as universidades e as estratégias de incentivo à cultura...

331
i Sylla John Lerro Taves As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura: Salamanca, Espanha e Campinas, Brasil. Campinas 2014

Upload: others

Post on 17-Oct-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

i

Sylla John Lerro Taves

As Universidades e as Estratégias de Incentivo à

Cultura: Salamanca, Espanha e Campinas, Brasil.

Campinas 2014

Page 2: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

ii

Page 3: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

iii

Universidade Estadual de Campinas Instituto de Artes

Sylla John Lerro Taves

As Universidades e as Estratégias de Incentivo à

Cultura: Salamanca, Espanha e Campinas, Brasil.

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Artes do Instituto de Artes da Universidade

Estadual de Campinas para obtenção do título de Doutor

em Artes, na Área de Concentração: Artes Visuais.

Orientador: Edson Prado Pfutzenreuter

Este exemplar corresponde à versão final de Tese defendida pelo aluno Sylla John Lerro Taves, e orientada pelo Prof. Dr. Edson Prado Pfutzenreuter

__________________________________________

Campinas 2014

Page 4: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

iv

Page 5: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

v

Page 6: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

vi

Page 7: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

vii

Dedico este trabalho àqueles que me premiaram com o maior título da minha vida, Pai, à minha esposa Leila e aos nossos filhos Ana Clara e Pietro Ângelo: meus amores, minha vida e meu sonho mais real.

Page 8: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

viii

Page 9: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

ix

Agradecimentos

Sobretudo a Deus, por me ajudar a superar todas as barreiras, pelas bênçãos nas

superações físicas, pela força mental e presença constantes durante a realização deste

trabalho;

Aos meus avós Bruno e Sylla John, os quais incentivaram o desenvolvimento do olhar

observador, do gosto pelo conhecimento, do pensamento crítico, e o gozo intelectual

através das Artes e das Ciências Naturais. De onde estiverem, sei que estão olhando

por mim;

Aos meus pais e padrinho, Aécio, Neli e Ezio, por estarem sempre ao meu lado me

apoiando e me ajudando a aprender a caminhar de diferentes formas e, principalmente,

por me inspirarem para seguir a carreira docente;

A minha esposa e companheira Leila, pilar das minhas maiores conquistas, por sempre

acreditar em mim, por seu carinho incondicional, por me acompanhar na mudança

temporária para a Espanha, superando todas as barreiras para nossa mudança e por

suas palavras e ações de incentivo, em todos os momentos;

Aos meus filhos Ana Clara e Pietro Ângelo (nascidos durante o Doutorado), por me

fazer ver o mundo de forma totalmente diferente, por alegrar o nosso lar e por

colaborarem muito no período em que vivemos juntos em Salamanca;

A minha irmã Mayra, por nunca desistir de acreditar em mim e pelo apoio, muito

importante, na minha reabilitação depois do acidente automobilístico;

Aos meus cunhados Juliana e Felipe, pelo respeito e carinho, pela confiança e

disponibilidade para ajudarem sempre;

Page 10: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

x

Às vovós Neli e Sonia, por terem cuidado de nossos filhos em diversos momentos,

apoiando o papai no processo da escrita da tese;

Aos professores José Roberto Zan, Marcelo Knobel e João Franciso Duarte Jr, que me

ajudaram a abrir portas nas minhas carreiras, acadêmica e profissional, me ajudaram a

conquistar prêmios e me ensinaram a escolher as chaves para abrir novas portas do

meu futuro;

Ao meu orientador Prof. Dr. Edson, primeiro pelo aceite da proposta, por ter aberto

novos caminhos, por seu companheirismo, por me ouvir em momentos difíceis e por me

ensinar, com sua paciência e dedicação, muito mais do que posso dizer;

Aos professores da Universidade de Salamanca, Prof. Dr. Miguel Angel Quintanilla,

Prof. Dr. Manuel Heras Garcia que, desde o primeiro contato, sempre foram muito

antenciosos e tornaram minha estância em Salamanca uma realidade. Pelo carinho e

respeito, por me oferecerem condições excelentes para o desenvolvimento da

pesquisa, pelo escritório e infraestrutura, por confiarem a mim as chaves dos institutos

com livre acesso em qualquer horário, pelas conversas e entrevistas e pela amizade

que fizeram com que a mudança de país fosse uma agradabilíssima experiência;

Agradeço à Junta de Catilla y Leon pelo acolhimento de meus filhos no excelente

sistema ensino público e gratuito da cidade de Salamanca;

À CAPES pelos apoios financeiros concedidos no Brasil e na Espanha, que viabilizaram

a grande oportunidade de uma formação complementar em duas excelentes instituições

de ensino superior de reconhecimento internacional;

Aos professores Euclides de Mesquita Neto, Itala Maria Loffredo D'Ottaviano e Raquel

Meneguello, pelo total apoio da PRPG antes e depois do estágio de pesquisa em

Salamanca;

Page 11: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xi

Aos meus queridos amigos Gustavo Palma, Sabine Riguetti, Ana Paula Morales, Márcio

Derbili, Conrado Ramos, Djana Contieur, Vasco Caldeira, Elias Souza, Ana Victória

Pérez, Pedro José Gómez, Pablo Diez Calvo, José Pichel, Pedro Luis, Janete

Bittencourt, Marco Bittencourt, Gustavo Pinheiro, Paulo Oraboni da Silveira, Marcos

Paulo Moreira, Luis Despontim, Sergio da Silva Freitas, Lívia Aceto, Hélio de Jesus dos

Santos, Thiago La Torre, Eusébio Lobo e Monique Cerquiari, que contribuíram de

diferentes formas para que esta etapa da minha vida fosse realizada;

Aos colegas que me elegeram para o Conselho Universitário, a todos os conselheiros e

membros da Secretaria Geral pela experiência adquirida nos anos de 2011 e 2012, pela

oportunidade de desenvolvimento de novas competências, pelo aprendendizado sobre

a gestão da universidade, política institucional e sobre uma diversidade de temas

importantes para o bom funcionamento da UNICAMP;

Aos participantes desta pesquisa: alunos, professores, produtores e artistas, pela

valorosa e graciosa cooperação;

Aos funcionários do IA e da UNICAMP como um todo, pela paciência e pelo auxílio no

esclarecimento de todas as inúmeras dúvidas;

Aos colegas de classe nas disciplinas, que por terem embarcado nesta jornada comigo,

foram fontes constantes de apoio e incentivo;

E a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram de alguma forma para que este

trabalho fosse realizado;

Meus sinceros agradecimentos.

Sylla John Lerro Taves Dezembro / 2014

Page 12: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xii

Page 13: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xiii

“Here’s to the crazy ones.The misfits.The rebels.The troublemakers. The round pegs in the square holes. The ones who see things differently.They’re not fond of rules.And they have no respect for the status quo.You can quote them, disagree with them, glorify or vilify them. About the only thing you can’t do is ignore them.Because they change things. They push the human race forward. And while some may see them as the crazy ones, we see genius. Because the people who are crazy enough to think they can change the world, are the ones who do.”

S. Jobs

Page 14: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xiv

Page 15: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xv

“A estupidez é uma doença extraordinária, não é o doente que sofre por ela, mas sim os demais.”

F. Voltaire

Page 16: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xvi

Page 17: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xvii

"We are all very ignorant, but not all ignorant of the same things"

A. Einstein.

Page 18: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xviii

Page 19: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xix

"One of the most beautiful qualities of true friendship is to understand and to be understood."

L. A. Seneca

Page 20: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xx

Page 21: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xxi

Resumo

O objetivo global deste estudo foi a busca por um amplo levantamento

informativo e descritivo sobre os contextos institucionais, econômicos e sociais que

compõem o ambiente cultural de duas cidades que abrigam universidades de grande

relevância regional e internacional. O interesse por este estudo surgiu da experiência

profissional do autor como produtor cultural, gestor universitário e de sua vivência nas

duas universidades. Podemos definir que os levantamentos foram elaborados para

subsidiar a construção de um diagnóstico geral, capaz de representar os ambientes que

abrigam potentes sistemas de produção acadêmica e cultural. O mapeamento das

estruturas institucionais, do contexto histórico, dos hábitos culturais, do turismo, da

economia criativa e de outros fatores nos ajuda a caracterizar estes ambientes,

identifica relações intrínsecas e promove a compreensão de como os sistemas culturais

se configuram localmente. Nesse contexto, complementamos o estudo com uma

comparação das cidades por suas diferenças e semelhanças, visualizadas na análise

comparativa dos hábitos e de suas práticas culturais (teatro, festivais de música, entre

outros), levando-se em consideração a capacidade de formação cultural de cada

universidade, a relevância local em suas cidades sede e a economia da cultura

envolvida. As cidades selecionadas são Salamanca, Espanha e Campinas, Brasil e as

universidades escolhidas são, respectivamente, a Universidade de Salamanca (USAL)

e a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Embora existam outras

universidades nessas cidades, as instituições selecionadas são as maiores em número

de estudantes, orçamento, produtividade acadêmica, entre outras qualidades de

excelência, reconhecidas em nível nacional e internacional. Por exemplo, Salamanca é

mundialmente reconhecida por sua cultura e atmosfera universitária e a USAL, fundada

em 1218, está entre as universidades mais antigas da Europa. Da mesma forma,

Campinas é uma cidade de mais de um milhão de pessoas e lar de uma das melhores

universidades do país, a UNICAMP, com o maior índice nacional de produção

acadêmica e um dos principais centros de pesquisa e inovação no país.

Palavras-Chave: Economia Criativa; Gestão Cultural; Hábitos Culturais, Produção

Cultural; Turismo e Programação Cultural.

Page 22: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xxii

Page 23: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xxiii

Abstract

The overall objective of this study was to seek a broad informative and

descriptive survey of institutional, economic and social contexts that compound the

atmosphere of two cities that are home to universities of large regional and international

relevance. The interest for this study is related to the professional experience of the

author as a cultural producer, university officer and his experience at both universities.

We may say that the survey was done to subsidize the construction of a general global

mapping, capable of representing the atmosphere that houses powerful academic and

cultural production systems. The mapping of institutional structures, the historical

context, cultural habits, tourism, creative economy and other factors helps us to

characterize these environments, identifies intrinsic relations and promotes

understanding of how cultural systems are configured locally. In this context, we seek to

complement the study with a comparison of cities by their similarities and differences in

many aspects observed in the comparative analysis of their cultural practices (theater,

music festivals, among other examples), considering the cultural training capacity of

each university, their host cities, and the economy of the local culture. The two cities of

interest are Salamanca, Spain and Campinas, Brazil, and the universities chosen in

these cities are respectively, the University of Salamanca (USAL) and the State

University of Campinas (UNICAMP). Although there are other universities in these cities,

the selected institutions are the largest in number of students, budget, and academic

productivity, among other qualities of excellence, acknowledged nationally and

internationally. For example, Salamanca is world-renowned for its culture and for its

collegiate atmosphere and the University of Salamanca, founded in 1218, is believed to

be the third oldest university in Europe. Similarly, Campinas is a city of over a million

people and home to one of the best universities in the country, UNICAMP, with the

highest national rate of academic production and one of the major research and

innovation centers in the country.

Key-words: Creative Economy; Cultural Management; Cultural Habits;

Cultural Production; Tourism and Cultural Programming.

Page 24: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xxiv

Page 25: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xxv

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – GRÁFICOS 1 E 2: CONTRIBUIÇÃO DIRETA DE VIAGENS E TURISMO EM ESPANHA PARA A PIB. .. 57

FIGURA 2 - GRÁFICOS 3 E 4: CONTRIBUIÇÃO TOTAL DE VIAGENS E TURISMO EM ESPANHA PARA A PIB. .... 58

FIGURA 3 - GRÁFICOS 5 E 6: CONTRIBUIÇÃO DIRETA DE VIAGENS E TURISMO PARA A ESPANHA EM

EMPREGOS. .............................................................................................................................................. 59

FIGURA 4 - GRÁFICOS 7 E 8: CONTRIBUIÇÃO TOTAL E PROJEÇÃO DE VIAGENS E TURISMO DE ESPANHA

SOBRE OFERTA DE EMPREGO, 2013-2024. ............................................................................................ 60

FIGURA 5 - GRÁFICOS 9 E 10: VISITANTES INTERNACIONAIS: 2004-2014. .................................................... 61

FIGURA 6 - GRÁFICOS 11 E 12: INVESTIMENTOS DE CAPITAL EM VIAGENS E TURISMO: 2004-2014............. 61

FIGURA 7 - GRÁFICOS 13 E 14: CONTRIBUIÇÕES DIRETAS DAS VIAGENS E DO TURISMO PARA O PIB. ......... 65

FIGURA 8 - GRÁFICOS 15 E 16: CONTRIBUIÇÃO DIRETA DE VIAGENS E TURISMO DE EMPREGO BRASILEIRO.

................................................................................................................................................................. 66

FIGURA 9 – GRÁFICOS 17 E 18 : GASTOS DE VISITANTES ESTRANGEIROS VERSUS CHEGADAS DE TURISTAS

INTERNACIONAIS. ..................................................................................................................................... 67

FIGURA 10 - GRÁFICOS 19 E 20: INVESTIMENTO DE CAPITAL BRASILEIRO EM VIAGENS E TURISMO. ............ 68

FIGURA 11 - IMAGEM DA HOSPEDARIA FONSECA SEDE DO SAC - CRÉDITOS NOELLIA SOBRINO. ............. 107

FIGURA 12 - IMAGEM BOLETIM OFICIAL DO ESTADO ESPANHOL DECRETO REAL 678/1988...................... 108

FIGURA 13 - IMAGEM DA ORQUESTRA BARROCA. ......................................................................................... 110

FIGURA 14 - CONSORT DE VIOLA - CRÉDITOS SAC. .................................................................................... 111

FIGURA 15 - IMAGEM DO CORO DE CÂMARA - CRÉDITOS SAC. ................................................................... 112

FIGURA 16 - IMAGEM DA BIG BAND - CRÉDITOS SERGIO MERINO. .............................................................. 113

FIGURA 17 - IMAGEM DE TUNA USAL - CRÉDITOS SAC. ............................................................................. 115

FIGURA 18 - IMAGEM DE TUNA FEMININA - CRÉDITOS SAC. ........................................................................ 116

FIGURA 19 - IMAGEM DO CORO UNIVERSITÁRIO - CRÉDITOS SAC. .............................................................. 117

FIGURA 20 - CONCURSO DE MICRO RELATOS SAC. .................................................................................... 120

Page 26: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xxvi

FIGURA 21- REPORTAGEM 20 ANOS LUME. .................................................................................................. 134

FIGURA 22 - OSU UNICAMP - CRÉDITOS MARILIA VASCONCELLOS. ........................................................ 136

FIGURA 23 – AULA NA ELM - CRÉDITOS ELM. ............................................................................................. 137

FIGURA 24 - CORAL ZIPER NA BOCA - CRÉDITOS CASA DO LAGO. .............................................................. 138

FIGURA 25 - CIS GUANABARA - CRÉDITOS PREAC. ................................................................................... 143

FIGURA 26 - CASA DO LAGO - CRÉDITOS CASA DO LAGO. ........................................................................... 144

FIGURA 27 – PLACA DE CONCRETO ASSINADA PELA BANDA DEEP PURPLE NO GINÁSIO DA UNICAMP.148

FIGURA 28 - GRÁFICOS 21 E 22 : ATIVIDADES NA CASA DO LAGO E PÚBLICO VISITANTE 2005-2007. ....... 151

FIGURA 29 – GRÁFICOS 23 E 24: ATIVIDADES NA CASA DO LAGO E PÚBLICO VISITANTE 2009-2012. ....... 153

FIGURA 30 – GRÁFICO 25 : ATIVIDADES CDC 2009-2012. ......................................................................... 154

FIGURA 31 - IMPACTO ECONÔMICO DE SALAMANCA 2002 : CAPITAL EUROPEIA DA CULTURA. .................. 170

FIGURA 32 - PROCESSO DE ESTIMATIVA DA DESPESA PRIVADA EM CONSUMO CULTURAL. ......................... 174

FIGURA 33 – CAMPINAS: O QUE MAIS GOSTA DE FAZER COM TEMPO LIVRE? .............................................. 196

FIGURA 34 – GRÁFICO 26 : CORPORAÇÕES E GRUPOS ARTÍSTICOS CADASTRADOS. ................................ 200

FIGURA 35 – GRÁFICO 27: PESSOAS OCUPADAS NA ÁREA DE CULTURA POR CATEGORIA DE OCUPAÇÃO.

............................................................................................................................................................... 201

FIGURA 36- GRÁFICO 28 : COEFICIENTE DE HABITANTES POR EQUIPAMENTO CULTURAL NOS DISTRITOS E

ADMINISTRAÇÕES REGIONAIS DE CAMPINAS. ...................................................................................... 202

FIGURA 37 – QUAIS EQUIPAMENTOS CULTURAIS SÃO CONHECIDOS PELOS CAMPINEIROS. ........................ 203

FIGURA 38 – GRÁFICO 29: PERFIL DO CONSUMIDOR DE SHOPPING CENTERS. .......................................... 209

FIGURA 39 – GRAFICO 30 : COMPARATIVO COM O NÚMERO TOTAL DE PROJETOS DE LEI ROUANET

EXECUTADOS EM CAMPINAS E SÃO PAULO. ......................................................................................... 212

FIGURA 40 – GRÁFICO 31 : TOTAL DOS VALORES DE EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA DOS PROJETOS DE LEI

ROUANET EM CAMPINAS E SÃO PAULO. ............................................................................................... 213

FIGURA 41 – GRÁFICO 32: FONTES DE FINANCIAMENTO UNICAMP 2012. ............................................... 215

FIGURA 42 - FERRAMENTA DE BUSCA FACOM-UFBA. ............................................................................... 227

Page 27: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xxvii

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - EMPREGO CULTURAL DA UNIÃO EUROPEIA: 2007. ............................................................... 51

TABELA 2 - SELEÇÃO DE INDICADORES DO SETOR CULTURAL EU27. ....................................................... 52

TABELA 3 - UE27 A PARTICIPAÇÃO DOS CIDADÃOS NAS ATIVIDADES CULTURAIS, 2007. ........................... 54

TABELA 4 - OS MECANISMOS DE IMPACTO DA ARTE. ............................................................................... 95

TABELA 5 - AS ENTREVISTAS COM PROFESSORES DA USAL. ................................................................ 122

TABELA 6 - UNICAMP EM NÚMEROS 2013. ........................................................................................ 130

TABELA 7 – HISTÓRICOS DE ATIVIDADES CDC 2005-2007. ................................................................. 150

TABELA 8 - COMPARAÇÃO DE INDICADORES DEMOGRÁFICOS E ECONÔMICOS: BRASIL E ESPANHA. ........ 159

TABELA 9 – 2013 UNIVERSIDADES EM NÚMEROS : USAL X UNICAMP................................................. 162

TABELA 10 - OS GASTOS COM EQUIPAMENTOS E INSTALAÇÕES CULTURAIS EM SALAMANCA 2002. ......... 171

TABELA 11 - ACUMULADO ANUAL E ORÇAMENTO ( €) DO CONSÓRCIO SALAMANCA 2002. ...................... 172

TABELA 12 - NÚMERO DE INGRESSOS VENDIDOS EM SALAMANCA 2002:CEC. ...................................... 175

TABELA 13 – GRAU DE ESCOLARIDADE DA POPULAÇÃO POR FAIXA ETÁRIA, 2009. ................................. 180

TABELA 14 - COMPARATIVO NIVEL DE EDUCACIONAL DOS CONSUMIDORES CULTURAIS: SALAMANCA X

CAMPINAS. ................................................................................................................................ 198

TABELA 15 - COMPARAÇÃO DAS PREFERÊNCIAS POR ATIVIDADE CULTURAL : : SALAMANCA X CAMPINAS. 198

TABELA 16 - SÃO PAULO : PRÁTICAS CULTURAIS DOMICILIARES E EXTERNAS. ....................................... 205

Page 28: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xxviii

Page 29: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xxix

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 1

OBJETIVO DO ESTUDO ..................................................................................................................... 2

PERGUNTAS DA PESQUISA .............................................................................................................. 4

JUSTIFICATIVA ................................................................................................................................. 5

CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A METODOLOGIA DA PESQUISA ................................................. 8

VISÃO GERAL DO ESTUDO ............................................................................................................. 10

CAPÍTULO 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 11

1.1. INTRODUÇÃO CONCEITO DE CULTURA ............................................................................. 12

1.2. VISÃO GERAL DAS CIDADES UNIVERSITÁRIAS ................................................................... 20

1.3. POLÍTICA CULTURAL E SEU IMPACTO NAS CIDADES: CADEIA DE PRODUÇÃO CULTURAL 36

1.4. EMPREGO CULTURAL ............................................................................................................. 44

1.3.1. EMPREGO CULTURAL NA UNIÃO EUROPEIA E NA ESPANHA .................................... 49

1.3.2. EMPREGO CULTURAL NA AMÉRICA LATINA E NO BRASIL......................................... 62

1.4. ECONOMIA DA CULTURA E EMPREENDEDORISMO .......................................................... 69

1.4.1. ECONOMIA DA CULTURA .......................................................................................... 69

1.4.2. ESPÍRITO DE INICIATIVA E EMPREENDEDORISMO CULTURAL .................................. 71

1.5. TURISMO CULTURAL E O PAPEL DAS PRODUÇÕES ARTÍSTICAS ........................................ 78

1.6. CIDADES CRIATIVAS E A ECONOMIA CRIATIVA ................................................................. 92

1.7. COOPERATIVAS CULTURAIS “SOCIÉTÉ MUTUELLE POUR ARTISTES” (SMART) GRUPO

EUROPA ......................................................................................................................................... 99

CAPÍTULO 2: SALAMANCA – ESPANHA .......................................................................................... 103

2.1. SALAMANCA, ESPANHA................................................................................................... 103

2.2. USAL VISÃO GERAL .......................................................................................................... 105

2.3. ESPANHA: USAL - SERVICIOS DE ACTIVIDADES CULTURALES (SAC) ................................ 107

2.3.1. SAC: DESCRIÇÃO E HISTÓRIA ................................................................................... 107

2.3.1.1. ATIVIDADES CULTURAIS: ..................................................................................... 109

2.3.1.2. AGRUPAÇÕES MUSICAIS ..................................................................................... 113

2.3.1.3. CENTRO FOTOGRAFIA ......................................................................................... 118

2.3.1.4. FESTIVAIS: MOSTRA DE TEATRO UNIVERSITÁRIO E NOITES DO FONSECA ........ 119

Page 30: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xxx

2.3.1.5. CONCURSOS, EXPOSIÇÕES E LITERATURA........................................................... 119

CAPÍTULO 3: CAMPINAS – BRASIL .................................................................................................. 127

3.1. CAMPINAS, BRASIL .......................................................................................................... 127

3.2. VISÃO GERAL DA UNICAMP ............................................................................................. 129

3.3. INSTITUTO DE ARTES DA UNICAMP ................................................................................ 131

3.4. LUME : CRIAÇÃO E FORMAÇÃO ...................................................................................... 133

3.5. ATIVIDADES CULTURAIS – UNICAMP .............................................................................. 135

3.5.1. CENTRO DE INTEGRAÇÃO, DOCUMENTAÇÃO E DIFUSÃO CULTURAL (CIDDIC) ...... 135

3.5.2. SERVIÇO DE APOIO AO ESTUDANTE (SAE) .............................................................. 140

3.6. PRO-REITORIA DE EXTENÇÃO E ASSUNTOS COMUNITÁRIOS-PREAC .............................. 141

3.6.1. PREAC : GESTÃO E INFRA-ESTRUTURA .................................................................... 143

3.6.2. CAPACIDADE PRODUTIVA E AÇÕES PROMOVIDAS PELA PREAC ............................. 155

CAPÍTULO 4: ANALISE DAS DESCRIÇÕES E DADOS COLETADOS ................................................... 159

4.1. SALAMANCA E CAMPINAS............................................................................................... 159

4.1.1. VISÃO GERAL CAMPINAS E SALAMANCA ................................................................ 161

4.2. SALAMANCA, CAPITAL EUROPEIA DA CULTURA 2002 .................................................... 166

4.2.1. IMPACTO INDIRETO: AS DESPESAS PRIVADAS DO CONSUMO CULTURAL .............. 173

4.2.2. IMPACTO INDUZIDO: EFEITO ECONÔMICO GLOBAL DE SALAMANCA 2002 ........... 176

4.3. CAPITAL BRASILEIRA DA CULTURA .................................................................................. 176

4.4. HABITOS CULTURAIS NA NA COMUNIDADE EUROPEIA E ESPANHA ............................... 179

4.5. HABITOS CULTURAIS DOS PAULISTAS ............................................................................. 194

4.6. COMPARATIVO CONSUMIDORES CULTURAIS EM SALAMANCA E CAMPINAS ............... 197

4.7. DIAGNÓSTICO DO SETOR CULTURAL EM CAMPINAS ...................................................... 199

4.8. LIMITAÇÕES AO DESENVOLVIMENTO DACIDADE CRIATIVA: CAMPINAS ....................... 203

4.9. CAPACIDADE DE CAPTAÇÃO DE RECURSOS .................................................................... 214

4.10. MECANISMOS DO SISTEMA CULTURAL ....................................................................... 217

4.10.1. LEIS RELATIVAS À COOPERATIVA ARTÍSTICA EM ESPANHA E NO BRASIL ................... 217

4.10.1.1. ESPANHA ............................................................................................................. 217

4.10.1.2. COOPERATIVAS CULTURAIS ................................................................................ 219

4.10.2. POLÍTICAS CULTURAIS - RESIDÊNCIAS ARTISTICAS NO BRASIL ................................... 222

Page 31: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xxxi

4.10.3. PROFISSIONAIS DA CULTURA ...................................................................................... 224

4.10.3.1. AGENTES E PROFISSÕES CULTURAIS NA COMUNIDADE EUROPEIA ................... 224

4.10.3.2. FORMAÇÃO DE GESTORES E PROFISSIONAIS CULTURAIS BRASIL ....................... 225

4.10.4. O NEGÓCIO DA CULTURA ............................................................................................ 229

CAPÍTULO 5: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES........................................................................... 235

5.1. PERGUNTAS DA PESQUISA .............................................................................................. 238

5.2. RECOMENDAÇÕES ........................................................................................................... 254

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................. 257

7. APÊNDICE ................................................................................................................................ 281

APÊNDICE 1 – RESUMO SOBRE LEGISLAÇÃO DE COOPERATIVAS UE-27 E ESPANHA ............... 281

APÊNDICE 2 – RESUMO SOBRE PROPOSTA DE NOVA LEI DE COOPERATIVAS NO BRASIL (CICOPA,

2004) ........................................................................................................................................... 285

8. ANEXOS ................................................................................................................................... 291

ANEXO 1 – CARTAZ ORQUESTRA SINFONICA UNICAMP ..................................................... 291

ANEXO 2 – CARTAZ FESTIVAL DE TEATRO UNIVERSITÁRIO UNIVERSIDADE SALMANCA

2012 ............................................................................................................................................ 292

ANEXO 3 – GASTOS LEI ROUANET NA CIDADE DE CAMPINAS ........................................... 293

ANEXO 4 – ORÇAMENTO ANUAL UNIVERSIDADE SALAMANCA 2013 ............................... 296

Page 32: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

xxxii

Page 33: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

1

INTRODUÇÃO

Vivemos em uma época de grandes transformações, em um

acelerado processo de revolução tecnológica, no qual as informações e

descobertas circulam em uma velocidade incrível. Com isso, a sociedade

estabelece amplos debates sobre diversos temas e muito se tem discutdo

acerca da economia criativa, da gestão cultural, da importância da cadeia da

produção cultural no desenvolvimento do país, do poder de transformação que

a cultura pode representar em uma determinada região ou comunidade e várias

outras questões que podem ser geradas em torno destes temas.

Todas essas questões mencionadas fazem parte do cotidiano

profissional do autor, dessa forma, a busca por uma compreensão apurada

sobre estes temas foram fatores motivadores e o inspiraram a desenvolver este

trabalho de pesquisa. Ele é engenheiro, gestor universitário, professor, ator e

produtor cultural, atua simultaneamente nestas atividades há mais de 15 anos

e vive diariamente muitos dos desafios que foram abordados no processo

desta pesquisa.

É de suma importância frisar que este trabalho buscou levantar

hipóteses para atender demandas de algumas questões relativas ao sistema

da produção cultural, contudo, o autor sempre teve muito claro que em um

único trabalho de pesquisa de quatro anos não seria possível responder a

todas as perguntas e muito menos propor soluções para todos os desafios do

cotidiano deste setor. Ciente desta complexidade, procurou delimitar o espaço

geográfico da pesquisa de campo em duas cidades nas quais viveu, trabalheu

na produção cultural, atuou na gestão universitária, ensinou e aprendeu muito,

com professores, alunos e amigos.

Para desenvolver um trabalho de pesquisa desta natureza deve-se

considerar a multidisciplinariedade de ideias que exigem os estudos de um

sistema de produção em uma cidade. Assim, a organização da linha de

racionío do trabalho buscou identificar a interdisciplinariedade existente dentre

os conceitos envolvidos. Desta forma, ao longo do texto, estão presentes

Page 34: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

2

fundamentos teóricos sobre Arte, Economia, Sociologia, estudos estatísticos e

informações que, em geral, não são colocadas em um mesmo estudo e que, à

primeira vista, paracem não estarem diretamente conectados. Neste sentido,

esta forma de desenvolvimento foi proposital e o autor procurou estudar a

complexidade do sistema cultural através de um trabalho interdisciplinar.

A estratégia de abordagem interdisciplinar é necessária para a

compreensão integral do sistema da produção cultural em uma cidade, país ou

região, entretanto, neste trabalho, também foi uma forma de aproveitar mais

intensamente a formação e experiência profissional do autor. Não é comum

encontrar um produtor cultural com formação também em engenharia, mas,

neste caso, foi importante aproveitar os conhecimentos de engenharia e

estatística na interpretação das informações coletadas no processo de

pesquisa.

Ao longo de sua trajetória profissional, o autor produziu espetáculos

teatrais, filmes, documentários, administrou uma orquestra e estas experiências

criaram a oportunidade para trabalhar como gestor de projetos desta natureza

na reitoria da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Nesta

universidade, participou da implantação do Museu Exploratório de Ciências, o

qual buscava comunicar temas científicos através de experiências artísticas e

interativas. Estes projetos em museologia o levaram à Universidade de

Salamanca (USAL), onde foram realizados projetos em conjunto com a

UNICAMP, e as visitas recorrentes por quatro anos proporcionaram uma

intensa convivência com o sistema cultural da USAL. Estes fatos criaram o

projeto do estudo comparativo e foram motivadores da decisão de morada por

um semestre para a realização da pesquisa de campo em terras espanholas.

OBJETIVO DO ESTUDO

O objetivo global deste estudo foi o de buscar um amplo

levantamento informativo e descritivo sobre os contextos institucionais,

econômicos e sociais, que compõem o ambiente de duas cidades que abrigam

universidades de grande relevância em seus países de origem, bem como no

Page 35: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

3

cenário acadêmico internacional. Podemos definir que os levantamentos

informativos e descritivos foram eleborados com o objetivo de subsidiar a

construção de um mapeamento global geral, capaz de representar o ambiente

que abriga sistemas de produção acadêmica e cultural com grande potencial.

Quando nos referimos ao ambiente queremos dizer que buscamos identificar

os elementos que compõem o ecossistema e os fatores que podem influenciar,

de forma positiva ou negativa, as atividades da cadeia de produtiva cultural

destas cidades. Os fatores de influência podem ser institucionais, sociais,

econômicos e políticos, assim sendo, para desenvolver o mapeamento do setor

produtivo cultural, necessitamos de levamantos descritivos, levantamento de

dados estatísticos globais, regionais e locais, os quais possibilitem a

identificação de tendências, comportamentos, estratégias, entre outros fatores.

Desta forma, o estudo visou fornecer uma comparação entre os

ambientes de duas cidades universitárias que têm semelhanças e diferenças

em muitos aspectos, onde incluímos um levantamento das historias da

constituição destas cidades e das respectivas universidades,

da evolução alcançada pelo setor cultural e educacional através de suas

estruturas organizacionais (sociais, econômicas e politicas). O mapeamento

das estruturas intistucionais, do turismo, da composição do perfil dos atores

internos e externos deste ambiente foi importante para identificar relações com

os sistemas de produção cultural.

Dentro do contexto do setor produtivo cultural nestas cidades,

buscamos mais outro objetivo complementar no estudo, que foi o de

proporcionar comparação entre estas duas cidades universitárias pelas suas

características semelhantes em muitos aspectos, o que pode ser visto ao

incluirmos uma análise comparativa da evolução alcançada através de seus

sistemas de produção cultural com atividades culturais tais como teatro,

festivais de música, feiras de artesanato e assim por diante, levando-se em

conta a capacidade e a formação cultural de cada comunidade onde a

universidade se insere, as cidades nas quais atuam e toda a economia da

cultura destas cidades. As duas cidades de interesse são Salamanca, Espanha

e Campinas, Brasil e as universidades são, respectivamente, a Universidade de

Page 36: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

4

Salamanca (USAL) e a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Em

ambos os casos, as universidades têm uma grande importância econômica e

social nas respectivas cidades.

Apesar de haver outras universidades nestas cidades, as instituições

selecionadas são as maiores em termos de tamanho, número de alunos,

orçamento, produtividade acadêmica, entre outros fatores e com grande

relevância não só localmente, mas também em nível nacional e internacional.

Por exemplo, Salamanca é mundialmente conhecida por sua cultura e pela

atmosfera colegial e a Universidade de Salamanca, fundada em 1218, é

considerada a terceira mais antiga universidade da Europa (SALAMANCA,

2014). Da mesma forma, Campinas, uma cidade com mais de um milhão de

pessoas e um importante centro tecnológico de pesquisa, é o lar de algumas

das melhores universidades do país, incluindo a Universidade Estadual de

Campinas (GUIA DE INVESTIMENTO CAMPINAS, 2014). Tomadas em

conjunto, Campinas e Salamanca fornecem valiosos exemplos dos efeitos da

situação social, econômica e política que as cidades universitárias vivenciam

como resultado de suas instituições educacionais em suas comunidades, e são

analisados neste estudo, utilizando as perguntas de pesquisa listadas abaixo.

PERGUNTAS DA PESQUISA

Este estudo foi orientado pelas seguintes perguntas de pesquisa:

1. Quais ações de planejamento estratégico e política institucional

da universidade podem promover o empreendedorismo cultural?

2. Quais mecanismos podem colaborar na consolidação de um

sistema de produção cultural (cadeia da produção cultural)?

3. Como a articulação dos gestores políticos e universitários reflete

no sistema cultural de uma cidade universitária?

Page 37: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

5

JUSTIFICATIVA

A relevância das manifestações artísticas e culturais para a condição

humana não pode ser subestimada, considerando que as primeiras criações e

experiências estéticas do ser humano no universo artístico vieram antes da

roda e da escrita, elas devem ser consideradas como um dos principais

contribuintes para o progresso da humanidade ao longo das eras. A constante

evolução da sociedade gera novas demandas artísticas e os processos

criativos e de produção artística vão se transformando, acompanhando o ritmo

da sociedade, participando ativamente até dos processos de invoções

tecnológicas. Atualmente, com as inovações em telecomunicações, temos a

possibilidade da transmissão de produções artísticas de qualquer lugar e a

qualquer momento.

Porém, uma situação que é inerente às produções artísticas em

diferentes momentos da história da humanidade é a dificuldade para analisar a

lógica da econômica da cultura e essa dificuldade de compreensão afeta tanto

os artistas como os diferentes setores da sociedade. O entendimento da lógica

da econômica da cultura requer uma compreensão de diversos conceitos, os

quais envolvem temas como formação de valor econômico, tipologia de

agregação de valor subjetivo, relacionamento entre a obra e criador,

comportamento do consumidor cultural, empreendedorismo cultural, cadeia

produtiva, entre muitos outros.

De maneira abrangente, podemos dizer que a lógica econômica da

cultura envolve a visão de dois agentes principais, produtores e consumidores

culturais. Apesar da relevância do tema, percebemos que existe uma carência

de pesquisas nessa área e este trabalho de investigação visa colaborar nesta

área do conhecimento. O estudo visa analisar o potencial das cadeias de

produção cultural em duas cidades universitárias e a relação destas instituições

com este sistema de produção cultural. Nestes sistemas de produção cultural

instalados em cidades universitárias, encontramos vários atores envolvidos na

cadeia da produção cultural: os artistas, produtores culturais, educadores,

Page 38: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

6

políticos, os cidadãos (consumidores culturais), e todos eles têm a sua

partipação nesse processo.

Sendo assim, a realização da pesquisa se justifica por si só, devido

à carência de pesquisas e publições que abordem a complexidade do sistema

cultural, as características da forma de produção, consumo, enfim, a lógica

econômica da cultura por um viés interdisciplinar. Este fato tornou-se latente

durante o processo de levantamento de referênciais bibliográficas para a

pesquisa e esta falta é identificada principalmente em estudos sobre o Brasil.

De forma geral, podemos considerar que o presente trabalho

também se justifica porque:

A demanda para a produção artística é incerta. Para muitas

atividades artísticas, por exemplo, a reação do público pode

variar de uma ampla aclamação ao desdém já que a

ignorância sobre como o público poderá reagir ao produto do

artista é um problema real, com efeitos diversos;

A singularidade do setor. Os trabalhadores criativos sentem

de forma diferente a relação aos seus produtos, criam um

valor que não é financeiro, enquanto os trabalhadores de

outras indústrias tendem a não criar sentimentos pelo que

produzem. Por outro lado, o artista também exerce um

trabalho diário, mas incerto, e a quantidade de esforço

atribuído a partir da criação artística até a construção da obra

pode consumir muito tempo, tornando o processo

‘desinteressante’ dentro da lógica econômica, pois tudo pode

mudar no meio da atividade.

Algumas práticas artísticas exigem diversas habilidades para

produzir o resultado desejado. Estabelecer o preço das obras

de arte e dos produtos culturais não é, em geral, um processo

pragmático, pois envolve uma série de valores intangíveis,

valores sentimentais e o relacionamento entre a obra e o

autor e entre o produto cultural e o comprador. Por outro lado,

existem produções coletivas que dificultam ainda mais a

Page 39: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

7

questão, porque, além da definição do valor econômico,

implicam em medir a participação individual na criação.

(PHILLIPS, 2010, p. 246).

Avaliando os fatores apontados por Phillips, como a demanda

incerta, nos leva a refletir sobre questões como empregabilidade e

empreendedorismo e como os artistas e o mercado de trabalho estabelecem

seu relacionamento, quais são os regimes de trabalho deste setor, entre outras

questões que precisam ser analisadas. Associando primeiro a outro fator, como

a questão das necessidades de formação em diversas habilidades, deixa

evidente a necessidade estudarmos como as universidades planejam seus

cursos de formação e suas atividades complementares de extensão

universitária.

Nesta perspectiva, é claro que produções artísticas que promovem o

desenvolvimento local, com capacidade de atrair o fenômeno do turismo, o que

cria a possibilidade de envolver uma ampla gama de investidores. A este

respeito, os editores da Management Today enfatizam que, "A arte pode mudar

o ponto de vista das pessoas sobre a vida, o mundo e até mesmo os negócios.

Arte e cultura podem ajudar a reconstruir as respostas aos acontecimentos e

ensinar lições importantes" (THE REAL VALUE OF THE ARTS, 2013, p.20 ).

As universidades são geralmente valiosas contribuintes para as

economias de algumas cidades, e estudar esta questão em Salamanca e

Campinas poder trazer contribuições para uma compreensão deste

relacionamento com as cidades. Isto é devido, em grande parte, ao fato de que

são instituições estáticas relativamente resistentes à flutuações dos ciclo

econômicos, porque são instituições públicas de relevância acadêmica. Elas

tendem a atrair as receitas provenientes de doações, impostos estaduais, a fim

de atrair capitais individuais significativos - de alunos e funcionários em um

mercado nacional - que podem promover o crescimento econômico da área

(STEINACKER, 2005).

Cidades como Campinas e Salamanca, embora prósperas e

cosmopolitas em seus próprios direitos, podem ser mais atrativa para

Page 40: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

8

artesãos e profissionais culturais, e estas parcerias estratégicas tornaram-se,

cada vez mais, partes importantes das atividades de desenvolvimento

econômico, cultural e do turismo destas cidades. Como um analista salienta,

"Não é por acaso que durante os tempos de dificuldades econômicas (como os

que estamos vivendo) a atenção vira-se para as artes como meio de remédio"

(CRISPIM, 2009, p. 26).

Apesar dos desafios que estão envolvidos, no entanto, a pesquisa

confirma que produções artísticas e uma comunidade artística em cidades

universitárias são um valioso patrimônio cultural, até mesmo em termos do seu

impacto econômico. Em suma, Kingsmill conclui que, "as artes e a cultura

melhoram nossas vidas, estimulam a nossa imaginação e têm o poder de nos

inspirar e desafiar. Elas devem ser salvaguardadas e protegidas somente por

isso." (2013, p.1).

CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A

METODOLOGIA DA PESQUISA

Existem diversas metodologias para realização de uma pesquisa

qualitativa, incluindo a metodologia histórica, a etnografia, a fenomenologia, a

hermenêutica, a teoria fundamentada em dados, a pesquisa-ação e o estudo

de caso (BURTON & STEANE, 2004). Neste trabalho, o pesquisador optou

pela realização de um amplo levantamento descritivo, um estudo de caso onde

a estratégia foi executar uma pesquisa de campo in loco em cada cidade

universitária de interesse, por meio de entrevistas, observações, pesquisa

documental, aproveitando também sua experiência pessoal como gestor

universitário. A realização prévia de um referencial teórico colaborou na

definição do problema e na formulação das perguntas, as quais são condições

essenciais para orientar qualquer pesquisa de campo. Com base nessa lógica,

objetivos, questões-chave e as hipóteses do estudo teórico geral somado aos

levantamentos descritos, consolidam-se na abordagem metodológica de

natureza qualitativa.

Nesta metodologia qualitativa, após o recolhimento de informações

através de entrevistas, observações e da pesquisa documental, seguiu-se o

Page 41: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

9

estudo comparativo a partir dos estudos de caso de cada cidade universitária,

os quais foram desenvolvidos aplicando técnicas tradicionais de estudos de

caso. Os dados qualitativos foram analisados utilizando-se o axioma de acordo

com as diferenças e semelhanças, comparando-se os fatos e fenômenos

encontrados com teorias atuais sobre o princípio do ‘arm's length’ e a análise

da política cultural. O princípio do ‘arm's length’ sustenta que cada transação

entre os intervenientes deve ser valorizada como se tivessem sido realizadas

entre partes independentes, onde todos tendem a agir em seus próprios

interesses (ARM'S LENGTH PRINCIPLE, 2014). O princípio do ‘arm's length’

tem sido usado para analisar o impacto dos Conselhos de Artes nas produções

culturais nos Estados Unidos (LOWELL & ONDAATJE, 2006). Em suma,

estudos comparativos internacionais deste tipo podem servir para identificar as

variáveis que promovem o desenvolvimento econômico e os que não

promovem, ou aquelas que eventualmente prejudicam o desenvolvimento

econômico (AGUAYO, 2011).

Com base na aplicação desta abordagem comparativa, usando uma

metodologia de estudo de caso, Aguayo concluiu que esta técnica tem valor na

promoção de um melhor entendimento do papel das produções culturais para o

desenvolvimento econômico. Segundo Zikmund (2000, p. 722), a metodologia

de estudo de caso é "uma técnica de pesquisa exploratória que intensamente

investiga uma ou algumas situações análogas ao investigador na situação-

problema". Da mesma forma, Neuman (2003, p. 33) informa que, "Em uma

pesquisa de estudo de caso, pesquisadores devem examinar, em

profundidade, muitas informações e fatos de alguns casos ao longo de um

período de tempo. A partir de um estudo de caso, o pesquisador pode

intensamente investigar um ou dois casos ou comparar um conjunto limitado de

casos, concentrando-se em vários fatores”.

A base de dados do estudo foi construída consultando informações

on-line, incluindo recursos governamentais e não governamentais, bases

oficiais das universidades, bibliotecas públicas. Os termos de pesquisa

utilizados foram centrados em termos-chave de interesse para este estudo,

como ‘emprego cultural’, ‘produção cultural’, ‘empreendedores culturais’,

Page 42: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

10

‘gestão cultural’, ‘economia criativa’, ‘cidades universitárias’, ‘turismo cultural’,

entre outros. Para compor o banco de dados estatísticos da pesquisa,

realizamos consultas em bases oficiais do governo da Espanha (INEE1), da

União Europeia (Eurostat2) e do Brasil (IBGE3 e IPEA4), além de pesquisas

publicadas que utilizaram estas bases oficiais como fonte. O processo de

entrevistas foi conduzido com diversos professores, artistas e administradores

universitários e as entrevistas foram registradas através de gravações em

áudio, as quais foram posteriormente transcritas para a inclusão na análise dos

dados.

VISÃO GERAL DO ESTUDO

Este estudo se concretizou no desenvolvimento de cinco capítulos

para atender a proposta da pesquisa, tendo como guia base as perguntas

descritas anteriomente. O primeiro capítulo do estudo foi usado para

introduzir as questões teóricas e fornecer uma visão geral dos temas

envolvidos em torno do objeto e dos objetivos da proposta. Os capítulos dois e

três têm um formato comum entre si, os quais fornecem uma radiografia de

Salamanca e Campinas. O penúltimo capítulo, capítulo quatro, consiste numa

análise descritiva e comparativa das informações e dados levantados durante o

processo de pesquisa. Por fim, o capítulo cinco apresenta as conclusões do

estudo.

1Instituto Nacional de Estatística da Espanha http://www.ine.es/

2 Gabinete de Estatísticas da União Europeia http://ec.europa.eu/eurostat

3 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística http://www.ibge.gov.br

4 Fundação Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada http://www.ipea.gov.br

Page 43: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

11

CAPÍTULO 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo revisa a literatura relevante para fornecer uma visão

geral sobre os referenciais teóricos que subsidiaram o processo de pesquisa, e

os quais abordam alguns eixos temáticos principais como o conceito geral

cultura e seu recorte no objeto de pesquisa, cidades universitárias e sua

relação local, economia criativa, política cultural, indústria criativa, emprego e

turismo cultural, cidades criativas, empreendedorismo cultural e as

cooperativas culturais.

Os objetivos da pesquisa foram centrados em duas cidades

universitárias, Salamanca e Campinas, contudo ao levantarmos os subsídios

teóricos para o desenvolvimento do projeto percebemos que, além de

referências específicas dos locais onde estão sediadas a Universidade de

Salamanca e a UNICAMP, era necessário também trazer informações e

referências do ambiente macroeconômico, político e social que interage direta

e indiretamente com estas duas cidades. Por isso, neste levantamento teórico

foram incorporadas informações dos eixos temáticos principais que se referem

à União Européia e America Latina, devido ao processo de globaliazação e dos

reflexos das políticas econômicas e culturais destes blocos na realidade da

Espanha e do Brasil. As questões regionais têm impacto na cadeia de

produção cultural dos referidos países e nas cidades de Salamanca e

Campinas; além disso, buscamos também uma avaliação de suas implicações

no emprego cultural local.

Neste trabalho, apesar do objeto central estar focado no Brasil e na

Espanha, faremos algumas abordagens envolvendo a União Europeia (UE-27).

A proposta da criação da UE entra em pauta após a segunda guerra mundial e

tem seu marco oficial de criação em 1957; contudo, nesta pesquisa, citar a UE

é necessário porque estamos abordando um período que vem depois de 1999,

quando temos a consolidação de uma política econômica unificada por uma

moeda comum (Zona do Euro) e se torna crescente a atuação do parlamento

europeu na consolidação de medidas e políticas unificadas para os diversos

Page 44: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

12

setores da sociedade. Aspectos econômicos relacionados à cultura serão muito

discutidos na pesquisa, assim, os impactos gerados na Zona do Euro criam

reflexos diretos em todos os países do bloco, dentre eles a Espanha

(CAMPBELL, 2011).

Os países do velho continente possuem línguas diferentes,

características culturais diferentes; entretanto, algumas práticas e hábitos têm

influência pela proximidade geográfica, pelos séculos de existência e

convivência comum, em momentos de guerra e paz. Os intercâmbios culturais

foram intensos, seja na guerra ou na paz, tendo grande avanço na expansão

do Império Romano. Enfim, com a consolidação da UE, depois de 1999, é

importante também avaliarmos seus indicadores para termos uma visão mais

completa sobre os indicadores da Espanha.

Para analise do Brasil, levantamos alguns indicadores da América

Latina; contudo, sua relevância e interferência são menores, principalmente por

dois motivos, primeiro porque somos o único país de língua portuguesa em um

bloco de países de língua espanhola. O segundo motivo é o fato de não termos

uma política econômica e social de bloco avançada como a UE. O Brasil

participou na criação do MERCOSUL (2007), mas não uma moeda comum e

nem uma política de bloco apesar da criação de um Parlamento. Os tratados

são assinados, mas não têm efeito prático ou são desrespeitados (BAUMANN,

2007). Por estes motivos, os indicadores sul-americanos não são tão influentes

no Brasil.

1.1. INTRODUÇÃO CONCEITO DE CULTURA

Este sub-capítulo revisa a literatura relevante para fornecer uma

visão geral das cidades universitárias e uma descrição das duas cidades

universitárias de interesse para este estudo: Salamanca, Espanha e Campinas,

Brasil em particular. Um exame da política cultural e seu impacto na cadeia de

produção cultural das cidades são seguidos por uma avaliação de suas

implicações no emprego cultural. Finalmente, uma análise da economia da

cultura e do empreendedorismo conclui este capítulo.

Page 45: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

13

SOBRE O CONCEITO DE CULTURA

Com esta abordagem inicial não se busca uma definição absoluta e

única sobre o que se entende por o conceito de cultura. Esta problemática se

constrói tendo em vista a pluralidade de sentidos que constitui o que podemos

denominar por cultura.

Muitos autores, como Marilena CHAUÍ (2006) introduzem o tema

pelo ponto de vista etimológico da palavra cultura, que tem origem no verbo

latino ‘colere’, que significa o cultivo, o cuidado, o tratamento com as plantas e

animais. Este sentido da palavra gera vários significados como agricultura,

suinocultura, entre outros.

A antropologia cita que, desde o século XIX, existe uma

preocupação em estudar e discutir o conceito de cultura. Dessa forma, as

pesquisas geraram uma compreensão da representatividade da cultura para

uma sociedade, com o desenvolvimento socioeconômico da Europa, pela

intensificação do aumento das relações das nações europeias, industrializadas

e sedentas por novos mercados. Tem-se, portanto, que estes estudos

originados no séc. XIX, período intenso da colonização europeia pelo mundo,

objetivavam entender os povos e as relações de poder para com os povos

dominados, contribuindo para a formação de visões europeizadas sobre as

concepções culturais, consolidando uma ciência etnocêntrica, que considerava

superior tudo o que fosse ocidental, legitimando, assim, a dominação colonial.

Conceituações modernas da cultura decorrem da ideia original de

‘cultura’ que surgiu durante o final do século XVIII, quando o termo foi usado

praticamente como sinônimo de ‘civilização’, exceto para as outras conotações

que dizem respeito a sua raiz latina, ‘colere’, que significa habitar, proteger e

relacionadas com cult, ‘honrar com adoração’ (YUDICE, 2011, p. 741).

Utilizações modernas do termo cultura, então, denotam todos esses três

aspectos (YUDICE, 2011). A este respeito, YUDICE relata que, "A forma

substantiva tomou, por extensão, três inflexões que englobam a maioria das

suas utilizações modernas: desenvolvimento intelectual, espiritual e estético; o

modo de vida de um povo, grupo ou a humanidade em geral; e as obras e

Page 46: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

14

práticas da atividade intelectual e artística (música, literatura, pintura, teatro e

cinema, entre muitas outras)" (2011, p. 741).

Entretanto, toda a pluralidade conceitual da palavra cultura

(SANTOS, 1994) a delimita a partir de duas concepções básicas, para, ao final,

estabelecer um conceito abrangente: 1) tudo aquilo que caracteriza a

existência social de um povo, nação ou grupos no interior de uma sociedade; e

2) conjunto de conhecimentos, ideias e crenças tal como estes estão postos na

vida social. Portanto, um conceito antropológico traz a compreensão de que a

cultura:

... é todo conhecimento que uma sociedade tem sobre si

mesma, sobre outras sociedades, sobre o meio material em que vive

e sobre a própria existência. Cultura inclui ainda a maneira como este

conhecimento é expresso por uma sociedade, como é o caso da sua

arte, da sua religião, esportes e jogos, tecnologia, ciência,

política.(SANTOS, 1994, p. 21)

Acrescentamos a este ponto de vista a definição de Marilena CHAUÍ,

a qual ressalta a dupla dimensão da cultura, que se manifesta materialmente e

imaterialmente. Materialmente ela se expressa nas relações do homem para

com a natureza e para com os seus pares, e imaterialmente representa o

caráter simbólico, imagético, representando a partir de interpretações abstratas

destas relações: “ordem simbólica por cujo intermédio os homens

determinados exprimem de maneira determinada suas relações com a

natureza, entre si e com o poder, bem como a maneira pela qual interpretam

essas relações” (CHAUÍ, 2001, p. 45).

Santaella (2003, p. 30) comenta que nas muitas definições de

cultura existe o consenso de que a “cultura é aprendida, que ela permite a

adaptação humana ao seu ambiente natural, que ela é grandemente variável,

que se manifesta em instituições, padrões de pensamento e objetos materiais”.

No sentido de delimitar o conceito de cultura que é abordado neste

estudo, consideramos necessária uma passagem rápida pelo conceito de

indústria cultural tal como defendido por Adorno e Horkheimer, para quem a

Indústria Cultural está voltada para a satisfação dos interesses comerciais dos

Page 47: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

15

proprietários dos meios de comunicação. Eles estudam como a mídia impõe

uma cultura de massa impedindo o aparecimento de uma visão crítica. Um de

seus exemplos é o cinema, que deixa de ser arte para ser instrumento de

manipulação que carrega a ideologia dominante.

Uma aproximação do pensamento destes autores da escola de

Frankfurt exige muito mais do que um parágrafo, mas estes autores somente

entram aqui para sustentar o comentário de que parte do que era visto de

forma extremamente negativista dentro da critica a indústria cultural passa a

merecer outro tratamento ao ser visto como elemento da economia cultural.

Como diz Yudice:

… a noção de cultura sofreu várias mutações para

satisfazer as exigências do resultado final. As tendências artísticas,

como o multiculturalismo, que enfatizam a justiça social (talvez

compreendida como uma representação visual equitativa nas esferas

públicas) e as iniciativas para promover a utilidade sociopolítica e a

econômica foram fundidas numa noção daquilo que eu denomino a

"economia cultural" e aquilo que a retórica New Laborite de Blair

intitulou "economia criativa. (YUDICE, 2004, p. 34)

Sendo que na economia criativa o cultural engloba as práticas

citadas anteriormente: música, literatura, pintura, teatro e cinema, entre outras,

aquela crítica perdeu muito de seu poder, mas não podemos ignorar que os

produtos da cultura ainda são produtos de poder. Yudice observa, por exemplo,

que “A cultura é o melhor que tem sido pensado e dito no mundo” [o que]

“legitimou a reivindicação da Europa de ser a mais alta cultura que o mundo

jamais conheceu”. (2011, p. 742). Estas afirmações têm sido cada vez mais

contestadas, embora, tal como o etnocentrismo nos seus piores momentos,

foram usadas para fornecer o suporte racional para o imperialismo durante

vários séculos (YUDICE, 2011). Por exemplo, a partir desta perspectiva, Yudice

sugere que, "A cultura é a superestrutura que emana das relações sociais

envolvidas na produção econômica; por conseguinte, é simplesmente a

tradução da dominação da classe dirigente para o campo das ideias" (2011, p.

742).

Page 48: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

16

Temos outras noções de cultura que vem ao encontro de nossa

necessidade, incluindo:

• O processo de crescimento ou promoção de crescimento

(SKOPHAMMER, 2012, p.5);

• O desenvolvimento de uma apreciação para as ‘melhores’ coisas

da vida (SKOPHAMMER, 2012, p.5);

• As artes, as crenças, os costumes, as instituições, e outros

produtos do trabalho humano e o pensamento considerado como uma unidade,

especialmente no que diz respeito a um determinado tempo ou grupo social

(SKOPHAMMER, 2012, p.5);

• O conjunto de atitudes e comportamentos predominantes que

caracterizam um grupo ou organização (SKOPHAMMER, 2012, p.5);

• Requinte mental e gosto sofisticado que resultam da apreciação

das artes e das ciências (SKOPHAMMER, 2012, p.5); e,

• A totalidade da interação humana (SKOPHAMMER, 2012, p.5).

Esta definição se estende a todas as ciências humanas, bem como a

algumas produções culturais não tradicionais que podem ainda ser importantes

para o desenvolvimento e crescimento econômico. Como Browne adverte:

"Estudar alguns aspectos da cultura como se estivessem no vácuo, separados

da sociedade como um todo, é enganoso”. (1994, p.11).

Uma característica importante da cultura humana é o seu dinamismo

e o que é aceito como a cultura predominante hoje pode ser substituído por

algo fundamentalmente diferente em apenas alguns anos. Por exemplo,

Browne observa que, "A cultura de hoje é única por causa das tecnologias

emergentes atuais. Há diferenças culturais entre gerações com base na

tecnologia" (1994, p.12).

Embora as cidades universitárias certamente não tenham o

monopólio da produção cultural, elas estão em uma posição especial para

capitalizar os diferentes fatores que levam ao desenvolvimento cultural. Por

exemplo, de acordo com Garcia (2004, p.313), "As grandes cidades têm sido,

Page 49: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

17

desde há muito tempo, importantes arenas de produção cultural. Em um mundo

em que as grandes cidades têm perdido muitas das suas funções de fabrico

tradicionais, mas em que o imperialismo de mudar os gostos e modas parece

cada vez mais importante, pode muito bem ser que esse papel tradicional das

grandes cidades possa se tornar parte de uma estratégia vital para a

sobrevivência urbana”.

A cultura representa uma força poderosa nos assuntos humanos.

Como Yudice salienta, "O ponto de vista da cultura- e do processo civilizatório-

como uma forma de controle é consistente com a recente volta dos estudos

culturais e da política cultural em direção a um foco sobre as maneiras através

das quais as instituições disciplinam as populações" (2011, p. 742). Este ponto

também é reconhecido por Chandler (2008, p. 11), que relata que a cultura

"tem afetado a forma como cultura-como-diferença é implantada na identidade

política e a manipulação da cultura é implantada na reconstrução das

sociedades".

Tomadas em conjunto, interpretações contemporâneas e práticas de

produção cultural são extremamente complexas e estão situadas, na atual

conjuntura, entre a justiça social e o desenvolvimento econômico (YUDICE,

2011). Na verdade, o conceito de cultura tem mudado ao ponto onde ele

"desafia muitas das nossas mais básicas hipóteses sobre o que constitui uma

sociedade humana" (YUDICE, 2011, p.742). Além disso, a cultura tem sido

usada no passado para justificar políticas hegemônicas que colocaram certos

segmentos da sociedade humana em situação de desvantagem em relação às

sociedades tradicionais em que viviam e não como um meio para promover o

desenvolvimento econômico e social de uma forma que beneficie toda a

sociedade. Como resultado, há uma crescente necessidade de repensar a

cultura como meio para atingir um fim, ao invés de uma um fator de divisão

estático que, injustamente, marginaliza populações desfavorecidas (YUDICE,

2011). A este respeito, Yudice conclui que, "Hoje em dia, o desafio para os

estudos culturais e para os estudos americanos é pensar através desse

conflito. O potencial crítico da cultura encontra-se além da conveniência

econômica e social e de suas vantagens ‘intrínsecas’ despolitizadas. Este

Page 50: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

18

potencial não é realista por si só, mas tem de ser combatido por e em

instituições culturais e de ensino" (2011, p. 742). Estas afirmações são

especialmente importantes quando aplicadas a muitos dos países da América

Latina, incluindo o Brasil, onde a cultura tem sido usada para a extinção das

populações indígenas. Por exemplo, de acordo com Yudice (2004, p.104), "Os

negros e os índios têm menos flexibilidade para negociar longe do estigma de

raça… [na América Latina] e negros ‘puros’ e índios são geralmente excluídos"

[de novos modos de consumo e de "coprodução’]".

Além disso, as forças da globalização, o incerto ambiente econômico

global, e o surgimento de uma ideologia neoliberal na definição de políticas em

muitos centros urbanos têm obrigado muitas cidades a redefinir e implementar

estratégias de desenvolvimento empresarial (Vivant, 2013). No processo de

redefinição de seus objetivos estratégicos em um mercado competitivo, muitas

cidades se tornaram seus próprios diretores empresariais no desenvolvimento

de suas atividades (Vivant, 2013). Embora toda a cidade universitária seja

exclusiva de alguma forma, o objetivo principal destas iniciativas

empreendedoras tem sido atrair capital e investidores para desenvolver

grandes projetos urbanos, reconhecendo as grandes responsabilidades

financeiras que esses empreendimentos incertos de capital

inevitavelmente envolvem (Vivant, 2013).

Na sequência da grande recessão de 2008, porém, tornou-se

cada vez mais evidente que muitas das abordagens convencionais de

produção cultural não são mais úteis ou eficazes e o prometido retorno sobre

investimentos em turismo cultural já não estavam sendo realizados (Richards,

2014). A este respeito, Richards enfatiza que, "Pouco depois da virada do

século, no entanto, as rachaduras começaram a aparecer neste modelo devido

à crise econômica. A máquina crescente do turismo cultural urbano começou a

ser questionada por causa de uma limitada capacidade de investimento. Do

ponto de vista do turismo cultural, havia uma questão específica relacionada ao

limitado fluxo de fundos do sistema de turismo para a cultura" (2014, p.37)

Contudo, a tática de reduzir as despesas estatais, que pode parecer

a sentença de morte das atividades artísticas e culturais sem fins lucrativos é,

Page 51: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

19

na verdade, sua condição de possibilidade continuada. O setor das artes e da

cultura alega que pode resolver os problemas dos Estados Unidos: melhorar a

educação, abrandar a rixa racial, ajudar a reverter a deterioração urbana

através do turismo cultural, criar empregos, diminuir a criminalidade, e talvez

até tirar algum lucro. Essa reorientação das artes está sendo realizada por

seus administradores. Assim como nos casos clássicos da governamentalidade

em que há total subordinação dos técnicos aos administradores (CASTEL,

1991, p. 293), os artistas estão sendo levados a gerenciar o social (veja o

Capítulo IX). E justamente quando a academia se voltou aos ‘profissionais

gerenciadores’ que fazem a conexão das profissões liberais tradicionais ("um

acervo técnico de conhecimentos, educação avançada [...] associações e

publicações profissionais, códigos de ética") com o gerenciamento corporativo

intermediador na tarefa de produzir estudos pesquisa, divulgação,

desenvolvimento institucional etc. (RHOADES; SLAUGHTER, 1997, p. 23),

também o setor artístico e cultural se expandiu criando uma enorme rede de

administradores da arte que intermediam as fontes de fomento, por um lado, e

artistas e/ou comunidades por outro. Como suas contrapartes na universidade

e no mundo dos negócios, eles precisam produzir e distribuir os produtores de

arte e cultura, que, por sua vez, alimentam comunidades ou consumidores.

(YUDICE, 2004, p. 29)

Essa perspectiva não é exclusividade dos Estados Unidos. Um

importante planejador cultural e membro do Grupo Europeu de Estudos sobre a

Cultura e Desenvolvimento atribui vários propósitos à arte e à cultura:

promovem a coesão social em questões divergentes e, desde que é um setor

de trabalho imenso, elas ajudam na redução do desemprego (DELGADO,

1998) De fato, as instituições poderosas como a União Europeia e o Banco

Mundial estão cada vez mais voltados para a medida da utilidade, pois não há

outra legitimação aceita para o investimento social. Dentro desse contexto, “a

ideia de que a experiência de ‘jouissance’, o desvelamento da verdade, ou a

crítica desconstrutiva podem ser critérios admissíveis para investimento em

cultura, se esvai como uma fantasia digna de uma chacota kafkiana”. (YUDICE,

2004, p.30)

Page 52: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

20

1.2. VISÃO GERAL DAS CIDADES UNIVERSITÁRIAS

Em todo o mundo, cresce o número de comunidades que está

reconhecendo que as universidades trazem vitalidade para as comunidades,

além de estabilidade econômica como resultado do seu suporte nos aspectos

culturais, comerciais e residenciais adjacentes ao campus. Cidades

universitárias geralmente são atrativas para residir, trabalhar e desfrutar e,

cada vez mais, elas podem tornar-se um destino para pessoas que estão se

aposentando (DALBEY, NELSON & BAGNOLI, 2007). Como são locais

atrativos para residir, muitas cidades universitárias estão crescendo e devem

enfrentar os desafios e oportunidades que irão acompanhar este crescimento

(DALBEY et al., 2007). Muitas faculdades e universidades estão crescendo

também, agravando ainda mais os desafios, enquanto ampliam as

oportunidades para si mesmas e para as comunidades vizinhas (DALBEY et

al., 2007). Responder a esses desafios de forma aberta, transparente e de

modo colaborativo pode facilitar o entendimento daquilo que, em vários

lugares, tem sido chamado de divisão ‘town and gown’ (‘cidade e beca’) (esses

problemas serão discutidos mais adiante). No futuro, as faculdades e as

universidades provavelmente começarão a lutar contra essa divisão histórica,

mostrando que o crescimento pode ser benéfico para quase todas as partes

interessadas, especialmente quando há cooperação justamente sobre como e

onde o crescimento deve ocorrer (DALBEY et al., 2007).

Por conseguinte, aqueles que fazem política estão cada vez mais

vendo as faculdades e as universidades como importantes motores de

crescimento de suas áreas locais (ABEL E DEITZ, 2012). Além de ter impactos

econômicos diretos, essas instituições contribuem para elevar as competências

da força de trabalho local (o seu ‘capital humano’), e fazem isso de duas

formas:

1. Por meio da educação dos trabalhadores potenciais, eles

ampliam a oferta de capital humano em uma determinada região geográfica.

Além de aumentar a demanda da região para o capital humano por facilitar o

crescimento do emprego em empresas locais que requerem trabalhadores

Page 53: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

21

qualificados, as faculdades e as universidades também são recursos valiosos

para as economias regionais, especialmente porque estas instituições gastam

dinheiro nas suas comunidades locais e também empregam trabalhadores

destas áreas (ABEL E DEITZ, 2012). Sem mencionar o fato de que as

faculdades e as universidades tendem a contribuir para a estabilidade da

região, uma vez que são menos vulneráveis a crises econômicas em

comparação a outros setores da economia. Na verdade, um dos poucos

setores a expandir antes, durante e após a Grande Recessão de 2009 foi o

setor da educação (ABEL E DEITZ, 2012).

2. As faculdades e as universidades também fazem uma

contribuição significativa para as economias locais, ajudando as regiões a

melhorar a quantidade e a qualidade de seus trabalhadores qualificados. Esta

contribuição é importante porque as regiões que têm um maior número de

capital humano com, pelo menos, uma graduação superior foram classificadas

como tendo um maior nível de atividade econômica, sendo mais inovadoras,

vivenciando, de forma mais rápida, o crescimento econômico. Além disso, os

trabalhadores dessas regiões tendem a ser mais produtivos e a ganhar salários

mais altos em comparação com os seus homólogos de cidades que não são

universitárias (ABEL E DEITZ, 2012).

Também existem dois caminhos pelos quais as faculdades e as

universidades podem aumentar a oferta de capital humano nas suas regiões:

1. Por que afetam a oferta de trabalhadores, formando pessoas com

nível universitário que potencialmente podem entrar no mercado de trabalho

local. Contudo, recém-graduados são um grupo altamente móvel, por isso não

é necessariamente verdade que produzir mais graduações irá aumentar a

oferta local de trabalhadores qualificados. Recém-formados precisam de

empregos, que podem ou não estar disponíveis, e eles também podem querer

viver em um lugar diferente de onde estudaram (ABEL E DEITZ, 2012).

2. Pelo aumento da demanda local por capital humano. As

empresas podem tirar proveito do conhecimento das universidades e dos

centros de pesquisa para o desenvolvimento de novos produtos e tecnologias,

e novas empresas poderão ser atraídas para a região, pois elas querem ter

Page 54: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

22

acesso aos recursos da universidade. Na verdade, a maior parte das grandes

universidades de pesquisa criaram escritórios de transferência de tecnologias

em um esforço para aproveitar mais eficazmente as sinergias entre a pesquisa

universitária e o desenvolvimento de produtos comerciais. Essas interações

podem gerar novos postos de trabalho que exigem altos níveis de capital

humano, que são preenchidos por trabalhadores que obtiveram seus diplomas

localmente ou em algum outro lugar (ABEL E DEITZ, 2012).

As pesquisas ainda fornecem evidências de que as faculdades e as

universidades podem aumentar os níveis de capital humano através do

aumento tanto da oferta como da procura por especialidades em áreas

metropolitanas (ABEL E DEITZ, 2012). Foi determinado que a duplicação da

produção de graduações da área metropolitana está associada com 3 a 7% de

aumento nos níveis de capital humano local. Ao mesmo tempo, a duplicação da

intensidade da pesquisa na área metropolitana está associada com 4 a 9 % de

aumento nestes níveis. Embora estes efeitos pareçam ser relativamente

pequenos, eles sugerem que um aumento na atividade de educação superior

pode resultar em uma mudança permanente no estoque de capital humano da

região (ABEL E DEITZ, 2012).

Há também evidências de que as atividades das faculdades e das

universidades podem alterar a composição dos mercados de trabalho da

redondeza. Em particular, as áreas metropolitanas que têm uma maior

quantidade de atividade de educação superior também têm mais

probabilidades de ter uma maior percentagem de trabalhadores em empregos

que exigem uma alta qualificação. Esta relação mostra que os vínculos entre as

economias das proximidades e das corporações de ensino superior são fortes

em atividades econômicas que exijam inovação e treinamento especializado.

Significativamente, as atividades, na maioria dessas áreas, têm-se mostrado

importantes condutoras do desenvolvimento monetário local (ABEL E DEITZ,

2012). Alguns dos fatores que afetam as cidades em longo prazo incorporam

os dados demográficos e a capacidade de atrair capital. Fatores importantes

que contribuem para a capacidade de atrair capital incluem a transparência, o

estado de direito, e a confiabilidade (ABEL E DEITZ, 2012).

Page 55: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

23

As faculdades e as universidades oferecem vantagens e benefícios

exclusivos para as comunidades em dificuldades. Um artigo da revista Planning

de 2004 relata o grande papel que as faculdades e as universidades têm na

revitalização das comunidades urbana (DALBEY et al., 2007). O artigo cita

David Perry, um dos editores da The University as Developer e diretor da Great

Cities Institute da Universidade de Illinois em Chicago, sobre o crescente papel

das faculdades e das universidades como construtoras, sobretudo à luz da

história recente das corporações abandonando as cidades. Mais

especificamente, Perry defende que as faculdades e as universidades precisam

"ser um elemento de assinatura da direção cultural e estética da cidade

(DALBEY et al., 2007). Elas também têm a obrigação de serem boas vizinhas

e de proteger o seu impacto sobre as pessoas que vivem ao lado" (Dalbey et

al., 2007, p.25 ).

A grande lição da pesquisa atual é a de que os responsáveis

políticos, esperando maximizar o impacto econômico de suas faculdades e

universidades locais, devem considerar que as políticas vão além da

manutenção de graduados locais. Devem, então, ajudar as empresas locais a

criarem empregos altamente qualificados, o que pode ser conseguido através

da promoção de parcerias entre as empresas e as faculdades e universidades

locais que podem ajudá-los a fazer uso dos frutos da pesquisa (ABEL E DEITZ,

2012). Os canais indiretos formais são extremamente importantes; no entanto,

os canais informais são mais importantes nas cidades universitárias.

Frequentemente, um conhecimento tácito útil é comunicado de forma não

convencional, por exemplo, em bares e cafeterias. É por esta razão que uma

cena social vibrante geralmente vai de mãos dadas com uma economia local

próspera e inovadora. Portanto, os políticos também precisam ter certeza de

que o ambiente em torno de uma faculdade ou universidade é moderno, de

forma que a informação também transborde por todos os canais diariamente.

Além disso, certificar-se de que o crime seja minimizado é vital (ABEL E DEITZ,

2012).

Embora as faculdades e as universidades frequentemente afirmem

que são responsáveis pela criação de empregos, pelo aumento das receitas

Page 56: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

24

fiscais e pelo estímulo da economia local, a imagem real pode ser menos

animadora (SIEGFRIED, SANDERSON & MCHENRY, 2006). De fato, o

objetivo de muitos estudos sobre o impacto econômico de faculdades e

universidades até agora têm mencionado o valor de uma instituição de ensino

superior, incluindo os efeitos colaterais, que rotineiramente foram utilizados

para auxiliar as faculdades e as universidades a competir por financiamento

estatal (ou justificar nenhuma redução de financiamentos existentes), a manter

status de isenção de imposto, a repelir as críticas, ou a melhorar atividades de

recolhimentos de fundos (SIEGFRIED et al., 2006).

Na realidade, a situação é muito mais complicada, porque cada

cidade universitária é exclusiva de alguma forma e os resultados benéficos

gerais que são mantidos como exemplos do que pode ser alcançado podem ter

sido exceções e não a regra.

Segundo Martin e Samels (2006, p.30), as cidades universitárias

contemporâneas partilham algumas características comuns, no entanto, isso

pode ajudar a distinguir os seus impactos sobre as comunidades locais.

• Cidades universitárias, muitas vezes, dispõem de locais

estratégicos mais afastados do centro do campus principal—em parques

industriais, científicos e tecnológicos e em escolas e centros de saúde do

bairro;

• Cidades universitárias dispõem de livrarias e centros de

educação continuada junto a cybercafés, praças de alimentação e centros de

fitness e entretenimento;

• Cidades universitárias modernas reduzem a taxa de violência em

escolas públicas, gravidez na adolescência, abuso de drogas e álcool,

contribuindo para criar a aspiração comunitária e o compromisso cívico para

tornar as cidades mais atraentes e vibrantes e, o mais importante, mais

habitáveis;

• Cidades universitárias contemporâneas dispõem de centros de

transportes intermodais para facilitar o transporte entre seus centros de

aprendizado e os campi principais; e,

Page 57: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

25

• Cidades universitárias criam casas de espetáculo visíveis e

adequadas, além do tipo de diversidade cultural que convida os turistas e os

vizinhos.

Estas são as tendências mais significativas porque até a

relativamente pouco tempo, as universidades se isolaram de suas

comunidades de acolhimento, sobretudo nos ambientes urbanos durante as

décadas de 1960 e 1970 já que muitas cidades sofreram significativa queda na

atividade econômica (SIEGFRIED et al., 2006). Consequentemente, os setores

público e privado passaram a considerar cada vez mais as instituições de

ensino como um incômodo, preocupados, sobretudo, com a sua reputação de

isenção de impostos, com a invasão física, além dos alunos barulhentos. O

próprio termo ‘town-gown’ normalmente evoca o azedume e a tensão que

frequentemente surge quando acadêmicos e pessoas da comunidade

interagem. Ao longo das últimas duas décadas, uma dramática reviravolta

aconteceu e as instituições de ensino superior e as comunidades de

acolhimento têm reconhecido o seu relacionamento como uma relação

simbiótica (SIEGFRIED et al., 2006). Por exemplo, Kempner e Jurema (2006,

p.223) relatam que:

As universidades, em particular, estão em melhor posição para

promover o desenvolvimento da educação de adultos, porque eles estão

envolvidos na formação de professores e programas de desenvolvimento

social. A economia universitária e os professores de sociologia nos países em

desenvolvimento também são geralmente figuras centrais do Estado e nos

debates sobre as políticas de emprego e muitas vezes vão para os ministérios,

se não para a presidência (o próprio ex-presidente do Brasil Fernando

Henrique Cardoso é professor de sociologia).

Essas políticas têm sido moldadas por um foco teórico neoliberal

de privatização que mudou a perspectiva relativa às instituições de ensino

superior para uma visão em que as universidades são consideradas como

importantes recursos econômicos em vez de instituições públicas (KEMPNER

& JUREMA, 2006).

Page 58: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

26

Atualmente, existem pelo menos quatro grandes forças em jogo

que contribuíram para trazer essa transformação, como será discutido abaixo.

1. A Revolução do Serviço Público. Esta iniciativa tem

mostrado que muitos estudantes do ensino superior continuam centrados e

ativos em suas comunidades. Esforços, tais como Campus Contact, deixaram

claro que a visão dos estudantes de ensino superior como apáticos é errada

com base na tendência atual do serviço público estudantil (ROONEY, 2014).

Campus Contact e organizações semelhantes têm desafiado a noção de que

jovens universitários são apáticos em relação as suas comunidades e países e

têm mobilizado um grande número de estudantes universitários para iniciativas

de serviço comunitário (ROONEY, 2014). Como resultado de seus esforços de

coordenação, a percentagem de iniciativas de serviços públicos baseadas no

campus no Estado de Massachusetts, por exemplo, aumentou em três quartos

e o número de horas de serviços comunitários aumentou de apenas 20.000

horas por ano para mais de 350.000 horas de trabalho por ano (ROONEY,

2014). Além disso, o percentual de universidades americanas que

patrocinaram serviços de escritório aumentou de 10% para 85% nos últimos

anos (ROONEY, 2014). Além disso, um número crescente de universidades

têm estruturas institucionais que são especificamente projetadas para facilitar

as comunicações com as suas comunidades (ROONEY, 2014). Por exemplo,

Harvard rotineiramente publica listas que se destinam a promover a

conscientização sobre a missão da instituição e seu compromisso de serviço

dentro da universidade e nas comunidades que serve (ROONEY, 2014).

Tornou-se também possível quantificar a contribuição das universidades para

as suas cidades, com a Universidade de Brown em Providence, Rhode Island

enfatizando para a sua comunidade que 25% de todos os serviços

comunitários foram realizados por uma aluna da sua instituição, uma

percentagem que fez muito para promover a boa vontade com os moradores

da Providence (ROONEY, 2014).

2. O Impacto Econômico da Educação Superior. A segunda

grande força emergente nas relações ‘town-gown’ é o amplo reconhecimento

do impacto econômico que as faculdades e universidades têm em suas

Page 59: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

27

comunidades. A este respeito, Rooney enfatiza que, "O impacto da educação

superior sobre a economia da região sempre foi importante. Mas tornou-se

mais catalisador localmente e nacionalmente no meio da transformação rápida

para uma economia baseada no conhecimento" (2014, para. 5). Como

exemplo, Rooney cita Greater Boston, que tem a quarta maior economia

metropolitana dos Estados Unidos, devido, em grande parte, à contribuição das

75 faculdades e universidades da região que são responsáveis pelo emprego

de quase 50.000 habitantes locais como corpo docente e funcionários

(ROONEY, 2014). Com efeito, mais de US$ 7 bilhões em contribuições

econômicas são de apenas oito das principais universidades de pesquisa da

região (ROONEY, 2014). Há efeitos multiplicadores de faculdades e

universidades, além de adicionarem ainda mais impacto econômico para a

região, incluindo US$ 850 milhões gastos por alunos e outros US$ 250 milhões

gastos pelos visitantes destas instituições de ensino (ROONEY, 2014). A alta

densidade de instituições de ensino superior também tem atraído um número

crescente de empresas da Fortune 500 para a área (ROONEY, 2014).

Como Rooney aponta, "O crescente impacto econômico da

educação superior e a consciência desse fato são subprodutos naturais do

conhecimento econômico ascendente e não se limita à Massachusetts. Em

âmbito nacional, a educação e a criação de conhecimento desfrutam do

segundo maior nível de crescimento de emprego pelos aglomerados de

negócios na década de 1990" (2014, para. 6). Alimentado por um conjunto de

leis como o Bayh-Dole Act de 1980, as universidades americanas têm se

beneficiado de um aumento das patentes e licenciamento de produtos que

resultou em um aumento de 1.000% de aumento na atividade acadêmica na

área da grande Boston (ROONEY, 2014). Houve também um impacto

simultâneo sobre o capital humano na área da grande Boston. A este respeito,

Rooney relata que, "A economia do conhecimento premiou também o mais

importante produto universitário: o capital humano. O diploma universitário é o

maior condutor do crescimento da economia urbana. Os Estados cada vez

mais veem o ensino superior como um importante motor do crescimento"

(2014, para. 6). Este reconhecimento tem sido utilizado na obtenção de

Page 60: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

28

financiamento para o ensino superior, assim, com o aumento do financiamento

sendo implementado ainda durante os períodos de recessão econômica

(ROONEY, 2014).

Como Rooney coloca, "Nos dias atuais de economia livre, os

dirigentes locais de todos os setores reconhecem, cada vez mais, as

faculdades e as universidades como valiosos ativos fixos e âncoras do

crescimento econômico" (2014, para. 6).

Portanto, não é de se estranhar que um número cada vez maior de

faculdades e universidades também esteja aproveitando as vantagens do

reconhecimento do seu impacto econômico, utilizando-as em seus esforços de

marketing. Por exemplo, as oito maiores universidades de pesquisa da Greater

Boston publicaram um relatório intitulado "Os motores do crescimento

econômico", no qual o MIT, Brown e Harvard fizeram declarações sobre o

impacto econômico na região (ROONEY, 2014). Da mesma forma, um número

cada vez maior de líderes cívicos se voluntariou para ajudar as faculdades e as

universidades nos seus esforços de recrutamento das empresas locais.

Tomadas em conjunto, o que é evidente é que há um sentimento crescente de

colaboração para benefício mútuo entre as maiores comunidades educativas

do país e as cidades universitárias (ROONEY, 2014).

3. Um Maior Compromisso com a Comunidade e com as

Relações Governamentais. No início da década de 1990, a responsabilidade

dos assuntos comunitários, na maioria das universidades, foi uma tarefa

auxiliar tratada em tempo parcial por autoridades legais ou relações públicas.

Por outro lado, hoje, em resposta a uma procura crescente, cada vez mais as

faculdades e universidades têm implementado escritórios governamentais

designados para promover as relações com suas comunidades (ROONEY,

2014). Na verdade, o fortalecimento de relacionamentos ‘town-gown’ têm

ajudado muitas comunidades a compensar os efeitos negativos da recessão

em outros lugares de suas economias. Por exemplo, Rooney relata que,

"Sensivelmente, políticos e outros líderes cívicos estão olhando para o ensino

superior para ajudar a preencher o vazio deixado pelas fusões e aquisições

corporativas" (2014, para. 7). Citando Boston mais uma vez como exemplo, o

Page 61: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

29

Instituto McCormack da Universidade de Massachusetts, Boston, o Centro de

Política Urbana e Regional no Nordeste, o Instituto Rappaport de Boston em

Harvard e o Instituto Beacon Hill na Universidade de Suffolk todas construíram

relações mais fortes com as suas comunidades. Além disso, mais e mais

comunidades têm desenvolvido um zoneamento acadêmico inovador e

requisitos para um plano mestre que promovem parcerias entre as instituições

de ensino superior e as comunidades em que operam (ROONEY, 2014).

Há alguns exemplares que definem um padrão para outras

instituições de ensino superior no desenvolvimento destes tipos de

relacionamentos, incluindo Clark College, Columbia, a Universidade da

Pensilvânia, e a Trindade em Hartford, todos eles investiram pesadamente em

suas comunidades locais em parceria com as organizações locais. A título de

exemplo, a Universidade da Pensilvânia estabeleceu cinco estratégias

fundamentais para construir um melhor relacionamento com sua comunidade

como se segue:

1. Criação de ruas limpas e seguras;

2. Aumento de moradias e aquisição da casa própria;

3. Promoção do desenvolvimento comercial;

4. Fomento de oportunidade econômica; e,

5. Fortificação da educação pública (ROONEY, 2014, para. 7).

O retorno sobre o investimento para estas estratégias tem sido

impressionante, com a obtenção dos seguintes resultados desde o início da

iniciativa:

• Uma redução de 31% na criminalidade;

• 88% de aumento nos valores medianos das casas em 5 anos;

• Mais de 150.000 metros quadrados de um novo espaço

comercial; e

• Novas empresas e escolas (ROONEY, 2014, para. 7).

Um resultado correspondente tem sido a melhoria da

classificação nacional da Universidade da Pensilvânia. Já a Trinity em Hartford

percebeu um aumento de 77% em suas aplicações com iniciativas

semelhantes (ROONEY, 2014).

Page 62: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

30

Outras estratégias que estão sendo usadas para reforçar as

relações ‘town-gown’ incluem formar parcerias estratégicas em vez de fazer

pagamentos de impostos aos municípios. Por exemplo, os programas

pagamentos em vez de impostos (PILOT) em Boston geram milhões de dólares

em taxas e outras fontes de receita (ROONEY, 2014). Segundo Martin e

Samels (2006), "As parcerias criativas e proativas são motivadores importantes

no desenvolvimento da força econômica de trabalho, além de elementos

importantes para o renascimento urbano. De fato, as faculdades e as

universidades norte-americanas estão agora em parceria com os municípios

para criar um novo conjunto de alianças estratégicas, com foco no

enriquecimento educativo, cultural e cívico de suas cidades" (p. 27). Um

número crescente de faculdades e universidades tem feito acordos PILOT com

os municípios, incluindo:

• Em 2004, a Universidade de Tufts anunciou um novo acordo com

as cidades de Medford e Somerville que incluía uma contribuição de $1.25

milhões para cada cidade a ser pago nos próximos 10 anos (ROONEY, 2014);

• Em Providence, as faculdades e as universidades têm acordado

para a fórmula pela qual a PILOT é feita em uma escala evolutiva voluntária

desencadeada por alguns fatores, tais como tamanho da doação e compras de

propriedades (ROONEY, 2014);

• Em Worcester, as faculdades participaram recentemente de uma

força tarefa nas relações ‘town-gown’ que resultaram em novas e promissoras

iniciativas estratégicas pública-privada (ROONEY, 2014);

• Em 2007, a Universidade de Binghamton, Nova Iorque, firmou

uma parceria com a Broome Community College para estabelecer um Centro

de Desenvolvimento Comunitário e Educacional. Como previsto, o novo centro

irá oferecer programas necessários como um mestrado em Administração

Pública e mestrado em Trabalho Social, ajudando ainda mais os residentes a

aprimorarem a sua educação, contribuindo para a revitalização do centro

Binghamton (Martin & Samels, 2006, p.29).

Page 63: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

31

Em suma, estas iniciativas são indicativas de abordagens

inovadoras que estão sendo desenvolvidas para melhorar as relações ‘town-

gown’ em todo o mundo (ROONEY, 2014).

4. Alianças Inovadoras no Ensino Superior. Além das

parcerias estratégicas com as suas comunidades, um número crescente de

faculdades e universidades também está criando alianças regionais

intrasetoriais e intersetoriais para melhorar o relacionamento com as

comunidades e promover o desenvolvimento econômico (ROONEY, 2014).

Um exemplo destes tipos de alianças são as faculdades do Worcester

Consortium, que representa 13 faculdades e universidades operando na região

central de Worcester (COLLEGES OF WORCESTER CONSORTIUM, 2015).

Os consórcios oferecem uma vasta gama de serviços e funções, incluindo a

facilitação das economias de escala para compra, intercâmbio entre os campi e

a promoção de seus respectivos setores (ROONEY, 2014). Outros consórcios

estão focados em atingir diversos tipos de projetos nos seus setores, incluindo

o desenvolvimento e a promoção de centros de economia do conhecimento

(ROONEY, 2014).

Estas quatro forças precedentes são representativas das diferentes

abordagens que estão sendo usadas pelas cidades universitárias para o

desenvolvimento econômico. É também importante para todas as partes

interessadas "manter os seus olhos sobre o prêmio" e suportar qualquer ímpeto

gerado através do processo (ROONEY, 2014). Muitos líderes educacionais e

políticos estão otimistas sobre o futuro das associações ‘town-gown’, mas

alegam que compromissos mais estratégicos e constantes foram necessários

para se tornarem institucionalizadas a fim de se pensar em soluções

colaborativas (ROONEY, 2014). Como o ex- presidente da Northeastern

University Richard Freeland diz, "O nosso desafio na academia é uma

mudança de rumo no sentido de trabalhar ativamente com as lideranças

comunitárias para nosso benefício mútuo. O desafio que se coloca para as

comunidades locais e para as autoridades civis é o de avançar para ver tais

instituições como motores críticos do desenvolvimento regional. O que está

Page 64: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

32

claro é que estas duas mudanças de paradigmas são o espelho uma da outra.

Uma não pode acontecer sem a outra" (citado em ROONEY, 2014, p.5).

Enquanto corporações situadas na academia como Campus Contact

continuarem a reforçar as competências institucionais para ajudar o apoio

público, a fim de atender a uma parte do presente acordo colaborativo,

algumas autoridades afirmam que eles devem tentar obter melhores parcerias

dos setores público e privado, melhorias financeiras e também uma construção

da relação ‘town-gown’. Mais especificamente, líderes acadêmicos e políticos

devem incentivar as faculdades e as universidades a:

1. Aproveitar os recursos institucionais das comunidades de

acolhimento buscando uma ajuda estatal que leve à isenção fiscal. Há uma

excessiva dependência do imposto sobre a propriedade, o que significa que as

relações ‘town-gown’ continuarão a ser tensas a não ser que novos

mecanismos sejam criados para proporcionar conforto aos municípios. Embora

muitas instituições tenham concordado em fazer concessões, elas ainda devem

fazer parcerias com as comunidades de acolhimento à procura de mais

respostas criativas e sustentáveis para fortalecer o modelo de governo local.

2. Criar e se comprometer com metas de investimento comunitário

em todas as funções da linha de organização institucional. Independentemente

das suas outras boas obras, instituições que normalmente não incorporam

preocupações comunitárias em suas operações correm o risco de ficarem

rotuladas como hipócritas. As faculdades e as universidades devem procurar

direcionar a compra de fornecedores da área, o emprego para os moradores da

comunidade alvo, considerar o uso misto de empreendimentos imobiliários com

os investidores regionais, e gastar dinheiro em ativos da área sempre que

possível, como qualquer outra grande empresa tentando acenar com suas

credenciais de cidadania de gestão e negócios.

3. Documentar seu impacto econômico e social, destacando

frequentemente as oportunidades de desenvolvimento. Essa promoção é capaz

de encorajar esforços dentro e fora do campus.

4. Lutar por alianças setoriais e intersetoriais quando for

estrategicamente vantajoso no que diz respeito a questões como a

Page 65: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

33

manutenção de talentos regionais. Tais alianças são lugares-comuns no setor

de assistência médica e permitiria que a educação superior avançasse em

seus interesses coletivos e fornecesse um meio pelo qual as interações entre

governo e empresas pudessem estabelecer parcerias numa economia baseada

no conhecimento. (ROONEY, 2014).

De acordo com Siegfried et al. (2006), as faculdades e universidades

devem agenciar seus benefícios para a vida local - teatro, espetáculos

musicais, museus, bem como exposições de arte, a maioria das quais são

oferecidas ao público; no entanto, esses recursos são difíceis de quantificar.

Alguns estudos afirmam que as faculdades e as universidades são valiosas

porque elas são componentes "estáveis" da economia, menos suscetíveis à

contração em recessões do que outras empresas.

Esse efeito multiplicador sugere que qualquer dólar gasto por uma

faculdade ou universidade pode, eventualmente, criar dois dólares de atividade

fiscal local; no entanto, um dólar gasto jogando golfe ou para um jantar em um

restaurante acarreta o mesmo impacto. Uma diferença entre faculdades e

universidades e outros estabelecimentos é que suas despesas atraem dinheiro

novo para o lugar (Siegfried et al., 2006). Porém, nem todas as faculdades e

universidades são similares a este respeito - algumas chamam muito a atenção

de dinheiro novo para uma área, enquanto outras chamam a atenção de alguns

investidores. (SIEGFRIED et al., 2006)

Considerações fiscais sobre estas instituições também podem afetar

os seus entornos, pois muitas delas fazem pagamentos "em vez de impostos" e

fornecem serviços privados tais como proteção policial e coleta de lixo. Na

medida em que pagamentos "em vez de" excedem o encargo residual dos

serviços públicos locais não fornecidos pela instituição, considerações fiscais

ainda podem muito bem ser a medida através da qual a vantagem é fornecida

aos moradores locais (SIEGFRIED et al., 2006).

Outro aspecto importante sobre as faculdades e as universidades é

que suas características inovadoras e de maior acessibilidade à tecnologia se

combinaram para criar uma atração ainda maior dos chamados "estilos de vida

migrantes" que são atraídos para os municípios que oferecem estímulo

Page 66: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

34

intelectual e uma alta qualidade de vida. O crescimento populacional em

diversas localidades universitárias com ambientes que são favoráveis à

informação em matéria de inovação tem demonstrado essa tendência

conclusiva (PERRY, 2009). A este respeito, Perry conclui que, "Com suas

raízes culturais, educativas, de saúde e de recursos para o estlo de vida, as

cidades universitárias também são apreciadas por adultos mais velhos que

desejam manter uma vida ativa fisica e intelectualmente. Os aposentados estão

migrando para as cidades universitárias em número crescente, gerando um

mercado robusto para as essas omunidades" (2009, p. 83).

Embora as cidades universitárias tenham muitos estudantes de

baixa renda, ainda há uma quantidade generosa de dinheiro disponível, bem

como itens materiais caros que foram comprados com recursos paternos

(CASSELMAN, 2014). Além disso, Casselman observa que, "Elas também

estão cheias de trabalhadores da área de serviços, professores adjuntos e

estudantes de origens menos abastadas que têm de economizar cada centavo.

Esse é um conceito que os economistas chamam de "desigualdade de

consumo” (2014, p.3). Da mesma forma, um grande número de estudantes de

baixa renda tem famílias que são muito ricas, com recursos monetários sob a

forma de investimentos, contas de poupança e bens imobiliários que lhes

proporcionam uma retaguarda que a maioria das pessoas da comunidade não

tem, um processo denominado "desigualdade de riqueza" pelos

economistas (CASSELMAN, 2014).

A pesquisa atual confirma muitos dos benefícios apregoados para as

comunidades que têm faculdades ou universidades. Por exemplo, as cidades

universitárias experimentaram relativa estabilidade da economia mesmo em

períodos de recessão econômica. Por exemplo, Gopal (2008) relata que, "Os

alunos, os trabalhadores e os professores mantêm os apartamentos cheios e

formam um fluxo contínuo de compradores. Da mesma forma, os aposentados

e outros profissionais vão para as cidades universitárias porque eles são

atraídos pelo estilo de vida e pelas atividades culturais" (2008, p.2). Em alguns

casos, cidades universitárias estão enfrentando um enorme fluxo de alunos,

Page 67: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

35

criando uma demanda para os serviços sociais que podem ser atendidos pelas

comunidades locais.

Embora outras comunidades tenham vivenciado o duro impacto da

recessão econômica, as cidades universitárias têm sido capazes de, em

grande parte, manter baixas taxas de desemprego, preços estáveis de casas e

crescimento econômico estável. Levando-se tudo isso em consideração, as

cidades universitárias são alguns dos melhores lugares para se viver e

trabalhar durante períodos econômicos difíceis, pois os estudantes

universitários gastam dinheiro mesmo durante os períodos de recessão

econômica para as despesas de subsistência e outras compras. Em suma, as

grandes cidades que hospedam grandes faculdades e universidades

normalmente não experimentam os efeitos econômicos negativos de tais

declínios tão severamente como outros municípios (RECESSIONOMICS AND

COLLEGE TOWNS, 2014).

As cidades universitárias geralmente têm uma menor taxa de

desemprego em comparação com as outras instituições não acadêmicas.

Nessas cidades, onde os estudantes universitários gastam o seu dinheiro, as

empresas expandem e têm que contratar mais trabalhadores; por conseguinte,

as cidades universitárias estão entre os melhores lugares para se encontrar um

posto de trabalho em um ambiente econômico difícil (RECESSIONOMICS AND

COLLEGE TOWNS, 2014).

Porém, as faculdades e as universidades estão mudando e vão

evoluir muito mais em resposta a uma alteração do mercado educacional

avançado, mas a maior fonte de mudança vai ser o aprendizado à distância

(GANN, 2011). O baixo custo do ensino à distância, além da flexibilidade que

oferece aos estudantes, desafia a tradição de que os estudantes têm que

passar anos vivendo em uma cidade universitária para obter um diploma;

consequentemente, mais escolas estão investindo na educação on-line. Com

cursos de graduação multiplicados no on-campus, os alunos irão gastar menos

anos vivendo nas cidades universitárias (GANN, 2011) Dessa forma, a

economia do resto da cidade universitária será afetada negativamente, pois

"Os professores podem enviar os serviços por via electrônica para os clientes

Page 68: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

36

que nunca puseram os pés na cidade. Para os barbeiros e as pizzarias das

cidades universitárias isso não é possível. Mas através da reinvenção e do

remarketing, as cidades universitárias podem se sair melhor do que

nunca" (GRIFO NOSSO) (2011, p.20). Reinventar um destino de turismo

histórico-cultural, no entanto, envolve muito mais do que passar algumas

camadas de tinta em algumas paredes exteriores e esperar pelo melhor, o

processo requer uma análise cuidadosa das políticas culturais das cidades e da

sua cadeia da produção cultural, conforme será discutido mais adiante.

1.3. POLÍTICA CULTURAL E SEU IMPACTO NAS

CIDADES: CADEIA DE PRODUÇÃO CULTURAL

Cultura humana é a empresa que gera sentimentos e motiva o

pensamento criativo no seio da sociedade. Além disso, a cultura também

reforça os conceitos de identidade individual e da cidadania nacional

(MACHICADO, 2012). A moderna economia da cultura é composta por setores

que produzem diversos bens e serviços, o que denota um sentido subjetivo (i.e.

"sign-value") que é mais poderoso para os consumidores do que o seu

correspondente valor utilitarista (SCOTT, 2004). Neste contexto, as indústrias

culturais incluem, mas não estão limitadas a, filmes, televisão, editoras, novas

mídias, música, animação e jogos de computador, museus, bibliotecas, artes

visuais, arquitetura e design, e artes do espetáculo (PRATT, 2007). Os

pesquisadores referiram-se a essas atividades culturais que são produzidas por

diversos setores como comunicação social com conotações simbólicas.

Portanto, as empresas que competem no setor dos produtos culturais podem

ser caracterizadas como uma constelação de setores que oferecem como

alternativa: (1) serviços que se concentram na diversão, edificação, e

informações (por exemplo, imagens em movimento, música gravada, mídia

impressa, ou museus) e (2) produtos fabricados através dos quais os

consumidores constroem formas distintivas de individualidade, autoafirmação,

e de caráter social (por ex., moda, roupas ou jóias) (SCOTT, 2004). Embora

Page 69: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

37

eclética em sua composição, a economia da cultura é também caracterizada

por algumas outras importantes características comuns, incluindo:

1. Criação de conteúdo estético e semiótico;

2. Sujeita aos efeitos da Lei de Engels, o que significa que se o

rendimento aumenta, o consumo dessas saídas se eleva a uma taxa

desproporcionalmente maior; e,

3. Sujeita a pressões competitivas que incentivam as empresas

privadas a se aglutinarem em densos aglomerados ou zonas industriais, ao

mesmo tempo que seus produtos possam circular com maior facilidade no

mercado global (SCOTT, 2004).

Além disso, não há outro recurso comum que caracteriza a

moderna economia cultural. Por exemplo, de acordo com Scott (2004), "Uma

das particularidades do capitalismo moderno é o de que a economia da cultura

continua a expandir-se a um ritmo tão rápido que as empresas buscam

intensificar o teor de design e o estilo de suas realizações na interminável

busca da vantagem competitiva" (p. 463).

Em busca de uma vantagem competitiva, cada vez mais produtos do

mercado cultural globalizado fazem sentido, uma vez que o mercado está

crescendo a níveis sem precedentes devido, em grande parte, às expansões

da indústria de viagens e turismo em geral e do turismo cultural em particular.

Por exemplo, de acordo com o ‘World Travel and Tourism Council’ (Conselho

Mundial de Viagens e Turismo), a indústria de viagens e turismo tornar-se-á um

dos setores de crescimento mais rápidos do mundo durante o período de 2011

a 2021, gerando cerca de 66 milhões de empregos e representando 9,6% do

PIB (de 9,1%) (LECLERCQ & BUCHNER, 2011). Segundo a ‘Wolrd Tourism

Organization’ (Organização Mundial do Turismo) (UNWTO), as visitas de

turistas internacionais em países em desenvolvimento estão aumentando e o

turismo está crescendo em importância como um condutor do desenvolvimento

econômico através de uma maior exportação e de mais oportunidades de

emprego. Da mesma forma, os turistas estão cada vez mais à procura de

Page 70: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

38

atrações culturais e naturais em regiões históricas do mundo (LECLERCQ &

BUCHNER, 2011).

Ao mesmo tempo, o turismo não representa um meio livre de

problemas do desenvolvimento econômico. O setor do turismo é competitivo e

vulnerável às catástrofes naturais e à instabilidade política e as comunidades

mais pobres não se beneficiam automaticamente do turismo já que há uma

taxa alta de ‘escape econômico’ uma vez que os principais agentes do setor,

muitas vezes, preferem importar suprimentos e serviços. A fim de transformar

as perdas em vantagens em potencial, é importante considerar diferentes graus

de intervenção, ou seja, dos produtores, compradores essenciais, instituições

de apoio e os responsáveis políticos. Também é importante que os países em

desenvolvimento estabeleçam um ‘quadro político coerente’ para formar

instituições eficazes e eficientes que sirvam para estimular o setor privado a

explorar suas vantagens comparativas em turismo cultural. (LECLERCQ &

BUCHNER, 2011).

Só para constar, ao turismo (em muitas regiões de turismo cultural

em potencial) não foi atribuída nehuma prioridade suficiente na cooperação

internacional para o desenvolvimento, mas há sinais de que isso está

mudando. Por exemplo, a ‘International Trade Commission’ (Comissão de

Comércio Internacional) lançou um projeto de turismo inclusivo no Litoral do

Côco do Brasil em 2003, que engloba atividades de capacitação em agricultura

orgânica, disciplinas e artesanatos, negócios em hotel, ciência da computação,

língua inglesa, educação ambiental, design e apicultura, em colaboração com

parceiros especializados (LECLERCQ & BUCHNER, 2011). Além disso, uma

fábrica de transformação de resíduos orgânicos vegetais foi instalada,

fornecendo adubo equilibrado a taxas subsidiadas para 300 agricultores

(LECLERCQ & BUCHNER, 2011).

Atualmente, 70% dos 3.000 beneficiários do projeto têm encontrado

trabalho (principalmente em parceria com hotéis cinco-estrelas) e a renda

mensal de 390 mulheres da comunidade de artesãos aumentou de US$ 40

para mais de US$ 250 (LECLERCQ & BUCHNER, 2011). A proporção da

população que ganha menos em relação a um salário mínimo diminuiu de 40%

Page 71: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

39

para 28% e o sucesso desse e de projetos semelhantes confirmam a convicção

de que o turismo representa uma importante oportunidade para os países em

desenvolvimento na sua luta contra a pobreza (LECLERCQ & BUCHNER,

2011).

O debate sobre a melhor forma de desenvolver as indústrias

culturais não é tão simples como criar políticas, mas é parte de uma ampla

mudança no governo e exige um novo conjunto de avaliações relativas a

competências-chave que são necessárias em uma nova economia cultural

(POWER & SCOTT, 2004). Na medida em que recursos culturais são vistos

como agências produtivas e conscientes de uma mudança social e também

cultural, eles serão aprovados pela crítica social (POWER & SCOTT, 2004).

Também haverá efeitos significativos na maneira através da qual o emprego

cultural é direcionado, com abordagens informativas que ofereçam as melhores

oportunidades para a criação de valor (POWER & SCOTT, 2004).

As cidades têm ocupado, desde muito tempo, um papel privilegiado

como sendo principais centros de produção e utilização tanto de atividades

econômicas quanto culturais. No entanto, a natureza exata das funções mudou

ao longo do tempo e as cidades transformaram-se de centros de produção e de

produção em massa na primeira metade do século XX em locais centralizados

para uma variedade de indústrias de serviços no final do mesmo

século (CARMICHAEL, 2002). Recentemente, a globalização e o aumento da

mobilidade da mão-de-obra e capital têm provocado um aumento da

concorrência entre as grandes cidades enquanto aspiram por crescer para se

tornarem centros de acumulação de riqueza e foco para setores baseados no

conhecimento (CARMICHAEL, 2002).

Segundo Evans (2001), uma política de desenvolvimento cultural

exige uma abordagem integrada entre o planejamento cultural dos recursos

locais e as empresas disponíveis. A fim de fornecer um quadro conceitual para

o planejamento das artes e da cultura e de determinar uma infraestrutura das

artes que traduza essas definições das atividades do setor cultural e de

produção, economistas desenvolveram um modelo de cadeia da produção

Page 72: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

40

cultural que pode ser aplicado às atividades culturais composto por cinco fases

inter-relacionadas, a saber:

1. Começo - geração de ideias, direitos autorais, criatividade,

formação. Esta fase examina a capacidade de uma cidade ou zona de

influência como um site para geração de ideias, para a concessão de

patentes, direitos autorais, as marcas que detém e para a criatividade

genérica. (Infraestrutura: educação, formação, pesquisa e

desenvolvimento de recursos);

2. Produção - a partir de ideias de produtos, locais. Esta fase

avalia a capacidade de transformar essa ‘criatividade’ em produção. As

pessoas, os recursos e as capacidades produtivas estão disponíveis

para contribuir para a transformação de ideias em produtos

comercializáveis? A avaliação registra o nível e a qualidade dos

empresários teatrais, gestores, produtores, editores, engenheiros, bem

como fornecedores e fabricantes de equipamentos na indústria

cinematográfica, editoração, design; capacidadede in-studio; no que diz

respeito aos editores de vídeo, fabricantes de cenário e assim por

diante. (Infraestrutura: empreendedores, ‘responsáveis políticos’,

tecnologia, premissas);

3. Circulação - distribuição, comércio atacadista, marketing,

informação, circulação. Esta fase refere-se à qualidade de agentes e

agências, agências de marketing e promotores, distribuidores e

atacadistas (em filmes ou publicações) ou intermediários/corretores,

empacotadores e montadores de produto. Isso também inclui a

avaliação da qualidade dos materiais de apoio, tais como catálogos,

diretórios, arquivos, inventários de estoque e outros mecanismos que

ajudam na venda e na circulação de produtos artísticos. (Infraestrutura:

intermediários, agentes, promotores, editoras, distribuidores, transporte);

4. Entrega - locais, televisão, cinema, lojas. Estes são

mecanismos que permitem que produtos e serviços culturais sejam

consumidos e apreciados; é sobre a forma como os locais em que eles

Page 73: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

41

são vistos, vivenciados e comprados. Isso significa avaliar a

disponibilidade de teatros, cinemas, revistas, museus, lojas de discos e

estabelecimentos de distribuição. Cada vez mais online e e-commerce

serão formas de acesso e consumo que vão crescer e substituir em

parte os tradicionais modos de distribuir produtos culturais,

desenvolvendo a sua própria e mais perfeita cadeia de produção.

(Infraestrutura: restaurantes, lojas, canais de mídia, revistas, museus e

galerias); e

5. Público - assistirr, ouvir, ver. Esta fase diz respeito à

opinião pública e ao ambiente crítico em que obras de arte e os produtos

culturais são recebidos e envolve a avaliação de questões tais como

mercados e públicos, bem como as questões de preço e mercado alvo

(mercado social), o alvo (incluindo os jovens, gênero e diversidade). Os

testes podem incluir até a distância que as atividades culturais em uma

área atingem um amplo espectro social e grupos demográficos,

mercados exteriores, e na criação de uma vida cultural animada.

(Infraestrutura: marketing, preços, ‘acesso’, transportes, segurança)

(EVANS, 2001, p.156).

É possível diferenciar entre diferentes tipos ou funções de

infraestrutura: (a) como um fator direto de produção, tecnologia e circulação;

(b) como serviços de apoio indireto, transporte público, policiamento, limpeza

das ruas, iluminação e (c) como propriedade, localização, espaço e instalações

especializadas (EVANS, 2001, p.156). Compreender essas fases, em termos

humanos e espaciais traz um enfoque sobre aspectos particulares da produção

artística e do mercado de trabalho e também dos locais de criação/produção e

posterior participação e consumo.

Dessa forma, passemos a discutir agora a questão das indústrias

criativas. Segundo Rozentale e Lavanga (2014, p. 2 e 3), algumas das

características definidoras das indústrias criativas são as seguintes:

1. O termo une os setores das artes tradicionais, indústrias

culturais de direitos autorais e novas empresas criativas. Todos eles são

vistos como produtores e transportadores de conteúdo e significado

Page 74: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

42

simbólico centrado, mas limitado às artes. As indústrias criativas fazem

uso da criatividade, habilidade e talento humanos e, por conseguinte,

tem no capital intelectual o seu principal insumo de produção. Sua

produção é, assim, vista como altamente diferenciada e pode ser

caracterizada como criativa, artística ou cultural. Os valores não

monetários anexados ao conteúdo simbólico são altamente

considerados pelos consumidores, o que faz das indústrias criativas um

dos setores de maior valor acrescentado;

2. As condições de mercado de seus produtos e serviços são

consideradas diferentes daquelas dos mercados econômicos comuns:

indústrias criativas encaram uma maior demanda de incerteza, uma forte

volatilidade nos gostos e, por conseguinte, os riscos mais elevados;

3. A fim de lidar com estes riscos criativos, as empresas

constantemente têm que produzir muitas novidades que, por sua vez,

têm o potencial para resultar em inovação. Alguns estudos têm

demonstrado que as indústrias criativas são mais inovadoras do que

outras indústrias ou setores de serviços. Por outro lado, a produção de

novidades requer altos níveis de avanço tecnológico, o que é

considerado uma característica das indústrias criativas e também os

fatores não tecnológicos (ex.: design, novos modelos de negócio) são

cada vez mais importantes;

4. A durabilidade do resultado das empresas criativas e a

geração de novidades implica que as indústrias criativas criem ou

explorem a propriedade intelectual. Ela é vista como a principal fonte de

geração de riqueza das indústrias criativas e, como tal, é muitas vezes

uma das mais importantes definidoras de parâmetros, embora seja

problemática;

5. O trabalho em si e a sua organização são muitas vezes

vistos como diferentes das outras indústrias. A complexidade da

produção e seu duplo valor exigem uma equipe heterogênea – ambos:

trabalhadores criativos e comuns, cada um com habilidades específicas.

Além disso, assume-se que os trabalhadores criativos sejam

Page 75: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

43

compensados por retornos emocionais: eles ‘tomam conta’ de seus

trabalhos e, por conseguinte, são movidos por uma motivação

intrínseca; e

6. As estruturas industriais são consideradas como

polarizadas, ou seja, organizadas em torno de algumas grandes

corporações, muitas vezes empresas multinacionais e muitas pequenas

e micro empresas ou trabalhadores independentes, empresas de uma

só pessoa. Os maiores representam a maioria da produção, eles são

mais verticalmente integrados e mais susceptíveis de serem envolvidos

na produção em massa. Embora as pequenas e micro empresas sejam

menos capazes de competir com as vantagens de escala e escopo, elas

podem conquistar igualmente uma grande quota de mercado através da

especialização em nichos de mercado.

Em suma, o sistema de produção cultural de uma cidade é formado

por todas as partes interessadas que estão ativamente envolvidas no processo,

incluindo artistas, executivos, produtores, designers, empresas de mídia,

gráfica, e assim por diante (WILLIAMS, 1997).

Promover o aumento do consumo de ofertas culturais é também um

elemento importante na cadeia de produção cultural. Por exemplo, de acordo

com de Salvatierra (2008), "Diferentes iniciativas têm adotado práticas

comprovadas de outros setores e têm feito acordos culturais para criar

incubadoras de empresas. Estas também estão fazendo uso dos processos de

planejamento comercial tradicional (análise de demanda, planos de negócios,

cadeia produtiva, clusters locais e análise do desenvolvimento da inteligência

de mercado, entre outros.) a fim de alcançar a sustentabilidade" (p.14).

Iniciativas promocionais para a cadeia de produção cultural normalmente

incluem o suporte de faculdades ou universidades, bem como os governos

locais, ministérios econômicos, organizações não governamentais, pequenos

produtores coletivos, alianças interinstitucionais e consultores com

especialização em empresas culturais (SALVATIERRA, 2008). Além disso,

promover níveis mais elevados de consumo cultural envolve um aumento das

despesas com as ofertas culturais como, por exemplo, compras e visitas à

Page 76: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

44

produção de artes que se estende até ao transporte, comida e bebida,

publicações e complementa as ofertas de produtos culturais (EVANS, 2001).

O objetivo principal destes tipos de atividades promocionais é a

atração de visitantes de outras regiões; no entanto, outra meta importante é

promover o prestígio e a imagem de uma cidade a fim de atrair investidores e a

alta remuneração dos trabalhadores do conhecimento (SCOTT, 2004). Outras

abordagens para a promoção de ofertas de turismo cultural em uma cidade

incluem os carnavais, os eventos esportivos, os festivais e outros tipos de

grandes encontros de visitantes (SCOTT, 2004). Por outro lado, o tamanho do

município não é tão importante quanto a maneira pela qual as ofertas culturais

são embaladas. Por exemplo, Scott acrescenta que, "da mesma forma, o

pequeno mercado da cidade galesa de Hay-on-Wye tem apostado em sua

festa literária anual e suas inúmeras livrarias de segunda-mão em uma atração

turística mundial. O sucesso de Hay-on-Wye tem estimulado inúmeros

imitadores em diversas partes do mundo para seguir o seu exemplo" (2004, p.

464).

Por último, Pratt (2008) sugere que os políticos que estão

interessados em promover ofertas para o turismo cultural podem obter mais

resultados positivos se pensarem nas indústrias culturais como um objeto

que pode fornecer as articulações entre a produção e o consumo, manufatura e

serviços. Este tipo de abordagem tem se mostrado mais eficaz para interpretar

e compreender o papel significativo da produção cultural contemporânea das

cidades, e que relação ela tem com o crescimento (PRATT, 2008).

1.4. EMPREGO CULTURAL

O perfil de diferentes práticas culturais na procura de emprego ou

ocupações varia significativamente e identificar o elemento criativo da atividade

da indústria cultural é, portanto, um componente essencial da análise das

necessidades de formação e educação, bem como na construção de uma

melhor compreensão do processo criativo e do nível de suporte e infra-

Page 77: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

45

estrutura que é necessário para cada setor cultural (EVANS, 2001). O conceito

de emprego cultural estende-se aos recursos culturais caso tenham sido

transformados em ofertas culturais específicas ou não (MACHICADO, 2012).

Emprego Cultural Total é definido pela UNESCO como composto

por todas as pessoas que estão envolvidas em uma ocupação ou não

ocupação cultural no setor da cultura, bem como todas as pessoas que estão

envolvidas em uma ocupação cultural no não setor cultural (FCS, 2014). Esta

definição é congruente com a orientação fornecida por Scott (2004), que

aconselha: "Não se pode deixar de enfatizar, uma vez que não pode haver

qualquer linha rígida que separe as indústrias que se especializam em apenas

produtos culturais daquelas cujas produções são puramente utilitaristas. Ao

contrário, há um continuum mais ou menos intacto de setores que vão desde,

digamos, imagens em movimento ou música gravada em um dos extremos, a

uma série de setores intermediários cujas produções são diferentes misturas

da produção cultural e da utilitária" (p. 462). Segundo a UNESCO 2009 Quadro

de Estatísticas Culturais (FCS), as profissões relacionadas ao emprego cultural

estão envolvidas em termos de criatividade e produção artística, bem como

coleção patrimonial e preservação e incluem tarefas e responsabilidades que

são realizadas:

• Para gerar, desenvolver, preservar ou refletir sobre a cultura;

• Para criar, produzir e divulgar produtos e serviços culturais, que

geralmente contêm direitos de propriedade intelectual; e,

• Para a finalidade de expressão artística (p. ex., visual, música,

escrita, dança ou artes dramáticas). (FCS, 2014, p.4).

A Espanha e o Brasil receberam ‘satisfatório’ na classificação da

UNESCO no que diz respeito ao seu emprego cultural: pesquisa, avaliação e

práticas (FCS, 2014). O pensamento convencional foi, até bastante

recentemente, que as indústrias culturais não foram objeto de especial

interesse em particular em termos do seu impacto econômico. Mais

recentemente, no entanto, os resultados que emergiram das pesquisas

realizadas nas nações emergentes claramente indica que as indústrias

culturais contam com uma elevada taxa de crescimento do PIB, o valor interno

Page 78: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

46

bruto e de emprego (MIKIC, 2012). De fato, as características do emprego

cultural sugerem que este setor tem a capacidade de tornar-se um dos

principais geradores econômicos para o crescimento da economia global de um

país (MIKIC, 2012). Além disso, alguns setores de emprego culturais

contribuem para o crescimento em outros setores através de sua inovação e

esforços de design (MIKIC, 2012). A este respeito, Mikic observa que, "O

emprego cultural pode oferecer outros efeitos para a economia, pode atrair

uma força de alta qualidade, bons negócios e investimento e pode estimular a

criatividade e a inovação em todos os setores da economia" (p. 4).

Como resultado, tem havido um aumento no interesse sobre a

potencial contribuição do emprego cultural no que diz respeito ao

desenvolvimento econômico, e uma reavaliação do desenvolvimento estrutural

e as mudanças que são necessárias para alcançar os melhores resultados. Por

exemplo, Mikic acrescenta que, "O crescente interesse pelas indústrias

culturais e a sua rápida aceitação como um modelo bastante geral para fazer

face aos problemas de desenvolvimento no plano econômico e político têm

contribuído para que as indústrias culturais tenham se tornado um

componente-chave na formulação da política econômica e do desenvolvimento

estratégico planejamento" (2012, p.4). Por conseguinte, há uma tendência

crescente em vários países para incorporar vários aspectos do emprego

cultural na medição do desempenho do desenvolvimento nacional (MIKIc,

2012).

Outra abordagem para a economia cultural começou a ser

desenvolvida durante o período compreendido entre o final da década de 1970

e início da década de 1980, quando as reduções nos orçamentos

governamentais em toda a Europa resultaram em um reexame do papel da

despesa pública no setor cultural. Neste contexto, o então Ministro francês da

cultura J. Lang citou dois pontos principais: (a) ele observou uma variedade de

casos em que o setor cultural fez a transição da subvenção para a geração de

emprego e adicionou maior importância a isso e (b) ele ofereceu apoio do

governo às atividades de produção cultural (MACHICADO, 2012).

Page 79: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

47

Para mostrar que o setor cultural gerou crescimento e emprego,

tornou-se necessário olhar além de uma análise da ‘alta’ cultura. Este foi o

ponto em que as indústrias culturais cresceram para se tornarem o foco das

considerações da política cultural. Análises estatísticas e de dados começaram

a aparecer, elas se concentraram na conscientização de formas sociais

periféricas prévias, eventos como shows de rock, gravações de jazz e a

televisão, que, em geral, foram todas as formas de expressão criativa que

poderiam ser produzidas em massa (MACHICADO, 2012). Os resultados que

emergiram durante este período sugerem que as indústrias culturais não só

geraram um considerável valor adicional e apresentaram conteúdo escrito da

arte tradicional, proporcionando um novo apoio aos resultados, mas, acima de

tudo, significou uma verdadeira revolução na forma como o público em geral

vivenciou a cultura. De acordo com tal perspectiva, as despesas culturais

públicas iriam encontrar coisas novas, coisas capazes de suportar de forma

muito melhor o teste do custo-benefício financeiro (MACHICADO, 2012).

É claro que a análise do impacto econômico do emprego cultural é uma

tarefa complexa. A este respeito, Machicado (2012) sugere que, "um novo olhar

sobre a economia da cultura é necessário hoje" (p. 37). Por outro lado, é

também evidente que as produções culturais estão fadadas ao fracasso, se

não gerarem interesse suficiente do público; porém, se “não são rentáveis para

os conglomerados financeiros não serão colocadas no mercado global" (2012,

p.37).

De forma geral, está se tornando cada vez mais claro que os

mercados culturais têm sido uma crescente preocupação que agora inclui as

indústrias culturais. O universo que engloba as produções culturais, no entanto,

é muito vasto, variando entre a real manifestação do folclore, a cultura mais

popular e a cultura da mídia, às manifestações da cultura de 'elite' ou das 'belas

artes' e também do patrimônio histórico. As manifestações econômicas que

participam desta tipologia são abundantes. Algumas são já muito

desenvolvidas, outras são sustentadas e outras financiadas pelos

patrocinadores; em muitas ocasiões, as motivações dos criadores não são

Page 80: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

48

certamente impulsionadas pelos incentivos de lucro. (MINISTÉRIO DA

CULTURA COLOMBIANO, CONVÊNIO ANDRÉS BELLO, 2003).

Com base no que foi exposto acima, o conceito de setor cultural está

sendo ampliado para incluir o conceito de indústria cultural. .De acordo com a

UNESCO, uma indústria cultural deve apresentar as seguintes características:

Sua matéria-prima é uma criação protegida por direitos

autorais e colocada em um suporte tangível ou eletrônico;

Seus produtos são produzidos em massa, preservados e

distribuídos em uma escala maciça;

Possui seus próprios processos de produção, circulação e

apropriação social;

É organizada com base nas lógicas de mercado e

comercialização, ou tem o potencial de ser assim;

É lugar para a integração social e produção da imaginação,

desenvolvimento de identidade e promoção da cidadania (MACHICADO,

2012).

Alguns estudos culturais tentam identificar oportunidades de

empregos culturais no que diz respeito às agendas políticas nacionais,

bem como, mais especificamente, como estas atribuições são feitas

dentro do processo orçamentário do setor público. Hoje, é possível

perceber que o investimento público deve ser feito no setor cultural

porque isto é rentável. Já outros estudos demonstram que a cultura não

pode ser lucrativa sem apoio público, o que pede a pergunta

(especialmente dos contribuintes) sobre os motivos pelos quais o

financiamento público deve ser concedido em primeiro lugar. A este

respeito, é importante fazer a distinção entre o que é lucrativo e aquilo

que não é; o que de fato vale a pena apoiar e aquilo que não vale.

(MACHICADO, 2012)

Em suma, as combinações dos fatores econômicos e sociais que

contribuem para o setor cultural de um país são capazes de desenvolver

grandes oportunidades enquanto introduzem novos desafios. Além disso, é

igualmente importante para os políticos e para a comunidade cultural

Page 81: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

49

trabalharem lado-a-lado na criação de novas oportunidades para produções

culturais e, ao mesmo tempo, estarem atentos acerca dos respectivos

interesses de todas as partes envolvidas.

A seguir, examinaremos as questões que envolvem o emprego

cultural na União Europeia e na Espanha.

1.3.1. EMPREGO CULTURAL NA UNIÃO EUROPEIA E

NA ESPANHA

O emprego cultural na União Europeia (ou seja, tanto o emprego em

ocupações culturais em toda a economia quanto qualquer emprego em

atividades econômicas culturais) em 2005 foi estimado em cerca de 5 milhões

(4,9 milhões) de pessoas na UE-27, o que representa 2,4% do total do

emprego nestes países (EUROSTAT CULTURAL STATISTICS, 2007). Não

houve nenhuma diferença significativa identificada entre o total de emprego e o

emprego cultural relacionado à idade ou ao sexo em relação à UE como um

todo; no entanto, houve algumas diferenças identificadas em alguns

países específicos (EUROSTAT CULTURAL STATISTICS, 2007).

Por outro lado, existem alguns atributos específicos de emprego

cultural que podem ser categorizados, incluindo principalmente segurança no

emprego e nível educacional. De acordo com o Eurostat, "As pessoas que

trabalham na área da cultura são geralmente mais qualificadas do que aqueles

empregados na economia como um todo: quase 48% dos trabalhadores

culturais concluíram o ensino superio, em comparação com 26% para a mão-

de-obra em geral" (EUROSTAT CULTURAL STATISTICS, 2007, p. 47). Da

mesma forma, 60% dos trabalhadores em áreas culturais têm ensino superior

na Bélgica, Estônia, Lituânia e Espanha (EUROSTAT CULTURAL

STATISTICS, 2007).

Há alguns aspectos negativos do emprego cultural que também

devem ser observados, inclusive o fato de que frequentemente existe menos

segurança no trabalho envolvida. Por exemplo, os dados do Eurostat informam

que:

Page 82: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

50

16% dos trabalhadores culturais têm empregos

temporários em comparação com 13% no emprego total; e

25% têm empregos de meio período versus 17% da

população trabalhadora como um todo.

Estes aspectos do emprego cultural são especialmente

pronunciados na Espanha, Eslovênia, França, Suécia e Portugal,

onde prevalece o emprego temporário. Na verdade, em alguns países como a

Estônia e a França, a percentagem de trabalho temporário é mais do que o

dobro de profissões de emprego cultural em relação ao emprego total nacional

(EUROSTAT CULTURAL STATISTICS, 2007).

O grau de urbanização das regiões geográficas em que os

empregados culturais trabalham é definido como sendo uma das três

categorias a seguir: (a) área densamente povoada, (b) zona intermédiaria

e (c) zona escassamente povoada (EUROSTAT CULTURAL STATISTICS,

2007). A maioria (58%) dos empregados culturais trabalha em áreas

densamente povoadas em comparação com 44% para o total de trabalhadores

da UE (EUROSTAT CULTURAL STATISTICS, 2007). Aqui, mais uma vez, no

entanto, há algumas importantes diferenças entre os países, mas em todos os

países, a percentagem de pessoas que trabalham em áreas densamente

povoadas é maior no emprego cultural em relação ao emprego total.

Apesar destas diferenças significativas nos padrões de emprego

cultural, não houve diferença significativa entre emprego cultural e o emprego

total no que diz respeito à nacionalidade dos trabalhadores culturais com a

esmagadora maioria (aproximadamente 95%) sendo os trabalhadores

nacionais da UE-27. Para a Espanha, o número total de emprego cultural em

2005 foi de quase 19 milhões (18.893.000) (EUROSTAT CULTURAL

STATISTICS, 2007).

As respectivas taxas de emprego cultural para os 27 países da União Europeia

estão definidos na Tabela 1 que segue na próxima página.

Page 83: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

51

Tabela 1 - Emprego Cultural da União Europeia: 2007.

Fonte: Estatísticas do Eurostat de 2007.

Menos de quatro em cem (3,9%) estudantes do ensino superior na

UE-27 fizeram cursos de arte durante o ano acadêmico 2004-2005, com Malta

registrando o maior percentual (10,9%), seguido pela Irlanda (10,2%) e o

Reino Unido (6,5%); as menores taxas de curso de arte foram encontradas na

Romênia (1,4%), Hungria (1,3%) e Polônia (1,0%) (EUROSTAT CULTURAL

STATISTICS, 2007).

Page 84: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

52

Alguns importantes indicadores do setor cultural da UE que refletem

as taxas de empregos culturais atuais discutidas acima estão definidos na

Tabela 2 que segue abaixo:

Tabela 2 - Seleção de indicadores do setor cultural EU27.

* Estudantes do Ensino Superior: CITE nível 5-6. Artes: artes plásticas, música e artes cênicas, técnicas audio-visuais e produção de mídia, Design, técnicas artesanais. UE27 é feita a partir dos dados disponíveis. ** 'Publicar' significa 'Edição de livros, jornais, revistas e periódicos". UE27 agregados para o setor editorial são estimados. *** EU27 figura inclui apenas extra-UE27 trocas comerciais. Os Estados-membros" números incluem tanto intra e extra-UE27 trocas comerciais. Inclui pinturas, gravuras, impressões e litografias e esculturas originais; carimbos; Coletores de zoologia, botânica, mineralogia, anatomia, histórico, arqueológico, paleontológico, etnográfico ou interesse numismático, assim como antiguidades de uma idade superior a 100 anos. **** Media Salles. DE: incluindo municípios cinemas. ELA: Com base na Società Italiana degli Autori ed Editori dados referentes a telas com mais de 60 dias de atividade por ano. NL: Não incluindo os dados para alguns pequenos distribuidores. : Os dados que não estão disponíveis. Fonte: Estatísticas do Eurostat de 2007.

Page 85: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

53

De acordo com a tabela 2, o número de empresas concorrentes no

comércio externo de artes e antiguidades e setores editoriais foram maiores no

Reino Unido (EUROSTAT CULTURAL STATISTICS, 2007). Em 2006, as

exportações de países da UE-27 em obras de arte, antiguidades e objetos de

coleção foram avaliadas em 4,7 bilhões de euros e as importações foram

avaliadas em €3 bilhões de euros, representando um excedente comercial de

1,7 bilhões de euros (EUROSTAT CULTURAL STATISTICS, 2007). Em 3,2

bilhões de euros, o Reino Unido foi o maior exportador entre os UE-27, seguido

da França, com 0,9 bilhão de euros e a Áustria com € 0,3 bilhão (EUROSTAT

CULTURAL STATISTICS, 2007). Além disso, o Reino Unido também importou

mais do que todos os 27 Estados-membros da UE com € 1,9 bilhões, seguido

pela Espanha, com €0,4 bilhão e a França com €0,3 bilhão (EUROSTAT

CULTURAL STATISTICS, 2007).

A ida ao cinema dos cidadãos da UE-27 somou 900 milhões de

visitas em 2006, com a Irlanda registrando a presença mais frequente com 4,2

entradas por cidadão. Este nível pode ser comparado com 1,9 da média da UE-

27, seguido pela França (3,0), Espanha (2,8) e Luxemburgo (2,7). A Romênia

registrou a participação menos frequente 0,1 entradas por cidadão, seguida

pela Bulgária (0,3) e Eslováquia (0,6) (EUROSTAT CULTURAL STATISTICS,

2007).

O nível de participação dos cidadãos da EU-27 em atividades

culturais para o ano de 2007 está definido na Tabela 3 que segue na página

54.

.

Page 86: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

54

Tabela 3 - UE27 a participação dos cidadãos nas atividades culturais, 2007.

Nota: emprego Cultural abrange tanto as ocupações culturais em toda a economia e o emprego no setor cultural da economia (culturais atividades econômicas). As ocupações culturais são atividades profissionais com uma dimensão cultural, como bibliotecários, escritores, artistas, arquitetos, etc. a ocupação é definida como um subconjunto da CITP classificação. Todas as profissões são tidas em conta, qualquer que seja a atividade principal do empregador. As atividades culturais são definidas como um subconjunto da NACE, publicação e incluir, por exemplo, imagens em movimento e vídeo atividade, comércio por grosso e a retalho de bens culturais. Em todas estas atividades, todos emprego é tomado em consideração, qualquer que seja a profissão (artístico, técnico, administrativo, gerencial), porque todos eles são necessários para o funcionamento da "indústria cultural". CITP representa a Classificação Internacional Tipo de Profissões. A NACE é a Classificação Estatística das Atividades Econômicas na Comunidade Europeia. Fonte: Estatísticas do Eurostat de 2007.

Os resultados de uma pesquisa especial chamada ‘Eubarometer’

(‘Eurobarômetro’) realizada no início de 2007 revelaram que mais de 75% da

Page 87: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

55

população dos UE-27 havia escutado ou visto uma produção cultural no rádio

ou na televisão em algum momento durante o ano anterior. Outras conclusões

da pesquisa mostraram que quase três quartos (71%) dos cidadãos dos UE-27

tinham lido pelo menos um livro durante o ano passado, mas a utilização de

outros equipamentos culturais foi relativamente escassa, com as exceções de:

visitar monumentos históricos (54%), assistir a filmes (54%), ir à museus e

galerias (41%), ir à shows (37%), visitar as bibliotecas públicas (35%), ir ao

teatro (32%) e ao ballet e à ópera (18%) (EUROSTAT CULTURAL

STATISTICS, 2007).

Os montantes das receitas reais que são gerados a partir das

atividades culturais mencionadas anteriormente variam dependendo da forma

como são calculados. No caso das contribuições diretas das viagens e do

turismo para o produto interno bruto de uma nação, estas contribuições são

uma medida das despesas internas que acontece como um resultado direto

de viagens e turismo (definidas como despesa total dentro de um determinado

país em viagens e turismo por residentes e não residentes, para negócios e

lazer), bem como as despesas individuais do governo (definidas como os

gastos do governo com as viagens e serviços de turismo que estão diretamente

ligadas aos visitantes, tais como culturais (museus) ou de lazer (parques

nacionais)) (TURNER, 2014b). Segundo Turner (2014b, p.37), "A contribuição

direta das viagens e do turismo para o PIB é calculada de forma a ser

consistente com a saída, tal como expresso na National Accounting, de setores

turísticos, como hotéis, companhias aéreas, aeroportos, agências de viagens e

lazer e serviços de recreação que lidam diretamente com os turistas. A

contribuição direta das viagens e do turismo para o PIB é calculada a partir das

despesas internas totais através da ‘compensação’ das compras feitas pelos

diferentes setores do turismo". Esta medida de contribuição direta é congruente

com a definição do Tourism GDP estabelecida em 2008 Tourism Satellite

Account: Recommended Methodological Framework (TURNER, 2014b).

Além das contribuições diretas, a contribuição total de viagens e

turismo também inclui o assim-chamado ‘maior impacto’ que produz o que são

definidos como os efeitos indiretos e induzidos na economia do

Page 88: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

56

país (TURNER, 2014b). A este respeito, Turner diz que as contribuições

indiretas incluem ambos os trabalhos e o PIB nacional que são

apoiados por: despesas de investimento de viagens e turismo, incluindo os

atuais e os futuros investimentos, tais como:

A aquisição de novas aeronaves;

A construção de novos hotéis;

Gastos 'coletivos' do governo (o que ajuda a atividade de

viagens e turismo de muitas formas diferentes, já que é feito em nome

da ‘comunidade em geral’ como marketing e a promoção do turismo, a

aviação, a administração, os serviços de segurança, os serviços de

segurança em área de resort, os serviços de saneamento na área de

resorts, etc.); e

As aquisições de bens e serviços no mercado interno pelos

setores que lidam diretamente com os turistas, incluindo as compras de

alimentos e serviços de limpeza de hotéis, de combustível e serviços de

alimentação por parte de companhias aéreas, serviços de TI pelos

agentes de viagens (TURNER, 2014b, p.38).

A contribuição induzida por viagens e turismo é uma medida do PIB

e de empregos que são mantidos por meio do emprego direto ou indireto na

indústria das viagens e do turismo (TURNER, 2014b).

Como mostrado nos gráficos 1 e 2, o quais seguem na próxima

página, a contribuição direta das viagens e do turismo da Espanha para o PIB

em 2013 foi de 58,6 bilhões de euros, um valor que representa 5,7% do PIB

espanhol. Este nível de contribuição direta está previsto para aumentar em

3,1% para 60,5 bilhões de euros em 2014 (TURNER, 2014b). Esta tendência

positiva é o resultado de um aumento da atividade econômica de viagens e

turismo e indústrias relacionadas incluindo hotéis, companhias aéreas,

agências de viagens, e serviços associados de transporte de passageiros

(excluindo serviços suburbanos). No entanto, o aumento também leva em

consideração as atividades das indústrias de entretenimento e restaurantes

que são mantidos diretamente pelos turistas. A contribuição direta das viagens

Page 89: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

57

e do turismo o PIB da Espanha está prevista para aumentar em 1,8% ao

ano para 72,6 bilhões de euros (5,8% do PIB) até 2024 (TURNER, 2014b).

Figura 1 – Gráficos 1 e 2: Contribuição direta de viagens e turismo em Espanha para a PIB.

Fonte: Turner, 2014b.

Como mostrado nos gráficos 3 e 4 que seguem, a contribuição total

da indústria de viagens e turismo para o PIB da Espanha (incluindo efeitos

mais gerais do investimento, da cadeia de abastecimento e impactos de renda

induzidos) em 2013 foi de 161.1 bilhões de euros, um montante que representa

um significativo 15,7% do PIB da Espanha e essa quantidade significativa já

está projetada para aumentar em 2,0% para 164.3 bilhões de euros (15,9% do

PIB) em 2014 (TURNER, 2014b).

Page 90: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

58

Figura 2 - Gráficos 3 e 4: Contribuição Total de viagens e turismo em Espanha para a PIB.

Fonte: Turner, 2014b.

Como mostrado nos gráficos 5 e 6, os quais seguem, a indústria de

viagens e turismo gerou 866.500 postos de trabalho diretamente na Espanha

em 2013 (representando 5,2% do total nacional emprego). Este nível de

emprego apoiado por viagens e turismo é projetado para aumentar em 3,4%

em 2014 para 895.500 (representando 5,3% do total nacional espanhol

emprego) (TURNER, 2014b). Este nível de emprego inclui trabalho em hotéis,

agências de viagens, companhias aéreas e outros serviços de transporte de

passageiros (excluindo linhas suburbanas), bem como indústrias de lazer e

restaurantes que são mantidos diretamente pelos turistas (TURNER, 2014b).

Além disso, a indústria de viagens e turismo está prevista para oferecer mais

de um milhão (1.036.000) de postos de trabalho na Espanha diretamente até

2024, representando um aumento de 1,5% ao ano ao longo deste período de

10 anos (TURNER, 2014b).

Page 91: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

59

Figura 3 - Gráficos 5 e 6: Contribuição direta de viagens e turismo para a Espanha em empregos.

Fonte: Turner, 2014b.

Como mostrado nos gráficos 7 e 8 na sequência, a contribuição total

de viagens e turismo para o emprego na Espanha (incluindo efeitos mais gerais

do investimento, da cadeia de abastecimento e impactos induzidos de renda)

foi de 2.655.500 postos de trabalho em 2013, o que representa 15,8% do

total nacional do emprego (TURNER, 2014b). Este nível de trabalho é

projetado para aumentar em 1,9% em 2014 para 2.707.000 postos de trabalho,

respondendo por 16% do total do emprego e até 2024, viagens e turismo está

projetada para aumentar até 3.077.000 empregos mantidos por viagens e

turismo, um montante igual a 16,2% do total nacional de emprego na Espanha,

que também representa um aumento de 1,3% ao ano durante esse

período (TURNER, 2014b).

Page 92: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

60

Figura 4 - Gráficos 7 e 8: Contribuição total e projeção de viagens e turismo de Espanha sobre oferta de emprego, 2013-2024.

Fonte: TURNER, 2014b.

Como mostrado nos gráficos 9 e 10 na sequência, o tráfego

internacional de visitantes são um elemento importante da contribuição da

indústria das viagens e do turismo (TURNER, 2014b). Por exemplo, a Espanha

gerou 49.1 bilhões de euros em tráfego de visitantes em 2013, e espera-se que

este nível venha a crescer 6,6% até o final do ano de 2014 (TURNER, 2014b).

Por outro lado, a Espanha está prevista para atrair 64.423.000 turistas

internacionais até o final de 2014 (TURNER, 2014b). As chegadas de turistas

internacionais estão previstas para totalizar 80.767.000 até 2024, gerando

despesas de 66.3 bilhões de euros, o que representa um aumento de 2,4% ao

ano ao longo deste período de 10 anos (TURNER, 2014b).

Page 93: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

61

Figura 5 - Gráficos 9 e 10: Visitantes internacionais: 2004-2014.

Fonte: Turner, 2014b.

Como mostrado nos gráficos 11 e 12 abaixo, estima-se que viagens

e turismo também têm atraído um investimento de capital de 14 bilhões de

euros em 2013 (TURNER, 2014b). Este nível de investimento de capital está

previsto para diminuir ligeiramente 0,3% em 2014, e novamente aumentar por

4,0% ao ano ao longo dos próximos 10 anos para atingir 20.7 bilhões de euros

em 2024 (TURNER, 2014b). Além disso, a parte de viagens e turismo como

uma percentagem do total nacional de investimentos está projetada para

aumentar de 8 % em 2014 para 9,1% em 2024 (TURNER, 2014b).

Figura 6 - Gráficos 11 e 12: Investimentos de capital em viagens e turismo: 2004-2014.

Fonte: Turner, 2014b.

Page 94: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

62

As despesas com viagens de lazer (tanto de entrada quanto

doméstica) representaram a grande maioria (89,2%) do PIB direto em viagens

e turismo em 2013 (98.8 bilhões de euros versus 10,8% das despesas para

viagens de negócios ou 12.0 bilhões de euros) (TURNER, 2014b). Em 2014,

os gastos com viagens de lazer estão projetados para aumentar em 3,1% para

101.9 bilhões de euros, e aumentar em 1,9% ao ano para 123 bilhões de euros

até 2024 (TURNER, 2014b). Por outro lado, os gastos com viagens de

negócios estão previstos para aumentar de 2,7 % em 2014 para 12,3 bilhões

de euros e aumentar mais moderadamente em 1,5% por ano para 14.3 bilhões

de euros em 2024 (TURNER, 2014b). As despesas com viagens domésticas

representam mais da metade (55,7%) do PIB direto em viagens e turismo em

2013 versus 44,3% de tráfego de visitantes, definidos como gastos de

visitantes estrangeiros ou receitas do turismo internacional (TURNER, 2014b).

As despesas com viagens domésticas estão projetadas para aumentar 0,3%

em 2014 para 61.9 bilhões de euros, e um ligeiro aumento de 1,4% ao ano

para 71bilhões de euros até 2024 (TURNER, 2014b). Da mesma forma, o

tráfego de visitantes está projetado para crescer mais fortemente em 6,6% em

2014 para 52.3 bilhões de euros, mas aumentar menos fortemente em 2,4% ao

ano para 66.3 bilhões de euros até 2024 (TURNER, 2014b).

A seguir, examinaremos as questões que envolvem o emprego

cultural na América Latina e no Brasil.

1.3.2. EMPREGO CULTURAL NA AMÉRICA LATINA E

NO BRASIL

A análise da contribuição do emprego cultural nos países latino-

americanos e no Brasil exige uma abordagem diferente da utilizada para os

mais harmonizados UE-27, e as respectivas medidas de contribuição do setor

cultural em relação ao produto interno bruto são divididos em dois grupos para

esta finalidade.

Page 95: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

63

1. Países que têm índices de desenvolvimento econômico

que podem ser descritos como médio-baixo (por exemplo: Colômbia,

Equador, Paraguai e Venezuela) compartilham percentagens

semelhantes de contribuição do setor cultural para o PIB em cerca de

2% (CULTURE AS AN ENGINE FOR ECONOMIC GROWTH,

EMPLOYMENT AND DEVELOPMENT, 2011).

2. Países com índices de desenvolvimento médio-alto (por

exemplo: Argentina, Brasil, Chile e Uruguai) têm taxas um pouco mais

altas do que a média; no entanto, elas são muito díspares (isto é, um

máximo de 6,7% para o Brasil e de um mínimo de 1,8 % -2% para o

Chile).

É possível explicar as diferenças entre os índices pelas diferentes

metodologias e informações utilizadas em diversos estudos e países.

Por exemplo, ao contrário de outros estudos avaliados, o estudo

colombiano calcula a contribuição do setor cultural para o PIB baseado

em três grupos de atividades: (a) um primeiro grupo de Atividades

Diretas relacionadas à produção cultural; (b) o grupo ‘Atividades

Relacionadas I’, que está relacionado ao uso e à divulgação de criações

culturais; e (c) o grupo ‘Atividades Relacionadas II’ que está relacionado

com os dados de entrada necessários ao setor cultural. O resultado do

PIB cultural mostrado é o total para os três grupos, com as respectivas

atividades incluídas em cada agrupamento:

Atividades Diretas: Edição de livros, folhetos, as

pontuações, e outras publicações; a publicação de revistas e periódicos;

a publicação de materiais gravados; pesquisa experimental e

desenvolvimento nas áreas das ciências sociais e humanidades;

publicidade; atividades fotográficas; produção e distribuição de filmes e

vídeos, atividades de televisão e rádio; atividades de gravação e

produção das gravadoras; atividades teatrais e musicais e outras

Page 96: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

64

atividades artísticas; atividades de biblioteca; atividades dos museus e a

preservação de locais históricos e edifícios;

Atividades Relacionas I: atividades de impressão;

atividades de prestação de serviços relacionadas à impressão; outros

trabalhos de divulgação; fabricação de produtos cerâmicos não-

resistentes ao calor para uso não-estrutural; fabricação de jóias e artigos

relacionados; venda por atacado e exportação de livros e revistas; venda

por varejo de discos, cassetes, CDs, vídeos, instrumentos musicais e

produtos relacionados, comércio varejista de livros e jornais; comércio

varejista de equipamento fotográfico em estabelecimentos

especializados; serviços de transmissão de programas de rádio e de

televisão; serviços de transmissão à cabo; outros serviços de

telecomunicações; empresários e representantes dos artistas nacionais

e estrangeiros; outras atividades de entretenimento não classificadas

previamente (n.c.p.); atividades de agências de notícias; e

Atividades Relacionadas II: Fabricação de polpa de

celulose: chip e caixas de papelão; fabricação de emissoras de rádio e

televisão e equipamento de telefonia e telegrafia; fabricação de

aparelhos receptores de radiodifusão e de televisão, equipamento de

gravação e equipamento de reprodução de imagem e som e produtos

afins; fabricação de instrumentos ópticos e equipamentos fotográficos;

fabricação de instrumentos musicais (CULTURE AS AN ENGINE FOR

ECONOMIC GROWTH, EMPLOYMENT AND DEVELOPMENT, 2011, p.

42).

Independentemente do modo como a contribuição é

especificamente calculada, está claro que os resultados destes estudos

confirmam que, como na maioria dos outros países do mundo, o setor de

viagens e turismo é uma importante atividade econômica para o Brasil

(TURNER, 2014a). A este respeito, Turner (2014a, p. 37) define viagens e

Page 97: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

65

turismo como "toda a atividade de viajantes em viagens fora do seu ambiente

habitual com duração de menos de um ano, esta atividade econômica se

relaciona com todos os aspectos através dos quais as viagens são usadas

como medida dentro da pesquisa". Além do impacto econômico direto da

indústria de viagens e do turismo, ela também exerce grande impacto indireto e

induzido (TURNER, 2014a).

Como mostrado nos gráficos 13 e 14 abaixo, a contribuição direta de

viagens e turismo para o PIB brasileiro em 2013 ficou em R$166.1 bilhões, ou

3,5% do PIB nacional (TURNER, 2014a). Esta contribuição é também

projetada para aumentar em 3,0% para R$171.1 bilhões até 2014 (TURNER,

2014a). Este aumento reflete primariamente a atividade econômica gerada

pelas indústrias, como, por exemplo, hotéis, agências de viagens, companhias

aéreas e outros serviços de transporte de passageiros (excluindo linhas

suburbanas). No entanto, este montante também inclui as atividades de, por

exemplo, indústrias de lazer e restaurantes que são mantidos diretamente

pelos turistas (TURNER, 2014a). A contribuição direta de viagens e

turismo para o PIB do Brasil está projetada para aumentar em 3,9% ao

ano para R$250.2 bilhões ou 3,7% do PIB do país até 2024 (TURNER, 2014a).

Figura 7 - Gráficos 13 e 14: Contribuições diretas das viagens e do turismo para o PIB.

Fonte: Turner, 2014a.

Como mostrado nos gráficos 15 e 16 na sequência, em

2013, viagens e turismo no Brasil gerou 3.048.500 postos de trabalho

Page 98: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

66

diretamente, representando 3% do total nacional em matéria de emprego e

o nível de emprego está previsto para aumentar em 2,8% em 2014 para

3.134.000 ou 3,1% do total nacional do emprego (TURNER, 2014a). Este

montante inclui o emprego por agentes de viagens, hotéis, companhias aéreas

e outros serviços de transporte de passageiros (excluindo linhas

suburbanas), bem como as atividades de, por exemplo, indústrias de lazer e

restaurantes que são mantidos diretamente pelos turistas (TURNER, 2014a).

Em 2024, projeta-se que viagens e turismo serão responsáveis por 3.787.000

postos de trabalho no Brasil diretamente, o que representa um aumento de

1,9% ao ano, durante os próximos 10 anos (TURNER, 2014a).

Figura 8 - Gráficos 15 e 16: Contribuição direta de viagens e turismo de emprego Brasileiro.

Fonte: Turner, 2014a.

Como mostrado nos gráficos 17 e 18, os quais seguem, como é o

caso da Espanha, o tráfego de visitantes também é um elemento importante da

contribuição direta de viagens e turismo para o desenvolvimento econômico do

Brasil. Em 2013, o Brasil gerou R$14.9 bilhões em tráfego de visitantes e este

nível está projetado para aumentar até 11,7% em 2014 (TURNER, 2014a).

Além disso, calcula-se que o Brasil atrairá 6.352.000 visitas turísticas

internacionais em 2014 (TURNER, 2014a). As visitas de turistas internacionais

estão projetadas para aumentar um total de 14.200.000 até 2024, gerando

Page 99: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

67

despesas de R$38.6 bilhões, o que representa um aumento de 8,7% ao ano

(TURNER, 2014a).

Figura 9 – Gráficos 17 e 18 : Gastos de visitantes estrangeiros versus chegadas de turistas internacionais.

Fonte: Turner, 2014a.

Como mostrado nos gráficos 19 e 20 na página que segue, a

indústria de viagens e turismo atraiu investimentos de capital de R$52 bilhões

durante 2013 e calcula-se que esse nível aumentará em 21,8% em 2014,

e aumentará até 6,1% ao ano durante os próximos 10 anos para R$114.7

bilhões até 2024 (TURNER, 2014a). Além disso, como uma parte do total

nacional de investimentos, calcula-se que a indústria de viagens e turismo

aumentará de 6,8% em 2014 para 8,3% em 2024 (TURNER, 2014a).

Page 100: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

68

Figura 10 - Gráficos 19 e 20: Investimento de capital brasileiro em viagens e turismo.

Fonte: Turner, 2014, p.10.

Em 2013, os gastos com viagens de lazer (de entrada e no mercado

interno) no Brasil geraram 85,7% do PIB direto em viagens e turismo, ou cerca

de R$252.4 bilhões, versus 14,3% para as despesas de viagens de negócios

ou R$42.1 bilhões (TURNER, 2014a). Os gastos com viagens de negócios

estão projetados para aumentar de 3,1% em 2014 para R$43.4 bilhões e

aumentar novamente de 3,1% ao ano para R$59.2 bilhões até 2024 (TURNER,

2014a). Os gastos com viagens de lazer também estão projetados para

aumentar de 3,3% em 2014 para R$260.7 bilhões e aumentar até 4% ao ano

para R$387.4 bilhões em 2024 (TURNER, 2014a). As despesas com viagens

domésticas corresponderam a quase totalidade (94,9%) do PIB direto em

viagens e turismo em 2013 versus 5,1 % de tráfego de visitantes (i.e. despesas

de visitantes estrangeiros ou receitas do turismo internacional) (TURNER,

2014a).

Calcula-se que as despesas com viagens domésticas irão aumentar

de 2,8% em 2014 para R$287.4 bilhões, e ainda aumentar de 3,6% ao ano

para R$408 bilhões em 2024 (TURNER, 2014a). Da mesma forma, o tráfego

de visitantes aumentará de 11,7% em 2014 para R$16.7 bilhões, e aumentará

ainda mais significativamente de 8,7% ao ano para R$38.6 bilhões em

2024 (TURNER, 2014a).

Page 101: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

69

A seguir, examinaremos as questões relacionadas à economia da

cultura e ao empreendedorismo.

1.4. ECONOMIA DA CULTURA E EMPREENDEDORISMO

1.4.1. ECONOMIA DA CULTURA

Para falar e entender de Economia da Cultura, precisamos, antes de

tudo, nos conscientizar de que a cultura pode ser compreendida e definida de

diferentes maneiras (conforme mencionado anteriormente). Para Deheinzelin

(2006), apesar do conceito de cultura estar mais próximo a uma visão

antropológica, entendendo cultura como “um conjunto de características

distintas, espirituais, materiais, intelectuais e afetivas que caracterizam uma

sociedade ou grupo social. Abarca, além das artes e das letras, os modos de

vida, os sistemas de valores, as tradições e as crenças.” (DEHEIZELIN, 2006,

p.1), porém, do ponto de vista prático, cultura não pode ser tudo, mas “aquilo

que constrói e transforma mentalidades e hábitos”. (DEHEIZELIN, 2006, p.2)

Sendo assim, utilizaremos algumas definições de Economia da

Cultura que partem de compreensões diversas do que seja cultura. Talvez a

definição mais didática seja a da Comissão Europeia, que nos mostra dois

conceitos que nos ajudam a diferenciar a Economia da Cultura da Economia

Criativa. (GORGULHO et al.,2009) Ela concebe a existência de dois setores, a

saber: os setores culturais e os setores criativos. Os primeiros entendem

cultura como arte e geram bens e serviços a partir da produção artística (Ex:

pinturas, exposições, espetáculos, livros, CDS, DVDS, entre outros). Os últimos

entendem cultura como um conjunto de crenças, valores e hábitos de uma

determinada sociedade e a tem como um insumo para a produção de bens

funcionais (Ex: publicidade, arquitetura, design e moda). Portanto, existem as

atividades que trabalham a cultura e aquelas em que a cultura serve como um

insumo para a produção de bens e serviços não culturais.

Page 102: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

70

Para Gorgulho et al. (2009), a Economia da Cultura é capaz de

promover um desenvolvimento sustentável, pois não se utiliza de recursos

naturais, mas de inovação tecnológica, diversidade cultural e criatividade,

preservando, assim o patrimônio cultural para as futuras gerações. Os autores

ainda destacam que:

A economia da cultura é um setor gerador de efeitos transversais (spillovers) em várias outras atividades econômicas... Quanto maior o conteúdo cultural embutido na produção e na comercialização de bens e serviços, maiores serão seu valor e sua vantagem comparativa. Em outras palavras, a cultura está associada à inovação, à diferenciação e à agregação de valor. (Gorgulho et al., 2009, p.307)

E ainda:

E a economia da cultura representa isto: não apenas sustentabilidade e inclusão social, mas também geração de renda, trabalho, emprego, ou seja, um vetor de desenvolvimento sustentável, adequado aos atuais requisitos sociais, econômicos, regionais e ambientais do País. (Gorgulho et al., 2009, p. 353)

Dada a enorme quantidade de dinheiro que está em jogo, não é de

admirar que os crescentes números de faculdades e universidades estejam

vivenciando um aumento na demanda de alunos que procuram mais ofertas

curriculares que envolvam inovação e empreendedorismo (ACHARYA,

2013). A este respeito, Acharya aconselha que, "Cursos de empreendedorismo

e programas podem dotar os estudantes com uma vasta gama de habilidades

valiosas, incluindo o desenvolvimento de plano de negócios, marketing,

networking, atraindo financiamento (como ‘Angels’) e estabelecendo uma

ligação com os líderes empresariais locais. Algumas universidades estão

oferecendo bacharelado e os programas de mestrado com concentrações em

inovação e empreendedorismo” (2013, p.127). Da mesma forma, as escolas

de negócios estão cada vez mais focando na promoção do empreendedorismo,

oferecendo cursos multi-disciplinares e aulas teóricas para alunos de todas as

disciplinas acadêmicas (ACHARYA, 2013). A aprovação, no entanto, continua

a ser uma questão problemática e muitas instituições de ensino que oferecem

estes tipos de programas têm relatado dificuldades no que diz respeito à

acreditação, à escassez de tempo e às orientações pertinentes à educação

para o empreendedorismo (ACHARYA, 2013).

Page 103: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

71

1.4.2. ESPÍRITO DE INICIATIVA

E EMPREENDEDORISMO CULTURAL

Segundo Limeira (2008), a definição de empreendedorismo cultural

está relacionada a várias áreas do conhecimento, desde a economia, a

administração, a sociologia e a psicologia. Ao citar especialistas nestas

respectivas áreas, a autora menciona algumas características do

empreendedor: “agente de inovação... capaz de realizar com eficiência novas

combinações de recursos”, “pessoa com alta necessidade de realização...

dotada de características de liderança, autoconfiança, flexibilidade, otimismo,

orientação a resultados e maior propensão a riscos, entre outras”. Contudo,

para compreender o que seja empreendedorismo necessita-se associá-lo a um

processo dinâmico e variável de acordo com os contextos sociais, culturais e

econômicos.

Já o conceito de empreendedorismo cultural surgiu na década de

1980 com Dimaggio ao estudar as diversas formas de organizações culturais e

o papel do empreendedor para a sustentabilidade das mesmas. (LIMEIRA,

2008) Temos, então, a visão atual do empreendedor cultural como um

articulador de redes sociais que tem a capacidade de conectar diversos atores

e recursos disponíveis na sociedade e no mercado, agregando valor à

atividade produtiva. (VALE et al.,2005 citados por LIMEIRA, 2008)

Todos os grupos artísticos são formados por empreendedores pelas

características do processo de criação artística de espetáculos. Todo

espetáculo é um empreendimento que exige estruturação e planejamento

desde a criação até as temporadas de apresentação, tem um ciclo de vida

como o de um produto em uma empresa, assim exige que os profissionais

sejam também preparados para administrar este processo. Entretanto, de

acordo com Gomes (2005), existe uma diferença fundamental entre o

empreendedor cultural e o artista. Este último preocupa-se apenas com a

criação e produção cultural, enquanto que a preocupação do primeiro vai além

e envolve a distribuição e venda do produto ou serviço cultural.

Page 104: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

72

Para Deheinzelin (2006), apesar de o Brasil ser dotado de uma

enorme riqueza cultural, não se consegue transformar essa riqueza em

potencial econômico e social, pois ainda existe certo preconceito entre o

mundo dos negócios e o mundo da cultura, haja vista que ‘viver de cultura’ em

nosso país é para poucos. Nessa óptica, o empreendedor cultural tem

trabalhado baseando-se nas diferenças e não nas semelhanças, o que é uma

pena já que os problemas enfrentados, na maioria dos casos, são os mesmos:

dificuldade de distribuição e de se manter uma continuidade, necessidade de

visibilidade e, sobretudo, falta de credibilidade.

Uma característica muito relevante no caso de companhias das

teatro e dança é que existe uma grande demanda por espaço físico, para

ensaios, armazenamento de cenários, figurinos e equipamentos, e isso pode

tornar o processo mais caro ou barato dependendo da valorização imobiliária

de cada cidade. Contudo, diferentemente de outras empresas, não se pode

começar em um escritório pequeno e horizontalizar o processo de produção,

como fazem indústrias e outros segmentos do setor de serviços.

Maria Helena Cunha (2011) alega que, para discutirmos sobre a

formação do profissional de cultura, faz-se necessário uma reflexão acerca do

que ela chama de binômio cultura/educação, entendendo esta última como um

“processo contínuo de aquisição de conhecimentos e como direito de

cidadania, na perspectiva de construção de um real caminho para a

consolidação de uma política cultural democrática e voltada para a

transformação social”. (CUNHA, 2011, p. 95-96)

A autora também acredita que para se estruturar um programa

completo de formação para o campo da cultura, é preciso “investir em

capacitação especializada, o que significa considerar toda a cadeia produtiva

do setor cultural” (CUNHA, 2011, p. 96) Deve-se preocupar também com a

classe artística que necessita não somente de um investimento em sua

formação, mas também de condições para exibir sua arte.

De acordo com Durand (1996), aqui no Brasil, além de existir uma

falta de preocupação política com a cultura, sendo este tópico quase que

esquecido nos palanques eleitorais, há uma escassez de recursos destinados a

Page 105: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

73

ela e aqueles que existem são mal aproveitados. Para o autor, para que a

vontade política ajude a cultura a prosperar, necessita-se de duas condições:

uma continuidade administrativa e uma formação adequada ao profissional de

cultura.

Quatro princípios parecem resumir o que se pode esperar de uma política cultural democrática e eficiente: qualidade, diversidade, preservação de identidades e disseminação de valores. (Durand, 1996, p.7)

Ainda, segundo o autor, esta profissionalização depende da oferta

de bons cursos de comunicação e arte e de administração pública e negócios,

além de profissionais que façam uma ponte entre empresas e cultura, e que

ajudem na confecção e manejo de leis de incentivo fiscal, na criação de

programas de estímulo ao mecenato particular e na disseminação de

seminários e debates que mostrem às empresas os benefícios do patrocínio à

cultura.

Acreditamos que as grandes barreiras para o desenvolvimento da

formação profissional dos artistas são a falta de cursos e disciplinas básicas

nos cursos de graduação ou até mesmo de cursos técnicos profissionalizantes.

Atualmente, existe uma grande quantidade de cursos de pouca duração e de

baixa qualidade.

Mesmo os artistas que não têm interesse ou vocação para serem

bons produtores executivos precisam compreender o processo como um todo,

para que, no momento em que os recursos para contratação de profissionais

especializados são obtidos, ele tenha condições de saber o que deve cobrar no

dia a dia de cada profissional e saber também o quanto o profissional irá cobrar

pelos serviços. Essa é uma necessidade latente de conhecimento para que o

processo de produção artística chegue ao final com o melhor resultado nos

palcos, nas contas e criando perspectivas de futuro.

Mas Cunha (2011) ainda ressalta que “toda a cadeia produtiva só

se completa com um elemento fundamental, ou seja, o público consumidor de

cultura”. (CUNHA, 2011, p.96) Nesse sentido, a formação de público também é

fundamental, logo se torna vital democratizar o acesso do público aos bens

culturais, o que leva à integração social. Entretanto, no caso específico do

Page 106: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

74

gestor cultural, a autora acredita que além de um processo contínuo de

formação, o profissional, atualmente, tem o desafio de gerir de forma

democrática o setor cultural, seja ele público, privado ou de organizações da

sociedade civil.

Podemos entender como processo formativo do gestor cultural necessidade de trabalhar sob dois aspectos complementares: em um primeiro aspecto se desenvolve a capacitação profissional e técnica para garantir a aplicabilidade de políticas culturais que exijam uma complexidade maior de competências estratégicas e também executivas e, simultaneamente, o desenvolvimento de um processo contínuo de sensibilização para a compreensão do universo da cultura e da arte. Essa formação é que diferencia o gestor como profissional da cultura e contribui para a construção de seu perfil. (Cunha, 2011, p.99)

Dessa forma, Durand (1996) também resume as características

de um bom profissional de cultura ou ‘agente cultural’:

Ter uma formação sólida e um espírito versátil;

Definir prioridades: na confecção, no acompanhamento de

projetos culturais e no contato com autores, artistas e

intermediários;

Analisar a lógica econômica da cultura em sociedades nas quais

existam a cultura de elite, a indústria cultural e a cultura popular;

Entender os regimes políticos e as relações entre o Estado e a

cultura;

Compreender o alcance e os limites do patrocínio privado à

cultura;

Perceber que os bens culturais são diferentes dos bens

econômicos, logo o marketing cultural não é, simplesmente, uma

extensão do marketing;

Fazer uso da internet: para pesquisas e acompanhamento de

projetos, por exemplo;

Conhecer direitos culturais, direito de autor, incentivos fiscais à

cultura e proteção do patrimônio, entre outros e, sobretudo, conhecer os

gêneros culturais de seu país, bem como o que sua época tem a oferecer no

campo cultural e de que recursos administrativos dispõem;

Page 107: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

75

Conhecer não só o gênero do seu país, mas também aquilo que o

tempo tem a oferecer na área da cultura e que recursos

administrativos podem ser utilizados (ZAPALSKA & EDWARDS,

2001).

A pesquisa até agora relativa à economia criativa têm geralmente

sido focada na associação entre cultura e política cultural, porque o conceito de

‘criativo’ é sinônimo de ‘artístico’ e ‘cultura’ em algumas instâncias (GWEE,

2009). Por outro lado, o empreendedorismo está virtualmente sempre

localizado dentro do domínio do mundo dos negócios e geralmente envolve

algum tipo de troca no mercado aberto, consequentemente atribuindo-lhe um

nível de importância econômica (GODWYN, 2009). A este respeito, Godwyn

observa que, "O empreendedorismo arriscado, emocionante e acelerado não

só representa compromisso com o mundo exterior, mas também uma tentativa

de mudar o mundo de acordo com uma determinada visão" (2009, p.37).

As comparações da noção de empreendedorismo aplicadas

ao setor cultural fez com que, em algumas faculdades e universidades fosse

oferecida aos investidores de start-up uma parceria com empresas de

tecnologia inovadora, mas ainda há algumas questões envolvidas na

formulação de abordagens eficazes para fazer o mesmo para instalações

culturais (YAN, 2010).

A maioria das pesquisas até agora relacionada às variáveis que são

mais influentes em promover atividade empreendedora tem-se concentrado em

fatores tais como: condições econômicas regionais, a disponibilidade de

capitais humanos, sociais e financeiros e a dinâmica da população, e

promover o empreendedorismo tornou-se cada vez mais popular entre

pesquisadores do desenvolvimento econômico (GOETZ, PARTRIDGE,

DELLER E FLEMMING, 2010). Esta concentração sobre o empreendedorismo

representa um aspecto particularmente importante das estratégias de

desenvolvimento baseadas em lugar e são relevantes para locais onde falta

turismo natural ou atributos culturais (LOVERIDGE & MILLER, 2012). Como

Loveridge e Miller aconselham, "Medir o empreendedorismo não é um exercício

simples. Pesquisadores usam vários proxies para atividade empresarial, tais

Page 108: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

76

como o número de pequenas empresas ou de patentes. No entanto, pouco se

sabe sobre o que contribui para atitudes empreendedoras ou como a política

pública pode influenciar tais atributos" (2012, p.210).

O que se sabe ao certo é que as atitudes do público sobre o

empreendedorismo servem para influenciar a natureza do ambiente

empresarial de comunidades que emergem de maneiras diferentes. Por

exemplo, nas comunidades onde o empreendedorismo é apoiado por

empresas locais, é mais provável que os recursos dos contribuintes sejam

alocados para enpreendedorismos locais (LOVERIDGE & MILLER, 2012).

Como Loveridge e Miller apontam, "Uma melhor compreensão das atitudes

sobre o empreendedorismo entre o público em geral, independentemente do

seu interesse em iniciar um negócio próprio, podem ajudar a criar políticas que

desfrutem de mais apoio por parte do público. Isso levanta a questão de se

saber se os passos para promover uma mudança de atitudes empreendedoras

podem influenciar as trajetórias do desenvolvimento econômico" (2012, p. 212).

A fim de avaliar o efeito real das políticas locais na atividade empreendedora, é

importante identificar até que ponto essa política tem sido associada

com mudanças na atitude do público e determinar em que medida a mudança

de atitude serviu para afetar a formação e o desenvolvimento de empresas. A

este respeito, Loveridge e Miller recomendam que, "O ponto de partida é o de

explorar como medir as atitudes da comunidade em relação ao

empreendedorismo" (2012, p. 213).

Segundo Gupta e Fernandez (2009), a maioria dos estudos até

agora sobre empreendedorismo está centrada no empreendedorismo

internacional, definida como o estudo "da descoberta, representação, avaliação

e exploração de oportunidades para além das fronteiras nacionais, a fim de

criar bens futuros e serviços" (p. 304).

Grande parte do foco que foi gerado como resultado desta pesquisa

inicial resultou na formulação de um grande número de áreas de interesse,

incluindo: empreendedorismo corporativo, iniciativas para o desenvolvimento

econômico, características e atributos empreendedores, orientação

empreendedora, exportação, franquias, novos empreendimentos, economias

Page 109: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

77

de transição e financiamento de capitais de risco (GUPTA & FERNANDEZ,

2009, p. 305).

Incluir um estudo dos próprios empreendedores em suas pesquisas tem

sido uma tradição para muitos pesquisadores de empreendedorismo

internacional devido, em grande parte, à falsa noção de que havia um número

ilimitado de empreendedores disponíveis em um dado momento e que a

motivação para a atividade empreendedora podia ser comparada através das

culturas e do tempo (GUPTA & FERNANDEZ, 2009). Felizmente, a pesquisa

sobre empreendedorismo internacional foi além destes primeiros conceitos

equivocados e a pesquisa já é capaz de levar em conta fatores como incentivos

econômicos, o ambiente regulador, a disponibilidade de insumos

complementares, bem como a disponibilidade de informações para avaliar o

ambiente em que o empreendedorismo é mais incentivado (GUPTA &

FERNANDEZ, 2009). As definições de empreendedorismo internacional que

são encontrados na gestão estratégica e nos negócios internacionais também

têm tendência a se concentrar sobre as empresas e no ambiente no qual elas

competem, mas ainda há uma lacuna no acervo de conhecimentos sobre os

empreendedores e como eles traçam seu caminho para o sucesso neste

ambiente desfiador e cada vez mais globalizado (GUPTA & FERNANDEZ,

2009).

Atualmente, os pesquisadores do empreendedorismo internacional

estão cada vez mais centrados sobre os próprios empreendedores, bem como

em suas empresas, nos mercados em que competem e no cenário

nacional também (DIMITRATOS & JONES, 2005). Da mesma forma, outros

pesquisadores têm ampliado o âmbito do campo do empreendedorismo

internacional a fim de concentrar esforços no entendimento da

conjuntura entre os empreendedores e as oportunidades que eles descobrem

(DIMITRATOS & JONES, 2005).

Enquanto a pesquisa em empreendedorismo internacional continua,

um número crescente de evidências confirma que, "O empreendedorismo

cultural é um cenário ‘win-win’, desenvolvendo novas platéias, bem como a

oportunidade para criar receitas para investir em conteúdo cultural" (TULLEN,

Page 110: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

78

2012, p.1). Além disso, já foi claramente estabelecido que, "Mesmo em meio a

esta crise econômica, a procura de conteúdos culturais, marcas e experiências

estão em plena expansão. Suprir esta demanda do consumidor não é apenas

reservado para as grandes organizações. Empreendedorismo significa que o

campo de jogo pode ser nivelado" (TULLEN, 2012, p.2).

Como observado anterormente, a indústria de viagens e turismo em

alguns países geriram a grande recessão de 2009 melhor do que os outros

setores e o empreendedorismo cultural começa a gerar um enorme retorno

sobre investimentos inteligentes neste domínio. Por exemplo, Tullen acrescenta

que, "Tome a economia da experiência, onde os consumidores procuram

experiências ‘reais’, em parte para compensar a mundos cada vez mais

digitais. O setor cultural tem sido rápido em responder e comandar esta

tendência. As organizações culturais devem ainda ter a confiança para pensar

grande e desafiar a recessão" (2012, p.2).

Como Tullin conclui, "O ponto de intersecção entre a cultura, a

tecnologia e o empreendedorismo é o local onde algumas das melhores ideias

estão surgindo. Os atuais níveis de inovação em cada um destes setores

individualmente são velozes, mas ao colocar essas tendências juntas, remixar

e fazer a correspondência, fará com que as oportunidades se tornem mais

emocionantes" (2012, p.3). Embora o turismo cultural possa incluir uma vasta

gama de ofertas, os tipos de produções que estarão disponíveis nas cidades

universitárias provavelmente estarão focadas em produções artísticas com

base nos programas de instrução existentes, e essas questões serão

discutidas mais adiante.

1.5. TURISMO CULTURAL E O PAPEL DAS PRODUÇÕES

ARTÍSTICAS

Efeitos Econômicos e Sociais Positivos do Turismo Cultural.

Em qualquer medida, pode-se dizer que viagens e turismo são muito

antigos, e a humanidade sempre foi fascinada por encontrar o que está além

da próxima montanha. Esta tendência tem sido verificada através do registro

Page 111: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

79

arqueológico, e o registro histórico está repleto de exemplos de pessoas que

fizeram viagens longas por interesses pessoais e por prazer. A este respeito,

Ballengee-Morris (2009) relata que, "As pessoas têm viajado desde o início das

civilizações. Isso foi estabelecido por explorações arqueológicas e pesquisas

genéticas.

Hoje, viagens e turismo são muito mais populares devido às

inovações tecnológicas nos sistemas de viagens e nas telecomunicações

desde o final da Segunda Guerra Mundial, que acelerou os processos de

inovação, tornando essa indústria uma das maiores do mundo, se não for a

maior (BALLENGEE-MORRIS, 2009). Como resultado, a indústria mundial de

viagens e turismo é uma indústria muitimilionária que tem poucos paralelos. A

este respeito, Ballengee-Morris enfatiza que, "Não há nenhuma outra indústria

contemporânea que tenha tido um impacto tão grande em muitos aspectos da

sociedade. Muitas cidades, estados e países se esforçam para atrair turistas.

Arte, museus, entretenimento, lazer, alimentação, vestuário e a língua são

especificamente oferecidos, alterados ou adaptados para a indústria do

turismo" (2009, p. 233).

Embora as inovações em viagens e nas telecomunicações tenham

ajudado a impulsionar o rápido crescimento da indústria de viagens e turismo

nas últimas décadas, o processo realmente começou a aumentar rapidamente

durante a Revolução Industrial, que introduziu outras inovações

tecnológicas que contribuíram para a facilidade com que as pessoas pudessem

se mover de um local para outro. Por exemplo, Finger (1991) relata que, "A

Revolução Industrial ajudou a estabelecer o turismo como uma indústria de

várias maneiras. Os avanços tecnológicos aumentaram a disponibilidade de

transporte confortável e acessível como trens e navios. Mais tarde, o automóvel

revolucionou não apenas as oportunidades de viajar, mas a paisagem também

mudou com o aparecimento dos outdoors, motéis e lanchonetes" (1991, p. 91).

Além disso, a Revolução Industrial também previu o moderno

ambiente para a indústria de viagens e turismo porque as pessoas tinham mais

rendimento disponível para se dedicar a atividades de lazer (BALLENGEE-

MORRIS, 2009). Segundo Ballengee-Morris, viajar para fins culturais tornou-se

Page 112: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

80

cada vez mais popular no final do século XVIII. A título de exemplo, este

pesquisador relata que, "Nos Estados Unidos, viajar era uma maneira de obter

'cultura' e que foi extremamente importante para as pessoas do ‘dinheiro

novo’ da Era Industrial. Novos negócios exigiam trabalhadores e expansão

física, o que exigiu migração. Membros da família que se deslocavam para

outras regiões incentivavam visitas. Hotéis, pousadas, pensões, restaurantes,

bares e pontos de interesse se tornaram uma parte da expansão" (p. 234).

Mesmo que as tendências anteriores tivessem sido altamente generalizadas,

elas representavam alguma indicação das tendências que se seguiria ao fim da

Segunda Guerra Mundial e o começo das viagens e do turismo modernos e

informatizados como são conhecidos hoje (BALLENGEE-MORRIS, 2009).

As pesquisas em viagens e turismo recentes também confirmam que

existe uma associação direta entre os turistas e as lembranças que eles

compram e /ou colecionam, com recordações que possuem grande significado

simbólico (BALLENGEE-MORRIS, 2009). De acordo com Adams (1995), as

empresas que desenvolvem lembranças para a indústria de viagens e turismo

tentam replicar esses símbolos em formato tangível para representar os

lugares, pessoas, culturas e/ou a experiência com eventos turísticos. A este

respeito, Adams aconselha que, em alguns casos, as lembranças também

representam experiências pessoais como uma foto tirada em um famoso local

e colocada em canecas ou camisetas. Em outros casos, as lembranças são

utilizadas como um meio de comunicar classe, cultura, religião e outros fatores

que estão associados com a condição humana (Adams, 1995). De especial

interesse para as cidades universitárias, neste estudo Adams também observa

que, "Muitos lugares históricos apresentam eventos/locais, oferecendo uma

programação relacionada ao patrimônio histórico, como reencenações,

concertos e artes para as famílias" (1995, p.38).

Uma vasta gama de ofertas, tais como festas, carnavais,

acampamentos e oficinas participativas estão sendo fornecidas por empresas

de turismo cultural (BALLENGEE-MORRIS, 2009). Aqui novamente a

importância das lembranças como um componente da experiência do turismo

cultural é salientada. A este respeito, Ballengee-Morris relata que, "Souvenirs

Page 113: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

81

que simbolizam educação ou componentes culturais tornam-se uma parte das

ofertas e estratégias de marketing. Nos Estados Unidos, 500 milhões de

pessoas visitam museus e milhões mais visitam feiras de artesanato e

mercados de arte e festivais a cada ano" (2009, p.38). Além disso, mesmo os

souvenirs de preço modesto, mas muito populares, podem gerar uma enorme

quantidade de receitas: "Com mais de 500 milhões de pessoas como possíveis

consumidores nesta área do turismo, a renda potencial é incrivelmente alta.

Turistas procuram resgatar memórias de suas experiências e eles muitas vezes

são motivados a comprar lembranças para lembrá-los dessas

experiências" (BALLENGEE-MORRIS, 2009, p.38).

A fim de capturar a maior parte deste grande mercado de souvenirs,

os profissionais de marketing devem ter em conta quais os aspectos do destino

são mais proeminentes na mente dos turistas e dar forma as suas ofertas de

souvenirs ao longo destas linhas. A este respeito, Ballengee-Morris (2009)

informa que, "A fim de incentivar os turistas a comprar, as apresentações e as

informações sobre esses itens devem ser bem pensadas. A mercadoria

turística contém valores sociais, étnicos e religiosos que muitas vezes são

desconhecidos e passam despercebidos pelo comprador" (p. 38). Da mesma

forma, Adams (1995) concorda que muitos turistas compram souvenirs como

prova de que ‘eles estiveram lá’, além de fornecer lembretes pessoais das suas

experiências e, em muitos casos, há lembranças adquiridas como decorações

para as casas dos turistas. Este aspecto prático dos comportamentos de

compra de souvenirs deve ser mantido em mente pelos promotores do turismo

cultural que, ao invés de se concentrarem nos aspectos estritamente culturais

do destino, deveriam pensar no que as pessoas querem e esperam encontrar

(ADAMS, 1995). Como Ballengee-Morris salienta, "As tradições culturais do

lugar muitas vezes são secundárias à decisão de compra. Compreender as

complexidades dos souvenirs requer uma exploração histórica, social, cultural

e/ou política, aplicável e ligada à sua manifestação cultural" (2009, p.38).

Da mesma forma, o ‘U.S. National Endowment for the Arts’ relata

que o impacto positivo das artes e da cultura na comunidade tem sido

reconhecido por milhares de anos ou mais (ARTS AND CULTURAL

Page 114: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

82

PRODUCTION, 2012). Segundo essas autoridades, "Não somente as suas

contribuições de ideias e criatividade para a economia de inovação, mas

também como uma parte importante da força de trabalho e do PIB de um

país" (ARTS AND CULTURAL PRODUCTION, 2012, p.1). Neste contexto, a

cultura é definida de modo a incluir crenças, tradições, linguagem e os

valores de uma sociedade, uma definição que é congruente com a

Organização das Nações Unidas e com a União Europeia (ARTS AND

CULTURAL PRODUCTION, 2012). Usando esta definição, o turismo cultural

claramente fornece uma série de importantes benefícios econômicos para as

comunidades com locais de interesse cultural como as universidades e os

museus (SILBERBERG, 1995).

Embora eles possam resistir a períodos de crise econômica melhor

do que outras indústrias, os gestores do destino do turismo cultural devem

continuamente pesquisar o ambiente concorrencial para identificar áreas de

interesse de visitantes nacionais e internacionais (SILBERBERG, 1995).

Embora cada destino cultural seja único de alguma forma, há algumas

orientações sólidas disponíveis que podem ajudar a direcionar o processo,

como, por exemplo, estarem abertos às abordagens empreendedoras

enquanto continuam a atender às questões importantes sobre preservação do

patrimônio e educação”. (1995, p. 362).

Muitas autoridades sustentam que, apesar dos desafios que estão

envolvidos, o momento é propício para ofertas de destinos culturais. Por

exemplo, Walle (1998, p.40) salienta que, "Embora, no passado, o turismo

cultural não tenha sido particularmente um ramo de perfil elevado da indústria

de turismo/hotelaria, seu dia chegou". Esta afirmação positiva baseia-se nos

resultados de um número de iniciativas promocionais de destino cultural

internacional do Banco Mundial, entre outros (WALLE, 1998). Como resultado,

Walle relata que, "O tipo de trabalho que profissionais do turismo cultural

realizam é cada vez mais exigido para que as necessidades específicas das

comunidades de acolhimento sejam estudadas, analisadas e influenciadas

quando estratégias de desenvolvimento são confeccionadas e

implementadas" (1998, p. 41). Além disso, com o número de turistas culturais

Page 115: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

83

aumentando, o desejo de proteger os recursos culturais também aumenta

(WALLE, 1998).

Há também algumas outras consequências sérias envolvidas na

promoção do destino de turismo cultural e essas questões serão discutidas

mais adiante.

Efeitos Sociais e Econômicos Negativos do Turismo Cultural.

Por um lado, viagens e turismo podem contribuir para a

diversificação e rentabilidade econômica de uma comunidade através de um

aumento das possibilidades de emprego, da expansão dos serviços urbanos

básicos e aumentar a paridade econômica entre populações urbanas e

rurais (do PACO & ALVES, 2012). Por outro lado, no entanto, o turismo

cultural também pode criar ou contribuir para a realização de uma série

de efeitos negativos e resultados adversos, incluindo o aumento dos níveis de

poluição do ar, da água e do ruído, mais lixo e problemas na eliminação de

resíduos sólidos, maior consumo de água e congestionamento de trânsito,

atividades criminais, danos ambientais como a erosão do solo e da praia e um

menor sentido de autenticidade (do PACO & ALVES, 2012).

Não obstante estas restrições, a indústria de viagens e turismo irá

provavelmente seguir padrões de crescimento projetados que irão ver a

indústria crescer em tamanho até 4,3% ao ano durante o período de 2008

a 2017 (do PACO & ALVES, 2012). Como Ringer (1998, p.8) aponta, "Na

verdade, a taxa de crescimento exponencial do turismo nos últimos anos --

aquela que tem defensores que agora anunciam ter a maior indústria de

serviços do mundo - tem sido estimulada pela expansão do interesse em

viagens, como uma alternativa econômica viável para as comunidades e a

tendência para uma maior conservação ambiental em países em todo o

mundo". Da mesma forma, Comunion and Mould (2014) enfatizam que, "Outra

questão importante colocada pela literatura sobre as comunidades artísticas e

a sua ligação com a regeneração refere-se à dinâmica da valorização e do

deslocamento causados pelo turismo e pela remodelagem da cultura de áreas

específicas da cidade" (2014, p.66).

Page 116: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

84

O menor sentido de autenticidade pode representar uma das

maiores ameaças para a viabilidade de um destino de turismo cultural. A este

respeito, Ringer (1998, p.8) explica, “É o desejo crescente entre as pessoas

estarem envolvidas em experiências interativas e significativas com a

população local em outras comunidades e culturas”. Em suma, é possível para

um destino de turismo cultural tornar-se muito popular muito rapidamente até o

ponto em que a sua popularidade destrói o que o torna popular em primeiro

lugar.

De acordo com Ringer, há tanto processos intencionais quanto não

intencionais envolvidos no desenvolvimento do ‘mercado de viagens’ através

"da estrutura física e da disposição do ambiente construído" e "a utilização do

turismo como um mecanismo importante para definir aquilo que é natural ou

culturalmente autêntico e sustentável" (1998, p.8). Não existe um consenso

geral, no entanto, de que o turismo cultural pode ajudar a proteger e sustentar

atributos culturais quando cuidadosamente administrados e geridos, mas ainda

há uma escassez de estudos sobre como o aumento nos níveis de turismo

podem afetar negativamente os destinos do turismo cultural (RINGER, 1998).

Segundo este mesmo autor, existe uma indissociável inter-relação

entre viagens e turismo e ofertas culturais que deve ser levada em

consideração. A este respeito, Ringer (1998, p.1) assinala que, "A realidade, no

entanto, é que o turismo é um processo cultural, tanto quanto é uma forma de

desenvolvimento econômico e o destino do turista e a paisagem inabitada da

cultura local são agora completamente indissociáveis". Portanto, um elemento-

chave na determinação dos efeitos negativos do turismo cultural é reconhecer

a dura realidade que a indústria gera em vez de obter estes resultados sob o

pretexto de fazer negócios. Como Ringer conclui, "Continuando, em vez disso,

a tratar o turismo como exógeno em vez de centrado e construído no lugar,

geógrafos e outros especialistas sociais se arriscam a ignorar a medida e a

forma pela qual o turismo tanto estabelece quanto falsifica a realidade

local" (1998, p.1).

Segundo Smith, quase tudo pode ser identificado como turismo

cultural e promovido como tal, com resultados sendo previsivelmente ótimos. A

Page 117: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

85

esse respeito, Smith aconselha que, "É relativamente fácil cair na armadilha de

usar termos como ‘turismo de patrimônio', 'turismo de artes’, ‘turismo étnico' ou

'turismo' quase como sinônimos. Acredita-se que o turismo cultural é, na

verdade, mais amplo no âmbito das suas competências, mas que talvez haja

uma necessidade de diferenciação no âmbito do setor do turismo cultural" (p.

263). A esse respeito, Smith (2005, p. 29) sugere que o turismo cultural

compreende: “... não apenas o consumo de produtos culturais do passado, mas

também da cultura contemporânea ou da ‘forma de vida’ de um povo ou região.

O turismo cultural pode, por conseguinte, abranger tanto o ‘turismo de

patrimônio’ (relacionado aos artefatos do passado) quanto 'turismo de artes’

(relacionado com a produção cultural contemporânea)".

Claramente, a noção de passado e presente implica que o turismo

cultural esteja baseado sobre a história e o patrimônio de um lugar e seu povo,

assim como em suas vidas contemporâneas e até mesmo na forma através da

qual eles tendem a se comportar. No entanto, as artes e a cultura estão

intimamente associadas de diferentes maneiras, de forma que diferenciá-las se

torna um exercício de semântica, especialmente em situações em que as

visões de mundo são tão fundamentalmente diferentes que escapam de uma

fácil categorização de uma perspectiva ocidental (SMITH, 2005). Além disso,

Smith chama a atenção para o fato de que "Muitas tradições dentro das artes

formam um distinto elemento do patrimônio de um povo ou de um lugar. Isso é

especialmente verdadeiro no caso de fabricação artesanal ou dos festivais.

Mesmo em cidades históricas (por exemplo, na Itália), é difícil distinguir entre o

patrimônio e o componente das artes no produto do turismo cultural" (2005,

p.30). Porque a cultura é um aspecto tão amplo da condição humana que

muitos dos atributos de uma comunidade podem ser aproveitados para servir

como ofertas do turismo cultural.

Em algumas definições, o turismo cultural é por necessidade uma

empresa experimental que apenas acontece para incorporar artes e

aprendizagem de maneiras significativas (SMITH, 2005). As definições de

turismo cultural desenvolvidas até agora sobrevalorizaram o turismo cultural na

forma mais restritiva, especificando a inclusão de museus, monumentos,

Page 118: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

86

galerias de arte e teatros como atributos culturais (SMITH, 2005). A esse

respeito, Smith (2005) menciona uma definição conceitual que proporciona

uma visão mais informada da cultura como um modo de vida: "Definição

Conceitual: O movimento de pessoas em manifestações culturais fora do seu

local habitual de residência, com a intenção de reunir novas informações e

experiências para satisfazer as suas necessidades culturais" (CITADO EM

SMITH, 2005, p.30).

Não obstante o carácter geral desta definição, ela indica que turistas

culturais estão mais interessados nas características experimentais da cultura

e, quando aplicadas a um ambiente internacional, isso significa a cultura dos

cidadãos locais e a forma como eles vivem (SMITH, 2005). Na realidade,

porém, é uma tarefa exigente distinguir entre os dois tipos de turismo cultural

porque ambos os tipos de turismo esperam que os viajantes sejam motivados,

principalmente, pela experiência empírica com pessoas cuja cultura ou

contexto cultural seja diferente da sua (SMITH, 2005).

A definição utilizada por Zadel e Bogdan é mais simples do que as

gradações na definição proferida por Smith (2005) e simplesmente afirma que,

"No turismo cultural, bens culturais são preparados e colocados no mercado do

turismo, ou seja, recursos culturais são transformados em produtos de turismo

cultural. O principal objetivo é satisfazer as necessidades dos turistas e

conseguir efeitos positivos que incluem efeitos econômicos" (ZADEL &

BOGDAN, 2013, p.355). Determinar o impacto econômico do turismo cultural

representa uma parte importante do processo, já que atributos culturais são

recursos valiosos das comunidades locais que devem ser protegidos, como

parte de uma abordagem holística para a promoção do turismo cultural (ZADEL

& BOGDAN, 2013).

Da mesma forma, a Organização Mundial do Turismo das Nações

Unidas (UNWTO) definiu o turismo cultural em 1985 como: “... viagens

motivadas pela cultura, tais como estudo, teatro e passeios culturais, viajar

para festivais e outros eventos similares, além de visitar localidades e

monumentos históricos, viajar a fim de explorar a natureza, o folclore ou a arte

e peregrinações" (CITADO EM TOMLJENOVIC, 2006, p. 121). Além disso, a

Page 119: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

87

Organizacão Mundial do Comércio das Nações Unidas confirma também que

40% de todos os turistas internacionais são turistas culturais (BRIDA,

MELEDDU E PAULINA, 2013). Tomadas em conjunto, é fácil de ver como os

efeitos econômicos e sociais do turismo podem ser vistos como tendo efeitos

positivos e negativos (ZADEL & BOGDAN, 2013).

Embora ainda haja alguma controvérsia sobre como definir

precisamente o turismo cultural, é claro que a cultura representa um elemento

vital de todo o produto turístico que é oferecido pelas comunidades e é um dos

aspectos mais importantes do seu destino que pode ser aproveitado para o

turismo com fins promocionais (HENNESSEY & YUN, 2014). Uma análise das

forças que estão no local de trabalho para moldar produtos culturais pode servir

para determinar as razões de o turismo cultural ser um elemento importante de

certos destinos turísticos (HENNESSEY & YUN, 2014). A partir desta

perspectiva mais ampliada, o turismo cultural pode ser entendido como

abrangendo todos os aspectos da viagem nos quais os turistas têm a

oportunidade de aprender algo sobre o destino da história cultural e do modo

de vida (HENNESSEY & YUN, 2014). A este respeito, Hennessey e Yun

(2014, p.16) relatam que, "Assim, fatores culturais no contexto do turismo

incluem entretenimento, comida, bebida, hospitalidade, arquitetura, produtos

artesanais e fabricados de um destino e todas as outras características do

modo de vida de um destino. Cultura também inclui padrões de família, folclore,

costumes sociais, museus, monumentos, estruturas criadas ao longo da

história, pontos turísticos, áreas selvagens, paisagens, edifícios históricos e

artefatos".

O impacto econômico do turismo cultural pode ser analisado a partir

dos níveis macro e microeconômico (BRIDA et al., 2013). Segundo Zadel e

Bogdan (2013, p. 356), "No nível microeconômico, o valor econômico do

turismo cultural pode ser definido como um grupo de benefícios para uma

determinada sociedade. O valor econômico do turismo cultural em nível

macroeconômico é refletido na estimulação de outros setores econômicos por

efeitos diretos, indiretos e induzidos". Consequentemente, é razoável supor que

o turismo cultural é um meio de desenvolvimento econômico porque o

Page 120: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

88

desenvolvimento do turismo cultural também estimula o desenvolvimento de

outras atividades econômicas que contribuem para o desenvolvimento

global dos destinos do turismo cultural (ZADEL & BOGDAN, 2013).

Os tipos de atividades de consumo das quais os turistas

culturais participam são diretamente relacionados a quatro fatores básicos:

(a) consumo médio, (b) tempo de estadia no destino, (c) atrações culturais,

e (d) atividades culturais no destino (MARCH E WOODSIDE, 2007). A este

respeito, Zadel e Bogdan (2013, p. 357) relatam que, "O impacto de um museu

como um produto de turismo cultural é relativamente fácil de estimar através

das variáveis do número de visitantes e do preço do bilhete. Ao contrário dos

museus, o impacto das festas ou eventos é muito difícil de ser estimado, dado

que a presença dos turistas em determinados festivais ou eventos não é

cobrada, mas quando tais eventos ocorrem, o benefício econômico é realizado

por outros suportes turísticos como hotéis, restaurantes e lojas".

Como observado acima, o impacto econômico do turismo cultural assume a

forma de impactos diretos, indiretos e induzidos (DWYER, FORSYTH &

DWYER 2010).

Segundo Jucan e Jucan (2013), os efeitos diretos do turismo cultural

são sentidos nos casos em que os turistas gastam dinheiro com atividades

relaciondas ao turismo, como, por exemplo, hotéis, restaurantes, transportes,

serviços de comunicação e pontos de venda a varejo. Este tipo de gastos dos

turistas gera rendimentos diretos, efeitos sobre o emprego, receitas públicas, e

algumas importações diretas de bens e serviços (JUCAN & JUCAN, 2013). Da

mesma forma, Zadel e Bogdan (2013, p. 357) notam que, "Os efeitos diretos

refletem-se em vantagens econômicas do turismo cultural individual que são

oferecidas aos titulares que recebem os benefícios vendendo produtos de

turismo cultural" enquanto que os "efeitos indiretos são os benefícios

obtidos por outras pessoas envolvidas com o turismo em que os turistas

culturais realizam o consumo”. Em contrapartida, os efeitos induzidos do

turismo cultural são o resultado dos seus efeitos diretos e indiretos e são uma

medida da quantidade de consumo que foi aumentada devido ao

turismo. Consequentemente, o impacto econômico total do turismo cultural é

Page 121: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

89

uma combinação destes impactos diretos, indiretos e induzidos (ZADEL &

BOGDAN, 2013).

Essas considerações são importantes quando se avalia o impacto

econômico do turismo cultural, porque os efeitos indiretos dos gastos do

turismo cultural podem ser significativamente maiores do que os efeitos diretos

em termos de ofertas do turismo cultural específico, tais como eventos

artísticos (ZADEL & BOGDAN, 2013). Em resumo:

A pesquisa recente chama a atenção para o problema de identificação e monitoramento do impacto econômico do turismo cultural. Existem duas linhas de pensamento. Alguns cientistas acham que o impacto econômico do turismo é impossível de ser estabelecido devido à natureza complexa do turismo que tem origem no entrelaçamento do turismo com outros setores. Outros autores acreditam que é difícil, mas é possível identificar o valor econômico do turismo cultural; no entanto, não há consenso sobre a forma e a identificação da contribuição (ZADEL & BOGDAN, 2013, p. 358).

A este respeito, Brida et al., (2013) fazem uma observação que diz

que a quantidade de consumo de ofertas culturais alcançada é um bom

indicador do grau de satisfação que os turistas culturais têm com o turismo

cultural. Nos contextos de turismo cultural, o consumo pode ser definido como

o "montante máximo de indivíduos que estão dispostos a pagar para visitar

certa atração turística" (BRIDA et al., 2013, p. 110).

No entanto, é importante observar que o consumo das ofertas do

turismo cultural difere de indivíduo para indivíduo (GALI-ESPELT, 2012). Um

aspecto importante do turismo cultural é que estes tipos de turistas

normalmente têm níveis mais altos de renda, contribuindo para a percepção de

que turistas culturais irão consumir em maiores quantidades e com maior

variedade (ZADEL & BOGDAN, 2013). Segundo Zadel e Bogdan (2013, p.

358), "O baixo consumo pode ser uma consequência do descontentamento dos

turistas, mas também uma consequência da política inadequada de preços de

determinados produtos de turismo cultural. O objetivo principal deve ser a

satisfação dos clientes, uma vez que os consumidores vão pagar certo preço

se o produto atende as suas exigências e necessidades".

Page 122: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

90

Em suma, alguns dos aspectos mais importantes do turismo cultural

que foram identificados até o momento incluem o seguinte:

Uma vez que o turismo cultural ocorre em todo o mundo,

sua conduta deve ser considerada globalmente;

Uma gestão adequada faz-se necessária;

Essa gestão deve reconhecer que a sociedade está

passando por grandes mudanças;

A maior dimensão da mudança é a grande diferença entre

aqueles com uma familiaridade com computadores e atividades

relacionadas e aqueles com pouco ou nenhum conhecimento de

informática;

A sociedade será multi-cultural;

A democratização produz um mercado de turismo em

massa ao invés de um mercado do turismo de elite;

A necessidade é de se alcançar a sustentabilidade;

Os aspectos religiosos e espirituais dos pontos turísticos

de cultura são fortemente significativos;

Com o crescente reconhecimento da importância

econômica do turismo para as nações, facções ou grupos, veio a

emergência da ameaça aos turistas, de serem vítimas ou aterrorizados

para ganho político ou outro;

O aumento do turismo cultural tem acontecido por causa

da emergência de pessoas de diversos grupos desfavorecidos como

turistas, produzindo uma crescente disparidade entre o Primeiro e o

Terceiro Mundo;

A quantidade de turismo deve ser distribuída mais

uniformemente, tanto do ponto de vista geográfico quanto longo de todo

o ano;

A Europa vai continuar a ser o principal destino dos turistas

do mundo;

Há uma nova ênfase no turismo rural;

Novos e modernos métodos e soluções são necessários;

Page 123: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

91

A tecnologia é de importância vital;

Cada vez mais, as informações serão comunicadas na

forma visual em vez da verbal; e

A educação e a formação são muito importantes.

(BONIFACE, 1995, pág. 110).

A grande maioria dos membros da Organização Mundial do

Comércio (OMC) enfatizam a importância econômica do turismo para as suas

economias nacionais, sobretudo no que diz respeito à sua contribuição para o

emprego e para atrair divisas estrangeiras (TOURISM AND TRAVEL-

RELATED SERVICES, 2014). Como observado acima, a avaliação do impacto

econômico do turismo e serviços relacionados a viagens inclui uma vasta gama

de atividades, incluindo os serviços prestados pelos hotéis e restaurantes

(incluindo a restauração), agências de viagens e serviços de operadores

turísticos, serviços de guia turístico e outros serviços relacionados (TOURISM

AND TRAVEL-RELATED SERVICES, 2014). A Organização Mundial do

Turismo relata que, "Um dos aspectos mais importantes do turismo

internacional é a circulação transfronteiriça de consumidores. Isso permite que

mesmo os trabalhadores não qualificados em áreas remotas se tornem

exportadores de serviços - por exemplo, por vender peças artesanais,

realizando espetáculos culturais ou trabalhando em uma

hospedaria" (TOURISM AND TRAVEL-RELATED SERVICES, 2014, p.2).

Da mesma forma, a Organização Mundial do Turismo relata que, em

2007, as visitas de turistas internacionais atingiram 903 milhões, um aumento

de 6,6% a partir de 2006. As receitas geradas por viagens e turismo elevou-se

a um inédito US$ 856 bilhões, um aumento em termos reais de 5,6% em

relação a 2006. A estimativa das receitas do transporte internacional de

passageiros (i.e., tráfego de visitantes) foi estimada em US$165 bilhões, o que

significa que o total de viagens internacionais e da indústria do

turismo elevou-se a mais de US$1 trilhão, um montante equivalente a cerca de

US$ 3 bilhões por dia. (TOURISM AND TRAVEL-RELATED SERVICES, 2014).

Alguma indicação de tendências recentes pode ser encontrada na Organização

Mundial de Viagens que observa que, "Em 1950, os top 15 destinos

Page 124: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

92

absorveram 98% de todas as visitas de turistas internacionais em 1970, a

proporção foi de 75%, e este caiu para 57% em 2007, refletindo o surgimento

de novos destinos, muitos deles em países em desenvolvimento" (TOURISM

AND TRAVEL-RELATED SERVICES, 2014, p.4).

1.6. CIDADES CRIATIVAS E A ECONOMIA CRIATIVA

Uma tendência importante que surgiu nos últimos anos é a

da chamada ‘cidade criativa’ que se concentra na promoção de uma cidade

em termos de suas ofertas criativas. As políticas de uma ‘cidade criativa’ dentro

de uma economia criativa têm focado na revitalização urbana e no

desenvolvimento econômico.

Os conceitos de ‘economia criativa’ e ‘indústria criativa’ derivam de

agendas políticas e das estratégias de desenvolvimento econômico. O termo

‘indústria criativa’ foi introduzido pela primeira vez e, em seguida, popularizado

nos Documentos de Mapeamento das Indústrias Criativas publicados pelo

Departamento de Cultura, Mídia e Esporte do Reino Unido em 1998 e 2001.

Desde então, esta definição de indústrias criativas e seus parâmetros

tornaram-se amplamente aceitos.

As indústrias criativas são "aquelas indústrias que têm sua origem

na criatividade, habilidade e talento individuais e que têm um potencial de

criação de riqueza e de postos de trabalho através da geração e exploração da

propriedade intelectual" (DEPARTMENT FOR CULTURE MEDIA & SPORT,

2001, p. 3). Essas atividades estão tradicionalmente ligadas às indústrias

culturais (por exemplo, arquitetura, cinema, indústria da música e edição) ou

aos próprios elementos da produção artística (por exemplo, teatro e artes

visuais), misturadas com outros tipos de indústrias que, por vezes, não são

imaginadas como sendo ligadas à criatividade, tais como publicidade, vídeo

games, desenvolvimento de software e serviços de informática (DEPARTMENT

FOR CULTURE MEDIA & SPORT, 2001).

Segundo Comuniuan e Mould (2014, p. 65), "Os projetos de

reabilitação liderados pela cultura, em especial os chamados 'flagship cultural

Page 125: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

93

developments’ na Europa têm recebido grande atenção da literatura na última

década. Um dos aspectos mais articulados deste desenvolvimento é sobre a

necessidade de se atualizar a imagem e a ‘marca’ da cidade”. Além disso,

Comunian e Mould apontam que, "Mesmo que muito menos atenção tenha sido

dada ao impacto dos ‘flagship cultural developments’ nos profissionais culturais

e locais criativos e a sua produtividade econômica, esta ligação é muitas vezes

vista como positiva, mas muito raramente é um mecanismo causal

questionado" (2014, p.65). Não obstante estes condicionalismos, Comuniuan e

Mould sugerem que existe uma clara preponderância de evidências de que

existe uma relação positiva entre o crescimento econômico e as instituições

‘flagship’, mas é necessária mais pesquisa nesta área, de forma a identificar as

especificidades (COMUNIUAN & MOULD, 2014).

Segundo a Beckman e Essig (2012), existem duas vertentes de

pensamento distintas sobre o empreendedorismo nas artes que têm sido

estudadas apenas em parte pela literatura acadêmica e pela prática dos

artistas que refletem os temas mais populares de empreendedorismo como

criação inovadora e como comportamento que se caracteriza pela capacidade

de reconhecer oportunidades e tomar medidas para capitalizar sobre ela,

sendo que este aspecto está diretamente relacionado com a capacidade de

cada um dos artistas em gerir seus negócios e tomar a iniciativa.

É evidente que as ofertas do turismo cultural como eventos artísticos

e atividades culturais têm um importante impacto cultural e social, mas têm se

tornado cada vez mais evidente, também, que essas ofertas têm um impacto

econômico correspondente. A este respeito, Herrero, Sanz, Devesa et al.,

(2006, p. 41) enfatizam que, "Na verdade, é um fato que o setor cultural

representa um ramo produtivo que está crescendo em importância. O fator

cultural é frequentemente usado como um elemento-chave para o

desenvolvimento econômico e/ou regional".

De um modo geral, existem três áreas principais de análise

envolvidas na economia cultural: (a) artes cênicas, (b) as indústrias culturais

e (c) patrimônio histórico (HERRERO et al., 2006). Segundo Herrero e seus

colegas, "Todos os bens mencionados acima partilham de uma característica

Page 126: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

94

em comum, ou seja, o seu significado como atividades artísticas, essências de

inteligência ou sinais de identidade da comunidade, o que ajuda a definir o que

seria chamado de o valor cultural destes elementos" (2006, p.42). A este

respeito, a Tabela 4 na sequência apresenta os respectivos mecanismos de

impacto da arte.

Page 127: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

95

Tabela 4 - Os mecanismos de impacto da arte.

Materiais/da

Saúde

Cognitivos/

psicológicos

Interpessoais Econômicos Culturais Sociais

Constrói

inter-vínculos

pessoais e

promove o

voluntariado,

que melhora

a saúde.

Aumenta as

oportunida-

des de auto

expressão e

prazer.

Reduz a

delinquência

em jovens,

um alto risco

para o

prazer.

Alivia o

estresse.

Aumenta a

sensação de

eficácia e

autoestima.

Melhora o

sentimento

de

pertencimen-

to individual a

uma

comunidade.

Aumenta o

capital

humano:

competências

e habilidades

criativas.

Aumenta o

capital

cultural.

Melhora o

desempenho

escolar.

Constrói

diferentes

redes sociais.

Aprimora a

capacidade

para

trabalhar com

os outros e

comunicar

ideias.

Aumenta a

tolerância

dos outros.

Os salários

pagos aos

funcionários.

As pessoas

(esp. os

turistas/visita

ntes)

gastam

dinheiro para

assistir as

artes e em

empresas

locais.

Além disso,

os gastos

com artes e

outros

negócios têm

efeitos

multiplicado-

res indiretos.

Aumenta a

sensação de

identidade

coletiva e a

sua eficácia.

Constrói a

identidade e

orgulho da

comunidade.

Leva a

normas

positivas na

communida-

de como a

diversidade,

a tolerância e

a liberdade

de

expressão.

Melhora a

imagem e o

status da

comunidade.

Cria capital

social por

fazer com

que as

pessoas se

envolvam,

por conectar

as

organizações

umas com as

outras e por

dar aos

participantes

a experiência

em

trabalhar com

o governo e

com

organizações

sem fins

lucrativos.

Pessoas que

dificilmente

se

encontrariam,

entram em

contato umas

com as

outras.

Fonte: Adaptado de GUETZKOW, 2002, p.4

As colunas na tabela 4 acima representam os tipos de impacto e são

divididas em nível individual e comunitário. Os efeitos de nível individual são

importantes para estudos de impacto comunitário porque eles captam o que o

Page 128: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

96

impacto das artes no indivíduo agrega à comunidade (GUETZKOW, 2002).

Segundo Guetzkow, os três principais tipos de impactos individuais são os

seguintes: (a) materiais (principalmente saúde), (b) cognitivo-psicológicos e (c)

interpessoais; da mesma forma, os impactos comunitários que se

aproximam dos impactos de nível individual são: (a) econômicos, (b) culturais

e (c) sociais, e cada uma das células da tabela 4 acima contêm impactos

específicos citados na literatura, onde estão disponíveis (GUETZKOW, 2002).

A tabela 4 também deixa claro que existem vários tipos e níveis de

contribuições artísticas envolvidas e é intuitivamente evidente que alguns

representam contribuições mais valiosas que outros. A este respeito, Guetzkow

(2002, p.3) aconselha que, "Quanto mais generalizada e/ou intensa a

participação dos membros da comunidade (que não estão envolvidos como

profissionais), maior será o impacto das artes em fatores culturais e sociais; no

entanto, o envolvimento direto é mais intenso do que a participação da platéia,

enquanto que a participação da platéia está mais difundida do que o

envolvimento direto".

O aumento do número de entidades relacionadas aos artistas e às

artes que são capazes de produzir ofertas de turismo cultural também irá

provavelmente resultar em graus mais elevados da participação das artes entre

os moradores de forma direta e na capacidade como membros da platéia

(STERN & SEIFERT, 2000).

No entanto, existem alguns efeitos negativos entre as várias formas

de ofertas de turismo cultural com relação aos tipos de benefícios que são mais

susceptíveis de resultar (GUETZKOW, 2002). Por exemplo, Guetzkow relata

que, "Um bem-respeitado teatro que emprega uma equipe de profissionais é

mais provável de atrair visitantes e turistas de fora da comunidade do que um

projeto de exposição de artes da comunidade local e, por isso, terá um maior

impacto econômico. Mas, uma vez que o nível de participação dos membros de

uma comunidade não tem intensidade no caso do teatro, ele tem menos

potencial para construir um capital social e um sentido de eficácia coletiva.

Tanto o teatro quanto os projetos de artes das comunidades podem melhorar o

orgulho da comunidade e sua autoimagem" (2002, p.4). É importante salientar,

Page 129: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

97

porém, que ainda há uma escassez de estudos que se debruçam sobre os

benefícios que podem advir de indivíduos e organizações que estão ativamente

envolvidos na produção do turismo cultural em vez do impacto direto das artes

em uma comunidade, que tem sido o foco da maioria das pesquisas até agora

( GUETZKOW, 2002).

Acredita-se também que as ofertas do turismo cultural aumentarm o

capital social e promovem a coesão comunitária. A este respeito Guetzkow

observa que, "Alegações a esse respeito englobam as duas últimas colunas da

tabela - os impactos sociais e culturais em nível comunitário, bem como os

efeitos interpessoais. Praticamente todos os estudos que fazem essa alegação

examinam os efeitos de programas de artes comunitárias sobre os

participantes e organizações envolvidas" (2002, p.4). Também é importante

observar a centralidade da população local na produção das ofertas do turismo

cultural porque elas representam um elemento integrante do processo. Por

exemplo, Guetzkow acrescenta que, "Apesar de serem bastante variados, os

programas de artes das comunidades são organizações populares que tentam

utilizar as artes plásticas como uma ferramenta para o desenvolvimento

humano ou material. Programas de artes comunitários quase que

universalmente envolvem membros da comunidade em uma atividade criadora

que levam a uma apresentação pública ou exposição" (2002, p.4).

Como definido pelo Ontario Arts Council (2002), "Artes Comunitárias

são processos de artes que envolvem artistas profissionais e membros da

comunidade em um processo criativo colaborativo que resulta em uma

experiência coletiva e expressão pública. Elas fornecem uma maneira para que

as comunidades possam exprimir-se; permitem aos artistas, por meio

financeiro ou outros suportes, participarem de atividades criativas com as

comunidades; e são colaborativas - o processo criativo é tão importante como o

resultado artístico" (citado em GUETZKOW, 2002, p.4). Estes tipos de

programas têm sido citados como um exemplo da forma como programas de

artes comunitários podem contribuir com as comunidades nas quais eles

operam (GUETZKOW, 2002).

Independentemente dos objetivos globais do turismo cultural que

Page 130: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

98

estão sendo discutidos, acredita-se que os programas de artes comunitários

aumentem o capital social através do reforço da capacidade e motivação das

pessoas para se tornarem mais ativas em suas comunidades e através do

desenvolvimento de uma rede viável que pode ser aplicada para melhoramento

cívico através dos seguintes mecanismos:

Criando um espaço que une as pessoas que, de outra

forma, não estariam envolvidas em atividades construtivas do ponto de

vista social;

Promovendo a confiança entre os participantes e,

consequentemente, aumentando a sua confiança generalizada dos

outros;

Proporcionando uma experiência de eficácia coletiva e

participação cívica, o que estimula os participantes a uma maior ação

coletiva;

Eventos de artes podem ser uma fonte de orgulho para os

moradores (participantes e não participantes) na sua comunidade,

aumentando sua sensação de conexão com a comunidade;

Proporcionando uma experiência para os participantes

aprenderem técnicas e habilidades interpessoais importantes para uma

organização coletiva;

Aumentando o escopo de redes sociais dos indivíduos; e

Proporcionando uma experiência para as organizações

envolvidas a fim de reforçar as suas capacidades. Isso acontece quando

as organizações estabelecem vínculos e aprendem a trabalhar,

consultar e se coordenar com outras organizações e órgãos do governo

a fim de atingir seus objetivos (GUETZKOW, 2002, p. 8).

O caso das Capitais Europeias da Cultura representa um

exemplo de recentes tendências no turismo cultural, aonde as perspectivas de

mudança da cidade vão além dos produtos culturais que estão mais voltados

para a organização do evento (HERRERO et al., 2006). A este respeito,

segundo Herrero e seus companheiros, "A iniciativa da Capital Europeia da

Cultura é principalmente culturalmente enraizada, uma vez que ela foi criada

Page 131: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

99

como uma forma de reforçar a identidade europeia através da cultura; no

entanto, ela tem vindo gradualmente a ser reorientada no sentido de se obter

algum tipo de lucro. Nesta nova tarefa, o turismo cultural atrai os gastos e

agrega valor e os objetivos do equipamento cultural visam alterar as cidades

tanto interiormente e exteriormente" (2006, p.43). Além disso, as chamadas

iniciativas ‘SMart’ que estão em curso na União Europeia representam passos

sólidos no sentido da promoção das ofertas do turismo cultural como será

discutido mais adiante.

1.7. COOPERATIVAS CULTURAIS “SOCIÉTÉ MUTUELLE

POUR ARTISTES” (SMART) GRUPO EUROPA

A iniciativa SMart foi criada na Bélgica em 1998 como uma organização

sem fins lucrativos baseada na firme convicção de que soluções viáveis podem

ser desenvolvidas, de modo a facilitar o processo de produção cultural e ainda

gerir os aspectos pragmáticos da empresa. Hoje, além da Bélgica, a iniciativa

SMart oferece serviços para vários países, a saber: Alemanha, França, Ibéria,

Itália, Holanda, Österreich e para freelancers.

A iniciativa SMart baseia-se em três valores principais:

Sem fins lucrativos: defender a economia social,

fundamentando-se nos princípios da solidariedade e da partilha de

meios;

Necessidade: fornecer soluções que se adequem às

necessidades expressas, permanecendo acessível; e

Democracia: promover solidariedade, mobilidade e

participação (THREE KEY VALUES, 2014).

A equipe cresceu para cerca de 200 profissionais empregados em

tempo integral. As iniciativa na França, conhecida como ‘SMartFr’, iniciou suas

operações em 2010 e continua a crescer. Segundo a SMart, "Mais operadores

nacionais estão sendo criados em vários países, em um esforço para abraçar e

apoiar a mobilidade internacional, mas também para criar uma forte

cooperativa internacional de trabalhadores culturais e criativos com poder

Page 132: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

100

suficiente para influenciar a política cultural" (THREE KEY VALUES, 2014,

p.2).

Como signatária da Convenção da UNESCO sobre a proteção e a

promoção da diversidade das expressões culturais, a União Europeia tem a

obrigação legal de relatar sobre o estado de execução destas políticas. A este

respeito, a SMartBe tem estado ativamente envolvida com a Convenção da

UNESCO sobre o Status do Artista (1980) e sempre tem apoiado as suas

disposições nas operações do seu dia-a-dia. Segundo SMart: "De fato, o

primeiro objetivo da SMartBe é o de garantir o status social e fiscal dos artistas

e, também, dos profissionais criativos. Esta segurança é uma condição

essencial para a diversidade de expressões culturais e de conteúdo e é de fato

a nossa participação para a implementação da Convenção da UNESCO 2005,

sobre a proteção e a promoção da diversidade das expressões culturais"

(THREE KEY VALUES, 2014, p.2).

Enraizados na economia social, são financeiramente autônomos e

estão investindo na cooperação com organizações que partilham os mesmos

valores, a fim de adaptar os seus serviços às necessidades nacionais do setor

criativo. Têm desenvolvido parcerias no Reino Unido, Suécia, Áustria,

Alemanha e Espanha, e outras estão a caminho. O objetivo principal é criar

melhores condições de trabalho para os profissionais criativos em toda a

Europa. Com o tempo, a regulamentação legal e os conhecimentos adquiridos

em toda a Europa permitirá uma melhor forma de ultrapassar os obstáculos

ligados à mobilidade do trabalho artístico e contribuir para a diversidade das

expressões culturais.

Uma série de ações previstas na Convenção já são adotadas pela

SMartBe:

Apoiar a diversidade das expressões culturais em termos

de criação artística;

Apoiar a diversidade na produção e distribuição de bens e

serviços culturais;

Oferecer indústrias culturais independentes domésticas e

atividades no acesso efetivo do setor informal através dos meios de

Page 133: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

101

produção, divulgação e distribuição das atividades, bens e serviços

culturais;

Oferecer formação aos artistas e profissionais da cultura a

fim de profissionalizar as suas atividades artísticas;

Apoiar a mobilidade dos artistas no seio da UE e

intercontinentalmente;

Facilitar a cooperação cultural e o intercâmbio das

melhores práticas em nível internacional; e

Desenvolver, promover e estimular a criatividade e o

espírito empreendedor das atividades culturais.

A iniciativa não restringe o seu suporte para tipos específicos de

ofertas culturais, mas estende os seus serviços a todos os profissionais

criativos, fornecendo-lhes a informação e as ferramentas de que necessitam

para desenvolver uma empresa de negócios financeiramente viável. A este

respeito, a SMart relata que, "Através de um conjunto de serviços (unidade

jurídica, unidade de pesquisa, desenvolvimento internacional,

acompanhamento de artistas, entre outros.) e de ferramentas da web

(permitindo que os artistas sejam consideravelmente aliviados da papelada e

dos encargos enquanto a contabilidade trabalha legalmente e contribue para a

segurança social), a SMartBe retira os artistas fora das águas turvas do

trabalho não declarado e da falta de entendimento dos regulamentos em uma

abordagem legal clara e estruturada de suas atividades criativas"

(CONVENTION 2005, 2014).

A iniciativa SMart também serve para preencher uma lacuna no

apoio que estava previamente em falta para a comunidade artística na Europa.

A este respeito, a SMart salienta que, "A abordagem básica do SMartBe ao

setor cultural e criativo é o reconhecimento e o apoio do trabalho baseado no

projeto - um tipo de trabalho cada vez mais predominante no setor cultural (e

outros), mas que, em geral, não é bem atendido. Isto significa que os membros

da SMartBe podem desfrutar de uma grande flexibilidade, ao mesmo tempo

que se mantêm relativamente livre de encargos administrativos"

(CONVENTION 2005, 2014, p.1). Porque é uma organização sem fins

Page 134: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

102

lucrativos, todas as receitas que são geradas pelos serviços da SMartBe são

devolvidos para a organização para promover o desenvolvimento de novos

serviços e na melhoria dos serviços existentes (CONVENTION 2004, 2014).

Da mesma forma, Marsland e Krump (2014, p.3) relatam que, "Enquanto o

SMart destinar-se a ajudar os indivíduos criativos a encontrar trabalho e

receber o pagamento para ele, o fará oferecendo muitos serviços, incluindo

alguns serviços não esperados dos prestadores de serviços básicos ou

comuns, incluindo:

Um fundo de garantia mútuo foi criado "para garantir que

todos os nossos usuários sejam pagos no prazo de alguns dias de seu

trabalho, a fim de garantir o fluxo de caixa e de reduzir os encargos de

cobrança de dívidas e do trabalho administrativo";

Orientação jurídica;

Apoio ao desenvolvimento profissional através de

programas de formação ‘in-house’; e

Uma plataforma de troca baseada na Web.

Page 135: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

103

CAPÍTULO 2: SALAMANCA – ESPANHA

2.1. SALAMANCA, ESPANHA

Salamanca está localizada em uma comunidade autônoma da

Espanha chamada ‘Castilla y León’ (Castela e Leão). Apesar de ser uma

cidade de média dimensão (com cerca 170.000 habitantes), Salamanca é

mundialmente conhecida por sua cultura e atmosfera estudantil (SALAMANCA,

2014). Segundo o perfil da cidade, "De fato, a Universidade de Salamanca é

conhecida por ser a terceira universidade mais antiga da Europa, fundada em

1218. Localizada na parte oeste da Espanha, à direita da fronteira com

Portugal, Salamanca está na parte interna do país, 200 quilômetros a oeste de

Madrid, o que torna difícil de alcançar os turistas" (SALAMANCA, 2014, p.2).

Como resultado da reforma recente do Aeroporto de Valladolid, Salamanca é

agora um destino turístico mais acessível, pois está apenas cerca de uma hora

de Valladolid (SALAMANCA, 2014).

As origens de Salamanca são verdadeiramente antigas de acordo

com a sua história, é conhecida como a cidade de Helmantike que foi

registrada em Aníbal Cartaginês 220 d.c., na campanha militar nesta área

(Holguera, 1996). Segundo um historiador, "O touro de pedra sobre a ponte

romana da cidade, que também possui seu brasão de armas, é uma relíquia da

época, e foi provavelmente o legado dos Vettones e Vaccaei, que colocaram

seus rebanhos para pastar nas margens do Rio Tormes. A própria ponte foi

pensada para ser construída por Trajano, mas apenas quinze arcos do lado da

cidade datam do 1º século d.c." (HOLGUERA, 1996, p.3). Os outros são o

resultado de uma ampla reconstrução nos séculos XVI e XVII, depois da ponte

ter sido danificada por inundações (HOLGUERA, 1996).

Uma figura que contribuiu muito para trazer fama para Salamanca é

o estudante. Na Espanha do Século do Ouro, o aluno que apresentava grandes

feitos contados em histórias sempre provinha de Salamanca. Ainda hoje, a

juventude é a marca da vida social e cultural em Salamanca, onde a maioria da

população tem idade inferior a 30 anos (HOLGUERA, 1996).

Page 136: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

104

Hoje, a Plaza Mayor, na cidade medieval de Salamanca é

amplamente reconhecida como sendo a praça central mais tradicional na

Espanha (OLSEN, 2002). De acordo com Olsen (2002, p. 170), "É sem dúvida

também um dos pontos mais movimentados nas primeiras horas em uma

manhã de sábado. Salamanca, uma cidade de 170.000 habitantes, é uma

cidade universitária. Os alunos viajam para lá de todos os continentes, e o

programa de ensino de Espanhol da universidade é considerado o melhor do

mundo". A correta descrição da Universidade de Salamanca é que foi fundada

por Alfonso IX no ano de 1218 e a universidade é classificada como a quarta

mais antiga de todas da Europa (após Bolonha, Oxford e Paris,

respectivamente) (OLSEN, 2002). A conveniência de Salamanca ser

reconhecida como um destino de turismo cultural também é destacada por

Olsen (2002, p. 179), que realça, "Durante cerca de oitocentos anos, esta

tradição acadêmica estampou um prodigioso marco sobre a vida cultural da

cidade. Em 1988, Salamanca foi reconhecida como Património Mundial da

UNESCO e, [em 2002], partilhou com Bruges na Bélgica, a designação

honorária de Capital Europeia da Cultura". Além disso, Salamanca estava bem

preparada para tirar proveito de sua longa história reconhecida formalmente,

bem como aproveitar a recompensa financeira que veio com a designação. A

este respeito, Olsen (2002, p. 179) acrescenta que, "Com este reconhecimento

chegaram setenta milhões de euros em investimentos para abrigar programas

culturais - espetáculos de teatro e dança, concertos, exposições e restauro

arquitetônico, para mostrar o papel histórico de Salamanca de ‘ciudad de los

saberes’ (cidade dos saberes)”.

Fé e aprendizagem representam o lema que têm contribuído para o

sucesso de Salamanca como um destino de turismo cultural e estão

intimamente inter-relacionadas com os atributos históricos da cidade. Por outro

lado, não é simplesmente uma coincidência que Salamanca nos remete a uma

cidade de mosteiros, assim como a uma cidade universitária, com 800 anos de

academia ecoando por toda a comunidade (OLSEN, 2002). Da mesma forma,

o Domus Artium (AD2) - localizado dentro do edifício que acabou sendo

originalmente a prisão da Província e, em seguida, revitalizado pelo construtor

Page 137: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

105

Horacio Fernandez Castillo - incorpora pintura, fotografia, vídeo e instalações, a

galeria de arte contemporânea em duas histórias com alguns objetos penais

remanescentes ainda intactos (BROOKS, 2013). A cidade também tem sido

aclamada como um centro de aprendizagem e património cultural da UNESCO

(BROOKS, 2013).

2.2. USAL VISÃO GERAL

Em 1218, o rei Afonso IX de Leão fundou a Universidade de

Salamanca (USAL), a qual é considerada a mais antiga universidade da

Espanha e uma das mais antigas do mundo. O sistema de financiamento e

manutenção da universidade foi regulamento em 1255 pelo rei Alfonso X e, ao

longo da Idade Média, a USAL foi consolidando sua estrutura de gestão. Em

1411, toda a regulamentação de estudos e vida acadêmica já estava concluída

(Trabalho do Papado na Idade Média Constituições de 1411, Bento XIII, e em

1422, Martin V).

Apesar de fé e aprendizagem também estarem presentes na história

da Universidade de Salamanca (USAL), desde a sua fundação, a universidade

sempre foi uma instituição do estado e não da Igreja Católica. Este é um ponto

importante porque existe um erro de interpretação por parte de algumas

pessoas que acreditam que a USAL foi fundada pela Igreja Católica, pelo fato

da instituição passar durante vários séculos sob o comando acadêmico e

administrativo de bispos e padres católicos.

A USAL sempre foi uma universidade vinculada diretamente ao

governo do estado e posteriormente à provincia, mas durante muitos séculos a

gestão administrativa e acadêmica esteve sob a tutela de bispos e padres da

Igreja Católica porque as pessoas da sociedade qualificadas e disponíveis para

serem professores eram sempre os padres. Até praticamente o século XV, os

únicos que cursavam a universidade eram pertencentes à nobreza ou à Igreja

Católica. Muitos padres também eram nobres, mas, para as pessoas comuns,

a única possibilidade de ter acesso aos estudos de alto nível era através de um

Page 138: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

106

seminário católico. Por essa razão, algumas pessoas acreditam que a USAL foi

criada pela igreja e depois passou para a administração de Castilla y León.

A universidade incorpora o movimento humanista no final do século

XV e passa a receber alunos de todas as classes sociais, permitindo a

qualificação de pessoas pobres, as quais, depois de formadas, conseguiam

bons empregos e ascenção social. No século XVI, os estatutos acadêmicos já

estavam bem avançados e a USAL já era reconhecida pelos cursos de

Medicina, Teologia, Matemática, Filosofia, Latim, entre outros. Este século é

um marco no desenvolvimento da USAL, principalmente pelo número de alunos

matriculados anualmente, onde havia uma média de 600 alunos por ano no

início deste período chegando a 6.500 matrículas no final do século XVI.

O auge da USAL está ligado ao processo de conquista e

colonização protagonizado pela Espanha neste período, o que gerava uma

grande demanda de funcionários (burocratas) qualificados em direito,

economia, entre outros cursos. No início do século XIX, o modelo

organizacional da USAL é projetado para as universidades da América Latina.

O sucesso da colonização gerou um retrocesso no acesso à universidade no

século XVII, quando os valores humanistas sucumbiram à voracidade da

nobreza, porque os nobres pressionaram para que só fossem admitidos na

USAL aqueles que eram de ‘puro sangue’.

Em 1845, a USAL perde seu protagonismo nacional para a

Universidade de Madrid pela implatanção do Plano Vidal, quando ela perde a

autorização para expedição de títulos de doutor além de perder as faculdades

de Medicina e Ciências, ficando somente com os cursos de Direito, Filosofia e

Letras. Com isso, a província de Salamanca se mobilizou para criar novas

faculdades de Medicina e Ciências com recursos próprios. Os cursos foram

implantados novamente e, em 1904, estas novas faculdades são integradas à

USAL.

Em 1951, a USAL retoma o seu protagonismo nacional,

alavancando o número de matrículas e avançando em um forte programa de

internacionalização, formando as bases para a realidade atual. Nos dias de

hoje, a Universidade de Salamanca possui campus em 4 cidades, Salamanca,

Page 139: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

107

Zamora, Ávila e Bejár, onde estão distribuídas as 21 faculdades que atendem

24.818 alunos de graduação, 6.756 de pós-graduação, vindos de mais de 100

países do mundo.

2.3. ESPANHA: USAL - SERVICIOS DE ACTIVIDADES

CULTURALES (SAC)

2.3.1. SAC: DESCRIÇÃO E HISTÓRIA

O Serviço de Atividades Culturais da Universidade de Salamanca

(SAC/USAL) é um orgão institucional vinculado à Vicereitoria de Atendimento

ao Estudante e Extensão Universitária. O SAC é, em suma, um serviço de

assistência à comunidade universitária e o orgão é o responsável por

coordenar toda a programação cultural nos três campi da USAL. Suas

atividades contemplam a programação, gestão, produção e difusão das

atividades culturais tanto dentro dos campi, bem como da promoção externa da

criação cultural dos membros da comunidade universitária.

Figura 11 - Imagem da Hospedaria Fonseca sede do SAC - Créditos Noellia Sobrino.

Fonte: SAC.

Oficialmente, este órgão foi criado em 1988 através do Real Decreto

678/1988, o qual representava a aprovação oficial dos Estatutos da USAL que

foram elaborados com base na conquista da autonomia universitária através do

Page 140: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

108

Real Decreto 276/1986. Contudo, anteriormente à criação oficial do SAC, a

USAL sempre manteve uma série de atividades culturais, de promoção e

difusão cultural de atividades criadas internamente, bem como trazendo

atividades externas para a comunidade universitária. Porém, neste projeto de

pesquisa, consideramos a análise das atividades realizadas pelo SAC a partir

de sua criação em 1988.

Figura 12 - Imagem Boletim Oficial do Estado Espanhol Decreto Real 678/1988.

Fonte: BOE Espanha.

O SAC está localizado no edifício da Hospedaria Fonseca da USAL,

o qual faz parte dos edifícios históricos do patrimônio da universidade.

Inicialmente conhecido como Colégio Arcebispo Fonseca, o local era destinado

para formação complementar de membros da igreja católica e funcionava

também como uma moradia oficial para estes membros graduados. O conjunto

é originalmente retangular em três níveis de pavimentos, com dois grandes

claustros cercados por arcos semicirculares sobre pilastras toscanas. O

conjunto foi sede da Faculdade de Medicina de 1903 até 1988, ano que passou

a ser ocupado pelo SAC e outros órgãos da USAL como a Fundação Geral e o

Instituto Iberoamericano. Faz parte também do SAC, o Teatro Juan Del Enzina,

onde são realizadas apresentações teatrais, de dança e música.

Dentro de suas atividades regulares anuais, o SAC mantém a

Academia de Música Antiga, composta pela Orquestra Barroca, um Coro de

Câmara e um Consorte de Violas, o projeto de residência de agrupações

musicais, composto pela Big Band, pela Tuna Universitária, pela Tuna

Feminina e pelo Coro Universitário, um Centro de Fotografia, além de

Page 141: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

109

programações culturais como dois festivais, a Mostra de Teatro Universitário e

as Noites de Fonseca, espetáculos profissionais de teatro e música no Teatro

Juan Del Enzina, atividades nas duas salas de exposições, uma denominada

Espaço de Artes Experimental e outra dedicada Cultura Científica, além de

concursos, mostras de cinema e cursos de extensão voltados para a formação

artística.

2.3.1.1. ATIVIDADES CULTURAIS:

2.3.1.1.1. A ACADEMIA DE MÚSICA ANTIGA

A Academia de Música Antiga foi concebida como um ambiente de

formação global e promoção no campo da interpretação musical histórica, com

o objetivo de propiciar para os jovens espanhóis os mecanismos de formação

em Renascença e Barroco. Contando com mais de 17 anos de atuação, este

projeto tem sido reconhecido como referência de formação nestas áreas na

Espanha. A academia abriga a Orquestra Barroca, o Coro de Câmara, a Tuna

Universitária e a Tuna Feminina.

2.3.1.1.2. A ORQUESTRA BARROCA

A Orquestra Barroca da Universidade de Salamanca foi fundada em

1990 para abordar, através de critérios históricos e filológicos, um repertório

barroco para orquestra de cordas. Toda metodologia é pensada dentro da

perspectiva das técnicas originais dos instrumentos, constituindo, assim, um

projeto de educação formal, o qual se cristalizou na Academia de Música

Antiga da Universidade de Salamanca.

Esta orquestra já foi conduzida por especialistas como Wim ten

Have, Jacques Ogg, Eduardo López Banzo, Bernardo García-Bernalt, Wieland

Kuijken Sigiswald e Emilio Moreno, Andrea Marcon, ou Pedro Gandia.

Inúmeros concertos foram realizados em grande parte da Espanha, além de

outros países, como Itália, Alemanha e Grã-Bretanha. No ano em que

Page 142: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

110

Salamanca foi designada como Capital da Cultura Europeia, a osquestra fez

parte do Festival de Música Religiosa com a execução de "A Paixão Segundo

São Marcos", de R. Keiser, dirigido por Wim ten Have.

Figura 13 - Imagem da Orquestra Barroca.

Fonte: SAC.

Nos últimos anos, com Pedro Gandia diretor concertino, a orquestra

tem realizado inúmeras cantatas de Bach e Handel. Além disso, ele realizou

diversas gravações para a Rádio Nacional de Espanha (Radio Classic).

Também foram editados vários CDs para a gravadora Versus, o último dos

quais, com Jacques Ogg como regente e solista, realizando a primeira

gravação mundial utilizando instrumentos da época dos concertos para cravo

Goldberg.

2.3.1.1.3. CONSORTE DE VIOLA

O Consorte de Violas é, juntamente com a Orquestra Barroca e o

Coro de Câmara, uma das formações básicas oferecidas pela Academia de

Música Antiga da USAL. A proposta de trabalho deste grupo atua no resgate de

uma prática musical raramente encontrada nos dias de hoje. Este trabalho teve

início em 1992 oferecendo prática instrumental para violas, na qual a

Page 143: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

111

interpretação musical é baseada em um repertório sobre a evolução da arte

musical do século XVI ao XVIII.

Figura 14 - Consort de Viola - Créditos SAC.

Fonte: SAC.

Regularmente, são realizados cursos com músicos europeus

renomados, como Ventura Rico, Marianne Müller, Sarah Cunningham, Jaap ter

Linde, Rainer Zipperling, Vittorio Ghielmi, Philippe Pierlot e Wieland Kuijken.

Porém, a direção artística do consorte é exercida regularmente por Itziar

Atutxa. Com relação ao repertório, o grupo tem se concentrado na música

Ibérica, participando de festivais regionais e internacionais tais como, ‘Pedras

Cantar’ (2001), ‘Music and Heritage’ (SALAMANCA, 2002), ‘Salamanca Pilgrim’

(2004) e da Praça da Música (2005). Em dezembro de 2003, o Consorte foi

convidado a realizar uma série de concertos em Bogotá e Cali (Colômbia),

obtendo um sucesso que se repetiria em sua participação no Festival 2006 de

Chiquitos (Bolívia).

2.3.1.1.4. CORO DE CÂMARA

O Coro de Câmara da USAL teve sua fundação em 1984 por

membros do Coro da Universidade, buscando a especialização na polifonia

ibérica do século XV ao XVIII. Partindo desta base, o grupo vem realizando

intensa divulgação da proposta, a qual resultou na realização de centenas de

Page 144: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

112

concertos, muitos deles permitindo o ressurgimento de partituras inéditas

descobertas a partir das pesquisas do grupo.

Figura 15 - Imagem do Coro de Câmara - Créditos SAC.

Fonte: SAC.

Desde então, o Coro participou de diversos ciclos de polifonia e

música antiga, dentre os quais destacamos a Conferência Nacional dos

Polyphony 1987 ciclo ‘Música do tempo das Descobertas’ (Lisboa, 1988),

Amostra Polifonia Espanhol (Würzburg, 1987), Rassegna Polifônica

Internazionale (Bologna 1991), XIV Chamber Music Series e a Polyphony

(Auditório Nacional de Madrid, 1992), ‘Música em Espanha Expulsão’ (Lincoln

Center e Auditório de Aaron Copland New York, 1992), A Música na Catedral

de Santiago de Compostela no Século XVIII (1993), XVIII Conferência Early

Music Gulbenkian (Lisboa, 1997), dentre muitos outros. O Coro também tem

várias edições de CD pela Rádio e TV Espanhola (RTVE), pela gravadora

Verso Movieplay, onde receberam excelentes críticas (álbum do mês em

Rhythm, 5 estrelas Goldberg, entre outros).

Bernardo García-Bernalt dirige o Coro desde a sua fundação, sendo

ele também o diretor da Academia de Música Antiga e do Coro da Universidade

de Salamanca. Com ele, o grupo atuou com orquestras como Sacqueboutiers

de Toulouse, Segreis Lisboa, entre outras.

Page 145: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

113

2.3.1.2. AGRUPAÇÕES MUSICAIS

2.3.1.2.1. BIG BAND

A Big Band é um projeto que funciona como um projeto de

residência artística no qual alunos de qualquer curso da universidade que

tenham uma formação musical prévia podem participar. A proposta desta

atividade de formação musical surgiu cinco anos atrás pela iniciativa de um

grupo de alunos de História e Ciências da Música. A partir desta iniciativa,

foram atraídos grandes fãs de jazz e outros estilos musicais, músicos

amadores e músicos profissionais, aos quais também está aberta a

oportunidade de complementarem sua formação neste gênero musical.

Atualmente, este gênero musical é muito valorizado em muitos

lugares do mundo, em especial nos EUA, onde praticamente toda escola,

faculdade ou universidade tem sua própria Orquestra de Jazz. Neste sentido,

como a USAL é um campus de excelência internacional, a universidade

resolveu apoiar esta iniciativa através do Serviço de Atividades Culturais.

Figura 16 - Imagem da Big Band - Créditos Sergio Merino.

Fonte: SAC.

Em resumo, uma Big Band é um grupo musical de quinze ou mais

músicos que abrange uma série de estilos musicais, como jazz, swing, blues,

bebop, legal, free jazz e fusion, entre outros, nos quais prevalecem as

primeiras fases da história do jazz. A chamada Idade de Ouro da Big Band

acaba junto com a Segunda Guerra Mundial e muitos grupos não conseguiram

Page 146: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

114

se manter em atividade pelo mundo; contudo, em países europeus e,

logicamente, na América do Norte, onde o jazz mantinha raízes, o conceito de

Big Band conseguiu sobreviver.

Desde sua criação, a Big Band da USAL contou com a participação

de músicos prestigiados do jazz, os quais contribuíram para a formação dos

alunos e também para a formação de público com apresentações em festivais

locais. Destacamos músicos como Bart Van Lier, Bob Sands, Bobby Martinez,

Pepe Rivero, Perico Sambeat, Albert Bover e John Kucich Georgini.

2.3.1.2.2. TUNA UNIVERSITÁRIA

A Tuna universitária da USAL é reconhecida como a primeira Tuna

do mundo. Criada no século XVIII no Colegio Mayor de San Bartolomé, esta

tradição tem sido mantida ao longo dos séculos através da participação da

comunidade universitária, em sua maior parte por alunos de graduação. Esta

tradição da Tuna da USAL é reconhecida por toda Europa, tendo sido

agraciada com prêmios e distinções.

Em seu repertório encontramos canções espanholas tradicionais, o

‘pasodoble’, boleros, lore, inclusive o fado devido à proximidade da fronteira

com Portugal. São músicas que incentivam o público a dançar. É como um

convite para a festa e, em geral, as apresentações ocorrem em atos oficiais da

USAL, em apresentações abertas na Plaza Mayor de Salamanca e em festivais

e concursos de Tuna na Espanha e no exterior. Todos os anos, a Tuna realiza

duas viagens regulares, uma no período da Páscoa para algum lugar na

Espanha e outra no verão para o exterior. Comumente, também são

convidados a participar de casamentos, batizados e comunhões dentro da

província de Salamanca. Este ato de participar destas celebrações familiares é

um ponto fundamental para a manutenção da tradição, por envolver

diretamente as comunidades locais com a universidade.

Page 147: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

115

Figura 17 - Imagem de Tuna USAL - Créditos SAC.

Fonte: SAC.

A Tuna universitária é composta por cerca de 25 pessoas, em sua

maioria estudantes de graduação de diferentes áreas e, para a execução do

repertório, são utilizados instrumentos como violão, bandolim e alaúdes,

acordeão e todos os tipos de percussão (caixas, surdos, entre outros, além do

trabalho vocal, no qual é feito um arranjo musical trabalhado com distintas

vozes nas músicas do repertório).

2.3.1.2.3. TUNA FEMININA

Como geralmente ocorre com as tradições seculares, as Tunas

sempre foram compostas por homens; contudo, nas últimas décadas,

passaram a surgir Tunas nos institutos de formação organizadas com uma

composição feminina. Seguindo esta tendência, surge, em 1994, a Tuna

Feminina da USAL, com uma formação mista com alunas do Instituto Fray Luis

de León e, ao longo de três anos, foram incorporadas participantes de outras

universidades, ganhando um corpo maior em 1997 com a participação da

Universidade Complutense de Madrid.

Page 148: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

116

Figura 18 - Imagem de Tuna Feminina - Créditos SAC.

Fonte: SAC.

A Tuna Feminina da Universidade de Salamanca atua seguindo a

tradição musical do repertório das Tunas, utilizando instrumentos como

bandolim, alaúdes e acordeão; contudo, passaram a realizar também um

importante trabalho social para a comunidade, que é a execução de

apresentações em casas de repouso e lares da terceira idade, locais onde

muitos idosos são levados hoje na Espanha e onde ocorre, com frequência, a

perda de contato com os familiares por diferentes razões, problema que gera

uma falta de convívio social com outras pessoas que não sejam outros idosos

moradores ou cuidadores, enfermeiros e médicos. Assim, a Tuna Feminina

consolida suas atividades e se aproxima da comunidade local, a qual, na

maioria dos casos, é avessa às mudanças nas tradições, sejam elas machistas

ou não. Em geral, nestas cidades milenares da Europa, as mudanças não

ocorrem rapidamente, afinal são muitos séculos nos quais as atividades são

feitas de uma única forma, ou seja, uma tradição.

2.3.1.2.4. CORO DA UNIVERSIDADE

O Coro da USAL, como a maior parte dos coros universitários, é

composto pelos membros da comunidade universitária, envolvendo a

Page 149: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

117

participação de alunos, professores e funcionários da universidade. Foi

fundado em 1950, sendo um dos mais antigos coros universitários da Espanha,

e também um dos mais consagrados. Anualmente, realiza concertos por toda

Espanha, em diversos países europeus, sendo agraciado com premiações e

homenagens. Este reconhecimento internacional gerou gravações para

programas de rádios e televisões da Espanha, Portugal, França, Mexico,

Alemanha, Japão, entre outros.

O coro é formado por cerca de 50 pessoas, com a realização de dois

ensaios semanais ao logo de todos os semestres letivos; assim, para os

estudantes, esta atividade pode somar no currículo escolar três créditos como

disciplina eletiva. O coro participa de todas as solenidades oficiais da

universidade e também em ciclos de polifonia locais em outras partes da

Espanha.

Figura 19 - Imagem do coro universitário - Créditos SAC.

Fonte: SAC.

Uma característica que distingue este coro é a composição do

repertório, o qual está concentrado em música do século passado, explorando

músicas pouco conhecidas e também gêneros musicais que não são habituais

no universo dos corais, como o jazz e a música pop.

Page 150: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

118

Atualmente, a regência do Coro Universitário é do Prof. Bernardo

García-Bernalt e para participar não são exigidos conhecimentos prévios de

técnicas vocais, é preciso, principalmente, muita vontade de cantar e, se os

candidatos tiverem um bom ouvido, isso ajudará muito no desenvolvimento

musical.

2.3.1.3. CENTRO FOTOGRAFIA

O nascimento do Centro de Fotografia se consolida a partir da

vontade de especialização da USAL nas práticas expositivas no campo da

imagem, em 1992. Assim, foi iniciado o ciclo de exposições sobre arte

contemporânea centrado na prática da atividade fotográfica. Este projeto iniciou

como um programa de artista residente, onde um fotógrafo renomado era

convidado para ser residente no projeto e, dentro do escopo de suas

atividades, seriam realizadas conferências, criação de exposições com base no

acervo pessoal do fotógrafo, organização de um catálogo e as fotografias da

exposição seriam doadas para o acervo permanente da universidade. Hoje, o

acervo do Centro de Fotografia conta com uma coleção de mais de 400 obras

de mais de cem artistas.

Essa experiência também impulsionou o surgimento de uma política

de publicações no campo da imagem, que gerou três coleções:

Campo de Agramante: Monografias de artistas e catálogos de

exposições desenvolvidas pelo Centro de Fotografia;

Focus: Dedicada à Ensaios e estudos teóricos sobre

fotografia e arte contemporânea; e

Papel Alpha: Revista anual, dedicada ao estudo no campo

fotográfico.

Page 151: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

119

2.3.1.4. FESTIVAIS: MOSTRA DE TEATRO

UNIVERSITÁRIO E NOITES DO FONSECA

Dentro do calendário cultural anual do SAC, existem, regularmente

em Salamanca, dois festivais os quais ocorrem no segundo semestre letivo,

que são a Mostra de Teatro Universitário e ‘Las Noches del Fonseca’.

A Mostra de Teatro Universitário ocorre sempre no início da

primavera e é uma parceria entre o SAC e a Associação Electra de Teatro

Universitário, que é uma associação cultural formada por atores amadores que

são alunos da USAL dos diversos cursos de graduação, sendo que nenhum

deles cursa graduação em Artes Cênicas, pelo fato desta formação não ser

oferecida no campus de Salamanca.

Apesar da mostra ser realizada na primavera, a preparação e

produção do evento e dos espetáculos iniciam-se no primeiro semestre letivo,

através de reuniões entre os representantes da Electra e do SAC. Além da

mostra, a Electra também oferece cursos gratuitos de teatro dentro da USAL e

alguns dos espetáculos exibidos têm origem nos cursos livres de teatro. Esse

formato de parceria entre a associação de alunos e o SAC se consolida porque

as duas partes se complementam para atingir um objetivo em comum, que é a

difusão cultural. A Electra recebe do SAC um apoio financeiro para ajudar na

produção dos espetáculos e na execução dos cursos de práticas teatrais e

também utiliza o Teatro Juan Del Enzina e outras salas do SAC para os

ensaios dos grupos.

2.3.1.5. CONCURSOS, EXPOSIÇÕES E LITERATURA

Anualmente, são realizados concursos culturais para criar

oportunidades de divulgação para novos artistas, para que artistas jovens

tenham uma forma de circular a produção artística de sua autoria. Nesta linha,

é realizado o concurso anual de Microrelatos e o mais interessante desta

iniciativa é que este concurso consegue promover jovens escritores e

ilustradores porque a primeira parte do concurso consiste em selecionar os

microrelatos e, na segunda parte do concurso, os textos escolhidos são

Page 152: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

120

disponibilizados para jovens ilustradores que têm a missão de criar uma

ilustração que melhor represente o texto criado. Despois da escolha dos

escritores e ilustradores, os melhores trabalhos são publicados em um formato

de cartão, onde, de um lado, a impressão é da ilustração e do outro, o texto. É

produzida uma tiragem que é distribuída aos artistas.

Figura 20 - Concurso de Micro Relatos SAC. Fonte: SAC.

As salas de exposições são ocupadas principalmente por jovens

artistas, os quais têm a oportunidade de ter um espaço integralmente dedicado

a uma coleção de obras autorais. Uma das salas de exposição tem um espaço

na agenda cultural dedicado à cultura científica, à história de ciência, entre

outros temas que envolvem a comunicação da ciência. Nas salas de

exposições, também é sediado o projeto do fotógrafo residente, bem como

exposições itinerantes com interesse de exibição em Salamanca.

Page 153: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

121

2.3.2. SAC - INFRAESTRUTURA E GESTÃO

Com relação ao sistema de gestão e à infraestrutura do SAC,

podemos analisar que a estrutura hoje é suficiente para executar toda a

diversidade de atividades da programação anual da Universidade de

Salamanca. Deve-se enfatizar que a programação cultural ocorre em todos os

campi da USAL, em Salamanca, Ávila, Zamora e Bejár; porém, a maior parte

das atividades é realizada na cidade de Salamanca e isso se justifica pelo fato

da maior concentração da comunidade universitária estar nesta cidade.

Avaliando a infraestrutura física, verificamos que os prédios em

Salamanca são históricos, patrimônios tombados; contudo, encontram-se em

excelente estado de conservação e com adaptações internas muito bem

realizadas, preservando os patrimônios, mas com as características

necessárias para o desenvolvimento das atividades. Assim, existem salas de

ensaios com isolamento acústico para ensaios individuais, auditórios para

ensaios de grupos, orquestras, coros e também salas de estudo, salões de

exposição e salas multiuso.

A estrutura organizacional é enxuta e concentrada no Campus de

Salamanca, com uma equipe composta por um diretor (docente), dois

coordenadores e oito funcionários (administrativos, produção, editoria, técnicos

de teatro). Nos outros campi, as atividades são realizadas com a colaboração

dos funcionários administrativos de cada sede, porque necessita-se somente

de apoio para montagem e preparação dos espaços, já que todo conteúdo e

pré-produção é realizado em Salamanca.

Os dados aqui apontados foram obtidos através de pesquisa em

documentos históricos, visitas in loco e entrevistas. Sendo assim, como

conclusão desta etapa, consideramos importante acrescentar informações que

foram obtidas nas entrevistas. Os resumos de duas das entrevistas realizadas

em Salamanca são fornecidos na Tabela 5 a seguir.

Page 154: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

122

Tabela 5 - As entrevistas com professores da USAL.

Entrevistado Resultados

O prof. Ignacio Berdugo Gómez de la Torre -

Reitor da USAL 1994-2003

O Real Decreto sobre autonomia universitária,

criou novos serviços (atividades culturais

serviços), o que trouxe grandes mudanças

nos últimos 40 anos. Segundo o Prof.

Berdugo (2014), não há sempre foram

atividades fora da universidade: exibições ao

público, apresentações de teatro e outros; no

entanto, houve uma brutal mudança não só

por causa do Real Decreto sobre autonomia

universitária, mas também uma mudança

social, que levou à atribuição de novas

missões para as universidades em geral. "A

falta de liberdade torna as paredes mais

espessas." Assim, quando uma sociedade se

abre, abre-se de muitas maneiras, não só

fisicamente, e as atividades da universidade

expanda e ela começa oferecendo serviços

aos estudantes. Não é só pesquisa ensino e

tutoria, as bolsas foram oferecidas nos últimos

40 anos. Em um bom governo, há um diálogo

com os alunos e, o resultado é um foco

natural de demandas e questões; por

conseguinte, todos os investimentos como

bibliotecas, teatros, e outras foram habilitadas.

Atualmente, existem novas disposições que

antes não existiam e as que já existiam foram

habilitadas como um resultado não apenas da

universidade procura, mas também a

comunidade universitária.

Capital Europeia da Cultura 2002. USAL foi o

mais importante patrimônio considerado pela

Comissão para a concessão da designação

Capital Europeia da Cultura 2002. O Mayor de

Salamanca pediu-me para designar o Prof.

Enrique Cabero como coordenador geral

(principal gerente) da celebração. Segundo o

Page 155: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

123

Entrevistado Resultados

Prof. Berdugo (2014), uma das mais

características essenciais para ser a Capital

da Cultura é o patrimônio material que

Salamanca tem, o fato de que é uma cidade

universitária, pois é uma questão de

identidade cultural. UMA comissão foi criada e

o mayor de Salamanca pediu-me para

designar o Prof. Enrique Cabero como

coordenador geral (principal gerente) da

celebração. E Cabero começou a desenvolver

as atividades.

O prof. Manuel Heras García - Diretor do SAC

USAL

Os serviços culturais para todos, e não

apenas para a comunidade acadêmica

(alunos, professores e funcionários).

Promoção e preços livres. Segundo o Prof.

Manuel Heras, nenhuma das atividades

culturais é dedicado apenas para os alunos,

mas é evidente que, durante o planejamento

das atividades, o serviço sempre leva em

consideração que o público-alvo é essencial

ao público acadêmico, a comunidade

universitária; no entanto, qualquer tipo de

atividade é aberta a toda a cidade de

Salamanca, para toda a província, de fato. No

entanto, existem alguns preços especiais para

as pessoas que fazem parte da comunidade

universitária ou alguns descontos em

determinados comportamentos.

"Fonseca Noites". Cidade Conselho +

Câmara Municipal apoiar o festival (no Verão).

Segundo o Prof. Manuel Heras,

tradicionalmente, o Conselho da Cidade, bem

como a Câmara Municipal têm cooperado

com "Buenas Noches del Fonseca" (Fonseca

noites). É claro, houve momentos durante as

crises que repercutiu fortemente em toda

Espanha, principalmente na comunidade os

Page 156: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

124

Entrevistado Resultados

departamentos de administração, que não

poderia colaborar muito.

Este ano, todos eles começaram cooperar

mais uma vez: a Prefeitura Municipal, através

da Fundação Universidade Salamanca e na

cultura, e também o Conselho da Cidade de

Castela e Leon. O Fonseca noites são

atividades tradicionais que acontecem no

verão, principalmente em Julho, e eles estão

abertos a toda a população de Salamanca. A

cidade recebe muitos turistas e é preciso

oferecer uma imagem comum da cultura, que

é muito importante.

Em resumo, qualquer atividade cultural, até

mesmo uma conferência literária realizado em

Filologia College está aberta ao público, que

poderão vir, intervir, etc. Muitas das atividades

são gratuitas. Aqui, em especial, a

universidade e a cidade deve estar

estritamente ligado porque Salamanca vive

um pouco a vida universitária. Assim, as

atividades culturais devem ser bem

planejados. Se não houver uma programação

conjunta e coerente, chama-se a atenção,

principalmente como um lugar para os

estrangeiros a aprender o espanhol como

língua estrangeira. 70% Dos alunos de pós-

graduação na USAL são estrangeiros e,

durante o Verão, apesar de muitas pessoas

que vão de férias e deixar Salamanca, a

cidade população aumenta, pois muitas

pessoas chegam aqui para aprender

espanhol. Salamanca tem oitenta anos de

tradição no ensino de espanhol, além de ter

um ambiente acolhedor.

A Universidade é o motor da cidade (bens e

serviços), sem as indústrias. Segundo o Prof.

Page 157: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

125

Entrevistado Resultados

Manuel Heras, apesar do fato de que a

Câmara Municipal da Cidade orçamento é

quase o mesmo da universidade, sempre

houve uma separação. A Universidade é o

motor da cidade, as indústrias são

relativamente inexistente, portanto, o dinheiro

vem na forma de bens e serviços. É uma

cidade com uma atmosfera juvenil que pode

ser sentida nas ruas; ele é muito dinâmico,

muito jovem cidade, com uma grande

quantidade de estrangeiros que estão

constantemente com o programa Erasmus e

para aprender espanhol. Trata-se de uma

mistura de culturas e as autoridades estão

conscientes. Ele não acredita que tenha

havido qualquer desacordo entre o poder civil

e às autoridades académicas. Sempre houve

um bom relacionamento entre os dois. O atual

prefeito da cidade, iniciou a sua carreira

política na universidade classes, sendo um

aluno diretor. Portanto, tudo é misturado e

conjunta, nesta cidade, a vida acadêmica,

bem como a vida civil.

Page 158: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

126

Page 159: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

127

CAPÍTULO 3: CAMPINAS – BRASIL

3.1. CAMPINAS, BRASIL

Campinas é uma cidade do inteiror do Estado de São Paulo,

localizada na região sudeste do Brasil, com aproximadamente 1.154.617

habitantes (IBGE, 2014), sendo o terceiro município mais populoso do estado,

o décimo mais rico do Brasil, responsável por mais de 15% da produção

científica nacional e considerado o terceiro maior polo de pesquisa e

desenvolvimento do país. Campinas também é conhecida como o maior centro

de tecnologia da América Latina.

Contextualizando historicamente, o núcleo urbano denominado

Campinas foi designado oficialmente como município em 1842; contudo, surgiu

no século XVIII e existem controvérsias sobre data precisa da origem do

povoado (REVISTA DE HISTÓRIA REGIONAL, 2011), mas a municipalidade

adota o ano de 1774 como data comemorativa. O Capitão Barreto Leme 5 é

considedaro o fundador do povoado de Nossa Senhora da Conceição das

Campinas do Mato Grosso, como parte da Vila de Jundiaí. O povoado

caracterizou-se pela produção de açúcar e as atividades comerciais, passando

à Vila de São Carlos (1797), que se transformou oficialmente na cidade de

Campinas em 1842, período que marca a superação do plantio de cana de

5 Segundo o historiador Benedito Otávio, Barreto Leme nasceu em Taubaté em 1704, filho de Pedro

Leme Prado e Francisca de Arruda Cabral. Há, porém, controvérsias sobre ele ser ou não taubateano, e o

historiador Benedito Alípio Barros, em seu livro “Caçapava” (1955), defende que Leme nasceu em

Caçapava Velha, na época pertencente ao município de Taubaté, e usa como prova um documento de

23 de outubro de 1735, do batismo de Quitéria, filha de Barreto Leme, na igreja Nossa Senhora D’Ajuda

de Caçapava Velha. O Capitão Barreto Leme se casou, em 1730, com Rosa Maria de Gusmão, filha de

Miguel Garcia da Cunha e de Maria Gusmão. Mudou-se para a vila de Jundiaí, fundando a povoação que

foi tornada Freguesia em 1773, com uma capela de Nossa Senhora da Conceição das Campinas,

pertencente então a Jundiaí, sob o nome Campinas de Mato Grosso. Quando da criação da Freguesia, o

pequeno povoado contava com 51 famílias e 854 pessoas. Em 1774, o governador, D. Luís Antônio de

Sousa Botelho Galvão, nomeou Barreto Leme fundador da Freguesia, a qual teve o foro de Vila em 1797

com o nome de Vila de São Carlos e foi elevada a cidade em 1842 com o nome de Campinas.

Page 160: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

128

acuçar pelas lavouras de café, aumentando a riqueza do município, com o

crescimento e a complexidade da economia cafeeira.

Conhecida como ‘Princesinha do Oeste’ em alusão à marcha do café

de março através da parte oeste da Província de São Paulo, Campinas se

projetou em um avanço de modernização nas últimas décadas do século XIX e

durante as primeiras décadas do século xx, transformando-se em referência de

progresso para a infraestrutura regional: em saneamento, energia,

comunicações, saúde pública, indústria, transportes e educação.

Em 1930, a economia cafeeira viveu um grave momento de crise, que

acabou promovendo o avanços da implantação e consolidadação do sistema

industrial, gerando novas perspectivas de desenvolvimento econômico,

alavancando também o desenvolvimento do setor de serviços.

No domínio econômico, a cidade buscou conciliar a abertura / expansão do novo agro-industrial de séculos de tradições antigas de comércio e serviços às frentes, acrescentando que o curso da década de 1960, novos centros de ensino, pesquisa e tecnologia, entre elas, a Universidade Estadual de Campinas (1966), do Instituto de Tecnologia de Alimentos (1969) e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (1976). Em 1980, já no segundo centro industrial do país em valor de produção (depois da Região Metropolitana de São Paulo) A rubrica, Campinas vive a instalação do Instituto Nacional da Tecnologia da Informação (1982), o Laboratório Nacional de Luz Síncontron (1984) e da Embrapa Informação Tecnológica e Embrapa Monitoramento por Satélite para (1989), as instituições que têm reforçado um novo tipo de desenvolvimento industrial nas áreas da informática e das telecomunicações. (PREFEITURA DE CAMPINAS, 2014)

Dentro do contexto da urbanização Campinas teve um crescimento

substancial em um curto prazo de tempo vinculado a um processo migratório

progressivo, o qual fez a cidade crescer 15 vezes em território e 5 vezes em

população ao longo de quatro décadas (1950/1990), transformando a área

urbana em cerca de 800 km², com quatro distritos (Joaquim Egídio, Sousas,

Barão Geraldo e Nova Aparecida) e centenas de bairros.

Apesar de um grande desenvolvimento voltado para os setores

industrial, de tecnologia e serviços, a cidade mantém ainda uma zona agrícola

relevante para a economia regional, desde a produção de hortifrutigranjeiros

para abastecimento regional, até a produção sucroalcoleira de larga escala.

Page 161: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

129

Essas características de desenvolvimento econômico associadas à

implantação da Unicamp (1967), também promoveu um crescimento grande no

número de instituições privadas de ensino superior e de institutos privados de

pesquisa. (Campinas, 2014).

Como a maioria das grandes cidades brasileiras, Campinas dispõe

de cinemas, teatros, museus, parques e belos shoppings centers. Os

restaurantes servem uma grande variedade de pratos regionais e

internacionais, enquanto os bares, aqui denominados ‘barzinhos’ são populares

pontos de encontro para estimular conversas e música ao vivo. Campinas

também é o lar de duas equipes populares de futebol: Guarani e Ponte Preta. A

diversão nas proximidades de Campinas é rica e variada. São Paulo, uma das

maiores cidades do mundo e um importante centro cultural, está localizada a

100 quilômetros a sudeste de Campinas - uma hora de viagem de carro ou

ônibus. (UNICAMP, 2014).

Além disso, Campinas é servida por uma extensa rede de

transportes que pode levar os turistas de qualquer parte da cidade para outra.

Existem conexões e interligações urbanas, mas a cidade necessita de uma

melhoria de qualidade nos sistemas de transportes coletivos. Existem dois

aeroportos internacionais que servem a região de Campinas: o Aeroporto

Internacional de Viracopos (VCP), que está localizado a 30 quilômetros do

campus e o Aeroporto Internacional de Guarulhos (GRU) localizado a 135

quilômetros do nosso campus principal. Há um serviço de transporte de ônibus

que liga Campinas aos dois aeroportos. (UNICAMP, 2014).

3.2. VISÃO GERAL DA UNICAMP

Desde a sua fundação, em 1966, a Unicamp tem valorizado muito a

presença de estudantes estrangeiros e membros do corpo docente no âmbito

da sua comunidade acadêmica. A UNICAMP dá as boas-vindas aos cidadãos

de todos os países e a presença deles faz do campus um local multicultural

animado. O campus universitário foi nomeado por seu fundador, Zeferino Vaz,

que sonhou com a Unicamp e viu o seu nascimento em 1966. Os campos

Page 162: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

130

verdejantes inclinados onde se encontra hoje eram usados para as plantações

de café e de cana-de-açúcar, mas agora hospeda dois milhões de metros

quadrados de campus universitário com grandes áreas verdes e de

preservação ambiental. Considerada uma instituição jovem se comparada a

outras universidades brasileiras, a UNICAMP foi fundada em resposta a uma

grande demanda de profissionais especializados no Estado de São Paulo, em

uma das regiões mais desenvolvidas do país. Hoje em dia, a universidade

conta com três campi localizados em Campinas, Piracicaba e Limeira, três

hospitais, vinte e três centros interdisciplinares e duas escolas técnicas e é o

lar de numerosos projetos de pesquisa que têm vindo a contribuir para o

desenvolvimento do país como um todo.

Tabela 6 - UNICAMP em números 2013.

Recursos Humanos.

Corpo docente: professores com doutorado 1.759; 99% não docentes: 8.254.

Graduação

Cursos acadêmicos: 70; Total de alunos: 18.338; Diplomas: 2.249.

Pós-graduação

Programas acadêmicos: Mestrado 156; Doutorado: 68; Especialização: 74.

Total de alunos: 16.195

Mestrado: 5.263; Doutorado: 6.141; Especialização: 1.425 Inscrições

Especiais: 3.366; Teses: 2.546; Mestrados: 1.310; Doutorados: 946;

Especialização: 290.

Pesquisa e Inovação

Artigos indexados: 3.149; Publicações: 20.753.

Pedidos de Patente: Total: 75

Serviços de Saúde

Leitos hospitalares: 856; Internações hospitalares: 36.271; Cirurgias: 60.837; Partos:

4.838 (UNICAMP, 2014).

Fonte: Anuário UNICAMP 2013

A universidade tem aproximadamente 17.000 estudantes de

graduação e 20.000 alunos de pós-graduação. A maioria dos alunos de

graduação vem do estado de São Paulo, enquanto que os alunos de pós-

graduação vêm, literalmente, de toda parte do país. Há quase 1.800 membros

Page 163: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

131

docentes, 98% com doutorado. A UNICAMP é uma universidade pública

totalmente sustentada pelo Estado de São Paulo. Ela também tem acesso aos

fundos públicos e privados de pesquisa. Como em todas as instituições de

ensino público brasileiro, nossos alunos (brasileiros ou estrangeiros) não

pagam mensalidades e têm acesso aos restaurantes subsidiados no

campus (UNICAMP, 2014).

3.3. INSTITUTO DE ARTES DA UNICAMP

O Instituto de Artes da Unicamp tem como início de suas atividades

o registro histórico do primeiro Concerto Oficial do Coral UNICAMP, realizado

na Catedral Metropolitana de Campinas, no dia 16 de novembro de 1971, sob a

regência do Maestro Benito Juarez. Na lei que criara a UNICAMP, o Instituto

de Artes passou a existir institucionalmente desde 1963; contudo, apesar do

ano de 1971 ter sido palco de muitas atividades artístico-culturais, escolheu-se

o concerto de 1971 como o marco inicial do Instituto.

O primeiro departamento implantado foi o Departamento de Música,

que, inicialmente, teria a orientação do Maestro Professor Hans Joachim

Koellreutter. A ideia inicial era desenvolver atividades de divulgação musical:

concertos, coro universitário e formação de um conjunto de instrumentos com o

objetivo de conquistar a aprovação da comunidade universitária e, com isso,

prepará-la para o estabelecimento do departamento e para o futuro

desenvolvimento de atividades de cunho didático. Infelizmente, o Maestro

Koellreutter não pôde assumir o cargo. Criou-se, então, uma comissão

coordenada pelo Prof. Rogério Cezar Cerqueira Leite e formada pelos

professores Friedrich Gustav Brieger, Marcelo Damy de Souza Santos e José

Aristodemo Pinotti para o desenvolvimento das atividades pretendidas.

Ao longo dos 37 anos de atividade, o Instituto de Artes formou

atores, músicos, artistas visuais, educadores artísticos, professores

universitários, e também atuou complementando a formação dos alunos das

diferentes carreiras acadêmicas da UNICAMP. O Instituto atrai alunos de

outros cursos que já têm alguma relação com a produção artística, seja por

tocarem algum tipo de instrumento musical, ou por terem feito aulas de teatro

Page 164: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

132

durante sua formação escolar, por terem familiares que são artistas ativos, por

produzirem quadros, fotografias, entre outras atividades. Estes acabam

buscando esta relação com o Instituto de Artes para aperfeiçoar seu ‘hobby’,

desenvolver uma habilidade nova ou para resgatar um momento da sua

formação pessoal que estava perdido ou atrofiado. Outros se aproximam por

gostarem apenas de contemplar e para apurar seu olhar de observador. Para

alguns, este é o primeiro contato com o universo da arte.

O Instituto de Artes também formou, na comunidade universitária

(professores, funcionários, cônjuges e filhos) e na comunidade das cercanias

físicas do campus de Barão Geraldo, um público apreciador das diferentes

manifestações artísticas desenvolvidas nos projetos dos cursos de graduação,

pós-graduação e extensão.

Dentro desta perspectiva, faz-se importante uma contextualização

histórica do Instituto de Artes da UNICAMP ao longo dos 37 anos de atuação e

também uma coleta de informações relevantes dentro desse período para a

construção de uma base de dados que será analisada na presente pesquisa.

5.3.1 LINHAS DE PESQUISA DO DEPARTAMENTO DE

ARTES CÊNICAS DO INSTITUTO DE ARTES (IA)

Em 2006, o Departamento de Artes Cênicas comemorou 20 anos de

criação. Nas palavras de Maria Alice da Cruz (2006):

Contam os primeiros artistas e apreciadores da arte que tudo começou debaixo de uma árvore, quando, em 1978, a Unicamp convidou o diretor teatral Celso Nunes para desenvolver atividades culturais no campus. O dramaturgo decidiu pedir a colaboração de um grupo teatral denominado “Pessoal do Vítor”, formado por Paulo Betti, Adilson de Barros, Eliane Giardini, Marcília Rosário, Reinaldo Santiago, Waterloo Gregório, Anton Chaves e Márcio Tadeu Santos Souza. Alguns deles, durante muito tempo, foram professores no departamento, criado em 1986, depois de muitos trabalhos de extensão realizados pelo grupo de Celso Nunes.

Atualmente, o Departamento de Artes Cênicas pode ser

considerado uma referência cultural para o Teatro de Pesquisa e trabalha com

duas linhas básicas, Processos e Poéticas da Cena focada em

Page 165: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

133

experimentações e reflexão sobre os processos de criação e Fundamentos

Técnico/Poéticos do Intérprete voltada para estudos teóricos e experimentais

do trabalho do intérprete sobre si mesmo.

Ao ser questionado sobre o que acha do casamento entre

pesquisa e arte, Nunes 6 (2006) responde: “É o caminho. Ser artista é

pesquisar dentro de um universo de criação artística. É o caminho. Caminho do

crescimento”.

3.4. LUME : CRIAÇÃO E FORMAÇÃO

O LUME foi oficialmente criado em 1986 através da Portaria GR-

72/86, de 31-03-86, com a denominação de ‘Laboratório Unicamp de

Movimento e Expressão – LUME’. Institucionalmente, o laboratório foi

implantado com as características de um núcleo de estudos

interdisciplinares e, dentro da estrutura administrativa, foi funcionalmente

vinculado ao Instituto de Artes. Em 1993, a Deliberação CONSU-A-016/93,

de 04-10-93, dispõe sobre a transformação do Laboratório em ‘Núcleo

Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais "LUME" e, funcionalmente, o núcleo

foi integrado à Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de

Pesquisa da UNICAMP (COCEN).

Entretanto, o LUME surgiu em 1985, na UNICAMP, através da

combinação da experiência de Luís Otávio Burnier (1956-1995), discípulo de

Etienne Decroux, com pesquisas feitas por pessoas renomadas como Eugênio

Barba, Philippe Gaulier, Jacques Lecoq, Ives Lebreton e Jerzy Grotowski, bem

como com estudos do teatro oriental (Nô, Kabuki e Kathakali).

Ao longo desses anos, o LUME, sediado em Barão Geraldo,

transformou-se em um valoroso pólo teatral no Brasil, tendo criado 23

espetáculos, inúmeros workshops e demonstrações técnicas do grupo

apresentados por todo o país e por mais de 20 países, entre eles: Argentina,

6 Entrevista de Celso Nunes para o Jornal da Unicamp - 2006

Page 166: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

134

Peru, Equador, Bolívia, Costa Rica, Espanha, França, Alemanha, Inglaterra,

Escócia, Portugal, Canadá, México, EUA, Egito, Israel e Coréia do Sul.

O LUME valoriza o intercâmbio de artistas para o enriquecimento da

arte e encontrou em Iben Nagel Rasmussen e Kai Bredholt (Odin Teatret,

Dinamarca), Natsu Nakajima e Tadashi Endo (Japão), Nani e Leris

Colombaioni (Itália) e Sue Morrison (Canadá) companhia valorosa em suas

pesquisas.

Figura 21- Reportagem 20 anos Lume.

Fonte: Diário do Nordeste – 2005

Fazendo-se referência na formação de atores e pesquisadores teatrais,

o LUME utiliza-se de procedimentos técnicos e criativos que colocam o ator em

contato direto com o público, seja dentro do restrito espaço teatral, como

também em ruas ou praças. Para tanto, dispõe de inúmeras atividades

didáticas: cursos de curta duração, assessorias e orientações de práticas e

teóricas, palestras, mesas redondas, simpósios, demonstrações práticas

abertas à comunidade, entre outras.

Page 167: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

135

Os cursos desenvolvidos pelo LUME a partir de uma metodologia

própria estão voltados para o treinamento do ator: a voz, a energia, a ação, a

utilização dos objetos, a mímesis corpórea, a utilização cômica do corpo, entre

outros. O LUME organiza, conjuntamente com escolas, universidades, festivais

ou companhias teatrais, cursos de verão (com duração de três semanas),

cursos em diversas partes do Brasil e no exterior.

3.5. ATIVIDADES CULTURAIS – UNICAMP

Na estrutura organizacional da UNICAMP, existem diversos grupos

de trabalho que não estão vinculados institucionalmente diretamente aos

cursos de graduação e pós-graduação em Artes, mas atuam na criação e

podução cultural, organizando apresentações, oferecendo cursos de

aprimoramento artístico, oportunidades de bolsas de estudo focadas em

atividades artísticas, e outras atividades. No entanto, estão distribuídos em

diversos órgãos e unidades da universidade e se organizam de forma

independente. Faremos uma abordagem geral destas atividades; contudo, para

as analises da pesquisa iremos nos concentrar nas atividades culturais de

extensão universitária organizadas por dois órgãos da Pro-reitoria de Extensão

e Assuntos Comunitários (PREAC).

3.5.1. CENTRO DE INTEGRAÇÃO, DOCUMENTAÇÃO E

DIFUSÃO CULTURAL (CIDDIC)

O Centro de Integração, Documentação e Difusão Cultural (CIDDIC)

é o resultado da fusão do Núcleo de Integração e Difusão Cultural (NIDIC) e do

Centro de Documentação de Música Contemporânea (CDMC). Trata-se de um

órgão ligado à Coordenadoria de Centros e Núcleos (COCEN), que tem como

objetivo principal intensificar a pesquisa e a execução de atividades

relacionadas à música contemporânea brasileira dos séculos XX e XXI.

O órgão ainda conta com as atividades da Orquestra Sinfônica da

Unicamp (OSU) e da Escola Livre de Música (ELM), que formam a Unibanda. A

nova fusão demandou que a OSU reformulasse seu repertório e agora, além

Page 168: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

136

das obras clássicas, a orquestra também decidiu fazer uso do acervo de 15 mil

exemplares do CDMC e reproduzir, também, músicas brasileiras. (CIDDIC,

2014)

3.5.1.1.1. ORQUESTRA SINFÔNICA DA UNICAMP (OSU)

A Orquestra Sinfônica da Unicamp (OSU) tem por objetivo principal

difundir os resultados das pesquisas em criação musical e desempenho

instrumental contemporâneo que acontecem no Centro. Os resultados dessas

pesquisas, realizadas com o apoio de professores, pesquisadores, artistas

residentes ou convidados, podem acontecer nas mais variadas formas:

gravações musicais, produções audiovisuais, apresentações públicas ou

virtuais através da Internet ou da própria TV.

Figura 22 - OSU UNICAMP - Créditos Marilia Vasconcellos.

Fonte : CIDDIC

Além disso, a OSU, além de participar dos cursos de graduação e

pós-graduação ministrando aulas nas áreas de orquestração e prática

orquestral, regência, composição e música de câmara e através dos projetos

de pesquisa, também é responsável pela execução musical nos projetos

acadêmicos, culturais e artísticos do CIDDIC. (CIDDIC, 2014)

Page 169: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

137

3.5.1.1.2. ESCOLA LIVRE DE MÚSICA (ELM)

A Escola Livre de Música (ELM) surgiu em 2013 e tem por objetivo

primordial ensinar de forma multidisciplinar os fundamentos musicais,

estimulando, dessa forma, a sensibilidade, a imaginação e a apreciação pela

música. O órgão também é responsável pelos cursos de aperfeiçoamento em

instrumentos musicais além dos Cursos Livres, das Oficinas e das Palestras.

Figura 23 – Aula na ELM - Créditos ELM.

Fonte: CIDDIC

Além disso, a ELM promove atividades culturais que favorecem o

contato com a música atual, bem como com técnicas consagradas, o que pode

resultar em ações e pensamentos mais críticos que podem também surtir efeito

fora da sala de aula. (CIDDIC, 2014)

3.5.1.1.3. CORAL UNICAMP ZÍPER NA BOCA

O Coral Unicamp Zíper na Boca atua com a OSU e com a Orquestra

Sinfônica Municipal de Campinas (OSMC) sob a regência da maestrina Dra.

Vívian Nogueira e é formado por alunos, funcionários e professores da

Unicamp. Disfrutando de um repertório variado e de uma enorme agenda de

Page 170: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

138

compromissos que incluem apresentações nacionais nos mais variados

estados brasileiros, bem como internacionais, o grupo já recebeu três prêmios

do Mapa Cultural Paulista (1997, 2011-2012 e 2013-2014).

Figura 24 - Coral Ziper na Boca - Créditos Casa do Lago.

Fonte: Casa do Lago

O Coral também foi responsável pela montagem de musicais

famosos como ‘Os Saltimbancos’ (2005), ‘ABBA Forever: The Mamma Mia

Songs’ (2010) e ‘Love is All you Need: A Tribute to the Beatles’ (2013), entre

outros, pela gravação de um CD intitulado ‘Zíper 15 anos’ (2000) e pelo

lançamento do DVD 25 anos (2011).

Por todos esses feitos nos campos artístico e cultural da cidade de

Campinas, o grupo recebeu, em 2011, a ‘Medalha Carlos Gomes’ da Câmara

Municipal de Campinas. (CIDDIC, 2014)

3.5.1.1.4. CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DE MÚSICA

CONTEMPORÂNEA (CDMC)

O Centro de Documentação de Música Contemporânea (CDMC)

surgiu em 1989 a partir do Projeto Brasil-França (Années France-Brésil), um

programa de cooperação cultural que vigorou de 1985 a 1989. Esse projeto

Page 171: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

139

possibilitou a formação de um acervo de seis mil partituras de música

contemporânea do século XX, com obras de compositores internacionais

renomados. Atualmente, o acervo, cuja consulta é aberta ao público, também

conta com cerca de três mil e quinhentas partituras de compositores brasileiros

dos séculos XX e XXI e com CDs de música contemporânea nacional e

internacional.

Dentre os principais objetivos do CDMC, podemos mencionar:

O desenvolvimento de pesquisas, a fim de construir, manter,

divulgar e promover a produção de músicas contemporâneas a partir dos

aspectos da composição, práticas interpretativas e ciências musicais. Suporte

de pesquisas a pesquisadores e instituições externos;

A promoção e o estímulo de intercâmbios e colaborações

externas à Universidade, visando fomentar a divulgação da produção

intelectual brasileira no campo da música atualmente;

A promoção de uma melhor integração da comunidade musical

brasileira por meio da pesquisa; e

A organização de concertos a fim de divulgar a música

contemporânea.

O CDMC ainda dispõe dos seguintes recursos:

Laboratório de Conservação Preventiva de Partituras;

Método de catalogação de documentação musical em formato

MARC (1997-2005) desenvolvido pelo CDMC em colaboração com a Biblioteca

Central da Unicamp;

Thesaurus de formação instrumental/vocal; e

Normatização de abreviaturas de instrumentos/vozes/grupos

musicais e elaboração de léxico musical em oito línguas. (CIDDIC, 2014)

Page 172: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

140

3.5.2. SERVIÇO DE APOIO AO ESTUDANTE (SAE)

SAE AÇÃO CULTURAL

O SAE Ação Cultural sofreu, recentemente, uma alteração no que

diz respeito a sua programação visual e nomenclatura a fim de atender a

demanda crescente de novos espaços culturais, dentro e fora da universidade.

O SAE Ação Cultural dispõe de seis modalidades, a saber:

SAE Ação Cultural- Música: divulga a música produzida pelos

alunos da Unicamp e promove palestras e workshops com

artistas renomados da música nacional e internacional;

SAE Ação Cultural- Música Erudita: amplia as atividades do

‘Música Erudita’ e favorece um contato mais próximo entre a

música ‘clássica’ e o repertório erudito e a comunidade

acadêmica;

SAE Ação Cultural- Dança: tem como subtítulo ‘Do corpo e suas

manifestações’ e apresenta trabalhos corporais diversos para a

comunidade acadêmica;

SAE Ação Cultural- Teatro: realiza apresentações de teatro pelo

campus da Unicamp e leva o teatro à comunidade acadêmica,

divulgando, assim, a produção teatral da UNICAMP;

SAE Ação Cultural- Cinema: exibe longa-metragens e vídeos

para todas as idades; e

SAE Ação Cultural- Artes Visuais: nova área que funciona a partir

da inscrição de projetos de exposição. (SAE, 2014)

PROGRAMA ALUNO- ARTISTA

O Programa Aluno- Artista teve início em 2010 e tem como objetivo

principal incentivar os alunos de todas as áreas de graduação a apresentar

projetos artístico-culturais. Os projetos podem ser em grupo ou individuais com

o recebimento de até duas bolsas por equipe.

Page 173: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

141

O Programa Aluno- Artista já está em sua quarta edição e apresenta

seis modalidades de expressão, a saber:

Artes Cênicas: teatro e circo;

Artes Corporais: dança;

Artes Visuais e Multimeios: exposições de gravuras, desenhos,

esculturas, pinturas, fotografias, artes gráficas, entre outras

linguagens e intervenções artísticas no campus, como mural de

grafitti e produções de vídeo;

Música: apresentações de canto, de música clássica ou moderna,

com instrumentos de corda, de sopro, de teclas, de percussão,

eletrônicos, entre outras;

Diversidade Cultural: oficinas ambientais e socioculturais e

organização de encontros e debates sobre temas atuais; e

Manifestações Literárias: divulgação de ensaios literários, contos,

poesias, ficções, entre outras obras. (SAE, 2014)

3.6. PRO-REITORIA DE EXTENÇÃO E ASSUNTOS

COMUNITÁRIOS-PREAC

Atualmente, a PREAC (Pró-reitoria de Extensão e Assuntos

Comunitários) é um órgão muito importante da UNICAMP responsável por

planejar e colocar em prática as propostas de atividades de extensão

universitária organizadas internamente e também as propostas recebidas de

outras unidades universitárias. A fim de fazer isso, ela conta com fundos

próprios da instituição ou com recursos obtidos em diferentes órgãos brasileiros

de fomento ou internacionais, em outras instituições de ensino, empresas

públicas ou privadas, organizações não governamentais, entidades públicas,

entre outras fontes.

As atividades de extensão universitária desenvolvidas pela

PREAC podem ser de cunho social, cultural, tecnológico, de programas

educacionais, publicações e através de eventos, entre outros serviços. Tais

iniciativas ajudam a PREAC a cumprir a missão da UNICAMP como uma

Page 174: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

142

instituição que busca desenvolvimento social e difunde, através dos seus

membros, todos os tipos de conhecimentos ali produzidos.

A PREAC conta com diversas organizações para realizar seus

ideais, a saber:

Assuntos Comunitários Office - CAC

www.preac.unicamp.br/cac

Centro Cultural de Inclusão e Integração Social - CIS-Guanabara

www.cisguanabara.unicamp.br

Departamento de Coord. de Desenvolvimento Cultural-CDC

www.preac.unicamp.br/cdc

Conselho de extensão - CONEX

www.preac.unicamp.br/conex

Espaço Cultural Casa Do Lago - ECULT

www.preac.unicamp.br/casadolago

Extension School - EXTECAMP

www.extecamp.unicamp.br

Arte e Ciência Estudo e Laboratório de Pesquisa – LEPAC

www.preac.unicamp.br/lepac

Rádio e TV Unicamp- RTV

www.rvt.unicamp.br

Dentre estas organizações, três delas são importantes para a

presente pesquisa: o Centro Cultural de Inclusão e Integração Social (CIS-

Guanabara), a Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural (CDC) e Espaço

Cultural Casa do Lago (ECULT). O primeiro é uma antiga estação ferroviária e

um património histórico e cultural de Campinas. O Espaço CIS-Guanabara

desenvolve atividades culturais, de lazer e projetos educacionais para o público

de Campinas e seus arredores. O CDC oferece condições de implementar

mecanismos que favorecem o desenvolvimento cultural e a apresentação de

uma política cultural adequada. É também responsável pela administração do

Centro de Convenções e do Ginásio multidisciplinar. Os seus objetivos são não

só articular, desenvolver e coordenar as atividades culturais e esportivas, mas

Page 175: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

143

também informar sobre a organização de eventos que contribuam para a

difusão de conhecimentos acadêmicos. Por último, o ECULT dispõe de mil de

metros quadrados de espaço localizado no campus da UNICAMP, onde você

pode encontrar uma sala de cinema, uma sala multidisciplinar e uma área de

exposição onde programas culturais, educacionais e artísticos são

apresentados durante todo o ano.

3.6.1. PREAC : GESTÃO E INFRA-ESTRUTURA

A PREAC tem um papel muito importante na estrutura

organizacional da UNICAMP e dispõe, dentro da sua organização, de seis

órgãos institucionais; contudo, nesta avaliação, serão consideradas apenas as

características de infraestrutura e gestão operacional dos órgãos que realizam

ações culturais dentro de suas próprias infraestruturas físicas: a Casa do Lago,

a CDC e o CIS-Guanabara.

Figura 25 - CIS Guanabara - Créditos PREAC.

Fonte: PREAC.

Apesar de estes órgãos estarem vinculados diretamente ao

comando do Pró-reitor de Extensão, eles têm seus próprios coordenadores, os

quais organizam e administram as atividades dentro de cada unidade, sendo

estes responsáveis pela gestão administrativa, programação, parcerias e de

Page 176: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

144

todas as ações necessárias para seu pleno funcionamento. Contudo, apesar de

terem autonomia sobre a gestão da unidade, em especial sobre a programação

cultural de cada espaço cultural, existem reuniões realizadas entre as unidades

para ciência das ações que cada local pretende desenvolver e também para se

estudar a viabilidade de parcerias em ações culturais. Neste sentido, avaliamos

os órgãos com base em entrevistas com pessoas que atuam ou atuaram

nestes locais e nos relatórios oficiais de gestão do período de 1999 até 2012,

disponibilizados pela PREAC em sua página oficial. Esta avaliação, em linhas

gerais, nos mostra que uma maior interlocução entre os órgãos da PREAC, e

destes com outros órgãos que produzem atividades culturais na UNICAMP,

pode alavancar ainda mais a oferta de atividades culturais para a comunidade,

além de promover trocas de experiências que ajudam na melhoria contínua da

gestão da produção cultural.

Figura 26 - Casa do Lago - Créditos Casa do Lago.

Fonte: Casa do Lago.

Existem, na UNICAMP, muitas ações de promoção e incentivo à

produção e difusão cultural; entretanto, não existe uma Comissão de Cultura,

como ocorre com outras atividades da universidade. Identifica-se uma carência

de uma comissão desta natureza que colabore com a melhoria da política

cultural da instituição. O papel desta comissão não seria de gestão direta, não

é uma forma de concentrar as decisões sobre as atividades e a gestão

Page 177: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

145

administrativa, a proposta é de um grupo que possa trocar experiências,

divulgar as ações que estão sendo planejadas, criar uma agenda anual com

todos os eventos programados, integrar e colaborar com novas ações que

possam surgir nas diversas unidades de ensino e pesquisa da universidade e,

até mesmo, criar uma base de dados sobre o histórico global das diversas

atividades culturais que são organizadas na UNICAMP.

Como exemplo, podemos citar outros programas que ocorrem

anualmente como o SAE Ação Cultural, o FEIA (FESTIVAL DO INSTITUTO DE

ARTES) e tantas outras atividades que ocorrem em paralelo ao longo do

calendário acadêmico. No entanto, muitas vezes, elas ocorrem ao mesmo

tempo e poderiam ser integradas, não no sentido de concentração das

tomadas de decisão, mas no sentido de integração na comunicação e

divulgação, para que todas as atividades tenham público, colaborando para

uma atividade de fomento à criação de um público cativo na programação

cultural dos campi e atraindo principalmente novas pessoas, pessoas que

estão fora do convívio da comunidade universitária.

As diferentes ações culturais da UNICAMP que estão sendo bem

executadas merecem preservar sua independência porque isso é muito

importante para a diversidade da programação cultural, para a oferta da

programação pensada por diferentes pessoas, as quais têm diferentes gostos e

preferências e que poderão ofertar coisas diferentes para pessoas diferentes.

O sentido de união de participantes das diferentes equipes de produção cultural

tem o objetivo de fomentar uma política cultural institucional que colabore para

a perenidade das ações e, consequentemente, com a fidelização dos

espectadores.

Existem atividades culturais que são pontuais, mas existem outras

que ocorrem todos os anos e a criação de um calendário anual poderia

fomentar a fortalecer ainda mais estas atividades. A universidade tem os seus

calendários acadêmicos que determinam o prazo que devem acontecer as

atividades acadêmicas, assim os alunos e professores se organizam ao longo

do semestre para que tudo aconteça dentro do prazo. Se a mesma prática for

adotada para as atividades culturais, os organizadores, produtores e artistas se

Page 178: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

146

organizarão para que tudo ocorra dentro dos prazos estabelecidos, mas o

ponto principal é que o público pode se programar para isso e isso fideliza o

espectador, porque ele sabe, sempre, quando as atividades culturais de sua

preferência vão acontecer.

Dentro de suas metas definidas no planejamento estratégico da

PREAC (p. 4 – Relatório de Gestão 2005 -2006), temos, no descritivo das

atividades: “Aumentar apoio a atividades da UNICAMP a Ações Culturais e

Comunitárias.”, bem como fazer com que a PREAC estimule e promova a

articulação de todas as atividades de extensão das Unidades, Centros e

Núcleos, Cursos de Graduação e Pós-graduação e as demais unidades da

universidade que tenham interesse em desenvolver projetos culturais e de

extensão. Sobre o item ‘Estrutura no planejamento estratégico’ é citada a

criação de um banco de dados das atividades de extensão e, para os projetos

culturais, foi planejado, em 2007, o Banco de Dados da Coordenadoria de

Desenvolvimento Cultural – CDC; contudo, o foco inicial deste banco de dados

foi a organização de um acervo de imagens, com o armazenamento de fotos e

vídeos de eventos culturais realizados na CDC e na Casa do Lago.

Ao mencionarmos a CDC, precisamos contextualizar o papel que

esta coordenadoria deve exercer na universidade conforme postula a Portaria

GR-044/1999, de 08/11/1999 que a criou a partir da extinção da Assessoria de

Apoio a Eventos (APEU) e o Escritório de Ação Cultural (EAC), criados,

respectivamente, pelas Portarias Portaria GR-078/1986 e Portaria GR-

082/1994.

O Reitor da Universidade Estadual de Campinas resolve:

Artigo 1º. - Fica criada, junto à Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários, a Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural, com o objetivo de implantar e implementar mecanismos efetivos para o desenvolvimento cultural.

Artigo 2º. - Para atingir o seu objetivo, a Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural se propõe a:

I. elaborar e implementar, na área de extensão, políticas de desenvolvimento cultural para a Universidade;

II. promover, oferecer e difundir projetos de produção e difusão cultural, dentro e fora da Universidade;

III. prestar apoio técnico e administrativo a eventos promovidos pelas Unidades e a iniciativas extra-curriculares de interesse da comunidade universitária;

Page 179: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

147

IV. administrar o Centro de Convenções e o Ginásio Multidisciplinar;

V. propiciar as condições para o estabelecimento de convênios e contratos relativos ao desenvolvimento cultural que envolvem a Universidade, incluindo os de captação de recursos.

Ao lermos as três portarias citadas, podemos compreender que a

expectativa do magnífico reitor, Prof. Hermano Tavares, não foi de efetuar a

extinção de duas células administrativas, mas de concentrar as atividades da

APEU e do EAC em uma única coordenadoria pela similaridade e

complementaridade de suas funções dentro da UNICAMP.

Ao avaliar primeiramente os relatórios de gestão da PREAC, temos

a impressão que, ao longo do exercício de suas atividades, a CDC atuou mais

como uma unidade que sediava eventos, cumprindo um papel de equipamento

cultural, fornecendo infraestrutura física e recursos humanos (apoio técnico e

administrativo) para a realização de eventos culturais, congressos e eventos

institucionais, ou seja, atendendo quase que exclusivamente aos itens III e IV

do Artigo 2º da Portaria GR-044/1999. Esta impressão transmitida pelos

relatórios institucionais não representa plenamente a realidade, porque o

processo das entrevistas mostrou que uma grande diversidade de atividades

culturais foi organizada e planejada pela equipe do CDC no período de 1999 à

2005, além da equipe do CDC coordenar ao longo de 2006 a programação das

atividades comemorativas dos 40 anos da UNICAMP. Com isto, constatamos

que, desde a sua criação até 2006, a CDC atendeu todos os objetivos descritos

no Artigo 2º da Portaria GR-044/1999.

Neste período de 1999 a 2005, foi organizada pela coordenação da

CDC, uma série de atividades culturais voltadas para a comunidade interna e

externa da Unicamp, com programações variadas visando contemplar públicos

diversos. No processo de transição para a fusão da APEU e do EAC em 1998,

já foram iniciadas as primeiras experiências, sendo que estas já podem ser

consideradas como sendo da CDC e, dentre elas, destacamos a série

‘Depoimentos’. Nesta atividade, uma personalidade do movimento cultural

brasileiro era convidada a fazer um depoimento sobre sua trajetória e, em

seguida, a plateia tinha a oportunidade de interagir com o convidado. Dentre os

Page 180: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

148

convidados, encontramos pessoas como Aracy Balabanian, Marcelo Rubens

Paiva (ex-aluno da Unicamp) e Pedro Bial, que aproveitou o convite e fez,

neste evento, o lançamento de seu filme ‘Outras Estórias’. A criação da CDC

promoveu um importante incremento na oferta cultural dentro da universidade,

viabilizando apresentações de artistas renomados gratuitamente ou com

ingressos de baixo custo. No ano de 1999, a universidade contou com a

organização de grandes shows musicais, com artistas nacionais como Marisa

Monte, a banda Skank e até a internacionalmente conhecida banda Deep

Purple, que, dentro de sua turnê no país, teve a Unicamp como um de seus

locais de apresentação.

Figura 27 – Placa de concreto assinada pela banda DEEP PURPLE no Ginásio da UNICAMP.

Fonte: Créditos Sylla John Taves.

Dentro da programação musical, a CDC também realizava

apresentações menores associadas com workshops, abrindo espaço para

músicos considerados alternativos como Guinga, Rosa Passos, Lula Glavão,

entre outros. Outra atividade importante era o baile dançante organizado na

quadra do ginásio, onde sempre havia uma banda de baile tradicional, como a

banda Tabajara e um show de um artista da música popular brasileira.

Page 181: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

149

A programação musical foi no período de 1999 a 2002. Tal atividade

conseguiu atrair a maior quantidade de público; contudo, depois de uma

fatalidade ocorrida em um show dos Titãs em setembro de 2002, os grandes

shows dentro do campus foram proibidos. Neste evento, houve um incidente do

lado de fora do ginásio, onde alguns jovens sem ingresso iniciaram um tumulto

para forçar a entrada, fato que gerou uma briga e um dos seguranças, da

equipe contratada pela empresa que gerenciava os bares do show, estava

armado e efetuou disparos que acabaram matando um jovem de 17 anos. Após

este incidente, atividades como esta foram excluídas da programação

(JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO, 2002).

Em 2006, ocorreu a troca de gestão e a CDC teve uma mudança na

forma de realização de suas atividades e passou a atuar mais como um

equipamento cultural, como gestora de infraestrutura, diminuindo a organização

de eventos próprios como os anteriormente citados.

O atual Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, Prof. João

Frederico da C. A. Meyer, declarou que, quando tomou posse como

coordenador da CDC no ano de 2009, o órgão era meramente um local onde

os eventos eram realizados e que uma de suas primeiras metas na gestão foi

fazer com que a unidade passasse a promover e a organizar eventos culturais.

Segundo ele, a CDC, desde 2009, passou a colaborar para o cumprimento de

uma das missões principais da PREAC, que é fomentar o estímulo à produção

cultural em ações de extensão à comunidade universitária e à população em

geral (Eliane da Fonseca Daré7, 2014).

7 Reportagem de Eliane da Fonseca Daré para o Portal da Unicamp sobre as comemorações dos 15 anos

da Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural (CDC) - 2014

Page 182: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

150

Tabela 7 – Históricos de Atividades CDC 2005-2007.

Fonte: PREAC Relatório 2005-2007.

A Casa do Lago é outro órgão da PREAC que é um equipamento

cultural, com espaço para exposições, sala de cinema e uma sala multiuso

onde ocorrem apresentações dos grupos de corais, da Orquestra da Unicamp,

espetáculos de dança, contação de estórias, além de ensaios abertos e outras

atividades. A Casa do Lago, desde a sua criação em 2002, colaborou com o

estímulo à difusão cultural, principalmente com atividades culturais

relacionadas ao folclore e à cultura popular brasileira. Este espaço foi

reformado para se transformar em um equipamento cultural. Neste local, existia

um restaurante que havia sido fechado após o encerramento do contrato com a

Page 183: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

151

empresa licitada. O coordenador da CDC neste período, Prof. Carlos

Fernandes, havia sido convidado pelo reitor para propor ideias de adequação

deste local para o projeto da reforma. A CDC acompanhou o processo da

reforma e, após a conclusão, a Casa do Lago passou a ser administrada pelo

Instituto de Artes (IA). No entanto, após um ano de atividade, o IA avaliou que

seria melhor que este espaço fosse administrado pela CDC. O instituto

continuaria colaborando com atividades de extensão no local, porém, para a

gestão operacional, seria melhor a integração da Casa do Lago à CDC. Desde

2003, existe uma maior integração da Casa do Lago com a CDC na busca do

desenvolvimento e fomento de ações conjuntas.

Figura 28 - Gráficos 21 e 22 : Atividades na Casa do Lago e público visitante 2005-2007.

Fonte: Relatório PREAC 2005-2007.

Page 184: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

152

A partir da análise dos relatórios de gestão disponibilizados pela

PREAC do período de 1999 a 2012, temos a impressão de que existiu uma

diferença na gestão das atividades culturais da CDC e da Casa do Lago. Esta

sensação é causada pela diferença de como os relatórios foram produzidos,

pois fica muito claro no próprio relatório e na forma como são apresentados os

dados dos dois órgãos. A CDC apresenta somente dados estatísticos do

número de eventos e atividades culturais realizadas ao longo dos anos, sem

apresentar dados de público participante. Além disso, não foram descritos

importantes eventos que ocorreram no período de 1999 até 2005, fortalecendo

a imagem de um local que apenas sedia eventos. Em relatórios institucionais,

devemos buscar um sistema padronizado para a organização da memória

institucional, a fim de evitarmos a perda de informações ou, até mesmo,

interpretações equivocadas da realidade retratada no relatório.

Por outro lado, na elaboração dos relatórios da Casa do Lago,

sempre foram apresentados dados estatísticos demonstrando o número de

atividades realizadas e o público participante destas atividades. O fato de

demonstrar o cuidado no registro da quantidade do público visitante torna

evidente uma preocupação com o fomento à formação e à manutenção de

público. Isso proporciona uma possibilidade de análises comparativas entre

atividades similares, ofertadas em anos diferentes.

Page 185: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

153

Figura 29 – Gráficos 23 e 24: Atividades na Casa do Lago e público visitante 2009-2012.

Fonte: Relatório PREAC 2009- 2012.

Este formato de apresentação de dados da CDC se inicia em 1999 e

continua até 2012, mesmo com as mudanças de gestão que ocorreram neste

período. Esse fato demonstra que, muitas vezes, rotinas e práticas mantidas

por muitos anos seguidos, cerca de 10 anos neste caso, criam uma cultura

organizacional que não responde rapidamente às mudanças promovidas por

uma nova equipe gestora.

Page 186: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

154

.

Figura 30 – Gráfico 25 : Atividades CDC 2009-2012.

Fonte: Relatório PREAC 2009- 2012.

Ainda dentro das discussões sobre infraestrutura e gestão, faremos

uma abordagem sobre o CIS Guanabara, que, dentre os órgãos da PREAC

analisados, é o mais novo em relação à CDC e à Casa do Lago, com o início

oficial de atividades em 2006, mas que cumpre um importante papel na relação

da universidade com a cidade de Campinas. Até 2006, pode-se considerar que

a maior parte das atividades culturais organizadas pela PREAC, quase sempre,

só foram ofertadas dentro do campus de Barão Geraldo, com poucas ofertas

de atividades até mesmo nos campi da UNICAMP em Limeira.

Partindo desse ponto, a criação e a manutenção de um equipamento

cultural da UNICAMP fora de seus campi e, neste caso, dentro da cidade de

Campinas, tornam-se um importante espaço de diálogo da comunidade

universitária com a sociedade campineira, mais ainda, uma forma de retorno

direto dos recursos que são investidos pela população do Estado de São Paulo

na UNICAMP para pessoas que não usufruíram diretamente da universidade,

como alunos, docentes ou funcionários.

A instalação do CIS Guanabara colaborou para a preservação do

patrimônio histórico da cidade de Campinas, sendo a preservação por si só

uma importante ação cultural de extensão. Esta presença no centro da cidade

é muito importante para mostrar tudo o que a universidade pode promover para

Page 187: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

155

a cidade além do atendimento do Hospital Universitário, o qual é a grande

referência para a maior parte da população da região metropolitana de

Campinas.

3.6.2. CAPACIDADE PRODUTIVA E AÇÕES

PROMOVIDAS PELA PREAC

O Ministério da Educação (MEC) aprovou cerca de R$ 1,3 milhões

em recursos para o financiamento de projetos de extensão universitária da

UNICAMP (PREAC projetos, 2014). As propostas foram elaboradas pelo corpo

docente das unidades e agências, com o apoio da Pró-reitoria de Extensão em

Assuntos Comunitários (PREAC). Foi realizada uma parceria com o SAE e,

dentre as propostas escolhidas, estavam projetos das seguintes unidades: da

Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC), do Instituto de Química (IQ) e

da Faculdade de Tecnologia (FT) de Limeira (PREAC projetos, 2014).

A Comissão considerou que os projetos e programas eram

ministeriais. Portanto, os projetos já teriam sido aprovados e não haviam

recebido os fundos. Os projetos aprovados foram submetidos ao programa de

extensão universitária (PROEXT) MEC. O objetivo, de acordo com a

coordenação da iniciativa, era apoiar as instituições de ensino superior público,

desenvolvendo ações que contribuíssem para a implementação de políticas

públicas. No entanto, muitos projetos não se referiam especificamente à área

cultural, tais como: Alternativas para o tratamento de efluentes em

propriedades rurais de Campinas; Ecoblocos: desenvolvimento criativo para

construção dos edifícios da comunidade e Chemical Bond: a escola pública e a

Unicamp, entre outros. Contudo, também foi aprovado um projeto chamado:

Parceria com o SAE Ação Cultural: educação, comunidade e campus, cujo

objetivo era proporcionar a interação de três áreas de conhecimento: a arte, a

cultura e a educação, envolvendo o trabalho de alunos de pós-graduação da

UNICAMP, especialmente nas áreas de Artes e Humanidades. O projeto

propunha a interação com a comunidade externa e ações nas escolas públicas

e creches ligadas à UNICAMP. Oficinas artísticas e culturais seriam oferecidas,

Page 188: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

156

além de ações voltadas exclusivamente para a comunidade universitária.

(PREAC projetos, 2014).

Todas as ações e projetos anteriormente citados demonstram uma

grande capacidade de realização, contudo devemos abordar alguns pontos

específicos da gestão interna da PREAC com relação às células

organizacionais CDC e Casa do Lago.

Dentro do planejamento organizacional e administrativo da

universidade, ao ser criada uma célula administrativa nova, deve-se sempre

considerar quais são as necessidades de recursos humanos e infraestrutura

física para que a nova unidade possa operar no cumprimento dos objetivos

para os quais foi designada. Neste sentido, este dimensionamento

organizacional define duas questões importantes, que são a capacidade

produtiva e o custo operacional da unidade, sendo que a aprovação deste

último dentro do orçamento anual da Unicamp, que é votado no Conselho

Universitário (CONSU) ao final de cada ano fiscal, é fundamental.

A CDC incia suas atividades em 1999 com uma grande e variada

oferta cultural; contudo, somando o incidente de 2002 e as trocas de gestão

entre 2005 até 2009, percebemos uma queda na oferta de atividades. A partir

de 2009, existe uma busca pelo aumento de oferta de programação cutural e

uma retomada aos objetivos do órgão. Desta forma, analisando as equipes

operacionais da CDC e da Casa do Lago nos anos de 2009 a 2013,

constatamos que a primeira possui 33 funcionários fixos em seu quadro

permanente e a Casa do Lago possui 11 pessoas, demonstrando uma grande

capacidade de recursos humanos para executar as atividades planejadas pela

unidade. No ano de 2010, as atividades culturais da Casa do Lago e da CDC

juntas receberam 63.662 visitantes; contudo, no mesmo ano, as atividades

culturais do SAC da Universidade de Salamanca receberam 120.757 visitantes

através dos esforços operacionais de uma de equipe composta por 10

funcionários.

Essa comparação não nos permite afirmar que a capacidade

produtiva da equipe da USAL é 20 vezes maior do que a das equipes da CDC

Page 189: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

157

e da Casa do Lago, porém nos indica dois caminhos para a busca por

melhorias qualitativas e quantitativas no sistema de atendimento do público

nestas unidades. O primeiro caminho a ser investigado é se a equipe da CDC

tem condições de realizar mais atividades culturais, se existe uma ociosidade

operacional latente, ou se as outras atividades da CDC (congressos,

formaturas, entre outras) estão consumindo a maior parte do tempo de

trabalho. O outro é fazer uma avaliação com o público visitante e com a

comunidade universitária em geral para averiguar se as atividades oferecidas

atendem às expectativas e aos nichos culturais que o público quer ver. Esse

segundo ponto é muito relevante porque não se pode somente pensar na

programação pelos gostos e anseios pessoais dos curadores, é preciso criar,

ao longo do ano, programações que atendam as diferentes preferências.

Page 190: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

158

Page 191: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

159

CAPÍTULO 4: ANALISE DAS DESCRIÇÕES E

DADOS COLETADOS

4.1. SALAMANCA E CAMPINAS

Iniciamos esta seção com um panorama geral, através da

comparação dos principais indicadores demográficos e econômicos para o

Brasil e a Espanha, os quais são fornecidos na Tabela 8 abaixo.

Tabela 8 - Comparação de indicadores demográficos e econômicos: Brasil e Espanha.

Indicador-chave Brasil Espanha

PIB Nominal USD$2.416.000.000.000,00 USD$1.389.000.000.000,00

PIB per capita USD$12.100 USD$30.100

Gastos com educação 5,8% do PIB 5% do PIB

Taxa de Desemprego 5,7% 26,3%

Taxa de Desemprego de

jovens entre 15-24 anos

15,4% 53,2%

Força de trabalho - por

ocupação

agricultura: 15,7%; indústria:

13,3%; serviços: 71%

agricultura: 4,2%; indústria:

24%; serviços: 71,7%

Usuários de Internet 75.982.000 28.119.000

Grupos étnicos Branco 47,7 %, mulatos 43,1

%, preto 7,6 %, Asian 1,1 %,

0,4% indígenas.

Composto de tipos

Mediterrâneos e Nórdicos

Idiomas Português (oficial) Nota:

Línguas menos comuns,

espanhola (zonas de

fronteira), Região Sul Alemão

e Italiano, e línguas

indígenas.

Espanhol castelhano (oficial)

74 %, Catalão 17 %, Galego

7 %, e Basco 2%%. Nota:

Aragonês, Asturiano, Aranês,

e outras línguas regionais

reconhecidas no âmbito da

Carta Europeia de Línguas.

Page 192: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

160

Indicador-chave Brasil Espanha

As religiões Católicos Romanos 64,6 %,

0,4% outros católicos e

evangélicos 22,2% (inclui

Adventistas, Assembléia de

Deus, Congregação Cristã do

Brasil 1,2%, Universal Reino

de Deus, Protestantes e

outros),Cristão Espírita 0,7 %,

2,2 % africanas, nenhum 8 %

Católicos Romanos 94 %,

outros 6%

População 202.656.788 47.737.941

Estrutura Etária 0-14 anos: 23,8%

15 aos 24 anos: 16,5%

25-54 anos: 43,7%

55 a 64 anos: 8,4%

65 anos: 7,6%

0-14 anos: 15,4%

15 Aos 24 anos: 9,6%

25-54 anos: 45,9%

55 a 64 anos: 11,4%

65 anos: 17,5%

A mediana de idade Total: 30,7 anos

Homens: 29,9 anos

Mulheres: 31,5 anos

Total: 41,6 anos

Homens: 40,4 anos

Mulheres: 42,9 anos

Urbanização População urbana: 84,6% da

população total

Taxa de urbanização: 1,15%

taxa de variação anual

População urbana: 77,4% da

população total

Taxa de urbanização: 0,81%

taxa de variação anual

Expectativa de vida População total: 73,28 anos População total: 81,47 anos

Fonte: Bases de dados dos institutos oficiais de cada país IBGE(Brasil) e INE(Espanha).

Page 193: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

161

4.1.1. VISÃO GERAL CAMPINAS E SALAMANCA

O contexto e a base conceitual nos permite estabelecer algumas

comparações entre as cidades de Campinas e Salamanca, levantando

semelhanças e diferenças que nos permitem iniciar uma análise do impacto de

outras políticas que afetam o setor cultural como, por exemplo, os incentivos

fiscais para as empresas que investem em projetos culturais ou a dedução dos

repasses financeiros dos impostos pagos às diferentes instâncias de governo,

municipal, estadual e federal.

Além destas políticas específicas, existem também os efeitos e

impactos de todas as políticas urbanas de um modo geral, as quais têm

interferência indireta no desenvolvimento do consumo cultural, como as

políticas de segurança pública e planejamento urbano.

Campinas é hoje uma das cidades mais violentas do Brasil, com

uma média, nos últimos anos, de mais de 170 homicídios por ano (MAPA DA

VIOLÊNCIA, 2014). Esse é um fator de desestímulo para as pessoas buscarem

atividades culturais no centro da cidade fora do horário comercial, no período

noturno, quando a maior parte dos trabalhadores tem seus horários de lazer.

Com a violência urbana, ocorre a tendência de consumir cultura em casa,

mesmo nas classes sociais com maior poder de consumo (REIS, 2007).

Podemos também confrontar a política de planejamento urbano com

um fator de interferência no consumo cultural porque, se o plano diretor da

cidade não cria uma infraestrutura de apoio para a programação dos

equipamentos culturais da cidade, como parques de estacionamento,

incentivando a implantação de bares e restaurantes nas proximidades, a falta

desta estrutura vira uma barreira, um desestímulo ao consumo cultural.

Dentro das cidades de Campinas e Salamanca, as duas

universidades têm grande relevância para a economia local e também peso

para exercer grande influência política pelo fator econômico e pelo respeito

acadêmico internacional destas instituições.

Page 194: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

162

Tabela 9 – 2013 Universidades em números : USAL x UNICAMP.

USAL UNICAMP

Professores 2.257 1.759

Trabalhadores 1.016 8.254

Estudantes de Graduação 24.818 18.338

Estudantes de Pós-Graduação 7.016 16.195

Orçamento Anual € 207.288.879,00 R$ 2.018.190.839,00

Estudantes/ Professores 14,1 19,63

Fonte: Números oficiais – Anuários 2013 USAL e UNICAMP.

As duas universidades têm cursos de graduação em Artes; no

entanto, as carreiras de formação e a estruturação dos cursos são bem

diferentes em muitos aspectos. Na UNICAMP, o Instituto de Artes oferece

graduação e pós-graduação em Artes Cênicas, Dança e Artes Visuais (Pintura,

Escultura, Gravura e Comunicação Audiovisual). Na Universidade de

Salamanca, também há a Faculdade de Belas Artes, que não oferece formação

em Dança e Artes do Espetáculo, mas tem cursos de graduação e pós-

graduação em Belas Artes e História da Arte. Contudo, existem também cursos

de artes ministrados por outras faculdades, como Cinema e Musicologia

ministrados pela Faculdade de Ciências Sociais e Dança e Expressão Corporal

na Faculdade de Educação Física. Sendo assim, um comparativo direto torna-

se frágil porque são sistemas de ensino estruturados de forma diferente. Por

outro lado, é possível avaliar a oferta de programação e atividades culturais

organizadas pelas administrações centrais das duas universidades.

Além dos cursos de formação no campo das artes, as duas

universidades têm setores administrativos de serviços culturais que oferecem

espetáculos e atividades para a comunidade universitária, e que também

poderiam criar maiores facilidades e incentivos para o acesso dos cidadãos às

cidades onde estão inseridos. Em ambas as universidades, os serviços

culturais estão ligados aos setores administrativos dedicados à extensão

universitária, em células administrativas que produzem ou viabilizam as

programações através dos espaços físicos e equipamentos culturais para

música, teatro, exposições, espaços para os ensaios, promovendo

programações com artistas profissionais, amadores e com alunos em

Page 195: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

163

formação. Muitas vezes os espaços de ensaios acabam sendo utilizados pelos

alunos, professores e funcionários, para grupos de corais, orquestras, entre

outros.

Como enfatizamos desde o início, existem semelhanças, mas

também diferenças entre as duas universidades e suas respectivas cidades.

Sendo assim, abaixo vamos listar mais diretamente os pontos já identificados

pela pesquisa.

SEMELHANÇAS

As duas universidades são públicas;

Em ambas as universidades, a maioria dos alunos é

oriunda de outras regiões do país e também de outros países;

As duas têm o valor total do orçamento anual maior ou

igual ao dos governos municipais das cidades onde estão localizadas;

As duas universidades têm a denominada autonomia

universitária, na qual conselhos administrativos internos (eleitos direta

ou indiretamente pelos professores, funcionários e alunos) podem votar

e decidir como os recursos serão gastos;

Os governos militares na Espanha e no Brasil ocorrem com

relativa proximidade temporal. Na Espanha, a democracia retorna um

pouco antes no Brasil; no entanto, as duas universidades consolidam a

implantação da autonomia universitária no mesmo ano, em 1988; e

Nas duas cidades, os hospitais universitários são muito

presentes no atendimento da população nos casos de alta

complexidade, colaborando, também, no atendimento ambulatórial geral.

Isso é muito importante, pois geram uma conexão muito forte dos

moradores da cidade com as universidades.

DIFERENÇAS

Salamanca é uma cidade de origem medieval, repleta de

patrimônios tombados e monumentos históricos e a maior parte do

Page 196: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

164

acervo patrimonial da cidade é composta por edifícios da universidade;

contudo, considerando o termo patrimônio imaterial, podemos dizer que

a USAL deve ser o mais importante patrimônio histórico da cidade;

Os prédios antigos da USAL estão distribuídos no centro

da cidade, misturados aos edifícios residenciais e comerciais, criando

uma conexão física, geográfica, de relacionamento com a cidade de

Salamanca. O surgimento de novos prédios, ou atém mesmo de um

novo campus, mobiliza intensamente o planejamento urbano da cidade,

desenvolvendo novos bairros no entorno com construções e serviços

voltados para os alunos;

A UNICAMP foi criada em 1966, no extremo norte, longe

do centro da cidade, num distrito que foi em grande parte rural, por outro

lado, perto de uma grande rodovia do estado de São Paulo. Hoje, o

distrito perdeu suas características rurais, migrando para uma área

totalmente urbanizada e altamente valorizada comercialmente por causa

da universidade. O distrito é, em grande parte, a morada principal para

estudantes, professores e funcionários da UNICAMP;

Salamanca não tem representatividade no setor industrial

como Campinas. Existem algumas grandes empresas no setor de

serviços e o setor industrial é de pequeno porte, concentrado na

indústria de processamento de alimentos, principalmente no setor de

embutidos, sendo o ‘Jamom Ibérico’ o mais conhecido;

Campinas é uma cidade com um forte parque industrial em

diferentes setores, indústria química, metalurgia, construção, indústria

farmacêutica, indústria alimentar e outras. Estão próximas do centro da

cidade, entre as rodovias que a cortam. Campinas possui inclusive

empresas multinacionais instaladas como a Bosch e centrais de

computacionais (TI) de grande porte como a do Grupo Santander, entre

outras empresas importantes para a economia do país;

Especificamente com relação à cadeia da produção

cultural, é importante ressaltar que a Espanha não possui leis de

incentivos fiscais para projetos culturais, não existem leis de mecenato,

Page 197: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

165

fazendo com que a maioria dos grupos artísticos de Salamanca prefira

exercer suas atividades como amadores, através de associações

culturais sem fins lucrativos. Esta opção de não buscarem

reconhecimento como artistas profissionais tem duas grandes

motivações. A primeira é que se apresentar como artistas profissionais

requer a abertura de uma empresa, gerando custos administrativos e

fiscais e, no caso dos impostos, isso se agravou em primeiro de

setembro de 2012, quando o IVA (imposto único total sobre o valor da

nota fiscal) subiu de alíquota, passando de 8% para 21%, pesando muito

na administração das empresas culturais. A segunda é que muitos

artistas não acreditam que conseguiriam se manter economicamente

somente com as apresentações e preferem cursar graduações em

outras áreas de formação para poder buscar uma melhor

empregabilidade futura. Este segundo ponto ganhou mais relevância

com a crise econômica mundial iniciada em 2008, quando o índice de

desemprego da Espanha chegou a mais de 25%, sendo que mais de

40% dos desempregados são jovens com idade inferior a 35 anos; e

No caso brasileiro, como incentivo à cadeia de produção cultural e

buscando a meta de democratização do acesso aos meios de produção

cultural e também da democratização do acesso ao consumo cultural,

entrou em vigor, a partir de 1991, a Lei Federal de Incentivo à Cultura

(Lei nº 8.313 de 23 de dezembro de 1991), a Lei Rouanet, a qual gerou

um grande incremento no sistema de produção cultural. Mesmo com

todas as críticas à forma de implantação e gestão, é inegável o

incremento na quantidade da oferta cultural criada no Brasil. A partir

desta, surguiram leis estaduais e municipais por todo o país. No caso do

Estado de São Paulo, o sistema do Programa de Ação cultural (PROAC,

Lei nº 12.268, de 20 de fevereiro de 2006) e, na cidade de Campinas, o

Fundo de Investimentos Culturais do Município de Campinas (FICC, Lei

Municipal 12.355 de 10 de setembro de 2005). Estas formas de incentivo

fiscal mobilizaram os artistas para uma busca pela profissionalização

para poder atender os requisitos legais de candidaturas e solicitações de

Page 198: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

166

aprovações de projetos. Por outro lado, a falta de formação em gestão

cultural e a carência de apoio ao empreendedorismo cultural geram

muitos problemas para artistas iniciantes e profissionais.

4.2. SALAMANCA, CAPITAL EUROPEIA DA CULTURA

2002

No contexto da comparação proposta por este trabalho e na ênfase

como negócio, vale citar o Programa Capital Europeia da Cultura.

Este programa foi lançado em 1985 e o título de designação como

CEC foi concedido a 60 cidades em 30 países (GARCIA & COX, 2013). Ele

tornou-se uma plataforma importante para o posicionamento político da cidade

e um catalisador econômico para a regeneração cultural. Impactos culturais,

sociais e econômicos imediatos são comuns e a capacidade de garantir efeitos

à longo prazo, embora mais difícil de se comprovar, tem crescido em áreas-

chave, tais como alteração de paisagem urbana e no desenvolvimento do

turismo. Esta é a prova mais forte do comprometimento rumo ao legado do

planejamento sustentável e, cada vez mais, definida nas metas e declarações

de sensibilização da visão local (GARCIA & COX, 2013).

O Programa Cidade/Capital Europeia da Cultura (CEC) tem evoluído

consideravelmente desde a sua criação, tornando-se um evento internacional

plenamente maduro ao longo dos anos, com a capacidade de moldar e ser

moldado por europeus, bem como as tendências globais de que o grande

evento cultural hospeda (GARCIA & COX, 2013). Cidades de acolhimento

turístico têm usado este programa para explorar, bem como replicar as técnicas

e abordagens que hoje são amplamente validadas e aceitas. Esta iniciativa tem

estimulado, bem como beneficiado avanços consideráveis na sua forma

operacional e enquadramento legislativo no nível da UE (GARCIA & COX,

2013). Esses avanços se traduzam em três fases principais, o que reflete a

aplicação das principais decisões da União Europeia.

Fase 1 (1985-1996), compreendeu o primeiro ciclo do CEC

cidades, representando cada um dos 12 Estados-membros da CE

naquele momento. Nesta fase, o programa foi considerado atividade

Page 199: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

167

intergovernamental e não tinha um enquadramento legislativo. As

cidades eram, na sua maior parte, nomeadas pelos estados e a maioria

tinha menos de dois anos para planejar o seu programa, o que constituiu

um desafio a sua capacidade de financiar ou desenvolver iniciativas

específicas para a CEC. Algumas cidades, como Glasgow 1990,

Antuérpia 1993 e Copenhagen 1996, destacaram-se por sua capacidade

de inovar e levar o programa adiante;

Fase 2 (1997-2004), deu início a um novo ciclo que

envolveu 19 cidades em 14 países. Critérios de prazos de seleção e

licitação foram executados a partir de 1998, trazendo um grande avanço

para aumentar a capacidade do programa CEC, especificamente em

programação e escopo de ambição. O programa também garantiu maior

centralidade da UE, por estar sob a tutela do Programa majoritário de

Cultura da UE, sendo o primeiro Caleidoscópio e, em seguida, o Cultura

2000. O financiamento comunitário específico para o CEC aumentou

consideravelmente durante esse período; e

Fase 3 (2005-2019), foi a mais extensa, incluindo 29

cidades de 29 países, dos quais 10 são novos membros da UE (que

aderiram após 2004). O Programa CEC teve seu primeiro quadro

legislativo e se tornou uma ação comunitária no início desta nova fase,

envolvendo a inclusão de critérios formais de dimensão europeia, em

conformidade com o Tratado de Maastricht e com um claro plano de

seleção e orientações. Duas decisões posteriores aplicadas durante este

período contribuiram para aperfeiçoar os critérios de seleção e

reforçaram o acompanhamento e a avaliação subsequente dos

processos (GARCIA & COX, 2013).

Em 2013, o Parlamento Europeu (PE), o Conselho de Ministros e a

Comissão Europeia trabalharam no sentido de atualizar o quadro legislativo

para a próxima fase do Programa CEC, cobrindo de 2020 a 2033 (GARCIA &

COX, 2013).

Passos importantes foram dados em direção à melhoria da

qualidade de ambos os processos de licitação e concorrências, tendo sido o

Page 200: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

168

processo competitivo de licitação introduzido em 1998, a garantia, desde 2005,

de um mínimo de quatro anos para entrada e a posterior prestação de suporte

do Sistema Formal de Controle (desde o processo de licitação da CEC 2007)

(GARCIA & COX, 2013). Com o crescimento da visibilidade do programa em

toda a Europa, o processo de licitação tornou-se um perfil CEC de estágio

avançado, o que leva a uma procura crescente por uma gestão responsável.

Neste contexto, a mais amplamente reconhecida força para o sucesso das

licitações é a ampla consulta das partes interessadas (comunidade,

investidores e gestores públicos), de acordo com as demandas necessárias da

proposta de candidatura (GARCIA & COX, 2013). Isto é visto como essencial,

a fim de confirmar a viabilidade de uma cidade e a legitimidade da sua

candidatura para os diferentes grupos, por parte dos políticos, dos setores da

cultura local e do setor privado (investidores) e das comunidades locais. A

principal lição aprendida é que essas cidades que começam o processo muito

antes do período da licitação do ano que desejam hospedar, tendem a construir

uma melhor estrutura de suporte com as principais partes interessadas e com

investidores-chave. Para outros, isto pode ser um desafio, como no caso de

Salamanca (GARCIA & COX, 2013).

Após uma primeira rejeição de Salamanca, foi necessário fazer

reformas urbanas para participar de uma segunda seleção, um processo que

também contribuiu muito para a infraestrutura cultural e social da cidade. A

aplicação específica da metodologia de estudos de impacto em Salamanca

2002 como a Cidade Europeia da Cultura exige uma série de mudanças

operacionais para adaptar o método à peculiaridade de um evento cultural

desta natureza. A primeira consiste da necessidade de estabelecer uma

distinção entre as despesas relacionadas exclusivamente com o

desenvolvimento da programação cultural de Salamanca 2002, que é

denominado genericamente de investimento cultural (gastos culturais) e os

outros derivados do esforço adicional para a criação de novos equipamentos

culturais e investimentos turísticos (infraestrutura urbana entre outros gastos),

que é denominado gastos (investimentos) com instalações e equipamentos.

Um estudo orientado para a estimativa dos efeitos econômicos de um

Page 201: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

169

verdadeiro festival cultural deve considerar exclusivamente o primeiro item

mencionado, que são os gastos públicos sobre a criação da oferta cultural

(programação do festival) e a despesa privada associada ao consumo cultural

(visitantes e público). Tudo isto, levando-se em consideração que todas as

infraestruturas culturais são dadas, isto é, todas as condições ideais,

fornecendo simplesmente a estrutura que é necessária ( HERRERO et al.,

2006).

No entanto, um evento como a Capital Europeia da Cultura,

especialmente ao longo dos últimos anos, também implica um significativo

esforço público de restauração e criação de novos equipamentos culturais, tais

como equipamentos turísticos e comerciais, por parte do setor público. Este foi

o caso de Salamanca 2002, de modo que os gastos culturais (programação

cultural) e as despesas com equipamentos e instalações (infraestrutura

cultural) são dois itens que devem ser considerados inevitavelmente na análise

do impacto econômico de um evento como o desta análise (HERRERO et al.,

2006). Por esta razão, a distribuição das despesas diretas, indiretas e

induzidas do modelo de impacto econômico aplicado a Salamanca 2002 é a

seguinte:

Os gastos considerados do modelo de impacto serão tanto

do grupo de despesas com instalações e equipamentos associados ao

evento de Salamanca 2002 (instalações culturais e equipamentos

turísticos), bem como os gastos públicos decorrentes do

desenvolvimento da programação cultural principal, ou seja, todas as

despesas aplicadas pelo Consórcio Salamanca 2002;

Os gastos indiretos do modelo de impacto consistem nas

despesas feitas pelos turistas e o público para os diferentes eventos

culturais da Capital Europeia da Cultura, os quais tenham sido obtidos

por meio da pesquisa de levantamento de dados deste estudo;

O coeficiente de redução será aplicado a este

levantamento, tendo em conta motivações múltiplas versus motivação

singular da visitação cultural e a repetição coeficiente para redução de

duplicidades de visitantes que vêm em várias ocasiões, para os eventos

Page 202: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

170

do programa cultural. A informação resultante constituiu os itens

chamados Despesas Privadas do Consumo Cultural em Salamanca

2002; e

Por último, os efeitos induzidos na consolidação das

despesas nas economias regionais e nacionais foram obtidos através de

indicadores (entradas/saídas) elaborados a partir das tabelas

estatísticas oficiais de entradas/saídas da comunidade autônoma de

Castilla y León em 2000, os quais foram os dados mais recentes

disponíveis para a região naquele período.

O modelo apresentado anteriormente está representado na

sequência pela Figura 31.

Figura 31 - Impacto econômico de Salamanca 2002 : Capital Europeia da Cultura.

Fonte: HERRERO et al., 2006, pág. 46.

Tanto o volume de investimentos em novos equipamentos culturais e

equipamentos turísticos realizados na cidade devido ao evento, juntamente

com os gastos públicos realizados na implantação da programação cultural da

Page 203: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

171

Capital Europeia da Cultura serão incluídos no impacto econômico direto de

Salamanca 2002. A seguir, a Tabela 10 nos mostra o grupo de despesas

nominais no primeiro grupo e refere-se, em primeiro lugar, aos investimentos

públicos na recuperação, restauração e/ou na criação de equipamentos

culturais, utilizados para sediar os principais eventos culturais e exposições de

Salamanca 2002.

Tabela 10 - Os gastos com equipamentos e instalações culturais em Salamanca 2002.

Fonte: HERRERO et al., 2006, pág. 46.

Todas as administrações públicas e territoriais centralizadas através

do Conselho da Cidade de Salamanca, a qual foi a titular da designação da

Capital Europeia da Cultura, em nome da União Europeia, participaram do

financiamento dessas instalações. Todos os elementos utilizados pertenciam

(sob a guarda) ao Consórcio Salamanca 2002 durante aquele ano. Além disso,

estes elementos constituem bens rentáveis em longo prazo para a cidade, em

termos de seu desenvolvimento econômico e cultural. O valor global do

investimento figurou em € 46,5 milhões e foi um dos componentes do impacto

econômico de Salamanca 2002. A tabela anterior de no. 6 inclui o esforço

privado realizado no que diz respeito à concessão de novos equipamentos

turísticos na cidade de Salamanca, os quais consistiram principalmente na

modernização das instalações da rede hoteleira e a construção de novas

Page 204: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

172

instalações, a fim de duplicar a capacidade de alojamento da cidade,

especialmente das categorias mais luxuosas.

Esta resposta do setor privado se baseia não apenas no incremento

pela designação de Capital Europeia da Cultura, mas também sobre os lucros

previstos em médio prazo pelo reposicionamento de Salamanca nas

hierarquias europeia e nacional dentre as cidades culturais. O valor do

investimento privado foi de € 74,3 milhões; no entanto, é tido como um fator

direto sobre a influência dos equipamentos e instalações no impacto

econômico de Salamanca 2002, no curto e médio prazo. O grupo de efeitos

diretos de Salamanca 2002 foi provavelmente a maior justificativa da despesa

pública, ou seja, a de organizar a Programação Cultural da Capital Europeia da

Cultura (HERRERO et al., 2006).

A Tabela 11 abaixo mostra esta informação orçamentária em

termos nominais em 2001 e, especialmente em 2002, todas as despesas

efetuadas pela empresa Cultursa, uma empresa cujo único acionista é o

próprio Consórcio Salamanca 2002, criados ad hoc para implementar

rapidamente o financiamento dos eventos culturais do ano 2002, que também

estão incluídos.

Tabela 11 - Acumulado anual e orçamento ( €) do Consórcio Salamanca 2002.

Fonte: HERRERO et al., 2006, pág. 46.

Page 205: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

173

Para meros fins analíticos, para o cálculo do impacto econômico

global, a venda de ingressos (bilhetes) e bens do Consórcio Salamanca 2002

foram excluídos a fim de evitar duplicidades na estimativa das despesas, uma

vez que este tipo de pagamento já foi considerado na estimativa do consumo

cultural turístico, medido por meio do levantamento de dados realizado através

da pesquisa de dados sobre audiência (público). Assim, o total dos gastos

públicos sobre a oferta cultural de Salamanca 2002, eleva-se a € 37,3 milhões,

valor que será considerado como um elemento direto na estimativa do impacto

econômico global da Capital Europeia da Cultura (HERRERO et al., 2006).

4.2.1. IMPACTO INDIRETO: AS DESPESAS PRIVADAS

DO CONSUMO CULTURAL

O efeito indireto é o total das despesas realizadas pelos visitantes e

pelo público (audiência) de Salamanca 2002, isto é, as despesas de

alojamento, transporte, refeições, compras, entre outras, geradas pela

participação em diversos eventos da Capital Europeia da Cultura (HERRERO

et al., 2006). A despesa global será o resultado da multiplicação dos gastos

por pessoa pelo número total de membros das plateias ou das unidades de

despesas. Esse cálculo, no entanto, não é assim tão simples, uma vez que

existe a necessidade de primeiro resolver algumas barreiras metodológicas. A

primeira destas é causada por ignorarmos o ponto de partida dos membros das

plateias registradas na Programação Cultural de Salamanca 2002; e, por

conseguinte, a estimativa global dos pagamentos efetuados pelo público local

não pode ser excluída para considerarmos apenas os gastos dos turistas

estrangeiros (HERRERO et al., 2006). Embora, na prática, a análise poderia

considerar essa dissociação porque, para os moradores da cidade, sua

participação nos eventos da Capital Europeia da Cultura envolveu apenas uma

mudança nos componentes do seu consumo cultural, mas, nessa pesquisa,

ambas as fontes de despesas, públicos locais e estrangeiros, juntaram-se por

duas razões:

Page 206: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

174

1. O Progama Salamanca 2002 teve um caráter incomum e

estimulou fortemente os cidadãos locais a participar ativamente e

aumentar o seu consumo cultural; e

2. Uma vez que a principal despesa do público local foi

concentrada (dedicada) na compra de ingressos, sendo este um item

que não representa com precisão uma grande quantidade das despesas

globais em eventos culturais, o risco de se produzir uma superestimativa

desproporcional foi evitada (HERRERO et al., 2006).

Uma vez que este problema foi resolvido, a estimativa da despesa

total do consumo cultural em Salamanca 2002 segue a sequência mostrada na

Figura 32 abaixo, onde o montante das despesas por visitante e evento foi

obtido a partir da amostra da coleta de dados tomada como ponto de partida e

aplicado ao público total da Capital Europeia da Cultura, proporcionalmente ao

grupo de visitantes oficialmente registrados para cada grupo de eventos

(HERRERO et al., 2006).

Figura 32 - Processo de estimativa da despesa privada em consumo cultural.

Fonte: HERRERO et al., 2006, pág. 47.

No processo de avaliação, existem dois coeficientes que serão

aplicados para o dimensionamento total das despesas: um coeficiente para

evitar multiplicidades das visitas de um mesmo turista e o coeficiente de

redução, para garantir que a visita foi motivada principalmente pelo evento da

Page 207: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

175

Capital Europeia da Cultura (objetivo único das viagens). Em primeiro lugar, no

que se refere aos cálculos do número de pessoas que participaram em

Salamanca 2002, o dados oficiais totais de 1.927.444 ingressos foi

considerado, mas isso não deixa claro qual a quantidade desses ingressos que

foi adiquirida por pessoas diferentes, que é um ponto chave para o cálculo das

despesas indiretas globais e para evitar duplicidades nas despesas por

visitante. A fim de calcular a mais realista expectativa para o número de

pessoas que participaram nos eventos da Salamanca, Capital Europeia da

Cultura em 2002, a repetição coeficiente foi desenvolvida utilizando o

questionário de pesquisa, no qual foi perguntado para cada visitante se ele/ela

tinha participado ou tentado participar de qualquer outro evento da

programação cultural (os que responderam afirmativamente representaram

72,06%) e ter participado em pelo menos dois shows, reduzindo o total de

ingressos proporcionalmente (HERRERO et al., 2006).

No entanto, a fim de gerar um valor exato maior, a redução foi

realizada para o público registrado em cada uma das seis categorias de

eventos em que a programação cultural foi dividida. Estes dados podem ser

observados na Tabela 12 abaixo.

Tabela 12 - Número de ingressos vendidos em Salamanca 2002:CEC.

Fonte: HERRERO et al., 2006, pág. 49.

Portanto, um máximo de 1.204.314 de diferentes pessoas participou

dos eventos de Salamanca 2002, uma base a partir da estimativa do total das

despesas indiretas foi calculada, partindo da grade de despesa média por

Page 208: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

176

visitante e evento. Assim, a despesa indireta global medida através do

consumo cultural da audiência da Capital Europeia da Cultura ultrapassa

ligeiramente €368 milhões de euros (HERRERO et al., 2006).

4.2.2. IMPACTO INDUZIDO: EFEITO ECONÔMICO

GLOBAL DE SALAMANCA 2002

Os efeitos induzidos podem ser definidos como um grupo de

consequências sobre a rede produtiva de um sistema econômico derivado de

injeções financeiras envolvendo as categorias matrizes: os efeitos diretos e

indiretos do evento cultural, isto é, tanto os investimentos com equipamentos e

instalações e os gastos (despesas) de Salamanca Cultural 2002. O impacto

induzido é estimado através do conceito de multiplicador da despesa, de

acordo com a metodologia explicada nas seções anteriores. A entrada e saída

do multiplicador derivado das tabelas de entradas-saídas de Castilla y León em

2000 foi utilizada para esta finalidade, distinguindo também o impacto sobre a

cidade de Salamanca e da Comunidade Autônoma de Castilla y León do

impacto no resto da Espanha e no exterior (HERRERO et al., 2006).

Em suma, o titulo honorário de Salamanca como a Capital Europeia

da Cultura em 2002 gerou €541,7 milhões para a Comunidade Autônoma de

Castilla y León, € 108,2 milhões para o resto da Espanha e de € 51,5 milhões

no exterior; em outras palavras, uma distribuição de 77,22%, 15,43% e 7,35%,

respectivamente, enquanto o efeito econômico global induzido foi de €701,5

milhões (HERRERO et al., 2006).

4.3. CAPITAL BRASILEIRA DA CULTURA

A proposta de realização do programa Capital Brasileira da Cultura

(CBC) foi oficializada através da criação de uma Organização da Sociedade

Civil de Interesse Público (OSCIP), com sede em São Paulo, criada por

iniciativa da Organização Capital da Cultura Americana (CAC), com o objetivo

de estabelecer e desenvolver anualmente no Brasil o Projeto Capital Brasileira

da Cultura. A CAC é uma iniciativa dirigida a todos os países membros da

Page 209: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

177

Organização dos Estados Americanos (OEA) que tem o reconhecimento oficial

como entidade colaboradora. Tem ainda o apoio institucional do Parlamento

Latino-americano, do Parlamento Europeu e da Rede Europeia das Capitais

Europeias da Cultura. Além disso, conta com o apoio técnico da Internacional

and Discovery Channel Antena 3 TV, canais de TV internacionais oficiais da

Organização CAC.

Com o propósito de seguir os passos do projeto Capital da Cultura

Europeia, a OSCIP CBC inicia suas atividades em 2004 para a organização da

primeira edição do programa no Brasil. O programa contou com o apoio

institucional do Ministério da Cultura (MINC), do Ministério do Turismo (MTUR),

da UNESCO e da Organização Capital Americana da Cultura (CAC). Assim,

em 2005 foi aberta a primeira concorrência de seleção que contou com as

candidaturas das cidades de Olinda (Pernambuco), João Pessoa (Paraíba) e

Salvador (Bahia) e o resultado da seletiva elegeu Olinda como primeira Capital

Brasileira da Cultura. Em 2006, foi organizada toda a programação de

atividades comemorativas para este programa.

No ano de 2007, o formato da organização mudou e a concorrência

e a execução do programa aconteceram no mesmo ano. A escolhida foi São

João del Rei (Minas Gerais) e as concorrentes nesta edição foram Mariana

(Minas Gerais), Mossoró (Rio Grande do Norte), Santa Cruz Cabrália (Bahia) e

Santa Maria (Rio Grande do Sul). Despois, aconteceram somente mais duas

edições, 2008 e 2009, sendo Caxias do Sul (Rio Grande do Sul) a escolhida

em 2008 após concorrer com Blumenau (Santa Catarina), Petrópolis (Rio de

Janeiro) e Santa Cruz de Cabrália (Bahia). A última edição elegeu a capital do

Maranhão, São Luís, como a Capital Brasileira da Cultura 2009 e as outras

candidaturas apresentadas foram das cidades de Areia (Paraíba), Mariana

(Minas Gerais), Montenegro (Rio Grande do Sul) e Senador Pompeu (Ceará).

Em comparação com o programa da União Europeia, esta

experiência brasileira foi estruturada de maneira muito frágil. Como acontece

em muitos casos no Brasil, houve a importação de uma idéia bem sucedida,

sem adaptação à realidade brasileira.

Page 210: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

178

A fragilidade da proposta pode ser constatada apenas pela enorme

dificuldade de se encontrar informações, relatórios, documentos ou outros

registros que possam trazer dados e informações para uma análise criteriosa.

Não foram encontrados documentos que pudessem gerar parâmetros

indicadores precisos capazes de justificar a extinção do programa. Contudo,

analisando primeiramente o formato de organização da concorrência seletiva e

a forma de implantação da execução do programa CBC, já identificamos que

foi importada a ideia, mas não foi estudado nem o conceito, nem tampouco as

experiências do projeto europeu para a estruturação do programa no Brasil.

Para o edital de concorrência europeu, a candidatura das cidades é

feita com 4 anos de antecedência e a cidade tem que cumprir uma série de

exigências, dentre elas destacamos que os equipamentos culturais devem

estar prontos para receber o evento na data de candidatura, reformados ou

restaurados, e outras reformas de planejamento urbano já concluídas, o que é

bem diferente da maneira como são organizados os grandes eventos no Brasil.

Em geral, no nosso país, primeiro as cidades e os estados fazem suas

candidaturas para os eventos comemorativos prometendo organizar e reformar

tudo se forem os escolhidos, como ocorreu recentemente com a Copa do

Mundo de Futebol e o que está ocorrendo na organização dos Jogos Olimpicos

de 2016. Em seguida, vemos que a falta de planejamento atrasa a execução e

a pressa para recuperar o cumprimento dos prazos gera um grande incremento

de custo financeiro.

Relacionando esta tendência brasileira com a organização do CBC,

identificamos que o modelo brasileiro começou fazendo a seleção com um ano

de antecedência da execução e já na segunda edição mudou para seleção e

realização no mesmo ano, ou seja, encurtando bruscamente o tempo de

estruturação das cidades, para a criação dos projetos urbanos e da

organização da programação cultural. Esses prazos ficaram extremamente

curtos e sujeitos a falhas por falta de planejamento, tendendo a elevar os

custos dos projetos, dificultar a captação de recursos porque, para este tipo de

evento, as cotas de patrocínio são altas e as empresas planejam as maiores

ações de marketing em um ano para executar no ano seguinte. Talvez somente

Page 211: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

179

estes pontos da forma organizacional do CBC já possam ser utilizados como

parâmetro de análise para o naufrágio do programa.

4.4. HABITOS CULTURAIS NA NA COMUNIDADE

EUROPEIA E ESPANHA

Reiteramos que nesta pesquisa, apesar de o objeto estar centrado

no Brasil e na Espanha, sempre fizemos abordagens envolvendo a

Comunidade Europeia. Isto se fez necessário porque, principalemente após a

consolidação da unificação por uma moeda comum (Zona do Euro), é cada vez

mais abrangente a atuação do parlamento europeu, deliberando para

consolidação de medidas políticas unificadas para os diversos setores da

sociedade. Na Europa encontramos nações com cidades milenares, as quais

possuem línguas diferentes, características culturais diferentes, contudo

algumas práticas e hábitos têm influência pela proximidade geográfica e pelo

tempo de existência. Assim é importante também avaliarmos seus indicadores

a fim de termos uma visão mais completa sobre os indicadores da Espanha.

4.4.1. HÁBITOS E PRÁTICAS CULTURAIS NA UE

É importante observar que a cultura desempenha um papel

destacado na vida cotidiana de todos os cidadãos europeus. Com cerca de 300

locais de interesse cultural, de quase 700 mil na lista do Patrimônio Mundial da

UNESCO, os 27 Estados-membros da União Europeia (UE27) possuem um

significativo patrimônio cultural. A importância da cultura hoje é demonstrada

pelo fato de que o emprego cultural representava quase cinco milhões de

pessoas, 2,4% do total do emprego na UE27 em 2005. As estatísticas

relevantes sobre o status atual da Espanha são representadas graficamente a

seguir no grafico 26.

Page 212: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

180

Tabela 13 – Grau de escolaridade da população por faixa etária, 2009.

( ¹) níveis de ensino baseado na CITE 1997: Baixa (CITE níveis 0-2, 3c curta): pré-primário, primário, secundário

inferior e educação. Médio (CITE os níveis 3-4, sem 3c curta): ensino secundário e pós-secundário nontertiary

educação. Alta (CITE níveis 5- 6): ensino superior.

Fonte: Eurostat, UE-IFT.

Page 213: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

181

O ‘Eurobarômetro’ é uma série de vistorias realizadas regularmente

em nome da Comissão Europeia desde 1973. Ele foi originalmente concebido

como uma forma de rastrear e analisar a opinião pública em todos os Estados-

membros da União Europeia (posteriormente também em países candidatos e

países terceiros) e para melhorar a política de informação e comunicação dos

europeus que decidem. Além da pesquisa do Eurobarômetro padrão realizada

a cada outono e primavera, módulos especiais são conectados ao lidar com

temas específicos, tais como a agricultura, os papéis de gênero, família,

juventude, meio ambiente, cultura, entre outros. O Eurobarômetro especial

sobre valores culturais foi realizado em 2007 e teve como objetivo consultar os

inquiridos sobre a sua percepção da cultura, bem como o seu papel e

importância. Os indivíduos foram entrevistados em todos os 27 países da UE.

Os dados apresentados a seguir são mostrados em nível agregado aos UE-27.

Deve-se ressaltar que o Eurobarômetro não é um levantamento estatístico,

mas uma ferramenta de opinião baseada em respostas subjetivas.

Independentemente da forma como é definida, a cultura

ocupa um lugar de destaque na vida dos cidadãos europeus. Mais de

três quartos (77%) de todas as pessoas entrevistadas responderam que

a cultura foi importante para elas, enquanto 22% consideraram que a

cultura foi insignificante. Um fator sócio-demográfico chave na avaliação

da relevância da cultura é a educação (aqui expressas em termos de

duração da educação atendida): a cultura foi considerada importante por

89% dos inquiridos educados com 20 anos de idade ou mais e por 66 %

dos inquiridos educados com idade de 15 anos ou menos;

Entre as respostas à pergunta "O que vem à mente quando

você pensa sobre a palavra 'cultura'?”, a resposta mais comum dos

Europeus era ‘Artes (artes do espetáculo e das artes visuais)’, com 39 %

de todas as pessoas pesquisadas. Em segundo lugar, veio ‘literatura,

poesia e dramaturgia’, juntamente com ‘tradições, línguas e costumes’,

cada um correspondendo a 24% dos inquiridos. Menos de 10% das

pessoas inquiridas associaram cultura com ‘valores e crenças’;

Page 214: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

182

O conceito de cultura muda com a idade. Os Europeus, na

sua maioria com idades compreendidas entre os 15 e 39 anos se

referem à cultura das artes, mas, para as pessoas com idades entre 40

e 54 anos, cultura é mais frequentemente associada com ‘literatura,

poesia e dramaturgia'. O conceito de cultura, tradições, línguas e

costumes é mais prevalente entre os jovens (28% dos inquiridos com

idades entre 15 e 24) do que entre os mais velhos (20 % dos inquiridos

com idades entre 50 anos ou mais). Os respondentes em todos os

grupos profissionais associaram cultura com artes. Os administradores

(33%) e os aposentados (25%) foram mais susceptíveis à classificação

‘literatura, poesia e dramaturgia’ em segundo lugar, considerando que os

inquiridos nos restantes campos profissionais classificaram ‘tradições,

línguas e costumes’, em segundo. Os empregados autônomos

entrevistados classificaram literatura e tradições igualmente em segundo

lugar (25%);

A maioria dos inquiridos manifestou o seu interesse em

ambas, artes nacionais e cultura (69%) e artes e culturas estrangeiras

(para os países europeus: 57 %; o resto do mundo: 56 %). Cerca de

63% dos inquiridos responderam que estavam muito ou bastante

interessados em conhecer pessoas de outros países europeus. As

pessoas especialmente interessadas em conhecer pessoas de fora

incluem jovens com idades compreendidas entre 15 e 24 anos, os

estudantes e o povo educado com 20 anos ou mais, os gerentes, os

habitantes das cidades e as pessoas que consideram a cultura

importante;

Enquanto 77% dos Europeus atribuem importância à

cultura, 91% deles concordam que a cultura e o intercâmbio cultural

contribuem para uma maior compreensão e tolerância e 92%

consideram que a cultura e o intercâmbio cultural devem ter um lugar

importante na UE;

Sobre os contatos interculturais e a abertura a outras

culturas, 45% das pessoas entrevistadas apreciam a cozinha

Page 215: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

183

estrangeira, 27% viajaram para o exterior pelo menos três vezes nos

últimos três anos e 27% têm amigos de outros países europeus. Outras

formas de contato intercultural incluem ter familiares que vivem em outro

país europeu (22%) e leitura de jornais em língua estrangeira (9%) e

livros (7%). Certos tipos de contatos culturais são mais prevalentes entre

os jovens entrevistados com idades entre 15 e 24 anos: como comer

comida estrangeira, comunicações por e-mail com outros países, assistir

a filmes e televisão e ter amigos de outros países. Para todos os tipos

de contatos culturais, o mais frequente foi encontrado entre os

estudantes e as pessoas que tiveram longos anos de estudo;

A importância do intercâmbio cultural para os Europeus é

sustentada pelo fato de que 60% dos entrevistados estão dispostos a

aprender ou melhorar seus conhecimentos de uma língua estrangeira.

No entanto, este aspecto não foi considerado importante por 29% dos

entrevistados;

Uma série de iniciativas foi mencionada para ajudar as

pessoas de diferentes países a conhecer melhor uns aos outros, tais

como o programa de intercâmbio de estudantes Erasmus (41%),

programas que permitam às pessoas que não costumam viajar se

conhecerem (31 %) e suporte para a geminação de cidades em toda a

Europa (27%);

A maioria dos inquiridos (50%) considera que os governos

nacionais estão em melhor posição para implementar programas para

fortalecer a cultura e o intercâmbio cultural e a promoção da diversidade

cultural, seguido pelas instituições da UE (44% dos entrevistados), os

cidadãos europeus (37%), as autoridades regionais (25%) e

organizações não governamentais (23%);

A falta de tempo foi considerada como a principal barreira

ao acesso cultura, como expressa por 42 % dos inquiridos. Além disso,

29% das pessoas entrevistadas responderam que a cultura era

demasiado cara e 27% mostraram uma falta de interesse em cultura; e

Page 216: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

184

O livre-acesso a atividades culturais foi considerado uma

boa ideia por 82 % dos inquiridos, o que dá a um maior número de

pessoas a oportunidade de acesso cultura. No entanto, 9% consideram

que conteúdo gratuito significa baixa qualidade cultural.

A seguinte divisão de participação cultural inclui dados

provenientes dessas fontes:

EU-SILC - Estatísticas da União Europeia sobre

rendimento e condições de vida, módulo ad hoc 2006.

A AES – Pesquisa de formação de adultos, wave 2007

(dados não disponíveis para todos os 27 Estados-Membros da UE).

TIC - Pesquisa Comunitária sobre as tecnologias da

informação e da comunicação (TIC) uso em residências e por indivíduos.

Salles Mídia - Estatísticas sobre cinema recolhidos no

âmbito do programa MEDIA da UE.

As características das práticas culturais da UE:

Em 2006, cerca de 45% dos europeus com idades entre 25

e 64 anos relataram ter participado de atividades culturais, tais como ir

ao cinema, assistir performances ao vivo e visitar locais de interesse

cultural, pelo menos uma vez nos últimos 12 meses; no entanto, a

intensidade dessas três atividades variavam consideravelmente de um

país para outro, com as maiores taxas observadas nos países do norte,

tais como a Suécia, a Dinamarca, a Finlândia, a Islândia e a Noruega, o

Reino Unido e a Alemanha;

Na Espanha, Luxemburgo, Islândia e Irlanda, cerca de

10% dos entrevistados foram ao cinema mais de 12 vezes por ano. Em

contrapartida, mais de 70% das pessoas pesquisadas na Bulgária,

Letônia, Lituânia, Estônia e Hungria nunca foram ao cinema durante o

ano anterior da entrevista. A baixa participação no cinema poderia ser

associada ao equipamento: nestes países, o número de habitantes por

tela de cinema é muito mais alto do que nos três países com a maior

densidade de telas de cinema (Islândia, Suécia e Irlanda);

Page 217: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

185

A educação continua a ser o fator sócio-demográfico mais

determinante e que tem um impacto na participação cultural - as

pessoas com um nível de escolaridade elevado geralmente participam

mais das atividades culturais. Idade também é um fator determinante

para o comparecimento ao cinema e performances ao vivo: os jovens

tendem a participar mais dessas atividades do que as pessoas mais

idosas. Por outro lado, a idade parece ter pouco impacto sobre as visitas

aos locais de interesse cultural;

A participação cultural de acordo com o sexo não

apresenta diferenças significativas, exceto para leitura de livros e jornais:

uma maior proporção de mulheres leem livros em relação aos homens,

enquanto o inverso foi observado normalmente para a leitura de jornais;

Em quase todos os países em análise, mais de metade

dos inquiridos com idade entre 25 e 64 anos declararam ter lido pelo

menos um livro nos últimos 12 meses. Esta proporção atingiu 80% ou

mais na Suécia e na Finlândia. No que se refere ao número de livros

lidos, a Finlândia, a Suécia, a Estônia e a Letônia registraram o maior

número de pessoas que leem mais de 12 livros por ano. Em muitos

países do norte e na República de Chipre, os entrevistados declararam

possuir mais de 100 livros;

Em quase todos os países, mais de 80% dos inquiridos

declararam ler jornais regularmente. Na Bélgica, Finlândia e na

República Checa, ler jornais depende muito pouco do nível de

escolaridade da pessoa;

Outra dimensão da participação cultural é a participação

em atividades culturais amadores como cantar, dançar, atuar, tocar

música e pintar. Em relação à participação cultural ‘passiva’(que vai para

o cinema, performances ao vivo ou museus), apenas uma pequena

parte dos inquiridos tomaram parte em apresentações públicas (menos

de 15%) nos países observados, com a exceção da Estônia (40%) e da

Itália (24%). Atividades Artísticas como pintura, desenho, escultura ou

Page 218: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

186

gráficos de computador atrairam ainda menos entusiastas - só na

Áustria e na Finlândia estas ações foram superiores a 20 %; e

O nível de escolaridade é o maior fator diferenciador na

prática de atividades artísticas. Na maioria dos países, fatores como a

idade e o sexo parecem ter uma influência limitada sobre a participação

em tais atividades culturais.

Modernas tecnologias de informação e de comunicação têm um

grande impacto sobre a maneira como as pessoas convivem e gastam o seu

tempo livre. Novas práticas e formas de participação cultural surgiram

conjuntamente com as novas tecnologias, em especial a Internet. Em 2009,

65% dos lares da UE tinham uma conexão com a Internet, um crescimento de

49% em 2006. Existem ainda diferenças significativas entre países do norte da

Europa e os novos Estados-membros, mas a evolução do acesso à Internet

nos últimos é claramente visível.

O aumento do acesso à Internet tem levado a um aumento

na comunicação on-line. No ano de 2008, 57% dos europeus que

utilizaram a Internet nos últimos três meses declararam ter utilizado um

dos seguintes serviços de comunicação avançada: trocar mensagens

instantâneas, postar mensagens, contribuir para a web social, ler ou

criar blogs e telefonar. Em Luxemburgo, Polônia, França, Portugal, a

antiga República Jugoslava da Macedônia e na Islândia, esta

percentagem foi superior a 70 %;

A Internet também serve como uma plataforma para obter

e compartilhar conteúdos audiovisuais. No ano de 2008, 38% dos

usuários de Internet na UE-27, fizeram uso do download ou escutaram

música, 29% fizeram uso do download ou assistiram a filmes e 33 %

ouviram rádio. Usar a Internet para atividades de lazer foi do interesse,

principalmente, dos jovens, estudantes e muito mais homens do que

mulheres;

Compras on-line ganhou popularidade nos últimos anos.

Em 2009, 32% dos europeus que usaram a Internet compraram filmes,

músicas, livros, jornais, revistas, material de aprendizagem ou software

Page 219: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

187

de computador on-line. Esta forma de compra é particularmente

frequente no Reino Unido, em Luxemburgo, na Alemanha, na Dinamarca

e na Noruega;

Segundo o estudo do Eurobarômetro 2009, a atração

cultural é a segunda motivação para os Europeus (depois que o valor de

dinheiro) quando decidem sobre o destino ou acomodação nas férias;

Se os turistas europeus tivessem que reduzir seus gastos

durante as suas férias em 2009, o fariam, principalmente, com

restaurantes e lojas, mas raramente com as atividades culturais e de

entretenimento;

As despesas culturais totais dos lares podem ser avaliadas

através da medição das despesas de uma variedade de bens e serviços

culturais, incluindo livros, jornais, cinema, teatros, concertos, museus,

gravação de mídia, impostos de televisão e rádio e bens utilizados em

atividades artísticas amadoras como materiais de desenho, instrumentos

musicais ou equipamento fotográfico e cinematográfico;

Os Padrões de Poder de Compra (PPC) foram utilizados

como uma moeda fictícia para eliminar as diferenças de poder de

compra. As despesas culturais refletem as diferenças de práticas

culturais em todos os países, mas também são influenciadas pela

riqueza, estruturas de preços e outros fatores, como a disponibilidade

dos equipamentos culturais. As despesas com a cultura são altamente

dependentes do nível de renda: quanto maior a renda, mais famílias se

dedicam à cultura;

Em 2005, os gastos anuais dos lares com bens e serviços

culturais (PPS) variaram consideravelmente em todos os países, com a

maior despesa observada na Irlanda, Noruega, Reino Unido, Áustria e

Luxemburgo, e a menor, na Bulgária, Romênia e Turquia. Em média, a

cultura corresponde a 3,9% do total das despesas das famílias dos UE-

27. Esta parte foi a mais elevada na Dinamarca, Finlândia e na

República Checa, com mais de 5% do total das despesas destinadas a

bens e serviços culturais. Na Alemanha, Reino Unido, Holanda, Áustria,

Page 220: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

188

Irlanda, Hungria, Suécia, Bélgica, Polônia e na República de Malta, as

atividades culturais representam entre 4 e 5% das despesas das

famílias. As famílias, na Turquia, Bulgária, Grécia, Luxemburgo, Chipre,

Lituânia, Itália e Romênia, dedicaram menos de 3 % do total das

despesas para a cultura;

Diferentes modelos foram observados na distribuição das

despesas culturais por tipo de bem ou serviço em todos os países. Na

UE, sete entre quatorze mercadorias e serviços selecionados

representaram 80% do total de despesas culturais. Os impostos da

televisão e do rádio e locação de equipamentos representaram a maior

participação no total das despesas culturais (18%), seguido pelos jornais

(16%), equipamento de processamento de dados (12%), livros (11%), e

de televisores, vídeo games e gravadores (8%). Cinemas, teatros e

concertos e gravação de imagens e som representaram 7% do total das

despesas culturais. Os restantes 20% foram compartilhados entre outros

bens de consumo duráveis como instrumentos musicais, equipamento

fotográfico e cinematográfico e outros serviços;

Os impostos de televisão e rádio e aluguel de

equipamentos representaram a maior parte das despesas culturais das

famílias na UE e na maioria dos UE-27. Em contrapartida, as famílias na

Alemanha, Espanha, Itália, Chipre, Países Baixos, Finlândia e Noruega

dedicaram a maior parte das despesas culturais em jornais. Na Estônia,

Letônia, Lituânia e Luxemburgo, a maior parte foi para equipamento de

processamento de dados, enquanto que na Grécia as despesas culturais

foram principalmente dedicadas aos livros; e

As despesas com bens e serviços culturais por nível de

renda permite uma análise dos gastos em torno da média nacional. A diferença

absoluta entre o primeiro e o quinto quintil foi o maior em países onde os

gastos culturais são altos. Em termos relativos, no entanto, a mais ampla das

dispersões entre as rendas mais altas e mais baixas foi observada em Chipre,

Letônia, Lituânia, Bulgária, Estônia e na Turquia (EUROSTAT CULTURAL

STATISTICS, 2011).

Page 221: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

189

4.4.2. HÁBITOS E PRÁTICAS CULTURAIS NA ESPANHA

Esta seção foi elaborada com base na pesquisa produzida pelo

Ministério da Cultura e Esportes da Espanha, denominada “ENCUESTA DE

HÁBITOS Y PRÁCTICAS CULTURALES EN ESPAÑA 2010-2011” (AGE,

2011), e tem por finalidade avaliar a evolução dos principais indicadores

relacionados aos hábitos e práticas culturais da Espanha e analisar outros

aspectos relativos à cultura, como, po exemplo, consumos culturais.

Foram utilizadas características tais como sexo, idade, nível

educacional e situação pessoal ou profissional. Além disso, diversas atividades

culturais foram pesquisadas, tais como museus, galerias de arte, monumentos

históricos, leitura de livros e jornais, bibliotecas, artes cênicas e musicais,

cinema, vídeo, televisão, rádio, internet, entre outras.

A pesquisa (AGE,2011) indica que as atividades culturais mais

frequentes são escutar música (84.4%), ler (58.7%) e ir ao cinema (49.1%).

Seguido de visitas a monumentos (39.5%), a museus (30.6%) ou exposições

(25.7%) e a concertos de música atual (25.9%). As menos frequentes são idas

ao ballet ou espetáculos de dança (6.1%), ópera (2.6%), zarzuela (1.6%) e

visitas a arquivos (5%).

30.6% da população espanhola visitou um museu no ano da

realização da pesquisa, sendo que homens com maior nível de estudos têm

maior índice de visitas e o índice médio de satisfação é de 8.2 pontos. 92.2%

das pessoas que visitaram um museu no referido ano o fizeram por ócio ou

diversão e 7.8% o fizeram por razões profissionais ou de estudos. A maior

parte das visitas aconteceu de fim de semana ou em feriados (52%) e o

restante (48%) aconteceu durante um dia normal de trabalho. 49.1% dos

visitantes pagam um preço normal por sua visita, enquanto que 14.4% fizeram

uso de desconto e 36.2% obtiveram entradas gratuitas (dessa percentagem,

5.1% adquiriram sua entrada via Internet). 28.3% visitaram museus em suas

próprias cidades, 23.9% em sua Comunidade Autônoma, 28.4% no resto da

Espanha e 19.4% fora do país (AGE, 2011).

Page 222: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

190

25.7% das pessoas pesquisadas visitaram uma exposição no

referido ano. 91.2% dessas pessoas o fizeram por ócio ou diversão e 8.8% o

fizeram por razões profissionais ou de estudos. Quase a metade das visitas

aconteceu de fim de semana ou em feriados (48%) e o restante (52%)

aconteceu durante um dia normal de trabalho. O número de visitas a galerias

de arte é inferior ao observado em museus e exposições (13.6%) e 92.3% das

pessoas que visitaram galerias de arte o fizeram por ócio ou diversão e 7.7% o

fizeram por razões profissionais ou de estudos. Quase a metade das visitas

aconteceu de fim de semana ou em feriados (46.3%) e o restante (53.7%)

aconteceu durante um dia normal de trabalho.

39.5% da população espanhola visitou um monumento no referido

ano, sendo que homens com maior formação das comunidades autônomas de

Madrid e La Rioja ganham destaque. 94.1% das pessoas que visitaram

monumentos no ano da pesquisa o fizeram por ócio ou diversão e 5.9% o

fizeram por razões profissionais ou de estudos. Mais da metade das visitas

aconteceu de fim de semana ou em feriados (53.6%) e o restante (46.4%)

aconteceu durante um dia normal de trabalho.

29.3% das pessoas pesquisadas têm grande interesse por jazidas

arqueológicas e 13.9% visitou uma jazida no referido ano. Quase todos, 92.5%

o fizeram por ócio ou diversão e 7.5% o fizeram por razões profissionais ou de

estudos. Mais da metade das visitas aconteceu de fim de semana ou em

feriados (53.5%) e o restante (46.5%) aconteceu durante um dia normal de

trabalho (AGE, 2011).

24.9% da população espanhola analisada visita uma biblioteca ou

recorre a ela via Internet. A visita pessoal está estimada, anualmente, em

20.5% enquanto que 9.6% do acesso ocorre através da Internet e é resultado

da situação de trabalho do estudante, sua idade e nível de estudos. A maior

parte dos que utilizaram a biblioteca o fez em dia normal de trabalho (96.7%).

5% das pessoas pesquisadas, sobretudo estudantes, fazem, em média, seis

visitas por trimestre a arquivos e 39.8% das pessoas que visitaram arquivos

declara que a visita foi motivada por razões de trabalho ou estudos.

Page 223: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

191

58.7% da população analisada lê, pelo menos, um livro ao ano,

sendo que 52.3% das pessoas o fazem por razões não profissionais e 27.4%

por razões profissionais ou de estudos. Estes indicadores crescem,

significativamente, com o aumento de nível de estudos, diminuem com a idade

e são superiores nas mulheres. 58.3% dos leitores leem livros impressos,

enquanto que 6.5% preferem livros digitais e 4.1% das pessoas leem livros

diretamente da Internet. Dentre aqueles que leem por motivos não

profissionais, 91.6% preferem obras de criação literária (novela contemporânea

(81.5%), novela clássica (10.6%) e biografias ou livros de memórias (7.5%)) e

66.9% leem obras de divulgação e não profissionais.

80.4% da população gostam de ler, ao menos uma vez por mês,

jornal ou publicações periódicas e 14.4% o fazem através da Internet e 76.8%

em papel. O jornal gratuito é consultado, mensalmente, por 37.5% dos

pesquisados. No que diz respeito à informação geral, 39.5% das pessoas

pesquisadas prefere lê-la diariamente, 66.4% ao menos uma vez por semana e

71.5% ao menos uma vez ao mês. Este último hábito está mais acentuado em

homens trabalhadores entre 20 e 74 anos, sendo que 90.1% deles tem

formação universitária.

Anualmente, 40% da população analisada assistem a espetáculos

culturais, destacando-se os concertos de música atuais (25.9%) e 19% vai ao

teatro, sobretudo mulheres e jovens. 26.3% assistem a peças atuais, 19.6%

teatro clássico, 24.4% teatros musicais, 10.5% de vanguarda e 7.8% teatro

infantil. Mais da metade vai ao teatro no fim de semana (57.7%), 16.8% das

pessoas disfrutam de ingresso gratuito (sendo que 24.5% dessas pessoas

fizeram uso da Internet para tanto), 12.2% contam com descontos e 94.8%

frequentam instalações dedicadas a este fim. O grau de satisfação com esta

atividade atingiu 8.2 pontos numa escala de 0 a 10 (AGE, 2011).

Depois do teatro, a dança parece atrair o interesse da população

pesquisada com 6.1% de pessoas assistindo a este tipo de espetáculo por ano,

sendo que 7.4% dessas pessoas são mulheres. Mais da metade vai a um

espetáculo de dança no fim de semana (54.9%), 37.2% das pessoas disfrutam

de ingresso gratuito (sendo que 21.1% dessas pessoas fizeram uso da Internet

Page 224: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

192

para tanto), 7.7% contam com descontos e 79.6% frequentam instalações

dedicadas a este fim. O grau de satisfação com esta atividade atingiu 8.5

pontos numa escala de 0 a 10. A ópera e a zarzuela apresentam baixos índices

de frequência: 2.6% e 1.6% ao ano, respectivamente.

7.7% da população analisada assistiram a um concerto de música

clássica no ano da pesquisa, sobretudo as mulheres, com um nível de

satisfação que atingiu 8.5 pontos. 42.5% desfrutaram de entrada gratuita,

sendo que 16.6% a obtiveram via Internet. 25.9% de pessoas assistiram a

concertos de música atual, sobretudo homens e jovens. 35.2% desfrutaram de

entrada gratuita, sendo que 23.3% a obtiveram via Internet. Dentre os gêneros

musicais preferidos, destaca-se o pop-rock espanhol (47.3%), com um nível de

satisfação atingindo 8.4 pontos (AGE, 2011).

64.8% da população gostam de escutar música diariamente, 79.8%

ao menos uma vez por semana, 83.7% uma vez por trimestre e 84.4% uma vez

ao ano, sobretudo homens, mas as diferenças ocorrem por idade. 80.7% das

pessoas ouvem músicas em rádios, 32,4 em CDs ou DVDs, 22.8% em

computadores e 9.8% em celulares. 83.3% preferem escutar música em casa,

43.6% no carro, 16.8% no trabalho e 6.2% no transporte público. Os gêneros

musicais preferidos dos que ouvem música uma vez por trimestre destacam-se:

pop-rock espanhol (58.2%), pop-rock estrangeiro (39.2%), pop-rock latino

(35%), canção melódica (33.9%), canção do autor (31.6%), flamenco (21.5%) e

música clássica (16.1%).

Dentre os espetáculos culturais, o cinema continua sendo o que tem

mais seguidores, quase metade da população (49.1%) vai ao cinema uma vez

por ano, sobretudo homens e jovens, com um grau de satisfação de 7.7 pontos.

87.2% pagaram normalmente por seus ingressos e 3.3% dos que obtiveram

entradas gratuitas o fizeram pela Internet. 17.5% das pessoas preferem as

comédias, 17.8% filmes de ação, 12.6% ficção-científica, 11.7% aventura, 9.9%

drama, 5.6% suspense, 8.9% filmes infantis e 7% desenhos animados. 4.7%

das pessoas foram ao cinema no ano da pesquisa para ver outros tipos de

eventos: esportes (20.1%), concertos (17.3%) ou outros espetáculos (11.1%).

Page 225: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

193

49.6% das pessoas gostam de ver vídeos pelo menos uma vez ao mês, sendo

que 25.2% prefere vê-los no computador e 12.6% diretamente pela Internet.

Praticamente todas as pessoas analisadas gostam de assistir TV

(96.9%). 81.9% das pessoas gostam de assistir TV pelas notícias, 69.9% pelos

filmes, 61% gostam das séries, 37.1% os esportes, 26.2% os documentários e

programas culturais e 13.2% preferem os concursos culturais. 4.6% das

pessoas assistem TV pelo computador e 5.9% fazem uso da Internet.

78% das pessoas pesquisadas gostam de escutar rádio, sendo que

70.3% preferem os programas musicais, 58.5% as notícias, 20.5% as tertúlias,

18.9% os programas esportivos e 2.6% programas culturais e documentários.

9.1% dos que escutam rádio o fazem por computador e 8.4% fazem uso da

Internet.

53.6% da população espanhola pesquisada gostam de usar o

computador em seu tempo livre ao menos uma vez ao mês, sobretudo os

homens e os jovens. 52.5% das pessoas faz uso da Internet por motivos não

profissionais, sobretudo os homens e os jovens. 13.7% das pessoas utilizam

videogames, sobretudo os homens e os jovens, sendo que 50.2% preferem

videogames de ação ou aventuras, 42.1% de esportes, 39.9% jogos de

estratégia (AGE, 2011).

Dentre as práticas culturais ativas realizadas pela população

pesquisada destacam-se: 29.1% fotografia, 13.2% desenho ou pintura, 7.1%

escrita, as relacionadas com artes musicais (8% toca algum instrumento, 2.4%

canta em coral), as relacionadas com artes cênicas (2.1% faz teatro, 3.9% faz

ballet ou dança). 13.1% das pessoas pesquisadas assistiram a conferências ou

mesas redondas no ano da pesquisa e 19.2% frequentou centros culturais.

8.2% das pessoas vai ao circo uma vez por ano, 28% aos esportes, 8.5%

espetáculo com toros, sendo 10.6% homens. 16.5% vão ao zoológico ou

parque com animais, 12.1% ao jardim botânico e 15.1% aos parques temáticos.

No ano em que a pesquisa foi realizada, 6.7% das pessoas analisadas

realizaram algum curso de formação complementar vinculado à cultura, com

destaque para a dança (16.4%), o desenho (11.4%) ou tocar algum instrumento

musical (10.8%).

Page 226: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

194

34.9% das pessoas pesquisadas compram livros em um

estabelecimento a cada trimestre e 0.6% adquirem livros gratuitamente pela

Internet ou através de fotocópia. 11.7% das pessoas compraram músicas

gravadas no último trimestre do ano em que a pesquisa foi realizada em um

estabelecimento, 0.4% das pessoas realizaram compras de músicas sem

marca em ambulantes ou pequenos mercados e 17.7% adquirem música

gratuitamente através da Internet. 76,7% recorrem à Internet por questões

econômicas, 68.9% pela comodidade e 50.1% pela rapidez. A cada trimestre,

10.7% das pessoas pesquisadas compram vídeos em um estabelecimento,

0.6% realizaram compras de vídeos sem marca em ambulantes ou pequenos

mercados e 17.4% adquirem vídeos gratuitamente através da Internet. Os

motivos pelo uso da Internet são semelhantes aos da música. 7.9% da

população analisada obtiveram software por vias irregulares tais como: cópias

não originais obtidas com amigos e gratuitamente através da Internet (AGE,

2011).

4.5. HABITOS CULTURAIS DOS PAULISTAS

Em 2014, foi publicada a pesquisa organizada por João Leiva em

parceria com o Instituto Datafolha sobre os hábitos culturais dos paulistas e a

coleta de informações abrangeu 21 cidades do Estado de São Paulo, cidades

com mais de 100.000 habitantes, e Campinas fez parte da coleta de dados. As

pessoas entrevistadas tinham a partir de 12 anos.

A pesquisa coletou informações como gênero, idade, escolaridade,

renda familiar, religião, cor da pele e estado civil, para construir a base das

análises dentro dos objetivos da pesquisa. A pesquisa buscou primordialmente

entender o que as pessoas gostam de fazer no seu tempo livre, quais são os

graus de interesse, quais as atividades artísticas envolvidas nas escolhas e

fatores que podem influenciar nos gostos e preferências. A pesquisa considera

que tempo livre é aquele desvinculado de quaisquer obrigações de

institucionais, como trabalho, escola, entre outras. O tempo livre envolve a

dedicação a atividades relacionadas diretamente com a realização pessoal,

Page 227: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

195

com lazer e gozo intelectual. Desta forma, atividades esportivas, lúdicas,

intelectuais e artísticas fazem parte deste contexto (LEIVA,2014).

Os resultados da pesquisa serão expostos e analisados de forma

comparativa com os resultados da pesquisa realizada em Salamanca, contudo

é importante destacar algumas considerações que o autor faz na introdução do

livro. Ele inicia comentando que fazer uma leitura matemática da cultura é um

caminho importante para se estudar este universo, mas, devido a sua

complexidade, deve-se ter muita cautela na interpretação do levantamento de

dados e dos indicadores. Esta constatação torna mais atrativo o desafio de

compreender as relações sociais que se estabelecem no universo cultural,

onde sentimentos, memórias, objetos, relações pessoais e institucionais, e

tantos outros elementos nos fazem refletir sobre questões como:

Qual será o montante de recursos destinado a cada

área? Quanto deve ser investido em festivais de cinema e teatro e na

produção de peças e filmes? Quantas ações devem ser

patrocinadas? Quantas produções? E de que porte? Que bens

materiais e imateriais devem ser preservados? Isso para não falar na

complexidade ainda maior de definir o que deve e o que não deve ser

alvo da gestão pública na cultura... (LEIVA, 2014, p. 22)

Essas indagações fazem parte do cotidiano dos artistas, produtores,

agentes culturais e políticos, e a pesquisa buscou criar uma base de

informações relevantes para as decisões que estas pessoas devem tomar no

exercício de suas atividades. Foram aplicadas mais de oitenta perguntas para

uma amostragem de quase oito mil pessoas, para identificar os hábitos

culturais e os fatores que motivam as escolhas, e como os elementos se

articulam neste universo dentro do Estado de São Paulo. Buscou-se rastrear o

que o autor denominou como o ‘processo de fruição cultural’, que envolve

desde o momento da escolha da programação à compra do ingresso,

passando pelos gostos e preferências por conteúdos, atividades, espaços e

incluindo também as barreiras que afastam as pessoas neste processo.

Page 228: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

196

Pelos números, nota-se a força expressiva das redes

sociais e da internet como fontes de informação sobre o tema,

constituindo-se guias culturais de credibilidade especialmente junto

aos que têm de 12 a 24 anos de idade. Esse é também o perfil dos

que mais gostam de funk como estilo musical. Quando se focaliza

apenas o estrato de 12 a 15 anos, menções ao tipo de música

alcançam 43%, taxa que vai para 24% entre os que têm de 16 a 24

anos, apenas 9% entre os de 25 a 34 e cai à medida que aumenta a

idade do entrevistado” (LEIVA, 2014, p. 31).

Destacamos que outro ponto muito relevante nesta pesquisa foi a

abordagem sobre os hábitos dos entrevistados com relação ao universo virtual,

considerando a rede de internet também como um espaço de consumo cultural,

o qual faz parte das cidades e está diretamente ligado com infraestrutura

urbana, com mobilidade e acesso à tecnologia. Atualmente, temos diversos

museus virtuais, além de um consumo diário de filmes, músicas e muitas outras

atividades culturais relacionadas ao ambiente virtual. Fatores urbanos como

tempo de deslocamento ao trabalho e segurança pública se relacionam

diretamente com as novas tecnologias de comunição aplicadas ao unvirso

cultural e interferem nas decisões de todos os atores desta rede cultural.

Figura 33 – Campinas: O que mais gosta de fazer com tempo livre?

Fonte: Datafolha 2014.

Page 229: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

197

Os resultados da pesquisa apontam que grau de escolaridade e a

classe econômica têm grande influência sobre a questão da exclusão cultural,

e quanto maior o grau de escolaridade menor é o percentual daqueles que

afirmaram nunca ter participado de uma atividade cultural, na avaliação da

situação reversa o grau de exclusão é muito maior. Esta tendência é validada

para todos os setores independentemente quando existe gratuidade ou

cobrança de ingresso.

A relevância do grau de escolaridade é visualizada no fato de que

14% das pessoas da classe C nunca foram ao cinema e, dentre as que têm

nível superior, o percentual é inferior a 1%. Dentre a classe C com nível médio,

temos 9% e, quando considerado apenas as pessoas com ensino fundamental,

a taxa é de 22%. Outra comparação interessante é o confronto de pessoas

com ensino médio da classe C com aquelas com ensino fundamental das

classes A e B e o resultado é igual ou maior entre as pessoas com ensino

médio, mesmo naquelas com renda superior.

4.6. COMPARATIVO CONSUMIDORES CULTURAIS EM

SALAMANCA E CAMPINAS

Trataremos agora de expor características tipológicas dos

consumidores culturais em Salmanca e Campinas, comparando características

como gênero, grau educacional, nível econômico e faixa etária. Estes dados

foram extraídos do estudo em Salamanca 2002 (HERRERO, 2004) e da

pesquisa realizada em Campinas (LEIVA, 2014).

As características sociodemográficas são similares em alguns

pontos como gênero, no qual a distribuição em Salamanca foi de 46% homens

e 54% mulheres e, em Campinas, 47% homens e 53% mulheres. Por outro

lado, com relação ao nível de escolaridade, temos a tabela 13 que segue onde

são demonstradas as diferenças.

Page 230: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

198

Tabela 14 - Comparativo nivel de educacional dos consumidores culturais: Salamanca x Campinas.

Salamanca Campinas

Fundamental 8% 33%

Médio 23% 47%

Superior 69% 20%

Fonte.: HERRERO 2004 e LEIVA 2014.

Notamos que existem grandes diferenças, mas é preciso fazer duas

considerações ao analisarmos esta comparação direta. Em Salamanca, temos

cerca de 15% das pessoas entrevistadas com grau de mestre ou doutor e, em

Campinas, estas informações não foram filtradas na pesquisa; contudo, se a

pesquisa fosse realizada somente no distrito de Barão Geraldo, com certeza

teríamos uma elevação do número de pessoas com nível superior completo,

devido à influencia da UNICAMP no seu entorno.

Com relação à classificação econômica, fizemos um ajuste baseado

no poder de compra das classes e não nos valores absolutos reais de ganhos

monetários anuais das famílias porque existe uma diferença de valorização

cambial do euro sobre o real; contudo, o importante é o valor efetivo que cada

moeda representa no consumo local em cada país. Assim, temos que 9% estão

nas classes D e E em Salmanca contra 5% em Campinas, 59% na classe C em

Salamanca e 45% em Campinas, 19 % na classe B em Salamanca e 45% em

Campinas e, por fim, 13% na classe A em Salamanca contra 5% em Campinas.

Com relação à oferta cultural e às atividades culturais frequentadas

pelo público consumidor nos anos em que foram realizadas as coletas de

dados em Salamanca e Campinas, temos a seguinte distribuição na tabela 14

abaixo:

Tabela 15 - Comparação das preferências por atividade cultural : : Salamanca x Campinas.

Salamanca Campinas

Teatro 72% 24%

Audiovisual 48% 69%

Exposições 39% 22%

Fonte.: HERRERO 2004 e Leiva 2014

Page 231: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

199

Um dado interessante é que as atividades relacionadas aos

espetáculos de dança são as que têm o menor índice de interesse tanto em

Salamanca como em Campinas e, em Campinas, pela avaliação da pesquisa

sobre os hábitos culturais, o número de pessoas que nunca foi assistir a um

espetáculo de dança é muito maior que das outras atividades em todos os

níveis de escolaridade (superior, médio e fundamental) chegando a 62% entre

as pessoas do fundamental.

4.7. DIAGNÓSTICO DO SETOR CULTURAL EM CAMPINAS

Em Campinas, as primeiras ações referentes à política de cultura

são datadas da década de 1990 com a realização do primeiro concurso público

municipal para o cargo de Agente Cultural. Em termos de infraestrutura, a

Secretaria de Cultura tornou-se responsável pelos edifícios antigos, muitas

vezes tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural

(CONDEPACC), que necessitam de especial atenção quanto a sua

conservação, questão complicada devido à ausência de recursos.

Sendo assim, o gestor da política cultural necessita escolher entre

investir na recuperação de equipamentos ou na promoção de ações,

programas e projetos. Consequentemente, a manutenção e recuperação dos

equipamentos culturais encontram-se defasadas no orçamento da pasta de

Cultura, o que prejudica estruturalmente a qualidade das atividades.

Apesar da política cultural adotada pela antiga Secretaria Municipal

de Cultura, Esportes e Lazer (SMCEL) ter tentado uma aproximação com a

política pública de cultura do cidadão, através da descentralização das ações e

de equipamentos de qualidade, ela não foi capaz de superar as diferenças

existentes no espaço urbano (centro e periferia) e na estrutura de classes da

sociedade.

Dessa forma, há a necessidade de maiores investimentos estruturais

a fim de sanar as deficiências existentes, mas também se deve enfatizar o

esforço de profissionalização da área de Cultura através da realização de

novos concursos para o cargo de Agente Cultural, um profissional capaz de

Page 232: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

200

articular competências técnicas transdisciplinares necessárias à área da

Cultura.

Da mesma forma, a implantação de casas de cultura temáticas

acontece a fim de legitimar as manifestações, expressões e repertórios da

cultura popular, independentemente do locus em que sejam produzidas. A esse

respeito, podemos analisar os resultados do Censo Cultural de Campinas, que

cadastrou grupos, instituições, manifestações, espaços, tradições e saberes da

cidade.

Primeiramente, de acordo com o gráfico 26 abaixo, o Censo Cultural

teve 3.800 cadastros em sua primeira edição (ano de 2004), o que mostra que

Campinas dispõe de um significativo predomínio de corporações e grupos

artísticos musicais, o que representa, aproximadamente, 37% dos cadastros,

seguidos dos grupos de teatro, com aproximadamente 22% dos cadastros,

seguidos dos grupos de dança, com cerca de 17% dos cadastros, o que

enfatiza a importância histórica que esses três gêneros artísticos têm na cidade

de Campinas desde o século XIX.

Figura 34 – Gráfico 26 : Corporações e Grupos Artísticos Cadastrados.

Fonte: Elaborado a partir do Censo Cultural de Campinas-2004.

De acordo com o gráfico 27 a seguir, no que diz respeito à

distribuição ocupacional (segundo categoria de ocupação) dos profissionais

envolvidos em produção cultural no município de Campinas (um indicativo,

mesmo que indireto, das características da oferta de bens, serviços e produtos

culturais na cidade), observamos que 19% do total de pessoas cadastradas

Page 233: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

201

estão ocupadas no artesanato, 18% na área de música, 17% na área de arte-

educação, e 16% na área de artes plásticas.

Essa informação é altamente relevante para o planejamento de uma

política pública relacionada à produção cultural, que deve levar em conta as

pessoas, grupos e instituições presentes na cidade, ao mesmo tempo em que

permite diagnosticar áreas que o Poder deve investir.

Figura 35 – Gráfico 27: Pessoas Ocupadas na área de Cultura por Categoria de Ocupação.

Fonte: Elaborado a partir do Censo Cultural de Campinas-2004.

Finalmente, o gráfico 28, que expressa a relação entre número de

equipamentos culturais e o total de população atendida pelo mesmo. Pode-se

observar a existência de uma real dualidade entre a cidade ‘real’ (vivenciada

pelos pobres, marcada pela carência e precariedade de recursos) e a cidade

de ‘direito’ (vivenciada pelas camadas médias e de alta renda, onde há maior

disponibilidade de recursos e equipamentos, inclusive vindos de investimentos

públicos). Observe que, enquanto na AR12 há um único equipamento cultural

para atender cerca de 20 mil pessoas, no distrito de Joaquim Egídio (JE) existe

um equipamento para cerca de 600 pessoas.

Page 234: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

202

Figura 36- Gráfico 28 : Coeficiente de Habitantes por Equipamento Cultural nos Distritos e Administrações Regionais de Campinas.

Fonte: Elaborado a partir de Censo Demográfico-2000.

A equipe gestora da Secretaria de Cultura de Campinas em 2004

realizou a análise das informações do Censo Cultural no que diz respeito à

distribuição dos equipamentos culturais, concluiu que a consolidação da

política cultural como política pública não deve estar distanciada da política

social básica, o que inclui um aumento orçamentário da pasta de Cultura. Isso

permitiria à população como um todo um acesso à infraestrutura física e aos

equipamentos urbanos e sociais, o que fortaleceria as identidades

socioculturais presentes na cidade.

Page 235: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

203

Figura 37 – Quais equipamentos culturais são conhecidos pelos Campineiros.

Fonte: Datafolha 2014.

Com relação aos equipamentos culturais na cidade de Campinas,

percebe-se que os shoppings centers passam a abrigar uma diversidade maior

de espaços culturais e de lazer, pois esses espaços foram obrigados, por uma

Lei Municipal Complementar de 1991, a construírem também um teatro além

das salas de cinema. A lei que obriga as novas construções em função da área

construída é valida somente a partir de 1991.

4.8. LIMITAÇÕES AO DESENVOLVIMENTO DACIDADE

CRIATIVA: CAMPINAS

A comparação entre os programas europeu e brasileiro leva à

identificação de algumas limitações que encontramos no Brasil para o

desenvolvimento de cidades criativas.

Algumas empresas culturais têm características específicas que

podem complicar ainda mais a abertura de uma empresa, por exemplo, no

caso das companhias de teatro e ópera, o espaço físico e a infraestrutura têm

um impacto econômico significativo no sistema de produção, porque as

companhias de teatro e ópera exigem um grande espaço físico para ensaiar,

armazenar cenários, além de necessitar de alguns equipamentos de som e

Page 236: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

204

iluminação. Sendo assim, não é possível fazer isso em uma sala comercial de

20m2, dentre as quais muitas pequenas empresas podem iniciar suas

atividades, como por exemplo, uma empresa nova que criou um aplicativo

corporativo para celular ou algo semelhante que necessitaria, para começar

suas atividades, de algo como quatro mesas, alguns computadores, telefones e

acesso à internet, ou seja, um espaço mínimo para sediar uma equipe de

vendas e suporte técnico remoto.

No caso de uma Cia de Teatro, essa estrutura não funciona, de

modo que os espaços de ensaios e experimentação que podem ser oferecidos

pela Universidade de Salamanca e pela UNICAMP são muito importantes e

essenciais para os futuros artistas empreendedores. No caso de Campinas, o

levantamento de dados da pesquisa nos mostrou que a maioria das novas Cias

de Teatro criadas na cidade é formada por jovens atores, os quais, tendo

concluído suas graduações na UNICAMP, escolhem viver no bairro ao redor da

universidade para alugar e manter um espaço físico próprio porque, em

Campinas, é muito mais barato manter esta estrutura do que na cidade de São

Paulo (que junto com a cidade do Rio de Janeiro são os mercados teatrais

mais fortes do Brasil) (INDICADORES CULTURAIS IBGE 2010). A qualidade

de vida é melhor (menos poluição, trânsito, etc), o custo de vida é menor e eles

podem ficar perto da UNICAMP, o que é conveniente para manter vínculos com

professores e colegas que podem contribuir com o desenvolvimento de novos

espetáculos teatrais, além de instigar muitos deles a prosseguir com seus

estudos no campo da pós-graduação.

Campinas foi considerada a cidade com maior crescimento no

interior do estado de São Paulo e tem agido como o centro metropolitano de

referência para os municípios vizinhos.

Contudo, a pesquisa demonstra que a intensidade da integração da

população de Campinas com a produção cultural oferecida pelos grupos

teatrais instalados na cidade (Distrito de Barão Geraldo e Centro de Campinas)

é muito frágil, de baixa intensidade. Nas entrevistas, os artistas informam que

se apresentam mais fora da cidade e do estado de São Paulo do que na

Page 237: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

205

própria cidade, que tem, atualmente, cerca de mais de 1,1 milhões de

habitantes (CAMPINAS, 2014).

Uma grande diversidade de fatores sociais e de planejamento

urbano pode estimular ou afetar negativamente o consumo cultural em uma

cidade e, dentre os fatores sociais e de planejamento urbano, vamos

considerar alguns nesta pesquisa para avaliar seus efeitos sobre a demanda

campineira na cadeia da produção cultural local. Dentre eles, ecolhemos o

índice de violência urbana e infraestrutura de apoio, como bares e

restaurantes, zona de estacionamento e segurança privada para avaliar as

condições ambientais que podem favorecer o interesse pelo consumo cultural.

No caso da violência urbana, Campinas tem proporcionalmente um

índice total de registro de ocorrências policiais (roubos, furtos e homicídios)

muito próximo ao da capital do estado.

Em 2005, o Centro de Estudos Metrópole (CEM) realizou uma

pesquisa sobre as práticas culturais (consumo cultural) no centro expandido da

cidade de São Paulo, região que foi selecionada por concentrar a maior parte

dos equipamentos culturais da cidade, a população com maior nível de

escolaridade, além de ter o melhor sistema de transporte público mais

abrangente e diversificado (metrô, ônibus e trem). As práticas culturais

analisadas foram divididas em duas categorias, domiciliares e externas (Reis,

2007).

Tabela 16 - São Paulo : Práticas culturais domiciliares e externas.

Page 238: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

206

Os resultados das entrevistas realizadas pelo CEM apontaram um

índice médio de consumo cultural domiciliar de 46,6%, cerca de quatro vezes

maior do que o consumo cultural externo (12,7%), resultados que independem

do nível de escolaridade, classe social ou idade. Nos resultados, foram

identificados que 40% dos entrevistados não exerciam nenhuma prática cultural

externa ou domiciliar, sendo que, daqueles que realizaram práticas externas,

64,7% não haviam ido nem ao menos uma vez a uma exposição de arte

durante um ano, e destes, 42,9% foram representados pelas classes A e B.

Considerando que São Paulo é uma das cidades no mundo que tem uma oferta

cultural de qualidade, variada e em grande quantidade, que oferece ingressos

gratuitos ou de baixo custo na maior parte dos casos, além de ser o polo

cultural que atrai os grandes veículos de comunicação do país, ou seja, com

grande divulgação das mais diversas programações culturais em reder de TV,

jornais, revistas e guias. Levando-se tudo isso em consideração, por que será

que a maioria dos consumidores de cultura em potencial não se motivam a

realizar práticas culturais?

Nas entrevistas, muitas pessoas justificam o fato por dificuldades de

mobilidade urbana, falta de segurança pública, falta de acessibilidade para

idosos e deficientes físicos, todos estes fatores afetam negativamente a

tendência de consumo cultural, mas a pesquisa não avaliou o impacto destes

fatores. Um resultado relevante do estudo é que uma pessoa com alto nível de

escolaridade tem 36 vezes mais chance de ser um grande consumidor cultural.

(REIS, 2007).

Visualizamos que existem diversos fatores que poderiam influenciar

positivamente na escolha do consumidor cultural, mas, por outro lado, o

consumidor é influenciado pela sua motivação interna, tornando as vontades

pessoais mais relevantes na tomada de decisão do que os incentivos externos.

Pesquisas sobre tendências de consumo apontam que a estabilidade

econômica e os incrementos na renda média da população brasileira geraram,

primeiramente, uma onda de consumo de bens duráveis (carros, geladeiras,

entre outros) e imóveis e, em segundo plano, intenções de gastos com planos

Page 239: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

207

de saúde e viagens, seguido de gastos com higiene pessoal e beleza,

educação e depois lazer e entretenimento (PESQUISA CNI-IBOPE, 2012).

Desta forma, vemos que na lista de prioridades de intenções de

consumo, aparece a demanda por viagens, ou seja, o turismo, o qual tem

grande sinergia e pontencial para incentivar o consumo cultural dentro do

Brasil. Citamos consumo dentro do Brasil porque esta tendência de consumo

de viagens se manifesta fortemente com o aumento do consumo dos

brasileiros por viagens ao exterior, o qual bate recordes seguidos nos últimos

anos. Mesmo com vários fatores que poderiam desmotivar o consumidor, o

turismo internacional tem aumentado. De agosto de 2011 até outubro de 2014,

a cotação do dólar americano subiu mais de 65% (VALOR ECONÔMICO,

2014), o governo brasileiro tentou freiar o consumo externo para diminuir o

déficit na balança comercial externa. A medida foi aumentar o imposto sobre os

gastos com cartão de crédito (6% mais 0,38% IOF) sobre o valor das compras,

e, mesmo assim, as despesas no exterior bateram recorde e, segundo o

BANCO CENTRAL DO BRASIL, alcançaram a cifra de US$ 2,4 bilhões

somente no mês de julho de 2014, a maior dos últimos anos em um único mês.

(JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO, 2014).

Isso demonstra que a motivação de gastos do consumidor tem um

foco diferente, o consumidor tem uma hierarquia de prioridade de gastos onde

cultura, lazer e entrenenimento no Brasil não tem tanta relevância. Da parcela

que viaja ao exterior, muitos têm alto nível de escolaridade, mais propensos ao

consumo cultural, contudo estão fazendo gastos com consumo cultural fora do

Brasil. Porém, sobre todos os gastos dos brasileiros no exterior, ainda

prevalece a tendência de consumo de bens duráveis, eletrônicos, roupas,

relógios, produtos de beleza, entre outros (JORNAL O ESTADO DE SÃO

PAULO, 2014).

Confrontando essas informações com a realidade de Campinas,

certamente vamos identificar que muitos dos viajantes ao exterior são de

Campinas e o comportamento dos consumidores da cidade segue a mesma

tendência de consumo, ou seja, mesmo os que não viajam ao exterior também

estão priorizando os gastos com bens duráveis e, em segundo plano, intenções

Page 240: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

208

de gastos com planos de saúde e viagens, seguidos de gastos com higiene

pessoal e beleza, educação e depois lazer e entretenimento.

Em Campinas, temos um fator interessante, uma realidade um

pouco diferente da cidade de São Paulo, quando comparamos a distribuição

dos teatros na cidade e a proporção da quantidade de teatros localizados

dentro dos shoppings centers em relação aos outros teatros. Tanto em São

Paulo como Campinas existem leis municipais que determinam a

obrigatoriedade de construção de salas de teatro em shoppings centers de

acordo com o tamanho da área construída. Atualmente, São Paulo tem 14

teatros em shoppings sobre o grande número de teatros da cidade, porém,

atualmente em Campinas, dois dos cinco maiores teatros da cidade dentro de

dois grandes Shopping Centers, que são o Teatro AMIL no Shopping Parque D.

Pedro e o Teatro Brasil Kirin no Shopping Iguatemi, teatros modernos e bem

equipados.

Estes teatros são de propriedade dos shoppings e negociam com

empresas a venda de direitos de ‘name righting’, mas temos duas situações

diferentes com relação à administração destes dois espaços. No caso do Brasil

Kirin, a gestão é realizada pelo proprietário e no caso do Teatro Amil, a

administração é de uma empresa que arrenda o teatro do Shopping D. Pedro,

assim como o Teatro Folha no Shopping Higienópolis em São Paulo. Os outros

teatros mais requisitados são: Castro Mendes, Centro de Convivência,

equipamentos públicos do município e o Teatro TAO. Existem também outros

teatros em Campinas, como o Maria Monteiro, o Teatro abaixo da Concha

Acústica da Lagoa, além de outros espaços públicos e privados, com um

espaço menor para plateia, contudo acabam sendo procurados por grupos que

preferem estes lugares.

Os Shoppings Centers têm grande relevância econômica na cidade

e registram que o tráfego de pessoas dobrou nos últimos sete anos. Estes

locais encontram-se dentro das preferências de visitação do público por

diversas motivações, compras, segurança privada, estacionamento,

alimentação, serviços, lazer e entretenimento. Esta tendência é forte em todo o

país e, conforme os dados da Associação Brasileira de Shopping Centers

Page 241: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

209

(ABRASCE), o setor demonstra a evolução de 258% do volume de faturamento

ao compararmos os anos de 2013 e 2006.

A evolução do volume de faturamento evidencia que os

consumidores estão elevando seu volume de gastos nos shoppings e deixando

de consumir em outros lugares. Abaixo, temos um gráfico do BNDES que nos

mostra o comportamento dos gastos dos consumidores dentro destes locais.

Figura 38 – Gráfico 29: Perfil do Consumidor de Shopping Centers. Fonte: BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 26, p. 139-190, set. 2007.

O gráfico 29 sobre o perfil do consumidor de Shopping Centers em

2007 apontava que o consumo com lazer e entretenimento era de 3% do

volume total de gastos e que o tráfego de pessoas nestes locais está

direcionado para as compras (42%), e isso pouco foi alterado até 2013, quando

o consumo com lazer aumentou para 4% (ABRASCE, 2014). Dentro dos gastos

com lazer em shoppings, 35% estão direcionados às salas de cinema (Reis,

2007).

Com relação à programação cultural dos Teatros AMIL e Brasil Kirin,

nota-se que os espetáculos são produzidos por produtoras e companhias de

teatro que têm, dentro de sua equipe de produção e elenco, artisitas midiáticos,

com grande participação em telenovelas e programas da televisão brasileira.

Nos teatros públicos de Campinas, a programação é mais variada e recebe

espetáculos de grupos teatrais da cidade, além de outros eventos como

Page 242: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

210

espetáculos de dança, apresentações de sinfônicas, entre outros. Nos espaços

culturais alternativos, principalmente os de Barão Geraldo, a programação é de

artistas muitas vezes formados na UNICAMP e espetáculos convidados dentro

da rede de relacionamento destes grupos artísticos de Barão Geraldo.

Durante as entevistas com os grupos artísticos de Barão Geraldo, é

uniforme a visão destes grupos sobre as barreiras impostas por parte dos

teatros dos shoppings, os quais dificilmente atendem estes artistas ou criam

possibilidades para apresentação destes grupos nestes novos espaços

culturais da cidade. Claramente o foco é outro e o diálogo com a produção local

não acontece. Por outro lado, boa parte da população da cidade desconhece

estes grupos de Barão Geraldo e nunca vai solicitar inclusão destes

espetáculos nesses espaços comerciais. Existem também pessoas na cidade

que conhecem o movimento artístico de Barão Geraldo, mas não se identificam

culturalmente com estes grupos.

Até este momento, vemos que o consumo cultural na cidade de

Campinas não sofre tanta influência de fatores como segurança pública, falta

de estacionamentos e outros fatores de planejamento urbano. Identificamos

que o consumidor em potencial não prioriza os gastos culturais e devemos

buscar incentivar a formação de público, desenvolver políticas e ações

estratégicas que estimulem a população da cidade a consumir mais práticas

culturais de modo geral e também a consumir a produção cultural local.

Esta visão pode ser complementada com a experiência do Festival

Internacional de Teatro de Campinas (FIT), o qual teve somente três edições

anuais (1990, 1991 e 1992), mesmo tendo sido organizado por dois grandes

agentes públicos, que tem força para influenciar positivamente a política

cultural da cidade, a UNICAMP e a Secretaria Municipal de Cultura de

Campinas. Nas ações de planejamento para consolidar o evento, foram

realizados convênios com entidades e instituições públicas, como no caso do

Festival de Teatro de Londrina (FILO), da Fundação Universidade de Londrina

(UEL), com as Secretarias de Cultura da cidade e do estado de São Paulo e a

Fundação Nacional de Artes Cênicas (FUNDACEN- Ministério da Cultura do

Brasil).

Page 243: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

211

Foi organizada uma grande mobilização institucional e, anlisando o

histórico do evento, isso fica claro, inclusive foi criado pela prefeitura de

Campinas o Decreto de nº 11050, no final de 1992, depois da terceira edição,

que incluia o evento no cronograma oficial de atividades da Secretaria de

Cultura, responsabilizando-a, dentro dos seus limites financeiros, pelas

despesas e estruturas básicas do Festival. Em 1993, o evento começou a

perder suas forças e apoios institucionais e foi transformado de evento anual

para bienal, como uma última tentativa de salvamento; contudo, a execução em

1994 foi cancelada e o evento desapareceu do calendário cultural da cidade

(SIARQ-UNICAMP, 2001).

Existem outros festivais e mostras internacionais de teatro bem

sucedidos no Brasil e no Estado de São Paulo, como o Festival Internacional

de Teatro de São José do Rio Preto, que começou na década de 60 como um

festival de teatro amador da cidade e, em 2001, se transformou em um festival

internacional de artistas profissionais. Com certeza, estes festivais enfrentaram

as mesmas dificuldades que o FIT Campinas para se manterem ativos. Caberia

um estudo detalhado a parte desta pesquisa, confrontando arquivos e

documentos do SIARQ-UNICAMP com uma pesquisa de campo em outros

eventos similares para, a partir daí, ter uma compreensão precisa do que

causou a extinção deste evento em Campinas.

Neste sentido, é importante enfatizar que o trabalho de formação de

público e consolidação de plateias ativas é sumariamente importante, pois a

partir do momento que a população da cidade assume um evento como sua

propriedade, deixando de ser um evento de propriedade institucional, a

cobrança por esforços ganha o seu maior peso na cobrança por sua realização.

Sobre os investimentos em projetos culturais na cidade de Campinas

e a quantidade da oferta cultural gerada para a população da cidade, foi

realizado um levantamento na base de dados da Lei Rouanet do Ministério da

Cultura do Brasil, que permitiu a criação de alguns fatores para evoluirmos na

compreensão do consumo cultural na cidade, compreendendo melhor seus

desafios e barreiras para contribuir na criação de uma estratégia de incentivo

ao consumo cultural na cidade e promover uma maior integração entre artistas

Page 244: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

212

e a população da cidade. Abaixo segue o gráfico 30 com o demonstrativo do

número total de projetos de Lei Rouanet executados nas cidades de Campinas

e São Paulo.

Figura 39 – Grafico 30 : Comparativo com o número total de projetos de Lei Rouanet executados em Campinas e São Paulo. Fonte: Ministério da Cultura – MINC.

Em números absolutos, a quantidade de projetos executados na

cidade Campinas é muito inferior aos da cidade de São Paulo; contudo,

proporcionalmente ao número de habitantes de cada cidade, identificamos que

a oferta de oportunidades de práticas culturais de projetos de Lei Rouanet

executados em São Paulo é quase o dobro (1,72) da oferta de Campinas. Os

valores da execução orçamentária destes projetos também são muito

significativos para a economia da cultura destas cidades e nos mostram que os

investimentos estão sendo realizados. Por exemplo, no ano de 2011, na cidade

de São Paulo, o valor destes projetos foi da ordem de R$314 milhões e em

Campinas de R$11,6 milhões (gráfico 31), valor quase oito vezes maior que o

investimento do Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC) que no

mesmo ano foi da ordem de R$1,5 milhão.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

2012 2011 2010 2009 2008

São Paulo

Campinas

Page 245: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

213

Figura 40 – Gráfico 31 : Total dos Valores de Execução Orçamentária dos Projetos de Lei Rouanet em Campinas e São Paulo.

Fonte: Ministério da Cultura – MINC

Devemos ressaltar que alguns dos projetos de Lei Rouanet

analisados tiveram circulação em outras cidades do país; contudo, o valor

descrito no gráfico não considerou o valor global do projeto. Os valores

referem-se, exclusivamente, aos valores efetivamente gastos para a execução

dos projetos nas cidades de Campinas e São Paulo.

Com base nestas informações da Lei Rouanet, constatamos que a

oferta de práticas culturais por parte das populações destas cidades está

acontecendo e, na maioria destes projetos, os ingressos foram gratuitos e, em

outros, a cobrança foi feita com preços populares, o que nos remete

novamente à questão das motivações pessoais dos consumidores e o que os

leva à tomada de decisão na hora de escolher entre ir ao Shopping Center

fazer compras ou ir assistir a um espetáculo gratuito. Muitas vezes, a primeira

opção prevalece e a necessidade de planejamento de ações estratégicas

voltadas para a formação de plateias se torna latente. O processo de

democratização do acesso aos meios de produção cultural impulsionado pela

Lei Rouanet tem trazido resultados significativos, mesmo com todas as críticas

ao modelo. Porém, os efeitos dos incentivos com relação à democratização do

acesso demonstram, na prática, que o processo ainda anda a passos lentos e

R$ 0,00 R$ 200.000.000,00 R$ 400.000.000,00

2012

2011

2010

2009

2008

Campinas

São Paulo

Page 246: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

214

que o acesso às praticas culturais somente pelo viés do ingresso gratuito ou de

baixo custo não surtiram o efeito esperado.

4.9. CAPACIDADE DE CAPTAÇÃO DE RECURSOS

A partir da análise dos anuários estatísticos e dos relatórios

institucionais da UNICAMP, identificamos quais foram as principais fontes de

financiamento e realizamos um diagnóstico sobre o processo de captação de

recursos.

Todas as universidades públicas também contam com um valor

anual extraorçamentário que, no caso da USP, não é muito claro e acessível.

Contudo, no anuário estatístico de 2012 da UNICAMP, podemos ver que o

valor anual extraorçamentário foi de 19,77%, sendo que 38,19% deste são

oriundos da FAPESP (Gráfico 31, p. 215) que, por sua vez, também recebe seu

percentual do ICMS. Assim, podemos concluir que 7,55% deste

extraorçamentário vêm diretamente do ICMS. Outras grandes fontes também

são públicas do governo federal, CNPQ e CAPES que representam 40,53%,

3,44% da FINEP e outros fundos, 10,34% de Empresas Públicas (Petrobrás,

Eletrobrás, entre outras), 0,82% de Instituições internacionais e apenas 4,53%

de Empresas Privadas.

No ano de 2012, os recursos extraorçamentários para pesquisa

oriundos de instituições nacionais e internacionais de fomento e de

convênios de pesquisa com empresas públicas e privadas

corresponderam a cerca de 20% dos recursos orçamentários.

(Unicamp, 2012)

Essas informações do anuário de 2012 da UNICAMP nos mostram

que a relação com Empresas Privadas ainda têm que evoluir muito e este é um

dos caminhos para o incremento orçamentário nas universidades públicas. A

agência INOVA UNICAMP foi criada em 2003 e tem, dentre os seus atributos,

negociar patentes e atrair investimento privado para o fomento da pesquisa e

inovação tecnológica. Tem desempenhado um bom papel, mas ainda não é

Page 247: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

215

suficiente para as demandas emergentes. Se compararmos diretamente a

captação com empresas privadas nos anos de 2006 e 2012, o aumento é de

36,5%, mas não é muito representativo em valor efetivo na conta da UNICAMP.

O percentual de participação das Empresas Privadas é muito baixo porque

4,53% é a participação sobre os 19,77% do extraorçamentário, que sobre a

dotação orçamentária oriunda do ICMS equivale apenas a 0,89%.

Figura 41 – Gráfico 32: Fontes de Financiamento UNICAMP 2012.

Fonte: ANUÁRIO UNICAMP 2012.

A universidade deve trabalhar uma estratégia específica para melhorar a

eficiência de captação de recursos com empresas privadas e isso serve para

todos os diferentes projetos: acadêmicos, culturais, extensão, enfim, para todas

as ações da universidade, recursos complementares sempre são necessários,

principalmente porque a maior parte destas atividades é ofertada gratuitamente

para os usuários. Essa questão da gratuidade nos cursos e atividades de

extensão gera um debate intenso na universidade porque as únicas atividades

que são obrigatoriamente gratuitas são os cursos de graduação e pós-

graduação (stricto sensu). As outras atividades são avaliadas por cada

comissão organizadora, que pode cobrar taxas dos usuários, como ocorre em

muitos cursos de extensão e especialização, os quais justificam as cobranças

Page 248: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

216

pela necessidade de cobrir custos extras (professores externos, materiais de

laboratório, logística, entre outros), os quais não estão previstos no orçamento

anual da universidade.

No caso das atividades culturais, estas são ofertadas gratuitamente

dentro do campus e sempre existe um esforço para captação de recursos via

patrocínios diretos ou através de leis de incentivo fiscal; contudo, a

universidade não tem bons resultados pelo potencial de atratividade que a

notoriedade desta instituição pode agregar nos planos de marketing das

empresas. Isso é claro pelo número demonstrado: 0,89% do total de recursos

gastos pela UNICAMP em 2012 foi oriundo de empresas privadas e um

percentual muito baixo deste valor foi captado para projetos culturais.

A notoriedade da qualidade de formação profissional e acadêmica

oferecida pela UNICAMP é reconhecida internacionalmente, ela é a

universidade com maior produtividade acadêmica do Brasil, mas muitos dos

alunos formados vão trabalhar em grandes empresas nacionais e

multinacionais, chegando a ocupar os mais altos postos executivos. Contudo, a

relação com os ex-alunos que não seguem a carreira acadêmica é muito fraca

e não houve uma preocupação com manter o vínculo com os ex-alunos até

2011, quando foi lançada a Rede Alumni UNICAMP a fim de cumprir esta

missão de manter próximos os ex-alunos. A rede começou como um projeto

piloto em 2010 e depois foi lançada oficialmente em 12 de abril de 2011.

Não se trata de buscar estatísticas, mas sim de criar

condições para que esses ex-alunos, muitos deles ocupando cargos de comando em suas empresas e organizações, possam oferecer ideias e sugestões nas áreas das políticas públicas, empreendedorismo, etc. (Costa, 2011)

8

8 Declaração do reitor Fernando F. Costa, no evento de lançamento da Rede Alumni. Fonte: Portal da

Unicamp, texto de Manuel Alves Filho.

http://www.unicamp.br/unicamp/noticias/unicamp-lan%C3%A7a-rede-de-relacionamento-com-seus-

ex-alunos

Page 249: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

217

Fora do Brasil, principalmente nos EUA, os ex-alunos são muitas vezes

grandes doadores como pessoa física e também fortalecem laços institucionais

através das empresas onde estão atuando. Este relacionamento é muito

importante para o financiamento de novas pesquisas e pode ser fundamental

para alavancar a produção cultural dentro do campus. Diferentemente dos EUA

e vários países europeus, no Brasil existem as leis de incentivo fiscal para

projetos culturais que facilitam ainda mais este relacionamento com as

empresas. Entretanto, para isso funcione bem, os projetos têm que ser bem

elaborados e trabalhados através de um bom planejamento de comunicação

institucional.

Na universidade, a comunicação institucional voltada para a captação de

recursos é muito frágil e não é trabalhada independentemente, ela é muito

dependente da Assessoria de Comunicação (ASCOM), órgão que é focado no

atendimento da imprensa e não em marketing empresarial. A ASCOM é muito

eficiente, mas focada na divulgação de notícias das pesquisas inovadoras nos

periódicos (jornais e revistas) e nas redes de televisão.

O potencial atrativo para o marketing empresarial existe, mas

precisa ser trabalhado através de um setor de captação de recursos eficiente,

ou através de uma comissão central que oriente e assessore os coordenadores

dos projetos culturais na busca de apoio financeiro.

4.10. MECANISMOS DO SISTEMA CULTURAL

4.10.1. LEIS RELATIVAS À COOPERATIVA ARTÍSTICA EM

ESPANHA E NO BRASIL

4.10.1.1. ESPANHA

O quadro jurídico aplicável à atividade econômica da UE (apêndice

1) ainda é baseado, em grande medida, sobre as legislações nacionais, o que

nos leva a muitas dificuldades quando se aproximam as operações de fusão

entre empresas localizadas nos diferentes Estados-membros. A fim de atender

a essa necessidade em 2001, foi estabelecido o Regulamento (CE) no.

Page 250: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

218

2157/2001, de 8 de outubro de 2001, que aprova o Estatuto da Sociedade

Europeia (SECO); no entanto, o presente regulamento não é aplicável a muitos

outros tipos de empresas na União Europeia, tais como cooperativas, que têm

de enfrentar estratégias semelhantes (MARTI & SANCHEZ, 2006).

Por isso, no caso espanhol, as cooperativas envolvidas nestes

processos devem estar em conformidade com os requisitos da ECS, com

relação ao processo de fusão, o que difere, em vários aspectos, do

procedimento da legislação nacional (Lei 27/1999 e Leis Regionais), decorrente

da questão de que a legislação deve ser aplicada em substituição aos

Estatutos, pelos aspectos não abrangidos (total ou parcialmente). De fato, a

referência expressa no texto de 1993 desapareceu e considerou a

possibilidade da existência de leis regionais, garantindo, assim, a autonomia da

legislação aplicável (FAJARDO, 2001).

Conforme vimos anteriormente, neste contexto, surgiu a rede de

cooperativas Smart, primeiramente na Bélgica, a qual gerou uma rede

internacional de parceiras. Assim, surge em 2013, na Comunidade Autonôma

espanhola de Andaluzia, a SMartIb. Sua constituição foi viabilizada pela Lei

14/20119, que rege as Sociedades Cooperativas Andaluzas.

A SmartIb permanece em conexão direta com a belga SmartBe, mas

tem sua atuação comercial permitida em toda a UE pelos estatutos

anteriormente comentados. Ela é a primeira cooperativa deste tipo na Espanha

e foi criada para atuar como uma estrutura de convênios tipo ‘guarda-chuva’,

favorecendo o desenvolvimento de iniciativas individuais e coletivas, todas

garantidas pelo fundo mutualizado dos cooperados. Atualmente, conta com

sete escritórios em diferentes regiões: Antequera, Barcelona, Granada, Jerez

de la Frontera, Málaga, Sevilha e Madrid.

É uma cooperativa de serviço e os cooperados são pessoas físicas

ou formações coletivas (associações culturais) e todos os serviços profissionais

são realizados por conta própria pelos cooperados, sendo a SmartIb a gestora

9 A Lei 14/2011 de Sociedades Cooperativas Andaluzas foi aprovada em dezembro de 2011 e introduziu

este novo tipo de cooperativa no qual está inserido a SMartIb (artigo 93).

Page 251: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

219

administrativa dos contratos. Como gestora, garante assistência jurídica, auxilia

nos processos de compra de materiais, mas o mais importante é o fundo

Mútua. Este fundo garante os pagamentos dos artistas, mesmo no caso do

cliente não estar em dia com o pagamento do contrato. A SmartIb assume este

risco e utiliza seu sistema jurídico para cobrar os devedores.

Todo cooperado contribui com parte de seus ganhos para o Fundo

Mútua e paga uma taxa de administração. Nenhum cooperado fica mais de 30

dias sem uma entrada financeira. Todo excedente financeiro da SmartIb é

revertido em melhorias na cooperativa.

4.10.1.2. COOPERATIVAS CULTURAIS

ESTADO DE SÃO PAULO

No Brasil, muitos artistas têm conseguido viabilizar suas produções

culturais através das Cooperativas Culturais, que oferecem uma estrutura

jurídica de apoio para artistas que não tem uma empresa cultural formalizada,

ou para aqueles artistas que não se sentem seguros para assumir a

administração de uma empresa principalmente pelo fato de não terem

formação como gestores culturais.

A Cooperativa Paulista de Teatro (CPT) é uma das cooperativas

mais antigas do Brasil e foi fundada em 1979 para atender a necessidade de

organização de um grupo de artistas que produziam de forma coletiva, assim

com base na Lei 5.764/71, a qual define o Cooperativismo no Brasil, foi

constituída a CPT. Esta experiência inovadora para a produção cultural foi

evoluindo ao longo dos anos, conquistando trabalhos de destaque e atraindo

artistas não somente da práxis teatral, mas também da dança e das artes

circenses. A partir do ano de 1993, a CPT passa a contar com uma

infraestrutura mais robusta e estável.

A CPT conta, atualmente, com 750 núcleos e com mais de 3.800

cooperados, sendo que a instituição responde pela maior parcela da produção

teatral do Estado de São Paulo, tendo, em seus núcleos, companhias de

grande notoriedade e das mais diversas expressões teatrais. Fornece grande

apoio jurídico aos artistas, colaborando no estabelecimento de convênios,

Page 252: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

220

contratos, entre outras atividades, além de apoiar os artistas na busca por

melhorias nas políticas culturais no Brasil.

Esta experiência forneceu os subsídios para a criação de novas

cooperativas dentro e fora do Estado de São Paulo que se inspiraram nas

experiências da CPT, assim, em 2003, surge a Cooperativa de Música de São

Paulo e, em 2006, as Cooperativas Paulistas de Dança e Circo.

Devido a sua grande expansão nos últimos anos, começaram a

surgir fortes demandas no interior do estado que fizeram os gestores da CPT

refletirem sobre a necessidade de planejamento para a criação de escritórios

regionais no interior do estado. Desta forma, em abril de 2014, foi inaugurado o

escritório regional na cidade de Campinas, principalmente pelo grande polo de

produção teatral que existe na cidade.

A CPT é a maior cooperativa cultural da América Latina e tem

utilizado sua representatividade e capacidade de liderança em um esforço

conjunto com as outras cooperativas culturais do país, através da Federação

Nacional das Cooperativas de Cultura (FENCULT) para pressionar os poderes

legislativo e executivo do Brasil na busca de redução de impostos sobre os

serviços prestados pelas cooperativas de cultura. Em 2013, foi iniciada uma

luta pela isenção de dois impostos federais: do Programa de Integração Social

(PIS) e da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS),

que juntos representam 3,75% dos custos fiscais sobre prestação de serviços.

O resultado deste esforço político foi a sanção do artigo 113 da Lei 12.973,

sancionado pela Presidente da República, Dilma V. Rousseff em 13.10.2014.

Segundo Paulo Celestino, tesoureiro da Cooperativa Paulista de Teatro,

“Esse trabalho é fruto da sinergia entre as cooperativas de música,

teatro, circo e dança – embora o benefício se estenda a mais entidades. É a

primeira vez na história do cooperativismo cultural que estas cooperativas se

unem de forma tão coesa. Não é uma conquista apenas da Cooperativa

Paulista de Teatro, é uma conquista da Fencult”. (CPT, 2014) 10

10 Declaração de Paulo Celestino para o portal da CPT após a sanção da mudança na Lei 12.973. Fonte:

Portal da CPT.

Page 253: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

221

Art. 113. Os arts. 30-A e 30-B da Lei nº 11.051, de 29 de

dezembro de 2004, passam a vigorar com as seguintes alterações:

Art. 30-A. As cooperativas de radiotáxi, bem como aquelas

cujos cooperados se dediquem a serviços relacionados a atividades

culturais, de música, de cinema, de letras, de artes cênicas (teatro,

dança, circo) e de artes plásticas, poderão excluir da base de cálculo

da contribuição para PIS/PASEP e COFINS...

Outras atuações políticas foram centradas especificamente na

cidade de São Paulo, que concentra um dos maiores polos de produção e

circulação teatral do Brasil e, dentre elas, destacamos a participação da CPT

no movimento Arte Contra a Barbárie, um movimento organizado pelas

companhias e grupos teatrais, sendo que muitos deles fazem ou fizeram parte

da CPT. Este movimento foi organizado na cidade de São Paulo por diversos

grupos teatrais, os quais estavam insatisfeitos com os critérios de seleção dos

editais públicos de fomento ao teatro, em particular, sobre o processo de

seleção para a obtenção de recursos provenientes da Lei Mendonça na cidade

de São Paulo. O resultado desta luta foi A Lei Municipal de Fomento ao Teatro,

Lei Nº 13.279 de 8.01.2002. No âmbito da cidade de São Paulo, destacamos

também o que ocorreu em novembro de 2014, quando as Cooperativas

Paulistas de Teatro, Dança, Circo e Música conseguiram apoio do prefeito da

cidade de São Paulo, Fernando Haddad, para o pleito da isenção do Imposto

Sobre Serviços (ISS), que é um tributo municipal com alíquota de 5%. O projeto

foi encaminhado pelo prefeito para votação na câmara legislativa da cidade.

As cooperativas de trabalho no Brasil têm uma nova lei que promete

um panorama otimista para o setor. A nova legislação é o resultado de muitos

anos de trabalho realizado pelas cooperativas brasileiras de trabalho. O projeto

jurídico foi aprovado dia 19 de Julho, pela Presidente da República, Dilma

Rousseff, depois de ter sido aprovado por unanimidade pela Câmara Brasileira

de deputados em 20 de Julho de 2012 (CICOPA, 2004). Esta lei estabelece

uma regulamentação clara sobre o funcionamento e os procedimentos

administrativos para cooperativas de trabalho. Além disso, destina-se a superar

Page 254: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

222

problemas jurídicos anteriores, como, por exemplo, a criação de pseudo-

cooperativas, bem como garantir os direitos dos cooperados. Para isso, é uma

boa notícia para o trabalhador brasileiro das cooperativas, seus membros

CICOPA e Central de Cooperativas e Empreendimientos Solidários (UNISOL) e

Instituição Proponente das Cooperativas Brasileiras (OCB) durante as Nações

Unidas Ano Internacional das cooperativas 2012. É o produto de nove anos do

trabalho desenvolvido pela cooperativa dos trabalhadores brasileiros do

movimento. CICOPA tem dado o seu apoio para a criação deste novo quadro

legal e a elaboração do texto legal tem sido baseada na Declaração Mundial

sobre cooperativas de trabalho (CICOPA, 2004).

4.10.2. POLÍTICAS CULTURAIS - RESIDÊNCIAS

ARTISTICAS NO BRASIL

Segundo Vasconcelos (2012), a criação de residências artísticas em

todo o mundo tem mostrado como estes espaços são importantes para a

produção artística contemporânea. As residências artísticas podem ser vistas

como uma “nova forma de inserção no circuito artístico, oferecendo novos

espaços de formação, criação, produção, difusão e reflexão no campo da

cultura”. Contudo, as residências artísticas devem ainda ser “analisadas a partir

de suas relações com os modos de produção e sua inserção no meio urbano e

reflexão sobre a cidade”. (VASCONCELOS, 2012, p.3)

Ainda, segundo a autora, dois conceitos estão diretamente

relacionados à ideia de residência artística: tempo e espaço. O primeiro,

empregado em uma nova dimensão, proporciona ao artista um novo olhar

sobre seu trabalho. O segundo torna-se único a partir de novas perspectivas de

ação. A residência passa, então, a ser “um espaço singular onde o artista pode

pensar sobre sua própria arte, discuti-la, vivenciá-la e recriá-la em suas

múltiplas possibilidades no contato com o novo, diferente e diverso”.

(VASCONCELOS, 2012, p. 3)

A Res Artis Worldwide Network of Artist Residencies, por exemplo,

começou em1993 como uma organização de voluntariado e rede informal com

o objetivo de representar e manter as necessidades de centros e programas de

Page 255: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

223

residências artísticas. Atualmente, dispõe de 400 centros em 70 países com o

objetivo geral de oferecer tempo, espaço e recursos aos artistas e demais

profissionais relacionados ao meio, promovendo troca de experiências,

informações e divulgação dos processos criativos construídos durante as

residências. (Disponível em: WWW.resartis.org)

Neste sentido, além de espaço de criação, experimentação, troca e

divulgação, os programas de residência artística têm que ser vistos, também,

como incubadoras culturais, como incubadoras de pequenas empresas

criativas. Configuram-se como uma grande oportunidade para que se tenha

formação continuada depois de um curso profissionalizante ou de graduação.

Logo, podem ser encarados como uma forma estratégica de se fazer política

no campo artístico.

As residências artísticas compreendidas enquanto política pública orientada para a criação e experimentação tem se tornado motor importante dos circuitos culturais, uma vez que promovem trocas, compartilhamentos em rede. Ao mesmo tempo, possibilitam ao artista janelas de tempo e espaço em seu processo criativo. (VASCONCELOS, 2012, p.12)

Em âmbito nacional, podemos destacar as iniciativas da FUNARTE

– Fundação Nacional das Artes / MinC com:

Prêmio Interações Estéticas – Residências Artísticas em

Pontos de Cultura (a partir de 2008);

Bolsa Funarte de Residências Artísticas em Artes Cênicas

(a partir de 2010); e

Outras Danças: Brasil, Chile e Colômbia (2011).

Para Vasconcelos (2012), cada uma das ações, com suas

particularidades, tem procurado fortalecer e valorizar a residência como espaço

do artista. Dessa forma, uma rede de residências vem se articulando como

política pública voltada para a criação e experimentação artísticas no Brasil e

no exterior. Cabe à FUNARTE, como agência de fomento, dar continuidade a

esse processo e procurar novas parcerias junto à sociedade civil a fim de

estimular e valorizar a produção artística em nosso país.

Page 256: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

224

No caso da UNICAMP, existe o Programa do Artista-Residente, o

qual fora criado por uma deliberação da Câmara de Ensino, Pesquisa e

Extensão (CEPE) da UNICAMP (DELIBERAÇÃO CEPE-A-02 – 2006), onde

são apresentadas candidaturas de artistas experientes, com notoriedade e

destaque em algum segmento artístico para serem avaliadas por uma

comissão de seleção formada por professores e especialistas indicados pelo

reitor. As candidaturas dos aritsitas devem ser apresentadas por docentes ou

pesquisadores da UNICAMP.

O Artista-Residente selecionado ficará na UNICAMP por um

semestre letivo e, neste período, deve desenvolver um projeto que envolva

alunos de graduação e pós-graduação e, no final do semestre, o produto final

do projeto pode ser uma exposição coletiva, um livro, a criação de um

espetáculo, um recital, a gravação de um CD, enfim, algum produto cultural que

seja relacionado com a área do Artista-Residente, e que tenha contribuído na

formação dos alunos envolvidos no projeto. Durante o período de residência, o

artista recebe um salário mensal equivalente ao salário de um professor livre-

docente da UNICAMP.

4.10.3. PROFISSIONAIS DA CULTURA

4.10.3.1. AGENTES E PROFISSÕES CULTURAIS NA

COMUNIDADE EUROPEIA

De acordo com Martinho (2008), uma das características mais

predominantes nas profissões artísticas, sobretudo nas artes performáticas, é a

instabilidade dos vínculos às organizações. Segundo o estudo The Economy of

Culture in Europe, raramente são estabelecidos contratos de tempo integral no

mundo do teatro, da dança e da música, pois existe a preferência por contratos

de meio período ou contratos por projeto ou espetáculo. A exceção encontra-se

nas produções administradas pelo setor público, como as do Ministério da

Cultura, por exemplo, onde o vínculo se faz pelo contrato individual de trabalho.

A autora ainda ressalta que uma das principais mudanças

percebidas no setor cultural nas últimas décadas, sobretudo em Portugal, diz

Page 257: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

225

respeito à crescente importância das funções de intermediação, representadas

por agentes, comissários, programadores, curadores e técnicos de marketing,

entre outros. Isso se dá pelo aumento da oferta cultural, que resulta na

necessidade de se promover os inúmeros e novos bens culturais. Além disso,

há os grandes eventos culturais (capitais culturais, exposições internacionais),

que necessitam de uma maior divisão do trabalho e de grupos especializados

em intermediação cultural. Pode-se registrar, ainda, um aumento significativo

de equipamentos culturais, tais como: bibliotecas, museus e centros culturais,

entre outros, que demanda profissionais especializados como gestores,

programadores, produtores e técnicos de serviços educativos.

4.10.3.2. FORMAÇÃO DE GESTORES E PROFISSIONAIS

CULTURAIS BRASIL

No Brasil, a busca pela capacitação cultural pode ser considerada

como uma demanda recente, alavancada, na década de 90, principalmente

pelas transformações do setor cultural iniciadas pela implantação da Lei

Rouanet, a qual colocou os artisitas e produtores culturais em contato direto

com o sistema administrativo do Ministério da Cultura e com a gestão

empresarial. O modelo de sistema de fomento à cultura criado pela Lei

Rouanet colocou os artistas e produtores em contato com temas como

contabilidade, sistema tributário, prestação de contas, gerando uma demanda

emergencial para que estas pessoas pudessem compreender melhor estes

temas a fim de garantir a possibilidade de financiamento de seus projetos

culturais.

Até então, o foco da maioria dos artistas estava somente na

produção do conteúdo de natureza artística e, a partir daí, buscava parcerias

com produtores executivos ou com empresas produtoras para viabilizar a

realização dos espetáculos, exposições, shows, entre outras atividades. Com o

advento da lei federal de incentivo à cultura, o artista passa a ter a

possibilidade de buscar patrocínios e recursos sem a necessidade de ter uma

pessoa jurídica (PJ) constituída (empresa ou associação sem fins lucrativos),

como pessoa física (PF), contudo esta possibilidade gera a responsabilidade

Page 258: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

226

de responder sozinho por toda a prestação de contas do projeto. Assim sendo,

este sistema gera uma demanda forte por cursos de formação em gestão

cultural, de curta ou de longa duração, cursos que podem ensinar até mesmo

sobre a formatação de projetos, participação em editais públicos, entre outras

necessidades.

Segundo o Prof. Rubim, uma das maiores carências detectadas em pesquisas das políticas culturais brasileiras têm sido a ausência de políticas de formação de pessoal em organização cultural (entendendo-se aí política, gestão e produção culturais). Tal constatação aparece como extremamente problemática em uma circunstância contemporânea em que cada vez mais a cultura adquire centralidade, inclusive porque assume uma dimensão transversal que a faz interagir e ter interfaces com os mais diversos campos sociais, perpassando praticamente toda a sociedade. (RUBIM, 2009)

Esta demanda emergente motivou o professor Rubim11 a formar uma

equipe na Escola de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA)

para desenvolver uma ferramenta de busca via internet que permitisse a

localização, por parte dos interessados, dos mais diversos assuntos voltados

para a organização da produção cultural disponíveis no Brasil. Desta forma,

sugiu, em 2009, a ferramenta desenvolvida pelo projeto Mapeamento da

Formação e Qualificação em Organização Cultural no Brasil, a qual permite

gratuitamente a busca das informações.

11 Prof. Antônio Albino Canelas Rubim é titular da Universidade Federal da Bahia, atuando como docente

do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade. Autor de diversos livros, é um

dos mais proeminentes autores da EDUFBA. Foi Secretário Estadual de Cultura da Bahia 2011-2014.

Page 259: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

227

Figura 42 - Ferramenta de busca FACOM-UFBA.

Fonte: UFBA, 2014.

Atualmente, já existe uma diversidade de cursos, desde a extensão

universitária, graduação, mestrado e doutorado. No Brasil, atualmente, temos

cerca de 10 cursos de graduação voltados para a formação em produção

cultural e já existem também cursos de pós-graduação, além de

especializações e cursos livres. Na Espanha, econtramos cursos um pouco

mais antigos, bons e já consolidados. Embora alguns artistas entrevistados

coloquem que necessitam de uma formação em gestão, não encontram

motivação para seguirem em frente devido às dificuldades do mercado de

trabalho na Espanha desde 2009. A crise afeta todos os setores, contudo o

setor cultural é um dos mais atingidos no país.

De modo geral, todos os artistas entrevistados, brasileiros e

espanhóis, são unânimes em reconhecer a necessidade de habilidades e

conhecimentos administrativos para gerenciar melhor suas atividades, contudo

muitos não buscam a formação de gestores. Isso pode indicar dois fatores, o

primeiro é que os artistas em geral querem se dedicar somente às criações e

entendem que o trabalho de gestor será melhor realizado por um

produtor/gestor profissional; por outro lado, os artistas iniciantes, em geral, não

têm capital próprio para contratar um gestor no inicio da carreira profissional.

Neste sentido, temos um segundo fator que é o fato do artista não se enxergar

Page 260: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

228

como um empreendedor que, como qualquer outro, necessita de formação,

apoio técnico e conhecimento de ferramentas de gestão para estruturar o seu

negócio cultural.

O negócio cultural de um artista iniciante pode ser considerado como

do tipo startup, necessita de apoio como qualquer outro modelo de negócio e,

para colaborar no sucesso do empreendimento, podemos buscar uma

diversidade de soluções, que passam desde a escolha do formato jurídico do

negócio e modelo de gestão até planejamento estratégico. Em mercados muito

competitivos, gestores com um fraco perfil empreendedor podem ser

rapidamente eliminados do mercado. Uma solução poderia vir através de uma

reformulação nos modelos de programas de residência artística, que

atualmente podem ser resumidos em dois modelos, o primeiro está voltado

para recepção e acolhimento de um jovem artista ou de um grupo iniciante

fornecendo subsídios de infraestrutura por um prazo de tempo definido, para

criação de uma obra de arte ou espetáculo. O segundo modelo tem como

objeto a escolha de um artista renomado por uma instituição de ensino (formal

ou técnico-artístico) para criação de um trabalho no qual os alunos da

instituição são envolvidos e, com isso, aprimoram suas técnicas e

conhecimentos.

Em ambos os casos, o foco está exclusivamente no aprimoramento

da formação do artista para a criação artística, mas poderia também haver uma

adaptação dos projetos de residências artísticas para que estes funcionassem

como incubadora de novos negócios culturais, colaborando para uma formação

sólida de companhias de teatro, bandas, produtoras independentes de cinema,

entre outros.

Por outro lado, como muitos dos artistas, mesmo os mais

experientes, têm dificuldades em assumir a gestão por carências de formação

e também devido aos custos que envolvem a abertura e manutenção de uma

empresa cultural, muitos deles, no Brasil, têm optado pelo modelo

cooperativista e, na Espanha, também identificamos novas experiências com

cooperativas de artistas. No caso do Brasil, temos também a barreira para a

abertura de novas empresas, processo que é muito mais complicado, ao

Page 261: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

229

contrário do que vemos nos Estados Unidos ou na Europa, lugares onde o

processo de abertura e encerramento de empresas têm uma agilidade muito

maior do que no Brasil. Com relação à Espanha, temos outro fator que motivou

a busca pelo modelo cooperativista. Com a crise econômica que se iniciou em

2009, o governo espanhol subiu alíquotas tributárias em diversos setores para

diminuir o déficit fiscal do país e, em setembro de 2012, esta estratégia política

atingiu as empresas culturais, onde o IVA (imposto único para todos os tipos de

bens ou serviços) aumentou de 8% para 21 % sobre o valor total da prestação

dos serviços culturais.

4.10.4. O NEGÓCIO DA CULTURA

A fim de evitarmos alguns questionamentos, devemos fazer algumas

considerações antes de iniciar a discussão do tema principal desta parte da

pesquisa. Nesta seção, trataremos de indústrias e mercados culturais

consolidados de alto faturamento; contudo, gostaríamos de frisar que a visão

do autor não é focada na máxima de que toda prática ou atividade cultural deve

ser um negócio que vise exclusivamente o lucro financeiro. Estamos apenas

retratando importantes problemas em um setor da economia da cultura que tem

grande potencial para gerar danos em outros agentes do sistema cultural.

No sistema cultural, existe uma grande diversidade de movimentos

culturais, com diferentes características nos modos de criação, produção e

financiamento. Existem atividades culturais que não podem e não devem ser

estruturadas como um negócio e estas sempre vão necessitar de subsídios

diretos para sua manutenção, sejam práticas artísticas experimentais que

alimentam outras atividades culturais, ou manifestações populares que fazem

parte da história de uma cidade, comunidade, grupo etinico ou do país, enfim,

precisam de apoio para se manter.

Este tópico busca trazer um alerta para o setor cultural sobre a

concentração de capital no setor cultural que, como qualquer outro setor da

economia, necessita de regulamentação para evitar práticas comerciais com

Page 262: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

230

potencial de risco sistêmico, capazes de gerarem prejuízos aos artístas,

produtores e consumidores culturais.

Faremos também uma reflexão sobre a necessidade de revisão dos

mecanismos de incentivo fiscal, especialmente da Lei Rouanet, para evitar que

os benefícios sejam maiores para aqueles espetáculos ou artístas que contam

com grandes estruturas jurídicas e financeiras, portanto com mais facilidade de

captação de recursos. As leis devem atender a todos, grandes e pequenos

empreendimentos culturais, artisitas ricos e pobres e, de nenhuma forma, pode

funcionar melhor para alguns em detrimento de oportunidades para outros. Em

outros setores da economia, já existem diversas formas de regulação para se

evitar práticas abusivas, como sistemas de tributação diferenciada, aplicação

de impostos gerados no setor em fundos para investimento em pequenos

empreendimentos, enfim precisamos trazer estas experiências para o sistema

cultural brasileiro.

Seguindo o tema descrito no título desta seção, podemos dizer que,

no processo de tomada de decisão sobre assumir ser artista profissionalmente,

transformando a prática artística na principal atividade econômica da vida de

uma pessoa, é sem dúvida uma questão que gera muita incerteza. No sentido

mais amplo do incentivo à cultura, a pergunta passa a ser sobre o

funcionamento da cultura como negócio. Não podemos deixar de comentar que

o investimento em cultura traz outros lucros além do financeiro, fato que está

sendo enfatizado nesta parte.

A resposta para alguns setores é sim, porque todo modelo de

negócio, quando bem estruturado, com planejamento e apoio técnico, sempre

será bem sucedido, contudo a grande dúvida é se a cultura pode ser um bom

negócio para os artistas e produtores culturais. Como comentamos, existem

atividades que são realizadas por lazer, por motivações pessoais, mas agora

estamos focando em práticas culturais que buscam a profissionalização. Neste

sentido, o mercado brasileiro ainda tem um longo caminho pela frente para se

consolidar como um mercado bem estruturado, com políticas de estímulo à

produção cultural como atividade econômica, com mecanismos de controle que

preservem a livre concorrência, a competitividade justa, que ajudem o equilíbrio

Page 263: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

231

e a regulação como qualquer outra atividade econômica já estabelecida no

país.

O mercado de comunicação de massa é muito forte no Brasil,

porém, é um mercado centrado nas redes de televisão, o qual movimenta

valores altíssimos em contratos publicitários, nos quais mais de 75% estão

concentrados em um único grupo de comunicação (BRANT, 2005).

Em outros lugares do mundo, existe um mercado de entretenimento

que envolve shows musicais, festivais de musica, cinema, música erudita, o

teatro dos musicais, e outros com grande atratividade para patrocinadores,

capazes de gerar grandes receitas com vendas de ingressos e licenciamento

de produtos para publicidade. Nos EUA, temos o mercado mais forte do

planeta, consolidado e com uma capacidade própria de auto regulação que não

encontramos em nenhum outro país.

O Brasil também tem grande potencial, o que pode ser demonstrado

pelo mercado fonográfico: apesar de suas perdas pela pirataria, tem

aumentado significativamente seus ganhos financeiros incorporando ao seu

escopo de atividades a realização de grandes shows (HERSCHMANN, 2008).

Desde 2004, quatro grandes gravadoras passaram a dominar o

mercado, sendo donas de 71,2%, divididos entre Universal (25%), Warner

(11,3%), SonyBMG (21,5%) e EMI (13,4%). Isso é um reflexo do mundo

globalizado, onde é cada vez mais evidente a forte presença dos grandes

conglomerados de comunicação e cultura, e ficam cada vez mais latentes os

riscos de concentração de capitais que, por sua vez, oferecem riscos à

democracia nos processos de criação, produção e distribuição de produtos

culturais (BUSTAMANTE, 2003).

Para evitar o processo de concentração de capital, são necessárias

medidas efetivas do Estado, através de câmaras setoriais, agências de

regulação e outros mecanismos institucionais efetivos para evitar a formação

de oligopólios, processos de cartelização e outras práticas que prejudiciais aos

produtores independentes, artistas empreendedores, microempresários

culturais e os de serviços complementares.

Page 264: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

232

Essas notas apresentadas ilustram um fato recente na produção

cultural brasileira que demonstra que cultura é um bom negócio e que devemos

nos preocupar com a concentração de capitais no mercado cultural. Em maio

de 2007, a Gávea Investimentos assumiu o controle financeiro do grupo

mexicano de entretenimento CIE (Compañia Internacional de Entretenimiento),

através da compra da participação majoritária de seus negócios no Brasil,

Argentina e Chile por cerca de US$ 150 milhões. O interessante para a nossa

abordagem é que o grupo de investidores Gávea Investimentos é comandado

pelo ex-presidente do Banco Central do Brasil (1999-2002), Prof. Dr. Armínio

Fraga.

A Gávea Investimentos fez uma aposta certeira no mercado cultural,

visualizando o grande potencial de crescimento do consumo cultural em

eventos e espetáculos de alto custo de ingressos. No Brasil, a CIE era dona de

casas de shows como Credicard Hall, Citibank Hall e Teatro Abril, e também

operava a empresa de venda e distribuição de ingressos Ticketmaster. A

empresa havia sido responsável por trazer ao Brasil musicais como ‘O

Fantasma da Ópera’, ‘Chicago’ e ‘A Bela e A Fera’. Através desta transação, a

CIE passou a ter uma participação de 100% no Brasil, Chile e Argentina. Para

se ter uma ideia da perspectiva de movimentação de receitas, em 2007, a

receita nos três países mais Estados Unidos ficou em US$ 218 milhões no

primeiro trimestre deste ano. Após a compra, a CIE mudou de nome e passou

a se chamar Time For Fun (T4F).

No mesmo ano, no mês de dezembro, outra transação bilionária da

Gávea Investimentos chamou a atenção do mercado, que foi a compra de

12.5% de seu capital pelo fundo de investimentos da Universidade de Harvard

(JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO, 2007), transformando a renomada

universidade como a primeira sócia internacional da Gávea Investimentos. Este

fundo, administrado pela Harvard Management Company, é um dos mais

tradicionais dos Estados Unidos, com um patrimônio de US$ 41 bilhões e

reconhecido por fazer investimentos em longo prazo.

Além dos contratos de direitos autorias sobre os grandes

espetáculos musicais da Broadway, a CIE Brasil (T4F) tinha outro contrato de

Page 265: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

233

grande valor comercial com a companhia circense canadense, Cirque du Soleil,

que esteve, mais de uma vez, em temporadas no Brasil e suas passagens

geraram grande revolta na classe artística, com duras críticas principalmente

ao uso da Lei Rouanet como forma de financiamento das temporadas de

apresentação. Com relação à notoriedade artística do Cirque du Soleil, não

houve nenhuma crítica. É inegável a qualidade do espetáculo que é oferecido

ao público, o grande problema foi a CIE Brasil (T4F) aprovar um projeto via Lei

Rouanet, no qual a empresa foi autorizada a captar R$ 9,4 milhões oriundos de

renúncia fiscal do Imposto de Renda (IR) de pessoas jurídicas ou físicas, sendo

que os valores de ingressos variavam de R$100,00 até R$250,00, valor bem

alto levando-se em consideração que, em 2006, o valor do salário mínimo

vigente era de R$ 350,00.

Toda a captação de recursos foi concluída com sucesso e distribuída

da seguinte forma: Grupo Bradesco R$4,3milhões, IBM R$1,5milhão, Banco

Alvorada S.A. R$1,2milhão, LGEletronics R$1milhão, e outras empresas

entraram com valores mais baixos, totalizando os R$ 9,4 milhões. Além dos

altos valores dos ingressos, o Grupo Bradesco, por ser o patrocinador máster,

teve direito a sessões exclusivas para os seus clientes de mais alto poder

econômico. Esse fato deixou muito evidente os problemas do mecanismo da

Lei Rouanet, que deveria cumprir um papel de democratização no acesso à

produção e ao consumo cultural e, neste caso, o consumo desse produto

cultural ficou restrito aos mais ricos e toda essa mobilização de capital

prejudicou os esforços de captação de recursos de artistas brasileiros

(JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO, 2006).

Todos estes fatos corroboram para a afirmação de que cultura pode

ser um bom negócio, mas isto não significa que será um bom negócio para

todos. Devido ao potencial de crescimento da Gávea Investimento e,

consequentemente da T4F, e também pelo bom relacionamento de Armínio

Fraga com o Banco JP Morgan, o banco decidiu assumir o controle do grupo

de investimentos efetuando a compra 55% das ações pelo valor de US$ 21

bilhões, contudo Fraga segue como executivo chefe do grupo (JORNAL

Page 266: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

234

ESTADO DE SÃO PAULO, 2010). Em 2011, a T4F leva adiante mais um

passo de seu planejamento fazendo uma abertura de capital na

BM&FBovespa, conseguindo um levantando R$ 539,3 milhões. Esse potencial

atrativo veio dos resultados financeiros da TF4 no ano de 2010, quando a

companhia teve receita de R$ 569,2 milhões, um aumento de 31% sobre o ano

anterior; entretanto, mais expressiva era a taxa do aumento do lucro de 672%

de um ano para outro. Em 2010, o lucro foi de R$ 40,3 milhões, ante R$ 6

milhões em 2009 (JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO / AGÊNCIA ESTADO E

REUTERS, 2011).

No mercado financeiro, a concentração rápida de capital atrai mais

rapidamente ainda os olhares ávidos dos grupos interessados nesse tipo de

negócio e, em dezembro de 2011, o empresário Eike Batista começou a fazer

grandes investimentos em eventos culturais e esportivos através da criação

IMX - joint venture de esportes e entretenimento do grupo EBX com a IMG

Worldwide – e, dentro de seu perfil agressivo como investidor em 2012, a TF4

perdeu o contrato com o Cirque du Soleil, ocasionado uma desvalorização das

ações da empresa que motivou a Gávea Investimentos a vender sua

participação na TF4. (JORNAL VALOR ECONÔMICO, 2012).

Todos os acontecimentos relatados demonstram o

potencial de geração de trabalho e renda do mercado cultural, porém existe a

necessidade latente de regulação no mesmo a fim de evitar a concentração de

capital e, consequentemente, a exclusão de produtores independentes e

empresas produtoras de pequeno porte. As reformas para a evolução da Lei

Rouanet também são importantes, para garantir o seu bom funcionamento,

focado nos preceitos que mobilizaram a sua criação que são

fundamentalmente o acesso à produção, circulação e consumo de bens e

serviços culturais.

Page 267: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

235

CAPÍTULO 5: CONCLUSÕES E

RECOMENDAÇÕES

No início do trabalho, descrevemos que o objetivo global deste

estudo foi o de buscar um amplo levantamento informativo e descritivo sobre os

contextos institucionais, econômicos e sociais que compõem o ambiente de

duas cidades que abrigam universidades de grande relevância em seus países

de origem, bem como no cenário acadêmico internacional. Considerando esta

informação, mostramos, nos capítulos anteriores, fatores que podem

influenciar, de forma positiva ou negativa, as atividades de uma cadeia de

cultural produtiva, além de identificar tendências, hábitos, comportamentos,

estratégias e políticas dos sistemas culturais instalados em Salamanca e

Campinas.

Dentro deste estudo, levantamos uma grande quantidade de dados

e informações sobre o setor cultural, mas devemos destacar alguns pontos

críticos que devem ser norteadores dos planejamentos estratégicos e das

políticas institucionais e acadêmicas da UNICAMP e da USAL pela relação

direta entre formação profissional, emprego e mercardo cultural. O primeiro

ponto que destacamos é que, na Espanha, 60% dos trabalhadores culturais

têm ensino superior concluído, quase o dobro do índice geral (33%), mas, em

média, somente 4,6% dos estudantes buscam uma graduação em Artes. Este

fato reflete outra questão relevante no mercado cultural que é a segurança na

empregabilidade, pois 30% dos empregos são temporários e 25% de meio

período. Se este fenômeno é indentificado em um mercado cultural de vários

séculos, como os dos países da UE, no Brasil esta realidade também merece

muita atenção. Estes índices demonstram que é importante que as universades

criem estratégias para melhorar esta situação, e algumas soluções podem

surgir através de:

a. Pesquisas sobre economia da cultura e as relações com a

empregabilidade;

Page 268: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

236

b. Divulgação de resultados das pesquisas do setor através de

eventos voltados para empresas do setor cultural e profissionais

da área de recursos humanos (RH);

c. Promoção de debates com as empresas do setor e gestores de

RH para avaliar as necessidades de formação profissional e

promover atualizaões curriculares; e

d. Criar opções curriculares nos cursos de graduação em Artes

voltadas para gestão cultural, para que os alunos tenham

oportunidades de formação complementar e, consequentemente,

aumentar as possibilidades de empregabilidade.

Com relação à UNICAMP, os pontos críticos avaliados envolvem as

atividades culturais de extensão, os equipamentos culturais e o relacionamento

destes com a cidade de Campinas. Sobre as atividades de extensão, vimos

que é muito importante que a universidade crie uma Comissão de Cultura que

colabore na organização de uma agenda cultural anual e que estabeleça o

diálogo entre todas as unidades e órgãos que produzem atividades culturais

com objetivo de fomentar a criação de público. O trabalho desta comissão

também pode colaborar em outra deficiência da universidade, que é a captação

de recursos privados, identificada no capítulo 4 desta pesquisa. Apesar desta

carência, vimos que a UNICAMP é grande colaboradora na oferta de

equipamentos culturais para o distrito de Barão Geraldo e isto ocorre por dois

vieses, primeiro pela oferta direta dos próprios equipamentos culturais (CDC,

Casa do Lago, Ginásio Multidisciplinar, LUME, auditórios, entre outros.), mas

também pela via indireta, porque muito dos artistas formados na UNICAMP

optaram por residir no distrito depois da conclusão de seus cursos, o que

promoveu o surgimento de novos espaços culturais.

Sobre a cidade de Campinas, merecem destaque alguns pontos

comentados pelo atual Secretário Municipal de Cultura, Prof. Ney Carrasco12,

12 Claudiney Rodrigues Carrasco - Músico Unicamp (1987), Mestre e Doutor em Cinema USP (1993

/ 1998). Professor do Departamento de Música-Unicamp desde 1989. Secretário Municipal de

Cultura de Campinas desde 2013 (Mandato 2013-2016). Compositor de trilhas sonoras.

Page 269: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

237

em sua entrevista para a pesquisa. Ele afirmou que Campinas não tem um

evento cultural anual que identifique a cidade, um evento que tenha uma

relação intrínseca com a história da cidade e com suas manifestações culturais,

um evento capaz de criar uma relação íntima entre a cidade e a população, o

qual seja atrativo também para as pessoas que não vivem na cidade, como,

por exemplo, o Festival Folclórico de Parintins. Segundo ele, apesar desta

carência, a política de preservação do patrimônio imaterial em Campinas é um

trabalho muito bem feito, o qual foi apontado pelo Instituto do Patrimonio

Histórico e Artistico Nacional (IPHAN) como inovador e de referência nacional.

Na entrevista o autor comentou como exemplo sobre a Lenda do Boi Falô13, se

algo esta sendo realizado em torno desta lenda pelo fato de ser um elemento

orginal do folclore do Distrito de Barão Geraldo, e o Prof. Ney respondeu que

esta é umas das possibilidades em estudo, e um trabalho bem feito em torno

desta lenda poderia fomentar a criação de um evento anual em Campinas.

O planejamento urbano é um fator que tem grande interferência no

mercado cultural, positiva ou negativa, dependendo das políticas adotadas. No

caso de Salmanca, o planejamento urbano contribuiu muito para o evento

‘Capital da Cultura Europeia’ e o investimento realizado teve um impacto

econômico local, regional e nacional. As questões urbanas relativas à

Segurança Pública e à mobilidade também têm interferência direta e

promoveram o sucesso de novos espaços culturais, como as salas de Teatro

nos shoppings centers de Campinas, bem como o consumo cultural no espaço

virtual. Na pesquisa dos hábitos culturais em Campinas, foi identificado que,

atualmente, a internet é muito relevante como espaço informativo que ajuda as

pessoas nas decisões de programação cultural; contudo, a rede também ganha

13 A Festa do Boi Falô pertence ao folclore de Barão Geraldo, distrito da cidade de Campinas

realizada desde 1986. Conta a tradição que numa Sexta-feira Santa, um capataz da Fazenda

Santa Genebra ordenou a um escravo que fosse buscar alguns bois que estavam deitados

num local conhecido como Capão do Boi. Ao chegar ao local para tocar os bois, um dos

animais recusou-se a levantar, e ao ser açoitado pelo escravo, repentinamente o boi disse

“Hoje não é dia de trabalhar! Hoje é Dia de Nosso Senhor Jesus Cristo”!" O escravo,

aterrorizado voltou à sede da Fazenda e contou ao capataz do ocorrido, e o próprio capataz foi

ao local tocar o boi e também ouviu o boi falar a mesma coisa.

Page 270: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

238

destaque como um espaço cultural virtual, com visitas em museus virtuais,

visualização de filmes, leitura de livros e muitas outras atividades.

A questão do turismo também é muito importante para o

desenvolvimento do setor cultural. Mesmo em locais onde não se encontra uma

grande quantidade de patrimônios históricos tombados, o turismo é um

importante aliado, e associar atividades turísticas com as programações

culturais das cidades é benéfica para os dois setores.

Seguiremos nas conclusões através do confronto das informações

levantadas com as perguntas da pesquisa.

5.1. PERGUNTAS DA PESQUISA

Como observado no capítulo introdutório, este estudo foi orientado

por três grandes perguntas de pesquisa que são reiteradas e respondidas a

seguir:

Quais ações de planejamento estratégico e política institucional da

universidade podem promover o empreendedorismo cultural?

Um importante elemento de conexão entre a visão geral dos cursos

de Artes da UNICAMP (graduação e extensão) e da USAL (graduação e

extensão) é que, em ambos os casos, não há disciplinas de graduação sobre

empreendedorismo cultural, não existem seminários e eventos focados nessa

questão. Os cursos de formação em Artes nas duas instituições são muito bons

(excelência acadêmica), mas precisam aumentar as possibilidades de

formação dos artistas com conhecimentos sobre produção cultural e

empreendedorismo cultural. No formato do mercado cultural em geral e, neste

caso, Brasil e Espanha, os artistas começam suas carreiras produzindo suas

próprias práticas culturais, não somente pelo viés da criação artística, mas

também pelo viés da produção executiva, ou seja, são empreendedores como

quaisquer outros.

Desta forma, devido a essa falta de oferta de formação acadêmica

em gestão cultural, muitos artistas têm procurado apoio cultural em

Page 271: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

239

cooperativas. Esta é uma boa solução e os levantamentos da pesquisa

apontam que é uma boa alternativa para os artistas, brasileiros e espanhóis.

No caso brasileiro, destacamos as atividades da Cooperativa Paulista de

Teatro, mas este comportamento também é crescente na Espanha e promoveu

o surgimento da cooperativa SMartIb.

Esta é uma boa solução; entretanto, devem-se criar também

oportunidades para que os artistas possam constituir suas próprias empresas e

capacitá-los para exercerem a gestão do seu próprio negócio cultural. Além

disso, a pesquisa também identificou que um número cada vez maior

de escolas de negócios está incentivando o empreendedorismo através de

cursos e programas multidisciplinares, os quais são oferecidos a estudantes de

todas as disciplinas acadêmicas, mas a questão da qualificação continua a ser

um problema em muitas escolas.

No caso das duas universidades, este movimento de incentivo ao

empreendedorismo é forte, porém focado em novas empresas de bases

tecnológicas, as ‘startups’ oriundas de cursos de engenharia, química,

farmácia, entre outros. Estas ações estratégicas de fomento ao

empreendedorismo têm sido lideradas pelos centros I+D (Investigación y

Desarollo) na USAL e no caso da UNICAMP, pela INOVA (Agência de

Inovação), contudo acabam por atender prioritariamente as demandas dos

cursos das áreas de exatas e biológicas, existindo uma grande dificuldade de

intregação com os cursos de humanidades e artes.

O planejamento estratégico empresarial sugere que os

profissionais conheçam o caminho para onde um programa se dirige e que

possam identificar os passos que são necessários para se chegar lá. Assim,

um elemento de importância vital para se promover o empreendedorismo

cultural é a compreensão de o quê o mercado deseja, e será a formulação de

programas de empreendedorismo cultural que irão satisfazer essas

exigências. Em alguns casos, é possível para um destino de turismo cultural

tornar-se tão popular tão rapidamente que a visitação suplanta a capacidade da

comunidade em responder. Se levados ao extremo, os mesmos atributos que

tornam um destino popular também podem servir para destruí-lo, a menos que

Page 272: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

240

as políticas institucionais estejam no lugar para controlar e dirigir o

processo. Além disso, foi demonstrado que é importante monitorar o impacto

econômico total do turismo cultural por causa da maneira direta, indireta e

induzida, que difere de acordo com o tipo de turismo cultural oferecido.

Ademais, o impacto econômico do turismo cultural é necessário, a fim de

avaliá-lo como uma base para os planos estratégicos com o objetivo de

maximizar efeitos econômicos através da otimização dos recursos culturais.

A pesquisa foi coerente em mostrar que o desenvolvimento de

planos estratégicos eficazes para estes fins é necessário e que a contribuição

dos especialistas do setor pode ser exigida para a consolidadação da

empresa. É igualmente importante reconhecer que esta não é uma atividade

estática, mas que requer uma constante reavaliação das mudanças na cultura

que, inevitavelmente, terá um efeito sobre quais são os tipos de ofertas

culturais populares e como elas são apresentadas. Por exemplo, a pesquisa

mostrou que certo número de destinos turísticos culturais desenvolveu uma

programação baseada em eventos culturais, tais como, apresentações de

teatro, concertos e exposições para os turistas e estes modelos podem ser

facilmente adaptados para as duas cidades universitárias de interesse no

presente estudo.

Todas estas questões exigem um conjunto de conhecimentos

específicos sobre o setor para que os empreendedores culturais que possuam

os meios, as ferramentas e o talento para criar e gerir estas práticas culturais

tenham a concretização de um empreendimento bem sucedido. A pesquisa

identificou que um número crescente de instituições de ensino está oferecendo

graduação e programas de mestrado profissional concentrado em inovação e

empreendedorismo. Além disso, a pesquisa levantou que as escolas de

negócios estão também incentivando o empreendedorismo por meio da oferta

de cursos e aulas teóricas multidisciplinares para alunos de diversos cursos

acadêmicos. A pesquisa também revelou, no entanto, que a qualificação ainda

é um problema para muitas faculdades e universidades onde os cursos de

empreendedorismo são ministrados e que existe uma carência de orientações

pertinentes à educação para o empreendedorismo.

Page 273: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

241

A pesquisa mostrou que as cidades que desfrutam de um

significativo patrimônio histórico-cultural estão cada vez mais em busca de

ampliar seu apelo para turistas, organizando diversas atividades

complementares, tais como festivais de música, em uma tentativa de consolidar

e reforçar sua imagem como locais de interesse cultural e diversificar o fluxo de

procura turística. O turismo cultural é um dos maiores e mais rápidos mercados

globais do turismo em crescimento. Cultura e indústrias criativas estão sendo

cada vez mais utilizadas para promover destinos e aumentar a sua

competitividade e atratividade. Muitos locais estão agora ativamente

desenvolvendo os seus bens culturais tangíveis e intangíveis como um meio de

desenvolver vantagens comparativas em um mercado de turismo cada vez

mais competitivo, bem como criando uma diferenciação local face à

globalização. Ofertas culturais produzidas em massa, especificamente,

parecem oferecer uma alternativa viável para o empreendedorismo cultural

uma vez que os custos de produção assumem as economias de escala depois

de certo ponto, tornando-as mais rentáveis em longo prazo.

A pesquisa também mostrou que a cultura desempenha um

papel importante na vida cotidiana dos cidadãos europeus. Com cerca de 300

locais de interesse cultural, de quase 700 mil na lista do Patrimônio Mundial da

UNESCO, os 27 Estados-membros da União Europeia possuem um

significativo patrimônio cultural. A importância da cultura hoje é demonstrada

pelo fato de que o emprego cultural representou quase cinco milhões de

pessoas, 2,4% do total do emprego na UE27 em 2005.

Da mesma forma, a cultura constitui um foco central para o

desenvolvimento regional do Brasil e o turismo de patrimônio histórico-cultural

pode ser alavancado em muitas regiões do país, aliando também a oferta de

práticas culturais tradicionais, as quais compõem a história popular local

juntamente com os patrimônios culturais tombados. Contudo, nosso estudo

buscou trazer estes levantamentos informativos e descritivos para o contexto

de duas cidades universitárias, onde conseguimos identificar semelhanças e

diferenças, e as características locais diferentes apontam como sendo

decisivas para a formatação de modelos específicos para o sistema de turismo

Page 274: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

242

local e para a consolidação da cadeia de produção cultural como um todo. Este

ponto é fundamental porque as experiências e os dados levantados permitem a

visualização de modelos operacianais que estão ativos e são eficientes,

contudo são ativos e eficientes porque foram desenvolvidos com base nas

características específicas do ambiente local onde são realizadas.

No contexto ambiental local das duas universidades, identificamos

que as duas cidades avaliadas têm diferenças marcantes em seus

ecossistemas urbanos. Em Salamanca, temos uma cidade medieval com uma

grande quantidade de patrimônio histórico-cultural e, dentre eles, uma grande

parte composta por edifícios da USAL. No caso de Campinas, temos uma

situação reversa se comparada com Salamanca, é uma cidade jovem, onde

também encontramos patrimônios histórico-culturais tombados, entretanto este

não é o principal fator ambiental do escossitema urbano. Desta forma, se

buscarmos a implantação, em Campinas, do modelo de turismo cultural de

Salamanca tal qual é realizado localmente, isso será um grande fracasso.

Contudo, a compreensão deste modelo pode promover o desenvolvimento de

um modelo de turismo cultural adaptado à realidade campineira, fazendo

analogias e as adaptações necessárias, mas com base nas ações bem

sucedidas do planejamento estratético do turismo cultural em Salamanca.

Uma das barreiras para a implantação do turismo de patrimônio

histórico-cultural em Campinas tem relação direta com o ecossistema urbano,

na distribuição geográfica, onde os patrimônios tombados não estão

concentrados em uma única região, existem em diversos pontos da cidade e

alguns na zona rural. Não temos uma zona monumental concentrada no centro

da cidade como em Salamanca, o que gera a necessidade de um sistema

logístico de transporte coletivo público eficiente, capaz de conectar os

visitantes rapidamente de um monumento a outro. Com a situação atual do

tráfego de veículos na cidade e as carências do transporte público, este ponto

torna-se fundamental para a viabilidade operacional do turismo na cidade.

Por outro lado, existem diversos fatores sociais e econômicos que

podem promover o turismo na cidade de Campinas e também alavancar a

cadeia da produção cultural na cidade. Neste sentido, a experiência de

Page 275: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

243

Salamanca nos mostra que uma ação conjunta pode beneficiar os dois setores,

e esta atuação em conjunto irá compor a economia da cultura localmente. Os

fatores que podem contribuir para o fortalecimento do sistema cultural da

cidade de Campinas emergem das semelhanças que encontramos nas duas

cidades, e um dos fatores principais são a universidades e as contribuições que

elas geram para as duas cidades. Toda oferta cultural que pode ser criada

através das estruturas das universidades, dos seus cursos de formação e nas

atividades de extensão demonstram que a participação da universidade é um

ponto crítico dentro da cadeia da produção cultural local.

O levantamento realizado nos mostrou que existem nichos culturais

no Brasil que são altamente lucrativos e o são porque existe um público

interessado em consumir os produtos culturais ofertados por alguns segmentos

da cadeia da produção cultural. Por outro lado, identificamos que o consumidor

cultural local deve ser estimulado e que políticas de formação de plateia são

um fator crítico para o sucesso do sistema de produção cultural local. Os dados

levantados sobre os valores investidos em projetos culturais realizados na

cidade de Campinas através da Lei Rouanet são representativos,

principalmente quando comparados com o fundo de investimento da cidade

(FICC). A quantidade da oferta cultural criada através da UNICAMP, dos

grupos de Barão Geraldo e dos projetos de Lei Rouanet é representativa em

termos quantitativos. Contudo, identificamos, através das entrevistas com os

artistas locais e nos registros dos relatórios da PREAC, que, em muitos casos,

são registrados baixos índices de público, mesmo com o fornecimento de

ingressos gratuitos ou de baixo custo. Por estes pontos, reforçamos a

necessidade de estímulo ao consumidor cultural, porque o sucesso da cadeia

da produção cultural da cidade não será aumentado somente com

investimentos financeiros e aumento da oferta de ingressos gratuitos, é preciso

também investir na formação de público em longo prazo, com planejamento de

ações educacionais e sociais pensando no futuro cultural da cidade.

Finalmente, destacamos a importância do sistema de produção

cultural, do entretenimento e do turismo para a economia dos países e para o

fato de que o bom desempenho desses setores contribui para a geração de

Page 276: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

244

emprego, renda e, consequentemente, de consumidores culturais. Essa visão

já era amplamente reconhecida pelos setores público e privado, mas agora os

governos estão cada vez mais conscientes do forte potencial do turismo, das

viagens, da cultura e do lazer, e isso pode se refletir em sério debate político

para a promoção desses setores em níveis nacional, regional e local. Os

produtores artisticos e culturais trabalham intrinsecamente com a criatividade,

portanto já seguem os passos da economia do conhecimento, mas a busca da

inovação não deve ser somente na criação artística, mas principalmente na

gestão cultural. O artista precisa entender como funciona o empreendedorismo

cultural, porque o sistema da produção cultural é um setor econômico dinâmico

e que pode contribuir com a economia local e com o bem-estar social.

Quais mecanismos podem colaborar na consolidação de um sistema

de produção cultural (cadeia da produção cultural)?

No caso das cidades unviversitárias, esta questão envolve ações de

longo prazo relacionadas com o planejamento estratégico corporativo e com o

planejamento de políticas institucionais das universidades que promovam um

envolvimento das mesmas com a cadeia local da produção cultural. Através da

realização dos cursos de graduação, pós-graduação e extensão universitária,

as universidades já contribuem significativamente para o sistema de produção

cultural. Contudo, essas são ações que envolvem os objetivos principais das

universidades que são ensino e pesquisa, desenvolvendo pesquisas

relacionadas à produção cultural, formando artistas e produtores, de forma que

universidades comprometidas com a excelência acadêmica (neste estudo

UNICAMP e USAL) sejam um dos fatores de sucesso de um sistema de

produção cultural. Porém, a contribuição das instituições de ensino superior

pode ir mais além e colaborar para a consolidação da cadeia da produção

cultural local, nas cidades onde estão localizados seus campi, e essas

prerrogativas devem ser incorporadas ao planejamemto estratégico e

institucional das universidades.

A ênfase na questão da contrubuição local é colocada porque

Page 277: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

245

universidades de grande relevância nacional e internacional atraem alunos e

pesquisadores de diversas cidades de seus países de origem e de outros

países. Isso se reflete na composição do quadro de alunos, fomentando a

tendência a terem um percentual maior de alunos não locais, de outras cidades

e países. Porém, todos eles convivem por anos dentro da comunidade local e,

ao planejar ações estratégicas para o fomento do sistema de produção cultural,

as unversidades podem criar um ambiente, um ecossistema, que permita uma

oferta cultural intensa e sustentável. A sustentabilidade do sistema tem relação

direta com o planejamento estratégico, porque ações voltadas para o local, e

não somente dentro dos campi, cria uma maior relação entre a comunidade

universitária e a comunidade local, fomenta a formação de plateias dentro e

fora da unversidade, as quais são importantes para a sustentabilidade do

sistema. Afinal, dentro deste estudo constatamos que fomentar a cultura

investindo somente na produção de oferta cultural e na formação de artistas

não é capaz de sustentar o sistema, pois se não houver os consumidores

culturais, as plateias, o sistema não se consolida. Ao contribuir para a

consolidação deste sistema cultural local, as universidades também usufruirão

dos resultados em longo prazo, porque os alunos cumprem um ciclo de

formação e vão embora, são residentes temporários, ficam alguns anos, mas,

na maior parte das vezes, vão embora, sendo assim, eles são divulgadores em

potencial, podendo colaborar na sustentabilidade do sistema.

As universidades envolvidas no estudo já têm sua excelência

acadêmica reconhecida internacionalmente, contudo um sistema de produção

cultural local bem estruturado será um fator adicional na escolha dos alunos,

agregando valor à imagem institucional e melhorando a relação da instituição

com os cidadãos das cidades onde estão sediadas. A relação com os

munícipes é fundamental para a consolidação do sistema cultural, porque eles

também são consumidores culturais em potencial, sendo importante a

manutenção de uma oferta cultural durante o ano todo. Em cidades

universitárias, temos uma relação direta do fluxo de pessoas na cidade com o

calendário acadêmico e nos períodos de recesso das atividades acadêmicas,

existe uma baixa populacional temporária e, dependendo do tamanho da

Page 278: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

246

cidade, a circulação de pessoas diminui consideravelmente. Desta forma, a

relação com as comunidades locais colabora na sustentação do sistema e, por

outro lado, também devemos considerar que a oferta cultural distribuída ao

longo do ano é fator de estímulo ao turismo nestas cidades.

O turismo local pode se beneficiar destas ações estratégicas das

universidades por diferentes fatores, primeiramente, com relação aos alunos e

ex-alunos que são de fora da cidade. Devemos considerar o pontencial de

atração de seus familiares e amigos para o turismo local, afinal se o cotidiano

acadêmico, cultural e social geram experiências positivas para eles, é natural

que os alunos desejem compartilhar isso com seus familiares e amigos,

criando, assim, um fator motivacional e de atratividade para o turismo local. O

turismo local, nos períodos de recesso acadêmico, gera a possibilidade de

visitantes e plateia para as práticas culturais, colaborando na sustentabilidade

do sistema. Outra questão relacionada ao ciclo de eventos acadêmicos

(Congressos, Foruns, entre outros) é a oferta de capacidade hoteleira nestas

cidades universitárias porque, dentro da rede hoteleira, exitem hotéis que

acabam atendendo, na maior parte do ano, o público com perfil acadêmico,

professores, pesquisadores e alunos. Estes hotéis tendem a ter uma

capacidade ociosa maior nos períodos de recesso e estas vagas podem ser

ocupadas por turistas.

Muitas destas estratégias podem ser aplicadas para o crescimento

e desenvolvimento dentro e fora dos campi das faculdades e universidades.

Semelhantes às comunidades europeias - onde estas estratégias suportam

uma variedade de objetivos da comunidade - fortes estratégias de crescimento

podem ajudar as faculdades e as universidades a cumprir sua missão de

oferecer uma educação de qualidade, apoio à pesquisa e inovação e servir a

comunidade através de serviços comunitários. Com os índices de turismo

cultural aumentando muito mais rapidamente do que os negócios relacionados

com viagens (turismo de negócios), é claramente do interesse das cidades

universitárias e das comunidades locais operar em conjuto com as

universidades para traçar objetivos que são mutuamente benéficos e, neste

caso, estratégias que consolidem um sistema de produção cultural viável e

Page 279: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

247

sustentável ao longo do ano todo.

1. Planejamento Integrado

Esta questão diz respeito às ações estratégicas que o plano da

administração municipal poderia promover a fim de gerar uma melhor

integração entre os cidadãos e a comunidade universitária. Essas ações

podem ser de natureza política, econômica e também no âmbito das relações

institucionais. A maior parte dos estudantes universitários é oriunda de outras

cidades, estados ou países, isto acontece na UNICAMP e na USAL. As

prefeituras de Campinas e Salamanca sabem que as universidades têm grande

relevância na economia da cidade, pois movimentam diversos setores,

imobiliário, alimentação (bares e restaurantes), hoteleiro, varejista

(supermercados e lojas), livrarias e outros serviços como lavanderias,

papelarias, entre muitos outros. Esse é um aspecto consolidado reconhecido

amplamente pelas cidades.

Outro ponto no qual os cidadãos e as administrações municipais de

Campinas e Salamanca reconhecem a importância da UNICAMP e da USAL

para as respectivas cidades de forma praticamente unânime é com o

antendimento de alta complexidade oferecido gratuitamente pelos hospitais

universitários destas duas instituições, onde o atendimento é realizado por

professores e alunos residentes dos cursos de medicina existentes nas

universidades. No caso de Campinas, a universidade também mantém

convênios com a cidade para reforçar o atendimento básico nos postos de

saúde da cidade, e também identificamos esta relevância do hospital

universitário pelo número de internações hospitalares: 36.271; de cirurgias:

60.837 e de partos: 4.838 (UNICAMP, 2014). Muitos cidadãos de baixa renda

da cidade, pela falta de informações, identificam a instituição UNICAMP como o

hospital universitário e a faculdade de medicina, desconhecendo todas as

outras atividades desenvolvidas pela instituição.

Existem outras ações que as administrações municipais podem

tentar estabelecer através de convênios com as universidades em outras áreas

de atendimento municipal aos cidadãos, como na educação básica e no

Page 280: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

248

sistema de produção cultural municipal. A cidade de Campinas possui

atualmente convênios nas áreas de cultura e educação e, dentro do âmbito

cultural, tem realizado parcerias para viabilizar apresentações culturais para a

cidade como, por exemplo, a parceria com a Orquestra Sinfônica da UNICAMP

e uma colaboração administrativa para o Planetário Municipal. Em Salamanca,

devido ao estudo apresentado sobre o projeto da Capital Europeia da Cultura,

a colaboração institucional foi bem forte, tendo inclusive o vicereitor da USAL

como coordenador geral do Consórcio Salamanca 2002. Contudo, outras

formas de colaboração podem surgir, como convênios para a complementação

da formação dos alunos dos cursos de licenciatura através da realização de

estágios nas escolas públicas, ademais, na situação particular da Espanha,

uma proposta desta natureza pode colaborar na redução do índice de

desemprego dos jovens.

Outro fato encontrado neste estudo sobre a relação da prefeitura de

Campinas e a UNICAMP que evidencia a importância da necessidade de haver

uma vontade política em comum para a consolidação de parcerias foi o caso do

FIT-Campinas, no qual não constatamos as razões precisas para a extinção

deste evento da agenda cultural da cidade, mas identificamos que houve uma

ruptura institucional que foi determinante para este resultado, mas sem saber

qual das instituições optou pelo rompimento.

Políticas de desenvolvimento econômico podem servir para a

criação de ofertas de emprego especializado e colaborar para manter como

residentes permanentes os estudantes graduados nas universidades locais.

2. Desenvolvimento local

Esta questão está relacionada com o planejamento estratégico e

com o planejamento de políticas institucionais das universidades que, nos

últimos anos, vêm desenvolvendo diversas ações voltadas para o

empreendedorismo, centros de inovação tecnológica, registro de patentes e

empresas incubadoras. Essas ações beneficiam os cursos de tecnologia,

engenharia, bioquímica, farmácia, entre outros, mas não há ações deste

modelo previstas para o empreendedorismo cultural e para o processo de

Page 281: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

249

produção cultural. Infelizmente, a pesquisa também foi absolutamente coerente

em demonstrar que não há uma ‘única’ melhor abordagem para a orientação

dos sistemas de produção cultural em cidades universitárias que irá fornecer o

maior ‘estrondo para o dinheiro do turismo cultural’ no processo de produção

cultural, mas houve algumas melhores práticas relevantes identificadas que

podem ajudar a orientar o processo. Por exemplo, um número crescente de

comunidades em todo o mundo adotaram estratégias de crescimento smart

para ajudar a garantir que o novo crescimento e desenvolvimento atendam aos

múltiplos e diversos objetivos comunitários. Estas abordagens representam a

essência do desenvolvimento sustentável através da proteção de valiosos

recursos hoje para uso das gerações futuras (Vivant, 2013).

Outras boas práticas identificadas na pesquisa incluem a

mobilização de recursos institucionais em nome das cidades de acolhimento a

fim de gerar mais apoio financeiro governamental e para compensar esses

municípios pela isenção fiscal de suas instituições de ensino superior, o que

seria um complemento para os acordos PILOT(ROONEY, 2014). Porque o

processo de produção cultural depende, em grande parte, da disponibilidade de

meios financeiros para mantê-lo, estas medidas irão ter um efeito cumulativo

ao longo do tempo que irá proporcionar um melhor retorno sobre os

investimentos dos recursos institucionais (Seigfried et al., 2006). Além disso, é

importante incluir metas de investimento comunitário como uma parte formal de

uma declaração de missão da universidade, a fim de "manter o olho no prêmio

da produção cultural”.

3. Modelo do Turismo Cultural

O turismo cultural é um incentivo para a reavaliação e revitalização

cultural, ao mesmo tempo em que ajuda a sensibilizar para a importância da

recuperação, conservação e preservação do nosso patrimônio cultural tangível

e intangível. Da mesma forma, a partir de uma perspectiva econômica, o

turismo cultural é essencial para o desenvolvimento local e regional e para as

novas indústrias culturais locais e regionais (LORRIO, 2014).

Embora haja uma grande variedade de fatores que contribuem para

Page 282: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

250

o sucesso do turismo cultural, o fator primordial tem a ver com o tipo e a

qualidade das ofertas culturais que estão disponíveis e o modo como esses

recursos são embalados para consumo. Ambas as cidades Salamanca e

Campinas dispõem de uma ampla gama de recursos valiosos que são

apropriados para promoção do turismo cultural, e cada cidade tem uma

vantagem comparativa em relação a certos aspectos que requerem diferentes

abordagens promocionais. A fim de atingir os resultados esperados, os

esforços para a promoção do turismo cultural em Salamanca devem estar

concentrados em seus recursos musicais de classe mundial, incluindo a antiga

Academia de Música, a Orquestra Barroca, o Consorte de Violas, o Coro de

Câmara e a Big Band da universidade, através do patrocínio dos festivais de

música regional (SUITNER, 2014). Por outro lado, Campinas oferece uma

ampla variedade de recursos culturais mais contemporâneos incluindo galerias,

cinemas, teatros e assim por diante, bem como um cenário cosmopolita com

vários restaurantes e bares da região.

O mercado brasileiro ainda tem um longo caminho para

consolidar-se como um mercado bem estruturado com políticas para estimular

a produção cultural como uma atividade econômica com mecanismos de

controle que preservem o mercado livre e a concorrência leal, que ajudem o

equilíbrio e a regulação, tal como qualquer outra atividade econômica já

estabelecida no país. O mercado da comunicação de massa é muito forte no

Brasil; no entanto, trata-se de um mercado centrado em redes de televisão, que

movimenta valores extremamente altos através de contratos de publicidade e

no qual mais de 75% destes contratos estão concentrados em um único grupo

de comunicação que possui 68% da audiência (BRANT, 2005). Os artistas que

conseguem obter trabalhos e contratos publicitários nas redes de televisão

acabam sendo, financeiramente, os mais bem-sucedidos. No entanto, há

também muitos artistas famosos que são capazes de obter sucesso financeiro

e profissional sem manter relações com as redes de televisão.

Por outro lado, há um forte mercado de entretenimento em todo o

mundo que inclui concertos, festivais de música, teatro, música clássica, teatro

musical e outros, com grande atratividade para os patrocinadores e capazes de

Page 283: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

251

gerar grandes receitas provenientes de venda de bilhetes e de licenciamento

de produtos de publicidade. Nos EUA, temos o mercado mais forte e

consolidado do planeta, com sua própria capacidade de autorregularão que

não encontramos em nenhum outro país. No entanto, o Brasil também tem um

grande potencial e isso se tem mostrado na prática. As gravadoras, por

exemplo, apesar de suas perdas para a pirataria, têm aumentado

significativamente os seus ganhos financeiros incorporando ao seu escopo de

atividades a realização de grandes shows. (HERSCHMANN, 2008).

No caso das Companhias de Teatro, isso não funciona, portanto,

os espaços de testes que podem ser oferecidos pela Universidade de

Salamanca e pela UNICAMP são muito importantes para os futuros artistas. No

caso de Campinas, muitas Companhias de Teatro formadas pelos atores que

concluíram sua graduação na UNICAMP em Campinas escolhem viver no

bairro ao redor da UNICAMP, porque alugar e manter um espaço físico em

Campinas é muito mais barato do que na cidade de São Paulo (que é o mais

forte mercado cultural do Estado de São Paulo). A qualidade de vida é melhor e

o custo também e eles podem ficar perto da UNICAMP, o que incentiva muitos

a prosseguirem os seus estudos de pós-graduação. Campinas é a cidade com

o maior crescimento no interior do estado de São Paulo e tem funcionado como

a cidade central para os municípios vizinhos. A população da cidade de

Campinas aumentou rapidamente, passando de 336.000 em 1970 para

825.000 em 1991, enquanto que a região, como um todo, aumentou mais de

três vezes, de 415.000 em 1970 para 1.3 milhões em 1991. Alguns municípios

menores cresceram mais de quinze vezes durante esse período (MARKUSEN

& YONG-SOOK, 1999).

Em Campinas, os artistas apresentam-se mais fora da cidade do

que na própria cidade e isso acontece por alguns fatores sociais, como no caso

da violência urbana que motiva muitos consumidores a irem aos teatros

municipais da cidade. A falta de transportes públicos, infraestrutura e os

estacionamentos e restaurantes fazem com que os consumidores sejam

direcionados aos centros comerciais para irem aos cinemas e, desde 2008,

surgiram dois grandes teatros em shopping centers.

Page 284: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

252

Como a articulação dos gestores políticos e universitários reflete no

sistema cultural de uma cidade universitária?

A pesquisa sobre o modelo universitário dos Estados Unidos da

América, o qual tem características muito diferentes dos modelos de estrutura

unversitária pública no Brasil e na Espanha. Um dos pontos principais, tanto

para as universidades privadas como públicas nos EUA, é a capacidade de

autofinanciamento, distintamente das universidades públicas brasileiras e

espanholas que são totalmente dependentes dos recursos governamentais. As

unversidades americanas também se beneficiam de recursos governamentais

para desenvolvimento de pesquisas, contudo as relações com a sociedade civil

e o setor empresarial criam as bases para o seu modelo de financiamento e

desenvolvem uma relação muito intensa com as cidades onde estão sediadas.

Apesar da grande diferença do modelo público brasileiro e espanhol, podemos

fazer analogias e aprender muito com as ações desenvolvidas nos EUA.

Dentro deste modelo, vimos a chamada divisão ‘town-gown’ que, em

alguns momentos, pode até ter prejudicado o desenvolvimento de redes

culturais no passado, mas as coisas mudaram nos últimos anos. As faculdades

e as universidades demonstraram ser um componente central dos recursos e

dos insumos culturais das cidades e os políticos e educadores (professores e

pesquisadores) podem se concentrar nesses atributos para o desenvolvimento

e a manutenção de um sistema cultural sustentável. Alguns pesquisadores

sugerem que os políticos e os educadores estão em uma excelente posição

para desenvolver e manter uma rede cultural viável nas cidades universitárias,

mas outros insistem em que o segmento cultural destas comunidades deve ter

uma atitude proativa na promoção e coordenação das ofertas culturais, de

maneira a beneficiar tanto os artistas quanto a comunidade local.

Este aspecto do processo pode ser a parte mais desafiadora porque

identificar aspectos mutuamente vantajosos de um sistema cultural pode ser

difícil, a menos que todas as partes interessadas reconheçam os benefícios de

longo prazo, os quais podem advir de uma cadeia de produção cultural viável.

Em suma, os políticos e educadores devem colaborar de uma forma

Page 285: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

253

transparente a fim de manter a viabilidade do sistema cultural focada nos

objetivos da cidade universitária, assim como das comunidades em que atuam.

Uma sensação de autenticidade reduzida pode representar uma das maiores

ameaças para a viabilidade de um sistema cultural, uma vez que o aumento do

número de visitantes sem planejamento estratégico poderá criar um impacto

negativo sobre o meio ambiente e sobre a infraestrutura municipal.

Além disso, as experiências europeias abordadas na pesquisa

mostraram que um sistema cultural viável pode ser consolidado, criando

espaços que atraem as pessoas que, de outra forma, não estariam envolvidas

ativamente em uma atividade social construtiva; proporcionando melhores

níveis de confiança entre políticos e educadores, aumentando, desta forma, a

confiança generalizada dos outros; proporcionando uma experiência de eficácia

coletiva e participação cívica que pode ser usada como prova de que as redes

culturais são eficazes para alimentar outra ação; eventos de turismo cultural

podem se tornar uma fonte de orgulho cívico da universidade ou dos alunos e

das pessoas da cidade, proporcionando oportunidades experimentais para os

participantes para visualizarem novas oportunidades para a organização

coletiva; aumentando o alcance das redes sociais dos indivíduos e

proporcionando uma experiência na qual as organizações envolvidas possam

expandir suas capacidades. Além disso, exitem técnicas de planejamento

comprovadas que estão disponíveis, as quais podem ajudar a orientar os

processos de tomada de decisão.

Page 286: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

254

5.2. RECOMENDAÇÕES

Com vimos nos resultados desta pesquisa e com base no potencial

de crescimento da cadeia da produção cultural e do setor de turismo cultural

tanto para Universidade de Campinas, bem como para a Universidade de

Salamanca, elaboramos algumas recomendações que podem contribuir na

elaboração dos planejamentos estratégicos futuros destas instituições. Abaixo

seguem:

Desenvolver parcerias estratégicas com os líderes políticos

de suas respectivas cidades a fim de identificar oportunidades de

empreendedorismo cultural em suas comunidades;

As autoridades universitárias devem executar ações

educativas com a comunidade local acerca da contribuição valiosa das

suas instituições para as economias destas duas cidades universitárias,

a fim de promover o aumento da participação local nas atividades

culturais. Além disso, deve-se também continuar a promover os outros

benefícios que já são reconhecidos pelos membros da comunidade

local, que são as contribuições das universidades nos sistemas

educativos e de sáude pública;

. As autoridades universitárias e municipais devem

desenvolver esforços conjuntos no desenvolvimento de políticas e

estratégias para formação de plateias e estímulo ao consumo cultural;

As autoridades universitárias e os empresários locais

devem colaborar no desenvolvimento de parcerias para financiamento

de projetos, e desenvolvimento de pesquisas no setor cultural;

As autoridades universitárias devem colaborar com o

sistema de produção cultural através de pesquisas sobre o setor local, e

também formular novas ofertas curriculares que colaborem com a

formação de profissionais para o setor;

As autoridades universitárias e organizações de

qualificação profissional deverão colaborar conjuntamente para oferta de

Page 287: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

255

cursos técnicos (cultural e turismo), para melhorar os programas de

ensino e incentivar o empreendedorismo cultural;

As autoridades universitárias devem realizar

levantamentos dos cidadãos locais para estabelecer ‘benchmarks’ sobre

suas percepções do valor das universidades para as suas comunidades

e quais fatores são considerados os mais valiosos; e

As autoridades universitárias devem estimular a produção

de vídeos promocionais de sobre as práticas culturais, espetáculos e

cursos, através dos sistemas de TVs universitárias, os quais já fazem

parte de suas estruturas atuais. Os vídeos promocionais devem ser

veiculados nos canais universitários e também via internet.

No desenvolvimento da cultura, cada comunidade chega a utilizar,

além de seus próprios recursos, os gerados por outras comunidades e, com

isso, enriquece sua cultura para lidar com a realidade (CASTELLS, 2000). Em

todo caso, toda sociedade deve tomar decisões próprias na hora de

desenvolver seus procedimentos ou de assumir os de outros. Da mesma forma

que os indivíduos elegem caminhos e opções para desenvolver sua cultura,

assim devem fazer os grupos (ORTIZ, 1994). Em caso contrário, submetem-se

às iniciativas dos demais e não conseguem responder adequadamente ao seu

meio natural e social.

A pesquisa apresentou diagnósticos sobre o sistema de produção

cultural em dois países, respondeu algumas questões, mas cremos que o mais

importante é percerber que ainda existem muitas questões para serem

respondidas e que as perspectivas futuras para o desenvolvimento de mais

pesquisas neste setor são muito boas. Assim, o autor encerra uma etapa do

seu processo de formação, muito contente e motivado, porque existe a

possibilidade de avançar mais neste campo de pesquisa, a fim de contribuir

com o progresso científico no campo da cultura através do desenvolvimento de

novos estudos.

Page 288: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

256

Page 289: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

257

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABEL, J. R. & DEITZ, R. (2012, February 13). How Colleges and Universities

Can Help their Local Economies. Federal Reserve Bank of New York.

Disponível em:

http://libertystreet economics.newyorkfed.org/2012/02/how-colleges-and-

universities-can-help-their-local- economies.html#.VHA2bWczKuI.

ACHARYA, N. (2013). The Innovative and Entrepreneurial University:

Higher education, innovation & entrepreneurship in focus. Washington, DC:

U.S. Department of Commerce.The Office of Innovation and Entrepreneurship

at the Economic Development Administration.

ADAMS, G. D. (1995). Cultural Tourism: The Arrival of the Intelligent

Traveler. Museum News, 74(6), p. 32-37.

AGE, (2011). Encuesta De Hábitos Y Prácticas Culturales En España 2010-

2011. Elaborado por la División de Estadísticas Culturales. Ministerio de

Cultura, Septiembre. Catálogo de publicaciones de la AGE Disponível em:

http://publicacionesociales.boe.es/

ALMEIDA, C. J. (1992). Marketing Cultural ao Vivo. Rio de Janeiro, Francisco

Alves.

APOSTOLOPOULOS, Y. (1996). Introductions: Reinventing the Sociology

of Tourism. New York: Routledge. Arts and cultural production. (2012).

National Endowment for the Arts. Disponível em:

http://arts.gov/news/2013/us-bureau-economic-analysis-and-national-

endowment-arts- release-preliminary-report-impact.

ARANTES, S. (2006). MinC libera R$ 9,4 mi para Cirque du Soleil no Brasil .

Jornal Folha de São Paulo. Caderno Ilustrada – 26 abr.

Page 290: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

258

ATECA-AMESTOY, V. (2008, June). Determining Heterogeneous Behavior

for Theater Attendance. Journal of Cultural Economics, 32(2), p.127-151.

BALLENGEE-MORRIS, C. (2009, Winter). Cultures for Sale: Perspectives on

Colonialism and Self-determination and the Relationship to Authenticity

and Tourism. Studies in Art Education, 43(3), p.232-233.

BAUMANN, R. (2007). Diretor da Cepal avisa: disparidades dentro do

Mercosul precisam diminuir. Revista Desafios do Desenvolvimento. Ano 4 .

Edição 32 – 7 mar.

BAUMOL, W. J. & BOWEN, W. G. (1966). Performing Arts. The Economic

Dilemma. New York: Twentieth Century Fund.

BECKMAN, G. D. (2007). "Adventuring" Arts Entrepreneurship Curricula in

Higher Education: an Examination of Present Efforts, Obstacles, and Best

Practices. The Journal of Arts Management, Law, and Society, 37(2), p.25.

BECKMAN, G. (2006, January). Advancing the Authentic: the Role of the

Business School in Fine Arts Entrepreneurship Curriculum Design. Paper

presented at annual meeting of the United States Association for Small

Business and Entrepreneurship, San Antonio, TX.

BECKMAN, G. & ESSIG, L. (2012). Arts Entrepreneurship: A Conversation.

Activate: A Journal of Entrepreneurship in the Arts, 1(1), p.1-8.

BENHAMOU, F. (1996): L’économie de la Culture. Editions La Découverte,

París.

Page 291: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

259

BESCULIDES, A., Lee, M. E. & McCORMICK, P. J. (2002, April). Residents’

Perception of the Cultural Benefits of Tourism. Annals of Tourism Research,

29(2), p. 303-319.

BILLE, T. & SCHULZE, G. G. Culture in Urban and Regional Development.

In: Ginsburgh, V. A. & Throsby, D. (eds). Handbook of the economics of art and

culture, 2nd ed. Oxford: North-Holland Elsevier (2008), pp. 1051-1099.

BLAUG, M. (2001): Where are we now in Cultural Economics?. Journal of

Economic Surveys, 15(2), p.123-143.

BNDES SETORIAL. (2008) BNDES Setorial. n. 28. Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social ,1995-. Semestral. ISSN 1414-9230

Rio de Janeiro, set.

BONET, Ll. et al. (1991). Estructura del Sector Teatral a Catalunya.

Departamento de Cultura, Generalitat de Catalunya, Barcelona.

BONET, Ll.; CASTAÑER, X. e FONT, J. (Eds.) (2001): Gestión de Proyectos

Culturales. Análisis de Casos, Ed. Ariel, Barcelona.

BONIFACE, P. (1995). Managing Quality Cultural Tourism. New York:

Routledge.

BRANT, L. (org). (2002). Políticas Culturais. Barueri, Manole.

BRIDA, J. G., MELEDDU, M. e PAULINA, M. (2013). The Economic Impacts

of Cultural Tourism. In: The Routledge handbook of cultural tourism, M. Smith

and G.Richards (eds) New York: Routledge. p.110- 115

BRIGATTO, G. (2012). Fundo da Gávea Investimentos vende participação

na Time 4 Fun. Jornal Valor Econômico. 14 nov.

Page 292: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

260

BROOKS, I. (2011, December). Transforming Prisons into Museums:

Architectural Adaptation in Iberia. The World and I, 28(12), p.37.

BUSTAMANTE, E. (2003). Hacia un Nuevo Sistema Mundial de

Comunicación. Barcelona, Gedisa.

CAFFREY, J. & ISAACS, H. (1971). Estimating the Impact of a College, or

University on the Local Economy. Washington, D.C.: American Council on

Education.

CAMPINAS, GUIA DE INVESTIMENTO.(2014). Prefeitura Municipal de

Campinas. Disponível em:

http://www.campinas.sp.gov.br/sobre-campinas/guia_english.pdf.

CAMPBELL, P. (2011). Creative Industries in a European Capital of Culture.

International Journal of Cultural Policy, 17(5), p.510–522.

CANCLINI, N. G. (2000). Culturas Híbridas. São Paulo: Edusp, 2000.

CANCLINI, N. G. (1999). La Globalización Imaginada. Buenos Aires: Editorial

Paidós SAICF.

CARMICHAEL, B. A. (2002, Winter). Global Competitiveness and Special

Events in Cultural Tourism: The Example of the Barnes Exhibit at the Art

Gallery of Ontario, Toronto. The Canadian Geographer, 46(4), p. 310-319.

CASSELMAN, B. (2014, April 28). Inequality in college towns: Towns &

Gowns. Disponível em:

http://fivethirtyeight.com/features/inequality-in-college-towns/.

Page 293: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

261

CASTELLS, M. (1999). Sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra. (A era da

informação: economia, sociedade e cultura, v.1).

CASTELLS, M. (2000). La ciudad de la nueva economia. Disponível em.

http://www.lafactoriaweb.com/articulos/castells12.htm. 2000.

CHANDLER, R. M. (2008, Summer). Artisans and the marketing of ethnicity:

Globalization, indigenous identity, and mobility principles in micro-

enterprise development. Ethnic Studies Review, 31(1), 10-19.

CHAPMAN, M. P. (2009, December). The American College Town: Planning

for Higher Education, 38(1), p. 82-90.

CHAUÍ, M. (2006). Cidadania Cultural: O direito à cultura. São Paulo: Editora

Fundação Perseu Abramo, p. 11.

CHAUÍ, M. (1986) . Conformismo e resistência - aspectos da cultura popular

no Brasil. São Paulo, Ed. Brasiliense.

CHAUÍ, M. (2001). Cultura e Democracia: o discurso competente e outras

falas. 9. ed. São Paulo: Cortez, p. 45.

CHÁVEZ A. M. A. (2011, October). The Principle of ‘Arm’s Length’ in the

Sub-national Cultural Policy: A Comparative Study between Catalan

(Spain) and Jalisco (Mexico) Barcelona, Cataluna, España Unpublished

dissertation.

CICOPA. (2004). International Organisation of Industrial, Artisanal and

Service Producers Cooperatives. Disponível em:

http://www.cicopa.coop/IMG/pdf/declaration_approved _by_ica_-_en.pdf.

Page 294: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

262

CIDDIC (CENTRO DE INTEGRAÇÃO, DOCUMENTAÇÃO E DIFUSÃO

CULTURAL) UNICAMP (2014) Disponível em:

http://www.ciddic.unicamp.br/sobre_ciddic.php

CLAVAL, P. (1993) The Cultural Dimension in Restructuring Metropolises:

The Amsterdam Example. In: Understanding Amsterdam, L. Deben, W.

Heinemeijer and D. van der Vaart, eds, pp. 111-139. Amsterdam: Het Spinhuis.

CNI – IBOPE. (2012). Pesquisa CNI – IBOPE: avaliação do governo.

Brasília: CNI. Disponível em:

http://www.ibope.com.br/CNI_IBOPE_avalgoverno_jun2012_web.pdf

COELHO, N. & TEIXEIRA, J. (1997). Dicionário Crítico de Política Cultural.

São Paulo, Iluminares.

COELHO, N. (1986). Usos da Cultura; Políticas de Ação Cultural. Rio de

Janeiro, Paz e Terra.

COLLECTION. (2014). SMART. Disponível em: http://smartbe.be/fr/a-propos/la-

collection/

COMUNIAN, R. & MOULD, O. (2014). The Weakest Link: Creative

Industries, Flagship Cultural Projects and Regeneration. City, Culture and

Society xxx xxx–xxx. doi.org/10.1016/j.ccs. 2014.05.004.

CONVENTION 2005. (2014). SMart. Disponível em: http://www.smart-

eu.org/media/uploads/2012/05/UNESCO_2005_implementation__12.02.21.pdf.

CRAVENS, D. W. (2000). Strategic marketing (6th ed.). New York: McGraw-

Hill.

CRISPIN, D. (2009, September/October). Artistic Research and the

Musician's Vulnerability. Musical Opinion, 132(1472), p.25-31.

Page 295: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

263

CUADRADO, M. y MOLLÀ, A. (2000). Grouping Performing Arts Consumers

According to Attendance Goals. International Journal of Arts Management,

2(3), p.54-60.

CUADRADO, M.; FRASQUET, M. e MOLLÀ, A. (1998). Segmentation of

Performing Arts Audiences: an Empirical Study. X Congreso ACEI,

Barcelona.

CUADRADO, M. (2000). The Singularity of Marketing the Arts: A

Conceptual Revision. XI Congreso ACEI, Minneapolis, EE.UU.

CUNHA, M. H. (2011). Formação do profissional de cultura: desafios e

perspectivas. Políticas Culturais em Revista, 1 (4), p. 95-105, 2011. Disponível

em: www.politicasculturaisemrevista.ufba.br Acesso em: out 2013

CUNHA, C. S. & Constante, S. E. (2013). The archives in Rouanet law.

TransInformação, Campinas, 25(3):203-211.

DALBEY, M., NELSON, K. & BAGNOLI, P. (2007). Communities of

Opportunity: Smart Growth Strategies for Colleges and Universities.

Baltimore: Ayers/Saint/Gros.

DANTAS, F. (2007). Fundo de Harvard adquire 12,5% da Gávea

Investimentos. Jornal O Estado de São Paulo. Caderno Economia – 12 dez.

DEHEINZELIN, L. (2006). Economia Criativa e Empreendedorismo Cultural.

Trabalho apresentado no II ENECULT - Encontro de Estudos Multidisciplinares

em Cultura, na Faculdade de Comunicação/UFBA, Salvador-Bahia-Brasil.

DIMITRATOS, P., and JONES, M.V. (2005) Future Directions for

International Entrepreneurship Research. International Business Review, 14

(2), p. 119-128.

Page 296: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

264

DOBSON, L. & WEST, E. Performing Arts Subsidies and Future

Generations. In: CHARTRAND, H. et al (Eds.). Cultural Economics ‘88: A

Canadian perspective. Akron: Association for Cultural Economics/ University of

Akron, 1989. pp. 108-116

do PACO, A. & ALVES, H. (2012, July 1). Ecotourism from Both Hotels and

Tourists' Perspective. Economics & Sociology, 5(2), p. 132-140.

DULLROY, J. (2015, January 14). Freelancers unite to get sickness and

other employment benefits. The Guardian. Disponível em:

http://www.theguardian.com/money/2015/jan/14/ freelance-payment-

sickness-leave.

DURAND, J. C. G. (1996). Profissionalizar a Administração da Cultura. RAE

- Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 36, n. 2, p. 6-11

Abr./Maio/Jun.

DURAND, J. C. G. (1999). Public and Private Funding in Brazil. Relatório de

Pesquisa, 3(2000), p.1-40.

DWYER, L., FORSYTH, P. & DWYER, W. (2010). Tourism Economics and

Policy. In: Aspects of tourism texts, ed. C. Cooper, C. M. Hall and Dallen, J. T.

(eds). Bristol, Buffalo, Toronto: Channel View Publications.

EVANS, G. (2001). Cultural Planning, an Urban Renaissance? London:

Routledge.

FAJARDO G. G. (2002). Una Solución Unificada con Muchas Excepciones.

Cuadernos de las cooperativas de consumidores. Confederación Española de

Cooperativas de Consumidores y Usuarios, p. 14-18.

Page 297: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

265

FAVARO, D. & FRATESCHI, C. (2007, September). A Discrete Choice Model

of Consumption of Cultural Goods: the Case of Music. Journal of Cultural

Economics, 31(3), p. 205-234.

FEAGIN, J. R., ORUM, A. M., & SJOBERG, G. (1991). A Case for the Case

Study. Chapel Hill, NC: University of North Carolina Press.

FELTON, M. V. (1992, June). On the Assumed Inelasticity of Demand for

the Performing Arts. Journal of Cultural Economics, 16(1), p. 1-12.

FINGER, J. R. (1991). Cherokee Americans. Lincoln: University of Nebraska

Press.

FRIEDLANDER, D. (2010). JP Morgan compra controle da Gávea. Jornal O

Estado de São Paulo. Caderno Economia – 26 out.

FRIEDLANDER, D. (2011). Time For Fun consegue captar R$ 539 mi

em abertura de capital. Jornal O Estado de São Paulo / AGÊNCIA ESTADO E

REUTERS. Caderno Economia – 12 abr.

FORDELONE, D. (2014). Gasto de brasileiros em viagens ao exterior soma

US$ 2,4 bilhões e bate recorde. Jornal O Estado de São Paulo. Caderno

Economia – 22 ago.

FURNESS, K. (2012, winter). City of Quarters: Urban Villages in the

Contemporary City. Capital & Class, 84, p. 217-221.

GALI-ESPELT, N. (2012). Identifying Cultural Tourism: A Theoretical

Methodological Proposal. Journal of Heritage Tourism, 1(1), p. 45-48.

GALLANT, K. (2009). Brazilian immigration. Vernon Johns Organization.

Disponível em: http://www.vernonjohns.org/plcooney/brimmig.html.

Page 298: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

266

GARCIA, B. & COX, T. (2013, November). European Capitals of Culture:

Success Strategies and Long-Term Effects. European Union.

GARCÍA, M.I.; FERNÁNDEZ, Y. e ZOFIO, J.L. (2000): The Evolution of the

Culture and Leisure Industry in Spain. XI Congreso ACEI, Minneapolis, USA.

GINSBURGH, V. & THROSBY, C. D. (2006). Handbook of the Economics of

Arts and Culture, vol. 1. Amsterdam: Elsevier.

GODWYN, M. (2009, January/February). Can the Liberal Arts and

Entrepreneurship Work Together? Academe, 95(1), p.36-41.

GOETZ, S.J., M. PARTRIDGE, S.C. DELLER, and D. A. FLEMMING (2010).

Evaluating U.S. Rural Entrepreneurship Policy. Journal of Regional Analysis

and Policy 40(1), p. 20-33.

GOPAL, P. (2008, March 13). College Towns: Still a Smart Investment.

Bloomberg BusinessWeek. Disponível em:

http://www.businessweek.com/stories/2008-03-13/college-towns-still-a-smart-

investmentbusinessweek-business-news-stock-market-and- financial-advice.

GORGULHO, L. F. ; GOLENSTEIN, M.; ALEXANDRE, P.; MELLO, G. A. T.

(2009) . A economia da cultura, o BNDES e o desenvolvimento

sustentável. BNDES Setorial 30, p. 299 – 355. Disponível em:

www.bndes.gov.br Acesso em: out 2013.

GRODACH, C. (2008). Museums as Urban Catalysts: The Role of Urban

Design in Flagship Cultural Development. Journal of Urban Design, 13(2), p.

195–212.

Page 299: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

267

GUETZKOW, J. (2002). How the Arts Impact Communities. Princeton,

University, p. 1-26.

GUETZKOW, J. (2002, June 7-8). How the Arts Impact Communities.

Princeton University: Working paper series, 20, p. 1-17.

GUPTA, V. & FERNANDEZ, C. (2009, February). Cross-Cultural Similarities

and Differences in Characteristics Attributed to Entrepreneurs: A Three-

Nation Study. Journal of Leadership & Organizational Studies, 15(3), p. 304-

310.

GWEE, J. (2009, August). Innovation and the Creative Industries Cluster: A

Case Study of Singapore's Creative Industries. Innovation: Management,

Policy & Practice, 11(2), p. 240-251.

HAGOORT, G. (2007). Cultural Entrepreneurship: On the Freedom to

Create Art and the Freedom of Enterprise. Utrecht: Utrecht University School

of the Arts.

HEITZMANN, R. (2008). Case Study Instruction in Teacher Education:

Opportunity to Develop Students' Critical Thinking, School Smarts and

Decision Making. Education, 128(4), p. 523-533.

HENNESSEY, S. M. & YUN, D. (2014, January 1). Segmenting and Profiling

the Cultural Tourism Market for an Island Destination. Contributors:

International Journal of Management and Marketing Research, 7(1), p. 15-21.

HERRERO, C., SANZ, J. A. DEVESA, M. et al. (2006). The Economic Impact

of Cultural Events. European Urban and Regional Studies 13(1), p. 41–45.

Page 300: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

268

HERSCHMANN, M. & KISCHINHEVSKY, M. A. (2006). A Indústria da Música

Brasileira Hoje – Riscos e Oportunidades In: Comunicação e música popular

massiva. 1ª. ed.Salvador: EDUFBA, 1, p. 87-110.

HESMONDHALGH, D. (2002). The Cultural Industries. London: Sage.

HOFSTEDE, G. (2015). Geert Hofstede’s cultural dimensions. Disponível em:

http://geert- hofstede.com/brazil.html.

HOLGUERA, J. M. (1996, March). The Golden Stones of Salamanca.

UNESCO Courier, p. 38-41.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Perfil

dos Municípios Brasileiros: Pesquisa de Informações Básicas

Municipais: Cultura. Rio de Janeiro: IBGE, 2007a.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Pesquisa

de Orçamentos Familiares 2002-2006: Primeiros Resultados. Rio de

Janeiro: IBGE, 2004.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Sistema

de Informações e Indicadores Culturais: 2003-2005. Estudos e pesquisas:

informação demográfica e sócio-econômica, Rio de Janeiro: IBGE, 2007b.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Sistema

de Informações e Indicadores Culturais: 2003. Estudos e pesquisas:

informação demográfica e sócio-econômica, Rio de Janeiro: IBGE, 2006.

JACOBS, J. (1969). The Economy of Cities. New York: Random House.

JUCAN, C. N. & JUCAN, M. S. (2013). Travel and Tourism as a Driver of

Economic Recovery. Procedía Economics and Finance, 6, p. 81-88.

Page 301: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

269

KELLY, E. & O’HAGAN, J. W. (2007, June). Geographic Clustering of

Economic Activity: The Case of Prominent Western Visual Artists. Journal

of Cultural Economics, 31(2), p. 109–128.

KEMPNER, K. & JUREMA, A.L. (2006). Brazil’s local solutions to global

problems. In R.A. Rhoads & C.A. Torres (Eds.), The university, state and

market: The political economy of globalization in the Americas Stanford:

Stanford University Press. p.221-249.

KINGSMILL, D. (2013, July 3). The Arts Contribute Billions to Our GDP.

Management Today. Disponível em:

http://www.managementtoday.co.uk/opinion/1189713/the-arts-contribute-

billions-gdp-so-why-arent-investing/

KOPPL, R. and MINNITTI, M. (2008). Entrepreneurship and Human Action.

In: Shockley. G.E. et al (eds) Nonmarket entrepreneurship. Cheltenham UK:

Edward Elgar Press.

LECLERCQ, F. & BUCHNER, A. E. (2011, April 1). Pro-Poor Tourism:

Expanding Opportunities. International Trade Forum, 2, p. 21.

LEEDY, P. D. (1997). Practical Research: Planning and Design (6th ed).

Upper Saddle River, NJ: Prentice-Hall.

LEIVA, J. (2014). Cultura SP: Hábitos culturais dos paulistas. 1ª ed.

São Paulo. Editora,Tuva.

LIMEIRA, T. M. (2008). Empreendedor Cultural: Perfil E Formação

Profissional. Trabalho apresentado no IV ENECULT - Encontro de Estudos

Multidisciplinares em Cultura, na Faculdade de Comunicação/UFBa, Salvador-

Bahia-Brasil.

Page 302: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

270

LISBOA, S. M. (1999). Razão e Paixão dos Mercados - Um Estudo sobre a

Utilização do Marketing Cultural pelo Empresariado. Belo Horizonte, C/Arte.

LORRIO, F. (2014). Cultural Tourism in Spain. Spain Today. Disponível em:

http://marcaespana.es/en/economia-empresa/turismo/articulos/252/cultural-

tourism

LOVERIDGE, S. & MILLER, S. R. & KOMAREK, T. (2012, September 1).

Assessing Regional Attitudes about Entrepreneurship. Journal of Regional

Analysis & Policy, 42(3), p. 210-232.

MACDONALD, R.M. & JOLLIFFE, L. (2002). Cultural Rural Tourism:

Evidence from Canada. Annals of Tourism Research, 30( 2), p. 307-322.

MACHICADO, J. (2012). Culture as an Engine for Economic Growth,

Employment and Development.

MALAGODI, M. E. CESNIK, F. de S. (1999). Projetos Culturais: Elaboração,

Administração, Aspectos Legais, Busca de Patrocínio. São Paulo:

Escrituras Editora.

MARCH, R. & WOODSIDE, A. G. (2007). Advancing Theory on Consumer

Plans, Actions, and How Marketing Information Affects Both. In: Woodside,

A. (ed.). Advances in culture, tourism and hospitality research. Oxford: Elsevier.

MARKUSEN, A. R. & LEE, Y-S. (1999). Second Tier Cities: Rapid Growth

Beyond the Metropolis. Minneapolis: University of Minnesota Press.

MARKUSEN, A. & GADWA, A. (2009). Arts and Culture in Urban/Regional

Planning: A Review and Research Agenda. Minneapolis: University of

Minnesota, 2009. p. 1-45 (Working Paper, 271).

Page 303: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

271

MARKUSEN, A. & SCHROCK, G. (2006, September). The Artistic Dividend:

Urban Artistic Specialization and Economic Development Implications.

Urban Studies, Essex, 43(10), p. 1661-1686.

MARKEY, E. (2007, July 20). Dancing in Haiti: Come for the Beaches, the

Culture and Art. National Catholic Reporter, 43(32), p. 6-10.

MARTI, E. M. & SANCHEZ, D. M. (2006). Merger as a Formula to Establish

European Cooperatives Societies. Journal of Rural Cooperation, 34(1), p. 43-

66.

MARSLAND, J. & KRUMP, G. (2014). The Changing Theatre Landscape:

New Models in Use by Theatre Artists, Groups and Organizations. Ottawa:

Canadian Public Arts Funders (CPAF) Network.

McCOY, B. H. (2008, January 1). The Commentator's Perspective: Global

Cities in an Era of Change. Journal of Real Estate Portfolio Management,

8(4), p. 15-21.

McINTOSH, R. & GOELDNER, C. (1990) Tourism: Principles, Practices,

Philosophies (6th ed.). New York: John Wiley & Sons, Inc.

McKERCHER, B and CHAN, A. (2005) How Special Is Special Interest

Tourism? Journal of Travel Research, vol. 44(1), p. 21-31.

MENDONÇA, M.(coord.). (1994). Incentivos à Cultura - Uma Saída para as

Artes. São Paulo, Carthago & Forte.

MERRIAM, S. B. (1998). Qualitative Research and Case Study Applications

in Education. San Francisco: Jossey-Bass

MICELI, S. (1984). Estado e Cultura no Brasil. São Paulo, Difel.

Page 304: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

272

MICELLI, S. E. & Gouvela, M. A. (1985). Política Cultural Comparada. Rio de

Janeiro, FUNARTE/FINEP/IDESP.

MILANESI, L. (1991). A Casa da Invenção - Centros de Cultura: Um Perfil.

São Paulo, Edições Siciliano.

MILES, M. B., & HUBERMAN, A. M. (1984). Qualitative Data Analysis: A

Sourcebook of New Methods. Beverly Hills, CA: Sage.

MISSION AND CHARTER. (2014). SMart. Disponível em:

http://smartbe.be/fr/a-propos/missions/

MOISÉS, J. Á., BOTELHO, I. (org.) (1997). Modelos de Financiamento da

Cultura: Casos do Brasil, França, Inglaterra, Estados Unidos e Portugal.

Rio de Janeiro: FUNARTE.

MONTERO, P. e PAULAVICIUS, M. (1996). Caminhos da Memória, Trilhas

do Futuro: os Dilemas de um Projeto de Democracia Cultural. In:

MONTERO, Paula (coord.). Entre o Mito e a História. Petrópolis, Vozes.

MUYLAERT, R. (1994). Marketing Cultural e Comunicação Dirigida. São

Paulo, Globo.

NATALE, E. (org.) (2001). Guia Brasileiro de Produção Cultural. São Paulo,

Natale MPA.

NEGUS, K. (2002) The Work of Cultural Intermediaries and the Enduring

Distance between Production and Consumption Cultural Studies, 16: p.

501-15.

NETWORKS AND PARTNERS. (2014). SMart. Disponível em:

http://smartbe.be/fr/a-propos/reseaux/.

Page 305: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

273

NEUMAN, W. L. (2003). Social Research Methods: Qualitative and

Quantitative Approaches, 5th ed. New York: Allyn & Bacon.

OAC. (2002). Community Arts Organizations Program Guidelines. Ontario

Arts Council.

OLSEN, E. P. (2002, October). City of Knowledge - Salamanca's Intellectual

Heritage. The World and I, 17(10), 170.

ORTIZ, R. (1988). A Moderna Tradição Brasileira. São Paulo, Ed. Brasiliense.

ORTIZ, R. (1994). Mundialização e Cultura. São Paulo, Ed. Brasiliense.

PHILLIPS, R. J. (2010). Arts Entrepreneurship and Economic Development:

Can Every City be “Austintatious”? Foundations and Trends in

Entrepreneurship, 6(4), p. 239–313.

PIORE, A. (2009, September 2). How to Build a Creative City. Newsweek

International 50.

PLAZA, B., TIRONI, M., & HAARICH, S. N. (2009). Bilbao’s Art Scene and

the “Guggenheim Effect” Revisited. European Planning Studies, 17(11), p.

1711–1729.

PRATT, A. C. (2008) Creative Cities: The Cultural Industries and the

Creative Class. Geografiska Annaler: Series B, Human Geography, 90: p.

107–117.

PRATT, A. (1997) The Cultural Industries Sector. Its Definition and

Character from Secondary Sources on Employment and Trade, Britain

1984-91, London: LSE.

Page 306: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

274

PREAC PROJECTS (2014). PREAC. Disponível em:

http://www.preac.unicamp.br/?p=2228.

RECESSIONOMICS and COLLEGE TOWNS (2014). College Connecting.

Disponível em: http://www.college-connecting.com/blog/recessionomics-and-

college-towns-campuses-keep-local-economies-afloat-during-hard-times/.

Reform of the social status of artists. (2014). SMart. Disponível em:

http://newsletter.smarteu.org/t/ViewEmail/r/AE6CC324BC8150872540EF23F30

FEDED.

REHER, D. & REQUENA, M. (2009, January-June). The National Immigrant

Survey of Spain: A new data source for migration studies in Europe.

Demographic Research, 20, 253-260.

REIS, A.C.F. (2006). Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentavel.

Brazil: Manole.

RICHARDS, G. (2014, March 13). Cultural Tourism 3.0: The Future of Urban

Tourism in Europe? Paper presented at the conference Città ri-visitate. Nuove

idee e forme del turismo culturale, Bergamo, 13 - 14 March 2014.

RICHARDS, G. (1996). Production and consumption of European cultural

tourism. Annals of Tourism Research, 23(2), p. 261-283.

RINGER, G. (1998). Destinations: Cultural Landscapes of Tourism. London:

Routledge.

ROONEY, D. (2014). Town-Gown: A New Meaning for a New Economy.

Campus Contact. Disponível em: http://www.compact.org/resources/future-of-

campus-engagement/town-gown-a-new-meaning-for-a-new-economy/4261/.

Page 307: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

275

ROZENTALE, I. & LAVANGA, M. (2014). The ‘Universal’ Characteristics of

Creative Industries Revisited: The Case of Riga. City, Culture and Society

doi.org/10.1016/j.ccs.2014.05.00.

SAE (SERVIÇO DE APOIO AO ESTUDANTE) UNICAMP (2014) Disponível

em:

http://www.sae.unicamp.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&

id=95&Itemid=162

SALAMANCA (2014). Tour Spain. Disponível em:

http://www.tourspain.org/salamanca/.

SALAMANCA: EUROPEAN CITY OF CULTURE (2014). Spain is Culture.

Disponível em:

http://www.spainisculture.com/en/destinos_principales/salamanca.html.

SALAMANCA PROFILE (2014) Disponível em:

http://www.tourspain.org/Salamanca/.

SALVATIERRA, S. D. (2008). Measures to promote the diversity of cultural

expressions. UNESCO.

SANTOS, B. S. The university in the 21st century: Toward a democratic

and participatory university reform. in Pela Mão de Alice: o Social e o

Político na Pós-Modernidade, 1994.

SANTOS, J. L. dos. (1994). O que é Cultura. 14. ed. São Paulo: Brasiliense,

Coleção Primeiros Passos. p. 21.

SCOTT, A. J. (2004, March). Cultural products industries and urban

economic development: Prospects for growth and market

contestation in global context. Urban Affairs Review, 39(4), 461-490.

Page 308: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

276

SEAMAN, B. A. Empirical Studies of Demand for the Performing Arts. In:

GINSBURGH, V. A. & THROSBY, D. (Eds.). Handbook of the economics of art

and culture. 2. ed. Oxford: North-Holland Elsevier, 2008. p. 415-472.

SGAE (2000): Anuario SGAE de las Artes Escénicas, Musicales y

Audiovisuales: SGAE 2000, Fundación Autor, Madrid.

SGAE (2001): Anuario SGAE 2001 de las Artes Escénicas, Musicales y

Audiovisuales Fundación Autor, Madrid.

SIEGFRIED, J. J., SANDERSON, A. R. & McHENRY, P. (2006, May). The

Economic Impact of Colleges and Universities. Vanderbilt University

Working Paper No. 06-W12.

SILBERBERG, T. (1995). Cultural Tourism and Business Opportunities for

Museums and Heritage Sites. Tourism Management, 16(5), p. 361-365.

SMITH, M. K. (2005). Issues in Cultural Tourism Studies. New York:

Routledge.

SMITH, W. (2012, September 13). Pounds 15m Scheme to Help Arts

Apprentices is Launched. The Journal (Newcastle, England, 40.

STEINACKER, A. (2005, June). The Economic Effect of Urban Colleges on

their Surrounding Communities. Urban Studies, 42(7), p. 1161–1175.

STERN, M. J & SEIFERT, S. C. (2000). Cultural Participation and

Communities: The Role of Individual and Neighborhood Effects.

Philadeliphia: University of Pennsylvania School of Social Work.

—. 2002. Culture Builds Community Evaluation Summary Report. Pp. 62.

Philadelphia: University of Pennsylvania School of Social Work

Page 309: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

277

SUITNER, J. (2014). Cultures of image construction approaching planning

cultures as a factor in urban image production. European Spatial

Research and Policy, 21(1), 39-45.

STUDY IN BRAZIL. (2015). QS Top Universities. Disponível em:

http://www.topuniversities. com/where-to-study/south-america/brazil/guide.

THE REAL VALUE OF ARTS. (2013, July 8). Management Today, 20.

THOMAS, A. B. (2004). Research Skills for Management Studies. London:

Routledge.

THREE KEY VALUES (2014). SMarteu. Disponível em: http://smart-

eu.org/about/.

THROSBY, D. (2001): Economics and Culture Cambridge University Press,

Cambridge (Trad. esp. Economía y Cultura, Cambridge University Press,

Madrid, 2001).

TOMAZ, K. e LIMA, R. (2007). Após crime em show do Titãs, Unicamp faz

plano de segurança. Jornal Folha de São Paulo. Caderno Campinas – 27 set.

TOMLJENOVIC, R. (2006). Kultumi Turizam [Cultural Tourism]. In: Hrvatski

turizam plavo bijelo zeleno [Croatian Tourism blue white green], ed. Sanda

Corak and Vesna Mikacic, Zagreb: Institute for Tourism. P.119-147

TOURISM AND TRAVEL RELATED SERVICES (2014). World Trade

Organization Disponível em:

http://www.wto.org/english/tratop_e/serv_e/tourism_e/tourism_e.htm.

TULLEN, P. (2012). Why Cultural Entrepreneurship is a Win-Win Scenario

for the Sector. The Guardian. Disponível em:

Page 310: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

278

http://www.theguardian.com/culture-professionals-network/cultureprofessionals-

blog/2012/sep/24/cultural-entrepreneurship-technology-remix-ebook.

TURNER, R. (2014). Travel and Tourism Economic Impact on Brazil.

London: World Travel & Tourism Council.

TURNER, R. (2014). Travel and Tourism Economic Impact on Spain.

London: World Travel & Tourism Council.

TYSON, N. N. (2012). Top ten Spanish university cities. Don Quixote:

Spanish Language Learning. Disponível em:

http://blog.donquijote.org/2012/8/top-10-spanish-university- cities.

UNICAMP (2014). University of Campinas. Disponível em:

http://www.unicamp.br/unicamp/ international-relations-international-

office/foreign-student-guide?language=en.

VIVANT, E. (2013). Creatives in the City: Urban Contradictions of the

Creative City. City, Culture and Society, 4, p. 57–63.

WALLE, A. H. (1998). Cultural Tourism: A Strategic Focus. Boulder, CO:

Westview Press.

WEBB, J. (1998, September). Eating Dust: Electronic Media and Regional

Arts. Journal of Australian Studies, 148.

WEFFORT, F. & SOUZA, M. (1998). (org.) Um Olhar Sobre a Cultura

Brasileira. Rio de Janeiro: Associação de Amigos da Funarte.

WILLIAMS, C. C. (1997). Consumer Services and Economic Development.

London: Routledge.

Page 311: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

279

WILLIAMS, R. (1992). Cultura. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra.

- 1º Diagnóstico da Área Cultural de Belo Horizonte. SMC/ DPCC, Belo

Horizonte,1996.

WOJAN, T. R. & LAMBERT, D. M. (2007, April). The emergence of rural

artistic havens: A first look. Agricultural and Resource Economics Review,

36(1), 53-59.

WORPOLE, K. and GREENHALGH, L. (1999) The Richness of Cities: Urban

Policy in a New Landscape—FinalReport, Stroud: Comedia/Demos.

Diagnóstico dos Investimentos em Cultura no Brasil. Belo Horizonte: Fundação

João Pinheiro,1998 - 3 volumes

WREN, C. (2011, July-August). Dissolving the Barriers: Theatre

Professionals Discuss Strategies for Bringing Artists, Institutions and

Communities Closer Together. American Theatre, 28(6), p. 40-44.

YAN, J. (2010, Fall). The Impact of Entrepreneurial Personality Traits on

Perception of New Venture Opportunity. New England Journal of

Entrepreneurship, 13(2), p. 21-25.

YUDICE, G. (2011). Culture. Keywords for American Cultural Studies.

Disponível em:

http://keywords.fordhamitac.org/keyword_entries/culture.html.

YUDICE, G. (2004). Five centuries of compelling interculturality. In Culture

and politics: Identity and conflict in a multicultural world. R.Pinxten &

G. Verstraete (eds.). New York: Berghahn Books.

YÚDICE, G. (2003). The experience of culture: Uses of culture in the global

era. Durham: Duke University Press.

Page 312: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

280

ZAPALSKA, A. M. & EDWARDS, W. (2001, July). Chinese Entrepreneurship

in a Cultural and Economic Perspective. Journal of Small Business

Management, 39(3), p. 286-291.

ZADEL, Z. & BOGDAN, S. (2013, December). Economic Impact of Cultural

Tourism. UTMS Journal of Economics, 4(3), p. 355-361.

ZIKMUND, W. C. (2000). Business Research Methods (6th ed.). Fort Worth,

TX: Dryden Press.

ZUKIN, S. (1995). The Cultures of Cities. Cambridge, MA: Blackwell.

Page 313: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

281

7. APÊNDICE

APÊNDICE 1 – RESUMO SOBRE LEGISLAÇÃO DE COOPERATIVAS UE-27

E ESPANHA

O quadro jurídico aplicável à atividade econômica da UE ainda é

baseado, em grande medida, sobre as legislações nacionais, o que nos leva a

muitas dificuldades quando se aproximam as operações de fusão entre

empresas localizadas nos diferentes Estados-membros. A fim de atender a

essa necessidade em 2001, foi estabelecido o Regulamento (CE) no.

2157/2001, de 8 de outubro de 2001, que aprova o Estatuto da Sociedade

Europeia (SECO); no entanto, o presente regulamento não é aplicável a muitos

outros tipos de empresas na União Europeia, tais como cooperativas, que têm

de enfrentar estratégias semelhantes (MARTI & SANCHEZ, 2006).

As sociedades cooperativas estão ativas em quase todos os setores

de actividade da União Europeia (UE), que operam com grande

sucesso (MARTI & SANCHEZ, 2006).

No contexto da cooperativa a necessidade de aumentar tamanho da

empresa tem uma importância crítica, a fim de concorrer com as mesmas

oportunidades que as demais empresas. Não foi em vão, que as diferentes

legislações que regulam as sociedades cooperativas da UE refletiram essa

necessidade, de ter em conta as diferentes fórmulas integração nos seus

artigos, dentre os quais a concentração desempenha um papel importante,

dada a sinergia com diferentes áreas de negócios, ou a redução de custos

promovida (MARTI & SANCHEZ, 2006). Na verdade, a concorrência, a

concentração e o crescimento dos negócios estão entre as tendências e

mudanças estruturais na evolução das cooperativas incluídas no documento de

consulta "Cooperativas da Enterprise Europe", apresentado pela Comissão

Europeia em 2001, que é um exemplo claro do reconhecimento desta falta.

Este documento destaca que já há várias fusões materializadas entre

cooperativas de diferentes Estados-membros, bem como entre aquelas

oriundas de países candidatos à adesão ou de outros países, que encontram

Page 314: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

282

dificuldades em muitos casos, dada a atual diversidade de legislações e os

consequentes conflitos jurídicos que surgiram em muitas ocasiões,

prejudicando os processos (MARTI & SANCHEZ, 2006).

Tudo isso resultou na promulgação do Regulamento (CE) n. o

1.435/2003, de 22 de Julho de 2003, relativo ao estatuto da sociedade

cooperativa europeia (ECS), a ser aplicado a partir de 18 de Agosto de 2006,

oqual responde essas exigências, tornando disponíveis para as cooperativas

dos instrumentos jurídicos necessários para o desenvolvimento das atividades

transfronteiriças, que, por outro lado, são cada vez mais frequentes. Neste

sentido, o ECS constitui a base jurídica para estabelecer cooperativas de

transnacionais (considerando 13, ECS):

A constituição de sociedades cooperativas por pessoas

físicas e/ou empresas localizadas em diferentes Estados-membros, e,

por conseguinte, sujeitas as diferentes leis cooperativa;

A formação dessas sociedades com a fusão de

cooperativas de diferentes Estados-membros, e,

A transformação da cooperativa.

Na sequência da aprovação da ECS, existem duas normas para os

processos de fusões das cooperativas:

1. Fusões entre cooperativas localizadas em apenas um

Estado-membro, ou internas, determinado pelos regulamentos das

diversas legislações nacionais relativas às cooperativas; e,

2. Um relatório elaborado pela ECS, aplicável a cooperativa

transfronteiriça, sobre fusões ou para sociedades de diferentes Estados-

membros.

O ECS considera várias possibilidades ao criar uma Sociedade

Cooperativa Europeia (SCE) (o artigo 2.º ECS). A SCE pode ser constituída da

seguinte forma:

6. Pelas pessoas físicas(PF) residentes em, pelo menos, dois

Estados-membros (com um mínimo de 5 PF).

Page 315: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

283

7. Por pessoas físicas (mínimo de cinco ) e as sociedades, ou

pessoas coletivas residentes, ou regulamentadas pela legislação de pelo

menos dois Estados-membros ,

8. Por parte das empresas e de outras entidades com

personalidade jurídica, rege-se pelo direito de pelo menos dois Estados-

membros diferentes,

9. Através de uma fusão entre cooperativas constituídas ao

abrigo da lei de um Estado-membro com sede e sede social dentro da

Comunidade, desde que, pelo menos, dois deles são regidos pela lei de

pelo menos dois Estados-membros diferentes, e,

10. A conversão de uma cooperativa com sede em um Estado-

membro se, por um período mínimo de dois anos teve um

estabelecimento ou filial rege-se pela lei de outro Estado-membro (Marti &

Sanchez, 2006).

Em relação à formação através de uma fusão, a ECS oferece dois

procedimentos (art. 19º ECS), o chamado fusão por aquisição, em que uma

das cooperativas implícita na concentração (compradora) adquire os ativos e

os passivos e hospeda os membros de outras cooperativas e, em simultâneo,

tomando a forma de um SCE em fusão por constituição, para que os ativos,

passivos e membros da cooperativa sejam transferidos para recém-formada

(MARTI & SANCHEZ, 2006).

A cooperativa resultante da fusão deve estar sujeita às disposições

da ECS, apesar destes aspectos não serem abrangidos por ela (total ou

parcialmente), estas devem ser regidas pelas disposições em vigor no que diz

respeito as fusões do Estado-membro ao qual estão sujeitas, e, na sua falta, ao

nível nacional das disposições para fusões internas de sociedades anônimas

de responsabilidade limitada (arts. 20 ECS) (MARTI & SANCHEZ, 2006).

Por isso, no caso espanhol, as cooperativas envolvidas nestes

processos devem estar em conformidade com os requisitos da ECS, com

relação ao processo de fusão, o que difere, em vários aspectos, do

procedimento da legislação nacional (Lei 27/1999 e Leis Regionais), decorrente

da questão de que a legislação deve ser aplicada em substituição aos

Page 316: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

284

Estatutos, pelos aspectos não abrangidos (total ou parcialmente). De fato, a

referência expressa no texto de 1993 desapareceu e considerou a

possibilidade da existência de leis regionais, garantindo, assim, a autonomia da

legislação aplicável (FAJARDO, 2001).

Page 317: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

285

APÊNDICE 2 – RESUMO SOBRE PROPOSTA DE NOVA LEI DE

COOPERATIVAS NO BRASIL (CICOPA, 2004)

As cooperativas de trabalho no Brasil tem uma nova lei que promete

um panorama otimista para o setor. A nova legislação é o resultado de muitos

anos de trabalho realizado pelo brasileiro cooperativas de trabalho. O projeto

jurídico foi aprovado dia 19 de Julho, pelo Presidente da República, Dilma

Rousseff, depois de ter sido aprovado por unanimidade pela Câmara Brasileira

de deputados em 20 Julho de 2012 (CICOPA, 2004). Esta lei estabelece uma

regulamentação clara sobre o funcionamento e os procedimentos

administrativos para cooperativas de trabalho. Além disso, destina-se a superar

problemas jurídicos anteriores, como por exemplo, a criação de pseudo-

cooperativas, bem como garantir os direitos dos cooperados. Para isso, é uma

boa notícia para o trabalhador brasileiro das cooperativas, seus membros

CICOPA, Central de Cooperativas, Empreendimientos Solidários (UNISOL), e

Instituição Proponente das Cooperativas Brasileiras (OCB) durante as Nações

Unidas Ano Internacional das Cooperativas(2012). É o produto de nove anos

do trabalho desenvolvido pela cooperativa dos trabalhadores. A CICOPA tem

dado o seu apoio para a criação deste novo quadro legal; e a elaboração do

texto jurídico tem sido baseado no CICOPA, na Declaração Mundial sobre

cooperativas de trabalho (CICOPA, 2004).

Em suma, cooperativas de trabalho no Brasil contêm as seguintes

características básicas:

Eles têm o objetivo de criar e manter empregos

sustentáveis e gerar riqueza, a fim de melhorar a qualidade de vida do

trabalhador-membros, dignificar trabalho humano, permitir democrática

dos trabalhadores auto-gestão e promover desenvolvimento local e

comunitário.

A adesão livre e voluntária de seus membros, a fim de

contribuir com o seu trabalho pessoal e recursos econômicos, está

condicionado pela existência de locais de trabalho.

Page 318: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

286

De um modo geral, os trabalhos serão realizados pelos

membros. Isso significa que a maioria dos trabalhadores de uma

determinada cooperativa são membros e vice-versa.

O trabalhador-membros (cooperado) tem relação com a

cooperativa, e deve ser considerado diferente do sistem de salário

convencional baseada em mão-de-obra empresarial ou do indivíduo

autônomo.

O regulamento interno é formalmente definido por regimes

democraticamente acordados e aceitos pelo cooperados.

Eles devem ser autónomos e independentes, ante ao

Estado e terceiros, nas suas relações de trabalho e de gestão, e no uso

e gestão dos meios de produção.

Em suas operações internas, cooperativas de trabalho devem ter em

conta as seguintes regras. Eles devem:

Recompensar o trabalho dos seus membros

equitativamente, levando-se em consideração a função , a

responsabilidade, a complexidade, no dominio de habilidades

específicas, por suas posições, sua produtividade e a capacidade

econômica da empresa, tentando diminuir a diferença entre o maior e o

menor das compensações.

Contribuir para o aumento de capital e o crescimento

adequado dos indivisíveis reservas e fundos.

Fornecer os locais de trabalho com instalações físicas e

técnicas destinadas a obter um funcionamento adequado, e um bom

clima organizacional.

Proteger os cooperados com sistemas adequados de bem-

estar, segurança social e saúde ocupacional, e cumprir as normas de

protecção em vigor nas áreas de maternidade, guarda de crianças e

menores de idade no local de trabalho.

Praticar a democracia nas instâncias decisivas da

organização e em todas as fases do processo de gestão.

Page 319: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

287

Garantir educação permanente e formação para a criação

de capacidades nos cooperados, a fim de garantir seus conhecimentos

profissionais e o desenvolvimento do trabalhador no modelo de

cooperativa, e para estimular a inovação e boa gestão.

Contribuir para a melhoria das condições de vida do núcleo

familiar e o desenvolvimento sustentável da comunidade.

Combater os instrumentos que visam tornar as condições

de trabalho e do salário dos trabalhadores mais flexíveis ou precárias, e

não de agir como os tradicionais intermediários para os trabalhos.

Um forte convite é feito para o movimento cooperativista em geral.

Para fazer a promoção de cooperativas de trabalho como

uma das principais prioridades no mundo, e para contribuir de forma

eficaz para a criação de novas empresas deste tipo.

Para estabelecer alianças estratégicas que promovam o

desenvolvimento das cooperativas de trabalho, projetos na área do

empreendedorismo, incluindo o acesso ao financiamento adequado, a

promoção de serviços que elas oferecem e dos produtos que elas

produzem.

Para estabelecer mecanismos de formação capital em

cooperativas de trabalho, incluindo a contribuição para o último dos

capitais de risco, com base em cooperativas de outras categorias, com

uma compensação econômica que cobre o custo de oportunidade e a

participação adequada na gestão, sem perigo para a sua autonomia e

independência.

Para promover as organizações representativas das

cooperativas de trabalho a nível local, nacional, regional e internacional,

e da cooperação entre elas, e para apoiar a criação de um segundo-grau

entidades, grupos empresariais e os consórcios sócio-econômicos de

comum acordo entre as cooperativas, a fim de fornecer serviços

empresarial eficiente, o reforço do movimento cooperativo, e lutar por

um modelo de sociedade caracteriza-se pela inclusão social e

solidariedade.

Page 320: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

288

Para promover as iniciativas destinadas a garantir que o

Estado, em seus diversos ramos, crie e melhore os instrumentos para o

desenvolvimento deste tipo de cooperativas, incluindo legislação

pertinente e adequada. Isso também implica promover petições aos

parlamentares, a fim de tornar essa legislação possível.

Para promover, na medida do possível, a integração do

salário dos trabalhadores das cooperativas como trabalhador-membros.

As relações com o governo do Brasil, com regionais e instituições

intergovernamentais são atualmente caracterizadas pelos seguintes

necessidades:

Os governos devem entender a importância da promoção e

desenvolvimento de cooperativas de trabalho como eficazes agentes da

criação de postos de trabalho e a inclusão da mão-de-obra

desempregada e de outros grupos sociais. Por esta razão, os governos

não devem discriminar as cooperativas de trabalho, e devem incluir a

promoção e o desenvolvimento deste tipo de empresas, nas suas

políticas e programas, a fim de combater alguns dos principais

problemas que o mundo sofre, gerado como conseqüência da

excludente globalização e desenvolvimento, como, por exemplo, o

desemprego e a desigualdade.

A fim de tornar o trabalhador cooperativado uma opção

real, os Estados-membros devem estabelecer regulamentação nacional

e regional dos regimes que reconhecem a natureza jurídica específica

para este tipo de cooperativas, que lhes permita gerar bens ou serviços

sob condições ideais, e a desenvolver-se em todo o seu potencial e

criatividade empresarial.

Em particular, o Brasil deve:

Reconhecer em sua legislação que trabalhador

cooperativado está condicionado pela mão-de-obra em relações que são

distintas da massa salarial empresarial de trabalho, auto-emprego ou

trabalho independente, e aceitar que cooperativas de trabalho aplicando

correspondentes normas e regulamentos.

Page 321: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

289

Garantir a aplicação da legislação geral do trabalho para

os trabalhadores das cooperativas de trabalho, com salário convencional

no quais as relações são estabelecidas.

Aplicável às cooperativas de trabalho da OIT o conceito de

trabalho decente, com regras claras, precisas, e coerentes com as

disposições que regulam a protecção social nos campos da saúde,

pensões, seguro-desemprego, saúde ocupacional, e segurança do

trabalho, considerando as especificidades das relações de trabalho.

Definir disposições legais específicas regulando o regime

fiscal, auto-geridas na organização de cooperativas de trabalho que

podem ativar e promover o seu desenvolvimento.

A fim de receber um tratamento adequado por parte do

Estado, as cooperativas devem ser registrada e/ou auditada.

Os governos devem garantir o acesso a condições de

financiamento para projetos na área do empreendedorismo, lançados

pelas cooperativas de trabalho. Finaciamento específico através da

criação dos fundos públicos, ou com garantias de empréstimo, ou

convênios, para o acesso aos recursos financeiros e econômicos

promoção alianças com o movimento cooperativo.

Os Estados e organizações inter-governamentais devem

promover projetos com base no intercâmbio de experiências bem-

sucedidas, iniciativas empresariais sustentáveis, igualdade entre

homens e mulheres, e lutar contra a pobreza e a marginalização .

A Cooperativada deve ser promovida como uma opção de

Modelo empresarial, tanto em processos de mudança e reestruturação

empresarial, start-ups, as privatizações, na conversão de empresas em

crise, e na transmissão das empresas sem herdeiros, como na

concessão de serviços públicos e os contratos públicos, nos quais o

Estado deve definir condicionado cláusulas que estimular

desenvolvimento local, por meio das empresas cooperativas (CICOPA,

2004).

Page 322: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

290

Page 323: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

291

8. ANEXOS

ANEXO 1 – CARTAZ ORQUESTRA SINFONICA UNICAMP

Page 324: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

292

ANEXO 2 – CARTAZ FESTIVAL DE TEATRO UNIVERSITÁRIO

UNIVERSIDADE SALMANCA 2012

Page 325: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

293

ANEXO 3 – GASTOS LEI ROUANET NA CIDADE DE CAMPINAS

Page 326: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

294

Page 327: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

295

Page 328: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

296

ANEXO 4 – ORÇAMENTO ANUAL UNIVERSIDADE SALAMANCA 2013

Page 329: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

297

Page 330: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

298

ANEXO 5 – ORÇAMENTO ANUAL UNICAMP 2013

Page 331: As Universidades e as Estratégias de Incentivo à Cultura ...repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/284990/1/...cultural production systems. The mapping of institutional structures,

299