as cores e a visão e a visão das cores

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biologia

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  • UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR

    Cincias da Sade

    As cores e a Viso e a Viso das Cores

    Maria da Conceio Santos Ribeiro

    Dissertao para obteno do Grau de Mestre em

    Optometria em Cincias da Viso (2 ciclo de estudos)

    Orientador: Professora Doutora Sandra da Costa Henriques Soares

    Covilh, Outubro de 2011

  • i

    Resumo

    A luz considerada como a energia que sustenta a vida. Toda a informao que ns captamos

    e a percepo dos objectos depende especialmente da natureza das imagens que so

    formadas nos nossos olhos. Sabemos que atravs da luz recebemos grandes quantidades de

    informao do mundo que nos rodeia e para vermos as imagens e os objectos necessitamos de

    um sistema visual. Podemos dizer que a cor apresenta um papel importante para a nossa

    sobrevivncia (por exemplo: alguns seres vivos como o caso de algumas aves que

    apresentam algumas cores nas suas plumagens que muito importante para elas). um

    fenmeno fsico expressivo e simblico de importncia fundamental na linguagem visual. Por

    vezes pode-se tratar de um conceito subjectivo que consiste na interpretao que o sistema

    sensorial e o crebro atribuem aos diferentes comprimentos de onda da luz recebida.

    Ver para ns, um fenmeno to natural que se torna necessrio um esforo de imaginao

    para concebermos que tal fenmeno inclui a soluo de certos problemas. O olho um dos

    rgos mais importantes do corpo humano, so os responsveis pela captao da informao

    proveniente do meio exterior e pela sua codificao, em impulsos nervoso atravs da aco

    de clulas nervosas especializadas. Trata-se de um rgo fantstico e bastante complexo,

    considerando um prolongamento do tecido cerebral. At ao sculo XVI pensava-se

    erroneamente que o olho emitisse luz, hoje sabemos que ele apenas um receptor.

    Com este trabalho pretende-se descrever de forma sucinta, como o ser humano consegue

    discriminar e identificar as cores, abordar algumas teorias da cor, descrever o funcionamento

    do processo visual e apresentar algumas anomalias da viso das cores.

    Palavras-chave

    Radiao, espectro, fotoreceptores, fotpico, escotpico, daltonismo, cor.

  • ii

  • iii

    Abstract

    The light is regarded as the energy that supports life. Every information that we attract and

    the perception of objects especially depends on the nature of the images that are formed in

    our eyes. We know that through light we receive large amounts of information from the

    world around us and to see those images and objects we need a visual system. We can say

    that the color has an important role for our survival (for example: some living beings such as

    some birds that have some colors in their plumage that is very important to them). Is a

    physical and expressive and symbolic phenomenon of most importance in visual

    language.Sometimes it can be a subjective concept that is based on the interpretation that

    sensorial system and the brain give to the different lengths of light received.

    Seeing is for us, such a natural phenomenom that is becomes necessary an effort of

    imagination so that we can realize that such phenomenom includes the solution of certain

    problems. The eyes are one of the most important organs of human body, they are

    responsible for the capture of outside information and its encoding, in nervous impulses

    through the actions of specialized nervous cells. Its a fantastic and rather complex organ,

    considered an extension of brain tissue. Until the 16th century, was wrongly thought that the

    eyes produced light, today we know that they are only light receivers.

    With this work is intended to describe in short words how the human being can see and

    identify colours, talk about colours theories, describe the functioning of visual process and

    present some anomalies of vision and its colours.

    Keywords

    Radiation, spectrum, photoreceptors, photopic, scotopic, color, color blindness

  • iv

  • v

    ndice

    Introduo ....................................................................................................... 1

    1 A Luz e a Viso ........................................................................................... 2

    1.1 Luz ................................................................................................... 2

    1.2 Espectro Electromagntico ...................................................................... 3

    1.3 Estrutura do olho humano ........................................................................ 4

    1.3.1 Camada externa ................................................................................ 5

    1.3.2 Camada mdia ou vascular ................................................................... 7

    1.3.3 Camada interna Retina ...................................................................... 7

    1.3.4 Meios de refraco ............................................................................. 8

    1.3.5 Clulas Receptoras ............................................................................. 8

    1.4 Qumica da Viso ................................................................................ 13

    1.5 Para alm da retina ......................................................................... 16

    2 Percepo visual ....................................................................................... 18

    2.1 Adaptao ao escuro ............................................................................ 21

    2.2 Adaptao claridade .......................................................................... 23

    2.3 Resoluo e somao espacial ................................................................ 24

    2.4 Resoluo e somao temporal ............................................................... 26

    3 Viso das Cores ......................................................................................... 30

    3.1 Teoria tricromtica.............................................................................. 30

    3.1.1 Monocromata .................................................................................. 30

    3.1.2 Dicromata ...................................................................................... 32

    3.1.3 Tricromata ..................................................................................... 34

    3.2 Tonalidade, saturao e brilho ................................................................ 34

    3.2.1 Tonalidade ..................................................................................... 34

    3.2.2 Saturao ...................................................................................... 34

    3.2.3 Brilho ........................................................................................... 35

    3.3 Discriminao do comprimento de onda .................................................... 35

    3.4 Efeitos Cromticos Fenmeno Bezold-Bruke .............................................. 36

    3.5 Constncia de cor ................................................................................ 37

  • vi

    3.6 Teoria das cores oponentes .................................................................... 38

    3.7 Modelos actuais da Viso das Cores .......................................................... 40

    3.8 Sistema Munsell de especificao das cores ................................................ 40

    3.9 Sistema de especificao das cores (CIE) ................................................... 41

    3.10 Diagrama de Cromaticidade (x,y) da CIE .................................................... 43

    4 Anomalia da Viso das Cores......................................................................... 45

    4.1 Caractersticas dos indivduos com discromatopsias ...................................... 46

    4.1.1 Sensibilidade espectral ...................................................................... 46

    4.1.2 Descriminao do comprimento de onda ................................................. 47

    4.1.3 Eixos de confuso ............................................................................. 48

    4.2 Anomalia na viso das cores de origem hereditria ....................................... 49

    4.3 Acromatopsias .................................................................................... 50

    4.4 Cromatopsias ..................................................................................... 50

    4.5 Testes de deteco de anomalias na viso das cores ..................................... 51

    4.5.1 Placas pseudoisocromticas ................................................................ 51

    4.5.2 Testes de ordenao ......................................................................... 52

    4.5.3 Anomaloscpio ................................................................................ 54

    4.6 Lente cromtica X ............................................................................... 54

    4.7 Perimetria de comprimentos de onda baixos ............................................... 54

    5 Aplicao prtica ...................................................................................... 55

    5.1 Resultados ........................................................................................ 58

    5.1.1 Anlise de resultados ........................................................................ 59

    5.2 Representao grfica .......................................................................... 65

    Concluses .................................................................................................... 67

    6 Bibliografia .............................................................................................. 69

    8 Anexo .................................................................................................... 71

  • vii

  • viii

    Lista de Figuras

    Figura 1- Espectro Electromagntico [Adaptado da referncia (3)]. ................................. 3

    Figura 2- Cavidade orbitaria e a localizao da fixao dos msculos externos (5). .............. 4

    Figura 3-Msculos extrnsecos oculares (11). ............................................................. 5

    Figura 4- Esquema histolgico da crnea (12). ........................................................... 6

    Figura 5- Disposio estrutural do olho (13). ............................................................. 7

    Figura 6 A- Fluxograma esquemtico do processamento da retina. NGL- Ncleo geniculado

    lateral. B- Representao esquemtica da retina, zona da fvea, ampliada (4). .................. 9

    Figura 7- Esquema do processamento das clulas (4). ................................................ 10

    Figura 8-Desenhos esquemticos de um cone (esquerda) e de um bastonete (direita). ........ 11

    Figura 9- Ciclo do retineno-rodopsina responsvel pela sensibilidade luz dos bastonetes

    [Adaptado da referncia (10)]. ............................................................................ 13

    Figura 10- Espectros de absoro do cianopigmento (S-cone), cloropigmento (M-cone) e do

    eritopigmento (L-cone) (4). ................................................................................ 15

    Figura 11- Esquema ilustrativo do percurso retinocortical visual [Adaptado da referncia (4,

    14)]. ............................................................................................................ 16

    Figura 12 A- Representao grfica do limiar de um indivduo em funo do comprimento de

    onda; ........................................................................................................... 18

    Figura 13- Representao grfica dasensibilidade fotpica em funo do comprimento de onda

    (4). ............................................................................................................. 19

    Figura 14- Funes de sensibilidade em condies escotpicas e fotpicas. Estas funes

    representam a sensibilidade absoluta dos dois sistemas (4). ........................................ 20

    Figura15-Distribuio de fotoreceptores na retina (17). ............................................. 21

    Figura 16 - Grfico que representa a curva de adaptao ao escuro [Adaptado da referncia

    (19)]. ........................................................................................................... 22

    Figura 17- Grfico que representa a curva de adaptao ao escuro mas com estmulos que

    apresentam comprimentos de onda diferentes (19). .................................................. 22

    Figura 18- Esquema representativo do limiar diferencial (17). ...................................... 23

    Figura 19- Curva de adaptao claridade (19). ...................................................... 23

    Figura 20- Ilustrao esquemtica da organizao dos elementos receptores posteriores da

    retina do (A) sistema escotpico e (B) do sistema fotpico (4). .................................... 25

    Figura 21- Expresso clssica de Ricco que demonstra a somao espacial em condies

    escotpicas (4). .............................................................................................. 26

    Figura 22-Esquema que representa propriedades temporais do sistema escotpico assumindo

    uma somao temporal num perodo de 100ms. A linha a tracejada representa o limite para

    um nico pulso (4). .......................................................................................... 27

  • ix

    Figura 23- Esquema que representa as propriedades temporais do sistema fotpico assumindo

    um perodo de somao temporal de 10ms (4). ........................................................ 28

    Figura 24- Expresso clssica de Blochs que demonstra a somao temporal em condies

    fotpicas (4). ................................................................................................. 29

    Figura 25- Grfico representativo da curva de absoro deste fotopigmento em funo do

    comprimento de onda (4). ................................................................................. 31

    Figura 26- Grfico representativo da curva de absoro dos fotopigmento (M e L) para um

    indivduo dicromata (4). .................................................................................... 32

    Figura 27- Grfico representativo da curva de absoro dos fotopigmento (M e L) para um

    indivduo dicromata apresentando neste exemplo trs fontes de luz (a,b,c) (4). ............ 33

    Figura 28- Representao de dois padres fisicamente diferentes [Adaptado da referncia

    (4)]. ............................................................................................................ 34

    Figura 29- Figura ilustrativa de um campo bipartido (4). ............................................ 35

    Figura 30- As variaes da tonalidade ao longo do espectro (4). ................................... 36

    Figura 31- Figura ilustrativa de um campo bipartido (4). ............................................ 37

    Figura 32- Ao variar a intensidade a tonalidade destes trs comprimentos de onda (478nm,

    503nm, 578nm) constante (4) . ......................................................................... 37

    Figura 33- Exemplificao dos canais das cores oponentes (4). ..................................... 38

    Figura 34- Frequncia dos potenciais de aco em funo do comprimento de onda em

    algumas clulas ganglionares (4). ......................................................................... 39

    Figura 35- Frequncia dos potenciais de aco em funo do comprimento de onda para

    algumas clulas ganglionares (4). ......................................................................... 39

    Figura 36- Sistema de Munsell (4). ........................................................................ 41

    Figura 37- Representa as quantidades dos valores dos triestmulos em funo do comprimento

    de onda que foram obtidos na experincia do campo bipartido (4). ............................... 42

    Figura 38- Grfico que representa as funes primrias imaginrias (4). ........... 43

    Figura 39- Diagrama de cromaticidade da CIE, todas as cores fisicamente existentes

    encontram-se inseridas neste diagrama (4). ............................................................ 44

    Figura 40- Grficos representativos dos picos de sensibilidade de um indivduo tricromata

    normal (A) e de um indivduo dicromata (B) [Adaptado da referncia (4)]. ...................... 46

    Figura 41-Discriminao do comprimento de onda em casos de um deuteranopia e protanopia

    (4). ............................................................................................................. 47

    Figura 42 - Diagrama de cromaticidade da CIE que ilustra os trs eixos de confuso para os

    indivduos com protanopia, deuteranopia e tritanopia (4). .......................................... 48

    Figura 43- Exemplos de transmisso ligados ao cromossa X nos casos de anomalia entre o eixo

    vermelho-verde de pais para filhos (4). ................................................................. 49

    Figura 44- Ilustra um exemplo de um teste de Ishiara (23). ......................................... 51

    Figura 45- Exemplo de alguns dos cilindros usados na ordenao do D-15 de Fransworth bem

    como o esquema da folha de pontuao usado no mesmo teste (4)................................ 52

  • x

    Figura 46- Graficamente consegue-se interpretar o tipo de defeito que a pessoa manifesta,

    pelo tipo de grfico obtido (4). ........................................................................... 52

    Figura 47- Esboo representativo do teste da viso das cores City University. ................... 53

    Figura 48 -Ilustra a mobilidade do pico de sensibilidade de um indivduo protan atravs do

    auxlio de uma lente cromtica (vermelha) (4). ....................................................... 54

    Figura49- Exemplo da disposio dos vrios quadrados coloridos do teste on-line (26). ....... 55

    Figura 50- Comparao da representao esquemtica obtida no D-15 para o paciente nmero

    2. ............................................................................................................... 59

    Figura 52- Comparao da representao esquemtica obtida no D-15 para o paciente nmero

    5. ............................................................................................................... 60

    Figura 51- Comparao da representao esquemtica obtida no D-15 para o paciente nmero

    3. ............................................................................................................... 60

    Figura 53- Comparao da representao esquemtica obtida no D-15 para o paciente nmero

    22. .............................................................................................................. 61

    Figura 54- Comparao da representao esquemtica obtida no D-15 para o paciente nmero

    23. .............................................................................................................. 62

    Figura 55- Comparao da representao esquemtica obtida no D-15 para o paciente nmero

    25. .............................................................................................................. 63

    Figura 56- Comparao da representao esquemtica obtida no D-15 para o paciente nmero

    36. .............................................................................................................. 63

    Figura 57- Comparao da representao esquemtica obtida no D-15 para o paciente nmero

    37. .............................................................................................................. 64

    Figura 58 -Grfico que representa a relao dos individuos com os defeitos visuais em estudo.

    .................................................................................................................. 65

    Figura 59- Grfico que relaciona os defeitos visuais segundo o gnero da pessoa. .............. 65

    Figura 60- Grfico que representa a gravidade da anomalia dos defeitos visuais a partir da

    TES. ............................................................................................................ 66

    Figura 61 -Distribuio percentual dos defeitos visuais em relao aos indivduos analisados. 66

  • xi

  • xii

    Lista de Tabela

    Tabela 1-Referencia os vrios defeitos que existem num tricromata anmalo (4). ............. 45

    Tabela 2- Referencia os vrios defeitos que existem num dicromata (4). ........................ 45

    Tabela 3- Prevalncia e herana de vrias anomalias na viso das cores (4). .................... 49

    Tabela 4- Anomalias da viso que so associadas por alteraes cromticas (4). ............... 50

    Tabela 5- Pontuaes aceitveis na realizao do D100 de Fransworth que podem variar com a

    idade (4,17). .................................................................................................. 53

    Tabela 6- Tabela informativa dos valores normativos (25). .......................................... 56

    Tabela 7- Resultados obtidos do teste de Fransworth D-15 Saturado. ............................. 58

    Tabela 8-Caractersticas atribudas pelo simulador on-line para o indivduo nmero 2. ....... 59

    Tabela 10- Caractersticas atribudas pelo simulador on-line para o indivduo nmero 5. ..... 60

    Tabela 9- Caractersticas atribudas pelo simulador on-line para o indivduo nmero 4. ...... 60

    Tabela 11- Caractersticas atribudas pelo simulador on-line para o indivduo nmero 22..... 61

    Tabela 12 Caractersticas atribudas pelo simulador on-line para o indivduo nmero 23. ..... 62

    Tabela 13- Caractersticas atribudas pelo simulador on-line para o indivduo nmero 25..... 63

    Tabela 14- Caractersticas atribudas pelo simulador on-line para o indivduo nmero 36..... 63

    Tabela 15-Caractersticas atribudas pelo simulador on-line para o indivduo nmero 37 ..... 64

  • xiii

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    1

    Introduo

    Numa profisso a base fundamental o conhecimento cientfico e, todos os profissionais de

    viso devem ter nas suas teorias uma ampla gama de fontes, como por exemplo, a fsica, a

    ptica, a anatomia, a fisiologia, a bioqumica, a psicologia e a neurocincia cognitiva.

    Com a realizao desta dissertao visou-se aprofundar as noes cientficas da percepo

    visual da cor, bem como alguns dos seus distrbios, de forma a ser possvel obter uma melhor

    compreenso, como por exemplo na possibilidade de contornar e atribuir algumas qualidades

    de vida aos seus portadores.

    A luz pode ser usada em dois sentidos. No sentido fsico, um feixe de ondas electromagnticas

    nas quais o olho humano sensvel. E no sentido psicofsico, a luz ir produzir uma sensao

    ao observador, quando a retina estimulada. As sensibilidades variam de observador para

    observador, a cor percebida atravs das vrias relaes que existem, como por exemplo

    uma fonte de luz, os objectos e o sistema visual humano.

    O olho percebe as cores como um conjunto de vrios comprimentos de onda que abrange a

    zona do vermelho (580nm), do verde (540nm) e a do azul (450nm). Muitas dessas cores so

    absorvidas e reflectidas pelos objectos. A cor corresponde a uma sensao interna provocada

    por estmulos fsicos de natureza diferente. Se os objectos fornecem informao sobre a cor

    porque a qualidade sensorial, emerge nos mecanismos sensoriais.

    Alguns dos distrbios relacionados com a viso das cores, tambm designada por daltonismo,

    consiste numa perturbao na percepo visual que caracterizada pela incapacidade em

    discriminar algumas cores.

    Na retina existem clulas receptoras que so sensveis a determinados comprimentos de

    onda, os cones contm trs tipos de pigmentos selectivos e assim apresentam sensibilidades

    diferentes. A anomalia ocorre quando existe uma reduo na quantidade de um ou mais

    desses fotopigmentos ou ento alguma alterao na sua sensibilidade espectral. Uma das

    consequncias a nvel visual traduz-se na alterao da sensibilidade dos diferentes

    comprimentos de onda que esto associados a cada cor. Um dos objectivos foi esclarecer a

    possvel origem destes distrbios, clarificando as vrias possibilidades, de modo a tentar

    distinguir um defeito congnito, de um defeito adquirido por alguma patologia inerente.

    Existe uma variedade de testes que permite catalogar os defeitos visuais relacionados com as

    cores. Existem testes mais rpidos do que outros, devido sensibilidade do prprio teste.

    Neste trabalho ser adoptada uma componente prtica de um dos testes abordado

    pormenorizadamente, com a inteno de dinamizar os conceitos tericos.

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    2

    Captulo

    1 A Luz e a Viso

    Para o homem a noo de luz est associada ao conhecimento e verdade. A compreenso do

    mundo que nos rodeia atravs da luz ver claramente tem uma conotao sensorial,

    perceptiva e cognitiva. O olho um mediador privilegiado entre o mundo exterior e o

    homem.

    Durante muito tempo a viso estava associada a um feixe invisvel que saa do olho para

    adquirir os detalhes dos objectos. Esta teoria fisicamente errada, no filosoficamente

    incorrecta se substiturem por um raio o eixo visual que os complexos processos cognitivos

    conduzem sucessivamente em neurocincia nos apresentassem um conhecimento mais preciso

    dos mecanismos da viso (1).

    1.1 Luz

    A compreenso da natureza da luz foi objecto de estudo desde a poca dos gregos. Por um

    lado encontrava-se Plato que os objectos visveis emitiam partculas luminosas que eram

    captadas pelos olhos e por outro lado Aristteles, que acreditava que ondas vibratrias saam

    dos olhos e s quando atingiam os objectos estes se tornavam visveis. Havia ento duas

    teorias que poderia explicar a natureza da luz: a teoria das partculas e a teoria das ondas.

    Apesar desta discusso ter durado praticamente at ao sculo XX, ambos tinham razo. At

    no sculo XVIII a luz era estudada segundo o modelo ondulatrio de Huygens (1629-1695) e o

    modelo de partculas de Newton (1643-1727). J no inicio do sculo XX Max Planck (1858-

    1947) e Einstein (1874-1955), na teoria dos fotes, conciliaram estas duas vises (1).

    A luz pode ento ser considerada como sendo formada por pacotes de partculas de energia

    os quanta - combinando caractersticas de onda e de corpsculo, propagando-se no espao

    com velocidade constante. A luz de pequeno comprimento de onda tem mais ondas por feixe

    que a de maior comprimento de onda. Isto exprime-se dizendo que a energia de cada quatum

    funo da frequncia tal que:

    (1)

    onde E representa a energia do pacote ou foto, a sua frequncia e uma constante de

    Planck.

    Einstein postulou que a luz se propaga no vazio com uma velocidade bem definida, c, de

    cerca de 300000km/s, independentemente do estado de movimento do emissor apresentando

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    3

    uma dualidade onda partcula na sua natureza, concluindo que a luz uma onda com

    propriedades de partcula (2).

    1.2 Espectro Electromagntico

    A luz branca, tal como a do sol, constituda por uma mistura de luz de diferentes cores.

    Na figura 1 est representado o espectro electromagntico no qual as ondas

    electromagnticas esto tanto pela frequncia, , como pelo comprimento de onda, . O

    que se v como luz visvel apenas uma pequena parte do espectro. A barra colorida

    compreende os comprimentos de onda que vo dos 380nm (violeta) at aos 680nm

    (vermelho). Entre estes dois extremos temos todas as outras cores. A seguir ao vermelho,

    comprimento de onda mais longo, a energia radiante invisvel. Esta a gama de energia que

    corresponde ao infravermelho e s ondas rdio. Para comprimentos de onda menores do que

    400nm, vem o ultravioleta, raios X e os raios gama que tambm so invisveis. O espectro

    solar abrange apenas a regio entre os 300nm e os 2600nm do espectro total da energia

    radiante.

    A energia radiante propaga-se na forma de quanta de luz ou fotes. Quanto menor for o

    comprimento de onda maior ser a energia do foto. A relao entre a energia e o

    comprimento de onda dada pela equao (1) que pode ser reescrita na forma:

    (2)

    onde representa comprimento de onda e a velocidade da luz. Podemos, por isso, afirmar

    que a energia proporcional ao inverso do comprimento de onda. Por exemplo, um foto no

    Figura 1- Espectro Electromagntico [Adaptado da referncia (3)].

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    4

    ultravioleta com um de 200nm tem 5 vezes mais energia do que um foto no infravermelho

    com um de 1000nm (2).

    Os nossos olhos respondem luz visvel. Detectar o resto do espectro requer uma grande

    maturidade de instrumentos cientficos. Para uma descrio rigorosa da radiao

    electromagntica e do seu comportamento h que ter um vasto conhecimento das equaes

    de Maxwell e de electrodinmica quntica. Da mesma forma para um entendimento complexo

    de como o olho percepciona a luz necessrio estudar a Psicologia e a psicologia do sistema

    visual humano (1,2).

    1.3 Estrutura do olho humano

    As estruturas externas do olho so, a cavidade orbitria, os msculos extrnsecos oculares, as

    plpebras e o aparelho lacrimal. As orbitas so duas cavidades largas e profundas, escavadas

    entre a face e o crnio e separadas uma da outra pelas fossas nasais. As suas paredes tm

    uma funo protectora do aparelho ocular e proporcionam um suporte rgido ao globo ocular,

    sendo tambm local de fixao dos msculos externos (3,6-10).

    Figura 2- Cavidade orbitaria e a localizao da fixao dos msculos externos (5).

    As plpebras so formaes musculomembranosas, que evitam a desidratao e cuja funo

    consiste em proteger o sistema visual contra as agresses externas, como o caso dos

    traumatismos ao excesso de luz e evitam a desidratao (3, 6-10).

    O aparelho lacrimal composto por glndulas excrinas e compostas, situadas na parte

    superior, anterior e externa da rbita e dividem-se em duas pores unidas entre si, a

    orbitria e a palpebral.

    O sistema lacrimal o responsvel pela produo e eliminao das lgrimas e a sua funo

    consiste em estabelecer o equilbrio entre a lubrificao corneana e a limpeza da superfcie

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    5

    ocular. As glndulas lacrimais acessrias, as glndulas sebceas de Meibomius, Zeiss e Moll e

    as calciformes conjuntivais constituem o sistema secretor de produo de lgrima. A lgrima

    cai no fundo do saco conjuntival, passa para os pontos lacrimais, atravessa o canal lcrimo-

    nasal e desemboca no meado nasal inferior (3,6-10).

    Os msculos extrnsecos, implantados na superfcie externa do sistema ocular, asseguram os

    movimentos coordenados de ambos os globos oculares, de modo a que apenas um dos dois

    eixos visuais se dirija para o objecto que se pretende ver, o crebro assimila os estmulos

    provenientes de ambos os olhos e elabora uma imagem tridimensional nica. So seis os

    msculos extrnsecos oculomotores, responsveis por todos os movimentos do globo ocular, os

    quatro rectos e os dois oblquos. O msculo elevador da plpebra superior tambm um

    msculo extrnseco, mas no oculomotor (3,6-10).

    Para alm dos seis msculos que o globo ocular possui no seu exterior e que so responsveis

    pelos movimentos oculares, tambm contm trs camadas concntricas com a funo de

    viso, nutrio e proteco. A camada externa formada pela crnea e pela esclertica que

    serve de proteco. A camada vascular formada pela ris, corodeia e o corpo ciliar. E a

    parte interna constituda pela retina que a parte nervosa (3,6-10).

    1.3.1 Camada externa

    A esclertica uma membrana fibrosa completamente opaca, muito resistente, que protege

    os tecidos interoculares e constitui 4/5 da camada externa. Tem a forma de um segmento de

    esfera, apresentando uma abertura anterior, onde se aloja a crnea, sendo a zona de unio o

    limbo esclerocorneano. perfurada pelas artrias e nervos ciliares e a sua elevada hidratao

    contribui para a natureza opaca do tecido. A abertura posterior encontra-se perfurada por

    Figura 3-Msculos extrnsecos oculares (11).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    6

    uma infindvel srie de orifcios, semelhante a uma peneira, por onde passam as fibras

    nervosas para formar o nervo ptico, designada lmina crivosa. A esclertica serve de base

    para uma srie de msculos que proporcionam a mobilidade ocular (3,6-10).

    A crnea uma membrana transparente, rica em terminaes nervosas sensitivas, derivadas

    dos nervos ciliares do ramo oftlmico do trigmeo, quase circular e situada na parte anterior

    do globo ocular. A face anterior convexa e encontra-se permanentemente banhada pelo

    filme lacrimal. A face posterior cncava e limita a cmara anterior do olho que est

    continuamente banhada pelo humor aquoso. Trata-se da primeira e mais poderosa superfcie

    refractiva do sistema ptico do olho. O poder refractivo depende da sua curvatura e da

    diferena entre os ndices refractivos crnea/ar. As superfcies, anteriores e posteriores da

    crnea contribuem para o poder diptrico ocular com aproximadamente 43 dioptrias (D)

    representando cerca de 70% do grau refractivo total do olho. um dos raros tecidos

    avasculares do organismo. A crnea de uma forma saudvel no contm vasos porm factores

    derivados do sangue impem importantes relaes no metabolismo corneano. Tanto o epitlio

    como o endotlio da crnea so metabolicamente activos. A superfcie da crnea coberta

    pelo filme lacrimal que protege a crnea da desidratao e mantm a superfcie regular.

    Podemos sub- dividir a superfcie corneal em cinco camadas, epitlio, membrana de browman

    (constituda por fibras colageneas), estroma (correspondente a 90% da espessura da crnea),

    membrana de descemet (tambm constituda por fibras colageneas) e o endotlio (camada

    nica com cerca de clulas poligonais), como se pode ver na figura 4 (3, 6-10).

    Todas as alteraes destas caractersticas interferem na clareza da imagem formada na retina

    como por exemplo, na uniformidade e regularidade das clulas epiteliais, empinhamento das

    lamelas do estroma e na ausncia de vasos.

    Figura 4- Esquema histolgico da crnea (12).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    7

    1.3.2 Camada mdia ou vascular

    A camada vascular contm trs segmentos a coroideia, o corpo ciliar e a ris. A coroideia

    situada entre a retina e a esclera cobre a superfcie interna da esclertica estendendo-se at

    ora serrata (zona de transio entre finalizao da coroideia e o comeo do corpo ciliar).

    Trata-se da poro mais extensa da vea e composta por inmeros vasos sanguneos. A sua

    principal funo consiste em nutrir as estruturas que no apresentam irrigao prpria,

    principalmente os elementos sensoriais da retina. O corpo ciliar situado entre a ora serrata e

    a ris o responsvel pela funo secretora do humor aquoso (lquido que ocupa a parte

    anterior do olho). A ris constitui a parte anterior da camada vascular e divide o segmento

    anterior do olho em cmara anterior e cmara posterior sendo a sua principal funo

    aumentar a quantidade de luz que atravessa o olho, quando est escuro e diminui-la quando a

    luminosidade intensa. No centro da ris existe uma abertura circular, a pupila atravs da

    contraco ou dilatao das fibras musculares que regula a passagem dos raios luminosos at

    ao fundo do olho (3, 6-10).

    1.3.3 Camada interna Retina A retina a membrana interna no olho, que pode ser dividida em retina sensorial que a

    camada neurosensorial do globo ocular onde se encontram os fotoreceptores, e a retina

    neural que constituda por vrias clulas, de sustentao e outras cujos prolongamentos

    formam o nervo ptico.

    Figura 5- Disposio estrutural do olho (13).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    8

    As clulas fotossensveis da retina (fotoreceptores) transformam a luz, focalizada pelo

    cristalino, em impulsos elctricos, que so enviados para o crebro atravs do nervo ptico.

    As imagens formadas na retina so ento interpretadas pelo crebro (3,6-10).

    1.3.4 Meios de refraco

    Os meios transparentes contidos no globo ocular permitem a refraco da luz bem como a sua

    transmisso. Alm da crnea os meios transparentes so, o humor aquoso, o cristalino e o

    humor vtreo (3,6-10).

    O humor aquoso produzido pelos processos ciliares e o principal veculo para os nutrientes

    e trocas metablicas nos tecidos no vascularizados como a crnea e o cristalino. Transporta

    a glucose, os aminocidos e os gases respiratrios (3,6-10).

    O cristalino tem uma forma biconvexa, transparente e elstica que se localiza entre a ris e o

    humor vtreo. Apresenta na sua constituio clulas organizadas longitudinalmente. Devido ao

    poder acomodativo, a sua principal funo consiste na sua adaptao, consoante as

    necessidades requeridas pela viso. O poder refractivo em jovens pode ser aumentado

    voluntariamente de 18D at aproximadamente 32D. medida que o sistema envelhece o

    cristalino vai perdendo algumas das suas caractersticas, como por exemplo, a capacidade

    elstica limitando a sua capacidade de acomodar e desencadeando dificuldades de focagem,

    nomeadamente nas tarefas de perto, o que designamos por presbiopia (3,6-10).

    Humor vtreo uma substncia gelatinosa e viscosa que ocupa o espao compreendido entre a

    retina e a face posterior do cristalino. As suas principais funes so: permitir a difuso da

    luz, a difuso dos nutrientes, manter o cristalino, a retina nas suas posies e manter a forma

    do globo ocular (3,6-10).

    1.3.5 Clulas Receptoras

    Os elementos fotossensveis da retina, que convertem a imagem visual em impulsos nervosos,

    so os bastonetes e os cones. Os bastonetes detectam as imagens em preto e branco

    enquanto os cones detectam as cores. Os cones so receptores sensoriais excitados pela luz e

    transformam a energia luminosa em sinais neuronais que so transmitidos para o encfalo. O

    olho contm aproximadamente seis milhes de cones e 120 milhes de bastonetes. A maioria

    dos cones est concentrada numa pequena rea chamada fvea central contendo somente

    clulas do tipo cone. A concentrao de cones diminui medida que se afasta da mcula,

    enquanto a concentrao de bastonetes atinge um mximo a cerca de 4mm da fvea. A

    camada pigmentar da retina contm grandes quantidades de pigmento negro muito escuro, a

    melanina, cuja absorver os raios luminosos que atravessam a retina e, portanto impedir a

    reflexo da luz de volta para o olho. As pessoas incapazes de produzir melanina, designados

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    9

    albinos, apresentam uma falta total de pigmento nessa camada da retina. Como resultado, os

    raios luminosos aps atravessarem a retina so reflectidos em todas as direces, o que

    acontece com tal intensidade que todas as imagens ficam ofuscadas pela claridade excessiva

    da luz. A viso de uma pessoa albina em geral uma acuidade trs vezes menor do que uma

    pessoa normal (10).

    Na figura 6 est representado um fluxograma esquemtico do processamento da retina. Os

    fotoreceptores (bastonetes e cones) respondem luz transformando a energia radiante em

    actividade elctrica. As clulas bipolares estabelecem sinapses dendrticas com os

    fotoreceptores e com as clulas ganglionares, figura 6-B. Estas ltimas clulas do origem s

    fibras do nervo ptico, que conduzem esses sinais para o encfalo. As clulas bipolares

    raramente fazem conexo directa com as clulas ganglionares, ligando-se preferencialmente

    s clulas amcrinas, que posteriormente enviam sinal s ganglionares. Isto permite que um

    conjunto de clulas ganglionares leve informao tanto de cones como de bastonetes,

    estando envolvidos trs processos oponentes (claro versus escuro, vermelho versus verde e

    Figura 6 A- Fluxograma esquemtico do processamento da retina. NGL- Ncleo geniculado lateral. B- Representao esquemtica da retina, zona da fvea, ampliada (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    10

    azul versus amarelo). Existem trs tipos de clulas ganglionares, umas so do tipo P que so

    mais sensveis forma dos estmulos e a detalhes finos, outras do tipo M que so

    particularmente importantes para a deteco de movimentos de estmulos e as do tipo no-M

    e no-P que correspondem a 5% e so menos bem caracterizadas (10).

    As clulas horizontais cujos dendritos esto em contacto com os fotoreceptores tm como

    funo estabelecer proteco retina em casos de excesso de luz, isto inibem a resposta

    das clulas a que esto ligadas, de modo a diminuir a sensibilidade e assim proteger a retina.

    As clulas amcrinas no tm axnios e apresentam todos os seus dendritos saindo do mesmo

    lado da clula. As clulas horizontais respondem iluminao mantida, enquanto as clulas

    amcrinas respondem mudana na iluminao. As clulas ganglionares so responsveis pelo

    processamento de detalhe de alto contraste e resoluo de cor (10).

    Figura 7- Esquema do processamento das clulas (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    11

    Na figura 7 est representado um esquema da organizao retinal. Esta estrutura em camadas

    constituda por:

    A luz vir do fundo do diagrama e atravessa a retina interna at alcanar os fotorreceptores.

    A figura 8 mostra que o bastonete apresenta um segmento que caracterizado pelo grande

    nmero de pregas na membrana celular, que se formam como prateleiras em forma de

    RPE- Epitlio pigmentar da retina;

    A- segmento externo dos fotorreceptores;

    B- segmento interno dos fotorreceptores;

    OLM- membrana limitante externa;

    ONL- camada nuclear externa;

    OPL- camada plexiforme externa;

    INL- camada nuclear interna;

    IPL- camada plexiforme interna;

    GCL- camada de clulas ganglionares;

    NFL- camada de fibras nervosas;

    ILM- membrana limitante interna.

    Figura 8-Desenhos esquemticos de um cone (esquerda) e de um bastonete (direita). O ncleo designado por N e as mitocndrias por M (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    12

    disco, profundamente mergulhadas no citoplasma. Nessas prateleiras fica localizada a

    substncia qumica fotossensvel - a rodopsina. A estrutura bsica dos cones muito

    semelhante dos bastonetes, embora sejam clulas mais curtas e com os segmentos externos

    de forma cnica em vez de cilndrica. Tambm as substncias fotossensveis nos discos

    externos so um pouco diferentes da rodopsina, o que faz com que os diversos cones sejam

    sensveis a cores diferentes (10).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    13

    1.4 Qumica da Viso

    Quando a luz atinge a retina, nos perodos entre as estimulaes luminosas ocorrem nos

    bastonetes alteraes qumicas fundamentais. A vitamina A o composto qumico utilizado,

    tanto pelos cones como pelos bastonetes, para a sntese de substncias fotossensveis. Ao ser

    absorvido por um bastonete, a vitamina A transformada em retineno. Esse retineno

    combina-se com uma protena dos bastonetes a escotopsina para formar o composto

    rodopsina. Se o olho no estiver exposto energia luminosa, a concentrao de rodopsina

    pode aumentar at atingir valores muito elevados (10).

    Quando um bastonete exposto energia luminosa, parte da rodopsina transformada

    imediatamente em lumirrodopsina. Como a lumirrodopsina um composto muito instvel que

    s perdura na retina cerca de um dcimo de segundo, degradada imediatamente. A outra

    substncia, a metarrodopsina, igualmente instvel, tambm degradada muito rapidamente,

    em retineno e escotopsina. Desta forma, a energia luminosa fracciona a rodopsina nas

    substncias que inicialmente a formaram, o retineno e a escotopsina. No processo de

    fraccionamento da rodopsina, os bastonetes so excitados por cargas inicas, que se

    desenvolveram por instantes nas superfcies em fraccionamento da rodopsina. Durante este

    pequeno intervalo de tempo, so gerados sinais neurais no bastonete, que so transmitidos

    para o nervo ptico e por meio dele, para o encfalo. Aps a rodopsina ter sido decomposta,

    pela energia luminosa, os seus produtos de decomposio o retineno e a escotopsia- so de

    novo recombinados, pelos processos metablicos da clula, para formar nova rodopsina, que

    Energia Luminosa

    Figura 9- Ciclo do retineno-rodopsina responsvel pela sensibilidade luz dos bastonetes

    [Adaptado da referncia (10)].

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    14

    pode ser utilizada para produzir excitao adicional dos bastonetes. A rodopsina torna-se

    transparente quando lhe incide luz, isto , quando excitada por um foto de luz, pelo que

    em condies diurnas como se no existisse. Depois de excitada, 50% da rodopsina demora 5

    minutos a recuperar, depois de 15 a 20 minutos toda a rodopsina ter recuperado o seu

    estado. por esse motivo que devemos esperar alguns minutos at conseguirmos ver quando

    entramos numa sala escura. A rodopsina absorve luz da zona central do espectro visvel (azul-

    verde), apresenta o seu mximo de absoro nos 507nm e relativamente insensvel luz

    vermelha (10).

    Os cones possuem 3 fotopigmentos fundamentais, o cianopigmento - cones S - ( curto) -

    426nm, o cloropigmento - cones M - ( mdio) - 530nm e o eritopigmento - cones L - ( longo)

    - 557nm. Os processos qumicos suportados pelos cones so muito semelhantes aos dos

    bastonetes. A protena caracterstica dos bastonetes substituda por uma de trs protenas

    semelhantes, que se chamam genericamente fotopsinas. Para que os trs tipos de cones

    sejam, de modo selectivo, sensveis a diferentes cores necessrio que as fotopsinas sejam

    ligeiramente diferentes (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    15

    Figura 10- Espectros de absoro do cianopigmento (S-cone), cloropigmento (M-cone) e do eritopigmento (L-cone) (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    16

    1.5 Para alm da retina

    Figura 11- Esquema ilustrativo do percurso retinocortical visual [Adaptado da referncia (4, 14)].

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    17

    O nervo ptico formado pelos axnios das clulas ganglionares que sada do disco ptico

    adquirem uma bainha de mielina. O nmero das clulas ganglionares varia de pessoa para

    pessoa, pelo que as fibras do nervo ptico tambm so variveis. A lmina formada pelo entre

    - cruzamento dos dois nervos pticos chama-se quiasma ptico. Por exemplo na figura 11 a

    informao visual da retina temporal direita e da retina nasal esquerda (representado pela

    cor amarela) transferida para o hemisfrio direito. J a informao da retina temporal

    esquerda e da retina nasal direita (representado pela cor rosa) j transferida para o

    hemisfrio direito.

    O tracto ptico um conjunto de fibras que vo do quiasma at ao corpo geniculado lateral.

    A partir da as radiaes pticas dispersam-se em forma de um leque, penetrando

    profundamente nos hemisfrios cerebrais ao nvel dos lobos occipitais cortx visual. A rea

    cortical em que a maioria dos axnios do ncleo geniculado lateral estabelecem sinapse

    designa se cortx visual estriado (15-16).

    O ncleo geniculado lateral (NGL) selecciona a informao que ser transmitida ao cortx

    visual primrio (rea 17 de Brodman), a maior parte desta rea localiza-se na superfcie

    medial do lobo occipital. Podemos subdividir o NGL em camadas ventrais 1 e 2 que contm

    neurnios maiores e nas quatro camadas dorsais de 3 a 6 que contm as clulas menores. As

    camadas ventrais so as camadas magnocelulares (que provm da projeco das clulas

    ganglionares do tipo M) e as camadas dorsais so as camadas parvocelular (que ocorre da

    projeco das clulas ganglionares do tipo P). Ainda existe munerosos pequenos neurnios

    que se localizam ventralmente e que se designam, clulas coniocelulares que recebem

    impulsos de clulas ganglionares da retina do tipo no-M e no-P e se projectam para o cortx

    visual. As clulas parvocelulares codificam as informaes das cores no vermelho e verde, o

    sistema magnocelular codifica os movimentos rpidos e o sistema coniocelulares desempenha

    um papel na viso das cores no azul - amarelo (15-16).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    18

    Captulo

    2 Percepo visual

    A viso escotpica ocorre em ambientes com pouca iluminao, baixa acuidade visual,

    ausncia de descriminao de cores e efectuado pelos bastonetes. Por outro lado a viso

    fotpica ocorre sob condies luminosas, apesar da sua sensibilidade diminuir em ambientes

    pouco iluminados, caracterizada por uma ptima acuidade visual e para alm disso

    processa-se discriminao da cor. Os cones so as clulas sensoriais nervosas responsveis

    por este tipo de viso. Em condies de iluminao mdia (viso mespica) tanto os cones,

    como os bastonetes contribuem para esta viso.

    A capacidade em detectar estmulos em condies escotpicas, determinada pela curva de

    absoro da rodopsina e pode ser demonstrado atravs da medida da sensibilidade espectral

    escotpica. Em primeiro lugar necessrio adaptar o indivduo a uma sala escura durante 45

    minutos para maximizar a regenerao da rodopsina. Posteriormente determinado o limiar

    que a menor quantidade de energia necessria para que esse indivduo consiga detectar

    estmulos dos vrios comprimentos de onda (4,17).

    Os grficos da figura 12 permitem-nos concluir que o limiar, em funo do comprimento de

    onda, inversamente proporcional sensibilidade, isto , um limiar baixo representa uma

    elevada sensibilidade.

    Condies Escotpicas Condies Escotpicas

    Figura 12 A- Representao grfica do limiar de um indivduo em funo do comprimento de onda;

    B- Representao grfica da sensibilidade relativa em funo do comprimento de onda (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    19

    As curvas de sensibilidade espectral fotpica e escotpica podem ser determinadas de forma

    anloga, a nica diferena que no caso fotpico necessrio que a medida da sensibilidade

    seja efectuada em condies de maior iluminao. Apesar da existncia de trs

    fotopigmentos possveis nos cones a curva de sensibilidade espectral fotpica mostra um

    nico pico amplo na regio dos 555nm.

    A curva da figura 13 representa aparentemente, a adio dos espectros de absorp dos cones

    M e L (ver figura 10), uma vez que os quanta de luz absorvidos por estes dois fotopigmentos

    contribuem para esta funo (4,17).

    Condies Fotpicas

    Figura 13- Representao grfica dasensibilidade fotpica em funo do comprimento de onda

    (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    20

    No grfico da figura 14 esto representadas as duas funes de sensibilidade espectral em

    condies fotpicas e escotpicas. Os limites foram determinados aps o sujeito ter sido

    submetido adaptao ao escuro, permitindo assim a regenerao da rodopsina bem como

    dos fotopigmentos dos cones. As curvas representam a sensibilidade e dois limiares que esto

    presentes, um para viso escotpica e outro para a viso fotpica. Por exemplo,

    considerando-se um estmulo de 500nm, em que a intensidade aumentada lentamente,

    verifica-se que a deteco efectuada pela primeira vez pelo sistema escotpico. medida

    que a intensidade continua a ser aumentada pode eventualmente ser vista com cor e, neste

    caso, detectada pelo sistema fotpico. diferena de sensibilidade entre os sistemas

    fotpicos e escotpico denomina-se intervalo fotocromtico. A partir dos 650nm (regio do

    vermelho) o sistema fotpico torna-se mais sensvel que o sistema escotpico (4,17).

    O efeito de Purkinje ocorre devido ao deslocamento do pico de sensibilidade dos 507nm para

    os 555nm, medida que passamos de condies escotpicas para condies fotpicas.

    Como j foi referido a retina humana contm cerca de 120 milhes de bastonetes e 6 milhes

    de cones. Analisando a imagem 15 podemos observar um pico de densidade de

    aproximadamente 150.000 cones/mm2 e uma maior concentrao de bastonetes nos 20 graus

    Figura 14- Funes de sensibilidade em condies escotpicas e fotpicas. Estas funes representam a sensibilidade absoluta dos dois sistemas (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    21

    de excentricidade retiniana. Isto significa que quando queremos observar uma estrela, no

    devemos olha-la directamente mas sim dirigir o nosso olhar para um ponto ligeiramente ao

    lado.

    2.1 Adaptao ao escuro

    A maioria de ns j teve a experincia de, depois de estar algum tempo ao sol entrar numa

    sala escura no conseguir visualizar, imediatamente, os objectos com clareza. No entanto, ao

    fim de alguns minutos comea-se a recuperar a viso e j se consegue observar os

    objectos. Esta melhoria gradual da viso aps exposio luz (neste caso o sol), est

    relacionada com a adaptao ao escuro. Por exemplo, consideram um indivduo que exposto

    a uma fonte de luz muito intensa. Em seguida apaga a luz e determina-se o limiar de

    deteco ao longo do tempo. Analisando-se o grfico verifica-se que o limiar de deteco

    medida que o tempo vai passando, significativamente menor nos bastonetes, o que

    evidencia a sua elevada sensibilidade em ambientes escuros. Este tipo de anlise tem sido

    muito vantajosa para o diagnstico clnico de alguns problemas ao nvel da retina. Uma curva,

    de adaptao anormal ao escuro, comum em determinados sintomas que so tpicos da

    retinose pigmentar, incluindo o caso de cegueira nocturna e uma recuperao visual lenta

    aps a exposio a uma luz brilhante, que ocorre muitas vezes na oftalmoscopia. O grfico da

    16 figura foi obtido com um estmulo de 420nm (4,17).

    Figura15-Distribuio de fotoreceptores na retina (17).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    22

    Uma questo que podia colocar-se seria o que poderamos esperar da forma do grfico no

    caso de recorrerem a estmulos com diferentes comprimentos de onda. Sabendo que os

    bastonetes so insensveis ao comprimento de onda do vermelho, ento esperaramos obter

    um grfico em que no existe nenhuma transio entre cone bastonete (4,17).

    Suponhamos que nos exemplos anteriores o estmulo utilizado seria um estmulo fixo, central

    e que o seu tamanho atingisse tanto a fvea como uma zona envolvente da retina. Se

    utilizssemos um estmulo com um dimetro de 10 graus e um outro estimulo mais pequeno,

    por exemplo 0,5 graus, os resultados obtidos iriam ser diferentes porque s a funo do cone

    Figura 16 - Grfico que representa a curva de adaptao ao escuro [Adaptado da referncia (19)].

    Figura 17- Grfico que representa a curva de adaptao ao escuro mas com estmulos que apresentam comprimentos de onda diferentes (19).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    23

    iria ser evidenciada (no estimulo de 0,5 graus) devida inexistncia de resposta por parte dos

    bastonetes.

    2.2 Adaptao claridade

    Num dia cheio de sol, a adaptao claridade estudada com um procedimento de limiar

    diferencial. O limiar determinado com um flash de luz (diferencial) que apresentado sobre

    um fundo de intensidade uniforme. Se a intensidade do fundo aumentada repetimos a

    medida do limiar.

    Figura 18- Esquema representativo do limiar diferencial (17).

    Figura 19- Curva de adaptao claridade (19).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    24

    O grfico representado na figura 19 representa a curva de adaptao claridade. Para valores

    , escurido, em que m representa o declive a deteco limitada pelo rudo neuronal.

    Esta situao acontece quando, por exemplo visualiza um ponto luminoso numa sala escura

    mas esse estmulo nunca existiu. Quando o , o estmulo comea a ser suficiente o que

    permite sobrepor o rudo, isto , a pessoa pode responder devido alterao da prpria luz.

    A expresso da lei de DeVries Rose referncia a importncia das flutuaes da fonte na

    determinao do limiar:

    (3)

    onde o limiar diferencial e a intensidade do fundo. Por outro lado, se o ,

    medida que se aumenta o fundo, as flutuaes da fonte ocorrem na mesma proporo, a lei

    de Weber permite justificar esta caracterstica, representa um valor constante (4,17).

    (4)

    A saturao ocorre quando , nesta situao a pessoa deixa de perceber o estmulo

    porque h muita luminncia (20).

    2.3 Resoluo e somao espacial

    A acuidade visual em condies fotpicas da ordem de 20/20, enquanto que, a acuidade

    escotpica de cerca de 20/200. Isto significa que, em condies fotpicas, o ser humano v

    melhor pois tem uma maior capacidade de perceber os detalhes e uma sensibilidade ao

    contraste superior. Por outro lado, a capacidade de detectar um estmulo muito maior em

    condies escotpicas. Na figura 14 podemos observar que para um estmulo de 500nm seja

    detectado em condies fotpicas dever ser cerca de mil vezes mais intenso do que no caso

    de condies escotpicas. Pode ento concluir-se que em condies fotpicas a sensibilidade

    ao contraste e a resoluo visual so maiores mas, em condies escotpicas maior a

    sensibilidade absoluta. Pode considerar-se que o compromisso entre a resoluo visual e

    sensibilidade est, de certa forma, relacionado com a forma como cones e bastonetes esto

    ligados aos elementos receptores posteriores da retina (4,17).

    Os bastonetes comunicam com as clulas ganglionares de maneira a somarem a informao

    espacial, permitindo grande sensibilidade mas pobre resoluo. Por outro lado os cones

    comunicam de maneira a maximizar a resoluo mas sacrificam a sensibilidade (4,17).

    Na figura 20 est esquematicamente representado a forma como os bastonetes e cones se

    conectam com a clula ganglionar. Observando esta figura verifica-se que esta organizao

    permite que o sistema escotpico atinja o limiar.

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    25

    Considerando o mesmo valor numrico de energia 10 quanta, verifica-se que:

    No esquema A- O indivduo s consegue detectar um s ponto devido soma espacial (muitos

    bastonetes comunicam com a mesma clula ganglionar, e o sistema escotpico soma a

    informao espacial);

    No esquema B- O indivduo j consegue discriminar os dois pontos.

    Quando existe pouca luz o primeiro sistema a detectar o estmulo o sistema escotpico, mas

    s o sistema fotpico que tem resoluo suficiente para detectar o detalhe, ou seja, o

    nmero de pontos luminosos. por este motivo que podemos ver uma estrela pouco luminosa,

    na noite escura, tendo uma acuidade escotpica de apenas 0,1 (4).

    A lei de Ricco permite calcular a somao espacial, que classicamente demonstrada

    considerando-se um observador na presena de um spot de luz muito pequeno a partir do qual

    se determina o nmero limiar de quanta necessrio para detectar a luz. A experincia

    repetida considerando-se spots de tamanho superior e a partir daqui possvel representar

    graficamente a funo obtida na figura 21. Esta lei matematicamente apresentada por:

    (5)

    onde I representa a intensidade dos estmulos (quanta/rea), A a rea dos estmulos e uma

    constante. Analisando o grfico da figura 21 verifica-se que, at aos 10 minutos de arco, o

    nmero de quanta necessrio para haver deteco constante, o que significa que o nmero

    limiar de quanta pode ser fornecido num spot de 1 minuto de arco ou espalhado numa rea

    maior at 10 minuto de arco, ao qual se d o nome de dimetro crtico (4,17).

    A B

    Figura 20- Ilustrao esquemtica da organizao dos elementos receptores posteriores da retina do (A) sistema escotpico e (B) do sistema fotpico (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    26

    A diferena na somao espacial entre os sistema escotpico e o sistema fotpico manifesta-

    se como uma diferena nos seus dimetros crticos. Devido reduzida capacidade de somao

    espacial do sistema fotpico no deve ser surpresa o facto de o dimetro crtico do sistema

    fotpico ser menor do que o do sistema escotpico.

    2.4 Resoluo e somao temporal

    Na viso fotpica e escotpica existem, tambm, diferenas significativas nas propriedades

    temporais. O sistema escotpico soma a informao ao longo do tempo, em maior medida do

    que o sistema fotpico por isso, apresenta uma maior somao temporal. No entanto, o

    sistema fotpico capaz de distinguir dois flashes de luz separados por um curto intervalo de

    tempo, o que permite uma maior resoluo temporal (4,17).

    Figura 21- Expresso clssica de Ricco que demonstra a somao espacial em condies escotpicas (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    27

    Figura 22-Esquema que representa propriedades temporais do sistema escotpico assumindo uma somao temporal num perodo de 100ms. A linha a tracejada representa o limite para um nico pulso (4).

    Na figura 22 so representadas as propriedades temporais do sistema escotpico para um

    perodo de somao temporal (PST) de 100ms. A linha a tracejado representa o limiar da

    intensidade da fonte luminosa. Se forem considerados dois pulsos inferiores ao limiar, figura

    22-A, separados por um intervalo de tempo (IPI) de 120ms, superior ao perodo de somao

    temporal, o estmulo no percebido porque s um dos pulsos se encontra dentro do PST o

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    28

    que no permite a sua soma e assim no alcana o limiar, por isso nenhum dos flashes so

    visualizados. Contudo, reduzindo o IPI para 90ms, figura 22-B, torna-se possvel a observao

    de um flash. Neste caso os dois pulsos ocorreram durante o PST e assim permite que a sua

    soma alcance o limiar e o estmulo visto. Mantendo o IPI da figura 22-C, mas aumentando a

    intensidade dos pulsos acima do limiar estabelecido, no permite que o observador visualize

    os dois flashes, mas apenas um. Finalmente, mantendo a intensidade dos pulsos em relao

    figura 22-C mas aumentando o IPI, figura 22-D, observam-se dois flashes. Porque o elevado

    grau de somao temporal do sistema escotpico limita-lhe a sua capacidade de distinguir

    eventos temporais de modo que, s quando estes dois pulsos (superiores ao limiar) esto

    afastados mais de 100ms que o observador capaz de perceber dois flashes (4).

    O sistema fotpico representado na figura 23 apresenta um PST pequeno.

    Tal como no exemplo da figura 22, neste caso os dois pulsos representados - figura 23-A -

    foram estimulados abaixo do limiar. Como PST pequeno eles, no so adicionados, e por isso

    o estmulo no percebido. Para que se detecte um flash necessrio diminuir o IPI entre os

    pulsos figura 23-B. Apesar do sistema fotpico ter uma fraca somao temporal, apresenta

    uma resoluo temporal maior. Esta concluso comprovada pelo exemplo da figura 23-C,

    Figura 23- Esquema que representa as propriedades temporais do sistema fotpico assumindo um perodo de somao temporal de 10ms (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    29

    onde est claro que os dois pulsos, separados por um IPI de 50ms, permite ao observador

    distinguir dois flashes. O sistema escotpico com o seu elevado grau de somao temporal,

    no seria capaz de perceber estes estmulos (4).

    Ao contrrio do sistema fotpico, o sistema escotpico apresenta uma excelente sensibilidade

    porque, devido ao elevado grau de somao temporal e sensibilidade absoluta, capaz de

    somar a informao simultaneamente, no espao (somao espacial) e no tempo (somao

    temporal). Em contrapartida o sistema fotpico apresenta uma excelente resoluo espacial e

    temporal.

    A lei de Bloch, representao temporal da lei de Ricco, pode ser matematicamente

    representada pela expresso. Consiste numa expresso matemtica que nos permite

    comprovar todas as caractersticas referenciadas anteriormente.

    (6)

    Onde I representa a intensidade do estmulo (quanta/tempo), a durao do estmulo e

    uma constante. A figura 24 representa graficamente a lei de Bloch, permite que se conclua

    que dentro do perodo crtico (durao crtica) existe somao temporal total.

    Enquanto o mnimo limiar de quanta for fornecido durante esta durao crtica (no importa

    como fornecido) podem ser apresentados um ou mais flashes. Flashes mltiplos

    apresentados dentro deste perodo crtico no so percebidos e apenas um flash visto. As

    duraes crticas destes dois sistemas so diferentes, isto , a viso escotpica apresenta uma

    durao crtica de cerca de 100ms e a fotpica 10 a 50ms (4,17).

    Figura 24- Expresso clssica de Blochs que demonstra a somao temporal em condies fotpicas (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    30

    Captulo

    3 Viso das Cores

    O olho o rgo do nosso corpo que permite captar imagens do ambiente em redor. nele

    que se inicia o processo que entendemos por viso, processo esse que, no caso do ser

    humano, responsvel por mais de 90% das informaes que somos capazes de captar.

    Significa isso que qualquer leso neste rgo que, implique a queda da acuidade visual tem

    como consequncia srias limitaes interaco do indivduo com o mundo ao seu redor.

    A cor uma percepo visual provocada pela aco de um feixe de fotes sobre clulas

    especializadas da retina que transmitem, atravs de informao pr-processada ao nervo

    ptico, impresses para o sistema nervoso.

    A cor relacionada com os diferentes comprimentos de onda do espectro electromagntico e

    algo que nos to familiar que se torna difcil compreender que ela no corresponde a

    propriedades fsicas do mundo, mas sim sua representao interna a nvel cerebral. Ou seja,

    os objectos no tm cor, a cor corresponde a uma sensao interna provocada por estmulos

    fsicos de natureza muito diferente que do origem percepo da mesma por um ser

    humano.

    3.1 Teoria tricromtica

    A explicao para a viso das cores fundamentada na teoria tricromtica. Esta teoria

    considera a existncia de trs tipos de fotoreceptores (cones), constitudos por pigmentos de

    diferentes comprimentos de onda: vermelho (560nm), verde (530nm) e azul (430nm), pelo

    que a percepo normal das cores o resultado da adio da informao obtida pelos trs

    cones. Alguns autores sugerem que os indivduos podem ser classificados de acordo com a sua

    percepo cromtica, em tricromatas normais e anormais, dicromatas e acromatas ou

    monocromatas (4,17).

    3.1.1 Monocromata

    Uma pessoa com apenas um fotopigmento designada como apresentando caractersticas de

    monocromacia (s com um fotopigmento). Na figura 30 est representado o espectro de

    absoro para um indivduo deste tipo.

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    31

    Observando a figura 25 podemos, por exemplo, tentar perceber se ser possvel um indivduo

    monocromata distinguir duas fontes de luz. Por exemplo, se se mostrar ao indivduo dois

    padres emitindo ambos 100 quanta de luz mas com a e b, verifica-se que as probabilidades

    de absoro so diferentes. A probabilidade de absoro para a 25% e para b 50%.

    Neste caso o indivduo percebe as diferenas de luminosidade, sendo b mais luminoso que o

    outro, visto ter duas vezes mais probabilidade de absoro.

    Um outro exemplo, se se mostrar dois padres ao indivduo, um a emitir 200 quanta (a) e o

    outro a emitir 100 quanta (b), podemos assim concluir que, para um indivduo monocromata

    sempre possvel ajustar a intensidade de duas fontes de modo a que estas paream iguais

    (4,17).

    Para este tipo de anlise importante no esquecer que, quando um fotopigmento absorve

    um quanta de luz, toda a informao relativa ao seu comprimento de onda perdida. Quando

    varia a absoro de comprimento de onda s varia a probabilidade de absoro, activao

    igual em todos os comprimento de onda, a isto designamos o principio da univarincia (4,17).

    Como o indivduo consegue distinguir em termos de intensidade, logo consegue distinguir

    cores, uma vez que faz um processo de aprendizagem e sabe que aquela luz que ele v mais

    brilhante, as outras pessoas chama verde.

    Figura 25- Grfico representativo da curva de absoro deste fotopigmento em funo do comprimento de onda (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    32

    3.1.2 Dicromata

    Os dicromatas apenas tm dois dos trs fotoreceptores e so classificados em: protanopes

    (falta o eritopigmento), deuteranopes (falta o cloropigemento) e tritanopes (falta o

    cianopigmento).

    Observando a figura 26 podemos, por exemplo, tentar perceber se ser possvel se um

    individuo dicromata consegue distuinguir duas fontes de luz como iguais. Se se mostrar ao

    indivduo dois padres ambos 100 quanta de luz mas com a e b, verifica-se que as

    probabilidades de absoro so diferentes. A probabilidade de absoro para a 60% do

    fotopigmento M e 20% do fotopigmento L, para o b 40% do fotopigmento M e 80% do

    fotopigmento L. Neste caso o indivduo distingui a diferena das fontes de luz, no consegue

    ajustar a intensidade de duas fontes de modo a que estas paream iguais. Ento o exemplo

    seguinte sugere a utilizao de mais uma fonte (4,17).

    Figura 26- Grfico representativo da curva de absoro dos fotopigmento (M e L) para um indivduo dicromata (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    33

    Na figura 27 ao mostrar trs padres ao indivduo, um a emitir 300 quanta (a), o outro a

    emitir 500 quanta (b) e o terceiro a emitir 300 quanta (b) verifica-se que as probabilidades

    de absoro so diferentes. A probabilidade de absoro para a 60% do fotopigmento M e

    20% do fotopigmento L, para o b 40% do fotopigmento M e 80% do fotopigmento L e para o

    c 7% do fotopigmento M e 80% do fotopigmento L. Neste caso possvel ajustar a

    intensidade das trs fontes de modo a que estas paream iguais (4,17).

    Figura 27- Grfico representativo da curva de absoro dos fotopigmento (M e L) para um indivduo dicromata apresentando neste exemplo trs fontes de luz (a,b,c) (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    34

    3.1.3 Tricromata

    Encontra-se estabelecido que a maioria dos seres humanos possui uma viso tricromtica (trs

    tipos de fotopigmentos M, L e S). Dentro do grupo tricromata podemos referenciar a

    existncia de tricromatas anmalos que constituem o maior grupo de indivduos com

    discromatopsia. A sua viso semelhante ao dos indivduos com viso normal, isto , possuem

    trs sistemas receptores, vermelho, verde e azul, mas, no entanto, apresentam uma

    deficincia nos sistemas.

    Uma pessoa com viso tricromtica capaz de ajustar as intensidades relativas de dois

    padres, com pelo menos quatro comprimentos de onda, de tal modo que os padres paream

    idnticos. Consideremos os dois padres, A e B, representados na figura 28 que, apesar de

    serem fisicamente diferentes, parecem idnticos pois apresentam o mesmo nmero de

    absores (4).

    3.2 Tonalidade, saturao e brilho

    Quando dizemos que um estmulo verde estamos a fornecer uma informao incompleta.

    necessrio juntar mais alguns detalhes, uma vez que existem diferentes variantes do verde.

    Os investigadores que se dedicam ao estudo da cincia da cor caracterizam-na de acordo com

    trs caractersticas percepcionais, a tonalidade, a saturao e o brilho, que no so

    totalmente independentes umas das outras.

    3.2.1 Tonalidade

    A tonalidade estreitamente associada com o comprimento de onda. Um estmulo de 540nm

    tem uma tonalidade verde, enquanto que um estmulo de 570nm tem uma tonalidade mais

    amarelada (4,17).

    3.2.2 Saturao

    Uma cor desnaturada no manifesta uma intensidade muito forte, parece que est misturada

    com branco, por outro lado, uma cor saturada apresenta uma forte tonalidade sem parecer

    deslavada como a desnaturada.

    a + b c + d

    A B

    Figura 28- Representao de dois padres fisicamente diferentes

    [Adaptado da referncia (4)].

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    35

    A percepo da saturao est relacionada com o comprimento de onda. Um estmulo

    monocromtico, que por definio no tem adicionado luz branca, designado como

    apresentando uma pureza colorimtrica igual a 1. A pureza colorimtrica uma

    propriedade fsica do estmulo, representada pela seguinte equao:

    (7)

    onde L a luminncia da amostra, Lw corresponde luminncia da amostra combinada com

    luz monocromtica (4,17).

    Esta relao permite quantificar a quantidade de branco adicionada luz monocromtica e,

    por isso perceber o grau de saturao da amostra. Por exemplo, um estmulo monocromtico

    de 440nm (com p = 1), parece mais saturado do que igual combinao dum estmulo de 440nm

    com luz branca para o qual p = 0,50 (4,17).

    Se no for adicionado branco a pureza colimtrica seria igual a um.

    3.2.3 Brilho

    No perfeitamente definvel, pois psicolgico e subjectivo, depende do observador. a

    parte da cor que nos induz a sensao de luminncia (medida da densidade da intensidade de

    uma luz reflectida numa dada direco), dependendo desta, o objecto mais ou menos

    brilhante (4,17).

    3.3 Discriminao do comprimento de onda

    A nossa capacidade de distinguir um comprimento de onda de outro, maior em certas zonas

    do espectro electromagntico do que noutras. Esta afirmao pode ser mais facilmente

    percebida considerando a curva representada na figura 30 (recorrendo experincia do

    campo bipartido).

    Figura 29- Figura ilustrativa de um campo bipartido (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    36

    A experincia de um campo bipartido representado na figura 29, consiste inicialmente num

    campo uniforme (com o mesmo comprimento de onda t). Posteriormente alteramos o

    comprimento de onda at o indivduo perceber que h alterao de cor (t+).

    Os resultados da experincia anterior esto representados na figura 30. Devido sua forma,

    esta curva habitualmente designada curva-W da discriminao da cor.

    Analisando os resultados obtidos podemos concluir que, aos 400nm necessrio uma

    diferena superiora () a 6nm para se perceber a diferena na cor, aos 425nm a diferena j

    menor logo existe uma maior sensibilidade. Aos 495nm e aos 590nm, podemos comprovar

    que a sensibilidade mxima uma vez que, pequenas variaes de 2nm so suficientes para

    percebermos a diferena na cor (4,17).

    3.4 Efeitos Cromticos Fenmeno Bezold-Bruke

    A tonalidade da maioria dos estmulos monocromticos varia ligeiramente medida que a sua

    intensidade ajustada.

    Figura 30- As variaes da tonalidade ao longo do espectro (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    37

    A experincia que comprova a existncia deste fenmeno recorre utilizao de um campo

    bipartido (figura 31). Um dos lados mantm um comprimento de onda fixo (c) e o outro

    permite ter um comprimento de onda varivel (v) (4,17).

    Inicialmente na experincia a luminncia e o comprimento de onda so iguais em ambos os

    lados (v igual ao c). De seguida aumenta-se progressivamente a intensidade no lado do v

    at a pessoa perceber a diferena de tonalidade. Mais tarde ajustamos do lado do c a

    intensidade, at que a pessoa volte a ver a mesma tonalidade (4).

    Na figura 32 esto representadas trs linhas verticais fixas (que podem designar-se como

    pontos invariantes) que correspondem a um determinado comprimento de onda 478nm,

    503nm e 578nm. As tonalidades associadas a estes comprimentos de onda chamam-se

    tonalidades nicas, uma vez que, se aumentar a intensidade a tonalidade percebida sempre

    a mesma (4,17).

    3.5 Constncia de cor

    Designa-se por constncia de cor a aparncia, aproximadamente constante, da cor dos

    objectos em diferentes condies de iluminao. Esta caracterstica permite que se

    Figura 31- Figura ilustrativa de um campo bipartido (4).

    Figura 32- Ao variar a intensidade a tonalidade destes trs comprimentos de

    onda (478nm, 503nm, 578nm) constante (4) .

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    38

    identifiquem objectos, mesmo que as condies de iluminao variem, se assim no fosse, o

    mundo seria muito confuso (4,17).

    O sistema visual faz as correces necessrias para perceber a mesma cor. Os factores que

    dependem da cor do objecto so: o prprio objecto, o receptor, a fonte de iluminao e se

    existe ou no constncia de cor.

    3.6 Teoria das cores oponentes

    Quando um indivduo olha, durante alguns segundos, para a cor verde e depois para uma

    parede branca, este visualizar a cor vermelha. Isto acontece porque, se olharmos para uma

    determinada cor durante algum tempo, o sistema visual fica saturado com essa cor. Por esse

    motivo, quando um indivduo olha para uma parede branca, ele observar a cor

    complementar da primeira (figura 33). Isto uma das razes para os mdicos usarem batas

    verdes durante as cirurgias, como passam muitas horas seguidas a olhar para a cor vermelha,

    ao estarem vestidos de branco a visualizarem os colegas, viriam a ps imagem (cor verde) e

    assim, quando olham para as batas j vm verde tornando-se menos incmodo (4,17).

    Figura 33- Exemplificao dos canais das cores oponentes (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    39

    Ao longo da retina neural, apresenta-se alguns tipos de clulas ganglionares que tm um

    comportamento diferente segundo o comprimento de onda que lhes incide. Por exemplo, na

    figura 34 para comprimentos de onda curtos (abaixo de 570nm) a resposta da clula

    ganglionar seria a inibio e para comprimentos de onda superior a 570nm seria a activao.

    O exemplo da figura 34 pode exemplificar o que acontece com a teoria das cores oponentes

    (4,17).

    Figura 34- Frequncia dos potenciais de aco em funo do comprimento de onda em algumas clulas ganglionares (4).

    Figura 35- Frequncia dos potenciais de aco em funo do comprimento de onda para algumas clulas ganglionares (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    40

    Em contrapartida, na figura 35 as clulas ganglionares activam-se sempre (a activao pode

    ser mais ou menos intensa dependentemente do comprimento de onda que lhes incide). Esta

    caracterstica pode ser evidente quando abordamos a capacidade do indivduo (monocromata)

    em distinguir as cores em termos de intensidade, porque neste existem comprimentos de

    onda que vo encadear mais activao do que outros (4,17).

    3.7 Modelos actuais da Viso das Cores

    A fisiologia da viso das cores estabeleceu duas teorias: a teoria tricromtica e a teoria das

    cores oponentes. Cada uma das teorias demonstra um determinado funcionamento, a teoria

    tricromtica explica o funcionamento da retina sensorial (dos trs tipos de cones), enquanto

    que, a teoria das cores oponentes explica o funcionamento do que acontece aps a retina

    sensorial (a partir do processamento das clulas ganglionares) (4,17).

    3.8 Sistema Munsell de especificao das cores

    A capacidade de descrever verbalmente a cor no coincide com a nossa capacidade de

    perceber uma discriminao fina da cor. Considere-se, por exemplo, que se pretende pintar

    uma pequena parte de uma parede, igual cor original, embora parece ser simples para

    qualquer pessoa, na realidade isso no acontece porque, dentro da mesma cor existem

    centenas delas que variam em tonalidade, saturao e brilho (4,17).

    O sistema de Munsell permite-nos descrever as cores com uma grande especificidade ao longo

    das trs dimenses fsicas.

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    41

    O sistema de Munsell pode ser comparado a uma figura geomtrica cilndrica, em que a

    tonalidade muda ao longo do permetro, contendo cores primrias (vermelho, amarelo, verde,

    azul e roxo) que tambm so subdivididas em cores intermedirias. A saturao medida

    como um raio que varia de 1 a 14, em que na periferia as cores so mais desaturadas. O brilho

    muda ao longo da dimenso vertical, com o 0 a indicar o mnimo de reflexo e 10 o mximo.

    3.9 Sistema de especificao das cores (CIE)

    O sistema de especificao das cores (CIE) baseado na teoria tricromtica, cada cor

    descrita com base em cores primrias (verde, vermelho e azul). A experincia da figura 37

    recorre utilizao de um campo bipartido que consiste em adicionar vermelho (r), verde

    (g) e azul (b) de um dos lados, de modo a conseguir obter a mesma cor que foi estabelecida

    inicialmente (v) (4,17).

    Figura 36- Sistema de Munsell (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    42

    A partir do grfico obtido da figura 37 podemos observar que na obteno da tonalidade que,

    corresponde aos 600nm, necessitamos de uma grande quantidade de vermelho (r), alguma de

    verde (g) e nenhuma de azul (b). No entanto, existe uma zona do espectro do visvel (450nm

    a 550nm) que, um dos valores dos triestmulos negativo. O que obrigaria retirar (r) do lado

    da amostra, mas como esse processo difcil de pr em prtica, (tornando-se limitativo)

    sugere-se uma mudana nas variveis.

    Inicialmente o sistema da CIE utilizava funes , e na obteno dos valores

    primrios reais dos triestmulos (R,G,B). Com a mudana de variveis as funes so

    transformadas em funes primrias imaginrias que so fundamentais na

    aquisio do valor dos triestmulos (X,Y,Z) (4,17).

    Figura 37- Representa as quantidades dos valores dos triestmulos em funo do

    comprimento de onda que foram obtidos na experincia do campo bipartido (4).

  • As cores e a Viso e a Viso das Cores

    43

    3.10 Diagrama de Cromaticidade (x,y) da CIE

    As equaes (8), (9), (10) e (11) relacionam o valor dos triestmulos imaginrios (X,Y,Z) com

    as coordenadas de cromaticidade . Para compararmos o valor dos triestmulos

    imaginrias s cores reais necessrio proceder a uma converso que se efectua se

    recorremos s equaes descritas (4,17).

    A soma destas coordenadas deve ser igual a 1. Portanto se duas das coordenadas so

    conhecidas (x,y), podemos calcular a terceira (z).

    Figura 38- Grfico que representa as funes primrias imaginrias

    (4).

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    44

    Figura 39- Diagrama de cromaticidade da CIE, todas as cores fisicamente existentes encontram-se inseridas neste diagrama (4).

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    45

    Captulo

    4 Anomalia da Viso das Cores

    Aproximadamente 4,5% da populao tem problemas na viso das cores. A maioria dos casos

    so hereditrios, embora no representem uma ameaa, podem afectar profundamente o

    desempenho de certas actividades a nvel escolar e tambm no trabalho. Problemas

    adquiridos, como o caso de degeneraes da retina e, intoxicaes tambm causam

    anomalias. Podem ter um profundo efeito sobre o desempenho visual (4).

    A tabela 1-2 separa as anomalias em dois grandes grupos, o tricromata anmalo e o

    dicromata.

    Tabela 1-Referencia os vrios defeitos que existem num tricromata anmalo (4).

    Tabela 2- Referencia os vrios defeitos que existem num dicromata (4).

    Dicromata

    Confuso max Protanopes Protan R-G 540

    Deuteranopes Deutan R-G 560 Tritanopes Tritan B-Y 555 Tetranopes Tritan B-Y 560

    Nos tricromatas anmalos os trs fotopigmentos existem, no entanto o pico de sensibilidade

    est deslocado. Nos dicromatas existe a falta de um dos pigmentos, no protan o

    eritopigmento (vermelho), no deutan corresponde ao cloropigmento (verde), no tritan falta o

    cianopigmento (azul) e no tetranopes tambm no apresenta o cianopigmento s que o pico

    de sensibilidade encontra-se deslocado em relao ao anterior.

    O fotopigmento em falta presumivelmente substitudo por um fotopigmento remanescente.

    A substituio do fotopigmento ausente por um fotopigmento remanescente consistente

    com a acuidade de resoluo normal da dicromacia.

    Tricromata anmalo

    Confuso max

    Protanomalos Protan R-G 540 Deuteranomalos Deutan R-G 560

    Tritanomalos Tritan B-Y 560

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    4.1 Caractersticas dos indivduos com discromatopsias

    Pessoas com anomalia na viso das cores processam a informao cromtica de maneira

    diferente, sobretudo na sensibilidade espectral, na discriminao do comprimento de onda e

    nos eixos de confuso.

    4.1.1 Sensibilidade espectral

    Na figura 40 observamos um tricromata normal (A) com trs zonas de maior sensibilidade, que

    correspondem aos trs fotopigmentos (440nm, 520nm e nos 620nm). Os restantes grficos j

    equivalem a um indivduo dicromata (B) em que s apresentam dois tipos de fotopigmentos

    (4,17).

    Figura 40- Grficos representativos dos picos de sensibilidade de um indivduo tricromata normal (A) e de um indivduo dicromata (B) [Adaptado da referncia (4)].

    A

    B B

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    47

    4.1.2 Descriminao do comprimento de onda

    O grfico da figura 41 mostra as funes discriminatrias de um indivduo tricromata normal

    e, de um dicromata (protanopia e deuteranopia). Os indivduos com deuteranopia e

    protanopia apresentam uma descriminao bem desenvolvida na regio dos 490nm em

    comprimentos de onda mais longos (a partir dos 545nm) no existe capacidade em discriminar

    estmulos com base na diferena do comprimento de onda (4,17).

    Figura 41-Discriminao do comprimento de onda em casos de um deuteranopia e protanopia (4).

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    4.1.3 Eixos de confuso

    A capacidade das pessoas dicromatas em dintinguir as cores entre elas lim