desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO TECNOLÓGICO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS ANDRÉ LUIZ GEROMEL PRETTE DESENVOLVIMENTO DE ESMALTES CERÂMICOS: APLICAÇÃO EM ISOLADORES ELÉTRICOS DE ALTO DESEMPENHO FLORIANÓPOLIS, ABRIL DE 2007.

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Page 1: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO TECNOLÓGICO

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS

ANDRÉ LUIZ GEROMEL PRETTE

DESENVOLVIMENTO DE ESMALTES CERÂMICOS: APLICAÇÃO EM ISOLADORES ELÉTRICOS DE ALTO DESEMPENHO

FLORIANÓPOLIS, ABRIL DE 2007.

Page 2: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO TECNOLÓGICO

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS

ANDRÉ LUIZ GEROMEL PRETTE

DESENVOLVIMENTO DE ESMALTES CERÂMICOS: APLICAÇÃO EM ISOLADORES ELÉTRICOS DE ALTO DESEMPENHO

FLORIANÓPOLIS, ABRIL DE 2007.

Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais da Universidade Federal de Santa Catarina como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciência e Engenharia de Materiais. Orientador: Prof. Dr.-Ing Márcio Celso Fredel Co-orientador: Prof. Dr. Eng. Orestes E. Alarcon

Page 3: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

ANDRÉ LUIZ GEROMEL PRETTE

DESENVOLVIMENTO DE ESMALTES CERÂMICOS:

APLICAÇÃO EM ISOLADORES ELÉTRICOS DE ALTO DESEMPENHO

Esta dissertação foi julgada adequada para obtenção do título de Mestre em

Ciências e Engenharia dos Materiais e aprovada em sua forma final pelo

Programa de Pós-Graduação em Ciências e Engenharia dos Materiais da

Universidade Federal de Santa Catarina.

Banca Examinadora:

FLORIANÓPOLIS, ABRIL DE 2007.

Prof. Márcio Celso Fredel Dr.-Ing. Orientador EMC/UFSC

Profª. Ana Maria Maliska Drª. Coordenadora – PGMAT

EMC/UFSC

Prof. Orestes Estevam Alarcon Dr. Eng. Co-Orientador EMC/UFSC

Prof. Guilherme Mariz de Oliveira Barra Dr.Eng. EMC/UFSC

Prof. Hazim Ali Al-Qureshi PhD EMC/UFSC

Etney Neves Dr. Eng. Diretor Executivo do IGCB

Page 4: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

Ficha Catalográfica

PRETTE, André Luiz Geromel

DESENVOLVIMENTO DE ESMALTES CERÂMICOS: APLICAÇÃO EM ISOLADORES

ELÉTRICOS DE ALTO DESEMPENHO, Florianópolis, UFSC, Curso de Pós-Graduação

em Engenharia de Materiais, 2006.

xv, 77 p.

Dissertação de Mestrado: Engenharia de Materiais.

Orientador: Prof. Dr.-Ing. Márcio Celso Fredel

Co-Orientador: Prof. Dr. Eng. Orestes Estevam Alarcon

1. Esmaltes cerâmicos 2. Isoladores elétricos 3. Semicondutor

I. Universidade Federal de Santa Catarina.

II. Título

Page 5: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

“Algo só é impossível até que alguém duvide e acaba provando o contrário.”

(Albert Einstein)

Page 6: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

Sumário RESUMO _______________________________________________________ xiv

ABSTRACT _____________________________________________________ xv

1 INTRODUÇÃO _________________________________________________ 16

1.1 Contextualização e Justificativa _________________________________ 16

1.2 Objetivos __________________________________________________ 18

1.2.1 Objetivo geral____________________________________________ 18

1.2.2 Objetivos específicos______________________________________ 18

2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS _____________________________________ 20

2.1 Formação dos arcos__________________________________________ 20

2.2 Métodos para atenuação do problema ___________________________ 22

2.2.1 Superfície Autolimpante ___________________________________ 24

2.2.2 Superfície Hidrófoba ______________________________________ 26

2.3 Esmaltes semicondutores _____________________________________ 27

2.3.1 Introdução ______________________________________________ 27

2.3.2 Utilização de Esmaltes Semicondutores à Base de Fe2O3 _________ 31

2.3.3 Utilização de Esmaltes Semicondutores à Base de TiO2 __________ 31

2.3.4 Utilização de Semicondutores à Base de SnO2/Sb2O3 ____________ 32

3 METODOLOGIA ________________________________________________ 35

3.1 Materiais___________________________________________________ 35

3.1.1 Esmalte Tradicional _______________________________________ 35

3.1.2 Esmalte Base ___________________________________________ 35

3.1.3 Componente Semicondutor_________________________________ 36

3.1.3.1 Óxido de Estanho (SnO2) _______________________________ 36

3.1.3.2 Óxido de Antimônio (Sb2O3) _____________________________ 36

3.1.3.3 Pigmento Semicondutor ________________________________ 36

3.1.4 Esmalte Semicondutor ____________________________________ 37

3.1.5 Massa e corpo do Isolador _________________________________ 37

3.2 Métodos ___________________________________________________ 38

3.2.1 Preparação do pigmento semicondutor________________________ 38

3.2.2 Preparação e aplicação do esmalte semicondutor _______________ 38

3.2.3 Caracterização microestrutural ______________________________ 39

3.2.3.1 Microscopia Eletrônica de Varredura ______________________ 39

Page 7: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

3.2.3.2 Difração de raios-X ____________________________________ 40

3.2.3.3 Inspeção Visual_______________________________________ 41

3.2.4 Análises Dilatométricas ____________________________________ 42

3.2.5 Resistência Mecânica _____________________________________ 42

3.2.6 Resistência ao Choque térmico______________________________ 44

3.2.7 Testes de Resistividade Elétrica _____________________________ 45

3.2.8 Câmara Salina___________________________________________ 49

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ____________________________________ 52

4.1 Microscopia eletrônica de varredura _____________________________ 52

4.1.1 Matérias-primas__________________________________________ 52

4.1.2 Esmalte semicondutor _____________________________________ 53

4.2 Difração de raios-X___________________________________________ 55

4.2.1 Matérias-primas__________________________________________ 55

4.2.2 Esmaltes semicondutores __________________________________ 58

4.3 Inspeção Visual _____________________________________________ 59

4.4 Dilatometria ________________________________________________ 60

4.5 Resistência mecânica ________________________________________ 61

4.6 Resistência ao choque térmico _________________________________ 63

4.7 Resistividade elétrica _________________________________________ 63

4.8 Câmara Salina ______________________________________________ 64

5 CONCLUSÕES_________________________________________________ 72

6 SUGESTÕES __________________________________________________ 74

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _________________________________ 75

Page 8: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Representação esquemática da ocorrência de flashover (Abdelaziz,

2004). .................................................................................................. 21

Figura 2 – Microdinâmica de formação do Flashover (adaptado de Karady, 1995).

............................................................................................................ 21

Figura 3 – Mecanismo de autolimpeza por hidrofilicidade. (Guan, 2004:159)...... 25

Figura 4 – Gota de água sobre uma folha de Lótus (Barthlott, 2005)................... 26

Figura 5 – Micrografia de uma folha de Lótus e esquema das nano ceras. (Dumé,

2005). .................................................................................................. 27

Figura 6 – Distribuição de corrente nos diferentes tipos de esmalte (adaptado de

Matsui, 1997)....................................................................................... 30

Figura 7 – Ilustração da aplicação de um filme de Fe2O3 utilizado como filtro de

radiofreqüência.................................................................................... 31

Figura 8 – Ilustração do isolador a ser esmaltado e testado. ............................... 37

Figura 9 – Geometria das roldanas utilizadas para teste da qualidade superficial

do esmalte. .......................................................................................... 37

Figura 10 – Esquema do recobrimento realizado................................................. 40

Figura 11 – Esquema de corte e observação em MEV. ....................................... 40

Figura 12 – Comparação visual entre os acabamentos superficiais do esmalte

tradicional e dos esmaltes semicondutores......................................... 41

Figura 13 – Equipamento de ensaio de resistência à flexão a três pontos. ......... 42

Figura 14 – Distribuição de tensão trativa no ensaio de flexão à 3-pontos. ......... 43

Figura 15 – Distribuição de tensão trativa no ensaio de flexão à 4-pontos. ......... 43

Figura 16 – Esquema do ensaio realizado em isoladores do tipo pilar. ............... 44

Figura 17 – Configuração básica para medidas de resistividade superficial

(Maryniak, 2003).................................................................................. 45

Figura 18 – Esquema de medida pelo método das 4-pontas. .............................. 46

Figura 19 – Esquema mostrando o contato de uma sonda com quatro pontas

colineares e eqüidistantes sobre uma amostra de dimensões semi-

infinitas. ............................................................................................... 47

Figura 20 – Esquema de ligação nos testes em barras esmaltadas e megôhmetro

utilizado nas medidas de isolamento................................................... 49

Page 9: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

Figura 21 – Disposição dos isoladores no ensaio em câmara salina (Mayer, 2006).

............................................................................................................ 51

Figura 22 – Micrografia do óxido de estanho. ...................................................... 52

Figura 23 – Micrografia do óxido de antimônio..................................................... 52

Figura 24 – Grânulos de SnO2. ............................................................................ 52

Figura 25 – Grânulos de Sb2O3. ........................................................................... 52

Figura 26 – Micrografia do esmalte ESC1............................................................ 53

Figura 27 – Micrografia do esmalte ESC8............................................................ 53

Figura 28 – Micrografia do esmalte tradicional..................................................... 54

Figura 29 – Micrografia da camada esmaltada com dispersão da fase

semicondutora. .................................................................................... 54

Figura 30 – Micrografia do esmalte tradicional em teste preliminar de

condutividade. ..................................................................................... 55

Figura 31 – Micrografia do esmalte semicondutor em teste preliminar de

condutividade. ..................................................................................... 55

Figura 32 – Espectro de difração de raios-X para o óxido de estanho (JCPDS 21-

1250). .................................................................................................. 56

Figura 33 – Espectro de difração de raios-X para o óxido de antimônio (JCPDS

11-689). ............................................................................................... 56

Figura 34 – Espectro de difração de raios-X para o pigmento semicondutor

preparado. ........................................................................................... 57

Figura 35 – Espectro de DRX comparativo entre as matérias-primas e o pigmento

semicondutor. ...................................................................................... 58

Figura 36 – Espectro de difração de raios-X para o esmalte tradicional. ............. 59

Figura 37 – Espectro de difração de raios-X para o esmalte semicondutor. ........ 59

Figura 38 – Qualidade do acabamento superficial dos primeiros testes com pilares

25kV. ................................................................................................... 59

Figura 39 – Corpo de prova preparado com o novo lote de ESC1 para teste visual.

............................................................................................................ 60

Figura 40 – Curva de Weibull comparando as resistências à flexão do esmalte

desenvolvido, esmalte tradicional e massa do isolador....................... 62

Figura 41 – Isolador #1 com esmalte ESC1 após 72 horas de teste em câmara

salina. .................................................................................................. 71

Figura 42 – Isolador #2 com esmalte ESC1 ao final do teste em câmara salina.. 71

Page 10: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Parâmetros utilizados no ensaio de resistividade superficial.............. 46

Tabela 2 – Exemplo de plano de ensaio dos isoladores. ..................................... 49

Tabela 3 – Coeficientes de dilatação do corpo cerâmico e esmaltes estudados. 61

Tabela 4 – Resistência mecânica dos esmaltes e massa (valores em [MPa]). .... 61

Tabela 5 – Resultados da análise de Weibull....................................................... 62

Tabela 6 – Primeiro ensaio realizado em câmara salina...................................... 64

Tabela 7 – Parâmetros de ensaio para o quarto teste em câmara salina. ........... 67

LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Parâmetros de processo utilizados na literatura................................ 33

Quadro 2 – Óxidos que compõem o esmalte base. ............................................. 35

Page 11: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Variação da resistividade em função da temperatura (adaptado de

Higushi, 1978). .................................................................................... 29

Gráfico 2 – Ciclo térmico em forno túnel. ............................................................. 39

Gráfico 3 – Média móvel4 da corrente de fuga medida no primeiro ensaio em

câmara salina. ..................................................................................... 65

Gráfico 4 – Média móvel da corrente de fuga medida no segundo ensaio em

câmara salina. ..................................................................................... 66

Gráfico 5 – Média móvel da corrente de fuga medida no terceiro ensaio em

câmara salina. ..................................................................................... 66

Gráfico 6 – Corrente de fuga RMS para os isoladores ESC1 no quarto ensaio em

câmara salina. ..................................................................................... 68

Gráfico 7 – Corrente de fuga RMS para os isoladores ESC8 no quarto ensaio em

câmara salina. ..................................................................................... 69

Gráfico 8 – Corrente de fuga RMS para os isoladores ETG no quarto ensaio em

câmara salina. ..................................................................................... 69

Gráfico 9 – Desenvolvimento da corrente de terceiro harmônico no quarto teste

em câmara salina. ............................................................................... 70

Page 12: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS ETG – Esmalte tradicional;

ESC – Esmalte semicondutor;

T – Temperatura [K];

R – Resistividade superficial;

C.A. – Corrente alternada; D.C. – Corrente contínua;

σ – Tensão característica;

σ – Tensão média;

σ 50 – Tensão em 50% de falha

m – Módulo de Weibull;

r² – Quadrado do coeficiente de correlação do momento do produto de

________ Pearson;

U – Tensão elétrica;

I – Corrente elétrica;

L – Comprimento;

D – Largura;

σ – Condutividade;

ρ – Resistividade;

i – Corrente elétrica;

V – Tensão elétrica;

s – Distância;

F – Fator de correção de forma;

α – Coeficiente de expansão térmica linear.

Page 13: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

AGRADECIMENTOS

Primeiramente à Deus pelo dom da vida;

À minha eterna companheira Tatiane Eufrásio, pela dedicação, incentivo e

apoio no decorrer da elaboração deste trabalho e também pela paciência que teve

comigo nos momentos difíceis;

Ao meu mentor e orientador Prof. Márcio Fredel, pela oportunidade de

realizar este trabalho e pelas elucidações às minhas dúvidas;

Ao Prof. Orestes Alarcon pelo convite de realização desta pesquisa e pela

co-orientação neste trabalho;

À toda minha família pelo apoio moral e material;

Ao colega Rodrigo Ullmann pelo apoio e companheirismo nas viagens e

visitas em campo, também pelas diversas correções e contribuições realizadas

neste trabalho;

Aos grandes amigos Ivan Berzins, Fábio Volpato e Vinicius Bianchezzi que

mesmo não estando presentes ao meu lado, me apoiaram e ajudaram à distância;

À todos os colegas e colaboradores que direta ou indiretamente

contribuíram com a pesquisa, elaboração e finalização deste trabalho.

Page 14: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

RESUMO

As descargas disruptivas em isoladores elétricos são problemas que

podem impossibilitar a transmissão e distribuição de energia elétrica. Isoladores

utilizados em regiões com alta salinidade ou poluição atmosférica estão mais

sujeitos a falhas devido a ocorrências de descargas disruptivas. Neste trabalho,

avaliou-se a ação de pigmentos semicondutores formados por 95% em peso de

SnO2 dopado com 5% de Sb2O3 e aplicados a isoladores elétricos de alta-tensão

com o propósito de melhorar o seu desempenho. O mecanismo de atuação do

esmalte semicondutor é o aquecimento ôhmico e a distribuição mais homogênea

da corrente elétrica pela superfície do isolador. Consequentemente há uma

redução no número de interrupções na transmissão e distribuição de energia

elétrica devido a descargas disruptivas. As características e as propriedades dos

esmaltes desenvolvidos foram avaliadas através de ensaios de microscopia

eletrônica de varredura, difração de raios-X, resistividade superficial e câmara

salina. Nos testes de resistência ao choque térmico e dilatometria avaliou-se o

acoplamento entre o esmalte desenvolvido e a massa utilizada. A resistência

mecânica foi aumentada em 13% devido ao menor coeficiente de expansão

térmica do esmalte. Os pigmentos semicondutores formulados e adicionados à

base 30% em peso em um esmalte cerâmico formam um esmalte semicristalino

que possui propriedades semicondutoras, e aplicados a isoladores de alta-tensão

reduziu o número e a severidade das descargas disruptivas, quando comparados

a isoladores elétricos tradicionais. Com os testes realizados em câmara salina,

constatou-se que esmaltes semicondutores podem desenvolver temperaturas

superficiais de 55°C e admitir grandes quantidades de sal depositado, sob alta-

tensão, sem que ocorra o desenvolvimento de flashover em sua superfície.

Page 15: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

ABSTRACT

The flashovers that occur in electrical insulators are problems that can

cause shutdowns in the transmission and distribution line of electrical energy.

Insulators placed in regions with high salinity or atmospheric pollution are more

susceptible to failure due to occurrences of flashover. In this work was evaluated

the action of semiconductors pigments formed by 95%wt of SnO2 doped with

5%wt of Sb2O3 and applied to high-voltage electrical insulators with the purpose of

higher performance. The actuation mechanism of semiconductor is the ohmic

heating and the more homogeneous electrical current distribution through the

surface of insulator. Consequently there is a reduction in numbers of shutdown in

transmission and distribution line of electrical energy caused by flashover. The

characteristics and the properties of developed glazes was evaluate with the help

of scanning electron microscopy, x-ray diffraction, surface resistivity and salt-

spray chamber tests. In the thermal schock tests and thermal expansion

coefficient determination was evaluated the glaze-body fit. The mechanical

resistance was increased in 13% due to the lower thermal expansion coefficient

achieved. It was added 30%wt of the developed semiconductors pigments to a

ceramic glaze that forms a semicrystalline glaze with semiconductor properties

and applied to high-voltage insulators it reduced the numbers and the severity of

flashovers when compared with standard insulators. With the tests realized in salt-

spray chamber, it was verified that semiconductors glazes can develop surface

temperature about 55°C and endure large quantities of deposited salt, under high-

voltage, without the development of flashover in their surface.

Page 16: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

16

1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA

As redes de distribuição de energia elétrica podem ter seu desempenho

afetado quando submetido à poluição provinda de regiões industriais ou

litorâneas, devido ao depósito de impurezas e sais em suspensão no ar, que são

carregados pela ação dos ventos e se acumulam na superfície dos isoladores.

Estas impurezas formam uma camada de poluição que em determinadas

condições pode dar origem a arcos, e causar o desligamento da rede de

fornecimento de energia elétrica (Leite, 1985)(Lima, 2006, comunicação pessoal).

Para atenuar essa interrupção, em locais mais críticos, foi adotada a

lavagem dos isoladores. Porém, este processo não resolve o problema de forma

definitiva e possui um custo operacional elevado. Contextualização.

Necessita-se, então, desenvolver uma técnica ou solução para o problema

de arcos ocorridos na rede de distribuição de energia elétrica, ou pelo menos,

encontrar uma forma mais eficiente e economicamente viável de atenuar este

problema.

Os isoladores cerâmicos utilizados para fixação dos fios e cabos aéreos

apresentam um bom desempenho quando colocados em uso nas redes de

distribuição de energia elétrica não críticas. A porcelana utilizada é um excelente

isolante, com resistência dielétrica adequada e boa resistência às intempéries.

São inertes, estáveis e podem suportar considerável quantidade de arcos

elétricos sem degradação comprometedora (Lima, 2006, comunicação pessoal).

A superfície do isolador é composta de óxidos metálicos que possuem alta

energia superficial e que confere elevado caráter hidrofílico ao isolador. Esta alta

molhabilidade pode ocasionar a formação de uma película de água sobre a peça,

que, se for contínua pode conduzir corrente e fechar um arco. Em decorrência

disto fica incapacitada a transmissão de energia elétrica pela rede, o que

caracteriza o fenômeno denominado flashover (Liebermann, 2002).

O flashover é um problema que constantemente se agrava com o aumento

contínuo da poluição e a crescente concentração de indústrias próximas ao litoral.

A poluição e os sais depositam-se com o passar do tempo sobre a superfície do

Page 17: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

17

isolador até alcançar uma concentração tal que, em presença de umidade, podem

formar uma película contínua condutora e causar o flashover (Liebermann, 2002).

A utilização de isoladores elétricos em linhas de distribuição localizadas em

regiões que estão sujeitas à névoa salina e poluição atmosférica muitas vezes

encontram-se em situação de risco, uma vez que os isoladores tradicionalmente

utilizados no Brasil (cerâmicos) não têm uma performance adequada em função

da ocorrência de flashovers, ou descargas disruptivas.

A causa destas descargas é decorrente do depósito de resíduos de

poluição ou névoa salina que, associados à presença de umidade, resultam em

um eletrólito que permite a passagem de corrente ao longo do isolador. Com base

nestes aspectos, há duas maneiras de se atuar sobre o problema: evitar a

contaminação do isolador ou evitar a presença de umidade.

Atualmente a solução empregada é evitar a contaminação através da

manutenção periódica destes isoladores (processo de limpeza, lavagem), que

dessa forma elimina o acúmulo de contaminantes na superfície da peça

(Liebermann, 2002)(Lima, 2006, comunicação pessoal). Esta é uma situação que

demanda alto tempo de operação, implica em custos elevados e nem sempre se

mostra eficiente, uma vez que, mesmo com as limpezas, flashovers são

freqüentemente observados nas linhas de transmissão de energia (Abdelaziz,

2004)(Leite, 1985)(Lima, 2006, comunicação pessoal).

Como a presença de contaminantes é inevitável, outras soluções são

estudadas no sentido de impedir a formação de filmes líquidos na superfície do

isolador e a conseqüente formação do eletrólito condutor. Considerando a não

formação de um eletrólito na superfície do isolador, duas são as principais

estratégias utilizadas atualmente:

• Deposição de um material hidrofóbico (polímeros) na superfície do

isolador (graxas ou filmes aplicados por tecnologias mais avançadas)

ou mesmo a fabricação de isoladores integralmente em material

polimérico;

• Utilização de esmaltes semicondutores para promover o aquecimento

da superfície e evitar, assim, a presença de umidade, além de

possibilitar uma distribuição homogênea de tensão elétrica ao longo do

isolador.

Page 18: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

18

Em algumas regiões são utilizadas graxas à base de petróleo e silicone

(Liebermann, 2002). É conhecido que hidrocarbonetos, fluorcarbonetos e silicones

têm baixa energia de superfície e são hidrofóbicos. O filme polimérico formado

repele as gotículas de água, o que dificulta a formação de uma película contínua

condutora e a conseqüente passagem de corrente elétrica.

Uma prática desenvolvida na década de 90 (Liebermann, 2002) foi utilizar

recobrimento de borracha de silicone vulcanizada à temperatura ambiente sobre

os isoladores cerâmicos com a finalidade de melhorar a performance elétrica da

peça quando em presença de poluição e névoa salina. Esta prática alia a

resistência mecânica e dielétrica da cerâmica à hidrofobicidade do filme

polimérico.

Todas as alternativas acima citadas são plausíveis de uso e podem,

eventualmente, serem estudadas e colocadas em produção industrial, no entanto,

com o intuito de minimizar o impacto das mudanças nas linhas de produção já

existentes, neste trabalho serão estudados somente esmaltes semicondutores

que promovam um aquecimento superficial e uma distribuição homogênea de

corrente. Isto se justifica, pois assim, o processo industrial de produção dos

isoladores se manteria o mesmo, com a alteração somente na composição dos

esmaltes, que possuirão propriedades semicondutoras.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

Como objetivo geral deste trabalho tem-se o desenvolvimento de esmaltes

cerâmicos semicondutores de alto desempenho para serem aplicados em

isoladores elétricos de alta tensão os quais serão colocados em regiões

susceptíveis à poluição intensa e névoa salina.

1.2.2 Objetivos específicos

• Reduzir a ocorrência de descargas disruptivas nos isoladores elétricos com

base na alteração do esmalte que o recobre;

• Definir o comportamento de materiais semicondutores à base de SnO2

quando inseridos em esmaltes cerâmicos;

Page 19: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

19

• Avaliar a estabilidade térmica dos esmaltes semicondutores obtidos;

• Avaliar o comportamento do esmalte desenvolvido em laboratório quando

submetido a ciclo industrial;

• Constatar o aquecimento por efeito Joule e a distribuição homogênea de

tensão na superfície do isolador;

• Estimar a vida útil do isolador com esmalte semicondutor através de ensaio

em câmara salina, conforme a norma NBR10621, para simular condições

severas de uso.

Page 20: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

20

2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS

2.1 FORMAÇÃO DOS ARCOS

A formação de arcos devido à contaminação dos isoladores é um dos

problemas mais críticos encontrados em linhas de transmissão e distribuição de

energia, uma vez que resulta em diversos problemas como, por exemplo, a

degradação do esmalte, a interferência em equipamentos que trabalham em

radiofreqüência e, em casos mais extremos, a interrupção da transmissão de

energia elétrica. A macro e a microdinâmica de formação destes arcos, seguem

algumas etapas.

Para a macrodinâmica de formação dos arcos, seguem, as etapas do

processo ilustrado esquematicamente na Figura 1:

• Deposição de contaminantes: correntes de ar levam poluição seca à

superfície do isolador

• Umidificação da superfície: umidade, orvalho, névoas e chuvas umedecem

a superfície do isolador, que dissolve os contaminantes e forma um

eletrólito condutor. Este eletrólito diminui a resistência na superfície e uma

corrente de fuga é gerada.

• Aquecimento ôhmico e formação de bandas secas: a energia é dissipada

pela corrente de fuga na forma de calor, o resultado é a evaporação da

umidade. Devido à geometria do isolador a corrente tende a se concentrar

em determinadas regiões (locais de menor secção reta), com isso, estas

são secas mais rapidamente. Devido à secagem não uniforme na

superfície do isolador são formadas bandas secas, interrompendo o fluxo

de corrente ao longo da superfície.

• Formação de arcos parciais e correntes disruptivas: a tensão existente

entre as bandas secas, que podem ter apenas alguns centímetros de

altura, gera descargas no ar e a banda seca é ultrapassada por arcos

elétricos. A corrente disruptiva (ou flashover) ocorre quando as descargas

ultrapassam as regiões úmidas ainda existentes no isolador.

Page 21: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

21

Figura 1 – Representação esquemática da ocorrência de flashover (Abdelaziz, 2004).

A) Deposição de contaminantes. B) Umidificação da Superfície. C) Formação de bandas secas e arcos parciais. D) Flashover

A microdinâmica do processo de formação dos arcos, conforme Karady,

1999, assim como as etapas para a geração dos arcos parciais, podem ser

observadas na Figura 2.

Figura 2 – Microdinâmica de formação do Flashover (adaptado de Karady, 1995).

Como citado anteriormente a total deposição de poluentes sobre a

superfície dos isoladores é inevitável sendo possível apenas reduzi-la. Orvalho,

neblina, chuva leve ou alta umidade produzem gotas na superfície do isolador

como mostrado na Figura 2A. Sais dos poluentes, já depositados, se dissolvem

nas gotas de água que se tornam condutoras e geram uma camada resistiva ao

redor de cada gota como vista na Figura 2B.

O molhamento contínuo da superfície aumenta a densidade de gotas sobre

a mesma unindo-as e resultando em uma superfície condutora formada por água

e sais. A voltagem sobre o isolador gera uma pequena corrente de fuga através

das camadas condutoras, aquecendo o eletrólito que aumenta sua resistência

A B C D

Page 22: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

1 corona - Em eletricidade, uma descarga de corona é uma descarga elétrica produzida pela ionização de um fluido nas redondezas de um condutor, a qual ocorre quando o gradiente elétrico excede certo valor, mas as condições são insuficientes para causar um arco elétrico.

22

devido à perda de água (em geral os poluentes sólidos são maus condutores). Em

decorrência disto, pequenas bandas secas se formam. O desenvolvimento de

bandas secas interrompe o fenômeno da corrente de fuga.

O aumento da intensidade do campo elétrico pode ocasionar descargas

corona1 na superfície, resultando no espalhamento da água sobre a superfície, e

na formação filamentos, como os mostrado na Figura 2C.

A condução elétrica dos filamentos reduz a distância entre os eletrodos e

aumenta o campo entre eles, se o campo elétrico local for maior que 20kV/cm

ocorrem descargas pontuais, Figura 2D.

A corrente de fuga flui através do caminho condutor secando a superfície.

Isto resulta na interrupção do fluxo e formação de regiões secas separadas, as

regiões úmidas estão distribuídas aleatoriamente na superfície, Figura 2E.

Os fenômenos descritos se repetem até que haja um arco unindo os

eletrodos e gerando o flashover (Figura 2F) ou até que uma região seca grande o

suficiente seja produzida eliminando o risco de flashover. (Karady, 1999)

2.2 MÉTODOS PARA ATENUAÇÃO DO PROBLEMA

Tendo em vista os problemas gerados pelas descargas elétricas ou

flashover, algumas técnicas são utilizadas no sentido de atenuar a sua formação,

como as citadas abaixo:

- Aumento da distância de escoamento através da modificação do

design do isolador: Atualmente uma distância mínima de

escoamento (expressa em mm/kV) é adotada dependendo do grau

de poluição existente. Porém, mesmo com a utilização de grandes

distâncias, os flashovers não são evitados por completo.

- Eliminação da sujeira, através de lavagens periódicas: Processo

que, além de dispendioso, também não soluciona por completo o

problema, uma vez que o acúmulo de contaminantes se dá entre os

períodos de limpeza.

- Utilização de uma superfície hidrofóbica: Como os materiais

cerâmicos são tipicamente hidrófilos, em função do caráter

covalente de suas ligações químicas, um filme de água é facilmente

formado em sua superfície. A utilização de compostos apolares,

Page 23: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

23

como, por exemplo, o silicone, evita a formação de filmes

minimizando assim a ocorrência de flashover. Estes polímeros

podem ser aplicados na forma de graxas como também através de

tecnologias mais sofisticadas como plasma e spray coating. Em

alguns casos o isolador é inteiramente fabricado de material

polimérico.

- Aplicação de esmaltes semicondutores: A utilização destes esmaltes

foi proposta há anos e inibe a formação de arcos através de pelo

menos dois mecanismos:

• distribuição uniforme da tensão ao longo do isolador, uma vez

que o esmalte permite o fluxo de corrente, e diminui assim a

tensão entre as regiões úmidas, o que evita a formação de arcos.

• aquecimento da superfície através de efeito Joule, e

conseqüente eliminação da umidade.

Dentre estes métodos é possível observar que, os mecanismos que

possibilitaram maior eficiência na eliminação das correntes disruptivas são: a

utilização de superfícies hidrofóbicas e a aplicação esmaltes semicondutores.

Diversos trabalhos apresentam comparativos entre isoladores que se utilizam

destes artifícios e os isoladores tradicionais, onde os resultados mostram que:

• a tensão que pode ser aplicada em isoladores com esmaltes

semicondutores é o dobro daquela suportada por isoladores cerâmicos

tradicionais, em testes de laboratório sob umidade e contaminação com sal

(Matsui, 1997) e até três vezes maior após utilização em campo durante 24

meses em ambientes sujeitos a poluição química e névoa salina

(Sangkassad, 2000);

• a tensão que pode ser aplicada em isoladores com esmaltes

semicondutores é levemente superior aquelas suportadas por isoladores

de silicone em testes de laboratório sob umidade e contaminação com sal

(Matsui, 1997) e após utilização em campo durante 24 meses em

ambientes sujeitos a poluição química e névoa salina (Sangkassad, 2000);

• quando aplicados em diferentes regiões sujeitas a contaminações salinas e

petroquímicas, isoladores com esmalte semicondutor não apresentaram

Page 24: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

24

flashover após utilização média de 15 anos, enquanto em isoladores

tradicionais, mesmo com lavagens periódicas, ocorrem flashovers (Baker,

1990)

• a condutividade gerada pela formação de eletrólito (ou seja, descontada a

condutividade resultante do caráter semicondutor do esmalte) na superfície

de isoladores com esmalte semicondutor é significativamente menor em

testes de laboratório sob poluição quando comparadas aos isolantes

tradicionais ou recobertos com silicone (Kato, 2000);

• a atividade corona é significativamente inferior para isolantes com esmaltes

semicondutores, quando comparados a isolantes tradicionais ou de silicone

(Matsui, 1997).

Estes resultados mostram que a utilização de esmaltes semicondutores

traz benefícios significativos quando comparados aos isoladores tradicionais e

têm performance equivalente ou superior aos isoladores poliméricos.

Uma questão que por vezes surge com relação à utilização deste material

diz respeito às perdas de potência decorrentes da corrente de fuga necessária

para que se tenha o efeito resistivo e aquecimento de superfície. Sobre estas

perdas pode-se afirmar que são pequenas quando comparadas a outras, como

pelo efeito corona por resistência do condutor (Matsui, 1997).

No caso de esmaltes semicondutores, existem no mercado alguns tipos de

isoladores que já utilizam deste método como camada de proteção. São utilizados

óxido de estanho (SnO2) dopado com óxido de antimônio (Sb2O3) que propiciam à

superfície um aquecimento ôhmico e uma melhor distribuição de cargas elétricas

(Fontanesi, 1998).

Há também esmaltes a base de hematita (Fe2O3), que foi um dos primeiros

materiais utilizados como esmalte semicondutor, porém, este apresenta um alto

nível de corrosão eletrolítica e instabilidade térmica. Os esmaltes à base de

hematita são normalmente utilizados como filtro de rádio freqüência

(Rosenblatt, 1976).

2.2.1 Superfície Autolimpante

Uma das maneiras de se evitar os arcos é o desenvolvimento de uma

superfície auto-limpante que pode ser conseguida com a utilização da fase

Page 25: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

25

anatásio (óxido de titânio - TiO2), pois, este é um potente composto

fotocatalisador capaz de quebrar praticamente qualquer composto orgânico

(Frazer, 2001) (Reddy, 2002).

Durante os anos 70, cientistas descobriram que o TiO2 absorve, do

espectro solar, energia UV com comprimento de onda de 385 nanômetros e, em

presença de vapor de água, duas substâncias altamente reativas são formadas:

radicais hidroxil [OH-1] e;

íons super-óxidos [O2-1].

Os radicais hidroxil são oxidantes muito fortes e atacarão todo tipo de

composto orgânico, incluindo células vivas (Frazer, 2001).

Segundo Guan, K. et. al. (2003), adições de SiO2 na titânia, reduzem o

ângulo de contato da água durante irradiações UV. A variação ótima existe para

40 mol% de SiO2 para TiO2, com efetiva redução no ângulo de contato da água.

SiO2 e TiO2 formam partículas óxidas simples nos filmes, mas uma menor parte

forma óxidos complexos com ligações Ti-O-Si, esses óxidos aumentam o caráter

ácido da superfície, deixando-a hidrofílica e com capacidade de adsorver água em

ambientes escuros.

Neste caso o processo se dá pela interação da água com os buracos

deixados quando átomos de oxigênio são ejetados do material pela redução dos

átomos de Ti+4 para Ti+3, com isso os grupos OH da água ocupam as vagas

deixadas pelo oxigênio e assim conferem à superfície o caráter hidrofílico (Guan,

2004). O mecanismo hidrofílico de autolimpeza é mostrado na Figura 3.

Figura 3 – Mecanismo de autolimpeza por hidrofilicidade. (Guan, 2004:159).

a) Água adsorvida na superfície. b) Impedimento da adsorção de contaminantes. c) Limpeza pela água.

Page 26: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

26

A limitação que existe no uso de superfícies autolimpantes, em isoladores

elétricos, é o fato de que esta camada ativa deve estar exposta ao tempo, ou seja,

deve ser uma camada depositada. Não sendo possível produzi-la no mesmo

processo produtivo que se fabricam isoladores cerâmicos tradicionais, que

possuem na sua superfície, inevitavelmente, uma camada de esmalte vítreo.

Para utilização deste método de limpeza seria necessário um processo

posterior à produção, uma deposição de camada por métodos como, CVD

(Chemical Vapor Deposition), PVD (Physical Vapor Deposition) ou mesmo

Spraycoating.

2.2.2 Superfície Hidrófoba

Como os materiais cerâmicos são normalmente hidrofílicos, em função do

caráter covalente de suas ligações químicas, um filme de água é facilmente

formado na superfície. Pode-se alterar o caráter de uma superfície de diversas

maneiras, pelo recobrimento da superfície com polímeros apolares ou utilização

de outros compostos hidrófobos.

Existem no mercado atual isoladores produzidos inteiramente de polímero,

bem como inúmeras maneiras de se obter uma superfície hidrófoba, utilizando-se

de diferentes formas de recobrimento, por simples pintura, deposição através de

PVD, entre outros.

A superfície hidrófoba funcionaria evitando a formação de um filme

contínuo de água, uma vez que todo o vapor de água ou névoa salina que entre

em contato com a superfície forma pequenas gotículas que são facilmente

removidas pela ação da gravidade.

Idealmente, o que se tenta obter em relação a superfícies hidrófobas é um

mecanismo semelhante ao Efeito Lotus, apresentado na Figura 4, onde se

observa uma gota de água sobre uma folha de Lotus, superfície considerada

super-hidrófoba.

Figura 4 – Gota de água sobre uma folha de Lótus (Barthlott, 2005).

Page 27: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

27

O caráter super-hidrófobo da folha de Lotus deve-se a uma combinação de

fatores em sua superfície, micro-estruturas (células) e nano-estruturas (cristais de

cera) que minimizam a área de contato superficial, como pode ser observada na

Figura 5.

A dificuldade existente em produzir um isolador com a superfície

super-hidrófoba, como a folha de Lótus, é devido ao fato de que durante o

transporte ou na colocação pode haver choques e arranhões nas superfícies,

dessa forma as micro-estruturas ou nano-estruturas podem ser danificadas e

assim não cumpririam a função para qual foram projetadas.

2.3 ESMALTES SEMICONDUTORES

2.3.1 Introdução

Esmaltes semicondutores são produzidos comercialmente desde os anos

de 1970, sendo que deve ser levado em conta, além das vantagens já

apresentadas, o fato de que é observado na superfície dos mesmos um

envelhecimento no decorrer do tempo. Este faz com que haja uma redução da

condutividade e também deterioração das suas propriedades.

Para que um esmalte semicondutor atue de forma efetiva existem algumas

características que devem ser observadas, dentre as quais se podem destacar:

Resistividade Adequada: o material semicondutor deve ter uma

resistividade adequada para permitir os efeitos esperados (aquecimento por efeito

Joule e uniformização da tensão no material). Valores de resistividade para

Figura 5 – Micrografia de uma folha de Lótus e esquema das nano ceras. (Dumé, 2005).

Page 28: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

2 (Ω/²) - A unidade física para resistividade superficial é Ohm (Ω), para não haver confusão entre resistividade superficial e resistividade volumétrica, e para diferenciar ambas, a resistividade superficial é usualmente expressada como Ohm/quadrado ou Ohm/2 ou Ohm/cm2 (Higushi, 1978) (Rosenblat, 1976) (Maryniak, 2003)

28

superfície na ordem de 11-200 [MΩ/²]2 são sugeridos (Rosenblatt, 1976)(Higushi,

1978), e empregados em diversos trabalhos (Fontanesi, 1998).

Estabilidade térmica: os semicondutores apresentam uma variação de

resistividade com a temperatura, conforme a equação 1, o que é indicado pelo

coeficiente de temperatura da resistividade. Este coeficiente é, na maioria das

vezes, negativo, ou seja, à medida que existe um aumento na temperatura a

resistividade do material diminui.

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−=

00

11expTT

BRR equação 1 (Higushi, 1978)

Onde:

R: Resistividade superficial (MΩ/2) em temperatura T (K)

R0: Resistividade superficial (MΩ/2) em temperatura T0 (K)

B: Constante (K)

Da equação 1, o coeficiente da temperatura (α) da resistividade elétrica é

definido como:

2

1TB

dTdR

R−=⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛=α equação 2 (Higushi, 1978)

Segundo a equação 2, a taxa de decrescimento da resistividade superficial

resulta do aumento da temperatura e é maior quanto maior for o valor de B.

A constante B pode possuir valores que variam de algumas centenas à

alguns milhares como sugere Higushi, 1978. De forma ilustrativa, os valores de B

para materiais como Fe2O3 podem possuir valores da ordem de 3000 a 5000 K, já

para o SnO2 esses valores ficam entre 1000 a 2500 K.

O Gráfico 1 ilustra como se comporta, em relação à mudança de

temperatura, a resistividade superficial de compostos como a hematita (Fe2O3) e o

óxido de estanho dopado com óxido de antimônio (SnO2-Sb2O3). Nota-se que a

variação no valor de B altera significantemente os valores de resistividade

superficial.

Page 29: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

29

Gráfico 1 – Variação da resistividade em função da temperatura (adaptado de Higushi, 1978).

De forma a facilitar a comparação entre diferentes semicondutores, uma

segunda maneira de se expressar esta propriedade é através da “meia

temperatura”, T, que corresponde à diferença de temperatura necessária para que

a resistividade caia para 50% do seu valor inicial. Desta forma busca-se um alto

valor de “T”, de forma que a resistividade não seja significativamente afetada por

flutuações da temperatura em serviço. Além disso, uma “meia-temperatura” baixa

pode resultar num colapso do semicondutor, em função do efeito cascata de

diminuição da resistividade e aumento de temperatura, chegando a uma

condutividade excessivamente alta.

Estabilidade química: um dos problemas que pode ser encontrado em

função da formulação do esmalte é a sua degradação. Este fenômeno pode ser

acentuado pela passagem de corrente, que promove processos eletroquímicos de

corrosão quando na presença de um eletrólito (Higushi, 1978).

Acoplamento com material base: a formulação do esmalte deve ter um

coeficiente de expansão térmica adequado de forma a haver um acoplamento

adequado com o corpo do isolador. Tipicamente, o coeficiente de expansão

térmica do esmalte deverá ser inferior ao do corpo cerâmico, de forma a permitir

um estado de tensão compressiva na camada superficial, e assim, aumentar a

resistência mecânica do componente.

A utilização de esmaltes semicondutores inibe a formação de arcos devido

ao fato de poderem distribuir uniformemente a tensão sobre eles aplicada,

Resistividade X Temperatura

0 5

10 15 20

25 30

35 40

20 40 60 80 100 120 140 160

Temperatura (°C)

Rei

stiv

idad

e S

uper

ficia

l (M

Ohm

/²)

SnO2-Sb2O3

Fe2O3

Page 30: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

30

reduzindo assim a diferença de tensão gerada entre as bandas secas que se

formam sobre sua superfície. Ocorre também o aquecimento da superfície pela

ação da passagem de corrente elétrica pelo esmalte semicondutor. Conforme é

mostrado na Figura 6.

Esmalte Semicondutor

Esmalte Semicondutor

Esmalte Tradicional

Massa do Isolador

Flashover

Massa do Isolador

Massa do Isolador

Corrente de Fuga

Corrente de Fuga

Corrente de Fuga

Banda seca Eletrólito condutorEletrólito condutor

Banda seca Eletrólito condutorEletrólito condutor

Banda seca

A

B

C

Figura 6 – Distribuição de corrente nos diferentes tipos de esmalte (adaptado de Matsui, 1997).

A Figura 6A mostra o fluxo de corrente elétrica em um isolador fabricado

com esmalte tradicional. Vê-se que, quando se forma uma banda seca entre as

bandas condutoras a corrente, já em fluxo por dentro do eletrólito, tende a

continuar passando de um eletrodo ao outro. Devido à isolação promovida pela

banda seca, a única maneira da corrente continuar em fluxo é ionizar o ar à sua

volta e constituir o flashover.

Em um isolador fabricado com esmalte semicondutor, Figura 6B, quando

ocorre a formação de uma banda seca, isolante, a corrente tende a continuar em

fluxo e, como a condutividade do esmalte é ligeiramente maior que a do ar, esta

inevitavelmente busca o meio que oferece menor resistência à sua passagem.

Dessa forma, a corrente elétrica é desviada para a camada de esmalte que a

distribui uniformemente e, devido ao efeito Joule, aquece a superfície e acelera

sua secagem; isto aumenta ainda mais a distância entre as bandas secas, o que

dificulta a ocorrência de flashover (Figura 6C).

Page 31: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

31

2.3.2 Utilização de Esmaltes Semicondutores à Base de Fe2O3

A hematita (Fe2O3) foi um dos primeiros materiais propostos para utilização

em esmaltes com comportamento semicondutor, porém, esta apresenta

problemas de corrosão eletrolítica (dissolução da fase semicondutora), além de

ser termicamente instável (Rosenblatt, 1976) (Higushi, 1978).

Apesar de ser um dos materiais de menor custo para esta aplicação, a

hematita promove uma coloração escura no esmalte e um aspecto áspero da

superfície, o que dificulta sua comercialização e pode ocasionar um maior

acúmulo de poluição sobre o isolador. Atualmente a hematita é utilizada em

esmaltes para isoladores elétricos como sendo um filtro para rádio freqüências,

conhecidos como Isoladores Rádio Tratados (RT). O esmalte é aplicado somente

na região que toca um dos condutores e não é utilizada sua propriedade de

aquecimento pelo fato de não passar corrente através do esmalte, Figura 7.

Figura 7 – Ilustração da aplicação de um filme de Fe2O3 utilizado

como filtro de radiofreqüência.

2.3.3 Utilização de Esmaltes Semicondutores à Base de TiO2

Outro material estudado como fase condutora em esmaltes foi a titânia

sub-estequimétrica. Uma vez que se trata, no caso específico, de um óxido

deficiente em oxigênio, a fórmula mais apropriada é TiO2-x, onde x é determinado

pela quantidade de defeitos iônicos na rede. Esta deficiência de oxigênio

possibilita a existência de portadores de carga responsáveis pelo caráter

semicondutor do material. Esmaltes fabricados a partir deste material são

considerados instáveis (Baker, 1990), uma vez que as descargas que ocorrem no

isolador fornecem energia suficiente para que o material oxide de forma completa,

perdendo-se desta forma suas propriedades semicondutoras (Rosenblat, 1976).

Esmalte semicondutor

(Fe2O3)

Page 32: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

32

2.3.4 Utilização de Semicondutores à Base de SnO2/Sb2O3

Além da utilização de Fe2O3 e TiO2, um terceiro material proposto é o óxido

de estanho, o qual possui algumas propriedades óticas e elétricas muito

específicas. O óxido de estanho puro é um semicondutor intrínseco com energia

de Gap igual a 3,6 eV e, após sua dopagem com 5% em peso de Sb2O3, essa

energia decai para 0,14 eV (Aguiar 2004)(Ovenston, 1994). Uma das

possibilidades para se modificar as propriedades elétricas deste material é

através da utilização de dopantes, os quais permitem que este passe a ter um

caráter semicondutor.

Dentre os dopantes para o óxido de estanho que já foram estudados,

óxidos de antimônio (Sb2O3 e Sb2O5) se mostraram como aqueles que conferem

uma maior condutividade ao material (Ogawa, 1972). A condutividade elétrica do

SnO2 pode ser aumentada em muitas ordens de grandeza pela dopagem com

Sb2O3 (Ovenston, 1994). Neste caso, através de um tratamento térmico

adequado, tem-se a difusão substitucional de átomos de antimônio na rede do

óxido de estanho. Uma vez que o antimônio possui um elétron de valência a mais

que o estanho, este passa a portar portadores de cargas livre que possibilitam a

condução elétrica no material. Como a condução se dá por elétrons, o material

pode ser classificado como um semicondutor extrínseco tipo n (Masona, 2002).

Além da alta condutividade, este material apresenta um coeficiente de

resistência da temperatura de valor baixo e negativo, bem como boa estabilidade

térmica e química. Devido a estas características a utilização deste material para

fabricação de esmaltes semicondutores foi proposta há vários anos, com patentes

datando do início dos anos 70 (Higuchi, 1978).

A rota mais comum para obtenção deste material é a mistura e a moagem

da matéria-prima (SnO2 e Sb2O3) e o subseqüente tratamento térmico, permitindo,

então, a formação do semicondutor (Ogawa, 1972).

O semicondutor pode ser preparado à parte, na forma de um aditivo, para

posterior adição ao esmalte. Ou, alternativamente, as matérias-primas podem ser

adicionadas diretamente na composição no esmalte, de forma que durante a

queima ocorra a formação da fase desejada. Existe uma razão ideal entre óxido

de antimônio e óxido de estanho que deve ser empregada, de forma a se atingir a

condutividade apropriada. Da mesma maneira, existe uma quantidade de material

Page 33: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

33

adequada a ser adicionada no esmalte, de forma a permitir uma continuidade da

fase condutora. Alguns parâmetros de processo citados em trabalhos já

realizados estão sumarizados no Quadro 1.

Quadro 1 – Parâmetros de processo utilizados na literatura.

Razão em massa

de Sb2O3/SnO2

Quantidade em

massa do

semicondutor no

esmalte

Rota de Processamento Referência

5% ~30% Moagem, calcinação (1000 °C/4 h),

esmaltação, queima (1250 °C/5 min)

(Aguiar, 2004)

5% ~23-26% Moagem, calcinação, esmaltação,

queima (1250 °C)

(Ullrich, 2005)

Diversos Diversos Moagem, esmaltação e queima direta

(1100 °C/ 50 min) (Fontanesi, 1998)

0 – 15% - Moagem e calcinação (1000 °C/1 h) (Ovenston, 1994)

Além das matérias-primas básicas, alguns aditivos ou modificações são

propostos na fabricação de esmaltes a base de SnO2/Sb2O3, como por exemplo:

• a utilização de óxido de nióbio (Nb2O5) em teores próximos de 1%,

permitindo uma melhor resistência à corrosão, menor coeficiente de

temperatura da resistividade (Matsui, 1997), bem como uma melhor

distribuição de resistividade ao longo do esmalte (Higuchi, 1980);

• a utilização de um estanato (como, por exemplo, CaSnO3) no lugar do

óxido de estanho para possibilitar que propriedades elétricas sejam menos

suscetíveis às temperaturas de tratamento térmico, além de garantir um

menor coeficiente de temperatura da resistividade (Rosenblatt, 1976).

Para a obtenção de materiais eletrônicos também existem evidências de

que a adição de óxido de cobre melhora a sinterabilidade do material, resultando

em peças de maior densidade aparente (Mihaiu, 2001).

Com relação à estabilidade térmica dos óxidos envolvidos na preparação

deste semicondutor, percebe-se que em ensaios de DTA/TG até 1350oC

nenhuma reação ou perda de massa é observada para o SnO2, enquanto que

Page 34: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

34

para o Sb2O3, um pico exotérmico é observado na região de 440-660oC, atribuído

à reação de oxidação do Sb2O3, e um pico endotérmico é observado em 1160oC,

atribuído à evaporação do material (Sb2O4) (Mihaiu, 2001).

Ovenston (1994) mostrou que SnO2 dopado com Sb2O3 forma uma solução

sólida total do antimônio na rede cristalina do estanho, pois estes dois elementos

satisfazem aos requisitos segundo Hume-Rotery (1935), dentre eles:

• Os raios iônicos são semelhantes;

Para Sn4+ tem-se 0,067 nm e para Sb5+ tem-se 0,062 nm.

• Há pouca diferença de eletronegatividade;

• Ambos possuem estrutura cristalina semelhante

SnO2 – tretagonal e Sb2O3 – ortorrômbico).

O óxido de estanho dopado com óxido de antimônio, na proporção de 5%

em peso de Sb2O3, é usado como catalisador em reações químicas devido ao fato

de haver um aquecimento em sua superfície quando exposto à energia de

radiofreqüência. Este aquecimento pode ser gerado por campos elétricos C.A. e

dessa forma aquecer a superfície do óxido promovendo uma secagem rápida e

homogênea (Ovenston, 1994).

Page 35: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

35

3 METODOLOGIA

3.1 MATERIAIS

3.1.1 Esmalte Tradicional

Como base comparativa para os novos esmaltes desenvolvidos, utilizou-se

um esmalte tradicional comumente aplicado nos corpos cerâmicos em teste.

A utilização deste esmalte foi necessária para que se pudesse verificar a

qualidade superficial dos esmaltes desenvolvidos, bem como as propriedades

físicas dos mesmos (resistência mecânica, coeficiente de expansão térmica

linear, resisitividade superficial entre outros).

O esmalte tradicional será designado neste trabalho pela sigla ETG.

3.1.2 Esmalte Base

Para a preparação do esmalte semicondutor foi necessário desenvolver um

esmalte base ao qual foi misturado o pigmento semicondutor.

Com o intuito de não modificar, de forma extremamente abrupta, a linha de

produção de isoladores elétricos cerâmicos da empresa parceira neste projeto,

fabricante A, foram testadas algumas formulações de esmaltes que pudessem ser

utilizadas sem que houvesse perdas em resistência mecânica ou qualidade

superficial.

Os componentes óxidos dos quais se prepararam os esmaltes

desenvolvidos encontram-se no Quadro 2.

Quadro 2 – Óxidos que compõem o esmalte base. Óxido metálico

SiO2 Al2O3 Na2O K2O MgO Fe2O3 CaO P2O5 TiO2

Page 36: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

³ pureza - Dados fornecidos pela empresa fornecedora B.

36

As matérias-primas utilizadas foram fornecidas pela própria empresa

fabricante sob a forma de minerais compostos, argilas, feldspatos, caulins entre

outros.

As matérias-primas encontravam-se na forma bruta, ou seja, como rochas,

pedras ou argila. As mesmas foram previamente cominuídas e medida a sua

umidade relativa para que não houvesse erros na pesagem das matérias-primas,

uma vez que certas matérias-primas adsorvem grande quantidade de água.

3.1.3 Componente Semicondutor

3.1.3.1 Óxido de Estanho (SnO2)

A matéria-prima, SnO2, foi caracterizada anteriormente à mistura com óxido

de antimônio. Foram realizadas análises de microscopia eletrônica de varredura,

difração de raios-X e análise térmica simultânea. Para esse óxido o grau de

pureza³ é de 99,96%.

3.1.3.2 Óxido de Antimônio (Sb2O3)

Assim como o óxido de estanho, o óxido de antimônio foi analisado por

microscopia eletrônica de varredura, difração de raios-X e análise térmica

simultânea. Também para o óxido de antimônio a pureza³ é de 99,96%.

3.1.3.3 Pigmento Semicondutor

O pigmento semicondutor, composto de óxido de estanho e óxido de

antimônio, foi fornecido pela empresa fornecedora B, também parceira neste

projeto. A matéria-prima possui partículas inferiores a 1 µm de diâmetro.

O componente óxido foi fornecido, já preparado (misturado e calcinado) na

forma de pó com coloração acinzentada, umidade medida próxima de 0,8% e

composição variando conforme solicitação.

Page 37: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

37

3.1.4 Esmalte Semicondutor

O esmalte semicondutor foi obtido a partir da mistura do esmalte base com

proporções específicas de pigmento semicondutor. Esta adição faz com que o

esmalte base, que é um material isolante, torne-se semicondutor. A rede formada

pelo pigmento semicondutor deve percolar todo o esmalte com o papel de

conduzir a corrente elétrica.

Os esmaltes semicondutores desenvolvidos serão tratados como ESC

seguidos por um número que designa a ordem em que foram desenvolvidos.

3.1.5 Massa e corpo do Isolador

Para comprovar a eficácia e o funcionamento do esmalte desenvolvido este

foi aplicado sobre a superfície de uma massa porcelânica seca e que

posteriormente foram queimados em fornos a gás natural com atmosfera

oxidante. Os isoladores utilizados possuem geometria conforme visto na Figura 8.

Figura 8 – Ilustração do isolador a ser esmaltado e testado.

Para verificação da qualidade superficial foram efetuados testes de queima

em roldanas, pois estas possuem a mesma composição da massa do isolador,

porém, com tamanho e peso menores. Os ciclos de queima de ambas as peças

serão descritos a seguir. A Figura 9 mostra a geometria das roldanas utilizadas

nos testes de qualidade superficial e acabamento dos esmaltes.

Figura 9 – Geometria das roldanas utilizadas para teste da qualidade superficial do esmalte.

Page 38: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

38

3.2 MÉTODOS

3.2.1 Preparação do pigmento semicondutor

O pigmento semicondutor foi preparado pela empresa fornecedora B,

conforme solicitado, misturando-se os óxidos de estanho e de antimônio nas

proporções de 95% de SnO2 e 5% de Sb2O3. As matérias-primas foram dispostas

em um moinho de bolas revestido de alumina e com corpos moedores também de

alumina e, a seguir, foram moídos e homogeneizados por 15 minutos sendo,

posteriormente, calcinados a 1050 °C por 3 horas.

Optou-se pela proporção 95-5, pois, segundo diversos autores, Ovenston

(1994), Fontanesi (1998), Aguiar (2004) e Ullrich (2005), estas quantidades

proporcionam uma maior condutividade elétrica do material.

3.2.2 Preparação e aplicação do esmalte semicondutor

O esmalte semicondutor foi preparado misturando-se entre 10% e 40% em

peso do pigmento semicondutor com o esmalte base utilizado na produção dos

isoladores elétricos de alta-tensão. Foram testadas formulações com fração

mássica de 15%, 20%, 30% e 40% de pigmento semicondutor.

Para a preparação do esmalte semicondutor (ESC), as matérias-primas

constituintes do esmalte base foram dosadas e então acrescidas ao pigmento

semicondutor e a seguir foram moídas em moinho de bolas até que 95% das

partículas estivessem menores que 44 µm. Para essa verificação, a cada hora

parava-se o moinho e 100 ml do esmalte eram retirados, secos, passados na

peneira e pesados. A densidade da suspensão foi ajustada para se enquadrar à

densidade utilizada na empresa, que fica em torno de 1,45 g/cm³ e assim, otimizar

a esmaltação.

Após a obtenção do esmalte, na forma de uma suspensão de partículas em

água, a massa do isolador, já na geometria final, foi imersa na suspensão do

esmalte por um período de 5 segundos. Posteriormente à imersão, as peças

foram postas para secar e a seguir colocadas em um forno para que fossem

sinterizadas. Cada tipo de corpo de prova foi colocado no respectivo forno ao qual

fora projetado; as roldanas e pinos para testes eram colocados em forno túnel

com ciclo de queima de 36 horas e patamar de temperatura a 1265 °C, conforme

Page 39: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

39

Gráfico 2. Devido ao tamanho e massa, o ciclo de queima padrão que se utiliza

para isoladores do tipo pilar 25 kV é realizado em forno tipo câmara (em

bateladas) com 46h de ciclo e com patamar programado de 1250°C durante 7,5h.

Gráfico 2 – Ciclo térmico em forno túnel.

3.2.3 Caracterização microestrutural

Tanto as matérias-primas quanto o pigmento semicondutor preparado e os

esmaltes desenvolvidos foram caracterizados por Microscopia Eletrônica de

Varredura (MEV) e Difração de Raios-X (DRX), além de uma análise visual da

superfície do esmalte.

3.2.3.1 Microscopia Eletrônica de Varredura

Para as analises de microscopia eletrônica de varredura utilizou-se um

aparelho da marca Philips, modelo DL-30, equipado com analisador de energia de

raios-x emitidos modelo EDAX, marca Oxford. O equipamento se encontra nas

dependências do Laboratório de Materiais (LABMAT) da Universidade Federal de

Santa Catarina (UFSC).

Foram obtidas imagens por elétrons secundários (SE), que possuem

melhor definição de formas e profundidade, e elétrons retroespalhados (BSE), que

evidenciam melhor as diferenças de composição na região analisada.

Para se ter uma idéia aproximada do caráter semicondutor do esmalte,

algumas amostram foram parcialmente recobertas com material condutor de

Ciclo Térmico em Forno Túnel (30h)

0 200 400 600 800

1000 1200 1400

0 5 10 15 20 25 30 35

Tem

pera

tura

(ºC

)

Forno tunel 02

Tempo (h)

Page 40: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

40

forma que, se estas fossem condutoras, poderiam conduzir a pequena corrente

gerada pelo MEV e, assim, não haver carregamento eletrônico na superfície.

A Figura 10 mostra um esquema de como ocorreu o recobrimento das

amostras. Normalmente, amostras isolantes devem ser totalmente recobertas e

aterradas para que não haja acúmulo de elétrons em sua superfície e dessa

forma possam ser obtidas micrografias com alta definição. No entanto, apenas

metade da superfície das amostras foi recoberta, ficando a outra metade sem

recobrimento.

Figura 10 – Esquema do recobrimento realizado.

As amostras foram cortadas e analisadas conforme esquema abaixo,

Figura 11. Obtiveram-se então micrografias vistas de cima Figura 11A, e também

observando a camada de esmalte pela lateral Figura 11B.

Figura 11 – Esquema de corte e observação em MEV.

3.2.3.2 Difração de raios-X

As análises por difração de raios-X foram realizadas em um equipamento

da marca Philips, modelo X’pert, e os parâmetros de análise foram os mesmos

para todas as amostras estudadas, abaixo descritos:

— Radiação = Cu Kα

— Passo = 0,05

— Tempo por passo = 2s

— Ângulo de varredura = 20° - 100°

Fita adesiva protetora

Superfície recoberta

Massa

Esmalte

Esmalte Massa

Vista lateral (B)

Vista superior (A)

Page 41: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

41

As amostras das matérias-primas óxidas analisadas estavam na forma de

pó e foram colocadas sobre o porta-amostra do aparelho de análise. Já os

espectros de raios-X dos esmaltes analisados foram obtidos cortando-se uma fina

camada superficial, com aproximadamente 3 mm de espessura, camada esta que

contém a superfície esmaltada e fixada no equipamento. A região de corte da

amostra a ser analisada esta mostrada na Figura 11A onde a seta indica a

superfície em estudo. Para identificação das fases presentes, utilizou-se o banco

de dados JCPDS.

3.2.3.3 Inspeção Visual

Para a inspeção visual foram utilizadas roldanas, constituídas do mesmo

material do isolador pilar no qual o esmalte será aplicado para comercialização.

Na Figura 12 tem-se um exemplo de como as roldanas foram utilizadas para

inspeção visual, é possível visualizar dois esmaltes semicondutores (ESC1, e

ESC5) e entre eles o esmalte tradicional (ETG).

ESC1 ETG ESC5

Figura 12 – Comparação visual entre os acabamentos superficiais do esmalte tradicional e dos esmaltes semicondutores.

Este teste possui caráter comparativo e tem a finalidade de indicar qual

esmalte possui a superfície mais semelhante ao ETG, que é considerado o

padrão para os testes. Além disso, é possível também verificar a presença de

partículas grossas na suspensão (pela formação de rugosidades), pouca

presença de fundentes (pelo “aspecto de casca de laranja”), e observar como o

esmalte se comporta após o tratamento de queima, bem como a adequação do

esmalte às temperaturas de queima.

Page 42: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

42

3.2.4 Análises Dilatométricas

A análise dilatométrica foi realizada independentemente no corpo cerâmico,

no esmalte tradicional e no esmalte semicondutor. É necessário que o esmalte

aplicado sobre a peça cerâmica tenha um coeficiente de dilatação térmica linear

menor que o coeficiente de dilatação térmica da massa, pois dessa forma, no

resfriamento do produto, após a etapa de queima, tensões compressivas serão

aplicadas ao esmalte, aumentando a resistência mecânica final do componente.

Para os testes de dilatometria, pequenos cilindros com 20 mm de

comprimento e aproximadamente 5 mm de diâmetro, foram confeccionados, e

dispostos em um equipamento de análise produzido pela BP Engenharia, modelo

RB-3000. As análises foram realizadas em atmosfera ambiente com taxa de

aquecimento de 10 °C/min.

3.2.5 Resistência Mecânica

Os testes de resistência mecânica foram realizados em dois tipos de

corpos de prova, o primeiro tipo foram cilindros com aproximadamente 200 mm de

comprimento e 10 mm de diâmetro; o segundo teste foi realizado em um

dispositivo que simula o esforço realizado pelo cabo elétrico, com o ensaio sendo

realizado nos próprios isoladores fabricados.

Para o ensaio em pinos, realizou-se suas rupturas por ensaio de flexão a

3-pontos utilizando equipamento da marca Netzsch, com uma velocidade de

carregamento aproximada de 8 N/s, terceira escala de velocidade do aparelho, na

escala de 600 N de aplicação máxima de carga. A Figura 13 mostra o

equipamento utilizado nos ensaios de resistência à flexão de pinos.

Figura 13 – Equipamento de ensaio de resistência à flexão a três pontos.

Page 43: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

43

Os ensaio em pinos foram realizados por flexão à 3-pontos pois as normas

utilizadas exigem tal modo de ensaio. No entanto, a distribuição do carregamento

trativo aplicado na barra mostra-se como sendo não uniforme e com região de

tração máxima concentrada no centro do corpo de prova, logo abaixo do punção

superior. Existe a possibilidade de realização do ensaio de flexão à 4-pontos em

cuja distribuição de tensão trativa encontra-se melhor distribuída por um

comprimento maior do corpo de prova sendo mais homogênea e uniforme na

região localizada entre os dois punções superiores. Os esquemas de distribuição

de tensão resultante nos ensaios de flexão a 3 e 4-pontos são mostrados nas

Figura 14 e Figura 15 respectivamente.

Figura 14 – Distribuição de tensão trativa no ensaio de flexão à 3-pontos.

Figura 15 – Distribuição de tensão trativa no ensaio de flexão à 4-pontos.

Após obtenção das cargas de ruptura de cada pino submetido a teste de

resistência à flexão três pontos são calculadas as tensões de ruptura de cada

pino em N/mm2, sendo posteriormente determinadas as tensões características

(σ), módulo de Weibull (m), média das tensões (σ ) e tensão resultante em 50%

de falha (σ 50), através do levantamento da curva de Weibull.

Weibull é um método estatístico utilizado para avaliar o desempenho de

materiais cerâmicos que relaciona tensão de ruptura com probabilidade de falha

do material, através de uma tensão característica, σ, cuja probabilidade de falha é

de 63,2%. O módulo de Weibull (m) indica a confiabilidade e repetibilidade do

experimento, para valores de m acima de 20, os resultados são altamente

repetitivos.

O teste de resistência mecânica em produtos finais, isolador tipo pilar, é

realizado através do seu engaste em máquina de tração universal, através de sua

Page 44: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

44

ferragem, onde a aplicação do carregamento é realizado na extremidade livre do

produto até a sua ruptura. Este tipo de ensaio é conhecido como carregamento

em viga engastada e é apresentado na Figura 16.Foram utilizados de 5 a 6

produtos para realização dos ensaios de resistência mecânica, uma amostragem

extremamente baixa, mas que possibilita realizar um comparativo através do valor

médio obtido para cada composição de esmalte.

Figura 16 – Esquema do ensaio realizado em isoladores do tipo pilar.

3.2.6 Resistência ao Choque térmico

Os testes de resistência ao choque térmico são realizados imergindo os

corpos de prova em água à 95°C. Após atingido o equilíbrio térmico, os corpos de

prova foram deslocados para um recipiente lateral contendo água à temperatura

ambiente (25°C), sendo que o procedimento é então repetido por quatro vezes.

A diferença de temperatura aplicada é de aproximadamente 70°C, diferença

esta plausível já que ao longo de um dia quente de verão o isolador aquece

devido aos raios solares e pode vir a resfriar-se por efeito de chuva, devendo

assim, suportar a brusca mudança de temperatura.

Os ensaios de resistência ao choque térmico foram realizados conforme

sugere a norma NBR5032, sendo utilizado um mínimo de 70°C de diferença entre

as temperaturas testadas. Este ensaio é realizado em todos os componentes

produzidos e se qualquer corpo de prova falhar durante o teste de choque

térmico, o mesmo é considerado reprovado e é então descartado. Dessa forma o

teste de resistência ao choque térmico pode ser considerado “Proof-test“ pois

somente os componentes aprovados no teste podem ser comercializados sendo

que os componentes falhos são descartados.

Page 45: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

45

3.2.7 Testes de Resistividade Elétrica

Existem diferentes maneiras de se medir a resistividade de um material, e

cada método possui suas vantagens e seu grau de dificuldade na execução, bem

como uma precisão e uma confiabilidade nas medidas efetuadas por cada um

deles.

Uma análise preliminar da resistividade destes materiais foi realizada

utilizando-se o método sugerido por Maryniak (2003). No entanto, os valores

encontrados não devem ser diferentes dos obtidos pelo método de quatro-pontas,

uma vez que a resistividade é uma propriedade do material. Para o esmalte

semicondutor, mediu-se um valor de 70 MΩ/m². Já para o esmalte padrão não foi

possível realizar medidas em função da alta resistividade, que implica em valores

de tensão muito altos e correntes muito baixas, extrapolando a capacidade de

geração da fonte e a capacidade de medição de corrente dos equipamentos

utilizados.

Conforme Maryniak (2003), o teste é realizado como mostrado na Figura

17, onde se aplica, nas duas barras, uma voltagem definida e é medida uma

corrente gerada entre as mesmas, de posse desses dados, aplicam-se os

mesmos na Equação 3, abaixo descrita.

Figura 17 – Configuração básica para medidas de resistividade superficial (Maryniak, 2003).

A resistividade superficial ρs é determinada pela divisão entre as razões:

voltagem aplicada DC U pela unidade de comprimento L, e corrente superficial

medida Is pela unidade de largura D, conforme pode ser visto equação 3:

DILU

ss =ρ

(Equação 3)

eletrodos material

Page 46: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

46

“A unidade física para resistividade superficial é Ohm (Ω). Pelo fato da

resistividade e a resistência superficial estarem freqüentemente misturadas, para

diferenciar ambas, a resistividade superficial é usualmente expressa como

Ohm/quadrado (Ω/²)” (Maryniak, 2003). Os parâmetros utilizados para a

realização deste ensaio estão descritos na Tabela 1.

Tabela 1 – Parâmetros utilizados no ensaio de resistividade superficial. Voltagem DC (U) 82V

Distância entre barras (L) 1,9mm

Comprimento das barras (D) 2,1mm

Corrente superficial (Is) medida

Outro método de medida é conhecido como método das 4-pontas onde,

existem 4 eletrodos alinhados sobre uma mesma linha, em 2 eletrodos é aplicada

tensão e nos outros dois eletrodos é medida uma corrente.

A Figura 18 mostra o esquema de como devem ser conectados os

equipamentos de medida na sonda 4-pontas. Pode-se observar que, para a

montagem experimental são necessários, a princípio, três equipamentos. Nas

pontas externas é conectada uma fonte de tensão dc que por sua vez é ligada em

série com um multímetro que mede a corrente (i) entre estas pontas. Nas pontas

internas é conectado um voltímetro que monitora a tensão (V) entre as mesmas.

Figura 18 – Esquema de medida pelo método das 4-pontas.

O multímetro conectado às pontas internas deve monitorar uma tensão (V),

que não será a mesma aplicada pela fonte. Essa tensão monitorada nas pontas

internas é originada pelo campo elétrico formado pela aplicação da tensão entre

as pontas externas e é esta tensão monitorada que deve ser considerada no

desenvolvimento matemático elaborado para o método das 4-pontas.

Page 47: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

47

De maneira geral, a tensão V a uma distância s de um eletrodo que

transporta uma corrente i em um material de resistividade elétrica é dada por:

(Equação 4)

Considerando-se um material de dimensões semi-infinitas, como mostrado

na Figura 19, com a corrente entrando pela ponta 1 da sonda e saindo pela ponta

4, a tensão V se torna:

(Equação 5)

Figura 19 – Esquema mostrando o contato de uma sonda com quatro pontas colineares e

eqüidistantes sobre uma amostra de dimensões semi-infinitas.

Assim, s1 e s4 são as distâncias das pontas 1 e 4, respectivamente, com

relação às pontas 2 e 3 que é a tensão V de interesse. Determinando-se o valor

de V para as pontas 2 e 3, tem-se:

(Equação 6)

Assim, a diferença de potencial total, V = V2 - V3, equivale a:

(Equação 7)

A resistividade ρ, rearranjando a equação 7, torna-se:

(Equação 8)

Usualmente, o espaçamento entre as pontas das sondas é igual, portanto,

s1 = s2 = s3 e, então, a equação 8 se reduz à equação 9, sendo V o potencial

Page 48: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

48

elétrico medido nas pontas internas (em Volts) e i a corrente elétrica medida nas

pontas externas (em ampères).

(Equação 9)

Contudo, existem situações onde não se tem um material de dimensões

semi-infinitas e, portanto, a equação 9 deve ser corrigida para uma geometria

finita. Para uma amostra de formato arbitrário, a resistividade elétrica é dada pela

equação 10, sendo F o fator de correção que depende do formato da amostra, de

suas dimensões, de onde são colocadas as pontas para a medida e, ainda, de

como está arranjada (no caso de um material depositado).

(Equação 10)

Para a terceira etapa de medição da condutividade do esmalte, que é o

inverso da resistividade (equação 11), foram empregados megôhmetros, que

medem de forma simplificada o isolamento elétrico de materiais.

σρ 1

= (Equação 11)

Onde ρ á a resistividade e σ a condutividade.

O megôhmetro é um ohmímetro de resistência elevada usado para medir a

deterioração da isolação em condutores, medindo valores de resistência altos

usando condições de teste de alta tensão. As tensões de teste do megôhmetro

variam de 50 V a 5000 V. Os testes de isolação executados são a medição de

correntes de fuga e de rigidez dielétrica da isolação (Fluke, 2005).

A Figura 20 mostra o megôhmetro utilizado nos testes em barras

esmaltadas, a tensão foi aplicada no corpo de prova através das garras vermelha

e preta, sendo a resistividade expressa no visor em MΩ. Como o esmalte tende a

ser um material isolante ou de resistência muito alta, a voltagem utilizada foi de

5kV.

Page 49: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

49

Figura 20 – Esquema de ligação nos testes em barras esmaltadas e megôhmetro

utilizado nas medidas de isolamento.

3.2.8 Câmara Salina

Os testes em câmara salina foram realizados com aplicação de tensão

elétrica sob névoa salina, na Fundação Universidade Regional Blumenau (FURB),

no laboratório de alta-tensão. Conforme Tabela 2.

Tabela 2 – Exemplo de plano de ensaio dos isoladores.

Duração

(horas) 24 16 24

Tensão

(kV) 13,3 13,3 13,3

Salinidade

(kg / m3) 14 28 40

Fluxo

(l / min) 0,12 0,12 0,12

Pressão

(bar) 4 4 4

A duração prevista para o teste foi de 72 horas. Foi aplicada tensão em

60 Hz controlada por varivolt. A salinidade refere-se à quantidade (kg) de sal por

metro cúbico de água. Foi utilizado sal comum e água deionizada, de acordo com

Page 50: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

50

a norma NBR10621. A salinidade inicial pode ser considerada como média-baixa,

passando para uma salinidade média após 24 horas atingindo uma salinidade

classificada como alta após 48 horas de ensaio. O fluxo da mistura salina foi

mantido constante em 0,12 ml/min, obtido através de rotâmetro de fluxo variável,

controlado eletronicamente. Para a geração de névoa, aplicou-se uma pressão de

4 bar a dois bicos aspersores posicionados em dois cantos adjacentes superiores

da câmara. A pressão foi mantida constante ao longo do teste.

A câmara de névoa salina possui dimensões 2m x 2m x 2m, executada em

estrutura de alumínio e aço inoxidável, com paredes em acrílico, de acordo com a

norma NBR 10621. Para coleta de dados foi utilizada uma placa conversora

analógica/digital da National Instruments™, com capacidade de 1,25 MSamples/s.

A rotina de aquisição foi desenvolvida e implementada em LabView®. Para

medição da corrente de fuga, foi utilizada uma técnica simples, conhecida como

método da resistência shunt.

Para alguns ensaios realizados, os parâmetros de testes foram

extrapolados a fim de se analisar o comportamento dos isoladores quando

submetidos a condições extremas de salinidade.

A disposição dos isoladores na câmara salina pode ser vista na Figura 21;

cada isolador é preso pela sua parte superior a um anel de aço conectado à rede

de alta tensão, e em sua base foram conectados os sensores de corrente ligados

por um fio ao sistema de aquisição de dados. Cada isolador possui um dispositivo

de segurança que o desliga do sistema de aquisição quando a corrente passante

é superior a 100 mA. Isto ocorre para que não haja danos nos equipamentos de

medição uma vez que a tensão aplicada é de 13 kV.

Page 51: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

51

Figura 21 – Disposição dos isoladores no ensaio em câmara salina (Mayer, 2006).

Page 52: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

52

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA

4.1.1 Matérias-primas

Nas Figura 22 e Figura 23 é possível ratificar que o tamanho médio de

partícula das matérias-primas, SnO2 e Sb2O3, é inferior a 1µm, também é possível

visualizar que as partículas têm formato irregular e não homogêneo. Devido ao

reduzido tamanho das partículas, a aglomeração é um fator que deve ser levado

considerado nos experimentos, podendo ocorrer a formação de grânulos que

pode dificultar a dispersão homogênea da fase semicondutora.

Figura 22 – Micrografia do óxido de estanho. Figura 23 – Micrografia do óxido de antimônio.

É possível observar ainda nas Figura 22 e Figura 23, a existência de

grânulos formados pela aglomeração das partículas, evidenciado nas Figura 24 e

Figura 25.

Figura 24 – Grânulos de SnO2. Figura 25 – Grânulos de Sb2O3.

Page 53: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

53

Apesar de ocorrer aglomeração pelo tamanho de partícula reduzido, o fato

de as partículas óxidas serem tão pequenas implica dois aspectos positivos:

- o material é mais reativo, devido a energia de superfície;

- o processo de difusão deve ocorrer mais rapidamente, uma vez

que as distâncias de difusão serão menores.

4.1.2 Esmalte semicondutor

As Figura 26, Figura 27 e Figura 28 foram obtidas de uma amostra

preparada conforme indicado na Figura 11A.

A Figura 26 apresenta a dispersão e a distribuição da fase semicondutora,

que é evidenciada através dos elétrons retroespalhados. Em coloração clara é

vista a fase semicondutora, homogeneamente dispersa na matriz vítrea, fase

escura.

Alguns esmaltes não mostram a mesma homogeneidade obtida com o

ESC1. No caso do ESC8 houve uma aglomeração das partículas semicondutoras

e com isso, a superfície desenvolveu uma característica semicondutora não

homogênea, como mostra a Figura 27.

Figura 26 – Micrografia do esmalte ESC1. Figura 27 – Micrografia do esmalte ESC8.

Como método comparativo, a Figura 28 mostra a imagem de um esmalte

tradicional, onde é possível observar a existência de uma única fase vítrea.

Page 54: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

54

Figura 28 – Micrografia do esmalte tradicional.

Também foi obtida a micrografia da camada esmaltada onde é possível

medir a espessura do esmalte bem como visualizar a dispersão do componente

semicondutor em relação à superfície do esmalte, Figura 29.

Através da Figura 29, obtida conforme corte mostrado na Figura 11B, é

possível observar que a camada esmaltada possui em média 150 µm de

espessura e a fase semicondutora está homogeneamente dispersa por toda a

camada de esmalte. É possível observar também a presença de poros na camada

esmaltada bem como no corpo do isolador.

Figura 29 – Micrografia da camada esmaltada com dispersão da fase semicondutora.

Com as análises em MEV foi possível obter uma idéia preliminar da

capacidade semicondutora do esmalte analisado. Para isso, somente metade da

superfície do esmalte foi recoberta com a camada condutora, como anteriormente

descrito. Essa preparação foi realizada, pois o MEV tem seu principio de

funcionamento no bombardeamento da amostra com elétrons que são,

resumidamente, refletidos ou absorvidos. Para que não haja absorção e acúmulo

153µm

Poros Fase semicondutora

Corpo do Isolador

Esmalte

Page 55: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

55

de elétrons na superfície da amostra, fato que atrapalha ou até mesmo impede a

sua visualização, amostras de material isolante devem ser recobertas com uma

fina camada de ouro ou carbono para, dessa forma, ser possível sua análise. A

técnica de recobrimento utilizada está apresentada na Figura 10.

As Figura 30 e Figura 31 mostram dois exemplos de comportamento

distintos em relação ao fenômeno do carregamento. Na Figura 30, esmalte

tradicional, não é possível analisar a superfície não recoberta; isto porque há

carregamento, fato comum em amostras isolantes não recobertas para a análise.

No esmalte semicondutor, Figura 31, nota-se claramente que não ocorre o

fenômeno do carregamento e, mesmo a superfície não recoberta pode ser

visualizada e analisada claramente. Tal fato se deve ao esmalte semicondutor

possuir a capacidade de transportar a pequena corrente (80 mA) gerada pelo

equipamento de análise.

Superfície recoberta Superfície não recoberta Superfície recoberta Superfície não recoberta

Figura 30 – Micrografia do esmalte tradicional em

teste preliminar de condutividade.

Figura 31 – Micrografia do esmalte semicondutor em teste preliminar de

condutividade.

4.2 DIFRAÇÃO DE RAIOS-X

4.2.1 Matérias-primas

As matérias-primas óxidas (SnO2 e Sb2O3) foram analisadas por DRX

sendo os espectros apresentados nas Figura 32 e Figura 33.

Carregamento

Page 56: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

56

20 40 60 80 1000

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

INTE

NS

IDA

DE

(u.a

.)

ÂNGULO 2θ (º)

SnO2

Figura 32 – Espectro de difração de raios-X para o óxido de estanho (JCPDS 21-1250).

Pode-se visualizar em ambos os espectros que a matéria-prima utilizada

consta somente dos óxidos puros, uma vez que, conforme as cartas da JCPDS, o

espectro de raios-X mostra a presença de uma só fase para cada óxido analisado.

20 40 60 80 1000

1000

2000

3000

4000

5000

INTE

NS

IDAD

E (u

.a.)

ÂNGULO 2θ (º)

Sb2O3

Figura 33 – Espectro de difração de raios-X para o óxido de antimônio (JCPDS 11-689).

Page 57: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

57

Após a preparação do pigmento semicondutor, este foi analisado por

difração de raios-X e obtido o espectro mostrado na Figura 34.

20 40 60 80 1000

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500IN

TEN

SID

ADE

(u.a

.)

ÂNGULO 2θ (º)

SnO2 + Sb2O3

Figura 34 – Espectro de difração de raios-X para o pigmento semicondutor preparado.

Como método comparativo, na Figura 35, é mostrada uma sobreposição

dos espectros das matérias-primas e do pigmento semicondutor produzido. Não é

possível notar uma diferença entre o espectro do óxido de estanho e o espectro

do pigmento semicondutor, evidenciando que para as condições do tratamento

térmico realizado não existem traços de Sb2O3, indicando que a difusão

provavelmente ocorreu de forma completa. Porém, devido aos baixos teores de

antimônio que foram incorporados, não é possível observar uma distorção na rede

do óxido de estanho. Estas observações estão de acordo com os resultados

obtidos por Sahar (1995), onde alterações significativas no parâmetro de rede só

foram observadas para pigmentos produzidos com teores de óxido de antimônio

acima de 17% em massa. Sahar comenta ainda que para quantidades muitos

altas de Sb2O3 (acima de 17% em peso), são observados picos de Sb2O4

(JCPDS 11-694) resultante da oxidação do Sb2O3 e indicando que nem todo o

antimônio foi consumido na formação do semicondutor.

Na análise do pigmento semicondutor desenvolvido, Figura 34, não foi

constatada a presença da fase Sb2O4.

Page 58: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

58

20 40 60 80 1000

2000

4000IN

TEN

SID

AD

E (u

.a.)

ÂNGULO 2θ (º)

SnO2 (JCPDS 21-1250)

Sb2O3 (JCPDS 11-689) SnO2 + Sb2O3

Figura 35 – Espectro de DRX comparativo entre as matérias-primas e o pigmento semicondutor.

4.2.2 Esmaltes semicondutores

O esmalte tradicional foi analisado por DRX para que se pudesse obter um

espectro padrão e, posteriormente à adição do pigmento semicondutor, o esmalte

semicondutor pudesse ser analisado com base nas mudanças ocorridas na rede

do esmalte tradicional.

A Figura 36 mostra o espectro de difração de raios-X para o esmalte

tradicional podendo ser notada a baixa difração dos raios e a não observância de

picos definidos, evidenciando que o esmalte tradicional é um material totalmente

vítreo, ou seja, não possui rede cristalina a longo alcance.

Como era esperado, o esmalte semicondutor apresentou comportamento

intermediário entre o esmalte tradicional e o pigmento semicondutor puro. Isto

pode ser notado na Figura 37 onde se observa um espectro com picos definidos,

referentes ao pigmento semicondutor. Nesta mesma figura também é notada, no

inicio do mesmo espectro, uma elevação em relação ao eixo das abscissas

referente ao material vítreo do esmalte tradicional.

Page 59: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

59

20 40 60 80 1000

50

100

150

200

250

300

350

400IN

TEN

SID

AD

E (u

.a.)

ÂNGULO 2θ (º)

ESMALTE TRADICIONAL

Figura 36 – Espectro de difração de raios-X para o esmalte tradicional.

20 40 60 80 1000

500

1000

1500

2000

2500

INTE

NS

IDAD

E (u

.a.)

ÂNGULO 2θ (º)

ESMALTE SEMICONDUTOR SnO2 + Sb2O3

Figura 37 – Espectro de difração de raios-X para o esmalte semicondutor.

4.3 INSPEÇÃO VISUAL

Após aplicação do ciclo térmico, as primeiras amostras de ESC1

apresentaram má qualidade superficial frente aos isoladores com esmalte

tradicional. Já as amostras ESC8 apresentaram acabamento intermediário entre

os esmaltes tradicional e ESC1, entretanto, evidenciaram defeitos nas abas

inferiores, provavelmente devidos à dupla camada de esmalte proveniente da

esmaltação manual. Os primeiros resultados da inspeção visual estão

apresentados na Figura 38.

ESC1 – Alta rugosidade superficial. ESC8 – Defeitos devido à dupla esmaltação.

Figura 38 – Qualidade do acabamento superficial dos primeiros testes com pilares 25kV.

Foram realizados novos testes com os esmaltes ESC1 e ESC8 onde se

constatou que a má qualidade superficial deu-se por uma contaminação durante a

preparação do primeiro lote produzido. O novo lote preparado e utilizado para

Linha divisória da dupla esmaltacao

Alta rugosidade

Page 60: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

60

esmaltação resultou em corpos de prova com boa qualidade superficial, onde a

superfície do esmalte se mostrou homogênea, não rugosa e com bom

espelhamento, conforme demonstra a Figura 39 abaixo.

Figura 39 – Corpo de prova preparado com

o novo lote de ESC1 para teste visual.

Se comparadas as Figura 39 e a Figura 38, é possível observar a diferença

no espelhamento e homogeneidade de ambas as superfícies. Assim, fica

comprovada a ocorrência de algum tipo de contaminação no processo inicial de

produção e obrigando o mesmo a ser refeito após limpeza do sistema de moagem

e mistura.

No caso do ESC8, devido à sua maior viscosidade, o mesmo possuía uma

superfície menos espelhada e, eventualmente, ocorria o aparecimento de pontos

falhos na esmaltação, como pode ser visto na Figura 38.

4.4 DILATOMETRIA

Conforme os resultados apresentados na Tabela 3 pode-se observar que o

esmalte padrão possui um coeficiente de dilatação térmica levemente inferior ao

do corpo cerâmico, e o esmalte com adição do aditivo apresenta coeficiente ainda

menor. Essa diferença é favorável, uma vez que cria tensões compressivas sobre

o esmalte aumentado a resistência mecânica do conjunto.

É preciso, porém, realizar uma avaliação criteriosa do aspecto visual do

esmalte e da resistência ao choque térmico da peça, para garantir que o

Page 61: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

61

coeficiente de dilatação térmica do esmalte não seja excessivamente reduzido,

comprometendo a qualidade do produto (lascamento pós-queima).

Tabela 3 – Coeficientes de dilatação do corpo cerâmico e esmaltes estudados.

Valor de α (t – 325 °C)

Corpo Cerâmico 51.2 x 10-7 °C-1

Esmalte tradicional 50.8 x 10-7 °C-1

Esmalte semicondutor 49.2 x 10-7 °C-1

Com os dados obtidos nos ensaios de dilatometria e os resultados

analisados, nota-se que, os valores encontrados são condizentes com o

esperado, isto é, coeficiente de expansão térmica linear da massa maior que o

coeficiente de expansão térmica linear do esmalte.

As análises visuais realizadas previamente mostraram que não houve

problemas decorrentes da maior diferença entre os coeficientes de expansão

térmica linear da massa e do esmalte sendo que a qualidade superficial obtida foi

satisfatória.

4.5 RESISTÊNCIA MECÂNICA

A Tabela 4 mostra os valores de tensões obtidos em flexão a 3-pontos para

a massa do isolador, para corpos de prova esmaltados com esmaltes tradicional e

também com dois esmaltes semicondutores utilizados. A amostragem para cada

condição foi de 10 corpos de prova.

Tabela 4 – Resistência mecânica dos esmaltes e massa (valores em [MPa]).

Média Desv. Pad. Máximo Mínimo Variação

Máxima Massa do isolador 66,6 4,2 74,4 61,3 13,1

ETG 77,6 5,7 85,5 67,1 18,5

ESC1 87,8 9,0 98,7 74,4 24,3

ESC8 78,7 6,3 86,9 64,3 22,6

Através dos dados da Tabela 4 verifica-se que a resistência mecânica da

massa do isolador sem nenhum esmalte é consideravelmente menor que as

resistências mecânicas dos corpos de prova esmaltados. Tal fato se dá devido à

Page 62: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

62

indução de tensões compressivas no esmalte pela diferença de coeficiente de

expansão térmica linear.

Analisando os dados da Tabela 4 vê-se ainda que devido ao α do ESC1 ser

menor que os α dos outros esmaltes, este atingiu a maior resistência mecânica

sem que houvesse o lascamento da superfície.

Com o melhor esmalte semicondutor foi realizada uma análise estatística

mais confiável que o primeiro teste. A Figura 40 ilustra uma curva de Weibull com

a disposição dos dados obtidos ordenados conforme a probabilidade de falha em

uma determinada tensão.

Curva de Weibulll

0% 10% 20% 30%

40% 50%

60% 70% 80% 90%

100%

60 62 64 66 68 70 72 74 76 78 80 82 84 86 88 90

Tensão de Ruptura (MPa)

Prob

abili

dade

de

Falh

a (%

)

Massa do Isoladorr Esmalte tradicional (ETG)

Esmalte semiconductor (ESC)

Figura 40 – Curva de Weibull comparando as resistências à flexão do esmalte desenvolvido,

esmalte tradicional e massa do isolador.

Através da análise de Weibull e o os dados na Tabela 5, nota-se que, o

corpo de prova produzido com ESC1 apresentou o maior valor de m, ou seja,

mostrou-se como sendo o de maior repetibilidade quanto à carga de ruptura

aplicada.

Tabela 5 – Resultados da análise de Weibull.

τ (MPa)

τ50 (MPa)

τ0 (MPa) m Fator

r2

Massa do isolador 68,8 69,1 70,1 26,6 0,94

ETG 73,8 74,2 75,5 21,9 0,92

ESC1 78,5 78,9 79,7 33,0 0,95

Page 63: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

63

Ainda na Tabela 5, nota-se que o esmalte ESC1 apresenta, além da sua

propriedade semicondutora, uma maior resistência mecânica e uma maior

confiabilidade quanto à resistência mecânica à flexão.

4.6 RESISTÊNCIA AO CHOQUE TÉRMICO

O teste de resistência ao choque térmico, por ser um teste realizado na

própria amostra, pode ser considerado um “Proof-test” uma vez que, ao ser

submetido ao teste, quando reprovado, o corpo de prova estará trincado e é então

descartado sendo comercializado somente os corpos de prova íntegros.

Nestes testes nenhum corpo de prova esmaltado com ESC1 falhou quando

submetido a uma diferença de temperatura de 70°C, indicando que o

acoplamento esmalte-massa foi bem sucedido. Os isoladores foram considerados

aprovados neste teste de acordo com a norma NBR5032:2004.

4.7 RESISTIVIDADE ELÉTRICA

A corrente superficial média medida nos esmaltes semicondutores, conforme

Maryniak, foi de 1,2µA (micro Ampere) e a resistividade superficial calculada,

segundo a Equação 3, foi de 70 MΩ/², ou seja, 7.107 Ω/², o que caracterizaria o

material como semicondutor.

Já para o esmalte padrão não foi possível calcular a resistividade superficial

devido ao aparelho utilizado (um multímetro da marca ITW, modelo DT-830B) não

medir correntes abaixo de 0,09µA. Como para a mínima corrente capaz de ser

medida a resistividade superficial corresponde a 109 Ω/², esmaltes cuja

resistividade superficial não é mensurada pelo aparelho são caracterizados como

isolantes (Maryniak, 2003).

Numa segunda etapa de testes de resistividade, utilizado o método das

4-pontas, os resultados foram insatisfatórios. Nenhum valor pode ser considerado

válido pois o marcador do amperímetro não se alterou nem mesmo quando

aplicada a tensão máxima conseguida com o equipamento (323 V). Este fato

deve-se aos cristais semicondutores emergirem na superfície do material somente

em forma de alguns pontos e, para esta análise, as pontas de teste devem tocar

cada uma, um cristal que percole a superfície.

Page 64: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

64

A partir dos resultados anteriores decidiu-se utilizar um aparelho capaz de

aplicar uma tensão maior nas amostras. Um megôhmetro foi, então, empregado

para a realização da próxima etapa dos testes de resistividade superficial.

Assim como os testes realizados pelo método das 4 pontas, os ensaios

com o megôhmetro não foram conclusivos nem mostraram alguma

semicondutividade nos materiais analisados, pois, pelo mesmo motivo do teste

anterior, as garras utilizadas como eletrodos de contato, e fixadas aos corpos de

prova cerâmicos, possuíam dentes que tocavam a superfície somente em poucos

pontos e com isso podem não ter colocados em contato o eletrodo e o material

semicondutor. No entanto, mesmo com a baixa condutividade medida, pôde-se

constatar algum nível de semicondutividade apesar da resistividade medida ficar

em torno de 60 GΩ para os pinos testados.

Apesar dos testes de resistividade realizados por meio de contatos

pontuais não mostrarem resultados conclusivos, os isoladores em trabalho

possuem em toda a parte superior grande área de contato com o cabo condutor

que são amarrados com fios de alumínio para garantir a sua fixação na cabeça do

isolador. Assim, toda essa grande área de contato garante que em alguma parte

da superfície do isolador exista material semicondutor e este toque o cabo

condutor possibilitando a passagem de corrente.

4.8 CÂMARA SALINA

Foram realizados diversos ensaios em câmara salina a fim de se constatar

em definitivo a propriedade semicondutora dos esmaltes. Primeiramente os

parâmetros utilizados no ensaio estão mostrados na Tabela 6.

Tabela 6 – Primeiro ensaio realizado em câmara salina.

Duração (horas) 19 29 24

Tensão (kV) 13,3 13,3 13,3

Salinidade (kg / m3) 28 56 112

Fluxo (ml / min) 0,12 0,12 0,12

Pressão (bar) 4 4 4

Page 65: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

4média móvel: uma seqüência de médias computadas de partes de uma série de dados. Em um gráfico, uma média móvel suaviza as flutuações nos dados, mostrando mais claramente o padrão ou a tendência.

65

Este primeiro ensaio mostrou que a corrente de fuga gerada pelos

isoladores esmaltados com esmalte ESC1 foi maior que os isoladores esmaltados

com esmalte tradicional. Tal fato indica que há alguma semicondutividade do

esmalte. Um dos isoladores esmaltados com esmalte semicondutor foi retirado de

operação por volta da 60ª hora de ensaio quando apresentou uma elevação

abrupta de sua corrente de fuga. O Gráfico 3 mostra o desenvolvimento das

correntes de fuga para os 6 isoladores ensaiados, nota-se que somente os

isoladores ETG – 1 e ESC1 – 2 prosseguiram até o termino do ensaio.

Gráfico 3 – Média móvel4 da corrente de fuga medida no primeiro ensaio em câmara salina.

No segundo ensaio realizado em câmara salina, que manteve os mesmos

parâmetros do teste anterior, porém com novos isoladores, nenhum isolador

falhou durante todo o ensaio. No entanto, mais uma vez os dois isoladores

esmaltados com esmalte semicondutor mostraram uma corrente de fuga elevada

se comparados com os isoladores esmaltados com esmalte tradicional. Observa-

se tal fato no Gráfico 4, onde mostra também o comportamento dos esmaltes

ESC8, que não tiveram um desempenho satisfatório no ensaio, tendo

apresentado baixa corrente de fuga.

ESC1

ESC1

Isolador 1

Isolador 2

ETG1ETG2

Page 66: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

66

Gráfico 4 – Média móvel da corrente de fuga medida no segundo ensaio em câmara salina.

O terceiro teste foi realizado com os mesmos parâmetros do segundo.

Novamente utilizou-se novos isoladores, a corrente fuga é mostrada no Gráfico 5.

Gráfico 5 – Média móvel da corrente de fuga medida no terceiro ensaio em câmara salina.

ESC1

ESC1

ETG1 ETG1

ESC8

ESC8

ESC1

ESC1

ETG1ETG1

ESC8

ESC8

Page 67: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

67

Nota-se que no terceiro ensaio houve um aumento da corrente fuga no

isolador ESC8 porém, este saiu de operação devido ao rompimento do dispositivo

de segurança.

Enquanto os isoladores ETG mantiveram uma baixa corrente de fuga, em

torno de 0,1 mA, os isoladores ESC1 mostraram uma corrente de fuga média de

1 mA. Isto demonstra que estes esmaltes, ESC1, possuem propriedade

semicondutora.

Devido ao fato de nos últimos ensaios os isoladores ESC1 se manterem

ativos e energizados até o fim do teste, optou-se por realizar mais um ensaio com

condições extremamente severas e com o dobro do tempo normal de ensaio. As

condições do ensaio duplo realizado estão mostradas na Tabela 7.

Tabela 7 – Parâmetros de ensaio para o quarto teste em câmara salina.

Duração

(horas) 2 2 140

Tensão

(kV) 13,3 13,3 13,3

Salinidade

(kg / m3) 28 56 112

Fluxo

(ml / min) 0,12 0,12 0,12

Pressão

(bar) 4 4 4

No ensaio duplo com aprox. 140 horas, foram avaliados 2 isoladores

esmaltados com ESC1, 2 isoladores esmaltados com esmalte ETG e 2 isoladores

com esmalte ESC8. Todos os isoladores possuíam a mesma geometria e foram

dispostos alternadamente na câmara.

Neste ensaio (140 horas) observou-se resultados satisfatórios, pois os

isoladores contendo esmalte semicondutor ESC1 geraram uma corrente de fuga,

constante, na ordem de 3,5 mA. Já os esmaltes ETG mostraram, mais uma vez,

uma baixa corrente de fuga, 0,2 mA e os isoladores ESC8 apresentaram

correntes na ordem de 1 mA.

Page 68: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

68

O Gráfico 6 mostra o desenvolvimento da corrente de fuga dos isoladores

com ESC1, sendo que é possível visualizar a corrente média de 3,5 mA com

picos de corrente atingindo 5 mA.

Gráfico 6 – Corrente de fuga RMS para os isoladores ESC1 no quarto ensaio em câmara salina.

Os isoladores ESC8 apresentaram em média 1 mA de corrente de fuga e

esta, mesmo sendo baixa, indica uma possível semicondutividade do esmalte.

Entretanto, apenas um dos isoladores ESC8 chegaram ao fim do teste, o outro foi

desligado por volta da 120ª hora por ação do dispositivo de proteção. O Gráfico 7

mostra o desenvolvimento da corrente de fuga para os isoladores ESC8 ao longo

do quarto teste realizado.

ESC1

ESC1

Page 69: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

69

Gráfico 7 – Corrente de fuga RMS para os isoladores ESC8 no quarto ensaio em câmara salina.

Os isoladores ETG foram retirados de operação por volta da 110ª e 135ª

horas. A corrente de fuga apresentada por esses isoladores ficou em torno de

0,2 mA e pode ser observada no Gráfico 8.

Gráfico 8 – Corrente de fuga RMS para os isoladores ETG no quarto ensaio em câmara salina.

ESC8 ESC8

ETG1 ETG1

Page 70: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

70

Os isoladores ESC1 também desenvolveram, apesar da alta corrente

mostrada, a menor corrente de terceiro harmônico, que indica a baixa atividade de

descargas disruptivas. Os isoladores ETG apresentaram alta corrente de terceiro

harmônico nas horas que antecederam sua retirada de operação. O Gráfico 9

mostra o desenvolvimento da corrente de terceiro harmônico durante o quarto

ensaio de câmara salina.

Gráfico 9 – Desenvolvimento da corrente de terceiro harmônico no quarto teste em câmara salina.

Além da propriedade semicondutora apresentada pelo esmalte ESC1 e

comprovada pela corrente de fuga de 3,5 mA, tal propriedade foi também

comprovada pela medição de uma temperatura superior na superfície do isolador,

pelo efeito Joule, com a temperatura medida sendo de 55 °C.

Houve também um enorme acúmulo de sal na superfície do isolador, como

mostrado nas Figura 41 e Figura 42. Apesar disto, os isoladores se mantiveram

estáveis e energizados até o final do teste.

ESC1 ESC1

ETG1 ETG1

ESC8

ESC8

Page 71: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

71

Figura 41 – Isolador #1 com esmalte ESC1 após 72 horas de teste em câmara salina.

Figura 42 – Isolador #2 com esmalte ESC1 ao final do teste em câmara salina.

Page 72: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

72

5 CONCLUSÕES

Dentre as diversas formulações de pigmentos semicondutores estudadas

aquela que obteve melhor desempenho contém, em fração mássica, 95% de

SnO2 com 5% de Sb2O3. O esmalte desenvolvido, e aplicado aos isoladores

elétricos, que apresentou melhores propriedades elétricas e mecânicas foi

processado contendo 30% em peso do pigmento semicondutor e 70% em peso

da matriz vítrea.

Os tamanhos de partícula das matérias-primas constituintes do pigmento

semicondutor possibilitaram uma difusão completa dos átomos de Sb na rede do

SnO2, sendo a aglomeração um fator não crítico nestes materiais uma vez que a

homogeneização é realizada à úmido em moinho de bolas.

Através das análises com DRX constatou-se que as matérias-primas eram

puras e o esmalte desenvolvido possui características de um material

vitro-cerâmico. Devido à baixa quantidade de dopante Sb2O3, não se detectou

alteração do espectro de raios-X do pigmento semicondutor, nem a presença do

óxido Sb2O4 o que indica uma difusão completa dos átomos de Sb na rede

cristalina do SnO2 quando realizado o tratamento térmico proposto.

As análises com MEV mostraram uma grande homogeneidade na

distribuição das partículas semicondutoras pela superfície do esmalte e por toda a

altura da camada esmaltada que possui aproximadamente 150µm; ainda foi

possível obter uma indicação da semicondutividade do esmalte desenvolvido

através do método de recobrimento utilizado.

As inspeções visuais mostraram que o esmalte desenvolvido apresentou

sinais de possível contaminação no processo produtivo. Entretanto, tomado os

devidos cuidados durante o seu preparo, o esmalte ESC1 mostrou uma qualidade

superficial satisfatória com um bom espelhamento e isenção de defeitos.

Os ensaios dilatométricos mostraram que o coeficiente de expansão

térmica linear do esmalte semicondutor é menor que o do esmalte tradicional; isso

fez com que a resistência mecânica do isolador produzido utilizando o esmalte

semicondutor fosse elevada. As tensões de flexão foram superiores para o

esmalte semicondutor devido à geração de tensões térmicas residuais

(compressivas) na superfície do mesmo. Apesar do menor coeficiente de

Page 73: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

73

expansão térmica, não se observou trincas ou lascamento do esmalte após o

tratamento térmico de queima.

Após o teste de choque térmico todos os corpos de prova testados

estavam intactos não mostrando trincas ou defeitos em sua superfície; isto indica

que o esmalte semicondutor foi aprovado no referido teste de choque térmico.

As análises de resistividade superficial mostraram que devido ao

aparecimento das partículas semicondutoras serem somente em algumas regiões

o método de medida utilizado não deve possuir extremidades pontiagudas que

tornem difícil o contato entre as partículas semicondutoras e o ponta de prova do

equipamento de medida.

Como os ambos os métodos de teste, 4-pontas e megômetro, possuem

contatos pontiagudos e não são eficazes neste caso, o teste realizado segundo

Maryniak (2003) foi o único que apresentou valores na ordem de 70 MΩ/²,

indicando o esmalte como sendo um material semicondutor.

Os ensaios em câmara salina mostraram que o esmalte desenvolvido é um

material semicondutor uma vez que, a corrente de fuga medida ficou em torno de

3 mA, o que indica uma passagem de corrente muito grande para um material

isolante. Foi medida ainda uma temperatura de 55°C na superfície do isolador,

mostrando um provável efeito Joule ocorrido pela passagem de corrente elétrica

por um condutor ou semicondutor.

Devido ao último teste realizado possuir o dobro do tempo e a quantidade

de sal ser extremamente alta, o mesmo pode ser considerado como uma

extrapolação da vida útil dos isoladores ensaiados, já que na prática tal deposição

salina é impraticável. Apesar dessas condições, os isoladores ESC1 mantiveram-

se em operação mesmo com um acúmulo de sal visivelmente grande. Com isso

pode-se dizer que em condições normais de uso os isoladores deverão

apresentar uma vida útil superior aos atualmente utilizados.

Com os ensaios em câmara salina verificou-se o efeito semicondutor do

material desenvolvido e, também, a capacidade do mesmo em acumular,

superficialmente, grande quantidade de sal sem apresentar descargas disruptivas

que pudessem prejudicar a performance do isolado em uso.

Conclui-se com este trabalho que a produção de isoladores elétricos

semicondutores com elevado desempenho é viável e os mesmos possuem

propriedades elétricas superiores ao isoladores cerâmicos tradicionais.

Page 74: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

74

6 SUGESTÕES

Realizar testes em campo, que não foram realizados devido à não

existência de uma linha de distribuição disponível para as medições e as mesmas

dependerem de condições climáticas adequadas à colocação e monitoramentos

dos isoladores, bem como a alocação de pessoal especializado para tal tarefa.

Uma rede elétrica específica para realização de testes já está sendo

construída sendo que a mesma estará localizada em uma região de alta

ocorrência de flashover e alta concentração salina. Esta rede constará de uma

linha de distribuição paralela à existente no local e possuirá sistemas de medição

de corrente de fuga e monitoração climática simultânea, bem como circuitos de

proteção aos equipamentos de medida. A construção desta linha de testes está a

cargo da distribuidora de energia elétrica da região.

A colocação de corpos de prova para testes em campo foi prevista e

poderá ocorrer tão logo haja disponibilidade de colocação dos isoladores no local

e também seja disponibilizado pessoal especializado para a tarefa de instalação

dos equipamentos na rede de alta-tensão. Os testes deveram ocorrer por um

período de no mínimo um ano ou até a ocorrência de descargas disruptivas que

retirem o isolador elétrico de operação.

Devido ao grande número de substituição de isoladores devido ao

vandalismo, choques sofridos por projéteis provindo de armas de fogo, sugere-se

a realização de testes balísticos nos isoladores esmaltados com esmalte

semicondutor, pois devido ao seu menor coeficiente de expansão térmica, este

pode possuir propriedade de resistência ao impacto de projéteis melhorada.

Sugere-se também um melhor estudo das propriedades semicondutoras

obtidas no esmalte desenvolvido, aplicando, por exemplo, o método de Van der

Pauw para medida de resistividade do material.

Para o teste da qualidade superficial é sugerido a medição da rugosidade

superficial utilizando um rugosímetro e reduzindo assim a utilização de métodos

comparativos como por exemplo a inspeção visual.

Devido à constatação de poros na camada esmaltada e no corpo do

isolador. Sugere-se uma análise aprofundada da influência da porosidade na

resistência mecânica do isolador, e também um estudo de como reduzir a

ocorrência dessa porosidade.

Page 75: Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores

75

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