cronica de arte

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  • 8/18/2019 Cronica de Arte

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    UMA CRÔNICA PARA SE PENSAR O 

    ENSINO DE ARTES

    -  Qual foi, vovô, o melhor ou a melhor professora

    que você já teve? 

    -  Não é fácil responder essa questão, querida. Vovôteve excelentes professores, admiráveis, e em meio atantos e tantas não é fácil escolher apenas um. Agora,meu bem, se você deseja saber qual entre tantosprofessores maravilhosos o que mais me marcou e mais

    influenciou, não tenho dúvidas, foi por certo a Profª.Clarice. 

    -  Fale-me dela, vovô. Como era essa professora? Oque tinha de especial que por tanto tempo o senhor não aesquece? Que matéria ensinava a Prof a. Clarice? 

    -  Passaram-se muitos anos, mas dela jamais meesquecerei. Eu deveria ter sete ou oito anos, não mais, e

    Clarice era minha professora de Artes. Era linda.Impossível esquecê-la!

     

    -  Era loira? Tinha cachos, usava tranças? Era alta,vestia-se bem? Como era a Profª. Clarice?A beleza deClarice, meu bem, era uma beleza diferente, uma belezainterior. Eu a achava linda pela maneira como nos

    ensinava. Pela paciência com que, sempre sorrindo, nosmostrava a diversidade da música, as muitas surpresasda dança. Pelo encanto com que organizava teatros enos ensinava a deixarmos de ser nós mesmos,incorporando um papel, assumindo outraspersonalidades. Era negra, imensa, brilhante, alegre etransbordava de felicidade, nos inundado a todos. AProfª. Clarice me ensinou a olhar...

     

    -  Olhar? Como assim, vovô? Você não sabia olhar? 

    -  Não. Em verdade apenas pensava que sabia, masClarice ensinando Arte desvendou meus olhos para apintura, mostrou a linguagem das cores, a surpresa das

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    formas. Com Clarice descobri Picasso, encantei-me comMatisse, percebi a obra imensa de Portinari. Com elameu olhar ganhou vida e acendeu meu encanto. Claricetambém me ensinou a escutar... 

    - Escutar?

     

    -  Isso mesmo. Antes dela, eu e meus colegasapenas sabíamos ouvir. Mas, Clarice nos mostrou adiferença. Levou-nos a perceber a linguagem do violão,os murmúrios do piano, a alegria tímida do cavaquinho eaté, quem diria, o ritmo do pandeiro. Depois dela, meu

    bem, nunca mais escutei com indiferença, pois Clariceteve paciência para abrir nossos olhos, 

    despertar nossa sensibilidade e mostrar que quemaprende a escutar aperfeiçoa o tato, desperta o paladar.Não era apenas uma professora de Arte, mas da arte sevalia para aprender a aprender com mais sentido,estabelecendo diversas relações entre os desenhos que

    nos animava fazer e a produção social da arte. Em suasaulas aprendemos a viajar pelo tempo, comparando oque fazíamos em nossas folhas de caderno e o que foirealizado pelos artistas de cá e de lá, da nossa terra e deoutras terras; impossível esquecê-la!

     

    -  Você sabe, vovô, por onde anda essa sua incrível

    professora? 

    -  Não. Não sei, querida. Talvez bem distante, emoutras terras, ensinando os anjos a serem anjos deverdade...

    Fonte:

    BELBACH, Simone (Supervisão Geral). Arte eDidática. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. – (Coleção ComoEnsinar Bem / coordenação Celso Antunes) Vários

     Autores.