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Vanessa Gomes Ribeiro DISTÚRBIOS DO ENVELHECIMENTO CANINO - DISFUNÇÃO COGNITIVA CANINA (DCC) REVISÃO DE LITERATURA BELO HORIZONTE 2012

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Vanessa Gomes Ribeiro

DISTÚRBIOS DO ENVELHECIMENTO CANINO -

DISFUNÇÃO COGNITIVA CANINA (DCC) REVISÃO DE LITERATURA

BELO HORIZONTE 2012

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Vanessa Gomes Ribeiro

DISTÚRBIOS DO ENVELHECIMENTO CANINO -

DISFUNÇÃO COGNITIVA CANINA (DCC) REVISÃO DE LITERATURA

Monografia apresentada a UNIP para a conclusão do Curso de Especialização Latu sensu em Clínica Médica e Cirúrgica em Pequenos Animais. Orientador: Leonardo Rocha Vianna

BELO HORIZONTE 2012

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Distúrbios do envelhecimento Canino – Disfunção cognitiva canina

(DCC) – Revisão de Literatura / Vanessa Gomes Ribeiro ...[et al]. –

Belo Horizonte / MG, 2012.

38 f. il. Color

1. Disfunção Cognitiva 2. Cão 3. Geriátrico I. Nelson, Richard W., C. Guillermo

Couto II. Mosier EJ.III. Seibert, L.M., Landsberg, G.M. IV. Bentubo HDL,

Tomaz MA, Bondan EF, Lallo MA.

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RESUMO

Nos últimos anos tem-se observado um aumento na expectativa de vida de animais de companhia devido aos avanços nos cuidados médicos veterinários e aumento de cuidados por parte dos proprietários. Com isso surge uma dificuldade na diferenciação do envelhecimento normal e patológico pelos veterinários. É muito difícil definir o que é um cão geriátrico, tendo apenas por base a idade cronológica uma vez que cães com diferentes tamanhos e de diferentes raças atingem esta fase da vida em diferentes idades. A velocidade a que o processo de envelhecimento ocorre, depende de fatores ambientais e da exposição a agentes estressantes, sendo que o equilíbrio de todos estes fatores determinam os efeitos do envelhecimento. Os cães geriátricos apresentam vários problemas de comportamento, muitos dos quais relacionados com a ansiedade e desordens cognitivas. A síndrome da disfunção cognitiva é definida como alterações comportamentais relacionadas à idade não atribuídas a condições médicas como neoplasias ou falência de órgãos. Revela-se muito importante diagnosticar precocemente a DCC, porque quanto mais cedo esta for detectada, mais tempo dispõe o veterinário para instituir um tratamento que auxilie na gestão dos problemas comportamentais e interrompa a progressão da doença.

Palavras chave: Disfunção Cognitiva, Cão, Geriátrico.

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ABSTRACT

Recently has been an increase in dog´s life expectancy due medical care advances and care improvement by the owners. Because of this change arises a new difficult: what’s an pathological aging or a healthy one. It’s very difficult to define a geriatric dog only basing on chronological aging because dogs with different sizes and breeds reach elderly at different ages. The speed which aging process occurs depends on environmental factors and the exposure to stressors what combined will determine aging effects. Dogs have much geriatric behavior problems many and of them are related to cognitive disorders and anxiety. The Cognitive Dysfunction Syndrome is defined as age related behavior that can’t be assigned to a medical conditions such as cancer or organ failure. It’s very important early diagnosis in this illness because the sooner it’s detected the vet have more time to establish treatment that helps to manage the behavior problems and stops the disease progression.

Key-words: Cognitive Dysfunction, Dog, Geriatric.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Comparação da idade do cão à idade dos humanos (adaptado de

Eukanuba)............................................................................................................

8

Tabela 2 - Efeitos Metabólicos e Fisiológicos do envelhecimento (Goldston,

1995)…………………………………………………………………………………….

10

Tabela 3 - Categorias comportamentais onde se verificam alterações

compatíveis com DCC (adaptado de Alonso 2008)............................................

16

Tabela 4 – Manifestação de sinais de DCC à partir de algumas variáveis

preditivas (adaptado de Nielson et al., 2001)......................................................

18

Tabela 5 - Achados de Pantoja em estudo de questionários aplicados a

proprietários (PANTOJA, 2010)..........................................................................

25

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...................................................................................... 7

2. REVISÃO DE LITERATURA........................... ..................................... 7

2.1 CARACTERIZAÇÃO DO ENVELHECIMENTO..................................... 7

2.2 ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DO ENVELHECIMENTO EM CÃES.. 9

2.3 ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS................................................ 11

2.4 DISFUNÇÃO COGNITIVA CANINA (DCC)........................................... 12

2.4.1 Fisiopatologia....................................................................................... 14

2.4.2 Classificação da Disfunção Cognitiva Canina....................................... 15

2.4.3 Prevalência............................................................................................ 16

2.5 DIAGNÓSTICO..................................................................................... 18

2.6 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL............................................................ 24

2.7 TRATAMENTO..................................................................................... 25

2.7.1 Tratamento Medicamentoso................................................................. 26

2.7.2 Tratamento Fitoterápico........................................................................ 29

2.7.3 Tratamento Hormonal........................................................................... 29

2.7.4 Suplementos Vitamínicos Antioxidantes............................................... 30

2.7.5 Dieta....................................................................................................... 31

2.7.6 Terapias Complementares.................................................................... 32

2.8 QUALIDADE DE VIDA.......................................................................... 32

2.8.1 Exercícios e Enriquecimento Ambiental................................................ 33

2.8.2 Adaptação Ambiental............................................................................. 34

2.9 PREVENÇÃO DA DISFUNÇÃO COGNITIVA CANINA........................ 35

2.9.1 Programa de Saúde Geriátrico.............................................................. 35

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................ ...................................... 37

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................... ............................... 38

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1. INTRODUÇÃO

Devido aos avanços nos cuidados médicos veterinários, nutrição e ao

aumento de cuidados por parte dos proprietários de animais de companhia nos

últimos anos, tem-se observado um aumento na expectativa de vida destes animais

(NEILSON et al., 2001). Com isso, novos desafios vem surgindo para os veterinários

e proprietários de animais idosos (FRANK, 2002). Dentre estes desafios, está a

dificuldade na diferenciação do envelhecimento normal e patológico por veterinários

e médicos que cuidam de pacientes geriátricos (HEAD, 2001).

Alterações fisiológicas variadas são descritas em cães, porém alguns são

considerados distúrbios do envelhecimento e envolvem processos degenerativos

como processos neoplásicos, infecciosos e a Disfunção Cognitiva Canina (DCC).

Para que seja possível manter a qualidade de vida do cão geriátrico faz-se

necessário a realização de um programa de saúde geriátrico canino, que consiste

em acompanhamento veterinário periódico, buscando a prevenção e diagnóstico

precoce de doenças. A qualidade de vida de um cão depende de fatores

relacionados a sua saúde física, mental e social, podendo ser mantida com nutrição

adequada, estimulação cognitiva, exercícios, cuidados médicos, adaptação

ambiental, terapias complementares e cuidados paliativos.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 CARACTERIZAÇÃO DO ENVELHECIMENTO

É muito difícil definir o que é um cão geriátrico, tendo apenas por base a

idade cronológica. Cães jovens podem ter problemas em sistemas orgânicos típicos

de animais geriátricos e animais geriátricos podem ter problemas nos sistemas

orgânicos típicos de animais jovens. Para alguns autores um cão é geriátrico quando

atinge 75% a 80% da sua esperança média de vida (Paddleford, 2004). A

Organização Mundial de Saúde define, para as pessoas, a “terceira idade” a partir

dos 60 anos. Como podemos ver na tabela 1, cães com diferentes tamanhos e de

diferentes raças atingem esta fase da vida em diferentes idades. Sabe-se, contudo

que não podemos ser completamente objetivos, mas podemos considerar como

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ponto de partida para ter uma atenção extra com o cão, a idade que equivale aos 60

anos aos humanos.

Tabela 1: Comparação da idade do cão à idade dos hu manos (adaptado de Eukanuba).

Idade do cão em relação a idade dos humanos

Idade do cão Abaixo de 9

kg

Entre 9 e

23kg

Entre 23 e

41kg

Acima de

41Kg

6 40 42 45 49

8 48 51 55 64

10 56 60 66 78

12 64 69 77 93

14 72 78 88 108

16 80 87 99 123

18 88 96 109

20 96 105 120

Cães de raças menores possuem maior expectativa de vida em relação aos

cães de raças maiores, o que pode ser causado por elevadas taxas de crescimento

dos cães de raças maiores no início da vida. Esta elevada taxa de crescimento é

provocada pela seleção artificial e leva ao desenvolvimento de doenças que afetam

negativamente a sobrevida desses cães (Galis, 2007). Goldston 2007 afirma que os

cães sem raça definida vivem mais tempo do que os cães de raças puras, o que

difere de Bentubo et al. cujo estudo não evidenciou diferença entre a longevidade de

cães com ou sem raça definida. Ainda, no estudo de Bentubo et al. 2007, também

foram observadas maior longevidade das fêmeas em relação aos machos e maior

taxa de sobrevivência de animais castrados em relação aos não castrados, o que

também foi relatado por Goldston. Cães obesos ou alimentados com dieta rica em

gorduras e pobre em fibras têm sua expectativa de vida diminuída e os animais que

vivem dentro de casa têm maior expectativa de vida.

À medida que os animais envelhecem ficam mais sedentários, com menos

energia, menos curiosos e ativos, diminuindo a sua predisposição para a

brincadeiras, têm tendência a dormir muito e quando são perturbados ficam

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irritadiços, o humor modifica-se e, por vezes, parecem inquietos (Akzona et al.,

2009).

2.2 ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DO ENVELHECIMENTO EM C ÃES

São várias as teorias que tentam explicar o processo de envelhecimento.

Numa revisão de 24 teorias diferentes, Morse e Rabinowitz (1990) propõem uma

teoria unificadora que refere que o progresso biológico do envelhecimento está

geneticamente programado. A velocidade a que o processo de envelhecimento

ocorre, depende de fatores ambientais e da exposição a agentes estressantes,

sendo que o equilíbrio de todos estes fatores determinam os efeitos do

envelhecimento.

A velocidade da evolução pode ser afetada significativamente, pelo efeito de

mudanças patológicas na fisiologia das células dos diferentes sistemas corporais ou

do organismo como um todo (Mosier, 1989).

Com o envelhecimento, diversas alterações podem ser encontradas, como:

redução gradual de todas as funções fisiológicas (metabolismo, secreção de

hormônios, nível de atividade), redução na capacidade de aprendizado e memória,

diminuição da competência imune (com consequente aumento da predisposição

para doenças infecciosas e neoplásicas), alterações degenerativas em vários

sistemas (cardiovascular, músculo-esquelético, visual, auditivo, renal) e problemas

comportamentais (NEILSON et al., 2001; FREITAS et al., 2006; OSELLA et al.,

2007). Segundo Figueiredo, 2005 as alterações gerais senis são progressivas e

irreversíveis, resultando em várias alterações orgânicas como: aumento da

fragilidade tecidual, perda da flexibilidade osteomuscular, deterioração das células

nervosas, diminuição da capacidade para enfrentar o estresse, espessamento do

cristalino e o enrugamento da pele.

Ocorre redução do percentual hídrico do corpo e os níveis de lipídio,

colesterol e fosfolipídio tendem a aumentar durante o processo de envelhecimento,

assim como o ganho de peso em virtude da inabilidade em metabolizar lipídeos

(Aucoin,1995) (Freitas, 2006). A absorção subcutânea é provavelmente mais lenta

devido ao aumento de gordura e diminuição da vascularização nessa região (Aucoin,

1995). Os fármacos que apresentam alta solubilidade lipídica podem ter seu tempo

de ação prolongados e os fármacos ligados a proteínas podem ter maior

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disponibilidade devido à redução nas concentrações de albumina em cães idosos

(Conti,2005).

Tabela 2: Efeitos Metabólicos e Fisiológicos do env elhecimento (Goldston, 1995).

• Decréscimo da taxa metabólica com uma menor atividade e uma

diminuição entre 30-40% das necessidades calóricas.

• Imunodeficiência apesar de um número normal de linfócitos.

• Decréscimo de fagocitoses, com diminuição das defensas frente a

infecções.

• Formação de auto-anticorpos e apresentação de enfermidades auto-

imunes.

• Incremento da porcentagem de gordura corporal.

• Hiperpigmentação, engrossamento e perda da elasticidade da pele.

• Hiperqueratoses dos coxins plantares e unhas quebradiças.

• Perda de massa muscular, óssea e articular com consequente

desenvolvimento de artrites.

• Cálculos dentários, com perda de dentes e hiperplasia gengival.

• Periodontites que produzem retração e atrofia gengival.

• Atrofia e fibrose da mucosa gástrica.

• Diminuição do número de hepatócitos e desenvolvimento de fibrose

hepática.

• Descenso da secreção de enzimas pancreáticas.

• Perda de elasticidade pulmonar, fibrose pulmonar e maior viscosidade de

secreção das glândulas respiratórias. Diminuição da capacidade respiratória.

• Tosse e diminuição da capacidade respiratória.

• Perda de peso dos rins, diminuição do filtrado glomerular atrofia dos

túbulos renais.

• Desenvolvimento de incontinência urinaria.

• Aumento de tamanho da próstata, atrofia testicular e prepúcio pendulante.

• Engrosamento dos ovários, cistos fibrosos e neoplasias em glândulas

mamárias.

• Diminuição do débito cardíaco e desenvolvimento de fibrose valvular e

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arteriosclerose coronária.

• Desenvolvimento de anemia não regenerativa.

• Diminuição do número de células do sistema nervoso. A senilidade causa

diminuição da resposta ao adestramento e perda do aprendizado

2.3 ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS

Os cães geriátricos apresentam vários problemas de comportamento, muitos

dos quais relacionados com a ansiedade e desordens cognitivas. Os cães mais

velhos são mais propensos a ter problemas como: fobias, ansiedade de separação,

transtornos de ansiedade generalizada, ataques de pânico e disfunção cognitiva

(Hoskins, 2004).

Problemas de comportamento podem ser problemas primários ou podem

surgir secundariamente a problemas médicos (Hoskins, 2005). Uma vez que os

problemas médicos tenham sido excluídos ou corrigidos, a atenção deve ser dada

ao tratamento dos problemas de comportamento. A terapia para muitos dos

problemas de comportamento exibido por animais de estimação geriátricos é,

basicamente, a mesma que o tratamento de problemas semelhantes que ocorrem

em cães jovens (Eldredge et al., 2007).

Os problemas comportamentais de cães idosos podem ser divididos em três

categorias básicas: primários com ou sem doenças associadas; secundários a

mudanças fisiológicas confirmadas por exames laboratoriais; ou decorrentes de um

declínio no estado mental. Quando não explicados pelas primeiras duas categorias,

os problemas pertencem a esta terceira categoria (Horwitz, 2001).

As alterações comportamentais podem ocorrer com diferentes intensidades,

de acordo com a idade do cão, genética, nutrição e fatores ambientais externos.

Além da realização de exames de rotina, deve-se obter o histórico completo do cão,

incluindo sua rotina diária e informações sobre contactantes humanos e animais,

torna-se essencial para determinar a origem de cada alteração comportamental e,

assim determinar sua duração, progressão e fatores desencadeantes (Horwitz,

2001). Os distúrbios sociais também podem estar associados à morte de um animal

contactante ou à introdução de outro animal de estimação (Freitas, 2006).

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São descritas mais comumente em cães idosos alterações comportamentais

como: agressividade contra humanos ou outros cães, ansiedade de separação,

comportamento destrutivo, micção e defecação em locais inadequados, fobias,

vocalização excessiva, alterações no ciclo do sono e comportamento compulsivo ou

estereotipado (Horwiz, 2001)(Chapman,1995). Também são descritas anorexia e

inapetência, desobediência e falha no aprendizado (Chapman, 1995). Em um estudo

realizado por Freitas et al. a agressividade e a ansiedade foram as mudanças

comportamentais mais prevalentes em cães com idade acima de 8 anos.

Assim, um sério comprometimento dos processos cognitivos deve ser

distinguido de um leve decréscimo na atividade psicomotora, podendo ser

considerado como “envelhecimento patológico” (OSELLA et al., 2007).

2.4 DISFUNÇÃO COGNITIVA CANINA (DCC)

Muitos dos problemas comportamentais encontrados nos animais idosos são

decorrentes de alterações degenerativas do sistema nervoso central, resultando em

alterações de memória e aprendizado (NEILSON et al., 2001).

A função cognitiva dos cães declina com o avançar da idade e, geralmente o

primeiro sinal de senilidade observado é a perda do treinamento doméstico

(Goldston,1995). Muitas vezes, as alterações comportamentais podem ser

consideradas fatores do envelhecimento normal e podem ser referidas como

síndrome do cão idoso. Porém, um prejuízo sério da função cognitiva deve ser

distinguido de um simples decréscimo psicomotor e pode ser considerado um

envelhecimento patológico (Osella, 2007). A síndrome da disfunção cognitiva é

definida como alterações comportamentais relacionadas à idade não atribuídas a

condições médicas como neoplasias ou falência de órgãos. A susceptibilidade

individual à disfunção cognitiva não é conhecida, no entanto, interações genéticas e

ambientais podem contribuir para o quadro (Horwitz, 2001). Além do acúmulo de

substância beta-amilóide no cérebro e dos danos oxidativos, mudanças na função

dos neurotransmissores, especialmente a dopamina, contribuem para o declínio

cognitivo em cães (Horwitz, 2001) (Araújo, 2005) (Head,2002).

As alterações comportamentais em um cão com disfunção cognitiva incluem:

micção e defecação em local inapropriado (em que o animal não encontra o local

correto ou não demonstra vontade de passear); redução ou aumento no interesse

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pela comida (quando o animal não encontra o comedouro ou come

compulsivamente sem estar com fome); alterações no ciclo do sono (em que o cão

dorme mais durante o dia e menos durante a noite); redução ou aumento de

atividade diária; redução da interação com os proprietários (quando o cão não

recebe mais os proprietários na porta ou não os reconhece mais); declínio no

aprendizado (dificuldade para aprender novos truques); confusão e desorientação

em ambiente familiar não relacionadas a perdas visual ou auditiva; comportamento

compulsivo (lambedura) e vocalização excessiva (Horwitz, 2001) (Araújo,

2005)(Milgram, 2003)(Pugliese, 2006). Entretanto, nem todos os cães demonstram

esses sinais e alguns poderão apresentar comportamentos paradoxais, como

agitação excessiva sem motivo aparente (Dodman, 2009). Além disso, a severidade

do quadro é relativa, já que o declínio cognitivo depende da experiência prévia do

animal (Araújo, 2005)(Christie, 2008). Junto com a disfunção cognitiva pode haver

intensificação dos sinais de ansiedade de separação e agressividade (Horwitz,

2001)(Araújo, 2005). Assim, o diagnóstico desta síndrome é desafiador e pode ser

por exclusão ou terapêutico.

Assim, um sério comprometimento dos processos cognitivos deve ser

distinguido de um leve decréscimo na atividade psicomotora, podendo ser

considerado como “envelhecimento patológico” (OSELLA et al., 2007).

A DCC assemelha-se ao que ocorre na doença de Alzheimer (DA) em

humanos, caracterizada por perda gradual da memória, redução na habilidade para

realizar tarefas rotineiras, desorientação, dificuldade de aprendizado, perda de

habilidades da linguagem, capacidade de julgamento, habilidade de planejar e

alterações de personalidade (INGRAM; WILLIAMS, 2002). Uma leve disfunção

cognitiva em humanos é considerada um estágio transitório entre o envelhecimento

bem sucedido e a demência, portanto pacientes nesta categoria devem ser alvo de

uma intervenção precoce, devido à possibilidade de um melhor prognóstico

(OSELLA et al., 2007).

Devido a não especificidade dos sinais clínicos e a ausência de um exame

diagnóstico adequado, essa síndrome pode ser diagnosticada apenas após extensa

avaliação de outras causas de alterações intracranianas. Nos cães mais velhos, a

presenças de doenças metabólicas, tumores cerebrais, encefalite e disfunção

intracraniana relacionada a hipertensão deve ser cuidadosamente avaliada.

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15

2.4.1 Fisiopatologia

Diversas alterações degenerativas que ocorrem no cérebro de cães idosos

podem se associar aos sinais comportamentais da síndrome de disfunção cognitiva,

mas uma relação de causa e efeito clara com a síndrome clínica ainda não foi

estabelecida (LANDSBERG et al., 2005). Estudos vêm sendo realizados para

elucidar os mecanismos cerebrais envolvidos no surgimento da DCC (HEAD, 2001).

Com os estudos realizados até o presente, apenas sabe-se que a DCC se

manifesta devido a uma série de alterações físicas e químicas que ocorrem no

cérebro durante o envelhecimento (HEIBLUM et al., 2006), incluindo alterações em

neurônios, neurotransmissores, no metabolismo, na parte vascular e na bioquímica

cerebral (NEILSON et al., 2001), como: fibrose das meninges cerebrais, calcificação

meníngea, desmielinização, lipofuscinose, aumento no tamanho e no número de

células gliais, redução do número de neurônios, corpúsculos apoptóticos,

degeneração axonal, grânulos contendo ubiquitina na substância branca, alterações

vasculares e dilatação dos ventrículos por atrofia do córtex (CUMMINGS et al., 1996;

RUEHL; HART, 1998; BORRÀS et al., 1999; LANDSBERG et al., 2005; HEIBLUM et

al., 2006).

Ainda segundo Rofina ET AL., 2006 a DCC tem uma forte correlação com

determinado tipo de lesões cerebrais, denominada: apoptose dos neurônios e

células gliais; depósitos de substância amilóide; alterações do precursor da proteína

β-amilóide; expressão da proteína TAU e a sua acumulação no cérebro.

Num estudo realizado em cães idosos, o comportamento semelhante a

Alzheimer foi classificado por vários autores por meio de questionários. Verificou-se

uma correlação entre a disfunção cognitiva e a presença de uma patologia

semelhante a Alzheimer, revelando-se a performance cognitiva associada com a

patologia em 30 cães de idades diferentes. Formaram-se dois grupos com idades

semelhantes onde foram comparadas mudanças comportamentais, analisadas e

pontuadas com questionários e realizou-se necrópsia para descartar qualquer outra

causa da alteração de comportamento. Todos os elementos do grupo manifestaram

uma correlação significativa entre a idade e alterações comportamentais. Os

resultados obtidos sugerem que um questionário pode ser usado para diagnosticar

mudanças de comportamentos parecidos com os da patologia de Alzheimer. Neste

estudo, chegou-se também à conclusão que o dano oxidativo a nível celular

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desempenha um papel importante nas mudanças de comportamento (Rofina et al.,

2006).

A deposição de placas beta amilóide estão associadas com dificuldades de

aprendizagem. A difusão destas placas dentro do cérebro e do hipocampo, bem

como a angiopatia beta amilóide foram identificadas em humanos, cães e gatos

velhos com sinais consistentes de disfunção cognitiva. Embora exista muita

especulação em torno desta matéria, parece consensual que a deposição de

substância amilóide leva a alterações na função dos neurotransmissores. Os fatores

genéticos parecem influenciar a idade de aparecimento desta patologia e a extensão

da área afetada, uma vez que a deposição de placas amilóide desenvolve-se mais

cedo em algumas raças (Borrás et al., 1999).

No envelhecimento do cão várias são as alterações vasculares e

perivasculares que de certa forma também contribuem para a lesão cerebral. A

adventícia sofre um espessamento na maioria dos cães, afetando mais as veias de

pequeno diâmetro do que as artérias, provocando uma diminuição no diâmetro dos

vasos. Esta mudança parece ter uma distribuição variável com a idade, mas é mais

acentuada entre os 14 e os 15 anos. O desenvolvimento de

aterosclerose de natureza não lipídica compromete a irrigação cerebral do

cão velho, conduzindo a hipoxia cerebral. Esta pode ter como causa uma diminuição

no débito cardíaco, anemia e a causas que levam a um aumento da hipertensão

arterial (diabetes mellitus, hiperadrenocorticismo) (Borrás et al., 1999).

Nos humanos, a disfunção cognitiva grave ou demência pode ser resultado de

hipoxia cerebral, devido à doença vascular ou lesões neurodegenerativas, como

Alzheimer. Nos cães, o hipotiroidismo, epilepsia, encefalite, tumores e outras

doenças estruturais têm sido sugeridas como etiologias prováveis deste tipo de

alterações de comportamento (Rofina et al., 2007).

2.4.2 Classificação da DCC

Alonso (2008) classifica os cães afetados por esta patologia em três

categorias: pré-demência, demência e demência avançada. Tendo como referência

a tabela 2, o animal pré-demente é aquele que mostra um ou mais sintomas

associados a qualquer uma das categorias, figurando apenas numa única categoria.

A demência é confirmada se o animal for positivo para 2 ou 3 categorias do teste. A

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demência avançada é classificada como tal quando há sintomas em todas as

categorias.

Tabela 3: Categorias comportamentais onde se verifi cam alterações compatíveis com DCC

(adaptado de Alonso 2008).

Categoria Sinais e comportamento

Ciclo sono/despertar • Caminha ou ladra durante a noite

• Muda o tempo e período de sono

• Altera o nível de atividade

Interação social • Não procura a atenção dos

proprietários

• Não reconhece algumas pessoas que

lhe são familiares

• Não brinca com o dono nem com

outros animais

• Diminui a resposta a estímulos

Perda do treino de casa • Diminui a capacidade de

aprendizagem e memória

• Esquece alguns comandos e truques

• Urina e defeca dentro de casa

Desorientação • Fica perdido em lugares familiares

• Não consegue sair de esquinas ou

mesmo passar porespaços estreitos

• Olha fixamente para o horizonte

• Vai para o lado errado da abertura da

porta

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2.4.3 Prevalência

Prever a possibilidade do cão vir a desenvolver a DCC, facilitaria o tratamento

e o diagnóstico precoce da doença. Azkona et al. (2009) realizou um estudo

transversal com o intuito de fazer correspondência entre alterações

comportamentais associadas a DCC com os riscos potenciais, incluindo sexo,

“status” social, idade e peso corporal. Neste estudo, a amostra foi de 325 cães com

idades superiores a 9 anos e com ausência de doenças que possam ter sinais

semelhantes à DCC. Os donos foram questionados sobre alterações do

comportamento nos seus cães tendo por base as seguintes categorias: ciclo

dormir/despertar, interações sociais, capacidade de aprendizagem, perda do treino

de casa e desorientação. A DCC foi avaliada de acordo com o

número de sinais que o animal exibia (Tabela 3)

O ensaio realizado nos Estados Unidos da América, estudou os possíveis

fatores de risco para o desenvolvimento da DCC e as melhores estratégias para

reduzir os efeitos indesejáveis do envelhecimento, melhorando a qualidade de vida

do cão geriátrico. Este estudo demonstrou que a prevalência de mudanças de

comportamento em cães velhos tem uma relação forte com alterações cognitivas.

Nielson et al.,(2001) constataram que 28% de cães com idades

compreendidas entre 11-12 anos e 68% dos cães com idades entre os 15-16 anos

apresentaram um ou mais sinais de DCC das diferentes categorias. Dos cães

utilizados no estudo, 22,5 % demonstraram comportamentos que se enquadram em

pelo menos uma das categorias da disfunção cognitiva. As fêmeas, (castradas ou

não), manifestaram uma propensão para adquirir DCC, 2 vezes superior à dos

machos. Os machos castrados mostraram ter maior probabilidade de desenvolver

DCC que os machos inteiros e nas fêmeas verificou-se o mesmo, tendo 42% das

fêmeas castradas demonstrado sinais de DCC, enquanto apenas 17% das fêmeas

inteiras manifestaram sinais de DCC. Apesar do peso, em termos estatísticos, não

ter sido uma variável preditiva da ocorrência, ou não, da DCC, os cães de pequeno

porte apresentaram maior prevalência e probabilidade de virem a manifestar um

maior comprometimento cognitivo, do que os cães de porte médio-grande.

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Tabela 4: Manifestação de sinais de DCC a partir de algumas variáveis preditivas (adaptado

Nielson et al., 2001).

Variável Preditiva Manifestação

Sinais de

Manifestação da

DCC

IDADE ENTRE 11 E 12 ANOS 28% 1 ou +

IDADE ENTRE 15 E 16 ANOS 68% 1 ou +

SEXO FEMININO 2 x > MACHOS Pelo menos 1

MACHOS CASTRADO % > NÃO CASTRADOS Pelo menos 1

FÊMEAS CASTRADAS 42% Pelo menos 1

FÊMEAS NÃO CASTRADAS 17% Pelo menos 1

PEQUENO PORTE % > MÉDIO-GRANDE

PORTE

Pelo menos 1

2.5 DIAGNÓSTICO

Revela-se muito importante diagnosticar precocemente a DCC, porque quanto

mais cedo esta for detectada, mais tempo dispoem o veterinário para instituir um

tratamento que auxilie na gestão dos problemas comportamentais Seibert &

Landsberg (2008). Uma vez que não podemos medir diretamente a emoção nos

animais, temos de confiar nas suas respostas comportamentais a certos estímulos

(Mendl et al., no prelo).

À semelhança do que ocorre com humanos, o diagnóstico da DCC é feito

primariamente por exclusão, através do questionamento dos proprietários acerca de

sinais apresentados por seus cães compatíveis com DCC, o que pode ser realizado

através do preenchimento de formulários ou listas de checagem, tentando-se

descartar a possibilidade da ocorrência de outros quadros mórbidos que possam

causar alterações de comportamento (RUEHL; HART, 1998; HEAD, 2001; FRANK,

2002; LANDSBERG, 2005; LANDSBERG et al., 2005; HEIBLUM et al., 2006). Este é

atualmente o único meio prático de se detectar a DCC (LANDSBERG, 2005). É

importante também a obtenção de um histórico detalhado, pois a ocorrência de

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traumas cranianos ou de um histórico familiar de desordens neurológicas pode ser

relevante (HEAD, 2001). Vale ressaltar que outros quadros mórbidos podem estar

ocorrendo concomitantemente com a DCC, agravando sua apresentação (FRANK,

2002). Na verdade, muitas vezes é o efeito combinado da doença e do

envelhecimento na saúde física e mental do animal que resulta em desordens

comportamentais em cães idosos (OSELLA et al., 2007). Em Neilson et al. (2001) é

citado ainda um estudo que demonstrou que os sinais de disfunção nas categorias

orientação, interação social, treinamento higiênico e ciclo de sono-vigília não são

tipicamente consequência de desordens médicas que não a degeneração cerebral.

Portanto, diagnosticar a DCC é difícil, porque a maior parte das vezes os

sintomas são sutis e progressivos, outras vezes são ignorados ou aceitos pelos

donos como um acontecimento normal do envelhecimento (Alonso, 2008).

Para chegarmos a um diagnóstico temos que nos basear fundamentalmente

na percepção que o dono tem do comportamento do seu animal. As alterações de

comportamento associadas com a idade, que são sintomatologia da DCC, podem

ser estruturadas no sistema DISH (Disorientation, Interacts less, Sleep pattern

disturbed, House training lost) (Alonso,2008). Alguns autores incluem as mudanças

na atividade física como uma categoria adicional (Osella et al., 2007).

Desorientação: alguns cães apresentam sinais bastante graves de

deterioração mental à medida que envelhecem. Estes podem incluir problemas em

reconhecer lugares familiares ou pessoas, desorientação espacial e confusão.

Muitas vezes perdem-se dentro da casa e ficam “presos” em cantos, ficam

estáticos por longos períodos a olhar para parede (Alonso, 2008). Interação social:

Um comportamento repetitivo, como lamber, andar em círculos ou estimulação,

sinais de apatia, irritabilidade, diminuição da percepção do ambiente e uma redução

na interação social com membros da família, são comuns. O cão não procura

atenção, não cumprimenta os membros da família quando estes chegam a casa,

não responde a estímulos, passa menos tempo a brincar e ignora quando é

perturbado (Alonso, 2008). O ciclo sono/despertar pode estar alterado quando

vagueia pela casa à noite com uma inadequada e excessiva vocalização (Rofina,

2006). A perda de comportamentos aprendidos é comum. Um sinal comum de perda

do treino de casa verifica-se quando o cão não pede para ir ao exterior fazer as

necessidades, e/ou perde o controle dos esfíncteres (Rofina, 2006).

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Na ausência de outros processos da doença, essas mudanças são

representativos da disfunção cognitiva. Esta síndrome envolve a perda das funções

intelectuais e integradoras do cérebro (Overall, 2007). Uma vez que as causas

médicas são descartadas, o diagnóstico clínico da DCC é baseado na presença de

um ou mais sinais das diferentes categorias (Nielson et al, 2001). Alterações no

bem-estar mental, provocadas por alterações neurodegenerativas, podem conduzir a

redução da qualidade de vida.

Recentemente, desenvolveu-se uma escala na tentativa de obter uma

avaliação mais objetiva para o diagnóstico de distúrbios cognitivos e afetivos

relacionados à idade (DCARI), (COLLE et al., 2000; LANDSBERG et al., 2005;

OSELLA et al., 2007). Esta escala foi elaborada com base nas escalas usadas em

humanos (MMSE e B-ADL), possibilitando coletar dados sobre as principais

alterações comportamentais identificadas no cão. Houve correlação positiva entre as

maiores pontuações obtidas na escala e a deposição de beta-amilóide,

principalmente referindo-se a comportamentos como alimentação, ingestão de

líquidos, comportamento auto-estimulatório (lambeduras, perseguição da cauda),

comportamento de eliminação e padrões de sono, não havendo correlação com

comportamentos específicos aprendidos (comandos, treinamentos), auto-controle

(dificuldades em se acalmar, hiperatividade / indiferença, generalização de

experiências aversivas), comportamento social aprendido (mordeduras sem aviso,

retenção de objetos roubados, não submissão quando repreendido) e capacidades

adaptativas (comportamento frente à mudanças / novos estímulos) (COLLE et al.,

2000).

Todavia, no teste elaborado por Pugliese et al. (2005), comportamentos como

alimentação, latidos, ingestão de líquidos, auto-controle, agressividade,

comportamento auto-estimulatório e comportamento social aprendido anteriormente

mostraram-se inadequados para detecção apropriada de modificações cognitivas.

Os comportamentos que mostraram-se relevantes nesta avaliação foram: avaliação

do andar do cão, postura, “expressão emocional”, comportamento eliminatório,

comportamento em relação ao sono, brincadeiras, comportamento exploratório,

comportamentos específicos aprendidos, capacidades adaptativas, interação com

outros animais e com os proprietários. Neste estudo, houve correlação entre os

resultados obtidos no teste e a análise de líquor quanto aos níveis de glicose,

piruvato, lactato, potássio e proteínas.

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O mesmo questionário preenchido pelos proprietários para o diagnóstico da

DCC pode ser usado ao longo do tratamento, para avaliar a resposta do animal

(RUEHL; HART, 1998; LANDSBERG et al., 2005).

Em um estudo realizado por Osella et al. (2007) com cães a partir de 7 anos

de idade para detecção de casos sugestivos de DCC através de questionários

preenchidos pelos proprietários, dos 102 cães incluídos no estudo, 75 apresentaram

sinais de DCC, sendo que 42 cães apresentaram sinais em uma categoria (a maioria

com alterações na interação socio-ambiental – 59,52%) e 33 cães apresentaram

sinais em duas ou mais categorias. Todavia, observou-se que cães com sinais em

apenas uma categoria não necessariamente apresentavam uma disfunção cognitiva

leve, bem como cães com sinais em duas ou mais categorias não necessariamente

apresentavam uma disfunção cognitiva severa, o que demonstra a necessidade de

uma avaliação comportamental mais aprofundada nos animais suspeitos. Da mesma

forma, sugere que a distinção para demência usada tradicionalmente em humanos

pode não se aplicar diretamente aos cães enquanto não se realizar maiores

experimentos para correlacionar sinais comportamentais, emocionais e cognitivos

com marcadores biológicos e análise de lesões cerebrais post-mortem.

O exame clínico de animais com suspeita de DCC deve incluir exame físico

completo, exame neurológico (com atenção principalmente à função de nervos

cranianos e reflexo perineal, especialmente em cães com distúrbios de eliminação) e

exames laboratoriais – hemograma completo e perfil bioquímico (função renal e

hepática) (RUEHL; HART, 1998; FRANK, 2002; GOLINI, 2009). É importante realizar

também uma avaliação articular e um exame prostático (LANDSBERG et al., 2005).

Outros testes que podem ser realizados são urinálise e avaliação endócrina (função

de tireóide e adrenal). Em alguns casos pode ser necessária a realização de

eletrocardiograma ou exames de imagem (radiografia, ultrassonografia, ressonância

magnética ou tomografia) (RUEHL; HART, 1998). A ressonância magnética é útil

para avaliação de lesões intracranianas, atrofia cerebral e coleções de fluido

cerebroespinhal na cisterna cerebelo-medular, sendo o último passo para descartar

a ocorrência de outras afecções neurológicas que possam mimetizar a DCC, como

afecções neoplásicas, inflamatórias ou infecciosas (GOLINI, 2009). Achados como

atrofia cortical, entretanto, não permitem diferenciar um envelhecimento normal de

um patológico. O que se tem sugerido é uma avaliação da velocidade da atrofia em

indivíduos assintomáticos, ao invés de uma única avaliação (HEAD, 2001).

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É necessário ainda buscar o desenvolvimento de critérios clínicos mais

sistemáticos para o diagnóstico da DCC, pois diversos sinais atualmente

identificados podem ter outras causas, como ocorre na medicina, em relação à DA.

Um acompanhamento criterioso da progressão da DCC faz-se também necessário

(HEAD, 2001).

Cães com sinais de DCC estáveis ou melhores e sem doenças concomitantes

devem ser reexaminados a cada 3 ou 6 meses, já que cães idosos geralmente

manifestam novos problemas médicos dentro deste período. Cães com outras

doenças concomitantes podem necessitar reavaliações mais freqüentes, de acordo

com a gravidade da doença (RUEHL; HART, 1998).

Na medicina veterinária atualmente tenta-se desenvolver testes cognitivos

para cães que possibilitem a detecção precoce da doença, já que muitos testes

padronizados para humanos são de difícil extrapolação por incluírem testes como

“teste do desenho do relógio” e “teste de fluência verbal”. Estes testes visam uma

avaliação mais objetiva do grau de disfunção cognitiva, sendo mais sensíveis do que

as avaliações subjetivas dos proprietários, uma vez que avaliam alterações no

aprendizado e memória ao invés de observações clínicas (LANDSBERG, 2005). Os

testes para cães usam alimentos como recompensa, sem a necessidade de privação

alimentar antes das sessões (HEAD, 2001; INGRAM; WILLIAMS, 2002). São

selecionadas tarefas que requerem o funcionamento de circuitos corticais e/ou

regiões cerebrais específicos para possibilitar a mensuração de diversos tipos de

aprendizado e habilidades de memória, similar ao que é feito em relação à DA

(HEAD, 2001).

Em suma, em relação ao desempenho dos cães nos testes cognitivos, é

possível observar um declínio cognitivo substancial com o aumento da idade,

através dos resultados obtidos nos testes de memória de reconhecimento de

objetos, memória visual-espacial, aprendizado discriminatório e aprendizado

discriminatório reverso. Cães mais idosos apresentam maior dificuldade

principalmente nos testes que requerem aprendizado reverso, quando comparados

aos cães jovens (MILGRAM et al., 2003). A deterioração das funções cognitivas em

cães idosos, entretanto, apresenta grande variedade e nem todas as habilidades se

deterioram por igual com a idade (STUDZINSKI et al., 2006). Enquanto os sinais

clínicos de disfunção cognitiva geralmente tornam-se evidentes em cães a partir dos

11 anos de idade, sugere-se que os testes cognitivos podem detectar declínio

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cognitivo em animais a partir de 6 anos de idade em animais institucionalizados

(LANDSBERG, 2005; LANDSBERG; ARAUJO, 2005).

Entretanto, ainda que estes testes venham apresentando resultados

interessantes, a maioria deles foi desenvolvida para avaliação de disfunção cognitiva

em primatas não humanos, utilizando a visão como principal sentido para

identificação dos objetos, o que sugere a necessidade do desenvolvimento de testes

mais específicos para cães, como testes que usem o olfato como principal sentido,

por exemplo (INGRAM; WILLIAMS, 2002). O uso do olfato torna-se bastante

interessante, uma vez que sabe-se que deficiências olfativas ocorrem em humanos

idosos e naqueles com desordens neurodegenerativas, tendo esta deficiência

também sido demonstrada em um teste preliminar realizado com cães idosos

(CUMMINGS et al., 1996).

É importante ressaltar também que estes testes ainda estão restritos ao uso

em laboratórios, pois requerem uma série de utensílios padronizados e

acompanhamento diário da evolução dos animais nos testes praticados por longos

períodos de tempo, havendo a necessidade do desenvolvimento de testes mais

prontamente utilizáveis na rotina clínica diária (HEAD, 2001; FRANK, 2002). Além

disso, não há uma confirmação de que os métodos usados nos testes para

avaliação de aprendizado e memória tenham correspondência com as alterações

comportamentais clinicamente observadas (LANDSBERG, 2005; OSELLA et al.,

2007), não se sabendo, por exemplo, se os circuitos cerebrais avaliados no teste

cognitivo de memória espacial são os mesmos responsáveis por sinais clínicos de

DCC como desorientação (HEAD, 2001).

Um teste mais prontamente utilizável na rotina clínica é o teste de

curiosidade , no qual diversos brinquedos são disponibilizados para que os cães os

examinem e brinquem com eles. Este teste leva apenas 10 minutos e não requer

nenhum aparato específico nem treinamento prévio. Visa avaliar a reação dos cães

a objetos novos e seu comportamento exploratório. Em geral, cães jovens exploram

mais e buscam mais contato com os objetos novos do que os cães idosos. Estes,

por sua vez, quando apresentam disfunção cognitiva, se locomovem mais, porém

apresentando menor comportamento exploratório (LANDSBERG, 2005).

O diagnóstico definitivo da DCC, entretanto, pode apenas ser firmado

mediante confirmação das alterações no exame histopatológico, a partir de amostras

obtidas por biópsia cerebral ou colhidas na necrópsia (HEIBLUM et al., 2006;

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RUEHL; HART, 1998). O mesmo ocorre na DA, sendo necessária a ocorrência de

novelos neurofibrilares e placas senis (de beta-amilóide), ainda que estas alterações

não sejam exclusivas da DA, podendo ser encontradas em outras formas de

demência e também no envelhecimento normal (HEAD, 2001).

2.6 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Dentre as doenças que devem ser descartadas antes de se considerar um

diagnóstico de DCC, podemos citar: falência de órgãos, tumores, outras afecções

degenerativas, doenças autoimunes, déficits sensoriais, distúrbios que causem dor,

outras doenças que afetem o sistema nervoso central ou sua circulação,

endocrinopatias, problemas no trato gastro-intestinal e problemas urinários, pois

podem ter efeitos profundos no comportamento dos animais (FRANK, 2002; HEATH,

2004; LANDSBERG et al., 2005). Convulsões ocorrem em apenas 45% dos cães

com tumores cerebrais, portanto a ausência de convulsões não descarta a

possibilidade destes tumores (FRANK, 2002). Déficits sensoriais como diminuição da

visão ou da audição são achados comuns em cães idosos e este último certamente

pode contribuir para um sono mais profundo, aparente desatenção e inabilidade em

localizar a origem de determinados sons (FRANK, 2002).

Por meio de um questionário confeccionado com base nos sinais clínicos de

DCC reportados em outros trabalhos (NEILSON et al., 2001; LANDSBERG et al.,

2005; OSELLA et al., 2007) Pantoja, 2010 analisou um grupo de 77 cães. Dos 77

cães do estudo, 29 (37,66%) apresentaram sinais compatíveis com DCC, sendo 17

cães (22% do total; 58,62% dos com DCC) com disfunção leve e 12 cães (15,58%

do total; 41,38% dos com DCC) com disfunção severa. Foram considerados como

apresentando disfunção em uma categoria os cães cujos proprietários informaram

pelo menos duas alterações dentro da categoria, contanto que estes sinais só

tivessem se manifestado a partir dos 8 anos de idade ou tivessem apresentado piora

desde então. Considerou-se uma disfunção leve quando houve disfunção em

apenas uma categoria e disfunção severa quando houve disfunção em duas ou mais

categorias, seguindo-se o sistema de avaliação do estudo realizado por Neilson et

al. (2001).

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Tabela 5: Achados de Pantoja em estudo de questioná rios aplicados a proprietários

(PANTOJA, 2010).

Total de cães: 77 DCC Leve (disfunção em

apenas 1 categoria)

DCC Severa (disfunção

em 2 ou/+ categorias)

Cães com DCC:

29 (37,66%)

17 (58,62%)

12 (41,38%)

Cães sem DCC:

48 (62,44%)

-

-

2.7 TRATAMENTO

Uma vez que a DCC decorre de alterações neurodegenerativas progressivas,

quanto antes os proprietários relatarem alterações comportamentais em seus

animais, antes poder-se-á buscar a causa destas alterações, possibilitando uma

intervenção precoce, momento em que geralmente há maiores chances de sucesso

terapêutico ou ao menos redução da progressão da doença, melhorando a

qualidade de vida e até mesmo a longevidade do animal (LANDSBERG, 2005;

OSELLA et al., 2007

Se outras causas foram descartadas e há um diagnóstico presuntivo de DCC,

um tratamento direcionado para tal deve ser implementado (LANDSBERG et al.,

2005). É importante ressaltar, porém, que similar ao que ocorre na DA, não basta a

observação de apenas um sinal clínico para que seja iniciada uma intervenção

farmacológica, devendo haver mais de uma habilidade cognitiva afetada (memória,

habilidades visuais-espaciais). Contudo, avaliações para acompanhamento devem

ser realizadas em animais suspeitos, devido à possibilidade do aparecimento de

alterações cognitivas, bem como a piora de sinais já existentes (HEAD, 2001).

Todavia, em uma outra análise, uma vez que testes laboratoriais detectam

alterações de memória e aprendizado antes das manifestações clínicas de DCC e

estes testes ainda estão indisponíveis para cães de proprietários, Landsberg (2005)

sugere que o tratamento em cães idosos com medicamentos e suplementos pode

ser iniciado mesmo antes do surgimento de sinais clínicos.

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O tratamento da DCC tem 2 objetivos principais: repor os níveis de

neurotransmissores que se encontram diminuídos / facilitar seu metabolismo e

reduzir / reverter a progressão da doença (RUEHL; HART, 1998).

2.7.1 Tratamento Medicamentoso

Embora não haja cura para a DCC existem suplementos nutricionais e

farmacêuticos que se podem administrar aos cães para diminuir e atenuar a

velocidade e os sintomas da doença, respectivamente (Araújo, et al., 2008). Caso

nenhuma anomalia especifica tratável seja encontrada, a administração de

antioxidantes, ácidos graxos ömega-3 e seleginina (L-deprenil: 0,5 a 1,0mg/kg/dia,

por via oral) e o enriquecimento ambiental e recreacional são rcomendados. É difícil

determinar, objetivamente, o efeito benéfico deste tratamento (Nelson, 2010).

Selegilina (L-deprenil): Esta foi a primeira droga aprovada para o tratamento

da DCC (LANDSBERG, 2005), tendo se mostrado eficaz em 69% a 75% dos

pacientes, em estudos controlados com placebo. O tratamento é focalizado na

normalização das condições dos neurotransmissores (dopamina, serotonina,

norepinefrina e acetilcolina) e na redução da progressão da doença (LANDSBERG

et al., 2005).

O L-deprenyl (Anipryl® - Pfizer Animal Heath) é um inibidor da monoamino-

oxidase- B (MAO-B) e tem seu uso aprovado para cães com disfunção cognitiva

(Goldston, 1995)(Horwitz, 2001)(Dodman, 2009)(Frisby, 2009). Este medicamento

diminui a depleção de dopamina, melhora a atividade das catecolaminas, retarda a

neurodegeneração e reduz a produção de radicais livres no cérebro (Horwitz, 2001).

É usada na dose de 0,5 a 1mg/Kg, por via oral, pela manhã, e muitos proprietários

relatam sinais de melhora dentro das duas primeiras semanas de tratamento

(FRANK, 2002). Caso não haja melhora significativa dentro de 30 dias, pode-se

reajustar a dose e observar os efeitos nos 30 dias subseqüentes (LANDSBERG,

2005). O L-deprenyl é utilizado em conjunto com a L-dopa no tratamento sintomático

de humanos com doença de Parkinson com o objetivo de melhorar a função

cognitiva, a atenção e a memória nesses pacientes (Head, 1996). Em estudo de

Ruehl et al. (23) com cães entre 10 e 15 anos de idade, os resultados também

mostraram aumento da expectativa de vida dos cães recebendo 1 mg/kg de L-

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deprenyl por dia durante 6 meses no mínimo. O mecanismo envolvido neste

processo não está claro, mas acredita-se que tenha relação com seus efeitos

antioxidantes, neuroprotetores e por aumentar o nível de atividade dos neurônios

catecolaminérgicos (por aumento da liberação de catecolaminas mediada por

propagação de impulso), além de possível melhora no funcionamento de outros

sistemas como renal, endócrino e imune. Tem também efeito antioxidante (HEAD,

2001) tanto promovendo uma redução direta na quantidade de radicais livres quanto

aumentando a ação de enzimas que possuem esta função, como a catalase e

superóxido desmutase, além de promover uma diminuição na produção dos radicais

livres devido à inibição da MAO B (LANDSBERG, 2005).

Vasodilatadores cerebrais: os vasodilatadores cerebrais como

propentofilina , pentoxifilina e nicergolina . A nicergolina é um antagonista alfa-

adrenérgico, que promove aumento do fluxo sanguíneo cerebral, intensifica a

transmissão neuronal e tem efeito neuroprotetor sobre as células nervosas. Pode

ainda aumentar a renovação de dopamina e noradrenalina e inibir a agregação

plaquetária. A dose recomendada é de 0,25 a 0,5mg/Kg/dia, pela manhã, por 30 dias

e, posteriormente, mantida, se eficaz.

A propentofilina também pode ser utilizada em processos neurodegenerativos

para melhorar a função cognitiva do cão. Trata-se de uma metilxantina inibidora do

transporte de adenosina que promove efeito neuroprotetor em animais com lesões

isquêmicas cerebrais (Kazuyuki,1993)(Park, 1994) e parece reduzir a progressão da

deterioração cognitiva em pacientes humanos com doença vascular (Mielk, 1996).

Acredita-se que ela inibe a agregação plaquetária e a formação de trombos, torna os

eritrócitos mais flexíveis e aumenta o fluxo sanguíneo. A dose usada é de 3mg/Kg,

duas vezes ao dia. Na América do Norte, onde esta droga não está disponível, há

alguns relatos de melhora com o uso da pentoxifilina, que também pode ter efeitos

no fluxo sanguíneo e nas inflamações (LANDSBERG et al., 2005). A pentoxifilina é

um agente hemorreológico utilizado no tratamento de doença vascular periférica e

cerebral e outras condições que envolvam decréscimo da microcirculação regional.

Este fármaco aumenta a deformabilidade das hemácias, reduzindo a viscosidade

sanguínea e reduzindo o potencial de agregação plaquetária, sendo útil em

processos isquêmicos (Ward, 1987).

Piracetam: É um agente nootrópico, também pode ser utilizado para

melhorar a função cognitiva, embora ainda não esteja estabelecido um mecanismo

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de ação para explicar esta propriedade. Acredita-se que seus efeitos resultem de

uma potencialização de neurotransmissores, entre outros efeitos bioquímicos

(Gouliaev, 1994).

Adrafinil e modafinila: São drogas que intensificam o sistema

noradrenérgico, ajudando a manter a vivacidade mental, vigília, atenção, memória,

aprendizado e a neuroproteção (LANDSBERG et al., 2005). O adrafinil promove

estimulação comportamental, aumentando a atividade locomotora, sem induzir

movimentos estereotipados. Seu principal mecanismo de ação consiste em atuar

como agonista alfa-1 adrenérgico central, sem produzir efeitos simpáticos

periféricos, porém acredita-se que haja outros mecanismos de ação. Esta droga é

capaz de produzir um aumento no estado de vigília, sendo usada em humanos

idosos para esta finalidade, levando a uma melhora da parte cognitiva relacionada à

atenção, concentração, motivação e vigília. Em um estudo realizado com cães da

raça Beagle, aqueles que receberam adrafinil na dose de 20mg/Kg diariamente

apresentaram melhor desempenho em testes de aprendizado discriminatório,

demonstrando a promoção de uma melhora na função cognitiva, levantando a

possibilidade de benefícios do seu uso em cães e humanos com alterações

cognitivas (MILGRAM et al., 2000).

Inibidores da colinesterase: (tacrina, donepezil, rivastigmina) aumentam a

disponibilidade sináptica da acetilcolina por inibir sua degradação, amplamente

usados em humanos com DA por neurônios colinérgicos encontrarem-se em menor

número em estudos post-mortem e parecerem bastante vulneráveis na patogênese

do Alzheimer (HEAD, 2001; INGRAM; WILLIAMS, 2002). Estas drogas melhoram o

status cognitivo de humanos com DA, porém possuem efeitos modestos no geral e

nem todos os indivíduos apresentam boas respostas (HEAD, 2001). Além disso, não

possuem estudos controlados em cães. Sabe-se que a função colinérgica cerebral

está associada à déficits de memória também em animais, havendo deficiências na

memória de trabalho de cães com alterações na transmissão colinérgica

(LANDSBERG, 2005).

Agonistas colinérgicos : citicolina (intermediário na biossíntese da

fosfatidilcolina, um dos principais fosfolipídeos da membrana neuronal (INGRAM;

WILLIAMS, 2002)) e carbacolina e o inibidor de acetilcolinesterase fenserina estão

sendo estudados em cães, parecendo ter bons efeitos sobre memória e

aprendizado, com possível aplicação para cães com DCC (LANSBERG, 2005).

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Fosfatidilserina: A fosfatidilserina é um fosfolipídeo presente na constituição

da membrana celular, associado às proteínas da membrana que regulam a fluidez

das membranas neurais, que podem estar bastante comprometidas em cérebros de

animais idosos. Sua suplementação levou a uma melhora na memória e no

aprendizado de humanos e cães com disfunção cognitiva. A fosfatidilserina facilita

os processos neuronais dependentes da membrana, como transdução de sinais,

liberação de vesículas secretoras e manutenção do meio interno, além de auxiliar na

manutenção dos níveis de neurotransmissores (aumenta a liberação de acetilcolina

e inibe a acetilcolinesterase cerebral, aumenta a síntese e liberação da dopamina),

inibir a perda decorrente da idade de receptores NMDA, receptores colinérgicos

muscarínicos e receptores NGF do hipocampo, normalizar a densidade do fator de

crescimento neurotrópico e aumentar sua síntese e liberação (LANDSBERG, 2005;

OSELLA et al., 2007).

2.7.2 Tratamento Fitoterápico

Gingko Biloba : Estudos com o extrato de gingko biloba sugerem seus efeitos

na estimulação dos sistemas colinérgicos, serotoninérgicos, noradrenérgicos e

glutaminérgicos em animais idosos, além de promover inibição reversível da MAO A

e B, aumentando os níveis de dopamina. Também sugere-se uma proteção dos

neurônios da apoptose induzida pela substância beta-amilóide, possivelmente por

seus efeitos antioxidantes, promoção de um aumento do metabolismo cerebral,

retenção a curto prazo de memória espacial e atividade coadjuvante à

fosfatidilserina (OSELLA et al., 2007; SHI et al., 2010).

No estudo piloto conduzido por OSELLA e colaboradores (2007), um

composto contendo fosfatidilserina, gingko biloba, piridoxina e d-alfa-tocoferol levou

a uma melhora dos sinais clínicos associados à DCC em 8 cães idosos com

alterações em duas ou mais categorias.

2.7.3 Tratamento Hormonal

Estrógenos e testosterona: O uso destas drogas na terapêutica da DCC,

bem como da DA, baseia-se em estudos que mostram que os níveis de hormônios

sexuais podem influenciar na ocorrência de distúrbios cognitivos em humanos e em

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animais (AZKONA et al., 2009). Estudos em humanos demonstraram benefícios na

reposição de estrógenos em mulheres pós-menopausa, levando a uma proteção de

funções cognitivas, sugerindo que esta reposição possa reduzir a incidência ou

retardar o aparecimento de DA nestes casos (MOFFAT et al., 2002; LANDSBERG et

al., 2005; AZKONA et al., 2009). Sugere-se que os estrógenos possam ter efeitos

antiinflamatórios, antioxidantes e que possam levar a um aumento do fluxo

sanguíneo cerebral (LANDSBERG, 2005; LANSBERG et al., 2005).

A testosterona parece ter também um efeito neuroprotetor, conforme sugerido

em diversos estudos em humanos e animais, mostrando melhor desempenho de

homens com maiores níveis sanguíneos de testosterona livre em testes cognitivos

(BARRETT-CONNOR et al., 1999; MOFFAT et al., 2002), retardo na progressão de

uma disfunção cognitiva leve para uma severa em cães não castrados

(LANDSBERG et al., 2005; AZKONA et al., 2009) e melhora no desempenho

cognitivo de camundongos com baixos níveis plasmáticos de testosterona que

receberam reposição hormonal (BIALEK et al., 2004).

O papel dos hormônios sexuais no desenvolvimento de disfunções cognitivas

e o possível benefício de sua reposição para prevenir estes quadros, todavia, não foi

ainda totalmente elucidado (MOFFAT et al., 2002; BIALEK et al., 2004; AZKONA et

al., 2009). Em cães, por exemplo, fêmeas tratadas com estrógenos cometeram

menos erros em um teste de aprendizado reverso de tamanho, porém fêmeas

idosas tratadas com estrógenos cometeram mais erros em testes de memória

espacial (LANDSBERG, 2005; LANSBERG et al., 2005). Portanto, se uma

suplementação hormonal for considerada nestes casos, deve ser feita em níveis

fisiológicos, pois altos níveis podem ser tóxicos (LANDSBERG et al., 2005;

LANDSBERG, 2005).

2.7.4 Suplementos Vitamínicos Antioxidantes

O uso de antioxidantes suplementares na dieta de cães com DCC é

preconizado e visa melhorar as defesas antioxidantes endógenas e diminuir os

efeitos dos radicais livres. Seu uso pode, desta forma, retardar o declínio cognitivo e

melhorar os sinais comportamentais associados com a DCC (LANDSBERG et al.,

2005). O cérebro é particularmente sensível aos efeitos dos radicais livres por

apresentar uma alta taxa de metabolismo oxidativo, alto conteúdo lipídico e uma

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capacidade de regeneração limitada, tendo sido identificados danos oxidativos

generalizados, alta produção de radicais livres e redução nos níveis de vitamina E

nos cérebros de cães com demência (LANDSBERG, 2005).

Vitamina E : vitamina lipossolúvel que protege as membranas celulares de

danos oxidativos; Estudos citados por Milgram et al. (2003) mostram que a

suplementação com vitamina E pode retardar a necessidade de institucionalização

de humanos com DA e o uso de dietas com antioxidantes melhora o desempenho de

Beagles em testes de aprendizado discriminatório. vitamina C , exerce ação

complementar à vitamina E.

vitaminas do complexo B , que além de efeitos antioxidantes e

neuroprotetoras possuem a habilidade de normalizar os níveis de

neurotransmissores, tendo a pirodixina (vitamina B6) efeito sinergístico com a

fosfatidilserina e gingko biloba;

Ácido alfa-lipóico , co-fator para as enzimas respiratórias mitocondriais e

antioxidante;

L-carnitina , envolvida no metabolismo lipídico mitocondrial;

Ômega 3 , que auxilia na manutenção da integridade da membrana celular e

possui efeito anti-inflamatório;

S-adenosilmetionina: Um estudo recente realizado por Rème et al. (2008)

mostrou melhora dos sinais relacionados ao declínio cognitivo em um grupo de cães

idosos com o uso de um suplemento de S-adenosilmetionina, quando comparado

com cães que receberam placebo, sendo que resultados similares já tinham sido

obtidos em estudos com humanos

2.7.5 Dieta

Frutas e vegetais , ricos em flavonóides, carotenóides e outros antioxidantes,

seus efeitos podem ser por ação antioxidante direta ou indireta, através de uma

melhora do metabolismo mitocondrial, com aumento da sua eficiência e redução da

produção de radicais livres. Pode haver ainda uma ação sinergística dos

antioxidantes com os co-fatores enzimáticos mitocondriais, aumentando a fluidez da

membrana mitocondrial por um aumento na proteção contra danos oxidativos.

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Atualmente, existe a ração Hill´s canine b/d®, disponível comercialmente nos

Estados Unidos, mas ainda indisponível no Brasil, enriquecida com antioxidantes e

com eficácia comprovada no tratamento de cães com DCC através de testes

neuropsicológicos (MILGRAM et al., 2003; LANDSBERG, 2005).

2.7.6 Terapias Complementares

Outras substâncias de uso em humanos ou que ainda não possuem estudos

controlados / suficientes em cães incluem: valeriana, melatonina, memantina

(antagonista de receptores NMDA), florais de Bach, antiinflamatórios (ibuprofeno

reduziu o acúmulo de beta-amilóide em estudo com ratos (HEAD, 2001)),

antidepressivos e ansiolíticos (LANDSBERG, 2005).

2.8 Qualidade de Vida

Figura 1 - site: WWW.rebilitacaovet.com.br

Segundo Beard & Beard, a hipótese de que animais de estimação são

dispensáveis ou facilmente repostos é uma séria ameaça para o bem-estar dos

animais idosos. As relações entre os homens e os animais podem depender de

algumas circunstâncias sociais como: personalidade e comportamento dos

proprietários, poder aquisitivo e crença. Entretanto, sabe-se que ao mesmo tempo

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em que o número da população de idosos na sociedade humana está em contínua

expansão, é crescente neste século a população de cães e gatos geriátricos no

mundo, assim como sua frequência nas clínicas veterinárias (Hoskins, 1997).

2.8.1 Exercícios e Enriquecimento Ambiental

Os cães devem permanecer ativos em todas as fases da vida, mesmo com o

avançar da idade. As atividades físicas fazem parte do enriquecimento ambiental

responsável por melhorar a função cognitiva (Araújo, 2005) Christie, 2008).

Entretanto, exercícios muito intensos ou muito longos não são ideais, já que a

reserva cardiorrespiratória do animal está reduzida. Além disso, a existência de dor

ou algum distúrbio funcional pode impor certos limites às caminhadas, que podem se

tornar mais curtas ou divididas em várias caminhadas curtas por dia. Em

determinados casos, a fisioterapia também pode ser indicada para exercitar o animal

(Nash, 2009).

Há também evidências de que a estimulação prolongada através de jogos,

brincadeiras, treinamentos e exercícios pode ajudar a manter a função cognitiva em

cães, tal qual ocorre em humanos (LANDSBERG et al., 2005), e o uso de protocolos

de enriquecimento cognitivo pode melhorar a função cognitiva em cães idosos

(STUDZINSKI et al., 2006). Com estimulação adequada, cães idosos podem se

empenhar em comportamentos exploratórios tanto quanto cães jovens (HEAD et al.,

1997).

O enriquecimento ambiental para animais idosos pode ser realizado através

de treinamentos, brincadeiras, exercícios, oferta de brinquedos novos, manutenção

de uma rotina diária para evitar ansiedade, mudanças graduais no ambiente e na

rotina, quando necessárias, proporcionar atividades durante o dia para que o cão

durma à noite, e adição de odores, sons e diferentes sensações táteis (tapetes,

carpetes) para cães com redução da acuidade auditiva, visual, sensorial e cognitiva,

inclusive para facilitar a identificação de ambientes (LANDSBERG, 2005).

No estudo realizado por Milgram et al. (2003) com cães idosos, utilizou-se um

protocolo de exercícios extras, enriquecimento comportamental, estimulação social e

enriquecimento cognitivo, sendo que todos estes itens já haviam se mostrado

efetivos em estudos anteriores. O enriquecimento comportamental consistiu no

alojamento de cães aos pares, caminhadas com coleira por 30 minutos duas vezes

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por semana, e disponibilidade de brinquedos em seus canis, sendo estes trocados

semanalmente. O enriquecimento cognitivo consistiu em treinamentos de

aprendizado discriminatório. Estudos com humanos demonstraram que experiência

cognitiva prévia, como maior nível educacional, retarda o declínio cognitivo em fases

avançadas da vida. Acredita-se que o enriquecimento cognitivo possa aumentar a

flexibilidade comportamental, modulando o declínio cognitivo decorrente da idade,

ou possa afetar a estrutura cerebral, com aumento do número de sinapses. Até

então sabia-se que modificações ambientais precoces podiam afetar o aprendizado

canino em fases posteriores da vida, porém o protocolo utilizado melhorou o

desempenho dos cães idosos nos testes cognitivos, demonstrando que o

enriquecimento comportamental pode ser efetivo, mesmo quando iniciado em uma

idade mais avançada. Todavia, o que se mostrou mais efetivo foi a combinação do

protocolo de enriquecimento comportamental associado a uma dieta com

suplementos antioxidantes, sugerindo efeito sinérgico desta associação.

A introdução de um filhote na casa pode ser benéfica para o cão idoso, pois

poderá proporcionar um aumento de sua atividade física e de sua estimulação

cerebral. Porém, as chances de sucesso serão maiores se o cão idoso estiver com

sua mobilidade, visão e audição preservadas e não estiver sentindo dores (27).

http://www.drsfostersmith.com/pic/article.cfm?aid=239 [2009 jan.26] a.

2.8.2 Adaptação Ambiental

A adaptação ambiental pode proporcionar um local sempre acessível e

seguro para o cão idoso. Ela pode incluir a instalação de rampas, carpetes e portões

de segurança em locais estratégicos. Também podem ser utilizados acessórios

como fraldas descartáveis, cobertores, camas ortopédicas, dispositivos

antiderrapantes, alças de sustentação (“Peg Lev”), coletes salva-vidas, entre outros.

Independentemente do tratamento instituído, as medidas para melhorar o conforto,

higiene e a segurança do cão idoso devem ser sempre recomendadas (Kandra,

2009).

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2.9 PREVENÇÃO DA DISFUNÇÃO COGNITIVA CANINA

Tentativas para melhorar a qualidade de vida do animal geriátrico,

geralmente, enfocam a perda funcional de um ou mais órgãos, logo, a identificação

correta da provável alteração patológica poderá oferecer bases para a prevenção

dessas perdas. (Mosier, 1989)

Considerando-se o grande número de cães de companhia e sua estreita

relação com os proprietários e seu progressivo aumento na expectativa de vida, o

investimento em pesquisas para o desenvolvimento de tratamentos eficazes para

DCC e intervenções que retardem os processos de envelhecimento em geral serão

benéficos não só para os cães, mas também para os seus proprietários. Melhores

métodos para o diagnóstico da DCC possibilitarão a identificação de indivíduos que

possam se beneficiar de intervenções precoces para melhorar sua qualidade de vida

(INGRAM; WILLIAMS, 2002).

2.9.1 Programa de Saúde Geriátrico

A realização de um programa de saúde geriátrico abrangente é de suma

importância. Os exames de rotina possibilitam o diagnóstico precoce de alterações

funcionais, o estabelecimento de medidas preventivas e o acompanhamento de

diversos distúrbios (Hoskins,1995). Segundo Epstein et al. poucos proprietários

levam seus cães para realizarem exames de rotina, o que pode estar associado à

falta de claras recomendações da equipe veterinária. A periodicidade recomendada

para os exames é semestral para animais idosos hígidos ou várias vezes ao ano

para aqueles com alguma enfermidade que necessite de acompanhamento

frequente (Metzger, 2005). Durante o exame clínico é necessário avaliar a presença

de alterações nos diversos sistemas. A intensidade e a freqüência de alterações

físicas, sensoriais e comportamentais devem ser avaliadas. O animal deve ser

pesado e avaliado em relação à hidratação, coloração das mucosas, temperatura

corpórea, escore de condição corporal, simetria muscular, glicemia e pressão

arterial. Deve-se proceder com a auscultação cardiopulmonar, otoscopia, palpação

abdominal, palpação de linfonodos superficiais, toque retal e palpação cuidadosa

das cadeias mamárias e dos testículos. Se necessário, devem ser realizados exame

neurológico e ortopédico (Hoskins, 1995)(Nash, 2009). O hemograma completo e o

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perfil bioquímico para avaliação da função renal e parâmetros hepáticos devem ser

sempre solicitados nos exames de rotina. A urinálise também é importante e pode

evidenciar diversos distúrbios (Metzger, 2005). Outros exames, como

ultrassonografia abdominal, radiografias, urocultura, avaliação oftalmológica,

eletrocardiograma, ecocardiograma, dosagens hormonais, dosagem de frutosamina,

exame coproparasitológico, raspados de pele, cultura de pêlos, PCR para Ehrlichia

canis, citologia de linfonodos, punção aspirativa por agulha fina, biópsia incisional ou

excisional, dosagens de eletrólitos, hemogasometria e tomografia computadorizada

devem ser feitas se houver indicação após o exame clínico ou após os exames

laboratoriais de rotina (Hoskins, 1995). Mesmo sem indicação clínica pode ser

importante realizar radiografias da coluna vertebral, ultrassonografia abdominal e

ecocardiografia para detectar lesões iniciais e realizar acompanhamento clínico

durante a senescência (Nash, 2009). A vacinação de cães idosos envolve um

debate em relação à duração da resposta imune e sobre quais seriam as vacinas

apropriadas para esses cães (Metzger, 2005). De qualquer maneira, sabe-se que

alterações no sistema imunológico dos cães idosos os deixam mais susceptíveis a

adquirir doenças infecciosas e menos resistentes às consequências espoliativas de

uma infestação parasitária (Dall’ara, 2003)(Markham, 1989)(Freitas,2006). Assim, o

controle rígido de vacinação e de vermifugação deve ser mantido (Hoskins, 1995)

(Nash, 2009). A higiene dentária apropriada também constitui uma parte vital do

programa de saúde geriátrico, visando diminuir a incidência de doença orgânica

interna a partir da bacteremia pós-prandial e anacorese nos cães que apresentam

periodontopatias severas (Hoskins, 1995).

Apesar de se preocupar com a qualidade de vida de seus cães, a maioria dos

proprietários não fica atenta às manifestações clínicas do cão até que elas se

tornem graves, o que certamente afeta o prognóstico da doença. Assim, a educação

do proprietário é de extrema importância para o sucesso do programa de saúde

geriátrico, que deve incluir orientações a respeito da nutrição, cuidados preventivos,

exercícios, processo de envelhecimento normal, neoplasias e perda do animal de

estimação (Hoskins, 1995).

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É importante ressaltar que os cuidados com cães idosos devem ser iniciados

o mais precoce possível, entre 6 a 8 anos de idade, apresentando para o proprietário

um programa de saúde para toda a vida do cão. Os objetivos da geriatria na

Medicina Veterinária, principalmente na área de clínica médica são: conhecer os

processos fisiológicos do envelhecimento, minimizar a deterioração progressiva,

proporcionar maior tempo de vida e fornecer essencialmente melhor qualidade de

vida ao animal.

Com o avanço da idade ocorre uma redução gradual das capacidades

funcionais de diversos órgãos e, devido ao grande número de mudanças nesta fase

da vida, os cães idosos requerem cuidados especiais sendo necessário salientar a

importância de um Programa de acompanhamento Geriátrico. Este programa visa a

educação do proprietário em relação ao processo de envelhecimento e a

manutenção da qualidade de vida do cão idoso, o que exige dedicação diária.

Agindo de forma preventiva ao aparecimento de doenças e retardando a progressão

de distúrbios patológicos do envelhecimento.

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