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ARP65 Acta Radiológica Portuguesa, Vol.XXI, nº 83, pág. 65-71, Jul.-Set., 2009 Recebido a 24/11/2008 Aceite a 27/03/2009 Introdução A radiologia convencional continua a ter um papel fundamental na avaliação diagnóstica das lesões tumorais ósseas. Embora os aspectos radiográficos nem sempre permitam estabelecer um diagnóstico preciso, podem fornecer dados sobre a agressividade, características morfológicas, localização e distribuição das lesões no esqueleto que, quando combinadas com a idade e outros Tumores Ósseos Benignos mais Frequentes na Criança Aspectos Imagiológicos Benign Bone Tumors more frequent in Pediatric Age - Imaging Features Sónia Medeiros 1 , Pedro Ferreira 2 , Ana Nunes 3 1 Interna do Internato Complementar de Radiologia do Hospital do Divino Espírito Santo Directora: Dr.ª Rosa Cruz 2 Assistente do Hospital Egas Moniz, CHLO - Directora: Dr.ª Francelina Fernandes 3 Assistente do Hospital Dona Estefânia - Director: Dr. Francisco Abecasis Resumo A radiologia convencional continua a ter uma importância fundamental na avaliação diagnóstica das lesões tumorais ósseas. Embora os aspectos radiográficos nem sempre permitam estabelecer um diagnóstico preciso, podem fornecer dados sobre a agressividade, características morfológicas, localização e distribuição das lesões no esqueleto que, quando combinadas com a idade, outros dados clínicos, permitem conduzir ao diagnóstico preciso ou então, à elaboração de um leque reduzido de hipóteses diagnosticas. Os autores fazem uma breve revisão da epidemiologia, histologia, dados clínicos e, sobretudo, dos aspectos imagiológicos mais característicos dos tumores ósseos benignos em idade pediátrica, dando, no entanto, maior ênfase à radiologia convencional. Palavras-chave Tumores Ósseos Benignos na Criança; Enostose; Osteoma Osteóide; Osteocondroma; Encondroma; Condroblastoma; Displasia Fibrosa; Fibroma não Ossificante; Fibroma Ossificante; Granuloma Eosinófilo; Quisto Ósseo Simples; Quisto Ósseo Aneurismático. Abstract Conventional radiographic techniques are of fundamental relevance in diagnosis of bone tumors. However, radiographic abnormalities are not always virtually diagnostic, provide important information about aggressive or nonaggressive behavior of the lesion, morphological characteristics, site or distribution of skeletal involvement. The addition of clinical information, including the age of the patient allows formulation of a single diagnosis choice or several choices that are most likely in any patient. The authors review epidemiology, pathology, clinical findings and specially the most characteristic imaging features of the benign bone tumors in pediatric age. We emphasize in conventional radiographic technique. Key-words Benign Bone Tumors in Pediatric Age; Enostosis; Osteoid Osteoma; Osteochondroma; Enchondroma; Chondroblastoma; Fibrous Dysplasia; Nonossifying Fibroma; Ossifying Fibroma; Eosinophilic Granuloma; Simple Bone Cyst; Aneurysmal Bone Cyst. dados clínicos, permitem conduzir ao diagnóstico preciso ou então, à elaboração de um leque reduzido de hipóteses diagnosticas. A interpretação de um exame de imagem na ausência de informação clínica relevante aumenta a probabilidade de um diagnóstico incorrecto. A propensão de um dado tumor para afectar um grupo etário e apresentar uma determinada localização no esqueleto, são elementos de grande importância diagnostica. Por exemplo, se a lesão é epifisária ou apofisária, na criança deve-se pensar no condroblastoma e infecção ou eventualmente, no quisto ósseo aneurismático e no granuloma eosinófilo. Se as lesões são múltiplas, os diagnósticos diferenciais mais prováveis são a displasia Artigo de Revisão

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ARPq65

Acta Radiológica Portuguesa, Vol.XXI, nº 83, pág. 65-71, Jul.-Set., 2009

Recebido a 24/11/2008

Aceite a 27/03/2009

Introdução

A radiologia convencional continua a ter um papelfundamental na avaliação diagnóstica das lesões tumoraisósseas. Embora os aspectos radiográficos nem semprepermitam estabelecer um diagnóstico preciso, podemfornecer dados sobre a agressividade, característicasmorfológicas, localização e distribuição das lesões noesqueleto que, quando combinadas com a idade e outros

Tumores Ósseos Benignos mais Frequentes na CriançaAspectos Imagiológicos

Benign Bone Tumors more frequent in Pediatric Age - ImagingFeatures

Sónia Medeiros1, Pedro Ferreira2, Ana Nunes3

1Interna do Internato Complementar de Radiologia do Hospital do Divino Espírito SantoDirectora: Dr.ª Rosa Cruz2Assistente do Hospital Egas Moniz, CHLO - Directora: Dr.ª Francelina Fernandes3Assistente do Hospital Dona Estefânia - Director: Dr. Francisco Abecasis

Resumo

A radiologia convencional continua a ter uma importância fundamental na avaliação diagnóstica das lesões tumorais ósseas.Embora os aspectos radiográficos nem sempre permitam estabelecer um diagnóstico preciso, podem fornecer dados sobre aagressividade, características morfológicas, localização e distribuição das lesões no esqueleto que, quando combinadas com aidade, outros dados clínicos, permitem conduzir ao diagnóstico preciso ou então, à elaboração de um leque reduzido de hipótesesdiagnosticas.Os autores fazem uma breve revisão da epidemiologia, histologia, dados clínicos e, sobretudo, dos aspectos imagiológicos maiscaracterísticos dos tumores ósseos benignos em idade pediátrica, dando, no entanto, maior ênfase à radiologia convencional.

Palavras-chave

Tumores Ósseos Benignos na Criança; Enostose; Osteoma Osteóide; Osteocondroma; Encondroma; Condroblastoma; DisplasiaFibrosa; Fibroma não Ossificante; Fibroma Ossificante; Granuloma Eosinófilo; Quisto Ósseo Simples; Quisto Ósseo Aneurismático.

Abstract

Conventional radiographic techniques are of fundamental relevance in diagnosis of bone tumors. However, radiographicabnormalities are not always virtually diagnostic, provide important information about aggressive or nonaggressive behavior ofthe lesion, morphological characteristics, site or distribution of skeletal involvement. The addition of clinical information, includingthe age of the patient allows formulation of a single diagnosis choice or several choices that are most likely in any patient.The authors review epidemiology, pathology, clinical findings and specially the most characteristic imaging features of the benignbone tumors in pediatric age. We emphasize in conventional radiographic technique.

Key-words

Benign Bone Tumors in Pediatric Age; Enostosis; Osteoid Osteoma; Osteochondroma; Enchondroma; Chondroblastoma; FibrousDysplasia; Nonossifying Fibroma; Ossifying Fibroma; Eosinophilic Granuloma; Simple Bone Cyst; Aneurysmal Bone Cyst.

dados clínicos, permitem conduzir ao diagnóstico precisoou então, à elaboração de um leque reduzido de hipótesesdiagnosticas. A interpretação de um exame de imagem naausência de informação clínica relevante aumenta aprobabilidade de um diagnóstico incorrecto.A propensão de um dado tumor para afectar um grupoetário e apresentar uma determinada localização noesqueleto, são elementos de grande importânciadiagnostica. Por exemplo, se a lesão é epifisária ouapofisária, na criança deve-se pensar no condroblastomae infecção ou eventualmente, no quisto ósseo aneurismáticoe no granuloma eosinófilo. Se as lesões são múltiplas, osdiagnósticos diferenciais mais prováveis são a displasia

Artigo de Revisão

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fibrosa, o granuloma eosinófilo, o encondroma ou ainfecção. Se está presente reacção periosteal ou dor,podemos excluir a displasia fibrosa, o quisto ósseo simples,o fibroma não ossificante e o encondroma [3].No entanto, por vezes não é possível estabelecer umdiagnóstico único ou um número reduzido de hipótesesdiagnósticas, podendo ser necessário o recurso a outrosmétodos complementares de imagem, ou mesmo, a estudohistológico ou imuno-histoquímico.

Enostose

Também denominada de ilhota compacta, não é narealidade um tumor ósseo. Localiza-se maisfrequentemente na bacia, fémur proximal e costelas.Radiograficamente, apresenta-se como uma lesão intra-óssea não expansiva, uniformemente radiodensa e demorfologia redonda ou oval (Figura 1) [1].Os diagnósticos diferenciais mais importantes, são: oosteoma osteóide, o encondroma, o enfarte ósseo e as lesõesmetastáticas.

lesões intracorticais apresentam aspecto mais característicoenquanto as lesões intramedulares, subperiosteais ou intra-articulares têm habitualmente aspecto menos característico[1].Nos ossos tubulares longos comporta-se como uma lesãometa-diafisária, cortical, com nidus centralradiotransparente, envolvida por esclerose óssea eespessamento da cortical por proliferação do endósteo eperiósteo. O nidus pode ser radiotransparente ou então,conter calcificações (Figura 2a e 2b). A Tomografia

Fig. 1 – Enostose

Osteoma Osteóide

É um tumor osteoblástico benigno, constituído por umnúcleo central de tecido osteóide vascularizado e uma zonaesclerótica periférica. É controverso se a sua origem éneoplásica ou infecciosa. É mais frequentementeencontrado entre os 7-25 anos, predominando no sexomasculino. A presença de dor que agrava à noite e aliviacom salicilatos, é um aspecto muito característico. Podecondicionar alterações do crescimento, atrofia muscular edeformidade óssea. As lesões são tipicamente de reduzidasdimensões (<1-1,5 cm), sendo o fémur e tíbia os ossosmais frequentemente envolvidos (70% dos casos). Nosossos longos habitualmente é uma lesão diafisária, emboracom possível extensão metafisária [1].O aspecto radiológico característico é de uma lesão central,esférica ou oval, radiotransparente, inferior a 1cm, rodeadapor zona uniforme de esclerose. No entanto, o seu aspectoé variável segundo o osso envolvido e a localização. As

Fig. 2a – Osteoma osteóide

Fig. 2b – Nidus do osteoma osteóide

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Computorizada (TC) pode ter um papel importante naidentificação do nidus quando não visualizado porradiologia convencional [4].Nos ossos do carpo, tarso e nas epífises dos ossos longosapresenta-se como uma lesão intra-medular bemcircunscrita parcial ou totalmente calcificada, com eventualhalo radiotransparente envolvendo a lesão e semsignificativa esclerose reactiva [1].Na coluna vertebral, a associação de dor e escoliose devemfazer suspeitar desta lesão. Encontra-se maisfrequentemente nos elementos posteriores do segmentolombar, localizando-se habitualmente no lado côncavo dacurvatura escoliótica próximo do vértice.Manifesta-se sob a forma de osteosclerose dos pedículos,lâminas ou das apófises articulares. Em alternativa àressecção cirúrgica do nidus existe actualmente apossibilidade de ablação percutânea por radiofrequênciaguiada por TC, com vantagem de também ser eficaz naresposta clínica e de ser menos invasiva [1,5].

Osteocondroma

São exostoses osteocartilaginosas, existindo umacontinuidade da sua esponjosa e da cortical com a do osso.Podem ser lesões solitárias (Figura 3a) ou múltiplas(Exostoses múltiplas hereditária) (Figura3b), podendosurgir de forma espontânea ou após traumatismo ouirradiação, sendo na sua maioria lesões assintomáticas.Qualquer osso que se desenvolva por ossificaçãoendocondral pode estar envolvido, embora o fémur, úmeroe tíbia, estejam mais frequentemente afectados. Alocalização é habitualmente metafisária, podendo serpediculado ou séssil. Tipicamente as lesões crescem emdirecção diafisária afastando-se da articulação [1]. O vértice da lesão é revestido por cartilagem hialina. Umacobertura discreta e bem definida com calcificaçõesregulares é sugestivo de natureza benigna, enquanto umacobertura exuberante e mal-definida, especialmente se tivermais de 1,5 cm de espessura, com calcificações irregulares

deve fazer suspeitar de eventual transformação maligna[6,7].A TC e a Ressonância Magnética (RM) podem ser úteisna determinação da continuidade da medular e da corticalda lesão com a do osso e na caracterização do revestimentocartilaginoso [2].

Encondroma

É o tumor benigno mais frequente da mão, desenvolve-sena cavidade medular e é composto de cartilagem hialinadisplásica [8]. O úmero, fémur e tíbia são outraslocalizações frequentes. É habitualmente assintomático.O aspecto radiológico mais característico é de uma lesãomedular bem definida, com ou sem calcificações,condicionando erosão lobulada do endósteo, emlocalização metafisária num osso tubular longo oudiafisária num osso tubular da mão ou do pé (Figura 4).Pode ainda estar presente, expansão da cortical ou eventualfractura patológica [1].A TC pode ser útil no diagnóstico diferencial com enfarteósseo. O encondroma apresenta calcificações em anel ouarciformes intra-lesionais e contornos lobulados emoposição ás calcificações periféricas serpeginosas doenfarte ósseo [2].A diferenciação entre um encondroma e umcondrossarcoma de baixo grau é um problema diagnósticofrequente. No entanto, o aparecimento de dor, extensaerosão do endósteo, escassez de calcificação da matriz,presença de reacção periosteal, destruição da cortical,massa de partes moles, localização epifisária ou uma delesão de grandes dimensões são sinais que devem fazersuspeitar de transformação maligna em condrossarcoma[1].A Doença de Ollier, também denominada deEncondromatose Múltipla, é uma doença rara, nãohereditária, consistindo em depósitos cartilaginososmúltiplos intra-ósseos e subperiosteais, com envolvimentoexclusivo ou predominantemente homolateral. Pode existirencurtamento e deformidade dos ossos afectados. Após aparagem do crescimento, as lesões não aumentam detamanho, a não ser que tenha ocorrido transformaçãomaligna [1].O Síndrome de Maffucci é uma doença rara, congénita enão hereditária, consistindo em múltiplos encondromas elesões vasculares de partes moles (hemangiomascavernosos ou capilares) não obrigatoriamentecoincidentes na localização. Em 50% dos casos o

Fig. 3a – Osteocondroma pediculado Fig. 3b – Múltiplos osteo-condromas (sésseis e pedi-culados)

Fig. 4 – Encondromas

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envolvimento é homolateral. Metacarpos e falanges dasmãos são os locais mais frequentemente afectados. Oaspecto radiológico mais característico é a presença delesões radiotransparentes centrais ou excêntricas comcalcificações e flebólitos nas partes moles. A transformaçãomaligna é a complicação mais temível [1].

Condroblastoma

É um tumor cartilaginoso relativamente raro surgindo na2ª e na 3ª década de vida. Tem origem na epífise ou apófisede um osso tubular longo, podendo ocorrer extensãometafisária. Fémur, úmero e tíbia são os ossos maisfrequentemente envolvidos. É uma lesão lítica excêntricaou central, epifisária ou apofisária, bem definida, demorfologia redonda ou oval com eventual fino haloesclerótico (Figura 5).Em 30-50% dos casos existem calcificações [1]. A TC podeser útil na identificação de calcificações intra-lesionais depadrão condróide [2,9]. Raramente pode apresentar um comportamento agressivocom invasão do espaço articular, das partes moles ou dosossos adjacentes, aspectos melhor visualizáveis por TCou por RM [2].

Displasia Fibrosa

É uma anomalia não-hereditária resultante da falência danormal diferenciação e maturação morfológica dososteoblastos. O envolvimento pode ser mono (70-80% doscasos) ou poliostótico (20-30% dos casos). Na doençamonostótica, costelas, fémur, tíbia e úmero, são os ossosmais frequentemente envolvidos, enquanto que na doençapoliostótica, crânio, face, bacia, coluna vertebral e cinturaescapular, são os locais habitualmente afectados. A doençamonostótica não evolui para poliostótica.É a lesão benigna mais frequente das costelas. Lesões em“vidro despolido” são o achado mais característico dadoença. A transformação maligna é rara [1].O Síndrome McCune-Albright resulta da associação dedoença poliostótica a precocidade sexual e pigmentaçãocutânea.No caso de envolvimento dos ossos do crânio e da facesurgem alterações da órbita e do canal auditivo interno.As lesões podem ser líticas ou blásticas. Alargamento dodiploe, expansão óssea em direcção exterior eproeminência da protuberância occipital externa, sãoalterações possíveis de encontrar [1].O envolvimento da coluna vertebral é raro. As lesões sãoradiotransparentes, bem definidas, expansíveis, commúltiplas septações internas envolvendo preferencialmenteos corpos vertebrais e mais raramente os elementosposteriores.No caso dos ossos tubulares, as lesões são usualmenteintramedulares e diafisárias, radiotransparentes, bemdefinidas, em “vidro despolido”, com trabeculação internae com matriz calcificada. A remodelação conduz aexpansão óssea de contornos ondulados (Figura 6). Adisplasia fibrosa pode ainda condicionar enfraquecimentoda estrutura e deformidade óssea [1].

Embora habitualmente associada a adelgaçamento dacortical e expansão óssea, a TC pode revelar destruiçãoda cortical, aspectos de difícil visualização na radiologiaconvencional. No entanto, a TC não é um exameusualmente necessário no estudo destas lesões [10].

Fibroma não Ossificante

Defeito fibroso da cortical e fibroma não ossificante sãolesões frequentes, usando-se este último termo para aslesões de maiores dimensões.Julga-se que resultem de traumatismos locais do periósteocom resultante hemorragia e edema focal, com propensãopara ocorrer nos locais de inserção tendinosa. Raro antesdos 2 anos, porque a história de traumatismos é importantena patogénese e raro também nos adultos porque na maioriados casos a lesão é substituida por osso normal. Surgehabitualmente após os 2 anos de idade. Os ossos tubulareslongos, nomeadamente a tíbia e fémur, são a localizaçãomais frequente. Os membros superiores estão raramenteenvolvidos. As lesões pequenas são mais frequentementemultifocais. São predominantemente metafisárias comorigem próximo da placa de crescimento, mas com ocrescimento ósseo continuado a lesão pode extender-se àdiáfise. Têm origem na face postero-interna do osso longo[1].

Fig. 5 – Displasia Fibrosa

Fig. 6 – Condroblastoma

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Os aspectos radiológicos são muito característicos: aspequenas lesões apresentam-se como áreas focaisradiotransparentes, superficiais, intra-corticais, demorfologia esférica ou oval, contornos lisos ou lobulados,bem definidos, com ou sem esclerose adjacente. As lesõesde maiores dimensões apresentam habitualmente aspectoalongado e multiloculado com eventual adelgaçamento dacortical ou expansão óssea (Figura 7). Não são necessáriosoutros métodos de imagem para estabelecer o diagnóstico[1].

Fig. 7 – Fibroma nãoossificante

Fibroma Ossificante

Apresenta semelhanças anatomo-patológicas notórias coma displasia fibrosa localizando-se mais frequentemente nosossos da face.Nos ossos do crânio e da face, apresenta-se como umalesão lítica, medindo entre 1 a 5 cm, uni ou multiloculada,bem circunscrita, expansiva, de crescimento lento, ecalcificada. É frequente o envolvimento da mandíbula [1].O envolvimento dos ossos longos é raro. O aspecto maistípico é de uma lesão diafisária, sobretudo se localizadano terço médio e na face anterior da tíbia. O perónio é osegundo osso mais frequentemente envolvido, podendo atíbia e o perónio estar simultaneamente afectados. A lesãoé inicialmente intra-cortical com envolvimentosubsequente da esponjosa. Na tíbia pode apresentar-se como uma massa indolor comarqueamento anterior ou antero-lateral ósseo.Radiologicamente comporta-se como uma lesão líticaintracortical, por vezes multiloculada, bem delimitada porhalo esclerótico (Figura 8). Ocasionalmente apresentaaspecto em “vidro despolido” ou completamenteesclerótico. Habitualmente estabiliza ou regrideespontaneamente [1].

Granuloma Eosinófilo

É a forma mais ligeira e mais frequente (70% dos casos)de Histiocitose X. É mais frequente o envolvimentomonostótico do que poliostótico. Os ossos maisfrequentemente envolvidos são os ossos do crânio,

Fig. 8 – Fibroma ossi-ficante

mandíbula, coluna vertebral, costelas, bacia e ossos longos.Na presença de uma lesão lítica nas clavículas ou no esternodeve-se sempre suspeitar do diagnóstico de granulomaeosinófilo. Pode surgir na epífise com invasão da placa decrescimento. Clinicamente pode manifestar-se por dor,tumefacção ou febre. O aspecto radiológico é variávelsegundo a localização no esqueleto [1].Nos ossos longos e nos ossos planos, comporta-se comouma lesão lítica intramedular bem definida. Posteriormentepode invadir a cortical, com erosão do endósteo e formaçãode osso periosteal [1]. Os ossos do crânio mais frequentemente envolvidos sãoo frontal e o parietal. Radiologicamente apresenta-se comouma lesão lítica, com aspecto de sequestro “em botão”, decontornos biselados ou escleróticos, resultantes dadestruição desigual da tábua interna e da tábua externa [1](Figura 9).Na coluna vertebral há um envolvimento preferencial doscorpos vertebrais da coluna torácica e lombar. Comporta-se como uma lesão lítica de crescimento rápido que podeconduzir a achatamento e esclerose do corpo vertebral,denominada de vértebra plana. Esta é a causa maisfrequente de vértebra plana na criança. Hácaracteristicamente preservação do disco intervertebral.Raramente pode surgir massa paravertebral, justificandoneste caso, no entanto, estudo histológico. É importante o

Fig. 9 – Granuloma eosinófilo

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diagnóstico diferencial com osteomielite e neoplasiamaligna. A TC e a RM podem ser úteis se a intervençãocirúrgica for considerada, no intuito de delimitar a extensãoda lesão [2,11].

Quisto Ósseo Simples

Antes dos 20 anos de idade há envolvimento preferencialdos ossos tubulares, nomeadamente da extremidadeproximal do úmero e do fémur. Após os 20 anos de idadesão mais raros, embora com predilecção no osso ilíaco ecalcâneo. Raramente são sintomáticos. Os quistoslocalizados na metáfise adjacente à placa de crescimentosão considerados activos. Os quistos que migraram paradiáfise afastando-se da placa são considerados latentes [1].O aspecto radiológico característico é de uma lesãoradiotransparente, central, de contornos finos eescleróticos, condicionando adelgaçamento da cortical ediscreta expansão óssea. Nos ossos longos localiza-sehabitualmente na metáfise apresentando o seu eixolongitudinal paralelo ao do osso. Alguns quistos possuemaspecto multiloculado [1] (Figura 10a).No calcâneo comporta-se como uma lesãoradiotransparente, bem definfido, localizadafrequentemente na sua base (Figura 10b). Os diagnósticosdiferenciais mais importantes são o lipoma e oadelgaçamento da trabeculação.A TC pode ter utilidade na avaliação da extensão da lesãoem determinadas localizações (Figura 10c), tais como nacoluna vertebral ou na bacia.Lesões que surgem na infância ou na adolescência têmelevada taxa de recorrência após tratamento.O tratamento actual consiste na excisão cirúrgica ou nainjecção intra-quística de esteróides [1].

Fig. 10a –Quisto ósseosimples

Fig. 10b –Quisto ósseo simples Multi-loculado

Fig. 10c – Quisto ósseosimples

A complicação mais frequente é a fractura patológicamanifestando-se sob a forma de um fragmento verticalintra-quístico em posição de declive [12]. Muito raramentepode sofrer transformação maligna. No entanto, o uso nopassado de radioterapia no tratamento dos quistos levantaa hipótese desta ser uma complicação não do quisto massim do tratamento [1].

Quisto Ósseo Aneurismático

É uma lesão hemorrágica, contendo cavidades quísticasde parede fina preenchidas por sangue (Figura 11a).Antecedentes de traumatismos têm um papel importantena patogénese. É frequente a coexistência de tumoresbenignos e mais raramente de tumores malignos. Em 80%dos casos surge antes dos 20 anos. Dor e tumefacção localsão a sintomatologia mais frequente. Tíbia, vértebras,fémur, úmero e ossos ilíacos, são os locais maisfrequentemente envolvidos. Os aspectos radiográficosdominantes são a osteólise e a expansão óssea [1].Nos ossos longos apresenta-se habitualmente como umalesão osteolítica, metafisária, excêntrica, de contornos bemdefinidos, com ou sem bordo esclerótico e comtrabeculação de disposição horizontal [1] (Figura 11b).Na coluna vertebral o aspecto típico é de uma lesão lítica,expansível, envolvendo os elementos posteriores, podendo,no entanto, coexistir envolvimento de corpos vertebrais[1].A TC é especialmente útil em definir o tamanho e alocalização dos componentes intra ou extra-ósseos da lesãoem locais anatomicamente complexos. A detecção de níveislíquidos por TC ou RM embora não sendo patognomónicoé um achado muito característico [13,14].Embora não sendo uma verdadeira lesão neoplásica, a suatendência para crescer rapidamente, provocar destruiçãoóssea considerável e estender-se ás partes molesenvolventes, justifica um tratamento agressivo. A regressãoé um fenómeno raro [1].

Fig. 11a – Quisto ósseoaneurismático

Fig. 11b – Quisto ósseo aneuris-mático com fractura patológica

Conclusão

Pretendemos neste trabalho fazer uma breve revisão daepidemiologia, histologia, dados clínicos e, sobretudo, dosaspectos imagiológicos mais característicos dos tumores

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ósseos benignos em idade pediátrica, dando, no entanto,maior ênfase à radiologia convencional.A radiologia convencional continua a ter um papelfundamental na avaliação diagnóstica das lesões tumoraisósseas. Embora os aspectos radiográficos nem semprepermitam estabelecer um diagnóstico definitivo, podemfornecer dados sobre a agressividade, característicasmorfológicas, localização e distribuição das lesões noesqueleto que, devem ser sempre correlacionados com aidade e outros dados clínicos do doente. Esta correlaçãocom a clínica permite muitas vezes um estreitamento doleque de hipóteses diagnósticas.No entanto, a significativamente melhor resolução espaciale de contrastes da TC e da RM relativamente à radiologiaconvencional, associada às capacidades multiplanares e àsua cada vez maior disponibilidade, tornam estes métodosde imagem muito úteis quando não é possível estabelecerum diagnóstico único ou restringir a um número reduzidode hipóteses diagnosticas. Em última análise, pode sernecessário o recurso a estudos histológicos ou imuno-histoquímicos.

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Correspondência

Sónia MedeirosServiço de RadiologiaHospital do Divino Espírito SantoGrotinha9500 - Ponta DelgadaSão Miguel - AçoresEmail: [email protected]