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CENTRO DE CULTURA BRASIL-BOLÍVIA UMA PRAÇA | DOIS PAÍSES | OUTRA CULTURA

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Page 1: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

C E N T R O D E C U L T U R A B R A S I L - B O L Í V I AUMA PRAÇA | DOIS PAÍSES | OUTRA CULTURA

Page 2: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

Trabalho Final de Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo

Orientador. Angelo Bucci

São Paulo, 2011

C E N T R O D E C U L T U R A B R A S I L - B O L Í V I AUMA PRAÇA | DOIS PAÍSES | OUTRA CULTURA

R E B E C A G R I N S P U M

Page 3: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

“Crucé fronteras para llegar a estas

tierras lejanas, abandoné a mi madre,

abandoné a mi pueblo. Virgencita de

Urkupiña ilumina la luz de nuestros

días, danos la fuerza para llevar, para

llevar esta vida“.

(Canto à Virgem de Urkupiña, José

Bolivia)

Page 4: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

AG R A D E C I M E N TO S

Agradeço à minha família pelo eter-

no apoio, aos meus amigos que me

fazem rir, ao meu orientador que me

guiou e às pessoas extraordinárias

que conheci por esse mundo afora.

Anna, Cacá, Cadu, Carol, Denise, Flor,

Jorge, Patrícia, Regis e Rogério, obri-

gada por me ajudar na realização des-

te trabalho.

Page 5: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

S U M Á R I O

05. Introdução

06. Pela América do Sul

15. A cidade como local de encontro

16. Praça Kantuta

20. Imigração

25. Centro de Cultura Brasil-Bolívia

26. Área

35. Programa

36. Referências de projeto

39. O projeto

42. Implantação

43. Cobertura

44. 1o Pavimento

45. Térreo

46. Subsolo

47. Cortes

51. Imagens

57. Brasileiro que nem eu, que nem quem?

58. Bibliografia

Page 6: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

I N T R O D U Ç ÃO

O presente trabalho busca reforçar

a presença de uma comunidade es-

trangeira na cidade pluricultural que

é São Paulo, abordar a questão do

“ser imigrante” na sociedade globali-

zada atual, propondo um centro irra-

diador de uma cultura distinta e que

se refaz ao se encontrar com a nossa.

Os imigrantes bolivianos que vi-

vem em São Paulo estão se misturan-

do entre os demais, estão se fazendo

cidadãos paulistanos. Vêm à procura

de melhorar de vida, mudar de vida.

Oriundos de uma cultura diferente

trazem consigo hábitos, religiões,

costumes, ideais distintos, e aqui, de

alguma maneira, tentam preservá-

los. Esse é o papel da Feira Kantuta:

todos os domingos uma praça no

Pari se transforma em um reduto bo-

liviano, se pinta de vermelho, amare-

lo e verde. Local onde o paulistano

é e se sente turista, sem sair de sua

própria cidade.

1. MENEZES, Marluci. A cidade com os imigrantes. In: Ser Imigrante. Jornal Arquitectos. Publicação Trimestral da Ordem dos Arquitectos – Portugal. Jan./Fev. /Mar. 2010.2. Idem.

Através de visitas à feira, da leitura

de trabalhos, reportagens e de docu-

mentários realizados sobre a comu-

nidade boliviana, me aprofundei no

tema e me surpreendi com a riqueza

cultural deste país. O projeto do Cen-

tro de Cultura Brasil-Bolívia foi criado

para dar forma a essa transformação

sócio-cultural. Espaço de trocas, de

aprendizado, ele se abriria não ex-

clusivamente para a comunidade

boliviana, mas para todos os interes-

sados neste acontecimento, nesta

diversidade.

A heterogeneidade de São Paulo,

tão falada e cultuada, se faz quando

absorvemos novos cidadãos, vindos

de diversos lados. São minorias que

se aventuram nessa metrópole, so-

brevivem a dificuldades, e permane-

cem. Quando inserimos essas mino-

rias, fazemos cidade: “A cidade com o

imigrante é, em síntese, uma cidade

configurada com novos e diferentes

contornos sócio-culturais e espaciais.

Pensar e atuar com a DiverCidade nos

coloca o desafio de lidar com a me-

diação entre partes e, paralelamente,

gerir a delicada relação entre o pas-

sado, o presente e o que se pretende

como futuro das cidades”1.

Reconhecendo a imigração, es-

tamos aprendendo a ser cidadãos,

incorporando diferentes grupos à

sociedade estaremos re-inventando

a cidade, re-inventando a democra-

cia2. Este trabalho apresenta-se como

uma oportunidade de se fazer uma

cidade mais democrática, plural.

As seguintes páginas contarão o

processo que percorri para o de-

senvolvimento deste projeto, com o

qual finalizo o curso de Arquitetura e

Urbanismo. É com ele que descrevo

o que aprendi nestes anos de forma-

ção, não só como arquiteta e urba-

nista, mas como pessoa.

São Paulo: mar de culturas.

5

Page 7: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

Através de viagens, cursos, oficinas

e intercâmbio construí um forte vín-

culo com nossos países vizinhos,

aprendendo a observar suas cultu-

ras e modos de vida. O interesse de

trabalhar a América do Sul desper-

tou, principalmente, após participar

de uma oficina internacional de ar-

quitetura na Colômbia e realizar um

intercâmbio na Argentina, no qual

fiz parte da disciplina Taller Sudame-

rica, onde estudamos Puerto Quijar-

ro, cidade emergente do leste da

Bolívia, fronteira com o Brasil. Após

essas importantes experiências e di-

ferentes vivências estava claro que

esse tema seria parte do meu traba-

lho final, de um projeto que ainda

estava por vir.

Viajar é renascer em outra língua.

(Guilherme Wisnik)

P E L A A M É R I C A D O S U L

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Page 8: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

BOGOTÁ . CARTAGENA DE ÍNDIAS . MEDELLÍN . ZIPAQUIRÁ . MOMPOX

Foi em uma Colômbia, por mim desco-

nhecida, que aprendi que arquitetura

é sim uma ferramenta de organização

do espaço para a construção de uma

cidade democrática. Um lugar onde

o espaço público tenha, talvez, mais

qualidade que o privado. Equipamen-

tos públicos desenhados por renoma-

dos arquitetos do país inseridos em

zonas carentes, transformando e re-

qualificando espaços, antes, abando-

nados e inseguros. Medellín e Bogotá,

mais do que belas cidades, dão uma

aula sobre inclusão social e integração

das periferias à cidade, tornando-as,

inclusive, em pontos turísticos.

7

Page 9: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

No leste boliviano a pobreza latente

sensibiliza qualquer viajante que por

ali passa. As cores dos tecidos e da

natureza se destacam entre as ruas de

terra e as casas simples. A timidez dos

moradores impede uma aproximação:

a cabeça baixa, o olhar vazio evidencia

a falta de esperança. O contato com o

rio é exíguo, apenas a atividade portu-

ária ocorre com maior intensidade. Na

Laguna Cáceres, revela-se a oportuni-

dade de desenvolver um turismo sus-

tentável, uma vez que esta é a porta

de entrada do pantanal sul-americano.

A maioria dos jovens deixa suas pe-

quenas cidades para estudar ou traba-

lhar nos centros urbanos, contribuin-

do com a impressão de estarem ainda

mais vazias. Suas carências, em todas

as dimensões, nos suscitam a urgência

de uma mudança.

PUERTO QUIJARRO . PUERTO SUAREZ

8

Page 10: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

Buenos Aires, cidade charmosa, suas

ruas fervem a qualquer hora do dia.

Em suas praças executivos, tran-

seuntes, moradores de rua e crianças

descansam, brincam, lêem, conver-

sam. Apesar das manifestações qua-

se diárias prejudicarem o tráfego de

veículos e pedestres, revela-se uma

sociedade politizada, interessada em

lutar pelos seus direitos. A memória

dos desaparecidos da ditadura militar

está em todos os lados, é próprio da

população que não se deixa esquecer

o sofrimento de tal período, carregam

uma melancolia em sua rotina. A apro-

priação do espaço público é exemplar,

o lazer e a discussão estão nas ruas e

praças. Ali, vive-se a cidade.

BUENOS AIRES

9

Page 11: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

Córdoba, ciudad de los estudiantes,

onde a arquitetura do presente tange

a do passado em suas praças e mu-

seus. Mar del Plata, principal porto

pesqueiro do país, é também o balne-

ário preferido dos porteños; carrega o

ar dos antigos hotéis e cassinos, agora

decadentes, foi berço dos grandes

tangueros argentinos. Rosário, a cida-

de banhada pelo Rio Paraná, revela

harmonia entre sua população e sua

arquitetura através de uma sequên-

cia de praças e programas culturais

nas margens de suas águas. La Plata, a

pequena cidade planejada, com uma

praça a cada seis quarteirões, possui o

belo e único exemplar da obra de Le

Corbusier na América Latina.

CÓRDOBA . MAR DEL PLATA . ROSÁRIO . LA PLATA

10

Page 12: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

A pequena Montevideo não esconde

as belezas de suas ruas, casas e edifí-

cios antigos. Parece que se parou no

tempo. Aquela conhecida cidade de

população velha, agora abre espaço

para os jovens que o conquistam com

sua arte, dedicação e simpatia. Uma ci-

dade calma que dá as costas ao Rio de

La Plata, parece não querer quebrar a

harmonia de uma vida interiorana e se

contenta com o apelido de hermano

chico de Buenos Aires. Atlântida apa-

rece nas curvas dos tijolos da Igreja de

Eladio Dieste. Punta del Este, o famoso

e requisitado balneário uruguaio, fora

de temporada, se transforma em uma

cidade fantasma. Em suas ruas vazias

só o vento intenso se faz ouvir.

MONTEVIDEO . ATLÁNTIDA . PUNTA DEL ESTE

11

Page 13: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

Surge aos pés dos Andes a Santiago

moderna. O céu azul, sem nuvens

brinda a paisagem do Rio Mapocho

que atravessa a cidade. O verde dos

bairros contribui para a boa qualida-

de de vida que ali se revela. A cidade

dos cachorros de rua começa a in-

centivar mais as atividades culturais

a fim de promover a vida urbana,

oferecendo diversas opções de lazer.

Famosa pela arquitetura contempo-

rânea, seus projetos são destaques

no panorama arquitetônico atual e

fazem valer os elogios.

SANTIAGO

12

Page 14: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

La espina dorsal del planeta es mi cordillera 3

Nossa colonização nos fez sempre

contemplar os “países desenvolvi-

dos”, apreciá-los e os ter como exem-

plo. Aprendemos a nos enxergar atra-

vés de outro olhar que não o nosso.

Na arquitetura ocorre o mesmo, ten-

demos a admirar o outro e almejar

ser semelhante. São inúmeros livros,

revistas e web sites que nos colocam

o outro como modelo, como inova-

dor. É inegável a qualidade de proje-

tos e estratégias que desenvolvem,

porém nossa realidade é outra, nosso

clima, geografia, língua e tradições

são outros. Devemos sim conhecer

o alheio, mas, antes, reconhecer o

que nos é próprio, assim interpreta

o escritor colombiano Gabriel García

Márquez: “Es compreensible que insis-

tan en medirnos con la misma vara con

que se miden a sí mismos, sin recordar

que los estragos de la vida no son igua-

les para todos y que la búsqueda de

la identidad propria es tan sangrienta

3. “A espinha dorsal do planeta é minha cordilheira“. Trecho da música Latinoamérica do rapper porto riquenho Calle 13. 4. “É compreensível que insistam em nos medir com a mesma vara com que medem a si mesmos, sem recordar que os estragos da vida não são iguais para todos e que a busca da indentidade própria é tão sangrenta como foi para eles. A interpretação da nossa realidade com esquemas alheios apenas contribui a sermos cada vez mais desconhecidos, cada vez menos livres, cada vez mais solitários...“. Trecho retirado de: LARRAÑAGA, María Isabel de; PETRINA, Alberto. Arquitectura e identidad en la Argentina. In: TOCA, Antonio (ed.), Nueva Arquitectura em America Latina: presente y futuro. México: Ediciones G. Gili, S.A. de C.V., 1990.

5. WISNIK, Guilherme. Latinoamerica: Notas de viagem. In: O Brasil não existe!: Ficções e canções. São Paulo: Publifolha, 2010.4. “Eu não acredito que os sul-americanos, ou os paraguaios, ou os asuncenos, ou os deste bairro temos melhores ou piores possibilidades. Temos uma herança, um mundo que foi desenvolvido por nossos antecessores, e temos a obrigação de transformá-lo.“ Entrevista do arquiteto paraguaio Solano Benítez ao documentário argentino Proyecto Brasilia. Disponível em: <http://proyectobrasilia.com.ar/>. Acesso: 02/03/2011.

como lo fue para ellos. La interpretaci-

ón de nuestra realidad con esquemas

ajenos solo contribuye a hacernos cada

vez más desconocidos, cada vez menos

libres, cada vez más solitários...”4.

A América do Sul é um concen-

trado de países e culturas, dos quais

também fazemos parte, que muito

pode nos surpreender. Apesar das

diferenças, os problemas e as realida-

des que o Brasil enfrenta, são simila-

res aos demais países da sul-america-

nos: tomando-se em conta uma foto

da periferia de São Paulo, ela vai ser

muito parecida à periferia de Bogotá,

Argentina, Equador, Uruguay, Chile,

etc. Então, “qual a distância entre o

Brasil e a América?”, nos questiona

o arquiteto Guilherme Wisnik em

suas notas de viagem pela Améri-

ca Latina5. Nossa língua, diferente

das demais do grupo, aparece como

principal obstáculo para uma maior

integração. É importante que não se

Canción con todos

Salgo a caminar

por la cintura cósmica del sur,

piso en la región,

mas vegetal del viento y de la luz;

siento al caminar

toda la piel de América en mi piel

y anda en mi sangre un río

que libera en mi voz su caudal.

Sol de Alto Perú,

rostro, Bolivia, estaño y soledad,

un verde Brasil,

besa mi Chile, cobre y mineral;

subo desde el sur

hacia la entraña América y total,

pura raíz de un grito

destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas,

todas las manos todas,

toda la sangre puede

ser canción en el viento;

canta conmigo canta,

hermano americano,

libera tu esperanza

con un grito en la voz.

(A. Tejada Gomez e Cesar Isella)

faça disso uma limitação.

A herança dos tempos de colônia

ref lete-se na economia, na carência

social, na desordem e corrupção. No

passado, arrancaram nossas rique-

zas, nos desenvolvemos de mãos

atadas ao outro. Não somos países

novos, mas sim, como coloca o ar-

quiteto Paulo Mendes da Rocha,

recém descobertos no plano do

conhecimento. Nossos índios e as

civilizações pré-colombianas bem

habitaram, desenvolveram e cons-

truíram nessas terras. Muito foi apa-

gado e esquecido. Entretanto ainda

podemos identificar nossas singula-

ridades. Resgatar e evidenciar o que

nos é próprio.

“Yo no creo que los sudamericanos, o

los paraguayos, o los asuncenos, o los

de este barrio tengamos mejores o pe-

ores posibilidades. Tenemos una heren-

cia, um mundo que fue desarrollado

por nuestros antecesores, y tenemos la

13

Page 15: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

7. “Gostaria ver um mundo onde as diferenças e as semelhanças sejam autênticas e não forçadas [...] Que existam diferenças, mas não as impostas por condições econômicas; que existam semelhanças, mas não as causadas por carência de imaginação.“ In: ZOHN, A. (1990). Arquitectura e identidad (em uma perspectiva vista desde México). In: TOCA, Antonio (ed.), Nueva Arquitectura em America Latina: presente y futuro. México: Ediciones G. Gili, S.A. de C.V., 1990.8. 28/07/1874 – 8/08/1949.9. MELENDI, Maria Angélica. Da adversidade vivemos ou uma cartografia em construção. Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Disponível em: <http://www.ig.art.br/territorialidades/archivos/doc_texto_71.doc>. Acesso em: 31 de out. 2010.

10. Manifesto da disciplina Taller Sudamerica da Faculdade de Arquitetura, Desenho e Urbanismo da Universidade de Buenos Aires. Disponível em: <http://www.tallersudamerica.net/>. Acesso: 14/02/2011.11. BARDI, Lina Bo, (1990). Uma aula de arquitetura. Em: RUBINO, Silvana; GRINOVER, Marina (orgs.), Lina por escrito. São Paulo: Cosac&Naify, 2009.12. ROCHA, Paulo Mendes. América, arquitetura e natureza. Em: ARTIGAS, Rosa (org.). “Paulo Mendes da Rocha”. São Paulo: Cosac & Naify, 2000.13. SANTOS, Milton. “A natureza do espaço. Técnica e Tempo”. Razão e Emoção. 4.ed. São Paulo: EDUSP, p. 337. 2008.

“Nuestro norte es el Sur. No debe haber norte para nosotros, sino en oposición al Sur. Por eso ahora ponemos el mapa al revés y entonces ya tenemos la justa idea de nuestra posición [...]. Desde ahora, el extremo alongado de Sudamérica apun-tará insistentemente para el Sur, nuestro Norte”

(El Norte es el Sur, 1935, Joaquín Torres García)

obligación de tranformarlo.”6

Aproveitando as ferramentas que

temos, a terra que pisamos, a tec-

nologia que criamos, conhecendo

como cada lugar tenta resolver suas

questões seria possível nos desen-

volver revelando uma identidade,

não necessariamente diferente ou

igual, mas verdadeira.

“Me gustaría ver um mundo donde

las diferencias y las similitudes sean

auténticas, no forzadas [...] Que existan

diferencias, pero no las impuestas por

condiciones económicas; que existan

similitudes, pero no las causadas por

carencias de imaginación.”7

O artista uruguaio Joaquín Torres

Garcia8 após 43 anos vivendo em Pa-

ris e Madri regressa à Motevideo e

traduz sua experiência e seu ponto

de vista, compreendendo sua iden-

tidade latina ao desenhar “El Norte

es el Sur”, uma imagem-manifesto,

em 1935. Neste, o artista desenha a

América do Sul invertida, apontando

para o Norte: “Colocar o Pólo Sul na

parte superior do mapa, convencio-

nalmente usada para indicar o Norte,

produz uma mudança de sentido. Os

navios subirão para o Sul e descerão

até o Norte: o Leste; o oriente verme-

lho — como corresponde — estará

à esquerda. Muito mais que um jogo

engenhoso, o deslocamento semân-

tico dos pontos cardeais produz múl-

tiplas associações simbólicas. A nova

bússola que aponta ao Sul indica

também um lugar ao que se ascende,

o paraíso. Descer ao Norte é também

uma descida aos infernos“.9

Como fez Torres Garcia, também

devemos inverter a ordem, desmis-

tificar a “América do Sul terceiro

mundista”. Entendendo a arquitetura

como ferramenta de opinião10 , uma

arte coletiva e sócio-política11 , deve-

mos fazer um esforço para integrar

conhecimentos e estudos, pensar em

um sistema de ações e estratégias,

que ajudariam a melhorar as nossas

cidades, e que suprissem as carên-

cias sociais, “trata-se de estabelecer

territórios reconfigurados para que

os altos ideais humanos se efetivem.

É uma resistência contra a miséria”.12

Através de publicações, conferên-

cias, discussões, estudos de campo

e oficinas, tramar-se-ia uma coalizão

da potência que é a nossa porção da

América. Como coloca Milton Santos,

“o mundo, porém, é apenas um con-

junto de ‘possibilidades’, cuja efeti-

vação depende das ‘oportunidades’

oferecidas pelos lugares“13. Devemos,

assim, romper as fronteiras.

14

Page 16: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

Viver a cidade. A cidade, lugar de

mobilidade, encontros, é um espaço

para todo o tipo de atividade de prá-

ticas urbanas14. Local de trocas, nas

ruas é possível ver o outro, o diferen-

te. Esses intercâmbios enriquecem

nosso modo de pensar e ensinam a

respeitar e a admirar aquilo que pode

não ser comum para nós. O espaço

público sempre foi o lugar de encon-

tro, de comércio e de circulação: “é

um espaço aberto, uma multiplicida-

de de imagens, um espaço no qual a

vida mesma é o espetáculo”15.

A cidade, cada vez mais voltada

para interesses privados, diminui

as possibilidades desses encontros

uma vez que muitos desses palcos

de atividades e interações passaram

a serem controlados e regulados para

“garantir” a segurança dos cidadãos16 .

A predominância do tráfego de

veículos sobre pedestres limita ainda

mais o espaço dedicado à vida públi-

Ver, encontrar, interagir.

14. PERAN, Martín. Post-it city. ciudades ocasionales. POST-IT city : ciudades ocasionales = cidades ocasionais = occasional urbanities : [exposición = exposiçao] / CCCB, SEACEX. Madrid : Turner, D.L. p. 9-12. 2009.15. MOSSET, Inés. Paisaje Latinoamericano. 1ª Ed. Córdoba: I+P Editorial, 2005. Pg. 64.

16. GEHL, Jean; GEMZOE, Lars. Novos espaços urbanos. Barcelona : Gili, 2002. pg. 13.17. PERAN, Martín. Post-it city. ciudades ocasionales. POST-IT city : ciudades ocasionales = cidades ocasionais = occasional urbanities : [exposición = exposiçao] / CCCB, SEACEX. Madrid : Turner, D.L. p. 9-12. 2009.

ca. Caminhar ou andar de bicicleta,

atos de prazer da vida urbana, tor-

nou-se difícil, perigoso e desagradá-

vel, a cidade passa a ser vista através

de uma janela de veículo, geralmente

parado no trânsito.

O espaço de uso coletivo é a ci-

dade democrática. “A cidade como

feito social existe, na medida em que

existe a possibilidade de produzir a

valorização dos espaços públicos. A

vida das cidades, as relações entre

os habitantes, têm sentido enquan-

to existam espaços articuladores e

promotores de vínculos sociais. Essa

valorização do público, sua conside-

ração e tratamento dentro da trama

urbana como feito integrador e nive-

lador social, solicita uma atualização

permanente”17 . É um mecanismo de

aumento do direito à cidade.

As atividades que acontecem nas

ruas, a apropriação temporária de

um certo espaço de maneira criativa,

gera dinâmicas que justamente nos

emociona, nos integra, ao caminhar

pela cidade e deparar com situações

imprevisíveis. Enxergar a potencialida-

de desses intercâmbios e revelar seus

potenciais é a beleza da vida urbana.

A abertura de mais um espaço pú-

blico para a cidade de São Paulo, vol-

tado à população menos privilegia-

da, é um dever que tomei ao iniciar

esse trabalho. Envolver diferentes

grupos da sociedade, ocasionar esse

encontro é uma maneira de ativação

do espaço urbano.

Seguindo esse caminho, buscando

na cidade uma atividade temporária

com a qual pudesse contribuir com

um projeto urbano de arquitetura,

conheci a feira Kantuta.

A C I DA D E CO M O LO C A L D E E N CO N T R O

15

Page 17: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

O chamado “cantinho boliviano“,

a feira Kantuta acontece aos domin-

gos no bairro Pari, região central de

São Paulo, a poucos metros da es-

tação de metrô Armênia. Ponto de

encontro dos imigrantes bolivianos,

a feira teve seu início na Praça Padre

Bento, em frente à Igreja Santo Anto-

nio do Pari, no mesmo bairro, a cerca

de quinze anos atrás. Foi a senhora

Berta Valdés quem instalou na pra-

ça a primeira barraca de churrasco

de anticucho (coração de boi no es-

peto). Sem conhecer a língua e sem

amigos, Berta não poderia imaginar

que sua barraca seria início de um

local que reviveria a cultura de seu

país de origem.

Entretanto, com o crescimento da

feira e do movimento em torno dela,

os moradores da região fizeram um

abaixo-assinado para sua retirada,

por conta da desorganização e lixo

que causava nas imediações. Após

18. A feira foi regulamentada em 24 de setembro de 2004.19. SILVA, Maria A. Moraes; MENEZES, Marilda A. de. Migrantes temporários: fim dos narradores? In: Simpósio Internacional Migração: nação, lugar, dinâmicas territoriais, 1999, São Paulo/SP. Caderno de Resumos do Simpósio Internacional Migração: nação, lugar, dinâmicas territoriais, 1999. v. I. p. 83.

Flor Kantuta

a sugestão da subprefeitura, alguns

feirantes se organizaram formando a

Associação Gastronômica, Cultural

e Folclórica Boliviana Padre Bento e

conquistaram, em junho de 200218 ,

a praça entre as ruas Pedro Vicente,

Cannot e Olarias, que, até então, não

possuía nome, e, logo, foi batizada

como Praça Kantuta – a f lor Kantuta

é típica da região andina e possui as

três cores da Bolívia, vermelho, ama-

relo e verde.

São 90 barracas e cerca de 100 fei-

rantes associados que contribuem

com uma mensalidade à Associa-

ção, já que esta é responsável pela

manutenção, apoio e segurança da

feira. Há comércio de artesanatos,

comidas típicas e, inclusive, barbe-

aria. Além de comércio, há aula de

música, aula de português, aula de

taekwondo para as crianças e os im-

portantes campeonatos de futebol

na quadra da praça, a “Cancha Praça

Kantuta” (hoje desativada pelas más

condições em que se encontra). Por

ser um local que concentra muitas

pessoas, é possível observar na pra-

ça representantes de diferentes igre-

jas, evangélicas e católicas, que bus-

cam difundir suas religiões e cultos

e conquistando novos seguidores.

Os eventos são organizados a par-

tir do calendário boliviano, porém

são comemorados aos domingos,

quando acontece a feira. As festas

têm uma grande importância, uma

vez que faz o “elo entre espaços e

tempos distintos [...] representa o

momento da recriação de relações

de sociabilidade”19 , é o reencontro

com a própria cultura, com suas ra-

ízes. É possível assistir a apresenta-

ções de danças típicas como a dia-

blada, a morenada, a cueca, os tinkus,

os tobas e os caporales, além da dis-

tinta indumentária que desfilam.

Apesar das dificuldades do dia-

P R AÇ A K A N T U TA

16

Page 18: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

a-dia, da má qualidade de vida, do

trabalho intenso dos imigrantes

bolivianos, “a riqueza e o brilho das

tradições culturais, por um lado, e

o esforço de organização, por ou-

tro, demonstram a busca do grupo

por um lugar de destaque na socie-

dade paulistana, que em geral os

vê apenas como força de trabalho

barata para a indústria das confec-

ções, e não como sujeitos sociais

portadores de direitos, valores, tra-

dições, ritmos e sabores”20. As dan-

ças que aqui se realizam revelam a

identidade desses imigrantes, não

só como um resgate de suas ori-

gens, mas também com o fato de

serem bolivianos numa terra estran-

geira, no Brasil.

A Associação também dá apoio

aos imigrantes recém chegados, e

ajuda à procura de emprego, através

de um mural onde são dispostas as

oportunidades. Cabe ressaltar que

essa organização é realizada por vo-

luntários da própria comunidade.

A sede da Associação funciona

em um pequeno “puxadinho“ e não

possui uma infra-estrutura adequa-

da: uma sala e dois banheiros sem

iluminação e ventilação natural ne-

cessária. Foi cedido pela prefeitura

e se encontra dentro do terreno vizi-

nho, onde funciona uma Unidade Bá-

sica de Saúde (UBS), que atualmente,

tenta recuperar tal espaço. As ativi-

dades apenas ocorrem aos finais de

semana, pois, segundo o presidente

da Associação, Wilson Ferreira Cam-

pos, faltam voluntários para realizar

aulas.

Existem mais três associações de

bolivianos na cidade: A Associação

dos residentes bolivianos (ADRB),

fundada em 1969; o Círculo Boli-

viano, fundado em 1975; e o Centro

dos Residentes Cruzenhos, fundado

em 1980. Há quatro rádios piratas

no bairro, entre elas a Oficial Clube,

94,3 FM e a Vanguarda, 103,9 FM,

que transmitem músicas bolivianas

e informações da comunidade e da

Bolívia, onde se escuta espanhol, ai-

mará, quéchua21 e até guarani. Tam-

1720. SILVA, Sidney A. de. Bolivianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. – (Série Lazuli, imigrantes no Brasil), pg. 59.

21. Na Bolívia, as línguas indígenas andinas aimará e quéchua são consideradas oficiais, junto ao castelhano, e faladas por mais de 3,5 milhões da população.

Page 19: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

22. SILVA, Sidney A. de. Bolivianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. – (Série Lazuli, imigrantes no Brasil). Pg. 37.23 CAMARGO, Beatriz. Kantuta é um pedaço de Bolívia na capital paulista. Repórter Brasil, São

Paulo, jul./2006. Disponível em: <http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=668>. Acesso em: 18 out. 2010.

bém, existe uma publicação mensal,

a revista Pachamama, revista de la

comunidad boliviana, que traz infor-

mes, eventos e oferta de serviços

para comunidade boliviana. “A cria-

ção de diferentes formas de organi-

zação entre os imigrantes é um sinal

de que o processo migratório já se

consolidou.”22

Em torno de duas mil pessoas

visitam a feira, e nos dias festivos

podem chegar a três a quatro mil,

segundo a Associação. São empa-

nadas, salteñas, buñelo (massa de

trigo frita), ají (tipos de pimentas),

diferentes tipos de batatas (como a

ch’uñu) e pães, apí (bebida quente

de milho), cerveja paceña, chica de

mani (refresco de amendoim), re-

fresco de linhaça, mocochinchi (re-

fresco de pêssego), f lautas de pã,

malha de lã de lhama, aguayo (teci-

do típico andino de listras coloridas),

bolsas típicas, pôster do presidente

boliviano Evo Morales junto a ban-

deiras do Brasil, dvd’s com progra-

mas de humor boliviano, cartões

telefônicos para chamadas interna-

cionais, entre outros tantos produ-

tos de origem boliviana e também

peruana. A música fica por conta

do dj e muitas vezes de grupos de

músicas tradicionais que animam a

feira. Somente se escuta espanhol

neste local, realmente parece que

está em outro país. Roberto, jovem

boliviano que vive no Brasil há sete

anos completa: “Cada pessoa que

vem aqui pode contar uma história

diferente de como chegou ao Brasil,

de como encontrou trabalho. São

muitas histórias bonitas que ficam

escondidas”.23

Todos os domingos a partir das

11h00 até às 20h00 centenas de bo-

livianos enchem a pequena praça

Kantuta. Uma das únicas opções de

lazer para estes imigrantes é o local

onde podem encontrar compatrio-

tas, namorar, informar-se sobre a

família que permaneceu no país de

origem, degustar comidas típicas,

ouvir e dançar músicas bolivianas e

latinas e comprar produtos andinos.

A feira Kantuta tenta recuperar

a imagem do imigrante boliviano

visto como índio, pobre e escravo,

apresentando a cultura desse país e

suas riquezas. É a integração entre

brasileiros e bolivianos em uma pra-

ça de São Paulo.

Page 20: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

FESTA DE ALACITAS

Tive a oportunidade de visitar a

Festa das Alacitas do ano de 2011,

organizada pela Associação Gastro-

nômica, Cultural e Folclórica Boli-

viana Padre Bento. Foi realizada no

Clube Regatas Tietê, e não na praça

Kantuta, pelo tamanho da festa, dos

eventos que ali se realizaram e pela

grande quantidade de visitantes, em

sua totalidade, bolivianos.

Segundo o convite da festa divul-

gado pela associação: “Alasita vem

da língua aymará e significa compra-

me. A feira de Alasitas é uma ativida-

de econômica própria dos indígenas

aymarás e mestiços que habitam na

cidade de La Paz (Bolívia). Durante

a colonização existiam diversas fei-

ras indígenas que acompanhavam o

calendário agrícola e as festividades

católicas. A feira de Alasitas nasce

como parte do culto ao Ekeko que

é o Deus da abundância, que traz

prosperidade e bens materiais, ne-

cessários para a vida.

A festividade da Nossa Senhora de

La Paz, celebrada os dias 23, 24 e 25

de janeiro desde 1800 com atos litúr-

gicos católicos, contou com a parti-

cipação de todos os setores do povo

paceño e indígenas aymarás, dançan-

do e vendendo miniaturas de mó-

veis, roupas, ferramentas, alimentos,

utilidades domésticas e animais. De

1859 a 1865 a feira de Alasitas con-

verteu-se num espaço de exibição de

belos trabalhos em miniatura.

As miniaturas segundo o pensa-

mento andino, são portadoras de po-

deres mágicos e símbolos profundos,

e trazem a fertilidade e abundância

de bens materiais.

Existe o costume de comprar as

miniaturas às 12:00 hs do dia 24 de

janeiro, levá-las ao Yatiri (religioso)

para colocar incenso e abençoá-las

na igreja católica. Segundo a tradição

esta é a hora sagrada. Se tivermos fé

o nosso desejo se cumpre.”

As cores, as miniaturas da “casa

dos sonhos“ e dos carros, as noti-

nhas de dólares e reais, os porqui-

nhos, se cobriam de significados. Os

grupos se reuniam na grama, dispu-

nham as miniaturas compradas em

um círculo, chamavam o padre que

as abençoavam, e logo, benziam jo-

gando cerveja por elas.

As danças que foram apresentadas,

além de encantarem pelos movimen-

tos, pelas vestes e pelos adornos,

mostravam uma distinta coreografia.

A festa toda foi um belo espetáculo.

Page 21: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

A questão da imigração está pre-

sente em diversos países, principal-

mente nas grandes metrópoles, que,

muitas vezes, não sabem como lidar

com a situação. A exploração nos pa-

íses subdesenvolvidos determina um

limite à liberdade de mobilização: por

conta da falta de oportunidades que

seus países oferecem, os imigrantes

se dirigem aos países desenvolvidos,

enquanto esses adotam políticas res-

tritivas à sua entrada, “a mobilização

forçada e a imobilização forçada são

dimensões da mesma violência“.25

No caso da migração latina, os

principais destinos são Brasil, Argen-

tina e Chile. O professor Percival Tira-

peli26 nos conta que no Brasil, a imi-

gração dos povos latino-americanos

deu-se a partir de 1950, quando chi-

lenos e peruanos foram atraídos pelo

desenvolvimento econômico gerado

com a criação de Brasília. Outros f lu-

xos migratórios, incluindo de brasi-

“Respeitando e divulgando as culturas dos

grupos imigrantes, estaremos aprendendo

a viver democraticamente numa sociedade

plural” .24

24. CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. In: SILVA, Sidney A. de. Bolivianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. – (Série Lazuli, imigrantes no Brasil).25. VAINER, Carlos B.. Migração e mobilidade na crise contemporânea da modernização. In: Simpósio Internacional Migração: nação, lugar, dinâmicas territoriais, 1999, São Paulo/SP. Caderno de Resumos do Simpósio Internacional Migração: nação, lugar, dinâmicas territoriais, 1999. v. I. pg. 28.

26. TIRAPELI, Percival (pesquisa e textos); SILVA, Manoel Nunes da Silva (fotografias). São Paulo, Artes e Etnias. São Paulo: Editora Unesp; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007,pg. 341.27. SILVA, Sidney A. de. Bolivianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. – (Série Lazuli, imigrantes no Brasil), pg. 2.

leiros, ocorreram durante as ditadu-

ras latino-americanas, por questões

políticas, ideológicas e econômicas.

Ainda segundo Tirapeli, a partir dos

anos 80, a migração latina tinha por

objetivo a área médica, os cursos

de pós-graduação e contratação de

executivos e funcionários de empre-

sas multinacionais. Hoje em dia, os

imigrantes, geralmente, “são aceitos

com reservas e, muitas vezes, recha-

çados antes mesmo de chegarem ao

seu destino final, como se fossem

possíveis ‘criminosos’. Porém, eles

têm algo em comum: acalentam o

sonho de uma vida digna para seus

filhos, ainda que seja numa pátria

estrangeira e às vezes em condições

adversas”.27

São Paulo, desde muitos anos,

concentra milhares de estrangeiros

oriundos de diversos lados, atraídos

pelo desenvolvimento industrial e

pela oferta de serviços existentes e

oportunidades variadas que a cidade

oferece. A cidade recebe esses imi-

grantes e, de sua maneira, os acolhe,

promovendo uma mistura de raças e

culturas enriquecedora. Em suas ruas

se encontram e se desencontram di-

versos sotaques, traços, músicas, co-

midas e rituais, formando o mosaico

dessa metrópole heterogênea.

Os números da migração Bolívia-

São Paulo são confusos. Enquanto o

Consulado da Bolívia na cidade de São

Paulo calcula entre 50 e 60 mil a cifra

de imigrantes bolivianos clandesti-

nos, o Ministério Público calcula em

200 mil não documentados. Boa par-

te dos migrantes recorre à migração

clandestina, pelo acesso limitado e

pela falta de informação sobre os pro-

cedimentos e requisitos migratórios.

Também se encontra grande número

de imigrantes bolivianos nas cidades

fronteiriças: Corumbá (MT), Guajará-

Mirim (RO) e Foz do Iguaçu (PR).

I M I G R AÇ ÃO

20

Page 22: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

Ponto de partida, a Bolívia é um

país de belas paisagens naturais,

marcado por diferenças e rivalidades

etnoculturais e apresenta os mais

baixos índices de desenvolvimen-

to humano (IDH) entre os países da

América Latina. Segundo o Instituto

Nacional de Estadística de Bolívia28, o

INE , da população total do país, cer-

ca de onze milhões de habitantes, a

maioria é jovem e urbana. As cidades

mais populosas são: La Paz e El Alto,

no altiplano, Cochabamba, na região

central e Santa Cruz de la Sierra, no

oriente boliviano. É um país pluricul-

tural, formado por diferentes etnias,

onde, ainda segundo o INE, cerca de

60% da população total é indígena.

“As relações etnoculturais entre as

várias classes sociais que compõem

a sociedade boliviana são marcadas

pelo ‘preconceitos’ herdados do pe-

ríodo colonial, os quais por sua vez

acabam se reproduzindo em um

Todos os domingos milhares de imi-

grantes tailandesas e filipinas que tra-

balham como empregadas domésticas

em Hong Kong se reúnem nas calçadas

dos grandes edifícios empresariais do

centro da cidade (na foto ao lado, tér-

reo do edifício do banco HSBC, projeto

do arquiteto Norman Foster). Único dia

de lazer, elas se encontram para fofocar,

comer, fazer as unhas, cortar o cabelo e

descansar. Os maus tratos que sofrem

pelos patrões e o constante preconcei-

to de que são vítimas, podem ser, de al-

guma maneira, esquecidos quando elas

encontram uma maneira de se firmarem

como pessoas comuns, mesmo estando

longe de suas famílias, de sua cultura.

novo contexto sociocultural”.29

Pelas dificuldades econômicas e

sem melhores perspectivas, milhares

de bolivianos migram em busca de

trabalho. Em São Paulo, grande parte

desses imigrantes partiu de La Paz,

Cochabamba, Oruro, Potosí, Santa

Cruz e Beni. Sendo a maioria jovens,

solteiros e com nível escolar médio,

mas, também, há uma porcentagem

de profissionais liberais, como mé-

dicos, professores, dentistas, enge-

nheiros, entre outros. Parte desses

imigrantes reside nos bairros centrais

da capital paulista, sobretudo Brás,

Bom Retiro, Pari, mas também em

bairros mais longínquos como Vila

Maria, Vila Guilherme, Guaianases e

São Mateus.

Atraídos pelas oficinas de costura

ligadas à indústria da moda paulista

e pelas promessas de bons salários,

os trabalhadores bolivianos procu-

ram os chamados coyotes, que agen-

FOTO

MA

RIN

A R

AG

O

28. Disponível em <http://www.ine.gob.bo/>. Acessado em 28/04/2011.29. SILVA, Sidney A. de. Bolivianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. – (Série

Lazuli, imigrantes no Brasil), pg. 11.

Page 23: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

ciam, desde a Bolívia, a vinda a São

Paulo. Entretanto, quando chegam, a

realidade é outra: o custo da viagem

é debitado do mísero salário que

irão receber, assim como a estadia

e alimentação que a oficina conce-

de. Ou seja, este imigrante quando

chega para trabalhar, já se encontra

endividado e devendo favores aos

empregadores.

Nas oficinas, muitas vezes, são sub-

metidos a condições de trabalho se-

mi-escravo, em jornadas que podem

chegar a 18 horas sob o sistema de

cama-quente, sem poder sair às ruas

por dias (ou meses em casos extre-

mos) para evitar as denúncias de que

são ameaçados pelos donos desses

estabelecimentos clandestinos (em

geral, bolivianos, brasileiros e core-

anos). Se receberem um salário, este

é calculado pela quantidade de pe-

ças de roupas feitas, sendo 10% do

valor recebido pelo dono da oficina

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007.

Com uma fronteira de mais de 3.000 km, os principais pontos de travessia são as regiões fronteiriças de Guajará-Mirim, no

estado de Rondônia; Cáceres, no estado de Mato Grosso; e Corumbá, em Mato Grosso do Sul.

de costura, cerca de R$0,10 a R$0,50

por peça, assim, o salário varia entre

R$150,00 a R$500,00.

O caso apresentado a seguir de-

monstra a brutalidade desse sistema:

“Miguel, natural de Cochabamba,

trazido por uma brasileira para traba-

lhar em sua oficina de costura com

promessa de que ganharia U$500,00

mensais. Tendo entrado clandestina-

mente no Brasil, foi levado para seu

cativeiro, durante a noite, na rua São

Caetano (região central), onde per-

maneceu por três meses sem sair.

Quando aí chegou, a mulher que o

trouxe disse que se tratava de ‘outro

burro no curral’. Miguel calou-se e se

perguntava sobre o significado dessa

expressão. Seus companheiros, tam-

bém bolivianos, lhe disseram que a

mulher não os pagava e tampouco os

deixava sair, com medo de que bus-

cassem outro serviço. Seu dia-a-dia

era totalmente dedicado ao trabalho.

Levantava-se às seis horas da manhã

e se parava uma hora apenas, para

alimentar-se com a pobre comida

que lhe era oferecida. Para minorar

a solidão e as agruras do dia-a-dia,

uma farta coleção de músicas boli-

vianas e latinas era posta à sua dispo-

sição, pois a música mantinha vivos

nele os vínculos com a terra natal e

o sonho de poder voltar um dia para

os familiares, quem sabe um pouco

melhor do que saíra. Porém, no dia

6 de abril de 2001, não suportando

mais tamanha humilhação, ele to-

mou a decisão de fugir. Ajudado pe-

los companheiros, pulou o alto muro

do cativeiro num dia em que sua

‘patroa’ tinha ido a uma festa. Com

muito medo, caminhou a pé várias

horas até uma delegacia de polícia,

onde permaneceu até o dia amanhe-

cer. No dia seguinte foi encaminhado

à Polícia Federal e de lá à Pastoral dos

Migrantes, onde permaneceu por al-

2230. SILVA, Sidney A. da. Virgem Mãe Terra: festas e tradições bolivianas na metrópole. São Paulo: Hucitec/Fapesp, 2003., pg. 38.

Page 24: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

guns dias até o regresso à Bolívia”30.

Geralmente, o ambiente de traba-

lho é pouco ventilado e a comida

com que são alimentados é rala, de

modo a prejudicar a saúde desses

trabalhadores, que se predispõem

à doenças contagiosas, como a tu-

berculose. Temendo serem levados

à polícia, por falta de documentos,

os doentes não procuram postos de

saúde, e permanecem isolados nas

oficinas.

Além do exaustivo trabalho, os

imigrantes bolivianos são constan-

temente alvos de preconceito e xe-

nofobia por parte dos brasileiros que

desconhecem suas raízes étnicas e

culturais: “para a sociedade brasileira

o imigrante é simplesmente ‘o boli-

viano’, com toda a carga negativa

que esta identidade carrega“.31

A falta de documentação é um

grande problema enfrentado por es-

ses imigrantes clandestinos, uma vez

TERRITÓRIO

MIGRAÇÕES SONHOS

MITOS

DIVERSIDADE

ORIGENS

MEMÓRIA

INTEGRAÇÃO

RITOS

que o órgão oficial encarregado é a

própria Polícia Federal, o que causa

grande constrangimento pela situa-

ção ilegal em que estão, e, também

pela demora da expedição dos docu-

mentos que são analisados em Bra-

sília, que podem durar alguns anos.

Desse modo, sem documentos, não

conseguem alugar um imóvel, abrir

uma conta bancária, estudar, validar

seus títulos acadêmicos ou votar.

O sonho de uma vida melhor vi-

rou pesadelo? Pode-se dizer que sim,

mas “a medida que em que o grupo

se organiza na cidade e amplia seus

vínculos com a pátria mãe, através de

investimentos, comércio de produtos

e viagens para passar férias, o sonho

do retorno definitivo passa a ser uma

possibilidade cada vez mais remota

para os mesmos, que apostam tudo

no futuro de seus filhos. Nesse sen-

tido, tal sonho passa a ser uma reali-

dade tangível na medida em que eles

conseguirem enviar pelo menos um

de seus filhos para cursar uma facul-

dade em seu país de origem. E para

mantê-los lá é preciso permanecer

aqui, sempre um pouco mais, já que

a tendência parece ser a transforma-

ção do provisório em permanente“.32

A Pastoral dos Migrantes, impor-

tante base para os grupos de imi-

grantes, os acolhe, ajuda e assessora

na busca de emprego, casa e docu-

mentação. Também abre espaço para

realização de festas e eventos da co-

munidade. Em troca, exigi-se a parti-

cipação nas atividades da pastoral e

seguir as obrigações religiosas.

A maioria dos bolivianos é católica,

a devoção aos santos e às virgens aju-

dam a enfrentar os desafios do dia-a-

dia. Mas é pelo culto à Pachamama

que agradecem, fazem pedidos e se

fortalecem. “Pacha, enquanto espa-

ço, subdivide-se em três níveis cos-

mológicos: o mundo de cima, Alax

23

31. SILVA, Sidney A. da. Etnia, Nação e Regionalismos no jogo identitário entre os imigrantes bolivianos em São Paulo. In: Simpósio Internacional Migração: nação, lugar, dinâmicas territoriais, 1999, São Paulo/SP. Caderno de Resumos do Simpósio Internacional Migração:

nação, lugar, dinâmicas territoriais, 1999. v. I. p. 126.32. Idem, pg. 133.

Page 25: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

Pacha, o mundo daqui, Aka Pacha, e

o mundo de baixo, Manqha Pacha. É

neste mundo, e, portanto numa po-

sição intermediária, que se encontra

a Pachamama, definida como Mãe

Terra, ou mais precisamente mãe da

totalidade humana ou fonte da vida.

Essa é a razão pela qual é imprescin-

dível oferecer-lhe presentes em dife-

rentes situações através do ritual da

Ch’alla, porque Ela sente fome, sede

e, quando não atendida pode ficar

enfurecida e não atender aos pedi-

dos”33. Esse culto inserido no meio

urbano da cidade, ressignifica-se: a

casa, local de moradia e do árduo

trabalho é a Pachamama - “Esta casa

é uma Pachamama. Então temos que

nos recordar dela sempre, pois ela

nos cria dia após dia, no trabalho, na

família, nas wanas (crianças) e em nós

mesmos”.34

Para Milton Santos, a memória para

os imigrantes é inútil, uma vez que

“Se diz Pachamama à terra, porque nos

dá a produção. É uma realidade, nos dá a

produção. Aí cresce a batata, o trigo, tudo. É

a Pachamama, é uma realidade.

Enquanto Jesus Cristo, Deus, não é uma

realidade. Onde se pode ver Jesus Cristo,

Deus? Não existe.

Pachamama é nosso deus, nossa crença,

onde na realidade vemos crescer a batata,

as frutas a laranja, tudo é a Santa Terra. Eu

semeio nela, vivo nela, como dela. É uma

realidade”. 36

suas lembranças de outro meio

pouco lhe servem na luta cotidia-

na, são necessárias novas experi-

ências, novas descobertas: “a me-

mória olha para o passado. A nova

consciência olha para o futuro. O

espaço é um dado fundamental

nessa descoberta. Ele é o teatro

dessa novação por ser, ao mesmo

tempo, futuro imediato e passado

imediato, um presente ao mesmo

tempo concluído e inconcluso,

num processo sempre renovado“35.

Assim, esses imigrantes bolivianos,

uma vez estando no Brasil, absor-

vem outra cultura, reformulam seus

modos de vida e de pensar.

24

33. SILVA, Sidney A. de. Bolivianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. – (Série Lazuli, imigrantes no Brasil), pg. 62.34. Idem.35. SANTOS, Milton. “A natureza do espaço. Técnica e Tempo”. Razão e Emoção. 4.ed. São Paulo: EDUSP, p. 328. 2008.

36. Depoimento de uma senhora boliviana no documentário Pachamama. In: ROCHA, Erik; MARTINS, Daniela; EDDE, Leonardo. Pachamama. Produção de Daniela Martins e Leonardo Edde, direção de Erik Rocha. Rio de Janeiro, Urca filmes e Aruac Produções, 2008. Dolby Digital 5.1., 100 min, cor.

Page 26: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

C E N T R O D E C U LT U R A B R A S I L - B O L Í V I A

Sensibilizada pelos dados apresen-

tados anteriormente, decidi desen-

volver um projeto que abrangesse

essa população de imigrantes boli-

vianos que já está se miscigenando,

construindo novos vínculos em São

Paulo. Seria um espaço de conheci-

mento do outro, onde cada um bus-

caria sua identidade latino-america-

na.

Pensando que São Paulo contém

muitas comunidades latinas, esse

local seria o primeiro de uma série.

Há toda uma América do Sul (sem

falar de outros países de outros con-

tinentes) na nossa cidade, temos que

conhecê-la, conhecer-nos. Criar um

lugar onde paulistano, boliviano,

nordestino, coreano, negro, branco,

rico e pobre se encontrariam e des-

cobririam semelhanças, conviveriam

diferenças.

Buscando eliminar preconceitos

e promover uma integração latino-

americana, nasce o Centro de Cultura

Brasil-Bolívia.

25

Page 27: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

E S C A L A P E S C A L A M

Á R E A

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CEFET8

EMEF9

ABRIGO SÍTIO DAS ALAMEDAS10

FAVELA12

ABRIGOS CASA SAMARITANO,ASSOCIAÇÃO MULHER VIDA13

GALPÃO CMTC15

GALPÃO SPTRANS16

HORIZONTAL DE BAIXO E MÉDIO PADRÃO17

CLUBE DA POLÍCIA MILITAR18

FÁBRICA BELA VISTA7

PRAÇA KANTUTA1

TERRENO PROPOSTO2

CEI3

AMA-UBS4

SEMAB-SECRETARIA ABASTECIMENTO5

CONJUNTO HABITACIONAL6

EMEI11

CLUBE COMUNIDADE DO PARI14

E S C A L A G

Page 29: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

O terreno escolhido para abrigar o

Centro, localiza-se em frente à Pra-

ça Kantuta, na rua Pedro Vicente, no

bairro do Canindé, parte do distrito

do Pari, que integra a Subprefeitura

da Mooca. É um dos menores distri-

tos da capital, possui uma população

de 14.824 pessoas, abrange uma área

de 2,9 km², e conta com mais de 400

anos.37

Bairro misto, tem predominância

de estabelecimentos industriais e co-

merciais38. Abriga muitos descenden-

tes e imigrantes, princialmente pela

oferta de empregos, atualmente nas

idústrias de confecção. Possui uma

boa infra-estrutura, porém faltam

espaços verdes e equipamentos de

lazer e cultura. Se trata de um bairro

consideravelmente plano, por se en-

contrar na várzea do Rio Tietê, e “bai-

xo”, já que possui em predominância

casas térreas e prédios de dois ou

três andares entre galpões e gara-

gens de ônibus.

O local do projeto a ser desenvol-

vido é destinado a equipamento de

infra-estrutura e considerado como

parte de uma zona mista de alta den-

sidade. Em suas imediações há a CE-

FET (Centro Federal de Educação Tec-

nológica de São Paulo); a UBS/AMA

Pari (Unidade Básica de Saúde e As-

sistência Médica Ambulatorial); três

escolas públicas federais e estaduais;

um conjunto habitacional composto

por três blocos; uma fábrica de bis-

coitos; três albergues para morado-

res de rua, mulheres e terceira ida-

de; uma favela de pequeno porte; o

clube da comunidade do Pari; clube

da CMTC; dois galpões vazios perten-

centes à CMTC e SPtrans; comércios,

serviços e residências horizontais.

Também vale destacar a proximidade

com o Terminal Rodoviário Tietê e da

estação de metrô Armênia.

28

37. Dados retirados do site da Prefeitura de São Paulo. Disponível em <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/mooca/historico/index.php?p=435>. Acessado em 30/11/2010.

36. Segundo o mapa de Uso e Ocupação do Solo elaborado pela EMPLASA. Disponível em <http://www.emplasa.sp.gov.br/>. Acessado em 30/11/2010.

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R. CANINDÉ

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ZONEAMENTO

MO ZM 3a

ZONA MISTA DE ALTA DENSIDADE - a

MO ZM 3b-01

ZONA MISTA DE ALTA DENSIDADE -b

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PRAÇA KANTUTA + FEIRA PRAÇA KANTUTA + FEIRA + TERRENO PROPOSTO

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PRAÇA KANTUTA +TERRENO PROPOSTO + EIXOS VISUAIS PRAÇA KANTUTA + TERRENO PROPOSTO + EIXOS VISUAIS + NOVAS CONEXÕES

31

Page 33: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

PRAÇA KANTUTA + TERRENO PROPOSTO PRAÇA KANTUTA + TERRENO PROPOSTO = NOVA PRAÇA

32

Page 34: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

ESPAÇO PÚBLICO EXISTENTE ESPAÇO PÚBLICO EXISTENTE + ABERTURA DE NOVOS ESPAÇOS

33

Page 35: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

ESPAÇO PÚBLICO EXISTENTE + ABERTURA DE NOVOS ESPAÇOS + PISO PÚBLICOESPAÇO PÚBLICO EXISTENTE + ABERTURA DE NOVOS ESPAÇOS

+ PISO PÚBLICO = AMPLIAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO

34

Page 36: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

435m²

150m²

48m²

215m²

245m²

45m² 45m² 45m² 45m²

85m²

43m²

85m²

165m²

CENTRO DE APOIO AO IMIGRANTE

CENTRO DE REFERÊNCIA

AUDITÓRIO

RÁDIOS

RESTAURANTE /CAFÉ

BIBLIOTECA

SALAS DE AULA

ADMINISTRAÇÃO

BANHEIRO PÚBLICO

QUADRA ESPORTIVA

. cultura boliviana

. história da Bolívia

. histórias da migração Bolívia-Brasil

. cozinha

. refeitório

. balcão café

. quadra poliesportiva

. 2 vestiários

. arquibancada

. apresentações

. palestras

. projeções

. 336 lugares

. central de empréstimos

. livros e periódicos

. área de leitura

. internet livre

. cabines telefônicas

. aula de português

. aula de espanhol

. aula de música

. oficina de moda

. brinquedoteca

. recepção/triagem

. cadastramento

. setores de apoio (habitação, emprego, saúde e documentação)

. recepção

. sala presidente

. sala vice-presidente

. sala reuniões

. banheiro feminino

. banheiro masculino

. banheiro para portadores de deficiência física

. 4 estudios

. arquivos

P R O G R A M A

35

Page 37: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

SESC Fábrica Pompéia

Lina Bo Bardi (1977), São Paulo

Como principal referência, a rua in-

terna do SESC revela justamente o

que se busca no projeto em questão.

Um espaço animado, de constante

transitoridade, local de diversas ativi-

dades e encontros.

Lina

Bo

Bard

i. Sé

rie A

rqui

teto

s Br

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iros.

Inst

ituto

Lin

a Bo

e P

.M.B

ardi

MASP - Museu de Arte de São Paulo

Assis Chateaubriand

Lina Bo Bardi (1958), São Paulo

O local de encontro do paulistano:

no MASP se confunde o que é rua e

o que é calçada. É palco de diversas

manifestações e atividades abertas

ao público.

R E F E R Ê N C I A S D E P R O J E TO

36

Page 38: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

Faculdade de Arquitetura e

Urbanismo da Universidade de São

Paulo, FAUUSP

Vilanova Artigas (1961), São Paulo

Um grande céu protege os

volumes que formam os espaços da

faculdade. Não há portas. As rampas

conectam os meios-níveis, tudo flui

nesse edifício-cidade.

O salão caramelo é centro das mais

variadas atividades.

É vivo.

Centro de información y

documentación Sergio Larrain

García-Moreno

Teodoro Fernandez, Smiljan Radic e

Cecilia Puga (1994), Santiago, Chile

Dispondo o programa em desnívieis,

o projeto ganha ambiências e visuais

interessantes.

Quem está ao nível da rua, observa

os nichos criados no andar

rebaixado, que concentra os usos

que necessitam de menos ruídos. 37

Fort

y, A

., an

d E.

And

reol

i, Br

azil’s

Mod

ern

Arc

hite

ctur

e, P

haid

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. 197

, 200

4.

REVI

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ARQ

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Chi

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.67,

San

tiago

, dez

./200

7. p

. 52-

59.

Page 39: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

Baño Público - Pabellones Públicos - Parque de la Independencia

Rafael Iglesia (2003), Rosário - Argentina

Como parte de um conjunto de pavilhões, o banheiro demarca o ingresso

ao parque, como uma lanterna. Sua localização privilegiada, o fechamento

em vidro U-Glass, revela a inversão que o arquiteto propõe para um

equipamento de infra-estrutura, normalmente recluso, seu destaque.

Revi

sta

Sum

ma

nº71

, pg.

104

, 200

5.

foto

: aut

ora

Parque Biblioteca León de Grieff

Giancarlo Mazzanti (2007), Medellín -

Colômbia

A biblioteca faz parte de um sistema

de bibliotecas parques, implantadas

na periferia de Medellín.

Além de um equipamento de

qualidade, o projeto dispõe de três

blocos que se unem por uma rua

interna, conectando diferentes usos.

Disponível em <http://plataformaarquitectura.cl/>. Acessado em 29/11/2010.

38

FOTO

AU

TORA

FOTO

AU

TORA

Page 40: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

O desenvolvimento do projeto do

Centro de Cultura Brasil-Bolívia partiu

da idéia de reforçar a presença dos

imigrantes bolivianos na praça Kan-

tuta, conquistada por eles. Garantir

um espaço em que possam aconte-

cer diversas atividades, bem como a

feira e as festas aos domingos.

Com o crescente número de vi-

sitantes atraídos pela feira, a praça

pede por mais espaço. Utilizando o

terreno vazio em frente à praça foi

possível ampliá-la, como uma exten-

são do piso, passando por cima do

asfalto da rua, abrindo uma nova pra-

ça, onde a rua é o palco. As ativida-

des poderiam ocorrer ali, ou em ou-

tro lugar, é livre. As barracas da feira

não devem ter uma localização fixa,

elas podem formar diferentes com-

posições neste novo espaço.

Pensando nas atividades que se

desenvolvem no entorno da praça

– abrigos, escolas, posto de saúde e

clube comunitário – teve-se a idéia

de desenvolver um “piso público”: re-

movendo os muros que delimitam os

terrenos, jardins novos e existentes

dividiriam as atividades – apenas nas

escolas adotar-se-ia um fechamento

durante a semana, pela segurança

dos alunos, porém com cercas e não

muros, garantindo alguma transpa-

rência entre os ambientes, e seriam

abertos aos finais de semana para

que a comunidade também possa

usufruir de tais espaços. Para marcar

ainda mais esse quarteirão público, a

partir da rua Pedro Vicente, esquina

com a rua Carnot, até a rua Olarias,

esquina com a rua Araguaia, o nível

da rua alcançaria o nível da calçada,

permitindo a livre transitoriedade de

pedestres. A passagem de veículos

seria demarcada apenas com o as-

falto, e, na nova praça, balizadores

retráteis indicariam o caminho – du-

rante a feira, sem o trânsito de carros,

O P R O J E TO

39

A RUA É O PALCO

Page 41: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

37. A antena se localizaria a poucos metros da rádio, próximo aos abrigos para moradores de rua.

esses balizadores seriam abaixados

ao nível do piso, desaparecendo em

meio aos transeuntes.

A arquibancada aberta, desenha-

da como extensão do piso, possibi-

lita diferentes vistas da praça e do

bairro, explorando novas visuais. A

maioria das danças típicas bolivianas

possuem distintas coreografias, não

permanecem dançando em um lo-

cal, ocupam todo o espaço que há,

se misturam entre os espectadores,

resultando em uma nova dança. A

arquibancada pode revelar esses mo-

vimentos, a partir de diferentes altu-

ras. Alguns degraus foram estendidos,

criando nichos, onde, por exemplo,

um grupo pode se sentar em roda.

Essa espécie de arena livre poderia ser

também utilizada para teatros, shows,

apresentações diversas e exibições de

filmes ao ar livre.

Aproveitando a forma da arqui-

bancada, abaixo desta, cria-se um

auditório fechado, com capacidade

para um público de 336 pessoas. Um

local mais reservado para palestras,

apresentações, aulas e projeções.

Também nesse volume se encontra

o centro de referência da cultura

boliviana: dados sobre a Bolívia, sua

história e cultura, e os movimentos

de imigração ao Brasil, conformariam

diferentes exposições, organizadas

pela própria comunidade, onde cada

um poderia contar sua história, suas

impressões e suas realidades.

A quadra esportiva foi reposicio-

nada em um sentido norte-sul (atual-

mente é leste-oeste) e rebaixada três

metros gerando duas arquibancadas

por seu comprimento, além de possi-

bilitar a vista de quem está no nível

da praça. Visto que os campeonatos

de futebol são muito importantes

para a comunidade, foram desenha-

dos dois vestiários, ao lado da qua-

dra, garantindo infra-estrutura para

tal atividade.

No nível da rua, ao lado da gran-

de arquibancada, está o volume do

restaurante e das rádios. Local para

degustar comidas típicas bolivianas,

durante toda a semana, ou tomar um

rápido café no balcão, o restaurante

se abre nesse “piso público”, possibi-

litando a vista para a cidade. Quatro

estúdios de rádios, no nível acima do

restaurante, abrigariam as rádios da

comunidade, atualmente piratas, que

passariam a funcionar como rádios li-

vres. A transparência desses estúdios

com vista para a praça permitiria aos

transeuntes observar e conhecer os

radialistas, interagir com eles. Fun-

cionaria como uma vitrine de um

meio de comunicação37.

Na outra lateral da grande arqui-

bancada, três volumes se relacionam:

banheiro público, centro de apoio ao

imigrante, biblioteca e salas de aula.

No térreo, o banheiro público, para

centro de referência

restaurante

salas de aula

arquibancada

rádios

centro de apoio ao imigrante

banheiro público

biblioteca

quadra esportiva administração

auditóriovestiários

TÉRREO

10 PAVIMENTO

IMPLANTAÇÃO

SUBSOLO

Page 42: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

41

atender a grande quantidade de visi-

tantes à feira, com clara referência ao

projeto do arquiteto argentino Rafael

Iglesia38, possui uma planta particu-

lar: em um zigue-zague de cabines,

divide o prisma de fechamento em

vidro U-Glass em feminino e mas-

culino. A iluminação garantida e a

qualidade do espaço colocam tal in-

fra-estrutura, muitas vezes relegada,

como uma peça de arquitetura, tão

importante quanto as outras.

A biblioteca, espaço de conheci-

mento, do aprofundar, se coloca em

um volume simples, de um pavimen-

to, com uma lateral fechada também

com vidro U-Glass, para iluminação

da área de leitura. Além das funções

de leitura, empréstimo de livros e

periódicos, esse espaço também

comporta uma área de internet livre

e duas cabines telefônicas para rea-

lização de chamadas internacionais.

A cobertura da biblioteca acontece

como pátio das salas de aula, locali-

zadas no nível superior. Quatro salas

de aula, conectadas por um corredor,

se apresentam como espaço livre

para o aprendizado. Ali, bolivianos

poderiam receber aulas de portu-

guês, como também poderiam en-

sinar o castelhano aos brasileiros.

Abrir-se-ia um local de trocas de co-

nhecimento: aulas de música, costu-

ra, desenho, artesanato, entre outras.

Intercambiar. Uma das salas abrigaria

a brinquedoteca, espaço de ativida-

des para as crianças da comunidade.

As salas dispõem de ventilação cru-

zada e iluminação natural controlada

por brises horizontais.

Acima dos banheiros, compondo

o mesmo volume, está o centro de

apoio ao imigrante. Local que daria

assistência aos imigrantes em busca

de documentação, emprego ou mo-

radia, facilitando os entraves burocrá-

ticos, e também local para denúncias

e reclamações.

Próximo aos abrigos de moradores

de rua, o terreno ocupado pela pe-

quena favela passaria abrigar mais

dois volumes de moradia, e um ter-

ceiro volume onde funcionaria uma

creche e um bicicletário público.

Para facilitar a circulação de veículos

e pessoas no entorno, a rua Projeta-

da, paralela à rua Pedro Vicente, foi

estendida ao encontro da rua Pascoal

Ranieri, criando mais uma conexão

com a avenida Cruzeiro do Sul. Para

tal, seria necessária a remoção de um

anexo de um edifício pertencente à

Secretaria Municipal de Cultura.

38. Pabellones Públicos , Parque de la Independencia, Rosário, Argentina, 2003.

Page 43: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

S I T UAÇ ÃO AT UA L

Page 44: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

I M P L A N TAÇ ÃO

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CO B E R T U R A

Page 46: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

1 O PAV I M E N TO

Page 47: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

T É R R E O

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S U B S O LO

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CO R T E S

47

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48

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49

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50

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I M AG E N S

51

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Page 59: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

Essa questão, título de uma expo-

sição39 que tive a oportunidade de

visitar em um passeio escolar há al-

guns anos, ficou marcada como uma

constante dúvida até hoje. Quem sou

eu? Quem é o brasileiro? Ao pergun-

tarmos a diferentes brasileiros sobre

suas origens, cada um terá uma his-

tória distinta. Foram imigrantes de

diversos lados, que aqui se mistu-

raram entre índios e escravos. Uma

grande mistura. Somos uma mescla

de povos, de traços e culturas. Somos

todos mestiços: “Nós, brasileiros, nes-

se quadro, somos um povo em ser,

impedido de sê-lo. Um povo mestiço

na carne e no espírito, já que aqui a

mestiçagem jamais foi crime ou pe-

cado, nela fomos feitos e ainda con-

tinuamos nos fazendo”40. É um povo

em constante “fazimento” segundo o

antropólogo Darcy Ribeiro41.

São os encontros e desencon-

tros de povos que até hoje, através

39. Título da exposição organizada em homenagem ao fotógrafo franco-brasileiro Marcel Gautherot (Paris, 14 de julho de 1910 — Rio de Janeiro, 8 de outubro de 1996) no Museu da Casa Brasileira, em 1999, São Paulo.40. RIBEIRO, Darcy. “O povo brasileiro. A formação e o sentido do Brasil”. São Paulo: Companhia

das Letras, 1995, pg. 447.41. Antropólogo, ensaísta, romancista e político (Minas Gerais, 26 de outubro de 1922 — Brasília, 17 de fevereiro de 1997).

da constante mobilidade, formam

o nosso povo. Os imigrantes boli-

vianos apresentados nesse estudo,

também fazem parte desse povo

brasileiro, uma vez que estão crian-

do raízes nesta terra, constituindo

uma família, realizando seu trabalho,

se refazendo. Eles já não são apenas

bolivianos, já absorveram novos cos-

tumes, aceitaram um novo modo de

vida. Eles também são brasileiros. A

praça Kantuta e o Centro de Cultura

Brasil-Bolívia é a marca dessa nova

miscigenação.

Acredito que uma vez que uma

pessoa entra em contato com outra

cultura, através das mais variadas for-

mas - filmes, viagens, comidas, músi-

cas, arte, feiras, trabalhos, livros, en-

tre outros - e isso o marca, sensibiliza,

vai formar parte da sua pessoa. São

fragmentos diversos que compõem o

ser humano. Eu não sou apenas bra-

sileira: quando vou a um restaurante

japonês, eu sou um pouco japonesa;

se me deparo com uma apresenta-

ção de música peruana em uma cal-

çada qualquer da cidade, eu sou um

pouco peruana; se assisto a um filme

iraniano, eu sou um pouco iraniana.

Essa é a beleza do ser humano, é sa-

ber ver, ouvir, sentir e aprender. As-

sim, quando um cidadão paulistano

vai visitar a feira Kantuta, ele também

sairá de lá um pouco boliviano.

O homem é por si curioso, sempre

está atrás de algo novo. Com a faci-

lidade de trocas de informações na

nossa sociedade globalizada, é pos-

sível descobrir cada vez mais novas

culturas, outros hábitos, entrar em

contato com o que nos é novo. E se

aprendermos a conviver com o dife-

rente, a Terra ainda dará muitas voltas.

Ao respeitar o outro, também estou

me respeitando. A troca é mútua, por-

que o outro também sou eu.

B R A S I L E I R O Q U E N E M E U, Q U E N E M Q U E M ?

57

Page 60: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

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B I B L I O G R A F I A

58

Page 61: CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura

REBECA GRINSPUM

Trabalho Final de GraduaçãoFaculdade de Arquitetura e UrbanismoUniversidade de São PauloOrientador Angelo Bucci