barroco séc. xvii ao começo do séc. xviii. "toda forma exige fechamento e fim, e o barroco...

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Barroco Barroco Séc. XVII ao começo Séc. XVII ao começo do séc. XVIII do séc. XVIII

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Page 1: Barroco Séc. XVII ao começo do séc. XVIII. "Toda forma exige fechamento e fim, e o barroco se define pelo movimento e instabilidade; parece-nos, pois,

BarrocoBarroco

Séc. XVII ao começo Séc. XVII ao começo do séc. XVIIIdo séc. XVIII

Page 2: Barroco Séc. XVII ao começo do séc. XVIII. "Toda forma exige fechamento e fim, e o barroco se define pelo movimento e instabilidade; parece-nos, pois,

"Toda forma exige fechamento e fim, e o "Toda forma exige fechamento e fim, e o barroco se define pelo movimento e barroco se define pelo movimento e instabilidade; parece-nos, pois, que ele se instabilidade; parece-nos, pois, que ele se encontra ante um dilema: ou negar-se encontra ante um dilema: ou negar-se como barroco, para completar-se numa como barroco, para completar-se numa obra, ou resistir à obra para persistir fiel obra, ou resistir à obra para persistir fiel a si mesmo"a si mesmo" J. RoussetJ. Rousset

Page 3: Barroco Séc. XVII ao começo do séc. XVIII. "Toda forma exige fechamento e fim, e o barroco se define pelo movimento e instabilidade; parece-nos, pois,

O SURGIMENTO O SURGIMENTO

O Barroco procura solucionar os O Barroco procura solucionar os dilemas de um homem que perdeu sua dilemas de um homem que perdeu sua confiança ilimitada na razão e na harmonia, confiança ilimitada na razão e na harmonia, através da volta a uma intensa através da volta a uma intensa religiosidade medieval e da eliminação dos religiosidade medieval e da eliminação dos conceitos renascentistas de vida e arte. Em conceitos renascentistas de vida e arte. Em parte, isso não é atingido e as contradições parte, isso não é atingido e as contradições prosseguiriam. prosseguiriam.

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Feudalismo Mercantilismo

Crise da sociedade

renascentista

e Contra-Reforma

Arte Medieval

Teocentrismo

Valorização da vida

espiritual

Renascimento

HumanismoValorização

da vida corpórea

Barroco

Volta à religiosidad

eDilacerame

ntos:alma x corpo

vida x morteclaro x escuro

céu x terra, etc.

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Conhecido também por Seiscentismo (anos de Conhecido também por Seiscentismo (anos de 1600), este foi um estilo literário marcado pela 1600), este foi um estilo literário marcado pela linguagem rebuscada, o uso de antíteses e de linguagem rebuscada, o uso de antíteses e de paradoxos que expressavam a visão de mundo barroca paradoxos que expressavam a visão de mundo barroca numa época de transição entre o teocentrismo e o numa época de transição entre o teocentrismo e o antropocentrismo.antropocentrismo.

No Barroco, estão presentes duas vertentes: No Barroco, estão presentes duas vertentes: cultismo e conceptismo:cultismo e conceptismo:

Cultismo ou gongorismoCultismo ou gongorismo - valorização de forma e - valorização de forma e imagem, jogo de palavras, uso de metáforas, imagem, jogo de palavras, uso de metáforas, hipérboles, analogias e comparações. Manifesta-se uma hipérboles, analogias e comparações. Manifesta-se uma expressão da angústia de não ter fé.expressão da angústia de não ter fé.

BarrocoBarroco

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" Ofendi-vos, Meu Deus, é bem verdade," Ofendi-vos, Meu Deus, é bem verdade,É verdade, Senhor, que hei, delinqüidoÉ verdade, Senhor, que hei, delinqüidoDelinqüido vos tenho...“Delinqüido vos tenho...“ Gregório de MatosGregório de Matos

Conceptismo ou quevedismoConceptismo ou quevedismo - - valorização do conteúdo/conceito, jogo valorização do conteúdo/conceito, jogo de idéias através do raciocínio lógico. Há de idéias através do raciocínio lógico. Há o uso da parábola com finalidade mística o uso da parábola com finalidade mística e religiosa.e religiosa.

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““Para um homem se ver a si mesmo, são Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos.“luz, há mister espelho e há mister olhos.“ Pe. VieiraPe. Vieira

"Se uma ovelha perdida e já cobrada"Se uma ovelha perdida e já cobradaGlória tal e prazer tão repentinoGlória tal e prazer tão repentinoVos deu, como afirmais na Sacra História,Vos deu, como afirmais na Sacra História,

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarradaEu sou, Senhor, a ovelha desgarradaCobrai-a e não queirais, Pastor Divino,Cobrai-a e não queirais, Pastor Divino,Perder na Vossa ovelha a Vossa glória." Perder na Vossa ovelha a Vossa glória."

Gregório de MatosGregório de Matos

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Referências Referências históricashistóricas

Renovações culturais trazidas pelo Renovações culturais trazidas pelo RenascimentoRenascimento

Fim do ciclo das navegaçõesFim do ciclo das navegações Reforma Protestante combatida através da Reforma Protestante combatida através da

Contra-ReformaContra-Reforma

Na segunda metade do século XVIII, Na segunda metade do século XVIII, sentem-se no Brasil os "ecos" do Barroco. O sentem-se no Brasil os "ecos" do Barroco. O ciclo do ouro propicia o desenvolvimento das ciclo do ouro propicia o desenvolvimento das artes em geral, notadamente em Minas artes em geral, notadamente em Minas Gerais, em que se destacam as obras de Gerais, em que se destacam as obras de Aleijadinho. (1730 – 1814)Aleijadinho. (1730 – 1814)

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São José de Botas, atribuído ao Aleijadinho

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CaracterísticasCaracterísticas Essa situação contraditória provoca o Essa situação contraditória provoca o

aparecimento de uma arte que expressar também aparecimento de uma arte que expressar também atitudes contraditórias do artista em face do atitudes contraditórias do artista em face do mundo, da vida, dos sentimentos e de si mesmo.mundo, da vida, dos sentimentos e de si mesmo.

O homem tenta conciliar a glória e o valor humano O homem tenta conciliar a glória e o valor humano despertados pelo Renascimento com as idéias de despertados pelo Renascimento com as idéias de submissão e pequenez diante de Deus e a igreja.submissão e pequenez diante de Deus e a igreja.

Homem está entre céu e terra, consciente de sua Homem está entre céu e terra, consciente de sua grandeza, mas perseguido pela idéia de pecado e grandeza, mas perseguido pela idéia de pecado e busca a salvação de forma angustiada. Assim, há busca a salvação de forma angustiada. Assim, há uma tentativa de conciliação de idéias uma tentativa de conciliação de idéias antagônicas: Bem – Mal / Deus – Diabo / Céu – antagônicas: Bem – Mal / Deus – Diabo / Céu – Terra / Pureza – Pecado / Alegria – Tristeza / Terra / Pureza – Pecado / Alegria – Tristeza / Espírito – CarneEspírito – Carne

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Há um crescente pessimismo em face da vida Há um crescente pessimismo em face da vida (oposto à vontade de viver e vencer do (oposto à vontade de viver e vencer do Renascimento) e tudo lembra ao homem sua Renascimento) e tudo lembra ao homem sua morte e aniquilamento.morte e aniquilamento.  "Ó não guardes, que a madura idade, / te "Ó não guardes, que a madura idade, / te converte essa flor, essa beleza, / em terra, em converte essa flor, essa beleza, / em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada."  cinza, em pó, em sombra, em nada."  

Gregório de MatosGregório de Matos

É de se esperar que os recursos dessa visão de É de se esperar que os recursos dessa visão de mundo sejam, na poesia, as figuras: sonoras mundo sejam, na poesia, as figuras: sonoras (aliteração, assonância, eco, onomatopéia...), (aliteração, assonância, eco, onomatopéia...), sintáticas (elipse, inversão, anacoluto, silepse...) e sintáticas (elipse, inversão, anacoluto, silepse...) e principalmente semânticas (metáfora, metonímia, principalmente semânticas (metáfora, metonímia, sinédoque, antítese, paradoxo, clímax...).sinédoque, antítese, paradoxo, clímax...).

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Metáfora Metáfora

Revolução da poética barroca com o surgimento das Revolução da poética barroca com o surgimento das metáforas erótico-anatômicas que associavam o amor ao metáforas erótico-anatômicas que associavam o amor ao prazer e a natureza à mulher.prazer e a natureza à mulher.

 "Goza, goza da flor da mocidade. / Que o tempo trata a toda  "Goza, goza da flor da mocidade. / Que o tempo trata a toda ligeireza / E imprime em toda a flor sua pisada."  ligeireza / E imprime em toda a flor sua pisada."   Gregório de Gregório de

MatosMatos AntíteseAntítese

Reflete a contradição do homem barroco, seu dualismo.Reflete a contradição do homem barroco, seu dualismo.

 " "Ardem chamas n’água, e como / vivem as chamas, que Ardem chamas n’água, e como / vivem as chamas, que apura, / são ditosas Salamandras / as que são nadantes apura, / são ditosas Salamandras / as que são nadantes turbas"  turbas"   Botelho de Botelho de

OliveiraOliveira

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Paradoxo Paradoxo Demonstra a tentativa de fusão dos opostos que Demonstra a tentativa de fusão dos opostos que atormenta o homem barrocoatormenta o homem barroco "Ardor em firme coração nascido; / Pranto por belos  "Ardor em firme coração nascido; / Pranto por belos olhos derramado; / Incêndio em mares de água olhos derramado; / Incêndio em mares de água disfarçado; / Rio de neve em fogo convertido." disfarçado; / Rio de neve em fogo convertido." 

Gregório de Gregório de Matos Matos

Hipérbato Hipérbato Denota a desordem do pensamento do homem barrocoDenota a desordem do pensamento do homem barroco "A vós correndo vou, braços sagrados / Nessa Cruz  "A vós correndo vou, braços sagrados / Nessa Cruz sacrossanta descobertos" sacrossanta descobertos" 

Gregório de Gregório de MatosMatos

Gradação Gradação  "Oh não aguardes que a madura idade / Te converta  "Oh não aguardes que a madura idade / Te converta essa flor, essa beleza, / Em terra, em cinzas, em pó, em essa flor, essa beleza, / Em terra, em cinzas, em pó, em sombra, em nada." sombra, em nada." 

Gregório de Gregório de MatosMatos

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São usados vários símbolos que traduzem a efemeridade e a São usados vários símbolos que traduzem a efemeridade e a instabilidade das coisas: fumaça, ventos, neve, chama, água, instabilidade das coisas: fumaça, ventos, neve, chama, água, espuma etc.espuma etc.

As frases interrogativas ajudam a refletir a dúvida e a As frases interrogativas ajudam a refletir a dúvida e a incerteza que caracterizam esse período.incerteza que caracterizam esse período.

 "Porém, se acaba o Sol, por que nascia? / Se tão formosa a  "Porém, se acaba o Sol, por que nascia? / Se tão formosa a Luz é, por que não dura? / Como a beleza assim se Luz é, por que não dura? / Como a beleza assim se transfigura? / Como o gosto da pena assim se fia?"  transfigura? / Como o gosto da pena assim se fia?"  

Gregório de MatosGregório de Matos

A ordem inversa torna a frase pomposa e traduz os maneios A ordem inversa torna a frase pomposa e traduz os maneios de raciocínio, além de retratar a falta de clareza, de certeza de raciocínio, além de retratar a falta de clareza, de certeza diante das coisas.diante das coisas.

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O Martírio de São Felipe, de Jusepe de Ribera, exemplo da religiosidade tensa da cultura barroca católica.

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GREGÓRIO DE MATOS GUERRA GREGÓRIO DE MATOS GUERRA

(1636-1695)(1636-1695) Poesia ReligiosaPoesia Religiosa

A oscilação da alma barroca entre o mundo terreno e a A oscilação da alma barroca entre o mundo terreno e a perspectiva da salvação eterna aguça-se em Gregório de perspectiva da salvação eterna aguça-se em Gregório de Matos Guerra. Até meados do século XVIII, nenhum homem Matos Guerra. Até meados do século XVIII, nenhum homem de letras pode fugir a uma educação contra-reformista, pois de letras pode fugir a uma educação contra-reformista, pois os jesuítas controlam todo o sistema de ensino. Desta os jesuítas controlam todo o sistema de ensino. Desta forma, ilustrar-se só será possível dentro dos preceitos da forma, ilustrar-se só será possível dentro dos preceitos da Companhia de Jesus, o que acontece com o futuro poeta. Companhia de Jesus, o que acontece com o futuro poeta.

Por outro lado, Gregório é filho de senhores de engenho, Por outro lado, Gregório é filho de senhores de engenho, quer dizer, dos verdadeiros senhores da terra, dos que quer dizer, dos verdadeiros senhores da terra, dos que possuem todos os direitos, inclusive o de vida e morte e possuem todos os direitos, inclusive o de vida e morte e que, por isso, podem exercer o estupro ou o simples que, por isso, podem exercer o estupro ou o simples domínio sexual sobre índias e escravas. Estão presentes domínio sexual sobre índias e escravas. Estão presentes nele, portanto, os elementos contraditórios da época: a nele, portanto, os elementos contraditórios da época: a licenciosidade moral e a posterior consciência da infâmia, licenciosidade moral e a posterior consciência da infâmia, seguida do arrependimento. seguida do arrependimento.

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Na maior parte de seus poemas religiosos, o Na maior parte de seus poemas religiosos, o poeta se ajoelha diante de Deus, com um forte poeta se ajoelha diante de Deus, com um forte sentimento de culpa por haver pecado, e promete sentimento de culpa por haver pecado, e promete redimir-se. Trata-se de uma imagem constante: o redimir-se. Trata-se de uma imagem constante: o homem ajoelhado, implorando perdão por seus homem ajoelhado, implorando perdão por seus erros, conforme podemos verificar no primeiro erros, conforme podemos verificar no primeiro quarteto do soneto Buscando a Cristo: quarteto do soneto Buscando a Cristo:

A vós correndo vou, braços sagrados,A vós correndo vou, braços sagrados,Nessa cruz sacrossanta descobertos,Nessa cruz sacrossanta descobertos,Que, para receber-me, estais abertos,Que, para receber-me, estais abertos,E, por não castigar-me, estais cravados.E, por não castigar-me, estais cravados.

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Poesia AmorosaPoesia Amorosa

Seguindo o modelo dos barrocos espanhóis, Gregório Seguindo o modelo dos barrocos espanhóis, Gregório apresenta uma visão cindida das relações amorosas. Ora seus apresenta uma visão cindida das relações amorosas. Ora seus poemas tendem a uma concepção "petrarquista", isto é, à poemas tendem a uma concepção "petrarquista", isto é, à idealização dos afetos em linguagem elevada; ora a uma idealização dos afetos em linguagem elevada; ora a uma abordagem crua e agressiva da sexualidade em linguagem abordagem crua e agressiva da sexualidade em linguagem vulgar. vulgar.

A) O amor elevadoA) O amor elevado

Exemplo dessa perspectiva é um dos sonetos Exemplo dessa perspectiva é um dos sonetos dedicados a D. Ângela, provável objeto da paixão do poeta e dedicados a D. Ângela, provável objeto da paixão do poeta e que o teria rejeitado por outro pretendente. Observe-se o jogo que o teria rejeitado por outro pretendente. Observe-se o jogo de aproximações entre as palavras anjo e flor para designar a de aproximações entre as palavras anjo e flor para designar a amada. Observe-se também que, ao mesmo tempo tais amada. Observe-se também que, ao mesmo tempo tais vocábulos possuem um caráter contraditório (anjo = vocábulos possuem um caráter contraditório (anjo = eternidade; flor = brevidade). Como sugere um crítico, esta eternidade; flor = brevidade). Como sugere um crítico, esta duplicidade de Angélica lança o poeta em tensão e quase duplicidade de Angélica lança o poeta em tensão e quase desespero ("Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.")desespero ("Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.")

Page 19: Barroco Séc. XVII ao começo do séc. XVIII. "Toda forma exige fechamento e fim, e o barroco se define pelo movimento e instabilidade; parece-nos, pois,

Anjo no nome, Angélica na cara!Anjo no nome, Angélica na cara!Isso é ser flor, e Anjo juntamente:Isso é ser flor, e Anjo juntamente:Ser Angélica flor, e Anjo florenteSer Angélica flor, e Anjo florenteEm quem, senão em vós, se uniformara?Em quem, senão em vós, se uniformara?

Quem vira uma tal flor, que a não cortara,Quem vira uma tal flor, que a não cortara,De verde pé, da rama florescente?De verde pé, da rama florescente?A quem um Anjo vira tão luzenteA quem um Anjo vira tão luzenteQue por seu Deus o não idolatrara?Que por seu Deus o não idolatrara?

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B) O amor obsceno-B) O amor obsceno-satírico satírico

Se o erotismo é a exaltação da sensualidade e Se o erotismo é a exaltação da sensualidade e da beleza dos corpos, independentemente da da beleza dos corpos, independentemente da linguagem, que pode ser aberta ou velada; se a linguagem, que pode ser aberta ou velada; se a pornografia é a busca do sexo proibido e culpado pornografia é a busca do sexo proibido e culpado através de imagens grosseiras e chocantes e através de imagens grosseiras e chocantes e valendo-se quase sempre de uma forma vulgar; a valendo-se quase sempre de uma forma vulgar; a obscenidade situa-se noutra esfera. Ela não visa ao obscenidade situa-se noutra esfera. Ela não visa ao sensualismo refinado do erotismo nem à excitação sensualismo refinado do erotismo nem à excitação cafajeste da pornografia. Não se trata, pois, de uma cafajeste da pornografia. Não se trata, pois, de uma estimulação dos sentidos, e sim uma espécie de estimulação dos sentidos, e sim uma espécie de protesto contra o sistema moral, contra as protesto contra o sistema moral, contra as concepções dominantes de amor e de sexo, e concepções dominantes de amor e de sexo, e contra o próprio mundo. Às vezes, a obscenidade contra o próprio mundo. Às vezes, a obscenidade toma o sentido de um culto rude e subversivo do toma o sentido de um culto rude e subversivo do prazer contra os tabus que impedem a plena prazer contra os tabus que impedem a plena realização da libido.realização da libido.

Page 21: Barroco Séc. XVII ao começo do séc. XVIII. "Toda forma exige fechamento e fim, e o barroco se define pelo movimento e instabilidade; parece-nos, pois,

Na poesia obscena-satírica, Gregório de Na poesia obscena-satírica, Gregório de Matos não apresenta qualquer requinte Matos não apresenta qualquer requinte voluptuoso. Sua visão do amor físico é agressiva e voluptuoso. Sua visão do amor físico é agressiva e galhofeira. Quer despertar o riso ou o comentário galhofeira. Quer despertar o riso ou o comentário maldoso da platéia. Por isso, manifesta desprezo maldoso da platéia. Por isso, manifesta desprezo pela concepção cristã do amor que envolve a pela concepção cristã do amor que envolve a camada espiritual, conforme podemos verificar no camada espiritual, conforme podemos verificar no texto abaixo: texto abaixo:

O amor é finalmenteO amor é finalmenteum embaraço de pernas,um embaraço de pernas,uma união de barrigas,uma união de barrigas,um breve tremor de artérias.um breve tremor de artérias.Uma confusão de bocas,Uma confusão de bocas,uma batalha de veias,uma batalha de veias,um reboliço de ancas,um reboliço de ancas,quem diz outra coisa, é besta. quem diz outra coisa, é besta.

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Poesia SatíricaPoesia Satírica

O desengano barroco tem como uma de suas O desengano barroco tem como uma de suas conseqüências o implacável gosto pela sátira. Resposta a uma conseqüências o implacável gosto pela sátira. Resposta a uma realidade que os artistas julgam degradada, a poesia ferina e realidade que os artistas julgam degradada, a poesia ferina e contundente não perdoa nenhum grupo social. Ricos e pobres contundente não perdoa nenhum grupo social. Ricos e pobres são fustigados pelas penas corrosivas de Góngora, de são fustigados pelas penas corrosivas de Góngora, de Quevedo, como mais tarde o fará o brasileiro Boca do Inferno. Quevedo, como mais tarde o fará o brasileiro Boca do Inferno. Esta ironia cáustica e por vezes obscena é traço marcante do Esta ironia cáustica e por vezes obscena é traço marcante do barroco ibérico. barroco ibérico.

Quando retorna ao Brasil, já quarentão, em 1682, Quando retorna ao Brasil, já quarentão, em 1682, Gregório de Matos encontra uma sociedade em crise. A Gregório de Matos encontra uma sociedade em crise. A decadência econômica torna-se visível: o açúcar brasileiro decadência econômica torna-se visível: o açúcar brasileiro enfrenta a concorrência do açúcar produzido nas Antilhas e enfrenta a concorrência do açúcar produzido nas Antilhas e seu preço desaba. Além disso, uma nova camada de seu preço desaba. Além disso, uma nova camada de comerciantes (em sua maioria, portugueses) acumula comerciantes (em sua maioria, portugueses) acumula riquezas com a exportação e importação de produtos. Esta riquezas com a exportação e importação de produtos. Esta nova classe abastada humilha aqueles que se julgam bem nova classe abastada humilha aqueles que se julgam bem nascidos, mas que, dia após dia, perdem seu poder econômico nascidos, mas que, dia após dia, perdem seu poder econômico e seu prestígio.e seu prestígio.

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Ninguém parece escapar à sua ironia: os figurões Ninguém parece escapar à sua ironia: os figurões portugueses, os padres, os colonos, os bacharéis, os portugueses, os padres, os colonos, os bacharéis, os degradados lusos que vinham para o Brasil e aqui degradados lusos que vinham para o Brasil e aqui enriqueciam, os nativos, os mestiços, os negros, todos são enriqueciam, os nativos, os mestiços, os negros, todos são sistematicamente ridicularizados, como em Epílogos, onde sistematicamente ridicularizados, como em Epílogos, onde num jogo de perguntas e respostas, o poeta demole com a num jogo de perguntas e respostas, o poeta demole com a sociedade de seu tempo: sociedade de seu tempo:

Que falta nesta cidade?... VerdadeQue falta nesta cidade?... VerdadeQue mais por sua desonra?... HonraQue mais por sua desonra?... HonraFalta mais que se lhe proponha?... VergonhaFalta mais que se lhe proponha?... Vergonha

O demo a viver se exponha,O demo a viver se exponha,Por mais que a fama a exalta,Por mais que a fama a exalta,Numa cidade onde faltaNuma cidade onde faltaVerdade, honra, vergonha.Verdade, honra, vergonha.

Quem a pôs neste socrócio? ... Negócio.Quem a pôs neste socrócio? ... Negócio.Quem causa tal perdição? ... Ambição.Quem causa tal perdição? ... Ambição.E o maior desta loucura? ... Usura. E o maior desta loucura? ... Usura.