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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS ANA PAULA XAVIER DE OLIVEIRA Londrina 2019 EFICÁCIA ESCOLAR E AÇÕES DO PROFESSOR EM SALA DE AULA: ESTUDO DE DUAS ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE – MG

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS

ANA PAULA XAVIER DE OLIVEIRA

Londrina 2019

EFICÁCIA ESCOLAR E AÇÕES DO PROFESSOR EM SALA DE AULA: ESTUDO DE DUAS ESCOLAS PÚBLICAS DO

MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE – MG

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ANA PAULA XAVIER DE OLIVEIRA

Dissertação apresentada à Universidade Norte do Paraná (UNOPAR), como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias. Área de concentração: Formação de professores e ação docente em situações de ensino. Orientador: Prof. Dr. Fábio Luiz da Silva.

Londrina 2019

EFICÁCIA ESCOLAR E AÇÕES DO PROFESSOR EM SALA DE AULA: ESTUDO DE DUAS ESCOLAS PÚBLICAS DO

MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE – MG

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Autorizo a Reprodução total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Dados Internacionais de catalogação na publicação

Oliveira, Ana Paula Xavier de . Eficácia escolar e ações do professor em sala de aula: estudo de duas escolas públicas do município de Belo Horizonte – MG / Ana Paula Xavier de Oliveira. – Londrina, 2019. 140 f. : il.

Orientador: Fábio Luiz da Silva. Dissertação. (Mestrado em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas

Tecnologias). Universidade Pitágoras Unopar, 2019. Inclui bibliografia. 1. Mestrado Acadêmico – UNOPAR. 2 Gestão da sala de aula. 3. Estratégias

de gestão do comportamento. 4 . Saberes experienciais. I. Silva, Fábio Luiz da, orient. II. Universidade Pitágoras Unopar. III. Título.

CDU 37.02

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ANA PAULA XAVIER DE OLIVEIRA

EFICÁCIA ESCOLAR E AÇÕES DO PROFESSOR EM SALA DE AULA: ESTUDO DE DUAS ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE

BELO HORIZONTE – MG Dissertação apresentada à Universidade Norte do Paraná (UNOPAR), como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias, área de concentração em Formação de Professores e ação docente em situações de ensino.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________ Orientador: Prof. Dr. Fábio Luiz da Silva

Universidade Norte do Paraná

____________________________________ Profa. Dra. Helenara Regina Sampaio Figueiredo

Universidade Norte do Paraná

____________________________________ Profa. Dra. Adriana Regina de Jesus Universidade Estadual de Londrina

Londrina, 07 de março de 2019.

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Agradeço ao meu orientador, professor Fábio Luiz da Silva, pelos ensinamentos e apoio fornecidos durante o estudo.

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OLIVEIRA, Ana Paula Xavier de. Eficácia escolar e ações do professor em sala de aula: estudo de duas escolas públicas do Município de Belo Horizonte – MG. 2019. 140 f. Dissertação (Mestrado em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias) – Universidade Norte do Paraná, Londrina, 2019.

RESUMO As ações do professor em sala de aula podem ajudar o aluno na adequada compreensão e apropriação dos saberes. Nesse sentido, um dos desafios na gestão escolar consiste na observação e na validação de práticas docentes que atuem na melhoria da performance de suas turmas. O presente estudo investigou ações adotadas pelos professores de salas de aula do 9º ano de duas diferentes escolas do Ensino Fundamental relacionadas à gestão dos saberes e à gestão dos comportamentos, e os prováveis impactos desses aspectos nos saberes apropriados pelos alunos. Foram observadas turmas de duas escolas da rede pública do Município de Belo Horizonte, em Minas Gerais. O critério de definição das escolas alvos do estudo ocorreu em função do desempenho das instituições no exame da Prova Brasil 2015, quando a escola A obteve resultado superior à escola B. Foi realizado estudo de campo com aplicação de questionários para alunos e professores das escolas A e B. Em paralelo, foi realizado estudo bibliográfico que embasou as considerações emanadas por esta autora. As conclusões do estudo poderão direcionar gestores escolares e professores rumo a práticas pedagógicas mais eficazes e aderentes aos objetivos de ensino e de aprendizagem, bem como auxiliar as respectivas instituições na obtenção de resultados proporcionalmente superiores em suas futuras participações na Prova Brasil. Palavras-chave: Ensino. Aprendizagem. Eficácia escolar. Ação do professor. Prova Brasil.

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OLIVEIRA, Ana Paula X. The relationship between school effectiveness and teachers’ actions in the classroom in two public schools in the municipality of Belo Horizonte – MG. 2019. 140 f. Dissertation (Masters Degree in Methodologies for the Teaching of Languages and their Technologies) – Universidade Norte do Paraná, Londrina, 2019.

ABSTRACT The actions of the teacher in the classroom can help the student in the proper understanding and appropriation of the knowledge. In this sense, one of the challenges in school management is the observation and validation of teaching practices that improve the performance of their classes. The present study investigated actions taken by 9th grade classroom teachers from two different elementary schools related to knowledge management and behavior management, and the likely impacts of these aspects on the appropriate knowledge of the students. Classes from two schools of the public network of the city of Belo Horizonte-MG were observed. The criterion for the definition of the target schools was based on the performance of the institutions in the Prova Brasil 2015, when school A obtained a result superior to school B. A field study was carried out with questionnaires for students and teachers in schools A and B. In parallel was carried out a bibliographic study that supported the considerations emanated by the author. The conclusions of the study may direct school administrators and teachers towards more effective pedagogical practices and adherence to teaching and learning objectives, as well as assisting their institutions in obtaining proportionally higher results in their future participation in the Prova Brasil. Keywords: Teaching. Learning. School effectiveness. Teaching action. Prova Brasil.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - O Modelo PIC .................................................................................... 29

Figura 2 - As duas grandes funções do ensino ................................................. 33

Gráfico 1 - Idade dos professores ....................................................................... 74

Gráfico 2 - Escolaridade dos professores ........................................................... 75

Gráfico 3 - Experiência docente .......................................................................... 77

Gráfico 4 - Tempo de docência na escola pesquisada ....................................... 78

Gráfico 5 - Nível de interesse dos alunos pelo estudo ........................................ 80

Gráfico 6 - Percepção docente sobre a disciplina da turma................................ 82

Gráfico 7 - Estilo de liderança em sala de aula na maior parte do tempo ........... 85

Gráfico 8 - Nível de exigência em relação aos conteúdos ministrados ............... 89

Gráfico 9 - Práticas adotadas em sala de aula ................................................... 91

Gráfico 10 - Habitualidade de adoção de tarefas em casa ................................... 94

Gráfico 11 - Recursos necessários à realização das lições de casa .................... 96

Gráfico 12 - Aspectos determinantes da eficácia escolar ..................................... 98

Gráfico 13 - Por qual motivo você estuda? ......................................................... 102

Gráfico 14 - Você pretende estudar até quando? ............................................... 104

Gráfico 15 - Nível de interesse pelos estudos .................................................... 106

Gráfico 16 - Disciplina da turma durante as aulas .............................................. 108

Gráfico 17 - Disciplina dos professores .............................................................. 109

Gráfico 18 - Exigência dos professores no ensino de novas matérias ............... 111

Gráfico 19 - Preferência dos métodos de aprendizado ....................................... 112

Gráfico 20 - Resolução de atividades em casa ................................................... 115

Gráfico 21 - Preferência de atividades de casa (escola A) ................................. 116

Gráfico 22 - Preferência de atividades de casa (escola B) ................................. 117

Gráfico 23 - Disponibilidade de internet em casa ............................................... 119

Gráfico 24 - Frequência de estudos em casa ..................................................... 120

Gráfico 25 - Auxílio de resoluções de tarefas escolares em casa ...................... 121

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Exemplos das diferentes categorias de fatores que exercem influência

no rendimento escolar dos alunos ...................................................... 15

Quadro 2 - Alternativas para geração de ambiente de aprendizado positivo ........ 48

Quadro 3 - Registro de comportamento ................................................................ 58

Quadro 4 - Instrumento para acompanhamento das reuniões entre pais e

professores ......................................................................................... 60

Quadro 5 - Registro de comunicação entre pais e professores ............................ 61

Quadro 6 - Modelo de relatório de tutoria docente ................................................ 66

Quadro 7 - Plano de disciplina em sala de aula .................................................... 68

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 9

2 A RELAÇÃO ENTRE EFICÁCIA ESCOLAR E AÇÕES DO PROFESSOR ......... 14

2.1 EQUIDADE E IGUALDADE RELACIONADAS À GESTÃO DA QUALIDADE

ESCOLAR .......................................................................................................... 19

2.2 A PEDAGOGIA E A DIDÁTICA ALIADAS À QUALIDADE DO ENSINO............ 25

3 O ENSINO EXPLÍCITO E SUAS IMPLICAÇÕES ............................................. 28

4 GESTÃO DOS APRENDIZADOS E GESTÃO DA CLASSE ............................ 33

4.1 GESTÃO DOS APRENDIZADOS ...................................................................... 34

4.2 GESTÃO DA CLASSE ....................................................................................... 44

5 METODOLOGIA DE PESQUISA ...................................................................... 70

6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ........................................................... 74

6.1 RESULTADOS DOCENTES .............................................................................. 74

6.2 RESULTADOS DOS ALUNOS ......................................................................... 101

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 123

REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 126

APÊNDICES .......................................................................................................... 130

Apêndice A - Questionário estruturado aplicado aos professores .......................... 131

Apêndice B - Questionário estruturado aplicado aos alunos .................................. 134

Apêndice C - Roteiro de Observação ........................................................................ 136

Apêndice D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ........................................ 138

Apêndice E - Termo de Assentimento Livre e Esclarecido .......................................... 139

Apêndice F - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Docente ........................... 140

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1 INTRODUÇÃO

A educação, requisito para o exercício da cidadania, é um direito

social assegurado pelas leis brasileiras e um dever do Estado. Entende-se que o

indivíduo deva possuir acesso ao ensino para aquisição e desenvolvimento de

conhecimentos, capacidades, competências e habilidades imprescindíveis às suas

funções sociais e profissionais.

A Constituição Federal Brasileira (BRASIL, 1988), lei máxima que

define os direitos e os deveres do cidadão, formaliza, em seu artigo 205, que

a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Além da Constituição Federal de 1988, existem outras duas leis que

regulamentam e complementam direito à Educação: o Estatuto da Criança e do

Adolescente – ECA (BRASIL, 1990) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB

(BRASIL, 1996). Estes três elementos asseguram a educação como direito

fundamental do cidadão e formalizam que o acesso à escola é direito fundamental de

todos os brasileiros, já que nenhuma criança, jovem ou adulto pode deixar de estudar

por falta de vaga.

No entanto, há que se considerar a existência de aspectos

dificultadores da oferta de ensino a todos os cidadãos. O Brasil, nação com 8.516.000

quilômetros quadrados e população estimada de 207.597.089 habitantes (INSTITUTO

BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA [IBGE], 2017), sofre impactos

negativos pelas suas proporções continentais. Desde dificuldades de distribuição

eficaz e justa dos recursos financeiros às escolas até aspectos de ordem logística,

muitas são as variáveis que prejudicam o acesso dos cidadãos – principalmente

aqueles pertencentes às classes sociais menos privilegiadas financeiramente – ao

ensino.

No sentido de verificação do sucesso das estratégias educacionais

utilizadas no ensino básico, o governo brasileiro, por meio do Ministério da Educação,

instituiu a Prova Brasil como instrumento de avaliação do desempenho dos

estudantes, com testes de Língua Portuguesa e Matemática.

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A Prova Brasil é uma análise censitária, cujo foco são os estudantes

de 5º e 9º anos das escolas urbanas e rurais que integram a rede de Ensino

Fundamental nacional. Turmas com menos de 20 alunos não realizam a Prova Brasil,

mas podem pleitear a participação, uma vez que o índice faz parte do Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

Importante destacar que a participação na Prova Brasil não é

obrigatória e a rede particular está excluída da pesquisa, uma vez que não integra a

rede de ensino foco da verificação. Estipula-se, no teste, que os índices de proficiência

dos alunos participantes determinam suas competências nas disciplinas de Língua

Portuguesa e Matemática. No entanto, é razoável considerar que as ações do

professor em sala de aula são importantes para que os objetivos educacionais sejam

atingidos.

Percebe-se a preocupação com a democratização da oferta do

ensino, quando populações específicas são igualmente cogitadas e foco de

estratégias pontuais. Também a formação continuada dos profissionais envolvidos no

processo educacional é assunto recorrente do Plano Nacional de Educação – PNE

(BRASIL, 2005), pontuado em algumas das metas estabelecidas pelo plano até o ano

de 2024.

O PNE, na perspectiva dessa dissertação, é incisivo ao definir, na

meta 7, a proposta de aumentar a qualidade da educação básica em todas as etapas

e modalidades, com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem, de modo a saltar

da média 4,7 (em 2015) para 5,5 (em 2021), relacionada aos anos finais do Ensino

Fundamental. O Ideb é o instrumento designado para averiguação desses resultados

e representa a soma de dois indicadores: os resultados da Prova Brasil e a taxa de

aprovação dos alunos.

No entanto, associar o aproveitamento a um único índice (nesse caso,

o Ideb) é aspecto a ser reconsiderado, visto que a própria taxa de aprovação dos

alunos é alvo de discussão. Quando se concentra pura e simplesmente no rendimento

escolar, desconsiderando as especificidades do processo de ensino e de

aprendizagem, incorre-se no equívoco de generalizar o ensino e na descaracterização

da meta 19 do PNE, que busca assegurar a gestão democrática da educação,

associada a critérios técnicos de mérito e desempenho.

Além do exposto acima, há de se considerar que a taxa de aprovação

dos alunos também não reflete, necessariamente, a qualidade do egresso, visto que

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a avaliação e as formas de aprovação do aluno são definidas pelas escolas e, em

muitos casos, descaracterizadas. Consequências da descaracterização das

avaliações são os índices alarmantes de analfabetismo funcional, foco de melhoria na

meta 9 do PNE.

Quando ocorre a distorção dos índices de aprovação com vistas ao

mero aumento da taxa, no sentido de elevar a posição da escola, aspectos qualitativos

relacionados às competências do egresso são abandonados e o índice, por sua vez,

acaba contraditório. Justamente por essa razão optou-se pela análise dos resultados

da Prova Brasil, visto que o teste é obrigatório e, muito provavelmente, reflete a

realidade do perfil do egresso relacionada às ações dos professores em sala de aula.

Percebe-se, dessa forma, que as metas do PNE cogitam a melhoria dos aspectos

relacionados à qualidade do Ensino Fundamental.

No entanto, uma série de fatores de ordem estrutural participa da

constituição e da consolidação das competências do egresso, e associar a qualidade

de ensino a um único índice é motivo de análise e de discussão por parte dos

estudiosos da área educacional.

Desenvolver nesse egresso um conjunto de competências e

habilidades que o capacitem ao exercício pleno da cidadania é um dos deveres da

escola. Porém, os resultados obtidos pela rede pública, especialmente junto aos

concluintes do Ensino Fundamental, indicam que novas metodologias de ensino, mais

aderentes aos conteúdos ministrados, são necessárias.

Para Gauthier, Bissonnette e Richard (2014), as estratégias

pedagógicas talvez participem de um conjunto de ações que podem ser aprovadas,

caso seja possível definir sua eficácia em função do nível de aprendizado dos alunos.

O objetivo do presente estudo é investigar, em duas escolas da rede

pública, quais são as ações dos professores em sala de aula que auxiliam na eficácia

do ensino, relacionadas à gestão de conteúdos e à gestão dos comportamentos. Para

tanto, foi realizado estudo de campo, quando a pesquisadora observou as ações dos

professores de Língua Portuguesa e de Matemática das escolas estudadas, e aplicou

questionários estruturados a professores e a alunos. Os resultados obtidos foram

confrontados com a literatura, por meio de estudo bibliográfico.

Considerando os objetivos da dissertação em questão, uma das

dimensões da qualidade consiste nos bons resultados dos testes padronizados de

larga escala. Quanto maior a nota obtida nos testes, melhor seria a qualidade do

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ensino. Ocorre que o desempenho em testes de larga escala não deve representar a

única forma de compreender qualidade, visto que nem sempre os testes estão

padronizados de maneira coerente e objetiva, frente aos desafios dos agentes

envolvidos no processo de ensino-aprendizado. É dentro dessa perspectiva que o

presente estudo pretende contribuir para a compreensão dos fatores que constituem

a percepção de qualidade em ensino.

Desse modo, esta autora procurou enfatizar, neste estudo, os

elementos relacionados à gestão de conteúdos e de comportamentos em sala de aula,

com o intuito de associar estes aspectos à eficácia escolar. A primeira seção

apresenta os objetivos e a justificativa para o estudo, inserindo o professor como um

dos participantes do processo de ensino e demonstrando a necessidade de ações

docentes aderentes à sala de aula.

A segunda seção aborda a relação existente entre eficácia escolar e

ações do professor, quando fica evidenciado que a preparação do professor para lidar

com as diversas situações encontradas em sala de aula pode determinar

desempenhos escolares mais eficientes, à medida que o profissional estiver apto a

conduzir turmas à apropriação de novos conhecimentos.

Em uma citação da obra de Gauthier, Bissonnette e Richard (2014), a

terceira seção contextualiza o termo “Ensino Explícito”, quando a eficácia do ensino é

associada às suas duas grandes funções. Também nesta seção, a pedagogia e a

didática são conceitos retratados como centrais para que as estratégias dos

professores sejam mais facilmente compreendidas pelos alunos, minimizando

chances de equívocos e potencializando o aprendizado efetivo.

Em seguida, a quarta seção trata especificamente das duas funções

do ensino: gestão dos aprendizados e gestão da classe. Nessa parte, ela ressalta que

cabe ao professor a habilidade para relacionar e conduzir tais aspectos

simultaneamente, elencando recursos e procedimentos às características da sala de

aula em que atua. São enumeradas ações que podem auxiliar professores tanto na

gestão dos saberes quanto na gestão dos comportamentos em sala, especialmente

voltadas ao aspecto disciplinar.

A quinta seção elucida a metodologia empregada na realização do

presente estudo, instrumentos de pesquisa, método para escolha das escolas

participantes, e método e natureza da pesquisa realizada.

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Na sexta seção são apresentados os resultados obtidos com a

investigação desta autora nas duas escolas participantes; as respostas obtidas na

coleta de dados foram previamente tabuladas, representadas graficamente e

interpretadas pela estudante para exposição das suas percepções, associadas a

estudo bibliográfico, por meio de análise de dados.

A sétima e última seção apresenta as considerações finais do

presente relato, evidenciando a consciência desta autora para a vastidão de

elementos componentes da composição de qualidade em ensino e da importância de

estudos adicionais para a compreensão dos determinantes de eficácia escolar.

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2 A RELAÇÃO ENTRE EFICÁCIA ESCOLAR E AÇÕES DO PROFESSOR

A qualidade do ensino é tema recorrente de estudos que procuram

determinar aspectos facilitadores para professores e alunos no processo de ensino e

aprendizagem. Alves e Passador (2011) pontuam que, além de importância histórica

como participante da composição cultural de um povo, a educação possui caráter

prático ao viabilizar condições para um pleno exercício das habilidades e

competências do indivíduo. A qualidade estaria relacionada ao fornecimento de

melhores condições para que o cidadão desenvolva suas características cognitivas,

físicas e artísticas para conviver em sociedade.

Casassus (2002) aponta para a necessidade de discussão e definição

dos padrões de qualidade do ensino, de modo que se garanta a efetivação do direito

à educação, que está expresso nas leis e documentos oficiais.

Nesse contexto, Alves e Passador (2011) apresentam alguns pontos

a serem definidos com relação à política educacional, tais como: o nível de educação

a ser priorizado; a estrutura curricular adequada ao modelo de desenvolvimento

adotado pelo país; a garantia de recursos mínimos para a execução da política

educacional; o estabelecimento de bases de dados confiáveis para a obtenção de

informações que favoreçam a tomada de decisões; a preparação de pessoal para a

realização das atividades educacionais e a reorganização institucional da função do

Estado em sua tarefa de orientação, supervisão e assistência ao sistema educacional

para sustentar o processo de descentralização e coordenação da comunidade

escolar.

A qualidade resulta na associação de uma série de fatores e

atividades relacionados não apenas a aluno e professor, mas também aos demais

elementos e indivíduos que participam da atmosfera escolar e, portanto, não pode

deles ser dissociada.

Pode-se compreender como “atmosfera escolar” o conjunto de

indivíduos e elementos participantes da cena educacional, tais quais alunos,

familiares, professores, coordenadores, elementos tangíveis da sala de aula e da

escola (infraestrutura, carteiras, materiais de apoio, materiais pedagógicos etc.),

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elementos intangíveis da sala de aula e da escola (clima, normas, comportamento,

disciplina etc.) e background1 do aluno.

Hatie (2009 apud GAUTHIER, BISSONNETTE; RICHARD, 2014)

estabelecem as categorias de fatores que exercem influência no rendimento escolar

dos alunos, conforme Quadro 1, a seguir, que descreve como aluno, família, escola,

currículo, métodos de ensino e professor geram influências no rendimento escolar do

aluno. São aspectos que se complementam, uma vez que agem simultaneamente.

Dessa forma, o reconhecimento desses aspectos e a determinação de estratégias de

gestão podem favorecer escola e aluno, ao direcionarem para métodos assertivos.

Quadro 1 – Exemplos das diferentes categorias de fatores que exercem influência no rendimento escolar dos alunos

INTERFERENTE INFLUÊNCIAS

Aluno • Conhecimentos prévios em matéria de aprendizado. • Expectativas. • Grau de abertura a novas experiências. • Convicções emergentes quanto ao valor e à vantagem de investir no

aprendizado, bem, como em uma reputação de aprendiz. • Envolvimento. • Capacidade de construir um sentido para si mesmo a partir de seu

envolvimento no aprendizado, bem como uma reputação de aprendiz.

Meio familiar • Expectativas e aspirações dos pais com relação ao filho. • Conhecimento da língua de ensino pelos pais.

Escola • Clima em sala de aula. • Influência dos colegas.

Professor • Qualidade do ensino, tal como percebida pelos alunos. • Expectativas do professor. • Concepções do professor em matéria de ensino, aprendizado, avaliação

e alunos. • Abertura do professor. • Clima em sala de aula. • Clareza do professor ao expressar critérios de sucesso e realizações. • Incentivo ao esforço do aluno. • Participação de todos os alunos.

continua

_____________ 1 Background é uma palavra inglesa que pode ter vários significados; entre eles, a experiências, os antecedentes, o contexto, as circunstâncias, o meio, a educação etc. Em algumas situações, o termo background serve para indicar o contexto ou a educação de uma determinada pessoa.

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continuação INTERFERENTE INFLUÊNCIAS

Currículo • Equilíbrio entre compreensão superficial e compreensão profunda. • Ênfase na elaboração de estratégias para tornar o aprendizado

significativo. • Estratégias planejadas, deliberadas e explícitas, bem como programas

ativos que ensinem competências específicas e uma compreensão mais profunda.

Métodos de ensino

• Atenção dada ao ensino de intenções e critérios de êxito. • Instauração de tarefas exigentes. • Múltiplas ocasiões de praticar intencionalmente. • Reconhecimento do momento em que o professor ou o aluno consegue

atingir objetivos. • Compreensão do papel crítico do ensino de estratégias de aprendizado

adequadas. • Planejamento e discussão em torno do ensino. • Busca contínua, pelo professor, de dados relativos ao êxito de seu ensino

junto aos alunos.

Fonte: Hattie (2009 apud GAUTHIER, BISSONNETTE; RICHARD, 2014).

Casassus (2002) afirma que, para a escola, qualidade em educação

significa investigar a prática educativa, incentivar a formação contínua dos professores

e integrar pais e alunos na dinâmica de ensino.

Para os alunos, a qualidade pode ser percebida de forma efetiva

quando a escola exerce sua função primeira, a de transmitir conhecimentos

historicamente acumulados pela humanidade, bem como no desenvolvimento das

competências sociais e pessoais e na transmissão de valores culturais e simbólicos.

Demo (1990, p. 98) diz:

A qualidade, sob este ponto de vista, é percebida na medida em que a escola colabora para o desempenho satisfatório do aluno, conduzindo-o ao aprendizado gradual de acordo com a estratégia pedagógica descrita no planejamento do currículo. A educação de qualidade para o aluno refere-se também à capacidade do sistema de ensino atuar como mecanismo de superação das desvantagens socioeconômicas.

Na obra Pesquisa em Eficácia Escolar (BROOKE; SOARES, 2008),

uma tentativa de parametrização do conceito de eficácia escolar é apresentada. Os

autores, após metanálise que compilou pesquisas realizadas na América Ibérica

(Europa: Andorra, Espanha e Portugal; América: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile,

Colômbia, Costa Rica, Cuba, República Dominicana, Equador, El Salvador,

Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico,

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Uruguai e Venezuela), citam que a percepção de qualidade escolar está associada a:

i) fatores escolares (clima escolar, infraestrutura, recursos da escola, gestão

econômica da escola, autonomia da escola, trabalho em equipe, planejamento,

participação e envolvimento da comunidade educativa, metas compartilhadas,

liderança); ii) fatores da sala (clima da sala de aula, dotação e qualidade da sala,

relação professor-aluno, planejamento do professor, recursos curriculares,

metodologia didática, mecanismos de acompanhamento e avaliação do rendimento

do aluno); e iii) fatores associados ao professor (qualificação, formação contínua,

estabilidade, experiência, condições de trabalho, implicações, relação professor-

aluno, expectativas, reforço positivo).

De fato, percebe-se que o aprendizado dos alunos pode ser

influenciado pela qualidade dos processos que ocorrem na sala de aula e pelas

intervenções e práticas relacionadas à ação do professor, uma vez que uma melhor

gestão de processos e de recursos pode implicar em desempenhos escolares

superiores. Dessa forma, esta autora considera razoável que a eficiência escolar está

diretamente associada aos aspectos escolares, professores e da sala de aula.

Grande parte dos acontecimentos em uma sala de aula depende do

que os professores pensam e fazem. A literatura registra que existe uma relação

positiva entre o estado de satisfação do professor e o bom desempenho dos alunos

e, inversamente, entre o estado de insatisfação do professor e o mau desempenho de

seus estudantes (HARGREAVES, 2001 apud CASASSUS, 2002).

No entanto, dadas as condições ambientais do profissional de ensino

no Brasil, a realidade traça um cotidiano desafiador e pouco propício à retenção do

professor em sala de aula. Salários baixos, políticas desanimadoras de

desenvolvimento de carreira e até mesmo uma infraestrutura sucateada, muitas vezes

exposta à violência característica da realidade urbana, faz com que o professor

precise se ajustar a um cenário caótico.

Justamente com o objetivo de melhorar as condições de trabalho do

professor, propiciar a elevação do nível de escolaridade da população, prezar pela

qualidade do ensino independente do nível, diminuir desigualdades educacionais e

sociais e democratizar o ensino público, o Plano Nacional de Educação, aprovado no

governo Fernando Henrique Cardoso pela Lei 10.172 (BRASIL, 2001), descreve

metas governamentais relacionadas à educação em um prazo de dez anos,

independente de relações partidárias,

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Deve-se compreender que o Ensino Fundamental propicia ao aluno

as bases cognitivas relacionadas ao bom aproveitamento do Ensino Médio, período

em que, de fato, a educação cumpre com o papel de capacitar o indivíduo para o pleno

exercício da cidadania, bem como para a qualificação profissional. Considera-se que,

ao longo do Ensino Médio, o aluno assuma responsabilidades pessoais e sociais

efetivas, tais quais: direito de votar, participação ativa do orçamento familiar e

planejamento da vida acadêmica com vistas à futura profissão.

O censo escolar de 2017 (BRASIL, 2017) aponta para a questão de

muitos alunos que, apesar de estarem na escola, encontram-se em idade escolar

errada, gerando distorção idade-série. A taxa de alunos com idade inadequada no

Ensino Médio foi de 28,2%, contra 28% do ano anterior.

A queda do número de alunos no Ensino Médio ocorre tanto pelos

elevados índices de reprovação no Ensino Fundamental quanto pela alta taxa de

abandono escolar. De acordo com as estatísticas do Ministério da Educação (MEC),

em 2017 foram registradas 27.348.080 matrículas no Ensino Fundamental. O número

é menor que as 27.691.478 computadas no ano anterior. O último ano do Ensino

Fundamental contribui especialmente para essa queda. Somente de 2013 a 2017, as

matrículas no 9º ano do Ensino Fundamental caíram 14,2%.

Como resultado da baixa no último ano do Ensino Fundamental, há

reflexos na quantidade de matrículas no Ensino Médio, e menos estudantes chegam

aos últimos anos da escolarização. Em 2017, foram 7.930.384 matrículas contra

8.133.040 no ano anterior, segundo o censo escolar de 2017. Ainda de acordo com

os números divulgados pelo INEP (BRASIL, 2017), dos 2,2 milhões de professores

que atuam na Educação Básica brasileira, 63,8% estão no Ensino Fundamental. De

2013 a 2017, o número de professores que atuam na Educação Infantil cresceu

16,4%, enquanto o do Ensino Médio caiu 2,5% desde 2015, apesar do número de

alunos aptos ao Ensino Médio ter aumentado.

Acredita-se que uma das explicações para a redução do número de

professores na função possa ser atribuída à insatisfação com as políticas de

remuneração, condições precárias de trabalho e planos de carreira desestimulantes.

Outra explicação consiste no fato de grande parte dos egressos do

Ensino Fundamental sequer entrar no Ensino Médio por motivos que transcendem

condições de acesso e infraestrutura, encerrando seus estudos prematuramente. O

censo aponta o alto índice de alunos que, por não perceber que a escola entrega

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ensino de boa qualidade, opta por não dar continuidade aos estudos, muitas vezes

sem nem mesmo possuir uma ocupação profissional.

Quando se observa que, quinze anos depois, parte das metas e dos

objetivos do PNE não se concretizaram e o cenário educacional permanece carente

de evoluções estruturais, compreende-se que a missão de ofertar ensino de boa

qualidade continua sendo um desafio aos gestores da nação. É recomendável,

portanto, que os gestores educacionais compreendam a importância do papel do

professor diante dos níveis de aprendizado obtidos a cada período de tempo,

contemplando o professor com condições dignas e motivadoras, para que ele exerça

bem sua função profissional e social.

2.1 EQUIDADE E IGUALDADE RELACIONADAS À GESTÃO DA QUALIDADE

ESCOLAR

A intangibilidade dificulta a compreensão e a avaliação do que seja a

“qualidade” do ensino, uma vez que é difícil quantificar tanto expectativas quanto

percepções. Casassus (2002) afirma que não é possível uma única e última definição

de qualidade na educação. A conceituação deve estar contextualizada por um

processo democrático que ocorre na comunidade escolar de forma permanente,

contínua e de possível revisão, conforme as condições ambientais, sociais e culturais

vigentes. Ainda de acordo com o autor, alguns conceitos estão diretamente

associados à análise de qualidade de ensino: quantidade, igualdade, equidade,

homogeneidade e diversidade.

A Constituição Federal (BRASIL, 1988) estabelece que todos os

cidadãos são iguais perante a lei e devem, ao menos em teoria, ter os mesmos direitos

à educação e a serviços essenciais.

O que ocorre, no entanto, é uma estratificação social oriunda da

péssima distribuição de renda no País, que trata de fornecer ofertas educacionais

distintas a indivíduos de classes sociais díspares. A oferta da educação no Brasil trata

de descumprir a própria Constituição Federal, quando cria distinção entre pessoas no

acesso à escola em função das condições sociais e financeiras vigentes.

Goulart (2014, p. 40) afirma:

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Faz muita diferença organizar políticas educacionais considerando a existência de déficits, ou seja, para compensá-los, e organizar políticas considerando perspectivas de vida democrática em que todos têm direitos e deveres iguais, embora os pontos de partida sejam diferentes.

Casassus (2002) aponta que os termos igualdade e desigualdade

pertencem ao âmbito jurídico e refere-se ao princípio de que todos os cidadãos são

iguais perante a lei e, portanto, têm os mesmos direitos. O autor acrescenta que

igualdade remete à equivalência de quantidades ou equivalências de resultados.

Para Moran, Masetto e Behrens (2006), existe uma relação de

privilégio na educação quando se determina o acesso ao ensino de qualidade às

condições econômicas do indivíduo. Nesse contexto, o ensino é disponível para

poucos, uma vez que está atrelado a poder econômico.

Alves e Passador (2011) descrevem que as condições

socioeconômicas tratam de inviabilizar a qualidade de ensino, inclusive dentro de

escolas particulares, quando as instituições não definem claramente metodologias

pedagógicas, remuneram mal o quadro de professores, estipulam número excessivo

de alunos por salas e ignoram a importância de um plano de carreira aos profissionais

da área.

Já Gauthier, Bissonnette e Richard (2014) estabelecem que, em

reação ao princípio de igualdade de chances, o princípio de igualdade de tratamento

pressupõe que todos os alunos devem receber um ensino com a mesma qualidade, e

isso em uma escola única, sem diferenciação de percurso. É, então, oferecida uma

formação equivalente para todos, independentemente das diferenças individuais.

Enquanto o princípio de igualdade de chances está baseado no

desenvolvimento de aptidões e considera as diferenças individuais de acordo com as

capacidades pessoais do aluno, o princípio de igualdade de tratamento busca impedir

a reprodução da estratificação social dentro do ambiente escolar, no sentido de

acolhimento aos indivíduos de diversos contextos socioeconômicos, sem distinções

(GRAHAY, 2000 apud GAUTHIER; BISSONETTE; RICHARD, 2014).

Saviani (2012, p. 33) afirma que a desigualdade, como fenômeno

social, é uma realidade e “deriva de uma concepção que articula educação e

sociedade e parte da consideração de que a sociedade em que vivemos é dividida em

classes com interesses opostos”.

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A tentativa de parametrizar o acesso à educação aos conceitos de

equidade, apesar de nobre, demonstra-se pouco viável em um cenário em que as

diferenças sociais, culturais e econômicas apenas evidenciam a desigualdade social

e praticamente legitimam as desigualdades escolares, como uma consequência

natural e quase óbvia.

Casassus (2002) afirma que uma política direcionada para equidade

é aquela que busca oferecer condições a cada aluno conforme suas necessidades,

em relação ao meio social e às características culturais. Ainda de acordo com o autor,

deve-se também considerar os conceitos de homogeneidade e diversidade. O

princípio democrático torna-se contraditório quando oferece o mesmo ensino a todos,

propiciando ao universo estudantil o mesmo conteúdo, concomitante à promoção da

consciência de igualdade social, quando estabelece a ideia de que todos os

estudantes pertencem a um mesmo universo cultural.

Equidade e diversidade seriam, portanto, dois conceitos que

impossibilitam a visão democrática de educação, uma vez que não é possível

compatibilizar a esfera cultural diversificada – dadas as dimensões continentais do

País – a uma estrutura curricular padronizada e idêntica em todas as regiões. A

padronização do currículo impediria a observação às diferenças.

Na obra Ensino Explícito e Desempenho dos Alunos: a gestão dos

aprendizados, Gauthier, Bissonnette e Richard (2014) relatam que tais princípios mais

geram que resolvem desigualdades escolares e sociais, visto que estão diretamente

associados. É nesse contexto que a atuação do professor ganha destaque e pode ser

cogitada como um elemento que realmente contribua para a redução das

desigualdades percebidas na gestão do ensino e da educação.

Não há dúvidas de que o desempenho do professor seja um fator

relevante ao aprendizado. As práticas desenvolvidas em sala de aula são

determinantes para o nível de compreensão e interesse dos alunos.

Esse estudo não pretende atribuir ao professor, única e

exclusivamente, a responsabilidade pela eficácia escolar. Conforme já abordado, o

desempenho escolar está relacionado a uma série de fatores, que são

interdependentes e complementares. No entanto, é indiscutível que a habilidade do

professor pode interferir nos níveis de conhecimento do aluno e auxiliar na

apropriação de conhecimentos.

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Gauthier, Bissonnette e Richard (2014) citam a técnica da metanálise2

de Fraser para estudo do valor agregado do professor relacionado aos diferentes

fatores no desempenho escolar dos alunos. O estudo revelou que o professor exerce

importante papel no aprendizado dos alunos, além das dimensões familiares e

motivacionais.

Os estudos compararam quantitativamente a influência do professor,

da escola e da família no desempenho escolar. Na obra, os autores relatam que o

estudo de Fraser compilou os resultados de 7.827 pesquisas, englobando cerca de

10 milhões de alunos. Foram listados fatores que alunos, pais e educadores

percebiam como diretamente associados aos resultados escolares. Os resultados

extraídos foram tabulados em sete categorias de fatores que exercem influência no

aprendizado dos alunos:

1) fatores ligados à escola: objetivos, políticas de agrupamentos dos

alunos, número de alunos por turma, clima da turma e da escola,

coerência das aulas, dificuldades das tarefas passadas aos alunos

e objetivos almejados;

2) fatores associados ao ambiente social do aluno: influência dos

colegas e da família, quantidade de horas em frente à televisão;

3) fatores ligados ao professor: idade, entusiasmo, formação e

cursos recebidos, incentivos dados aos alunos, expectativas

quanto aos alunos;

4) fatores associados ao ensino: qualidade do ensino tal como

avaliada pelos alunos, feedback fornecido aos alunos, tempo

efetivo dedicado ao ensino, conhecimentos aprofundados sobre a

matéria a ensinar, escolha do material pedagógico;

5) fatores relativos ao aluno: conhecimentos e experiências

anteriores, coeficiente intelectual, autoestima, lócus de controle

interno, sexo do aluno, atitudes do aluno com relação à matéria,

disposição para aprender;

_____________ 2 Estudos em que cada fator é estabelecido como um padrão, chamado “efeito de amplitude” ou “amplitude de efeito”, que permite quantificar os resultados provenientes de várias pesquisas.

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6) fatores ligados aos métodos de ensino: pedagogia do domínio,

ensino programado, ensino assistido por computador, aulas

particulares, suportes visuais, deveres e estudos passados;

7) fatores que podem ser associados a estratégias de aprendizado:

tipos de reforço e feedback construtivo, ensino corretivo, apelo a

ferramentas estruturantes,3 ensino explícito das estratégias

necessárias à execução de uma tarefa.

Ficou constatado, na mega-análise de Fraser, que certas estratégias

pedagógicas empregadas pelo professor produzem efeito positivo no rendimento dos

alunos, superior inclusive à influência da família e da escola em geral.

Novamente, evidencia-se a consciência da existência de uma relação

estreita e interdependente dos fatores supracitados na eficácia do ensino e na

percepção de qualidade educacional.

O presente relato pretende, no entanto, direcionar-se para práticas

docentes que comprovadamente apontem para desempenhos escolares positivos

relacionados à ação do professor. Esta autora considera que os sete fatores

resultantes da mega-análise são merecedores de atenção e realmente participam

diretamente dos desempenhos escolares. Escola, ambiente social, formação e

preparo do professor, perfil do aluno e métodos de ensino são aspectos atrelados ao

ensinar e aprender. Da interação desses fatores surge um aluno com maior ou menor

propensão à apropriação de novos saberes. Justamente por isso, todos são fatores

que devem merecer atenção pormenorizada dos agentes escolares.

Acredita-se, porém, que o impacto de ações adequadas dos

professores seja potencialmente importante para o processo de ensino e merecedor

da atenção de todos os agentes educacionais.

Cabe, também, ao professor importante papel no desenvolvimento de

habilidades e competências dos alunos. Governo, sociedade, família e escola

possuem atribuições e responsabilidades mútuas que, caso não observadas e

descumpridas, incidem negativamente na atuação do professor em sala de aula.

_____________ 3 Também chamadas de advance organizers, o conceito de ferramentas estruturantes foi elaborado, em 1968, pelo psicólogo D. Ausubel e estabelece a preparação de ferramentas que analisem a discrepância entre o que o aprendiz já sabe e o que ele precisa saber para apropriação de novos conceitos.

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Na prática, observa-se que a escola reproduz as condições culturais,

sociais e econômicas de um povo. Em um cenário de carência de recursos materiais,

desinteresse intelectual e subutilização do potencial humano, o espaço escolar

frequentemente é visto como secundário em termos de importância ao estudante, que

precisa voltar-se para outras atividades mais emergenciais, a fim de garantir sua

sobrevivência.

Kiddo (2016) afirma que a necessidade de trocar os estudos pelo

trabalho, a distorção de idade e série, a falta de acesso e o desinteresse são os

principais motivos para que 25,3% de crianças e adolescentes abandonem a escola.

A estatística da Organização das Nações Unidas (ONU) torna o Brasil o terceiro em

taxa de evasão escolar entre os 100 países com maior Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH).

Em contrapartida, nos países que cultuam a criação intelectual e

creditam ao conhecimento um fator determinante para o desenvolvimento, o espaço

escolar é percebido como de vital importância, não apenas pelo fato de qualificar

tecnicamente o aluno, mas também por validar socialmente o indivíduo.

Bakhtin (1998, p. 146) estabelece:

A escola e especialmente o processo contínuo de alfabetização e de trabalho com a linguagem na escola são espaços importantes para vivermos a transformação ideológica que é justamente um conflito tenso no nosso interior pela supremacia dos diferentes pontos de vista verbais e ideológicos, aproximações, tendências, avaliações.

Demo (2001) alerta para a necessidade do professor, muito mais que

catedrático e essencialmente tecnicista, estar alinhado à habilidade de instigar nos

alunos o senso de inconformidade com a realidade apresentada, gerando

predisposição para mudança e construção de novos significados aos conhecimentos

repassados em sala de aula. Para o autor, cabe ao professor não apenas a

atualização permanente, mas também a capacidade de conciliar o legado teórico à

capacidade reflexiva do aluno.

Ainda, Demo (2001) descreve que considerar o ensino papel

unilateral, em que uma pessoa ensina e a outra apenas absorve conhecimentos, é um

equívoco evitável. A humanização e o acolhimento são imperativos ao ambiente de

ensino, sobretudo em países onde as taxas de retenção de alunos são baixas.

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Além de ensinar, é dever do professor humanizar o ambiente escolar,

principalmente nas situações em que as condições de acesso à educação são fatores

dificultadores, e providenciar metodologias de construção de aprendizado a todos.

É razoável, portanto, cogitar que, quanto mais preparado para

ministrar conteúdos e comportamentos em sala de aula, melhor será o desempenho

do professor diante dessa realidade e, em consequência, proporcionalmente melhores

serão os desempenhos dos seus alunos.

2.2 A PEDAGOGIA E A DIDÁTICA ALIADAS À QUALIDADE DO ENSINO

As condições que o professor recebe para aprimorar seus

conhecimentos, bem como para gerir as turmas, são centrais no enfoque da

qualidade. Surgem aspectos fundamentais, relacionados não apenas à conduta do

professor, mas também aos fatores que rodeiam e permeiam a profissão.

A formação do professor, quando adquire capacitação didático-

pedagógica para vivenciar a profissão, é fator a ser valorizado e considerado quando

tentamos compreender os aspectos que definem qualidade na área educacional.

Sousa et al. (2014) apontam para a percepção de que as práticas

docentes são mais significativas quando há evidências de domínio conceitual e prático

por parte do professor. Em contrapartida, professores despreparados para o ensino

de outras disciplinas são facilmente identificáveis pela turma quando não dominam

aspectos conceituais e acumulam mais de uma matéria na mesma série.

Tal capacitação é imprescindível à atuação em sala de aula, uma vez

que as especificidades ambientais tratam de exigir do professor habilidades que

extrapolam as necessidades inerentes à profissão. Desde o acúmulo de turmas, a

gestão de salas excessivamente cheias, até o fato de assumir disciplinas em que não

possui domínio conceitual – prática comum nas escolas em função da gestão do

quadro de colaboradores –, o professor precisa ajustar-se a demandas emergenciais

que nem sempre cogitam a qualidade do ensino.

Vasconcelos (2011) defende uma formação continuada e consistente,

para que o professor tenha condições de percorrer a esfera teórico-prática e possa

enfrentar as situações cotidianas da sala de aula, muitas vezes influenciada pela

realidade sociocultural e econômica vigente. O mesmo autor relaciona a didática como

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atividade elementar da docência e sua importância na formação inicial de um

professor.

A didática pode ser entendida como a capacidade de ensinar ou fazer

alguém aprender. Batista e Buecke (2017) afirmam que a didática apresenta-se como

um dos ramos de estudo da pedagogia, ou seja, a pedagogia é uma ciência que

investiga a teoria e a prática da educação, e a didática é uma disciplina que estuda os

objetivos, os conteúdos, os meios e as condições do modo da ação pedagógica na

escola, mas não restrita ao espaço da sala de aula, pois é multidimensional e o seu

processo educativo tem uma ação mais global, que visa a preparar o aluno na

participação da vida em sociedade.

Menegolla e Sant’Anna (2001) afirmam que a didática deve ser uma

aliada do professor, como fonte questionadora sobre as realidades da educação, da

escola, do professor, do ensino, das metodologias de aprendizagens, além de refletir

sobre a política educacional relacionada ao aluno que se quer formar. Para eles,

Planejar o processo educativo é planejar o indefinido, porque educação não é o processo, cujos resultados podem ser totalmente pré-definidos, determinados ou pré-escolhidos, como se fossem produtos de correntes de uma ação puramente mecânica e impensável. Devemos, pois, planejar a ação educativa para o homem não lhe impondo diretrizes que o alheiem. Permitindo, com isso, que a educação ajude o homem a ser criador de sua história (MENEGOLLA; SANT’ANNA, 2001, p. 25).

Para Franco (2015), a didática possui uma abrangência menor, mais

focada nos processos escolares dentro das salas de aula, enquanto a pedagogia

coloca intencionalidades, projetos alargados; a didática compromete-se a dar conta

daquilo que se instituiu chamar de saberes escolares.

Nesse sentido, compreende-se que a didática busca significado na

produção da aprendizagem (nos alunos), a partir de processos de ensino previamente

planejados. A prática da didática é, portanto, uma prática pedagógica. A prática

pedagógica inclui a didática e a transcende.

Estabelece Franco (2015) que a produção do conhecimento em sala

de aula depende de muitas circunstâncias: desejos, formação, conhecimento do

conteúdo, conhecimento das técnicas didáticas, ambiente institucional, práticas de

gestão, clima e perspectiva da equipe pedagógica, organização espaço-temporal das

atividades, infraestrutura, equipamentos, quantidade de alunos, organização e

interesse dos alunos, conhecimentos prévios, vivências e experiências anteriores.

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O modo como o professor aproveita tais circunstâncias a seu favor é

determinante da capacidade didática desse profissional. É demanda do professor a

capacidade de percorrer antagonismos e estabelecer linha central de raciocínio que

gere um debate construtor de conhecimentos agregadores.

Franco (2015) alerta que a ausência da reflexão, o tecnicismo

exagerado, as desconsiderações aos processos de contradição e de diálogo podem

resultar em espaços de engessamento das capacidades de discutir/propor/mediar

concepções didáticas. A ausência do espaço pedagógico pode significar o

crescimento de espaço de dificuldade ao diálogo.

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3 O ENSINO EXPLÍCITO E SUAS IMPLICAÇÕES

A gestão dos aprendizados está relacionada à forma como o

professor ordena e ministra os conteúdos, relacionados ao conteúdo programático

estabelecido.

Gauthier, Bissonnette e Richard (2014) elaboram o ensino explícito

como uma abordagem sequenciada e integrada, na qual o professor estrutura o

processo de aprendizado em uma série de ações intencionalmente organizadas,

disposta em três grandes momentos:

1) a preparação e o planejamento;

2) o ensino propriamente dito;

3) o acompanhamento e a consolidação.

A gestão dos aprendizados e a gestão da classe ocorrem,

simultaneamente, nos três momentos apresentados e determinam a estruturação das

ações futuras do professor, no sentido de tornar eficaz o ensino.

Ainda de acordo com os autores, o ensino é chamado de “explícito”

porque deve observar com exatidão como deverá ser estruturado, para que o

aprendizado seja facilitado. Orientações claras e precisas – ou explícitas – norteiam o

aluno e reduzem as chances de má interpretação. O termo “explícito” existe aqui no

sentido de clareza, objetividade e precisão. Quaisquer possibilidades de dissonância

ou erros na apresentação, reconhecimento e assimilação destoam do modelo

proposto pelo que se denomina “ensino explícito”, ou seja, ensino claro e lógico.

Na Figura 1, a seguir, está representado o método proposto no ensino

explícito, denominado “Modelo PIC”, baseado na busca intencional de apoio do

aprendizado em três momentos: preparação, interação e consolidação.

Gauthier, Bissonnette e Richard (2014) direcionam para importância

de o professor compreender a gestão integrada entre classe e aprendizados nos três

momentos, planejando ações adequadas a cada um desses tempos. Ao associar

ferramentas e métodos, o professor fornece ao aluno condições de apropriar saberes,

apoiado por um conjunto de ações previamente pensadas e coordenadas.

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FIGURA 1 – O Modelo PIC

Fonte: Gauthier, Bissonnette e Richard (2014, p. 64).

A integração entre esforços e recursos utilizados nos três momentos

do ensino determina a eficácia do modelo. Tão importante quanto a sinergia é a

capacidade do professor de empregar táticas eficazes na gestão da sala e dos

aprendizados, simultaneamente. Nesse sentido, enumerar quais ferramentas serão

utilizadas para a gestão da sala e dos aprendizados pode ser uma estratégia

facilitadora ao ensino.

Exemplos de ferramentas e técnicas para gestão da classe e dos

aprendizados serão citados adiante, nesta dissertação.

Para Gauthier, Bissonnette e Richard (2014, p. 65):

Na perspectiva cognitiva, o aprendizado está intrinsecamente ligado à função memorial no sentido vasto do termo, responsável pela construção, organização, codificação e recuperação dos conhecimentos. Existem várias teorias cognitivas relativas ao aprendizado. Elas têm em comum que a mente é um sistema de tratamento da informação e conferem um lugar central às informações sobre as quais os seres humanos pensam, aos processos que eles utilizam para tratar as mesmas e aos limites do sistema cognitivo que restringem a quantidade de informações que elas são capazes de se representar e tratar realizando determinada tarefa.

O aprendizado eficaz, também chamado de “explícito” pelos autores,

seria aquele no qual os processos para a obtenção de novos conhecimentos ou para

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a transformação de conhecimentos existentes respeitem as características estruturais

do sistema de tratamento da informação, por eles denominada “arquitetura cognitiva”.

Ainda dentro do conceito de arquitetura cognitiva, eles direcionam para a existência

de três tipos de sistemas ou “registros memoriais”: memória sensorial, memória de

curto prazo (ou memória de trabalho) e memória de longo prazo.

A memória sensorial está relacionada ao registro de informações,

intuitiva e brevemente. São as percepções cotidianas que devem ser registradas como

interpretação ambiental, mas que se dissipam também rapidamente.

A memória de longo prazo está relacionada a organização,

armazenamento e estocagem dos conceitos, fatos e conhecimentos de um indivíduo.

É altamente pessoal, pois laços, associações e alusões mudam entre indivíduos. O

modo como o aluno esquematiza as diversas informações e conhecimentos, quase

que numa espécie de “registro interno”, determina, na memória de longo prazo, como

o novo saber será inserido, por meio de entrelaçamento com os conhecimentos

anteriores.

Já a memória de curto prazo, ou a memória de trabalho, refere-se ao

tempo em que um indivíduo é capaz de falar de determinado assunto antes de

esquecê-lo. Caso as informações possuam representatividade, é provável que o

indivíduo forneça ancoragem àquele dado e reconstrua sua estrutura cognitiva com a

nova informação. Caso contrário, o dado será quase “descartado”, pelo fato de não

possuir importância ou relação direta com os conhecimentos prévios já estabelecidos.

Sem o fornecimento de “sentido” ou “importância”, os dados

ambientais são facilmente esquecidos, porque não é possível estabelecer ancoragem

entre o novo e aquilo que já existe. É a chamada representatividade conceitual. É

justamente por isso que cada pessoa aprende e apropria conhecimentos de formas

diferentes. A psicologia cognitiva estabelece que, com a definição de “sentido” ou

“importância”, o indivíduo elabora uma nova estrutura de pensamento, para fornecer

representatividade ao novo saber.

Gauthier, Bissonnette e Richard, 2014, p. 75 afirmam:

De fato, pesquisas em psicologia cognitiva revelam que as representações têm um poder explicativo espontâneo que elas se tornam duradouras e resistem extremamente a mudanças. Elas podem até erigir obstáculos capitais à compreensão de uma situação de aprendizado. Portanto é preciso abordar a representação do aluno como um sistema explicativo que deve ser compreendido, seja para detectar um erro a eliminar ou obstáculo a superar, ou ainda para ter uma base de apoio, no intuito de favorecer a compreensão

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e o aprendizado. Aprender consiste em modificar suas representações até compreender e registrar o objeto de aprendizado.

Entende-se, com esta citação, que é função do professor a percepção

e o reconhecimento da estrutura de conhecimentos prévios (ou memória de longo

prazo), seja para fornecer significado ao novo saber – favorecendo a apropriação –,

seja para corrigir estruturas cognitivas inadequadas ou erradas.

Nesse sentido, surge o conceito da metacognição. Ela está

relacionada à capacidade do indivíduo de compreender seu pensamento, por meio da

consciência, estruturando logicamente suas habilidades mentais para receber,

codificar, armazenar e utilizar informações por meio da memória de longo prazo.

De modo simplista, a metacognição é a capacidade que cada pessoa

possui de internalizar dados, por meio de estruturação mental própria e particular,

transformando-os em compreensão e comportamento. Portanto, é relativa não apenas

ao aspecto cognitivo, mas também à forma de cada indivíduo enfrentar determinados

estímulos, transformando-os em reações e comportamentos, apoiados por um modelo

de condução emocional altamente subjetivo.

A metacognição determina comportamentos diferentes entre pessoas

perante um mesmo estímulo. Além disso, é a metacognição que fornece sentido ao

comportamento de cada pessoa, uma vez que organiza o estímulo na sua estrutura

mental, gerando senso sobre o que deve ser feito, como deve ser feito e motivos pelos

quais deve ser feito.

Comparando o desempenho de novatos e especialistas em diferentes

situações de resolução de problemas, estudos em psicologia cognitiva jogaram luz

sobre a singular capacidade que os especialistas têm de exercer um controle eficaz

em seu processo de realização de tarefas, o que se denomina metacognição.

(BRUER, 1993 apud GAUTHIER; BISSONNETTE; RICHARD, 2014).

Os conceitos ora apresentados são relevantes para o estudo em

questão porque a capacidade que o aluno possui para apropriar-se de novos

conhecimentos depende diretamente da atribuição de importância – ou significado –

àquilo que o professor apresenta em sala de aula. Quanto maior a capacidade de o

professor perceber a estrutura cognitiva, estabelecendo relações úteis aos novos

saberes, maior a possibilidade de apropriação de conhecimentos e da eficácia

educacional.

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As abordagens pedagógicas baseiam-se, centralmente, no

reconhecimento do nível de domínio existente de cada assunto e na necessidade de

apoio que o aprendiz apresenta para a apropriação de novas informações.

Reconhecer a quantidade e a intensidade de apoio para auxiliar o aluno na

organização e na estruturação dos conhecimentos e procedimentos na memória de

longo prazo é uma tarefa do professor. À medida que o professor percebe que a

assimilação e a apropriação tornam-se naturais ao aprendiz, em função da

metacognição, a necessidade de apoio é gradativamente reduzida e o

acompanhamento passa a ser o centro da ação do professor.

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4 GESTÃO DOS APRENDIZADOS E GESTÃO DA CLASSE

Compete ao professor, além da gestão de conteúdo, conceitos e

terminologias, a atividade de gerenciar a atmosfera da sala de aula, relacionada a

fatores ambientais, sociais e comportamentais. Muitos autores relacionam tais

atribuições como as duas grandes funções do ensino.

Nesse raciocínio, o ensino eficaz estaria relacionado a uma adequada

gestão dos aprendizados, bem como a uma boa gestão da classe. Para Gauthier,

Bissonnette e Richard (2014, p. 63),

Para resumir, as duas funções pedagógicas fundamentais executadas pelo professor são instruir e educar; elas remetem ao que nós chamamos de ‘gestão dos aprendizados’ e ‘gestão da classe’. Com base nas melhores práticas oriundas de pesquisas sobre a eficácia de ensino, seremos capazes de determinar as estratégias pedagógicas que correspondem a cada uma dessas duas grandes funções do ensino.

FIGURA 2 – As duas grandes funções do ensino

Fonte: Gauthier, Bissonnette e Richard (2014, p. 63).

A gestão da sala de aula envolve aspectos conceituais, técnicos e

comportamentais. Tão importante quanto explicar bem um conteúdo é a capacidade

de fornecer aos alunos um ambiente adequado ao aprendizado, em termos

disciplinares e comportamentais. Essas habilidades são denominadas gestão dos

aprendizados e gestão da sala, simultaneamente.

Ensino eficaz

Gestão dos aprendizados Gestão da classe

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4.1 GESTÃO DOS APRENDIZADOS

O domínio conceitual e a habilidade de percorrer cada novo saber

providenciando base associativa, por meio de apoio e acompanhamento, estão

diretamente associados à gestão dos aprendizados.

Quando tratamos da gestão dos aprendizados, habilidades

conceituais e técnicas são exigidas do professor. A habilidade didática, anteriormente

citada, é essencial quando a estrutura cognitiva do aluno está sendo modificada para

a construção de novos aprendizados. Para a gestão dos aprendizados ocorrerá

necessariamente a reestruturação da arquitetura cognitiva e, nessa esfera, as

habilidades didáticas docentes, relacionadas ao saber ensinar, assumem fundamental

importância.

Zabala (1999, p. 29) afirma:

É preciso insistir que tudo quanto fazemos em aula, por menos que seja, incide em maior ou menor grau na formação de nossos alunos. A maneira de organizar a aula, o tipo de incentivo, as expectativas que depositamos, os materiais que utilizamos, cada uma dessas decisões veicula determinadas experiências educativas, e é possível que nem sempre estejam em consonância com o pensamento que temos a respeito do sentido e do papel que hoje em dia tem a educação.

O professor representa figura determinante no desempenho estudantil

porque é por meio das ações por ele empregadas, no momento da instrução dos

novos conhecimentos, que o aluno terá melhores condições de reconhecer, interpretar

e associar o novo à sua estrutura de subsunção, elencando-o em escala de

importância ou utilidade e apropriando-se do novo saber.

Marzano, Pickering e Pollock (2008) elencam uma série de

estratégias que podem significar produtividade na gestão dos conhecimentos em sala

de aula, no sentido de potencializar o desempenho dos alunos. Os autores também

apontam para a necessidade de conscientização do profissional de ensino para sua

capacidade persuasiva e motivacional no momento de utilizar as técnicas citadas a

seguir.

Eles esclarecem que, para a análise das categorias a serem

estudadas e os resultados dos níveis de eficácia de cada uma, foi realizada a técnica

de metanálise junto a turmas de Ensinos Infantil e Médio. Os resultados direcionaram

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para a validação de determinadas estratégias em função das características do

público-alvo e das disciplinas ministradas.

São apresentadas, pelos autores, nove categorias de estratégias de

ensino que afetam o desempenho do aluno: identificar semelhanças e diferenças,

resumir e fazer anotações, realçar o esforço e proporcionar reconhecimento, lição de

casa e prática, representações não linguísticas, aprendizagem cooperativa,

estabelecer objetivos e fornecer feedback, gerar e testar hipóteses, pistas, perguntas

e organizadores avançados.

Ainda de acordo com Marzano, Pickering e Pollock (2008), a primeira

categoria de estratégias de ensino que afetam o desempenho do aluno corresponde

à identificação de semelhanças e diferenças. É proposto que o professor, no ato da

apresentação de um novo tema, desenvolva a comparação entre situações que o

aluno já conheça, pelo fato de já dominar situações anteriores, a situações novas,

possuidoras de elementos ainda desconhecidos pela turma.

Nesse enfoque, a classificação – dirigida pelo professor – dos

aspectos centrais da comparação direciona a turma para a interpretação de novos

conceitos, quando a utilização de gráficos e diagramas auxilia na visualização das

características comuns dos conceitos e nas suas consequentes interpretação e

compreensão. Por meio de abstrações e metáforas, a turma é convidada a associar

assuntos e estabelecer correspondência entre eles.

Observam Marzano, Pickering e Pollock (2008) que, quando se utiliza

um objeto de comparação como referência para a verificação dos níveis de

aprendizado, de acordo com os autores, se ganha não apenas pela aplicação de um

método, mas também pelo reforço de conteúdos ministrados anteriormente. Ao

estabelecer semelhanças e diferenças entre o conjunto de novos saberes e os

conhecimentos prévios, o aluno não apenas reestrutura sua arquitetura cognitiva,

como também percebe a possibilidade de aperfeiçoá-la quando novos saberes são

apresentados.

A segunda categoria das estratégias recomendadas pelos autores

trata da realização de resumos e anotações. A técnica de resumo estabelece que o

aluno deve possuir argumentos cognitivos suficientes para eliminar, manter e

substituir elementos. É uma atividade que requer compreensão suficiente para

visualizar o conteúdo genericamente, relacionando à atividade apenas os aspectos

centrais e mais importantes do que foi ministrado.

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Para tanto, os autores consideram que a consciência da estrutura do

conteúdo é requisito à elaboração da atividade. Por meio da elaboração de mapas

mentais, o aluno pode ordenar os aspectos que considera mais relevantes dentro da

estrutura explícita da informação. As técnicas de resumo podem ser apresentadas de

acordo com o tipo de conteúdo ministrado ou conforme as características de tempo e

público disponíveis.

De acordo com Marzano, Pickering e Pollock (2008), a técnica de

realizar esboços ou breves notas, por meio de anotações, para posterior elaboração

de sínteses, é uma forma eficiente para obtenção de resumos eficazes.

Existe, ainda, a possibilidade de as anotações serem combinadas

pelo professor e pelo aluno. Apoiados pelas anotações dos professores, os alunos

percebem a informação de maneira visual e combinam suas percepções às dos

docentes. É uma técnica que, além de muito conhecida e utilizada, reflete habilidades

cognitivas sofisticadas dos alunos, uma vez que exige planejamento, organização,

associação e compreensão.

A terceira categoria de estratégias trata do reforço do esforço e

reconhecimento. Nesse caso, não lidamos especificamente com as habilidades

cognitivas do aluno. Como já foi exposto neste estudo, a capacidade do professor de

persuadir e de motivar os alunos está diretamente relacionada à produtividade

cognitiva e ao seu desempenho escolar.

Segundo os autores, ainda que o aluno possua crenças elevadas em

seu potencial acadêmico, sempre haverá a possibilidade de insegurança e medo

quando novos conceitos são apresentados. Nesse sentido, o esforço é visto, aqui,

como a capacidade de resiliência para superar as dificuldades cognitivas iniciais.

Marzano, Pickering e Pollock (2008), reforçam que reprogramar a

arquitetura cognitiva e compreender a importância da assimilação de novos

conhecimentos nem sempre é tarefa fácil. O aluno normalmente programa-se para

assimilar aspectos básicos das disciplinas e obter a aprovação ao final do período

letivo.

Ao se deparar com a necessidade de sofisticar a estrutura de

conhecimentos e alterar a forma como compreende cada assunto em sua arquitetura

cognitiva, é comum que, em um primeiro momento – e até de forma inconsciente –,

ocorra resistência ao novo conteúdo. Para superar essa resistência, o esforço

intelectual é demandado e precisa ser reconhecido e apoiado pelo professor.

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Nesse sentido, ainda conforme Marzano, Pickering e Pollock (2008),

prática especialmente elaborada consiste em mapear, por meio de roteiros, como o

esforço do aluno determinou sua produtividade em dadas tarefas ao longo de uma

semana. Ao verificar o resultado obtido em cada tarefa em função do nível de esforço,

o aluno é capaz de apurar a conveniência da ação e, inclusive, de alterar suas crenças

sobre a importância do raciocínio e da entrega intelectual.

Uma ação benéfica é o reconhecimento do esforço do aluno. Uma de

suas formas é o emprego de elogios ao aluno. A prática requer cuidado, porque

estudos demonstram que fazê-lo aleatoriamente pode reduzir os níveis de

engajamento e de esforço. Mas, se diretamente associado a um padrão de

desempenho esperado, o elogio pode representar estímulo positivo e gerador de

esforço.

Para Marzano, Pickering e Pollock (2008), o reconhecimento pode ser

considerado positivo quando valida e reforça comportamentos que potencializam o

aprendizado do grupo, ao invés de pura e simplesmente recompensar a aluno por

fazer algo. Nesse sentido, o modo como o reconhecimento ocorre determina sua

assimilação e estimula a motivação do aluno.

A quarta categoria de estratégias para obtenção de bons níveis de

aprendizado consiste na aplicação de lições de casa e de atividades práticas.

Segundo os autores, não há dúvidas de que o ambiente familiar é um

dos determinantes dos níveis de engajamento do estudante. As relações familiares e

as correspondências intelectuais que o aluno elabora em relação à sua vida

acadêmica influenciam e corroboram o nível de entrega estudantil. Surge, aqui, a

necessidade de compreensão do conceito de background do aluno relacionado à

família e grupos sociais. O background é dividido em ocupacional, acadêmico, social,

familiar e ambiental. Ele representa o histórico, a carga herdada de referências,

aspirações, crenças e valores que o indivíduo recebe dos seus grupos de referência

e determinam diretamente seu perfil estudantil.

Brooke e Soares (2008) relatam que diversos aspectos determinam o

background do aluno e confirmam a predisposição à vida acadêmica e à permanência

do aluno no ambiente escolar: composição da família, número de filhos, renda dos

pais, ocupação profissional dos pais, escolaridade dos pais, antecedentes sociais,

bairro, distância entre escola e moradia, condições de higiene e acesso a serviços

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sanitários, exposição do aluno a áreas violentas, exposição do aluno a grupos de

influência com histórico de criminalidade, gênero, faixa etária, dentre outros.

Os autores afirmam que um dos mais poderosos fatores de

interferência na vida escolar do aluno é a família. Quanto maior o tempo de estudo

dos pais, maior a propensão para o apoio ao aluno no momento da realização das

tarefas escolares, bem como para o fornecimento de apoio e recompensas. As

atitudes dos pais são determinantes para o nível de envolvimento do aluno com as

atividades escolares, independente de classe socioeconômica, uma vez que não é

razoável afirmar que estudantes advindos de classes sociais privilegiadas

necessariamente possuam maior suporte acadêmico em casa.

Ainda de acordo com Brooke e Soares (2008), existe uma relação de

causalidade direta entre o nível de sucesso do aluno na escola e aspirações dos pais,

e vice-versa. A educação, nessa ótica, é vista como propulsora de desenvolvimento

do microcosmo familiar. Ao contrário do que se imagina, não apenas o nível de

sucesso acadêmico e profissional dos pais estimula as perspectivas do filho, mas o

oposto também é uma realidade.

Relatam, os autores, que alunos oriundos de famílias estruturadas

tradicionalmente possuíam mais apoio de um dos pais no momento da observação e

realização das tarefas de casa. A disponibilidade de tempo e a logística doméstica

seriam explicações para o fornecimento de apoio e acompanhamento por parte dos

pais.

Em contrapartida, núcleos familiares desestruturados, sem definição

de papéis para cada componente e sem estipulação de uma rotina programada à

realização do dever de casa mais provavelmente geram alunos menos entusiasmados

para a observação da tarefa e, em consequência, mais suscetíveis à reprovação

escolar em função de baixo aproveitamento curricular.

Brooke e Soares manifestam (2008, p. 73):

Nossas descobertas podem dar esperança à escola, aos pais interessados e àqueles responsáveis pelas políticas educacionais. Atitudes dos pais aparecem como uma influência separada porque elas não são monopolizadas por nenhuma das classes. Muitos trabalhadores manuais e suas esposas já incentivam e apóiam os esforços de seus filhos para aprender. Se existem muitos agora, podem existir ainda mais no futuro. Já as escolas podem exercer sua influência não apenas diretamente nos alunos mas também indiretamente, por meio de seu relacionamento com os pais.

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Pode-se, dessa forma, confirmar a importância do estímulo familiar à

realização do dever de casa e perceber que essa relação contribui para melhoria da

qualidade do ensino, fato que corrobora nossas colocações anteriores de que não

apenas ao professor está delegada a função de gerar aprendizado.

Importante ressaltar que o apoio familiar refere-se ao

acompanhamento ao aluno no momento da realização da tarefa de casa. Não é

esperado – nem desejado – que os pais realizem a atividade com o estudante, dado

que um dos objetivos dessa prática pedagógica consiste justamente no

desenvolvimento da autonomia do aluno para superar suas defasagens acadêmicas

e confirmar o aprendizado obtido anteriormente em sala de aula.

É função do aluno interpretar a tarefa de casa, compreendê-la,

executá-la e apresentá-la. À família cabe o estabelecimento de condições emocionais,

ambientais e materiais propícias ao desenvolvimento da lição.

Marzano, Pickering e Pollock (2008) alertam para a necessidade de o

lar estar preparado para receber as lições de casa, estabelecendo um espaço

adequado para o estudo, com disponibilização de recursos materiais e ambientais

pertinentes e fornecimento de apoio e motivação pelos familiares.

A quinta categoria de estratégias que direcionam ao bom

desempenho, apresentadas por Marzano, Pickering e Pollock (2008), está associada

às representações não linguísticas.

De acordo com os autores, as representações não linguísticas

referem-se às associações gráficas, imagens mentais, desenhos, ilustrações, aulas

práticas e mapas mentais. Ao representar os conceitos e os aprendizados adquiridos,

por meio de imagens e associações que não necessariamente estejam escritas, o

aluno adquire a capacidade de “situar mentalmente” o conteúdo, estruturando

subjetivamente aquele assunto e associando-o à sua cadeia cognitiva.

A abstração é uma atividade importante porque fornece subsídios

mentais para o aprendiz acessar o conhecimento em situações futuras, nas quais nem

sempre terá disponíveis anotações ou resumos. As aulas práticas exemplificam a

utilização das representações não linguísticas. Ao manipular um objeto citado no livro,

o aluno não apenas compreende melhor as informações teóricas disponibilizadas em

forma escrita, como também é capaz de fazer associações facilitadoras do

aprendizado que não seriam possíveis apenas com o material impresso.

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A Aprendizagem Cooperativa é a sexta categoria de estratégias

recomendadas por Marzano, Pickering e Pollock (2008). Por meio do trabalho coletivo,

o aluno, além de acessar os novos saberes, desenvolve habilidades interpessoais

imprescindíveis à vida em sociedade.

Kenski (2001, p. 128) relata:

Essas comunidades reforçam os vínculos emocionais e a motivação entre os seus membros para que se mantenham em aprendizagem. Superam os limites da disciplina geradora e avançam para o estudo de outros focos e temáticas que sejam do interesse de todos. O interesse em aprender junto com outras pessoas com as quais se têm afinidades aumenta a responsabilidade individual de cada participante em não apenas usufruir as informações disponibilizadas pelos demais, mas também buscar novas informações, aprofundar os questionamentos e comunicar os resultados de seus estudos para todos.

O fato de pertencer a um grupo gera reflexão e estimula o aluno no

desenvolvimento de comportamentos proativos, que favorecem atingir as expectativas

coletivas, em detrimento do comportamento egocêntrico e utilitarista.

Vygotski (1989) diz respeito ao processo de aprendizagem

cooperativa por meio de um conceito que chegou ao Brasil como zona de

desenvolvimento proximal. Trata-se de um estágio do processo de aprendizagem em

que o aluno consegue fazer sozinho, ou com a colaboração de colegas mais

adiantados, o que antes fazia com o auxílio do professor, ou seja, dispensa a

mediação do professor.

Ainda na ótica de Vygotski (1989), esse “fazer em colaboração” não

anula, mas destaca a participação criadora do aluno e serve para medir o seu nível

de desenvolvimento intelectual, sua capacidade de discernimento, de tomar a

iniciativa, de começar a fazer sozinho o que antes só fazia acompanhado, sendo,

ainda, um valiosíssimo critério de verificação da eficácia do processo de ensino e de

aprendizagem. Resumindo, é um estágio em que o aluno traduz, no seu desempenho

imediato, os novos conteúdos.

Para Marzano, Pickering e Pollock (2008), o agrupamento pode ser

formal, informal ou de base. No primeiro caso, o professor elenca componentes em

função das atividades a serem desenvolvidas, propositalmente. Nesse caso, as

variáveis relacionadas a habilidades, tempo, nível de dificuldade e socialização devem

ser observadas pelo professor, para que o grupo cumpra os objetivos propostos.

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Nos grupos informais, normalmente não há uma atribuição clara de

objetivos a serem cumpridos por cada componente e o foco do professor é a

habilidade da turma de tratar assuntos de forma genérica. São formações rápidas,

feitas em um curto espaço de tempo e que respondem a questões imediatas que não

demandam trabalho estruturado em papéis e responsabilidades.

Nos grupos de base, o período de tempo para a realização da tarefa

é maior. Os componentes do grupo buscam apoio uns nos outros e existe senso de

responsabilidade mútua pela entrega de resultados. As tarefas delegadas aos grupos

de base são normalmente vistas como muito importantes pela turma, uma vez que

envolvem ações ordenadas, em um maior espaço de tempo, e os objetivos são

destacados e frequentemente reforçados pelo professor.

Marzano, Pickering e Pollock (2008), relatam que, em todos os casos

de aprendizagem cooperativa, a observação do número de integrantes para cada

equipe de trabalho deve considerar a complexidade da tarefa envolvida e as

habilidades dos componentes para executá-las.

Estabelecer objetivos e fornecer feedback é a sexta categoria de

ações que Marzano, Pickering e Pollock (2008) elencam como adequadas ao bom

desempenho escolar.

O estabelecimento de objetivos é atividade inerente à maioria das

ações que desenvolvemos em nossas vidas. Em uma elaboração quase automática,

todas as metas, os planos e os planejamentos baseiam-se na formulação de objetivos

de curto, médio e longo prazos.

De acordo com a natureza da atividade a ser desenvolvida, os

objetivos devem ser flexíveis e ajustáveis às situações e percepções do aluno. A

natureza do aprendizado requer liberdade para que o aluno desenvolva abstrações e

adquira conhecimentos a partir de um objetivo que deve servir a todos os alunos e,

portanto, formatado genericamente.

Dizem Marzano, Pickering e Pollock (2008) que, ao estabelecer

objetivos para os alunos, o professor também deve verificar se existe a compreensão

da turma para a importância da referência de desempenho a ser alcançada em relação

àquele assunto. O objetivo claro fornece direcionamento e maior capacidade de

cumprimento dos alunos para o tema de estudo. Caso contrário, a turma pode não

atribuir sentido ao atingimento e a estratégia não surtir efeito.

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Uma forma de confirmação do nível de entendimento dos objetivos

consiste em instigar a participação dos alunos na elaboração dos objetivos a serem

cumpridos. Quando participam da formulação dos objetivos, os alunos são capazes

de situar suas competências e seus conhecimentos para cumprir o proposto e,

incentivados pela nota ou pela recompensa, buscar a aquisição de novas ferramentas

cognitivas para alcançar integralmente a meta estipulada em forma de objetivo

(MARZANO; PICKERING; POLLOCK, 2008).

Ainda de acordo com os autores, de nada adianta a observação da

atribuição de objetivos, se não existir devolutiva. O feedback é uma ferramenta que o

professor possui não apenas para avaliar a turma ao final da atividade proposta, mas

para fazer ajustes durante a execução da tarefa.

Um professor que possui a habilidade de emanar feedbacks

assertivos apresenta capacidade superior para gerir tanto o aprendizado quanto a sala

de aula, potencializando suas competências para promover ensino eficaz. As

devolutivas, expressas em feedbacks, representam um ponto forte por propiciarem

mudanças corretivas no decorrer do ensino, providenciando ajustes nas condutas

interpretativas ou mesmo comportamentais dos alunos.

Os autores relacionam, ainda, que feedbacks devem ser fornecidos

no momento mais efetivo (oportuno), específico e, na medida do possível,

autoavaliável.

A geração e o teste de hipóteses são a sétima categoria elencada por

Marzano, Pickering e Pollock (2008). Uma forma de validação do conhecimento

consiste na possibilidade de o aluno investigar, por si, como a construção do

conhecimento participa da sua realidade. Para a obtenção desse comportamento,

uma atribuição é que o professor seja capaz de gerar uma situação-problema que

instigue a busca de alternativas pelos alunos para explicação do fenômeno.

A verificação de hipóteses está relacionada às vivências do aluno e à

predisposição que ele possui para buscar mais opções para resolver a questão

apresentada pelo professor.

Para Marzano, Pickering e Pollock (2008), ao perceber que, em

função de seus conhecimentos, é possível resolver o problema, muito provavelmente

o estudante se sentirá convidado a formular hipóteses mais sofisticadas, situação que

promove a busca por novos saberes. Além disso, quando testa hipóteses, o aluno

estrutura uma sequência lógica de ações que promove a construção de um raciocínio

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pragmático, direcionado ao objetivo proposto pelo professor. Esse fato favorece a

capacidade de compreensão do modo como a informação foi obtida, bem como

fornece ao aluno mais facilidade para explicar como tirou suas conclusões, uma vez

que as respostas foram construídas por ele próprio.

A última categoria de práticas recomendadas por Marzano, Pickering

e Pollock (2008) consiste no fornecimento de estímulos que estimulem a revisitação

aos conceitos anteriormente apropriados, para reintegração cognitiva. Nesse quesito,

a abordagem dos conhecimentos prévios é o foco e constitui eficaz ferramenta de

ensino. O aluno normalmente gosta de falar daquilo que sabe e deseja utilizar esse

conhecimento de alguma forma.

Para os autores, a técnica de pistas, perguntas e organizadores

avançados sugere que os alunos sejam convidados a expor seu conhecimento,

livremente. Por meio de palavras-chave ou frases espontâneas, todas as

considerações devem ser registradas pelo professor para posterior utilização.

Ainda segundo Marzano, Pickering e Pollock (2008), é importante que

o professor, antes do encontro, formule perguntas estratégicas, de modo a obter do

público estudantil relatos pontuais sobre o tema da aula. Quanto mais direcionada a

pergunta, maior a probabilidade de respostas aprofundadas e específicas. A utilização

dessa ferramenta requer habilidade didática para instigar o aluno, tornando-o

predisposto a participar com o maior número possível de conhecimentos prévios. Ao

documentar os relatos da turma, em uma sequência de dados, o professor pode

relacionar as palavras ou as expressões obtidas aos novos saberes que deseja

ministrar à turma, relacionando os assuntos e estabelecendo ancoragem cognitiva

necessária à reintegração conceitual.

A apresentação das estratégias para potencialização da efetividade

do aprendizado é uma tentativa de estabelecimento de ações dos professores que

facilitem a dinâmica da sala de aula rumo a desempenhos superiores dos alunos.

Obviamente que cabe ao professor uma avalição acerca da pertinência do uso de

cada ferramenta relacionada ao conteúdo e ao perfil da turma.

Oliveira (1997, p. 62), interpretando Vygotsky, diz:

[...] o processo de ensino e de aprendizagem na escola deve ser construído, então, tornando como ponto de partida o nível de desenvolvimento real do aluno – num dado momento e com relação a um determinado conteúdo a ser desenvolvido – e como ponto de chegada os objetivos estabelecidos pela escola, supostamente adequados à faixa etária e ao nível de conhecimento

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de cada grupo. O percurso a ser seguido nesse processo estará balizado pelas possibilidades do aluno, isto é, pelo seu nível de desenvolvimento potencial.

Já Kenski (2012, p. 121) define que:

[...] não são as tecnologias que vão revolucionar o ensino e, por extensão, a educação de forma geral, mas a maneira como essa tecnologia é utilizada para mediação entre professores, alunos e a informação. Essa maneira pode ser revolucionária, ou não. Os processos de interação e comunicação no ensino sempre dependeram muito mais das pessoas envolvidas no processo do que das tecnologias utilizadas, seja o giz, ou o computador e as redes.

Apoia-se, ainda, a diversificação de práticas pedagógicas, para que o

aprendizado esteja sustentado por ações que evidenciem competências não apenas

conceituais, mas também as socioafetivas.

Moran, Masetto e Behrens (2006, p. 137-144) consideram:

[...] importante diversificar as formas de dar aula, de realizar atividades, de avaliar, [...] Haverá uma integração maior das tecnologias e das metodologias de trabalhar com o oral, a escrita e o audiovisual. Não precisaremos abandonar as formas já conhecidas pelas tecnologias telemáticas, só porque estão na moda. Integraremos as tecnologias novas e as já conhecidas. As utilizaremos como mediação facilitadora do processo de ensinar e aprender participativamente.

As ferramentas retratadas podem contar com a contribuição da

internet, desde que o professor estabeleça suas condições de uso e oriente a turma

para os limites de utilização do que está disponível virtualmente.

4.2 GESTÃO DA CLASSE

A autora desta dissertação concorda que outra área merecedora de

estudos e observação contínua por parte dos agentes educacionais é a gestão da

classe. Trata-se do planejamento acerca da gestão da sala de aula e da compreensão

dos aspectos disciplinares, comportamentais e materiais envolvidos na atmosfera de

ensino.

Uma boa gestão da sala de aula – e dos fatores a ela relacionados –

é atividade inerente à docência. Programar a disposição da turma, as condições

comportamentais para que o ensino seja possível até o estabelecimento de uma

relação interpessoal saudável junto aos alunos não é das tarefas mais fáceis.

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Especificamente no Brasil, onde a realidade governamental

procrastina investimentos necessários à Educação, é inevitável que o professor lide

com escassez de recursos pedagógicos que serviriam de apoio às aulas, com turmas

excessivamente cheias e até mesmo com situações delicadas relacionadas ao

aspecto disciplinar.

A escola é uma amostra representativa da sociedade. O

comportamento do aluno pode dizer muito sobre seus meios social, familiar e

ocupacional. Dadas as condições estruturais da sociedade atual, não é raro perceber,

em sala de aula, alunos com comportamentos inadequados, relapsos, desanimados

e controversos à expectativa do professor.

Os próprios estímulos ambientais, elevados exponencialmente pelo

surgimento da tecnologia móvel, desviam a atenção e o foco do aluno, por meio das

mídias digitais e redes de relacionamento e exigem capacidade de gestão ainda maior

do professor, no sentido de obtenção de engajamento. Quaisquer elementos que

fomentem o aprendizado são considerados relevantes. A técnica pressupõe o uso

correto de cada ferramenta.

Para Kenski (2012, p. 44):

Tudo o que utilizamos em nossa vida diária, pessoal e profissional [...] são formas diferenciadas de ferramentas tecnológicas. Quando falamos da maneira como utilizamos cada ferramenta para realizar determinada ação, referimo-nos à técnica. A tecnologia é o conjunto de tudo isso: as ferramentas e as técnicas que correspondem aos usos que lhes destinamos, em cada época.

Nessa perspectiva, Libâneo (2002) alerta que o uso da tecnologia

compreende não apenas a utilização de instrumentos digitais. Também é importante

considerar o impacto das tecnologias na sala de aula, tais como televisão, vídeo,

games, computador, internet, CD-ROM, aplicativos, smartphones, tablets, entre

outros. Além disso, a postura do professor deve ser autônoma, responsável e crítica,

a fim de que consiga desenvolver um trabalho usando coerentemente os recursos

tecnológicos.

O foco do presente estudo concentra-se na apresentação de

estratégias docentes eficazes e não se descarta o uso da tecnologia a favor do ensino.

Discute-se, aqui, a utilização correta de cada ferramenta para a obtenção de

resultados estudantis superiores. Quando o estímulo digital gera distanciamento e

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desmotivação do aluno para a cena pedagógica, deve-se repensar o modo como a

ferramenta existe e mesmo se ela deve ser permitida dentro da sala de aula.

Cabe ao professor, dadas as condições estruturais – existência de

rede compartilhada para acesso de todos os alunos, disponibilidade de

máquinas/aparelhos para que todos utilizem a tecnologia, reconhecimento do nível de

letramento digital da turma, dentre outros –, determinar se a utilização da rede móvel

de computadores e dos aparelhos digitais é permitida e em quais condições.

Além do estímulo digital, há outros elementos que dificultam a gestão

da sala de aula. O próprio perfil da turma, heterogêneo e diverso, requer habilidade

do professor para direcionar tratamento igual e justo para todos os alunos. Nesse

cenário, Walters e Frei (2009, p. 19) citam:

O maior medo dos novos professores é a perda de controle da sala de aula. Antes de começar um novo ano escolar mesmo os professores experientes têm pesadelos sobre a possibilidade de o diretor entrar na sala de aula no momento em que os alunos estão fazendo a maior confusão. Esses medos têm razão de existir, porque, para maioria dos educadores, esse é o aspecto mais difícil do trabalho.

Em uma sala de aula, em função da existência de subgrupos, é

comum que conflitos ocorram, e cabe ao professor atuar para que o ambiente não se

descaracterize.

Walters e Frei (2009) tratam dos aspectos disciplinares e

comportamentais envolvidos na atmosfera de ensino e direcionam para

procedimentos que visam a facilitar a dinâmica interpessoal nesse cenário. Segundo

eles, o primeiro aspecto a ser observado consiste nas práticas de gestão de sala do

professor. Controlar a disciplina, por meio da imposição da autoridade, é uma

alternativa frequentemente utilizada pelos professores. No entanto, o discurso

coercitivo nem sempre é o mais eficaz quando se pretende estabelecer ensino de

qualidade. Um professor que apenas obtém ambiente adequado ao ensino em função

da hierarquia imposta e do domínio coercitivo nem sempre consegue engajamento

dos alunos, porque baseia a relação no medo e na possibilidade de castigos, que

podem ocorrer desde a atribuição de notas baixas até afastamentos do aprendiz da

escola.

Ainda de acordo com Walters e Frei (2009), as sociedades caminham

para relações humanas cada vez mais democratizadas e baseadas em méritos e

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reconhecimento. Na sala de aula não é diferente. A legitimidade do poder do professor

decorre da sua capacidade para estabelecer ambiente ordeiro sem, necessariamente,

punir ou ameaçar. Trata-se, aqui, de uma reflexão do profissional de ensino sobre seu

próprio comportamento na frente dos alunos.

Esta autora considera que, obviamente, a disciplina é requisito para a

determinação de uma atmosfera de estudos adequada. Porém, deve-se refletir até

que ponto uma sala quieta é a representação de alunos que estão produzindo

conhecimento ou se é reflexo de pessoas desinteressadas e indispostas

cognitivamente.

Wong e Wong (1998) afirmam que os professores eficazes gerem a

classe por meio de procedimentos e processos que se ocupam de questões

relacionadas à disciplina, enquanto os professores ineficazes apenas tentam

disciplinar seus alunos com ameaças e punições, em vez de estabelecer um alicerce

para o ambiente de aprendizagem mediante procedimentos eficazes.

Para Walters e Frei (2009), a diferença fica nítida quando se percebe

que, para o professor eficaz, o foco é o aprendizado obtido pela constatação da

conquista de mais conhecimentos, enquanto para os professores menos focados na

qualidade do ensino os direcionadores são a autoridade e a manutenção da hierarquia

para estabelecimento de uma ordem sem sentido, uma vez que não evidencia ganhos

intelectuais.

Walters e Frei (2009) enumeram aspectos que podem auxiliar na

obtenção de um ambiente propício ao ensino: manutenção de voz calma,

estabelecimento de contato visual, elogios e correção, fornecimento de feedbacks

honestos, reconhecimento das expectativas dos alunos, detalhamento das instruções

e eliminação de ameaças.

Para a autora deste estudo, as considerações acima facilitam a

obtenção da legitimidade do professor, uma vez que fornecem subsídios para que a

turma tenha autonomia para se posicionar e expressar livremente suas expectativas

e percepções.

Não se exclui, de forma alguma, a necessidade da disciplina no

ambiente de ensino. O estabelecimento da ordem é fundamental para que todos

possuam condições de receber, depurar e apropriar novos saberes. O desafio está

em o professor reconhecer os limites da intervenção e do rigor, que muitas vezes mais

frustram do que estimulam o aluno, distanciando-o do objetivo escolar.

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Para Marshall (2003, p. 7, tradução nossa):

A gestão de sala de aula trata de como se desenvolvem as atividades; a disciplina trata de como as pessoas se comportam. A gestão de sala de aula tem a ver com procedimentos, rotinas e estrutura; a disciplina se ocupa da gestão do impulso e do autocontrole. A gestão da sala de aula é responsabilidade do professor; a disciplina é responsabilidade do aluno.

Walters e Frei (2009) acreditam que, quando um professor estrutura

encontros de modo atrativo e propício à participação dos alunos, é menos provável

que intervenções de ordem comportamental sejam necessárias, uma vez que a

atenção está concentrada no conteúdo da aula.

Percebe-se, nesse caso, que a gestão da sala está muito mais

associada à programação e ao planejamento do que propriamente ao mero decorrer

do tempo de aula. Nesse sentido, uma boa ação pode consistir, inclusive, na

delegação da gestão do tempo das atividades para a turma. Isso favorece o

desenvolvimento da responsabilidade e da gestão dos recursos, habilidade

demandada e apreciada pelo mercado de trabalho.

Ao estabelecer atividades e procedimentos coerentes e envolventes,

o professor obtém uma espécie de aprovação inconsciente da turma, que age

naturalmente rumo aos objetivos pretendidos quando traçado o plano de ação.

Walters e Frei (2009) recomendam que o professor observe a forma

como conduz a turma para a determinação de um ambiente positivo. No Quadro 2

estão expostas atitudes assertivas, no sentido de obtenção de ambiente engajado.

Quadro 2 – Alternativas para geração de ambiente de aprendizado positivo

ALTERNATIVAS PARA UM AMBIENTE DE APRENDIZAGEM POSITIVO

Em vez de... Tente...

Marcar -4 para indicar 4 erros na prova marcar +6 para indicar o número de respostas corretas

Elogiar um aluno em voz alta Elogiar o aluno em particular e elogiar a classe publicamente

Colocar no mural o nome dos alunos desobedientes

Colocar o nome de pessoas bem-sucedidas, bons cidadãos etc. no mural ou em um pôster especial

continua

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continuação ALTERNATIVAS PARA UM AMBIENTE DE APRENDIZAGEM POSITIVO

Em vez de... Tente...

Explicar repetidamente as instruções Mostrar as ações desejadas usando exemplos de como realizá-las

Censurar o aluno que não faz a tarefa Dizer: “estou muito orgulhoso de todos os alunos que estão fazendo a tarefa”

Criticar a classe pelo desempenho ruim em uma prova

Elogiar a classe pelos acertos. Depois que explicar outra vez, pergunte a eles se podem melhorar os resultados da segunda vez

Conversar longamente com um aluno que se comportou mal

Dizer apenas que está desapontado com o comportamento dele. Ou recorde as vezes em que ele se comportou bem e lembre-o de como foi agradável ser elogiado pelo comportamento positivo

Dirigir-se muitas vezes a um aluno que não para de se comportar mal

Dar muita atenção a esse mesmo aluno quando ele se comporta bem

Chamar um aluno pelo nome, fazer uma pergunta a ele e não lhe dar tempo para processá-la

Fazer a pergunta, dando tempo para o aluno pensar e até comparar sua resposta com a de um colega e, depois, fazer a mesma pergunta a um aluno capaz de respondê-la

Fonte: Walters e Frei (2009, p. 54).

A autora deste estudo considera que, muito frequentemente, essa

condição não é possível, pois o professor, além de não planejar as ações com vistas

à obtenção de engajamento, reproduz metodologias desgastadas e que mais

dispersam que agregam os alunos.

Walters e Frei (2009) enxergam a sala de aula como um reflexo do

professor e da sua capacidade sensorial. Além disso, a sala possui atmosferas

emocionais e físicas que devem dialogar e permitir que o aluno compreenda que

participa ativamente daquela construção. Uma das atenções consiste no

estabelecimento de um ambiente saudável, no qual as diferenças individuais sejam

respeitadas e onde a autoestima seja frequentemente reforçada.

Pode-se considerar, portanto, que ouvir atentamente cada aluno, em

um esforço autêntico para perceber as características individuais, respeitando-as, é

uma postura positiva e que reforça a autoestima do aluno. Mesmo indivíduos com

menor capacidade de adaptação social, ao perceberem respeito e validação por parte

do professor e dos colegas, tendem a progredir em termos emocionais e intelectuais.

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Walters e Frei (2009) ressaltam que a validação da autoestima

depende, inclusive, do reconhecimento de fragilidades. A sala de aula é o local onde

algumas competências são consolidadas e outras são desenvolvidas. O importante é

que as limitações individuais sejam consideradas assertivamente, de modo que o

aluno perceba que pode administrá-las e, algumas vezes, até eliminá-las.

Esta autora compreende que nem sempre é possível o esforço acima

citado, uma vez que cabe ao professor a gestão de salas cheias. Nesses casos, é

interessante que a turma assimile que deve colaborar para que todos tenham chances

de manifestar suas percepções e, dentro do possível, emanar suas interpretações a

respeito das metodologias empregadas pelo professor. Um ambiente saudável

permite que o professor realize transições tranquilas de atividades, elencando os

ganhos entre elas e estabelecendo interesse no novo desafio apresentado.

Walters e Frei (2009) estabelecem que o fator-chave para a

aplicabilidade das ações acima recomendadas está na capacidade do professor em

atuar com empatia. Reconhecer os níveis individuais de expansividade e direcionar

tratamentos proporcionais pode ser uma forma de o professor obter confiança e

colaboração por parte dos alunos.

A conquista de envolvimento passa por planejamento da aula,

reconhecimento das características emocionais da turma e, também, da capacidade

do professor em manifestar a necessidade de ajustes sem gerar mais resistências.

Habilidades de comunicação são apreciadas, nesse sentido. A neurolinguística,

ciência que estuda a elaboração cerebral da linguagem, pode ser uma ferramenta

poderosa para o professor.

Para Walters e Frei (2009), ao formatar a mensagem de modo a obter

a cooperação, o professor elimina ruídos e alcança seus objetivos. Um exemplo seria

o professor que não repreenda o aluno com frases do tipo “não converse com seu

colega”, mas que solicite: “vamos usar seu raciocínio para enriquecer a aula”. A

diferença consiste no fato de o professor, em vez de penalizar pela conversa, inserir

o aluno no contexto da aula e incentivá-lo a cooperar com todos os presentes em sala,

agindo coletivamente.

Ainda de acordo com os autores, há de se destacar que, além da

palavra falada, a linguagem compreende a escrita e a expressão corporal. Posturas

corporais condizentes com a palavra falada determinam a compreensão e as

respostas dos alunos. Claramente, cabe ao professor o desenvolvimento da

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habilidade comunicativa, uma vez que a comunicação é requisito para a docência e

para a maioria das profissões.

Professores que demonstram entusiasmo, por meio de tônus vital

positivo, tendem a obter admiração e a consequente cooperação da turma. Nesse

sentido, é válido permitir que os alunos compreendam como o professor percebe sua

profissão e os aspectos positivos da docência. Essa aproximação tende a ser positiva

porque confere identificação emocional entre professores e estudantes, segundo

Walters e Frei (2009).

Para esta autora, o bom senso deve prevalecer nesses momentos de

aproximação. A relação que deve ser estabelecida é a de respeito mútuo, não de

intimidade ou informalidade.

Segundo Walters e Frei (2009), outra importante atividade do

professor consiste na preparação da sala de aula para o sucesso. As demandas e as

expectativas estudantis mudam o tempo todo. Devido à variedade de estímulos

ambientais, um desafio consiste na elaboração de estratégias e ferramentas

pedagógicas que instiguem a curiosidade e fomentem o aprendizado.

Para os autores, metodologias antiquadas e repetitivas apenas geram

distanciamento do aluno perante os esforços do professor. Novamente, é momento

que exige autoavaliação do professor em relação às suas posturas em sala de aula.

Profissionais apegados a uma única metodologia ou vaidosos em relação às suas

práticas pedagógicas podem dificultar o bom andamento da turma e prejudicá-la no

que tange ao ganho de aprendizado.

Ainda de acordo com Walters e Frei (2009), apesar de a capacidade

de adaptação ser habilidade demandada em todas as profissões, não são raros os

relatos de estudantes a respeito de professores contrários à aplicação de novas

ferramentas em sala de aula e completamente resistentes à utilização de inovações

pedagógico-tecnológicas em suas aulas.

A utilização do espaço da sala de aula pode subsidiar uma série de

inovações que propiciam aprendizado. O importante é que o professor esteja disposto

a tentar mudar. Aulas com as carteiras dispostas em círculos fornecem estímulo

visual, uma vez que todos os alunos conseguem perceber a turma na sua totalidade

e as trocas ficam facilitadas. Outra possibilidade é a divisão da turma em grupos

temporários, que permitam a socialização entre indivíduos e subgrupos diferentes.

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A autora desta dissertação acredita que a disposição tradicional é

uma metodologia que também pode ser bem sucedida, desde que não favoreça o

isolamento ou a apatia de alunos que tendem a se esconder nos fundos ou áreas da

sala menos observadas pelo professor. Nesse sentido, é fundamental que o professor

observe a sala em sua totalidade, fornecendo o mesmo nível de atenção tanto aos

alunos que estão nas carteiras dianteiras quanto nas mais afastadas de sua mesa.

Ainda para esta autora, em função da existência de turmas cheias,

muitas vezes a gestão do espaço ganha maior complexidade. Seria interessante,

nesses casos, que no início do período letivo fique combinada uma escala de “rodízio”,

na qual cada aluno ocupe lugares diferentes da sala a cada encontro, permitindo que

o professor, além de percorrer toda a turma, tenha acesso a todos os alunos durante

o exercício das aulas.

Cabe aqui ressaltar que o professor deve evitar ministrar aulas

estático. O domínio espacial permite que o professor verifique se os alunos realmente

estão direcionados ao que está sendo exposto além de demonstrar segurança em

relação ao tema abordado.

Stedile (2009) cita que a adequação do espaço, para que os alunos

construam o conhecimento, requer o envolvimento de todos e depende da forma como

o professor realiza a gestão da sala de aula e do modo como demonstra compreendê-

la, disponibilizando a todos os presentes oportunidades para apresentar, questionar e

construir saberes.

Walters e Frei (2009) dizem que a manutenção da ordem nas salas

cheias é crucial. Para reduzir o estresse das partes envolvidas, é recomendável que

um plano de ação seja estipulado com toda a turma, também no início do período

letivo. As expectativas das partes seriam cogitadas e as ações para que tais

expectativas sejam alcançadas seriam traçadas. Seria uma espécie de “Contrato de

trabalho”, semelhante aos contratos de serviços típicos. As condutas esperadas

ficariam evidenciadas, de forma clara e objetiva, bem como as sanções previstas ao

não cumprimento delas.

Nesse aspecto, os autores recomendam a utilização de “sinais” de

alerta à inobservância das condutas definidas como válidas. Desde a utilização de

frases-chave até sinais manuais, o objetivo é orientar a turma para o cumprimento das

condições ambientais necessárias para o aprendizado eficaz e ajustar procedimentos

quando constatados desvios das expectativas.

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A infinidade de estímulos ambientais pode gerar distanciamento e

desinteresse do aluno pela aula. Por isso, Walters e Frei (2009) estabelecem que

manter todos os alunos ativos em sala de aula também é uma ação recomendada.

Não é tarefa fácil a obtenção do engajamento e da concentração dos alunos. Além

disso, estudos comprovam que o cérebro humano possui capacidade limitada de

concentração e, assim, a tendência é que ocorra a dispersão. Nesse sentido, é

razoável considerar que quanto maior o tempo de concentração do aluno no tema da

aula maiores serão os níveis de aprendizado.

Conforme Echevarria, Vogt e Short (2004 apud WALTERS; FREI,

2008, p. 87), “pesquisas indicam claramente que os professores mais eficazes

minimizam as perdas de tempo e maximizam o tempo durante o qual os alunos se

dedicam ativamente à aprendizagem”.

Lévy (2003, p. 23) aponta:

Rica é a construção do laço social baseado no saber. O núcleo da engenharia do laço social é a economia das qualidades humanas. O que reúne indivíduos não é a inclusão a um lugar ou a uma ideologia, mas, sim, as capacidades de compartilhamento dos saberes individuais, uma vez que as identidades passam a ser identidades do saber. O saber referido não é o saber científico, mas o saber coextensivo à vida, diretamente relacionado aos conceitos savoir-vivre ou vivre-savoir.[4]

Estratégias para direcionar a atenção e a concentração do aluno

estariam relacionadas ao planejamento eficaz da aula, com a utilização de recursos

diferenciados e criativos, bem como a diversificação da modalidade de aprendizagem,

seja ela visual, auditiva ou tátil.

Para Walters e Frei (2009), um planejamento eficaz cogitaria a

exploração de modalidades diferentes a cada encontro, em função do conteúdo

programático estabelecido, quando as diversas possibilidades didático-pedagógicas

seriam compatibilizadas à estrutura curricular. Todas as considerações possuem o

objetivo de manter a turma ativa, em trabalho, e focada no tema da aula.

Algumas situações podem prejudicar tal objetivo, como alunos que

insistem em caminhar pela turma e idas frequentes ao bebedouro e/ou ao sanitário.

São situações que, além de dispersar a sala, podem gerar precedentes dificultadores

à ação do professor.

_____________ 4 Savoir-vivre ou vivre-savoir significam saber viver e viver saber, respectivamente.

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Para a autora deste estudo, novamente o “Contrato de trabalho” a ser

combinado com a turma no início do período letivo seria uma alternativa para a

elucidação daquilo que é aceitável. Obviamente que as situações emergenciais

(alunos que necessitam ir ao banheiro mais vezes por motivos de saúde, por exemplo)

devem ser pontualmente observadas e gerenciadas pelo professor.

Walters e Frei (2009) relatam que outra situação a ser equacionada

pelo professor, nos momentos de trabalho da turma, são casos de alunos que

demoram muito ou, em contrapartida, acabam muito rapidamente as tarefas. No

primeiro caso, vale avaliar se a tarefa foi devidamente compreendida e, caso positivo,

permitir que algum colega que já tenha finalizado a atividade auxilie o colega. No

segundo caso, o ideal é analisar se a tarefa foi excessivamente fácil para o aluno,

alocando-o em atividades extras, como ajudar um colega com dificuldades ou, ainda,

realizar pesquisas adicionais sobre o tema da aula.

Ainda de acordo com os autores, também é possível que o professor

transite por turmas que possuam alunos constantemente desmotivados e entediados,

independente dos estímulos didático-pedagógicos oferecidos. Nesse caso, uma

investigação acerca dos motivos do desinteresse do aluno será necessária.

Esta autora acredita que o distanciamento estudantil pode ocorrer por

diversos motivos que vão desde a incompreensão do assunto estudado até problemas

afetivos, familiares e sociais mais sérios. Na primeira situação, uma aproximação

entre professor e aluno, no sentido de acolhimento e reforço da autoestima, pode ser

eficiente. Ao perceber-se validado e compreendido, é provável que o aluno modifique

seu comportamento e passe a agir positivamente em sala de aula. No segundo caso,

atendimento e acompanhamento especializados são necessários.

Segundo Walters e Frei (2009), outra possível situação, tão

importante quanto as apresentadas anteriormente, consiste na presença de alunos

com deficiências dentro de sala de aula. As ciências avançam rapidamente no

reconhecimento e na compreensão das diversas síndromes socioafetivas, e

direcionamentos adequados a cada uma delas estão disponíveis em literaturas e

estudos específicos.

No entanto, nem sempre o reconhecimento da existência de

deficiências é facilmente identificável. Até que o professor perceba que existe tal

demanda em sala – e isso pode demorar mais tempo quando a sala é muito cheia – a

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inobservância das especificidades do tratamento adequado ao caso pode gerar

prejuízos ao aprendizado do aluno.

Não cabe ao professor assistência psicológica, uma vez que essa

possivelmente não é a área de formação do professor. Ao contrário, direcionamentos

equivocados podem prejudicar o aluno e acarretar prejuízos emocionais, psicológicos

ou mesmo cognitivos. Recomenda-se, no entanto, que o acolhimento seja propiciado,

no sentido de permitir ao aluno a sensação de pertencimento.

Walters e Frei (2009) dizem que é função da escola, em conjunto com

a família, o direcionamento do aluno para especialistas que possam observar e

atender o aluno profissionalmente, no sentido de compreender e gerenciar as

especificidades percebidas. Alunos com deficiências de locomoção devem merecer

atenção da gestão da própria escola. Indica-se que as salas mais acessíveis sejam

disponibilizadas para tais situações, bem como a instalação de elevadores, placas em

braile, corrimões e sinalizadores apropriados. O projeto arquitetônico deve contemplar

o atendimento a esses alunos, prezando pelo seu bem-estar, ofertando funcionalidade

logística e condições ideais de convivência na atmosfera escolar.

Esta autora acredita que, caso o professor não se perceba hábil para

lidar com alunos com alguma deficiência, independente da sua especificidade, deve

sinalizar à coordenação da escola, que tratará de estipular meios para que o aluno

seja atendido e respeitado na atmosfera estudantil. O aspecto central é que todos os

alunos tenham condições de acessar e depurar o conteúdo, agindo ativamente para

construção do aprendizado.

Os ajustes de tempo entre cada atividade, para que se obtenha maior

efetividade, é função do professor. Vale aumentar o tempo quando ficar constatado

que a atividade teve nível de dificuldade superior ao cogitado inicialmente, bem como

reduzir o tempo quando o contrário é percebido (WALTERS; FREI, 2009).

Ainda de acordo com esses autores, algumas situações frequentes –

e administráveis pelo professor – prejudicam a qualidade de ensino e descaracterizam

a atmosfera da sala de aula. E citam algumas circunstâncias: mau comportamento,

tédio, necessidade de atenção, poder, autoconfiança, vingança, fome, sede, medo,

fofocas, xingamentos, bilhetinhos, apelidos, mentiras, roubos, brigas, brincadeiras etc.

Afastar esses problemas é crucial para a produtividade escolar. Ignorá-los pode ser

um dificultador da gestão da sala, uma vez que o problema tende a se repetir com

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maior gravidade no futuro. Os autores apontam que o bom senso do professor deve

prevalecer.

Para a autora do presente estudo, quanto mais prematuramente

identificadas as inadequações comportamentais e desenvolvidas as intervenções,

melhor. Dessa forma, evita-se que o problema ganhe proporção e o aluno que gerou

o episódio tende a não repetir o comportamento.

Segundo Walters e Frei (2009), em muitos casos o aluno é resistente

às normas disciplinares porque não está acostumado a observar regras em sua vida.

Nesses casos, a negociação pode ser uma alternativa válida. Por meio de uma

exposição clara, na qual sejam evidenciados os ganhos das partes com posturas

adequadas, é mais provável que o aluno perceba a lógica da disciplina, compreenda

o seu sentido e observe o que foi estabelecido no “Contrato de trabalho”.

Ainda de acordo com os autores, tal sistematização permite que a aula

ocorra dentro de uma estrutura de critérios, assimilada ao ponto de ajustes raramente

serem necessários. É válida a manutenção de um Plano Disciplinar com a turma, no

qual estejam elencadas todas as condições para que a aula ocorra dentro de um

ambiente propício ao aprendizado.

Tão importante quanto negociar e evidenciar comportamentos

desejados é o acompanhamento da mudança do aluno após os incidentes. Cabe

elogiar, quando ficar constatado que o aluno de fato alterou positivamente sua

postura, no sentido de validar a prática correta.

Comportamentos inadequados advindos da imaturidade emocional do

aluno devem ser tratados pedagogicamente, por meio de orientação direcionada e

pontual ao aluno. Há casos de alunos que reproduzem em sala comportamentos mais

sérios, relacionados a uma estrutura psicológica que merece atenção especializada.

Nesse caso, trata-se de alunos que roubam, mentem indiscriminadamente e agridem

os colegas de modo recorrente e/ou violento.

Mais uma vez, de acordo com Walters e Frei (2009), o recomendado

é que a situação seja imediatamente relatada à coordenação da escola, que deve

buscar a família do aluno para encaminhamentos e providências mais específicos.

Além de não ser atribuição do professor o fornecimento de assistência

psicopedagógica, uma intervenção que não esteja baseada em conhecimentos

científicos pode ser danosa tanto ao aluno quanto aos seus colegas.

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A autora desta dissertação considera que situações relacionadas à

carga sentimental do aluno (tédio, necessidade de chamar a atenção, poder, vingança

etc.) são de possível gestão do professor, desde que a orientação da correção ocorra

para a produção de conhecimento.

Nem sempre é produtivo mostrar ao aluno que o comportamento

negativo foi percebido. Há situações de alunos que possuem necessidade recorrente

de chamar atenção. Tais alunos tendem a falar alto, movimentar-se bruscamente,

reclamar com frequência e até mesmo pronunciar-se inadequada e agressivamente.

O professor deve sinalizar ao aluno, individualmente, uma vez que percebeu a

situação e orientá-lo para que o comportamento não seja repetido.

Ainda de acordo com Walters e Frei (2009), caso constate que o aluno

insiste na inadequação, é improdutivo continuar sinalizando. O ideal é que o professor

passe a ignorar as intempéries do aluno, de modo que ele veja que a prática incorreta

já não mais desperta o interesse do professor ou dos colegas. Feedbacks corretivos

devem ser fornecidos isoladamente e com parcimônia, no sentido de não constranger

ou distanciar o aluno da atmosfera educacional.

Na eventualidade de reações mais agressivas do aluno em sala de

aula, cabe ao professor a manutenção de tom de voz calmo, postura corporal altiva e

serena e direcionamentos claros que permitam o encerramento do episódio. Nas

situações de tensão, os discursos para reforço de relações de poder e hierarquia, por

parte do professor, são desnecessários e improdutivos. O ideal é que a atmosfera seja

amenizada e que as emanações sobre liderança ocorram em ocasiões de estabilidade

emocional.

Walters e Frei (2009) mencionam um instrumento de gestão

disciplinar para registro do comportamento do aluno, no qual são oficialmente

informadas aos pais as ocorrências disciplinares, bem como as consequências do

fato. A seguir, no Quadro 3, é apresentado um modelo de relatório de registro de

comportamento:

Em contrapartida, elogios devem ser fornecidos quando a turma

obtém algum resultado a ser destacado. Importante lembrar que o elogio deve ser

atribuído a méritos reais e assimiláveis pelo aluno, para que exista a compreensão do

motivo pelo qual houve reconhecimento e a busca por novas situações semelhantes.

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Quadro 3 – Registro de comportamento

REGISTRO DE COMPORTAMENTO

Aluno:

Professor:

Data:

Ocorrência:

____ briga

____ mascar chiclete

____ falar no momento errado

____ desrespeito

____ sair da carteira

____ fazer barulho

____ fazer cara feia

____ outro: _______________________________________________

Consequência aplicada:

Encaminhamento da situação:

Assinatura do professor:

Assinatura dos pais:

Assinatura do aluno:

Fonte: Adaptado de Walters e Frei (2009, p. 162).

A autora deste estudo considera que a natureza da ocorrência deve

levar em consideração que não necessariamente um comportamento inesperado,

como uma fala em momento inadequado, deva exigir medidas corretivas. Ao fazer

“cara feia” ou sair da carteira, o aluno pode demonstrar insatisfação e

verdadeiramente ajudar o professor a identificar abordagens mais eficientes. No

entanto, o registro do comportamento é um aliado do professor quando estabelece

quais condutas comportamentais não são toleradas e representam risco à

manutenção de uma atmosfera adequada ao ensino.

Esta autora considera, ainda, que os balizadores comportamentais

estão associados a questões culturais, quando não necessariamente um

comportamento inadequado em uma escola é interpretado como ruim em outra. Cabe

a professores e alunos a determinação daquilo que fomenta o ensino, estipulando o

que é aceitável em sala de aula e esclarecendo comportamentos inadequados. Um

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exemplo são escolas que toleram conversas paralelas por considerar que podem ser

estímulos para a construção de conhecimentos. Em outras, não há qualquer

tolerância, mesmo que os alunos estejam tratando daquilo que o professor ensina.

Walters e Frei (2009) dizem que alertar a turma para a necessidade

de todos estudarem e ajudarem uns aos outros é um excelente ponto de partida a ser

tomado pelo professor. Incutir o conceito de organização, em que todos são

responsáveis pelos resultados e pela gestão dos recursos, de modo a orientar o aluno

para o esforço coletivo, é uma demanda da docência.

Quando percebem que fazem parte de um grupo e, portanto, devem

compartilhar responsabilidades, os alunos não apenas começam a agir de forma mais

entusiasmada, mas também compreendem que podem ajudar o outro.

O senso de cooperação é um aliado do professor e do aprendizado

eficaz. Por meio do auxílio coletivo, comportamentos associados a vaidades, medo,

autoconfiança exagerada e falta de compromisso tendem a diminuir

significativamente, porque o comportamento do grupo prevalece sob o individual,

segundo Walters e Frei (2009).

Habilidade emocional do professor é uma premissa para tal

comportamento. Caso o professor se permita ser contaminado pela atmosfera

emocional da turma, sem agir pragmaticamente para a obtenção de um ambiente

produtivo, a tendência é que os alunos percebam sua falta de domínio e que os

prejuízos oriundos da atmosfera perturbada sejam potencializados.

O presente estudo dedicou atenção à importância determinante da

família para a vida escolar do aluno. Independente de estrutura, o núcleo familiar, por

meio de apoio e acompanhamento, participa da consolidação estudantil e promove

identificação do aluno com a rotina acadêmica. Quanto mais predisposta estiver a

família para apoiar o aluno na vida estudantil, muito provavelmente maiores serão as

chances de o indivíduo reconhecer, nos estudos, uma atividade nobre a ser

desempenhada.

Walters e Frei (2009, p. 196) afirmam:

Os professores podem supor normalmente que todos os pais amam os filhos, mas muitas vezes esse amor pode assumir formas diferentes das que o professor espera. A meta é tentar entender as crenças que os pais têm sobre os filhos. O conhecimento dessas crenças pelo professor o auxilia a criar uma comunicação mais eficaz no trabalho cooperativo com os pais para ajudar os alunos a realizar o seu potencial.

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Orientações opostas entre professores e pais (ou quaisquer

responsáveis pelo aluno) confundem o estudante e afetam a credibilidade das partes.

Nesse sentido, reuniões entre responsáveis pelo aluno e coordenação são uma forma

de aproximação e de reconhecimento dos contextos estudantil e familiar, quando

percepções e expectativas podem ser apresentadas, discutidas e validadas.

Walters e Frei (2009, p. 211) validam a prática de os pais também

manterem documentadas as informações oriundas de reuniões anteriores, para que

possam acompanhar a evolução do aluno não apenas em termos disciplinares, mas

também relacionada ao desempenho escolar, conforme o Quadro 4, a seguir.

Quadro 4 – Instrumento para acompanhamento das reuniões entre pais e professores

ORGANIZADOR DE INFORMAÇÕES PARA REUNIÕES

Aluno: Data da reunião:

Até agora, nesse período do relatório, tivemos _________ questionários, testes e tarefas.

Os conceitos ou as notas do seu filho nesse momento são: 1. ________________________________________________________________

2. ________________________________________________________________

3. ________________________________________________________________

4. ________________________________________________________________

5. ________________________________________________________________

Por isso sua média atual é: _______________

Essa média não é final e está sujeita a modificação, dependendo de trabalhos em andamento e/ou de futuros trabalhos. Se essa média for insatisfatória, ainda há tempo suficiente para levá-la a um nível aceitável.

Comentários do professor:

1. ________________________________________________________________

2. ________________________________________________________________ 3. ________________________________________________________________

4. ________________________________________________________________

5. ________________________________________________________________

Comentários dos pais:

1. ________________________________________________________________ 2. ________________________________________________________________

3. ________________________________________________________________

4. ________________________________________________________________

5. ________________________________________________________________

Assinaturas do professor e dos pais:

Fonte: Adaptado de Walters e Frei (2009, p. 211).

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Walters e Frei (2009) enumeram formas de o professor comunicar-se

com os pais, para que esse diálogo apoie as ações a serem executadas com o

estudante, por exemplo: telefonemas, boletim, calendário semanal ou mensal, e-mail,

recados, conversas antes/após as aulas, reuniões, fichas de avaliação, relatórios de

desempenho etc.

Todas as ferramentas existem no sentido de aproximar escola e

família, favorecendo a compreensão das particularidades do aluno e auxiliando o

professor na gestão da vida do estudante em sala de aula. O modo de comunicação

deve contemplar o estilo de vida da família, para que as informações de fato sejam

acessadas e utilizadas no tempo correto.

Ainda de acordo com Walters e Frei (2009), o ideal é que existam no

mínimo três meios de comunicação entre professores e pais, para que haja maior

probabilidade de ao menos um dos modos ser acessado e respondido. Atualmente,

em função da ampla variedade de instrumentos de comunicação (e-mail, celular,

WhatsApp etc.), a gestão dos meios ficou facilitada. Dessa forma, a documentação da

vida escolar do aluno pode facilitar no processo de comunicação entre os familiares e

escola, contribuindo para uma adequada relação entre as partes.

A gestão da comunicação entre escola e família deve ser pontual,

atualizada e logicamente ordenada. Walters e Frei (2009, p. 203) recomendam que

relatórios de acompanhamento semelhantes ao apresentado no Quadro 5 existam

tanto para gestão curricular quanto para gestão comportamental do aluno.

Quadro 5 – Registro de comunicação entre pais e professores

REGISTRO DE COMUNICAÇÃO

Nome do aluno:

Nome dos pais/responsáveis:

Telefones de casa/celular:

Telefones do trabalho:

E-mails do responsável:

Informações importantes sobre a família:

continua

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continuação

REGISTRO DE COMUNICAÇÃO

Assuntos pendentes:

1. ________________________________________________________________

2. ________________________________________________________________

3. ________________________________________________________________

4. ________________________________________________________________

Problemas de saúde do aluno:

1. ________________________________________________________________

2. ________________________________________________________________

3. ________________________________________________________________

4. _______________________________________________________________

Aluno é alérgico a:

1. ________________________________________________________________

2. ________________________________________________________________

3. ________________________________________________________________

4. ________________________________________________________________

Data Ocorrência Relativo Resposta Acompanhamento

Observações:

Fonte: Adaptado de Walters e Frei (2009, p. 203).

Para esta autora, com a utilização de instrumentos semelhantes ao

do quadro acima, situações atípicas, merecedoras de conhecimento e intervenção da

família seriam pontualmente informadas como, por exemplo, a ocorrência de brigas,

inadequações e faltas do aluno. No mesmo instrumento de controle, as medidas

adotadas como consequência seriam informadas, quando escola e pais assumiriam a

responsabilidade de acompanhamento dos progressos do aluno. O instrumento

centralizaria todas as informações do aluno por período letivo e facilitaria a gestão da

comunicação entre escola e pais.

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A autora desta dissertação também considera que outra questão a ser

observada consiste na possibilidade de a família não compreender adequadamente a

relação que precisa manter com a escola a favor do desempenho escolar dos alunos.

Há pais que evitam reuniões escolares dos filhos pelo fato de não possuírem formação

acadêmica e temerem constrangimento. Também há casos em que os pais decidem

afastar-se da escola em função de comportamentos inadequados anteriores do aluno.

Ainda para esta autora, em ambos os casos é muito importante que a

escola busque aproximação com a família, elucidando a respeito da possibilidade de

entendimento cujo foco é o desenvolvimento escolar do aprendiz. Nesse sentido, as

reuniões são momentos propícios ao reconhecimento do professor acerca das

características e predisposições das famílias dos alunos.

Para que as reuniões entre pais e professores sejam produtivas,

devem promover: clareza a respeito do assunto apresentado, profissionalismo

relacionado à impessoalidade do professor, atitude positiva para instigar

comportamento assertivo dos pais, flexibilidade para ajustar perspectivas, foco no

aprendizado do aluno e competência do professor para transformar cenários.

Obviamente as reuniões devem fortalecer os vínculos entre família e

escola, ao fomentarem a cooperação e a confirmação da reciprocidade de

responsabilidade pela formação do aluno. Ao direcionar seus esforços para tentar

compreender como as relações afetivas estão construídas no núcleo familiar e como

estabelecem as reações dos pais, o professor consegue posicionar-se mais

assertivamente, aumentando a aderência da família às atividades e eventos da

escola.

Compreender as expectativas dos pais e alinhá-las às possibilidades

escolares é um bom ponto de partida para que a relação entre estas duas partes seja

saudável e produtiva.

Walters e Frei (2009) enumeram, ainda, que pode ser favorável ao

professor consultar e pedir a colaboração dos seus pares de trabalho para a promoção

de um ambiente escolar adequado. O aprimoramento das habilidades docentes é uma

exigência inerente à profissão. Em um cenário de mudanças aceleradas, ocasionadas

pela própria gestão e transformação do conhecimento, atender às expectativas da

escola e dos pais não é fácil.

Tardif e Lessard (2005) afirmam que a profissão de professor precisa

ser compreendida como uma atividade humana complexa, que carrega em si

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características peculiares, desempenhadas em ambientes escolares ímpares e, por

isso, exigem novas perspectivas de análise. Desse modo, os professores começam a

ser vistos como profissionais com identidades particulares, envolvidos em um grupo,

que compartilham uma cultura, decorrendo dessas relações conhecimentos, valores

e atitudes.

Para Walters e Frei (2009), extensas cargas horárias, remuneração

deficitária, acúmulo de disciplinas, gestão de turmas cheias, exposição à indisciplina

– e até à violência, em alguns casos –, infraestrutura precária e responsabilidade pelo

desenvolvimento intelectual são componentes que tratam de sobrecarregar a rotina

do professor, expondo a profissão a um índice de absenteísmo elevado.

Zanardi (2009, p. 60) observa:

A massificação e a democratização do ensino trouxeram consigo modificações profundas no perfil social e na imagem da profissão docente. Tais modificações foram responsáveis em parte pelo desprestígio docente que, aliado às péssimas condições de trabalho que são oferecidas a esses profissionais traduzem a insegurança e o desânimo profissional que atinge boa parcela dos profissionais da classe.

O absenteísmo advindo do esgotamento profissional, além de

prejudicial para o professor, também gera reflexos negativos para o estudante.

Aspecto determinante para a eficácia escolar é o acompanhamento sequenciado e

contínuo do rendimento do aluno.

Tavares, Camelo e Kasmirski (2010) afirmam que “professores

substitutos em geral são menos qualificados e não possuem experiência suficiente

para substituir perfeitamente o professor regular”. Também há de se considerar que,

em função do caráter emergencial da contratação, muitas vezes os professores

substitutos ainda não estão habilitados para a disciplina.

Zanardi (2009, p. 14) destaca:

O professor eventual é contratado de maneira precária. Ele é constantemente impossibilitado de ter o controle sobre o seu próprio trabalho quando ministra aulas de conteúdos que por vezes não domina, trabalha em jornadas que excedem o permitido por lei. A eles é atribuída a responsabilidade de dar continuidade ao processo de ensino e aprendizagem já em desenvolvimento nas unidades escolares.

Nesse contexto, pensar em alternativas para auxiliar o professor na

gestão da sua vida profissional é uma forma de se pensar também a eficácia escolar.

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Uma boa opção consiste no trabalho apoiado pelos pares profissionais. Ao expor

situações que demandam soluções e compartilharem necessidades específicas, os

professores não apenas trocam boas práticas como também auxiliam os demais em

termos emocionais, ao evidenciarem que já vivenciaram situações semelhantes e

foram bem sucedidos, de acordo com Walters e Frei (2009).

Além disso, visões externas e isentas dos professores de outras

turmas normalmente elucidam, porque tratam das demandas apresentadas de modo

objetivo e essencialmente pontual.

A formação de grupos de professores que atuam em uma mesma

série ou em um mesmo turno pode ajudar o professor na compreensão das situações

vivenciadas em sala e colaborar para que aspectos confusos sejam depurados e

resolvidos. Os grupos também podem discutir problemas frequentes e traçar planos

de ação mais robustos, no sentido de averiguarem causas, consequências e fatores

envolvidos na cena.

Todas as considerações acima emanadas, além de auxiliarem nas

situações-problema, também reduzem a sensação de isolamento e solidão do

professor em relação à profissão, uma vez que a maior parte das atividades e

processos existentes no cotidiano escolar são desenvolvidos unicamente pelo

professor.

Walters e Frei (2009) orientam para a parceria entre dois professores,

no que denominam “tutoria”5. Ainda de acordo com os autores, a tutoria não garante

a solução de todos os problemas da docência, mas é um instrumento que contribui

fortemente para o desenvolvimento de competências docentes imprescindíveis à boa

prática profissional. Eles citam a colaboração-formação espelhada como prática de

tutoria interessante à docência. A prática consiste na observação de professores por

outro professor. O processo deve contar com objetividade e confidencialidade.

Para os autores, após a observação, o tutor observador repassa para

o professor observado suas percepções relacionadas às práticas docentes, para que

o professor observado realize uma análise reflexiva acerca do planejamento da aula

relacionado aos seus objetivos. Gradativamente, o professor adquire maior eficácia

_____________ 5 Termo utilizado por Walters e Frei (2009) para definir a figura do professor que trabalha em parceria com outros professores.

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estratégica e percebe oportunidades pedagógicas para aumentar o desempenho das

turmas, quando conta com a tutoria de pares profissionais.

A seguir, um modelo de planilha que pode auxiliar o professor na

tutoria docente.

Quadro 6 – Modelo de relatório de tutoria docente

TUTORIA DOCENTE

Objetivos da tutoria:

Docentes envolvidos:

Disciplinas relacionadas:

Práticas docentes alvo do apoio e retorno:

Práticas docentes recomendadas pelo tutor para melhoria dos resultados da aula:

De que maneira o programa de colaboração e tutoria beneficia os alunos, de modo geral?

Local e data:

Assinaturas

Fonte: Adaptado de Walters e Frei (2009, p. 225).

Walters e Frei (2009) dizem que professores vivenciam atmosferas

distintas numa mesma classe a cada período de tempo, em função de vários fatores:

proximidade do período de provas, véspera de feriados, apresentação de atividades

em grupo etc.

Quaisquer estímulos que possam gerar alteração do comportamento

estudantil devem ser identificados e considerados pelo professor no momento que

elabora seu plano de trabalho, para que o tempo esteja a favor da eficácia escolar.

Walters e Frei (2009, p. 229) afirmam:

Os problemas de disciplina muitas vezes afetam as decisões dos gestores quanto à permanência do professor no cargo ou à sua estabilidade. São também, segundo professores da ativa, a principal fonte de estresse relacionado à carreira, e o principal motivo de desistência da profissão, segundo ex-professores.

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A habilidade para lidar com a indisciplina determina, inclusive, a

permanência do professor no cargo, porque professores incapazes de conduzir

conflitos disciplinares dificilmente são validados pela turma.

Para Walters e Frei (2009), a liderança do professor é aspecto

determinante para a condução dos conteúdos dentro de uma atmosfera adequada em

termos disciplinares. Ao definir um plano disciplinar, deve-se compreender que jamais

será possível eliminar as inapropriações comportamentais dos alunos, uma vez que a

autenticidade característica da juventude é fator que aumenta a probabilidade de

ocorrências disciplinares.

Para Lima, Bridi e Beraldo (2001 apud OLIVEIRA, 2004, p. 47), a

indisciplina está relacionada a um aspecto complexo:

[...] historicamente variável de acordo com padrões culturais, sociais e mesmo com aspectos pessoais de tolerância (por exemplo, dos professores). De época para época, é diversificada a aceitabilidade de comportamentos em geral e, em particular, os que são ou não adequados à convivência em sala de aula. Por outro lado, há a especificidade do aprendizado que, para se efetivar, implica em um conjunto de contratos (explícitos ou tácitos) entre professores e alunos. Nele, aquilo que vulgarmente é chamado de disciplina é um dos fatores constitutivos.

A autora deste estudo acredita que o professor deve elencar

comportamentos apropriados e esperados. O estabelecimento de comportamentos

apropriados não apenas fortalece a disciplina como valida os papéis desempenhados

em sala de aula. Ainda assim, há chances de os alunos desenvolverem atitudes

incompatíveis com as previamente combinadas.

Mudar a estratégia disciplinar é uma opção quando os resultados

obtidos não correspondem à necessidade do ambiente escolar. O senso de

coletividade talvez seja a melhor forma de elaboração de um plano de ação lúcido e

coerente com os objetivos da aula.

Quando a construção das diretrizes disciplinares conta com a

participação e a compreensão dos alunos, sua validação é automática e seu

cumprimento é uma consequência. Devem-se ser relacionados aspectos

fundamentais para que as diretrizes disciplinares verdadeiramente apontem para

práticas mais eficazes: regras estabelecidas, incentivos ao cumprimento,

consequências negativas, componentes para que a aula ocorra satisfatoriamente e

sinais de advertência, de acordo com Walters e Frei (2009).

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Conforme já descrito nesta dissertação, uma sala de aula silenciosa

e quieta não é garantia de alunos concentrados e produtores de conhecimento. Da

mesma forma, turmas agitadas e movimentadas podem perfeitamente utilizar essas

características a favor da aprendizagem.

Walters e Frei (2009) estabelecem que a habilidade do professor para

adequar comportamentos discentes às práticas pedagógicas participará diretamente

do desempenho da turma e determinará seu estilo de liderança. Ao elencar normas

disciplinares excessivamente rígidas, o professor pode mutilar habilidades

interpessoais notáveis dos alunos.

Em função das considerações emanadas até aqui, pode-se entender

que a inexistência de um padrão comportamental descaracteriza o ambiente escolar

e pode prejudicar o desempenho estudantil. A criação de um plano disciplinar eficaz,

portanto, depende do perfil da turma, do estilo do professor, do tempo disponível para

a condução dos conteúdos, da metodologia pedagógica empregada e da coerência

da aula em relação aos objetivos de ensino e de aprendizagem.

Walters e Frei (2009, p. 237) sugerem a utilização de um formulário

relacionado ao plano disciplinar. O plano deve ser traçado junto à turma, no início do

período letivo, para que regras, incentivos, sinais e penalidades estejam bem claros

para todos.

Quadro 7 – Plano de disciplina em sala de aula

PLANO DISCIPLINAR

Regras:

1. ___________________________________________________________________________

2. ___________________________________________________________________________

3. ___________________________________________________________________________

4. ___________________________________________________________________________

Incentivos ao comportamento desejado:

1. ___________________________________________________________________________

2. ___________________________________________________________________________

3. ___________________________________________________________________________

4. ___________________________________________________________________________

Consequências negativas da mais restritiva à menos restritiva:

1. ___________________________________________________________________________

2. ___________________________________________________________________________

3. ___________________________________________________________________________

4. ___________________________________________________________________________

continua

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69

continuação PLANO DISCIPLINAR

Componentes de um ambiente de aprendizado positivo a ser estabelecido:

1. ___________________________________________________________________________

2. ___________________________________________________________________________

3. ___________________________________________________________________________

4. ___________________________________________________________________________

Sinais a serem usados:

1. ___________________________________________________________________________

2. ___________________________________________________________________________

3. ___________________________________________________________________________

4. ___________________________________________________________________________

Fonte: Adaptado de Walters e Frei (2009, p. 237).

Para esta autora, quanto mais predisposto estiver o professor para

observar esses aspectos, elaborando estratégias de ensino e comportamentos

compatíveis com a realidade vislumbrada, maiores as chances de geração de uma

atmosfera convidativa ao aprendizado e produtiva intelectualmente.

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5 METODOLOGIA DE PESQUISA

O conhecimento científico é construído a partir da observação aos

métodos e às técnicas validados e acatados academicamente. Nesse sentido, o

presente estudo ocorreu dentro de padrões e normas científicas conhecidos como

metodologia.

A metodologia pode ser compreendida como o caminho, o percurso

percorrido para construção do conhecimento ou para realização de algo (BASTOS;

FERREIRA, 2016, p. 19).

No intuito de responder aos problemas de pesquisa, a academia

elenca modalidades metodológicas que devem relacionar coerência junto ao universo

da pesquisa e a capacidade do investigador na busca pelas informações necessárias.

Bastos e Ferreira (2016, p. 62) definem:

Pesquisa é um procedimento organizado, racional e sistemático para se construir conhecimentos. Isso significa buscar informações e dados que permitam compreender determinado objeto. Existem muitas definições de pesquisa que se aproximam.

O método científico pode ser compreendido como o conjunto de ações

estruturadas e percorridas para resposta a uma demanda acadêmica. Este estudo

observou estratégias docentes que talvez sejam determinantes no desempenho de

alunos de duas escolas da rede pública na Prova Brasil.

Os pesquisadores ressaltam a consciência dos diversos fatores

componentes do processo de ensino e novamente esclarecem que o propósito da

pesquisa é validar ações utilizadas pelo professor em sala de aula que talvez

providenciem condições de ensino explícito, tornando o desempenho das escolas

superior nos testes em escala. Ainda de acordo com Bastos e Ferreira (2016, p. 117),

O método pode ser compreendido como um conjunto de procedimentos que, mediante regras, visam atingir um determinado fim. Podemos afirmar que o método é também a teoria, uma vez que permite a interpretação da realidade com o rigor necessário por meio de um caminho que compreende uma concepção de homem e de sociedade. Disso se depreende que, quando se opta por um caminho, essa opção é orientada por uma concepção, uma referência que serve de base segura para essa análise. Já a metodologia comporta o método e as técnicas, pode-se dizer que é um entendimento mais abrangente. No âmbito das ciências sociais, podemos encontrar diferentes formas de abordagem em relação aos fenômenos sociais, a depender da orientação dos teóricos.

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O presente estudo envolveu um estudo de campo em duas escolas

da rede pública de ensino do Município de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais.

Foram observadas aulas de Língua Portuguesa e de Matemática das turmas do 9º

ano do Ensino Fundamental de cada uma das escolas. Em cada escola, uma sala de

9º ano foi observada pela pesquisadora. A escolha pelas escolas ocorreu pelo fato de

ambas terem participado da Prova Brasil 2015 e estarem situadas na mesma região

da capital mineira, aspecto que forneceu à pesquisadora condições de associação.

O estudo possui caráter quantitativo e qualitativo, uma vez que foram

aplicados questionários para os professores e alunos das turmas de 9º ano de duas

escolas. Também possui caráter descritivo, visto que a pesquisadora observou aulas

nas salas das escolas e dissertou sobre métodos e condutas docentes empregados

na prática acadêmica, à luz dos fenômenos observados. Além disso, utilizou de

pesquisa bibliográfica, dado que quaisquer conhecimentos acadêmicos apenas são

sustentados pelas teorias e conceitos existentes e admitidos pela comunidade

científica. Nesse sentido, Bastos e Ferreira (2016, p. 137) afirmam:

Os objetivos da pesquisa já anunciam como a pesquisa deverá ser realizada, uma vez que para atendê-los serão estabelecidos os procedimentos e as técnicas necessárias. Tudo isso precisará, de qualquer forma, estar iluminado pela teoria e o estudo dos textos que permitam mais elucidação em relação ao assunto, corroborando o já explicado em unidades anteriores, não há como prescindir do estudo bibliográfico.

Para Gil (2002, p. 42), a pesquisa tem um caráter pragmático, é um

“processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo

fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego

de procedimentos científicos”. Segundo Minayo (2001, p. 21-22 apud BASTOS;

FERREIRA, 2016, p. 137).

Os dados quantitativos e qualitativos não se opõem, ao contrário, se complementam. Daí a necessidade de contar com a diversidade de informações para melhor aproximação com o fenômeno em estudo. [...] a pesquisa qualitativa se preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado [...] ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos [...]. É preciso, no entanto, analisar os fatos naquilo que nem sempre se pode quantificar e que interfere neles; de outro lado, não se pode prescindir da quantificação, que possibilita obter maior objetividade em relação a muitos aspectos. Defendemos uma postura mais equilibrada nesse sentido, com vistas à utilização de um paradigma que considere tanto os aspectos qualitativos quanto os quantitativos em relação aos fenômenos, justificando essa defesa

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com a própria qualidade dos resultados do estudo, de maneira que isso possibilite uma melhor aproximação com o objeto.

Como instrumento de coleta de dados foram utilizados questionários

estruturados para professores (Apêndice A), questionário estruturado para corpo de

alunos (Apêndice B) e roteiro de observação (Apêndice C). A estruturação dos

instrumentos de pesquisa observou os objetivos da pesquisa e o perfil dos

respondentes, quando propositalmente optou-se por perguntas de fácil interpretação

para os alunos, por meio de uso de palavras simples.

Por tratar-se de pesquisa realizada junto a adolescentes, na faixa

etária dos 14 aos 17 anos de idade,6 houve prévia concordância dos pais e/ou

responsáveis pelos alunos participantes, por meio de assinatura em Termo de

Consentimento Livre Esclarecido (Apêndice D). Além disso, alunos e professores

participantes manifestaram concordância em participar da pesquisa ao assinarem,

respectivamente, Termo de Assentimento Livre Esclarecido e Termo de

Consentimento Livre Esclarecido (Apêndices E e F, respectivamente), e ambos

previamente validados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNOPAR por meio do

parecer 2.593.104.

O critério de definição das escolas ocorreu em função dos respectivos

desempenhos nos dois últimos exames da Prova Brasil, ou seja, a escola A obteve

resultado acima da média nacional e a escola B ficou abaixo do indicador, fixado em

350 e 300 para as disciplinas de Matemática e Língua Portuguesa, respectivamente.

Nos testes de Matemática e Língua Portuguesa, respectivamente, a escola A obteve

média de proficiência de 287,07 e 270,45, enquanto a escola B obteve média de

proficiência de 263,41 e 255,68. Percebe-se que mesmo as escolas com melhores

resultados ficam abaixo do critério considerado adequado para o Ensino Médio pelo

Todos pela Educação, que estabelece os índices de 350 em Matemática e 300 em

Língua Portuguesa.

Portanto, para fins de análise, foram consideradas duas turmas do 9º

ano de escolas com diferentes posições na Prova Brasil, no Município de Belo

Horizonte. Com o intuito de obtenção de verossimilhança, ambas as escolas estão

localizadas na região noroeste do referido Município.

_____________ 6 Ficou constatada distorção de idade série, conforme dados apresentados na análise e discussão de dados deste estudo.

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73

Na escola A, a turma era composta por 30 alunos, no turno matutino,

dos quais 28 responderam à pesquisa.

Na escola B, a turma era composta por 27 alunos, também no turno

matutino, dos quais 23 responderam à pesquisa.

A pesquisa foi desenvolvida em duas fases: a primeira fase consistiu

em uma pesquisa quantitativa, por meio da aplicação de questionário estruturado

destinado aos professores de Língua Portuguesa e de Matemática (Apêndice A),

questionário estruturado destinado aos alunos (Apêndice B) e roteiro de observação

da pesquisadora (Apêndice C).

Na segunda fase, esta pesquisadora, à luz dos dados obtidos,

recorreu à bibliografia disponível para analisar os eventos e descrever percepções

relacionadas aos objetivos da presente dissertação.

Os resultados visam a compreensão acerca de práticas docentes

elencadas na escola A, detentora de resultado superior ao da escola B no exame

Prova Brasil.

Espera-se que futuros estudos possam ser desenvolvidos, a fim de

encontrar soluções para que as escolas obtenham melhores resultados nos próximos

testes e seus egressos conquistem aprendizados eficazes.

O estudo pormenorizado de duas escolas teve por objetivo identificar

fatores que porventura não possam ser detectados estatisticamente, mas que sejam

importantes para fins de esclarecimento do tema proposto ao estudo. A pesquisadora

considerava que possíveis aspectos não elencados na pesquisa quantitativa

pudessem ser descobertos por meio de observação e descrição, levantados na

segunda parte da pesquisa.

Finalmente, após análise dos dados obtidos, houve confronto

bibliográfico, quando a pesquisadora associou práticas docentes observadas às

orientações de autores aqui citados e referenciados, com o propósito de compreensão

de metodologias assertivas e aderentes ao aprendizado eficaz e explícito.

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74

6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

6.1 RESULTADOS DOCENTES

Foi aplicado um questionário estruturado a professores das disciplinas

de Língua Portuguesa e de Matemática em uma turma do 9º ano matutino em duas

escolas da rede pública do Município de Belo Horizonte.

As análises a seguir representam os resultados obtidos com a

tabulação dos questionários.

O modelo do questionário estruturado aplicado ao corpo de alunos

das escolas A e B pode ser visualizado no Apêndice D do presente estudo.

Na escola A, uma professora ministra a disciplina de Matemática,

enquanto um professor leciona Língua Portuguesa. Na escola B, as duas disciplinas

são ministradas por professoras.

No Gráfico 1, a seguir, encontram-se as idades dos professores

respondentes.

Gráfico 1 – Idade dos professores

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Na escola A, ambos possuem mais de 46 anos.

Os dois professores entrevistados na escola A afirmaram sentimento

de realização pessoal pelo fato de estarem ativos profissionalmente e atuando na

0

1

2

3

Até 25 Entre 25 e 34 anos Entre 35 e 45 anos Acima de 46 anos

Gráfico 1 - Idade dos professores

ESCOLA A ESCOLA B

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docência, área pela qual afirmaram possuir identificação pessoal e profissional em

função dos valores relacionados à educação. Ambos atuam na docência em mais de

um turno diário.

Já na escola B, as professoras possuem menos de 35 anos e a

professora de Matemática sinalizou o desejo de abandonar a docência em função de

insatisfação com as condições que cercam a profissão.

Tardif (2014, p. 96) cita que:

Com o tempo, a precariedade de emprego pode tornar-se cansativa e desanimadora e alimentar certo desencanto que, sem necessariamente afetar o amor pelo ensino, afeta, até certo ponto, o ardor do professor, mergulhando-o na amargura.

A terceira pergunta do questionário estruturado respondido pelos

professores estava relacionada ao fato de permanecerem estudando. Conforme

observa-se no Gráfico 2, a seguir, ambos os professores não estudavam na data da

coleta dos dados.

Gráfico 2 – Escolaridade dos professores

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Os respondentes da escola A afirmaram que o maior impeditivo à

formação continuada está relacionado ao fator financeiro. Segundo os entrevistados,

os cursos de mestrado e doutorado na área da educação possuem mensalidades

0

1

2

3

ESCOLA A ESCOLA B

Gráfico 2 - Estuda atualmente?

Sim Não

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razoavelmente altas, incompatíveis com o salário recebido na docência. Ambos

também afirmaram que estudariam, caso as condições financeiras fossem favoráveis.

Tardif (2014) concebe a formação do professor como um contínuo.

Mesmo sendo um processo constituído de fases distintas, pelo seu conteúdo

curricular, o desenvolvimento profissional deve ser um projeto ao longo da carreira,

desde a formação inicial, pois trata de uma aprendizagem contínua, interativa,

acumulativa.

Esta pesquisadora concorda que formação continuada é um dos

elementos que fornecem qualidade profissional ao professor, uma vez que o atualiza

em relação às ferramentas pedagógicas disponíveis na cena educacional. Permitir ao

professor acesso às novas metodologias de ensino, ou às inovações pedagógicas,

pode significar aspecto potencializador do aprendizado.

Na escola A, entre os professores pesquisados, um possui mestrado

e o outro possui curso de especialização. Ambos afirmaram ter interesse em retomar

os estudos, especificamente em áreas de conhecimento que contribuam para

melhoria do desempenho docente. Na ocasião da pesquisa, os professores não

realizavam curso de aperfeiçoamento profissional.

Já na escola B, um dos professores da disciplina de Matemática

realizava, à época, curso de mestrado na área de tecnologia da informação. Foi

relatado que o curso, além de atualizar e preparar para as demandas da sala de aula,

é uma necessidade da outra ocupação da profissional, que possui uma empresa de

consultoria em sistemas de informação gerencial.

Observa-se, de modo geral, que todos os professores das duas

escolas pesquisadas percebem na formação continuada uma necessidade inerente à

docência.

A quarta pergunta do questionário estruturado aplicado aos

professores de Língua Portuguesa e de Matemática da turma de 9º ano estava

relacionada ao tempo de docência dos professores, como apresentado no Gráfico 3.

Page 79: DM Ana Paula Xavier de Oliveira · 2019. 7. 5. · OLIVEIRA, Ana Paula Xavier de. Eficácia escolar e ações do professor em sala de aula: estudo de duas escolas públicas do Município

77

Gráfico 3 – Experiência docente

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Na escola A, os dois participantes possuem mais de 16 anos na

profissão, sendo que o da disciplina de Língua Portuguesa acumula tempo de serviço

suficiente para o pedido de aposentadoria.

Em entrevista, o professor de Língua Portuguesa do 9º ano da escola

A relatou que, por motivos pessoais, apenas cogitaria o pedido de desligamento

profissional após o encerramento letivo de uma das turmas nas quais leciona na

escola estudada, visto que se considera diretamente responsável pela trajetória

estudantil dos alunos. Afirma perceber na docência, além de uma profissão, uma

atividade de cunho social dificilmente comparável a outras ocupações profissionais.

Os professores da escola B possuem menos tempo de docência e um

deles sinalizou o desejo de não permanecer na profissão, em função de não acreditar

que as condições socioeconômicas dos professores possuam perspectivas de

melhoria.

A autora deste estudo considera que limitações financeiras, apesar de

significarem um aspecto dificultador, não devem ser um impeditivo à adoção de boas

e inovadoras práticas em sala de aula, uma vez que existem diversas formas de

acesso à informação que não apenas cursos profissionalizantes pagos.

Nesse sentido, Tardif (2014, p. 97) sinaliza que a precariedade de

emprego pode provocar um questionamento sobre a pertinência de continuar ou não

na carreira e, às vezes, até um descomprometimento pessoal em relação à profissão.

0

1

2

3

Menos de 2 anos De 2 a 5 anos De 6 a 10 anos De 11 a 15 anos Mais de 16 anos

Gráfico 3 - Experiência docente

ESCOLA A ESCOLA B

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78

Mas, sobretudo quando associada direta ou indiretamente a outros

problemas, tais como insegurança em relação ao emprego, a instabilidade da função,

a substituição, a atribuição de contratos menos positivos (carga horária parcial,

trabalho difícil e árduo), alunos difíceis, práticas de atribuição de contratos que deixam

a desejar e a falta de apoio e de valorização do professor contratado, os jovens

professores perdem progressivamente o entusiasmo e pensam, às vezes, em

abandonar o magistério.

A pergunta seguinte referia-se ao tempo de docência dos professores

nas escolas pesquisadas (Gráfico 4). Os dois professores da escola A atuam na

escola há mais de seis anos. Durante entrevistas com eles, apurou-se que as

condições de trabalho na escola são percebidas como adequadas por ambos –

lembrando que as duas escolas pesquisadas estão situadas na região noroeste de

Belo Horizonte, em um bairro considerado bem localizado pelos professores de

ambas.

Gráfico 4 – Tempo de docência na escola pesquisada

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Na escola A, os professores de Língua Portuguesa e de Matemática

da turma de 9º ano afirmaram que o relacionamento entre professores e diretoria é

amistoso e ambos classificaram a escola como acima da média em termos de

infraestrutura e acesso. Tais considerações emanam do fato de os professores já

terem atuado em outras escolas e, portanto, possuírem referenciais de comparação.

0

1

2

3

Menos de 2 anos De 2 a 5 anos De 6 a 10 anos De 11 a 15 anos Mais de 16 anos

Gráfico 4 - Tempo de docência na escola pesquisada

ESCOLA A ESCOLA B

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79

As duas professoras participantes do estudo na escola B,

responsáveis pela condução das aulas de Língua Portuguesa e Matemática para a

turma de 9º ano, também definiram o bairro em que a escola está situada como muito

satisfatório e alegaram que as facilidades de acesso por meio da disponibilidade de

transporte público e de boas vias de acesso representam fator favorável para a

comunidade escolar.

Nenhuma das duas professoras entrevistadas na escola B possui

mais de cinco anos de trabalho na instituição. A professora de Matemática atua na

docência desde 2011, e na escola pesquisada desde 2015; mas já sinaliza para um

provável abandono da carreira docente.

A autora, apesar de não conhecer profundamente a realidade das

escolas da rede pública do município de Belo Horizonte, acredita que a situação das

escolas investigadas seja mais privilegiada do que muitas outras escolas, uma vez

que o acesso ao bairro conta com linhas de transporte coletivo que circulam por toda

a Região Metropolitana, por haver rede de segurança pública que faz rondas

frequentes e pelo fato de a região ser completamente atendida em termos sanitários,

aspectos que não estão disponíveis em bairros localizados nas regiões periféricas da

cidade.

Apesar de o presente relato ter por objetivo avaliar práticas docentes

mais aderentes ao desempenho dos alunos, talvez seja pontual cogitar que a

convicção do professor pela carreira pode ser um aspecto que impacte suas práticas.

O senso de responsabilidade social inerente à função é um fator relevante para que

as rotinas e exigências da profissão sejam devidamente assimiladas e observadas.

Não obstante, dadas as circunstâncias de precariedade da cena de ensino no país, é

provável que o profissional de ensino perceba na docência um estímulo superior às

recompensas financeiras do cargo.

A sexta pergunta do questionário estruturado direcionado aos

professores estava relacionada à percepção deles sobre o nível geral de interesse

dos alunos pelos estudos, apresentado no Gráfico 5.

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80

Gráfico 5 – Nível de interesse dos alunos pelo estudo

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Novamente houve consenso entre os respondentes da escola A, que

relataram compreensão de nível razoável de interesse pelos estudos por parte do

corpo discente. Eles expuseram, nas entrevistas, que o nível de interesse dos alunos

na escola pode ser considerado positivo por fatores pontuais: orientações da

coordenação e da diretoria para que os aspectos disciplinares sejam rigorosamente

observados em sala de aula, acompanhamento familiar exigido pela direção da escola

e, principalmente, pelo fato de a escola reforçar, junto aos alunos, que é uma

instituição reconhecida pelo entorno como detentora de bons resultados em exames

de qualidade de ensino.

A pesquisadora observou que, de fato, existe entre os alunos uma

sensação de valor pelo fato de a escola possuir prestígio no bairro. Um dos indícios

dessa percepção de valor pode ser o fato de os alunos, na apresentação da

pesquisadora, espontaneamente manifestar conhecimento da Prova Brasil e do

desempenho daquela escola no teste.

Na escola A, os professores são orientados a reforçar, junto às

turmas, a responsabilidade da escola permanecer em boas posições nos testes que

verificam os conhecimentos dos alunos, o que gerou entre eles a cultura de estudo

com foco na Prova Brasil. Já no momento da apresentação da pesquisadora à turma,

dois alunos espontaneamente manifestaram consciência de que também é função do

estudante zelar pela qualidade do ensino.

0

1

2

3

Meus alunos são muitointeressados pelos

estudos

Meus alunos sãorazoavelmente

interessados pelosestudos

Meus alunos são poucointeressados pelos

estudos

Meus alunos nãopossuem qualquer

interesse pelos estudos

Gráfico 5 - Nível de interesse dos alunos pelos estudos

ESCOLA A ESCOLA B

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Percebe-se, assim, que a escola A ter obtido bom desempenho nos

dois últimos exames da Prova Brasil provavelmente foi um fator positivo não apenas

em relação à turma detentora daquela nota, mas principalmente porque estabeleceu

alto nível de expectativa e exigência das turmas seguintes em relação aos

conhecimentos adquiridos.

Já na escola B percebeu-se que existe, por parte dos professores

consultados, uma percepção inferior acerca do nível de comprometimento dos

estudantes pelo ensino. A pesquisadora chegou a essa conclusão porque os

professores alegaram que, apesar de a escola possuir condições estruturais

adequadas, ainda existe uma demanda de conscientização estudantil para a

importância de priorização da vida escolar.

Em entrevistas, foi relatado que situações relacionadas a ausências

desnecessárias, comportamentos incompatíveis e desinteresse são frequentes.

Quando questionada a respeito de ações potencializadoras do interesse escolar, uma

professora manifestou que a participação da família nas reuniões deveria ser

obrigatória, uma vez que, na sua percepção, é o núcleo familiar o responsável por

incutir no aluno a noção de importância pelos estudos. Ainda segundo essa

professora, o abandono afetivo é perceptível, muitas vezes impedindo que a escola

busque novas formas de aproximação. Os alunos cujos responsáveis estão distantes

da atmosfera escolar, em alguns casos, sentem-se marginalizados nas épocas de

reuniões e comprovadamente se ausentam mais da escola nesses períodos.

A pesquisadora considera que a família, como núcleo social, é

também responsável pela formação da responsabilidade do aluno pelos estudos e,

portanto, deve participar das ações escolares, favorecendo o desenvolvimento do

estudante.

De acordo com um dos professores da escola B, provavelmente existe

no corpo de alunos uma desmotivação pessoal derivada de aspectos sociais. Caberia

à escola, nesse sentido, o desenvolvimento de ações de valorização pessoal que

lidem com a autoestima e a sensação de pertencimento do aluno.

Para Luckesi (2011, p. 178), importa exercitar a atenção plena, que

significa estar atento aos próprios pensamentos e sentimentos, investigando-os no

sentido de seguir os caminhos que eles apontam. Atenção plena significa descobrir o

significado do desejo e da ação na fusão permanente de sentimentos e pensamentos.

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82

Cabe aqui a necessidade de a escola elaborar ações de acolhimento

e pertencimento para os casos de alunos que não possuem família. Esta autora

considera que um dos caminhos para a elaboração dessas ações talvez seja a

descoberta dos motivos que levam o estudante a permanecer na escola, reforçando

ganhos financeiros, sociais e profissionais oriundos da vida estudantil, bem como a

importância do desenvolvimento de habilidades interpessoais providenciado pelo

ambiente escolar.

A sétima pergunta relacionada aos professores retratou o aspecto

comportamental dos alunos em sala de aula (Gráfico 6). De acordo com o exposto no

referencial teórico anterior, a gestão da disciplina em sala de aula é elemento que

fornece ao aluno condições adequadas para a aquisição de novos conhecimentos.

Gráfico 6 – Percepção docente sobre a disciplina da turma

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Na escola A, durante as aulas assistidas pela pesquisadora, existia

um ambiente de interesse pelos conteúdos expostos e a participação dos alunos

durante a exposição dos professores era frequente. Todos os alunos estavam

sentados e as carteiras estavam dispostas em fileiras.

A metodologia utilizada em três das quatro aulas assistidas foi a aula

expositiva dialogada. Utilizando o quadro, os professores explicaram conteúdos e os

alunos fizeram anotações de acordo com as anotações dos professores na lousa.

0

1

2

3

Muitoindisciplinada

Medianamenteindisciplinada

Indisciplinada Disciplinada Medianamentedisciplinada

Muitodisciplinada

Gráfico 6 - Percepção docente sobre a disciplina da turma

ESCOLA A ESCOLA B

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83

Todos os alunos estavam com o caderno das disciplinas e o ambiente

era de concentração, caracterizado pela fala dos professores e pelas participações

ocasionais dos alunos. Apesar de a sala estar cheia, média de 28 alunos diariamente,

observou-se uma atmosfera calma e efetivamente voltada ao aprendizado, visto que

o tempo da aula realmente foi utilizado para apresentação e debate dos conteúdos.

Uma das aulas assistidas consistiu na apresentação de trabalho em

grupo pelos alunos. Na ocasião, a turma apresentou atividade previamente combinada

com o professor. Coube a cada grupo demonstrar como os ângulos matemáticos

participam da vida do aluno fora da sala de aula. A atividade instigou a criatividade e

o poder de observação da turma. Seis grupos tiveram a incumbência de demonstrar

a aplicabilidade do conteúdo matemático à realidade do aluno.

O tempo para apresentação de cada grupo foi de 6 minutos e, à

medida que eram apresentados exemplos relacionados ao cotidiano dos alunos

(escada do ônibus, abertura da tela de notebook, utilização de uma escada, abertura

de uma janela etc.) a participação aumentava.

Esta pesquisadora constatou que a aplicação dos conteúdos à

realidade do aluno evidencia utilidade e, em consequência, potencializa o interesse

do estudante. Em função da facilidade de os alunos exporem o trabalho para toda a

turma, pode-se considerar, com razoável convicção, que essas apresentações

ocorrem com frequência e são bem aceitas pelos alunos.

Na escola B, foram observadas quatro aulas, distribuídas para as

disciplinas de Língua Portuguesa e de Matemática. Também na escola B percebeu-

se prevalência das aulas expositivas dialogadas em detrimento das demais

metodologias.

As duas primeiras aulas assistidas pela pesquisadora, nas disciplinas

de Língua Portuguesa e de Matemática, respectivamente, consistiram em correção de

provas de ambos os professores. Com o gabarito em mãos, os professores colocaram

cada questão no quadro e, com a participação dos alunos, desenvolveram as

respostas. Conforme a turma participava das perguntas, os professores

parabenizavam os alunos que manifestavam acertos. Foi uma prática comum aos dois

professores observados, na primeira aula.

Percebeu-se que alguns alunos não se manifestaram durante as

correções e, ao perguntar aos professores por qual motivo alguns alunos sempre

participavam mais das aulas, foi respondido que existe um grupo de destaque na sala

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e, quando possível, são realizadas tentativas de estímulo aos alunos menos

participativos. No entanto, ainda segundo a professora, os alunos mais introspectivos

dificilmente aceitam mudar seus comportamentos e há casos de alunos que se

mostraram desconfortáveis com a situação.

Ao final da correção da prova, uma professora sinalizou à turma a

necessidade de assinatura dos responsáveis nas provas, quando os alunos deveriam,

na aula seguinte, levar o documento com termo de ciência dos pais ou responsáveis.

Ao perguntar se havia algum instrumento de controle a respeito do acompanhamento

dos pais pela vida escolar, foi respondido que a escola orienta os professores a

pedirem a assinatura dos pais, mas que não há um controle que garanta o

cumprimento da recomendação. Alguns professores exigem, outros não.

A autora acredita que, possivelmente, não exista a obrigatoriedade de

apresentação da assinatura de responsáveis por alguns alunos não possuírem

famílias que acompanham ativamente a vida escolar de seus membros. Muito

provavelmente, a exigência acarretaria uma situação constrangedora, uma vez que o

aluno teria que, repetidamente, manifestar a impossibilidade de obter uma validação

familiar.

Um aspecto que chamou a atenção desta pesquisadora foi a

percepção de menor rigor com uso de materiais. Dos 20 alunos presentes, 3 não

estavam com qualquer material de apoio às aulas (cadernos, folhas, lápis ou livros).

Além disso, os alunos formavam um grupo facilmente identificável, uma vez que as

intervenções disciplinares direcionadas ao trio eram recorrentes. Ao ser indagada

sobre esses alunos e as constantes intervenções, a professora esclareceu que são

alunos reconhecidamente difíceis no aspecto disciplinar e tentativas anteriores de

distanciamento não surtiram efeito.

De modo geral, o ambiente da sala da escola B é parecido com o da

escola A. O tamanho da sala é semelhante, as carteiras são iguais e a disposição das

salas, padronizada. Os professores, nas duas escolas, ministram as aulas expositivas

dialogadas fazendo uso do quadro branco e de pincéis recarregáveis.

Apesar de na escola B um trio menos observador das normas

disciplinares ter chamado a atenção desta pesquisadora, o comportamento geral dos

alunos era muito semelhante aos observados na escola A.

Diferentemente dos resultados obtidos na escola A, parte dos

professores da escola B manifestou percepção de que a turma é indisciplinada. Pode

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85

ser que o aspecto disciplinar seja um dos determinantes para o desempenho dos

alunos, uma vez que a escola B obteve resultados inferiores aos da escola A nos

últimos dois testes da Prova Brasil.

Ainda que, nesse estudo, os números retratem apenas a realidade de

duas turmas do 9º ano do Ensino Fundamental, há de se considerar que,

potencialmente, o aspecto disciplinar é elemento que providencia ao professor

condições mais adequadas de gestão do tempo de aula e, em consequência, o

desempenho da turma pode ser afetado pelas constantes interrupções disciplinares.

O oitavo aspecto retratado por esta pesquisadora consistiu na gestão

do comportamento em sala de aula, mostrado no Gráfico 7. Evidenciou-se, na parte

teórica da presente dissertação, que cabe ao professor a gestão dos comportamentos

em sala de aula, para que exista ambiente propício ao ensino.

Gráfico 7 – Estilo de liderança em sala de aula na maior parte do tempo

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Na escola A, enquanto um dos professores respondentes à pesquisa

percebe estilo democrático de gestão da sala, outro professor apontou para uma

prática autoritária e exigente no tocante ao aspecto disciplinar. Nas observações, a

pesquisadora observou posturas muito semelhantes entre os professores. Quaisquer

desvios comportamentais (conversas paralelas, alunos sentados de forma incorreta,

0

1

2

3

Autoritário Democrático Liberal

Gráfico 7 - Estilo de liderança em sala de aula na maior parte do tempo

ESCOLA A ESCOLA B

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alunos sonolentos etc.) eram imediatamente alertados pelo professor, quando eram

reconhecidos pelo próprio nome. Essa situação, aliás, chamou positivamente a

atenção da pesquisadora: os dois professores sabiam os nomes de cada aluno.

Ao sinalizar a alunos específicos a incompatibilidade de

comportamento, percebeu-se que o problema não voltou a acontecer e que outros

alunos não repetiram o comportamento invalidado pelo professor. Exceção para a

conversa paralela, que ocorreu em alguns casos e foi prontamente resolvida pelos

professores, por meio de intervenções diretas e pontuais.

Apesar de os professores da escola A terem respondido ao

questionário com alternativas diferentes – um professor percebe estilo democrático

enquanto o outro percebe estilo autoritário –, a pesquisadora percebeu que os

professores adotam medidas muito pontuais para a manutenção de ambiente

disciplinado e ordeiro em sala de aula. A medida mais adotada pelos professores é o

pedido direcionado ao aluno para que faça silêncio ou que colabore com os colegas.

Todas as intervenções ocorrem de forma relativamente tranquila, ou seja, os

professores manifestam domínio da turma quando precisam intervir por motivos

comportamentais, e o fazem de modo cordial, sem ameaças de punição.

De modo geral, na escola A verificou-se que a gestão do

comportamento é premissa observada, uma vez que durante nossas visitas, não

ocorreram embates entre alunos e professores, e em todas as ocasiões em que os

professores solicitaram mudança de comportamento eles foram prontamente

obedecidos pelos alunos.

A metodologia de correção disciplinar da escola A consiste em 3

etapas: sinalização do professor, conversa com a diretora e suspensão do dia de aula.

O professor, caso veja necessidade, pode encaminhar o aluno para a diretoria sem

sinalização anterior.

Uma situação que chamou a atenção da pesquisadora aconteceu

num momento em que um dos alunos iniciou desentendimento com um colega da

turma. O professor solicitou que o aluno imediatamente se retirasse de sala e fosse

conduzido à diretoria, para providências de correção disciplinar. Na ocasião, um aluno

representante da turma acompanhou o colega afastado até a sala da diretora, para

explicar à diretora por qual motivo o professor solicitou o afastamento. Logo que o

professor pediu ao aluno gerador da indisciplina que se retirasse da sala, o aluno

representante da turma, por livre iniciativa, tratou de acompanhar o colega, fato que

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87

leva a acreditar que as intervenções disciplinares são uma constante em sala de aula

e que já existe um comportamento padrão adotado tanto pelo professor quanto pelos

alunos.

No dia do episódio, o aluno encaminhado à diretoria não retornou para

a sala de aula. Em entrevistas, os professores apontaram o fato de a direção da escola

ser muito exigente no aspecto disciplinar. Segundo os professores, não são toleradas

conversas paralelas, uso de aparelhos telefônicos, vocabulário inadequado ou

quaisquer atitudes incompatíveis com o ambiente escolar.

A pesquisadora considera que o ambiente da escola A é fortemente

impactado pela rigidez disciplinar, uma vez que não são tolerados comportamentos

agressivos, palavreados incompatíveis com o ambiente escolar e qualquer postura

percebida por professores como inadequada à atmosfera estudantil. Episódios

isolados considerados graves são tratados de modo diferenciado, quando há

convocação imediata para que pais ou responsáveis compareçam à escola em busca

de entendimento e solução.

Na escola B, os professores manifestaram percepção de estilo

democrático na condução das suas aulas. Uma das professoras afirmou, no

questionário estruturado, que “o perfil do aluno do Ensino Fundamental na rede

pública impossibilita práticas excessivamente disciplinadoras de gestão da sala”.

Além disso, não há uma estratégia de correção da conduta do aluno

nos casos de indisciplina. A escola B orienta os professores a encaminharem os

alunos para o coordenador nas situações de tumulto, porém, nos dias de visita da

pesquisadora à escola, o coordenador estava de licença médica. Tal qual na escola

A, na escola B os professores conhecem os alunos individualmente e os chamam

pelos próprios nomes.

De acordo com o que já foi exposto, em um dado momento, a

pesquisadora identificou um grupo de três alunos com posturas incompatíveis às

esperadas no ato da correção de uma prova. Além de não estar com materiais de

apoio (lápis, caderno, folhas) em mãos, os alunos insistiam em ridicularizar uns aos

outros, quando observavam seus erros nas provas.

A turma parecia não estar incomodada com o comportamento do trio

e, de algum modo, ignorava as brincadeiras que ocorriam entre eles. No entanto, em

função do tom de voz dos alunos que insistiam nas brincadeiras, a professora

constantemente parava a correção para pedir a atenção do trio. Ao ser questionada a

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respeito da possibilidade de uma intervenção mais rigorosa, a professora relatou que

um dos alunos foi agressivo com outro professor em situação passada e que existe

receio, por parte de alguns professores, em agir corretivamente com tal aluno.

Pode-se considerar que a inexistência – ou inoperância – de uma

metodologia disciplinar mais rígida acarrete prejuízos ao aprendizado da turma, uma

vez que as interrupções são constantes e o ritmo de ensino depende da sequência e

teor dos conteúdos abordados a cada encontro.

A situação acaba por definir o próprio modelo de condução disciplinar

do professor que, temeroso das condições estruturais da escola no tocante aos

instrumentos de apoio disciplinar, acaba por desenvolver estilo menos exigente e,

talvez, excessivamente tolerante.

A percepção dos níveis de exigência docentes relacionados à

exposição dos novos conteúdos foi a nona questão retratada pela pesquisadora no

instrumento dirigido aos professores. Buscou-se compreensão acerca de como o

professor percebe dificuldades ao apresentar novos conhecimentos e como avalia

este nível de exigência. Observou-se que os professores manifestam percepções

diferentes, conforme o Gráfico 8.

Segundo Lafayette (2014), a liderança, para ser eficaz, tem que

ajustar-se à situação. Em outras palavras, os líderes devem ter a habilidade de

adaptar seu estilo de liderança às exigências do ambiente. Também deve possuir

flexibilidade pessoal e uma gama de habilidades necessárias para variar seu

comportamento sempre que as necessidades e os motivos dos seus liderados forem

diferentes para, assim, também serem tratados de modos diferentes.

Chiavenato (2000, p. 91-92) discorre sobre estilos de liderança:

A teoria mais conhecida que explica a liderança por meio de estilos de comportamento sem se preocupar com características pessoais de personalidade do líder refere-se a três estilos de liderança: autocrática, liberal e democrática. Definindo-os como: Liderança autocrática: O líder centraliza as decisões e impõe suas ordens ao grupo. Liderança liberal: O líder delega totalmente as decisões ao grupo e deixa-o totalmente à vontade sem controle algum. Liderança democrática: O líder conduz e orienta o grupo e incentiva a participação democrática das pessoas.

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Gráfico 8 – Nível de exigência em relação aos conteúdos ministrados

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Apesar de a escola A possuir resultado positivo nos dois últimos

exames da Prova Brasil, nenhum dos docentes se considera muito exigente quando

avalia seus alunos. Em entrevistas, um dos professores expôs que a escola, mesmo

possuindo boa reputação relacionada à qualidade de ensino, ainda recorre a

metodologias tradicionais de ensino, como aula expositiva dialogada e provas.

Na escola A, em função da impossibilidade financeira, não existe

acesso dos alunos a sinal de internet ou a computadores, fato que impossibilita a

utilização de ferramentas que potencializariam o aprendizado. Ainda de acordo com o

professor, os alunos da escola frequentemente são advertidos pelo uso do aparelho

de celular em sala de aula, fato que poderia ser um diferencial positivo caso todos os

alunos possuíssem o aparelho com acesso à internet. Foi pontuado que os

professores poderiam compatibilizar o interesse do aluno pelo ambiente digital às

diversas possibilidades de acesso ao conhecimento em plataformas de estudo dirigido

ou, ainda, relacionando notícias publicadas na rede aos conteúdos ensinados na sala

de aula.

A percepção de um professor da escola A de que existe interesse do

universo de alunos pelas ferramentas digitais e o desejo de utilizar tais recursos em

sala de aula demonstra que este profissional reconhece as preferências e

expectativas dos seus alunos. Ainda que não possa atendê-las, evidencia-se que o

0

1

2

Muito exigente Medianamente exigente Pouco exigente

Gráfico 8 - Nível de exigência em relação aos conteúdos ministrados

ESCOLA A ESCOLA B

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profissional da área de ensino, mesmo exposto a uma atmosfera de limitação de

recursos, permanece atento e consciencioso ao papel de ensinar com qualidade.

Essa postura provavelmente faz com que o docente busque

alternativas para contextualizar o ensino a alguma situação de interesse do aluno,

aumentando os níveis de atratividade das aulas.

Quando questionado sobre práticas que compensem a inexistência

dos recursos digitais na escola, o professor esclareceu que procura relacionar cada

tema de cada aula a algum episódio de interesse dos alunos (filme, música, programa

de televisão, jogo de futebol ou notícia recente), de maneira que mesmo alunos de

condições financeiras menos privilegiadas tenham condições de realizar analogias e

participar dos debates. Tal contextualização pode ser um exemplo de prática docente

determinante ao bom desempenho escolar da escola A.

As respostas dos professores da escola B, de alguma forma,

surpreenderam esta pesquisadora. Apesar de considerarem que há ambiente menos

propenso às normas disciplinares, no quesito “exigência”, um dos professores

respondeu que se considera muito rígido em relação à cobrança dos conteúdos

propostos. Ao analisar a questão, a pesquisadora buscou entendimento junto às

professoras, quando foi esclarecida de que, considerando a realidade familiar e social

dos alunos, os conteúdos ministrados podem ser considerados acima da média.

A professora pesquisada ilustrou sua resposta, dizendo que um dos

alunos da escola B, além de órfão de pai e mãe, possui deficiência intelectual

comprovada por laudos médicos. Um irmão mais velho, raramente presente às

reuniões escolares, responde pelo aluno. Para ela, dadas as condições, o nível de

exigência deveria considerar as limitações cognitivas do aluno, em vez de

simplesmente preparar para testes, uma vez que cabe à escola não apenas a

formação intelectual, mas também o desenvolvimento de habilidades socioafetivas.

Salienta-se que a pesquisadora, mesmo assistindo quatro aulas na

turma, em momento algum identificou o aluno citado, nem qualquer metodologia

diferenciada para tratar das limitações relatadas pela professora.

Novamente, discutem-se as implicações da precarização do ensino

público no Brasil. É pouco provável que a escola possua subsídios para receber

alunos com déficits de atenção e desenvolver práticas individualizadas. No caso da

escola B, foi relatado que existe uma orientação da coordenação pedagógica no início

do período letivo para que haja acompanhamento do professor. Ainda assim, a gestão

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do tempo de aula impossibilita o atendimento individualizado, aspecto que

possivelmente prejudica o aluno e reduz suas perspectivas de desenvolvimento.

Por outro lado, limitar as condições de produtividade escolar pelo fato

de uma parcela da turma possuir background menos promissor pode ser tão injusto

quanto expor alunos menos privilegiados às mesmas condições daqueles que

recebem mais apoio familiar.

O décimo quesito analisado pela pesquisa junto aos professores

estava relacionado às práticas utilizadas em sala de aula. As três modalidades mais

utilizadas pelos professores estavam relacionadas às aulas expositivas com utilização

do quadro para anotações, atividades individuais escritas e atividades orais em grupos

(Gráfico 9).

Gráfico 9 – Práticas adotadas em sala de aula

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Na maior parte do tempo observado, a modalidade aula expositiva foi

a utilizada pelos docentes da escola A. Com a utilização do quadro, os professores

fizeram anotações que eram copiadas pelos alunos e, posteriormente, explicadas e

debatidas.

Um aspecto que chamou a atenção da pesquisadora foi o nível de

exigência dos professores em relação à manutenção dos cadernos. Os dois

professores da escola A dedicavam tempo das aulas para olhar os cadernos, fazer

observações e, em casos específicos, fazer alguma anotação pedindo a assinatura

0

1

2

3

Aulaexpositiva

com uso doquadro

Debates Palestras Atividadesescritas

individuais

Atividadesescritas em

grupos

Atividadesorais

individuais

Atividadesorais emgrupos

Arguições

Gráfico 9 - Práticas adotadas em sala de aula

ESCOLA A ESCOLA B

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do pai ou responsável pelo aluno. Todas as aulas foram iniciadas com os professores

solicitando as assinaturas dos pais ou responsáveis em bilhetes deixados nas aulas

anteriores.

O caderno, portanto, é uma ferramenta imprescindível à gestão das

disciplinas Língua Portuguesa e Matemática na escola A. Além de copiarem todas as

orientações dos professores, os alunos recorreram às anotações de aulas anteriores

para responder perguntas durante as aulas, postura que indica a utilidade e a

importância das anotações e a relevância de o material didático ser organizado,

especificamente o caderno.

Em entrevista, um dos professores da escola A esclareceu que existe

o direcionamento da escola para que o caderno seja um instrumento muito valorizado,

visto que nem todos os alunos possuem acesso à internet em casa e que, para

realização de atividades fora da escola, só podem recorrer a esse material para

consulta.

Outra prática adotada pelos professores da escola A, e acompanhada

pela pesquisadora, foi a apresentação de atividades em grupo. Na disciplina de

Matemática, os alunos tiveram a tarefa de apresentar à turma como os ângulos

matemáticos participam da realidade. Apesar de a atividade gerar uma atmosfera mais

extrovertida, uma vez que o número de brincadeiras entre alunos ocorria a cada nova

apresentação, percebeu-se que a turma estava acostumada com a prática e

relativamente calma para apresentar a atividade.

Os alunos demonstraram facilidade para exposição oral e as questões

de ordem disciplinar não foram afetadas, o que sugere que a prática é uma constante

na escola. Durante as apresentações dos grupos, o professor fez inferências pontuais

e contextualizou aspectos teóricos, conforme os grupos demonstravam seus estudos

e exemplos. A participação da turma foi numericamente maior durante as

apresentações em grupo, o que sugere que atividades dessa natureza sejam

positivamente estratégicas, determinando maior envolvimento dos alunos e,

provavelmente, maiores condições de um ensino eficaz.

Ainda na escola A, um dos professores apontou a utilização de

arguições e debates em sala, práticas que não foram observadas pela pesquisadora

nas ocasiões em que assistiu às aulas.

Nesse quesito, houve semelhança nas respostas dos docentes das

duas escolas observadas. Também na escola B os professores sinalizaram a

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utilização frequente da aula expositiva dialogada como instrumento de condução das

aulas. Ainda, os dois docentes da escola B afirmaram utilizar com frequência debates

e atividades em grupo nas aulas.

De acordo com o anteriormente relatado, nas quatro aulas assistidas

na escola B a pesquisadora observou a predominância da aula expositiva dialogada.

Os professores a utilizaram para corrigir provas, no primeiro dia observado, e para

conduzir os conteúdos das aulas, no segundo dia.

Os alunos da escola B parecem muito habituados à metodologia da

aula expositiva e um grupo de alunos responde frequentemente aos estímulos dos

professores durante as explicações. Por outro lado, pôde-se observar que

determinados alunos da turma não interagiram em nenhum momento da aula,

permanecendo calados, apenas anotando os conteúdos escritos no quadro.

Apesar de uma professora alegar que tentativas anteriores de

mudança do comportamento desses alunos foram infrutíferas, talvez a adoção de

metodologias mais ativas estimule tais estudantes a desenvolverem uma postura mais

participativa.

A pesquisadora acredita que quaisquer mudanças que permitam aos

alunos notoriamente introvertidos maiores condições de manifestação sejam uma

opção à gestão dos conteúdos na escola B. Além disso, conforme já exposto, a

pesquisadora identificou um trio de alunos que frequentemente interrompia as aulas

com piadas e comentários inadequados.

A gestão disciplinar, nesses casos, depende da figura do coordenador

pedagógico da escola B, que, na ocasião das observações, estava de licença médica.

Talvez seja recomendável que, na ausência do coordenador pedagógico, outra

pessoa assuma a responsabilidade de receber alunos que comumente recorrem na

indisciplina, zelando pela adequação do ambiente da sala de aula às atividades que

ali são realizadas.

O fato de não haver, na escola, uma pessoa responsável por tais

ajustes, ainda que temporariamente, pode gerar descrédito das normas estabelecidas

e, pior, desqualificar a figura do professor, uma vez que o coloca em uma posição

subserviente frente às inadequações observadas.

A adoção das lições de casa foi a décima primeira pergunta do

questionário respondido pelos professores.

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Gráfico 10 – Habitualidade de adoção de tarefas em casa

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Na escola A, os dois professores afirmaram utilizar com muita

frequência a lição de casa. Foi esclarecido para a pesquisadora que existe orientação

da coordenação para que a lição de casa seja rigorosamente observada, quando pais

e/ou responsáveis possuem responsabilidade pelo acompanhamento e pela

supervisão. Anotações, bilhetes, orientações e demais informações, enfim, tudo que

seja relacionado à vida escolar, também são centralizados nos cadernos dos alunos.

Professores enviam comunicados aos pais pelos cadernos, quando devem receber a

assinatura dos responsáveis como retorno.

Ao realizarem matrícula na escola A, os pais ou responsáveis são

imediatamente orientados do acompanhamento diário dos cadernos dos alunos,

quando podem verificar não apenas se há tarefas pendentes como, também, se existe

alguma informação importante sendo comunicada. A cada trimestre, os pais são

convocados para reunião junto aos professores e À coordenação da escola. Na data

das reuniões não há aula. Ocorre um rodízio de reuniões entre pais e professores,

quando são repassadas informações relevantes sobre a vida estudantil e solicitadas

medidas de apoio aos familiares ou responsáveis.

Como anteriormente exposto neste estudo, os professores

participantes da pesquisa já trabalharam em outras escolas públicas e, portanto,

possuem referenciais de comparação de apoio familiar. De acordo com os

professores, na escola A, o nível de acompanhamento dos pais ou responsáveis em

0

1

2

3

ESCOLA A ESCOLA B

Gráfico 10 - Adota tarefas de casa habitualmente?

Sim Não

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relação à vida estudantil dos alunos é muito satisfatório. Nas reuniões trimestrais, o

número de pais que comparecem à escola é alto e as demandas apresentadas pela

escola e pelos professores são observadas pela família. Os professores também

expuseram que existe o reconhecimento da escola de que, quanto mais presente a

família na cena estudantil, melhor os desempenho dos aluno.

A pesquisadora percebe que as estratégias de aproximação entre

família e escola provavelmente fortalecem a narrativa docente e estabelecem, junto

aos alunos da escola A, senso de corresponsabilidade. É um aspecto que

notavelmente favorece o desempenho escolar.

Já na escola B não existe a prática da tarefa de casa diária. Foi

informado que as tarefas, apesar de constantes, não são necessariamente diárias e

que os alunos são estimulados a pesquisar sobre os assuntos de cada aula,

independente de uma tarefa estruturada. De acordo com o relatado por uma das

professoras em entrevista, a medida visa a instigar os alunos a desenvolverem senso

de autonomia.

Ainda segundo a professora, a prática gera bons resultados, porque

confere ao aluno a noção de autossupervisão, uma vez que ele próprio determinará

suas contribuições para os debates das próximas aulas. No entanto, a professora

relatou, novamente, que um grupo de alunos apenas entrega as atividades quando as

tarefas são pré-determinadas, em forma de lição. Nos casos em que não são

encaminhadas lições pré-definidas, não há uma cobrança formal e os alunos que se

sentem mais confortáveis para apresentar suas atividades à turma, o fazem.

Nas ocasiões em que os alunos levam tarefas para casa, os

professores são orientados à correção e, nos casos em que fique constatada a não

realização, o aluno deve apresentar, na aula seguinte, a lição pendente além da lição

do dia. Não há um instrumento de controle das entregas e os professores o fazem em

anotações próprias.

Na escola B também há reuniões trimestrais, quando os e/ou

responsáveis são convidados para encontros com professores e coordenadores.

Diferentemente da escola A, na escola B a participação dos professores depende do

dia das reuniões. Já houve casos em que os professores não participaram das

reuniões pelo fato de não terem aulas programadas para o dia.

Talvez um ajuste que favoreça o encontro dos professores com os

pais seja uma forma de estimular a comunicação entre os elementos componentes da

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vida escolar do aluno, fortalecendo os vínculos entre família e escola. A pesquisadora,

após desenvolvimento do referencial teórico desse estudo, fortaleceu sua percepção

de que o professor é figura determinante para o engajamento do aluno e que as trocas

advindas da interação entre o docente e a família podem potencializar as condições

de aprendizado.

Na décima segunda pergunta direcionada aos professores tratou-se

da questão dos recursos necessários à realização das tarefas de casa, dados que

geraram o Gráfico 11.

Gráfico 11 – Recursos necessários à realização das lições de casa

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

De acordo com o exposto no componente teórico deste estudo, o

background familiar é fator que contribui para a aderência do aluno à vida escolar e

para seu desenvolvimento intelectual. O modo como a família se organiza para

permitir que o jovem realize suas atividades estudantis em casa pode influenciar em

seu desempenho escolar.

Como já relacionado anteriormente, na escola A existe a cultura da

lição de casa como prática facilitadora do aprendizado. Nos dias em que esteve

observando a turma, a pesquisadora percebeu que, entre 29 alunos, apenas 2

estudantes deixaram de realizar as atividades de casa em mais de uma ocasião. Em

0

1

2

3

Envolvem pesquisas eminternet e sites

Envolvem estudos noslivros didáticos da escola

ou caderno

Envolvem a estrutura deconhecimentos prévios,

sem necessidade deconsulta a quaisquer

outros recursos

Envolvem pesquisa amateriais impressos

adicionais, nãonecessariamente com

acesso à internet

Gráfico 11 - Recursos necessários à realização das lições de casa

ESCOLA A ESCOLA B

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97

todos os casos, o professor solicitou o caderno ao aluno e encaminhou comunicado

aos pais ou responsáveis.

Apesar de terem informado que a escola solicita que os dados

necessários à realização da tarefa de casa estejam no caderno, os professores

responderam que eventualmente solicitam, nas lições de casa, consulta a revistas,

jornais ou livros didáticos. Ao serem indagados a respeito dessa exigência,

informaram que, quando solicitam pesquisa a materiais adicionais, não há

obrigatoriedade de consulta, devendo o aluno responder à lição com os

conhecimentos obtidos em sala ou anotados em seus cadernos.

Na escola B, os professores responderam que com frequência

elaboram lições de casa que demandam estudo nos livros didáticos, estrutura de

conhecimentos prévios e materiais adicionais, não necessariamente com acesso à

internet. Explicaram que, em situações anteriores, o fato de alguns alunos não

possuírem acesso à rede de computadores gerou constrangimento e isolamento, fato

que determinou a padronização aos recursos de consulta para o dever de casa.

Os professores da escola B manifestaram, nas entrevistas, que é

bastante provável que os alunos com acesso à internet a utilizem nas lições. No

entanto, a escola estabelece que os recursos de consulta sejam livros, cadernos,

revistas, catálogos e demais materiais que não demandem uso do espaço virtual.

Cabe aqui uma reflexão sobre a proibição do uso de sites, blogs e

demais ferramentas virtuais como apoio ao desenvolvimento das lições de casa. Se é

verdadeiro que determinados alunos não possuem acesso à internet, também se pode

afirmar com razoável convicção que a proibição de uso desse recurso mais distancia

o aluno de possibilidades efetivas de busca pelo conhecimento do que o aproxima dos

seus pares em sala de aula. Talvez seja interessante permitir que alunos com acesso

à ferramenta o façam, apresentando aos colegas os resultados da pesquisa e

aproximando a turma das perspectivas de acesso à informação online. Além de

desmistificar a esfera digital como fonte de informações, seria uma oportunidade para

que os alunos interagissem para mostrar aos demais colegas como obtiveram aquela

informação.

A intenção desta pesquisadora não é, de modo algum, invalidar os

procedimentos estipulados pela escola. O objetivo aqui é chegar a um entendimento

sobre a presença da rede mundial de computadores na vida dos alunos, no modo

como o conhecimento é contemplado naquela esfera e, principalmente, na

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necessidade de reconhecimento das ferramentas virtuais como elementos que,

definitivamente, participarão da vida estudantil do aluno. Se não agora, pelo menos

em um futuro breve.

A décima terceira questão direcionada aos professores referia-se aos

aspectos que os professores consideram determinantes da eficácia escolar. Os

professores manifestaram que o acompanhamento regular da família e a estrutura de

conhecimentos prévios são indispensáveis para o sucesso escolar do aluno, como

demonstrado no Gráfico 12, a seguir.

Gráfico 12 – Aspectos determinantes da eficácia escolar

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

De acordo com os professores da escola A, os pilares do ensino são

a formação de base e o apoio familiar. Um dos professores da escola A declarou que,

sem a existência desses dois aspectos, de nada adianta a escola trabalhar

arduamente na busca pelo desenvolvimento estudantil do jovem, uma vez que essa

necessidade é verdadeiramente validada pela família.

Ainda na escoa, A, um dos professores expôs que escolas públicas

localizadas em regiões menos desenvolvidas muito provavelmente estão classificadas

em posições ruins nos testes em escala, não apenas pela precariedade estrutural,

mas, principalmente, pelas condições de abandono afetivo vivenciadas pelos alunos,

que não possuem referências familiares ou sociais norteadoras à vida escolar. Nesses

0

1

2

3

Acompanhamento regular dafamília no planejamento e

execução das atividades escolares

Formação de base robusta, comadequada consolidação daestrutura de conhecimentos

prévios necessários aoentendimento da disciplina

Apoio da escola na condução dasatividades e estratégias dos

professores

Gráfico 12 - Aspectos determinantes da eficácia escolar

ESCOLA A ESCOLA B

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casos, ações como a simples melhoria das condições estruturais da escola ou o

aumento de salário dos professores pouco provavelmente resolveriam os déficits de

aprendizado dos alunos, segundo o professor entrevistado. Para ele, o principal

constituinte da vida escolar são os estímulos sociais – notavelmente os familiares –

existentes.

Percebe-se, portanto, que corroborando o que foi descrito no

referencial teórico deste estudo, o apoio familiar é aspecto determinante à eficácia

escolar. Quando consideramos que a formação de base envolve conhecimentos

prévios bem assimilados, estamos nos referindo a algum conhecimento que

provavelmente ocorreu no passado com a colaboração (direta ou indireta) do núcleo

familiar, pois, sem condições de realizar as tarefas de casa, dificilmente o aluno

mantém entusiasmo pela vida escolar, pois ela é uma prática que pode ser

considerada bem sucedida quando fornece lastro aos ensinamentos do professor em

sala de aula.

Os professores de Língua Portuguesa e de Matemática da turma de

9º ano da escola B são unânimes em validar os três elementos apresentados pela

pesquisadora como determinantes à eficácia: acompanhamento familiar,

conhecimentos prévios e apoio da escola às atividades docentes.

Foi bastante divulgada, no constituinte teórico deste estudo, a

coparticipação entre família, componentes pedagógicos que geram a arquitetura de

conhecimentos e estruturação do núcleo escolar para uma adequada organização da

vida estudantil. Nesse sentido, a pesquisadora se deparou com curiosidade de

investigar, junto ao corpo docente, sobre as percepções de importância de cada

elemento para um bom desempenho do aluno.

Na escola B, os professores manifestaram que o nível de importância

dos fatores é semelhante e que a inexistência de algum dos aspectos gera prejuízos

ao desenvolvimento escolar.

Novamente, o presente estudo não possui a intenção de

sobrevalorizar quaisquer aspectos constituintes da formação do estudante perante

seu desempenho escolar. Seu intuito é verificar se há relação entre esses elementos

e as práticas do professor em sala de aula. De acordo com os professores das duas

escolas, todos os tópicos são importantes e se complementam.

A primeira pergunta aberta do instrumento de pesquisa direcionado

aos professores questionava sobre a existência de apoio da escola para a realização

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100

de práticas pedagógicas inovadoras e diferenciadas junto às turmas. Os professores

responderam que a escola fornece ao professor liberdade para desenvolver novas

atividades e inovar nas práticas pedagógicas. No entanto, foi reforçado por eles que

um impeditivo à execução de práticas diferenciadas é o aspecto financeiro.

Segundo os professores da escola A, a precariedade de recursos da

rede pública de ensino estabelece que mesmo atividades fora da escola sejam de

difícil operacionalização, uma vez que a escola deve fazer seguro de vida para esses

casos, e não há verba disponível. Na escola B o feedback foi semelhante e ilustrado

pela impossibilidade de determinados alunos acessarem a internet ou comprarem

materiais escolares.

Novamente, a pesquisadora declara que a crença de que aspectos

financeiros, apesar de propiciarem acesso a recursos didáticos extras, não são

limitadores de ações e práticas eficientes. A simples utilização dos espaços escolares,

explorando recursos e materiais disponíveis, pode não apenas potencializar as ações

do professor como, também, estimular o desenvolvimento da criatividade e a

valorização dos recursos presentes.

Existe, nas duas escolas, a orientação para que os professores evitem

solicitar aos alunos materiais adicionais para as aulas, uma vez que aqueles sem

condições financeiras para participar das atividades poderiam se sentir expostos e

negligenciados. Dessa forma, a precariedade de recursos estabelece limitação de

práticas pedagógicas e torna mais desafiadora a tarefa do professor de ensinar todos

os dias.

Finalmente, foi perguntado sobre algum aspecto não exposto na

pesquisa que o professor desejasse relatar, relacionado à obtenção de eficácia

escolar. Mais uma vez foi reafirmada a necessidade de formação continuada, uma vez

que o aluno do Ensino Fundamental está exposto a uma atmosfera de estímulos

diversificados e que cabe ao professor o reconhecimento de quais ferramentas podem

aproximá-los dos estudantes, no sentido de manutenção e aumento do interesse pelas

aulas.

Um dos professores respondentes manifestou desilusão com a

docência, devido à falta de reconhecimento social, mercadológico e profissional desse

agente.

Também o aspecto relacionado à capacidade interpessoal do

professor foi cogitado e devidamente registrado por um professor da escola A, que

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101

finalizou sua participação com a frase: “Merece, o professor, formação docente

continuada, mormente considerando os aspectos humanísticos na relação

professor/aluno e participação da família no desenvolvimento escolar dos filhos”.

6.2 RESULTADOS DOS ALUNOS

Na escola A, a turma do 9º ano observada era composta por 31

alunos, dos quais 29 responderam ao questionário estruturado. Na escola B a turma

era composta por 30 alunos, sendo que 23 responderam ao questionário. Todos os

respondentes foram devidamente esclarecidos a respeito dos propósitos do presente

estudo e participaram voluntariamente, por meio de assinatura no Termo de

Assentimento Livre Esclarecido. Os pais e/ou responsáveis pelos estudantes

concordaram com a participação dos alunos e formalizaram a autorização por meio

de assinatura prévia em Termo de Consentimento Livre Esclarecido.

A idade dos alunos das escolas observadas variou entre 14 e 17 anos.

De modo geral, a pesquisadora percebeu que os estudantes constituem um grupo

homogêneo e integrado, uma vez que são todos jovens, interagem com facilidade e

parecem conviver tranquilamente. A escola A exige o uso de uniforme e existe total

cumprimento à norma, visto que nenhum aluno compareceu às aulas sem usar a

camisa escolar e os itens estipulados como obrigatórios (tênis e calça). Não é

permitido uso de bonés na escola e existe um funcionário responsável pela

observação das normas de vestimenta.

Na escola B também existe a exigência de uso do uniforme e, apesar

de os professores afirmarem que o uso de bonés não é permitido, alguns alunos da

sala observada e das demais turmas usavam bonés nos dias em que a pesquisadora

realizou as observações.

Indagados a respeito do motivo de estudarem, a maior parte dos

alunos das escolas A e B afirmou que compreende na trajetória escolar elemento

importante para a obtenção de sucesso profissional futuro. De acordo com o que já foi

relatado, no momento da apresentação da pesquisadora para os alunos da escola A,

houve manifestação de um dos estudantes sobre a consciência de que a atmosfera

escolar é fundamental para o desenvolvimento intelectual e social. Na ocasião, o aluno

afirmou que a escola é reconhecida na região pela qualidade do ensino ofertado e que

sente orgulho em frequentá-la.

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Oliveira (2015, p. 9) versa a respeito:

Determinados grupos, possuem um senso de cobrança pessoal apurado, o que os leva a projetar expectativas mais amplas em relação ao seu futuro. Também, destaca-se o papel que a família assume na sua escolarização, principalmente no que se refere ao esforço para garantir que os filhos tenham as condições necessárias para dedicarem-se aos estudos. Acrescenta-se que essas famílias procuram retardar a entrada de seus filhos no mundo do trabalho, na esperança de que, quando o fizerem, tenham acesso a empregos com melhor remuneração.

Gráfico 13 – Por qual motivo você estuda?

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Um grupo menor de alunos (8 estudantes da escola A e 7 estudantes

da escola B) afirmou que a exigência familiar é o motivo de permanecerem na escola.

Muito provavelmente são alunos diretamente observados pelos pais ou responsáveis

detentores de consciência de subordinação, uma vez que não deixam de frequentar a

escola pela imposição familiar. Percebe-se, portanto, que o grupo familiar é

determinante para a formação escolar desses estudantes.

Um número mais restrito de alunos da escola A respondeu não

compreender os motivos pelos quais frequenta a escola.

A pesquisadora considera que, em função da relativa homogeneidade

percebida, muito provavelmente os alunos da escola A são direcionados à escola

como uma consequência do ambiente familiar, que associa a vida do jovem às

demandas naturais da idade, sendo uma delas a observação à vida escolar. Nesses

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Sei que estudar é importante parameu futuro

Minha família exige Não sei responder

Gráfico 13 - Por qual motivo você estuda?

ESCOLA A ESCOLA B

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103

casos, frequentar uma escola e cumprir as etapas escolares é uma ação esperada e

cotidiana.

Já na escola B, a pesquisadora também foi convidada a se apresentar

para a turma, quando explicou a finalidade das observações. Ao contrário do ocorrido

na escola A, não houve qualquer manifestação por parte dos alunos. Nessa escola, o

número de alunos que afirmou não saber por qual motivo frequenta a escola foi

proporcionalmente maior.

Em entrevistas, uma das professoras da escola B relatou que percebe

no abandono afetivo a maior falha da família na formação do estudante. Segundo ela,

“é pouco provável que o jovem compreenda que o estudo é um meio quando ele não

sabe sequer quais são os objetivos da sua trajetória de vida”.

Outra vez a ausência de perspectiva profissional, financeira e social,

ocasionada pelo background do aluno, trata de impor uma sensação de impotência

que, muito provavelmente, reflete-se no perfil escolar. Quanto maior o entendimento

de que a evolução intelectual capacita, diferencia e seleciona para a vida em

sociedade, maiores as possibilidades de o aluno valorizar os estudos.

Ao apurar que a maior parte dos alunos das escolas A e B

compreendem que os estudos são parte do desenvolvimento pessoal, a pesquisadora

avalia que esse é um componente determinante para o desempenho das escolas nos

testes em escala.

A percepção da importância dos estudos e a consequente valorização

do ambiente escolar podem ser fatores que evidenciam o compromisso do aluno com

o seu desempenho escolar e, em decorrência, dos resultados positivos da escola nos

testes em escala que podem ser, em parte, impactados positivamente em função

dessa percepção.

Em contrapartida, jovens que não associam diretamente o ensino a

alguma visão de futuro – seja ela profissional, social, financeira ou familiar – tendem

a subdimensionar suas vidas escolares, prejudicando-as.

A segunda pergunta realizada aos estudantes estava relacionada às

perspectivas de permanência na escola, de acordo com o Gráfico 14, a seguir. De

acordo com o exposto anteriormente, a compreensão de eficácia escolar também está

associada ao tempo de permanência do indivíduo na escola.

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104

Gráfico 14 – Você pretende estudar até quando?

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Nesse quesito, a diferença das respostas foi pontualmente curiosa.

Enquanto os alunos participantes da pesquisa na escola A afirmaram,

na sua maioria, que pretendem concluir o Ensino Superior, a maior parte dos

respondentes da escola B afirmou desejar concluir apenas o Ensino Médio.

O índice de procura pela escola A é grande. Segundo a professora de

Matemática, os pais dos alunos citam que a escola é associada à boa qualidade de

ensino no bairro. Normalmente, não há vagas disponíveis na escola A, ainda de

acordo com a professora de Matemática.

A escola B obteve resultados proporcionalmente inferiores aos da

escola A na Prova Brasil 2015. Quando comparada a outras escolas públicas da

região, o desempenho da escola B é positivamente destacado pelos dois professores

da escola B participantes desse estudo. No entanto, esse estudo pretende avaliar

aspectos que diferenciam práticas entre as escolas aqui citadas.

A sensação de pertencimento provavelmente é fator importante para

o aluno. Nas observações, a pesquisadora constatou orgulho dos alunos da escola A

por pertencerem a uma instituição cujos resultados em testes são superiores. Pode

ser que essa percepção determine a cultura da escola, que destaca a boa qualidade

do ensino e o desempenho superior dos seus alunos. É provável que essa cultura

molde as expectativas dos alunos, inserindo em alguns estudantes um alto nível de

0

2

4

6

8

10

12

Concluir oensino

fundamental

Concluir oensino médio

Concluir afaculdade

Concluir a pós-graduação

Concluir omestrado

Concluir odoutorado

Não penso emparar deestudar

Gráfico 14 - Você pretende estudar até quando?

ESCOLA A ESCOLA B

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105

exigência pessoal. Talvez seja a explicação para que muitos alunos da escola A

tenham se posicionado como ansiosos pela conclusão, no mínimo, do curso superior.

Também foram detectados casos de estudantes que desejam obter

títulos de doutores e até mesmo de permanecerem em processo de formação

continuada após o encerramento de seus ciclos estudantis. Muito provavelmente os

respondentes dessas opções estão inseridos no grupo que respondeu à questão

anterior como conscientes de que a formação escolar é importante para o futuro

profissional.

No entanto, na escola A, o número de alunos que responderam à

pesquisa afirmando que pretendem apenas concluir o Ensino Fundamental (4 alunos)

e o Ensino Médio (7 alunos) demonstra que, talvez, o aluno não credite valor à

continuidade escolar e desconsidere a participação da escola para a melhoria das

suas perspectivas pessoais e profissionais.

Na escola B, o número de respondentes a essas opções foi

proporcionalmente superior (3 e 10 alunos, respectivamente), possivelmente por não

possuírem o mesmo senso de pertencimento e, dessa forma, delimitarem

expectativas acadêmicas proporcionalmente inferiores.

Vale ressaltar que, no ato de preenchimento dos questionários, um

dos alunos da escola A espontaneamente recorreu à pesquisadora para afirmar que

pretende cursar não apenas um doutorado, como pretende fazê-lo em alguma

universidade estrangeira, no sentido de desenvolver fluência em um segundo idioma

já com vistas às perspectivas profissionais que, segundo o aluno, são ampliadas

quando o indivíduo estabelece objetivos escolares ambiciosos.

Esse aspecto reforça a crença desta pesquisadora de que,

provavelmente, o aluno associado a escolas positivamente reconhecidas talvez

desenvolva senso de associação que o motive ao desenvolvimento escolar e à

definição de expectativas intelectuais maiores.

A pesquisadora considera razoável cogitar que os estímulos

familiares e os dos grupos sociais dos quais o jovem participa determinam a visão do

aluno a respeito das suas possibilidades intelectuais, atreladas às perspectivas

profissionais almejadas.

É provável que alunos com menos expectativas intelectuais

participem de grupos de referência menos envolvidos com a vida escolar e mais

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impactados pelas implicações que o abandono escolar gera em termos

socioeconômicos.

A terceira pergunta realizada aos estudantes estava relacionada ao

nível de interesse pelos estudos (Gráfico 15).

Gráfico 15 – Nível de interesse pelos estudos

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Sammons (2008) estabelece que o desinteresse dos alunos é

decorrente da falta de interesse dos pais, enquanto nos estabelecimentos mais

eficazes e com alunos semelhantes aos anteriores, há uma percepção dos agentes

escolares sobre o interesse dos pais pelas questões relacionadas à escolarização dos

filhos.

Como já dito, o presente relato objetiva observar turmas de duas

escolas do 9º ano do ensino fundamental de escolas da rede pública e atribuir fatores

que talvez sejam determinantes à eficácia escolar em cada um deles.

Para a autora desta dissertação, direcionar exclusivamente ao núcleo

familiar o nível de interesse pelos estudos – e, provavelmente, desempenhos mais

eficazes – não parece razoável, uma vez que a teoria exposta nesse estudo já

demonstra que diversos fatores constituem o background do aluno.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Sou muito interessado(a)pelos estudos

Sou mais ou menosinteressado(a) pelos

estudos

Sou pouco interessado(a)pelos estudos

Não tenho nenhuminteresse pelos estudos

Gráfico 15 - Seu nível de interesse pelos estudos

ESCOLA A ESCOLA B

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107

Contudo, é inegável que o grupo familiar representa uma das

referências mais próximas e decisivas às ações do indivíduo, quando o aluno tende a

vislumbrar suas possibilidades em função das experiências percebidas em família.

De acordo com Oliveira (2015), embora as estruturas organizacionais

– por meio das quais o envolvimento dos pais estaria associado e influenciaria a

eficácia escolar – não sejam muito claras ou fáceis de serem mensuradas, é inegável

que o apoio e a parceria entre pais e escola, com objetivos e expectativas comuns em

relação aos alunos, resultam em um importante instrumento para a melhoria da

qualidade do ensino e, de maneira direta ou indireta, para alcançar metas comuns

(COLEMAN, 2008; MORTIMORE, 1993).

Mais ainda, as escolas de sucesso provavelmente são aquelas “que

não apenas ‘envolvem’ mas também apóiam e exigem coisas dos pais” (MACBEATH,

1994 apud SAMMONS, 2008).

Os resultados obtidos na pergunta que sonda a percepção de nível

pessoal de interesse pelos estudos. Enquanto na escola A 62% dos alunos afirmam

ser muito interessada pelos estudos, na escola B o índice de alunos respondentes à

mesma afirmativa corresponde a 40%. Em contrapartida, na escola B, 23% dos alunos

afirmam possuir atenção mediana pelos estudos, enquanto 14% dos alunos da escola

A manifestaram a mesma percepção.

Nas escolas A e B, o índice de alunos que manifestaram acreditar que

possuem pouco interesse pelos estudos é de, em média, 8% (2) e 10% (2),

respectivamente. Alunos que se assumem pouco interessados pelos estudos

representam em média 13% (4) na escola A, e 17% (4) na escola B.

Provavelmente, os números apresentaram diferença mínima entre as

escolas pelo fato de a pesquisadora ter optado por observar instituições com perfis

socioeconômicos semelhantes, justamente para estabelecer comparação baseada

em realidades equivalentes.

Ainda assim, o fato de, na escola B, um percentual maior de alunos

manifestar pouco interesse pelos estudos pode sinalizar para práticas pedagógicas

menos aderentes ou, mesmo, modelos de gestão acadêmica menos valorizados e,

portanto, reconhecidos como pouco importantes.

Os Gráficos 16 e 17 demonstram a percepção do corpo de alunos em

relação aos padrões disciplinares adotados pela escola. Parece haver uniformidade

de percepção nas escolas A e B. Em ambas, a maior parte dos alunos considera que

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os professores são disciplinadores e que a turma se mantém disciplinada na maior

parte do tempo. Conforme exposto anteriormente, na escola A existem normas

efetivas relacionadas à conduta disciplinar dos alunos e os procedimentos são

observados diariamente. Também na escola B há normas disciplinares e, de uma

forma geral, a pesquisadora percebeu uma atmosfera muito semelhante nas duas

escolas.

GRÁFICO 16 – Disciplina da turma durante as aulas

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Observou-se que os alunos compreendem as normas e possuem

consciência de que elas devem ser observadas. Nos momentos em que esteve nas

escolas, a pesquisadora não presenciou qualquer episódio incomum relacionado à

gestão disciplinar. Muito provavelmente a compreensão das normas e dos seus

motivos por parte dos alunos é aspecto facilitador para a manutenção de uma

atmosfera propícia à construção do conhecimento.

0

2

4

6

8

10

12

Muitoindisciplinada

Mais ou menosindisciplinada

Indisciplinada Disciplinada Mais ou menosdisciplinada

Muitodisciplinada

Gráfico 16 - Sobre a disciplina da sua turma durante as aulas

ESCOLA A ESCOLA B

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Gráfico 17 – Disciplina dos professores

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Observa-se, no entanto, que na escola B, os alunos percebem

professores menos disciplinadores que na escola A. Enquanto na escola A, 60% (17

alunos) consideraram que os professores são muito disciplinadores, na escola B, 40%

(9 alunos) possuem a mesma percepção. Apesar de os resultados não serem

significativamente distintos, há de se considerar que a cultura disciplinar depende da

permanência da observação dos comportamentos compatíveis e esperados pela

escola. O fato de os alunos da escola A manifestarem a presença de professores

muito disciplinadores provavelmente reflete do rigor na observação às normas,

gerando a cultura da disciplina naquele estabelecimento.

Nesse sentido, Antunes (2002, p. 17) descreve:

Disciplina apresenta-se como uma maneira de ser e de se comportar que permite ao aluno alcançar seu desenvolvimento pleno, tomando consciência da existência do outro e que ajuda, ao mesmo tempo, a respeitar regras como um requisito útil para a ação.

Em entrevistas com os professores, a pesquisadora indagou sobre a

realidade percebida na escola A comparada ao ambiente de outras escolas públicas,

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Muito disciplinadores Mais ou menos disciplinadores Pouco disciplinadores

Gráfico 17 - Como são os seus professores

ESCOLA A ESCOLA B

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110

uma vez que os professores daquela instituição relataram outras vivências docentes.

Todos afirmaram que o fator determinante para a obtenção de um ambiente ordeiro é

o envolvimento da diretoria junto aos episódios que eventualmente podem prejudicar

a atmosfera estudantil. Segundo os professores, o apoio da direção escolar nos casos

de interferência comportamental determina que ajustes sejam percebidos como

necessários e importantes e, portanto, cumpridos.

Em contrapartida, os professores da escola A relataram ter

vivenciado, em outras escolas, episódios nos quais casos de indisciplina – e violência

– não foram pontualmente tratados e geraram prejuízo ao desempenho escolar. A

pesquisadora considera que a manutenção de atmosfera disciplinada implica em

ambiente mais propício às trocas sociais e, em consequência, ao aprendizado.

Os professores da escola B, por sua vez, manifestaram satisfação

com o modelo de gestão disciplinar daquela escola e afirmaram possuir sensação de

razoável segurança enquanto desempenham suas funções profissionais.

Apesar de não ter presenciado qualquer episódio grave relacionado à

gestão dos comportamentos nas ocasiões em que esteve nas escolas, chamou

atenção o fato de, na escola B, as ocorrências disciplinares dependerem da presença

de um coordenador. Na ausência desse agente, os professores pouco ou nada podem

fazer e, dessa forma, o ambiente pode ser prejudicado na eventualidade de uma

ocorrência mais grave. Uma medida simples seria a definição de uma terceira pessoa

que, na ausência do coordenador, atendesse alunos indisciplinados e tomasse as

medidas cabíveis.

A sexta pergunta direcionada aos estudantes pretendia verificar como

os alunos percebem a figura de liderança dos professores (Gráfico 18). Novamente,

as respostas dos alunos das escolas A e B seguiram um padrão. A maior parte dos

alunos acredita que os professores da escola (21 e 17 alunos para escolas A e B,

respectivamente) são muito exigentes em relação aos conteúdos ministrados e,

provavelmente, os alunos se dedicam aos estudos proporcionalmente a tais

percepções.

Ao avaliarem que participam de um grupo que sofre exigências altas

por parte dos professores, é bastante provável que os alunos concentrem maior

atenção aos conteúdos e esse fator pode ser um dos participantes do ensino eficaz.

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Gráfico 18 – Exigência dos professores no ensino de novas matérias

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

A autora deste estudo considera que, possivelmente, é mais eficiente

reforçar comportamentos positivos do que penalizar comportamentos negativos, uma

vez que o reforço positivo gera no aluno a sensação de pertencimento e pode

contribuir para atitudes mais engajadas e adequadas ao ganho de novos

conhecimentos.

Nesse aspecto, Parrat-Dayan (2008, p. 18): “assim, o conceito de

disciplina está relacionado com a existência de regras; e o de indisciplina, com a

desobediência a essas regras”.

Na escola A, um episódio que chamou a atenção da pesquisadora foi

a manifestação espontânea da turma no ato da apresentação da pesquisa, quando os

alunos expuseram a consciência de estudarem em uma escola que obteve bom

desempenho nos dois últimos exames da Prova Brasil. Percebeu-se orgulho por parte

dos alunos pelo fato de aquela instituição ser reconhecida pela qualidade do ensino

na região, se comparada ao desempenho de outras escolas da rede pública no

entorno.

Consequentemente, é muito provável que exista expectativa por

desempenhos positivos também nos exames futuros e que tal condição estimule

posturas aderentes ao ensino eficaz, uma vez que o senso de pertencimento

estabelece que os alunos desejam replicar o êxito e participar dos méritos da escola

na qual estudam.

0

5

10

15

20

25

Muito exigentes Mais ou menos exigentes Pouco exigentes

Gráfico 18 - Quando ensinam novas matérias, você considera que seus professores são:

ESCOLA A ESCOLA B

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Pode ser que a associação do aluno à imagem da escola estimule

comportamentos mais assertivos e eficientes, quando a instituição em que estuda é

tradicionalmente associada ao ensino de boa qualidade.

A sétima pergunta destinada aos alunos investigava práticas docentes

aceitas positivamente pelos alunos, conforme o Gráfico 19. A pesquisadora observou

práticas semelhantes durante as aulas assistidas na escola A e na escola B. As aulas

expositivas dialogadas ocorreram no maior número de obervações e, em algumas

ocasiões, também foram observadas apresentações de trabalhos em grupos e

correções de provas.

Gráfico 19 – Preferência dos métodos de aprendizado

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Na escola A, a maior parte dos alunos afirmou preferir o modelo de

aula expositiva dialogada, que consiste em anotações do professor no quadro e

posterior explicação dos conteúdos anotados. Nessas situações, observou-se

ambiente calmo, quando todos os alunos copiaram as informações do quadro e alguns

interagiram com os professores ao longo das explicações.

Também na escola B as aulas expositivas dialogadas observadas

ocorreram em uma atmosfera serena e adequada ao aprendizado. Eventualmente

ocorreram conversas paralelas em ambas as turmas, quando os professores

imediatamente atuaram, intervindo junto aos alunos indisciplinados. A simples

sinalização dos professores foi suficiente para sanar o ruído e pareceu ser uma

intervenção eficiente.

0

5

10

15

20

Anotação doprofessor no quadro

com explicação

Leitura individual Atividade em grupo Atividade individual Arguição

Gráfico 19 - Sua maneira preferida para aprender

ESCOLA A ESCOLA B

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113

O comportamento dos alunos nas aulas expositivas dialogadas é

facilmente gerenciável, uma vez que o professor possui domínio visual da turma e

pode intervir pontualmente quando identifica posturas incompatíveis com as

esperadas para uma sala de aula.

No entanto, apesar de os alunos da escola A formalizarem preferência

pela aula expositiva, a pesquisadora percebeu maior participação da turma nas

ocasiões de apresentação de trabalhos em grupo. De fato, ao longo da exposição em

grupo, a atmosfera mudou. O nível de participação aumentou e a atenção dos alunos

parecia completamente voltada ao assunto tratado naquela aula.

Na escola B, a pesquisa sinalizou que a metodologia mais apreciada

pelos alunos são as atividades em grupos. Pode ser que, ali, as atividades em grupo

estimulem mais a turma e providenciem maior nível de interesse. Nesse aspecto, os

reforçadores são elementos que levam o aluno a aderir a determinadas práticas, em

detrimento de outras. Os reforçadores podem ser naturais ou arbitrários. No primeiro

caso estão associadas as sensações de ganho e de benefícios, enquanto o segundo

caso reflete situações relacionadas a punições ou mero cumprimento às normas.

Muitas vezes a apresentação de uma nova metodologia de ensino recebe resistência

do aluno e, enquanto os benefícios advindos do uso da nova ferramenta não são

percebidos pelo estudante, pode-se afirmar que os reforçadores são arbitrários.

Carrara (2004, p. 117) exemplifica:

Os reforçadores também podem ser naturais ou arbitrários conforme sigam tipicamente, no ambiente social, determinada resposta (ler para compreender um romance e ser reforçado naturalmente a partir da compreensão da trama e sua identificação com situações prazerosas do cotidiano, por exemplo, exemplifica reforçadores naturais) ou conforme se constituam em artifícios, apenas utilizados para intermediar, na prática, uma situação de aprendizagem (um muito bem do professor diante da mesma leitura já mencionada representa uma consequência artificial). Por certo a utilização de reforçadores é preferível, embora, às vezes, seja inevitável o uso de reforçadores arbitrários como primeiro passo para se chegar aos naturais numa situação qualquer do cotidiano.

Quando efetivamente percebe os benefícios de uma metodologia

aplicada pelo professor, o aluno a relaciona a uma consequência naturalmente

positiva, como o prazer de descobrir algo novo ou de compartilhar uma informação.

Em contrapartida, metodologias meramente impostas e que não evidenciem ao aluno

algum ganho (de aprendizado, convívio, habilidade etc.) geram resistência.

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114

Tipicamente o aluno pode resistir a novas metodologias mas, à medida que reconhece

as vantagens do instrumento, tende a reduzir seus níveis de resistência.

Apesar de o aspecto disciplinar ser relativamente afetado durante

apresentações dos alunos, uma vez que a turma parece sentir-se mais à vontade para

se expressar quando os colegas estão à frente, ficou claro que o nível de interesse

dos alunos pelas apresentações era alto. Mesmo os alunos que durante as aulas

expositivas manifestavam distanciamento emocional, nas ocasiões das

apresentações dos grupos demonstraram atenção ao que estava sendo apresentado.

Pode-se afirmar, com relativa convicção, que práticas pedagógicas

que envolvam participação direta dos alunos permitem maior envolvimento estudantil

e, em consequência, mais ganhos ao processo de ensino e aprendizagem, ainda que

as respostas obtidas direcionem para uma predileção ao modelo tradicional de ensino,

com anotações no quadro e explicações do professor.

Merece destaque o fato de 5 alunos da escola A e 4 alunos da escola

B afirmarem predileção pela leitura individual como metodologia mais eficiente para o

aprendizado. Mais uma vez, ressalta-se que o comportamento individual deriva de

uma série de fatores, dentre os quais os estímulos familiares e os sociais.

A pesquisadora considera provável que o grupo de alunos defensores

da leitura individual possua estruturas familiares que estimulem e conciliem o hábito

da leitura às suas rotinas, a ponto de os estudantes elencarem o aprendizado por

meio da leitura individual como o mais eficiente.

Os alunos também foram indagados a respeito da importância do

dever de casa para o aprendizado (Gráfico 20). Nas duas escolas observadas, os

alunos afirmaram, em sua maioria, realizar as lições de casa. Na escola A, ela é

valorizada e seriamente observada pelos professores. Os pais são trimestralmente

convidados para uma reunião, quando recebem feedbacks acerca do empenho dos

alunos com essas tarefas.

Diariamente os professores conferem se os alunos realizaram as

atividades e, em casos de repetidas inobservâncias, encaminham bilhete que deve

ser assinado pelos pais ou responsáveis no próprio caderno. As assinaturas são

conferidas no dia seguinte e, caso não sejam providenciadas pelo aluno, há

encaminhamento do aluno à diretoria para que medidas corretivas ocorram.

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Gráfico 20 – Resolução de atividades em casa

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Nos dias em que a pesquisadora esteve em sala de aula na escola A,

observou que apenas dois alunos não haviam realizado a lição de casa. Ambos foram

advertidos por um dos professores, que questionou se algo impedia a realização das

atividades. Ficou constatado que o descumprimento por parte de um dos alunos

ocorreu em função de indisciplina, e ele teve advertência anotada no caderno para a

obtenção de assinatura dos pais/responsáveis.

O outro aluno deixou de realizar a atividade de casa por dois dias

consecutivos e argumentou que, temporariamente, estava na casa de outros parentes,

distante geograficamente, o que impedia a realização do dever em função de horários.

Nesse caso, o aluno não foi encaminhado à diretoria, e foi aconselhado pelo professor

a administrar o tempo de forma que contemplasse a realização do dever. A

importância que os professores direcionam ao exercício de casa, na escola A, sugere

que a prática faz parte da metodologia da instituição e que existe uma percepção de

ganho quando o aluno observa as matérias também fora da sala de aula.

Todos os alunos da escola A afirmaram, ao responder o questionário

de pesquisa, que fazem as tarefas de casa, aspecto que corrobora as teorias de que

a participação da família na vida escolar pode determinar ganhos de produtividade

intelectual, uma vez que os estímulos oriundos da família são tão ou mais presentes

que os estímulos existentes na sala de aula.

0

5

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15

20

25

30

ESCOLA A ESCOLA B

Gráfico 20 - Você faz as atividades de casa?

Sim Não

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Na escola B, apesar de existir orientação para que os professores

mantenham o hábito da lição de casa, foi relatado que não existe a obrigatoriedade

de um exercício estruturado e que a atividade muitas vezes é aberta à pesquisa dos

alunos. Nas aulas observadas, a pesquisadora não acompanhou cobranças dos

professores pelas lições de casa.

Em entrevista, a professora de Língua Portuguesa da escola B

manifestou a crença de que a lição de casa é elemento que favorece não apenas o

aprendizado do aluno, mas também estimula trocas afetivas no ambiente doméstico.

A professora relatou que percebe alunos cujas únicas trocas familiares ocorrem no

ato do acompanhamento da lição de casa.

De modo geral, na escola B, o número de alunos que afirmou realizar

a lição de casa é muito positivo, quando apenas dois alunos afirmaram não cumprir a

exigência.

A nona pergunta realizada aos estudantes estava relacionada ao tipo

de lição de casa preferido pelos alunos. Nesse quesito os alunos responderam se

gostavam ou não de realizar determinados tipos de exercícios. A alternativa que

obteve maior aceitação pelos alunos das escolas A e B estava relacionada às

atividades de casa que não demandam fontes de pesquisa adicional a quaisquer

recursos, devendo o estudante realizar a lição baseado na sua estrutura de

conhecimentos (cf. Gráfico 21 [escola A] e Gráfico 22 [escola B]).

Gráfico 21 – Preferência de atividades de casa (escola A)

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

0

5

10

15

20

25

30

Tarefa que pode usarinternet

Tarefa que só usa livro ecaderno

Tarefa que só precisa doque eu já sei, sem

consultar nada

Tarefa que precisaconsultar jornal, revista

ou outros livros

Gráfico 21 - Escola A: tarefas de casa prediletas

Gosta de fazer Não gosta de fazer

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GRÁFICO 22 – Preferência de atividades de casa (escola B)

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

A alternativa menos popular entre os alunos das escolas A e B foram

as tarefas que demandam consultas a caderno e livros didáticos ou a alguma fonte de

informação adicional, como jornais, revistas ou livros, sendo que na escola B o número

foi mais expressivo. Apesar de as escolas estarem situadas em um bairro de classe

média de Belo Horizonte, o público atendido é caracterizado por estruturas familiares

pouco privilegiadas financeiramente, aspecto que pode explicar a resistência dos

alunos com atividades mais complexas.

Esta pesquisadora, no sentido de averiguar por quais razões os

alunos não são atraídos pelas lições de casa que demandam uso de outras fontes de

informação, perguntou aos professores da escola A como a questão socioeconômica

é cogitada quando as tarefas são formatadas. Um dos professores afirmou,

categoricamente, que a recusa dos alunos ocorre por mero desinteresse dos alunos

e dos responsáveis em acompanhá-los nas lições, uma vez que a escola fornece

jornais, livros e revistas para o aluno levar para casa. O professor relatou que não

adianta a escola forçar o aluno a levar os materiais se a família não estimula a

realização da atividade.

Na escola B foi feita a mesma pergunta e a resposta obtida foi

semelhante, quando a professora de Matemática afirmou que poucas famílias

realmente estão preocupadas com o desenvolvimento escolar do estudante,

0

5

10

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20

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35

Tarefa que pode usarinternet

Tarefa que só usa livro ecaderno

Tarefa que só precisa doque eu já sei, sem

consultar nada

Tarefa que precisaconsultar jornal, revista ou

outros livros

Gráfico 22 - Escola B: tarefas de casa prediletas

Gosta de fazer Não gosta de fazer

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delegando, inclusive, a função de ajustes comportamentais tradicionalmente ocorridos

no núcleo familiar à escola.

Nesse aspecto, fica nítido o impacto que a família possui perante o

desempenho escolar do estudante. Mesmo com recursos disponíveis na escola, os

alunos são menos receptivos a atividades mais complexas em casa por falta de apoio

e incentivo dos familiares.

A modalidade mais citada pelos alunos como adequada à realização

das lições de casa acionava a estrutura de conhecimentos prévios, quando o

estudante, para realizar as questões, não precisa recorrer a quaisquer meios de

consulta. Pode ser que a autonomia percebida pelo aluno ao não ter que recorrer a

materiais seja a explicação para tal afirmação. Também cabe avaliar se a facilidade

de realização de um dever sem o apoio a instrumentos de pesquisa seja o motivo dos

alunos afirmarem que apreciam essa prática.

Nas observações, a pesquisadora percebeu que os alunos citaram

com frequência o uso da internet como fonte de pesquisa às tarefas de casa. Nas

correções das atividades – e mesmo durante a apresentação das atividades em grupo

– os professores questionavam os alunos sobre as fontes de pesquisa utilizadas. Em

mais de uma situação foram citados sites, blogs e canais de internet, acessados pelo

telefone celular do aluno. Tais relatos acenam para a existência de uma cena

doméstica que, apesar de limitada pelo aspecto socioeconômico, já utiliza ativamente

os mecanismos virtuais como apoio ao desenvolvimento escolar dos seus membros.

Talvez a mudança comportamental do jovem, que percebe nas

tecnologias digitais uma facilidade na busca pela informação, justifique a resistência

ao uso de materiais tradicionais (revistas, jornais e livros) na realização das atividades

de casa.

Os alunos também foram abordados a respeito da disponibilidade de

acesso à internet para a realização das atividades escolares em casa. A pergunta

ocorreu porque, sendo esse estudo uma investigação das práticas docentes que

fomentam o ensino eficaz, cabe considerar e validar quaisquer ferramentas que

facilitem a compreensão e a consequente apropriação de novos saberes.

Uma vez que a internet pode ser facilitadora do processo de ensino,

deve ser vislumbrada como opção de ferramenta do professor para que seus alunos

obtenham desempenhos superiores.

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Gráfico 23 – Disponibilidade de internet em casa

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Na escola A, 65% da turma afirmou possuir acesso à rede móvel de

computadores em casa, seja por sinal wi-fi, seja por pacote pré ou pós-pago de

aparelho celular. Na escola B, 43% dos alunos possuem acesso a essa modalidade

de busca de dados. Percebe-se, portanto, que há casos de turmas em que a maior

parte dos alunos ainda não pode recorrer à rede móvel de computadores em seus

domicílios.

Devem ser avaliados os impactos de afastamento da ferramenta

digital para vida escolar do aluno, uma vez que essa ferramenta invariavelmente

estará presente em seu futuro acadêmico e profissional. Também, deve-se cogitar que

as novas metodologias de acesso à informação podem ser a explicação para menor

aceitação da turma com as atividades que envolvem consultas a acervos físicos.

As mudanças comportamentais oriundas da revolução digital

implicaram em novas atitudes do estudante, que ao acessar vários conteúdos por

meio de um dispositivo móvel, tende a procurar menos por livros impressos.

A décima pergunta estava ligada aos hábitos de estudo em casa. Nas

escolas A e B, apesar de existir uma divisão equilibrada entre estudantes que estudam

todos os dias em casa e estudantes que estudam entre um e três dias, chamou a

atenção da pesquisadora o fato de muitos estudantes afirmarem que apenas estudam

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ESCOLA A ESCOLA B

Gráfico 23 - Possui internet em casa?

Sim Não

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em casa quando levam atividades definidas pelos professores, 31% e 35% nas

escolas A e B, respectivamente.

Gráfico 24 – Frequência de estudos em casa

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Talvez a explicação para essa afirmativa consista no fato da lição de

casa ser uma premissa da escola A, o que estabelece que os alunos já consideram a

lição de casa como um padrão. Dessa forma, os alunos associam o estudo em casa

às tarefas repassadas pelos professores. Automaticamente, quando não há atividade,

não acessam os materiais ou conteúdos escolares em casa. Na escola B, também

existe o hábito das lições e, provavelmente, os alunos daquela escola também

associem o estudo doméstico ao dever de casa.

Cabe destacar, no entanto, que a associação entre estudo e lição de

casa deve ser avaliada, uma vez que o estudante pode mudar de escola e, no futuro,

não contar com as tarefas de casa diárias. Considera-se que o estudo em casa deva

acontecer independentemente da existência de lições a serem entregues no dia

seguinte, uma vez que nem todas as escolas possuem a cultura da tarefa de casa.

Novamente as respostas obtidas foram semelhantes entre os alunos

das duas escolas observadas. Percebeu-se que as condutas pedagógicas das

instituições são lineares e que os alunos participantes também possuem realidades

muito parecidas. Talvez a uniformidade das respostas obtidas advenha desse

aspecto.

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2

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12

Todos os dias Entre 1 e 3 dias por semana Só quando tem tarefa de casa

Gráfico 24 - Quantas vezes estuda em casa semanalmente?

ESCOLA A ESCOLA B

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A existência de um integrante da família que instigue o hábito do

estudo pode ser um fator determinante para a construção do perfil do estudante. A

estrutura doméstica, apoiada na existência de um elemento que estimule o aluno a

estudar em casa, pode implicar no desenvolvimento de uma postura escolar mais ativa

e independente.

Gráfico 25 – Auxílio de resoluções de tarefas escolares em casa

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Na escola A, 82% dos alunos afirmaram possuir em casa algum

indivíduo (pais ou responsáveis) que auxilie com as atividades escolares, enquanto

na escola B o índice foi maior, 87%. Muito provavelmente a existência dessa figura é

determinante para o nível de dedicação do aluno com as lições repassadas pelos

professores.

Mais uma vez, salienta-se que o presente estudo contempla as

estratégias docentes que direcionem para desempenhos superiores dos alunos e,

nesse sentido, o apoio de algum componente familiar pode incentivar posturas mais

engajadas do estudante, contribuindo para o sucesso das ações do professor em sala.

A pesquisadora considera que, em função da disponibilidade familiar

apresentada pelos alunos, talvez as escolas possam explorar melhor as

potencialidades da lição de casa, encaminhando atividades mais desafiadoras e que

promovam reforço dos saberes a elas relacionados. Principalmente na escola B

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25

ESCOLA A ESCOLA B

Gráfico 25 - Você possui alguém que ajude em casa com as tarefas da escola?

Sim Não

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percebeu-se que a lição de casa possivelmente pode ser um instrumento que auxilie

professores para melhoria dos desempenhos dos aprendizes.

Ressalta-se que, conforme exposto no referencial teórico desse

estudo, as lições de casa devem merecer apenas o apoio do membro familiar, por

meio da determinação de condições adequadas à sua realização, sendo o estudante

o responsável pela sua execução.

É razoável, portanto, considerar que esse elemento merece atenção

do professor, no sentido de alinhamento de ações adequadas, tanto em casa (pelo

apoiador) quanto na escola (pelo professor).

Talvez seja oportuno recorrer aos instrumentos de comunicação entre

escola e família, citados no Quadro 5 deste estudo, que podem promover o

entendimento da lição escolar como mecanismo de aprendizado que contribui para

práticas pedagógicas mais eficazes.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A definição de eficácia escolar, pela amplitude do conceito, está

relacionada não apenas à qualidade de conteúdos curriculares apropriados, mas

também às perspectivas de permanência do aluno na escola e às condições de

aperfeiçoamento afetivo e emocional.

Este estudo buscou investigar aspectos geradores de melhores

desempenhos dos alunos em escolas do ensino público fundamental.

O ponto de referência estabelecido foi o desempenho das escolas

observadas na Prova Brasil, um teste em escala que pretende avaliar o desempenho

escolar no ensino público.

As escolas observadas possuem perfis socioeconômicos

semelhantes e estão localizadas na região noroeste do Município de Belo Horizonte,

no estado de Minas Gerais. Por tratar-se de escolas situadas em uma mesma região,

os aspectos observados refletiram sensíveis diferenças. No geral, os elementos

observados foram semelhantes.

Tendo por princípio que a eficiência do ensino deve observar a gestão

de comportamentos e conteúdos em sala de aula, este estudo corroborou a

importância da existência e a observação de instrumentos disciplinadores que

estabeleçam atmosfera adequada à cena de ensino.

A manutenção da atmosfera adequada pode resultar na geração de

uma cultura de disciplina favorável ao desenvolvimento da transmissão e apropriação

de saberes. Importância equivalente merece a família, núcleo do desenvolvimento

emocional do indivíduo.

A escola tem facilitadas suas ações quando a família cumpre o papel

de formar e consolidar valores, comportamentos e atitudes. Ao fornecer apoio à vida

escolar do aluno, a família não apenas favorece o desenvolvimento intelectual, como

também fornece outros significados aos conhecimentos ensinados.

A simples convivência estabelecida com o acompanhamento escolar

é um ganho para as partes, quando possível.

Outro aspecto analisado ao longo do estudo foi a importância de

elementos estruturantes para o ensino. A manutenção de elementos estruturantes

pode favorecer tanto a gestão comportamental quanto a curricular. Na gestão

disciplinar, planilhas de acompanhamento da vida escolar podem ser uma forma

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eficiente de comunicação entre família e escola. A determinação de um instrumento

que propicie essa comunicação é necessária, uma vez que a cultura escolar depende

da obediência às normas impostas. Também a gestão dos conteúdos é favorecida

quando existem elementos estruturantes pertinentes.

Neste estudo ficou constatado, pela pesquisadora, que a escola

possuidora de resultados superiores em testes em escala em relação às escolas do

seu entorno possuidoras do mesmo perfil socioeconômico utiliza o caderno como

elemento obrigatório à gestão curricular. Quaisquer episódios merecedores de

observação e ajustes são invariavelmente assinalados no caderno, que funciona de

fato como instrumento facilitador do desenvolvimento escolar.

Os resultados obtidos com cada recurso validam seus usos. O

relatado no referencial teórico deste estudo abordou planilhas de acompanhamento

da vida escolar do aluno. As observações realizadas pela pesquisadora validaram os

instrumentos e demonstraram que o acompanhamento individual é necessário para

evolução do estudante.

As mudanças sociais geraram reflexos na estrutura familiar, que

muitas vezes priva o estudante do apoio direto e contínuo de um parente ou

responsável em sua vida escolar. No entanto, a pesquisa mostrou que a formação

escolar está diretamente associada ao modo como o aluno percebe a importância dos

estudos para sua vida em longo prazo, e cabe também à família a validação social do

indivíduo, estimulando-o ao desenvolvimento afetivo e escolar.

O estudo revelou, ainda, que o aspecto disciplinar, relacionado à

gestão dos comportamentos em sala, é fator determinante para a adequada

administração do tempo da aula. Um dos desafios do professor consiste no

estabelecimento de atmosfera adequada à condução dos saberes.

A determinação de elementos disciplinadores é imprescindível para

que o professor compatibilize a estrutura de conteúdo de cada aula ao tempo

disponível em sala, e a indisciplina pode comprometer tal gestão quando acarreta

muitas pausas e interrupções.

Da mesma forma que o estudo alertou para importância da família

como núcleo social, também foram citadas as implicações das novas estruturas

sociais e familiares, muitas vezes caracterizadas pela inexistência de um membro

familiar presente na vida do escolar do aluno. Cabe à escola a estruturação de ações

que mantenham o aluno inserido no ambiente, seja pela compreensão da importância

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dos estudos, seja pela supervisão da vida desse estudante por um membro da própria

escola.

A autora constatou, também, que instituições escolares com cultura

disciplinar forte parecem propiciar comportamentos mais aderentes aos objetivos

escolares e, em consequência, favorecer desempenhos eficientes para alunos e

professores.

Apesar de os resultados obtidos após as observações e as aplicações

de questionários nas escolas apresentarem diferenças mínimas, é importante

salientar que houve, por parte da autora, percepção de que os alunos parecem

responder positivamente às normas e aos elementos disciplinadores quando

compreendem seus motivos e ganhos com sua observação.

Ao determinar que a gestão dos conteúdos e a gestão dos

comportamentos ocorrem simultaneamente, o estudo direcionou para a necessidade

de planejamento do professor, uma vez que todas as ações empregadas em sala de

aula são resultado daquilo que foi previamente programado. Nesse sentido, também

a formação do professor foi aspecto tratado durante o estudo e, reconhecidamente, é

elemento que potencializa as condições de desenvolvimento de práticas escolares

eficientes.

Evidencia-se que esse estudo não pretendeu, absolutamente, fechar

debate acerca dos elementos que determinam desempenhos escolares positivos. Ao

contrário, os resultados obtidos podem ser ponto de partida para demais pesquisas

que, utilizando os dados aqui apresentados, evoluam para percepções que apoiem os

agentes escolares na compreensão dos elementos que determinam a eficácia escolar.

Incentiva-se que futuros estudos que analisem aspectos não

atrelados ao desempenho do professor em sala de aula sejam realizados e contribuam

para uma compreensão mais apurada acerca dos elementos que constituem a

percepção de qualidade em ensino.

As conclusões do estudo poderão direcionar gestores escolares e

professores rumo a práticas pedagógicas mais eficazes e aderentes aos objetivos de

ensino e de aprendizagem, bem como auxiliar as respectivas instituições na obtenção

de resultados proporcionalmente superiores nas próximas participações da Prova

Brasil.

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A P Ê N D I C E S

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APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO ESTRUTURADO APLICADO AOS PROFESSORES Sexo ⃝ Feminino ⃝ Masculino Idade ⃝ Até 25 ⃝ Entre 25 e 34 anos ⃝ Entre 35 e 45 anos ⃝ Acima de 46 anos Formação ⃝ Ensino Médio ⃝ Ensino Médio ⃝ Ensino superior ⃝ Especialização ⃝ Mestrado ⃝ Outros. _____________________ Estuda atualmente? ⃝ Sim ⃝ Não Caso positivo, qual curso? ______________________________________________ Há quantos anos atua na docência? ⃝ Menos de 2 anos ⃝ De 2 a 5 anos ⃝ De 6 a 10 ano s ⃝ De 11 a 15 anos ⃝ Mais de 16 anos Há quanto tempo atua nesta escola? ⃝ Menos de 2 anos ⃝ De 2 a 5 anos ⃝ De 6 a 10 anos ⃝ De 11 a 15 anos ⃝ Mais de 16 anos Em relação ao interesse dos seus alunos pelo estudo, de uma forma geral, você considera: ⃝ Percebo que meus alunos são muito interessados pelos estudos ⃝ Percebo que meus alunos são razoavelmente interessados pelos estudos ⃝ Percebo que meus alunos são pouco interessados pelos estudos ⃝ Percebo que meus alunos não possuem qualquer interesse pelos estudos Em relação aos aspectos disciplinares, relacionados ao ambiente da sala de aula, você considera que a turma é: ⃝ Muito indisciplinada ⃝ Medianamente indisciplinada ⃝ Indisciplinada ⃝ Disciplinada ⃝ Medianamente disciplinada ⃝ Muito disciplinada Em relação à sua conduta como docente, na maioria do tempo, como você caracteriza seu estilo: ⃝ Autoritária ⃝ Democrática ⃝ Liberal Em relação aos conteúdos ministrados, você se considera: ⃝ Muito exigente ⃝ Medianamente exigente ⃝ Pouco exigente Com relação às práticas que você adota em suas aulas, marque a representatividade de cada ferramenta a seguir na sua rotina: Você tem o hábito de deixar tarefas de casa para suas turmas? ⃝ Sim ⃝ Não

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Caso tenha respondido SIM para a pergunta acima, marque a opção que melhor representa sua conduta em relação ao modelo de atividade adotado.

Minhas tarefas de casa envolvem

Nunca Quase nunca

Eventualmente Quase sempre

Sempre

Envolvem pesquisas em internet e sites

Envolvem estudos nos livros didáticos da escola

Envolvem a estrutura de conhecimentos prévios, sem necessidade de consulta a quaisquer outros recursos.

Envolvem pesquisa a materiais impressos adicionais, não necessariamente com acesso à internet

Adoto em minhas aulas Nunca Quase nunca

Eventualmente Quase sempre

Sempre

Aula expositiva

Debates

Palestras

Atividades escritas individuais

Atividades escritas em grupos

Atividades orais individuais

Atividades orais em grupos

Arguições

De acordo com sua experiência, quais práticas são mais efetivas quando relacionadas aos níveis de aprendizado apurados? (provas, atividades individuais, atividades em grupo, leituras individuais, arguições etc.). De acordo com sua experiência, quais práticas obtêm maior engajamento dos alunos? (provas, atividades individuais, atividades em grupo, leituras individuais, arguições etc.). De acordo com sua percepção, qual o a ordem de importância dos aspectos a seguir para obtenção de eficácia escolar? Enumere, conforme sua visão docente, de 1 para o que considera menos importante até 3 para o que considera mais importante, com um X.

Ordem de importância dos fatores para obtenção de eficácia escolar

1 2 3

Acompanhamento regular da família no planejamento e execução das atividades escolares.

Formação de base robusta, com adequada consolidação da estrutura de conhecimentos prévios necessários ao entendimento da minha disciplina.

Apoio da escola na condução das atividades e estratégias dos professores.

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Você tem liberdade ou apoio da escola para desenvolver novos projetos com seus alunos? Você considera que falta algo nesta escola para que seu desempenho docente seja mais eficaz? Se positivo, o que? Você gostaria de fazer comentário ou observação que não foi mencionado na pesquisa a respeito da obtenção de eficácia escolar, especificamente nesta escola?

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APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO ESTRUTURADO APLICADO AOS ALUNOS Por qual motivo você estuda? ⃝ Compreendo a importância do estudo para meu futuro ⃝ Minha família exige ⃝ Não sei responder Você pretende estudar até quando? ⃝ Concluir o Ensino Fundamental ⃝ Concluir o Ensino Médio ⃝ Concluir a faculdade ⃝ Concluir a pós-graduação ⃝ Concluir o mestrado ⃝ Concluir o doutorado ⃝ Não penso em parar de estudar Sobre o interesse em estudar, você considera: ⃝ Sou muito interessado(a) pelos estudos ⃝ Sou mais ou menos interessado(a) pelos estudos ⃝ Sou pouco interessado(a) pelos estudos ⃝ Não tenho nenhum interesse pelos estudos Sobre a disciplina em sala de aula, você considera que a sua turma é: ⃝ Muito indisciplinada ⃝ Mais ou menos indisciplinada ⃝ Indisciplinada ⃝ Disciplinada ⃝ Mais ou menos disciplinada ⃝ Muito disciplinada Sobre o modo como o professor conduz a turma, como você o considera: ⃝ Muito Disciplinador ⃝ Mais ou menos disciplinador ⃝ Pouco disciplinador Em relação aos conteúdos da matéria, você considera o professor: ⃝ Muito exigente ⃝ Medianamente exigente ⃝ Pouco exigente O professor pode dar a aula de várias formas. Pode ser com aula no quadro, pode ser com atividades individuais para apresentar, pode ser com atividades em grupo para apresentar. Marque a opção de forma de aula que você considera que mais faz aprender a matéria: ⃝ Aula no quadro com explicação ⃝ Leitura individual ⃝ Atividade em grupos ⃝ Atividade individual ⃝ Arguição Você faz as tarefas de casa? ⃝ Sim ⃝ Não

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Marque com um X se gosta ou não das tarefas de casa a seguir:

Não gosto de fazer

Gosto de fazer

Tarefa que precisa usar internet Tarefa que só usa o livro da escola Tarefa que só precisa do que já sei, sem consultar nada Tarefa que precisa de consultar outros livros, jornais ou revistas

Você possui acesso à internet em casa para estudar? ⃝ sim ⃝ não Quantas vezes você estuda em casa? ⃝ Todos os dias ⃝ De 2 a 3 dias por semana ⃝ Menos de 4 dias por semana Você possui algum parente que ajuda nos estudos, em casa? ⃝ Sim ⃝ não

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APÊNDICE C – ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO

UNOPAR – Universidade do Norte do Paraná Título do projeto de pesquisa: “Fatores determinantes da eficácia escolar em duas instituições de ensino da rede pública no município de Belo Horizonte – MG relacionados à ação do professor em sala de aula.” Orientador: Fábio Luiz da Silva

Aluno: Ana Paula Xavier de Oliveira

ROTEIRO OBSERVAÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR

1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Nome do (a) Professor (a): Nome da Escola: Disciplina: Conteúdo da aula: Turma: Número de alunos: Data:

2. A INTERAÇÃO ENTRE OS ALUNOS E O CONTEÚDO 2.1 Quais recursos são utilizados na aula? 2.2 Os recursos são aderentes ao perfil da turma em termos de quantidade de alunos presentes? Comente. 2.3 Como está organizado o tempo da aula? 2.4 Foram reservados períodos de duração suficiente para os alunos fazerem anotações, exporem as dúvidas, debaterem e resolverem problemas? 3. A RELAÇÃO PROFESSOR E ALUNO 3.1 A relação desenvolvida em sala de aula apresenta-se de forma harmônica? Justifique. 3.2 Como ocorrem as relações interpessoais entre o professor e os alunos? Comente. 3.3 O professor zela pela disciplina durante a aula? Comente. 4. OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 4.1 A mediação desenvolvida pelo (a) professor(a) permite uma aprendizagem significativa? 4.2 Os conteúdos são contextualizados com a realidade sócio-cultural dos alunos? 4.3 A prática pedagógica apresenta-se de forma estimulante e desafiadora? 4.4 As atividades propostas para a turma são, em sua maioria, de natureza individual ou coletiva? 5. A RELAÇÃO ALUNO-ALUNO 5.1 Existe clima de cooperação entre os alunos? 5.2 Os trabalhos em grupo são facilmente desenvolvidos? Justifique. 5.3 Os alunos se sentem à vontade para colocar suas hipóteses e opiniões na discussão? 5.4 Nas atividades em dupla ou em grupo, há uma troca produtiva entre os alunos? Comente. 5.5 Com quais critérios a classe é organizada? 6. UTILIZAÇÃO DE RECURSOS 6.1 Quais recursos estão disponíveis para o momento da aula? 6.2 Os recursos são utilizados de forma adequada? Comente. 6.3 São recursos são apropriados para a 3º ano do Ensino Fundamental (são motivadores e enriquecem o desenvolvimento da aula)?

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7. AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM 7.1 O professor avalia o aluno consecutivamente? 7.2 A avaliação é diagnóstica? Ou seja, o professor utiliza-a para identificar o nível de aprendizagem do aluno em relação ao conteúdo? 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A OBSERVAÇÃO 8.1 Quais os pontos considerados positivos na prática pedagógica do (a) professor (a)? 8.2 Quais os pontos considerados negativos na prática pedagógica do (a) professor (a)? 8.3 Que tipos de intervenções pedagógicas podem ser recomendadas na prática pedagógica observada? Assinaturas: ............................................................................................................................

Data:

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APÊNDICE D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – Alunos

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APÊNDICE E – TERMO DE ASSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

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APÊNDICE F – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DOCENTE