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N o 1.751 - Ano 38 - 3.10.2011 Boletim Tecnologia da UFMG diminui incidência de dengue em 20 cidades mineiras Página 3 Quadrinhos em um mundo bipolar Imagem da série V de vingança, na qual Moore critica o maniqueísmo que predominava durante a Guerra Fria Na primeira dissertação de mestrado do Programa de Pós-graduação em História da Fafich dedicada ao universo das histórias em quadrinhos, o pesquisador Márcio dos Santos Rodrigues relaciona a obra do roteirista britânico Alan Moore ao terror imposto pela queda de braço protagonizada pelos Estados Unidos e pela antiga União Soviética durante a Guerra Fria. Página 5

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No 1.751 - Ano 38 - 3.10.2011

BoletimCentro deComunicação

CEDECOM

CEDECOM UFMGCentro de

Comunicação

Tecnologia da UFMG diminui incidência de dengue em 20 cidades mineirasPágina 3

Quadrinhos em um mundo bipolar

Imagem da série V de vingança, na qual Moore critica

o maniqueísmo que predominava durante

a Guerra Fria

Na primeira dissertação de mestrado do Programa de Pós-graduação em História da Fafich dedicada ao universo das histórias em quadrinhos, o pesquisador Márcio dos Santos Rodrigues relaciona a obra do roteirista britânico Alan Moore ao terror imposto pela queda de braço protagonizada pelos Estados Unidos e pela antiga União Soviética durante a Guerra Fria.

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3.10.2011 Boletim UFMG2

Opinião

Esta página é reservada a manifestações da comunidade universitária, através de artigos ou cartas. Para ser publicado, o texto deverá versar sobre assunto que envolva a Universidade e a comunidade, mas de enfoque não particularizado. Deverá ter de 5.000 a 5.500 caracteres (com espaços) ou de 57 a 64 linhas de 70 toques e indicar o nome completo do autor, telefone ou correio eletrônico de contato. A publicação de réplicas ou tréplicas ficará a critério da redação. São de responsabilidade exclusiva de seus autores as opiniões expressas nos textos. Na falta destes, o BOLETIM encomenda textos ou reproduz artigos que possam estimular o debate sobre a universidade e a educação brasileira.

Dita em conversa de bar e registrada no blog da República do Pensa-mento (www.republicadopensa-

mento.blogspot.com), eis a máxima do poeta Luiz Cláudio Pimentel, brasiliense dos bons: “prefiro ser ultrassincero a superdissimulado”. Elogio visceral feito à integridade, entendida como a arte de ser sincero, a partir de uma existência elevada pela honestidade. Enquanto o ultrassincero gosta do papo reto, o superdissimulado vem com conversa mole. Cazuza e Ar-naldo Brandão, na música O tempo não para (1988), mostraram muito bem como funciona a mentalidade do trapaceador: “Tuas ideias não correspondem aos fatos”.

Os justos, por sua vez, depositam fé em que o conhecimento da verdade ilumina a inteligência a caminho da sabedoria. Uma pessoa íntegra tem como virtude ser autêntica, sem agir com prepotência. Problematizando dilemas com retidão ili-bada, o sujeito sincero, sem medo de “ver o oco”, se espelha em princípios éticos e os defende com disposição democrática e habilidade exemplar.

Ao longo da história, várias acepções marcaram a palavra sinceridade. Do latim sine cera, isto é, sem cera, a expressão “sin-cera” remonta à criação de abelhas. O mel sem cera se refere ao mel puro proveniente da geleia real. Nesse sentido, compreende-se o sentido de pureza que está atrelado à noção de sinceridade. Quando o marcenei-ro errava com o formão, fazia uso da cera de abelha para encobrir o dano cometido no móvel. Agindo assim, ele disfarçava o erro, ocultando-o com astúcia. Fazendo uso da esperteza, não assumia com since-ridade a autoria do deslize.

Há 2.500 anos, o teatro grego já ofe-recia elementos curiosos a respeito da dissimulação e sinceridade humanas. Na representação de uma peça, os atores, ao interpretarem seus papéis, costumavam fazer uso de uma máscara feita de argila que seguravam na frente do rosto com uma varetinha. O nome conferido pelos latinos à referida máscara foi persona. Brotaram daí os termos “personagem”

O ULTRASSINCERO e o SUPERDISSIMULADOMarcos Fabrício Lopes da Silva*

e “personalidade”. Os romanos levaram adiante esse procedimento teatral, em-pregando, contudo, outro recurso: eles misturavam cera de abelha com pigmen-tos vegetais, formando uma pasta que era passada no rosto. Com a máscara, o indivíduo fingia ser outra pessoa. Es-tendendo tal propósito ao contexto da etiqueta social, foi se consagrando o en-tendimento de que uma pessoa dissimu-lada se configura como detentora de uma postura mascarada, pois, ao apresentar “duas caras”, ela aparenta ser o que não é. A sinceridade, por sua vez, caracteriza o indivíduo íntegro, sem máscara.

Viabiliza-se a vida coletiva, sendo sinceros uns com os outros. Preserva-se, assim, o norte da nossa igualdade de exis-tência, ancorado no fundamento legítimo da liberdade de expressão. Ser dissimulado é acreditar que “a verdade dói”, preferindo os podres poderes aos sensatos saberes. Quem se apega ao poder desdenha a crí-tica, pois esta põe em xeque os princípios falaciosos que regem sua autoimagem, exibindo suas contradições aos olhos de outrem. O sincero não tem rabo preso, porque sua mente é livre e o coração, tranquilo. O dissimulado, a exemplo de Brás Cubas, personagem de Machado de Assis, acredita que “a franqueza é a pri-meira virtude de um defunto”.

Um indivíduo que sinceramente reflete, de maneira constante, sobre suas atitudes é alguém que se encontra mais próximo de obter o equilíbrio nos vários âmbitos

da vida. Aristóteles falava que o ignorante afirma, o sábio duvida e o sensato refle-te. Por conta disso, cabe considerar que uma das regras da convivência civilizada reside na capacidade do ser humano de ser sincero sem ser rude. A rudeza é a sin-ceridade insensata, isto é, uma forma de agressividade verbal em que se diz aquilo que vem à boca sem qualquer reflexão crítica. Normalmente, tal comportamento leva o sujeito a se comportar como “dono da verdade”, ignorando o fato de que ele é somente o autor de um ponto de vista. Atingindo o patamar da ofensa, falar o que vem de imediato à mente se desenha fre-quentemente como um costume discursivo de rejeição ao outro, no qual se ressalta o vício arrogante de achar que só existe um ponto de vista a ser considerado: o próprio. Exigindo de nós empenho na combinação entre firmeza e delicadeza, a sinceridade deve ser respaldada pela doçura do bem, aliada à dialética do esclarecimento.

Problematizando a sensibilidade pla-na, pertencente à vaidade, ao campo das aparências, devemos priorizar a nossa sen-sibilidade plena, que fundamenta o exer-cício da autoconsciência. Nesse sentido, compreendo a sinceridade como atitude de autoanálise, ou seja, exame crítico de si mesmo. Trata-se de um verdadeiro ofício de escavação interior, conforme ilustra Adélia Prado, no poema Exausto (1976): “quero o que antes da vida/ foi o profundo sono das espécies/, a graça de um estado./Semente./Muito mais que raízes”. Buscar a profundeza da vida requer sinceridade, visto que dissimular é se comprometer com o engano superficial. No íntimo sentido da existência, a sinceridade, portanto, se configura como condição sine qua non para a compreensão autêntica de nossas limitações e potencialidades.

* Jornalista formado pelo Centro Universi-tário de Brasília. Doutorando e mestre em Estudos Literários/Literatura Brasileira pela Faculdade de Letras da UFMG. Graduando em Letras (Português e Inglês) pela Faculda-de Pitágoras.

Um indivíduo que sinceramente reflete, de

maneira constante, sobre suas atitudes é alguém que se encontra mais próximo de obter o equilíbrio nos vários âmbitos da vida

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Os 20 municípios mineiros onde a tecnologia MI-Dengue – desenvol-vida e patenteada pela UFMG – foi

implantada em março de 2009 apresentaram número de casos da doença cerca de 50% menor do que o registrado em cidades que não adotaram o sistema.

Em 2010, quando o estado sofreu a mais grave epidemia da doença, com 250 mil casos notificados, 30% dos municípios que aderiram à tecnologia conseguiram reduzir os casos de dengue, enquanto apenas 5,5% dos demais atingiram o mesmo resultado. Se as cidades que utilizam o MI-Dengue tivessem seguido a tendência do restante do estado, haveria 86% a mais de casos registrados no período, segundo projeção feita pelo professor Álvaro Eiras, chefe do Laboratório de Ecologia Quí-mica de Insetos Vetores do Departamento de Parasitologia (ICB), e responsável pelo desenvolvimento do sistema. Apesar da maior incidência da doença em função da epidemia, esses municípios não sofreram aumento no número de óbitos em relação a 2009. Já em 2011, nenhuma morte foi registrada.

Além de reduzir a incidência da doença, a tecnologia permite a diminuição de despe-sas médicas, ambulatoriais e de internação hospitalar. Seu custo de implantação é de cerca de R$ 1,30 por habitante a cada ano, valor compensado com sobras pela economia proporcionada. “Para cada real investido em prevenção com a tecnologia, foram econo-mizados R$ 11, levando-se em conta o custo direto com a assistência médica e internações e a perda de produção bruta que cada caso de dengue provoca, calculada pelo tempo em que um enfermo deixa de trabalhar”, estima Eiras. Segundo ele, essa economia pode ultrapassar R$ 30 milhões nos 20 municípios analisados.

O MI-Dengue é uma alternativa mais barata em relação ao modelo de controle de larvas adotado atualmente em muitas cidades brasileiras, em que agentes de saúde visitam cada residência em busca de possíveis criadou-ros do inseto. Trabalhoso e demorado, exige que a larva seja levada a laboratório para a identificação da espécie. “Com a tecnologia de-senvolvida na UFMG, o mosquito é identificado em campo”, contrapõe Eiras. Assim, em vez de visitar milhares de casas para procurar as larvas, basta checar as armadilhas semanalmente, verificando a presença de mosquitos adultos.

Desde 2005, o dispositivo foi implantado

XEQUE-MATE no AedesImplantada pelo Governo de Minas, tecnologia desenvolvida na UFMG reduz em 50% a incidência de dengue e em 10 vezes os gastos com a doença

Gabriella Praça

em mais de 50 cidades brasileiras – além de Austrália e Cingapura –, alcançando um perímetro onde vivem quase três milhões de pessoas. Dois terços encontram-se em Minas Gerais.

O sistema gera dados de localização do mosquito, informando quais áreas devem ser priorizadas no controle. O processo se inicia com a instalação de armadilhas georreferenciadas via GPS nas áreas a serem monitoradas. Conhecidas como MosquiTRAP, essas “arapucas de mosquito” capturam as fêmeas adultas do inseto, impedindo que depositem seus ovos. A vistoria é feita por agentes de campo munidos de celulares, responsáveis por transmitir as informações para uma central de processamento, que gera tabelas, mapas de infestação e índices entomológicos. Os cálculos produzem informações precisas a respeito da presença do Aedes aegyti em cada região.

Em CingapuraNo ano passado, o sistema foi implantado em um distrito de Cingapura, onde está em fase

experimental. Para o responsável pelo projeto naquele país, Brett Ellis, pesquisador da Duke-UNS Graduate Medical School, a grande vantagem do emprego da tecnologia na comparação com o monitoramento feito por agentes epidemiológicos está na necessidade de um número bem menor de profissionais dedicados a essa atividade, liberando os demais para atuar diretamente no controle.

Segundo o pesquisador, quanto mais sucesso se alcança no combate ao Aedes por meio dos agentes, mais trabalho terá que ser feito. “Se o número de larvas do mosquito for reduzido em 50% das casas, não é difícil encontrá-las”, avalia o pesquisador. “Mas se as larvas se restringirem a 1% das residências, os agentes terão que vasculhar 100 casas para encontrar uma única que tenha o inseto”, acrescenta Brett Ellis. O MosquiTRAP não apresenta esse inconveniente, pois encontra-se espalhado no ambiente e a checagem é rotineira.

Brasil e Cingapura têm históricos similares de incidência de dengue. Após um longo período de tempo, a doença foi praticamente eliminada nos dois países, até voltar nos anos 80, caracterizando-se como epidemia. “A diferença era que lá tínhamos um número muito menor de mosquitos em relação ao Brasil”, pondera Brett. “E mesmo com apenas 1% a 2% de residências com o inseto, a epidemia aconteceu”, complementa. Tanto a emergência quanto o tamanho da epidemia foram similares no Brasil e em Cingapura.

O que Brett e seu grupo de pesquisa tentam agora é entender o comportamento do vetor, de forma a evitar novos surtos da doença. “Talvez os mosquitos estejam picando as pessoas dentro de casa, ou só ataquem em locais públicos; o certo é que, por meio do antigo método de controle, não poderíamos responder essas questões, pois não são as larvas que picam”, analisa.

Álvaro Eiras e Brett Ellis: histórico similares no Brasil e em Cingapura

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Dom João VI, Dom Pedro I, Dom Pedro II, Carlota Joaquina, Con-dessa de Barral e Chica da Silva são

exemplos de figuras que transcenderam os livros didáticos e passaram a frequentar o cinema e obras que misturam história, literatura e narrativa jornalística. Viraram personagens e contribuíram para aumentar o interesse dos brasileiros por sua própria identidade. Em sintonia com esse fenô-meno, Diamantina sediará, de 7 a 12 de outubro, a primeira edição do Festival de História (fHist), que pretende aproximar a universidade e o conhecimento histórico do público leigo, principalmente dos estu-dantes dos ensinos médio e fundamental.

A iniciativa é uma parceria entre Ins-tituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Prefeitura de Diamantina, Revista de História da Biblioteca Nacional e UFMG. A programação inclui oficinas, shows, apresentações musicais e exibição de filmes com temática histórica. O prin-cipal destaque é a Tenda dos Historiado-res, espaço inspirado nas tendas da Festa Literária de Paraty (Flip), que receberá as 18 mesas de debates a serem ocupadas por 55 expoentes da pesquisa em História no Brasil, entre eles Boris Fausto, Laura de Mello e Souza, Eduardo Bueno, Ronaldo Vainfas, Luiz Mott e Fernando Novaes.

“A realização do evento está, de fato, relacionada à popularização dos temas históricos, sobretudo, pela literatura nos últimos anos”, explica o seu coordenador, Américo Antunes, ao lembrar que as obras que tratam de História do Brasil figuram na lista das mais vendidas nas livrarias de todo país. Segundo ele, esse é um dos motivos para que o fHist seja voltado para o grande público e não apenas para a comunidade acadêmica. “Diante da globalização, emer-ge a busca por uma identidade cultural própria”, analisa Antunes.

Diamantina foi escolhida não apenas por se constituir em cenário envolto por uma atmosfera histórica. “Também nos preocupamos em sentir a receptividade e a sensibilidade da população em relação ao Festival”, conta Américo Antunes, ao justificar a organização de uma agenda com eventos gratuitos nas ruas e museus.

HISTÓRIA na tendaFestival em Diamantina busca aproximar conhecimento histórico do público leigo

João Kleber Mattos

Pássaros, mito e sombrasA UFMG terá participação marcante no evento, com vários dos professores de seu

Departamento de História convidados na condição de debatedores ou mediadores de mesas. No dia 8 de outubro, a professora Regina Horta, do Departamento de História da UFMG, participa da primeira mesa do evento, Os trópicos entre a ciência e natureza. Ela conta que apresentará resultados de trabalho publicado nos Estados Unidos em 2006, intitulado Pássaros e cientistas no Brasil: Em busca de proteção (1894-1938). O estudo aborda o extermínio de pássaros registrado no Brasil durante as primeiras décadas do período republicano, quando o comércio de penas atingiu níveis muito elevados, levando alguns cientistas a se mobilizarem contra a prática.

No domingo, 9 de outubro, na mesa Chica, a verdadeira, a historiadora Júnia Ferreira Furtado abordará seus estudos em torno da figura histórica de Chica da Silva, a ex-escrava que conseguiu penetrar no universo dos brancos na Diamantina do século 18. Parte de seus estudos está contida no livro Chica da Silva e o contratador dos diamantes – o outro lado do mito, publicado pela Companhia das Letras. “Aqui haverá um diálogo entre história e literatura”, comenta Júnia Furtado, referindo-se à participação, em sua mesa, da escritora Ana Miranda, que atualmente escreve um romance sobre a ex-escrava.

Na terça-feira 11, penúltimo dia do evento, a professora Heloísa Starling, também do Departamento de História da UFMG, debaterá a ditadura militar no Brasil. Na mesa Tempos Sombrios, que ocupará ao lado da historiadora Marieta de Moraes Ferreira e sob mediação do professor Rodrigo Patto, da UFMG, Heloísa Starling falará sobre a instituição no Brasil da chamada Comissão da Verdade para investigar casos de violação dos direitos humanos cometidos no país durante o período.

Evento: Festival de História – Festa do ofício e das artes de contar a história Data: 7 a 12 de outubroLocal: DiamantinaInscrições: gratuitas para oficinas, shows, apresentações musicais e exibição de filmes; para a Tenda dos Historiadores será cobrada taxa de R$ 80 para profissionais e R$ 30 para estudantes Programação: http://www.fhist.com.br

Imagem estilizada de Chica da Silva imortalizada no

filme de Cacá Diegues

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Artífice da ‘invasão britânica’Alan Moore nasceu em 1953, na pequena

cidade industrial de Northampton, localizada em East Midlands, na Inglaterra. Nas últimas três décadas, firmou-se como um dos principais autores no mundo das histórias em quadrinhos, sendo lembrado por ter introduzido no gênero elementos do cenário político dos anos 80. Foi um dos expoentes da chamada “invasão britâni-ca” nos quadrinhos, iniciada na mesma década. Na ocasião, ao lado de outros roteiristas bri-tânicos como Grant Morrison, Peter Milligan e Neil Gaiman, trabalhou em prol da valorização do gênero como manifestação cultural. Suas posições político-ideológicas puseram-no em choque com o mercado editorial de quadri-nhos, com o qual mantinha relações cordiais no início de sua carreira. Prestes a completar 58 anos, o autor publica fora do circuito das grandes editoras. Algumas de suas obras já foram adaptadas para o cinema, embora ele se declare contrário à prática, exigindo que seu nome não figure nos créditos.

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Muitas vezes relegadas à categoria de mero entretenimento, as histórias em quadrinhos também abordam

questões “sérias”, atuando como potenciais instrumentos de questionamento e mobi-lização política. Na primeira dissertação do Programa de Pós-graduação em História da UFMG dedicada exclusivamente à temática, o pesquisador Márcio dos Santos Rodrigues relacionou a obra do roteirista de quadrinhos inglês Alan Moore, produzida na década de 1980, ao contexto da Guerra Fria.

O objetivo foi evidenciar que grande parte das representações que aparecem em suas histórias são socialmente construídas a partir de elementos do mundo real condensados em narrativa orientada para fins políticos. Watch-men e V de vingança – duas séries do autor já adaptadas para o cinema – foram objetos de análise, para identificação de como elas se apropriaram de repertórios culturais de seu tempo, reproduzindo os dilemas e paradoxos da Guerra Fria.

O terror do fim do mundo vivenciado na época aparece no universo ficcional criado pelo “mago de Northampton”, como Moore é conhecido, por meio de artifícios como o posicionamento político de personagens, ideias divulgadas nas capas das edições ou inserções publicitárias ao longo das histórias. “O medo do perigo atômico era o tempo todo retratado na obra dele”, observa Rodrigues, que defendeu sua dissertação em setembro.

“Em determinado capítulo de Watchmen, havia a publicidade de uma bala chamada ‘Mmeltowns’. O nome é derivado da palavra

QUADRINHOS atômicosDissertação da História relaciona obra de Alan Moore ao contexto da Guerra Fria

Gabriella Praça que em inglês significa ‘fusão nuclear’”, revela. Mais do que inserir elementos da conturbada conjuntura geopolítica da época em seus mundos ficcionais, Moore convocava os leitores à reflexão. Em outra passagem de Watchmen, por exem-plo, uma mulher é esfaqueada e violentada na porta de seu apartamento, enquanto os vizinhos assistem a tudo sem tomar qualquer providên-cia. Já em V de vingança há uma transmissão televisiva em que o locutor denuncia: “Foram vocês que colocaram no poder uma sucessão de malversadores, larápios e lunáticos tomando um sem-número de decisões catastróficas”. Para Rodrigues, o autor chama atenção do leitor para o fato de que qualquer decisão política é legitimada pela população. “Ele aponta para o público, e é nesse sentido que seus quadrinhos desempenham a função de um objeto político”, analisa o recém-mestre.

Personagens pluraisAnarquista, Moore viveu em um mundo bipolar dividido entre Estados Unidos e União

Soviética sem defender nenhuma das duas potências. Aliás, seu trabalho buscava justamente diluir o maniqueísmo da Guerra Fria, desconstruindo a lógica de um conflito que não se pretendia efetivo, mas baseava-se no medo. “Em V de vingança, ele propôs uma mudança por meio do anarquismo”, acrescenta Rodrigues. Com vários substratos narrativos, as histórias de Moore apresentavam personagens de viés conservador ao lado de outros mais liberais, em uma grande variedade de posicionamentos. Embora não se possa falar em uma orientação hegemônica presente em sua obra, a contestação aparece em praticamente todas as suas produções ao longo da década de 80. O engajamento provém da concepção de Moore acerca desse tipo de narrativa, pois, para ele, “todo quadrinho é político”.

Embora frequentemente associados à literatura, os quadrinhos constituem uma forma de expressão com códigos próprios. Para Rodrigues, equiparar quadrinhos a literatura foi uma tentativa de pesquisadores de dar um verniz de nobreza às obras por meio de um rótulo que não era delas, já que as expressões literárias são socialmente mais aceitas. Alcunhas como “comics” (“cômicos”, em português), que é como esse tipo de gênero narrativo é chamado nos Estados Unidos, ou “funnies” (“engraçadinhos”), na Inglaterra, contribuíram para orientar a percepção de grande parte do público acerca dos quadrinhos. Para muitos, é ainda um gênero destinado exclusivamente ao divertimento.

Dissertação: Representações políticas da Guerra Fria: as Histórias em Quadrinhos de Alan Moore na década de 1980

Autor: Márcio dos Santos Rodrigues

Defesa: 13 de setembro, no Programa de Pós-gradução em História da Fafich

Orientador: Rodrigo Patto Sá Motta

V de vingança foi uma das obras analisadas: viés anarquista

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A adolescente Anna Flávia Aguilar, de 15 anos, moradora de Jequitinho-nha, hoje observa a cidade com ou-

tros olhos. “Lugares históricos e aspectos culturais até então esquecidos voltaram a ser valorizados”, relata. O que permitiu que a jovem e seus conterrâneos passas-sem a lançar um olhar diferente sobre o município foi o trabalho desenvolvido pela Agência de Comunicação Solidária no Vale do Jequitinhonha (ACS-Jequi), projeto de extensão ligado ao Programa Polo Jequiti-nhonha da UFMG.

Anna Flávia integrou um grupo de jovens de 14 a 19 anos que, nos últimos 12 meses, foi preparado para atuar na divulgação dos eventos relacionados às comemorações dos 200 anos do municí-pio, onde moram cerca de 25 mil pessoas. Tudo começou em uma sala na Fafich, no Laboratório de Relações Públicas, na qual os alunos trabalharam com a dinâmica de uma assessoria de comunicação colabora-tiva que já atendia ao Festivale – Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha, ao Festeje – Festival de Teatro do Vale do Jequitinhonha e ao Festival K-Iau em Cena, da cidade de Araçuaí.

Diante do êxito de projetos da Uni-versidade, como a Rede de Juventudes e o Vozes do Vale, que buscam estimular

Com outros OLHOSProjeto de extensão prepara jovens para desenvolver ações de comunicação no Vale do Jequitinhonha

Eveline Xavier e Vicente Nazareth* a comunicação entre os jovens da região e ressaltar seu papel protagonista para a mobilização, os alunos de relações públicas resolveram ampliar suas ações. Reuniram as atividades da assessoria colaborativa em um único projeto, aproveitando tam-bém a demanda para asses-sorar as comemorações dos 200 anos de Jequitinhonha. Assim surgiu a ACS-Jequi.

O trabalho da Agência procura, ao longo do processo formativo, estimular nos jovens capacidades e habilidades de expressão, tanto no uso das ferramentas de comunicação quanto nas relações interpessoais. A iniciativa também se preocupa em ampliar a visão de mundo entre os jovens, incentivando práticas cidadãs. “É uma oportunidade que os jovens de lá têm de se inserirem em processos de comunicação sob a perspectiva da mobilização social, estimulando ações autônomas”, define o professor Márcio Simeone, coordenador do projeto.

O principal e mais abrangente trabalho realizado pela Agência foi o das comemorações dos 200 anos de Jequitinhonha, que incluiu a assessoria do Festivale deste ano. Ele foi desenvolvido em parceria com a Prefeitura de Jequitinhonha e com a Associação Imagem Comunitária (AIC) de Belo Horizonte. Além de divulgar os eventos do bicentenário, a equipe trabalhou na construção de um registro histórico do município e mobilizou a população para a discussão de temas de interesse público, como agricultura familiar e a situação da mulher no Vale do Jequitinhonha.

As ações de divulgação, cobertura e registro são executadas conjuntamente pelos alunos de comunicação social da Fafich e os jovens em formação. O processo gera produtos de comunicação assinados pelos participantes, como o site criado para a divulgação do 29º Festivale e o boletim “Diz Aí Festivale!”, que circulou na cidade de Jequitinhonha durante as comemorações.

Depois do eventoA Agência de Comunicação Solidária não se limita a formar jovens para realizar a cobertura

de eventos. “Eles são orientados a desenvolver práticas de comunicação para, após o evento, continuar promovendo atividades na área”, explica Conrado Moreira, bolsista do programa.

Para os universitários envolvidos no processo de formação, o aprendizado é garantido. “Trata-se de uma oportunidade única, que exige trabalhar todas as dimensões do planejamento da comunicação e expô-las de forma didática para os jovens que recebem a capacitação”, analisa Márcio Simeone.

A ACS-Jequi é financiada pelo Ministério da Educação, por meio do Programa de Extensão Universitária (Proext). Para os próximos semestres, já estão previstas diversas atividades, incluindo a preparação de jovens para assessorar o Festival de Teatro de Rua de Araçuaí, em outubro, e o K-Iau em Cena, em janeiro de 2012. O projeto também firmou parceria com a Prefeitura de Itaobim para trabalhar na assessoria de eventos associados às comemorações dos 50 anos da cidade.

*Alunos de jornalismo da Fafich que atuam como suporte de comunicação ao Programa Polo Jequitinhonha

Parte do grupo envolvido nas atividades: planejamento de comunicação em todas as dimensões

Jovens do Jequitinhonha exercitam habilidades de expressão

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Acontece

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COMUNISMO E CULTURAO professor Rodrigo Patto Sá Motta, do

Departamento de História da Fafich, é um dos participantes do colóquio Comunistas Brasileiros: Cultura Política e Produção Cul-tural, que está sendo realizado na USP até esta quarta-feira, dia 5. “O comunismo e os comunistas brasileiros foram importantes formuladores de ideias, conceitos e produ-ções artísticas”, analisa o professor.

O objetivo do Colóquio é entender me-lhor a cultura comunista, focada nas ações do PCB, cujos valores e ideias circularam para além dos espaços tradicionais da esquerda. Mais informações em http://comunistascul-tura.wordpress.com/.

INOVAÇÃOA UFMG está com inscrições abertas

para minicurso e palestras sobre empre-endedorismo e inovação, neste mês de outubro. As atividades são abertas ao pú-blico e a matrícula é gratuita. A iniciativa integra a programação do evento UFMG Conhecimento e Cultura, que a instituição promove entre os dias 17 e 21. Os interes-sados podem se inscrever no endereço https://sistemas.ufmg.br/inscricaoativi-dades/login.jsp para o minicurso “Como realizar uma pesquisa no estado da técnica nos bancos de dados de patentes” e as palestras “Minha pesquisa pode se tornar uma patente?” e “Inovação tecnológica: o papel da Universidade e a Experiência da UFMG”. Dados da programação podem ser consultados em http://www2.ufmg.br/ufmgconhecimentoecultura/UFMG/CTIT/Programacao#.

MARINA SILVAA ex-ministra do meio ambiente, Marina

Silva, participará da cerimônia de abertura do evento UFMG Conhecimento e Cultura, no dia 17 de outubro, às 9h, no auditório da Reitoria. O evento integra a programação da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, cujo tema será Mudanças climáticas, desastres naturais e prevenção de riscos.

A mesa de abertura também contará com a presença de Reinhardt Adolfo Fuck, diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação.

CURIE EM MINASEstá aberta, até 14 de outubro, na UFMG, a exposição interativa Madame Curie em

Minas Gerais, no saguão da Reitoria, campus Pampulha. A cientista esteve em Belo Horizonte por três dias em agosto de 1926, com o objetivo de conhecer as instalações do Instituto Radium, hoje Instituto Borges da Costa, e os médicos locais envolvidos na pesquisa para o tratamento do câncer. Também visitou a Faculdade de Medicina, onde fez conferência sobre a radioatividade e suas aplicações na medicina. A promoção é da Diretoria de Divulgação Científica da UFMG, ligada à Proex, em comemoração ao Ano Internacional da Química.

CULTURA 0800O cantor Edu Negão é o convidado da edição desta semana do projeto Quarta Doze e

Trinta. O evento é gratuito e acontece na Praça de Serviços do campus Pampulha, no dia 5, às 12h30. Além de música, a programação cultural desta semana na Universidade também terá sessão do Cine 0800 com a exibição de Cinco vezes favela. Produzido em 1962, o filme foi um dos marcos do então nascente Cinema Novo no Brasil. O enredo traz cinco histórias independentes, cada uma comandada por um diretor – Leon Hirszman, Cacá Diegues, Marcos Farias, Joaquim Pedro de Andrade e Miguel Borges. A sessão será às 17h30, na terça-feira, 4, na Biblioteca Central, campus Pampulha.

UM MILHÃO DE ASSINATURASA Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso de

Ciência (SBPC) enviaram, em setembro, carta para a presidente da República, Dilma Rousseff, sobre royalties provenientes da exploração de petróleo na camada do pré-sal. O tema será discutido na Câmara dos Deputados e a entidade pretende alcançar 1 milhão de assinaturas em petição pública, reivindicando parcela dos recursos para pesquisa e inovação. Para apoiar a iniciativa, acesse http://www.peticaopublica.com.br/?pi=PL8051.

PRIMAVERA NO MUSEUO Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG já abriu sua programação

de Primavera. Há atividades para todas as idades. No próximo dia 11, o local abriga o 2º Workshop Museu em Debate: Vocações, Diretrizes e Metas. Entre 8 e 16, como parte da Semana das Crianças, estão previstas atividades no Espaço Arte Educação. O Museu também oferecerá oficinas de papel reciclado, jogos de memória e de quebra-cabeça. Entre 17 a 21, dentro da Semana Nacional de C&T, ocorre o ciclo de palestras sobre mudanças climáticas. O Museu fica na rua Gustavo da Silveira, 1.035, bairro Santa Inês. A entrada custa R$ 4. Informações: (31) 3461-4204 e 3409-7607 ou em www.mhnjb.ufmg.br.

SURDOSO projeto Comunica, que prepara

estudantes da área de saúde para lidar com surdos, é desenvolvido pelo Centro de Extensão da Faculdade de Medicina e não pelo Hospital das Clínicas, como informou o BOLETIM na edição pas-sada. Todas as atividades são voltadas para alunos e algumas delas ocorrem no Hospital das Clínicas.

Erramos

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E Reitor: Clélio Campolina Diniz – Vice-reitora: Rocksane de Carvalho Norton – Diretor de Divulgação e Comunicação Social: Marcelo Freitas – Editor: Flávio de Almeida (Reg. Prof. 5.076/MG) – Projeto e editoração gráfica: Rita da Glória Corrêa – Impressão: Imprensa Universitária – Tiragem: 8 mil exemplares – Circulação semanal – Endereço: Diretoria de Divulgação e Comunicação Social, campus Pampulha, Av. Antônio Carlos, 6.627, CEP 31270-901, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil – Telefone: (31) 3409-4184 – Fax: (31) 3409-4188 – Internet: http://www.ufmg.br e [email protected]. É permitida a reprodução de textos, desde que seja citada a fonte.

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CEDECOM UFMGCentro de

Comunicação

3.10.2011 Boletim UFMG8

Com 10 anos de existência no Brasil, a Wikipédia, com sua proposta de ser uma enciclopédia construída colabo-

rativamente, ainda se encontra na fronteira entre a praticidade e a confiabilidade de seus artigos. Intrigado com o funcionamento interno do site, o professor Carlos Frederico de Brito d’Andréa investigou, em sua tese de doutorado defendida no final do mês passado no programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos da Faculdade de Letras, as complexas relações entre os editores e chegou a uma conclusão mais otimista quanto ao conteúdo das páginas wiki.

Para entender as regras que controlam a enciclopédia online, ele concentrou-se na observação da biografia de 91 pessoas vivas, indicadas como “mais influentes do ano” por revistas nacionais. “Estamos fa-lando de pessoas ‘dignas’ de estarem numa enciclopédia”, explica. De acordo com ele, a criação de um perfil como este na Wikipédia começa com certa notoriedade do indiví-duo. “Essa biografia é, então, atualizada ao longo da vida. Sempre que acontece alguma coisa – um escândalo, uma doença –, esse fato é incluído.”

Durante a pesquisa, Carlos d’Andréa percebeu que, em momentos de grande visibilidade da pessoa biografada, os artigos atingem picos de edição – que tanto melho-ram quanto pioram o texto. “O fato de a pes-soa estar mais exposta se reflete no interesse em aperfeiçoar ou vandalizar o artigo”, diz o professor, vinculado à Universidade Federal de Viçosa (UFV). Ele explica que as ações de protesto podem variar entre alterações sutis (a troca de uma palavra do artigo, como o nome da região onde a personalidade nas-ceu) e explícitas (como o ato de apagar todos os caracteres para a inserção de uma única frase contendo um xingamento).

Caiu na WIKI é PIRANHATese analisa fenômeno das edições em cadeia na Wikipédia brasileira

Marcos Fernandes

Tese: Processos editoriais auto-organizados na Wikipédia em Português: a edição colaborativa de “biografias de pessoas vivas”

Autor: Carlos Frederico d’Andréa

Orientadora: Carla Viana Coscarelli

Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos

Defesa: 30 de setembro

Segundo o pesquisador, que tem graduação em jornalismo e mestrado em ciência da informação, a expectativa é de que atitudes desse tipo se tornem cada vez mais raras. “Internamente, a Wikipédia vem desenvolvendo mecanismos sofisticados e detalhados de monitoramento”, informa. Prova disso são os chamados bots, espécie de editores automáticos que fazem ajustes pontuais e repetitivos, como a retirada de termos obscenos e pejorativos. Dados de estudo sobre a Wikipédia em inglês indicam que a participação dos editores-robôs no volume total de edições na Wikipédia aumentou de 2%, em 2006, para 22,1%, em 2011. Já na versão em português, levantamento feito em agosto deste ano mostra que o índice de edições dos bots chegou a 31% do total. “Mas na minha amostragem, em função das especifidades dos artigos, esse percentual foi bem menor, 5,7%”, pondera.

Mordendo a presaA tendência, de acordo com Carlos d’Andréa, é de que os textos se aperfeiçoem à

medida que forem sendo editados. Mas o processo é mais complexo do que parece: “Por vezes há centenas de edições em um período, mas a atualização do texto ocorre por meio de contribuições individuais. Mas se não houvesse dezenas de edições menores, talvez a intervenção do editor da unidade maior também não tivesse existido”, especula. Isso é o que na Wikipédia francesa recebeu o nome de “efeito piranha”. “Uma morde a presa e as outras vão chegando atraídas pelo sangue. O artigo está parado; chega um e mexe, outro também interfere, e isso desencadeia um processo que atrai a atenção para lá”, descreve o pesquisador.

Carlos d’Andréa também identificou diferenças entre a participação dos colaboradores cadastrados e não cadastrados. “Normalmente, os não cadastrados fazem uma edição e somem, fenômeno que chamo de ‘agrupamento’.” Trata-se, segundo ele, de um conceito oposto ao de comunidade virtual, que se caracteriza por vínculos mais pessoais. “Os editores entendem a Wikipédia como um local de trabalho. O foco não são os interesses do indivíduo, e sim o que ele faz.” Já o editor cadastrado, seguindo a lógica do “operário da informação” – termo usado por d’Andréa para classificá-los –, está ciente de que suas colaborações ficarão expostas como histórico virtual, o que funciona como incentivo para melhorar o trabalho.