como viver o amor

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  • 8/14/2019 Como Viver o Amor

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    Pastoral de Jovens Braga 2004/2005

    COMO VIVER O AMOR?

    Nota prvia

    Este tema, sendo um pouco extenso, deve ser apresentado em mais que uma reunio.

    A- ObjectivoO amor de Deus a realidade central do cristianismo. Constitui a comunidade deirmos, que se chama Igreja. Hoje vamos meditar e orar esta realidade.

    Amor , talvez, a palavra mais manuseada pelo homem e nos sentidos mais estranhos eextravagantes. Quando falamos de amor, pensamos numa infinidade de coisas: em emo-es e sensibilidades, em namoros e sentimentalismos, em sensualidade e sexo, em todas

    as manifestaes normais e anormais da sexualidade e dos afectos. Todas estas coisasque giram ao redor da palavra amor podem ter sombras do amor verdadeiro, porm noso o amor humano no seu sentido mais profundo de criaturas de Deus, nascidas paraele e para se realizarem nele enquanto vivem no mundo, nem so o amor cristo que senos manifestou na pessoa de Jesus Cristo, amor que se vive na comunidade da Igreja,alimentado constantemente pelo esprito de Cristo.

    B- Desenvolvimento do temaDeus amor e todo aquele que ama nasceu de Deus. Deus, sendo amor, no ficou

    em si mesmo mas gerou o seu filho. Desde ento, o amor dialctico, d-se e rece-be. E neste dar e receber edifica-se a pessoa. O amor sempre exige dos outros,Deus quis ter necessidade dos homens e criou-os por amor. Por amor aos homenscriou o universo. Por amor deu-lhes uma alma imortal e ps no corao de cadaum deles a semente do amor. por isso que nenhum homem feliz se deixa deamar. S o homem que sai de si mesmo e se doa aos outros em forma de trabalho,de colaborao, de ajuda, de convivncia, de amizade etc., abre os caminhos paraa sua prpria realizao e felicidade. O homem, no fim da vida, ser julgado peloamor: "Tive fome, sede, estive enfermo e preso, nu e forasteiro e me servistes". Aquelesque fizerem isto, recebero a felicidade eterna. Aqueles que no o fizerem, iropara o castigo eterno.

    1- Caractersticas do amor de Cristo- Deus amou tanto a humanidade que quis mandar-lhe o seu filho. E o filho deDeus se fez carne e habitou entre ns. Deus, no Antigo Testamento, dava aos ho-mens os seus presentes e dons. Porm, no Novo Testamento veio ele mesmo e en-tregou-se como dom por ns. Aqueles que leram o evangelho, conhecem a histria

    e o mistrio de Jesus desde o seu nascimento at a sua morte, ressurreio e glori-ficao direita do Pai. Sabemos que permaneceu connosco, na comunidade cris-t, mediante o seu esprito. A encarnao de Deus o maior acto de amor que

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    Deus podia realizar pelos homens. O amor de Deus em Cristo um amor de en-trega sem reservas e sem condies, um amor que abarca todos os homens, todasas pocas e todos os lugares da Terra.

    - Deus amou-nos primeiro. Ele tomou a iniciativa. No esperou que lhe pedsse-mos perdo ou que nos arrependssemos dos nossos pecados. Simplesmente nosamou, sem que ns o merecssemos, perdoou-nos sem que lhe tivssemos pedidoperdo, presenteou-nos com a sua vida, admitiu-nos em sua casa, em sua intimi-dade, em seus bens, prometeu-nos a sua herana sem que fssemos seus filhos.Amando o seu filho e mandando-o Terra, amou-nos nele e nos deu tudo aquiloque propriedade do seu filho amado, Jesus Cristo.- O amor de Deus gratuito. Igualmente o amor de Jesus. No fizemos nada parao merecer. Um amor que nos perdoou, que nos aceitou como somos, que se colo-cou do nosso lado simples e plenamente. Um amor que procurou unicamente onosso bem, sem pretender nada de ns.- O amor de Deus um amor recriador. Nada do que este amor toca fica nas mes-mas condies, mas profundamente melhor e renovado. Um amor que, onde ha-via vcio, ps virtude; onde havia ignorncia deu cincia, onde havia insensatezps sabedoria, onde havia angstia ps paz, onde havia diviso ps concrdia.Um amor assim no ama aos outros porque so bons ou virtuosos, mas porqueDeus os ama e quer que o seu amor os torne generosos e afveis como o seu filho.

    - O amor de Deus sente a necessidade de se entregar s pessoas que ama. E para ofazer torna-se humano, faz-se criana, precisa dos cuidados de uma me, faz-secompanheiro dos pecadores e compartilha com eles a sua mensagem; na paixobusca a ajuda do cireneu, na cruz algum lhe d de beber, e pede emprestado osepulcro de Jos de Arimatia. Toda a vida de Jesus foi um acto de amor que pe-diu o amor dos outros para levar a cabo a sua misso.- Deve-se ter necessidade dos outros. S aquele que ama capaz de pedir. Jesuspediu muitas coisas ao seu Pai. Tambm sua me Maria, aos seus amigos, os

    apstolos, samaritana, a muitos discpulos e hoje faz o mesmo com todos os ho-mens que crem nele.- O amor de Deus foi verdadeiro porque se sacrificou por ns. O amor de Deusno foi uma brincadeira. A cruz de Jesus foi uma realidade cruel. Deus sacrificouo seu filho por amor ao homem. Ningum tem maior amor do que aquele que da vida pelos seus amigos. A prova do amor verdadeiro o sacrifcio.

    Nota: Seria oportuno pr os jovens, individualmente, a falar sobre o amor de Deus.

    2- Dimenso humana do amorRecitar o poema e fazer uns minutos de silncio para o reflectir

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    Quem teu amigo?Aquele que, sendo leal e sincero, te compreende,aquele que te aceita como s e tem f em ti,

    aquele que, sem inveja, reconhece os teus valores,te encoraja e elogia sem te adular.Aquele que te ajuda desinteressadamentee no abusa da tua bondade.Aquele que, com sbios conselhos te ajuda a construir,e a polir a tua personalidade.Aquele que vibra com as alegriasque chegam ao teu corao.Aquele que, sem invadir a tua intimidade,procura conhecer a tua dificuldade, para te ajudar.

    Aquele que, sem te ferir, esclarece aquilo que entendeste male te afasta do erro.Aquele que te encoraja quando ests desanimado.Aquele que, com seus cuidados e atenes,quer amenizar a dor da tua enfermidade.Aquele que te perdoa com generosidade esquecendo a tua ofensa.Aquele que v em ti um ser humano com alegrias, esperanas, fraquezas e lutas.Este o amigo verdadeiro,que, com amor, demonstra conhecer a Deus

    atravs dos seus irmos.

    O amor consiste, essencialmente, em ser amado e no em amar. Na procura doamor, as pessoas utilizam muitos artifcios equivocados, como ter xito, ser pode-rosos e ricos. Muitos homens e mulheres perdem muito tempo em busca de forasde atraco: roupas, ttulos, modelos, beleza, cultura, convenes, servios, mani-pulaes, amizades. Cremos que amar simples e que a grande dificuldade en-contrar a quem amar.A cultura moderna pensa que a felicidade do homem est em ter todas as coisas

    que pode comprar ou intercambiar. No se pode procurar o amor nestas coisas. Amaioria dos homens e das mulheres dependem muito da moda. Crem que estarna moda os torna amveis. Nos anos da ps-guerra, uma jovem que bebia e fuma-va, empreendedora e provocante sexualmente era atractiva. O homem devia seragressivo e ambicioso. Hoje, so atractivos os homens e as mulheres dotados deum conjunto de qualidades que os tornam populares. Fazer o amor consistir nes-sas coisas um equvoco.

    Outro pressuposto equivocado sobre o amor, nos nossos dias, supor que noexiste mais nada para aprender. Confunde-se facilmente a experincia inicial doapaixonar-se com a situao permanente de estar enamorado. frequente o casode dois jovens que no se conhecem: vem-se pela primeira vez, rompem as dis-

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    tncias, unem-se mais intimamente. Obedecem, simplesmente, a uma atraco se-xual que se conclui na consumao do acto sexual. Este amor, por sua prpria na-tureza, pouco duradouro. Em pouco tempo se chega ao cansao, ao aborreci-

    mento, desiluso. E no comeo pareciam estar loucos de amor um pelo outro.Esses amores fracassam muito cedo. O amor no improvisado. O amor apren-dido num processo de maturao.

    3- Passos para amadurecer no amor- Perceber claramente que o amor uma arte e tem que dar como resultado umaobra-prima. Para aprender a arte mais importante da nossa existncia, temos defaz-lo com a mesma dedicao, cuidado, constncia e entusiasmo que as demaisrequerem. mais fcil aprender engenharia, medicina, artes plsticas do que oamor. por isso que necessrio seguir os vrios passos que seguem na aprendi-zagem de uma carreira artstica: 1) dominar a teoria, 2) dominar a prtica, 3) dar-lhe o lugar que requer.- O amor a resposta ao problema da existncia humana. Qualquer teoria doamor deve comear na teoria do homem e da sua existncia. Quem ? De ondevem? Aonde vai? Qual a sua essncia? O que o realiza? O homem um ser quenasceu para se relacionar com os outros numa abertura de amor. O homem sem oamor uma aberrao, a vergonha e ao mesmo tempo a fonte da culpa e da an-

    gstia. O homem que no ama um homem s e solitrio. Tudo aquilo que des-tri o amor no homem torna-o infeliz e chama-se pecado e vcio.O alcoolismo, a droga, a sexualidade compulsiva, o suicdio so indicadores clarosde que fracassamos no caminho do amor, de que nos afundamos no egosmo, nodesamor, na solido.A solido o contrrio do amor. Supera-se a solido unindo-se a outros no amor.H relaes imaturas como a unio simbitica na qual se depende dos outroscomo a criana no ventre da me, o masoquismo ou submisso a outros de formairracional, at com dores fsicas e morais, e o seu contrrio: o sadismo. A unio dedominao onde o forte cr amar o fraco imatura; o mesmo que servir-se dooutro. A unio que cria relaes de amor integra e unifica o ser, f-lo livre, consci-ente das suas possibilidades e com metas realmente esplndidas na existncia.O homem foi criado para viver com os outros e realizar o progresso do mundo.Quando fica s, erra em sua vida de homem e na sua misso. Ento, sobrevm osdiversos frutos da solido: o egocentrismo, o poder, o orgulho, o despotismo, a ti-rania, a explorao e todas as formas de luxria que levam, inevitavelmente, loucura.

    As formas mais comuns de solido acabam no lcool, nas drogas e na sexualidadecompulsiva. Poderamos dizer que so mecanismos de defesa diante da solido.Quanto mais os homens as utilizam, mais ss e perdidos se sentem.

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    A soluo plena para a solido o amor, em todas as suas expresses e formas.No amor no existe solido mas a unidade dos que se encontram e compartilhamaquilo que so e o que possuem.

    O amor uma atitude, uma forma de ser e de agir. fundamentalmente sair de simesmo para se abrir aos outros em gesto de doao. Mais do que receber, amar dar. E dar sem esperar nada. Quando se d algo e se espera uma resposta, o amortorna-se mercantilismo. O amor d o que tem, e quanto mais d, mais se preenchede riquezas, porque o amor jamais se esgota. O seu segredo dar sempre, para tersempre em abundncia.O que d uma pessoa? D aquilo que e tem, aquilo que constitui a sua vida. Dalegria, compreenso, conhecimento, humor, sentimentos, emoes, tristezas, ple-nitude, confiana. Uma pessoa que d do que e tem, entrega-se outra pessoa eisto torna-a mais rica e cheia de riqueza para dar aos outros.O amor produz amor. Onde no h amor, pe amor e criars amor. O amor re-fracta-se em muitas expresses como pacincia, afabilidade, generosidade, humil-dade, decncia, desinteresse, esperana, justia, rectido, respeito, serenidade, ver-dade, confiana, sofrimento. O respeito produz respeito. A serenidade gera calma.A honestidade d vida nova e promove a honradez etc. Por isso, o amor verdadei-ro, uma vez compartilhado, obtm fecundos resultados de transformao nas pes-soas e nas sociedades.

    O amor vai em busca do bem-estar das pessoas que amamos e da consolidaodos ideais e metas que se abriram ao nosso corao. O amor obedece aos senti-mentos mais profundos do ser humano, do qual o amor filial, paterno e fraterno a expresso mais evidente. Os pais levam no seu sangue o amor incondicional aosseus filhos. Tambm os filhos em relao aos seus pais, e os irmos entre si.O amor no , essencialmente, relao com uma pessoa. atitude, orientao decarcter, actividade, poder do esprito. Se amo realmente algum, amo a todas aspessoas, amo o mundo, amo a vida. Se posso dizer a algum que o amo, devo po-

    der dizer que amo a todos nele, atravs dele; no outro amo o mundo e amo-me.Amar o irmo sentir-se responsvel por ele, cuidar dele, conhec-lo, respeit-lo,solidarizar-se com ele, perceber as suas necessidades, promov-lo. A Bblia refere-se a este amor quando nos manda amar o prximo como a ns mesmos.Quando o amor humano faz o seu caminho de maturao, acontecem todas aspossibilidades para o amor de Deus nas suas correctas manifestaes: de amor ans mesmos, de amor aos irmos, de amor ao Senhor e s suas obras.O amor a si prprio no um amor imaturo. O amor a si prprio um amor ma-duro porque v a prpria pessoa nas dimenses que Deus lhe deu como ser racio-

    nal, ao lado de outros homens, com uma misso a cumprir. Amar a si prprio ver-se nas prprias qualidades de homem, plenamente cumpridas, desenvolvidas,activadas e postas a servio dos outros. Pensar nas coisas com critrio, com averi-

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    guao, com informao, vendo as suas consequncias etc., ser homens madurosque se amam a si prprios. Julgar acontecimentos e pessoas, somando prs e con-tras, com base em investigaes, em orao etc.,..., ser maduros e amar-se a si

    mesmos. Tomar decises, aps ter pesado causas e consequncias, ser maduros eamar-se a si mesmos.Quando o amor a si mesmo chegar a desenvolver as prprias potencialidadescomo pessoa humana, ento nascer o amor aos irmos, porque a pessoa se porao servio dos outros e da sociedade. Entramos em cheio no amor fraterno. Se oamor a mim mesmo me pede esforos de estudo, dinheiro para os mesmos etc.,ento agora terei de pr os meus esforos e recursos ao servio dos outros, dosque comeam a vida, dos que esto no caminho, dos que j esto a concluir, paraque tenham a mesma fora pessoal que eu tive.E quando o amor a si mesmo transbordar no amor aos outros, ento est a cum-prir-se o amor de libertao do homem, o amor que transcende a prpria pessoa ea pessoa dos outros: o amor de Deus, o amor que nos une a ele nos seus projec-tos, nas suas intenes, nos seus planos para o homem e para o mundo. O homemtorna-se um colaborador de Deus onde quer que se encontre e em qualquer voca-o qual for chamado. O amor de Deus possvel sempre, porque possvel en-contrar Deus sempre, pois ele deixa-se encontrar.Ento, todas as actividades do homem entraro no amor e encontraro o seu senti-

    do pleno. O casado viver no amor, o religioso viver no amor, o sacerdote viverno amor. As crianas, os jovens e os ancios vivero no amor. As obrigaes religi-osas sero vividas no amor (os mandamentos, os sacramentos...), as obrigaes so-ciais (trabalho, solidariedade, respeito etc.), as transformaes culturais (comuni-caes, idiomas, formas religiosas etc.), os parmetros econmicos (bancos, caixaselectrnicas, mercados etc.)... No haver nada fora do amor de Deus. O amor uma arte que se aprende.

    O animador encontrar o melhor modo de expor e debater este tema, que podeterminar com a orao e o cntico que abaixo indicamos

    C- OraoSenhor, estou a falar sem saber o que digo. intil que me empenhe em dissimular.Vou dizer-te o que sinto neste momento.Parece que me pedes muito.No s me pedes que ame,

    mas que chegue a amar como tu amas.A verdade que me parece muitopara as minhas pobres foras.

    uma tarefa que me faz estremecer.No entanto, se o meu amor tem que ser ge-nuinamente cristo,deve ajustar-se perfeitamente ao teu,no me resta outro remdio

    seno pedir-te emprestado o teu amor.Amem.

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    D- Cntico