as migrações italianas.2
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Colonialism and Post- colonialism
Prof. Philip Havik
AS EMIGRAÇÕES ITALIANAS
Laura Sciortino,27731 Lisboa,17/11/2009
1
SUMARIO:
1. ABSTRACT...................................................................................................................2
2. INTRODUÇÃO..............................................................................................................2
• RELAÇAO ENTRE COLONIALISMO E CORRENTES MIGRATORIAS............................ 2
• DESCRIÇAO DAS PRINCIPAIS CORRENTES MIGRATORIAS ITALIANAS..................... 3
• PROBLEMA DA EMIGRAÇAO EM RELAÇAO AOS TRES PERIODOS............................ 5
3. CORPO DO TEXTO:
• EMIGRAÇAO ITALIANA NO BRASIL...................................................................... 6
o ORIGEM...................................................................................................6
o COLONIAS................................................................................................7
o FAZENDA.................................................................................................8
o MUNDO URBANO......................................................................................9
o VIDA COLETIVA E CONFLITOS.................................................................10
• EMIGRAÇAO ITALIANA ANOS ’50........................................................................12
• QUADRO GERAL..................................................................................................12
• BRASIL: ESTUDO DE CASO...................................................................................13
4. CONCLUSÃO..............................................................................................................15
5. BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................16
2
1. ABSTRACT:
O estudo focaliza-se na questão da emigração italiana no Brasil. O critério utilizado para a
analise começa pela descrição das fases fundamentais dos diferentes fluxos migratórios,
pondo o ênfase principalmente na emigração ao Brasil, e descrevendo as etapas de principal
interesse relacionadas ao “colonialismo”. A historia narrada no estudo de caso é um exemplo
ligado a jornada da minha vida, mas é também a representação de um quadro mais geral das
emigrações dos anos Cinquenta.
2. INTRODUÇÃO:
• RELAÇAO ENTRE COLONIALISMO E CORRENTES MIGRATORIAS
O colonialismo e as migrações são, para os países europeus de origem, fenómenos
directamente ligados entre si. O primeiro, de facto, nasceu por motivações de tipo politico e
económico internas aos estados, mais não podia existir ( além da opção militar) sem segurar-
se em politicas de expansão migratória, sempre controladas e reguladas pelos mesmos
governos que promoviam-nas. O colonialismo e as migrações são fenómenos que partilhavam
as mesmas características económicas, demográficas, culturais, sociais; ambos se sustentavam
mutuamente.
Foi o caso de todas as grandes potencias coloniais europeias, como a Itália, ultima entre estas
em ordem temporal. Para todos estes países, o condicionamento de tipo colonialista que
estava na base dos sucessivos fluxos migratórios, constituiu sempre um incentivo para
estimular as massas na procura de novas terras que garantissem melhores condições de vida.
Este foi, certamente, o caso da Itália, pois mesmo que os emigrantes italianos
quantitativamente preferissem sempre ir em direcção às Américas, ou mesmo a Europa, ao
invés da África (nas colónias propriamente italianas), as politicas nacionais que incentivavam
e/o regulavam a tendência migratória foram sempre filhas das mais gerais politicas
colonialistas governamentais, na mesma forma em que acontecia nas mais consolidadas
Potencias Coloniais europeias. O principio inspirador “colonialista” foi sempre uma
característica dominante e de orientação das politicas migratórias italianas, mesmo se
encaminhadas para países europeus o para o continente americano.
3
• DESCRIÇAO DAS PRINCIPAIS CORRENTES MIGRATORIAS
Os italianos são conhecidos em todo o mundo como uma população de emigrantes.
Principalmente nos países da América do Sul, onde ainda vive a imagem dos italianos, que a
partir da segunda metade do século XIX, chegaram nos grandes navios com trouxas
envolvendo seus humildes pertences. Esta imagem, na realidade – e como bem sabem os
históricos que estudam as migrações - corresponde só parcialmente a verdade, assim como
não corresponde a verdade o mito do italiano do sul que sai dos pequenos centros urbanos e
rurais em busca de fortuna em uma “terra promessa”. Na realidade, a maioria dos emigrantes,
principalmente nas primeiras fases, provem do norte da Itália (Veneto, Lombradia, Piemonte,
Ligúria).
As migrações não foram um fenómeno novo: desde 1500, com os primeiros descobrimentos
das novas terras, as populações começaram a deixar as próprias terras de origem em busca de
melhores oportunidades e de solos ainda virgens. O fenómeno novo, relativo a este período, é
ligado à grande quantidade de pessoas envolvidas que tinham escolhido se aventurar por
novos caminhos: este fenómeno tornou-se de massa, principalmente partindo de zonas rurais e
foi, na maioria dos casos, permanente.
Em relação aos específicos acontecimentos ligados à emigração italiana, se pode falar em
termos de fenómeno sociologicamente definido a partir dos primeiros ciclos da segunda
metade de 1800.
Três foram os principais fluxos migratórios Italianos formalmente classificados: final de
1800-primeiras décadas de 1900; período entre as duas Guerras; a partir de 1950. (Alguns
estudiosos - António Golini e Flávia Amato - classificam estes fluxos em quatro: 1887-1900;
dos primeiros anos do século XX até a Primeira Guerra Mundial; período entre as duas
guerras; do segundo pós guerra até final da década de 60 (Golini, Amato, 2001:44-60).
Retornando a classificação formal (três fluxos migratórios principais), em uma primeira fase,
que podemos identificar da segunda metade do século XIX até XX, a Itália vivia uma
industrialização tardia em comparação aos outros países europeus. Em seguida, a grande
depressão que a atingiu entre 1873 e 1879 que provocou a diminuição do preços dos produtos
alimentares, junto a politica proteccionista que o governo impôs, atingiram duramente os
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agricultores e provocaram uma fase de crescente migração – ligada a sobrevivência -
especialmente no continente europeu (França, Suíça, Alemanha, Bélgica, Inglaterra), embora
começassem a abrir-se as explorações em direcção de novos mundos e novas terras (América
e Oceania). Em particular, as ultimas décadas do século XIX, viram grandes massas de
migrantes dirigir-se para o continente Americano ( Norte e Sul).
Seguindo as indicações de António Golini e Flávia Amato, indicarei uma sub fase
intermediaria: o período entre as primeiras décadas do século XIX e a Primeira Guerra
Mundial. Esta sub fase é caracterizada por grandes oscilações migratórias , como a de 1913,
de grandes quantidades de emigrantes (graças também as politicas de protecção adoptadas
pelo governo italiano em relação aos emigrantes) e, ao contrario, a de 1907/08 caracterizada
por uma grande diminuição dos mesmos. Esta tendência è devida as mesmas flutuações do
mercado do trabalho a nível internacional que, como visto, determina directamente as ondas
migratórias. (Golini, Amato, ibidem:44-60)
Em geral, tem-se que evidenciar que a despeito do pais escolhido como meta, há uma
tendência de fundo: os emigrantes comumente ocupação sempre nas mesmas áreas
produtivas, ou seja na construção de estradas, de ferroviários, na construção civil, além que na
agricultura.
Voltando à principal classificação, na segunda fase migratória, que abarca o período entre as
duas Guerras Mundiais, os fluxos foram mais ténues e se dirigiram principalmente para metas
europeias. Esta diminuição foi devida as debilidades causadas pelas guerras e as
subsequentes crises económicas e sociais, por algumas restrições legislativas impostas por
alguns países de grande imigração (USA, Quota Act, 1921-1924) e pelas politicas “Anti-
emigratorie “ sancionadas pelo Fascismo.
Na ultima corrente, entre os anos ’50 e ’60 do século XX, a emigração foi destinada
principalmente nas zonas do Norte da Itália, provocando deste modo uma forte concentração
de população nos grandes centros industriais apôs à grande transformação económica,
conhecida como o “boom económico”dos anos ’60.
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• PROBLEMA DA EMIGRAÇAO EM RELAÇAO AOS TRES PERIODOS
Como dito, as primeiras grandes migrações foram causadas pela pouca disponibilidade
económica que a Itália estava a enfrentar. Entre 1887 e 1970 perto de 23 milhões de italianos
abandonaram (temporariamente ou definitivamente) a própria pátria para dirigir-se em novos
mundos. As metas privilegiadas até os anos oitenta de 1800, foram em direcção dos países
europeus; nas ultimas décadas do século XIX, houve um cambio de tendência que conduziu
os italianos para metas transoceânicas (Argentina, Brasil, Austrália, Estados Unidos).
A constante do fenómeno migratório pode individuar-se em una extrema reactividade face as
problemáticas internas (necessidade de trabalho, melhoria das condições de vida, necessidade
de criar um futuro para si e para a própria família), que è evidenciada pela preponderância
agrícola da população em movimento (a agricultura era o trabalho de remuneração mais fácil
e directa) e pela enorme quantidade de homens que decidiam empreender a viajem: quanto
mais era longe a meta, mas masculina era a população de emigrantes (entre 70% e 80% dos
homens era proveniente das áreas rurais, mulheres e crianças não superavam o 10% do total) .
De 1876 ( ano do primeiro recenseamento oficial) até a Primeira Guerra Mundial foi registado
um numero de expatriações de 14 milhões de cidadãos, entre os quais mais da metade tinha
metas transoceânicas (USA, América Latina), a restante parte dirigiu-se naquelas nações
europeias que tinham conseguido, antes da Itália, um alto nível de desenvolvimento industrial
(Inglaterra, França, Áustria, Alemanha, Suíça). Se dividimos em dois períodos, podemos
evidenciar que entre 1876 e 1900 mediamente as expatriações foram de 210.000 indivíduos
por ano enquanto nos primeiros 13 anos do século XX, a media superou as 600.000 unidades
tocando um pico máximo de 872.000 emigrantes em 1913. Este aumento resultou em
consequência de uma lei que desbloqueava o proibicionismo das emigrações,
precedentemente imposto (1902) pelo governo italiano face as péssimas condições de vida
que os imigrantes estavam a enfrentar. A nova normativa italiana, tinha sido formulada para
favorecer o expatrio das populações em períodos de dificuldades, como no caso de 1913, ano
em que houve uma grande crise económica, agrícola, industrial e de desemprego.
As motivações que levavam a decisão de sair da Itália eram varias, e mesmo os impactos
foram múltiplos: na mudança demográfica que se verificou na Itália e nos países de
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destinação, mas também nas consequências económicas, sociais e culturais que subiram os
migrantes. Nos primeiros 15 anos de 1900 se verificou uma prevalência de mão de obra rural
e familiar; nos anos a seguir, ouve uma mudança nos padrões, devida à guerra, que implicou
um aumento da componente masculina a nível individual (artesãos, proletariado de fabrica e
pedreiros) e uma contemporânea diminuição da componente feminina e camponesa.
3. CORPO DO TEXTO:
• EMIGRAÇAO ITALIANA NO BRASIL:
ORIGEM
A grande emigração em direcção ao Brasil teve origem a partir de 1875 e foi extinguindo-se
mais de um século depois, trazendo para os portos Brasileiros mais de 1 milhão e meio de
Italianos.
A composição dos núcleos que partiam era prevalentemente familiar, em busca de terras
para cultivar, e a meta Brasileira (como todas as metas em direcção de grandes Nações extra
europeias), não foi escolhida casualmente. As motivações principais da escolha residem
principalmente na grande extensão do território em relação a pouca mão de obra, na boa
disposição do governo brasileiro, que incentivava as migrações italianas com a promessa de
distribuição gratuita dos bilhetes para a viajem e de alojamentos gratuitos, de isenções fiscais,
de terras dadas a condições favoráveis que deixavam abertas as esperanças para um futuro
melhor e mais fácil. Na realidade, as expectativas não sempre foram bem realizadas, porque
as dificuldades que os imigrantes tiveram de enfrentar foram grandes e o tratamento
(principalmente por parte dos fazendeiros ) não sempre foi bom. Como nos lembra Piero
Brunello,“os colonos ficaram um ano nas grandes barracas (...) da Companhia da Colonização
que vinham definidas como um cómodo asilo para emigrantes, pelo contrario aos colonos
pareciam estabulas”(Piero Brunello,Ponieri,1994: 18)
O Brasil estava saindo com muitas dificuldades da escravidão, forçado pelas pressões do
governo Inglês a terminar o trafico dos escravos da África. Nesta situação, os imigrantes
foram – na maioria dos casos - empregados no lugar dos negros nas plantações de café
(naturalmente isto causou conflitos entra a organização dos quilombos e as novas colónias
italianas).
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Vários foram os factores que empurraram a classe dirigente brasileira a aceitar e favorecer a
importação de mão de obra italiana. Em primeiro lugar a exigência de popular um território
muito grande e com baixa densidade demográfica; em segundo lugar, a necessidade de
cultivar os terrenos e incrementar a produtividade de café para competir no mercado
internacional (exportação); em ultimo, tentar tirar terras das mãos do índios e “branquear”
uma raça que vinha considerada muito “preta”. Foi por estas motivações que a população
imigrante foi destinada quase exclusivamente em direcção das fazendas e da produção de
café, e foi a partir disto que os italianos contribuíram as grandes mudanças e a modernização
que o Brasil enfrentou nas décadas a seguir: abolição da escravidão (1888), expansão das
fronteiras agrícolas, consolidação da economia de exportação e o começo da industrialização.
(Angelo Trento, 2002: 3-4).
As áreas de estabelecimento das colónias italianas (ainda hoje utiliza-se este termo para
identificar as áreas de maior concentração italiana) no Brasil foram em duas direcções: se por
um lado se optava por estabelecer-se nos estados onde o clima era mais próximo aquele da
Itália e onde os imigrantes podiam aplicar de melhor modo os próprios conhecimentos em
âmbito agrícola, pelo outro se optava por uma escolha de urbanização, com preferência nas
grandes cidades (São Paulo, Rio de Janeiro).
A seguir, se analisam os principais aspectos e categorias que caracterizaram a imigração
italiana no Brasil.
COLONIAS:
Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná foram as áreas de maior afluência; as facilitações
do território e climáticas atraíram as grandes massas de italianos, que progressivamente foram
estanciando colónias.
“(...) As colónias deveriam ser sucedidas em direcção de ocidente, a vente –trinta quilómetros de distancia as umas das outras (....). Entre 1874 e 1875 quando chegaram os imigrantes italianos (...) foram mandados para Blumenau e dali, seguindo os afluentes do Itajai-Assu, dirigiram-se no interior (...)”1
1(PieroBrunello,Pionieri:gliitalianiinBrasileeilmitobellafrontiero,1994:15‐16)“(...)lecoloniesisarebberosusseguiteversooccidenteaventi.trentakmdidistanzal’unadall’altra(...).Trail1874eil1875quandogiunserogliimmigratiitaliani(...)furonomandatiaBlumenauedili,seguendogliaffluenti,sidiresseroversol’interno(...)”
8
Os emigrantes eram transportados gratuitamente dos portos de chegada até os vários núcleos
que eram decididos pelo governo Brasileiro. Estes terrenos, administrados pelo governo, eram
distribuídos entre as famílias que tinham que paga-los a partir do segundo ano, apôs a
primeira colheita; o governo também oferecia-lhes os primeiros meios de sustentamento
necessários e as primeiras sementes, que deveriam ser reembolsadas sempre com o mesmo
critério.
A família colonial se assumia a responsabilidade de organizar a colónia e construir as
estruturas básicas, como nos testemunha Piero Brunello, “uma vez que as famílias tinham se
estabelecido em uma barraca no meio de uma clareira, os homens acima de 10 anos, recebiam
um machado e um cobertor e começavam a traçar as estradas e a construir as casas para as
próprias famílias.2
Pelo próprio isolamento das colónias - que foram tomando limites, nomes e organizações bem
definidas - foi mais fácil para os italianos manter as próprias tradições e a própria cultura; esta
tendência foi também estimulada pelo clero que foi chegando nas diferentes regiões para dar
assistência e controlar os colonos. Se pode deduzir, que apesar das obvias dificuldades, as
expectativas dos emigrantes foram bastante realizadas com relação a criação de uma nova
vida e de condições melhores daquelas que tinham deixado em pátria.
A FAZENDA:
A situação dos italianos que foram destinados ao trabalho do café nas fazendas, foi mais
difícil em relação aquelas coloniais e o sonho de poder ter o próprio terreno para cultivar foi
infringido.
As problemáticas em relação a vida dos colonos nas fazendas dependeu do alto nível de
segregação, disciplina e violência (também a nível sexual) que os fazendeiros mantinham em
relação ao povo italiano. As decisões que o patrão ou o administrador tomava, eram lei na
fazenda e quase não existiam as liberdades pessoais, como também não existia assistência
sanitária e instrução. Estas circunstancias, somadas ao fluxo continuo de imigrantes,
procuravam uma diminuição do valor da mão de obra, rendendo quase impossível a
2”( Piero Brunello, ibidem: 18-19) “ una volta che le famiglie si erano sistemate in una baracca nel mezzo di una radura, gli uomini sopra i 10 anni, ricevevano un’accetta e una coperta e provvedevano a tracciare le strade e a costruire le capanne perl e rispettive famiglie”
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capacidade de poder formar uma própria poupança. Em muitos casos, a distancia entre as
fazendas e os grandes centros urbanos, impedia aos colonos de abrirem-se ao comercio; a
única possibilidade para poder ter algum tipo de remuneração pelo trabalho era a venda
directa ao fazendeiro, que impunha preços muito mais baixos daqueles do mercado e deduzia-
los ao valor. Sempre por causa do grande controle que os italianos subiam, foi muito difícil
poder criar movimentos bem organizados de protesta o de greves; habitualmente as soluções
eram encontradas por três caminhos: emigração interna em direcção de outras fazendas com
melhores condições; voltar à pátria; emigrar para as grandes cidades. Normalmente a opção
era aquela de partir à procura de condições de vida mais favoráveis nas cidades; esta
tendência aumentou com o começo da industrialização brasileira, que procurou imensas
fortunas aos italianos que se demonstraram mais capazes de gerir industrias (caso mais
emblemático è aquele da família Matarazzo que em poucos anos conseguiu criar um império
industrial que ainda hoje è muito presente no panorama produtivo brasileiro).
Depois da industrialização brasileira, e no período entre as duas guerras mundiais, os fluxos
em direcção das fazendas foram diminuindo sempre mais, não obstante os esforços dos
governos brasileiros que tentaram novamente, depois dos anos ’50, uma ulterior
incrementação da imigração “fazendeira”. Os esforços revelaram-se sem sucesso, pois o
alarmismo na Itália era muito alto pelas péssimas condições de vida que se sabia que os
colonos iriam encontrar.
MUNDO URBANO:
Os fluxos em direcção das grandes cidades foram muito mais elevados no final de 1800 pois
eram constituídos não só por quem já partia da Itália com a ideia de estabelecer-se nos
grandes centros urbanos, mais – como dito – também por quem abandonava as fazendas.
Estas afluências produziram um enorme aumento demográfico, tanto que em 1890 São Paulo
era conhecida como a cidade dos italianos.
A vida nas cidades veio a caracterizar-se como a opção mais simples e normalmente as metas
escolhidas eram no norte ou nordeste, pois ofereciam mais possibilidades de emprego. Os
italianos ( que neste período se caracterizavam por ser uma população altamente não
alfabetizada) trabalhavam como comerciantes, artesãos e pedreiros, principalmente dentro da
mesma comunidade para poder-se ajudar mutuamente. È neste período que foram crescendo
10
as colónias cidadãs que apresentavam, frequentemente, o mesmo tipo de arquitectura e estilo
das cidades italianas.
Na primeira década do novo século, com o começo da era industrial, com o desenvolvimento
ferroviário e a conquista dos mercados exteriores de comercio, houve uma transformação
ainda mais marcada nas cidades. Aqueles que tinham nascido como pequenos centros
habitacionais – mais conhecidos como cortiços – foram crescendo e foram transformando-se
em municípios autónomos.
Foi principalmente depois da Segunda Guerra Mundial (ultima grande etapa de emigração
Italiana), que a população começou a ser mais especializada: os governos dos diversos estados
brasileiros, por meio do CIME ( Comité Intergovernamental para as Migrações Europeias),
faziam o pedido de categorias de trabalhadores especializados através de especificas listas.
Foi assim que começaram a chegar no Brasil mecânicos, electricistas e industriais
especializados que iniciaram a alargar o mercado e a criar industrias e novas produções típicas
da tradição italiana (industria de produção de massas, de moveis, de moda, cafés, lojas com
produtos de importação etc.) que de pequenas foram se transformando em médio – grandes
industrias. (Angelo Trento, 2002: 12-14).
VIDA COLECTIVA E CONFLITOS:
“Se por um lado a emigração criou para os directos interessados, um melhoramento das
condições económicas e sociais, por outro produziu uma regressão do ponto de vista social,
derivante do conflito cultural com o qual o emigrante se encontrava a conviver, seja no pais de
emigração, seja quando voltava para sua pátria”3
Foi por estes motivos que os italianos tentaram manter fortes ligações à imagem da mãe-
pátria, tanto que foram numerosas as comunidades italianas que se criaram em vários âmbitos
3Migrazioni,acuradiIsabellaLeoni
www.delfo.forli‐cesena.it/smcassole/dowdoc/migrazioni.ppt
“sedaunlatol’emigrazionecomportavaperidirettiinteressati,ummiglioramentoellecondizionieconomicheeProfessional,dall’altroproducevaunregressodaunpuntodivistasociale,determinatodalconflittoculturaleconcuil’emigratositrovavaaconviveresianelpaesediemigrazionesiaquandotornavainItália”
11
(religiosas, desportivas, culturais, de cooperação e assistência). Escolas publicas financiadas
pelo governo italiano começaram a ser mais activas especialmente pelas dificuldades ao
acesso a instrução brasileira, pela distancia das colónias italianas em relação as instituições.
As motivações que conduziram a estas associações foram varias, em particular modo pela
carência de infra-estruturas básicas para o suporte dos emigrantes e os conflitos com as
populações locais, especialmente a partir dos anos ’20 de 1900, com o advento do fascismo na
Itália.
Junto a estas estruturas, foram criando-se órgãos de informação italianos: numerosas foram as
publicações de jornais, periódicos e revistas, que traziam informações principalmente da mãe-
pátria e nas quais só à crónica era ligada ao Brasil. Além do mais normalmente as copias eram
poucas e a duração media de cada jornal era de um ano. Único caso de notável importância foi
o do jornal “Fanfulla” de São Paulo, que nascido em 1893, assumiu as vestes de porta-voz
italiano no Brasil. (Angelo Trento, 2002:17)
No período entre as duas guerras e especialmente depois do ingresso na guerra italiana, todas
as formas de associação que se tinham criado, foram desmoronando-se. Varias foram as
tentativas seguintes de reconstruir um fio condutor de “comunitarismo étnico”, mais quase
todas foram tentativas vãs (Angelo Trento, 2002:17).
A integração, em âmbito urbano, não foi particularmente difícil graças ao multiculturalismo
típico da sociedade brasileira. Era continuativo o intercâmbio de experiencias, valores,
conhecimentos entre brasileiros e italianos; foi favorável a miscigenação – nas áreas urbanas
mais que nas fazendas - entre as duas culturas. Ainda hoje são presentes no Brasil festas,
tradições religiosas e especialidades culinárias que são directamente ligadas à Itália. Os
italianos tiveram uma grande influencia também na criação de uma estrutura de participação
politica brasileira, especialmente em São Paulo. A organização proletária brasileira foi criada
a imagem daquela italiana como também o partido socialista brasileiro nasceu assimilando as
principais características do PSI (Partito Socialista Italiano), tanto è verdade que o governo
brasileiro, sentindo-se ameaçado pelo desenvolvimento do proletariado sob a influencia das
organizações italianas, decidiu em 1907 a expulsão de alguns núcleos de imigrantes
considerados perigosos pela estabilidade politica.
Diferente foi o comportamento dos emigrantes que viviam nas fazendas o longe dos centros
urbanos, que permaneceram completamente distantes da vida política.
12
A grande acção das classes populares não foi a mesma das classes media e alta italianas (que
também eram presentes, mesmo se numericamente minoritárias) , que se desinteressaram
progressivamente da vida politica local, tentando manter ligações mais fortes com a mãe-
pátria, e identificando-se como uma “massa apolítica, individualista, e sem nenhum interesse
alem das conquistas económicas (...) e ao sonho da ascensão social” ( João Fábio Bertonha,
2001: 17-18) também porque a partir dos anos ’20 foi bem claro que a sociedade brasileira
não deixava espaço a quem não pertencia a oligarquia politica.
Os problemas entre italianos e brasileiros começaram a surgir com o advento do fascismo na
Itália, não obstante as simpatias manifestadas pelo governo Vargas a partir de 1930. O apoio a
Mussolini e o orgulho dos emigrantes foi crescendo paralelamente ao sempre maior prestígio
que a Itália ia assumindo em âmbito internacional. Os italianos residentes no Brasil foram
sempre atentos aos acontecimentos da mãe-pátria, e “reproduziam essas lutas politicas no
interior das colónias” ( João Fábio Bertonha, 2001: 17-18)
Entre 1920 e 1942 houve um imenso esforço por parte do fascismo de retomar as ligações
com a colectividade italiana:
“o fascismo não se restringiu hermeticamente à colectividade italiana, mais abriu contactos com outros segmentos da sociedade Brasileira” em particular modo, “os fascistas em acção em São Paulo não deixaram de manter relações com a Itália”( João Bertonha, ibidem)
Foi a partir de 1942, com a entrada na guerra da Itália, que houve uma interrupção nas
relações e começou uma fase difícil para os italianos residentes no Brasil que tiveram que
subir, junto com alemães e japoneses, uma serie de restrições (económicas, de liberdades e
sociais) . A mudança de posições italianas em ’43 em relação à guerra, modificou o quadro da
politica e da sociedade local, abrindo-se novamente aos italianos.
EMIGRAÇAO ITALIANA ANOS ‘50:
QUADRO GERAL
A emigração dos anos ’50 representa a ultima fase dos grandes fluxos migratórios. Depois da
Segunda Guerra Mundial, com o fim do fascismo e dos quase trinta anos de escasso
movimento migratório devido as leis proibicionistas do regime, houve uma grande massa de
italianos que decidiram de empreender novas viagens, que levaram para outras partes do
mundo quase 7 milhões de emigrantes.
13
As causas e os efeitos destas novas migrações foram completamente diferentes das
precedentes pois o quadro institucional, politico, cultural e social tinha-se modificado
profundamente.
A maioria das emigrações já não ia em direcções extra europeias ( mesmo que o fluxo para
América e Austrália foi mais o menos continuativo, mas em menor medida): em algumas
nações - como no caso dos Estados Unidos - tinham sido introduzidas rígidas políticas
imigratórias; a América Latina tinha-se tornado uma meta menos atraente, pois estava a
enfrentar graves crises económicas e políticas; a Austrália era sentida como muito longe.
A grande e rápida industrialização somada ao “boom económico” italiano, atraiu grandes
massas de população provenientes das áreas rurais para os grandes centros industriais,
especialmente no norte da Itália. Estas migrações, que foram caracterizadas por ter sido
prevalentemente do sul da Itália (Mezzogiorno), criaram um surplus de mão de obra que não
tinha condições de ser empregada e absorvida pela industria. Paralelamente, os mercados da
Europa ocidental começaram a ser mais competitivos e terminaram por ser a meta de grande
parte dos trabalhadores italianos, que como visto, em pátria não tiveram grandes
oportunidades:
“(...) a Itália era ainda um Pais pobre (...) nos limites da sobrevivência, principalmente no Mezzogiorno (...). O problema de fundo da nossa sociedade era o emprego, o melhor o desemprego (...) a resposta (...)foi obviamente a emigração que recomeçou com força depois da guerra (...) as expatriações por ano, entre 1946 e 1950 foram em media 225 mil (...) mais de qualquer outro factor social, a emigração mudou, junto com o ambiente (...) também a mentalidade das pessoas” (Vittorio Foa, Questo Novecento,1996) 4
Resumindo, este período viu dois destinações prevalentes, dependentes da constituição dos
núcleos de migrantes: se por um lado as famílias optavam por um tipo de imigração
definitiva, então para destinos como América Latina e Austrália, pelo outro havia indivíduos
que empreendiam um tipo de emigração mais breve, preferindo instalar-se temporariamente
em Nações Europeias, como França, Suíça, Bélgica, Alemanha.
4“(...)L’italiaeraancoraunpaesepovero(...)ailimitidellasopravvivenza,soprattuttonelMezzogiono(...)Ilnododifondodellanostrasocietàeral’occupazione,omeglioladisoccupazione(...)larisposta(...)fuovviamentel’emigrazionecheripreseconforzaneldopoguerra(...)gliespatriatiannui,tra1946e1950furonoinmedia225mila(...)piùdiognialtrofattoresociale,l’emigrazionehacambiato,insiemeall’ambiente(...)anchelamentedellagente”
Migrazioni,acuradiIsabellaLeoni
www.delfo.forli‐cesena.it/smcassole/dowdoc/migrazioni.ppt)
14
A partir das ultimas décadas de 1900, depois de um século de grandes emigrações, os fluxos
emigratórios foram-se extinguindo como consequência da nova posição de grande potencia
industrial que a Itália adquiriu; a Itália passou a ser uma importante meta de imigração,
proveniente principalmente de regiões Africanas e dos Países Balcânicos.
BRASIL: ESTUDO DE CASO
Exemplo emblemático daquilo que a emigração dos anos cinquenta significou na – minha –
historia, è ligado à vida dos meus avós: Gaetano De Marino e Attilia Palazzo, um jovem
casal, originário de uma pequena aldeia da província de Salerno (Campania). No desejo de
construir uma nova vida, saindo de um mundo que estava a enfrentar uma difícil situação pós-
guerra, entre os problemas deixados pela destruição e aqueles desconhecidos da difícil
reconstrução, decidiram enfrentar a travessia de aguas desconhecidas para chegar no novo...o
Novo Mundo, América, Brasil.
Em 5 de Agosto de 1949 embarcaram-se no navio “SISES Napoli”, no porto de Nápoles e
depois de 15 dias, fazendo etapas em Génova, Barcelona, Las Palmas e Rio de Janeiro,
chegaram em Santos. Ali esperava-los um tio, que à anos tinha emigrado e vivia com sua
família em São Paulo. Nos primeiros meses, foram hospedados na casa do tio; minha avó
cozinhava e ajudava a família, e meu avô procurava emprego. Um dos primeiros lugares
onde foi pedir emprego, foi no Prédio Matarazzo no centro de São Paulo, mais não foi bem
sucedido; um pouco desolado, entrou em um restaurante onde estavam tocando musica
italiana. Meu avô, em um momento de grande saudade da sua amada Itália, começou a cantar
“ O sole Mio”. O dono do restaurante, entusiasmado pela sua voz, perguntou-lhe se podia
começar a cantar algumas noites no restaurante. Assim ele fez.
Um domingo, o tio pediu para minha avó cozinhar pasta fresca e ela, um por um preparou a
mão “i fusilli” (típica pasta da província de Napoli), utilizando um ferrinho para fazer este
tipo de pasta deixado pela mãe ao memento do embarque. O tio, entusiasta pela qualidade da
pasta, sugeriu a ideia a meus avós de começar a produzir e vender pasta.
Um dia, o dono do restaurante onde meu avo cantava, perguntou-lhe – a sorte quis - se eles
podiam preparar pasta típica para servir no restaurante. Assim foi que meus avos começaram
a nova vida no Brasil.
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Alugaram um quarto onde só havia duas camas e uma pequena cozinha, minha avó preparava
a pasta, e meu avô vendia-la indo de restaurante em restaurante de bicicleta, com uma cesta
cheia de pasta. A primeira etapa do business de pasta fresca, foi a abertura de uma loja que
produzia e vendia pasta fresca ao publico.
Foi assim que o negocio começava a funcionar, até que decidiram abrir, em 1962, em
sociedade com outro emigrante italiano, Vincenzo Pace, uma fabrica de pasta: “Romanini”.
As maquinarias eram importadas directamente pelo meu avô da Itália, e os empregados eram
todos brasileiros. As relações entre os trabalhadores e meu avô foram sempre cordiais. Os
grandes pedidos de pasta fizeram em modo de incrementar sempre mais a produção, tanto que
a pequena fabrica não era mais suficiente, e assim decidiram de ampliar ainda mais o negocio,
abrindo uma grande fabrica de 11.000 m2 em Diadema, zona industrial de São Paulo.
A produção foi ampliando-se, dando trabalho a 500 funcionários. Começaram a produzir,
além de pasta fresca, também diversas qualidades de pasta seca que vinha distribuída em
supermercados do estado de São Paulo, alargando-se também a outros estados. O maior
cliente foi a Nestlé, seguido pela Knorr que utilizavam a pasta “Romanini” nos seus
preparados. Outro sector inovativo ( foram os primeiros a introduzir no mercado este tipo de
produto) da produção “Romanini”, foi a “Pizza pré - cotta” .
Romanini criou a industria da pasta fresca e aperfeiçoou a qualidade daquela seca em São
Paulo.
........
A historia que acabei de narrar, se pode definir como um caso entre os muitos casos de
sucesso que demonstram as capacidades empreendedoras típicas italianas. Naturalmente não
sempre as historia de migração tiveram um final feliz, como neste caso: muitas foram as
historias de dor e de insucessos.
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CONCLUSÃO:
Todos os tipos de migrações implicam uma colonização, porem não è consequente que cada
colonização implique – como no caso de muitos outros territórios e por mão de outras
potencias coloniais – dominação. Existem diversos tipos de colonização; o tipo aqui tratado
na minha historia è um dos que não resultam em dominação, mais è direccionado no mutuo
progresso e na mutua colaboração.
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