentes entre eles, compreender os conflitos e a ocupação do espaço.
Convém evidenciar que com tantos mapas existentes não podemos esquecer que
existem diferentes usuários, dentre eles estão às crianças e os adolescentes. Quando
direcionado ao ensino da cartografia e a geografia esta diferenciação de usuário deve ser
notada, por exemplo, um aluno da 5º série não tem o mesmo nível de leitura que um
aluno do ensino médio.
Pensando nisso Simielli (2003) apud Leite; Barbosa, (2011) propôs uma divisão
do ensino cartográfico, e uma adaptação dos mapas segundo a faixa etária do aluno. Nas
séries iniciais do ensino fundamental, o aluno irá trabalhar com alfabetização
cartográfica, e eventualmente com alunos do ensino fundamental do terceiro ciclo já
terá condições de estar trabalhando com análise/localização e com a correlação. Quando
chegar ao ensino médio, possivelmente o aluno estará preparado para trabalhar com
situações mais complexas.
O processo de alfabetização cartográfica inicia-se com a proposição de
ferramentas visuais, podendo utilizar fotos, figuras, desenhos, mapa, cartas entre outros
recursos. Aproveitando os interesses das crianças pelas imagens e os acostumando a
identificação da linguagem cartográfica. No final de cada ano espera se que o aluno
tenha aprendido a organizar um conjunto de informações, mediante o conteúdo
ministrado. Todo o conteúdo deve ser desenvolvido segundo o saber ensinado e o saber
adquirido na escola e/ou fora dela, sendo que os temas devem ser aprofundados de
forma crescente, acompanhado o conteúdo de geografia e o desenvolvimento natural da
criança (SIMIELLI, 2003).
Como resultado, a cartografia realizada no ensino fundamental menor (1ª a 4ª
série) deve trabalhar com o estudo do espaço concreto do discente, tudo que está a sua
volta, ou seja, o espaço da sala de aula, espaço da sua casa, da sua rua, para só após este
processo trabalhar os espaços maiores, como cidade, estado e país. Na primeira etapa,
Simielli enfoca a importância da capacidade de leitura e de comunicação, e para
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4453
alcançar este objetivo, devem-se elaborar aulas conforme os objetivos básicos de ensino
nesta fase da alfabetização.
Essa alfabetização supõe o desenvolvimento de noções de: -
visão obliqua e visão vertical; - imagem tridimensional, imagem
bidimensional; - alfabeto cartográfico: ponto, linha e área; -
construção da noção de legenda; - lateralidade/referências,
orientação. (SIMIELLI. 2003, p. 98.)
Com a aprendizagem destas noções básicas, a criança já possuirá os meios para
prosseguir na segunda fase do ensino fundamental, mesmo o aluno não assimilado todos
estes conteúdos ele poderá passar para o ciclo seguinte, já que esta noção será
trabalhada novamente, claro que de uma forma bem diferente. Espera-se que no final do
primeiro ciclo o aluno possa compreender o objetivo do mapa, abandonando a ideia do
mapa reprodutivo e adquirindo o entendimento do mapa informativo. O próximo passo
é uma proposta pedagógica na área de cartografia voltada para o segundo ciclo do
ensino fundamental e médio. Como podemos observar estamos seguindo de forma
gradual os níveis de ensino. Então a próxima proposta cartográfica irá contemplar os
alunos da 5ª a 8ª série, nesta proposta esperamos que os alunos já tivessem apreendido
no primeiro ciclo, as noções de uma alfabetização cartográfica.
Na segunda fase, propõem-se dois eixos de trabalhos com os mapas. No
primeiro eixo, o uso de produtos cartográficos, já elaborados, para que dessa forma
tenhamos um leitor critico no final do processo. O aluno trabalha com produtos já
preparados, portando será um mapeador, e acima de tudo um decodificador crítico
consciente e não simplesmente usará o mapa para localizar fenômenos. No primeiro
eixo, cujo encaminhamento é feito a partir dos produtos cartográficos já elaborados,
considera-se basicamente três grandes produtos os mapas, as cartas e as plantas,
partindo por tanto de uma escala menor para uma escala maior.
O aluno deve trabalhar desde a 5ª série com estes produtos já elaborados
cartograficamente, nos três níveis propostos. A principio temos a localização e a análise
onde o aluno encontra e avalia um determinado fenômeno no mapa, em seguida
incluímos a correlação elemento este que relaciona duas, três ou mais ocorrências, e
finalmente temos a síntese, que tem como objetivo fazer com que o aluno tenha
entendimento e argumentos necessários de determinado lugar.
É inegável que com esses três níveis de atividades o professor poderá trabalhar
com seus alunos de forma ampla e qualificada. À medida que o aluno avança nas series,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4454
ele ira sendo conduzido para conteúdos mais complexos. E tal complexidade podemos
dizer que são as variantes adicionadas ao longo das series. Dessa forma devem ser
refletidas para que os discentes preservem o conhecimento adquirido.
5 - OS ESPAÇOS: UNIVERSIDADE E ESCOLA.
Em linhas gerais, tem se visto que os professores trabalham de maneiras
tradicionalistas os conteúdos vistos na universidade com o seu aluno nas séries iniciais.
O mesmo não percebe que o ambiente é diferente, que na universidade o conteúdo e
repassado para acadêmicos que já possuem certo conhecimento na área, possibilitando
assim melhor aprendizado.
Levando em conta o ambiente escolar, ver-se que caso não se utilize meios
diferentes para trabalhar com a disciplina, as aulas de geografia ficaram árduas e
desinteressantes. Posto isto, o desinteresse da criança afetará o interesse por parte do
docente, que serão levados a trabalhar sempre desta forma, sem criatividade, sem
imaginação e sem possibilidades de um aluno interessar-se pela disciplina. Fazem-se
necessárias aulas feitas a parti do espaço construído pelo aluno. Dessa forma ele será
movido a estudar e ter um maior interesse pelo o mundo que o cerca.
Quando se fala em disciplina de Geografia, pensam-se logo nos conteúdos
cartográficos que levam consigo o conhecimento mais técnico, tais como escalas, fuso-
horário e dentre outros ou lembra-se da memorização de Estados e capitais, ou seja,
costuma-se ser colocados obstáculos para não se gostar da disciplina.
Por conseguinte, temos o empobrecimento da disciplina de Geografia, é
inadmissível que o aluno tenha em mente que a área do conhecimento de Matemática e
Português são mais importantes no âmbito escolar. Percebe-se a importância do
conhecimento geográfico no comentário de Carvalho (1998) Se pretendemos entender o
papel da geografia, precisamos lembrar que o atual sistema escolar é contemporâneo no
campo político á formação dos estados nacionais, no econômico à Revolução Industrial
[...]. Desta forma o aluno deve está preparado para enfrentar o sistema capitalista que
surge junto à modernidade. Carvalho (1998) deixou assentado ainda que:
Neste contexto, a geografia é importantíssima. Qual além dela deteria
melhor escopo teórico para cientificamente auxiliar na criação e no
fortalecimento dos estados nacionais? (CARVALHO, 1998, p. 29)
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4455
Desta forma, o aluno não gosta da disciplina pelo simples fato das metodologias
serem simplórias e rotineiras. Devem-se realizar atividades que envolvam o aluno.
Diante do exposto para dominar tal conhecimento se faz necessário o aprimoramento
dos recursos didáticos e também da participação de tecnologias e dos meios de
comunicação. Aulas que valorizam o cotidiano do aluno transformam-os em cidadãos
críticos e que colaboram para o desenvolvimento da escola
Além do mais, o aluno chega a escola com um conhecimento próprio,
acostumado com outras culturas e pertencente a um mundo que gira em todo das redes
sociais, raramente se ver uma criança em sala de aula sem um aparelho celular. Além
disso, são alunos que dominam perfeitamente o computador e que participam
ativamente das notícias que norteiam o mundo inteiro. Por tais razões, é necessário que
o docente tenha domínio dessas novas tecnologias e que o mesmo esteja atualizado em
termos de conhecimento.
É papel do professor, conhecer o aluno, e saber de que forma irá transpor o
conteúdo para ele. Vale lembrar que os conteúdos vistos na universidade, são vistos de
maneira cientifica e com uma linguagem complicada. Oliveira (2007) traça os seguintes
esclarecimentos:
Conhecer como as crianças percebem e representam o espaço pode
auxiliar muito o trabalho docente. Especialmente na preparação de
atividades de ensino que contribuam para a aquisição gradativa de
diferentes modos de representação espacial, cada vez mais próximos
daqueles dos adultos. (OLIVEIRA, 2007, p. 11)
Simielli (2003) enfatiza ainda a importância de se está modificando a forma de
passar o conteúdo, pois, sabe se que o nível cognitivo de uma criança 5º ano é menor
que um aluno do ensino médio e, desta forma, inferior a de um professor graduado em
geografia, e sabendo que cabe ao docente contribuir para a formação deste aluno, se faz
necessário o preparo e domínio de diferentes atividades que possam prender a atenção
do discente e para fazer com que o mesmo goste da disciplina e absorva o conhecimento
de forma a usá-los em seu dia-a-dia.
6 – CONCLUSÃO
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4456
Conforme o desenvolvimento deste trabalho que norteia a transposição didática,
percebe-se que deslocamento da informação universitária passa pelo procedimento que
não deve ser negligenciado principalmente por aqueles que fazem a transposição. É
imprescindível que haja uma valorização tanto da essência do conhecimento
universitário, inclusive que não haja perda do conteúdo, mas sim uma adaptação do
conhecimento, seguindo o desenvolvimento cognitivo e a fase escolar dos discentes.
Dentro desta transposição o docente deve valorizar o espaço vivido do aluno, pegando
estas informações e casando-a com o conhecimento universitário, e assim facilitando a
compreensão dos mesmos.
Em meio à transposição didática o seguinte artigo propõe a sistematização,
através da valorização cognitiva e a faixa etária dos alunos. Por tudo isto, percebe-se
que o dia a dia do aluno deve ser marcado pela criatividade do docente, para que os
mesmos possam sentir envolvidos no meio o qual o cercam gostando e tendo autonomia
para desvendar os conteúdos existentes no espaço geográfico. Faz-se necessário uma
preparação não somente do prédio escolar mais também dos responsáveis pelo
ensinamento da disciplina. Os mesmos devem possuir conhecimento, tê-los adquirido
na formação acadêmica e os aprimorado através de suas experiências na educação
básica.
Apresentam-se aqui alguns dos motivos pelo qual os professores não trabalhem
métodos diferenciados do qual aprendeu na universidade. Sejam pelo tradicionalismo ou
pela falta de habilidade em se trabalhar os conteúdos, espera – se que os mediadores de
conhecimento possam estar utilizando novos meios para que a geografia tenha um papel
importante na vida de cada estudante do ensino fundamental.
7 – REFERÊNCIAS
BRITO, D. S.; RODRIGUES, J. S.; BARBOSA, R. dos S. As dificuldades docentes
em trabalhar os conteúdos de Geografia tendo como instrumento a cartografia, na
rede pública municipal de Imperatriz-MA. In: XI Encontro Nacional de Prática de
Ensino de Geografia, 2011, Goiânia. A produção do conhecimento e a pesquisa sobre o
ensino de Geografia.. Goiânia: NEPEG/UFG, 2011.
CARDOSO, D. L.; BARBOSA, R. dos S. A Cartografia Escolar e o Livro Didático
de Geografia: A realidade educacional de Imperatriz-MA. In: XI Encontro Nacional
de Prática de Ensino de Geografia, 2011, Goiânia. A produção do conhecimento e a
pesquisa sobre o ensino de Geografia. Goiânia: NEPEG/UFG, 2011.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4457
CARVALHO, Maria Inez da Silva de Souza. As Geografias Tradicionais. In: Fim de
século: a escola e a geografia. Ijuí: ed UNIJUÍ, 1998. 160p.
CASTELLAR, S.M.V. Educação Geográfica: A Psicogenética e o Conhecimento
Escolar. Caderno CEDES, Campinas, n.25, p. 209-255, 2005.
OLIVEIRA, Livia de. Uma Leitura Geográfica da Epistemologia do Espaço
Segundo Piaget. In: Contribuições à historia e à epistemologia da geografia. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. p. 163-188.
PASSINI. Elza Yasuko. Alfabetização Cartográfica. In: PASSINE, Elza Yasuko;
PASSINI, Romão; MALYSZ, Sandra T. Prática de Ensino de Geografia e Estágio
Supervisionado. São Paulo: Contexto, 2007. p. 143-155.
SIMIELLI, Maria Elena Ramos. Cartografia no Ensino Fundamental e Médio. In:
CARLOS, Ana Fani A. (Org). A Geografia na Sala de Aula. 5. ed. São Paulo:
Contexto. 2003. p. 92 - 108.
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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA ETECNOLOGIA DO
PARÁ – CAMPUS BELÉM
O USO DE MÍDIAS NO ENSINO DA GEOGRAFIA
LUANA CARINA MORAES MACHADO11
RESUMO
Compreender o processo de ensino-aprendizagem é um processo lento e extremamente
válido. Fazendo o uso correto das ferramentas que a tecnologia dispõe juntamente com
o processo de ensino de Geografia, é o tema do presente artigo. Dinamizar é a palavra
do momento quando se fala em “Sala de aula”, por que não sair dela e partir para uma
nova metodologia, mais atrativa e interessante para nos adaptarmos ao novo perfil de
aluno dos dias atuais? A resposta está exposta, dentro do cenário atual, com tecnologias
por toda a parte, basta ter motivação e compromisso com a formação de futuros
cidadãos.
Palavras-chave: Ensino, Geografia, Dinamizar
ABSTRACT
Understanding the process of teaching and learning is a slow and extremely valid.
Making proper use of tools that technology offers along with the teaching of Geography
is the subject of this article. Streamline is the buzzword when it comes to "Classroom",
why not leave it and go to a new methodology, more attractive and interesting to adapt
to the new student profile of the day? The answer is exposed within the current scenario,
with technology everywhere, just have motivation and commitment to the education of
future citizens.
Keywords: Education, Geography, Advancing
OBJETIVO GERAL
11 Estudante do curso de Licenciatura Plena em Geografia e Bolsista PIBID – Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação à Docência; ¹ Bolsista do Programa de Apoio a Projetos de Intervenção
Metodológica (Papim) do curso de graduação em Geografia da Universidade Federal do Pará –UFPA.
[email protected]; Bolsista do Programa de Apoio a Projetos de Intervenção Metodológica
(Papim) do curso de graduação em Geografia da Universidade Federal do Pará –UFPA.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4459
Executar uma boa aula, tendo como aliados o uso de mídias de diversos tipos,
como: Vídeos, jogos, peças teatrais, músicas, produções audiovisuais, etc., que
associados à imensidão de conteúdos que o objeto de estudo da Geografia (o espaço)
nos disponibiliza, nos propicia um vasto campo para realizarmos uma boa exploração
das capacidades do aluno em sala de aula.
OBJETIVO ESPECÍFICO
Identificar dentro de sala de aula, quais são os mecanismos que mais atraem
atenção dos alunos, de modo a incentivar os mesmos a produção de pesquisas fazendo
uso de suas aptidões, para ao mesmo tempo haver o repasse de conteúdo, e proporcionar
o “encontro” do aluno com sua identidade profissional futura.
METODOLOGIA
Visamos o uso de ferramentas simples como televisores e DVD’s, ou até mesmo
o uso do computador, que se faz cada vez mais presente nas escolas públicas; para
inicialmente proporcionar um debate a cerca do que foi assistido. Não descartando o uso
de outros tipos de mídias como: “Data-Show”, Jogos, Visita a campo (para uma melhor
percepção dos dados teóricos de sala de aula), realização de peças teatrais, onde pode
ser uma forma de absorção conjunta de conhecimento, não só para os alunos envolvidos
na mesma, mas também, para o público que estará presente durante a apresentação;
dentre outras modalidades de mídias que encontramos tanto materialmente nas escolas,
quanto ideologicamente.
PROBLEMÁTICA
Com os índices que temos hoje na educação pública nacional, a sociedade grita
por uma educação gratuita e de “qualidade”. Vemos que o interesse dos governos se
concentra em dados numéricos. Então, elaboram-se várias categorias de avaliação
(Prova Brasil, Enem, Olimpíadas matemáticas, físicas, etc.), limitando a alguns e não a
todos a capacidade de desenvolver suas habilidades e aptidões. Ao invés desse crivo que
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4460
é dado para obtenção de dados, visamos uma totalização desses “números” de forma
simples e agindo em um dos pilares do problema da educação: O interesse do aluno.
Com uma maior interatividade desse aluno em meio a diversos métodos de
aprendizagem, o mesmo poderá alcançar um maior rendimento, subindo para escala da
totalidade de uma classe, de uma determinada escola, que consequentemente elevará os
índices de forma transparente e honrosa, contribuindo para um crescimento social e
intelectual do Brasil.
INTRODUÇÃO
Com a extensa lista de equipamentos e recursos que nós professores temos a
disposição, podemos fazer uso desses para somar com o nosso processo educacional
diante da diversidade que encontramos em uma sala de aula. Devido a isso, este trabalho
foi elaborado com o intuito contribuir para a execução desse modelo educacional,
mostrar quais são e como essas ferramentas tecnológicas podem ajudar de forma direta
e indireta na formação do caráter e do intelectual de cada futuro cidadão presente como
aluno.
Ter um método técnico e minimamente tecnológico, irá contribuir para a
elevação da autoestima do aluno da escola pública, que ao seu ver, a escola se encontra
nos mesmos padrões da rede privada, fazendo uso de ferramentas que vão além do
quadro e do pincel. Imaginemos que, a cada dia, a cada aula lecionada, o aluno saia com
mais confiança em si, se sentindo cada vez mais detentor de conhecimentos diversos,
pois, a exposição de uma aula de forma dinâmica e diferenciada, irá atrair mais a
atenção tanto daqueles alunos anteriormente dedicados, quanto dos alunos que antes não
demonstravam ter interesse no ensino; esses alunos iriam aos poucos, demonstrando seu
saber fora da escola e contribuindo para que outros busquem o conhecimento.
Diríamos que muitas situações podem ser imaginadas, se conseguirmos atingir o
ponto forte dos alunos, sendo através de jogos, vídeos, produções individuais ou em
grupo, etc. Com todos os recursos e avanços que tivemos com o passar dos anos, parece
não ter sofrido nenhuma alteração em sala de aula, os métodos avaliativos, critérios
seguidos que são os mesmos desde que se conhece a educação no Brasil.
O professor de Geografia possui um diferencial especial, pois, os assuntos do
cotidiano, dos jornais, revistas, todos os acontecimentos possíveis de serem
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4461
reproduzidos em sociedade, pode-se transformar e configurar uma nova visão e
consequentemente um novo método de passar conhecimento de forma atual, com o uso
de recursos, tornando o processo de ensino e aprendizagem mais atrativo para o
alunado.
MÍDIAS: FERRAMENTAS FACILITADORAS NO ENSINO DA GEOGRAFIA
Podemos definir a palavra mídia em vários ramos em que o profissional da
educação, principalmente os que estão em processo de formação, podem optar para
seguir em seu planejamento de aula, de modo a dinamizar o aprendizado em sala de
aula. A música; a utilização de vídeos; produções audiovisuais; jogos didáticos; são
algumas das várias ferramentas que estão disponíveis para serem exploradas dentro de
sala de aula, no ensino da Geografia.
Gostaria de salientar que, na formação de novos professores, principalmente nos
Institutos e Universidades Federais, estão recebendo renovada formação voltada para a
educação, através de programas do governo federal, como o PIBID (Programa
Institucional de Bolsas, de Iniciação à docência), que visa a formação do professor
desde os primeiros anos de sua graduação, já os integrando no cotidiano da sala de aula,
através de estágios e produção de projetos que utilizam ferramentas inovadoras para
atrair a atenção dos alunos. E essas ferramentas são tidas como sendo mídias, que irão
proporcionar um maior “divertimento” em sala de aula.
Com o vasto campo que a Geografia mais o uso de mídias nos proporcionam,
podemos analisar alguns fatores que contribuirão de forma positiva para a construção de
uma nova metodologia para a sala de aula. A seguir, será realizada uma breve análise a
respeito dos principais elementos para serem utilizados e explorados em sala de aula.
Fazendo uma análise inicial, iremos abordar a utilização da mídia musical no
ensino da Geografia, temos a percepção de uma vasta gama de conhecimentos
abarcados pelos mais diversos ritmos e estilos musicais que existem, não só
nacionalmente, mas sim do mundo todo. Na música, temos uma facilidade enorme de
demonstrar para o aluno, questões como: Violência, degradação ambiental, questões
sociais, belezas naturais, a questão da fome, dentre outros temas relevantes na
Geografia, que através da ferramenta musical, pode-se construir uma aula mais
dinâmica e proporcionar diálogos a cerca do tema proposto pelo professor.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4462
A utilização de vídeos também é uma das grandes ferramentas que passou a ser
bastante utilizada em sala de aula, não só como um recurso pronto, como documentários
e filmes, mas também, como meio de extrair do aluno a sua própria visão de mundo,
com a produção de um vídeo estilo documentário, pois, essa é uma realidade bastante
acessível e enriquecedora para o professor, que poderá ter uma melhor compreensão do
conhecimento do aluno, através de suas produções; e para o próprio aluno, que irá
desvendar as incógnitas de sua produção, e obter um conhecimento fixo e altamente
válido para a sua vida.
Criar um ambiente altamente criativo, atrativo e instigante para o aluno, requer
algo que desperte a vontade autônoma desse aluno em aprender, através da mais
poderosa ferramenta que o professor pode utilizar: Os Jogos. Há uma imensidão de
tipos, modelos e estilo de jogos que podem ser aproveitados para o ensino da Geografia,
porém não só desta, pois, os jogos estimulam no aluno, não só a vontade de aprender e
de se envolver no processo de aprendizagem, mas também, estimula no mesmo à
capacidade de raciocínio próprio, coordenação motora, e principalmente, tira aquela
concepção do aluno de “obrigatoriedade” de estudar, de forma que esse aluno vai
aprender de maneira voluntária e enriquecedora para a construção do seu intelecto.
Tendo ainda o ganho de conhecimento de forma livre, onde, aquele aluno que não
obteve total compreensão do conteúdo, quando dado de forma teórica, vai poder
assimilar de forma prática aquele conteúdo que lhe ficou implícito da primeira vez em
que teve contato.
Para Jiménez e Gaite (1995, p. 83):
(...) jogos de simulação são para a Geografia, e as ciências sociais em
geral, como as experiências de laboratório para as ciências
experimentais. O Geógrafo não consegue reproduzir no laboratório os
fatos e fenômenos que estuda, o reproduzem recorrendo à simulação e
ao jogo. Isto permite abordar com simplicidade certos temas de caráter
complexo, (...) sendo adequadas ao processo de ensino –aprendizagem
(...).
Dentro da disciplina “Psicologia da aprendizagem e do desenvolvimento” do
curso de licenciatura plena em Geografia do Instituto Federal do Pará, foram elaborados
pelos alunos do curso, sob orientação da professora Me. Helena Rocha, algumas
tecnologias educacionais, que servem para facilitar o processo de mediação entre
professor de Geografia e aluno.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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FIGURA 1: TECNOLOGIA EDUCACIONAL “GEOGRAFANDO BELÉM”
FONTE: ALUNOS DE LICENCIATURA EM GEOGREAFIA IFPA (2013)
FIGURA 2: TECNOLOGIA EDUCACIONAL “INTELIGÊNCIAS DO BRASIL”
FONTE: ALUNOS DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA IFPA (2013)
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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A MÚSICA NO ENSINO:
UM NOVO MODO DE APRENDER GEOGRAFIA?!
André Silva Tavares1
RESUMO
O presente artigo é um relato de experiência vivenciado através de um projeto realizado com
alunos do 7° ano do Ensino Fundamental II ao 2° ano do ensino Médio, na escola Estadual
Judith Vianna, na cidade de Alfenas- MG, pelos discentes do curso de Geografia Licenciatura
que participam do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID. A
“Semana da Geografia Cantada” 2 foi desenvolvida com intuito de promover a interação dos
alunos para com as temáticas da ciência geográfica ensinadas em sala de aula, na tentativa de
mostrar a geografia no cotidiano de cada educando de modo pratico e envolvente. A música
“Suplica Cearense” bastante conhecida na Região nordeste do país, através do centenário
músico e compositor Luiz Gonzaga, foi à canção utilizada no 7° ano, na tentativa de trabalhar os
aspectos geográficos presentes, desde a letra da música até a regravação de uma nova versão
composta pela banda “O Rappa”, trazendo varias analises de importância geográfica, desde a
questão cultural que envolve os ritmos (Forró e Pop-Rock) à exposição dos problemas
socioeconômicos e de políticas públicas que influenciam no modo de vida da população em
cada região. Será feita uma analise sobre a importância da música como ferramenta didática e o
grande leque de abordagens que podem ser estudados a partir desta metodologia frente a grande
dificuldade que muitos professores encontram ao ensinar geografia atualmente.
PALAVRAS-CHAVE: METODOLOGIA- ENSINO- MÚSICA- GEOGRAFIA
INTRODUÇÃO
Durante séculos vem sendo discutido a importância da transformação social a
partir da educação e o modo como o ensino (além da simples transmissão de
conhecimento) é aplicado nas escolas. O modo de produção e reprodução do
conhecimento, evoluindo de acordo com as mudanças ocorridas na história, encontra-se
um novo espectador (educando) a cada novo progresso de transformação social, ou da
ciência, melhor dizendo, modificando todo um sujeito de períodos anteriores em novos
sujeitos transformadores e construtores de uma “nova sociedade”, sendo a escola
responsável por implementar um trabalho voltado para a formação integral desse novo
sujeito social.
1 Graduando do curso de Geografia Licenciatura na Universidade Federal de Alfenas e bolsista do
Programa Institucional de Bolsa a Iniciação a Docência- PIBID. Email: [email protected] 2 Atividade desenvolvida com a orientação da Prof. Dra. Sandra de Castro de Azevedo, professora
voluntária do PIBID.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4466
A geografia como um estudo voltado para o “todo” (ou particularidades que
dependem do todo), de redes complexas que caracterizam o espaço físico e social, sendo
de grande importância para a compreensão do próprio sujeito que produz e transforma o
espaço em que vive, além da visão ampla sobre as relações espaciais (modo de vida,
cultura) que interagem de forma conturbada ou pacifica, dependendo das intenções que
permeiam as particularidades (o sujeito) e do todo (a sociedade). CALLAI (1998) bem
retratou em sua obra “Geografia em sala de aula pratica e reflexões” que a geografia
leva ao conhecimento do mundo e ao conhecimento de seu espaço produzido pelo
homem, assim a mesma leva informações ao aluno capaz de viabilizar condições para
construção de sua cidadania.
São inúmeras as dificuldades relacionadas com o ensino de geografia nas
escolas, fazendo parte desta reflexão podemos citar a própria dificuldade de se entender
a geografia como ciência, toda sua abordagem que lida com extremos distantes e ao
mesmo tempo ligados entre si. Outro aspecto pode ser relacionado à constante evolução
tecnológica, que muda e transforma também o sujeito e o habitat, e a falta de preparo da
maioria dos professores em relação a inserção da tecnologia no ensino, que já faz parte
da vida do educando, podendo ajudar na compreensão dos conteúdos através de uma
linguagem mais próxima do aluno. O interesse na disciplina é de fundamental
importância para compreensão, sendo a raiz do problema o desinteresse de grande parte
dos alunos atualmente. Tornando este o caminho a ser perseguido, antes de tudo, para
que o próximo passo seja dado e que o saber geográfico seja, de fato, construído.
A MÚSICA NO ENSINO DE GEOGRAFIA
De acordo com os Parâmetros curriculares nacionais - PCN (2006), diz que “as
produções musicais, a fotografia e até mesmo o cinema são fontes que podem ser
utilizadas por professores e alunos para obter informações, comparar, perguntar e
inspirar-se para interpretar as paisagens e construir conhecimentos sobre o espaço
geográfico”. E para que se promova um ensino adequado de geografia é necessário
correlacionar o conteúdo estudado com o conhecimento cotidiano, e problematizar o
referido conteúdo é fundamental. A letra de algumas músicas carrega consigo grandes
significados, tendo em grande parte conteúdos possíveis de serem abordados em sala de
aula.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4467
Neste sentido foi possível através da canção “Suplica Cearense” do compositor
Luiz Gonzaga, oportunamente no período em que o musico completaria cem anos (treze
de dezembro de 2012), trabalhar a musica em vários subtemas dentro da própria
geografia, além do importante conhecimento musical do centenário compositor e
inventor do estilo musical “Baião”, que deu origem ao forró, posteriormente.
A letra da versão mais atual da canção foi pouco alterada, algumas expressões
como “tiquinho” por “pouquinho”, entre outras, trouxeram um estilo mais
contemporâneo para a nova versão. Foi acrescentado na parte final da musica uma
critica relacionada à falta de políticas públicas eficientes que ajudariam a população que
sofre nesta região por uma questão socioespacial e política ao mesmo tempo. Estas
questões foram abordadas de modo explicativo depois da execução nas duas versões,
colaborando para que os alunos identificassem além do que somente foi dito na letra da
canção, na intenção de despertar o pensamento critico dos mesmos em relação as
“mensagem” que muitas vezes passam despercebidas, além do conhecimento
geográfico.
Súplica Cearense
O Rappa
Oh! Deus,
Perdoe esse pobre coitado,
Que de joelhos rezou um bocado,
Pedindo pra chuva cair,
Cair sem parar.
Oh! Deus,
Será que o senhor se zangou,
E é só por isso que o sol se arretirou,
Fazendo cair toda chuva que há.
Oh! Senhor,
Pedi pro sol se esconder um pouquinho,
Pedi pra chover,
Mas chover de mansinho,
Pra ver se nascia uma planta,
Uma planta no chão.
Oh! Meu Deus,
Se eu não rezei direito,
A culpa é do sujeito,
Desse pobre que nem sabe fazer a oração.
Meu Deus,
Perdoe encher meus olhos d'água,
E ter-lhe pedido cheio de mágoa,
Pro sol inclemente,
Se arretirar, retirar.
Desculpe, pedir a toda hora,
Pra ver se nascia uma planta no chão,
Planta no chão.
Violência demais,
Chuva não tem mais,
Roubo demais,
Política demais,
Tristeza demais.
O interesse tem demais!
Violência demais,
Fome demais,
Falta demais,
Promessa demais,
Seca demais,
Chuva não tem mais!
Lá no céu demais,
Chuva tem,
Tem, tem, não tem,
E quando tem,
É demais.
Pobreza demais,
Como tem demais!(Falta demais),
É demais,
Chuva não tem mais,
Seca demais,
Roubo demais,
Povo sofre demais.
Oh! demais.
Oh! Deus.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4468
Pra chegar o inverno e agora,
O inferno queima o meu humilde Ceará.
Oh! Senhor,
Pedi pro sol se esconder um pouquinho,
Pedi pra chover,
Mas chover de mansinho,
Oh! Deus.
Só se tiver Deus.
Oh! Deus.
Oh! fome.
Oh! interesse demais,
Falta demais...!
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Foi possível evidenciar através do projeto a utilização da musica como
metodologia eficaz e agradável aos alunos. A curiosidade despertou na interação dos
mesmos com a temática, não somente por se tratar de uma aula não convencional, mas
por permitir a identificação dos alunos com o ambiente de aprendizagem, através dos
conceitos geográficos vistos de maneira diferente, enraizados na musica, de modo que
permitiu a compreensão em torno da analise do espaço como objeto de estudo.
Na elaboração do conteúdo foi definido nas reuniões semanais que cada
pibidiano ficasse responsável por trabalhar uma ou mais musicas que trouxessem
aspectos geográficos que poderiam ser identificados e analisados juntamente com os
alunos através de uma aula teórica e pratica ao mesmo tempo, fazendo com que os
alunos interagissem com a temática abordada.
A música foi o recurso de apoio didático pedagógico muito enriquecedor, pois
ela constitui expressões sonoras que podem contribuir na construção do saber de forma
lúdica. A atividade iniciou-se com a execução da musica nas duas versões, original na
voz de Luiz Gonzaga e a regravada, mas recentemente pela banda “O Rappa”. A versão
original, ouvida primeiramente, não foi identificada pelos alunos no primeiro momento,
sendo este resultado totalmente previsto, pois se trata de uma canção mais antiga e do
estilo musical forró, culturalmente não muito popularizado na Região Sudeste do país.
Após uma explicação breve da história da canção e do centenário compositor, a
versão regravada pelo “O Rappa” foi ouvida e facilmente identificada, devido
essencialmente ao ritmo e estilo da musica, mostrando que apesar da mesma letra o
fator predominante foi o estilo/rimo musical, trazendo a questão da falta de
interpretação e compreensão existente na hora de ouvir uma musica, ler algum texto na
escola, etc.
O aspecto importante de mostrar as duas versões é a diferenciação cultural que
existe nas varias Regiões do país. Foram feitos questionamentos sobre, o porquê da
existência ou não da diferença cultural, socioeconômica, do clima, vegetação, etc., na
região onde vivemos e no nordeste. Iniciando uma breve debate na comparação dos
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4469
diferentes aspectos como os alimentos, roupas, linguagens (gírias) típicas da Região
sudeste e nordeste.
Foi colocado que um dos fatores importantes desta regravação feita pela banda
“O Rappa” era a disseminação da mensagem da realidade nordestina, retratada por Luiz
Gonzaga, “mostrada ao restante do país”, através de outro estilo musical. O rock pop da
banda “O Rappa” trouxe a descoberta desta diferenciação de culturas das Regiões do
país além de abordar uma realidade “tão distante” aos olhos de fora do sertão
nordestino.
Por fim foram analisadas as questões dos aspectos geográficos que poderiam ser
identificados facilmente durante a execução da musica nas duas versões. De modo
explicativo foi abordado às questões socioeconômicas, relacionando as políticas
publicas, que na maioria das vezes não funcionam na pratica, trazendo também a
compreensão sobre as influencias do clima, do solo, da vegetação, caracterizando
bastante a parte física da Região nordestina.
Foi pedido no final da aula para que os alunos fizessem um desenho ou um
parágrafo sobre como imaginavam o nordeste através de todos os aspectos analisados
durante a explicação. Assim foi possível analisar a compreensão de cada aluno em
relação à experiência da musica e a geografia.
CONCLUSÃO
O artigo exposto abordou um pouco da experiência na utilização da musica no
ensino, as importantes contribuições na identificação dos aspectos geográficos, bem
como trabalhar as canções de maneira interativa na análise desenvolvida através da
musica “Suplica Cearense”.
Explicar geografia através da musica, componente de interesse e ao mesmo
tempo próximo dos alunos, foi de suma importância para a compreensão destes sobre os
aspectos desta ciência. De forma simples foi possível relacionar a musica com cotidiano
dos alunos e ao mesmo tempo com as diferentes formas culturais, além dos problemas
sociais, econômicos, etc, que fazem parte do espaço geográfico, transformado e
produzido pela sociedade. A reflexão sobre estudo da geografia e a transmissão de
conhecimento, acrescentaram para uma aprendizagem de ambos os lados.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4470
Assim, a geograficidade de suas músicas é de fundamental importância para a
compreensão dos problemas da região, uma vez que ele mostra a difícil luta pela
sobrevivência no semiárido, em razão do clima que castiga e expulsa o homem de seu
habitat natural, e ao mesmo tempo o acolhe, o que faz da região um lugar de contrastes
e de lirismo, quando cantada e exaltada na voz daquele que, sem dúvida, foi o maior de
todos os sertanejos.
REFERÊNCIAS
PINHEIRO, E. A. et al.O nordeste brasileiro nas músicas de Luiz Gonzaga.Caderno de
Geografia, Belo Horizonte, v.14, n. 23, 2º sem/2004, p. 103-111.
CALLAI, Helena Copetti. Geografia em sala de aula: pratica e reflexões. Porto Alegre:
Ed da UFRGS, 1998.
LOIOLA M.E. (1); MONTEIRO J. V. (2); GUERRA I. (3) A geograficidade do
nordeste nas musicas de Luiz Gonzaga (1) Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia, Endereço: Rua T9, casa 8, conjunto São José,Juazeiro do Norte, CE.
http://www.krafta.info/br/search/luiz-gonzaga/1/mp3
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS - PCN (2006)
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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A TRANSFORMAÇÃO DIDÁTICA DO CONCEITO DE
TERRITÓRIO E LUGAR ATRAVÉS DE TELEJORNAIS E CINEMA:
UMA PROPOSTA METODOLÓGICA
Mônica Saraiva de Sousa1
Aliciane Mendes Vieira e Silva2
Eliane Maria Paz Bastos Santos3
Profª Drª. Antonia Dalva França-Carvalho4
RESUMO
O presente trabalho apresenta os resultados de pesquisa sobre uma proposta metodológica para
o ensino de Geografia realizada no interior do Programa de Bolsas de Iniciação à Docência
(PIBID) na Unidade Escolar Professor Joca Vieira, localizada em Teresina-PI. As observações
da ação professoral mostraram a necessidade do desenvolvimento de aulas com linguagem e
estratégias mais atrativas relacionadas à realidade dos alunos, especialmente no tocante a
transformação dos conceitos chaves da geografia. A partir dessa necessidade optamos por
trabalhar através de uma metodologia balizados no enfoque progressista da educação para
construir os conceitos de território e lugar a partir de Telejornais e Cinema, considerados de
difícil assimilação devido ao modo tradicional como é apresentado nos estudos de geografia. O
escopo principal da atividade foi o de aumentar o interesse do aluno em relação estes conceitos,
enfocando o aspecto lúdico e prazeroso para sanar as dificuldades de aprendizagem. Para a
consecução da atividade inicialmente foram feitas observações da prática professoral e a
realização de revisão bibliográfica para enriquecer o conhecimento acadêmico dos monitores.
Na sequência, a pratica educativa ocorreu em três momentos: a construção dos conceitos
auxiliado com recursos didáticos como telejornais local; a aplicação do filme Madagascar 2 e,
por último, realizou-se a intervenção na prática pedagógica com a construção dos conceitos
pelos alunos a partir das explanações relacionando o filme com os conteúdos. Assim sendo,
verificou-se o êxito desta metodologia, sobretudo porque as aulas tornaram-se mais
interessantes, curiosas e motivadoras, envolvendo a totalidade dos alunos, facilitando o
aprendizado do assunto abordado.
Palavras-chaves: Transformação Didática, Metodologias, Ensino de Geografia.
INTRODUÇÃO
Este trabalho propõe apresentar os resultados de uma pesquisa de caráter
interventivo acerca da aprendizagem dos conteúdos de Território e Lugar no âmbito da
disciplina de Geografia, cuja assimilação a literatura considera difícil. Aborda, portanto,
uma metodologia no ensino capaz de promover a transformação didática dos conceitos
1Universidade Federal do Piauí, Graduanda em Geografia, bolsista do PIBID;
[email protected]. 2Universidade Federal do Piauí, Graduanda em Geografia, bolsista do PIBID [email protected]
3 Professora da Educação Básica, Supervisora PIBID-UFPI, [email protected]
4 Professora da UFPI. Doutora em Educação, [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4472
da Geografia acadêmica para a Geografia Escolar, em virtude da relevância desses para
o entendimento da construção do espaço social, dando ênfase às relações de apropriação
de uma determinada porção espacial, e as relações de identidade e afetividade das
pessoas com o seu lugar de vivência.
A problemática desse trabalho consistiu na observação da dificuldade de se
formar um elo autêntico entre a teoria do conhecimento acadêmico e a prática do ensino
regular devido à linguagem rebuscada das literaturas acadêmicas e a falta de atenção
dos educandos diante de aulas tradicionais. Esse fato foi observado a partir da
experiência pedagógica de licenciandos em Geografia da Universidade Federal do Piauí,
participantes do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência).
Através dessa experiência pudemos perceber que o ensino de geografia
geralmente está baseado em um ensino tradicional, no qual, a metodologia se resume a
exposição de conteúdos e o aluno está confinado a um ensino bancário, na acepção de
Freire (1996), pois seu papel é reduzido à mera reprodução de conceitos prontos e
acabados.
Procurando contribuir para a minimização dessa problemática e facilitar a
construção destes conceitos (território e lugar), realizamos no âmbito do Programa de
Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) de Geografia da UFPI uma prática educativa
que se configurou através de uma aula dialogada e motivadora. Tal metodologia foi
vivenciada com alunos do 3º Ano da Unidade Escolar Joca Vieira e foi mediada por
exemplos do cotidiano dos alunos, vídeos de telejornais, música, charges, imagens e um
filme com características que estimulou os educandos e contribuiu para instigar a
criticidade, criatividade e atitude dos mesmos.
A ideia foi transformar os conceitos científicos de território e lugar em
conteúdos concretos, através de atividades lúdicas de modo que os mesmos fossem
significados pelos alunos. Ressaltamos que a categoria “transformação didática” é aqui
compreendida como a modificação pedagógica, ou o tratamento pedagógico que o
professor imprime ao conhecimento acadêmico para que o mesmo seja acessível ao
aluno, ou seja, para que sua aprendizagem seja alcançada. Esta concepção aproxima-se
da acepção que Shulman (1986) quando utiliza o conceito de "conhecimento
pedagógico do conteúdo", isto é, o conteúdo específico (re)elaborado para ser ensinado,
quando analisa a epistemologia própria dos professores, através do uso/domínio de seus
saberes. Assim, fundamentados na concepção progressista da educação e na geografia
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4473
crítica delineamos as bases teórico-metodológicas para a experiência, detalhada a
seguir.
2 A APRENDIZAGEM DOS CONCEITOS DE TERRITÓRIO E LUGAR:
APORTE TEÓRICO-PRÁTICO
Acreditando na corrente progressista, na qual defende que educandos e os
professores são os sujeitos do processo de ensino-aprendizagem, entendemos o
professor como mediador da transformação didática entre o ensino acadêmico para o
ensino escolar elaborando estratégias viáveis de serem postas em prática e que busque a
construção dos conceitos pelos próprios os educandos. Neste aspecto, “O paradigma
progressista alicerça uma educação que leva em consideração o indivíduo como um ser
que constrói a sua própria história”. (BEHRENS, 2010, p. 71).
Assim elaboramos uma prática educativa que trouxesse em seu bojo uma
linguagem despertadora de emoções, que fizesse parte do mundo dos educandos e que
roubasse a atenção desses para a participação da aula, conscientizando-os da construção
das relações sociais das quais fazem parte. É importante ressaltar que trabalhamos numa
perspectiva de transformações didáticas.
A transformação didática consiste em orientar, explicar e socializar o
conhecimento científico e técnico da ciência aos alunos do ensino regular. Porém, essa
às vezes ou muitas vezes é ineficaz, dificultando a aprendizagem dos alunos. As
dificuldades encontradas na transformação do saber ensinado pelos professores se
constituem no ligamento entre o conteúdo e o cotidiano dos educandos. Dessa forma, a
escola passa a ser um elo entre a inteligência adquirida ao longo do tempo e o
conhecimento técnico.
Nesse sentido, a análise dos elementos centrais que guiam qualquer processo de
ensino e de aprendizagem torna-se importante, seja a metodologia, os recursos didáticos
e sobremodo, quais conceitos a serem a aprendidos e a sua funcionalidade, bem como a
perspectiva e favorecimento a quem esses devem ser construídos.
Segundo Cavalcante (2002, p. 15):
O desenvolvimento do pensamento conceitual, que permite uma
mudança na relação cognoscitiva do homem com o mundo, é função
precípua da escola, embora não seja a única. Considerando que um
conceito não se forma ou se constrói na mente do individuo por
transferência direta, ou por assimilação reprodutiva, as indicações para
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4474
a formação de conceitos no ensino, na linha de uma didática histórico-
crítica, recomendam o confronto de conceitos científicos e conceitos
cotidianos.
Cientes da importância dos conceitos chave da ciência geográfica é que traçamos
aqui a relevância dos conceitos de Território e Lugar para a compreensão dos educandos
da sua realidade e das inúmeras relações existentes entre os grupos sociais e entre esses
e o seu espaço de vivência. Assim, no interior da corrente da Geografia Crítica e
embebidos nas ideias de uma perspectiva progressista é que entendemos que tais
conceitos se tornam importantes para os alunos no que se refere à compreensão do
mundo com suas contradições espaciais, conflito, relações de poder, sentimento de
pertencimento e diversidades culturais.
A Geografia Crítica trabalha numa perspectiva subjetiva, onde se valoriza a
percepção dos indivíduos a partir das suas experiências e busca se posicionar com
criticidade enquanto ciência de investigação de problemas, além de se manifestar como
uma ciência operativa buscando a desconstrução das representações sociais do mundo
atual que fere a integridade física, e psicológica do homem, norteando novas
representações voltadas para uma sociedade mais justa e igualitária de bem estar social
a todos.
Partindo dessas caracterizações o conceito de território foi estabelecido como
aquele que mantém estrita relação com o conceito de poder, ou seja, entendido como
porção espacial onde se estabelece relação de sobrevivência e conflito, espaço
delimitado, apropriado, construído, desconstruído e reconstruído por e a partir de
relações de poder de um grupo em vários níveis de escala espacial e temporal.
Considerando que a relação de poder pode se dá em um espaço concreto ou abstrato.
(SOUSA, 2007).
Segundo Souza (2007, p. 77):
Territórios existem e são construídos (e desconstruídos) nas mais
diversas escalas, da mais acanhada (p. ex., uma rua) à internacional (p.
ex., a área formada pelo conjunto dos territórios dos países membros
da Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN); territórios
são construídos (e desconstruídos) dentro de escalas temporais as mais
diferentes: séculos, décadas, anos, meses ou dias; territórios podem ter
um caráter permanente, mas também podem ter uma existência
periódica, cíclica.
No âmbito da construção desse conceito, o objetivo foi utilizar de exemplos do
cotidiano dos alunos que mantivessem relações de dominação e influência de atores
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4475
sociais nos mais variados territórios, procurando desmitificar a ideia de dominação pela
violência e principalmente desconstruir um conceito formado e limitado entre território
e território nacional. O que se pretendeu construir foi uma ampliação desse conceito,
entendendo que territórios são construídos e desconstruídos nas mais variadas escalas e
por diferentes grupos sociais. Além de considerar as caracterizações dos inúmeros
processos de territorialidade como os processos de territorialização, desterritorialização
e reterritorialização muitas vezes estabelecidos em uma mesma porção espacial.
Condicionamos ainda os educandos a participar de um sentimento de consciência da
complexidade e da importância desse conceito para o seu cotidiano procurando
despertar uma ideia de necessidade de autonomia nos processos de territorialidade dos
quais fazemos parte.
O conceito de lugar é estudado pela Geografia em diferentes escalas, esse
consiste no espaço vivido, dotado de significados próprios e particulares que são
transmitidos ao longo de suas vivencias. É considerada característica desse estudo a
percepção do individuo, os símbolos, a religiosidade, os valores e as identidades
coletivas. Segundo Christofoletti (1982, p. 22) diz que, “O lugar é aquele em que o
indivíduo se encontra ambientado, no qual está integrado. Ele faz parte do seu mundo,
dos seus sentimentos e afeiçoes; é o “centro de significância ou um foco de ação
emocional do homem”.
O lar, habitat, bem-estar, afetividade, vivencia, apego, relações, refugio,
singularidade, familiaridade e intimidade também são características que definem um
lugar. A concepção do conceito de lugar dentro da Geografia Crítica esta ligada a
especificidade, a emoção, ao apego trabalhando com o “eu” particular. Esse está envolto
em características históricas e culturais, por isso, estudá-lo é fundamental para a
compreensão das relações sociais que se caracterizam nos lugares específicos.
Para construir esses dois conceitos, fomos inspirados nas conceituações de
autores como Marcelo José Lopes de Sousa (2007), Marcos Aurélio Saquet (2007),
Claude Raffestin (1993), Yi-Fu Tuan (1983) e Antonio Christofoletti (1982). Tais
literaturas possuem uma linguagem rebuscada que precisam de um aprofundamento de
leitura e abstração que até mesmo nós licenciandos e por que não dizer profissionais
formados sentimos dificuldade de compreensão. E foi a partir da conscientização dessa
linguagem e da necessidade de aliar a teoria discutida na academia com a prática da sala
de aula que analisamos não apenas os conceitos, mas os outros elementos citados em
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4476
outrora que fazem parte do processo de ensino-aprendizagem que propomos uma
analise da metodologia e dos recursos empregados na transformação didática.
O que analisamos nas aulas observadas inicialmente enquanto monitores do
Pibid da Ufpi foi que o ensino tradicional ainda permeia as aulas de geografia. Com
isso, sabemos sim, que é necessário utilizar metodologias que motive os educandos de
uma forma lúdica, que visa desenvolver a capacidade e habilidade em aliar teoria e
prática, bem como, facilitando na transformação didática dos conteúdos. “Motivar é
algo que leva os alunos a agirem por vontade própria”. (ZÓBOLI, 2007, P. 16).
Os recursos utilizados nessas aulas tradicionais se resumem ao livro didático, o
quadro acrílico, pincel e a exemplos do cotidiano explorados superficialmente. Diante
dessa observação propomos uma aula inovadora para aquele ambiente de ensino,
mediada por uma reflexão mais aprofundada dos conceitos se utilizando de uma
metodologia e recursos audiovisuais para despertar o interesse dos alunos pela
disciplina e que constituísse significação para ao educandos.
Dependendo de como for utilizado, os recursos didáticos tornam-se um material
de apoio que constitui em uma ferramenta de ensino, proporcionando uma
aprendizagem mais rápida, efetiva e duradoura. Neste caso, a utilização de recursos
audiovisuais em sala de aula serve para desenvolver a curiosidade, visualizar melhor os
objetos a serem estudados, incentivar, motivar a interação do sujeito com o abjeto e
consequentemente desenvolver o conhecimento, como atesta Sant’Anna (2004, p. 19):
Recursos de ensino se constituem por materiais institucionais que
atuam positivamente na aprendizagem, são estimuladores e
reforçadores da mesma. São elementos que instrumentalizam o aluno,
favorecendo o processo de assimilação, a criatividade, o
desenvolvimento cognitivo, adaptando-o ao meio e à sua própria
realidade.
Dentre os recursos utilizados na construção dos conceitos de território e lugar
consideramos o uso de retroprojetor e de alguns recursos alternativos, assim como
vídeos de telejornais, música, imagens, charges e filme. Esses recursos alternativos
aproximam os educandos da sala de aula, pois vivemos na era da tecnologia, onde essas
mídias estão em constante contato com os estudantes fazendo parte do dia a dia desses e
acabam por disputar a atenção dos alunos perante os professores.
Segundo Barbosa (2003, p. 111), “A ludicidade dos filmes possui uma
característica muito própria: a imagem está em movimento. Assim, a vida representada
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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na tela (a) parece mais próxima da nossa realidade”. Nessa perspectiva, é preciso
analisar quais conceitos pretendemos trabalhar, buscando uma ligação cinematográfica
com o seu cotidiano.
Assim, considerando a relevância dos conceitos de território e de lugar e a
possibilidade de desenvolver estratégias que colaborem para a aprendizagem
significativa destes conceitos descreveremos a metodologia utilizada.
3 METODOLOGIA E DISCUSSÃO
Nossas vivências como bolsistas da área de Geografia do Pibid nos levou a
reflexões sobre o cotidiano, a escola, e da sala de aula. Um destas reflexões, decorrentes
de uma avaliação diagnóstica sobre a construção dos conceitos centrais da ciência
geográfica constatamos que os educandos do 3º ano do ensino médio da Unidade
Escolar Professor Joca Vieira localizada em Teresina – PI, não tinham domínio dos
conceitos de Território e Lugar. Considerando a relevância desses conceitos e a
dificuldade da transformação didática dos mesmos para o ensino regular nos
propusemos a desenvolver uma prática educativa instigadora como forma de sanar essa
problemática. Para isso, efetuamos, à priori, uma revisão bibliográfica de textos
acadêmicos em livros e web site sobre a temática.
Para atingir nosso objetivo, isto é, a construção dos conceitos de Território e
Lugar pelos alunos, desenvolvemos uma aula horizontal, ou seja, uma aula dialogada
entre os monitores do Pibid, alunos do curso de Licenciatura em Geografia da
Universidade Federal do Piauí e os alunos do 3º Ano, mediada por exemplos do
cotidiano destes alunos e recursos alternativos como vídeos, telejornais, charges,
música, imagens e filme. A seleção destes recursos foi definida em razão da
possibilidade de despertarem a atenção dos alunos e o interesse pela ciência geográfica.
A intenção foi utilizar tecnologias que colaborarem na explicação/compreensão da
importância desses conceitos e que instigasse o senso crítico dos alunos desses diante da
sua realidade, considerando a dinâmica do cotidiano dos mesmos.
A construção dos conceitos de Território e Lugar foi realizada através de uma
aula motivadora, instigadora e dialogada, na qual educandos e monitores estabeleceram
uma relação horizontal e afetiva. No primeiro momento fizemos uma explanação sobre
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4478
a importância da ciência geográfica como desses conceitos para a compreensão do
mundo e da estruturação do espaço social em que vivemos.
Traçamos as características principais dos dois conceitos nos utilizando de
imagens, charges, vídeos de telejornais e principalmente mantendo relação com o
cotidiano dos estudantes, com exemplos, que fazem parte da vivência dentro dos lugares
onde mantemos relações sociais. Assim os alunos se sentiram parte daquele processo,
fato observado pela hexis dos alunos, onde se mostravam fervorosos participando
ativamente da aula, fazendo perguntas, tirando dúvidas e dando exemplos de seu
cotidiano mesmo antes de serem solicitados pelos monitores como mostra a figura 1.
FIGURA 1: CONSTRUÇÃO DOS CONCEITOS DE TERRITÓRIO E LUGAR.
A: Visualização de Imagens; B: Explanação do conteúdo; C: Visualização dos
Telejornais; D: Apresentação do filme, Madagascar 2. Fonte: PIBID DE GEOGRAFIA
TERESINA-PI. Registrada em: Maio de 2013.
Na construção do conceito de Território traçamos exemplos da relação de poder
existente no ambiente residencial, de trabalho e ainda religioso dos educandos, assim
como evidenciamos relações de Território e poder em suas diferentes escalas espaciais e
temporais.
Caracterizamos os movimentos de territorialização, desterritorialização e
reterritorialização dentro de Teresina PI e mediações, cidade em que monitores e
educandos vivem e experimentam as mais variadas experiências. Utilizamos de
exemplos de escala internacional e nacional, além de situações como o processo de
territorialização no centro da cidade dos comerciantes dessa durante o dia e dos agentes
sociais de prostituição e usuários de drogas nesse mesmo território durante a noite, a
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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desterritorialização dos camelos da cidade e seu processo de territorialização em outro
espaço, o que nos ajudou a estabelecer o entendimento de variação de escala temporal
caracterizando o conceito de territorialidade cíclica, territórios contínuos e descontínuos
proposta por Souza (2007).
Os exemplos citados acima foram abordados a partir de diálogos e da
visualização de imagens e telejornais locais que noticiavam a territorialização do tráfico
de drogas como a desterritorialização da população local por conta da tomada de poder
por esses agentes sociais. Mostramos ainda um vídeo que noticiava a disputa pelo poder
pelo oceano Ártico, onde procuramos evidenciar que a disputa de território não ocorre
apenas no solo, mas em qualquer espaço, seja ele abstrato, aéreo ou marítimo.
Também utilizamos telejornais que discutiam a disputa por território no nosso
próprio Estado. Observamos que estes recursos despertaram a atenção dos alunos e
fizeram com que esses enxergassem as relações de poder onde vivem e a importância do
conceito para entender a relação de dominação e influência de grupos sociais dentro do
nosso próprio espaço de vivencia.
Na construção do conceito de Lugar as imagens projetadas despertavam a
curiosidade e o sentimento de pertencimento e afetividade dos educandos para com os
seus lugares de vivencia. Os exemplos do cotidiano de todos presentes na aula formava
na hexis dos educandos olhares de dúvidas e soluções. Tais expressões fugiram dos
rostos dos estudantes e se transformaram em vozes que ecoavam na sala de aula, onde
um queria participar com seus exemplos de sentimento de identificação e pertencimento
com um determinado lugar e os outros se mostravam entusiasmados por sua vez de
falar.
Os exemplos eram os mais variados e advinham da infância, da rua em que
moravam, da saudade dos vizinhos, da ligação que tinham com os símbolos presentes
em seu cotidiano e das impressões que tinham dos lugares que vivenciavam todos os
dias como o caminho percorrido para chegar à escola, o caminho da volta pra casa ou
ainda do bairro do amigo. Após a construção dos conceitos de Território e Lugar
orientamos os educandos a assistirem ao filme Madagascar 2 com um olhar geográfico,
procurando identificar os momentos nos quais os dois conceitos se apresentassem no
decorrer do filme.
O filme contava a história de um grupo de animais (leão, zebra, girafa,
rinoceronte entre outros) que são amigos que habitam um zoológico localizado em Nova
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4480
Iorque que decidem se aventurar a encontrar suas origens e seus semelhantes. Esses
conseguem chegar à África e se deparam como lugar no qual os originou, o leão Alex,
um dos protagonistas reencontra sua família, a casa onde morava quando criança, local
que teve que se desprender por conta de uma disputa de território entre o pai e outro
leão que sempre disputa o poder sobre os demais do grupo. Em resumo, o filme é
repleto de cenas que representam disputas por território, delimitação de fronteiras e
tomada de poder por grupos e de sentimentos de pertencimento pelos lugares
vivenciados.
Percebemos que alunos se mantinham com os olhares fixados no filme, e ao
término iniciamos um diálogo relacionando o filme com os conceitos antes construídos.
Foram citadas as cenas que mais lhe chamaram a atenção e, em seus relatos pudemos
perceber que esses demonstravam um conhecimento mais aprofundado e embasado no
conhecimento científico. Esta constatação caracterizou a relevância da atividade
proposta para a efetivação da transformação didática dos conceitos de Território e Lugar
refletido na academia e transmitido para os estudantes do ensino regular.
Portanto, o resultado da aplicação da metodologia foi satisfatório, uma vez que o
objetivo da atividade foi alcançado com sucesso. Com a atividade os alunos puderam
perceber que o conteúdo fazia parte do seu dia-a-dia. A escola os (re) significou de
forma mais prazerosa, instigadora e eficiente, como mostra o relato a seguir:
O filme foi legal, gostei muito aprende perfeitamente a definição de
lugar e território, o que mais gostei foi ter uma visão diferente do
filme, um jeito mais atraente e divertido, me permitiu um aprendizado
mais detalhado de lugar e território... Deveria ter mais aulas assim!
Relacionadas com o assunto! Assim, os alunos poderiam interagir com
os professores! Assim todo “mundo” presta atenção! (EDUCANDO
DO 3º ANO “C”, 2012).
Constamos ao final dessa atividade que aulas como essa devem ser mais
utilizadas pelos professores do Ensino Médio, transformando o senso comum do aluno
em um olhar geográfico de se ver as coisas ao seu redor, despertando a curiosidade, a
criticidade e o seu lado artístico de se ver e perceber os conceitos no seu cotidiano.
CONCLUSÃO
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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A evolução conceitual dos conceitos de Território e Lugar pelos alunos
evidenciou a eficiência da metodologia empregada e a prática que os monitores, ainda
aspirantes a educadores, realizaram exitosamente através da transformação pedagógica
do conteúdo acadêmico. Isso significa que a aula não se limita mais à mera
transformação instrumental da matéria, mas prioriza a ação sobre o humano e com o
humano, como assevera Therrien e Loiola (2003).
Isso significa que ao transformarmos didaticamente os conceitos centrais da
ciência geográfica para o ensino regular através de metodologias capazes de aliar o
sujeito ao objeto, de modo significativo, bem como o ensino da aprendizagem,
estaremos possibilitando oportunidades para o aluno olhar criticamente o mundo ao seu
redor e, assim, preparando-o para uma vida social autônoma como aspira à educação
progressista.
Portanto, podemos depreender que os conteúdos de Território e Lugar, ensinados
na Geografia no Ensino Médio não são difíceis de serem assimilados como alega a
literatura. Paradoxalmente, são facilmente compreendidos pelos alunos quando
transformados didaticamente através do uso de metodologias de ensino lúdicas e
prazerosas que sejam atrativas e possibilitem ao aluno ser sujeito ativo na construção do
conhecimento. Isso implica que o professor necessita mobilizar além do saber cientifico,
o saber-fazer para, utilizando-se de estratégias de ensino diversificadas que sejam
guiadas por um enfoque da educação e da geografia que concorram para a autonomia
dos sujeitos.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Jorge Luiz. Geografia e Cinema: em busca de aproximações e do
inesperado. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri (org.). A Geografia na Sala de Aula. 5.
Ed. São Paulo, Contexto, 2003. p. 111.
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ed. Petrópolis, RJ, Vozes, 2010. p. 71.
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Heloísa Périssé, Luisa e Sérgio Loroza dublando. 89 min. DreamWorks.
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SAQUET, Marcos Aurélio. Abordagens e concepções sobre território. 1.ed. São
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Oliveira. São Paulo, Difel,1983, p. 03.
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Ática, 2007. p. 16.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4483
O AUDIOVISUAL APLICADO AO ENSINO DE GEOGRAFIA DO
BAIRRO
Emmanuel Messias Vieira Martins1
RESUMO
O presente trabalho vem através de relato de experiência analisar a utilização do audiovisual
como suporte metodológico ao ensino de geografia no desenvolvimento do saber geográfico e
sociocognitivo. Esta experiência foi desenvolvida junto aos alunos do 9º ano da Escola Estadual
de Ensino Fundamental e Médio Monte Carmelo em Campina Grande tendo como suporte os
Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) e a ideia do trabalho com a Geografia do Bairro
proposta por Aziz Ab’Saber (2001).
Palavras-chave: Audiovisual, Ensino de Geografia, Geografia do Bairro.
INTRODUÇÃO
Este trabalho resulta das experiências obtidas junto ao Subprojeto Geografia do
Programa Institucional de bolsa de Iniciação a Docência (PIBID) da Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG), com suas atividades sendo desenvolvidas na
Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Monte Carmelo, localizada no bairro
Pedregal, em Campina Grande.
O texto tem como objetivo analisar o uso do audiovisual e o estudo do bairro no
ensino-aprendizagem de geografia com alunos do 9ª ano. Tendo como base os PCNs e o
estudo do bairro proposto por Ab’Saber.
É de grande importância que o aluno conheça a região onde reside, e através do
audiovisual foi possível trabalhar os diversos temas propostos nos PCNs, analisando
através da ótica dos alunos, que produziram materiais sobre o bairro em que a escola
está inserida.
A atuação da equipe do PIBID Monte Carmelo foi marcada pela realização de
oficinas em períodos do contra-turno com alunos do 9º ano. Estas oficinas vêm
abordando temáticas diferentes ao longo dos últimos dois semestres (cartografia,
1Graduando em Geografia – Universidade Federal de Campina Grande. Email:
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4484
paisagem, lugar, orientação e localização). Para nós, neste texto, cabe destacar as
experiências que relacionaram a geografia do bairro e o audiovisual. O esforço feito é
de contribuir com novas metodologias no desenvolvimento de temas apresentados nos
Parâmetros Curriculares Nacionais. Este documento ressalta a importância da inclusão
de equipamentos tecnológicos no cotidiano das aulas de geografia. Assim,
fundamentado também no estudo da Geografia do bairro, proposta por Aziz Ab’Saber,
como possibilidade metodológica que ressalta a importância de se incentivar o aluno a
construir o conhecimento sobre a região onde vive, foram planejadas atividades que
integrassem esses elementos metodológicos – o uso do audiovisual e a geografia do
bairro.
Este texto está dividido em três partes. A primeira delas trata da importancia em
se trabalhar a geografia do bairro ideia proposta por Ab’Saber em entrevista a novo
escola em 2001. Na segunda parte resaltamos a importância do uso do audiovisual em
sala de aula. Por fim o relato das experiências obtidas junto ao PIBID no
desenvolvimento dessas atividades, a reação dos alunos, a importância desta aitividade
na nossa formação e as dificuldades na realização das atividades.
2. GEOGRAFIA DO BAIRRO
Em entrevista a nova escola Ab’Saber reforça a ideia de que a “A Educação
Básica deveria preocupar-se em incentivar o aluno a construir o conhecimento da região
em que vive".
o papel do professor de Educação Básica deve ser o de incentivar os
alunos a construir o conhecimento da região onde vivem, desde os
limites territoriais até as características geográficas, econômicas e
políticas. Essas informações servirão para ele se localizar como
cidadão e sempre servirão de base para qualquer estudo de espaços
maiores, as chamadas macro-regiões. (AB’SABER, 2001).”
O mesmo ressalta a importância de se incentivar o aluno a construir o
conhecimento sobre a região onde vive, através de oficinas de talento que são espaços
didáticos onde o foco deve ser o estudo para solução de problemas regionais, propondo
assim uma regionalização do ensino. É muito importante desenvolver o saber geográfico
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4485
a partir da realidade local, o aluno sabendo analisar a geografia do seu bairro o mesmo
irá saber no futuro como analisar outras regiões.
Podem ser utilizados os espaços informais como praças ou outros espaços no
entorno da escola para auxiliar o aluno a compreender os temas trabalhados a partir da
sua vivência. Tentando assim fazer com que o aluno perceba-se como parte integrante
dependente e agente transformador do meio ambiente, como os PCNs colocam como
sendo um dos objetivos do ensino fundamental.
3. O ÁUDIO VISUAL EM SALA DE AULA
É de suma importância que a escola esteja preparada para as mudanças que
ocorrem na sociedade.
Na era da globalização, em que as informações chegam de forma
muito rápida por meio da televisão, do cinema, do radio, do vídeo, do
computador, o trabalho pedagógico do professor enriquecer-se-á se ele
utilizar todos esses recursos para produção de um conhecimento que
ajuda o aluno a compreender o mundo em que vive. (PONTUSCHKA;
PAGANELLI; CACETE, 2009, p. 263).
O mesmo ressalta Tonini confirmando essas mudanças nas formas de se obter
informação.
Se antes os estudantes construíam seus conhecimentos
principalmente a partir de conteúdos provindos de instituições
tradicionais consolidadas (escola, família, clubes, etc.),
atualmente são outros espaços sociais que constroem
conhecimentos. As culturas midiáticas, as comunidades virtuais,
entre outros, são exemplos disto, sendo espaços sociais que se
diferenciam dos tradicionais por seu caráter mais volátil e
cambiante. Assim, a mídia é um acontecimento performativo ao
buscar dar sentido a modos de pensar, de ser, de estar no mundo.
(TONINI, 2011, p. 95).
É papel do professor, preparar o aluno para saber diferenciar essas mídias como
conteúdos de informação, publicidade ou mero entretenimento, trabalhando assim seu
senso crítico. Lembrando que o audiovisual deve ser utilizado como um reforço
metodológico que auxilia na fixação dos temas abordados dentro de sala e não como
uma simples quebra de monotonia.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4486
A centralidade da mídia na construção do conhecimento e da
formação das subjetividades tem consequências importantes
para educação por gestar gêneros discursivos e
comportamentais. É um acontecimento que, minando
irreversivelmente as formas de aprender o mundo. Por tudo isso,
é evidente que o ensino também deve ter o “pé” na mídia.
Preparar as gerações jovens com instrumentos atualizados de
seu próprio cotidiano é um desafio que devemos nos impor, mas
com praticas que levem ao empoderamento desses jovens frente
a esse mundo tão complexo. (TONINI, 2011, p. 94).
Entre outros objetivos do ensino fundamental, os PCNs colocam que o aluno
deve saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir
e construir conhecimentos e perceber-se integrante, dependente e agente transformador
do ambiente, identificando seus elementos entre eles, contribuindo ativamente para a
melhoria do meio ambiente.
4. RELATANDO EXPERIÊNCIAS DA GEOGRAFIA DO BAIRRO A PARTIR
DO AUDIOVISUAL
No primeiro semestre de atividades do PIBID na escola Monte Carmelo,
enquanto iniciávamos os trabalhos na escola, os alunos do 9º ano finalizavam suas
maquetes para apresenta-las na mostra pedagógica da escola. Esse projeto intitulado
“Nosso Bairro” propôs que os alunos através de maquetes apresentassem propostas de
melhorias que eles gostariam de ver no bairro. Os alunos se dedicaram bastante na
confecção dessas maquetes, onde representaram praças revitalizadas, postos de saúde e
outras dezenas de ideias para melhor utilizar algumas áreas do bairro que estão sem uso.
Um dos grupos decidiu gravar um vídeo trazendo a história do bairro. No vídeo
os alunos além de informações como numero de habitantes e localização, trouxeram
também entrevistas com moradores antigos do bairro, uma representante da associação
dos moradores e um funcionário da escola que também mora no bairro. Todos relataram
memórias e propuseram melhorias para o bairro. Os próprios alunos elaboraram toda a
pesquisa sobre o bairro e elaboraram um questionário para servi de base nas entrevistas.
Como estávamos no primeiro mês de atividades o suporte que oferecemos aos
alunos no desenvolvimento dessas atividades foi ainda mais enriquecedor para nós
bolsistas, pois ao tempo que realizamos essas atividades íamos aprendendo a dinâmica
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4487
do bairro em que a escola está inserida. Por se tratar de um bairro já conhecido, devido à
fragilidade social, vários locais do bairro não foram registrados pelos alunos, por de
questão segurança.
Durante as oficinas realizadas no segundo semestre, nomeadas de reconstrução
do saber geográfico escolar, atividades foram desenvolvidas com os alunos no contra-
turno. Onde cada ciclo das oficinas tinha duração de duas horas, proporcionando assim
que os bolsistas de iniciação a docência pudessem trabalhar de forma diferenciada os
temas propostos. Todas as oficinas foram realizadas na sala de informática da escola,
onde também foi utilizado o quadro de giz, mas usamos principalmente o datashow,
como ferramenta para trabalhar as imagens e vídeos relacionando-os aos temas já
trabalhados através de slides preparados pelos bolsistas.
Vale ressaltar o empenho e dedicação dos alunos em desenvolver essas
atividades que apesar de ocorrerem no contra-turno foi muito bem recebida pelos alunos
que se sentiram estimulados com a forma diferenciada de ensinar e aprender geografia.
E esta experiência foi ainda mais importante na formação destes bolsistas, pois assim
aprendemos a preparar aulas, trabalha-las em sala e fora dela e também aprendemos a
lidar com situações que fogem ao nosso controle, como ter uma aula diferente do que
havia se planejado por causa de algum problema técnico. Ou saber lidar com situações
como a que ocorreu durante a gravação dos vídeos, onde não seria adequado segundo os
alunos filmar em determinadas partes do bairro devido problemas comuns a bairros em
fragilidade social o que limitou o trabalho dos alunos que gostariam de representar no
vídeo outros locais do bairro. Desta forma é possível perceber que no ensino-
aprendizagem é necessário, além de conteúdos e metodologias, a integração entre
professores e alunos no desenvolvimento do conhecimento.
REFERÊNCIAS
AB’SABER, Aziz. A geografia do bairro. Revista Nova Escola, São Paulo, ano 16,
n.139, p. 14-16, jan./fev. 2001.
TONINI, Ivaine Maria. Para pensar o ensino de geografia a partir de uma cultura visual.
In: REGO, N; CASTROGIOVANNI, A. C.; KAERCKER, N. A. (org.). Geografia:
praticas pedagógicas para o ensino médio. Volume 2 Porto Alegre: 2011. Pp. 94-95
PONTUSCHKA, N. N.; PAGANELLI, T. I.; CACETE, N. H. Para ensinar e
aprender Geografia. (org.). São Paulo: Cortez, 2007.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4488
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Brasília, 1998.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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TRILHA DOS SENTIDOS:
UM AMBIENTE ALTERNATIVO DE APRENDIZAGEM
André Silva Tavares1
Nathan Pereira Dourado2
RESUMO
A Feira de Ciências e Tecnologia realizada na Escola Estadual Judith Viana contou com o
auxilio e envolvimento dos alunos bolsistas do PIBID-Geografia da Universidade Federal de
Alfenas, no planejamento e realização das atividades. Na feira foram apresentados inúmeros
projetos relacionados à temática “Sustentabilidade”, sendo a atividade descrita neste artigo, uma
das propostas apresentadas que fez parte da programação do evento. A “Trilha dos Sentidos”
pretende servir como ferramenta de aprendizagem Lúdica e interacionista sobre e as inter-
relações históricas entre sociedade, natureza e individuo. Com o intuito de promover a
conscientização dos alunos à cerca da importância do uso sustentável dos recursos naturais e
consumo consciente.
PALAVRAS-CHAVE: Geografia – Aprendizagem - Educação Ambiental·.
INTRODUÇÃO
A Feira de Ciências e Tecnologia realizada na Escola Estadual Judith Viana
contou com o auxilio e envolvimento dos alunos bolsistas do PIBID- Geografia da
Universidade Federal de Alfenas, no planejamento e realização das atividades. Na feira
foram apresentados inúmeros projetos relacionados à temática “Sustentabilidade”,
programação do evento.
A “Trilha dos Sentidos” é em sua essência uma metodologia de educação
ambiental e como tal visa trazer à tona as questões ambientais e promover à
conscientização dos participantes sobre a importância do consumo consciente e uso
sustentável dos recursos naturais. A proposta foi construída de forma coletiva, por um
grupo de alunos do 2º ano, como proposta de metodologia para integrar a Feira de
Ciência e Tecnologia realizada na escola E.E Judith Vianna.
Conforme a lei de Política de Educação Ambiental n° 9.795/1999 a Educação
Ambiental tem por objetivo formar cidadãos que se defrontem com a problemática do
meio ambiente e se esforcem por compreendê-lo, sendo capazes de assumir ponto de
1Graduando em Geografia Licenciatura, bolsista pelo PIBID – Unifal-MG,
[email protected] 2 Graduando em Geografia Licenciatura, bolsista pelo PIBID – Unifal-MG, [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4490
vistas críticos, preocupando-se com o destino coletivo e se posicionando diante dos
desafios nos locais em que vivem e no mundo.·
A história do Homem sobre a Terra é a história de uma ruptura progressiva entre
o homem e seu entorno. Tendo a natureza artificializada um grande marco de
transformação na história humana da natureza. Hoje, com a Tecnociência, o homem
alcançou um estado supremo dessa evolução (SANTOS, 1994) A partir do contexto
apresentado, existe o consenso de que o meio ambiente é palco e sustentáculo das
atividades humanas e o fato de vivermos numa sociedade ecologicamente
desequilibrada e socialmente desigual é resultado das escolhas históricas que foram
feitas para nos relacionarmos com o ambiente.
Em consonância com o entendimento de a educação ambiental vem sendo
tratada de forma superficial, ingênua, vazia de significados concretos e identificação do
sujeito com a realidade social. (TOZONI-REIS, 2006) A utilização do método
pedagógico apelidado de “Trilha dos Sentidos” propõe que os temas ambientais sejam
tratados como temas geradores de reflexões mais amplas e significativas consequentes
para a formação crítica e transformadora dos sujeitos.
OBJETIVOS
Estimular o aprendizado e reflexão crítica a cerca da evolução do consumo, uso
de recursos naturais e as inter-relações históricas entre sociedade, natureza e individuo.
Através da representação por meio de objetos materiais e seus aspectos sociais, culturais
e naturais, de forma que a teoria possa ser vivenciada pelos participantes de forma
atraente e lúdica, nas quais os participantes experimentam diferentes situações de olhos
vendados e descalças, exercendo intensamente o tato, olfato, paladar e audição,
tornando-os co-participantes do processo de aprendizagem.
METODOLOGIA
Para orientar a pesquisa e sistematização, foi adotado como fundamentação
teórica o processo de evolução do consumo em quatro fases, conforme proposto pelo
geógrafo Milton Santos; Meio Natural, Meio Técnico, Meio Técnico- Cientifico, Meio
Técnico- cientifico-Informacional.(SANTOS,1994).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4491
Em síntese, se assemelha a construção de um cenário (uma bancada) onde os
participantes identificam de olhos vendados (através do tato), a evolução do meio
natural ao técnico cientifico informacional, representada por objetos dispostos ao
alcance das mãos, os elementos formam uma ideia chave do respectivo período, que
passa a ser vivenciado através dos sentidos (o tato), gerando assim a descoberta. Após
percorrer todo trajeto o participante de frente para o espelho, é questionado com a
seguinte pergunta: “quem foi o responsável por toda essa transformação no meio
ambiente?”
A vivência estrutura-se em torno de quatro etapas: o momento inicial, em que é
feita uma dinâmica de recepção do grupo no qual os participantes são informados e
orientados sobre a vivência; num segundo momento os participantes caminharão
individualmente dentro da trilha com os olhos vendados e descalços; em seguida
confeccionarão também individualmente um mapa interpretativo da trilha e por fim os
participantes farão um relato pessoal sobre a vivência. Através da vivência não se
pretende definir conceitos, mas vivenciá-los, percebê-los, significá-los.(MATERAZI,
2006).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4492
MATERIAIS UTILIZADOS
RESULTADOS
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4493
A trilha dos Sentidos como forma de tentar compreender a evolução do consumo
através do processo histórico foi à metodologia ideal, na intenção de promover uma
experiência diferenciada através da pratica exercida, que possibilita a conexão da mente
e do corpo, simultâneos, resultando em uma reflexão profunda sobre a evolução
histórica da relação homem e natureza.
Levando em conta que no atual sistema de educação ainda predomina uma
relação de detentor do conhecimento e receptor vazio, que Paulo Freire classifica como
sendo um ensino de "depósito bancário", onde apenas se injetam conhecimentos
(informações) nos alunos, sem a participação dos educandos, sem interação e troca.
(FREIRE,2008) A “trilha dos sentidos” surge como metodologia inovadora ao
produzir ou construir conhecimentos, de forma lúdica e interacionista, ao invés de
simplesmente transferir conhecimento, e dessa forma possibilita despertar no aluno a
curiosidade, a busca do conhecimento, a necessidade de aprendizagem ativa e geradora
de reflexões, conforme pode-se observar através dos depoimentos dos participantes:
“Amei poder “sentir” a evolução! Parabéns pelo trabalho”
( Natália, ensino Médio)
“Creio que o homem não se encontra em estado de evolução no que
diz respeito à sua relação com a natureza, mas sim, muito pelo
contrario, afasta-se dessa na medida em que desvenda-lhe um novo
segredo.”
(Anônimo)
“Muito criativo e interessante, fica uma ideia bacana do avanço
tecnológico” (Vinicius, 2°3)
CONCLUSÕES
Através da aplicação da metodologia apresentada, constatou-se a importância de
promover práticas pedagógicas dinâmicas, extra-sala com um apelo lúdico na
transmissão do conhecimento de forma significativa e atraente aos alunos. Além da
importância curricular que confere devido ao conteúdo transmitido através da vivência,
tem-se um importante papel de sensibilização ambiental e uma reaproximação dos
participantes com o meio ambiente nos seus aspectos naturais, sociais, culturais e
históricos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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CAVALCANTE, Lana de Souza. Geografia, escola e construção de conhecimentos. –
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática docente. São
Paulo: Paz e Terra, 2008.
MATAREZI, J. Despertando os sentidos da educação ambiental. Educar, Curitiba, n.
27, p. 181-199, 2006. Editora UFPR
SANTOS, M. Técnica, Espaço, Tempo. Globalização e meio técnicocientífico-
informacional. São Paulo: Editora Hucitec, 1994.
TOZONI-REIS, M. F. de C. Temas ambientais como “temas geradores” contribuições
para uma metodologia educativa ambiental crítica, transformadora e emancipatória.
Educar, Curitiba, n. 27, p. 93-110, 2006. Editora UFPR
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http:/portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educaçãoambiental/lei975.pdf. Acessado em:
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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A APLICAÇÃO DE ATIVIDADES LÚDICAS NO ENSINO DA
GEOGRAFIA NO MUNICÍPIO DE AQUIDAUANA/MS
Raphael de Leão Duarte1
Vicentina Socorro da Anunciação2
RESUMO
O presente artigo discorre sobre a importância e as dificuldades para a aplicação das atividades
lúdicas no ensino da Geografia Escolar. As atividades lúdicas são metodologias que envolvem
diferentes linguagens e ações como jogos, histórias em quadrinhos, cartas e cartões-postais,
músicas, filmes, textos, revistas e imagens. Estas atividades possibilitam a associação entre a
teoria e a prática, a aproximação dos conteúdos trabalhados em sala de aula á realidade dos
alunos, além de incentiva-los a utilizar o raciocínio lógico, passando a construir seu próprio
conhecimento. Embora seja conhecida a sua importância, as atividades prático-lúdicas ainda não
são aplicadas significativamente nas aulas de Geografia do município de Aquidauana/MS, desta
forma é importante compreender os fatores que vêm impedindo ou dificultando a inserção do
lúdico na prática docente, o que passa a ser o objetivo maior deste trabalho. Para atingir os
objetivos traçados, foram realizadas entrevistas com os acadêmicos do curso de licenciatura em
geografia da UFMS/CPAQ e professores de Geografia no município de Aquidauana MS, a fim
de averiguar as metodologias de ensino aplicadas nas aulas de Geografia, bem como as
dificuldades encontradas para a preparação de aulas práticas e a necessidade de inserir o lúdico
na prática docente.
Palavras chave: lúdico, metodologias, obstáculos.
INTRODUÇÃO
Atualmente a disciplina de Geografia ainda é vista, por grande parte dos alunos
de todas as séries, como uma disciplina maçante e sem importância. Porém essa imagem
não se limita ao ambiente escolar. Em geral, as pessoas não entendem a importância da
disciplina de Geografia, nem tampouco da Ciência Geográfica. Talvez por ser uma
disciplina complexa e ampla de mais.
A Geografia Escolar por muito tempo foi considerada como uma disciplina
enciclopédica, voltada para memorização de conceitos, nomes de rios, Estados, cidades,
etc. Foi chamada por muitos como a “disciplina do decorar”, uma disciplina defasada,
descritiva e distante da realidade, não apenas dos alunos, mas também de uma
1 Graduando em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS, UFMS/CPAQ -
Bolsista PIBID, [email protected] 2 Professora Adjunta - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS UFMS/CPAQ,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4496
considerável parcela da sociedade. Mas porque ela é vista desta maneira? Existe um
culpado? Essa imagem pode estar relacionada a vários fatores, principalmente pelas
metodologias utilizadas nas aulas. Porém dificilmente pode-se identificar um único
culpado. Podemos entender então que esta defasagem deve-se a um conjunto de fatores,
que envolvem as metodologias aplicadas, a falta de recursos, a falta de tempo e a
preocupação com o cumprimento de cronogramas por parte de todos os agentes
envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.
As metodologias de ensino nem sempre conseguem envolver os alunos na
produção do conhecimento, tornando-os alienados em relação ao ensino. Nesse caso as
aulas sempre serão apenas expositivas, o professor acaba assumindo o papel de
transmissor do conhecimento e o aluno, como mero receptor de informações. Neste
sentido, as atividades lúdicas vêm a contribuir com a dinamização das aulas de
Geografia. Através do lúdico, os alunos participam ativamente na produção do
conhecimento, além de vivenciar situações simuladas associadas aos temas estudados
pela Geografia. Com isso os alunos são incentivados a utilizar seu raciocínio lógico e
instigados a conhecer e refletir sobre sua realidade local. As aulas tornam-se mais
atrativas, pois a aprendizagem acontece simultaneamente à diversão, porém não é
abandonada sua seriedade e seus objetivos. As atividades lúdicas incentivam o “pensar
por conta própria”, isto é, o aluno se depara com uma situação problema que o leva a
pensar novas ações. Assim vão surgindo ou progredindo novas habilidades, novas
possibilidades e até mesmo novas maneiras de ver o mundo a sua volta, fazendo do
lúdico uma ferramenta de prática.
O lúdico é uma ferramenta de grande importância para o processo de ensino e de
aprendizagem, porém é pouco aplicada nas aulas, especificamente de Geografia. A falta
de recurso e tempo, além de baixos salários limitam os professores na preparação de
aulas praticas. Em geral, para que um professor sobreviva, ele precisa trabalhar por
quarenta horas semanais e ainda precisa dedicar a maior parte das horas de descanso ou
de dedicação à família, para corrigir provas e trabalhos. Assim, é quase impossível a
preparação e aplicação de atividades práticas. Desta forma a maioria dos professores
acaba adotando o livro didático como único recurso para suas aulas.
Estes fatores causam certo comodismo por parte dos professores e dos alunos.
Porém não podemos culpa-los por isso. Além de tudo os professores precisam cumprir
cronogramas. A preocupação então é focada nas notas e não na qualidade do ensino.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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O fato é que a Geografia está presente em nosso dia-a-dia e é preciso aproveitar
esta oportunidade. A imagem da Geografia do decorar precisa ser superada. Desta forma
é necessária à aproximação entre professores e alunos de Geografia, tanto no âmbito
universitário, quanto na educação básica, a fim de discutir novos olhares, novas
metodologias e possíveis soluções para estas problemáticas. É com esse intuito que
surgiu este trabalho, na perspectiva de traçar uma reflexão envolvendo o curso de
licenciatura em Geografia da UFMS/CPAQ e os professores de Geografia no município
de Aquidauana-MS. O ensino da Geografia no referido município apresenta lacunas
com relação à concepção dos alunos e familiares sobre a disciplina Geografia, porém
não podemos negar os esforços depositados por alguns professores, a fim de mudar essa
realidade. Neste sentido, é importante compreender fatores que vêm impedindo ou
dificultando estas ações, o que passa a ser o objetivo maior deste trabalho.
Para atingir os objetivos traçados, foram estabelecidos alguns procedimentos que
envolvem a organização de um referencial teórico, pesquisa por meio de entrevistas
com acadêmicos do curso de licenciatura em Geografia da UFMS e professores de
Geografia no município e Aquidauana. Este trabalho encontra-se em andamento,
portanto, espera-se contribuir com as discussões sobre o ensino da Geografia, a inter-
relação entre universidade e escola e a necessidade de pensar novas ações.
DESENVOLVIMENTO
A disciplina de Geografia, assim como a ciência geográfica, é muito ampla. Este
fato, somado à falta do emprego de metodologias de ensino alternativas nas aulas, tem
contribuído para o distanciamento entre a realidade dos alunos e a Geografia, tornando-
a uma disciplina vaga e defasada. Em geral as metodologias utilizadas nas aulas não têm
despertado o interesse dos alunos e muito menos têm esclarecido a sua importância e o
quanto esta ciência está presente em nosso dia-a-dia.
O problema pode não estar apenas na falta de metodologias. Pelo contrário,
existem várias formas de se ensinar Geografia. Aliás, o estudo da Geografia pode ser
muito mais dinâmico e divertido quando associado à aplicação de atividades prático-
lúdicas, ou seja, metodologias que promovem a aprendizagem por meio da utilização de
jogos, atividades práticas, produção e leitura de histórias em quadrinhos, músicas, peças
teatrais, filmes, cartas e cartões-postais, entendidos como formas prazerosas de aprender
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Geografia, assim como as demais disciplinas. Essas metodologias têm conseguido com
maior eficiência o que aquelas práticas mais tradicionais não conseguiam. As atividades
lúdicas possibilitam um conhecimento mais contextualizado, além de fortalecer e até
mesmo, suscitar habilidades. O problema então pode estar na limitada aplicação ou até
mesmo no não emprego dessas metodologias. Muitos são os obstáculos que dificultam
ou impedem a inserção do lúdico na prática docente, portanto, é necessário entende-los,
estar consciente das dificuldades enfrentadas por professores e futuros professores.
Este trabalho é norteado pelas discussões que envolvem o ensino da Geografia
nas escolas, a busca por novas perspectivas para o mesmo, portanto possui sua
importância tanto no contexto científico quanto social. A inserção do lúdico no ensino
cada vez mais tem ocupando o cerne das discussões sobre o ensino da Geografia em
eventos científicos. Neste sentido, o presente trabalho vem a somar com o acervo de
debates sobre esta temática. Trata-se de um estudo sobre o conhecimento e a
consciência de profissionais e estudantes de Geografia do município de Aquidauana/MS
referente à importância do lúdico para o processo de ensino e aprendizagem, assim
como os entremeios considerados obstáculos que dificultam ou impossibilitam sua
aplicação. Não basta apenas afirmar que atualmente o ensino da Geografia ocorre de
forma ineficaz, é necessário identificar quais fatores contribuem para o enfraquecimento
do conhecimento geográfico e entender o que tem condicionado esta situação. Um
estudo desta natureza torna-se importante para averiguar problemas, podendo apresentar
possíveis soluções. Ao identificar um obstáculo, surge a reflexão para sua superação. A
importância também está na possibilidade de compreender a situação real da Geografia
escolar, assim como as perspectivas de profissionais e estudantes de Geografia no
município. Desta forma as afirmativas passam a ser sistematizadas de forma científica,
abandonando o senso comum.
O presente trabalho possui sua importância no contexto social, sugerindo
metodologias alternativas para utilização no ensino da Geografia, tanto em ambiente
acadêmico, ou seja, em atividades na disciplina de prática de ensino ou em projetos,
quanto em ambiente escolar, pelos professores. Partindo desta ideia, é possível refletir
sobre o papel da universidade em relação à escola. A universidade, além de formar
profissionais para atuar na educação, também exerce importante função no
desenvolvimento de materiais didáticos e paradidáticos. É importante ressaltar que
algumas atividades lúdicas requerem recursos que fogem das possibilidades de exercício
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dos professores, sendo necessário o auxilio de pessoas, desempenhando a função de
monitor. Como exemplo, podemos citar o jogo denominado “Caça ao tesouro com
bússola”, aplicado por acadêmicos do curso de licenciatura em Geografia da UFMS,
participantes do Programa Institucional de Bolsas para a Iniciação à Docência – PIBID.
O referido jogo consistiu em localizar pontos previamente demarcados no terreno da
escola com o auxilio de uma bússola, encontrar e anotar senhas dispostas em cada
ponto. Os alunos devem se organizar em grupos, sendo importante que cada grupo conte
com um monitor que coordene a progressão dos alunos. Logo, quanto maior o numero
de alunos, maior o numero de grupos e consequentemente, maior o numero de
monitores. Em casos como este, o professor pode recorrer à ao curso de Geografia, que
por sua vez mobilizará os acadêmicos para atuar como professores aprendizes. É valido
ressaltar também que a iniciativa no desenvolvimento de projetos de ensino pode vir dos
próprios acadêmicos. Podemos considerar este fato como um exemplo da interação
entre a universidade e a escola, uma vez que professores precisam de auxilio em
determinadas atividades prático-lúdicas e que acadêmicos, além do contato com a
realidade escolar, definem um perfil profissional e vivenciam experiências do ser
professor.
A Geografia Escolar passou por inúmeras transformações ao longo do tempo.
Conquistou seu lugar nos currículos escolares como uma disciplina específica. Assim
foram surgindo novas metodologias e recursos didáticos. Não podemos negar os
esforços aplicados no ensino da Geografia, visando abandonar a imagem da disciplina
descritiva e/ou enciclopédica, porém, torna-se necessário desenvolver a conscientização
sobre sua importância para um grande contingente de pessoas, principalmente os alunos.
Em geral, mesmo com tantas mudanças e conquistas, a Geografia ainda
apresenta características da “disciplina do decorar”. Alunos não compreendem o motivo
de seu estudo e em muitos casos os professores pouco fazem ou podem fazer para
mudar essa realidade. Mas porque isto acontece? Por que a Geografia está tão distante
da realidade discente? Como tornar as aulas mais atrativas? Quais dificuldades os
professores enfrentam e como superá-las? Para encontrar as respostas para os
questionamentos é necessário compreender a realidade da escola e dos agentes
envolvidos no processo de ensino e de aprendizagem. O ponto de partida para essa
reflexão pode estar no entendimento da própria historia da Geografia Escolar no sistema
educacional brasileiro. De acordo com Kaercher (2000), “a tendência “classificatória”
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no ensino de geografia, evidentemente, não é exclusividade e nem invenção do
professor! (Portanto, calma, nada de culpa!) É uma construção histórica das ciências que
se constituiu ao longo dos séculos XVII e XIX”. Isto significa que a Geografia
classificatória, enciclopédica pode ser entendida como característica, até mesmo
necessária, para um determinado contexto histórico-social e que ainda influencia ou se
reflete no atual ensino da Geografia. Outro fator que também pode refletir na qualidade
do ensino da Geografia é a realidade dos futuros professores que irão atuar nesta área.
Realmente a docência é almejada pelos graduandos em licenciatura? O curso de
licenciatura é o que eles queriam de fato? E o mais importante: os futuros professores
possuem a vocação para tal exercício? A falta de dedicação ás atividades do curso, sem
dúvida, influenciará na própria formação do acadêmico, o que poderá refletir em suas
práticas cotidianas durante o exercício da profissão e, consequentemente, na qualidade
do ensino.
Em um mundo globalizado onde o acesso e as trocas de informações acontecem
instantaneamente, o professor acaba perdendo a função de principal intermediador entre
aluno e conhecimento. Isto significa que se não acompanhar à evolução do pensar,
dificilmente o professor conseguirá despertar o interesse dos alunos em suas aulas. O
professor deve acompanhar essa evolução, ou seja, ele necessita entender que a maneira
de pensar dos jovens de hoje é diferente dos jovens do passado. Não adianta ser apenas
teórico ou apenas prático, é importante que o professor adote metodologias que
possibilitem a associação entre teoria e prática.
O lúdico é um assunto que cada vez mais tem ganhado espaço nas discussões
que envolvem o processo de ensino e aprendizagem. Desta forma, as atividades prático-
lúdicas são entendidas como agentes facilitadores da aprendizagem, deixando de ser
vistas como apenas uma diversão, um passatempo. Para que os jogos e as demais
atividades práticas sejam entendidos como lúdico, devem contribuir com o aprendizado,
gerando tensões positivas. Silva (2005) afirma que
O uso de jogos e situação-problema contribui para um ensino que
confere ao aluno um papel ativo na construção dos novos
conhecimentos, pois permite a interação com o objeto a ser conhecido
incentivando a troca e a coordenação de ideias e hipóteses diferentes,
além de propiciar conflitos, desiquilíbrios e a construção de novos
conhecimentos fazendo com que o aluno aprenda o fazer, o relacionar,
o constatar, o comparar, o construir e o questionar.
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Por estarem participando de uma atividade que impõe desafios, os alunos são
estimulados a pensar por conta própria e consequentemente acabam vivenciando o que
antes era apenas teoria. Meirieu (1998, apud SILVA, 2005, p. 143) define situação-
problema como toda atividade planejada pelo professor com o intuito de mobilizar e
desafiar o aluno a encontrar soluções aos problemas propostos. Essas atividades devem
ser planejadas, pois a final, se trata de uma aula com objetivos traçados, neste sentido o
professor deve se atentar quanto ao alcance dos mesmos.
A Geografia Escolar necessita de novas metodologias. É preciso despertar o
interesse dos alunos pelo conhecimento geográfico. As atividades lúdicas contribuem de
forma significativa na dinamização e na aproximação dos conteúdos teóricos
trabalhados nas aulas de Geografia com a realidade discente, além de fortalecer novas
habilidades. Neste sentido, é necessário entender o que tem impedido sua aplicação. O
desenvolvimento deste trabalho surgiu do confronto de duas situações: a inserção do
lúdico no ensino da Geografia na educação básica no município de Aquidauana tem
encontrado alguns obstáculos, com isso, raramente são aplicadas atividades prático-
lúdicas nas aulas; existe no município um curso de licenciatura em Geografia que pode
auxiliar os professores de Geografia da educação básica, tanto com materiais didáticos
quanto em projetos de ensino. Portanto, é importante averiguar a realidade do professor
de Geografia e dos alunos do curso de Geografia Licenciatura, ou seja, entender suas
limitações por meio de um estudo abrangendo as metodologias aplicadas e seus reflexos
sobre o aprendizado, e a possibilidade de aproximação entre os agentes sociais
envolvidos com a educação básica e agentes do curso de Geografia Licenciatura da
UFMS/CPAQ.
METODOLOGIA
Para alcançar os objetivos traçados foi realizada uma revisão bibliográfica
buscando conceituar o lúdico e discorrer sobre sua importância para o processo de
ensino e aprendizagem. As etapas de coleta e analise dos dados ainda se encontra em
andamento, sendo definido que a escala da pesquisa envolverá apenas os professores
sindicalizados ao SINTED (Sindicato dos Trabalhadores em Educação) de Aquidauana
e alunos do curso de Geografia Licenciatura da UFMS/CPAQ, visando averiguar as
metodologias aplicadas em sala de aula, as adversidades e limitações que impedem ou
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dificultam a aplicação de atividades praticas e o alcance de seus objetivos, além do
conhecimento sobre o lúdico no ensino.
A pesquisa foi organizada por meio de entrevista com questionários específicos
para cada categoria. Desta forma, com os professores de Geografia, buscou-se
informações pessoais como endereço, naturalidade, estado civil, se possui filhos e se
concilia o tempo dedicado ao trabalho com o lazer e a família. É importante para este
trabalho coletar informações sobre a formação acadêmica do entrevistado, se possui
pós-graduação, carga-horária de trabalho (incluindo hora atividade) e o tempo de
exercício da profissão de professor, a fim de analisar o grau de experiência e averiguar a
existência de professores de outras áreas atuando na disciplina em questão. Buscou-se
também averiguar os procedimentos de ensino, perguntando aos professores como são
ministradas suas aulas, quais os recursos mais utilizados, qual a frequência de
orçamentos próprios na preparação de aulas e de realização de aulas de campo ou fora
da sala de aula, além da percepção dos professores sobre a forma em que os alunos
demonstram conhecimento sobre a realidade local. Tendo em vista o lúdico como a
temática deste trabalho, foi importante verificar a opinião dos professores sobre o
lúdico, a consciência da importância das atividades prático-lúdicas na contribuição para
o processo de ensino e aprendizagem.
Quanto aos alunos de licenciatura em Geografia, foi questionado sobre o motivo
da escolha pelo curso, se realmente estão no curso que queriam e se estão satisfeitos
com o mesmo. Também foram questionados a opinião e o conhecimento a respeito do
lúdico e suas limitações para sua inserção na prática docente; quais conteúdos os
acadêmicos têm mais dificuldades para trabalhar com atividades prático-lúdicas; a
experiência com o lúdico nas disciplinas do curso; sobre o contato dos acadêmicos com
as escolas no município e a intenção de exercer a profissão de professor. Esta entrevista
foi importante para averiguar o grau de envolvimento dos acadêmicos com o curso,
assim como a vocação de ser professor, o que pode refletir na qualidade do ensino nas
escolas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O proposito deste trabalho foi o de fomentar a reflexão sobre a importância da
aplicação de atividades prático-lúdicas no ensino da Geografia no município de
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Aquidauana por uma abordagem sistematizada, com enfoque na realidade dos
professores e futuros professores.
É possível afirmar que existem problemas no ensino da Geografia? Sem dúvida
o ensino em geral e especificamente o de Geografia apresentam considerável fragilidade
no referido município, portanto é necessário entender o motivo desta problemática. Não
basta apenas afirmar que a Geografia Escolar vai mal ou que os professores não se
mobilizam para mudar esta realidade, é importante compreender a realidade do
professor superando o senso comum.
As atividades contribuem de forma significativa para o ensino de uma Geografia
mais contextualizada, dinâmica, sobretudo para o processo de ensino e de
aprendizagem. Consciente deste fato e compreendendo a realidade do professor e do
estudante de Geografia, é plausível o pensamento sobre ações que podem ser
fundamentais para minimizar ou até sanar este problema. Ao pensar a qualidade no
ensino é importante pensar na própria qualidade de vida dos agentes sociais envolvidos
com a educação formal escolar.
REFERÊNCIAS
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pedagógicas para o ensino médio. Porto Alegre: Artmed, 2007.
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A UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS COMO AUXILIO
NA COMPREENSÃO DO ENSINO DO “SOLO”1.
José Gean Belchior Gomes2
RESUMO
O presente trabalho é uma proposta para contribuir no ensino de geografia,
particularmente o ensino-aprendizagem do “solo”. Este tem por essencial objetivo propor os
recursos didáticos (Funis de porosidade, o simulador de erosão, a maquete dos horizontes do
solo, o Perfil esquemático, pinturas feitas com pigmentos dos solos e outras maquetes.) que
devem ser confeccionado pelo professor em parceria com os alunos, com essa parceria
(re)elaborar conhecimentos referentes ao ensino do solo. No ato da confecção dos materiais
juntos com os alunos o professor já pode ir esclarecendo algumas dúvidas a que venha surgir e
assim a compreensão do conteúdo será capitulado com facilidade e assim o professor não deixa
o conteúdo nas simples descrição que os livros didáticos fazem.
PALAVRAS- CHAVES: Materiais Didáticos. Ensino de Geografia. Ensino de Solo.
INTRODUÇÃO
Este trabalho vem propor que os professores confeccionem recursos didáticos
juntos com seus alunos, materiais este que abordam as temáticas solos de varias
perspectivas e vão auxiliar os alunos na compreensão do ensino do solo.
O solo é um recurso natural que faz parte de um sistema complexo que é o
planeta terra que tem ligação com o meio ambiente, planta, animais e etc. sabe-se que o
mesmo e sustentáculo para a vida na terra e esta havendo certas desvalorização, tais
como: recebendo espaço resumido nos livros didáticos, o professor deixa nas meras
descrição que os livros trazem e não ressaltam a importância desse bem desse que e
finito.
Sabendo da importância que o solo tem para o meio ambiente e o quanto ele não
tem atenção que merece é que trabalho vem propor oficinas em que os alunos construam
materiais didáticos que abordam solos com atenção que merece e contribuir para os
alunos entenderem mais sobre solo.
Este trabalho propõe e que se desenvolva matérias didáticas que auxiliem na
compreensão da temática “solo”, segundo os professores “os alunos ficam fascinados
1 Projeto em desenvolvimento no Laboratório de Pedologia e Processos Erosivos em Estudos Geográficos
(LAPEGEO) orientado pelo Professor Dr. José Falcão Sobrinho. 2 Graduando do curso de Licenciatura em Geografia na Universidade Estadual Vale do Acaraú/UVA e
bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Cientifica – PIBIC/FUNCAP.
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com a diversidades de matérias que falam sobre solos, nas aulas em que se faz prática
com recursos lúdicos, os alunos se tornam mais participativos, através deste relatos fica
perceptível o quanto os matérias didáticos chamam atenção dos alunos até aqueles
dispersos em sala de aula e é também visível o quanto esses matérias desperta o
interesse, os alunos quando vão confeccionar os materiais ele tem várias curiosidades os
mesmos fazem várias indagações, que os mesmos não tinham coragem de fazer em uma
aula dita tradicional onde o professor fica lá na frente repassando conteúdo para os
alunos.
Nos ensino Fundamental e médio os estudantes não têm acesso às informações corretas
tecnicamente, úteis ou adequadas à realidade dos alunos no que se refere ao estudo do solo, o
que pode ser evidenciado nas deficiências e falhas existentes nos materiais didáticos
disponíveis, ou seja, nos livros. Segundo (SILVA, FALCÃO e SOBRINHO, 2008), é bastante
perceptível, o caráter de descaso dado ao estudo do solo nos livros didáticos, ocupando espaço
reduzido em poucas páginas.
O livro didático não aborda toda a importância que o solo tem para a dinâmica de
funcionamento do planeta terra e em muitos casos conteúdos são trabalhados de forma resumida
e fragmentada, assim como muitos outros, onde as discussões pouco ultrapassam os muros da
escola.
Os alunos não têm estímulos para aprender os conteúdos, porque os mesmos são para
eles sem importância, como se não fizesse parte da realidade deles e sabendo desse descaso do
estudo do solo por parte dos livros didáticos e alguns professores não tem o material necessário
para abranger mais o conteúdo solos e infelizmente deixam na simples descrição que os livros
trazem, essa proposta vem contribuir para o estudo de solos, por que no ato da construção deve
haver toda uma explanação sobre o conteúdo solos.
A aprendizagem sobre o solo e de fundamental importância para os alunos, os
professores devem promover essa visão para os alunos, através das metodologias de ensino o
educador deve desenvolver técnicas e competências ofertando suas contribuições e mostrar para
os alunos que o uso inadequado do solo pode acarretar a destruição de um local, por exemplo,
grandes centros urbanos e áreas agrícolas, mais o que esta ocorrendo e certa negligencia no
ensino do solo, de acordo com Muggler, Sobrinho e Machado ( 2006, p. 02 ) os mesmos falam
que:
De modo geral, as pessoas têm uma atitude de pouca consciência e
sensibilidade em relação ao solo, o que contribui para sua degradação,
seja pelo mau uso, seja pela sua ocupação desordenada. A
problemática em torno da conservação do solo tem sido, na maioria
dos casos, negligenciada pelas pessoas. A consequência dessa
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negligência é o crescimento continuo dos problemas ambientais
ligados à degradação do solo, tais como: erosão, poluição,
deslizamentos, assoreamento de cursos de água, etc.
Diante desta desvalorização que tem ocorrido nossa proposta e que o aluno ao
confeccionar os materiais didáticos tenha toda uma explanação sobre o solo no que se
refere a sua importância para o meio ambiente, e que isso venha mudar sua visão e que
os alunos se sensibilizem e passe a contribuir para a conservação do solo.
JUSTIFICATIVA
Sabe-se que o ensino do solo na maioria das vezes só passa por uma breve
explanação, aquela que os livros já trazem e não se dá a devida importância que o solo
tem para o sistema de funcionamento do planeta terra, isso talvez se da pela falta de
compromisso do professor ou a falta de recursos que abordam o solo de uma maneira
mais ampla. Ensinar o conteúdo “solo” nem sempre é fácil às vezes para uma melhor
associação por parte dos alunos do conteúdo é preciso uma gama de matérias didáticas
que explique de forma prática o conteúdo, isto facilita que a compreensão do aluno seja
possível e existem vários cabe ao educador explorar tais materiais.
O solo, como componente essencial do meio ambiente e, portanto, à vida, tem seu
estudo pouco valorizado na maioria dos livros e apostilas perante o Ensino fundamental e
médio, e como consequências têm uma preocupação cada vez menor por parte dos educando na
compreensão de tal elemento, porque os mesmos não tem o devido conhecimento sobre o solo,
isto e um dos motivos da desvalorização por parte dos alunos
Para tanto, este trabalho e uma proposta para ministrar o tema “solo” de forma
interessante que desperte nos alunos reflexões criticas acerca do solo, abranger mais
este assunto através de aulas práticas, em que os alunos vão construir junto com os
professores materiais didáticos que expliquem na prática o tema solo e assim o conteúdo
não vai ficar pautado unicamente no livro didático, ao propor que os educadores juntos
com seus alunos confeccionem materiais didáticos que abordem o solo, espera- se que a
compreensão dos alunos para o conteúdo solos seja mais fácil e a aprendizagem seja
prazeros
Essa metodologia que estamos propondo deve auxilio o professor confeccionem
materiais didáticos que abordem a temáticos solos de várias perspectivas, esses
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materiais abordam o tema solo e assim espera que facilite a aprendizagem do aluno e
associação da teoria seja melhor.
RECURSOS DIDÁTICOS QUE EXPLICAM NA PRÁTICA O TEMA SOLOS E
MATERIAIS NECESSÁRIOS PARA SUA CONFECÇÃO.
Os materiais a serem confeccionados são: os Funis de porosidade é um material
fácil de fazer e que representa bem o grau de porosidade de cada solo, o material que é
utilizado para confeccionar os funis são garrafas PET, corta ela quase no meio e na boca
onde fica a tampa da garrafa coloca um pano onde vai passar a água, depois em cada
garrafa coloca solos diferentes. Neste experimente os alunos vão ver que alguns tipos de
solo vão passar a água com mais facilidade e outros vão reter a água.
Outro material há ser confeccionado é o simulador de erosão, este e um material
didático fácil de ser confeccionado, para a confecção desse material vai precisar de
quatro garrafas PET, pega duas garrafas e corta ela com um estilete ou faca, fazendo da
garrafa PET como se fosse uma bacia, depois e só colocar solo nas garrafas, só que uma
vai colocar cobertura vegetal, ou seja, pequenas graminhas, depois pega as outras duas
que restaram e corta ela quase ao meio formando um copo e fura dois buracos nesse
copo e coloca um cordão nela para segura na borda da boca da garrafa depois de todo
material pronto e só começar a regar as garrafas com um regador ou outro utensílio, a
água vai escorrer e vai cair no copo, ai e só observar o que acontece com as garrafas ver
as diferenças do escoamento do solo, o solo que não tem cobertura vegetal vai deixar a
água mais barrenta levando mais sedimento, já a garrafa que contém cobertura vegetal
vai ser uma água mais limpa e com poucos sedimentos, essa é a diferença que os alunos
devem perceber e ver o quanto a cobertura vegetal e importante para o solo, este
pequeno material didático feito com matérias recicláveis e fácil de fazer até os próprios
alunos podem trazer de suas casas as garrafas PET e um material que vai representa
muito bem como se da o processo de erosão do solo em ambientes diferentes com
cobertura vegetal e sem cobertura.
Outro material é maquete dos horizontes do solo e um material que vai
representar os perfis do solo da rocha mãe até o horizonte A, o material necessário para
produzir esse perfil vão ser um caixote de madeira com uma base e dois lados, uma
pequena rocha e solos do horizonte A,B e C. Esse material no ato da sua confecção o
professor pode ir fazendo uma explanação de como se da a formação do solo.
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Perfil esquemático é outro material didático muito interessante, para a confecção
desse material será necessário um cubo de vidro de 50 centímetros de altura com uma
base e com uma boca para colocar o solo, esse perfil esquemático vai simular o perfil do
solo nas diferentes paisagens: litorânea, depressão sertaneja e planalto sedimentar; no
ato da confecção desses materiais o professor pode levar amostras de rochas, como a
rocha e um dos principais matérias de origem para a formação do solo nada melhor do
que os três tipos de rochas principais magmáticas, ígneas ou metamórficas e
sedimentares, essas rochas servem para explicar que a rocha ao passar pelo processo de
intemperismo que são eles químico, físico e biológico, vão passando por uma
transformação até se transformarem em solo.
Além disso, podem ser feitas maquetes que abordam o solo de várias
perspectivas, uma maquete que retratam as queimadas e as consequências para o solo,
outra que retrata o solo urbano e as possíveis poluições, como os lixões, outra que faz a
comparação de solo de uma área devastada e outra que não e devastada, uma maquete
que abordam a questão dos assoreamentos dos rios, provocada pela devastação da mata
ciliar, outra que aborda a questão da agricultura e suas consequências para o solo, todas
essas maquetes podem ser produzidas pelos alunos e são maquetes bem ilustrativas e
tem representação aproximada da realidade.
Outro material didático que vem chamar muito a atenção dos alunos são as
pinturas que são feitas com pigmentos dos solos, e um material fácil de ser
confeccionado nas e pode fazer muito ¨sucesso¨ entre os alunos já que a tinta é do
próprio solo.
Para a confecção de pinturas com solos é importante selecionar vários tipos
solos com várias tonalidades e depois peneira e depois coloca uma colher de solo e uma
colher de cola branca em um recipiente e depois e só coloca água para dissolver tanto a
cola quanto o solo e em seguida e só por a imaginação para funcionar
Os alunos ficam maravilhados, porque eles nunca pensaram que o solo servia
para fazer tinta, porque a visão deles sobre o solo e uma visão de desprezo do solo, mas
essa visão que os alunos tem sobre o solo, não e uma culpa deles e porque os mesmos
são leigos em se tratando do conteúdo solos, mas depois de toda de toda a confecção e
explanação sobre a importância espera-se que os alunos sai com outra visão, sabendo
de toda importância que o solo tem para o funcionamento da vida em nosso planeta.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da deficiência que os livros didáticos trazem no que se refere à
abordagem do solo e os professores não se preocupam em explorar esse tema que deve
ser muito debatido por ser tratar de um elemento natural que e vital para as espécies
vegetais e animais, esse trabalho não será a solução total dos problemas do ensino do
solo, mas será um passo para que o ensino do solo melhore nas escolas.
E perceptível que esta prática pedagógica e muito proveitosa no que se refere ao
ensino do solo, porque os alunos vão construindo os materiais didáticos junto com o
professor, os mesmos e que vão construindo o seu próprio conhecimento através da
confecção de alguns matérias, os alunos no ato da confecção vão construindo os
matérias e ao mesmo tempo fazendo indagações, os alunos vão sair daquele ensino
tradicional que é só a utilização do livro didático, quadro e giz, e vão para um ensino
mais prático, mais participativo, pode se dizer mais dialogado, nesta prática pedagógica
que estamos propondo o dialogo entre aluno e professor ele vai ser essência para que
haja uma melhor aproveitamento do conteúdo que vai ser abordado, que no caso e solo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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São Paulo, 2008.
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FARINA, B, C.; GUADAGNIM, F. Atividades práticas como elementos de
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SILVA, C, S.; FALCÃO, C, L, C.; SOBRINHO, J, F. O ensino do solo no livro
didático de geografia. Revista Homem, Espaço e Tempo. Centro de Ciências Humanas
da Universidade Estadual Vale do Acaraú/UVA. Ano II, número 1, março de 2008.
ISSN 1982-3800.
CARTOGRAFIA SOCIAL COM ADOLESCENTES ESCOLARES EM
VITÓRIA – ES
Maria Jessika de Oliveira Delpupo1
RESUMO
O trabalho a ser apresentado tem como objetivo o estudo do processo de produção cartográfica
de adolescentes da rede municipal de ensino de Vitória- ES dentro do Programa Educação em
Tempo Integral. A metodologia empregada foi a de revisão bibliográfica, elaboração e análise
do processo de produção da cartografia social por adolescentes da rede municipal de ensino de
Vitória dentro do Programa Educação em Tempo Integral. As oficinas realizadas com os
adolescentes escolares possibilitaram compreender a percepção do território vivido que é
construída por meio das relações sociais existentes entre o indivíduo e a comunidade e seu
território por meio da sobreposição de elementos culturais e territoriais. O presente artigo
vincula-se ao projeto “Imagem cartográfica na geografia contemporânea”, na linha de pesquisa
“Linguagens geográficas” do grupo de pesquisa CNPq “POESI – Política espacial das imagens
cartográficas”, bem como à rede de pesquisa “Geografia, Imagem, Educação”, da qual o POESI
é integrante.
Palavras chave: cartografia social – mapeamento participativo- adolescentes escolares
INTRODUÇÃO
O trabalho a ser apresentado é um desdobramento do subprojeto “Cartografia
Social com crianças e adolescentes escolares em Vitória – ES” PIBIC 2012/2 a 2013/1,
realizado dentro Programa Educação em Tempo Integral da Escola Municipal de Ensino
Fundamental Eber Louzada Zippinotti pertencente à Secretaria Municipal de Educação
(SEME) da Prefeitura Municipal de Vitória – ES. A pesquisa se justifica no âmbito da
ciência geográfica pelas necessidades de “reinvenção” de uma cartografia geográfica,
apontadas por autores da área, cujos parâmetros sejam dados pelo próprio fenômeno ou
pela compreensão que se constrói dele, e não por sua captura numa lógica cartesiana
dada a priori. O objetivo deste trabalho é de discutir/refletir sobre o processo de
produção de mapas da cartografia social por adolescentes escolares dentro do Programa
1 Graduanda em Geografia, Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: [email protected]
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Educação em Tempo Integral, utilizando a metodologia do Projeto Nova Cartografia
Social – PNCSA e buscando entender as geografias que estas cartografias apresentam.
Parte-se também da necessidade de se pensar a cartografia para as crianças e
adolescentes, onde estas ao pesarem o espaço em que estão inseridas, possam nele se
organiza. As oficinas de mapeamento participativo realizadas com os adolescentes
escolares possibilitou compreender a percepção do território vivido que é construída por
meio das relações sociais existentes entre o indivíduo e a comunidade e seu território
por meio da sobreposição de elementos culturais e territoriais.
CARTOGRAFIA SOCIAL
O processo de mapeamento consiste na criação, antes que simplesmente
revelação, de conhecimento. Neste processo de criação muitas decisões subjetivas são
feitas sobre o que incluir, no que o mapa focará e o que o mapa está buscando
comunicar. Como tal, Harley notou, mapas são imbuídos com os valores e julgamentos
dos indivíduos que os constroem e eles são inegavelmente um reflexo da cultura na qual
aqueles indivíduos vivem. Mapas são tipicamente os produtos para privilegiar e
formalizar conhecimentos e eles também tendem a produzir certos tipos de
conhecimentos sobre o mundo (KITCHIN, PERKINS, DODGE, 2009).
Desde os anos 1990 difundiram-se pelo mundo iniciativas de mapeamento que
se propõem a incluir populações locais nos processos de produção dos mapas
(CRAMPTON e KRYGIER, 2008). Suas raízes metodológicas estariam ligadas ao
conceito de observação participativa e metodologias de pesquisa colaborativa. No
debate internacional, tais atividades são reconhecidas como iniciativas de “mapeamento
participativo”. Para Joliveau (2008), o mapeamento participativo é aquele que
reconhece o conhecimento espacial e ambiental de populações locais e os insere em
modelos mais convencionais de conhecimento.
No Brasil o Projeto Nova Cartografia Social (PNCSA) vem sendo desenvolvido
desde 2005, coordenado pelo Antropólogo e Professor Dr. Alfredo Wagner Breno de
Almeida. Este consiste no levantamento de dados sobre movimentos, conflitos e
comunidades locais do Brasil. O projeto tem como principal objetivo dar voz aos
sujeitos sociais organizados em grupos que buscam por reconhecimento de suas
expressões culturais e territoriais. O mesmo propõe a realização de um mapeamento
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pelos grupos sociais e de suas formas organizativas, por meio da realização de oficinas
de cartografia social. “A cartografia social, como meio técnico, busca registrar relatos e
as representações no processo de automapeamento, além de identificar situações de
conflitos na forma de uso do território em questão” (LIMA & COSTA, 2012). As
oficinas onde são produzidos os fascículos do Projeto - PNCSA revelam-se como uma
possibilidade de discussão mais aberta entre interlocutores e agentes produtores do
espaço, configurando-se, assim, para as identidades coletivas, como um espaço de maior
liberdade para a discussão dos conflitos sócio-territoriais por quem vive os mesmos,
pois os mapas comunitários trazem uma dimensão política e de força a respeito das
demandas locais. (LIMA & COSTA, 2012).
PROGRAMA EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL
O Programa Educação em Tempo Integral é implementado por políticas públicas
articuladas, com o envolvimento das Secretarias Municipais de Políticas Sociais e
coordenado pela Secretaria de Educação, em parceria com outras instituições públicas e
privadas, bem como com organizações da sociedade civil. O programa é desenvolvido
na educação infantil e no ensino fundamental atendendo crianças em vulnerabilidade
social (ARAÚJO e CRAVO, 2010). Este tem como principal objetivo garantir a
Educação em Tempo Integral, por meio de experiências significativas, nas diferentes
áreas do conhecimento, visando à formação do sujeito que interage com a sua realidade
de forma questionadora, reflexiva, crítica e transformadora, reconhecendo as crianças,
os adolescentes, os jovens e as famílias como sujeitos de direitos. O Programa
proporciona o planejamento de atividades para além do espaço escolar, de modo
articulado com outros profissionais e equipamentos públicos, organizações e
instituições sociais e civis que possibilitem a garantia das práticas de uma educação
cidadã que valorizam a diversidade e as diferenças das crianças e adolescentes, quer
sejam culturais, sociais, religiosas, econômicas e as relativas às condições orgânicas,
físicas, sensoriais e intelectuais. Nesse sentido, a cultura, o lazer, o desporto, a dança, a
música, o teatro, a alimentação saudável, a diversidade religiosa, as questões:
etnicorracial, gênero, sexualidade e sócioambientais, a afetividade, a ética e a autonomia
são pautadas numa perspectiva inclusiva, visando atender as peculiaridades de cada
criança, adolescente e jovem que integra o Programa.
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OFICINAS DE CARTOGRAFIA SOCIAL COM ADOLESCENTES DO PROGRAMA EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL
As oficinas de mapeamento participativo, realizadas junto aos adolescentes do
Programa Educação em Tempo Integral se pautaram no trabalho de Lima e Costa
(2012), pesquisadores do PNCSA que desenvolveram trabalhos com crianças e
adolescentes ribeirinhas e quilombolas em municípios da região do baixo rio Tocantins,
no Pará e articulada a outras bibliografias.
A princípio o projeto seria desenvolvido na Escola Municipal de Ensino
Fundamental Maria José Costa Moraes (EMEF MJCM), pertencente à Secretaria
Municipal de Educação (SEME) da Prefeitura Municipal de Vitória – ES, localizada
no bairro São Pedro III, na Rodovia Serafim Derenze, s/n. Porém, com a mudança
de governo da Prefeitura de Vitória, ouve atrasos e suspenções do Programa
Tempo Integral na escola, levando a uma mudança de escola a ser desenvolvido o
projeto. Este passou a ser realizado na Escola Municipal de Ensino Fundamental
Eber Louzada Zippinotti pertencente à Secretaria Municipal de Educação (SEME)
da Prefeitura Municipal de Vitória – ES (EMEF ELZ), localizada na Rua Natalina
Daber Carmeiro, s/n –Jardem da Penha Vitória- ES. Até a data do início das
oficinas na Escola Municipal de Ensino Fundamental Eber Louzada Zippinotti, o
programa ainda não havia data para ser iniciado na Escola Municipal de Ensino
Fundamental Maria José Costa Moraes.
Realizou-se a caracterização da escola, da comunidade atendida pela escola e do
Programa Educação em Tempo Integral. Como houve a mudança de escola, foi
realizado dois processos de caracterização. Estes foram desenvolvidos por meio de
visita as escolas e de conversa com as coordenadoras dos Projetos em ambas as escolas.
Desse modo, foi possível conhecer a localização das escolas, o grau de ensino nas
escolas, quantidade de alunos atendidos, local de moradia dos alunos, características
sociais, econômica, culturais e ambientais da comunidade onde se localizam as escolas e
o publico que elas atendem, o objetivo e a metodologia do Programa Educação em
Tempo Integral o que motivou sua implantação. Foi possível conhecer o perfil dos
adolescentes envolvidos nas atividades de produção cartográfica identificando o local de
moradia e as características sociais, econômica, culturais e ambientais dos alunos.
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Mediante estudos e adaptações foram propostas atividades de entendimento do
processo de produção de mapas com os adolescentes. O desenvolvimento das oficinas,
cujos conteúdos trabalhados foram os conceitos de cartografia escolar, a análise de
mapas oficiais e a confecção de croquis, possibilitaram o nivelamento e o
empoderamento da linguagem por parte do grupo. A partir da metodologia apresentada
por Lima e Costa (2012) articulada a outras bibliografias foram organizadas oficinas
específicas para o mapeamento, cujos conteúdos foram adaptados de acordo com as
respostas obtidas nos levantamentos mencionados (características dos alunos e
empoderamento da linguagem).
Com a mudança de escola, devido às dificuldades em consequência da
mudança de governo no município de Vitória, identificaram-se realidades
diferentes que influenciam diretamente na produção cartográfica das crianças e
adolescentes.
Ambas as escolas são Municipais de ensino fundamental 1° ao 9° ano e a
implantação do Programa foi de sugestão da prefeitura de Vitória. Os aluno
atendidos nas duas escolas correspondem a mesma faixa etária, que vai dos 6 aos
14 anos, sendo alunos do 1° ao 8°. A metodologia consiste no desenvolvimento de
atividades de reforço escolar e atividades de caráter mais lúdicas, duas vezes por
semana não se permanece na escola, frequentando diversos espaços da cidade,
onde são desenvolvidas diferentes atividades. Alguns desses espaços são
agendados, como a Praça da Ciência e Escola de Biologia e outros são espaços fixos,
determinados pela Secretaria de Educação, chamados de Polos da prefeitura, como
o Polo Americano e Polo da Praça dos Namorados.
Há crianças que são atendidas pelo Programa em situações de vulnerabilidade
familiar. A vulnerabilidade é um conceito amplo que abrange crianças oriundas de
famílias carentes de alimento, pais apenados ou desempregados, lares em risco social ou
em condição desfavorável aos cuidados básicos, pais que trabalham o dia todo fora que
as crianças teriam que ficar sozinhas em casa. Há alunos de chamada pública,
encaminhados pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público, e também aqueles que as
famílias não acompanham, sendo esses alunos os mais difíceis de trabalhar e com os
menores rendimentos escolares.
O público atendido pela escola e a comunidade do entorno apresentam
diferenças sociais, econômicas, cultuais, politicas e ambientais muito distintas. As
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crianças e adolescentes do Programa Educação em Tempo Integral residem em sua
maioria no bairro onde a escola se localiza ou nos bairro próximos. A primeira escola
parceira (EMEF MJCM) se localiza em um bairro da periferia da cidade de Vitória e a
segunda escola parceiro (EMEF ELZ), onde as oficinas foram desenvolvidas, se localiza
em um bairro de classe media da cidade de Vitória. As crianças e adolescentes da
primeira escola apresentam todas as características definidas como de vulnerabilidade
social como motivo para permanecerem na escola no período integral. Já as crianças e
adolescentes da segunda escola, em sua maioria, são crianças que os pais trabalham
durante todo o dia e não podem ficar sozinhas em casa, ou então aquelas que não tem a
oportunidade de estarem desenvolvendo outras atividade naquela horário, como o
esporte ou um curso, sendo assim, permanecem na escola. O acompanhamento da
família também acontece de forma diferenciada nas duas escolas, sendo que a escola
EMEF MJCM este e menos presente e na escola EMEF ELZ este e mais presente.
A mudança de escola implicou em uma nova realidade, diferente da que o
projeto havia sido pensado em primeiro momento trazendo novos desafios para a
pesquisa. Mais do que o reconhecimento do perfil da escola, das crianças, adolescentes
e da comunidade do entorno, foi necessário também adaptações na linha proposta para
as oficinas. Pois, as oficinas da cartografia social objetivam dar voz aos sujeitos sociais
produtores do espaço, no caso as crianças e adolescentes, mas as vozes mudaram. Não
apenas porque a escola mudou, mas por que o mundo conhecido e desconhecido pelas
crianças e adolescentes mudou. A realidade econômica, social, politica, cultural e
ambiental mudou, assim como, os porquês de estarem fazendo parte do tempo integral.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O objetivo deste trabalho foi de discutir/refletir sobre o processo de produção de
mapas da cartografia social por adolescentes escolares dentro do Programa Educação
em Tempo Integral da Escola Municipal de Ensino Fundamental Eber Louzada
Zippinotti pertencente à Secretaria Municipal de Educação (SEME) da Prefeitura
Municipal de Vitória – ES. A metodologia proposta foi a do Projeto Nova Cartografia
Social – PNCSA apresentada por Lima e Costa (2012) onde foram organizadas oficinas
específicas para o mapeamento, cujos conteúdos foram adaptados de acordo com as
características dos alunos e o empoderamento da linguagem cartográfica.
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As oficinas da cartografia social objetivam dar voz aos sujeitos sociais
produtores do espaço, no caso as crianças e adolescentes. A socialização e o
intercâmbio dos atores das oficinas, a construção coletiva do conhecimento, o exercício
da participação e o trabalho com o cotidiano possibilitou aos escolares pensarem o
espaço em que estão inseridas, para que possam nele se organizar. As oficinas de
mapeamento participativo realizadas com os adolescentes escolares possibilitaram a
compreensão a e percepção do território vivido que é construída por meio das relações
sociais existentes entre o indivíduo e a comunidade e seu território por meio da
sobreposição de elementos culturais e territoriais.
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ESTRATÉGIAS DE ENSINAGEM: A CONTRIBUIÇÃO DAS
OFICINAS DE CLIMATOLOGIA GEOGRÁFICA NA FORMAÇÃO
CONTINUADA DE PROFESSORES E O SEU PAPEL NO ENSINO E
APRENDIZADO
Emmanuele Rodrigues Antonio1
Adriana Olívia Alves2
Malu Ítala Araújo Souza3
RESUMO
Este artigo tem como objetivo apresentar o papel das estratégias de ensinagem no ensino e
aprendizagem e sua contribuição na formação continuada de professores de geografia. Este
trabalho estando inserido em um projeto maior intitulado Elementos e Fenômenos do Clima
Urbano na Região Metropolitana de Goiânia-Go e sua Utilização no Ensino de Climatologia,
que adentra um projeto coletivo Rede de Pesquisa em Educação e Cidade - REPEC, onde se tem
como proposição a elaboração de matérias didático-pedagógicos sobre a Região Metropolitana
de Goiânia – RMG. Abordando a aplicação das oficinas com professores, e através destas
aplicações reflexões sobre a temática. Visando a busca de novas metodologias para o ensino e
aprendizado de geografia, essas podendo ajudar os professores em suas reflexões a respeito de
sua prática e podendo desenvolver no aluno um ser indagativo que possa ter entusiasmo de
aprender o conteúdo de climatologia geográfica.
Palavras-chave: Estratégias, formação continuada, climatologia geográfica.
INTRODUÇÃO
A proposta deste trabalho visa analisar as oficinas escolares como contribuição
no processo de ensino e aprendizagem, na aquisição de conhecimento do discente
através de aulas mais, interativas com um conteúdo lúdico por meio de abordagens
didáticas diferenciadas.
Sendo assim a pesquisa se desenvolve na justificativa, de busca de novas
metodologias para o ensino de geografia física, onde professores levantam várias
dificuldades de ensinar aos alunos e esses aprenderem o conteúdo, segundo dados
obtidos de Antonio e Alves (2012).
1Universidade Federal de Goiás-UFG, Instituto de Estudos Socioambientais-IESA,
[email protected] 2Universidade Federal de Goiás-UFG, Instituto de Estudos Socioambientais-IESA
[email protected] 3Universidade Federal de Goiás-UFG, Programa de Pós-Graduação em Geografia-IESA,
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Buscando a aproximação do professor a universidade, a pesquisa reflete sobre a
prática docente no intuito de desenvolver uma formação continuada com os professores
da rede pública de ensino, e possibilitar que através dessa continuidade junto ao espaço
de formação haja um pensamento reflexivo e crítico sobre a sua ação docente.
O desenvolvimento desta pesquisa em educação esta consubstanciado na
abordagem qualitativa método participativo. Sendo assim, acontece uma intervenção e
participação no processo de ensino e aprendizagem, para em outro momento ocorra à
avaliação dos resultados, tendo assim potencial de interferir no cotidiano escolar.
Para isso propomos para a execução: a) Levantamento bibliográfico acerca das
temáticas de estratégias de ensinagem, demonstração didática, técnicas de oficinas em
laboratórios, ensino de Geografia e Climatologia; b) Pesquisa de experiências didático-
pedagógica em livros de ensino de climatologia e paradidáticos; c) Elaboração de
materiais didatico-pedagogicos de climatologia; d) Contatos junto a Secretaria Estadual
de Goiás para divulgação junto aos professores da Oficina de Climatologia Escolar; e)
Aplicação de oficinas didático-pedagogicas de climatologia num grupo experimental de
professores de Geografia; f) Seleção da escola campo-campo para aplicação da Oficina
de Climatologia Escolar junto aos alunos na Escola-campo; g) Aplicação de oficinas
didático-pedagógicos de climatologia junto aos alunos na escola-campo; h) Avaliação
para verificar a eficácia e contribuição das oficinas no processo de ensino
aprendizagem.
Por fim o trabalho em apreço está em desenvolvimento, até a atual fase estamos
nos dedicando a aplicação de módulos de oficinas de climatologia junto a um grupo
focal de cinco professores com encontros mensais. Posteriormente iremos avaliar as
técnicas e o manual de oficinas junto com os professores, no intuito de desenvolver
coletivamente aspectos para o processo de ensino e aprendizagem a fim de se tornar
lúdico, mas coeso na apreensão do conteúdo significativo.
O PROJETO COLETIVO DE DINÂMICAS CLIMÁTICAS-REPEC
O projeto intitulado Elementos e Fenômenos do Clima Urbano na Região
Metropolitana de Goiânia-Go e sua Utilização no Ensino de Climatologia (financiado
FAPEG Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado de Goiás), estando inserido na
REPEC -Rede de Pesquisa em Educação e Cidade que tem como proposição a
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elaboração de materiais didáticos temáticos, entre eles destacam-se os fascículos, que
visam levar o cotidiano do aluno para a sala de aula promovendo, a maior interação
entre o conteúdo a ser ensinado, com exemplos claros do que se passa no seu bairro, em
sua cidade. O foco principal dos estudos é a Região Metropolitana de Goiânia que
abarca cerca de vinte municípios, como pode ser observado na figura 1:
MAPA DAS REGIÕES DE PLANEJAMENTO DA SECRETARIA DE
PLANEJAMENTO URBANO DA RMG.
Figura 1.
Fonte mapa: http://www.seplan.go.gov.br/sepin/pub/regplan/img/metropolitana.jpg
Cujo alvo e construir coletivamente fascículos com professores da UFG, UEG,
PUC, professores da rede de ensino básica e alunos de graduação, para o ensino público
do município de Goiânia. Neste projeto já foram produzidos quatro fascículos e dois se
encontram em processo de finalização, entre eles o de Dinâmicas Climáticas onde o
objetivo é apresentar fenômenos climáticos e suas implicações no meio urbano,
especificamente, na RMG, cuja preocupação é atender as demandas optadas pelos
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professores das escolas municipais, essas demandas sendo encontradas anteriormente
com um grupo focal.
Nesse sentido, este trabalho é parte dos resultados obtidos através da pesquisa
ligada ao projeto maior (Dinâmicas Climáticas da RMG), que visa elaborar um dos
fascículos que compõem a REPEC. O mesmo tem como intuito entender os elementos,
fenômenos e fatores climáticos presentes no clima urbano da RMG, assim como
produzir um manual didático de oficinas sobre a mesma temática.
A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES
A formação continuada de professores justifica-se devido alguns
questionamentos, pois a formação continuada possibilita o exercício de reflexão do
professor, como Perrenoud (2002, p.50) afirma, “[...] uma prática reflexiva não é apenas
uma competência a serviço dos interesses do professor, é uma expressão da consciência
do professor”.
Callai (2003), afirma que o aperfeiçoamento dos conteúdos específicos encontra-
se associado aos aspectos pedagógicos. A formação continuada desempenha papel
primordial na profissão docente, visa possibilitar o aprimoramento dos conhecimentos,
pois segundo Tardif (2000, p.07) “[...] os conhecimentos profissionais são evolutivos e
progressivos e necessitam, por conseguinte, uma formação contínua e continuada.” Esta
concepção evidencia que os saberes, técnicas e os conhecimentos científicos evoluem e
com isso o professor precisa estar em constante processo de estudo e aprimoramento,
pois no trabalho cotidiano da sala de aula, aliado aos diferentes perfis de alunos, exige
do professor o desempenho de “[...] uma variedade de habilidades ou competências
[...]”, conforme argumentado por Tardif (2000, p.15). A formação continuada de
professores possibilita conceber também um profissional reflexivo, onde este possa ter
consciência e que seja capaz de refletir suas práticas, como expõe Perrenoud (2002, p.
51), “[...] o desenvolvimento de uma prática reflexiva é aprender a obter diversos
benefícios da reflexão”. Por sua vez, esta reflexão, poderá promover a ampliação da
eficácia do ensino.
Destarte, a formação continuada do professor de Geografia, no processo de
aperfeiçoamento, conforme Callai ressalta (2003, p.31), “[...] é condição necessária para
o exercício de qualquer profissão e, no caso do professor, é muito importante refletir a
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própria prática.” Sendo assim, esse conhecimento deve estar em processo contínuo
devido algumas dificuldades encontradas nos cursos inicias, sejam eles na dimensão do
domínio de conteúdo específico, como também no plano metodológico. Alguns
professores vem apontando dificuldades em ensinar conteúdos de Geografia Física e, do
outro lado, dos alunos aprenderem os mesmos segundo, dados obtidos Antonio e Alves
(2012). Estas dificuldades podem estar relacionadas à forma ainda mnemônica que
ainda esses conteúdos do meio físico são ensinados, bem como o raciocínio de lógica
formal exigidos na abstração dos processos naturais.
Assim, a continuidade da formação dos professores, seja na forma de cursos ou
da parceria universidade – escola poderá promover a aprendizagem significativa, tanto
por parte do docente, como no aluno, onde o conteúdo passa a ter relevância, como
Moreira afirma (1999, p.11) “[...] a aprendizagem significativa ocorre quando a nova
informação “ancora-se” em conhecimentos especificamente relevantes [...] preexistentes
na estrutura cognitiva”. Nesta abordagem, o “novo” conceito tem como base um
“antigo”, que tem significado para o aluno, e assim passa a gerar outro “novo””. Assim,
o indivíduo não terá meramente uma aprendizagem mecânica como define Moreira
(1999, p.13) “[...] aquela que novas informações são apreendidas praticamente sem
interagir com conceitos relevantes existentes na estrutura cognitiva.” Sendo assim a
aprendizagem significativa tem como objetivo promover conhecimento a partir de
noções prévias do discente para ampliação na sua formação.
AS ESTRATÉGIAS DE ENSINAGEM E O PAPEL DAS OFICINAS
As estratégias de ensinagem é um conceito utilizado por alguns professores da
área de ensino para se remeter as habilidades desenvolvidas pelas técnicas de ensino e
aprendizagem. Sendo um aparato que o professor pode ter à seu favor ao ministrar as
aulas onde estas são como Anastasiou (2006) afirma como sendo “[...] a arte de aplicar
ou explorar os meios e condições favoráveis e disponíveis, com vista à consecução de
objetivos”. Verifica-se assim que esta concepção define que a estratégia é a forma pela
qual é encaminhada uma metodologia.
Onde os saberes podendo ser desenvolvidos por diferentes processos, fazendo
com que o docente possa vir como argumenta Anastasiou (2006) “[...] propor ações que
desafiem ou possibilitem o desenvolvimento das operações mentais”. Que o docente
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ouse, busque novas possibilidades, estratégias para que o aluno possa se apropriar do
conhecimento, que possa motiva-lo, mobiliza-lo gerando interesse no aluno para com o
conteúdo como nos diz Anastasiou (2006) “[...] à adoção do termo estratégia, no sentido
de estudar, selecionar e propor as melhores ferramentas facilitadoras para que os
estudantes se apropriem do conhecimento”.
Voltado para o conteúdo de climatologia geográfica, oficinas escolares podem
desempenhar papel fundamental ao relacionar o conteúdo com o cotidiano do aluno,
conforme destacado por Steinke, ao “[...] vincular aquilo que aprendemos à nossa
realidade, o interesse no assunto cresce”, (2012, p.13) Portanto, o processo de ensino e
aprendizagem se intensifica devido à motivação do professor em ensinar, que por sua
vez desencadeia alunos motivados pelas temáticas. Ao mesmo tempo, o professor passa
a incorporar as estratégias, abandonando práticas pedagógicas tradicionais, e traz
práticas inovadoras na sala de aula construindo aulas participativas e colaborativas junto
aos escolares.
As estratégias de ensinagem em climatologia geográfica – por meio da
proposição de oficinas escolares – constitui assim arcabouço teórico-metodológico para
que o professor possa desempenhar a sua arte da docência. Masseto (2003) ressalta que
estratégia é uma metodologia facilitadora e problematizadora, na medida que o
professor passa a utilizar meios em sala de aula para desenvolver a aprendizagem dos
alunos.
O papel das oficinas se desenvolve no âmbito de despertar no docente uma nova
prática. Através das estratégias de ensinagem, podendo sair da rotina da sala de aula que
muitas vezes os alunos consideram “maçante”, assim uma nova dinâmica se
estabeleceria na sala de aula. Onde ambos professor e aluno promovendo a interação,
trabalhando juntos para um melhor ensinar e aprender, o professor levando para a sala
seu saber e utilizando do conhecimento cotidiano do aluno para contextualizar o
conteúdo ministrado.
Assim a estratégia como um instrumento, ferramenta a mais para o professor
mediar o conteúdo e essa desempenhando um papel lúdico na condução do
conhecimento onde Kimura (2008) ressalta que “[...] pode existir um conceito sendo
trabalhado”. E que as estratégias possam possibilitar uma formação continuada ao
professor, o possibilitando a refletir criticamente sobre suas práticas.
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As oficinas como um apoio para reforçar a aprendizagem, pois estas por si só
não explicam o conteúdo, o professor tem que ter o domínio do conteúdo e expor esse
conhecimento anteriormente aos alunos para as oficinas serem trabalhadas com o aluno
já conhecendo o conteúdo, estas devem vir juntamente com o planejamento escolar e
apoiadas pelo conteúdo. A posição aqui defendida é que “oficina pela oficina não
resolve” a eficiência do aprendizado do conteúdo, é necessário ser trabalhado
anteriormente o conteúdo conceitual, e, concomitantemente, ser realizado uma reflexão
com os alunos.
O DESENVOLVIMENTO DO MANUAL DAS OFICINAS
O desenvolvimento do manual de oficinas adentrou o projeto da REPEC de
Dinâmicas Climáticas, que tem como principal objetivo auxiliar o professor nos
métodos de ensino. Pensa-se assim numa proposta crítica, lúdica e consciente de ensino
e aprendizagem voltado para os conteúdos de Geografia Escolar. Este trabalho parte de
uma pesquisa desenvolvida a partir da queixa de muitos professores sobre a falta de
materiais relacionados ao do ensino de Geografia Física, em especial, voltados para o
conteúdo de climatologia geográfica.
As etapas foram levantamento em livros didáticos, livros paradidáticos, revistas
e obras acadêmicas na tentativa de buscar oficinas relativas aos elementos, fenômenos e
fatores climáticos, sendo realizado um ciclo de experiências; a seleção das oficinas para
compor o manual, entre eles destacam-se o ciclo hidrológico, representação funcional
do termômetro, temperatura dos potes, radiação solar, umidade, pressão atmosférica,
efeito estufa, núcleo de condensação e painel das nuvens; nessa etapa foi iniciado o
registro de fotos dos materiais e os procedimentos passo-a-passo dos experimentos;
posteriormente o recorte das fotos e a montagem do manual; logo apos e em
continuidade a aplicação das oficinas em um curso de formação continuada com
professores da rede de ensino para avaliarem a pertinência, facilidades, dificuldades e
sugestões para o manual.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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O papel da proposta do curso de formação continuada para os docentes da rede
pública de ensino, com a apresentação de conteúdos climáticos e experiências didático-
pedagógicas, observou-se a necessidade de continuar e aprimorar os conhecimentos dos
professores referentes à formação dos conteúdos de climatologia, conhecimentos esses
que já foram introduzidos em sua formação inicial. Alguns professores demonstraram
dificuldades no domínio de conhecimentos específicos de climatologia, contudo,
apontaram o papel desempenhado pela mobilização de conteúdos conceituais e
procedimentais durante a realização das oficinas escolares, bem como o caráter de
lúdico das oficinas.
Esse curso de formação continuada possibilitou algumas reflexões, a respeito de
como os professores das possibilidades de abordagens das oficinas escolares na sala de
aula. Sobre a necessidade do domínio do conteúdo específico climático por parte do
professor; a necessidade de se incentivar a busca de uma perspectiva do professor-
pesquisador, como observa Perrrenoud (2000, p.48) “[...] que reflitam sobre sua
prática”. Ainda no âmbito das reflexões proporcionadas pelo curso, foi indagado pelos
docentes sobre as prerrogativas de que as oficinas não são um fim em si mesmas, elas
são um aporte a mais para o professor ministrar as suas aulas, ou seja, um auxílio na
condução do conteúdo geográfico. Além disso, estas estratégias de ensino devem ser
previstas no planejamento escolar, juntamente com outros elementos que compõe. Nesta
perspectiva, a estratégia de ensino por si só não promove a ampliação e significado do
conteúdo de climatologia. Há a necessidade de trabalhar esses conhecimentos
previamente com os alunos, de modo concomitante às oficinas escolares, atuando como
potencializador e facilitador da aprendizagem do conteúdo de climatologia geográfica.
REFERÊNCIAS
ANASTASIOU, Lea das Graças Camargos. ALVES, Leonir Pessati. Estratégias de
Ensinagem. In: ANASTASIOU, Lea das Graças Camargos. ALVES, Leonir Pessati.
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ANTONIO, Emmanuele Rodrigues; ALVES, Adriana Olívia. As oficinas escolares
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CALLAI, Helena Copetti. A formação do profissional de geografia. Ijuí: Ed. Unijuí,
2.ed.—2003.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4526
CALLAI, Helena Copetti. Educação geográfica: ensinar e aprender Geografia. In:
CASTELLAR, Sonia M. Vanzella; MUNHOZ, Gislaine Batista (Org.). Conhecimentos
escolares e caminhos metodológicos. São Paulo: Xamã, 2012, p.73-87.
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Editorial, 2003, p. 85-139.
MOREIRA, Marco Antônio. Aprendizagem Significativa. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 1999.
PERRENOUD, Philippe. A Prática Reflexiva no Ofício de Professor:
Profissionalização e Razão Pedagógica. Tradução: Cláudia Schilling. Porto Alegre:
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STEINKE, Ercília Torres. Climatologia fácil. São Paulo: Oficinas de Textos, 2012.
TARDIF, Maurice. Saberes profissionais dos docentes e conhecimentos
universitários: elementos para uma epistemologia da pratica profissional dos
professore e suas consequências em relação a formação para o magistério. Revista
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VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Nos laboratórios e oficinas escolares: a
demonstração didática. In: VEIGA, Ilma Passos Alencastro (org.) Técnicas de Ensino:
por que não? Campinas: Papirus, 1991, p. 139-155
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4527
PELAS PAISAGENS DE GOIÂNIA: UMA PROPOSTA PARA O
ENSINO DE CIDADE
Lívia Reis Mendes1
Johnathan dos Santos Souza2
RESUMO
Uma das preocupações da Geografia Escolar é o ensino-aprendizagem a partir da interpretação e
relação com o cotidiano do aluno. Nessa perspectiva a proposta deste trabalho é apresentar e
investigar a paisagem de Goiânia aos alunos da escola parceira do PIBID Geografia/Goiânia a
fim de aproximá-los da cidade que eles agora residem, haja vista que foi identificado por um
questionário socioeconômico que grande parte dos alunos são migrantes. A culminância deste
projeto de intervenção está prevista para o mês de junho na escola parceira. Esperamos como
resultados que os estudantes busquem, a partir das fotografias e imagens, os significados e
signos presentes nas paisagens apresentadas a fim de comparar, identificar e compreender as
transformações socioespaciais da cidade onde estão inseridos.
Palavras-chave: PIBID, Paisagem, Ensino de Cidade
INTRODUÇÃO
Ensinar Geografia na contemporaneidade implica em ensinar sobre um mundo
global, complexo e com relações cada vez mais integradas e diferenciadas. Nesta
perspectiva, o educador em geografia precisa estar atento a “homogeneização dos
espaços e da sociedade assim como a ampliação das desigualdades.” (CAVALCANTI,
p.15, 2008). Logo, o ambiente escolar reúne essas características, os alunos como
sujeitos sociais carregam em si marcas do fenômeno da globalização em suas trajetórias,
em suas práticas cotidianas e em seus modos de vidas.
Outro fenômeno apontado por Cavalcanti (2008) é a urbanização, que considera
as cidades como “expressões da complexidade e da diversidade da experiência humana”
(p.17). Nos colocamos então, na situação de ensinar a Geografia a esses alunos da rede
básica a fim de torná-los cidadãos competentes a leitura do mundo.
Com esse intuito o PIBID Geografia/UFG/Goiânia, procura em suas ações na
escola parceira (Colégio Estadual Jardim Balneário Meia Ponte), aproximar os alunos
de discussões que os capacitem a observar, interpretar, e problematizar o mundo em que
1 Instituto de Estudos Socioambientais – IESA/UFG, Bolsista CAPES/PIBID, [email protected]
2 Graduado em Geografia Licenciatura pelo IESA/UFG, [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4528
os cerca. Sobre isso Callai (2012) argumenta sobre as aulas de Geografia, que cabe ao
professor:
Trabalhar essa realidade de modo que o aluno se entenda como um
sujeito que está dentro dessa realidade que vive nesse mundo de
contradições e desafios que o esperam. E o passo adiante seria que ele
conseguisse entender que é responsável pela construção desse mundo
em que vive [...].p. 74.
Buscando pautar-se nesse raciocínio o projeto de intervenção que nos
propusemos a narrar neste trabalho, se dedica a despertar nos alunos da Escola parceira
do PIBID/Geografia, um olhar interpretativo e investigativo diante da cidade de
Goiânia. Trabalharemos especialmente com as categorias Paisagem e Lugar, pois
utilizaremos como recurso metodológico imagens e fotografias de Goiânia. Partiremos
do principio de que a paisagem é reveladora do lugar. É com a análise e discussão das
imagens que pretendemos tratar da construção da cidade, imaginário, memória
simbólica, usos e ocupações da cidade etc.
Como aporte teórico nos basearemos nas autoras, CAVALCANTI, (2008), e
CALLAI (2012), para tratamos do Ensino de Geografia partindo da Cidade e de suas
considerações sobre os conceitos de Paisagem e Lugar.
O trabalho dividiu-se em 3 partes. Primeiramente, contextualizaremos a escola
parceira, o grupo do PIBID, a justificativa e o objetivo da atividade de intervenção. No
segundo momento, narraremos a metodologia, e a construção da atividade com base nas
concepções de paisagem e lugar. Por fim, debatermos sobre os resultados esperados da
intervenção.
O PIBID EM AÇÃO NA ESCOLA PARCEIRA
O PIBID, Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, é um
programa financiado pela CAPES do qual o curso de licenciatura em Geografia do
Instituto de Estudos Socioambientais – IESA/UFG participa desde 2011. São 6 bolsistas
graduandos, 1 professor supervisor da Educação Básica com formação em Geografia e 1
professora coordenadora membro do corpo docente da área de licenciatura do IESA.
O PIBID visa a intervenção e participação dos graduando dos cursos de
licenciatura no ambiente escolar, de modo a potencializar a formação inicial do futuro
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4529
educador aproximando-o da realidade da escola pública, com ênfase no Ensino Médio,
de modo a auxiliar também no melhoramento das aulas e dos índices nessa fase da
formação básica. Para isso, o programa conta com a parceria com escolas da rede
estadual, no caso do PIBID Geografia/UFG campus Goiânia a escola parceira é o
Colégio Estadual Balneário Jardim Meia Ponte.
Nessa escola o PIBID começou a atuar desde fevereiro de 2013. Juntamente com
a observação e reconhecimento do ambiente da escola, a equipe do PIBID se preocupou
em conhecer o público atendido na escola, dando ênfase as turmas da 3ª série do Ensino
Médio (E.M.). Para isso, foi aplicado um questionário sobre dados socioeconômicos. Na
análise dos questionários identificou-se uma expressiva quantidade de migrantes entre
os alunos do matutino e noturno das turmas de 3ª série do E.M.
A escola parceira localiza-se na Região Norte de Goiânia, esta, por sua vez,
esteve desde a criação de Goiânia às margens do desenvolvimento dessa metrópole
regional. A expansão da cidade sempre se conduziu a uma expansão sulista. Hoje o que
se vê é o caminho contrário por conta do estrangulamento da expansão em direção ao
norte da cidade. Por conta da união desta parte da cidade a outros municípios da Região
Metropolitana de Goiânia (RMG), a Região Norte está vivendo um momento de grande
expansão imobiliária e dos setores secundário e terciário. A instalação de indústrias,
empreendimentos imobiliários e setores de serviço (um grande shopping está em
construção) impulsionou a migração de sujeitos vindos de outros Estados,
predominantemente, do Norte e Nordeste do país.
Aliando os dados do questionário à expansão da Região Norte e ao conteúdo
previsto pelo Currículo Referência fornecido pela Secretaria de Educação do Estado de
Goiás que anunciava a temática de Migração para ser trabalhada no 2º Bimestre da 3ª
série, essa foi escolhida para o desenvolvimento de atividades e ações do PIBID junto
aos alunos da 3ª série do E.M.
Esses foram os fatores determinantes a elaboração deste projeto de intervenção,
que busca despertar o interesse do público escolar para conhecerem as paisagens
goianas, a fim de identificarem e explorarem as formas e aparências que carregam
sentidos e significados, além de conhecerem a história da cidade da qual estão inseridos.
PAISAGENS DE GOIÂNIA: CONHECENDO E INTERPRETANDO A CIDADE
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4530
Para a elaboração do projeto intitulado “Pelas paisagens de Goiânia” partimos,
principalmente, dos conceitos de Cidade, Paisagem, e Lugar. Neste sentido, nos
amparamos na interpretação desses conceitos a partir de Cavalcanti (2008). Como
utilizaremos as imagens e fotografias de Goiânia como recurso metodológico, a
categoria e conceito central para a atividade é a Paisagem, pois ela trata “da dimensão
das formas que expressam o movimento da sociedade [...] são assim, expressões
técnicas, funcionais e estéticas da sociedade. São também dinâmicas e históricas, já que
se trata de expressões de movimentos da sociedade.” (CAVALCANTI, 2008, p. 52.)
A fotografia e a imagem se tornam recursos valiosos para o desenvolvimento
desse trabalho, além de contribuir para o ensino da Geografia. Dantas e Morais (2007)
argumentando sobre a importância da fotografia nos falam que:
A fotografia como uma imagem congelada, se apresenta para o
professor de geografia como uma revelação do que foi anteriormente
anunciado, ou seja, o que vemos é a persistência do passado que
atravessa o ritmo do presente, sendo o encontro dos tempos o campo
de experimentação do geógrafo.
Já para BERGER apud DANTAS e MORAIS a imagem ao ser trabalhada no
ensino se torna:
Uma espécie de carimbo existencial que acompanha o educador em
seu oficio, mesmo que não faça parte do seu repertório de ações e
reflexões no exercício de leitura do mundo. A imagem ultrapassa o
código da escrita e se instaura no seio do processo educativo, trazendo
à superfície o que já se sabia, mas pouco se explorava, ou seja, o fato
de que “ver precede as palavras”. E mais: “o ato de ver estabelece
nosso lugar no mundo circundante” (BERGER, 1999, p. 9),
influenciado pela forma como vemos e cremos.
Percebemos que ambos os autores concordam que o Ensino de Geografia tendo
o auxílio dessas ferramentas permite o desenvolvimento nos estudantes da capacidade
de olhar, analisar, e interpretar, e compreender as imagens das quais estão inseridos,
pois essas carregam signos e significações do passado, e do presente. Para as autoras “as
estratégias do olhar comportam as operações mentais de separar para religar, distinguir
para contextualizar, num movimento que contém ordem, desordem e reorganização das
idéias, do pensamento e do sujeito”. (DANTAS e MORAIS, 2007).
Assim, as imagens permitem ao sujeito uma interpretação geográfica acerca de
determinados processos espaciais. Em um primeiro momento esse terá uma visão
panorâmica, e no segundo momento a reflexão das sensações como curiosidade,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4531
indiferença, entre outras. Para o professor isso permitirá fazer a “seleção de imagens
que fará parte do repertório de questões problematizadoras no conteúdo geográfico”.
(DANTAS e MORAIS, 2007).
Com base nessa noção foi feita uma busca de imagens e fotografias da cidade de
Goiânia em livros, jornais, revistas eletrônicas e websites a fim de selecionar imagens
históricas e representativas da cidade, com o intuito de apresentar (àqueles que ainda
não conhecem) e discutir sobre o simbólico presente na paisagem, além de resgatar a
memória instalada nessas paisagens. Foram selecionadas 15 fotos que destacam as
principais avenidas da cidade, monumentos e prédios históricos e parques.
As fotografias e imagens de paisagens serão expostas a fim de explicitar aos
alunos a lógica de ocupação da cidade de Goiânia, demonstrando a eles que as formas e
símbolos são construções que levam em conta questões de ordem políticas e
econômicas. Ou seja, toda a estrutura da cidade tem uma razão de ser.
Com o objetivo de apresentar essas paisagens como motivadoras das discussões
propôs-se uma sala interativa expositiva. A ideia é tornar a sala interativa em uma sala
museu, com visita orientada e acompanhada, em que o aluno percorrerá o interior dessa
que terá as paisagens afixadas nas paredes. Além disso, terá sua culminância no dia 11
de junho, dia escolhido para ser o Dia do PIBID na Escola, ação conjunta dos PIBIDs
(Geografia, Letras/Espanhol e Ciências Sociais) que atuam na escola parceira. Neste dia
serão apresentados resultados dos projetos, exposições, atividades motivadoras de
discussões e apresentações culturais.
Na sala “Pelas Paisagens de Goiânia” serão, num primeiro momento,
apresentados os trabalhos dos alunos executados em sala de aula como proposta do
PIBID com a temática migração, que são as releituras da obra Os retirantes de Cândido
Portinari, e um painel construído com base na leitura de um trecho do livro Vida Secas
de Graciliano Ramos.
Após a exposição dos trabalhos executados pelos próprios alunos, a equipe do
PIBID se responsabilizará por apresentar as fotografias a fim de direcionar o olhar dos
estudantes para as paisagens urbanas de Goiânia, com o intuito de despertar o olhar
geográfico às formas e símbolos presentes e imbricados no espaço urbano que é,
sobretudo, uma construção social e política.
Todos os alunos do turno matutino (todos do Ensino Médio) poderão transitar
pelas salas interativas apresentadas no Colégio. A atividade terá a duração de uma hora
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4532
e meia, dividida em três períodos. Ou seja, a cada meia hora será possível a mudança de
sala, logo as discussões serão feitas em meia hora para que se possa fazer o rodízio de
alunos.
RESULTADOS ESPERADOS
Ao final da execução do projeto de intervenção, espera-se despertar nos alunos
da escola parceira o interesse pela temática da leitura da paisagem para compreensão do
espaço geográfico. Partindo da cidade, que é um lugar de vivência e constante
relacionamento de seus habitantes, busca-se fazer com que os alunos percebam que a
cidade é dinâmica e muitos são os processos que juntos fazem da paisagem urbana o
que ela é. Segundo CAVALCANTI (2008) “A cidade é um espaço geográfico, é um
conjunto de objetos e ações; contudo, ela expressa esse espaço como lugar de existência
das pessoas, e não apenas como um arranjo de objetos, tecnicamente orientado.” p.66
A atividade é apenas motivadora para discussões mais complexas e elaboradas,
espera-se que, a partir dela, seja possível desenvolver outros trabalhados com a temática
da cidade como ponto de partida para a compreensão da Geografia como mais que
meramente uma disciplina, mas como uma ferramenta para transformação da realidade
posta.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CALLAI, Helena Copetti. Educação Geográfica: Ensinar e Aprender Geografia. In:
Conhecimentos Escolares e Caminhos Metodológicos. CASTELLAR, S. M. V. et al. –
São Paulo: Xamã, 2012.
CAVALCANTI, Lana de Souza. A Geografia Escolar e a Cidade: Ensaio sobre o
Ensino de Geografia para a Vida Urbana Cotidiana. – Campinas, SP: Papirus, 2008.
DANTAS, Eugênia Maria. MORAIS, Ione Rodrigues Diniz. O ensino de Geografia e a
Imagem: universo de possibilidades. In: IX Colóquio Internacional de Geocrítica. 2007.
Porto Alegre. Actas del Coloquio. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Disponível em: http://www.ub.edu/geocrit/9porto/eugenia.htm Acesso em: 30 de maio
de 2013.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4533
RECURSOS MIDIATICOS: NOVAS POSSIBILIDADES NO
ENSINO DE GEOGRAFIA
INGRID INEZ DOS SANTOS AMARAL – IFPA1
BRENO BEM HUR MACEDO ALVES – IFPA2
JEANINE DOS SANTOS AMARAL- IFPA3
VANESSA NAZARETH DA COSTA – IFPA4
RESUMO
Assistimos nas últimas décadas do século XX, grandes mudanças no cenário mundial, tanto no
campo das políticas, economia, cultura, ciência e tecnologia. O fenômeno da globalização
trouxe para nossas vidas grandes transformações tecnológicas que acabaram por modificar a
nossa forma de viver. As informações percorrem o globo em frações de segundos, a sociedade
vivencia a era da informação, fazendo com que o mundo inteiro tenha capacidade de inteirar-se
perante os acontecimentos globais. Na sala de aula este acontecimento não poderia ser diferente
e não surtiria menos efeito que em qualquer outro seguimento da sociedade. O professor do
século XXI tem um grande desafio que seria o de unir todas essas transformações do mundo
globalizado com a sua disciplina, eis que surge uma nova forma de levar o conhecimento a
partir da utilização de recursos midiáticos.
Palavras-chave: Geografia, Recursos midiáticos.
INTRODUÇÃO
A finalidade desse artigo é falar das transformações que ocorreram no mundo
que acabou por fazer uma grande transformação tanto na ciência geográfica quanto nas
escolas do mundo inteiro. A globalização trouxe para nossas vidas a tecnologia e o
surgimento de novas possibilidades. O professor se insere hoje em um mundo com
grandes e diferentes possibilidades de levar o conhecimento aos seus alunos.
Através de uma pesquisa realizada em trabalho de campo com alunos e
professores do Ensino médio em Outubro de 2011 em uma escola pública estadual da
periferia de Belém do Pará, constatamos que as aulas que tiveram o auxílio dos recursos
midiáticos se tornaram mais atrativas para os alunos e também para o professor, os
alunos se apresentaram mais interessados nas aulas e mais dispostos a receber as
informações repassadas.
1 Alunos do curso de Licenciatura Plena em Geografia. [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4534
Para a realização deste trabalho nos apoiamos em referenciais concernentes ao
uso de novas tecnologias no sistema educacional como amparo para a fundamentação
teórica. Todavia não defendemos o livre uso de recursos midiáticos nas aulas sem um
amparo pela parte do professor, pois este deve ser utilizado como uma ferramenta para a
melhoria na qualidade do aprendizado dos alunos.
TRAJETORIAS DA EDUCAÇÃO
Assistimos nas últimas décadas do século XX, grandes mudanças no cenário
mundial, tanto no campo das políticas, economia, cultura, ciência e tecnologia. O
fenômeno da globalização trouxe para nossas vidas grandes transformações
tecnológicas que acabaram por modificar a nossa forma de viver. A III Revolução
técnico-cientifica ampliou os horizontes da comunicação, encurtando fronteiras e
diminuindo o tempo sobe o espaço. Hoje as informações percorrem o globo em frações
de segundos, a sociedade vivencia a era da informação, fazendo com que o mundo
inteiro tenha capacidade de inteirar-se perante os acontecimentos globais.
Essas grandes transformações pela qual o mundo passou a partir dos anos 1970,
transformou profundamente a vida das pessoas impondo novos comportamentos. Essas
mudanças chegaram ao mesmo tempo nas salas de aula, exigindo de seus gestores e
professores novas metodologias, novas formas de repassar o conteúdo, contudo,
devemos dar a devida importância a essa nova fase na qual a escola estar inserida.
Conforme Gadotti (19++) “(...) o processo da globalização está mudando a política, a
economia, a cultura, a história e, portanto, também a educação. É um tema que deve ser
enfocado sob vários prismas(...)”. De acordo o diretor geral da Unesco numa palestra
realizada em Bruxelas em 2001:
A educação deixou de ser apenas um direito fundamental consagrado
na Declaração Universal dos Direitos Humanos, a que todo ser
humano pode aspirar, legitimamente, para a sua realização pessoal.
Ela passou a ser precondição essencial para qualquer tipo de
desenvolvimento, para a redução da taxa de desemprego e da pobreza,
para o progresso social e cultural, para a promoção de valores
democráticos e para o estabelecimento de uma paz duradoura.
A educação é vista hoje como condição de desenvolvimento, portanto de direito
a todos. Devemos visar sempre a melhoria na qualidade de ensino, para que a educação
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4535
realmente possa surgir efeito na população, fazendo assim a melhoria na qualidade de
vida e quem sabe estabelecer uma paz duradora, conforme a citação a cima.
Um dos papéis da escola no século XXI talvez seja o de “(...) desvendar o seu
papel frente às necessidades das crianças e dos jovens no mundo midiático(...)”
(MOREIRA E ULHÔA, 2009), e também cuidar da “formação do ser humano em sua
plenitude” (VESENTINI, 2009). Mas, afinal de contas o que seria a escola do século
XXI?
O contexto no qual a escola dos dias atuais está inserida é muito diferente das de
outros tempos, pois sabemos que, de acordo com VISENTINI (2009), a escola moderna
atual nasceu com a revolução industrial juntamente com a formação dos estados
nacionais no século XIX, em que o seu estudo era voltado “(...) basicamente, para
inculcar a ideologia nacionalista e preparar os jovens para a economia de mercado em
expansão (...)”. As primeiras escolas públicas surgiram em alguns lugares da Europa,
EUA e Japão, lugares estes que sentiram efeito da primeira revolução industrial e com
isso a necessidade de um certo estudo à população que teve que adotar hábitos como a
manipulação de dinheiro, por exemplo.
As escolas do século XX continuaram com a base de antes, porém
acrescentando a formação técnica aos seus estudos. Ambas as escolas visavam os
conceitos e as informações ao invés das competências, habilidades ou as atitudes dos
alunos. Neste período o mais importante era alfabetizar a população.
O atual momento que vivemos é marcado pela expansão da terceira revolução
industrial, assistimos a constante ampliação de diversos setores da indústria,
informática, robótica e etc. O mercado de trabalho tornou-se muito mais exigente, tem
preferência por uma mão-de-obra altamente qualificada, as competências e habilidades
das pessoas são importantíssimos. Este é o contexto no qual a escola da atualidade se
insere:
O sistema escolar moderno não surgiu por acaso e muitos menos
foi pensado e iniciado a partir de baixo, dos interesses dos
dominados ou dos excluídos. Ele foi construído por cima, pelo
Estado instrumentalizado (...) o sistema escolar, portanto foi e
ainda é funcional e até estratégico para a reprodução da
sociedade capitalista ou moderna (...) a escola também é um
instrumento de libertação. Ela contribui – em maior ou menor
escala, dependendo de suas especificidades – para aprimorar ou
expandir a cidadania, para desenvolver o raciocínio, a
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4536
criatividade e o pensamento crítico das pessoas, sem os quais
não se constrói qualquer projeto de libertação, seja individual ou
coletivo (VISENTINI, 2011).
GEOGRAFIA E DUCAÇÃO NO SÉCULO XXI: NOVAS POSSIBILIDADES.
A geografia na antiguidade servia basicamente para a descrição dos lugares
desconhecidos e fazia um registro cartográfico dos povos que encontrava. O geógrafo
detinha importantes informações que auxiliava de forma estratégica o Estado, os
comerciantes e os viajantes. Em 1569 surge o planisfério de Mercator mostrando o
globo com linhas imaginarias e os continente, esse descoberta sustentou a plotagem do
movimento dos céus na superfície do planeta, serviu de base para a matematização da
natureza e a divisão terrestre em fusos horários MOREIRA (2011).
O século XVIII é marcado pela revolução industrial, o geografo foi útil para
fazer o mapeamento do mundo com localizações mais precisas, “(...) a geografia
transforma-se então na ciência dos grandes espaços e o geógrafo num especialista em
teoria e prática das localizações (...)” MOREIRA (2011).
No século XIX a geografia se volta para um amplo conhecimento do homem
com o meio no qual sobrevive. Tem-se uma necessidade de melhor organização do
espaço. O século XX “(...)consagra a ciência geográfica como a ciência do espaço e o
geografo como o especialista de sua organização(...)” MOREIRA (2011).
Após a segunda guerra mundial podemos perceber um mundo completamente
modificado, passamos por um acelerado processo de globalização, isso trouxe mudanças
significativas na geografia. A III Revolução técnico-cientifica ampliou os horizontes da
comunicação, encurtando fronteiras e diminuindo o tempo sobe o espaço. Hoje as
informações percorrem o globo em frações de segundos, a sociedade vivencia a era da
informação, fazendo com que o mundo inteiro tenha capacidade de inteirar-se perante
os acontecimentos globais. A escola não deve ficar fora deste processo, deve trazer a
tecnologia para dentro da sala de aula, fazendo com que o aluno tenha contato com ela,
tornando desta forma até a aula mais interessante.
Diante desse estágio espaço-temporal a sociedade moderna demanda
por uma nova Geografia que possibilite ao educando diferentes
entendimentos do território em movimento. Com isso, novas formas
de se ensinar e aprender Geografia passa a valorizar a apropriação de
um saber reflexivo e competente que dê autonomia ao indivíduo para
tornar-se contextualizador e crítico – ao mesmo tempo competitivo
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4537
dentro do mundo de trabalho. (PEREIRA, ARAUJO E HOLANDA,
2011)
A Geografia trabalha com diferentes tipos de imagens, mapas, gráficos e etc. O
professor do século XXI deve usar diversas formas de linguagens, tornando assim os
alunos mais motivados nas salas de aulas para buscarem os seus entendimentos acerca
dos fenômenos estudados, conforme VISENTINI (2009):
(...) a escola – e não apenas o ensino da geografia – indicada para este
novo século, para o mundo globalizado da revolução técnico-
científica, não é aquela que dá receitas, conceitos e muito menos
“macetes” ou modelos prontos (...) a escola deve se preocupar com a
cidadania ativa (...) com indivíduos que pensem por conta própria, que
aprendam determinadas competências, habilidades e inteligências
múltiplas apropriadas para uma sociedade democrática e pluralista. O
bom mestre não é o que doutrina os alunos para que eles adotem as
suas posições político-ideológicas. Pelo contrário, é aquele que auxilia
para que o jovem se torne um igual, um ser autônomo, enfim um
cidadão que tem as suas próprias opiniões que, em muitos casos, sem
dúvida que podem – ou até devem – contrariar aquelas do
professor(...)
CONSTATAÇÃO EM TRABALHO DE CAMPO
A partir do trabalho de campo realizado na disciplina Vivencia na Pratica
Educativa IV em uma escola da periferia de Belém, podemos perceber que os alunos
nas aulas que tinham recursos midiáticos se mostravam mais participativos e também
mais receptíveis ao conhecimento. Fizemos um levantamento com 245 alunos de cinco
turmas do ensino médio, foi feita a pergunta: Em relação ao professor A e ao professor
B5, qual aula você gostou mais nos últimos meses? A resposta se encontra na tabela
abaixo:
Tabela 01.
PROFESSOR (A) PROFESSOR (B)
92% DAS ESCOLHAS 5% DAS ESCOLHAS
Respectivamente o primeiro professor nos dois últimos meses iniciou uma nova
metodologia na sala de aula, na primeira aula ele fez todo um cronograma das aulas
5 Optamos nesta pesquisa em não citar o nome dos professores, iremos chama-los sempre por professor A
e professor B.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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futuras, contendo os assuntos e de que forma seria a metodologia abordada nas aulas.
Ele passou a trabalhar com os alunos os telejornais, variados vídeos e a música e o
recurso era o Datashow. Ao termino de cada atividade, reunia os educandos em rodas e
fazia uma explanação do assunto abordado e a sua relação com a Geografia.
Em conversas com alguns alunos, eles nos disseram que era muito bom a
iniciativa do professor, pois os alunos já saberiam o que iriam estudar nas próximas
aulas. Com o passar de algumas semanas, em três turmas percebemos a iniciativa dos
próprios alunos, pois alguns deles já chegavam na sala de aula com a letra de alguma
música e até mesmo vídeos da internet.
Percebemos um maior números de alunos presentes na sala de aula. Alunos que
costumavam faltar com uma certa frequência passaram a frequentar mais as aulas de
Geografia. Os alunos faziam mais perguntas, e começaram a fazer as atividades para
casa e com um grande aproveitamento.
E relação ao professor B, este continuou as suas atividades de forma corriqueira
e sem mudanças. Os alunos das turmas em que este professor lecionava continuaram na
mesma, o desinteresse era grande, alguns alunos siam da sala apenas na aula deste
professor, estes eram mais calados e sem grandes questionamentos.
A diferença entre os dois professores foi muito grande, e apenas em um curto
espaço de tempo que foi o de dois meses podemos sentir já grandes mudanças nas salas
de aula. O recurso midiático é de fácil e boa aceitação entre os alunos, torna a aula
diversificada, quebrando a rotina da lousa-livro-caderno. Concordamos com Martins
(2002):
(...) pode-se observar que o campo das formas musicais é
verdadeiramente fértil e de fácil assimilação, portanto útil para o
trabalho do professor que deseja renovar, dinamizar e buscar maior
eficiência de aprendizado em seu modo de explicar a matéria.
As músicas foram muito utilizadas nas aulas em que falavam sobre o
período da ditadura militar no Brasil, estas ganharam uma certa dinamização, os alunos
aceitaram o assunto com grande facilidade. Segundo o Professor A, “a música pode
despertar um outro lado no educando, uma lado mais sentimental, a música nos faz ter
várias sensações ao mesmo tempo e aplicando esse recurso na escola, o conteúdo se
torna mais simplificado para o professor... com certeza continuarei usando esse recurso
nas minhas próximas aulas (...) “. De acordo com COSTA (2000):
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4539
(...) uma das vantagens de se utilizar a música na Geografia se afirma
na pluralidade de assuntos abordados por esta ciência. Violência,
guerras, conflitos raciais, fome, falta de infraestrutura nas cidades,
belezas naturais, e degradação ao meio ambiente, fazem parte dos
temas abordados por muitos compositores.
Portanto o ensino de Geografia no século XXI pode ser objetivo e dinamizado e
atrativo aos alunos ao mesmo tempo, devemos deixar o aluno refletir sobre as questões
abordadas na escola. Temos que dar uma especial atenção a globalização, pois ela estar
presente em nossas vidas em tempo integral. Temos que aceitar que os alunos de hoje
estão inseridos nesse processo.
Nessa busca por novas formas de ensinar, de modo a envolver o aluno
nesse processo de ensino-aprendizagem, favorecendo sua participação
em sala, é possível pensar que a utilização de recursos áudios-visuais
se torna um instrumental que contribui para a aprendizagem. Por ser
um recurso didático que pode ser utilizado por todas as áreas do
currículo escolar, favorecendo uma abordagem geográfica.
(BANHARA, 2008).
CONCLUSÃO
Os resultados obtidos a partir de dados colhidos no trabalho de campo e pela
análise da participação de alunos, concluímos que a utilização de tecnologias/ recursos
midiáticos é um recurso no qual os jovens tem grande afinidade e aceitação na sala de
aula, justamente porque é algo que eles utilizam em seus dia-a-dia, percebem o real
motivo de se estar estudando o conteúdo passando a dar mais importância aos estudos.
O uso desses recursos podem trazer grandes resultados para a educação, e até
mesmo pode a vir combater a evasão escolar, pois as aulas ficam mais animadoras para
os educandos e chegando a facilitar o conhecimento a partir de simples exemplos.
Acreditamos que a escola deva acompanhar as transformações pelo qual a nossa
sociedade vem passando, pois a tecnologia se apresenta com efeitos positivos na escola,
claro, desde que aja uma preparação ao profissional que fará uso do recurso.
A internet se encontra hoje com uma certa facilidade aos jovens, precisamos
extinguir neles a vontade de pesquisar e encontrar outras formas para se estudar, não
utilizar a internet apenas para diversão mas também como uma grande ferramenta para
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4540
o estudo, pois nela podemos ter acesso a muita informação que geralmente é cobrada
nos grandes vestibulares e no ENEM.
Porém sabemos que não é a tecnologia ou a internet por si só que irá resolver
todos os problemas que passa a educação neste país, ela pode colaborar no processo.
Nos alunos de licenciatura, percebemos que nos falta informações e até mesmo a
preparação para utilizarmos essas ferramentas nos colégios.
O futuro professor deve entender que não se educa apenas por educar, mas
educamos os jovens para a vida, as vezes por falta de oportunidades ou de subsídios
muitos jovens não chegam ao ensino superior. Contudo, devemos acreditar na educação
como uma pratica para a liberdade. Precisamos desenvolver capacidades, habilidade e
competências, pois necessitamos vivenciar várias formas de aprendizado. Levando em
consideração que vivemos em uma era de tecnologia onde conhecimento e informação
estão em todos os lugares e em tempo real.
Diante disso o professor torna-se cada vez menos o proprietário do
conhecimento e de saberes inerente ao seu conteúdo de sua disciplina, pois o educando
busca o conhecimento em diferentes lugares.Com isso o professor deve desenvolver
novas capacidades motoras, emocionais e cognitivas, para então formar habilidades e
competências para um melhor aproveitamento desses alunos tanto da educação infantil
ao ensino superior, fazendo que este aluno realmente venha adquirir o conhecimento. O
professor deve ser o facilitador do conhecimento, e diante das dificuldades do novo
tempo, deve aplicar novas metodologias. As escolas tem uma papel fundamental neste
novo processo do ensino, a capacidade do aluno depende muito da escola e do
professor.
REFERÊNCIAS.
BANHARA, G. D. A utilização das Novas Tecnologias no Ensino de Geografia.
Caderno de Geografia , Belo Horizonte, v.14, n.23, p. 103-111, 2º sem.2004.
GADOTTI, M. Perspectivas Atuais da Educação. São Paulo, SP.
Koichiro Matsura, apud WERTHEN, Jorge. Educação e desenvolvimento. In:
www.unesco.org.br/noticias/opiniao/artigow/2003/ed_e_desenv/mostra_documento,
MOREIRA, S. A. G.; ULHÔA, L. M. Ensino em Geografia: Desafios à Prática Docente
na Atualidade. Uberlândia, MG: Revista da Católica, v. 1, n. 2, p. 69-80, 2009.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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MOREIRA, R. Pensar e Ser em Geografia: ensaios de história, epistemologia e
ontologia do espaço geográfico. 2° ed. São Paulo: Contexto, 2011.
PEREIRA, F. L. F.; ARAUJO, S. L.; HOLANDA, V. C. C. As Novas Formas de
Ensinar e Aprender Geografia: os jogos eletrônicos como ferramenta metodológica no
ensino de geografia. Geosaberes, Fortaleza, v. 2, n. 3, p. 34-47, jan. / jul. 2011.
VESENTINI, J. W. Repensando a geografia escolar para o século XXI. São Paulo:
Plêiade, 2009.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4542
POR UM ENSINO DE UMA GEOGRAFIA INOVADORA E EFICAZ
Maria Tereza Alves Pereira1
Maria Lissandra Silva2
Jorismar Pereira Cruz3
Cármen Cássia Velloso e Silva4
RESUMO
Dentre as diversas vantagens de participar do subprojeto Conversando com a Geografia através
de desenhos animados: uma estratégia divertida do Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação a Docência – PIBID/Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES/
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-CAPES está a possibilidade de
trocas de experiências entre os professores da Educação Básica e a academia. O contato direto
com o professor regente irá propiciar aos acadêmicos experiências positivas resultando em um
trabalho dinâmico e inovador. As ações propostas no subprojeto irão contribuir para aproximar
as aulas de Geografia à realidade do aluno, uma vez que, os desenhos animados fazem parte do
cotidiano dos mesmos e apresenta uma gama de recursos tecnológicos capazes de tornar as aulas
mais dinâmicas e atrativas, neste contexto este trabalho tem como objetivo apresentar resultados
parciais das atividades desenvolvidas na escola parceira do já mencionado subprojeto. Como
metodologia ocorreu a análise dos planos de ensino dos professores para posterior seleção de
desenhos animados a fim de adequar cada enredo do filme conforme o conteúdo da série
contemplada. Os acadêmicos tiveram a oportunidade de conviver com a realidade da escola
pública ampliando seus conhecimentos e estimulando o gosto pela licenciatura.
Palavras-chaves: Desenhos animados. Geografia. Educação Básica.
INTRODUÇÃO
Entendemos que o PIBID/Unimontes/CAPES veio estreitar as relações entre
universidade e Educação Básica desta forma constituindo um importante viés de trocas
1 Professora da Educação Básica supervisora e bolsista do subprojeto Conversando com a Geografia
através de desenhos animados: uma estratégia divertida do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
a Docência – PIBID/Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES/ Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-CAPES. [email protected] 2 Professora da Educação Básica supervisora e bolsista do subprojeto Conversando com a Geografia
através de desenhos animados: uma estratégia divertida do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
a Docência – PIBID/Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES/ Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-CAPES. [email protected] 3 Professor da Educação Básica supervisor e bolsista do subprojeto Conversando com a Geografia
através de desenhos animados: uma estratégia divertida do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
a Docência – PIBID/Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES/ Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-CAPES. [email protected] 4 Professora Pesquisadora Laboratório de Educação Geográfica do Departamento de Geociências da
Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES Mestre em educação. Coordenadora do
subprojeto de PIBID Conversando com a Geografia através de desenhos animados: uma estratégia
divertida. e-mail: [email protected].
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4543
de experiências, conhecimentos, pesquisas onde os acadêmicos da licenciatura são
inseridos nas atividades da escola permitindo assim um conhecimento prévio do
ambiente onde futuramente irão atuar. Para que isso aconteça de maneira eficaz torna-se
essencial que a escola parceira envolva e abrace realmente o proposto no subprojeto.
As ações contidas no presente subprojeto constituem em uma importante
contribuição para a introdução de metodologias que aproximem as aulas de Geografia
do cotidiano dos alunos. Com a evolução dos meios de comunicação os jovens, alunos
do ensino fundamental, estão em contato com um mundo recheado de efeitos especiais
proporcionados pelas mídias assim propomos assessorar os professores na introdução
desses recursos tornando assim as aulas de Geografia dotadas de inovações e eficácia.
A sobrecarga de trabalho do professor aliada muitas vezes as dificuldades com o
domínio das tecnologias faz com que ele muitas vezes deixe de lado as metodologias e
recursos que demandem um maior planejamento, limitando o trabalho ao uso do livro
didático. Muitas vezes o livro didático até sugere o uso de alguns filmes, mas pelos
motivos já apresentados, o professor não se utiliza deles.
PONTUANDO INTERVENÇÕES NA ESCOLA ESTADUAL AMÉRICO
MARTINS
No tocante ao ensino de Geografia o subprojeto: Conversando com a Geografia
através de desenhos animados: Uma estratégia divertida realizou algumas intervenções
nas aulas de Geografia bem como na escola parceira, com a finalidade de despertar
interesse, proporcionar o ensino-aprendizagem de maneira prazerosa e lúdica
favorecendo um olhar mais crítico sob o meio escolar como um todo, permitindo
também estreitar relações de convivência saudável, afetiva, comprometimento e de
responsabilidade entre alunos e profissionais.
Dentre as diversões ações resultantes das atividades desenvolvidas por parte dos
bolsistas do mencionado subprojeto vale destacar a criação de um blogger.
Com os efeitos da Revolução Técnico-Científica as informações e produtos
circularam com muita rapidez. Diante de um computador conectado a internet qualquer
indivíduo preparado adequadamente pode ter acesso ao mundo desde à museus, jornais,
revistas, livros até comunicar-se com amigos independente do lugar que se encontre.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4544
Não podemos pensar que estas facilidades não estão influenciando a educação de modo
intenso.
CRIAÇÃO DE UM BLOGGER
Neste contexto é que foi criado o blogger Animando a Geografia com Desenhos
Animados por um professor supervisor do subprojeto já mencionado. O blogger permite
socializar e discutir as ações realizadas por acadêmicos e professores integrantes do
subprojeto. Dentre estas a participação em eventos podendo citar no VI Fórum de
Ensino Pesquisa, Extensão e Gestão uma realização da Unimontes; no III Encontro
Nacional das Licenciaturas e II Seminário Nacional do PIBID realizado na
Universidade Federal do Maranhão-UFMA; IX Encontro Regional de Geografia uma
realização do departamento de Geociências da Unimontes etc.
Outras ações também foram divulgadas tais como mini-curso, oficinas, galeria
de fotos e por último as intervenções com o uso de desenhos animados nas aulas de
Geografia.
INTERVENÇÕES COM O USO DE DESENHOS ANIMADOS
Os desenhos animados usados nas intervenções das aulas de Geografia foram
selecionados considerando o conteúdo das turmas conforme os planos de ensinos dos
professores, sendo eles: RIO exibido para a 1ª série do Ensino Médio ; Os Sem Floresta
exibido para as turmas de 8º ano; Sherek para turmas 9º ano e Animais unidos jamais
serão vencidos para as turmas de 9º ano do Ensino Fundamental e 1º ano do Ensino
Médio da Escola Estadual Américo Martins.
INTERVENÇÕES COM O DESENHO ANIMADO RIO:
O desenho animado RIO foi exibido com o propósito de ampliar e fixar o
conteúdo de urbanização para os estudantes da 1ª série do Ensino Médio sendo que
correu nos dias 25 e 29 de maio de 2013, usando o espaço da biblioteca da escola, pois
não existe uma sala específica para este fim.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4545
Uma acadêmica fez uma discussão, falando sobre conceito de urbanização e seus
desdobramentos e implicações considerando os aspectos que seriam abordados no filme.
Após a exibição a discussão foi retomada com questionamos sobre o filme. No começo
os estudantes ficaram inibidos, mas depois começaram a participar, sendo que uma
grande maioria disse que gostaram do filme principalmente por que o professor estava
trabalhando o tema em sala de aula, porém alguns não manifestaram.
O ponto forte da intervenção ocorreu com a aplicação de um jogo denominado
Jogo do Milhão: Rio 2013 onde o grupo vencedor recebeu uma premiação. Enfim,
podemos concluir que a intervenção teve um sucesso considerável, visto que os
estudantes gostaram muito, o professor que elogiou o trabalho reconhecendo o esforço,
empenho e compromisso dos acadêmicos, e o entusiasmo manifestado pelos bolsistas
que perceberam que conseguiram alcançar os objetivos com o trabalho.
INTERVENÇÕES COM O DESENHO ANIMADO OS SEM FLORESTA
No dia 23 de abril de 2013, acadêmicos do Curso de Geografia da Unimontes e
bolsistas do subprojeto Conversando com a Geografia através de Desenhos Animados:
uma estratégia divertida realizaram intervenções nas aulas de Geografia do 8º ano da
Escola Estadual Américo Martins, que consistiram em exibição do desenho animado Os
Sem Floresta e depois uma oficina de maquete com a proposta de trabalhar capitalismo
e consumismo conforme foi mostrado no desenho. Na realidade duas maquetes foram
construídas para serem usadas num júri simulado, sendo que uma para servir de
argumento em defesa dos homens e outra em defesa dos animais, com intuito de
envolver a turma em projeto. Tendo em vista que na metodologia de júri simulado não é
necessária a participação efetiva de todos os alunos.
Na elaboração das maquetes os alunos se mostraram muito interessados
e participativos com o projeto, ressaltando durante a confecção das mesmas noções
muito interessantes sobre educação ambiental, relacionadas conforme a abordagem do
desenho animado.
INTERVENÇÕES COM O DESENHO ANIMADO SHEREK
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4546
Durante o mês de abril do ano de 2013, acadêmicos bolsistas do já citado
subprojeto realizaram intervenções em turmas do 9º ano da Escola Estadual Américo
Martins abordando o bullying através de uma peça de teatro. De forma bastante
interativa, engraçada e de fácil compreensão, o tema “bullying” foi explorado
considerando situações do cotidiano de muitos jovens e adolescentes e buscando como
solucionar estes problemas no ambiente escolar.
O roteiro da peça foi apresentado aos estudantes pelos acadêmicos após a
exibição e discussão do desenho animado Sherek. A organização da peça teatral com os
alunos na escola teve como objetivo respeitar as diferenças e a conviver melhor, uns
com os outros.
Primeiramente foram apresentadas noções de como se monta uma peça, o papel
do diretor, dos atores, do cenário, do figurino. E isso foi feito com bastante êxito onde
os estudantes foram definindo os papéis, e definimos ensaios em horário extra turno.
No decorrer dos ensaios eles demonstram curiosidades em todos os aspectos do teatro,
muito interesse, sendo bem participativos.
Ao findar os ensaios os pibidianos e os estudantes, fizeram uma avaliação
levantando os pontos positivos e negativos do trabalho. Mas o saldo foi positivo uma
vez que o conteúdo foi trabalhado de forma diferenciada e os alunos se sentiram mais
motivados em relação ao assunto tratado.
INTERVENÇÃO ATRAVÉS DO DESENHO ANIMADO ANIMAIS UNIDOS
JAMAIS SERÃO VENCIDOS
No dia 22 de abril do ano corrente, foi iniciada uma intervenção com os alunos
do 9º ano do Ensino Fundamental e 1º ano do Ensino Médio da Escola Estadual
Américo Martins. Primeiramente a professora das turmas, juntamente com os
pibidianos, fizeram uma explanação sobre o tema globalização e suas consequências
para o meio ambiente. Prosseguindo os alunos assistiram ao filme Animais Unidos
jamais serão vencidos para posterior intervenção que foi realizada através da resolução
de um questionário e da criação de paródias sobre o tema problemas ambientais.
A escolha da paródia se deu ao fato da música ser muito presente na vida dos
adolescentes. Primeiramente a turma foi sensibilizada sobre o que é uma paródia e as
formas de apresentação. Posteriormente as acadêmicas recitaram uma curta parodia
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4547
musical sobre o meio ambiente com os alunos para que pudessem estimular a criação
textual. A partir daí as turmas foram divididas em grupos de 5 alunos e promoveu-se um
momento de descontração com a criação de paródias. Ao final dos trabalhos os alunos
apresentaram as paródias que em sua maioria abordaram temas sobre preservação
ambiental (lixo, poluição). Foi observado resistência de alguns alunos em apresentar os
trabalhos. Houve equipes que convidaram colegas de outra turma para tocar violão
visando uma melhor apresentação.
De forma diferente e descontraída os alunos demonstraram que interagiram com
o filme e com o tema por ele abordado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que os instrumentos e habilidades necessárias para dominar este novo
mundo que se desdenha criará novos hábitos e padrões de comportamentos modificando
as relações na família, na sociedade e no sistema educacional. A exemplo disso
podemos citar a criação o blogger do sub-projeto Conversando com a Geografia através
de Desenhos Animados: uma estratégia divertida que já teve mais de 7000 acessos, cujo
link é http://pibidamerico.blogspot.com.br/.
Quanto ao uso de desenhos animados em sala de aula todas as intervenções
foram positivas confirmando assim a relevância do referido subprojeto para a escola,
para os estudantes, para os professores e enfim para os acadêmicos bolsistas.
A experiência prática do contínuo trabalho para oficina teatral sobre bullying, foi
para o grupo muito enriquecedora, a convivência semanal com estes alunos, nos
mostrou como é relevante levar para os alunos o senso de comprometimento, a
disciplina em relação a horário e/ou respeito com o próximo, a lidar com a timidez ou
quando é ativo demais.
No mundo atual, o educador deve procurar maneiras divertidas e descontraídas
para que o ensino aprendizagem se efetive, nada mais interessante do que trabalhar com
paródias, que tem como foco a ironia e a crítica, além da recriação de um texto baseado
em outro. Através da paródia o aluno desenvolve o senso crítico, a criatividade e
contribui para a socialização e resgate da auto-estima.
No decorrer de todos os trabalhos observou-se o empenho dos estudantes em
suas criações, a troca de conhecimentos e de experiências do grupo, estimulando a
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4548
criatividade e demonstrando a capacidade de produzir e apresentar trabalhos,
colaborando assim para a fixação de conteúdos sistematizados de uma maneira
divertida.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Leilane Lima Sena de, SCARELI, Giovana e ESTRELA, Laura Ramos.
AS ANIMAÇÕES NO PROCESSO EDUCATIVO: UM PANORAMA DA
HISTÓRIA DA ANIMAÇÃO NO BRASIL. Anais do VI Colóquio Internacional “
Educação e Contemporaneidade”. São Cristovão - SE/Brasil,2012.
BARBOSA, Jorge Luiz. Geografia e cinema: em busca de aproximações e do
inesperado. IN: CARLOS, Ana Fani Alessandri. Et al. A GEOGRAFIA NA SALA
DE AULA. São Paulo: Contexto, 2008.
CASTELAR, Sônia.VILHENA, Jerusa. Ensino de Geografia. São Paulo: Cenage
Learning, 2010.
FANTE, Cleo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar
para a Paz.. Campinas: Editora Versus, 2005.
MAGNÓLI, Demétrio e ARAÚJO, Regina. Geografia: Paisagem e Território:
Geografia Geral e do Brasil. São Paulo: Editora Moderna, 2001.
MARTINS, Maria José D. Agressão e vitimização entre adolescentes, em contexto
escolar: um estudo empírico. Revista Análise Psicológica. Out. 2005, v.23, nº.4, p.401-
425. ISSN 0870-8231.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4549
EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA E JOGOS DIGITAIS: CONSTRUINDO
POSSIBILIDADES PARA A COMPREENSÃO DO ESPAÇO
BRANDÃO, Inaiá – UNEB1
HETKWOSKI, Tânia Maria – UNEB2
NASCIMENTO, Fabiana dos Santos – UNEB3
PEREIRA, Tânia Regina Dias Silva - UNEB4
RESUMO
O contexto da sociedade contemporânea, marcado pelos avanços das Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC), tem demonstrado diferentes formas de construção do
conhecimento, de se comunicar e de se relacionar com o espaço. Os jogos-simuladores digitais,
hoje facilmente encontrados nas redes sociais digitais, são um potencial quanto às possibilidades
de percepção dos sujeitos no que tange o funcionamento das cidades e a dinâmica do espaço a
partir dos ambientes de simulação. Nesse sentido, esse trabalho tem o objetivo de discutir as
potencialidades dos jogos-simuladores digitais no entendimento do espaço e suas possibilidades
na Educação Geográfica. Para isto, utilizamos como pressuposto metodológico a pesquisa
participante junto aos alunos do 4º ano do Ensino Fundamental I de uma escola da Rede Pública
de Ensino da cidade do Salvador/BA, além da metodologia colaborativa, visando à concepção,
construção e avaliação das atividades relacionadas ao jogo-simulador Kimera: Cidades
Imaginárias. Com isto, ressaltamos a importância dos pressupostos que compõem o referido
jogo, que baseado nos conhecimentos sobre o espaço possibilita a simulação de cidades
imaginárias, valorizando as referências dos indivíduos construídas nas vivências com seus
espaços. Assim, pretendemos abordar pontos de discussão acerca dos conhecimentos atinentes
ao espaço e suas categorias de análise (lugar e paisagem), à relevância da Educação Geográfica
para o entendimento do espaço, às possibilidades dos jogos-simuladores (e seu potencial
geotecnológico) na construção de estratégias no âmbito da geografia escolar. Neste sentido, a
partir da articulação com os sujeitos e a integração no lócus da pesquisa foi possível perceber a
imersão dessas crianças no mundo dos jogos e a importância destes para o entendimento do
espaço, bem como as possibilidades para a Educação Geográfica.
Palavras Chaves: Educação Geográfica; jogos-simuladores; compreensão do espaço.
INICIANDO A CONVERSA...
A revolução técnica-científica-informacional iniciada na segunda metade do
século XX, constituiu-se no nascedouro da dinâmica da sociedade contemporânea, onde
as Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC possibilitou alterações nas relações
com tempo e espaço. Neste contexto, em que se constroem novas possibilidades de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4550
comunicação e fluxos de informações, diversas tecnologias surgiram ou foram
aprimoradas e fazem parte do cotidiano dos sujeitos, inseridos nas suas relações sociais
e consequentemente nas relações no/com o espaço. Com isso estabelece-se cada vez
mais a necessidade de discutir a inserção das TIC na construção de estratégias de ensino
e aprendizagem na escola, a fim de mantê-las articuladas com a dinâmica social na qual
estão inseridas.
Nesta perspectiva, o Grupo de Pesquisa em Geotecnologias, Educação e
Contemporaneidade (GEOTEC) desenvolve, desde 2007, diversos projetos relacionados
às potencialidades das TIC na educação, discutindo questões que perpassam por temas
como: as geotecnologias e suas potencialidades no entendimento do espaço; a
relevância da educação cartográfica nos anos iniciais; o redimensionamento dos
conceitos de espaço e lugar; novas práticas e metodologias de ensino de Geografia nos
anos iniciais; e jogos digitais. Deste modo, pretendemos discutir nesse trabalho as
potencialidades dos jogos-simuladores digitais para compreensão dos espaços e suas
possibilidades na Educação Geográfica, a partir das experiências construídas no projeto
Kimera: cidades imaginárias.
O referido projeto é desenvolvido pelo GEOTEC / UNEB, em parceria com a
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Empresa CONEXUM,
visando à construção colaborativa de um jogo-simulador de cidades, com objetivo de
criar possibilidades para o redimensionamento dos pressupostos da cartografia, a fim de
redimensionar a compreensão do espaço vivido, percebido e concebido pelos sujeitos, a
partir da simulação de cidades imaginárias, possibilitando pensar o lugar onde vivem.
(HETKOWSKI et. al, 2012).
Desta forma, o jogo-simulador Kimera constitui-se como um espaço –
simulacro, onde as crianças tem a possibilidade de pensar, relacionar e representar
cidades vividas, “concretas” e imaginárias, explorando dinâmicas e processos que
permeiam o entendimento do espaço. Assim, o Kimera proporciona, a partir da
percepção, interpretação constituída na relação entre o mundo da imaginação, do desejo
com o mundo “real”, que seus jogadores construam noções de representação,
lateralidade, escala, bem como de outros conceitos relacionados ao processo de
Educação Geográfica. Sendo assim, entendemos que os jogos podem contribuir para a
construção de novas estratégias na Geografia escolar, pautadas na valorização do
indivíduo e de suas vivências construídas com / no espaço.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4551
Deste modo, com este trabalho, pretendemos levantar pontos de discussão acerca
dos conhecimentos atinentes ao espaço e suas categorias de análise (lugar e paisagem), à
relevância da Educação Geográfica para o entendimento do espaço, às possibilidades
das geotecnologias (em especial os jogos-simuladores) e as Tecnologias da Informação
e Comunicação no redimensionamento de práticas pedagógicas no que tange à geografia
escolar.
A EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA E A COMPREENSÃO DO ESPAÇO.
O estudo do espaço geográfico está presente desde os primeiros anos da vida
escolar dos estudantes. A relação do ser humano com o espaço, entretanto, acontece
desde o nascimento no qual iniciamos, a partir da percepção e da interação, uma
construção simbólica do espaço em que vivemos, e ampliamos com o tempo a
compreensão do mundo, entendendo e reconhecendo sua complexidade, em um
processo que se constrói socialmente (CALLAI, 2005). A noção espacial é uma noção
social, é cultural e é signo, constituída a partir do contexto que os sujeitos estão
inseridos, em um processo constante de aprendizagem, onde são/estão no espaço
(LOPES 2011).
Destarte, o espaço pode ser considerado, conforme Santos (1997), como uma
estância da sociedade, sendo essencialmente social, uma vez que é produzido e
transformado pela ação dos homens sobre o próprio espaço, por intermédio dos objetos
naturais e artificiais. Nesta concepção, o mesmo autor afirma que o espaço pode ser
entendido como um sistema de objetos e um sistema de ações.
O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e
também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não
considerado isoladamente, mas como o quadro único no qual a
história se dá. [...] interagem, de um lado, os objetos que condicionam
a forma como se dão as ações e, de outro lado, o sistema de ações leva
à criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes.
(SANTOS, 2006, p. 39)
O sistema de objetos é formado por tudo que existe na superfície terrestre, ou
seja, os elementos naturais e os elementos culturais (resultantes da ação humana), além
das forças produtivas. Enquanto o sistema de ações consiste nas relações humanas, é o
resultado da necessidade do ser humano de construir e agir sobre os objetos,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4552
responsáveis por atribuir funcionalidade e significado aos objetos, fazendo com que
estes se tornem instrumentos inseridos na vida humana. Desta forma, tem-se a
necessidade de adotar a sociedade como ponto de partida para o desenvolvimento de
atividades no âmbito escolar, entendendo que o espaço é resultado das ações humanas, o
que evidencia seu caráter fundamentalmente social.
Essas reflexões desencadeiam na construção sobre uma concepção de Educação
Geográfica, baseada na superação do ensino pautado na massificação de conteúdos,
procurando torná-los significativos à vida do aluno, sendo a análise espacial a base deste
processo (CALLAI, 2011). Pode-se inferir assim, numa abordagem ainda mais ampla,
entendendo que a Educação Geográfica não se restringe somente às práticas e
metodologias de ensino na Geografia, mas engloba também às estratégias elaboradas
pelos sujeitos que resultam na construção da noção espacial e constitui o seu
conhecimento geográfico, elaborações advindas de suas experiências com/no espaço.
Deste modo, o reconhecimento desta dimensão vivida pelo sujeito, na geografia escolar,
pode possibilitar a transformação de suas práticas, resultando uma melhor compreensão
do espaço.
Ademais, a dimensão do lugar (espaço vivido) emerge como uma categoria de
análise do espaço, fundamental a ser trabalhada no contexto da Educação Geográfica,
pois se refere à porção do espaço no qual estabelecemos nossas relações de identidade e
pertencimento. Para Carlos (2007, p.17) “o lugar pode ser entendido como o espaço de
reprodução da vida, analisado pela tríade habitante - identidade – lugar, constituindo o
espaço passível de ser sentido, pensado, apropriado e vivido através do corpo”.
Sendo assim, ao apreender o espaço a partir do lugar, permitimos identificar
elementos que estão intimamente ligados à identidade e à vivência do sujeito-aluno,
possibilitando redimensionar a valoração e a relação dos conceitos e conteúdos
explorados em sala de aula com a vida cotidiana. Com isso, são esboçados novos
olhares sobre o espaço, possibilitando o seu entendimento do “local para o global”,
permitindo a construção de abordagens diferenciadas a partir de outras categorias de
análise do espaço. No referido contexto, o estudo das paisagens, por exemplo, pode ser
redimensionado a partir do espaço vivido e percebido pelo estudante, dando significado
e sentido ao seu estudo até chegar à compreensão das paisagens em outros recortes
espaciais, permitindo que o aluno estabeleça relações cada vez mais elaboradas entre o
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4553
seu cotidiano, sua vivência, e outras realidades mais amplas (BOFETE E FACHINI,
2012).
Deste modo, o lugar ganha relevância no estudo do espaço, pois é nesta
dimensão do vivido que podemos identificar a espontaneidade e a criatividade inerentes
à condição humana (ARENDT, 2000). Portanto, destaca-se neste trabalho o
entendimento do espaço a partir do lugar, reconhecendo sua essencial importância para
a compreensão das transformações sociais e espaciais engendradas por nossa sociedade,
pois é no lugar que estamos em constante interação com esta dinâmica.
TIC E AS GEOTECNOLOGIAS: POTENCIALIDADES NO ENTENDIMENTO
E ESPAÇO.
A revolução técnico-científica-informacional iniciada no período Pós-Segunda
Guerra Mundial (SANTOS, 2006), propiciou o surgimento de um período na história
recente da nossa sociedade, marcada pelos avanços tecnológicos, principalmente no que
se refere às Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). No conjunto dessas
transformações, a internet desponta como uma das tecnologias digitais que
intensificaram e provocaram mudanças nas dinâmicas das nossas relações, através da
constituição de uma rede que modificou a interação entre os sujeitos, o tempo e o
espaço. Tais transformações propiciaram também o desenvolvimento das
Geotecnologias, que ganharam novas possibilidades de usos, para além dos fins
militares, voltados para a compreensão social do espaço (HETKOWSKI, 2011).
Neste contexto, o desenvolvimento das geotecnologias agregadas às TIC
possibilitou a inserção dessas ferramentas no cotidiano das pessoas. Os meios de
comunicação e a internet contribuem para o redimensionamento da utilização de suas
técnicas, evidenciadas no uso cotidiano dos sujeitos, a exemplo de ferramentas como o
Google Maps e o Google Earth para diversos fins, sejam eles para análise de aspectos
do espaço em que se vive ou visando atender às necessidades de geolocalização.
De acordo com Brito e Hetkowski (2010), a utilização destas potencialidades
nos processos formativos de ensino e aprendizagem representa também uma
possibilidade de inclusão, pois pode inserir o sujeito no mundo digital e fortalecer os
enlaces de pertencimento, de conhecimento e cidadania com a construção de uma
compreensão acerca do espaço geográfico. Nesse ínterim, as geotecnologias podem ser
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4554
incorporadas no ambiente escolar, sendo mais uma possibilidade a instigar processos
criativos.
As geotecnologias emergem, como um advento da capacidade criativa do
homem, ao mesmo tempo em que age como um potencializador de sua criatividade.
Neste sentido, Hetkowski afirma que as:
(...) tecnologias são processos humanos criativos, que envolvem
elementos materiais (instrumentos e técnicas) e imateriais (simbólicos
e cognitivos) e que se encarnam na linguagem do saber e do fazer dos
homens. Assim, a geotecnologia representa a capacidade criativa dos
homens, através de técnicas e de situações cognitivas, representar
situações espaciais e de localização para melhor compreender a
condição humana. Assim, potencializar as tecnologias, significa
ampliar as possibilidades criativas do homem, bem como ampliar os
“olhares” à exploração de situações cotidianas relacionadas ao espaço
geográfico, ao lugar da política, a representação de instancias
conhecidas e/ou desconhecidas, a ampliação das experiências e a
condição de identificação com o espaço vivido (rua, bairro, cidade,
estado, país). (2010, p.6).
Com base nessa concepção, as geotecnologias possuem um grande potencial a
ser explorado no contexto escolar, a fim de propiciar outras práticas pedagógicas para o
estudante e o professor, uma vez que as referidas tecnologias, através das suas
diferentes técnicas e “interfaces” (como as imagens satélites, as fotografias aéreas e a
cartografia digital, softwares e os jogos - simuladores - cartográficos), estabelecem uma
compreensão aprimorada dos elementos do espaço geográfico, possibilitando
ressignificar as relações com o espaço vivido e percebido pelos alunos.
OS JOGOS-SIMULADORES-CARTOGRÁFICOS E SEU POTENCIAL
GEOTECNOLÓGICO
A discussão sobre a relevância da utilização dos jogos digitais e suas
potencialidades na educação, são temas de diversas pesquisas e construções acadêmicas,
dentre os quais podemos destacar os estudos Alves (2004) e Hetkowski e Alves (2012).
Tais reflexões nos apontam caminhos em busca de elucidar o princípio criativo e
transformativo, inerentes à condição humana, que constituem a base do entendimento
acerca do desenvolvimento tecnológico e o processo de construção de práticas
pedagógicas inovadoras e instituintes (LIMA JR e HETKWOSKI, 2006).
Neste sentido, Alves (2004) afirma que a os jogos digitais:
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4555
[...] possibilitam a aprendizagem, a comunicação, o estabelecimento
de novos vínculos, relacionamento, desenvolvem habilidades motoras,
linguísticas e sociais e potencializam a construção de novos olhares,
significados e significantes para a sociedade no qual estão inseridos.
Essas múltiplas possibilidades dos games tornam possível aprender
diferentes conteúdos, caracterizando esse agenciamento sociotécnico
como um novo espaço do saber vivo, real, exigindo o rompimento
com a linearidade que ainda se institui na sala de aula de aula
convencional, com praticas pedagógicas pautadas no paradigma
moderno (p. 371).
Com isso, os jogos digitais vem contribuir para um rompimento desta
linearidade, baseado na universalidade e a objetividade ainda muito presente no
contexto escolar. Assim, propicia-se a construção de uma lógica hipertextual, de um
novo agenciamento cognitivo em rede, considerando as dimensões sensoriais, lúdicas e
emocionais que fazem parte do ser humano (LIMA JR, 2007). Essa dimensão sensorial
e lúdica promovidas pelas TIC, em especial os jogos digitais, permitem englobar a
dimensão do prazer, da autoria, da autonomia do sujeito e possibilitam a construção de
novas relações com o tempo e o espaço.
Diante das possibilidades dos jogos digitais na educação e do desafio de
construir processos formativos instituintes no contexto escolar, propõe-se neste trabalho
uma olhar especial sobre os jogos - simuladores de cidades (SimCity, LinCity-NG,Open
City: game simulador de cidades, City Life 2008, MineCraft, Imperia On-line, Salvador
Ville, entre outros). O referido destaque justifica-se pelas peculiaridades dos referidos
jogos - simuladores, uma vez que os mesmos ao permitirem a simulação e reconstrução
das cidades, potencializam o entendimento da dinâmica do espaço5. Corroborando com
estas ideias, Andrade et. al.(2012) ressalta que a interação com estes jogos, permite às
crianças, adolescentes e adultos a descoberta de novas formas de conhecimento, que
ocorrem também por meio da simulação do espaço, dos lugares e das paisagens, sejam
elas baseadas em princípios de realidades ou mesmo através de cidades imaginárias.
Destarte, Brito e Hetkowski (2012), contribuem para a elucidação das
potencialidades destes jogos, os quais denominam como jogos-simuladores-
cartográficos:
5 Vale ressaltar, como afirma Brito e Hetkowski (2012), que apesar destes jogos não terem a finalidade
principal de explorar conceitualmente o espaço, uma vez que derivam de uma lógica de mercado, não se
pode negar que potencializam o entendimento do mesmo.
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[...] a manipulação e criação de situações citadinas de forma
simplificada; a possibilidade de um sujeito explorar e administrar uma
cidade simulada; o redimensionamento de elementos vividos para um
espaço digital; o lúdico e a criatividade como inerentes a
“representação” do lugar e da composição da paisagem; a interseção
entre o aprendido na dinâmica de uma sociedade vivificada e uma
representação de uma cidade imaginada (hibridismo entre o virtual e o
atual) e outras situações que agregam o processo ensino e
aprendizagem conceitual de sala de aula e as possibilidades lúdicas e
de entretenimento (p. 84).
Com base nesta perspectiva, gostaríamos de ressaltar as potencialidades, em
especial, do jogo-simulador Kimera, para a compreensão do espaço. O referido jogo traz
na sua construção o redimensionamento dos pressupostos da cartografia, a fim de
redimensionar a compreensão do espaço (com base no espaço vivido, percebido e
concebido pelos sujeitos) a partir da simulação de cidades imaginárias. Sendo assim, ao
proporcionar uma intensa atividade imaginária nas crianças, através de suas
representações e entendimento do espaço, o jogo possibilita pensar o lugar onde os
mesmos vivem suas relações sociais, políticas e culturais (HETKOWSKI et. al, 2012).
Desta forma, os jogos-simuladores-cartográficos demonstram possibilidades na
construção de novas práticas no contexto escolar, principalmente no que se refere aos
pressupostos que constituem a Educação Geográfica. Ao redimensionarem os
pressupostos da cartografia, explicitados na possibilidade de ressignificação dos mapas
e das demais geotecnologias, os mesmos demonstram seu potencial geotecnológico ao
permitirem simulações e novos olhares que contribuem para a compreensão do espaço.
Desse modo, estes jogos podem contribuir para a construção de novas práticas na
Geografia escolar, pautadas na valorização do indivíduo e de suas vivências construídas
com / no espaço (o vivido e o percebido), permitindo a ampliação dos conhecimentos
acerca da paisagem, do lugar, dos territórios e consequentemente da dinâmica espacial.
O PROJETO KIMERA: CIDADES IMAGINÁRIAS
Na perspectiva de explorar as potencialidades dos jogos-simuladores para
compreensão do espaço geográfico que consolidamos o projeto Kimera:cidades
imaginárias, que possui o intuito de construir um jogo-simulador de cidades que
permita,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4557
criar possibilidades para relacionar e representar os espaços vivido,
percebido e imaginado; construir cidades híbridas, explorando
elementos reais, imaginários, fantasiosos, pretendidos e desejados a
partir dos recursos disponibilizados no ambiente; explorar outras
dinâmicas que perpassam o entendimento sobre os espaços que as
crianças vivenciam, constroem, criam, imaginam ou desejam ‘explorar
e/ou fazer parte (ANDRADE et. al., 2012).
A construção do jogo é assim o principal objetivo do projeto Kimera, que conta
com a participação de profissionais de diversas áreas, compondo as seguintes equipes:
Pedagógica, Design e Transmídia, Programação, Roteiro, Áudio-design e Marketing.
Neste trabalho iremos enfatizar nas ações do Kimera Pedagógico, responsável pela
construção e articulação dos pressupostos teóricos que constituem a base da elaboração
do jogo-simulador, bem como no planejamento e mobilização de atividades, oficinas e
cursos com alunos e professores das escolas parceiras. Nesta perspectiva, ressaltamos
que abordaremos aspectos referentes ao processo de construção do jogo, que se encontra
em fase de finalização da sua primeira versão e entendemos a importância desta
dinâmica no que tange à construção de processos formativos no espaço escolar.
O trabalho de construção da pesquisa foi baseado nos pressupostos da Pesquisa
Participante, um processo de construção coletiva caracterizado por uma confluência de
experiências, baseados na integração ente todas as pessoas envolvidas, desconstruindo
as barreiras entre investigadores e sujeitos, bem como valorizando o compartilhamento
de saberes. Neste sentido, todas as etapas da pesquisa e construção do jogo-simulador
que serão aqui explicitadas, contou com a participação dos alunos entre 08 a 12 anos do
Colégio da Polícia Militar da Bahia – Unidade Dendezeiros/ Salvador – BA, além dos
integrantes das equipes que desenvolvem o Kimera.
As ações planejadas para o projeto atendem alunos, professores e pesquisadores
que formaram, a partir das demandas, os sujeitos da pesquisa. Assim, a referida
dinâmica configurou-se da seguinte forma: pesquisa e obtenções de informações
(composta por encontros diagnósticos, oficinas e outras atividades com os alunos); e a
construção do jogo-simulador Kimera.
Nos encontros diagnósticos realizamos diversas entrevistas com os alunos,
fazendo a identificação da turma (nome, idade, bairro onde residem, entre outros),
abordando temas como o uso da TV, dos jogos digitais, do celular, do computador, da
internet e temas relacionados ao uso de jogos digitais pelos alunos. Essa etapa foi muito
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4558
relevante, pois as mesmas nos ajudaram a conceber o jogo-simulador Kimera,
influenciando na definição dos aspectos pedagógicos que serão descritos mais adiante.
No que se refere às Oficinas e Atividades com os alunos, realizamos um ciclo de
oficinas que tinham como intuito identificar a relação dos alunos com os princípios e a
composição do Kimera. Dentre as oficinas cumpridas, destacamos:
- “Rodada de jogos digitais” e “Oficinas de jogos de tabuleiro”, onde os alunos
utilizaram simuladores similares ao Kimera, tendo o objetivo de identificar a
familiaridade dos alunos com essa categoria de jogos (importante para observar
aspectos como jogabilidade e elementos para composição do jogo, a partir das sugestões
dos alunos). Além de perceber a capacidade de concentração dos alunos, para a partir
dessa e das rodadas de jogos digitais, criar uma média do tempo do jogo-simulador
Kimera e do seu possível grau de dificuldade, passagem de fases, entre outros
elementos.
- “Oficinas de Desenhos” com o objetivo de proporcionar uma percepção sobre
como esses sujeitos representavam os elementos da cidade e entendiam a sua dinâmica,
para que a partir dessas imagens, pudéssemos definir, juntamente com os alunos, os
ícones do jogo.
A partir dessa oficina, definimos a estrutura organizacional do jogo (segurança,
lazer, educação, economia, entre outros) e os seus ícones (delegacia, shopping,
sorveteria, escola, etc). Além disto, podemos refletir com os alunos suas percepções
sobre o espaço vivido, onde identificamos elementos interessantes para trabalhar noções
FIGURA 1: REALIZAÇÃO DE RODADA DE JOGOS
COM OS ALUNOS DO 4º ANO DO CPM.
FIGURA 2: “OFICINA DE JOGOS DE
TABULEIRO”
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4559
referentes aos conceitos de lugar e paisagem, sendo uma informação valiosa para a
construção do jogo-simulador Kimera.
Os encontros e conversas realizadas com as crianças fizeram-nos entender que as
mesmas queriam “construir um mundo imaginário e fantástico”, por isso o nome do
jogo-simulador deveria abarcar esses elementos. Sendo assim foi elaborado os três
pilares do conceito do jogo-simulador (hibridismo, imaginação e desejo) e escolhido o
nome Kimera: cidades imaginárias, com a participação de toda equipe (pesquisadores
do GEOTEC e alunos do CPM).
Outra etapa importante na composição desse conjunto foi à definição dos
conteúdos abordados no jogo-simulador, respeitando as noções cartográficas,
articulação das categorias de análise do espaço e as demandas do currículo escolar. A
Figura 3 indica as categorias e conteúdos definidos:
Vale salientar que os conteúdos são inseridos no jogo-simulador a partir do
roteiro, dos ícones criados, da organização das ações e da própria interface do Kimera.
FIGURA 3: CONTEÚDOS PEDAGÓGICOS DO JOGO –SIMULADOR KIMERA: CIDADES IMAGINÁRIAS.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4560
Os conteúdos escolhidos foram avaliados e extraídos do PCN de História e Geografia
(2001), com a preocupação de articulá-los com as necessidades do espaço escolar,
tornando-se assim mais uma possibilidade no processo de Educação Geográfica
proposta nesse trabalho.
CONCLUSÃO
Com base em tudo que foi exposto nesse trabalho, queremos tecer algumas
considerações, sem a pretensão de serem finais, uma vez que este processo é constituído
por uma dinâmica rica e em constante transformação. Gostaríamos de ressaltar
primeiramente a importância de todos os sujeitos da pesquisa na construção e
planejamento do Kimera, constituindo-se um rico processo para as reflexões sobre os
pressupostos do jogo e as discussões deste trabalho. Dentre estes sujeitos, destacamos as
crianças participantes do projeto com seu imaginário e espontaneidade que muito
contribuíram e ainda contribuem neste processo.
As reflexões impressas ao decorrer deste trabalho nos remete a necessidade de
discussão de novas práticas, estratégias nos processos de ensino e aprendizagem no
contexto escolar e do reconhecimento dos processos formativos consolidados em outros
ambientes. A imersão destes sujeitos e envolvimento com as TIC estabelecem processos
formativos e educativos diferenciados, os quais necessitam ser incorporados à escola a
fim de mantê-la contextualizada com essa nova realidade. É baseado neste cenário que
ao decorrer deste ensaio, propomos pistas, pontos de discussão para suscitar o debate
acerca das potencialidades dos jogos-simuladores para compreensão do espaço e um
repensar sobre a Educação Geográfica.
Nesse sentido, o processo de construção do jogo-simulador Kimera, nos inspira
em buscar possibilidade de pensar uma Educação Geográfica, pautada na valorização
das experiências do sujeito com os lugares, com seus espaços de vivência. Além de
atribuir sentido ao potencializar esses conhecimentos em articulação com a imaginação,
fantasia e o desejo das crianças, aspectos tão presentes nesta fase da vida.
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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4563
GEOGRAFIA E LITERATURA: UM DIÁLOGO SOBRE O CONCEITO
DE LUGAR A PARTIR DO ROMANCE O SERTANEJO DE JOSÉ DE
ALENCAR
Edimara de Lima da Silva1
Adriana Lima Moreira2
RESUMO
O presente trabalho apoia-se na ideia de apresentar um diálogo interdisciplinar entre geografia e
literatura e, dentro desta perspectiva, enfatizar o conceito de lugar no romance regionalista “O
sertanejo”, de José de Alencar. O romance servirá como ferramenta de interlocução na
abordagem interdisciplinar permitindo vincular a narrativa literária à ciência geográfica e assim
apontar as possibilidades de compreensão do espaço social tratadas na obra bem como uma
ideia sobre o conceito de lugar. O conceito de lugar que é perceptível no romance “O sertanejo”
está atrelado a visão do autor Tuan (2011) que atribui ao “lugar” um sentimento de
pertencimento, um apreço pelos objetos, uma memória. O conceito está ligado a uma
representação social, um recorte espacial com tempo e personagens delimitados pelo critério da
afetividade. Nosso trabalho está dividido em tópicos que abordam a aula de geografia, o diálogo
interdisciplinar com a literatura, um relato sobre a obra e uma reflexão sobre a ideia de lugar. O
embasamento teórico deste trabalho utiliza os textos de autores que trabalham com a temática
envolvida tais como MOREIRA (2012), TUAN (2011), SOUSA NETO (2008),
PONTUSCHUKA ET AL. (2009), SELBACH (2010) e outros mais.
Palavras-chave: Geografia e Literatura. Interdisciplinaridade. Lugar.
INTRODUÇÃO
No contexto atual da interação social, a educação e as formas de ensinar devem
transcender as práticas tradicionais de ensino e buscar se encaixar em uma perspectiva
de ensino em um âmbito de conexão com o modo de vida contemporâneo. Estamos
diante de uma sociedade que subvaloriza a formação do professor e não se preocupa
com a qualificação de quem educa o “futuro” do país, e é na sala de aula que podemos
fazer a diferença e superar estereótipos.
Inserido nessa lógica, Selbach (2010) pondera que a educação básica deve se
apoiar em quatro pilares, e estes são fundamentais para a socialização concreta do
conteúdo: ensinar a conhecer (o espaço ao seu redor), ensinar a fazer (aplicar o
conhecimento), ensinar a compartilhar (saber socializar as experiências) e ensinar a ser
1 Graduada no curso de Licenciatura Plena em Geografia pela Faculdade de Filosofia Dom Aureliano
Matos – UECE. FAFIDAM/UECE, [email protected] 2 Graduanda no curso de Licenciatura Plena em Geografia pela Faculdade de Filosofia Dom Aureliano
Matos – UECE e bolsista no PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO À
DOCÊNCIA – PIBID. FAFIDAM/UECE [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4564
(ser um agente crítico na sociedade). Para ela “a ideia do ensinar é muito próxima à
ideia do aprender”.
Dentro da conjuntura educacional, a disciplina de geografia, juntamente com
outras ciências humanas, seria ou deveria ser um saber voltado para “Compreender a
espacialidade, a temporalidade dos fenômenos e fatos geográficos” e “Conhecer a
natureza em suas múltiplas relações, de modo a compreender o papel social na
construção e na alteração da paisagem e do lugar” (SELBACH, 2010). Embutido nesta
perspectiva, fazer com que a aula de geografia seja um espaço de interação com outros
saberes e ciências é proporcionar ao alunado uma experiência de ampliação dos
horizontes do saber.
Cavalcanti (2012) enfatiza que a escola é um lugar de encontro de culturas, e as
diferentes matérias escolares, a metodologia e os procedimentos devem interagir com
esse espaço de encontros multiculturais. Sob esta premissa o que se defende é a ideia de
“encaminhar o trabalho com os conteúdos geográficos e a construção de
conhecimentos” juntamente com a seleção dos conceitos básicos da geografia para
assim conseguir estruturar os conteúdos de ensino e atrelar a essa ideia uma atividade
interdisciplinar, que no caso deste trabalho, pretende aliar um texto literário ao discurso
da geografia.
Diante do que foi mencionado anteriormente, o presente trabalho pretende
alcançar a seguinte meta: propor uma atividade interdisciplinar unindo literatura e
geografia, porém mais que isso, vamos expor em linhas gerais algumas contribuições
acerca do conceito de lugar. Do ponto de vista metodológico faremos uma reflexão
sobre o ensino de geografa buscando aliar a essa reflexão contribuições significativas de
autores que estão ligados à temática de estudo.
O texto será dividido em pontos norteadores onde dialogaremos sobre as
possibilidades a serem exploradas no trabalho interdisciplinar dentro da aula de
geografia. Apresentaremos o romance regionalista “O Sertanejo”, destacando trechos
importantes que se aliam ao ensino de conteúdos da disciplina de geografia e por fim,
colocaremos em pauta questionamentos sobre a ideia de lugar.
INTERDISCIPLINARIDADE: UMA VIA DE MÃO DUPLA
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4565
O trabalho interdisciplinar exige do professor um tempo de organização do
conteúdo a ser socializado com os alunos e a escolha de como abordar esse conteúdo. O
planejamento de uma aula com foco interdisciplinar consiste em direcionar de forma
inteligente perguntas e desafios para os alunos através do conteúdo proposto. Selbach
(2010) afirma que o conteúdo a ser socializado é um fato geográfico e precisa ser visto
como tal, desta forma deve-se tentar contextualizar no discurso as relações intrínsecas
entre terra-homem, economia-desenvolvimento, natureza-ocupação humana,
reordenação espacial-ação humana. A autora ainda acrescenta que
trabalhar Geografia como uma “ferramenta” interdisciplinar não
implica que o professor tenha que conhecer elementos e fenômenos de
todos as disciplinas que o aluno está estudando, mas que saiba se
insinuar como um propositor de desafios, levando os alunos a essas
ligações” (p. 125).
Antunes (2011) salienta que temos que ter em mente que a forma como
abordamos os conteúdos em sala poderá influenciar diretamente na “memória
permanente” dos nossos alunos pelo resto de suas vidas, porém, ressalta que não se
pode atribuir à força do conteúdo socializado a forma de estratégia de uso na
explanação, o que se aprende e se ensina em sala está acima disso.
Pensar em interdisciplinaridade é pensar em um mundo pós-industrial e na
demanda de conhecimentos que quando estudados de maneira parcelar não abarcam
todo o entendimento complexo das relações atuais. Segundo Pontuschka et al. (2009) a
interdisciplinaridade permite uma interação entre os saberes “parcelares”. Para aqueles
autores, somente quem domina o conhecimento parcelar é capaz de fazer um bom
trabalho e uma pesquisa interdisciplinar.
Para justificar o trabalho interdisciplinar temos que estar cientes que este é um
momento de “criar novos saberes e favorecer uma aproximação maior com a realidade
social mediante leituras diversificadas do espaço geográfico” (PONTUSCHKA et al.
2009, p.145). O trabalho interdisciplinar permite ao professor ultrapassar o limite de sua
sala de aula e chegar a uma linha atuante como pesquisador em constante interação com
o objeto de estudo.
Atrelada ao fazer pedagógico do professor de geografia está a necessidade de
“manter o diálogo permanente com o passado, o presente e o futuro” do saber que se
“professa”. Pensar de forma interdisciplinar é deixar de lado o trabalho solitário e
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4566
individual da disciplina escolar e embrenhar-se pelo fazer pedagógico coletivo
(PONTUSCHKA et al., 2009).
Longe de ser a “geografia do espetáculo” que apresenta Lacoste (2010), no
trabalho interdisciplinar queremos unir saberes e devemos levar em conta que as
disciplinas envolvidas apresentem “conceitos de sociedade, relações sociais, natureza,
território, cultura, lugar, paisagem e região, permeados sempre por sua contextualização
no tempo e no espaço” (PONTUSCHKA et al., 2009, p. 164).
Dentro desta lógica, é necessário que a escola através do seu projeto político
pedagógico organize um esquema de diálogos constantes entre as disciplinas
ministradas. É preciso buscar pontos de afinidades entre os saberes, pois “nenhuma
ciência detém o monopólio de seu estudo” e “o espaço só é inteligível por uma
abordagem interdisciplinar, e não multidisciplinar.” (PONTUSCHKA et al., 2009, p.
163).
Encaixar a disciplina de geografia em uma proposta interdisciplinar de ensino é
algo bastante viável devido ao fato desta ciência lidar com fatos e fenômenos sociais,
físicos e biológicos. No caso específico deste trabalho estamos apresentando geografia e
literatura e ambas possuem uma importância ímpar dentro da sala de aula, devemos
então desenvolver o conteúdo de forma a dar um suporte aos programas traçados para as
duas disciplinas.
Com a atividade interdisciplinar entre geografia e literatura pretende-se
contribuir para que os alunos compreendam o contexto histórico em que ocorre a
narrativa bem como os espaço geográficos que são criados, como se dão as relações de
poder em um cenário social, econômico e político e como percebemos o interesse dos
envolvidos nos fatos descritos.
O FÉRTIL CAMINHO DAS PALAVRAS
A geografia quando aliada a um texto literário pode ser aplicada na busca pela
essência social da obra, a expressão cultural retratada pelo autor. Alguns textos literários
descrevem momentos históricos, situações contraditórias, processos de desenvolvimento
econômico, social e cultural de um determinado e delimitado tempo no espaço. Desta
forma a geografia se insere como um agente enriquecedor na compreensão da
conjuntura como um todo.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4567
Durante a apresentação de um texto literário de forma contextualizada com a
geografia, não podemos deixar de fazer referências a essa disciplina e como ela é
percebida dentro do corpo da narrativa. É muito feliz a proposição de Sousa e Chaveiro
(2008) quando afirmam que “Existem diferentes possibilidades para analisar uma
realidade, e uma porta de entrada deste trabalho é a geografia que percorre o corredor da
literatura, permitindo uma representação da cidade, refletindo seus personagens, suas
realidades.” (p. 5).
A ideia de selecionar um romance de José de Alencar para fazer uma
contribuição junto às questões discutidas na disciplina de geografia. O autor, José
Martiniano de Alencar, nasceu no Ceará, em 1º de maio de 1829 e faleceu de
tuberculose no Rio de Janeiro em 12 de dezembro de 1877 aos 48 anos de idade. Seu
pai, José Martiniano de Alencar, era um político liberal e revolucionário cearense e
atuou como governador do estado do Ceará e senador do Império (ALENCAR, 2010).
Foi no Rio de Janeiro que o autor viveu e atuou como advogado, político e
escritor, mas sempre entre idas e vindas ao seu estado natal. Em 1846 ingressou na
Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, entretanto teve que
transferir seu curso para a Faculdade de Direito de Olinda, em Pernambuco, pois
precisou acompanhar seu pai ao nordeste uma vez que este se achava doente. Com a
melhora do pai, regressa a São Paulo e diploma-se em direito (ALENCAR, 2010).
Em 1854 passa a trabalhar no Correio Mercantil onde publica textos ácidos e
provoca polêmicas, o que já preanunciava a sua veia política e de atuação intensa. Em
1856 publica seu primeiro romance Cinco Minutos, em folhetim pelo Diário do Rio de
Janeiro (ALENCAR, 2010). A partir de então foram várias obras publicadas e que só
elevaram seu status como escritor de renome no Brasil. Dentre as obras ganham
destaque os romances indianistas (O guarani, Iracema, Ubirajara), os romances
regionalistas (O Gaúcho, O Sertanejo), os romances urbanos (Cinco minutos, A
viuvinha, Lucíola, Diva, Senhora) e algumas peças para teatro.
Dentre estas obras escolhemos o romance O Sertanejo, ambientado no interior
do Ceará, na região nordeste do Brasil. Sendo um típico romance, o autor não deixou
faltar na narrativa os pontos principais para identificação da obra como tal: a mocinha,
bela, frágil e indefesa; o mocinho, determinado, destemido, esperto e apaixonado; o
vilão, desaforado; a família da mocinha agindo contra o casal principal, um enredo
cheio de altos e baixos para o casal de amantes tudo culminando com um final feliz.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4568
O romance está dividido em duas partes, com vinte capítulos na primeira parte e
vinte e um na segunda. O enredo se passa no ano de 1764, tendo seu início no mês de
dezembro, o local é os arredores da Serra de Santa Maria, as margens do Sitiá, na
Fazenda Oiticica no município de Quixeramobim, no interior do Ceará, a cidade recebe
esse nome devido a ter parte de suas terras banhadas pelo rio Quixeramobim, e fica
distante 203 km da cidade de Fortaleza.
Apesar de inicialmente o texto ter um tom saudosista, como se fosse relatos de
uma lembranças, logo ganha características de um bom causo contado, com traços da
história de um povo que se autorretrata. A narrativa inicia-se com uma frase que tenta
mostrar em linhas gerais a representatividade do lugar descrito na memória do homem
sertanejo: “Esta imensa campina, que se dilata por horizontes infindos, é o sertão de
minha terra natal”, o autor prossegue fazendo a seguir uma exaltação à imagem do
homem do sertão: “Aí campeia o destemido vaqueiro cearense, que à unha de cavalo
acossa o touro indômito no cerrado mais espesso, e o derriba pela cauda com admirável
destreza”.
Alencar (2011) faz uso de verbetes regionais (trabuco, véstia, gibão, magriço)
que dão uma ilustração peculiar ao povo contido na narrativa. A representatividade das
personagens, a figura social de importância, é esboçada através dos trajes que portam.
Os “valentões”, que faziam a guarda dos fazendeiros geralmente vestiam “um gibão
verde guarnecido de galão branco, uma véstia amarela e calções da mesma cor com
botas pretas e chapéus à frederica”, típica imagem do homem sertanejo que até hoje
ainda caminha no imaginário do povo.
Ao continuar a leitura e buscando aproximar a narrativa do campo de estudos da
geografia percebemos que o texto é rico nas descrições das paisagens naturais, havendo
uma exaltação à exuberância do lugar por arte do autor e estando aí contidos trechos que
caracterizam o clima semiárido, vegetação caducifólia, as espécies nativas como as aves
que revoam as terras quentes, o cenário da seca, os leitos de rios. O autor também faz
uso de termos bem comuns aos ouvidos de quem lê e faz geografia (estuários, aluviões,
várzeas).
O “ESPAÇO VIVIDO”: UMA REFLEXÃO SOBRE A IDEIA DE LUGAR
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4569
Compreender os conceitos que permeiam o campo de estudos da geografia é um
dos caminhos que possibilitam uma forma de melhor aplicar os conhecimentos
geográficos no cotidiano, seja da escola, da academia ou do convívio social. Apresentar
os conceitos diretamente ligados à geografia na sala de aula requer leituras anteriores a
respeito da temática em questão e uma articulação concomitante entre o conceito
socializado e a realidade vivenciada.
Para Cavalcanti (2012) dentro do ensino de geografia é aconselhável buscar
trabalhar temas com o intuito de desenvolver nos alunos “habilidades e capacidades”
para interagir com o espaço geográfico. Quando o professor seleciona os conteúdos e a
metodologia e, vincula a estes objetos e termos valorativos, permite “ao aluno trabalhar
com suas diferentes concepções: o vivido, o percebido e o conhecido”.
Ao optar por trabalhar com a formação de conceitos temos que levar em
consideração as “representações sociais” do alunado para que este possa percorrer um
caminho de observação, descrição, análise e síntese dos diferentes conceitos da
geografia (região, território, lugar, paisagem). O conceito que escolhemos para destacar
nesse trabalho é o conceito de lugar, que na visão defendida por Yi-Fu Tuan (2011), o
lugar é concebido como um “espaço vivido” com o qual o homem cria uma “relação de
pertencimento, amizade” e onde os objetos e fatos fazem parte de uma memória afetiva,
ou seja, “lugar é uma localidade que tem significado para uma pessoa ou um grupo de
pessoas”.
Para ele, a conceituação caminha para o seguinte entendimento: “o espaço não é
uma ideia, é um conjunto complexo de ideias”, sendo assim o espaço deve ser entendido
como oposto ao lugar, pois o lugar seria “um espaço estruturado”, organizado por
relações entre sujeitos e meio, e o tempo “é outra ideia complexa e esquiva”.
Tuan (2011) aponta que as concepções ocidentais de espaço, tempo e lugar têm
suas origens no pensamento grego e hebreu. Ao fazer essa observação, ele atribui o
impacto da crença hebraica na temporalização das “percepções dominantes da
realidade”. Segundo o autor, o modelo de universo se apresentava como uma síntese dos
pensamentos grego e hebreu.
Para Bueno (2011) a dinâmica do lugar é construída através das relações dos
agentes sociais atuantes em várias escalas (local, regional, nacional e global). Através
do trabalho com a conceituação alcançamos patamares educacionais há muito
perseguidos pelos educadores. A esse respeito Bueno (2011) acrescenta que
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4570
“A organização das ações educativas em torno do entendimento de
lugar, algo jamais ausente em nossas escolas, permite, segundo
vertente importante do pensamento educacional, alcançar com mais
facilidade duas coisas há algum tempo perseguidas no ensino voltado
para as crianças: a valorização dos saberes já existentes (o que amplia
a autoestima e reduz a estigmatização daqueles que não dominam a
versão científica do mundo) e a possibilita de realizar estudos
integrados, durante os quais as áreas de conhecimento tradicionais -
Português, Ciências, História, Artes - aparecem, articuladas e
solidárias, na busca de entender melhor “uma realidade” (aquela
vivida pelos alunos e/ou pela escola - ou seja, o lugar), em vez de
serem entendidas como listas de conteúdos a serem ensinados” (p.
301).
Carlos (2007) vai enfatizar que o lugar é o espaço apropriável onde se envolve e
se desenvolve “a vida em todas as dimensões”, é onde a prática cotidiana cria através de
“cultura/ tradição/ língua/ hábitos” uma história que lhe é particular e que pode interagir
com outras histórias de outros lugares tão ou mais particulares. Dentro desta perspectiva
a autora afirma que o lugar seria o suporte para a nossa cultura e acrescenta
“O lugar é a base da reprodução da vida e pode ser analisado pela
tríade habitante-identidade-lugar. A cidade, por exemplo, produz-se e
revela-se no plano da vida e do indivíduo. Este plano é aquele do
local. As relações que os indivíduos mantêm com os espaços
habitados se exprimem todos os dias nos modos de uso, nas condições
banais, no secundário, no acidental. É o espaço passível de ser sentido,
pensado, apropriado e vivido através do corpo.” (p. 17).
Para Moreira (2012) o lugar é hoje uma realidade determinada em sua forma e
conteúdo pela rede global da “nodosidade” e ao mesmo tempo pela necessidade do
homem de refazer o sentido de espaço, (re)significando-o como relação de “ambiência e
de pertencimento”. Na atualidade a globalização tem imposto uma nova dinâmica ao
lugar e é preciso não deixa que o sentido de identidade se perca dentro dos novos
espaços criados pelo “sistema em rede”.
O lugar é o que nos diferencia dentro do espaço, é algo que nos é particular, mas
que pode ser de outros, modificado por terceiros. Perceber que cada lugar traz em si
histórias, personagens e significados dispares requer leituras e observação constante do
espaço de vivência. Na escola convém ensinar que o lugar é “sobretudo” um “espaço
existencial”, onde vivemos e tomamos consciência de nossa existência. O lugar pode ser
pensado como uma categoria de analise geográfica que ganha significados diferenciados
a partir das transformações impostas pela articulação entre os espaços globais. Quando
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4571
ensinado na escola desta maneira, passa a adquirir um novo significado por parte de
quem aprende.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Propusemo-nos a refletir sobre uma das categorias de análise espacial, o lugar,
tentando intercalar nesse contexto falas sobre uma proposta interdisciplinar aliando a
disciplina de geografia à literatura. Constatamos que o diálogo interdisciplinar pode ser
um aliado ao processo de ensino-aprendizagem de qualquer disciplina.
A interação entre geografia e literatura, usando por base do diálogo um romance
regionalista dá ao discurso geográfico uma visualização do contexto social, e mesmo
que em determinados momentos a narrativa seja de cunho fictício, isso não deixa de
acontecer. Ao encaixar o entendimento acerca do conceito de lugar dentro do diálogo
interdisciplinar estamos enriquecendo as falas geradoras de debate na sala de aula e ao
mesmo tempo aproximando o conteúdo literário do ensino de geografia.
Resta mencionar que o trabalho de definir ou tentar defender um ponto de vista
conceitual não é uma tarefa fácil. Exige do professor uma busca efetiva pela pesquisa e
por uma renovação didática dentro da sua perspectiva docente. Vale ressaltar que o
trabalho interdisciplinar deve ser realizado com vias a beneficiar de forma igual as
disciplinas envolvidas e que ambas possam ter seu papel de destaque dentro do processo
de ensino-aprendizagem.
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UTILIZAÇÃO DE NOTÍCIAS JORNALÍSTICAS NO PROCESSO
DE ENSINO/APRENDIZAGEM VOLTADO PARA APERSPECTIVA DO
PROGRAMA DE MONITORIA12
César Augusto França Ribeiro1 - UFS
Acássia Cristina Souza2 - UFS
RESUMO
Este trabalho deriva do relatório apresentado ao Programa de Monitoria na disciplina de
Organização do Espaço Mundial (OEM), que se tornou essencial para a produção deste,
considerando a necessidade de unir o conteúdo teórico à prática. Para tanto, levou-se em
consideração a utilização do material bibliográfico correlacionando com notícias extraídas de
jornais, além de outros, uma vez que, de maneira suplementar, tratavam de assuntos mais
específicos. Tal fato se deu com o objetivo de facilitar a compreensão dos alunos/colegas a
respeito dos assuntos discutidos em sala de aula. A bibliografia e as notícias jornalísticas
selecionadas também propiciaram salutar interação monitor/aluno, por meio de reuniões
presenciais e por via de redes sociais que contribuíram para sanar dúvidas, seja por intermédio
dos debates, como também das explicações que foram favorecidas e referenciadas nas notícias
cotidianas. Sendo assim, o Programa de Monitoria propiciou condições para melhor
compreensão dos conteúdos para aqueles que dele fizeram parte, além de aproximar o conteúdo
teórico do prático. É imprescindível ainda considerar que o programa favoreceu a aprendizagem
tanto dos alunos/colegas, que através de tal metodologia cumpriram de forma ainda mais
prazerosa a disciplina em questão, quanto para o monitor que teve a oportunidade de abrir novos
campos do conhecimento sobre conteúdos até então desconhecidos, e que se tornarão
fundamentais para o mesmo enquanto futuro profissional docente.
Palavras-chave: Notícias Jornalísticas - Ensino – Monitoria
INTRODUÇÃO
A Universidade Federal de Sergipe, partindo da ideia de que futuramente, após a
formação acadêmica, existirá um campo aberto para a atividade de docência e que
enquanto graduando, há que se primar pela melhor qualificação profissional, oferece,
para cumprir tal objetivo, o Programa de Monitoria.
12
O programa de Monitoria da Universidade Federal de Sergipe é normatizado pela RESOLUÇÃO Nº
38/05/CONEP. 1 Graduando do curso de Geografia Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe; Monitor
DGE/UFS. [email protected] 2 Docente do DGE/UFS - Integrante do DAGEO (Grupo de Pesquisa Dinâmica Ambiental e
Geomorfologia) e GEPEASE (Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Ambiental de Sergipe).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4574
Através e como parte desse, o monitor/aluno disponibiliza certo tempo para as
atividades, das quais uma se dá em contato direto com os alunos/colegas de curso para
discutir e solucionar possíveis dúvidas e/ou sugestões para o aprimoramento do
conteúdo.
A disciplina trabalhada neste programa de monitoria é denominada Organização
do Espaço Mundial (OEM), ofertada para três turmas, das quais duas foram
acompanhadas pelo monitor. A disciplina em questão é matéria obrigatória nos cursos
de Bacharelado e de Licenciatura, sendo assim, consequentemente, é ofertada tanto no
periódico diurno, quanto no noturno.
O Programa de Monitoria ocorreu paralelamente ao período letivo, onde ao
término deve-se constar em relatório3 a experiência do discente enquanto atuante no
programa de monitoria.
Em meio às condições de (i)maturidade no contexto acadêmico, a complexidade
teórica, e até mesmo a gramatica rústica de alguns textos no conteúdo programático da
disciplina em questão, os alunos/colegas inicialmente tiveram tais fatores como barreira
para alcançarem o entendimento pleno do conteúdo.
A fim de sancionar essa realidade, existiu-se a possibilidade de relacionar os
conteúdos bibliográficos, vistos em uma perspectiva voltada para a sala de aula, com
conteúdos jornalísticos, de mídia impressa, virtual ou televisiva, propiciando também
uma melhor inserção do estudante de Geografia em uma conjuntura que contempla os
acontecimentos mundiais.
A aproximação com a realidade mundial contemporânea através dos jornais,
mesmo que de forma virtual, ilustrada e/ou televisiva, favorece tanto ao futuro discente
em Geografia quanto ao futuro bacharel, já que propicia condições para o melhor
entendimento na realidade em que estes estão inseridos.
A partir desse contexto cria-se a possibilidade de analogismo das notícias a
elementos de caráter geográfico, de modo a existir um posicionamento crítico, para que
este possa ser colocado em prática pelo aluno/colega e também para efetivar seu
trabalho de docência e/ou pesquisa, embasado não somente nos livros, mas também em
preceitos, situações e acontecimentos cotidianos de outras localidades globais.
3 RIBEIRO, César Augusto França; RELATÓRIO DE MONITORIA NA DISCIPLINA
ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO MUNDIAL - SEMESTRE 2012/1; 2012
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4575
DISCUSSÃO TEÓRICA
Levando-se em consideração o conceito básico da Geografia que se refere a esta
como “a relação do homem com o meio”, é possível verificar que esta relação dá-se de
diferentes formas nas mais variadas localidades do globo.
Essa perspectiva possibilita, consequentemente, a existência de uma variedade
múltipla de relações entre pessoas e suas respectivas sociedades, e de pessoas e outras
sociedades nos mais diferentes pontos do globo, criando um movimento processual
organizacional planetário, objetivando então o foco de estudo da disciplina Organização
do Espaço Mundial (OEM).
As relações sociais e as relações do homem com a natureza estão projetadas no
espaço geográfico. Este, segundo SANTOS 1996, é “formado por um conjunto
indissociável, solidário e também contraditório de sistemas de ações, não considerados
isoladamente, mas como quadro único no qual a história se dá”.
Um pouco menos amplo que o conceito de espaço, mas de importância
semelhante ao entendimento da (des)organização mundial está presente o termo
“território”, que geralmente é associado a país ou nação, mas que, conceitualmente,
retrai-se e expande-se a depender do caso, pois o território é “ um campo de forças, uma
teia, ou rede de relações que, a par de sua complexidade interna define ao mesmo
tempo, um limite, uma alteridade: a diferença entre nós e os outros.”(Ibdem)
Mediando os espaços e os territórios, vale a pena atentarmos para os
modeladores humanos, sociais e estruturais mais expressivos que consistem na
Geopolítica (interesses, ambições, ideologias de um país em relação ao outro) e a
Globalização (movimento que aproxima e fragmenta culturas, sociedades, pessoas, por
meio do dinheiro, constituindo a “globalização perversa”).
Em suma pode-se dizer que a disciplina Organização do Espaço Mundial tenta
entender/explicar, através dos agentes modeladores suparacitados, os interesses das
unidades “espaciais e territoriais” que são refletidos no mundo tal como o conhecemos.
A praxis nas atividades de monitoria contribui imensuravelmente no processo de
formação discente, pois propicia ao estudante a obtenção de conhecimento referente à
prática de ensino, além de possibilitar a aquisição de novos conhecimentos, por
intermediação da orientadora e da relação de troca com os colegas (alunos), troca esta
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4576
que em sua maior parte voltou-se para a compreensão do conteúdo e a aplicabilidade
dos conceitos estudados à realidade. A respeito:
(...) o desenvolvimento do educando pressupõe o desenvolvimento das
diversas facetas do seu ser humano: a cognição, à afetividade, a
psicomotrocidade e modo de viver. Cada sujeito – criança, jovem ou
adulto se educa no processo social como um todo: na trama das
relações familiares, grupais, políticas... (LUCKESI, 1997, p.126)
Tendo como referência a citação supracitada, o modelo de monitoria que foi
empregado, tentou invariavelmente unir todo o arcabouço teórico dos autores que
embasam a disciplina com fatos contemporâneos, locais e mundiais, retirados do
conteúdo jornalístico, a fim de viabilizar as discussões nas reuniões voltadas ao âmbito
da monitoria.
O método utilizado consistiu na aproximação dos ensinamentos teóricos da
academia, com os valores do cotidiano, por intermediação de canais jornalísticos, a fim
de se contextualizar todo o arcabouço teórico com a prática social e até mesmo familiar,
pois segundo Paulo Freire “A Educação qualquer que seja ela, é sempre uma teoria do
conhecimento posta em prática”.
Não se pode desprezar a carga ideológica que muitos jornais (im)põem em seu
conteúdo diariamente e justamente devido a visto MAGNOLI (2004) alerta:
A própria divisão do espaço jornalístico ou do tempo da mídia
eletrônica em seções e a seleção dos assuntos que aparecem em cada
uma delas revelam concepções políticas e ideológicas. Os jornais
brasileiros, por exemplo, noticiam greves e conflitos trabalhistas na
seção de economia. É a maneira de, simultaneamente, esvaziar o
conteúdo político dessas manifestações de insatisfação popular e
acentuar negativamente os prejuízos materiais que elas provocam.
(p. 20)
Sendo assim para solucionar essa problemática, antes de fazer uso de tal
conhecimento como exemplo para os alunos/colegas, o relacionando no contingente
geográfico nas reuniões da monitoria, a mesma notícia, normalmente, era lida e
analisada em diferentes fontes a fim de promover neutralidade e somente expor
condições que favorecessem aos alunos/colegas maior assimilação do conteúdo teórico
da disciplina, para que os mesmos elaborassem a sua visão de criticidade a respeito de
cada fato debatido e estudado. Sobre isso, (VEIGA), afirma que “O ensino exige a
apreensão da realidade. Não se pensa o ensino desconectado de um contexto social mais
amplo”. (2004, p. 16).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Sendo assim, este laço entre os conteúdos bibliográficos e a busca de notícias
jornalísticas oriundas da mídia nada mais é que uma adequação a realidade nos moldes
em que ela se encontra. Ainda sobre o assunto, convém ressaltar que:
A fundamentação básica da educação tecnológica resume-se no saber-
fazer, saber-pensar e criar, que não se esgota na transmissão de
conhecimentos, mas inicia-se na busca da construção de
conhecimentos que possibilite transformar e superar o conhecido e o
ensinado. (GRINSPUN, 1999, p.65).
O momento de desenvolvimento tecnológico no qual estamos atualmente
inseridos deve ser usado tanto por quem ensina quanto pelo discente a favor no contexto
do ensino/aprendizagem, onde desprezá-lo ou somente considerar seus pontos negativos
é se afastar da realidade na qual o próprio se encontra.
Cabe destacar que o uso de notícias de jornais no âmbito da discussão que girava
em torno do Programa de Monitoria somente foi possível devido à abrangência de
conteúdos da disciplina Organização do Espaço Mundial, considerando a sua base
teórica, em livros e/ou artigos que foram publicados há mais de uma década e começam
a apresentar dados não atualizados, como por exemplo, o livro de Mônica Arroyo “O
Novo Mapa do Mundo – Fim de Século e Globalização” que data do ano de 1993, mas
que pode ser utilizado em meio ao contexto atual, considerando a correlação do seu
conteúdo com o programa da supracitada disciplina.
EXPERIÊNCIA E METODOLOGIA
Mesmo que de forma sucinta, o contexto teórico no qual a disciplina
Organização do Espaço Mundial se enquadra evidencia a preponderância de duas
categorias de análise da Geografia, estas que foram norteadoras das demais questões.
Para atender o objetivo proposto, além das várias apostilas e livros que
compõem a leitura obrigatória da disciplina em questão, a busca quase que diária por
notícias em jornais, no contexto micro regional e macro mundial, foi incessante a fim de
sempre poder correlacionar o teórico com o cotidiano.
Em meio à temática apresentada foi possível constatar alguns casos e situações
que foram utilizados, como o conflito na Síria, a ocupação de terras pelos movimentos
de reforma agrária no Brasil, a disputa de patentes e a imposição da cultura norte
americana sobre as demais.
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A troca de conhecimento não se restringia somente ao horário das reuniões, pois
o contato pelas redes sociais viabilizou as diferenças tempo-espaciais entre monitor e
alunos e postou-se como mediadora para o campo de debate e para retirada de dúvidas,
fato que contribuía para o envio de links de jornais, artigos e textos que possibilitassem
a compreensão e expandissem o entendimento do conteúdo.
Mesmo com as aulas na forma presencial, a utilização do notebook e da internet
tornou-se itens essenciais para as possíveis questões que apareceriam e apareceram em
meio ao tempo dedicado ao Programa da Monitoria.
Em meio a (des)organização do espaço contemporâneo, vista sob várias
concepções e referências teóricas, existente entre sociedades, tornou-se evidente as
disparidades ideológicas e políticas entre os diversos povos na perspectiva cultural,
étnica e religiosa e de ante mão a essas existe as diferenças no território, voltada
principalmente a questões sociais.
Como forma a evidenciar os fatores dessa atual (des)organização que é analisada
na disciplina, é notório e cabível de pontuação subtópicos que diz respeito a luta direta,
armada, política e de classes. Assim estes por reflexo geram a essência do conteúdo da
disciplina OEM e são assuntos que diária e pontualmente se fazem presentes na mídia,
já que são geradores de audiência e consequentemente lucro para empresas que
fabricam/comercializam a notícia.
Através da analise do conteúdo retirado dos jornais virtuais torna-se possível
explicar, de forma mais objetiva, clara e facilitada uma infinidade de conceitos
geográficos que se faziam presentes de forma direta ou indireta na disciplina em
questão, tais como: globalização; espaço; território; meio técnico científico
informacional; ideologia; territorialização, desterritorialização e reterritorialização;
entre outros.
Diversas são as possibilidades de conteúdos jornalísticos que podem ser citados
para explicar tais conceitos geográficos, já que são temas intrínsecos à realidade
contemporânea. Entretanto, somente será exemplificado algumas situações para assim
fazermos a analogia entre o teórico e o “prático”.
Vários fatos são relatados por Rógerio Haesbaert no capítulo 1 do seu livro
Globalização do Mundo Contemporâneo. No momento nos deteremos somente a um
trecho que descreve uma das facetas da globalização e que foi utilizado para mostrar aos
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alunos/colegas a amplitude e de certa forma a contradição existente neste mesmo
fenômeno. Eis:
A fragmentação excludente ou desintegradora, por seu lado é aquela
que embora geralmente seja um produto da globalização, acaba a ela
se contrapondo, seja no sentido de “correr pela paralela”, como nos
projetos alternativos de globalização(alimentados sobre tudo pela
problemática ambiental e ecológica) de algumas ONGs e associações
mundiais em defesa das chamadas subclasses, já comentados, quanto
no sentido de efetivamente promoverem a não-globalização.(p.29)
Para constatação de causa e efeito, tem-se a seguinte notícia:
Fonte:http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2012/12/expansao-agricola-e-principal-luta-do-
greenpeace-no-amazonas.html
Com a notícia é possível evidenciar a disputa por territórios, e assim analisa-lo
conceitualmente, através do expansionismo agropecuário e os impactos ambientais. È
possível também relacionar a abrangência do grupo Greenpeace no Brasil, mesmo sendo
uma organização não governamental mundial com sede em Amsterdã e suas
características com a faceta da globalização denominada fragmentadora excludente em
meio as condições teóricas vistas no paragrafo anterior.
Além do supracitado, pode-se evidenciar também o que SANTOS(1993) aponta
a respeito do encurtamento das distâncias físicas devido ao uso da tecnologia criando
assim uma 6ª dimensão na qual o Estado torna-se mero coadjuvante em meio as
situações do mundo globalizado. Assim:
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4580
Nesses espaços de racionalidade, o mercado torna-se tirânico e o
Estado tende a ser impotente. Tudo é disposto para que os fluxos
hegemônicos corram livremente, destruindo e subordinando os demais
fluxos. Por isso, também, o Estado deve ser enfraquecido, para deixar
o campo livre( e desimpedido) a ação tirânica do capital.(p.19)
Fonte:http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/08/120813_bndes_60anos_ru.shtml
Com base na reportagem, é possível a constatação da eficiência e velocidade do
capital originário do BNDES e a dependência do governo brasileiro em relação a este
banco, já que ele fez e ainda faz parte do processo crescimento da nação. A grosso
modo essa dependência torna o banco maior que o próprio Estado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, considerando a utilização das notícias jornalísticas como material
bibliográfico no período de duração correspondente ao Programa de Monitoria na
disciplina Organização do Espaço Mundial, pôde-se verificar a importância destas para
a simplificação do campo teórico apresentado, propiciando um melhor aprimoramento
correspondente ao campo da compreensão dos alunos atendidos, uma vez que consta
parte da realidade local e global em que se está inserido.
O fato não foi refletido somente nos alunos/colegas, que através de tal
metodologia cumpriram de forma ainda mais prazerosa a disciplina em questão, a ponto
de refletir positivamente na apresentação dos seminários, mas também para o monitor
que teve a oportunidade de abrir novos campos do conhecimento sobre conteúdos até
então desconhecidos, e que, com certeza, serão citados quando este se tornar um
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4581
profissional docente, visando da mesma forma a associação entre a parte teórica e a
realidade vivenciada.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
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Contemporânea - Teoria, Método e Aplicações. São Cristóvão: Ed. UFS; Aracaju:
Fundação Oviêdo Teixeira, 2010.
CORREA, Roberto Lobato; CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo Cesar da Costa
(orgs.). Geografia: Conceitos e Temas. 2 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
DESCARTES, René. Discurso do Método. Tradução de Paulo Neves. Porto Alegre:
L&PM, 2011.
GRINSPUN, Mirian Paura Zippin. Educação Tecnológica: desafios e perspectivas.
Cortez Editora, 1999.
HAESBAERT, Rogério (org.). Globalização e Fragmentação no Mundo
Contemporâneo. 1. Reimpr. Niterói: EdUFF, 2001.
LENCIONI, Sandra. Região e Geografia. São Paulo: EDUSP, 1999.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem Escolar: estudos e
proposições. 6 ed. São Paulo: Cortez, 1997, p.120 -167.
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mundiais da guerra fria aos nossos dias. 3 reimpr. São Paulo: Atual, 2004.
MORAES, Maria Ângela Barros. Organização do Espaço Mundial. Livro 1. São
Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2008.
RIBEIRO, César Augusto França; Relatório de Monitoria na disciplina Organização
do Espaço Mundial - semestre 2012/1; 2012
SANTOS, Milton; SOUZA, Maria Adélia A. de; SCARLATO, Francisco Capuano;
ARROYO, Mônica. O Novo Mapa do Mundo – Fim de Século e Globalização. São
Paulo: Hucitec, 1993, p. 15 – 22.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço - Técnica e Tempo. Espaço e Emoção. 2ed.
São Paulo: Hucitec, 1997
__________. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência
universal. 9 ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.
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Geografia. São Cristóvão: Ed. UFS; Aracaju: Fundação Oviêdo Teixeira, 2010.
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ROMANOWSKI, J.P.: MMARTINS, P.L.O. E JUNQUEIRA, S.R.A. Conhecimento
local e conhecimento universal: pesquisa didática e ação docente, vol 1.Curitiba:
Champagnat, 2004, p. 13-30.
O USO DE MAQUETE COMO REPRESENTAÇÃO PRÁTICA NO
ENSINO DA GEOGRAFIA: VULCANISMO EM SUA VIDA
Gisele Carla May; Luciana Maria Zvierzykoski1
RESUMO
Todo o processo de vulcanismo ocorrido no início da Era Cenozóica, tem uma forte influência
para a existência dos seres vivos. A vida neste planeta é baseada na química do carbono que
possibilita termos tudo que é orgânico, além disto, a existência do vulcanismo e fez com que
este planeta fosse habitável permitindo que a vida se desenvolva, exista e evolua. O presente
trabalho busca apresentar uma proposta didática, com o uso de maquete para desenvolver
noções dos processos envolvidos ao vulcanismo na Terra e formação de relevo. Desta forma,
procura-se estimular a participação e o interesse dos alunos nas aulas de Geografia e ainda
fornecer apoio pedagógico para a inserção desta discussão em sala de aula. Como resultado,
propõe-se uma atividade que envolve a elaboração de maquete pelos alunos e a realização
reflexões sobre o movimento das placas e a dinâmica da placa sul-americana, a formação de
ilhas no Brasil. Assim, em um aspecto abrangente, poder-se-á ressaltar a importância do
vulcanismo para a formação da atmosfera e da hidrosfera, elementos indispensáveis à
sobrevivência dos seres vivos. Considera-se uma abordagem prática e relevante, pois poder-se-á
relacionar os conteúdos com o cotidiano dos alunos, associando a assuntos abordados em sala
de aula e instigá-los a conhecer, observar e ter um contato mais próximo com a Geografia.
Palavras chaves: recursos didáticos, ensino de geomorfologia, ensino de geografia.
1 INTRODUÇÃO
A importância do ensino de Geomorfologia e Geologia, em especial na
educação básica, é enfatizado nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ministério da
Educação (MEC) (1998). Neste documento é dado como objetivo de ensino que os
alunos reconheçam que o espaço geográfico é resultado das interações entre a natureza e
1 Graduandas de Geografia da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS;
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4583
a sociedade, e desta forma é importante à compreensão da espacialidade e
temporalidade dinâmica e das interações dos fenômenos naturais e do reconhecimento
do relevo e suas transformações, da degradação dos solos, a problemática da ocupação
de áreas de risco, efeitos de alterações na drenagem e degradações ambientais.
O ensino de Geomorfologia e Geologia nas aulas de Geografia é reconhecido
como elementar à formação dos alunos no ensino Básico, pois esta área do
conhecimento lida com a compreensão global dos processos terrestres e desempenham
um importante papel na formação da cidadania e consciência ambiental, formando
profissionais atuantes diante das dinâmicas ambientais. O surgimento da hidrosfera a da
atmosfera é resultado de um processo que ocorreu no início da Era Cenozóica, o
vulcanismo.
Afirma Ferreira (2007):
A atmosfera foi originada a partir de gases remanescentes da nébula
solar (H e He), vulcanismo (principalmente H2O, CO2, SO2, S, H,
CO, HCl, N) e material resultante do impacto de cometas e outros
corpos celestes (p. 62).
E, acrescenta:
No que se refere à origem da hidrosfera, em particular dos oceanos, é
aceite que se formaram a partir de vapor de água resultante de
processos vulcânicos. O vapor de água libertado arrefeceu e
condensou, voltou a evaporar e assim sucessivamente. Este ciclo
ocorreu possivelmente em simultâneo com o processo de diferenciação
interno da Terra, período em que a temperatura do planeta era bastante
elevada, decorrentes do vulcanismo e impactos meteoríticos. (p. 64)
Nosso planeta é considerado habitável devido a existência de vulcanismo. O
CO2 Atmosférico teria se esgotado em 25 mil anos de existência da Terra, caso não
houvesse fluxo de retorno do carbono por meio do vulcanismo (COCKELL, 2011).
Além disso, o carbono gerado foi suficiente para gerar tudo que temos de orgânico na
Terra e influencia em nossa questão climática, formação de relevo e solos. Desta forma,
a tectônica global afeta toda a vida na Terra.
A representação de vulcões, e toda a sua dinâmica, em maquete, pode facilitar a
compreensão dos alunos sobre os processos que envolvem o ciclo do carbono e a
existência da dinâmica interna da Terra a qual influencia diretamente em nossas vidas,
que por vezes sentem-se desmotivados por continuar a presenciar e os professores a
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4584
reproduzir, em pleno século XXI, as mesmas técnicas de ensino que a trinta anos atrás,
conforme critica Machado (2009 apud TORRES, 2011, p.1).
Verifica-se uma alta velocidade de informações na mídia e esta agitação é
trazida para a sala de aula, deixando o aluno curioso e instigado a se envolver com
novidades escolares, assim como cotidianamente encontra fora dela.
As adaptações das técnicas inovadoras em sala de aula, requerem planejamento,
organização e controle. Conforme Godinho (2007 apud TORRES, 2011, p.2), empregar
estas técnicas só por fazê-las, não é suficiente. É preciso que se tornem um auxílio para
o professor para a explanação do conteúdo, então é necessário atentar ao conteúdo que
será trabalhado, associado com a melhor técnica/recurso. Precisa-se verificar se está
disponível na instituição o recurso físico ou monetário para então adquiri-lo.
A maquete se apresenta como um recurso prático onde facilita a transposição
dos alunos, do abstrato para o concreto, é de um custo baixo, o transporte é fácil e aos
professores a explanação do assunto é feita de forma mais clara. Além disso, o aluno
torna-se parte integrante e agente da aula.
Afirma Torres (2011):
Assim, a maquete é uma representação tridimensional analógica que
possibilita a visualização das formas do relevo representado. A
maquete permite a percepção do relevo de abstrato de forma concreta.
(p. 2)
No entanto, ouve-se dos estudantes as queixas da deficiência destas práticas para
a inserção da temática nas aulas de Geografia nas escolas do ensino Básico. A falta de
disponibilidade de recursos financeiros nas escolas, bem como a acomodação dos
professores, justificada pela baixa remuneração, afetam e impactam o processo ensino-
aprendizagem.
O presente trabalho busca apresentar uma proposta didática, com o uso de
maquete para desenvolver noções dos processos envolvidos ao vulcanismo na Terra e
ainda fornecer apoio pedagógico para estimular a participação e o interesse pela
Geografia.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia baseou-se no planejamento de uma atividade de aula a ser
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4585
proposta para trabalhar com alunos de 6º ano escolar nas aulas de Geografia, inserindo-
se diversos conteúdos integrados, tais como formação de relevo, o movimento das
placas tectônicas e a formação de arcos de ilhas, vulcanismo e os processos climáticos,
hidrológicos e atmosféricos da Terra.
Para o desenvolvimento da aula procurou-se integrar a construção de recursos
didáticos e um planejamento do assunto a ser abordado relacionando com a técnica
apropriada.
Houve pesquisa em materiais didáticos físicos e on line, bem como, pesquisa de
preço para aquisição do material. O material para o desenvolvimento da atividade
envolve a construção de uma maquete de um vulcão e seus elementos em uma
representação tridimensional, sendo composto de: placas de isopor (que será reutilizado,
tendo uma nova funcionalidade e evitando a poluição), tinta guache (vermelho, verde,
amarelo, azul, branco e preto), pincéis para pintar e massa de vidro.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Como resultado, propõe-se uma atividade que envolve a elaboração de maquete
pelos alunos e a realização reflexões sobre o movimento das placas e a dinâmica da
placa sul-americana, a formação de ilhas no Brasil e questões que envolvem a dinâmica
climática, hidrológica e atmosférica que tornaram o planeta habitável até hoje.
A atividade didática proposta poderá envolver duas aulas onde os alunos terão a
tarefa inicial de construir as suas maquetes. Para tanto, serão formados grupos de três
integrantes, para que possam trocar informações e auxílios no decorrer do processo com
a orientação do professor. Para a construção da maquete os alunos estarão organizados
previamente com os materiais necessários (Figura 1).
Após explicados os objetivos da atividade e considerando-se a sequencia de
aulas anteriores sobre clima, atmosfera, biosfera e formação de relevo os alunos
começarão a construir as maquetes. A proposta é de que esta maquete seja composta de
duas peças separadas e, ao serem unidas representem o vulcão completo. A
representação do corte vertical é para demonstrar o vulcão internamente.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4586
FIGURA 1: MATERIAL NECESSÁRIO PARA A ELABORAÇÃO DA MAQUETE.
O isopor precisa ser dividido anteriormente pois a massa é muito mais maleável
e, se assim não fizermos o trabalho poderá ser comprometido. A moldagem pode
apresentar algumas dificuldades, de acordo com o capacidade e habilidade de cada
aluno. A massa de vidro é maleável e, no contato com as mãos, podendo deixar de ter
estabilidade. Assim, a base do vulcão precisa ser maior, para dar estabilidade, devendo
aos poucos ser afinada e moldada.
A melhor maneira de fazer é em parte separadas (Figura 2), pois se juntarmos as
duas peças de isopor e pressionarmos a massa para moldar, esta poderá escorregar por
entre as partes.
FIGURA 2: DIVISÃO DAS PARTES.
Moldados ambos os lados, de forma proporcional, conforme a figura 2, é
desenvolvido o acabamento com o corte a alinhamento, para que ao aproximar as partes
haja uma complementação entre ambas.
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4587
O próximo passo, é o da pintura que é demonstrado nas figura 3 e 4 a seguir.
Cabe ressaltar, a importância da orientação do professor na observância das cores, por
parte dos alunos.
FIGURA 3: PROCESSO DE PINTURA.
Pode-se ainda representar os elementos do cone vulcânico com cores diferentes
de marrom, pois assim dar-se-á a representação das diferentes fases em que o cone é
gerado por diferentes fases de derrames de lavas. Nesta atividade ao mesmo tempo em
que a maquete é construída os alunos irão aprendendo sobre os diversos elementos que
compõe o processo do vulcanismo, como por exemplo a formação da caldeira e da
chaminé. Ainda por ser desenvolvida simulações com as massas de vidro da diferentes
fases de um vulcão até mesmo a formação de um lago na cratera desenvolvida.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4588
FIGURA 4: MAQUETE CONCLUÍDA E AS PARTES UNIDAS, DEMONSTRANDO O
VULCÃO COMPLETO.
A figura 5 representa o corte vertical no vulcão, demonstrando o movimento que
a lava faz desde a câmara
magmática e a pressão que
exerce ao ser expelida.
FIGURA 6: VISTA DE CIMA E POSSIBILIDADE DE DEMONSTRAR O MOVIMENTO DE
UM HOTSPOTS PLACAS NA FORMAÇÃO DE ARCOS DE ILHA.
Considera-se um tema relevante e de uma forma diferente a ser abordado no
ensino básico nas aulas de Geografia, pois os alunos terão maior facilidade em aprender
sobre conceitos e processos mostrados nas aulas de Geografia que por vezes parecem
ser abstratas .
Com as atividades propostas os alunos poderão verificar de forma prática e
representativa os processos geológicos e geomorfológicos que configuram o planeta.
Com o presente trabalho constata-se que podem ser desenvolvidas diversas
atividades didáticas para refletir com os alunos nas aulas de Geografia sobre os
processos vulcânicos e suas dinâmicas os quais tem influenciado na nossa existência e
continuam a se manifestar no planeta todo com mudanças nas paisagens.
Em um aspecto abrangente, poder-se-á também ressaltar a importância do
vulcanismo para a formação da atmosfera e da hidrosfera, elementos indispensáveis à
sobrevivência dos seres vivos.
Assim, destaca-se a prática pedagógica como o uso de diversos recursos
didáticos, como as maquetes, fundamental para que esses trabalhos possam ser
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4589
elaborados também a partir da realidade dos alunos, ou seja, o projeto citado
anteriormente seria uma possibilidade a ser aplicada no ensino da geografia.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desta forma, procura-se com as atividades didáticas propostas estimular a
inserção do tema abordado nas aulas de Geografia no ensino fundamental e promover a
participação e o interesse dos alunos nas aulas de Geografia. O trabalho buscou fornecer
apoio pedagógico para a inserção desta discussão em sala de aula com o
desenvolvimento de atividades desafiantes aos alunos e aos professores que disputam a
atenção dos alunos com tantos outros atrativos fora do mundo interno escolar.
Outro desafio é associar atividade pedagógica com o assunto da aula. Constata-
se que para uma atividade como a que foi proposta, precisar-se-á mais de dois períodos
de aula. Assim, será melhor abordar não somente um assunto, mas refletir com os
alunos todos os conteúdos que envolvem a temática de forma integrada e ainda
proporcionar que entendam os diversos elementos que estão relacionados a sua vida.
Assim, existe a possibilidade de instigar para que o aluno esteja mais atento às
explanações visto que ele fez parte do processo de construção do objeto em discussão e
poderá contribuir com suas curiosidades e leituras anteriores.
Por fim, todas as inovações que vão além do material didático já visto em casa
pelo aluno, serão o diferencial que construirá as aulas.
REFERÊNCIAS
MEC. 1998. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais. Brasília.
COCKELL, Charles (org). 2011. Sistema Terra-vida: uma introdução. São Paulo:
Oficina de Textos,
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Contributo e Suporte para a Vida. 2007. 195f. Dissertação (Mestrado em Evolução e
Origem da Vida) - Departamento de Ciências da Terra, Universidade do Minho, 2007.
TORRES, ELOIZA CRISTIANE. Geomorfologia e Maquetes. Revista Geográfica de
América Central. Costa Rica. Número Especial EGAL, p. 1-10, II Semestre 2011.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4590
A TRANSFORMAÇÃO DIDÁTICA DO CONCEITO DE TERRITÓRIO E
LUGAR ATRAVÉS DE TELEJORNAIS E CINEMA: UMA PROPOSTA
METODOLÓGICA
Mônica Saraiva de Sousa1
Aliciane Mendes Vieira e Silva2,
Eliane Maria Paz Bastos Santos3
Profª Drª. Antonia Dalva França-Carvalho4
RESUMO
O presente trabalho apresenta os resultados de pesquisa sobre uma proposta
metodológica para o ensino de Geografia realizada no interior do Programa de Bolsas de
Iniciação à Docência (PIBID) na Unidade Escolar Professor Joca Vieira, localizada em
Teresina-PI. As observações da ação professoral mostraram a necessidade do desenvolvimento
de aulas com linguagem e estratégias mais atrativas relacionadas à realidade dos alunos,
especialmente no tocante a transformação dos conceitos chaves da geografia. A partir dessa
necessidade optamos por trabalhar através de uma metodologia balizados no enfoque
progressista da educação para construir os conceitos de território e lugar a partir de Telejornais e
Cinema, considerados de difícil assimilação devido ao modo tradicional como é apresentado nos
estudos de geografia. O escopo principal da atividade foi o de aumentar o interesse do aluno em
relação estes conceitos, enfocando o aspecto lúdico e prazeroso para sanar as dificuldades de
aprendizagem. Para a consecução da atividade inicialmente foram feitas observações da prática
professoral e a realização de revisão bibliográfica para enriquecer o conhecimento acadêmico
dos monitores. Na sequência, a pratica educativa ocorreu em três momentos: a construção dos
conceitos auxiliado com recursos didáticos como telejornais local; a aplicação do filme
Madagascar 2 e, por último, realizou-se a intervenção na prática pedagógica com a construção
dos conceitos pelos alunos a partir das explanações relacionando o filme com os conteúdos.
Assim sendo, verificou-se o êxito desta metodologia, sobretudo porque as aulas tornaram-se
mais interessantes, curiosas e motivadoras, envolvendo a totalidade dos alunos, facilitando o
aprendizado do assunto abordado.
Palavras-chaves: Transformação Didática, Metodologias, Ensino de Geografia.
INTRODUÇÃO
Este trabalho propõe apresentar os resultados de uma pesquisa de caráter
interventivo acerca da aprendizagem dos conteúdos de Território e Lugar no âmbito da
disciplina de Geografia, cuja assimilação a literatura considera difícil. Aborda, portanto,
uma metodologia no ensino capaz de promover a transformação didática dos conceitos
da Geografia acadêmica para a Geografia Escolar, em virtude da relevância desses para
1 Universidade Federal do Piauí, Graduanda em Geografia, bolsista do PIBID, [email protected]
2Universidade Federal do Piauí, Graduanda em Geografia, bolsista do PIBID [email protected]
3 Professora da Educação Básica, Supervisora PIBID-UFPI, [email protected]
4 Professora da UFPI. Doutora em Educação [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4591
o entendimento da construção do espaço social, dando ênfase às relações de apropriação
de uma determinada porção espacial, e as relações de identidade e afetividade das
pessoas com o seu lugar de vivência.
A problemática desse trabalho consistiu na observação da dificuldade de se
formar um elo autêntico entre a teoria do conhecimento acadêmico e a prática do ensino
regular devido à linguagem rebuscada das literaturas acadêmicas e a falta de atenção
dos educandos diante de aulas tradicionais. Esse fato foi observado a partir da
experiência pedagógica de licenciandos em Geografia da Universidade Federal do Piauí,
participantes do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência).
Através dessa experiência pudemos perceber que o ensino de geografia
geralmente está baseado em um ensino tradicional, no qual, a metodologia se resume a
exposição de conteúdos e o aluno está confinado a um ensino bancário, na acepção de
Freire (1996), pois seu papel é reduzido à mera reprodução de conceitos prontos e
acabados.
Procurando contribuir para a minimização dessa problemática e facilitar a
construção destes conceitos (território e lugar), realizamos no âmbito do Programa de
Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) de Geografia da UFPI uma prática educativa
que se configurou através de uma aula dialogada e motivadora. Tal metodologia foi
vivenciada com alunos do 3º Ano da Unidade Escolar Joca Vieira e foi mediada por
exemplos do cotidiano dos alunos, vídeos de telejornais, música, charges, imagens e um
filme com características que estimulou os educandos e contribuiu para instigar a
criticidade, criatividade e atitude dos mesmos.
A ideia foi transformar os conceitos científicos de território e lugar em
conteúdos concretos, através de atividades lúdicas de modo que os mesmos fossem
significados pelos alunos. Ressaltamos que a categoria “transformação didática” é aqui
compreendida como a modificação pedagógica, ou o tratamento pedagógico que o
professor imprime ao conhecimento acadêmico para que o mesmo seja acessível ao
aluno, ou seja, para que sua aprendizagem seja alcançada. Esta concepção aproxima-se
da acepção que Shulman (1986) quando utiliza o conceito de "conhecimento
pedagógico do conteúdo", isto é, o conteúdo específico (re)elaborado para ser ensinado,
quando analisa a epistemologia própria dos professores, através do uso/domínio de seus
saberes. Assim, fundamentados na concepção progressista da educação e na geografia
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4592
crítica delineamos as bases teórico-metodológicas para a experiência, detalhada a
seguir.
2 A APRENDIZAGEM DOS CONCEITOS DE TERRITÓRIO E LUGAR:
APORTE TEÓRICO-PRÁTICO
Acreditando na corrente progressista, na qual defende que educandos e os
professores são os sujeitos do processo de ensino-aprendizagem, entendemos o
professor como mediador da transformação didática entre o ensino acadêmico para o
ensino escolar elaborando estratégias viáveis de serem postas em prática e que busque a
construção dos conceitos pelos próprios os educandos. Neste aspecto, “O paradigma
progressista alicerça uma educação que leva em consideração o indivíduo como um ser
que constrói a sua própria história”. (BEHRENS, 2010, p. 71).
Assim elaboramos uma prática educativa que trouxesse em seu bojo uma
linguagem despertadora de emoções, que fizesse parte do mundo dos educandos e que
roubasse a atenção desses para a participação da aula, conscientizando-os da construção
das relações sociais das quais fazem parte. É importante ressaltar que trabalhamos numa
perspectiva de transformações didáticas.
A transformação didática consiste em orientar, explicar e socializar o
conhecimento científico e técnico da ciência aos alunos do ensino regular. Porém, essa
às vezes ou muitas vezes é ineficaz, dificultando a aprendizagem dos alunos. As
dificuldades encontradas na transformação do saber ensinado pelos professores se
constituem no ligamento entre o conteúdo e o cotidiano dos educandos. Dessa forma, a
escola passa a ser um elo entre a inteligência adquirida ao longo do tempo e o
conhecimento técnico.
Nesse sentido, a análise dos elementos centrais que guiam qualquer processo de
ensino e de aprendizagem torna-se importante, seja a metodologia, os recursos didáticos
e sobremodo, quais conceitos a serem a aprendidos e a sua funcionalidade, bem como a
perspectiva e favorecimento a quem esses devem ser construídos.
Segundo Cavalcante (2002, p. 15):
O desenvolvimento do pensamento conceitual, que permite uma
mudança na relação cognoscitiva do homem com o mundo, é função
precípua da escola, embora não seja a única. Considerando que um
conceito não se forma ou se constrói na mente do individuo por
transferência direta, ou por assimilação reprodutiva, as indicações para
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4593
a formação de conceitos no ensino, na linha de uma didática histórico-
crítica, recomendam o confronto de conceitos científicos e conceitos
cotidianos.
Cientes da importância dos conceitos chave da ciência geográfica é que traçamos
aqui a relevância dos conceitos de Território e Lugar para a compreensão dos educandos
da sua realidade e das inúmeras relações existentes entre os grupos sociais e entre esses
e o seu espaço de vivência. Assim, no interior da corrente da Geografia Crítica e
embebidos nas ideias de uma perspectiva progressista é que entendemos que tais
conceitos se tornam importantes para os alunos no que se refere à compreensão do
mundo com suas contradições espaciais, conflito, relações de poder, sentimento de
pertencimento e diversidades culturais.
A Geografia Crítica trabalha numa perspectiva subjetiva, onde se valoriza a
percepção dos indivíduos a partir das suas experiências e busca se posicionar com
criticidade enquanto ciência de investigação de problemas, além de se manifestar como
uma ciência operativa buscando a desconstrução das representações sociais do mundo
atual que fere a integridade física, e psicológica do homem, norteando novas
representações voltadas para uma sociedade mais justa e igualitária de bem estar social
a todos.
Partindo dessas caracterizações o conceito de território foi estabelecido como
aquele que mantém estrita relação com o conceito de poder, ou seja, entendido como
porção espacial onde se estabelece relação de sobrevivência e conflito, espaço
delimitado, apropriado, construído, desconstruído e reconstruído por e a partir de
relações de poder de um grupo em vários níveis de escala espacial e temporal.
Considerando que a relação de poder pode se dá em um espaço concreto ou abstrato.
(SOUSA, 2007).
Segundo Souza (2007, p. 77):
Territórios existem e são construídos (e desconstruídos) nas mais
diversas escalas, da mais acanhada (p. ex., uma rua) à internacional (p.
ex., a área formada pelo conjunto dos territórios dos países membros
da Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN); territórios
são construídos (e desconstruídos) dentro de escalas temporais as mais
diferentes: séculos, décadas, anos, meses ou dias; territórios podem ter
um caráter permanente, mas também podem ter uma existência
periódica, cíclica.
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No âmbito da construção desse conceito, o objetivo foi utilizar de exemplos do
cotidiano dos alunos que mantivessem relações de dominação e influência de atores
sociais nos mais variados territórios, procurando desmitificar a ideia de dominação pela
violência e principalmente desconstruir um conceito formado e limitado entre território
e território nacional. O que se pretendeu construir foi uma ampliação desse conceito,
entendendo que territórios são construídos e desconstruídos nas mais variadas escalas e
por diferentes grupos sociais. Além de considerar as caracterizações dos inúmeros
processos de territorialidade como os processos de territorialização, desterritorialização
e reterritorialização muitas vezes estabelecidos em uma mesma porção espacial.
Condicionamos ainda os educandos a participar de um sentimento de consciência da
complexidade e da importância desse conceito para o seu cotidiano procurando
despertar uma ideia de necessidade de autonomia nos processos de territorialidade dos
quais fazemos parte.
O conceito de lugar é estudado pela Geografia em diferentes escalas, esse
consiste no espaço vivido, dotado de significados próprios e particulares que são
transmitidos ao longo de suas vivencias. É considerada característica desse estudo a
percepção do individuo, os símbolos, a religiosidade, os valores e as identidades
coletivas. Segundo Christofoletti (1982, p. 22) diz que, “O lugar é aquele em que o
indivíduo se encontra ambientado, no qual está integrado. Ele faz parte do seu mundo,
dos seus sentimentos e afeiçoes; é o “centro de significância ou um foco de ação
emocional do homem”.
O lar, habitat, bem-estar, afetividade, vivencia, apego, relações, refugio,
singularidade, familiaridade e intimidade também são características que definem um
lugar. A concepção do conceito de lugar dentro da Geografia Crítica esta ligada a
especificidade, a emoção, ao apego trabalhando com o “eu” particular. Esse está envolto
em características históricas e culturais, por isso, estudá-lo é fundamental para a
compreensão das relações sociais que se caracterizam nos lugares específicos.
Para construir esses dois conceitos, fomos inspirados nas conceituações de
autores como Marcelo José Lopes de Sousa (2007), Marcos Aurélio Saquet (2007),
Claude Raffestin (1993), Yi-Fu Tuan (1983) e Antonio Christofoletti (1982). Tais
literaturas possuem uma linguagem rebuscada que precisam de um aprofundamento de
leitura e abstração que até mesmo nós licenciandos e por que não dizer profissionais
formados sentimos dificuldade de compreensão. E foi a partir da conscientização dessa
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linguagem e da necessidade de aliar a teoria discutida na academia com a prática da sala
de aula que analisamos não apenas os conceitos, mas os outros elementos citados em
outrora que fazem parte do processo de ensino-aprendizagem que propomos uma
analise da metodologia e dos recursos empregados na transformação didática.
O que analisamos nas aulas observadas inicialmente enquanto monitores do
Pibid da Ufpi foi que o ensino tradicional ainda permeia as aulas de geografia. Com
isso, sabemos sim, que é necessário utilizar metodologias que motive os educandos de
uma forma lúdica, que visa desenvolver a capacidade e habilidade em aliar teoria e
prática, bem como, facilitando na transformação didática dos conteúdos. “Motivar é
algo que leva os alunos a agirem por vontade própria”. (ZÓBOLI, 2007, P. 16).
Os recursos utilizados nessas aulas tradicionais se resumem ao livro didático, o
quadro acrílico, pincel e a exemplos do cotidiano explorados superficialmente. Diante
dessa observação propomos uma aula inovadora para aquele ambiente de ensino,
mediada por uma reflexão mais aprofundada dos conceitos se utilizando de uma
metodologia e recursos audiovisuais para despertar o interesse dos alunos pela
disciplina e que constituísse significação para ao educandos.
Dependendo de como for utilizado, os recursos didáticos tornam-se um material
de apoio que constitui em uma ferramenta de ensino, proporcionando uma
aprendizagem mais rápida, efetiva e duradoura. Neste caso, a utilização de recursos
audiovisuais em sala de aula serve para desenvolver a curiosidade, visualizar melhor os
objetos a serem estudados, incentivar, motivar a interação do sujeito com o abjeto e
consequentemente desenvolver o conhecimento, como atesta Sant’Anna (2004, p. 19):
Recursos de ensino se constituem por materiais institucionais que
atuam positivamente na aprendizagem, são estimuladores e
reforçadores da mesma. São elementos que instrumentalizam o aluno,
favorecendo o processo de assimilação, a criatividade, o
desenvolvimento cognitivo, adaptando-o ao meio e à sua própria
realidade.
Dentre os recursos utilizados na construção dos conceitos de território e lugar
consideramos o uso de retroprojetor e de alguns recursos alternativos, assim como
vídeos de telejornais, música, imagens, charges e filme. Esses recursos alternativos
aproximam os educandos da sala de aula, pois vivemos na era da tecnologia, onde essas
mídias estão em constante contato com os estudantes fazendo parte do dia a dia desses e
acabam por disputar a atenção dos alunos perante os professores.
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Segundo Barbosa (2003, p. 111), “A ludicidade dos filmes possui uma
característica muito própria: a imagem está em movimento. Assim, a vida representada
na tela (a) parece mais próxima da nossa realidade”. Nessa perspectiva, é preciso
analisar quais conceitos pretendemos trabalhar, buscando uma ligação cinematográfica
com o seu cotidiano.
Assim, considerando a relevância dos conceitos de território e de lugar e a
possibilidade de desenvolver estratégias que colaborem para a aprendizagem
significativa destes conceitos descreveremos a metodologia utilizada.
3 METODOLOGIA E DISCUSSÃO
Nossas vivências como bolsistas da área de Geografia do Pibid nos levou a
reflexões sobre o cotidiano, a escola, e da sala de aula. Um destas reflexões, decorrentes
de uma avaliação diagnóstica sobre a construção dos conceitos centrais da ciência
geográfica constatamos que os educandos do 3º ano do ensino médio da Unidade
Escolar Professor Joca Vieira localizada em Teresina – PI, não tinham domínio dos
conceitos de Território e Lugar. Considerando a relevância desses conceitos e a
dificuldade da transformação didática dos mesmos para o ensino regular nos
propusemos a desenvolver uma prática educativa instigadora como forma de sanar essa
problemática. Para isso, efetuamos, à priori, uma revisão bibliográfica de textos
acadêmicos em livros e web site sobre a temática.
Para atingir nosso objetivo, isto é, a construção dos conceitos de Território e
Lugar pelos alunos, desenvolvemos uma aula horizontal, ou seja, uma aula dialogada
entre os monitores do Pibid, alunos do curso de Licenciatura em Geografia da
Universidade Federal do Piauí e os alunos do 3º Ano, mediada por exemplos do
cotidiano destes alunos e recursos alternativos como vídeos, telejornais, charges,
música, imagens e filme. A seleção destes recursos foi definida em razão da
possibilidade de despertarem a atenção dos alunos e o interesse pela ciência geográfica.
A intenção foi utilizar tecnologias que colaborarem na explicação/compreensão da
importância desses conceitos e que instigasse o senso crítico dos alunos desses diante da
sua realidade, considerando a dinâmica do cotidiano dos mesmos.
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A construção dos conceitos de Território e Lugar foi realizada através de uma
aula motivadora, instigadora e dialogada, na qual educandos e monitores estabeleceram
uma relação horizontal e afetiva. No primeiro momento fizemos uma explanação sobre
a importância da ciência geográfica como desses conceitos para a compreensão do
mundo e da estruturação do espaço social em que vivemos.
Traçamos as características principais dos dois conceitos nos utilizando de
imagens, charges, vídeos de telejornais e principalmente mantendo relação com o
cotidiano dos estudantes, com exemplos, que fazem parte da vivência dentro dos lugares
onde mantemos relações sociais. Assim os alunos se sentiram parte daquele processo,
fato observado pela hexis dos alunos, onde se mostravam fervorosos participando
ativamente da aula, fazendo perguntas, tirando dúvidas e dando exemplos de seu
cotidiano mesmo antes de serem solicitados pelos monitores como mostra a figura 1.
FIGURA 1: CONSTRUÇÃO DOS CONCEITOS DE TERRITÓRIO E LUGAR.
A: Visualização de Imagens; B: Explanação do conteúdo; C: Visualização dos
Telejornais; D: Apresentação do filme, Madagascar 2. Fonte: PIBID DE GEOGRAFIA
TERESINA-PI. Registrada em: Maio de 2013.
Na construção do conceito de Território traçamos exemplos da relação de poder
existente no ambiente residencial, de trabalho e ainda religioso dos educandos, assim
como evidenciamos relações de Território e poder em suas diferentes escalas espaciais e
temporais.
Caracterizamos os movimentos de territorialização, desterritorialização e
reterritorialização dentro de Teresina PI e mediações, cidade em que monitores e
educandos vivem e experimentam as mais variadas experiências. Utilizamos de
exemplos de escala internacional e nacional, além de situações como o processo de
territorialização no centro da cidade dos comerciantes dessa durante o dia e dos agentes
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sociais de prostituição e usuários de drogas nesse mesmo território durante a noite, a
desterritorialização dos camelos da cidade e seu processo de territorialização em outro
espaço, o que nos ajudou a estabelecer o entendimento de variação de escala temporal
caracterizando o conceito de territorialidade cíclica, territórios contínuos e descontínuos
proposta por Souza (2007).
Os exemplos citados acima foram abordados a partir de diálogos e da
visualização de imagens e telejornais locais que noticiavam a territorialização do tráfico
de drogas como a desterritorialização da população local por conta da tomada de poder
por esses agentes sociais. Mostramos ainda um vídeo que noticiava a disputa pelo poder
pelo oceano Ártico, onde procuramos evidenciar que a disputa de território não ocorre
apenas no solo, mas em qualquer espaço, seja ele abstrato, aéreo ou marítimo.
Também utilizamos telejornais que discutiam a disputa por território no nosso
próprio Estado. Observamos que estes recursos despertaram a atenção dos alunos e
fizeram com que esses enxergassem as relações de poder onde vivem e a importância do
conceito para entender a relação de dominação e influência de grupos sociais dentro do
nosso próprio espaço de vivencia.
Na construção do conceito de Lugar as imagens projetadas despertavam a
curiosidade e o sentimento de pertencimento e afetividade dos educandos para com os
seus lugares de vivencia. Os exemplos do cotidiano de todos presentes na aula formava
na hexis dos educandos olhares de dúvidas e soluções. Tais expressões fugiram dos
rostos dos estudantes e se transformaram em vozes que ecoavam na sala de aula, onde
um queria participar com seus exemplos de sentimento de identificação e pertencimento
com um determinado lugar e os outros se mostravam entusiasmados por sua vez de
falar.
Os exemplos eram os mais variados e advinham da infância, da rua em que
moravam, da saudade dos vizinhos, da ligação que tinham com os símbolos presentes
em seu cotidiano e das impressões que tinham dos lugares que vivenciavam todos os
dias como o caminho percorrido para chegar à escola, o caminho da volta pra casa ou
ainda do bairro do amigo. Após a construção dos conceitos de Território e Lugar
orientamos os educandos a assistirem ao filme Madagascar 2 com um olhar geográfico,
procurando identificar os momentos nos quais os dois conceitos se apresentassem no
decorrer do filme.
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O filme contava a história de um grupo de animais (leão, zebra, girafa,
rinoceronte entre outros) que são amigos que habitam um zoológico localizado em Nova
Iorque que decidem se aventurar a encontrar suas origens e seus semelhantes. Esses
conseguem chegar à África e se deparam como lugar no qual os originou, o leão Alex,
um dos protagonistas reencontra sua família, a casa onde morava quando criança, local
que teve que se desprender por conta de uma disputa de território entre o pai e outro
leão que sempre disputa o poder sobre os demais do grupo. Em resumo, o filme é
repleto de cenas que representam disputas por território, delimitação de fronteiras e
tomada de poder por grupos e de sentimentos de pertencimento pelos lugares
vivenciados.
Percebemos que alunos se mantinham com os olhares fixados no filme, e ao
término iniciamos um diálogo relacionando o filme com os conceitos antes construídos.
Foram citadas as cenas que mais lhe chamaram a atenção e, em seus relatos pudemos
perceber que esses demonstravam um conhecimento mais aprofundado e embasado no
conhecimento científico. Esta constatação caracterizou a relevância da atividade
proposta para a efetivação da transformação didática dos conceitos de Território e Lugar
refletido na academia e transmitido para os estudantes do ensino regular.
Portanto, o resultado da aplicação da metodologia foi satisfatório, uma vez que o
objetivo da atividade foi alcançado com sucesso. Com a atividade os alunos puderam
perceber que o conteúdo fazia parte do seu dia-a-dia. A escola os (re) significou de
forma mais prazerosa, instigadora e eficiente, como mostra o relato a seguir:
O filme foi legal, gostei muito aprende perfeitamente a definição de
lugar e território, o que mais gostei foi ter uma visão diferente do
filme, um jeito mais atraente e divertido, me permitiu um aprendizado
mais detalhado de lugar e território... Deveria ter mais aulas assim!
Relacionadas com o assunto! Assim, os alunos poderiam interagir com
os professores! Assim todo “mundo” presta atenção! (EDUCANDO
DO 3º ANO “C”, 2012).
Constamos ao final dessa atividade que aulas como essa devem ser mais
utilizadas pelos professores do Ensino Médio, transformando o senso comum do aluno
em um olhar geográfico de se ver as coisas ao seu redor, despertando a curiosidade, a
criticidade e o seu lado artístico de se ver e perceber os conceitos no seu cotidiano.
CONCLUSÃO
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A evolução conceitual dos conceitos de Território e Lugar pelos alunos
evidenciou a eficiência da metodologia empregada e a prática que os monitores, ainda
aspirantes a educadores, realizaram exitosamente através da transformação pedagógica
do conteúdo acadêmico. Isso significa que a aula não se limita mais à mera
transformação instrumental da matéria, mas prioriza a ação sobre o humano e com o
humano, como assevera Therrien e Loiola (2003).
Isso significa que ao transformarmos didaticamente os conceitos centrais da
ciência geográfica para o ensino regular através de metodologias capazes de aliar o
sujeito ao objeto, de modo significativo, bem como o ensino da aprendizagem,
estaremos possibilitando oportunidades para o aluno olhar criticamente o mundo ao seu
redor e, assim, preparando-o para uma vida social autônoma como aspira à educação
progressista.
Portanto, podemos depreender que os conteúdos de Território e Lugar, ensinados
na Geografia no Ensino Médio não são difíceis de serem assimilados como alega a
literatura. Paradoxalmente, são facilmente compreendidos pelos alunos quando
transformados didaticamente através do uso de metodologias de ensino lúdicas e
prazerosas que sejam atrativas e possibilitem ao aluno ser sujeito ativo na construção do
conhecimento. Isso implica que o professor necessita mobilizar além do saber cientifico,
o saber-fazer para, utilizando-se de estratégias de ensino diversificadas que sejam
guiadas por um enfoque da educação e da geografia que concorram para a autonomia
dos sujeitos.
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A MAQUETE CARTOGRÁFICA COMO RECURSO DIDÁTICO
NO ENSINO DE GEOGRAFIA.
Aline de Oliveira da Costa1
RESUMO
Este artigo foi elaborado a partir do projeto da monografia do curso de Especialização em
Ensino de Geografia da Universidade Estadual de Londrina e tem por objetivos, verificar o
resultado do uso de maquetes como recurso didático para o ensino da Cartografia, mais
especificamente no entendimento do conteúdo altimétrico, tendo como base uma carta
topográfica e proporcionar ao educando compreender o espaço tridimensional representado pela
maquete, estabelecendo diferenças entre o bidimensional do mapa e as três dimensões da
maquete. A maquete é um instrumento de ensino bastante didático e que possibilita ao professor
preparar uma aula diferenciada, saindo do tradicional e levando a maior participação dos alunos,
pois eles têm a possibilidade de construir sua maquete e nela representar a sua visão da
realidade estudada, pois a principal característica da maquete é a função de representar a
realidade, com detalhes não vistos em outra forma de representação. Ao utilizar a maquete como
um instrumento de ensino o professor pode explorar diferentes conteúdos geográficos, sejam
eles, físicos, como a altimetria, geomorfologia, hidrografia, geologia, ou humanos, como a
urbanização, cultura e economia. Podendo ainda ser feita a relação entre ambos os aspectos em
diferentes escalas cartográficas e geográficas. O professor pode e deve trabalhar a maquete em
conjunto com outros instrumentos de ensino como o trabalho de campo, imagens, mapas dentre
outros. A utilização da maquete permite também o trabalho interdisciplinar, em que é possível
envolver outras disciplinas para ampliar a gama de conhecimentos e enriquecer o processo de
ensino aprendizagem. A realização de atividades dessa natureza é uma maneira de colocar os
alunos em ação, de proporcionar a eles a própria construção do conhecimento.
Palavras-chave: Ensino de Geografia; Instrumento de ensino; Maquete.
INTRODUÇÃO
De acordo com Cavalcanti (2006) o ensino de geografia deve desenvolver no
educando a capacidade de compreensão da realidade, ajudando-o a formar raciocínios e
concepções mais articulados e aprofundados a respeito do espaço, formando a partir
dessa compreensão da realidade cidadãos críticos e atuantes. Porém para se alcançar
esses objetivos é imprescindível que os conteúdos das aulas não sejam ensinados de
maneira fragmentada, é necessário também que haja a valorização do conhecimento que
cada aluno traz consigo, em decorrência das suas experiências de vida, ligando o estudo
à vida do individuo, fazendo-o perceber a importância do que está sendo estudado,
1 Universidade Estadual de Londrina [email protected]
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levando-o a refletir para buscar conhecimento e ser capaz de produzir seu próprio
conhecimento.
Os instrumentos de ensino podem auxiliar de maneira extraordinária as aulas de
geografia. Cartas, mapas, globos, maquetes, entre outros devem fazer parte do cotidiano
das aulas. Filmes, documentários, jornais, revistas, letras de musicas e recursos da
informática se fazem importantes quando aliado de maneira correta ao ensino de
geografia (SILVA, 2004).
Vemos um leque de instrumentos para se trabalhar no ensino, sendo eles, uma
ferramenta complementadora, motivadora e que traz riqueza às aulas, desperta a
curiosidade e o interesse dos alunos, ultrapassa as enfadonhas aulas expositivas, além de
promover a interação dos conteúdos que são aplicados em sala com a realidade do
aluno, pois a representação do espaço geográfico através de mapas permite a reflexão
sobre a realidade vivida. Mapas possuem simbologias próprias (gráfica e cartográfica),
portanto, através da comunicação visual, podem-se observar as várias representações da
Terra. A leitura e interpretação de mapas podem interferir na forma de se enxergar o
mundo. Pois quando se aprende a ler e interpretar os mapas, é como se estivéssemos
abrindo uma nova janela para o saber, principalmente quando se consegue relacionar
informações e analisá-las em conjuntos, começa-se a entender o espaço e os fenômenos
que nele acontecem.
Um instrumento que pode contribuir com o ensino da geografia é a maquete.
Através da maquete, o aluno poderá fazer comparações de grandeza, interpretar
inúmeros recursos visuais como mapas e imagens, além de fazer a “leitura” da
tridimensionalidade, já que a maquete utiliza a representação em três dimensões
(largura, altura e comprimento). De acordo com Cortez (2012) a maquete é uma forma
de registrar a superfície terrestre de forma reduzida, como na escala de um mapa.
Com base neste contexto se desenvolveu o presente artigo, que é pautado na
proposta do projeto de monografia do curso de Especialização em Ensino de Geografia
da Universidade Estadual de Londrina.
A GEOGRAFIA E A CARTOGRAFIA NO ENSINO.
A Geografia tem por objetivo o estudo do espaço geográfico e a Cartografia é
uma das ferramentas utilizadas para o estudo desse espaço, que é construído e
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constantemente modificado pela sociedade a partir da relação entre homem e natureza.
A sociedade moderna dotada de tecnologias transforma o espaço natural, moldando um
novo espaço de acordo com seu interesse.
Nesse sentido, o papel da Geografia Escolar é mostrar ao aluno que ele está
inserido na sociedade, que ele faz parte da história e é um agente ativo no processo de
transformação do espaço vivido, e a “alfabetização cartográfica, por sua vez, leva cada
indivíduo a compreender o espaço físico conhecido, facilitando a análise geográfica”
(PISSINATI; ARCHELA. 2007).
A Geografia e Cartografia além de estarem presentes no cotidiano da sociedade
são ciências que compartilham de formas diversas, o mesmo objeto de estudo, o espaço.
Este espaço que é tratado nas diferentes abordagens pela Geografia
tem sido representado nos mapas e em outros documentos, pela
Cartografia. As representações cartográficas são fontes de
informações capazes de relacionar as questões geográficas,
ambientais, sociais e econômicas em um mesmo mapa, ou seja,
conseguem traduzir o dinamismo do mundo através de elementos que
simbolizam a realidade. (ANDRADE; FARIA. 2009).
O professor na educação escolar tem como tarefa, fazer com que o aluno
compreenda o mundo e a Geografia é uma forma importante de leitura de mundo e é a
partir da observação e da vivência com o real que nos tornamos capazes de pensar e
idealizar o mundo.
A Geografia é uma disciplina formativa capaz de instrumentalizar o aluno para
que ele exerça o papel de um verdadeiro cidadão e, para isso, é necessário que, os
conteúdos das aulas não sejam ensinados de maneira fragmentada, é imprescindível
também que haja a valorização do conhecimento que cada aluno traz consigo, em
decorrência das suas experiências de vida, ligando o estudo à vida do individuo,
fazendo-o perceber a importância do que está sendo estudado, levando-o a refletir para
buscar conhecimento e ser capaz de produzir seu próprio conhecimento
Atualmente no ensino de Geografia, o recurso mais utilizado pelo docente é o do
livro didático, expondo os conteúdos verbalmente e passando exercícios de copia que
levam à memorização sem estimular o aluno a questionar, e como resultado desse
mecanismo adotado pelo professor para expor o conteúdo, tem-se uma aprendizagem
defasada, em que o aluno não consegue pensar criticamente sobre o objeto de sua
reflexão (MELONI. 2009). A cartografia como vem sendo trabalhada nos livros
didáticos não é satisfatória, na maioria das vezes é apresentada como um conteúdo
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pronto e desvinculado da realidade do aluno, podendo assim ocasionar problemas na em
sua formação, como não conseguir localizar ou representar o seu espaço vivido. Os
livros didáticos na sua grande maioria tratam a cartografia como elementos externos e
ilustrativos, não correlacionando os mapas e seus elementos junto ao conteúdo, mas sim
abrindo caixas de textos, boxes, parênteses, para explicá-los, como se esses não
fizessem parte do conteúdo geográfico estudado.
Essa situação de desvalorizar a cartografia como recurso útil para
compreender os conteúdos geográficos agrava-se nos livros didáticos:
o rigor técnico-cartográfico distancia-se, e a cartografia é apresentada
muito mais como ilustração, do que propriamente como instrumento
de compreensão da realidade social. (SANTOS. 2003).
Meloni (2009) afirma que deste modo, a utilização de mapas apenas visa que o
aluno decore os pontos ou fenômenos principais que estão nele ilustrados, não
possibilitando sua compreensão e entendimento para que o mesmo consiga realizar uma
leitura cartográfica correlacionando os dados expostos. O ensino torna-se então, sem
sentido para o aluno, pois está desvinculado de sua realidade, não sendo possível a
compreensão espacial do fenômeno estudado.
A falta de habilidades cartográficas leva as pessoas a se verem em
situações como: ficar girando o mapa da cidade até conseguir se
localizar na mesma, dizer que o norte fica para cima e o sul para
baixo, ter dificuldade para entender como pode o rio São Francisco
nascer em Minas Gerais e “subir” para o Nordeste do país, ou não
conseguir dimensionar os espaços com base na escala (PISSINATI;
ARCHELA. 2007).
Os elementos cartográficos devem ser apresentados nos livros de forma
contextualizada ao conteúdo geográfico escolar, como os textos principais devem ter a
função questionadora e não meramente ilustrativa. Precisam apresentar mapas bem
elaborados, compatíveis com os conteúdos específicos e as informações que querem
repassar. Para que a Geografia junto à Cartografia no processo de ensino-aprendizagem
possa auxiliar o professor a ensinar aos alunos, através de sua linguagem gráfica nos
livros didáticos, a construir uma análise espacial, uma leitura da realidade, do seu
espaço local e cotidiano.
Para Meneguette (1998) no que diz respeito à aquisição e apropriação de
conhecimentos geográficos e mais especificamente cartográficos, admite-se que a
educação cartográfica do cidadão brasileiro é inadequada.
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Os estudos cartográficos são de fundamental relevância para a
formação da vida acadêmica e profissional, uma vez que boa parte dos
professores não está preparado para alfabetizar crianças e jovens no
que se refere à representação cartográfica dos aspectos geográficos, na
leitura e na produção de mapas e na compreensão de suas convenções
e símbolos. Julgamos que, se os professores obtivessem o domínio
desses elementos em suas aulas, isso muito contribuiria no
entendimento e na intervenção do espaço geográfico (BUDIN;
CAMPOS. 2009).
Segundo Almeida e Loch (2009 apud SANTOS, 2002; BOVO, 2001;
CASTELLAR, 1996) a cartografia está distante das escolas brasileiras, porque grande
parte das habilidades de leitura, escrita e visualização através dos meios gráficos são
desconhecidas pelos professores. Esse fato acarreta grandes problemas para os alunos,
pois sem uma boa orientação, o aluno não tem condições de compreender, sozinho,
noções cartográficas simples nem complexas. E de acordo com Francischett (2001),
O principal problema está na formação e na metodologia de ensino de
quem trabalha com a Cartografia na Geografia. Geralmente, quem
ensina nem sempre sabe o porquê e para que está ensinando. A
maioria dos professores desconhece a importância da Cartografia, ou
tem receio de utilizá-la no ensino.
Segundo uma pesquisa realizada por Loch e Fuckner (2005) com professores da
educação básica de Santa Catarina, os educadores apresentam sérias dificuldades em
relação à cartografia, não apenas em conteúdos, mas consequentemente em ensiná-la.
Muitos professores não conseguem avançar além do livro didático no que diz respeito à
cartografia.
Para facilitar o entendimento dos alunos e favorecer a reflexão e a produção de
mecanismos intelectuais, diversos recursos são utilizados nas diversas escolas. Um
recurso muito discutido atualmente no ensino de Geomorfologia é a maquete
(SIMIELLI, 1992; PONTUSCHKA, 2007; TORRES e SANTANA, 2009; OLIVEIRA e
MALANSKI, 2008; SANTOS, 2009). De acordo com Simielli et all (1992), a maquete
é uma representação em três dimensões de uma figura cartográfica plana em duas
dimensões, onde caminha-se para a reconstituição do concreto (relevo) por meio das
curvas de nível. Através dela, o interesse do aluno é despertado e a fixação da imagem
auxilia no entendimento do conteúdo a ser abordado.
No entanto, há docentes que não abrem mão do método tradicional de ensino, e
vêm com maus olhos as inovações tecnológicas que adentram, cada vez mais, as salas
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de aula. Cada recurso possui sua importância e deve ser usado de acordo com a técnica
de ensino adotada pelo docente e de acordo com conteúdo a ser dado em sala de aula. É
importante lembrar que o uso dos recursos deve ser planejado, pois a utilização indevida
ou exagerada de algum recurso pode inviabilizar a aula.
METODOLOGIA
Segundo Francischett (2001) Para construir uma maquete, é preciso observar,
identificar, localizar, analisar, planejar e cobrir de símbolos figurativos facilmente
reconhecíveis, formando-se uma base representativa do espaço estudado.
A maquete é uma das formas de representação do espaço que tem
como vantagem o fato de permitir a percepção do abstrato no
concreto. Ou seja, permite que a curva de nível – representada
bidimensionalmente no mapa – seja apresentada em relevo –
representado tridimensionalmente na maquete -, bem como possibilita
a apresentação de outros elementos da paisagem - rios, estradas, áreas
urbanas e rurais, etc. (SIMIELLI, 1999).
O estudo da cartografia perpassa obrigatoriamente por um mapa hipsométrico ou
uma carta topográfica, possibilitando a percepção das áreas mais elevadas através dos
signos (cores), a identificação dos divisores da água e dos rios que drenam a área,
depois de realizado todo o embasamento teórico chegará a hora de transformar o
abstrato no concreto, ou seja, depois da teoria partiremos para a prática.
A confecção da maquete utilizará a seguinte técnica: serão transferidos da carta
topográfica/mapa hipsométrico para folhas de papel vegetal as curvas de nível e o
conjunto de rios, sendo que cada folha representará uma cota/curva de nível distinta da
carta. Posteriormente, as folhas transparentes serão transportadas para o EVA que
recortada e colada começa a formar a base da representação a partir da curva mais
baixa, será utilizada a técnica da hipsometria que consiste na representação da elevação
de um determinado terreno através das cores, ou seja, de um sistema de graduação de
cores que possui uma equivalência com a elevação do terreno. Utilizaremos tons de
verde e amarelo para indicar as menores altitudes e tons de laranja, vermelho e marrom
para as altitudes elevadas.
No final do processo de elaboração da maquete os alunos devem apresentar seus
trabalhos para a turma, correlacionando a teoria com a prática.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4608
Antes da construção da maquete com os alunos, realizaremos uma entrevista
com o professor regente de geografia das turmas do 9° ano2, com o intuito de verificar
do nível cognitivo da turma, quais dificuldades os alunos demonstram quando é
trabalhada com eles a cartografia, quais obstáculos o professor encontra para trabalhar o
tema em sala de aula, verificaremos também se o professor utiliza algum recurso
didático em suas aulas e se colégio dispõe e disponibiliza de algum recurso didático aos
professores de geografia. Para assim, termos um diagnóstico do nível de
desenvolvimento da turma e ponderar se a oficina de maquete auxiliará na evolução
cognitiva dos alunos.
RESULTADOS ESPERADOS
Espera-se que a confecção e utilização da maquete torne o processo de ensino-
aprendizagem mais interessante e didático, proporcionando ao educando compreender o
espaço tridimensional representado pela maquete, estabelecendo diferenças entre o
bidimensional e o tridimensional, desenvolvendo noções, por exemplo, de
proporcionalidade, altimetria, localização, orientação, concreto e abstrato, auxiliando
assim, na interpretação de conceitos cartográficos e estimulando a criatividade.
REFERÊNCIAS
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ensino-aprendizagem nos livros didáticos. In: Semana de Geografia/Encontro de
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Presidente Prudente: 2009. 399-408. Disponível em: <
2 Optou-se por turmas do 9°ano, para verificar o nível cognitivo dos alunos com relação à Cartografia,
pois nesta série espera-se que o aluno já tenha adquirido o conhecimento cartográfico básico, por estar em
contato com o profissional da matéria específica (Geografia) por pelo menos quatro anos (anos finais do
ensino fundamental, visto que nos anos iniciais os profissionais que trabalham com os alunos – os
pedagogos – não têm o conhecimento específico, ensinando na maioria dos casos de forma superficial
conceitos cartográficos fundamentais).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4609
http://www4.fct.unesp.br/semanas/geografia/anaisensinodegeografia.pdf#page=17 >.
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2009, Presidente Prudente. Anais... Presidente Prudente: 2009. 399-408. Disponível em:
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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A UTILIZAÇÃO DE ANIMAÇÕES DE COMPUTADOR E O
APRENDIZADO DE GEOGRAFIA
Valeriê Cardoso Machado1
Mateus Fuga Osmarin2
Fabiano Utiyama3
RESUMO
Este trabalho é fruto de um projeto de iniciação científica (PIBIC Júnior) em andamento que
busca a melhoria do processo ensino-aprendizagem de conteúdos da Geografia Física:
tectonismo, vulcanismo, relevo e vegetação. Para tanto, pretende-se desenvolver animações de
computador, por meio de software específico para este fim, no intuito de contribuir para o
aprendizado do aluno de maneira lúdica, melhorando a qualidade da aprendizagem e tornando
esse processo mais agradável e prazeroso para os estudantes. Ao final da elaboração de cada
animação tratando dos temas geográficos específicos pretende-se apresentá-la à comunidade
escolar buscando perceber a satisfação, o aprendizado e a reação dos alunos perante às
animações. Ao final do projeto, tentar-se-á também divulgar as animações no site da instituição.
Palavras-chave: Animações de Computador. Geografia Escolar. Processo Ensino-
Aprendizagem.
INTRODUÇÃO
Essa pesquisa pretende contribuir para a melhoria do ensino-aprendizagem dos
conteúdos geográficos: tectonismo, vulcanismo, relevo e vegetação, a partir do
desenvolvimento de animações de computador por meio do software específico para
este fim.
Nessa perspectiva, buscou-se a realização de uma atividade interdisciplinar
entre a disciplina de Geografia e os diferentes conhecimentos do Curso Técnico
Integrado em Informática ofertados pelo Instituto Federal do Paraná – Campus
Paranavaí.
É de conhecimento de muitos professores que atuam no Ensino Básico que a
interdisciplinaridade é uma proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais desde sua
criação no final da década de 1990. Com base nesse material, muitos autores que
estudam a educação no Brasil, também sugerem a interdisciplinaridade como uma
1 (docente do IFPR – Câmpus Paranavaí – [email protected])
2 (aluno do IFPR – Câmpus Paranavaí – [email protected])
3 (docente do IFPR – Câmpus Paranavaí – [email protected])
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4612
ferramenta importante para a qualificação do processo de ensino-aprendizagem no
Ensino Básico. A partir dessa constatação, Pombo (2005) explicita a importância de
atividades interdisciplinares e demonstra alguns caminhos para praticá-la:
Só há interdisciplinaridade se somos capazes de partilhar o nosso
pequeno domínio do saber, se temos a coragem necessária para
abandonar o conforto da nossa linguagem técnica e para nos
aventurarmos num domínio que é de todos e de que ninguém é
proprietário exclusivo. Não se trata de defender que, com a
interdisciplinaridade, se alcançaria uma forma de anular o poder que
todo saber implica [...], mas de acreditar na possibilidade de partilhar
o poder que se tem, ou melhor, de desejar partilhá-lo. Como?
Desocultando o saber que lhe corresponde, explicitando-o, tornando-o
discursivo, discutindo-o [...]. Ou seja, temos que dar as mãos e
caminhar juntos (POMBO, 2005, p.13, grifo da autora).
É sob essa perspectiva que esse trabalho foi desenvolvido, ou seja, unindo
conhecimentos, como os de Geografia e de Informática, para a busca de melhorias na
educação básica do Brasil. Para tal, estão sendo desenvolvidas animações de
computador, pois além de promover a interdisciplinaridade citada, pode ser facilmente
disseminada entre professores e alunos. Destarte, a utilização de tecnologias como
formas de mediar o conhecimento científico na escola é destacado por muitos autores,
que demonstram sua importância e sua eficácia no processo de ensino-aprendizagem,
especialmente da disciplina de Geografia. De acordo com Castrogiovanni (2007) ao
escrever sobre as práticas pedagógicas prazerosas do ensino de Geografia e da
educação, de forma geral no Ensino Médio, ressalta que a educação deve combater o
desinteresse dos alunos a partir de temas atuais, de projetos, de jogos, de histórias em
quadrinhos (SILVA, 2010), entre tantas outras alternativas como é a proposta dessa
pesquisa quando propõe a elaboração e a utilização de animações de computadores.
Nessa perspectiva, para Silva (2006, p.143), a utilização de jogos e animações de
computador na educação como instrumento pedagógico
[...]contribui para um ensino que confere ao aluno um papel ativo na
construção de novos conhecimentos, pois permite a interação com o
objeto a ser conhecido incentivando a troca e a coordenação de idéias
e hipóteses diferentes, além de propiciar conflitos, desequilíbrios e a
construção de novos conhecimentos fazendo com que o aluno aprenda
o fazer, o relacionar, o constatar, o comparar, o construir e o
questionar.
A partir dessas reflexões, compreende-se que a utilização de animações de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4613
computador enfatizando conhecimentos específicos da Geografia, contribui de forma
significativa para a melhoria da aprendizagem dos alunos, auxiliando na proposta
mediadora do professor, para que ele ajude seus alunos a construírem o conhecimento,
assim como sugere Vigotski (2000 e 2008) e Cavalcanti (2005).
METODOLOGIA
Inicialmente foram realizados estudos teóricos sobre o conteúdo referente ao
tectonismo e vulcanismo. A partir da compreensão teórica desses temas, foi elaborada a
animação de computador que explique, de forma didática, esses conteúdos. A partir da
finalização da animação, a mesma foi apresentada às turmas de 1º e 2º ano do Curso
Técnico Integrado em Informática do IFPR – Câmpus Paranavaí.
Para cada tema geográfico específico será realizado o mesmo procedimento, ou
seja, primeiramente será estudada a teoria, em seguida parte-se para a elaboração das
animações para serem apresentadas aos alunos, posteriormente. A teoria relacionada
com a prática e a utilização de saberes de diversas disciplinas para um único fim
demonstra a efetivação da interdisciplinaridade, assim como propõe os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN’s).
De acordo com o cronograma do projeto de iniciação científica (PIBIC Júnior, a
segunda animação está sendo elaborada, a qual tratará de demonstrar a formação dos
tipos de relevo. Quando todas as animações estiverem finalizadas, serão publicadas no
site do IFPR – Câmpus Paranavaí no intuito de disseminar esse recurso tecnológico.
Planeja-se também, que após a finalização das animações, aconteça um curso de curta
duração para professores da rede pública estadual e municipal que lecionem a disciplina
de geografia para o Ensino Fundamental e Médio no município de Paranavaí e região.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A utilização de tecnologias no processo ensino-aprendizagem justifica-se pela
constante necessidade de adequação da metodologia de ensino, neste caso o da
Geografia, buscando incluir novas tendências para promover um processo de
aprendizagem mais agradável e prazeroso.
Dessa maneira, como a intenção final é disseminar as animações no site do
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4614
IFPR – Câmpus Paranavaí, percebe-se que a proposta do projeto vai além do trabalho
interdisciplinar e do estímulo para a pesquisa, mas busca atingir a sociedade além dos
limites do IFPR – Câmpus Paranavaí, especialmente quando pretende oferecer um curso
para professores de Geografia da rede pública.
Como mencionado anteriormente, os filmes e as animações de computador,
entre outros recursos tecnológicos são ferramentas importantes para o trabalho
pedagógico de várias disciplinas, especialmente a Geografia. Com isso, concebe-se que
este projeto pode auxiliar na inovação das aulas de Geografia, estimulando o interesse e
o aprendizado dos alunos pelo conhecimento.
A partir dessas proposições e pensando no cotidiano dos alunos, é impossível
negar que na sociedade contemporânea a utilização de diversos equipamentos
eletrônicos faz parte das tarefas diárias das pessoas. Da mesma maneira, os estudantes
da atualidade já nasceram envoltos de aparelhos eletrônicos e conforme vão crescendo,
vão entendendo e descobrindo o conhecimento por meio dessa tecnologia. Nesse
sentido, é inviável que a escola da atualidade exclua a tecnologia porque ela é inerente
aos jovens.
Nesse sentido, pensando na importância de levar em consideração a realidade e
a cultura dos alunos, Callai (2011, p.38) explica:
[...] é relevante entender mais amplamente a cultura do jovem no
contexto brasileiro contemporâneo, e destacar daí elementos do que se
poderia chamar de cultura geográfica de jovens escolares, entendendo
por essa expressão os hábitos, comportamentos, [...], gostos, práticas
espaciais de jovens em idade escolar (grifo da autora).
Ao pensar e aceitar que a escola precisa inserir “o mundo virtual” em seu
espaço, concebe-se também que os professores de várias disciplinas precisam repensar
suas metodologias de ensino buscando inserir as tecnologias que estão à disposição na
modernidade, buscando a melhoria do processo ensino-aprendizagem. A respeito desse
assunto, Callai (2011, p.36) ressalta a importância de refletir na aprendizagem dos
estudantes:
Os alunos são o centro de todo o processo de ensino realizado (ou
mesmo idealizado) na escola, uma vez que todas as ações nesse
espaço estão (ou deveriam estar) voltadas para eles e para suas
aprendizagens. [...] Não se pode, no entanto, num raciocínio
complexo, atribuir causas e efeitos linearmente a um ou outro sujeito
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4615
do processo escolar, no caso os professores e/ou alunos, mas
evidentemente não se pode compreender tal processo, em suas
vicissitudes, sem compreender os próprios sujeitos, e os próprios
alunos.
Importando-se com a melhoria da aprendizagem dos alunos, sugere-se então
que o professor remodele sua prática pedagógica inserindo equipamentos tecnológicos,
utilizando laboratórios de informática, internet, celulares e os diversos aplicativos e
software de computadores para que as aulas, e a escola de maneira geral, consiga cada
vez mais atrair os alunos.
É importante que a tecnologia não seja vista como “problema” pela escola,
porque na atualidade não se pode mais negar a influência dos equipamentos eletrônicos
na vida das pessoas. Nesse sentido, é preciso que a escola traga essa tecnologia para
dentro da sala de aula e faça bom uso dela, demonstrando aos estudantes o quão rica
pode ser uma pesquisa de um tema na internet, ou quão concreto pode se tornar um
conhecimento por meio das animações de computadores.
São com essas inquietações e buscando promover a utilização da tecnologia em
sala de aula que se acredita que as aulas de Geografia podem ser mais prazerosas, mais
dinâmicas, mais compreensivas a partir de animações simples de computador que
abordem temas específicos, e muitas vezes, bastante abstratos, da Geografia Escolar.
Ao demonstrar a animação elaborada pelo estudante de iniciação científica
Júnior, a qual trata de vulcanismos e tectonismos, para os alunos do Ensino Médio do
curso Técnico Integrado em Informática do IFPR – Câmpus Paranavaí, percebeu-se com
bastante clareza a empolgação dos alunos e o interesse deles pelo assunto.
Em outros projetos de PIBIC Júnior, trabalhando com a utilização de jogos para
tratar de assuntos da Geografia Escolar como as coordenadas geográficas, percebeu-se
maior interesse nos alunos e a participação das atividades com jogos. Da mesma
maneira, ao pesquisar o caso das animações de computador, evidencia-se o mesmo
resultado, ou seja, a empolgação e o interesse por parte dos alunos.
Uma das formas de explicar o porquê da participação dos alunos e de seus
interesses nas aulas com utilização de recursos tecnológicos é o fato de que os alunos da
atualidade vivem envoltos de tecnologia por todos os lados e lugares por onde circulam.
Sendo assim, quando o professor traz algum recurso desses para as aulas, a participação
dos alunos é maior porque eles estão acostumados com tecnologia e gostam dela. A
respeito desse tema, Callai (2011, p.43) enfatiza:
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4616
[...] uma dificuldade frequentemente apontada para o exercício do
trabalho docente, em todas as áreas, está relacionada à questão da
motivação dos alunos, de seu desinteresse, de sua indisciplina [...],
arrisco-me a dizer que um dos caminhos para uma melhor relação com
o aluno é a própria compreensão do aluno, de sua subjetividade, de
seus desejos, de suas práticas cotidianas, em seus diferentes momentos
e espaços, na escola e na cidade, entre outros espaços.
Em síntese, acredita-se que uma das maneiras de tornar as aulas, em especial, as
de Geografia mais prazerosas, menos cansativas e mais contribuintes para a vida do
aluno seria a utilização da tecnologia de maneira planejada e orientada pelo professor,
pois, quando o aluno sente prazer em aprender e percebe que o conhecimento oferecido
pela escola pode ser utilizado na sua realidade cotidiana, o professor e a escola
conseguem atrair os jovens para dentro da escola, diminuindo a evasão e fazendo da
instituição de ensino realmente transformadora de vidas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da elaboração de animações de computador e apresentação aos alunos
percebeu-se que os alunos se motivam com a inserção de recursos tecnológicos nas
aulas. A maioria se interessa pela apresentação e compreende melhor o conteúdo.
Essa conclusão foi concebida por meio de depoimentos dos alunos quando
afirmam que conseguiram entender melhor o conteúdo depois que observaram a
animação: “Professora, hoje eu entendi aquele negócio que a senhora explicou na aula
passada sobre as placas tectônica.” (aluno D.C.) ou “Professora, que massa esse
desenhinho! Agora eu entendi porque os vulcões soltam lavas e as placas tectônicas se
mexem” (aluno H.F.G).
São por depoimentos como esses que os professores precisam investir na
melhoria de suas aulas, seja usando tecnologias ou outras metodologias, mas é
primordial que o docente motive os jovens a aprender e a gostar da escola, pois, quando
o aluno se enxerga pertencente a um espaço, no caso a escola, passa a cuidá-la e o
conhecimento passa a ter outros valores porque o que ele aprende na escola está sendo
utilizado por ele na sua vida cotidiana fora da escola.
REFERÊNCIAS
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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prazerosas no ensino de Geografia na pós-modernidade. In: REGO, Nelson;
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pedagógicas para o Ensino Médio. Porto Alegre: Artmed, 2007.
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conceitos: uma contribuição de Vygotsky ao ensino de Geografia. In: Cadernos Cedes.
Campinas, v.25, n.66, p.185-207, maio/ago. 2005. (Disponível em
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SILVA, Luciana Gonçalves da. Jogos e situações-problema na construção das noções de
lateralidade, referências e localização espacial. In: CASTELLAR, Sônia. Educação
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VIGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 6ªed. Tradução de José Cipolla Neto;
Luís Silveira M. Barreto e Solange Castro Afeche. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
______. Pensamento e Linguagem. 4ªed. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São
Paulo: Martins Fontes, 2008.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4618
AS REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS E O LIVRO
DIDÁTICO DE GEOGRAFIA: UMA ANÁLISE SOBRE A
CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE ESPAÇO GEOGRÁFICO EM SALA
DE AULA POR ALUNOS DO ENSINO MÉDIO
Maria Darcileny Soares da Silva1
Teresinha de Jesús Lima Pereira2
Ângela Oliveira Vieira3
Prof. Dr. Antonio Cardoso Façanha4
RESUMO
O presente trabalho resulta da experiência pedagógica de licenciandos em Geografia,
participantes do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência – PIBID da
Universidade Federal do Piauí – UFPI, adquiridas através de observações em sala de aula na
Unidade Escolar Professor Joca Vieira da rede estadual de ensino localizada em Teresina – PI.
O objetivo foi analisar a concepção de representação cartográfica na construção do conceito de
espaço concebido no livro didático. Optamos por trabalhar com a observação, a percepção, a
análise conceitual e a síntese através das representações cartográficas possibilitando o educando
refletir sobre o espaço geográfico no qual está inserido. O trabalho foi realizado junto aos alunos
do 1º Ano “C”, turno matutino. A metodologia foi desenvolvida em quatro momentos: i) a
reflexão sobre o conteúdo presente no livro didático utilizado pela escola; ii) a realização de
uma aula conceitual referente às representações cartográficas e apreensão do conceito de espaço
em sala de aula; iii) a realização de entrevistas no âmbito escolar, pelos alunos, destacando as
características socioeconômicas nos quais os alunos da escola se inserem e, iv) confecção de
mapas temáticos sobre os resultados obtidos. As discussões em torno dos mapas confeccionados
conferiu um caráter diferenciado às aulas de geografia, pois os alunos passaram de meros
espectadores para sujeito ativo no processo de ensino-aprendizagem. Os resultados
evidenciaram que o livro didático, além de apresentar um conteúdo defasado, resumido e muitas
vezes difuso, traz poucas propostas de atividade para o professor. Tais resultados possibilitam
uma reflexão ao professor de Geografia sobre a metodologia de ensino e as distintas tecnologias
que dinamizam as aulas de Geografia de modo que, respeitem os conhecimentos prévios e a
vivência cotidiana dos alunos na construção de suas competências.
PALAVRAS - CHAVE: Representação; Espaço; Ensino de geografia.
INTRODUÇÃO
1Universidade Federal do Piauí, Graduanda em Geografia e bolsista do PIBID
[email protected] 2Universidade Federal do Piauí, Graduanda em Geografia e bolsista do PIBID,
[email protected] 3Universidade Federal do Piauí, Graduanda em Geografia e bolsista do PIBID,
[email protected] 4Prof. Dr. do Dep. de Geografia e História DGH/UFPI; Prof. do Mestrado em Geografia UFPI.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4619
Nas últimas décadas o ensino da geografia passou por reflexões teóricas e
metodológicas a cerca de seu objeto de estudo – o espaço geográfico, reflexões estas
pertinentes a uma série de mudanças que vem ocorrendo na sociedade, decorrentes
principalmente da ação desordenada do homem sobre a natureza na tentativa
desenfreada de conquistar o espaço no qual está inserido.
Com o avanço das tecnologias essas mudanças se acentuam em virtude de tornar
mais competitivo o mercado devido o poder de dominação de um grupo sobre o outro,
dessa forma, utilizar-se de instrumentos, pesquisas, aperfeiçoamento tecnológico são
metas nos quais fazem grupos permanecer na hegemonia. Tais tecnologias requer o uso
de mapas, satélites, sensores com os quais são manuseados perfeitamente pela
geografia, servindo de arma tanto para aqueles que priorizam a qualidade das gerações
futuras quanto paras aqueles que corroboram com Yves Lacoste (1986), segundo o qual
“A Geografia – isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra”.
Dessa forma, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) é fiel a ideia de que
é preciso adquirir competências e habilidades para ler os fenômenos geográficos,
requerendo saber utilizar a cartografia e a capacidade para elaborar mapas, para leitura e
uso de plantas cartográficas. Além disso, “os avanços da tecnologia, fotografias aéreas,
mapas digitais e sensoriamento remoto, permitem melhorar a qualidade dos mapas e o
nível de precisão visando à localização dos espaços” (BRASIL, 2006, p. 50).
Assim, a presente sistematização traz uma análise curricular no qual o livro
apresenta-se como um meio de veiculação da aprendizagem, entendendo que este deve
ser trabalhado em conjunto com outras estratégias de ensino. Deste modo, a pesquisa
apresenta uma análise do livro didático utilizado pela Unidade Escolar Professor Joca
Vieira, no que se refere às representações cartográficas e a compreensão e construção do
conceito de espaço geográfico em sala de aula. A finalidade dessa análise é desenvolver
subsídios metodológicos para uma melhor interpretação e apreensão na conceituação de
espaço geográfico e que atenda as necessidades do educando e educador.
Este trabalho tem como objetivo socializar experiências adquiridas com o
Programa de Bolsa de Iniciação a Docência – PIBID/UFPI e experiências desenvolvidas
nas disciplinas de Estágio Supervisionado retratando a importância das representações
cartográficas para uma melhor aprendizagem cartográfica dos educandos e a
compreensão/conceituação de espaço geográfico.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4620
METODOLOGIA
Para a execução da pesquisa foi analisado o livro didáticos de Geografia do
Ensino básico que está à disposição dos alunos na Unidade Escolar Prof. Joca Vieira
apresentado na tabela 1.
TABELA 1 – LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA UTILIZADO NA UNIDADE
ESCOLAR PROFESSOR JOCA VIEIRA.
LIVRO
TÍTULO DO
LIVRO
AUTOR
ANO/ SÉRIE
A
Geografia em
construção
Igor Moreira/
Elizabeth Auricchio
2010
1° ano Ensino
Médio Fonte: Autoras (2013).
O primeiro momento da análise foi subsidiado pelas propostas e discussões
conferidas nos PCN’s de Geografia do Ensino Médio (2006), pelo fato de ser o
documento oficial que indica os objetivos e orienta as discussões pedagógicas da
Educação Básica brasileira, além de leitura de autores que versam sobre a constituição
do livro didático e do ensino de Geografia.
A partir da análise do livro didático partimos para execução da aula teórica, com
o intuito de averiguar as principais dificuldades dos educandos no que e refere à
cartografia e a conceituação de espaço geográfico. O momento subsequente à exposição
conceitual, preparamos os alunos para realizar a pesquisa de campo, fornecendo
material e apoio tanto para realização da entrevista quanto para a confecção dos mapas.
No momento seguinte os alunos do 1° Ano “C” realizaram uma pesquisa de
campo através de entrevistas abordando os aspectos socioeconômicos dos próprios
colegas da escola envolvendo um universo de aproximadamente 157 alunos
correspondendo a 30% dos alunos na escola no turno da manhã. Após a entrevista os
alunos transformaram esses dados em mapas e foram instigados a analisar os dados
coletados levando-os a discussão e reflexão. Na última etapa da atividade houve a
culminância dos grupos nos quais apresentaram seus respectivos mapas e levantaram
suas indagações, momento em que podemos perceber um aprofundamento dos grupos
em discussão com o professor da disciplina juntamente com os bolsistas/PIBID.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4621
O LIVRO DIDÁTICO E O ENSINO BRASILEIRO
A aferição das políticas para a constituição do livro didático no Brasil ocorreu a
partir do início do século XX no qual o contexto que se tinha eram mudanças
econômicas internas promovendo um ajustamento da realidade econômica brasileira à
política econômica internacional. Nesse contexto, houve a ampliação da educação
básica no qual objetivava, dentro de um programa de cunho modernista e nacionalista,
estabelecer as bases de uma indústria nacional e assim transformar o desenvolvimento
capitalista no Brasil.
Nesse momento, os livros didáticos surgiram como instrumentos de divulgação
da política ideológica do Estado em nome da construção da Pátria. Em 1937 o governo
cria o Instituto Nacional do Livro Didático – INL e logo após a Comissão Nacional do
Livro Didático - CNLD, submissas ao Ministério da Educação. A atuação destes órgãos
vai ser marcada por um caráter centralizador e pela divulgação do pensamento do
Estado, enquanto a questão didática no livro ficará relegada a um segundo plano. Essa
forma de condução da política do livro didático vai durar até o fim da ditadura militar
no Brasil. Dessa forma FREITAG et al (1989) afirma:
[...] Poder-se-ia mesmo afirmar que o livro didático não tem uma
história própria no Brasil. Sua história não passa de uma sequencia de
decretos, leis e medidas governamentais que se sucedem, a partir de
1930, de forma aparentemente desordenada, e sem correção ou a
crítica de outros setores da sociedade (partidos, sindicatos, associações
de pais e mestres, associações de alunos, equipes cientificas etc.
(FREITAG et al 1989, p. 11)
Na década de 1980, observa-se uma descentralização política de formulação dos
currículos básicos para o ensino, junto a este fato é criado o Programa Nacional do
Livro Didático – PNLD cujo objetivo era universalizar o atendimento ao aluno e
promover a participação do professor no processo de seleção do livro didático, fato
incomum na consecução de políticas públicas para a educação brasileira (FREITAG et
al, 1989).
Durante a década de 1990, apesar da implementação da política neoliberal na
educação pelo governo federal, na figura de Fernando Henrique Cardoso, houve
avanços na elaboração dos livros didáticos. Estes passaram a apresentar uma nova
configuração, pois anteriormente eram constituídos com pouco rigor técnico, trazendo
simplesmente o texto principal, essa reconfiguração, tendo como base a nova política do
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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PNLD, passou a ser constituída com procedimentos de ensino. Estas mudanças estão no
âmbito das políticas do Ministério da Educação, assim, Höfling (2000) analisa o PNLD
como uma estratégia de política educacional que visa atender a Constituição Federal e
cumprir um dever do Estado. Entretanto, estas transformações respondem segundo Cruz
(2007), a uma transferência de responsabilidades do professor para o livro didático.
Acreditamos que reflexões em torno de como é concebido o livro didático e de
como o mesmo é utilizado em sala de aula, se torna fundamental para um trabalho
pedagógico satisfatório e para uma relação ensino-aprendizagem progressista,
entretanto, deve ser uma construção de todos os sujeitos envolvidos neste processo.
Portanto, compreende-se que, o livro didático partindo desse pressuposto deve ser
analisado como consequência de um trabalho educacional e intelectual com
responsabilidade, cujo objetivo maior seja o desenvolvimento das habilidades e
competências dos educandos, dando-lhes mínimas condições para a compreensão
primeiramente do seu cotidiano para posteriormente subsidiar interesses globais.
Partindo desse princípio o currículo apresentado pelos PCN’s de Geografia
necessita de uma proposta teórica e metodológica sólida, sendo uma obra que não
dialoga com o objeto de estudo da geografia que é o espaço geográfico. Neste sentido, o
livro didático sendo o principal instrumento pedagógico do docente é apresentado
desvinculado de uma abordagem conceitual precisa e de liberdade refletido na sala de
aula, pois apresenta a ciência geográfica desvinculada de questões que envolvem os
diferentes espaços vividos pelos alunos, como afirma Kaercher (2003, p.172).
Os espaços são desiguais e isso não deve ser visto como obra apenas
da natureza. Compreender as desigualdades sociais e espaciais é uma
das grandes tarefas dos geógrafos educadores para que a nossa ciência
instrumentalize as pessoas a uma leitura mais crítica e menos ingênua
do mundo, que desemboque numa maior participação política dos
cidadãos a fim de que possamos ajudar a construir espaços mais justos
e um homem mais solidário e tolerante com o outro.
Castrogiovanni (2003, p. 136) concorda com esta afirmação quando a diz que “o
uso do livro didático está associado a uma função social e pedagógica relevante: a
construção do conhecimento através do trabalho como texto impresso, o que permite a
ampliação desde universo de conhecimento”. Neste contexto, é importante que as
instituições, governo e professores olhem para as escolas e percebam que é um espaço
no qual há uma aprendizagem individualizada e o conhecimento é construído de forma
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4623
particularizada, dessa forma, a produção do livro deve ser realizada com um maior rigor
exigindo o mínimo de cuidado na sua utilização em sala de aula.
ANALISE E CONCEPÇÃO DE REPRESENTAÇÃO CARTOGRÁFICA NA
CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE ESPAÇO CONCEBIDO NO LIVRO
DIDÁTICO.
A partir da análise do manual do professor disponível no livro Geografia em
Construção: a construção do espaço geográfico verificou-se que o objetivo geral do
ensino de geografia no ensino médio é selecionar e organizar conteúdos que permitam
ao aluno obter aprendizagens significativas como compreender e interpretar os
fenômenos considerando as dimensões local, regional, nacional e mundial, além de
dominar as linguagens gráfica, cartográfica, corporal e icnográfica.
Assim, os PCNs para ensino médio de geografia propõem que é de fundamental
importância que o aluno aprenda a ler mapas, conhecer a simbologia das legendas,
organizarem e hierarquizarem fenômenos, além de perceber os detalhes da relação
cidade e campo em diferentes escalas cartográficas (BRASIL, 2006).
Com base nos parâmetros curriculares de geografia para o ensino médio,
analisamos o livro do 1º ano, Geografia em Construção: a construção do espaço
geográfico de Igor Moreira e Elizabeth Auricchio da editora Ártica (Tabela 1), adotado
pela Unidade Escolar Professor Joca Vieira, com objetivo avaliar como o conteúdo de
cartografia é abordado pelos autores, bem como as atividades propostas para os
professores trabalharem em sala de aula como material didático.
Com isso, observamos que o conteúdo de cartografia está distribuído em um
único capitulo “Espaço e conhecimento geográfico”, onde inicialmente é retrato a
utilização dos mapas desde a Idade Média passando pelos conceitos básicos da
cartografia como: as linguagens dos mapas, tipos de projeções, tipos de escalas, fuso
horário até a cartografia no mundo digitalizado.
No entanto, essa estruturação do conteúdo é bastante prejudicial para o ensino,
pois se encontra difusa, além de está disposta sem uma sequência lógica, dificultando
assim, a metodologia de ensino dos professores, como também a aprendizagem dos
alunos. Uma vez que o excesso de assuntos num único capítulo, fez com que os
conteúdos abordados fossem apresentados de forma resumida, deixando a desejar em
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4624
diversos pontos, pois aspectos importantes para aprendizagem dos alunos foram
ignorados pelos autores.
Por exemplo, ao retratar os tipos de escalas os autores restringiram-se apenas
em mostrar os dois tipos de escala de um mapa – a escala gráfica e a numérica,
esquecendo-se de um dos pontos mais complexos e de maior dificuldade dos alunos que
é a fórmula usada para descobrir a escala, a distância real ou a distância gráfica de um
mapa.
Além disso, o conteúdo sobre fusos horários também é exposto de maneira
ineficiente e incompleta, já que os cálculos matemáticos são desprezados, mostrando
assim, que o livro didático em questão apresenta-se defasado, pois ele não consegue
articular o conteúdo do livro com a realidade dos alunos, provocando o distanciamento
dos mesmos com a cartografia, fazendo com que os obstáculos não sejam superados
pelos discentes, sendo apenas contornados ou colocados para “debaixo do tapete”, ou
seja, empurrando o problema para frente.
De modo geral o que se presencia é a falta de inter-relação dos conteúdos,
principalmente com a realidade dos alunos, dificultando a compreensão dos mesmos.
Em decorrência dessas grandes falhas e ausências, os pontos mais específicos da
cartografia como escala, fuso horário e projeções cartográficas são comprometidos.
Observa-se que, apesar do livro didático ser o principal instrumento de ensino,
servindo de “porto seguro” para o professor no processo de ensino aprendizagem,
verificamos que até o manual do professor encontra-se ineficiente para o desempenho
deste na sala de aula, pois o material traz poucas propostas de atividades para auxiliar o
professor na execução de seu trabalho.
APREENSÃO/CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE ESPAÇO GEOGRÁFICO
EM SALA DE AULA.
A maioria dos professores enfrentam grandes dificuldades ao trabalharem os
assuntos de cartografia em sala de aula, uma vez que, sua formação acadêmica não
conseguiu suprir suas deficiências adquiridas desde a educação básica, além disso, o
livro didático apresenta-se com grandes falhas e ausências, principalmente nos pontos
mais específicos da cartografia – escala fuso horário e projeções cartográficas.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4625
Com base, nesta realidade presente na Unidade Escolar Professor Joca Vieira,
realizamos uma atividade em conjunto com o professor de geografia na turma do 1º Ano
“C” turno matutino, com intuito de sanar as dificuldades que grande parte dos alunos
apresenta em relação à cartografia e a apreensão desta para a conceituação de espaço
geográfico.
A atividade iniciou com a discussão dos conteúdos pelo professor da disciplina
com o auxílio dos bolsistas/PIBID (Figura 1). No final da exposição foi proposta uma
atividade de fixação dos conteúdos para a turma, a qual se baseou na construção de um
mapa temático, onde os alunos realizaram uma pesquisa em forma de entrevista
quantitativa e qualitativa com as demais turmas da escola, foram abordados os seguintes
temas: i) bairro onde mora; ii) índice de criminalidade do bairro; iii) saneamento básico
do bairro; iv) renda familiar; v) escolaridade dos pais; vi) alunos que trabalham e, vii)
sistema de saúde do bairro.
FIGURA 1 - ATIVIDADES DESENVOLVIDAS POR ALUNOS DA UNIDADE
ESCOLAR PROFESSOR JOCA VIEIRA – TERESINA (PI).
A-B: Acompanhamentos dos bolsistas do Programa nas etapas da realização do trabalho
práticos pelos alunos. Fonte: PIBID DE GEOGEAFIA - UFPI (2013)
Em seguida, os alunos realizaram uma análise dos dados em conjunto com o
professor e as bolsistas/PIBID, depois confeccionaram mapas temáticos de Teresina
com os dados obtidos na pesquisa, onde utilizaram os elementos que compõem um
mapa como legenda, título, escala e orientação (Figura 2). Por fim, com a conclusão da
parte prática do trabalho, os alunos promoveram a exposição de seus mapas,
relacionando-os com o espaço geográfico, conforme afirma Dollfus (1991, p. 9):
[...] o espaço geográfico é susceptível de ser cartografado. [...] a
geografia destaca particularidade, dentre seus modos de expressão, a
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representação cartográfica que permite situar os fenômenos e
esquematizar os componentes do espaço de acordo com a escala
escolhida e com as referencias adotadas.
FIGURA 2 - ATIVIDADES DESENVOLVIDAS POR ALUNOS DA UNIDADE
ESCOLAR PROFESSOR JOCA VIEIRA – TERESINA (PI).
A-B: Confecção do mapa temático de Teresina (PI); C-D: Analise dos dados coletados para
confecção dos mapas temáticos. Fonte: PIBID DE GEOGEAFIA - UFPI (2013)
Percebemos ao longo da realização da atividade que os alunos mostraram-se
motivados, pois este trabalho proporcionou a inter-relação entre os conteúdos e o
cotidiano dos alunos, evidenciando a importância da prática socioconstrutivista no
ensino de geografia e reafirmando o que Almeida e Passsini (2002, p. 11) constataram,
pois “é na escola que deve ocorrer a aprendizagem espacial voltada para a compreensão
das formas pelas quais a sociedade organiza seu espaço – o que só será plenamente
possível com o uso de representações formais (ou convencionais) desse espaço.”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa apresentou reflexões acerca do ensino de geografia com base nos
conhecimentos cartográficos e do conceito de espaço geográfico, a partir da experiência
adquirida através da participação no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência
– PIBID/UFPI na Unidade Escolar Professor Joca Vieira da rede estadual de ensino localizada
em Teresina – PI. Constatamos que, apesar do livro didático utilizado na escola
apresentar defasagem e difusão de conteúdos, há um interesse entre os alunos nos
conteúdos geográficos quando estes são trabalhados ludicamente e/ou através de outros
materiais (mapas, bússolas, pesquisa).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4627
Portanto, cientes de que o ensino de Geografia está intimamente ligado ao estudo
do espaço geográfico e de que a presença da linguagem cartográfica ocorre para além
das estruturas cartesianas mais rígidas (projeções), o resultado dessa atividade permitiu
uma análise espacial sobre o cotidiano de maneira mais vasta e crítica, criando subsídios
metodológicos para uma melhor interpretação e apreensão na conceituação de espaço
geográfico e que atenda as necessidades do educando e educador.
Nesta perspectiva, para que essas práticas e/ou metodologias sejam
consolidadas, torna-se fundamental que a escola promova momentos em que se
discutam o ensino dos conceitos no processo de ensino-aprendizagem de Geografia e
promovam metodologias que tornem os alunos como sujeitos do conhecimento,
tomando suas decisões e fazendo suas próprias reflexões a partir de leituras,
modificações e/ou construções que ocorrem no espaço.
REFERENCIAS
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representação. 12 ed. São Paulo: Contexto, 2002. – (Representando o Ensino).
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Curriculares para o Ensino Médio: Ciências Humanas e suas tecnologias. Brasília:
MEC/SEB, 2006. p.136.
CASTROGIOVANNI, A. C. O livro didático e o desempenho pedagógico: anotações de
apoio à escolha do livro texto. In: Geografia em sala de aula: Práticas e reflexões.
Org. Antonio Carlos Castrogiovanni... [et al]. 4ª ed. Porto Alegre: Editora da
UFRGS/AGB – Seção Porto Alegre, 2003.
CRUZ, Igor Sacha Florentino. A Geografia dos Serviços e a sua Transposição
Didática para o Livro Didático de Geografia do Ensino Fundamental. Recife,
(Dissertação de Mestrado), Programa de Pós-Graduação em Ciências Geográficas,
Universidade Federal de Pernambuco, 2007.
FREITAG, Barbara; COSTA, W. F. da; MOTTA, Valéria R. O livro didático em
questão. São Paulo: Cortez, 1989 (Coleção educação contemporânea).
HÖFLING, Eloísa de Matos. Notas Para Discussão Quanto a Implementação de
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KAERCHER, Nestor André. Desafios e utopias no ensino de geografia. In: Geografia
em sala de aula: Práticas e reflexões. Org. Antonio Carlos Castrogiovanni... [et al]. 4ª
ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS/AGB – Seção Porto Alegre, 2003.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4628
LACOSTE, Yves. Geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Trad.
Maria Cecília França. 3 ed. São Paulo: Papirus, 1993.
MOREIRA, Igor; AURICCHIO, Elizabeth. Geografia em construção: a construção do
espaço geográfico. São Paulo: Ática: 2010.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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CASA DIGITAL NO CAMPO:
INTEGRAÇÃO COM O ENSINO DE GEOGRAFIA
Silmara Barbosa Quinto1
Alexandra Maria de Oliveira2
Sirlene Ferreira dos Santos3
Cleano Soares Brito4
RESUMO
Este trabalho analisa o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) no ensino de
Geografia. A ênfase é dada no uso da internet e seus ambientes gratuitos que mediados pelo
professor promovem a construção de conceitos e saberes por parte dos envolvidos neste
processo. Foi escolhido o Google Maps para desenvolver a noção espacial e cartográfica e
comparar diferentes tipos de representação da superfície terrestre como desenhos, mapas e
imagens de satélites. A pesquisa foi desenvolvida na Casa Digital Comunidade Rural Santa
Cruz, situada na Escola Familiar Agrícola (EFA) Dom Fragoso, município de Independência,
território Inhamuns/Crateús, no estado do Ceará, a partir de visitas e de um roteiro de atividades
com os jovens educandos. A Casa Digital integra o Projeto Territórios Digitais, criado pelo
Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) em 2008 e visa oferecer acesso gratuito a
informática e internet para populações rurais nos Territórios da Cidadania. A reflexão do uso
das TICs no ensino de Geografia e nas escolas do campo exige dos agentes educacionais uma
posição crítica quanto ao uso das tecnologias em benefício da educação. Os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) abordam com especificidade a importância social dos estudos
geográficos na formação da cidadania e a necessidade de atualização e formação continuada.
Desta forma, vinculam-se os conteúdos de Geografia, o uso das TICs e a realidade dos
educandos rompendo uma das barreiras que dificultam os processos na disciplina de Geografia,
isto é, a distância entre a teoria e a prática. Como resultado foi constatado que a aplicação e o
uso dos ambientes digitais e o direcionamento dos conteúdos para as realidades próximas aos
conhecimentos, experiências e interesse dos alunos, mudaram significamente as relações,
postura e autoestima dos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem de Geografia. Desse
modo, o uso das TICs facilita o aprendizado e a compreensão dos conteúdos exposto em sala de
aula e se articulam a contextos sociais e as políticas públicas educacionais.
Palavras-chave: casa digital, ensino de geografia, tecnologia da informação e comunicação.
INTRODUÇÃO
O trabalho Casa digital no campo: integração com o ensino de Geografia tem
como proposta analisar o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)
como mecanismo para tornar a aprendizagem da Geografia mais significativa e
1 UFC, s i lmarabq@hotmail .com
2 UFC, [email protected]
3 UFC, [email protected]
4 UFC, [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4630
aproximá-la da realidade vivida pelo aluno fazendo com que este identifique saberes
geográficos necessários na espacialização do seu cotidiano.
As novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) estão cada vez mais
presentes em nossas vidas e adquire maior importância e abrangência social exigindo
dos professores uma posição crítica quanto a sua utilização em benefício da educação,
pois cada vez mais, parece impossível viver sem o uso dos equipamentos tecnológicos.
Da soma entre tecnologia e conteúdos, nascem grandes oportunidades de ensino. E por
que não tentarmos inseri-los como recurso pedagógico em sala de aula?
Por ser relativamente nova, a relação entre a tecnologia e a escola ainda é
bastante confusa e conflituosa. Atualmente, existem políticas públicas no sentido de
promover a inclusão digital e a melhoria do acesso da população a essas novas
tecnologias. Nesse sentido, o Ministério do Desenvolvimento Agrário em 2008, criou o
Projeto Territórios Digitais com o objetivo de levar acesso gratuito de informática e
internet as populações rurais por meio da implantação de Casas Digitais nos Territórios
da Cidadania, pois antes dessa iniciativa, a vivência com os ambientes digitais de
aprendizagem encontravam-se restrita aos alunos da zona urbana.
O projeto Territórios Digitais consiste na implantação de Casas Digitais,
coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) integra o Programa
Territórios da Cidadania tendo como parceiros o Ministério das Comunicações (MC) e
outros órgãos federais, estaduais e municipais. Tem como objetivo contribuir para o
desenvolvimento rural sustentável, fortalecimento da agricultura familiar e o
reconhecimento do acesso legítimo a terra por comunidades tradicionais. Por
conseguinte, a metodologia das Casas Digitais no campo:
[...] é fundamentada na possibilidade de contribuir com a formação de
multiplicadores críticos, participativos, autônomos, sujeitos da
história, com consciência de gênero e de classe e comprometidos com
a construção de outro modelo agrícola e agrário para o campo
brasileiro. Assim promoverá diversas situações de aprendizagens que
contemplem essa formação, garantindo sempre como ponto de partida
o trabalho, a cultura, a pesquisa e as lutas sociais como matrizes
formadoras, colocando-se a serviço da construção de um novo sujeito
social do campo com ajuda da Cultural Digital. (PROJETO
TERRITÓRIOS DIGITAIS, 2008).
O MDA entende que prover cidadania para o meio rural requer,
incondicionalmente, a integração das tecnologias de informação e comunicação
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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disponíveis a todos. O uso de novas tecnologias de ensino no ambiente escolar rural se
faz necessária para o desenvolvimento dos alunos e da sociedade contextualizando-os
em um sistema maior e mundial de acesso a informação e democratização do
conhecimento.
O estudo foi desenvolvido na Casa Digital Comunidade Rural Santa Cruz
situada na Escola Familiar Agrícola (EFA) Dom Fragoso, município de Independência,
território Inhamuns/Crateús, no estado do Ceará.
A pesquisa surge da necessidade de se pensar a utilização das TICs como
mecanismo para tornar a aprendizagem da Geografia mais significativa e aproximá-la
da realidade vivida pelo aluno fazendo com que este identifique saberes geográficos
necessários na espacialização do seu cotidiano.
Procura-se dentro desta proposta, analisar o uso das TICs no ensino da Geografia
sob a perspectiva sócio construtivista, identificar as abordagens e possibilidades de uso
das TICs que possam estimular a aprendizagem dos alunos da EFA, propor a utilização
do Google Maps e diferentes fontes de informação para adquirir e construir
conhecimentos. É uma proposta de educação que visa apresentar uma leitura
cartográfica a partir da realidade das dinâmicas locais, resgatando, sobretudo a cultura e
os valores das comunidades rurais, pois antes dessa iniciativa, a vivência com os
ambientes digitais de aprendizagem encontravam-se restrita aos alunos da zona urbana.
Nesse sentido, visa desenvolver práticas educacionais que aliem o uso das
tecnologias à construção do saber geográfico dos alunos, partindo das práticas
observadas em sala de aula e da vivência na rotina escolar da EFA Dom Fragoso. Tem o
papel de contribuir para inclusão social e digital na educação do campo. Procura-se
ampliar as metodologias que incentivem o uso das tecnologias de informação e
comunicação, visando promover o aprimoramento do aprendizado, inserindo o aluno do
campo na realidade contemporânea da sociedade.
É perceptível a carência de iniciativas de inserção dessas novas tecnologias nas
esferas mais elementares de ensino, seja por falta de condições estruturais, seja pela
falta de capacitação por parte dos profissionais envolvidos. O fato é que tais tecnologias
não podem ser ignoradas, uma vez que direta ou indiretamente exercem influência no
meio social de alunos e professores.
Na perspectiva de motivar os alunos no estudo desses conteúdos e torná-la uma
experiência positiva, verifica-se que a forma tradicional, que enfatiza o conteúdo no
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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ensino da Geografia traz resultados pouco significativos e satisfatórios, no sentido de
envolvimento dos alunos com os conteúdos.
O método de ensino tradicional onde o professor transmite os seus
conhecimentos acerca do assunto enquanto os alunos adquirem o conhecimento
transmitido sem haver comunicação entre eles é o que mais se aplica nas escolas.
Segundo Cavalcanti (2006) o método tradicional tem o professor como expositor do
conteúdo que está posto no livro didático e aluno como mero receptor de informações.
Sendo sugerido pela mesma autora o método de ensino sócio construtivista, que aqui
descrito de forma sucinta, valoriza o cotidiano do aluno e o tem como sujeito ativo no
processo de ensino-aprendizagem.
Uma das possibilidades de tornar o aluno sujeito ativo é o uso de ambientes
digitais que surgem como nova relação de ensino-aprendizagem criando condições para
as construções e desconstruções dentro e fora da sala de aula. Estas ações educacionais,
culturais e digitais deverão contribuir direta e indiretamente para o desenvolvimento
econômico, social e cultural do campo, possibilitando aos estudantes recursos materiais
e intelectuais bem como a inovação tecnológica necessária a geração de emprego e
renda.
Nesta perspectiva, Stahl (1997) acredita que:
Os professores precisam entender que a entrada da sociedade na era da
informação exige habilidades que não têm sido desenvolvidas na
escola, e que a capacidade das novas tecnologias de propiciar
aquisição de conhecimento individual e independente implica num
currículo mais flexível, desafia o currículo tradicional e a filosofia
educacional predominante, e depende deles a condução das mudanças
necessárias.
A metodologia deste trabalho consiste nos seguintes procedimentos: revisão
bibliográfica a respeito do tema; coleta de informações e dados em jornais, revistas,
páginas da web; análise do material de apoio utilizado nas salas de aula (livro didático)
e aplicação de um roteiro de atividades com os alunos; observações técnicas e
interpretação dos resultados.
A carência de projetos e metodologias para a disciplina com o uso das TICs
reforça a importância desta proposta para o desenvolvimento de projetos pedagógicos
necessários para o ensino e aprendizagem da Geografia na educação do campo.
É um convite na forma de desafio, viável, acima de qualquer dificuldade ou
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obstáculo. E o momento é propício para tornar a Geografia mais atraente, interessante e
indispensável como disciplina fundamental na formação de cidadãos. Sabemos que a
Geografia em conjunto com o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação tem
um importante papel nesta construção.
ENSINO DE GEOGRAFIA E AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO
As discursões sobre políticas de reforma agrária estabelecem relações com
movimentos sociais campesinos e com a construção de uma política diferenciada de
educação do campo. A Educação na Reforma Agrária e Educação no Campo nasceram
simultaneamente, são distintas e se complementam. Para Fernandes (2005):
A Educação na Reforma Agrária refere-se às políticas educacionais
voltadas para o desenvolvimento dos assentamentos rurais. Neste
sentido, a Educação na Reforma Agrária é parte da Educação do
Campo, compreendida como um processo em construção que
contempla em sua lógica a política que pensa a Educação como parte
essencial para o desenvolvimento do Campo.
Pensar a prática geográfica nas escolas nos leva a refletir sobre as diversas
abordagens da Geografia e sua evolução metodológica. Este trabalho usou como base as
correntes humanísticas e críticas do pensamento geográfico.
A Geografia Humanista, segundo Tuan (1985 apud PINHEIRO, 2005): “reflete
os fenômenos geográficos com o propósito de alcançar melhor entendimento do homem
e de sua condição”. De acordo com o pensamento de Pinheiro (2005):
O conhecimento geográfico é desenvolvido em vários graus nas
diferentes espécies. Considera que todos os grupos humanos têm
ideias a respeito do espaço, localização, lugar e recurso,
desenvolvendo um “mapa mental” na relação com o meio ambiente e
seu contexto cultural. As noções de território e de lugar, também são
essenciais para os grupos humanos, para o ser humano são carregados
de emoção e de simbologias, resultando em uma conceituação.
O conceito de lugar nesta perspectiva adquire uma relação de identidade, a partir
do momento em que o homem desenvolve vínculos afetivos com o espaço e vivencia
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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experiências diretas que incluem todos os sentidos. É por meio dos lugares que se dá a
comunicação entre o homem e o mundo.
A Geografia Crítica busca recuperar o sentido do ensino baseado na realidade
social. Nesta perspectiva, o lugar passa a ser definido pelo o que é percebido/vivido,
considerando sua subjetividade e objetividade material.
Sob o enfoque do pensamento crítico reconhecemos a importância de pensarmos
sobre os procedimentos de ensino de Geografia, e a esse respeito, Lana Cavalcante diz:
O caminho mais adequado para desenvolver o tema de procedimentos
no ensino da Geografia é o de uma reflexão inicial sobre objetivos de
ensino. Ensino é um processo de conhecimento do aluno mediado pelo
professor, no qual estão envolvidos, de forma interdependente, os
objetivos, os conteúdos, os métodos e as formas organizativas de
ensino. Nesse processo, os objetivos devem nortear os conteúdos e os
métodos. E os procedimentos são as formas operacionais do método
de ensino, isto é, são atividades para viabilizar o processo de ensino,
tal como ele é concebido teórica e metodologicamente.
(CAVALCANTE, 2002, p. 71)
Esse exercício de reflexão sobre a prática de ensino não é uma tarefa fácil, não
podemos pensar que a formação de bons professores depende simplesmente do
aprendizado de “técnicas infalíveis” de ensinar. É preciso estar ciente de que o processo
de formação vai muito além da esfera acadêmica, perpassando por caminhos e
descaminhos, que como diria Kaercher (2003) são constituídos por eternos recomeço.
Dessa forma,
[...] Pensar sobre a educação, rever-se através da educação como aluno
que foi e como professor que é apropriar-se do seu próprio caminhar
através da educação, falar de si sem medo neste processo é na
verdade, o educador se desvelar como sujeito, é um encontro consigo
mesmo como sujeito. Encontro que é libertação, mas que também
pode ser uma experiência dolorosa, sofrida.
É uma árdua tarefa tornar a Geografia mais próxima do aluno e do seu cotidiano.
Nessa perspectiva:
[...] A formação de uma consciência espacial no ensino requer do
professor que ele considere o que os alunos pensam, desejam e
conhecem. É preciso considerar os conhecimentos e a experiência que
esses alunos trazem do seu cotidiano para serem confrontados com o
saber geográfico mais sistematizado. [...] As representações sociais
estão no nível do conhecimento vivido e sentido, nem sempre
consciente, mas que contém elementos de um conceito já
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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potencialmente existentes nos alunos, podendo assim, ser tomado
como parâmetro de aprendizagem significativa. Esse procedimento
metodológico é compatível com a proposta de Vygotsky de formar
com os alunos uma Zona de Desenvolvimento Potencial ou Proximal.
(CAVALCANTE, 1998, p.362)
Segundo a concepção de Vygotsky:
A aprendizagem sempre inclui relações entre as pessoas. A relação do
indivíduo com o mundo está sempre mediada pelo outro. Não há como
aprender e apreender o mundo se não tivermos o outro, aquele que nos
fornece os significados que permitem pensar o mundo a nossa volta.
[...] o outro é quem nos orienta no processo de apropriação da cultura.
(BOCK, 2002, p.124)
No que se refere à mediação do conhecimento é válido ressaltar a importância da
utilização das novas tecnologias de informação e comunicação que podem servir como
recurso para interligar as experiências do cotidiano do aluno ao saber geográfico. De
acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN):
É importante que os alunos tenham os recursos tecnológicos como
alternativa possível para a realização de determinadas atividades. Por
isso, a escola deve possibilitar e incentivar que os alunos usem seus
conhecimentos sobre as tecnologias para comunicar-se e expressar-se,
como utilizar imagens produzidas eletronicamente na ilustração de
textos e trabalhos; pesquisar assuntos; confeccionar folhetos, mapas,
gráficos etc. sem que a realização dessas atividades esteja
necessariamente atrelada a uma situação didática planejada pelo
professor. (PCN, 1998, p.153).
Ainda nesse contexto, os PCN sugerem ao professor:
O aluno poderá, na medida do possível e do acesso, aprender a utilizar
a tecnologia como ferramenta intermediária da Geografia, a exemplo
do computador como armazenador e organizador de dados empíricos,
ou para construir simulações simples da realidade. [...] Outra
possibilidade depende dos recursos, são as formas de registro e
interpretação espacial, como o exercício de utilização das fotografias
aéreas e imagens de satélites. (PCN, 1998, p.96-97)
Voges e Nascimento (2011) citam como exemplo de recurso pedagógico
possível de ser utilizado nas aulas de Geografia o programa Google Earth que
disponibiliza imagens interativas de satélites onde podem ser visualizadas várias partes
da superfície da Terra com diferentes ângulos.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4636
No que diz respeito às formas de organização curricular, as Diretrizes
Curriculares Nacionais (DCN) sistematizam os princípios e as diretrizes gerais da
Educação Básica, orienta a formulação do projeto político pedagógico da escola
assegurando:
[...] estímulo à criação de métodos didático-pedagógicos utilizando-se
recursos tecnológicos de informação e comunicação, a serem inseridos
no cotidiano escolar, a fim de superar a distância entre estudantes que
aprendem a receber informações com rapidez a linguagem digital e
professores que dela ainda não se apropriaram. (RESOLUÇÃO
CNE/CEB 4/2010)
Quanto aos critérios procedimentais é preciso construir por meio da linguagem
escrita e oral um discurso articulado sobre as diferenças entre o lugar próprio dos alunos
e a pluralidade de lugares que constituem o mundo. Para Pierre Levy (1993), o
conhecimento é categorizado por três diferentes formas: a oral, a escrita e a digital.
Embora essas formas tenham se originado em épocas diferentes, elas coexistem e estão
presentes na sociedade atual. No entanto, elas nos encaminham para percepções
diferentes, racionalidades múltiplas e comportamentos de aprendizagem diferenciados.
É preciso que os professores estabeleçam o que, como, porque e para que servem
as novas tecnologias e só então fazer uso delas, pois só vale levar a tecnologia para a
classe se ela estiver a serviço de conteúdos que muitas vezes nem poderiam ser
ensinadas sem elas.
Tendo em vista que a simples incorporação das inovações tecnológicas não
garante melhoria da qualidade do ensino, o uso inadequado dessas tecnologias pode
mascarar uma prática tradicional de ensino baseado meramente na percepção e
memorização das informações.
Nesse sentido, esta pesquisa visa desenvolver práticas educacionais que aliem o
uso das tecnologias à construção do saber geográfico dos alunos do campo, partindo das
práticas observadas em sala de aula.
Para Oliveira (2011), o ensino de Geografia e as escolas do campo estabelecem
um papel relevante na compreensão das relações sociais com o semiárido:
A Geografia, como disciplina escolar, tem papel relevante no
entendimento dos processos que envolvem a relação campesinato,
ensino de geografia e reforma agrária; a pesquisa com extensão tem
possibilitado um reconhecimento de nossa prática docente no trabalho
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4637
com a disciplina no mundo da escola. A escola do campo é vista como
uma proposta que nasceu de demandas dos movimentos camponeses
na construção de uma política educacional para os acampamentos e
assentamentos de reforma agrária. Essa interpretação é relevante na
compreensão da realidade que envolve a escola do campo, que se
encontra no processo de espacialização da luta camponesa.
Assim, foi realizado um trabalho de campo na Escola Familiar Agrícola Dom
Fragoso localizada no município de Independência, no estado do Ceará. De acordo com
o Projeto Político Pedagógico, a escola se propõe a dispor uma formação integral do
jovem, a nível humano-social, intelectual-profissional e ético-espiritual, a diminuir os
índices de evasão e repetência dos estudantes, a trabalhar a permanência dos ex-alunos
no campo e a melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores rurais.
A pesquisa ainda está em fase de conclusão e ocorrerá em três etapas. Primeira:
exposição dialogada do conceito de lugar proposto pelo livro didático. Segundo:
observação e representação do espaço de vivência dos alunos. E terceira: a confrontação
entre as realidades observadas e sua representação virtual.
Na primeira etapa foram trabalhados com os alunos os conceitos das categorias
de análise da Geografia partindo da importância da localização espacial e temporal dos
fatos. Diante desta análise foi proposto aos alunos que tentassem identificar o
significado do lugar na construção da identidade social e relações cotidianas
considerando os elementos que compunham o lugar vivenciado por eles.
Diante do conteúdo trabalhado foi proposto aos alunos que representassem o seu
espaço de vivência ou algum lugar que concebesse algo importante, identificando
pontos para a localização e referência. O resultado foi à elaboração de alguns mapas
mentais ilustrando as observações feitas.
As ilustrações representam o seu espaço de vivência identificando aspectos
naturais e culturais da paisagem que estejam carregados de algum significado e
simbologia como é possível ver a seguir nas figuras 01 e 02.
FIGURA 01 – DESENHO RETRATANDO AS CARACTERÍSTICAS DO SEMIÁRIDO
REALIZADO POR UM ALUNO
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Autor: SANTOS (2012).
FIGURA 02 – DESENHO RETRATANDO AS UNIDADES PRODUTIVAS DA
COMUNIDADE EM QUE VIVE UM ALUNO
Autor: CAVALCANTE (2012).
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A terceira etapa da pesquisa está em fase de conclusão, mas é neste momento
que se procede à comparação entre os ambientes vivenciados pelos alunos e sua
representação virtual. O objetivo é utilizar o laboratório de informática e como
ferramenta pedagógica o site Google Maps, onde os alunos terão a oportunidade de
consultar as imagens de satélites identificando os lugares representados por eles. O
aluno poderá visualizar a localização em imagem real do seu espaço de vivência
desenvolvendo a noção espacial e a representação cartográfica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das inúmeras mudanças e transformações tecnológicas que ocorreram nas
últimas décadas, a sociedade atual vem exigindo novos hábitos, um novo perfil, outros
conhecimentos, sendo assim, a escola e o professore não podem mais ficar indiferentes
a essas transformações.
Hoje, o aprendizado é diferente das gerações anteriores e a reforma no ensino
trouxe mudanças nas disciplinas, nos conteúdos e nas metodologias. Direcionando as
mudanças para o ensino da Geografia e para a educação do campo, existe a necessidade
de inserir o uso da tecnologia no ambiente escolar. Este é um desafio que muitos
educadores estão enfrentando, já que o uso das novas tecnologias de informação e
comunicação faz parte do cotidiano da maioria dos jovens estudantes.
Este trabalho propõe a partir dos conteúdos da Geografia, usar os ambientes
digitais, tais como computadores e internet e todas as suas possibilidades de uso e
acesso a informação, abrindo possibilidade de trocas entre os participantes do processo
de ensino e aprendizagem. Uma Geografia que não seja apenas centrada na descrição
empírica das paisagens, tampouco pautada exclusivamente pela explicação política e
econômica do mundo; que trabalhe tanto as relações socioculturais da paisagem como
os elementos físicos que dela fazem parte, investigando as múltiplas interações entre
eles estabelecidas na constituição dos lugares e espaços de vivência.
Na execução de atividades com o uso das TICs, o enriquecimento da disciplina e
envolvimento dos alunos com os conteúdos e assuntos é significativo e possibilita uma
experiência positiva para todos os participantes, desenvolvendo relações de trocas e
colaboração, que muitos ainda não haviam experimentado de maneira tão intensa na sua
formação.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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A possibilidade de mediar às relações de ensino e aprendizagem para a educação
do campo e a inquietação inicial de fazer da disciplina uma experiência positiva e
construtora de conhecimento está envolvida em um processo muito maior que se
expande além da sala de aula que é aprender e ensinar com o uso de novas tecnologias,
especificamente com o uso de ambientes digitais, incluindo na sociedade da informação
e comunicação os futuros cidadãos com uma consciência tecnológica e do seu uso em
benefício individual e da sociedade.
A presença do aparato tecnológico na sala de aula não garante mudanças na
forma de ensinar e aprender. A tecnologia deve servir para enriquecer o ambiente
educacional, propiciando a construção do conhecimento por meio da atuação crítica e
criativa dos professores.
Nesse sentido, acreditamos que ao trabalhar os conteúdos da Geografia em
conjunto com as TICs e o com o imaginário dos alunos no estudo do espaço agrário é
facilitar a interlocução com eles e compreender o significado que as diferentes
paisagens, lugares têm para os alunos. Isso significa dizer, valorizar os fatores culturais
da vida cotidiana do semiárido, permitindo compreender ao mesmo tempo a
singularidade e a pluralidade dos lugares no mundo. A aplicação e o uso dos ambientes
digitais e o direcionamento dos conteúdos para as realidades próximas aos
conhecimentos, experiências e interesse dos alunos, mudam de modo expressivo às
relações, postura e autoestima dos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem de
Geografia. Desse modo, o uso das TICs facilita o aprendizado e a compreensão dos
conteúdos exposto em sala de aula.
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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O USO DO MAPA MENTAL COMO INSTRUMENTO
METODOLÓGICO FACILITADOR DO APRENDIZADO DE
GEOGRAFIA NO CONTEXTO SOCIO EDUCATIVO
Carlos Cavalcanti de Brito Neto
Stalin Braga de Lima
RESUMO
Considerando o espaço como principal conceito e objeto de estudo da Geografia, e que para
atingir sua compreensão é necessário uma caminhada sobre as complexidades ligadas a esse
conceito, o trabalho com mapa mental tende a ser uma metodologia de ensino importante para
refletir sobre as relações humanas que tornam o espaço concreto, além disso, uma prática que
contribui significativamente na motivação para com a disciplina à medida que a torna mais
agradável e interessante. Sendo, portanto uma importante estratégia no contexto sócio
educativo, onde a relação ensino-aprendizagem apresenta grandes desafios. Pretendemos
mostrar como essa metodologia pode, além de iniciar uma alfabetização cartográfica,
possibilitar a inserção do aluno em um novo plano de aprendizagem em que ele é o protagonista
do processo pedagógico, e como o professor pode conduzi-lo num processo educativo e
socialmente significativo para o uso em seus diversos contextos e fazendo-o pensar a partir dos
elementos que construíram sua identidade.
Palavras-chave: Ressocialização, Jovem Infrator, Metacognição
INTRODUÇÃO
A representação de porções da superfície terrestre através de mapas é uma
técnica milenarmente utilizada e que teve grande importância durante toda atividade
humana sobre o planeta, sendo considerado, portanto uma das principais ferramentas
presentes na historia dos mais variados povos desde a antiguidade, pois seria impossível
pensar uma trajetória para a humanidade sem o uso estratégico de tal instrumento que
serviu como base para orientação, reconhecimento e planejamento para diversos tipos
de organização espacial.
Assim como a própria Geografia, a Cartografia surge como uma ciência
intimamente relacionada com a expansão e o controle territorial, com a principal função
de obter e fornecer informações importantes para a conquista e o uso de determinada
porção espacial e seus recursos naturais para possibilitar o controle do homem sobre o
território. O mapa nesse sentido é em sua essência, um instrumento informativo, através
do qual o saber estratégico se manifesta, seja através de atividades militares, expedições
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marítimas, ou simplesmente como era utilizado na pré-história para o reconhecimento
de áreas para caça e pesca.
Atualmente, com o desenvolvimento de diversas abordagens cartográficas,
podemos perceber uma ciência com caráter mais amplo daquela que no inicio
apresentava uma postura restritamente ligada ao reconhecimento e à dominação
espacial. A Cartografia tem mostrado sua eficiência muito além daquele caráter
tradicional, principalmente no que se refere a possibilidades de sua utilização na
educação contemporânea.
A atividade gráfica denominada “mapa mental” revela-se como uma aliança
muito positiva entre a Cartografia, a Geografia e a Pedagogia, por ser uma metodologia
que torna possível a concretização da relação ensinar-aprender, tanto no sentido
professor-aluno quanto no sentido aluno-professor, tornando real o ato de educar
mesmo com ausência de materiais importantes para o consumo dos alunos e o uso dos
professores dentro da escola.
No contexto sócio educativo existem algumas dificuldades a superar para se
ensinar Geografia, primeiramente na situação de internação a que os adolescentes se
encontram, o que torna um tanto difícil entrar em assuntos relacionados à sua interação
com o meio, em segundo plano, existe também a carência tanto de materiais de
consumo (livros, atlas, cadernos, etc) quanto de materiais permanentes (data show,
retroprojetor, mapa-mural, etc) que facilitariam tanto o ensino quanto a aprendizagem.
Assim, a partir de um contato profundamente inspirador que tivemos com uma
realidade de jovens em conflitualidade social, e pensando nessa e em outras realidades
semelhantes, a qual o profissional ligado ao Ensino tanto de Geografia quanto de
qualquer outra disciplina está sujeito a se deparar, que decidimos formular este trabalho,
para que as experiências e analises que tivemos, possa servir de impulso tanto para
nossos próximos trabalhos quanto para outros colegas que se interessem pelo assunto.
A experiência que será relatada ao final do trabalho é referente à atividade com
mapa mental realizada com dois adolescentes do CSEM (Centro Sócio Educativo
Masculino) localizado do bairro do Coqueiro em Belém – PA. Ressaltasse que por
questões éticas decidimos substituir seus nomes verdadeiros para garantir o anonimato.
O OBJETO DA GEOGRAFIA
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Massey (apud RICHTER, 2011) atenta para algumas discussões que devem ser
retomadas e valorizadas a fim de levantar a importância de um dos principais conceitos
que acabou sendo deixado de lado durante o percurso histórico do ensino de Geografia,
o espaço. Para a autora, devido a perspectivas capitalistas, o conceito de tempo acabou
sendo supervalorizado em muitos trabalhos científicos para compreender a
dinamicidade das relações espaciais, enquanto que o principal objeto de estudo da
Geografia, o espaço, acabou ganhando uma posição de reflexão secundaria, além disso,
por muito tempo a História acabou recebendo a função de ciência competente para
entender a sociedade ao decorrer do tempo.
Para vencer este problema, primeiramente é preciso que o professor encontre
meios para motivar seus alunos no conhecimento cartográfico, instigando-os
curiosidade, proporcionando-lhes reflexão a respeito dos elementos e significados de
um mapa como um conjunto de informações a serem lidas e interpretadas para
raciocinarmos geograficamente. Para tanto, é importante ter como ponto de partida as
características particulares da vida do aluno expressas no mapa mental, porque são as
informações passadas pelo professor, associadas com as experiências pessoais do
sujeito, que irão construir um raciocínio geográfico verdadeiramente útil. Pois se de
modo tradicional o ensino de geografia tinha o papel simplesmente de ensinar noções
sobre o espaço, direção e o acumulo de informações sobre a natureza, na tentativa do
ensino de uma geografia inovadora, ela adquire uma função muito mais complexa, além
de dominar as noções de espaço localização e direção, ela precisa gerar um
entendimento mais aprofundo do próprio ser em conjunto com os elementos sócio
espaciais que o cercam, por isso, é indispensável que as informações teóricas possam
ser intimamente relacionadas com a vivencia particular na tentativa de levar ao aluno
uma ciência geográfica liberta das amarras tradicionais e positivistas, para que eles
possam desenvolver a habilidade de interpretar as formas espaciais e entender os
processos que as construíram.
O PROFESSOR E SEU LOCAL DE TRABALHO
Dentro do perfil dos alunos que cumprem medidas sócio educativa de
internação, constata-se que a maioria deles, em decorrência das diversas condições de
desenvolvimento a que estiveram submetidos no decorrer de sua historia de vida,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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sofrem de um déficit cognitivo, o que, por conseguinte gera uma grande desmotivação
com sua própria formação intelectual. Esse contexto faz com que o profissional
determinado a trabalhar com esse tipo de aluno precise lidar com uma postura de baixa
estima e falta de atenção a ser superada.
O professor inserido nessa realidade precisa ter consciência da serie de
transtornos que poderá sofrer, já que o perfil comportamental de adolescentes que
cometeram ato infracional é particularmente diferente de alunos convencionais. Dessa
forma, além da missão de vencer a desmotivação do aluno, ele precisa acima de tudo
não se deixar desmotivar. É preciso estar focado em seu compromisso ético, acreditar
no seu trabalho, e ter vontade política com aquilo que se esta comprometendo a fazer. E
se o lugar de trabalho pouco se assemelha com a escola em que ele sonhava trabalhar,
então ele deve ver seu local de trabalho menos pela estrutura física e mais pela razão de
existência.
O professor deve olhar para cada aluno como um sujeito de direitos que está ali
para alcançar algum tipo de ascensão, e para isso ele precisa e tem direito de ser
preparado para a vida, ele precisa que lhe mostrem possibilidades, que lhe ensine a
traçar as próprias metas e a trilhar novos caminhos.
METACOGNIÇÃO
Teóricos da psicologia estudaram o comportamento humano e identificaram
como ele pode ser definido e direcionado através de estímulos e respostas que
conduzem a diversas formas de aprendizagens refletidas em definições ou alteração do
comportamento. A evolução dos estudos nessa área abriu portas para a compreensão de
processos cognitivos da mente humana e possibilitaram a elaboração de métodos para
proporcionar o domínio sobre os processos do pensamento.
Dentro de nossos sistemas cognitivos, existe um subsistema de controle capaz de
monitorar e planejar nossos pensamentos, nos apontando melhores maneiras de atuar
intelectualmente diante de determinada problemática, tendo consciência de nossas
próprias limitações e buscando colocar em prática nossos pontos fortes para vencer
determinado obstáculo. A esse processo chamamos de metacognição, ou seja,
estratégias de pensamento, uma habilidade que passa a se tornar mais consciente à
medida que crescemos e nos desenvolvemos intelectualmente.
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Segundo Flavell (apud JOU e SPERB, 2006), o conhecimento metacognitivo é
composto de três variáveis: variáveis das pessoas, da tarefa e da estratégia, que nos
permitem respectivamente saber qual a melhor maneira de aprender algo, perceber se
determinado assunto é mais difícil ou mais fácil de aprender e decidir o ponto de partida
ao responder uma questão de prova, por exemplo. Miller e Leffa (apud JOU e SPERB,
2006) revelam que a capacidade cognitiva melhora à medida que a capacidade
metacognitiva se aperfeiçoa, e isso devido ao melhor uso que se passa a fazer de seu
tempo e principalmente das informações de que dispõe.
O mapa mental age no exercício das funções cognitivas dentro da Geografia
quando o professor desenvolve com o aluno, atividades relacionadas com
conhecimentos que ele já tenha adquirido. À medida que o aluno compreende as
relações de uso, construção e transformações do espaço, a partir das representações que
ele mesmo revela. Ao analisar sua própria percepção em relação ao espaço que ele faz
parte, ele acaba também se incluindo na analise espacial e percebendo-se como sujeito
transformador.
O processo se torna mais concreto se o educador elaborar avaliações em que o
aluno possa mostrar que esta aprendendo, que os exercícios sejam sempre favoráveis as
suas aptidões assimilativas.
Dependendo das particularidades de cada aluno, podem se desenvolver as mais
diferentes funções cognitivas a partir das vivencias e experiências de cada um, que
poderão tender a diferentes estilos de aprendizagens a serem exploradas pelo professor à
medida que consiga perceber determinado interesse do aluno por algum tipo de
atividade ou assunto que pode ser pareada com uso de textos e exposição de conteúdos.
UM ENISO DE GEOGRAFIA INOVADOR
No contexto sócio educativo, as dificuldades educativas, causadas pelo quadro
sócio histórico a que tiveram inseridos pode ocasionar dificuldade em assimilar
conteúdos abstratos, e se o objetivo principal de um professor é fazer com que o aluno
aprenda, então o “fazer aprender” pode ser entendido como criar condições. Existem
inúmeras estratégias metodológicas que auxiliam o desenvolvimento de habilidades
cognitivas facilitando a aprendizagem. As atividades viso-motoras são uma ótima
alternativa, pois proporcionam o aprendizado através de materiais concretos e que
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levam à reflexão, pensamento logico, interação, etc. Além do mais, desenvolve e
aperfeiçoa varias habilidades (coordenação motora fina, a coordenação viso-motora e a
memória) úteis para o desenvolvimento de atividades importantes ao longo da vida.
O fato de se ensinar Geografia ou qualquer outra disciplina, não significa que
não se pode paralelamente trabalhar o desenvolvimento de outras aptidões e saberes
relacionados. Emília Ferrero (1985) diz sabiamente que “a escrita é importante na
escola pelo fato de que é importante fora da escola, não o contrário”. A autora traz uma
nova visão baseada em teorias de Piaget, de que o foco da prática educativa não deve
ser o conteúdo, e sim o educando, devendo assim ser considerado seus próprios
processos de construção de seu conhecimento. Infelizmente, para muitos educadores,
atividades interessantes e de caráter amplo e diversificado acabam não sendo bem
vistas, talvez por atacar a praticidade e a objetividade de suas aulas, e acabam sendo
taxadas de bobas pela sua aparência de simples brincadeira.
Partindo dessa ideia, para o professor de Geografia, o mapa mental é apenas um
instrumento pelo qual se pode superar obstáculos à aprendizagem, primeiramente por
ser uma metodologia voltada para a atividade de construção que ele faz sem os rigores
tradicionais, e sim apenas relacionando os objetos de sua vivencia, ou seja, a sua leitura
particular do espaço com os conteúdos que o professor venha a abordar antes ou depois
da atividade, assim o aprendizado passa a ganhar sentido. Mas a disciplina pode muito
bem ser contemplada com outros métodos e instrumentos, alguns até podem ser
descobertos pelo educador. O principal objetivo é que o professor use os mapas mentais
como um instrumento de investigação de seus educandos, pois ele como já dito, pode
ser uma chave para a descoberta de potencialidades intelectuais no aluno, realizando
nele uma reconstrução de identidade. Permite ainda, que o professor passando a
conhecer melhor o aluno e a forma como ele aprende, possa repensar o processo ensino-
aprendizagem.
O desenho feito pelo aluno revela pontas importantes para ligar e trabalhar o
espaço geográfico a partir do que ele já concebe, do que é intimo a ele apesar de muitas
vezes não compreender completamente, e a partir de então se poderia problematizar a
discussões em meio ao espaço, como a construção, as multiplicidades, começar pelas
relações locais e seguir para as globais, etc.
Obviamente que não se poderia chegar de maneira repentina a uma compreensão
mais complexidade sobre o espaço geográfico, aqui estamos pensando apenas nos
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primeiros caminhos a trilhar, com o objetivo de resgatar da tradição da geografia em seu
estudo da relação homem-meio.
Tanto o processo pedagógico quanto o processo avaliativo deve ser pensado com
o objetivo de favorecer ao máximo as potencialidades do aluno, o educador deve abrir
possibilidades para que o educado possa mostrar que aprendeu, e perceber que está
aprendendo, pois isso o encorajará e o impulsionará na continuidade do processo
educativo. A partir do momento em que o educando toma consciência de onde partiu
seu aprendizado e dos caminhos que ele percorreu para concretiza-lo, ele poderá refazer
os caminhos sobre novas bases, ou tomando outros objetos como referencia, criando
novos conhecimentos, torna-se um investigador que não apenas absorve e repete, torna-
se independente e liberto para o conhecimento.
Madruga (apud DARSIE, 1996) defende o que ele chama de uma aprendizagem
significativa, que se opõe àquela repetitiva em que o professor seleciona conteúdos e os
lança para que o aluno absorva com auxilio de livros e anotações de caderno. A
aprendizagem significativa se opõe a esse ensino tradicional e fechado no ponto em que
conteúdo pode se relacionar com conhecimentos individuais prévios, que ao perceber
isso estará assimilando os conteúdos dotando-os se significado.
As obras de Paulo Freire são fonte de muita inspiração para aqueles professores
que se dedicam politicamente com uma educação libertadora, que objetive a construção
da consciência critica levando em consideração o contexto cultural e social do aluno e
os conhecimentos que já possui. Nesta perspectiva, “o educador já não é o que apenas
educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em dialogo com o educando que, ao ser
educado, também educa” (FREIRE, 1987).
AMPLICAÇÃO DO MAPA MENTAL
As observações e atividades realizadas até o atual período de 2013, com o
acompanhamento do Professor de Geografia Jorge Luiz, no CSEM, foi de grande valia
para a constatação empírica do que havíamos discutindo e constatado através de
pesquisas e depoimentos.
Na visita realizada no dia 22 de maio de 2013, foi aplicada a Pedro e Bruno uma
atividade com mapa mental, a qual o comando pedia que desenhassem o lugar de onde
vieram. Objetivávamos com isso, conhecer um pouco sobre as percepções que eles
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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trazem de seu local de origem enquanto relações homem-sociedade ou homem-natureza,
e a partir de analises e interpretações, investigar as relações positivas ou negativas que
eles guardavam, seus repertorio de vivencias e sentimentos para então passar a construir
conjuntamente com eles um conhecimento que possa interagir com suas realidades.
Antes de pedir para que os alunos representassem no papel o local de onde
vieram, foi preciso obviamente iniciar uma apresentação. Por seu ciclo de convivência
ser bastante limitado devido ao confinamento na unidade de internação, eles se mostram
bastante curiosos e interessados e saber certas informações a respeito de pessoas novas,
de forma que quando se sentem mais a vontade e próximos a alguém, é corriqueiro
surgir perguntas para saber de onde são, onde trabalhão, oque fazem, entre outras
perguntas às vezes até mais particulares.
A atividade em si, foi dividia em três partes: primeiramente uma breve conversa
com os alunos para iniciar um apanhado geral e não muito complexo sobre o conceito
de espaço e lugar, posteriormente sobre o que é um mapa e a sua funcionalidade; em
sequencia a propor que eles elaborassem um mapa mental representando o local de onde
vieram; e para finalizar, pedimos que eles completassem uma tabela com as relações
espaciais que eles expressaram no mapa.
Um deles já se mostrava bem à vontade logo na primeira parte da atividade,
falando sobre seu entendimento, e de maneira bastante interessante já resgatando alguns
elementos de sua memória a respeito de objetos e relações vividas por ele em seu bairro.
Porém, enquanto o Pedro participava e se mostrava bastante interessado e curioso,
Bruno, de cabeça baixa, não demonstrava sintonia conosco ou com o assunto.
Para elucidá-los melhor, construímos um modelo de mapa mental na lousa,
tentando sempre deixar claro que eles poderiam destacar quaisquer objetos que
achassem importante para que um de seus amigos que morasse distante, por exemplo,
pudesse identificar aquela localidade e se orientar. E já nesse momento Pedro sugeriu
colocar um “cyber” no mapa mental que estava servindo de exemplo. E quando foi
explicado que comumente se usam alguns símbolos para identificar e diferenciar
diferentes pontos no mapa, ele rapidamente fez uma associação com o jogo de
computador “GTA”1.
1 Jogo de computador, em que o personagem tem liberdade para realizar diversas atividades violentas
(roubo, agressão, assassinato), entre missões e ações livres em qualquer parte de uma cidade fictícia. O
jogador tem acesso a um mapa que facilita a orientação e o deslocamento para completar missões em
diversos pontos da cidade. O termo em inglês “Grand Theft Auto” que da origem à abreviação pelo qual o
jogo é conhecido, refere-se ao furto de veículos de autor valor financeiro.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Um ponto interessante na atividade foi que na parte final em que foi mostrado o
quadro para que eles completassem com relações expressas no mapa as seguintes
lacunas correspondentes à: família, amizade, relações econômicas, lazer, religiosidade e
escola. Foi o momento em que Bruno ergueu a cabeça e começou a participar.
Curiosamente, nesse momento da atividade, Pedro havia desenhado de forma
bastante destacada um campo de futebol, porém na tabela, o campo representava a
apenas a relação de amizade, enquanto que para a atividade de lazer foi indicado o
“cyber” como o objeto de maior identificação. Devido a sua certa fidelidade de
representação quanto à proporcionalidade, o “cyber” não apareceu no mapa, o aluno
ainda reforçou que só não colocou porque ficava mais distante.
Já Bruno, no momento em que se falou de amizade, informou logo que não tinha
amigos, porém no mapa mental havia representado algumas “casa dos camaradas”. Este
mesmo aluno fez muito pouco uso de cores, não fazendo questão de destacar muita
coisa. No momento direcionado a atividade de lazer ele acrescentou no mapa algumas
marcações da rua, indicando a pratica de futebol naquele local.
Nenhum deles representou uma escola no mapa, questionados a respeito
disseram apenas que a escola era longe de casa e não mostraram nenhuma identificação
por comentários como aconteceu a respeito do “cyber”. Nos dois mapas havia a
presença de uma igreja, provavelmente uma identificação criada pelo forte trabalho
religioso presente na unidade.
CONSIDERAÇÕES
Devido ao problema na questão idade e série, a problemática desse contexto
educativo se assemelha em parte ao EJA, às vezes por motivos semelhantes ao dos
alunos que compõe salas de aula da Educação de Jovens e Adultos, muitos internos
acabaram abandonando os estudos, não sendo raro encontrar aqueles em situação de
analfabetismo ou semianalfabetíssimo.
A maioria carrega de seu contexto sócio histórico uma baixa autoestima, fruto da
vergonha pela baixa escolaridade, sem contar a revolta por estarem aprisionados em
uma faixa etária da vida em que mais se busca a liberdade. Muitos nunca tiveram
nenhum tipo de identificação com a escolar ou ate mesmo foram expulsos dela, de
forma que para eles acaba não havendo nenhum tipo de identificação com o ambiente
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4651
escolar ou interesse em se desenvolver a partir de tal atividade, imperando a ideia do ter
que fazer por si pelos meios que o convívio social os ensinou, através de algum tipo de
ilegalidade.
A verdade, porém, é que a grande maioria desses adolescentes apresenta uma
grande ingenuidade no que diz respeito a sua consciência, a maioria deles se vê em uma
situação de descredito consigo mesmo, tendo passado grande parte de sua vida sob um
fatalismo adaptativo, situação que devido o efeito positivo dessa metodologia, julgamos
possível de ser superada. A constante disposição de Pedro desde o inicio da atividade,
quanto pelo despertar de Bruno nos momentos finais.
A atividade provou sua eficiência no contexto sócio educativo na medida em que
ativou a memoria deles, levando-os a relacionar os conteúdos e exemplos com suas
vivencias, maneira principal pela qual eles retêm informação, visto que por medida de
segurança nenhum deles tem acesso a caneta para fazer anotações e nem a caderno, a
maior forma de abstração acaba sendo a observância relacionada com informações que
lhes sejam conhecidas.
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4652
REFERÊNCIAS:
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JOU. G. I., SPERB. M. T. A metacognição como estratégia reguladora da
aprendizagem. Revista: Psicologia: Reflexão e Crítica. vol.19, n°2 Porto Alegre, 2006.
RICHTER, D.. O mapa mental no ensino de geografia: concepções e propostas para o
trabalho docente, São Paulo, ed. cultura acadêmica, 2011.
SOCIOEDUCAÇÃO: Estrutura e Funcionamento da Comunidade Educativa /
Coordenação técnica Antonio Carlos Gomes da Costa. -- Brasília : Secretaria Especial
dos Direitos Humanos, 2006. 156 p.
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NOVAS POSSIBILIDADES PARA O ENSINO DOS CONCEITOS
DE CENTRO-PERIFEIRIA A PARTIR DE UMA NOVA PERSPECTIVA:
UTILIZANDO O JOGO DE XADREZ COMO INSTRUMENTO
DIDÁTICO
Gecyca de Araújo Borges
1
Ralfe de Souza Medeiros 2
RESUMO
O presente estudo traz a proposta do uso do xadrez como instrumento didático, como alternativa
para tornar as aulas mais dinâmicas e atrativas. Este trabalho tem como proposta aplicar o jogo
de xadrez adequadamente para o ensino de geografia urbana, relacionando, de acordo com a
posição das peças dispostas no tabuleiro no decorrer de uma partida, alguns conceitos de
geografia urbana, com o objetivo de trazer maior visualização aos conteúdos estudados em sala
de aula, assim como tornar as aulas mais dinâmicas e atrativas.
Palavras chaves: Centro-periferia, Ensino, Xadrez
INTRODUÇÃO
Vivemos em uma sociedade conflituosa e contraditória, e como não está isolada,
a educação reflete as questões que estão impressas no mundo. Cotidianamente
percebemos o desinteresse dos alunos e ouvimos que praticamente temos que nos tornar
malabaristas para prender a atenção dos mesmos, ouvimos também que por vivermos na
sociedade da informação uma alternativa seria o uso da tecnologia para nos
aproximarmos da linguagem dos alunos, mas será que há algum método para além
destas propostas, será que podemos nos apropriar de outros instrumentos?
Não é intuito deste trabalho desmerecer tais propostas, a finalidade é agregar
estas propostas a outras possibilidades. Sabe-se que a realidade da escola nem sempre
condiz com o plano teórico e apesar das boas intenções as ferramentas necessárias para
aplicação de algumas práticas indicadas não é viável. Outra constatação é que segundo
estas propostas, a tecnologia seria indispensável para a democratização do
conhecimento no interior da escola, segundo esta, a formação continuada seria
1 [email protected], Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense
2 [email protected], Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense
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indispensável, mas sabemos também que a precarização da educação e das condições de
trabalho, que obrigam muitos professores a atuar em várias escolas e a assumir um
número elevado de turmas, não permite em certos casos alcançarem este objetivo.
Segundo Fernandes e Orso (2010), a proletarização, que é resultado da divisão
social e, portanto, da exploração e dominação social, remete à desqualificação do
trabalho docente, reduz os professores a uma espécie de técnicos especializados,
cumpridores de tarefas, desumanizando o trabalho. Diante disso, a escola, situada entre
os embates do capital e do trabalho acaba sendo forçada a preparar a força de trabalho
para a manutenção das relações de produção vigentes.
O xadrez surge neste ponto como uma identificação pessoal do professor e como
uma oportunidade de trazer alegria as aulas e tornarem as mesmas mais atrativas,
exigindo ampla reflexão e proporcionando satisfação pessoal ao mesmo tempo, portanto
vemos o jogo como um agente libertador da prática docente, já que permite ao professor
se apropriar do prazer pessoal para realizar sua atividade docente.
O ponto chave da questão é despertar o interesse dos alunos nas aulas para que
os mesmos se propusessem a aprender o que está sendo ensinado, e a alternativa
encontrada se mostra eficaz segundo os preceitos educacionais.
Os jogos e as brincadeiras são situações de aprendizagem que propiciam a
interação entre alunos e alunos e professor e aluno, estimulam a cooperação, contribuem
também para o processo contínuo de descentralização, auxiliando na superação do
egocentrismo infantil, ao mesmo tempo em que ajudam na formação de conceitos. Isso
significa que eles atuam no campo cognitivo, afetivo, psicomotor e atitudinal. Eles
permitem integrar as representações sociais adquiridas pela observação da realidade e
dos percursos percorrido no jogo (CASTELAR; VILHENA, 2010). Podemos afirmar
que os jogos auxiliam a aprender a pensar e a pensar sobre o espaço em que se vive. O
tabuleiro e a disposição das peças no decorrer da partida de xadrez nos permitem,
através da representação, visualizar e identificar alguns fenômenos que ocorrem no
espaço urbano. Com isso, percebe-se que o jogo de xadrez pode ser usado como
instrumento didático no ensino de geografia urbana.
BREVE HISTÓRICO DO JOGO DE XADREZ
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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O xadrez é um jogo muito antigo. Pouco se sabe sobre sua origem e sua criação,
que já foi atribuída a chineses e egípcios. Porém a invenção de tal jogo é mais atribuída
aos indianos por causa do chaturanga, jogo parecido com o xadrez e considerado seu
precursor, que foi criado por Brâmane Sissa a pedido do Marajá Kaíde no séc. VI. a.C.
O chaturanga era jogado por quatro jogadores e não tinha o mesmo número de peças
que o xadrez moderno, assim como a movimentação e o nome das peças também eram
diferentes. Foi na Pérsia que o chaturanga passou a ser jogado por dois jogadores,
passando a se chamar chatrang. Na metade do séc. VII d.C, a Pérsia foi conquistada
pelos árabes, que também modificaram o jogo, passando a se parecer mais com o atual
jogo de xadrez, ainda com diferenças nas nomeações das peças e o movimento das
mesmas. Foi através dos árabes que o jogo chegou até a Europa, pela península Ibérica
por volta do séc. XI, se tornando um jogo popular um século depois (GIUSTI, 2002).
No decorrer de quase quatrocentos anos, o jogo de xadrez foi sendo alterado pelos
povos europeus, e por volta do final do séc. XV ganha a configuração atual, com
sessenta e quatro casas (esse é o nome que se dá a cada quadrado do tabuleiro),
alternando em pretas e brancas para facilitar a visualização das casas, além das
modificações nas movimentações e nomes das peças. A partir dessa configuração, só
houve mudanças em algumas regras e a atribuição de duas novas jogadas, a jogada
roque (único movimento do xadrez que envolve duas peças, o rei e qualquer uma das
duas torres.), e a jogada en passant (quando um peão, ao fazer o movimento inicial,
avança duas casas e ultrapassa outra casa que está sendo ameaçada por outro peão rival,
permitindo desse modo que o peão rival o capture e avance para a tal casa antes
ameaçada por ele.). essas foram as ultimas modificações no jogo de xadrez e datam de
meados do séc. XIX, concluindo assim o que é chamado hoje de xadrez ocidental
moderno (COSTA, 2005).
Acredita-se que o xadrez tenha sido introduzido no Brasil através de dom João
VI, em 1808, quando o mesmo oferece o primeiro exemplar impresso sobre o jogo à
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (GAMBÔA, 2013), embora Pero Vaz de
Caminha faça menção de jogadas e peças na sua célebre carta para o rei D. Manoel I,
escrita em 1500 (DA HORA; BARATA; REZENDE, 2006).
Desde a primeira metade do séc. XX houve iniciativas em prol do ensino do
xadrez nas escolas. Em alguns países, sobretudo europeus, essas iniciativas foram bem
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4656
sucedidas. De inicio, o jogo de xadrez foi usado como uma ferramenta lúdica,
entretenimento para as crianças, depois como instrumento pedagógico, e em alguns
países como disciplina escolar (OLIVEIRA, 2013). No Brasil, a iniciativa para
implantação do jogo como instrumento didático acontecia de forma isolada, além de
alguns programas estaduais e municipais isolados, algumas escolas criaram oficinas
para o ensino do xadrez. Atualmente temos o programa federal Mais Educação que tem
como objetivo implantar vários projetos educativos e esportivos, e dentre os esportes
encontra-se o xadrez.
O xadrez é uma importante ferramenta didática, pois o jogo auxilia no
desenvolvimento do raciocínio lógico, o raciocínio crítico, a criatividade, além de
influenciar na personalidade e austeridade do jogador. Pelos motivos supracitados, o
xadrez vem sendo utilizado por diversas ciências, principalmente pela Matemática,
Pedagogia e Psicologia (REZENDE, 2013).
Mesmo sendo um jogo ideal para explicar o conceito de território, como propõe
Fernandez (2008), e conflitos geopolíticos (GIROTTO; SANTOS, 2011), o xadrez não
é muito utilizado pelos professores de Geografia, muitas vezes por não conhecer ou não
ter interesse em aprender a jogar. Se tratando de um jogo que ajuda a desenvolver o
pensamento crítico, o xadrez poderia auxiliar no ensino de outras áreas de Geografia,
como por exemplo, no ensino dos conceitos de centro e periferia e suas formações, que
é a proposta desse trabalho.
CONCEITUANDO CENTRO-PERIFERIA
Para estabelecermos a ligação entre o jogo de xadrez e o ensino da relação
centro-periferia, é necessário antes conceituarmos ambos.
A definição dos conceitos de centro e periferia é muito complexa, posto que, não
existe consenso por parte dos autores em relação aos mesmos. A definição mais
tradicional de periferia é a distancia que a mesma possui do centro. Porém, para
Domingues (1994), a distância que caracteriza a periferia urbana seria a distância
sociológica, posto que a periferia não possua as mesmas relações sociais e os serviços
que o centro dispõe. Com a mesma proposta, Ritter e Firkowski (2009) apontam que a
periferia não deve ser classificada como lugar distante do centro, uma vez que não é a
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4657
distância que determina as relações socioespaciais nos espaços urbanos. Os autores
supracitados propõem o fim da singularização do conceito de periferia, visto que a
mesma não é homogênea. Seria então mais adequado falar de periferias. Correa (1986)
afirma que por conta da heterogeneidade das periferias, seria melhor falar em setores
periféricos.
A periferia se destaca pela defasagem dos serviços públicos, das técnicas, etc.
em relação ao centro (CORREA, 1986). Carlos (2003), afirma que
“A ideia de centro ilumina a contradição centro-periferia, com isso, a
divisão social e técnica do trabalho no espaço, que produz uma
hierarquia espacial que distingue os lugares da metrópole no seio do
processo de reprodução espacial desigual. A desigualdade do processo
de reprodução do espaço urbano, faz do centro o nó que conserva duas
forças interligadas e poderosas: aquela do poder e riqueza e aquela da
miséria”. (CARLOS, A. F. 2003, p. 83).
Nesse sentido, o poder e riqueza que o centro oferece o tornam valioso, e seu
acesso e uso, mais restrito.
ENSINANDO CENTRO-PERIFEIRA A PARTIR DO JOGO DE XADREZ
Durante uma partida de xadrez, os jogadores disputam pelo melhor
posicionamento no tabuleiro para alcançar mais rapidamente o objetivo, que é aplicar o
xeque mate. Na maioria das partidas, a disputa pelo melhor posicionamento encontra-se
no centro, “área do tabuleiro que corresponde ao retângulo formado por c3-c6-f6-f3. As
casas e4, d4, e5 e d5 são a parte mais importante do centro. A coluna-e e a coluna-d são
as colunas centrais” (SEIRAWAN; YASSER, 2006, p. 204). A partir da dominação do
centro, o jogador poderá converter sua vantagem posicional em vitória.
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IMAGEM REPRESENTANDO A ÁREA CENTRAL (VERMELHO), E A PARTE MAIS
IMPORTANTE DO CENTRO DO TABULEIRO (VERDE). EXTRAIDA E MODIFICADA DE:
<http://4.bp.blogspot.com/_9WyVLFpkVm8/SYzmT3T-
hFI/AAAAAAAAAAo/qK2Mpnm4pHw/s400/n1.gif>, ACESSO EM 28/05/2013.
Portanto, é possível fazer uma apropriação desta visualização ocorrida no
tabuleiro de xadrez para explicar as relações que ocorrem no centro-periferia, uma vez
que, percebe-se que como ocorre no espaço urbano que valoriza, desvaloriza e
revaloriza o espaço urbano de acordo com os interesses do capital , o centro do tabuleiro
de xadrez durante uma partida é mais disputado e valorizado do que outras áreas
conforme os interesse do jogador. Também temos, durante a partida, assim como o
centro, zonas periféricas, menos valorizadas, e, portanto menos atrativas, durante boa
parte da disputa, inclusive com partidas em que as casas que se encontram nessas zonas
não chegam a ser disputadas ou habitadas.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4659
IMAGEM REPRESENTANDO AS ÁREAS PERIFÉRICAS (AZUL). EXTRAIDA
E MODIFICADA DE: <http://4.bp.blogspot.com/_9WyVLFpkVm8/SYzmT3T-
hFI/AAAAAAAAAAo/qK2Mpnm4pHw/s400/n1.gif>, ACESSO EM 28/05/2013.
As casas centrais, em determinado momento de algumas partidas, passam a se
repulsadas pelos jogadores, ou um dos dois, uma vez que as casas já estão bem
dominadas e defendidas, ou outras casas passam a se tornar mais atrativas. Para que tais
casas passem a se tornar mais atrativas, deverão ocorrer algumas jogadas para tal. Por
exemplo, quando um jogador decide fazer a jogada roque, ele escolhe retirar o rei das
proximidades das colunas centrais e alojá-lo mais próximo das colunas periféricas.
Como o objetivo principal do xadrez é aplicar o xeque mate no adversário, o fato do rei
estar localizado em uma zona periférica do tabuleiro, acaba atraindo o ataque do
adversário e, consequentemente, a defesa do jogador que optou pela jogada roque,
tornando essa área um território cobiçado e disputado, diminuindo a importância do
centro. Percebemos neste fato mais uma alusão a geografia urbana, já que o centro
adquire ou perde importância de acordo com o interesse do capital, que “manipula o
espaço” de acordo com suas pretensões, valorizando ou desvalorizando o mesmo.
CONCLUSÃO
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4660
O xadrez como instrumento de ensino já se mostrou eficiente, a proposta
desenvolvida traz para alguns temas da geografia urbana a opção de ser visualizada
metaforicamente pelos alunos, dando aos professores a oportunidade de facilitar as suas
abordagens em sala de aula, destacamos o jogo como eficiente e poderosa ferramenta na
atuação do professor, mas sabemos que o mesmo só pode ser eficaz se for utilizado pelo
professor se a turma ao qual o professor for utilizá-lo conhecer o jogo. Portanto, o
professor é a figura fundamental neste processo, pois, é sua decisão por adotar este
instrumento e adaptá-lo da melhor forma para suas aulas que trará importância ao
xadrez como instrumento didático, pois se não o utilizarmos como instrumento
pedagógico o mesmo continua com a sua função de jogo de tabuleiro. São as nossas
ações perante o mesmo que dão importância e o torna relevante para os alunos de
acordo com o conteúdo abordado.
REFERÊNCIAS
CARLOS, A. F. A. São Paulo: Dinâmica urbana e metropolização. Revista Território.
Rio de Janeiro. Ano VII, nº 11, 12 e 13, set./out., p. 77-90, 2003.
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aula do professor para as primeiras 12 aulas. Rio de Janeiro: Federação de Xadrez do
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DOMINGUES, A. Sub(úrbios) e (sub)urbanos - o mal estar da periferia ou a
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GAMBÔA, R. Escolas apontam que projeto xadrez na sala de aula começa a
apresentar resultados. Gravataí (RS): Clube do Xadrez. Disponível em:
<http://www.clubedexadrez.com.br >. Acesso em 23/05/ 2013.
GIROTTO, E. D.; SANTOS, D. A. A Geopolítica e o ensino de Geografia:
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OLIVEIRA, C. A. S. O xadrez como ferramenta pedagógica complementar no
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REZENDE, S. O que é o xadrez escolar? Disponível
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SEIRAWAN, Y.; SILMAN, J. Xadrez vitorioso táticas. Porto Alegre: Artmed, 2006.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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BRINCADEIRAS TRADICIONAIS: UMA ANÁLISE SOBRE A
INTERAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL DE CRIANÇAS DO ENSINO
FUNDAMENTAL (6º ANO) DA U.E.B ZEBINA EUGENIA TIBIRI, SÃO
LUÍS-MA
Juan Guilherme Costa Siqueira1
Roberta M. B. de Figueiredo Lima2
RESUMO
Este artigo visa investigar de que forma as brincadeiras chamadas tracionais contribuem na
construção do conhecimento sobre o espaço. As atividades lúdico-pedagógicas da vivência do
espaço infanto-juvenil vistas da perspectiva sócio-construtivista na qual a paisagem constitui-se
como privilegiada no mundo onde o aparelho cognitivo tem importância crucial na apreensão. A
construção da noção do espaço requer longa preparação e está associada à liberação progressiva
e gradual do egocentrismo (Castrogiovanni, 2006). O espaço apresenta-se como o local da ação,
desde o nascimento da criança a idade próxima de dois anos. É o espaço vivido, construído
pelos deslocamentos, através do rastejar, engatinhar, andar, procurar, etc, e pelos sentidos, que
estruturam as relações de próximo, dentro, fora, acima, embaixo,etc. O espaço vivido é prático,
organizado e equilibrado da ação e do comportamento social. Como procedimentos
metodológicos foram realizados o levantamento e revisão bibliográfica sobre as brincadeiras
tradicionais e noções de espaço da criança, subsidiando para obtenção dos dados secundários;
posteriormente, foram aplicados os questionários com as crianças do 6° ano sobre os principais
tipos de brincadeiras tradicionais. Além disso, foram executadas reuniões em grupo para a
divulgação e discussão dos resultados preliminares que foi a obtenção de dados sobre o que as
crianças brincavam e ainda brincam. Observou-se que atualmente houve mudanças no seu
espaço e nas brincadeiras devido às alterações no tempo ocorridas no processo de urbanização e
segurança na sua moradia.
Palavras-chave: Espaço vivido, modernização, identidade
INTRODUÇÃO
Este trabalho compreende a apresentação dos resultados preliminares de uma
pesquisa realizada com o intuito de conhecer as brincadeiras ditas tradicionais e como
elas são inseridas no espaço do entorno dos locais de moradia de crianças. Foram
reconhecidas como brincadeiras tradicionais aquelas realizadas a partir de objetos
produzidos de forma artesanal ou mesmo que, de forma geral tais brincadeiras
costumam acontecer em local exterior a residência, geralmente ao ar livre (nas ruas ou
1 Geografia /UFMA/NERA, [email protected]
2 DEGEO/UFMA (Orientadora), [email protected]
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4663
nos quintais). O estudo ora apresentado tem como objetivo primordial investigar as
brincadeiras tradicionais durante o processo de apreensão da criança no sentido do
conhecimento dessas brincadeiras realizando-se observações das mesmas e como elas
atuam, como meio de aproximação e vivência no cotidiano, comparando com as
brincadeiras modernas. A pesquisa teve como referencial empírico uma escola no bairro
Tibiri, localizada na zonal rural da Região Metropolitana da Grande São Luís na U.E.B.
Zebina Eugênia, precisamente os alunos da 6ª série, do ensino fundamental.
Através das brincadeiras tradicionais, tais como (pipa, manchete, bola, tacobol,
esconde-esconde) buscou-se analisar sua apreensão do espaço vivido pelas crianças, em
comparação a utilização dos brinquedos modernos.
Nessa etapa da pesquisa utilizou-se como estratégia de investigação do nível de
apreensão do espaço dos alunos analisados foram utilizadas aplicação de questionários
para a obtenção de informações sobre as brincadeiras tradicionais como as crianças
brincavam e quais foram as mudanças que ocorreram naquele lugar e observações no
espaço para obter resultados preliminares da pesquisa.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO NO UNIVERSO INFANTIL
Durante muito tempo, a sociedade tinha relação com o espaço como tipo de
agregação social chamado de genoespaço onde a a qual possue o seu convívio na
comunidade. A importância da convivência era estabelecida culturalmente através entre
os indivíduos, resultando na formação de uma identidade. A ciência em si é um produto
do espaço adquirido por um cidadão onde o mesmo apresenta idéias sem ser adquiridas
por outra pessoa. O conhecimento científico sofre constantes mudanças ao longo do
tempo, pois a sociedade também evolui no processo de construção/reconstrução do
espaço na qual Castrogiovanni (2006) comenta que:
Existe ainda pouca aproximação da escola com a vida, com o
cotidiano dos alunos. A escola não se manifesta atraente frente ao
mundo contemporâneo, pois não dá conta de explicar e textualizar as
novas leituras de vida. A vida fora da escola é cheia de mistérios,
emoções, desejos e fantasias, como tendem a ser das ciências, a escola
parece ser homogênea, transparente e sem brilho no que se refere a
tais características. É urgente teorizar a vida, para que o aluno possa
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4664
compreendê-la e representá-la melhor e, portanto, viver em busca dos
seus interesses (CASTROGIOVANNI, 2006, p. 13).
O autor ressalta a convivência na escola durante o período de aprendizagem
como aquisição de conhecimentos e a sua prática no campo, mostrando a sua
diversidade e uma forma de apreensão do conhecimento prático. A construção da
própria identidade é essencial na valorização das diferenças, os seus costumes e
tradições. Estes podem sofrer vários processos de transformação (edificações, leis,
questões rurais e urbanos) e evolução de equipamentos urbanos (celular, GPS, energia
elétrica, etc.). A sua construção representa sinais/marcas como registro na tomada da
consciência e das diferenças existentes no valor social. A etnologia do local se origina
de acordo com os eventos ocorridos no lugar e os processos de colonização com o
tempo a ser entendido para se analisar a compreensão do espaço contemporâneo tecendo
aproximação com o teórico e a prática na reflexão do seu cotidiano vivenciado pelo
estudante (CASTROGIOVANNI, 2006).
A CONSTRUÇÃO DA NOÇÃO DO ESPAÇO
A construção do espaço ocorre a partir do nascer da criança, a ação de um
espaço vivido, relacionado ao meio e nos sentidos que estruturam nas relações de
proximidade de uma ação no comportamento social (CASTROGIOVANNI, 2006). Esse
entendimento será feito pela distinção do espaço da ação e da percepção do espaço
representativo. O espaço da ação ocorre quando há um contato direto com o objeto
como, por exemplo, o pilão, feito como um instrumento de triturar grãos como arroz.
Quando não ocorre esse contato, o espaço representativo é construído na ausência do
mesmo através dos sentidos que se impõem, por exemplo, a relação que o vídeo game
possui e jogar bola. O vídeo game permite navegar em um ambiente virtual conhecendo
novas estratégias de acordo com a sua programação feita pelo desenvolvedor e jogar
bola permite fazer novas amizades ali mesmo sendo um ambiente real e verdadeiro e a
criança pode ter relação próxima com os seus amigos e vizinhos. As relações espaciais
permitem as construções e as representações do espaço, a criança adquire
conhecimentos sobre a utilização do objeto de acordo com a sua convivência, sendo
essas relações construtivas.
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4665
Vários autores têm estudos na literatura que abordam a natureza, o espaço
geográfico, as populações existentes no período colonial mostrando a origem e
formação do território, dentro das categorias da geografia. O reprodutivismo é um
sistema escolar moderno, inicialmente inserido como proposta de organização espacial
durante a exposição das aulas com o papel do estado. Porém, não se insere na
reprodução pura dos alunos tendo em vista que na escola precisa ter o papel de
formação dos alunos para construírem conhecimentos em diversas áreas, com os
instrumentos de aprendizagem aos alunos (figuras, ilustrações, dinâmicas de grupo,
aulas práticas) e construção de valores para a futura libertação dos alunos.
A psicomotricidade pode ser entendida como um suporte para as práticas
pedagógicas na sala de aula como alternativa a educação nos processos mecânicos e
preparatórios na alfabetização. Ela surgiu no final do século XIX tendo uma área de
atuação e de conhecimentos psicanalíticos em um palco de transformações
socioculturais. A psicomotricidade é inter e transdisciplinar onde institui sobre modelos
disciplinares e um modelo aplicado na prática do conhecimento pertencendo a um rol de
abordagens não-reprodutivistas (MAGALHÃES, 2008). Os paradigmas são idéias
originadas em vários autores tendo em vista a construção de vários conhecimentos ao
decorrer do tempo onde cada ideia é vista e entendida, de acordo com o conhecimento
empírico, hipóteses, etc vai se vinculando ou quebrando esses paradigmas.
Quando se fala na educação no campo, não é diferente, o paradigma surge de
acordo com a aquisição do conhecimento apoiado na visão do espaço rural. Os estudos
feitos por vários autores são construídos com base no conhecimento empírico como
aponta SANTOS e TUAN na concepção de espaço, fundamentados pelo conhecimento
científico realizando estudos aplicados no campo para obter resultados que auxiliam na
construção/desconstrução do conhecimento. O TUAN (1930) conceitua o espaço a sua
liberdade de caminhar, de explorar, de conhecer a sua realidade, ou seja, o empírico e a
sua contribuição científica se baseiam na realidade. A educação no campo foi construída
pelos grupos sociais como finalidade de quebrar esses paradigmas da educação rural
onde os programas que ocorreram no Brasil foram construídos com pouca qualidade. O
seu espaço rural era visto como inferior, não beneficiando a população rural sem ter
participação social.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4666
A educação no campo segundo FERNANDES (2004), tem a finalidade de
quebrar esses paradigmas da educação rural, transformando o campo como espaço de
produção e resistência. Mas dentro desse espaço, é possível resgatar esses valores
tradicionais e ter o seu território não só de resistência, mas como identidade.
Na atualidade, as sociedades se modernizaram e as brincadeiras tradicionais
(cabra-cega, esconde-esconde, pula corda, amarelinha, etc.) estão desaparecendo aos
poucos devido ao processo de urbanização nas cidades o que acarreta a insegurança em
algumas vias e a influência dos meios de comunicação (televisão, celular, vídeo game,
computador, tablet,etc.) (BERNARDES, 2006). As brincadeiras tradicionais têm a sua
importância de construir valores na sociedade dentro da cultura popular passando em
gerações.
Segundo Bernardes, (ano), Uma das brincadeiras tradicionais brincadas pelas
crianças no sertão e no interior do Brasil é o bondok sendo trazido pelos primeiros
portugueses foi popularizada em 1815 pelo príncipe Wied-Neuwied que estimulou as
crianças nessa atividade. Com a vinda dos portugueses, foi utilizada pelas crianças para
caçar borboletas, pássaros, lagartixas e calangos. Outra brincadeira utilizada durante
vários séculos até os dias atuais pelas crianças é o estilingue, conhecido como atiradeira,
tem a forma de “Y” construída de pedaços de madeira de uma laranjeira, jabuticabeira
ou goiabeira. Nas partes superiores, é colocado a borracha e um couro nas extremidades
para colocar a pedra. É utilizada para atirar em pássaros, lagartixas.
As experiências com as brincadeiras tradicionais nos levam a dizer que nos
permitem construir uma relação com o espaço vivido. “O lugar é a segurança e o espaço
é a liberdade” (TUAN, 1930). As crianças vivem naquilo que tem, vivem pelas
brincadeiras e permitem conhecer aquilo que as tem contato, ou seja, a sua “liberdade”
enquanto residem nos seus lugares fixos para retomar as suas atividades do cotidiano.
Isso mostra a importância dessas brincadeiras no sentido de resgatar os valores e
promover uma interação socioespacial diante das alterações ocorridas pela urbanização,
segurança das pessoas, circulação do capital e a indústria cultural.
METODOLOGIA
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4667
A metodologia é o processo de execução na pesquisa, visto que o conhecimento
científico tem uma busca em uma atualização com o empírico que passa ao longo do seu
tempo buscando resgatar o conhecimento no passado as contribuições advindas de
vários autores. Visto nesse processo, é preciso resgatar esse conhecimento da geografia
na antiguidade contribuindo com a atualidade. O método a ser utilizado tem sua base no
método dialético onde o espaço na sua categoria na geografia apega as velhas idéias e
precisa ser resgatado através de sua visão para que se haja o seu novo significado
(SANTOS, 1996). Os procedimentos metodológicos realizado na pesquisa foram:
Levantamento e revisão bibliográfica acerca do assunto a ser estudado; Aplicação de
questionários para obter informações sobre as brincadeiras tradicionais como as crianças
brincavam e quais foram as mudanças que ocorreram naquele lugar e observações no
espaço para obter resultados preliminares da pesquisa.
Foram realizadas atividades de observação e aplicação de questionários na
escola de U.E.B Zebina Eugenia, São Luís, com alunos do 6º ano do ensino
fundamental. A escola está situada no bairro Tibiri, o referido bairro compreende uma
localidade com características periurbanas, distante do centro de São Luís. O
instrumento de coleta de informações buscou captar os tipos de brincadeiras realizadas
pelas crianças e os locais em que são realizadas.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A pesquisa observou que as crianças realizavam algumas brincadeiras
tradicionais como tacobol, pula corda, amarelinha, manchete, corrida de carrinho,
triciclo e pira-cola. As crianças relataram mudanças recentes no seu espaço de
circulação e de brincadeiras, sentem falta de algumas lugares para brincar e explorar o
seu espaço que, devido às como a urbanização desordenada prejudica o acesso. A
poluição dos rios, o despejo de resíduos sólidos às margens dos rios foram apontados
como mudanças que comprometem a qualidade de vida das crianças que residem no
bairro Tibiri. As brincadeiras despertam muita felicidade nas crianças, pois faz parte da
sua alegria, da sua liberdade de brincar e conhecer mais o seu espaço. A falta ou a sua
ausência de sua construção e a interação socioespacial do ambiente seja ele escolar e na
sua residência prejudica no seu aprendizado tanto intelectual quanto psicomotor devido
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4668
aos seus aspectos espaciais como o solo, os seus espaços de brincar, a sua forma de
brincar e o seu conhecimento sendo alterado ao longo do tempo um fato a ser resgatado.
Entretanto, tinha gente adulta que brincava essas brincadeiras e ainda brincam como,
por exemplo, a mãe de uma criança brincava de bola na salina; o pai ainda brinca de
bola; o avô que ainda brinca de pipa. As brincadeiras possuem o seu ambiente e
necessita de algumas habilidades para brincar como, por exemplo, a pipa que necessita
ter um espaço amplo onde venta muito em algumas épocas do ano para brincar longe
onde reside. A corrida que é necessário ter uma pista boa e ampla, sem buracos e que
permita correr no seu ambiente de espaço. O esconde-esconde que a criança precisa
conhecer o lugar para se esconder para que o pegador consiga procurar bem. O tacobol
que precisa do seu principal brinquedo que é a bola e um espaço aberto (sem pedrinhas,
espinhas, cacos de vidro) para brincar. A amarelinha de um espaço disponível para
desenhar a sua forma e cor, jogando a sua pedrinha e caminhar no seu mundo
encantado. É algo que precisa ser estudado inserindo cada brincadeira em seu ambiente
adequando as suas condições de domínio do espaço.
CONCLUSÃO
As crianças mudam de pensamento conforme a sua idade aumenta devido a sua
racionalidade e podem até deixar de brincar dependendo do seu comportamento como,
por exemplo, as meninas que brincam até os doze anos e depois não brincam mais e
querem pensar nos meninos; os meninos e as meninas que brincam até
aproximadamente aos quatorze anos, pois depois disso, entram no ensino médio e vão
se preocupar com o vestibular (atual ENEM), pois irão se preparar para entrar no ensino
superior deixando de brincar com os colegas e futuramente no mercado de trabalho, etc.
A escola tem o seu principal objetivo de formar cidadãos, construir valores na sociedade
(colocando em igualdade social na preservação de valores, construção de uma sociedade
melhor e igualitária) e não somente para preparar no vestibular, faculdade, mercado de
trabalho etc. No entanto, percebemos que infelizmente a escola de maneira geral não faz
isso na prática ficando apenas no “papel”. Isso mostra que o ser humano possui
diferentes abordagens, ou seja, pensamentos diferentes no mundo totalmente
heterogêneo onde prevalecem várias culturas sendo comum a sua abordagem mesmo
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4669
achando estranho essas variações. Somos seres racionais e estamos inserido nesse
mundo moderno onde o meio técnico-científico-informacional prevalece em nossas
vidas. Estamos inseridos nessa área mesmo não tendo relação direta com ele, estamos
envolvidos diretamente ou indiretamente (SANTOS, 2006). O seu espaço tem as suas
peculiaridades, seus modos de vida e, portanto, suas formas de reprodução e construção
da sociedade seja ele cultural, físico e social.
REFERÊNCIAS
BERNARDES, Elizabeth Lannes. JOGOS E BRINCADEIRAS TRADICIONAIS:
um passeio pela história. In: anais do congresso luso-brasileiro de história da educação.
Percursos e desafios da pesquisa e do ensino de história da educação. 17 a 20 de abril de
2006. Uberlândia, Minas Gerais. Acesso em 09/06/2013.
CARLOS, Ana Fani A. (org.). A geografia na sala de aula. São Paulo, 2006.
CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos (org.). Ensino da geografia: práticas e
textualizações no cotidiano. Porto Alegre, 2000.
FERNANDES, Bernardo Maçano; MOLINA, Mônica Castagna. O campo na
educação no campo. In: Mônica Castagna Molina; Sonia Meire Santos Azevedo de
Jesus. (Org.). Por uma Educação do Campo. 1ed.Brasília: NEAD, 2004, v. 5, p. 53-89.
MAGALHÃES, Rita de Cássia Barbosa Paiva, CARDOSO, Ana Paula Lima Barbosa.
Formação docente e psicomotricidade em tempos de escola inclusiva: uma leitura
com base em Henri Wallon. In: 31ª reunião anual da associação nacional de pós-
graduação e pesquisa em educação (ANPED), 2008, cascambu-MG. Constituição
brasileira, direitos humanos e educação. Rio de Janeiro: Anped, 2008. v. 1. p. 1-19
Magalhães. Artigo – Universidade Estadual do Ceará, vinculado ao grupo de pesquisa
em educação especial.
SANTOS, Milton. Por uma geografia nova. 4 ed. São Paulo: Hucitec, 1996.
SANTOS, Milton 1926-2001. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção.
– 4ed. 2. reimpr. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006. – (Coleção
Milton Santos;1)
TUAN, Yi-Fu, 1930. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Tradução de Lívia
de oliveira. – São Paulo: DIFEL, 1983.
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4670
AS REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS E O LIVRO
DIDÁTICO DE GEOGRAFIA: UMA ANÁLISE SOBRE A
CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE ESPAÇO GEOGRÁFICO EM SALA
DE AULA POR ALUNOS DO ENSINO MÉDIO.
Maria Darcileny Soares da Silva1
Teresinha de Jesús Lima Pereira2
Ângela Oliveira Vieira3
Prof. Dr. Antonio Cardoso Façanha4
RESUMO
O presente trabalho resulta da experiência pedagógica de licenciandos em Geografia,
participantes do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência – PIBID da
Universidade Federal do Piauí – UFPI, adquiridas através de observações em sala de aula na
Unidade Escolar Professor Joca Vieira da rede estadual de ensino localizada em Teresina – PI.
O objetivo foi analisar a concepção de representação cartográfica na construção do conceito de
espaço concebido no livro didático. Optamos por trabalhar com a observação, a percepção, a
análise conceitual e a síntese através das representações cartográficas possibilitando o educando
refletir sobre o espaço geográfico no qual está inserido. O trabalho foi realizado junto aos alunos
do 1º Ano “C”, turno matutino. A metodologia foi desenvolvida em quatro momentos: i) a
reflexão sobre o conteúdo presente no livro didático utilizado pela escola; ii) a realização de
uma aula conceitual referente às representações cartográficas e apreensão do conceito de espaço
em sala de aula; iii) a realização de entrevistas no âmbito escolar, pelos alunos, destacando as
características socioeconômicas nos quais os alunos da escola se inserem e, iv) confecção de
mapas temáticos sobre os resultados obtidos. As discussões em torno dos mapas confeccionados
conferiu um caráter diferenciado às aulas de geografia, pois os alunos passaram de meros
espectadores para sujeito ativo no processo de ensino-aprendizagem. Os resultados
evidenciaram que o livro didático, além de apresentar um conteúdo defasado, resumido e muitas
vezes difuso, traz poucas propostas de atividade para o professor. Tais resultados possibilitam
uma reflexão ao professor de Geografia sobre a metodologia de ensino e as distintas tecnologias
que dinamizam as aulas de Geografia de modo que, respeitem os conhecimentos prévios e a
vivência cotidiana dos alunos na construção de suas competências.
PALAVRAS - CHAVE: Representação; Espaço; Ensino de geografia.
INTRODUÇÃO
1Universidade Federal do Piauí, Graduanda em Geografia e bolsista do PIBID
[email protected] 2 Universidade Federal do Piauí, Graduanda em Geografia e bolsista do PIBID
[email protected] 3 Universidade Federal do Piauí, Graduanda em Geografia e bolsista do PIBID
[email protected] 4 Prof. Dr. do Dep. de Geografia e História DGH/UFPI; Prof. do Mestrado em Geografia UFPI.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4671
Nas últimas décadas o ensino da geografia passou por reflexões teóricas e
metodológicas a cerca de seu objeto de estudo – o espaço geográfico, reflexões estas
pertinentes a uma série de mudanças que vem ocorrendo na sociedade, decorrentes
principalmente da ação desordenada do homem sobre a natureza na tentativa
desenfreada de conquistar o espaço no qual está inserido.
Com o avanço das tecnologias essas mudanças se acentuam em virtude de tornar
mais competitivo o mercado devido o poder de dominação de um grupo sobre o outro,
dessa forma, utilizar-se de instrumentos, pesquisas, aperfeiçoamento tecnológico são
metas nos quais fazem grupos permanecer na hegemonia. Tais tecnologias requer o uso
de mapas, satélites, sensores com os quais são manuseados perfeitamente pela
geografia, servindo de arma tanto para aqueles que priorizam a qualidade das gerações
futuras quanto paras aqueles que corroboram com Yves Lacoste (1986), segundo o qual
“A Geografia – isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra”.
Dessa forma, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) é fiel a ideia de que
é preciso adquirir competências e habilidades para ler os fenômenos geográficos,
requerendo saber utilizar a cartografia e a capacidade para elaborar mapas, para leitura e
uso de plantas cartográficas. Além disso, “os avanços da tecnologia, fotografias aéreas,
mapas digitais e sensoriamento remoto, permitem melhorar a qualidade dos mapas e o
nível de precisão visando à localização dos espaços” (BRASIL, 2006, p. 50).
Assim, a presente sistematização traz uma análise curricular no qual o livro
apresenta-se como um meio de veiculação da aprendizagem, entendendo que este deve
ser trabalhado em conjunto com outras estratégias de ensino. Deste modo, a pesquisa
apresenta uma análise do livro didático utilizado pela Unidade Escolar Professor Joca
Vieira, no que se refere às representações cartográficas e a compreensão e construção do
conceito de espaço geográfico em sala de aula. A finalidade dessa análise é desenvolver
subsídios metodológicos para uma melhor interpretação e apreensão na conceituação de
espaço geográfico e que atenda as necessidades do educando e educador.
Este trabalho tem como objetivo socializar experiências adquiridas com o
Programa de Bolsa de Iniciação a Docência – PIBID/UFPI e experiências desenvolvidas
nas disciplinas de Estágio Supervisionado retratando a importância das representações
cartográficas para uma melhor aprendizagem cartográfica dos educandos e a
compreensão/conceituação de espaço geográfico.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4672
METODOLOGIA
Para a execução da pesquisa foi analisado o livro didáticos de Geografia do
Ensino básico que está à disposição dos alunos na Unidade Escolar Prof. Joca Vieira
apresentado na tabela 1.
TABELA 1 – LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA UTILIZADO NA UNIDADE
ESCOLAR PROFESSOR JOCA VIEIRA.
LIVRO
TÍTULO DO
LIVRO
AUTOR
ANO/ SÉRIE
A
Geografia em
construção
Igor Moreira/
Elizabeth Auricchio
2010
1° ano Ensino
Médio Fonte: Autoras (2013).
O primeiro momento da análise foi subsidiado pelas propostas e discussões
conferidas nos PCN’s de Geografia do Ensino Médio (2006), pelo fato de ser o
documento oficial que indica os objetivos e orienta as discussões pedagógicas da
Educação Básica brasileira, além de leitura de autores que versam sobre a constituição
do livro didático e do ensino de Geografia.
A partir da análise do livro didático partimos para execução da aula teórica, com
o intuito de averiguar as principais dificuldades dos educandos no que e refere à
cartografia e a conceituação de espaço geográfico. O momento subsequente à exposição
conceitual, preparamos os alunos para realizar a pesquisa de campo, fornecendo
material e apoio tanto para realização da entrevista quanto para a confecção dos mapas.
No momento seguinte os alunos do 1° Ano “C” realizaram uma pesquisa de
campo através de entrevistas abordando os aspectos socioeconômicos dos próprios
colegas da escola envolvendo um universo de aproximadamente 157 alunos
correspondendo a 30% dos alunos na escola no turno da manhã. Após a entrevista os
alunos transformaram esses dados em mapas e foram instigados a analisar os dados
coletados levando-os a discussão e reflexão. Na última etapa da atividade houve a
culminância dos grupos nos quais apresentaram seus respectivos mapas e levantaram
suas indagações, momento em que podemos perceber um aprofundamento dos grupos
em discussão com o professor da disciplina juntamente com os bolsistas/PIBID.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4673
O LIVRO DIDÁTICO E O ENSINO BRASILEIRO
A aferição das políticas para a constituição do livro didático no Brasil ocorreu a
partir do início do século XX no qual o contexto que se tinha eram mudanças
econômicas internas promovendo um ajustamento da realidade econômica brasileira à
política econômica internacional. Nesse contexto, houve a ampliação da educação
básica no qual objetivava, dentro de um programa de cunho modernista e nacionalista,
estabelecer as bases de uma indústria nacional e assim transformar o desenvolvimento
capitalista no Brasil.
Nesse momento, os livros didáticos surgiram como instrumentos de divulgação
da política ideológica do Estado em nome da construção da Pátria. Em 1937 o governo
cria o Instituto Nacional do Livro Didático – INL e logo após a Comissão Nacional do
Livro Didático - CNLD, submissas ao Ministério da Educação. A atuação destes órgãos
vai ser marcada por um caráter centralizador e pela divulgação do pensamento do
Estado, enquanto a questão didática no livro ficará relegada a um segundo plano. Essa
forma de condução da política do livro didático vai durar até o fim da ditadura militar
no Brasil. Dessa forma FREITAG et al (1989) afirma:
[...] Poder-se-ia mesmo afirmar que o livro didático não tem uma
história própria no Brasil. Sua história não passa de uma sequencia de
decretos, leis e medidas governamentais que se sucedem, a partir de
1930, de forma aparentemente desordenada, e sem correção ou a
crítica de outros setores da sociedade (partidos, sindicatos, associações
de pais e mestres, associações de alunos, equipes cientificas etc.
(FREITAG et al 1989, p. 11)
Na década de 1980, observa-se uma descentralização política de formulação dos
currículos básicos para o ensino, junto a este fato é criado o Programa Nacional do
Livro Didático – PNLD cujo objetivo era universalizar o atendimento ao aluno e
promover a participação do professor no processo de seleção do livro didático, fato
incomum na consecução de políticas públicas para a educação brasileira (FREITAG et
al, 1989).
Durante a década de 1990, apesar da implementação da política neoliberal na
educação pelo governo federal, na figura de Fernando Henrique Cardoso, houve
avanços na elaboração dos livros didáticos. Estes passaram a apresentar uma nova
configuração, pois anteriormente eram constituídos com pouco rigor técnico, trazendo
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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simplesmente o texto principal, essa reconfiguração, tendo como base a nova política do
PNLD, passou a ser constituída com procedimentos de ensino. Estas mudanças estão no
âmbito das políticas do Ministério da Educação, assim, Höfling (2000) analisa o PNLD
como uma estratégia de política educacional que visa atender a Constituição Federal e
cumprir um dever do Estado. Entretanto, estas transformações respondem segundo Cruz
(2007), a uma transferência de responsabilidades do professor para o livro didático.
Acreditamos que reflexões em torno de como é concebido o livro didático e de
como o mesmo é utilizado em sala de aula, se torna fundamental para um trabalho
pedagógico satisfatório e para uma relação ensino-aprendizagem progressista,
entretanto, deve ser uma construção de todos os sujeitos envolvidos neste processo.
Portanto, compreende-se que, o livro didático partindo desse pressuposto deve ser
analisado como consequência de um trabalho educacional e intelectual com
responsabilidade, cujo objetivo maior seja o desenvolvimento das habilidades e
competências dos educandos, dando-lhes mínimas condições para a compreensão
primeiramente do seu cotidiano para posteriormente subsidiar interesses globais.
Partindo desse princípio o currículo apresentado pelos PCN’s de Geografia
necessita de uma proposta teórica e metodológica sólida, sendo uma obra que não
dialoga com o objeto de estudo da geografia que é o espaço geográfico. Neste sentido, o
livro didático sendo o principal instrumento pedagógico do docente é apresentado
desvinculado de uma abordagem conceitual precisa e de liberdade refletido na sala de
aula, pois apresenta a ciência geográfica desvinculada de questões que envolvem os
diferentes espaços vividos pelos alunos, como afirma Kaercher (2003, p.172).
Os espaços são desiguais e isso não deve ser visto como obra apenas
da natureza. Compreender as desigualdades sociais e espaciais é uma
das grandes tarefas dos geógrafos educadores para que a nossa ciência
instrumentalize as pessoas a uma leitura mais crítica e menos ingênua
do mundo, que desemboque numa maior participação política dos
cidadãos a fim de que possamos ajudar a construir espaços mais justos
e um homem mais solidário e tolerante com o outro.
Castrogiovanni (2003, p. 136) concorda com esta afirmação quando a diz que “o
uso do livro didático está associado a uma função social e pedagógica relevante: a
construção do conhecimento através do trabalho como texto impresso, o que permite a
ampliação desde universo de conhecimento”. Neste contexto, é importante que as
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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instituições, governo e professores olhem para as escolas e percebam que é um espaço
no qual há uma aprendizagem individualizada e o conhecimento é construído de forma
particularizada, dessa forma, a produção do livro deve ser realizada com um maior rigor
exigindo o mínimo de cuidado na sua utilização em sala de aula.
ANALISE E CONCEPÇÃO DE REPRESENTAÇÃO CARTOGRÁFICA NA
CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE ESPAÇO CONCEBIDO NO LIVRO
DIDÁTICO.
A partir da análise do manual do professor disponível no livro Geografia em
Construção: a construção do espaço geográfico verificou-se que o objetivo geral do
ensino de geografia no ensino médio é selecionar e organizar conteúdos que permitam
ao aluno obter aprendizagens significativas como compreender e interpretar os
fenômenos considerando as dimensões local, regional, nacional e mundial, além de
dominar as linguagens gráfica, cartográfica, corporal e icnográfica.
Assim, os PCNs para ensino médio de geografia propõem que é de fundamental
importância que o aluno aprenda a ler mapas, conhecer a simbologia das legendas,
organizarem e hierarquizarem fenômenos, além de perceber os detalhes da relação
cidade e campo em diferentes escalas cartográficas (BRASIL, 2006).
Com base nos parâmetros curriculares de geografia para o ensino médio,
analisamos o livro do 1º ano, Geografia em Construção: a construção do espaço
geográfico de Igor Moreira e Elizabeth Auricchio da editora Ártica (Tabela 1), adotado
pela Unidade Escolar Professor Joca Vieira, com objetivo avaliar como o conteúdo de
cartografia é abordado pelos autores, bem como as atividades propostas para os
professores trabalharem em sala de aula como material didático.
Com isso, observamos que o conteúdo de cartografia está distribuído em um
único capitulo “Espaço e conhecimento geográfico”, onde inicialmente é retrato a
utilização dos mapas desde a Idade Média passando pelos conceitos básicos da
cartografia como: as linguagens dos mapas, tipos de projeções, tipos de escalas, fuso
horário até a cartografia no mundo digitalizado.
No entanto, essa estruturação do conteúdo é bastante prejudicial para o ensino,
pois se encontra difusa, além de está disposta sem uma sequência lógica, dificultando
assim, a metodologia de ensino dos professores, como também a aprendizagem dos
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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alunos. Uma vez que o excesso de assuntos num único capítulo, fez com que os
conteúdos abordados fossem apresentados de forma resumida, deixando a desejar em
diversos pontos, pois aspectos importantes para aprendizagem dos alunos foram
ignorados pelos autores.
Por exemplo, ao retratar os tipos de escalas os autores restringiram-se apenas
em mostrar os dois tipos de escala de um mapa – a escala gráfica e a numérica,
esquecendo-se de um dos pontos mais complexos e de maior dificuldade dos alunos que
é a fórmula usada para descobrir a escala, a distância real ou a distância gráfica de um
mapa.
Além disso, o conteúdo sobre fusos horários também é exposto de maneira
ineficiente e incompleta, já que os cálculos matemáticos são desprezados, mostrando
assim, que o livro didático em questão apresenta-se defasado, pois ele não consegue
articular o conteúdo do livro com a realidade dos alunos, provocando o distanciamento
dos mesmos com a cartografia, fazendo com que os obstáculos não sejam superados
pelos discentes, sendo apenas contornados ou colocados para “debaixo do tapete”, ou
seja, empurrando o problema para frente.
De modo geral o que se presencia é a falta de inter-relação dos conteúdos,
principalmente com a realidade dos alunos, dificultando a compreensão dos mesmos.
Em decorrência dessas grandes falhas e ausências, os pontos mais específicos da
cartografia como escala, fuso horário e projeções cartográficas são comprometidos.
Observa-se que, apesar do livro didático ser o principal instrumento de ensino,
servindo de “porto seguro” para o professor no processo de ensino aprendizagem,
verificamos que até o manual do professor encontra-se ineficiente para o desempenho
deste na sala de aula, pois o material traz poucas propostas de atividades para auxiliar o
professor na execução de seu trabalho.
APREENSÃO/CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE ESPAÇO GEOGRÁFICO
EM SALA DE AULA.
A maioria dos professores enfrentam grandes dificuldades ao trabalharem os
assuntos de cartografia em sala de aula, uma vez que, sua formação acadêmica não
conseguiu suprir suas deficiências adquiridas desde a educação básica, além disso, o
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livro didático apresenta-se com grandes falhas e ausências, principalmente nos pontos
mais específicos da cartografia – escala fuso horário e projeções cartográficas.
Com base, nesta realidade presente na Unidade Escolar Professor Joca Vieira,
realizamos uma atividade em conjunto com o professor de geografia na turma do 1º Ano
“C” turno matutino, com intuito de sanar as dificuldades que grande parte dos alunos
apresenta em relação à cartografia e a apreensão desta para a conceituação de espaço
geográfico.
A atividade iniciou com a discussão dos conteúdos pelo professor da disciplina
com o auxílio dos bolsistas/PIBID (Figura 1). No final da exposição foi proposta uma
atividade de fixação dos conteúdos para a turma, a qual se baseou na construção de um
mapa temático, onde os alunos realizaram uma pesquisa em forma de entrevista
quantitativa e qualitativa com as demais turmas da escola, foram abordados os seguintes
temas: i) bairro onde mora; ii) índice de criminalidade do bairro; iii) saneamento básico
do bairro; iv) renda familiar; v) escolaridade dos pais; vi) alunos que trabalham e, vii)
sistema de saúde do bairro.
FIGURA 1 - ATIVIDADES DESENVOLVIDAS POR ALUNOS DA UNIDADE
ESCOLAR PROFESSOR JOCA VIEIRA – TERESINA (PI).
A-B: Acompanhamentos dos bolsistas do Programa nas etapas da realização do trabalho
práticos pelos alunos. Fonte: PIBID DE GEOGEAFIA - UFPI (2013)
Em seguida, os alunos realizaram uma análise dos dados em conjunto com o
professor e as bolsistas/PIBID, depois confeccionaram mapas temáticos de Teresina
com os dados obtidos na pesquisa, onde utilizaram os elementos que compõem um
mapa como legenda, título, escala e orientação (Figura 2). Por fim, com a conclusão da
parte prática do trabalho, os alunos promoveram a exposição de seus mapas,
relacionando-os com o espaço geográfico, conforme afirma Dollfus (1991, p. 9):
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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[...] o espaço geográfico é susceptível de ser cartografado. [...] a
geografia destaca particularidade, dentre seus modos de expressão, a
representação cartográfica que permite situar os fenômenos e
esquematizar os componentes do espaço de acordo com a escala
escolhida e com as referencias adotadas.
FIGURA 2 - ATIVIDADES DESENVOLVIDAS POR ALUNOS DA UNIDADE
ESCOLAR PROFESSOR JOCA VIEIRA – TERESINA (PI).
A-B: Confecção do mapa temático de Teresina (PI); C-D: Analise dos dados coletados para
confecção dos mapas temáticos. Fonte: PIBID DE GEOGEAFIA - UFPI (2013)
Percebemos ao longo da realização da atividade que os alunos mostraram-se
motivados, pois este trabalho proporcionou a inter-relação entre os conteúdos e o
cotidiano dos alunos, evidenciando a importância da prática socioconstrutivista no
ensino de geografia e reafirmando o que Almeida e Passsini (2002, p. 11) constataram,
pois “é na escola que deve ocorrer a aprendizagem espacial voltada para a compreensão
das formas pelas quais a sociedade organiza seu espaço – o que só será plenamente
possível com o uso de representações formais (ou convencionais) desse espaço.”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa apresentou reflexões acerca do ensino de geografia com base nos
conhecimentos cartográficos e do conceito de espaço geográfico, a partir da experiência
adquirida através da participação no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência
– PIBID/UFPI na Unidade Escolar Professor Joca Vieira da rede estadual de ensino localizada
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4679
em Teresina – PI. Constatamos que, apesar do livro didático utilizado na escola
apresentar defasagem e difusão de conteúdos, há um interesse entre os alunos nos
conteúdos geográficos quando estes são trabalhados ludicamente e/ou através de outros
materiais (mapas, bússolas, pesquisa).
Portanto, cientes de que o ensino de Geografia está intimamente ligado ao estudo
do espaço geográfico e de que a presença da linguagem cartográfica ocorre para além
das estruturas cartesianas mais rígidas (projeções), o resultado dessa atividade permitiu
uma análise espacial sobre o cotidiano de maneira mais vasta e crítica, criando subsídios
metodológicos para uma melhor interpretação e apreensão na conceituação de espaço
geográfico e que atenda as necessidades do educando e educador.
Nesta perspectiva, para que essas práticas e/ou metodologias sejam
consolidadas, torna-se fundamental que a escola promova momentos em que se
discutam o ensino dos conceitos no processo de ensino-aprendizagem de Geografia e
promovam metodologias que tornem os alunos como sujeitos do conhecimento,
tomando suas decisões e fazendo suas próprias reflexões a partir de leituras,
modificações e/ou construções que ocorrem no espaço.
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4681
O ENSINO DA GEOGRAFIA APLICADA AOS QUADRINHOS:
A GEOPOLÍTICA E A GEOGRAFIA POLÍTICA DA QUESTÃO PALESTINA
NA REPRESENTAÇÃO DE JOE SACCO1
Leonardo de Souza Alves2
Fabiana Carneiro da Silva3
RESUMO
Este trabalho objetiva analisar o ensino de Geografia, tendo como base a história em quadrinhos
(HQs) do jornalista e cartunista Joe Sacco, contribuindo para facilitar a compreensão dos
conceitos da geopolítica e geografia política, bem como a análise dos conflitos na região da
Palestina. Nesse sentido, trabalha-se com a introdução de um novo instrumento de ensino de
geografia, as HQs, especificamente da Geopolítica Palestina que é ministrada a partir do 9o ano
do Ensino Fundamental (antiga 8a Série); procurando desprender-se do ensino tradicional e
alienador, e buscando através da criticidade e do uso de uma linguagem dinâmica e atraente
ajudar o educando a compreender e transformar a sua realidade social. Assim, o artigo abordará,
nos dois primeiros tópicos de discussão, a questão histórica da reformulação do ensino de
geografia e, posteriormente, analisará os quadrinhos de Joe Sacco como referência para o ensino
da geopolítica do conflito Israel-Palestina. À guisa de uma (in)conclusão, esse trabalho se
propõe a contribuir para o recente debate acerca das novas ferramentas de ensino, observando
ser de cabal importância a continuidade do mesmo e a aplicabilidade desses recursos em sala de
aula.
Palavras-Chave: Ensino de Geografia, História em Quadrinho, Joe Sacco,
INTRODUÇÃO
Partindo de um estudo bibliográfico sobre a obra do jornalista maltês Joe Sacco,
o questionamento que permeia o presente artigo baseia-se na indagação: seria a história
em quadrinhos (HQ) uma linguagem apropriada para abordar um tema complexo como
o conflito entre árabes e judeus na disputa pelo território da Palestina? A partir das
perspectivas apresentadas pela Geografia Política – que discute temas e questões
pautados “na relação entre a política – expressão e modo de controle dos conflitos
sociais – e o território – base material e simbólica da sociedade” (CASTRO, 2005, p.41)
1 Orientador(a): Professora Msc. Léa Maria G. da Costa.
2 Universidade do Estado do Pará – [email protected]
3 Universidade do Estado do Pará – [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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– e pela Geopolítica4, é possível vislumbrar novos paradigmas que podem ser agregados
à pesquisa sobre o tema, de forma a introduzir o universo da HQ ao debate do ensino
contemporâneo de Geografia.
Nesse contexto, considerando-se o ensino de geografia, busca-se agregar essa
nova ferramenta às propostas contemporâneas de reformulação, que se baseiam numa
crítica sistemática ao modelo de ensino tradicionalista e o ensino neoliberal de caráter
ideológico. Essas propostas explicitariam as possibilidades da ciência geográfica, bem
como suas práticas de ensino “cumprirem papéis politicamente voltados aos interesses
das classes populares” (CAVALCANTE, 1998, p. 20). É necessário que se mantenha a
cautela de pensar o ensino geográfico a partir das experiências vividas pelo educando,
para que este possa compreender o espaço geográfico na sua concretude, nas suas
contradições.
Assim, nos quadrinhos de Joe Sacco pode-se analisar uma profunda
sensibilidade para com as falas dos sujeitos, sendo assim, ele trabalha na perspectiva da
narrativa ordinária, isto é, a narrativa contada a partir dos sujeitos, o cartunista
preocupa-se em enxergar o outro lado da história, aquele que até então vinha sido
ocultado pela mídia, aborda o cotidiano das pessoas que vivem o lugar, estes são os
excluídos/expulsos pela guerra/conflito de seus territórios.
Dessa forma, o presente artigo objetiva analisar os quadrinhos com ênfase na
Geografia Política como instrumentos de ensino de Geografia, tendo como base de
análise a utilização dos quadrinhos de Joe Sacco no ensino da questão da Palestina que
se dá a partir do 9o ano do Ensino Fundamental (antiga 8
a Série), buscando elucidar o
conflito Israel-Palestina nas representações desses quadrinhos.
DA GEOGRAFIA QUE “QUE SERVE PARA NADA” À QUE SERVE PARA
“DESVENDAR AS MÁSCARAS SOCIAIS”
O ensino e a geografia estão intimamente relacionados. Desliga-las como se não
tivessem um mínimo elo constitui-se como um erro dado muito mais por um interesse
de caráter ideológico do que provavelmente um problema de perspectiva. Desta forma
4 Compreendida como “formulação das teorias e projetos de ação voltados às relações entre os Estados e
às estratégias de caráter geral para os territórios nacionais e estrangeiros” (COSTA, 2008, p. 18).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4683
observa-se que as correntes da geografia estão inter-relacionadas no tempo-espaço com
as tendências pedagógicas que perpassam o dia-a-dia escolar.
Se tomarmos como base a divisão de Saviani (1983 apud OLIVEIRA, 2006), as
tendências pedagógicas Não-críticas, Crítico-reprodutivistas e Críticas têm elos com as
correntes geográficas Positivista, Quantitativa e Crítica, respectivamente.
Todavia numa concepção mais ampla o que podemos denotar é um ensino
geográfico voltado aos interesses do Estado (LACOSTE, 1988) bem como outro mais
recente o qual busca analisar o espaço em uma concepção dialética, de transformação
social, já que a história tem seu desenrolar no espaço geográfico (MOREIRA, 2012,
p.2). Tal divisão também encontra aporte na classificação de Oliveira (2006) entre as
tendências pedagógicas reprodutivistas e transformadoras.
É claro, porém, que ao fazermos tal divisão assim também as comparações,
ficamos em uma linha tênue para fadarmos ao erro de acreditar em uma ação efetiva na
educação a qual siga puramente uma linha, podendo chegar ao ponto de acreditar na
concepção de linhas do tempo solidificadas, como aquelas produzidas por alguns
professores das ciências sociais, as quais deixam parecer em momentos de inicio e fim
de um período histórico ou teoria.
Desta forma os modelos neoliberais de ensino com características avaliativas, a
exemplo: Prova Brasil, Provinha Brasil e Exame Nacional do Ensino Médio, ainda tem
força em um país que claramente tenta, a nível de ensino, se desgarrar, buscando novos
métodos para melhor atender os diversos níveis educacionais.
ENSINO: UM INSTRUMENTO IDEOLÓGICO
Ao analisar o ensino é preciso denotar a ideia de Claude Raffestin (1993) no seu
clássico “Por uma Geografia do Poder”, o qual acredita que toda relação é uma relação
de poder, seja ele o poder com “p” maiúsculo referente ao Estado-nação ou mesmo com
“p” minúsculo presente nas relações entre os seres sociais.
A educação é por esse motivo um instrumento dotado de intencionalidade, de
ideologia. Em nenhum momento deve ser retirada a importância da Educação em nossa
sociedade, mas deve-se ter claramente que no âmbito educacional, tem em seu cerne
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4684
sujeitos dotados de opinião (docente e discente) quanto uma estrutura de poder o qual
busca manter sua estrutura bem como o controle de sua sociedade: O Estado-Maior.
No modelo neoliberal a criação de instrumentos de avaliação e mérito são
necessários parar manter a estrutura educacional voltada muito mais para os resultados
do que propriamente para o ensino-aprendizagem. Assim a geografia fica fadada a ser
uma matéria simplória, enfadonha, maçante, entre outros, deixando o temível
instrumento de poder que é a geografia para aquele que detém o Poder (LACOSTE,
1988). Este fato pode ser constatado na fala Brabant (1990, p.18): “O clima nada tem a
ver com o tempo real, as formas do relevo organizadas nas tipologias caricaturais
deixam de ser um elemento de paisagem visível para tornarem-se uma construção
abstrata”.
É na perspectiva de uma disciplina puramente descritiva e cada vez aparentando
ser uma ciência inútil que a geografia entrará em uma crise de finalidade, contestada por
vários profissionais do ramo das ciências sociais (VESENTINI, 1990, p. 35). Tais
críticas teceram um caminhar da geografia principalmente a partir dos anos 80 do século
passado para uma função realmente social.
A partir dessas críticas e da compreensão de sua importância que se desenvolve
a tentativa de construção de uma geografia que tenha consciência do seu papel no
estudo do espaço geográfico, neste contexto nascerá a geografia crítica, tecida a partir
das relações entre classes sociais em uma concepção marxista.
É assim que Ariovaldo U. de Oliveira (1990, p. 29) vai afirmar que “o rumo à
práxis é o caminho para revolucionarmos a geografia”, ou melhor, a sociedade.
Wettstein (1990) fala de uma geografia curativa ou preventiva, ou seja, só aprendendo o
mundo em sua perspectiva atual e não o lendo a partir concepções passadas.
Neste contexto o quadrinho (HQ) já apresenta dois lados os quais devem ser
muito bem retratados. O primeiro refere-se ao quadrinho enquanto material didático
com suma importância no ensino-aprendizagem, bem como na apresentação do espaço
das relações sociais, mas por outro lado não podemos simplesmente encarar as histórias
em quadrinhos como uma verdade absoluta sobre uma temática, em nosso caso o
conflito entre Israel e Palestina, guardando assim, o caráter ideológico presente no autor
da obra.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4685
Faz-se necessário desta forma mostrar as críticas tecidas tanto a mass media que
o produz quanto propriamente a ao caráter jornalístico da obra. A primeira crítica é feita
por Wettstein ao falar da violência nos noticiários:
A violência do noticiário passa a substituir a dita fugacidade do
positivo; trata-se de uma violência que efetivamente ocorre, mas que
os meios de comunicação de massa exaltam e arrancam o seu contexto
casual. É uma violência for export que inunda todas as latitudes do
mundo a partir dos teletipos das multinacionalidades das noticias
(WETTSTEIN, 1990, p. 129 - grifos do autor).
Brabant (1990, p. 20), porém, trará a tona a fala dos professores, incomodados
com uma geografia-espetáculo dos meios de comunicação: “Todos os professores
acusam a concorrência desleal dos meios de comunicação. Estes utilizam o que se pode
chamar de uma geografia-espetáculo que tende a relegar a geografia escolar ao mundo
da pré-história”.
Em vista disso o discente deve saber observar o quadrinho nas suas limitações,
ou seja, ele deverá saber apreender tanto os fatores espaciais e temporais presentes na
história em quadrinhos, como entender também as limitações desse recurso didático.
Raffestin parece ter encontrado a chave para tal problemática: “É pelo questionamento e
não pelas respostas que se alcança a medida do conhecimento” (RAFFESTIN, 1993, p.
8).
A OBRA “PALESTINA” DE JOE SACCO COMO REFERÊNCIA NA ANÁLISE
GEOGRÁFICA E ENSINO DA GEOPOLÍTICA DO CONFLITO ISRAEL-
PALESTINA
Antes de iniciarmos a discussão a respeito da obra de Joe Sacco para o ensino de
Geografia, faz-se necessário compreender a geopolítica do conflito Israel-Palestina, bem
como o seu aparato histórico.
Esse conflito árabe israelense teve seus pressupostos desde o século I da era
cristã, quando os soldados Romanos expulsaram os judeus da sua “Terra Prometida”
devido às revoltas judaicas e o levante contra o império. Posteriormente, com o período
de colonização no século XIX a Inglaterra abriu concessões para o retorno do povo
judaico ao território da Palestina (esse movimento de imigração foi denominado de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4686
sionismo), entretanto, durante o grande período em que os judeus ficaram fora, outros
povos se estabeleceram naquela região, adotando um sentimento de pertencimento
também pautado em bases religiosas, bem como em posses materiais. Assim elucida o
historiador Alain Gresh.
Na Palestina, a oposição ao projeto sionista manifestou-se mesmo
antes da guerra. Traduziu-se, concretamente, pela rejeição desses
“invasores”, cujos costumes e modo de vida são totalmente estranhos
e cujo comportamento se caracteriza muitas vezes pelo racismo e o
desprezo pelos “bárbaros”. As compras de terras a proprietários
absentistas, que viviam em Beirute ou Constantinopla, desde 1880 que
suscita resistências, tanto maiores quanto rapidamente são apercebidas
como tentativas de desapropriação. (GRESH, 2002, p. 14).
Com as revoltas geradas pelo atrito cultural e político entre os povos árabes e
israelenses, explodiram violentos conflitos entre as duas comunidades. Após a segunda
guerra mundial, com o holocausto dos judeus, houve uma grade sensibilização mundial
e com isso as principais potências econômicas; entre elas os Estados Unidos, a França e
a antiga URSS; pressionavam os britânicos a criarem um Estado judeu na Palestina. Isso
desencadeou no ano de 1947 a aprovação, por parte da Organização das Nações Unidas,
de um plano de partilha do território palestino, que previa a criação de dois Estados
independentes, um Estado judeu e um Estado árabe. Entretanto, já no ano seguinte, após
a retirada das tropas inglesas, eclodiu a guerra entre o Estado judeu e os palestinos, o
ultimo recebendo o apoio da Liga Árabe. Esses confrontos perduram até os dias de hoje,
às vezes de forma mais tênue (muitas vezes chegando a acordos de paz, que logo depois
são rompidos) e outras vezes de uma maneira mais bélica e agressiva (como o mais
famoso recentemente, na década de 1980, denominado “intifada” ou “revolta das
pedras”). (GRESH, 2002)
Nesse contexto, Joe Sacco relatou as entrevistas que fez e as experiências que
viveu durante sua viagem à Cisjordânia, Jerusalém e Faixa de Gaza num período entre o
final de 1991 e o início de 1992, registrada em fotografias que, mais tarde, foram
utilizadas como referências para os desenhos e a elaboração da reportagem que viria a
ser lançada originalmente nos Estados Unidos em janeiro de 1993.
Joe Sacco nasceu em Malta em 1962, mudou-se ainda quando criança e passou
toda a sua infância na Austrália. Formado pela Universidade do Oregon, em 1981,
atualmente mora em Nova Iorque. Sacco é o precursor do chamado jornalismo em
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4687
quadrinhos, desempenhando a profissão de cartunista e jornalista até os dias de hoje.
Sua primeira e grande obra foi o livro “Palestina: Uma nação ocupada”, sendo o
pioneiro entre os longos projetos de Sacco que seguiram a linha do jornalismo em
quadrinhos.
Dessa maneira, por se tratar de um trabalho com fundamentos jornalísticos, e
sendo possível manter uma conexão direta com as questões geopolíticas e da geografia
política, acaba-se por reafirmar o caráter multidisciplinar da ciência geográfica, como
nos coloca Costa (2008, p. 253):
Refletindo a tendência atual das ciências sociais em geral, a geografia
social e a geografia política em particular desenvolvem suas pesquisas
e reflexões num amplo e dinâmico campo multidisciplinar, no interior
do qual advogar exclusividade sobre este ou aquele tema (ou mesmo
abordagem) pode resultar em graves equívocos e mutilações que
comprometerão a qualidade final do trabalho em qualquer área.
Assim, partindo para o campo do ensino-aprendizagem, para muitos alunos que
iniciam seus estudos na área da geografia política, a partir do 9o ano do Ensino
Fundamental (antiga 8a Série), o estudo dos importantes conflitos geopolíticos lhes
parece demasiadamente complexo, na maioria das vezes os textos são extensos e
cansativos, escritos com uma linguagem formal pouco atrativa. Assim, a obra de Joe
Sacco seria uma ferramenta de ensino com uma função atrativa para esta faixa-etária,
um livro dinâmico e atraente, escrito com uma linguagem contemporânea e que vai
além quando substitui o relato “frio” dos livros didáticos tradicionais pelo relato
humanizado, que conta a história pelo ponto de vista do próprio povo.
Imagem extraída do livro “Palestina: na Faixa de Gaza”, p.263.
(editado por: Conrad Editora do Brasil)
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4688
Nesse quadrinho, Sacco discute com duas israelenses a respeito do modelo
expansionista judeu, indagando sobre uma possível criação de um Estado palestino.
Dessa forma ambos expõem a geopolítica financeira existente entre os Estados Unidos e
o Estado judeu, bem como elucidam a configuração territorial existente, com seus
conflitos internos, como a desvalorização da mão de obra árabe. Fica evidente, apenas
analisando esse quadro de Joe Sacco, que se pode apreender muito a respeito desse
conflito geopolítico, e de uma maneira simples, com uma linguagem coloquial que
facilita a apreensão do conteúdo exposto por parte do educando. Dessa forma, as HQs
na representação de Joe Sacco auxiliam análise geográfica e no ensino da Geografia por
proporcionarem uma visão mais interacional ao conflito.
Na ultima fala da Israelense, percebe-se a preocupação que ela possui com a
dependência financeira de Israel, na qual se poderia analisar que os avanços da
globalização são uma afronta a tradicional centralidade do seu Estado-Nação, bem como
observa Boaventura de Sousa Santos:
[...] o Estado-nação parece ter perdido a sua centralidade tradicional
enquanto unidade privilegiada de iniciativa econômica, social e
política. A intensificação de interações que atravessam as fronteiras e
as práticas transnacionais corroem a capacidade do Estado-nação para
conduzir ou controlar fluxos de pessoas, bens, capital, ou ideias, como
o fez no passado (SOUSA SANTOS, 2005, p.36).
Em seu livro, Boaventura (2005) afirma, tal como é demonstrado nos quadrinhos
de Sacco, que o aumento das relações exteriores às fronteiras nacionais ameaça
diretamente a não centralidade, controle de fluxos dos Estados. Pelo que se analisa no
cenário global atual, em especial no caso de EUA e Israel, o que se apresenta em face de
maiores ameaças é a soberania dos Estados mais fracos, talvez não somente por pressão
dos Estados mais poderosos, mas agora, sobretudo por pressão de agências financeiras
internacionais.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4689
Imagem extraída do livro “Palestina: na Faixa de Gaza”, p. 73
(editado por: Conrad Editora do Brasil)
Joe Sacco através de suas HQs também apresentou de maneira intensa outro
tema da geografia política adaptável ao ensino: os conflitos de ocupação e a
desterritorialização5 do povo palestino. Dentro das diversas definições territoriais
presentes no campo da geografia nos dias atuais, uma das mais difundidas é a do
território político, que tem sua máxima representação no Estado-nação, sendo o
conceito de Nação definido por Octavio Ianni.
A nação é uma criação simultaneamente geográfica, econômica,
demográfica, cultural, social e política, com todas as características de
um processo histórico. Forma-se e transforma-se segundo o jogo das
forças sociais internas e externas, modificando-se de tempos em
tempos, ou continuamente. Simboliza-se no Estado-nação, em geral
adquire a fisionomia desta ou daquela classe dominante, deste ou
daquele bloco de poder (IANNI, 2007, p. 83).
Nessa passagem o autor demonstra que o conceito de nação como decorrência,
dentre outras coisas, do domínio espaço-temporal de um território. Além disso, percebe-
se também que ele coloca como a Nação, simbolizada no Estado-nação, “forma-se e
5 Rogério Haesbaert (2007) analisa a desterritorialização, à luz dos filósofos Deleuze e Guattari, como um
processo constante, mas não absoluto, ou seja, o território e as relações de poder provocam
territorializações de grupos sociais, empresariais e/ou de pessoas, as quais mudam, desaparecem,
fragmentam-se, desterritorializam-se, porém a desterritorialização sempre vem acompanhada de uma re-
territorialização no espaço geográfico.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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transforma-se segundo o jogo das forças sociais internas e externas” (IANNI, 2007, p
83), ou seja, assim é interessante observar que Joe Sacco também constrói e concebe
essa informação na sua narrativa, que pela “espacialidade” e “temporalidade” da história
em quadrinho resignifica o espaço ordinário pela ação dos personagens que emitem
relações de poder desterritorializando outros personagens, caracterizando assim a
desterritorialização de sujeitos excluídos na trama do artista.
Portanto, com base na obra desse jornalista podemos analisar de maneira lúcida
que o ensino de Geografia não é e nem precisa ser aquele ensino enfadonho criticado
por Lacoste (1988), e que esse movimento de renovação, prioritariamente no Brasil que
vem sendo trilhado pelos profissionais da área nos últimos 20 anos, possa cada vez mais
se aproximar da realidade e da necessidade individual do educando, transformando-o
em um cidadão capaz de compreender e transformar o seu meio social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo é apenas um estudo bibliográfico ou um ensaio acadêmico de
como os quadrinhos podem ajudar, sendo um instrumento de ensino cabal para o
aprendizado do discente. Não é apenas um fato isolado, ou seja, há muito mais campo
de estudo de utilização desse recurso.
O conflito entre árabes e israelenses pela região palestina vem sendo um dos
principais focos da geopolítica e da Geografia Política a partir do 9o ano do Ensino
Fundamental, tanto pela historicidade quanto pelos jogos de interesses de poder
envolvendo não só esses dois povos, mas uma economia em nível global.
Todavia quanto ao ensino dessa área de estudo da geografia, o que se percebe
em muitas escolas é a utilização de materiais didáticos antigos e muito formais. Tal
constatação dá a impressão de uma ciência geográfica estagnada, decorativa, maçante,
deixando-a aparentemente fora da realidade do estudante.
É necessário nesse contexto quebrar tal paradigma, para que a geografia possa
revelar seu poder de transformação e conscientização social, percebendo assim um
mundo menos matematizado, feita por sujeitos sociais, com inúmeras relações de poder,
com o aspecto físico e humano interagindo constantemente, e não sendo ensinado de
forma completamente isolada. Como muitas vezes se vê a transformação de um mundo
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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real, de relações entre homem e natureza, homem e homem, em um mundo feito por
“blocos econômicos e/ou continentais”, os quais não parecem possuir elos entre si.
Os quadrinhos adentram no ensino de geografia neste momento, como uma
forma de quebrar a ideia de uma geografia sem função, inútil. Ainda há, porém muito
para se avançar, pois são poucos os trabalhos referentes a relação dos quadrinhos com o
ensino de geografia. Esse é apenas um caso, um exemplo de como essa relação pode ser
benéfico tanto para os professores quanto para os estudantes, podendo ser capaz de
mudar o status quo seja do ensino, seja da geografia.
Desta forma, é partir da utilização de uma leitura comum no universo estudantil,
que os livros começaram a fazer sentido, transformando essa ciência social de uma
ciência simplória ao patamar de uma disciplina com funcionalidade social, que abre os
olhos e desperta a criticidade dos estudantes.
É a partir de uma leitura do dia-a-dia dos alunos que o caráter global dos fatos
geográficos será desvendado, deixando o mundo cada vez mais complexo, contudo,
prazeroso de se aprender.
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VESENTINI, J.W. Para uma Geografia Crítica na Escola. São Paulo: Ática, 1992;
WETTSTEIN, G. O que se Deveria Ensinar Hoje em Geografia. In: OLIVEIRA, A.U.
(org.). Para Onde Vai a Geografia. 2aed. São Paulo: Contexto, 1990 (pp. 125-134).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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TECNOLOGIAS INFORMACIONAIS E EDUCAÇÃO BÁSICA: O
USO DO GOOGLE MAPS E GOOGLE EARTH NO PIBID DE
GEOGRAFIA DA UFT, CAMPUS DE ARAGUAÍNA-TO
Amadeus Vieira Soares1
Geomir Almeida dos Anjos2
Marcelo Venâncio3
RESUMO
O crescimento das tecnologias informacionais tem proporcionado novas possibilidades de
desenvolvimento das práticas pedagógicas, a partir dos avanços dessas ferramentas
tecnológicas. Trabalhá-las é papel fundamental da escola, a fim de garantir o desenvolvimento
social e crítico dos seus alunos, auxiliando assim, no fortalecimento do exercício da cidadania.
Entretanto, a escola não consegue acompanhar o desenvolvimento dessas tecnologias, fazendo
com que, muitas vezes, o ambiente escolar seja um momento não de estimulação do ensino-
aprendizagem, mas enfadonho, incapaz de formar, cidadãos conscientes de suas práticas na
sociedade. É papel indispensável do professor e da escola desenvolver metodologias que
perpetuem a formação cidadã dos seus alunos, incentivando a constante transformação do meio
vivido. Sendo assim, o trabalho aqui proposto busca expor e discutir os resultados da utilização
de tecnologias informacionais no PIBID de Geografia da UFT, em Araguaína-TO, abordando
dificuldades, soluções, e buscando compreender a reação do alunado à aplicação destas
ferramentas. O foco dessas metodologias foi trabalhar uma educação inovadora, que permitisse
que o aluno interagisse junto aos demais colegas e aos bolsistas, debatendo o conteúdo,
estimulando a possibilidade de um melhor aprendizado e discussão dos conteúdos em sala de
aula.
Palavras-chave: Ensino de Geografia, Internet, Pibid.
INTRODUÇÃO
No atual momento vivido na educação, a atuação do professor é alvo de
questionamentos e investigações incessantes, com inúmeras pesquisas sendo realizadas
com objetivo de compreendê-lo na sua prática profissional e sua responsabilidade
social. O educador assume uma das posturas mais difíceis, uma vez que o mesmo é
responsável pelo processo contínuo de formação crítica e cidadã de seus alunos, e do
desenvolvimento das suas habilidades e competências. Nesse sentido, as tecnologias
1 Acadêmico/ Bolsista do Curso de Geografia da UFT- Campus Araguaína, [email protected]
2 Acadêmico/ Bolsista do Curso de Geografia da UFT- Campus Araguaína, [email protected]
3 Professor/ Coordenador do Curso de Geografia da UFT- Campus Araguaína, [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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informacionais são ferramentas auxiliares, à execução do desafio de ensinar. O
desenvolvimento dessas tecnologias de informação e de comunicação, em especial a
internet, permite a entrada de novas metodologias na educação. O acúmulo de
informações nesses sistemas permite que tanto os alunos quanto os docentes obtenham
informações, o que facilita a pesquisa, a compreensão de problemas e auxilia na solução
dos mesmos.
Essas ferramentas chegam como mecanismos úteis, para a melhoria do processo
de ensino-aprendizagem, tentando eliminar o caráter enfadonho e tedioso, que muitas
vezes esse processo apresenta. Entretanto, frente as melhorias indiscutíveis dessas
ferramentas na educação, é necessário que os professores adotem uma nova forma de
atuação na sala de aula, renovando e repensando as suas práticas pedagógicas,
trabalhando estas tecnologias como possibilidades de aprendizagem, facilitadoras do ato
de ensinar.
Com isso, esta pesquisa busca discutir o planejamento e os resultados de
atividades realizadas no subprojeto Pibid de Geografia (Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação a Docência), da Universidade Federal do Tocantins, campus de
Araguaína, no norte do estado do Tocantins, juntamente a escola parceira do programa,
o Centro de Ensino Médio Paulo Freire, na mesma cidade. O Pibid busca integrar
acadêmicos de universidades públicas a educação básica, introduzindo-os a atuações na
sala de aula, valorizando assim o magistério e a carreira docente.
As atividades na escola-parceira foram realizadas com o emprego de ferramentas
informacionais, o Google Maps e Earth. Alguns conceitos, fundamentais ao
desenvolvimento escolar foram abordados, necessitando a utilização dessas ferramentas,
facilitando a compreensão dos mesmos.
Utilizar ferramentas informacionais, segundo Santos (2010), é uma forma de
abrir novas possibilidades de pesquisas, criando assim, novas visões e leituras da
realidade. Ainda segundo Santos (2010), a divulgação dos resultados de pesquisas e
conhecimentos, por meio das mídias digitais, facilita o acesso a uma maior velocidade a
esses dados, gerando interação e uma maior agilidade, na absorção desses conteúdos.
Sendo assim, o desenvolvimento desse trabalho foi pautado no reconhecimento das
dificuldades em desenvolver tecnologias na sala de aula, culminando na superação
desses problemas, com a utilização de técnicas informacionais.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4695
OBJETIVOS
Esta pesquisa objetiva encontrar formas práticas de se desenvolver metodologias
diferenciadas no ensino de Geografia, através da compreensão das principais
dificuldades dos alunos em relação aos conteúdos escolares. Com isso, cria-se a
possibilidade de transformar as formas de aprendizagem do aluno, de modo que o
processo de aprender e ensinar envolva o estudante de maneira mais efetiva.
Entender as tecnologias informacionais, em todas as suas funções, como um
suporte ao exercício do pensamento e da cidadania. Desenvolver novas habilidades nos
alunos, com atividades em que a escola não se mostra muito eficiente, transformando as
informações obtidas por meio dos meios informacionais, em objetos de discussões e
aprendizagem.
Além disso, busca-se tornar o uso dos recursos informacionais em métodos que
tornem o aluno capaz de dialogar com o docente, refletindo sobre a sua realidade, sendo
introduzido ao pensar crítico da Geografia, compreendendo e solucionando fatos
vividos na sociedade. Assim sendo, pode-se levar o aluno ao exercício da cidadania na
sociedade.
METODOLOGIAS
Foi utilizada a leitura de livros, artigos e discussões, com o intuito de entender
os problemas relacionados ao desenvolvimento de práticas pedagógicas com o uso de
técnicas informacionais, na Geografia, para o fundamento teórico das atividades
desenvolvidas. Na execução dessas atividades foram utilizadas ferramentas
informacionais, para uma melhor demonstração do conteúdo e uma maior compreensão
do mesmo por parte do aluno. As ferramentas empregadas foram o Google Maps e o
Google Earth. Para a utilização dessas ferramentas, os alunos da escola-parceira foram
conduzidos a universidade, onde conheceram melhor as ferramentas, suas
funcionalidades e em seguida realizando a manipulação e utilização das ferramentas
supracitadas, interpretaram cada conceito abordado.
RESULTADOS PRELIMINARES
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4696
Trabalhar as ferramentas informacionais é de grande aplicabilidade no ensino,
não apenas de Geografia, mas em todas as áreas do saber, pois, tal como dispõe Vieira e
Sá (2007) são:
A informática é um instrumento de grande utilidade, por integrar
outros recursos, como jogos, textos, fotografias, filmes, desenhos etc.
O computador, no ensino-aprendizagem, auxilia os professores em
suas aulas e serve como complemento na busca de dados para a
construção de conhecimentos. (p. 105-107)
Durante as atividades foi constatado que a maior parte dos alunos que
participaram não tinha uma noção clara e exata do funcionamento das ferramentas
informacionais empregadas nas atividades, quando eles denotaram certa ausência da
leitura dinâmica e interpretação das mesmas. Alguns alunos não sabiam utilizar
corretamente o programa com fins educacionais e geográficos. Em sua maioria,
conheciam apenas a possibilidade de usar essas ferramentas como indicadores de
endereços residenciais, comerciais e outros.
Os conceitos abordados durante as aulas foram discutidos com a utilização
maciça de ferramentas informacionais. Os alunos manipulando as ferramentas, e através
das manipulações puderam compreender os conceitos que estavam sendo expostos em
sala, mas que muitas vezes se tornam difíceis de serem entendidos, pois não há
exemplos suficientes nos livros didáticos.
Abaixo, se segue uma imagem obtida através do Google Maps, que foi exposta
ao alunado, para um melhor detalhamento e discussões acerca do conteúdo ministrado:
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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FIGURA 01 – O TOCANTINS NA DA REDE URBANA REGIONAL
Fonte: Google Maps
Os alunos puderam compreender as funcionalidades das ferramentas, aplicadas
ao contexto geográfico, facilitando o aprendizado e a compreensão dos conteúdos
estudados, além de debater as questões apresentadas, cumprindo assim o papel
fundamental da escola.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O maior desafio em se trabalhar com as tecnologias é encontrar soluções e
elaborar propostas que retoquem a importância da internet e dos sistemas
informacionais no ensino de Geografia e da ciência em todos os seus campos,
permitindo que o professor e os alunos obtenham soluções para as problemáticas do
mundo atual, a partir do emprego desses sistemas, de modo que fortaleçam o processo
de ensino-aprendizagem.
O papel da escola é ser, não a absoluta detentora do conhecimento, mas sim
como uma mediadora desse processo de ensino-aprendizagem. Este é um dos grandes
entraves na educação na educação atual, a escola destituir-se da concentração
conhecimento, para ser uma intermediária da busca pelo saber.
As tecnologias informacionais devem ser utilizadas como ferramentas
auxiliadoras para a formação de cidadãos críticos, aptos a pensar e conviver em
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4698
sociedade, conscientes e convictos de seu compromisso social, concretizando as
transformações sociais necessárias, para a melhorias das condições de vida no cotidiano
vivido. Apesar dos benefícios constantes que trazem as tecnologias informacionais,
deve-se ter o cuidado com trabalhos e pesquisas “prontas”, que vão contra a obtenção de
conhecimentos novos, e constituem um desafio muito grande à perpetuação do
conhecimento por meio de ferramentas de informação. Além disso, a facilidade do que
já foi produzido por outros, pode ser uma forma de comodismo por parte do professor e
aluno, travando a idealização de novos conhecimentos.
A internet, com suas variadas ferramentas de comunicacionais e de
entretenimento, traz a possibilidade de novas informações, de todas as áreas do
conhecimento. Nesse sentido, o professor de Geografia pode utilizar a internet com fins
didáticos importantes para o aprendizado do aluno, uma vez que existem diversas
problemáticas e questões dentro dessa ciência, que as ferramentas informacionais
podem auxiliar na compreensão e solução das mesmas.
Durante as atividades pode-se compreender que os alunos se interessam em
descobrir novas formas e metodologias do aprender, não se configurando somente no
espaço da sala de aula, o que torna o processo de ensino cansativo e desmotivador. É
necessário que os professores, de quaisquer áreas que sejam, utilizem as ferramentas
informacionais para fazer com que o aluno se interesse e utilize-as com maior
freqüência, auxiliando no seu desenvolvimento intelectual e pedagógico. No entanto, os
meios informacionais não podem ser vistos como a única fonte de conhecimento, mas
como auxiliadores nessa busca incessante.
O papel do professor de Geografia, comprometido com uma educação inovadora
e eficiente, é fazer com que o conhecimento geográfico seja expandido, não sendo
relegada apenas a escola. Com isso, a educação sofrerá as mudanças necessárias e
despertará a curiosidade do aluno, por temáticas tão importantes à formação de uma
sociedade que seja realmente justa, pautada na igualdade social, econômica, politica,
dentre outros pontos fundamentais a manutenção de um país.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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SANTOS, Douglas. Conteúdo de objetivo pedagógico no ensino da Geografia.
Caderno Prudentino de Geografia. Pres. Prudente: AGB, 1995, pp. 20-60.
VIEIRA, Carlos Eduardo; SÁ, M. Gomes de. Recursos didáticos: do quadro negro ao
projetor, o que muda? In: PASSINI, E. Y; PASSINI, Romão; MALYSZ, S. T (Orgs)
Prática de Ensino de Geografia e estágio supervisionado. São Paulo: Contexto, 2007.
BUITONI, Marísia Margarida Santiago. Geografia: ensino fundamental. Brasília:
Ministério da Educação, 2010.
KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. Campinas:
Papirus, 2012, 8ª edição.
LEVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999, 2ª edição.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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O PIBID COMO INCENTIVADOR DO EXERCÍCIO DA
DOCÊNCIA: UMA EXPERIÊNCIA NO PIBID DE GEOGRAFIA/UFT,
EM ARAGUAÍNA (TO)
Amadeus Vieira Soares1
Geomir Almeida dos Anjos2
Marcelo Venâncio3
RESUMO:
Esse texto tem por objetivo mostrar como vem delineando o subprojeto PIBID/UFT Geografia,
Campus Araguaína desenvolvido no Centro de Ensino Médio Paulo freire, localizado na zona
central de Araguaína do Tocantins. O subprojeto da Geografia iniciou-se em Julho de 2011 e
envolve dez bolsistas de iniciação a docência, um professor coordenador do e um professor
supervisor. Tal subprojeto objetiva aproximar os alunos de licenciatura do curso de Geografia da
realidade escolar, com vistas a promover interações entre a universidade e as escolas de educação
básica e, além disso, proporcionar experiências pedagógicas que promovam qualitativamente a
aprendizagem da ciência geográfica e a formação docente. Assim, propõe-se um trabalho cuja
temática central é a atividade docente a partir da convivência escolar em relação às práticas
pedagógicas desenvolvidas na educação básica. As intenções propostas pelo PIBID, além de
facilitar o diálogo entre Universidade e escola, permitem que o estudante, do curso de Geografia,
possa antes mesmo de sua formação intervir no cotidiano da escola e ainda fomentar discussões
acerca da melhoria das condições de trabalho docente e do ensino da Geografia Escolar.
Palavras-Chave: Pibid, Ensino de Geografia, Educação Básica .
INTRODUÇÃO
O objetivo desse trabalho é expor ações desenvolvidas no subprojeto Pibid de
Geografia, da UFT (Universidade Federal do Tocantins), campus de Araguaína. A
principal proposta do subprojeto de Geografia centra-se na compreensão da organização
e do funcionamento da escola, promovendo e fortalecendo a prática investigativa,
enquanto compromisso com a profissionalização do professor e com a produção de
saberes pedagógicos que dialoguem com as problemáticas do campo da educação escolar
e da ciência geográfica.
1 Acadêmico/ Bolsista do Curso de Geografia da UFT- Campus Araguaína [email protected]
2 Acadêmico/ Bolsista do Curso de Geografia da UFT- Campus Araguaína, [email protected]
3 Professor/ Coordenador do Curso de Geografia da UFT- Campus Araguaína, [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID, que vem
sendo fomentado pela CAPES desde 2007 torna possível criar oportunidades para que o
licenciando possa dimensionar sua prática pedagógica a fim de interagir com as
demandas educacionais contemporâneas e cooperar para que o ensino seja uma ação
concreta com a inserção de alunos de licenciaturas em escolas públicas para o
desenvolvimento de propostas metodológicas e de projetos didáticos junto aos
professores dessas escolas. Tem como finalidade a valorização do magistério pelo futuro
docente; a valorização da escola pública como futuro campo de trabalho e a melhoria das
ações pedagógicas nas escolas onde o programa é desenvolvido.
O subprojeto tem sua finalidade de estimular o licenciado a conhecer a realidade
da escola e o exercício da docência, as exigências da sociedade e o momento histórico de
profundas mudanças no campo da formação e atuação profissional contribuem para uma
constante avaliação da atual situação da profissionalização docente, considerando a
formação como um processo de auto-formação, de reelaboração dos saberes adquiridos
na graduação em confronto com a prática vivenciada no cotidiano escolar. Uma formação
capaz de conduzir reflexões que permitam a análise do contexto sócio- histórico e da
realidade da educação básica.
DESENVOLVIMENTO
Os desafios enfrentados pelos educadores, com mudanças profundas na
sociedade, no trabalho e nas relações econômicas têm modificado as formas
comunicativas estabelecidas na escola, trazendo novas exigências para a profissão. A
escola e os modelos tradicionais de ensino estão sendo questionados, pois não dão conta
de uma realidade em constante transformação. As dificuldades de se aproximar o
professor e a escola, objetivando entender as necessidades desse cenário atual,
constituem um grande entrave (MELLO, 2004, p. 99)
Exige-se cada vez mais que o professor dê conta de um corpo de conhecimentos
e de saberes na sua atuação profissional, conhecimentos que ele precisa mobilizar para
transformar sua ação pedagógica. Conforme Pereira (2000), é preciso repensar o papel do
professor pois:
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4702
[....] parece ser o papel do professor bem mais complexo do que a
simples tarefa de transmitir o conhecimento já produzido. O
professor, durante sua formação inicial ou continuada, precisa
compreender o próprio processo de construção e produção de
conhecimento escolar, entender as diferenças e semelhanças do
processo de produção do saber científico e do saber escolar, conhecer
as características da cultura escolar, saber a história da ciência e a
história do ensino da ciência com que trabalha e em que pontos elas se
relacionam. (PEREIRA, 2000, p. 47).
A complexidade de variáveis presentes no cotidiano da escola revela que não
basta ao professor possuir apenas conhecimentos científicos para transmitir aos alunos.
É preciso uma série de outras competências relacionadas à didática do saber ensinar,
uma vez que “o saber transmitido não possui, em si mesmo, nenhum valor formador:
somente a atividade de transmissão lhe confere esse valor”. (TARDIF, 2002, p. 44).
Ser professor numa sociedade globalizada significa muito mais que transmissão
de conteúdo. É necessário construir habilidades e competências para atuar num mundo
recheado de tecnologias, privilegiando práticas transformadoras e fazendo da escola um
espaço de resistência à exclusão e à seletividade. “O autêntico professor acredita no
homem que está no aluno, a quem busca conferir o imenso privilégio de acreditar em si,
desde a segurança afetiva até as capacidades adquiridas” (MARQUES, 1995, p. 155).
O compromisso profissional de um educador é a aprendizagem dos educandos,
mas para isso, ele precisa adequar os conhecimentos recebidos na universidade para
serem trabalhados em sala de aula, considerando a faixa etária e as expectativas e o
contexto onde estão inseridos os sujeitos. Veiga Neto (2002) esclarece:
Aquilo que se ensina nas escolas não é nem o saber acadêmico nem
mesmo uma simplificação desse saber, mas é uma forma muito
particular de conhecimento a que se denomina saber escolar, o qual se
origina do saber acadêmico que, num complicado processo de
transposição didática, foi transformado, adaptado e recontextualizado
para depois ser ensinado. (VEIGA NETO, 2002, p.40).
O modelo de escola existente tem deixado muito a desejar em razão da visão
homogênea e padronizada dos conteúdos e práticas desenvolvidas no seu dia-a-dia,
assumindo uma visão monocultural da educação. Isso se expressa “em diferentes
manifestações de mal-estar, em tensões e conflitos denunciados tendo por educadores
(as) como por estudantes” (VEIGA NETO, 2002, p. 160).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4703
Falar do papel da escola hoje implica destacar as mudanças da sociedade ligadas
as transformações e avanços tecnológicos, científicos e nos meios de comunicação que
influenciaram no mercado de trabalho, impulsionando o processo de qualificação
profissional. Essa nova realidade exige que a escola repense seu papel e sua
organização. Para Libâneo (2007), a escola tem funções nucleares que precisam ser
mantidas, porém outras precisam ser revistas:
Precisa rever os processos, os métodos, as formas de educar, ensinar e
aprender. Para que isso aconteça, é preciso que os professores
compreendam que a escola não é mais a única agência de transmissão
do saber. Na verdade, ela nunca deteve sozinha esse papel, mas hoje é
fundamental que os educadores percebem que a educação ocorre em
muitos lugares. (LIBÂNEO, 2007, p. 25).
O grande desafio é pensar uma nova configuração para escola que atenda esta
demanda de crianças e jovens que buscam uma possibilidade de encontrar um espaço
que possa ajudá-los a crescer, mudar de vida e dar significado as suas aprendizagens.
Isso “exige que desenvolvamos um novo olhar, uma postura, e que sejamos
capazes de identificar as diferentes culturas que se entrelaçam no universo escolar, bem
como de reinventar a escola”. (VIÑA FRAGO, 1998, p. 160).
A PROPOSTA DO SUBPROJETO DO PIBID/GEOGRAFIA DA UFT
As ações propostas, em Geografia, visam, acima de tudo, pensar alternativas
para o ensino desta disciplina na Educação Básica, propiciando a pesquisa da realidade
escolar e profissional por meio de um processo de estudo das questões que permeiam a
docência. Este subprojeto proporcionará dupla contribuição para os bolsistas ao
estabelecer relação entre a prática acadêmica, a pesquisa e aprendizagem e ensino de
Geografia.
O subprojeto da Licenciatura em Geografia, em seu desenvolvimento
metodológico, contempla quatro etapas: Primeira etapa - Contextualização do ambiente
escolar, investigação das práticas de ensino-aprendizagem, mapeamento dos temas de
geografia e acompanhamento do trabalho do professor supervisor na escola na sua lida
com a disciplina de geografia; Segunda etapa – Preparo da proposta de intervenção
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4704
pedagógica na escola atendendo ao mapeamento e as observações feitas na primeira
etapa; Terceira etapa - Intervenção no ambiente escolar e registro das atividades
desenvolvidas; Quarta etapa - integração, sistematização, avaliação e divulgação.
O Subprojeto contempla dez bolsistas, graduandos do curso de Geografia da
UFT/Araguaína, alocados em uma escola rede estadual de ensino do estado Tocantins,
localizada no centro da cidade de Araguaína, um supervisor professor de Geografia da
escola, que atua na orientação e acompanhamento do trabalho desenvolvido pelos
bolsistas na escola, e um supervisor que coordenar o subprojeto do PIBID/Geografia.
Pretende-se que este subprojeto contribua na melhoria da aprendizagem dos
estudantes da educação básica, uma vez que eles são o horizonte do projeto, e também
na qualificação dos profissionais que nele atuarão. Nesse sentido, objetiva-se:
Transformar a sala de aula em espaço de pesquisa e construção do conhecimento
geográfico; Encorajar licenciandos bolsistas e professores das escolas a buscar
atualização constante e formação continuada; Integrar a licenciatura em Geografia da
UFT/Araguaína e as escolas participantes desse subprojeto; Produzir e divulgar artigos e
materiais pedagógicos para o processo de ensino aprendizagem da geografia; Estimular
a participação dos bolsistas em eventos na área do ensino da Geografia.
Com o propósito de registrar todas as atividades desenvolvidas no dia a dia do
projeto, acordamos que cada bolsista deveria ter um “diário”, que poderia ser “um
caderno” que serviria como um recurso para documentar todas as ações, avanços e
dificuldades encontradas no decorrer de todo o processo. O registro escrito permite
documentar a prática pedagógica, sistematizar conhecimentos e fazer apontamentos da
vivência do contexto escolar. Zabalza (2004, p. 95) considera o diário um instrumento
de análise do pensamento do professor e de formação; e também materiais
autobiográficos. A produção do registro diário, entendido como "diálogo que o
professor, através da leitura e da reflexão, trava consigo mesmo acerca da sua atuação
nas aulas" (ZABALZA, 2004: 95). A prática da escrita no diário é uma ferramenta que
possibilita a expressão do pensamento e a auto-formação através da reflexão sobre o que
é observado e sobre a própria ação do autor da narrativa.
Na tentativa de buscar diferentes possibilidades de conexões entre os saberes
construídos na universidade e os saberes emergentes das práticas pedagógicas no
cotidiano da escola de educação básica, o subprojeto da Geografia tem como
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4705
perspectiva metodológica a pesquisa que é estimulada como um processo privilegiado
de construção do conhecimento. A partir de inquietações, perguntas, dúvidas a respeito
de algum tema que envolva o ensino da geografia, os bolsistas organizam uma oficina
para ser desenvolvida com os alunos da escola e/ou de outras escolas. A escolha dos
temas deve estar associada às questões da Geografia vividas pelo pesquisador como
uma “problemática” que tenha afinidade com seu interesse de pesquisa e contribua para
ampliar o horizonte de leitura de mundo através do estudo teórico, conceitual e
metodológico. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia:
É possível trabalhar com esse campo do conhecimento de forma
mais dinâmica e instigante para os alunos, por meio de
situações que problematizem os diferentes espaços geográficos
materializados em paisagens, lugares, regiões e territórios; que
disparem relações entre o presente e o passado, o específico e o
geral, as ações individuais e as coletivas; e que promovam o
domínio de procedimentos que permitam aos alunos “ler” e
explicar as paisagens e os lugares. (1998, p. 135).
Acreditamos que a incorporação da prática investigativa no processo de
formação do licenciando e futuro professor de Geografia pode ser um fator importante
para a transformação da cultura de que o professor da educação básica não pode ser um
pesquisador, que esta prática só é feita na universidade.
ALGUMAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO CENTRO DE ENSINO
MÉDIO PAULO FREIRE PELO PIBID/ GEOGRAFIA
Durante a realização das atividades desenvolvidas pelo subprojeto do PIBID/
Geografia da Universidade Federal do Tocantins – Campus Araguaína, os bolsistas
desenvolveram algumas atividades voltadas a música, aula a campo, o uso da internet,
produção de cinema, entre outros. . Esses conteúdos ou temas gerais abordados pela
ciência geográfica através de uma metodologia e condução tradicional torna-o
desinteressante para o aluno, transformando o processo de ensino-aprendizagem um
verdadeiro martírio, onde todos tentam de todas as formas reagir ao seu modo.
Precisamos compreender como se dá o processo de construção do
conhecimento, ou o saber é transmitido pelo professor ou se procura
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4706
encontrar um conhecimento alternativo em que o estudante constrói o
seu próprio conhecimento, [...] confrontando o que já sabe com
informações novas e com o saber cientificamente produzido,
considerando a experiência que temos e o que diz referente ao ensino
de geografia e à compreensão do modo como ocorre a construção do
conhecimento pela criança e o adolescente (CALLAI, p.37, 2003).
Mas então, diante dessa realidade como melhorar esse processo? Os professores
já formados reclamam da jornada de trabalho excessiva, com dificuldades de prosseguir
na sua qualificação profissional, progressões por desempenho e também condições
dignas de trabalho. Os universitários por sua vez reclamam do pouco contato com a sala
de aula para serem bons profissionais, além da dificuldade da prática das diversas
teorias pedagógicas e suas adaptações para o ambiente escolar. Toda essa realidade faz
com que as experiências educacionais e a prática cotidiana escolar seja renegada ao
fazer ativismo, ao ministrar aula ou apenas estagiar na escola como um pré-requisito de
graduação.
As oficinas foram realizadas na U.E. CEM Paulo Freire na turma 1º ano do
ensino médio do período noturno que conta com 30 alunos matriculados. Os alunos
foram divididos em 5 grupos contando com 6 alunos cada um. Cada grupo teve que
apresentar no final das oficinas uma música ou paródia do conteúdo ministrado no
bimestre que era formação do planeta terra, formação do relevo e alterações do clima.
A realização das oficinas foram dividas em 3 etapas gerais: primeira etapa
consistia em apresentar a proposta do projeto, averiguar o conhecimento musical e gosto
de cada grupo. A segunda etapa foi realizada com fim de demonstrar na prática como
poderíamos utilizar a música na sala de aula para fixação do conteúdo ministrado, além
de auxiliar os grupos no esclarecimento das dúvidas sobre o conteúdo, auxílio na
pesquisa e na escolha dos instrumentos musicais, letras, melodia, paródia e ritmo
musical escolhido para apresentação.
A terceira e última etapa consistiu na apresentação das músicas
compostas/paródias com referência ao conteúdo estudado no bimestre, além da
produção de relatório e atividades realizadas durante todas as etapas das oficinas. As
oficinas duraram 2 meses seguidos, contando com 1 aula por semana de 48’ minutos nas
etapas em sala, contando com a presença dos alunos. Sendo que a confecção de
materiais e preparação das oficinas ocorreu apenas com os bolsistas do PIBID, professor
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4707
coordenador do projeto e professor supervisor no horário vespertino, no tempo decorrer
do período citado anteriormente.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
No decorrer da realização das oficinas podemos perceber que as informações na
mídia em geral possibilitaram também a pesquisa do tema proposto. O professor de
geografia pode utilizar e transformar essas informações em conhecimentos produzidos
com o olhar crítico que, às vezes, os alunos não conseguem perceber no emaranhado de
informações que a mídia distorce de acordo com os seus interesses.
A imprensa traz diariamente muitos assuntos que podem originar
aulas mais participativas. Até porque é preciso estimular uma leitura
menos ingênua das matérias dos meios de comunicação, tamanho o
grau de manipulação e distorção que, não raro, eles trazem. “A
geografia tem papel fundamental nessa leitura mais crítica (dos meios
de comunicação), pois tem nos assuntos do mundo (em suas diversas
escalas) a sua matéria prima”.(KAERCHER, p. 12, 1998).
Conforme o referido autor, a Geografia tem em sua matéria-prima os
acontecimentos do mundo, logo, o professor de Geografia tem um papel fundamental ao
contextualizar as sequências obrigatórias de conteúdo com o cotidiano dos alunos. É
preciso fazer com que a percepção destes em relação à mídia e dos meios de
comunicação em geral, seja diferenciada e crítica tornando-as conhecimentos para que
os alunos compreendam melhor os conteúdos do livro didático.
O professor é o parceiro mais importante no processo de
aprendizagem, pois ele pode iniciar o grupo de alunos ao aprendizado,
desafiá-los a serem pesquisadores permanentes, como pode também
ser o responsável pela amputação intelectual, desistência e desânimo
de uma turma inteira.”(SILVA, p. 73, 2007)
Outra questão que podemos perceber em relação música é que a adesão dos
alunos se deu em grande quantidade quando deixamos os mesmos escolher o seu ritmo
e a forma de apresentação do resultado final proposto. Mas também não esquecemos o
alerta e observação conforme FERREIRA (2002) salienta que a música deve ser
também entendida como uma forma de exprimir-se e interagir com ou outro, porém o
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4708
seu uso não deve ser sem planejamento e acompanhamento, pois caso isso não ocorra à
música terá sua utilização de forma inadequada.
Os resultados das oficinas foram mensurados em atividades, pesquisas,
produção textual das letras das paródias e a apresentação final que demonstrou que
praticamente toda turma se empenhou totalmente na atividade, as exceções se deu no
caso dos alunos faltosos que não acompanharam todas as etapas das oficinas, porém os
mesmos participaram das apresentações.
Outra questão diagnosticada em relação à apresentação final foi à solidariedade
dos grupos que compartilharam instrumentos e que cada aluno contribuiu no processo
de acordo com suas possibilidades técnicas e intelectuais.
Após apresentação final das oficinas foi realizada uma pesquisa de aceitação do
projeto e sobre a importância da metodologia realizada.
Nos resultados constatamos que a utilização da música em sala de aula pode
auxiliar na discussão dos conteúdos ministrados pelos professores geografia e em outras
disciplinas. A música passa ser um instrumento didático salutar que possibilita uma
grande interação dos alunos, na busca constante por informações complementares dos
conteúdos, além de trabalhar com as diversas formas de inteligência do ser humano que
em outros métodos não são possíveis serem avaliados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência do Subprojeto PIBID/Geografia/UFT – ao utilizar
concomitantemente a pesquisa da prática docente, o diálogo e a reflexão – tem sido
essencial na formação inicial dos futuros docentes, possibilitando a relação indissociada
entre teoria e prática e a participação em experiências metodológicas e práticas docentes
que busquem a superação de problemas identificados no processo de ensino-
aprendizagem.
A iniciativa também visa incentivar os professores de Geografia e os demais
professores da escola tornarem-se protagonistas nos processos formativos dos
estudantes das licenciaturas.
Acreditamos que a formação inicial qualificada deva unir ensino e pesquisa,
formando educadores autônomos, com condições de assumir a docência com
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4709
competência e persistência, com conhecimentos dos conteúdos específicos de sua
licenciatura e com conhecimento didático-pedagógico indispensável ao exercício
docente. Deve estar fundamentada em concepções críticas e reflexivas que articulem a
realidade escolar, a formação e futura atuação do acadêmico como professor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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Terra, 1979 (Coleção Educação e Comunicação. Vol. 1).
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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DESAFIOS DA PRÁTICA DO ENSINO DE GEOGRAFIA EM MEIO AS
TRANSFORMAÇÕES DA GLOBALIZAÇÃO
Junio Santos da Silva1
Gustavo Leal Silva2
Lidiane de Almeida Alves3
Jeane Tranquelino da Silva4
RESUMO
O presente artigo aborda os desafios e possibilidades apresentado a prática docente no ensino de
Geografia, que se apresenta ao professor mediante as transformações oriundas do processo de
globalização, que possibilitou o desenvolvimento de novas tecnologias para o desenvolvimento
do ensino e aprendizagem. Neste contexto, o objetivo dessa pesquisa é analisar o ensino-
aprendizagem dos conteúdos da Geografia através do uso dos recursos audiovisuais. Os
direcionamentos metodológicos pautaram-se em: levantamentos bibliográficos realizados por
meio de leituras em periódicos, livros, revistas, artigos com as contribuições de autores como
Schroeder (2008), Giussani (2004), Gonçalves (1994), Freire (1996, 1987) entre outros. A
presente pesquisa é resultado da prática do Estágio Supervisionado I, realizado na Escola
Estadual de Ensino Fundamental e Médio José Soares de Carvalho, localizado no município de
Guarabira/PB. Atualmente, ainda se faz presente a prática do ensino tradicional, onde a
utilização do quadro é marcante, negando o uso de novas tecnologias, que por sua vez, sendo
utilizadas propiciará situações de aprendizagem. Vale ressaltar, que neste trabalho não defende a
utilização da tecnologia como garantia de uma melhor qualidade na aprendizagem, mas como
uma possibilidade motivadora da aprendizagem onde a utilização dos mesmos irá subsidiar o
trabalho do professor como também dinamizar o conteúdo exposto na sala de aula. Desta forma,
os resultados obtidos nas aulas evidenciaram a necessidade da utilização de recursos
audiovisuais tendo a função de dinamizar o ensino. A partir das aulas pode-se perceber a
diferença em trabalhar um conteúdo usando os recursos tecnológicos disponíveis na escola, pois
prende a atenção dos alunos pelo conteúdo ministrado, estabelecendo visões críticas, atuantes e
participativas
Palavras chaves: Novas Tecnologias, Ensino de Geografia, Ensino-aprendizagem.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo aborda os desafios que se apresenta à escola e ao professor de
geografia mediante as transformações oriundas do processo de globalização, pois o
mesmo se faz necessário para a instrumentalização desta disciplina.
1 Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, [email protected]
2 Universidade Federal da Paraíba – UFPB, [email protected]
3 Universidade Estadual Vale do Acaraú –UEVA, [email protected]
4 Universidade Federal da Paraíba – UFPB, [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4711
Há décadas o ensino de Geografia é pautado no tradicional onde o conhecimento
é apenas repetição das informações dos livros didáticos ou das afirmações feitas pelo
professor como verdade absoluta, como também a não utilização dos recursos
tecnológicos disponíveis nas escolas. “O crescente uso das tecnologias digitais e das
redes de comunicação interativa tem acompanhado e ampliado uma profunda mutação
da nossa relação com o saber” (MOREIRA e ULHÔA, 2009, p. 71).
A utilização dessas práticas faz com que os alunos não consigam interligar a
realidade onde estão inseridos com os conteúdos que são transmitidos, com esta falta de
contextualização não há construção do conhecimento. Ensinar não é transmitir
conhecimento, mas criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção
(FREIRE, 1996, p. 22).
A Geografia Tradicional tinha como objetivo estabelecer relação de poder tanto
na ação de domínio da superfície terrestre, como na forma de transmissão dos conteúdos
que se prendia apenas na discrição da realidade, onde os professores em suas aulas
mascaravam a real função do ensino de Geografia. Segundo Lacoste (1988, p.s/d):
É uma ciência que na sua origem apresentava um forte caráter
tradicional na sala de aula. Isso se devia implicitamente ao fato de que
era mais conveniente que a maioria das pessoas pensasse que a
Geografia era uma ciência inútil e sem importância. Assim, elas não
poderiam ter seus próprios posicionamentos diante do que lhes era
impostas, permitindo que apenas uma minoria tivesse autonomia e
estivesse à frente das decisões. A Geografia Tradicional servia ao
poder e sua forma descritiva da realidade camuflava a sua
importância.
Com o surgimento da Geografia Crítica em meados do século XX, o ensino
passou por uma resignificação. Na sala de aula esta nova forma de pensar a Geografia
aparece como possibilidade de pensar o mundo, onde o geógrafo utiliza em suas aulas o
seu potencial teórico, junto às metodologias modernas que dinamize os conteúdos,
objetivando contribuir positivamente para a solução dos problemas de aprendizagem.
Precisamos de uma Geografia que siga as mudanças da sociedade e que seja
ocasionadora de mudanças, trazendo transformações para a realidade da sala de aula,
com caráter formador de cidadãos conscientes da realidade. Para que isso aconteça é
preciso acabar com a educação bancária no ensino de Geografia (FREIRE, 1987).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4712
O ensino de Geografia precisa ser algo dinâmico, porque a Geografia é
dinâmica, é preciso que este conhecimento seja construído junto com os alunos dando
significados ao mesmo. O desafio do século XXI é fazer com que os alunos se
interessem em aprender, e para que aconteça esta aprendizagem e preciso que o
professor de Geografia inove e crie situações de aprendizagem que envolva o aluno e
leve-o a desenvolver suas potencialidades, para que haja este interesse é preciso que o
professor ponha o aluno como centro da aprendizagem.
O ensino de Geografia compõe o currículo do ensino médio, oferecendo
instrumentos essenciais para a compreensão e intervenção da realidade social. Portanto
para que os objetivos sejam alcançados, o ensino de Geografia deve fundamentar-se em
um corpo teórico-metodológico baseado nos conceitos de natureza, paisagem, espaço,
território, região, rede, lugar e ambiente (Orientações Curriculares para o Ensino Médio.
Vol.3, p. 43).
A Geografia não pode ser considerada como uma disciplina enumerativa,
descritiva das paisagens naturais e humanizadas, de forma dissociada do espaço vivido
pela sociedade. Pois o ensino de Geografia precisa ser dialético. Quer-se ensinar os
alunos a pensarem dialeticamente, importa definir ao mesmo tempo em que conteúdos
permitem a eles o exercício desse pensamento e o modo pela qual esse exercício é
viável (CAVALCANTI, 1998, p. 25).
Ensinar Geografia é muito mais do que fazer leitura de textos, leitura de mapas,
exporem idéias e conceitos, ensinar Geografia é levar o aluno a perceber a Geografia
que o rodeia, aguçando todos os seus sentidos para que haja uma aprendizagem
significativa, compreendendo o espaço geográfico na sua concretude, e nas suas
contradições.
Para compreender o mundo é primordial não apenas ter acesso a inúmeras
informações, porém é de fundamental importância saber analisá-la e interpretá-la. Esse
olhar diferenciado que precisa ser despertado no aluno para que haja efetivamente a
construção do saber. O conhecimento só é eficiente, quando é capaz de contextualizar
sua informação e de situá-la em um todo.
A proposta de oportunizar aos alunos uma leitura de mundo, parte do princípio
de valorização das experiências como cidadãos atuando-nos em diferentes espaços.
Precisamos sair das amarras do sistema educacional que muitas vezes nos aprisionam,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4713
onde só oportunizam trabalharmos com conteúdos engessados, prontos, que não leva a
reflexão, contidos no currículo formal das escolas.
De acordo com Goulart (2007, p. 61): ”aprender Geografia passou a significar
dar sentido àquilo que vive no cotidiano, enxergar as contradições do espaço, conectar
fatos e situações, dar sentido ao aprendizado e a vida”.
Sabendo que o objeto da Geografia é o espaço geográfico, concebe-o na
construção entre natureza e sociedade, objetivando o aluno a refletir sobre a análise da
dinâmica social, da natureza e da relação da inter-relação delas. Portanto cabe ao
professor usar da sensibilidade para com o que ensina e como se ensina. Os conteúdos
precisam ser trabalhados a partir de lugar, como espaço próximo, espaço vivido, espaço
afetivo, para em seguida contextualizar o conhecimento considerando a escala regional,
nacional e mundial, pois o aluno como cidadão do mundo, precisa-se conhecer o mundo
em que vive.
É de fundamental importância a apreensão da realidade do ponto de vista da
espacialidade, ou seja, de compreender o papel do espaço geográfico nas práticas
sociais. Na perspectiva desenhada por Passini (2011, p.12):
O professor deve estar consciente de que o espaço próximo para ser
analisado precisa ser abordado em sua relação com outras instâncias
espacialmente distante. Nesse processo, a realidade é o ponto de
partida e de chegada. De sua observação o aluno deve extrair
elementos sobre os quais deve refletir e a partir disso ser levada a
construção de conceitos.
O objetivo desta pesquisa é analisar o processo de ensino-aprendizagem dos
conteúdos da disciplina de geografia através do uso dos recursos audiovisuais, como
proposta de dinamismo e maior compreensão dos conteúdos na Escola Estadual de
Ensino Fundamental e Médio José Soares de Carvalho, localizado no município de
Guarabira/PB.
METODOLOGIA
A reflexão crítica desta pesquisa foi desenvolvida em duas partes: uma de
natureza teórica a partir de uma revisão bibliográfica baseada em autores como:
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4714
Schroeder (2008), Giussani (2004), Gonçalves (1994), Freire (1996, 1987) entre outros,
que discutem sobre a temática do ensino de Geografia; outra de natureza empírica,
realizada no período de Agosto à Novembro de 2012, com a observação e regência das
aulas de Geografia na EEEFM Profº José Soares de Carvalho, localizado no município
de Guarabira/ PB.
A IMPORTÂNCIA DO USO DE NOVAS TECNOLOGIAS DE ENSINO EM
GEOGRAFIA NO CONTEXTO DO ATUAL PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO
Para Schroeder (2008, p. 2), “hoje o ensino precisa ser inovado em suas
metodologias tendo em vista o universo midiático em que os alunos vivem. Esse
universo que os jovens têm tanta familiaridade esta isolado da escola, que precisa
reconhecer a importância de trazer questões pertinentes às mudanças contemporâneas”.
O uso da tecnologia em sala de aula por sua vez utilizada servirá para criar
situações onde o aluno sentirá fascínio pelo conteúdo ministrado pelo professor, como
também despertará confiança para questionar e se posicionar. “A difusão de recursos
didáticos como música, informática, jornais, TV e rádio são encarados como um meio
de se atualizar as práticas pedagógicas, enriquecendo cada vez mais as aulas”
(PINHEIRO et al, 2004, p. 104).
Diante dessa vertente de pensamento, é notória a importância da utilização do
uso de recursos tecnológicos em sala, pois a utilização dos mesmos irá subsidiar o
trabalho do professor, pois os mesmos têm a função de dinamizar o conteúdo exposto na
sala de aula.
Nesta perspectiva de Pinheiro et al ( 2004, p. 104):
A busca de novas informações, principalmente do professor de
geografia, é essencial, pois num mundo em pleno desenvolvimento e
globalizado, e altamente interconectado, os processos de mudanças
ocorridos ganham dimensões extraterritoriais. A inovação busca
melhorar, ampliar, mudar antigas práticas para poder construir com o
aluno o conhecimento. Em um mundo pautado em novas tecnologias
os profissionais não podem desprezar esses novos recursos para a
facilitação da aprendizagem.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4715
Para Moreira e Ulhôa (2009, p.71-72) “o crescente uso das tecnologias digitais e
das redes de comunicação interativa tem acompanhado e ampliado uma profunda
mutação da nossa relação com o saber. Nesta perspectiva fica clara a necessidade de
usar tecnologias atuais de ensino em sala de aula, pois o ensino deve acompanhar as
mudanças para que o ensino-aprendizagem se concretize de forma eficaz.
Para que se possa ensinar de forma significativa, é preciso inovar as
metodologias, pois cada aluno é único, e apresentam ritmos diferentes para aprender,
onde a utilização de diferenciadas metodologias facilitará a aprendizagem. As
metodologias utilizadas precisam estar pautadas na prática da construção dialógica
como também buscando fazer a relação entre conhecimento e realidade.
Devem-se redobrar esforços para acompanhar as transformações pelas quais o
mundo passa, para atendermos as demandas dos nossos alunos do século XXI. O maior
desafio do professor nos dias atuais é trazer o aluno para a sala de aula e o fazê-lo
permanecer, Pois, na conjuntura globalizada que vivemos inseridos, onde são oferecidas
inúmeras possibilidades de diversão e entretenimento fica difícil se fazer ouvir por
nossos alunos. Quando o professor ainda utiliza práticas arcaicas e metodologias
inadequadas.
Afirma Castrogiovanni, (2000, p. 13):
Existe ainda pouca aproximação da escola com a vida, com o
cotidiano dos alunos. A escola não se manifesta atraente frente ao
mundo contemporâneo, pois não dá conta de explicar e textualizar as
novas leituras de vida. A vida fora da escola é cheia de mistérios,
emoções, desejos e fantasias, como tendem ser as ciências. A escola
parece ser homogênea, transparente e sem brilho no que se refere a
tais características. É urgente teorizar a vida, para que o aluno possa
compreendê-la e representá-la melhor e, portanto, viver em busca de
seus interesses.
O professor de Geografia precisa interagir com o aluno de forma que o leve a
fazer reflexões sobre o que é estudado é qual a importância de estudar, pós a partir desta
reflexão que o ensino transforma-se em aprendizagem. Portanto, para que isso aconteça
precisa trabalhar os conteúdos mesmo que distantes geograficamente fazendo paralelo
com o dia-a-dia dos alunos, e com os saberes que trazem consigo.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4716
Segundo Costela (2007, p. 49), contar alguma coisa do ponto de vista somente
do professor é contar no vazio, é despertar angustias e inibir a vontade de remeter as
imagens com interiorizações efetivas.
Os alunos de hoje são muito curiosos, enérgicos, e criativos, precisa-se trabalhar
com metodologias inovadoras e recursos atrativos para que desperte a vontade e o
prazer de aprender construindo seu próprio conhecimento.
As múltiplas linguagens devem fazer parte nas aulas de Geografia, pois as
mesmas expressam diversas visões de mundo provocando aprendizagens. A exploração
de imagens seja ela estática, como as fotografias, movimento como propagandas,
programas e filmes, música, poema e desenho, todos os recursos áudio visuais, são
recursos quando trabalhados em sala de aula, tem um forte aceitação dos envolvidos.
A VIVÊNCIA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO I NA EEEFM JOSÉ SOARES
DE CARVALHO, GUARABIRA/PB
O estágio é uma prática de suma importância no processo de formação
profissional. Constitui-se em um treinamento que possibilita ao acadêmico vivenciar na
prática o aprendido na teoria na universidade, tendo como função integrar as diversas
disciplinas que compõem o currículo acadêmico.
O momento do estágio funciona como um laboratório, onde o acadêmico vai
sentir ativamente em uma sala de aula e diante de desafios. “O estágio supervisionado
tem um papel fundamental na formação do futuro do professor. É o estágio tanto de
observação e participação, como de regência, que possibilita ao aluno a vivência das
relações no cotidiano escolar” (PASSINI, 2007, p. 27).
O espaço destinado para o estágio possibilita ao acadêmico consolidar seus
conhecimentos que somente a prática por meio do dia a dia pode oferecer. Neste
momento a troca de experiência fará com que o novo profissional se torne mais
preparado para atuar na área e lidar com a complexidade da realidade cotidiana da sala
de aula.
A partir da observação da prática de ensino de geografia na turma 7º ano do
ensino fundamental, pode-se perceber que ensino de Geografia estava fortemente
marcado pela forma metódica com que era desenvolvido, através da valorização dos
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4717
questionários e da não participação dos alunos nas aulas, não se presenciou momentos
dialógicos ou motivadores durante as aulas.
Se aula é pautada em um discurso mal contextualizado a indisciplina é
inevitável, isso ficou bastante claro na observação realizada. Claro que temos que
considerar alguns pontos relevantes para tal prática. O tempo de magistério, a falta de
interesse dos alunos, a elevada carga horária diária e baixo salário, são possíveis fatores
que desestimulam os professores e faz com que o mesmo pratique somente a
transposição didática, não tendo assim mais aquele entusiasmo e criatividade de início
de carreira.
Claro que não são justificativas, pois a partir do momento que abraça-se o
magistério precisa-se se tornar setas na vida dos alunos, pois formam-se cidadãos,
sujeitos pensantes, para atuarem de forma significativa na sociedade.
No dia 29 de março de 2010, o conteúdo trabalhado na aula foi: As zonas
térmicas da terra, e as latitudes e as paisagens. Os recursos didáticos utilizados foram:
quadro negro, giz e o livro didático; uma aula expositiva sem muitos atrativos, com a
leitura e explanação do conteúdo pela professora, sem a participação dos alunos e sem
discussões referentes ao tema trabalhado. Não havia espaço para os alunos
demonstrarem sua opinião, o que ocasionou muitas conversas paralelas e falta de
atenção.
Nota-se, por meio do comportamento dos alunos, que esse método não está
sendo o mais propício e que não induz o aluno à construção do conhecimento, pois
quando a aula é atrativa a turma participa, questiona e se interessa pelo conteúdo
abordado.
No dia 06 de abril de 2011, o conteúdo trabalhado na aula foi uma continuação
da aula anterior: As zonas térmicas da terra e as latitudes e as paisagens, em que a
professora aplicou um exercício para fixação do conteúdo, mantendo características
tradicionais como: aula expositiva e utilização dos mesmos recursos didáticos, quadro
negro, giz e o livro didático; os alunos mantinham-se inquietos com conversas paralelas,
em que parte dos mesmos não se interessou em responder o exercício. É importante
evidenciar que a professora formulava as questões do exercício no momento em que lia
o conteúdo, e as questões não induziam o aluno a pensar. Neste sentido, nota-se a falta
de planejamento por parte da professora.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4718
Deste modo, os resultados obtidos a partir das observações das aulas de
Geografia no ensino fundamental da EEEFM Profº. José Soares de Carvalho evidencia
o não planejamento da professora na realização das aulas, orientando-se apenas pela
sequência do livro didático. Nas aulas observadas os recursos utilizados pela professora
foram sempre os mesmos, quadro negro e giz, e sua metodologia era a aula expositiva.
Pode-se constatar que a escola dispõe de diversos recursos que possibilita
preparar uma aula de geografia atraente e inovadora, pois a escola dispõe de espaços
adequados para dinamizar o ensino como sala de vídeo e biblioteca, bem como recursos
áudio visuais tais como: data show, notebook, televisão, DVD, recursos de multimídias.
As aulas ministradas foram na turma do 7º ano “J”, onde já tivemos contato
prévio durante o período da observação. O conteúdo trabalhado foi Migração, a aula
iniciou-se com questionamentos sobre o conhecimento que os alunos traziam referente à
temática, como forma de chamar a atenção dos mesmos e trazendo o conteúdo para
realidade vivenciada por eles e a partir da realidade do alunado.
Na primeira aula sentimos certa resistência por parte de alguns alunos, então
utilizamos um documentário que ilustrava a saída dos nordestinos para o sudeste do
Brasil, após assistir o vídeo abrir espaço para discussão e começaram a falar e citar
exemplos, e começaram a se integrar na aula, então percebemos que estava havendo
aprendizagem.
Procurou-se em todas as aulas desenvolvidas no estágio utilizar todos os
recursos que a escola dispunha, os mesmos propunham dinamizar as aulas para fugir da
rotina das aulas observadas. Utilizaram-se todos os recursos disponíveis na escola para
melhorar a qualidade das aulas, os quais tiveram grande relevância no processo de
ensino aprendizagem.
Como em toda turma existia as velhas conversas paralelas, porém estávamos
sempre preocupados e reverter à situação, procurando trazer o aluno para participar
ativamente da aula.
Ao término deste processo de observação e regência de aulas alcançamos os
nossos objetivos previamente estabelecidos. A prática do estágio traz uma ótica da
realidade educacional. Buscou-se sempre contextualizar os conteúdos na tentativa de
trazer a realidade do aluno para dentro da sala de aula estimulando assim os
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4719
questionamentos por parte dos alunos. A prática exercida foi sempre marcada pela
presença do diálogo nas aulas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A relevância do estágio supervisionado na formação do profissional de educação
é indiscutível. Visto que o objetivo é proporcionar situações reais a qual o licenciado irá
se deparar na docência, unindo a teoria aprendida na universidade com a prática de sala
de aula, momento onde possibilitará ao estagiário refletir sobre os desafios e
possibilidades da profissão.
Durante o estágio foi possível observar a contradição entre teoria e prática, pois
o que aprendemos na academia é que o ensino deve contribuir efetivamente para a
formação de cidadãos críticos, conscientes dos seus direitos e deveres perante a
sociedade. Portanto, na prática o que vemos se contrapõe de forma significativa, pois, a
prática do professor é pautada exclusivamente na transposição didática, sem
contextualizar o conteúdo, nem tão pouco considerar os conhecimentos prévios dos
alunos.
Essa experiência de estágio deixou claro que é muito difícil fazer com que os
professores comecem a inovar nas aulas, pois já consolidaram um modelo de educação
voltado para um ensino bancário onde os conhecimentos são depositados e não
construídos. Mesmo com as mudanças ocorridas com o processo de globalização onde a
tecnologia esta presente a todo tempo na nossa vida, esses instrumentos tecnológicos
não se fazem presentes nas salas de aulas, mesmo que a escola a possua.
O ensino tradicional estava presente de forma marcante nas aulas, repetições do
aprendido, postas como verdades absolutas, onde o professor não leva o aluno a
questionar e sim reproduzir o aprendido. A proposta de um ensino crítico, baseado no
diálogo, torna-se algo incômodo, pois não é prática de sala de aula, a prática cotidiana é
pautada no copiar textos e responder as atividades propostas pelo professor.
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DESAFIOS DA PRÁTICA DO ENSINO DE GEOGRAFIA
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RESUMO
O presente artigo aborda os desafios e possibilidades apresentado a prática docente no ensino de
Geografia, que se apresenta ao professor mediante as transformações oriundas do processo de
globalização, que possibilitou o desenvolvimento de novas tecnologias para o desenvolvimento
do ensino e aprendizagem. Neste contexto, o objetivo dessa pesquisa é analisar o ensino-
aprendizagem dos conteúdos da Geografia através do uso dos recursos audiovisuais. Os
direcionamentos metodológicos pautaram-se em: levantamentos bibliográficos realizados por
meio de leituras em periódicos, livros, revistas, artigos com as contribuições de autores como
Schroeder (2008), Giussani (2004), Gonçalves (1994), Freire (1996, 1987) entre outros. A
presente pesquisa é resultado da prática do Estágio Supervisionado I, realizado na Escola
Estadual de Ensino Fundamental e Médio José Soares de Carvalho, localizado no município de
Guarabira/PB. Atualmente, ainda se faz presente a prática do ensino tradicional, onde a
utilização do quadro é marcante, negando o uso de novas tecnologias, que por sua vez, sendo
utilizadas propiciará situações de aprendizagem. Vale ressaltar, que neste trabalho não defende a
utilização da tecnologia como garantia de uma melhor qualidade na aprendizagem, mas como
uma possibilidade motivadora da aprendizagem onde a utilização dos mesmos irá subsidiar o
trabalho do professor como também dinamizar o conteúdo exposto na sala de aula. Desta forma,
os resultados obtidos nas aulas evidenciaram a necessidade da utilização de recursos
audiovisuais tendo a função de dinamizar o ensino. A partir das aulas pode-se perceber a
diferença em trabalhar um conteúdo usando os recursos tecnológicos disponíveis na escola, pois
prende a atenção dos alunos pelo conteúdo ministrado, estabelecendo visões críticas, atuantes e
participativas
Palavras chaves: Novas Tecnologias, Ensino de Geografia, Ensino-aprendizagem.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo aborda os desafios que se apresenta à escola e ao professor de
geografia mediante as transformações oriundas do processo de globalização, pois o
mesmo se faz necessário para a instrumentalização desta disciplina.
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2 Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, [email protected]
3 Universidade Estadual Vale do Acaraú –UEVA, [email protected]
4 Universidade Federal da Paraiba – UFPB, [email protected]
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Há décadas o ensino de Geografia é pautado no tradicional onde o conhecimento
é apenas repetição das informações dos livros didáticos ou das afirmações feitas pelo
professor como verdade absoluta, como também a não utilização dos recursos
tecnológicos disponíveis nas escolas. “O crescente uso das tecnologias digitais e das
redes de comunicação interativa tem acompanhado e ampliado uma profunda mutação
da nossa relação com o saber” (MOREIRA e ULHÔA, 2009, p. 71).
A utilização dessas práticas faz com que os alunos não consigam interligar a
realidade onde estão inseridos com os conteúdos que são transmitidos, com esta falta de
contextualização não há construção do conhecimento. Ensinar não é transmitir
conhecimento, mas criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção
(FREIRE, 1996, p. 22).
A Geografia Tradicional tinha como objetivo estabelecer relação de poder tanto
na ação de domínio da superfície terrestre, como na forma de transmissão dos conteúdos
que se prendia apenas na discrição da realidade, onde os professores em suas aulas
mascaravam a real função do ensino de Geografia. Segundo Lacoste (1988, p.s/d):
É uma ciência que na sua origem apresentava um forte caráter
tradicional na sala de aula. Isso se devia implicitamente ao fato de que
era mais conveniente que a maioria das pessoas pensasse que a
Geografia era uma ciência inútil e sem importância. Assim, elas não
poderiam ter seus próprios posicionamentos diante do que lhes era
impostas, permitindo que apenas uma minoria tivesse autonomia e
estivesse à frente das decisões. A Geografia Tradicional servia ao
poder e sua forma descritiva da realidade camuflava a sua
importância.
Com o surgimento da Geografia Crítica em meados do século XX, o ensino
passou por uma resignificação. Na sala de aula esta nova forma de pensar a Geografia
aparece como possibilidade de pensar o mundo, onde o geógrafo utiliza em suas aulas o
seu potencial teórico, junto às metodologias modernas que dinamize os conteúdos,
objetivando contribuir positivamente para a solução dos problemas de aprendizagem.
Precisamos de uma Geografia que siga as mudanças da sociedade e que seja
ocasionadora de mudanças, trazendo transformações para a realidade da sala de aula,
com caráter formador de cidadãos conscientes da realidade. Para que isso aconteça é
preciso acabar com a educação bancária no ensino de Geografia (FREIRE, 1987).
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O ensino de Geografia precisa ser algo dinâmico, porque a Geografia é
dinâmica, é preciso que este conhecimento seja construído junto com os alunos dando
significados ao mesmo. O desafio do século XXI é fazer com que os alunos se
interessem em aprender, e para que aconteça esta aprendizagem e preciso que o
professor de Geografia inove e crie situações de aprendizagem que envolva o aluno e
leve-o a desenvolver suas potencialidades, para que haja este interesse é preciso que o
professor ponha o aluno como centro da aprendizagem.
O ensino de Geografia compõe o currículo do ensino médio, oferecendo
instrumentos essenciais para a compreensão e intervenção da realidade social. Portanto
para que os objetivos sejam alcançados, o ensino de Geografia deve fundamentar-se em
um corpo teórico-metodológico baseado nos conceitos de natureza, paisagem, espaço,
território, região, rede, lugar e ambiente (Orientações Curriculares para o Ensino Médio.
Vol.3, p. 43).
A Geografia não pode ser considerada como uma disciplina enumerativa,
descritiva das paisagens naturais e humanizadas, de forma dissociada do espaço vivido
pela sociedade. Pois o ensino de Geografia precisa ser dialético. Quer-se ensinar os
alunos a pensarem dialeticamente, importa definir ao mesmo tempo em que conteúdos
permitem a eles o exercício desse pensamento e o modo pela qual esse exercício é
viável (CAVALCANTI, 1998, p. 25).
Ensinar Geografia é muito mais do que fazer leitura de textos, leitura de mapas,
exporem idéias e conceitos, ensinar Geografia é levar o aluno a perceber a Geografia
que o rodeia, aguçando todos os seus sentidos para que haja uma aprendizagem
significativa, compreendendo o espaço geográfico na sua concretude, e nas suas
contradições.
Para compreender o mundo é primordial não apenas ter acesso a inúmeras
informações, porém é de fundamental importância saber analisá-la e interpretá-la. Esse
olhar diferenciado que precisa ser despertado no aluno para que haja efetivamente a
construção do saber. O conhecimento só é eficiente, quando é capaz de contextualizar
sua informação e de situá-la em um todo.
A proposta de oportunizar aos alunos uma leitura de mundo, parte do princípio
de valorização das experiências como cidadãos atuando-nos em diferentes espaços.
Precisamos sair das amarras do sistema educacional que muitas vezes nos aprisionam,
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4724
onde só oportunizam trabalharmos com conteúdos engessados, prontos, que não leva a
reflexão, contidos no currículo formal das escolas.
De acordo com Goulart (2007, p. 61): ”aprender Geografia passou a significar
dar sentido àquilo que vive no cotidiano, enxergar as contradições do espaço, conectar
fatos e situações, dar sentido ao aprendizado e a vida”.
Sabendo que o objeto da Geografia é o espaço geográfico, concebe-o na
construção entre natureza e sociedade, objetivando o aluno a refletir sobre a análise da
dinâmica social, da natureza e da relação da inter-relação delas. Portanto cabe ao
professor usar da sensibilidade para com o que ensina e como se ensina. Os conteúdos
precisam ser trabalhados a partir de lugar, como espaço próximo, espaço vivido, espaço
afetivo, para em seguida contextualizar o conhecimento considerando a escala regional,
nacional e mundial, pois o aluno como cidadão do mundo, precisa-se conhecer o mundo
em que vive.
É de fundamental importância a apreensão da realidade do ponto de vista da
espacialidade, ou seja, de compreender o papel do espaço geográfico nas práticas
sociais. Na perspectiva desenhada por Passini (2011, p.12):
O professor deve estar consciente de que o espaço próximo para ser
analisado precisa ser abordado em sua relação com outras instâncias
espacialmente distante. Nesse processo, a realidade é o ponto de
partida e de chegada. De sua observação o aluno deve extrair
elementos sobre os quais deve refletir e a partir disso ser levada a
construção de conceitos.
O objetivo desta pesquisa é analisar o processo de ensino-aprendizagem dos
conteúdos da disciplina de geografia através do uso dos recursos audiovisuais, como
proposta de dinamismo e maior compreensão dos conteúdos na Escola Estadual de
Ensino Fundamental e Médio José Soares de Carvalho, localizado no município de
Guarabira/PB.
METODOLOGIA
A reflexão crítica desta pesquisa foi desenvolvida em duas partes: uma de
natureza teórica a partir de uma revisão bibliográfica baseada em autores como:
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Schroeder (2008), Giussani (2004), Gonçalves (1994), Freire (1996, 1987) entre outros,
que discutem sobre a temática do ensino de Geografia; outra de natureza empírica,
realizada no período de Agosto à Novembro de 2012, com a observação e regência das
aulas de Geografia na EEEFM Profº José Soares de Carvalho, localizado no município
de Guarabira/ PB.
A IMPORTÂNCIA DO USO DE NOVAS TECNOLOGIAS DE ENSINO EM
GEOGRAFIA NO CONTEXTO DO ATUAL PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO
Para Schroeder (2008, p. 2), “hoje o ensino precisa ser inovado em suas
metodologias tendo em vista o universo midiático em que os alunos vivem. Esse
universo que os jovens têm tanta familiaridade esta isolado da escola, que precisa
reconhecer a importância de trazer questões pertinentes às mudanças contemporâneas”.
O uso da tecnologia em sala de aula por sua vez utilizada servirá para criar
situações onde o aluno sentirá fascínio pelo conteúdo ministrado pelo professor, como
também despertará confiança para questionar e se posicionar. “A difusão de recursos
didáticos como música, informática, jornais, TV e rádio são encarados como um meio
de se atualizar as práticas pedagógicas, enriquecendo cada vez mais as aulas”
(PINHEIRO et al, 2004, p. 104).
Diante dessa vertente de pensamento, é notória a importância da utilização do
uso de recursos tecnológicos em sala, pois a utilização dos mesmos irá subsidiar o
trabalho do professor, pois os mesmos têm a função de dinamizar o conteúdo exposto na
sala de aula.
Nesta perspectiva de Pinheiro et al ( 2004, p. 104):
A busca de novas informações, principalmente do professor de
geografia, é essencial, pois num mundo em pleno desenvolvimento e
globalizado, e altamente interconectado, os processos de mudanças
ocorridos ganham dimensões extraterritoriais. A inovação busca
melhorar, ampliar, mudar antigas práticas para poder construir com o
aluno o conhecimento. Em um mundo pautado em novas tecnologias
os profissionais não podem desprezar esses novos recursos para a
facilitação da aprendizagem.
Para Moreira e Ulhôa (2009, p.71-72) “o crescente uso das tecnologias digitais e
das redes de comunicação interativa tem acompanhado e ampliado uma profunda
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mutação da nossa relação com o saber. Nesta perspectiva fica clara a necessidade de
usar tecnologias atuais de ensino em sala de aula, pois o ensino deve acompanhar as
mudanças para que o ensino-aprendizagem se concretize de forma eficaz.
Para que se possa ensinar de forma significativa, é preciso inovar as
metodologias, pois cada aluno é único, e apresentam ritmos diferentes para aprender,
onde a utilização de diferenciadas metodologias facilitará a aprendizagem. As
metodologias utilizadas precisam estar pautadas na prática da construção dialógica
como também buscando fazer a relação entre conhecimento e realidade.
Devem-se redobrar esforços para acompanhar as transformações pelas quais o
mundo passa, para atendermos as demandas dos nossos alunos do século XXI. O maior
desafio do professor nos dias atuais é trazer o aluno para a sala de aula e o fazê-lo
permanecer, Pois, na conjuntura globalizada que vivemos inseridos, onde são oferecidas
inúmeras possibilidades de diversão e entretenimento fica difícil se fazer ouvir por
nossos alunos. Quando o professor ainda utiliza práticas arcaicas e metodologias
inadequadas.
Afirma Castrogiovanni, (2000, p. 13):
Existe ainda pouca aproximação da escola com a vida, com o
cotidiano dos alunos. A escola não se manifesta atraente frente ao
mundo contemporâneo, pois não dá conta de explicar e textualizar as
novas leituras de vida. A vida fora da escola é cheia de mistérios,
emoções, desejos e fantasias, como tendem ser as ciências. A escola
parece ser homogênea, transparente e sem brilho no que se refere a
tais características. É urgente teorizar a vida, para que o aluno possa
compreendê-la e representá-la melhor e, portanto, viver em busca de
seus interesses.
O professor de Geografia precisa interagir com o aluno de forma que o leve a
fazer reflexões sobre o que é estudado é qual a importância de estudar, pós a partir desta
reflexão que o ensino transforma-se em aprendizagem. Portanto, para que isso aconteça
precisa trabalhar os conteúdos mesmo que distantes geograficamente fazendo paralelo
com o dia-a-dia dos alunos, e com os saberes que trazem consigo.
Segundo Costela (2007, p. 49), contar alguma coisa do ponto de vista somente
do professor é contar no vazio, é despertar angustias e inibir a vontade de remeter as
imagens com interiorizações efetivas.
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Os alunos de hoje são muito curiosos, enérgicos, e criativos, precisa-se trabalhar
com metodologias inovadoras e recursos atrativos para que desperte a vontade e o
prazer de aprender construindo seu próprio conhecimento.
As múltiplas linguagens devem fazer parte nas aulas de Geografia, pois as
mesmas expressam diversas visões de mundo provocando aprendizagens. A exploração
de imagens seja ela estática, como as fotografias, movimento como propagandas,
programas e filmes, música, poema e desenho, todos os recursos áudio visuais, são
recursos quando trabalhados em sala de aula, tem um forte aceitação dos envolvidos.
A VIVÊNCIA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO I NA EEEFM JOSÉ SOARES
DE CARVALHO, GUARABIRA/PB
O estágio é uma prática de suma importância no processo de formação
profissional. Constitui-se em um treinamento que possibilita ao acadêmico vivenciar na
prática o aprendido na teoria na universidade, tendo como função integrar as diversas
disciplinas que compõem o currículo acadêmico.
O momento do estágio funciona como um laboratório, onde o acadêmico vai
sentir ativamente em uma sala de aula e diante de desafios. “O estágio supervisionado
tem um papel fundamental na formação do futuro do professor. É o estágio tanto de
observação e participação, como de regência, que possibilita ao aluno a vivência das
relações no cotidiano escolar” (PASSINI, 2007, p. 27).
O espaço destinado para o estágio possibilita ao acadêmico consolidar seus
conhecimentos que somente a prática por meio do dia a dia pode oferecer. Neste
momento a troca de experiência fará com que o novo profissional se torne mais
preparado para atuar na área e lidar com a complexidade da realidade cotidiana da sala
de aula.
A partir da observação da prática de ensino de geografia na turma 7º ano do
ensino fundamental, pode-se perceber que ensino de Geografia estava fortemente
marcado pela forma metódica com que era desenvolvido, através da valorização dos
questionários e da não participação dos alunos nas aulas, não se presenciou momentos
dialógicos ou motivadores durante as aulas.
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Se aula é pautada em um discurso mal contextualizado a indisciplina é
inevitável, isso ficou bastante claro na observação realizada. Claro que temos que
considerar alguns pontos relevantes para tal prática. O tempo de magistério, a falta de
interesse dos alunos, a elevada carga horária diária e baixo salário, são possíveis fatores
que desestimulam os professores e faz com que o mesmo pratique somente a
transposição didática, não tendo assim mais aquele entusiasmo e criatividade de início
de carreira.
Claro que não são justificativas, pois a partir do momento que abraça-se o
magistério precisa-se se tornar setas na vida dos alunos, pois formam-se cidadãos,
sujeitos pensantes, para atuarem de forma significativa na sociedade.
No dia 29 de março de 2010, o conteúdo trabalhado na aula foi: As zonas
térmicas da terra, e as latitudes e as paisagens. Os recursos didáticos utilizados foram:
quadro negro, giz e o livro didático; uma aula expositiva sem muitos atrativos, com a
leitura e explanação do conteúdo pela professora, sem a participação dos alunos e sem
discussões referentes ao tema trabalhado. Não havia espaço para os alunos
demonstrarem sua opinião, o que ocasionou muitas conversas paralelas e falta de
atenção.
Nota-se, por meio do comportamento dos alunos, que esse método não está
sendo o mais propício e que não induz o aluno à construção do conhecimento, pois
quando a aula é atrativa a turma participa, questiona e se interessa pelo conteúdo
abordado.
No dia 06 de abril de 2011, o conteúdo trabalhado na aula foi uma continuação
da aula anterior: As zonas térmicas da terra e as latitudes e as paisagens, em que a
professora aplicou um exercício para fixação do conteúdo, mantendo características
tradicionais como: aula expositiva e utilização dos mesmos recursos didáticos, quadro
negro, giz e o livro didático; os alunos mantinham-se inquietos com conversas paralelas,
em que parte dos mesmos não se interessou em responder o exercício. É importante
evidenciar que a professora formulava as questões do exercício no momento em que lia
o conteúdo, e as questões não induziam o aluno a pensar. Neste sentido, nota-se a falta
de planejamento por parte da professora.
Deste modo, os resultados obtidos a partir das observações das aulas de
Geografia no ensino fundamental da EEEFM Profº. José Soares de Carvalho evidencia
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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o não planejamento da professora na realização das aulas, orientando-se apenas pela
sequência do livro didático. Nas aulas observadas os recursos utilizados pela professora
foram sempre os mesmos, quadro negro e giz, e sua metodologia era a aula expositiva.
Pode-se constatar que a escola dispõe de diversos recursos que possibilita
preparar uma aula de geografia atraente e inovadora, pois a escola dispõe de espaços
adequados para dinamizar o ensino como sala de vídeo e biblioteca, bem como recursos
áudio visuais tais como: data show, notebook, televisão, DVD, recursos de multimídias.
As aulas ministradas foram na turma do 7º ano “J”, onde já tivemos contato
prévio durante o período da observação. O conteúdo trabalhado foi Migração, a aula
iniciou-se com questionamentos sobre o conhecimento que os alunos traziam referente à
temática, como forma de chamar a atenção dos mesmos e trazendo o conteúdo para
realidade vivenciada por eles e a partir da realidade do alunado.
Na primeira aula sentimos certa resistência por parte de alguns alunos, então
utilizamos um documentário que ilustrava a saída dos nordestinos para o sudeste do
Brasil, após assistir o vídeo abrir espaço para discussão e começaram a falar e citar
exemplos, e começaram a se integrar na aula, então percebemos que estava havendo
aprendizagem.
Procurou-se em todas as aulas desenvolvidas no estágio utilizar todos os
recursos que a escola dispunha, os mesmos propunham dinamizar as aulas para fugir da
rotina das aulas observadas. Utilizaram-se todos os recursos disponíveis na escola para
melhorar a qualidade das aulas, os quais tiveram grande relevância no processo de
ensino aprendizagem.
Como em toda turma existia as velhas conversas paralelas, porém estávamos
sempre preocupados e reverter à situação, procurando trazer o aluno para participar
ativamente da aula.
Ao término deste processo de observação e regência de aulas alcançamos os
nossos objetivos previamente estabelecidos. A prática do estágio traz uma ótica da
realidade educacional. Buscou-se sempre contextualizar os conteúdos na tentativa de
trazer a realidade do aluno para dentro da sala de aula estimulando assim os
questionamentos por parte dos alunos. A prática exercida foi sempre marcada pela
presença do diálogo nas aulas.
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4730
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A relevância do estágio supervisionado na formação do profissional de educação
é indiscutível. Visto que o objetivo é proporcionar situações reais a qual o licenciado irá
se deparar na docência, unindo a teoria aprendida na universidade com a prática de sala
de aula, momento onde possibilitará ao estagiário refletir sobre os desafios e
possibilidades da profissão.
Durante o estágio foi possível observar a contradição entre teoria e prática, pois
o que aprendemos na academia é que o ensino deve contribuir efetivamente para a
formação de cidadãos críticos, conscientes dos seus direitos e deveres perante a
sociedade. Portanto, na prática o que vemos se contrapõe de forma significativa, pois, a
prática do professor é pautada exclusivamente na transposição didática, sem
contextualizar o conteúdo, nem tão pouco considerar os conhecimentos prévios dos
alunos.
Essa experiência de estágio deixou claro que é muito difícil fazer com que os
professores comecem a inovar nas aulas, pois já consolidaram um modelo de educação
voltado para um ensino bancário onde os conhecimentos são depositados e não
construídos. Mesmo com as mudanças ocorridas com o processo de globalização onde a
tecnologia esta presente a todo tempo na nossa vida, esses instrumentos tecnológicos
não se fazem presentes nas salas de aulas, mesmo que a escola a possua.
O ensino tradicional estava presente de forma marcante nas aulas, repetições do
aprendido, postas como verdades absolutas, onde o professor não leva o aluno a
questionar e sim reproduzir o aprendido. A proposta de um ensino crítico, baseado no
diálogo, torna-se algo incômodo, pois não é prática de sala de aula, a prática cotidiana é
pautada no copiar textos e responder as atividades propostas pelo professor.
REFERÊNCIAS
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Sextante, 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários á prática educativa. São
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Tradução Neófita Oliveira Bauru EDUSC, 2004. 222p.
GONÇALVES, Maria Augusta Salin. Sentir, Pensar, Agir – Corporiedade da Educação
/ Maria Augusta Salin Gonçalves – Campinas, SP: Papirus, 1994 – (Coleção Corpo e
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Campinas (SP), Papirus, 1988.
LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F.: TOSCHI, M. S.; Educação Escolar: Políticas
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Formação).
MALYSZ, T. Sandra. ; PASSINI. Elza. Yasuko. ; PASSINI. Romão. ; Prática de ensino
de geografia e estágio supervisionado. São Paulo; Contexto, 2007.
MOREIRA, Suely Aparecida Gomes; ULHÔA Leonardo Moreira. Ensino em
geografia: desafios à prática docente na atualidade. Revista da Católica, Uberlândia, v.
1, n. 2, 2009, p. 69-80;
PINHEIRO, Elen Affonso, MENDONÇA, Bruno Alvim, SILVA, Giovani José da,
GONÇALVES, Oseias de Oliveira, CHAVES, Telma Souza. O NORDESTE
BRASILEIRO NAS MÚSICAS DE LUIZ GONZAGA Caderno de Geografia, Belo
Horizonte, v. 14, n. 23, p. 103-111, 2º sem. 2004
SCHROEDER, Hélio. A música como linguagem no ensino do espaço geográfico
urbano. Guarapuava – PR, 2008.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4732
O USO DAS TENOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO NO ENSINO DE GEOGRAFIA NAS ESCOLAS DA
CIDADE DE RIO BRANCO, ACRE, BRASIL.
Alexsande de Oliveira Franco 1
Anderson Azevedo Mesquita2
Rodrigo Otavio Perea Serrano3
Gleiciane Pereira Gomes 4
RESUMO
Vivemos em um mundo globalizado onde a tecnologia é imprescindível. O uso das Tecnologias
de informação e comunicação estão cada vez presentes nas escolas brasileiras, no entanto ainda
é um desafio para professores de como usar de forma adequada essa ferramenta. As TICs podem
contribuir com professores em sala de aula melhorando o processo de ensino aprendizagem. O
presente trabalho é resultante das atividades desenvolvidas no Programa Institucional de
Iniciação a Docência- (PIBID), e teve como objetivo abordar o uso das TICs, em especial a
ferramenta Google Earth no ensino de geografia nas escolas publicas estaduais e municipais de
Rio Branco, Acre. É importante mencionar que essa ferramenta pode ser trabalhada com outras
áreas do ensino. O respectivo estudo baseou-se nas escolas Municipais Maria chalub Leite,
Carlos Casavechia e Estadual Lourival Pinho. Para o desenvolvimento do trabalho foi utilizado
o software Google Earth com professores e alunos da educação básica através de oficinas
pedagógicas sobre o tema. Os resultados foram positivos, entre eles podemos destacar: difundir
de forma clara e objetiva aos professores e alunos a ferramenta Google Earth, auxiliando os
professores em suas metodologias de ensino através da inserção da ferramenta no planejamento
dos conteúdos curriculares abordados nas aulas de geografia, contribuindo dessa maneira para o
estreitamento dos laços entre educação superior e educação básica.
Palavras chave: Tecnologias, Educação, Google Earth.
AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO - TICs
No mundo globalizado as informações são instantâneas contribuindo, por
exemplo, para a melhoria das praticas da educação. Todas essas novas práticas e
“modos de ser” implicam um conjunto revisado das competências e habilidades
esperadas, que são requeridas de quem almeja ser um membro “eficiente” e bem-
sucedido da sociedade. Exige-se que os indivíduos sejam mais móveis do que nunca.
1 Professor Assistente Universidade Federal do Acre, [email protected]
2 Professor Auxiliar universidade Federal do Acre, [email protected]
3 Professor Assistente Universidade Federal do Acre, [email protected]
4 Discente do Curso de Geografia, Universidade Federal do Acre, [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4733
Além das competências básicas de saber contar, ler e escrever, requer-se que os
indivíduos desenvolvam diferentes formas de capacidades informacionais e tecnológicas
(Bawden, 2001).
Para Santos (2007) a utilização de novas tecnologias e o uso de computadores
conectados à internet são presentes em todos os segmentos importantes das sociedades
do mundo atual. A utilização da ferramenta Google Earth podem despertar interesse dos
alunos para diversas disciplinas curriculares, em especial do ensino de geografia,
sobretudo, quando trabalhados assuntos referentes a hidrografia, geografia urbana,
climatologia, ecologia, entre outros. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais
(1998) a tecnologia deve servir para enriquecer o ambiente educacional, propiciando a
construção do conhecimento por meio de uma atuação crítica e consciente do educando.
Ao inserir as novas tecnologias na escola, o aluno pode ampliar sua realidade e
seus conhecimentos. Segundo Giordani, Audino e Cassol (2006) o processo de melhoria
da qualidade do ensino passa, além de outros fatores, pela utilização das tecnologias na
educação, adotando novas metodologias de ensino e aprendizagem.
Tecnologia da informação e comunicação (TIC) pode ser definida como um
conjunto de recursos tecnológicos, utilizados de forma integrada, com um objetivo
comum. As TICs são utilizadas das mais diversas formas, na indústria, no comércio, no
setor de investimentos (informação simultânea, comunicação imediata) e na educação
(no processo de ensino aprendizagem). As Tecnologias de Informação e Comunicação
(TICs) estão, dia a dia, apresentando-se mais presentes no cotidiano de toda a sociedade
e é uma das principais razões para sua integração na Educação (BELLONI, 2006).
Na educação presencial, as TICs são vistas como potencializadoras dos
processos de ensino – aprendizagem. Além disso, a tecnologia traz a possibilidade de
maior desenvolvimento – aprendizagem - comunicação entre as pessoas com
necessidades educacionais especiais. Segundo Kenski (2008, p. 2), o uso de tecnologias
tem o efeito de criar mudanças, alterações, em relação à cultura de uma sociedade.
Ainda para Kenski (2008, p. 2):
A evolução tecnológica não se restringe aos novos usos de
determinados equipamentos e produtos. Ele altera comportamentos. A
ampliação e a banalização do uso de determinada tecnologia impõe-se
à cultura existente e transformam não apenas o comportamento
individual, mas o de todo o grupo social.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Oliveira (2007) cita que a tecnologia é algo que se escuta e se aprende uma vez
que é parte da cultura. Tecnologias não são apenas aparelhos, equipamentos. Não é puro
saber fazer, mas cultura que têm implicações éticas, políticas, econômicas,
educacionais. Neste mesmo sentido, Oliveira (2007, p. 81), coloca que:
Na contemporaneidade, as tecnologias digitais de informação e comunicação estão
presentes de forma intensa no cotidiano das pessoas. Permeiam a maior parte dos
processos, de maneira condicionante, tendo a informação como elemento básico.
Estruturam-se em termos lógicos na forma de redes, mantendo a possibilidade de
resgate dos dados dos processos, das articulações, sem a necessidade de refazê-los.
Contam com uma crescente convergência em direção de sistemas integrados.
Muitos educadores, no entanto se preocupam e dão ênfase aos equipamentos.
Isso ocorre porque estamos no estágio de aprendizagem com a velocidade e a
intensidade das mudanças ocasionadas pelas TICs. A competência para educar com
tecnologias têm o potencial de valorizar os profissionais, motivar e melhorar o
desempenho educacional de crianças, jovens e adultos e contribuir para elevar a
qualidade da educação no país.
O ENSINO DE GEOGRAFIA E AS TICs - A FERRAMENTA GOOGLE EARTH
NAS ESCOLAS DE RIO BRANCO
A geografia enquanto ciência alcançou tal status a partir de uma série de
processos históricos onde esta se consolida e se define como a ciência responsável em
compreender e responder os diversos fenômenos resultantes da interação entre o homem
e a natureza construídos e materializados no espaço geográfico. (SPOSITO, 2004)
Este aspecto particular de estudar a relação entre o homem e a natureza no
âmbito do espaço geográfico, condicionou a inserção da geografia no campo das
ciências humanas e sociais, entretanto, com uma forte ligação nas áreas das ciências
ambientais e físicas, tornando a geografia articulada com várias áreas do conhecimento
cientifico.
A característica intrínseca da ciência geográfica em buscar estudar e responder a
complexa organização do espaço, também se tornou uma marca efetiva da geografia
escolar. Neste aspecto, cabe ressaltar que a geografia escolar deve atingir a coerência
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entre o que é ensinado e o que é expresso efetivamente no dia-dia do aluno, conforme
aponta Oliveira (2006, p.16):
É interessante reconhecer que o estudo da geografia deve ser
conseqüente para os alunos, suas experiências concretas deverão ter
interligamento e coerência dentro do que é ensinado, pois o vivido
pelo aluno é expresso no espaço cotidiano, e a interligação deste com
as demais instâncias é fundamental para a aprendizagem. “Se o espaço
não é encarado como algo em que o homem (o aluno) está inserido,
natureza que ele próprio ajuda a moldar, a verdade geográfica do
indivíduo se perde e a Geografia torna-se alheia para ele”
(RESENDE,1986, p. 20). É preciso, então, preparar o aluno para que
ele compreenda o valor do seu espaço e de sua ação nele.
Considerando que o estudo da geografia deve ser consequente para o aluno, é
de suma importância que os procedimentos de ensino da geografia escolar
contextualizem os principais aspectos evidentes no mundo contemporâneo. Neste
sentido a inserção da TICs na geografia escolar torna-se um procedimento necessário
considerando os aspectos da sociedade contemporânea, ou seja, é a chamada era da
evolução da ciência voltada para a técnica da informação e da comunicação. (SANTOS,
1994)
As TICs no contexto educacional da geografia escolar poderão ser utilizadas
como ferramentas que objetivam a melhor interação entre os conteúdos geográficos e a
assimilação participativa dos alunos. Essas ferramentas proporcionam experiências
menos abstratas, garantindo ao aluno a compreensão mais efetiva do espaço geográfico
construído e analisado por ele e os demais atores da sociedade.
O presente trabalho foi desenvolvido em escolas da rede publica de ensino do
Estado do Acre, em especial na cidade de Rio Branco, e é resultante das atividades
propostas pelo Programa Institucional de Iniciação a Docência – PIBID, financiado pela
CAPES (Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), e coordenado
pela Universidade Federal do Acre - UFAC, através da área de geografia.
O projeto foi desenvolvido nas escolas Lourival Pinho, Maria Chalub Leite e
Padre Carlos Casavechia. (Ver figura 1). As respectivas escolas foram definidas pela
Secretaria Estadual de Educação do Estado do Acre, a escolha se deu em função do
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB. O intuito do trabalho foi
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4736
contribuir com a utilização das TICs, em especial o Google Earth no ensino de
geografia.
BOLSISTAS PIBID EXECUTANDO OFICINAS COM GOOGLE EARTH NAS
ESCOLAS DE RIO BRANCO, AC.
Figura 1. Fonte: Arquivo Pibid.
As atividades realizadas nas escolas foram às seguintes: a) diagnostico com os
professores a cerca do conhecimento com relação as TICs, em particular o google earth;
b) diagnostico dos laboratórios de informática (numero e funcionamento de
computadores, bem como o acesso a rede de internet); c) baixar o software Google
Earth nos computadores das escolas; d) mapeamento com os alunos a cerca do
conhecimento de informática e a receptibilidade com o programa Google Earth; e)
acompanhamento aos professores da área de geografia no planejamento pedagógico das
aulas; f) inserção da ferramenta Google Earth nas aulas de geografia; g) atividades com
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4737
alunos das escolas no laboratório de informática a cerca da ferramenta Google Earth;
(ver figura 2); i) oficinas pedagógicas na área de geografia com o Google Earth nas
escolas com professores e alunos.
ALUNOS DA REDE PÚBLICA DE ENSINO NO LABORATORIO DE INFORMATICA
UTILIZANDO A FERRAMENTA GOOGLE EARTH
Figura 2. Fonte: Arquivo Pibid.
Com relação à metodologia da presente pesquisa o principal foco foi à
ferramenta Google Earth e sua utilização em sala de aula com os professores da área de
geografia. No entanto algumas etapas foram realizadas como exemplo: levantamento
bibliográfico (fichamentos, livros, artigos, e outras literaturas cerca do tema em questão)
com os membros da equipe, em particular os bolsistas que trabalharam no projeto.
Capacitação com os bolsistas de forma que se tornassem multiplicadores da forma como
usar a ferramenta em estudo. Visita assídua dos membros do projeto as escolas
(acompanhamento no planejamento escolar com professores da área de geografia, bem
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4738
como visualização das aulas em sala, assistência nas aulas de geografia). Produção e
execução de oficinas com a ferramenta Google Earth para aplicação nas escolas aos
alunos da rede pública estadual e municipal.
É importante mencionar que segundo os parâmetros curriculares a escola tem
que criar ambientes interativos nos quais a criatividade é fundamental, que passará a
transformar e criar novas idéias com seus alunos e professores, pois segundo
Nascimento (1998):
O ritmo acelerado de inovações tecnológicas exige um sistema
educacional capaz de estimular nos estudantes o interesse pela
aprendizagem. E que esse interesse diante de novos
conhecimentos e técnicas seja mantido ao longo da sua vida
profissional, que, provavelmente, tenderá a se realizar em áreas
diversas de uma atividade produtiva cada vez mais sujeita ao
impacto das novas tecnologias.
Apesar das recomendações expostas pelos PCNs, e ainda pela propaganda
difundida pelo poder publico a cerca da qualidade das escolas e educação estadual. As
escolas trabalhadas não estavam preparadas totalmente para a utilização das TICs, em
especial com o software Google Earth. Isso se deu devido alguns problemas elencados
abaixo:
1. Laboratórios sucateados ou em processo de sucateamento. (os
laboratórios das escolas trabalhadas pelo projeto estavam com muitos
problemas, poucos computadores funcionando, sem cabos de internet, e
outros sem acesso a rede);
2. Professores despreparados para a utilização da ferramenta Google
earth. (esse ponto foi muito preocupante, pois muitos professores não sabiam
utilizar o Google Earth. Foi necessário explicar a forma de utilização da
ferramenta para os professores);
3. Muitos não sabiam para o que servia essa ferramenta. (foi
necessário realizar oficinas de capacitação referente o funcionamento da
ferramenta e sua importância para os professores, inclusive relacionando
com os conteúdos curriculares trabalhados em sala de aula);
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4739
Os respectivos problemas citados acima foram aqueles que mais prejudicaram o
andamento do projeto, pois seriam necessários computadores que estivessem ligados a
rede para baixar o software do programa Google Earth e que cada aluno obtivesse a
navegação no programa. Alem de conscientizar professores a cerca da importância da
ferramenta Google earth para o ensino em sala de aula. Segundo ALMOULOUD (2007,
p.18).
O professor que pretende atingir seus objetivos educacionais
utilizando tecnologias, em particular os softwares, não pode se
esquecer de orientar-se em questões como na utilização que o software
impõe ao aluno/usuário, quais comportamentos induz que ensino
permite e quais os efeitos que o software educativo pode provocar no
processo de ensino – aprendizagem em sala de aula.
Apesar das dificuldades enfrentadas os trabalhos foram desenvolvidos através de
oficinas demonstrando qual a importância e como utilizar a ferramenta. Primeiramente o
conhecimento foi passado para os supervisores locais de cada escola e posteriormente
para os alunos em sala de aula.
Durante a execução das oficinas tornou-se claro a interação dos alunos, estes se
demonstraram mais participativos e ativos no processo de ensino-aprendizagem. Os
professores se tornaram mais estimulados a desenvolver aulas relacionando o conteúdo
e a inserção do software Google Earth. Os bolsistas do projeto acompanhavam e
participavam efetivamente no planejamento e aplicação das oficinas o que condicionou
a estes a experiência impar de estar em contato com a profissão que futuramente
exercerão.
Assim, temos a oportunidade de transformar a educação para que seja mais
competitiva aliando aquilo que o advento tecnológico nos proporciona com aquilo que
nos fazem cidadãos mais conscientes. Segundo Carline e Tarcia (2010, p. 3):
Podemos afirmar que vivemos um grande momento de transição e de
mudanças na história da humanidade. As transformações,
determinadas pelo contexto sócio-histórico, nos convidam a uma
revisão e atualização de vários princípios, abordagens e modelos,
inclusive pedagógicos. Como professores, identificamos as
necessidades de uma nova sociedade que nos convida a refletir acerca
do papel da escola e da educação no contexto atual. (...) Acreditamos
que um diálogo entre professores e alunos é uma possibilidade
concreta de construção coletiva e colaborativa de novas práticas
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4740
pedagógicas, coerentes com o momento sócio – histórico no qual
estamos inseridos.
Temos visto que os alunos são permanentemente estimulados pelos produtos
tecnológicos, alias o ensino de geografia possui bons produtos relacionados a tecnologia
que podem contribuir para alcançar melhores resultados na aprendizagem em sala de
aula. Os softwares de Geografia, como o Google Earth, enriquecem a aula por
representarem das formas mais variadas o mundo, os fenômenos geográficos, as
paisagens, permitindo uma visualização dos fenômenos geográficos de forma eficiente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na educação, as mudanças muitas vezes, infelizmente encontram barreiras, desta
forma, encontra-se na educação brasileira na maioria dos casos, uma grande distância,
entre o interior da escola e o mundo fora da escola. Distâncias, que tornam um desafio
para professores desse novo milênio. Desafios que devem ser superados, pois um
aparato de produtos que instigam a vontade dos alunos, como internet, videogames,
celulares, entre outros, enquanto a escola parece estar a décadas atrás.
Nesse contexto apresentado, a escola com todo o quadro técnico e docente deve
estar preparado para a utilização das tecnologias disponíveis. Uma das formas de usar a
tecnologia nas salas de aulas, e por conseqüência tentar segurar por mais tempo o
interesse dos alunos pela escola e principalmente pelos conteúdos das aulas de
geografia, seria a utilização do Google Earth como alternativa de metodologia
pedagógica.
Educar com TICs impõe mudanças tão radicais que é impossível
deixar tal revolução somente nas mãos dos professores. Diretores,
secretários de educação, gestores em diferentes níveis, instituições
formadoras de educadores devem estar comprometidos com a
inovação do projeto pedagógico das escolas. (NEVES, 2009, p.24)
Experiências como estas podem ser o inicio para a construção de uma educação
visando a emancipação, é evidente que os desafios são grandes, temos problemas de
diversas origens, alguns estimados como verdadeiros paradigmas. Entretanto, é papel do
educador construir mecanismos que possam amenizar e até certo ponto superar tais
situações.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4741
FINANCIAMENTO
O presente trabalho foi financiado pela CAPES (Coordenação de aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior), através do PIBID (Programa Institucional de Iniciação a
Docência).
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4743
HQS E GEOGRAFIA: AS HISTORIAS EM QUADRINHOS COMO
FERRAMENTA DE COMPREENSÃO DA GUERRA FRIA
Edson Feitosa Palheta11
Lissandra Cordeiro Ribeiro12
Suzanna da silva Ferreira3
Antonio Rodrigo das Merces Paiva
RESUMO
O presente artigo é fruto da pesquisa realizada na Escola Estadual Coronel Sarmento em Belém
do Pará, situada no Distrito de Icoaraci. Considerando o uso de outras linguagens no ensino da
geografia, como métodos alternativos na prática educativa, este trabalho se propõe a analisar a
utilização das HQs (Historias em Quadrinhos) como ferramenta didática em sala de aula. Tal
pesquisa aprofunda-se de maneira mais objetiva nas historias em quadrinhos de origem Norte
Americana, em particular (Batman o cavaleiro das trevas e Watchmen). Como processos
metodológicos desta atividade, foram aplicadas aulas pelos bolsistas do PIBID e entrevistas com
os alunos da Escola.
Palavras-chave: HQs, Ensino da Geografia, Guerra Fria.
INTRODUÇÃO
Este artigo visa discutir a utilização das Historias em Quadrinhos como
ferramenta didática aplicada aos conteúdos da geografia, através das atividades
realizadas no Programa PIBID13
na Escola Coronel Sarmento14
. O que motivou esta
pesquisa foi a carência de procedimentos didáticos no ensino da Geografia,
11
Graduando do curso de Licenciatura Plena em Geografia do Instituto Federal do Pará e bolsista do
PIBID tendo como lócus de atuação a escola Coronel sarmento situada no Distrito de Icoaraci (Belém
PA); [email protected] 12 Graduando do curso de Licenciatura Plena em Geografia do Instituto Federal do Pará e
bolsista do PIBID tendo como lócus de atuação a escola Coronel sarmento situada no Distrito de
Icoaraci (Belém PA); [email protected]
3 [email protected] 13
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência, que possibilitou a vivência e aplicação
das atividades na escola resultando entre outras coisas na elaboração deste artigo. 14
Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Coronel Sarmento, situada no Distrito de Icoaraci
Belém PA.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4744
possibilitando a aplicação de aulas com utilização de Histórias em quadrinhos como
forma de dinamização no processo educativo.
Optamos por trabalhar com as Historias em Quadrinhos (HQs) 15
por
entendermos, que se apresentam como uma importante ferramenta, capaz de estimular o
entendimento do aluno acerca das temáticas geográficas. Sob este enfoque, nos
debrucemos com as análises referentes à Guerra Fria nas quais se detiveram
particularmente a duas obras em HQs: “Batman o Cavaleiro das Trevas 16
e Watchmen
17“ (BRAGA, 2008, p. 3).
As oficinas realizadas na escola trabalharam a maneira como estas duas
Historias em Quadrinhos se deram e pela forma como seus enredos retratam de maneira
fictícia o mundo em relação aos acontecimentos da Guerra Fria. Está presente nestas
obras em HQs uma abordagem que utiliza reflexões que problematizam o contexto da
Guerra Fria, em particular a relação de influencia que estes conteúdos exerciam na
sociedade, em relação a um possível colapso nuclear eminente entre EUA e URSS, bem
como suas consequencias em uma escala global.
Como processos metodológicos foram utilizados pesquisas bibliográficas
referentes ao conteúdo discutido, aulas com utilização de HQs e entrevistas com 40
alunos de duas turmas do segundo ano do Ensino Médio do turno da manhã da Escola.
HQS E O ENSINO DA GEOGRAFIA
A partir da vivência como bolsista do PIBID na Escola Coronel Sarmento, foi
possível observar uma carência de métodos didáticos que auxiliassem o aluno no
aprendizado referente ao conteúdo de geografia. Neste sentido, Callai (2005, p.229)
aponta, que “o ensino de geografia, passa a ser importante para quem quer pensar,
entender e propor a geografia como um componente curricular significativo.” Desta
forma, a autora ressalta o importante papel da disciplina no tocante a sua atuação para
formação cidadã.
15
HQs é a abreviação utilizada para Historias em Quadrinhos, no singular a sigla é HQ, quando me
referir às historias em quadrinhos no decorrer deste artigo utilizarei as duas expressões. 16
Minissérie em Quadrinhos de quatro volumes lançada em 1986 pela DC Comics. 17
Historias em Quadrinhos lançadas no ano de 1986 em doze volumes mensais pela DC Comics.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4745
Ressaltando de maneira mais pontual, as experiências vivenciadas como bolsista
do PIBID na Escola, permitiram um olhar mais atento ao processo de elaboração do
conhecimento, enquanto ferramenta importante de aproximação entre o cotidiano do
aluno e as temáticas abordadas em sala de aula.
Chamou-nos a atenção ao longo de nossa estadia na escola, uma carência de
métodos que dinamizassem a abordagem dos professores em relação aos conteúdos
ministrados em geografia, levando-nos a abordagem metodológica em sala de aula das
Historias em Quadrinhos com o intuito de aproximar o aluno a esta temática.
As aulas aplicadas pelos Bolsistas do PIBID com o uso das HQs abordaram a
temática “Guerra Fria” em duas turmas do Ensino Médio. Utilizamos as obras em HQs
“Batman o Cavaleiro das Trevas e Watchmen”.
A utilização destas Histórias em Quadrinhos tratando da Guerra Fria, ocorreu
devido a relação estabelecida com acontecimentos deste período e a forma como os
seus personagens adquiriam significados políticos, sociais e culturais referentes a este
contexto histórico. (KRAKHECKE 2007)
Quando analisada a Guerra Fria, é possível observar que a produção de
determinadas HQs, apresentava-se como uma forma de ilustrar os acontecimentos
relacionados a este período. As elaborações de roteiros críticos passam a dar sustentação
para o discurso do medo18
e desta forma, exemplificam a partir de historias do Homem
de Ferro e Capitão America19
, tramas que traziam frequentemente personagens do
exercito soviético como seus antagonistas. (KRAKHECKE 2007)
De maneira similar, as historias de Superman20
e Batman21
apresentam roteiros
que ilustram de forma crítica, o contexto político e internacional da Guerra
18
Com o perigo iminente de um conflito nuclear, entre EUA e URSS ambas as potencias mundiais se
valiam de um discurso ameaçador com a corrida armamentista, o que gerou o discurso do medo no
contexto da Guerra Fria. 19
Homem de Ferro e Capitão America, são heróis fictícios da Marvel que tiveram uma ampla
produção de Historias em Quadrinhos, que traziam em seu enredo acontecimentos referentes à Guerra
Fria. Não serão aprofundadas neste artigo, as HQs destes heróis e suas influencias referentes a este
período. 20
Personagem fictício das Historias em Quadrinhos lançadas pela DC Comics, Superman é um
alienígena com super-poderes enviado ao planeta terra ainda criança momentos antes de seu planeta
Kripton (fictício) explodir. Conforme foi crescendo, ele descobriu que tinha habilidades diferentes dos
humanos. Quando não está atuando com o tradicional uniforme azul e vemelho, ele vive como Clark
Kent, repórter do Planeta Diário(fictício). 21
Super-herói fictício e personagem de Historias em Quadrinhos lançadas pela editora DC Comics.
Vestindo-se com uma fantasia baseada em um morcego Bruce Wayne empresário bilionário e sem super-
poderes, assume a identidade secreta de Batman para combater o crime em Gothan City. (Cidade fictícia).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4746
Fria. Quando analisadas as participações desses heróis na minissérie da DC
Comics,22
produzida em quatro volumes mensais23
e lançada por Frank Miller24
, em
1986 intitulada Batman o cavaleiro das trevas. Nota-se que os dois heróis colocam-se
ao longo da trama, com posicionamentos divergentes em relação ao confronto entre
EUA e URSS.
Outra perspectiva importante de análise deste contexto encontra-se nos
quadrinhos de Watchmen, de Alan Moore,25
que se apresenta como uma historia
alternativa dos Estados Unidos. Nela os heróis são reais e em seu enredo narrativo
mostram-se bem próximos de um confronto nuclear com a União Soviética.
(KRAKHECKE 2007)
Utilizando-se destas formas de abordagens em relação aos acontecimentos da
Guerra Fria, o professor de geografia pode transmitir de maneira dinâmica as
relevâncias culturais, políticas e sociais nos diversos âmbitos decorridos neste contexto.
Neste sentido KRAKHECKE afirma que “É fundamental salientar que essas HQs não
têm intenção de moldar a mente de jovens e crianças. As histórias desses autores são
para adultos e são republicadas no mundo inteiro até hoje.” (2007, p.2)
Como aponta o autor é importante ressaltar a utilização das HQs como
ferramenta de compreensão, dos aspectos socioculturais referentes aos acontecimentos
da Guerra Fria. Deste modo a abordagem em sala de aula torna-se uma forma de ensino,
sem necessariamente infantilizá-lo e sim apresentar um novo método de análise,
podendo ser empregada no entendimento dos acontecimentos Geopolíticos,
relacionados à Guerra Fria e suas influencias na contemporaneidade.
O ensino da geografia e a sua relação com as HQs mostra-se necessário, no
sentido de aproximar de maneira mais dinâmica, o aluno da temática estudada. Assim,
se tratando dos fatos referentes à Guerra Fria, as HQs apresentam-se como fonte valiosa
de informações, de análises e de influências sociais, políticas e culturais, a partir de seus
enredos e a forma como se inseriam no contexto da Guerra Fria. (KRAKHECKE 2007)
22
É uma editora Norte-Americana de histórias em quadrinhos e mídia relacionada, sendo considerada
uma das maiores companhias ligada a este ramo no mundo. Detém a propriedade intelectual dos mais
famosos personagens de quadrinhos. 23
A minissérie de Batman o Cavaleiro das trevas divide-se em quatro edições lançadas mensalmente.
Neste artigo serão analisados os conteúdos referentes às quatro edições desta obra. 24
Roteirista e artista de Historias em Quadrinhos, com importantes obras publicadas na Marvel e DC
Comics. 25
Escritor de enredos para HQs, criador da obra “V de Vingança” escreveu e publicou pela DC
Comics historias do Batman e Superman.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4747
Considerando o período da década de 1980 e a forma como os acontecimentos
referentes à Guerra Fria se reproduziam em grande escala, através de veículos culturais
como: cinema, animação, ensaios políticos e meios acadêmicos, as HQs do Batman o
Cavaleiro das Trevas e Watchmen, adquirem grande significado utilizando um teor
altamente crítico no decorrer de suas tramas. Apresentando heróis fictícios relacionados
a este contexto histórico e seus acontecimentos.
Para um desempenho satisfatório das atividades propostas em sala de aula, se fez
necessário um aprofundamento nos enredos destas obras. Tal exercício se mostrou
pertinente, para que tanto as HQs do Batman o Cavaleiro das Trevas quanto às do
Watchmen, se apresentassem como ferramentas facilitadoras de compreensão acerca dos
acontecimentos da Guerra Fria.
Esta minissérie, criada por Frank Miller, trás em seu enredo fatos ocorridos em
um futuro próximo onde a cidade de Gothan City26
enfrenta uma grande onda de
violência, em que o Batman está aposentado há dez anos27
e após sofrer um assalto da
gangue que aterroriza a cidade volta vestir-se como homem morcego para rondá-la e
protegê-la.
Paralelamente a estes acontecimentos EUA e URSS se enfrentam em uma ilha
fictícia situada no Caribe denominada Corto Maltese28
que resulta em um ataque nuclear
sofrido pelos Norte-americanos. Um dos aspectos mais polêmicos abordados nesta obra
é a atuação do Superman neste contexto, pois ele representa os ideais dos EUA como
uma marionete controlada pelo Governo Norte-Americano29
. (KRAKHECKE 2007)
Enquanto Superman está lutando contra os Soviéticos, Batman recusa-se a lutar
em favor de um governo que considera decadente. Como suas ações de vigilância e
proteção a Gothan ocorrem em detrimento aos conflitos políticos entre EUA e URSS,
suas atitudes são vistas pelo Governo Norte-Americano como ilegais. Desta forma,
Superman é enviado a Gothan para deter o homem morcego considerado por seus atos
como subversivo (SILVA 2011).
26
Cidade fictícia inspirada em Nova York em que Bruce Wayne nasceu e transformou-se em Batman
após o assassinato dos pais quando tinha oito anos, A cidade é uma leitura violenta, decadente e noturna
das grandes cidades americanas. 27
A aposentadoria de Batman provavelmente é causada pela morte do Robin 28
A ilha Caribenha de nome fictício é uma alusão a ilha de Cuba, no contexto da crise dos mísseis
soviéticos que foram apontados da Ilha para os EUA 29
O Superman representa neste contexto o poder norte americano e de maneira critica o povo Norte-
Americano que age as cegas aos comandos de seus lideres.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4748
Um ponto de análise importante nesta conjuntura pode ser feito a partir do
confronto entre Batman e Superman, que demonstra no discurso proferido por Batman
durante a luta dizendo a Superman que tudo poderia ter sido diferente, caso o mesmo
tivesse agido de forma correta em vez de aceitar as ordens do Governo Norte-
Americano. Batman se refere ao lançamento de mísseis atômicos que resultaram na
queda de um avião no centro de Gothan, causando um caos descontrolado na cidade
(inverno nuclear)30
, como vem relatar Silva,
“O Super-Homem fica encarregado de fazer com que Bruce Wayne
aceite as imposições de seu governo referente à sua atitude com
relação ao crime. Por ventura o Super-Homem encontra um enorme
obstáculo diante deste “novo” Batman, que retornava de sua
aposentadoria. Além de todos os eventos citados ao redor da vida do
cavaleiro das trevas e do homem de aço, o mundo passa por uma
ameaça nuclear agravada por uma crise Internacional entre a União
Soviética e Corto Maltese, que é transmitida pelos noticiários da
televisão norte americana, deixando clara a semelhança entre alguns
trechos da narrativa gráfica e o retorno da Corrida Armamentista dos
EUA na Era Reagan”. (2011, p.113).
No desfecho deste enredo, Batman utiliza uma série de recursos para lutar contra
o Superman, simulando, assim, sua própria morte, com o objetivo de reorganizar junto a
um novo grupo liderado por ele estratégias em defesa de Gothan, encerrando desta
forma a historia. Isto Confere a Batman uma personalidade que irá diferenciá-lo de
outros heróis da DC Comics. (SILVA 2011)
As HQs do Watchmen retratam de maneira fictícia o mundo em relação aos
acontecimentos da guerra fria, através de uma abordagem que utiliza reflexões
complexas e críticas acerca de seus acontecimentos.
Em Watchmen, de maneira hipotética, os super-heróis realmente existem desde
meados de 1940. Tais heróis são como justiceiros encapuzados, com exceção de Dr.
Manhatan31
, no qual possui poderes quase divinos, devido a um acidente científico,
dando-lhe entre outras coisas, a capacidade de moldar a realidade conforme sua
vontade.
30
O inverno nuclear é uma das consequências esperadas de uma série de explosões nucleares. 31
O personagem é uma referencia ao projeto Manhatan iniciado no período da guerra fria com a
realização de pesquisas para a criação de armas nucleares.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4749
No decorrer do enredo, o Dr. Manhatan vai perdendo a sua humanidade até se
tornar completamente alheio a ela. Os super-heróis vão ser responsáveis pela vantagem
estratégica americana sobre a União Soviética durante a guerra fria. Graças a eles a
guerra do Vietnã é vencida, Watergate abafado, Nixon termina seu mandato e se reelege
perpetuando sua presidência até o momento da história (KRAKHECKE 2007).
O enredo desta historia se passa durante o ano de 1985, em que uma conspiração
contra os super-heróis faz com que suas atuações tornem-se ilegais. A acusação de que
Dr. Manhatan, teria causando câncer às pessoas ao longo dos anos32
, faz com que ele se
exile no planeta Marte.
De acordo com o que se apresenta no enredo das HQs, o exílio do Dr. Manhatan
faz com que os Estados Unidos percam a sua principal arma militar e a União Soviética
se expanda militarmente, iniciando a guerra no Afeganistão. Consequentemente neste
contexto, os Estados Unidos se mantêm em alerta para uma guerra iminente, não
descartando a possibilidade de iniciar o ataque.
Estes acontecimentos elaborados em um misto de ficção e realidade são
ferramentas fundamentais para que se discutam as informações que estes enredos
vinculavam com um alto teor critico aos acontecimentos referentes à guerra fria. Como
afirma Krakhecke,
“Estas HQs mostram que a continuidade da confrontação um dia
levaria a guerra direta entre Estados Unidos e União Soviética,
inicialmente nas disputas por áreas de influência e por fim dentro de
seus próprios territórios. Esta guerra acabaria utilizando o arsenal
nuclear das potências e isto causaria o apocalipse humano. A
desaprovação dos autores com a situação delicada em que a
humanidade se encontrava é clara”. (2007, p.12)
Em Watchmen, o desfecho do seu enredo ocorre quando os heróis remanescentes
descobrem que os acontecimentos ao longo da trama, faziam parte de um complexo
plano elaborado por um antigo herói e companheiro, no qual encontrou na simulação de
um ataque alienígena a solução para salvar a humanidade de um possível confronto
entre URSS e EUA. Insinua-se no texto que a hostilidade entre estas duas potências se
32
A acusação de que supostamente o DR.manhatan causado câncer nas pessoas ao longo dos anos,
baseou-se na radiação que passou a ser emitida por ele após o acidente científico.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4750
encerraria dando lugar a uma colaboração necessária contra um novo inimigo,
encerrando assim a historia.
HQS NA SALA DE AULA
Este capítulo se propõe a analisar a utilização das Histórias em Quadrinhos, em
sala de aula referente aos conteúdos de geografia, na Escola Coronel Sarmento. Das
quais foram ministradas pelos Bolsistas do PIBID aos alunos do segundo ano do Ensino
Médio, que demonstram seus relatos através de entrevistas.
As oficinas foram ministradas às turmas 2001 e 200233
do turno da manhã,
totalizando 70 alunos divididos 35 alunos em cada uma das turmas. Para tanto foram
realizadas um total de 40 entrevistas com os alunos de ambas as turmas34
, acerca de suas
percepções alusivas à utilização das HQs referente à temática da Guerra Fria.
Para a utilização das HQs em sala de aula como auxilio didático na compreensão
do conteúdo de Guerra Fria, tornou-se necessário conhecer previamente que tipo de
contato os alunos tiveram com as Historias em Quadrinhos. Para tanto foram realizadas
conversas informais com os professores de geografia da escola Coronel Sarmento, onde
os mesmos relataram nunca ter utilizado qualquer conteúdo de Historias em Quadrinhos
como apoio didático ou forma de aproximar o aluno do conteúdo abordado em sala de
aula.
Uma das alegações comuns entre os professores em não utilizarem o conteúdo
das HQs, estava no fato dos mesmos não conhecerem os enredos das Historias em
Quadrinhos, de maneira a relaciona-los com os conteúdos em geografia trabalhados em
sala de aula. Porém mostravam-se favoráveis a este tipo de abordagem e acreditavam
que as mesmas poderiam contribuir na compreensão dos alunos aos assuntos abordados
em sala de aula.
Desta forma, buscamos aproximar os alunos das Historias em Quadrinhos do
Batman o Cavaleiro das Trevas e Watchmen antes de trabalhar as oficinas em sala de
33
Foram realizadas um total de quatro aulas ministradas para as duas turmas do segundo ano
referente à temática de Guerra Fria, sendo aplicadas duas aulas para a turma 2001 e duas aulas para a
turma 2002. 34
Devido à semelhança de relatos apresentados pelos alunos da escola durante as entrevistas, optei
por não expor neste artigo as 40 entrevistas realizadas, os relatos presentes nesta atividade refletem as
opiniões e conceitos referentes ao absoluto de entrevistados.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4751
aula, relacionando o enredo destas HQs com o conteúdo de Guerra Fria. Como
possuíamos apenas um exemplar de cada uma das historias completas, o que dificultaria
que todos os alunos tivessem contato com tais Historia, optamos por exibir as paginas
escaneadas das HQs com a utilização do datashow. Esta forma de abordagem consistia
em apresentar os alunos a estas Historias em Quadrinhos e entender que perspectivas os
alunos poderiam adquirir em relação às oficinas.
As HQs não foram inteiramente lidas nesta primeira apresentação aos alunos,
foram brevemente exibidas algumas paginas e apresentados os personagens das
Historias e de maneira breve abordados os enredos, ressaltando que nas oficinas seriam
trabalhadas as relações e influencias que os mesmos possuíam com a Guerra Fria.
Pra trabalhar o conteúdo de Guerra Fria em sala de aula a oficina foi dividida em
dois momentos, em um primeiro momento foram discutidos com os alunos os eventos
anteriores à guerra fria. Abordamos a Segunda Guerra Mundial e as participações dos
Estados Unidos e União Soviética neste evento, a forma como estas duas nações
emergiram como as maiores potencias mundiais no pós-guerra ressaltando as
características principais dos sistemas capitalista e socialista e suas influencias na
culminância em um confronto político ideológico entre EUA e URSS.
As HQs do Batman o Cavaleiro das Trevas Watchmen não foram trabalhadas
diretamente neste primeiro momento da oficina, por seus conteúdos tratarem de maneira
mais pontual e direta os acontecimentos referentes à Guerra Fria. Para este momento
inicial foram utilizados charges, cartuns e textos que auxiliassem os alunos na
compreensão de eventos e motivações políticas que resultariam na Guerra Fria.
No segundo momento da oficina foi feita uma abordagem mais direta ao
conteúdo de Guerra Fria, sendo discutido com os alunos questões como Plano Marshall
e Plano Comecon, a Corrida Armamentista, OTAN e o Pacto de Varsóvia, causas e
consequências da Guerra do Vietnã, a Corrida Espacial, O fim da Guerra Fria e a
Multipolaridade.
As HQs de Batman o Cavaleiro das Trevas e Watchmen foram inseridos nesta
discussão com o intuito de esclarecer e exemplificar aos alunos de que maneira as
Animações, Filmes e Historias em Quadrinhos transmitiam os poderes bélicos,
econômicos, políticos e tecnológicos de EUA e URSS no contexto da Guerra Fria.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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As abordagens em sala de aula com os alunos, em que foram utilizadas as HQs
buscaram discutir de que maneira a Guerra Fria trouxe consigo uma serie de temores
causados pelas ações destas duas potencias, na eminência de um possível confronto
nuclear.
Na apresentação das aulas foram utilizadas imagens das historias e seus
personagens, que pudessem, de maneira eficiente, trabalhar a relação existente entre os
acontecimentos da Guerra Fria e os enredos das HQs do “Batman o Cavaleiro das
Trevas e Watchmen”. Tal metodologia buscou explorar as relevâncias culturais, sociais
e a forma como os acontecimentos deste período foram explorados e almejados no
tocante a construção e desenvolvimento destas obras em HQs.
Sobre isto, analisamos os relatos dos alunos acerca desses acontecimentos,
através de entrevistas, no qual um deles comenta,
“Os assuntos que vocês estavam falando ‘tava’ difícil, não que
‘tivesse’ chato, mas tava mais difícil. É como a gente ‘tava’ falando na
sala... ficou mais fácil, ficou mais legal, deu prá gente entender melhor
quando vocês mostraram aquelas historias. Os desenhos chamam a
atenção, fazem a gente entender melhor, deixa à aula mais dinâmica,
eu não imaginava que eles tinham a ver com o que a gente vê na
escola.” (Carolina Costa, 16 anos, turma 2001).
A aluna demonstra, através do relato, sua forma de compreensão com a
utilização das Historias em Quadrinhos na sala de aula. É possível observar em sua fala
a dificuldade existente no entendimento do assunto tratado antes da abordagem feita
com uso das HQs. Sobre isto, percebemos que novas linguagens e métodos no ensino da
Geografia aparecem como elementos norteadores nesta discussão. Nas palavras de
Santos,
“O ensino aprendizagem de Geografia na escola deve, então,
contemplar seus conceitos chave e as representações que os alunos
trazem deles e constroem cotidianamente no mundo contemporâneo
utilizando os mesmos meios que eles, de modo a proporcionar-lhes a
possibilidade de refletir para, assim, poderem intervir na realidade que
os cerca.” (2010, p.45)
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Neste sentido, o que o autor afirma, mostra-se pertinente a análise dos alunos
acerca da utilização de auxílios didáticos capazes de dinamizar e aproximar as temáticas
ministradas a suas realidades. Tal percepção pode ser observada no relato a seguir.
“Deu ‘pra’ entender bastante sobre os quadrinhos e a relação com a
Guerra Fria, as criticas que a gente pode perceber que estavam
presentes nas historias. Porque antes eu via essas historias só como
coisas de criança, mas depois que vocês mostraram as histórias do
Batman e Superman, vi que naquela época isso tinha outro significado
que não eram só simples historias. Achei interessante o que vocês
falaram das historias do Watchmen e de como era essa historia e o que
tem a ver coma Guerra Fria, eu já tinha visto o filme, mas com essa
aula percebi melhor o que eles queriam falar nessa historia, acharia
interessante se os professores buscassem mais historias como essas
pra relacionar com o que eles falam na aula, acho que os alunos
entenderiam melhor.” (Felipe dos Santos, 16 Anos, Turma 2001).
O relato do aluno debruça-se, sobre aspectos referentes às formas de abordagens
utilizadas pelos professores da Escola, durante suas aulas e se os mesmos utilizam as
HQs como recursos didáticos. Questiona-se como os alunos observam a utilização deste
recurso, tendo em vista a relevância que o mesmo pode ter para a compreensão das
temáticas abordadas em sala de aula e discute as formas de percepções que existiam e
foram geradas a partir das aulas ministradas pelos bolsistas do Projeto.
As observações analíticas feitas pelos alunos mostram-se pertinentes quanto à
utilização das Histórias em Quadrinhos e a sua forma própria de linguagem, sendo esta
capaz de causar maneiras diferenciadas de compreensão nas leituras referentes ao
estudo da Geografia. Esta forma de análise encontra-se, no que afirma Costa em sua
obra intitulada “As Historias em Quadrinhos Como Construção da Leitura
Geográfica”.
REFERÊNCIAS
Batman – O Cavaleiro das Trevas e Watchmen. Porto Alegre: historias e imagens
narrativas, 2007.
CALAZANS, Flávio. História em quadrinhos na escola. São Paulo: Paulus, 2004.
EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Sequencial. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
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KRAKHECKE, Carlos. A Guerra Fria da década de 1980 nas Histórias em
Quadrinhos
MCCLOUD, Scott. Understanding comics. Northampton: Kitchen Sink, 1993.
MILLER, Frank. Batman – O Cavaleiro das Trevas. São Paulo: Editora Abril S.A.,
1988.
RAMA , Angela e VERGUEIRO, Waldomiro. Como Usar HQ’s em Sala de Aula.
São Paulo: Editora Contexto, 2004.
RIBAS, Sílvio. Dicionário do Morcego. São Paulo: Flama Editora, 2005.
Watchmen Vol. 3. São Paulo: Via Lettera Editora e Livraria LTDA, 2006.
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A UTILIZACAO DE JOGOS CARTOGRÁFICOS NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM NO ENSINO MÉDIO NA ESCOLA
ESTADUAL ANGELO RAMAZOTTI
Mayara Pinho Carvalho1
Lucijane dos Santos Inhuma2
RESUMO
O estudo da Cartografia é primordial no ensino- aprendizagem em Geografia, pois é
através desta que o aluno tem as primeiras noções de orientação e localização no espaço
vivido. Em linhas gerais este trabalho consiste em enfatizar a importância da utilização
de jogos cartográficos no processo de ensino-aprendizagem no Ensino Médio. Este
trabalho foi desenvolvido por meio de experiências desenvolvidas pelos alunos do
PIBID/UEA de Geografia na Escola Estadual Ângelo Ramazotti. Compreende-se que a
prática de atividades lúdicas como metodologia de ensino contribui para entendimento
do espaço geográficos em que os mesmo estão inseridos.
Palavras-chave: Ensino de Geografia, Atividade lúdica, Jogos Cartográficos
INTRODUÇÃO
A cartografia sempre esteve cerne dos conhecimentos geográficos, pois, desde
seu nascimento, tem contribuído para o processo de descobertas e conquista do espaço
pelo homem, nesse contexto a cartografia integra o corpo de conhecimentos
geográficos.
No âmbito educacional, o ensino cartográfico esta associados a fases,
respeitando os graus de complexidade da cartografia. Daí surge à necessidade da
cartografia esta inserida desde as series iniciais, a alfabetização cartográfica.
A realização da atividade foi desenvolvida a partir de levantamento bibliográfico
que contemplou o tema da atividade e contribuiu no enriquecimento de alternativas de
1 Graduanda do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual do Amazonas, Unidade
Escola Normal Superior, e bolsista do Programa Institucional de Bolsa a Iniciação a Docência- PIBID 2 Graduanda do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual do Amazonas,
Unidade Escola Normal Superior, e bolsista do Programa Institucional de Bolsa a Iniciação a Docência-
PIBID
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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ensino. Utilizando de jogos cartográficos no processo de ensino-aprendizagem no
ensino médio.
Este trabalho ressalta a importância da utilização de jogos cartográficos no
processo de ensino-aprendizagem no ensino médio. As atividades lúdicas o processo de
ensino-aprendizagem da cartografia em sala de aula, é essencial em todos os níveis
educacionais, mas desenvolver tais atividades com alunos do ensino médio também
tornam as aulas satisfatórias, sendo os conceitos cartográficos nessa fase de ensino mais
complexos.
As utilizações de tais recursos facilitam a absorção dos conteúdos pelos alunos,
tornando o ensino de cartografia dinâmica e efetiva.
A UTILIZACAO DE JOGOS CARTOGRAFICOS NO PROCESSO DE ENSINO-
APRENDIZAGEM NO ENSINO MEDIO
O ensino cartográfico passou por varias mudanças no âmbito educacional,
segundo, FRANCISCHETT (2004) “A partir do século XVII, a cartografia tomou novo
rumo, aparentemente separada da geografia”. Por um período a cartografia se separou
do ensino geográfico, apesar de se tornarem ciências dispersas ambas estão interligadas,
“a cartografia é a representação e o geógrafo, para representar, precisa conhecer,
descrever e viver o espaço”. FRANCISCHETT (2004). Na Geografia o ensino
cartográfico se faz presente, e é de grande importância o repasse dos seus conteúdos de
forma clara e compreensiva para melhor entendimento do aluno diante o espaço em que
esta inserido.
O estudo das representações cartograficas contribui não apenas para
que os alunos compreendam os mapas, mas também desenvolvam
capacidades relativas à representação do espaço. Os alunos precisam
ser preparados para que construam conhecimentos fundamentais sobre
essa linguagem, como pessoas que representam, codificam o espaço e
como leitores, as informações expressas. (FRANCISCHETT, 2004,
p.04)
Embora a cartografia seja uma ciência importante de conteúdos complexos, onde
os mesmos devem ser bem estudados e repassados de forma condizente na sua
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4757
totalidade. Ao longo do processo de ensino, deixou de ser tomada de forma correta e
continua.
Mesmo com essa importância, a realidade nos mostra que a
cartografia, ainda hoje, esta muito distante da escola, devido
principalmente ao desconhecimento do potencial de uso dos seus
recursos no auxilio a leitura, à escrita e à visualização de dados e
informações sócio-espaciais relacionados aos diferentes espaços
estudados. (CARVALHO; ARAUJO, 2008)
Segundo CARVALHO e ARAUJO (2008), “quando falamos de Cartografia no
ensino da Geografia, devemos ressaltar que é nessa disciplina escolar onde esta inserida
praticamente todo o conteúdo da cartografia que deve esta acessível aos alunos dos
niveis de Ensino Fundamental e Médio”.
A geografia por ser uma ciência que abrange os assuntos cartográficos a muito
deixa a desejar aos conteúdos estudados e repassados em sala de aula, resalta:
Não basta oferecer aos atuais educadores os conteúdos básicos
estabelecidos para o ensino fundamental e médio. [...] A metodologia
de ensino continua sendo o grande e relevante problema enfrentado
com quem estuda e trabalha nesse nível de ensino e no tocante ao
ensino de cartografia o impasse é ainda maior. (FRANCISCHETT.
2004, p)
A cartografia não estudada de forma correta, não é repassada de forma adequada
causando um ensino cartográfico deficiente. O individuo deve ter o ensinamento dos
conteúdos cartográficos desde as series inicias, onde a criança esta aprendendo as
primeiras noções básicas de espaco vivido. CASTROGIOVANNI; COSTELLA, (2006)
ressalta:
Quando falamos em alfabetizar nos referimos à interpretação de
símbolos, que posteriormente permitirão a relação e aplicabilidade em
outras dimensões. Assim, podemos transferir o processo de
alfabetização os símbolos cartográficos e etapas temporais, que
oportunizam ao aluno a aplicabilidade posterior em leituras de mapas
e contextos espaços-temporais. (CASTROGIOVANNI; COSTELLA,
2006, P. 29-30)
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4758
Esse processo de ensino de cartografia como dito tem que se fazer desde as
series iniciais, com os conteúdos básicos de cartografia a alfabetização cartograficas. O
que se observa é que pela falta de domínios dos assuntos cartográficos pelos professores
de geografia, acabam por pulando os conteúdos de cartografia do livro didático ou
repassando-os de forma superficiais.
Ao longo da aprendizagem dos alunos, os conteúdos cartográficos vão ficando
mais complexos. Havendo a necessidade de volta e ensina desde o inicio conteúdos em
que o aluno deveria ter visto na alfabetização. Chegando ao ensino fundamental sem
conhecimento nenhum sobre cartografia dificultando o processo de ensino-
aprendizagem.
Ressaltando o descaso em que esses alunos trocam de series sem tem os
conhecimentos necessários de Cartografia. Consequentemente os mesmos chegam ao
ensino médio onde os conteúdos são mais complexos, pelo fato de que não foram
alfabetizados cartograficamente, há dificuldade de ensino se faz mais difícil.
A APLICAÇÃO DE JOGOS LÚDICOS DE CARTOGRAFIA PARA OS
ALUNOS DO ANO DO ENSINO MÉDIO
Os procedimentos metodológicos para a realização da atividade foram
desenvolvidos a partir de levantamento bibliográfico que contemplou o tema da
atividade e contribuiu no enriquecimento de alternativas de ensino. Quanto à
metodologia fez a opção pelo método dedutivo, partindo de uma compreensão do geral
para o particular, buscando identificar as dificuldades de ensina cartografia. O trabalho
realizou-se na Escola Estadual Ângelo Ramazotti localizada Zona Centro Sul do
município de Manaus onde foram desenvolvidas as atividades previamente planejadas
buscando integrar educando e educadores através das dinâmicas pedagógicas e proposta
de como utilizar novos recursos didáticos nas aulas de Geografia de conteúdos
cartográficos.
O ensino de Geografia tem que se fazer de forma dinâmica e atraente aos seus
conteúdos. Havendo um entrosamento entre aluno e professor o que facilita o processo
de ensino, como salienta STRAFORINI (2002), “o aluno deve estar inserido dentro
daquilo que esta estudando, proporcionando a compreensão de que ele é um participante
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4759
ativo na produção do espaço geográfico”. Os conteúdos cartográficos não são
diferentes esse entrosamento.
Há varias formas de se aplicar os conteúdos em que os alunos absorvam de
forma diferente, experimentar o concreto, desenhar, caminhar e observar, é uma prática
necessária para auxiliar na construção de conhecimentos cartográficos. O entrosamento
aluno-professor e aluno-aluno através dos jogos lúdicos é facilitador. E torna as aulas de
Geografia dinâmica e bem sucedida. Como defendem Cabral; Salvi (2005, apud
SANTANA). ”O ser que brinca e joga é também um ser que age, pensa, aprende e se
desenvolve intelectual e socialmente”. Não fugindo do objetivo principal, o repasse dos
conteúdos didáticos em que o aluno absorva de forma efetiva.
O uso de novas metodologias é fundamental em qualquer nível de ensino, desde
o Ensino Fundamental ao Ensino Médio. Isso remete ao aluno um conhecimento prático
e vivencial da sua realidade. E no ensino cartográfico a utilização de recursos
metodológicos que estimulem esses alunos a entender e abstraírem tais conceitos
durantes essas aulas diferenciadas é de suma importância, pois os objetivos desses
conceitos é mostrar aos alunos a importância de saber conhecer e identificar o espaço
em que esta inserido.
Trabalhar com os alunos a construção de matérias que podem auxilia-los a se
orientar no espaço, (exemplo: a construção da Rosa dos Ventos) é uma metodologia da
prática de ensino que envolve toda uma dinâmica e participação entre aluno e professor.
Este tipo de atividade serve como sugestão para aplicação de novos recursos
didáticos de ensina cartografia nas aulas de Geografia. E trabalhando esses assuntos de
forma lúdica e dinâmica se faz necessário e importante.
PLANO DE AÇÃO PARA ELABORAÇÃO DA ATIVIDADE LÚDICA
Tema: Orientação e localização
Objetivo: Identificar à importância da orientação e localização, tornando os
alunos conhecedores das diferentes formas de se localizar no espaço, aplicando as
noções espaciais relativas esta temática, por meio da lateralidade (esquerda/direita,
frente/trás, em cima/em baixo) e a rosa dos ventos, instrumento de localização,
composta por pontos Cardeais (norte, sul leste e oeste), Colaterais (nordeste, sudeste,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4760
sudoeste e noroeste), e Subcolaterais (nor-nordeste, leste-nordeste, leste-sudeste, sul-
sudeste, sul-sudoeste, oeste-sudoeste, oeste-noroeste e nor-noroeste).
Motivação: Mostrar aos alunos, a importância de se localizar dentro do
perímetro nos arredores da escola, no seu bairro e na sua cidade.
Conteúdo: Localização e orientação: Rosa dos Ventos, Pontos Cardeais,
Colaterais e Subcolaterais, lateralidade (esquerda/direita, em cima/em baixo,
frente/trás), legenda e representação espacial, jogos e dinâmicas.
Material: Livro didático: SAMPAIO, Fernado dos Santos. Para Viver Juntos:
Geografia 6 ano: ensino fundamental/ Fernando dos Santos Sampaio. – 1. Ed. Ver.-São
Paulo: edições SM, 2009. – (Para Viver Juntos) CORREA, S.M.M. Cartobrincando:
estudo das noções básicas sobre cartografia através de jogos. Revista do professor,
Porto Alegre, 155 (57): 25-30, jan/mar. 1999. Papel cartão, cartelas de ovos, resma de
papel A4, EVA, pincel, lápis, lápis de cor, cola, cartolina, borracha, tesoura, régua,
caneta, blocos de anotações, pastas, crachás, barbante.
Estratégia: Inicialmente haverá um momento de aula expositiva de
aproximadamente 10 minutos, sobre algumas noções de cartografia. Posteriormente
explicara as atividades práticas realizadas baseadas na rosa dos ventos que será
confeccionada pelos alunos em papel cartão.
A formação dos grupos se dará por critério de afinidade, a turma será dividida
em 9 grupos, contendo 5 alunos em cada grupo.
1° momento: cada grupo terá que elaborar uma rosa dos ventos, a partir da
temática sugerida (orientação e localização), após o momento de confecção desta, os
mesmo participarão de uma dinâmica denominada “caça ao tesouro”, onde a mesma
será orientada através da rosa dos ventos elaborada pelos alunos em conjunto com os
professores, para a fixação dos pontos de localização no espaço que abrange o espaço
escolar, compreendendo a quadra poliesportiva, os banheiros e as salas de aula.
As equipes iniciarão a brincadeira partindo do portão principal da quadra
esportiva, em seguida os alunos irão ter que encontrar pistas através das coordenadas
que estarão espalhadas em locais estratégicos da escola, ao encontrar as pistas, essas
encontrarão a próxima e assim sucessivamente, ate a almejado tesouro.
2° momento: será realizado um jogo, de tabuleiro que é construido com cartelas
de ovos e cartas que indicam seu deslocamento. Esse tabuleiro é constituído por “casas”
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4761
com seus respectivos números. Os professores prepararam as cartas com indicações de
deslocamentos. Para jogar, cada grupo recebe um tabuleiro e um conjunto de cartas em
numero suficiente para que cada participante receba, no mínimo, uma carta. Distribuem
as cartas entre os participantes do jogo. Um de cada vez lê as indicações de como se
deslocar no tabuleiro, joga constata aonde chegou e confere se acertou.
3° momento: os alunos irão elaborar um croqui em folha de papel A4, a partir da
observação do entorno do quarteirão da escola, contendo legenda para facilitar a
compreensão de a leitura onde o professor ira guia-los e orienta-los para realização do
mesmo.
Avaliação: No decorrer das atividades práticas será avaliada a criatividade,
organização das equipes, a participação de cada aluno, e serão atribuídas notas (de 0 a
10).
PASSO A PASSO DA ATIVIDADE
A CONSTRUÇÃO DA ROSA DOS VENTOS
PASSO A PASSO
Primeiro momento: serão retratados os conceitos básicos de cartografia,
orientação e rosa dos ventos;
Segundo momento: serão formado equipes composta por 4 ou 5 alunos. O tempo
estabelecido para a realização da atividade será de 30 minutos;
Terceiro momento: entrega do material utilizado, cola, régua, lápis, papel cartão
de diferentes cores; molde das formas da rosa dos ventos em que o molde maior com 8
cm (pontos cardeais de cor vermelha), o molde intermediário (pontos colaterais de cor
mas amarela) 6cm e o molde menor (pontos subcolaterais na cor alaranjada) de 4cm;
Quarto momento: montagem da rosa dos ventos a partir dos modelos descritos
no momento anterior; os alunos terão que recortar quatro pontos cardeais, quatro
colaterais e oito subcolaterais conforme o modelo da rosa dos ventos que será entregue a
cada equipe.
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CARTELA DE OVO - PASSO A PASSO
Primeiro momento: será explicado as regras para realização do jogo;
Segundo momento: serão formados equipes compostas por 4 ou 5 alunos. Será
entregue uma carta descrevendo a trajetória que se realizará na cartela de ovo pelos
números de casas (de 1 a 30) para o deslocamento (ex: 2 casas) e para qual lado (Ex:
esquerda, direita);
Terceiro momento: após a realização do percurso por meio da carta entregue, o
jogador vai descrever sua trajetória até a posição que ele chegou, para confrontar com a
resposta da carta.
CAÇA AO TESOURO - PASSO A PASSO
Primeiro momento: será utilizado com a rosa dos ventos construída para a
realização da atividade;
Segundo momento: a equipe que finalizou o jogo da cartela de ovo de forma
certa prosseguirá nessa atividade;
Terceiro momento: será entregue para equipe uma carta descrevendo o local
determinado a partir dos pontos cardeais e colaterais da rosa dos ventos e a quantidade
de passos que será dada para chegar ao próximo objetivo;
Quarto momento: após a chegada do próximo objetivo, haverá uma outra
instrução numa carta, orientado a equipe no deslocamento para se chegar ao próximo
objetivo;
Quinto momento: o último objetivo será realizado com uma pergunta em que a
equipe vai formar por meio de letras espalhadas no local, o nome de um geógrafo
renomado brasileiro, na forma certa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso de novas metodologia de ensino nas aulas de geografia são essenciais para
se ter um bom desempenho educacional. A utilização desses recursos tornam as aulas
mais dinâmicas e participativas entre aluno-professor e aluno-aluno.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Através de atividades lúdicas com temas cartográficos aplicados aos alunos do
ensino médio, os conteúdos podem ser repassados de forma em que todos participem e
compreendam a importância de se perceber que a cartografia esta em todos os
momentos do seu cotidiano e a compreensão do sujeito aluno inserido no espaço.
Por meio da utilização de jogos cartográficos contata-se essa nova temática de
ensino, foge da forma tradicional de ministrar Geografia. Tornando-a as aulas dinâmicas
onde o aluno passa participar e interagir com os colegas e professores. Tonando-a esse
tipo de prática pedagógica necessária e essencial no processo de ensino- aprendizagem.
Portanto, a utilização de novos recursos didáticos nas aulas de conceitos
cartográficos torna o processo de ensino-aprendizagem satisfatório. Como sugestão de
dinamizar as aulas de Geografia, através do plano de ação e passo a passo, pode se
desenvolver uma atividade lúdica dentro de sala de aula.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASTROGIOVANNI, A.C.; COSTELLA, R Z. Brincar e cartografar com os
diferentes um dos geográficos: a alfabetização espacial. Porto Alegre: EDIPUCRS,
2006.
CORRÊA, S.M.M. Cartobrincando: estudo das noções básicas sobre cartografia através
de jogos.
CARVALHO, E.A; ARAUJO, P. C. Cartografia aplicada ao ensino da Geografia.
Programa universidade a distancia – UNIDIS. 2008
FRANCISCHETT, M. N. . A cartografia no ensino aprendizagem da geografia.
BOCC. Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação, 2004.
REVISTA DO PROFESSOR, Porto Alegre, 155 (57): 25-30, jan/ mar. 1999.
SAMPAIO, Fernando dos santos. Para Viver Juntos: Geografia, 6 ano: ensino
fundamental/ Fernado dos Santos Sampaio. – 1. Ver. – São Paulo: Edicoes SM, 2009. –
( Para Viver juntos).
SANTANA, Eliana Morais de. A influencia de atividades lúdicas na aprendizagem de
conceitos químicos. São Paulo: USP.
STRAFORINI, Rafael. A totalidade Mundo das Primeiras Series do Ensino
Fundamental: Um desafio a ser enfrentado. In: Mudanças Globais. São Paulo: AGB, vol
1 n° 18.2002.pp 95-114.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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INTERAÇÃO DE ATIVIDADES CARTOGRÁFICAS E TRABALHO DE
CAMPO: UM EXEMPLO NO ENSINO DE GEOGRAFIA PARA SÉRIES
INICIAIS
Fernanda Lamanes Gomes
1
Prof. Dr. Antonio Marcos Machado de Oliveira2
Leandra de Lourdes Rezende3
RESUMO
Partindo da perspectiva que a cartografia é a ciência que fundamenta a criação, leitura e
interpretação de mapas, essa terá um importante papel na construção do sentido de
localização e orientação, abordado no trabalho de campo. Esse trabalho tem por objetivo
apresentar um exemplo prático da interação do trabalho de campo e de atividades
cartográficas como recurso pedagógico para o ensino de Geografia nas séries iniciais,
mais especificamente no 4º ano do ensino fundamental, enfatizando os procedimentos
metodológicos e as possibilidades de registro e exploração dos dados obtidos através
das diferentes linguagens. O trabalho de campo foi proposto como uma das atividades a
serem desenvolvidas durante o desenvolvimento do projeto, como forma de aprofundar
os conhecimentos acerca dos temas: “zonas rural e urbana de Uberlândia” e; o
município e seus distritos”, pois, essa atividade, contribui para uma maior compreensão
do espaço local, uma vez que permite uma abordagem integrada dos diferentes aspectos
geográficos.
Palavras chave: Ensino nas series iniciais. Trabalho de campo. Cartografia.
INTRODUÇÃO
Esse trabalho tem por objetivo apresentar um exemplo prático da interação do
trabalho de campo e de atividades cartográficas como recurso pedagógico para o ensino
de Geografia nas séries iniciais, mais especificamente no 4º ano do ensino fundamental,
enfatizando os procedimentos metodológicos e as possibilidades de registro e
exploração dos dados obtidos através das diferentes linguagens.
1 Instituto de Geografia – Universidade Federal de Uberlândia; [email protected]
2 Instituto de Geografia – Universidade Federal de Uberlândia; [email protected]
3 Instituto de Geografia – Universidade Federal de Uberlândia; [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4765
O trabalho trata de uma atividade realizada como parte do projeto “Elaboração e
aplicação de atividades cartográficas para o ensino de Geografia nas séries iniciais”,
referente ao Programa de Bolsas de Graduação – PBG da Universidade Federal de
Uberlândia – UFU, desenvolvido numa escola municipal de Uberlândia, MG, com duas
turmas do quarto ano das séries iniciais.
Este projeto tem como objetivo elaborar e aplicar atividades didáticas para o
ensino de Cartografia nas séries iniciais do ensino fundamental com a finalidade de
atender à demanda por recursos didáticos apresentada pelos professores que atuam na
área da educação municipal. Além, de propiciar a esses professores o domínio dos
conhecimentos básicos acerca das atividades de ensino envolvendo as linguagens
gráfica e cartográfica como conteúdos do ensino nas atuais orientações curriculares,
estabelecendo seus fundamentos teórico-práticos nos conhecimentos geográficos,
cartográficos e pedagógicos.
Diante disso, o trabalho de campo foi proposto como uma das atividades a serem
desenvolvidas durante o desenvolvimento do projeto, como forma de aprofundar os
conhecimentos acerca dos temas: “zonas rural e urbana de Uberlândia” e; o município e
seus distritos”, pois, essa atividade, contribui para uma maior compreensão do espaço
local, uma vez que permite uma abordagem integrada dos diferentes aspectos
geográficos.
O trabalho de campo foi planejado e preparado em conjunto com a professora
regente levando em consideração as diretrizes curriculares bem como o planejamento
anual/bimestral de Geografia elaborado para o 4º ano. O trajeto contemplou áreas da
zona urbana e rural da cidade de Uberlândia, bem como as vilas de Cruzeiro dos
Peixotos e Martinésia.
A partir da escolha do local deu-se início às atividades pré-campo que consistia
em visita prévia para o reconhecimento da área, elaboração do trajeto do percurso com
os respectivos pontos de parada e, ainda, a escolha e a produção do material utilizado
durante a atividade.
A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DE CAMPO NA GEOGRAFIA
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Segundo Gomes (1996) o trabalho de campo é capaz de nos fazer reviver ou
refazer os passos dos geógrafos de séculos atrás, buscando desenvolver novas opiniões e
questionando antigas. Além, de facilitar a visualização e assimilação de conceitos
expostos de maneira didática. Mas, vale destacar que o trabalho de campo por si só, não
se faz suficiente ao ensino, para que o conhecimento seja fortalecido com as
experiências de campo é necessário um embasamento teórico que associado ao empírico
leve o aluno a exploração do espaço geográfico.
Desde os primórdios da Geografia os trabalhos de campo são parte fundamental do
método de trabalho dos geógrafos. Aliás, a sistematização da Geografia enquanto
ciência muito deve ao conjunto de pesquisas e relatórios de campo elaborados
anteriormente por viajantes, naturalistas e outros, verdadeiro manancial de informações
que foram essenciais para a construção das bases para o desenvolvimento da Geografia.
(ALENTEJANO, 2006, p.53)
Para Humboldt, por exemplo, o trabalho de campo é capaz de envolver, provocar
afetos, compreender a natureza por meio do belo, valorizando a observação direta com
uma descrição detalhada e comparações. Ele fazia com que cada observação fosse
analisada separadamente e em seguida as recolocava em conexão com as outras, a fim
de resgatar uma verdadeira cadeia explicativa. Sempre fazendo uma reflexão sobre o
homem e a natureza (GOMES, 1996).
O trabalho de campo é um instrumento que auxilia no ensino/aprendizagem de
geografia, pois com ele, o aluno terá maior oportunidade de assimilar o que é estudado
na teoria associando ao empirismo. De acordo com tal ideia compartilhamos do
pensamento de Lacoste (1985, Apud ALENTEJANO, 2006, p.57-58):
O trabalho de campo para não ser somente um empirismo, deve articular-se à formação
teórica que é, ela também, indispensável. Saber pensar no espalho não é colocar
somente os problemas no quadro local; é também articulá-la eficazmente aos fenômenos
que se desenvolvem sobre extensões muito amplas.
Dessa forma, percebe-se que essa atividade de ensino, tem a capacidade de
despertar a atenção dos alunos, ajuda na assimilação e compreensão de conteúdos que
foram trabalhados na teoria, fatores relevante para obter bons resultados didáticos, além
disso, contribui para o estreitamento da relação professor/aluno e também aluno/aluno,
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atributos estes que ajudarão na interação necessária no cotidiano escolar e também na
construção social e intelectual do indivíduo.
O professor interessado em trabalhar com atividades de campo utilizando de
mapas como instrumento de ensino deve dominar as linguagens cartográficas, pois
conforme Doin (2008 p.78),
Ao pensar no mapa como transmissor de informações, deve-se ter em mente os
princípios da comunicação em cartografia. Se os mapas são veículos no processo de
comunicação, mediante símbolos cartográficos, é preciso apresentar a informação
adequadamente e, para tanto, conhecer as regras da comunicação e assim expressar
como dizer o quê, como?e para quem?.
Para que um trabalho de campo obtenha sucesso é necessário um planejamento
preliminar que denominaremos de pré-campo. Alentejano e Rocha Leão (2006, p.63)
afirmam que o mesmo, deve ser preparado previamente, inclusive estimulando os
alunos a problematizar, perguntar e refletir sobre aquilo que observarão. E pode-se
acrescentar que é essencial o envolvimento dos alunos antes, durante e após a atividade
de campo, pois isso garante que o objetivo seja alcançado.
O planejamento adequado dessa atividade garante que ao longo do seu
desenvolvimento possam ser levantadas as questões essenciais para um entendimento
além das paisagens visíveis. O bom aproveitamento do trabalho de campo também
perpassa pela atitude do professor, que segundo Tomita (1999, p.14) deve motivar e
despertar o interesse dos alunos, “[...] discutindo e fazendo perguntas que agucem a
curiosidade, de tal forma que eles sintam a importância e a necessidade dessa atividade
como complementação da aula teórica [...]”.
Também é necessário um estudo prévio do local onde será realizado o trabalho
de campo. O professor e os guias que conduzirá a caminhada devem ir até o lugar,
mesmo se já o conhecem bem, com o intuito de observar se houve ou não alguma
mudança recente na área, para que não haja imprevistos durante a atividade. Se no
momento da investigação for detectada alguma modificação, que pode ser: desvio de
uma rua, quebra de uma ponte, cercamento de uma determinada área impossibilitando a
passagem dos alunos e professores, entre muitos outros, o roteiro inicial deve ser
ajustado à nova realidade para que o trabalho de campo cumpra com o seu papel inicial,
que é apoiar o ensino/aprendizagem.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4768
Serpa (2006, p.9), comenta que o trabalho de campo tem que ser bem
programado e coerente com a teoria já dada e planejada, pois, quando essa atividade é
aplicada para o ensino de Geografia, deve-se definir os espaços de conceituação
adequados aos fenômenos que se deseja estudar, assim como, torna-se necessário
recortá-los adequadamente para que sejam revelados e tornados visíveis os fenômenos
que se deseja pesquisar e analisar na realidade.
De acordo com Tomita (1999, p.13) o ensino de Geografia encorpado de um
bom cabedal teórico, deve partir do conhecido para o desconhecido, do concreto para o
abstrato, do próximo para o mais distante, tomando assim, como ponto de partida o
estudo da realidade próxima ao aluno. Ainda segundo essa autora, o espaço organizado
pela sociedade focado na relação homem-natureza pode ser mais bem entendido quando
há uma participação ativa dos alunos na percepção da realidade que o envolve.
E, de acordo com Callai (1998, p.80), “[...] conhecer a realidade vai além de
identificar o que existe, supõe discutir as formas como se expressam, como se apresenta
a realidade, entender não apenas o produto, mas, basicamente, os processos que os
desencadeiam[...]”
Portanto, pode-se inferir que um procedimento de fundamental importância para
o entendimento do espaço local é a realização do trabalho de campo que traz à luz novos
fragmentos da realidade, que está fragmentada, e o seu conhecimento se constrói a partir
da reconstrução desses fragmentos, os quais se encontram visualmente materializados,
e, ao mesmo tempo, intrínsecos nos elementos e fenômenos da natureza.
O trabalho de campo possibilita uma maior aproximação com a realidade, pois o
contato com os fenômenos apresentados no espaço conduz a uma reflexão em busca da
essência, pois a mesma permite avistar características físicas e metafísicas obscuras
visualmente e intelectualmente numa representação congelada da paisagem, seja ela
materializada por mapas, fotos ou imagens aéreas e orbitais. Assim, não só a estrutura
física dessas formas representacionais pode ser melhorada, uma vez que novos
elementos poderão ser incorporados a elas, mas, sobretudo, seu valor de compreensão
da realidade, pois as reflexões darão a elas vivacidade e dinamismo, alterando seu
caráter meramente pictórico.
Outro aspecto importante do trabalho de campo levantado por Tomita (1999,
p.13) e Alentejano e Rocha Leão (2006, p.63) é a sua função de integrar os fenômenos
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sociais e naturais que de fato são indissociáveis na realidade observada. Portanto, uma
atividade como essa, com enfoque geográfico, não pode deixar de considerar esse
aspecto, afinal, o espaço estudado inclui o palco-meio físico e o ator-homem.
No trabalho de campo apresentado a seguir procurou-se considerar todos esses
aspectos levantados acima, objetivando demonstrar sua eficiência como atividade
pedagógica para o ensino de geografia nas séries iniciais.
TRABALHO DE CAMPO: UBERLÂNDIA - CRUZEIRO DOS PEIXOTOS –
MARTINÉSIA
O trabalho de campo foi elaborado para os alunos visualizarem na prática as
atividades que foram desenvolvidas em sala de aula. O trajeto contemplou áreas da zona
urbana e rural da cidade de Uberlândia, bem como as vilas de Cruzeiro dos Peixotos e
Martinésia.
Na fase pré-campo definiu-se os materiais e produziram-se os mapas que seriam
utilizados durante a atividade. A partir da definição do local elaborou-se um trajeto do
percurso (figura 1) tendo como referência um mapa base disponibilizado pelo site
GoogleEarth, o qual, foi utilizado pelo professor e pelos alunos para registrar os pontos
estratégicos de observações e de parada e para orientá-los durante o percurso.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Figura 1. Trajeto do Trabalho de Campo Uberlândia a Cruzeiro dos Peixotos e Martinésia. Fonte:
GoogleEarth, 2012.
Durante o percurso os alunos foram orientados a preencherem no mapa os
trechos correspondentes às ruas, avenidas e rodovia por onde passaram. MG.
Na área urbana de Uberlândia, mesmo estando dentro do ônibus foi possível
relacionar as aulas teóricas aplicadas em sala, com a paisagem que se passava pela
janela. Na área urbana os alunos relacionaram a diferença do bairro onde moram e
estudam com a área central da cidade. O movimento central com um fluxo grande de
veículos e pessoas, bem como a quantidade de comércios foi o que chamou a atenção.
De acordo com as aulas e histórias ouvidas pelos alunos, eles associaram alguns prédios
há suas funções atuais e passadas, como, por exemplo, o museu municipal que outrora
funcionava como prefeitura municipal.
Num bairro da periferia, em que as casas são na verdade barracos, os alunos
tiveram a percepção das desigualdades sociais presente, já que muitos ainda não
conheciam esta realidade. De acordo com Tomita( 1999 ), “é no trato direto do trabalho
de campo que o aluno fará o aprendizado e passará a entender as contradições e o
processo de apropriação da natureza, entendendo o porquê da dinâmica que ocorre no
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4771
espaço.” Assim, eles tiveram a oportunidade de colocar em prática as aulas teóricas e
aprender não somente geografia, mas, também história e noções de cidadania.
Em seguida a paisagem se transforma novamente, agora com a presença de um
aglomerado de indústrias, o Distrito Industrial da cidade.
A área urbana foi deixada para trás e a zona rural se inicia, paisagem
diferenciada que nos proporciona a visão do cerrado mineiro, uma breve parada é feita e
neste momento as crianças descem do ônibus para contemplar.
Na chegada à Cruzeiro dos Peixotos, os alunos compreenderam porque uma vila
também é zona urbana, possuidora de pequenos comércios, ruas, praças, igrejas, casas
habitadas, mas em uma proporção menor que a existente na cidade de Uberlândia.
O ponto de chegada foi a Praça Tancredo Neves, neste local todos foram
instruídos a sempre posicionar de forma correta o mapa da vila, na posição horizontal,
pois somente assim conseguiriam se localizar. Foi criado um percurso até a Praça Santo
Antonio, descendo pela Rua do Lavrador, virando a esquerda pela Av. Sol Nascente, à
direita na Rua da Educação e assim chegando ao destino final do trajeto.
Durante esta caminhada uma aluna avistou um ônibus da Prefeitura Municipal
de Uberlândia. “Por quê?” De acordo com as atividades de sala, Cruzeiro dos Peixotos é
distrito de Uberlândia, portanto, a administração da vila é de responsabilidade da
prefeitura de Uberlândia.
Ao retornar para o ônibus novos comentários surgiram, falavam da tranqüilidade
da vila em relação à correria da cidade e que até o cheiro do ar é diferente. Ao passar
perto de um curral com muitos animais tiveram a oportunidade de ver imagens que,
provavelmente, não viriam onde moram. E ainda avistaram um arado, - que estava numa
calçada - instrumento utilizado para preparar a terra para o cultivo e que era puxado por
animais, se vislumbraram com as construções antigas presentes em quase toda a vila.
A última parada foi na Praça São João Batista, na vila de Martinésia, a qual se
assemelha à Cruzeiro dos Peixotos. Também foi visto a presença de comércios, ruas,
praças, igreja, e casas com uma melhor infra-estrutura que a vila anterior. Esta parada
foi rápida, mas o suficiente para perceberem as diferenças e semelhanças existentes
entre as vilas.
O que mais chamou a atenção dos alunos foi o cemitério, do outro lado da rua,
porém tão próximo que era possível ver os túmulos, e assim diferenciaram do cemitério
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que estão acostumados a ver. Ao lado da igreja possui uma estrada que leva a Usina
Hidrelétrica Capim Branco.
O trabalho de campo foi finalizado, retornando para Uberlândia, e aqueles
alunos voltaram para casa transformados, pois relacionaram a teoria aprendida em sala
aplicando-a no campo durante os momentos de orientação e localização com os mapas
nas mãos, bem como em reconhecer na paisagem as zonas também trabalhadas em
atividades de sala.
Tomita (1999) “ressalta-se que é importante inovar, porém, é necessário que se
tome cuidado em não repetir ou generalizar para todos os alunos, classes ou escolas,
aquilo que se mostrou eficaz num determinado momento, numa dada circunstância”.
CONCLUSÃO
Nessa atividade observou-se o interesse e o comprometimento dos envolvidos,
principalmente dos alunos, que se mostraram, na maior parte das vezes, dispostas a
aprender e acumular conhecimento, sempre com muitas perguntas e questionamentos.
Certamente, um fator fundamental para esse envolvimento foi à aproximação do
conteúdo teórico com a vivência de cada um, que se substanciou a partir do trabalho de
campo, uma vez que, o mesmo, possibilita a passagem do conhecimento teórico para o
conhecimento empírico, permitindo assim, um reconhecimento das ações nos espaços
vividos.Enfim, uma atividade como essa possibilita verificar o quão impactante é o
trabalho de campo, quais reações que as crianças apresentam com os mapas em mãos,
quais são as facilidades e as dificuldades, quais aspectos tem que se dar mais ênfase,
além disso, proporciona um maior aprimoramento por parte do professor, pois é uma
experiência vai além da sala de aula.
Assim, com base nesse exemplo aplicado já se pode perceber o quanto o
trabalho de campo pode contribuir como atividade pedagógica para o entendimento do
espaço local e a partir disso promover nos alunos uma conscientização para futuras
tomadas de decisões, ou seja, torná-los cidadãos conscientes com atitudes que possam
transformar suas realidades. Também sobre isso, Tomita (1998, p.14) comenta que a
atividade de campo “[...] pode influir na modificação de atitude e formação da
personalidade que mais tarde poderá servir para a vida social e profissional [...]”.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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REFERÊNCIAS
ALENTEJANO, Paulo R. R.; ROCHA-LEÃO, Otávio M. Trabalho de campo: uma
ferramenta essencial para os geógrafos ou um instrumento banalizado? Boletim
Paulista de Geografia, São Paulo, n. 84, p.51-67, 2006.
CALLAI, Helena Copetti. O estudo do município ou a geografia nas séries iniciais. In:
Geografia em sala de aula: práticas e reflexões/org. Antonio Carlos Catrogiovanni...
[et al.]. – 4.ed. – Porto Alegre: Editora da UFRGS/Associação dos Geógrafos
Brasileiros – Seção Porto Alegre, 200, pp. 77-82.
DOIN, R. O mapa como meio de comunicação e a alfabetização cartográfica. In:
Cartografia escolar, São Paulo: Ed. CONTEXTO, 2008. Pagina 71 a 93.
GOOGLE EARTH-MAPS. Http//maps.google.com.br. Consulta realizada em
06/05/2012.
SERPA, Ângelo. O trabalho de campo em Geografia: uma abordagem teórico-
metodológica. Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, nº 84, p. 7-24, 2006.
TOMITA, Luzia M. Saito. Trabalho de campo como instrumento de ensino em
Geografia. Londrina, v. 8, n. 1, p-p 13-15, jan./jun. 1999.
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A UTILIZAÇÃO DA MÚSICA COMO FERRAMENTA DE ENSINO-
APRENDIZAGEM DOS CONTEÚDOS DE GEOGRAFIA
Renan Dias de Morais
1
Celia Regina dos Santos2
Keila Suzana Glicerio de Assis3
RESUMO
O presente artigo descreve a experiência de um projeto de estagio da Universidade de
Pernambuco, Campus Mata Norte, Brasil, na prática pedagógica do Curso de Licenciaturas em
Geografia, avaliada pela utilização da música, permitindo que estudantes interajam no processo
de ensino e aprendizagem de geografia, dando configuração a uma aula mais motivadora e
possibilitando melhoria da qualidade da educação.
Palavras chaves: Metodologia de Ensino, a música como auxilio, Ensino de Geografia.
INTRODUÇÃO
Os projetos de trabalhos em sala de aula pode desperta a curiosidade dos alunos
para aprendizagem, além de motivar o aluno a trabalho em equipe. O ensino com
projeto ira fazer com que os alunos participem mais, pois a capacidade de aprendizagem
do aluno pode melhora quando este estiver diante de um problema, pois ira envolver os
alunos a uma investigação de um problema, colaborando para um aluno mais ativo e
participativo.
Os conteúdos de geografia podem ser trabalhados em formas de projetos, pois
tem uma maior ligação com o cotidiano vivenciado pelo aluno, algumas matérias de
jornais podem facilitar para o desenvolvimento desses projetos, as duvidas dos alunos
podem despertar curiosidade quando esta estive integrada a um projeto, os alunos
podem investigar tópicos de difícil compreensão e adquirir respostas para os seus
questionamentos.
1 Estudante do Curso de Licenciatura em Geografia, do 7º Período, da Universidade de Pernambuco,
Campus Mata Norte; [email protected]; 2 Estudante do Curso de Licenciatura em Geografia, do 7º Período, da Universidade de Pernambuco,
Campus Mata Norte; [email protected]; 3 Estudante do Curso de Licenciatura em Geografia, do 7º Período, da Universidade de Pernambuco,
Campus Mata Norte; [email protected];
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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O projeto de ensino de geografia com o auxilio da musica surgiu a parti da
disciplina estagio supervisionado do curso de licenciatura plena em geografia da
Universidade de Pernambuco, Campus Mata Norte, onde como requisitos na avaliação
desta disciplina foram solicitados o desenvolvimento de um projeto no ensino de
geografia. De inicio algumas questões foram levantadas tais como, será que a musica
pode mesmo auxiliar na aprendizagem dos alunos? As escolas fornecem outras
ferramentas alem do livro didático no processo de ensino-aprendizagem? Se fornecem,
será que os alunos gostam? Foi pensando nessas questões que foram desenvolvidos este
projeto, pois sambemos que a musica é algo que todos jovens gostam.
O conteúdo escolhido para a elaboração deste projeto foram o êxodo rural e os
principais fatores que corroboram para a saída das pessoas que moram no sertão
brasileiro para os centros urbanos, a turma escolhida para realização deste projeto foi
uma turma de primeiro ano do ensino médio da Escola Estadual João Paulo II, na qual
preferimos não citar o nome nem da professora responsável pela turma e nem os nomes
de alunos, mas a professora ficou muito entusiasmada com o desenvolvimento deste
projeto e na qual nos ajudou muito.
Este projeto se justificava na compreensão de que os estudantes nessa faixa etária
tem o interesse por atividades ligadas à musicalidade. Um projeto como esse poderá
auxiliar na explicação do conteúdo e facilitar a aprendizagem, onde o objetivo principal
do projeto foi de propor uma compreensão da questão de pequeno agricultor comercial,
verificar os conflitos no campo, conhecer o bioma de caatinga aparte de seus aspectos
físicos e climáticos e também sua hidrografia, como também a vida nos centros urbanos
a partir da música, ou seja, fazendo uma ligação entre a música e o conteúdo de
geografia como forma de facilitar a aprendizagem.
A música pode tornasse mais uma ferramenta de auxilio no processo de ensino-
aprendizagem, pois diversas musicas traz em seu contexto temas que são abordados em
sala de aula, como por exemplo, as musicas de Luiz Gonzaga que sempre teve como
referencia o povo do sertão um tema que é abordado pelos conteúdos de geografia,
também podemos citar outros cantores como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico
Buarque que durante a ditadura militar escreveram musicas que protestavam contra a
ditadura.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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O ENSINO DE GEOGRAFIA E A MÚSICA
Podemos designar a busca por uma didática adequada e atrativa como uma das
grandes preocupações para os educadores da atualidade. Percebemos essas dificuldades
a partir das inquietudes dos alunos em sala de aula, a dispersão deles pela falta de
atrativos, já que hoje eles possuem a internet como meio de comunicação e diversão
completa, fazendo com que uma simples aula não seja suficiente para chamá-los
atenção.
Assim, esse projeto de intervenção pedagógica foi aplicado inserindo a música
como suporte didático para o ensino de geografia. Como frisa o professor Hélio
Schroeder PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional) de Geografia em seu
artigo “A música como linguagem no ensino do espaço geográfico urbano” (pág.8):
A música, enquanto linguagem imbuída de sentimentos e representatividade da vida e de
diferentes concepções desta, é um elemento de comunicação que perpassa diferentes
circunstâncias e fatos sociais, permitindo assim “aliar” os conteúdos das disciplinas,
neste caso da Geografia, com a mensagem transmitida pela linguagem musical.
Dessa forma, a utilização da música no ensino de geografia será mais um
instrumento de diversificação pedagógica, uma vez que ela servirá de ponte de
comunicação dos conteúdos e do conhecimento prévio dos alunos a partir da letra
musical apresentada.
No entanto, é importante ao professor saber escolher as músicas que fará a
interação conteúdo/música, além de selecionar aquelas as quais os alunos consigam
interagir de modo prático, levando também em consideração a cultura regional do aluno.
Sabemos que o Brasil é um país multicultural, o que facilita esse processo de busca
adequada aos alunos e aos conteúdos que irão ser trabalhados.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (pág.34):
É possível aprender Geografia desde os primeiros ciclos do ensino fundamental,
mediante a leitura de autores brasileiros consagrados (Jorge Amado, Érico Veríssimo,
Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, entre outros), cujas obras retratam diferentes
paisagens do Brasil, em seus aspectos sociais, culturais e naturais. Também as
produções musicais, a fotografia e até mesmo o cinema são fontes que podem ser
utilizadas por professores e alunos para obter informações, comparar, perguntar e
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inspirar-se para interpretar as paisagens e construir conhecimentos sobre o espaço
geográfico.
Entretanto, verificamos que os Parâmetros Curriculares Nacionais, já
mencionam a música como meio de desenvolver o conhecimento geográfico dos alunos
desde as séries iniciais, o que desencadeará desde cedo essa evolução no aprendizado da
disciplina.
Algumas músicas retratam a realidade socioeconômica, política, natural e
cultural do Brasil e do mundo, formando uma ponte compatível com o objetivo do
ensino da geografia, a qual poderá ser explorada pelo professor e pelos alunos de forma
acessível e atrativa, tornado o aprendizado e a vivência com a disciplina prazerosa,
abandonando resquícios de uma disciplina pautada na memorização de conceitos.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (pág.29):
O estudo de Geografia possibilita aos alunos a compreensão de sua posição no conjunto
das relações da sociedade com a natureza; como e por que suas ações, individuais ou
coletivas, em relação aos valores humanos ou à natureza, têm consequências (tanto para
si como para a sociedade). Permite também que adquiram conhecimentos para
compreender as atuais redefinições do conceito de nação no mundo em que vivem e
perceber a relevância de uma atitude de solidariedade e de comprometimento com o
destino das futuras gerações.
Então, as articulações da natureza e sociedade, que a geografia trabalha, são
propícias para o seu envolvimento com a música brasileira que tem um repertório de
músicas e cantores regionais que desenvolvem bem essas articulações culturais no
âmbito natural, socioeconômico e político, como por exemplo, a música de Luís
Gonzaga, Asa Branca:
Quando olhei a terra ardendo, com a fogueira de São João, eu perguntei a Deus do céu,
ai, Por que tamanha judiação, que braseiro, que fornalha
nem um pé de plantação, por falta d'água perdi meu gado,
morreu de sede meu alazão (...). Por farta d'água perdi meu gado, morreu de sede meu
alazão, até mesmo a asa branca, bateu asas do sertão, então eu disse, adeus Rosinha
guarda contigo meu coração, então eu disse, adeus Rosinha, guarda contigo meu coração
(...). Hoje longe, muitas léguas, numa triste solidão, espero a chuva cair de novo, pra
mim voltar pro meu sertão, Espero a chuva cair de novo pra mim voltar pro meu sertão.
(“Asa Branca”)
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Essa música de Luís Gonzaga é um exemplo de muitas que o mesmo canta,
referindo as secas da região nordestina e suas consequências, bem como o êxodo rural, o
clima, a vegetação e as dificuldades dessas pessoas que passam por situações
econômicas difíceis causadas pelo baixo índice pluviométrico dessa região. São temas
da geografia, mas que são abordadas de maneira cultural pelo cantor, e que ao ser
inserida como processo didático será contextualizada com a realidade, facilitando e
desenvolvendo o senso crítico dos alunos.
MATERIAIS, MÉTODOS E RESULTADOS
Os materiais utilizados para a descrição e efetivação deste projeto, começam
primeiro por compreender a importância da musica no ensino de geografia nas turmas
do ensino básico, onde percebemos a necessidade do professor em aprender a lidar com
novas ferramentas que podem auxiliar no ensino de geografia e com isso perceber os
novos desafios colados diante das novas tecnologias da informação e comunicação nos
dias atuais.
Os materiais empregados durante o projeto são compostos, respectivamente, por:
material escolar, tais como papeis e canetas entre outros; e o espaço físico da sala de
aula, um radio, além do livro didático.
Os métodos empregados nas aulas foram num primeiro memento, aulas
expositivas e dialogadas, sobre o êxodo rural, explicando os pontos principais, tais
como o que influenciou os trabalhadores do campo a deixarem suas terra e irem morar
nos centros urbanos, debater sobre os aspetos do nordeste, tais como o climático e
hidrográfico e também o trabalhador do campo nordestino. Neste primeiro momento
observamos uma menor participação dos alunos que ficaram durante a aula apenas
observando e copiando. Na segunda etapa da aula utilizamos a musica A Triste Partida
cantada por Luiz Gonzaga na qual foram analisados em conjunto com a turma alguns
trechos da musica, onde no trecho:
Setembro passou outubro e novembro, já tamo em dezembro, meu Deus, que é de nós
(...). Assim fala o pobre, do seco Nordeste, com medo da peste, da fome feroz (...). Sem
chuva na terra descamba janeiro, depois fevereiro e o mesmo verão (...). Entonce o
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nortista, pensando consigo diz isso é castigo, não chove mais não (...). Apela pra março,
que é o mês preferido do santo querido senhor São José. (“A Triste Partida”)
Neste trecho, percebemos alguns aspectos relacionado com o conteúdo, onde
debatemos sobre a questão do clima no nordeste, onde ocorrem chuvas desregulares e
longos períodos de seca que o nordestino tem que passa, tendo pouco alimento para
sobreviver e alimentar os animais que criam, outro ponto observado foi à questão
religiosa do nordestino e a crença do nordestino em acreditar que se no dia de São José
não chover é sinal de que não vai mais chover o resto do ano no sertão, onde o santo é
considerado o padroeiro do agricultor. Em um trecho da musica o personagem fala que
vai tentar a vida em outro lugar, nesta parte foi interessante, pois notamos a influencia
que São Paulo exercia e exerce na escolha por melhorias de vida para o nordestino, mas
chamamos a atenção também para outros centros que tem atraído o povo nordestino tais
como o Rio de Janeiro, como também Recife, neste momento debateu com os alunos a
questão da migração campo-cidade e a formação dos aglomerados urbanos.
Outros trechos da musica que também chamaram a atenção, pois percebemos o
poder dos patrões e dos latifundiários foram:
E vende seu burro, jumento e o cavalo, Inté mesmo o galo venderam também (...). Pois
logo aparece, feliz fazendeiro, por pouco dinheiro, lhe compra o que tem (...). Em um
caminhão ele joga a famia (...). A seca terrívi que tudo devora ai,lhe bota pra fora da
terra natal (...). Trabaia dois ano, três ano e mais ano e sempre nos prano de um dia
vortar (...). Só vive devendo e assim vai sofrendo, é sofrer sem parar (...). Faz pena o
nortista tão forte, tão bravo Viver como escravo no Norte e no Sul. (“A Triste Partida”)
Neste ultima parte concluímos esta atividade observando o poder dos
latifundiários, que aproveitando do momento de sufoco do trabalhador do campo para
compra o que eles têm por um preço baixo e que sem condições é obrigado a viajar em
caminhões ou como é conhecido os “pau de arara”, que leva os trabalhadores para os
centros, mas também notamos que mesmo com a seca o nordestino sonha em um dia
voltar para sua terra, mas é obrigado a aceitar os salários impostos pelos patrões ficando
cada vez mais endividados.
No ultimo momento do projeto foram solicitados dos alunos a construção de
uma maquete e a partir da maquete fazer uma encenação da musica Cidadão do cantor
Zé Ramalho.
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A partir da maquete, dois alunos narraram a historia do personagem cantada por
Zé Ramalho na musica Cidadão, foi interessante notar que os alunos coloram na
maquete a escola com o mesmo nome e o mesmo formato da que eles estudam, ou seja,
eles perceberam que estavam inseridos num espaço urbano e então fizeram uma
maquete representando a escola e o que tinha próximo a escola, depois da representação
ocorreu um debate sobre o que a musica queria mostrar e forem selecionados alguns
trechos que são expostos abaixo.
Tá vendo aquele edifício moço, ajudei a levantar, foi um tempo de aflição, era quatro
condução, duas pra ir, duas pra voltar, hoje depois dele pronto olho pra cima e fico
tonto, mas me vem um cidadão e me diz desconfiado "Tu tá aí admirado ou tá querendo
roubar" (...). Tá vendo aquele colégio moço eu também trabalhei lá, lá eu quase me
arrebento, fiz a massa, pus cimento, ajudei a rebocar, minha filha inocente vem pra mim
toda contente "Pai vou me matricular", mas me vem um cidadão: "Criança de pé no chão
aqui não pode estudar" (...). Por que é que eu deixei o norte, eu me pus a me dizer, lá a
seca castigava, mas o pouco que eu plantava tinha direito a comer. (“Cidadão”)
Nestes trechos da musica observamos que mesmo morando nos centros urbanos
o sertanejo continua tendo que viver na pobreza, sendo excluídos e humilhados por
serem pobres, então neste momento o trabalhador do campo percebe que mesmo com a
seca, o sertão era melhor que os centros urbanos, pois lhe dava o direito de desfrutar
daquilo que produzia.
Durante todo o desenvolvimento do projeto percebemos que quando inserimos a
musica no processo de ensino-aprendizagem, ocorreu uma maior participação dos
alunos, pois a aula se tornou mais prazerosa e a compreensão do conteúdo foi mais fácil,
a avaliação ocorreu de forma continua, ou seja, durante todo o projeto os alunos
estavam sendo avaliados desde a participação na aula até a construção da maquete.
CONCLUSÃO
Perceber-se que mudanças ocorrem em todos os espaços, na Educação, não deve
ser diferente. Tais mudanças trazem novos desafios para todos que estão inseridos nesse
espaço, o processo de mudança está presente transformando não somente o momento,
mas formas de pensar e agir.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Os professores têm interesses em realizações de projetos com esse que integra o
ensino com a música, pois quando falamos do projeto para professora do respectivo
colégio, ouve um apoio tanto da professora como da coordenação da escola e os alunos
com que o projeto foi realizado tiveram maior facilidade em interagir durante a aula,
pois a musica torna o ensino mais prazeroso.
O valor temporal desse projeto mostrou a necessidade de retomá-lo com a
inclusão de novas turmas tanto no ensino fundamental, com também no ensino médio,
ver-se também a importância de realizar um levantamento dos resultados desse projeto.
Apresentando desse modo, a realização de uma análise mais detalhada que seja, ao
mesmo tempo, qualitativa e quantitativa. Também se planeja adotar novas ferramentas
de comunicação, tais como mídias de TV e também internet.
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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A UTILIZAÇÃO DO GEOPROCESSAMENTO COMO FERRAMENTA
DIDÁTICA NO ENSINO MÉDIO
Naanderson Alves Fernandes
1
Maria de Lourdes Carvalho Neta2
Luandson Gonçalves Xavier3
RESUMO
No presente trabalho pretendeu-se avaliar as possibilidades de utilização das ferramentas e
produtos que o geoprocessamento nos oferece atualmente, visando melhorias no processo de
ensino-aprendizagem de Geografia, tendo como objetivo mostrar como os produtos do
geoprocessamento podem auxiliar nesse processo e quais os conteúdos que viabilizam a
utilização destes nas aulas de geografia no Ensino Médio. Levando em consideração que, a
Geografia no Ensino Médio tem a função de aprimorar os conteúdos já trabalhados no Ensino
Fundamental e desenvolver a percepção crítica dos alunos que engloba todas as feições da
dinâmica espacial, desde elementos sociais à físicos e o modo como eles se relacionam. As
experiências, na escola de Ensino Médio, mostra que a implantação de novas tecnologias
envolvendo o geoprocessamento tem uma relação muito estreita com as características de cada
unidade escolar e de cada professor. Enfim, é certo que os professores possuem uma ferramenta
computacional relacionada diretamente à sua área de ensino.
Palavras chaves: Geoprocessamento, Novas Possibilidades de Ensino, Geografia.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo geral apresentar possibilidades de
utilização das ferramentas e produtos que o geoprocessamento nos oferece, visando
melhorias no processo de ensino e aprendizagem de Geografia. Tem como objetivos
específicos identificar alguns conteúdos de Geografia do Ensino Médio que podem ser
ensinados utilizando o geoprocessamento e, mostrar como esses produtos podem
auxiliar o processo de ensino e aprendizagem.
Apresentam-se experiências vividas durante o curso de graduação em Geografia,
entre os anos de 2009 a 2012, sobretudo na execução das disciplinas de Estágio
Supervisionado III, no semestre 2012.2. Trata-se de aulas e minicursos ofertados às
1 Universidade Regional do Cariri – URCA; [email protected]
2 Universidade Regional do Cariri – URCA; [email protected]
3 Universidade Regional do Cariri – URCA; [email protected]
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turmas do 1º ano do Ensino Médio da Escola de Ensino Fundamental e Médio
Presidente Geisel, localizada na cidade de Juazeiro do Norte, Ceará.
É inegável que na sociedade contemporânea as novas técnicas, ferramentas de
produção do espaço geográfico estão cada vez mais dinâmicas e inovadoras, onde as
novas tecnologias, sobretudo, da informação estão presentes no dia a dia dos alunos.
Essas ferramentas cativam os alunos e trazem diversos tipos de informações mediante,
principalmente, os meios eletrônicos (notebooks, celulares, tabletes etc.), cativando-os.
O geoprocessamento ou geotecnologias está disponível a todos os membros da
sociedade, sobretudo aos mais jovens, influenciando o processo de ensino-
aprendizagem. Sendo assim, é essencial buscar formas de aplicações didáticas desses
elementos que estão inseridos no cotidiano dos alunos.
Compreendido como um conjunto de geotecnologias desenvolvidas e utilizadas
para captação, armazenamento, processamento, tratamento, análise, e disponibilização
de informações referenciadas espacialmente, e formado pelo sensoriamento remoto,
Sistema de Posicionamento Global – GPS, Sistema de Informação Geográfica – SIG,
cartografia digital entre outros (ARAÚJO et al, 2009).
Com base nas competências e habilidades sobre o papel da Geografia, surge à
possibilidade de se inserir o geoprocessamento como ferramenta didática, que na atual
dinâmica tecnológica, facilitam de forma significativa o ensino e a aprendizagem dos
aspectos mencionados.
Essas geotecnologias permitem a interação dos alunos com as novas tecnologias.
Utilizam-se ferramentas computacionais de fácil acesso aos alunos, possibilitando um
ensino mais atraente e facilitando o processo de ensino e aprendizagem de várias
ciências, sobretudo da Geografia.
Sobre a Geografia no Ensino Médio, sabe-se que ela tem a função de aprimorar
os conteúdos já trabalhados no Ensino Fundamental e desenvolver a percepção crítica
dos alunos engloba feições da dinâmica espacial, tanto de elementos sociais quanto
físicos. Por conta da especificidade do trabalho, foram analisados os conteúdos que
apontam a necessidade de “ler, analisar e interpretar os códigos específicos da
Geografia (mapas, gráficos, tabelas etc.), considerando-os como elementos de
representação de fatos e fenômenos espaciais e/ou especializados”, de acordo com as
“Competências e habilidades a serem desenvolvidas em Geografia” expressas nos
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio – Parte IV - Ciências Humanas e
suas Tecnologias (BRASIL, 2000).
METODOLOGIA
Em princípio foi feito uma analise sobre qual a escola a ser utilizada na
implantação do método, levando-se em consideração a viabilidade técnica de utilização
destes, pois são necessários vários equipamentos técnicos, o que influenciou
diretamente na escolha das escolas já que as escolas escolhidas para as praticas deveria
ter obrigatoriamente projetor multimídia, computador e internet essas são ferramentas
indispensáveis para a plena implantação dessas geotecnologias na escola. Desse modo a
escola escolhida foi a Escola de Ensino Fundamental e Médio Presidente Geisel de
Juazeiro do Norte – CE.
As séries escolhidas foram às turmas do 1º ano do Ensino Médio do turno manhã
da Escola de Ensino Fundamental e Médio Presidente Geisel de Juazeiro do Norte – CE,
Essa escola foi escolhida por conter os recursos tecnológicos necessários para a
implantação do método de ensino, contendo computadores e internet sem fio e
projetores multimídia o que essencial para o desenvolvimento do mesmo.
A escola possui salas de aulas climatizadas com ar condicionado, Data show
instalado em todas as salas e um laboratório de informática que contém um instrutor
(graduado em Geografia) e 21 computadores com acesso a internet, os computadores
apresentam boa configuração de hardware, acoplado a um projetor multimídia que
viabilizou a utilização de softwares livres sem grandes dificuldades e garantiu aos
alunos uma visão ampla e detalhada dos conteúdos.
Os métodos que serão expostos foram formas de eleger os conteúdos, os
conceitos e as técnicas de utilização das geotecnologias como ferramentas didáticas para
que possam contribuir no processo de ensino e aprendizagem.
Em uma segunda etapa realizou-se a observação de aulas de Geografia na
Escola. Durante a observação buscou-se analisar a didática do professor titular e o
comportamento dos alunos em relação à disciplina, levando em consideração o nível de
atenção/dispersão e as intervenções/contribuições dos alunos.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Posteriormente, foram feitos levantamentos bibliográficos sobre temas
específicos tendo como base o livro didático, esse foram trabalhados posteriormente em
sala de aula tendo o geoprocessamento como recurso didático onde foram levados em
consideração os conteúdos mais favoráveis à utilização dos produtos do
geoprocessamento tais como: Geomorfologia, Geologia, Cartografia e os Impactos
Ambientais causados pela ação antrópica.
O livro Didático utilizado foi o de Almeida, Lucia Marina Alves de; tercio
Barbosa Rigolir. Fronteiras da globalização – São Paulo: ática, 2010, e a apostila do
Primeiro Aprender do governo do estado do Ceará que se encontra desatualizada.
Os conceitos foram selecionados a partir do livro didático já citado. 1) O espaço
em que vivemos, onde a finalidade foi demonstrar a diferença entre uma área urbana e
uma área rural; 2) A localização no espaço, onde a finalidade foi demonstrar
diferentes escalas de visualização da mesma área; 3) Modificação da paisagem, com
a finalidade de demonstrar o resultado de intervenções antrópicas na dinâmica sócio
espacial local.
O quinto passo foi a aplicação dos conteúdos escolhidos em sala de aula por
meio de um minicurso intitulado “aspectos geológicos da bacia sedimentar do Araripe e
aspectos ambientais e urbanos da região metropolitana do cariri cearense”, que teve
duração de 5 dias com carga horária de 20 h/a, durante as aulas foram Utilizadas
imagens de satélites e mapas locais, com o intuito de incentiva-los a interpretar os
símbolos, signos, formas, cores etc. Presentes nos nesses produtos do
geoprocessamento.
A escolha dos recursos levou em consideração a funcionalidade, e a
acessibilidade dessa forma utilizou-se softwares livres (Gratuitos), como o Google Earth
e GVSIG. O Google Earth apresenta um mosaico de imagens satélites em diversas
escalas de todo o globo. O GVSIG que é um Software de geoprocessamento utilizada
para georeferenciar imagens de satélites, vetorização e criação de mapas.
A ferramenta mais empregada foi o sensoriamento remoto (SR), pois seus
produtos são mais comuns aos alunos, mesmo sem o devido reconhecimento disso, já
que muitas das informações diárias utilizam dos produtos do SR nas mídias.
Buscaram-se, também, sites brasileiros e do estado do Ceará que auxiliasse na
obtenção de imagens locais de satélites, como o site da Empresa Brasileira de Pesquisa
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4787
Agropecuária - EMBRAPA e o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará -
IPECE, que contem produtos do sensoriamento remoto a nível nacional e local
favorecendo a aprendizagem dos alunos.
Finalizando analisou-se os resultados obtidos que levou em consideração o
comportamento dos alunos em relação ao nível de dispersão, motivação e atenção
considerando o nível de intervenção que contribuíram para o pleno desenvolvimento da
aprendizagem.
O GEOPROCESSAMENTO COMO RECURSO DIDÁTICO
Uma das tecnologias mais utilizadas foi o sensoriamento remoto, que agrega
tecnologias de sensores imageadores, tais sensores possibilitam amplas aplicações na
escola, sobretudo no ensino médio, pois seus produtos são mais comuns aos alunos no
cotidiano por meio de telejornais por exemplo.
O Sensoriamento Remoto (SERE) é uma técnica de obtenção de informações
sobre um objeto, uma área ou fenômeno no planeta Terra, sem que haja contato físico
com o mesmo. Atualmente essas informações são obtidas através de sensores acoplados
em satélites que geram imagens. Portanto, o sensoriamento remoto é a tecnologia que
permite obter imagens e outros tipos de dados da superfície terrestre através da captação
e do registro da energia refletida ou emitida pela superfície (NASA, 2008).
Segundo Carvalho et al (2004, p. 11):
A utilização de recursos de sensoriamento remoto possibilita aos alunos uma apreensão
sistêmica da área de estudo, favorecendo a análise do meio ambiente e ecossistemas
associados, considerando não apenas um único aspecto/variável, mas sim a
multiplicidade de aspectos/variáveis (…), estabelecendo relações entre o impacto local e
suas repercussões espaciais.
Ao entrar em sala de aula, o professor se deparará com muitos desafios. Cada
aula será sempre um novo desafio, pois a dinâmica desse cotidiano é enriquecedora.
Portanto, em uma sala de aula cada dia será diferente do anterior. Fugir das atitudes
padronizadas, que congelam as multiplicidades de situações em que a relação
professor/aluno e área, tornam-se um grande desafio (BRASIL, 2006).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4788
A interpretação da paisagem a partir dos conteúdos da ciência geográfica
permite aos alunos conhecer os processos de construção do espaço geográfico.
Conhecer uma paisagem é reconhecer seus elementos sociais, culturais e naturais e a
interação existente entre eles, assim como também compreender como ela está em
permanente processo de transformação.
Os conceitos abordados devem ser correlacionados de modo a permitir o uso da
“didática” em questão, e o melhor entendimento de lugar, espaço, área e o que
determinados aspectos e atributos destacados em um mapa, carta ou imagem possam
influenciar para o planejamento e/ou desenvolvimento de uma cidade ou região.
Podendo ser: hidrografia; vias de acesso; ocupações urbanas; feições geomorfológicas;
etc.
Os trabalhos com imagens de satélite devem também ser utilizados. É
importante que os alunos tenham os recursos tecnológicos como alternativa possível
para a realização de determinadas atividades. Por isso, a escola deve possibilitar e
incentivar que os alunos usem seus conhecimentos sobre as tecnologias para comunicar-
se e expressar-se, como utilizar imagens produzidas eletronicamente na ilustração de
textos e trabalhos; pesquisar assuntos; confeccionar folhetos, mapas, gráficos entre
outros sem que a realização dessas atividades esteja necessariamente atrelada a uma
situação didática planejada pelo professor.
Saussen e Machado (2004) salientam que o “uso de imagens de satélite no
estudo da Geografia em sala de aula contribui para uma didática mais significativa na
educação escolar”, sendo assim, é possível “estudar o espaço geográfico da própria
região (…) permitindo identificar o uso e cobertura do solo, o desenho urbano, os
impactos ambientais, entre outros aspectos” e, a partir disso, propor possíveis soluções,
dando ao aluno maior compreensão dos processos atuantes na sociedade em que vive.
É com base em Saussen e Machado (2004), que vemos a utilização das
geotecnologias como uma ferramenta para tratar diversas questões em diversos tipos de
escala. Os mesmos autores afirmam que à medida que a escala de percepção espacial
for gradativamente se expandindo, desencadeará um processo que, no final, levará o
aluno a obter um posicionamento crítico diante dos acontecimentos sociais,
contribuindo para a formação de um cidadão mais consciente e comprometido.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Devemos ressaltar que os novos recursos tecnológicos, dentre os quais
destacamos o sensoriamento remoto, GPS, sistema de informações geográficas,
cartografia digital a internet e o computador, devem ser utilizados como ferramentas
que complementam e contextualizam os conteúdos desenvolvidos em sala de aula, nesse
caso de nível médio em escolas publicas, porém não substituindo de maneira alguma o
professor e o livro didático.
Este contexto favorece a introdução da tecnologia de sensoriamento remoto na
escola como recurso didático inovador no processo de ensino e aprendizagem, frente às
atuais exigências de reformulação da educação escolar impostas pela conjuntura de
nossa sociedade.
Fonseca e Oliveira (2007) falam que as imagens de satélite podem oferecer
muito, já que o produto que elas apresentam ultrapassa de longe o que o olho humano
pode ver. Tanto horizontalmente – que seria o planeta todo em sua simultaneidade
quanto verticalmente – aprofundando-se numa área, num lugar.
A partir do descrito se percebe as possibilidades diversas de trabalhar os
produtos desse recurso em sala de aula, facilitando o processo de ensino e aprendizagem
de vários conteúdos que a Geografia aborda.
Sobre isso Carvalho (2003) considera que, para o ensino da Geografia, e
especialmente, para a proposição de uma metodologia que contemple a utilização de
produtos de sensoriamento remoto e do geoprocessamento como ferramentas principais,
resgatar o estudo do espaço geográfico assume grande importância, na medida em que é
a partir dele que se dará inicio a um processo desencadeador de questões a serem
respondidas, não só com referência à geografia física, mas também questões relativas à
geografia humana.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na etapa de observação deparou-se com um modelo tradicional de aula atrelada
estritamente ao livro didático, as aulas consistiam em leituras em grupos e individuais e
escritas no quadro branco. Não observou-se em nenhum momento sequer a utilização de
uma mapa para explicar determinados conteúdos, embora a escola disponibilizasse o
material, a mesma conta com vários mapas mundiais, regionais e estaduais.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Por meio dessas aulas tradicionais, é evidente que os alunos demostravam
desinteresse pela aula de geografia já que as aulas seguiam a mesma estrutura
regularmente, estática, imutáveis e desmotivante, esse modo arcaico de lecionar diminui
a aprendizagem significativamente, pois os alunos estavam apenas para as provas, logo
depois os conceitos, temas já aviam sido esquecidos, essa situação foi relatada por
alunos ao serem indagados sobre o que eles achavam de estudar geografia.
O livro didático representa uma grande ferramenta do professor que o auxilia no
ato docente e é a partir dele que foram norteados os conteúdos a serem trabalhados
através do geoprocessamento. Sempre levando em consideração o espaço local, vivido
do aluno e do professor. Embora o livro seja uma fonte de informações confiáveis, é
necessário transcendê-lo e buscar outras fontes de informações para ajudar os alunos a
aprender de forma significativa os conteúdos trabalhados em sala de aula. Sobre o
assunto Libâneo ressalta que:
Não basta a seleção e organização lógica dos conteúdos para transmiti-los. Antes, os
próprios conteúdos devem incluir elementos da vivência prática dos alunos para torná-
los mais significativos, mais vivos, mais vitais, de modo que eles possam assimilá-los
ativa e conscientemente (1994, p.128).
Daí se o livro didático não aborda o espaço vivido do aluno cabe ao professor
fazer esse papel de trazer elementos cotidianos para os alunos a fim de ajudar no
processo de ensino e aprendizagem.
Na introdução do método foram utilizadas imagens de satélites da região e
mapas locais para a fácil compreensão os alunos, foram abordados os conteúdos de
geologia, geomorfologia, geografia urbana, climatologia, hidrografia, pedagogia e
sociologia de forma integrada, já que consideramos que esses elementos são
indissociáveis. Isso garantiu uma atenção dos alunos e uma melhor compreensão do
mesmo.
A avaliação compõe uma etapa extremamente importante no processo de ensino
e aprendizagem, pois é mediante a avaliação que saberemos se os objetivos
estabelecidos previamente foram alcançados. De acordo com LUCKESI, (2002). “A
avaliação é uma ferramenta da qual o ser humano não se livra. Ela faz parte de seu
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4791
modo de agir e, por isso, é necessário que seja usada da melhor forma possível”. Desse
modo sabemos que
“avaliação só faz sentido se favorecer a aprendizagem. Todavia, não se realiza
aprendizagem qualitativa, sem avaliar. Quando se combate o tom classificatório, [...]
pretende-se, no fundo, superar abusos da avaliação, no que estamos todos de acordo,
mas não se poderia retirar daí que avaliação, de si, não é fenômeno classificatório. Será
mister distinguir acuradamente entre abusos da classificação, de teor repressivo,
humilhante e punitivo, e efeitos classificatórios implicados em qualquer processo
avaliativo, também quando dito qualitativo” (LUCKESI, 2002, p.23).
Dessa forma avaliando a participação do grupo de alunos percebeu-se nas
intervenções a compreensão dos mesmos, uma vez que todos passaram a participar
efetivamente das aulas. Foi nítido a atenção maior nas aulas de geografia.
Após as aulas os alunos perguntavam onde eles poderiam encontrar os
programas utilizados nas aulas, como eles poderiam utiliza-los em casa, isso demostra o
interesse despertado após a utilização desses recursos em sala de aula.
A aprendizagem dos alunos foi avaliada de forma oral, por meio de indagações
durante as aulas, nelas, as indagações, pode-se perceber que os estudantes tiveram uma
melhora significativa, se considerarmos o pouco tempo de trabalho, mas positiva, já que
as respostas eram claras objetivas e demostravam ter domínio do conteúdo estudado em
sala.
Afirma-se que os produtos das geotecnologias os cativarão, motivando-os a
estudar os conteúdos trabalhados no minicurso, sendo assim consideramos positivo a
avaliação do método de ensino e de aprendizagem dos alunos;
Demo (2004, p.156) ressalta que:
A avaliação qualitativa pretende ultrapassar a avaliação quantitativa, sem dispensar esta.
Entende que no espaço educativo os processos são mais relevantes que os produtos, não
fazendo jus à realidade, se reduzida apenas às manifestações empiricamente
mensuráveis. (…) A avaliação qualitativa gostaria de chegar até à face qualitativa da
realidade, ou pelo menos de se aproximar dela.
Compreende-se, com essa concepção, que para transpor a avaliação de uma
prática de provas e exames para uma prática democrática, requer novas relações entre as
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pessoas envolvidas no processo educacional justificando o modo como foi avaliado o
desempenho dos alunos e do método que visa à utilização dos produtos das
geotecnologias.
CONCLUSÃO
Considera-se que as inovações técnico-científicas disponíveis atualmente
auxiliam decisivamente e possuem papel fundamental no ensino de tema específicos da
Geografia como um instrumento perceptivo no ensino de da mesma. O uso de
geotecnologias no ensino de Geografia é um modo de romper com a educação
tradicional e de cativar os alunos favorecendo a aprendizagem dos alunos.
O presente trabalho procurou contribuir para o entendimento da importância e as
possibilidades de uso dos produtos das geotecnologias para o ensino da Geografia. Tal
abordagem focalizou a interpretação que os signos dos mapas e as informações que as
imagens de satélites que podem auxiliar na análise e entendimento da dinâmica na qual
os alunos estão inseridos principalmente quando bem trabalhado em sala de aula.
A introdução do geoprocessamento no ambiente educacional representa uma
excelente oportunidade para solidificar uma nova forma de aprendizagem.
Portanto, a aplicação deste na educação escolar, através do engajamento ativo de
estudantes em conjunto com o professor na realização de atividades que envolva o
geoprocessamento dará real significado para o aprendizado de conceitos geográficos.
É de suma importância para o desenvolvimento do pensamento crítico dos
indivíduos, que a partir de análise de informações geográficas computadorizadas, na
investigação de acontecimentos do mundo, proporcione a geração de conhecimento
através da pesquisa.
Conforme indicado nos objetivos deste trabalho, os resultados serviram de
subsídio para outra forma de ensino construindo nas perspectivas das novas realidades
educacionais e tecnológicas, preparando professores e alunos para a realidade da era da
informação, proporcionando, além do conhecimento de tecnologias de ponta, melhoria e
incentivo da aprendizagem das questões abordadas nos programas de geografia das
escolas.
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Verificou-se pequena mudança no nível de aprendizado dos alunos, testado de
maneira formal, mas grande mudança na atitude dos alunos, que se sentiram
visivelmente incentivados e estimulados no processo de ensino e aprendizagem.
A metodologia experimentada neste trabalho apresentou mudanças dos alunos
nas aulas de Geografia, pois os alunos se sentiram mais motivados e ansiosos pelas
aulas de geografia que utilizam o geoprocessamento como recurso didático.
Enfim, é certo que os professores possuem uma ferramenta computacional
relacionada diretamente à sua área de ensino. Cabe ao professor criar exercícios.
Há uma infinidade de possibilidades na associação do GPS, SIG, sensoriamento
remoto e cartografia digital como instrumentos de registro e análise da dinâmica e
fisionomia do espaço geográfico, inclusive em uma abordagem regional.
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CONHECENDO OS COMPONENTES DO SOLO ATRAVÉS DE SEU
MANUSEIO E SENSIBILIDADE
Antonia Aline Feijão Carvalho1
RESUMO
Este trabalho é referente à experiência vivenciada como ministrante da oficina componentes do
solo, oferecida pelo curso de Geografia, da Universidade Estadual Vale do Acaraú nos dia; 15 e
16 de abril do ano de 2013, em decorrência da comemoração do Dia Nacional de Conservação
do Solo. O evento foi organizado pelo Laboratório de Pedologia e Processos Erosivos de
Estudos Geográficos (LAPPEGEO), o qual trabalha com o desenvolvimento de matérias
didáticos que facilite e auxilie os professores a trabalharem os conteúdos relacionados ao tema
“solo” ressaltando sua importância como recurso natural de fundamental importância para a
sustentação da vida e do ecossistema terrestre. O ensino de solos não vem recebendo a devida
importância,mesmo com alguns trabalhos nas Universidades, grupos de pesquisas e ate mesmo
dissertações e teses que abordam o ensino de solo, verifica-se o pouco desenvolvimentos nas
salas de aula sobre o mesmo, sendo este trabalhado na maioria das vezes de maneira superficial,
o que compromete a aprendizagem dos educandos. Desta forma os materiais didáticos
desenvolvidos pelo Laboratório de Pedologia e Processos Erosivos de Estudos Geográficos
(LAPPEGEO) tem como objetivo tornar as aulas mais objetivas e interessantes, passando-se do
abstrato ao concreto(palpável). Sendo as oficinas o momento de aplicação das atividades
propostas pelo Laboratório, através da utilização destes materiais didáticos desenvolvidos,
assim como é a oportunidade de levar os educando a conhecerem o solo não apenas pelos
poucos conteúdos dos livros didáticos, mas também através de experimentos que possibilitem
através do seu manuseio e sensibilização a utilização de todos os sentidos para analisar,
compreender, entender e aprender sobre este componente tão importante que é o solo.
Palavra-chave: Oficina; Ensino de solos; Geografia.
INTRODUÇÃO
A Oficina Componentes do Solo foi ministrada no evento em comemoração ao
Dia Nacional de Conservação do Solo, no Centro de Ciências Humanas, campus Junco,
da Universidade Estadual Vale do Acaraú. Teve como objetivo reforçar os principais
conceitos relativos à ciência do solo, levando os alunos a reconhecerem a importância
do solo através do manuseio e da investigação a este recurso valiosíssimo. Enfatizando
também a grande importância que o solo exerce em nosso cotidiano, sendo este de
1 Graduando do Curso de Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú; [email protected]
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fundamental importância, pois é o sustentáculo da vida e todos os organismos terrestre
dele dependem direta ou indiretamente (LIMA E LIMA 2007, p.1), pois de maneira
geral, os estudantes não têm clara esta visão e julgam que o solo serve e é utilizado
apenas e exclusivamente para atividades agrícolas, desconhecendo que o solo é
considerado patrimônio de uma nação, é um recurso limitado e está em constante
modificação, nesse sentido, é preponderante que seja entendido como algo a ser
preservado para as futuras gerações.
Sobre a questão do ensino de solos, Sanchez e Guimarães (2010) ressaltam que
os alunos oriundos do Ensino Fundamental e consequentemente do Ensino Médio
frequentemente têm dificuldade em ver o solo como um importante elemento da
paisagem, e o ensino de solos, quando existe, torna-se mecânico e sem utilidade para o
aluno, com base principalmente em aulas expositivas. Outro ponto crucial para a
“desvalorização” do ensino de solos são os livros didáticos que expõem pontos de vista
que são descritos por Rebollo et al. (2005) como estáticos, como a visão agrícola ou a
visão geológica do solo, frequentemente ignorando abordagens interdisciplinares ou
ecológicas, que busquem ensinar de forma mais significativa, sem meramente repassar o
saber (DEMO, 1993).
O que por sua vez Silva, Falcão e Sobrinho (2008) também evidenciam, quando
ressaltam que
De maneira geral, os livros didáticos analisados apresentam graves deficiências,
presenciam definições equívocas, pautadas em denominações geológicas e agronômicas
para caracterizar os solos, não dão ênfase ao tratamento dos processos a qual os solo são
submetidos desde a pedogênese até os processos de perdas da massa pedológica.
Desta forma Romanatto (2004, p. 43), afirma:
...ao discutir o histórico do livro didático no Brasil, ressalta que estes, salvo algumas
exceções, sempre foram de qualidade ruim e não cumpre seu papel de apoio ao processo
educacional. Muitos são autoritários e fechados, com propostas de atividades que
conduzem a respostas padronizadas, apresentam conceitos como verdades absolutas e
não permitem a alunos/as e professores/as, um debate crítico e criativo, sendo esta uma
das finalidades do processo educacional.
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Por sua vez Vessentini (2001) ressalta que os livros didáticos em si não são o
problema, mas sim o enfoque acrítico que for dado ao conteúdo destes pelos docentes,
dessa forma é recomendável que os professores analisem os materiais adotados e
complementem-nos sempre que necessário.
Partindo desse ponto de vista é que se desenvolveram as oficinas ministradas no
Dia Nacional de Conservação, que almejavam evidenciar aos educandos a grande
importância que o solo exerce em nosso cotidiano estando presente constantemente nas
diferentes atividades humanas, desta forma, consideramos que o processo de
aprendizagem de solos no Ensino Fundamental deveria conter experiências concretas
que levassem o estudante à construção gradativa do conhecimento, a partir de um fazer
científico, levando em conta a vinculação da ciência ao seu significado político, social e
cultural (CURVELLO e SANTOS, 1993, p. 192). Desta maneira para transmitir o valor
do recurso natural solo é necessário que o aluno tenha uma experiência pessoal com o
mesmo, não havendo outro caminho para ensinar a "vida" dinâmica do solo e a
necessidade de sua conservação (DOMINGUEZ E NEGRIN, 1998).
Portanto acreditamos que a Educação em Solos é uma ferramenta para
sensibilizar as pessoas, a fim de construir alternativas para a redução de impactos
ambientais e consequentemente entender a dinâmica da paisagem (ALVES; FALCÃO E
SOBRINHO, 2011), que por sua vez levará os alunos a terem novas formas de perceber
este recurso no seu cotidiano, ampliando assim sua percepção e criando uma
responsabilidade com o mesmo. Através das Oficinas os educandos tiveram a
oportunidade de conhecer bem definidamente o solo, assim como as diversas utilizações
que o mesmo pode ter dentro de sala de aula.
Na perspectiva de aprofundar os conhecimentos dos educando e de trazer uma
melhor abordagem sobre a composição do solo, foi desenvolvida a Oficina Componente
do Solo.
MATERIAL E MÉTODOS
A oficina Componentes do Solo foi realizada com duas Escolas da rede pública
de ensino, uma Municipal, a Escola de Ensino Fundamental Professor Gerardo
Rodrigues Albuquerque e outra Estadual, a Escola de Ensino Fundamental e Médio
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Ministro Jarbas Passarinho, localizadas na Cidade de Sobral, zona norte do estado do
Ceará.
A oficina foi desenvolvida para 15 alunos do 5º ao 9º ano do ensino fundamental
e 1º ano do ensino médio, que foram selecionados pelas escolas conforme área de
interesse aos temas oferecidos, a oficina ocorreu no período da tarde à contra turno dos
horários que os mesmos estudam, sendo dividida em dois dias (15 e 16 de abril) e com
uma programação bem diferenciada, que incluía visita a área de convivência do campus
do Centro de Ciências Humanas da Universidade Estadual Vale do Acaraú, onde
estavam expostas maquetes explicando como ocorre o processo de erosão, experimentos
que utilizavam o solo como tinta, jogos que explicavam os processos de formação do
solo, perfis de solo, amostras de diferentes tipos de solo,assim como a exposição e
degustação de produtos orgânicos. Para uma melhorar interação dos educandos
contamos ainda com uma visita ao Museu de Minerais e Rochas, da referida
universidade, onde poderam vê, tocar e analisar o material de origem do solo (rocha).
Toda a oficina foi ministrada no Laboratório de Pedologia e Processos Erosivos
de Estudos Geográficos (Lappegeo) no Centro de Ciências Humanas da Universidade
Estadual Vale do Acaraú, em decorrência da semana de provas das referidas escolas que
coincidiu com o período de realização do Evento do Dia Nacional de Conservação do
Solo, a oficina contou com a presença de 04 alunos no primeiro dia de oficina e 05 no
segundo dia.
No primeiro dia a oficina foi direcionada para analisar quais os conhecimentos já
adquiridos pelos educandos em relação ao solo, seguindo-se com a teorização de
importantes conceitos, como O que é o Solo?,Como se forma o Solo?, para assim poder
adentrar no tema central da oficina que era “Os componentes do Solo”, com
explanações detalhadas dos mesmo, sempre exemplificando com imagens e
amostras,desta forma os alunos tiveram a oportunidade de vê, tocar e correlacionar às
amostras de solos com as explanações feitas.
No segundo dia da oficina em questão, foi o momento direcionado a
manipulação das amostras de solos, fazendo uma correlação com as explanações do dia
anterior, onde eles foram instigados a perceberem como o solo se comporta com a
presença de água, a diferença granulométrica das amostras de Silte, Argila e Areia e
suas diferentes texturas, através da mistura de diferentes tipos de solo para criarem solos
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mais arenosos e argilosos. A partir desse contato mais direto eles construíram
“pequenas” esculturas, verificando as diferenças existentes entre solos mais argilosos,
com o qual puderam da forma as “pequenas” escultura e o arenoso o qual não toma
nenhum tipo de contorno, conforme podemos ver nas figuras 1 e 2.
A interação da teoria com a prática deu-se através do manuseio das amostras e as
explanações, sempre comparando os diferentes tipos de solos, e identificando suas
características comuns: como presença de água, de areia, silte e argila, e as diferentes
texturas e cores, como podemos ver nas figuras 3 e 4 abaixo.
FIGURA 1: DIFERENCIANDO AS DIVERSAS
TEXTURAS DO SOLO.
FIGURA 2: DIFERENCIANDO SOLOS
ARENOSOS DOS ARGILOSOS
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Para sairmos do abstrato e passarmos ao mais concreto, os educando tiveram a
oportunidade de visitar o Museu de Minerais e Rochas, no Centro Ciências Humanas da
Universidade Estadual Vale do Acaraú, onde observaram os diferentes tipos de rochas,
as quais são de extrema importância ao estudo do solo, pois o solo é o resultado final da
decomposição da rocha, ou seja, é seu material de origem.
A exibição do vídeo “Conhecendo o Solo” foi o último recurso utilizado para
evidenciar a importância do solo em nosso planeta e uma complementação de todas as
explanações feitas e experimentos utilizados, ressaltando ainda a interação das Oficinas
Componentes do Solo, A importância da vegetação para o solo e Pintando com
pigmentos de solos, que devido aos poucos estudantes que puderam comparecer se
uniram proporcionando a complementação final, tornando as oficinas mais proveitosas a
todos.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Conforme expressa Buscalia (1982) aprendemos vendo, escutando, observando,
pegando e experimentando em que o processo de aprendizagem é voluntário. Foi
partindo desse pressuposto que desenvolvemos e pensamos a Oficina Componentes do
Solo, pois a partir do momento em que os estudantes saem da sala de aula para
participarem das oficinas, para eles já é um diferencial, pois tudo que novo instiga,
provoca a curiosidade, valendo ressaltar ainda que as metodologias usadas por alguns
professores em sala de aula torna o conteúdo uma mera memorização de conceitos, e
acaba levando os alunos a caracterizarem o ensino de solo e/ou a ciência geográfica de
forma geral, como chata e memorizável (decorável), não levando em conta que a
interdisciplinaridade proporciona ao ensino de solo e as demais temática diversas
formas de se trabalhar em sala de aula.
COSTA E MESQUITA, em uma pesquisa que tinha como meta conhecer o
conteúdo dos livros didáticos de Geografia no ensino fundamental em escolas públicas
estaduais da cidade de Goiás (GO), cita diversos autores (FELTRAN FILHO et al,
1996;ROMANATTO, 2004; SILVA, COSTA FALCÃO e FALCÃO SOBRINHO,
2008; PINTO, 2009), que constataram que o uso do livro didático no ensino Brasileiro,
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ao invés de ser um material de apoio, passa a ser o único recurso pedagógico adotado
em sala de aula.
Portanto concordamos com Alves, Falcão e Sobrinho (2011) quando afirmam
que torna-se imprescindível e de fundamental importância, o trabalho e a flexibilidade
do professor não só de geografia mais das demais áreas adotar metodologias e recursos
didáticos que possam correlacionar os conteúdos a fim de expandir o raciocínio do
aluno, sistematizar os conhecimentos e despertar o seu interesse do aluno.
Desta maneira acreditamos que o ponto auto para um educador é quando ele
constata que seu trabalho teve resultados, que todo aquele empenho para selecionar
material, estudar cada ponto e contra ponto, estimulou seus alunos a questionarem e a
pesquisarem sobre suas falas, e o mais importante entenderam e aprenderam o que lhes
foi direcionado.
Foi de grande satisfação, quando no momento de manusear as amostras eles
interligaram as explanações feitas, questionaram e até pediram para repetir, pois não
haviam entendido, demonstrando interesse pela temática, e mais uma vez afirmando a
fragilidade existente em muitas escolas quanto a abordagem do tema solo. Portanto a
partir do momento em que eles passam a definir solo para além de uma palavra (Terra
ou Vida), ou mesmo, indo muito além dos conceitos existentes nos livros de didáticos,
acreditamos que a utilização de novas metodologias configura-se como uma importante
forma de instigar o aluno aprender sobre o solo e a ciência geográfica.
Pois como diz Alves, Falcão e Sobrinho (2011) apalpar o material de origem
“rocha” não é a mesma coisa que fazer a leitura do mesmo no livro didático. Perceber
com o visível a variedade de tipo de rochas e suas diferentes cores desperta nos alunos a
curiosidade e atenção durante a oficina.
Podemos evidenciar nas falas dos estudantes o quão significativo foi a
participação na oficina através da exibição do vídeo Conhecendo o Solo, onde
identificaram muitas das explanações realizadas, dizendo “ olha professora você falou
sobre essa camada orgânica, realmente ela é mais escura” ou “ nossa eu nunca tinha
percebido como o solo é importante, por que é ele que dá sustentação a vida”, ou ainda
mais “nossa eu não sabia que existia ar no solo e que por causa do asfalto a água é
impedida de infiltrar, e acontece muitas vezes as enchentes” e mais importante “ como é
bom participar dessas oficinas, já participei de outras e gosto bastante, pois consigo
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compreender os conteúdos melhor que pelo livro didático, sempre que tiver quero vir”.
Todos participavam ativamente, curiosos e expondo realmente suas dúvidas e sempre
comentando sobre as demais oficinas que já tinhas participado que todas eram muito
legais, e algo que consideramos muito importante foi que além de participaram
ativamente os educandos ainda convidaram e trouxeram seus amigos para participarem
da oficina.
Portanto a oficina não se tratou apenas de repassar conteúdo, mas sim de uma
maneira mais interativa de abordar o assunto, levando os alunos a compreendê-lo, pois
como afirma RUSSO (1982) o papel do professor não é tanto criar novos motivos, que
são consequência de muitos fatores culturais e sim manipular incentivos e possibilitar a
incorporação de novos significados a objetos, palavras e ideias, pois “aprende-se com o
que se faz”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A oficina Componentes do Solo foi uma oportunidade riquíssima de
conhecimento, superação e de conquistas, pois é uma responsabilidade enorme está
diante daqueles alunos, compartilhando os conhecimentos, ensinando e aprendendo uma
oportunidade antecipada da prática docente. Ainda dentro da universidade, aprendendo
a enfrentar as dificuldades que aparecem de súbito em nosso cotidiano, essa talvez tenha
sido uma das mais valiosas lições adquiridas na oficina, pois o que era para ser um
ponto negativa ( a pouca quantidade de alunos presentes, em decorrência da semana de
provas das escolas) tornou-se um ponto crucial e extremamente significativo nas
oficinas Componentes do solo, A importância da vegetação para o Solo e Pintando com
pigmentos de Solos, que tiveram a oportunidade de se unirem, fazendo assim a
interação entre os diferentes temas, o que não seria possível com um número mais
elevado de alunos.
A oficina mostrou-se significativa para os alunos também que saem do seu
cotidiano em sala de aula e tem a oportunidade de conhecerem mais de perto a
universidade, que para muitos está muito perto e ao mesmo instante muito distante, e
proporcionando aos graduandos incentivo pela busca do “novo”, pois a oficina foi um
momento de aprendizagem tanto para os graduandos, como também para os estudantes
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que aprofundaram seus conhecimentos sobre esse componente tão importante do
ecossistema terrestre que é o solo, passando a “enxergá- lo” muito além do “superficial”
e “conceitual”, mas como algo de grande importância em nosso cotidiano.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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http://www.uvanet.br/rhet/artigos_setembro_2011/discutindo_solo_escola.pdf.
Acessado em: 27 de março de 2013.
LIMA, V. C.; LIMA, M. R.de; MELO, V. de F. (Eds.) O solo no meio ambiente:
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paradigmas. In:___ I Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental, vol I, 2010, Bauru/SP.
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http://www.geografiaememoria.ig.ufu.br/downloads/259_Angela_Maria_de_Andrade_S
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Geoeducacionais. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, v. 3, n. 6, p. 71-78, jul/dez,
2012. Disponível em: http://www.geosaberes.ufc.br. Acessado em: 08 de abril de 2013.
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O IMPACTO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO EM MUSEUS: ESTUDO DE CASO NO MUSEU DA
GENTE SERGIPANA
Waldir Roque MAffei
1
Jossiane Boyen Bitencourt2
RESUMO
As mudanças que as tecnologias propiciam em nossa sociedade são importantes, pois aumentam
a interação entre os seres humanos e máquinas. As mais diversas mídias são transmitidas em
equipamentos cada vez mais rápidos e leves e já percebe-se os efeitos dos usos das Tecnologias
da Informação e Comunicação nos mais variados processos de ensino e aprendizagem. Elas
estão se tornando um instrumento precioso no processo de comunicação entre o museu e o seu
público. A sua utilização como complemento de uma exposição vem facilitar a transmissão da
mensagem pretendida e captar a atenção do visitante, possibilitando uma nova visão do objeto
museológico. Neste trabalho apresento os resultados da análise do impacto do uso das
Tecnologias da Informação e Comunicação no Museu da Gente Sergipana. Através dos roteiros
de visitação, o público tem a oportunidade de conhecer Sergipe através de diversas informações
expostas em imagens, sons e objetos, fazendo uso dos mais variados recursos mediáticos.
Palavras-Chave: Tecnologias da Informação e Comunicação - Museu - Multimídia.
INTRODUÇÃO
Os avanços tecnológicos fizeram com que hoje a informação chegue muito rapidamente e em
grandes quantidades, de modo a acelerar o pensamento. Tecnologias podem ser projetadas para
melhorar a aprendizagem se usadas para programar atividades que levem a explorar e construir
novos conhecimentos. Assim, a mídia caminha lado a lado com nossos estudos, uma vez que a
que tecnologia não pode permanecer sem efeitos sobre as formas do saber.
O tema proposto para pesquisa relaciona-se com o impacto das tecnologias em museus, uma vez
que o autor pesquisador teve a oportunidade de conhecer um espaço que as usa, de forma
didática e que atrai os visitantes. O alvo da pesquisa são os freqüentadores (alunos, professores
e público em geral) os educadores (monitores), coordenadores e diretor do museu.
O Museu da Gente Sergipana já foi idealizado para o uso das TICs, ou seja, já nasceu no digital,
com a exploração da interatividade e didática audiovisual nos espaços criados, pensando
também em uma forma didática de levar o conhecimento aos freqüentadores.
1 Licenciatura em Geografia (UCS), Especialização em Ecoturismo (UFLA), CEDILS-Italiano-Ca’
Foscari Veneza, CILS-Italiano-Stranieri Siena, Especialização em Mídias na Educação (UFRGS), Guia
de turismo (Ministério do Turismo), Professor da rede pública em Farroupilha-RS. E-mail:
[email protected] . 2 Licenciatura em Pedagogia (PUCRS), Mestrado em Educação (PUCRS), Especialização em Mídias na
Educação (UFRGS), tutora, orientadora EAD-UFRGS, professora da rede pública em Porto Alegre-RS.
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REFERENCIAL TEÓRICO
A contribuição das novas tecnologias para os museus busca oferecer uma
oportunidade para a divulgação, preservação e acesso considerável além de ser uma
resposta apropriada para os problemas associados com os processos de proteção,
preservação e gozo da propriedade.
Por muito tempo, um museu era pouco mais que uma sala com objetos, onde os
visitantes esperavam pouco para compreender o acervo existente. Os museus não
precisavam da tecnologia, porque a experiência que eles ofereciam era basicamente
estática.
Com o tempo, o nível de exigência mudou e os visitantes passaram a dar muito
apoio para novas experiências procurando não somente objetos, mas também
experiência que proponham maior entretenimento. Logo, a tecnologia pode representar
um grande diferencial para o museu ou exposição, na busca de mais visitantes,
oportunizando experiências gratificantes para que o público sempre retorne.
As Tecnologias da Informação e Comunicação são um conjunto de produtos e
serviços, equipamentos e aplicativos que permitem a busca, o armazenamento,
transferência e utilização de dados.
A utilização adequada dessas tecnologias desencadeou continuados processos de
ensino e aprendizagem em que as competências dos processos estão no investimento de
formas de capacitar e dar condições para que a utilização criativa de novas mídias seja
simplificada e traga benefícios à aprendizagem.
Veloso (2011) sustenta que as TICs devem ser pensadas como mediação, pois
são integrantes de um conjunto de instrumentos que tem sua importância na
possibilidade de implantar uma mudança qualitativa ao trabalho, como recurso para a
ampliação das habilidades profissionais.
A cultura é tudo o que eleva o homem, seu estado de natureza, e fornece uma
medida do grau de civilização de um povo. A civilização é o conjunto de habilidades
cognitivas de uma sociedade humana em um dado momento histórico. (WILDER,
2009).
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O digital favorece a democratização da cultura, rompe barreiras e modifica as
formas tradicionais, uma vez que se utiliza de tecnologias globais. Passa-se por
mediações/interações entre as práticas comunicacionais e a sociedade, para diferentes
escalas de tempo e para uma pluralidade cultural (BARBERO, 1997).
O digital é uma oportunidade para promover o acesso à cultura, especialmente
para os jovens. A cultura de qualidade deve ser disponibilizada para todos, mesmo
àqueles que consomem ou tem acesso apenas à cultura estabelecida (teatro, cinema,
biblioteca).
A palavra museu vem do grego – mouseion -, que indica o local de preservação
de objetos, ou seja, muito antigo onde os primitivos reuniam seus artefatos, depois
provados pelos achados em tumbas. Mas no segundo milênio antes de Cristo, quando os
mesopotâmios passaram a copiar inscrições antigas para educação dos jovens, é que
podemos ter uma ideia mais moderna de museu (JULIÃO, 2000).
A palavra museu vem do grego – mouseion -, que indica o local de preservação
de objetos, ou seja, muito antigo onde os primitivos reuniam seus artefatos, depois
provados pelos achados em tumbas. Mas no segundo milênio antes de Cristo, quando os
mesopotâmios passaram a copiar inscrições antigas para educação dos jovens, é que
podemos ter uma ideia mais moderna de museu (JULIÃO, 2000).
Conforme Horta (1999, p. 29), “o ato de reunir objetos numa coleção determina
uma intenção e uma lógica do ser humano ou das instituições responsáveis pela
coleção”. O objeto, quando é retirado de seu contexto original e colocado numa
exposição, apresenta outro sentido - passando a ter um valor simbólico, complexo e
subjetivo, em relação às suas funções originais. Para tanto, os bons museus têm
atrativos que possibilitam às pessoas observar as raízes da sociedade e das culturas.
O Museu da Gente Sergipana é um projeto do Instituto Banese em parceria com
o Governo do Estado de Sergipe. O Instituto possui como mantenedores estatutários que
arcam com todos os custos de gestão do Museu: BANESE – Banco do Estado de
Sergipe, SEAC – Sergipe Administradora de Cartões e Serviços Ltda. e a BANESE
Corretora de Seguros.
A construção e a operacionalização do Museu só foram e são possíveis graças
aos investimentos feitos pelos mantenedores que demonstram o comprometimento com
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a preservação do patrimônio histórico e artístico-cultural de Sergipe, utilizando-se dos
recursos digitais como mediadores.
Diversos recursos interativos e de multimídia possibilitam uma imersão em
Sergipe, perpassando por suas manifestações folclóricas, símbolos, natureza, artes,
história, culinária, festas e costumes.
A figura mostra o público interagindo em um ambiente de uma feira típica de Sergipe.
A museologia é um campo da cultura que possui práticas e representações, que
permite ser integrante de sistemas simbólicos. Possui uma esfera disciplinar, pois, se
formaliza como ciência. É uma área do conhecimento que se fundamenta na
administração, conservação e organização de acervos e preparação de ações culturais.
O uso da tecnologia modifica o modo de estar no mundo em que ocorre a
produção de novos sujeitos, com novas e diferentes competências e habilidades. O
museu se diversifica, se transforma, cria espaços totalmente interativos.
Segundo Adotevi (1971), a contribuição possível para os museus ao
desenvolvimento deve ser, a de se constituírem como núcleos de inspiração, lugares de
profusão cultural, matrizes fecundas em que se fundem as teorias humanas do
desenvolvimento. A partir desse momento, pode-se propor que o museu possa ser centro
de formação e de reciclagem histórica.
METODOLOGIA
PÚBLICO INTERAGINDO NO MUSEU
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A ideia de educação nos museus passou para uma reflexão da ampliação do foco
de interesse das discussões na área da Museologia. Hoje os setores do museu são
solicitados a demonstrar a linha educacional em suas atividades, contribuindo para
dinamizar a relação do ser humano com o patrimônio cultural.
O Museu da Gente Sergipana tem a capacidade de potencializar a construção do
conhecimento do público, desenvolvendo atividades de interação, levando a um olhar
curioso e investigativo no contato ao conteúdo que ali se encerra.
A pesquisa busca trazer a combinação entre o método qualitativo e quantitativo
buscando garantir um certo grau de validação externa e interna na pesquisa. A
investigação quantitativa atua sobre os níveis de realidade e tem como objetivo básico
trazer dados, indicadores e tendências observáveis. Já a investigação qualitativa visa em
valores como atitudes e opiniões
Minayo (2007) considera que tudo pode ser quantificável, o que significa
traduzir em números as opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Requer
o uso de recursos e de técnicas estatísticas, bem como os resultados precisam ser
replicados.
A tecnologia pode e deve desempenhar um papel fundamental na atualidade,
pois ela permite o armazenamento e a circulação de informações, além de multiplicar as
possibilidades de utilização do saber. As TICS abrem para todos a possibilidade de dar
continuidade ao seu próprio processo de aprendizagem, tomando como base o cotidiano
que pode ser qualificado como patrimônio cultural.
O estudo de caso é um tipo de pesquisa que tem sempre um forte cunho
descritivo a ser utilizado o empreendimento “Museu da Gente Sergipana”, com objetivo
da investigação instrumental e para se examinar como as tecnologias da informação e
comunicação poderão ser usadas posteriores.
O teórico Yin (2001) traz como definição que o estudo de caso é um processo de
investigação empírica (de observação da realidade) em que se pretende estudar um
fenômeno no contexto real que ocorre, com múltiplas fontes de evidência (dados) e
cruzar os dados recolhidos.
O objeto de pesquisa foi um museu que faz o uso das tecnologias de informação
e comunicação em que o visitante pode interagir. O problema de pesquisa busca
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responder qual o impacto que as novas tecnologias da informação e comunicação (TICs)
produzem na compreensão do bem cultural e do museu que a abriga..
Através dessa pesquisa procura-se retratar a realidade do museu, procurando
revelar a multiplicidade de itinerários, bem como a realidade que pode ser vista sob
diversas perspectivas, trazendo essas diferentes visões e opiniões a respeito do espaço
museológico. Os relatos serão aqui indicados por textos escritos, fotografias, gráficos e
tabelas.
Assim, será feita uma pesquisa por amostragem, de forma quantitativa e
qualitativa (mista) com questionários, com questões abertas e fechadas, para dar
subsídio ao estudo de caso. O questionário é um instrumento de investigação que
procura coletar informações baseando-se, geralmente, em grupos representativos da
população em estudo.
Esta etapa corresponde avaliar os resultados obtidos, propondo soluções e
aplicações práticas. Uma vez concluída a fase de coleta de dados, é preciso organizar o
modo como estes serão avaliados. Há a descrição e a reflexão sobre o significado dos
dados obtidos, na qual podem ser utilizados gráficos, tabelas, quadros ou outros
recursos impressos que revelem a sua riqueza. A análise dos dados vai ser quantitativa,
utilizando o tratamento estatístico e qualitativa, que descreve o tipo de conteúdo e
levantamento de categorias.
A partir disso, segue-se a discussão deste material, englobando a comparação do
que foi apresentado teoricamente, do que foi proposto como objetivo/hipótese
analisando os dados obtidos através da coleta de informações provenientes da pesquisa
de campo ou da pesquisa teórica. Portanto, esta seção envolve a interpretação dos dados
a fim de obter uma resposta para o problema de pesquisa,
O estudo de caso partiu pela busca de respostas aos questionamentos
apresentados na problematização. Os museus podem ser mais atrativos para o público se
disponibilizarem mais tecnologias para alargar e multiplicar as experiências sensoriais e
cognitivas que cada sujeito pode usufruir? Até que ponto o museu sensibiliza o visitante
utilizando as tecnologias digitais? Qual a relação que ele estabelece com novos canais
de produção, formação e circulação com artistas e o público?
A figura representa o fluxo de visitantes do museu em dez meses de
funcionamento. Percebe-se que o pico está em janeiro e julho, justamente os dois meses
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de férias em Aracaju. Interessante que em nenhum mês as visitas foram inferiores a
cinco mil.
O Museu tem um diferencial para que chegasse a um fluxo de mais de 70 mil
pessoas em dez meses. Ele abriu as suas portas aos visitantes, oferecendo a gratuidade
de ingresso, alicerçado no objetivo de democratizar o acesso à cultura.
Para que o espaço chegasse a este patamar, ocorreu um processo, de acordos
entre as partes interessadas (os parceiros) e sobre o direcionamento futuro do museu.
Essa parte é vital, porque estabelece um acordo sobre a visão geral e aumenta
consideravelmente a chance de mais tarde se chegar a uma ampliação das ações de
apoio ao patrimônio material e imaterial.
Após a análise dos questionários aplicados, destaco aqui alguns registros dos
entrevistados, com a preservação do anonimato, conforme termo de consentimento.
O tipo de museu: “É um espaço de memória que prima pela interação e resgata
elementos característicos das práticas culturais dos sergipanos”.
Espaços de atração: “Todos, porque procuraram manter a cultura do povo, o que
é muito importante, principalmente no nosso país, onde o povo esquece suas tradições”.
Tecnologias para Educação: “As tecnologias dão a oportunidade de um contato
facilitado e mais abrangente à informação, possuindo diversas ferramentas de extensão
ilimitada ao conhecimento”.
dez/11 jan/12 fev/12 mar/12 abr/12
6.700 10.631 5.385 7.196 5.305
mai/12 jun/12 jul/12 ago/12 set/12
5.158 6.092 10.263 7.799 7.545
total Fonte: Museu da Gente Sergipana
72.074
NÚMERO DE VISITANTES NO MUSEU POR MÊS
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4811
Museu e influência na aprendizagem: “Na cultura sergipana, pode passar
conhecimentos de forma bastante prática, sem termos que recorrer a vários livros. É
bastante útil para tornarmos um indivíduo, conhecedor de sua cultura”.
Museu tradicional e tecnologias: “Os dois tipos de museu tem a finalidade de
passar informações sobre um contexto histórico ou artístico, as singularidades estão na
forma de interação do público com essas informações”.
Educador (monitor) do museu: “Em primeiro lugar, a oportunidade de um
estágio; em segundo lugar, por ser um museu interativo que servirá de referência para
outros espaços; em terceiro lugar, ótimo para meu currículo”.
O museu tem todo um direcionamento, bem alicerçado e responsável da
mantenedora e coordenadores que elaboram as escalas de trabalho dos educadores, que
oportunizam a interatividade dos freqüentadores.
A RELAÇÃO MUSEU-ESCOLA
As iniciativas realizadas pelos museus possuem o objetivo do desenvolvimento
do ser humano, em que a função educativa é vinculada nas relações que ocorrem entre
os públicos e os meios de interação. Numa sociedade cada vez mais globalizada, em que
os saberes são fragmentados, o patrimônio cultural pode ser observado como um
atributo para estimular a capacidade de exercício do diálogo.
A escola e o museu possuem diferentes propostas, pois são distintos espaços
educacionais. Se os professores procuram os museus é porque querem encontrar um
espaço alternativo para a aprendizagem, além de encontrarem novas linguagens,
tecnologias, valores, conhecimentos, estimulando a curiosidade dos alunos. É
importante que os professores ou coordenadores pedagógicos façam uma análise do
espaço que se pretende visitar e a forma que o acervo é nele apresentado, para que o
aluno possa ter um melhor aproveitamento da visita.
Se analisarmos o tema relativo dos alunos com o espaço físico do museu,
percebeu-se que por se tratar de um espaço diferente da escola, a apropriação é
diferenciada. É fundamental o papel do professor como organizador e orientador da
visita, deixando depois, a responsabilidade dos educadores do Museu quanto ao
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acompanhamento no contato com os ambientes, evitando assim o seu uso escolarizado
(diferente de estar na escola).
CAMINHOS PERCORRIDOS
Percebe-se que as tecnologias digitais levam a imagem e imaginário que Junior
faz referência, que se aplica nas experiências sensoriais e cognitivas que o público vai
ter, fazendo uma imersão cultural no espaço arquitetônico que abriga o museu. Isso
implica que elas produzem diversas formas de relacionamento do homem com os
sentidos, e que a compreensão das experiências sensoriais é um caminho original para
se compreender a natureza do sujeito. Dessa forma, ampliam-se as experiências
cognitivas e até afetivas, isto é, o conhecimento e as emoções podem ser mais apurados.
Observando-se que Adotevi afirma que os museus são lugares de muita difusão
cultural, centro de formação e reciclagem histórica, declina-se ao objeto de estudo,
destacando-se instalações como “Nossas festas”, “Nossas praças”, “Nossos cabras”,
“Nossa feira”, dentre outras. Por isso, a formação de público para desfrutar desses
canais, permite que o indivíduo seja participante da construção e reconstrução de seu
modo cultural. Assim, possibilita o crescimento do pensamento crítico e das relações
interpessoais para o desenvolvimento humano.
Houve um tempo em que um museu era pouco mais que uma sala repleta de
objetos. Os visitantes esperavam pouco em termos de interpretação - ou de
entretenimento. Os museus não precisavam da tecnologia, porque a experiência que eles
ofereciam era basicamente estática. .
O Museu da Gente Sergipana vem mostrar que é possível associar as exposições,
os objetos, os cenários e outras concepções museológicas, a um estilo de interatividade
total, não deixando de lado os valores pertinentes à cultura de um povo.
Logo, o Museu da Gente Sergipana reúne as condições e motivos de por em
prática uma ideia nova, a de criar um espaço interativo, utilizando-se dos melhores
meios de comunicação e tecnologia digital. Isto posto, oferece a alternativa para os
outros museus, considerados tradicionais, de se equiparem, dentro de suas
possibilidades. Torna-se também, um laboratório para a academia, dando oportunidades
aos estudantes, de poder contribuir com seu conhecimento e colaborar para produzir
novos conhecimentos.
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4813
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CARTOGRAFIA DIGITAL COMO RECURSO METODOLÓGICO PARA
O ENSINO DA GEOGRAFIA
lizabete Santana Maia
1
Edilene de Luz Santos2
José Raimundo de Santana Júnior3
RESUMO
Diante da imprescindibilidade das mudanças no mundo contemporâneo, à cartografia aparece
envolvida no âmbito das transformações humanas e naturais, e os chamados TICs (Tecnologias
de Informação e Comunicação) tornam-se instrumentos fundamentais na realização das práticas
docentes, que procura introduzir nas aulas o uso dos mais variados recursos tecnológicos, a fim
de acompanhar as inovações do mundo moderno e o desenvolvimento cognitivo dos alunos tão
fascinados com as novidades que não param de surgir. Nas aulas de cartografia, o uso do
computador, por exemplo, é um instrumento que vem auxiliar o professor, possibilitando que as
aulas tornem-se mais dinâmicas e atuais, ampliando os horizontes e as fontes de conhecimento
dos alunos, despertando também a curiosidade e provocando uma maior interação nas aulas de
Geografia. Porém, o uso das TICs ainda é visto como um desafio para muitos profissionais que
não tiveram uma formação voltada para o uso destas tecnologias, nem o conhecimento sobre os
diversos programas de computador e sites na internet que disponibilizam conteúdo voltado para
o conhecimento geográfico. Outro desafio é com relação ao conhecimento do alunado na área
de informática e a acessibilidade deste com este instrumento. Com o intuito de discutir a
importância do uso de novas tecnologias no ensino de Geografia, sobretudo da cartografia, a
realização de uma oficina com os alunos do 8º ano do Colégio Estadual Murilo Braga, na cidade
de Itabaiana/SE, tornou-se necessária no desenvolvimento da prática desta metodologia de
ensino. Para a oficina foi preciso uma pesquisa voltada para os diversos sites disponíveis que
pudessem conter um engajamento geográfico favorável para a temática discutida, referente ao
‘continente americano’. Sites como o Google Earth, Google Maps, Só Geografia, Painel Global,
Guia Geo/ Terra, IBGE e StatPlanet, foram apresentados aos alunos e utilizados durante a
discussão do conteúdo. O livro didático oferecido pela instituição não foi descartado, inclusive
foi importante para a ressignificação do saber e ampliação das análises. A utilização do
computador como ferramenta, além de provocar curiosidade e desenvolver habilidades com
estes recursos, proporcionam uma maior interatividade e o desenvolvimento cognitivo dos
alunos na medida em que as aulas apenas com o livro didático os prendem da descoberta de
novas fontes de conhecimento e os impedem de romper as barreiras impostas pelo ensino
tradicional. Ao inserir novas metodologias de ensino, o professor permite que o aluno se
desenvolva como sujeito socialmente atuante, com visão crítica do espaço geográfico, na
medida em que desperta a curiosidade e proporciona maior interação. A idéia é não repassar
apenas os mapas prontos e acabados, mas influenciar os alunos na sua construção e reconstrução
do saber utilizando-se de uma ferramenta disponível.
1 UFS/ Campus Professor Alberto Carvalho; [email protected]
2 UFS/ Campus Professor Alberto Carvalho; [email protected] 3 UFS/ Campus Professor Alberto Carvalho; [email protected]
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Palavras Chaves: Cartografia digital, formação profissional, metodologia de ensino.
A CARTOGRAFIA E OS RECURSOS TECNOLÓGICOS NA PRÁTICA DE
ENSINO.
A ciência geográfica tem suscitado debates a respeito do currículo, das
metodologias e dos recursos tecnológicos que provocam mudanças no aprendizado do
aluno e na prática docente. A inserção de veículos informacionais, como o computador,
e a internet através da disponibilidade de sites que contenham um conteúdo geográfico e
cartográfico, e demais tecnologias, em sala de aula e também na vida cotidiana dos
alunos, com o objetivo de proporcionar uma maior interação nas aulas, e despertar a
curiosidade para os que rodeiam.
De acordo com Stürmer (2011) a revolução técnico-científica propagada no
século XX, proporcionada pela globalização e pelas novas invenções no campo da
comunicação e dos transportes, fez com que houvesse uma transformação do espaço
numa relação em rede, que permitiu a circulação ampla de pessoas, mercadorias, capital,
serviços, comércio e, principalmente, de informações, de maneira acelerada, através dos
TICs. Com isso, aumentaram-se as pesquisas e vários programas de computador e sites
na internet passaram a disponibilizar ferramentas que contribuem para a construção do
conhecimento geográfico.
A Cartografia aparece no ensino da Geografia, envolvida no âmbito das
transformações humanas e naturais, e a informática se torna um instrumento importante
na desenvoltura destas práticas tecnológicas dissipadas no mundo contemporâneo,
principalmente quando se considera que o ensino tradicional ainda se faz muito presente
nas instituições escolares, inclusive tem-se o livro didático como principal recurso de
trabalho, desproporcionando uma forma de conhecimento mais dinamizada e crítica da
realidade. As práticas da Cartografia no ensino fundamental e médio são de grande
importância para desenvolver a percepção espacial e a interatividade dos alunos com
relação aos aspectos físicos, humanos, socioeconômicos que os rodeiam, entendendo
que:
A cartografia se torna geográfica a partir do momento em que ela não
se preocupa somente com a representação do espaço físico, mas
também com a relação que o homem mantém com aquele espaço e
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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que o espaço mantém com o homem, promovendo um elo entre
geografia técnica e geografia humana, proporcionando uma relação do
meio físico com a atividade humana (SANTOS, 2013, P. 2).
De acordo com Rocha (2010) a Cartografia é uma forma de representação que
existe desde a Pré-história, mesmo antes de desenvolver a escrita o homem já deixava
gravuras nas paredes das cavernas que contavam sua história, eram desenhos das mais
variadas formas e em vários lugares. Foi uma maneira encontrada pelos povos para
demarcar seu território.
A forma principal de representação da Cartografia já era através dos mapas, os
quais eram feitos em madeira, esculpidos ou pintados. Com o passar do tempo, os
conhecimentos foram se aprimorando, e a maneira de representar o espaço
cartograficamente também. Surgiram novas formas de representação do espaço habitado
e com o auxílio da informática ampliou-se o acesso a uma variedade de informações, e o
profissional da educação diante destas novas práticas, foi impulsionado a conhecer estes
recursos e abrir um novo espaço em suas aulas, a fim de levar ao seu público alvo à
inserção no ‘universo da tecnologia de informação’, linguagem contemporânea presente
em nossa sociedade.
A utilização de mapas na sala de aula faz com que os alunos consigam visualizar
aquilo que o professor está explicando, os mapas digitais e sites com conteúdo
cartográfico, bem como os sites com atividades e jogos possibilitam que os estudantes
possam interagir com as máquinas e o conteúdo cartográfico.
Os mapas que antes se apresentavam num formato impresso,
preestabelecido, estático e sem nenhuma possibilidade de
interatividade, se apresentam atualmente em meios eletrônico e o
usuário pode se apoiar num sistema multimídia, para melhor
compreender o espaço neles representado (SANTOS, 2012, P. 23)
Sem contar que os mapas impressos não acompanham as mudanças que o espaço
geográfico está sujeito, cabendo ao professor fazer essa observação, mostrar que o que
está no mapa pode não estar da mesma forma na atualidade. O aluno precisa
compreender que o espaço está em constante mudança, e deve saber fazer essa relação
entre o que está no mapa e o que está ocorrendo na realidade.
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4819
O uso de mapas digitais possibilita ao aluno mergulhar em um universo de
representações mentais, por não ficar preso ao mundo estático do mapa em papel. Silva
e Cassol (2010) discorrem sobre a inserção da informática na cartografia, e dizem que:
Com o desenvolvimento da informática, a ciência cartográfica passa a se dedicar
à automação do desenho, ou seja, significa dizer que a Cartografia analógica das
técnicas manuais passa a apoiarem-se softwares e hardwares cada vez mais sofisticados
integrando as bases de informação alfanumérica com a informação gráfica de
determinado espaço, através dos Sistemas de Informação Geográficos (SIGs) e o
Sensoriamento Remoto, correspondendo à Cartografia digital. (p. 88).
Existem atualmente muitos programas de computador e sites na internet, com o
intuito de melhorar o ensino aprendizagem, além de estimular a curiosidade e aquisição
de novos conhecimentos. De acordo com Costa:
No século XXI, aquele que não souber utilizar um computador,
acessar a internet, será considerado “analfabeto do futuro”, e a falta
desse tipo de conhecimento, certamente contribuirá para a exclusão
social. Por esta razão, quanto mais cedo os alunos tiverem acesso aos
recursos tecnológico, mais preparados estarão para acompanhar os
avanços tecnológicos do século XXI (COSTA, P.2 e 4, 2013)
A utilização desses recursos visuais digitais encontrados em sites na internet
potencializa a compreensão daquilo que é encontrado na paisagem, entendendo que
estes não devem ser compreendidos sem a construção de uma análise mais aprofundada.
Entretanto, ainda há uma dificuldade em se trabalhar com alguns destes, devido seu
elevado grau de complexidade, para isso as instituições devem oferecer aos
profissionais cursos de especialização, a fim de que estes possibilitem em suas aulas
maior envolvimento com a realidade atual do mundo informacional. A necessidade de
uma educação continuada após a licenciatura é uma forma de atender à demanda gerada
pelo acesso que a internet oferece pensando no que a utilidade educativa pode oferecer,
tanto facilitadora do ensino, quanto para atender à necessidade contemporânea.
Daí surge à reflexão do profissional em acompanhar estas transformações, com o
intuito de facilitar a comunicação com seu público, mas é preciso ressaltar a importância
da educação continuada do docente no que se refere ao conhecimento digital, a fim de
proporcionar aos alunos uma melhor utilização destes recursos.
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Stürmer (2011) faz referência à preparação dos professores de Geografia para o
uso das TIC, dizendo que é “um processo que vai da busca e atualização de conteúdos,
trocas e adaptações de materiais à produção de mídias diversas que confiram qualidade
e modernidade ao seu trabalho”. (STÜRMER, 2011, p.7).
O professor que entende a construção de conhecimento de acordo com as
transformações atuais deve estar preparado para o trabalho com novas metodologias, a
falta de habilidades com veículos, a exemplo do computador e da internet podem
prejudicar no desenvolvimento destas práticas em sala de aula. Sobretudo com a rapidez
em que a tecnologia cartográfica está evoluindo, se os professores não atentarem-se, a
distância entre sua formação e sua atualização será cada vez maior, e este se tornará
apenas um observador, e não participante deste processo de ensino, como verifica Sales
e Silva (2013).
Diante disso, é de extrema importância garantir a formação continuada dos
professores, como uma forma de promover sua inserção ao mundo informacional e levar
esse recurso para a sala de aula, usando-o de forma adequada, trabalhando os conteúdos
de uma forma diferenciada.
PRINCIPAIS OBSERVAÇÕES: DIFICULDADES, EXPERIÊNCIAS,
RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES
A oficina com a turma do 8º ano a respeito do ‘continente americano’ contribuiu
para uma avaliação das teorias discutidas a respeito da cartografia digital como
metodologia. A prática em ambiente escolar, através do uso da informática na realização
de atividades, possibilitou que os alunos pudessem conhecer as diversas utilidades
didáticas que este veículo pode oferecer inclusive o uso de jogos educativos que podem
ser empregados por eles no cotidiano.
A oficina buscou aliar o uso dos mapas impressos, do conteúdo geográfico e dos
recursos informacionais, através da utilização de sites da internet que disponibilizam
mapas digitais do continente americano. Percebeu-se que com estas práticas os
estudantes desenvolveram sua capacidade de reflexão sobre o espaço geográfico, e
compreenderam as transformações que ocorrem constantemente neste, no que se
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referem às questões sociais, políticas, econômicas, e dos aspectos físicos da área em
estudo, que repercutiu diversas indagações.
É importante considerar que estes recursos são facilitadores na realização de
atividades produtivas de diversos indivíduos, não apenas para os professores de
geografia como também de outras ciências que observam a necessidade de se trabalhar
com o auxílio de mapas, tabelas e outras funcionalidades das mais diversas análises,
porém o mau uso e a falta de conhecimento podem prejudicar a aprendizagem, pois os
recursos devem servir como um facilitador nas discussões do conteúdo, não devendo
eliminar outras metodologias importantes.
A escola é a principal responsável pelo estímulo do uso destes aparelhos
eletrônicos disponíveis na instituição, é importante que os educadores estejam sempre
cientes que estes aparelhos devem servir como facilitadores, pois possibilitam a
ampliação das discussões do conteúdo. A disponibilidade trazida pelos novos recursos
pedagógicos e pela própria metodologia de ensino compreende a importância que as
inovações tecnológicas oferecem no processo ensino aprendizagem, permitindo aos
profissionais da educação o desenvolvimento de um ensino mais dinâmico, e que
acompanha as transformações sociais.
Apesar de muitas escolas serem capacitadas com equipamentos, a exemplo de
TVs, DVDs, e computadores, muitas vezes estes não são devidamente usados, razão
pela qual se verifica o pouco incentivo no uso destes aparelhos e também a precária
capacitação dos profissionais para desenvolver as atividades com estes aparelhos, daí
novamente ressalta a importância da formação continuada para maior habilidade e
escolha de programas e sites, a fim de dinamizar as aulas e se inserir nas mudanças
espaciais tão atrativas principalmente aos olhos dos jovens.
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http://www.prac.ufpb.br/anais/IXEnex/iniciacao/documentos/anais/4.EDUCACAO/4C
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BREDA, Thiara Vichiato. A importância da formação continuada para professores de
Geografia, 2013.
Disponível em: http://prope.unesp.br/xxi_cic/27_34347957823.pdf, Acesso,
30/05/2013.
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AGENDA 21- A PRÁTICA DO OLHAR ATRAVÉS DO USO DA
FOTOGRAFIA NO ENSINO DE GEOGRAFIA1
Eloize de Angelis Huss2
Beatriz de Jesus dos Anjos3
RESUMO
Este artigo apresenta uma análise a respeito da utilização da fotografia no trabalho com a
educação ambiental e a importância da prática do olhar e valorizar o meio em que vivemos. A
preservação do meio ambiente precisa acontecer em todos os lugares e a escola tem grande
participação, pois é onde os alunos passam grande parte do seu dia para, a partir dali, levarem os
ideais de a conscientização para toda sua família e comunidade. Confere especial atenção à
metodologia utilizada, que se pautou na utilização do concurso de fotografia, que busca aguçar
olhar do aluno em relação ao meio em que está inserido, destacando aspectos positivos do seu
ambiente escolar e próximo a escola. O concurso trouxe ao aluno a oportunidade de participar
de uma atividade diferenciada onde seu trabalho ficará exposto, diante do olhar dos colegas e
outros membros da escola. A intenção aqui expressa é que o aluno consiga buscar aspectos
positivos em seu ambiente escolar através da utilização da fotografia, expressando com o seu
olhar o que foi observado. A participação dos alunos restringiu-se a um número pequeno,
devido a algumas dificuldades encontradas nos colégios, mas com ótimos trabalhos inscritos.
Palavras-chave: Ensino. Geografia. Fotografia.
INTRODUÇÃO
Partindo de experiências com o projeto Agenda 21 (PIBID), notou-se a
importância e relevância do tema preservação ambiental estar presente no cotidiano dos
nossos alunos. O trabalho envolveu muitas turmas e diversos recursos para a aplicação
do conteúdo, todos de grande valia e aproveitamento. Coloca-se aqui a importância do
trabalho com a fotografia na Geografia, e no caso, a utilização do concurso de fotos.
É comum presenciarmos cenas diárias de descaso com o nosso meio ambiente
onde é visível a despreocupação dos seres humanos em cuidar de nosso bem tão
precioso. Atitudes simples como jogar o lixo no lixo, cuidar das carteiras, alguns alunos
não se atentam a realizar, pois sabem que um funcionário irá recolher toda sujeira
1 Artigo elaborado a partir do projeto de Monografia do curso de Especialização em Ensino de Geografia,
da Universidade Estadual de Londrina /UEL. 2 Aluna da Especialização em Ensino de Geografia/UEL; [email protected]
3 Aluna da Especialização em Ensino de Geografia/UEL; [email protected]
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depois. Também não imaginam a grandiosidade do impacto de suas atitudes, que
qualquer ato que praticamos no nosso bairro atinge em um campo maior e muito mais
pessoas.
Isso não acontece somente dentro da escola, mas também em outros ambientes
sociais. Para que a educação ambiental aconteça na escola é necessária uma mudança de
hábitos também no ambiente familiar do aluno e que ele tenha consciência do prejuízo
que suas atitudes podem causar ao meio ambiente.
O PIBID- Agenda 21 é um projeto que busca mostrar aos alunos a importância
de cuidarmos do ambiente a nossa volta. Através de atividades diferenciadas o aluno
reconhece a necessidade de rever seus costumes, pois suas atitudes geram
consequências em uma esfera maior. A Agenda 21 evidencia aos alunos algumas
atitudes que devem acontecer diariamente em qualquer ambiente social e em casa, em
prol da preservação do nosso meio ambiente.
A Agenda 21 Escolar propõe que a preocupação com o meio ambiente comece
dentro da escola, mas que atinja uma população maior fora dela, visando melhorar a
qualidade de vida no ambiente escolar e que os alunos levem esses ensinamentos a seus
familiares e amigos.
Para a aplicação da Agenda 21 Escolar é preciso um pensar global, mas um agir
local, pois cada mudança começa no seu dia-a-dia e no seu bairro, para assim provocar
efeitos em um âmbito maior. A escola tem um papel importante de criar cidadãos
críticos e conscientes da ação humana e a importância da preservação e
sustentabilidade.
A implementação da Agenda 21 na Escola pode tornar-se
imprescindível também porque crianças e jovens envolvidos num
projeto desta natureza transportarão para junto das suas famílias o à
vontade com processos participativos o que, pelo menos em parte,
servirá para levar os pais a contribuir de igual modo na construção de
uma comunidade com mais qualidade de vida ao nível local (Agenda
21- pág. 10)
A Agenda 21 escolar propõe a participação de toda a comunidade escolar em
atividades que busquem um ambiente mais sustentável e justo a todos. De acordo com o
caderno da Agenda 21 Escolar, existem algumas fases para a implementação da mesma:
Motivação - onde é colocada a importância da participação de todos e o compromisso;
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Reflexão - pensar sobre o ambiente de ensino e seu grau de coerência com a ação dos
seus membros e o meio ambiente; Diagnóstico - Identificar os problemas existentes no
estabelecimento de ensino ou gerados por este; Ação - Elaborar e desenvolver um plano
de ação, hierarquizando os problemas mais urgentes e/ou que sejam mais facilmente
solucionáveis; estabelecer objetivos para a resolução dos problemas; estudar alternativas
para solucionar os problemas; formalizar um plano de ação, fruto de discussão e
consenso entre os vários membros da comunidade escolar.
A elaboração da Agenda 21 Escolar promove a integração de seus
participantes, não só para elaboração de um documento, mas no
desenvolvimento de ações que estejam de acordo com a realidade,
atendendo às expectativas no que diz respeito à qualidade de vida e
que esteja condizente com os encaminhamentos pedagógicos da
escola. Lembramos que a qualidade de vida para um estabelecimento
escolar pode ser a aquisição de conhecimento, a diminuição da evasão
escolar, participação dos pais, relacionamento interpessoal, melhoria
da merenda escolar, diminuição dos resíduos produzidos, redução do
desperdício (água, merenda, material de consumo), verificação do
esgotamento sanitário, uma vez que a escola não é isenta de problemas
ambientais e está inserida no ambiente. (SEED. Construindo a Agenda
21 Escolar- pág.11)
É necessário que aluno tenha uma aprendizagem crítica, onde forme opiniões e
os recursos didáticos contribuem para o desenvolvimento do cidadão. Assim como
afirma Moreira (2000), A utilização de materiais diversificados, e cuidadosamente
selecionados, ao invés da "centralização" em livros de texto é também um princípio
facilitador da aprendizagem significativa crítica.
Os recursos didáticos não podem ser utilizados como se fossem as
aulas em si. Isto é, se o professor utilizar um filme, deve interromper a
projeção, fixar cenas, discutir com os alunos, fazer relatório... [...] Eles
precisam ser adequados aos objetivos propostos para a aprendizagem,
devem apoiar as atividades, devem ser adequados aos conteúdos e à
metodologia empregada. (MELLO, 2004)
METODOLOGIA
O professor precisa de instrumentos e técnicas diferenciadas em sala de aula, foi
escolhida a fotografia como instrumento deste trabalho. A fotografia é um meio de atrair
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a atenção dos alunos, pois contribui e facilita a assimilação do conteúdo com a
realidade, principalmente a geografia que possui conteúdos complicados de serem
compreendidos sem uma imagem.
A fotografia aliada ao ensino traz uma grande contribuição na dinâmica da aula e
na compreensão do aluno sobre o conteúdo e da importância do mesmo para seu papel
de cidadão. De acordo com o tema, Mussoi (2008) coloca que a imagem utilizada para
leitura do mundo numa perspectiva problematizadora e interdisciplinar, pode tornar-se
uma grande aliada da educação no papel de formação dos sujeitos que enfrentarão os
novos desafios impostos pela sociedade.
O projeto do Concurso de fotografia foi elaborado com o objetivo de
desenvolver no aluno a importância da prática do olhar para a paisagem escolar e seu
ambiente de vivência, notando as interferências humanas e as suas consequências,
observando também ambientes preservados e as varias diferenciações que existem em
ambos.
A fotografia, de acordo com Travassos (2001, pág. 2), pode ser entendida como
“uma fonte infinita de dados, fatos e informações, transformando-se por isso, em um
poderoso instrumento de ‘materialização’ de lugares nunca antes visitados por alguns”.
Ela tem o poder de levar a pessoa a conhecer um lugar sem mesmo sair de onde está.
A arte de fotografar traduz o que o fotógrafo sente, mas ao mesmo tempo dá a
oportunidade de cada um observá-la, fazer sua leitura e ter uma opinião diferente dos
outros. Uma pessoa quando tira uma foto, expressa suas vontades, seus gostos, mostra
suas realizações e conquistas. O olho é a janela da alma, assim como tratado no
documentário “A Janela da Alma” de Walter Carvalho e João Jardim, cada personagem
tem sua maneira de olhar, perspectivas diferentes de ver a vida, mesmo com
dificuldades na visão.
A fotografia é o olho da história, ela “congela” momentos e situações que podem
ser guardadas e conservadas, é um meio de expressão do individuo, sua linguagem está
representada nela.
Fotografia é memória e com ela se confunde. Fonte inesgotável de
informação e emoção. Memória visual do mundo físico e natural, da
vida individual e social. Registro que cristaliza, enquanto dura, a
imagem de uma ínfima porção de espaço do mundo exterior. É
também a paralisação súbita do incontestável avanço dos ponteiros do
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relógio: pois o documento que retém a imagem fugidia de um instante
da vida que flui ininterruptamente. (KOSSOY, 1989, p. 101).
O ensino de Geografia precisa utilizar diferentes linguagens que possibilitem ao
aluno observar e interpretar, construindo a sensibilidade do olhar, criticando e refletindo
sobre suas atitudes e práticas em relação ao meio. Em sala é importante analisar a foto,
deixar claro quem é o autor, discutir qual o seu objetivo, o que ele pretendia representar
na foto, o que está mais aparente na mesma, etc.
A fotografia não substitui os textos, mas complementa sua utilização, podendo
ser usada para tornar uma aula mais dinâmica e interessante. Nela, o fotógrafo retrata
fielmente a realidade observada no momento em que ela foi tirada, assim cabe ao
professor instigar os alunos a observar e ler a imagem, descobrindo cada componente
presente na mesma e seu significado.
Utilizada como recurso didático no ensino da Geografia, a fotografia
desenvolve no aluno sua percepção visual sobre o espaço retratado.
Ela não substitui textos ou outras fontes de informação geográficas,
mas se agrega a estes recursos cabendo ao professor ao fazer uso de
diferentes linguagens, a opção de incluir a fotografia como mais uma
possibilidade para tornar as aulas dinâmicas e prazerosas. A
observação de uma imagem fotográfica fornece pistas da realidade
segundo o olhar de quem a produziu, cabendo ao professor a tarefa de
estimular os alunos para descobrir o significado dos elementos
presentes na imagem, que poderão ser revelados através de sua leitura.
(MUSSOI, 2008)
As transformações que estão acontecendo a todo o momento vêm acompanhadas
de imagens, que estão presentes em todos os ambientes e podem ser vistas na internet,
no celular, computador. A imagem é compartilhada para todos, mas cada um tem sua
forma de interpretá-la, ai sua importância no desenvolvimento da opinião e criticidade.
O Concurso de Fotografia escolar é intitulado “Clicando a escola e o entorno”,
com o tema: Educação Ambiental na Escola. O concurso pautou-se em um edital que
foi elaborado depois de uma pesquisa. Como resultado final, o material compunha-se de
algumas regras principais para a participação, dentre elas a dimensão da foto (20x30),
qualidade, estética, relação com o tema, publicações inéditas e a cores, sem qualquer
tipo de tratamento.
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A divulgação do projeto realizou-se nos colégios por nós no período noturno e
pelos alunos do PIBID nos outros períodos, também contamos com a ajuda do
Alessandro Vioto nessa fase. O aluno que interessado em se inscrever deveria preencher
uma ficha com seu nome, turma, dar um título a foto e uma descrição do local
fotografado.
Por se tratar de um concurso de fotografia escolar, uma banca foi escolhida em
cada colégio para avaliar as fotografias segundo os critérios presentes no edital: a)
Criatividade; b) Relação com o tema do concurso; c) Originalidade; d) Qualidade da
foto; e) Técnica e estética.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível observar a necessidade da mediação do professor para um bom
andamento das atividades. A participação dos alunos com o concurso não se realiza da
mesma forma em todos os Colégios, temos alunos muito interessados que buscam
participar, mas existem outros que só interagem quando há ação do professor.
O trabalho se realizou em três Colégios diferentes, e obtivemos um resultado
diferente em cada um. Onde houve a participação e colaboração de professores
realmente envolvidos, o trabalho deu-se de maneira excelente, já onde nenhum
professor pôde estar realizando essa tarefa, os alunos não participaram. A seleção e
premiação das melhores fotos estão em andamento e dentro do prazo previsto para sua
realização, sendo que as fotos estão expostas nos colégios para que a banca analise os
critérios definidos.
Inicialmente, a intenção era que os alunos entregassem as fotos impressas
juntamente com a ficha de inscrição, pois o custo para sua revelação era pequeno, mas
durante o andamento do projeto notamos que os alunos não buscam participar sem que
haja um professor mediando a atividade e se responsabilizando pelas fotos.
Para um bom andamento do concurso contamos com a ajuda de professores que
contribuíram com a revelação das fotos. Os professores recolheram as imagens com os
alunos e ficaram responsáveis pela impressão das mesmas. Alguns obstáculos, como a
divulgação do trabalho em todos os períodos de aula, diminuíram a quantidade de
inscritos.
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Recebemos ótimos trabalhos, e notamos que a participação maior foi dos alunos
no ensino médio. Na descrição das fotos, observa-se a relação dos locais fotografados
com a vivência dos alunos, também ressalvam as belezas naturais, colocando como é
lindo o ambiente que vivemos e a necessidade de cuidar desse local. A fotografia,
optada para o presente trabalho, é um tipo de imagem que representa uma realidade, ela
expressa a visão do fotógrafo, mas fica aberta a diferentes julgamentos de quem a
observa.
Através da descrição abaixo observamos o alcance de um de nossos objetivos,
que era instigar o aluno a observar o ambiente, notando suas peculiaridades:
“Chamou minha atenção porque é uma planta diferente que eu nunca tinha
visto.” Aluno do 9º ano.
Abaixo algumas das fotos tiradas pelos alunos de dois dos colégios participantes
do Concurso de Fotografia- Clicando a escola e o entorno.
A exposição realizou-se em dois colégios, sendo que haverá uma oficina a ser
realizada no terceiro colégio, para que o trabalho possa ser concluído como o planejado.
“FORMIGAS LONDRINENSES”- AUTOR(A):ALUNA DO ENSINO MÉDIO
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“AZULEJANDO”- AUTOR(A);ALUNA DO ENSINO MÉDIO
“ELES SE ENCONTRAM”- AUTOR(A): ALUNA DO ENSINO MÉDIO
“QUANDO MENOS SE ESPERA HÁ VIDA”- AUTOR (A): ALUNO DO ENSINO MÉDIO
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“PELA JANELA”- AUTOR (A): ALUNA DO ENSINO MÉDIO
EXPOSIÇÃO DE FOTOS NO COLÉGIO 1- AUTOR (A): ELOIZE HUSS
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EXPOSIÇÃO DE FOTOS NO COLÉGIO 2- AUTOR (A): ELOIZE HUSS
Diante desses resultados deixamos aqui a contribuição desse trabalho para o
olhar do aluno valorizando o local que ele frequenta diariamente. É fácil notarmos a
presença dos problemas em qualquer lugar, mas parar e observar o que há de bom quase
nunca acontece. Se pararmos para analisar um local que passamos todos os dias, mas
com pressa, notaremos a presença de muitas coisas que nunca havíamos enxergado. É
preciso dar essa valorização ao nosso ambiente e a fotografia serviu para registrar isso,
no caso elencando o que há de importante e positivo nos lugares.
REFERÊNCIAS
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http://www.futurosustentavel.org/fotos/plano/Caderno_A21.pdf. Acesso em mai. 2013.
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desenvolvimento.
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2002.
KOSSOY, B. Fotografia e história. São Paulo: Ática, 1989.
_____Realidade e ficções na trama fotográfica. São Paulo: Ateliê Editorial, 1999.
MELLO, Rosangela M. Tecnologia da Educação, 2004. Disponível em:
http://www.tiapri.com/publico/docs/tecnologias_ensino.pdf. Acesso em mai. 2013.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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MUSSOI, Arno Bento. A fotografia como recurso didático no ensino de Geografia.
Guarapuava, 2008. Disponível em:
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/785-2.pdf. Acesso em mai.
2013
SEED – PR. Construindo a Agenda 21 Escolar (Versão Preliminar). Curitiba-
Novembro – 2006. Disponível em: http://api.ning.com/files/PN*ueYNEhChSwUj0-
On1M4vGkNwIynbDGBOeAru*iFXkKtitB0fdnkKmzgQOtVhr6V211C0*zBntuqAEw
VdixgLMGbhKRedq/agenda_21_ana_maria.pdf. Acesso em mai. 2013.
TRAVASSOS, Luiz Eduardo Panisset. A fotografia como instrumento de auxílio no
ensino da Geografia. Revista de Biologia e Ciências da Terra. Volume 1 - Número 2 –
2001. Disponível em: http://eduep.uepb.edu.br/rbct/sumarios/pdf/fotografia.pdf. Acesso
em mai. 2013.
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ARTICULAÇÕES ENTRE ARTE E POLÍTICA NA PRÁXIS
GEOGRÁFICA CRIATIVA: EM BUSCA DO DIREITO À CIDADE
Anael Ribeiro Soares1
Marcolino Alves Cardozo2
RESUMO
Buscamos, a priori, revestir através de uma fundamentação filosófica a ação político-
pedagógica e a ação artística que constituem a Geografia da criatividade que aqui ensejamos
desenvolver, analisando passo a passo a construção epistemológica por trás das instalações e
performances geográficas, sendo estes considerados conceitos e criações poéticas mediante as
quais construímos situações críticas a partir do espaço. Logo em seguida, arrematamos o
raciocínio com uma prática pedagógica, expondo o lugar de uma arte situacionista,
operacionalizada pela Geografia da criatividade, na busca pelo direito à cidade. Trata-se do
município do Crato-CE a cidade em questão, tomada como suporte para o exercício da práxis
pedagógica criativa. As atividades que foram desenvolvidas pelos estudantes da Universidade
Regional do Cariri (URCA), do 8ª semestre do curso de Geografia, integraram parte substancial
da disciplina de Estágio Supervisionado. Sob o ponto de vista metodológico, as pesquisas e
discussões concernentes as cidades médias no mundo globalizado, travadas em sala de aula,
estruturam o aporte teórico cuja materialização se deu nas instalações e performances
geográficas, reelaborando-as no ato combinatório, ou melhor, na consciência coletiva da cidade,
no seu cotidiano prático, mais especificamente em uma de suas praças.
Palavras-Chave: Práxis Pedagógica; Geografia da Criatividade; Direito à cidade.
EXÓRDIO
Compreendendo-se arte e política como campos autônomos no âmbito
conceitual, contudo, correlatos na instância prático-sensível, o limiar dessa reflexão
cadencia-se pela seguinte tônica: há uma forma atual de arte capaz de invocar a luta
política com vistas amplificadas para uma nova sociedade, preterindo a atual, do
espetáculo? Se há; como poderíamos tencioná-la? Através de um projeto político-
pedagógico amplo, não necessariamente vinculado ao aparelhamento institucional?
Certamente que estas indagações sendo congregadas numa teoria fundamentada
na arte, na política, e na criatividade pedagógica, materializando-as espacialmente,
1 Universidade Regional do Cariri; [email protected] 2 Universidade Regional do Cariri ; [email protected]
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implicam, sem dúvida, numa práxis revolucionária, através da qual possamos
operacionalizar a luta pelo direto a cidade como estratégia política, fazendo, ao mesmo
tempo, a defesa da arte e da cidade numa instância pedagógica. Assim se apresenta,
portanto, o objetivo central do presente trabalho.
A cidade em questão, o Crato, se apresenta imbricada pelo o poder, miséria,
exploração, desigualdade e exclusão; máculas impressas pela face perversa da
globalização. Tal como a arte, está então impregnada de uma ordem próxima e uma
ordem distante, isto é, situa-se numa linha fronteiriça assediada por relações produtivas
e regimentos ideológicos, submergindo já induzida como valor de troca no processo de
industrialização inerente a sociedade moderna. Ocorre em termos regionais,
paulatinamente, o "processo duplo (industrialização-urbanização) que, por sua vez,
produz um duplo movimento: explosão-implosão, condensação-dispersão..."
Nesse contexto urbano, que unimos ação político-pedagógico e ação artística.
Enquanto domínios próprios da práxis humana, tanto a ação política como a
criação artística possuem suas especificidades atreladas aos seus respectivos campos de
atuação (arte formal/poder explícito), mas ganhando força aspectos políticos/artísticos
da vida social, até ponto poder-se-ia permanecer isoladas a arte e política, e do
contrário, de que forma e sob quais circunstancias materiais as performances e
instalações geográficas, expressões artísticas politizadas, permitem uma interlocução
com a cidade? E primeiramente, qual seria esta arte anunciada aqui, conceituadas como
performances e instalações geográficas?
Para revesti-la de um arcabouço teórico, recorremos a duas concepções que se
nutrem da arte e da política, a saber, a estética marxista e a perspectiva artística/política
dos situacionistas, procurando ainda, traçar um paralelo com o “amigo” de discussões
acaloradas destes últimos, Henri Lefebvre (1901-1991), a partir da obra “O direito à
cidade”. Iniciemos, então, com a abordagem materialista da arte, consolidada na teoria
do reflexo3, sendo pertinente explicitá-la, mesmo que esquematicamente.
Múltiplas linhas de pensamento, fundadas em específicos momentos históricos
(dadaísmo, surrealismo, construtivismo), cuja origem encontra significado no
3 A teoria do reflexo marxista considera o saber como o reflexo da realidade objetiva na mente humana. O
processo de conhecimento tem no mundo material o seu reflexo (imagens) que é a base da atividade
prática. Segundo Lukács(2001), a arte possui bases materiais fundantes no cotidiano ao qual ela está
inserida, sendo que para retornar a realidade já como parte da consciência coletiva, a mesma também
passa por processos subjetivos do seu autor, estando estes condicionados pelo seu estado no mundo.
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marxismo, apontam no sentido de que a arte possui intrinsecamente um telos4 político,
pelo fato de estabelecer relações indissociáveis com condições materiais de existência, o
que após lapidações teóricas culmina na teoria do reflexo, compreendendo o conteúdo
da obra como reflexo (indireto) da vida social.
Entre as abordagens mais proeminentes, encontram-se aquelas segundo as quais
a arte conserva em seu cerne uma autonomia incondicional, além daquelas, por outro
lado, de cunho marxista, que não admitem a arte desvencilhada da dimensão política,
reconhecendo seu papel social diante das contradições análogas ao modo de produção,
característico de cada sociedade. Para esta última, na verdade, inclusive sob o ponto
vista teórico-metológico, a arte não pode ser concebida senão a partir dos aspectos
históricos que a circunda, de suas condições sociais inerentes.
Contudo, cabe pôr em relevo que a arte nessa vertente, mesmo suprimida pela
força do capital, ainda seria detentora de uma qualidade epistemológica, e
principalmente política. No entender de Chaia (2007, p.18), conforme a estética
marxista, “a arte, então, deve ser compreendida como parte da luta cultural e ideológica
que as classes experimentam no interior do capitalismo para a instauração de uma nova
sociedade”.
Com efeito, naturalmente que o resultado do ato criador, enquanto tal, só pode
ser captado mediante o fato econômico, bem como a partir de todo quadro histórico-
social unitário constituído no seu conteúdo, compreendendo a gênese e a dinâmica
exercida pela criação cristalizada5.
Aprofundando as raízes do pensamento marxista, Lukács (2009, p.43) demonstra
que, no viés estético, radicalmente, suas bases teórico-metodológicas residem na
estética hegeliana, apesar de que, entretanto, na estética marxista, do velho
hegelianismo, reste como herança estritamente a analise dialética e objetiva, em
detrimento do idealismo e das mistificações características do sistema hegeliano.
Enfim, de todo modo, foi a partir de Hegel, também a despeito de seus valores
burgueses evidentes, que a estética delineou-se sob processos histórico-sociais, valendo-
4 Pode-se entender o termo relacionando-o aos objetivos que os homens empregam em todas suas ações
conscientemente determinadas. 5 Para Vigotski(2009), tal resultante perpassa um processo conduzido por um ato combinatório,
basicamente combinado entre imaginação e experiência, numa relação sócio-interacionista.
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se do trabalho6 como categoria fundamental, concebendo-o dialeticamente. Não seria
possível, portanto, a formulação da teoria do reflexo sem as relevantes contribuições
hegelianas.
Considerando-se o exposto até agora, num salto temporal, precisamente em
julho de 1957, oito jovens, dentre eles intelectuais, artistas e arquitetos, decidem fundar
uma organização de cunho político-artístico com a finalidade de suscitar novos
comportamentos em meio à urbanidade desenfreada, ou melhor, no seio de uma
sociedade mergulhada na vida cotidiana7. Nascia, assim, em linhas gerais, a
Internacional Situacionista, influenciada por um lado pelo marxismo, e por outro, pelo
anarquismo. Nota-se que entre os jovens situacionistas encontrava-se Guy Debord
(1931-1994), que inclusive já possuía experiência considerável como artista e agitador
social em função da antiga organização com a qual esteve engajado, a Internacional
Letrista.
A teoria dos situacionistas, posto que contivesse traços da estética marxista,
afirmava que a revolução social teria a arte como emissário direto, sua mais rebelde
anunciadora, sem ela, aliás, a revolução estaria desprovida de meios práticos para
realizar-se. Não se tratava, todavia, de uma arte engajada, logo, tendo a poesia
subordinada à política. Na verdade, para os situacionistas, a diretiva correta seria a
“revolução a serviço da poesia” (JAPPE, 2011, p.194).
É possível assegurar que uma das maiores inspirações para os situacionistas,
sobretudo para o próprio Debord (1931-1994), certamente foi à excepcional obra do
filósofo francês Henri Lefebvre (1901-1991), intitulada A vida cotidiana no mundo
moderno.
Lefebvre (1983), em uma entrevista concedida no ano de 1983, afirma que se
aproximou dos situacionistas entre 1957 e 1961 (ou 1962, Lefebvre não consegue
precisar), período que, segundo suas próprias palavras, tornou-se “amigo íntimo deles”
(dos situacionistas). Ainda chega a admitir a atmosfera do desfecho da amizade: “no
fim, foi uma história de amor que terminou mal, muito mal”. A razão disso, é que ora o
pensamento de Lefebvre e dos situacionistas convergiam, ora bifurcavam-se.
6 Hegel entende, no contexto da incipiente revolução industrial, que é no trabalho que o homem faz a si
mesmo; percebe, por exemplo, “que o trabalho é o núcleo a partir do qual podem ser compreendidas as
formas complicadas da atividade criadora do sujeito humano”. (KONDER, 2000, p.24) 7 A propósito consultar LEFEBVRE, Henri. A vida cotidiana no mundo moderno. S. Paulo, Ed. Ática,
1991.
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Basicamente, as situações substanciais para os situacionistas, representavam os
momentos em Lefebvre, e este nos explica o porquê:
Sim, essa foi a base de nosso entendimento. Eles mais ou menos
disseram-me durante discussões - discussões que duraram noites
inteiras - "o que você chama 'momentos', nós chamamos 'situações',
mas nós estamos levando isto mais longe que você. Você aceita como
momentos tudo o que aconteceu no curso da história (amor, poesia,
pensamento). Nós queremos criar momentos novos"
Na sua genialidade, Lefebvre (1991, 2001) elaborava sua crítica a vida cotidiana,
expondo a reprodução do capital na cotidianidade8, enquanto na amplitude de seu
pensamento, também construía a luta pelo Direto à Cidade utilizando-se, entre outros,
dos momentos35
como duplo recurso artístico e político na supressão da cotidianidade.
Lefebvre (1991, p.55) nota que a denominada “sociedade industrial”, bem como
“sociedade do consumo”, não consegue produzir a vida urbana em toda sua plenitude,
tão-somente senão produzir por produzir. Com efeito, enquanto cultura, a arte perde a
finalidade de mediação para tornar-se esteticismo disfarçado, fetichismo cultural,
produto cultural. Inversamente, induzindo a transformação, o que pretendemos aqui, há
de se acrescentar que
Trata-se da necessidade de uma atividade criadora, de obra (e não
apenas de produtos e de bens materiais consumíveis), necessidades de
informação, de simbologismo, de imaginário, de atividades lúdicas.
Através dessa necessidades especificas vive e sobrevive um desejo
fundamental, do qual o jogo, a sexualidade, os atos corporais tais
como o esporte, a atividade criadora, a arte e o conhecimento são
manifestações particulares e momentos, que superam mais ou menos a
divisão parcelar dos trabalhos. Enfim, a necessidade da cidade e da
vida urbana só se exprime livremente nas perspectivas que tentam
aqui se isolar e abrir horizontes. As necessidades urbanas específicas
não seriam de lugares qualificados, lugares de simultaneidade e de
encontros, lugares onde a troca não seria tomada pelo valor de troca,
8 A cotidianidade moderna se resume a uma constante programação de hábitos sempre direcionados para
a produção e o consumo, produzindo uma “sociedade burocrática de consumo dirigido” (LEFEBVRE,
1991, p. 47). 35
A teoria dos “momentos” em Lefebvre (1961) advém no sentido de um estado festivo que acaba por
provocar descontinuidades no tecido das transitoriedades da vida cotidiana, de modo que reúne uma
constelação de momentos. LEFEBVRE, Henri. Critique de la vie quotidienne. 3 vol. Paris: L’Arche,
1961. Texto traduzido por Maria Helena Bernardes.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4839
pelo comércio e pelo lucro? Não seria também a necessidade de um
tempo desse encontros, dessas trocas? (LEFEBVRE, 2001, p.103)
Nesse sentido, convergem às performances e instalações geográficas que
constituem esta pesquisa, isto é, no sentido de construir situações críticas a fim de
tencionar a luta pelo direito à cidade. Assim sendo, acreditamos que seja mais que
iminente instaurarmos uma práxis pedagógica no fazer geográfico, na qual possamos
aproximar a arte situacionista, concebendo-a enquanto recurso artístico revolucionário,
e a luta pelo direto à cidade como estratégia política, associando a defesa da arte e da
cidade.
PERCURSO– PROCESSO EPISTEMOLÓGICO DE UMA ARTE
SITUACIONISTA
De acordo com o historiador e antropólogo francês Vernant (2002), o
surgimento da polis grega pode ser situada por volta dos séculos VIII e VII. Através
dela, a vida social grega ganha outros contornos políticos, bem como democráticos, de
modo que com seu advento, “tornando-se elementos de uma cultura comum, os
conhecimentos, valores, as técnicas mentais, são levadas a praça pública, sujeito à
critica e à controvérsia.(VERNANT; 2002; p.42.) Arte e política aí, são campos
distintos que, aparentemente, em nenhum momento se encruzam; isto é,
teleologicamente, não há propósito artístico na política, e vice-versa.
Dito isto, e antes de qualquer espanto inicial, perguntemo-nos de imediato: de
que maneira as linhas supracitadas, de cunho histórico implicam no andamento do nosso
raciocínio até este instante? Considere-se que foi nas vias dessas ideias concernentes a
política/arte grega, que os graduandos do 8º semestre, do curso de geografia da
Universidade Regional do Cariri, sob orientação e acompanhamento do professor
Emerson Ribeiro, ressignificaram a luz da arte e da criatividade (geográfica),
alicerçados na arte situacionista, em pleno século XXI, uma ágora com plena liberdade
democrática - portanto bem distinta da grega.
A intervenção seguiu-se por aproximadamente duas horas, justamente na Praça
da Sé, principal praça da cidade do Crato, CE. A fim de suscitar situações alicerçadas
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4840
numa experiência político-crítica, os estudantes travaram diálogos com os transeuntes a
partir de uma intervenção pedagógica e, sobretudo, política no espaço vivido da cidade.
As instalações geográficas que constituem este trabalho, conforme o conceito
elaborado por Ribeiro (2009, 2011) incorporaram as seguintes perspectivas teórico-
metodológicas:
O ato criativo, no que diz respeito à instalação geográfica, enquanto forma
materializada (forma/objeto) pressupõe um conteúdo(mental) que não está no
efeito do ato, isto é, no objeto em si(social)11
, como algo inato; é imputada a
forma um significado de modo associativo, ou seja, o que compõem a estrutura
do objeto não passa de uma representação que se associa ao que está sendo
representado, nesse caso específico, as cidades médias no mundo globalizado;
Mas para tanto, antes, faz-se necessário conjeturar reflexões, estudos, pesquisas,
métodos, logrando assim, a práxis tão almejada. Por isso, o processo que antecede a
prática da instalação geográfica, é de base inteiramente teórico-reflexiva. E esta
instalação geográfica, ao seu término, já inicia outro processo que pode ter uma
finalidade didática, perceptiva, avaliativa ou mesmo construtivista: para a criação temos
uma forma, um conteúdo, que exige recursos e condições para o momento do devir, esta
forma, antes de se realizar passa pela sensibilidade, pelo toque, pelo intelecto, pelo ato
de intuir que se faz presente no cotidiano que muitos intelectuais desprezam, é preciso
ter um olhar mais preciso para o cotidiano para o vivido. (RIBEIRO, 2011, p.63)
A investigação do tema (no caso, as cidades médias no mundo globalizado) é o
limiar do processo de elaboração da instalação geográfica. O princípio do tema
introverte uma ou mais problemáticas, as quais sejam reflexos das contradições
da condição sócio-espacial, a partir de um ato político-educativo da consciência
de seus formuladores;
Amparados por Freire (2011), podemos compreender esses temas como “temas
geradores”, cuja origem transparece uma situação-limite, a fim de dar suporte aos atos-
limites ligados a percepção fronteiriça entre a margem do Ser e o Ser mais.
11
Forma do objeto (prática-sensível) Mentalmente: O equilíbrio interno percebido e concebido como
propriedade “objetiva” (ou “objetal”) de cada objeto e de todos. A simetria. Socialmente: a espera desse
equilíbrio e dessa simetria, exigida dos objetos ou por eles desmedida (compreendendo-se, entre esses
objetos, os “seres” vivos e pensantes, bem como objetos sociais tais como casas, edifícios, utensílios,
instrumentos, etc.). (LEFEBVRE, 2001, p.90)
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4841
A etapa da pesquisa consiste no levantamento bibliográfico do tema que se
pretende materializar na instalação geográfica, sempre se considerando os
contextos, isto é, as condições sócio-espaciais locais em relação à vida cotidiana.
Aqui algumas técnicas podem ser adotadas, tais como: observação, entrevista
não-estruturada, questionários;
Nesse primeiro momento, é imprescindível a orientação e o planejamento, pois
ao contrário do que se pensa, “exercer a criatividade não é deixar os alunos soltos a
vontade, sem indicar um caminho, é preciso orientação, direcionamento, conteúdo,
objetivo, insistência no ato a ser criado.” (RIBEIRO, 2011, p.67).
Não há, de fato, um método rigoroso (engessado) no processo de construção da
instalação geográfica. Os métodos observam as condições sócio-econômicas de
acordo com os objetivos, de modo que o único dispositivo eficiente acaba sendo
a criatividade e o improviso – considerando devidamente a particularidade dos
casos estudados. Nesse sentido, os materiais usados fazem parte do próprio
cotidiano dos educandos, o que vem a ser bastante positivo, posto que, do
contrário, recursos consideráveis seriam empreendidos na empreitada. Os
materiais usados nas instalações deste trabalho foram: gaiolas, papéis, fitas
adesivas, jornais, cordões, linhas, plásticos, tintas, arames, além de outros
objetos mais específicos.
As instalações geográficas foram apresentadas pelos próprios estudantes da
disciplina do oitavo semestre do curso de Geografia da Universidade Regional
do Cariri, através de uma performance geográfica. Sendo esta uma intervenção
política no espaço, quer seja no âmbito institucional, aplicando-lhe uma crítica,
quer seja na instância cotidiano vivido, nutrida indissociavelmente da instalação
geográfica, com base no método dialógico.
No decorrer do processo de elaboração, por um lado cabe aos educandos, na
condição de sujeitos, a pesquisa e estudo do tema, dos materiais, do método. Por outro
lado, é papel do educador o acompanhamento, orientando e auxiliando quando
necessário. Por conseguinte, “nas condições da verdadeira aprendizagem os educandos
vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber
ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito no processo.” (FREIRE, 1996, p.26).
Conforme os diálogos realizados antecipadamente, entre educador e educandos,
cada estudante seguiu as etapas metodológicas, tendo como único objeto em comum
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4842
uma gaiola, até elaborar uma instalação geográfica, com subtemas específicos, análogo
à seguinte temática: As cidades médias no mundo globalizado.
Nas formas mais diversas possíveis, porém com a mesma essência, os educandos
indagavam nas suas falas: afinal, qual o caráter prático do “ser urbano” na cidade
mergulhada no mundo globalizado, do habitat, reduzido as prescrições espetaculares e
funções inconscientes, ou do habitar, assistido por uma nitidez dos problemas reais da
cidade moderna, reclamando enquanto “homo urbanicus” o direito à cidade Finalmente,
a performance geográfica exercita pelos estudantes, autores das instalações geográficas,
professores e transeuntes, igualmente sujeitos no processo de criação, no contexto
urbano, substituiu a vida cotidiana pelos momentos lefebvrianos, ou de modo
semelhante, pela situação da arte situacionista.
REMATE – RECLAMANDO O DIREITO À CIDADE
Na performance geográfica, gradativamente, os educandos apropriavam-se
artisticamente do espaço, pressupondo que “deixando a representação, o ornamento, a
decoração, a arte pode se torna práxis e poiesis em escala social: a arte de viver na
cidade como obra de arte. Voltando ao estilo, à obra, isto é, ao sentido do monumento e
do espaço apropriado na Festa, a arte pode preparar estruturas de encantamento”.
(LEFEBVRE, 2001, p.135)
Na medida em que os educandos penetravam o cotidiano da praça, manifestando
a arte à vida comum, ou seja, assumindo uma postura poética, festiva, adicionavam-na
também um preenchimento político e ontológico, rompendo com o cotidiano
programático, cíclico, e instalando em seu lugar, o cotidiano vivido
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4843
FIGURA I: ANJO DA HISTÓRIA, INTERPRETADO PELO GRADUANDO DO 8º SEMESTRE,
MARCOLINO CARDOSO/FONTE: EMERSON RIBEIRO
Denominamos o personagem acima ilustrado de “anjo da história”, aludindo à
análise benjaminiana da obra Angelus Novus, de Klee. O anjo contempla a falência da
ideia de progresso arraigada no pensamento moderno, e sobre a qual a sociedade
moderna se erigiu. De costas para o futuro, e atento ao passado, vislumbra os
descaminhos que lançaram a humanidade para catástrofes expressas na condição
humana e espacial: regressando temporalmente, o anjo é arrebatado a uma sociedade
moderna que instala o motor da industrialização objetivando compelir uma revolução
nas forças produtivas como meio catalisador, pressupondo, em contrapartida, lograr a
potencialização do capital como fim. O processo desencadeia inúmeras transformações
sócio-espaciais desde então. Começa induzindo uma urbanização inscrita na lógica do
capital, por conseguinte, uma “urbanização desurbanizante e desurbanizada”.
Finalmente, somando-se as relações de poder geopolíticas travadas entre
potencias mundiais a fim de assumir a vanguarda do antigo imperialismo resulta em
guerras, miséria, exploração, desigualdade e exclusão. A Cidade12
associada à obra de
arte é então impregnada de uma ordem próxima e uma ordem distante,13
isto é, situa-se
numa linha fronteiriça assediada por relações produtivas e regimentos ideológicos,
12
O termo empregado encontra definição na acepção dada por Lefebvre (2001; p.56): “(...) cidade como
sendo projeção da sociedade sobre um local, isto é, não apenas sobre o lugar sensível como também sobre
o plano específico, percebido e concebido pelo pensamento, que determina a cidade e o urbano. 13
Nesse sentido, consultar LEFEBVRE; 2001; p. 46.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4844
submergindo já induzida como valor de troca no processo de industrialização inerente a
sociedade moderna. Ocorre que este “processo duplo (industrialização-urbanização)
produz um duplo movimento: explosão-implosão, condensação-dispersão...”
(LEFEBVRE, 2001, p.72). A partir daí, tal como a vida urbana, a ideia de progresso se
dilui na dialética do desenvolvimento desigual do capital; é convertida na cotidianidade
cíclica e programada, ou melhor, na vida cotidiana do mundo moderno.
Todavia, “o anjo da história” nos adverte: não é uma possibilidade inteligente
estagnar frente a um passado de derrocadas que insiste em presentificar-se, mesmo
porque este passado também é constituído de resistência e luta política, utilizando-se da
arte para tanto. Diante de novos horizontes, entrevemos que “a capacidade de redenção
do passado reside nesta possibilidade de emergir inesperadamente, num momento de
perigo, como fonte de inconformismo.”(SANTOS, 1997, p.8) Pois nossa convicção
apóia-se no que assevera o “cidadão comum” ciente de uma exploração dissimulada;
pelo que em face da performance geográfica, a transeunte de 47 anos de idade, após
dialogar com o estudante autor da instalação geográfica cujo tema gerador discutia o
consumismo, decodifica a temática, e em consonância as problemáticas inerentes, por
fim, em sentido elucidativo, declara:
quem está acima, está realmente com o poder, sempre com o poder de
desvalorizar quem está abaixo... agente tira pelo Brasil mesmo que
está em desenvolvimento, mas que jamais vai chegar a uma igualdade
social... porque eu acho que vai muito do individual das pessoas
procurarem ir diminuindo esse consumismo, mas o homem tem esse
grave defeito de querer mais, querer mais, e nunca se satisfazer...você
tira por um produto eletrônico como celular, quando se lança um mais
novo, o homem está sempre consumindo...ele têm várias casas, e ao
final de tudo, morre e não leva nada, fica tudo aí, essa riqueza
material; é problema das classes sociais: o pobre sempre achando que
para deixar de ser pobre é consumir também esses bens materiais,
para querer ser igual, a mídia sempre incentivando, não possibilita que
se tenha uma igualdade social, porque todos tem direito a possuir tudo
igual, todos nascem da mesma forma. (Grifo nosso)
Surpreende a clareza absurda com a qual observa a transeunte a questão do
consumismo, uma vez que num curto espaço de tempo ela processa a simbologia da
instalação geográfica e simultaneamente apresenta através de uma exposição lúcida -
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4845
embora com simplicidade e ainda que inconsciente da totalidade - uma análise
“marxista” do consumismo, aonde no desfecho, um termo se sobressai: direito.
O direito, postulado pela transeunte, inserido num contexto mais amplo,
estende-se na verdade a um conjunto, cujo direito a moradia, participação político-
democrática efetiva, forma “ecológica” de habitar e o valor de uso urbano14
o compõem,
e que como estritamente implica na cidade, é indubitável que reclama e traduz-se no
direito à cidade. E “o direito à cidade não pode ser concebido como um simples direito a
visita ou de retorno às cidades tradicionais. Só pode ser formulado como direito à vida
urbana, transformada, renovada.” (LEFEBVRE, 2001, p.116.)
Eis que, no entanto, tantos outros como esta transeunte, inconformados e
marginalizados enquanto classe operária, vêem este direito sendo negado e
distanciando-se cada vez mais: “assim, a integração e a participação são a obsessão dos
não-participantes, dos não integrados, daqueles que sobrevivem entre fragmentos da
sociedade possível e das ruínas do passado: excluídos da cidade, às portas do “urbano”.
(LEFEBVRE, 2001, p.98.)
Por isso, o direito à cidade não é, e certamente jamais será concedido, oriundo da
aquiescência do Estado através de políticas públicas urbanas: isso é uma ideia no
mínimo ingênua ou paradoxal, quando não ideológica, reflexo de estratégia de classe
(“urbanismo”, “humanismo urbano”). Tal como os demais direitos ao longo da história,
que a despeito das mobilizações não foram completamente efetivados, o direito à
cidade, parcela de um todo político, é conquistado - para não se dizer “arrancado”.
Dessa forma se formula o problema: há possibilidade, e se positivo, como, de
construirmos uma cidade que corresponda às necessidades elementares, mas que
também possa entrever os desejos humanos? Por outras palavras, ainda que utópico,
haverá, ao mesmo tempo, uma cidade das necessidades e dos desejos? Uma cidade que
atenda as necessidades de informação, de simbolismo, de imaginário, de atividades
lúdicas? Sim e não. A cidade das necessidades e dos desejos já existe, mas não sentido
prático-sensível, para isso, as formas, funções e estruturas da cidade coordenada pelo
valor de troca devem ser ultrapassadas, isto é, devem ruir15
.
14
Limitamo-nos apenas a alguns direitos abordados por LEFEBVRE; 2001; p.115. 15
“Impossível considerar a hipótese da reconstituição da cidade antiga; possível apenas encarar a
construção de uma nova cidade, sobre novas bases, numa outra escala, em outras condições, numa outra
sociedade.” (LEFEBVRE; 2001;p.105).
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4846
O devir demonstra que “o novo nasce dos escombros do velho” (CHAUÍ, 2006,
p.105). Os pressupostos dessa nova cidade utópica ou do aparecimento momentâneo
dela foram postas pela cidade atual, que conserva contradições insolúveis: integrante
/desintegradora; urbanizada/desurbanizante; industrial/desindustrializadora.
A cidade utópica, o direito de alcançá-la reside no desejo do habitante urbano,
explorado cotidianamente, imerso numa cadeia de ações repetitivas, “estrangulado”,
mas que manifesta um desejo fundamental que não é senão o de emergir da
cotidianidade; ele então se encanta com a atividade criadora da performance geográfica
e diz entusiasmado: “eu não tenho muito estudo, por isso não sei explicar o que está
acontecendo, mas sinto e sei que o que estou vendo faz parte da minha realidade. Pra
mim, tudo isso nessa praça está sendo uma aula, coisa que desse jeito nunca tive e
nunca vi.16
” “A partir desse instante, o centro urbano traz, para as pessoas da cidade, o
movimento, o imprevisto, o possível e os encontros. Ou é um ‘teatro espontâneo’ ou não
é nada.” (LEFEBVRE, 2001, p.134)
Vê-se, portanto, que a práxis pedagógica da performance, nutrida pela arte
situacionista, provocou uma cisão no diz respeitos as atividades pedagógicas
convencionais, e ao seu modo, instituiu uma prática revolucionária, questionando as
ideologias urbanas, a fim de fomentar a consciência de situações-limites e promover
atos-limites na busca pelo direito à cidade.
FIGURA I: INSTALAÇÃO GEOGRÁFICA SENDO APRESENTADA PELOS GRADUANDOS
DO 8ª SEMESTRE/FONTE: EMERSON RIBEIRO
16
Transeunte, de 48 anos de idade, que preferiu ser referenciado pelo pseudônimo de Tota.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4847
O que colocamos em prática, num sentido dialético, artístico e inovador, tendo
em vista que estes elementos possuem a capacidade de mediar às tramas e dramas do
urbano, de fato foi uma ciência da cidade como estratégias de classe e urbana. E é
possível dizer que esta ciência da cidade, à bem da verdade, vem oferecer um suporte
político às forças sociais da classe operária17
.
REFERÊNCIAS
CHAIA, Miguel (Org.). Arte e política. Rio de Janeiro: Azougue, 2007. 2 exemplares.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 33.ed.
São Paulo: Paz e Terra, 1996. 143 p.
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________. OS SITUACIONISTAS E A SUPERAÇÃO DA ARTE: O QUE RESTA
DISSO APÓS CINQUENTA ANOS?. Revista Baleia na rede. Marília:SP. Vol.1.n.8.
p.192-205. 2011.
LEFEBVRE, Henry. O direito à cidade. 2.ed. São Paulo: Centauro, 2001. 145 p.
_________________. A vida cotidiana no mundo moderno. São Paulo: Ed.
Ática,1980.
LUKÁCS, György. Arte e Sociedade: escritos estéticos 1932-1967. Organização,
apresentação e tradução Carlos Nelson Coutinho e José Paulo Netto. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 2009.
RIBEIRO, Emerson. A Criatividade em Geografia, Prática Pedagígica e Avaliação:
Laternas Geográficas, Geosaberes, Fortaleza, v.2, n. 4, p. 61- 74, 2011.
___________. Práticas Pedagógicas – o ensino geográfico por instalações. In: IX
SEMINÁRIO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DA UNESP, 9., 2009, Rio
Claro. Anais... Rio Claro: UNESP, 2009. 3 v. p. 556-569. ___________. AVALIAÇÃO OU PESCARIA? Por uma distinta possibilidade da aprendizagem
em Geografia na construção de instalações geográficas. Revista Brasileira de Educação em
Geografia, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 91-104, 2011.
SANTOS, Boaventura de Sousa. A queda do Ângelus Novus: para além da equação
moderna entre raízes e opções. Novos Estudos, Cebrap, n. 47,mar. 1997, p. 103-124.
17
Apenas a força social capaz de se investir a si mesma no urbano, no decorrer de uma longa experiência
política, pode se encarregar da realização do programa referente à sociedade urbana. Reciprocamente, a
ciência da cidade traz para essa perspectiva um fundamento teórico e crítico, um CHAIA, Miguel (Org.).
Arte e política. Rio de Janeiro: Azougue, 2007. 2 exemplares.a base positiva. (idem; p.114.)
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4848
VIGOTSKI, Lev S. Imaginação e criação na infância: ensaio psicológico: livro para
professores. 1.ed. São Paulo, Ática, 2009.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4849
O ENSINO SOBRE O NORDESTE: A MÚSICA NA
RESSIGNIFICAÇÃO DE SABERES
Aldeane de Jesus Guedes1
Ana Rocha dos Santos2
RESUMO
A região Nordeste é vinculada à ideia de pobreza, semiaridez e atraso. Ideia que é disseminada e
reproduzida em diversos meios, inclusive a escola através de imagens e textos. O presente
trabalho objetiva analisar o ensino sobre a região Nordeste realizado em escolas públicas da
cidade de Itabaiana-SE e ainda apresentar a música como recurso metodológico para a
construção do conhecimento e olhar crítico-reflexivo sobre a Geografia trabalhada em sala de
aula. É preocupação também evidenciar a importância do uso da música como recurso
metodológico eficaz na ressignificação de saberes sobre o Nordeste. Para a elaboração deste
trabalho inicialmente foi feito levantamento bibliográfico sobre a região Nordeste, com a
intenção de analisar a construção social dessa região, suas contradições e o seu ensino. Em
seguida foram elaborados e aplicados questionários que fundamentassem a análise do ensino da
região a partir da realidade encontrada nas escolas estudadas. Os questionários e entrevistas
serviram para uma análise do entendimento do aluno e da concepção do docente sobre o
Nordeste enquanto dentro da análise da divisão territorial do trabalho. Para tanto, foram
desenvolvidas oficinas para desenvolver a proposta metodológica e permitir a ação-reflexão-
ação, necessária à apreensão do conhecimento. Todo o trabalho de ressignificação dos saberes e
uso da música como recurso metodológico foi desenvolvido no âmbito do projeto do PIBID e se
constituiu em importante aprendizado e contribuição para a formação docente e ensino de
Geografia. Os resultados do projeto têm sinalizado para necessidade de o professor lançar mão
de outros recursos e desenvolver metodologias que enfatizem a ressignificação de saberes,
despertando o olhar crítico e questionador da realidade em seus alunos. A música representa um
recurso metodológico prático e acessível aos docentes, e que possibilita o aprendizado de forma
dinâmica e divertida para os alunos.
PALAVRAS-CHAVES: Ensino, Nordeste e Música.
INTRODUÇÃO
A região Nordeste é costumeiramente atrelada à ideia de pobreza, semiaridez e
atraso, fruto de análises resultantes de uma polarização entre moderno/atrasado,
1Graduanda em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe – Bolsista do PIBID, integrante do
Subprojeto Formação docente e ensino de Geografia na Educação Básica: práticas pedagógicas para um
professor aprendente; Universidade Federal de Sergipe; [email protected] 2 Professora da Universidade Federal de Sergipe e coordenadora do Subprojeto Formação docente e
ensino de Geografia na Educação Básica: práticas pedagógicas para um professor aprendente-PIBID.
Universidade Federal de Sergipe; [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4850
desenvolvido/subdesenvolvido. Estas ideias são difundidas e reproduzidas em diversos
meios, como a escola, pautadas em uma visão determinista que coloca as condições
naturais como um empecilho para o desenvolvimento.
A ideia do atraso do Nordeste estava ligada ao determinismo natural, no qual
muitos autores interpretavam que não haveria desenvolvimento onde existisse a
escassez de água, atribuindo ao fator natural à causa do atraso e das más condições
sociais nordestinas. Lisboa (2007) esclarece que essa concepção sobre o Nordeste
favoreceu uma análise social distorcida, agravada ainda mais com a influência da
oligarquia forte e conservadora.
Essa ideia é reproduzida socialmente pelas instituições sociais, como a escola.
Cabe ao professor, enquanto sujeito da construção do conhecimento, desmistificar esse
discurso elitista e revelar as contradições sociais resultantes da divisão territorial do
trabalho, analisando a região com um olhar revelador dos interesses capitalistas que são
materializados no espaço.
O presente trabalho objetiva compreender o ensino sobre a região Nordeste
realizado em escolas públicas da cidade de Itabaiana-SE e propor metodologia de ensino
que favoreça o olhar crítico acerca da região estudada, possibilitando a construção do
conhecimento pelos alunos, a luz do entendimento da divisão territorial do trabalho
necessária ao modo de produção capitalista. Pretende-se ainda destacar a importância do
uso da música como recurso metodológico eficaz na ressignificação de saberes sobre o
Nordeste. O trabalho com a música foi desenvolvido através de oficinas durante a
realização do subprojeto do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência) Formação docente e ensino de Geografia na Educação Básica: práticas
pedagógicas para um professor aprendente.
Para a elaboração deste trabalho inicialmente foi feita pesquisa bibliográfica
sobre a região Nordeste, com a finalidade de analisar a construção social dessa região,
suas contradições e também leituras sobre o ensino de Geografia, metodologia de ensino
e a música em sala de aula. Posteriormente foram elaborados e aplicados questionários
que fundamentassem a análise do ensino da região a partir da realidade encontrada nas
escolas estudadas. Os questionários e entrevistas serviram para uma análise do
entendimento do aluno e da concepção do docente sobre o Nordeste. Realizou-se
também a oficina sobre o Nordeste, como meio para estabelecer a relação teoria/prática
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4851
e desenvolver uma prática pedagógica que permitisse que a aprendizagem fosse
significativa.
O NORDESTE LIGADO À CONDIÇÃO DE ATRASO
O Nordeste ainda é visto por alguns como a “região problema”, como uma
questão a ser resolvida. Alguns autores trabalham com uma forte ligação entre a
sociedade e a natureza, responsabilizando a condição natural, tratando-a como principal
agravante das desigualdades presentes na sociedade.
É possível ver no discurso desses autores uma atribuição dos problemas sociais à
condição climática característica dessa região. Discursos que reforçam esta condição
afirmam que “a fome e a desnutrição representam os mais drásticos obstáculos ao
progresso e ao desenvolvimento. Fome e desnutrição se combatem com agricultura
forte, que receba cuidado prioritário e soluções urgentes. E a matéria-prima da
agricultura é a água”. (COELHO, 1985:6. Apud RIBEIRO, 1999:71).
A relação entre o clima semiárido e o subdesenvolvimento não se sustenta como
mostra Ribeiro:
O clima árido da Califórnia ou de Israel não lançou suas populações
em um estado de miséria. A existência de populações miseráveis ou
ricas em diferentes regiões semi-áridas do globo aponta para os
diferentes padrões de ocupação ao longo da história como a principal
razão dos desníveis regionais existentes no semi-árido. (CASTRO,
1994, 1996 apud RIBEIRO, 1999:61)
Dentro desta análise a condição natural não é empecilho para o
desenvolvimento, mas é usada para legitimar a condição de subdesenvolvimento
construída e reproduzida durante sua construção social. Esta imagem de atraso criada
para representar o Nordeste está inserida na lógica do modelo capitalista, onde o que se
apresenta como dual (moderno/atraso) é para o capitalismo uma estrutura combinada,
que fundamenta a divisão territorial do trabalho, necessário para a expansão e
materialização do capital no espaço. (LISBOA, 2007)
Entender este processo é fundamental para a análise do Nordeste enquanto palco
de desigualdades sociais e interesses do capital, em sala de aula, o professor deve
compreender esses aspectos e suas relações para desmistificar discursos que naturalizem
seus problemas.
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O LIVRO DIDÁTICO A REGIÃO NORDESTE
O livro didático apresenta-se muitas vezes como o único recurso usado em sala
de aula, seja pelas condições precárias das escolas públicas, ou pelo excesso de
horas/aula, o que acaba dificultando o professor utilizar recursos diferenciados, como
data show, músicas, vídeos, etc. Desta forma, o professor deve estar atento ao conteúdo
trazido pelo livro didático, para que não haja a reprodução de estereótipos. Apesar da
avaliação do livro didático feita pelo PNLD (Plano Nacional do Livro Didático) que
tem avançado nos critérios de seleção dos livros, ainda há algumas concepções
distorcidas da realidade que permanecem nas salas de aula do país. Estas concepções
induzem a uma interpretação mascarada da realidade, e o professor deve estar preparado
para desconstruí-las, construindo o conhecimento através de uma leitura crítica das
relações materializadas no espaço.
O PNLD tem o objetivo de selecionar os livros didáticos que favoreçam a
compreensão da realidade, para tanto, alguns princípios devem ser seguidos para que os
livros sejam aprovados durante a avaliação, dentre eles recebem destaque:
Analisar a realidade, percebendo suas semelhanças, diferenças e desigualdades
sociais, e apresentar proposta para sua transformação;
Compreender as interações da sociedade com a natureza, para explicar como as
sociedades produzem o espaço;
Compreender o espaço geográfico como resultado de um processo de construção
social, e não como uma enumeração de fatos e fenômenos desarticulados;
(...) (BRASIL-PNLD-Geografia, 2011:09)
Apesar das restrições feitas pelo PNLD, a representação da região Nordeste
ainda aparece de forma distorcida, algumas imagens ainda relacionam esta região com
miséria e seca. Outro ponto que merece destaque, é que a maioria dos livros didáticos
aborda principalmente o Centro-sul do Brasil, escamoteando a realidade de regiões
como Norte e Nordeste. Por isso, é necessária uma análise das informações trazidas pelo
livro didático, não somente pelo professor, mas também pelos alunos, como evidencia
Lopes:
(...) devemos usar a prática de olhar o livro didático com olhos críticos
e de apontar erros e inadequações, pois embora essa prática pareça
antipática num primeiro momento, é altamente educativa não só para
autores e editores, mas, sobretudo para os alunos, no sentido de
derrubar o mito de que o livro didático é depositário da verdade. Isto
estimula o desenvolvimento do senso crítico do aluno e o faz refletir e
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questionar, antes de aceitar passivelmente as informações que recebe a
todo instante na escola e fora dela. (2009, p. 15).
O professor precisa estar atento aos conteúdos trazidos pelo livro didático sobre
o Nordeste para não reproduzir concepções que mascaram a realidade regional. Dentro
desta perspectiva, é preciso analisar como acontece o ensino sobre o Nordeste, para que
seja possível propor metodologias que favoreçam a construção do conhecimento com o
uso de outros recursos metodológicos, por esse motivo, foi realizada pesquisa em
escolas da rede pública de ensino da cidade de Itabaiana-SE, onde foram feitas
entrevistas com alunos e professores, com o objetivo de analisar o ensino sobre o
Nordeste, quais metodologias e recursos utilizados e qual a concepção dos alunos e
professores acerca dessa região.
Foram entrevistados alunos de três escolas estaduais de Itabaiana-SE, todos eles
cursando o Ensino Médio. Além de professores de Geografia das mesmas escolas, onde
foi possível analisar como os entrevistados compreendem o Nordeste.
Quando foram questionados sobre a importância de estudar a região Nordeste a
resposta unânime evidenciou a necessidade e importância de analisar essa região. Todos
os alunos entrevistados têm a consciência do valor da construção do conhecimento
acerca do Nordeste, destacando o interesse por aprender sobre sua economia, população,
aspectos naturais, cultura, dentre outros.
No que diz respeito aos motivos da condição subdesenvolvida do Nordeste, as
opiniões divergiram como pode-se ver no gráfico 1:
CAUSA DO SUBDESENVOLVIMENTO
DO NORDESTE
Falta de
investimento do
Estado
Condição climática
Gráfico 1
Fonte: Pesquisa de campo, 2013.
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De acordo com as respostas dos alunos pode-se notar que a explicação
socioeconômica do Nordeste ainda está muito relacionada com sua condição climática,
havendo uma naturalização dos problemas encontrados nesta região.
A maioria dos entrevistados considera desfavorável a representação da região
Nordeste no livro didático (gráfico 2), para estes alunos o livro didático permite uma
visão distorcida do Nordeste, já que muitas vezes ao representar essa região, as imagens
utilizadas fazem uma relação com seca e miséria. Além disso, os livros didáticos
evidenciam o Centro-Sul do Brasil, não se adequando as diferentes realidades regionais.
De um modo geral, as entrevistas com os alunos mostraram a necessidade de
uma ressignificação do Nordeste, desconstruindo a ideia, a naturalização dos problemas
enfrentados pelos nordestinos que simplifica os conflitos presentes nesta região.
Ao serem questionados sobre os motivos para a migração dos nordestinos para
outras regiões, todos os entrevistados fizeram relação com a seca. Esta seria, para eles, a
principal causa do êxodo rural. Como pode-se identificar no depoimento a seguir:
A seca do Nordeste faz com que as pessoas que ali moram saiam
daquela cidade para morar em outras para poder conseguir trabalho.
(Aluna do 1º ano do ensino médio – 15 anos)
Nas entrevistas com os professores quando questionados a respeito dos recursos
utilizados para o ensino sobre o Nordeste, todos eles afirmaram não utilizarem somente
o livro didático. Afirmaram utilizar revistas, vídeos, músicas, literatura de cordel, entre
OPINIÃO SOBRE A REPRESENTAÇÃO
DO NORDESTE NO LIVRO DIDÁTICO
favorável
desfavorável
Gráfico 2
Fonte: Pesquisa de campo, 2013.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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outros. Esta variedade de recursos foi justificada exatamente porque eles avaliam que a
representação sobre o Nordeste nos livros didáticos conduz a estereótipos.
Segundo os professores entrevistados as aulas ministradas por eles procuram
desmistificar a concepção do Nordeste como “região problema”, esclarecendo aos
alunos que a seca não é somente um problema natural, mas também e principalmente,
político. O trabalho com a música se mostra muito eficaz para essa desmistificação
sobre o Nordeste, orientando o aluno para a observação, análise e reflexão sobre o tema
proposto.
A MÚSICA NO ENSINO SOBRE O NORDESTE
Para a verdadeira construção do conhecimento o professor deve inserir o aluno
como agente ativo no processo de aprendizagem, e o professor deve proporcionar uma
leitura crítica da realidade que os cerca. Para tanto, o docente precisa buscar outros
recursos além do livro didático, para ser possível uma aproximação dos sujeitos com
seu objeto de estudo, no caso específico, a região Nordeste. Como mostra Santos e
Chiapetti :
Os professores devem lançar mão de outras ferramentas pedagógicas
para tornar o ensino mais atraente e prazeroso e relacioná-lo ao dia-a-
dia dos alunos. Assim, a utilização de recursos didático-pedagógicos
alternativos, como as atividades lúdicas, constituem-se numa poderosa
ferramenta, que permite trabalhar os conteúdos geográficos de modo
crítico e criativo. (2011:168)
Uma metodologia que pode auxiliar o professor no processo ensino-
aprendizagem é o uso da música como recurso metodológico. Dependendo da música e
como é utilizada, ela consegue penetrar no sistema cognitivo do aluno, possibilitando o
aprendizado mais rapidamente:
Apesar da música não ilustrar visualmente o conteúdo a ser explorada,
ela se constitui num veículo de expressão capaz de aproximar o aluno
do tema proposto a ser estudado. (...) Aproveitando a facilidade com
que a música é assimilada, principalmente pelos jovens, pode-se usar
esse recurso fazendo uma conexão com o conteúdo disciplinar de
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forma prazerosa, de modo que todos consigam aprender. (PINHEIRO,
et al, 2004: 104 – 105)
Foi desenvolvida dentro do projeto do PIBID uma oficina a qual utilizou a
música como recurso metodológico para o ensino sobre a região Nordeste, baseando-se
no princípio de que a seca no Nordeste não somente como uma condição climática, mas
sim, como um instrumento político de exploração e dominação.
A realização da Oficina “O Nordeste na música” a qual teve como principal
recurso didático a música, proporcionou uma experiência metodológica de grande
significado, tanto para a (re) construção do conhecimento acerca do Nordeste, como
para a formação docente dos bolsistas do PIBID. A música utilizada durante a oficina
foi “Asa Branca” de Luiz Gonzaga, a qual possibilitou uma releitura sobre o Nordeste,
possibilitando uma análise das relações e desigualdades sociais presentes nessa região,
caracterizando a ressignificação dos saberes sobre o Nordeste. Como Menezes e Morais
explicam:
(...) uma das heranças mais marcantes do modelo colonial no
semiárido nordestino está exatamente em sua estrutura fundiária. Esta
se encontra polarizada no sistema latifúndio/minifúndio, resultado de
um processo contínuo de concentração de terra nas mãos de poucos
proprietários e de insignificante oportunidade de acesso à ela para
pequenos agricultores. Essa estrutura torna-se moralmente injusta,
economicamente improdutiva, e socialmente geradora de miséria.
(2002:55)
Ao fim da oficina, o resultado final foi o esperado, os alunos participantes não
associavam mais a seca como fenômeno exclusivamente natural, entendiam os
interesses políticos e econômicos para os quais era essencial a manutenção dos
problemas nordestinos, onde a seca torna-se favorável aos interesses capitalistas, a
chamada “indústria da seca”.
A música possibilitou uma análise da região Nordeste, onde os alunos estavam
inseridos como sujeitos ativos na construção do conhecimento, portanto, contribuindo
no processo de ensino-aprendizagem. Godoy (2009) esclarece que existem várias
formas de utilizar a música como recurso didático no ensino de Geografia, essa
metodologia de ensino possibilita uma ponte entre a Geografia e outras disciplinas
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como a História e a Língua Portuguesa, o que auxilia o aprendizado das diferentes
disciplinas.
Assim, o professor de Geografia encontra na música um recurso eficaz, podendo
abarcar diferentes temas dentro desta ciência, a experiência metodológica aqui exposta
de ensino sobre o Nordeste é apenas um exemplo de vários que podem ser vivenciados
em sala de aula.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O professor de Geografia deve buscar meios eficazes para a efetivação do
aprendizado por seus alunos, a música como recurso metodológico consegue provocar a
curiosidade prendendo a atenção dos alunos na temática abordada em sala de aula.
A proposta da música no ensino de Geografia (...) é uma alternativa
que pretende ir além das puras superações cognitivas, possibilitando
uma mudança de valores e hábitos, levando o aluno a se ver dentro da
Geografia que nos permeia no cotidiano, a Geografia real e carregada
de sentidos vivos e latentes, possibilitando ao indivíduo ser um
verdadeiro agente construtor e modificador do mundo, como a
realidade é. (GODOY, 2009, p. 42 -43)
A música representa um recurso metodológico prático e acessível aos docentes,
e que possibilita o aprendizado de forma dinâmica e divertida para os alunos, onde a
construção do conhecimento é feita em um ambiente de descontração e ao mesmo
tempo de seriedade.
Diante do exposto, a oficina em questão conseguiu trabalhar o Nordeste de
forma descontraída e ao mesmo tempo ressignificando os saberes dos alunos acerca da
região, desmistificando estereótipos e possibilitando uma leitura crítica da realidade,
tendo a música como recurso eficaz no processo ensino-aprendizagem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL - PNLD 2011. Guia De Livros Didáticos: Geografia – Brasília: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010.
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GODOY, Moema Lavínia Puga de. A Música, o Ensino e a Geografia. Monografia:
Bacharelado em Geografia. Universidade Federal de Uberlândia: Uberlândia, 2009.
LISBOA, Josefa Bispo de. A trajetória do Discurso do desenvolvimento para o
Nordeste: políticas públicas na (dis) simulação da esperança. (Tese - doutorado em
Geografia – UFS) São Cristóvão, 2007.
LOPES, Lucineide Fábia Rodrigues. A região Nordeste nos livros didáticos de
Geografia: Uma análise histórica. (Dissertação – Mestrado em Geografia –
UFPB/CCEN) João Pessoa, 2009.
MENEZES, Oliveira de; MORAIS, José Micaelson Lacerda. Seca no Nordeste. Atual:
São Paulo, 2002.
PINHEIRO, E. A.; MENDONÇA, B. A.; SILVA, G. J.da; GONÇALVES,O. de O.;
CHAVES, T. S. O Nordeste brasileiro nas músicas de Luiz Gonzaga. Caderno de
Geografia, Belo Horizonte, v. 14, n. 23, p. 103-111, 2º sem.2004.
RIBEIRO, Rafael Winter. Seca e Determinismo: a Gênese do Discurso do Semi-
árido Nordestino. Anuário do Instituto de Geociências – UFRJ. Vol:22/1999.
SANTOS, Rita de Cássia Evangelista dos; CHIAPETTI, Rita Jaqueline Nogueira. Uma
investigação sobre o uso das diversas linguagens no ensino de Geografia: uma
interface teoria e prática IN: Geografia Ensino e Pesquisa, vol 15, nº 3, set./dez. 2011.
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AS HISTÓRIA EM QUADRINHOS COMO RECURSO DIDÁTICO NO
ENSINO DA GEOGRAFIA POLÍTICA
Lucas Batista Pereira1
Luciano Palladino Pereira2
RESUMO
O ensino de Geografia, especificamente o da Geografia Política e o da Geopolítica é de
fundamental importância para a construção de uma formação cidadã. Os conteúdos trabalhados,
por esta disciplina na Educação Básica, propiciam a aprendizagem dos alunos e os levam a
compreender a sociedade como natureza construída pelo trabalho, as transformações e as
práticas sociais decorrentes da relação natureza/sociedade. Como forma de melhor compreender
os temas trabalhados pela Geografia Política, na perspectiva acima citada, vários são recursos
didáticos importantes a serem utilizados pelos educadores. Dentre eles, está a utilização de
Histórias em Quadrinhos (HQ) que pode favorecer a construção do conhecimento geográfico. A
elaboração de sugestões didáticas utilizando as HQ, expostas nos exemplos práticos neste
trabalho, busca facilitar a compreensão das relações entre território, poder e cidadania. Neste
sentido, este artigo procura discutir, ainda que forma superficial, as HQ como fonte para que o
aluno construa, com a ajuda do professor, o conhecimento geográfico, com ênfase aos estudos
vinculados aos aspectos políticos e sociais. Procura-se discutir o significado e importância das
HQ como recurso didático. Inicialmente, serão analisados os aspectos teóricos e metodológicos
e suas implicações referentes aos recursos didáticos aqui selecionados, de modo que se possa
compreendê-los e destacar as suas especificidades. Em seguida, são elencados alguns exemplos
de HQ que podem propiciar, ao professor, o desenvolvimento de atividades pedagógicas
pautadas em alguns conceitos da Geografia Política e Geopolítica, como
território/poder/políticas públicas relevantes para o ensino da geografia escolar. Por último é
importante destacar que este trabalho não tem caráter conclusivo, já que os quadrinhos não são
donos de uma verdade absoluta, estando sempre em metamorfose. Por isso, é importante
entendê-lo e analisá-lo dentro do contexto em que está inserido. Torna-se imprecisa a análise e
não é possível perceber toda a abrangência e representatividade da História em Quadrinhos sem
que se observe atentamente o período histórico em que foi produzida, o momento em que faz
parte os acontecimentos políticos sociais e culturais, simultâneos à sua existência.
Palavras-Chave: Didática, Geografia, Política.
AS HISTÓRIAS EM QUADRINHO COMO RECURSO EDUCACIONAL E O
ENSINO DE GEOGRAFIA
Em determinada época, as histórias em quadrinhos foram vistas como um grande
perigo para a educação. Diversos estudiosos formulavam a hipótese de que a utilização
1 Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB; lucabatistap@ig,com.br 2 Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB; [email protected]
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destes recursos literários poderia promover certa alienação as crianças e os adolescentes.
A justificativa se dava com a argumentação de que os mesmos perderiam o interesse
pelos estudos e pela leitura de livros, além de poderem ser afetados psicologicamente
pelo “teor perversivo” expresso em tal tipo de leitura, resultando em grande “prejuízo
moral”.
Esta visão era considerada, por outros, como elitista, no sentido de que somente
a leitura de literatura impressa em formato de livro era positiva e contribuiria para o
desenvolvimento dos indivíduos. O princípio traçado neste texto é o de que para as
pessoas ainda em formação, crianças e adolescentes, os quadrinhos se mostram uma
porta de entrada para a literatura que eles vão consumir em futuras etapas de sua vida.
Desde que valorizados adequadamente tanto pelos educadores como pelos pais, os
quadrinhos são uma ferramenta importante para educação, não podendo ser negado o
acesso livre a um tipo de leitura importante para a formação educativa.
Como ação complementar nas escolas, as histórias em quadrinhos são
recomendadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) como importante
instrumento educacional.
Os professores podem analisar as finalidades das histórias em quadrinhos,
partindo do que é referenciado por Vilela ao afirmar que:
A maioria dos quadrinhos faz parte da chamada “indústria do entretenimento” e,
portanto, foram publicadas com finalidades comerciais. Entretanto, tal finalidade
comercial não impede que uma história em quadrinhos seja uma obra de arte ou que
tenha pretensões intelectuais. Além do entretenimento, uma história em quadrinhos
poder ser informativo, educativo, didático, e, inclusive, propaganda com ideias
políticas (VILELA, 2008, p. 114).
As diferentes leituras que fazemos dependem de condições históricas e sociais,
onde as práticas sociais são vivenciadas, pois “todo falante e todo ouvinte ocupa um
lugar na sociedade” (ORLANDI, 2008, p. 18), cada um atribuindo diferentes
significados às suas leituras. Para a autora citada, o sujeito não se apropria da linguagem
de maneira individual, mas de forma social.
Conforme destaca Eni Orlandi, toda leitura e todo leitor têm suas histórias, isto
é, “para um mesmo texto, leituras possíveis em certas épocas não o foram em outras, e
leituras que não são possíveis hoje serão no futuro, pois o conjunto de leituras feitas
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configuram, em parte, a compreensibilidade de cada leitor específico” (ORLANDI,
2008, p. 43).
AÇÕES DIDÁTICO-METODOLÓGICAS
Ao trabalhar com as histórias em quadrinhos em sala de aula, o professor não
deve tratá-las de forma isolada, mas inseri-las em conteúdos, temas específicos do
ensino de Geografia, acompanhada ou não dos livros didáticos. Assim, os quadrinhos
poderiam ser trabalhados no final de cada conteúdo, pois desta forma as atividades
propostas possam a ser relevantes para o desenvolvimento do conhecimento geográfico
sistematizado. A história em quadrinhos trabalhada ao final de cada conteúdo permite
ao professor desenvolver atividades de reflexão final sobre o tema de sua aula e, além
disso, preparar os alunos para o conteúdo seguinte.
Primeiramente, as histórias em quadrinhos podem ser utilizadas para trabalhar o
conceito de espaço geográfico e suas dimensões: tempo, lugar, paisagem, território, etc.
reforçada pelas atividades propostas, de reflexão geral tais como:
Que aspectos geográficos estão presentes na imagem?
Qual o conteúdo geográfico presente em cada quadrinho?
Quem são os agentes sociais (personagens) presentes na história?
O aluno já viu situação, como a apresentada, em sua vida cotidiana? Tem relação
os eventos da história, representados nos quadrinhos, com sua vida cotidiana? (Faça
uma narrativa sobre isso)
O conteúdo geográfico presente nos quadrinhos é diferente ao produzido em seu
livro didático?
Estas ponderações e indagações podem ser complementadas, evidentemente,
com o tema específico apresentado nas HQ utilizadas como referência do conteúdo
trabalhado. É importante referendar a especificidade das HQ como recurso geográfico,
para isso, o professor pode destacar, no início das atividades, um texto que
contextualize o conteúdo trabalhado e, posteriormente, no final de cada tema de aula,
reforçar o aprendizado dos alunos com exemplos das HQ, como elemento motivador
para introduzir temas/conteúdos novos do programa elaborado pelo professor ou
daqueles sugeridos pelos alunos.
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Além de propor questões dissertativas, leituras, interpretação e discussão dos
quadrinhos, o professor pode solicitar aos alunos a elaboração de novos quadrinhos com
temas, pertinentes ao assunto da aula. Esta atividade é importante para identificar o
processo de aprendizagem do aluno, dando oportunidade para que o mesmo perceba um
novo olhar sobre a temática estudada, levando-o a expor qual era a visão que tinha antes
e as reconstruídas após das discussões. Ao reelaborar as histórias em quadrinhos, os
alunos, com a orientação do professor, podem pesquisar fotografias, registros
iconográficos, ilustrações de fontes diversas, pesquisadas em bibliotecas ou internet.
Na sequência, serão apresentados alguns exemplos de livros em quadrinhos e
tiras de Quino que podem ser utilizados no contexto da aula. Os mesmos terão um
direcionamento para temas vinculados a Geografia Política e Geopolítica.
A APLICABILIDADE DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E A
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM GEOGRAFIA POLÍTICA
Alguns conceitos vinculados a Geografia Política: política, poder, Estado e
território
O objeto de estudo da Geografia Política está na compreensão da relação entre a
política e o território. Segundo Iná de Castro a Geografia Política “... é um conjunto de
ideias políticas e acadêmicas sobre as relações da Geografia com a política e vice-versa”
(CASTRO, 2008, p.10). (Neste sentido, compreender o significado do conceito de
política é de grande importância para a Geografia).
Considerando um processo de autoritarismo, militarismo, de censura de
imprensa, de anti-democratismo no sentido geral, vivido pela sociedade brasileira, o
termo política se reverte de um sentido discriminatório, só “existindo” por haver
“políticos profissionais”. Em boa parcela da sociedade, incluindo ai os nossos alunos
nos diversos graus de ensino, Política, como substantivo ou adjetivo, compreende as
ações, comportamentos, intuitos, manobras, entendimentos e desentendimentos dos
homens para conquistar o poder, ou uma parcela dele, ou um lugar nele: eleições,
campanhas eleitorais, comícios, lutas de partidos etc;
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Para melhor discutir estes conceitos podemos utilizar a estratégia de buscarmos
inicialmente o que de fato os alunos entendem destes conceitos, fazendo uma atividade
diagnóstica ou trabalhando com algumas Tiras da Mafalda3
como as que se seguem:
(QUINO, 1993, p. 32)
Os outros “sentidos” da política podem ser explorados utilizando-se diversas
“variáveis” que correlacionam com temas relevantes da sociedade como: classes sociais,
movimento sociais, cultura, etc.
A política relacionada com as diferenças de classes sociais:
(QUINO, 1993, p. 36)
Política e Discriminações Sociais
3 A personagem Mafalda, criada pelo desenhista argentino Quino entre 1964 e 1973 (ambientada na
capital da Argentina – Buenos Aires), serviu de contraponto para expor através do humor e da ironia um
conjunto de temas polêmicos como feminismo, moralismo, autoritarismo, educação, cultura, poder,
repressão, censura, dominação, exploração, geopolítica, dependência econômica, etc. (QUINO, 1973).
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(QUINO, 1993, p.30)
O conceito de poder
Qualquer ato de poder é complexo e cheio de implicações. Os livros didáticos
correlacionam as relações de poder entre os Estados com a denominação de
Geopolítica.4 Neste sentido, o poder se encontra na capacidade de alguns Estados
influenciarem (dominarem) outros. Estas influências ou dominações se dão no âmbito
econômico, cultural, religioso, etc. Tal fato e reflexo de como se organiza a sociedade
mundial, desde que o mundo é mundo, existe a dominação e, no geral, normalmente tem
uma minoria influenciando a maioria.
Para uma reflexão sobre poder e Estado, podemos exemplicar algumas tiras da
Mafalda.
Relações de poder na sociedade:
(QUINO, 1993, p.31)
O poder e os conflitos mundiais:
4 É toda a ação que se dá em determinado território, com vistas à dominação social. Ela pode (e deve)
engendrar, uma série de elementos com vistas à ação territorial. (RAFFESTIN,1993).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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(QUINO, 1993, p.46)
Para o direito internacional, Estado é uma comunidade organizada politicamente,
ocupando um território definido, normalmente sob Constituição e dirigida por um
governo; também possuindo soberania reconhecida internamente e por outros países. “O
reconhecimento da independência de um estado em relação a outros, permitindo ao
primeiro firmar acordos internacionais, é uma condição fundamental para
estabelecimento da soberania” (RAFFESTIN, 1993).
No contexto político, o termo território refere-se a superfície terrestre de um
Estado, soberano. De acordo com as teorias gerais de Estado, diplomacia, relações
internacionais e nacionalidade, o território é uma das condições para a existência e o
reconhecimento de um país (sendo os outros dois a nação a soberania). Por isso, existem
determinados casos de entidades soberanas que não são reconhecidos como países,
como Estados sem território (Autoridade Nacional Palestina) ou nações sem território
(os ciganos é o exemplo mais clássico).
Para a Geografia, o que é o Estado? O Estado é território politicamente
organizado (apropriação de uma parcela geográfica por uma coletividade). Situando-o
no contexto histórico, ele tem emersão a partir da organização da produção e da
necessidade política de demarcar o espaço com outras sociedades que também têm
projetos de expansão de suas economias. “Diferentemente do território, cujas formas de
organização se davam em fronteiras flexíveis, no Estado, as formas de organização do
espaço se dão em limites rígidos” (RAFFESTIN, 1993).
Considerando o que foi exposto qual o conceito possível de ser apresentado de
Geografia Política e quais os exemplos concretos para que os alunos em sala de aula
possam entender o conceito de poder, Estado e território?
Tendo como referência Ribeiro (2007) pode-se elaborar algumas questões, que a
priori, servem para auxiliar na discussão:
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Qual a forma de como o poder se estabelece no Estado?
(QUINO, 1993, p.31)
Uma pessoa é apenas um técnico em controle de natalidade, que está procurando ensinar
às famílias pobres da coletividade, métodos anticonceptivos e distribuir material
adequado. Ele diz que seu trabalho é meramente científico e social, não tem nada de
político. Ele tem razão?
(QUINO, 1993, p.47)
ASPECTOS SOCIAIS DA POPULAÇÃO E A GEOGRAFIA
Os conteúdos que retratam as situações sociais dos diversos lugares e países nos
livros didáticos de Geografia é uma constante. Procurar inseri-los dentro de uma
perspectiva de análise geográfica requer, por parte do professor, construir uma
metodologia que “territorialize” estes temas, no sentido de analisar como os mesmos
são fontes de transformação permanente no espaço geográfico.
Um dos temas sociais aqui destacados vincula-se a uma relação direta com a
realidade de nossos alunos: os menores infratores em situação de risco social. O
exemplo se encontra no livro literário, em quadrinhos, de Jorge Amado denominado
Capitães da Areia.
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O livro é um romance, escrito em 1937, que possui um teor político pautado nos
princípios de Jorge Amado, que retrata a história de menores abandonados que praticam
alguns delitos em Salvador. Nos anos 30, os meninos de rua eram chamados de
“capitães da areia”.
Questões que podem ser abordadas em sala de aula
O risco social em que vivem as crianças pode ser abordado na Geografia Política
a partir das políticas públicas do Estado nesta área social, com destaque para o papel do
poder público nos planos municipal, estadual e federal. O papel dos poderes
constituídos, o executivo no que tange as políticas públicas (programas de acolhimento
e inserção na sociedade), o no acompanhamento e fiscalização e elaboração de novas
Leis federais e estaduais e o Judiciário ao tomar para si a responsabilidade, junto à
sociedade, na estruturação dos Conselhos Tutelares da Criança e Adolescência. Este
tema pode ser correlacionado com a situação econômica e social do país no seu
processo histórico.
Capitães da Areia: livro escrito em 1937, quando Jorge Amado tinha apenas 24
anos. A editora Egba (Empresa Gráfica da Bahia) adaptou o livro para a linguagem das
histórias em quadrinhos, em 1996.
Como forma de relacionar com a realidade dos alunos pode-se procurar identificar os
locais de acolhimento de menores, bem como analisar os programas públicos voltados
para a inserção da criança e do adolescente na sociedade, existentes no município
onde mora. A segurança pública, através de relatos, com possíveis visitas in loco,
procurando identificar as condições de vida dos menores infratores. Procurar
identificar como os diversos seguimentos da sociedade interpretam o problema, como
a família, a escola, a igreja, a imprensa, os Partidos Políticos e os movimentos sociais.
Capitães da Areia revela uma situação social real. De outro lado, as notícias
veiculadas pela mídia, que muitas vezes atendem aos interesses das classes sociais
mais ricas, podem estar permeadas de elementos fantasiosos.
A Geopolítica e as transformações pós Segunda Guerra Mundial
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As transformações geográficas ocorridas no mundo pós segunda guerra mundial
é um tema frequentes nos livros didáticos de Geografia. Trabalhado com o recurso das
HQ, pode-se despertar o interesse maior dos alunos. Vários exemplos podem ser dados
que podem atingir este objetivo.
Destacando as relações de poder no mundo, geopolítica dos estados, com o
avanço tecnológico, pode-se citar o exemplo da Bomba Atômica. Em agosto de 1945,
os EUA atacaram o Japão com duas bombas atômicas, colocando o ponto final na
Segunda Guerra Mundial. Naquele ano, a guerra já estava quase terminada. Do Eixo (os
países que lutavam contra EUA, Inglaterra e França), Alemanha e Itália já estavam
derrotadas. Contudo, o Japão continuava resistindo em vários territórios do Pacífico.
Querendo pôr fim ao conflito – e também numa demonstração de força bélica que
mandava um recado para a União Soviética e o restante do mundo -, os EUA lançaram a
primeira bomba atômica na cidade de Hiroshima, matando instantaneamente 100 mil
pessoas. Três dias depois foi a vez de Nagasaki: mais 70 mil mortos. Era o fim da
guerra e o começo da era atômica.
Conforme destaca VILELA (2008) o quadrinho mais famoso que fala da
Segunda Guerra Mundial e das bombas atômicas é “Gen, Pés Descalços”.
“Gen, Pés Descalços” é um quadrinho japonês
do artista Keiji Nakazawa lançado em 1970.
Gen é um garoto de seis anos que mora em
Hiroshima quando a bomba cai. Ele perde
quase toda a família e tem que viver em um
Japão de pobreza e destruição ao lado de sua
mãe e da irmã recém-nascida.
Em consonância com a HQ, está o
documentário de 2006 produzido nos EUA,
denominado “A Última Bomba Atômica”,
relata a história dos chamados “hibakusha”,
que significa “sobreviventes da bomba”.
Por serem os únicos nos dias de hoje que
viveram aquele momento histórico, o filme
questiona: quem contará a história quando
estes últimos “personagens” se forem”?
(VILELA, 2008, p. 34)
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Questões que podem ser abordadas em sala de aula
Os reflexos do final da II Guerra Mundial perduram até hoje e podem ser
analisados relacionados aos dias atuais, tendo como referência a nova Ordem Política
Internacional, com a temática Globalização. O papel das Organizações Internacionais
vinculado a ONU (Organizações das Nações Unidas), como o Conselho de Segurança
Nacional (o que ele representa, quem o domina, porque o Brasil preiteia uma vaga neste
Conselho). Análise dos diversos Tratados a este respeito, as intervenções norte
americana e o significado da autonomia território avaliada através do Estado Nação e da
soberania popular. Temas estes que podem ser destacados na HQ de Gen e
contextualizado para a realidade atual.
Conflitos Territoriais: o exemplo clássico entre Árabes e Judeus no Oriente Médio
Dois livros em quadrinhos podem ilustrar bem esta temática: Palestina: uma
nação ocupada e Notas sobre Gaza. Estes dois livros foram escritos pelo jornalista Joe
Sacco. Suas coberturas de grandes conflitos se tornaram mundialmente famosas.
Palestina, Uma Nação Ocupada. Escrito por Joe Sacco (1996). O autor viajou por
dois meses pela Palestina, em 1996, para contar a história dos árabes da região e o
cotidiano de uma área sob ocupação militar e constante vigilância. Sacco coletou
histórias de militantes na causa palestina e gente comum nas ruas, hospitais e escolas.
Os violentos confrontos não ficaram de fora e ele entrevistou soldados e vítimas de
tortura.
www.historiaequadrinhos.com.br/2011/09/nacionalismo-palestina-joe-sacco-
fagin.html
Notas sobre Gaza, também de Sacco, é um livro em quadrinhos que aborda o
massacre de centenas de palestinos ocorrido em 1956, na Faixa de Gaza, pequeno
território situado no sudoeste de Israel. Lá se refugiaram centenas de milhares de
palestinos que foram expulsos de suas terras quando o estado de Israel foi criado, em
1948.
www.historiaequadrinhos.com.br/2011/09/nacionalismo-palestina-joe-sacco-
fagin.html
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4870
Nas indicações de análise os professores podem abordar os temas de diversas
formas e ângulos, já que está implícito um posicionamento político sobre a temática.
Importante se faz o respeito aos diversos ângulos da questão.
No entanto é importante destacar, para uma análise da geopolítica internacional,
qual é de fato a posição dos países mais avançados tecnologicamente nesta questão, em
especial os Estados Unidos. O autor citado contrapõe um pouco o conteúdo esboçado
pela grande mídia, trazendo a visão dos palestinos. Este aspecto pode ser destacado
também pelos professores em sala de aula ao discutir os diversos interesses políticos e
econômicos existentes neste tipo de conflito.
Outro exemplo que pode ser obtido com Joe Sacco refere-se ao conflito na Faixa
de Gaza. Trilando pelo mesmo caminho o autor procura destacar os motivos do conflito
neste território do Oriente Médio.
A utilização das histórias em quadrinho, como possível recurso didático-
pedagógico, é pertinente ao ensino de Geografia Política, desde que as atividades
metodológicas sejam inseridas em um conteúdo de aula e com a devida orientação do
professor. Deste modo, evitam-se cometer situações puramente lúdicas que apresentam
as mesmas com objetivo apenas de entretenimento ou ilustração na sala de aula. Devem
ser alternativas ao professor, além de criar situações pedagógicas mais atraentes, que
possam favorecer o processo de ensino e aprendizagem.
Na aplicabilidade das HQ, o aluno e o professor são sujeitos importantes na constante
produção de conhecimento na escola. O ensino de Geografia Política e Geopolítica é importante
em todos os níveis do processo educativo. As sugestões didáticas apresentadas servem como
experiência ou prática educativa que buscam contribuir para a melhoria da compreensão de
conteúdos relevantes em Geografia Política. No entanto, os professores podem e devem criar
outras sugestões e busca de outras referências bibliográficas.
REFERÊNCIAS
CASTRO, Iná. Geografia e Política. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, 2008.
FRONZA, Marcelo. A presença das histórias em quadrinhos nos livros didáticos de
História utilizados pelos sujeitos do universo escolar. In: SIMAN, Lana Mara de Castro
(org.). VII Encontro Nacional de Pesquisadores em Ensino de História (ENPEH): novos
problemas, novas abordagens. Belo Horizonte: UFMG/FAE/LABEPEH, 2006. (GT 3:
Educação Histórica).
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HAESBAERT. Rogério. Concepções de Território para entender a Desterritorização.
Rio de Janeiro. XX Encontro Nacional da ANPUR, 2001.
IG. Último Segundo. Joe Sacco apresenta seu jornalismo em quadrinhos na Flip 2011.
http://ultimosegundo.ig.com.br/flip/joe+sacco+apresenta+seu+jornalismo+em+quadrinh
os+na+flip+2011/n1597072602247.html Acessado na rede em 09/7/2011
ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e Leitura. 8ª ed. São Paulo: Cortez, 2008.
RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do Poder. São Paulo: Ática, 1993.
RIBEIRO, João Ubaldo. O que é política. São Paulo: Vozes, 2007.
VILELA, Túlio. Os quadrinhos na aula de História. In: RAMA, Ângela e
VERGUEIRO, Waldomiro (Org.). Como usar as histórias em quadrinhos na sala de
aula. São Paulo: Contexto, 2008.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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RETRATO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NO ENSINO
FUNDAMENTAL NAS ESCOLAS ESTADUAIS DE MANAUS
Marcela Vieira Pereira Mafra1
José Ricardo Oliveira Barbos2
RESUMO
O presente estudo é uma reflexão a respeito do uso dos recursos e técnicas utilizadas por
professores de Geografia no Ensino Fundamental nas escolas públicas estaduais da cidade de
Manaus. O Objetivo foi verificar se a disciplina continua a ser ministrada por profissionais
oriundos de outras áreas e analisar quais são os recursos e técnicas utilizadas pelos professores e
como estas contribuem para que o docente possa proporcionar situações que ensinem os alunos
a pensar e a aprender sobre a realidade vivenciada por eles. Utilizou-se para isso, as entrevistas
semi-estruturadas e a aplicação de questionários com 81 professores de geografia de quarenta
escolas estaduais distribuídas em todas as zonas da cidade de Manaus. Quanto aos resultados da
pesquisa, verificou-se que mesmo sendo a maior parcela dos professores graduados e
especialista na área de Geografia, os mesmos ainda trabalham de maneira “tradicional”, com
poucas variações metodológicas. E, o resultado são aulas monótonas, que não despertam o
interesse dos alunos pela disciplina pelo fato dos conteúdos abordados em sala de aula, de forma
mecânica, não apresentarem ligação com o cotidiano dos alunos.
Palavras-chave: Ensino de Geografia; Escolas Públicas; Manaus.
INTRODUÇÃO
A educação na atualidade necessita acompanhar os constantes desafios que são
impostos pelo processo de globalização, pois existe uma grande velocidade de
informações e relações que se processam no espaço. A geografia escolar, por sua vez,
deve preparar o aluno para lidar com esses desafios de modo a despertar se interesse por
todo e qualquer assunto, seja político, econômico e social ou relativo à fenômenos
naturais, que acontecem nesse espaço que é seu objeto de estudo.
Logo, no Ensino Fundamental o aluno deve ser estimulado a participar e
questionar a formação e a transformação do espaço e, ao professor é delegada essa
tarefa, pois, a Geografia estuda as relações entre o processo histórico que regula a
1 Universidade do Estado do Amazonas; [email protected] 2 Universidade do Estado do Amazonas; [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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formação das sociedades humanas e o funcionamento da natureza, por meio da leitura
do espaço e da paisagem.
Para esse trabalho objetivou-se investigar a importância que a formação
profissional e os recursos e técnicas utilizadas pelo professor tem no processo de
aprendizado de seus alunos. Para isso, na pesquisa foi utilizado o método
quantiqualitativo onde além de pesquisador descrever e explicar o fenômeno estudado,
participa, compreende e interpreta os sujeitos e dados da pesquisa.
O PROFESSOR, SUAS TÉCNICAS E DIFICULDADES.
A análise dos resultados da pesquisa permitem afirmar que cerca de 50% dos
professores de geografia exercem a função há mais de quinze anos, tal fato pode ser
apontado como uma das causas que leva ao método “tradicional” usado pelos mesmos
nas aulas, pois muito desses profissionais acabam se acomodando, tornam-se alheios ao
uso de novas metodologias e avessos ao uso das tecnologias tão importantes com o
processo de globalização, justificando que o fato de trabalharem há muito tempo na
atividade como concursado lhes garante a não reciclagem profissional que a docência
exige. Desta forma, as aulas de geografia ficam condicionadas ao método de ensino
tradicional cujo objetivo se remete apenas a transmissão de conteúdo pelo professor, o
qual deve ser assimilado pelos alunos, baseado no ensino enciclopédico e na seleção dos
conteúdos, sendo este geralmente, sem relação com o cotidiano dos alunos.
No que concerne a área de formação, constatou-se que 62% dos entrevistados
são graduados em Geografia, o que contradiz a falácia de que o ensino de Geografia é
trabalhado dissociada da realidade dos alunos porque seus professores não possuem
formação específica na área em que atuam. Contudo, não se pode ignorar que ainda hoje
existe um numero bem expressivo de professores oriundos de outras áreas, na disciplina
geografia, como pedagogia e até mesmo direito, o que pode refletir na perda da
qualidade do ensino-aprendizagem.
A formação continuada é de fundamental importância para um trabalho docente
de qualidade que vise sempre o aperfeiçoamento profissional e intelectual assim como
propicia um melhor aprendizado dos alunos, esta continuidade dos estudos deve estar
ligada tanto a cursos de capacitação quanto ao conhecimento adquirido em cursos de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4874
especialização. A pesquisa verificou que mais da metade dos entrevistados possuem
especialização.
Como explicar que professores licenciados em Geografia e com especialização
na área, não desenvolvem um ensino significativo que vá além de uma geografia
descritiva, decorativa e de localização?
Pois, como afirmam SCHAEFFER, et al. (2011, p.18), saber Geografia não é
apenas evocar nomes. É reconhecer as influências, as interações que os lugares e
paisagens têm com nosso cotidiano.
No entanto, a pesquisa constatou que a maioria dos entrevistados estão
condicionados ao uso excessivo do livro didático, do pincel e do quadro branco o
que contribui para a resistência e o descaso dos alunos para com as aulas de Geografia.
Aliado a isso, esta o tratamento superficial e apressado de conteúdos na tentativa de se
contemplar o programa de ensino planejado para o ano letivo, sem levar em
consideração o real aprendizado do aluno e, o uso reduzido de recursos e atividades
alternativas, que faça uso de diferentes linguagens e estratégias didáticas. A
consequência do quadro retratado são aulas que não estimulam o educando a participar,
a questionar, a refletir sobre os conteúdos que são (ou deveriam ser) dialogados na sala
de aula, tão importantes para a compreensão da realidade vivenciada pelos estudantes, e
que são de fundamental importância para a inserção desses alunos como cidadãos no
atual mundo politizado e globalizado.
É claro que “não podemos desprezar o professor do giz e da lousa, pois temos
assistido a aulas produtivas sem nenhum aparato tecnológico. Acima de tudo, um
professor que tenha domínio de conteúdo e conheça seus alunos consegue trabalhar
qualquer tema interagindo com eles, trazendo o seu cotidiano como exemplos para os
conceitos” (PASSINI, 2011, p.102)
No entanto, ao fazer uso de diversos recursos e técnicas o professor permite a
seus alunos a ampliação das possibilidades de sistematizar, articular, analisar, comparar
e relacionar as informações e os conceitos a fim de que possam tornar os conteúdos
significantes e, dessa forma possam entender o que acontece no mundo.
A pesquisa aponta que o livro didático é o instrumento mais importante no
cotidiano escolar, permanecendo como recurso mais utilizado por cerca de 56% dos
professores de geografia, o que por sua vez, resulta em um processo de ensino
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4875
enfadonho, sem muita relevância principalmente para o educando, que estuda os
conteúdos do livro didático de maneira linear sem levá-lo a uma compreensão
contextualizada do conteúdo abordado.
Castellar e Vilhena (2010, p.137) chamam atenção para esse fato, quando
afirmam que muitos professores transformam o livro didático em um mero compêndio
de informações, ou seja, o utilizam como um fim e não como um meio no processo de
ensino. E, isso ficou muito evidente por meio das entrevistas, quando os professores
indicam como principal fonte de pesquisa para suas aulas, o próprio livro didático do
aluno. E, culpabilizam o sistema educacional e os baixos salários por essa situação,
pois, afirmam que sobrecarga de trabalho os impede de terem tempo para pesquisar e
ler.
Aproximadamente 68% dos professores entrevistados ministram aulas em dois
e/ou três turnos. Essa jornada excessiva de trabalho, aliado ao fato de um numero
expressivo de professores trabalharem em escolas diferentes a cada turno, agrava ainda
mais o desenvolvimento de um bom trabalho docente, pois o tempo de deslocamento de
uma escola para outra, faz com quem aconteça atraso freqüentes, além de contribuir
para um desgaste físico e mental desses profissionais, o que conseqüentemente resulta
no baixo rendimento em sala de aula, pois o professor fadigado tem dificuldade em
planejar e ministrar boas aulas, implicando em um fraco processo ensino da geografia
escolar, contribuindo para o método tradicional de ensino.
Tal situação ocorre porque os professores se dizem “obrigados” a trabalhar mais
para conseguir ter um padrão de vida razoavelmente bom, em virtude dos baixos
salários decorrentes da não valorização da classe. Os reflexos dessa correria que
corresponde ao cotidiano da maior parte desses profissionais são: falta de horário para
planejar aula, não planejamento de provas, de trabalhos, de outras metodologias de
ensino, ausência de leitura dos conteúdos do livro didático e de outros textos correlatos
e científicos. O reflexo disso é que ao chegarem à sala de aula, os professores costumam
improvisar, contribuindo para a geografia conteúdista baseada na explicação corriqueira
do livro didático, apresentando a geografia como um programa de variedades, onde ao
aluno cabe ouvir e “repetir” o conteúdo ministrado nos exercícios escolares e nas provas
sem objetivos definidos, a não ser o de reprovação.
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No que concerne ao domínio do conteúdo, dificuldades e conhecimento
cientifico suficiente para ministrar as aulas, 32% afirmam que a formação universitária
não lhes forneceu embasamento suficiente para a docência. E, quando questionados
sobre qual assunto não e sentem segurança para desenvolver em sala de aula, 63% dos
entrevistados, indicaram a Cartografia como o conteúdo gerador de insegurança e, que
normalmente não abordam por falta de embasamento teórico e material didático.
A cartografia é a temática da geografia que os professores não gostam de
trabalhar porque não possuem conhecimento suficiente e também por que dizem que os
alunos do ensino fundamental não estão preparados para compreender alguns de seus
conteúdos, tal dificuldade está atrelada principalmente aos cálculos exatos que a mesma
exige, onde os professores diante dessa dificuldade preferem “pular”o conteúdo.
A cartografia é a base da geografia, pois ela proporciona a leitura do espaço
geográfico, a partir da localização, das relações de escala, da leitura e da interpretação
de mapas e outros. Se os professores do ensino fundamental não costumam trabalhar
esses conteúdos em suas aulas, estes estarão desta forma, contribuindo para a formação
do que se costuma denominar de analfabetos cartográficos.
Ainda referente às dificuldades na prática da docência, os professores
entrevistados relataram que a principal dificuldade encontrada no âmbito escolar é a
falta de cooperação dos pais, seguida da superlotação das salas como fator determinante
para o processo ensino-aprendizagem de geografia.
Essa falta de cooperação e interação entre família e escola gera conflitos na vida
dos alunos e professores, como desrespeito, falta de limites, estresse, frustração,
sentimento de impotência dos professores frente a tais dificuldades e desmotivação dos
alunos. O que se percebe na realidade é um grande esforço da escola para tentar lhe dar
com tal problemática, assumindo para si a total responsabilidade dos conflitos, quando
na realidade essa responsabilidade deve ser dividida entre todos os atores da
comunidade escolar inclusive os pais.
Para que o professor possa desenvolver um bom trabalho e o aluno ter um bom
aprendizado, é importante ressaltar que deve existir o envolvimento e o
comprometimento dos pais no cotidiano escolar dos filhos para que os mesmo possam
se sentir amados e protegidos, diminuindo essa barreira que é a relação família-escola
no Brasil, porém essa é uma realidade ainda a se constituir.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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A superlotação nas salas de aulas da rede pública estadual de ensino da cidade
de Manaus coincide com a realidade que se faz presente na maioria dos estados
brasileiros. Tal condição tem demonstrado pontos negativos na prática do ensino
aprendizagem da ciência geográfica, que somada à falta de políticas públicas voltadas
para a resolução dessa problemática resulta no precário e deficiente sistema educacional
brasileiro.
A superlotação aumenta o desgaste físico e emocional dos profissionais
envolvidos no processo educacional, desde o porteiro à gestora que tem que lidar com
um numero muito maior de alunos. Sendo uma realidade constituída no ensino publico e
no seu planejamento, gerando um efeito em cadeia: dificulta a aprendizagem; a
aplicação de metodologias; aumenta o desgaste físico e mental do docente; deixa o
discente em um ambiente desconfortável; torna a relação professor-aluno formal e
genérica diante das dificuldades rotineiras entre outros fenômenos.
Quando questionados sobre a qualidade do livro didático, cerca de 60%
asseguram que o livro didático é bom. No entanto, todos os professores entrevistados
afirmam desconhecer a concepção teórica que o autor tem do processo de
aprendizagem.
Uma das questões abordadas no questionário procurou indagar a respeito das
práticas pedagógicas diversificadas usadas pelos professores e, que apresentaram
resultados satisfatórios, a maioria apontou os seminários como a técnica de ensino com
maior eficácia, sendo que esta é uma técnica onde o aluno que apresenta fala e os outros
apenas assistem, quando assistem, sem debates e questionamentos do tema abordado.
A utilização de técnicas diversificadas nas aulas de geografia é uma necessidade
que os professores devem dispor para tornar o processo ensino-aprendizagem mais
atrativo e desta forma obter um maior rendimento dos alunos, mas é claro que nada
disso adianta, se o professor não tiver uma boa fundamentação teórica do assunto.
Os professores pontuaram que referente ao desenvolvimento de projetos
educacionais voltados para o ensino da geografia, como feiras temáticas, iniciação a
pesquisa, trabalhos de campo e outros, as escolas dão apoio a sua realização. No
entanto, os professores se dizem desmotivados para realizar esse tipo de atividade, pois
encontram dificuldades como falta de tempo no calendário escolar, já que estão
comprometidos com outras atividades como provas, por exemplo, burocracia da
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4878
instituição que dificulta a ida ao campo, falta de transporte para levar os alunos a
fabricas, museus, parques etc, todos os lugares que facilitam a melhor compreensão da
geografia pelos alunos.
Na realidade a instituição até apoia projetos, mas não incentiva sua realização, e
os professores diante dos obstáculos, permanecem trabalhando a geografia apenas no
contexto da sala de aula, na visão do livro didático, na leitura dos textos e nas avaliações
tradicionais e como provas quantitativas e seminários sem debates nem tão poucos
reflexões sobre os assuntos estudados.
Quando questionados sobre a causa que os levou a exercer a atividade de
professor, 43 (quarenta e três) dos entrevistados pontuaram que se identificam com a
profissão, mas, 21 (vinte e um) professores disseram que não escolheram, que não foi
uma opção planejada simplesmente aconteceu. Este fato demonstra a não aptidão para a
docência de muitos professores, que cursam quatro anos de uma faculdade de
licenciatura, voltada para a atividade de professor e mesmo estando cientes das
dificuldades encontradas pelos profissionais da educação, concluem a graduação e, vão
para a sala de aula sem vontade de ensinar, sem comprometimento algum com os
alunos, achando que será somente um passo-tempo até conseguirem algo melhor no
mercado de trabalho e acabam ficando, o que consequentemente resulta em um ensino
de baixa qualidade, justamente por não existir vontade dos professores em melhorar, em
desenvolver um trabalho que mude a percepção e compreensão da geografia escolar,
corroborando para uma idéia de ciência da descrição, do conteúdo e do livro didático.
Atrelado à questão, a pesquisa buscou indagar dos professores se suas
expectativas e sonhos de inicio de carreira relacionada à geografia já haviam sido
alcançados, ou seja, procurou saber da sua realização profissional e financeira, enquanto
profissionais da educação. A maior parte dos entrevistados, cerca de 65% disseram que
não. Foram varias as justificativas, dentre as quais: os baixos salários que são
responsáveis pelos professores trabalharem dois, três turnos, além de várias escolas,
desvalorização da classe pela sociedade que adjetiva os educadores de preguiçosos,
desrespeito dos alunos em sala de aula, dentre outros.
Mesmo diante das diversas dificuldades encontradas pelos professores de
geografia da rede estadual de ensino fundamental de Manaus, como as já citadas
anteriormente, 56% dos entrevistados se dizem satisfeitos com a profissão e não pensam
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em largar a docência, contudo, 44% dos entrevistados afirmam já terem pensado em
abandonar o magistério e por, isso, não pretendem exercer a atividade por muito tempo.
Esses dados confirmam o que já foi discutido anteriormente, os professores concebem a
docência como um passa-tempo, mas acabam se acomodando na função, pois apesar de
ganhar pouco, raramente se fica desempregado no estado, o que reflete a baixa e
precária qualidade do ensino de geografia ofertado aos alunos da rede pública estadual
de ensino e gera a culpabilização do aluno pelo fracasso na disciplina, pois este, não
consegue absorver o conteúdo.
Inacreditavelmente quando foram questionados sobre se o ensino de geografia
desenvolvido na escola por esses professores contribuía para a formação do aluno
cidadão, 5% dos professores disseram que não. Nesse sentido é nítida a falta de
compreensão por parte dos docentes do que ensinar e para que ensinar Geografia.
O inicio desse trabalho trata da importância da geografia na formação do aluno
cidadão, apesar de ser uma porcentagem pequena que disseram não para a questão,
pode-se concluir que infelizmente o principal trabalho da geografia escolar que é de
formar cidadãos conscientes e problematizadores de sua realidade para que os mesmos
possam intervir na construção e formação do espaço, ainda deixa muito a desejar em
virtude do que já foi colocado no decorrer deste trabalho, mas que nunca é demais
repetir falta de comprometimento dos professores com a educação. Por isso,
Castrogiovanni (2007, p.44) expõe que
Para que esta mudança ocorra, os professores e a instituição da escola,
na sua complexidade, devem estar comprometidos com o que
chamamos de fazer sociedade com cidadania. A escola deve provocar
o educando para conhecer e conquistar o seu lugar no mundo em uma
teia de justiça social. Para ser simples, mas não é, no mínimo
desafiador, como toda prática pedagógica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise do perfil dos professores e das técnicas utilizadas por eles,
podemos afirmar que existem muitas dificuldades a serem superadas para que se tenha
um ensino de Geografia que propicie à aprendizagem significativa levando os alunos a
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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compreensão dos espaços em que vivem. Foi possível constar que mesmo diante de
tantas inovações metodológicas e dos diversos recursos disponíveis no mercado, às
vezes na própria escola, que podem auxiliar o professor para que sua aula seja mais
dinâmica e prazerosa, grande parcela dos docentes não faz uso desses recursos e,
mesmo nas aulas expositivas não conseguem criar condições para que os alunos
relacionem os conteúdos abordados na sala de aula ao lugar em vivem e, isso se deve a
falta de planejamento e sistematização do conteúdo, aliado a pouca leitura e pesquisa e,
ao desconhecimento da própria concepção teórica do livro didático e de como fazer o
uso desse recurso de maneira correta, visto ser ele, o mais utilizado na sala de aula.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Alegre: Ed. Da UFRGS, 2003
CASTELLAR, Sônia & VILHENA, Jerusa. Ensino de geografia. Coleção Idéias em
Ação. Cengage Learning, 2010.
PONTUSCHKA, Nídia Nacib; OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Geografia em
perspectiva. São Paulo: Contexto, 2002. (Coletânia de artigos)
PASSINI, Elza Yasuko (org.). Prática de Ensino de Geografia e Estágio
Supervisionado. São Paulo: Contexto, 2011.
REGO, Nelson; CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos; KAERCHER, Nestor André.
Geografia: Práticas Pedagógicas para o Ensino Médio. Porto Alegre: Artmed, 2007.
SCHÄFFER, Neiva Otero; KAERCHER, Nestor André; GOULART, Ligia Beatriz;
CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos. Um Globo em suas mãos: práticas para a sala
de aula. Porto Alegre: Penso, 2011.
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IMAGENS E IMAGINAÇÕES SOBRE A AMAZÔNIA: OLHARES
SOBRE FOTOGRAFIAS E LUGARES
Leila dos Santos Cardoso1
Pablo Sebastian Moreira Fernandez2
RESUMO
Este texto é parte de reflexões que temos construído a partir dos modos em que a Amazônia se
apresenta no âmbito da Escola, da sala de aula e especificamente no Ensino de Geografia. Ele
começou a ganhar forma durante a realização do Estágio Docente do curso de Geografia, na
Universidade Federal do Amapá, levando em consideração nossas vivências e práticas em
Escolas do Ensino Médio no município de Macapá - AP. Tal proposta de investigação tem se
desenvolvido no Laboratório de Pesquisa e Ensino de Geografia da UNIFAP, espaço que tem
incentivado a discussão e estudos sobre as interfaces entre Imagem, Educação e Geografia,
elegendo neste caso o reconhecimento de múltiplas identidades e sujeitos na constituição de
uma imagem de Amazônia em nossas práticas educativas. No sentido de propor a pluralidade e
o encontro como formas de pensar o Ensino de Geografia, reconhece-se a partir de falas e
inquietações apresentadas por alunos da Licenciatura de Geografia e Professores da Rede
Pública de Ensino, que as imagens difundidas pelas mídias sobre o tema Amazônia revelam
uma imaginação de lugar predominantemente natural, deixando à margem os elementos
humanos, sociais e culturais. Estes elementos humanos são na maioria das vezes, apresentados
repletos de contradições discursivas revelando um desconhecimento sobre os saberes, tradições
locais, repletos de pré-conceitos.
Palavras - chave: Fotografia, Amazônia e Lugares.
INTRODUÇÃO
As imagens sobre a Amazônia, tanto as fotográficas presentes em revistas ou
livros didáticos, quanto as que compõem vídeos ou programas televisivos, nos é
apresentada como uma simples representação da paisagem e dos lugares sobre os quais
são abordados nos conteúdos programáticos que se pretende tratar, é como se a imagem
técnica viesse a suprir todo nosso desconhecimento sobre estes espaços, um tipo de
ferramenta que auxilia a memorização do conteúdo estudado, para então mais tarde ser
lembrado nos moldes enciclopédicos.
1 Graduanda em Geografia (Licenciatura e Bacharelado) pela Universidade Federal do Amapá. E-mail:
[email protected]. 2 Mestre em Educação e Professor da Universidade Federal do Amapá. E-mail:
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Assim, tais imagens revelam uma tradição do saber cientifico (e assim as
práticas e saberes escolares) quanto ao uso desta linguagem, propostos e organizados no
interior dos livros didáticos de Geografia como ilustração, servem apenas para reforçar
o sentindo de “verdade” fornecendo-lhe um testemunho do que está sendo dito. A
Fotografia carrega em si um sentido de verdade e semelhança com a realidade, pois esta
como afirma Susan Sontag “[...] equivale a uma prova incontestável de que determinada
coisa aconteceu. A foto pode distorcer; mas sempre existe o pressuposto de que algo
existe, ou existiu, e era semelhante ao que está na imagem” (SONTAG, 2004).
Estas fotografias quando dispostas em livros didáticos de forma padronizada e
racionalizada em narrativas desconexas, dará destaque à aspectos superficiais, como
cor, tamanho, legenda ou às formas dos lugares apresentados, criando um sentimento de
desinteresse diante das “coisas” (gentes, hábitos, práticas) que realmente estão além
dessas fotografias. A forma na qual estas imagens são utilizadas, cria caminhos para que
a fotografia dos lugares se perca em sala de aula, onde o aluno não é levado a duvidar e
questionar esta linguagem dotada de pretensa veracidade.
Estes primeiros olhares lançado sobre a fotografia na sala de aula, tem permitido
o reconhecimento e o mapeamento de sentidos e significados sociais e políticos
mistificados e estereotipados, reforçados na circulação permitida pela televisão, pelo
cinema, as revistas, a mídia de modo geral. O que se busca neste exercício de leitura de
imagens da Amazônia, é construir uma leitura crítica do mundo dando-lhe sentido, ao
invés disso, é reduzida a uma mera técnica de reprodução, uma cópia da realidade que
quando trabalhado em sala, seve como uma evidência do que está sendo visto.
No caso das imagens sobre a Amazônia, repetidamente ela é apresentada nos
materiais didáticos a partir de uma linguagem fotográfica que privilegia nitidamente a
expressão de um olhar físico, materializado em formas de uma natureza simétrica e
invejável. Mais, a culpa não está exclusivamente nas fotografias impressas nos livros
para o entendimento da Amazônia, uma vez que as imagens em um todo, participam e
atuam na configuração de uma imaginação espacial sobre os lugares, assim:
Não é tanto a imagem sozinha que alimenta este preconceito, como
também é sobretudo a série de imagens, a montagem cinematográfica,
a maneira como é paginada. Se se quiser aprender a ler corretamente a
fotografia, é preciso considerar o risco que se corre de ser enganado
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4883
por uma imagem quando ela está inserida entre outras num contexto
particular (ARCARI, 1980, p. 16).
A leitura que propomos aqui para a fotografia tem se dado na
necessidade de desconstruir uma Amazônia romantizada e distante, da
vastidão de lugares vazios de gentes, e povoado de natureza.
Reconhecer a ausência de certas identidades e lugares nas imagens
que nos são apresentadas sobre a Amazônia, é uma forma também de
reivindicar novas escritas e a emergência de falas originadas no lugar
de nossas práticas educativas. As imagens em nosso entendimento
trazem consigo um caráter de linguagem que é político, desde que,
seja compartilhada e participe do cotidiano dos alunos, dos
professores, da escola. Este momento, tem nos levado a produzir
imagens e estimular o exercício de leitura de fotografias,
compartilhando o entendimento de Wenceslao Machado Oliveira
Junior, para quem as “[...] imagens estão a grafar em nós pensamentos
sobre o espaço geográfico” (OLIVEIRA JUNIOR, 2009).
MULTIPLOS OLHARES PARA A AMAZÔNIA
Ao buscar reconhecer alguns atributos associados aos lugares amazônicos pode-
se encontrar um conjunto de ideias e discursos estereotipados, tais como: “um lugar
distante”, “espaço composto por muitas matas, bichos, índios e rios”, “o pulmão do
mundo”, “um estoque de recursos naturais em benefício da humanidade”, “um lugar
parado no tempo”, “lugar exótico de muitas belezas e perigos”. Tais discursos são
internalizados pelos estudantes de Geografia do Brasil, como constatamos em falas
atribuídas a alguns estudantes da região Sul do país ao serem perguntados, como viam a
Amazônia, acabavam por reproduzir alguns dos discursos elencados no parágrafo
acima.
O que nos chama a atenção é que a Amazônia (Região, Bioma, Território) é
apresentada e entendida como algo estanque, distante, delimitada e definida
arbitrariamente, desconsiderando seus sujeitos, identidades, e a multiplicidade de
tempos e cotidianos de seus lugares. Não é uma questão de responsabilizar a escola, mas
pode-se reconhecer certas estratégias políticas de inserir a Amazônia como parte
estratégica do território nacional brasileiro, fruto de um longo processo histórico mais
que diariamente são construído e reconstruído nos meios da comunicação em massa,
contribuindo para a perpetuação dos estereótipos e a construção de uma visão
hegemônicas de uma Amazônia que só se sustenta no imaginário, uma vez que:
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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[...] os meios de comunicação têm um papel preponderante na
formação do imaginário sobre Amazônia. Imagens como relacionados
acima são comuns tanto na mídia escrita como na televisa. Os
estereótipos associados à Amazônia são atualizados diariamente pela
imprensa, e embora a origem da maioria deles tenha se perdido,
remetem a concepção de Amazônia que vêm sendo construídas e
reconstruídas há cinco séculos (BUENO, 2002, p. 6).
As fotografias publicadas nos livros didáticos estudados, bem como as imagens
construídas pela mídia contribuem para o imaginário de uma Amazônia “desabitada”.
Vislumbra-se um território com uma variedade indescritível de flora e fauna, com
grandes extensões de florestas, rios, uma biodiversidade sem paralelos, tendo como
únicos moradores, animais e índios selvagens. Do mesmo modo, quando realizamos
uma pesquisa no Google Imagens ou no You Tube a partir da palavra-chave Amazônia,
as imagens que reverberam e nos são apresentadas, são: rios sinuosos em tons marrons
ou amarelados emoldurados por uma floresta verde tomados num ponto de vista aéreo,
uma onça-pintada, um igarapé, a floresta tomada de um ponto de vista horizontal, entre
outras, onde o que prevalece são os aspectos naturais, puramente físicos, com um apelo
forte para a preservação.
Estas imagens produzidas sobre a Amazônia carregam inúmeros discursos
ideológicos, desconectando esta região do restante do Brasil ou difundindo o ideal de
“extenso vazio”, podendo ser reconhecidas no próprio processo histórico de ocupação
desta região. No início do reconhecimento da região Amazônica pelos primeiros
colonizadores, os Europeus. Começou-se então a exploração das riquezas ocultas da
floresta, os português nem de longe nem de perto, tinham pretensão de promover o
desenvolvimento da região, mais o interesse exclusivamente era, explorar e explorar.
Mais tarde o governo Brasileiro promoveu o movimento de ocupação da
Amazônia a partir dos discursos, “Integrar para não Entregar”, “Terras sem homens para
Homens sem terras”. Essa política desenvolvimentista também não trouxe nenhum tipo
de desenvolvimento econômico, mas a degradação e o acirramento das relações sociais
em toda a região. Neste jogo de interesses, as imagens produzidas nestes contextos,
revelarão os interesses e as formas de apropriação e exploração deste espaço onde os
sujeitos e os habitantes destes lugares permanecem apagados, realidade que aparenta
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4885
desconsiderar os “[...] 25 milhões de habitantes não índios moradores da região
amazônica” (IBGE, 2010).
Estas imagens utilizadas no ensino de Geografia tornam-se “entradas” para se
adentrar na Amazônia, sem levar em consideração as gentes, os tempos, as formas de
vida do amazônida. Se assemelhando com alguns discursos colonizadores, onde o
centro é estipulado por aqueles que produzem o conhecimento, criando uma negação de
identidade e a falta de sentido aos povos da Amazônia que tiveram de se adequar a uma
vida que não eram a sua. “Descobrir a Amazônia” é um movimento já habitual nos
discursos nacionais, estando sempre atrelado à satisfazer as necessidades do capital,
gerar riquezas para prover a poucos, da gestão ao planejamento do território nacional.
Ao olhar o passado e pensar no presente, nota-se que as imagens sobre a Amazônia
pouco mudaram, prevalecendo ainda a ideia de um paraíso intocável.
LIVROS DIDÁTICOS: IMAGENS E IMAGINAÇÕES SOBRE A AMAZÔNIA
Durante o processo de elaboração do projeto de intervenção e a partir de
conversas com alunos do curso de Geografia, é constante a afirmação de que os livros
didáticos em nada refletem a realidade humana da região Amazônica, uma vez que os
livros trazem em sua maioria, um olhar de mero relance, uma Amazônia formatada
como uma extensa área verde, e pouco habitada. Com intuito de compreender como a
imagem de Amazônia tem sido construída e difundida em práticas escolares de
Geografia, iniciamos a leitura de um livro didático que foi publicado no ano de 2009 e
distribuído nas escolas de Macapá no ano de 2011.
No livro Geografia Ensino fundamental 7º ano (2009) a Amazônia recebe certa
atenção, quando o módulo 8, que é dividido por três títulos marcantes (definição dada
pelo próprio autor do livro) se propõem a abordá-la. No título, “a ocupação recente da
Amazônia”, a migração ganha ênfase principalmente quando o autor afirma, “[...] a
Amazônia apresenta-se, atualmente, como a mais vasta região de fronteira econômica
do país. É para essa região que se deslocam as frentes mais recentes de ocupação e
povoamento do território, e também para onde avançam atividades econômicas
dinâmicas, vindas do Centro-Sul” (PIRES, BELLUCCI, 2009, p.173). O capitulo por
inteiro, se preocupa em enfatizar que a Amazônica só começou a ser povoada de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4886
maneira mais significativa a partir de 1960 quando o governo passou a incentivar a sua
ocupação.
Embora tenha ocorrido a preocupação de remontar o histórico da Amazônia, é
notório a presença dos estereótipos uma vez que que o autor se justifique que, “embora
o crescimento populacional da região tenha sido significativo ao longo das últimas
décadas, a Amazônia ainda continua sendo uma região pouco povoada e com imenso
vazio demográfico” (PIRES, BELLUCCI, 2009, p.175). Por fim, o autor finaliza o
capitulo com uma imagem (figura 01) afirmando que a ocupação da Amazônia teve
como consequência uma rápida e progressiva devastação da Floresta Amazônica.
Figura 01: As imagens retratam agressões ambientais que ocorrem com muita frequência na
Amazônia. Página 176. Coleção Projeto Radix - Geografia, 7º ano, 2009.
Parando para analisar a fotografia usada no livro didático, que de certo modo,
tem uma função meramente documental estático e de verdade. Nós questionamos:
Quem então seriam esses atores responsável pela degradação da floresta? Se o
povoamento na Amazônia segundo o autor, causou “prejuízos” queria então ele ao
selecionar estas imagens e não outras sustentar o discurso que era melhor então que a
Amazônia permanecesse estática?
No capítulo sobre a “exploração sustentável da floresta”, o autor ilustra o
capitulo com uma fotografia datada de 1998 do solo da Amazônia (figura 02), que tem a
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4887
seguinte legenda “Aspectos do solo da Amazônia retratado em 1998, sem cobertura
vegetal após alguns anos de exploração” (PIRES, BELLUCCI, 2009, p.179).
Neste capitulo, o autor procura sustentar o discurso de que o modelo de
ocupação da Amazônia não promoveu qualquer tipo de benefício, pois o mesmo afirma
que “o modelo de ocupação e exploração econômica da Amazônia, sobretudo a partir da
década de 1960, esteve apoiada, de maneira incondicional, na derrubada da mata para o
desenvolvimento de atividades incompatíveis com a preservação da floresta” (PIRES,
BELLUCCI, 2009, p.179).
Figura 02: Aspectos do solo da Amazônia retratado em 1998, sem cobertura vegetal após alguns
anos de exploração. Página 179. Coleção Projeto Radix - Geografia, 7º ano, 2009.
O autor, no fim do capitulo se questiona, “o clima chuvoso da região contribui
diretamente para a intensificação dos processos erosivos, que compromete a qualidade e
a fertilidade da terra. Mas, então, como é possível promover o desenvolvimento de
atividades que garantam a geração de trabalho e renda para milhões de habitantes que
vivem na região? E, ao passo que se pergunta, ele mesmo, por si só, procura responder
suas indagações, concluindo que “a resposta para esta questão está na exploração
sustentável da floresta, ou seja, em uma maneira de racionalizar a extração dos recursos
existentes, de modo a preservar a mata para garantir as explorações futuras” (PIRES,
BELLUCCI, 2009, p.179).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4888
Analisando este capitulo, bem como a fotografia, nos questionamos: Exploração
futuras pra quem? Em benefício de quê ou pra quem? Porque o autor se questiona e em
seguida ele mesmo responde? Queria ele poupar que o aluno de pensar por si só? O que
queria o fotografo ao escolher esse ângulo pra foto e não outro? O solo da Amazônia
ilustrado na fotografia parece cego e com grandes rachaduras, o que causou isto?
No último capítulo que aborda “Amazônia: o domínio da floresta”, o capito se
limita a abordar um depoimento de um viajante sobre a floresta Amazônia, ilustrada
pela imagem de uma janela de avião (figura 03), bem como uma mapa abordando área
total da floresta Amazônia.
Figura 04: Depoimento de um viajante sobre a Floresta Amazônica. Página 183. Coleção projeto
radix - Geografia, 7º ano, 2009.
A fotografia emoldurada por uma janela de avião desenhada adquire a tomada de
vista aérea, e visa expressar uma “prova” do que este viajante viu com os seus olhos,
pois ela funciona quase que exclusivamente como uma facilitadora da imaginação. Seria
mais ou menos assim: O aluno ler o relato do viajante, vislumbra a imagem ao lado e
passa a “acreditar” que o que está sendo dito é verdadeiro. Mais qual a intenção do autor
ao relatar um depoimento de um viajante sobre Amazônia? O que está por trás desse
discurso? A Amazônia seria só este tapete verde continuo? Qual o sentido da imagem ao
lado?
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4889
Quando analisamos a forma com que as fotografias usadas para representar a
Amazônia são postas nos livros didáticos, atestamos que elas estão vinculadas quase
que exclusivamente a uma única estética fotografia, uma vez que
Imagens que privilegiam a floresta também reforçam outras noções,
como a de vazio demográfico e da inacessibilidade aqueles lugares.
Estas noções implicam em se considerar esses locais ainda não
explorados, o que não deixa de ter um certo vínculo com a ideia de
paraíso (BUENO, 2002, p.4).
Justo por isso, o professor enquanto mediador do aprendizado, tem em suas
mãos, o desafio de despertar em seus alunos um olhar que possibilite enxergar por além
de uma Amazônia predominantemente natural, despertando-lhes um espirito de
inquietação para ir em busca de um reconhecimento de múltiplas identidades e sujeitos na
constituição de uma imagem de Amazônia no que tange o aprendizado.
TENSÕES E DESVIOS: A AMAZÔNIA A PARTIR DO “VIAJANTE” FARKAS
Como o objetivo de indicar algumas imagens que sejam tomadas como desvios
ou caminhos alternativos às imagens apresentadas anteriormente, temos pensado
atividades de leitura de fotografias que nos permitam questionar e rever certas
imaginações vigentes e presentes no Ensino de Geografia e da Amazônia. Assim,
lançamos um novo olhar sobre a Amazônia trazendo o elemento humano para o
primeiro plano de nossas leituras de mundo, e aqui neste texto, trabalharemos com duas
fotografias produzidas por Thomaz Farkas presentes em seu livro Notas de Viagem
(2005).
A opção por este fotógrafo nascido na Hungria e radicado no Brasil se dá por ele
representar um olhar que não é do próprio lugar, é também alguém de fora, um
estrangeiro (em sua dupla condição de húngaro, e paulistano) que se interessa por
questões humanas, culturais, do modo de vida, e capturadas na condição e na vivência
de viajante, por longos trajetos a bordo de barcos, no encontro com seringueiros, no
encontro com o outro. Estas imagens nos indicam um contraponto com as fotografias
presentes nos livros didáticos, indicando um olhar sensível acerca da Amazônia, um
olhar mais fluído de um brasileiro/estrangeiro que busca o que está por além da
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4890
aparência, e para esta experimentação, foi selecionada duas fotografia, com o objetivo
de despertar atalhos para novos olhares, exercício que resgata o sentido da experiência.
Uma vez que, assim como Farkas que transpõem em suas fotografias de maneira
simples, sua experiência acerca dos lugares e pessoas que ele conheceu, o professor, têm
de trazer para dentro de sala de aula sua experiência, contribuindo para a máxima
compreensão do todo, em diferentes escalas.
DUAS FOTOGRAFIAS, MUITOS OLHARES....
Figura 05: Modelo de casa típica do interior da Amazônia. Foto do livro Notas de Viagem. Pagina
41. FARKAS, 2006.
Uma rede pendurada sobre a casa que nos dá a ideia de quem tem alguém
dormindo. Seria uma criança? Uma mulher amamentando o filho? Nota-se também que
há um cachorro sentado no assoalho da casa, a face voltada para fora, o que ele está
apreciando? Observando o dono trabalhar? Trabalhando em que? Sabemos que essa
fotografia é do fotógrafo Farkas, quando percorreu o rio Negro numa viagem de trinta
dias, também sabemos que o rio Negro quando se encontra com o rio Solimões costuma
em determinada época do ano aumentar o seu volume d’água o que de certo modo
provoca o isolamento de alguns ribeirinhos. Podemos então dizer, que, a razão das
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4891
galinhas ciscando dentro da casa, como também o cachorro observando o “lá fora”, o
caixote e o balaio de palha no meio da casa seria o estoque de comida dos animais,
porque estariam todos eles impossibilitados de sair? Será?
Esta Fotografia deixa em suspensão qualquer conhecimento prévio que temos
deste lugar, pois lida com o que não é explícito, ela conduz nosso olhar para outras
miradas e entendimentos.
Figura 06: Imagem de uma família da região Amazônica. Foto do livro Notas de Viagem. Pagina
50. FARKAS, 2006
A segunda fotografia é a imagem de uma família da Amazônia, nota-se ao fundo
um grande clarão, teria sido a floresta derrubada recentemente, para a construção da
casa? Serão posseiros, grileiros, e tantos sujeitos que tem suas histórias apagadas no
interior da Amazônia? Quando propomos esse exercício, nosso objetivo foi de o
despertar atalhos para novos olhares
Pensamentos que não busquem dar sentidos únicos e prováveis às
fotos, mas que manipulem-nas de modo a abri-las para outras
paragens do pensamento, para outros significados, outros sentidos (ou
mesmo sem sentidos) que não sejam absolutos, nem verdades, muito
menos estáticos, mas que sejam móveis, mutáveis, dúbios,
transformadores, que disparem sensações e pensamentos que abram
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4892
vãos no entre-imagens que pode vir-a-ser qualquer fotografia
(OLIVEIRA e SOARES, p.116 E 117, 2012)
Uma vez que o uso da fotografia enquanto símbolo e conjunto de signos, nos
possibilita ter inúmeras interpretações, é uma linguagem que jamais pode ser encarada
como algo inerte, pois dependendo da análise de cada pessoa ou da forma como é
visualizada ganha e/ou perde sentido a todo o tempo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No mundo contemporâneo o uso da fotografia tornou-se algo comum, qualquer
pessoa com uma câmera em mãos pode fazer um registro fotográfico. Justo por isso,
quando uma fotografia assume a condição de documento, seja nos livros didáticos ou na
mídia de modo geral, deve de haver uma preocupação da forma pela qual elas estão
sendo publicada, uma vez que “a imagem só trará problemas se oferecer características
contraditórias, ou se a representação não for suficientemente informativa” (AUMONT,
1993, p. 66).
Ao analisarmos a imagem da Amazônia nos livros didáticos de geografia, nosso
propósito foi o de questionar um conjunto de imagens que apresentam a Amazônia de
modo mistificado, sensacional e natural conferidas a ela, uma vez que esses discursos
produzidos no passado, hoje, somam-se, se sobrepõem, são (re) formulados,
modificados e sutilmente reforçados a todo o momento, não só pela mídia como
também pelos livros didáticos.
Ainda de maneira muito simples, acreditamos que quando a fotografia sair da
condição de mero instrumentos de “decoração” do conteúdo estudado, para assumir sua
condição de linguagem que dá sentido ao mundo, o aluno de Geografia ou História,
Biologia e por aí vai, será capaz de transpor esse olhar de mero relance para a
construção de um olhar mais crítico.
É preciso encontrar meios capazes de transpor esses olhares de uma Amazônia
extremamente estereotipada. Os atores protagonistas do espaço Amazônico se
assumirem como pertencentes da região é um caminho. Por outro lado, tudo caminha
pela educação, entendemos então, que os livros didáticos devem receber uma maior
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4893
atenção, para que os mesmos, não sejam reprodutores dos discursos da mídia, quer seja
pela linguagem escrita, como também, pelas fotografias publicados nos materiais
didáticos.
REFERÊNCIAS
ARCARI, Antônio. A fotografia: As formas, os objetos, o homem. São Paulo: Ed.
Maria Fontes, 1980.
AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas, SP. Ed. Papirus, 1993.
BUENO, Magali Franco. O imaginário brasileiro sobre Amazônia: uma leitura por
meio dos discursos dos viajantes, do Estado, dos livros didáticos de geografia e da
mídia impressa. 2002. 197 f. Dissertação (Pós- Graduação em Geografia Humana).
Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.
DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico. Campinas, SP. 14º Ed. Papirus, 1993.
FARKAS, Thomaz. Notas de viagem. São Paulo: 11º Ed. Cosac Naify, 2006.
GARCIA, Valquíria Pires; BELLUCI, Beluce. Geografia, 7º ano. São Paulo: Scipione,
2009, (Coleção Projeto Radix).
OLIVEIRA JUNIOR, Wenceslao Machado de. Fotos em sites: geografias da cultura
contemporânea. Geografares. Vitória – ES, n.7, pp. 9-22, 2009.
OLIVEIRA JUNIOR, Wenceslao Machado de e SOARES, Elaine dos Santos.
Fotografias didáticas e geografia escolar Entre evidências e fabulações. Revista
Percursos. Florianópolis. v. 13, n. 02, pp. 114 – 133, jul./dez. 2012.
SONTAG, Susan. Sobre fotografia. São Paulo. 1º Reimpressão. Campinas das letras,
2004.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. SENSO 2010.
http://censo2010.ibge.gov.br/
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4894
REPRESENTAÇÃO CARTOGRÁFICA COMO MEIO DE REGISTRO,
PESQUISA E COMUNICAÇÃO VISUAL DOS RESULTADOS OBTIDOS
EM ESTUDOS GEOAMBIENTAIS
Alexsandra Bezerra de Sousa1
Camilla Sousa Silva 36
RESUMO
Pensar a cartografia, hoje, é ir além da mensuração de uma simples representação do espaço. É
conseguir abstrair todas as intensões que estão expressas em seus traçados, símbolos, ou mesmo
escondidas em sua projeção. Nessa perspectiva, foi objetivando vislumbrar o mapa temático
como uma forma de “registro, pesquisa e comunicação visual”, ou seja, além de uma “mera
ilustração” que iniciamos o processo de mapeamento cartográfico. Por meio de rodas de
discussões e atividades práticas os educandos passaram a entender que as representações
espaciais também simbolizam modos de vida, a cultura de uma determinada época, sendo
necessário ter um conhecimento a priori para a compreensão e apreensão das representações
espaciais. No entanto, foi a partir de uma situação problema proposta durante a 1º Oficina de
Cartografia, cujo tema era “Da discussão ao uso da técnica cartográfica”, realizada nas aulas da
disciplina de Cartografia no curso de Geografia da Universidade Federal do Tocantins – UFT,
que os alunos descobriram habilidades e elaboraram suas próprias representações espaciais. Por
meio de discussões foram organizados grupos, delimitados temas e o local do fato que
gostariam de estudar. Após analise, seleção e discussão das informações pesquisadas, iniciou-se
o mapeamento das áreas estudadas. Com base em imagens de satélite impressa em uma folha de
papel a A4 e uma folha de papel vegetal os educandos produziram mapas temáticos. Em
seguida, usando o programa ArcGis
foram elaborados os mapas digitais. Desta forma,
acreditamos que a realização de pesquisas com o objetivo de analisar fatos e fenômenos
espaciais, devem levar em consideração as diferentes formas de representação do espaço em que
se manifestam. Uma vez que estas estão imbuídas de significações que só podem ser
desmistificada com o desenvolvimento da capacidade crítica e, mesmo da acuidade visual
decorrentes da compreensão dos significados e significantes contidos na linguagem cartográfica,
consequentemente, a partir do processo de alfabetização cartográfica.
Palavras-chave: Mapeamento Cartográfico, Representação Espacial, Mapa Temático.
INTRODUÇÃO
Pensar a cartografia, hoje, é ir além da mensuração de uma simples
representação do espaço. É conseguir abstrair todas as intensões que estão expressas em
1 Licenciada em Geografia pela Universidade Regional do Cariri – URCA, Especialista em Geografia,
Graduanda do Curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal do Tocantins - UFT e
bolsista do Laboratório de Geoprocessamento da UFT, [email protected].
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4895
seus traçados, símbolos, ou mesmo escondidas em sua projeção. Fazer cartografia não é
apenas para quem domina técnicas, pois esta se encontra em momento de rompimento
de paradigmas tradicionais, onde a busca pelo domínio da técnica por meio da
matemática e por suas representações quantitativas dos fatos não são suficientes para
compreender a dinâmica espacial. Faz-se necessário ir além, buscar a essência,
descobrir as intenções, o objetivo de quem as produziu. Desvendar os mistérios, os
mitos, as razões de uma determinada representação.
Foi a partir destas reflexões que passamos a abordar discussões mais
humanísticas durante as aulas de Cartografia no curso de Geografia na Universidade
Federal do Tocantins - UFT. Assim, os educandos conheceram as diferentes
representações espaciais ao longo do tempo, a linguagem e a produção cartográfica, em
suma, a alfabetização cartográfica.
Por meio de rodas de discussões e atividades práticas foram descontruídos mitos,
ou seja, os educandos perceberam que a cartografia não é apenas usada na geografia,
que as representações espaciais antes mesmo da sua disseminação, em um primeiro
momento a partir das Grandes Navegações, principalmente, com o surgimento da
máquina de impressão e mais recentemente, com a necessidade de quantificação do
espaço no decorrer do século XX, já tinham sua importância.
Os educandos passaram a entender também que essas representam modos de
vida, a cultura de uma determinada época, sendo necessário ter um conhecimento a
priori para a compreensão e apreensão das representações espaciais. Ou ainda, foi
possível estes compreenderem como relata Martinelle (2003, p. 8) que “os mapas
conjugam-se com a prática histórica, podendo revelar diferentes visões de mundo”.
No entanto, foi a partir de uma situação problema proposta em sala de aula que
os alunos descobriram habilidades e elaboraram suas próprias representações espaciais.
Objetivando vislumbrar “o mapa temático como um meio de registro, de
pesquisa e de comunicação visual dos resultados obtidos em seus estudos e não apenas
como mera ilustração” (Martinelli, 2003, p. 11) foi solicitado que formassem duplas,
escolhessem um tema que despertasse curiosidade e delimitassem o local do fato que
gostariam de estudar. Por meio de orientações os temas foram problematizados e,
posteriormente, iniciada a pesquisa bibliográfica e cartográfica.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4896
Após analisar, selecionar as informações relevantes e discuti-las, os alunos
foram orientados a selecionar uma imagem de satélite da área que estavam estudando
usando o software Google Earth. Logo após a imagem ser salva e impressa em uma
folha de papel A4, com o uso de uma folha de papel vegetal sobre a impressão foi
iniciada a produção de um mapa temático a partir do tema escolhido.
Em seguida, foram elaborados os mapas digitais. Alguns alunos sem o domínio
de comandos básicos de informática se sentiram inibidos. Porém, com o trabalho em
grupo aos poucos cada um foi descobrindo suas habilidades e se envolvendo mais.
Assim, usando o programa ArcGis37
cada dupla produziu seu mapa temático,
intensificando a compreensão de que estes são “meios capazes de revelar o conteúdo da
informação, proporcionando desta forma, a compreensão [...] permitindo uma reflexão
crítica sobre o assunto” (Martinelli, 2003, p 12).
Permeando esta discussão apresentamos nas linhas que seguem os resultados do
trabalho proposto durante a 1º Oficina de Cartografia cujo tema era “Da discussão ao
uso da técnica cartográfica” realizada no mês de dezembro de 2012 durante as aulas da
disciplina de Cartografia II do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade
Federal do Tocantins - UFT. O projeto foi elaborado e desenvolvido entre os meses de
dezembro de 2012 a março de 2013, parare-lo a outras temáticas.
DA ESCOLHA DO TEMA A PRODUÇÃO CARTOGRÁFICA
Como mencionado anteriormente, durante a 1° Oficina de Cartografia realizada
nas aulas de Cartografia II no curso de Licenciatura em Geografia na UFT, foi proposto
a elaboração e desenvolvimento de um projeto no qual os educandos pudessem fazer
uso dos conhecimentos cartográficos que seriam apreendidos durante a disciplina. A
partir deste momento passou-se a se discutir a importância da cartografia nos estudos
sobre áreas degradadas em Bacias Hidrografias, áreas de risco-ambiental, entre outros,
bem como a evolução das técnicas cartográficas para a representação destas.
Tendo em vista que, o homem desenvolveu formas, meios, instrumentos de
mensurar a superfície terrestre em uma superfície plana, seja para se localizar ou mesmo
afirmar o domínio de territórios, sabe-se que ao longo do tempo essas técnicas de
37
Disponível em: <http://www.arcgis.com/about/>. Acesso em: jan. 2013.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4897
representação foram aprimoradas. Com o desenvolvimento dos satélites e a
concretização da capacidade destes, de capturar imagens em tempo real da superfície do
planeta, a cartografia ganhou impulso inigualável. Segundo Sousa et. al. (2009, p.3):
Com o acelerado processo de evolução tecnológica, as técnicas usadas
para produção das informações cartográficas foram substancialmente
transformadas. Hoje, o uso de satélites, proporcionando a captação de
imagens em segundos ou milésimos de segundo do espaço e,
sobretudo, a utilização de softwares criando Sistemas de Informação
Geográfica – SIG revolucionam as geotecnologias da informação.
Em meio a isso, as técnicas cartográficas e os produtos das geotecnologias
passaram a ser usados com inúmeras finalidades. Os mapas vão além do uso para a
localização ou delimitação de domínio de território. Utilizados, hoje, pelas mais
diversas ciências tem possibilitado o mapeamento de fato e fenômenos de diferentes
tipos e épocas.
Assim, afim de demostrar como se deu todo o processo de produção cartográfica
usaremos como exemplo o trabalho desenvolvido pelas alunas Adriana Moreira dos
Santos e Camilla Sousa Silva cujo tema escolhido foi “Análise e mapeamento de áreas
degradadas na Bacia Hidrográfica do Rio Lontra em Araguaína/TO”. A partir deste,
objetivou-se demonstrar como essas novas tecnologias podem ser utilizadas para analise
e controle de impactos ambientais. Por meio de leituras bibliográficas e cartográficas,
assim como visitas in locos foi identificado e analisado as diferentes formas de uso e
ocupação do solo ao longo do curso da Bacia Hidrográfica do Rio Lontra e,
consequentemente, as principais formas de impactos ambientais ocasionados por estes.
Com o uso de imagens de satélite foi elaborado os mapas temáticos que relatam por
meio de uma linguagem simbólica as principais consequências das ações antrópicas em
ambientes naturais.
O recorte espacial antes mencionado tornou-se foco de analise, sobretudo, por o
perímetro urbano de Araguaína está localizado sobre áreas de influência da Bacia
Hidrográfica do Rio Lontra, como nascentes e margens de córregos que deságuam
neste.
Portanto, com base em Le Sann (2005, p. 62) ao afirma que “ideias abstratas
podem ser representadas por meio de mapas, por exemplo, as áreas de influência de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4898
cidades, a densidade populacional, a produtividade de uma cultura, entre uma infinidade
de temas”, buscou-se construir representações espaciais capazes de levar o leitor a
perceber a dimensão dos problemas ambientais decorrentes do crescimento urbano ao
longo da Bacia Hidrográfica do Rio Lontra.
2.1 Impactos Ambientais na Bacia do Rio Lontra: Uma Análise Acerca da Expansão
Urbana em Araguaína/TO
Sabe-se que o crescimento urbano e industrial brasileiro é marcado por
problemas de ordem social e ambiental. O recorte espacial em estudo, ou seja, a Bacia
Hidrográfica do Rio Lontra localizada em Araguaína/TO é um exemplo deste
fenômeno. Esta merece atenção pela ausência de políticas pública eficazes de
saneamento e de expansão urbana, sendo estes os principais fatores causadores de danos
ambientais.
Localizada na região norte do Tocantins (Mapa 1), Araguaína se originou de um
pequeno povoado as margens do Rio Lontra. No início a ocupação e o uso do solo para
agricultura e pecuária ocasionaram o surgimento de grandes áreas desmatadas com
solos compactados, seja pelo pisoteio do gado ou pela ausência de cobertura vegetal.
Com a inserção ao desenvolvimento industrial, após a sua emancipação e construção da
BR 153, esta abriu espaço para a agroindústria.
MAPA 1: LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE
ARAGUAÍNA/TO.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4899
Fonte: Alexsandra Bezerra de Sousa ( fev. 2013).
Paralelamente, a este desenvolvimento cresceu o número de habitantes sendo,
atualmente, a segunda maior cidade em densidade demográfica (Tabela 1) e o principal
centro industrial e comercial da região norte do estado, oferecendo desde serviços
básicos, como saúde, alimentação, educação, a qualificação profissional.
TABELA 1: CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E DEMOGRÁFICAS DAS TRÊS MAIORES
CIDADES DO TOCANTINS.
Fonte: Atlas do Tocantins: subsídio ao planejamento da gestão territorial, 2012. Adaptado por SOUSA,
A. B. (jun. 2012).
Ao longo das últimas décadas, este processo tem ocasionado inúmeros
problemas socioambientais. Com a ampliação das áreas ocupadas pela população e a
desigualdade sócio-espacial, a cidade passa por um processo de periferização levando
grande parte da população a se estabelecer em áreas irregulares, como Áreas de
Proteção Permanente – APP. Segundo o novo Código Florestal Brasileiro (lei n° 12.651,
Município Área (km²) População (hab.)
IBGE-2000
População
(hab.)
IBGE-2001
Taxa anual de
crescimento
2000/2011 (%)
Densidade
demográfica
2011 (hab./km²)
Palmas 2.218,934 137.355 235.316 5,02 106,05
Araguaína 4.000,395 113.143 153.351 2,80 38,33
Gurupi 1.836,081 65.034 77.655 1,63 42,29
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4900
de 25 de maio de 2012 )38
, Art. 3º, capítulo II, estas são “áreas protegidas, coberta ou
não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a
paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e
flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”.
Desse modo, torna-se crucial a contextualização dos problemas identificados na
área em estudo. Assim, nas linhas que seguem é realizada esta discussão.
2.1.1 Contextualização dos Problemas Ambientais da Área em Estudo
A zona urbana de Araguaína esta localizada sobre vertentes drenadas por
córregos que compõem a Bacia Hidrográfica do Rio Lontra (Imagem 1). Segundo
Machado (2012, p.57) esta “é formada por três microbacias hidrográficas: Ribeirão
Jacuba, Ribeirão Areia e Córrego Neblina”.
38
BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as
Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro
de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida
Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Brasília, DF, 25 maio 2012.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm >. Acesso
em: 19/01/13.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4901
IMAGEM 1: BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO LONTRA E PERÍMETRO URBANO DE
ARAGUAÍNA/TO.
Fonte: Catálogo de imagens do INPE. Adaptado pelas autoras, abril de 2013.
39
Com alto nível de suscetibilidade a erosão, essa área tem sido bastante
modificada, sobretudo, devido a expansão urbana ocorrida nas últimas décadas. O
desordenamento urbano associado à alta concentração populacional nas periferias tem
ocasionado inúmeros problemas erosivos que vão da degradação do bioma ao
surgimento de deslizamentos de massas e voçorocas (GASPAR E FILHO, 2012, p. 60).
Machado (2012, p. 32) afirma que dentre os cursos d’água citados anteriormente
o que mais sofre com os efeitos da degradação ambiental “é o Córrego Neblina que se
encontra dentro da malha urbana de Araguaína e por isso tem suas águas poluídas por
resíduos químicos de atividades de serviços, tais como: lava-carros e orgânicos de
origem doméstica” (Foto 1).
FOTO 1: CANAL DO CÓRREGO NEBLINA NO
SETOR CENTO EM ARAGUAÍNA/TO.
39
Catálogo de Imagens do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE. Satélite CBERS-2B.
Passagem do Satélite 09/08/208. Órbita: 5099. Coordenadas latitude 07°07’30” S e longitude 48°05’00”
O. Disponível em: <http://www.dpi.inpe.br/cbers/mosaico.php?LAT=-7.209722&LON=-
48.210556&RES=5&SATELITE=CB2B&IMA=esad2000&TEM=cbers_hrc&TAM=G&ORBITA=160_
E&PONTO=108_3&LATI=-7.16792&LONI=-48.25210&LANG=EN&SENSOR=HRC>. Acesso em:
01/04/2013.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4902
Fonte: Alexsandra B. de Sousa (fev. de 2013).
Baseando-se, ainda no autor, destacamos também o Ribeirão Jacuba que tem
parte do seu curso margeado pela região sudeste do perímetro urbano de Araguaína. O
alto teor de degradação neste, principalmente, no alto curso próximo as nascentes reflete
a influência negativa do crescimento da malha urbana. As suas margens, são
identificados balneários particulares, como o Club dos 30 (Foto 2) e público, a exemplo
o Parque das Águas (Foto 3), contribuindo para a degradação ambiental inclusive
extinção de espécies nativas, processos erosivos e poluição de suas águas.
FOTO 2: CLUB DOS 30 AS MARGENS DO RIBEIRÃO JACUBA EM
ARAGUAÍNA/TO.
Fonte: Alexsandra B. de Sousa (jun. de 2012).
FOTO 3: CURSO DO RIBEIRÃO JACUBA DENTRO DO PARQUE DAS ÁGUAS
EM ARAGUAÍNA/TO
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4903
Fonte: Alexsandra B. de Sousa (jun. 2012).
É notório que o desenvolvimento urbano desordenado acarreta uma variedade de
consequências ao meio natural, pois para atender as suas necessidades o indivíduo
modifica e produz novos espaços. Nesse processo transforma, substancialmente, as
paisagens naturais provocando sérios problemas como desmatamento, queimadas,
processos erosivos, assoreamento, impermeabilização do solo, consequentemente,
aumento do fluxo de escoamento da água, entre outros. Estas consequências não afetam
o ambiente de forma isolada, mas de forma sistêmica.
Portanto, as consequências decorrentes do uso e ocupação do solo
indiscriminadamente na Bacia Hidrográfica do Rio Lontra nos servem de exemplo,
demonstrando que o crescimento populacional e urbano decorrente do desenvolvimento
econômico e industrial, tem causado sérios problemas inclusive ambientais.
RESULTADOS
Visto como “ponto de partida para uma pesquisa, [o mapa] representa apenas um
objeto ou estado, enquanto o mapeamento, de fato, é um processo” (SEEMANN, 2003,
p. 272). Processo este que leva a aprendizagem, a preensão dos fatos e fenômenos
espaciais em sua essência. Assim, diante da complexidade dos fatos identificados
decorrentes das ações antrópicas na Bacia Hidrográfica do Rio Lontra, realizou-se o
mapeamento dos impactos ambientais nesta.
A partir de pesquisas bibliográficas e cartográficas, a exemplo representações
cartográficas disponíveis no catálogo de mapas do Instituto Brasileiro de Geografia e
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4904
Estatística - IBGE40
, imagens do satélite CBRES2B41
e imagens de satélite disponíveis
no software Google Earth, foi realizado o mapeamento de forma manual. Com o uso de
imagem de satélite da área em estudo impressa em uma folha de papel A4 e uma folha
de papel vegetal sobre esta, foi elaborado o esboço do mapa temático (Mapa 2)
priorizando a identificação das formas de uso e ocupação do solo ao longo da Bacia
Hidrográfica do Rio Lontra e os impactos por eles provocados.
MAPA 2: BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO LONTRA E OS
PRINCIPAIS IMPACTOS AMBIENTAIS.
Fonte: Produzido por SANTOS, A. M. e SILVA, C. S. (jan. 2013).
Em seguida, por meio do programa ArcGis42
foi iniciada a produção cartográfica
em meio digital. Desta forma, a fim de permitir a analise integrada dos impactos
ambientais, foi produzido o mapa 3, com o tema “Impactos Ambientais na Bacia
Hidrográfica do Rio Lontra em Araguaína/TO”.
MAPA 3: IMPACTOS AMBIENTAIS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO
LONTRA EM ARAGUAÍNA/TO.
40
Disponível em: <http://mapas.ibge.gov.br/bases-e-referenciais/>. Acesso em: jan. 2012. 41
Ibidem ao 5.
42 Disponível em: <http://www.arcgis.com/about/>. Acesso em: jan. 2012.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4905
Fonte: Produzido a partir de imagens do Satélite CBERS-2B, pelas autoras (fev. 2013).
O mapa acima demonstra os impactos negativos causados pelo uso do solo na
Bacia Hidrográfica do Rio Lontra, “de forma singular, em que se pode visualizar
claramente a ocupação e o desmatamento das margens do curso d’água, fatos que
acentuam processos erosivos e intensificam a degradação ambiental” (FITZ, 2008, p
157).
Assim, diante das transformações socioambientais analisadas, percebe-se que a
degradação ambiental se manifesta não apenas pela suscetibilidade do solo à erosão,
mas, sobretudo, pela forma que ele tem sido ocupado. Sendo o homem um dos atores
principal nesse processo, pois “mudanças ocorridas no interior das bacias de drenagem
podem ter causas naturais, entretanto, nos últimos anos o homem tem participado como
um agente acelerador dos processos modificadores e de desequilíbrio da paisagem”
(GUERRA e CUNHA, 2004, p. 354).
Deste modo, a cartografia deve ser um meio viabilizador da analise integrada
dos fenômenos sócio-espaciais, possibilitando o desenvolvimento de ações eficazes e
sistêmicas, como o controle do uso e ocupação de áreas vulneráveis a processos de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4906
degradação. Esta quando agregada a uma gama de conhecimento pode ser utilizada de
forma positiva em busca de melhorar a qualidade de vida reduzindo os impactos
ambientais ocasionados por ações antrópicas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo dos séculos “os seres humanos construíram meios ou instrumentos de
orientação próprios [...] sistematizaram ideias sobre a natureza e o mundo que os
rodeavam, com a elaboração de significados atribuídos a sinais e símbolos” (KATUTA,
2005, p. 52), deram origem aos mapas. Estes “mais que um registro prático de
localização. Trata-se de uma ‘taquigrafia visual’, um documento cultural” (LEWIS
1993, citado in SEEMANN, 2003, p. 272).
Dado a veracidade de que no período atual o mapa ainda é amplamente usado
para localização e delimitação de áreas, percebe-se que há necessidade de estimular a
sua leitura e produção, pois “como uma imagem (possível) do mundo [...] o mapa
reproduz um sistema de valores sociais que são culturais e históricos” (GIRARDI, 2000,
p. 12). Cabe-nos observar não apenas o que nele está explícito, mas tentar compreender
a sua natureza. Pois, “sobre uma mesa o mapa pode ser apenas um pedaço de papel,
mais nada, e, no entanto, ele significa um grandioso universo cheio de símbolos e
legendas, maravilhosamente mudo enquanto fala para quem o olha. O mapa representa
para nós o tempo inteiro e brinca com o nosso descobrimento do planeta” (Fernandes,
2008, p. 58).
Desta forma, acreditamos que ao realizar pesquisas que objetivem a analise de
fatos e fenômenos espaciais deve-se levar em consideração as diferentes formas de
representações do espaço em que se manifestam. Uma vez que estas estão imbuídas de
significações que só podem ser desmistificada com o desenvolvimento da capacidade
crítica e, mesmo da acuidade visual, decorrentes da compreensão dos significados e
significantes contidos na linguagem cartográfica, consequentemente, a partir do
processo de alfabetização cartográfica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4907
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TRINDADE, Renato. Rodrigues. e SIEBEN, Airton. Impactos socioambientais na
área urbana de Araguaína - TO: o Rio Lontra no Bairro JK. Revista Interface:
Porto Nacional/TO, n°4, maio de 2012. Disponível em:
<http://www.revista.uft.edu.br/index.php/interface/issue/view/34>. Acesso em: jan.
2013.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4908
DO LOCAL AO GLOBAL, A LINGUAGEM CARTOGRÁFICA NA EJA
PELO USO DAS TECNOLOGIAS DA EDUCAÇÃO
José Rafael Rosa da Silva1
Adriano R. De La Fuente2
RESUMO
A realidade das Tecnologias da Educação em escolas públicas do país é cada vez mais efetiva
atualmente. Programas de Inclusão Digital fomentados pelo governo ou pela iniciativa privada
possibilitam aos alunos seja do ensino regular ou na EJA, o acesso às Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC’s). A inserção digital desse público da EJA, que retorna a uma
escola que possibilita um aprendizado com uso dessas tecnologias digitais, pode servir de
incentivo para a conclusão dos estudos. Sabe-se que as TIC’s nas escolas não será determinante
para provocar uma mudança radical no processo de ensino-aprendizagem, mas certamente é
uma ferramenta que se bem utilizada certamente colaborará para uma melhoria no aprendizado
dos alunos da EJA. Este relato tem como proposta discutir, a linguagem cartográfica na
perspectiva da Cartografia Multimídia como metodologia didática, para o desenvolvimento de
práticas de ensino com uso de ferramentas tecnológicas e midiáticas no processo de ensino-
aprendizagem dos alunos, para compreensão e (re)construção dos conteúdos geográficos
associados à categoria de espaço Lugar e Região. O projeto de pesquisa foi desenvolvido com
intuito de identificar a limitação dos indivíduos envolvidos (professor, alunos, equipe
pedagógica e estudantes do curso de Geografia da FACIP/UFU), e descobrir as potencialidades
existentes destes mesmos agentes e dos recursos tecnológicos disponíveis. Utilizando-se da
linguagem cartográfica como metodologia e o uso de recursos midiáticos e tecnológicos, os
alunos puderam construir em todas as etapas do processo, os conhecimentos necessários para
dominar os conceitos de Lugar e Região analisando mapas e imagens de satélite do local onde
vivem e assim, poder constituir uma representação espacial do Lugar e expandir este
conhecimento para a compreensão da Região numa análise de representações dos Estados
brasileiros, das Regiões brasileiras e da localização do Brasil no Mundo. O desenvolvimento e
realização desta atividade contribuíram muito, para a construção dos conhecimentos de
representação do espaço geográfico pelos alunos, que através da percepção espacial do lugar de
vivência e do trajeto casa-escola conseguiram transpor, as barreiras locais em busca da
compreensão do espaço regional e global.
Palavras-Chave: Tecnologias, Ensino de Geografia, Cartografia Multimídia.
INTRODUÇÃO
1 Universidade Federal de Uberlândia – UFU; Instituto de Geografia – IG; [email protected] 2 Universidade Federal de Uberlândia-UFU; Faculdade de Ciências do Pontal-FACIP;
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4909
Atualmente não é mais possível fechar os olhos para os avanços da ciência no
que se refere às Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s), e nem imaginar
muitas de nossas atividades do cotidiano, sem contato com algum tipo de aparelho
tecnológico. Ou seja, as TIC’s estão presentes nas mais diversas atividades diárias de
todo indivíduo e se tornaram fundamentais em diversas áreas do conhecimento. Esse
fenômeno de inserção tecnológica tem tornado a geração atual cada vez mais
dependente, dessas tecnologias e das mídias no cotidiano do lar, do trabalho, da escola e
é na educação, que esse processo está cada vez mais evidente. Nesta perspectiva, afirma
Belloni (2009) sobre as Mídias na Educação e as Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC’s) estarem conferindo mudanças significativas no comportamento e
nas relações sociais que se estabelecem:
O impacto do avanço tecnológico (entendido como um processo social) sobre
processos e instituições sociais (educação, comunicação, trabalho, lazer, relações
pessoais e familiares, cultura, imaginário e identidade etc.) tem sido muito forte,
embora percebido de modos diversos e estudado a partir de diferentes
abordagens. (BELLONI, 2009, p. 7)
O mundo e a sociedade são dinâmicos e exigem do professor de Geografia o
mesmo dinamismo, atualização, modernização e postura crítica diante às suas práticas
educativas e o domínio das TIC’s atualmente é considerado imprescindível para o
exercício de uma prática moderna, sendo que, o professor que resistir a essas mudanças
tecnológicas será considerado ultrapassado (Puerta e Nishida, 2010).
As TIC’s no Brasil avançaram em direção à educação há mais de 20 anos, mas
somente agora, de forma ainda lenta, mas com uma constância maior tem chegado às
escolas públicas de ensino básico do país. Esta ferramenta pode contribuir, para
melhorar as práticas e as metodologias do ensino de Geografia na educação básica
dinamizando e possibilitando um maior acesso de informação que, com a mediação do
professor pode se transformar num conteúdo geográfico melhor assimilado pelos
alunos. Contudo, não é todo indivíduo que domina algumas dessas tecnologias como o
computador, por exemplo, que para aqueles que estão numa faixa etária superior aos 30
anos e não tiveram contato com computadores enquanto adolescentes terão maior
dificuldade de domínio técnico desses equipamentos. No entanto, isso não pode se
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4910
tornar uma barreira para o aprendizado e a escola tem a função de incluí-los nesse
mundo digital.
Na escola o público que se encaixa nesta realidade, sem generalizações, é o da
EJA. Esses alunos compreendem um público, que por motivos diversos abandonaram os
estudos enquanto adolescentes ou jovens e pela necessidade e ou maior exigência do
mercado de trabalho retornam à escola, sendo esta agora equipada com recursos digitais
que na época em que estudava não existiam. Portanto, a pergunta que se faz é como
ensinar Geografia para este público diferenciado, que carrega consigo saberes
adquiridos de suas vivências e experiências no cotidiano de uma forma inovadora,
moderna e dinâmica que explore esta vivência e estes saberes constituídos? Como
possibilitar ao professor de Geografia da EJA novas formas de ensinar pelo uso dessas
tecnologias digitais? Quais conteúdos podem ser explorados utilizando os recursos
tecnológicos existentes na escola?
É neste sentido, que surge a proposta deste projeto, o qual resultou neste trabalho
que contemplou em experiências realizadas no ano de 2011 na Escola Municipal
Manoel Alves Vilela (E.M.M.A.V.) no município de Ituiutaba-MG com a participação
de alunos do curso de graduação em Geografia da Faculdade de Ciências Integradas do
Pontal - FACIP/UFU e do Professor3 de Geografia das turmas de EJA da escola
supracitada. Este Projeto de Pesquisa recebeu o nome de “Novas Práticas, Novos
Saberes: uma abordagem sobre o uso das tecnologias da educação no ensino de
Geografia para a EJA”.
O objetivo deste projeto consistia em criar oportunidades no desenvolvimento de
métodos e práticas de ensino de Geografia com o uso dos recursos midiáticos que a
escola oferece. Em específico através de um relato de experiência, através do uso da
linguagem cartográfica como metodologia, na perspectiva da Cartografia Multimídia,
para elaboração de atividades práticas com o uso de um objeto de aprendizagem e de
outros recursos midiáticos direcionados para os alunos da EJA.
Com isso, procurou-se apresentar possibilidades de recursos e ferramentas
digitais, para produzir novas práticas de ensino em Geografia, que promovesse uma
maior interatividade do professor-aluno através destes recursos digitais. Assim, produzir
3 Por uma questão ética o nome verdadeiro do Professor de Geografia das turmas de EJA que colaborou e
participou deste projeto será preservado a pedido do mesmo, sendo que o mesmo será identificado aqui
como M..
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4911
novas formas de representação do espaço, pelo uso das tecnologias da educação
aproveitando os saberes desses alunos da EJA, que resultasse em novas formas de
abordagem e aprendizado dos conteúdos geográficos. Por fim, proporcionar uma
formação inicial aos alunos do curso de Geografia que contemplasse, o
desenvolvimento de práticas de ensino com o uso das Tecnologias da Educação.
METODOLOGIA
O trabalho como professor de Geografia na E.M.M.A.V. no turno matutino
havia feito reconhecer as dificuldades, as necessidades e as potencialidades existentes
neste ambiente escolar quanto ao uso das ferramentas digitais e recursos midiáticos.
Assim, quando assumi como professor substituto, a disciplina de Metodologia Para o
Ensino de Geografia no curso de graduação em Geografia da FACIP/UFU em Março de
2011, não tive dúvidas em proporcionar aos alunos da graduação uma formação inicial
apropriada para o uso das Tecnologias da Educação.
Neste sentido, compreendi também que era de fundamental importância
possibilitar, ao professor de Geografia das turmas de EJA do turno Noturno da
E.M.M.A.V., a oportunidade de aprendizado e contribuição na construção de
conhecimento e elaboração de práticas, que considerassem o uso das Tecnologias da
Educação no ensino de Geografia, a fim de compreender, os espaços e os usos dessas
tecnologias no ambiente escolar, as metodologias de trabalho e o desenvolvimento de
atividades pelo uso dessas ferramentas digitais.
O Projeto de Pesquisa: “Novas Práticas, Novos Saberes: uma abordagem sobre o
uso das tecnologias da educação no ensino de Geografia para a EJA” foi, portanto,
idealizado no início de 2011 configurando-se como parte integrante da metodologia
avaliativa da disciplina de Metodologia Para o Ensino de Geografia, em que foram
analisados e avaliados, o desempenho na realização das atividades propostas aos
estudantes do curso de Geografia da FACIP/UFU no que tangia à pesquisa, elaboração
de atividades, Planos de Aula e Avaliação dos alunos envolvidos e do Professor de
Geografia das turmas de EJA.
O desenvolvimento e realização deste projeto de pesquisa se fundamentaram no
fato de poder experimentar, novos caminhos e criar situações de “fuga” ao modelo
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4912
tradicional de ensinar e conferir um maior dinamismo às aulas de Geografia, fazendo
com que o aluno da EJA experimentasse um aprendizado, no qual os locais de vivência
e do cotidiano deles fossem considerados no processo de ensino aprendizagem. Assim,
Castellar e Vilhena (2010, p. 15) afirmam que: “O aluno deve conhecer a organização
do espaço geográfico não apenas como um lugar em que se encontram os objetos
técnicos, transformados ou não, mas que em há também relações simbólicas”.
Os processos cognitivos deste adulto devem ser estimulados para produzir,
construir e elaborar os próprios conceitos geográficos de acordo com o lugar de
vivência, mas isso ocorre diferente do que na criança e no adolescente. Assim, o espaço
da vizinhança, do bairro, da escola, da praça, do campo de futebol, do mercadinho e etc.
são os locais onde esse aluno/indivíduo constrói e estabelece suas relações mais
significativas com os objetos geográficos e com os outros indivíduos, mas com olhar e
objetivos diferentes, com novas conotações e significados de quando era uma criança
pois, por exemplo, inserem-se as relações de trabalho, de consumo, entre outras
(Cavalcanti, 1998; 2002; Callai, 2010; Castellar e Vilhena, 2010).
Portanto, o uso da linguagem cartográfica fundamentadas, nas concepções
cognoscitivas sobre a percepção e representação do espaço difundido por Piaget,
formaram a base metodológica desta pesquisa que consistia em constatar, a apreensão e
representação do espaço (re)produzido pelo aluno e a capacidade de apropriação dos
conceitos geográficos a partir das análises do espaço de vivência e convivência desse
aluno (Castellar, 2007; Oliveira, 2010).
No entanto, o uso das TIC’s na Educação e em especial no ensino de Geografia,
não constitui um fim em si mesmo. Assim, o projeto teve início ainda na Universidade
com os alunos do curso de Geografia que realizaram um levantamento bibliográfico de
literatura especializada, que suplantasse a base teórico-metodológica necessária ao
desenvolvimento do projeto e das atividades na sala de aula. Esse levantamento resultou
nas seguintes referências: Almeida (2010); Belloni (2009); Callai (1999; 2011);
Castellar (2007); Castellar; Vilhena (2010); Cavalcanti (1998; 2002); Freire (2011);
Lessan (2009); Passini (2010); Pontuschka; Paganelli; Cacete (2007); Sampaio;
Sampaio (2011).
Em seguida foi realizado um levantamento na escola dos espaços de multimídia
e de tecnologias, até recursos didáticos e de multimídia existentes, e todo acervo fono-
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vídeográfico, digital e bibliográfico que se relacionasse ao ensino de conteúdos de
Geografia.
No passo seguinte se realizou entrevista com o professor de Geografia (tutor do
projeto na escola) o Professor M., com a equipe pedagógica e com a Profa. Zeila
Aquino técnica do laboratório de informática, para poder compreender a percepção
destes profissionais envolvidos neste estudo sobre a importância do uso dessas
tecnologias e sobre os espaços destinados a esses usos na escola.
Com as informações coletadas no ambiente escolar, principalmente as
provenientes das entrevistas em que se identificaram, as demandas e limitações
apontadas pelos atores entrevistados, os alunos do curso de Geografia FACIP/UFU,
juntamente com o professor da disciplina José Rafael, o professor convidado e coautor
deste, prof. Ms. Adriano R. De La Fuente reuniram-se para apresentar e debater as ações
de campo realizadas na escola. Após o debate, como proposta produziram práticas de
ensino que contemplassem o trabalho com recursos midiáticos e tecnológicos
disponibilizados pela escola. A partir disto, os alunos se reuniram para elaborar dois
planos de aula que fossem desenvolvidos na escola com as turmas da EJA/Noturno.
Foi pensando neste contexto de aproximação dos conceitos geográficos de Lugar
e representação do Espaço Geográfico, que se desenvolveu este estudo voltado para a
elaboração de uma prática de ensino para este público da EJA, através da linguagem
cartográfica e com uso das Tecnologias da Educação que constituiu por sua vez, no uso
de um recurso disponibilizado pelo provedor Google® denominado de Google Maps4.
Na entrevista com os professores de Geografia da escola, a dificuldade dos
alunos apontada pelos mesmos refere-se, aos conteúdos de Cartografia e Coordenadas
Geográficas. Portanto, os estudantes da Geografia FACIP/UFU desenvolveram e
prepararam aulas expositivas em sala de aula, na qual os conteúdos foram trabalhados
com muita dinamicidade, utilizando apresentações em slides no Data-Show e aulas no
Laboratório de Informática com efetiva participação dos alunos (FOTO 1).
FOTO 1: ALUNOS DA EJA EM ATIVIDADES NO LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA
4 O Google Maps é um serviço desenvolvido pelo provedor Google que consiste em uma ferramenta
tecnológica de acesso a mapas e informações sobre empresas locais, incluindo endereços, informações de
contato e rotas diversas.
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4914
Fonte: SILVA, J. R. R., 2011.
Após a aula expositiva no Anfiteatro, os alunos num segundo momento foram
conduzidos ao Laboratório de Informática, onde participaram da atividade “Construindo
a Rota de Minha Vida” onde os alunos eram preparados a conectar ao site Google Maps
e em seguida preencher os campos de inserção de informação “A” como Endereço de
casa e o campo “B” com o endereço da escola, ou seja, respectivamente Origem e
Destino. Assim, ao abrir o Mapa, o aluno percebia a presença de uma linha diferente
compondo uma trajetória que significava a rota que o mesmo percorria todos os dias de
sua casa à escola.
Após conferir se estava correta a trajetória, o aluno poderia construir outras
relações quando alternava a visão de Mapa para Imagem de Satélite, e assim verificava
os objetos que compunha o espaço na sua trajetória e em seguida poderia construir rotas
alternativas, ou ainda rotas para localidades na cidade onde mais frequentava para
descobrir a distância. Ao verificar rotas alternativas, identificava rotas com menor
distância percorrida e então, a compreensão do espaço se tornava mais acessível a esse
aluno.
À medida que os alunos conseguiam realizar esta tarefa e atingiam o objetivo
proposto que era o de reconhecer o seu espaço de vivência, o mesmo era orientado a
pesquisar o seu Lugar no Município. Em seguida, a tarefa era localizar e identificar no
Mapa do Google Maps em qual Região do Estado de Minas Gerais encontrava-se o
município de Ituiutaba, o Estado de Minas Gerais no Brasil e o Brasil no Mundo
configurando assim, o contexto do local para o global em que o aluno desenvolve a
capacidade de reconhecer lugares e de encontrar, ou se ver nestes lugares em situações
das mais diversas.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4915
O sucesso deste processo de ensino-aprendizagem está condicionado ao fato do
professor observar e planejar sua prática de ensino, na perspectiva de ser um mediador
na construção do conhecimento pelo aluno, em que os conceitos geográficos vão sendo
elaborados a partir das experiências as quais o aluno é submetido, quando do
reconhecimento do lugar em que vive e se relaciona, e a partir disso construir, conceitos
mais complexos numa escala regional e até global. Nesse sentido, é muito importante
ter clareza nos objetivos e organização dos conteúdos geográficos propostos, pois são os
objetivos bem estabelecidos que orientarão os procedimentos a serem utilizados e o
próprio conteúdo.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Em conversas realizadas com os alunos do curso de Geografia – FACIP/UFU, o
Professor M. e o Professor Ms. Adriano De La Fuente, que integrou o projeto como
professor convidado considerou-se, que em relação à atividade realizada, os resultados
foram satisfatórios, na medida em que houve um interesse significativo pelos alunos em
participar da mesma por dois motivos identificados de acordo com a reação dos
mesmos: i) sair da sala constituiu-se numa libertação das aulas mórbidas e arraigadas
no modelo tradicional; ii) vivenciar ambientes diferenciados como o laboratório de
informática e o anfiteatro foi estimulante para conseguir a colaboração de todos na
atividade, e assim criar precedentes para o professor leva-los periodicamente a esses
espaços; iii) o uso das tecnologias da educação proporcionou aos alunos da EJA o
contato com as TIC’s promovendo uma espécie de Inclusão Digital; e iv) Promoveu
uma maior interatividade do aluno com o conteúdo, reforçando a relação professor-
aluno e aluno-disciplina.
No entanto, é preciso considerar que há muito que se estudar, pesquisar,
conhecer, desenvolver, criar e debater o uso das TIC’s na Educação. É fato que se
reconheça que, os avanços tecnológicos estão ainda mais presentes no cotidiano escolar
e que se constitui em uma ferramenta muito importante nos processos de ensino-
aprendizagem do aluno.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4916
É fato também que a necessidade de capacitação e formação de professores para
domínio técnico-didático-pedagógico dessas ferramentas é fundamental, para o uso
consciente e eficiente das TIC’s na Educação e em específico no ensino de Geografia.
É preciso aperfeiçoar o uso, por exemplo, dos Laboratórios de Geotecnologias e
Laboratórios de Informática no Ensino Superior, para propiciar uma formação inicial de
qualidade aos profissionais, para o uso desses recursos em suas práticas de ensino. O
que falta é estímulo para o uso dessas tecnologias para a Geografia Escolar, porém este
estímulo deve fundamentar-se em formação e capacitação dos professores.
À equipe gestora e pedagógica cabe o esforço em apoiar e buscar atualização e
modernização constante desses espaços tecnológicos e multimidiáticos e proporcionar
atualização constantes também das práticas e metodologias que possibilite ao professor
o uso constante e eficiente desses recursos digitais e midiáticos.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Rosângela Doin (org.). Cartografia escolar. – 2. ed. – São Paulo: Contexto,
2010.
BELLONI, Maria Luiza. O que é mídia-educação. - 3. ed. rev. – Campinas, SP: Autores
Associados, 2009.
CALLAI, Helena Copetti. O conhecimento geográfico e a formação do professor de
Geografia. Revista Geográfica de América Central. Vol. 2. Nº 47E, 2011. Disponível
em: http://www.revistas.una.ac.cr/index.php/geografica/article/view/2598. Acesso em: 05
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CASTELLAR, Sônia (org.). Educação Geográfica: teorias e práticas docentes. 2. ed. –
São Paulo: Contexto, 2007.
CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia, escola e construção de conhecimentos.
Campinas: Papirus, 1998.
_______________. Geografia e práticas de ensino. Goiânia: Alternativa, 2002.
FREIRE, Wendel (Org.); AMORA, Dimmi et.al. Tecnologia e Educação: as mídias na
prática docente. 2ª ed. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2011.
GOMES, Suely Aparecida. Cartografia Multimídia: possibilidade para a produção de
novos conhecimentos geográficos. In: Brazilian Geographical Journal: Geoscienses and
Humanities research médium, Vol. 1, Nº 1, 2010. p. 116-135. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/braziliangeojournal/article/view/8179
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4917
PONTUSCHKA, Nídia Nacib; PAGANELLI, T. I.; CACETE, N. H. Para ensinar e
aprender Geografia. 1ª ed. São Paulo: Cortez, 2007.
PUERTA, Lorena Lucas; NISHIDA, Paulo Roberto. Multimídia na escola: formando o
cidadão numa “cibersociedade”. In: PASSINI, Elza Yasuko; PASSINI, Romão;
SAMPAIO, Antônio Carlos Freire; SAMPAIO, Adriany, de Ávila Melo (orgs.). Para
Ensinar e Aprender Cartografia: contribuições teórico-metodológicas para a formação
docente. Uberaba, MG, 2011.
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ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA E SUA IMPORTÂNCIA NA
ESCOLA: ATIVIDADE DESENVOLVIDA PELO PIBID NO COLÉGIO
ESTADUAL PROFA. MARIA JOSÉ BALZANELO AGUILERA,
LONDRINA-PR
Gilberto Felipe Capeloto1
Haroldo José da Silva Junior2
Thiago Cesar Sandy3
Nathália Prado Rosolém4
RESUMO
Este artigo tem como finalidade discutir e compreender a importância da prática cartográfica
nas escolas e suas correlações dentro da Geografia. Faz-se presente também a apresentação do
projeto PIBID, voltado à alfabetização cartográfica, desenvolvido na Universidade Estadual de
Londrina desde agosto de 2012 e aplicado no Colégio Estadual Profa. Maria José Balzanelo
Aguilera, no município de Londrina-Paraná, com o objetivo de disseminar suas práticas. Por
fim, como proposta metodológica, sugere-se o uso de uma linguagem pouco presente na
cartografia: a música, demonstrando como esta pode ser trabalhada em sala de aula e de tal
modo desenvolver as habilidades dos alunos no âmbito da interpretação e representação do
espaço, desígnio que se torna fundamental para a prática cartográfica.
Palavras-chave: Alfabetização Cartográfica, Ensino de Geografia, PIBID.
INTRODUÇÃO
Discutir e trabalhar a cartografia nas escolas e na disciplina de Geografia se faz
necessário, partindo do ponto que a mesma está presente no cotidiano de todos os
cidadãos, mesmo sabendo da dificuldade de aplicação desta ciência dentro das escolas.
O projeto PIBID Alfabetização Cartográfica da Universidade Estadual de Londrina, no
Paraná, leva até algumas escolas esta prática cartográfica, de forma diferenciada, lúdica,
com o intuito de colaborar e aprimorar os conhecimentos geográficos e cartográficos
dos alunos do Colégio Estadual Maria José Balzanelo Aguilera, Londrina-PR.
Com base em Castellar (2011), Almeida (2011) e outros autores que trabalham a
cartografia e a cartografia escolar, primeiramente, foi realizada uma breve discussão
1 Universidade Estadual de Londrina – UEL [email protected] 2 Universidade Estadual de Londrina - UEL [email protected] 3 Universidade Estadual de Londrina – UEL [email protected]
4 Universidade Estadual de Londrina – UEL [email protected]
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4919
acerca da importância da cartografia e suas correlações. Em seguida, é realizada a
apresentação do Projeto PIBID, suas práticas e fundamentos, que para melhor
compreensão será colocado em pauta algumas características do colégio trabalhado,
alinhado também ao processo de desenvolvimento do projeto junto ao mesmo.
Por fim, relata-se a aplicação de atividade prática na busca de uma linguagem
diferenciada e pouco utilizada dentro da Geografia, a música. A atividade propõe
desenvolver a habilidade de interpretação do aluno, característica necessária a Geografia
para compreensão do espaço como seu objeto de análise, além disso, possibilitará ao
aluno desenvolver sua capacidade de representação.
O PROJETO PIBID: POSSIBILIDADES DE MELHORIA DA EDUCAÇÃO
BRASILEIRA
O projeto PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) uma
iniciativa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
abrange 195 Instituições de Educação Superior, distribuídas por todo o país, com 40.092
bolsas concedidas aos alunos de licenciatura. (CAPES, 2013)
Segundo a CAPES (2013) seu objetivo consiste no aperfeiçoamento dos alunos
de graduação dos cursos de licenciatura, incentivando-os com sua formação acadêmica
a lecionar na educação básica. Logo, levando a educação pública brasileira professores
mais qualificados.
Os alunos de graduação inseridos no projeto PIBID, futuros professores da rede
pública, tem seu contato antecipado com a sala de aula, seu futuro campo de trabalho. O
PIBID acrescenta muito a formação dos futuros professores, pois, permite aos mesmos,
enxergar a realidade da escola, vivenciar a relação aluno-professor/professor-aluno,
colocar a teoria em prática dentro da sala de aula, identificar as maiores dificuldades e
os desafios, que após sua formação isso poderá ser melhorado.
O projeto já estava presente em alguns cursos de licenciatura da Universidade
Estadual de Londrina (UEL), contudo, foi no ano de 2012, que o curso de Geografia
teve a honra de ser beneficiado com este projeto. Com um grupo total de 24 graduandos
de Licenciatura em Geografia, voltados ao projeto de Cartografia, deu-se início ao
projeto em Agosto de 2012, com bolsistas mesclados de 1° a 4° ano de graduação,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4920
característica esta que se fez muito importante, partindo do ponto que alunos mais
experientes, que já tiveram contato com a escola por meio do estágio de vivência,
colaborariam com os outros que ainda não haviam vivenciado a rotina escolar.
Do total de 24 bolsistas, foi efetuado uma subdivisão para atender as 3 escolas
que aceitaram receber o projeto, duas na zona Sul e uma na zona Oeste, ambas situadas
no município de Londrina-PR, originando 3 grupos de 8 alunos. Cada escola conta com
um professor de Geografia, que vem a ser também bolsista PIBID, com a finalidade de
orientar e auxiliar os alunos que neste colégio executariam as atividades. Lembrando
que, não se trata de um processo de regência, no qual o aluno trabalha sozinho com a
turma, mas sim um projeto que visa colocar o bolsista em contato com a sala de aula, de
forma que o mesmo desempenhe atividades diferenciadas, com o auxílio do
professor/coordenador de campo.
A linha de atuação escolhida por este grupo de PIBID é a Alfabetização
Cartográfica, que visa levar o conhecimento das técnicas de cartografia para o espaço
escolar ressaltando a importância do uso de mapas, com inserção deste instrumento no
cotidiano dos alunos. Mas, não utilizá-lo somente como uma técnica, e sim como um
meio para que o aluno possa compreender melhor o espaço e relacioná-los com os
conteúdos trabalhados pela ciência geográfica.
Entre os colégios parceiros da Universidade Estadual de Londrina e do projeto
PIBID está o Colégio Estadual Professora Maria José Balzanelo Aguilera, localizado no
Conjunto Antonio Marçal Nogueira (Cafezal) na zona sul de Londrina-Pr, escolhido
para a realização das atividades. Para esta escola foram direcionados oito estagiários do
projeto, divididos em duplas para atender quatro turmas de 9° ano (8ª série) do Ensino
Fundamental de aproximadamente 30 alunos.
O processo de conhecimento do colégio foi uma etapa importante para a fase
inicial do projeto, a apresentação da equipe pedagógica, o espaço físico da escola,
dentre outros aspectos. A leitura do Projeto Político Pedagógico (PPP, 2013) também
foi um destes procedimentos; identificar a filosofia da escola, sua história e também
conhecer um pouco a situação socioeconômica dos futuros alunos; para então principiar
as atividades de Alfabetização Cartográfica nesta escola.
Portanto, o objetivo do grupo e do projeto em questão é levar para as escolas
participantes atividades práticas e lúdicas, que fujam da rotina escolar, apresentando
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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novidades para o professor e orientador de campo, com a finalidade de melhorar o
desempenho dos alunos em sala de aula e atuação do educando como cidadão.
A IMPORTÂNCIA DA ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA E AS
ATIVIDADES APLICADAS JUNTO AO PROJETO PIBID.
No 20º Congresso Internacional de Geografia realizado em Londres em 1964, a
Associação Cartográfica Internacional (ACI) definiu a ciência cartográfica como sendo
um conjunto de estudos e operações científicas, artísticas e técnicas, que se baseiam em
resultados de observações diretas, que podem ser coletados em campo, ou de análise de
documentação, de dados já existentes, buscando a elaboração e uso de cartas, planos e
outras formas de expressão. (ACI, 1964)
Almeida (2011) coloca a cartografia não como apenas uma técnica, mas sim uma
ferramenta que possibilita ler e escrever fenômenos observados, sendo o mapa o
principal recurso para aprendizagem de uma linguagem cartográfica, atrelado ao ensino
de Geografia, como forma de representação.
É importante que a ciência cartográfica seja difundida em conjunto com a sua
linguagem, que conforme Castellar (2011, p.121) deve ser pensada
como uma metodologia inovadora, e torná-la parte essencial para a
educação geográfica, para a construção da cidadania do aluno, na
medida em que permitirá a ele compreender os conteúdos e conceitos
geográficos por meio de uma linguagem que traduzirá as observações
abstratas em representações da realidade mais concreta.
(CASTELLAR, 2011, p.121).
Contudo, observa-se a linguagem cartográfica como uma metodologia que
auxilia no ensino da Geografia, pois coloca o aluno como observador e avança este
processo, faz com que o mesmo seja capaz de compreender e relatar fenômenos, além
de permiti-lo conhecer a realidade do meio em que vive, e até mesmo a de diferentes
lugares.
No processo de ensino aprendizagem, é importante elencar o papel do mapa e de
sua leitura por parte do aluno, ressaltando que o uso da representação cartográfica se faz
presente na rotina de todos os cidadãos, que segundo Castellar (2011) o aluno deve ser
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4922
preparado para as diversas funções e etapas do mapa; elaboração, leitura e interpretação;
já que apresentam certas dificuldades quando se trabalha com as noções cartográficas,
com o raciocínio lógico e matemático que acercam a cartografia.
O professor de Geografia, além de trabalhar com o mapa da forma mais
tradicional do ensino, como mostrar, ensinar e levá-lo para a sala de aula, que segundo
Heidrich (2002), tem sido muito contestado por revelar ineficiência no processo de
aprendizagem, é necessário incentivar e desenvolver a capacidade dos alunos,
motivando o interesse dos mesmos pelo processo de aprendizagem cartográfica. A
cartografia reflete a importância da representação para todos os homens, pois as
questões espaciais, para serem resolvidas, necessitam da utilização de mapas,
entendimento do espaço, compreensão e habilidades para trabalhar paisagem e
fenômenos.
O mapa utilizado de forma adequada em sala de aula favorece a conscientização
do aluno, enquanto ser humano, em seu papel de sujeito que interage com o mundo em
que vive. Para que alcance esse objetivo, o aluno deve participar ativamente do processo
de construção do conhecimento, pois, ao representar o mundo à sua volta passa da
percepção para a observação, sistematizando o saber (SILVA, 2009).
Ampliar a capacidade de representação mental no aluno fará com que o mesmo
adquira a possibilidade de aprimoramento da visão individual sobre o espaço em que
está inserido (SILVA, 2009).
A música está presente no cotidiano do aluno e pode ser usada como recurso nas
aulas de modo que torne a aula mais lúdica, deixando um pouco de lado a formalidade
de uma aula expositiva e, ao mesmo tempo, faz com que o aluno aprenda e reflita sobre
o tema abordado e sua importância na Geografia.
Na busca de uma nova linguagem para se trabalhar os conteúdos geográficos e
cartográficos utilizou-se a música “Asa branca” de Luiz Gonzaga com o intuito
estimular a reflexão e o senso crítico do aluno sobre o modo de vida da população do
sertão nordestino e avaliar o seu conhecimento perante os movimentos de migração no
Brasil e as suas motivações. Neste caso, por ser a última série do Ensino Fundamental,
pode-se elaborar questões mais complexas, abordando a inserção social do migrante em
outros locais e a influência cultural em seu atual lugar de vivência.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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A atividade proposta foi aplicada para as turmas do 9º ano do Colégio Estadual
Profa. Maria José Balzanelo Aguilera em Londrina-PR, na disciplina de Geografia,
tendo como temática a mobilidade populacional do sertanejo nordestino para outras
regiões do Brasil.
Nesta atividade, buscou-se trabalhar a cartografia de forma simples, mas que
traria aos alunos um grande avanço. O educando ao realizar uma interpretação de um
determinado espaço geográfico, no caso o sertão nordestino, faz a sua representação em
forma de croqui. Etapa em que o aluno apresentará os seus conhecimentos sobre leitura
e representação, pois ao ouvir a música, reproduzirá o que percebeu como o mapa
mental das regiões, elementos da paisagem e a compreensão do processo de migração
desta população por meio da história da música.
Antes da aplicação da atividade proposta, foi realizada uma aula expositiva com
uma breve retomada dos temas migração e regiões do Brasil, para que o aluno
apresentasse plenas condições de realizar as etapas supracitadas. Em sala de aula, com a
presença de dois estagiários do PIBID e do professor regente; para dar auxílio efetivo
aos alunos, devido ao grande número de estudantes nas salas, entre 28 e 36; desse
modo, consegui-se dar a devida atenção, pois os mesmos solicitavam explicações e
observações com frequência.
Por meio de recursos da cartografia, foi proposta nesta primeira etapa a
elaboração de um croqui pelo aluno, que este representasse em uma folha em branco a
paisagem e a situação descrita na música Asa Branca de Luiz Gonzaga. Portanto,
utilizou-se o termo “croqui” e não desenho, partindo do pressuposto que, a música,
possibilitaria ao aluno de forma informal, ter a visão de fato da região em questão.
A folha foi dividida em duas partes, a primeira era direcionada a representação
pelo aluno da região e paisagem de origem do migrante, no caso a região nordeste do
Brasil, como apresenta o exemplo da Figura 1.
FIGURA 1 – EXEMPLO DE REPRESENTAÇÃO DA REGIÃO NORDESTE PELO ALUNO,
LOCAL DE ORIGEM DO MIGRANTE.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Fonte: Haroldo Junior, 2013.
Já na segunda parte da folha o aluno deveria representar em forma de croqui
qual seria o destino do sertanejo nordestino, para qual lugar este estaria migrando, como
o exemplo apresentado na Figura 2.
FIGURA 2 – EXEMPLO DE REPRESENTAÇÃO LOCAL DE CHEGADA DO MIGRANTE
Fonte: Haroldo Junior, 2013.
Para expor a motivação do movimento de migração apresentado pela música Asa
Branca, foi escolhido o trecho destacado abaixo:
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de "prantação"
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão (GONZAGA; TEXEIRA, 1947)
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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A partir da análise deste trecho, tem-se como principal fator de migração: o
clima, que no caso do semiárido nordestino com períodos longos de seca, a vida do
sertanejo acaba sendo prejudicada principalmente no cultivo de alimentos e na criação
de gado, fato evidenciado no trecho “Por farta d'água perdi meu gado", dificuldades
essas que fazem com que o sertanejo migre em busca de melhores condições de vida,
partindo com o desejo de um dia retornar a sua terra natal.
Com o uso da música como recurso, em conjunto com a representação do croqui
por parte dos alunos, a atividade relacionada aos movimentos de imigração no Brasil
mostrou resultados satisfatórios. A grande maioria conseguiu alcançar os objetivos da
proposta, com a interpretação do espaço relatado na música, e posteriormente, da
representação do mesmo de forma cartográfica. Pois, como colocado, é de fundamental
importância que o aluno não saiba somente ler o espaço geográfico, mas também saber
representá-lo, fato atingido nesta atividade. (Figura 3)
FIGURA 3 – “CROQUI” PRODUZIDOS PELOS ALUNOS
Fonte: Haroldo Junior, 2013.
Os croquis ficaram a contento, com destaques aos elementos presentes em vários
trabalhos como no que diz respeito ao sertão nordestino: animais magros; alguns
aparentemente deitados no chão; casas simples, sol, céu sem presenças de nuvens,
homem caminhando sozinho e uma mulher na frente de uma casa humilde. Classifica-se
esta leitura do aluno como parte fundamental da atividade, pois com o desenho
mostraram sua capacidade de percepção dos elementos presentes no local, mesmo sem
conhecê-lo. (Figuras 4 e 5)
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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FIGURA 4 – REPRESENTAÇÃO REALIDADE DOS SERTANEJOS NORDESTINOS POR
PARTE DOS ALUNOS
Fonte: Haroldo Junior, 2013.
FIGURA 5 – REPRESENTAÇÕES DO LOCAL DE DESTINO DO PERSONAGEM DA MÚSICA
Fonte: Haroldo Junior, 2013.
Para complementar a atividade, uniu-se os conteúdos apresentados em sala e o
uso da música, realizando questionamentos aos alunos como:
A partir da letra da música e seus conhecimentos, como você acha que é a vida
no sertão nordestino?
Qual o principal destino das pessoas que migram do nordeste?
Qual o possível motivo que fez com que as pessoas migrassem? E qual trecho da
música deixa claro esse motivo?
Como é o local de destino dos migrantes?
No caso da questão 2, os alunos relataram que os migrantes tinham como destino
as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Londrina, fato que se mostrou presente nos
croquis. Já a questão 4, é respondida pelo estudantes com informações que segundo eles
é exposta pela mídia televisiva e impressa, que exibe estas cidades médias e grandes
com características de metrópoles, com grande fluxo de veículos e pessoas, muitos
prédios e ruas largas, sendo estes elementos identificados na paisagem.
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No questionamento sobre a motivação da migração dos sertanejos nordestinos
para grandes cidades (questão 3), grande parte dos alunos colocaram o fenômeno da
seca como fator principal, que com a falta de chuvas relacionam com o trecho “não dá
pra plantar”, pois com o calor excessivo e a ausência de água muitos animais morrem e
não há o desenvolvimento da plantação. Fato exposto por eles nos trechos da música
“Nem um pé de ‘prantação’” e “por ‘farta’ d'água perdi meu gado”.
Sendo assim, os resultados da atividade foram considerados satisfatórios,
partindo do pressuposto que os alunos conseguiram atingir o objetivo de interpretar e
representar uma realidade não conhecida por eles. Sabe-se que a leitura, a interpretação,
a percepção e a representação são dificuldades enfrentadas pelos alunos em seu
cotidiano escolar, que devem ser superadas com a aplicação de atividades como essa e
com o desenvolvimento de projetos como o PIBID direcionado à Alfabetização
Cartográfica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio das discussões realizadas, entende-se que a presença da cartografia na
escola é de suma importância para os estudos da Geografia, que iniciativas como o
projeto PIBID - Alfabetização Cartográfica, intermediador entre os alunos de graduação
e a realidade escolar, aprimora e prepara os futuros professores para que desempenhem
o seu papel de educadores e contribuam para a formação geográfica de seus alunos.
Cabe ressaltar também que o uso de metodologias alternativas podem atingir
resultados satisfatórios se forem bem planejadas e relacionadas ao conteúdo então
trabalhado. Utilizar uma linguagem nova em sala de aula faz com que o aluno tenha
mais um recurso para se aprofundar no conteúdo lecionado, mesmo que esta atividade
venha exigir um pouco mais de dedicação por parte do professor, além proporcionar um
leque de opções para se ensinar os diversos temários geográficos como paisagem, clima,
vegetação, dentre outros.
Portanto, é pertinente destacar que o planejamento, realização e resultados
satisfatórios desse trabalho foram possíveis a partir do subsídio financeiro da Fundação
Araucária e CAPES e do auxílio do grupo constituído pela coordenação, orientação e
alunos do PIBID de Geografia da UEL em conjunto com professor da disciplina e o
Colégio Estadual Profa. Maria José Balzanelo Aguilera.
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REFERÊNCIAS
ACI. Associação Cartográfica Internacional. Definição da ciência cartográfica. XX
Congresso Internacional de Geografia: Londres, 1964.
ALMEIDA, R. D. Do desenho ao mapa: iniciação cartográfica na escola. São Paulo:
Contexto, 2011.
CAPES. PIBID - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. Disponível
em: http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid. Acesso em maio de 2013.
CASTELLAR, S. M. V. A cartografia e a construção do conhecimento em contexto
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4929
A PRÁTICA DOCENTE: PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES SOBRE A
METODOLOGIA NO ENSINO DE GEOGRAFIA EM ESCOLAS
ESTADUAIS URBANAS NO MUNICÍPIO DE AQUIDAUANA, MS.
Cristiane Darnizot1
RESUMO
O propósito deste artigo é defender o argumento de que o processo de ensino e aprendizagem,
só acontecerá de forma eficiente, tendo a capacidade de formar cidadãos críticos e conscientes
de uma sociedade justa, se a concepção de “Transferência de Conhecimento” do professor
através de sua metodologia for substituída pela metodologia do professor-pesquisador. Assim,
identificou-se a Metodologia de Ensino que os professores de Geografia utilizam nas Séries
Finais do Ensino Fundamental e Médio Regular em duas Escolas Estaduais Urbanas no
Município de Aquidauana, MS. A primeira parte deste artigo reúne todo o referencial teórico e
em seguida a metodologia utilizada, ou seja, caracterização das organizações escolhidas para a
pesquisa. Posteriormente, concentra-se a análise dos resultados obtidos com a investigação, bem
como as considerações finais. Objetivando dar subsídios a metodologia utilizada no ensino de
geografia, este artigo propõe uma análise para debater suas influências através de uma prática
que gera uma educação consciente e libertadora aos alunos das Séries Finais do Ensino
Fundamental e Médio Regular. O método de investigação cientifica foi o estudo de caso,
baseando-se em entrevistas com professores, ao qual a pergunta mais importante e última do
formulário: Você se intitula um Professor Tradicional ou um Professor-Pesquisador, 100% da
metodologia aplicada nas Séries Finais do Ensino Fundamental é tradicional e 100% da
metodologia aplicada no Ensino Médio Regular é concernente ao professor-pesquisador. O
processo de ensino e aprendizagem não se dá por meio de transferência de saberes, mais através
da atividade do entendimento sobre o real: em outras palavras, que o ensino guarda semelhanças
com a pesquisa, pois em ambos o sujeito não se limita a acatar passivamente dados ou notícias,
ao contrário, a respeito daquilo com que se depara, investiga, dúvida, compara, nega e neste
processo produz-se o conhecimento. O caminho mais adequado para desenvolver o tema de
metodologia no ensino de geografia é o de uma reflexão inicial sobre os objetivos do ensino.
Diante desta pesquisa, acredita-se, que houve um despertamento, provocado pelos
questionamentos da entrevista, oportunizando uma auto-reflexão no que verdadeiramente estão
produzindo em suas práticas, se uma prática consciente e libertadora: produção das condições
em que aprender criticamente é possível, tanto os professores de Geografia das Séries Finais do
Ensino Fundamental que se utilizam da metodologia de ensino tradicional, quanto os
professores do Ensino Médio Regular que já operam a metodologia de ensino do professor -
pesquisador.
Palavras- Chave: metodologia. professor-pesquisador. geografia.
INTRODUÇÃO
1 Graduanda em Geografia Licenciatura Plena - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) –
Aquidauana/MS. [email protected].
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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O propósito deste artigo é defender o argumento de que o processo de ensino e
aprendizagem, só acontecerá de forma eficiente, tendo a capacidade de formar cidadãos
críticos e conscientes de uma sociedade justa, se a concepção de “Transferência de
Conhecimento” do professor através de sua metodologia for substituída pela
metodologia do professor-pesquisador.
Diante deste propósito, identificou-se a Metodologia de Ensino que os
professores de Geografia utilizam nas Séries Finais do Ensino Fundamental e Médio
Regular em duas Escolas Estaduais Urbanas no Município de Aquidauana, MS.
A questão deste artigo não é dar nomes as escolas onde se realizaram as
entrevistas com os professores de geografia, nem tampouco revelar os nomes dos
entrevistados e sim mostrar qual a metodologia de ensino que deve ser neutralizada por
desmotivar o educando.
De acordo com ROMANOWSKI (2010), as definições das intenções do ensino
se dão como as aulas são organizadas, nas atividades propostas, nos conteúdos
selecionados, nos instrumentos e procedimentos de avaliações em que empregamos e
nas formas de relação entre nós e nossos alunos.
Há décadas autores vêm escrevendo que o professor em sala de aula pode e deve
encarar o livro didático como instrumento que está a serviço dos seus objetivos e
propostas de trabalho.
Diante dessa afirmação o processo de ensino e aprendizagem requer da
metodologia do professor cada vez mais dedicação, preparação, conhecimento, para que
este envolva suas aulas com e para a realidade dos educandos, tornando suas aulas mais
dinâmicas, através de diálogos abertos, atitudes que tornarão a metodologia do ensino
de geografia como algo produtivo, eficiente e prazerosa, formando assim cidadãos
críticos e conscientes dentro da sociedade moderna a qual estes educandos estão
inseridos.
A primeira parte deste artigo reúne todo o referencial teórico e leituras
bibliográficas que deram sustentação à delimitação do processo investigativo, em
seguida a metodologia utilizada, ou seja, a caracterização das organizações escolhidas
para a pesquisa.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Posteriormente, concentra-se a análise dos resultados obtidos com a
investigação, bem como as considerações finais.
Objetivando dar subsídios a metodologia utilizada no ensino de geografia, este
artigo propõe uma análise para debater suas influências através de uma prática que gera
uma educação consciente e libertadora aos alunos das Séries Finais do Ensino
Fundamental e Médio Regular.
Diante de tais reflexões a contribuição prática para esse artigo é:
- Identificar e caracterizar a Metodologia de Ensino aplicada pelos professores
nas aulas de Geografia nas modalidades citadas;
- Analisar criticamente a Metodologia de Ensino aplicada pelos professores e;
- Despertar nos professores a necessidade de mudança de metodologia didático-
pedagógica.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
FREIRE (1975) adverte para que a relação da escola e aluno, não seja somente
para enchê-los de ideias prontas, as quais impedem de pensarem, aprovando as
condições que levam os alunos a terem suas próprias opiniões, concepções, visão de
tudo que o cerca, o mundo.
O importante do ponto de vista de uma educação libertadora, não
bancária, e que em qualquer dos casos, os homens se sintam sujeitos
de seu pensar, discutindo o seu pensar, sua própria visão de mundo,
manifestada implícita ou explicitamente, nas suas sugestões e nas de
seus companheiros (FREIRE, 1975, p.141).
Sendo assim, a educação deve ser repensada e o educador deve entender que
educar é a capacidade de interpretar, transformar o mundo.
Segundo LOPES (2010), para que os procedimentos ou metodologias aplicados
pelos professores venham a produzir significados, deve ser inserido no professor o perfil
de pesquisador.
NÓVOA (2001) apud LOPES (2010) descreve este perfil:
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4932
O professor-pesquisador e o professor reflexivo no fundo
correspondem a correntes diferentes para dizer a mesma coisa [...] um
professor indagador, que é um professor que assume a sua própria
realidade escolar como objeto de pesquisa, como objeto de reflexão,
como objeto de análise (NÓVOA 2001 apud LOPES 2010 p.19).
Na opinião de NAPOLITANO (2002), há um esclarecimento do que é ser
pesquisador:
Ser pesquisador não implica que o professor desenvolva uma
pesquisa cientifica pura, uma tese inédita ou se torne um especialista
de alto nível internacional em determinado assunto [(se conseguir
ainda melhor)]. Ser no caso dos professores do ensino fundamental e
médio implica ter autonomia intelectual [dizendo de outro jeito,
significa que] o professor e capaz de organizar o seu curso e planejar
novas experiências e projetos de aprendizagem sem depender de uma
fonte exclusiva como, por exemplo, o livro didático. Por possuir
autonomia não quer dizer ‘trabalhar isolado’ ou desconsiderar as
fontes e as referências bibliográficas, mas saber se movimentar no
universo de livros e correntes de pensamento que constituem o
patrimônio intelectual e científico das diversas disciplinas e ares do
conhecimento (NAPOLITANO, 2002, p.45).
No livro Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire, ele adverte que o professor
deve sempre buscar conhecimentos para melhor ensinar e ser um professor-pesquisador.
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses quefazeres
se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino contínuo
buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei,
porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando,
intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não
conheço e comunicar ou anunciar a novidade (FREIRE, 1996, p.26).
Segundo OLIVEIRA (2006) o binômio ensino/aprendizagem apresenta duas
faces de uma mesma moeda. Não se separa. Uma é a causa e a outra é a consequência.
Uma complementa o outro. Isso porque o ensino/aprendizagem é um processo, implica
movimento, atividade, dinamismo: é um ir continuamente. Ensina-se aprendendo e
aprende-se ensinando. Pouco se tem procurado esclarecer da relação
ensino/aprendizagem. O que se sabe é que o processo não se inicia do nada, pois todo
conhecimento aprendido é o resultado de uma estruturação na qual intervém, em graus
diversos, o ensinado. Pode-se situar a aprendizagem, como experiência adquirida, em
razão do meio físico e social. A aprendizagem não será produzida pela simples
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4933
acumulação passiva, mas mediante a atividade exercida sobre os conteúdos, articulando-
se uns com os outros.
Segundo PINTO (2010), o educador deve considerar o educando como um ser
pensante. È um portador de ideias dotado frequentemente de alta capacidade intelectual.
OLIVEIRA (2006), completa dizendo, mas faz uma ressalva:
Ensinar é provocar situações, desencadear processos e utilizar
mecanismos intelectuais requeridos pela aprendizagem, que permitirá
aos professores empregarem métodos ativos, para engendrar a ação
didática em bases sólidas, evitando tentativas ou ensaios, práticas
infrutíferas, demasiadamente perigosas, sobretudo quando as ações
são exercidas sobre crianças e adolescentes. (OLIVEIRA, 2006,
p.217).
VESENTINI (1992) define cidadania como: efetivação do homem no seu auto
fazer-se como construção permanente dos direitos e das relações democráticas. Assim
sendo, devemos nos indagar como meu aluno vai se tornar um cidadão com as minhas
ideias, meus pensamentos, sendo um ser passivo que só espera receber tudo mastigado?
Por isso, VESENTINI (1992), constrói a definição de criticidade que é:
Deixar o educando se libertar das amarras da dependência intelectual e
de pensamentos, encontrar a sua criticidade e imaginação, aprender a
pensar a partir do diálogo com o real e com as obras culturais, se
descobrir como cidadão, e consequentemente, agente de mudanças.
(VESENTINI, 1992, p.131).
Desenvolver a criticidade no ensino de Geografia consiste em deixar de lado os
modelos, os sistemas teóricos prontos e acabados, os conceitos que não aceitam o novo,
o inesperado, a contingência.
A prática docente é uma tal tarefa ininterrupta, o que vale dizer que não se deve
encontrar uma “receita”, um “modelo” acabado para ser constantemente reproduzido. A
busca deve ser uma meta sem fim, o renovar é sempre experimentar. Novas atividades e
conteúdos são condições indispensáveis para um ensino que não sirva às relações de
denominação, tentativas de fornecer subsídios aos professores, em forma de manuais,
vão infelizmente se multiplicando. Sua diversidade constitui uma riqueza a ser
preservada: daí o repudio de qualquer professor crítico, aos programas oficiais a serem a
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seguidos. Mas o fundamental nesta situação que possibilita experimentos e inovações é
evitar sistemas teóricos fechados, conteúdos que valorizem excessivamente os conceitos
entendidos, ademais, como definição e assim deixem pouco espaço para a reflexão
sobre o novo a partir do real e, nesse ato, a elaboração dos conceitos, sempre
provisórios, que nada mais devem ser que expressões que nos ajudam a compreender o
real, e na medida em que este é dinâmico, estão constantemente sujeitos a
reformulações, pois este e o escopo de um ensino libertário: não ensinar, mas ajudar a
aprender, orientar no crescimento intelectual, cognitivo, político, formar cidadãos
críticos e capazes de fazer coisas novas.
E se o professor não raciocinar em termos de “ensinar algo”, e sim de “contribuir
para desenvolver potencialidades” dos educando, ele verá que o conhecimento também
é poder, serve para dominar ou combater a dominação, e que o educando pode e deve
torna-se co-autor do saber (com estudos participativos do meio, debates frequentes,
textos e conteúdos adequados a realidade social e existencial dos educando e etc.)
Enfim, não se trata de ensinar fatos, mas de levantar questões, ou seja, negar o
discurso competente que, de acordo com CHAUÍ (1981):
[...] que é o discurso do especialista, proferido de um ponto
determinado da hierarquia organizacional. Sabemos também que
haverá tantos discursos competentes, quantos lugares hierárquicos
autorizados a falar e transmitir ordens aos degraus inferiores e às
demais pontes da hierarquia que lhe forem partidários. Sabemos que é
um discurso que não se inspira em ideias e valores, mas na suposta
realidade de fatos... (CHAUÍ, 1981, p11).
Há vinte anos Vesentini (1992) indaga em seu livro, deve o professor de
geografia fazer uso do manual didático?
Independente do manual adotado pelo professor podendo ser o “melhor” em
termos de conteúdos e tratamento pedagógico de vocabulário, das questões propostas,
da adequação aos ensinamentos da psicologia educacional, etc.. O professor pode e deve
encarar o manual como um instrumento que esta a serviço dos seus objetivos e proposta
de trabalho. Trata-se de usar criticamente o manual, relativizando-o, confrontando-o
com outros livros, com informações de jornais e revistas, com a realidade circundante.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Em vez de aceitar a “ditadura” do livro didático, o bom professor deve ver nele
(assim como em textos alternativos, em slides ou filmes, em obras paradidáticas ou
outras metodologias que levem o educando a refletir) tão somente um apoio ou
complemento para a relação ensino e aprendizagem que visa integrar criticamente o
educando ao mundo e nesta perspectiva de crítica ao tradicionalismo e busca de
Subsídios para a Construção de uma Geografia Escolar preocupada com a criticidade e
o senso de cidadania dos educando. Essa Geografia radical ou crítica coloca-se como
Ciência Social mais estuda também a natureza como recurso apropriado pelos homens e
como uma dimensão da história, da política. No ensino ela se preocupa com a
criticidade do educando e não com “arrolar dos fatos” para que ele memorize.
Para MORAES (2005), designativo de critica diz respeito, principalmente a uma
postura frente à realidade, frente à ordem construída. O autor que formulou a crítica
mais radical da Geografia Tradicional foi sem dúvida Yves Lacoste (1989) em seu livro:
A Geografia serve, antes de mais nada, para fazer a guerra.
Diante de muitas reflexões a respeito desta frase, que cada um de nós,
professores, geógrafos, possa fazer uma retrospectiva profunda no que buscamos ou
buscávamos ser e no que nos tornamos ou iremos nos tornar, não vamos nos deixar
vencer, pelo cansaço, pela ditadura, por jornadas estressantes de trabalho, ou falta de
reconhecimento profissional financeira, vamos fazer nossa parte, dar o melhor de nós
para termos alunos críticos, conscientes e ativos dentro do que querem para suas vidas e
para a sociedade em geral.
METODOLOGIA
O método de investigação científica foi o estudo de caso, ou seja, “estudo de
uma organização ou de um fenômeno (Lopes, 2010. p.74)”, onde as informações
levantadas levaram a caracterização da metodologia utilizada nas aulas de geografia,
sendo estas informações baseadas em entrevistas com professores onde um formulário
contendo onze (11) perguntas fechadas (com respostas a assinalar definidas) e abertas
(sujeitas à opinião dos entrevistados), foi aplicado através de entrevista direta, feito pelo
próprio investigador, na medida em que se fazem as observações ou recebe as respostas,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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ao qual a pergunta mais importante e última do formulário: Você se intitula, um
Professor Tradicional ou um Professor-Pesquisador?
Distingue-se o formulário do questionário que é usualmente preenchido pelo
próprio pesquisador.
Tratou-se de duas Escolas Estaduais Urbanas, aqui denominada de Escola A, a
que apresenta somente a modalidade Séries Finais do Ensino Fundamental e Escola B, a
que apresenta a Modalidade Ensino Médio Regular.
A metodologia prática utilizada, num primeiro momento, foram pesquisas
bibliográficas “obrigatórias em quaisquer modelos de trabalhos, sendo as fontes
variadas, tais como livros, revistas, textos da internet, documentários, fitas de vídeos,
DVDs (Lopes, 2010. p.74)” referentes ao assunto, para possível aprofundamento do
tema ou problemática em questão, obtendo assim maior suporte teórico. De posse do
Ofício, solicitando autorização da instituição de ensino para realizar as atividades de
Pesquisa, entrou-se em contato, com a Escola A e com a Escola B, conversou-se com a
Direção das Séries Finais do Ensino Fundamental e Coordenação do Ensino Médio
Regular foi-se autorizados a entrevistar os professores que ministram a disciplina
Geografia.
Só então os professores das Séries Finais do Ensino Fundamental da Escola A,
como também aos professores do Ensino Médio Regular da Escola B, foram
entrevistados, sendo assim aplicados os formulários. Só então de posse dos dados ou
respostas, as análises foram realizadas, seguidas de pesquisas bibliográficas.
RESULTADOS
O questionário foi aplicado a 02 (dois) professores das Séries Finais do Ensino
Fundamental da Escola A, sendo o primeiro professor do período matutino aqui
definido de P1 sendo este responsável pelo ensino/aprendizagem de 122 alunos (6° ao
9°ano). O professor P1 está em atividade há 14 anos, avalia seus alunos através dos
comportamentos, notas de provas, trabalhos. Essas avaliações são feitas depois de aulas
expositivas, leituras de livros didáticos e memorização de conceitos, o livro didático é
de uso exclusivo. Questiona falta de tempo para melhores planejamentos, que possui
alunos precoces para serem críticos e não se lembra quando fez o último curso de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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capacitação para colocar na prática as teorias, não avalia seus alunos individualmente,
às vezes tenta aproveitar alguma coisa que o aluno escreveu nas respostas da prova e
declara na última pergunta: Sou professor tradicional “transmissor.”
Ao segundo professor da Escola A, definido de P2, professor do período
vespertino responsável pelo ensino e aprendizagem de 60 alunos (6°ao 7°ano). O
professor P2 está em atividade há 26 anos, avalia seus alunos através de
comportamentos, notas de provas, trabalhos. Essas avaliações são feitas depois de aulas
expositivas, leituras de livros didáticos e memorização de conceitos, o livro didático é
de uso exclusivo. Relata que as teorias dos cursos de capacitação devem ser
readequadas a realidade dos alunos, pois possui muitos alunos com problemas
familiares aos quais tiram sua atenção para os estudos. Quando tentou usar novas
práticas pedagógicas os alunos e pais reclamaram. E faz sua última declaração: Sou
professor tradicional “transmissor”.
Na Escola B, o questionário foi aplicado a 03 (três) professores do Ensino Médio
Regular, sendo o primeiro professor aqui definido de P3, professor do período matutino
e noturno, responsável pelo ensino e aprendizagem de 165 alunos (1° e 2°ano). O
professor P3 está em atividade há 25 anos, avalia seus alunos através de notas de
provas, trabalhos (a Escola exige no mínimo duas provas escritas) e observações
constantes são realizadas, notando através do ensino/aprendizagem se eles tem se
tornado críticos e reflexivos, o livro didático e usado como apoio, usando o jornal
escrito, a internet, a televisão. Levando assim, aos alunos informações atuais para a sala
de aula. Diz que as teorias dos cursos de capacitação funcionam, desde que adequadas à
realidade dos alunos e da escola, estando satisfeito com sua prática pedagógica, pois os
alunos estão satisfeitos com o ensino, tornando estes críticos, conscientes da realidade
com opiniões que está favorecendo seu bem estar, da comunidade escolar e do mundo.
O professor P3 quando observa que algo não esta bem com o aluno, que foi mau na
prova ou tem dificuldade para registrar informações, este recebe prova oral,
complementando, o professor deve ser consciente de seu papel na sociedade. E faz sua
última declaração: Sou Professor-pesquisador, que concilia ensino com pesquisa
“postura, investigativa, reflexiva...”.
Ao segundo professor da Escola B, definido de P4, professor do período
noturno, responsável pelo ensino e aprendizagem de 56 alunos (3°ano). O professor P4
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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está em atividade há 42 anos, avalia seus alunos através de notas de provas escritas e
oral, trabalhos como seminários, resenha, amostra cultural, trabalho de campo (a Escola
exige no mínimo duas provas escritas) e observações constantes são realizadas, notando
através do ensino/aprendizagem se eles tem se tornado críticos e reflexivos, o livro
didático e usado como apoio, usando a revista, a internet, a televisão. Levando assim,
aos alunos informações atuais para a sala de aula. Diz que as teorias dos cursos de
capacitação funcionam, desde que adequadas à realidade dos alunos e da escola, estando
satisfeito com sua prática pedagógica, pois tem visto frutos de seu trabalho
(interesse/criatividade/liberdade de expressão) eles estão satisfeitos com o ensino,
tornando estes críticos, conscientes da realidade com opiniões que estão favorecendo
seu bem estar, da comunidade escolar e do mundo. E faz sua última declaração: Sou
Professor-pesquisador, que concilia ensino com pesquisa “postura, investigativa,
reflexiva...”.
Ao terceiro professor da Escola B, definido de P5, professor do período
matutino, responsável pelo ensino/aprendizagem de 45 alunos (3°ano). O professor P5
está em atividade há 12 anos, avalia seus alunos através de notas de provas escritas e
oral, trabalhos como seminários, músicas, poesias (a Escola exige no mínimo duas
provas escritas) e observações constantes são realizadas, notando através do
ensino/aprendizagem se eles tem se tornado críticos e reflexivos, o livro didático é
usado como apoio, usando a internet, a televisão. Para levar aos alunos informações
atuais para a sala de aula. Usar a música em sala de aula traz reflexões sobre a sociedade
e o espaço geográfico. Diz que as teorias dos cursos de capacitação funcionam, desde
que adequadas à realidade dos alunos e da escola, e declara não estar satisfeito sua
pratica pedagógica, e diz sempre é possível melhorar. E faz sua última declaração: Sou
Professor-pesquisador, que concilia ensino com pesquisa “postura, investigativa,
reflexiva...”.
Percebe-se, um expressivo resultado, não se trata de mais ou menos anos de
atividades de docente, pois com certeza, à determinação, a consciência das quantidades
de alunos que estão sob as suas responsabilidades de ensino/aprendizagem, ou seja, que
tipos de formação estão sendo dados aos seus educandos, faz toda a diferença, para uma
metodologia diferenciada, que transforma cidadão em críticos, capazes de decidir por si,
pois sabe o que é o melhor. Essa pesquisa gerou o seguinte resultado: 100% dos
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professores das Séries Finais do Ensino Fundamental utilizam-se do método do ensino
tradicional e 100% dos professores do Ensino Médio Regular utilizam-se como método
de ensino o professor - pesquisador.
A utilização de imagens dentro de sala de aula, também é uma grande aliada do
professor, ou seja, fotos aéreas, fotografias comuns, vídeos dentre outros, mostram a
modificação de determinadas áreas. Essas informações devem ser contextualizadas pelo
educador, que deve apresentar como, porque, quando que as mudanças ocorreram.
E até então buscar razões, juntamente com os educados para que eles vejam e
sintam a necessidade de se interessarem a aprender o assunto proposto, ou seja,
envolver os educandos em pesquisas, aulas de campo, laboratórios, onde eles mesmos
podem chegar a conclusões, sendo assim, podendo expor para o resto da turma. Sendo
que no fechamento das opiniões, o professor deverá fazer respaldos e assim chegar ao
seu objetivo, ou seja, deixar transparente a mensagem que ele tinha como objetivo.
O caminho mais adequado para desenvolver o tema de metodologia no ensino de
geografia é o de uma reflexão inicial sobre os objetivos do ensino. E como diz Paulo
Freire (1996) é importante que o professor tenha consciência do que faz, por que faz e
como faz; que estabeleça o confronto de como era a situação, como está sendo
desenvolvida e como reconstruir para fazer coisas das que sempre faz.
Na atualidade a responsabilidade do educador é de formar cidadão, bem como
prepará-lo para a vida como um todo. A transformação social é conquistada através do
processo de ensino/aprendizagem que assume um conteúdo político de conhecimento
cientifico propondo a luta por uma sociedade mais justa, pois a geografia é capaz de
despertar no aluno a critica a realidade social e o questionamento sobre as relações
desiguais do mundo globalizado.
5. Considerações Finais
Buscou-se, neste artigo, defender o argumento de que o processo de
ensino/aprendizagem não se dá por meio de transferência de saberes, mas através da
atividade do entendimento sobre o real: em outras palavras, que o ensino guarda
semelhanças com a pesquisa, pois em ambos o sujeito não se limita a acatar
passivamente dados ou notícias, ao contrário, a respeito daquilo com que se depara,
investiga, dúvida, compara, nega e neste processo produz-se o conhecimento.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Considera-se, como método tradicional aquele em que o professor fala, e um
grupo de alunos o ouve. Esta situação, em nada se assemelha aos procedimentos da
pesquisa, pois os alunos apenas recebem, passivamente, as informações sistematizadas
pelo professor. E a prática efetivamente formadora, aqui conferida por este artigo é o
método do professor-pesquisador, que permite a interpretação coerente da realidade, a
clareza na observação e no entendimento da função individual perante a coletividade.
Para tanto, acredita-se, que houve um despertamento, provocado pelos
questionamentos da entrevista, oportunizando uma auto-reflexão no que
verdadeiramente estão produzindo em suas práticas, se uma prática consciente e
libertadora: produção das condições em que aprender criticamente é possível, tanto os
professores de Geografia das Séries Finais do Ensino Fundamental que utiliza-se do
método de ensino tradicional, quanto os professores do Ensino Médio Regular que já
operam o método de ensino do professor - pesquisador.
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4942
O USO DA IMAGEM COMO METODOLOGIA DE ENSINO DO
TEMA CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES
Cibele Oliveira Lima
1
Rafael Vázquez Doce2
RESUMO
Este artigo tem como objetivo principal demonstrar a importância crescente que o uso de novas
metodologias de ensino vêm adquirindo de forma a melhorar o ensino básico de Geografia.
Trata portanto de elucidar o uso das imagens como ferramenta complementar do ensino,
servindo até mesmo para aproximar o conteúdo que se pretende passar do aluno, criando assim
um ambiente para aprendizado mais significativo. Nesse sentido o artigo demonstra uma prática
realizada com uma turma de terceiro ano do ensino médio, a qual recebeu o conteúdo de choque
de civilizações através de atividade essencialmente composta por interpretação de fotografias.
Palavras-chave: Ensino, Geografia, Imagens
A IMAGEM E O ENSINO DE GEOGRAFIA
Considerando o fato de que o principal objeto de estudo da Geografia é o meio,
seja ele natural ou antrópico, é a partir dele que será realizada a produção do
conhecimento, tendo em vista suas particularidades. Para que seja realizada análise do
meio estudado é imprescindível utilizar como ferramentas principais a observação,
realizada muitas vezes por intermédio de visitas a campo.
As visitas a campo não devem estar desacompanhadas nesse processo de
aprendizagem. É necessário realizar, com base no que foi observado em campo, o
registro das informações, seja através de anotações, seja através de fotografias e
desenhos esquemáticos, o que atribui um papel fundamental à iconografia.
Nesse sentido, Dantas & Morai (2007) atentam para a importância que a
iconografia carrega na compreensão do espaço e portanto afirmam que não é só a
iconografia gerada por meio da atividade de campo que deveria interessar ao professor,
1 Bacharel em Geografia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas;
[email protected] 2 Bacharel em Geografia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas,
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mas que ela deve também ser incorporada ao seu trabalho, de forma a aumentar a gama
de possibilidades para ler, interpretar e interferir no espaço geográfico.
A iconografia se impõe à sociedade moderna como fonte inesgotável
de revelações e possibilidades de aprendizagem, da anunciada unidade
terrestre; e, o olhar como caminho para adentrar e compreender o
labirinto espacial em que se transformou a Terra. (DANTAS&
MORAI, 2007)
Nos últimos anos a metodologia de ensino de Geografia nas escolas vem
passando por diversas mudanças, o que se deve principalmente a difusão e ao acesso
facilitado das infinitas possibilidades de uso de tecnologia como auxilio às aulas. Com
isso novas estratégias metodológicas intrinsecamente ligadas a observação e descrição
ampliaram o escopo de intervenção do olhar sobre o meio, principal objeto de estudo do
geógrafo. Cresce assim a importância das imagens como meio complementar de passar
o conteúdo aos alunos.
Mesmo sem tomar completa noção do fato, o geógrafo está imerso no mundo
das imagens, sejam elas representadas pelo meio fotográfico e de filmagem ou estejam
elas disponíveis no grande cenário de interpretação que constitui a paisagem.
Cabe ao professor de Geografia, então, ensinar a olhar e interpretar as imagens e
suas intenções, cada vez mais presentes em nossa sociedade como forma de transmissão
de noticiase portanto de visões de mundo.
Saber olhar é caminhar na realidade paradoxal da liberdade e do
aprisionamento do mundo de significados. Datar a pedra, marcar o
tempo, estabelecer limites, mas também subverter o estabelecido,
impondo-lhe ressignificações, constitui a sua linguagem. As
estratégias do olhar comportam as operações mentais de separar para
religar, distinguir para contextualizar, num movimento que contém
ordem, desordem e reorganização das idéias, do pensamento e do
sujeito. (DANTAS& MORAI, 2007)
A fotografia representa uma forma de interpretar e elucidar o que já foi
anunciado anteriormente e por isso mesmo os autores op.cit a definem como "a
persistência do passado que atravessa o ritmo do presente, sendo o encontro dos tempos
o campo de experimentação do geógrafo".(s/p.)
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Cabe então ao professor aproximar os alunos dessa experimentação espaço-
temporal através do descongelamento da fotografia, interpretando de acordo com sua
visão de mundo o que talvez pudesse significar outra visão, mas sem deixar de lado as
verdadeiras intenções por trás de cada escolha de ângulo, cores e portanto significações.
Para Oliveira Junior (2011, p.2) "toda e qualquer obra humana tem em si,
explícitas e implícitas, intencionalidades quanto à versão de mundo para a qual busca
dar existência" e portanto o educador deve tomar extremo cuidado ao olhar a fotografia
e mais ainda ao realizar junto aos alunos interpretações da mesma, já que essas devem
respeitar ao máximo a integridade da imagem olhada, sem que haja a necessidade de
realizar comparações com outras imagens.
Tendo em vista o fato de que a imagem representa uma expressão cultural, ela
nada mais é, para o professor, do que um material ao mesmo tempo forma e conteúdo,
intuição e objetivação, subjetivação e produção do conhecimento. Para a Geografia ela
representa mais ainda: além de um modelo reduzido da existência humana, é também
um novo caminho para levar o aluno a compreender o mundo a sua volta, rompendo
com a simples descrição de paisagem.
Como pode ser comprovado no trecho abaixo a utilização da fotografia como
elemento didático em sala de aula ajuda o aluno a melhorar sua capacidade de
percepção e a valorizar o que se encontra ao seu redor.
[...] uma fotografia pode levar o aluno a refletir sobre suas atitudes e a
realidade em que está vivendo, possibilitando o interesse em estar
descobrindo e entendendo mais profundamente a imagem fotográfica,
observando e consequentemente tomando posturas diferentes.
(SILVA, 2004,apud DANTAS & MORAI, 2007)
Dessa forma o estudo de elementos da ciência geográfica na escola pode ter o
aprendizado facilitado e intensificado através do uso consciente e cuidadoso da imagem
pelo educador, que tem como compromisso principal aproximar os alunos do conteúdo
a ser aprendido sem no entanto deixar de lado a versão de realidade e as intenções de
mundo implícitas em cada fotografia.
A IMAGEM E O ENSINO DE CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES
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A atividade descrita nesse artigo faz parte de um conjunto de aulas visando o
ensino do tema Choque de Civilizações para o 3º ano do Ensino Médio da Escola
Estadual Professor Francisco Álvares, localizada no Distrito de Barão Geraldo na cidade
de Campinas-SP. Essas aulas fizeram parte de avaliação da estagiária na disciplina de
Estagio Supervisionado em Geografia, sendo um dos pré-requisitos para obter o
diploma de Licenciatura em Geografia.
A atividade durou 2 aulas e meia (sendo cada uma com 50 minutos) e consistiu
no uso de 20 imagens aleatórias que representassem de alguma maneira o choque de
civilizações. Foram passadas com o auxilio do projetor de imagens data show, na
biblioteca da escola.
Primeiramente as imagens foram apresentadas sem que nenhum estímulo além
fosse proporcionado aos alunos por parte do professor ou da estagiaria. Cabe ressaltar
que o intuito da atividade era coletar informações sobre a visão de mundo e o
conhecimento prévio que os alunos detinham sobre o assunto, visando assim aproximá-
los do tema a ser ensinado nas próximas aulas.
Para facilitar a apresentação das imagens aqui nesse artigo as mesmas foram
dispostas abaixo na ordem cronológica que se esperava obter como resposta dos alunos.
Tendo em vista o fato de os alunos ainda não terem tido muitos dos conteúdos
necessários para realizar a atividade plenamente; lhes foi avisado que o que interessava
era que eles pusessem na ordem certa as imagens que diziam respeito a segunda guerra
mundial e a guerra fria, últimos assuntos estudados por eles. Assim seria dada uma
margem de erros quanto aos assuntos que eles não tinham domínio. Levou-se em
consideração também o fato de que algumas imagens não tinham ordem rígida. Nesse
sentido o objetivo era avaliar se os alunos tinham noção temporal dos acontecimentos e
se tinham absorvido o conteúdo do bloco passado.
FIGURA 1: DEZ PRIMEIRAS IMAGENS USADAS NA ATIVIDADE APLICADA.
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FIGURA 2: DEZ ÚLTIMAS IMAGENS USADAS NA ATIVIDADE APLICADA.
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A idéia era que após a observação atenta dessas imagens os alunos
respondessem a duas perguntas:
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Qual das imagens, ou quais, representam para você o choque de civilizações? Há
alguma que não tem nada a ver com o assunto?
Coloque as imagens em ordem cronológica crescente (da mais antiga para a mais
nova) dos eventos representados por elas.
É interessante comentar sobre a reação dos alunos ao desenvolvimento da
atividade, que foi muito bem recebida e conseguiu inclusive deter a atenção dos alunos
por grande parte da aula, sem maiores desdobramentos por parte da professora e da
estagiaria para que prestassem atenção.
Talvez isso seja explicado pelo fato de que a aula dada pela estagiaria e não pela
professora representava novidade para eles, além do fato da atividade consistir em ação
diferente daquelas que estavam acostumados, sendo aplicada inclusive em ambiente
diferente do da sala de aula.
Cabe salientar que o uso de imagens chocantes como as apresentadas também
teve seu mérito para que os alunos se interessassem em aprender o conteúdo, uma vez
que dificilmente imagens como essas deixam de impulsionar questionamentos e
discussões, ou ao menos um sentimento de revolta. Foi o que aconteceu com os alunos,
que passaram a discutir entre si o que cada uma representava e inclusive a interagir de
forma a conversar sobre quais representavam o choque de civilizações e quais não.
Nesse sentido foi muito interessante a aplicação da atividade que atingiu seu
objetivo principal de colocar os alunos em contato inicial com o tema, em forma de
pensamento critico e levantamento de idéias iniciais sobre o tema, sem deixar de lado a
interação entre as diferentes crenças e pré conceitos de cada um deles.
Uma semana depois foi apresentado o mesmo arquivo de imagens, que no
entanto estava em ordem cronológica da qual os alunos deveriam ter se aproximado em
suas respostas, além de apresentar informações básicas sobre o que cada imagem
representava, as quais podem ser visualizadas abaixo.
1- Conflitos religiosos; desde que existem as crenças e religiões.
2- (KKK) organização racista dos EUA; pós Guerra Civil EUA 1865.
3- Revolução Chinesa com início em 1911 e ápice em 1927.
4- Genocídio de Judeus durante a Segunda Guerra Mundial; Alemanha 1933 a 1945.
5- Guerra Fria: Conflito Leste x Oeste, 1945- 1991.
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6- Narcotráfico colombiano da década de 1970.
7- Conflitos entre EUA, Iraque, Irã, a partir de 1979, ápice 1991.
8-Negros salvando a vida de membro da KKK; Geórgia EUA 1980.
9- Genocídio de Ruanda; 1994.
10- Disparidade social na Zona Sul da cidade de São Paulo, 2000.
11-Choque cultural entre estadunidense e muçulmanas nos EUA, 2000.
12- Ataques terroristas da Al Qaeda as Torres Gêmeas nos EUA; setembro de 2001.
13- Conflitos entre o imperialismo americano e o fundamentalismo islâmico; pós 2001.
14- Luta pela não identificação da Jihad como terrorismo; Iraque pós 2001.
15-Início da Guerra no Iraque, invasão estadunidense; março de 2003.
16- HAMAS, grupo terrorista da palestina; dezembro de 2006.
17- Ocupação estadunidense do Iraque, 2010.
18- Conflito pela hegemonia econômica entre EUA e China, a partir de 2010.
19- Conflitos religiosos na Nigéria, janeiro de 2012.
20-Manifestações contra o filme de Sam Bacile (que depreciava a imagem do profeta
Maomé); Bangladesh Setembro de 2012
Primeiramente deve-se discutir as respostas dos alunos à primeira perguntaQual
das imagens, ou quais, representam para você o choque de civilizações? Há alguma
que não tem nada a ver com o assunto? Apenas alguns alunos, cerca de 2 ou 3 em uma
turma de 32, identificaram todas as imagens como pertencentes ao tema do choque de
civilizações. A grande maioria escolheu apenas uma das imagens, provavelmente a que
lhe chocou ou chamou maior atenção, como a única que representava o tema estudado,
sendo todas as outras colocadas como fora do assunto.
É interessante ressaltar que quando todas as fotografias foram apresentadas
como sendo parte do choque de civilização muitos se sentiram enganados, já que não
concordavam até mesmo que conflitos religiosos deveriam ser considerados como tal.
Isso demonstra a dificuldade que os alunos têm de interpretar e correlacionar
uma fotografia com uma realidade apresentada a não ser que a mesma represente de
forma explícita o que foi perguntado. Além disso, podemos atentar para o fato de que
talvez seus conhecimentos prévios sobre o tema fossem congelados e rígidos, o que lhes
fazia pensar que somente o conflito Iraque - Estados Unidos representa o choque de
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civilização, visão essa que lhes é passada com exaustão através dos mais diferentes
meios de transmissão de informação. A imagem que mais foi colocada de fora do
conflito é aquela do limite entre um condomínio de classe alta e uma favela na zona sul
de São Paulo, que segundo a opinião dos próprios alunos não representa o choque de
civilização porque está no Brasil. Assim percebe-se a dificuldade dos alunos em realizar
uma crítica em cima do que estão aprendendo e vendo, já que lhes parece mais fácil e
mesmo correto acreditar que a verdade universal é a informação passada pela mídia.
Quanto a segunda pergunta Coloque as imagens em ordem cronológica
crescente (da mais antiga para a mais nova) dos eventos representados por elas cabe
salientar que talvez a maior dificuldade apresentada pelos alunos não foi nem mesmo o
fato de eles não terem tido contato com determinados assuntos expressos pelas
fotografias, já que até mesmo aquelas que representavam o tema que acabavam de ter
tido, no caso a Guerra Fria poucas vezes foram colocadas em ordem correta.
Na verdade o maior problema é que muitos deles possuem extrema dificuldade
de interpretação e correlação espaço-temporal dos acontecimentos, mesmo se o assunto
já foi dado ou se é algum fato de repercussão mundial extremamente explorado pela
mídia. Foi o caso de mais da metade da sala que colocou a imagem referente ao conflito
leste-oeste (Guerra Fria) como o acontecimento mais recente, que ocorreu depois
inclusive dos atentados de 11 de setembro.Excluindo os possíveis erros de falta de
atenção, percebe-se que os alunos têm extrema dificuldade em localizar acontecimentos
em uma linha cronológica, o que deixa claro a necessidade existente de trabalhar o
raciocínio lógico.
Por fim acreditamos que um dos meios viáveis de minimizar essa lacuna espaço-
temporal dos alunos partiria de ação do próprio educador, que deveria agregar a aula
meramente expositiva atividades ou outros métodos de ensino que possibilitem a
aproximação do conteúdo dado com a realidade vivida pelos alunos, fazendo com que o
aprendizado faça algum sentido para os aprendizes.
É nesse sentido que a fotografia, a forma como é produzida e como interfere no
cotidiano, poderia servir de base para a transmissão do conteúdo de forma que eles
fossem criados através das interpretações dos próprios alunos, que passariam a criar
significados para os acontecimentos, facilitando sua compreensão.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma vez que Dantas & Morai (2007) consideram a imagem como "uma espécie
de carimbo existencial que acompanha o educador em seu oficio, mesmo que não faça
parte do seu repertório de ações e reflexões no exercício de leitura do mundo"(s/p.), ela
deve ser utilizada de forma constante no ensino da Geografia, proporcionando ao aluno
o desenvolvimento de suas habilidades criticas, contribuindo tanto na elaboração e
entendimento dos conceitos como na criação de valores que o impulsionem a repensar
suas atitudes com relação ao meio.
Deve-se no entanto tomar extremo cuidado com a utilização das imagens já que
Silva (2005) atenta para o fato de que o registro fotográfico pode ser ao mesmo tempo
um instrumento de direcionamento e de exclusão, cabendo então ao professor fazer o
uso racional dessas duas propriedades.
A atividade apresentada nesse artigo demonstrou a carência que o meio
educacional possui em apresentar aos alunos novas metodologias de ensino,
metodologias essas que ao não serem incorporadas de forma a criar significado e
importância no conteúdo a ser aprendido, acabam por perpetuar a deficiência dos alunos
em realizar correlações entre o que foi ensinado durante a vida escolar. Correlações
essas que se mostram falhas dentro do conteúdo de cada disciplina epraticamente
inexistentes no contexto da interdisciplinaridade, que tanto vem sendo pregada
atualmente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DANTAS, E.M.& MORAI, I.R.D. O ensino de Geografia e a imagem: universo de
possibilidades. In: IX Coloquio Internacional de Geocrítica: Los Problemas del mundo
actual soluciones y alternativas desde laGeografía y lasCienciasSociales. Porto Alegre,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2007.
SILVA, R.M.O uso da fotografia no ensino da Geografia. Monografia de
especialização em Ensino de Geografia, Universidade Estadual de Londrina, p.76-84,
2005.
OLIVEIRA JR, W. M. de. Fotografias e conhecimentos do lugar onde se vive: notas
sobre linguagem fotográfica e atlas municipais escolares.Disponível em:
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http://poesionline.files.wordpress.com/2011/05/geo-mobilidade_bloco-1_aula-prc3a9-campo.pdf;2011.
OLIVEIRA JR, W. M. Grafar o espaço, educar os olhos: rumo a geografias
menores. Pro-Posições [online], vol.20, n.3, pp. 17-28. ISSN 0103-7307; 2009.
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CARTOGRAFIA ESCOLAR NA ESTRUTURA CURRICULAR DO
ENSINO MÉDIO: PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS43
Adriano Scalzitti44
RESUMO
A Proposta Curricular de Geografia para o Estado de São Paulo – SEE/SP, norteada pelas
diretrizes de educação estabelecidas pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC - foi em
partes compilada e ainda reformulada para atender direcionar as práticas nas salas de aula das
Unidades de Ensino –UE - estaduais. O MEC regulamentou conteúdos que dispostos em livros
didáticos previamente selecionados foram oferecidos com direito de escolha entre os
professores de Geografia nas diversas UE da federação. A SEE/SP por sua vez, selecionou
conteúdos e produziu material apostilado para as UE do Estado de São Paulo. O diálogo entre os
conteúdos dos materiais compete aos professores das UE paulistas. Nesse contexto, aponto a
importância da leitura e ensino das projeções cartográficas empregadas para produção de mapas
temáticos. Para isso, chamo atenção para os conteúdos ensinados no o 1º bimestre da 1ª série do
ensino médio. A importância da leitura e interpretação das grandes formas reveladas pelas
projeções cartográficas embute um contexto histórico dominador na disposição dos continentes
e na distorção das formas. Esses apontamentos não são explicitamente tratados dentro da
Estrutura Curricular, eles ficam despercebidos. Os autores dos materiais apontam as distorções e
os locais onde são mais expressivas. Deste modo, se não relacionar o processo produtivo com as
distorções apresentadas ocorrerá uma interrupção na leitura crítico reflexiva de mapas temáticos
dispostos nas grandes projeções. A distorção das formas e distribuição continental que
acompanham a forma inicial proposta por MERCATOR continuam impondo o poderio
ideológico econômico dos países do hemisfério norte. Situar o leitor de mapas no mundo que
ele está inserido e provoca transformações, é competência da escola. O Encontro de Praticas de
Ensino de Geografia possibilitará novas elucubrações para esse tema que apresenta movimento
constante como as linguagens dispostas nos veículos midiáticos.
PALAVRAS CHAVES: Proposta Curricular. Projeções Cartográficas. Material Didático.
1 – INTRODUÇÃO
Este artigo resulta do desdobramento de pesquisas anteriores (SCALZITTI,
2012) onde procurou respostas na história da cartografia para compreender o meio e as
necessidades que levaram os cartógrafos a construírem suas projeções cartográficas.
43
Este trabalho corresponde ao desdobramento de pesquisa anterior (2012) subsidiada pela Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES (bolsa parcial). 44
Mestre em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba - UNIMEP.
Professor de Geografia: E.E Prof. Eduir B. Scarppari (Piracicaba/SP); Colégio Objetivo (São Pedro/SP).
Endereço eletrônico: [email protected]
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Nesta oportunidade, atenho as projeções vistas dentro da proposta curricular que não
contempla o processo histórico de construção das projeções e assim não explicita os
motivos que levaram as distorções apresentadas e muito menos de outros elementos de
domínio cultural impressos em suas linhas e disposição de formas.
Assim, por intermédio da organização sistemática de elementos norteadores da
Proposta Curricular de Geografia estabelecida nas esferas Federal e Estadual aponto os
conteúdos trabalhados na cartografia escolar selecionado para o ensino na 1ª série do
ensino médio.
A cartografia escolar é consubstanciada por Almeida (2010, p. 9) em uma área
de ensino, pesquisa e saber que está em construção no contexto histórico-cultural
alinhavada pela tecnologia desenvolvida nas escolas e universidades. Almeida (op. cit.)
coloca a cartografia escolar como um saber submetido “[...] às constantes
transformações das funções e valores dados ao conhecimento por uma sociedade
complexa e contraditória [...]”. Portanto, essa área do conhecimento e ensino, encontra-
se em movimento e depende do movimento técnico cultural para se estabelecer e
significar para a sociedade e em especial para os leitores e produtores de mapas como
elementos mediadores no ensino da geografia.
Neste contexto, insiro a minha preocupação a respeito das distorções
apresentadas pelas projeções cartográficas, elas não ensinadas dentro do processo
histórico cultural que foram produzidas. Deste modo, o contorno distorcido e o
posicionamento dos grandes continentes, formalizados a partir da visão eurocêntrica
imposta inicialmente pela projeção de Mercator, são fatores que levam a
(re)significação interpretativa que somada aos temas localizados sobre a base projetada
dinamizam a impressão do leitor a respeito do domínio e superioridade político
econômica dos países do norte (SCALZITTI, 2012).
A análise da Proposta Curricular e os apontamentos descritos aqui tem o intuito
de provocar reflexões a respeito da interpretação e leitura e ensino de mapas
contemplados pela cartografia escolar.
2 – PROPOSTA CURRICULAR DE GEOGRAFIA DO ESTADO DE SÃO
PAULO.
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Os pesquisadores ligados à cartografia escolar contribuíram com diversos
trabalhos voltados para o ensino fundamental, nesse sentido, direcionei essa
contribuição para o ensino médio e, em especial a primeira série. Minha prática em sala
de aula permitiu algumas reflexões associadas às projeções cartográficas dispostas como
base cartográfica para a produção de mapas temáticos que ilustram o material didático
empregado. A leitura e compreensão de mapas são importantes, estão relacionadas às
avaliações institucionais como o Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM,
vestibulares e outros exames de seleção para alunos com o ensino médio. Pontuschka;
Paganelli; Cacete (2009, p. 325) aponta a dificuldade dos alunos, em especial, os da
escola pública em realizar a leitura e interpretação de mapas dispostos nas avaliações do
ENEM.
O verbo ilustrar pode ser entendido de acordo com Houaiss (2009) “[...] tornar
compreensível; esclarecer, elucidar, comentar, explicar [...]” de permitir a leitura e
compreensão de informações através da leitura de um desenho, ainda reitera, que o
verbo indica apenas a estética no sentido de “[...] enfeitar (texto) com figura ou estampa
[...]”. Certamente que os mapas presentes no material didático deveriam estar de acordo
com o sentido do verbo instruir, de “[...] transmitir ou adquirir conhecimentos; educar(-
se) [...]” e ainda, “[...]dar notícia; comunicar, cientificar, informar [...]”.
O contexto histórico que envolveu o desenvolvimento e as finalidades que
levaram a elaboração e uso das diferentes projeções cartográficas, elas deveriam estar
integradas a cartografia escolar para que de fato, o leitor pudesse ter o discernimento e o
reflexo crítico das informações postas sobre as projeções cartográficas empregadas
como base cartográfica para os mapas temáticos. Desta forma, os mapas não seriam
observados nos materiais como meras ilustrações, postas nos sentido de decorar e/ou
ocupar espaço.
A educação brasileira está regulamentada pelo Ministério de Educação e Cultura
- MEC, este requer grandes planos de ação que tratam da educação num âmbito federal.
O MEC (2006, p. 7) aponta diretrizes consubstanciadas na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional - LDB (nº. 9394/96), onde evidencia que o ensino médio deve
garantir ao educando formação ética, desenvolvimento intelectual autônomo,
pensamento crítico, preparação para o mundo do trabalho e o desenvolvimento de
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competências para continuar seu aprendizado e para isso destaca que a base curricular
nacional deve estar de acordo com o seguinte:
• base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de
ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada que
atenda a especificidades regionais e locais da sociedade, da cultura, da
economia e do próprio aluno (Art. 26);
• planejamento e desenvolvimento orgânico do currículo, superando a
organização por disciplinas estanques;
• integração e articulação dos conhecimentos em processo permanente
de interdisciplinaridade e contextualização;
• proposta pedagógica elaborada e executada pelos estabelecimentos
de ensino, respeitadas as normas comuns e as de seu sistema de
ensino;
• participação dos docentes na elaboração da proposta pedagógica do
estabelecimento de ensino.
Ainda, conforme o MEC (2006) essas ações curriculares devem nortear o
trabalho docente nas instituições de ensino que contemplam o ensino médio em três
grandes áreas curriculares:
- 1: Linguagem, Códigos e suas Tecnologias;
- 2: Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias;
- 3: Ciências Humanas e suas Tecnologias.
A GEOGRAFIA compõe o conjunto compreendido pelas Ciências Humanas e
suas Tecnologias dispostas onde estão as disciplinas: FILOSOFIA, HISTÓRIA,
SOCIOLOGIA.
Para a geografia do ensino médio cabe o aprofundamento do conhecimento dado
no ensino fundamental. O aprofundamento dos conteúdos se dá com o desenvolvimento
das competências e habilidades que podem ser visualizadas no quadro 1 (MEC, 2006, p.
45):
Quadro 1: Competências e habilidades para a Geografia no Ensino Médio (MEC).
COMPETÊNCIAS HABILIDADES
• Capacidade de operar com os conceitos
básicos da Geografia
para análise e representação do espaço
em suas múltiplas escalas.
• Capacidade de articulação dos
conceitos.
• Articular os conceitos da Geografia com a observação, descrição,
organização de dados e informações do espaço geográfico
considerando as escalas de análise.
• Reconhecer as dimensões de tempo e espaço na análise geográfica.
• Capacidade de compreender o espaço
geográfico a partir das múltiplas
interações entre sociedade e natureza.
• Analisar os espaços considerando a influência dos eventos da
natureza e da sociedade.
• Observar a possibilidade de predomínio de um ou de outro tipo de
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origem do evento.
• Verificar a inter-relação dos processos sociais e naturais na
produção e organização do espaço geográfico em suas diversas
escalas.
• Domínio de linguagens próprias à
análise geográfica.
• Identificar os fenômenos geográficos expressos em diferentes
linguagens.
• Utilizar mapas e gráficos resultantes de diferentes tecnologias.
• Reconhecer variadas formas de representação do espaço:
cartográfica e tratamentos gráficos, matemáticos, estatísticos e
iconográficos.
• Capacidade de compreender os
fenômenos locais, regionais e mundiais
expressos por suas territorialidades,
considerando as dimensões de espaço e
tempo.
• Compreender o papel das sociedades no processo de produção do
espaço, do território, da paisagem e do lugar.
• Compreender a importância do elemento cultural, respeitar a
diversidade étnica e desenvolver a solidariedade.
• Capacidade de diagnosticar e interpretar os problemas sociais e
ambientais da sociedade contemporânea.
• Estimular o desenvolvimento do
espírito crítico
• Capacidade de identificar as contradições que se manifestam
espacialmente, decorrentes dos processos produtivos e de consumo.
Neste trabalho a competência em discussão corresponde ao Domínio de
linguagens próprias à análise geográfica que envolve habilidades de reconhecimento e
leitura de fenômenos nas suas mais variadas formas de representação como os mapas. A
categoria de análise e interpretação de mapas outrora foi confundida com a mnemônica
de atributos da paisagem como o relevo, rios, cidades, continentes. De fato, o domínio e
compreensão de uma linguagem esta relacionado à interpretação e a compreensão de
elementos gráficos empregados para a identificação e localização dos atributos da
paisagem em um mapa, e ainda, compreender as distorções contidas projeção
cartográfica empregada como base para a espacialização dos dados (variáveis) plotados.
Acatando as orientações para o ensino médio propostas pelo MEC (2006) a Secretaria
da Educação do Estado de São Paulo - SEE/SP (2010) através de suas ações de
planejamento e readequação pedagógica atribuiu à grade curricular para o Estado de São
Paulo através do eixo “As Ciências Humanas e suas Tecnologias” onde se encontra a
geografia. Nessa publicação (SEE/SP, 2010) são elencadas para cada série dos ensinos:
fundamental e médio, todos os conteúdos e habilidades que deverão ser trabalhados a
cada momento no decorrer do ano letivo. O conteúdo curricular foi dimensionado em
cadernos para o aluno e o professor respectivamente, um para cada bimestre de cada
série e/ou ano de estudo.
Segundo a SEE/SP (2008 p. 44-45):
O objeto central do ensino da Geografia reside, portanto, no estudo do
espaço geográfico, abrangendo o conjunto de relações que se
estabelece entre os objetos naturais e os construídos pela atividade
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humana, ou seja, os artefatos sociais. Neste sentido, enquanto o
“tempo da natureza” é regulado por processos bioquímicos e físicos,
responsáveis pela produção e interação dos objetos naturais, o “tempo
histórico” responsabiliza-se por perpetuar as marcas acumuladas pela
atividade humana como produtora de artefatos sociais.
Para abordar o espaço geográfico a SEE/SP (2008, p. 45) sugere diferentes
dimensões em diferentes escalas que estudadas e compartimentadas não podem perder o
sentido do todo, do conjunto e das inter-relações dos componentes presentes no espaço
geográfico em especial de seus agentes, daqueles que os constituem. Para isso, propõe a
estruturação dos conceitos nas dimensões: território, paisagem, lugar e educação
cartográfica. A educação cartográfica propõe para o aluno que um processo de
alfabetização cartográfica buscando a capacitação para a compreensão, entendimento e
reflexão na leitura de mapas. O conteúdo para o ensino médio é distribuído em três
séries, onde direcionarei atenção aos conteúdos e habilidades propostos para o ensino na
1a série do ensino médio apontados para o 1º bimestre organizados no quadro 2
conforme SEE/SP, 2009:
Quadro 2: Conteúdos e as Situações de Aprendizagem - 1ª série do Ensino Médio (SEE/SP).
Conteúdo Situações de Aprendizagem
Cartografia e poder Situação de Aprendizagem 1 – Os elementos que constituem os mapas: os
recursos, as escolhas e os interesses.
• As projeções cartográficas
• As técnicas de sensoriamento
remoto
Situação de Aprendizagem 2 – O sensoriamento remoto: a democratização
das informações
Geopolítica do mundo
contemporâneo Situação de Aprendizagem 3 – Geopolítica: O papel dos Estados Unidos e A
Nova “Desordem” Mundial
• A nova desordem mundial
• Conflitos regionais Situação de Aprendizagem 4 – Os Deserdados na Nova Ordem Mundial: As
Perspectivas de Ordem Mundial Solidária.
Habilidades
• Reconhecer, na linguagem cartográfica e nos produtos do sensoriamento remoto, formas indispensáveis para
visualizar fenômenos naturais e humanos segundo localizações geográficas;
• Interpretar o mapa segundo os elementos que o compõem, considerando projeção, escala, métricas e
linguagem;
• Aplicar recursos cartográficos na leitura e na confecção de mapas, como meio de visualização sintética da
relação entre realidades geográficas distintas;
• Analisar códigos e símbolos da linguagem cartográfica, utilizando recursos gráficos de qualificação, de
quantificação e de ordenação, de modo a evitar falsas imagens e erros cartográficos;
• Analisar a cartografia e as imagens do sensoriamento remoto como representações que dão acesso a
interpretações da realidade, mas que não são cópias da realidade;
• Relacionar a construção de mapas às suas intencionalidades e discutir a influência da cartografia como
instrumento de poder • Utilizar variáveis visuais de qualificação, quantificação, ordenação e movimento, de
modo a evitar erros cartográficos
• Identificar as funções dos produtos do sensoriamento remoto como meios para a realização do
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4959
geoprocessamento e da produção cartográfica;
• Aplicar o conceito de ordem mundial considerando as diferentes formas de poder entre as nações • Identificar,
definir e classificar as diferentes potências e superpotências e seu papel na ordem mundial • Identificar as
possibilidades de tratamento cartográfico de fatos, situações, fenômenos e lugares representativos do mundo
globalizado;
• Analisar as raízes histórico-geográficas do conceito de geopolítica;
• Analisar situações representativas da ordem mundial contemporânea e do papel exercido pelas potências
hegemônicas na manutenção do sistema mundial vigente.
O domínio da linguagem cartográfica é de grande importância nos momentos
atuais, Passini (2012, p. 42) considera que é dever da escola objetivar e proporcionar o
“[...] desenvolvimento das potencialidades de ler o espaço e sua representação como
meio de desenvolver a autonomia [...]” deste modo o aluno poderá “[...] integrar-se no
espaço sociocultural ao fazer leituras do espaço [...]” onde vive. Mais uma vez, retomo a
observação de Ponstuschka; Paganelli; Cacete (2009, p. 325) sobre as dificuldades que
os alunos possuem para a interpretação de mapas dispostos em provas como o ENEM.
Acredito que a partir da análise que pretendo a respeito do material oferecido, poderei
contribuir na abordagem dos temas relacionados à geografia transmitidos por intermédio
de mapas.
Os conteúdos e habilidades no quadro 2 permitem o resgate e aprofundamento
das habilidades e competências interpretativas oriundas da etapa da cartografia escolar
correspondente à linguagem cartográfica distribuída nas séries do ensino fundamental.
Esse recorte permite sondagem e consequentemente a retomada e aprofundamento da
alfabetização e da sintaxe cartográfica.
3 – INSTRUMENTOS DIDÁTICOS MEDIADORES.
Esse trabalho traz inferências e analises no material oferecido às escolas da rede
pública do Estado de São Paulo. Os discentes e professores recebem livros e apostilas
oferecidos por duas estruturas governamentais:
• MEC – Mistério da Educação do Governo Federal;
• SEE/SP – Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.
3.1 – MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4960
Conforme o publicado no Diário Oficial da União do dia 17 de abril de 2006 o
ministro da educação Fernando Haddad determinou através da Portaria número 907, de
13 de abril de 2006 o resultado das avaliações dos Livros Didáticos dos Componentes
Curriculares de História e Geografia, realizadas no âmbito do Programa Nacional do
Livro para o Ensino Médio - PNLEM/2007. Segundo consulta ao portal eletrônico do
MEC o PNLEM prevê a distribuição de livros didáticos para todos os alunos regulares
do ensino médio das escolas públicas.
O PNELEM está de acordo com a Resolução nº 38 com o Fundo Nacional de
Educação - FNDE, que define o atendimento, de forma progressiva, regulamentando
uso do erário público para aquisição de livros para os alunos das três séries do ensino
médio de todo o Brasil. O portal do MEC relata que 2008, foi o ano que pela primeira
vez ocorreu escolha de livros para geografia. A escolha do livro didático para o ensino
médio ocorre nas unidades escolares onde os professores de geografia e o coordenador
pedagógico, selecionam o livro mais adequado à unidade escolar dentre os livros
aprovados na citada portaria 907. Após a análise do material, os professores
efetivamente concursados da unidade escolar de comum acordo apontaram o livro
sugerido de volume único de autoria de João Carlos Moreira José Eustáquio de Sene da
editora Scipione. Em 2010 os professores foram mais uma vez consultados e nesta
oportunidade foi levada em consideração que o volume e peso dos materiais
pedagógicos oferecidos aos alunos poderiam ser minimizados se optássemos pela
mesma obra particionada em três volumes, cada qual, correspondente a uma série do
ensino médio.
O professor recebe livro didático semelhante ao material cedido ao aluno,
chamado de “manual do professor” que traz elementos regulamentadores dispostos nos
autos curriculares federais os mesmos que estabelecem as diretrizes estaduais.
O material é rico em: referências de apoio bibliográfico, endereços eletrônicos
para pesquisa, traz respostas e resoluções de exercícios. Ele ainda propõe conduta das
aulas, apresenta formas de avaliação. Apresenta o conteúdo para cada um dos três
volumes integrantes da coleção. O livro didático proposto para o primeiro ano os
autores o descrevem (SENE; MOREIRA, 2011):
Abrindo a coleção, o primeiro volume se inicia com o estudo dos
fundamentos da cartografia, pois o conhecimento da linguagem
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4961
cartográfica é muito importante para a leitura de mapas, plantas e
gráficos que aparecem nos três volumes. Em seguida são estudados os
temas da geografia física: estrutura geológica, relevo, solo, clima,
hidrografia e vegetação, de forma encadeada, para facilitar o
entendimento da dinâmica do funcionamento da natureza, assim como
sua relação com a sociedade e os crescentes desequilíbrios ecológicos:
efeito estufa, chuvas ácidas, desmatamentos, erosões etc. Este volume
é concluído com o estudo das conferências internacionais sobre o
meio ambiente, destacando a importância do desenvolvimento
sustentável.
O primeiro parágrafo da citação acima está de acordo com o meu trabalho. Sene
e Moreira (2011) descrevem a importância da compreensão e domínio da linguagem
cartográfica para compreensão das informações que os mapas carregam dentro de cada
um dos três volumes da coleção. Para abrir a primeira unidade que compreende os
fundamentos cartográficos Sene e Moreira (2011, p. 15) atentam para uma frase do
educador Paulo Freire que disse que “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”,
e a confecção de mapas de acordo com Raisz (1969, p. 7) precede à escrita. A primeira
unidade do volume 1 “Fundamentos de cartografia” está estruturada conforme o quadro
3:
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4962
Quadro 3: Unidade 1 – Fundamentos de cartografia - Moreira e Sene (2011).
MATERIAL COMUM (ALUNO/PROFESSOR) MANUAL DO PROFESSOR
Capítulo 1 – Planeta terra: coordenadas, movimentos e
fusos horários.
• Formas de orientação;
• Coordenadas geográficas;
• Movimentos da Terra e estações do ano;
• Horário de Verão.
• Compreendendo conteúdos;
• Desenvolvendo Habilidades;
• Pesquisa na internet.
Capítulo 2 – Representações cartográficas, escalas e
projeções.
• Representação cartográfica;
• Escala e representação cartográfica;
• Projeções cartográficas;
• Visões do Mundo.
• Compreendendo conteúdos;
• Desenvolvendo Habilidades;
• Pesquisa na internet.
Capítulo 3 – Mapas temáticos e gráficos.
• Cartografia temática;
• Gráficos.
• Compreendendo conteúdos;
• Desenvolvendo Habilidades;
• Pesquisa na internet.
Capítulo 4 – Tecnologias modernas utilizadas pela
cartografia.
• Sensoriamento remoto;
• Sistemas de posicionamento e navegação por satélites;
• Sistemas de Informações Geográficas.
• Compreendendo conteúdos;
• Desenvolvendo Habilidades;
• Pesquisa na internet.
• Testes e questões. • Testes e questões – gabaritos e
resoluções.
O MEC (2006, p. 9) deixa claro que “cabe à equipe docente analisar e selecionar
pontos que merecem aprofundamento” para isso sustentou as práticas educativas através
da proposição de orientações curriculares e do plano nacional de distribuição de livros
didáticos a professores e alunos, nesse entremeio a SEE/SP propôs uma releitura das
orientações curriculares proposta pelo MEC e apresentou outro plano com as adaptações
que julgou necessária e ainda elaborou um conjunto de apostilas para educação e ensino
nas escolas públicas.
3.2 – SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO.
A Secretaria da Educação do estado de São Paulo desde 2009 distribui a todos os
alunos da rede estadual material apostilado para cada disciplina oferecida. O conteúdo
foi diluído em quatro apostilas correspondentes a cada um dos quatro bimestres. O
professor também recebe o manual de orientações onde estão descritas as competências
e habilidades que deverá desenvolver a partir das situações de aprendizagem de cada
caderno. As situações de aprendizagem correspondem a uma subdivisão do conteúdo de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4963
cada caderno. No quadro 2 organizei uma síntese de conteúdos e habilidades
pretendidos para o primeiro bimestre com os alunos da primeira série do ensino médio.
O conteúdo distribuído conforme as situações de aprendizagens procura levar ao aluno
uma gama de habilidades que por sua vez estão intrinsicamente ligadas ao conteúdo
apontado no quadro 3 disposto no livro didático de Sene e Moreira (2011).
4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
As pesquisas a respeito da cartografia e ensino ocorrem no Brasil desde década
de 1970 através de contribuições das professoras: Lívia de Oliveira (1978), Tomoko
Paganelli (1985), Rosângela Doin de Almeida (2002, 2007) e Maria Elena Simielli
(1986, 1996) (CASTELLAR, 2011 p. 125). Por volta da década de 1980 começam a
concretizar modelos de processos de comunicação cartográfica que através dos signos
cartográficos (semiologia gráfica), expressaram a relação entre o cartografo e o leitor a
partir de dados reais onde os símbolos devem ser compreendidos como se fossem
palavras daí determinação da linguagem cartográfica (CASTELLAR, op. cit.).
A alfabetização cartográfica possibilita o leitor “entrar no mapa” através da
interpretação de sua escrita onde ocorre a apropriação e leitura elementos indicados por
Castellar (2011, p. 122) como a dimensão territorial imbuída da produção espacial bem
como sua localização no espaço e tempo. Essas habilidades extremamente complexas
envolvem um processo de alfabetização cartográfica continua inter-relacionada a
matemática, história e a arte. Para isso, primeiramente o professor terá de ser
capacitado, deverá compreender o processo, senão de nada adiantará as diversas
“instruções” compreendidas nos manuais e/ou livros do professor. Se não houver
entendimento e/ou compreensão daquilo que se faz, de como se trata o conteúdo e o
desenvolvimento das habilidades propostas, a cartografia escolar e suas propriedades de
saber e ensino serão reduzidas a atividades individuais quebrando o processo de
alfabetização cartográfica no âmbito global.
Retomando as projeções cartográficas, em trabalho anterior, Scalzitti (2011)
aponta que a leitura e a interpretação de mapas temáticos dispostos sobre as grandes
formas que o contorno terrestre apresenta nas projeções cartográficas é o caminho para
contestar e desconstruir a soberania dos povos do hemisfério norte e assim possibilitar a
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4964
inserção do leitor no contexto de participação econômica na esfera mundial. Mais uma
vez, os mapas que apresentam os temas, quando empregados em escala global
distribuem e localizam informações (temas) onde as distorções representadas pelas
projeções cartográficas são agentes (re)significadores dos temas transportados sobre sua
base. Assim, o leitor de mapas não percebe essa transparência por não estar imbuído de
senso crítico para tal.
A prática do ensino da cartografia escolar permite a reorganização curricular
envolvendo aplicação de conteúdos e o desenvolvimento de habilidades cartográficas no
leitor de mapas. A experiência docente amparada por aperfeiçoamento continuado é a
grande solução para a coesão de ensino de mapas. O espaço para discussão vem
provocar novas elucubrações para esse grande tema que apresenta movimento constante
assim como as linguagens dispostas nos veículos midiáticos.
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Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas, 2010.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4967
ENTRE AS GRADES: COMO A ESTRUTURA CURRICULAR
CONTRIBUI PARA A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DO PROFESSOR
DE GEGRAFIA?
Lucas Ferraz Frauches Carvalho1
RESUMO:
O presente artigo tem como objetivo entender, em primeiro lugar, o processo formativo dos
professores de geografia ao longo do tempo, ou seja, como e com que intencionalidade eles
foram formados, traçando uma breve história dos cursos de licenciatura em Geografia.
Posteriormente, será averiguado em que medida as diretrizes curriculares, instituída no ano 2002
pela Resolução CNE/CP, modificaram a estrutura dos cursos das Universidades do estado do
Rio de Janeiro (UFRJ, UFF, UERJ- Maracanã e PUC- RIO) ao distinguir a formação do
geógrafo do professor de geografia com o ideal de criar não só uma nova identidade
profissional, mas também uma nova identidade para a própria geografia. Para tal utilizamos a
metodologia comparativa sobre os princípios apontados pela Educação Comparada (Mattheou,
2012), isto é, buscamos direcionar nosso olhar analítico para as universidades selecionadas, um
olhar multifocal onde as características de cada uma sejam representadas e compreendidas em
seus respectivos contextos, ao fim de evitar uma análise obscura e opaca.
PALAVRAS CHAVE: Currículo; Formação de Professores; Identidade do Professor.
INTRODUÇÃO
O texto aborda o tema da formação do professor de Geografia visando à reflexão
e à comparação dos cursos de Licenciatura em Geografia da UERJ, UFF, UFRJ e PUC.
Para tanto, será apresentado um panorama histórico sobre o ensino de geografia no
Brasil, discutindo, dessa maneira, o currículo da geografia e como o Professor estava
inerente nesse processo de formação, em seguida, serão analisados as mudanças nas
diretrizes curriculares, suas principais transformações e a influência que as mesmas
tiveram para a formação dos professores. Esse trabalho terá como objetivo a
compreensão dessas mudanças curriculares, entendendo como elas contribuíram para
que as Universidades atingissem os objetivos requisitados e necessários para a
construção de um futuro professor que desempenhe um papel intelectual na escola, uma
função de educador com uma prática teoricamente orientada (Práxis).
1 UNICAMP;[email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4968
Será apresentada também, a discussão que se tem atualmente com relação à
resolução CNE/CP de 2002 em que o antigo currículo conhecido como “3+1”, nos três
primeiros anos são cursados disciplinas específicas da ciência geográfica e no ultimo
ano da graduação são cursadas as disciplinas pedagógicas, se transforma para um
modelo em que disciplinas pedagógicas e práticas são distribuídas ao longo do curso de
Licenciatura em Geografia na tentativa de articular os conhecimentos geográficos com
os pedagógicos, ou seja, em “1”.
A Combinação entre conhecimentos específicos da ciência geográfica e da
ciência da educação se constitui como primícias da mudança do curso de Licenciatura
em Geografia. Contudo, o que se pretende verificar é se houve uma integração entre
teoria e prática ou se a mudança foi apenas de cunho organizacional. Será verificado se
as mudanças curriculares contribuíram para que as Universidades construam junto aos
seus licenciandos uma Identidade de professor, entendendo é claro, que tal Identidade
está em constante transformação, entretanto considera-se que as Universidades
desempenham um papel de extrema importância nesse processo de formação que é
social, por isso colocamos esse diagnóstico com um dos nossos objetivos dentro desse
trabalho.
UMA ANÁLISE HISTÓRICA DAS DIRETRIZES CURRICULARES
O primeiro curso universitário de geografia nasceu na Universidade de São
Paulo no ano de 1934 e, no ano seguinte, na Universidade do Distrito Federal, atual
Universidade Federal do Rio de Janeiro, no ano de 1935. Este “atraso” em relação aos
cursos de geografia acadêmicos europeus se deve ao fato de que até o século XIX os
conhecimentos geográficos ensinados nos estabelecimentos educacionais brasileiros não
estavam suficientemente organizados a ponto de se poder estabelecer uma disciplina
escolar específica (ROCHA, 2000). Contudo, Santos (2002, p. 133) afirma que: “Nós,
no Brasil, temos uma tradição institucional de reproduzir os currículos de Geografia tal
como apareceram na década de 1930.” para ele “Os testemunhos históricos mostram
que o currículo construído na Universidade de São Paulo foi copiado do índice de um
livro didático francês.” Pontuschka (1999, p. 117) ainda argumenta que o que norteou as
pesquisas das primeiras gerações de cientistas brasileiros e o trabalho pedagógico foi o
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4969
princípio da escola Francesa, principalmente da geografia de La Blache, tendo sua
maior difusão na década de 50, fase de grande influência de uma Geografia Clássica ou
tradicional.
Em 1961, já sob outra referência da Geografia, a teorético-quantitativa, foi
estabelecida a primeira lei de diretrizes e bases da educação nacional (lei nº 4024/61), a
fim de padronizar e regulamentar o ensino no país. Nesse sentido os cursos de geografia
passaram a possuir um currículo mínimo, isto é, um conjunto de disciplinas comuns
entre todos os cursos de geografia do Brasil (ROCHA, 2000). Além desta tivemos a Lei
nº 5540 de 1968 e a Lei nº 5692 de 1971. A Lei nº 5540 promoveu a primeira Reforma
Universitária, estabelecendo que além do currículo mínimo os cursos de licenciatura
deveriam conter como obrigatoriedade as disciplinas de cunho pedagógico, educação
física e estudos dos problemas brasileiros, conhecido como EPB.
Tais mudanças não estavam desarticuladas do contexto sócio histórico do final
da década de 60, em um país em que o setor Industrial assumia cada vez mais
importância na economia nacional, demandando por mão de obra qualificada na cadeia
produtiva. Assim, um dos pilares da lei nº 5692/71 foi “qualificação para o trabalho” e a
universalização da escolarização. Embora a matriz do sistema educacional continuasse
excludente, nos anos seguintes da promulgação a Lei o contingente de alunos
ingressantes no ensino regular aumentou em proporção geométrica. Já prevendo esse
crescimento e a demanda por professores, a Lei se antecipou criando os cursos de
formação de professores em apenas 2 anos de estudos, nos cursos chamados de
licenciaturas curtas. Fazia-se premente, portanto, a formação ligeira de professores para
atuarem na sala de aula. A lei nº 5692/71 impactou incisivamente duas disciplinas
escolares, a geografia e a história que foram unificadas em uma única disciplina para os
anos de 5ª a 8ª série do antigo 1ºgrau – Os Estudos Sociais
A entrada dos profissionais formados no curso de Estudos Sociais no antigo
primeiro grau (atual segundo segmento do ensino fundamental – 6 ao 9 ano), como há
de se imaginar, gerou grandes consequências dentre as quais podemos elucidar a
redução dos conteúdos de geografia a um ensino das paisagens e belezas naturais
brasileiras, ao ensino de uma geografia acrítica, porém eficiente aos propósitos do
Estado, uma vez que atendia à política de índice ao colocar mais professores em sala de
aula e contribuía para a formação de uma identidade nacional aos moldes Estatais. Tudo
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4970
isso não passara despercebido pela comunidade acadêmica, isto é, alunos e professores,
sobretudo, das Universidades públicas, além da Associação dos geógrafos brasileiros
(AGB) que protestaram contra a habilitação dos professores formados nos cursos de
Estudos Sociais para lecionar no nível do 1º grau. A ação dos professores de nível
superior foi, gradativamente, eliminando a disciplina de Estudos Sociais, que teve seus
anos de glória durante as décadas de 70 e 80, sendo extinta nos anos 90 com a
aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases, em 1996.
Apesar de algumas mudanças observadas durante essa trajetória, muito antes
disso, já em 1939, o decreto 1.190 instituía o modelo de currículo que ficou conhecido
como “esquema 3+1” que predominou por cerca de 60 anos no currículo acadêmico, ou
seja, por praticamente toda a história da formação de professores no Brasil, no qual
formava licenciados e bacharelados num mesmo curso (PEREIRA, 2000). Tal modelo,
como enfatiza Saviani (2008, p. 146), estava organizado em “3 (três) anos para o estudo
específico de cada disciplina e o último ano para a formação didática e estágios”. Este
esquema estava embasado numa compreensão técnica que se tinha da educação que
considerava os aspectos culturais-cognitivos (conhecimento específico da área) como
prioridade no aprendizado do futuro professor em contraponto ao pedagógico-didático,
visto que a formação e o preparo pedagógico seriam adquiridos com o tempo de prática
de ensino e que quanto mais se tivesse o entendimento do conteúdo da área de atuação
melhor seria a forma de “Transmissão” do mesmo (RAMIRES, 2011; SAVIANI, 2008).
Na geografia, ainda que este modelo de formação fosse valorizado do ponto de
vista do mercado, dado que o estudante de Geografia saia com a dupla possibilidade de
atuar no mercado de trabalho, tanto como Professor de Geografia e como Geógrafo, isso
tinha um “custo” que se aplicava nos cursos de licenciatura, uma vez que estavam
submetidos à lógica do bacharelado e por uma racionalidade técnica (PEREIRA, 1990).
Foi a partir dos anos 2000 que essa lógica começou efetivamente a ser alterada,
com a promulgação das diretrizes curriculares nacionais (DCN) do Conselho Nacional
de Educação (CNE) - a resolução CNE/CP, 1 de fevereiro de 2002 estipula que os
cursos de licenciatura devem ter como objetivo uma maior relação entre as ciências
específicas e a educação, uma vez que a formação do professor passou a ser considerada
como um processo muito mais complexo, no qual se valorizava a combinação de ambos
os campos (educação e áreas específicas) na organização do currículo da licenciatura,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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articulando também disciplinas teóricas e práticas. Rompia-se, assim, com um modelo
baseado no cartesianismo lógico em que a soma do conhecimento específico mais o
conhecimento pedagógico resultava num professor pronto para lidar com a prática e
complexidade da sala de aula. (CAVALACANTI, 2011).
Com uma proposta diferente e assumindo uma “roupagem” de resposta a LDB
de 96, a resolução de 2002, como elucidado por Leão (2008, p. 13), foi “resultado de
amplos debates realizados através de audiências públicas com diferentes segmentos da
sociedade”. Entretanto, Leão (2008) ainda afirma que :
apesar da consistência do texto escrito pelos pareceristas e, depois de
várias Instituições de Ensino Superior terem “implantado” as DCNs
do MEC, permaneciam a dúvida de que realmente alguma coisa
houvesse mudado nas Universidades que permitisse a comprovação de
que as licenciaturas haviam conquistado essa terminalidade e
integralidade que as diferenciassem do bacharelado.
Desta maneira, e com base nesse discurso que deu sustentabilidade às reformas,
diversas questões foram levantadas para uma melhor análise das transformações do
currículo da formação do professor de geografia.
REFORMA CURRICULAR: A RESOLUÇÃO E OS FLUXOGRAMAS.
Meu Deus! Como tudo me parece estranho hoje! No entanto, até ontem as coisas
corriam como de costume. Quem sabe me trocaram por outra criatura durante a noite?
Estudemos o caso. Será que sou a mesma Alice de ontem? Se não sou, então quem sou ?
Eis o grande problema.
Lewis Carrol
É partindo dessa crise existencial vivenciada pela Alice, de não saber a própria
identidade, na obra “infantil” de Lewis Carrol, que iniciamos as diversas questões desse
trabalho, trazendo esse texto como metáfora para a nova etapa da Geografia, e
consequentemente para a formação do Professor de Geografia, por isso colocamos
algumas questões na tentativa de respondê-las durante a análise dos projetos
pedagógicos e dos fluxogramas.
Ainda que seguindo medidas verticalizadas, os cursos de licenciatura em
Geografia conseguiram promover mudanças significativas na maneira como os alunos
(futuros professores) pensam a geografia na escola? Os cursos de licenciatura
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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conseguiram promover a práxis? Essa diferença é estabelecida apenas por acréscimo e
organização das disciplinas pedagógicas e práticas, ou as disciplinas de geografia
também possuem uma ênfase para a licenciatura diferenciada do que para o
bacharelado? E como os alunos recém-formados irão trabalhar o conteúdo geográfico
dentro das salas de aula?
Essas questões são muito mais para um objetivo a reflexão do que para
respostas. Considerando que se trata de um momento de transição, de uma diretriz de
2002 e que os cursos possuem esses novos currículos há pouco tempo, exemplificando
no caso da UFRJ em que o novo projeto pedagógico foi emitido apenas em 2006,
começando ai as transformações para as divisões do curso de licenciatura para o de
bacharelado. Nesse sentido, coloca-se para este trabalho como questão central a
influência que as diretrizes tiveram para os cursos, e se o artigo 7º da resolução CNE/CP
2002 no qual se fala que “a formação deverá ser realizada em processo autônomo, em
curso de licenciatura plena, numa estrutura com identidade Própria” de fato, influenciou
na característica dos cursos, considerando a licenciatura e sua identidade própria como
um fator de grande importância para a formação de professores de geografia que
pensam a prática pedagógica.
Parte-se do princípio que as resoluções não possuem um poder de efetivar algo,
e que seu controle se relativiza a partir das diversas esferas de poder que existem nas
Universidades, pois como afirma Santos (2004, p. 76) “Uma razão pela qual não se
pode prever completamente o resultado da ação vem, do fato de que a ação sempre se dá
sobre o meio, combinação complexa e dinâmica, que tem o poder de deformar o
impacto da ação.”
As mudanças curriculares foram medidas verticalizadas, normas instituídas pelo
governo para organização e transformação da formação dos professores, um verdadeiro
evento que se deu por diversas relações de poder que envolveu o estado junto a
professores acadêmicos normatizando as novas medidas a se tratar na licenciatura.
Assim, dentro dessa perspectiva, entende-se que todos os eventos não são homogêneos,
mas possuem características de diversidade e complexidade como enaltecido por
(SANTOS, 2004, p. 119).
Compreender a dinâmica das políticas de currículo é compreender como as
mudanças curriculares foram aderidas nas Universidades num processo de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4973
recontextualização por hibridismo, ou seja, nessa transferência de textos de um contexto
a outro envolvendo uma tradução cultural para fins de ensino em um ambiente
particular (LOPES, 2003), de fato aconteceu.
Desta forma, levantam-se questões a respeito da ordem dos fluxogramas e das
disciplinas se considerado a resolução de 2002. Como normatizado na Resolução
CNE/CP 2, de 19 de fevereiro de 2002:
Art. 1º A carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em
nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, será efetivada mediante a
integralização de, no mínimo, 2800 (duas mil e oitocentas), nas quais a articulação
teoria-prática garanta, nos termos dos seus projetos pedagógicos, as seguintes dimensões
dos componentes comuns:
I - 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular, vivenciadas ao
longo do curso;
II - 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a partir do início da
segunda metade do curso;
III - 1800 (mil e oitocentas) horas de aulas para os conteúdos curriculares de natureza
científico- cultural;
Na tabela a baixo segue a informação das horas totais de prática como
componente curricular e estágio curricular que as Universidades possuem, comparando
com o mínimo solicitado pela resolução.
TABELA I
Na tabela I é possível perceber que todas as Universidades possuem pelo menos
o mínimo das 400 horas que é exigido pelo CNE com exceção da UERJ, todas elas
possuem à risca o mínimo exigido para o estágio supervisionado. Em um olhar mais
atento, observamos que as horas das práticas pedagógicas, visualizando junto ao total de
horas oferecido pelo curso (com exceção da UFRJ que possui uma divisão praticamente
Universidades Prática como
Componente
Curricular
Estágio Curricular
Supervisionado
Total entre Práticas
pedagógicas e
Estágio
Total de horas do
curso.
UFRJ 780 horas 400 horas 1180 horas 2980 horas
PUC 580 horas 400 horas 980 horas Não disponível
UFF 580 horas 400 horas 980 horas 3244 horas
UERJ -Maracanã 580 horas 450 horas 1030 horas 4040 horas
Conselho Nacional da
Educação
400 horas 400 horas 800 horas 2800
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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igual e da PUC que não disponibiliza) correspondem a um número inferior em relação
às horas de disciplinas básicas da geografia, ou seja, essas que tem como papel fazer a
relação entre geografia e ensino, são pequenas no caso da UERJ e da UFF se
compararmos com a carga horária que possui todo o curso.
Esse fato ocorre, principalmente, porque os cursos visam facilitar a dupla
formação, a do bacharelado e da licenciatura, fazendo com que certas disciplinas sejam
fixas para as duas formações.
A tabela II possibilita a melhor visualização do número de disciplinas que são
disponibilizadas, haja vista que mesmo sendo contabilizado no CNE como oficial o total
de carga horária, o número de disciplinas já pode colocar em evidência a realidade da
diferenciação entre os números de disciplinas básicas da Geografia e de cunho
pedagógico.
TABELA II
Universidades Total de Disciplinas
Entre pedagógico-didática e
estágio
Total de disciplinas do curso
de licenciatura
UFRJ 16 (32%) 49
PUC 11 (21%) 52
UFF 11 (22%) 48
UERJ - Maracanã 19 (30%) 62
CNE Não estabelece o mínimo
necessário
Não estabelece o mínimo
necessário
Na Tabela II o número de disciplinas voltadas para o ensino não chega nem a
40% do curso. É importante enfatizar que a avaliação da carga horária é diferente da
avaliação das disciplinas, pois cada disciplina envolve um contexto diferenciado para o
aluno e a variedade de recursos na formação, ou seja, alguns cursos colocam em uma
disciplina cerca de 100 horas, não variando com uma distribuição, obviamente que não
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4975
se fala dos estágios, visto que estes ficam acumulados com uma carga horária maior,
pois não se trata de uma disciplina restrita, mas sim de uma prática nas escolas. Na
realidade o que se coloca como questão é como foi dividida a carga horária de prática
como componente curricular, exigida pela resolução.
Outro fator definido pelo CNE é a própria organização da matriz curricular:
Art. 12. Os cursos de formação de professores em nível superior terão
a duração definida pelo conselho Pleno, em parecer e resolução
específica sobre sua carga horária.
1º A prática, na matriz curricular, não poderá ficar reduzida a um
espaço isolado, que restrinja ao estágio, desarticulado do restante
do curso.
2º a prática deverá estar presente desde o início do curso e permear
toda a formação do professor.
Na Tabela III é possível verificar que há um respeito quanto à legislação,
partindo do pressuposto técnico em que as práticas pedagógicas são vivenciadas ao
longo do curso e que e estágio supervisionado se inicia na segunda metade do curso,
entretanto o que ainda se questiona é se mesmo com esses ajustes técnicos as
licenciaturas estão se ajustando na própria essência do curso e evitando o isolamento
Institucional, pois como enfatiza Ramires (2008, p.176):
(...) entendemos que a materialização na grade curricular de percursos
de aproximação com as teorias e práticas relativas ao pensar em
Geografia não são, por si só garantidoras de uma boa formação. Há
que se levar em conta que os nexos só se realizam mediante a
pesquisa. Investigação esta fundamentada em pressupostos
epistemológicos, respaldados por olhares historicamente consolidados,
amplamente discutidos na área do conhecimento, mas, no entanto, sem
engessamentos que inviabilizem novas formas do pensar. Encarando o
processo como desafio. Assim, imbuídos.
TABELA III
Universidades Período de início de práticas
pedagógicas
Período de início do estágio
supervisionado
UFRJ 1º período 6º período
PUC 3º período 4º período
UFF 1º período 5º período
UERJ - Maracanã 1º período 4º período
Conselho Nacional da Vivenciada ao longo do curso. A partir da segunda metade do
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4976
Educação curso.
Para Leão (2008, p.66), ainda:
Apesar de o Parecer CNE/CP 9/2001 ter defendido a superação da
oposição entre conteudismo e pedagogismo, prevalecem, em muitos
cursos, estruturas curriculares que promovem o isolamento da
disciplina Didática, geralmente, entregue à responsabilidade de um(a)
professor(a) de Pedagogia, o que constitui uma situação cômoda, pois
retira dos professores de Geografia a responsabilidade de formar o
professor.
Outro problema muito notável é que por mais que exista uma referência clara
pelo estabelecimento de uma conexão entre os saberes geográficos e pedagógicos, na
prática, como enfatizado por (LEÂO, 2008), essa responsabilidade fica na mão de um
professor. Nesse sentido, se discute qual seria a responsabilidade dos professores de
disciplinas da Geografia básica, eles possuem um dever com a formação do futuro
Professor de Geografia? Ou essa responsabilidade fica apenas com as disciplinas de
cunho didático-pedagógico? Uma disciplina como a Geografia Urbana, por exemplo,
precisa ser trabalhada de maneira diferenciada na licenciatura do que para o bacharelado
ou isso não é uma preocupação do Professor que oferece a Geografia Urbana? E ainda,
esses professores possuem uma responsabilidade para a formação da Identidade como
Professor de Geografia?
A IDENTIDADE DO PROFESSOR DE GEOGRAFIA: CONSIDERAÇÕES
FINAIS.
Começamos este tópico com uma citação de Freire (2011, p. 42):
(...) uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é
propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com
os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a
experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e
histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador,
realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar.
Assumir-se como sujeito porque capaz de reconhecer-se como objeto.
A assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros. É a
“outredade” do “não eu”, ou do tu, que me faz assumir a radicalidade
de meu eu.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4977
O fragmento acima nos remete a ideia do professor assumir seu papel dentro da
sociedade, obviamente não de uma maneira determinista, ou seja, por uma vocação. É
partindo dessa assunção, dessa construção social, que a identidade irá se formular na
própria relação humana que passa por todos os sentimentos citados por Freire e por
mais outras infinitudes que moldam nosso caráter.
Quando anteriormente levantamos questões sobre a responsabilidade dos
Professores das disciplinas de geografia básica em formar professores, talvez não seja
possível responder sem antes analisar esses próprios contextos, investindo num
diagnóstico mais profundo, por meio de entrevistas a alunos e professores. Contudo,
Freire ao enfatizar a ideia de assunção, talvez nos mostre alguns caminhos que
necessitam ser traçados para que exista uma transformação mais notória na formação
dos professores.
O filme "Nenhum a Menos" do diretor Zhang Yimou revela muito bem através
de algumas metáforas, se considerarmos uma realidade menos perversa, os problemas
que o Professor possui quando entra na sala de aula, principalmente quando o mesmo
não construiu uma identidade de professor anteriormente a essa futura jornada, e que se
vê “obrigado” a construí-la, ou não, na própria prática do cotidiano. A História que
conta o caso de uma menina muito nova que substitui um professor num pequeno
Vilarejo da China mostra as dificuldades que um professor encontra por não ter sido
preparado para a realidade de sala de aula, muito menos num contexto de extrema
pobreza. Sua formação se dá, então dentro da própria prática.
Rompermos com esse tipo de lógica é o papel da Universidade e daqueles que
estão inerentes no processo de formação dos profissionais. Nessa perspectiva é preciso
pensar a formação do professor de geografia de uma maneira mais integrada, visando
uma participação de todos os professores, pois assim como a nossa identidade, o “eu
professor” está sempre em transformação e não devemos ter medo de sempre remoldá-
lo e nos construir como seres que questionam, criticam e tentam olhar o mundo por
outras concepções que não sejam opacas e fechadas. Compreendido dessa maneira, é
possível que as Universidades inerentes no processo de conhecimento, efetivem a
própria ideia do conhecimento, do ponto de vista filosófico, esta que parte da dialética,
ou seja, da desconstrução e da construção do saber. É necessário reconstruir o discurso,
saindo do velho, não perdendo, é claro, sua essência, mas se abrindo para que outras
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4978
possibilidades possam ser construídas, forjando a própria Identidade do Professor de
Geografia. Pois como coloca Pimenta (2002, p.6)
A Identidade não é um dado imutável. Nem externo, que possa ser
adquirido. Mas, é um processo de construção do sujeito
historicamente situado. A profissão de professor, como as demais,
emerge em dado contexto e momento históricos, como resposta a
necessidades que estão postas pelas sociedades, adquirindo estatuto de
legalidade.
É necessário que os cursos de licenciatura criem suas próprias identidades dentro
das Universidades, visto que isso só pode acontecer a partir da reforma curricular
articulada, pensada, debatida e implementada de acordo com as suas próprias demandas,
ou seja, um movimento curricular endógeno e não a partir de decretos-lei. Existe uma
necessidade de que a licenciatura em geografia crie sua Ethos, seu lugar, sua identidade
dentro das Universidades. Isso só ocorrerá quando na reflexão dos acadêmicos junto aos
professores da educação e aos professores que estão em prática no cotidiano de sala de
aula. Só através desse diálogo que a didática dentro das Universidades não será uma
extensão da geografia que predomina e que considera as disciplinas didático-
pedagógicas de maneira complementar e tecnicista em contraponto ao curso como se
fazia com o modelo “3+1”.·.
Ainda assim, é preciso discutir outras questões que também envolvem o temor
de muitos estudantes da graduação na divisão do curso e na independência da
licenciatura, pois se considera a dificuldade das condições de trabalho que os
professores sofrem e na remuneração deficitária promovida por políticas de educação
frágeis e incapazes de instituir uma mudança realmente satisfatória ao contexto
brasileiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Ministro sobre parecer CNE/CP 009/2001: Diretrizes Curriculares nacionais para a
Formação de professores da Educação básica, em nível superior, curso de
licencatura, de graduação plena.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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TATHAM, G. A geografia do século XIX. Boletim Geográfico, IBGE, 1959 (ano
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4980
POSSIBILIDADES NA FORMAÇÃO DOCENTE – CONTRIBUIÇÕES
DO NÚCLEO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENÇÃO GEOGRÁFICA
ÀS PRÁTICAS DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO.
André Santos da Rocha1
Regina Cohen Barros2
Leandro Dias de Oliveira3
RESUMO
Este trabalho tem o objetivo de apresentar reflexões teóricas sobre o papel da disciplina Núcleo
de Ensino, Pesquisa e Extensão Geográfica (NEPE’s) - que foi incorporada às bases da
formação dos licenciandos de Geografia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro –
UFRRJ, como suporte teórico e prático na articulação dos conceitos chaves e metodológicos da
ciência geográfica com a transposição didática e prática de docentes na educação básica.
Destacamos a importância do Estágio Supervisionado na consolidação e aprendizagem de ações
para futuros professores vislumbrando no âmbito dos NEPE’s possibilidades de consolidar
saberes e práticas necessárias no auxílio da produção do saber geográfico escolar.
PALAVRAS-CHAVE: Formação de Professores; Estagio Supervisionado; NEPE’s.
INTRODUÇÃO – LEITURAS NA FORMAÇÃO DOCENTE EM GEOGRAFIA.
As indicações sobre a formação docente não são recentes, seja na concepção de
suas filosofias ou metodologias pedagógica (Nóvoa, 1995). Lana Cavalcanti (2003)
aponta desafios na formação deste docente, em especial o da geografia, pois esta
disciplina no âmbito escolar se depara com racionalidades que extrapolam a
circunscrição da sala de atual e seus conhecimentos.
Entendemos que o conhecimento escolar possui um domínio próprio e que este
não se revela como “resumos” de conhecimentos científicos (Moraes, 2011). E que
1 Departamento de Geociências/IA - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ;
[email protected] 2 Departamento de Geociências/IA - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ
[email protected] 3 Departamento de Geociências/IA - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4981
mesmo o espaço da escola é um concebido para formar e informar (Foucault, 2009) e
as práticas educativas que se desenvolvem nela condicionam o olhar e a forma de agir
dos sujeitos sobre o Mundo (Zabala, 1998).
A geografia enquanto uma disciplina escolar possui como fundamento formar
uma visão espacial de mundo, e possibilitar a formação do cidadão com essa
consciência. A geografia é uma ciência que se preocupa em analisar e refletir sobre a
dinâmica sócio-espacial: estuda, pondera, analisa, reflete, infere, correlaciona e
interpreta as múltiplas relações entre os homens no espaço, entre os homens e a natureza
e os inúmeros produtos destas relações. Portanto, múltiplos são os resultados, os
profissionais, os olhares e múltiplas são as geografias. É tarefa do profissional geógrafo
(seja bacharel ou professor) despertar no cidadão/aluno o olhar geográfico sobre o
espaço. Isto implica em observar, analisar e interpretar a dinâmica do espaço per si e a
dinâmica da sociedade no e sobre o espaço.
A partir da própria natureza da geografia em seus princípios básicos como
localização, extensão, posição, sítio e outros elementos (Moreira, 2007), somados a
gama de fatores este horizonte espacial abarca [natural, social, econômico, político etc.]
entendemos que a formação do professor de geografia deve passar a perceber que o
conhecimento se revela em complexidade (Morin, 2006).
Por esse motivo, entendemos que a formação do professor não se limita a concepção de
técnicas de observação e exposição de conteúdos contidos no âmbito do Estágio
Supervisionado, devemos privilegiar elementos que versem pela: indissociabilidade
entre ensino e pesquisa, integração: teoria e prática, interdisciplinaridade,
interculturalismo e o trabalho com as tecnologias da informação e da comunicação
(Cavalcanti, 2003).
Nesta leitura, pensamos que a formação do professor de geografia deve
privilegiar o conhecimento em complexidade e que seja capaz de promover uma
educação geográfica de emancipação dos sujeitos ao fornecer a capacidade dos mesmos
em ler suas próprias práticas sociais, entender a produção do espaço (Lefbvre, 1982) e
intervir nesse processo quando necessário (Santos, 1996).
Neste direcionamento é que apresentamos as experiências no âmbito do conjunto
de disciplinas do Núcleo de Ensino Pesquisa e Extensão – NEPE’s. Para isso se faz
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4982
necessário explicar a natureza desta disciplina e quais são suas contribuições na
formação dos futuros docentes.
NATUREZA DO NEPE’S - ORGANIZAÇÃO E CONTRIBUIÇÃO NA
FORMAÇÃO DOCENTE.
O Núcleo de Ensino Pesquisa e Extensão correspondem ao um conjunto de
quatro atividades Acadêmicas [AA’s] criadas no contexto da reforma das licenciaturas
na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro [UFRRJ] se constituindo como
obrigatórias para os cursos de licenciatura.“Criação das Atividades Acadêmicas -
Núcleos de Ensino, Pesquisa e Extensão, bem como os Estágios Supervisionados, que
deverão ser inseridos na matríz curricular a partir do 5º período da matriz
curricular”. ( CEPE – Deliberação Nº 138/2008).
O projeto Político Pedagógico dos Cursos de Licenciatura terá
um núcleo de disciplinas de formação pedagógica comum a todas
as Licenciaturas (300 h ou 330 h); um núcleo de Pesquisa e
Prática Pedagógica que objetiva articular teoria-prática e promover a
formação para a pesquisa e a extensão, constituído de no mínimo, uma
disciplina de prática pedagógica específica de 60 horas, Núcleos
de Ensino, Pesquisa e Extensão (120 h), Monografia (120 h),
Estágio Supervisionado (400 h) e por Atividades Acadêmicas
Complementares (200 h),....”; ( CEPE – Deliberação Nº 138/2008).
Os Núcleos de Ensino, Pesquisa e Extensão constituem
atividades acadêmicas que têm como objetivo geral a articulação
dos conhecimentos das áreas específicas com a abordagem
pedagógica enfatizando os processos/práticas de ensino-
aprendizagem no ambiente escolar, tendo como característica a
articulação entre ensino, pesquisa e extensão. Esta componente
curricular deverá resultar em artigos para publicação em Revista
Acadêmica (periódicos) ou de caráter Educacional, a ser criada
pela Instituição, apresentação pública de projetos e trabalhos na
forma de painéis ou apresentações orais em Semanas Acadêmicas
Anuais e produtos didático-pedagógicos como softwares, kits e
materiais, aplicando os recursos das Tecnologias da Informação e
Multimídia (TICs) como vídeos, programas de rádio e TV,
hipertextos, comunidades virtuais de aprendizagem “ (CEPE -
Deliberação Nº 138/2008).
Essas são oferecidas a partir do 5ª período do curso e é concomitante a práticas
dos Estágios supervisionados. Os NEPE’s foram concebidos como suporte teórico e
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4983
prático na articulação dos conceitos chaves e metodológicos a com a transposição
didática e prática de docentes na educação básica.
Os cursos de licenciatura da UFRRJ puderam construir a forma organizativa
essas AA’s, respeitando o campo de suas atribuições científicas.
Os NEPE’s da licenciatura em Geografia ocorreu por parte dos autores, que
constituem a comissão especial destas AA’s, em diálogo com professores no
Departamento de Educação. É importante destacar que estas foram pensadas em um
constante diálogo com os Estágios supervisionados.
Destacamos a importância do Estagio na consolidação e aprendizagem de ações
para futuros professores vislumbrando no âmbito dos NEPE’s possibilidades de
consolidar saberes e práticas necessárias no auxílio da produção do saber geográfico
escolar.
Os NEPE’s, enquanto Atividades Acadêmicas não se limitam a organização fixa
“das disciplinas tradicionais”. Seu funcionamento acontece em formatos de reuniões de
discussão com alunos onde são feitas reflexões teóricas sobre as experiências docentes
no âmbito do Estagio Supervisionado e se propõe uma avaliação crítica de materiais
didáticos e se estabelecem metas para uma elaboração materiais auxiliares ao ensino de
geografia e seus temas transversais. Materiais que são utilizados para melhoria da
educação pública que são disponibilizados por intermédio dos alunos aos professores da
rede pública no contato com o Estagio Supervisionado.
A apresentação desta reflexão dos alunos é feita de forma que consigamos
garantir as indissociabilidade entre ensino e pesquisa, integração teoria e prática,
interdisciplinaridade, interculturalismo e o trabalho com as tecnologias da informação
e da comunicação que Lana Cavalcanti (2003) propõe. Destacamos que como são
ministradas pelo departamento de Geociências, onde está lotado o curso de geografia e
os professores do núcleo básico de sua formação, as estruturas de debate perpassam ao
rigor e métodos da geografia que dão solidez a formação do professor não privilegiando
áreas, mas percebendo as múltiplas possibilidades da formação do futuro docente.
De forma geral, os NEPE’s na licenciatura em geografia são organizados da
seguinte maneira:
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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[1] NEPE I – Busca fazer uma leitura crítica dos conceitos chaves do ensino de
Geografia e da forma como são apresentados didaticamente;
[2] NEPE II - Objetiva estabelecer a transposição didática das disciplinas do curso para
o ensino de geografia regional do Brasil.
[3] NEPE III - Tem como nucleação o reconhecimento da diversidade e diferença em
Geografia – Raça, Gênero e Minorias – Geograficidade Africana.
[4] NEPE IV - Engloba as aproximações da temática da relação Sociedade-Natureza
no Ensino de Geografia.
PAPEL DOS ESTÁGIOS NO CURSO DE GRADUAÇÃO DE LICENCIATURA
EM GEOGRAFIA:
“ O propósito dos estudos destes campos é nortear a observação,
análise, execução e avaliação do ato docente e de suas repercussões ou
não em aprendizagens, bem como orientar práticas de gestão de
processos educativos escolares e não escolares, além da organização,
funcionamento e avaliação de sistemas e de estabelecimentos de
ensino(Parecer CNE/CP n.5/2005,p.6)
Os estágios supervisionados eram propostos presos a uma única disciplina
chamada Prática de Ensino e colocados no final dos cursos de formação docente, com
carga horária de 200h. Hoje, os estágios supervisionados passaram a ter uma outra
concepção e foram propostos para apresentam-se a partir do meio/metade dos cursos
possuindo carga horária de 400h, buscando uma integração entre a teoria e a prática na
formação do novo professor. Segundo (Carvalho,2012,p.6), se a relação teoria - prática
é importante na construção do conteúdo específico, essa mesma relação torna-se
imprescindível quanto ao domínio dos saberes pedagógicos e integradores. Agora a
prática se dá na escola, nos estágios dos cursos de graduação, nos quais os professores
vão procurar estabelecer um vínculo bastante forte entre o saber e o saber fazer”(...) Os
estágios, nessas novas propostas, devem perpassar assim todas as disciplinas
pedagógicas e integradoras, não ficando somente sob a responsabilidade dos professores
das práticas de ensinou metodologias de ensino dos conteúdos específicos...
Os Estágios Supervisionados no Curso de Licenciatura em Geografia
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4985
(1) ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM GEOGRAFIA I - AB 322 - (100H)
Será realizada a orientação dos alunos nas atividades do Estágio sendo estas:
Observação do contexto escolar (escola: localização e entorno; quem é o professor:
formação, expectativas de ensinar e de aprendizagem; quem são os alunos: presentes na
sala onde o estágio é realizado bem como da escola). Elaboração e preenchimento da
ficha diagnóstica (Referencial teórico: Carvalho, 2012; Estrela, 1994 ).
(2) ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM GEOGRAFIA II - AB 323 - (100H)
Será realizada a orientação dos alunos nas atividades do estágio nas instituições
formais de ensino ligadas ao Ensino Fundamental, voltada para observação e entrevista
junto ao docente e alunos, compreendendo as seguintes ações:
a) A respeito do docente: o planejamento de sua aula;, o tempo dedicado a cada
processo; observação do encaminhamento da aula pelo professor (materiais
usados, metodologia, como constrói os argumentos com os alunos, as sequências
de atividades pedidas, as respostas dos alunos, os instrumentos de avaliação);
b) A respeito dos alunos: como os alunos participam (perguntas realizadas, se são
respondidas, observação geral do processo de entendimento do aluno acerca do
conteúdo e conceito trabalhado, a interação com os colegas bem como com o
docente). (Referencial bibliográfico: Zabala, 1998)
(3) ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM GEOGRAFIA III - AB 324 - (100H)
Será realizada a orientação dos alunos nas atividades do Estágio, sendo estas:
a – leitura e análise dos PCN (orientação geral, princípios bem como da
Geografia). Total: 20 horas;
b- leitura e análise dos documentos oficiais sobre a avaliação nacional e
internacional. Total: 20 horas;
c- elaboração dos relatórios de Estágio: realização de atividades na forma de
relatório a ser definido pelo professor-orientador da disciplina. Total: 60 horas.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4986
A avaliação será realizada por meio da apresentação das análises realizadas
sobre a pesquisa, que será formatada com o apoio do professor.
(4) ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM GEOGRAFIA IV- AB 325-(100H)
Será realizada a orientação dos alunos nas atividades do Estágio, sendo estas:
a – leitura e análise dos PCN (orientação geral, princípios bem como da
Geografia). Total: 20 horas;
b- leitura e análise dos documentos oficiais sobre a avaliação nacional e
internacional. Total: 20 horas;
c- elaboração dos relatórios de Estágio: realização de atividades na forma de
relatório a ser definido pelo professor-orientador da disciplina. Total: 60 horas.
A avaliação será realizada por meio da apresentação das análises realizadas
sobre a pesquisa, que será formatada com o apoio do professor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS - UM ALGO A MAIS NA CONCEPÇÃO DA
FORMAÇÃO PARA ALÉM DO ESTÁGIO.
A educação tem papel fundamental na compreensão das transformações do
mundo contemporâneo e na preparação e formação de cidadãos conscientes. Cabe a nós
docentes, buscarmos a construção de um ensino que atenda a essas exigências,
principalmente no que se refere à formação de professores. A Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (Lei n°9394/96) é a principal referência para a formulação das
mudanças propostas, na medida em que estabelece os princípios e as finalidades da
Educação Nacional como sendo dever do Estado.
Os NEPE’s, enquanto Atividades Acadêmicas não se limitam a organização fixa
“das disciplinas tradicionais”. Seu funcionamento acontece em formatos de reuniões de
discussão com alunos onde são feitas reflexões teóricas sobre as experiências docentes
no âmbito do Estagio Supervisionado e se propõe uma avaliação crítica de materiais
didáticos e se estabelecem metas para uma elaboração materiais auxiliares ao ensino de
geografia e seus temas transversais. Materiais que são utilizados para melhoria da
educação pública que são disponibilizados por intermédio dos alunos aos professores da
rede pública no contato com o Estagio Supervisionado. Segundo Cavalcanti (p.14-15,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4987
2002) os objetivos da Geografia já caminham por si só algumas reflexões sobre os
conteúdos a serem trabalhados na sala de aula. Afinal, os conteúdos são instrumentos e
a escolha desses instrumentos vai depender de sua utilidade para os alunos. Então, o
objetivo é o de formar raciocínio espacial; formar esses raciocínios é mais que localizar,
é entender as determinações e implicações das localizações, e isso requer referências
teórico-conceituais. A partir da própria natureza da geografia em seus princípios básicos
como localização, extensão, posição, sítio e outros elementos somados a gama de
fatores este horizonte espacial abarca (natural, social, econômico, político), entendemos
que a formação do professor de geografia deve passar a perceber que o conhecimento se
revela em complexidade, na interdisciplinaridade na teoria-prática, assim como os
NEPEs e Estágios Supervisionados.
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4990
ENSINO DE GEOGRAFIA: UMA PROPOSTA A PARTIR DO
QUEBRA-CABEÇA
Rosiane Correa Guimarães1
Polliana Bezerra de Oliveira2
Odelfa Rosa3
RESUMO
O ensino de geografia proporciona aos alunos a compreensão da realidade na qual
vivem, além disso, propicia desenvolver noções espaciais necessárias à vida em sociedade,
sendo fonte de compreensão para romper com a alienação. Tomando esses aspectos com análise
surge o interesse em investigar quais as ações desenvolvidas pelos professores de Geografia
para despertar o interesse dos alunos. O objetivo desta pesquisa é refletir sobre os recursos
didático-pedagógicos que os professores de Geografia utilizam em sala de aula para estimular os
alunos. Considerando o cenário dos estudos cartográficos – embora objeto de crítica ainda
envolto a descrições e métodos cartesianos - propõe-se atividades objetivando trabalhar o lúdico
através dos recursos didático-pedagógicos. A metodologia utilizada baseia-se em levantamento
bibliográfico e documental, visitas de observação e confecção dos mapas em quebra-cabeça, que
podem ser utilizados por todos os professores de geografia. O intuito foi apresentar uma
proposta diferente, na qual os alunos aprendem brincando sobre seu cotidiano e podem
relacionar os acontecimentos locais com o que ocorre em escala mundial. Deve ser considerado
que todos os alunos precisam de metodologias novas, que instiguem o pensar geográfico para
que tenham motivação pelo estudo que a ciência geográfica aborda, contribuindo para a
compreensão crítica da realidade.
Palavras-chave: Cartografia. Ensino de Geografia. Recursos didático-pedagógicos.
INTRODUÇÃO
1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia na Universidade Federal de Goiás – Campus
Catalão. Membro do grupo de pesquisa: Dinâmica dos Ambientes, Planejamento e Gestão Ambiental
(GEDAP/CNPq) CAC/UFG. Universidade Federal de Goiás –UFG Campus Catalão; E-mail:
[email protected] 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia na Universidade Federal de Goiás – Campus
Catalão. Orientador: Prof. Dr. André Carlos Silva co-orientador: Prof. Dr. Idelvone Mendes Ferreira
Membro do grupo de pesquisa: Núcleo de Estudos em Geologia e Mineração (NEGeM) e Núcleo de
Estudos e Pesquisas Socioambientais do Campus Catalão (NEPSA) CAC/UFG. Docente efetiva do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano – Campus de Guanambi. Universidade
Federal de Goiás – UFG Campus Catalão; E-mail: [email protected] 3 Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia na Universidade Federal de Goiás – Campus
Catalão. Membro do grupo de pesquisa: Dinâmica dos Ambientes, Planejamento e Gestão Ambiental
(GEDAP/CNPq) CAC/UFG. Universidade Federal de Goiás – UFG Campus Catalão; E-mail:
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4991
Partindo do princípio que a ciência geográfica tem como eixo central os estudos
o espaço geográfico, e sendo esse resultado das relações humanas entre si e com a
sociedade, compreender os espaços configura-se portanto, em assimilar as diferentes
formas e transformá-las. Diante dessa premissa, surgiu a inquietação no que tange os
conteúdos geográficos com alunos com necessidades educativas especiais, bem como a
formação docente, principalmente do professor de Geografia.
Esta pesquisa tem como objetivo destacar a importância do uso de recursos
didáticos no processo de ensino-aprendizagem a fim de despertar o interesse e facilitar o
aprendizado. Quanto à metodologia empregada, baseou-se em análise bibliográfica
sobre: inclusão, ensino de Geografia e processo de ensino-aprendizagem. Além de
consultas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) e demais trabalhos que
exploram a temática.
A formação docente deve contribuir para iniciativas que motivem os alunos,
tornando a aprendizagem como um momento prazeroso. O professor pode potencializar
seus estudantes, utilizando todas as formas de expressões para atingi-los. Garantir uma
aula de Geografia participativa e dinâmica significa criar condições de participação de
todos os membros da comunidade escolar, em todas as suas limitações e
potencialidades.
GEOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL
A Geografia oferece subsídios para que possamos compreender a atuação do
homem na sociedade, bem como a relação homem/natureza em toda a sua
complexidade, contribuindo para a formação do cidadão. O ensino de Geografia
contribui para o reconhecimento do aluno como agente ativo no espaço em que estuda,
no qual será necessário considerar aspectos físicos, humanos, econômicos, culturais e
ambientais. (CAVALCANTI, 2002, p. 14) Uma compreensão que envolve uma série de
elementos, dentro de uma perspectiva holística e integrada.
No ensino, a geografia tradicional prima pelo estudo descritivo das paisagens
dissociadas do espaço vivido e das relações contraditórias de produção e organização do
espaço. Assim, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) “os
procedimentos didáticos promovem a descrição e a memorização dos elementos das
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4992
paisagens, sem que os alunos estabelecessem relações, analogias ou generalizações.”
(BRASIL, 1997, p. 104). Dessa forma, há um aprendizado estanque, sem que os alunos
correlacionem os assuntos com a realidade e as práticas do cotidiano.
Debates em torno do objeto da Geografia trouxeram repercussões no ensino da
disciplina. Muitas propostas didáticas foram produzidas, porém poucas que realmente
atingem um significativo percentual de docentes, que continuam se apoiando na mera
descrição dos fatos e baseados somente no livro didático, sem relacionar o porquê de se
estudar determinado assunto.
Logo, o ensino de Geografia deve possibilitar ao aluno a compreensão da
realidade, como agente ativo e transformador da sociedade, contribuindo para o
rompimento da alienação e construindo o conhecimento de forma autônoma e crítica,
com vias à construção da sua cidadania. Segundo Callai (1998, apud Cavalcanti 2002,
p. 13) “a Geografia permite que o aluno se perceba como participante do espaço que
estuda, onde os fenômenos que ali ocorrem são resultados da vida e do trabalho dos
homens e estão inseridos num processo de desenvolvimento”. O aluno, subsidiado pelos
conhecimentos geográficos, tem seu senso crítico mais aguçado, tem posicionamento
frente aos diversos assuntos referentes à sociedade na qual está inserido.
Um dos objetivos do ensino de geografia é desenvolver nos alunos o raciocínio
espacial, que requer o entendimento dos conceitos geográficos, bem como domínio de
referências teórico-conceituais. Para êxito nessa proposta, o ensino deve ser baseado na
junção de conceitos científicos e aqueles que os alunos trazem do cotidiano, do senso
comum.
A Geografia é uma disciplina que possibilita entender as transformações no
mundo de forma articulada, partindo do local para compreender o global, ou seja, a
totalidade. O conhecimento deve partir da realidade vivida do aluno, sendo resultado
das ações do indivíduo e do social. Segundo Straforini (2008, p. 23) “o ensino de
Geografia para crianças é uma possibilidade da formação do cidadão através de um
posicionamento crítico em relação às desigualdades sociais identificadas na realidade
concreta das próprias crianças”. Sendo mais fácil construir o conhecimento a partir do
que ele vive, para então, se posicionar, comparar o que se vê.
De acordo com Pontuschka (1999)
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4993
[...] as condições de existência dos próprios alunos e seus familiares
são ponto de partida e de sustentação que podem garantir a
compreensão do espaço geográfico, dentro de um processo que vai do
particular ao geral e retorna enriquecido ao particular.
(PONTUSCHKA, 1999, p. 133)
Em todo o processo de ensino não há como estudar as partes isoladas para
depois juntá-las. O mundo está dividido do ponto de vista da globalização, mas os
espaços são uma totalidade, que interagem entre si. O ensino de Geografia deve
contribuir para a construção da democracia, cidadania, ou seja, as relações que se
desenvolvem no espaço. Deve abranger não somente os problemas sociais, mas discutir
suas causas.
O cotidiano do aluno também é um conteúdo para se trabalhar Geografia, pois
reflete o processo de organização do espaço. Sua apropriação no ensino consiste, numa
perspectiva Humanista, fundamentada na Fenomenologia na qual o “espaço vivido” é
seu objeto de investigação, embasada na subjetividade, na noção de pertencimento
àquele lugar, às experiências vivenciadas pelo indivíduo, fazendo recortes espaciais para
analisar e compreender o espaço. O espaço vivido do aluno será a maneira pela qual ele
desenvolverá a percepção do espaço, para mais tarde, perceber não só o aspecto de
totalidade do espaço, mas principalmente seu pertencimento a ele.
O ensino baseado na sua vivência confere um caráter de significação à
aprendizagem. Além disso, é a oportunidade concreta de dimensionar o real a partir de
um universo pequeno para, gradativamente, compreender a dimensão e o significado do
todo. Assim, a realidade vivida do aluno deve ser ponto de partida para um processo de
ensino-aprendizagem satisfatório.
Para que isso ocorra o uso do mapa, configura-se como uma rica fonte, ao. Ao
levar em consideração a realidade dos alunos, que pode ser o município, o estado ou o
país, o mapa pode proporcionar o reconhecimento de informações sobre o seu cotidiano,
antes desprezadas ou consideradas distantes da sua realidade.
A Cartografia outrora trabalhada, consistia em colorir mapas, decalcar, copiar e
memorizar as capitais dos países. Nesse sentido, a escola deve proporcionar aos alunos
a construção dos conhecimentos, como pessoas que representam o espaço e como
leitoras que o interpretam (BRASIL, 1997, p. 79). O aluno deve participar de todo o
processo de construção dos conceitos, para assim, se efetivar o processo de ensino-
aprendizagem.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4994
Dessa forma, o mapa tem papel importante no processo de ensino-aprendizagem,
principalmente de Geografia, uma vez que traz informações da realidade de forma e
tamanho reduzidos, o que facilita a assimilação e, consequentemente a aprendizagem.
Isso porque é mais fácil o aluno aprender ou até mesmo supor informações de
determinado local quando observa um mapa, do que simplesmente abstrair o conceito e
a imagem local.
Oportunizar outras metodologias no processo de ensino-aprendizagem
configura-se como uma possibilidade de efetivar o mesmo, diferentemente do que
propunha os estudos cartográficos no passado, essa proposta, objetiva trazer o cotidiano
do aluno para sala de aula, tornar o espaço vivido o conteúdo a ser trabalhado na aula e,
a partir disso, problematizar e agregar novos conhecimentos.
Segundo Freitas (2008)
[...] a relação com o conteúdo ministrado e a realidade do aluno é um
elemento importante para que ele possa materializar os conteúdos até
então abstratos para sua realidade. Ele faz uma análise que parte do
meio onde o aluno vive e a inserção desse espaço no contexto mais
geral. (FREITAS, 2008, p. 05)
O professor de Geografia deve provocar o aluno, instiga-lo para que o mesmo
sinta elemento participativo e igualmente responsável pelo processo educativo. Desse
modo, o discente constrói sua noção de espaço e tempo e, consequentemente estabelece
relações entre estas. Ao oferecer situações nessa perspectiva, o resultado condicionará
os educandos à compreensão crítica da realidade.
O ensino de geografia, principalmente nas séries iniciais, deve ultrapassar o
conhecimento vivenciado dos alunos para outras escalas, estadual, regional e global e
vice-versa, uma vez que com a globalização o mundo está interconectado e nada ocorre
isoladamente.
Ainda sobre isso Callai (2005, p. 230) considera que, “num mundo em que a
informação é veloz e atinge a todos, em todos os lugares, no mesmo instante, não se
pode fechar as possibilidades em um estudo a partir de círculos hierarquizados”. O
desafio da prática pedagógica em geografia consiste exatamente nisso, em ultrapassar as
barreiras restritas dos conteúdos do cotidiano, não fragmentando os espaços e as
informações, favorecendo, assim a compreensão dinâmica e real do espaço.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4995
Muito embora possam apresentar dificuldades quanto à leitura e escrita, os
discentes no ambiente escolar possuem conhecimento prévio “leitura do mundo, do seu
mundo” Ao percorrer o espaço, caminhar pelo bairro, no trajeto até a escola, os alunos
interagem com o espaço, compreendendo sua complexidade, constatando sua própria
história. É, portanto interessante que O professor de Geografia envolva o aluno nessa
leitura do mundo, instigando-o a estabelecer novas relações entre o espaço e a sociedade
através da própria curiosidade inerente nas crianças.
Segundo Callai (2005)
[...] esta é a perspectiva para se estudar o espaço: olhando em volta,
percebendo o que existe, sabendo analisar as paisagens como o
momento instantâneo de uma história que vai acontecendo. Essa é a
leitura do mundo da vida, mas que não se esgota metodologicamente
nas características de uma geografia viva e atual, assentada em
categorias de análise que supõem a história em si, o movimento dos
grupos sociais e a sua interligação por meio da ação ou até de
interesses envolvidos. (CALLAI, 2005, p. 235)
Ao compreender as diferenças dos espaços, os alunos entendem os processos de
exclusão social e o que provoca essas diferenças, enfim, a heterogeneidade desse
espaço. Dotar os alunos de capacidades e habilidades de análise espacial crítica é ponto
fundamental no ensino de Geografia, para que eles possam estudar seu espaço de
vivência, bem como os outros espaços, tão distantes da sua realidade do ponto de vista
de localização, mas ao mesmo tempo tão perto do seu entendimento do ponto de vista
da globalização.
O que se pode perceber, é que o ensino de Geografia no Ensino Fundamental se
constitui um ciclo, um processo contínuo de aprendizagem e assimilação de conteúdos
paulatinamente, de acordo com o desenvolvimento cognitivo dos alunos e a
compreensão de conceitos, que o professor como mediador do processo de ensino-
aprendizagem, vai introduzindo e agregando à medida que percebe o retorno dos alunos.
Além disso, é preciso que o professor saiba claramente o objetivo do estudo daquele
conteúdo na sua aula, para então definir os métodos e conteúdos a serem abordados,
com vista a atingir esses objetivos.
Ensinar Geografia requer uma postura nova, ousada, que repudia o tradicional. A
Geografia deve despertar nos alunos a consciência de mundo, a curiosidade, a
imaginação, para isso o professor precisa lançar mão de todos os recursos possíveis a
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4996
fim de alcançar esses objetivos. Aulas expositivas são necessárias, porém são
insuficientes para compreender a dinâmica do espaço geográfico.
Sabendo a importância dos recursos didático-pedagógicos no processo de ensino
aprendizagem, abordaremos o uso desses recursos no ensino de Geografia com o
objetivo de motivar os alunos e deixar a aula mais interessante e prazerosa.
OS RECURSOS DIDÁTICOS NO PROCESSO DE ENSINO E PRENDIZAGEM
A grande gama de recursos didático-pedagógicos existentes exige dos
professores novas posturas, mais criativas e inovadoras a fim de proporcionar aos
alunos um processo de ensino-aprendizagem mais interessante, eficiente e significativo.
A escola deve ser um ambiente de mediação pedagógica, que promove a igualdade de
acesso aos diferentes meios de comunicação, estimula e prepara os alunos criticamente
para viver em sociedade. Os professores devem estar preparados para criar e realizar
atividades diferentes, criativas com seus alunos.
Segundo Freire (2000), a educação sozinha não transforma o mundo, mas
transforma as pessoas e, essas sim, transformam o mundo. É imprescindível que a
formação docente contemple e incentive a atualização profissional, proporcionando aos
professores tomar consciência de quanto é importante estimular seus alunos, sempre
trazendo novas propostas, criativas e interessantes para que o ensino não seja maçante.
De acordo com Cavalcanti (2002), alguns professores caracterizam a aparição dos
conteúdos geográficos na mídia como Geografia-espetáculo, mostrando resistência em
incorporar novos recursos didático-pedagógicos no processo de ensino-aprendizagem.
À medida que os alunos aprendem a observar, perguntar, descrever, representar
os acontecimentos sociais e naturais de forma cada vez mais ampla, considerando
dimensões de tempo e do espaço, a Geografia se concretiza como compreensão do
mundo em que vivemos e isso é uma construção que ocorre paulatinamente. O ensino
de Geografia não pode se reduzir à exposição do professor, ao livro didático, à
memorização. Envolve a compreensão de um modo de pensar, entender e explicar o
mundo, pautada em conceitos, procedimentos através dos quais os acontecimentos são
observados e analisados no tempo e no espaço.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Para promover a ampliação do conhecimento dos alunos, os materiais didáticos
são fundamentais no trabalho docente. O professor deve basear sua atuação em recursos
e materiais que possibilitem o alcance dos objetivos da aula, criando situações que
permitam que os alunos progridam em suas aprendizagens sobre o mundo e sua própria
vida.
O uso de recursos didático-pedagógicos deve favorecer o desenvolvimento de
uma atitude crítica, reflexiva perante os temas abordados. Entretanto, os materiais
usados devem complementar a atuação do professor, não sendo utilizados sozinhos. É
necessário que se estabeleça objetivos a serem alcançados com o uso dos recursos,
considerando o planejamento de uma seqüência de atividades. É importante ressaltar
que qualquer material didático precisa estar em sala de aula dentro de um planejamento
que permita ao aluno desenvolver conhecimentos conceituais e procedimentais através
de seu uso.
De acordo com Freire (2000) “ensinar não é transmitir conhecimentos, mas sim
criar condições para sua construção”, ou seja, ao utilizar os recursos na sala de aula, o
professor dará oportunidade para que seus alunos trabalhem com autonomia em busca
de construir seus conhecimentos. Uma discordância sobre o ensino que segundo Freire
seria o “ensino bancário”, onde o conhecimento é simplesmente depositado, coibindo
qualquer traço de criatividade do aluno e do professor, tornando o processo de ensino e
aprendizagem mecânico.
O livro didático é um recurso interessante para auxiliar no ensino, porém o uso
durante anos do mesmo exemplar, fatalmente tornará os conteúdos apresentados
defasados e obsoletos. Além disso, a que se considerar a abordagem dos conteúdos que
se apresenta distantes da realidade dos alunos, o que desmotiva e faz dessa ferramenta
algo cansativo e desconexo do propósitos aos quais foi planejada.
A formação do professor deve privilegiar o desenvolvimento de capacidades que
priorizem a adequação dos conteúdos à sua ação pedagógica e à realidade do aluno. O
livro didático deve ser um apoio para nortear a prática docente, mas não é necessário
segui-lo rigidamente, fechando os olhos para todas as outras formas de se fazer e
aprender Geografia.
Ao lançar mão de um recurso didático, o professor precisa ter claro qual o
objetivo da aula e contextualizar o conteúdo a ser trabalhado com o recurso a ser
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4998
utilizado. É preciso ‘situar’ os alunos para que o recurso não perca seu objetivo de
enriquecer a aula. Além disso, o professor deve preparar atividades, discussões, debates
a fim de inserir o educando na a aula e ampliar o conteúdo trabalhado.
A existência de diversos recursos didático-pedagógicos propicia o planejamento
de uma aula mais prazerosa e interessante, fugindo dos conteúdos maçantes e
enfadonhos comumente trabalhados nas salas de aula. Uma boa opção são as charges,
cartuns e quadrinhos para trabalhar Geografia. Permitem a análise de assuntos em várias
escalas e formas alternativas de representação do espaço, além de terem como
característica principal as críticas sociais e políticas, o que favorece a reflexão
questionadora e permite a formação de cidadãos críticos e politizados. Esse recurso
possui uma linguagem diversificada, o que permite a adaptação aos objetivos e
conteúdos a serem abordados. Além disso, tem proximidade com o cotidiano dos
alunos, ou seja, dinamiza a aula, motiva o debate, as discussões e contempla a
transmissão de informações, ao mesmo tempo que são agentes de lazer. É uma forma
lúdica que auxilia na compreensão dos conteúdos.
O uso de jogos em forma de quebra-cabeça no ensino de Geografia, que é tema
de estudo desta pesquisa, estimula o trabalho em equipe, a colaboração, além de
estabelecer relação com a prática. Os alunos se sentem instigados, motivados quando
aprendem fazendo. Nessa pesquisa, propomos o uso de mapas no formato de quebra-
cabeças como recurso didático-pedagógico no ensino de Geografia. Considerando as
dificuldades das crianças em assimilar conteúdos, as atividades lúdicas podem
contribuir para facilitar o entendimento e fixação.
Brincar é fundamental no desenvolvimento das crianças. Essa atividade
contribui para melhorar a atenção, concentração, coordenação motora e desenvolve o
trabalho em equipe. O ensino participativo, onde alunos e professores são atores ativos
no processo de aprendizagem, deve proporcionar o desenvolvimento integral: cognitivo,
emocional, intuitivo, imaginário, para que não fique defasado e cada vez mais distante
da realidade dos alunos.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A revisão teórica consistiu como primeira etapa, contemplando os autores que
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
4999
discutem o processo de ensino-aprendizagem, ensino de Geografia e a formação
docente. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) de Geografia também foram
analisados e relacionados com a prática na sala de aula, sendo alvo de análises e
reflexões quanto à capacidade de resgatar ou não a criticidade do pensar geográfico dos
alunos.
O trabalho de campo foi realizado no Colégio Estadual Dr. David Persicano, em
Catalão (GO), para análise do Plano Político Pedagógico (PPP) da escola. Também foi
empregada a técnica de observação, a fim de descrever e compreender a realidade, uma
vez que não foram aplicados questionários nessa pesquisa.
Na sequência, a confecção dos mapas em quebra-cabeças. O uso da internet foi
estabelecido nesse momento como suporte na confecção. Foram escolhidos cinco
mapas, são eles: município de Catalão, microrregião de Catalão, mesorregiões de Goiás,
estado de Goiás, divisão regional do Brasil. Posteriormente, esses mapas foram
digitalizados para então, receberem o formato das peças de quebra-cabeças.
Depois foram impressos em papel A3 (297x420 mm) e colados na folha de
E.V.A. (Etil, Vinil e Acetato). Foram utilizados os seguintes materiais: cola para isopor,
estilete, tesoura, caneta, régua, o mapa impresso e a folha de E.V.A.
Após a seleção dos materiais a serem utilizados, passamos para o corte das peças
dos quebra-cabeças no papel A3. Depois de cortar todas as peças do quebra-cabeça, foi
feito o desenho de cada peça na folha de E.V.A. Concluída essa etapa, passamos para o
corte das peças do quebra-cabeça na folha de E.V.A. Depois, passamos para a colagem
das peças de papel na folha de E.V.A. Concluída essa etapa, passamos para a montagem
do quebra-cabeça. Foi realizado esse mesmo processo na confecção de todos os mapas
em quebra-cabeça.
Refletir sobre a metodologia empregada em sala de aula, buscando verificar
como o conteúdo é compreendido pelos alunos se faz de fundamental importância para
a vida do professor. Utilizar metodologias de ensino que consigam inserir o aluno no
seu contexto social, era tornar o aprendizado geográfico inovador. A busca por novas
formas de aprendizagem deve fazer parte do cotidiano do professor, pois além de uma
inovação no modo de ensinar, a construção do conhecimento através de metodologias
variadas é uma atividade que aproxima o aluno da realidade que o cerca. Assim, se que
o quebra-cabeça em mapas possa servir de incentivo e complemento das aulas de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5000
Geografia, transformando o momento de aprendizado dos alunos em algo significativo
para que seja, capazes de atuar como agentes transformadores em nossa sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso do mapa em quebra-cabeça é uma maneira de incentivar a aprendizagem,
tornando a atividade prazerosa e interessante. O mapa, fonte rica de informações, para
quem sabe interpretá-lo, deve ser utilizado para introduzir as noções espaciais aos
alunos. É necessário que o professor saiba mediar o processo de ensino aprendizagem a
fim de ensinar a alfabetização cartográfica e ele não seja apenas uma ilustração.
Além disso, nessa proposta se objetivou trazer o cotidiano do aluno para ser
estudado, ou seja, a aprendizagem partiu do que os alunos já conhecem para agregar
novos conhecimentos. Os alunos se sentem estimulados e se interessam em interpretar
sua realidade, fazendo ligação do global ao local e vice-versa. Ao partir do concreto e
presente dos alunos, é possível transformar o ensino de Geografia em algo prazeroso e
divertido.
A intenção foi apresentar uma proposta diferente, na qual os alunos aprendem
brincando sobre Cartografia, seu cotidiano e podem fazer ligações com o que ocorre em
escala mundial. Considerando que os alunos precisam de novas metodologias que
intiguem o pensar geográfico e que possam ter motivação o bastante para se interessar
pelo estudo de Geografia, contribuindo para a compreensão crítica da realidade.
Para tanto, uma atividade desse nível, a que se considerar uma série de
elementos que estão inseridos nesse processo (professor-aluno e instituição
educacional), esses atores devem estar integrados e voltados em uma mesma
perspectiva.
A mudança para se alcançar uma formação autônoma do sujeito partem da
postura do professor para posteriormente provocar os alunos. Contudo deve-se ressaltar
que a escolha de uma metodologia tem o seu aspecto político que representa a forma de
pensar do docente, se o objetivo é formar um sujeito autônomo, a forma de pensar o
mundo não deve suprimir a visão do aluno e sim construir com esse um campo de
reflexão sobre a realidade, de forma que o discente possa perceber a complexidade
social que faz parte. E supere a superficialidade das informações, principalmente,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5001
apresentada pela mídia, através de uma visão sistêmica. Nessa perspectiva, os resultados
apresentados através emprego dessa proposta foram positivos, sobretudo considerando a
capacidade de abstração. O uso de atividades interativas desenvolvem o potencial
cognitivo, estimula curiosidade e criatividade, a aula se torna empolgante e um
verdadeiro espaço de aprendizagem.
REFERÊNCIAS
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história, geografia. Brasília; MEC/SEF. 1997. p. 71-110.
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A COLETA SELETIVA COMO PRÁTICA EDUCATIVA
Samanta Ap. de M. Carvalho1
RESUMO
Esse artigo é uma prévia dos resultados obtidos das atividades para a realização da monografia
na Especialização de Ensino de Geografia da Universidade estadual de Londrina. Objetiva
discutir a Educação Ambiental e a criação da coleta seletiva no espaço escolar como prática
pedagógica sustentável. O artigo ressalta a importância do ambiente em que vivemos e que ele
precisa ser preservado para garantirmos um futuro melhor, que a Educação Ambiental é uma das
melhores formas que existe para isso. Trabalhar com os alunos na fase escolar é ideal, nessa fase
estão se concretizando como futuros cidadãos críticos que virão a se tornar e mudar seus hábitos
nessa idade reflete diretamente nas suas futuras ações. Apresenta de forma breve o histórico e o
que são os 7 R’s da sustentabilidade. Expõe algumas atividades que estão sendo realizadas com
os alunos para implantar a coleta seletiva no colégio de abrangência do estudo, como separação
dos resíduos recicláveis e não recicláveis, implantação da composteira, entre outras. Com essas
práticas espera ao fim do trabalho que a implantação da coleta seletiva no colégio dê certo e
continue funcionando e despertando nos alunos a sensibilidade para a questão ambiental.
Palavras-Chave: Coleta Seletiva; Educação Ambiental; 7R’s.
INTRODUÇÃO
Com o processo acelerado e contínuo do crescimento populacional surge a
necessidade de suprir a demanda dessa população, que contribui na geração cada vez
maior de resíduos sólidos. Resíduos esses que são responsáveis por um dos mais graves
problemas ambientais, o lixo e a sua destinação.
Em alguns lugares o lixo é simplesmente jogado no solo, sem os devidos
cuidados formando os lixões que são altamente prejudiciais à saúde. Essas atitudes
causam consequências para toda a sociedade, pois ocorre proliferação de doenças,
contaminações de lençóis freáticos, do solo pelo chorume, poluição do ar entre outros.
Um dos grandes problemas da atualidade é a forma que a sociedade trata o seu
lixo, muitos consomem de forma desenfreada e apenas descartam os resíduos na lixeira,
e acreditam que já cumpriram o seu papel de cidadão, não se preocupando com o
1 Universidade Estadual de Londrina – UEL; [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5003
destino que eles tomarão, como se ele se ausentasse de qualquer responsabilidade do
destino final do seu lixo.
Um passo extremamente importante é o de repensar o modo de vida da
sociedade, para isso há a necessidade de campanhas e projetos capazes de elencar a
relevância da educação ambiental, de novas práticas que visem à sustentabilidade. Esse
pensamento vem sendo desenvolvido cada vez com mais força e sempre buscando
ferramentas novas para mudar a relação do homem com o meio, buscando a sua
conscientização e que passe a perceber a real importância que a educação ambiental
possui.
Intervindo nesse processo de educação, mostrando aos alunos os problemas e
consequências que as atitudes da população estão causando ao meio ambiente espera-se
despertar a conscientização dos alunos, que estão passando pelo processo de formação e
construção do caráter e do ser, ampliando a visão e despertando atitudes de um cidadão
consciente.
Este trabalho busca levantar questões reflexivas acerca do comportamento e
valores da sociedade atual que precisam ser repensados, nesse sentido, propõe-se a
repensar as atitudes individualistas às atitudes solidárias e colaborativas, necessárias à
preservação da nossa morada, pois somos dependentes do nosso espaço. Na escola é o
ambiente ideal para a propagação dessa ideia, pois é o ambiente do aluno, deve-se
começar por esse, para que ele possa ampliar o que aprende e também além de ensinar,
busca desenvolver o cidadão ativo em cada um.
Ressalta a importância da coleta seletiva, e a partir de dados e análises contribuir
para que uma maior atenção seja dada a reestruturação desse sistema de destinação do
lixo, pois é de fundamental importância reduzir os resíduos mandados aos lixões e a
retirada de matéria prima para novos produtos.
O trabalho está sendo realizado no Colégio Estadual “Maestro Andréa Nuzzi”
Ensino Fundamental e Médio (CEMAN) localizado na periferia do município de Cambé
- Pr, com turmas do ensino fundamental do período matutino.
O CEMAN é uma instituição mantida pelo Governo do Estado do Paraná, atende
cerca de 2100 alunos no ensino fundamental e médio, estes que são filhos de
trabalhadores industriais e comerciários da região local e de trabalhadores autônomos,
tendo residência nas proximidades do Colégio, uma clientela de classe média baixa e
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5004
que se estende por aproximadamente 10 bairros, pois é o único na região que possui os
níveis de ensino fundamental e médio.
REFERENCIAL TEÓRICO
No seu contexto geral a educação ambiental tem por objetivo mostrar a
importância do ambiente em que vivemos que esse deve ser preservado como algo
precioso, temos a responsabilidade de guardar, sem destruir nem desperdiçar. Vivemos
nos dias atuais uma época de acontecimentos estranhos e fatos inusitados, tais
problemas se devem a maléfica influência do modo de vida que a humanidade escolheu
para seguir, consumindo grande quantidade dos recursos naturais que nosso mundo tem
a oferecer.
Esses recursos na sua maioria são bens finitos, e esses devem ser cuidados e
preservados, ou seja, deve-se haver uma minimização do consumo dos recursos
naturais, esse que é o preceito do termo sustentabilidade. É um dos conceitos mais
significativos da atualidade, porque influência a abordagem global de recursos
energéticos, tecnologia, indústria, comunidades de planejamento, economia e políticas
governamentais. Para Marcatto:
Recuperar e preservar o meio ambiente não pode e não deve ser uma tarefa
exclusiva dos organismos de Estado, mesmo porque, a realidade tem mostrado que
somente leis, normas, regulamentos e fiscalização punitiva por parte do Estado não são
suficientes para deter o avanço do processo de degradação ambiental em curso. As
possíveis respostas para as questões que envolvem a compatibilização entre
desenvolvimento e conservação / preservação passam necessariamente pela participação
da sociedade civil, pelo coletivo. A população deve estar sensibilizada para o problema
e disposta a contribuir, a trabalhar conjuntamente com os organismos governamentais no
processo de uso sustentável, no controle e preservação dos recursos naturais.
(MARCATTO; 2002, p.10)
O autor defende também que a educação ambiental é uma ferramenta
fundamental para a sensibilização e capacitação da população sobre os problemas
ambientais. A partir dela, pode-se criar técnicas e métodos que facilitem o processo da
conscientização da real gravidade dos problemas ambientais e a imprescindível
necessidade de pensar soluções para eles. Jacobi destaque que:
[...] a educação ambiental assume cada vez mais uma função transformadora,
na qual a co-responsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5005
promover um novo tipo de desenvolvimento – o desenvolvimento sustentável. Entende-
se, portanto, que a educação ambiental é condição necessária para modificar um quadro
de crescente degradação socioambiental, mas ela ainda não é suficiente. [...] O educador
tem a função de mediador na construção de referenciais ambientais e deve saber usá-los
como instrumentos para o desenvolvimento de uma prática social centrada no conceito
da natureza. (JACOBI; 2003, p.193)
Há anos convenções e fóruns perpassam discutindo os problemas ambientais,
criando leis e diretrizes, traçando objetivos em busca de um desenvolvimento
sustentável, ou que haja a diminuição dos impactos ambientais. Uma das conferências
mais importantes aconteceu na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1992, a Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92).
Nesse momento foram aprovadas importantes propostas que possuem grande
poder e ainda estão em vigor, como a proposta sobre mudanças climáticas que hoje atua
como o Protocolo de Kyoto, outra sobre a biodiversidade, a declaração da Carta da
Terra e a assinatura da Agenda 21que possui como um dos seus principais objetivos
desenvolver planos de ações que consistiriam em melhorias das condições ambientais.
Uma forma de trabalhar esse crescimento desenfreado no consumo é o programa
conhecido como os R’s da sustentabilidade, idealizados na ECO-92 inicialmente eram
três R’s, que são respectivamente Reduzir; Reutilizar e Reciclar. Ao longo do tempo
foram incluídos mais dois R’s o Repensar e Recusar e na conferência da Rio + 20
criaram mais dois, Reeducar e Recuperar.
Reduzir pode ser considerada uma das tarefas mais difíceis entre os três R’s,
pois parte do principio que as pessoas revejam o que realmente é importante para o
consumo e não supérfluo, o que necessitam para sobreviver e não uma maneira de
impor algum tipo de status para a sociedade.
O segundo R é o Reutilizar, esse é uma forma de evitar que vá para o lixo aquilo
que não é lixo, coisas que podem ganhar um novo uso. O Reciclar é a solução da
destinação dos resíduos que não podem ser mais reutilizados, mas que possuem um
destino certo na coleta seletiva. Além de preservar o meio ambiente a reciclagem gera
riquezas e empregos.
Recusar é a tarefa que defende a não compra de produtos que prejudicam o meio
ambiente e a saúde, assim estará contribuindo para um mundo mais limpo. Deve-se ficar
atendo aos prazos de validade dos produtos, evitar os que possuem excesso de plástico
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5006
nas embalagens, dar preferência para as mercadorias de empresas que tenham
compromisso com o meio ambiente e principalmente recusar sacos plásticos e
embalagens não recicláveis.
Repensar é um termo que foi incorporado depois da divulgação dos três
primeiros R’s, mas deve ser praticado antes de todos, pois esse visa mudanças nos
costumes, deve-se repensar os hábitos de consumo e descarte. Comprar aquilo que
realmente está necessitando, evitar o desperdício, utilizar produtos de limpeza
biodegradáveis, adquirir produtos recicláveis ou produzidos com matéria-prima
reciclada, optar por embalagens de papel ou papelão entre outros.
O Reeducar tem o objetivo da conscientização da população sobre a origem e o
destino dos resíduos que se produz e o Recuperar é a revitalização de áreas degradadas.
Essas duas medidas interferem diretamente na forma como a população se relaciona
com os bens de consumo e os resíduos, um dos principais problemas atuais.
A coleta seletiva aparece como uma possibilidade de redução do problema do
lixo e de sua destinação. Horta (2009) classifica a coleta seletiva como um termo
utilizado para o recolhimento de materiais que não possuem condições de serem
reaproveitados. Essa contribui para uma minimização dos resíduos destinados aos
lixões, pois coleta os resíduos e envia para o processo de reciclagem.
Portanto, a coleta seletiva de lixo é de extrema importância para a sociedade.
Uma sociedade consciente e bem educada não gera lixo e sim materiais para reciclar,
além de gerar renda para milhões de pessoas e economia para as empresa, também
significa uma grande vantagem para o meio ambiente uma vez que diminui a poluição
dos solos e rios. Este tipo de coleta é de fundamental importância para o
desenvolvimento sustentável do planeta. (HORTA; 2009, s/p.)
Essa ideia dever ser trabalhada com todos, pois é necessário que haja mais
interesse e preocupação com um assunto tão importante como esse. O meio ambiente
precisa ser preservado, deve-se trabalhar mais a educação ambiental, pois essa tenta
despertar em todos a consciência de que o ser humano é parte do meio ambiente. Ela
tenta superar a visão antropocêntrica, que coloca o homem como o centro do universo
esquecendo a importância da natureza, da qual é parte integrante. Segura (2001) diz:
A questão ambiental esta cada vez mais presente no cotidiano da sociedade
contemporânea, e principalmente no desafio da preservação da qualidade de vida da
população das nossas cidades. Nesse cenário, o processo educativo pode conduzir a
formação de atores sociais que conduzirão uma transição em direção a sustentabilidade
socioambiental. A educação ambiental desponta como possibilidade de reencantamento,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5007
abrindo possibilidades de novos conhecimentos, metodologias e habilidades numa
perspectiva de novos conhecimentos, metodologias e habilidades numa perspectiva
interdisciplinar. Assim representa um instrumento essencial para a transformação do
padrão de vida existente na degradação socioambiental. (SEGURA; 2001, p.13)
A autora defende que é necessário conhecer as estratégias educacionais e os
processos sociais que permearam as práticas de educação e conscientização ambiental,
visando fortalecer a discussão sobre cidadania e sustentabilidade, bem como nos mostra
os limites impostos à comunicação e à participação e os desafios enfrentados pela
educação ambiental para potencializar a formação de cidadãs e cidadãos críticos,
motivados e conscientes da necessidade de descobrir caminhos coletivos para a
mudança da qualidade de vida, dos valores, dos hábitos e dos comportamentos.
Penteado afirma que a escola é local ideal para esse processo, pois as disciplinas
escolares são excelentes recursos didáticos, pois conseguem passar os conhecimentos
cientifico aos alunos. E esses ambientes são recheados de conhecimentos,
desencadeiam experiências e vivências que vão ser formadoras de consciências
vigorosas alimentas pelo saber.
METODOLOGIA
Baseando-se nessas afirmações está sendo desenvolvidas no colégio atividades
com os alunos, para que eles participem do processo da implantação da coleta seletiva.
Não ficam apenas no conhecimento teórico, eles saem da sala de aula, realizam tarefas
que beneficiarão não apenas eles, mas todos do colégio. São essas atividades:
Atividade para conhecer os 7R’s da sustentabilidade, depois de um breve histórico
sobre como surgiu, quais são e qual a finalidade desses R’s os alunos estão produzindo
cartazes que serão fixados no pátio do colégio explicando da forma que eles entenderam
o que são os R’s e o que cada um significa.
Os alunos estão produzindo latões de lixos de tambores de tintas para cada sala de aula
do colégio, uma para lixo reciclável e outra para o não- reciclável. Na hora de coloca-
los nas salas, os alunos irão formar grupos para explicar aos outros alunos qual a
finalidade dessa atividade e quais os benefícios se todos colaborarem.
Implantar no pátio do colégio grandes lixeiras no alcance de todos os alunos, separando
os resíduos orgânicos, os recicláveis e os resíduos não recicláveis e o ecoponto. No
ecoponto os alunos poderão trazer de suas casas pilhas e baterias sem uso para que
possa ter uma destinação correta, o recolhimento desses resíduos serão realizados
periodicamente.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5008
Oficina de fabricação de brinquedos com materiais reaproveitáveis e recicláveis como,
por exemplo, vai e vem, porta trecos, cai não cai de garrafas pet, jogo de dominó com
caixinha de leite, entre outros. Materiais esses que ficam para os próprios alunos ou para
uso da escola posteriormente.
Instalação de uma composteira no colégio, que além de ser a destinação dos resíduos
orgânicos servirá como fonte de adubo para uma horta que está em fase de implantação
no colégio.
Oficina de aproveitamento total do alimento, os alunos aprendem a fazer um prato
utilizando o máximo possível do alimento como, por exemplo, um arroz com a casca da
abobrinha, uma torta de talhos e folhas das verduras, e o que não dá para ser
aproveitado, eles aprendem a separar e destinar corretamente, o orgânico para a
composteira, os recicláveis na sua devida lixeira e se ainda houver algo que não dá para
ser reaproveitado para o Não-Reciclável.
RESULTADOS ESPERADOS
Ao fim das atividades espera-se que os alunos compreendam a importância de
reduzir a produção e destinação de resíduos sólidos aos aterros municipais, esses que na
sua maioria já estão saturados. Que eles entendam que as pequenas atitudes que cada
um realiza interfere no global, que ele está ajudando para um mundo melhor. E para que
isso aconteça ele precisa mudar o seu local.
Criando hábitos corretos dentro da escola, lugar onde o aluno passa parte do seu
dia, ele consiga disseminar esses costumes para a sua casa e pessoas próximas, podendo
assim atingir mais do que apenas os alunos e pessoas ligadas diretamente com a escola.
Que o aluno aprenda que ele é um cidadão com direitos e deveres e que suas maneiras
estão relacionadas diretamente com o futuro que ele pretende ter, cuidando das suas
atitudes a probabilidade de ter um meio ambiente equilibrado é bem maior.
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ENSINO DE HIDROGRAFIA PARA AS CRIANÇAS DA ESTAÇÃO VIDA
NA CIDADE DE UBERLÂNDIA (MG)
Cristiane Aparecida Silva Moura de Melo1
Maria Margaret de Vasconcellos Lemos2
RESUMO
A escola é um reflexo da sociedade na qual ela se encontra inserida, isso reflete as diferentes
dinâmicas do ambiente o qual ela se encontra inserida. Este artigo é resultado de um trabalho de
ensino de geografia, visou realizar o processo de ensino-aprendizagem de hidrografia para
crianças do bairro Shopping Parque, provenientes da rede pública de educação do ensino
fundamental 1, que estudam no período da manhã e quando saem da escola vão para Estação
Vida que é um instituição que atende a crianças carentes do bairro, além de proporcionar a elas
o reforço escolar. Diante disso o trabalho se propôs realizar um processo de ensino-
aprendizagem sobre hidrografia para crianças de 8 a 10, já que através de sondagem foi
constatada a deficiência das crianças na compreensão do que é água e de onde ela é proveniente.
Para o entendimento disso foram realizadas aulas teóricas com o uso de cartilha desenvolvida
para esse fim e aulas práticas, com a presença de jogos e brincadeiras, para que as crianças
tivessem a visão do que foi passado na teoria.
Palavras Chave: ensino, aprendizagem, hidrografia.
DESENVOLVIMENTO
Este estudo é resultado de um trabalho de ensino-aprendizagem realizado na
Instituição denominada Estação Vida localizada no bairro Shopping Park na cidade de
Uberlândia (MG), nele se propôs abordar o tema recursos hídricos disponíveis no
planeta Terra. Foram realizadas aulas expositivas e práticas, materiais para colorir,
recortar e a participação dos alunos com suas curiosidades sobre os mais diversos temas
relacionados a geografia, visto quer muitos alunos nem tem esta disciplina em seu
currículo escolar da rede municipal de ensino.
O ensino para os alunos que estão na etapa de educação básica denominada
fundamental 1, deve ser realizado de forma simples, começando a trabalhar as ideias do
1 Mestranda da Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão; [email protected]
2 Prefeitura Municipal de Uberlândia; [email protected]
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forma simples para que as crianças possam aprender com uma linguagem simples, com
amor e dedicação, pois toda criança tem uma necessidade de se sentir amada e
respeitada em seu local de estudo, a carência faz com que as crianças criem laços com
quem esteja dentro de sala de aula, podendo assim comprometer o seu aprendizado se
não for trabalhado, tendo que ser ouvida e escutada, com toques de carinho, mesmo que
sejam breves durante as aulas.
A proposta foi realizar um processo ensino-aprendizagem no qual através de
brincadeiras, jogos e pinturas as crianças compreendessem os aspectos que tangem o
ensino de hidrografia. Foi trabalhado o lúdico das crianças que é importante nessa fase
de aprendizagem, como coloca a Carleto:
[...] como instrumento indispensável, o lúdico se coloca como recurso nas mais
diferentes situações. Consciente da importância das atividades lúdicas no
desenvolvimento e na educação efetiva da criança, aprender pode se tornar uma incrível
brincadeira. Não se trata de declarar na escola um pouco de jogo, de distração, de
alegria; não se trata de prometer que vai aprender brincando. (CARLETO, 2004 p.126)
A área de estudo selecionada foi a Estação Vida, que é uma instituição localizada
na rua Horácio Ribeiro de Almeida no bairro Shopping Park na Zona Sul da cidade de
Uberlândia, criada no ano de 2005 tem como objetivo desenvolver atividades
educativas, culturais, sociais e ambientais.
O Projeto Estação Vida atende cerca de 150 crianças e adolescentes com
atividades de apoio escolar, informática, dança, esporte, artes, recreação, biblioteca,
horta, vivências de cidadania, socialização, cultura e outros. Foi reconhecida em 20 de
setembro de 2005 pela Lei 9.047, como entidade de utilidade pública. Por alguns anos
foi mantida por doações, parcerias com instituições diversas e trabalho voluntário. A
partir de outubro de 2007 passou a contar com a subvenção da Prefeitura Municipal de
Uberlândia para manter aproximadamente 90 crianças, embora continue contando com
parcerias, doações e trabalho voluntário. Além disso, o projeto agregou-se a um grupo
de costureiras do bairro Shopping Park (Teca Oficina de Costura), como proposta de
trabalho que possibilita melhorar a renda familiar através de confecção de roupas,
uniformes escolares e demais serviços.
Ainda proporciona o apoio escolar para crianças e adolescentes que apresentam
alguma dificuldade nas disciplinas do currículo escolar, e até mesmo auxilia no processo
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de alfabetização dos alunos das séries iniciais. Realiza também na instituição oficinas e
eventos culturais e atividades que proporcionam a sensibilização ambiental. Atua
também na construção de valores éticos e morais promovendo a cidadania e formação
de alunos críticos e conhecedores dos desafios do mundo contemporâneo. As imagens 1
e2 demonstram a fachada e o espaço interno da instituição respectivamente, no qual há
uma horta em formato de mandala que fornece verduras e legumes para a cozinha da
instituição, já que a mesma fornece o almoço para as crianças.
Figura 1: A fachada da Instituição Estação vida
Fonte: MELO, C. A. S. M.
Figura 2: A visão do espaço da Instituição Estação vida
Fonte: MELO, C. A. S. M.
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Este espaço de educação é importante para o bairro, pois nele é possível os pais
deixarem as suas crianças no período não escolar, já que funciona no período da manhã
e tarde, momento em que os mesmos estão no trabalho.
Foi constatado que as crianças que frequentam a instituição são provenientes da
escola municipal Shopping Park que fornece a educação de ensino fundamental inicial,
ou seja, a educação do pré-escolar ao 5º ano, logo uma fase fundamental para a criação
da base escolar que trabalham o ensino na forma tradicional que segundo Oliveira, etal
(2009) caracterizam esse ensino da seguinte forma:
O modelo tradicional de ensino trata o conhecimento como um conjunto de
informações que são transmitidas pelos professores aos estudantes. Nessa abordagem, os
aprendizes assumem o papel de ouvintes, cuja função maior é a de memorização.
Mesmo considerando uma possível interação existente no silêncio dos estudantes, o
professor terá dificuldade, nesse caso, de identificar aprendizagens. O ato de educar é
complexo e envolve, por exemplo, o desenvolvimento de formas de pensar, de estruturas
mentais e, para isso, não basta que o professor transmita ao estudante um número
enorme de informações. (Oliveira, etal, 2009)
Além de que muitas vezes não há a adaptação da escola em relação a constante
transformação que ocorrem de uma forma geral como coloca Charlot,
A inadaptação da escola à sociedade moderna é denunciada de um triplo ponto de vista:
econômico, sócio-político e cultural. A escola transmite um saber fossilizado que não
leva em conta a evolução rápida do mundo moderno; sua potência de informação é fraca
comparada à dos mass media; a transmissão verbal de conhecimentos de uma pessoa
para outra é antiquada em relação às novas técnicas de comunicação: a produtividade
econômica da escola parece, assim, insuficiente. Do ponto de vista sócio-político,
reprova-se a escola por visar à formação de uma 2 elite, enquanto as aspirações
democráticas se desenvolvem nas sociedades modernas, e por não ser mesmo mais
capaz de formar essa elite, na medida em que o poder repousa, agora, mais sobre a
competência técnica do que sobre essa habilidade retórica à qual a escola permaneceu
ligada. Enfim, a escola, fundamentalmente conservadora, assegura a transmissão de uma
cultura que deixou de tornar inteligível o mundo em que vivemos e que desconhece as
formas culturais novas que tomam cada vez mais lugar em nossa sociedade. A escola,
fechada em si mesma, rotineira, prisioneira de tradições ultrapassadas, vê-se assim
acusada de ser inadaptada à sociedade cultural (CHARLOT, 1986, p.151).
É a partir daí que inicia o déficit de ensino-aprendizagem devido a incapacidade
da escola em relação a essas disciplinas e a curiosidade das crianças em saber assuntos
pertinentes as elas.
Para o desenvolvimento deste foram realizados trabalhos de campo, que segundo
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5014
Viana (2001) é de grande importância, pois leva ao conhecimento do pesquisador o
conhecimento das necessidades do que se irá pesquisa, que neste caso e são as crianças
que a frequentam, e a sondagem das deficiências delas em relação à geografia, para a
verificação das deficiências constatadas foi realizada uma conversa com a diretora do
espaço vida para verificar as necessidades e déficits de aprendizagem das crianças que
frequentam o espaço. Além do reconhecimento do espaço físico e a seleção do grupo
que foi trabalhado.
A partir da escolha do grupo foi possível traçar a melhor estratégia para trabalhar
o conteúdo de hidrografia, decidiu-se então que os trabalhos seriam desenvolvidos
durante o período de quatro semanas no horário das 14:25 às 16:00 horas com as
crianças, a fim de que o processo ensino-aprendizagem fosse realizado de forma
adequada.
Já que esse estudo objetivou realizar o processo ensino-aprendizagem e a
compreensão das crianças em relação à importância dos recursos hídricos, ministrando
oficinas para que as crianças entendessem a importância da água, o entendimento do
ciclo hidrológico e a importância da preservação desse recurso natural e a efetivação de
aulas práticas para que as crianças entendam a necessidade que o corpo possui em
relação à agua e bem como os seus estados (gasoso, liquido e sólido), além de pedir às
crianças que fizessem desenhos sobre o que sabiam a respeito dos recursos hídricos,
essa etapa é muito importante, pois para Pontuscka, Paganelli, Cacete (2007),
Os desenhos espontâneos, em diferentes faixas etárias e níveis socioeconômico-
culturais, possibilitam identificar o desenvolvimento gráfico-espacial dos alunos como
uma representação do mundo próximo e conhecer não só as suas informações sobre os
lugares, mas também do imaginário. Os desenhos de crianças oferecem dados [...]. é por
meio do desenho, em atividade individual ou coletiva, que o não dito se expressa nas
formas, nas cores, na organização e na distribuição espacial. (PONTUSCKA,
PAGANELLI. CACETE, 2007 p. 239)
Seguindo essa premissa inicialmente foi pedido para que fizessem um desenho
da forma como imaginavam como a água chegava em suas casas, era abordar assuntos
de como a água era formada, o local onde ela era tratada, o caminho que ela percorria
para chegar ao seu destino final a casa de cada uma das criança, as forma como poderia
se evitar o desperdício e para onde ela ia no final do seu uso.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5015
Os desenhos foram dos mais diversos tipos em relação a origem da água eram
variados como do rio, o Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE), rede de
esgoto e de outros locais, os desperdícios se concentraram no momento do banho e de
lavar a louça, pois segundo eles a torneira ou registro não eram fechados por isso o
grande esbanjamento do recurso.
Posteriormente foi trabalhada uma cartilha interativa que abordava a formação
da água e o ciclo da chuva de uma forma muito clara e objetiva que utilizava uma
linguagem simples para que entendessem o que ocorria, primeiro foi realizada a leitura
da cartilha e posteriormente eles a pintaram como demonstra a figura 3.
Figura 3: As crianças colorindo a cartilha.
Fonte: MELO, C. A. S. M.
Os estados da água foram trabalhados em forma de aula prática na qual foram
levados geladinhos em estado sólido, ou seja, congelados para que as crianças
experimentassem as sensações que este estado traz para o corpo humano, todos eles
seguraram esses geladinhos e cada um falou da sensação que sentiu e a maior parte
deles disse que a sensação era de gelo e queimação da pele e conforme o estado sólido
passava para o estado liquido as crianças foram entendendo como essa mudança ocorre
e eles ficaram felizes e eufóricos em compreender como isso ocorre o estado de vapor
que na maior parte das vezes não é visível a olho nu a não ser quando se observa quando
a mãe esta colocando agua para ferver e a agua se liquidifica na tampa da panela,
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associando isso as experiência que eles possuem e isso chamou a atenção deles e a
recordação do que eles já haviam presenciado em suas casas.
Foram trabalhadas as questões relacionadas ao tratamento de água e esgoto na
cidade de Uberlândia, mas antes disso foram realizados questionamentos e pedido que
fizessem desenhos de como isso era feito e assim houve a exposição de uma cartilha que
trata sobre o tema para que houvesse a compreensão dos aspectos que envolvem esse
tratamento.
O momento final foi a realização do jogo de perguntas e respostas que eles
esperavam já há algum tempo, esse momento foi de muita importância, pois o jogo é
algo que as crianças gostam como coloca Friedmann (1996 p. 35) “Num jogo as
crianças são mais ativas mentalmente do que em um exercício. Os jogos são, fora da
sala de aula, uma atividade satisfatória e merecem ser levados [...] para tornar a
educação mais compatível com o desenvolvimento das crianças”, já Delval (1998)
relata
O jogo possui uma enorme importância educativa [...]. por meio do jogo a criança pode
aprender uma grande quantidade de coisas, tanto na escola como fora dela, e o jogo não
deve ser tratado como uma atividade supérflua, nem deve ser estabelecida uma oposição
[...]. já que o jogo desempenha um papel tão necessário no desenvolvimento, a educação
deve aproveita-lo e tirar o máximo de vantagens do mesmo. A criança deve sentir que
através desse jogo poderá aprender uma grande quantidade de coisas. (DELVAL, 1998
p. 94)
E através desse trabalho foi possível concluir o processo ensino-aprendizagem
do tema hidrografia dessas crianças, que ao final obteve-se o êxito esperado, no qual as
crianças compreenderam a importância da água.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir desse trabalho foi possível verificar que a escola publica, ainda é
deficiente no que tange o ensino de disciplinas, como a geografia, que estão presentes
nos parâmetros curricular nacional, que é essencial para que a criança tenha noção de
elementos simples que a rodeiam, como a sua própria casa, o caminho que percorre até
a sua instituição de ensino.
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5017
Foi averiguado que, de forma simples, lançando mão, de processos para a
efetivação no que tange o ensino-aprendizagem tradicional sem a utilização de
tecnologias é possível que se obtenha êxito e que a criança compreenda o que é
ensinado.
As crianças compreenderam a importância do ciclo hidrológico a maneira como
a chuva é formada bem como a sua precipitação, a necessidade que o nosso corpo
possui em relação a agua, as questões relacionadas ao tratamento de água e esgoto, o
procedimento adotado desde a captação da mesma até que ela chegue na casa de cada
um.
Assim o desenvolvimento deste trabalho foi muito importante para verificar que
não basta apenas passar o conteúdo para o aluno/criança de forma como simples aula
com quadro e giz, é possível agregar outras formas de ensino que fazem parte do
cotidiano das crianças como os jogos e brincadeiras o que torna o processo ensino-
aprendizagem prazeroso.
Além disso, há a importância de que no ensino de geografia é necessário de que
o educador considere os conhecimentos prévios que os seus alunos possuem,
considerando as suas vivências, o que aprenderam ao longo das suas experiências
práticas, teóricas (ensinado na escola), a observação e o contato que possuem com os
amigos e colegas. Para trabalhar com o ensino de geografia, é importante que se realize
uma sondagem em forma de diálogo ou um jogo de perguntas e respostas a fim de que
se conheça o que de fato a criança sabe e a partir daí fazer o planejamento da melhor
forma de se trabalhar o conteúdo, no ensino formal ou informal.
REFERÊNCIAS
CARLETO, E. A. Atividades lúdicas: rompendo o cerco da mesmice. In: SILVA, M. S.,
CUNHA, M. D, da (org). Politicas e práticas docente: alternativas em construção.
Uberlândia: EDUFU, 2004 p. 125 – 150.
CHARLOT, Bernard. A Mistificação Pedagógica: realidades sociais e processos
ideológicos na teoria da educação. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1986.
DELVAL, J. Crescer e pensar: a construção do conhecimento na escola. Porto
Alegre: Artes Medicas, 1998.
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FRIEDMANN, A. Brincar, crescer e aprender – o resgate do jogo infantil. São
Paulo: Moderna, 1996.
PONTUSCKA, N. N., PAGANELLI, T. I., CACETE, N. H. Para ensinar e aprender
geografia. São Paulo: Cortez, 2007.
MIZUKAMI, M.G.N. et al. Escola e Aprendizagem da Docência: Processos de
investigação. São Carlos: EDUFSCAR, 2002.
OLIVEIRA, S. R., et al. Uma reflexão sobre aprendizagem escolar e o uso do conceito
de solubilidade/miscibilidade em situações do cotidiano: concepções dos estudantes.
Revista Química Nova Escola Vol. 31 N° 1, fevereiro 2009. Disponível em:
<http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc31_1/05-CCD-0508.pdf>. Acesso e 15 de maio de
2013.
VIANA, I. O. A. Metodologia para o trabalho cientifico: um enfoque didático da
produção cientifica. In:___. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária Ltda, 2001
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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PAPEL DA GEOGRAFIA NO ENSINO POLITÉCNICO: A SAÚDE
ECOLÓGICA NA CONSTRUÇÃO DO PROJETO DE VIDA DOS
ALUNOS DA 2ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO DO INSTITUTO
EDUCACIONAL CARDEAL ARCOVERDE – PASSO FUNDO/RS
Paula Terres Carvalho1
Gislaine Carvalho Cabral2
RESUMO
A educação está passando por mudanças em seu sentido estrutural, criando novas perspectivas
de ensino para dentro das salas de aula do Ensino Médio Gaúcho. Esse processo iniciou-se em
2012, dando prosseguimento no ano corrente. O projeto prevê a formação humana e, para cada
série, é criada uma proposta de trabalho. A segunda série está desenvolvendo um planejamento
do futuro, buscando incentivá-los a sonhar e concretizar as metas nos próximos anos. Dentro
dessa premissa, a criação do “Projeto de Vida” se apoia nos parâmetros da Organização Mundial
de Saúde para uma vida equilibrada, onde são identificadas 8 áreas ou saúdes que permitem uma
vida plena e feliz. As áreas se relacionam ao corpo físico, a preocupação ambiental, formação
profissional, financeira, familiar, social, intelectual e espiritual, promovendo a construção de um
projeto que considere todas as áreas necessárias à realização plena do indivíduo. Este estudo,
portanto, se propõe a pensar o papel da Geografia no contexto do ensino politécnico, visto que
essa ciência possui uma dimensão bastante real na construção particular dos espaços. Pela forte
ligação com o meio ambiente, a “Saúde Ecológica” tornou-se a temática a ser abordada pelo
professor de Geografia. A possibilidade de aplicar a educação ambiental nas salas de aula
proporcionou também, discussões bastante válidas entre as relações existentes nas duas áreas do
conhecimento. O aluno sensibilizado durante esse processo levará essa prática para sua casa,
para a família e amigos, possibilitando a ampliação da área impacto. Quando são atingidos de
forma dinâmica e criativa, eles interagem com o meio e compreendem a necessidade de cuidar,
de preservar a natureza da qual dependem. O papel da Geografia, frente aos problemas
ambientais é essencial, pois a compreensão do tempo e do espaço está relacionado às
transformações na natureza, portanto refletindo seus aspectos diretamente na educação, que
necessita de processos inovadores para construir uma nova realidade, baseada numa ótica da
consciência e da atitude de preservação, da troca de modos e costumes, sendo pensado e
repensado para um novo ser humano, o qual tem em suas bases de formação a educação para o
meio ambiente.
Palavras-Chave: Ensino Médio Politécnico, Geografia, Educação Ambiental.
INTRODUÇÃO
1 Bacharel e Licenciada em Geografia, Especialista em Educação Socioambiental e professora da
rede pública de ensino; [email protected] 2 Licenciada em Geografia e professora da rede pública e privada de ensino; EEEM São Paulo de
Tarso – [email protected]
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Novas perspectivas de ensino estão se delineando no cenário educacional do
Brasil e a partir disso, outras práticas pedagógicas têm sido pensadas para se adaptar as
mudanças ocorridas no Ensino Médio gaúcho. O ajuste do ensino regular para formato
em questão, politécnico, inseriu aulas organizadas através de projetos e elaboradas de
acordo com as realidades dos estudantes.
O presente artigo vem tenta compreender o papel da Geografia frente a essa
modalidade, especificamente projeto desenvolvido na escola Instituto Educacional
Cardeal Arcoverde (IECA), pois as perspectivas de trabalho são direcionadas para a
formação cidadã, ainda que do ponto de vista do sistema produtivo.
Pela versatilidade que a ciência geográfica possui, em decorrência da quantidade
de temas que permeiam as discussões em sala de aula, há que se buscar uma forma de
inserir o assunto bem como de preparar atividades relacionadas aos eixos temáticos
propostos. Ainda que a ideia seja de integração das áreas do conhecimento, existe certa
compartimentação por parte dos professores, devido à formação acadêmica tiveram nas
universidades.
A PROPOSTA DO ENSINO POLITÉCNICO
A fim de conhecer a proposta do Ensino Médio Politécnico, primeiramente far-
se-á um resgate dos objetivos e estruturação do projeto instaurado nas escolas estaduais
do Rio Grande do Sul, desde 2012, focado em múltiplas técnicas para o
desenvolvimento pessoal do aluno. Inicialmente, cabe informar, que o projeto tomado
por base para esse texto chama-se “Proposta Pedagógica para o Ensino Médio
Politécnico e Educação Profissional Integrada ao Ensino Médio” (Disponível em:
www.educacao.rs.gov.br). Foi desconsiderado, para esta análise, a educação
profissional, uma vez que esse sistema não foi implantado na escola em estudo.
De acordo com a proposta, dentro da politecnia pretende-se articular as áreas do
conhecimento com os eixos cultura, ciência, tecnologia e trabalho, reconstruindo as
estruturas curriculares, onde serão inseridos assuntos de bases sociais para a construção
de novas práticas de trabalho em sala de aula. É importante ressaltar que se entende por
politecnia o “domínio dos fundamentos científicos das diferentes técnicas que
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5021
caracterizam o processo de trabalho produtivo moderno” (SAVIANI, 1989, p. 17).
Sabendo que essa etapa “deve ter uma base unitária sobre a qual podem se
assentar possibilidades diversas como preparação geral para o trabalho ou
facultativamente, para profissões técnicas; na ciência e na tecnologia, como iniciação
científica e tecnológica; na cultura como ampliação da formação cultural” (CNE/CEB –
Resolução nº 04/2010, art. 26, § 1º) e a fim de oferecer essas práticas há que reformar as
estruturas interdisciplinares / multidisciplinares onde também deve haver a inserção de
assuntos de bases sociais para a construção de novas práticas de trabalho em sala de
aula.
A fim de garantir a entrada dessa proposta no sistema de ensino, estruturalmente
o Ensino Médio sofreu uma mudança bastante significativa: houve um aumento de 20%
na carga horária anual, que deve ser destinada ao desenvolvimento de propostas
diferenciadas, que podem se configurar em estágios ou outras ações ligadas ao mercado
de trabalho. As atividades diferenciadas terão crescimento gradativo na grade curricular,
passando de 25% da carga horária no 1º ano, 50% no 2º ano e 75% no último ano de
estudo e as aulas que ocorrerem sob essa categoria serão denominadas de Seminários
Integrados. Dentro da parte formal do EM, trabalhar-se-á a partir das áreas do
conhecimento (humanas, linguagens, natureza, matemática) e far-se-á avaliação
emancipatória, que privilegia a postura e as participações na construção do
conhecimento (RIO GRANDE DO SUL, 2011, p. 22-24).
Foi uma grande mudança na lógica educacional das séries finais no Rio Grande
do Sul, ainda que haja muitas adaptações a serem realizadas e muito a ser discutido e
organizado dentro dos limites das instituições de ensino. Entre os alunos também se
percebe certa confusão, uma vez que as mudanças os atingiram em meio ao processo de
estudo e não é fácil para ninguém se adaptar as mudanças. Com um foco mais
comunicativo e menos conteudista, muitos não possuem uma formação argumentativa e
sentem profunda dificuldade em expor ideias e trabalhar opiniões.
PROJETO DESENVOLVIDO NO INSTITUTO EDUCACIONAL CARDEAL
ARCOVERDE – IECA
Tendo por base o documento do politécnico e orientações recebidas em
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5022
encontros realizados pela assessora pedagógica da escola, formou-se um grupo de
professores3 que ficou encarregado de produzir o projeto a ser realizado no Ensino
Médio da escola. Estes educadores engajaram-se na proposta por terem conhecimento
da realidade dos estudantes, pois atuam mo local há tempo considerável além de
possuírem vontade e determinação de abraçar o desafio.
Após terem ciência do trabalho a realizar, iniciaram os debates também com
outros colegas a fim de gestarem e construírem o plano seguido atualmente na
modalidade do politécnico do IECA. A cada troca de professores modifica-se também
os parceiros nessa empreitada, o que causa um pouco de dificuldade na execução das
atividades, mas também agrega novos olhares sobre o projeto.
Ao elaborar as estratégias e decidir os temas, estabeleceu-se os objetivos a serem
alcançados:
* perceber a importância da pesquisa e da construção do conhecimento no dia a dia e no
mundo do trabalho;
* preparar o estudante para atividades de pesquisa no cotidiano e em suas atividades
profissionais;
* desenvolver a autonomia e responsabilidade do estudante em suas decisões pessoais;
* desenvolver a autonomia do estudante na construção do conhecimento (pesquisa
ativa);
* integrar os componentes curriculares e religar seus saberes, através da
interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade, buscando dar ao estudante uma visão
mais completa do conhecimento;
* desenvolver a noção de responsabilidade social do conhecimento e da atuação
profissional. (IECA, 2012, p. 02)
Após as discussões, elegeu-se três temáticas a serem trabalhadas para cada série
do EM. Para o primeiro ano, destacar-se-á a pesquisa, em suas questões teóricas e
práticas. Nesse período de estudo serão colocados fatos sobre o cotidiano dos alunos
que serão orientados a seguir linhas de raciocínio que irão fazê-los questionar “como se
faz”, “por que se faz” e assim introduzir a pesquisa como prática de seu dia-a-dia.
Para o segundo ano a proposta é a descoberta das potencialidades individuais,
conhecendo as profissões a fim de projetar o futuro. Nessa etapa, como os conceitos e
estruturas mais básicas de pesquisa já fazem parte de seu aprendizado, a ideia é instigá-
los a compreender seus fortes e desenvolver possíveis estruturas de organização de um
3 Os integrantes originais são: Helena Glória Pieri (Matemática), André Martinelli Piassom (Ciências
Humanas), Elita Treviso (Linguagens) e Leida Fátima Aimi (Ciências da Natureza).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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futuro promissor, além de criar uma consciência mais cidadã sobre o meio onde vivem.
Para encerrar essas práticas, no terceiro ano, a atividade a ser realizada será
baseada na criação de um trabalho de conclusão, que versará nas bases do que foi
desenvolvido em anos anteriores: pesquisa e trabalho. Atualmente somente está em
execução as atividades relacionadas aos primeiro e segundos anos, pois a nova proposta
foi implantada em 2012 e segue gradativamente a sequência.
Ainda assim, essas práticas estão sendo realizadas a partir do que se “acha”
certo, pois não houve e ainda não há tempo reservado para essas discussões na escola.
Também é preocupante o nível de engajamento dos estudantes, visto que alguns buscam
empregos formais ou cursos profissionalizantes fora da escola para completar a
formação e se prepararem para o mercado de trabalho, sendo impedidos de frequentar o
contraturno.
Para fazer um bom trabalho, são sugeridas reformulações, é avaliada a
receptividade dos alunos em relação as atividade e o desenvolvimento que cada questão
levantada suscita e promove dentro de cada turma. É um trabalho difícil, demanda
grande planejamento, muitas vezes, para cada turma individualmente, pois as realidades
se diferem, mesmo dentro da mesma escola.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Neste artigo, procurou-se apresentar a inserção da Geografia nesse novo modelo
de educação que vem sendo aplicado no Rio Grande do Sul. A proposta da segmentação
por áreas de conhecimento ainda não está totalmente clara, portanto, ainda há muita
dificuldade em reconhecer os papeis de cada ciência e de cada profissional, dentro do
estabelecimento de ensino.
A deficiência de professores nas escolas públicas é muito grande, devido a
diversos fatores, mas isso pode causar inusitadas situações, como professores de
matemática trabalhando com ensino religioso ou professores de educação física
lecionando filosofia a fim de completar sua carga horária. Nessa perspectiva foi que, a
primeira autora desse trabalho, obteve a carga horária de um período de Seminário
Integrado, com uma turma do 2º ano, desencadeando o grande desafio de descobrir o
que é o politécnico além de promover as atividades referentes ao projeto da escola.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Para o desenvolvimento das atividades na turma, buscou-se orientação com os
integrantes do grupo de professores, que, apesar de não possuírem um tempo
determinado para se reunirem e discutirem suas ações, estão sempre se comunicando,
buscando realizar um trabalho de qualidade. Através do contato com os colegas, foi
possível descobrir sobre o planejamento anual da série e organizar a forma de trabalho,
visto que ficaria encarregada de uma carga horária pequena.
Conforme já foi dito, a temática do 2º ano aborda o desenvolvimento de suas
potencialidades, preparando-os para a escolha da profissão a seguir e orientando-os
quanto a construção de sua cidadania. Para isso, prevê-se para essa série a criação de um
projeto de vida, discutindo a vida pessoal, profissional, civil, e buscando reconhecer o
que quer ser futuramente e como ser aquilo que se deseja.
Para orientar o desenvolvimento do trabalho do ano, depois das discussões
relacionadas às fases de construção, a diferença entre sonho e realidade e a visão da
realidade em que vive frente àquilo que quer, passou-se a etapa de conhecer as saúdes
que compõe uma vida plena e feliz. Amorim explica mais sobre essas saúdes em seu
texto “Projeto de Vida, todos temos um” quando escreve:
Saúde Física: está relacionada com o corpo físico. O corpo é o meio pelo qual
podemos manifestar toda nossa essência. [...] Saúde Espiritual: diz
respeito ao autodesenvolvimento como Ser. [...] Saúde Intelectual: aborda o
aprendizado.[...] Saúde Familiar: contempla os relacionamentos familiares. [...] Saúde
Social: faz relação com a sociedade como um todo. [...] Saúde Financeira: está
relacionada com as finanças. [...] Saúde Profissional: prevê sobre a carreira
profissional. [...] Saúde Ecológica: diz respeito a natureza e o planeta Terra. [...] (2009,
p. 01, grifo do autor).
Essas saúdes estão presentes em diversos textos que tem como tema o projeto de
vida e por isso foram incorporadas no projeto da escola.
Considerando isso, foi solicitado que a professora, pela sua proximidade com a
área ambiental, trabalhasse as questões que envolvem a “Saúde Ecológica” e, a partir
daí também elaborasse um planejamento de como as atividades seriam realizadas, a fim
de dar suporte aos demais professores que estão trabalhando nas séries equivalentes e
que não tem formação nessa área.
A ideia, nessas aulas, é levantar muitos debates e introduzir cada vez mais aos
alunos a necessidade de criar argumentos, de emitir opiniões e de firmar posições frente
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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às situações discutidas, para que possam agir sobre ela e mudar as próprias realidades.
Para trabalhar esses aspectos, buscou-se utilizar temáticas atuais e técnicas aliadas a
tecnologia, uma vez que muitos estão inseridos nesse meio, mesmo que ainda não o
entendam por completo. Os assuntos elegidos para o desenvolvimento das aulas se
baseiam no essencial e no supérfluo, a fim de discutir, posteriormente, o consumismo e
para as práticas de conservação do ambiente, relacionadas aos cinco R’s (reduzir,
reutilizar, reciclar, repensar e recusar).
A questão que causou inquietação da professora não foram os conteúdos, mas
sim a relação que a Geografia tem com a Educação Ambiental, uma vez que se trata de
duas ciências que se utilizam do espaço como área de estudo ainda que o questione de
formas diferentes. Para isso, foi preciso fazer um levantamento bibliográfico da relação
existente a fim de nortear melhor também as atividades que estão sendo planejadas e
desenvolvidas em sala de aula, com os alunos.
É notória a interferência do homem no meio vem desde a existência da raça e
permeia modificações em pequena, média e grande escala. Nessa perspectiva, Oliveira
(2007, p. 28) coloca que
Uma das competências da geografia, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais
para o Ensino Médio (PCNEM), é a de analisar e comparar, interdisciplinarmente, as
relações entre preservação e degradação da vida no planeta, tendo em vista o
conhecimento de sua dinâmica e a mundialização dos fenômenos culturais, econômicos,
tecnológicos e políticos que incidem sobre a natureza, nas diferentes escalas [...].
Por isso, a escola é a entidade mais preparada, ou deveria ser, para iniciar a
alfabetização ambiental e sustentável, visto que é muito mais eficaz construir hábitos
que mudá-los. É preciso também, resgatar ou promover a construção de uma nova
concepção de meio ambiente, pensando numa perspectiva de formação de uma nova
visão da sociedade perante a natureza. Sobre isso Freire coloca também que,
(...) daí a necessidade de ser a educação ambiental [...] não apenas uma educação de
conteúdos, mas, prioritariamente, de postura. De um comportamento frente ao mundo.
De conscientização de valores da VIDA e da ética humana. Educação esta que exige de
nós um distanciamento reflexivo para entendermos como vimos tratando a natureza,
distorcida e contraditoriamente, por que somos parte dela. No lugar de estarmos
vivendo dela devemos estar com ela. (2003, p.13)
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Discutir meio ambiente nunca foi uma tarefa fácil para a humanidade,
principalmente quando se entendeu que todos os impactos que esse vem sofrendo é
resultado da ação humana.
Mendonça (2004, p. 23) aponta que o “meio ambiente, atualmente, em voga é
propalado na perspectiva que engloba o meio natural e social” e, entendendo que a
Geografia é uma das ciências que se preocupam justamente pela intervenção do homem
sobre o espaço, percebe-se como essa ciência
mostra-se capaz de subsidiar o debate sobre a chamada sociedade de consumo e o atual
modelo desenvolvimentista, no qual não basta consumir o necessário, mas também o
supérfluo, o que leva ao uso desmedido da natureza. Esse tipo de comportamento
confere as relações do homem com meio ambiente um caráter extremamente agressivo,
o que dificulta as práticas de sustentabilidade (OLIVEIRA, 2007, p. 29).
Se os trabalhos a serem realizados, devem primar especificamente pela
prevenção e não pela correção, como se vem fazendo com os problemas ambientais até
hoje, a educação tem um papel fundamental de conscientização. O fato de se precaver
justifica-se pelo custo que cada impacto tem, não só financeiro, mas social e natural,
pois há casos de extinção total de recursos, independente das atitudes que sejam
tomadas. Com o trabalho de reconhecimento que a Geografia promove aos alunos, da
sociedade onde vivem, é possível incutir neles as necessidades ambientais que possuem
e a importância de preservar aquilo que os matem vivos na Terra.
Quando Alberto (2000, p. 141) sugere que “O ensino da Geografia deve educar
geograficamente as pessoas para o mundo onde vivem e não estar apenas vocacionado
para formar futuros geógrafos”, faz pensar sobre a real validade dos conceitos formados
e sobre a brilhante proposta de finalmente construir um conhecimento muito mais
próximo do aluno, que os interesse e que realmente faça parte de seu cotidiano.
Portanto, com toda a relação existente sobre as duas áreas de estudo (Geografia e
Educação Ambiental) analisadas, entende-se há formação necessária a fim de contribuir
com a construção de aprendizados e também instigar os alunos a buscar saber cada vez
mais sobre o local onde vive, podendo assim, agir sobre ele de forma consciente e
cidadã.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desafio está lançado aos professores do Ensino Médio: reestruturar um
segmento do ensino a partir de práticas diferenciadas e temáticas diversificadas. Sem
entrar no mérito da estrutura escolar ou da competência dos profissionais, está em vigor
um novo processo de ensino que pretender recriar a educação e transformar o sistema de
ensino na última fase da educação obrigatória. Isso é fato.
Durante a implantação desse modelo, ainda acontecerá muitas modificações,
muitos debates e rupturas, antes que esteja completamente consolidado. Isso se não
houver uma mudança de governo, que estacione a proposta e ofereça outras mudanças a
serem realizadas. Ainda assim, até 2014 as escolas gaúchas terão passado para um
sistema de ensino que, com todos os problemas que possui, instituiu um marco relevante
a educação: a formação de uma visão mais crítica a cerca do aprendizado.
A redução de carga horária formal desobrigou os professores a se focar em
ensinar os conceitos mais técnicos e abriu a perspectiva de ensinar diretamente sobre
aquilo que tem relevância para o pensar e o agir do estudante, o que oportuniza uma
educação mais cidadã. A curto prazo, muitas melhorias devem ser realizadas, ainda se
está pouco instruído sobre o que fazer e como fazer, mas espera-se que a médio e longo
prazo essas posturas possam estar mais claras e embasadas por reuniões mais didáticas e
explicativas bem como a organização de carga horária e horas atividades que
contemplem a execução de planejamentos entre os membros do grupo e também de
socialização aos demais professores da escola.
O projeto particular de cada escola precisará de mais apoio e tempo de
planejamento, para que possa realmente se estruturar de acordo com as necessidades dos
alunos. Aquele em vigor hoje, não será necessariamente executado da mesma forma nos
anos posteriores, pois sempre deverá levar em conta a realidade de cada turma
ingressante. Para isso, há grande necessidade de preparo didático e científico.
Por fim, analisando a perspectiva de conhecimento do professor sobre a temática
que vem trabalhando e sobre sua competência profissional em desenvolver atividades
que realmente venham a somar, percebeu-se que a Geografia possui uma ligação muito
forte com a Educação Ambiental e que isso permite uma fácil assimilação dos assuntos
aos conteúdos geográficos.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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É sabido da necessidade de sempre estar se aperfeiçoando e buscando saber
sobre as realidades, mas percebeu-se que a formação profissional na área permite um
ajuste bastante eficiente em relação aos conteúdos a serem trabalhados bem como a
promoção de discussões, debates e questionamentos a cerca do ambiente e das condutas
que se percebe na atualidade.
Os conceitos que permeiam a geografia, como o Lugar, a Paisagem, o Espaço
Geográfico, a Região, a Globalização, dentre tantos outros, facilmente são associáveis
aos assuntos que devem ser trabalhados em sala de aula, dentro do Seminário Integrado.
Esse tipo de proximidade facilita aos professores estimular a aprendizagem e também a
criar técnicas e práticas que possam levar o aluno a construção do s saberes, objetivo
final de um ensino cidadão.
Humberto Gessinger, músico gaúcho, diz em uma de suas canções que “somos
um exército, o exército de um homem só, sem bandeiras, sem fronteiras, pra defender”
(2009, p. 196) e, é nessa perspectiva que a Geografia pode contribuir para a prática da
educação ambiental: transcender as diferenças, os limites impostos pela sociedade
capitalista e fazer cada um rever atitudes que trarão consequências graves ao meio
ambiente e, consequentemente, a todos que vivem no planeta. Há em cada pessoa, a
força de um exército.
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OS DESAFIOS DE SER UM ALUNO DA EaD NO CURSO DE
GEOGRAFIA DA UFRN
Eloíza Lima e Souza
1
Bernardino Galdino de Sena Neto2
Taize Manuela da Silva3
RESUMO
Com o incremento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e a novas
possibilidades de interação virtual, percebe-se um aumento pela procura de alunos por cursos
realizados na modalidade a distância (EaD), tendo em vista a flexibilização do tempo, o suporte
tecnológico e as formas síncronas e assíncronas de comunicação, que fazem da modalidade um
campo de estudo interativo e ilimitado. Assim, identificar e compreender as principais
dificuldades enfrentadas pelo aluno EaD, enquanto sujeito de um processo de ensino-
aprendizagem renovado, quando ingressos no curso de Licenciatura em Geografia e com foco
na metodologia utilizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, através da
Secretaria de Educação a Distância-SEDIS, é o principal objetivo desse trabalho. Para a
construção da análise, foram utilizados questionários voltados aos alunos do curso em
referência, buscando elencar as questões que norteiam à pesquisa, baseando-se ainda a discussão
em teorias que tratam do ensino a distância no Brasil. Como resultados, chegou-se a
apontamentos que generalizam as discussões em torno das angústias mais presentes em grande
parte do alunado EAD, consequência do parâmetro novo que a modalidade formaliza, ensejando
novas perspectivas nos processos educacionais recentes, que tendem a enfocar nas TICs, um
meio novo de se perceber a aprendizagem como parte de um centro maior de forças, por onde se
elencam propostas pedagógicas específicas, interação entre professor, aluno e tutor, e
principalmente autonomia do estudante no tocante ao seu processo formador enquanto sujeito
principal desse processo.
Plavras chave: Educação a distância, Autonomia, Desafios.
INTRODUÇÃO
A tecnologia tem promovido mudanças significativas em diversas áreas do
conhecimento, especialmente na área educacional. Essa afirmação pode ser justificada
1 Universidade Estadual da Paraíba; Secretaria de Educação a Distância da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte; [email protected]
2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte; [email protected]
3 Universidade Federal do Rio Grande do Norte; [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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pela criação de diversos cursos de nível superior adaptados à modalidade da educação a
distância (EaD), dentre eles o curso de Licenciatura em Geografia da UFRN, foco desse
trabalho.
Com a crescente oferta de vagas e o compromisso de manter a mesma qualidade
do curso presencial, os cursos a distância tem sido alvo de interesse de uma clientela
não mais limitada ao público dos tempos dos cursos por correspondência, que consistia
especialmente da classe trabalhadora, tendo atualmente despertado o interesse em escala
considerada, dos alunos recém egressos do ensino médio, que veem na mediação
tecnológica propiciada pelas diversas fontes informacionais voltadas para a área
educacional, um meio atrativo de se construir o conhecimento com base sólida entre a
teoria e a prática que a universidade preconiza.
O aluno de educação a distância da atualidade é um aluno que acompanha todo o
processo dinâmico da sociedade através das tecnologias de informação e comunicação
(TIC), em que os processos são mais rápidos e práticos, ou seja, é um aluno que deve
estar conectado com a informação e o conhecimento na busca da autonomia em seu
aprendizado, que é mediado pelo acesso à informação virtual e dinâmica que o uso da
internet favorece. Assim, essas tecnologias digitais assumem o papel de desmistificar a
complexidade criada pelo aluno, para que ele possa entendê-las como fontes
inesgotáveis de conhecimento e não como um bloqueio na construção do saber.
No entanto essa é uma definição parcial do perfil do aluno de EaD, pois é de
acordo com os objetivos desse aluno que a outra parte do seu perfil vai ser formulada,
seu maior desafio não se resume a aprender, mas a compreender o conhecimento
proporcionado através das TIC, como fonte ilimitada de acesso, descobrindo, portanto,
de maneira autônoma como essas informações podem ser potencializadas no seu
processo de aprendizagem, ampliando sua capacidade de adaptação às novas formas de
aprender e saber definir quais atitudes e informações são necessárias para atingir seus
objetivos.
Dessa forma, este artigo tem como objetivos mostrar os desafios enfrentados
pelos alunos da educação a distância e as estratégias encontradas por eles para enfrentar
essas dificuldades, abrindo espaço para que possam expor suas dúvidas e expectativas
em relação ao curso de Geografia na modalidade EaD da UFRN, especificamente do
polo Caicó.
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REFERENCIAL TEÓRICO
A educação a distancia é uma modalidade de ensino mediada pelas tecnologias
de informação e comunicação que vem ganhando espaço pelo seu potencial qualitativo,
equivalente ao de um curso presencial, que sugere um processo de aprendizagem virtual
com o intuito de ampliar o espaço educacional, para que muitas pessoas, que por
motivos econômicos, por falta de tempo ou mesmo pela distância, possam ter a
oportunidade de ingressar na faculdade, ou seja, é um modelo acadêmico que visa
corrigir a exclusão criada pela rapidez de um mundo globalizado, através das
ferramentas que alimentam a dinâmica da sociedade tecnológica. De acordo com kenski
(2012, p.17):
Na atualidade, as tecnologias invadem novo cotidiano. Alguns autores contemporâneos
falam mesmo que estamos vivendo em plena sociedade tecnológica e por essa razão
buscamos novas formas de viver, estudar, se relacionar.
Contudo essa modalidade de ensino abre portas para esse novo perfil estudantil,
no sentido de promover o desenvolvimento de suas habilidades, permitindo que o aluno
possa construir seu conhecimento com liberdade de assimilar os conteúdos propostos
essencialmente com o apoio dos recursos tecnológicos que lhe são oferecidos. Embora
se utilize bastante essa forma à distância, o aluno da educação dessa modalidade de
ensino possui um grande suporte pedagógico. Nesse contexto é o professor e o tutor a
distância, que se apresentam de forma indireta e mesmo ausente fisicamente, estarão
sempre prontos para interagir com o aluno através da plataforma de comunicação
disponibilizada pelo curso. De forma concreta a EaD também possui suporte presencial
como: o polo que funciona como apoio aos principais serviços pedagógicos, o tutor
presencial que exerce um papel de mediação dos conhecimentos materializados.
Segundo Schlosser (2010, p.6):
A educação a distância pode ser entendida como a modalidade educativa que possibilita
aos estudantes desenvolver habilidades para que sejam capazes de construir seus
próprios conhecimentos, com liberdade de criar novas formas de aprender e entender
apoiados por recursos tecnológicos. No contexto dessa modalidade, compreende-se que
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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estar distante não é estar ausente e em repouso, mas sim estar atento e pronto a interagir
com o novo, estabelecendo outras formas de contato e comunicação.
O processo de aprendizagem na modalidade a distância é mediado pelas
tecnologias de informação e comunicação, processo esse que é incentivado pelo
rompimento com o modelo acadêmico tradicional de ensino em consequência da
globalização provocada pelos meios informacionais, do crescimento do uso dessas
tecnologias e da influência que essas fontes de informação e comunicação exercem na
vida das pessoas, no intuito de ampliar as fontes de acesso ao conhecimento no meio
acadêmico, a fim de incluir todas as pessoas que estão fora do ciclo educacional, de
forma que essas pessoas possam ingressar em uma faculdade e obter um curso superior,
já que essa modalidade oferece possibilidades para que se torne possível a
aprendizagem através do processo de autonomia.
Todavia mesmo com todo aparato oferecido pela modalidade de ensino, ser e se
entender como um aluno da educação a distância de fato é um desafio. A opção por essa
modalidade transporta a esse sujeito uma carga de responsabilidade em sistematizar
seus estudos buscando construir sua autonomia em relação aos seus horários de estudo,
atenção nas datas das referentes atividades e principalmente estar conectados nos
ambientes virtuais, mantendo-se sempre atualizados nas informações disponibilizadas
no ambiente virtual.
Desse modo, aprender com instrumentos auxiliadores como as TIC não é tarefa
fácil, pois quase todo processo de aprendizagem é realizado a distância de forma que o
aluno passa a ser o administrador de seus estudos, através do processo de autodaxia
(consiste na aprendizagem de forma individual por parte do aluno, em que ele aprenderá
a criar seus métodos de estudo de acordo com a leitura que fará do material),
considerado principal característica dessa respectiva modalidade. O aluno elabora seus
métodos e seu cronograma de estudo de acordo com o seu tempo disponível oferecendo
vantagem flexibilidade e comodidade para estudar.
Na UFRN a adesão à educação a distancia representou uma ação ousada, quando
foi necessário maximizar os espaços de gestão para viabilizar os requisitos básicos ao
desenvolvimento dessa modalidade de ensino na instituição. Assim, Dantas e Rêgo
(2012, p.113) enfatizam que “o alicerce da EAD na UFRN foi iniciado no plano de
Desenvolvimento Institucional 1999-2008, que estabelecia a intenção de
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institucionalizar essa modalidade de ensino". A universidade atenta para tais
transformações que ocorriam no final da década de 90 para o início dos anos 2000,
quando iniciaram esse processo de implantação de cursos nessa modalidade se
integrando a um quadro ampliação e inovação na educação. O Projeto Político
Pedagógico (PPP, 2006, p.1) do curso de Geografia a distância, explica tal importância
dessa implementação, quando justifica que:
A universidade atenta às mudanças e atuando como agente impulsionador delas assumiu
para si a tarefa de interferir agindo em diversas frentes: produção de conhecimento e
tecnologia, criação de novas profissões, reorganização e ampliação daquelas já
existentes, introdução de novas tecnologias na condução do processo de formação.
Ainda segundo o PPP (2006, p.10) do curso é neste momento que se apresenta a
proposição a Licenciatura em Geografia na Modalidade à Distância que aconteceu de
maneira coletiva no empenho do Centro de Ensino Superior do Seridó – CERES,
Campus de Caicó/UFRN, do antigo Departamento de História e Geografia hoje
Deparamento de Geografia, O Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – CCHLA,
Departamento de Geografia e a Secretaria de Ensino a Distância – SEDIS, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Com a implantação de cursos a distância
oferecidos por uma instituição pública abriu-se um leque de oportunidade para um
público que há muito tempo buscava a gratuidade e a otimização do tempo para estudar,
assim promovendo a formação de novos profissionais da Geografia como explicitado no
PPP (2006, p.10) do curso.
A Licenciatura em Geografia na modalidade EaD se propõe a formar professores para
atuar no Ensino Fundamental e Médio, preferencialmente, para aqueles profissionais que
atuam na rede pública de ensino sem a formação exigida. Essa formação requer o
contato com equipamentos, ideias, conteúdos, metodologias que permitam a leitura e
representação do espaço, de forma abrangente. Essa condição qualifica o profissional
com dispositivos científicos e técnicos para interferir ética e criticamente, construindo
um conhecimento que leva em consideração a preservação e a transformação da vida
planetária, respeitando a diversidade sócio-espacial e ambiental existente.
Dessa maneira a educação a distância tem tomado uma posição de destaque no
âmbito da educação. De forma geral essa realidade de ensino tem se consolidado cada
vez mais, sobretudo, nos países em desenvolvimento onde as novas tecnologias da
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informação e comunicação também tem se tornado acessível para a sociedade.
No estado do Rio Grande do Norte, pela UFRN/SEDIS, existem 9 polos de
apoio: Caicó, Currais Novos, Macau, Nova Cruz polos que a UFRN é mantenedoras e 5
polos que são uma parceria com a UAB (Universidade Aberta do Brasil) e as
prefeituras. Todas ofertam o curso de licenciatura em Geografia, o que significa uma
grande contribuição para a formação de novos profissionais de Geografia.
O polo Caicó, que é o local dessa pesquisa, já formou uma turma de licenciados
em Geografia e possui três turmas em curso, com entradas em 2007.2, 2010.1 e 2012.2,
o que mostra a importância e a procura deste curso nessas regiões do estado otimizando
o tempo e o espaço para esse novo público que é formado principalmente por
professores que ainda não possuem nível superior, ou professores de outras áreas de
conhecimentos.
Conforme enfatiza o PPP (2006, p.3):
A carência de professores licenciados em áreas específicas é um dado por demais
conhecido e comprovado na Região Nordeste do Brasil. Segundo dados do INEP,
baseados no Censo Escolar de 2003, ainda é possível encontrar professores lecionando
no ensino médio e dispondo apenas de formação no nível fundamental.
Existe também um público de trabalhadores, mães de família e até adolescentes
que não obtiveram sucesso em outros vestibulares. São esses os alunos que ingressam
na modalidade a distância e são recebidos com uma demanda de novas formas de
aprender, estudar, conhecer e especialmente enfrentar os desafios que são lançados,
rompendo paradigmas métodos de aprendizagem, experimentando do universo virtual,
ou seja, do novo.
METODOLOGIA
Como foi exposto anteriormente, o aumento pela procura de cursos na
modalidade a distância revela que o mesmo trata-se de um modelo acadêmico com
potencial educativo igual ao de um curso presencial, que se destaca por ser uma
modalidade de ensino que procura adequar seus meios de ensino a realidade da
sociedade contemporânea.
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Esse processo de aprendizagem é mediado pelas Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC), incentivado pelo rompimento tradicional de ensino, em
consequência da globalização provocada pelos meios informacionais, do crescimento do
uso dessas tecnologias e da influencia que essas fontes de informação e comunicação
exercem na vida das pessoas, ampliando assim as fontes de acesso ao conhecimento.
Dessa forma, uma parcela da população que se encontra à margem dos centros
educacionais em nível superior, percebe uma nova forma de inserção junto aos meios
acadêmicos, obtendo uma graduação através de uma modalidade de ensino que é capaz
de oferecer boas possibilidades de aprendizagem, por onde se observa como pontos
principais, a autonomia do aluno junto ao seu processo formativo, uma vez que a
modalidade exige flexibilidade de tempo, espaço e interação.
Para o alcance dos objetivos propostos, foi realizado uma pesquisa com alunos
do 2º período do curso de Licenciatura em Geografia, modalidade EaD, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte/UFRN – Campus Caicó, na perspectiva de elencar
possíveis encaminhamentos aos principais questionamentos feitos na gênese desse
trabalho.
O questionário foi elaborado com seis perguntas, objetivando identificar as
dificuldades encontradas no processo de aprendizagem do aluno do referido curso,
sendo uma questão subjetiva e cinco objetivas.
Foram entrevistados 10 alunos da turma que ingressou na UFRN no período
2012.2, que correspondem a cerca de 30% da turma que tem ao todo 32 alunos. As
entrevistas ocorreram entre os dias 10 e 17 maio do ano de 2013.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A primeira pergunta consistiu em um questionamento aberto, buscando descobrir
se o entrevistado acredita que o curso de geografia, na modalidade EaD, é tido como um
desafio, e por quê. Do total de 10 (dez) entrevistados, todos afirmaram que sim, por se
tratar de um modelo onde as aulas práticas e presencias são poucas, e devido a
aprendizagem ser feita através do processo de autodaxia, exigindo muita dedicação,
disciplina, compromisso e organização. Nesse quesito um dos entrevistados afirma que:
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“... No curso de geografia na modalidade a distancia somos autônomos, ou
seja, somos responsáveis pela nossa aprendizagem”.(E.3)
A questão dois, indagou sobre quais das opções elencadas, eram pontos de
dificuldade, representando desafios para o aluno de EaD no curso de Geografia. As
alternativas eram: a) a ausência do professor em sala de aula; b) a adaptação as
ferramentas de trabalho; c) a autonomia sugerida pelo curso; d) o diálogo on-line; e)
Constantes alterações (Calendário, matrícula, plataforma, interpretação do papel do
tutor); f) as formas de avaliação; g) o material didático. De maneira geral, cerca de 90%
dos entrevistados afirmaram que a ausência do professor em sala de aula, é um dos
maiores obstáculos no processo de adaptação à modalidade a distância, e 10% enfatizou
ser o diálogo on-line, por se tratar de uma nova linguagem formal utilizada nos
ambientes virtuais acadêmicos, uma vez que, o diálogo nesses espaços de comunicação
e conhecimento precisa ser utilizado de maneira formal, clara e objetiva.
Em sequência, foi apresentado um questionamento sobre a ausência de aulas
práticas e presenciais como um dos desafios enfrentados pelo aluno do referido curso,
sendo unânime a resposta, quando os 10 (dez) entrevistados afirmaram que sim.
Já o questionamento quatro, indagava, o que o aluno pensa sobre a proposta de
autonomia oferecida ao aluno da EaD, no seu processo de adaptação a essa modalidade,
as respostas estão no gráfico 1.
GRÁFICO 1. RESPOSTAS DOS ALUNOS ENTREVISTADOS DO POLO CAICÓ TURMA
20012.2 RELAÇÃO À QUESTÃO Nº 4.
Fonte: Levantamento primário de dados (2013)
Difícil 10%
Fácil 10%
Desafiante 50%
Vantajoso 30%
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Como esperado, cinquenta por cento dos alunos do curso de Geografia,
entendem que a autonomia oferecida pela modalidade EaD é desafiante, pois a
percepção sobre o modo de estudar a distância, por se tratar de algo novo para a
maioria, torna-se algo a ser gerenciado em seu cotidiano de forma a suprir a lacuna
física entre professor, aluno e demais colegas. Trinta por cento, vê a autonomia como
algo vantajoso, uma vez que ele pode optar por horários flexíveis de estudo,
organizando seu tempo de acordo com as suas necessidades de trabalho, lazer dentre
outros. Os demais entrevistados, somam o percentual de vinte por cento, sendo metade
destes que opinam sobre as dificuldades e a outra sobre as facilidades no processo de
autonomia pregada pela modalidade, ao aluno.
O último questionamento buscou saber se o aluno concorda que todos os
desafios impostos pela modalidade, são essenciais para sua formação e contribuirão de
maneira decisiva para o seu sucesso como futuro profissional. Nesse quesito, 100% dos
entrevistados afirmaram que sim, apontando para o dado que mostra o desafio do novo
como meio propulsor para o aluno buscar cada vez mais o conhecimento necessário
para a sua boa formação acadêmica e profissional.
Após a análise dos dados, é perceptível que, apesar do curso de Geografia EaD,
a exemplo dos demais que compõem essa modalidade de ensino, ser um curso que
oferece flexibilidade e comodidade, é também um modelo que exige bastante
compromisso e disciplina por parte do aluno. De modo que o mesmo possa ter êxito em
seus objetivos e possa enfrentar esses desafios e alcançar um diferencial que venha a
contribuir para a sua formação enquanto um profissional sólido, experiente, crítico e
capaz de se adaptar as diversas situações como afirmaram os alunos do curso de
Geografia EaD da UFRN, alvos desse processo investigativo que culminou nessas
considerações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com o que foi descrito na presente pesquisa tornou–se possível chegar
à conclusão de que a educação a distância é um desafio para o aluno ingressante da
EaD, não apenas por se tratar de um novo modelo acadêmico ou por se dar a distancia,
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mas por ser um modelo que propõe a quebra de um sistema tradicional de ensino em
troca de uma educação voltada para a inclusão de pessoas que desejam ter um curso
superior.
As tecnologias da informação e comunicação são dotadas de um sistema que
propõe a autonomia, o que torna essa maneira de estudar bastante desafiante. Embora se
utilize bastante essa forma à distância, o aluno dessa modalidade de ensino possui um
grande suporte pedagógico que existi a fim de minimizar problemas de adaptação
integrando esse aluno ao novo contexto de estudar
Contudo foi possível através dessa pesquisa evidenciar que é desafiante ser um
aluno da EaD, mas que também é possível e adaptável, visto que essa modalidade de
ensino é uma grade oportunidade para muitos que desejam profissionalizar-se fazendo
dessa oportunidade uma forma de realizar conquistas futuras com a mesma qualidade de
um curso presencial.
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KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. 6. ed.
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2000. Disponível em: <http//www.socinfo.org.br/livro_verde/ download.htm>. Acesso
em: 2009.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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GEOGRAFIA E LITERATURA: UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA
NO PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DE EDUCAÇÃO DE
JOVENS E ADULTOS (PEJA)
Flávia Priscila Ventura
1
André Luís Messetti Christofoletti2
RESUMO
Buscamos apresentar neste trabalho a experiência realizada no Projeto de Extensão
Universitária de Educação de Jovens e Adultos (PEJA) da Unesp Câmpus de Rio Claro-SP, que
une Literatura e Geografia, especificamente com a abordagem do livro Vidas Secas de
Graciliano Ramos, no desenvolvimento de atividades sobre migrações campo-cidade e inter-
regional com educandas migrantes.
Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos; ensino de Geografia, Literatura.
INTRODUÇÃO
“Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes”
(Paulo Freire)
Este artigo se propõe a apresentar algumas reflexões a partir da atuação no
Projeto de Extensão Universitária3 de Educação de Jovens e Adultos (PEJA) ressaltando
o uso de textos literários como recurso pedagógico no ensino de Geografia.
Como modalidade de ensino formal, a EJA, possui características distintas da
educação de crianças, apresentando especificidades que devem ser consideradas nas
práticas pedagógicas, sendo um campo fecundo para a realização de trabalhos que
1 Autora; Licenciada e Bacharel em Geografia; Mestranda em Educação pela Unesp- Campus de Rio
Claro; [email protected]; 2 Co-autor; Licenciado em Geografia e graduando na modalidade Bacharel em Geografia na UNESP-
Câmpus de Rio Claro-SP; [email protected]; 3 Atuação como educadores nas atividades do Projeto de Educação de Jovens e Adultos (PEJA): práticas
e desafios da UNESP- Câmpus de Rio Claro-SP. Projeto que busca: identificar, registrar e propor práticas
educativas que contribuam para a participação social mais efetiva de jovens e adultos, que ficaram à
margem da escolarização regular; propor espaços de atuação, em classes de jovens e adultos, que
contribuam para a formação de educadores, entre alunos graduandos, pela efetivação de práticas
investigativas e pedagógicas.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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valorizam as experiências, saberes e dizeres dos educandos.
Segundo dados do Censo Demográfico de 2010, o Brasil possui 50,2% de
pessoas sem instrução ou com o Ensino Fundamental incompleto, entre a população de
10 anos ou mais de idade, argumento que reforça a necessidade de propostas
pedagógicas a serem desenvolvidas na EJA.
A partir da experiência de atuar junto a comunidades compostas por migrantes,
cujos saberes emergem a cada encontro, foi possível perceber que a temática migração é
fundamental e relevante, pois esse tema, ao mesmo tempo em que é “acionado”
pedagogicamente, é inerente à condição dos educandos migrantes. Nesse sentido,
possibilita uma abordagem bem próxima dos sujeitos, de suas vidas e experiências, na
busca por aprendizagens significativas. Assim, o professor de Geografia torna-se o
responsável por promover uma interlocução considerando algumas temáticas
(migrações campo-cidade e inter-regional, transformações no espaço geográfico e
outras) com a condição migrante dos educandos.
Através da leitura do romance Vidas Secas de Graciliano Ramos (1968), que
funcionou como disparador do diálogo4 entre educadores e educandos
5 emergiram
saberes regionais. Saberes esses resultantes da experiência, como apresenta BONDÍA
(2002):
A experiência funda [também] uma ordem epistemológica e uma ordem ética. O sujeito
passional tem também sua própria força, e essa força se expressa produtivamente em
forma de saber e em forma de práxis. O que ocorre é que se trata de um saber distinto do
saber científico e do saber da informação, e de uma práxis distinta daquela da técnica e
do trabalho.
O saber de experiência se dá na relação entre o conhecimento e a vida humana. De fato,
a experiência é uma espécie de mediação entre ambos. (BONDÍA, 2002, p.26-27)
Como nos diz Paulo Freire em alguns de seus escritos, jovens e adultos pouco ou
não escolarizados, são também detentores de conhecimentos, o que lhes permite fazer
interpretações sobre sua realidade. Problematizar, trazer à tona, essas visões de mundo,
ancorada na dialogicidade do processo pedagógico, cujo fazer é com e não pelo outro, é
uma importante prática a ser perseguida. Ainda segundo Paulo Freire, é do preconceito
4 Diálogo entendido como: “(...) relação horizontal de A com B. Nasce de uma matriz crítica e gera
criticidade (Jaspers)” (FREIRE, p. 115, 2005). 5 Turma do Projeto de Educação de Jovens e Adultos formada por mulheres migrantes oriunda do
norte do estado de Minas Gerais.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5043
entre um conhecimento e outro, das desvalorizações de saberes, que se impede a
interpretação do real.
O diálogo e a problematização não adormecem a ninguém. Conscientizam. Na
dialogicidade, na problematização, educador-educando e educando-educador vão ambos
desenvolvendo uma postura crítica da qual resulta a percepção de que este conjunto de
saber se encontra em interação. Saber que reflete o mundo e os homens, no mundo e
com êle, explicando o mundo, mas sobretudo, tendo de justificar-se na sua
transformação.(FREIRE, 1980,p.55)
Assim, leitura de livros, particularmente literários, e algumas músicas regionais
podem enriquecer o trabalho pedagógico e permitir que os saberes dos educandos sejam
apresentados por eles. A oralidade na EJA é fundamental como apresenta Mota e Souza
(2007)
Os falares das pessoas analfabetas ou pouco escolarizadas são o canal autêntico de
expressão da sua tradição cultural, de registro das suas experiências de vida, de
viabilização de estratégias comunicativas a fim de lidar com as tarefas cotidianas.
Podemos encontrar adultos pouco escolarizados que têm um excepcional domínio da
expressão oral: contadores de histórias, poetas, repentistas, líderes populares.
Entretanto, deparamo-nos com uma grande maioria que tem seu discurso marcado por
experiências de privação, humilhação e isolamento, decorrentes do distanciamento da
sua performance em relação aos parâmetros discursivos daqueles considerados
socialmente bem sucedidos. (MOTA e SOUZA, p.511, 2007).
O livro de Graciliano Ramo foi escolhido e proposto para as educandas por
entendermos que abre possibilidade de dialogar com suas experiências de vida. O
romance conta a história de uma família de migrantes no sertão nordestino, que ruma
em busca de uma terra fértil. Chama-nos a atenção, e aqui apresentamos também a
oralidade, que Mota e Souza descrevem. Durante nossos encontros, as educandas
revelaram pela oralidade muitos fatos de suas vidas que as identificam com a trama de
Vidas Secas.
OBJETIVOS
Apresentar elementos que possam contribuir para o campo do ensino de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5044
Geografia na Educação de Jovens e Adultos, através do uso da literatura como elemento
textual que traz à tona saberes geográficos que dialogam com as experiências dos
educandos e proporcionam aprendizagens significativas.
O TRABALHO DESENVOLVIDO
Para compor esse trabalho fazemos uso da estratégia metodológica, descrita
abaixo.
Inicialmente realizamos a leitura do primeiro capítulo do livro Vidas Secas
de Graciliano Ramos, com um grupo de educandas do Projeto de Educação de jovens e
adultos (PEJA) 6, apresentando uma rápida biografia do autor do livro e seu local de
nascimento, estado de Alagoas. Nesse grupo de educandas, a combinação de fatores
como gênero e migração é expressiva, pois, composta por mulheres de diversas regiões
do Brasil, essa turma, ‘materializa’, nas falas de suas educandas, diversas histórias dos
locais de origem, das migrações campo-cidade e inter-regionais. Por meio de suas
histórias, relatos, ou na forma de pequenas narrativas, expandem-se as manifestações
culturais, os saberes da experiência da vida no campo como, por exemplo, os períodos
das cheias e secas da região, das colheitas e plantios, emergem nos encontros.
Posteriormente levamos imagens da paisagem descrita no livro, da vegetação de
caatinga e mapas de localização dos biomas brasileiros. Partimos do conhecido para o
desconhecido, da planta conhecida para os motivos dela estar naquele bioma. O livro
além de permitir a problematização da temática seca pelo olhar do vivido, atua como
disparador de temáticas que vão sendo trazidas nos encontros.
RESULTADOS
O texto literário, Vidas Secas, possibilitou um processo de ensino-aprendizagem
que despertou nas educandas o interesse pela leitura, permitindo um diálogo sobre o que
é a seca, por que ocorre, onde ocorre, qual é a paisagem observada, além de levantar
6 Os encontros com as educandas ocorrem duas vezes por semana com duração de duas horas, nas
salas de uma ONG que atende principalmente crianças das comunidades dos bairros Bonsucesso e Novo
Wenzel, Rio Claro-SP.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5045
questões sociais da população residente no semi-árido brasileiro e das migrações
internas no país. Os períodos de cheias e colheitas, a paisagem, as plantas e seus usos
culinários e medicinais se articularam com os conhecimentos escolarizados tornando a
aprendizagem significativa. A Literatura pode, portanto, integrar-se ao ensino de
Geografia compondo importante disparador para reconhecer saberes regionais a serem
respeitados e trabalhados na EJA e, sobretudo, compor possibilidades de transformação,
ou seja, ampliação e aprofundamento de uma leitura crítica dos contextos em que se
inserem os educandos.
Como apresentou Paulo Freire:
Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos: Por isso mesmo pensar certo coloca
ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os saberes com
que os educandos, sobretudo os das classes populares, chegam a ela – saberes
socialmente construídos na prática comunitária- mas também (...) discutir com os alunos
a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos (...) Por
que não estabelecer uma necessária “intimidade” entre os saberes curriculares
fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos?
(FREIRE, 1997. p.32)
Sobre a leitura e suas potencialidades, como afirma Certeau (2001) não há a
passividade no ato de ler:
(...) a atividade leitora apresenta, ao contrário, todos os traços de uma produção
silenciosa: flutuação através da página, metamorfose do texto pelo olho que viaja,
improvisação e expectação de significados induzidos de certas palavras, intersecções de
espaços escritos, dança efêmera. (CERTEAU, 2001, p. 49).
Assim como apresentado por Martins (2006), propomos uma integração entre a
Arte Literária e o ensino de Geografia no processo de alfabetização de jovens e adultos,
apontando para as leituras que nos transformam:
(…) que la experiencia es una relación en la que algo tiene lugar en mi. En este caso,
que mi relación con el texto, es decir, mi lectura, es de condición reflexiva, vuelta para
adentro, subjetiva, que me implica en lo que soy, que tiene una dimensión
transformadora, que me hace otro de lo que soy. Por eso, después de la lectura, yo ya no
soy el mismo que era, ya no puedo mirarme impávido al espejo. (BONDÍA, p.93, 2006)
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Por meio da experiência como educadores em uma turma do PEJA, procurou-se
apresentar a potencialidade da Literatura integrada a Geografia na educação de Jovens e
Adultos, reforçando a necessidade do diálogo entre as áreas do conhecimento, articulada
a valorização das experiências dos educandos. Cabe também, destacar a extensão
universitária como local da experimentação pedagógica de professores em formação.
Espaço da união entre teoria e prática e propiciador de questionamentos, em nosso caso
os seguintes: Quais outras formas de possibilitar aproximações interdisciplinares da
Geografia com outras áreas do conhecimento? Qual o grau de importância é dado pelo
professor à fala de seus educandos e valorização de suas experiências de vida? Como
tem sido pensado o ensino de Geografia a jovens e adultos no Brasil? Qual a
receptividade do professor de Geografia ao desenvolvimento de novas práticas na
educação de jovens e adultos?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BONDÍA, J. L. Sobre la experiencia. Revista Aloma, Filosofia de la Educación, nº 19,
2006, p. 87-112. Disponível em <
http://www.raco.cat/index.php/Aloma/article/viewFile/103367/154553 > Acesso em 15
jun 2012.
BONDÍA, J. L. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira
de Educação, nº 19, Jan/Fev/Mar/Abr, 2002, p. 20-28.
CERTEAU, M de. A invenção do cotidiano: 1. Arte de fazer. Petrópolis, Ed.Vozes,
2001.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro. 8ª ed. Paz e Terra, 2005.
FREIRE, Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1997.
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junho de 2012.
GRAMOS, G. Vidas Secas. São Paulo, Livraria Martins Editora, 1968.
MARTINS, V. C. A didática no processo de alfabetização de jovens e adultos: Uma
leitura do cotidiano da geografia e de textos literários. (Mestrado em Geografia)
Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5047
2006. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-26062007-
135639/pt-br.php> Acesso em: 15 jun 2012.
MOTA, K. S. e SOUZA, J. F. de. O Silêncio é de Ouro e a Palavra é de Prata?
Considerações Acerca do Espaço da Oralidade em EJA. Revista Brasileira de
Educação, nº36, Set/Out/Nov/Dez, 2007, p.505-514. Disponível
em:<http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v12n36/a09v1236.pdf > Acesso em: 15 jun 2012.
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PRÁTICA SÓCIO-ESPACIAL, DIDÁTICA E CURRÍCULO DA
GEOGRAFIA - ESCOLA MUNICIPAL GUILHERME DE MIRANDA
SARAIVA
Camila de Faria Silva
1
Lídia de Souza Silva2
RESUMO
O objetivo deste trabalho é mostrar o resultado da entrevista realizada com estudantes, com a
intenção de conhecer sua prática sócio-espacial, suas impressões sobre o Ensino de Geografia e
o papel da Escola no atual contexto de mudanças sócio-espaciais em que estão inseridos. A
Escola Municipal Guilherme de Miranda Saraiva, também conhecida como Escola das
Casuarinas, possui cerca de mil e trezentos alunos, atendendo do primeiro ao segundo segmento
do ensino fundamental. Situa-se na área central do município de Itaboraí – Região
Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro – sendo uma das escolas de referência da cidade, e,
assim atraindo alunos de diferentes bairros do município. A realização da entrevista para
conhecer a prática sócio-espacial dos estudantes inspirou-se na Pedagogia Histórico- Crítica
(Saviane: 1984), que propõe como ponto de partida de um projeto pedagógico o conhecimento e
o reconhecimento do perfil sócio-cultural do alunado, e de suas práticas e saberes espaciais. No
atual contexto a Escola Municipal Guilherme de Miranda Saraiva possui diferentes realidades,
porque existem transformações sócio-econômicas envolvendo alguns elementos que implicam
no cotidiano da escola, na paisagem ao redor, e, ao receber alunos de outros municípios. Poderá
aproveitar essa oportunidade no que tange a relação do ensino, para trabalhar pedagogicamente
de forma diferenciada, sensibilizando os alunos sobre realidade em que Itaboraí seu município
está inserido. Os alunos demonstraram claramente como as mudanças que estão ocorrendo na
cidade de Itaboraí, em função do COMPERJ, estão presentes no seu cotidiano, e interferindo em
suas práticas sócio-espaciais, identificando um sentido de progresso e contraditoriamente, o
aumento da violência. No que tange ao ensino de geografia, se destaca o rico material para
pensar o espaço onde o aluno se sinta parte de sua construção, como sujeito geográfico. Assim,
é necessário a valorização dos conhecimentos espaciais prévios do aluno, para que ele consiga
fazer um link na compreensão do espaço em que vive e os conceitos ensinados na escola.
Palavras-chave: Ensino de Geografia - Pratica sócio-espacial – Mudanças espaciais
AS PRÁTICAS-ESPACIAIS DOS ALUNOS VÃO AO ENCONTRO DA
GEOGRAFIA, OU A GEOGRAFIA DEVE IR AO ENCONTRO DAS PRÁTICAS
E SABERES DOS ESTUDANTES?
O município de Itaboraí passa, atualmente, por grandes transformações
1 Bolsista Pibid – CAPES; [email protected]
2 Bolsista Pibid – CAPES; [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5049
socioeconômicas e espaciais, em função da instalação do Complexo Petroquímico do
Rio de Janeiro – COMPERJ, um dos principais investimentos da Petrobras no país,
previsto para entrar em operação no ano de 2014.
O conhecimento geográfico é utilizado e retido por um pequeno grupo
dominante que aproveita as estratégias que esse saber fornece para fins econômicos, os
lugares aonde vão se localizar a indústria, os trabalhadores, fatores naturais favoráveis a
instalação de uma usina, esses fatores econômicos e outros são decididos
estrategicamente. Um saber estratégico que a massa consumidora negligencia, por não
saber seu valor ideológico fortalecendo o monopólio dominante sobre a população. Yves
Lacoste (1984) afirma uma miopia, um sonambulismo, a falta de interesse em relação
aos fenômenos geográficos.
A Escola Municipal Guilherme de Miranda Saraiva situa-se na área central do
município de Itaboraí – Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro – sendo uma
das escolas de referência da cidade, atuando com o primeiro e segundo segmento do
Ensino Fundamental, atraindo alunos de diferentes bairros do município, e no atual
contexto alunos de diferentes regiões brasileiras, e, até de outras nacionalidades.
Esta atividade faz parte do Sub projeto de Geografia do Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação à Docência - Pibid, e contou com a participação dos professores
de geografia da escola, e seus alunos. A entrevista foi realizada na própria escola.
A base pedagógica do Projeto propõe a vinculação da geografia da vida
cotidiana com os conteúdos a serem ensinados, em seus relatos de experiências
cotidianas a partir de realidades individuais (porém coletivas)(Faustini:2009), tratar dos
conceitos e temas geográficos, fazendo com que o aluno esteja inserido na problemática
estudada.
“A construção geográfica de uma sociedade é o resultado das práticas e saberes
espaciais. Os saberes vêm das práticas ao tempo que as orienta. E desse amálgama surge
à sociedade geograficamente construída.” (Moreira:2013)
Nas práticas sociais da população as pessoas, ao se deslocarem, passam por
espaços “ignorados”, conhecem apenas um ou dois lugares (onde moram e trabalham),
com os meios de transportes e rodovias, as práticas espaciais se estenderam socialmente,
se tornando complexamente em práticas “multiescalares” (Lacoste:1988).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Figura 1: Imagem da E.M.G.M.S/Lugares das minhas práticas espaciais (Fonte: Goolge earth,
23/05/2013)
A geografia é o conhecimento do espaço em suas várias dimensões e escalas.
Pelo desenvolvimento da cartografia, que se utiliza de cartas que são leituras do espaço,
é possível ter maior domínio sobre este nos mínimos detalhes, bem como em uma visão
ampla da totalidade; são as “múltiplas escalas”.
Assim, uma leitura espacial reespacializa lugares, dando-lhes novas funções por
diferentes usos do espaço. Essa compreensão de prática e poder em geografia são
somente dos oficiais que utilizam os saberes geográficos como uma arma para
manipulação, quando hoje o governo e as grandes empresas fazem acordos para uso e
lucros através do espaço. A geografia possibilita a visualização do território com suas
fronteiras, limites e propriedades naturais, e também a interação homem com o meio
produzindo esse espaço e modificando-o. Ao oposto dessa geografia militante, onde os
componentes interagem, a “geografia dos professores” (Lacoste) se tornou fragmentada
e teórica, em que tudo se explica, tudo se sabe, porém um saber sem função, pois a
interação dos elementos na ciência geográfica é o que lhe dá sentido, porque é a ciência
do dinamismo; seu objeto de estudo muda constantemente.
“A prática espacial vai estimulando comparações, ensejando ao homem atos de
sistematização do quadro de experiências extraindo aos poucos níveis de generalização
do aprendizado em forma de conhecimentos abstratos, as práticas espaciais assim se
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5051
transformando em saberes espaciais.” (Moreira: 2013, pág. 1)
A preocupação com a realidade social dos alunos é contraditória com a
organização dos conteúdos de forma fragmentária do padrão N-H-E (Lacoste, 1988;
Moreira: 2006) que, em detrimento das práticas sócio-espaciais e dos saberes
geográficos dos alunos, fundamenta-se numa concepção tradicional de geografia.
A proposta do Projeto é romper com este padrão de organização pedagógica e
curricular, a partir das idéias de Yves Lacoste (1988) e Dermeval Saviani (1984). Estes
autores consideram a importância das práticas sociais e dos saberes dos estudantes. Com
a análise sócio-espacial dos alunos pôde-se estabelecer uma série de questões a respeito
da estrutura de planejamento das aulas de Geografia, da relação que os conteúdos da
disciplina podem estabelecer com a realidade sócio-espacial dos alunos.
Neste contexto a realização da entrevista para conhecer a prática sócio-espacial
dos estudantes inspirou-se na Pedagogia Histórico- Crítica (Saviani: 1984), que propõe
como ponto de partida de um projeto pedagógico o conhecimento e o reconhecimento
do perfil sócio-cultural do alunado, e de suas práticas e saberes espaciais.
Saviani (1984) em seu livro Escola e Democracia, propõe 5 passos para uma
prática metodológica de ensino, onde educação e sociedade estejam vinculados. O autor
parte da crítica da pedagogia tradicional, das pedagogias da ação (escolanovismo,
pedagogia do trabalho) e de seu caráter crítico-liberal, mas também das pedagogias
críticas de caráter marxista de cunho reprodutivista.
Com base nesta crítica, Saviani apresenta sua proposta de uma pedagogia crítica
das relações sociais do capitalismo e sugere a organização didática na escola baseada
em passos em torno do eixo prática-teoria-prática (vinculação sociedade-educação).
Entretanto, o autor distingue cinco passos.
O primeiro passo é o prático sócio espacial do aluno, analisando que o professor
possui o conhecimento do senso comum, cotidiano e o conhecimento científico, assim
detém a prática da síntese de saber entrelaçar os conhecimentos e transmiti-lo em
conteúdo para o aluno. Enquanto o aluno possui uma bagagem de informações
desorganizadas em seu intelecto que adquire pelos vários meios de comunicação e
também sua cotidianidade; logo, a modulação da organização do conhecimento aos
alunos é feita pela construção conjunta do educador e do educando.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5052
O segundo passo para uma construção histórico crítica do ensino é a
problematização da prática social, ou seja, identificado qual a questão que precisa ser
resolvida no cotidiano do aluno. Identificar os principais problemas da prática social dos
alunos, e, a partir daí formular/organizar os conhecimentos que são necessários para o
entendimento destas problemáticas em diferentes escalas.
No terceiro passo busca tomar posse de instrumentos teóricos que decomponham
o problema, e as práticas que levem à sua resolução. Uma forma tecnicista se insere no
processo, mas considerando a apropriação pelas camadas populares, é denominado por
Saviani de Instrumentalização, onde se tenta diminuir a desigualdade de acesso a
instrumentos culturais e teóricos pelas camadas populares.
O quarto passo é sobrepor uma superestrutura a estrutura que encontramos,
numa tentativa de realizar a construção de conhecimento, a catarse, começando da
prática social espacial do aluno. Tornando instrumentos culturais transformados em
elementos de transformação social.
O quinto passo é caracterizado pela experimentação, a qual depende e muito do
momento anterior, a catarse, será o momento de confirmar que o aluno deixa de ser o
acumulador de informações desordenadas. Em suma sua volta à prática social, onde
fique expresso a elevação do nível de conhecimento crítico do aluno com relação à
problemática social - “Uma desigualdade no ponto de partida e uma igualdade no ponto
de chegada” (Saviani: 1984, p. 76).
A intenção da atividade realizada com uma amostra de alunos, é transformar o
conteúdo da entrevista em problemas relacionados às sua práticas/saberes espaciais, e
simultaneamente, aos conteúdos do currículo de geografia.
CONHECENDO AS PRÁTICAS ESPACIAIS DOS ESTUDANTES
A partir de uma amostragem de alunos do 7° ano do Ensino Fundamental II, que
se dispuseram a participar da entrevista, pudemos separar a atividade em três
momentos:
1°) Conhecer os estudantes;
2°) Questões sobre Itaboraí e o ensino de Geografia;
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3°) Mudanças espaciais que estão ocorrendo no município
Na primeira e na segunda parte os alunos foram entrevistado individualmente, a
terceira etapa em grupo com o auxilio do poema de Manuel Bandeira “Minha Terra”,
que introduziu o tema da entrevista:
Minha terra
"Saí menino de minha terra.
Passei trinta anos longe dela.
De vez em quando me diziam:
Sua terra está completamente mudada,
Têm avenidas, arranha-céus...
É hoje uma bonita cidade!
Meu coração ficava pequenino.
Revi afinal o meu Recife.
Está de fato completamente mudado.
Têm avenidas, arranha-céus.
É hoje uma bonita cidade.
Diabo leve quem pôs bonita a minha terra!”
Manuel Bandeira (1886- 1968)
RESULTADOS
Os alunos entrevistados demonstraram claramente como as mudanças que estão
ocorrendo na cidade de Itaboraí, em função do COMPERJ, estão presentes no seu
cotidiano, e interferindo em suas práticas sócio-espaciais.
Neste sentido os alunos compreendem as mudanças advindas com o COMPERJ
positivamente, quando falam de mudanças no sentido de progresso, geração de
empregos, porém identificam problemas, como: o aumento da violência, da poluição,
dos problemas com o trânsito, entre outros.
Algumas falas:
“A geografia nos ajuda a compreender as coisas da cidade” Walace, sobre o Ensino de
Geografia.
-“Vem mais pessoas de fora; a cidade fica mais perigosa, veio atraindo muitos
empresários, vem melhorando a cidade.” Vinicíus, sobre o COMPERJ.
-“É mais rural, tem bastante plantações, as ruas não são urbanizadas, e também não tem
muita população”. Letícia, sobre Paisagem Rural e Urbana, no seu bairro.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Figura 2: Imagem para comparação entre a área urbana de Itaboraí e a área do COMPERJ (Fonte Google
earth, 22/05/2013)
Na entrevista em grupo, sobre o poema e as mudanças espaciais, algumas falas à
respeito dessas transformações:
- “Coisas que eram rurais, agora é urbano”.
- “Itaboraí antes era só laranja, agora tem mais prédios”.
- “Ele queria que não ocorressem essas mudanças”.
-“Antes era muito mais tranquilo”
Em suma, se deve pensar, no que tange o ensino de geografia, em uma nova
forma de se pensar o espaço onde o aluno se sinta parte de sua construção, e se entenda
como sujeito geográfico. Assim, é necessário a valorização dos conhecimentos espaciais
prévios do aluno, para que ele consiga fazer um link na compreensão do espaço em que
vive e os conceitos ensinados na escola.
CONCLUSÃO
Os alunos percebem claramente como as mudanças que estão ocorrendo na
cidade de Itaboraí, em função do COMPERJ, estão presentes no seu cotidiano, e
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interferindo em suas práticas sócio-espaciais. Compreendem positivamente as
mudanças, quando falam do sentido de progresso, de geração de empregos; porém
identificam problemas, como o aumento da violência, da poluição, do trânsito, entre
outros.
E partindo do conceito de PAISAGEM, quando perguntados sobre as
características do local onde moram, e a ralação entre paisagem rural e paisagem
urbana, os alunos não conseguem reconhecer nas mudanças espaciais que estão
ocorrendo em Itaboraí às características peculiares da paisagem urbana, de acordo com
a realidade de suas práticas espaciais. Assim muitos ficam em dúvida se Itaboraí é rural
ou urbano.
Os estudantes demonstraram bastante interesse em ajudar nas futuras atividades
do projeto, e ficaram animados no decorrer do trabalho. Com base nos resultados têm-se
um rico material em temáticas para serem trabalhadas por toda equipe do projeto, e
principalmente pelos profissionais da escola
A valorização dos conhecimentos prévios do aluno é fundamental para
estabelecer ligações com a compreensão do espaço em que vive, e os conceitos
ensinados na escola. O conteúdo da entrevista demonstrou-se material primário para
isso. Pois, como afirma Ruy Moreira (2013, pág. 1) “tudo na geografia começa e se
resolve nas práticas espaciais”.
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Conhecimentos. Papirus: Campinas- SP
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em 2013.
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PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS ESTUDANTES DA EDUCAÇÃO DE
JOVENS E ADULTOS NA ESCOLA CRISTIANO CARTAXO,
CAJAZEIRAS, PARAÍBA
Ana Cristina Ferreira Neta1
Prof. Dr. Josenilton Patrício Rocha2
RESUMO
Este artigo traz uma discussão sobre o perfil socioeconômico dos estudantes do 3º ano do
Ensino Médio (EJA), na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Cristiano Cartaxo na
cidade de Cajazeiras, Estado da Paraíba no ano de 2012. Esses dados foram coletados mediante
aplicação de questionários abrangendo os aspectos: econômicos, sociais e a relação que
estabelecem os alunos com a disciplina geografia, este último aspecto têm sido motivo inúmeros
debates, discussões e fóruns, em que se têm colocado a preocupação dos profissionais ligados à
educação. Constatamos que a grande maioria dos alunos dessa modalidade de ensino “não
gostam” de estudar geografia.
Palavras-Chave: Educação de Jovens e Adultos; Ensino de Geografia, Escola Pública.
CAMINHOS PERCORRIDOS PELA PESQUISA
Esta pesquisa surgiu das demandas identificadas durante a execução do Projeto
Extensão: “A Universidade da Escola”, financiado pelo Programa de Bolsas da Pró-
Reitoria de Extensão – PROBEX. Entendemos que a atividade de ensinar é sempre um
desafio e no caso da Educação de Jovens e Adultos - EJA, esta característica se
apresentou ainda maior. Assim, fomos confrontados com a questão: Como ensinar
Geografia na modalidade Educação de Jovens e Adultos? Na tentativa de responder
esta questão, tendo em vista traçar o melhor caminho para a intervenção nas aulas de
Geografia dessa modalidade de ensino, recorremos à leitura e discussão da legislação
que gere esse sistema e algumas pesquisas que estudam o processo de ensino-
aprendizagem.
A partir das leituras efetuadas sobre a legislação que regulamenta a EJA no
1 Bolsista/PROBEX-UFCG; [email protected].
2 Coordenador/PROBEX-UFCG; [email protected]
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5058
Brasil, observamos que essa modalidade foi implantada com o objetivo de atender a um
público particular composto por alunos trabalhadores que se encontram fora da faixa
etária escolar adequada. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei
9.394/96) no Artigo 37, parágrafo 1º: “Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente
aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular,
oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado,
seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames”
(BRASÍLIA, 2009, p. 58).
Essas demandas ficam a cargo de cada sistema de ensino conforme o exposto no
Artigo 6º da Resolução CNE/CEB Nº 1, de 5 de julho de 2000, que atribui “cada
sistema de ensino definir a estrutura e a duração dos cursos da Educação de Jovens e
Adultos, respeitadas as diretrizes curriculares nacionais, a identidade desta modalidade
de educação e o regime de colaboração entre os entes federativos” (CNE/CEB Nº 1,
2000,p.02). No caso da escola em questão participante do projeto, a modalidade EJA
passou a ser oferecida a partir do primeiro semestre de 2012 com a duração de um ano e
meio, ou seja, em regime acelerado o que impôs uma dinâmica própria para adequar-se
a essa realidade específica.
Essas características presentes no alunado e mencionadas pela LDB têm caráter
subjetivo, pois, segundo Cavalcanti (2008, p. 36), o indivíduo é um ser social e suas
experiências são construídas no relacionamento com outros indivíduos e com o espaço
onde realiza sua vida. Neste contexto, educar geograficamente é auxiliar os alunos no
desenvolvimento do “pensamento geográfico” tendo como instrumentos de referência as
situações cotidianas que são dotadas de espacialidades, de simbolismo, significados e
“representações”.
Kimura (2011) entende que devemos conceber o aluno dentro do seu contexto
social, onde o mesmo influencia e é influenciado por uma gama de elementos e
situações cotidianas, ou seja, cada ser humano interioriza a realidade de forma diferente,
a partir da relação que estabelece em sociedade. A Autora afirma ainda que o ensinar-
aprender geografia perpassa por uma relação “dialógica” entre os atores envolvidos
neste processo. Por isso, é primordial que o professor conheça o perfil e o contexto
social do alunado.
Outro aspecto considerado é o fato de que ao discutir um conteúdo em sala de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5059
aula o professor deve considerar o conhecimento prévio do aluno a cerca do assunto
abordado, motivando-o a expressar a sua visão sobre o mesmo através de
questionamentos. Só assim o professor saberá o grau de conhecimento do aluno sobre a
temática (LESANN, 2009, p. 43). No âmbito escolar, segundo Meira (2003, p.62), deve
ser o local, em que, os conhecimentos que foram historicamente desenvolvidos, e serão
compartilhados com os indivíduos, que por sua vez, irão utilizar os conceitos
apreendidos e incorporar os elementos culturais da sua realidade para explicar e intervir
no mundo.
Observamos estas questões e refletirmos sobre a necessidade de conhecer o
perfil socioeconômico do aluno e, a partir do resultado, elaborar uma proposta de
trabalho. Para isso, foram aplicados questionários abrangendo os seguintes aspectos:
econômicos, sociais e a relação que estabelecem com a disciplina geografia. Tendo em
vista que exercício da prática docente deve ser acompanhado de reflexões a cerca do
processo de ensino aprendizagem, o aporte teórico para os debates será fornecido pelo
exercício da pesquisa.
ASPECTOS METODOLÓGICOS
Para discutirmos sobre o perfil socioeconômico dos alunos do 3º ano da EJA,
inicialmente apresentaremos uma breve caracterização da escola atendida pelo Projeto
“A Universidade da Escola” Identificamos que a escola atende um público de 773
indivíduos, oferecendo dez turmas para o Ensino Médio regular e três turmas para a
Educação de Jovens e Adultos (EJA). O projeto atendeu duas turmas do 3º ano do (EJA)
no decorrer de sua execução, sendo uma em cada semestre letivo. A primeira composta
por vinte e sete alunos, e a segunda, no segundo semestre, com vinte alunos, totalizando
quarenta e sete alunos.
Esta pesquisa de levantamento do perfil socioeconômico analisou a turma do
segundo semestre, composta por 20 alunos, dos quais apenas um aluno se recusou a
responder o questionário. Este aplicado foi estruturado por perguntas objetivas e
subjetivas sobre: faixa etária, ocupação, renda familiar e a relação (gostam ou não de
estudar?) com a disciplina geografia.
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5060
RESULTADOS DA PESQUISA
O primeiro item a ser analisado foram os dados sobre a faixa etária dos
estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA), da escola em análise. Esses dados
mostram algumas contradições: a primeira se refere ao fato de que 31% dos alunos têm
idade menor ou igual há 17 anos, assim, encontra-se na idade escolar adequada, essa
situação contraria as regras previstas lei de Diretrizes e Bases da Educação -LDB (fig.
01).
FIGURA-01: DISTRIBUIÇÃO POR FAIXA ETÁRIA DOS ALUNOS DO 3ª ANO (EJA)
Fonte: Elaborado a partir dados coletados pelos autores
Segundo a Diretoria de Políticas de Educação de Jovens e Adultos, conforme o
Parecer 06/2010 no Artigo 6º: “observado o disposto no artigo 4º, inciso VII, da Lei nº
9.394/96, a idade mínima para matrícula em cursos de EJA de Ensino Médio, inscrição
e realização de exames de conclusão de EJA do Ensino Médio é 18 (dezoito) anos
completos”. Neste caso pode-se considerar uma “contravenção” na medida em que a
Escola efetiva a matrícula deste público.
Outro aspecto levantado na presente pesquisa foi a renda mensal do grupo
familiar dos alunos. Os dados representados evidenciam que os indivíduos que
frequentam essa modalidade de ensino são em sua maioria população de baixa renda
(fig.02).
69%
31% Idade igual ou acima 18 anos
Idade igual ou acima 17 anos
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FIGURA-03 DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS VÍNCULO EMPREGATÍCIO
Fonte: Elaborado a partir dados coletados pelos autores
Por outro lado, apesar dessa modalidade geralmente abrigar trabalhadores, que
não dispõem de tempo para cursar um Ensino Médio regular, na turma analisada um
número bastante expressivo de alunos declararam que não trabalham (fig.03).
Constatamos também que em sua maioria (63%) moram com os pais e possivelmente
são dependentes da renda familiar, assim, poderiam estudar na modalidade de ensino
regular.
FIGURA-02 DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS SEGUNDO RENDA DO GRUPO
FAMILIAR
Fonte: Elaborado a partir dados coletados pelos autores
O último aspecto, em análise corresponde à relação que os alunos estabelecem
com a disciplina Geografia, em questão, dedicamos um espaço maior de discussão, já a
mesma seria determinante para organização metodológica das aulas de geografia a
52% 48%
Empregados
Desempregados
22%
70%
8%
Salário Mínimo 1
2 a 5
3 a 10
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serem ministradas na EJA. A partir da análise dos dados coletados identificamos que
dentre os alunos que “gostar de estudar” geografia somam 26%, os que “não gostam”
46% e, 28% não opinaram.
Na tentativa de desvendar a causa dessa rejeição para com a disciplina,
buscamos relacionar os dados coletados com outros estudos, e percebemos que esta
problemática está atrelada às metodologias aplicadas, em sala de aula. Compreendemos
o termo metodologia a partir da concepção de Albuquerque (2011, p.17):
[...] a metodologia de ensino de geografia como uma construção permanente dos
professores, teóricos da geografia e da educação, formada na relação entre seleção e
abordagem dos conteúdos (conceituais, atitudinais e procedimentais), na
fundamentação teórica (ciência de referência), nas “técnicas” de ensino propostas no
âmbito da pedagogia (teoria/prática) e nas práticas de sala de aula. Com esse
posicionamento, colocamo-nos como Pontuschka (1996), que, em várias palestras e
seminários, tem defendido que não se deve dissociar conteúdos de métodos.
Assim, podemos associar essa “falta de simpatia” com a disciplina a diferentes
questões, dentre as quais, o método se sobressai, pois os conteúdos são vistos ainda de
forma tradicional, não relacionando com a realidade do qual o individuo está inserido.
Segundo Albuquerque (2011, p.19) a “geografia selecionou e legitimou, ao longo de sua
trajetória e diante de um leque de conhecimentos geográficos, uma série de conteúdos
“desinteressantes”, métodos mnemônicos e distantes da realidade dos educandos”.
A partir de Lacoste (1997) entendemos as bases históricas dessas problemáticas,
segundo o autor, duas geografias convivem em paralelamente: a “Geografia dos Estados
Maiores”, cujos conhecimentos fornecem suporte para o controle territorial do espaço, e
a “Geografia dos Professores” que subsidia o funcionamento estatal, reproduz e divulga
um saber neutro de cunho acadêmico elitizado e alheio às estruturas de dominação do
espaço.
Concordamos com Albuquerque (2011) quando afirma que “apesar das
transformações por que passou o ensino de geografia, o debate parece não mudado ao
longo do tempo”, a autora explica que os próprios Parâmetros Curriculares Nacionais
para o Ensino Médio, ainda exaltam a “memorização” como prática importante na
aprendizagem de conteúdos geográficos. Contraria o “movimento de renovação” da
Geografia que, segundo Cavalcanti (2008), chegou ao ambiente escolar e se
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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desenvolveu a partir de vários trabalhos que surgiram para investigar o ensino de
Geografia nos anos 1980.
A autora afirma que essa reestruturação do conhecimento ocorreu no campo
epistemológico e didático/pedagógico. Porém, há que se considerar que as questões
acima colocadas não se consolidam na escola com tanta facilidade, apesar dos
elementos responsáveis pela organização do sistema de ensino escolar (currículo,
projeto pedagógico, planejamento, planos de ensino, materiais didáticos e avaliação),
terem tido influência e sido reestruturados pela produção acadêmica para atender as
novas demandas da sociedade atual. A autora afirma, ainda, que o ambiente escolar é
dotado de uma cultura própria, que seleciona os novos elementos (currículos, normas,
diretrizes, práticas educativas) nessa dinâmica própria de funcionamento, faz com que
alguns elementos sejam acatados e outros descartados.
Diante dessas questões, o que fazer? Para que o alunado que está sendo formado,
ultrapasse o “senso comum”, segundo Cavalcanti (2010) faz necessário um suporte que
deve ser oferecido pela “intervenção pedagógica” na qual a postura do professor seria
de mediador do conhecimento. Para isso, o mesmo deve estabelecer o “método” no qual
ira fundamentar seu trabalho Sá e Vieira (2007, p. 100) afirmam que:
O método diz respeito a “forma” como se pretende trabalhar um “conteúdo” para
atingir um objetivo. O método inclui a escolha de recursos didáticos e dinâmicos e a
dinâmica da aula. A voz, o quadro-negro e giz são recursos mais simples e antigos que
o professor tem utilizado. O professor tem liberdade e ao mesmo tempo uma
responsabilidade muito grande na escolha da forma e conteúdos para melhor atingir os
objetivos propostos.
Esses autores partem do pressuposto que os instrumentos de ensino mais antigos
como o “quadro” e “giz” não devem ser descartados, porém existem, sim, uma gama de
outros recursos (filmes, jogos, internet, músicas e etc.) que podem ser transformados em
didáticos. Eles chamam a nossa atenção para o fato de que o professor deve estar
preparado para conduzir a aprendizagem e que esse deve ocorrer de forma
compartilhada entre os sujeitos aluno e professor. E são enfáticos ao afirmar que essa
“cooperação na construção de um saber coletivo motiva todos que dela participam. Não
é reprodução, não é “ditação”, não é copia: é invenção dos autores” ( SÁ & VIEIRA,
2007, p. 103).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5064
Mas, sabemos que para uma mudança efetiva, não só o professor deve ser
cobrado para que cumpra sua parte, é necessário um grande esforço de cooperação entre
a comunidade escolar (alunos, pais, direção da escola), e a sociedade organizada na
busca por resultados, mas concretos, bem como, que deve iniciar pelo um maior
investimento governamental. Percebemos, que não basta só mudar os currículos, as
diretrizes escolares e investir em aparatos tecnológicos, se o professor não possuir uma
formação acadêmica de qualidade que possibilite refletir e aprimorar-se constantemente
e desenvolver um olhar critico sobre sua prática docente.
Essas questões chegaram ao Curso de Licenciatura em Geografia do Centro de
Formação de Professores da Universidade Federal de Campina Grande em Cajazeiras –
PB, mediante a implantação do novo Projeto Político do Curso – PPC em 2008. Esse,
atendendo as novas diretrizes curriculares para os cursos de licenciatura traz um novo
modelo para a formação de professores pautados no desenvolvimento das
“competências” (dominar conteúdos e articulá-lo de forma interdisciplinar) e
“habilidades” (identificar, dominar, planejar, atividade inerente a geografia). Assim,
estamos vivenciando um período de transição tanto na formação profissional do futuro
professor de Geografia como no alunado. Essas transformações visam responder as
novas demandas da sociedade para o ensino e para a geografia enquanto disciplina.
O projeto supracitado, também faz parte dessa nova perspectiva, pois o mesmo
disponibiliza ao discente a inserção no seu futuro ambiente de trabalho, permitindo que
o mesmo adquira experiência em sala de aula e possa tomar ciência dos desafios de
ensino e aprendizagem, além de refletir, sobre as problemáticas e buscar soluções, assim
contribuindo para melhoria do ensino básico. Outro aspecto primordial é a aproximação
da Universidade com o ambiente escolar, assim, a socialização do conhecimento
produzido por ambas as partes, tendo em vista a formação cidadã.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho apresentou alguns elementos que possibilitam elaborar um perfil,
ainda inicial, dos estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA), visando contribuir
no planejar de forma mais eficaz as atividades a serem desenvolvidas em sala de aula.
Foram identificados que alunos, atendidos pelo projeto “A Universidade na escola” ao
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5065
apresentarem dificuldades em verbalizar sobre os conteúdos, não desenvolveram o
“raciocínio geográfico”, pois, vários conceitos fundamentais (espaço geográfico,
paisagem, lugar e região outros) não foram apreendidos, dificultando o entendimento
dos conteúdos explorados.
A partir dos dados coletados na presente pesquisa contatamos que os alunos da
EJA possuem renda familiar mensal baixa, apesar da maioria dos estudantes
trabalharem, grande parte dos entrevistados não possui vínculo empregatício e está
dentro da idade escolar considerada regular pela LDB. Essa situação aponta para falhas
na implantação, fiscalização e eficácia da Educação de Jovens e Adultos- EJA, enquanto
política educacional.
Cabe, reflexão principalmente pelo fato da maioria dos estudantes terem uma
visão deturpada da ciência geográfica, acreditamos ser necessário rever as “práticas”
que o professor, faz uso, em sala de aula. Hoje vários pesquisadores em geografia
contribuem com sugestões de como ensinar e aprender geografia, mas, os entraves
existentes oposição dos profissionais da educação às novas metodologias, um dos
fatores que dificulta o processo de evolução da disciplina escolar.
Por fim, um dos caminhos para superação das dificuldades de aprendizagem e da
rejeição à disciplina é o exercício constante da pesquisa e esta, por sua vez, fornece
subsídios para a reflexão da prática pedagógica. Destacamos ser de fundamental
importância que o professor conheça o público com o qual irá trabalhar.
Esperamos que as reflexões desenvolvidas, neste texto, possam contribuir para melhoria
do ensino na educação básica e suscitar novos debates em torno das práticas educativas.
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A GEOGRAFIA E A QUESTÃO HÍDRICA: CONSERVAÇÃO, USO E
PRÁXIS PEDAGÓGICA
Polliana Bezerra de Oliveira
1
Prof. Dr. André Carlos Silva2
Prof. Idelvone Mendes Ferreira3
Rosiane Correa Guimarães4
RESUMO
O desenvolvimento tecnológico, científico e econômico, condiciona problemas decorrentes da
intensa exploração dos recursos naturais, fato que vem se agravando. Além disso, o crescimento
populacional provoca expansão da produção de bens, do consumo de água e da demanda por
fontes de energia e infraestrutura. Todo este processo leva à intensificação do uso da terra, sem
que haja o planejamento necessário, que leve em conta tanto às potencialidades quanto as
fragilidades do meio. Dentro desse processo de adaptação e transformação de espaços, a questão
hídrica torna-se um objeto de estudo importante, sobretudo considerando o atual grau de
urbanização e o impacto negativo que esse proporciona aos recursos naturais, especialmente aos
rios, riachos e lagoas urbanas. Sendo assim, esse artigo propõe analisar a importância do
planejamento ambiental a partir da conscientização do uso dos recursos hídricos, cujo estudo irá
priorizar a conservação hídrica no município de Guanambi (BA), além de analisar e discutir sua
configuração que determina e é determinada pelas relações entre sociedade e natureza. A
discussão parte de trabalho desenvolvido por estudantes do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia (IF Baiano) campus de Guanambi, desenvolvido com discentes da
educação básica no Colégio Estadual Governador Luiz Viana Filho, um público de cerca de 500
alunos. A esse público foi disponibilizado o uso de diferentes linguagens geográficas em sala de
aula, no intuito de estimular, quanto a posturas investigativas e associar o tema proposto a
múltiplas formas de metodologias que contribuam para a prática docente através da proposição
de valoração do conhecimento geográfico na sala e ressignificação do sentido de
aprender/ensinar conteúdos correlatos a realidade.
1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia na Universidade Federal de Goiás – Campus
Catalão. Orientador: Prof. Dr. André Carlos Silva co-orientador: Prof. Dr. Idelvone Mendes Ferreira
Membro do grupo de pesquisa: Núcleo de Estudos em Geologia e Mineração (NEGeM) e Núcleo de
Estudos e Pesquisas Sócio-Ambientais do Campus Catalão (NEPSA) CAC/UFG. Docente do quadro
efetivo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano – Campus de Guanambi;
[email protected] 2 Programa de Pós-Graduação em Geografia; Universidade Federal de Goiás - Campus Catalão;
[email protected] 3 Programa de Pós-Graduação em Geografia; Universidade Federal de Goiás - Campus Catalão;
[email protected] 4 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia na Universidade Federal de Goiás –
Campus Catalão. Orientador: Prof. Dra. Odelfa Membro do grupo de pesquisa: Núcleo de Estudos e
Pesquisas Sócio-Ambientais do Campus Catalão (NEPSA) CAC/UFG.;
rosyguimaraes_97@hotmail,com.br
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Palavras-chave: Ensino. Geografia. Recursos Hídricos.
INTRODUÇÃO
A necessidade de reflexões sobre o pensar e o fazer geográfico associado ao
entendimento da necessidade de adotar posturas investigativas voltadas para o ensino de
geografia são prementes para a formação docente.
Nessa formação apreende-se um ensino cuja discussão perpassa pelo despertar
no educando o interesse pelo processo ensino – aprendizagem e que leva o professor
através de seu compromisso refletir sobre sua prática, bem como, a associação dos
conteúdos a realidade escolar.
Um dos grandes desafios desse educador é a dificuldade em se desprender do
paradigma da abordagem tradicional, em que a importância do que é ensinado é
mensurada pela capacidade de apreensão do conhecimento transmitido, sem que haja
uma compreensão do por que aprender, ou mesmo do aprender.
No entanto, proposições curriculares, assim como materiais didáticos veem
mudando as perspectivas de ensino da geografia. Os parâmetros de análises pautados,
sobretudo nas discussões que envolvem sociedade/natureza contrapõem visões e
acentuam os debates. Esse movimento vivenciado também pela ciência geográfica
alcança o ambiente escolar e traz uma ruptura nos valores ao oferecer a participação
tanto de professores quanto alunos no âmbito da criticidade.
Nesse sentido, o projeto “Retrospectivas e perspectivas do uso da água no
semiárido baiano” constitui-se em um instrumento que busca possibilidades para o
professor vivenciar e desenvolver metodologias que tornem significativo o estudo da
geografia.
Este projeto tem como objetivo estabelecer debates com alunos do ensino básico,
sobre a questão dos recursos hídricos no município de Guanambi (BA), oferecendo a
esse público possibilidades para o uso de diferentes linguagens geográficas em sala de
aula, no intuito de estimular, quanto a posturas investigativas e associar o tema proposto
a múltiplas formas de metodologias que contribuam para a prática docente através da
proposição de valoração do conhecimento geográfico na sala e ressignificação do
sentido de aprender/ensinar conteúdos correlatos a realidade.
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5069
Para tanto, a água é tomada nesse estudo como tema central para abordar as
questões de enfoque socioambiental, pois é um dos elementos naturais mais importantes
para a manutenção da vida no planeta, ao mesmo tempo em que se configura como
escassa e, sobretudo, de grande valor econômico, um componente fundamental no
desenvolvimento das sociedades.
Dessa forma, oferecer um espaço de debates e questionamentos sobre o uso e
perspectiva quanto a esse recurso, para uma comunidade escolar, é objeto de grande
relevância, sobretudo, ao considerar a realidade dessa clientela. Discentes que no seu
cotidiano reduziram drasticamente o consumo de água, um racionamento devido à
escassa oferta. A partir desses elementos propõe os seguintes questionamentos: Como se
posicionar enquanto cidadão em um cenário assolado por mau uso e gerenciamento dos
recursos hídricos? Como devemos (enquanto sociedade) exigir melhorias na
racionalização dos recursos hídricos? O que posso efetivamente oferecer enquanto
usuário?
Essas perguntas serviram de base para as discussões que esse estudo propôs,
através da análise teórica dos fundamentos éticos e epistemológicos do âmbito
ambiental, a partir da relação sociedade/natureza e sob o enfoque dos recursos hídricos
na região do semiárido baiano.
A GEOGRAFIA E OS ASPECTOS AMBIENTAIS
A discussão dos problemas ambientais envolve questões de ética, cidadania,
valores culturais, aspectos econômicos e políticos. O habitat do ser humanoa deve ser
pensado e planejado de forma a garantir não apenas a sobrevivência, mas a vida da
sociedade. Neste sentido, Rocha (1991 apud NUCCI, 2001, p.22) afirma que:
[...] o comportamento humano é regido não só por parâmetros éticos e
sociais, mas também por fatores ambientais. Ora, em um ambiente
urbano que constitui o verdadeiro ‘habitat’ e ‘nicho’ do ser humano,
obviamente, ele deve (ou deveria ser) o ponto central de referência
quando da tomada de decisão pela autoridade constituída, ou no nível
da própria cidadania.
Esse conhecimento que os humanos necessitam ter sobre o meio deve vir com
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direitos básicos de cidadania, tais como políticos e civis além de liberdade de expressão,
acesso a informação e direitos sociais, como educação e cultura para a inserção e
reconhecimento do contexto em que ele vive.
Segundo Harvey (1980) para estudar cidades é preciso estudar o espaço, sua
natureza sua organização e os processos sociais que se estabelecem neste espaço.
Conhecer a cidade, sua dinâmica, e seus elementos formadores é fundamental para um
indivíduo ativo na sociedade.
Nessa perspectiva, o autor analisa que os processos sociais e forma espacial
estão fortemente ligados e que a tentativa de analisá-los como dois processos separados
podem acarretar prejuízos a sociedade. Para ele “os temas interagem como se
estivessem num caleidoscópio mágico” (HARVEY, 1980, p.3). Uma diversidade que faz
com que a sociedade seja parte do espaço e que faz desse elemento importante nas ações
sociais.
Clark (1985) também acredita que o conhecimento da forma e do conteúdo
espacial urbano seja vital ao planejamento. Quando não se levam em conta os dois
aspectos, o processo social e a forma espacial corre-se o risco de se cometer erros
graves nas intervenções feitas no meio urbano.
Partindo desse princípio, entende-se o âmbito ambiental dessa discussão como
um campo heterogêneo e multifacetado, compreendendo diversas práticas sociais, a
partir de diferenciadas filiações ideológicas, políticas públicas, opções e hábitos de
consumo, diante disso a legislação brasileira mostrou em 1981 preocupação com a
qualidade ambiental.
A Lei Federal no. 6.938/1981 instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente,
seguida pela Constituição Federal de 1988, mas é na Lei Federal nº. 9.433 de 8 de
janeiro de 1997 que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e estabelece
como um de seus instrumentos a outorga de direito de uso de recursos hídricos.
Destinada a todos que pretendam utilizar, para as mais diversas finalidades, as águas de
um rio, lago ou mesmo subterrâneas, devem por meio dessa lei, solicitar uma outorga ao
poder público.
O uso refere-se à captação de água para o abastecimento doméstico, para fins
industriais ou irrigação; ao lançamento de efluentes industriais ou urbanos, à construção
de obras hidráulicas como barragens e canalizações de rio, ou, ainda, serviços de
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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desassoreamento e limpeza de margens.
A Lei nº. 9.433/97 e seu gerenciamento trouxeram importantes contribuições
para o aproveitamento deste recurso, além de adequar a legislação aos conceitos de
desenvolvimento sustentável.
Essa lei criou a Agência Nacional das Águas (ANA), que possui poderes amplos,
inclusive prevendo que a população participe do gerenciamento dos recursos hídricos
através dos “comitês de bacias hidrográficas”.
A Ausência de previsão normativa da água como direito, condicionou
implicações e consequências dogmáticas, a ausência por si só, não fundamenta a
inexistência de um direito fundamental. A água em face do sistema de direitos, por ser
um bem, compõe o conjunto (fauna, flora, ar, solo), que, forma o direito ao meio
ambiente.
Quando é analisado o direito como fundamental, indica que o homem não se
realiza, não convive e ás vezes, nem mesmo sobrevive sem ele, portanto, a água não
poderá deixar de fazer parte desse direito. “A natureza desses direitos são situações
jurídicas, objetivas e subjetivas, definidas no direito positivo, em prol da dignidade,
igualdade e liberdade humana”. (SILVA, 2000: p.304). Aspecto que remete a reflexão no
quanto essa interação é significativa.
As várias leis que surgem, discutem sobre proteção às águas e ao ambiente,
sendo possível através dessas análises reconhecer que degradação ambiental tem causas
e consequências sociais, ou seja, o problema não é apenas físico.
Com efeito, conforme aponta Guerra e Cunha (2000), existem fatores naturais
que tornam as terras degradadas, entretanto, o descaso das autoridades e da iniciativa
privada, em resolver esses problemas, ou tentar evita-los ou amenizá-los, através de
medidas preventivas, é insignificante nas cidades brasileiras, uma situação que obriga
aos munícipes exercer o poder de sociedade fiscalizadora, entretanto, não basta
fiscalizar é preciso ter a criticidade para se posicionar frente às irregularidades e
desmandos do poder público.
A QUESTÃO HÍDRICA NO SEMIÁRIDO BAIANO
O município de Guanambi (BA) está situado à margem esquerda do rio Carnaiba
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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de Dentro, e tem como afluentes os riachos: Rega Pé, Sacouto, Belém, Porco Magro,
Gentio e Muquém. Esses rios e riachos que não são perenes.
Com uma população aproximada de 78 mil habitantes (IBGE, 2010). Os recursos
hídricos, que no passado o abasteciam até os anos de 1970, utilizavam de aguadas
existentes nas proximidades da cidade e de uma nascente por nome Lagoinha.
A captação era feita através de bombeamento, a água para beber era captada
através das chuvas em dois caldeirões localizados nas proximidades da cidade, Lajedo
Velho e Lajedo Novo, cuja capacidade de armazenamento era insuficiente, sobretudo no
período de longas estiagens, momento que a cidade era abastecida por carros pipas.
Todavia, esses dados fazem parte do passado, o Lajedo Velho foi aterrado e o
Lajedo Novo ainda existe, mas, suas águas estão poluídas, sem nenhuma utilidade. A
velha Lagoinha que abasteceu a cidade até o final de 1960 está aterrada e existem várias
construções no local (PREFEITURA DE GUANAMBI, 2010).
Essa é a realidade de um município inserido no semiárido baiano, cuja
precipitação não alcança a média 700 mm (IBGE, 2010), uma região que enfrenta séria
escassez hídrica e que tem a caatinga - vegetação predominante - ameaçada pelas
atividades empregadas sem planejamento prévio, condicionando ao mau uso do solo e
das águas, comprometendo sua qualidade ambiental.
Diante disso, esse estudo tem como relevância a preocupação de discentes do
curso integrado em agropecuária do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
(IF Baiano) em promover e articular debates com discentes da educação básica do
Colégio Estadual Governador Luiz Viana Filho, acerca do uso e conservação do rio
Carnaíba de Dentro levando-se em consideração a ocupação das margens de um dos
seus afluentes, o Riacho do Belém, no trecho do município de Guanambi,
proporcionando discussões e questionamentos acerca das condições do rio e do afluente
na cidade em questão.
A população desse município viveu até meados de 2012 um rigoroso
racionamento no fornecimento de água, nesse cenário, a implantação da adutora do
algodão, investimento orçado em torno de R$ 98,2 milhões que tem 265 quilômetros de
extensão e leva água do Rio São Francisco, no município de Malhada para 13 distritos
de 7 municípios (Malhada, Iuiú, Palmas Monte Alto, Candiba, Pindaí, Matina e
Guanambi), investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2)
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5073
configura-se como um alento e reacende as perspectivas para o município, momento
único no contexto histórico regional e favorável às discussões aqui apresentadas.
A GEOGRAFIA PARA ALÉM DE REFLEXÕES DIDÁTICAS
Partindo do princípio que a água é um bem essencial para o ser humano, e dos
desafios e questionamentos por ventura enfrentados no que tange legislação e literatura
científica, a equipe executora definiu como princípio norteador a realização de estudos
prévios e debates relacionados com a temática (através de artigos, revistas e jornais),
momento que ofereceu estrutura e subsídio no desenvolvimento das demais ações.
Dentre as motivações que levaram à elaboração e aplicação dessa proposta
destaca-se a necessidade de se trabalhar questões ambientais na escola. Há o consenso
de que um dos objetivos da escola seja proporcionar uma educação que esteja voltada
para a formação de cidadãos atuantes, ou seja, alguém capaz de compreender a
dinâmica da sociedade contemporânea, tomando decisões conscientes.
Assim, também a educação científica deve contemplar aspectos ambientais, não
apresentando os conteúdos de forma abstrata do contexto social do aluno.
Com efeito, inicialmente realizou-se uma representação da paisagem da escola
(Colégio Estadual Governador Luiz Viana Filho, público de 400 estudantes), quanto à
questão ambiental, pois através das observações, levantam-se perguntas, reflexões e
produção de novos conhecimentos sobre o objeto estudado.
Na sequência, se delimitou etapas com a participação dos alunos bolsistas -
professora orientadora e representantes das instituições colaboradoras nas ações –
Empresa Baiana de Águas e Saneamento (EMBASA), Companhia de Desenvolvimento
dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF escritório de Guanambi),
Secretaria Municipal de Meio ambiente, Secretaria Municipal de Educação, entidades
regionais que discutem a questão da preservação ambiental como a ONG PRISMA,
Instituto do Meio ambiente e Recursos Hídricos (INEMA escritório de Guanambi).
Para a execução dessas etapas estabeleceu-se categorias, para agrupar elementos,
ideias e expressões em torno de conceitos capazes de sintetizar a análise meticulosa das
ações que serão desenvolvidas:
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Analisar o perfil ambiental das escolas (se possui área verde, horta, separação
de lixo, etc.);
Conhecer projetos referente à temática desenvolvidos pela instituição;
Disseminação das informações: mobilização de toda a comunidade escolar para
o desenvolvimento de atividades desenvolvidas pelo projeto (fontes de energia, trilhas
ecológicas, plantio de árvores, recuperação de nascentes, florestas, água - consumo,
desperdício, poluição, bacia hidrográfica como unidade de estudo); uso das
informações e resultados.
A realização de palestras, oficinas, minicursos, textos, vídeos, estudo de
representações do processo de exploração dos recursos hídricos, explanações sobre
preservação e conscientização ambiental, momentos de produção coletiva e individual,
que se estenderam por dois meses na escola selecionada.
Temas articulados e encadeamentos de conteúdos que mostram uma proposta de
renovação do ensino de geografia. A operacionalização desses conteúdos afim de que as
aulas de geografia se mantenham com interatividade, dinamismo e articulação nos
debates e questionamentos levantados.
RESULTADOS
Um sistema de gestão pública do recurso hídrico deve buscar a cooperação e
participação conjunta dos agentes sociais de maneira a incorporar a variante ambiental
na expansão e melhoria da qualidade de vida da população, atuando como suporte aos
processos de decisão do desenvolvimento sustentável e ainda deve ser um referencial
para a coordenação de atividades ambientais entre setores, agentes e lugares.
Para tanto esse estudo se ateve às discussões e debates em busca do trato e
manejo ambiental de maneira integral do Riacho do Belém, de modo que enquanto
sociedade, os alunos e professores do Colégio Estadual Governador Luiz Viana Filho
possam compreender essa realidade para assim participar de ações de proteção e
recuperação.
O fortalecimento das ações com agentes do IFBaiano, na perspectiva da
Educação Ambiental condicionou reflexão das práticas ambientais dos discentes com
relação aos recursos hídricos do município; as discussões oportunizaram elaboração de
propostas sustentáveis para a preservação do Rio Carnaíba de Dentro e Riacho Belém, e
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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visitas às margens do rio no trecho que cobre o centro do município alvo do estudo, de
modo que esse ambiente incentivou discussão do uso racional dos recursos ambientais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com a temática, as atividades foram realizadas, com o objetivo de
desenvolver potencialidades, sobretudo aos discentes no que tange discussões
ambientais e exploração dos recursos hídricos no município. De tal modo que a
Educação Ambiental seja vista como um processo contínuo de socialização entre si e o
meio ao qual está inserido.
Ao finalizar esse trabalho observa-se a necessidade de continuidade das ações
executadas, pois as discussões desenvolvidas devem ser uma constante, haja vista, o
grau de degradação e a carência de momentos que proporcione questionamentos e
conhecimentos das ações ambientais e conceitos ora apresentados.
Para tanto, essa proposta buscou enfatizar o desejo de ter Educação Ambiental
permanente, para amenizar as ações de degradação, a ideia é que esse seja um momento
de construção e que essa parceria acompanhe as escolas atendidas no intuito de
proporcionar continuidade e dinamicidade nos diagnósticos e diálogos através da
avaliação – foi identificado o anseio e descontentamento de alunos para com a
degradação do Riacho Belém.
Desse modo, pretende-se não apenas incentivar ou orientar na mudança dessas
ações, mas acompanhar o processo de construção ambiental e a transformação que essa
construção trouxe para escola.
A dimensão ambiental representa a possibilidade de lidar com conexões entre
diferentes dimensões humanas, possibilitando entrelaçamentos e trânsitos entre
múltiplos saberes. Atualmente, o desafio de fortalecer uma educação para a cidadania
ambiental convergente e multi-referencial se coloca como prioridade para viabilizar
uma prática educativa que articule de forma incisiva a necessidade de se enfrentar os
problemas sociais.
REFERÊNCIAS
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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BOUGUERRA, Mohamed Larbi. As Batalhas da Água. Por um Bem Comum da
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CLARK, D. Introdução à geografia urbana. São Paulo: Difel, 1985.
HARVEY, D. Justiça social e a cidade. São Paulo: Hucitec, 1980.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão - Síntese de Indicadores sociais. IN: www.
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NUCCI, J. C. Qualidade ambiental e adensamento urbano: um estudo de ecologia e
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Humanitas, FFLCH, USP, 2001
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SILVA. Alexandre & Denise Dweck. Cai do céu, mas pode Faltar Pp.38-39 Revista
Veja janeiro de 2000 (30-01-08).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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O ENSINO NÃO FORMAL DE GEOGRAFIA E A POPULARIZAÇÃO DA
CIÊNCIA: UMA EXPERIÊNCIA COM O BUSÃO DA CIÊNCIA1
Hericondio Santos Conceição
2
Maria Morgana Santos Santana3
Aldeane de Jesus Guedes4
RESUMO
A transposição dos limites físicos da escola para apreensão do conhecimento geográfico
contribui para a popularização da ciência, levando o que é trabalhado em sala de aula para a
sociedade em geral, permitindo o aprendizado da Geografia por meio de caminhos não
escolares. A educação não formal também se constitui de um caráter formativo na medida em
que o conhecimento geográfico é trabalhado e redescoberto de modo mais espontâneo e
assistemático. O presente trabalho tem o objetivo de apresentar a importância e significado da
transposição dos muros das escolas e universidade, levando o conhecimento científico
trabalhado nessas instituições para a população e evidenciar uma experiência de ensino de
Geografia não formal, vivenciado dentro do projeto Museu Itinerante “Ciências Sobre Rodas:
Busão da Ciência do Agreste ao Sertão”- UFS. Para a construção do presente trabalho foi
realizada pesquisa bibliográfica que fundamentou teoricamente a prática educativa
experienciada. Foram feitas reuniões em grupo para a esquematização das oficinas trabalhadas,
e por fim, a participação no projeto que objetivou explorar o conhecimento geográfico a partir
do cotidiano e exploração do saber dos sujeitos envolvidos no estudo. As atividades realizadas
abordaram temas relacionados com o cotidiano da população local como, por exemplo, o
comércio na feira de Itabaiana, localização e leitura de mapas com instrumentos de localização
como a bússola e mapas, perfis de solos feitos em terrários por alunos de graduação do curso de
Geografia. Desta forma, a participação no projeto permitiu a troca de experiências entre
graduandos e a população que participou das atividades, a, ressignificando saberes e
estimulando a relação ensino-aprendizagem em espaços não escolares, como a praça.
Palavras-chaves: ensino de Geografia, educação não formal e popularização da ciência;
INTRODUÇÃO
A ciência geográfica permite a análise crítica do espaço, e o trabalho do
1Trabalho desenvolvido por graduandos do curso de Geografia; bolsistas PIBID, inseridos no
Subprojeto Formação docente e ensino de Geografia na Educação Básica: práticas pedagógicas para um
professor aprendente sob a orientação da Professora Drª Ana Rocha dos Santos. 2Universidade Federal de Sergipe; [email protected]
3Universidade Federal de Sergipe; [email protected]
4Universidade Federal de Sergipe; [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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professor de Geografia deve perseguir o entendimento da espacialidade resultante da
produção da sociedade em sua relação com a natureza. A atuação docente leva os alunos
a identificar, analisar e desenvolver um pensamento crítico acerca dos espaços e das
relações que permeiam seu cotidiano.
Dentro dessa perspectiva, o presente artigo tem o objetivo de apresentar a
importância e significado de transpor os muros das escolas e universidade, levando o
conhecimento científico trabalhado nessas instituições para a população. Além disso,
evidenciar uma experiência de ensino de Geografia não formal, vivenciado dentro do
projeto Museu Itinerante “Ciências Sobre Rodas: Busão da Ciência do Agreste ao
Sertão”- UFS, onde graduandos do curso de Geografia trabalharam o conhecimento
geográfico com a população na praça pública.
Para a construção do presente trabalho foi realizada pesquisa bibliográfica para a
fundamentação teórica do tema estudado, entendendo a importância da construção do
conhecimento e popularização do mesmo, a luz da necessidade da ultrapassagem do
ensino tradicional, levando à população o conhecimento produzido dentro da academia.
Posteriormente foram feitas reuniões em grupo para a esquematização das oficinas
trabalhadas, e por fim, a participação no projeto Museu Itinerante “Ciências Sobre
Rodas: Busão da Ciência do Agreste ao Sertão”- UFS, o qual visou explicar a Geografia
de modo que os transeuntes da praça pudessem compreender.
O ENSINO NÃO FORMAL DE GEOGRAFIA E A POPULARIZAÇÃO DA
CIÊNCIA
O século XXI apresenta um avanço científico sem precedentes, com a criação de
benefícios para o desenvolvimento do ser humano enquanto ser social, entretanto tais
benefícios estão distribuídos de maneira desigual na sociedade, havendo um verdadeiro
abismo entre as classes no que se refere ao uso e ao conhecimento técnico-científico e
os seus benefícios para o bem-estar do ser humano.
Parte-se do pressuposto de que há necessidade de elaborar práticas pedagógicas
que auxiliem o acesso ao conhecimento científico produzido na academia, por meio de
espaços considerados não formais, de maneira que este conhecimento esteja ao alcance
das diferentes classes sociais, principalmente as menos favorecidas. Nessa perspectiva
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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os espaços públicos estão carregados de uma importância ímpar para a divulgação da
ciência, uma vez que apresentam características fundamentais para a prática da difusão
científica, pois a todo o momento há a transição de pessoas nesses locais, possibilitando
a troca de conhecimentos. Assim é importante destacar que
se estivesse claro para nós que foi aprendendo que aprendemos ser possível ensinar,
teríamos entendido com facilidade a importância das experiências informais nas ruas,
nas praças, no trabalho, nas salas de aula das escolas, nos pátios dos recreios, em
variados gestos de alunos, de pessoal administrativo, de pessoal docente se cruzem
cheios de significação (FREIRE, 1997, p.50apud SOUZA, 2008, p. 3120-3121)
A educação não formal apresenta características distintas da educação formal,
porém isso não significa que uma está em oposição à outra, ambas estão a serviço da
educação social, a fim de oferecer à sociedade uma formação pautada na explicação
científica dos fatos. Uma das características da educação não formal é oferecer uma
educação menos sistemática, à medida que tem a capacidade de ensinar em lugares
diversos, sem se ater a espaços físicos, ao mesmo tempo que existe no processo de
ensino-aprendizagem uma troca de saberes entre a população. Além de ser realizada em
diferentes espaços,
a educação não-formal é mais difusa, menos hierárquica e menos burocrática.Os
programas de educação não-formal não precisam necessariamente seguir um sistema
seqüencial e hierárquico de “progressão”. Podem ter duração variável, e podem, ou não,
conceder certificados de aprendizagem. (GADOTTI, 2005, p. 2)
A educação não formal enfrenta alguns desafios, como por exemplo, a
complexidade e a particularidade da linguagem científica, uma vez que isso implica na
compreensão do assunto pelo público-alvo, sendo necessária uma transformação na
linguagem científica, visando à compreensão do público sobre os temas abordados.
Uma característica interessante acerca da educação não formal é que a mesma
não está associada a uma prática exclusiva de instituições governamentais, pois
movimentos sociais e organizações não governamentais vêm trabalhando dentro dessa
perspectiva.
A educação não-formal permite o diálogo, valoriza a importância do outro na
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5080
constituição do sujeito, daí sua grande relevância para um processo de ensino-
aprendizagem, que é capaz de incentivar a transformação. Sendo assim, é muito
importante que a educação não-formal seja incorporada pela formal, para que ambas
interfiram de maneira significativa na formação do sujeito. (VITTE; AGUIAR, 2008,
p.02)
Dessa forma desmistifica a imagem de que apenas instituições fechadas atuam
com a educação não formal. Independente que seja instituições governamentais ou não,
ambas tem a liberdade de atuarem espaços não formais, a fim de promover educação
para sociedade em que se trabalhe a formação do homem e o conhecimento produzido
socialmente,
o que é necessário e importante caracterizar é que independente do espaço educacional a
relação de formação se dê, e possibilite a formação de um sujeito crítico e
transformador de seu contexto, o espaço escolar, por exemplo, pode ser um espaço
também de educação não-formal, pois o conceito de educação sustentado pela
Convenção dos Direitos da Infância ultrapassa os limites do ensino escolar formal e
engloba as experiências de vida, e os processos de aprendizagem não-formais.
(SOUZA, 2008, p. 3121)
A Geografia dentro da perspectiva não formal consegue popularizar seu
conhecimento dentro de uma metodologia que aborde temas concernentes as atividades
diárias do sujeito, como por exemplo, destacando as mudanças sociais por meio de uma
análise crítica que responda da melhor forma possível sobre as contradições presentes
nas relações sociais, desenvolvendo no homem a capacidade de analisar e entender as
mudanças sociais.
Diversos são os temas que a ciência geográfica pode abordar acerca das
atividades diárias da população, como por exemplo, trabalhar com o espaço urbano,
mobilidade do trabalho, entre outras.
Tangerina (2011) enfatiza que conhecimento geográfico possibilita a
emancipação da sociedade, logo, a Geografia deve envolver as relações sociedade-
natureza, e sua espacialidade. O conhecimento científico pode ser trabalhado através de
oficinas que visem à difusão científica e estejam relacionadas com o cotidiano dos
participantes.
Dentre esses temas pode-se destacar alguns, como a Cartografia, que é um
instrumento fundamental para a compreensão do espaço geográfico. Outro tema
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5081
importante é a Pedologia, que através de seus estudos contribui para um esclarecimento
a respeito da formação do solo, definindo suas potencialidades, ao mesmo tempo em
que desenvolve meios pelos quais se possa trabalhar melhor com o solo.
BUSÃO DA CIÊNCIA E EXPERIÊNCIA DE ENSINO DE GEOGRAFIA NA
PRAÇA
O projeto Museu Itinerante “Ciências Sobre Rodas: Busão da Ciência do Agreste
ao Sertão” consiste na popularização da ciência por meio de ações que levem o
conhecimento produzido na academia para a sociedade, desmistificando o pensamento
que ciência é algo difícil, afirmando que é possível aprender fora dos muros da
universidade.
A participação do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência) de Geografia, inserido no subprojeto Formação docente e ensino de
Geografia na Educação Básica: práticas pedagógicas para um professor aprendente
possibilitou aos bolsistas a experiência de expor para a sociedade aquilo que vem sendo
construindo dentro da universidade. As apresentações aconteceram na Praça João
Pessoa, centro de Itabaiana-SE.
Foram levados alguns temas para serem trabalhados com a população em praça
pública, temas que são abordados na Geografia Física e Humana, como por exemplo, o
interior da terra e movimentos sísmicos, camadas e usos do solo, localização no espaço
e os motivos da oscilação dos preços dos produtos comercializados na feira de
Itabaiana. (ver nas figuras 01, 02 e 03). Durante a atividade, a população começou a se
aglomerar, motivada pela curiosidade, fazendo questionamentos e interagindo com os
bolsistas.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5082
Essa experiência de educação não formal foi caracterizada por apresentar um
público alvo heterogêneo, de idades e classes sociais distintas. Desta forma, a
linguagem e as metodologias utilizadas precisaram se adaptar a essas diferenças, para
realmente haver a (re) construção do conhecimento.
O conhecimento trazido pelas pessoas era um conhecimento pautado no senso
comum, entretanto, tal conhecimento estava muitas vezes de acordo com o
Figura 02: Explicação sobre o mapa de
Sergipe e a localização dos municípios.
Foto: GUEDES, Aldeane.
06 de março de 2013
Figura 01: jogo interativo sobre a
alteração dos preços dos produtos da
feira de Itabaiana. Foto: SANTANA,
Maria Morgana. 06 de março de 2013
Figura 03: Graduandos explicando o terrário e as camadas do solo.
Foto: GUEDES, Aldeane. 06 de março de 2013.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5083
conhecimento científico. Muitas experiências cotidianas contribuem para a apreensão de
um conhecimento, apesar de não ser um conhecimento pautado na ciência, ele se
solidifica e é passado de geração para geração. Assim, durante a atividade pedagógica,
buscou-se entender o conhecimento prévio trazido pelas pessoas, para que fosse
possível uma ressignificação pautada no conhecimento geográfico.
Com essa prática a realidade pode ser vivenciada como algo concreto, criado e recriado
no cotidiano, tornando significativo o estudo geográfico. Através da compreensão do
espaço local/regional, torna-se muito mais fácil o estudo de qualquer área do planeta,
pois permite estabelecer analogias a partir de uma experiência vivida, além de aguçar o
grau de reflexão. O “fazer geográfico” já não pode reproduzir sem pensar, aceitar sem
discutir, trabalhar sem questionar e educar sem criar tendo em vista a realidade vigente
neste momento histórico em que estamos inseridos (KOZEL1999, p.28 apud
TANGERINA, 2011, p 5510).
Dentro dessa perspectiva, procurou-se estabelecer uma inter-relação com as
práticas vivenciadas pela população local e a ciência, modificando a linguagem
científica, para uma melhor compreensão. Houve a ressignificação de saberes, a
população foi inserida no processo de aprendizagem, alcançando o objetivo da
popularização da ciência, que é a superação de barreiras físicas, levando o ensino de
Geografia a sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
O ensino não formal e projetos de popularização da ciência proporcionam a
difusão dos conhecimentos produzidos na Universidade, logo o projeto itinerante Busão
da ciência promoveu a ultrapassagem dos muros da academia, possibilitando aos
graduandos experiências pedagógicas que contribuíram para a formação enquanto
licenciandos.
Vale ressaltar, a importância da Geografia nesse contexto, pois levar o
conhecimento geográfico à população é de extrema importância, é revelar as
contradições presentes no espaço, é ensinar a população a questionar, a olhar o mundo
através de olhos críticos. Além disso, o ensino não formal de Geografia consegue dar
respostas científicas aos fenômenos do dia-a-dia da sociedade. Destaca-se neste ensino
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5084
que “a educação não-formal socializa os indivíduos, desenvolve hábitos, atitudes,
comportamentos, modos de pensar e de se expressar no uso da linguagem, segundo
valores e crenças da comunidade. Sua finalidade é abrir janelas de conhecimento sobre
o mundo que circunda os indivíduos e suas relações sociais.” (BARROS; SANTOS,
2010, p. 06)
Dentro dessa perspectiva, a participação do PIBID de Geografia no Museu
Itinerante “Ciências Sobre Rodas: Busão da Ciência do Agreste ao Sertão” alcançou seu
principal objetivo, levando o conhecimento geográfico à população, através de
metodologias que chamam a atenção da população, provocando a curiosidade e
ressignificação de saberes. Além de mostrar que a Geografia é uma ciência que vai além
da pura memorização, mostrando que ela está em todos os espaços e presente em todas
as relações.
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escola: a educação não formal como Espaço de atuação da prática do pedagogo. In:
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SOUZA, Cléia Renata Teixeira de. A Educação Não-Fornal e a Escola Aberta. In: Anais
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VITTE, Camila Oeste Deogado; AGUIAR, Cibele Adriana Perina. Uma abordagem a
respeito da educação não-formal sob umaperspectiva de formação do sujeito. In: Anais
da VI Mostra Acadêmica da UNIMEP. Piracicaba, 2008.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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ESTUDO DO MEIO: REFLEXÃO E PRÁTICA
Robison Lino dos Santos
1
Cristiane Santos de Santana2
Ana Rocha dos Santos3
RESUMO
O estudo do meio é uma prática pedagógica interdisciplinar que aproxima alunos e professores
da realidade vivenciada. Através dele os alunos podem fazer a ponte entre a teoria vista em sala
de aula e a prática vivenciada no dia a dia, uma prática que exercita a construção do
conhecimento45
, indo além do proporcionado pelo livro didático, GOMES (2010). O estudo do
meio é um recurso metodológico de ensino/aprendizagem o qual não deve ser visto como um
fim mas, como um meio, a fim de tornar mais fácil compreensão do conteúdo visto em sala de
aula, desenvolver a cooperação na realização do trabalho em equipe, despertar nos alunos o
desejo pelo estudo e pela investigação, além de estreitar a relação professor/aluno e aluno/aluno.
Dentro desse contexto, a ciência geográfica assume relevância fundamental, já que esta ciência
traz em suas abordagens uma análise social acerca da realidade observada. Esta ciência permite
estudar a (re)produção do espaço, entendido como uma produção do trabalho humano, além de
proporcionar uma melhor compreensão da realidade na qual vivemos. Diante disso, entende-se
que a busca por novas formas de aprendizagem deve fazer parte do cotidiano dos professores,
uma vez que, o processo de ensino aprendizagem é muitas vezes metódico, monótono e
repetitivo, com conceitos prontos e acabados, completamente desconectados da realidade do
aluno. Dentro dessa perspectiva, este trabalho objetiva realçar a importância do estudo do meio
como metodologia do ensino de Geografia, além de trazer uma análise de estudo do meio
realizado por pibidianos e alunos da educação básica de uma escola pública do agreste
sergipano sobre o cultivo da agricultura orgânica e sua importância para a saúde do ser humano
e do meio ambiente. A construção deste trabalho foi feita respeitando as seguinte etapas:
pesquisa bibliográfica; estudo do meio e acompanhamento dos discentes após realização do
estudo do meio. Esta obra se justifica na medida em que as dificuldades enfrentadas pelos
docentes são cada vez mais frequentes e as metodologias alternativas, como o estudo do meio,
merecem atenção especial. Os resultados alcançados com a realização do estudo do meio foram
bastante satisfatórios: os alunos compreenderam de forma muito mais prazerosa o conteúdo
abordado, houve uma interação entre todos os envolvidos muito maior do que a observada em
sala de aula, além de um melhor desempenho por parte dos alunos no tocante as notas obtidas a
partir de então.
1 Graduando em Geografia pela UFS e bolsista do PIBID de Geografia do Campus Professor Alberto
Carvalho em Itabaiana/ SE; [email protected] 2 Graduanda em Geografia pela UFS e bolsista do PIBID de Geografia do Campus Professor Alberto
Carvalho em Itabaiana/ SE; [email protected] 3 Professora Doutora do departamento de Geografia da UFS Campus professor Alberto Carvalho;
vice Diretora do Campus; coordenadora do PIBID de Geografia e membro do núcleo de pós-graduação
em Geografia da Universidade Federal de Sergipe NPGEO; [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5086
Palavras-chave: Geografia, ensino, metodologia.
INTRODUÇÃO
O ensino de Geografia é bastante desafiador e coloca para os profissionais
docentes desta ciência, a incumbência de proporcionar aos alunos um aprendizado que
possa ter relação com o seu cotidiano. Um conhecimento que permita uma análise
crítica da realidade, como bem afirmam Neto e Bárbara, “não basta ao professor ter
domínio da matéria (conteúdos), torna-se necessário que o docente tenha a capacidade
de pensar criticamente, desvendar os processos que permeiam a realidade social” (2010,
p.163).
Os conteúdos devem ser trabalhados de uma maneira que o aluno possa
aperfeiçoar sua capacidade de reflexão quanto aos assuntos estudados. Azambuja e
Callai (1999), afirmam que os conteúdos devem ser estudados “como meio formativo da
capacidade de raciocínio geográfico” (p.189).
Dentro dessa perspectiva, apresenta-se o estudo do meio como uma metodologia
de ensino relevante, que pode atuar como um instrumento facilitador do trabalho do
profissional docente. Esta metodologia além de importante do ponto de vista
pedagógico, também é bastante atraente para os alunos, pois estes sempre estão
dispostos a uma aula interessante e fora da sala.
O presente trabalho tem como objetivos apresentar o estudo do meio como uma
alternativa metodológica podendo ser utilizada pelos professores com vistas a um
melhor aprendizado por parte dos alunos, e relatar os resultados obtidos através de
estudo do meio realizado no projeto desenvolvido pelos alunos do PIBID de Geografia
da Universidade Federal de Sergipe – Campus Professor Alberto Carvalho, junto aos
discentes do 7º ano do Colégio Estadual Dr. Augusto César Leite. Para realização deste
estudo do meio foi de fundamental importância a realização de entrevista e relato de
experiência dos sujeitos envolvidos com a temática de estudo.
O trabalho está estruturado da seguinte maneira: na primeira parte, faremos uma
reflexão a respeito do estudo do meio, defendendo esta metodologia de ensino como
sendo, instrumento importante a serviço do professor; na segunda parte, analisaremos os
resultados alcançados com a realização de estudo do meio realizado pelos pibidianos.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5087
REFLEXÃO ACERCA DO ESTUDO DO MEIO
O estudo do meio é uma prática pedagógica interdisciplinar que aproxima alunos
e professores da realidade vivenciada por todos, seja esta realidade, natural ou social,
praticada tanto na zona rural ou na zona urbana. Vale ressaltar, como bem afirma
Gimarães, que as pessoas não “podem confundi-lo erroneamente com saída de campo e
excursão” (2010, p. 6). Não se trata de uma excursão pelo fato de que o seu
planejamento passa por um rigoroso processo de escolha do tema, levantamento
bibliográfico, para então chegar a etapa da ida ao campo. Segundo GOMES (2010, p.1),
O Estudo do Meio é uma prática que exercita a construção do conhecimento
para além dos livros didáticos, portanto, sendo uma metodologia de
ensino. O professor realiza a pesquisa junto com os seus alunos do meio que os cerca.
Nessa metodologia desenvolvem-se as habilidades da observação, da leitura crítica
da realidade e do seu registro através da produção de textos.
Neste processo, o professor exerce um papel importantíssimo na construção do
planejamento e do currículo, pois de acordo com Pacheco (1999), o professor não deve
ser “apenas o operário do currículo, mas também um dos seus arquitetos” (p.48).
Além disso, o estudo do meio deve ser realizado de uma maneira que estimule o
aluno a pensar a realidade de forma crítica, comparando-a com o seu entorno e com a
realidade global. Neste sentido, o professor deve estar alicerçado de conteúdos que
permitam ao aluno chegar a esse nível de percepção e abstração desejado.
Neste caso, é preciso que o professor desenvolva o conteúdo buscando um
engajamento de todos na busca do conhecimento e formação de um pensamento
questionador da realidade de forma que ensine ao aluno pensar criticamente sobre o que
lhe é apresentado. Conforme Freire (1975),
o impacto do ponto de vista de uma educação libertadora, não “bancária” é que
em qualquer caso, os homens se sintam sujeitos de seu pensar discutindo o seu pensar,
sua própria visão do mundo manifestada, implícita ou explicitamente nas suas sugestões
e nas de seus companheiros (p.41).
Tal entrosamento contribuirá na formação de conceitos, os quais por sua vez,
sendo construídos em conjunto serão fixados e entendidos de forma mais simples,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5088
descontruindo o método memorizante, que visava a internalização de signos construídos
de maneira externa ao aluno.
Uma prática de ensino que traz o aluno para a construção do conhecimento
desperta os alunos a refletirem sobre o que acontece a sua volta e no mundo, gerando
assim um desenvolvimento individual e social, tornando cidadãos pensantes e
defensores de suas próprias ideias.
O estudo do meio é um recurso metodológico de ensino/aprendizagem o qual
não deve ser visto como um fim mas, como um meio, a fim de tornar mais fácil de
compreender a teoria vista em sala de aula, desenvolver a cooperação na realização do
trabalho em equipe, despertar nos alunos o desejo pelo estudo e pela investigação, além
de estreitar a relação professor/aluno e aluno/aluno.
Dentro desse contexto, a ciência geográfica assume relevância fundamental, já
que esta ciência traz em suas abordagens uma análise social acerca da realidade
observada, além de orientar uma atuação no sentido de intervir na realidade, seja ela
social ou natural.
A Geografia enquanto uma ciência que estuda a (re)produção do espaço,
entendido como uma produção do trabalho humano, nos permite uma melhor
compreensão da realidade na qual vivemos. Embora as práticas de ensinar-aprender
aconteçam nos diversos ambientes educativos, é no espaço escolar que essa prática se
consolida.
É nesse espaço que o ensino de Geografia se desenvolve, podendo ter
perspectiva de ensino conservador ou inovador, o que desenvolverá ou não a reflexão
crítica por parte dos alunos. Diante desse contexto, o docente, necessariamente, deve
assumir uma postura política e sua concepção de educação, o que repercute na definição
do conhecimento necessário a aprender.
Paulo Freire (1985) tinha como preocupação fundamental o método enquanto
caminho para o conhecimento e para tanto, definiu questionamentos orientadores para
uma prática emancipatória. Antes de utilizar qualquer prática pedagógica, cabe ao
professor questionar, como fazia Paulo Freire: em favor de que conhecer? Contra que
conhecer? Contra quem conhecer?
São questionamentos que revelam a natureza política da educação, o que exige
uma constante reflexão acerca da educação. Desse modo, o professor deve buscar novas
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5089
práticas pedagógicas ou recursos metodológicos que auxiliem a apreensão do conteúdo
por parte dos alunos, já que a memorização ainda tem sido um exercício praticado no
ensino de Geografia, mesmo nas abordagens mais avançadas.
É importante ressaltar que durante o desenvolvimento do estudo do meio, todo o
processo (planejamento, execução, análise e relatório), o docente deve situar dentro do
contexto dos objetivos, as atividades, isto se faz necessário para evitar o “fazer por
fazer”. O estudo do meio enquanto um momento do processo de produção do
conhecimento tem a necessidade de ser precedido de uma discussão, além de um
pesquisa bibliográfica e/ou documental, o que permite ao professor ao aluno
tematizarem a proposta a ser problematizada em campo.
Portanto, o estudo do meio deve ser precedido da teoria com a finalidade de
construir um embasamento conceitual e metodológico. É importante ressaltar que
embora seja relevante para o estudo da Geografia, o estudo do meio não deve ser
utilizado como a única ferramenta para o ensino dessa ciência. De acordo com Tomita
(1999), “não se deve encarar essa atividade como um fim, mas como um meio que tenha
o seu prosseguimento ao retornar a sala de aula (p.13).
Como já dissemos, o estudo do meio é uma metodologia que deve ser usada com
mais frequência pelos professores, a fim de trazer para os alunos algo pelo qual eles se
interessem, uma vez que, no estudo meio, os temas abordados quase sempre dizem
respeito a realidade vivida por eles, e o estudo do meio faz com que eles se sintam
partes do estudo. Para Leal (2006),
medo de mudar, às vezes, impede o professor de arriscar novos caminhos
pedagógicos. (...) é válido para o docente buscar novas técnicas, desbravar novos
caminhos, numa investida esperançosa de quem deseja fazer o melhor, do ponto de vista
metodológico e didático. (...) O professor deve refletir didaticamente sobre sua prática,
pensar no cotidiano sobre o saber-fazer em sala de aula, para não escorregar na mesmice
metodológica de utilização dos mesmos recursos e das invariáveis técnicas de ensino (p.
4-5).
A relação metodologia e conteúdo é um tema que tem provocado vários
questionamentos no campo pedagógico. Como se explicar uma metodologia inovadora
com um conteúdo tradicional ou vice-versa? Entende-se que o conteúdo deve apresentar
relevância social, ou seja, apresente um significado político de apreensão por parte do
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5090
aluno.
É necessário refletir sobre a metodologia de ensino empregada na sala de aula, a
fim de analisar a relação de como o conteúdo é compreendido pelos alunos. A esse
respeito, Santos diz que: “ter clareza metodológica, estar ciente de que a educação é um
ato político e que nosso trabalho traz implicações sociais é uma questão fundamental
para orientar as escolhas de atividades e de conteúdos trabalhados” (2011, p. 64).
Convém salientar que o professor não deve ser apenas um transmissor de
conhecimentos, mas também um aliado das metodologias alternativas,
alguémquerelativizaossabereseconstróiumnovoconhecimentocomseusalunos, essa ideia
é reforçada por Cavalcanti,que afirma “o trabalho do professor consiste, pois, em tornar
possível a aprendizagem do aluno. Isso significa que o sujeito central do ensino é o
aluno com seu processo cognitivo, e o papel do professor é o da mediação.” (2008, p.
59), ou seja, as metodologias utilizadas pelo professor devem atender a tais requisitos, a
auxiliar o professor a exercer esse papel de mediador entre o conhecimento e o aluno.
Também é necessário pensar o estudo do meio como uma metodologia
interdisciplinar, onde a interação entre as várias disciplinas torna o aprendizado por
parte dos alunos muito mais prazeroso, pensamento esse defendido por Pontuschka
(2007), que,
(...) discute a importância do estudo do meio como articulador de diferentes
disciplinas do currículo escolar sem deixar que percam sua especificidade. A
metodologia do estudo do meio é uma forma de estudar as modificações do espaço no
tempo, analisando suas marcas na própria paisagem. Tais marcas retratam as relações
sociais e as vivências em tempos diferentes, ligando o passado ao presente (p.194)
Ainda sobre o caráter interdisciplinar ostentado pelo estudo do meio, merece
destaque o enfoque dado por Fernandes (2011), onde ela também afirma a importância
dessa metodologia quando aplicada articulada em parceria com outras disciplinas,
segundo ela,
(...) para apreender a complexidade do real faz-se necessária a existência
simultânea de muitos olhares e da reflexão conjunta que articula, necessariamente um
conjunto de ações direcionadas para o objetivo proposto pelo grupo de trabalho. Assim,
alunos e professores embrenham-se em processo de pesquisa com o intuito de
desenvolver conteúdos relacionados com a vivência dos alunos e alunas, (p. 5).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5091
Em janeiro de 2013, realizamos no Colégio Estadual Dr. Augusto César Leite,
uma oficina sobre a agricultura orgânica, nesta oficina debatemos com os alunos acerca
da importância do consumo dos alimentos produzidos sem o uso dos agrotóxicos, tão
prejudiciais a saúde.
A referida oficina foi fruto de um estudo do meio realizado por todos os
pibidianos, no Povoado Junco, em Areia Branca – SE, mais precisamente na
propriedade do senhor Leleco. Inicialmente, nós pibidianos, fomos até a referida
propriedade para conhecermos o senhor Leleco e para ele nos mostrar como o mesmo
produz organicamente os seus produtos, como ele trata a terra e quais as dificuldades
enfrentadas por ele para lidar com aquele tipo de empreendimento.
Lá fomos bem recebidos pelo dono do terreno e ele falou bastante sobre a sua
maneira de produzir, quais os benefícios para a saúde não só das pessoas como também
do solo. Ele também nos levou a percorrer toda a extensão de sua propriedade e mostrou
toda a riqueza da sua lavoura, onde predomina a produção de verduras e hortaliças.
Posteriormente, levamos alunos do Colégio César Leite juntamente com sua
professora de Geografia pra essa mesma propriedade, afim de que os alunos pudessem
aprender de uma maneira mais prática, ou seja, através do estudo do meio. Lá, os alunos
puderam esclarecer suas dúvidas e observar a riqueza da agricultura orgânica irrigada.
A oficina foi o momento para nos membros do Pibid, passarmos para os alunos,
um conhecimento científico acerca de como o uso de agrotóxico é maléfico ao ser
humano e ao meio ambiente como um todo, e uma maneira eficaz de apresentar para a
professora deles, como o estudo do meio se reveste de uma importância fundamental
para o aprendizado dos alunos.
Para a implementação dessa metodologia, foi de relevância fundamental o
estudo do texto de Nidelcof (1979), onde ela coloca o quão é importante para o
aprendizado dos alunos, o estudo do meio, que segundo ela, o estudo do meio “é
conhecer e analisar a maneira pela qual vivem os homens com os quais estamos em
contato” (p. 09).
A importância do estudo meio também é salientada por Pontuschka (2007), pois
para ela, mais importante que dar conta de conteúdos longos, é conhecer como eles são
produzidos, e esse conhecimento é adquirido através da utilização dessa metodologia.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5092
CONCLUSÕES
Diante das questões analisadas, constata-se a importância do estudo do meio
como uma metodologia aliada do professor de Geografia que pode trazer, se bem
trabalhada, resultados satisfatórios para todos os envolvidos na educação básica. A
educação carece de esforços para melhorar o desempenho dos alunos e fazer com que os
professores não encarem o ato de ensinar como um fardo e sim algo que possam sentir
realizados, e pra alcance deste objetivo, a metodologia estudo do meio pode contribuir
de maneira significativa. Também é preciso ressaltar a experiência salutar que o Pibid
de Geografia vem proporcionando aos seus bolsistas, fazendo uso de maneira frequente
da referida metodologia, contribuindo para a formação de excelentes profissionais
docentes comprometidos com uma forma relevante de ensinar.
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5093
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5094
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE GEOGRAFIA NAS
SÉRIES INICIAIS: UMA ANÁLISE CRÍTICA
Liliam Carolini da Silva
1
Francisco José Avelino Júnior46
RESUMO
A geografia tem um importante papel na formação do aluno em relação de desenvolver a sua
capacidade crítica de compreender as diferentes realidades que permeiam o Brasil e o mundo.
Assim o ensino de geografia tem que se re-organizar a partir da relação com as temáticas
ambientais. O presente artigo propõe-se a analisar como veem inserida a Educação Ambiental
como tema transversal nas aulas de geografia nos anos iniciais do ensino fundamental. O
conhecimento científico desse artigo segue-se como procedimento para analisar como está
inserido o debate nos livros didáticos, e como os professores podem fazer uma relação com
questão ambiental na prática educacional.
Palavras- chave: Educação ambiental, prática de ensino, geografia.
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O ENSINO DE GEOGRAFIA: PRESSUPOSTOS
PARA A APRENDIZAGEM
Dentro do ensino de geografia pode-se tomar como linha central na elaboração
das aulas a inserção da prática que pretenda trabalhar com a Educação Ambiental, os
conteúdos interligados à disciplina tem como objetivo analisar as relações de modo
interdisciplinares à crise ambiental. Estabelecendo assim as interações entre homem e a
natureza, vinculando-as a uma visão de reelaborar a compreensão do espaço vivido dos
alunos (Castellar; Vilhena, 2010) e, nesse sentido conhecer e posicionar-se diante das
constantes transformações que ocorrem no ambiente geográfico.
Os princípios e as práticas da Educação Ambiental são relatados por Dias,
1 Mestranda em Geografia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS/CPTL);
46 Professor Associado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS/CPTL);
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5095
(2004), nos elementos da história da Educação Ambiental. E nesse caminho o Brasil
possui uma Política Nacional voltada à Educação Ambiental amparada na Lei 9.795 de
27 de abril de 1999, tem respaldo na Lei de Diretrizes e Bases da Educação ( Lei 9.394
de 20 de dezembro de 1996, artigo 26, parágrafo 7°, nos Parâmetros Curriculares
Nacionais que aborda a Educação Ambiental como tema transversal. Ou seja, em nosso
país a Educação Ambiental só ganhou projeção social na década de 90, quando alguns
anos mais tarde foi relatado na Constituição Federal de 1988, no Capítulo VI, sobre
meio ambiente, no seu artigo 225, parágrafo 1º, inciso VI, onde se lê compete ao poder
público “promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente”, é obvio que as
conquistas ocorrem de forma lenta, observamos experiências que foram aprimoradas
originando em inúmeros programas e projetos de Educação Ambiental, mas a realidade
advertida é a ideologia imposta nessa nova dimensão ambiental.
O papel da Educação Ambiental no contexto em que vivemos torna-se
imprescindível, contexto esse que os professores principalmente de geografia tem que
oferecer aos seus alunos uma Educação Ambiental crítica voltada para a compreensão e
transformação das questões socioambientais no mundo, a partir da realidade presente no
dia a dia, promovendo a capacidade de debate por parte dos alunos.
Para Guimarães (2009), o caráter crítico da Educação Ambiental tende a buscar
novos posicionamentos dos educadores rompendo com as relações de poder ascendente
nas sociedades contemporâneas.
Ainda quanto a essa relação, Loureiro (2011) conclui que a Educação Ambiental
é uma práxis educativa e social que tem por desígnio a construção de um organismo
com valores, opiniões, idoneidades e, sobretudo atitudes que permitam o entrosamento
da realidade de vida e também a ação lúcida do reconhecimento dos atores sociais,
individuais e coletivos presentes no ambiente. Nesse sentido, colabora para a
perspectiva na prática de um novo padrão societário distinto do atual, regulado numa
nova moral entre sociedade-natureza.
Sabemos que a sociedade humana como está é insustentável. Contudo, a
construção dessa nova abordagem que permeia a questão ambiental apresenta uma
grande necessidade no período do meio técnico-científico-informacional (SANTOS,
1994), tendo em vista que a geografia é a ciência que se propõe debater e atuar de modo
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5096
interdisciplinar os problemas ambientais. Nessa perspectiva, trabalhar com a Educação
Ambiental tem sido de vital importância para a reflexão, análise e mudança de atitude
em relação ao ambiente.
De acordo com Guimarães, (2004) a Educação Ambiental conservadora se
constrói na visão do mundo em que se fragmenta a realidade, ou seja, reduzindo-a, de
modo que ela perca a sua complexidade e diversidade em vez de aprimorar nos sujeitos
as competências que auxiliarão no conhecimento geográfico crítico:
Centrada na parte vela a totalidade em suas complexas relações, como na máquina
fotográfica que ao focarmos em uma parte desfocamos a paisagem. Isso produz uma
prática pedagógica objetivada no indivíduo (na parte) e na transformação de seu
comportamento (educação educativa na terminalidade da ação, compreendendo ser essa
terminalidade o conhecimento retido “educação bancária” de Paulo Freire) e o indivíduo
transformado. Espera ainda, pela lógica de que a sociedade é o resultado da soma de
seus indivíduos, que se dê à transformação da sociedade. Essa é uma perspectiva
simplista e reduzida de perceber uma realidade que é complexa, que vai para além da
soma das partes como totalidade. Essa não contempla a perspectiva da educação se
realizar no movimento de transformação do indivíduo inserido num processo coletivo
de transformação da realidade socioambiental como uma totalidade dialética em sua
complexidade. Não compreende que a educação é relação e se dá no processo e não,
simplesmente, no sucesso da mudança comportamental de um indivíduo
(GUIMARÃES, M. 2004, p.29).
Percebe-se na prática destes trabalhos, intrinsecamente, que a preservação de
valores na dinâmica ambiental corrobora com a decodificação de certos valores
hegemônicos que conduzem um mundo cada vez mais globalizado, difundindo assim,
suas ideologias na perspectiva da preservação ambiental. Para Freire, 2006 o ser
humano está continuamente à busca da inclusão ao movimento (global), redescobrir,
rediscutir a curiosidade, a crítica virando assim epistemologia. Cabe salientar Milton
Santos (2009) que reforça a questão de que o espaço em que vivemos é unido
indissociavelmente de sistemas de objetos e ações, e que esses não trabalham sem o
comando da informação (especializada, específica).
Isso redefine inteiramente o sistema espacial. Objetos criados deliberadamente
cientificamente, através de um sistema de ações subordinado a uma mais-valia mundial.
Outros objetos têm como motor, sistema de ações menos informadas e demandas menos
exigentes de mais-valia. Assim se estabelecem na mesma área fluxos mais numerosos e
diversos, tornando o espaço mais denso e mais complexo (SANTOS, 2009, p. 216).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5097
É a partir dessas complexidades que se estabelecem as vulnerabilidades
ambientais que podem ser aumentadas diante do crescimento econômico local (Santos,
2009), ou seja, esses acontecimentos podem impor perturbações em diferentes espaços,
provocando riscos ambientais conduzidos por interesses de capitais distantes.
Diante desse contexto brevemente analisado, acredita-se que o conhecimento
geográfico, junto às práticas de uma Educação Ambiental crítica, é necessário para os
professores instrumentalizar–se no dia a dia, para que corroborem na formação dos
alunos em decifrar os sistemas de objetos e ações, que direta ou indiretamente, afligem
nossas vidas. Uma das maiores tarefas do professor segundo Freire (1966) não é
somente ensinar os conteúdos, ir, além disso, ensinar a pensar certo.
Conforme Moreira (2008, p.105) “a geografia é uma forma de leitura do mundo.
A educação escolar é o processo no qual professor e aluno se relacionam com o mundo
através das relações que travam entre si na escola e das ideias.” Raramente os alunos
dão conta que a geografia trabalha com representações reais. Nesse sentido, se
vislumbram que os textos escolares presentes nos livros didáticos tratam as diferentes
realidades e conceitos de forma fragmentada, principalmente quando se discute o viés
da dinâmica ambiental, sobretudo no Brasil. No entanto, essas relações são pertinentes
para se discutir esse arranjo dicotômico presente no ensino de geografia.
De modo que, a primeira síntese que fazemos do mundo, é através do senso
perceptivo, que partimos do plano da singularidade com que os obtemos e levamo-los
para o plano da totalidade (MOREIRA, 2008). Totalidade essa que Santos (2009, p.115)
diz ser uma das mais fecundas que a filosofia clássica nos legou, constituindo em
elemento fundamental para o conhecimento e análise da realidade.” Segundo essa ideia,
temos que basear nossos discursos partindo de análises em um âmbito da realidade local
para compreendermos o todo.
UMA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO DO 6º ANO DA ESCOLA MUNICIPAL
MARIA EULÁLIA VIEIRA- TRÊS LAGOAS/MS
A Escola Municipal Professora Maria Eulália Vieira localizada na cidade de Três
Lagoas/MS, é uma das escolas municipais que atendem desde o ensino fundamental I
(1º a 5º ano), até o ensino fundamental II (6º ao 9º ano). A escola foi escolhida para
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5098
realizar a pesquisa devido seu alto índice no Ideb (Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica) e sua localização. A análise do material didático de geografia baseou-
se no livro utilizado pelo 6º ano da escola – denominado “Projeto Araribá” organizado
pela Editora Moderna, o material didático é uma obra coletiva composta de 4 volumes
desenvolvida para atender estudantes de 6º ao 9º ano.
O conteúdo abordado, do livro do 6º ano, tem o objetivo de iniciar alguns
conceitos essenciais dos componentes de geografia, nos quais se inserem a compreensão
da paisagem, espaço, lugar, trabalho, espaço geográfico, orientação no espaço,
localização (latitude e longitude). Um ponto interessante observado no livro é a
abordagem do conceito de paisagem, descrito não exclusivamente na visão natural como
uma pintura, mas como um conjunto de elementos naturais e humanizados (culturais-
sociais) que podem ser observados em determinados locais. E nesse sentido enriquece a
discussão em apontar as diferentes paisagens transformadas pela ação humana e
consequentemente os aspectos da exploração do solo, rios e oceanos.
Analisando cada unidade do livro observa-se uma transmissão fragmentada do
saber de forma sucinta, mas de fácil compreensão. A Unidade 1 apresenta temas
introdutórios, como paisagem, espaço, lugar, trabalho e suas transformações, orientação
e localização; já a Unidade 2 aborda questões relacionadas ao planeta terra, dentre elas a
origem do planeta, como se formou os continentes. A Unidade 3 por sua vez fala sobre
os continentes, as ilhas e os oceanos; enquanto que a Unidade 4 aborda assuntos
pertinentes ao relevo e hidrografia; Unidade 5 trata do clima e vegetação no Brasil; a
Unidade 6 inicia-se com a discussão sobre o campo e a cidade; a Unidade 7 explora o
extrativismo e a agropecuária; para finalizar a última Unidade explana temas
relacionados à indústria, comércio e prestação de serviços.
A obra em seu contexto geral destaca a relação do tema com questões
ambientais, pois as transmissões dos conteúdos devem ser a partir de uma visão
holística e não fragmentada. Nesse sentido Fonseca et al (2007, p. 242) expõem que:
A fragmentação disciplinar e as dificuldades da prática pedagógica constituem, na
atualidade, os principais óbices à abordagem da temática ambiental, de modo
transversal e interdisciplinar. Trabalhar a interdisciplinaridade da temática ambiental
implica revelar e rede de conflitos e interesses que a criam, partindo da realidade local
para, em seguida, tratar das questões ambientais mais amplas. É mister compreender
que as ciências, cada uma delas, constituíram processos metodológicos de investigação
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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científica próprios e que o ambiente não pode se constituir em mais um segmento da
ciência, mas deve preencher as rachaduras da compartimentarão dos conteúdos
disciplinares.
Para compreender as teias dos negócios no espaço urbano/ rural que está
inserido no final do livro, devíamos ter como base a unidade 6 que discute assuntos
relacionados ao “O campo e a cidade”, os problemas ambientais no campo, como a
degradação dos solos, o uso de agrotóxicos, irrigação e os principais problemas urbanos,
como lixo, ilhas de calor, água e esgoto. Nesse sentido falta uma vinculação com a
questão do trabalho inserido logo na primeira unidade, pois as transformações no espaço
geográfico são contundentes assim como a divisão social e territorial do trabalho na
relação com o ambiente tanto urbano quanto rural. Esta relação se insere não apenas no
conceito de paisagem como coloca o livro, vai além, pois o trabalho não cria novas
paisagens, mas sim transforma os espaços e as paisagens já existentes.
Dessa forma, a interdisciplinaridade está presente na disciplina de geografia,
observamos isto ao estudar as relações do homem com a natureza sem esquecer os
entraves das questões sociais e socioambientais, e também no livro didático ao propor
atividades que tem como base a “compreensão de um texto”, pois essas atividades além
de estimular a leitura, ajuda na interpretação de textos que é fundamental para a
formação do aluno.
Freire (1966, p.30) já defendia essa nova prática aos professores, argumentando
que deviam ensinar a partir da realidade dos alunos, nesse sentido o autor coloca as
seguintes indagações:
Por que não aproveitar a experiência que têm os alunos de viver em áreas da cidade
descuidadas pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição dos riachos e dos
córregos e os baixos níveis de bem-estar das populações, os lixões e os riscos que
oferecem à saúde das gentes. [...] Por que não discutir com os alunos a realidade
concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade
agressiva em que a violência é a constante e a convivência das pessoas é muito maior
com a morte do que com a vida? [...] Por que não discutir as implicações políticas e
ideológicas de um tal descaso dos dominantes pelas áreas pobres da cidade?
Os produtos,ou seja, os debates, textos, cartazes entre outras atividades que
podem ser resultados desta discussão do conhecimento em sala é muito importante,
serem reconstruídos com exemplos reais para os alunos, para assim trabalhar com um
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5100
discurso que mostre os elementos imperceptíveis na disputa da natureza não como
paisagem mas sim como um espaço (território) a ser modificado em “Interesse de
quem? Para quem?”. São essas perguntas que devem ser trabalhadas com os alunos,
para os mesmos começarem a entender a dinâmica presente no espaço geográfico.
Para Michelato & Bradueto (2004), o papel de qualquer disciplina não é o
entendimento do seu objeto de estudo, mas sim, partir dele o auxílio na compreensão do
todo, ou seja, a geografia por mediação do seu principal objeto de estudo, o espaço
geográfico, deve oferecer elementos necessários para a compreensão do contexto de
globalização e exclusão focada na concorrência do espaço e do território. É sob essa
vertente que devemos refletir sobre a educação ambiental crítica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação ambiental deve ser abordada no âmbito escolar, observando também
as diferentes formas para se trabalhar de modo interdisciplinar, buscando a implantação
de novos hábitos para que possam ocorrer mudanças essenciais junto à interação na
prática geográfica. Vale ainda destacar os PCNs e a abordagem desses eixos, bem como
a sugestão para implementá-los no currículo do ensino fundamental. A prática da
educação ambiental torna-se também essencial para a compreensão dessa vertente.
Hoje, não podemos distanciar a ciência da verdade, e nesse cunho educacional,
fica a contribuição de Santos & Silveira (2011), em avaliar os saberes do território
brasileiro e suas transformações espaciais, que interferem essas configurações nas
análises dos grandes problemas ambientais do Brasil, e assim, pensamos no mundo.
Neste sentido, discutir a educação ambiental na dimensão geográfica, contribui no
retorno da busca ao entendimento do papel da Geografia como disciplina escolar.
E deve-se pensar na degradação ambiental, a partir das realidades locais, sempre
associar essa prática educacional com os temas do livro didático exemplos coerentes
para a compreensão e o interesse dos alunos. Despertando a curiosidade que aprimorada
transforma-se em consciência crítica.
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5104
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA BÁSICA: ESTRATÉGIAS E
DESAFIOS DO PROCESSO DE SENSIBILIZAÇÃO
Janiane D. dos Santos Honda1
RESUMO
As questões ambientais vêm adquirindo uma grande importância na nossa sociedade. Estudos
acerca dos problemas ambientais surgem a partir de novos paradigmas que visam uma direção
mais sistêmica e complexa da sociedade. Nesse contexto, a escola emergiu nas discussões sobre
a educação ambiental com um processo de reconhecimento de valores, em que as novas práticas
pedagógicas devem ser responsáveis na formação dos sujeitos de ação e de cidadãos conscientes
de seu papel no mundo.
A Educação Ambiental – EA – tem sido um componente importante para se repensarem as
teorias e práticas que fundamentam as ações educativas, quer nos contextos formais ou
informais, deve ser interdisciplinar, orientado para solução dos problemas voltados para
realidade local, adequando-os ao público alvo e a realidade dos mesmos. Pois, os problemas
ambientais de acordo com Dias (2003) devem ser compreendidos primeiramente em seu
contexto local, e em seguida ser entendida em seu contexto global. É importante que ocorra um
processo participativo permanente, de maneira que não seja apenas e exclusivamente
informativa, é imprescindível a prática, de modo a desenvolver e incutir uma consciência crítica
sobre a problemática ambiental.
A EA é essencial para a conscientização das pessoas em relação ao mundo em que vivem para
que possam ter cada vez mais qualidade de vida sem desrespeitar o meio ambiente. O maior
desafio é tentar criar uma nova mentalidade com relação a como usufruir dos recursos
oferecidos pela natureza, resultando assim um novo modelo de comportamento, que busca o
equilíbrio entre o homem e o ambiente. Sendo assim, o presente estudo procura analisar como a
EA vem sendo desenvolvida na Escola Municipal Padre Feliciano, localizada no município de
Inhumas-GO, discutindo e propondo alternativas que possam contribuir para o desenvolvimento
de uma consciência ambiental, não só ecológica, mas também visando às questões social,
cultural e econômica relacionada à existência do homem, sob um regimento interdisciplinar.
No mundo atual em virtude de como o homem vem utilizando os recursos naturais de forma
inadequada se fazem necessário uma conscientização ambiental, sobretudo por parte dos
educadores, já que eles têm responsabilidade na formação cidadã de seus alunos, sendo
importante que estes possam tomar entendimento acerca do que acontece e o que podem fazer
para preservar o meio ambiente.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Meio Ambiente, Conscientização.
INTRODUÇÃO
1Universidade Federal de Goiás; [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5105
Apesar de ser uma exigência constitucional e embora sendo recomendada por
conferências internacionais sobre o meio ambiente, a educação ambiental está longe de
ser uma atividade aceita com tranquilidade porque toda atividade que implica em
mudança de comportamento e em mobilização por profundas melhorias no ambiente
nem sempre é bem aceita. Quando bem realizada, uma atividade de educação ambiental
pode levar a mudança de comportamento individual e a atitudes de valores e cidadania
que acabam por influenciar importantes mudanças sociais. Assim, a educação ambiental
é algo essencialmente oposto ao adestramento ou à simples transmissão de
conhecimentos científicos, constituindo-se num espaço de troca desses conhecimentos,
de experiências, de sentimentos e de energia (PCN, 2001).
No ensino formal, o MEC atualmente utiliza o sistema da transversalidade para a
melhoria do ensino. Infelizmente, não são todos os educadores que conhecem
perfeitamente a proposta da transversalidade e poucos são os que, juntamente com sua
escola, a aplicam. Neste contexto se coloca as seguintes questões: Como vem sendo
desenvolvida a educação ambiental na Escola Municipal Padre Feliciano? Como os
estudantes e professores representam o meio ambiente e que práticas educativas esses
professores utilizam para lecionar a educação ambiental? O que se pode propor para
estimular o desenvolvimento de uma consciência ambiental, não só ecológica, do ponto
de vista da natureza, mas também visando às questões social, cultural e econômica
relacionada à existência do homem?
A educação ambiental deve ser um exercício para a cidadania, e neste contexto,
este estudo apresenta como objetivo diagnosticar as principais dificuldades e desafios
enfrentados pela Educação Ambiental no Ensino Fundamental da Escola Municipal
Padre Feliciano, buscando compreender como as questões ambientais vêm sendo
tratadas na escola de educação básica.
Para a concretização desse trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica
baseada em linhas de estudo científicos da Educação Ambiental e interpretação das suas
principais teorias. Assim, o trabalho foi se conduzindo à sua parte prática, que teve por
objetivo a percepção de professores e alunos em relação à Educação Ambiental,
ajudando a compreender os principais desafios e dificuldades encontradas neste nível
em relação à Educação Ambiental.
A EA impõe-se no abrir espaço para se falar, principalmente, na importância da
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5106
educação como um todo, na formação do cidadão. É neste espaço que se deve propor
um trabalho interdisciplinar, pois a EA “pode e deve ser o agente otimizador de novos
processos educativos que conduzem as pessoas por caminhos onde se vislumbre a
possibilidade de mudança e melhoria de seu ambiente total” (DIAS, 1992, p. 158).
A educação ambiental de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais -
PCN's (1998, p.23) abrange toda a complexidade da ação humana: se quanto às
disciplinas do conhecimento ela é um tema transversal, interdisciplinar, nos setores de
atuação da esfera pública ela só se consolida numa atuação do sistema como um todo,
sendo afetada e afetando todos os setores: educação, saúde, saneamento, transportes,
obras, alimentação, agricultura, etc.
Os temas transversais apresentam-se como um conjunto de conteúdos educativos
e eixos condutores da atividade escolar que, não estando ligados a nenhuma matéria
particular, pode-se considerar comum a todas. Com a transversalidade, busca-se um
novo diálogo permanente em sala de aula e fora dela, onde professores, estudantes e
comunidade criam um ambiente de educação conjunta (uns educando os outros e a si
mesmos, como pensava Paulo Freire) sobre o meio ambiente e a necessidade de
preservação e respeito às diferentes formas de vida.
A EA, como processo contínuo que busca a conquista da cidadania e o
desenvolvimento justo, solidário e sustentável, é meio e não fim. Assim, os conteúdos
tradicionais só farão sentido para a sociedade e para quem os ensina e estuda, se
estiverem integrados em um projeto educacional abrangente de transformação, a
começar pelo ambiente escolar, envolvendo a comunidade e os funcionários,
repensando o espaço físico e a administração escolar, as práticas docentes e a
participação discente, isto é, discutindo toda a dinâmica de relações que se estabelecem
no ambiente que nos cerca.
Dentro desse contexto, e diante da relevância da questão, este trabalho propõe
realizar um estudo sobre como são desenvolvidos os conteúdos da educação ambiental
na segunda fase do Ensino Fundamental da Escola Municipal Padre Feliciano,
localizada na Av. Tiradentes do Setor Pedrinhas no município de Inhumas-GO, e
reforçar a prática dessa temática sob a metodologia de uma pesquisa-ação, sendo que
este ensino, nesta unidade escolar vem sendo realizada de forma fragmentada e
descontinuada. Há deficiência do conceito de meio ambiente por parte de professores e
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5107
dos alunos. A escola possui apenas um projeto (Projeto Meu Ipê) que envolve os temas
educação ambiental e meio ambiente e somente as disciplinas ciências e geografia
trabalham atividades relacionadas em nível de sala de aula.
Além disso, em sua grande maioria, os sujeitos desta escola pertencem a
grupos/classes sociais em situação/estado de vulnerabilidade socioambiental decorrente
dos riscos a que estão submetidos em função de preconceitos e/ou desigualdades
econômicas na sociedade. (LOUREIRO, 2004).
Não se pretende de trazer a solução imediata para as questões sobre uma
inserção da educação ambiental nessa modalidade de ensino com a realização deste
trabalho. Mas levantar questionamentos, reflexões e atividades acerca do que se pode
considerar no conhecimento ambiental trazido para a escola pelos alunos e de que modo
ele reflete as tendências da Educação Ambiental como Tema Transversal nesta
modalidade de ensino.
Atualmente, a escola possui um corpo docente composto por 25 professores,
sendo nove professores atuantes na segunda fase do Ensino Fundamental do turno
matutino no qual está sendo realizada esta pesquisa. Aproximadamente 270 alunos estão
matriculados nesta unidade de ensino, destes cerca de 130 fazem parte da segunda fase
do Ensino Fundamental, no turno matutino.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A Educação Ambiental, cujos pressupostos teóricos norteadores foram
assumidos e ratificados ao longo da década de 1970, vem se consolidando como uma
prática educativa que perpassa todas as áreas do conhecimento.
Foi a partir da década de 70 que o termo educação ambiental passou a ser
amplamente utilizado com o crescimento dos movimentos ambientalistas para
caracterizar iniciativas de universidades, escolas, instituições governamentais e não
governamentais por meio das quais se buscava conscientizar setores da sociedade para
questões ambientais (PCN, 2001). Um importante passo foi dado com a promulgação da
Constituição de 1988 quando a educação ambiental passa a ser exigência e deve ser
garantida por todas as esferas governamentais. A Conferência Internacional Rio/92
reconheceu o papel da educação para a “construção de um mundo socialmente justo e
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5108
ecologicamente equilibrado”, o que requer “responsabilidade individual e coletiva em
níveis local, nacional e planetário”. E é isso que se espera das ações de educação
ambiental no Brasil após a promulgação da Constituição Federal.
Vêm se intensificando as iniciativas dos variados setores da sociedade para o
desenvolvimento de atividades e projetos no intuito de educar as comunidades,
procurando sensibilizá-las para as questões ambientais, e mobilizá-las para a
modificação de atitudes nocivas e a apropriação de posturas benéficas ao equilíbrio
ambiental.
Segundo Vasconcellos (1997), a presença, em todas as práticas educativas, da
reflexão sobre as relações dos seres entre si, do ser humano com ele mesmo e do ser
humano com seus semelhantes é condição imprescindível para que a Educação
Ambiental ocorra. Dentro desse contexto, sobressaem-se as escolas, como espaços
privilegiados na implementação de atividades que propiciem essa reflexão.
A Educação Ambiental dentro da escola deve sensibilizar o aluno a buscar
valores que conduzam a uma convivência harmoniosa com o ambiente e as demais
espécies que habitam o planeta, auxiliando-o a analisar criticamente os princípios que
tem levado à destruição inconsequente dos recursos naturais e de várias espécies. Tendo
a clareza que a natureza não é fonte inesgotável de recursos, suas reservas são finitas e
devem ser utilizadas de maneira racional e evitando o desperdício.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO ESCOLAR
Educar tendo como abordagem a Educação ambiental significa ir além do
confronto dos valores que temos diante de um ou mais problemas concretos como, por
exemplo, discutir a coleta de lixo da escola, aprender a formular soluções, tomar
decisões e agir. No entanto, para isso, é preciso que a escola mude sua cultura. Ou seja,
a escola precisa deixar de ser transmissora dos saberes para ser um local dinâmico e
aberto a questões locais e globais.
O trabalho com EA deve partir da observação das necessidades de nosso entorno
e os interesses pelos problemas locais. Isto, na prática, significa que ela deve partir da
realidade local, estudando as necessidades, os interesses e os problemas vividos e,
posteriormente, estabelecer as unidades de aprendizagem integradas, que constituem,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5109
basicamente, na seleção de um ou mais temas centrais para a sua realização. Isso poderá
ser pensado nas esferas cognitivas, afetiva, técnica e epistemológica, orientando o
professor para ações interdisciplinares ou transversais, valorizando as experiências com
a comunidade local.
Apesar de muitas indagações à proposta dos PCNs, observa-se que os
conhecimentos pertinentes à questão ambiental estão coerentemente estruturados e
contribuem para a formação dos educandos onde estimulam “uma consciência global
das questões relativas ao meio, para que possam assumir posições afinadas com os
valores referentes à sua proteção e melhoria”. Os educandos aprenderiam “a reconhecer
fatores que produzem” o real bem estar, desenvolver o espírito crítico de críticas às
induções do consumismo e senso de responsabilidade e de solidariedade no uso dos
bens comuns e recursos naturais de modo a respeitar o ambiente e as pessoas da
comunidade.
Considera-se, nesse sentido, fundamental a importância de entender o atual
momento vivenciado pela sociedade brasileira e que a mesma, muitas vezes, é saturada
por informações duvidosas que veiculam com enfoques de símbolos e significados para
distorcer a realidade social. Paralelamente a isso, as questões socioambientais também
são desvirtuadas.
Assim, a Educação Ambiental é definida nos PCNs como “uma proposta
revolucionária, que, se bem empregada, pode levar a mudanças de comportamento
pessoal e a atitude e valores de cidadania que podem ter fortes consequências sociais”
PCNs (V.9, p.27). No que se refere às dificuldades da Educação Ambiental em ser
tratada como uma visão interdisciplinar pode destacar a sua postura própria que vem
ocorrendo ao longo do tempo, modificando o tratamento que lhe foi imposto durante
anos, ou seja, de vir a reboque das diversas disciplinas. O descompasso entre teorias,
metodologias, pedagogias e aplicabilidades em função, muitas vezes, da má formação
das licenciaturas, implica uma reformulação metodológica, conceitual e curricular,
criando-se um novo docente a partir dessas mudanças.
Atualmente a escola precisa também estar atenta às várias formas de atuação e
de informação que a sociedade está sujeita. É necessário refletir sobre valores presentes
entre os seres humanos, que os mesmos foram e são constantemente veiculados,
principalmente pelos meios de comunicação de massa. Através do ensino é possível
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5110
construir caminhos, envolvendo as diferentes áreas do conhecimento, e através do
debate e do repensar nossa prática cotidiana podemos criar valores de sustentabilidade
econômica, social e cultural.
Cabe aos professores, garantir momentos de discussão e compreensão da
realidade socioambiental em que estamos inseridos, numa perspectiva de construção de
espaços para o exercício da cidadania. Neste contexto, a Educação Ambiental deve ser
relacionada com a vida das pessoas no seu cotidiano, o que elas veem e sentem.
Conhecer as causas e consequências que provocam os problemas socioambientais locais
também facilitará à sociedade propor soluções.
Souza (2000) afirma, inclusive, que o estreitamento das relações intra e
extraescolar é bastante útil na conservação do ambiente, principalmente o ambiente da
escola. Os participantes do Encontro Nacional de Políticas e Metodologias para a
Educação Ambiental (MEC/SEMAM, 1991) sugeriram, entre outras propostas, que os
trabalhos relacionados à Educação Ambiental na escola devem ter, como objetivos, a
sensibilização e a conscientização; buscar uma mudança comportamental; formar um
cidadão mais atuante; (...) sensibilizar o professor, principal agente promotor da
Educação Ambiental; (...) criar condições para que, no ensino formal, a Educação
Ambiental seja um processo contínuo e permanente, através de ações interdisciplinares
globalizantes e da instrumentação dos professores; procurar a integração entre escola e
comunidade, objetivando a proteção ambiental em harmonia com o desenvolvimento
sustentado. (DIAS, 1992).
Com os conteúdos ambientais permeando todas as disciplinas do currículo e
contextualizados com a realidade da comunidade, a escola ajudará o aluno a perceber a
correlação dos fatos e a ter uma visão integral do mundo em que vive. Para isso a
Educação Ambiental deve ser abordada de forma sistemática e transversal, em todos os
níveis de ensino, assegurando a presença da dimensão ambiental de forma
interdisciplinar nos currículos das diversas disciplinas e das atividades escolares.
Andrade (2003) realizou uma pesquisa sobre a aplicabilidade, no contexto
escolar, da Lei 9.795/99 (Lei de Política Nacional de Educação Ambiental) do ponto de
vista dos educadores. O autor buscou compreender as possibilidades e desafios
enfrentados para a sua implementação nas escolas brasileiras, e um dos obstáculos
identificados a partir de entrevistas com professores de ensino superior, diretores,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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coordenadores e professores de ensino fundamental e médio está relacionado à própria
natureza da EA, que, por ser um campo em construção, gera confusão acerca de seu
significado, princípios e metodologias.
Diante desses resultados, torna-se evidente a relevância de realizar Educação
Ambiental a partir da percepção ambiental dos atores e das atrizes, buscando modificar
ou ampliar, no entanto é necessário investir na formação dos educadores ambientais em
todos os níveis e modalidades de ensino, de maneira a se motivar a construção e
reconstrução dos conhecimentos referente o meio ambiente e a própria Educação
Ambiental.
RESULTADOS PRELIMINARES
Para o estudo do tema proposto foi realizada uma pesquisa descritiva com
enfoque qualitativo. A pesquisa qualitativa, segundo LÜDKE e ANDRÉ, (1986, p.11-3),
“tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu
principal instrumento” e, além disso, “envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos
no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do
que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes”.
Diante isso, muitas dificuldades e desafios são encontrados na EA da escola
analisada. Através da pesquisa pode se observar que a maioria dos professores está
ciente das responsabilidades socioeducativas a eles confiadas, existindo consenso da
importância do tema transversal EA, no entanto observa-se uma barreira quanto a
aplicação de atividades relacionadas a este tema. Percebe-se que os professores tem o
conhecimento sobre o tema, mas não há participação e nem oferecimento de
capacitações referentes ao mesmo e nem inclusão do tema EA como temas transversais
em seus planos de aula.
Outra dificuldade é que os professores questionam sobre a falta de material
didático, onde o próprio livro didático é ausente de conteúdos relacionados à questão
ambiental, se fazendo necessário outras metodologias com outros materiais que
poderiam auxiliar. Além de que, falta uma maior compreensão e colaboração por parte
da comunidade escolar em colocar em prática ações que contribuam para a melhoria do
meio ambiente.
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Dessa maneira os problemas ambientais são tratados como algo possível e não
concreto. Observa-se que a escola procura transmitir para os educandos de maneira
isolada e fragmentada um conhecimento pronto sobre o meio ambiente e suas questões,
onde o modo como a Educação Ambiental é praticada nessas escolas, é apenas como
projeto especial, extracurricular, sem continuidade, descontextualizado, fragmentado e
desarticulado, e apesar da disposição do MEC sobre a educação ambiental, não há
efetivamente o desenvolvimento de uma prática educativa que integre disciplinas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a análise do que foi exposto, podemos concluir que a Educação Ambiental
não é desenvolvida como deveria, onde não há efetivamente o desenvolvimento de uma
prática educativa que integre disciplinas. É através de projeto especial, extracurricular,
sem continuidade, fragmentado e desarticulado que a educação Ambiental é praticada
nesta escola. Os professores não recebem estímulos de modo a deixar uma grande
lacuna de conhecimento para os alunos tornando-se apenas ouvintes e não praticantes,
quando deveriam ser estimulados através de atividades e projetos a exercer essa
consciência a partir de sua realidade e comunidade. Outro fato é que nas escolas
publicas a situação é ainda mais agravante, pois como sabemos a educação esta
sucateada e não oferece condições adequadas para o desenvolvimento de uma educação
eficaz e de boa qualidade.
De uma forma geral, podemos evidenciar através da pesquisa realizada que
existem grandes dificuldades e desafios no da Educação Ambiental, e se faz necessária
articulação de ações educativas, condições adequadas e capacitações aos educadores
para que possam trabalhar temas e atividades de educação ambiental, de maneira que
possibilite a conscientização dos alunos e desenvolva a criticidade dos mesmos, gerando
novos conceitos e valores sobre a natureza, contribuindo para a preservação do meio
ambiente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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ANIMAIS TAXIDERMIZADOS NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL
Eduardo Venâncio Rocha1
Adriany de Ávila de Melo Sampaio2
RESUMO
Este artigo é o resultado de uma dissertação de mestrado, do programa de pós-graduação em
geografia da Universidade Federal de Uberlândia, e teve como objetivo demonstrar se o uso de
animais silvestres taxidermizados do Bioma Cerrado, seria uma alternativa didática viável para
a Educação Ambiental de pessoas com deficiência visual, a pesquisa foi realizada no Instituto de
Cegos do Brasil Central (ICBC) situado na cidade de Uberaba/MG. Para corroborar se esta
alternativa didática seria eficaz, foi ofertado um curso de extensão de 44 horas/aula, intitulado
“Questões ambientais: da teoria à prática” para os docentes do ICBC que teve como foco a
importância da preservação do Meio Ambiente e também serviu para coleta dos dados para
comprovar a eficiência do objetivo proposto. A metodologia adotada foi à qualitativa, que teve
como instrumento questionário, que foi aplicado no início da pesquisa e outro ao final. A
investigação confirmaria se a utilização de animais taxidermizados do Bioma Cerrado como
recurso didático para a Educação Ambiental para pessoas com deficiência visual.
Posteriormente foi disponibilizado um acervo de animais taxidermizados ao ICBC para que os
docentes pudessem utilizar em suas aulas, nos demais espaços educativos e para a formação
continuada. O uso dos animais taxidermizados contribui de forma efetiva para o aprendizado da
Educação Ambiental, pois, ao tatear os animais, as pessoas com deficiência visual puderam
senti-los em escala real, com todas as suas características anatômicas, como a dentição e
pelagem.
Palavras-Chave: Recurso Didático, Fauna do Bioma Cerrado, Legislação Ambiental.
INTRODUÇÃO
Neste artigo vamos apresentar os resultados obtidos na dissertação de mestrado
realizada nos Instituto de Cegos do Brasil Central (ICBC), onde se discutiu a utilização
da técnica da Taxidermia com fins didáticos para auxiliar as aulas de Educação
Ambiental para pessoas com deficiência visual, para que, com o tato, pudessem ter
1 Mestre em Geografia - Universidade Federal de Uberlândia; [email protected]
2 Doutora em Geografia - Universidade Federal de Uberlândia; [email protected]
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contato com animais da fauna silvestre, despertando a curiosidade sobre o tema e
produzindo conhecimentos a respeito.
A pesquisa foi intitulada como Educação ambiental com auxílio de animais
taxidermizados do bioma cerrado: formação continuada de professores que trabalham
com pessoas cegas ou de baixa visão no ICBC, na cidade de Uberaba/MG.
Como foi direcionada aos docentes do ICBC/MG, optou-se por ofertar um curso
de Formação Continuada, no formato de extensão, com 44 horas, sendo uma parte sobre
a questão ambiental geral, e no assunto tocante a Taxidermia, uma parte teórica e outra
prática opcional.
. A dissertação foi dividida em três capítulos. No capítulo 1, intitulado
“Taxidermia e Educação Ambiental”, discute-se a Taxidermia como uma alternativa
para a Educação Ambiental para pessoas cegas e de baixa visão. Apresentou, ainda, uma
proposta de Taxidermia Tátil como recurso didático que realmente possa colaborar e
sensibilizar, em especial as pessoas com deficiência visual. Já na Educação Ambiental,
uma abordagem teórica, com foco na parte legal, descrita em nosso ordenamento
jurídico com as normas que derivam as demais ações concretas sobre a temática.
Também se discutiu os direitos dos animais e sobre a morte de animais Bioma Cerrado
por atropelamento.
No capítulo 2, “Contextualização do Instituto de Cegos do Brasil Central e as
principais legislações sobre pessoas com deficiência”, foram discutidas em ordem
cronológica os principais documentos que versam sobre a pessoa com deficiência. Além
de trazer artigos da Constituição da República Federativa do Brasil sobre pessoas com
deficiência e um apanhado das principais normas infraconstitucionais que
regulamentam os dispositivos constitucionais. Evidencia do mesmo modo a localização
geográfica do município de Uberaba, que abriga o local do estudo, e breve histórica do
Instituto de Cegos do Brasil Central, desde sua concepção até os dias atuais, sendo que
em 2012 completou 70 anos.
No capítulo 3, “Formação continuada de docentes que atuam com pessoas cegas
ou de baixa visão”, a importância da formação continuada para docentes e apresentado
os resultado que foram aferidos no transcorrer da pesquisa, avaliando se realmente a
formação continuada, aliada à Taxidermia, pode colaborar com o crescimento
profissional e se refletir no aprendizado do aluno
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5116
OBJETIVO
Verificar se o uso de animais do bioma cerrado taxidermizados poderia auxiliar
na prática didática na Educação Ambiental de pessoas com deficiência visual e torna-se
um recurso didático alternativo e de baixo custo.
METODOLOGIA
A dissertação trabalhou com a abordagem qualitativa, ou seja, uma forma de
analisar e interpretar o comportamento humano e sua complexidade. Pois segundo
Marconi; Lakatos (2006, p. 269) a
Metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos
mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento
humano. Fornece análise mais detalhada sobre as investigações,
hábitos, atitudes, tendências de comportamento, etc.
Assim, nesta pesquisa, o questionário configurou a ferramenta utilizada para a
compreensão da realidade dos docentes que trabalham com pessoas com deficiência
visual e também para verificar a viabilidade dos animais taxidermizados do Bioma
Cerrado como recurso didático para a Educação Ambiental.
O questionário foi aplicado durante a realização do Curso de Formação
Continuada. Sendo um questionário aplicado no início e outro ao final do curso, e teve
como objetivo verificar o aprendizado dos conteúdos ministrados dividiu-se em dados
gerais (Questões 01 a 07) e questões ambientais propriamente ditas (Questões 08 a 24;
Cf. Anexo 1).
Segundo Severino (2007, p. 125-126), o questionário é um
Conjunto de questões, sistematicamente articuladas, que se destinam a
levantar informações escritas por parte dos sujeitos pesquisados, com
vistas a conhecer a opinião dos mesmos sobre os assuntos em estudo.
As questões devem ser pertinentes ao objeto e claramente formuladas,
de modo a serem bem compreendidas pelos sujeitos. As questões
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5117
devem ser objetivas, de modo a suscitar respostas igualmente
objetivas, evitando provocar dúvidas, ambiguidades e respostas
lacônicas. Podem ser questões fechadas e abertas. No primeiro caso,
as respostas serão escolhidas dentre as opções predefinidas pelo
pesquisador; no segundo pode elaborar as respostas, com suas próprias
palavras, a partir de sua elaboração pessoal. De modo geral, o
questionário deve ser previamente testado (pré-teste), mediante sua
aplicação a um grupo pequeno, antes de sua aplicação ao conjunto de
sujeitos a que se destina o que permite ao pesquisador avaliar e, se for
o caso, revisá-lo e ajustá-lo.
O curso de Formação Continuada oferecido, em formato de extensão, intitulou-
se “Questões ambientais: da teoria à prática”, sendo ministrado com a colaboração de
seis docentes de diversas instituições de ensino superior, da cidade de Uberaba e
Uberlândia, e do pesquisador-mestrando, com temas relativos ao Meio Ambiente e
Taxidermia.
Durante a realização do curso, cedeu-se ao Instituto de Cegos do Brasil Central
um acervo de animais taxidermizados, composto por um tamanduá bandeira
Myrmecophaga tridactyla (Linnaeus, 1758), um tamanduá mirim Tamandua
tetradactyla (Linnaeus, 1758), duas capivaras Hidrochoerus hidrochoeris (Linnaeus,
1766), um jabuti piranga Gerochelone carbonária (Spix, 1824), um lobo guará
Chrysocyon brachyurus (Illiger, 1815), uma jaguatirica Leopardus pardalis (Linnaeus,
1758), um furão-grande Galictis vittata (Schreber, 1776) e três tatus peba Euphractus
sexcintus (Linnaeus, 1758) para serem utilizados pelos docentes juntos as pessoas com
deficiência visual
REFERENCIAL TEÓRICO
No contexto do ensino e da aprendizagem, é latente a necessidade de se buscar
novos recursos didáticos como alternativas para a compreensão e a sensibilização das
pessoas nas questões ambientais. A esse propósito, a Taxidermia surge como mais uma
opção para a Educação Ambiental para pessoas com deficiência visual.
O termo Taxidermia é formado por duas palavras de origem grega, sendo taxis
referente à forma e derma ao que faz menção à pele. Nas palavras de Antônio Aldrighi
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5118
(1957, p. 3), “Taxidermia é a arte de conservar a pele dos animais vertebrados, com suas
formas características e com aparência de vida”.
Para o enchimento do interior dos corpos de animais, utilizava-se a palha, daí a
antiga nomenclatura “empalhar”, sendo uma técnica aplicada em animais vertebrados.
Atualmente, pode ser utilizada uma mistura de serragem de madeira e parafina ralada.
A Taxidermia pode ser trabalhada pelos próprios docentes, sendo uma opção a
mais para ser usada em sala de aula ou em outros espaços educativos. Vale ressaltar que
somente animais já mortos, encontrados em rodovias ou doados por criadores
credenciados por órgão competente são utilizados.
As atividades de Educação Ambiental no âmbito da educação formal, aliada às
atividades e métodos auxiliares como a Taxidermia de animais do Bioma Cerrado,
podem resultar na sensibilização dos alunos sobre questões sobre o Meio Ambiente e
em um melhor aprendizado, possibilitando o contato direto com um animal silvestre,
sem ter que abatê-lo, aprisioná-lo ou domesticá-lo.
A Taxidermia como técnica tem registros antigos, conforme Pontes; Lopes
(2010, p. 9) “pois já na antiguidade, há aproximadamente 4.500 anos, os egípcios
usavam a técnica de mumificação para conservar os corpos dos faraós após a morte”.
Há milhares de anos o homem desenvolve técnicas para conservar corpos de animais,
possibilitando o estudo ou a perpetuação de uma espécie:
Desde tempos imemoráveis várias civilizações tentaram preservar,
total ou parcialmente, partes perecíveis dos corpos dos animais, para
fins diversos, utilizando técnicas mais ou menos elaboradas. Os
antigos egípcios foram os mestres nesta arte, embalsamamento de
corpos de muitos animais divinizados, que perduram até hoje.
(AURICCHIO; SALOMÃO, 2002, p. 9).
Como se lê, há séculos os animais já eram taxidermizados. Na época dos antigos
egípcios, por terem um significado divino, e até poucas décadas atrás, eram prêmios
para caçadores, perpetuando não sua divindade, mas a coragem do homem. Hoje se
propõe que seja um meio auxiliar para educação ambiental, em especial para pessoas
com deficiência visual, para que estes antigos paradigmas de que os animais
taxidermizados eram apresentados como troféus ou adornos sejam revistos.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5119
Atualmente, tem-se dois tipos básicos de coleções de animais taxidermizados,
sendo elas a coleção científica e a coleção didática, tendo cada uma características e
utilizações diferentes.
Nas palavras de Auricchio; Salomão (2002, p. 14) “as coleções científicas são
destinadas à pesquisa e podem conter variedades de grupos animais de diversas partes
do mundo, ou ainda podem abranger apenas faunas regionais”. A posição dos animais
taxidermizados desta coleção seguem uma padronização diferenciada, não reproduzindo
o animal como visto na natureza, sendo encontradas em museus, universidades e centros
de pesquisa.
Já na coleção didática, conforme Auricchio; Salomão (2002, p. 14), esses
animais “destinam-se ao ensino por meio de exposições, demonstrações em aula ou
treinamento de pessoal. Este tipo de acervo deve suportar o manuseio (às vezes por
pessoas inexperientes) e o transporte frequente”. Neste tipo de coleção, os animais
taxidermizados devem estar o mais próximo do real em suas características físicas, pois
se destinam ao ensino de grande público.
Neste contexto, a Taxidermia Tátil surge como mais uma alternativa eficaz no
ensino na Educação Ambiental de crianças e adultos videntes, cegos ou de baixa visão,
por trabalhar com peças47
bem acabadas e o mais próximo possível do real.
A proposta da Taxidermia Tátil é que os animais sejam preparados para o fim
específico, ou seja, animais com características anatômicas resistentes, que terão
procedência desde a coleta até a incorporação nos acervos.
Os animais utilizados na Taxidermia Tátil são selecionados para cada público,
crianças e adultos com deficiência visual, entre outros, para que possam ser tocados e
tenham durabilidade no manuseio. A principal característica é a possibilidade de ser
trabalhada pelos próprios educadores e colaboradores, nos espaços educativos, o que é
possível após um curso básico de Taxidermia.
Uma das propostas da Taxidermia Tátil é formar educadores para taxidermizar e
trabalhar com estes animais, propondo parcerias com zoológicos e órgãos ambientais,
47
“Peça” é a referência feita a um animal taxidermizado.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5120
para que, quando houver óbitos, estes possam ser cedidos de forma legal48
para serem
taxidermizados e atender às demandas das pessoas com deficiência visual, na questão
do tátil.
A Taxidermia Tátil com a preparação específica de peças pode ser uma
alternativa utilizada na Educação Ambiental em espaços formais e não-formais, tendo
como uma de suas principais características a possibilidade de manusear os animais,
percebendo anatômicas, favorecendo especialmente as pessoas com deficiência visual,
que podem ter um contato direto com um animal silvestre sem que haja barreiras e
necessidade de outro indivíduo para descrevê-los.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Primeiramente, depois de iniciado o curso, foram discutidas junto aos
participantes as questões referentes à Educação Ambiental e à Taxidermia, trazendo as
legislações que versam sobre os assuntos. Na Educação Ambiental, demonstrou-se de
forma cronológica os principais tratados sobre o tema e a legislação brasileira sobre o
assunto, de forma clara e objetiva, para que os participantes tivessem condições de
multiplicar posteriormente os conhecimentos.
Na questão da Taxidermia, repassou-se a parte teórica sobre a temática,
conceitos, a importância da técnica para que os animais tenham a aparência o mais real
possível para ser um facilitador para as pessoas com deficiência visual, e para que
possam formar a imagem mental do animal taxidermizado, tendo condições de
descrevê-los com todas suas características anatômicas, sem ter a necessidade de abatê-
lo para esta finalidade e também legislação que versa sobre o assunto.
Ofereceu-se um curso prático de Taxidermia aos participantes que tiveram
interesse, no qual apreenderam praticando a técnica da Taxidemia, sua dificuldade e
desafio de fazer um animal o mais próximo da realidade.
O Instituto de Cegos do Brasil Central foi contextualizado, desde sua concepção
até os dias atuais, sendo que no ano de 2012, comemorou 70 anos de atendimento a
pessoas com deficiência visual. Para comemorar essa data, o Instituto realizou o 1º
48
A Instrução Normativa nº 154, de 1º de março de 2007 do IBAMA, trata sobre o transporte de
animais silvestres, dentre outros assuntos pertinentes a temática e deve ser observada para que haja
legalidade na manipulação e destinação de animais silvestres.
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5121
Simpósio Sobre Deficiência Visual de Uberaba “um olhar sobre os olhos”, também
neste mesmo ano foi credenciado junto ao Sistema Único de Saúde - SUS, com isso
aumentou significamente o atendimento, inclusive com a contratação de novos
profissionais de saúde inerentes à área.
No Instituto de Cegos do Brasil Central, apesar de todas estas barreiras impostas,
todas as docentes pesquisadas têm curso de pós-graduação latu sensu e se preocupam
com sua formação continuada; podemos ver isso de forma crítica como sendo uma
exceção, pois as docentes buscam novos conhecimentos.
Quando da investigação sobre de utilização de animais taxidermizados do Bioma
Cerrado, na Educação Ambiental de pessoas com deficiência visual, verificou-se que as
docentes participantes corroboraram que é uma ferramenta didática importante, para que
as pessoas cegas e de baixa visão possam fazer a imagem mental do animal e ter a real
noção de como é a pelagem, dentição, tamanho, dentre outros elementos cognitivos,
necessários para o aprendizado.
Pode-se concluir que, após a pesquisa com as docentes que atuam no Instituto de
Cegos do Brasil Central e trabalham diretamente com pessoas cegas e de baixa visão, o
uso de animais taxidermizados do Bioma Cerrado é um recurso didático
importantíssima na sensibilização dos alunos com deficiência visual e todas as docentes
pesquisadas relataram que, usariam em suas aulas.
A área de deficiência visual, apesar dos inúmeros materiais produzidos, como
mapas táteis, dentre outros, ainda está carente de pesquisas para buscar cada vez mais
recursos didáticos para esse público, para que exerçam com plenitude seus direitos e
deveres.
Os animais taxidermizados serão úteis para a formação da imagem mental para
as pessoas cegas ou com baixa visão, assim como também para os videntes, permitindo
que a Educação Ambiental fosse apreendida de forma mais próxima da realidade, em
que os alunos pudessem de fato ter contato com animal silvestre, sensibilizando-os da
importância da preservação de nossa fauna e do Meio Ambiente com um todo.
REFERÊNCIAS
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CONSTRUINDO UM ENSINO SE GEOGRAFIA CONTEXTUALIZADO
COM AS AÇÕES DO PIBID – CIÊNIAS HUMANAS E SOCIAIS NAS
ESCOLAS DO CAMPO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO
Fabiano Custódio de Oliveira1
RESUMO
Esta pesquisa apresenta os caminhos na construção de um ensino de Geografia contextualizado
nas escolas do campo do Semiárido Paraibano, através da implantação de um subprojeto que
está inserido no projeto institucional PIBID2 no curso de Licenciatura em Educação do Campo
da UFCG, na área das Ciências Humanas e Sociais, o qual tem por objetivo incentivar o ensino
de Geografia contextualizado e incentivar a formação de professores para atuarem na educação
básica nas escolas do campo do Semiárido Paraibano. O subprojeto se caracteriza como uma
pesquisa Quali - Quantitativa, em que estão sendo utilizados pressupostos teóricos da
Observação Participante e da Pesquisa-Ação, o mesmo está sendo executado nos municípios de
Sumé e Amparo, localizados na microrregião do Cariri Ocidental Paraibano.
Palavras – chave: PIBID; Ensino de Geografia; Educação do campo.
INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta os caminhos na construção de um ensino de Geografia
contextualizado nas escolas do campo do Semiárido Paraibano, através da implantação
de um subprojeto que está inserido no projeto institucional PIBID, titulado“UFCG na
Educação Básica – Olhares – Diálogos – Interações”. O subprojeto está sendo
desenvolvido no curso de Licenciatura em Educação do Campo da UFCG, na área das
Ciências Humanas e Sociais, o qual tem por objetivo incentivar o ensino de Geografia
contextualizado e incentivar a formação de professores para atuarem na educação básica
nas escolas do campo do Semiárido Paraibano.
O mesmo reporta ao ensino de Geografia contextualizado nas escolas do campo
do Semiárido Paraibano, considerando o ensino de Geografia como um instrumento de
construção da cidadania plena e condição para o desenvolvimento sustentável do
1 Professor mestre em Geografia do Curso de Licenciatura em Educação do Campo (CDSA/UCFG) e
coordenador do subprojeto do PIBID – Ciências Humanas e Sociais; [email protected] 2 Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5125
Semiárido Brasileiro. Desta forma, a educação é uma contribuição fundamental na
realização da pessoa humana, na sua realização como sujeito diferente dos outros seres
vivos, na conquista de outros direitos necessários à sua realização, sendo instrumento
fundamental para o desenvolvimento econômico, social, cultural e político de um país.
Libâneo (2004) afirma que a educação é um processo amplo que não se inscreve apenas
no espaço da escola: ela se dá na família, no trabalho e em todas as relações humanas.
Esse universo não cabe “por inteiro” na escola; e como não poderia realizá-la sem a
contribuição de outros espaços educativos, precisa se tornar disponível e dialogar com
outras formas de educar, com outros ambientes educativos.
Desta forma, no primeiro momento do realto serão mostrados os objetivos que
norteiam o desenvolvimento do subprojeto – PIBID – Ciências Humanas e sociais, tanto
nas escolas conveniadas, como também no âmbito acadêmico. No segundo momento
será abordada a contextualização do ensino de Geografia nas escolas do campo do
Semiárido, destacando seus objetivos, seus procedimentos e sua importância na
construção do conhecimento do educando.
No terceiro momento será mostrado os procedimentos metodológicos
desenvolvidos ao decorrer do subprojeto, através de rodas de leituras, analise de livro
didático, oficinas, palestras, formação continuada de professores das escolas
conveniadas. Finalizando o trabalho, serão discutidos alguns resultados pretendidos no
desenvolver das atividades pedagógicas nas escolas realizadas pelo subprojeto.
O COMEÇO DE TUDO: PENSAR E DISCUTIR OS OBJETIVOS DO
SUBPROJETO – PIBID – CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
A busca dos objetivos que norteiam o subprojeto foi iniciada através de um
levantamento bibliográfico em livros e artigos pesquisados nas bibliotecas da
UFCG/CDSA3 e publicações da RESAB
4. Esta pesquisa foi realizada pelos estudantes e
professores que participam do núcleo de estudos NUDCE49
/CDSA, como também foi
realizada a coleta de alguns dados junto a sites na internet, a fim de obter informações
relevantes sobre o tema pesquisado.
3 Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido – CDSA /UFCG.
4 Rede de Educação do Semiárido Brasileiro.
49 Núcleo de Didática de Conteúdos Específicos.
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Em seguida, foram iniciadas as leituras e discussões de alguns textos no núcleo
de estudos NUDCE/Ensino de Geografia e Educação do Campo, que possibilitaram o
entendimento da aplicabilidade de conteúdos contextualizados no ensino de Geografia
nas escolas do campo no Semiárido. Em seguida traçamos os seguintes objetivos para o
desenvolvimento deste subprojeto, dos quais podemos destacar:
Incentivar o ensino de Geografia contextualizado para a educação básica, contribuindo
para a elevação da qualidade da escola do campo do Semiárido Paraibano.
Inserir os licenciados no cotidiano da escola da rede pública de educação, promovendo
a integração entre educação superior e educação básica;
Promover a formação inicial e continuada aos professores de Geografia que atuam nas
escolas do campo.
Analisar e discutir a concepção de educação do campo no contexto educacional
brasileiro e sua relação no processo de ensino-aprendizagem, destacando o ensino de
Geografia nesse processo;
Identificar e oferecer elementos que devem ser considerados na construção de uma
proposta de ensino de Geografia contextualizado para as escolas do campo do
Semiárido Paraibano.
ENSINO CONTEXTUALIZADO NAS ESCOLAS DO CAMPO
A educação hoje é considerada como responsável pela produção e reprodução de
valores sociais, é uma atividade necessária para o funcionamento da sociedade, pois
promove conhecimentos e experiências culturais às pessoas. Ela abrange os processos
formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho,
nas instituições de ensino, nos movimentos sociais e nas manifestações culturais e é
através dela que se democratizam os conhecimentos científicos e se forma a capacidade
de pensar criticamente os problemas e desafios postos pela realidade. Libâneo (2004),
ao abordar a importância da prática educativa na sociedade, afirma que a educação:
[...] é um fenômeno social e universal, sendo uma atividade humana
necessária à existência e funcionamento de todas as sociedades. [...]
Não há sociedade sem prática educativa, nem prática educativa sem
sociedade. A prática educativa não é apenas uma exigência da vida em
sociedade, mas também o processo de promover aos indivíduos os
conhecimentos e experiências culturais que os tornam aptos a atuar no
meio social e a transformá-lo em função de necessidade econômica,
social e políticas da coletividade. (LIBÂNEO, 2004, p. 16-17).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Sendo assim, a grande finalidade da ação educativa é ajudar no desenvolvimento
do ser humano, inserindo-o de forma crítica na dinâmica da sociedade da qual faz parte.
Diante desse pensar, Freire (2009), em sua análise sobre o problema da comunicação
entre o técnico e o trabalhador do campo, no processo de desenvolvimento da nova
sociedade industrial, afirma que é indispensável a inserção crítica do homem,
destacando sua realidade como uma totalidade, possibilitando sua ação autêntica sobre
ela, pois é através da problematização do homem, com suas relações com o mundo e
com os homens, que há a possibilidade de eles aprofundarem sua tomada de consciência
da realidade na qual estão inseridos.
O aluno do campo quando chega à escola já traz de casa toda uma bagagem de
conhecimento valorativo criado a partir das relações anteriormente estabelecidas, mas
no atual processo educativo a escola é, em contrapartida, a negação do campo, pois
realça as diferenças culturais deste aluno e, por isso, ela o expurga, uma vez que não o
reconhece enquanto sujeito nesta relação. Para Freire (2009) o aprendizado se dá pela
associação e construção do conhecimento. Não se pode fazer do aluno do campo um
copo vazio, mas sim enxergá-lo como ser social que no convívio e relações da vida em
sociedade se constitui como homem histórico. Sob esta análise, no processo de
aprendizagem, só aprende, verdadeiramente, aquele que se apropria do aprendido,
transformando-o em apreendido, e que pode, por isso mesmo, reinventálo, sendo capaz
de aplicar o que aprendeu em situações existenciais e concretas. Porém, aquele que é
apenas “enchido” por outros conteúdos, que contradizem a forma própria de estar em
seu mundo, ou seja, que não considera a sua própria realidade, não aprende.
De acordo com Almeida (2007) outro grave problema, relacionado à crise do
ensino, refere-se aos currículos das escolas do campo, os quais têm sido compostos por
uma grande carga cultural totalmente urbana referenciando o Centro-Sul do país, o que,
de certa forma, inibe o comportamento social dos alunos, uma vez que a escola não
resgata a identidade do aluno, ao contrário, trata-o como sendo um aluno urbano
localizado na zona rural. Compartilhando desta realidade, Piletti (2006) afirma que os
conteúdos trabalhados pela escola são, muitas vezes, fragmentados, com ideias soltas
sem relações entre si e muito menos com a vida concreta de seus educandos e
educadores, são muitos estudos e atividades sem sentido. Dessa forma, muito do que
eles aprendem na escola não tem um valor utilitário para o seu cotidiano, está fora do
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5128
seu contexto de vida prática, fato que prejudica o desenvolvimento da aprendizagem,
além de diminuir o interesse do aluno em frequentar a escola.
ENSINO DE GEOGRAFIA CONTEXTUALIZADO E EDUCAÇÃO DO CAMPO
NO SEMIÁRIDO
A Geografia é a ciência que tem como objeto de estudo o espaço geográfico,
compreendido através da relação sociedade-natureza, pois é com o trabalho que resulta
a produção socioespacial. Estudar o espaço, portanto, deve ser uma forma de entender a
produção/reprodução e articulação numa perspectiva dinâmica, sabendo-se que a
interferência que se faz hoje reflete no futuro. Sabe-se que o ensino de Geografia, assim
como toda a educação do Brasil, sempre foi fiel aos interesses das elites, permitindo que
a escola desenvolvesse um ensino distanciando da realidade dos educandos, baseado na
fragmentação/separação.
A educação do campo, especificamente no Semiárido, portanto, tem a escola
como o espaço privilegiado para o desenvolvimento de uma proposta pedagógica que
leve em conta a formação do educando, enquanto sujeito construtor da realidade em que
vive. Nesse sentido, o ensino de Geografia deve mostrar aos povos do campo,
habitantes dessa região, que eles são seres concretos e, consequentemente, construtores
da realidade socioespacial em que estão inseridos e intercalados aos fatores naturais
(clima, hidrografia, vegetação, fauna e solos) socioculturais (população, cultura,
festividades, músicas, religião, saúde, educação, desejos, etc) e econômicos (produção,
tecnologia, comércio, atividade agrícola, processo de industrialização, consumidor).
Ensinar e estudar Geografia é pensar na construção/ampliação e produção do
conhecimento e esse processo visa à realização do educando, assim como do educador,
enquanto cidadãos plenos, consciente dos seus direitos e deveres, capazes de se
apropriar do conhecimento produzindo para a construção de uma identidade regional.
Cabe ao educador implantar um que tenha como meta estabelecer a explicação espacial,
como resultado da produção espacial do campo (REGO, CASTROGIOVANNI e
KAERCHER, 2007).
Assim, para a prática de ensino em Geografia é essencial que o planejamento da
aula contemple as dificuldades gerais e específicas dos alunos, priorizando o conteúdo
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5129
que tenha valor utilitário para a vida, tanto nas experiências práticas como nas
intelectuais. Em sua análise sobre a prática do ensino de Geografia, em que abordam o
ensino e sua prática em sala de aula, Pontuschka e Oliveira (2006) afirmam que o
planejamento deve contemplar a realidade do lugar, os valores que expressam as
representações do universo, tanto dos alunos como dos professores. Diante desse
desafio, torna-se fundamental que o professor conheça seus alunos, suas condições
socioculturais e econômicas e possa, a partir desse contexto, construir, junto com os
alunos, um conhecimento e uma educação que promovam a superação de suas
condições socioculturais, oferecendo uma formação de atitudes como meio de inseri-los
no universo cultural e do conhecimento humano.
É necessário desenvolver um ensino que busque despertar nos alunos uma
postura crítica diante da realidade. Dessa forma, Castrogiovanni (2005) ressalta que
cabe ao ensino de Geografia inseri-los em um mundo onde possam visualizar de forma
consciente as relações dinâmicas que ocorrem na vida cotidiana, contribuindo para que
os mesmos entendam o espaço produzido pela sociedade, compreendendo suas
desigualdades e suas contradições, as relações de produção que nela se desenvolvem e a
apropriação que essa sociedade faz da natureza.
Diante desse pensamento, Caldart (2002, p. 23) expõe que é necessário que se
estabeleça uma educação que seja no e do campo, “[...] No: o povo tem direito a ser
educado no lugar onde vive; Do: o povo tem direito a uma educação pensada desde o
seu lugar, e com a sua participação, vinculada à sua cultura e às necessidades humanas e
sociais.” Deve-se pensar em uma educação que considere o campo não só como espaço
de produção, mas também como território de relações sociais, de cultura, de relação
com a natureza, ou seja, como território de vida. Arroyo, Caldart e Molina (2009),
através do livro “Por Uma Educação do Campo”, valorizam a importância de considerar
o contexto campo, pois
ao analisar o campo como território permite compreendê-lo como
espaço de vida onde se materializam todas as dimensões da existência
humana. A cultura, a produção, o trabalho, a organização política são
relações sociais constituintes das dimensões territoriais. Todas essas
dimensões se realizam no território a partir de uma relação interativa e
completiva. Nesse sentido os territórios são espaços geográficos e
políticos onde os atores sociais realizam seus projetos de vida [...]
(ARROYO, CALDART, MOLINA, 2009, p. 137).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5130
Diante dessa realidade, propõe-se um ensino de Geografia contextualizado que
esteja voltado para a população do campo do Semiárido Paraibano, ressaltando a
necessidade de considerar o campo como um lugar específico e com sujeitos que lhe são
próprios, os quais possuem história, cultura, identidade e lutas que devem ser
respeitadas e legitimadas. A educação precisa ser democrática e respeitar a diversidade
da população que vive no/do campo, ela deve sempre ser contextualizada com as
condições de vida da população para que assim ela possa se adaptar às formas de
vivências, aos problemas e às dificuldades da população que vive no e do campo do
Semiárido Paraibano.
A primeira intencionalidade na contextualização do ensino de Geografia nas
escolas do campo do Semiárido Brasileiro é construir, desde a escola, uma visão
positiva desse lugar, descortinando as suas potencialidades tanto no que se refere às
possibilidades naturais e culturais ou históricas como ponto de vista do conhecimento
dos saberes que as pessoas produzem no enfrentamento do dia a dia, como construindo
diferentes formas de viver nessa região. De acordo com Pontuschka, Paganelli e Cacete
(2009), é imprescindível a aquisição de novas habilidades, valores e atitudes, já que a
sociedade encontra-se em constante transformação. Assim, a Geografia – uma ciência
dinâmica, em constante movimento – tem um papel social muito grande, devendo
envolver não apenas aspectos físicos, mas principalmente, humanos, com o bom
relacionamento entre as pessoas de uma comunidade, consciência da interferência do
homem na natureza, os desafios do avanço tecnológico. Ou seja, segundo Oliveira
(2010), o ensino da ciência geográfica precisa buscar a observação, análise e
compreensão da sociedade e do espaço em que está inserido o aluno.
As referências bibliográficas pesquisadas mostram que o ensino de Geografia
nas escolas do campo do Semiárido Paraibano precisa ser diferenciado e
interdisciplinar, tendo como objetivo central a formação de cidadãos conscientes, ativos
e dotados de opinião, deixando o educando conhecer o mundo e se colocar diante dele,
desde o espaço em que vive, até o planeta como um todo. Em outras palavras, o
educando deve ser convidado a construir, gradativamente, cada conceito, tornado-se um
ser participativo do processo e não mero reprodutor de informações.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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ESCALAS CONVENIADAS E PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS DO
SUBPROJETO CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
O subprojeto do PIBID – Ciências Humanas e Sociais do Curso de licenciatura
em Educação do Campo se caracteriza como uma atividade Quali-Quantitativa, em que
estão sendo utilizados pressupostos teóricos da Observação Participante e da Pesquisa-
Ação (MARCONI e LAKATOS, 2009). A pesquisa Participante vem sendo valorizada
por educadores que veem a necessidade de propostas alternativas da sociedade para
solucionar os problemas na área educacional.
De acordo com Gil (2008), a Pesquisa-Ação mostra-se útil para a pesquisa em
educação, uma vez que tem frequentemente como objetivo a solução de um problema
prático ou o desenvolvimento de um projeto educativo, Além disso, a pesquisa - ação,
por requerer o envolvimento de participantes representativos das organizações sociais
ou da comunidade, favorece o trabalho posterior de implantação das ações.
O subprojeto está sendo executado nos municípios de Sumé e Amaparo,
localizados na microrregião do Cariri Ocidental paraibano. abrange a Escola
Agrotécnica de Ensino Fundamental Dep. Evaldo Gonçalves de Queiroz e a Escola
Municipal de Educação Infantil, Fundamental e Médio Idelfonso Anselmo da Silva..
Mesmo tendo suas sedes na área considerada “urbana” pelo IBGE, atende a populações
que majoritariamente estão vinculadas ao trabalho e à vida no campo, sendo pois sua
identidade definida por este vínculo.
A equipe do subprojeto PIBID – Ciências Humanas e Sociais é formado, por um
professor coordenador (CDSA-UFCG), dois professores colaboradores (CDSA-UFCG),
duas supervisoras e dezoito bolsistas que atuam diretamente nas escolas mencionadas.
Nestas escolas os bolsistas procuram coletar, questionar, interpretar e relatar dados, a
fim de diagnosticar a prática pedagógica dos professores de Geografia e a realidade do
entorno escolar, orientando e fornecendo suporte teórico-metodológico aos docentes e
contribuindo não só para a melhoria das condições do processo de ensino-aprendizagem
no âmbito escolar, mas também, através do exercício da pesquisa e da cidadania.
AÇÕES PEDAGÓGICAS NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO
CONHECIMENTO GEOGRÁFICO CONTEXTUALIZADO NAS ESCOLAS DO
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5132
CAMPO
O presente subprojeto PIBID – Ciências Humanas e Sociais é concebido em uma
perspectiva interdisciplinar que prevê ações integradas entre o acompanhamento
pedagógico e as atividades interdisciplinares, sendo desenvolvidos nos contextos
acadêmico (Universidade Federal de Campina Grande/CDSA) e escolar (escolas da rede
pública). Desta forma, estão sendo desenvolvidas as seguintes ações:
A - Diagnóstico e análise da prática educativa dos professores de Geografia
Utilizando a observação participante, os bolsitas realizaram entrevistas e
aplicações de questionários aos docentes e discentes da escola, com o objetivo de
diagnosticar os principais problemas e potencialidades da mesma; identificar as
metodologias e técnicas de ensino empregadas pelos professores na sua prática
pedagógica em relação ao ensino de Geografia, bem como as percepções e concepções
prévias e finais sobre o ensino de Geografia nas escolas do campo, na concepção dos
professores e alunos. As mesmas serão adquiridas através de aplicação de questionários
estruturados aos professores e alunos em dois momentos: na fase inicial ( já realizada) e
final da implantação do subprojeto, com objetivo de verificar as mudanças das práticas
pedagógicas dos professores em sala de aula no processo de construção de um ensino
contextualizado de Geografia, como também, compreender a evolução do conhecimento
geográfico do aluno que está inserido nesta nova proposta de ensino.
B - Análise do livro didático de Geografia
Baseando-se nos critérios estabelecidos pelo Programa Nacional do Livro
Didático – PNLD, os bolsitas analisaram de forma crítica a corrente geográfica do livro
didático utilizado na escola, destacando os conceitos, os conteúdos e as atividades
propostas e sua relação com o campo e o Semiárido Brasileiro.
C - Palestras educativas
Com a participação dos professores e alunos do Curso de Licenciatura Plena em
Educação do Campo da UFCG – CDSA, estão sendo ministradas, ao longo da
implantação do subprojeto, palestras para os alunos do 5º ao 9ª ano, com as seguintes
temáticas: A paisagem geográfica do campo e sua relação com o Semiárido, a
importância da água para o homem do campo do Semiárido, a relação cidade e campo
no Semiárido e educação geoambiental no campo.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5133
D - Formação continuada dos professores
Roda de leitura
Ao longo da implantação do subprojeto estão sendo realizadas rodas de leituras
com os professores de Geografia das escolas conveniadas e, juntamente com os alunos
bolsistas. Nestes momentos de leituras, estão sendo realizados estudos dirigidos sobre as
seguintes temáticas: O desenvolvimento do ensino de Geografia, conceitos geográficos,
ensino de Geografia contextualizado nas escolas do campo do Semiárido, o currículo de
Geografia das escolas do campo e técnicas e métodos de ensino utilizados no ensino de
Geografia.
E - Formação continuada dos professores - Oficinas pedagógicas
Para interagir com as leituras realizadas nas rodas de leituras no processo de
formação continuada dos professores, estão sendo realizadas as seguintes oficinas no
decorrer do desenvolvimento do subprojeto: oficina 1 – A relação
Escola/Aluno/Professor, oficina 2 – Pesquisa de Campo no âmbito geográfico, oficina 3
– Desenho e ensino de Geografia nas escolas do campo, oficina 4 – A música como
proposta metodológica no ensino de Geografia, Oficina 5 – A notícia e sua relação com
o ensino de Geografia, oficina 6 – Entrevistas e a busca do conhecimento geográfico nas
escolas do campo, oficina 7 – A construção de mapas conceituais.
F – Ações realizadas no âmbito do contexto escolar
No decorrer do desenvolvimento do subprojeto CHS foram realizadas as
seguintes ações: reuniões, participação em planejamento, criação de blog (http://pibid-
cds-chs), criação de página no facebook ([email protected]), produção de desenhos,
exposição de fotografias, realização de aula de campo, realização de eventos referente a
educação de ambiental (Palestras, oficinas, produção de objetos com materiais
reciclados e exposição de trabalhos), aulão, trabalho com música, produção de dez jogos
pedagógicos que abordam diversas temáticas do ensino de Geografia, organização de
amostra pedagógica, produção de mapas conceituais, cinema em sala de aula,
organização de laboratório de mapas itinerante e a utilização do computador na sala de
aula.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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A compressão do espaço geográfico tendo como referência o ensino de
Geografia é fundamental para a explicação das especificidades do Semiárido. A
sociedade estruturada a partir de sujeitos, que buscam no processo educacional, a
emancipação humana, tem no ensino de Geografia a condição básica para essa
construção, quando os alunos trazem as experiências que serão articuladas na sala de
aula num processo educativo de base dialógica.
O ensino de Geografia, buscando a valorização do campo do Semiárido, terá no
educador o sujeito que irá viabilizar a construção socioespacial sob a forma de
intervenção direta na sociedade, através de um diálogo permanente com o conhecimento
produzido na comunidade. A educação do campo é definida a partir dos sujeitos a quem
se destina estudar as particularidades do campo relacionando com as diferentes escalas
geográficas. A Geografia deve, portanto, implantar uma educação do campo estruturada
a partir das especificidades do Semiárido, vinculada aos sujeitos que dela fazem parte,
isto é, numa relação socioespacial que amplie a visão geográfica do espaço nos
seguintes níveis: local, regional, nacional e internacional.
A partir das ações que estão sendo desenvolvidas no caminhar do subprojeto,
pretendemos criar uma proposta de ensino de Geografia contextualizado para as escolas
do campo no Semiárido Paraibano. Para a criação desta proposta, julgamos necessário,
alcançarmos alguns objetivos mais específicos que seriam: identificar nas práticas
pedagógicas desenvolvidas pelos professores pesquisados propostas consolidadas na
escola, ancoradas na realidade e nas práticas dos povos do campo do Semiárido
Paraibano, com metodologias, conteúdos, currículo e estrutura apropriados à região,
levando em conta suas potencialidades socioculturais, econômicas e ambientais.
Acreditamos que tais objetivos a serem alcançados irão nos auxiliar na possível
elaboração de uma proposta pedagógica visando ao ensino contextualizado de Geografia
nas escolas do campo do Semiárido Paraibano.
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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do Semiárido: múltiplos espaços para o exercício da contextualização. V1 –
Juazeiro/BA: selo editorial RESAB, 2009. P 105 – 118.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6° ed. São Paulo: Atlas,
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PONTUSCHA, N. N; OLIVEIRA, A. U. (org). Geografia em Perspectiva: ensino e
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VESENTINI. José Wiliam (org). Geografia e ensino: textos críticos. 11° ed. São Paulo:
Papirus, 2009.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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PRÁTICAS E DESAFIOS: O ENSINO DE CARTOGRAFIA NAS AULAS
DE GEOGRAFIA DO ENSINO FUNDAMENTAL
Angela Maria Araújo Leite1
José Augusto Firmino dos Santos2
Marcos Roberto dos Santos Silva3
Tiágo Gomes dos Santos4
RESUMO
Para o ser humano se deslocar e se localizar no espaço, é necessária a compreensão do território
que o cerca, sabendo que para isso é preciso à existência na sua mente do mesmo espaço que
está a sua volta numa escala bem mais reduzida. Esse entendimento é indispensável para a
formação cidadã e para a sequência da vida escolar. Entende-se que o desenvolvimento dos
conceitos cartográficos na mente do indivíduo é o principal caminho para o auxilio dessa
compreensão, mas que para isso é preciso dominá-los, o que não é uma tarefa simples. Com
isso, para que o aluno tenha uma compreensão mais próxima dessa realidade o professor do
Ensino Fundamental I deve ter assimilado bem em sua mente os conceitos da Cartografia que
dão suporte para as noções primárias dessa ciência, mas a existência de um quadro desolador,
referente aos professores dessa área que aparentam despreparo, compromete o desenvolvimento
acerca dos conhecimentos desses discentes. A metodologia utilizada para o desenvolvimento
deste trabalho se baseia em leituras teóricas acerca de autores especialistas na área como
Lesann, Câmara e Cavalcanti, além de observações in loco em escolas da rede pública Estadual
de Arapiraca, Agreste de Alagoas, através dos trabalhos realizados a partir do subprojeto
“Cartografia: Uma Proposta para o ensino de Geografia nos anos finais do Ensino
Fundamental”, do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID/CAPES, do
Curso de licenciatura em Geografia, inserido na Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL.
O presente trabalho tem o objetivo de apresentar a importância da alfabetização cartográfica e
do ensino da Cartografia na disciplina Geografia desde os anos iniciais do Ensino Fundamental,
visando tanto a sequência da vida escolar do indivíduo quanto para a sua formação cidadã, mas,
em contrapartida, observa-se que essa prática apresenta grande dificuldade na aprendizagem dos
discentes.
Palavras-chave: Alfabetização cartográfica, Geografia, Ensino Fundamental.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1 UNEAL; [email protected]
2 UNEAL; [email protected]
3 UNEAL; [email protected]
4 UNEAL; [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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O estudo da Cartografia se volta para operações de uso científico e técnico, onde
as suas representações se dão tanto por meio de mapas, cartas topográficas, maquetes,
entre outras, além de servir como base para alguns conceitos fundamentais na formação
cidadã dos indivíduos. O conhecimento dos conceitos básicos dessa ciência acarreta na
formação do entendimento que o ser humano necessita como cidadão, pois a Cartografia
está diretamente ligada ao cotidiano da sociedade.
Mesmo sem perceber, as pessoas vivenciam a Geografia em todo momento. O
simples fato de o indivíduo sair de sua casa possibilita a observação de algumas
características geográficas que está inserido, até mesmo sem se dar conta. O espaço
ocupado em meio à sociedade, o contato com os acontecimentos a sua volta, a
observação da paisagem, o deslocamento das pessoas em uma área, os fluxos de
automóveis, são diversos fatores que em grande parte das vezes não se percebe que essa
é a Geografia modelando a vida, pois todas essas observações influenciam o cotidiano,
mesmo que seja de forma indireta.
A compreensão do espaço em que vivemos realmente é um estudo complexo.
Então o que dizer da compreensão dos conhecimentos cartográficos? Acaba tornando-se
uma tarefa ainda mais difícil, principalmente depois de analisar a deficiência existente
nas escolas em relação aos conteúdos estudados que são voltados para a Cartografia.
Como afirma Lesann (2009):
Nos trabalhos desenvolvidos em programas de formação continuada, ministrados pela
autora deste livro, duas queixas são recorrentes: a dificuldade de entender e dominar os
conteúdos de Geografia – pelos professores dos anos iniciais – e o fato de os alunos, que
ingressam no 6° ano, não saberem “nada” de Geografia, segundo os professores do
Ensino Fundamental II. (LESANN 2009, p. 17).
A autora retrata uma situação recorrente nas escolas brasileiras, onde os alunos
que ingressam no 6° ano não conseguem desenvolver as habilidades básicas da
Cartografia, que servem para a construção dos conteúdos da ciência cartográfica,
utilizados na sequência da vida escolar dos estudantes.
A importância de o aluno ser alfabetizado cartograficamente já no Ensino
Fundamental I é muito grande, pois facilitará o seu desenvolvimento a cerca dos
conhecimentos da ciência estudada e poderá ser a base para o aperfeiçoamento das
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5139
crianças em termos geográficos, entendendo a Cartografia como parte indispensável à
Geografia.
Para a compreensão de alguns conteúdos da disciplina Geografia, o discente
precisa ter certo conhecimento da ciência cartográfica. Por exemplo, para o estudo dos
fusos horários é preciso à compreensão dos conceitos de mapa para entender por que os
fusos existem e como eles funcionam, outro exemplo é a interpretação de um mapa, ou
seja, pura Cartografia, sendo importante para o crescimento dos conhecimentos do
espaço que o cerca, tanto em pequena escala (o bairro onde mora ou estuda), ou em
grande escala (a análise do território brasileiro, da América do Sul ou do mundo inteiro).
Essa questão mostra a necessidade existente de o estudante conhecer a Cartografia e
entender os seus conceitos.
Para que os alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental possam desenvolver
esses conceitos, o professor precisa trabalhar com os discentes usando uma relação que
possa integrar os conceitos da Cartografia com a sua vivencia no cotidiano, explorando
assim o desenvolvimento motor dos mesmos, envolvendo-os em um mundo de sentidos
e práticas iguais aos que estão acostumados no dia-a-dia.
Algumas atividades para trabalhar com a ciência cartográfica no Ensino
Fundamental podem ser bem desenvolvidas, como a construção de uma maquete do
quarto, pois irá iniciar a sua representação em um espaço restrito e vivenciado
diariamente pela criança. Depois de uma melhor compreensão por parte do estudante, o
professor pode passar a trabalhar com uma área maior, mas sem fugir das origens do
discente, podendo usar, por exemplo, o bairro onde ele mora ou o percurso percorrido
por ele todos os dias para chegar até a escola que estuda, colocando os pontos de
referencia principais. A importância dessas práticas iniciais é cogitada por Lesann
(2009):
Com alunos dos primeiros anos, recomenda-se trabalhar com mapas monotemáticos
simples, com poucas informações. As análises estão ao alcance das crianças, todavia,
como para interpretar é necessário ter conhecimentos maiores, no início, a interpretação
pode ser livre, sem comprovação baseada em argumentos sólidos. Vale a tentativa de
explicação como entendimento do processo de aquisição de conhecimento (LESANN,
2009. p. 136).
Na citação, a autora retrata o cuidado com o conteúdo trabalhado pelos alunos,
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pois é importante inicialmente trabalhar com eles representações simples, que possam
estar ao alcance de suas interpretações.
Entende-se que um mapa é uma representação bidimensional, portanto, o
conceito altitude não é atribuído a ele, o que traz em si uma dificuldade para a criança
entender a forma real da representação. É importante também, que inicialmente o
professor explique para seus alunos os conceitos de mapa, além de poder passar para
eles como funciona a interpretação e a construção de uma representação gráfica.
O ensino de Geografia no Ensino Fundamental I tem que ser tratado com muito
cuidado, pois é a base para a construção dos conhecimentos a serem adquiridos durante
a vida escolar. No ensino da Geografia, nesse período, é apresentada uma série de
problemas para essa pratica que inicia pela própria formação do professor, que com sua
formação em Pedagogia não participa de uma formação que desenvolva os
conhecimentos básicos da ciência, os quais devem ser passados para a criança, o que
dificulta ainda mais no tocante ao ensino da Cartografia, sendo uma ciência apresentada
com complexidade. Portanto, o presente trabalho tem a finalidade de orientar o
professor, salientando o dever de trabalhar com os estudantes de uma forma que
transpareça os conteúdos cartográficos, que por sua vez, provém de grande importância
para a continuidade dos conteúdos abordados pela Geografia mais adiante, além de
salientar a importância dessas práticas no desenvolvimento dos docentes.
A PRÁTICA DA CARTOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL
No Ensino Fundamental, a Cartografia é um dos assuntos mais importantes a
serem estudados na área da Geografia, mas muitos professores passam despercebidos
pelos conteúdos, por não terem conseguido desenvolver as técnicas que podem ser
usadas na construção conceitual dos alunos nas aulas de Geografia.
As práticas cartográficas são complexas, por se tratar de um conhecimento
transmitido de modo bidimensional, eliminando da representação gráfica o conceito
altitude, fazendo com que o real apareça bidimensional na representação. Entendo essa
complexidade, é notável a importância de um preparo adequado para a transmissão
desse conhecimento e também a necessidade de começar a identificar esses conceitos
logo na fase inicial da vida escolar. Mas o professor que trabalha com a Geografia no
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Ensino Fundamental I, tem a formação no Curso de Pedagogia, sendo que estes
profissionais não têm o conhecimento adequado para a transmissão desses assuntos com
a sua formação acadêmica, com isso, o professor não tem o preparo adequado para o
trabalho com a Cartografia. Além disso, a escola não consegue desenvolver um
ambiente que possa mostrar a preocupação com essa necessidade.
Mesmo com os avanços da ciência geográfica, principalmente no fim dos anos
70, com o Movimento de Renovação da Geografia e a sua influência na Geografia
escolar, ainda permanece em muitas instituições no Brasil uma disciplina que se
fundamenta na transmissão de informações e conteúdos escolares. Quando falamos em
Ensino Fundamental, é ainda mais complicado, pois parece estar muito inexpressiva na
sala de aula e essa situação influencia no ensino e na aprendizagem, pois já foi cogitado
anteriormente que grande parte dos alunos não consegue ser alfabetizado
cartograficamente, o que acaba perpassando esse problema por toda a vida escolar,
influenciando também no conhecimento de mundo quando o individuo torna-se adulto.
Contudo, Câmara e Barbosa (2012) chamam atenção para o uso da Cartografia,
Percebemos que o estudo da Cartografia é frequentemente restrito apenas a determinado
capítulo do livro didático, sendo esquecido nos capítulos ou unidades posteriores.
Quando é utilizada, os alunos são treinados para serem excelentes memorizadores de
nomes de Estados e Capitais, sendo a função primordial saber apontá-los no mapa.
(CÂMARA; BARBOSA, 2012, p. 33).
As autoras retratam a Geografia ensinada na escola, onde mostra a preocupação
em minimizar os conteúdos, restringindo-os o máximo possível. A simples competência
de analisar as capitais e os estados, e poder identificá-los não retratam os valores
geográficos necessários para o crescimento do indivíduo. Esse saber é importante para a
formação do cidadão, mas o fato de ficar restrito acaba estagnando o conhecimento que
deveria ser perpassado para as crianças da faixa etária analisada.
Verificando as condições da formação inicial dos professores que atuam no
Ensino Fundamental, podem-se compreender as dificuldades existentes sobre esse tema
em destaque. Ao concluir a 1ª fase do Ensino Fundamental a criança é alfabetizada
cartograficamente, mas se isso não ocorre de forma satisfatória, posteriormente, no
Ensino Fundamental II, ela apresentará dificuldades de aprendizagem no que se refere à
representação cartográfica. (Câmara e Barbosa, 2012, p. 36-37).
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Câmara e Barbosa (2012, apud Simielli , 2007) abordam o assunto:
O fato de um aluno trabalhar no primeiro grau (de 1ª a 4ª séries) com alfabetização
cartográfica, de 5ª a 8ª com análise/localização e correlação e no ensino médio com
análise/localização, correlação e síntese de uma maneira mais efetiva não implica que
não haja um imbricamento em diferentes momentos nestas etapas de trabalho, ou seja,
um aluno de 5ª série pode ainda estar necessitando de alfabetização cartográfica [...]
(CÂMARA E BARBOSA, 2012, p. 37 apud SIMIELLI, 2007, p. 97).
Pode-se analisar com a citação a existência do problema complexo que o
professor de Geografia vivencia, onde frequentemente existe o desconexo dos assuntos
a serem abordados em uma linha sequente. É dito que os alunos podem chegar a um
assunto sem antes ter compreendido outro que seria a base dele. Com ligação neste
problema, Lesann (2009) cogita o seguinte:
[...] ao longo das décadas, percebeu-se a total falta de comunicação entre os integrantes
do dos segmentos (Infantil, Fundamental I, Fundamental II e Médio). Em diversas
ocasiões, diagnosticou-se, também, o desconhecimento do trabalho desenvolvido pelos
colegas de um mesmo segmento. Não raramente, uma mesma atividade é desenvolvida
ao longo dos diferentes anos do currículo, da mesma maneira, trabalhando-se os
mesmos conteúdos, conceitos e habilidades. (LESANN, 2009, p. 25).
A autora analisa o trabalho dos professores e as suas relações que possibilitam o
conhecimento dos seus trabalhos, entendendo o desconexo entre ambos, onde uns não
conhecem o trabalho dos outros para que possa planejar os assuntos a serem abordados,
sem que tenham falta de contato, pois, é importante que o aluno tenha uma sequencia
lógica dos conteúdos a serem estudados para que possam captá-los com sucesso.
É importante que o professor das séries iniciais do Ensino Fundamental consiga
ter conhecimento da Cartografia, e que além do conhecimento tenha também a técnica
de trabalhar com o assunto entre as crianças. No caso dos professores que trabalham
com essa parte do ensino, a dificuldade se da por conta da ausência de uma formação
específica sobre os conceitos da Cartografia e a aprendizagem da Geografia, como
analisa Cavalcanti (2002):
Na prática da Geografia na escola, um tema destaca-se por ser considerado muito
relacionado a essa disciplina, que diz respeito ao mapa e ao trabalho com a
representação cartográfica. No entanto, esse tema parece apresentar muitas dificuldades
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práticas. Freqüentemente ele é apontado pelos professores, de 1ª fase ou de 2ª fase do
ensino fundamental, entre aqueles de maiores dificuldades para o trabalho em sala de
aula. Os professores de 1ª fase, que não têm formação específica em Geografia, alegam
que não sabem como trabalhar esse tema e que não possuem material adequado para
isso. Os de 2ª fase têm formação em cartografia, mas igualmente não sabem como
trabalhar esse tema com crianças e jovens do ensino fundamental, e a ausência de
material também é um complicador nesse nível de ensino. (CAVALCANTI, 2002, p.
26).
O autor relata a posição de grande parte dos professores que trabalham com a
Geografia no Ensino Fundamental, entendendo-se a dificuldade do pedagogo trabalhar
com a Cartografia, sem ter uma formação que especifique naquela área, e até mesmo os
próprios professores formados em curso de Geografia, que mesmo com os
conhecimentos a cerca da Cartografia não sabem como trabalhar com eles, mediante as
crianças, que ainda não tem uma visão bidimensional construída, que é o caso do mapa.
A geografia não se reduz ao estudo dos mapas, más é necessário entender a sua
importância, como já mencionou Cavalcanti (2002, p. 97) “o estudo de Geografia não se
reduz ao trabalho com mapas, mas é necessário chamar a atenção para a conveniência
de se estudar geografia através, também, de mapas”.
DIRECIONAMENTOS PARA OS ESTUDOS CARTOGRÁFICOS NO ENSINO
FUNDAMENTAL I
Os conhecimentos cartográficos que são perpassados nas turmas do Ensino
Fundamental devem estar construídos na mente do professor desde suas práticas
curriculares da sua formação inicial, entendo o modo de trabalhar com essas turmas.
Ao compreender o nível do conhecimento das crianças do Ensino Fundamental,
é importante saber trabalhar com referência no seu espaço vivido. Nesse sentido,
Câmara e Barbosa (2012, p. 40 apud Castellar, 2007, p. 39) afirmam: “Uma
aprendizagem com base na construção do conhecimento sustenta que o aluno é um
sujeito mentalmente ativo na aquisição dos saberes, estabelecendo-se como objetivo
prioritário a potencialização de suas capacidades de pensamento”. Com isso, entende-se
a necessidade de explorar o conhecimento que a criança tem do espaço próximo e
concreto.
Segundo Almeida e Passini (2008), os professores do Ensino Fundamental
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devem conhecer os conhecimentos cognitivos que tem a criança. Ancorado nesses
conhecimentos Câmara e Barbosa (2012) mencionam:
O primeiro refere-se ao “espaço físico, vivenciado através do movimento e
deslocamento”, asseveram as autoras, diferente do percebido que sucede quando o
espaço não precisa ser experimentado fisicamente, a criança é capaz de lembrar-se do
espaço percorrido. Em torno dos 11-12 anos de idade, a criança é capaz de compreender
o espaço concebido. Este acontece quando é possível raciocinar sobre determinada área
no mapa, sem que tenha sido vista antes. (CÂMARA e BARBOSA 2012, p. 39).
O apontamento das autoras se refere aos conhecimentos de Almeida e Passine
(2008), onde são analisadas suas ideias de espaço físico e espaço concebido, fazendo
uma comparação de ambos.
Embasado nos estudos de Piaget, Almeida e Passini (2008) falam sobre três
questões centrais que devem ser consideradas no momento da aprendizagem por parte
dos professores: a descentralização, a conservação e a reversibilidade.
A idéia de orientação espacial está associada à lateralidade, referindo-se a
distinção de direita e esquerda. Segundo Câmara e Barbosa (2012, p. 42 apud Almeida e
Passini, 2008) “entre os 5 a 8 anos, as crianças conseguem distinguir apenas o que está a
sua direita e a sua esquerda, não sendo possível estabelecer essas posições para alguém
a sua frente. Essa última situação somente é possível de 8 aos 11 anos.”.
Nas indagações feitas pelos autores podemos identificar que o tratamento
cartográfico na sala de aula mostra princípios e fundamentos, que são indispensáveis na
formação do professor, com uma visão mais detalhada para os profissionais do Ensino
Fundamental.
A cerca de um programa de ensino-aprendizagem em Geografia, Lesann (2009)
aborda o assunto:
Um programa de ensino-aprendizagem em Geografia deve oferecer aos alunos,
mediante sua execução o desenvolvimento de habilidades cognitivas e a aquisição de
conceitos que, uma vez associados, deverão desenvolver, na criança e no adolescente,
competências para o saber geográfico. Essas competências dotarão o aluno de
autonomia na resolução de questões-problema de ordem geográfica. (LESANN, 2009,
p. 25).
A autora relata a importância dos discentes poderem desenvolver habilidades e
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conceitos que servem para o desenvolvimento do seu conhecimento. Quando trabalhar
esse assunto junto à Cartografia, essas práticas e habilidades se voltam para o saber-
fazer geográfico que a ciência cartográfica deve propiciar principalmente aos alunos do
Ensino Fundamental, com ênfase nos anos iniciais, pois é nessa parte que as habilidades
cognitivas deles podem dar base para todo o conhecimento futuro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, o presente trabalho apresenta um quadro preocupante, em relação à
situação do ensino da Cartografia no Ensino Fundamental, mostrando a falta de
conhecimento dos discentes acerca da ciência cartográfica e falando da necessidade da
sua compreensão, entendendo a sua importância tanto para a formação cidadã do
homem, como para a sua vida escolar, visando o estudo da disciplina Geografia.
Transparece também o trabalho do professor que aparenta despreparo para o trabalho
com a ciência e desconexo com outros profissionais da área, onde uns não conhecem o
trabalho dos outros.
Foi analisada a forma de se trabalhar com a Cartografia no Ensino Fundamental,
onde mostra a importância de utilizar a experiência do cotidiano para que o aluno possa
desenvolver o conhecimento cartográfico de uma forma mais clara e fácil, a partir de
sua vivência de mundo, sabendo que a representação gráfica é apresentada
bidimensional, eliminando o conceito altitude, diferente da realidade quando existe uma
visão tridimensional, por isso é importante que o discente consiga entender como é
representado um local em uma representação menor e bidimensional.
Contudo, entende-se que o ensino cartográfico, principalmente no Ensino
Fundamental, apresenta muitas deficiências e que as práticas cartográficas devem ser
trabalhadas desde os primeiros anos de Ensino Fundamental. Além disso, é importante
que os professores dos anos iniciais tenham, no mínimo, as noções básicas da
Cartografia, para que os alunos consigam entender a ciência já nos primeiros anos da
sua vida escolar.
Aparentemente, o grande desafio parece estar no primeiro seguimento do Ensino
Fundamental, onde o aluno deveria ser alfabetizado cartograficamente, não apenas
aprender a escrever e a contar, mas também a ler o mundo. Contudo, não se pode exigir
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que o professor compreenda a ciência cartográfica, sem que tenha estudado e aprendido
em sua formação acadêmica.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Rosângela Doin de; PASSINI, Elza Yasuko. O espaço geográfico: ensino e
representação. 15. ed. São Paulo: Contexto, 2008.
CAVALCANTI, Lana. Geografia e Práticas de Ensino. Goiânia: Alternativa, 2002.
CÂMARA, Camila de Freitas; BARBOSA, Maria Edivani Silva. Abordagem
cartográfica no ensino de Geografia: reflexões para o Ensino Fundamental. Revista de
ensino de Geografia, Uberlândia, v. 3, n. 5, p. 31-53, Jul/Dez 2012.
LESANN, Janine. Geografia no Ensino Fundamental I. Belo Horizonte:
ARGVMENTVM, 2009.
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A PRÁTICA DO ENSINO DE GEOGRAFIA NAS SÉRIES INICIAIS DO
6° AO 9° ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL DAS ESCOLAS
MUNICIPAIS DA CIDADE DE MANAUS1
Alfran Freitas da Silva2
Marcela Vieira Pereira Mafra3
RESUMO
A Geografia ministrada nas instituições de Ensino Superior e de Educação Básica deve propiciar
aos alunos a analise das relações entre o processo histórico que regula a formação das
sociedades humanas, bem como o funcionamento da natureza, através da leitura do espaço e da
paisagem. Portanto, o objetivo da pesquisa aqui apresentada é verificar se, de fato, a Geografia
Escolar vem cumprindo sua finalidade. Para isso, se analisou as práticas pedagógicas e o perfil
dos professores das escolas estaduais da cidade de Manaus por meio das visitas às escolas,
aplicação de questionários e entrevistas com os professores. Dessa forma, foi possível constatar
que as aulas conduzem o aluno a mera memorização dos conteúdos geográficos, sem fazer
referência as experiências vivenciadas por eles no cotidiano.
Palavra-Chaves: Prática de Ensino, Séries Iniciais, Escolas Municipais.
INTRODUÇÃO
A Geografia ministrada nas instituições de Ensino Superior e de Educação
Básica deve propiciar aos alunos a analise entre o processo histórico que regula a
formação das sociedades humanas, bem como o funcionamento da natureza através da
leitura do espaço geográfico e da paisagem. Contudo, nas escolas essa ciência remete
aos alunos a indigesta tarefa decorar “listas de nomes de lugares ou dados numéricos,
lições atrozes que somente os menos inteligentes e os mais obstinados de nossos
discípulos chegavam a recitar razoavelmente” (MONBEIG, 1957, p.1) para não dizer de
ciência geográfica enfadonha e uma tortura para os alunos.
1Pesquisa realizada sob orientação da Professora Mestre Marcela Vieira Pereira Mafra no período de
2011-2012 na Universidade do Estado do Amazonas, com bolsa de pesquisa concedida pela Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM.
2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas; [email protected]
3 Universidade do Estado do Amazonas – UEA; [email protected]
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Diante destas inquietações coube investigarmos as causas que levam os
professores a lecionarem aulas de Geografia tão enfadonhas em sala de aula. Para isso,
foi necessário verificar a prática pedagógica e o perfil dos professores das escolas
estaduais da cidade de Manaus com intuito de saber se a geografia escolar está sendo
ministrada com práticas tradicionais que reduz aprendizagem a mera memorização dos
conteúdos geográficos por parte dos alunos, sem fazer referência às experiências
vivenciadas pelos alunos e ao contar do uso demasiado do livro didático.
Notou-se também que a ação dos professores pode estimular o aluno na
compreensão do processo de formação do espaço em que está inserido. Cabe ao
“professor a possibilidade de interligar conteúdos de diversas áreas, otimizando
aprendizagem dos alunos” (CAMPOS et al, 2009, p.17-18) numa “ (re) criação de forma
criativa e integrada” (HAMMES, 2007, p.7). Ao aluno sujeito atuante do espaço deve
ser desafiado a conhecer o mundo nas suas diferentes dimensões. De forma que ele “[...]
reconheça os lugares e, consequentemente identifique as paisagens [...] e amplie seu
olhar sobre o espaço que o circunda” (CAMPOS et al, 2009, p.16).
Logo, nesse sentido é afirmado por CAVALCANTI
“Tais ações (práticas sócio-construtivistas na escola) devêm pôr o aluno, sujeito do
processo, em atividade diante do meio externo, o qual deve ser “inserido” no processo
como objeto de conhecimento, ou seja, o aluno deve ter com esse meio (que são os
conteúdos escolares) uma relação ativa, uma espécie de desafio que o leve a um desejo
de conhecê-lo” (2002, p.32).
Portanto, procurou-se identificar o perfil do educador de geografia do ensino
fundamental das escolas estaduais da cidade de Manaus, bem como também as
dificuldades enfrentadas em ensinar geografia. Buscando-se dessa forma alternativas
que auxiliem o professor em sua prática dentro de sala de aula.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa de caráter exploratório e descritivo se fundamentou no estudo
bibliográfico a respeito da temática proposta, bem como na investigação nas escolas
selecionadas para coleta de dados.
Empregou-se como metodologia no trabalho a coleta de dados, entrevistas e
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aplicação de questionários com perguntas abertas e fechadas com os professores
referentes às suas práticas pedagógicas dentro de sala de aula, no qual foram analisadas
com base na fundamentação teórica.
A Secretária Municipal de Educação de Manaus – SEMED mantem em seu
quadro 92 escolas (Quadro 01) que compreende o 6° ao 9° ano do ensino fundamental II
que estão divididas em oito zonas distritais. Contudo, para a aplicação das entrevistas e
dos questionários optou-se por selecionar 30 escolas da cidade de Manaus, sendo que
desta, se selecionou 3 escolas por zona o que dá num total de 26% do total das escolas
da zona urbana do município.
Portanto, terminada a seleção dos colégios realizou-se a parte da coleta das
informações nas escolas, onde se entrevistou os professores que lecionam a disciplina
de Geografia. Concluída esta tarefa, a próxima etapa do trabalho foi à tabulação e
análise dos dados.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para identificarmos o perfil do professor foi elaborado um questionário com 21
(vinte e uma) perguntas, sendo elas abertas e fechadas. Dentre essas, perguntou-se a
Zonas Número de Escolas
Sul 9
Centro-Sul 3
Oeste 12
Centro-Oeste 7
Norte I 11
Norte II 10
Leste I 16
Leste II 24
QUADRO 01 – NÚMERO DE ESCOLAS MUNICIPAIS DISTRIBUÍDAS POR ZONAS DISTRITAIS.
Fonte: Disponível em: <http://semed.manaus.am.gov.br/pagina_interna.php?cod=83>. Acesso em: 03 de Mai, 2013.
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idade dos educadores que estão atuando dentro das salas de aula, pois se sabe que
aqueles que apresentam idades superiores a 41 anos, tiveram no decorrer de sua
formação acadêmica e escolar a contribuição do ensino de uma geografia tradicional,
isto se deve a “postura tradicional da Geografia e do professor que consideram como
importante no processo educativo os dados, as informações [...] e enfim o conteúdo
acessorio” (Oliveira, 2006, p.11). Logo, ela não discutia as informações ficando no
professor todo o saber, essa prática ainda hoje é evidente nas salas de aula das escolas
municipais da cidade de Manaus.
Nota-se também no questionário que essa prática pode ser percebida na faixa
etária compreendida entre 23 a 40 anos. Logo, não é somente aqueles educadores com
mais idade que fazem uso da Geografia Tradicional, mas, também os com menos idade,
isto se dá, pelo fato de o professor durante sua formação acadêmica ou escolar ter tido
uma Geografia com práticas decorativas ou tradicionais, sendo reproduzidas
posteriormente em sala de aula. Além desse, outro fator que contribui para uma ciência
fragmentada é a escassez dos recursos didáticos específicos nas escolas o que dificulta
ainda mais o aprendizado por parte dos estudantes, visto que muitas das vezes os alunos
não conseguem visualizar determinados conteúdos da disciplina geográfica ficando
apenas no plano das abstrações.
Além dos problemas citados anteriormente, têm se também o fato de os
professores por já terem certo tempo lecionando aula, eles acabam se acomodando e
fazendo uso demasiado do livro didático, tornando este recurso sua Bíblia diária.
Contudo, ao entrevistarmos os professores pode observar que nos seus discursos muitos
justificaram não terem tempo para preparem material e também pelo fato de a escola
não possuir. Portanto, a importância de perguntarmos a faixa etária do professor é a de
que aqueles com mais idade tem sua práxis voltada ainda na Geografia tradicionalista e
decorativa que faz uso excessivo do livro didático.
Ao entrevistarmos os educadores perguntamos quanto tempo eles ministravam
aula de Geografia, nota-se que 41% dão aulas de 1 a 5 anos, isso indica que a maioria
dos professores que estão nas salas são quase que recém-formados, 14% marcaram
como opção de 6 anos a 10 anos o que mostra já uma certa caminhada no ensino, outros
14% ministram aula de 11 a 15 anos, bem como 31% ministram aula a mais de 15 anos
o que demonstra ser bastante tempo lecionando o ensino de Geografia. Nesses dois
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últimos dados em uma conversa informal com alguns professores, estes afirmaram que
sua formação é a do antigo magistério o que caracteriza o uso excessivo do livro
didático. Porém, como já descrito anteriormente mais acima, mesmo àqueles
professores que se encontram dando aula há menos tempo, eles também fazem uso
demasiado do livro didático. No gráfico 02 abaixo mostra o tempo de aula dos
professores.
Em relação ao número de turno ministrado pelos professores buscou – se
identificar o percentual de turnos frequentado por eles, pois, ao questionarmos os
profissionais percebeu-se que boa parte se não toda trabalha ministrando aula em mais
de um turno, o que justifica em parte a falta de tempo para planejar suas aulas refletindo
assim em suas atividades e práticas em sala de aula. Observou que 17% ministram aula
somente em um turno, e 59% trabalham em dois turnos, este índice se deve ao fato da
profissão ainda não ser tão valorizada, o que “obriga” os professores a procurarem
ministrar aula em mais de um único período, assim como 24% ministram aula em três
turnos o que inviabiliza o professor planejar sua prática em sala.
Além do número de turno trabalhado pelos professores, também se perguntou a
quantidade de escolas frequentadas por eles, 24% responderam que trabalham em
apenas uma escola, contudo, em entrevistas com alguns professores, estes afirmaram
0%
10%
20%
30%
40%
50%
1 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 15 anos >15 anos
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Tempo de aula ministrado pelos professores
GRÁFICO 02 – TEMPO DE AULA MINSTRADO PELOS PROFESSORES
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trabalharem em uma única escola, mas em dois turnos, ou seja, sendo um pela manhã e
o outro pela tarde ou pela noite. 62% alegaram trabalharem em duas escolas diferentes e
em turnos distintos; esse excesso no horário acaba promovendo um fadigamento maior
nos profissionais. 14% responderam três escolas, de inicio se tinha a hipótese de que os
docentes trabalhavam em um turno ou em dois, mas, ao verificarmos que eles também
estão em três turnos chama atenção ao fato de pensarmos de como é a prática desses
profissionais em sala de aula, visto que eles não devem ter tempo para planejarem.
Um dos objetivos específicos da pesquisa é identificarmos os recursos que são
empregados e disponíveis para ministrar aula de Geografia, por isso uma das perguntas
que constou no questionário foi justamente sobre os recursos utilizados na aula de
Geografia, nota-se que o quadro branco é o pincel são os dois principais materiais que
os profissionais utilizam dentro de sala, isto se deve em parte a falta de tempo que a
maioria não disponibiliza pelo fato de lecionarem em mais de uma escola ou em mais de
um turno, contudo, todos os educadores sem exceção responderam que tem ou que
utilizam mapas, globo terrestre, filmes e outros recursos em suas aulas. No gráfico 03
observam-se os recursos utilizados nas aulas.
Também se procurou saber quais as temáticas dentro da Geografia os professores
tem dificuldade de ensinar, todos marcaram que a cartografia é a principal temática que
0 5
10 15 20 25 30
Nú
mero
Ab
so
luto
s
Recursos Utilizados nas Aulas de Geografia
GRÁFICO 03 – RECURSOS UTILIZADOS NAS AULAS DE GEOGRAFIA
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eles sentem problema, porém, os professores alegaram que essa dificuldade encontra-se
no fato de os alunos terem problema em matemática, pois estes não sabem resolver
problemas matemáticos. Outros alegaram o fato desse conteúdo ser complexo e não
saberem como trabalharem, então, acaba por pular esse assunto ou não ministrarem.
Portanto, ao observamos o gráfico 04 abaixo onde se apresenta as dificuldades
apresentadas pelos professores, observa-se que a cartografia é a principal temática que
esses enfrentam, conclui-se que as crianças e adolescentes não sabem se localizarem e
posicionarem no espaço ou num mapa devido não terem tido aulas de cartografia ou
terem superficialmente.
Na pesquisa buscou discutir as práticas pedagogicas utilizadas pelos professores
das escolas municipais de Manaus que tenham apresentado resultados satisfatórios,
porém ao analisarmos os dados o que se notou foi a dificuldade enfrentada pelos
professores em sua prática, isso decorre de que eles não tem tempo para planejar suas
aulas, falta de material espeficicos em Geografia, elevado número de alunos em sala de
aula, bem como outros fatores já citado. Outra dificuldade que impera na prática do
professor são os maus hábitos adquiridos pelos alunos no método tradicional, porém
isso é reflexo da postura do professor em sala de aula que insiste ainda permenecer com
práticas que remetem ao ensino da Geografia Tradicional que fala Monbeig (1957, p.1)
0 2 4 6 8
10 12 14 16 18
Nú
me
ros
Ab
so
luto
s
Quais as temáticas dentro da geografia que você tem mais
dificuldade em ensinar?
GRÁFICO 04 – DIFICULDADES ENFRENTADAS PELOS PROFESSORES AO ENSINAR TEMÁTICAS
DA GEOGRAFIA
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que o “seu nome evoca listas indigestas de nomes de lugares ou dados numericos, lições
atrozes que somente os menos inteligentes e o mais obstinados de nossos condicipulos
chegam a recitar razoavelmente”. Para se ter uma prática que desperte os alunos o
desejo pela ciência geografica é necessário que sejam (re)vistos a postura do professor
que esta em sala de aula ministrando Geografia para a formação do aluno cidadão-
critico, pois “toda aprendizagem precisa ser embasada em um bom relacionamento entre
os elementos que participam do processo, ou seja aluno, professor, colegas de turma”
(MASSETO, 1997, p. 46).
Portanto, a práxis do professor de Geografia das escolas municipais de Manaus
das séries do 6˚ ao 9˚ ano do Ensino Fundamental tem que ser acompanhada por um
bom relacionamento com seus alunos, com a utilização dos diferentes recursos materais
e didáticos, bem como sua valorização, pois a ação do educador estimula o processo de
aprendizagem que facilita a compreensão dos assuntos ao aluno.
REFERÊNCIAS
CAMPOS, Simone B. de; OLIVEIRA, Kênya N. de.; NOGUEIRA, Ruth E. Oficinas,
Espaço do Saber: construindo conceitos do relevo terrestre. In: NOGUEIRA, Ruth E.
(Org.). Motivações Hodiernas para Ensinar Geografia: representações do espaço
para visuais e invisuais. Florianópolis: Nova, 2009. p. 15-25.
CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia e práticas de ensino: Geografia escolar e
procedimentos de ensino numa perspectiva sócio construtivista. Goiânia,
Alternativa, 2002. p. 71-100.
MASSETO, Marcos Tarciso. Didática: A aula como centro. 4. ed. São Paulo:
FTD,1997.
MONBEIG, Pierre. O Papel e o Valor da Geografia. In Boletim Carioca de Geografia.
São Paulo, ano VII, n.1.2,1954. Disponível
em:<http://www.geocritica.com.br/texto09.htm>. Acesso em: 13 Jul.2012.
OLIVEIRA, Marlene Mecário de. A Geografia Escolar: Reflexões sobre o processo
didático-pedagógico do ensino. Florianópolis, 2006. Disponível em:
http://www.geograficas.cfh.ufsc.br/arquivo/ed02/artigo01.pdf.>. Acesso em 18׃
Dez.2011.
SECRETÁRIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. Disponível em:
<http://semed.manaus.am.gov.br/pagina_interna.php? cod=83>. Acesso em: 03
Mai.2011.
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A GEOGRAFIA E A SALA DE AULA: SUA CONTRIBUIÇÃO COM A
FORMAÇÃO DO CIDADÃO
Evelyn Monari Belo1
Gustavo Henrique Cepolini Ferreira2
RESUMO
O presente trabalho apresenta ao leitor uma reflexão sobre a possibilidade da Geografia ser um
instrumento de libertação para os alunos. Não serão apresentados dados estatísticos ou mesmo
dados obtidos a partir de coleta para análise. O texto apresentado tem como principal objetivo
propor a compreensão da necessidade de ser a prática da disciplina Geografia uma prática
resultante do processo de reflexão e, portanto, de auto-avaliação do educador. Podemos afirmar
que a base metodológica é sua própria atuação, considerando, então, a reflexão sobre a práxis
educacional como objeto que caracteriza e conceitua a prática em sala de aula, mesmo quando
consideramos uma realidade na qual os recursos são insuficientes e, por vezes, a infraestrutura
inadequada. Na reflexão proposta, observamos que podemos considerar a Geografia enquanto
ciência que subsidia e consubstancia nossa realidade, preparando nossos alunos para atuarem de
forma signficativa, propondo mudanças na leitura da realidade.
Palavras-chave: Geografia - Ensino - Prática Pedagógica.
GEOGRAFIA E SALA DE AULA: PROMOVENDO A AQUISIÇÃO DO
CONHECIMENTO
Trabalhar com as séries iniciais do Ensino Fundamental em escolas da rede
pública é sempre uma atividade que exige muita dedicação e perspicácia do docente.
Salas de aula heterogêneas, realidades que se confundem com a vida exposta
violentamente nos telejornais e Internet, informações veiculadas com uma velocidade
extrema que faz do mundo um objeto a mais, cuja interpretação evidencia a necessidade
de adequação da nossa realidade ao tempo que disponibilizamos para nossas atividades.
Seria este tempo disponibilizado por nós ou disponibilizados a nós? Talvez a segunda
questão expresse de forma adequada uma nova realidade que nos submete a uma
organização do tempo atribulada e, certamente, absurda aos nossos olhares e
interpretações, pois não conseguimos “comandar”, “controlar” o que precisamos
realizar.
É cada vez mais notória a presença de queixas e questionamentos dos docentes
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5156
sobre a impossibilidade de atendimento a diferentes necessidades expressas pelos
alunos. Muitas são as condições expressas pelo sistema de ensino que possuímos: se por
um lado temos uma legislação educacional que nos fornece parâmetros para análise de
uma situação que se constitui em políticas educacionais que não atendem às reais
necessidades, por outro a mesma legislação fiscaliza, supervisiona a atuação docente de
modo a “impor” a realização de atividades que assegurem a formação continuada como
tentativa de superação de um déficit histórico, originado juntamente com um sistema de
ensino falho, que atende, primeiramente, a efetivação de uma educação elitista.
Quando observamos o excessivo número de matrículas e as salas de aula
superlotadas que resultam desta condição, temos em mãos uma situação que configura a
dificuldade enfrentada pelos docentes. No entanto, não podemos desconsiderar que a
escola, enquanto instituição de ensino na qual se promove o saber legitimado, nos
permite compreender que, “toda e qualquer forma de análise da realidade implica,
necessariamente, a possibilidade de sua interpretação em diferentes épocas e, portanto,
na consideração de diferentes visões do mundo” (BELO, 2013, p.24)
Nossa escola atual exige esta condição, ou seja, uma interpretação que nos
permita compreendê-la como um local que também passa por modificações intensas ao
longo dos anos.
Porém, estamos, atualmente, lidando com uma escola cuja “mentalidade”
expressa, de forma inadequada e até mesmo infeliz, uma realidade que corresponde a
um século atrás, sendo esta uma condição que nos compromete a promover novas
condições de aprendizagem.
Trabalhar com o desenho e o contorno de mapas, propor o conhecimento dos
nomes de localidades a partir da prática da cópia e da leitura mecanizada e repetitiva já
não atende a realidade que vivemos.
A dificuldade encontrada pelos docentes ao proporem novas formas de atuação
pode ser compreendida sob duas vertentes:
a. Estes docentes são portadores de uma formação falha, que não preparou para o trabalho
pautado em iniciativas e atitudes de mediação;
b. É exigido que se trabalhe com novas tecnologias quando, na grande maioria das escolas
públicas, há problemas com a constituição da sala de informática, por exemplo.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5157
Diante destas colocações, “a Geografia, enquanto disciplina desenvolvida em
sala de aula, se constitui como fonte de um saber inesgotável e nossa compreensão
sobre o espaço em que vivemos é fundamental [...]” (BELO, 2013, p.33).
Então, a articulação da disciplina Geografia com as demais áreas do
conhecimento é indispensável ao bom desempenho da criança durante o processo de
escolarização.
A DISCIPLINA GEOGRAFIA COMO SUPORTE DE UMA ALFABETIZAÇÃO
GEOGRÁFICA
Atualmente, as crianças participam do primeiro ano do Ensino Fundamental sem
terem completado 7 (sete) ou mesmo 6 (seis) anos. Assim, temos neste critério um
ponto de dificuldade para a efetivação do trabalho pois, se considerarmos seu processo
de desenvolvimento maturacional, verificaremos que poucos meses de diferença entre
uma criança e outra ocasionam um verdadeiro abismo no tocante à diferentes fases do
processo de aprendizagem. Por este motivo, muitas vezes os déficits de aprendizagem
apontados pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura), nos induzem a acreditar que
nossa prática pedagógica é insuficiente, inadequada e, sobretudo, incapaz de reverter a
trágica situação.
Trabalhar com o primeiro ano do Ensino Fundamental significa, para a maioria
dos educadores, a preocupação extrema com o ensino dos processos de leitura e escrita.
É sinônimo de um trabalho com alfabetização. Entretanto, poucos profissionais
compreendem que alfabetizar ultrapassa os limites do ensino destes processos, pois
precisamos desenvolver nos alunos habilidades e competências que os caracterizem
como leitores do mundo, como pessoas capazes de atuarem num mundo em constante
transformação.
A expressão “alfabetização” nos remete, indiscutivelmente, a associarmos nossa
capacidade de leitura e escrita com a decodificação dos códigos lingüísticos.
Neste sentido, se não desenvolvemos nossa capacidade de abstração para a
leitura e a escrita, não somos capazes de ler e vivenciar o mundo. Porém, alfabetizar
geograficamente não significa capacitar crianças, jovens e adultos para interpretarem
mapas e cartas topográficas, por exemplo, apenas à luz dos ensinamentos cartográficos.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5158
O principal objetivo de um ensino significativo que contemple uma
alfabetização geográfica se concentra na possibilidade de interpretação e
experimentação de um mundo composto por uma extensão territorial imensa, uma
diversidade de cultura que torna peculiar cada indivíduo e, indiscutivelmente, da
possibilidade de compreensão de uma realidade que reflete o conhecimento humano.
Portanto:
A principal consequência do fazer-pensar dos agentes escolares é o seu papel no
ensinar-aprender. Porém, o papel específico da escola e do professor deve ser
compreendido no conjunto dos papéis dos agentes educacionais. É mais saudável para o
professor ter uma lucidez maior acerca das articulações do seu trabalho no processo
educacional geral, bem como de seus limites. (KIMURA, 2011, p.55)
Ensinar ultrapassa as fronteiras físicas, os limites estabelecidos pelos muros da
escola e pelas paredes da sala de aula.
Por este motivo, a escola se constitui como parte do ambiente do aluno e se torna
seu espaço geográfico, no qual descobre, aprende, vive, se orienta e procura novos
meios de construção de seu conhecimento. Profundamente influenciado pelas relações
sociais que ali são estabelecidas, este aluno é capaz de produzir e transformar, desde que
a prática pedagógica do educador corresponda à reflexão apresentada anteriormente.
Assim:
Uma prática pedagógica que tem, em sua relação conteúdo-forma, a necessidade de
articulação entre mundo e realidade, nos permite verificar que a subjetividade do mundo
é também a subjetividade do homem, que implica diretamente a concretização de suas
ações no espaço geográfico, expressas na realidade. A reflexão do professor sobre sua
própria prática se manifesta como sinalizador da prática pedagógica, oferecendo
indícios de sua atuação bem como da compreensão que os alunos apresentam sobre o
mundo em que vivem. (BELO, 2013, p.66)
Uma alfabetização geográfica permite ao indivíduo tornar-se, verdadeiramente,
cidadão. Cidadão este conhecedor do espaço onde vive, atua e transforma. Capaz de
viver e sobreviver diante das mais diversas situações, este indivíduo tem no
conhecimento geográfico os elementos necessários para a aquisição e apropriação de
um saber legitimado que se traduz nas diferentes situações cotidianas.
Se considerarmos, porém, que somos, em maioria, educadores formados por um
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5159
ensino que priorizou uma visão geográfica pautada em abordagens tradicionais do
ensino, estaremos, também, nos remetendo a uma breve análise de uma situação já
conhecida que traduz a ineficiência do ensino que abordamos nesta discussão pois, o
professor:
Como se está, na maior parte das vezes, mais preocupado com os produtos, isto é, com
os “conteúdos”, não se atenta para os processos que os constroem. Em geral, costuma-se
explicar como falta de conhecimento, de “conteúdo”, de não-domínio de certos
conceitos básicos. Ou seja, explica-se o processo pelo produto e examina-se o caminho
pela chegada. Evidentemente, como professores de Geografia, necessitamos ter em
mente o “produto geográfico”, de cuja produção e apropriação se é responsável; porém,
é necessário da mesma maneira, buscar suas raízes enquanto produção do
conhecimento. (KIMURA, 2011, p.66, grifos do autor)
Um ensino tradicional, “inibidor”, é capaz de determinar a presença de grupos
sociais que expressem e correspondam adequadamente às condições políticas e
ideológicas subjacentes a uma ordem preestabelecida que não permite a inovação, a
criação de condições básicas de transformação e, principalmente, não possibilite a
formação do cidadão que corresponde ao produto do trabalho do professor que reflete
sobre sua própria prática pedagógica. Neste contexto, não colaboramos com a realização
de um ensino significativo e nem mesmo colaboramos com uma intervenção prática que
condicione a prática pedagógica significativa a uma nova forma de compreensão da
realidade.
Nesta característica reside a importância da alfabetização geográfica, que tem
como produto o leitor do mundo.
A GEOGRAFIA, O EDUCADOR E O PROCESSO DE ENSINO
APRENDIZAGEM: PRODUZINDO LEITORES DO MUNDO
Para iniciar as reflexões deste tópico, podemos tomar como referência a seguinte
questão:
Compreendendo que o processo de alfabetização implica a percepção dos signos
linguísticos como elementos que integram a realidade cotidiana das pessoas, porque não
propor uma alfabetização geográfica, uma vez que a Geografia é uma área do
conhecimento que se manifesta de forma ampla, evidenciando a ação humana e
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5160
estabelecendo conexões entre o homem e o mundo? (BELO, 2013, p.49)
É possível percebermos, então, que a leitura do mundo implica, necessariamente,
a obrigatoriedade de compreensão deste mesmo mundo a partir de informações que
podem ser obtidas quando estabelecemos contato direto com informações que são
perceptíveis a partir de nossa visualização. Então, criamos imagens e constituímos
nosso próprio conhecimento fundamentando nossa realidade na vivência e na
experiência que adquirimos em nosso cotidiano.
Quando nos percebemos enquanto educadores, percebemos também que nossa
leitura do mundo determina o aluno que desejamos formar, pois o processo de ensino e
aprendizagem, por sua vez, determina nossa forma de compreensão da realidade porque
se encontra articulado diretamente com a ideologia subjacente ao momento histórico
que vivemos.
Como os problemas de deficiência do ensino são apontados como produto da má
formação dos profissionais da educação, “os professores, via de regra, são vistos como
profissionais despreparados, sem capacidade de gerir autonomamente os próprios
saberes”. (PONTUSHKA, PAGANELLI e CACETE, 2007, p.89)
No entanto, é possível identificar que novas posturas têm evidenciado a
proposição de uma prática pedagógica diferenciada.
É evidente que o uso de novas tecnologias auxilia em novas práticas, mas nem
sempre o docente pode lançar mão deste recurso para a realização de seu trabalho. Por
falta de compreensão do quê e como deve ser feito, muitos profissionais da educação
recém-formados confundem condições de trabalho com possibilidades de trabalho e,
assim, acabam se tornando alienados a uma situação já estabelecida. Não é discutido
neste texto o conceito de alienação, mas podemos compreendê-lo de acordo com outros
estudos já publicados pela autora, que nos aponta as seguintes interpretações:
1. A que pressupõe a esfera da infraestrutura, na qual se encontra o aspecto econômico
como determinante das ações e atitudes;
2. A que implica a compreensão da existência dos aparelhos ideológicos de Estado, ou
seja, a superestrutura, de caráter eminentemente político.
(BELO, 2013, p.17)
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Se nos tornamos alienados, “presos” a determinações burocráticas e legais,
incapacitamos nossos alunos e negligenciamos nossa capacidade de atuação.
Alienados, nossos alunos não produzem conhecimento, não participam da
construção do mundo e, consequentemente, não permitem que a sociedade já constituída
vivencie momentos de profunda transformação.
A transformação indicada neste texto se refere ao propósito de modificações que
se originam na realização de um ensino significativo e tem seus produtos e reflexos
expressos nas ações coletivas que caracterizam os diferentes grupos sociais. Em
maioria, os alunos têm acesso às novas tecnologias, gerando um desconforto para o
docente no sentido de que as informações que os materiais pedagógicos trazem nem
sempre correspondem à realidade e expectativa dos alunos. Independentemente da
classe social à qual pertencem, podemos afirmar que os alunos estão em contato direto
com os novos recursos tecnológicos, utilizando-os, principalmente, para a realização de
suas atividades. Nem sempre direcionadas, deixam de ser produtivas e significativas
para constituírem mais uma lacuna na constituição das aulas: os alunos pesquisam sem
ler e sem se importar com o que o texto veiculado traz em seu conteúdo e forma.
Portanto, “é fundamental preparar o aluno para desenvolver o senso crítico necessário
para que possa selecionar e utilizar as informações e não perder-se no ‘dilúvio
informacional’ das redes de comunicação”. (PONTUSHKA, PAGANELLI e CACETE,
2007, p.263)
Formar leitores do mundo, nesta perspectiva, é nada mais do que propor a
valorização do conhecimento presente no cotidiano do aluno e, para tanto, a disciplina
Geografia, complexa, dinâmica e atual, é indispensável.
Possuir infraestrutura para a realização de um bom trabalho deixa de ser o único
ou o principal fator necessário para a consolidação de um ensino de qualidade quando
nos encontramos diante de uma realidade que se constitui a partir da atuação de grupos
sociais que, mesmo com características próprias e peculiares, se tornam submissos a
uma ordem histórica que determina condições de vida e, portanto, de atuação na
sociedade. É desta condição que resulta a superestrutura, na qual a escola é um dos
aparelhos ideológicos do Estado. Diante de tal condição, a disciplina Geografia deve ser
utilizada como verdadeiro instrumento de libertação.
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ALGUMAS PALAVRAS FINAIS...
Ensinar e aprender Geografia são condições determinantes no processo de
ensino e aprendizagem, pois temos em mãos uma disciplina capaz de promover a
transformação via formação de uma consciência coletiva.
Determinar conteúdos a serem trabalhados é uma necessidade, no entanto, não
podemos desconsiderar a importância da compreensão da realidade integrada a este
processo de (re)transmissão do conhecimento. Se por um lado dados obtidos a partir da
aplicação de avaliações do MEC indicam um sistema de ensino falho, por outro, os
Parâmetros Curriculares Nacionais confirmam a necessidade de um trabalho articulado
com a realidade dos alunos.
Na realidade, quem atua na escola pública sabe que o professor desta esfera não
está aquém destas exigências. O que lhe falta é a presença de condições mínimas para a
efetivação de um bom trabalho. Assim, se não temos recursos tecnológicos, temos o
capital cultural como apoio para a realização de uma prática adequada às necessidades
dos alunos.
Promover um ensino significativo é, sobretudo, propor a realização de atividades
que reflitam as experiências que constituem a vida cotidiana e, também, as perspectivas
de nossos alunos. Alfabetizá-los geograficamente tornando-os leitores do mundo é um
bom caminho para o início de uma nova forma de compreensão e interpretação da
realidade.
Esta condição pode ser oferecida a nós apenas pela Geografia.
REFERÊNCIAS
BELO, E. M.; BATISTA, E. L.; FERREIRA, G. H. C. (orgs.) Cenas e cenários
geográficos e históricos no processo de ensino e aprendizagem. Campinas, SP: 2013.
KIMURA, S. Geografia no ensino básico: questões e propostas. 2. ed. 1.ª reimpressão.
São Paulo: Contexto, 2011.
PONTUSCHKA, N. N.; PAGANELLI, T. I.; CACETE, N. H. Para ensinar e aprender
Geografia. São Paulo: Cortez, 2007.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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“GEO EM CENA: UM CAMINHO PARA EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA A
PARTIR DO CINEMA”
Arthur Pereira Santos
1
RESUMO
Este trabalho faz parte do projeto educacional que vem sendo desenvolvido no Colégio Pedro II
e de uma reflexão conjunta que junto à pesquisa do programa de pós-graduação em Geografia
da UFF. A linha que perpassa o trabalho é a promoção do diálogo junto aos corpos discentes e
docentes sobre a importância do cinema para o aprendizado da Geografia. Em meio ao dia a dia
cada vez mais povoado por imagens provindas dos distintos aparelhos de comunicação, da
publicidade, do marketing, da internet, da TV e do cinema, faz-se mister colocar em discussão e
tensionar as formas de utilização dessas imagens dentro e fora do espaço escolar. O cinema
possui um valor especial, devido à multiplicidade de funções que cumpre, nos diferentes
espaços da sociedade, seja como mero entretenimento, como recurso didático ou como aparato
político e ideológico. Além de ser um objeto de interesse da maior parte das pessoas,
independente da classe social, da etnia ou faixa etária que ocupem. É dentro desse contexto que
propomos levantar o debate da "sétima arte" nas aulas de geografia visando alcançar o seguinte
aspecto: promover o casamento entre geografia e cinema, de modo à desperta a imaginação
crítica e geográfica dos filmes.
Um dos desafios para o desenvolvimento do projeto tem sido o de despertar o interesse dos
alunos por filmes brasileiros e estrangeiros que escapam ao escopo padronizado da indústria
cultural. A mesma possui uma hegemonia quando se trata da questão do cinema e da criação de
espectadores educados a gostar de um tipo único de filme. Vide a influência do cinema
estadunidense na construção dos imaginários sobre os diferentes gêneros cinematográficos.
Exemplo emblemático é a criação de obras infantis pela Wall Disney World, que atua na
produção em massa de filmes e desenhos, aparentemente isentos de uma construção ideológica.
Eles acabam funcionando como propagadores de uma das maiores redes de consumo de objetos
e temas infantis, além de construir "tipos específicos de espectadores", ou seja, desde crianças
somos educados a gostar de um tipo de filme, ignorando a existência de outras formas de ver e
fazer cinema. Outro exemplo emblemático são filmes do gênero "blockbuster" que dominam a
rede de canal aberto da TV brasileira e as principais salas de cinema. Ambos os exemplos
contribuem para o entendimento das imagens transmitidas como mero entretenimento (ou
mercadoria cultural), o que direciona ao fio condutor para o presente projeto: como despertar
uma semente crítica e outras formas de percepção do cinema e das imagens consumidas no
nosso cotidiano a partir da crítica geográfica dos filmes?
Palavras chaves: GEOGRAFIA, CINEMA, CRÍTICA.
GEO EM CENA
A ideia inicial do projeto foi trazer ferramentas para o trabalho da geografia no
cotidiano escolar, de modo a promover metodologias de ensino-aprendizagem
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5164
alternativas ao modelo "tradicional". O que significa dizer que o ensino-aprendizagem
da geografia por meio de uma aula expositiva, na qual os estudantes copiam a matéria
colocada no quadro e em seguida recebem a explicação dos professores precisava ser
dialetizado. Vemos essa mudança como necessária devido à identificação de dois
problemas durante as aulas.
O primeiro é o peso dado ao conteúdo seguido de prova como forma de ensino-
aprendizagem e avaliação. O conteúdo geográfico escolar traz no âmago da sua
produção uma complexidade, na exigência de transformação do espaço vivido pelos
estudantes num conhecimento crítico sobre aquilo que eles próprios vivem. Nesse
sentido, o movimento de desconstrução e reconstrução é importante para uma percepção
mais apurada do seu cotidiano, por exemplo, a partir da construção do conceito de
território no sétimo ano, os estudantes poderiam (re)conhecer a existência de relações de
dominação e opressão em uma localidade que fazia parte da sua experiência de vida,
mas que não tinham entendido os mecanismo intrínsecos a demarcação do território
habitado. A ideia de dialetizar esse conteúdo entraria, portanto, na amarração entre o
conceito e o trabalho com as imagens, de modo a proporcionar uma mediação entre o
fenômeno percebido e a cadeia de significados presentes naquela palavra.
O segundo problema está relacionado ao primeiro e seria o uso das tecnologias
atuais como ferramentas que fazem parte do nosso cotidiano, docente e discentes. Em
outras palavras, o nível de desenvolvimento técnico-científico-informacional
(SANTOS, 2005) nos lança diante de uma relação local-global que é povoada por
diferenças étnicas e culturais, interconectadas em múltiplas escalas espaço-temporais.
Doravante cada vez mais permeadas por produtos tecnológicos que escapam a nossa
capacidade de desvendar quais processos estão por detrás da sua veiculação, ou seja,
reconhecemos a existência da "coisa", ela torna-se objeto de uso no nosso cotidiano,
mas não entendemos os mecanismos e as relações de poder que foram empregados na
origem daquele produto. O que coloca outro desafio para nossa rede de trocas professor-
estudante, qual seja, o de decodificar esses processos e utilizá-los a nosso favor. Nesse
sentido, quando estamos em uma turma com "x" estudantes, aonde cem por cento deles
possui um aparelho celular e tem um contato diário, ou mesmo esporádico, com a teia
mundial (world.wide.web) ocorre um descompasso com a nossa prática cotidiana, no
momento que pedimos para que eles copiem a matéria do quadro, ouçam-nos falar e
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5165
leiam e façam os deveres do livro. Não estamos "diminuindo" essa prática de ensino,
mas apenas levantando um ponto para discussão junto aos outros professores e
estudantes, quanto à necessidade de dialetizar esse vir-a-ser na sala de aula e na escola.
Nesse contexto colocamos a seguinte questão-guia do nosso trabalho: como a prática
de ensino geográfica pode ser trabalha tendo o filme e seus correlatos como meio
de reflexão e engajamento dentro da sala de aula?
Existem três princípios básicos que vêm servindo de pilar para a nossa prática: a
autonomia (FREIRE, 2009), a horizontalidade e a dialogicidade (MORIN, 2001). O
primeiro visa despertar no contato com o espaço vivido por professores-estudantes o
princípio da criação e do entendimento dos saberes e das leis que regem o nosso
cotidiano geográfico. O segundo tem como objetivo quebrar a hierarquização
"professor-aluno", ou seja, trabalhar, com base na autonomia, associando o princípio
dos questionamentos e posicionamentos coletivos, de modo a reconhecer a diferença e
olhar o outro como aquele que faz parte da nossa corporeidade. O terceiro visa
fomentar, sobretudo, a valorização dos diferentes saberes, a transdisciplinaridade, a
partir do princípio da dialógica, que trabalha com a existência de uma rede trocas e
interações calcadas na autonomia e na horizontalidade, de modo a proporcionar a
construção comum das práticas e ações cotidianas. Acreditamos que esses princípios
podem balizar a atuação para dentro e para a fora da escola, propondo dinâmicas que
tornem o conhecimento geográfico escolar uma ferramenta para atuação no nosso
cotidiano. Após essa breve introdução da "cena" na sala de aula e dos princípios que a
regem, cabe definir o que entendemos como "Geo" desta cena e a sua linguagem matriz,
o espaço do cinema.
Entendemos que a geografia pode ser parcialmente definida como as diferentes
formas de ver e sentir o mundo, uma perspectiva para sua percepção e transformação
por meio da práxis, campo que teria como prisma de referência a relação corpo-mundo.
Essa relação corpo-mundo acontece mediante o movimento de ida e vinda entre a
espacialidade dos fenômenos, as formas de criação imagéticas e a transformação de
ambas em "caixas de ferramentas" para o entendimento, por meio da criação de
conceitos espaciais. A ideia de cinema pode ser entendida, por sua vez, como uma
experiência de registro do real ou do fictício, que tem como base a montagem
combinada e ritmada das imagens. Xavier (2008) nos fala do espaço cinemático que
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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possui uma dimensão interior e exterior ao recorte, ou seja, algo que aparece na tela
(visível) remetendo “ao que está fora (ao invisível)”, colocando o movimento (dialético)
do espaço e da duração como tensão originária da arte cinematográfica, ou a produção
(social) de transparência e ilusão por meio da articulação das cenas. O que coloca
destarte a condição dialógica de ambos é a sua inserção enquanto práticas espaciais
socialmente produzidas e que ambos os saberes aparecem como formas de percepção e
leitura do espaço vivido.
Acreditamos na existência de "um rebatimento espacial entre o filme e o espaço
geográfico per si". Nossos métodos de investigação e de interpretação serão baseados na
análise de filmes e das discussões que circulam no entorno dessa questão para si e para a
geografia. A geografia nos últimos anos vem fazendo diferentes usos das obras
cinematográficas e literárias, mas tem encontrado muitas dificuldades para preservar a
autonomia das obras de arte, potencializando sua reflexão e, ao mesmo tempo, tem
utilizado os saberes geográficos de forma atabalhoada, sem a preocupação com as
singularidades e o potencial reflexivo presente nas próprias obras da geografia. Tarefa
infinita, devido à dupla sentença que aparece como desafio e que gostaríamos de
compartilhar a partir deste trabalho: cada obra de geografia contém em si sua própria
dimensão de fílmica (imagética), seja ela uma fala sobre a cidade ou um discurso sobre
a natureza; e cada obra de arte cinematográfica, contém em si sua própria interpretação
geográfica.
Os usos do cinema pela geografia vêm acontecendo sem uma reflexão prévia
sobre os métodos a serem utilizados quando passamos um filme em sala de aula, ou
mesmo, num grupo focal para discussão. A primeira forma de interpretação e, talvez, a
mais recorrente é o uso contextualizante das obras para exposição dos conteúdos
geográficos. Nesse aspecto o expositor, seja ele profissional de geografia ou não, projeta
filmes como Hotel Huanda e Tempos Modernos, para falar, respectivamente, das
guerras civis na áfrica ou da Revolução Industrial. O que acaba por comprometer os
diferentes aspectos que poderiam ter sido trabalhados nos filmes, ou mesmo, reduzir a
geograficidade dos fenômenos a uma abordagem conteudísta presente na história. A
segunda forma do método de interpretação dos filmes pela geografia é o uso ilustrativo
para mostra uma ideia ou um pensamento de determinado autor. O exemplo desse
procedimento pode ser visto na projeção do filme Milton Santos - o mundo visto do lado
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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de cá que reduz o pensamento do geógrafo/advogado/cidadão do mundo a exposição
das ideias encontradas no documentário ou a discussão sobre globalização. E a terceira
forma encontra para o método de interpretação fílmica é o uso problematizante, que visa
extrair um tema para a discussão, tal como pode ser visto, na projeção do documentário
"Uma Verdade Inconveniente" para discorrer didaticamente sobre o aquecimento global.
De uma forma ou de outra, acabamos por transitar entre estes métodos acima, de
maneira proposital ou inconsciente. Existe uma dificuldade metodológica das ciências
em geral e, da geografia específica, em trabalhar com filmes ou romances sem conceitos
e formas de entendimentos previamente estabelecidos. A proposta que se segue é então a
de inverter os métodos e tentar entender de que modo às obras analisadas exigem ser
interpretadas geograficamente? Entendo este paradoxo coloca-se outra questão: como
não deixar que os conhecimentos previamente estabelecidos dominem a obra? A partir
de uma rápida passagem pelos problemas que encontramos na pesquisa que aproxima
geografia e cinema, procuramos elencar alguns elementos que foram trabalhados na
temática estudada, para fins de organização de um caminho propício para exposição da
metodologia.
O objetivo geral do projeto é construir um espaço para estudo, prática e
discussão sobre geografia e cinema, criando condições para o diálogo entre a realidade
vivenciada pelos estudantes e a escola. Os objetivos específicos são despertar o
interesse dos alunos para o cinema no que tange a sua multiplicidade de gêneros e
formas, ou seja, desconstruindo o padrão único de ver e fazer cinema, por meio da
decodificação dessa linguagem e da percepção dos fenômenos geográficos inerentes a
sua construção. Nesse sentido, visamos construir um caminho que leve dos filmes,
como entretenimento, para o apontamento e produção de pequenas críticas de cinema
pelos estudantes, com embasamento geográfico. A ideia seria desvendar quais são os
elementos presentes na produção de um filme, ou seja, do circuito produtivo que está
inserido da produção, distribuição e do consumo, ou seja, elaborar um pequeno estudo
da geografia da indústria cinematográfica.
A forma inicial de levantar essa problemática seria: partir da realidade vivida
pelos estudantes e promover debates sobre os filmes que são do seu próprio interesse. A
proposta secundária seria incentivar o debate sobre a produção das grandes mídias e o
seu papel na sociedade, pedindo para os estudantes trazerem notícias que circulam na
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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atualidade e, a partir do recorte da sua imagem, entender quais elementos políticos estão
envolvidos naquele processo criação.
As metas a serem alcançadas ao longo desse ano são: promover no dia a dia da
escola, periodicamente, reuniões de formação, estudo e organização das atividades
relacionadas à geografia e ao cinema. Criar e estruturar um pequeno "laboratório de
geografia e cinema", ou seja, um espaço de trocas entre a escola e a casa, que coloque
em debate temas relacionados à vivência dos estudantes. Para tanto, temos o objetivo de
criar um pequeno acervo para escola com filmes que abordem as diferentes temáticas de
interesse dos estudantes e dos assuntos da geografia e das disciplinas afins. E Promover
um evento para apresentação dos resultados do trabalho ao fim do ano letivo.
TRAJETÓRIAS DO "GEO EM CENA"
O presente projeto está em vias de desenvolvimento, cabendo destacar a
metodologia que vêm sendo utilizada e os percalços encontrados na caminhada. Devido
à rigidez do calendário, as exigências provenientes do conteúdo do ano letivo e ao
reduzido tempo de trabalho semanal, optamos por trabalhar apenas um filme em uma
das séries ao longo de todo ano e destrinchar todas as propostas levantadas acima. Nesse
sentido o projeto vem tendo apenas as aulas existentes durante o ano letivo em uma
turma do sexto ano. As ferramentas utilizadas para construção visam integrar atividades
teóricas e práticas, partindo da escola à realidade vivida pelos estudantes, tendo como
foco analítico a produção cinematográfica brasileira.
Na primeira parte do projeto temos o objetivo de entender a seguinte questão: o
que é um filme? Para tanto, foi preciso trazer para sala de aula os elementos que
compõe a linguagem cinematográfica. Trabalhamos com pequenos textos e vídeos para
o entendimento do plano, da sequência, do som, da narrativa, da imagem e todos os
elementos que fazem parte da sua composição. A ideia foi constituída partindo da
escolha de um plano e fazendo sua decupagem (análise fílmica), para em seguida os
estudantes elencarem o ponto que consideravam crítico para o debate geográfico.
Estamos trazendo diferentes tipos de filme para sala, de modo a revelar a multiplicidade
de possibilidades de criações cinematográficas. Nessa etapa visamos entender a relação
entre a forma de um filme e o seu uso.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Após o contato inicial com os elementos que compõe a linguagem
cinematográfica, os estudantes vão escolher um "tema gerador (Pontuschka, 2009)" para
ser desenvolvido ao longo do ano, em conjunto com os docentes e funcionários que
participarem da construção do projeto. A primeira etapa consistiu na realização de um
questionário pessoal sobre o lugar de origem, idade e preferências pessoais, na tentativa
de entender a multiplicidade de perspectivas presentes na sala de aula. Elaboramos um
pequeno mapa que continha os diferentes locais de origem e o caminho que leva até
escola. Em paralelo, cada estudante está trazendo um elemento que representa o seu
cotidiano do ponto de vista do seu lazer e algo que acontece fora da escola que não é do
seu agrado. Estamos construindo um quadro informativo e a partir dele pretendemos
extrair um elemento comum para turma, vislumbrando a escola de um filme que
problematize esse tema. Dentre os temas da preferência dos alunos podemos elencar o
esporte, os romances de aventuras lendárias, fantasias e de relações amorosas entre os
jovens, as tecnologias de comunicação do celular e da internet e os brinquedos e jogos
de cartas que trazem como tema os desenhos e livros supracitados. A ideia é trabalhar
um desses temas mediado por um filme, relacionando-o com o conhecimento
sistemático presente no conceito da geografia e ver como eles dialogam para entender
os problemas do seu cotidiano. A paisagem e as suas múltiplas dimensões vem
aparecendo como conceito que possibilita a amarração entre os diferentes elementos, ao
fornecer subsídios para o trabalho com a esfera do simbólico e do material, além de
trazer já na sua raiz, características que remetem a imaginação e a criação artística.
Na segunda parte do projeto o objetivo é trazer elementos para desvendar o
que seria a crítica do filme e como ela se diferencia do juízo de gosto, de modo à
desperta a reflexão sobre os filmes trabalhados. Não basta o estudante fazer uma
simples apresentação do que ele gosta, para além dessa descrição do juízo de gosto,
queremos construir um caminho para investigação dos processos que resultaram na
chegada daquele produto à sua mão e as influências posteriores que o mesmo vai ter
com a sua difusão. Nessa etapa os estudantes vão trabalhar os métodos de pesquisa dos
materiais que compõe os filmes. O que consiste na busca das críticas previamente
realizadas do filme e no estudo do contexto de produção da obra, ou seja, quando foi
produzido, qual é o local da produção, qual foi à bilheteria, dentre outras coisas.
Agregada a essa questão, acontecerá à crítica propriamente dita, que consiste no
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5170
desenvolvimento de uma redação individual, na qual o aluno vai interpretar o filme a
partir do seu contato direto com o mesmo, sem mediações. A ideia central é promover
um casamento entre os elementos geográficos e fílmicos, sem ferir o principio da
autonomia de ambos, mas de modo a despertar a interrogação sobre os elementos
espaciais que compõe a obra.
Na terceira parte do projeto os alunos vão trabalhar o processo de criação. A
metodologia utilizada durante as aulas será construída mediante o dialogo entre
professor e estudantes para uma releitura e adaptação do tema e do filme norteadores do
projeto. A proposta que se segue é do desenvolvimento de diferentes roteiros, da
discussão das propostas e da eleição daquele que a turma considerar mais adequado ao
trabalho em sala de aula. A proposta final é a criação de um curta-metragem e da
autocrítica dos estudantes, de modo a destacar os elementos geográficos presentes na
construção do mesmo.
Paralelamente a construção das aulas, os alunos em diálogo com os professores e
funcionários poderão construir um pequeno catálogo de filmes sobre diferentes
temáticas. Este material ficará disponível na biblioteca da escola e poderá ser utilizado
por todo corpo discente, docente e funcionários.
CONCLUSÃO
Conforme foi visto ao longo do texto gostaríamos de ressaltar que o trabalho
encontra-se em vias de construção, o que dificulta uma exposição sistemática de todos
os elementos que fazem parte da sua composição. Na primeira parte do presente artigo
fizemos a exposição do que seria o projeto "geo em cena". Destacamos alguns pontos
inerentes ao cotidiano escolar que consideramos fundamentais para iniciar o processo de
mudança de uma estrutura ainda muito arraigada aos valores e práticas calcadas numa
hierarquização e na fragmentação do conhecimento. Faz-se mister utilizar os
aconteceres cotidianos e relacioná-los a nossa prática de ensino geográfica, de modo a
quebrar o gesso que ainda está presente nos conteúdos da geografia escolar. No entanto,
precisamos de uma melhor capacitação quanto à utilização de "novas metodologias"
para que ocorra uma valorização dos diferentes saberes e uma construção dialógica que
considere as singularidades presentes em cada manancial de teorias e práticas
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5171
pedagógicas. Entre o teor geográfico e o teor cinematográfico existem zonas de contato
que precisam ser pensadas e praticadas, tendo como foco a construção crítica do
cotidiano dentro e fora da escola. O projeto "geo em cena" está vindo-a-ser e não tem a
pretensão de resolver os problemas elencados ao longo do texto, mas apenas fornecer
alguns elementos para reflexão, a partir do diálogo com os diferentes sujeitos que
compõe a prática do ensino da geografia e construir uma ferramenta que sirva para o
questionamento e para mudanças da ordem estabelecida.
CRONOGRAMA PARCIAL
Atividades Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Desvendando a linguagem
cinematográfica nas veredas
da geografia
X X X
A escolha geográfica dos
filmes brasileiros
X X
Um diálogo entre a pesquisa
geográfica e cinematográfica
X X X
O debate a crítica com
embasamento geográfico
X X X
Oficina de roteiro X X X
Oficina de ensaio e montagem
X X
Oficina de criação X X
Avaliação das atividades X
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5172
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FILMOGRAFIA DE BASE
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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Abril despedaçado
A Invenção de Hugo
A opinião pública
A Viagem de Chihiro
Central do Brasil
Cinco Vezes Favela
Cidade Baixa
Cidade de Deus
Cidade dos Homens
Deus e o Diabo na Terra do Sol
Edifício Master
Eles Não Usam Black-tie
Estamira
Ladrões de Bicicleta
Macunaíma
Madagascar
Milton Santos - O Mundo Visto do Lado de Cá
Narradores de Javé
O Homem que Virou Sulco
Orfeu Negro
Os Trapalhões na Terra dos Monstros
Pixote - A Lei do Mais Fraco
Rio
Santa Marta: duas semanas no morro
São Bernardo
Uma História de Amor e Fúria
Vidas Secas
Tempos Modernos
Terra em Transe
Tropa de Elite
Um lugar ao Sol
Tainá
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A UTILIZAÇÃO DE RECURSOS DIDÁTICOS COMO AUXILIARES NO
PROCESSO DE APRENDIZAGEM DO SOLO.
Cleire Lima da Costa Falcão1
José Falcão Sobrinho2
RESUMO
Aconteceu nos dias 15 e 16 de Abril, no Curso de Geografia da Universidade Estadual Vale do
Acaraú, no campus do Centro de Ciências Humanas- CCH, o Dia Nacional da Conservação do
Solo, foi organizado pelos membros do Laboratório de Pedologia e Processos Erosivos em
Estudos Geográficos – LAPPEGEO, que tem como responsável a professora Cleire Falcão. A
iniciativa é reforçar a importância do ensino do solo numa visão pedagógica para o trabalho de
uso e conservação do solo. As atividades desenvolvidas foram relato de experiências, oficinas, e
exposição do projeto “A Produção de Materiais de Apoio didático ao Ensino de Solo”,
desenvolvido no LAPPEGEO desde 2009, como forma de enriquecer o ambiente de ensino e
aprendizagem. O material é resultado de uma proposta que vem se configurando no cenário do
ensino no Brasil, que é o ensino por meio de recursos lúdicos como jogos, desenhos, revistas em
quadrinho entre outros. Na análise dos resultados foi percebido que os materiais e os
experimentos ajudaram a criar um clima de entusiasmo sobre os conteúdos abordados, de forma
motivadora. Conclui-se, que as atividades propostas foram ferramentas metodológicas
importantes que auxiliaram na aquisição dos conhecimentos científicos de forma eficaz e
significativa.
Palavras chave: ensino de solos; materiais didáticos; conservação do solo.
INTRODUÇÃO
O solo é um componente do ambiente natural que deve ser adequadamente
conhecido e preservado tendo em vista sua importância para a manutenção do
ecossistema terrestre e sobrevivência dos organismos que dele dependem. A degradação
do solo pode ser associada ao desconhecimento que a maior parte da população tem das
suas características, importância e funções.
O ensino da ciência do solo, ainda caminha muito lento, sua produção é pouca
expressiva em relação às demais áreas. De modo geral, as limitações dos livros
didáticos e a produção de material que possa ser utilizado por professores ainda é muito
1Professor Adjunto do Curso de Mestrado em Geografia da UVA/CE; [email protected]
2Professor Adjunto do Curso de Mestrado em Geografia da UVA/CE; [email protected]
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5175
limitada. Na educação do ensino fundamental e média, os estudantes não têm acesso a
informações corretas tecnicamente, úteis ou adequadas à realidade brasileira, o que pode
ser evidenciado nas deficiências e falhas existentes nos matérias didáticos disponíveis.
Vista ainda que, quando mencionado aparecem nos livros didáticos na área de ciência e
raras vezes na área de geografia.
Esta situação foi constatada por diversos em pesquisas com objetivo de conhecer
o conteúdo dos livros didáticos de Geografia no ensino fundamental em escolas
públicas como (FELTRAN FILHO et al, 1996; ROMANATTO, 2004; SILVA, COSTA
FALCÃO e FALCÃO SOBRINHO, 2008; PINTO, 2009), que constataram que o uso
do livro didático no ensino brasileiro, ao invés de ser um material de apoio, passa a ser o
único recurso pedagógico adotado em sala de aula. Neste mesmo contexto, (SILVA,
COSTA FALCÃO e FALCÃO SOBRINHO, 2008) ao analisar livros didáticos de
Geografia apontaram que o conteúdo não contribui de forma clara e coerente para o
entendimento do solo no contexto da paisagem, deixando em muitas das vezes
reconhecer a sua importância quanto elemento da paisagem. Na tentativa de
simplificação da exposição do processo de formação do solo, deixam de abordar alguns
temas importantes, como por exemplo, tipos de material de origem, suscetibilidade a
erosão, etc.
Somando-se ao fato de que as metodologias adotadas pelo professor em sala de
aula, tornam o conteúdo traduzido na fala dos alunos como “decorreba”, não levando
em conta que a interdisciplinaridade proporciona a mesma, inúmeras formas de ser
trabalhada em sala de aula. Sua forma de ministrar ocorre de forma mecânica,
desenvolvem apenas habilidade de memorização dos conteúdos, impedindo o ato de
racionar, imaginar e criar.
No enfoque de processo ensino aprendizagem, os conceitos são produzidos e
apropriados pelo homem, atendendo a interesses, necessidades sociais, culturais e
políticas das diferentes épocas (VYGOTSKY, 1994). Nestes conceitos insere-se a
intervenção do educador no processo pedagógico, seja na construção de um recurso
pedagógico, na aplicabilidade ou na análise dos resultados.
Para o desenvolvimento da aprendizagem faz-se necessário envolve-lo como
compreensão que possibilite a dinamização das aulas de solo permitindo assim, apontar
elementos à reflexão em torno do conhecimento do solo no contexto que se insere. Este
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5176
deve ser visualizado como um tema transversal, onde possa estabelecer relação com as
Ciências naturais e a Geografia principalmente. Ao buscar atividades interdisciplinares,
procuraremos demonstrar que é possível superar as aulas expositivas e que, mesmo com
a imposição fragmentado do conhecimento, é necessário buscar o todo sem perder a
especificidade.
Portanto, torna-se imprescindível e de fundamental importância, o trabalho e a
flexibilidade do professor não só de geografia mais das demais áreas adotar
metodologias e recursos didáticos que possam correlacionar os conteúdos a fim de
expandir o raciocínio do aluno, sistematizar os conhecimentos e despertar o seu
interesse do aluno.
Com esta preocupação, o Laboratório de Solos e Processos erosivos em
estudos Geográficos (LAPPEGEO), vem buscando inserir a produção de material
didático, como ferramentas de apoio e que podem transformar o aprender, num processo
mais eficiente. A elaboração de materiais educativos como estratégias do processo de
ensino-aprendizagem estão tornando-se cada vez mais presente no universo da
educação, esta irá possibilitar uma maior interatividade, e pode ser usada como
instrumento de comunicação, de pesquisa e de produção de conhecimento. Desta forma
localizamos o conhecimento, selecionamos o que é relevante e integramos os
conhecimentos anteriores.
A prática pedagógica se baseia no sócio construtivismo de Paulo Freire
as quais vislumbramos assumir como sujeitos da sua aprendizagem, a construção do
conhecimento, tornando o processo de ensino aprendizagem mais significativo e
prazeroso construído através da troca de experiências e de saberes.
Porém, hoje não basta ter conhecimento, é preciso saber o que fazer com ele. Por
isso, o processo não se esgota aqui, mas segue adiante, em busca de uma capacidade
demonstrativa que visam a partir de metodologias de trabalho o conhecimento do solo,
no sentido de, promover uma aprendizagem estimulada e motivadora aos alunos e que
favorece mecanismos que permitam os professores a compreender, assimilar e ensinar o
conteúdo programático.
Para tanto, este trabalho relata um momento de aplicação desses materiais
durante o evento intitulado “Dia Nacional da Conservação do Solo” promovido pelo
LAPPEGEO, no curso de Geografia na Universidade Estadual Vale do Acaraú, na
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5177
cidade de Sobral-CE, nos dias 15 e 16 de maio de 2013, em referência ao dia nacional
da conservação do solo dia 15 de abril.
Esta data foi escolhida em homenagem ao nascimento do americano Hugh
Hammond Bennett, considerado o pai conservação do solo. O objetivo básico é de
proteger sua utilização de modo que as explorações agrícolas se realizem de acordo com
a capacidade potencial de cada área, garantindo assim o fornecimento das necessidades
presentes dos recursos sem comprometer a sobrevivência das populações sequentes.
Tivemos como objetivo possibilitar a difusão do conhecimento, estimulando a
articulação e a troca de ideias, informações, experiências e conhecimentos entre os
diferentes níveis de ensino, alunos das escolas públicas do ensino fundamental e médio,
alunos de graduação e de cursos técnicos e profissionais voltados à temática de solos,
salientando a sua importância como recurso natural e essencial para a sustentação da
vida e do ecossistema terrestre.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Durante o evento estiveram presentes alunos e professores das escolas públicas
de Sobral, totalizando 191 participantes, dos ensinos fundamental, médio e superior:
Colégio Estadual Dom José Tupinambá da Frota, Colégio Jarbas Passarinho; Escola
municipal Gerardo Rodrigues; Instituto Federal do Ceará- IFCE/Sobral e alunos do
Curso de Licenciatura de Geografia e Biologia da UVA. A programação deve início às 8
horas no espaço de vivência do centro do CCH, com as exposições dos trabalhos de
pesquisas desenvolvidas nos projetos e na disciplina de pedologia ministrada no curso
de Licenciatura de Geografia, tais como:
- Exposição de pintura em tela e papel A4 como resultado dos trabalhos desenvolvidos em
eventos (oficinas e minicurso) e do Projeto “Tutorial de Extensão Solo na Escola” e “Projeto
visita monitorada ao LAPPEGEO” (Figura 1a);
- Exposição de materiais de apoio didático e aplicação dos experimentos resultado do projeto “A
produção de matérias de apoio didático no contexto colaborativo ao estudo do solo”
desenvolvido por alunos bolsista da FUNCAP, CNPq, PIBID, PBU e alunos voluntários do
LAPPEGEO (Figura 1b);
- Exposição de maquetes dos trabalhos realizados pelos alunos do curso de geografia e biologia
da disciplina de pedologia ministrada pela professora Cleire Falcão. As temáticas: Poluição do
solo; As queimadas e o solo; Boas práticas agrícolas; Importância da vegetação para o solo; O
processo erosivo; Degradação do solo.(Figura 2b);
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5178
a b
Figura 1: (a) pintura em papel A4 com pigmentos de solo de alunos do 9º do ensino fundamental II; (b)
banner explicativo de solo e painel confeccionado de madeira da turminha LAPPEGEO (Laboratório de
Solos e Processos Erosivos em Estudos Ambientais).
a b
Figura 2: alunos de diferentes escolas do fundamental II e ensino médio, durante a exposição dos
trabalhos de pesquisas e alunos da disciplina de pedologia ministrada no curso de Licenciatura de
Geografia, tais como:
No auditório Nilton Santos do curso de Geografia, foi feito uma explanação “Por
que devemos conservar o solo?” Com a professora Cleire Falcão e posteriormente a
professora Cristina Ribeiro de Souza do Instituto Federal do Ceará-IFCE explanou
sobre o sistema de produção convencional e orgânico. Após as explanações todos se
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5179
direcionaram para um momento de degustação de sucos orgânicos e visitas das
exposições no espaço de convivência (Figura 3 a e b).
a b
Figura 3: professora (a) Cleire Falcão na abertura do evento; professora (b) Cristina de Souza durante a
palestra no auditório Nilton Santos, com alunos do ensino fundamental e ensino médio de diferentes
escolas.
A organização das atividades foi desenvolvida a partir do roteiro de visitação do
LAPPEGEO, onde para cada material e experimento exposto, havia uma equipe de
alunos monitores, bolsistas e voluntários que apresentava o material com as devidas
explicações. Neste momento, ocorreu uma interação e produção de conhecimento, eles
tiveram a oportunidade de ouvir as explicações, manusear os materiais e participar dos
experimentos e jogos didáticos (Figura 4).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5180
a b
c
Figura 4: (a) manuseio de matérias representando a estrutura do solo; (b) alunos em atividade com o jogo
da memória; (c) alunos escrevendo sua mensagem utilizando a tinta feita com pigmento de solo.
As escolas citadas anteriormente foram visitadas e convidadas antecipadamente
para e evento, onde os alunos tiveram a oportunidade de fazer sua inscrição na oficina
de sua escolha. O objetivo principal das oficinas foi reforçar os conceitos relativos à
ciência do solo, familiarizando o aluno a reconhecer a importância do solo,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5181
manuseando, investigando e construindo o conhecimento com uso das atividades
lúdicas (jogos, historias em quadrinhos), dos experimentos e os materiais de apoio
didáticos.
A Tabela 1, abaixo, mostra as oficinas ofertadas pelos alunos bolsistas no turno
da tarde, nos dias 15 e 16 de Abril de 2013.
TABELA 1. LISTA DE OFICINAS E OBJETIVOS OFERTADOS AOS ALUNOS
Oficina Objetivo
Amigos do solo: construindo um terráreo Reconhecer, a importância
dos conceitos da atividade
biológica e respiração do solo.
Conhecendo o museu de rochas e minerais Familiarizar o aluno com
as rochas e seus constituintes
minerais.
Conhecendo os componentes do solo A partir da sensibilização
do tato, manusear
amostras de solos,
permitindo conhecer
seus componentes.
Porosidade do solo: onde fica o ar do solo Entender a importância dos
conceitos da
atividade biológica e
respiração de um solo.
Da rocha ao solo: uma abordagem geográfica Demonstrar o processo de
formação do solo
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5182
deste a rocha matriz até o solo já
formado em
camadas.
Historinha em Quadrinhos (HQ): contos Explorar o conteúdo de
solo, utilizando a e encantos de solo.
revistinha em quadrinhos.
Deslizamento: chovendo no morro Simular o processo de
erosão, através da ação
da água de chuva em solos desmatado
e
em solos com cobertura
vegetal.
O jogo da memória: como o solo é formado Estudar os elementos
formadores do solo,
utilizando o jogo didático.
Solo e água: o processo de infiltração do solo Demonstrar através de
experimentos a capacidade de
infiltração e retenção de
água em diferentes tipos de
solos.
Pintando com os pigmentos do solo Reconhecer os constituintes que dão
cor aos solos e produzir tinta a base
de terra.
A importância da vegetação para o solo. Reconhecer a importância
da vegetação, associando as
características do solo.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5183
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir da observação realizada durante as visitas nas exposições no espaço de
vivência foi possível perceber a curiosidade, o espanto e a empolgação dos alunos frente
aos recursos didáticos. Os alunos se mostraram interessados nas explanações
participaram com indagações e perguntas. Os monitores da disciplina de pedologia
tinham como foco trabalhar as práticas de conservação do solo, para alguns, foi o
primeiro contato com alunos do ensino fundamental e médio. Todos se mostraram
bastante participativos, atenciosos quando as perguntas dos alunos e explicações a cada
momento. Avaliaram o a atividade momento muito rico e agradável em poder
compartilhar o conhecimento.
Como cada oficina compunha de alunos de escolas diferenciadas, houve a
necessidade de realizar um momento de integração e apresentação. Depois de acolhidos
no auditório e apresentados aos monitores, foram divididos em três grupos para uma
visita orientada: ao Museu de rochas e minerais, ao LAPPEGEO e a sala de multimídia
para assistir ao vídeo “Conhecendo o solo”. Após foram encaminhados para as salas de
suas referidas oficinas.
A visita ao Museu de rochas e minerais teve como objetivo oportunizar os
primeiros contatos com os minerais e rochas da região. Reconhecer a importância e
aplicação dos minerais no nosso dia-a-dia motivando ao questionamento contribuindo
para o aprendizado. A visita ao LAPPEGEO oportunizou os alunos a conhecerem os
materiais didáticos que vem sendo produzidos desde 2009. O material é resultado de
uma proposta que vem se configurando no cenário do ensino no Brasil, que é o ensino
por meio de recursos lúdicos como jogos didáticos, desenhos, revista em quadrinho
entre outros. Quando ao Vídeo “Conhecendo o solo” do Projeto de Extensão
Universitária Solo na Escola/UFPR (Lima et al., 2002). Foi utilizado dentro de um
contexto didático no sentido de estimular os alunos para o conhecimento do solo.
Estas atividades introdutórias foram bastante positiva pois nas oficinas os alunos
já estavam bastante estimulados e conseguiram facilmente exprimir sua emoção através
das palavras e organizar seus pensamentos contribuindo assim para o processo de ensino
aprendizagem.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5184
Quanto às oficinas, foram divididas em três momentos: apresentação teórica com
uso dos materiais de apoio didático, posteriormente uso dos experimentos e
apresentação dos trabalhos e avaliação. Na apresentação teórica, os ministrantes
apresentaram um estudo sistemático relacionado a cada tema de sua oficina como:
gênese e evolução dos solos, composição, características físico-químicas tais como:
cores, texturas, porosidade, estrutura. Cada oficina utilizou os materiais didáticos do
LAPPEGEO onde tiveram oportunidade de manusear e executar os experimentos.
A etapa final constitui-se na exposição dos trabalhos produzidos e na avaliação
da oficina. Os materiais didáticos utilizados: jogo da memória, minhocário, cupinzeiro,
simulador de erosão, perfil esquemático do solo, colorteca, granulometria do solo,
coleção de estruturas do solo, jogo de dama peças confeccionadas com solo, revistinha
em quadrinho, entre outros, demonstraram serem ferramentas didáticas importantes para
estimular de forma lúdica os educando, atingindo assim as expectativas do grupo. Foi
conseguido alcançar uma aula interativa e participativa, na qual o processo de ensino
aprendizagem não pode ser considerado como apenas processo de transmissão de
conteúdos.
Os resultados confirmaram a aprovação da produção de material didático como
ferramenta de apoio aos conteúdos de solo aprendidos em sala de aula, promovendo a
materialização dos conceitos, assim como também a leitura. Alguns alunos já haviam
participado de outras oficinas oferecida em outros eventos pelo LAPPEGEO, este fato
nos alegra por perceber em suas falas o entusiasmo e a satisfação por estarem visitando
a universidade e participando de mais um momento de integração do conhecimento.
Na avaliação dos trabalhos os monitores relataram que com a utilização dos
recursos didáticos ocorreu um aumento da concentração dos alunos e da rápida
assimilação do conteúdo, assim, as oficinas tornaram mais dinâmicas e os alunos mais
participativos. Ainda há de se destacar que, o que parecia ser negativo, tornou-se
altamente positivo, dos 150 alunos inscritos, somente compareceram 90 para as 10
oficinas oferecidas, pois o evento coincidiu com a semana de prova. Este fato nos
permitiu proporcionar no segundo dia uma integração com as demais oficinas dando
oportunidade aos alunos participarem de outros experimentos.
CONCLUSÃO
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5185
As atividades propostas foram ferramentas metodológicas importantes que
auxiliaram os alunos na aquisição dos conhecimentos científicos de forma eficaz e
significativa, foi percebido que os materiais e os experimentos ajudaram a criar um
clima de entusiasmo sobre os conteúdos abordados, de forma motivadora. O evento
proporcionou aos alunos situações que favoreceram o reforço da importância do ensino
do solo e de uma visão pedagógica para o trabalho de uso e conservação do solo de
forma sustentável.
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Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5187
OS JOGOS TEATRAIS NO ENSINO DE GEOGRAFIA - EM BUSCA DE
UMA FORMAÇÃO CRÍTICA
Liana Macabu de Sousa Soares1
RESUMO
Este trabalho apresenta uma pesquisa que está sendo iniciada com a proposta de analisar as
práticas pedagógicas experimentadas pelos professores de Geografia com o intuito de propor a
inserção da metodologia dos jogos teatrais nas aulas de Geografia. A motivação desta proposta é
o incentivo de um ensino que busque a partir do espaço vivido dos estudantes propiciá-los
uma construção do conhecimento de forma crítica e vivenciada. Para isto, a pesquisa se baseará
em três perspectivas: geográfica, utilização dos conceitos de produção social do espaço e espaço
vivido, educacional, a partir da abordagem sociocultural e da teoria da aprendizagem
significativa e teatral, metodologia dos jogos teatrais.
Palavras-chave: Ensino de Geografia. Jogos Teatrais. Formação Crítica
INTRODUÇÃO
O trabalho que se apresenta é uma pesquisa em fase inicial, apesar de ser o
desdobramento de pesquisa anterior realizada durante curso de pós-graduação lato sensu
em Ensino de Geografia que culminou com o artigo intitulado “Teatralizando o ensino
de Geografia”. Este trabalho anterior investigou, com base teórica e empírica, a
utilização da metodologia dos jogos teatrais e das peças didáticas de Bertold Brecht no
ensino de Geografia para o Ensino Médio.
A pesquisa realizada anteriormente obteve resultados que estimularam seu
desdobramento nesta pesquisa que ora se apresenta. Foram realizadas, na ocasião,
atividades empíricas com alunos do Ensino Médio que avaliaram a metodologia dos
jogos teatrais utilizada na aula de Geografia, um dos alunos citou que a aula foi “uma
aula criativa que ajuda aos alunos a entenderem melhor o mundo e mostrar uma nova
forma de se ver o mesmo. Vivendo sua realidade”, outro aluno fala da importância da
interação com os colegas “foi legal também a interação direta com os colegas de classe
e com a professora” e outro cita a relação com os conteúdos “a aula foi produtiva, pois
1Mestranda em Geografia pela UERJ/FFP; [email protected]
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5188
uma aula dinâmica e interativa torna o aprendizado bem mais interessante e mais fácil”
e enfatizando a importância de novas formas de ensino-aprendizagem outro aluno diz
que “é muito produtivo quando a aula não se resume a apenas textos e mais textos” e
seu colega conclui que “é interessante inovar a maneira de ensinar para que o aluno
possa “abrir” mais a mente”. (as transcrições das opiniões dos alunos estão apresentadas
no artigo Teatralizando o ensino de Geografia).
Observando os resultados obtidos com a pesquisa anterior objetiva-se ampliar o
estudo sobre a inserção da metodologia dos jogos teatrais no ensino de Geografia a fim
de estimular a construção do conhecimento de forma crítica e vivenciada.
A intenção do presente trabalho é investigar as práticas pedagógicas dos
professores para observar se esta propicia a construção crítica do conhecimento e
aproxima os estudantes do conteúdo estudado, ou seja, o sujeito (aluno) com seu objeto
de estudo, o espaço.
Após esta investigação será proposta uma metodologia baseada nos jogos
teatrais na tentativa de aprimorar o processo de ensino-aprendizagem da Geografia. A
partir desta metodologia espera-se superar algumas barreiras impostas pela utilização de
metodologias tradicionais como as aulas expositivas que, na maioria das vezes, não
propiciam a participação dos alunos e a aproximação com os conteúdos estudados.
O embasamento teórico desta pesquisa será feito a partir da teoria da
aprendizagem significativa, da produção social do espaço e do espaço vivido, da
abordagem pedagógica sociocultural, além da metodologia dos jogos teatrais.
JUSTIFICATIVA
O trabalho se justifica, pois a partir da utilização das diversas linguagens,
sabendo se comunicar e se expressar, os alunos estarão sendo agentes do conhecimento,
“protagonistas do seu fazer-pensar” como nos diz Kimura (2008).
A pesquisa que vise à inserção de uma linguagem diferente ao ambiente escolar
pode ser de interesse dos geógrafos-educadores que buscam utilizar essas linguagens na
construção do conhecimento e na comunicação com os educandos de forma mais
interativa. O teatro é uma linguagem ainda pouco explorada por esses profissionais e
pelos educadores em geral, mas tem muito a contribuir na formação de um pensamento
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5189
geográfico, pois se utiliza da noção de espaço, um espaço que é concebido no texto e
produzido na cena.
Por ser uma proposta ainda pouco analisada, foram encontrados trabalhos
apresentados em eventos como o ENPEG (Encontro Nacional de Práticas de Ensino em
Geografia) e o Colóquio Internacional “Educação e Contemporaneidade” que trazem
uma perspectiva diferente da exposta neste projeto de pesquisa da inserção da
linguagem teatral no ensino de Geografia, pois não utilizam os jogos teatrais como
metodologia de ensino. O estudo da inserção da linguagem teatral no ensino de
Geografia interessa a todos aqueles que apreciando ou não a arte teatral produzem e
reproduzem seu espaço vivido.
OBJETIVOS
Objetiva-se com esta pesquisa avaliar como uma prática mediada pela
metodologia teatral pode contribuir para um ensino-aprendizagem mais crítico,
reflexivo no qual o educando seja protagonista da construção do seu conhecimento.
BASE TEÓRICO-CONCEITUAL
A pesquisa se pauta em três pilares: o pensamento geográfico, a educação e o
Teatro. Diante dessas três abordagens não se pode referenciar a pesquisa em uma
concepção teórica e metodológica única, portanto será baseada nas seguintes: a
produção social do espaço e o espaço vivido (numa perspectiva geográfica), no conceito
de aprendizagem significativa e na abordagem pedagógica sociocultural (numa
abordagem educacional) e na metodologia dos jogos teatrais (fazendo uma ponte entre
os demais elementos com o Teatro).
A concepção de produção social do espaço aparece na obra de Henry Lefebvre,
sendo ele reconhecido como o primeiro a utilizar esta expressão. Lefebvre em seu livro
“A produção social do espaço” divide o espaço em três perspectivas propondo uma
inter-relação dialética entre elas: a prática espacial (espaço percebido), representações
do espaço (espaço concebido) e espaços de representação (espaço vivido). A prática
espacial se refere a forma como geramos, utilizamos e percebemos o espaço, é o espaço
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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concreto, empírico, estão associadas com as experiências da vida cotidiana
(OSLENDER, 2002). As representações do espaço, o espaço concebido tem a ver com
as relações de produção e a formatação espacial que elas impõem, é o espaço dominante
da produção, um espaço concebido pelos cientistas, urbanistas, tecnocratas (SOJA,
2006). Os espaços da representação ou espaço vivido é aquele que comporta todos os
outros espaços reais e imaginários simultaneamente sua principal característica é o
caráter político, este espaço é simbólico e nele se concretizam as relações de produção,
reprodução, exploração, dominação, nele estão contidas todas as escalas é o espaço
dominado das periferias.
Temos, portanto, a concepção de espaço vivido como sendo uma forma de
produção social do espaço baseada numa concepção simbólica repleta de representações
e identidade, mas que não deixa de ter um caráter político, pois é também um espaço de
resistência a dominação.
Essas concepções de espaço socialmente produzido e espaço vivido permeiam a
pesquisa na medida em que abrem caminho para uma construção crítica do
conhecimento do conceito de espaço geográfico e das práticas espaciais inerentes a ele e
para um entendimento das relações espaciais e sociais vivenciadas pelos educandos nos
seus espaços de vivência cotidiana.
A teoria da aprendizagem significativa foi elaborada por David Ausubel e está
baseada na ideia de que para se desenvolver uma aprendizagem realmente significativa,
esta deve se relacionar àquilo que o aluno já sabe. De acordo com Ausubel, “se tivesse
que reduzir toda a psicologia educacional a um só princípio, diria o seguinte: o fator
isolado mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aprendiz já sabe.
Averigue isso e ensine-o de acordo.” (AUSUBEL, 1978, p. iv apud MOREIRA, 2006,
p. 13). Esse conhecimento que o aluno já sabe se refere à estrutura cognitiva, quer dizer,
ao conteúdo total e organização das ideias do indivíduo.
Relacionando esta teoria a proposta deste projeto em trabalhar a Geografia por
meio da metodologia teatral, encontra-se a teoria de ensino baseada nos jogos teatrais.
Os jogos teatrais propiciam uma aprendizagem significativa, pois durante o jogo o
jogador tem que demonstrar seu conhecimento prévio sobre o assunto que irá
representar e através da interação com os outros jogadores ele vai incorporando novas
perspectivas a sua ação inicial. Temos assim, a ideia de Ausubel de que para que o
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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educando realmente aprenda deve-se partir de seus conhecimentos prévios para depois
introduzir os novos conceitos.
A abordagem sociocultural está pautada na concepção de que o aluno deve ser
sujeito ativo de seu processo de construção de conhecimento.
A Geografia deve incentivar o aluno a ler o mundo com olhar observador,
desafiado e desafiador, buscando uma leitura plural da realidade para que se amplie o
horizonte de conhecimento e análise do observador-leitor. Nesta perspectiva, o teatro
surge como um aliado na busca por olhares diferentes sobre a realidade. Propõe uma
abertura para a espontaneidade; a criatividade e o trabalho coletivo. Um ensino, no qual
os alunos atuem como agentes de seu conhecimento, com autonomia e liberdade, e os
professores mediem, coordenem e direcionem as ações a serem realizadas. Como nos
diz Paulo Freire, “ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando” (FREIRE,
2004, P.59). Desta forma, aliando a Geografia à arte teatral, enriquece-se o aprendizado
daquela disciplina, tornando-a desafiadora.
O conceito de jogos teatrais foi formulado pela professora, atriz e diretora teatral
Viola Spolin. A pedagogia criada por ela enfatizava a dimensão improvisacional do
fazer teatral e a importância das interações subjetivas na construção de sentidos da
representação teatral (JAPIASSU, 2008).
Nos jogos teatrais, cada indivíduo tem a oportunidade de experienciar um
processo e aprender a partir dele. Esta proposta metodológica exige objetividade e
clareza de propósito por parte dos jogadores que devem estar empenhados em resolver
ativamente as situações propostas.
Os jogos estimulam a criatividade, a capacidade de se expressar e de resolver
problemas. Além da expressão oral, a corporal também é estimulada e os participantes
têm a oportunidade de aprender na prática experimentando situações e quebrando
estereótipos.
Os jogos teatrais são uma das formas de estimular a criatividade dos alunos, pois
prevê que os alunos enquanto jogadores exponham suas opiniões e visões de mundo a
partir da temática geradora da ação.
METODOLOGIA
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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O método a ser utilizado na pesquisa será o da investigação bibliográfica sobre o
tema, que servirá de embasamento teórico desta proposta de ensino de Geografia por
meio da metodologia teatral. A proposta é que sejam realizadas atividades práticas com
alunos do segundo segmento do ensino fundamental da rede municipal de Campos dos
Goytacazes, com o objetivo de validar a pesquisa.
Será realizado acompanhamento pedagógico com os professores de Geografia
que serão capacitados com o intuito de utilizarem os jogos teatrais em suas aulas. As
aulas serão observadas e seus resultados analisados para a elaboração do trabalho final.
O papel da pesquisadora será de capacitar os professores e auxiliá-los na realização das
atividades, além da coleta dos resultados alcançados. Após a realização das aulas os
professores e alunos serão entrevistados para exporem suas impressões sobre a
metodologia utilizada.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
29.ed. São Paulo: Paz e Terra,2004.
JAPIASSU, Ricardo. Metodologia do Ensino de Teatro. 7.ed. Campinas,SP: Papirus,
2008.
KIMURA, Shoko. Geografia no ensino básico: questões e propostas. São Paulo:
Contexto, 2008.
MOREIRA, Marco Antônio. A teoria da Aprendizagem Significativa: e sua
implementação em sala de aula. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2006.
OSLENDER, Ulrich. Espacio, lugar y movimientos sociales: hacia una “espacialidad de
resistencia”. Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales,
Universidad de Barcelona, vol. VI, núm. 115, 1 de junio de 2002.
http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-115.htm[ ISSN: 1138-9788]
SOJA, Edward. Thirdspace. USA/UK/Australia: Blackwell Publishing, 2006, pp. 53-82.
Cap. 2 (“The Trialetics of Spaciality”).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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“QUEM CANTA SEUS MALES ESPANTA”? O DESEJÁVEL E O POSSÍVEL
NO EMPREGO DA LINGUAGEM MUSICAL NO ENSINO DE GEOGRAFIA.
José Américo Cararo1
RESUMO
A experiência relatada neste trabalho, ocorreu no contexto do Programa Institucional de Bolsa
de Iniciação à Docência (PIBID), desenvolvido na Escola Municipal de Ensino Fundamental
Aristóbulo Barbosa Leão (Vitória/ES), tendo a participação de seis turmas de alunos dos anos
finais do ensino fundamental, dos sete alunos bolsistas do PIBID, da professora supervisora e do
professor coordenador. Recorrendo ao emprego da linguagem musical, foram trabalhadas três
músicas em gravações originais do vasto repertório do cantor e compositor Luiz Gonzaga, cujo
centenário comemoramos no ano passado. A clássica “Asa Branca”, envolvendo as turmas do 7°
ano, “Assum Preto”, com as turmas do 6° ano, e “Xote das Meninas”, com as turmas do 8°e 9°
anos. Buscou-se explorar temas geográficos de âmbitos natural e humano presentes nas letras
das músicas, bem como temas transversais (questões de gênero, sexualidade e adolescência,
namoro e afetividade). Os procedimentos metodológicos adotados foram: aulas expositivas,
pesquisas na biblioteca e laboratório de informática, palestras, seguidas de debates, visitas
extraescolares, exibição de audiovisuais e audição de músicas. Além das atividades
desenvolvidas em sala de aula, organizaram-se apresentações artísticas num Sarau Geográfico,
apresentado no final do ano letivo, envolvendo a dança e a expressão corporal. Estas atividades,
proporcionaram uma maior articulação interdisciplinar com as áreas de Artes e Língua
Portuguesa. Os resultados do projeto, apesar de alguns imprevistos, além das tensões e
ambiguidades inerentes às realidades escolares brasileiras atuais, nos indicam o quanto é
necessário pesquisar, planejar e implementar procedimentos metodológicos que interfiram
positivamente na aprendizagem geográfica estudantil.
Palavras chave: ensino de Geografia, linguagem musical, PIBID.
INTRODUÇÃO
Em uma de suas obras (2003), o sociólogo Boaventura de Souza Santos, acentua
que as ciências sociais precisam analisar de forma mais articulada e sistemática aquilo
que ele denomina problemas fundamentais do nosso tempo, ou seja, desafios e
1Universidade Federal do Espírito Santo – Centro de Educação – UFES/CE; [email protected];
O presente trabalho foi realizado com apoio do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência -
PIBID, da CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5194
demandas presentes em nossas instituições e práticas, geradores de contradições e
injustiças, que ocorrem com diferentes intensidades nos variados setores da vida social.
Assim, no espaço-tempo mundial, por exemplo, palco de crescentes conflitos de
interesses e vantagens entre o Norte e o Sul, há, para esse autor, três problemáticas
básicas a serem analisadas: a explosão demográfica, a globalização da economia e a
degradação ambiental.
Trata-se de fenômenos abrangentes que envolvem inúmeros elementos
correlacionados, cuja compreensão passa obrigatoriamente, também, pelo olhar
geográfico. Assim, a importância dos conhecimentos geográficos para os alunos não se
encerra apenas na compreensão das lógicas e interesses que comandam a organização
espacial contemporânea. Intimamente correlacionada com esse papel, há uma dimensão
cidadã, que implica no reconhecimento de que eles devam ser protagonistas nas
transformações que se fizerem necessárias, para que a construção desse espaço seja
mais justa e democrática. Que sejam capacitados a assumir atitudes propositivas,
solidárias e comprometidas com a preservação dos recursos naturais e as aspirações e
necessidades daqueles a quem são negados ou restringidos os direitos humanos básicos,
inclusive, muitas vezes, eles e suas famílias.
Professores que desejam assumir de fato que sua área do conhecimento pode
desempenhar um papel social tão relevante, se deparam, contudo, com três questões
fundamentais: o que ensinar, para que ensinar e como ensinar.
Este artigo tem como foco a terceira demanda docente (como ensinar), embora
tenhamos a clareza de que elas devam ser inter-relacionadas em nossas formas de
pensar e fazer Geografia, sob a pena de sucumbirmos a análises e práticas unilaterais e
fragmentadas. Assim, nosso propósito aqui é examinar os campos de possibilidades da
linguagem musical para uma aprendizagem geográfica significativa e de relevância
social, enredada com aspectos mais amplos no campo da educação e da cultura.
Acentuaremos uma experiência desenvolvida com o uso da linguagem musical
no âmbito do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), no qual
somos coordenador de área na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A
experiência se concretizou numa escola de ensino fundamental da cidade de Vitória.
O PIBID é um projeto da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), órgão vinculado ao MEC. Podemos afirmar que sua meta principal é
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5195
qualificar a formação inicial de professores nos cursos de licenciatura existentes nas
instituições federais de ensino superior. No texto de sua portaria de criação, destaca-se
como um dos objetivos específicos:
Inserir os licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de educação,
proporcionando-lhes oportunidades de criação e participação em experiências
metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar
que busquem a superação de problemas identificados no processo de ensino-
aprendizagem (CAPES, 2010, p. 3).
Nota-se neste objetivo uma preocupação pertinente da CAPES/MEC em
estimular os licenciandos na pesquisa e concretização de procedimentos metodológicos
que interfiram positivamente na aprendizagem estudantil. No rol de possibilidades que
esse campo de investigação oferece aos licenciandos, salientamos aqui uma experiência
com o emprego da linguagem musical.
A música é onipresente no cotidiano do povo brasileiro. Por meio do rádio,
televisão ou internet, seja no trabalho, em casa, nos automóveis, nos ônibus, trens e
metrôs, de bicicleta, seja caminhando/correndo, na intimidade dos aparelhos de ouvido
ou abertamente. Também em inúmeras manifestações populares, como o carnaval e as
grandes festas juninas no Nordeste, por exemplo, ou ainda nas igrejas e bares, numa
variedade de celebrações e eventos/momentos.
E nas escolas? Em que situações e contextos o seu emprego ocorre? Quais os
principais desafios didático-pedagógicos enfrentados pelo professor de Geografia que
deseja usá-la em seu trabalho? Aqui, pretendemos compartilhar, pistas e indícios, além
de anseios e contradições que perpassam o trabalho com essa forma de linguagem.
A prática aqui evidenciada ocorreu na Escola Municipal de Ensino Fundamental
Aristóbulo Barbosa Leão, situada num bairro de classe média alta de Vitória-ES. Apesar
disso, atende majoritariamente estudantes mais pobres, moradores dos morros do
Cruzamento e da Floresta, localizados no seu entorno.
Este estabelecimento de ensino possui uma estrutura física excelente, com
auditório climatizado e equipado com data show, dois laboratórios de informática de
tamanhos diferenciados, um com capacidade para atender turmas regulares de alunos e
outro menor para uso do corpo docente em horários de planejamento. Além disso, conta
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5196
com uma ampla quadra coberta, ótimo refeitório, biblioteca com acervo variado de
obras, coordenada por profissional com formação superior e confortável pátio central
para os momentos de recreio. Some-se a isto a boa qualidade e disponibilidade de
recursos didáticos para uso docente.
Estes aspectos favoráveis, todavia, não garantem por si sós um aprendizado
discente que possa ser considerado satisfatório. Um considerável número de alunos
apresenta dificuldades no âmbito da leitura e escrita, o que repercute, também,
negativamente no ensino de Geografia. Apesar disso, não faltam, nesta escola,
profissionais comprometidos com a tarefa/desafio de melhorar o rendimento escolar
estudantil, entre os quais, a professora de Geografia, Lucianne Sarmento Firme
Soneguetti, que é parceira do PIBID, ocupando a função de professora supervisora.
Aproveitando uma prática pedagógica já realizada por esta professora, qual seja,
a realização de Saraus Geográficos no último trimestre do calendário escolar, tivemos a
ideia de escolher como tema central deste evento no ano passado, “A Geografia de Luiz
Gonzaga”, pois em 2013 se comemorou o centenário de nascimento desse grande cantor
e compositor brasileiro, que “...teve decisiva participação histórica dentro da afirmação
de uma cultura nacional mais ligada às fontes telúricas do próprio Brasil” (ALBIN,
2003, p. 142). Além disso, é inegável o conteúdo geográfico de suas composições,
sobretudo em parcerias com Humberto Teixeira, Zé Dantas, entre outros, retratando
com talento e sensibilidade as paisagens e lugares, os dramas e alegrias de sua terra e de
sua gente nordestina, tantas vezes subjugada pelo domínio da cerca e da seca.
Constatamos, por outro lado, que a rica produção musical de cunho geográfico
de Luiz Gonzaga ainda era pouco ou praticamente desconhecida dos alunos bolsistas do
PIBID e da professora supervisora.
Esta evidência vai de encontro às considerações de Ferreira (2005), que enfatiza
uma vantagem e uma desvantagem no uso da música no ensino de qualquer disciplina.
No primeiro caso, é a possibilidade de minimizar e/ou romper com o domínio do
verbalismo na interação docente-discente. Bem sabemos o quanto tem sido questionada
a quase hegemonia das aulas expositivas na prática docente e seu efeito desmotivador
na aprendizagem estudantil. Desse modo, a linguagem musical é um segundo caminho
comunicativo. Como desvantagem, esse autor aponta a amplitude e a complexidade
dessa forma de expressão humana, desafiando o professor a potencializar o sentido da
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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audição, pesquisando e estudando a riqueza de gêneros e estilos, a fim de melhor utilizá-
los em seu trabalho.
Entendemos essa segunda dimensão mais como um desafio permanente do que
uma desvantagem. Lançar um olhar multifacetado acerca da utilização da linguagem
musical no ensino de Geografia nos interpela para a análise de fatores internos e
externos à escola e à nossa disciplina, os quais, interconectados, têm implicações sobre
a prática docente.
Desse modo, já esperávamos uma reação estudantil de estranhamento quando da
audição das músicas que selecionamos para serem apresentadas no Sarau Geográfico.
Com exceção de “Asa Branca”, um clássico da música popular brasileira e bastante
conhecida, as demais canções selecionadas (“Assum Preto” e “O Xote das Meninas”),
foram ouvidas inicialmente por muitos alunos com um misto de sarcasmo, gozação,
curiosidade, mesmo porque eram gravações originais, interpretadas pelo prório Luiz
Gonzaga. Parecia que eles nos indagavam: “Que músicas ‘alienígenas’ são essas?”
Reação compreensível se atentarmos para o fato de que na atualidade a nossa
variadíssima Música Popular Brasileira (MPB), que abarca uma multiplicidade de
ritmos e gêneros (samba, choro, rock, rap, funk, baião, forró, romântico, xote, xaxado,
caipira/sertanejo, etc), com produtos/processos inseridos no contexto de uma “bendita
mestiçagem” (ALBIN, 2003, p. 16), vê-se geralmente reduzida pela mídia,
principalmente os canais de rádio e TV, a uns poucos gêneros, ou então é segmentada
em canais e horários vinculados a grupos e classes sociais, direcionando muitas vezes os
gostos e fortalecendo interesses puramente mercadológicos.
A esta altura, emerge a questão: tal riqueza musical do nosso país está tendo
espaço-tempo no cotidiano das aulas de Geografia? Professores alargam
suficientemente o sentido da audição para ouvir/conhecer/difundir outros ritmos
diferentes e destoantes daqueles massificados na mídia brasileira, sobretudo nas
programações radiofônicas e televisivas de maior audiência? Estamos atentos aos gostos
musicais de nossos alunos, procurando incorporá-los em nossas práticas, entrelaçando-
os também com a impressionante variedade de outros gêneros presentes em nosso país?
Eis aqui um aspecto essencial para aqueles que desejam incluir/ampliar a
presença da linguagem musical em sua prática pedagógica: um trabalho investigativo
permanente acerca dos perfis socioculturais dos alunos com os quais convive, incluídos
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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aí os gostos musicais. O que ouvem? Por que ouvem? Como ouvem? Em que contextos
e situações escutam músicas? Que significados atribuem às mensagens difundidas em
suas letras? Assimilam/internalizam mecanicamente tais narrativas? Quais delas podem
ser incorporadas ao ensino de Geografia?
Nesse sentido, as criações musicais que interessam ao ensino da Geografia
expressam diferentes significados que seus autores atribuem às relações deles e das
pessoas com os múltiplos lugares onde vivem/convivem. Também com as paisagens
que conhecem diretamente ou por meio das imagens divulgadas pela mídia, nas
contraditórias relações das sociedades com a natureza, nas visões que socializam de
povos que habitam os muitos territórios da superfície terrestre, com suas práticas
culturais e dilemas.
Tais significados espaciais e temporais não estão isentos das relações de poder
assimétricas que se estabelecem entre classes e grupos sociais, organizações e países.
Assim, diversas são as canções brasileiras, cujos autores assumem um inequívoco
posicionamento de solidariedade e defesa de grupos sociais apartados de direitos
humanos fundamentais, oprimidos em contextos espaciais injustos.
Foi com a clareza destas questões extraescolares que optamos por explorar
geograficamente as três músicas mencionadas anteriormente. “Asa Branca”, foi
trabalhada com os alunos do 7° ano, salientando-se os seguintes temas: aspectos
naturais e humanos das sub-regiões nordestinas, a indústria da seca, ação da SUDENE
em prol da melhoria das condições socioeconômicas do nordeste, alternativas de
soluções de enfrentamento da semi-aridez e características naturais e socioeconômicas
do norte capixaba, microrregião incluída na SUDENE.
Na música “Assum Preto”, utilizada com as duas turmas de alunos do 6° ano,
explorou-se as seguintes temáticas: sustentabilidade – significados e importância,
alternativas e práticas de uso sustentável dos recursos naturais, análise das ações
desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Vitória (SEMAM),
Instituto Estadual de Meio Ambiente (IEMA) e Polícia Ambiental e análise da
importância das áreas verdes para a qualidade de vida dos moradores da cidade.
Quanto à música “O Xote das Meninas”, trabalhada com os alunos dos 8° e 9°
anos, abordou-se os temas: estrutura e crescimento da população brasileira, questões de
gênero, estudos e namoros, relevância dos estudos na vida pessoal e profissional,
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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sexualidade e afetividade, gravidez na adolescência e políticas públicas nacionais,
estaduais e municipais de prevenção das DSTs e da gravidez inoportuna. Note-se que
muitos não são temas especificamente geográficos, mas que interferem
significativamente no processo educativo, merecendo ser trabalhados de forma
intencional e sistematizada também na Geografia.
Além deste trabalho em sala de aula, inserimos, como já salientamos, as três
músicas no Sarau Geográfico. “Asa Branca” teve uma apresentação, alternando-se o
ritmo original com o ritmo do rap, sendo muito bem dançada por três alunos do 7° e 8°
anos. “Assum Preto” foi encenada por alunos do 7° ano, com gestos e um figurino
especial, criado pela professora de Artes da escola. Já “O Xote das Meninas” esteve
presente no palco do auditório por meio de uma divertida dança realizada por doze
casais de alunos dos 8° e 9° anos.
Os procedimentos metodológicos empregados foram: leituras e pesquisas nos
livros didáticos, em periódicos, na biblioteca e no laboratório de informática, confecção
de painéis, uso de audiovisuais, seguidos de debates e exercícios escritos, audição de
músicas, palestras e relatos, apresentações artísticas e visitas externas à escola.
De modo geral, os resultados alcançados foram satisfatórios, motivando o
espírito investigativo, a curiosidade, a criticidade e a criatividade dos alunos. Ainda
enfrentamos uma certa resistência para um trabalho mais interdisciplinar, posto que, o
grupo de professores da escola é muito grande (são 16 turmas, 8 dos anos iniciais do
ensino fundamental e oito dos anos finais). Já há, entretanto, uma maior articulação com
as áreas de Língua Portuguesa e Artes, cuja professora montou com os alunos o painel
que enfeitou o palco durante a apresentação do Sarau Geográfico, além do apoio
significativo das pedagogas.
Um fato inusitado, todavia, ocorreu durante a realização deste evento artístico.
As apresentações ocorreram para todas as turmas da escola. No horário anterior ao
recreio para as turmas dos anos iniciais, e no momento após o recreio, para as turmas
dos anos finais. Durante o intervalo entre uma apresentação e outra, grupos de alunos
começaram a apelidar a aluna que representava o Assum Preto, chamando-a de urubu.
Aos prantos e tremendo, essa aluna optou por não fazer a segunda apresentação.
Tivemos, então, sobretudo os alunos bolsistas que organizaram e ensaiaram esta
apresentação, que acionar a nossa capacidade de convencimento, para que ela mudasse
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5200
de ideia. Após uma persistente conversa, a mesma decidiu se apresentar de novo, com a
condição de retirar a parte superior da fantasia.
Este fato nos alerta para um aspecto muito presente no cotidiano das escolas
públicas atuais: seus profissionais enfrentam a todo momento situações e
acontecimentos imprevistos, tensos, desconcertantes, provocando reações de
perplexidade, impotência e mesmo desânimo.
As conversas e entrevistas com professores brasileiros falam de que eles se sentem
começando a cada dia. Nunca sabem o que vai acontecer. Que estão sempre estreando
no enfrentamento de novos perigos, para os quais nunca foram preparados. Que nestes
últimos anos os discursos sobre a escola se desencontram fortemente das práticas
escolares. Que os interlocutores dos professores e estudantes mudaram, mudaram muito
(LINHARES, 2001, p. 48).
Essas experiências negativas, contudo, não devem nos desanimar ou coagir.
Kaercher (2007), ao propor uma atividade de colagem com músicas, utilizando-se
imagens e desenhos, nos recorda a necessidade de uma atitude paciente dos professores
com as produções estudantis, que certamente não serão todas da mesma qualidade e
criatividade. Embora o autor esteja se referindo aqui às atividades realizadas pelos
estudantes, partindo da livre escolha de uma música versando sobre a natureza ou
questões sociais, a recomendação da postura paciente aplica-se bem aos momentos em
que escolhemos e utilizamos músicas para trabalhar temas geográficos diversos.
Outra menção que se aplica bem a esse contexto do emprego da linguagem
musical é a de Castrogiovanni (2007, p. 45): “Os adolescentes apresentam, como
formade defesa e de resistência, um certo grau de ironia, e, até, de agressividade. O
desinteresse dos alunos deve ser combatido com temas atuais, e pode-se procurar
identificar as características do grupo para envolvê-lo”.
Como nos recordam João Bosco e Aldir Blanc na música “Jeitinho Brasileiro”,
“Topada também toca pra frente”. Nesses momentos, sobretudo, não podemos abdicar
de aprender sempre, de não “entregar os pontos”. Oportuna é a recomendação de outro
trecho dessa mesma música: “Viver, viver com a pulga atrás da orelha, quanto mais
coçar/ Sorrir, cantar, cantar com o prego no sapato pra peteca não cair”.
A experiência com o PIBID-Geografia têm nos mostrado o quanto é necessário e
importante um esforço sistemático e intencional no sentido de se investigar novos
procedimentos de ensino que proporcionem uma aprendizagem geográfica mais
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5201
qualitativa dos alunos. Uma das frentes para se concretizar satisfatoriamente essa
demanda pedagógica, é intensificar e potencializar redes de diálogos e
compartilhamentos dos saberes pedagógicos relacionados ao ensino de Geografia,
produzidos no âmbito acadêmico e as complexas e múltiplas realidades escolares e
docentes. Acreditamos que este tem sido um dos méritos do PIBID: instigar os
licenciandos bolsistas na pesquisa e estudo destas alternativas e possibilidades
metodológicas. “O desafio está na mediação entre o saber acadêmico e o saber escolar
(ensinado), na medida em que o professor deve incorporar as mudanças propostas pelo
sistema escolar e organizar o currículo com base nos pressupostos teórico-
metodológicos da geografia e da pedagogia (CASTELLAR; VILHENA, 2010, p. 6).
No âmbito da interconexão música-ensino de Geografia, já há contribuições
teórico-metodológicas relevantes com as quais podemos dialogar. Carney (2007, p. 146-
147), por exemplo, nos recorda que “...a música ajuda a criar uma ligação emotiva
humana a um lugar particular, seja ele o lar, a vizinhança, a cidade, o estado, a região ou
a nação. A música específica de um lugar está carregada de sentidos reais e simbólicos”.
Temos, em nossa música popular brasileira, uma infinidade de
referências às diferentes escalas geográficas, partindo-se de variados ritmos e gêneros
ou da mistura deles. Cumpre pesquisarmos e explorarmos as potencialidades que cada
um deles nos oferecem nos estudos geográficos. Assim, sua utilização em momentos
variados do cotidiano escolar, como apresentação de peças teatrais, jograis, realização
de saraus geográficos, produção de paródias, produção audiovisual, articulando som,
imagem e texto, não só é válida, como necessária. O grande desafio docente é “ampliar
as possibilidades de conhecimento, o que significa ampliar as redes de saberesfazeres
existentes (FERRAÇO, 2005, p. 21), ou seja, no nosso caso, interconectar sempre as
letras das músicas com as experiências e práticas socioespaciais discentes, favorecendo
uma melhor compreensão dos fenômenos naturais e humanos presentes no processo de
organização do espaço geográfico.
Já que estamos falando de música, concluímos este texto com uma bela criação
de Ivan Lins. Articulando-a com o trabalho docente, entendemos que nos exorta a uma
busca permanente de novos significados para a nossa prática pedagógica. Procura
repleta de dúvidas, angústias, incertezas, frustrações, equívocos, mas, também, de
alegrias e esperanças, se for realizada com afinco e compromisso ético-político.
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Daquilo que eu sei/
Nem tudo me deu clareza/
Nem tudo foi permitido/
Nem tudo me deu certeza.../
Daquilo que eu sei/
Nem tudo foi proibido/
Nem tudo me foi possível/
Nem tudo foi concebido.../
Não fechei os olhos/
Não tapei os ouvidos/
Cheirei, toquei, provei/
Ah Eu!/
Usei todos os sentidos/
Só não lavei as mãos/
E é por isso que eu me sinto/
Cada vez mais limpo!/
Cada vez mais limpo!/
Cada vez mais limpo! (LINS,
1998).
REFERÊNCIAS
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BOSCO, João; BLANC, Aldir. Jeitinho brasileiro. In: Simone: Desejos. Rio de Janeiro:
Sony Music, 1984. 1 CD, faixa 2.
BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Normas Gerais do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência
(PIBD). 2010, p. 3.
CARNEY, George O. Música e lugar. In: CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDAHL,
Zeny (Orgs.). Literatura, música e espaço. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2007. p. 123-150.
CASTELLAR, Sônia; VILHENA, Jerusa. Ensino de geografia. São Paulo: Cengage
Learning, 2010.
CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos. Para entender a necessidade de práticas
prazerosas no ensino de geografia na pós-modernidade. In: REGO, Nelson;
CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos; KAERCHER, Nestor André (Orgs.). Geografia:
práticas pedagógicas para o ensino médio. Porto Alegre: Artmed, 2007, p. 35-47.
FERRAÇO, Carlos Eduardo. Currículo, formação continuada de professores e cotidiano
escolar: fragmentos de complexidade das redes vividas. In: ______ (Org.). Cotidiano
escolar, formação de professores(as) e currículo. São Paulo: Cortez, 2005. p. 15-42.
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5203
FERREIRA, Martins. Como usar a música na sala de aula. 4. ed. São Paulo:
Contexto, 2005.
KAERCHER, Nestor André. Práticas pedagógicas para lerpensar o mundo,
converentendersar com o outro e entenderscobrir a si mesmo. In: REGO, Nelson;
CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos; KAERCHER, Nestor André (Orgs.). Geografia:
práticas pedagógicas para o ensino médio. Porto Alegre: Artmed, 2007, p. 35-47.
LINHARES, Célia Frazão S. Múltiplos sujeitos da educação: a produção de sujeitos e
subjetividades de professores e estudantes. In: CANDAU, Vera Maria (Org.). Ensinar e
aprender: sujeitos, saberes e pesquisa. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001, p. 43-54.
LINS, Ivan. Daquilo que eu sei. In: LINS, Ivan. Millennium: 20 músicas do século XX.
São Paulo: Universal Music, 1998, 1 CD, faixa 7.
SANTOS, Boaventura de Souza. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-
modernidade. 4. ed. São Paulo: Cortez, 1997.
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EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA E JOGOS DIGITAIS: CONSTRUINDO
POSSIBILIDADES PARA A COMPREENSÃO DO ESPAÇO
BRANDÃO, Inaiá1
HETKWOSKI, Tânia Maria2
NASCIMENTO, Fabiana dos Santos3
PEREIRA, Tânia Regina Dias Silva4
RESUMO
O contexto da sociedade contemporânea, marcado pelos avanços das Tecnologias da Informação
e Comunicação (TIC), tem demonstrado diferentes formas de construção do conhecimento, de
se comunicar e de se relacionar com o espaço. Os jogos-simuladores digitais, hoje facilmente
encontrados nas redes sociais digitais, são um potencial quanto às possibilidades de percepção
dos sujeitos no que tange o funcionamento das cidades e a dinâmica do espaço a partir dos
ambientes de simulação. Nesse sentido, esse trabalho tem o objetivo de discutir as
potencialidades dos jogos-simuladores digitais no entendimento do espaço e suas possibilidades
na Educação Geográfica. Para isto, utilizamos como pressuposto metodológico a pesquisa
participante junto aos alunos do 4º ano do Ensino Fundamental I de uma escola da Rede Pública
de Ensino da cidade do Salvador/BA, além da metodologia colaborativa, visando à concepção,
construção e avaliação das atividades relacionadas ao jogo-simulador Kimera: Cidades
Imaginárias. Com isto, ressaltamos a importância dos pressupostos que compõem o referido
jogo, que baseado nos conhecimentos sobre o espaço possibilita a simulação de cidades
imaginárias, valorizando as referências dos indivíduos construídas nas vivências com seus
espaços. Assim, pretendemos abordar pontos de discussão acerca dos conhecimentos atinentes
ao espaço e suas categorias de análise (lugar e paisagem), à relevância da Educação Geográfica
para o entendimento do espaço, às possibilidades dos jogos-simuladores (e seu potencial
geotecnológico) na construção de estratégias no âmbito da geografia escolar. Neste sentido, a
partir da articulação com os sujeitos e a integração no lócus da pesquisa foi possível perceber a
imersão dessas crianças no mundo dos jogos e a importância destes para o entendimento do
espaço, bem como as possibilidades para a Educação Geográfica.
Palavras Chaves: Educação Geográfica; jogos-simuladores; compreensão do espaço.
INICIANDO A CONVERSA...
1 UNEB; [email protected]
2 UNEB; [email protected]
3 UNEB; [email protected]
4 UNEB; [email protected]
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A revolução técnica-científica-informacional iniciada na segunda metade do
século XX, constituiu-se no nascedouro da dinâmica da sociedade contemporânea, onde
as Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC possibilitou alterações nas relações
com tempo e espaço. Neste contexto, em que se constroem novas possibilidades de
comunicação e fluxos de informações, diversas tecnologias surgiram ou foram
aprimoradas e fazem parte do cotidiano dos sujeitos, inseridos nas suas relações sociais
e consequentemente nas relações no/com o espaço. Com isso estabelece-se cada vez
mais a necessidade de discutir a inserção das TIC na construção de estratégias de ensino
e aprendizagem na escola, a fim de mantê-las articuladas com a dinâmica social na qual
estão inseridas.
Nesta perspectiva, o Grupo de Pesquisa em Geotecnologias, Educação e
Contemporaneidade (GEOTEC) desenvolve, desde 2007, diversos projetos relacionados
às potencialidades das TIC na educação, discutindo questões que perpassam por temas
como: as geotecnologias e suas potencialidades no entendimento do espaço; a
relevância da educação cartográfica nos anos iniciais; o redimensionamento dos
conceitos de espaço e lugar; novas práticas e metodologias de ensino de Geografia nos
anos iniciais; e jogos digitais. Deste modo, pretendemos discutir nesse trabalho as
potencialidades dos jogos-simuladores digitais para compreensão dos espaços e suas
possibilidades na Educação Geográfica, a partir das experiências construídas no projeto
Kimera: cidades imaginárias.
O referido projeto é desenvolvido pelo GEOTEC / UNEB, em parceria com a
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Empresa CONEXUM,
visando à construção colaborativa de um jogo-simulador de cidades, com objetivo de
criar possibilidades para o redimensionamento dos pressupostos da cartografia, a fim de
redimensionar a compreensão do espaço vivido, percebido e concebido pelos sujeitos, a
partir da simulação de cidades imaginárias, possibilitando pensar o lugar onde vivem.
(HETKOWSKI et. al, 2012).
Desta forma, o jogo-simulador Kimera constitui-se como um espaço –
simulacro, onde as crianças tem a possibilidade de pensar, relacionar e representar
cidades vividas, “concretas” e imaginárias, explorando dinâmicas e processos que
permeiam o entendimento do espaço. Assim, o Kimera proporciona, a partir da
percepção, interpretação constituída na relação entre o mundo da imaginação, do desejo
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5206
com o mundo “real”, que seus jogadores construam noções de representação,
lateralidade, escala, bem como de outros conceitos relacionados ao processo de
Educação Geográfica. Sendo assim, entendemos que os jogos podem contribuir para a
construção de novas estratégias na Geografia escolar, pautadas na valorização do
indivíduo e de suas vivências construídas com / no espaço.
Deste modo, com este trabalho, pretendemos levantar pontos de discussão acerca
dos conhecimentos atinentes ao espaço e suas categorias de análise (lugar e paisagem), à
relevância da Educação Geográfica para o entendimento do espaço, às possibilidades
das geotecnologias (em especial os jogos-simuladores) e as Tecnologias da Informação
e Comunicação no redimensionamento de práticas pedagógicas no que tange à geografia
escolar.
A EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA E A COMPREENSÃO DO ESPAÇO.
O estudo do espaço geográfico está presente desde os primeiros anos da vida
escolar dos estudantes. A relação do ser humano com o espaço, entretanto, acontece
desde o nascimento no qual iniciamos, a partir da percepção e da interação, uma
construção simbólica do espaço em que vivemos, e ampliamos com o tempo a
compreensão do mundo, entendendo e reconhecendo sua complexidade, em um
processo que se constrói socialmente (CALLAI, 2005). A noção espacial é uma noção
social, é cultural e é signo, constituída a partir do contexto que os sujeitos estão
inseridos, em um processo constante de aprendizagem, onde são/estão no espaço
(LOPES 2011).
Destarte, o espaço pode ser considerado, conforme Santos (1997), como uma
estância da sociedade, sendo essencialmente social, uma vez que é produzido e
transformado pela ação dos homens sobre o próprio espaço, por intermédio dos objetos
naturais e artificiais. Nesta concepção, o mesmo autor afirma que o espaço pode ser
entendido como um sistema de objetos e um sistema de ações.
O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de
sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerado isoladamente, mas como o
quadro único no qual a história se dá. [...] interagem, de um lado, os objetos que
condicionam a forma como se dão as ações e, de outro lado, o sistema de ações leva à
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5207
criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes. (SANTOS, 2006, p.
39)
O sistema de objetos é formado por tudo que existe na superfície terrestre, ou
seja, os elementos naturais e os elementos culturais (resultantes da ação humana), além
das forças produtivas. Enquanto o sistema de ações consiste nas relações humanas, é o
resultado da necessidade do ser humano de construir e agir sobre os objetos,
responsáveis por atribuir funcionalidade e significado aos objetos, fazendo com que
estes se tornem instrumentos inseridos na vida humana. Desta forma, tem-se a
necessidade de adotar a sociedade como ponto de partida para o desenvolvimento de
atividades no âmbito escolar, entendendo que o espaço é resultado das ações humanas, o
que evidencia seu caráter fundamentalmente social.
Essas reflexões desencadeiam na construção sobre uma concepção de Educação
Geográfica, baseada na superação do ensino pautado na massificação de conteúdos,
procurando torná-los significativos à vida do aluno, sendo a análise espacial a base deste
processo (CALLAI, 2011). Pode-se inferir assim, numa abordagem ainda mais ampla,
entendendo que a Educação Geográfica não se restringe somente às práticas e
metodologias de ensino na Geografia, mas engloba também às estratégias elaboradas
pelos sujeitos que resultam na construção da noção espacial e constitui o seu
conhecimento geográfico, elaborações advindas de suas experiências com/no espaço.
Deste modo, o reconhecimento desta dimensão vivida pelo sujeito, na geografia escolar,
pode possibilitar a transformação de suas práticas, resultando uma melhor compreensão
do espaço.
Ademais, a dimensão do lugar (espaço vivido) emerge como uma categoria de
análise do espaço, fundamental a ser trabalhada no contexto da Educação Geográfica,
pois se refere à porção do espaço no qual estabelecemos nossas relações de identidade e
pertencimento. Para Carlos (2007, p.17) “o lugar pode ser entendido como o espaço de
reprodução da vida, analisado pela tríade habitante - identidade – lugar, constituindo o
espaço passível de ser sentido, pensado, apropriado e vivido através do corpo”.
Sendo assim, ao apreender o espaço a partir do lugar, permitimos identificar
elementos que estão intimamente ligados à identidade e à vivência do sujeito-aluno,
possibilitando redimensionar a valoração e a relação dos conceitos e conteúdos
explorados em sala de aula com a vida cotidiana. Com isso, são esboçados novos
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5208
olhares sobre o espaço, possibilitando o seu entendimento do “local para o global”,
permitindo a construção de abordagens diferenciadas a partir de outras categorias de
análise do espaço. No referido contexto, o estudo das paisagens, por exemplo, pode ser
redimensionado a partir do espaço vivido e percebido pelo estudante, dando significado
e sentido ao seu estudo até chegar à compreensão das paisagens em outros recortes
espaciais, permitindo que o aluno estabeleça relações cada vez mais elaboradas entre o
seu cotidiano, sua vivência, e outras realidades mais amplas (BOFETE E FACHINI,
2012).
Deste modo, o lugar ganha relevância no estudo do espaço, pois é nesta
dimensão do vivido que podemos identificar a espontaneidade e a criatividade inerentes
à condição humana (ARENDT, 2000). Portanto, destaca-se neste trabalho o
entendimento do espaço a partir do lugar, reconhecendo sua essencial importância para
a compreensão das transformações sociais e espaciais engendradas por nossa sociedade,
pois é no lugar que estamos em constante interação com esta dinâmica.
TIC E AS GEOTECNOLOGIAS: POTENCIALIDADES NO ENTENDIMENTO
E ESPAÇO
A revolução técnico-científica-informacional iniciada no período Pós-Segunda
Guerra Mundial (SANTOS, 2006), propiciou o surgimento de um período na história
recente da nossa sociedade, marcada pelos avanços tecnológicos, principalmente no que
se refere às Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). No conjunto dessas
transformações, a internet desponta como uma das tecnologias digitais que
intensificaram e provocaram mudanças nas dinâmicas das nossas relações, através da
constituição de uma rede que modificou a interação entre os sujeitos, o tempo e o
espaço. Tais transformações propiciaram também o desenvolvimento das
Geotecnologias, que ganharam novas possibilidades de usos, para além dos fins
militares, voltados para a compreensão social do espaço (HETKOWSKI, 2011).
Neste contexto, o desenvolvimento das geotecnologias agregadas às TIC
possibilitou a inserção dessas ferramentas no cotidiano das pessoas. Os meios de
comunicação e a internet contribuem para o redimensionamento da utilização de suas
técnicas, evidenciadas no uso cotidiano dos sujeitos, a exemplo de ferramentas como o
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Google Maps e o Google Earth para diversos fins, sejam eles para análise de aspectos
do espaço em que se vive ou visando atender às necessidades de geolocalização.
De acordo com Brito e Hetkowski (2010), a utilização destas potencialidades
nos processos formativos de ensino e aprendizagem representa também uma
possibilidade de inclusão, pois pode inserir o sujeito no mundo digital e fortalecer os
enlaces de pertencimento, de conhecimento e cidadania com a construção de uma
compreensão acerca do espaço geográfico. Nesse ínterim, as geotecnologias podem ser
incorporadas no ambiente escolar, sendo mais uma possibilidade a instigar processos
criativos.
As geotecnologias emergem, como um advento da capacidade criativa do
homem, ao mesmo tempo em que age como um potencializador de sua criatividade.
Neste sentido, Hetkowski afirma que as:
(...) tecnologias são processos humanos criativos, que envolvem elementos materiais
(instrumentos e técnicas) e imateriais (simbólicos e cognitivos) e que se encarnam na
linguagem do saber e do fazer dos homens. Assim, a geotecnologia representa a
capacidade criativa dos homens, através de técnicas e de situações cognitivas,
representar situações espaciais e de localização para melhor compreender a condição
humana. Assim, potencializar as tecnologias, significa ampliar as possibilidades
criativas do homem, bem como ampliar os “olhares” à exploração de situações
cotidianas relacionadas ao espaço geográfico, ao lugar da política, a representação de
instancias conhecidas e/ou desconhecidas, a ampliação das experiências e a condição de
identificação com o espaço vivido (rua, bairro, cidade, estado, país). (2010, p.6).
Com base nessa concepção, as geotecnologias possuem um grande potencial a
ser explorado no contexto escolar, a fim de propiciar outras práticas pedagógicas para o
estudante e o professor, uma vez que as referidas tecnologias, através das suas diferentes
técnicas e “interfaces” (como as imagens satélites, as fotografias aéreas e a cartografia
digital, softwares e os jogos - simuladores - cartográficos), estabelecem uma
compreensão aprimorada dos elementos do espaço geográfico, possibilitando
ressignificar as relações com o espaço vivido e percebido pelos alunos.
OS JOGOS-SIMULADORES-CARTOGRÁFICOS E SEU POTENCIAL
GEOTECNOLÓGICO
A discussão sobre a relevância da utilização dos jogos digitais e suas
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5210
potencialidades na educação, são temas de diversas pesquisas e construções acadêmicas,
dentre os quais podemos destacar os estudos Alves (2004) e Hetkowski e Alves (2012).
Tais reflexões nos apontam caminhos em busca de elucidar o princípio criativo e
transformativo, inerentes à condição humana, que constituem a base do entendimento
acerca do desenvolvimento tecnológico e o processo de construção de práticas
pedagógicas inovadoras e instituintes (LIMA JR e HETKWOSKI, 2006).
Neste sentido, Alves (2004) afirma que a os jogos digitais:
[...] possibilitam a aprendizagem, a comunicação, o estabelecimento de novos vínculos,
relacionamento, desenvolvem habilidades motoras, linguísticas e sociais e potencializam
a construção de novos olhares, significados e significantes para a sociedade no qual
estão inseridos. Essas múltiplas possibilidades dos games tornam possível aprender
diferentes conteúdos, caracterizando esse agenciamento sociotécnico como um novo
espaço do saber vivo, real, exigindo o rompimento com a linearidade que ainda se
institui na sala de aula de aula convencional, com praticas pedagógicas pautadas no
paradigma moderno (p. 371).
Com isso, os jogos digitais vem contribuir para um rompimento desta
linearidade, baseado na universalidade e a objetividade ainda muito presente no
contexto escolar. Assim, propicia-se a construção de uma lógica hipertextual, de um
novo agenciamento cognitivo em rede, considerando as dimensões sensoriais, lúdicas e
emocionais que fazem parte do ser humano (LIMA JR, 2007). Essa dimensão sensorial
e lúdica promovidas pelas TIC, em especial os jogos digitais, permitem englobar a
dimensão do prazer, da autoria, da autonomia do sujeito e possibilitam a construção de
novas relações com o tempo e o espaço.
Diante das possibilidades dos jogos digitais na educação e do desafio de
construir processos formativos instituintes no contexto escolar, propõe-se neste trabalho
uma olhar especial sobre os jogos - simuladores de cidades (SimCity, LinCity-NG,Open
City: game simulador de cidades, City Life 2008, MineCraft, Imperia On-line, Salvador
Ville, entre outros). O referido destaque justifica-se pelas peculiaridades dos referidos
jogos - simuladores, uma vez que os mesmos ao permitirem a simulação e reconstrução
das cidades, potencializam o entendimento da dinâmica do espaço5. Corroborando com
5 Vale ressaltar, como afirma Brito e Hetkowski (2012), que apesar destes jogos não terem a finalidade
principal de explorar conceitualmente o espaço, uma vez que derivam de uma lógica de mercado, não se
pode negar que potencializam o entendimento do mesmo.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
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estas ideias, Andrade et. al.(2012) ressalta que a interação com estes jogos, permite às
crianças, adolescentes e adultos a descoberta de novas formas de conhecimento, que
ocorrem também por meio da simulação do espaço, dos lugares e das paisagens, sejam
elas baseadas em princípios de realidades ou mesmo através de cidades imaginárias.
Destarte, Brito e Hetkowski (2012), contribuem para a elucidação das
potencialidades destes jogos, os quais denominam como jogos-simuladores-
cartográficos:
[...] a manipulação e criação de situações citadinas de forma simplificada; a
possibilidade de um sujeito explorar e administrar uma cidade simulada; o
redimensionamento de elementos vividos para um espaço digital; o lúdico e a
criatividade como inerentes a “representação” do lugar e da composição da paisagem; a
interseção entre o aprendido na dinâmica de uma sociedade vivificada e uma
representação de uma cidade imaginada (hibridismo entre o virtual e o atual) e outras
situações que agregam o processo ensino e aprendizagem conceitual de sala de aula e as
possibilidades lúdicas e de entretenimento (p. 84).
Com base nesta perspectiva, gostaríamos de ressaltar as potencialidades, em
especial, do jogo-simulador Kimera, para a compreensão do espaço. O referido jogo traz
na sua construção o redimensionamento dos pressupostos da cartografia, a fim de
redimensionar a compreensão do espaço (com base no espaço vivido, percebido e
concebido pelos sujeitos) a partir da simulação de cidades imaginárias. Sendo assim, ao
proporcionar uma intensa atividade imaginária nas crianças, através de suas
representações e entendimento do espaço, o jogo possibilita pensar o lugar onde os
mesmos vivem suas relações sociais, políticas e culturais (HETKOWSKI et. al, 2012).
Desta forma, os jogos-simuladores-cartográficos demonstram possibilidades na
construção de novas práticas no contexto escolar, principalmente no que se refere aos
pressupostos que constituem a Educação Geográfica. Ao redimensionarem os
pressupostos da cartografia, explicitados na possibilidade de ressignificação dos mapas
e das demais geotecnologias, os mesmos demonstram seu potencial geotecnológico ao
permitirem simulações e novos olhares que contribuem para a compreensão do espaço.
Desse modo, estes jogos podem contribuir para a construção de novas práticas na
Geografia escolar, pautadas na valorização do indivíduo e de suas vivências construídas
com / no espaço (o vivido e o percebido), permitindo a ampliação dos conhecimentos
acerca da paisagem, do lugar, dos territórios e consequentemente da dinâmica espacial.
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O PROJETO KIMERA: CIDADES IMAGINÁRIAS
Na perspectiva de explorar as potencialidades dos jogos-simuladores para
compreensão do espaço geográfico que consolidamos o projeto Kimera:cidades
imaginárias, que possui o intuito de construir um jogo-simulador de cidades que
permita,
criar possibilidades para relacionar e representar os espaços vivido, percebido e
imaginado; construir cidades híbridas, explorando elementos reais, imaginários,
fantasiosos, pretendidos e desejados a partir dos recursos disponibilizados no ambiente;
explorar outras dinâmicas que perpassam o entendimento sobre os espaços que as
crianças vivenciam, constroem, criam, imaginam ou desejam ‘explorar e/ou fazer parte
(ANDRADE et. al., 2012).
A construção do jogo é assim o principal objetivo do projeto Kimera, que conta
com a participação de profissionais de diversas áreas, compondo as seguintes equipes:
Pedagógica, Design e Transmídia, Programação, Roteiro, Áudio-design e Marketing.
Neste trabalho iremos enfatizar nas ações do Kimera Pedagógico, responsável pela
construção e articulação dos pressupostos teóricos que constituem a base da elaboração
do jogo-simulador, bem como no planejamento e mobilização de atividades, oficinas e
cursos com alunos e professores das escolas parceiras. Nesta perspectiva, ressaltamos
que abordaremos aspectos referentes ao processo de construção do jogo, que se encontra
em fase de finalização da sua primeira versão e entendemos a importância desta
dinâmica no que tange à construção de processos formativos no espaço escolar.
O trabalho de construção da pesquisa foi baseado nos pressupostos da Pesquisa
Participante, um processo de construção coletiva caracterizado por uma confluência de
experiências, baseados na integração ente todas as pessoas envolvidas, desconstruindo
as barreiras entre investigadores e sujeitos, bem como valorizando o compartilhamento
de saberes. Neste sentido, todas as etapas da pesquisa e construção do jogo-simulador
que serão aqui explicitadas, contou com a participação dos alunos entre 08 a 12 anos do
Colégio da Polícia Militar da Bahia – Unidade Dendezeiros/ Salvador – BA, além dos
integrantes das equipes que desenvolvem o Kimera.
As ações planejadas para o projeto atendem alunos, professores e pesquisadores
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5213
que formaram, a partir das demandas, os sujeitos da pesquisa. Assim, a referida
dinâmica configurou-se da seguinte forma: pesquisa e obtenções de informações
(composta por encontros diagnósticos, oficinas e outras atividades com os alunos); e a
construção do jogo-simulador Kimera.
Nos encontros diagnósticos realizamos diversas entrevistas com os alunos,
fazendo a identificação da turma (nome, idade, bairro onde residem, entre outros),
abordando temas como o uso da TV, dos jogos digitais, do celular, do computador, da
internet e temas relacionados ao uso de jogos digitais pelos alunos. Essa etapa foi muito
relevante, pois as mesmas nos ajudaram a conceber o jogo-simulador Kimera,
influenciando na definição dos aspectos pedagógicos que serão descritos mais adiante.
No que se refere às Oficinas e Atividades com os alunos, realizamos um ciclo de
oficinas que tinham como intuito identificar a relação dos alunos com os princípios e a
composição do Kimera. Dentre as oficinas cumpridas, destacamos:
- “Rodada de jogos digitais” e “Oficinas de jogos de tabuleiro”, onde os alunos
utilizaram simuladores similares ao Kimera, tendo o objetivo de identificar a familiaridade dos
alunos com essa categoria de jogos (importante para observar aspectos como jogabilidade e
elementos para composição do jogo, a partir das sugestões dos alunos). Além de perceber a
capacidade de concentração dos alunos, para a partir dessa e das rodadas de jogos digitais, criar
uma média do tempo do jogo-simulador Kimera e do seu possível grau de dificuldade,
passagem de fases, entre outros elementos.
- “Oficinas de Desenhos” com o objetivo de proporcionar uma percepção sobre como
esses sujeitos representavam os elementos da cidade e entendiam a sua dinâmica, para que a
partir dessas imagens, pudéssemos definir, juntamente com os alunos, os ícones do jogo.
FIGURA 1: REALIZAÇÃO DE RODADA DE JOGOS
COM OS ALUNOS DO 4º ANO DO CPM.
FIGURA 2: “OFICINA DE JOGOS DE
TABULEIRO”
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5214
A partir dessa oficina, definimos a estrutura organizacional do jogo (segurança,
lazer, educação, economia, entre outros) e os seus ícones (delegacia, shopping,
sorveteria, escola, etc). Além disto, podemos refletir com os alunos suas percepções
sobre o espaço vivido, onde identificamos elementos interessantes para trabalhar noções
referentes aos conceitos de lugar e paisagem, sendo uma informação valiosa para a
construção do jogo-simulador Kimera.
Os encontros e conversas realizadas com as crianças fizeram-nos entender que as
mesmas queriam “construir um mundo imaginário e fantástico”, por isso o nome do
jogo-simulador deveria abarcar esses elementos. Sendo assim foi elaborado os três
pilares do conceito do jogo-simulador (hibridismo, imaginação e desejo) e escolhido o
nome Kimera: cidades imaginárias, com a participação de toda equipe (pesquisadores
do GEOTEC e alunos do CPM).
Outra etapa importante na composição desse conjunto foi à definição dos
conteúdos abordados no jogo-simulador, respeitando as noções cartográficas,
articulação das categorias de análise do espaço e as demandas do currículo escolar. A
Figura 3 indica as categorias e conteúdos definidos:
FIGURA 3: CONTEÚDOS PEDAGÓGICOS DO JOGO –SIMULADOR KIMERA: CIDADES IMAGINÁRIAS.
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Vale salientar que os conteúdos são inseridos no jogo-simulador a partir do
roteiro, dos ícones criados, da organização das ações e da própria interface do Kimera.
Os conteúdos escolhidos foram avaliados e extraídos do PCN de História e Geografia
(2001), com a preocupação de articulá-los com as necessidades do espaço escolar,
tornando-se assim mais uma possibilidade no processo de Educação Geográfica
proposta nesse trabalho.
CONCLUSÃO
Com base em tudo que foi exposto nesse trabalho, queremos tecer algumas
considerações, sem a pretensão de serem finais, uma vez que este processo é constituído
por uma dinâmica rica e em constante transformação. Gostaríamos de ressaltar
primeiramente a importância de todos os sujeitos da pesquisa na construção e
planejamento do Kimera, constituindo-se um rico processo para as reflexões sobre os
pressupostos do jogo e as discussões deste trabalho. Dentre estes sujeitos, destacamos as
crianças participantes do projeto com seu imaginário e espontaneidade que muito
contribuíram e ainda contribuem neste processo.
As reflexões impressas ao decorrer deste trabalho nos remete a necessidade de
discussão de novas práticas, estratégias nos processos de ensino e aprendizagem no
contexto escolar e do reconhecimento dos processos formativos consolidados em outros
ambientes. A imersão destes sujeitos e envolvimento com as TIC estabelecem processos
formativos e educativos diferenciados, os quais necessitam ser incorporados à escola a
fim de mantê-la contextualizada com essa nova realidade. É baseado neste cenário que
ao decorrer deste ensaio, propomos pistas, pontos de discussão para suscitar o debate
acerca das potencialidades dos jogos-simuladores para compreensão do espaço e um
repensar sobre a Educação Geográfica.
Nesse sentido, o processo de construção do jogo-simulador Kimera, nos inspira
em buscar possibilidade de pensar uma Educação Geográfica, pautada na valorização
das experiências do sujeito com os lugares, com seus espaços de vivência. Além de
atribuir sentido ao potencializar esses conhecimentos em articulação com a imaginação,
fantasia e o desejo das crianças, aspectos tão presentes nesta fase da vida.
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5216
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A MAQUETE CARTOGRÁFICA COMO RECURSO DIDÁTICO NO
ENSINO DE GEOGRAFIA
Aline de Oliveira da Costa1
RESUMO
Este artigo foi elaborado a partir do projeto da monografia do curso de Especialização em
Ensino de Geografia da Universidade Estadual de Londrina e tem por objetivos, verificar o
resultado do uso de maquetes como recurso didático para o ensino da Cartografia, mais
especificamente no entendimento do conteúdo altimétrico, tendo como base uma carta
topográfica e proporcionar ao educando compreender o espaço tridimensional representado pela
maquete, estabelecendo diferenças entre o bidimensional do mapa e as três dimensões da
maquete. A maquete é um instrumento de ensino bastante didático e que possibilita ao professor
preparar uma aula diferenciada, saindo do tradicional e levando a maior participação dos alunos,
pois eles têm a possibilidade de construir sua maquete e nela representar a sua visão da
realidade estudada, pois a principal característica da maquete é a função de representar a
realidade, com detalhes não vistos em outra forma de representação. Ao utilizar a maquete como
um instrumento de ensino o professor pode explorar diferentes conteúdos geográficos, sejam
eles, físicos, como a altimetria, geomorfologia, hidrografia, geologia, ou humanos, como a
urbanização, cultura e economia. Podendo ainda ser feita a relação entre ambos os aspectos em
diferentes escalas cartográficas e geográficas. O professor pode e deve trabalhar a maquete em
conjunto com outros instrumentos de ensino como o trabalho de campo, imagens, mapas dentre
outros. A utilização da maquete permite também o trabalho interdisciplinar, em que é possível
envolver outras disciplinas para ampliar a gama de conhecimentos e enriquecer o processo de
ensino aprendizagem. A realização de atividades dessa natureza é uma maneira de colocar os
alunos em ação, de proporcionar a eles a própria construção do conhecimento.
Palavras-chave: Ensino de Geografia; Instrumento de ensino; Maquete.
INTRODUÇÃO
De acordo com Cavalcanti (2006) o ensino de geografia deve desenvolver no
educando a capacidade de compreensão da realidade, ajudando-o a formar raciocínios e
concepções mais articulados e aprofundados a respeito do espaço, formando a partir
dessa compreensão da realidade cidadãos críticos e atuantes. Porém para se alcançar
esses objetivos é imprescindível que os conteúdos das aulas não sejam ensinados de
maneira fragmentada, é necessário também que haja a valorização do conhecimento que
1 Universidade Estadual de Londrina; [email protected]
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5219
cada aluno traz consigo, em decorrência das suas experiências de vida, ligando o estudo
à vida do individuo, fazendo-o perceber a importância do que está sendo estudado,
levando-o a refletir para buscar conhecimento e ser capaz de produzir seu próprio
conhecimento.
Os instrumentos de ensino podem auxiliar de maneira extraordinária as aulas de
geografia. Cartas, mapas, globos, maquetes, entre outros devem fazer parte do cotidiano
das aulas. Filmes, documentários, jornais, revistas, letras de musicas e recursos da
informática se fazem importantes quando aliado de maneira correta ao ensino de
geografia (SILVA, 2004).
Vemos um leque de instrumentos para se trabalhar no ensino, sendo eles, uma
ferramenta complementadora, motivadora e que traz riqueza às aulas, desperta a
curiosidade e o interesse dos alunos, ultrapassa as enfadonhas aulas expositivas, além de
promover a interação dos conteúdos que são aplicados em sala com a realidade do
aluno, pois a representação do espaço geográfico através de mapas permite a reflexão
sobre a realidade vivida. Mapas possuem simbologias próprias (gráfica e cartográfica),
portanto, através da comunicação visual, podem-se observar as várias representações da
Terra. A leitura e interpretação de mapas podem interferir na forma de se enxergar o
mundo. Pois quando se aprende a ler e interpretar os mapas, é como se estivéssemos
abrindo uma nova janela para o saber, principalmente quando se consegue relacionar
informações e analisá-las em conjuntos, começa-se a entender o espaço e os fenômenos
que nele acontecem.
Um instrumento que pode contribuir com o ensino da geografia é a maquete.
Através da maquete, o aluno poderá fazer comparações de grandeza, interpretar
inúmeros recursos visuais como mapas e imagens, além de fazer a “leitura” da
tridimensionalidade, já que a maquete utiliza a representação em três dimensões
(largura, altura e comprimento). De acordo com Cortez (2012) a maquete é uma forma
de registrar a superfície terrestre de forma reduzida, como na escala de um mapa.
Com base neste contexto se desenvolveu o presente artigo, que é pautado na
proposta do projeto de monografia do curso de Especialização em Ensino de Geografia
da Universidade Estadual de Londrina.
A GEOGRAFIA E A CARTOGRAFIA NO ENSINO
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5220
A Geografia tem por objetivo o estudo do espaço geográfico e a Cartografia é
uma das ferramentas utilizadas para o estudo desse espaço, que é construído e
constantemente modificado pela sociedade a partir da relação entre homem e natureza.
A sociedade moderna dotada de tecnologias transforma o espaço natural, moldando um
novo espaço de acordo com seu interesse.
Nesse sentido, o papel da Geografia Escolar é mostrar ao aluno que ele está
inserido na sociedade, que ele faz parte da história e é um agente ativo no processo de
transformação do espaço vivido, e a “alfabetização cartográfica, por sua vez, leva cada
indivíduo a compreender o espaço físico conhecido, facilitando a análise geográfica”
(PISSINATI; ARCHELA. 2007).
A Geografia e Cartografia além de estarem presentes no cotidiano da sociedade
são ciências que compartilham de formas diversas, o mesmo objeto de estudo, o espaço.
Este espaço que é tratado nas diferentes abordagens pela Geografia tem sido
representado nos mapas e em outros documentos, pela Cartografia. As
representações cartográficas são fontes de informações capazes de relacionar
as questões geográficas, ambientais, sociais e econômicas em um mesmo
mapa, ou seja, conseguem traduzir o dinamismo do mundo através de
elementos que simbolizam a realidade. (ANDRADE; FARIA. 2009).
O professor na educação escolar tem como tarefa, fazer com que o aluno
compreenda o mundo e a Geografia é uma forma importante de leitura de mundo e é a
partir da observação e da vivência com o real que nos tornamos capazes de pensar e
idealizar o mundo.
A Geografia é uma disciplina formativa capaz de instrumentalizar o aluno para
que ele exerça o papel de um verdadeiro cidadão e, para isso, é necessário que, os
conteúdos das aulas não sejam ensinados de maneira fragmentada, é imprescindível
também que haja a valorização do conhecimento que cada aluno traz consigo, em
decorrência das suas experiências de vida, ligando o estudo à vida do individuo,
fazendo-o perceber a importância do que está sendo estudado, levando-o a refletir para
buscar conhecimento e ser capaz de produzir seu próprio conhecimento
Atualmente no ensino de Geografia, o recurso mais utilizado pelo docente é o do
livro didático, expondo os conteúdos verbalmente e passando exercícios de copia que
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5221
levam à memorização sem estimular o aluno a questionar, e como resultado desse
mecanismo adotado pelo professor para expor o conteúdo, tem-se uma aprendizagem
defasada, em que o aluno não consegue pensar criticamente sobre o objeto de sua
reflexão (MELONI. 2009). A cartografia como vem sendo trabalhada nos livros
didáticos não é satisfatória, na maioria das vezes é apresentada como um conteúdo
pronto e desvinculado da realidade do aluno, podendo assim ocasionar problemas na em
sua formação, como não conseguir localizar ou representar o seu espaço vivido. Os
livros didáticos na sua grande maioria tratam a cartografia como elementos externos e
ilustrativos, não correlacionando os mapas e seus elementos junto ao conteúdo, mas sim
abrindo caixas de textos, boxes, parênteses, para explicá-los, como se esses não
fizessem parte do conteúdo geográfico estudado.
Essa situação de desvalorizar a cartografia como recurso útil para compreender
os conteúdos geográficos agrava-se nos livros didáticos: o rigor técnico-
cartográfico distancia-se, e a cartografia é apresentada muito mais como
ilustração, do que propriamente como instrumento de compreensão da
realidade social. (SANTOS. 2003).
Meloni (2009) afirma que deste modo, a utilização de mapas apenas visa que o
aluno decore os pontos ou fenômenos principais que estão nele ilustrados, não
possibilitando sua compreensão e entendimento para que o mesmo consiga realizar uma
leitura cartográfica correlacionando os dados expostos. O ensino torna-se então, sem
sentido para o aluno, pois está desvinculado de sua realidade, não sendo possível a
compreensão espacial do fenômeno estudado.
A falta de habilidades cartográficas leva as pessoas a se verem em situações
como: ficar girando o mapa da cidade até conseguir se localizar na mesma,
dizer que o norte fica para cima e o sul para baixo, ter dificuldade para
entender como pode o rio São Francisco nascer em Minas Gerais e “subir”
para o Nordeste do país, ou não conseguir dimensionar os espaços com base na
escala (PISSINATI; ARCHELA. 2007).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5222
Os elementos cartográficos devem ser apresentados nos livros de forma
contextualizada ao conteúdo geográfico escolar, como os textos principais devem ter a
função questionadora e não meramente ilustrativa. Precisam apresentar mapas bem
elaborados, compatíveis com os conteúdos específicos e as informações que querem
repassar. Para que a Geografia junto à Cartografia no processo de ensino-aprendizagem
possa auxiliar o professor a ensinar aos alunos, através de sua linguagem gráfica nos
livros didáticos, a construir uma análise espacial, uma leitura da realidade, do seu
espaço local e cotidiano.
Para Meneguette (1998) no que diz respeito à aquisição e apropriação de
conhecimentos geográficos e mais especificamente cartográficos, admite-se que a
educação cartográfica do cidadão brasileiro é inadequada.
Os estudos cartográficos são de fundamental relevância para a formação da
vida acadêmica e profissional, uma vez que boa parte dos professores não está
preparado para alfabetizar crianças e jovens no que se refere à representação
cartográfica dos aspectos geográficos, na leitura e na produção de mapas e na
compreensão de suas convenções e símbolos. Julgamos que, se os professores
obtivessem o domínio desses elementos em suas aulas, isso muito contribuiria
no entendimento e na intervenção do espaço geográfico (BUDIN; CAMPOS.
2009).
Segundo Almeida e Loch (2009 apud SANTOS, 2002; BOVO, 2001;
CASTELLAR, 1996) a cartografia está distante das escolas brasileiras, porque grande
parte das habilidades de leitura, escrita e visualização através dos meios gráficos são
desconhecidas pelos professores. Esse fato acarreta grandes problemas para os alunos,
pois sem uma boa orientação, o aluno não tem condições de compreender, sozinho,
noções cartográficas simples nem complexas. E de acordo com Francischett (2001),
O principal problema está na formação e na metodologia de ensino de quem
trabalha com a Cartografia na Geografia. Geralmente, quem ensina nem
sempre sabe o porquê e para que está ensinando. A maioria dos professores
desconhece a importância da Cartografia, ou tem receio de utilizá-la no ensino.
Segundo uma pesquisa realizada por Loch e Fuckner (2005) com professores da
educação básica de Santa Catarina, os educadores apresentam sérias dificuldades em
relação à cartografia, não apenas em conteúdos, mas consequentemente em ensiná-la.
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5223
Muitos professores não conseguem avançar além do livro didático no que diz respeito à
cartografia.
Para facilitar o entendimento dos alunos e favorecer a reflexão e a produção de
mecanismos intelectuais, diversos recursos são utilizados nas diversas escolas. Um
recurso muito discutido atualmente no ensino de Geomorfologia é a maquete
(SIMIELLI, 1992; PONTUSCHKA, 2007; TORRES e SANTANA, 2009; OLIVEIRA e
MALANSKI, 2008; SANTOS, 2009). De acordo com Simielli et all (1992), a maquete
é uma representação em três dimensões de uma figura cartográfica plana em duas
dimensões, onde caminha-se para a reconstituição do concreto (relevo) por meio das
curvas de nível. Através dela, o interesse do aluno é despertado e a fixação da imagem
auxilia no entendimento do conteúdo a ser abordado.
No entanto, há docentes que não abrem mão do método tradicional de ensino, e
vêm com maus olhos as inovações tecnológicas que adentram, cada vez mais, as salas
de aula. Cada recurso possui sua importância e deve ser usado de acordo com a técnica
de ensino adotada pelo docente e de acordo com conteúdo a ser dado em sala de aula. É
importante lembrar que o uso dos recursos deve ser planejado, pois a utilização indevida
ou exagerada de algum recurso pode inviabilizar a aula.
METODOLOGIA
Segundo Francischett (2001) Para construir uma maquete, é preciso observar,
identificar, localizar, analisar, planejar e cobrir de símbolos figurativos facilmente
reconhecíveis, formando-se uma base representativa do espaço estudado.
A maquete é uma das formas de representação do espaço que tem como
vantagem o fato de permitir a percepção do abstrato no concreto. Ou seja,
permite que a curva de nível – representada bidimensionalmente no mapa –
seja apresentada em relevo – representado tridimensionalmente na maquete -,
bem como possibilita a apresentação de outros elementos da paisagem - rios,
estradas, áreas urbanas e rurais, etc. (SIMIELLI, 1999).
O estudo da cartografia perpassa obrigatoriamente por um mapa hipsométrico ou
uma carta topográfica, possibilitando a percepção das áreas mais elevadas através dos
signos (cores), a identificação dos divisores da água e dos rios que drenam a área,
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5224
depois de realizado todo o embasamento teórico chegará a hora de transformar o
abstrato no concreto, ou seja, depois da teoria partiremos para a prática.
A confecção da maquete utilizará a seguinte técnica: serão transferidos da carta
topográfica/mapa hipsométrico para folhas de papel vegetal as curvas de nível e o
conjunto de rios, sendo que cada folha representará uma cota/curva de nível distinta da
carta. Posteriormente, as folhas transparentes serão transportadas para o EVA que
recortada e colada começa a formar a base da representação a partir da curva mais
baixa, será utilizada a técnica da hipsometria que consiste na representação da elevação
de um determinado terreno através das cores, ou seja, de um sistema de graduação de
cores que possui uma equivalência com a elevação do terreno. Utilizaremos tons de
verde e amarelo para indicar as menores altitudes e tons de laranja, vermelho e marrom
para as altitudes elevadas.
No final do processo de elaboração da maquete os alunos devem apresentar seus
trabalhos para a turma, correlacionando a teoria com a prática.
Antes da construção da maquete com os alunos, realizaremos uma entrevista
com o professor regente de geografia das turmas do 9° ano2, com o intuito de verificar
do nível cognitivo da turma, quais dificuldades os alunos demonstram quando é
trabalhada com eles a cartografia, quais obstáculos o professor encontra para trabalhar o
tema em sala de aula, verificaremos também se o professor utiliza algum recurso
didático em suas aulas e se colégio dispõe e disponibiliza de algum recurso didático aos
professores de geografia. Para assim, termos um diagnóstico do nível de
desenvolvimento da turma e ponderar se a oficina de maquete auxiliará na evolução
cognitiva dos alunos.
RESULTADOS ESPERADOS
Espera-se que a confecção e utilização da maquete torne o processo de ensino-
aprendizagem mais interessante e didático, proporcionando ao educando compreender
2 Optou-se por turmas do 9°ano, para verificar o nível cognitivo dos alunos com relação à
Cartografia, pois nesta série espera-se que o aluno já tenha adquirido o conhecimento cartográfico básico,
por estar em contato com o profissional da matéria específica (Geografia) por pelo menos quatro anos
(anos finais do ensino fundamental, visto que nos anos iniciais os profissionais que trabalham com os
alunos – os pedagogos – não têm o conhecimento específico, ensinando na maioria dos casos de forma
superficial conceitos cartográficos fundamentais).
Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia, Paraíba 15 a 19 de setembro de 2013
5225
o espaço tridimensional representado pela maquete, estabelecendo diferenças entre o
bidimensional e o tridimensional, desenvolvendo noções, por exemplo, de
proporcionalidade, altimetria, localização, orientação, concreto e abstrato, auxiliando
assim, na interpretação de conceitos cartográficos e estimulando a criatividade.
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