anderson, benedict. comunidades imaginadas. reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo....
TRANSCRIPT
Introduccedilatildeo
Talvez sem ClUe tenha sido muito notada esteja ocorrendo uma
tr31~ sformaccedilatildeo fundamental na histoacuteria dO narxismo e dos movishy
mentos marxistas Os sinais mais visiacuteveis satildeo as guerras recentes
entre o Vietnatilde o Camboja e a China -sas guerras satildeo de imporshy
tacircncia histoacuterica mundial por serem as primeiras a acontecer entre
regimes com independecircncia e credenciais revolucionaacuterias inquesshy
tionaacuteve is e tambeacutem porque nenhum dos beligeran tes fez qual quer
tentativa que natildeo fosse extremamente superficial pa ra justificar a
carnificina nos termos de uma perspectiva teoacuterica que se pudesse
reco nhecer como marxista Se a inda era possiacutevel interpretar os
confl itogt de fronteira sino- sovieacuteticos de 1969 e as in tervenccedilotildees
m ili ta res sovieacuteticas na Alemanha (1953) Hu ngria (1956 ) Cheshy
coslovaacutequ ia (1968) e Afeganistatildeo (1 ~80) como - dep endendo
do gosto - imperialismo sociausta defesa do socialismo etc
ningueacutem imagino eu acredita seriamente que esses termos posshy
am ler mui to cabimento diante do q ue ocorreu na Indochina Se
a invasatildeo e a ocupaccedilatildeo vietnamita do Camboja em dezembro de
1978 e j an~iro de 1979 representaram a primeira guerra convencioshy
li I em grande escala de um regime marxista revolucionaacuterio contra
o utro a inves tida da China no Vietnatilde em fe vereiro logo confi rshy
mo u o precedente Apenns algueacutem muito creacutedulo se at reveria a
lpostar que nesses uacuteltimos anos do seacuteculo xx algu ma eclosatildeo sigshy
nificativa de hostilidade entre Estados haveraacute de encontrar a Unjatildeo
Sovieacutetica e a Re puacuteblica Popular da China - sem falar dos estados
socialistas menores - se apoiando ou luta ndo do mesmo lado
Quem pode ter cer teza de que a Iugoslaacutevia e a Albacircnia natildeo iratildeo se
digladiar algum dia Esses grupos heterogecircneos que pedem a retishy
radd dos acampam entos do Exeacutercito Vermelho da Europa O rienshy
tai deveriam lembrar o quanto a presenccedila esmagadora dessas forccedilas
vem desde 1945 impedindo o conflito armado entre os regimes
marxistas da regiatildeo
Essas observaccedilotildees serVCD para ressaltar o fato de que dede
I Segunda Guerra Mundial todas as revoluccedilotildees vitoriosas se defishy
niram em termos nacionais - a Repuacuteblica Popular da China a
Rep uacuteblica Socialista do Vietnatilde e assim por diante - e com isso
se firmaram solidamente num espaccedilo territorial e social herdado
1 Escolhi essa formula(-agraveo apenas para ressaltar a escala e o es tilo do combate e
11 10 para atribuir culpas Para evitar possiacuteveis mal-entendidos cumpre dizer que
a in vasatildeo de deacutelembro de 1978 res ultou de confrontos armados entre partidaacuterios
dos do is movimentos revolucionaacuterios possivelmente (ksde 1971 Depois de abril
de 1977 os ataques nas fronteiras iniciados pelos cambojanos mas rapidamen shy
k adotados pelos vietnamitas aumentaram em tamanho e objc tivoculminando
n1 grande incursagraveo do Viet natilde em dezembro de 1977 IVlas nenhum desses ataques
rrtkndia derrubar regim es inim igos ou ocupar grandes territoacuterios lt o nuacutemero
de soldados envolvidos tam pouco se comparava agrave quantidade de tro pas utiliza shy
das em deze mbro de 19 7R A controveacute rsia sobre as causas da guerra t apresentashy
da de forma muito ponderada em Stephcn P Heder Th c kampuchca n-vic lnashy
mese co nflicl in David W P Elliott (org) The third lndochil lll cullflirt pp 21-67
inl lwn ) Barnett lnter-comm u nist conf1icts and VieLnam Ruletin ofco17cerned
clIIsch olrs 114 (outubro-dC1cmb ro 1979) pp 29 e Laura Summcrs In mat shy
ln s of var anJsocialism Anthon) Barnett wo uld shamt and honour Kampuchea ton much ibid pp 10-8
26 27
Jo pasia do pre- revo lucionaacuterio Inversamente se a Un iatildeo Soshy
i eacuteli~(1 d ivide com o Reino Unido da Gratilde -Bretanha e Irl anda do
Norte a rara d is t inccedilatildeo de natildeo mencio nar nacion a l i dade ~ em seu
nnme isso sugere q ue ela eacute natildeo s6 a he rde ira d os estados dinaacutesti shy
cos p reacute- nacionai s m as ta mb eacutem a prec u rso ra de uma o rdem
internac ional ista no spculo XX I shy
-r ic Hobs baw m tem plena razatildeo ao afirmar que os movishy
mentos e estados m arxistas tecircm mostrado a tendecircncia de se to rnashy
rem nacionais natildeo soacute na fo rma m as tambeacutem no conteuacutedo ou seja
nacio nalistas Nada ~ ugere que essa corrente natildeo haveraacute d e contishy
nUM E essa tendecircncia natildeo se restringe ao mundo socialista As
Naccedilotildees Un idas admitem no vOs m em bros praticamente todos os
anos E muitas naccedilotildees antigas tidas co mo plenamente consoli shy
dadas vecircem-se desafiadas por sub-nacio nal ismos em seu p roacute shy
pr io territoacute rio - nacionalismos estes cla ro que son ham com
algum futuro fel iz livres dessa co ndi ccedilatildeo de sub A realid ade eacute
muito simples natildeo se enxerga nem remotamente o fim da era do
nacio nalismo que po r tanto tempo fo i profetizado Na verdade a
condi ccedilatildeo nac io nal [n at ion -ness] eacute o va lor de m aior legit imidade
un iversa l na vida poliacutetica dos nossos tem pos
Mas ~e 0 5 fatos satildeo cla ros a expl icaccedilatildeo deles contlnua sendo
objeto de LI ma longa d iscussatildeo Naccedilatildeo nacionalidade nac ionalis shy
mo- todos provaram ser de di fi ciacuteli ma definiccedilatildeo que di niacute de anaacuteshy
Iise Em contraste com a enorme in fl uecircncia do nacional i~mo sobre
o mundo moderno eacute no tiacutevel a escassez de teorias plau siacutevei lgt sobre
ele Hugh ~cto n -Watwn au tor do que ~ longe o melhor c o m ais
l Q uem tiver alguma duacutevidl sobre as prcte nlt1c do Re ino Un ido quanto a esa
ptriJclclc com a Uniuumlo Sovieacutelica que se peq Ul1 l q ual a rlac io ll 1 licl Joe dc~ i g nada
pelo Sl 1l110mcl Gratilde-Bri lo- lrIlocSa
3middot r ic I lolh bJwm middotome rdlecti l1 s on 1 h( brea k-up of BritJi n Ntmiddotw Lert UC middotimiddotw luS (gtdelllb ro -outub ro 1977 ) p 1 J
2iacutel
lbrangen te texto em liacutengua inglesa sobre nacionalismo e herdeiro
de urna vasta tradiccedilatildeo liberal de his toriognlfia e ciecircncias sociais
ob~( rva com pesa r Assim eu sou levado a co ncl uir que natildeo eacute posshy
slvcl elaborar nenhuma defi niccedilatildeo ci en tiacutefi ca de naccedilatildeo m as uuml fenocirc shy
meno exis tiu e con tinua a existir ~ Tom Nairn autor do inovador
ri( Break-up ofHritain c herdeiro de uma tradiccedilatildeo q uase tatildeo vasta
de his toriogra fia e ciecircncias sociais m arx istas d ecla ra com a maior
sinceridade A teoria do nacionalismo representa a grande falha
histoacute rica do m arxismo Mas m esmo esse reconhecimen to eacute um
tan to enganador pois pode-se entendecirc-lo como se estivesse refeshy
rindo-se ao deploraacutevel resultado de uma longa e deliberada busca
de clMeza teuacuterica Seria m ais correto di zer que o nacionalismo
del11o nstrou ser uma anomalia incocircmoda para a teu ria marxis ta e
justa mente por isso prefe riu-se evitaacute -lo em vez de en frentaacute -lo De
que outra maneira se explicaria por que Marx natildeo esclareceu o
prono me possessivo cruc ial na sua memoraacute vel formulaccedilatildeo de
lMS O proletariado de cada paiacutes d~ve natural mente ajustar
contas antes de mais nada com a sua proacutepria burguesia De que
outra ma neira tam beacutem se explicaria por que o concei to de burshy
gues ia naci o nal foi uti lizado por mais de um seacuteculo sem nenhuma
tentat iva seacuteria de justifi car teoricamente a pertinecircncia do adjetivo
Por q ue essasegmentaccedilatildeo da burguesia - LU11a classe m undIal na
med ida em q ue eacute d efi nida pelas relaccedilotilde es de p rodu ccedilatildeo - tem
imrnrtacircncia teoacuterica
Este livro pretende o terecer a tiacutetulo de ensaio algumas id eacuteias
middot1 Vr () livro NU l iom aIri srll l f p 5 Grifo meu
smiddot Vcr q art igo middot lhe motlnn )anus NII lefi rCI middotcw Y I (nllcm bro -Jczcmhro
1175) 1 -gt Este rmJ i fui incluiacutedo ~em all Naccedil)cs no li vrlt) lh e hllilk - Ip of 1rt(ll illCOIllO capiacutetulo l) lpp 329 oacute3j
( ~MI otar c l ried rich Engels n c Clt1111lI i t 1l lCI ll ifoacute t o in ltdedfrl V(Ir~ I p
-l Crif meu Im l( ulltluer exegese teoacute rica a palavra nal ural men le devcria
K(ndcr UIll luzinha ve rmelha OC ~L1c rra pa ra o rito r elllus i mldn
29
para uma interpretaccedilatildeo mais satisfa toacute ria da anomalia do nacioshy
nalismo A miJlha impressatildeo eacute que tanto a teoria marxista quanto
a liberal se es tiolaram num derrade iro esforccedilo ptolemaico de salshy
var os fenocircmenos Creio haver uma necessida de urgente de se reoshy
r ientar a perspectiva dentro de um espiacuterito por assim d izer copershy
nicano O meu pon to de part ida eacute q ue tan to a na cio nalidade - ou
como talvez se prefira dizer dev ido aos m uacuteltip los significados
desse termo a cond iccedilatildeo nacional [nation-ness]-qua nto o nacioshy
nalismo satildeo produ tos culturais especiacuteficos Para bem entendecirc-los
temos de considerar com cuidado suas origens histoacutericas de que
maneiras seus significados se transformaram ao longo do tempo
e por que dispotildeem nos dias de hoje de uma legitimidade emocioshy
nal tatildeo profunda Tentarei mostrar que a criaccedilatildeo desses produtos
no final do seacuteculo xVIII foi uma destilaccedilatildeo espontacircnea do cruzashy
mento complexo de d iferentes forccedilas histoacutericas No entanto
depois de criados esses produtos se tornaram modulares capashy
zes de serem transplantados com diversos graus de autoconsciecircnshy
cia para uma grande variedade de terrenos sociais para se incorshy
porarem e serem incorporados a uma variedade igualmente
grande de constelaccedilotildees poliacuteticas e ideoloacutegicas Tentarei mostrar
tamheacutem por que esses produtos culturais especiacuteficos despertaram
apegc tatildeo profundo
7middot Como nota Aira Kemilaincn os doispais fundadores dos estudos acadecircmicos
sobre o nacional ismo Ha ns Kohn e Carleton Haycs defenderam ess~ 0JtJCcedilUacuteO de
maneira muito convinccDte A m eu ver suas co nclusotildees natildeo chega ram a ser objeshy
to de seacuter ios debates a natildeo Ser por ideoacutelogos nacionalistas em determ inados paiacuteshy
se Kem il j int n tJm beacutem observa qLle o uso do termo nacionalismo gtneralishy
(olI-se no fi na l do seacuteculo XI X Nlo aparecia por exemplo em muitos dicionaacuterios
oitoccntist ClS correntes Se Adam Sm ith invocou a riqueza das naccedilotildees foi para se
refe ri r apenas a socieddes o u estados Aira Kel11ilainen Natiollulism pp lO 33 e 18-9
30
CONC E ITOS E DE H NICcedilOtildeE S
Antes de encaminhar as questotildees levantadas anteriormente
seria aconselhaacutevel avaliar rapidamente o conceito de naccedilatildeo e ofereshy
cer uma definiccedilatildeo operacional Eacute frequumlente a perplexjdade para natildeo
dizer irritaccedilatildeo dos teoacutericos do nacionalismo diante destes trecircs parashy
doxos (1) A modernidade ohjetiva das naccedilotildees aos olhos do historiashy
dor versus sua antiguumlidade subjetiva aos olhos dos nacionalistas (2) A
universalidade formal da nacionalidade como conceito sociocultural
- no mundo moderno todos podem devem e hatildeo de ter uma
nacionalidade assim como tecircm este ou aquele sexo - versus a parshy
ticularidade irremediaacutevel das suas manifestaccedilotildees concretas de modo
que a nacionalidade grega eacute por definiccedilatildeo sui generis (3) O poder
poliacutetico dos nacionalismos versus a sua pobreza e ateacute sua incoerecircnshy
cia filosoacutefica Em outras palavras O nacionalismo ao contraacuterio da
maioria dos outros ismos nunca gerou grandes pensadores proacuteshy
prios nenhum Hobbes Tocqueville Marx ou Veber Esse vazio cria
certa condescendecircncia entre os intelectuais cosmopolitas e poliglotas
Algueacutem pode logo concluir como Gertrude Stein diante de Oakland
que natildeo haacute nenhum ali ali [no there there] Eacute exemplar que ateacute um
estudioso tatildeo simpaacutetico ao nacionalismo quanto Tom Nairn possa
mesmo assim escrever que O nacionalismo eacute a patologia da histoacuteshy
ria do descnvolvimen to modern 0 tatildeo inevitaacutevcl quanto a neu rose no
indiviacuteduo e que guarda muito da mesm a ambiguumlidade de essecircncia da
tendecircncia interna de cair na loucura enraizada nos dilemas do
desamparo imposto agrave maior parte do mundo (o equivalente do infanshy
tilismo para as sociedades) sendo em larga medida incuraacutevel 8
A dificuldade em parte consiste na tendecircncia inconsciente
que as pessoas tecircm de hipostasia r a existecircncia do nacionalismoshy
com -N -maiuacutesculo (como se algueacutem pudesse ter umn Idade-comshy
8 TlII Imllk-up ofBrit aill p 359
31
I-nu i(Isculo) e en tatildeo de classifi caacute-1 0 como uma ideo logia
(NOla-~c ~lue se todos tecircm u ma cer ta id ade a ldade eacute apenas uma
expressatildeo ana lIacutelica ) Penso que valeria a pena tratar ta l conceito
do mesmo modo que se trata o paren tesco e a religiatildeo em vez
d e colocaacute- lo ao lado do liberalismo o u do fascism o
Assim dentro de um espiacuterito antropoloacutegico p ropo J1h o a seshy
guinte definiccedilatildeo de naccedilatildeo uma comunidade poliacute t ica im aginada shy
e imaginada como sendo intr insecamente limitada e ao mesmo
tempo soberana
Ela eacute imaginada po rq ue mesmo os membros da mais minuacutesshy
cula das naccedilotildees jamais conheceratildeo encontraratildeo ou sequer ouvishy
ratildeo falar da majoria de seus co mpanheiros embora todos tenham
em mente a imagem viva da comunhatildeo entre el es~ Era a essa imashy
gem que Renan se referia quando escreveu com seu jeito levemenshy
te irocircnico Or l essence dune nation est que tous les ind ividus
aient beaucoup de choses en comm un et aussi que tous aient
oublieacute bien des choses raquo lOra a cssecircncia de uma naccedilatildeo consiste em
qu e todos os ind iviacuted uos tenham m uitas co isas em comum e tamshy
beacutem que todos tenham esquecido muitas coisas] Gellner diza lgo
parecido quando decreta com certa feroc idade que O nacionashy
lismo natildeo eacute O despertar das naccedilotildees para a autoconsciecircncia ele
inventa naccedilotildees onde elas natildeo existemI Mas o inconveniente dessa
y C f 5eton-Watso n Ntll ions nd states p 5 A uacutenica coisa que posso di ze r eacute que
u ma naccedilatilde o ex is te quando pe~soas em nuacutem ero sign ifica tivo de uma comunidade
~ e consideram fo rmando uma naccedilatilde o o u se comportam como se formassem
uma Podemos traduzir sc co nsideram por se imaginam
10 Ernest Renan Q ucst-ce qu une nalion in Oel )res f Ollpletes 1 p 892 E
acrescenla tout ci to yen franccedilais doit avo ir o ublieacute la Saint -13a rtheacutelemy les masshy
sacres du M iJi a l1 Xllle siicle Il ny a pas en Francc dix familles qui pui sscnt fourshy
ni r la preuve d une o rigine fran q ue [todo cidadatildeo francecircs deve ter esquecid o a
ll(l ile de Satilde o Ba rloln llleu os massacrl~ S do Sul no sendo XIII Natildeo exis tem na
FrIf1 lt dez fam iacutelias que possam oferecer provas de uma o rigem franca ]
11 l rnesl Cd lntr rliouglll rtdchallge p 169 Grifo meu
form ulaccedilatildeo c que Gellncr estaacute tatildeo afli to para mostrar que O ndCJ(middot shy
nal ismu se mascara sob fa I sa~ aparecircnciasque ele identifi ca invenshy
ccedilagraveo com contrafaccedilatildeo e fa lsidade e natildeo co m imaginaatildeo e
criaccedilatildeo Ass im ele sugere im plic italllcntc qu e existem cOl11 unishy
dadesverdauc iras que num cotejo com as nclccedilotildecsse mostrar iam
melhores Na verdade q ualquer com unidade maio r que a aldeia
pr imord ial do conta to Cace a face (e talvez mesmo ela) eacute imaginashy
da As comunidades se disti nguem natildeo por sua falsiJ addautent ishy
cidade mas pelo estilo em que satildeo imaginadltls Os aldeatildees javaneshy
sessempre souberam que estatildeo ligados a pessoas que n unca viram
mas esses la-os eram () nl igame nte imaginados de maneira parl ishy
(ularista - como redes de parentesco c cl ientela COI11 pass iacuteveis de
txtensatildeo indckrminada Ateacute tcmpos bem recentes o idioma javashy
neacutes natildeo tinha n enh uma palavra que designasse a abstraccedilatildeo socieshy
dade H oje em dia podemos pensar na aristocrac ia francesa do
iJIl CiCIl reacuteg i ll c CO 1110 uma classe mas ccrtamen te ela soacute fo i imagishy
nada desta maneira em ~poca bas lan te adiantada Diante da pershy
gunta Quem eacute o conde de X a resposta normal natildeo ser ia um
mlmbro da aristocracia c sim o sen hor de X o tio da baronesa
de Y ou u m cliente do duque de Z
Imagina -se a naccedilatildeo limitada porque mesmo a maior delas
que agregue digamos um bilhatildeo de habita ntes poss ui frontciras
lin iacutetas a in da que elaacutest icas para aleacutem das quais existem o utras
llaccedilOcircts Nenh uma delas imagina ter a mesma extensatildeo da hu manishy
11de Nem os nacional i ~tas mais mess iacircnicos sonham co m o d ia
111 que to dos os mem h ros da es peacutecie huma na se un iratildeo a sua
12 ll hsbawfll por exemplo lI xJ n lli toc rlci3 com o cla s~l ao diz r qU tmiddot em
IiiN bull Ia o nsisti a em In a d~ lt100 mil Plt=SS(ht numa pop ul lccediluumlo de 23 milhuo
(Vcr ) ~eu li [(J Th e A~c o RrroltieJ p 7R [i rra das revohlccediloacuteS EIroll 789 ~middotIR 111 lt Terra 19771) Ma~ lmiddot~se quadro estlt lSlico da nobreza seria imaginaacuteve l
oh o ltlrf 1I reacutegll e
32 33
naccedilatildeo como por eXe mplo na eacutepoca cm q ue os cri taos pod iam
sonhar co m um planeta total mente cristatilde v bull
I magina -se a naccedilatildeo soberalltl porquc o conceito nasceu na
eacutepoca em que o Iluminismo c a Rcvo luccedilagraveo estavam destru indo a
Icgiuumlmidade do reino dinaacutest ico hieraacute rqu ico de ordem divina
Amad urecendo nllm a fase da histoacuteria humana em que mesmo os
adeptos mais fervorosos de qualquer religiatildeo universal se defronshy
tavam i nevitavel men te COI11 o pl1lra lismo vivo dessas rel igiotildees e
com o alomorfismo entre a~ pretensotildees ontoloacutegicas e a extensatildeo
terri to rial de cada credo as naccedilotildees son ham em ser livres - e
quando sob dominaccedilatildeo divina entatildeo d iretamente sob Sua eacutegide
A ga_ra ntia e o emblema dessa li berdade eacute o Estado Soberano
F por uacuteltimo ela eacute imaginada como urna comwlidade porshy
que independentemente da desigual dade e da exploraccedilatildeo efetivas
q ue possam existir dentro dela a naccedilatildeo sem pre eacute co ncebida corno
uma profunda camaradagem horizo ntal No fu ndo foi essa fratershy
nidade que tornou possiacutevel nestes dois uacuteltimos seacuteculos tantos
m ilhotildees de pessoas tenham-se natildeo tanto a matar mas sohretudo a
morrer por essas criaccedilotildees imaginaacuterias lim itadas
Essas mortes nos colocam bruscamen te diante do problema
central posto pelo nacionalismo o que faz com que as parcas criaccedilotildees
imaginativas da histoacuter ia recente (pouco mais de dois seacuteculos) gerem
sacrifiacutecios tatildeo de-comunais Creio que encontraremos os primeiros
contornos de u ma resposta nas raiacutezes culturais do nacionalismo
1 Raiacutezes culturais
Natildeo existecircITI siacutembolos mais impressionantes da cultura mo shy
dern a do nacionalismo do q ue os cenotaacutefios e tuacutemulos dos soldashy
dos desconhecidos O respeito a cerimocircnias puacutebl icas em que se reveshy
r~n ciam esses monumentos justamente porque estatildeo vazios o u
po rque ningueacutem sabe q uem jaz dentro deles natildeo encon tra
nenhum paralelo verdadeiro no passado Para sentir a forccedila dessa
modern idade basta im aginar a reaccedilatildeo geral di an te do suj ei to
in trometido que descobre o nome do soldado descon hecido ou
que ins iste em colocar algu ns o~sos de verdade den tro do cenot shy
fio Es tranho sac rileacutegio co n temporacircneo f no entanto esses
tuacute mul os sem almas imortais nem restos mortais identificaacuteveis
dentro dcles estatildeo carregados de imagens naciolais espectrais - (Eacute
1 (h gre~os ant igus tinham ceno l3Ji()s mas parl indiviacuted uos especiacuteficos d e idenshy
I idade conhec ida e cu jos cor pos por uma razatildeo ou o ut ra 11 10 puderam receher
Ll m~ nterro no rmal JJevoes ta informaccedil50 agrave minha colega Judith Herri n es tudio shy
sa de lIilagrave nmiddotio
~ Cn~idccedilrccedilm- se po r f xc mplo essas llotiIacutevc is expressotildees a Os irlllatildeos de armas
IUnLI no fa lta l-am_Se o fi l essem um milhatilde o de espect ros em verde-o i iva panio
34 35
por iSSl) que tantas naccedilotildees difcren tes tecircm esses tuacutem ul os sem senti r
nenhumt necessidade de c-pccificltlr a nacionalidade de seus ocushy
pantes auscntes O que mais potleriam ser 5(10 ak mdes ameri cashy
nos argen ti nos etc )
O sign ificado cul tural desses monumen tos Ii caniacute ainda mais
c1eacutel ro se tentarmos imagi nar por exemplo um luacutemulo do ma rx isshy
ta desconhecido ou um ccnolaacutefio para os liberais tombados em
combate Natildeo seria um abs urdo O m~lrx ismo e o li beralismo natildeo
se importam mu ito com a Inorte e a imortalidad bull Se o imagmaacuterio
nacionalista se importa tanto com elas isso sugere sua grande ~fishy
nidade com os imaginaacuterios religiosos Como essa afinidade nada
tem de fortu ito talvez val ha a pena inicia r uma ava liaccedilatildeo das ra iacuteshy
zes cullurais do nac ionalismo pela mo rte o uacutelt imo elemento ele
Ul11 cJ seacuterie de fatalidades
A maneira de um homem morrer geralmente parece arbit raacuteshy
ri el mas sua mo rtal idade eacute ine itaacutevel As vidas hu manas estatildeo
-heias dessas combi naccedilotildees entre acaso e necessidade Todos sabeshy
mos que nossa heranccedila geneacutetica pessoal nosso sexo a eacutepoca em
que vivemos nossas capacidades fiacutesicas liacute ngua materna e aampgtim
por diante satildeo fato res conlingentes e inelutaacuteveis O gra nde meacuterishy
lO das concerccedilotildee~ religiosas tradi ciona is (o tlual nalural mente
natildeo deve ser confu ndido com o papel delas na legitimaccedilatildeo de sis shy
d qli ma rrom llU l e cinja sr levan tariam d~ suas laacutep ides h rl ll CdS trovejando
ca plllvras 11iacutegidS Dew I honra piacutet rb b O mel Ju iacutew lsnhre o (l Idado
nlcriclno I e (armou 1111 a111 po dt batuacuteha haacute Ill u itus e lll 11i tllS allOS e llUIlCi1 se [1 lIhli fio li Lu li 1 11 cnt Jo com() o veio ago ra como ullla das ligu r JS mais nobres
I lll Undo 11 lt10 ~O como uma das pllsonal idades nl i li t J re~ mai sele tasl11 il ta mshy
hc m como uml da Il1d is imaculadtgt I~ ic I ri r fertc nccl h l~t(r ia I(l [ dar 11 rn dus ml iofCS eXlmp lo tIlt pat ri(lti ll1o vitll ri ()5P I~ i - ) Ek pcr lt ll ( l p(~ tcr i dlde
como il1otruto r de gc raccediluumlc futura nm prindpio da libl rdlde l indl [lc nJeacuten(ia
Lle p~ rtcn~e 10 l r l~e nlL d noacutes l1(lr ~lHh v i rtllde~ t rcali lik s Uouglas IIluto rlh ur Outy I IOIl lLlr (ollnt ry di(u fo) p cl ri a cldcm iJ IililJ r t merishy
~anol 1 [gt1111 I dc maio Ir 196 2 L11l sc lt so ltlier spclks pp JSI c 357
tC llhlSsptciacutefi cos de domi naccedilatildeo e exploraccedilatildeo ) eacute a SUltl preocupaccedilatildeo
com () homem-no-universo o homem enquanto espeacutecie e cont inshy
glncia da vida A ext rao rd inaacute ria sobrevivecircncia do budismo do
(ri~tiltlI1 is l1l o ou do islamismo ao longo de milecircnios e em dezenas
de formaccedilotildees sociais d ireren tes comprova li ma capacidade de resshy
posta imaginativa ao tremendo peso do sofrimento humano - a
doenccedila a mutilaccedilatildeo a dor a velhice a morte Por que nasci cego
Por que o meu mel hor amigo fi cou para liacute tico Por que a mi nha
irm eacute retardada As religiotildees ten tam expl icar O grande pon to
fllthO de todos os estil os de pensamento evolucionaacuteriosprogressi
vos in cluindo o marxismo eacute que eles respondem a essas pergunshy
tas COI11 um silecircncio impaciente Ao mesmo tel11po e de diversas
maneiras o pensamento religioso tamb~m daacute respostas sobre as
ohsclI ras insinuaccedilotildees de imortal idade geralmente transfo rmando
H fatali dade em contin uidade (kamUl pecado originnletc )Assim
a re ligiatildeo se interessa pelos viacutenc ulos entre os mortos e os ainda
natildeo-nascidos pelo misteacuterio da rc-generaccedilatildeo Quem vive a conccpshy
tatildeo l () nascime nto do se l proacuteprio filho sem apreender difll sa shy
mente lima mescla de ligaccedilatildeo acaso e necess iddde em linguagem
de continuidade (Aqui de novo a desvantagem do pensamenshy
1 Cf Rlgi~ lk bray lhrx i~m ltl nd I h ~ national question Nellmiddot lerr NClltIV J 05
(sckmhrll-outubro 1977) p 29 I )lIfantc deg I11 ~ U trabal ho de campo na Indoneacutesia
l1il deacuteltHl a d oacuteO fique i chocado (0111 a tranquuml ila llcgJ ti llt1 de muitos llluccedilulmJnu
~11 ll~il lt1 r IS ideacuteias de Darwin Nu co meccedilo interpretei essa negaI iJ C(l mo obs u
rlIlt l~ll1n Depois vi que cra lima hnlat ivl lo uvaacutevel de l1lJnlcr a ()crl ll cia a doushy
trina d) evoluccedilao era ~im p l sme n lc i n ~lm pa livd com os Lns inalllf ll liS do islatilde O tuc IMer )1l1 UI I1 ll1 a l criali ~mo cicnliacutelic que aCl ita formalmente 15 des(obn tas
d1iiacutesil1 ()h r~middot 1 mak ria rna~ que se ltmpcnha latildeo puu(O (111 vincular lai dcscohcr a~ li lU1 1d ICSbull I rcmiddotol uccedilagrave(l ou ao q ue lor ~cri que o ahismo enlre os proacutetons
r o Itolmiddotlnri1UacuteC) 11 10 oc ult1 ul11a cksconhecidu CO I1CCpccedilO metafiacutesica do hOl1l ell1
tIJ lmiddotjlIn-st os II1 tcrCSSJll llS textos Je ScbnSliollll1l m pan aru O II(tcritl iSJIl l
TItmiddot flLlld(1I ~ lp c a rcs po~tJ pondLradltl de Raymond Wi llium 1 eles em Timla 1110 111lkrillist dlllJ Icng bull ICII lcft IklJ middotW 109 (I11 Ji( -junl1o 1978) pp _~ - 1 7
37 36
to cvoluciomiacuterio p ro gressivo eacute sua aversatildeo quase heraclitialla a
qualquer ideacute ia de co ntin uidade)
Faccedilo essas observaccedilotildees talvez simploacuterias principalmente por shy
que () seacuteculo XV II I na Eu ropa Ocidcn la l marca llatildeooacute o amanhecer
Ja era 00 nac ionalismo m as tambeacutem o anoi tecer dos modos de
pensamentos religiosos () seacutecuJo do Il um inismo do secul arismo
racio nal ista t rou xe consigo suas proacuteprias t revas m od ernas A feacute
religiosa decl inou mas o sofrimento que ela ajudava a apaziguar
natildeo desapareceu A desintegraccedilatildeo do para iacuteso nada torna a fatalid a shy
de mais arbitraacuteria O absurdo da salvaccedilatildeo nada torna m ais necesshy
saacuterio um outro estilo de cont inuidade Entatildeo foi preciso q ue houshy
vesse uma transfo rmaccedilatildeo secular da fa talidad e em co ntinuidade
da contingecircncia em signi ficado Como veremos poucas coisas se
mostraram (se m ostram) mais adequadas a essa fi nalidade do que
a ideacuteia de naccedilatildeo Adm ite-se normalmente q ue os estados nacionais
satildeo novos e histoacutericos ao passo q ue as naccedilotildees a q ue eles datildeo
expressatildeo poliacutetica sempre assomam de um passado imemorial e
4 O falecido pre idcnte Suklrno sempre falou com toda a sil1cnidade sobre os
30 anos de coJonialismo a que a sua Indoneacutesia fo ra subm etida embora o proacuteshy
prio co nceito de Indoneacutesia seja uma invenccedilatildeo do seacutec ulo X e a maior parte do
que hoje eacute o paiacutes ten ha sido conquistada pelos holandeses apenas entre 1850 e
1910 O principal heroacutei nacional da Indon eacutesia con tempo racircnea eacute o priacutencipe java shy
nl-s Dipltlnegoro do comeccedilo do seacuteculo xlxembo[U as memoacuterias do priacutencipe mosmiddot
trtJn que ele pretendia co nqui~tJr Inatildeo libertar J 1(1a t natildeo expulsaros hola nshyd (~~l~ 11 verdade eacute evidentt que tk natildeo concebia os holltl1dccs como uma
(lllct iidlde Ver Harry ) Uencla t John A l arkin (o rg ) 117 lt 1Vorld ofSoll lumiddotast A51tl p 158 c Ann Kumar Diponcgoro ( I 771)~- 1 855) l ldolltsia 13 (abril de
I Yiacute2) p 103 Criro meu Analogamente Kcmal Atatuumlrk deu lOS slt us bancos esta
ta is os nomcs Ba nco Hitita I Ui Banka ) c Banco Sumeacuterio (Sc t(l n Watson Narivlls mui Siacutelllcs p 259 ) E SSeacuteS bancos satildeo proacutesperos e natildeo haacute razio para duvidar que
mu itos tl IlCOS e provavelmente o proacuteprio Kcmal acred itasst m slr iamcnte e
Jintla acreditem que 0 hit itds e os sumeacuterios satildeo seus antepassados tu rcos An tes de dar muitas risaJas se ria me lhor lembrarmos de Artm c Boad i~ea e refletir sobre o sucesso comercial das mi tog rafias de ro lkien
38
1 indd mais importante ~cguem rumo a um futuro il im itado 1 a
nlltlgia do nac ionalismo que converte o acaso em desti no Podem os
dic com Debray Si m eacute pu ro acaso que cu ten ha nascido fran cecircs
mJS a ti nai a h anccedila eacute eterna
Eacuteclaro que natildeo estou afirmando que o su rgimento do nacioshy
naligtl11o no fina l d o seacutecu lo Xl ur foi produzido pelo dcsgaste das
convicccedilotildee religiosas nem que ~sse proacuteprio desgas te natildeo requer
unhl explicaccedilatildeo complexa Tambeacutem natildeo estou sugeri ndo que o
l1aciol1a I ismo tenba de aJgu ma forma su bsti tu iacutedo histo rica shy
mente a religiatildeo O q uc es tou popondo eacute o entendimen to d o
nac ionalism o alinhando-o natildeo a ideologia- poliacuteticas conscien teshy
mente ado tadas mas aos grandes sistemas cu ltu rais qu e o prece shy
deram e a partir dos quais ele surgiu incl usive para combatecirc-los
Para nossas fi nal idades os do is sistemas cul turais per i nel1 te~
sagraveo a cOlllI zidade religiosa e o reino dinaacutestico Po is am bos no seu
apogeu fo ram est ruturas de referecircnc ia incontestes como oco rre
atualmente com a nac ionalidade Portanlo eacute fundame ntal analishy
sar o qu e cunfer iu uma plausibiJidade auto-evidente a esses sisteshy
mdS cul urais e ao mes mo tempo d estacar a lguns eJc m cntos shy
cbaw na decomposiccedilatildeo deles
1 C O IIUNIDADE RELI G IOS A
I Xlstem po ucas coisas ma is im pressionanles do que a vasta
extensatildeo ter r ito r ial do Ummah i ~lagravemic) desde o Marrocos ao
arquipd ago Sulu da cri slandade Jesde o Paraguai ao Ja patildeo e do
nlundo bu d ista desde o gt r i La nka agrave pen iacutensula coreana As grand es
1111turas acras (e para nossos objetivos pode-se incluir tambeacutem
o confucionism o ) incorporava m a ideacuteia de imensas comunidashy
des ~las a cristandadc o Um mah is lilmico e mesm o o Impeacuterio do
Ccnl ro - que hoje eacute considerado chinecircs mas antes imaginava-se
39
como cenLrd - eram imaginados pri ncipalmente pelo uso de
um a liacutengua e uma escrita sagradas Tomemos o exem plo do islatilde se
ul11 ll1aguindanaucnse encontrasse um btrbere em Meca um desshy
conhecendo o idioma do out ro incapazes de se comunica r oralshy
mente mesmo assi m entenderia m os seus caracteres p(Hque 0lt
textos sacros adotados por ambos exist iam apenas em aacuterabe claacutesshy
sico Nesse sentido o aacuterabe escrito fu ncionava como os ideograshy
mas ch ineses criando wna comunidade a partir dos signos c natildeo
dos so ns (Assi m hoje em dia a linguagem matemaacutetica daacute prosseshy
gu imento a uma velha trad iccedilatildeo Os romenos natildeo fazem ideacuteia de
como se diz + em tai landecircs e vice-versa mas ambos compreenshy
dem o siacutembolo) Todas as grandes comunidades claacutessicas se cOl1Sishy
deravam cosmicamente centrais at raveacutes de uma liacutengua sagrada
ligada a uma ordem ~upra terrena de poder Assi m o alcance do
lal im do paacute li do aacuterabe ou do chinecircs escritos era teoricamente ilishy
mitado (Na ve rd ade quanto mais morta eacute a liacutengua escri ta shy
qua nto ma is di-ta ntc da fala - melhor em princiacutepio todos tecircm
acesso a um mundo puro de signos )
Mas essas com Llnidade~ claacutess icas ligadas r or Jinguas sagradas
tinham um caraacuteter di fe re nte das comunidades imagi nadas das
naccedilotildees modern as Uma di ferenccedila fundamental era a confianccedila das
comunidades maIs an tigas no sacrarnenLalislllo l1nico de suas liacuten shy
guas e daiacute deri va m as iclcias que ti nllam sobre a admissatildeo de novos
membros O mandarins chineltcs viam com bons olhos os baacuterbashy
ros que aprendiam 3 duras penas a pin tar os ideogramas do
Impeacuterio do Cen tro Esses haacuterharm jaacute estavam ltl meio caminho da
plena aceitaccedilatildeo Meio-civil izado era muiliacutessimo melhor do que
baacuterba ro Essa atit ude certame nte natildeo foi excl usiva dos chi neses
nem se restringiu agrave Antiguumlidade Veja por exemplo a seguinte
5middot O l i 1 t rlIlqLiil iluumlde com que os mOIl (ois c manchus ~ il1 izadu s foram aceitos m rTIo 1-tIIrO$o ( 11
40
-
poliacute tica para os biIacute rbaros formulJua pelo liberal co lomhi ano
Ped ro rermiacuten de Vargas do comeccedilo do seacuteCll lo XIX
Pa ra am pliar a ll)SSa agricu ltura seri a preciso hi spaniza r 0S nossos
iacutendios A preguiccedila a fa lta de in ldigecircnci e a in dif~ rccedil nccedila dd es aos
t rabalhos normais levam a pensa r que d cs derivam de uma raccedila
degenerada que se ueteriora conforme ~e afasta da ua origem [ J
seria muito dese iaacutevel que os iacutendios se extinguissem atraveacutes d misshy
cigenaccedilatildeo com os brancos isentando-os de im postos e ou tros
encargos c concedendo-lhes a propr iedade privaoa da ter ra
I~ notaacutevel que esse liberal ain da proponha extinguir seus iacutendios
el1l parte isentando-os de impostos e concedendo-lhes a proshy
priedade privada da terra em vez de exterminaacute-los com armas de
fogo e microacutebios como logo depois comeccedilaram a fazer seus herdeishy
ros no Brasil Argenti na e Estados Unjdos Nota-se tambeacutem ao lado
desta crueldade com ares condescendentes o otimismo coacutesmico
Jtl fim eao cabo o iacutendio pode -er redimido - pela impregnaccedilatildeo do
stmen bran co civil izado e pelo acesso agrave propri edade privada
~OIlO todos os outros (Como eacute d iferente a atitude de Fermiacuten em
comparaccedilatildeo ao imperialista europeu posterior com a sua preferecircnshy
lia pelos malaios gurcas e hauacutessas autecircnticos em vez de mestishy
Ccedil()~ nativos semi- analfabetos wuacutegs e assim por diante
Mas se o meio de se imaginar as grandes com unidades gl shy
hltt is do passado eram as liacutenguas mudas sagradas essas apariccedilotildees
IJq lliriam realidade a pa rtir de uma ideacuteia btstante es tranha agrave
rn~nta l id ade ocidental contemporagravenea a natildeo-arb itrariedade do
signo Os ideogramas do ch i necirc~ do latim ou do aacuterabe erJm emashy
6 ) hll LYl1L h T cSpi11ish-AI1criCIII rIOllioIl5 1808-211 p 260 Grifo meu g krmo depreciat ivo -I lie na epoca do imperial ismo britimiacuteco designava o
ou ivo clJ iacutenJla da Africa do Norte e do O riente Meacutedio
41
naccedilotildees da real idad e e natildeo re presen taccedilotildees inventadas ao acaso
Co nhecemos a lo nga discussatildeo sobre a liacute ngua (l ati m ou vernaacutecushy
lo) ma is adequad a para a missa Na tradiccedilatildeo islacircmi ca ateacute bem
pouco tempo () Coratildeo era lite ralmente intracuzIacutevel (e portanto
in lrad uzido) porque o uacutenico ltI cesso agrave verdade de Alaacute era por meio
dos signos verdadeiros e illsubstitu iacuteveis d o aacuterabe escr ito Aqui natildeo
existe a ideacuteia de um mundo tatildeo des incuhd0 da liacutengua que todas
as liacutenguas vecircm a ser signos equumlid istanles (e porta nto in tercambiaacuteshy
vei s) dele Com efeito a realidade o ntoloacutegica soacutepo de se r apreendi shy
da por meio de um uacutenico sistema pr ivilegiado de re-presentaccedilatildeo
a liacutengua-verdade do latim eclesiaacutestico do aacuterabe coracirc n ico ou do
chinecircs do sistema de exames E como liacutenguas-verdade estavam
imbuiacutedas de um im pulso largamente estranho ao nacionalism o a
saber o impulso agraveco nversatildeo Por conversatildeo quero dizer natildeo tanto
a aceitaccedilatildeo de dctermi nltldos p r inciacutepios religiosos e sim uma
absorccedilatildeo alqu iacutem ica O baacuterbaro se torna Impeacuterio do Centro o
montanhecircs do Rif muccedilulmano e o ilongo cristatildeo Toda a natureshy
za ontoloacutegica do homem eacute maleaacutevcl ao sagrado (Compare o presshy
tiacutegio dessas antigas liacutenguas mundia is colocadas acima de todos os
vernaacuteculos com o esperanto ou o volapuk que jazem ignorados
entre essas duas esferas) Foi afinal essa possibilidade de convershy
satildeo atraveacutes da liacutengua sagrada que permitiu que um inglecircs se torshy
nasse papas e u m m anchuacute rio se to rnasse Filho do Ceacuteu
Mas se as liacutenguas sagradas permitiam que se imaginassem
co m u nidades tais como a cristandade nuumlo eacute poss iacutevel explicar o
verdadeiro alcance c a efetiva plausibil idade dessas co munidades
7 Atl que parect () grego cclc iaacutesti co natildeo atingiu o estatuto de uma liacutengua -verdashy
de Sao viIacuter ias as razotildees desse fracasso mas com certeza um fator fundamental
fo i que o grego continuou a ser uma liacutengua demoacutetica i lj (ao con traacute rio do latim)
cm grande parte do Impeacuterio do O rien te Devo essa suglts tagraveu a fudith Herrin
8 Nicholas Brakcspear ocupou o pontificado de 11 5middot1-59 com o nume de Adriano 1
arenas pelo texto sagrado os seus leitores afinal natildeo passavam de
min uacutesculos recife let rados em vastos oceano~ iletradosmiddot Para
urna expl icaccedilatildeo m ais completa temos de exami mlr a relaccedilatildeo entre
o~ letrados e suas sociedades Seria equ ivocado co nsideraacute-los uma
espeacutecie d e tecnocracia teoloacutegica As liacuten guas a que eles d avam
suporte por mais abst rusas qu e fo ssem natildeo possuiacuteam o caraacuteter
abstruso auloconstruiacutedo do jargatildeo dos advogados ou dos econoshy
mistas agravemargem da ideacute ia de realidade alimentada pela sociedade
Pelo contraacute rio os letrados eram grandes inic iados cam adas estrashy
teacutegiLas de uma hierarq uia cosmoloacutegica cujo aacutepice era divino 10 As
concepccedilotildees fundamentais so b re os grup os sociais eram mais
centriacutepetas e hieraacuterquicas do que horizontais e fron tei riccedilas O
poder assombroso do papado no seu auge soacute pode ser ent tnd ido
em termos de um clero transeuropeu com conhecimento do latim
esaito e tambeacutem de uma concepccedilatildeo de m undo partilhada p ratishy
ca mente po r todos e segundo a q ual a cam ada intelectual biliacutenguumle
ao media r o vernaacuteculo e o latim tam beacutem faz ia a mediaccedilatildeo en t re a
terra e o ceacuteu (O pavor da excomunhatildeo reflete essa cosmologia)
Apesar de toda a m agnitude e poderio das grandes com unishy
dades imagi nadas rel igiosamentesua coesatildeo inCONsciente fo i di mishy
nui11lio n u m ritmo cons tante apoacutes o fi nal da Idade Meacutedia Entre as
razotildees desse decliacutenio destaco apenas as d uas relacio nadas diretashy
mente agrave sacralizaccedilatildeo uacutenica dessas comunidades
Em primeiro lugar o decliacutenio res ultou d as exploraccedilotildees do
9middot lIJn Hloch nos lem hra que a m aio ria dos senho res e mui tos g ra nd tgt barotildees
111t pneu medieval Ie ra In admini strado res incapazecircgt dt examinar prssoalrnenshy
li Um n iJ toacuterio ou uma prestaccediluo de contas Feudn lSOciel) r p 81
111 Is~() nao sign ifica que os il e t r~d os natildeo lessem Mas o que e les liam nao eram
rltlIlvra~c im ( mundo visIacutecl middotAos olhos de todos os que eram capazes de refk shy
xlo o mlllldo mate r ial era po uco ma is do que uma espeacutecie de maacutescara po r tniacutes da
qUJI ltlerl r iam todas as coisas realmell te importanllt5 era com o se fosse tunbeacutem
lima liacutengua quc(xpressasse por sina is uma rea lidade mais profunda ibid p 83
42 43
m undn natildeo-eu ro peu as quais ampliaram violentam cn te o horishy
wntc cult ural-geograacutefico e simultanea men te os concei tos acershy
C l das poss iacuteveis formas de vida humana11 o q ue ocorrcu sobret-ushy
Jo mas natilde o excl u~ ivam cn te na Europa Esse processo joacute fica claro
no ma io r liv ro de viagem europeu Veja a surp resa co m que o bom
cristatildeo venezia no Marco Poacute lo desc reve Cubla i Catilde no final d o
seacuteculo 1 11 1
o gratilde-catilde tendo obtido essa ex traordinaacuteria vitoacuteria retornou com
grande pompa e triunfo para a ca pi ta l a cidlde de Ka nbalu Isso
aconteceu no mecircs de no vembro e ele continuou a morar laacuteduranshy
te os meses de revcreiro e marccedilo Inecircs este de Ilossa fe ~ la de Paacutescoa
Sabendo que esta era uma das 110ssJsprincipais solenidades ele
mandou q lIe tod os os cristatildeos fos sem ateacute ele e le vasse m o Livro
deles que conteacutem os quatro Evangelhos Depois de fa7cr com que
o incensassem vaacuterias vezes co m toda a cerimocircnia ele o beijou
devotamente e ordenou qu e todos os seus noh res ali presentes
fizessem o mesmo Este era o seu costu me em todas as principais
festividades cr istatildes como a Paacutescoa e o Na tal e ele observava o
mesmo nas fes tas dos sarracenos dos judeus e dos idoacutelatras Indashy
gado sobre o motivo dessl conduta ele disse Existem qua tro
grandes proCetas que satildeo nve renciados l adorados pelas difcnnshy
les cla~ses da h uman idade Os cristatildeos consideram Jes us Cris to
como a di in dade deles us Sd rraCtno~ Maomeacute os judeus Mo iseacutes
e os idoacutelat ras Sogomombar-kan o iacutedolo mais importante deles
Eu devo honrar c most rar respeito por todos os quatro e imocar
em meu auxiacutelio aquele que del re eles eacute na pcrrade supremo no
11 Erich Au crbadl MirllfS is p 2C ITrad ( it Mi ecirc isSatildeo Paulo Perspect iva 5
eJ 200middot1 p ~H6 ]
12 t rco Pnl1 ls 1 middot ja~C5 de li Ja1(() 1aacutelo 1 BrJsiliense 1954J pp 158-9 Grilo meu NO[l - lt porem que beijam lll ~S natildeo lecircem LI Fvangelho
cJII Ilas pela maneira co m que sua majestade agi u em relaccedilatildeo a
clei eacute ev idente que ele considerava a feacute do~ crisl agraveo~ a mai s ve rdashy
(leira e a mel hor
o gue essa passagem tem de notaacutevel natildeo eacute tanto o tranquuml ilo
relat ivismo religioso do grande d inas ta mongol (afi nal ainda eacute um
relativismo religioso) e sim a aLIacutelude e a linguagem d e Marco Poacutelo
Jamais lhe ocorre tratar C ublai como hipoacute crita ou idoacutelatra apesar
de es tar escrevendo para cristatildeos europeus como ele (Em par te
sem duacutevid a po rque quan to ao nuacutemero de suacuted itos e--lensatildeo d o
ttrritoacute rio c quantidade de riq uezas ele ul t rapassa qualquer sobeshy
rano que exist iu ateacute hoje no mundo) E no uso in consciente do
nossa (que se torna deles) e na q ualifi caccedilatildeo da feacute cristatilde cOmo
a mais verdadeira em vez de a verdadeira podemos detectar o s
pr imoacuterdios de uma territo ria li zaccedilatildeo dos credos um prCl1 uacutencio d a
linguagem de muitos nacionalistas (a nossa naccedilatildeo eacute a melhor
- num campo compamtilloe competi t ivo)
Q ue di ferenccedila reveladora temos no iniacutecio da carta do viajanshy
te persa Rica em Par is para o seu amigo Ibben em 17 12
o papa eacute o chefe dos cristatildeos E um elho iacutedolo que se incensa por
haacutebi lo Antigamente ele era temiacutevel aos proacuteprios priacutencipes pois de
() i depu nha com a mesma fa cilidade com que os nossos magniacuteficos
~u llotildees depocircem os reis de [rncrclia e da Geoacuterg ia Mas natildeo o te mem
ma i ~ l l e ~e d iz SUl lSSOr de um dos pri meiros cristatildeos que ~e clldma
5(0 Pedro e cert am ente eacute uma rica sucessatildeo pois ele tem teso uros
illlen so ~ e um grande territoacuterio sob o seu domiacutenio
11 nr 1fllIds o(Mnno Jv o p 1 5 ~ I ls viagcIl5 de Marco lOcirco Brasilicnsc 19541
11 Il enri tlt ) lontesquicu Perrln Lt-lIrrs p 81 As L fl rcs perswlts foram pubtishyL lei pela pri11tira t em [72
44 45
As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy
ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11
tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy
lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido
enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica
na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande
Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem
demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse
parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy
pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy
val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy
nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica
mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma
outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy
lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos
nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy
m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada
mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele
se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros
imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa
poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy
ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim
apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy
mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do
latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma
po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy
5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo
16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy
recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)
171bi p 32 1
men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy
lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma
figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade
Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy
lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o
inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy
g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em
larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no
con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy
16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy
decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire
( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a
qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major
nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se
um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio
do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy
des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy
dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando
o Rr l NO DI N AacuteS T I CO
I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um
mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy
11 Ibit p 330
19 1h iJ pp 33 1-2
20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais
lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy
port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro
~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e
Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro
M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356
46 47
tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy
lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy
ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de
um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da
ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra
terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um
territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo
onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram
porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy
m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade
com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter
seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas
veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy
Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy
cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy
tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias
Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy
2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com
essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy
meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os
p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I
iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot
te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy
naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico
ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy
nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias
2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno
tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante
discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar
(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha
O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido
4
tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este
l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o
Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um
ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -
Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia
Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc
arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia
duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy
illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta
e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz
e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy
b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen
marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy
ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da
marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc
Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto
comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e
capturas dos Ha bsburgo
Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy
cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de
concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy
gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er
aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas
111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy
21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1
lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha
atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst
111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do
4
co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando
LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy
mo~ de a tribuir aos Bo urbon
Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo
por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy
ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy
ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos
anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy
d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na
eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes
pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos
Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien
reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy
dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy
bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu
se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy
longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo
Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades
do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio
da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves
arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486
alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy
ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento
eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot
cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la
man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui
capaz de manter ( ibid p 125 )
25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o
fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy
ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught
llIul cllt1ligr p 136
26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot
ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l
nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy
duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria
~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy
monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy
parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da
Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF
Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema
poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy
te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma
~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade
minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande
(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os
JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute
eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst
tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)
PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S
Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas
lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades
~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~
hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270
lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama
I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92
~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil
hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m
sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao
pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr
dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy
do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m
l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85
50 51
religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy
nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy
do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o
m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao
Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos
agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos
c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res
ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy
ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy
na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde
Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy
di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy
no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo
de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com
os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia
muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de
um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era
maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma
universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy
dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta
peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em
latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio
cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para
as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy
pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy
saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue
assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre
os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy
sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a
cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils
~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas
11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a
VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy
I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a
mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma
cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees
I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy
SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a
segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo
pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na
noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do
~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos
colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os
homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais
llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy
ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa
Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de
con~ciecircncia
()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de
Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo
de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy
se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy
0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal
nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de
forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy
lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma
lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot
vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles
31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6
3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco
~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot
11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90
52 53
l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy
mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a
histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla
compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy
rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy
sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de
todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno
Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy
te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy
jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy
sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas
a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real
A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo
para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute
ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a
fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma
co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy
da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura
gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo
med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo
novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy
neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy
zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo
mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo
calendaacute r io H
n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo
bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]
-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy
nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~
n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo
importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se
w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy
gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o
ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy
am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy
ginada correspondente agrave naccedilatildeo
Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao
velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem
de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy
mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e
ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy
mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo
si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy
te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar
ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte
manetra
Tempo 11 III
4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda
num bar
r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em
casa com B
o joga bilhar tem um
pcsaddo
~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e
Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197
55 54
lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia
e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver
feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas
(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a
l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao
entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute
possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua
sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees
(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os
le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy
do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma
tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy
gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy
cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy
ca no espiacuterito de seus leitores
A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy
gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da
ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade
soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o
ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer
e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees
36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I
li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do
37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll
pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1
linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao
a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po
5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico
com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo
39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do
ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy
tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados
Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada
J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy
11 i1111 e simultacircnea dd~s
rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os
rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras
I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas
Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o
romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy
turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro
romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy
ra maravilhosa 11
Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy
mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de
jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy
Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy
~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros
la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a
1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o
gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy
ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl
Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy
nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua
~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave
rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy
l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm
pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y
Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard
1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1
11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I
IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy
Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru
56 57
infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila
n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de
bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no
problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade
necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy
saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo
O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague
Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma
manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos
ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha
mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a
Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o
nosso Governo
Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta
nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy
tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas
anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy
res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy
da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy
satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma
ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la
so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do
tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy
dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da
snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens
auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se
tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy
de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy
bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)
Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy
mente problem aacuteticas
Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy
(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a
IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy
d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy
toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy
lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa
ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy
C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy
men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia
medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo
ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy
lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa
muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao
viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente
algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter
UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy
co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy
oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy
dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para
Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue
Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy
mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria
middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy
11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a
di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy
t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy
Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy
11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15
58 59
comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por
meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a
metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy
lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata
em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica
alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos
passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo
Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy
peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela
mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas
Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy
tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou
di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos
poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto
Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten
45 lbid p 120
46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy
sis ca po I (A cicar de Odissc u)
~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1
IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II
COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy
IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg
I deus Albl nia re ino Jgora
Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel
l u teu udcnsnr llue Igor marIS
M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1
I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy
Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy
IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1
Oacutel
Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo
Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy
meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy
( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no
Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como
suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo
mostra a forma essencial desse romance naciona lista )
Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes
influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e
aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy
dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te
que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy
sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy
quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im
gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos
Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy
trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r
nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo
nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do
interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy
sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico
ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy
nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy
quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1
Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no
movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m
s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do
middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H
4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu
61
romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy
pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo
t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado
o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica
eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de
prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva
mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea
do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se
as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou
daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu
enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)
E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy
dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto
Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo
de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco
Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste
destino publicada em fasciacutecul os em 1924
Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy
vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva
50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura
e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais
51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy
do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros
campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova
Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110
llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot
tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente
li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26
capitulas 25 c 1)
52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu
na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas
l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa
P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy
do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy
gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy
pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas
ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy
nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy
lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se
o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o
cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches
)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea
diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz
dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste
Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim
Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy
nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml
in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que
ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo
inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado
PROSPI~RlLlAj)E
Lm andarilho mendigo passou mal
e morreu abandonado no acostamento da rua
n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o
I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to
Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si
Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy
1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto
(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas
62 63
qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo
de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a
gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy
te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy
liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas
pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy
cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes
gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca
eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz
Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo
confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy
vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da
referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos
seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy
cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je
Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy
ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma
on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que
Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy
dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis
hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor
cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a
raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )
Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela
du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo
encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy
josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy
nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde
)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy
fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a
d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida
pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo
SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto
dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente
licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy
mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu
tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um
lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil
raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos
eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um
mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo
inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os
outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)
Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy
ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado
[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy
le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A
dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a
principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy
gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy
te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem
sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por
I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento
que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os
MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl
LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy
tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco
12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer
1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te
64 65
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
Jo pasia do pre- revo lucionaacuterio Inversamente se a Un iatildeo Soshy
i eacuteli~(1 d ivide com o Reino Unido da Gratilde -Bretanha e Irl anda do
Norte a rara d is t inccedilatildeo de natildeo mencio nar nacion a l i dade ~ em seu
nnme isso sugere q ue ela eacute natildeo s6 a he rde ira d os estados dinaacutesti shy
cos p reacute- nacionai s m as ta mb eacutem a prec u rso ra de uma o rdem
internac ional ista no spculo XX I shy
-r ic Hobs baw m tem plena razatildeo ao afirmar que os movishy
mentos e estados m arxistas tecircm mostrado a tendecircncia de se to rnashy
rem nacionais natildeo soacute na fo rma m as tambeacutem no conteuacutedo ou seja
nacio nalistas Nada ~ ugere que essa corrente natildeo haveraacute d e contishy
nUM E essa tendecircncia natildeo se restringe ao mundo socialista As
Naccedilotildees Un idas admitem no vOs m em bros praticamente todos os
anos E muitas naccedilotildees antigas tidas co mo plenamente consoli shy
dadas vecircem-se desafiadas por sub-nacio nal ismos em seu p roacute shy
pr io territoacute rio - nacionalismos estes cla ro que son ham com
algum futuro fel iz livres dessa co ndi ccedilatildeo de sub A realid ade eacute
muito simples natildeo se enxerga nem remotamente o fim da era do
nacio nalismo que po r tanto tempo fo i profetizado Na verdade a
condi ccedilatildeo nac io nal [n at ion -ness] eacute o va lor de m aior legit imidade
un iversa l na vida poliacutetica dos nossos tem pos
Mas ~e 0 5 fatos satildeo cla ros a expl icaccedilatildeo deles contlnua sendo
objeto de LI ma longa d iscussatildeo Naccedilatildeo nacionalidade nac ionalis shy
mo- todos provaram ser de di fi ciacuteli ma definiccedilatildeo que di niacute de anaacuteshy
Iise Em contraste com a enorme in fl uecircncia do nacional i~mo sobre
o mundo moderno eacute no tiacutevel a escassez de teorias plau siacutevei lgt sobre
ele Hugh ~cto n -Watwn au tor do que ~ longe o melhor c o m ais
l Q uem tiver alguma duacutevidl sobre as prcte nlt1c do Re ino Un ido quanto a esa
ptriJclclc com a Uniuumlo Sovieacutelica que se peq Ul1 l q ual a rlac io ll 1 licl Joe dc~ i g nada
pelo Sl 1l110mcl Gratilde-Bri lo- lrIlocSa
3middot r ic I lolh bJwm middotome rdlecti l1 s on 1 h( brea k-up of BritJi n Ntmiddotw Lert UC middotimiddotw luS (gtdelllb ro -outub ro 1977 ) p 1 J
2iacutel
lbrangen te texto em liacutengua inglesa sobre nacionalismo e herdeiro
de urna vasta tradiccedilatildeo liberal de his toriognlfia e ciecircncias sociais
ob~( rva com pesa r Assim eu sou levado a co ncl uir que natildeo eacute posshy
slvcl elaborar nenhuma defi niccedilatildeo ci en tiacutefi ca de naccedilatildeo m as uuml fenocirc shy
meno exis tiu e con tinua a existir ~ Tom Nairn autor do inovador
ri( Break-up ofHritain c herdeiro de uma tradiccedilatildeo q uase tatildeo vasta
de his toriogra fia e ciecircncias sociais m arx istas d ecla ra com a maior
sinceridade A teoria do nacionalismo representa a grande falha
histoacute rica do m arxismo Mas m esmo esse reconhecimen to eacute um
tan to enganador pois pode-se entendecirc-lo como se estivesse refeshy
rindo-se ao deploraacutevel resultado de uma longa e deliberada busca
de clMeza teuacuterica Seria m ais correto di zer que o nacionalismo
del11o nstrou ser uma anomalia incocircmoda para a teu ria marxis ta e
justa mente por isso prefe riu-se evitaacute -lo em vez de en frentaacute -lo De
que outra maneira se explicaria por que Marx natildeo esclareceu o
prono me possessivo cruc ial na sua memoraacute vel formulaccedilatildeo de
lMS O proletariado de cada paiacutes d~ve natural mente ajustar
contas antes de mais nada com a sua proacutepria burguesia De que
outra ma neira tam beacutem se explicaria por que o concei to de burshy
gues ia naci o nal foi uti lizado por mais de um seacuteculo sem nenhuma
tentat iva seacuteria de justifi car teoricamente a pertinecircncia do adjetivo
Por q ue essasegmentaccedilatildeo da burguesia - LU11a classe m undIal na
med ida em q ue eacute d efi nida pelas relaccedilotilde es de p rodu ccedilatildeo - tem
imrnrtacircncia teoacuterica
Este livro pretende o terecer a tiacutetulo de ensaio algumas id eacuteias
middot1 Vr () livro NU l iom aIri srll l f p 5 Grifo meu
smiddot Vcr q art igo middot lhe motlnn )anus NII lefi rCI middotcw Y I (nllcm bro -Jczcmhro
1175) 1 -gt Este rmJ i fui incluiacutedo ~em all Naccedil)cs no li vrlt) lh e hllilk - Ip of 1rt(ll illCOIllO capiacutetulo l) lpp 329 oacute3j
( ~MI otar c l ried rich Engels n c Clt1111lI i t 1l lCI ll ifoacute t o in ltdedfrl V(Ir~ I p
-l Crif meu Im l( ulltluer exegese teoacute rica a palavra nal ural men le devcria
K(ndcr UIll luzinha ve rmelha OC ~L1c rra pa ra o rito r elllus i mldn
29
para uma interpretaccedilatildeo mais satisfa toacute ria da anomalia do nacioshy
nalismo A miJlha impressatildeo eacute que tanto a teoria marxista quanto
a liberal se es tiolaram num derrade iro esforccedilo ptolemaico de salshy
var os fenocircmenos Creio haver uma necessida de urgente de se reoshy
r ientar a perspectiva dentro de um espiacuterito por assim d izer copershy
nicano O meu pon to de part ida eacute q ue tan to a na cio nalidade - ou
como talvez se prefira dizer dev ido aos m uacuteltip los significados
desse termo a cond iccedilatildeo nacional [nation-ness]-qua nto o nacioshy
nalismo satildeo produ tos culturais especiacuteficos Para bem entendecirc-los
temos de considerar com cuidado suas origens histoacutericas de que
maneiras seus significados se transformaram ao longo do tempo
e por que dispotildeem nos dias de hoje de uma legitimidade emocioshy
nal tatildeo profunda Tentarei mostrar que a criaccedilatildeo desses produtos
no final do seacuteculo xVIII foi uma destilaccedilatildeo espontacircnea do cruzashy
mento complexo de d iferentes forccedilas histoacutericas No entanto
depois de criados esses produtos se tornaram modulares capashy
zes de serem transplantados com diversos graus de autoconsciecircnshy
cia para uma grande variedade de terrenos sociais para se incorshy
porarem e serem incorporados a uma variedade igualmente
grande de constelaccedilotildees poliacuteticas e ideoloacutegicas Tentarei mostrar
tamheacutem por que esses produtos culturais especiacuteficos despertaram
apegc tatildeo profundo
7middot Como nota Aira Kemilaincn os doispais fundadores dos estudos acadecircmicos
sobre o nacional ismo Ha ns Kohn e Carleton Haycs defenderam ess~ 0JtJCcedilUacuteO de
maneira muito convinccDte A m eu ver suas co nclusotildees natildeo chega ram a ser objeshy
to de seacuter ios debates a natildeo Ser por ideoacutelogos nacionalistas em determ inados paiacuteshy
se Kem il j int n tJm beacutem observa qLle o uso do termo nacionalismo gtneralishy
(olI-se no fi na l do seacuteculo XI X Nlo aparecia por exemplo em muitos dicionaacuterios
oitoccntist ClS correntes Se Adam Sm ith invocou a riqueza das naccedilotildees foi para se
refe ri r apenas a socieddes o u estados Aira Kel11ilainen Natiollulism pp lO 33 e 18-9
30
CONC E ITOS E DE H NICcedilOtildeE S
Antes de encaminhar as questotildees levantadas anteriormente
seria aconselhaacutevel avaliar rapidamente o conceito de naccedilatildeo e ofereshy
cer uma definiccedilatildeo operacional Eacute frequumlente a perplexjdade para natildeo
dizer irritaccedilatildeo dos teoacutericos do nacionalismo diante destes trecircs parashy
doxos (1) A modernidade ohjetiva das naccedilotildees aos olhos do historiashy
dor versus sua antiguumlidade subjetiva aos olhos dos nacionalistas (2) A
universalidade formal da nacionalidade como conceito sociocultural
- no mundo moderno todos podem devem e hatildeo de ter uma
nacionalidade assim como tecircm este ou aquele sexo - versus a parshy
ticularidade irremediaacutevel das suas manifestaccedilotildees concretas de modo
que a nacionalidade grega eacute por definiccedilatildeo sui generis (3) O poder
poliacutetico dos nacionalismos versus a sua pobreza e ateacute sua incoerecircnshy
cia filosoacutefica Em outras palavras O nacionalismo ao contraacuterio da
maioria dos outros ismos nunca gerou grandes pensadores proacuteshy
prios nenhum Hobbes Tocqueville Marx ou Veber Esse vazio cria
certa condescendecircncia entre os intelectuais cosmopolitas e poliglotas
Algueacutem pode logo concluir como Gertrude Stein diante de Oakland
que natildeo haacute nenhum ali ali [no there there] Eacute exemplar que ateacute um
estudioso tatildeo simpaacutetico ao nacionalismo quanto Tom Nairn possa
mesmo assim escrever que O nacionalismo eacute a patologia da histoacuteshy
ria do descnvolvimen to modern 0 tatildeo inevitaacutevcl quanto a neu rose no
indiviacuteduo e que guarda muito da mesm a ambiguumlidade de essecircncia da
tendecircncia interna de cair na loucura enraizada nos dilemas do
desamparo imposto agrave maior parte do mundo (o equivalente do infanshy
tilismo para as sociedades) sendo em larga medida incuraacutevel 8
A dificuldade em parte consiste na tendecircncia inconsciente
que as pessoas tecircm de hipostasia r a existecircncia do nacionalismoshy
com -N -maiuacutesculo (como se algueacutem pudesse ter umn Idade-comshy
8 TlII Imllk-up ofBrit aill p 359
31
I-nu i(Isculo) e en tatildeo de classifi caacute-1 0 como uma ideo logia
(NOla-~c ~lue se todos tecircm u ma cer ta id ade a ldade eacute apenas uma
expressatildeo ana lIacutelica ) Penso que valeria a pena tratar ta l conceito
do mesmo modo que se trata o paren tesco e a religiatildeo em vez
d e colocaacute- lo ao lado do liberalismo o u do fascism o
Assim dentro de um espiacuterito antropoloacutegico p ropo J1h o a seshy
guinte definiccedilatildeo de naccedilatildeo uma comunidade poliacute t ica im aginada shy
e imaginada como sendo intr insecamente limitada e ao mesmo
tempo soberana
Ela eacute imaginada po rq ue mesmo os membros da mais minuacutesshy
cula das naccedilotildees jamais conheceratildeo encontraratildeo ou sequer ouvishy
ratildeo falar da majoria de seus co mpanheiros embora todos tenham
em mente a imagem viva da comunhatildeo entre el es~ Era a essa imashy
gem que Renan se referia quando escreveu com seu jeito levemenshy
te irocircnico Or l essence dune nation est que tous les ind ividus
aient beaucoup de choses en comm un et aussi que tous aient
oublieacute bien des choses raquo lOra a cssecircncia de uma naccedilatildeo consiste em
qu e todos os ind iviacuted uos tenham m uitas co isas em comum e tamshy
beacutem que todos tenham esquecido muitas coisas] Gellner diza lgo
parecido quando decreta com certa feroc idade que O nacionashy
lismo natildeo eacute O despertar das naccedilotildees para a autoconsciecircncia ele
inventa naccedilotildees onde elas natildeo existemI Mas o inconveniente dessa
y C f 5eton-Watso n Ntll ions nd states p 5 A uacutenica coisa que posso di ze r eacute que
u ma naccedilatilde o ex is te quando pe~soas em nuacutem ero sign ifica tivo de uma comunidade
~ e consideram fo rmando uma naccedilatilde o o u se comportam como se formassem
uma Podemos traduzir sc co nsideram por se imaginam
10 Ernest Renan Q ucst-ce qu une nalion in Oel )res f Ollpletes 1 p 892 E
acrescenla tout ci to yen franccedilais doit avo ir o ublieacute la Saint -13a rtheacutelemy les masshy
sacres du M iJi a l1 Xllle siicle Il ny a pas en Francc dix familles qui pui sscnt fourshy
ni r la preuve d une o rigine fran q ue [todo cidadatildeo francecircs deve ter esquecid o a
ll(l ile de Satilde o Ba rloln llleu os massacrl~ S do Sul no sendo XIII Natildeo exis tem na
FrIf1 lt dez fam iacutelias que possam oferecer provas de uma o rigem franca ]
11 l rnesl Cd lntr rliouglll rtdchallge p 169 Grifo meu
form ulaccedilatildeo c que Gellncr estaacute tatildeo afli to para mostrar que O ndCJ(middot shy
nal ismu se mascara sob fa I sa~ aparecircnciasque ele identifi ca invenshy
ccedilagraveo com contrafaccedilatildeo e fa lsidade e natildeo co m imaginaatildeo e
criaccedilatildeo Ass im ele sugere im plic italllcntc qu e existem cOl11 unishy
dadesverdauc iras que num cotejo com as nclccedilotildecsse mostrar iam
melhores Na verdade q ualquer com unidade maio r que a aldeia
pr imord ial do conta to Cace a face (e talvez mesmo ela) eacute imaginashy
da As comunidades se disti nguem natildeo por sua falsiJ addautent ishy
cidade mas pelo estilo em que satildeo imaginadltls Os aldeatildees javaneshy
sessempre souberam que estatildeo ligados a pessoas que n unca viram
mas esses la-os eram () nl igame nte imaginados de maneira parl ishy
(ularista - como redes de parentesco c cl ientela COI11 pass iacuteveis de
txtensatildeo indckrminada Ateacute tcmpos bem recentes o idioma javashy
neacutes natildeo tinha n enh uma palavra que designasse a abstraccedilatildeo socieshy
dade H oje em dia podemos pensar na aristocrac ia francesa do
iJIl CiCIl reacuteg i ll c CO 1110 uma classe mas ccrtamen te ela soacute fo i imagishy
nada desta maneira em ~poca bas lan te adiantada Diante da pershy
gunta Quem eacute o conde de X a resposta normal natildeo ser ia um
mlmbro da aristocracia c sim o sen hor de X o tio da baronesa
de Y ou u m cliente do duque de Z
Imagina -se a naccedilatildeo limitada porque mesmo a maior delas
que agregue digamos um bilhatildeo de habita ntes poss ui frontciras
lin iacutetas a in da que elaacutest icas para aleacutem das quais existem o utras
llaccedilOcircts Nenh uma delas imagina ter a mesma extensatildeo da hu manishy
11de Nem os nacional i ~tas mais mess iacircnicos sonham co m o d ia
111 que to dos os mem h ros da es peacutecie huma na se un iratildeo a sua
12 ll hsbawfll por exemplo lI xJ n lli toc rlci3 com o cla s~l ao diz r qU tmiddot em
IiiN bull Ia o nsisti a em In a d~ lt100 mil Plt=SS(ht numa pop ul lccediluumlo de 23 milhuo
(Vcr ) ~eu li [(J Th e A~c o RrroltieJ p 7R [i rra das revohlccediloacuteS EIroll 789 ~middotIR 111 lt Terra 19771) Ma~ lmiddot~se quadro estlt lSlico da nobreza seria imaginaacuteve l
oh o ltlrf 1I reacutegll e
32 33
naccedilatildeo como por eXe mplo na eacutepoca cm q ue os cri taos pod iam
sonhar co m um planeta total mente cristatilde v bull
I magina -se a naccedilatildeo soberalltl porquc o conceito nasceu na
eacutepoca em que o Iluminismo c a Rcvo luccedilagraveo estavam destru indo a
Icgiuumlmidade do reino dinaacutest ico hieraacute rqu ico de ordem divina
Amad urecendo nllm a fase da histoacuteria humana em que mesmo os
adeptos mais fervorosos de qualquer religiatildeo universal se defronshy
tavam i nevitavel men te COI11 o pl1lra lismo vivo dessas rel igiotildees e
com o alomorfismo entre a~ pretensotildees ontoloacutegicas e a extensatildeo
terri to rial de cada credo as naccedilotildees son ham em ser livres - e
quando sob dominaccedilatildeo divina entatildeo d iretamente sob Sua eacutegide
A ga_ra ntia e o emblema dessa li berdade eacute o Estado Soberano
F por uacuteltimo ela eacute imaginada como urna comwlidade porshy
que independentemente da desigual dade e da exploraccedilatildeo efetivas
q ue possam existir dentro dela a naccedilatildeo sem pre eacute co ncebida corno
uma profunda camaradagem horizo ntal No fu ndo foi essa fratershy
nidade que tornou possiacutevel nestes dois uacuteltimos seacuteculos tantos
m ilhotildees de pessoas tenham-se natildeo tanto a matar mas sohretudo a
morrer por essas criaccedilotildees imaginaacuterias lim itadas
Essas mortes nos colocam bruscamen te diante do problema
central posto pelo nacionalismo o que faz com que as parcas criaccedilotildees
imaginativas da histoacuter ia recente (pouco mais de dois seacuteculos) gerem
sacrifiacutecios tatildeo de-comunais Creio que encontraremos os primeiros
contornos de u ma resposta nas raiacutezes culturais do nacionalismo
1 Raiacutezes culturais
Natildeo existecircITI siacutembolos mais impressionantes da cultura mo shy
dern a do nacionalismo do q ue os cenotaacutefios e tuacutemulos dos soldashy
dos desconhecidos O respeito a cerimocircnias puacutebl icas em que se reveshy
r~n ciam esses monumentos justamente porque estatildeo vazios o u
po rque ningueacutem sabe q uem jaz dentro deles natildeo encon tra
nenhum paralelo verdadeiro no passado Para sentir a forccedila dessa
modern idade basta im aginar a reaccedilatildeo geral di an te do suj ei to
in trometido que descobre o nome do soldado descon hecido ou
que ins iste em colocar algu ns o~sos de verdade den tro do cenot shy
fio Es tranho sac rileacutegio co n temporacircneo f no entanto esses
tuacute mul os sem almas imortais nem restos mortais identificaacuteveis
dentro dcles estatildeo carregados de imagens naciolais espectrais - (Eacute
1 (h gre~os ant igus tinham ceno l3Ji()s mas parl indiviacuted uos especiacuteficos d e idenshy
I idade conhec ida e cu jos cor pos por uma razatildeo ou o ut ra 11 10 puderam receher
Ll m~ nterro no rmal JJevoes ta informaccedil50 agrave minha colega Judith Herri n es tudio shy
sa de lIilagrave nmiddotio
~ Cn~idccedilrccedilm- se po r f xc mplo essas llotiIacutevc is expressotildees a Os irlllatildeos de armas
IUnLI no fa lta l-am_Se o fi l essem um milhatilde o de espect ros em verde-o i iva panio
34 35
por iSSl) que tantas naccedilotildees difcren tes tecircm esses tuacutem ul os sem senti r
nenhumt necessidade de c-pccificltlr a nacionalidade de seus ocushy
pantes auscntes O que mais potleriam ser 5(10 ak mdes ameri cashy
nos argen ti nos etc )
O sign ificado cul tural desses monumen tos Ii caniacute ainda mais
c1eacutel ro se tentarmos imagi nar por exemplo um luacutemulo do ma rx isshy
ta desconhecido ou um ccnolaacutefio para os liberais tombados em
combate Natildeo seria um abs urdo O m~lrx ismo e o li beralismo natildeo
se importam mu ito com a Inorte e a imortalidad bull Se o imagmaacuterio
nacionalista se importa tanto com elas isso sugere sua grande ~fishy
nidade com os imaginaacuterios religiosos Como essa afinidade nada
tem de fortu ito talvez val ha a pena inicia r uma ava liaccedilatildeo das ra iacuteshy
zes cullurais do nac ionalismo pela mo rte o uacutelt imo elemento ele
Ul11 cJ seacuterie de fatalidades
A maneira de um homem morrer geralmente parece arbit raacuteshy
ri el mas sua mo rtal idade eacute ine itaacutevel As vidas hu manas estatildeo
-heias dessas combi naccedilotildees entre acaso e necessidade Todos sabeshy
mos que nossa heranccedila geneacutetica pessoal nosso sexo a eacutepoca em
que vivemos nossas capacidades fiacutesicas liacute ngua materna e aampgtim
por diante satildeo fato res conlingentes e inelutaacuteveis O gra nde meacuterishy
lO das concerccedilotildee~ religiosas tradi ciona is (o tlual nalural mente
natildeo deve ser confu ndido com o papel delas na legitimaccedilatildeo de sis shy
d qli ma rrom llU l e cinja sr levan tariam d~ suas laacutep ides h rl ll CdS trovejando
ca plllvras 11iacutegidS Dew I honra piacutet rb b O mel Ju iacutew lsnhre o (l Idado
nlcriclno I e (armou 1111 a111 po dt batuacuteha haacute Ill u itus e lll 11i tllS allOS e llUIlCi1 se [1 lIhli fio li Lu li 1 11 cnt Jo com() o veio ago ra como ullla das ligu r JS mais nobres
I lll Undo 11 lt10 ~O como uma das pllsonal idades nl i li t J re~ mai sele tasl11 il ta mshy
hc m como uml da Il1d is imaculadtgt I~ ic I ri r fertc nccl h l~t(r ia I(l [ dar 11 rn dus ml iofCS eXlmp lo tIlt pat ri(lti ll1o vitll ri ()5P I~ i - ) Ek pcr lt ll ( l p(~ tcr i dlde
como il1otruto r de gc raccediluumlc futura nm prindpio da libl rdlde l indl [lc nJeacuten(ia
Lle p~ rtcn~e 10 l r l~e nlL d noacutes l1(lr ~lHh v i rtllde~ t rcali lik s Uouglas IIluto rlh ur Outy I IOIl lLlr (ollnt ry di(u fo) p cl ri a cldcm iJ IililJ r t merishy
~anol 1 [gt1111 I dc maio Ir 196 2 L11l sc lt so ltlier spclks pp JSI c 357
tC llhlSsptciacutefi cos de domi naccedilatildeo e exploraccedilatildeo ) eacute a SUltl preocupaccedilatildeo
com () homem-no-universo o homem enquanto espeacutecie e cont inshy
glncia da vida A ext rao rd inaacute ria sobrevivecircncia do budismo do
(ri~tiltlI1 is l1l o ou do islamismo ao longo de milecircnios e em dezenas
de formaccedilotildees sociais d ireren tes comprova li ma capacidade de resshy
posta imaginativa ao tremendo peso do sofrimento humano - a
doenccedila a mutilaccedilatildeo a dor a velhice a morte Por que nasci cego
Por que o meu mel hor amigo fi cou para liacute tico Por que a mi nha
irm eacute retardada As religiotildees ten tam expl icar O grande pon to
fllthO de todos os estil os de pensamento evolucionaacuteriosprogressi
vos in cluindo o marxismo eacute que eles respondem a essas pergunshy
tas COI11 um silecircncio impaciente Ao mesmo tel11po e de diversas
maneiras o pensamento religioso tamb~m daacute respostas sobre as
ohsclI ras insinuaccedilotildees de imortal idade geralmente transfo rmando
H fatali dade em contin uidade (kamUl pecado originnletc )Assim
a re ligiatildeo se interessa pelos viacutenc ulos entre os mortos e os ainda
natildeo-nascidos pelo misteacuterio da rc-generaccedilatildeo Quem vive a conccpshy
tatildeo l () nascime nto do se l proacuteprio filho sem apreender difll sa shy
mente lima mescla de ligaccedilatildeo acaso e necess iddde em linguagem
de continuidade (Aqui de novo a desvantagem do pensamenshy
1 Cf Rlgi~ lk bray lhrx i~m ltl nd I h ~ national question Nellmiddot lerr NClltIV J 05
(sckmhrll-outubro 1977) p 29 I )lIfantc deg I11 ~ U trabal ho de campo na Indoneacutesia
l1il deacuteltHl a d oacuteO fique i chocado (0111 a tranquuml ila llcgJ ti llt1 de muitos llluccedilulmJnu
~11 ll~il lt1 r IS ideacuteias de Darwin Nu co meccedilo interpretei essa negaI iJ C(l mo obs u
rlIlt l~ll1n Depois vi que cra lima hnlat ivl lo uvaacutevel de l1lJnlcr a ()crl ll cia a doushy
trina d) evoluccedilao era ~im p l sme n lc i n ~lm pa livd com os Lns inalllf ll liS do islatilde O tuc IMer )1l1 UI I1 ll1 a l criali ~mo cicnliacutelic que aCl ita formalmente 15 des(obn tas
d1iiacutesil1 ()h r~middot 1 mak ria rna~ que se ltmpcnha latildeo puu(O (111 vincular lai dcscohcr a~ li lU1 1d ICSbull I rcmiddotol uccedilagrave(l ou ao q ue lor ~cri que o ahismo enlre os proacutetons
r o Itolmiddotlnri1UacuteC) 11 10 oc ult1 ul11a cksconhecidu CO I1CCpccedilO metafiacutesica do hOl1l ell1
tIJ lmiddotjlIn-st os II1 tcrCSSJll llS textos Je ScbnSliollll1l m pan aru O II(tcritl iSJIl l
TItmiddot flLlld(1I ~ lp c a rcs po~tJ pondLradltl de Raymond Wi llium 1 eles em Timla 1110 111lkrillist dlllJ Icng bull ICII lcft IklJ middotW 109 (I11 Ji( -junl1o 1978) pp _~ - 1 7
37 36
to cvoluciomiacuterio p ro gressivo eacute sua aversatildeo quase heraclitialla a
qualquer ideacute ia de co ntin uidade)
Faccedilo essas observaccedilotildees talvez simploacuterias principalmente por shy
que () seacuteculo XV II I na Eu ropa Ocidcn la l marca llatildeooacute o amanhecer
Ja era 00 nac ionalismo m as tambeacutem o anoi tecer dos modos de
pensamentos religiosos () seacutecuJo do Il um inismo do secul arismo
racio nal ista t rou xe consigo suas proacuteprias t revas m od ernas A feacute
religiosa decl inou mas o sofrimento que ela ajudava a apaziguar
natildeo desapareceu A desintegraccedilatildeo do para iacuteso nada torna a fatalid a shy
de mais arbitraacuteria O absurdo da salvaccedilatildeo nada torna m ais necesshy
saacuterio um outro estilo de cont inuidade Entatildeo foi preciso q ue houshy
vesse uma transfo rmaccedilatildeo secular da fa talidad e em co ntinuidade
da contingecircncia em signi ficado Como veremos poucas coisas se
mostraram (se m ostram) mais adequadas a essa fi nalidade do que
a ideacuteia de naccedilatildeo Adm ite-se normalmente q ue os estados nacionais
satildeo novos e histoacutericos ao passo q ue as naccedilotildees a q ue eles datildeo
expressatildeo poliacutetica sempre assomam de um passado imemorial e
4 O falecido pre idcnte Suklrno sempre falou com toda a sil1cnidade sobre os
30 anos de coJonialismo a que a sua Indoneacutesia fo ra subm etida embora o proacuteshy
prio co nceito de Indoneacutesia seja uma invenccedilatildeo do seacutec ulo X e a maior parte do
que hoje eacute o paiacutes ten ha sido conquistada pelos holandeses apenas entre 1850 e
1910 O principal heroacutei nacional da Indon eacutesia con tempo racircnea eacute o priacutencipe java shy
nl-s Dipltlnegoro do comeccedilo do seacuteculo xlxembo[U as memoacuterias do priacutencipe mosmiddot
trtJn que ele pretendia co nqui~tJr Inatildeo libertar J 1(1a t natildeo expulsaros hola nshyd (~~l~ 11 verdade eacute evidentt que tk natildeo concebia os holltl1dccs como uma
(lllct iidlde Ver Harry ) Uencla t John A l arkin (o rg ) 117 lt 1Vorld ofSoll lumiddotast A51tl p 158 c Ann Kumar Diponcgoro ( I 771)~- 1 855) l ldolltsia 13 (abril de
I Yiacute2) p 103 Criro meu Analogamente Kcmal Atatuumlrk deu lOS slt us bancos esta
ta is os nomcs Ba nco Hitita I Ui Banka ) c Banco Sumeacuterio (Sc t(l n Watson Narivlls mui Siacutelllcs p 259 ) E SSeacuteS bancos satildeo proacutesperos e natildeo haacute razio para duvidar que
mu itos tl IlCOS e provavelmente o proacuteprio Kcmal acred itasst m slr iamcnte e
Jintla acreditem que 0 hit itds e os sumeacuterios satildeo seus antepassados tu rcos An tes de dar muitas risaJas se ria me lhor lembrarmos de Artm c Boad i~ea e refletir sobre o sucesso comercial das mi tog rafias de ro lkien
38
1 indd mais importante ~cguem rumo a um futuro il im itado 1 a
nlltlgia do nac ionalismo que converte o acaso em desti no Podem os
dic com Debray Si m eacute pu ro acaso que cu ten ha nascido fran cecircs
mJS a ti nai a h anccedila eacute eterna
Eacuteclaro que natildeo estou afirmando que o su rgimento do nacioshy
naligtl11o no fina l d o seacutecu lo Xl ur foi produzido pelo dcsgaste das
convicccedilotildee religiosas nem que ~sse proacuteprio desgas te natildeo requer
unhl explicaccedilatildeo complexa Tambeacutem natildeo estou sugeri ndo que o
l1aciol1a I ismo tenba de aJgu ma forma su bsti tu iacutedo histo rica shy
mente a religiatildeo O q uc es tou popondo eacute o entendimen to d o
nac ionalism o alinhando-o natildeo a ideologia- poliacuteticas conscien teshy
mente ado tadas mas aos grandes sistemas cu ltu rais qu e o prece shy
deram e a partir dos quais ele surgiu incl usive para combatecirc-los
Para nossas fi nal idades os do is sistemas cul turais per i nel1 te~
sagraveo a cOlllI zidade religiosa e o reino dinaacutestico Po is am bos no seu
apogeu fo ram est ruturas de referecircnc ia incontestes como oco rre
atualmente com a nac ionalidade Portanlo eacute fundame ntal analishy
sar o qu e cunfer iu uma plausibiJidade auto-evidente a esses sisteshy
mdS cul urais e ao mes mo tempo d estacar a lguns eJc m cntos shy
cbaw na decomposiccedilatildeo deles
1 C O IIUNIDADE RELI G IOS A
I Xlstem po ucas coisas ma is im pressionanles do que a vasta
extensatildeo ter r ito r ial do Ummah i ~lagravemic) desde o Marrocos ao
arquipd ago Sulu da cri slandade Jesde o Paraguai ao Ja patildeo e do
nlundo bu d ista desde o gt r i La nka agrave pen iacutensula coreana As grand es
1111turas acras (e para nossos objetivos pode-se incluir tambeacutem
o confucionism o ) incorporava m a ideacuteia de imensas comunidashy
des ~las a cristandadc o Um mah is lilmico e mesm o o Impeacuterio do
Ccnl ro - que hoje eacute considerado chinecircs mas antes imaginava-se
39
como cenLrd - eram imaginados pri ncipalmente pelo uso de
um a liacutengua e uma escrita sagradas Tomemos o exem plo do islatilde se
ul11 ll1aguindanaucnse encontrasse um btrbere em Meca um desshy
conhecendo o idioma do out ro incapazes de se comunica r oralshy
mente mesmo assi m entenderia m os seus caracteres p(Hque 0lt
textos sacros adotados por ambos exist iam apenas em aacuterabe claacutesshy
sico Nesse sentido o aacuterabe escrito fu ncionava como os ideograshy
mas ch ineses criando wna comunidade a partir dos signos c natildeo
dos so ns (Assi m hoje em dia a linguagem matemaacutetica daacute prosseshy
gu imento a uma velha trad iccedilatildeo Os romenos natildeo fazem ideacuteia de
como se diz + em tai landecircs e vice-versa mas ambos compreenshy
dem o siacutembolo) Todas as grandes comunidades claacutessicas se cOl1Sishy
deravam cosmicamente centrais at raveacutes de uma liacutengua sagrada
ligada a uma ordem ~upra terrena de poder Assi m o alcance do
lal im do paacute li do aacuterabe ou do chinecircs escritos era teoricamente ilishy
mitado (Na ve rd ade quanto mais morta eacute a liacutengua escri ta shy
qua nto ma is di-ta ntc da fala - melhor em princiacutepio todos tecircm
acesso a um mundo puro de signos )
Mas essas com Llnidade~ claacutess icas ligadas r or Jinguas sagradas
tinham um caraacuteter di fe re nte das comunidades imagi nadas das
naccedilotildees modern as Uma di ferenccedila fundamental era a confianccedila das
comunidades maIs an tigas no sacrarnenLalislllo l1nico de suas liacuten shy
guas e daiacute deri va m as iclcias que ti nllam sobre a admissatildeo de novos
membros O mandarins chineltcs viam com bons olhos os baacuterbashy
ros que aprendiam 3 duras penas a pin tar os ideogramas do
Impeacuterio do Cen tro Esses haacuterharm jaacute estavam ltl meio caminho da
plena aceitaccedilatildeo Meio-civil izado era muiliacutessimo melhor do que
baacuterba ro Essa atit ude certame nte natildeo foi excl usiva dos chi neses
nem se restringiu agrave Antiguumlidade Veja por exemplo a seguinte
5middot O l i 1 t rlIlqLiil iluumlde com que os mOIl (ois c manchus ~ il1 izadu s foram aceitos m rTIo 1-tIIrO$o ( 11
40
-
poliacute tica para os biIacute rbaros formulJua pelo liberal co lomhi ano
Ped ro rermiacuten de Vargas do comeccedilo do seacuteCll lo XIX
Pa ra am pliar a ll)SSa agricu ltura seri a preciso hi spaniza r 0S nossos
iacutendios A preguiccedila a fa lta de in ldigecircnci e a in dif~ rccedil nccedila dd es aos
t rabalhos normais levam a pensa r que d cs derivam de uma raccedila
degenerada que se ueteriora conforme ~e afasta da ua origem [ J
seria muito dese iaacutevel que os iacutendios se extinguissem atraveacutes d misshy
cigenaccedilatildeo com os brancos isentando-os de im postos e ou tros
encargos c concedendo-lhes a propr iedade privaoa da ter ra
I~ notaacutevel que esse liberal ain da proponha extinguir seus iacutendios
el1l parte isentando-os de impostos e concedendo-lhes a proshy
priedade privada da terra em vez de exterminaacute-los com armas de
fogo e microacutebios como logo depois comeccedilaram a fazer seus herdeishy
ros no Brasil Argenti na e Estados Unjdos Nota-se tambeacutem ao lado
desta crueldade com ares condescendentes o otimismo coacutesmico
Jtl fim eao cabo o iacutendio pode -er redimido - pela impregnaccedilatildeo do
stmen bran co civil izado e pelo acesso agrave propri edade privada
~OIlO todos os outros (Como eacute d iferente a atitude de Fermiacuten em
comparaccedilatildeo ao imperialista europeu posterior com a sua preferecircnshy
lia pelos malaios gurcas e hauacutessas autecircnticos em vez de mestishy
Ccedil()~ nativos semi- analfabetos wuacutegs e assim por diante
Mas se o meio de se imaginar as grandes com unidades gl shy
hltt is do passado eram as liacutenguas mudas sagradas essas apariccedilotildees
IJq lliriam realidade a pa rtir de uma ideacuteia btstante es tranha agrave
rn~nta l id ade ocidental contemporagravenea a natildeo-arb itrariedade do
signo Os ideogramas do ch i necirc~ do latim ou do aacuterabe erJm emashy
6 ) hll LYl1L h T cSpi11ish-AI1criCIII rIOllioIl5 1808-211 p 260 Grifo meu g krmo depreciat ivo -I lie na epoca do imperial ismo britimiacuteco designava o
ou ivo clJ iacutenJla da Africa do Norte e do O riente Meacutedio
41
naccedilotildees da real idad e e natildeo re presen taccedilotildees inventadas ao acaso
Co nhecemos a lo nga discussatildeo sobre a liacute ngua (l ati m ou vernaacutecushy
lo) ma is adequad a para a missa Na tradiccedilatildeo islacircmi ca ateacute bem
pouco tempo () Coratildeo era lite ralmente intracuzIacutevel (e portanto
in lrad uzido) porque o uacutenico ltI cesso agrave verdade de Alaacute era por meio
dos signos verdadeiros e illsubstitu iacuteveis d o aacuterabe escr ito Aqui natildeo
existe a ideacuteia de um mundo tatildeo des incuhd0 da liacutengua que todas
as liacutenguas vecircm a ser signos equumlid istanles (e porta nto in tercambiaacuteshy
vei s) dele Com efeito a realidade o ntoloacutegica soacutepo de se r apreendi shy
da por meio de um uacutenico sistema pr ivilegiado de re-presentaccedilatildeo
a liacutengua-verdade do latim eclesiaacutestico do aacuterabe coracirc n ico ou do
chinecircs do sistema de exames E como liacutenguas-verdade estavam
imbuiacutedas de um im pulso largamente estranho ao nacionalism o a
saber o impulso agraveco nversatildeo Por conversatildeo quero dizer natildeo tanto
a aceitaccedilatildeo de dctermi nltldos p r inciacutepios religiosos e sim uma
absorccedilatildeo alqu iacutem ica O baacuterbaro se torna Impeacuterio do Centro o
montanhecircs do Rif muccedilulmano e o ilongo cristatildeo Toda a natureshy
za ontoloacutegica do homem eacute maleaacutevcl ao sagrado (Compare o presshy
tiacutegio dessas antigas liacutenguas mundia is colocadas acima de todos os
vernaacuteculos com o esperanto ou o volapuk que jazem ignorados
entre essas duas esferas) Foi afinal essa possibilidade de convershy
satildeo atraveacutes da liacutengua sagrada que permitiu que um inglecircs se torshy
nasse papas e u m m anchuacute rio se to rnasse Filho do Ceacuteu
Mas se as liacutenguas sagradas permitiam que se imaginassem
co m u nidades tais como a cristandade nuumlo eacute poss iacutevel explicar o
verdadeiro alcance c a efetiva plausibil idade dessas co munidades
7 Atl que parect () grego cclc iaacutesti co natildeo atingiu o estatuto de uma liacutengua -verdashy
de Sao viIacuter ias as razotildees desse fracasso mas com certeza um fator fundamental
fo i que o grego continuou a ser uma liacutengua demoacutetica i lj (ao con traacute rio do latim)
cm grande parte do Impeacuterio do O rien te Devo essa suglts tagraveu a fudith Herrin
8 Nicholas Brakcspear ocupou o pontificado de 11 5middot1-59 com o nume de Adriano 1
arenas pelo texto sagrado os seus leitores afinal natildeo passavam de
min uacutesculos recife let rados em vastos oceano~ iletradosmiddot Para
urna expl icaccedilatildeo m ais completa temos de exami mlr a relaccedilatildeo entre
o~ letrados e suas sociedades Seria equ ivocado co nsideraacute-los uma
espeacutecie d e tecnocracia teoloacutegica As liacuten guas a que eles d avam
suporte por mais abst rusas qu e fo ssem natildeo possuiacuteam o caraacuteter
abstruso auloconstruiacutedo do jargatildeo dos advogados ou dos econoshy
mistas agravemargem da ideacute ia de realidade alimentada pela sociedade
Pelo contraacute rio os letrados eram grandes inic iados cam adas estrashy
teacutegiLas de uma hierarq uia cosmoloacutegica cujo aacutepice era divino 10 As
concepccedilotildees fundamentais so b re os grup os sociais eram mais
centriacutepetas e hieraacuterquicas do que horizontais e fron tei riccedilas O
poder assombroso do papado no seu auge soacute pode ser ent tnd ido
em termos de um clero transeuropeu com conhecimento do latim
esaito e tambeacutem de uma concepccedilatildeo de m undo partilhada p ratishy
ca mente po r todos e segundo a q ual a cam ada intelectual biliacutenguumle
ao media r o vernaacuteculo e o latim tam beacutem faz ia a mediaccedilatildeo en t re a
terra e o ceacuteu (O pavor da excomunhatildeo reflete essa cosmologia)
Apesar de toda a m agnitude e poderio das grandes com unishy
dades imagi nadas rel igiosamentesua coesatildeo inCONsciente fo i di mishy
nui11lio n u m ritmo cons tante apoacutes o fi nal da Idade Meacutedia Entre as
razotildees desse decliacutenio destaco apenas as d uas relacio nadas diretashy
mente agrave sacralizaccedilatildeo uacutenica dessas comunidades
Em primeiro lugar o decliacutenio res ultou d as exploraccedilotildees do
9middot lIJn Hloch nos lem hra que a m aio ria dos senho res e mui tos g ra nd tgt barotildees
111t pneu medieval Ie ra In admini strado res incapazecircgt dt examinar prssoalrnenshy
li Um n iJ toacuterio ou uma prestaccediluo de contas Feudn lSOciel) r p 81
111 Is~() nao sign ifica que os il e t r~d os natildeo lessem Mas o que e les liam nao eram
rltlIlvra~c im ( mundo visIacutecl middotAos olhos de todos os que eram capazes de refk shy
xlo o mlllldo mate r ial era po uco ma is do que uma espeacutecie de maacutescara po r tniacutes da
qUJI ltlerl r iam todas as coisas realmell te importanllt5 era com o se fosse tunbeacutem
lima liacutengua quc(xpressasse por sina is uma rea lidade mais profunda ibid p 83
42 43
m undn natildeo-eu ro peu as quais ampliaram violentam cn te o horishy
wntc cult ural-geograacutefico e simultanea men te os concei tos acershy
C l das poss iacuteveis formas de vida humana11 o q ue ocorrcu sobret-ushy
Jo mas natilde o excl u~ ivam cn te na Europa Esse processo joacute fica claro
no ma io r liv ro de viagem europeu Veja a surp resa co m que o bom
cristatildeo venezia no Marco Poacute lo desc reve Cubla i Catilde no final d o
seacuteculo 1 11 1
o gratilde-catilde tendo obtido essa ex traordinaacuteria vitoacuteria retornou com
grande pompa e triunfo para a ca pi ta l a cidlde de Ka nbalu Isso
aconteceu no mecircs de no vembro e ele continuou a morar laacuteduranshy
te os meses de revcreiro e marccedilo Inecircs este de Ilossa fe ~ la de Paacutescoa
Sabendo que esta era uma das 110ssJsprincipais solenidades ele
mandou q lIe tod os os cristatildeos fos sem ateacute ele e le vasse m o Livro
deles que conteacutem os quatro Evangelhos Depois de fa7cr com que
o incensassem vaacuterias vezes co m toda a cerimocircnia ele o beijou
devotamente e ordenou qu e todos os seus noh res ali presentes
fizessem o mesmo Este era o seu costu me em todas as principais
festividades cr istatildes como a Paacutescoa e o Na tal e ele observava o
mesmo nas fes tas dos sarracenos dos judeus e dos idoacutelatras Indashy
gado sobre o motivo dessl conduta ele disse Existem qua tro
grandes proCetas que satildeo nve renciados l adorados pelas difcnnshy
les cla~ses da h uman idade Os cristatildeos consideram Jes us Cris to
como a di in dade deles us Sd rraCtno~ Maomeacute os judeus Mo iseacutes
e os idoacutelat ras Sogomombar-kan o iacutedolo mais importante deles
Eu devo honrar c most rar respeito por todos os quatro e imocar
em meu auxiacutelio aquele que del re eles eacute na pcrrade supremo no
11 Erich Au crbadl MirllfS is p 2C ITrad ( it Mi ecirc isSatildeo Paulo Perspect iva 5
eJ 200middot1 p ~H6 ]
12 t rco Pnl1 ls 1 middot ja~C5 de li Ja1(() 1aacutelo 1 BrJsiliense 1954J pp 158-9 Grilo meu NO[l - lt porem que beijam lll ~S natildeo lecircem LI Fvangelho
cJII Ilas pela maneira co m que sua majestade agi u em relaccedilatildeo a
clei eacute ev idente que ele considerava a feacute do~ crisl agraveo~ a mai s ve rdashy
(leira e a mel hor
o gue essa passagem tem de notaacutevel natildeo eacute tanto o tranquuml ilo
relat ivismo religioso do grande d inas ta mongol (afi nal ainda eacute um
relativismo religioso) e sim a aLIacutelude e a linguagem d e Marco Poacutelo
Jamais lhe ocorre tratar C ublai como hipoacute crita ou idoacutelatra apesar
de es tar escrevendo para cristatildeos europeus como ele (Em par te
sem duacutevid a po rque quan to ao nuacutemero de suacuted itos e--lensatildeo d o
ttrritoacute rio c quantidade de riq uezas ele ul t rapassa qualquer sobeshy
rano que exist iu ateacute hoje no mundo) E no uso in consciente do
nossa (que se torna deles) e na q ualifi caccedilatildeo da feacute cristatilde cOmo
a mais verdadeira em vez de a verdadeira podemos detectar o s
pr imoacuterdios de uma territo ria li zaccedilatildeo dos credos um prCl1 uacutencio d a
linguagem de muitos nacionalistas (a nossa naccedilatildeo eacute a melhor
- num campo compamtilloe competi t ivo)
Q ue di ferenccedila reveladora temos no iniacutecio da carta do viajanshy
te persa Rica em Par is para o seu amigo Ibben em 17 12
o papa eacute o chefe dos cristatildeos E um elho iacutedolo que se incensa por
haacutebi lo Antigamente ele era temiacutevel aos proacuteprios priacutencipes pois de
() i depu nha com a mesma fa cilidade com que os nossos magniacuteficos
~u llotildees depocircem os reis de [rncrclia e da Geoacuterg ia Mas natildeo o te mem
ma i ~ l l e ~e d iz SUl lSSOr de um dos pri meiros cristatildeos que ~e clldma
5(0 Pedro e cert am ente eacute uma rica sucessatildeo pois ele tem teso uros
illlen so ~ e um grande territoacuterio sob o seu domiacutenio
11 nr 1fllIds o(Mnno Jv o p 1 5 ~ I ls viagcIl5 de Marco lOcirco Brasilicnsc 19541
11 Il enri tlt ) lontesquicu Perrln Lt-lIrrs p 81 As L fl rcs perswlts foram pubtishyL lei pela pri11tira t em [72
44 45
As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy
ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11
tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy
lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido
enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica
na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande
Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem
demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse
parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy
pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy
val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy
nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica
mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma
outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy
lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos
nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy
m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada
mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele
se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros
imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa
poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy
ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim
apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy
mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do
latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma
po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy
5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo
16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy
recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)
171bi p 32 1
men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy
lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma
figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade
Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy
lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o
inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy
g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em
larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no
con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy
16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy
decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire
( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a
qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major
nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se
um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio
do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy
des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy
dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando
o Rr l NO DI N AacuteS T I CO
I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um
mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy
11 Ibit p 330
19 1h iJ pp 33 1-2
20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais
lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy
port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro
~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e
Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro
M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356
46 47
tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy
lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy
ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de
um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da
ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra
terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um
territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo
onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram
porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy
m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade
com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter
seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas
veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy
Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy
cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy
tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias
Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy
2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com
essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy
meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os
p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I
iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot
te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy
naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico
ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy
nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias
2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno
tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante
discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar
(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha
O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido
4
tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este
l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o
Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um
ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -
Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia
Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc
arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia
duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy
illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta
e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz
e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy
b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen
marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy
ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da
marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc
Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto
comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e
capturas dos Ha bsburgo
Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy
cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de
concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy
gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er
aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas
111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy
21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1
lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha
atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst
111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do
4
co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando
LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy
mo~ de a tribuir aos Bo urbon
Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo
por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy
ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy
ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos
anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy
d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na
eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes
pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos
Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien
reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy
dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy
bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu
se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy
longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo
Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades
do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio
da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves
arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486
alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy
ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento
eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot
cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la
man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui
capaz de manter ( ibid p 125 )
25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o
fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy
ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught
llIul cllt1ligr p 136
26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot
ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l
nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy
duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria
~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy
monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy
parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da
Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF
Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema
poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy
te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma
~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade
minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande
(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os
JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute
eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst
tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)
PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S
Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas
lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades
~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~
hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270
lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama
I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92
~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil
hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m
sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao
pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr
dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy
do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m
l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85
50 51
religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy
nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy
do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o
m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao
Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos
agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos
c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res
ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy
ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy
na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde
Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy
di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy
no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo
de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com
os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia
muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de
um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era
maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma
universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy
dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta
peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em
latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio
cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para
as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy
pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy
saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue
assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre
os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy
sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a
cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils
~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas
11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a
VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy
I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a
mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma
cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees
I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy
SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a
segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo
pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na
noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do
~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos
colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os
homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais
llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy
ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa
Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de
con~ciecircncia
()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de
Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo
de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy
se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy
0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal
nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de
forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy
lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma
lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot
vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles
31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6
3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco
~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot
11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90
52 53
l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy
mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a
histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla
compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy
rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy
sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de
todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno
Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy
te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy
jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy
sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas
a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real
A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo
para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute
ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a
fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma
co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy
da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura
gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo
med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo
novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy
neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy
zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo
mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo
calendaacute r io H
n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo
bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]
-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy
nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~
n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo
importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se
w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy
gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o
ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy
am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy
ginada correspondente agrave naccedilatildeo
Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao
velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem
de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy
mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e
ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy
mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo
si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy
te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar
ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte
manetra
Tempo 11 III
4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda
num bar
r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em
casa com B
o joga bilhar tem um
pcsaddo
~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e
Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197
55 54
lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia
e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver
feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas
(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a
l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao
entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute
possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua
sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees
(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os
le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy
do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma
tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy
gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy
cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy
ca no espiacuterito de seus leitores
A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy
gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da
ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade
soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o
ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer
e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees
36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I
li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do
37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll
pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1
linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao
a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po
5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico
com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo
39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do
ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy
tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados
Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada
J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy
11 i1111 e simultacircnea dd~s
rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os
rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras
I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas
Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o
romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy
turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro
romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy
ra maravilhosa 11
Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy
mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de
jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy
Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy
~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros
la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a
1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o
gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy
ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl
Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy
nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua
~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave
rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy
l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm
pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y
Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard
1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1
11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I
IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy
Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru
56 57
infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila
n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de
bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no
problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade
necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy
saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo
O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague
Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma
manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos
ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha
mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a
Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o
nosso Governo
Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta
nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy
tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas
anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy
res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy
da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy
satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma
ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la
so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do
tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy
dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da
snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens
auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se
tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy
de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy
bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)
Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy
mente problem aacuteticas
Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy
(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a
IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy
d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy
toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy
lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa
ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy
C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy
men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia
medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo
ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy
lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa
muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao
viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente
algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter
UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy
co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy
oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy
dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para
Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue
Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy
mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria
middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy
11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a
di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy
t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy
Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy
11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15
58 59
comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por
meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a
metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy
lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata
em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica
alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos
passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo
Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy
peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela
mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas
Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy
tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou
di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos
poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto
Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten
45 lbid p 120
46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy
sis ca po I (A cicar de Odissc u)
~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1
IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II
COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy
IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg
I deus Albl nia re ino Jgora
Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel
l u teu udcnsnr llue Igor marIS
M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1
I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy
Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy
IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1
Oacutel
Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo
Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy
meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy
( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no
Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como
suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo
mostra a forma essencial desse romance naciona lista )
Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes
influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e
aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy
dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te
que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy
sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy
quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im
gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos
Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy
trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r
nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo
nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do
interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy
sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico
ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy
nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy
quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1
Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no
movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m
s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do
middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H
4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu
61
romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy
pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo
t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado
o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica
eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de
prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva
mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea
do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se
as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou
daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu
enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)
E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy
dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto
Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo
de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco
Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste
destino publicada em fasciacutecul os em 1924
Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy
vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva
50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura
e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais
51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy
do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros
campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova
Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110
llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot
tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente
li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26
capitulas 25 c 1)
52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu
na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas
l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa
P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy
do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy
gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy
pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas
ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy
nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy
lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se
o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o
cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches
)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea
diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz
dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste
Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim
Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy
nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml
in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que
ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo
inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado
PROSPI~RlLlAj)E
Lm andarilho mendigo passou mal
e morreu abandonado no acostamento da rua
n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o
I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to
Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si
Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy
1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto
(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas
62 63
qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo
de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a
gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy
te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy
liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas
pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy
cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes
gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca
eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz
Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo
confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy
vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da
referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos
seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy
cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je
Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy
ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma
on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que
Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy
dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis
hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor
cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a
raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )
Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela
du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo
encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy
josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy
nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde
)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy
fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a
d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida
pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo
SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto
dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente
licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy
mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu
tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um
lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil
raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos
eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um
mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo
inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os
outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)
Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy
ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado
[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy
le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A
dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a
principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy
gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy
te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem
sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por
I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento
que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os
MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl
LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy
tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco
12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer
1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te
64 65
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
para uma interpretaccedilatildeo mais satisfa toacute ria da anomalia do nacioshy
nalismo A miJlha impressatildeo eacute que tanto a teoria marxista quanto
a liberal se es tiolaram num derrade iro esforccedilo ptolemaico de salshy
var os fenocircmenos Creio haver uma necessida de urgente de se reoshy
r ientar a perspectiva dentro de um espiacuterito por assim d izer copershy
nicano O meu pon to de part ida eacute q ue tan to a na cio nalidade - ou
como talvez se prefira dizer dev ido aos m uacuteltip los significados
desse termo a cond iccedilatildeo nacional [nation-ness]-qua nto o nacioshy
nalismo satildeo produ tos culturais especiacuteficos Para bem entendecirc-los
temos de considerar com cuidado suas origens histoacutericas de que
maneiras seus significados se transformaram ao longo do tempo
e por que dispotildeem nos dias de hoje de uma legitimidade emocioshy
nal tatildeo profunda Tentarei mostrar que a criaccedilatildeo desses produtos
no final do seacuteculo xVIII foi uma destilaccedilatildeo espontacircnea do cruzashy
mento complexo de d iferentes forccedilas histoacutericas No entanto
depois de criados esses produtos se tornaram modulares capashy
zes de serem transplantados com diversos graus de autoconsciecircnshy
cia para uma grande variedade de terrenos sociais para se incorshy
porarem e serem incorporados a uma variedade igualmente
grande de constelaccedilotildees poliacuteticas e ideoloacutegicas Tentarei mostrar
tamheacutem por que esses produtos culturais especiacuteficos despertaram
apegc tatildeo profundo
7middot Como nota Aira Kemilaincn os doispais fundadores dos estudos acadecircmicos
sobre o nacional ismo Ha ns Kohn e Carleton Haycs defenderam ess~ 0JtJCcedilUacuteO de
maneira muito convinccDte A m eu ver suas co nclusotildees natildeo chega ram a ser objeshy
to de seacuter ios debates a natildeo Ser por ideoacutelogos nacionalistas em determ inados paiacuteshy
se Kem il j int n tJm beacutem observa qLle o uso do termo nacionalismo gtneralishy
(olI-se no fi na l do seacuteculo XI X Nlo aparecia por exemplo em muitos dicionaacuterios
oitoccntist ClS correntes Se Adam Sm ith invocou a riqueza das naccedilotildees foi para se
refe ri r apenas a socieddes o u estados Aira Kel11ilainen Natiollulism pp lO 33 e 18-9
30
CONC E ITOS E DE H NICcedilOtildeE S
Antes de encaminhar as questotildees levantadas anteriormente
seria aconselhaacutevel avaliar rapidamente o conceito de naccedilatildeo e ofereshy
cer uma definiccedilatildeo operacional Eacute frequumlente a perplexjdade para natildeo
dizer irritaccedilatildeo dos teoacutericos do nacionalismo diante destes trecircs parashy
doxos (1) A modernidade ohjetiva das naccedilotildees aos olhos do historiashy
dor versus sua antiguumlidade subjetiva aos olhos dos nacionalistas (2) A
universalidade formal da nacionalidade como conceito sociocultural
- no mundo moderno todos podem devem e hatildeo de ter uma
nacionalidade assim como tecircm este ou aquele sexo - versus a parshy
ticularidade irremediaacutevel das suas manifestaccedilotildees concretas de modo
que a nacionalidade grega eacute por definiccedilatildeo sui generis (3) O poder
poliacutetico dos nacionalismos versus a sua pobreza e ateacute sua incoerecircnshy
cia filosoacutefica Em outras palavras O nacionalismo ao contraacuterio da
maioria dos outros ismos nunca gerou grandes pensadores proacuteshy
prios nenhum Hobbes Tocqueville Marx ou Veber Esse vazio cria
certa condescendecircncia entre os intelectuais cosmopolitas e poliglotas
Algueacutem pode logo concluir como Gertrude Stein diante de Oakland
que natildeo haacute nenhum ali ali [no there there] Eacute exemplar que ateacute um
estudioso tatildeo simpaacutetico ao nacionalismo quanto Tom Nairn possa
mesmo assim escrever que O nacionalismo eacute a patologia da histoacuteshy
ria do descnvolvimen to modern 0 tatildeo inevitaacutevcl quanto a neu rose no
indiviacuteduo e que guarda muito da mesm a ambiguumlidade de essecircncia da
tendecircncia interna de cair na loucura enraizada nos dilemas do
desamparo imposto agrave maior parte do mundo (o equivalente do infanshy
tilismo para as sociedades) sendo em larga medida incuraacutevel 8
A dificuldade em parte consiste na tendecircncia inconsciente
que as pessoas tecircm de hipostasia r a existecircncia do nacionalismoshy
com -N -maiuacutesculo (como se algueacutem pudesse ter umn Idade-comshy
8 TlII Imllk-up ofBrit aill p 359
31
I-nu i(Isculo) e en tatildeo de classifi caacute-1 0 como uma ideo logia
(NOla-~c ~lue se todos tecircm u ma cer ta id ade a ldade eacute apenas uma
expressatildeo ana lIacutelica ) Penso que valeria a pena tratar ta l conceito
do mesmo modo que se trata o paren tesco e a religiatildeo em vez
d e colocaacute- lo ao lado do liberalismo o u do fascism o
Assim dentro de um espiacuterito antropoloacutegico p ropo J1h o a seshy
guinte definiccedilatildeo de naccedilatildeo uma comunidade poliacute t ica im aginada shy
e imaginada como sendo intr insecamente limitada e ao mesmo
tempo soberana
Ela eacute imaginada po rq ue mesmo os membros da mais minuacutesshy
cula das naccedilotildees jamais conheceratildeo encontraratildeo ou sequer ouvishy
ratildeo falar da majoria de seus co mpanheiros embora todos tenham
em mente a imagem viva da comunhatildeo entre el es~ Era a essa imashy
gem que Renan se referia quando escreveu com seu jeito levemenshy
te irocircnico Or l essence dune nation est que tous les ind ividus
aient beaucoup de choses en comm un et aussi que tous aient
oublieacute bien des choses raquo lOra a cssecircncia de uma naccedilatildeo consiste em
qu e todos os ind iviacuted uos tenham m uitas co isas em comum e tamshy
beacutem que todos tenham esquecido muitas coisas] Gellner diza lgo
parecido quando decreta com certa feroc idade que O nacionashy
lismo natildeo eacute O despertar das naccedilotildees para a autoconsciecircncia ele
inventa naccedilotildees onde elas natildeo existemI Mas o inconveniente dessa
y C f 5eton-Watso n Ntll ions nd states p 5 A uacutenica coisa que posso di ze r eacute que
u ma naccedilatilde o ex is te quando pe~soas em nuacutem ero sign ifica tivo de uma comunidade
~ e consideram fo rmando uma naccedilatilde o o u se comportam como se formassem
uma Podemos traduzir sc co nsideram por se imaginam
10 Ernest Renan Q ucst-ce qu une nalion in Oel )res f Ollpletes 1 p 892 E
acrescenla tout ci to yen franccedilais doit avo ir o ublieacute la Saint -13a rtheacutelemy les masshy
sacres du M iJi a l1 Xllle siicle Il ny a pas en Francc dix familles qui pui sscnt fourshy
ni r la preuve d une o rigine fran q ue [todo cidadatildeo francecircs deve ter esquecid o a
ll(l ile de Satilde o Ba rloln llleu os massacrl~ S do Sul no sendo XIII Natildeo exis tem na
FrIf1 lt dez fam iacutelias que possam oferecer provas de uma o rigem franca ]
11 l rnesl Cd lntr rliouglll rtdchallge p 169 Grifo meu
form ulaccedilatildeo c que Gellncr estaacute tatildeo afli to para mostrar que O ndCJ(middot shy
nal ismu se mascara sob fa I sa~ aparecircnciasque ele identifi ca invenshy
ccedilagraveo com contrafaccedilatildeo e fa lsidade e natildeo co m imaginaatildeo e
criaccedilatildeo Ass im ele sugere im plic italllcntc qu e existem cOl11 unishy
dadesverdauc iras que num cotejo com as nclccedilotildecsse mostrar iam
melhores Na verdade q ualquer com unidade maio r que a aldeia
pr imord ial do conta to Cace a face (e talvez mesmo ela) eacute imaginashy
da As comunidades se disti nguem natildeo por sua falsiJ addautent ishy
cidade mas pelo estilo em que satildeo imaginadltls Os aldeatildees javaneshy
sessempre souberam que estatildeo ligados a pessoas que n unca viram
mas esses la-os eram () nl igame nte imaginados de maneira parl ishy
(ularista - como redes de parentesco c cl ientela COI11 pass iacuteveis de
txtensatildeo indckrminada Ateacute tcmpos bem recentes o idioma javashy
neacutes natildeo tinha n enh uma palavra que designasse a abstraccedilatildeo socieshy
dade H oje em dia podemos pensar na aristocrac ia francesa do
iJIl CiCIl reacuteg i ll c CO 1110 uma classe mas ccrtamen te ela soacute fo i imagishy
nada desta maneira em ~poca bas lan te adiantada Diante da pershy
gunta Quem eacute o conde de X a resposta normal natildeo ser ia um
mlmbro da aristocracia c sim o sen hor de X o tio da baronesa
de Y ou u m cliente do duque de Z
Imagina -se a naccedilatildeo limitada porque mesmo a maior delas
que agregue digamos um bilhatildeo de habita ntes poss ui frontciras
lin iacutetas a in da que elaacutest icas para aleacutem das quais existem o utras
llaccedilOcircts Nenh uma delas imagina ter a mesma extensatildeo da hu manishy
11de Nem os nacional i ~tas mais mess iacircnicos sonham co m o d ia
111 que to dos os mem h ros da es peacutecie huma na se un iratildeo a sua
12 ll hsbawfll por exemplo lI xJ n lli toc rlci3 com o cla s~l ao diz r qU tmiddot em
IiiN bull Ia o nsisti a em In a d~ lt100 mil Plt=SS(ht numa pop ul lccediluumlo de 23 milhuo
(Vcr ) ~eu li [(J Th e A~c o RrroltieJ p 7R [i rra das revohlccediloacuteS EIroll 789 ~middotIR 111 lt Terra 19771) Ma~ lmiddot~se quadro estlt lSlico da nobreza seria imaginaacuteve l
oh o ltlrf 1I reacutegll e
32 33
naccedilatildeo como por eXe mplo na eacutepoca cm q ue os cri taos pod iam
sonhar co m um planeta total mente cristatilde v bull
I magina -se a naccedilatildeo soberalltl porquc o conceito nasceu na
eacutepoca em que o Iluminismo c a Rcvo luccedilagraveo estavam destru indo a
Icgiuumlmidade do reino dinaacutest ico hieraacute rqu ico de ordem divina
Amad urecendo nllm a fase da histoacuteria humana em que mesmo os
adeptos mais fervorosos de qualquer religiatildeo universal se defronshy
tavam i nevitavel men te COI11 o pl1lra lismo vivo dessas rel igiotildees e
com o alomorfismo entre a~ pretensotildees ontoloacutegicas e a extensatildeo
terri to rial de cada credo as naccedilotildees son ham em ser livres - e
quando sob dominaccedilatildeo divina entatildeo d iretamente sob Sua eacutegide
A ga_ra ntia e o emblema dessa li berdade eacute o Estado Soberano
F por uacuteltimo ela eacute imaginada como urna comwlidade porshy
que independentemente da desigual dade e da exploraccedilatildeo efetivas
q ue possam existir dentro dela a naccedilatildeo sem pre eacute co ncebida corno
uma profunda camaradagem horizo ntal No fu ndo foi essa fratershy
nidade que tornou possiacutevel nestes dois uacuteltimos seacuteculos tantos
m ilhotildees de pessoas tenham-se natildeo tanto a matar mas sohretudo a
morrer por essas criaccedilotildees imaginaacuterias lim itadas
Essas mortes nos colocam bruscamen te diante do problema
central posto pelo nacionalismo o que faz com que as parcas criaccedilotildees
imaginativas da histoacuter ia recente (pouco mais de dois seacuteculos) gerem
sacrifiacutecios tatildeo de-comunais Creio que encontraremos os primeiros
contornos de u ma resposta nas raiacutezes culturais do nacionalismo
1 Raiacutezes culturais
Natildeo existecircITI siacutembolos mais impressionantes da cultura mo shy
dern a do nacionalismo do q ue os cenotaacutefios e tuacutemulos dos soldashy
dos desconhecidos O respeito a cerimocircnias puacutebl icas em que se reveshy
r~n ciam esses monumentos justamente porque estatildeo vazios o u
po rque ningueacutem sabe q uem jaz dentro deles natildeo encon tra
nenhum paralelo verdadeiro no passado Para sentir a forccedila dessa
modern idade basta im aginar a reaccedilatildeo geral di an te do suj ei to
in trometido que descobre o nome do soldado descon hecido ou
que ins iste em colocar algu ns o~sos de verdade den tro do cenot shy
fio Es tranho sac rileacutegio co n temporacircneo f no entanto esses
tuacute mul os sem almas imortais nem restos mortais identificaacuteveis
dentro dcles estatildeo carregados de imagens naciolais espectrais - (Eacute
1 (h gre~os ant igus tinham ceno l3Ji()s mas parl indiviacuted uos especiacuteficos d e idenshy
I idade conhec ida e cu jos cor pos por uma razatildeo ou o ut ra 11 10 puderam receher
Ll m~ nterro no rmal JJevoes ta informaccedil50 agrave minha colega Judith Herri n es tudio shy
sa de lIilagrave nmiddotio
~ Cn~idccedilrccedilm- se po r f xc mplo essas llotiIacutevc is expressotildees a Os irlllatildeos de armas
IUnLI no fa lta l-am_Se o fi l essem um milhatilde o de espect ros em verde-o i iva panio
34 35
por iSSl) que tantas naccedilotildees difcren tes tecircm esses tuacutem ul os sem senti r
nenhumt necessidade de c-pccificltlr a nacionalidade de seus ocushy
pantes auscntes O que mais potleriam ser 5(10 ak mdes ameri cashy
nos argen ti nos etc )
O sign ificado cul tural desses monumen tos Ii caniacute ainda mais
c1eacutel ro se tentarmos imagi nar por exemplo um luacutemulo do ma rx isshy
ta desconhecido ou um ccnolaacutefio para os liberais tombados em
combate Natildeo seria um abs urdo O m~lrx ismo e o li beralismo natildeo
se importam mu ito com a Inorte e a imortalidad bull Se o imagmaacuterio
nacionalista se importa tanto com elas isso sugere sua grande ~fishy
nidade com os imaginaacuterios religiosos Como essa afinidade nada
tem de fortu ito talvez val ha a pena inicia r uma ava liaccedilatildeo das ra iacuteshy
zes cullurais do nac ionalismo pela mo rte o uacutelt imo elemento ele
Ul11 cJ seacuterie de fatalidades
A maneira de um homem morrer geralmente parece arbit raacuteshy
ri el mas sua mo rtal idade eacute ine itaacutevel As vidas hu manas estatildeo
-heias dessas combi naccedilotildees entre acaso e necessidade Todos sabeshy
mos que nossa heranccedila geneacutetica pessoal nosso sexo a eacutepoca em
que vivemos nossas capacidades fiacutesicas liacute ngua materna e aampgtim
por diante satildeo fato res conlingentes e inelutaacuteveis O gra nde meacuterishy
lO das concerccedilotildee~ religiosas tradi ciona is (o tlual nalural mente
natildeo deve ser confu ndido com o papel delas na legitimaccedilatildeo de sis shy
d qli ma rrom llU l e cinja sr levan tariam d~ suas laacutep ides h rl ll CdS trovejando
ca plllvras 11iacutegidS Dew I honra piacutet rb b O mel Ju iacutew lsnhre o (l Idado
nlcriclno I e (armou 1111 a111 po dt batuacuteha haacute Ill u itus e lll 11i tllS allOS e llUIlCi1 se [1 lIhli fio li Lu li 1 11 cnt Jo com() o veio ago ra como ullla das ligu r JS mais nobres
I lll Undo 11 lt10 ~O como uma das pllsonal idades nl i li t J re~ mai sele tasl11 il ta mshy
hc m como uml da Il1d is imaculadtgt I~ ic I ri r fertc nccl h l~t(r ia I(l [ dar 11 rn dus ml iofCS eXlmp lo tIlt pat ri(lti ll1o vitll ri ()5P I~ i - ) Ek pcr lt ll ( l p(~ tcr i dlde
como il1otruto r de gc raccediluumlc futura nm prindpio da libl rdlde l indl [lc nJeacuten(ia
Lle p~ rtcn~e 10 l r l~e nlL d noacutes l1(lr ~lHh v i rtllde~ t rcali lik s Uouglas IIluto rlh ur Outy I IOIl lLlr (ollnt ry di(u fo) p cl ri a cldcm iJ IililJ r t merishy
~anol 1 [gt1111 I dc maio Ir 196 2 L11l sc lt so ltlier spclks pp JSI c 357
tC llhlSsptciacutefi cos de domi naccedilatildeo e exploraccedilatildeo ) eacute a SUltl preocupaccedilatildeo
com () homem-no-universo o homem enquanto espeacutecie e cont inshy
glncia da vida A ext rao rd inaacute ria sobrevivecircncia do budismo do
(ri~tiltlI1 is l1l o ou do islamismo ao longo de milecircnios e em dezenas
de formaccedilotildees sociais d ireren tes comprova li ma capacidade de resshy
posta imaginativa ao tremendo peso do sofrimento humano - a
doenccedila a mutilaccedilatildeo a dor a velhice a morte Por que nasci cego
Por que o meu mel hor amigo fi cou para liacute tico Por que a mi nha
irm eacute retardada As religiotildees ten tam expl icar O grande pon to
fllthO de todos os estil os de pensamento evolucionaacuteriosprogressi
vos in cluindo o marxismo eacute que eles respondem a essas pergunshy
tas COI11 um silecircncio impaciente Ao mesmo tel11po e de diversas
maneiras o pensamento religioso tamb~m daacute respostas sobre as
ohsclI ras insinuaccedilotildees de imortal idade geralmente transfo rmando
H fatali dade em contin uidade (kamUl pecado originnletc )Assim
a re ligiatildeo se interessa pelos viacutenc ulos entre os mortos e os ainda
natildeo-nascidos pelo misteacuterio da rc-generaccedilatildeo Quem vive a conccpshy
tatildeo l () nascime nto do se l proacuteprio filho sem apreender difll sa shy
mente lima mescla de ligaccedilatildeo acaso e necess iddde em linguagem
de continuidade (Aqui de novo a desvantagem do pensamenshy
1 Cf Rlgi~ lk bray lhrx i~m ltl nd I h ~ national question Nellmiddot lerr NClltIV J 05
(sckmhrll-outubro 1977) p 29 I )lIfantc deg I11 ~ U trabal ho de campo na Indoneacutesia
l1il deacuteltHl a d oacuteO fique i chocado (0111 a tranquuml ila llcgJ ti llt1 de muitos llluccedilulmJnu
~11 ll~il lt1 r IS ideacuteias de Darwin Nu co meccedilo interpretei essa negaI iJ C(l mo obs u
rlIlt l~ll1n Depois vi que cra lima hnlat ivl lo uvaacutevel de l1lJnlcr a ()crl ll cia a doushy
trina d) evoluccedilao era ~im p l sme n lc i n ~lm pa livd com os Lns inalllf ll liS do islatilde O tuc IMer )1l1 UI I1 ll1 a l criali ~mo cicnliacutelic que aCl ita formalmente 15 des(obn tas
d1iiacutesil1 ()h r~middot 1 mak ria rna~ que se ltmpcnha latildeo puu(O (111 vincular lai dcscohcr a~ li lU1 1d ICSbull I rcmiddotol uccedilagrave(l ou ao q ue lor ~cri que o ahismo enlre os proacutetons
r o Itolmiddotlnri1UacuteC) 11 10 oc ult1 ul11a cksconhecidu CO I1CCpccedilO metafiacutesica do hOl1l ell1
tIJ lmiddotjlIn-st os II1 tcrCSSJll llS textos Je ScbnSliollll1l m pan aru O II(tcritl iSJIl l
TItmiddot flLlld(1I ~ lp c a rcs po~tJ pondLradltl de Raymond Wi llium 1 eles em Timla 1110 111lkrillist dlllJ Icng bull ICII lcft IklJ middotW 109 (I11 Ji( -junl1o 1978) pp _~ - 1 7
37 36
to cvoluciomiacuterio p ro gressivo eacute sua aversatildeo quase heraclitialla a
qualquer ideacute ia de co ntin uidade)
Faccedilo essas observaccedilotildees talvez simploacuterias principalmente por shy
que () seacuteculo XV II I na Eu ropa Ocidcn la l marca llatildeooacute o amanhecer
Ja era 00 nac ionalismo m as tambeacutem o anoi tecer dos modos de
pensamentos religiosos () seacutecuJo do Il um inismo do secul arismo
racio nal ista t rou xe consigo suas proacuteprias t revas m od ernas A feacute
religiosa decl inou mas o sofrimento que ela ajudava a apaziguar
natildeo desapareceu A desintegraccedilatildeo do para iacuteso nada torna a fatalid a shy
de mais arbitraacuteria O absurdo da salvaccedilatildeo nada torna m ais necesshy
saacuterio um outro estilo de cont inuidade Entatildeo foi preciso q ue houshy
vesse uma transfo rmaccedilatildeo secular da fa talidad e em co ntinuidade
da contingecircncia em signi ficado Como veremos poucas coisas se
mostraram (se m ostram) mais adequadas a essa fi nalidade do que
a ideacuteia de naccedilatildeo Adm ite-se normalmente q ue os estados nacionais
satildeo novos e histoacutericos ao passo q ue as naccedilotildees a q ue eles datildeo
expressatildeo poliacutetica sempre assomam de um passado imemorial e
4 O falecido pre idcnte Suklrno sempre falou com toda a sil1cnidade sobre os
30 anos de coJonialismo a que a sua Indoneacutesia fo ra subm etida embora o proacuteshy
prio co nceito de Indoneacutesia seja uma invenccedilatildeo do seacutec ulo X e a maior parte do
que hoje eacute o paiacutes ten ha sido conquistada pelos holandeses apenas entre 1850 e
1910 O principal heroacutei nacional da Indon eacutesia con tempo racircnea eacute o priacutencipe java shy
nl-s Dipltlnegoro do comeccedilo do seacuteculo xlxembo[U as memoacuterias do priacutencipe mosmiddot
trtJn que ele pretendia co nqui~tJr Inatildeo libertar J 1(1a t natildeo expulsaros hola nshyd (~~l~ 11 verdade eacute evidentt que tk natildeo concebia os holltl1dccs como uma
(lllct iidlde Ver Harry ) Uencla t John A l arkin (o rg ) 117 lt 1Vorld ofSoll lumiddotast A51tl p 158 c Ann Kumar Diponcgoro ( I 771)~- 1 855) l ldolltsia 13 (abril de
I Yiacute2) p 103 Criro meu Analogamente Kcmal Atatuumlrk deu lOS slt us bancos esta
ta is os nomcs Ba nco Hitita I Ui Banka ) c Banco Sumeacuterio (Sc t(l n Watson Narivlls mui Siacutelllcs p 259 ) E SSeacuteS bancos satildeo proacutesperos e natildeo haacute razio para duvidar que
mu itos tl IlCOS e provavelmente o proacuteprio Kcmal acred itasst m slr iamcnte e
Jintla acreditem que 0 hit itds e os sumeacuterios satildeo seus antepassados tu rcos An tes de dar muitas risaJas se ria me lhor lembrarmos de Artm c Boad i~ea e refletir sobre o sucesso comercial das mi tog rafias de ro lkien
38
1 indd mais importante ~cguem rumo a um futuro il im itado 1 a
nlltlgia do nac ionalismo que converte o acaso em desti no Podem os
dic com Debray Si m eacute pu ro acaso que cu ten ha nascido fran cecircs
mJS a ti nai a h anccedila eacute eterna
Eacuteclaro que natildeo estou afirmando que o su rgimento do nacioshy
naligtl11o no fina l d o seacutecu lo Xl ur foi produzido pelo dcsgaste das
convicccedilotildee religiosas nem que ~sse proacuteprio desgas te natildeo requer
unhl explicaccedilatildeo complexa Tambeacutem natildeo estou sugeri ndo que o
l1aciol1a I ismo tenba de aJgu ma forma su bsti tu iacutedo histo rica shy
mente a religiatildeo O q uc es tou popondo eacute o entendimen to d o
nac ionalism o alinhando-o natildeo a ideologia- poliacuteticas conscien teshy
mente ado tadas mas aos grandes sistemas cu ltu rais qu e o prece shy
deram e a partir dos quais ele surgiu incl usive para combatecirc-los
Para nossas fi nal idades os do is sistemas cul turais per i nel1 te~
sagraveo a cOlllI zidade religiosa e o reino dinaacutestico Po is am bos no seu
apogeu fo ram est ruturas de referecircnc ia incontestes como oco rre
atualmente com a nac ionalidade Portanlo eacute fundame ntal analishy
sar o qu e cunfer iu uma plausibiJidade auto-evidente a esses sisteshy
mdS cul urais e ao mes mo tempo d estacar a lguns eJc m cntos shy
cbaw na decomposiccedilatildeo deles
1 C O IIUNIDADE RELI G IOS A
I Xlstem po ucas coisas ma is im pressionanles do que a vasta
extensatildeo ter r ito r ial do Ummah i ~lagravemic) desde o Marrocos ao
arquipd ago Sulu da cri slandade Jesde o Paraguai ao Ja patildeo e do
nlundo bu d ista desde o gt r i La nka agrave pen iacutensula coreana As grand es
1111turas acras (e para nossos objetivos pode-se incluir tambeacutem
o confucionism o ) incorporava m a ideacuteia de imensas comunidashy
des ~las a cristandadc o Um mah is lilmico e mesm o o Impeacuterio do
Ccnl ro - que hoje eacute considerado chinecircs mas antes imaginava-se
39
como cenLrd - eram imaginados pri ncipalmente pelo uso de
um a liacutengua e uma escrita sagradas Tomemos o exem plo do islatilde se
ul11 ll1aguindanaucnse encontrasse um btrbere em Meca um desshy
conhecendo o idioma do out ro incapazes de se comunica r oralshy
mente mesmo assi m entenderia m os seus caracteres p(Hque 0lt
textos sacros adotados por ambos exist iam apenas em aacuterabe claacutesshy
sico Nesse sentido o aacuterabe escrito fu ncionava como os ideograshy
mas ch ineses criando wna comunidade a partir dos signos c natildeo
dos so ns (Assi m hoje em dia a linguagem matemaacutetica daacute prosseshy
gu imento a uma velha trad iccedilatildeo Os romenos natildeo fazem ideacuteia de
como se diz + em tai landecircs e vice-versa mas ambos compreenshy
dem o siacutembolo) Todas as grandes comunidades claacutessicas se cOl1Sishy
deravam cosmicamente centrais at raveacutes de uma liacutengua sagrada
ligada a uma ordem ~upra terrena de poder Assi m o alcance do
lal im do paacute li do aacuterabe ou do chinecircs escritos era teoricamente ilishy
mitado (Na ve rd ade quanto mais morta eacute a liacutengua escri ta shy
qua nto ma is di-ta ntc da fala - melhor em princiacutepio todos tecircm
acesso a um mundo puro de signos )
Mas essas com Llnidade~ claacutess icas ligadas r or Jinguas sagradas
tinham um caraacuteter di fe re nte das comunidades imagi nadas das
naccedilotildees modern as Uma di ferenccedila fundamental era a confianccedila das
comunidades maIs an tigas no sacrarnenLalislllo l1nico de suas liacuten shy
guas e daiacute deri va m as iclcias que ti nllam sobre a admissatildeo de novos
membros O mandarins chineltcs viam com bons olhos os baacuterbashy
ros que aprendiam 3 duras penas a pin tar os ideogramas do
Impeacuterio do Cen tro Esses haacuterharm jaacute estavam ltl meio caminho da
plena aceitaccedilatildeo Meio-civil izado era muiliacutessimo melhor do que
baacuterba ro Essa atit ude certame nte natildeo foi excl usiva dos chi neses
nem se restringiu agrave Antiguumlidade Veja por exemplo a seguinte
5middot O l i 1 t rlIlqLiil iluumlde com que os mOIl (ois c manchus ~ il1 izadu s foram aceitos m rTIo 1-tIIrO$o ( 11
40
-
poliacute tica para os biIacute rbaros formulJua pelo liberal co lomhi ano
Ped ro rermiacuten de Vargas do comeccedilo do seacuteCll lo XIX
Pa ra am pliar a ll)SSa agricu ltura seri a preciso hi spaniza r 0S nossos
iacutendios A preguiccedila a fa lta de in ldigecircnci e a in dif~ rccedil nccedila dd es aos
t rabalhos normais levam a pensa r que d cs derivam de uma raccedila
degenerada que se ueteriora conforme ~e afasta da ua origem [ J
seria muito dese iaacutevel que os iacutendios se extinguissem atraveacutes d misshy
cigenaccedilatildeo com os brancos isentando-os de im postos e ou tros
encargos c concedendo-lhes a propr iedade privaoa da ter ra
I~ notaacutevel que esse liberal ain da proponha extinguir seus iacutendios
el1l parte isentando-os de impostos e concedendo-lhes a proshy
priedade privada da terra em vez de exterminaacute-los com armas de
fogo e microacutebios como logo depois comeccedilaram a fazer seus herdeishy
ros no Brasil Argenti na e Estados Unjdos Nota-se tambeacutem ao lado
desta crueldade com ares condescendentes o otimismo coacutesmico
Jtl fim eao cabo o iacutendio pode -er redimido - pela impregnaccedilatildeo do
stmen bran co civil izado e pelo acesso agrave propri edade privada
~OIlO todos os outros (Como eacute d iferente a atitude de Fermiacuten em
comparaccedilatildeo ao imperialista europeu posterior com a sua preferecircnshy
lia pelos malaios gurcas e hauacutessas autecircnticos em vez de mestishy
Ccedil()~ nativos semi- analfabetos wuacutegs e assim por diante
Mas se o meio de se imaginar as grandes com unidades gl shy
hltt is do passado eram as liacutenguas mudas sagradas essas apariccedilotildees
IJq lliriam realidade a pa rtir de uma ideacuteia btstante es tranha agrave
rn~nta l id ade ocidental contemporagravenea a natildeo-arb itrariedade do
signo Os ideogramas do ch i necirc~ do latim ou do aacuterabe erJm emashy
6 ) hll LYl1L h T cSpi11ish-AI1criCIII rIOllioIl5 1808-211 p 260 Grifo meu g krmo depreciat ivo -I lie na epoca do imperial ismo britimiacuteco designava o
ou ivo clJ iacutenJla da Africa do Norte e do O riente Meacutedio
41
naccedilotildees da real idad e e natildeo re presen taccedilotildees inventadas ao acaso
Co nhecemos a lo nga discussatildeo sobre a liacute ngua (l ati m ou vernaacutecushy
lo) ma is adequad a para a missa Na tradiccedilatildeo islacircmi ca ateacute bem
pouco tempo () Coratildeo era lite ralmente intracuzIacutevel (e portanto
in lrad uzido) porque o uacutenico ltI cesso agrave verdade de Alaacute era por meio
dos signos verdadeiros e illsubstitu iacuteveis d o aacuterabe escr ito Aqui natildeo
existe a ideacuteia de um mundo tatildeo des incuhd0 da liacutengua que todas
as liacutenguas vecircm a ser signos equumlid istanles (e porta nto in tercambiaacuteshy
vei s) dele Com efeito a realidade o ntoloacutegica soacutepo de se r apreendi shy
da por meio de um uacutenico sistema pr ivilegiado de re-presentaccedilatildeo
a liacutengua-verdade do latim eclesiaacutestico do aacuterabe coracirc n ico ou do
chinecircs do sistema de exames E como liacutenguas-verdade estavam
imbuiacutedas de um im pulso largamente estranho ao nacionalism o a
saber o impulso agraveco nversatildeo Por conversatildeo quero dizer natildeo tanto
a aceitaccedilatildeo de dctermi nltldos p r inciacutepios religiosos e sim uma
absorccedilatildeo alqu iacutem ica O baacuterbaro se torna Impeacuterio do Centro o
montanhecircs do Rif muccedilulmano e o ilongo cristatildeo Toda a natureshy
za ontoloacutegica do homem eacute maleaacutevcl ao sagrado (Compare o presshy
tiacutegio dessas antigas liacutenguas mundia is colocadas acima de todos os
vernaacuteculos com o esperanto ou o volapuk que jazem ignorados
entre essas duas esferas) Foi afinal essa possibilidade de convershy
satildeo atraveacutes da liacutengua sagrada que permitiu que um inglecircs se torshy
nasse papas e u m m anchuacute rio se to rnasse Filho do Ceacuteu
Mas se as liacutenguas sagradas permitiam que se imaginassem
co m u nidades tais como a cristandade nuumlo eacute poss iacutevel explicar o
verdadeiro alcance c a efetiva plausibil idade dessas co munidades
7 Atl que parect () grego cclc iaacutesti co natildeo atingiu o estatuto de uma liacutengua -verdashy
de Sao viIacuter ias as razotildees desse fracasso mas com certeza um fator fundamental
fo i que o grego continuou a ser uma liacutengua demoacutetica i lj (ao con traacute rio do latim)
cm grande parte do Impeacuterio do O rien te Devo essa suglts tagraveu a fudith Herrin
8 Nicholas Brakcspear ocupou o pontificado de 11 5middot1-59 com o nume de Adriano 1
arenas pelo texto sagrado os seus leitores afinal natildeo passavam de
min uacutesculos recife let rados em vastos oceano~ iletradosmiddot Para
urna expl icaccedilatildeo m ais completa temos de exami mlr a relaccedilatildeo entre
o~ letrados e suas sociedades Seria equ ivocado co nsideraacute-los uma
espeacutecie d e tecnocracia teoloacutegica As liacuten guas a que eles d avam
suporte por mais abst rusas qu e fo ssem natildeo possuiacuteam o caraacuteter
abstruso auloconstruiacutedo do jargatildeo dos advogados ou dos econoshy
mistas agravemargem da ideacute ia de realidade alimentada pela sociedade
Pelo contraacute rio os letrados eram grandes inic iados cam adas estrashy
teacutegiLas de uma hierarq uia cosmoloacutegica cujo aacutepice era divino 10 As
concepccedilotildees fundamentais so b re os grup os sociais eram mais
centriacutepetas e hieraacuterquicas do que horizontais e fron tei riccedilas O
poder assombroso do papado no seu auge soacute pode ser ent tnd ido
em termos de um clero transeuropeu com conhecimento do latim
esaito e tambeacutem de uma concepccedilatildeo de m undo partilhada p ratishy
ca mente po r todos e segundo a q ual a cam ada intelectual biliacutenguumle
ao media r o vernaacuteculo e o latim tam beacutem faz ia a mediaccedilatildeo en t re a
terra e o ceacuteu (O pavor da excomunhatildeo reflete essa cosmologia)
Apesar de toda a m agnitude e poderio das grandes com unishy
dades imagi nadas rel igiosamentesua coesatildeo inCONsciente fo i di mishy
nui11lio n u m ritmo cons tante apoacutes o fi nal da Idade Meacutedia Entre as
razotildees desse decliacutenio destaco apenas as d uas relacio nadas diretashy
mente agrave sacralizaccedilatildeo uacutenica dessas comunidades
Em primeiro lugar o decliacutenio res ultou d as exploraccedilotildees do
9middot lIJn Hloch nos lem hra que a m aio ria dos senho res e mui tos g ra nd tgt barotildees
111t pneu medieval Ie ra In admini strado res incapazecircgt dt examinar prssoalrnenshy
li Um n iJ toacuterio ou uma prestaccediluo de contas Feudn lSOciel) r p 81
111 Is~() nao sign ifica que os il e t r~d os natildeo lessem Mas o que e les liam nao eram
rltlIlvra~c im ( mundo visIacutecl middotAos olhos de todos os que eram capazes de refk shy
xlo o mlllldo mate r ial era po uco ma is do que uma espeacutecie de maacutescara po r tniacutes da
qUJI ltlerl r iam todas as coisas realmell te importanllt5 era com o se fosse tunbeacutem
lima liacutengua quc(xpressasse por sina is uma rea lidade mais profunda ibid p 83
42 43
m undn natildeo-eu ro peu as quais ampliaram violentam cn te o horishy
wntc cult ural-geograacutefico e simultanea men te os concei tos acershy
C l das poss iacuteveis formas de vida humana11 o q ue ocorrcu sobret-ushy
Jo mas natilde o excl u~ ivam cn te na Europa Esse processo joacute fica claro
no ma io r liv ro de viagem europeu Veja a surp resa co m que o bom
cristatildeo venezia no Marco Poacute lo desc reve Cubla i Catilde no final d o
seacuteculo 1 11 1
o gratilde-catilde tendo obtido essa ex traordinaacuteria vitoacuteria retornou com
grande pompa e triunfo para a ca pi ta l a cidlde de Ka nbalu Isso
aconteceu no mecircs de no vembro e ele continuou a morar laacuteduranshy
te os meses de revcreiro e marccedilo Inecircs este de Ilossa fe ~ la de Paacutescoa
Sabendo que esta era uma das 110ssJsprincipais solenidades ele
mandou q lIe tod os os cristatildeos fos sem ateacute ele e le vasse m o Livro
deles que conteacutem os quatro Evangelhos Depois de fa7cr com que
o incensassem vaacuterias vezes co m toda a cerimocircnia ele o beijou
devotamente e ordenou qu e todos os seus noh res ali presentes
fizessem o mesmo Este era o seu costu me em todas as principais
festividades cr istatildes como a Paacutescoa e o Na tal e ele observava o
mesmo nas fes tas dos sarracenos dos judeus e dos idoacutelatras Indashy
gado sobre o motivo dessl conduta ele disse Existem qua tro
grandes proCetas que satildeo nve renciados l adorados pelas difcnnshy
les cla~ses da h uman idade Os cristatildeos consideram Jes us Cris to
como a di in dade deles us Sd rraCtno~ Maomeacute os judeus Mo iseacutes
e os idoacutelat ras Sogomombar-kan o iacutedolo mais importante deles
Eu devo honrar c most rar respeito por todos os quatro e imocar
em meu auxiacutelio aquele que del re eles eacute na pcrrade supremo no
11 Erich Au crbadl MirllfS is p 2C ITrad ( it Mi ecirc isSatildeo Paulo Perspect iva 5
eJ 200middot1 p ~H6 ]
12 t rco Pnl1 ls 1 middot ja~C5 de li Ja1(() 1aacutelo 1 BrJsiliense 1954J pp 158-9 Grilo meu NO[l - lt porem que beijam lll ~S natildeo lecircem LI Fvangelho
cJII Ilas pela maneira co m que sua majestade agi u em relaccedilatildeo a
clei eacute ev idente que ele considerava a feacute do~ crisl agraveo~ a mai s ve rdashy
(leira e a mel hor
o gue essa passagem tem de notaacutevel natildeo eacute tanto o tranquuml ilo
relat ivismo religioso do grande d inas ta mongol (afi nal ainda eacute um
relativismo religioso) e sim a aLIacutelude e a linguagem d e Marco Poacutelo
Jamais lhe ocorre tratar C ublai como hipoacute crita ou idoacutelatra apesar
de es tar escrevendo para cristatildeos europeus como ele (Em par te
sem duacutevid a po rque quan to ao nuacutemero de suacuted itos e--lensatildeo d o
ttrritoacute rio c quantidade de riq uezas ele ul t rapassa qualquer sobeshy
rano que exist iu ateacute hoje no mundo) E no uso in consciente do
nossa (que se torna deles) e na q ualifi caccedilatildeo da feacute cristatilde cOmo
a mais verdadeira em vez de a verdadeira podemos detectar o s
pr imoacuterdios de uma territo ria li zaccedilatildeo dos credos um prCl1 uacutencio d a
linguagem de muitos nacionalistas (a nossa naccedilatildeo eacute a melhor
- num campo compamtilloe competi t ivo)
Q ue di ferenccedila reveladora temos no iniacutecio da carta do viajanshy
te persa Rica em Par is para o seu amigo Ibben em 17 12
o papa eacute o chefe dos cristatildeos E um elho iacutedolo que se incensa por
haacutebi lo Antigamente ele era temiacutevel aos proacuteprios priacutencipes pois de
() i depu nha com a mesma fa cilidade com que os nossos magniacuteficos
~u llotildees depocircem os reis de [rncrclia e da Geoacuterg ia Mas natildeo o te mem
ma i ~ l l e ~e d iz SUl lSSOr de um dos pri meiros cristatildeos que ~e clldma
5(0 Pedro e cert am ente eacute uma rica sucessatildeo pois ele tem teso uros
illlen so ~ e um grande territoacuterio sob o seu domiacutenio
11 nr 1fllIds o(Mnno Jv o p 1 5 ~ I ls viagcIl5 de Marco lOcirco Brasilicnsc 19541
11 Il enri tlt ) lontesquicu Perrln Lt-lIrrs p 81 As L fl rcs perswlts foram pubtishyL lei pela pri11tira t em [72
44 45
As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy
ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11
tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy
lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido
enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica
na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande
Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem
demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse
parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy
pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy
val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy
nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica
mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma
outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy
lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos
nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy
m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada
mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele
se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros
imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa
poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy
ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim
apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy
mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do
latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma
po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy
5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo
16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy
recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)
171bi p 32 1
men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy
lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma
figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade
Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy
lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o
inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy
g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em
larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no
con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy
16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy
decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire
( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a
qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major
nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se
um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio
do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy
des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy
dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando
o Rr l NO DI N AacuteS T I CO
I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um
mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy
11 Ibit p 330
19 1h iJ pp 33 1-2
20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais
lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy
port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro
~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e
Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro
M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356
46 47
tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy
lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy
ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de
um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da
ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra
terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um
territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo
onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram
porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy
m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade
com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter
seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas
veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy
Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy
cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy
tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias
Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy
2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com
essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy
meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os
p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I
iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot
te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy
naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico
ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy
nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias
2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno
tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante
discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar
(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha
O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido
4
tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este
l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o
Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um
ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -
Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia
Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc
arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia
duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy
illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta
e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz
e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy
b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen
marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy
ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da
marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc
Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto
comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e
capturas dos Ha bsburgo
Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy
cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de
concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy
gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er
aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas
111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy
21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1
lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha
atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst
111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do
4
co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando
LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy
mo~ de a tribuir aos Bo urbon
Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo
por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy
ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy
ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos
anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy
d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na
eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes
pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos
Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien
reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy
dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy
bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu
se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy
longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo
Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades
do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio
da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves
arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486
alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy
ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento
eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot
cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la
man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui
capaz de manter ( ibid p 125 )
25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o
fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy
ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught
llIul cllt1ligr p 136
26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot
ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l
nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy
duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria
~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy
monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy
parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da
Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF
Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema
poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy
te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma
~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade
minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande
(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os
JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute
eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst
tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)
PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S
Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas
lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades
~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~
hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270
lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama
I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92
~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil
hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m
sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao
pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr
dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy
do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m
l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85
50 51
religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy
nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy
do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o
m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao
Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos
agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos
c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res
ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy
ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy
na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde
Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy
di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy
no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo
de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com
os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia
muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de
um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era
maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma
universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy
dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta
peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em
latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio
cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para
as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy
pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy
saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue
assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre
os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy
sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a
cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils
~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas
11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a
VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy
I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a
mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma
cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees
I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy
SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a
segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo
pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na
noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do
~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos
colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os
homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais
llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy
ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa
Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de
con~ciecircncia
()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de
Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo
de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy
se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy
0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal
nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de
forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy
lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma
lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot
vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles
31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6
3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco
~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot
11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90
52 53
l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy
mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a
histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla
compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy
rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy
sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de
todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno
Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy
te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy
jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy
sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas
a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real
A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo
para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute
ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a
fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma
co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy
da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura
gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo
med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo
novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy
neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy
zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo
mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo
calendaacute r io H
n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo
bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]
-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy
nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~
n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo
importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se
w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy
gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o
ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy
am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy
ginada correspondente agrave naccedilatildeo
Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao
velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem
de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy
mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e
ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy
mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo
si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy
te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar
ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte
manetra
Tempo 11 III
4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda
num bar
r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em
casa com B
o joga bilhar tem um
pcsaddo
~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e
Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197
55 54
lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia
e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver
feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas
(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a
l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao
entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute
possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua
sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees
(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os
le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy
do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma
tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy
gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy
cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy
ca no espiacuterito de seus leitores
A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy
gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da
ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade
soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o
ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer
e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees
36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I
li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do
37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll
pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1
linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao
a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po
5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico
com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo
39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do
ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy
tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados
Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada
J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy
11 i1111 e simultacircnea dd~s
rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os
rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras
I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas
Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o
romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy
turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro
romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy
ra maravilhosa 11
Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy
mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de
jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy
Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy
~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros
la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a
1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o
gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy
ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl
Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy
nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua
~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave
rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy
l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm
pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y
Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard
1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1
11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I
IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy
Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru
56 57
infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila
n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de
bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no
problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade
necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy
saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo
O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague
Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma
manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos
ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha
mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a
Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o
nosso Governo
Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta
nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy
tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas
anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy
res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy
da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy
satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma
ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la
so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do
tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy
dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da
snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens
auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se
tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy
de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy
bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)
Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy
mente problem aacuteticas
Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy
(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a
IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy
d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy
toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy
lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa
ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy
C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy
men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia
medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo
ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy
lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa
muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao
viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente
algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter
UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy
co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy
oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy
dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para
Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue
Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy
mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria
middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy
11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a
di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy
t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy
Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy
11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15
58 59
comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por
meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a
metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy
lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata
em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica
alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos
passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo
Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy
peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela
mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas
Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy
tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou
di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos
poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto
Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten
45 lbid p 120
46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy
sis ca po I (A cicar de Odissc u)
~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1
IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II
COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy
IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg
I deus Albl nia re ino Jgora
Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel
l u teu udcnsnr llue Igor marIS
M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1
I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy
Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy
IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1
Oacutel
Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo
Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy
meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy
( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no
Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como
suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo
mostra a forma essencial desse romance naciona lista )
Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes
influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e
aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy
dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te
que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy
sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy
quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im
gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos
Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy
trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r
nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo
nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do
interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy
sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico
ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy
nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy
quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1
Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no
movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m
s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do
middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H
4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu
61
romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy
pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo
t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado
o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica
eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de
prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva
mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea
do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se
as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou
daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu
enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)
E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy
dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto
Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo
de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco
Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste
destino publicada em fasciacutecul os em 1924
Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy
vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva
50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura
e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais
51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy
do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros
campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova
Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110
llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot
tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente
li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26
capitulas 25 c 1)
52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu
na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas
l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa
P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy
do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy
gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy
pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas
ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy
nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy
lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se
o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o
cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches
)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea
diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz
dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste
Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim
Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy
nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml
in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que
ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo
inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado
PROSPI~RlLlAj)E
Lm andarilho mendigo passou mal
e morreu abandonado no acostamento da rua
n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o
I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to
Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si
Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy
1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto
(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas
62 63
qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo
de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a
gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy
te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy
liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas
pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy
cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes
gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca
eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz
Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo
confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy
vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da
referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos
seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy
cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je
Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy
ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma
on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que
Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy
dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis
hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor
cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a
raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )
Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela
du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo
encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy
josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy
nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde
)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy
fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a
d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida
pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo
SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto
dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente
licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy
mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu
tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um
lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil
raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos
eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um
mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo
inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os
outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)
Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy
ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado
[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy
le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A
dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a
principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy
gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy
te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem
sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por
I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento
que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os
MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl
LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy
tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco
12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer
1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te
64 65
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
I-nu i(Isculo) e en tatildeo de classifi caacute-1 0 como uma ideo logia
(NOla-~c ~lue se todos tecircm u ma cer ta id ade a ldade eacute apenas uma
expressatildeo ana lIacutelica ) Penso que valeria a pena tratar ta l conceito
do mesmo modo que se trata o paren tesco e a religiatildeo em vez
d e colocaacute- lo ao lado do liberalismo o u do fascism o
Assim dentro de um espiacuterito antropoloacutegico p ropo J1h o a seshy
guinte definiccedilatildeo de naccedilatildeo uma comunidade poliacute t ica im aginada shy
e imaginada como sendo intr insecamente limitada e ao mesmo
tempo soberana
Ela eacute imaginada po rq ue mesmo os membros da mais minuacutesshy
cula das naccedilotildees jamais conheceratildeo encontraratildeo ou sequer ouvishy
ratildeo falar da majoria de seus co mpanheiros embora todos tenham
em mente a imagem viva da comunhatildeo entre el es~ Era a essa imashy
gem que Renan se referia quando escreveu com seu jeito levemenshy
te irocircnico Or l essence dune nation est que tous les ind ividus
aient beaucoup de choses en comm un et aussi que tous aient
oublieacute bien des choses raquo lOra a cssecircncia de uma naccedilatildeo consiste em
qu e todos os ind iviacuted uos tenham m uitas co isas em comum e tamshy
beacutem que todos tenham esquecido muitas coisas] Gellner diza lgo
parecido quando decreta com certa feroc idade que O nacionashy
lismo natildeo eacute O despertar das naccedilotildees para a autoconsciecircncia ele
inventa naccedilotildees onde elas natildeo existemI Mas o inconveniente dessa
y C f 5eton-Watso n Ntll ions nd states p 5 A uacutenica coisa que posso di ze r eacute que
u ma naccedilatilde o ex is te quando pe~soas em nuacutem ero sign ifica tivo de uma comunidade
~ e consideram fo rmando uma naccedilatilde o o u se comportam como se formassem
uma Podemos traduzir sc co nsideram por se imaginam
10 Ernest Renan Q ucst-ce qu une nalion in Oel )res f Ollpletes 1 p 892 E
acrescenla tout ci to yen franccedilais doit avo ir o ublieacute la Saint -13a rtheacutelemy les masshy
sacres du M iJi a l1 Xllle siicle Il ny a pas en Francc dix familles qui pui sscnt fourshy
ni r la preuve d une o rigine fran q ue [todo cidadatildeo francecircs deve ter esquecid o a
ll(l ile de Satilde o Ba rloln llleu os massacrl~ S do Sul no sendo XIII Natildeo exis tem na
FrIf1 lt dez fam iacutelias que possam oferecer provas de uma o rigem franca ]
11 l rnesl Cd lntr rliouglll rtdchallge p 169 Grifo meu
form ulaccedilatildeo c que Gellncr estaacute tatildeo afli to para mostrar que O ndCJ(middot shy
nal ismu se mascara sob fa I sa~ aparecircnciasque ele identifi ca invenshy
ccedilagraveo com contrafaccedilatildeo e fa lsidade e natildeo co m imaginaatildeo e
criaccedilatildeo Ass im ele sugere im plic italllcntc qu e existem cOl11 unishy
dadesverdauc iras que num cotejo com as nclccedilotildecsse mostrar iam
melhores Na verdade q ualquer com unidade maio r que a aldeia
pr imord ial do conta to Cace a face (e talvez mesmo ela) eacute imaginashy
da As comunidades se disti nguem natildeo por sua falsiJ addautent ishy
cidade mas pelo estilo em que satildeo imaginadltls Os aldeatildees javaneshy
sessempre souberam que estatildeo ligados a pessoas que n unca viram
mas esses la-os eram () nl igame nte imaginados de maneira parl ishy
(ularista - como redes de parentesco c cl ientela COI11 pass iacuteveis de
txtensatildeo indckrminada Ateacute tcmpos bem recentes o idioma javashy
neacutes natildeo tinha n enh uma palavra que designasse a abstraccedilatildeo socieshy
dade H oje em dia podemos pensar na aristocrac ia francesa do
iJIl CiCIl reacuteg i ll c CO 1110 uma classe mas ccrtamen te ela soacute fo i imagishy
nada desta maneira em ~poca bas lan te adiantada Diante da pershy
gunta Quem eacute o conde de X a resposta normal natildeo ser ia um
mlmbro da aristocracia c sim o sen hor de X o tio da baronesa
de Y ou u m cliente do duque de Z
Imagina -se a naccedilatildeo limitada porque mesmo a maior delas
que agregue digamos um bilhatildeo de habita ntes poss ui frontciras
lin iacutetas a in da que elaacutest icas para aleacutem das quais existem o utras
llaccedilOcircts Nenh uma delas imagina ter a mesma extensatildeo da hu manishy
11de Nem os nacional i ~tas mais mess iacircnicos sonham co m o d ia
111 que to dos os mem h ros da es peacutecie huma na se un iratildeo a sua
12 ll hsbawfll por exemplo lI xJ n lli toc rlci3 com o cla s~l ao diz r qU tmiddot em
IiiN bull Ia o nsisti a em In a d~ lt100 mil Plt=SS(ht numa pop ul lccediluumlo de 23 milhuo
(Vcr ) ~eu li [(J Th e A~c o RrroltieJ p 7R [i rra das revohlccediloacuteS EIroll 789 ~middotIR 111 lt Terra 19771) Ma~ lmiddot~se quadro estlt lSlico da nobreza seria imaginaacuteve l
oh o ltlrf 1I reacutegll e
32 33
naccedilatildeo como por eXe mplo na eacutepoca cm q ue os cri taos pod iam
sonhar co m um planeta total mente cristatilde v bull
I magina -se a naccedilatildeo soberalltl porquc o conceito nasceu na
eacutepoca em que o Iluminismo c a Rcvo luccedilagraveo estavam destru indo a
Icgiuumlmidade do reino dinaacutest ico hieraacute rqu ico de ordem divina
Amad urecendo nllm a fase da histoacuteria humana em que mesmo os
adeptos mais fervorosos de qualquer religiatildeo universal se defronshy
tavam i nevitavel men te COI11 o pl1lra lismo vivo dessas rel igiotildees e
com o alomorfismo entre a~ pretensotildees ontoloacutegicas e a extensatildeo
terri to rial de cada credo as naccedilotildees son ham em ser livres - e
quando sob dominaccedilatildeo divina entatildeo d iretamente sob Sua eacutegide
A ga_ra ntia e o emblema dessa li berdade eacute o Estado Soberano
F por uacuteltimo ela eacute imaginada como urna comwlidade porshy
que independentemente da desigual dade e da exploraccedilatildeo efetivas
q ue possam existir dentro dela a naccedilatildeo sem pre eacute co ncebida corno
uma profunda camaradagem horizo ntal No fu ndo foi essa fratershy
nidade que tornou possiacutevel nestes dois uacuteltimos seacuteculos tantos
m ilhotildees de pessoas tenham-se natildeo tanto a matar mas sohretudo a
morrer por essas criaccedilotildees imaginaacuterias lim itadas
Essas mortes nos colocam bruscamen te diante do problema
central posto pelo nacionalismo o que faz com que as parcas criaccedilotildees
imaginativas da histoacuter ia recente (pouco mais de dois seacuteculos) gerem
sacrifiacutecios tatildeo de-comunais Creio que encontraremos os primeiros
contornos de u ma resposta nas raiacutezes culturais do nacionalismo
1 Raiacutezes culturais
Natildeo existecircITI siacutembolos mais impressionantes da cultura mo shy
dern a do nacionalismo do q ue os cenotaacutefios e tuacutemulos dos soldashy
dos desconhecidos O respeito a cerimocircnias puacutebl icas em que se reveshy
r~n ciam esses monumentos justamente porque estatildeo vazios o u
po rque ningueacutem sabe q uem jaz dentro deles natildeo encon tra
nenhum paralelo verdadeiro no passado Para sentir a forccedila dessa
modern idade basta im aginar a reaccedilatildeo geral di an te do suj ei to
in trometido que descobre o nome do soldado descon hecido ou
que ins iste em colocar algu ns o~sos de verdade den tro do cenot shy
fio Es tranho sac rileacutegio co n temporacircneo f no entanto esses
tuacute mul os sem almas imortais nem restos mortais identificaacuteveis
dentro dcles estatildeo carregados de imagens naciolais espectrais - (Eacute
1 (h gre~os ant igus tinham ceno l3Ji()s mas parl indiviacuted uos especiacuteficos d e idenshy
I idade conhec ida e cu jos cor pos por uma razatildeo ou o ut ra 11 10 puderam receher
Ll m~ nterro no rmal JJevoes ta informaccedil50 agrave minha colega Judith Herri n es tudio shy
sa de lIilagrave nmiddotio
~ Cn~idccedilrccedilm- se po r f xc mplo essas llotiIacutevc is expressotildees a Os irlllatildeos de armas
IUnLI no fa lta l-am_Se o fi l essem um milhatilde o de espect ros em verde-o i iva panio
34 35
por iSSl) que tantas naccedilotildees difcren tes tecircm esses tuacutem ul os sem senti r
nenhumt necessidade de c-pccificltlr a nacionalidade de seus ocushy
pantes auscntes O que mais potleriam ser 5(10 ak mdes ameri cashy
nos argen ti nos etc )
O sign ificado cul tural desses monumen tos Ii caniacute ainda mais
c1eacutel ro se tentarmos imagi nar por exemplo um luacutemulo do ma rx isshy
ta desconhecido ou um ccnolaacutefio para os liberais tombados em
combate Natildeo seria um abs urdo O m~lrx ismo e o li beralismo natildeo
se importam mu ito com a Inorte e a imortalidad bull Se o imagmaacuterio
nacionalista se importa tanto com elas isso sugere sua grande ~fishy
nidade com os imaginaacuterios religiosos Como essa afinidade nada
tem de fortu ito talvez val ha a pena inicia r uma ava liaccedilatildeo das ra iacuteshy
zes cullurais do nac ionalismo pela mo rte o uacutelt imo elemento ele
Ul11 cJ seacuterie de fatalidades
A maneira de um homem morrer geralmente parece arbit raacuteshy
ri el mas sua mo rtal idade eacute ine itaacutevel As vidas hu manas estatildeo
-heias dessas combi naccedilotildees entre acaso e necessidade Todos sabeshy
mos que nossa heranccedila geneacutetica pessoal nosso sexo a eacutepoca em
que vivemos nossas capacidades fiacutesicas liacute ngua materna e aampgtim
por diante satildeo fato res conlingentes e inelutaacuteveis O gra nde meacuterishy
lO das concerccedilotildee~ religiosas tradi ciona is (o tlual nalural mente
natildeo deve ser confu ndido com o papel delas na legitimaccedilatildeo de sis shy
d qli ma rrom llU l e cinja sr levan tariam d~ suas laacutep ides h rl ll CdS trovejando
ca plllvras 11iacutegidS Dew I honra piacutet rb b O mel Ju iacutew lsnhre o (l Idado
nlcriclno I e (armou 1111 a111 po dt batuacuteha haacute Ill u itus e lll 11i tllS allOS e llUIlCi1 se [1 lIhli fio li Lu li 1 11 cnt Jo com() o veio ago ra como ullla das ligu r JS mais nobres
I lll Undo 11 lt10 ~O como uma das pllsonal idades nl i li t J re~ mai sele tasl11 il ta mshy
hc m como uml da Il1d is imaculadtgt I~ ic I ri r fertc nccl h l~t(r ia I(l [ dar 11 rn dus ml iofCS eXlmp lo tIlt pat ri(lti ll1o vitll ri ()5P I~ i - ) Ek pcr lt ll ( l p(~ tcr i dlde
como il1otruto r de gc raccediluumlc futura nm prindpio da libl rdlde l indl [lc nJeacuten(ia
Lle p~ rtcn~e 10 l r l~e nlL d noacutes l1(lr ~lHh v i rtllde~ t rcali lik s Uouglas IIluto rlh ur Outy I IOIl lLlr (ollnt ry di(u fo) p cl ri a cldcm iJ IililJ r t merishy
~anol 1 [gt1111 I dc maio Ir 196 2 L11l sc lt so ltlier spclks pp JSI c 357
tC llhlSsptciacutefi cos de domi naccedilatildeo e exploraccedilatildeo ) eacute a SUltl preocupaccedilatildeo
com () homem-no-universo o homem enquanto espeacutecie e cont inshy
glncia da vida A ext rao rd inaacute ria sobrevivecircncia do budismo do
(ri~tiltlI1 is l1l o ou do islamismo ao longo de milecircnios e em dezenas
de formaccedilotildees sociais d ireren tes comprova li ma capacidade de resshy
posta imaginativa ao tremendo peso do sofrimento humano - a
doenccedila a mutilaccedilatildeo a dor a velhice a morte Por que nasci cego
Por que o meu mel hor amigo fi cou para liacute tico Por que a mi nha
irm eacute retardada As religiotildees ten tam expl icar O grande pon to
fllthO de todos os estil os de pensamento evolucionaacuteriosprogressi
vos in cluindo o marxismo eacute que eles respondem a essas pergunshy
tas COI11 um silecircncio impaciente Ao mesmo tel11po e de diversas
maneiras o pensamento religioso tamb~m daacute respostas sobre as
ohsclI ras insinuaccedilotildees de imortal idade geralmente transfo rmando
H fatali dade em contin uidade (kamUl pecado originnletc )Assim
a re ligiatildeo se interessa pelos viacutenc ulos entre os mortos e os ainda
natildeo-nascidos pelo misteacuterio da rc-generaccedilatildeo Quem vive a conccpshy
tatildeo l () nascime nto do se l proacuteprio filho sem apreender difll sa shy
mente lima mescla de ligaccedilatildeo acaso e necess iddde em linguagem
de continuidade (Aqui de novo a desvantagem do pensamenshy
1 Cf Rlgi~ lk bray lhrx i~m ltl nd I h ~ national question Nellmiddot lerr NClltIV J 05
(sckmhrll-outubro 1977) p 29 I )lIfantc deg I11 ~ U trabal ho de campo na Indoneacutesia
l1il deacuteltHl a d oacuteO fique i chocado (0111 a tranquuml ila llcgJ ti llt1 de muitos llluccedilulmJnu
~11 ll~il lt1 r IS ideacuteias de Darwin Nu co meccedilo interpretei essa negaI iJ C(l mo obs u
rlIlt l~ll1n Depois vi que cra lima hnlat ivl lo uvaacutevel de l1lJnlcr a ()crl ll cia a doushy
trina d) evoluccedilao era ~im p l sme n lc i n ~lm pa livd com os Lns inalllf ll liS do islatilde O tuc IMer )1l1 UI I1 ll1 a l criali ~mo cicnliacutelic que aCl ita formalmente 15 des(obn tas
d1iiacutesil1 ()h r~middot 1 mak ria rna~ que se ltmpcnha latildeo puu(O (111 vincular lai dcscohcr a~ li lU1 1d ICSbull I rcmiddotol uccedilagrave(l ou ao q ue lor ~cri que o ahismo enlre os proacutetons
r o Itolmiddotlnri1UacuteC) 11 10 oc ult1 ul11a cksconhecidu CO I1CCpccedilO metafiacutesica do hOl1l ell1
tIJ lmiddotjlIn-st os II1 tcrCSSJll llS textos Je ScbnSliollll1l m pan aru O II(tcritl iSJIl l
TItmiddot flLlld(1I ~ lp c a rcs po~tJ pondLradltl de Raymond Wi llium 1 eles em Timla 1110 111lkrillist dlllJ Icng bull ICII lcft IklJ middotW 109 (I11 Ji( -junl1o 1978) pp _~ - 1 7
37 36
to cvoluciomiacuterio p ro gressivo eacute sua aversatildeo quase heraclitialla a
qualquer ideacute ia de co ntin uidade)
Faccedilo essas observaccedilotildees talvez simploacuterias principalmente por shy
que () seacuteculo XV II I na Eu ropa Ocidcn la l marca llatildeooacute o amanhecer
Ja era 00 nac ionalismo m as tambeacutem o anoi tecer dos modos de
pensamentos religiosos () seacutecuJo do Il um inismo do secul arismo
racio nal ista t rou xe consigo suas proacuteprias t revas m od ernas A feacute
religiosa decl inou mas o sofrimento que ela ajudava a apaziguar
natildeo desapareceu A desintegraccedilatildeo do para iacuteso nada torna a fatalid a shy
de mais arbitraacuteria O absurdo da salvaccedilatildeo nada torna m ais necesshy
saacuterio um outro estilo de cont inuidade Entatildeo foi preciso q ue houshy
vesse uma transfo rmaccedilatildeo secular da fa talidad e em co ntinuidade
da contingecircncia em signi ficado Como veremos poucas coisas se
mostraram (se m ostram) mais adequadas a essa fi nalidade do que
a ideacuteia de naccedilatildeo Adm ite-se normalmente q ue os estados nacionais
satildeo novos e histoacutericos ao passo q ue as naccedilotildees a q ue eles datildeo
expressatildeo poliacutetica sempre assomam de um passado imemorial e
4 O falecido pre idcnte Suklrno sempre falou com toda a sil1cnidade sobre os
30 anos de coJonialismo a que a sua Indoneacutesia fo ra subm etida embora o proacuteshy
prio co nceito de Indoneacutesia seja uma invenccedilatildeo do seacutec ulo X e a maior parte do
que hoje eacute o paiacutes ten ha sido conquistada pelos holandeses apenas entre 1850 e
1910 O principal heroacutei nacional da Indon eacutesia con tempo racircnea eacute o priacutencipe java shy
nl-s Dipltlnegoro do comeccedilo do seacuteculo xlxembo[U as memoacuterias do priacutencipe mosmiddot
trtJn que ele pretendia co nqui~tJr Inatildeo libertar J 1(1a t natildeo expulsaros hola nshyd (~~l~ 11 verdade eacute evidentt que tk natildeo concebia os holltl1dccs como uma
(lllct iidlde Ver Harry ) Uencla t John A l arkin (o rg ) 117 lt 1Vorld ofSoll lumiddotast A51tl p 158 c Ann Kumar Diponcgoro ( I 771)~- 1 855) l ldolltsia 13 (abril de
I Yiacute2) p 103 Criro meu Analogamente Kcmal Atatuumlrk deu lOS slt us bancos esta
ta is os nomcs Ba nco Hitita I Ui Banka ) c Banco Sumeacuterio (Sc t(l n Watson Narivlls mui Siacutelllcs p 259 ) E SSeacuteS bancos satildeo proacutesperos e natildeo haacute razio para duvidar que
mu itos tl IlCOS e provavelmente o proacuteprio Kcmal acred itasst m slr iamcnte e
Jintla acreditem que 0 hit itds e os sumeacuterios satildeo seus antepassados tu rcos An tes de dar muitas risaJas se ria me lhor lembrarmos de Artm c Boad i~ea e refletir sobre o sucesso comercial das mi tog rafias de ro lkien
38
1 indd mais importante ~cguem rumo a um futuro il im itado 1 a
nlltlgia do nac ionalismo que converte o acaso em desti no Podem os
dic com Debray Si m eacute pu ro acaso que cu ten ha nascido fran cecircs
mJS a ti nai a h anccedila eacute eterna
Eacuteclaro que natildeo estou afirmando que o su rgimento do nacioshy
naligtl11o no fina l d o seacutecu lo Xl ur foi produzido pelo dcsgaste das
convicccedilotildee religiosas nem que ~sse proacuteprio desgas te natildeo requer
unhl explicaccedilatildeo complexa Tambeacutem natildeo estou sugeri ndo que o
l1aciol1a I ismo tenba de aJgu ma forma su bsti tu iacutedo histo rica shy
mente a religiatildeo O q uc es tou popondo eacute o entendimen to d o
nac ionalism o alinhando-o natildeo a ideologia- poliacuteticas conscien teshy
mente ado tadas mas aos grandes sistemas cu ltu rais qu e o prece shy
deram e a partir dos quais ele surgiu incl usive para combatecirc-los
Para nossas fi nal idades os do is sistemas cul turais per i nel1 te~
sagraveo a cOlllI zidade religiosa e o reino dinaacutestico Po is am bos no seu
apogeu fo ram est ruturas de referecircnc ia incontestes como oco rre
atualmente com a nac ionalidade Portanlo eacute fundame ntal analishy
sar o qu e cunfer iu uma plausibiJidade auto-evidente a esses sisteshy
mdS cul urais e ao mes mo tempo d estacar a lguns eJc m cntos shy
cbaw na decomposiccedilatildeo deles
1 C O IIUNIDADE RELI G IOS A
I Xlstem po ucas coisas ma is im pressionanles do que a vasta
extensatildeo ter r ito r ial do Ummah i ~lagravemic) desde o Marrocos ao
arquipd ago Sulu da cri slandade Jesde o Paraguai ao Ja patildeo e do
nlundo bu d ista desde o gt r i La nka agrave pen iacutensula coreana As grand es
1111turas acras (e para nossos objetivos pode-se incluir tambeacutem
o confucionism o ) incorporava m a ideacuteia de imensas comunidashy
des ~las a cristandadc o Um mah is lilmico e mesm o o Impeacuterio do
Ccnl ro - que hoje eacute considerado chinecircs mas antes imaginava-se
39
como cenLrd - eram imaginados pri ncipalmente pelo uso de
um a liacutengua e uma escrita sagradas Tomemos o exem plo do islatilde se
ul11 ll1aguindanaucnse encontrasse um btrbere em Meca um desshy
conhecendo o idioma do out ro incapazes de se comunica r oralshy
mente mesmo assi m entenderia m os seus caracteres p(Hque 0lt
textos sacros adotados por ambos exist iam apenas em aacuterabe claacutesshy
sico Nesse sentido o aacuterabe escrito fu ncionava como os ideograshy
mas ch ineses criando wna comunidade a partir dos signos c natildeo
dos so ns (Assi m hoje em dia a linguagem matemaacutetica daacute prosseshy
gu imento a uma velha trad iccedilatildeo Os romenos natildeo fazem ideacuteia de
como se diz + em tai landecircs e vice-versa mas ambos compreenshy
dem o siacutembolo) Todas as grandes comunidades claacutessicas se cOl1Sishy
deravam cosmicamente centrais at raveacutes de uma liacutengua sagrada
ligada a uma ordem ~upra terrena de poder Assi m o alcance do
lal im do paacute li do aacuterabe ou do chinecircs escritos era teoricamente ilishy
mitado (Na ve rd ade quanto mais morta eacute a liacutengua escri ta shy
qua nto ma is di-ta ntc da fala - melhor em princiacutepio todos tecircm
acesso a um mundo puro de signos )
Mas essas com Llnidade~ claacutess icas ligadas r or Jinguas sagradas
tinham um caraacuteter di fe re nte das comunidades imagi nadas das
naccedilotildees modern as Uma di ferenccedila fundamental era a confianccedila das
comunidades maIs an tigas no sacrarnenLalislllo l1nico de suas liacuten shy
guas e daiacute deri va m as iclcias que ti nllam sobre a admissatildeo de novos
membros O mandarins chineltcs viam com bons olhos os baacuterbashy
ros que aprendiam 3 duras penas a pin tar os ideogramas do
Impeacuterio do Cen tro Esses haacuterharm jaacute estavam ltl meio caminho da
plena aceitaccedilatildeo Meio-civil izado era muiliacutessimo melhor do que
baacuterba ro Essa atit ude certame nte natildeo foi excl usiva dos chi neses
nem se restringiu agrave Antiguumlidade Veja por exemplo a seguinte
5middot O l i 1 t rlIlqLiil iluumlde com que os mOIl (ois c manchus ~ il1 izadu s foram aceitos m rTIo 1-tIIrO$o ( 11
40
-
poliacute tica para os biIacute rbaros formulJua pelo liberal co lomhi ano
Ped ro rermiacuten de Vargas do comeccedilo do seacuteCll lo XIX
Pa ra am pliar a ll)SSa agricu ltura seri a preciso hi spaniza r 0S nossos
iacutendios A preguiccedila a fa lta de in ldigecircnci e a in dif~ rccedil nccedila dd es aos
t rabalhos normais levam a pensa r que d cs derivam de uma raccedila
degenerada que se ueteriora conforme ~e afasta da ua origem [ J
seria muito dese iaacutevel que os iacutendios se extinguissem atraveacutes d misshy
cigenaccedilatildeo com os brancos isentando-os de im postos e ou tros
encargos c concedendo-lhes a propr iedade privaoa da ter ra
I~ notaacutevel que esse liberal ain da proponha extinguir seus iacutendios
el1l parte isentando-os de impostos e concedendo-lhes a proshy
priedade privada da terra em vez de exterminaacute-los com armas de
fogo e microacutebios como logo depois comeccedilaram a fazer seus herdeishy
ros no Brasil Argenti na e Estados Unjdos Nota-se tambeacutem ao lado
desta crueldade com ares condescendentes o otimismo coacutesmico
Jtl fim eao cabo o iacutendio pode -er redimido - pela impregnaccedilatildeo do
stmen bran co civil izado e pelo acesso agrave propri edade privada
~OIlO todos os outros (Como eacute d iferente a atitude de Fermiacuten em
comparaccedilatildeo ao imperialista europeu posterior com a sua preferecircnshy
lia pelos malaios gurcas e hauacutessas autecircnticos em vez de mestishy
Ccedil()~ nativos semi- analfabetos wuacutegs e assim por diante
Mas se o meio de se imaginar as grandes com unidades gl shy
hltt is do passado eram as liacutenguas mudas sagradas essas apariccedilotildees
IJq lliriam realidade a pa rtir de uma ideacuteia btstante es tranha agrave
rn~nta l id ade ocidental contemporagravenea a natildeo-arb itrariedade do
signo Os ideogramas do ch i necirc~ do latim ou do aacuterabe erJm emashy
6 ) hll LYl1L h T cSpi11ish-AI1criCIII rIOllioIl5 1808-211 p 260 Grifo meu g krmo depreciat ivo -I lie na epoca do imperial ismo britimiacuteco designava o
ou ivo clJ iacutenJla da Africa do Norte e do O riente Meacutedio
41
naccedilotildees da real idad e e natildeo re presen taccedilotildees inventadas ao acaso
Co nhecemos a lo nga discussatildeo sobre a liacute ngua (l ati m ou vernaacutecushy
lo) ma is adequad a para a missa Na tradiccedilatildeo islacircmi ca ateacute bem
pouco tempo () Coratildeo era lite ralmente intracuzIacutevel (e portanto
in lrad uzido) porque o uacutenico ltI cesso agrave verdade de Alaacute era por meio
dos signos verdadeiros e illsubstitu iacuteveis d o aacuterabe escr ito Aqui natildeo
existe a ideacuteia de um mundo tatildeo des incuhd0 da liacutengua que todas
as liacutenguas vecircm a ser signos equumlid istanles (e porta nto in tercambiaacuteshy
vei s) dele Com efeito a realidade o ntoloacutegica soacutepo de se r apreendi shy
da por meio de um uacutenico sistema pr ivilegiado de re-presentaccedilatildeo
a liacutengua-verdade do latim eclesiaacutestico do aacuterabe coracirc n ico ou do
chinecircs do sistema de exames E como liacutenguas-verdade estavam
imbuiacutedas de um im pulso largamente estranho ao nacionalism o a
saber o impulso agraveco nversatildeo Por conversatildeo quero dizer natildeo tanto
a aceitaccedilatildeo de dctermi nltldos p r inciacutepios religiosos e sim uma
absorccedilatildeo alqu iacutem ica O baacuterbaro se torna Impeacuterio do Centro o
montanhecircs do Rif muccedilulmano e o ilongo cristatildeo Toda a natureshy
za ontoloacutegica do homem eacute maleaacutevcl ao sagrado (Compare o presshy
tiacutegio dessas antigas liacutenguas mundia is colocadas acima de todos os
vernaacuteculos com o esperanto ou o volapuk que jazem ignorados
entre essas duas esferas) Foi afinal essa possibilidade de convershy
satildeo atraveacutes da liacutengua sagrada que permitiu que um inglecircs se torshy
nasse papas e u m m anchuacute rio se to rnasse Filho do Ceacuteu
Mas se as liacutenguas sagradas permitiam que se imaginassem
co m u nidades tais como a cristandade nuumlo eacute poss iacutevel explicar o
verdadeiro alcance c a efetiva plausibil idade dessas co munidades
7 Atl que parect () grego cclc iaacutesti co natildeo atingiu o estatuto de uma liacutengua -verdashy
de Sao viIacuter ias as razotildees desse fracasso mas com certeza um fator fundamental
fo i que o grego continuou a ser uma liacutengua demoacutetica i lj (ao con traacute rio do latim)
cm grande parte do Impeacuterio do O rien te Devo essa suglts tagraveu a fudith Herrin
8 Nicholas Brakcspear ocupou o pontificado de 11 5middot1-59 com o nume de Adriano 1
arenas pelo texto sagrado os seus leitores afinal natildeo passavam de
min uacutesculos recife let rados em vastos oceano~ iletradosmiddot Para
urna expl icaccedilatildeo m ais completa temos de exami mlr a relaccedilatildeo entre
o~ letrados e suas sociedades Seria equ ivocado co nsideraacute-los uma
espeacutecie d e tecnocracia teoloacutegica As liacuten guas a que eles d avam
suporte por mais abst rusas qu e fo ssem natildeo possuiacuteam o caraacuteter
abstruso auloconstruiacutedo do jargatildeo dos advogados ou dos econoshy
mistas agravemargem da ideacute ia de realidade alimentada pela sociedade
Pelo contraacute rio os letrados eram grandes inic iados cam adas estrashy
teacutegiLas de uma hierarq uia cosmoloacutegica cujo aacutepice era divino 10 As
concepccedilotildees fundamentais so b re os grup os sociais eram mais
centriacutepetas e hieraacuterquicas do que horizontais e fron tei riccedilas O
poder assombroso do papado no seu auge soacute pode ser ent tnd ido
em termos de um clero transeuropeu com conhecimento do latim
esaito e tambeacutem de uma concepccedilatildeo de m undo partilhada p ratishy
ca mente po r todos e segundo a q ual a cam ada intelectual biliacutenguumle
ao media r o vernaacuteculo e o latim tam beacutem faz ia a mediaccedilatildeo en t re a
terra e o ceacuteu (O pavor da excomunhatildeo reflete essa cosmologia)
Apesar de toda a m agnitude e poderio das grandes com unishy
dades imagi nadas rel igiosamentesua coesatildeo inCONsciente fo i di mishy
nui11lio n u m ritmo cons tante apoacutes o fi nal da Idade Meacutedia Entre as
razotildees desse decliacutenio destaco apenas as d uas relacio nadas diretashy
mente agrave sacralizaccedilatildeo uacutenica dessas comunidades
Em primeiro lugar o decliacutenio res ultou d as exploraccedilotildees do
9middot lIJn Hloch nos lem hra que a m aio ria dos senho res e mui tos g ra nd tgt barotildees
111t pneu medieval Ie ra In admini strado res incapazecircgt dt examinar prssoalrnenshy
li Um n iJ toacuterio ou uma prestaccediluo de contas Feudn lSOciel) r p 81
111 Is~() nao sign ifica que os il e t r~d os natildeo lessem Mas o que e les liam nao eram
rltlIlvra~c im ( mundo visIacutecl middotAos olhos de todos os que eram capazes de refk shy
xlo o mlllldo mate r ial era po uco ma is do que uma espeacutecie de maacutescara po r tniacutes da
qUJI ltlerl r iam todas as coisas realmell te importanllt5 era com o se fosse tunbeacutem
lima liacutengua quc(xpressasse por sina is uma rea lidade mais profunda ibid p 83
42 43
m undn natildeo-eu ro peu as quais ampliaram violentam cn te o horishy
wntc cult ural-geograacutefico e simultanea men te os concei tos acershy
C l das poss iacuteveis formas de vida humana11 o q ue ocorrcu sobret-ushy
Jo mas natilde o excl u~ ivam cn te na Europa Esse processo joacute fica claro
no ma io r liv ro de viagem europeu Veja a surp resa co m que o bom
cristatildeo venezia no Marco Poacute lo desc reve Cubla i Catilde no final d o
seacuteculo 1 11 1
o gratilde-catilde tendo obtido essa ex traordinaacuteria vitoacuteria retornou com
grande pompa e triunfo para a ca pi ta l a cidlde de Ka nbalu Isso
aconteceu no mecircs de no vembro e ele continuou a morar laacuteduranshy
te os meses de revcreiro e marccedilo Inecircs este de Ilossa fe ~ la de Paacutescoa
Sabendo que esta era uma das 110ssJsprincipais solenidades ele
mandou q lIe tod os os cristatildeos fos sem ateacute ele e le vasse m o Livro
deles que conteacutem os quatro Evangelhos Depois de fa7cr com que
o incensassem vaacuterias vezes co m toda a cerimocircnia ele o beijou
devotamente e ordenou qu e todos os seus noh res ali presentes
fizessem o mesmo Este era o seu costu me em todas as principais
festividades cr istatildes como a Paacutescoa e o Na tal e ele observava o
mesmo nas fes tas dos sarracenos dos judeus e dos idoacutelatras Indashy
gado sobre o motivo dessl conduta ele disse Existem qua tro
grandes proCetas que satildeo nve renciados l adorados pelas difcnnshy
les cla~ses da h uman idade Os cristatildeos consideram Jes us Cris to
como a di in dade deles us Sd rraCtno~ Maomeacute os judeus Mo iseacutes
e os idoacutelat ras Sogomombar-kan o iacutedolo mais importante deles
Eu devo honrar c most rar respeito por todos os quatro e imocar
em meu auxiacutelio aquele que del re eles eacute na pcrrade supremo no
11 Erich Au crbadl MirllfS is p 2C ITrad ( it Mi ecirc isSatildeo Paulo Perspect iva 5
eJ 200middot1 p ~H6 ]
12 t rco Pnl1 ls 1 middot ja~C5 de li Ja1(() 1aacutelo 1 BrJsiliense 1954J pp 158-9 Grilo meu NO[l - lt porem que beijam lll ~S natildeo lecircem LI Fvangelho
cJII Ilas pela maneira co m que sua majestade agi u em relaccedilatildeo a
clei eacute ev idente que ele considerava a feacute do~ crisl agraveo~ a mai s ve rdashy
(leira e a mel hor
o gue essa passagem tem de notaacutevel natildeo eacute tanto o tranquuml ilo
relat ivismo religioso do grande d inas ta mongol (afi nal ainda eacute um
relativismo religioso) e sim a aLIacutelude e a linguagem d e Marco Poacutelo
Jamais lhe ocorre tratar C ublai como hipoacute crita ou idoacutelatra apesar
de es tar escrevendo para cristatildeos europeus como ele (Em par te
sem duacutevid a po rque quan to ao nuacutemero de suacuted itos e--lensatildeo d o
ttrritoacute rio c quantidade de riq uezas ele ul t rapassa qualquer sobeshy
rano que exist iu ateacute hoje no mundo) E no uso in consciente do
nossa (que se torna deles) e na q ualifi caccedilatildeo da feacute cristatilde cOmo
a mais verdadeira em vez de a verdadeira podemos detectar o s
pr imoacuterdios de uma territo ria li zaccedilatildeo dos credos um prCl1 uacutencio d a
linguagem de muitos nacionalistas (a nossa naccedilatildeo eacute a melhor
- num campo compamtilloe competi t ivo)
Q ue di ferenccedila reveladora temos no iniacutecio da carta do viajanshy
te persa Rica em Par is para o seu amigo Ibben em 17 12
o papa eacute o chefe dos cristatildeos E um elho iacutedolo que se incensa por
haacutebi lo Antigamente ele era temiacutevel aos proacuteprios priacutencipes pois de
() i depu nha com a mesma fa cilidade com que os nossos magniacuteficos
~u llotildees depocircem os reis de [rncrclia e da Geoacuterg ia Mas natildeo o te mem
ma i ~ l l e ~e d iz SUl lSSOr de um dos pri meiros cristatildeos que ~e clldma
5(0 Pedro e cert am ente eacute uma rica sucessatildeo pois ele tem teso uros
illlen so ~ e um grande territoacuterio sob o seu domiacutenio
11 nr 1fllIds o(Mnno Jv o p 1 5 ~ I ls viagcIl5 de Marco lOcirco Brasilicnsc 19541
11 Il enri tlt ) lontesquicu Perrln Lt-lIrrs p 81 As L fl rcs perswlts foram pubtishyL lei pela pri11tira t em [72
44 45
As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy
ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11
tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy
lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido
enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica
na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande
Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem
demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse
parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy
pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy
val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy
nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica
mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma
outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy
lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos
nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy
m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada
mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele
se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros
imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa
poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy
ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim
apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy
mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do
latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma
po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy
5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo
16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy
recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)
171bi p 32 1
men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy
lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma
figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade
Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy
lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o
inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy
g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em
larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no
con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy
16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy
decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire
( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a
qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major
nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se
um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio
do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy
des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy
dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando
o Rr l NO DI N AacuteS T I CO
I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um
mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy
11 Ibit p 330
19 1h iJ pp 33 1-2
20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais
lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy
port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro
~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e
Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro
M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356
46 47
tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy
lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy
ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de
um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da
ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra
terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um
territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo
onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram
porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy
m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade
com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter
seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas
veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy
Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy
cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy
tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias
Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy
2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com
essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy
meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os
p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I
iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot
te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy
naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico
ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy
nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias
2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno
tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante
discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar
(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha
O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido
4
tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este
l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o
Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um
ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -
Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia
Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc
arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia
duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy
illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta
e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz
e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy
b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen
marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy
ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da
marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc
Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto
comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e
capturas dos Ha bsburgo
Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy
cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de
concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy
gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er
aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas
111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy
21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1
lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha
atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst
111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do
4
co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando
LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy
mo~ de a tribuir aos Bo urbon
Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo
por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy
ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy
ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos
anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy
d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na
eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes
pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos
Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien
reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy
dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy
bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu
se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy
longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo
Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades
do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio
da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves
arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486
alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy
ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento
eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot
cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la
man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui
capaz de manter ( ibid p 125 )
25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o
fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy
ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught
llIul cllt1ligr p 136
26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot
ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l
nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy
duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria
~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy
monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy
parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da
Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF
Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema
poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy
te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma
~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade
minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande
(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os
JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute
eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst
tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)
PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S
Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas
lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades
~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~
hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270
lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama
I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92
~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil
hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m
sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao
pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr
dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy
do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m
l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85
50 51
religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy
nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy
do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o
m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao
Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos
agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos
c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res
ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy
ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy
na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde
Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy
di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy
no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo
de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com
os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia
muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de
um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era
maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma
universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy
dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta
peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em
latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio
cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para
as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy
pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy
saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue
assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre
os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy
sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a
cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils
~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas
11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a
VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy
I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a
mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma
cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees
I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy
SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a
segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo
pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na
noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do
~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos
colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os
homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais
llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy
ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa
Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de
con~ciecircncia
()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de
Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo
de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy
se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy
0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal
nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de
forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy
lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma
lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot
vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles
31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6
3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco
~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot
11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90
52 53
l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy
mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a
histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla
compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy
rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy
sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de
todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno
Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy
te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy
jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy
sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas
a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real
A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo
para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute
ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a
fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma
co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy
da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura
gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo
med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo
novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy
neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy
zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo
mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo
calendaacute r io H
n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo
bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]
-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy
nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~
n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo
importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se
w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy
gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o
ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy
am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy
ginada correspondente agrave naccedilatildeo
Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao
velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem
de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy
mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e
ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy
mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo
si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy
te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar
ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte
manetra
Tempo 11 III
4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda
num bar
r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em
casa com B
o joga bilhar tem um
pcsaddo
~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e
Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197
55 54
lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia
e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver
feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas
(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a
l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao
entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute
possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua
sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees
(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os
le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy
do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma
tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy
gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy
cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy
ca no espiacuterito de seus leitores
A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy
gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da
ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade
soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o
ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer
e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees
36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I
li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do
37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll
pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1
linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao
a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po
5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico
com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo
39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do
ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy
tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados
Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada
J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy
11 i1111 e simultacircnea dd~s
rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os
rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras
I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas
Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o
romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy
turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro
romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy
ra maravilhosa 11
Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy
mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de
jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy
Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy
~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros
la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a
1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o
gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy
ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl
Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy
nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua
~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave
rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy
l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm
pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y
Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard
1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1
11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I
IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy
Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru
56 57
infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila
n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de
bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no
problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade
necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy
saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo
O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague
Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma
manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos
ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha
mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a
Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o
nosso Governo
Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta
nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy
tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas
anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy
res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy
da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy
satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma
ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la
so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do
tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy
dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da
snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens
auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se
tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy
de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy
bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)
Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy
mente problem aacuteticas
Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy
(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a
IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy
d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy
toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy
lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa
ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy
C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy
men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia
medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo
ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy
lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa
muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao
viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente
algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter
UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy
co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy
oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy
dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para
Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue
Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy
mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria
middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy
11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a
di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy
t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy
Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy
11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15
58 59
comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por
meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a
metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy
lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata
em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica
alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos
passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo
Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy
peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela
mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas
Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy
tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou
di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos
poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto
Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten
45 lbid p 120
46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy
sis ca po I (A cicar de Odissc u)
~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1
IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II
COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy
IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg
I deus Albl nia re ino Jgora
Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel
l u teu udcnsnr llue Igor marIS
M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1
I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy
Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy
IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1
Oacutel
Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo
Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy
meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy
( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no
Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como
suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo
mostra a forma essencial desse romance naciona lista )
Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes
influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e
aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy
dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te
que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy
sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy
quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im
gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos
Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy
trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r
nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo
nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do
interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy
sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico
ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy
nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy
quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1
Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no
movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m
s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do
middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H
4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu
61
romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy
pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo
t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado
o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica
eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de
prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva
mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea
do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se
as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou
daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu
enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)
E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy
dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto
Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo
de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco
Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste
destino publicada em fasciacutecul os em 1924
Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy
vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva
50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura
e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais
51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy
do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros
campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova
Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110
llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot
tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente
li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26
capitulas 25 c 1)
52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu
na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas
l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa
P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy
do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy
gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy
pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas
ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy
nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy
lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se
o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o
cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches
)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea
diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz
dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste
Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim
Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy
nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml
in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que
ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo
inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado
PROSPI~RlLlAj)E
Lm andarilho mendigo passou mal
e morreu abandonado no acostamento da rua
n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o
I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to
Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si
Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy
1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto
(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas
62 63
qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo
de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a
gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy
te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy
liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas
pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy
cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes
gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca
eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz
Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo
confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy
vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da
referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos
seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy
cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je
Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy
ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma
on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que
Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy
dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis
hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor
cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a
raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )
Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela
du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo
encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy
josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy
nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde
)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy
fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a
d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida
pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo
SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto
dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente
licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy
mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu
tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um
lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil
raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos
eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um
mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo
inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os
outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)
Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy
ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado
[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy
le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A
dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a
principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy
gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy
te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem
sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por
I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento
que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os
MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl
LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy
tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco
12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer
1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te
64 65
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
naccedilatildeo como por eXe mplo na eacutepoca cm q ue os cri taos pod iam
sonhar co m um planeta total mente cristatilde v bull
I magina -se a naccedilatildeo soberalltl porquc o conceito nasceu na
eacutepoca em que o Iluminismo c a Rcvo luccedilagraveo estavam destru indo a
Icgiuumlmidade do reino dinaacutest ico hieraacute rqu ico de ordem divina
Amad urecendo nllm a fase da histoacuteria humana em que mesmo os
adeptos mais fervorosos de qualquer religiatildeo universal se defronshy
tavam i nevitavel men te COI11 o pl1lra lismo vivo dessas rel igiotildees e
com o alomorfismo entre a~ pretensotildees ontoloacutegicas e a extensatildeo
terri to rial de cada credo as naccedilotildees son ham em ser livres - e
quando sob dominaccedilatildeo divina entatildeo d iretamente sob Sua eacutegide
A ga_ra ntia e o emblema dessa li berdade eacute o Estado Soberano
F por uacuteltimo ela eacute imaginada como urna comwlidade porshy
que independentemente da desigual dade e da exploraccedilatildeo efetivas
q ue possam existir dentro dela a naccedilatildeo sem pre eacute co ncebida corno
uma profunda camaradagem horizo ntal No fu ndo foi essa fratershy
nidade que tornou possiacutevel nestes dois uacuteltimos seacuteculos tantos
m ilhotildees de pessoas tenham-se natildeo tanto a matar mas sohretudo a
morrer por essas criaccedilotildees imaginaacuterias lim itadas
Essas mortes nos colocam bruscamen te diante do problema
central posto pelo nacionalismo o que faz com que as parcas criaccedilotildees
imaginativas da histoacuter ia recente (pouco mais de dois seacuteculos) gerem
sacrifiacutecios tatildeo de-comunais Creio que encontraremos os primeiros
contornos de u ma resposta nas raiacutezes culturais do nacionalismo
1 Raiacutezes culturais
Natildeo existecircITI siacutembolos mais impressionantes da cultura mo shy
dern a do nacionalismo do q ue os cenotaacutefios e tuacutemulos dos soldashy
dos desconhecidos O respeito a cerimocircnias puacutebl icas em que se reveshy
r~n ciam esses monumentos justamente porque estatildeo vazios o u
po rque ningueacutem sabe q uem jaz dentro deles natildeo encon tra
nenhum paralelo verdadeiro no passado Para sentir a forccedila dessa
modern idade basta im aginar a reaccedilatildeo geral di an te do suj ei to
in trometido que descobre o nome do soldado descon hecido ou
que ins iste em colocar algu ns o~sos de verdade den tro do cenot shy
fio Es tranho sac rileacutegio co n temporacircneo f no entanto esses
tuacute mul os sem almas imortais nem restos mortais identificaacuteveis
dentro dcles estatildeo carregados de imagens naciolais espectrais - (Eacute
1 (h gre~os ant igus tinham ceno l3Ji()s mas parl indiviacuted uos especiacuteficos d e idenshy
I idade conhec ida e cu jos cor pos por uma razatildeo ou o ut ra 11 10 puderam receher
Ll m~ nterro no rmal JJevoes ta informaccedil50 agrave minha colega Judith Herri n es tudio shy
sa de lIilagrave nmiddotio
~ Cn~idccedilrccedilm- se po r f xc mplo essas llotiIacutevc is expressotildees a Os irlllatildeos de armas
IUnLI no fa lta l-am_Se o fi l essem um milhatilde o de espect ros em verde-o i iva panio
34 35
por iSSl) que tantas naccedilotildees difcren tes tecircm esses tuacutem ul os sem senti r
nenhumt necessidade de c-pccificltlr a nacionalidade de seus ocushy
pantes auscntes O que mais potleriam ser 5(10 ak mdes ameri cashy
nos argen ti nos etc )
O sign ificado cul tural desses monumen tos Ii caniacute ainda mais
c1eacutel ro se tentarmos imagi nar por exemplo um luacutemulo do ma rx isshy
ta desconhecido ou um ccnolaacutefio para os liberais tombados em
combate Natildeo seria um abs urdo O m~lrx ismo e o li beralismo natildeo
se importam mu ito com a Inorte e a imortalidad bull Se o imagmaacuterio
nacionalista se importa tanto com elas isso sugere sua grande ~fishy
nidade com os imaginaacuterios religiosos Como essa afinidade nada
tem de fortu ito talvez val ha a pena inicia r uma ava liaccedilatildeo das ra iacuteshy
zes cullurais do nac ionalismo pela mo rte o uacutelt imo elemento ele
Ul11 cJ seacuterie de fatalidades
A maneira de um homem morrer geralmente parece arbit raacuteshy
ri el mas sua mo rtal idade eacute ine itaacutevel As vidas hu manas estatildeo
-heias dessas combi naccedilotildees entre acaso e necessidade Todos sabeshy
mos que nossa heranccedila geneacutetica pessoal nosso sexo a eacutepoca em
que vivemos nossas capacidades fiacutesicas liacute ngua materna e aampgtim
por diante satildeo fato res conlingentes e inelutaacuteveis O gra nde meacuterishy
lO das concerccedilotildee~ religiosas tradi ciona is (o tlual nalural mente
natildeo deve ser confu ndido com o papel delas na legitimaccedilatildeo de sis shy
d qli ma rrom llU l e cinja sr levan tariam d~ suas laacutep ides h rl ll CdS trovejando
ca plllvras 11iacutegidS Dew I honra piacutet rb b O mel Ju iacutew lsnhre o (l Idado
nlcriclno I e (armou 1111 a111 po dt batuacuteha haacute Ill u itus e lll 11i tllS allOS e llUIlCi1 se [1 lIhli fio li Lu li 1 11 cnt Jo com() o veio ago ra como ullla das ligu r JS mais nobres
I lll Undo 11 lt10 ~O como uma das pllsonal idades nl i li t J re~ mai sele tasl11 il ta mshy
hc m como uml da Il1d is imaculadtgt I~ ic I ri r fertc nccl h l~t(r ia I(l [ dar 11 rn dus ml iofCS eXlmp lo tIlt pat ri(lti ll1o vitll ri ()5P I~ i - ) Ek pcr lt ll ( l p(~ tcr i dlde
como il1otruto r de gc raccediluumlc futura nm prindpio da libl rdlde l indl [lc nJeacuten(ia
Lle p~ rtcn~e 10 l r l~e nlL d noacutes l1(lr ~lHh v i rtllde~ t rcali lik s Uouglas IIluto rlh ur Outy I IOIl lLlr (ollnt ry di(u fo) p cl ri a cldcm iJ IililJ r t merishy
~anol 1 [gt1111 I dc maio Ir 196 2 L11l sc lt so ltlier spclks pp JSI c 357
tC llhlSsptciacutefi cos de domi naccedilatildeo e exploraccedilatildeo ) eacute a SUltl preocupaccedilatildeo
com () homem-no-universo o homem enquanto espeacutecie e cont inshy
glncia da vida A ext rao rd inaacute ria sobrevivecircncia do budismo do
(ri~tiltlI1 is l1l o ou do islamismo ao longo de milecircnios e em dezenas
de formaccedilotildees sociais d ireren tes comprova li ma capacidade de resshy
posta imaginativa ao tremendo peso do sofrimento humano - a
doenccedila a mutilaccedilatildeo a dor a velhice a morte Por que nasci cego
Por que o meu mel hor amigo fi cou para liacute tico Por que a mi nha
irm eacute retardada As religiotildees ten tam expl icar O grande pon to
fllthO de todos os estil os de pensamento evolucionaacuteriosprogressi
vos in cluindo o marxismo eacute que eles respondem a essas pergunshy
tas COI11 um silecircncio impaciente Ao mesmo tel11po e de diversas
maneiras o pensamento religioso tamb~m daacute respostas sobre as
ohsclI ras insinuaccedilotildees de imortal idade geralmente transfo rmando
H fatali dade em contin uidade (kamUl pecado originnletc )Assim
a re ligiatildeo se interessa pelos viacutenc ulos entre os mortos e os ainda
natildeo-nascidos pelo misteacuterio da rc-generaccedilatildeo Quem vive a conccpshy
tatildeo l () nascime nto do se l proacuteprio filho sem apreender difll sa shy
mente lima mescla de ligaccedilatildeo acaso e necess iddde em linguagem
de continuidade (Aqui de novo a desvantagem do pensamenshy
1 Cf Rlgi~ lk bray lhrx i~m ltl nd I h ~ national question Nellmiddot lerr NClltIV J 05
(sckmhrll-outubro 1977) p 29 I )lIfantc deg I11 ~ U trabal ho de campo na Indoneacutesia
l1il deacuteltHl a d oacuteO fique i chocado (0111 a tranquuml ila llcgJ ti llt1 de muitos llluccedilulmJnu
~11 ll~il lt1 r IS ideacuteias de Darwin Nu co meccedilo interpretei essa negaI iJ C(l mo obs u
rlIlt l~ll1n Depois vi que cra lima hnlat ivl lo uvaacutevel de l1lJnlcr a ()crl ll cia a doushy
trina d) evoluccedilao era ~im p l sme n lc i n ~lm pa livd com os Lns inalllf ll liS do islatilde O tuc IMer )1l1 UI I1 ll1 a l criali ~mo cicnliacutelic que aCl ita formalmente 15 des(obn tas
d1iiacutesil1 ()h r~middot 1 mak ria rna~ que se ltmpcnha latildeo puu(O (111 vincular lai dcscohcr a~ li lU1 1d ICSbull I rcmiddotol uccedilagrave(l ou ao q ue lor ~cri que o ahismo enlre os proacutetons
r o Itolmiddotlnri1UacuteC) 11 10 oc ult1 ul11a cksconhecidu CO I1CCpccedilO metafiacutesica do hOl1l ell1
tIJ lmiddotjlIn-st os II1 tcrCSSJll llS textos Je ScbnSliollll1l m pan aru O II(tcritl iSJIl l
TItmiddot flLlld(1I ~ lp c a rcs po~tJ pondLradltl de Raymond Wi llium 1 eles em Timla 1110 111lkrillist dlllJ Icng bull ICII lcft IklJ middotW 109 (I11 Ji( -junl1o 1978) pp _~ - 1 7
37 36
to cvoluciomiacuterio p ro gressivo eacute sua aversatildeo quase heraclitialla a
qualquer ideacute ia de co ntin uidade)
Faccedilo essas observaccedilotildees talvez simploacuterias principalmente por shy
que () seacuteculo XV II I na Eu ropa Ocidcn la l marca llatildeooacute o amanhecer
Ja era 00 nac ionalismo m as tambeacutem o anoi tecer dos modos de
pensamentos religiosos () seacutecuJo do Il um inismo do secul arismo
racio nal ista t rou xe consigo suas proacuteprias t revas m od ernas A feacute
religiosa decl inou mas o sofrimento que ela ajudava a apaziguar
natildeo desapareceu A desintegraccedilatildeo do para iacuteso nada torna a fatalid a shy
de mais arbitraacuteria O absurdo da salvaccedilatildeo nada torna m ais necesshy
saacuterio um outro estilo de cont inuidade Entatildeo foi preciso q ue houshy
vesse uma transfo rmaccedilatildeo secular da fa talidad e em co ntinuidade
da contingecircncia em signi ficado Como veremos poucas coisas se
mostraram (se m ostram) mais adequadas a essa fi nalidade do que
a ideacuteia de naccedilatildeo Adm ite-se normalmente q ue os estados nacionais
satildeo novos e histoacutericos ao passo q ue as naccedilotildees a q ue eles datildeo
expressatildeo poliacutetica sempre assomam de um passado imemorial e
4 O falecido pre idcnte Suklrno sempre falou com toda a sil1cnidade sobre os
30 anos de coJonialismo a que a sua Indoneacutesia fo ra subm etida embora o proacuteshy
prio co nceito de Indoneacutesia seja uma invenccedilatildeo do seacutec ulo X e a maior parte do
que hoje eacute o paiacutes ten ha sido conquistada pelos holandeses apenas entre 1850 e
1910 O principal heroacutei nacional da Indon eacutesia con tempo racircnea eacute o priacutencipe java shy
nl-s Dipltlnegoro do comeccedilo do seacuteculo xlxembo[U as memoacuterias do priacutencipe mosmiddot
trtJn que ele pretendia co nqui~tJr Inatildeo libertar J 1(1a t natildeo expulsaros hola nshyd (~~l~ 11 verdade eacute evidentt que tk natildeo concebia os holltl1dccs como uma
(lllct iidlde Ver Harry ) Uencla t John A l arkin (o rg ) 117 lt 1Vorld ofSoll lumiddotast A51tl p 158 c Ann Kumar Diponcgoro ( I 771)~- 1 855) l ldolltsia 13 (abril de
I Yiacute2) p 103 Criro meu Analogamente Kcmal Atatuumlrk deu lOS slt us bancos esta
ta is os nomcs Ba nco Hitita I Ui Banka ) c Banco Sumeacuterio (Sc t(l n Watson Narivlls mui Siacutelllcs p 259 ) E SSeacuteS bancos satildeo proacutesperos e natildeo haacute razio para duvidar que
mu itos tl IlCOS e provavelmente o proacuteprio Kcmal acred itasst m slr iamcnte e
Jintla acreditem que 0 hit itds e os sumeacuterios satildeo seus antepassados tu rcos An tes de dar muitas risaJas se ria me lhor lembrarmos de Artm c Boad i~ea e refletir sobre o sucesso comercial das mi tog rafias de ro lkien
38
1 indd mais importante ~cguem rumo a um futuro il im itado 1 a
nlltlgia do nac ionalismo que converte o acaso em desti no Podem os
dic com Debray Si m eacute pu ro acaso que cu ten ha nascido fran cecircs
mJS a ti nai a h anccedila eacute eterna
Eacuteclaro que natildeo estou afirmando que o su rgimento do nacioshy
naligtl11o no fina l d o seacutecu lo Xl ur foi produzido pelo dcsgaste das
convicccedilotildee religiosas nem que ~sse proacuteprio desgas te natildeo requer
unhl explicaccedilatildeo complexa Tambeacutem natildeo estou sugeri ndo que o
l1aciol1a I ismo tenba de aJgu ma forma su bsti tu iacutedo histo rica shy
mente a religiatildeo O q uc es tou popondo eacute o entendimen to d o
nac ionalism o alinhando-o natildeo a ideologia- poliacuteticas conscien teshy
mente ado tadas mas aos grandes sistemas cu ltu rais qu e o prece shy
deram e a partir dos quais ele surgiu incl usive para combatecirc-los
Para nossas fi nal idades os do is sistemas cul turais per i nel1 te~
sagraveo a cOlllI zidade religiosa e o reino dinaacutestico Po is am bos no seu
apogeu fo ram est ruturas de referecircnc ia incontestes como oco rre
atualmente com a nac ionalidade Portanlo eacute fundame ntal analishy
sar o qu e cunfer iu uma plausibiJidade auto-evidente a esses sisteshy
mdS cul urais e ao mes mo tempo d estacar a lguns eJc m cntos shy
cbaw na decomposiccedilatildeo deles
1 C O IIUNIDADE RELI G IOS A
I Xlstem po ucas coisas ma is im pressionanles do que a vasta
extensatildeo ter r ito r ial do Ummah i ~lagravemic) desde o Marrocos ao
arquipd ago Sulu da cri slandade Jesde o Paraguai ao Ja patildeo e do
nlundo bu d ista desde o gt r i La nka agrave pen iacutensula coreana As grand es
1111turas acras (e para nossos objetivos pode-se incluir tambeacutem
o confucionism o ) incorporava m a ideacuteia de imensas comunidashy
des ~las a cristandadc o Um mah is lilmico e mesm o o Impeacuterio do
Ccnl ro - que hoje eacute considerado chinecircs mas antes imaginava-se
39
como cenLrd - eram imaginados pri ncipalmente pelo uso de
um a liacutengua e uma escrita sagradas Tomemos o exem plo do islatilde se
ul11 ll1aguindanaucnse encontrasse um btrbere em Meca um desshy
conhecendo o idioma do out ro incapazes de se comunica r oralshy
mente mesmo assi m entenderia m os seus caracteres p(Hque 0lt
textos sacros adotados por ambos exist iam apenas em aacuterabe claacutesshy
sico Nesse sentido o aacuterabe escrito fu ncionava como os ideograshy
mas ch ineses criando wna comunidade a partir dos signos c natildeo
dos so ns (Assi m hoje em dia a linguagem matemaacutetica daacute prosseshy
gu imento a uma velha trad iccedilatildeo Os romenos natildeo fazem ideacuteia de
como se diz + em tai landecircs e vice-versa mas ambos compreenshy
dem o siacutembolo) Todas as grandes comunidades claacutessicas se cOl1Sishy
deravam cosmicamente centrais at raveacutes de uma liacutengua sagrada
ligada a uma ordem ~upra terrena de poder Assi m o alcance do
lal im do paacute li do aacuterabe ou do chinecircs escritos era teoricamente ilishy
mitado (Na ve rd ade quanto mais morta eacute a liacutengua escri ta shy
qua nto ma is di-ta ntc da fala - melhor em princiacutepio todos tecircm
acesso a um mundo puro de signos )
Mas essas com Llnidade~ claacutess icas ligadas r or Jinguas sagradas
tinham um caraacuteter di fe re nte das comunidades imagi nadas das
naccedilotildees modern as Uma di ferenccedila fundamental era a confianccedila das
comunidades maIs an tigas no sacrarnenLalislllo l1nico de suas liacuten shy
guas e daiacute deri va m as iclcias que ti nllam sobre a admissatildeo de novos
membros O mandarins chineltcs viam com bons olhos os baacuterbashy
ros que aprendiam 3 duras penas a pin tar os ideogramas do
Impeacuterio do Cen tro Esses haacuterharm jaacute estavam ltl meio caminho da
plena aceitaccedilatildeo Meio-civil izado era muiliacutessimo melhor do que
baacuterba ro Essa atit ude certame nte natildeo foi excl usiva dos chi neses
nem se restringiu agrave Antiguumlidade Veja por exemplo a seguinte
5middot O l i 1 t rlIlqLiil iluumlde com que os mOIl (ois c manchus ~ il1 izadu s foram aceitos m rTIo 1-tIIrO$o ( 11
40
-
poliacute tica para os biIacute rbaros formulJua pelo liberal co lomhi ano
Ped ro rermiacuten de Vargas do comeccedilo do seacuteCll lo XIX
Pa ra am pliar a ll)SSa agricu ltura seri a preciso hi spaniza r 0S nossos
iacutendios A preguiccedila a fa lta de in ldigecircnci e a in dif~ rccedil nccedila dd es aos
t rabalhos normais levam a pensa r que d cs derivam de uma raccedila
degenerada que se ueteriora conforme ~e afasta da ua origem [ J
seria muito dese iaacutevel que os iacutendios se extinguissem atraveacutes d misshy
cigenaccedilatildeo com os brancos isentando-os de im postos e ou tros
encargos c concedendo-lhes a propr iedade privaoa da ter ra
I~ notaacutevel que esse liberal ain da proponha extinguir seus iacutendios
el1l parte isentando-os de impostos e concedendo-lhes a proshy
priedade privada da terra em vez de exterminaacute-los com armas de
fogo e microacutebios como logo depois comeccedilaram a fazer seus herdeishy
ros no Brasil Argenti na e Estados Unjdos Nota-se tambeacutem ao lado
desta crueldade com ares condescendentes o otimismo coacutesmico
Jtl fim eao cabo o iacutendio pode -er redimido - pela impregnaccedilatildeo do
stmen bran co civil izado e pelo acesso agrave propri edade privada
~OIlO todos os outros (Como eacute d iferente a atitude de Fermiacuten em
comparaccedilatildeo ao imperialista europeu posterior com a sua preferecircnshy
lia pelos malaios gurcas e hauacutessas autecircnticos em vez de mestishy
Ccedil()~ nativos semi- analfabetos wuacutegs e assim por diante
Mas se o meio de se imaginar as grandes com unidades gl shy
hltt is do passado eram as liacutenguas mudas sagradas essas apariccedilotildees
IJq lliriam realidade a pa rtir de uma ideacuteia btstante es tranha agrave
rn~nta l id ade ocidental contemporagravenea a natildeo-arb itrariedade do
signo Os ideogramas do ch i necirc~ do latim ou do aacuterabe erJm emashy
6 ) hll LYl1L h T cSpi11ish-AI1criCIII rIOllioIl5 1808-211 p 260 Grifo meu g krmo depreciat ivo -I lie na epoca do imperial ismo britimiacuteco designava o
ou ivo clJ iacutenJla da Africa do Norte e do O riente Meacutedio
41
naccedilotildees da real idad e e natildeo re presen taccedilotildees inventadas ao acaso
Co nhecemos a lo nga discussatildeo sobre a liacute ngua (l ati m ou vernaacutecushy
lo) ma is adequad a para a missa Na tradiccedilatildeo islacircmi ca ateacute bem
pouco tempo () Coratildeo era lite ralmente intracuzIacutevel (e portanto
in lrad uzido) porque o uacutenico ltI cesso agrave verdade de Alaacute era por meio
dos signos verdadeiros e illsubstitu iacuteveis d o aacuterabe escr ito Aqui natildeo
existe a ideacuteia de um mundo tatildeo des incuhd0 da liacutengua que todas
as liacutenguas vecircm a ser signos equumlid istanles (e porta nto in tercambiaacuteshy
vei s) dele Com efeito a realidade o ntoloacutegica soacutepo de se r apreendi shy
da por meio de um uacutenico sistema pr ivilegiado de re-presentaccedilatildeo
a liacutengua-verdade do latim eclesiaacutestico do aacuterabe coracirc n ico ou do
chinecircs do sistema de exames E como liacutenguas-verdade estavam
imbuiacutedas de um im pulso largamente estranho ao nacionalism o a
saber o impulso agraveco nversatildeo Por conversatildeo quero dizer natildeo tanto
a aceitaccedilatildeo de dctermi nltldos p r inciacutepios religiosos e sim uma
absorccedilatildeo alqu iacutem ica O baacuterbaro se torna Impeacuterio do Centro o
montanhecircs do Rif muccedilulmano e o ilongo cristatildeo Toda a natureshy
za ontoloacutegica do homem eacute maleaacutevcl ao sagrado (Compare o presshy
tiacutegio dessas antigas liacutenguas mundia is colocadas acima de todos os
vernaacuteculos com o esperanto ou o volapuk que jazem ignorados
entre essas duas esferas) Foi afinal essa possibilidade de convershy
satildeo atraveacutes da liacutengua sagrada que permitiu que um inglecircs se torshy
nasse papas e u m m anchuacute rio se to rnasse Filho do Ceacuteu
Mas se as liacutenguas sagradas permitiam que se imaginassem
co m u nidades tais como a cristandade nuumlo eacute poss iacutevel explicar o
verdadeiro alcance c a efetiva plausibil idade dessas co munidades
7 Atl que parect () grego cclc iaacutesti co natildeo atingiu o estatuto de uma liacutengua -verdashy
de Sao viIacuter ias as razotildees desse fracasso mas com certeza um fator fundamental
fo i que o grego continuou a ser uma liacutengua demoacutetica i lj (ao con traacute rio do latim)
cm grande parte do Impeacuterio do O rien te Devo essa suglts tagraveu a fudith Herrin
8 Nicholas Brakcspear ocupou o pontificado de 11 5middot1-59 com o nume de Adriano 1
arenas pelo texto sagrado os seus leitores afinal natildeo passavam de
min uacutesculos recife let rados em vastos oceano~ iletradosmiddot Para
urna expl icaccedilatildeo m ais completa temos de exami mlr a relaccedilatildeo entre
o~ letrados e suas sociedades Seria equ ivocado co nsideraacute-los uma
espeacutecie d e tecnocracia teoloacutegica As liacuten guas a que eles d avam
suporte por mais abst rusas qu e fo ssem natildeo possuiacuteam o caraacuteter
abstruso auloconstruiacutedo do jargatildeo dos advogados ou dos econoshy
mistas agravemargem da ideacute ia de realidade alimentada pela sociedade
Pelo contraacute rio os letrados eram grandes inic iados cam adas estrashy
teacutegiLas de uma hierarq uia cosmoloacutegica cujo aacutepice era divino 10 As
concepccedilotildees fundamentais so b re os grup os sociais eram mais
centriacutepetas e hieraacuterquicas do que horizontais e fron tei riccedilas O
poder assombroso do papado no seu auge soacute pode ser ent tnd ido
em termos de um clero transeuropeu com conhecimento do latim
esaito e tambeacutem de uma concepccedilatildeo de m undo partilhada p ratishy
ca mente po r todos e segundo a q ual a cam ada intelectual biliacutenguumle
ao media r o vernaacuteculo e o latim tam beacutem faz ia a mediaccedilatildeo en t re a
terra e o ceacuteu (O pavor da excomunhatildeo reflete essa cosmologia)
Apesar de toda a m agnitude e poderio das grandes com unishy
dades imagi nadas rel igiosamentesua coesatildeo inCONsciente fo i di mishy
nui11lio n u m ritmo cons tante apoacutes o fi nal da Idade Meacutedia Entre as
razotildees desse decliacutenio destaco apenas as d uas relacio nadas diretashy
mente agrave sacralizaccedilatildeo uacutenica dessas comunidades
Em primeiro lugar o decliacutenio res ultou d as exploraccedilotildees do
9middot lIJn Hloch nos lem hra que a m aio ria dos senho res e mui tos g ra nd tgt barotildees
111t pneu medieval Ie ra In admini strado res incapazecircgt dt examinar prssoalrnenshy
li Um n iJ toacuterio ou uma prestaccediluo de contas Feudn lSOciel) r p 81
111 Is~() nao sign ifica que os il e t r~d os natildeo lessem Mas o que e les liam nao eram
rltlIlvra~c im ( mundo visIacutecl middotAos olhos de todos os que eram capazes de refk shy
xlo o mlllldo mate r ial era po uco ma is do que uma espeacutecie de maacutescara po r tniacutes da
qUJI ltlerl r iam todas as coisas realmell te importanllt5 era com o se fosse tunbeacutem
lima liacutengua quc(xpressasse por sina is uma rea lidade mais profunda ibid p 83
42 43
m undn natildeo-eu ro peu as quais ampliaram violentam cn te o horishy
wntc cult ural-geograacutefico e simultanea men te os concei tos acershy
C l das poss iacuteveis formas de vida humana11 o q ue ocorrcu sobret-ushy
Jo mas natilde o excl u~ ivam cn te na Europa Esse processo joacute fica claro
no ma io r liv ro de viagem europeu Veja a surp resa co m que o bom
cristatildeo venezia no Marco Poacute lo desc reve Cubla i Catilde no final d o
seacuteculo 1 11 1
o gratilde-catilde tendo obtido essa ex traordinaacuteria vitoacuteria retornou com
grande pompa e triunfo para a ca pi ta l a cidlde de Ka nbalu Isso
aconteceu no mecircs de no vembro e ele continuou a morar laacuteduranshy
te os meses de revcreiro e marccedilo Inecircs este de Ilossa fe ~ la de Paacutescoa
Sabendo que esta era uma das 110ssJsprincipais solenidades ele
mandou q lIe tod os os cristatildeos fos sem ateacute ele e le vasse m o Livro
deles que conteacutem os quatro Evangelhos Depois de fa7cr com que
o incensassem vaacuterias vezes co m toda a cerimocircnia ele o beijou
devotamente e ordenou qu e todos os seus noh res ali presentes
fizessem o mesmo Este era o seu costu me em todas as principais
festividades cr istatildes como a Paacutescoa e o Na tal e ele observava o
mesmo nas fes tas dos sarracenos dos judeus e dos idoacutelatras Indashy
gado sobre o motivo dessl conduta ele disse Existem qua tro
grandes proCetas que satildeo nve renciados l adorados pelas difcnnshy
les cla~ses da h uman idade Os cristatildeos consideram Jes us Cris to
como a di in dade deles us Sd rraCtno~ Maomeacute os judeus Mo iseacutes
e os idoacutelat ras Sogomombar-kan o iacutedolo mais importante deles
Eu devo honrar c most rar respeito por todos os quatro e imocar
em meu auxiacutelio aquele que del re eles eacute na pcrrade supremo no
11 Erich Au crbadl MirllfS is p 2C ITrad ( it Mi ecirc isSatildeo Paulo Perspect iva 5
eJ 200middot1 p ~H6 ]
12 t rco Pnl1 ls 1 middot ja~C5 de li Ja1(() 1aacutelo 1 BrJsiliense 1954J pp 158-9 Grilo meu NO[l - lt porem que beijam lll ~S natildeo lecircem LI Fvangelho
cJII Ilas pela maneira co m que sua majestade agi u em relaccedilatildeo a
clei eacute ev idente que ele considerava a feacute do~ crisl agraveo~ a mai s ve rdashy
(leira e a mel hor
o gue essa passagem tem de notaacutevel natildeo eacute tanto o tranquuml ilo
relat ivismo religioso do grande d inas ta mongol (afi nal ainda eacute um
relativismo religioso) e sim a aLIacutelude e a linguagem d e Marco Poacutelo
Jamais lhe ocorre tratar C ublai como hipoacute crita ou idoacutelatra apesar
de es tar escrevendo para cristatildeos europeus como ele (Em par te
sem duacutevid a po rque quan to ao nuacutemero de suacuted itos e--lensatildeo d o
ttrritoacute rio c quantidade de riq uezas ele ul t rapassa qualquer sobeshy
rano que exist iu ateacute hoje no mundo) E no uso in consciente do
nossa (que se torna deles) e na q ualifi caccedilatildeo da feacute cristatilde cOmo
a mais verdadeira em vez de a verdadeira podemos detectar o s
pr imoacuterdios de uma territo ria li zaccedilatildeo dos credos um prCl1 uacutencio d a
linguagem de muitos nacionalistas (a nossa naccedilatildeo eacute a melhor
- num campo compamtilloe competi t ivo)
Q ue di ferenccedila reveladora temos no iniacutecio da carta do viajanshy
te persa Rica em Par is para o seu amigo Ibben em 17 12
o papa eacute o chefe dos cristatildeos E um elho iacutedolo que se incensa por
haacutebi lo Antigamente ele era temiacutevel aos proacuteprios priacutencipes pois de
() i depu nha com a mesma fa cilidade com que os nossos magniacuteficos
~u llotildees depocircem os reis de [rncrclia e da Geoacuterg ia Mas natildeo o te mem
ma i ~ l l e ~e d iz SUl lSSOr de um dos pri meiros cristatildeos que ~e clldma
5(0 Pedro e cert am ente eacute uma rica sucessatildeo pois ele tem teso uros
illlen so ~ e um grande territoacuterio sob o seu domiacutenio
11 nr 1fllIds o(Mnno Jv o p 1 5 ~ I ls viagcIl5 de Marco lOcirco Brasilicnsc 19541
11 Il enri tlt ) lontesquicu Perrln Lt-lIrrs p 81 As L fl rcs perswlts foram pubtishyL lei pela pri11tira t em [72
44 45
As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy
ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11
tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy
lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido
enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica
na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande
Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem
demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse
parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy
pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy
val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy
nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica
mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma
outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy
lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos
nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy
m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada
mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele
se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros
imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa
poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy
ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim
apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy
mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do
latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma
po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy
5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo
16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy
recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)
171bi p 32 1
men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy
lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma
figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade
Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy
lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o
inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy
g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em
larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no
con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy
16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy
decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire
( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a
qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major
nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se
um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio
do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy
des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy
dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando
o Rr l NO DI N AacuteS T I CO
I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um
mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy
11 Ibit p 330
19 1h iJ pp 33 1-2
20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais
lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy
port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro
~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e
Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro
M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356
46 47
tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy
lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy
ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de
um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da
ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra
terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um
territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo
onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram
porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy
m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade
com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter
seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas
veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy
Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy
cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy
tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias
Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy
2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com
essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy
meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os
p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I
iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot
te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy
naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico
ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy
nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias
2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno
tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante
discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar
(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha
O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido
4
tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este
l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o
Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um
ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -
Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia
Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc
arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia
duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy
illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta
e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz
e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy
b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen
marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy
ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da
marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc
Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto
comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e
capturas dos Ha bsburgo
Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy
cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de
concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy
gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er
aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas
111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy
21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1
lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha
atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst
111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do
4
co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando
LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy
mo~ de a tribuir aos Bo urbon
Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo
por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy
ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy
ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos
anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy
d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na
eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes
pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos
Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien
reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy
dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy
bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu
se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy
longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo
Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades
do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio
da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves
arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486
alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy
ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento
eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot
cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la
man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui
capaz de manter ( ibid p 125 )
25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o
fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy
ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught
llIul cllt1ligr p 136
26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot
ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l
nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy
duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria
~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy
monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy
parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da
Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF
Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema
poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy
te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma
~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade
minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande
(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os
JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute
eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst
tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)
PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S
Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas
lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades
~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~
hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270
lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama
I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92
~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil
hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m
sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao
pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr
dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy
do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m
l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85
50 51
religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy
nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy
do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o
m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao
Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos
agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos
c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res
ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy
ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy
na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde
Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy
di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy
no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo
de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com
os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia
muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de
um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era
maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma
universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy
dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta
peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em
latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio
cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para
as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy
pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy
saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue
assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre
os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy
sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a
cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils
~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas
11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a
VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy
I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a
mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma
cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees
I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy
SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a
segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo
pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na
noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do
~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos
colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os
homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais
llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy
ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa
Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de
con~ciecircncia
()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de
Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo
de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy
se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy
0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal
nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de
forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy
lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma
lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot
vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles
31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6
3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco
~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot
11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90
52 53
l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy
mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a
histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla
compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy
rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy
sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de
todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno
Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy
te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy
jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy
sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas
a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real
A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo
para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute
ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a
fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma
co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy
da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura
gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo
med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo
novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy
neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy
zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo
mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo
calendaacute r io H
n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo
bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]
-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy
nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~
n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo
importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se
w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy
gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o
ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy
am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy
ginada correspondente agrave naccedilatildeo
Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao
velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem
de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy
mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e
ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy
mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo
si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy
te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar
ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte
manetra
Tempo 11 III
4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda
num bar
r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em
casa com B
o joga bilhar tem um
pcsaddo
~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e
Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197
55 54
lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia
e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver
feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas
(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a
l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao
entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute
possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua
sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees
(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os
le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy
do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma
tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy
gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy
cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy
ca no espiacuterito de seus leitores
A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy
gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da
ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade
soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o
ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer
e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees
36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I
li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do
37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll
pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1
linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao
a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po
5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico
com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo
39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do
ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy
tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados
Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada
J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy
11 i1111 e simultacircnea dd~s
rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os
rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras
I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas
Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o
romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy
turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro
romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy
ra maravilhosa 11
Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy
mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de
jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy
Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy
~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros
la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a
1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o
gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy
ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl
Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy
nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua
~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave
rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy
l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm
pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y
Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard
1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1
11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I
IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy
Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru
56 57
infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila
n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de
bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no
problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade
necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy
saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo
O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague
Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma
manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos
ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha
mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a
Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o
nosso Governo
Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta
nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy
tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas
anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy
res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy
da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy
satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma
ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la
so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do
tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy
dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da
snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens
auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se
tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy
de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy
bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)
Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy
mente problem aacuteticas
Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy
(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a
IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy
d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy
toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy
lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa
ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy
C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy
men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia
medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo
ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy
lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa
muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao
viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente
algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter
UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy
co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy
oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy
dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para
Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue
Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy
mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria
middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy
11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a
di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy
t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy
Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy
11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15
58 59
comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por
meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a
metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy
lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata
em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica
alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos
passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo
Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy
peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela
mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas
Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy
tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou
di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos
poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto
Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten
45 lbid p 120
46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy
sis ca po I (A cicar de Odissc u)
~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1
IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II
COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy
IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg
I deus Albl nia re ino Jgora
Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel
l u teu udcnsnr llue Igor marIS
M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1
I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy
Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy
IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1
Oacutel
Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo
Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy
meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy
( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no
Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como
suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo
mostra a forma essencial desse romance naciona lista )
Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes
influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e
aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy
dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te
que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy
sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy
quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im
gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos
Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy
trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r
nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo
nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do
interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy
sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico
ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy
nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy
quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1
Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no
movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m
s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do
middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H
4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu
61
romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy
pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo
t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado
o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica
eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de
prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva
mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea
do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se
as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou
daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu
enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)
E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy
dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto
Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo
de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco
Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste
destino publicada em fasciacutecul os em 1924
Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy
vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva
50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura
e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais
51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy
do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros
campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova
Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110
llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot
tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente
li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26
capitulas 25 c 1)
52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu
na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas
l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa
P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy
do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy
gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy
pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas
ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy
nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy
lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se
o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o
cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches
)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea
diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz
dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste
Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim
Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy
nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml
in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que
ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo
inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado
PROSPI~RlLlAj)E
Lm andarilho mendigo passou mal
e morreu abandonado no acostamento da rua
n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o
I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to
Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si
Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy
1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto
(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas
62 63
qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo
de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a
gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy
te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy
liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas
pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy
cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes
gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca
eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz
Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo
confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy
vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da
referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos
seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy
cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je
Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy
ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma
on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que
Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy
dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis
hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor
cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a
raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )
Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela
du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo
encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy
josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy
nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde
)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy
fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a
d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida
pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo
SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto
dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente
licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy
mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu
tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um
lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil
raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos
eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um
mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo
inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os
outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)
Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy
ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado
[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy
le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A
dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a
principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy
gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy
te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem
sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por
I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento
que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os
MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl
LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy
tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco
12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer
1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te
64 65
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
por iSSl) que tantas naccedilotildees difcren tes tecircm esses tuacutem ul os sem senti r
nenhumt necessidade de c-pccificltlr a nacionalidade de seus ocushy
pantes auscntes O que mais potleriam ser 5(10 ak mdes ameri cashy
nos argen ti nos etc )
O sign ificado cul tural desses monumen tos Ii caniacute ainda mais
c1eacutel ro se tentarmos imagi nar por exemplo um luacutemulo do ma rx isshy
ta desconhecido ou um ccnolaacutefio para os liberais tombados em
combate Natildeo seria um abs urdo O m~lrx ismo e o li beralismo natildeo
se importam mu ito com a Inorte e a imortalidad bull Se o imagmaacuterio
nacionalista se importa tanto com elas isso sugere sua grande ~fishy
nidade com os imaginaacuterios religiosos Como essa afinidade nada
tem de fortu ito talvez val ha a pena inicia r uma ava liaccedilatildeo das ra iacuteshy
zes cullurais do nac ionalismo pela mo rte o uacutelt imo elemento ele
Ul11 cJ seacuterie de fatalidades
A maneira de um homem morrer geralmente parece arbit raacuteshy
ri el mas sua mo rtal idade eacute ine itaacutevel As vidas hu manas estatildeo
-heias dessas combi naccedilotildees entre acaso e necessidade Todos sabeshy
mos que nossa heranccedila geneacutetica pessoal nosso sexo a eacutepoca em
que vivemos nossas capacidades fiacutesicas liacute ngua materna e aampgtim
por diante satildeo fato res conlingentes e inelutaacuteveis O gra nde meacuterishy
lO das concerccedilotildee~ religiosas tradi ciona is (o tlual nalural mente
natildeo deve ser confu ndido com o papel delas na legitimaccedilatildeo de sis shy
d qli ma rrom llU l e cinja sr levan tariam d~ suas laacutep ides h rl ll CdS trovejando
ca plllvras 11iacutegidS Dew I honra piacutet rb b O mel Ju iacutew lsnhre o (l Idado
nlcriclno I e (armou 1111 a111 po dt batuacuteha haacute Ill u itus e lll 11i tllS allOS e llUIlCi1 se [1 lIhli fio li Lu li 1 11 cnt Jo com() o veio ago ra como ullla das ligu r JS mais nobres
I lll Undo 11 lt10 ~O como uma das pllsonal idades nl i li t J re~ mai sele tasl11 il ta mshy
hc m como uml da Il1d is imaculadtgt I~ ic I ri r fertc nccl h l~t(r ia I(l [ dar 11 rn dus ml iofCS eXlmp lo tIlt pat ri(lti ll1o vitll ri ()5P I~ i - ) Ek pcr lt ll ( l p(~ tcr i dlde
como il1otruto r de gc raccediluumlc futura nm prindpio da libl rdlde l indl [lc nJeacuten(ia
Lle p~ rtcn~e 10 l r l~e nlL d noacutes l1(lr ~lHh v i rtllde~ t rcali lik s Uouglas IIluto rlh ur Outy I IOIl lLlr (ollnt ry di(u fo) p cl ri a cldcm iJ IililJ r t merishy
~anol 1 [gt1111 I dc maio Ir 196 2 L11l sc lt so ltlier spclks pp JSI c 357
tC llhlSsptciacutefi cos de domi naccedilatildeo e exploraccedilatildeo ) eacute a SUltl preocupaccedilatildeo
com () homem-no-universo o homem enquanto espeacutecie e cont inshy
glncia da vida A ext rao rd inaacute ria sobrevivecircncia do budismo do
(ri~tiltlI1 is l1l o ou do islamismo ao longo de milecircnios e em dezenas
de formaccedilotildees sociais d ireren tes comprova li ma capacidade de resshy
posta imaginativa ao tremendo peso do sofrimento humano - a
doenccedila a mutilaccedilatildeo a dor a velhice a morte Por que nasci cego
Por que o meu mel hor amigo fi cou para liacute tico Por que a mi nha
irm eacute retardada As religiotildees ten tam expl icar O grande pon to
fllthO de todos os estil os de pensamento evolucionaacuteriosprogressi
vos in cluindo o marxismo eacute que eles respondem a essas pergunshy
tas COI11 um silecircncio impaciente Ao mesmo tel11po e de diversas
maneiras o pensamento religioso tamb~m daacute respostas sobre as
ohsclI ras insinuaccedilotildees de imortal idade geralmente transfo rmando
H fatali dade em contin uidade (kamUl pecado originnletc )Assim
a re ligiatildeo se interessa pelos viacutenc ulos entre os mortos e os ainda
natildeo-nascidos pelo misteacuterio da rc-generaccedilatildeo Quem vive a conccpshy
tatildeo l () nascime nto do se l proacuteprio filho sem apreender difll sa shy
mente lima mescla de ligaccedilatildeo acaso e necess iddde em linguagem
de continuidade (Aqui de novo a desvantagem do pensamenshy
1 Cf Rlgi~ lk bray lhrx i~m ltl nd I h ~ national question Nellmiddot lerr NClltIV J 05
(sckmhrll-outubro 1977) p 29 I )lIfantc deg I11 ~ U trabal ho de campo na Indoneacutesia
l1il deacuteltHl a d oacuteO fique i chocado (0111 a tranquuml ila llcgJ ti llt1 de muitos llluccedilulmJnu
~11 ll~il lt1 r IS ideacuteias de Darwin Nu co meccedilo interpretei essa negaI iJ C(l mo obs u
rlIlt l~ll1n Depois vi que cra lima hnlat ivl lo uvaacutevel de l1lJnlcr a ()crl ll cia a doushy
trina d) evoluccedilao era ~im p l sme n lc i n ~lm pa livd com os Lns inalllf ll liS do islatilde O tuc IMer )1l1 UI I1 ll1 a l criali ~mo cicnliacutelic que aCl ita formalmente 15 des(obn tas
d1iiacutesil1 ()h r~middot 1 mak ria rna~ que se ltmpcnha latildeo puu(O (111 vincular lai dcscohcr a~ li lU1 1d ICSbull I rcmiddotol uccedilagrave(l ou ao q ue lor ~cri que o ahismo enlre os proacutetons
r o Itolmiddotlnri1UacuteC) 11 10 oc ult1 ul11a cksconhecidu CO I1CCpccedilO metafiacutesica do hOl1l ell1
tIJ lmiddotjlIn-st os II1 tcrCSSJll llS textos Je ScbnSliollll1l m pan aru O II(tcritl iSJIl l
TItmiddot flLlld(1I ~ lp c a rcs po~tJ pondLradltl de Raymond Wi llium 1 eles em Timla 1110 111lkrillist dlllJ Icng bull ICII lcft IklJ middotW 109 (I11 Ji( -junl1o 1978) pp _~ - 1 7
37 36
to cvoluciomiacuterio p ro gressivo eacute sua aversatildeo quase heraclitialla a
qualquer ideacute ia de co ntin uidade)
Faccedilo essas observaccedilotildees talvez simploacuterias principalmente por shy
que () seacuteculo XV II I na Eu ropa Ocidcn la l marca llatildeooacute o amanhecer
Ja era 00 nac ionalismo m as tambeacutem o anoi tecer dos modos de
pensamentos religiosos () seacutecuJo do Il um inismo do secul arismo
racio nal ista t rou xe consigo suas proacuteprias t revas m od ernas A feacute
religiosa decl inou mas o sofrimento que ela ajudava a apaziguar
natildeo desapareceu A desintegraccedilatildeo do para iacuteso nada torna a fatalid a shy
de mais arbitraacuteria O absurdo da salvaccedilatildeo nada torna m ais necesshy
saacuterio um outro estilo de cont inuidade Entatildeo foi preciso q ue houshy
vesse uma transfo rmaccedilatildeo secular da fa talidad e em co ntinuidade
da contingecircncia em signi ficado Como veremos poucas coisas se
mostraram (se m ostram) mais adequadas a essa fi nalidade do que
a ideacuteia de naccedilatildeo Adm ite-se normalmente q ue os estados nacionais
satildeo novos e histoacutericos ao passo q ue as naccedilotildees a q ue eles datildeo
expressatildeo poliacutetica sempre assomam de um passado imemorial e
4 O falecido pre idcnte Suklrno sempre falou com toda a sil1cnidade sobre os
30 anos de coJonialismo a que a sua Indoneacutesia fo ra subm etida embora o proacuteshy
prio co nceito de Indoneacutesia seja uma invenccedilatildeo do seacutec ulo X e a maior parte do
que hoje eacute o paiacutes ten ha sido conquistada pelos holandeses apenas entre 1850 e
1910 O principal heroacutei nacional da Indon eacutesia con tempo racircnea eacute o priacutencipe java shy
nl-s Dipltlnegoro do comeccedilo do seacuteculo xlxembo[U as memoacuterias do priacutencipe mosmiddot
trtJn que ele pretendia co nqui~tJr Inatildeo libertar J 1(1a t natildeo expulsaros hola nshyd (~~l~ 11 verdade eacute evidentt que tk natildeo concebia os holltl1dccs como uma
(lllct iidlde Ver Harry ) Uencla t John A l arkin (o rg ) 117 lt 1Vorld ofSoll lumiddotast A51tl p 158 c Ann Kumar Diponcgoro ( I 771)~- 1 855) l ldolltsia 13 (abril de
I Yiacute2) p 103 Criro meu Analogamente Kcmal Atatuumlrk deu lOS slt us bancos esta
ta is os nomcs Ba nco Hitita I Ui Banka ) c Banco Sumeacuterio (Sc t(l n Watson Narivlls mui Siacutelllcs p 259 ) E SSeacuteS bancos satildeo proacutesperos e natildeo haacute razio para duvidar que
mu itos tl IlCOS e provavelmente o proacuteprio Kcmal acred itasst m slr iamcnte e
Jintla acreditem que 0 hit itds e os sumeacuterios satildeo seus antepassados tu rcos An tes de dar muitas risaJas se ria me lhor lembrarmos de Artm c Boad i~ea e refletir sobre o sucesso comercial das mi tog rafias de ro lkien
38
1 indd mais importante ~cguem rumo a um futuro il im itado 1 a
nlltlgia do nac ionalismo que converte o acaso em desti no Podem os
dic com Debray Si m eacute pu ro acaso que cu ten ha nascido fran cecircs
mJS a ti nai a h anccedila eacute eterna
Eacuteclaro que natildeo estou afirmando que o su rgimento do nacioshy
naligtl11o no fina l d o seacutecu lo Xl ur foi produzido pelo dcsgaste das
convicccedilotildee religiosas nem que ~sse proacuteprio desgas te natildeo requer
unhl explicaccedilatildeo complexa Tambeacutem natildeo estou sugeri ndo que o
l1aciol1a I ismo tenba de aJgu ma forma su bsti tu iacutedo histo rica shy
mente a religiatildeo O q uc es tou popondo eacute o entendimen to d o
nac ionalism o alinhando-o natildeo a ideologia- poliacuteticas conscien teshy
mente ado tadas mas aos grandes sistemas cu ltu rais qu e o prece shy
deram e a partir dos quais ele surgiu incl usive para combatecirc-los
Para nossas fi nal idades os do is sistemas cul turais per i nel1 te~
sagraveo a cOlllI zidade religiosa e o reino dinaacutestico Po is am bos no seu
apogeu fo ram est ruturas de referecircnc ia incontestes como oco rre
atualmente com a nac ionalidade Portanlo eacute fundame ntal analishy
sar o qu e cunfer iu uma plausibiJidade auto-evidente a esses sisteshy
mdS cul urais e ao mes mo tempo d estacar a lguns eJc m cntos shy
cbaw na decomposiccedilatildeo deles
1 C O IIUNIDADE RELI G IOS A
I Xlstem po ucas coisas ma is im pressionanles do que a vasta
extensatildeo ter r ito r ial do Ummah i ~lagravemic) desde o Marrocos ao
arquipd ago Sulu da cri slandade Jesde o Paraguai ao Ja patildeo e do
nlundo bu d ista desde o gt r i La nka agrave pen iacutensula coreana As grand es
1111turas acras (e para nossos objetivos pode-se incluir tambeacutem
o confucionism o ) incorporava m a ideacuteia de imensas comunidashy
des ~las a cristandadc o Um mah is lilmico e mesm o o Impeacuterio do
Ccnl ro - que hoje eacute considerado chinecircs mas antes imaginava-se
39
como cenLrd - eram imaginados pri ncipalmente pelo uso de
um a liacutengua e uma escrita sagradas Tomemos o exem plo do islatilde se
ul11 ll1aguindanaucnse encontrasse um btrbere em Meca um desshy
conhecendo o idioma do out ro incapazes de se comunica r oralshy
mente mesmo assi m entenderia m os seus caracteres p(Hque 0lt
textos sacros adotados por ambos exist iam apenas em aacuterabe claacutesshy
sico Nesse sentido o aacuterabe escrito fu ncionava como os ideograshy
mas ch ineses criando wna comunidade a partir dos signos c natildeo
dos so ns (Assi m hoje em dia a linguagem matemaacutetica daacute prosseshy
gu imento a uma velha trad iccedilatildeo Os romenos natildeo fazem ideacuteia de
como se diz + em tai landecircs e vice-versa mas ambos compreenshy
dem o siacutembolo) Todas as grandes comunidades claacutessicas se cOl1Sishy
deravam cosmicamente centrais at raveacutes de uma liacutengua sagrada
ligada a uma ordem ~upra terrena de poder Assi m o alcance do
lal im do paacute li do aacuterabe ou do chinecircs escritos era teoricamente ilishy
mitado (Na ve rd ade quanto mais morta eacute a liacutengua escri ta shy
qua nto ma is di-ta ntc da fala - melhor em princiacutepio todos tecircm
acesso a um mundo puro de signos )
Mas essas com Llnidade~ claacutess icas ligadas r or Jinguas sagradas
tinham um caraacuteter di fe re nte das comunidades imagi nadas das
naccedilotildees modern as Uma di ferenccedila fundamental era a confianccedila das
comunidades maIs an tigas no sacrarnenLalislllo l1nico de suas liacuten shy
guas e daiacute deri va m as iclcias que ti nllam sobre a admissatildeo de novos
membros O mandarins chineltcs viam com bons olhos os baacuterbashy
ros que aprendiam 3 duras penas a pin tar os ideogramas do
Impeacuterio do Cen tro Esses haacuterharm jaacute estavam ltl meio caminho da
plena aceitaccedilatildeo Meio-civil izado era muiliacutessimo melhor do que
baacuterba ro Essa atit ude certame nte natildeo foi excl usiva dos chi neses
nem se restringiu agrave Antiguumlidade Veja por exemplo a seguinte
5middot O l i 1 t rlIlqLiil iluumlde com que os mOIl (ois c manchus ~ il1 izadu s foram aceitos m rTIo 1-tIIrO$o ( 11
40
-
poliacute tica para os biIacute rbaros formulJua pelo liberal co lomhi ano
Ped ro rermiacuten de Vargas do comeccedilo do seacuteCll lo XIX
Pa ra am pliar a ll)SSa agricu ltura seri a preciso hi spaniza r 0S nossos
iacutendios A preguiccedila a fa lta de in ldigecircnci e a in dif~ rccedil nccedila dd es aos
t rabalhos normais levam a pensa r que d cs derivam de uma raccedila
degenerada que se ueteriora conforme ~e afasta da ua origem [ J
seria muito dese iaacutevel que os iacutendios se extinguissem atraveacutes d misshy
cigenaccedilatildeo com os brancos isentando-os de im postos e ou tros
encargos c concedendo-lhes a propr iedade privaoa da ter ra
I~ notaacutevel que esse liberal ain da proponha extinguir seus iacutendios
el1l parte isentando-os de impostos e concedendo-lhes a proshy
priedade privada da terra em vez de exterminaacute-los com armas de
fogo e microacutebios como logo depois comeccedilaram a fazer seus herdeishy
ros no Brasil Argenti na e Estados Unjdos Nota-se tambeacutem ao lado
desta crueldade com ares condescendentes o otimismo coacutesmico
Jtl fim eao cabo o iacutendio pode -er redimido - pela impregnaccedilatildeo do
stmen bran co civil izado e pelo acesso agrave propri edade privada
~OIlO todos os outros (Como eacute d iferente a atitude de Fermiacuten em
comparaccedilatildeo ao imperialista europeu posterior com a sua preferecircnshy
lia pelos malaios gurcas e hauacutessas autecircnticos em vez de mestishy
Ccedil()~ nativos semi- analfabetos wuacutegs e assim por diante
Mas se o meio de se imaginar as grandes com unidades gl shy
hltt is do passado eram as liacutenguas mudas sagradas essas apariccedilotildees
IJq lliriam realidade a pa rtir de uma ideacuteia btstante es tranha agrave
rn~nta l id ade ocidental contemporagravenea a natildeo-arb itrariedade do
signo Os ideogramas do ch i necirc~ do latim ou do aacuterabe erJm emashy
6 ) hll LYl1L h T cSpi11ish-AI1criCIII rIOllioIl5 1808-211 p 260 Grifo meu g krmo depreciat ivo -I lie na epoca do imperial ismo britimiacuteco designava o
ou ivo clJ iacutenJla da Africa do Norte e do O riente Meacutedio
41
naccedilotildees da real idad e e natildeo re presen taccedilotildees inventadas ao acaso
Co nhecemos a lo nga discussatildeo sobre a liacute ngua (l ati m ou vernaacutecushy
lo) ma is adequad a para a missa Na tradiccedilatildeo islacircmi ca ateacute bem
pouco tempo () Coratildeo era lite ralmente intracuzIacutevel (e portanto
in lrad uzido) porque o uacutenico ltI cesso agrave verdade de Alaacute era por meio
dos signos verdadeiros e illsubstitu iacuteveis d o aacuterabe escr ito Aqui natildeo
existe a ideacuteia de um mundo tatildeo des incuhd0 da liacutengua que todas
as liacutenguas vecircm a ser signos equumlid istanles (e porta nto in tercambiaacuteshy
vei s) dele Com efeito a realidade o ntoloacutegica soacutepo de se r apreendi shy
da por meio de um uacutenico sistema pr ivilegiado de re-presentaccedilatildeo
a liacutengua-verdade do latim eclesiaacutestico do aacuterabe coracirc n ico ou do
chinecircs do sistema de exames E como liacutenguas-verdade estavam
imbuiacutedas de um im pulso largamente estranho ao nacionalism o a
saber o impulso agraveco nversatildeo Por conversatildeo quero dizer natildeo tanto
a aceitaccedilatildeo de dctermi nltldos p r inciacutepios religiosos e sim uma
absorccedilatildeo alqu iacutem ica O baacuterbaro se torna Impeacuterio do Centro o
montanhecircs do Rif muccedilulmano e o ilongo cristatildeo Toda a natureshy
za ontoloacutegica do homem eacute maleaacutevcl ao sagrado (Compare o presshy
tiacutegio dessas antigas liacutenguas mundia is colocadas acima de todos os
vernaacuteculos com o esperanto ou o volapuk que jazem ignorados
entre essas duas esferas) Foi afinal essa possibilidade de convershy
satildeo atraveacutes da liacutengua sagrada que permitiu que um inglecircs se torshy
nasse papas e u m m anchuacute rio se to rnasse Filho do Ceacuteu
Mas se as liacutenguas sagradas permitiam que se imaginassem
co m u nidades tais como a cristandade nuumlo eacute poss iacutevel explicar o
verdadeiro alcance c a efetiva plausibil idade dessas co munidades
7 Atl que parect () grego cclc iaacutesti co natildeo atingiu o estatuto de uma liacutengua -verdashy
de Sao viIacuter ias as razotildees desse fracasso mas com certeza um fator fundamental
fo i que o grego continuou a ser uma liacutengua demoacutetica i lj (ao con traacute rio do latim)
cm grande parte do Impeacuterio do O rien te Devo essa suglts tagraveu a fudith Herrin
8 Nicholas Brakcspear ocupou o pontificado de 11 5middot1-59 com o nume de Adriano 1
arenas pelo texto sagrado os seus leitores afinal natildeo passavam de
min uacutesculos recife let rados em vastos oceano~ iletradosmiddot Para
urna expl icaccedilatildeo m ais completa temos de exami mlr a relaccedilatildeo entre
o~ letrados e suas sociedades Seria equ ivocado co nsideraacute-los uma
espeacutecie d e tecnocracia teoloacutegica As liacuten guas a que eles d avam
suporte por mais abst rusas qu e fo ssem natildeo possuiacuteam o caraacuteter
abstruso auloconstruiacutedo do jargatildeo dos advogados ou dos econoshy
mistas agravemargem da ideacute ia de realidade alimentada pela sociedade
Pelo contraacute rio os letrados eram grandes inic iados cam adas estrashy
teacutegiLas de uma hierarq uia cosmoloacutegica cujo aacutepice era divino 10 As
concepccedilotildees fundamentais so b re os grup os sociais eram mais
centriacutepetas e hieraacuterquicas do que horizontais e fron tei riccedilas O
poder assombroso do papado no seu auge soacute pode ser ent tnd ido
em termos de um clero transeuropeu com conhecimento do latim
esaito e tambeacutem de uma concepccedilatildeo de m undo partilhada p ratishy
ca mente po r todos e segundo a q ual a cam ada intelectual biliacutenguumle
ao media r o vernaacuteculo e o latim tam beacutem faz ia a mediaccedilatildeo en t re a
terra e o ceacuteu (O pavor da excomunhatildeo reflete essa cosmologia)
Apesar de toda a m agnitude e poderio das grandes com unishy
dades imagi nadas rel igiosamentesua coesatildeo inCONsciente fo i di mishy
nui11lio n u m ritmo cons tante apoacutes o fi nal da Idade Meacutedia Entre as
razotildees desse decliacutenio destaco apenas as d uas relacio nadas diretashy
mente agrave sacralizaccedilatildeo uacutenica dessas comunidades
Em primeiro lugar o decliacutenio res ultou d as exploraccedilotildees do
9middot lIJn Hloch nos lem hra que a m aio ria dos senho res e mui tos g ra nd tgt barotildees
111t pneu medieval Ie ra In admini strado res incapazecircgt dt examinar prssoalrnenshy
li Um n iJ toacuterio ou uma prestaccediluo de contas Feudn lSOciel) r p 81
111 Is~() nao sign ifica que os il e t r~d os natildeo lessem Mas o que e les liam nao eram
rltlIlvra~c im ( mundo visIacutecl middotAos olhos de todos os que eram capazes de refk shy
xlo o mlllldo mate r ial era po uco ma is do que uma espeacutecie de maacutescara po r tniacutes da
qUJI ltlerl r iam todas as coisas realmell te importanllt5 era com o se fosse tunbeacutem
lima liacutengua quc(xpressasse por sina is uma rea lidade mais profunda ibid p 83
42 43
m undn natildeo-eu ro peu as quais ampliaram violentam cn te o horishy
wntc cult ural-geograacutefico e simultanea men te os concei tos acershy
C l das poss iacuteveis formas de vida humana11 o q ue ocorrcu sobret-ushy
Jo mas natilde o excl u~ ivam cn te na Europa Esse processo joacute fica claro
no ma io r liv ro de viagem europeu Veja a surp resa co m que o bom
cristatildeo venezia no Marco Poacute lo desc reve Cubla i Catilde no final d o
seacuteculo 1 11 1
o gratilde-catilde tendo obtido essa ex traordinaacuteria vitoacuteria retornou com
grande pompa e triunfo para a ca pi ta l a cidlde de Ka nbalu Isso
aconteceu no mecircs de no vembro e ele continuou a morar laacuteduranshy
te os meses de revcreiro e marccedilo Inecircs este de Ilossa fe ~ la de Paacutescoa
Sabendo que esta era uma das 110ssJsprincipais solenidades ele
mandou q lIe tod os os cristatildeos fos sem ateacute ele e le vasse m o Livro
deles que conteacutem os quatro Evangelhos Depois de fa7cr com que
o incensassem vaacuterias vezes co m toda a cerimocircnia ele o beijou
devotamente e ordenou qu e todos os seus noh res ali presentes
fizessem o mesmo Este era o seu costu me em todas as principais
festividades cr istatildes como a Paacutescoa e o Na tal e ele observava o
mesmo nas fes tas dos sarracenos dos judeus e dos idoacutelatras Indashy
gado sobre o motivo dessl conduta ele disse Existem qua tro
grandes proCetas que satildeo nve renciados l adorados pelas difcnnshy
les cla~ses da h uman idade Os cristatildeos consideram Jes us Cris to
como a di in dade deles us Sd rraCtno~ Maomeacute os judeus Mo iseacutes
e os idoacutelat ras Sogomombar-kan o iacutedolo mais importante deles
Eu devo honrar c most rar respeito por todos os quatro e imocar
em meu auxiacutelio aquele que del re eles eacute na pcrrade supremo no
11 Erich Au crbadl MirllfS is p 2C ITrad ( it Mi ecirc isSatildeo Paulo Perspect iva 5
eJ 200middot1 p ~H6 ]
12 t rco Pnl1 ls 1 middot ja~C5 de li Ja1(() 1aacutelo 1 BrJsiliense 1954J pp 158-9 Grilo meu NO[l - lt porem que beijam lll ~S natildeo lecircem LI Fvangelho
cJII Ilas pela maneira co m que sua majestade agi u em relaccedilatildeo a
clei eacute ev idente que ele considerava a feacute do~ crisl agraveo~ a mai s ve rdashy
(leira e a mel hor
o gue essa passagem tem de notaacutevel natildeo eacute tanto o tranquuml ilo
relat ivismo religioso do grande d inas ta mongol (afi nal ainda eacute um
relativismo religioso) e sim a aLIacutelude e a linguagem d e Marco Poacutelo
Jamais lhe ocorre tratar C ublai como hipoacute crita ou idoacutelatra apesar
de es tar escrevendo para cristatildeos europeus como ele (Em par te
sem duacutevid a po rque quan to ao nuacutemero de suacuted itos e--lensatildeo d o
ttrritoacute rio c quantidade de riq uezas ele ul t rapassa qualquer sobeshy
rano que exist iu ateacute hoje no mundo) E no uso in consciente do
nossa (que se torna deles) e na q ualifi caccedilatildeo da feacute cristatilde cOmo
a mais verdadeira em vez de a verdadeira podemos detectar o s
pr imoacuterdios de uma territo ria li zaccedilatildeo dos credos um prCl1 uacutencio d a
linguagem de muitos nacionalistas (a nossa naccedilatildeo eacute a melhor
- num campo compamtilloe competi t ivo)
Q ue di ferenccedila reveladora temos no iniacutecio da carta do viajanshy
te persa Rica em Par is para o seu amigo Ibben em 17 12
o papa eacute o chefe dos cristatildeos E um elho iacutedolo que se incensa por
haacutebi lo Antigamente ele era temiacutevel aos proacuteprios priacutencipes pois de
() i depu nha com a mesma fa cilidade com que os nossos magniacuteficos
~u llotildees depocircem os reis de [rncrclia e da Geoacuterg ia Mas natildeo o te mem
ma i ~ l l e ~e d iz SUl lSSOr de um dos pri meiros cristatildeos que ~e clldma
5(0 Pedro e cert am ente eacute uma rica sucessatildeo pois ele tem teso uros
illlen so ~ e um grande territoacuterio sob o seu domiacutenio
11 nr 1fllIds o(Mnno Jv o p 1 5 ~ I ls viagcIl5 de Marco lOcirco Brasilicnsc 19541
11 Il enri tlt ) lontesquicu Perrln Lt-lIrrs p 81 As L fl rcs perswlts foram pubtishyL lei pela pri11tira t em [72
44 45
As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy
ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11
tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy
lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido
enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica
na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande
Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem
demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse
parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy
pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy
val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy
nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica
mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma
outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy
lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos
nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy
m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada
mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele
se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros
imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa
poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy
ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim
apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy
mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do
latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma
po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy
5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo
16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy
recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)
171bi p 32 1
men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy
lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma
figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade
Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy
lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o
inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy
g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em
larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no
con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy
16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy
decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire
( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a
qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major
nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se
um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio
do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy
des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy
dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando
o Rr l NO DI N AacuteS T I CO
I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um
mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy
11 Ibit p 330
19 1h iJ pp 33 1-2
20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais
lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy
port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro
~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e
Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro
M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356
46 47
tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy
lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy
ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de
um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da
ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra
terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um
territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo
onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram
porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy
m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade
com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter
seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas
veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy
Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy
cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy
tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias
Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy
2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com
essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy
meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os
p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I
iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot
te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy
naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico
ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy
nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias
2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno
tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante
discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar
(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha
O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido
4
tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este
l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o
Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um
ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -
Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia
Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc
arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia
duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy
illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta
e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz
e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy
b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen
marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy
ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da
marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc
Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto
comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e
capturas dos Ha bsburgo
Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy
cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de
concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy
gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er
aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas
111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy
21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1
lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha
atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst
111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do
4
co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando
LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy
mo~ de a tribuir aos Bo urbon
Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo
por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy
ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy
ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos
anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy
d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na
eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes
pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos
Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien
reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy
dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy
bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu
se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy
longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo
Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades
do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio
da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves
arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486
alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy
ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento
eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot
cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la
man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui
capaz de manter ( ibid p 125 )
25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o
fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy
ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught
llIul cllt1ligr p 136
26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot
ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l
nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy
duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria
~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy
monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy
parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da
Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF
Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema
poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy
te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma
~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade
minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande
(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os
JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute
eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst
tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)
PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S
Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas
lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades
~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~
hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270
lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama
I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92
~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil
hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m
sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao
pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr
dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy
do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m
l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85
50 51
religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy
nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy
do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o
m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao
Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos
agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos
c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res
ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy
ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy
na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde
Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy
di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy
no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo
de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com
os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia
muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de
um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era
maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma
universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy
dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta
peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em
latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio
cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para
as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy
pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy
saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue
assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre
os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy
sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a
cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils
~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas
11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a
VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy
I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a
mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma
cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees
I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy
SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a
segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo
pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na
noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do
~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos
colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os
homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais
llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy
ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa
Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de
con~ciecircncia
()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de
Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo
de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy
se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy
0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal
nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de
forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy
lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma
lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot
vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles
31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6
3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco
~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot
11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90
52 53
l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy
mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a
histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla
compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy
rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy
sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de
todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno
Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy
te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy
jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy
sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas
a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real
A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo
para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute
ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a
fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma
co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy
da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura
gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo
med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo
novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy
neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy
zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo
mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo
calendaacute r io H
n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo
bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]
-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy
nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~
n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo
importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se
w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy
gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o
ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy
am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy
ginada correspondente agrave naccedilatildeo
Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao
velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem
de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy
mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e
ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy
mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo
si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy
te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar
ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte
manetra
Tempo 11 III
4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda
num bar
r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em
casa com B
o joga bilhar tem um
pcsaddo
~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e
Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197
55 54
lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia
e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver
feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas
(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a
l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao
entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute
possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua
sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees
(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os
le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy
do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma
tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy
gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy
cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy
ca no espiacuterito de seus leitores
A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy
gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da
ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade
soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o
ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer
e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees
36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I
li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do
37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll
pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1
linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao
a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po
5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico
com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo
39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do
ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy
tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados
Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada
J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy
11 i1111 e simultacircnea dd~s
rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os
rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras
I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas
Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o
romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy
turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro
romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy
ra maravilhosa 11
Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy
mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de
jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy
Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy
~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros
la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a
1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o
gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy
ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl
Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy
nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua
~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave
rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy
l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm
pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y
Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard
1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1
11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I
IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy
Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru
56 57
infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila
n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de
bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no
problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade
necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy
saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo
O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague
Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma
manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos
ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha
mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a
Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o
nosso Governo
Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta
nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy
tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas
anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy
res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy
da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy
satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma
ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la
so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do
tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy
dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da
snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens
auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se
tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy
de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy
bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)
Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy
mente problem aacuteticas
Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy
(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a
IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy
d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy
toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy
lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa
ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy
C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy
men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia
medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo
ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy
lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa
muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao
viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente
algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter
UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy
co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy
oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy
dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para
Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue
Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy
mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria
middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy
11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a
di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy
t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy
Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy
11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15
58 59
comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por
meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a
metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy
lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata
em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica
alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos
passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo
Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy
peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela
mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas
Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy
tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou
di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos
poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto
Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten
45 lbid p 120
46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy
sis ca po I (A cicar de Odissc u)
~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1
IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II
COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy
IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg
I deus Albl nia re ino Jgora
Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel
l u teu udcnsnr llue Igor marIS
M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1
I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy
Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy
IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1
Oacutel
Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo
Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy
meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy
( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no
Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como
suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo
mostra a forma essencial desse romance naciona lista )
Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes
influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e
aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy
dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te
que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy
sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy
quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im
gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos
Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy
trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r
nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo
nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do
interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy
sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico
ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy
nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy
quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1
Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no
movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m
s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do
middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H
4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu
61
romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy
pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo
t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado
o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica
eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de
prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva
mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea
do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se
as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou
daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu
enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)
E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy
dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto
Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo
de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco
Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste
destino publicada em fasciacutecul os em 1924
Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy
vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva
50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura
e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais
51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy
do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros
campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova
Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110
llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot
tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente
li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26
capitulas 25 c 1)
52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu
na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas
l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa
P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy
do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy
gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy
pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas
ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy
nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy
lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se
o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o
cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches
)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea
diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz
dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste
Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim
Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy
nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml
in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que
ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo
inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado
PROSPI~RlLlAj)E
Lm andarilho mendigo passou mal
e morreu abandonado no acostamento da rua
n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o
I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to
Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si
Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy
1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto
(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas
62 63
qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo
de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a
gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy
te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy
liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas
pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy
cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes
gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca
eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz
Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo
confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy
vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da
referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos
seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy
cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je
Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy
ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma
on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que
Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy
dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis
hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor
cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a
raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )
Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela
du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo
encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy
josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy
nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde
)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy
fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a
d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida
pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo
SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto
dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente
licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy
mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu
tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um
lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil
raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos
eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um
mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo
inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os
outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)
Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy
ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado
[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy
le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A
dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a
principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy
gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy
te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem
sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por
I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento
que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os
MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl
LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy
tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco
12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer
1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te
64 65
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
to cvoluciomiacuterio p ro gressivo eacute sua aversatildeo quase heraclitialla a
qualquer ideacute ia de co ntin uidade)
Faccedilo essas observaccedilotildees talvez simploacuterias principalmente por shy
que () seacuteculo XV II I na Eu ropa Ocidcn la l marca llatildeooacute o amanhecer
Ja era 00 nac ionalismo m as tambeacutem o anoi tecer dos modos de
pensamentos religiosos () seacutecuJo do Il um inismo do secul arismo
racio nal ista t rou xe consigo suas proacuteprias t revas m od ernas A feacute
religiosa decl inou mas o sofrimento que ela ajudava a apaziguar
natildeo desapareceu A desintegraccedilatildeo do para iacuteso nada torna a fatalid a shy
de mais arbitraacuteria O absurdo da salvaccedilatildeo nada torna m ais necesshy
saacuterio um outro estilo de cont inuidade Entatildeo foi preciso q ue houshy
vesse uma transfo rmaccedilatildeo secular da fa talidad e em co ntinuidade
da contingecircncia em signi ficado Como veremos poucas coisas se
mostraram (se m ostram) mais adequadas a essa fi nalidade do que
a ideacuteia de naccedilatildeo Adm ite-se normalmente q ue os estados nacionais
satildeo novos e histoacutericos ao passo q ue as naccedilotildees a q ue eles datildeo
expressatildeo poliacutetica sempre assomam de um passado imemorial e
4 O falecido pre idcnte Suklrno sempre falou com toda a sil1cnidade sobre os
30 anos de coJonialismo a que a sua Indoneacutesia fo ra subm etida embora o proacuteshy
prio co nceito de Indoneacutesia seja uma invenccedilatildeo do seacutec ulo X e a maior parte do
que hoje eacute o paiacutes ten ha sido conquistada pelos holandeses apenas entre 1850 e
1910 O principal heroacutei nacional da Indon eacutesia con tempo racircnea eacute o priacutencipe java shy
nl-s Dipltlnegoro do comeccedilo do seacuteculo xlxembo[U as memoacuterias do priacutencipe mosmiddot
trtJn que ele pretendia co nqui~tJr Inatildeo libertar J 1(1a t natildeo expulsaros hola nshyd (~~l~ 11 verdade eacute evidentt que tk natildeo concebia os holltl1dccs como uma
(lllct iidlde Ver Harry ) Uencla t John A l arkin (o rg ) 117 lt 1Vorld ofSoll lumiddotast A51tl p 158 c Ann Kumar Diponcgoro ( I 771)~- 1 855) l ldolltsia 13 (abril de
I Yiacute2) p 103 Criro meu Analogamente Kcmal Atatuumlrk deu lOS slt us bancos esta
ta is os nomcs Ba nco Hitita I Ui Banka ) c Banco Sumeacuterio (Sc t(l n Watson Narivlls mui Siacutelllcs p 259 ) E SSeacuteS bancos satildeo proacutesperos e natildeo haacute razio para duvidar que
mu itos tl IlCOS e provavelmente o proacuteprio Kcmal acred itasst m slr iamcnte e
Jintla acreditem que 0 hit itds e os sumeacuterios satildeo seus antepassados tu rcos An tes de dar muitas risaJas se ria me lhor lembrarmos de Artm c Boad i~ea e refletir sobre o sucesso comercial das mi tog rafias de ro lkien
38
1 indd mais importante ~cguem rumo a um futuro il im itado 1 a
nlltlgia do nac ionalismo que converte o acaso em desti no Podem os
dic com Debray Si m eacute pu ro acaso que cu ten ha nascido fran cecircs
mJS a ti nai a h anccedila eacute eterna
Eacuteclaro que natildeo estou afirmando que o su rgimento do nacioshy
naligtl11o no fina l d o seacutecu lo Xl ur foi produzido pelo dcsgaste das
convicccedilotildee religiosas nem que ~sse proacuteprio desgas te natildeo requer
unhl explicaccedilatildeo complexa Tambeacutem natildeo estou sugeri ndo que o
l1aciol1a I ismo tenba de aJgu ma forma su bsti tu iacutedo histo rica shy
mente a religiatildeo O q uc es tou popondo eacute o entendimen to d o
nac ionalism o alinhando-o natildeo a ideologia- poliacuteticas conscien teshy
mente ado tadas mas aos grandes sistemas cu ltu rais qu e o prece shy
deram e a partir dos quais ele surgiu incl usive para combatecirc-los
Para nossas fi nal idades os do is sistemas cul turais per i nel1 te~
sagraveo a cOlllI zidade religiosa e o reino dinaacutestico Po is am bos no seu
apogeu fo ram est ruturas de referecircnc ia incontestes como oco rre
atualmente com a nac ionalidade Portanlo eacute fundame ntal analishy
sar o qu e cunfer iu uma plausibiJidade auto-evidente a esses sisteshy
mdS cul urais e ao mes mo tempo d estacar a lguns eJc m cntos shy
cbaw na decomposiccedilatildeo deles
1 C O IIUNIDADE RELI G IOS A
I Xlstem po ucas coisas ma is im pressionanles do que a vasta
extensatildeo ter r ito r ial do Ummah i ~lagravemic) desde o Marrocos ao
arquipd ago Sulu da cri slandade Jesde o Paraguai ao Ja patildeo e do
nlundo bu d ista desde o gt r i La nka agrave pen iacutensula coreana As grand es
1111turas acras (e para nossos objetivos pode-se incluir tambeacutem
o confucionism o ) incorporava m a ideacuteia de imensas comunidashy
des ~las a cristandadc o Um mah is lilmico e mesm o o Impeacuterio do
Ccnl ro - que hoje eacute considerado chinecircs mas antes imaginava-se
39
como cenLrd - eram imaginados pri ncipalmente pelo uso de
um a liacutengua e uma escrita sagradas Tomemos o exem plo do islatilde se
ul11 ll1aguindanaucnse encontrasse um btrbere em Meca um desshy
conhecendo o idioma do out ro incapazes de se comunica r oralshy
mente mesmo assi m entenderia m os seus caracteres p(Hque 0lt
textos sacros adotados por ambos exist iam apenas em aacuterabe claacutesshy
sico Nesse sentido o aacuterabe escrito fu ncionava como os ideograshy
mas ch ineses criando wna comunidade a partir dos signos c natildeo
dos so ns (Assi m hoje em dia a linguagem matemaacutetica daacute prosseshy
gu imento a uma velha trad iccedilatildeo Os romenos natildeo fazem ideacuteia de
como se diz + em tai landecircs e vice-versa mas ambos compreenshy
dem o siacutembolo) Todas as grandes comunidades claacutessicas se cOl1Sishy
deravam cosmicamente centrais at raveacutes de uma liacutengua sagrada
ligada a uma ordem ~upra terrena de poder Assi m o alcance do
lal im do paacute li do aacuterabe ou do chinecircs escritos era teoricamente ilishy
mitado (Na ve rd ade quanto mais morta eacute a liacutengua escri ta shy
qua nto ma is di-ta ntc da fala - melhor em princiacutepio todos tecircm
acesso a um mundo puro de signos )
Mas essas com Llnidade~ claacutess icas ligadas r or Jinguas sagradas
tinham um caraacuteter di fe re nte das comunidades imagi nadas das
naccedilotildees modern as Uma di ferenccedila fundamental era a confianccedila das
comunidades maIs an tigas no sacrarnenLalislllo l1nico de suas liacuten shy
guas e daiacute deri va m as iclcias que ti nllam sobre a admissatildeo de novos
membros O mandarins chineltcs viam com bons olhos os baacuterbashy
ros que aprendiam 3 duras penas a pin tar os ideogramas do
Impeacuterio do Cen tro Esses haacuterharm jaacute estavam ltl meio caminho da
plena aceitaccedilatildeo Meio-civil izado era muiliacutessimo melhor do que
baacuterba ro Essa atit ude certame nte natildeo foi excl usiva dos chi neses
nem se restringiu agrave Antiguumlidade Veja por exemplo a seguinte
5middot O l i 1 t rlIlqLiil iluumlde com que os mOIl (ois c manchus ~ il1 izadu s foram aceitos m rTIo 1-tIIrO$o ( 11
40
-
poliacute tica para os biIacute rbaros formulJua pelo liberal co lomhi ano
Ped ro rermiacuten de Vargas do comeccedilo do seacuteCll lo XIX
Pa ra am pliar a ll)SSa agricu ltura seri a preciso hi spaniza r 0S nossos
iacutendios A preguiccedila a fa lta de in ldigecircnci e a in dif~ rccedil nccedila dd es aos
t rabalhos normais levam a pensa r que d cs derivam de uma raccedila
degenerada que se ueteriora conforme ~e afasta da ua origem [ J
seria muito dese iaacutevel que os iacutendios se extinguissem atraveacutes d misshy
cigenaccedilatildeo com os brancos isentando-os de im postos e ou tros
encargos c concedendo-lhes a propr iedade privaoa da ter ra
I~ notaacutevel que esse liberal ain da proponha extinguir seus iacutendios
el1l parte isentando-os de impostos e concedendo-lhes a proshy
priedade privada da terra em vez de exterminaacute-los com armas de
fogo e microacutebios como logo depois comeccedilaram a fazer seus herdeishy
ros no Brasil Argenti na e Estados Unjdos Nota-se tambeacutem ao lado
desta crueldade com ares condescendentes o otimismo coacutesmico
Jtl fim eao cabo o iacutendio pode -er redimido - pela impregnaccedilatildeo do
stmen bran co civil izado e pelo acesso agrave propri edade privada
~OIlO todos os outros (Como eacute d iferente a atitude de Fermiacuten em
comparaccedilatildeo ao imperialista europeu posterior com a sua preferecircnshy
lia pelos malaios gurcas e hauacutessas autecircnticos em vez de mestishy
Ccedil()~ nativos semi- analfabetos wuacutegs e assim por diante
Mas se o meio de se imaginar as grandes com unidades gl shy
hltt is do passado eram as liacutenguas mudas sagradas essas apariccedilotildees
IJq lliriam realidade a pa rtir de uma ideacuteia btstante es tranha agrave
rn~nta l id ade ocidental contemporagravenea a natildeo-arb itrariedade do
signo Os ideogramas do ch i necirc~ do latim ou do aacuterabe erJm emashy
6 ) hll LYl1L h T cSpi11ish-AI1criCIII rIOllioIl5 1808-211 p 260 Grifo meu g krmo depreciat ivo -I lie na epoca do imperial ismo britimiacuteco designava o
ou ivo clJ iacutenJla da Africa do Norte e do O riente Meacutedio
41
naccedilotildees da real idad e e natildeo re presen taccedilotildees inventadas ao acaso
Co nhecemos a lo nga discussatildeo sobre a liacute ngua (l ati m ou vernaacutecushy
lo) ma is adequad a para a missa Na tradiccedilatildeo islacircmi ca ateacute bem
pouco tempo () Coratildeo era lite ralmente intracuzIacutevel (e portanto
in lrad uzido) porque o uacutenico ltI cesso agrave verdade de Alaacute era por meio
dos signos verdadeiros e illsubstitu iacuteveis d o aacuterabe escr ito Aqui natildeo
existe a ideacuteia de um mundo tatildeo des incuhd0 da liacutengua que todas
as liacutenguas vecircm a ser signos equumlid istanles (e porta nto in tercambiaacuteshy
vei s) dele Com efeito a realidade o ntoloacutegica soacutepo de se r apreendi shy
da por meio de um uacutenico sistema pr ivilegiado de re-presentaccedilatildeo
a liacutengua-verdade do latim eclesiaacutestico do aacuterabe coracirc n ico ou do
chinecircs do sistema de exames E como liacutenguas-verdade estavam
imbuiacutedas de um im pulso largamente estranho ao nacionalism o a
saber o impulso agraveco nversatildeo Por conversatildeo quero dizer natildeo tanto
a aceitaccedilatildeo de dctermi nltldos p r inciacutepios religiosos e sim uma
absorccedilatildeo alqu iacutem ica O baacuterbaro se torna Impeacuterio do Centro o
montanhecircs do Rif muccedilulmano e o ilongo cristatildeo Toda a natureshy
za ontoloacutegica do homem eacute maleaacutevcl ao sagrado (Compare o presshy
tiacutegio dessas antigas liacutenguas mundia is colocadas acima de todos os
vernaacuteculos com o esperanto ou o volapuk que jazem ignorados
entre essas duas esferas) Foi afinal essa possibilidade de convershy
satildeo atraveacutes da liacutengua sagrada que permitiu que um inglecircs se torshy
nasse papas e u m m anchuacute rio se to rnasse Filho do Ceacuteu
Mas se as liacutenguas sagradas permitiam que se imaginassem
co m u nidades tais como a cristandade nuumlo eacute poss iacutevel explicar o
verdadeiro alcance c a efetiva plausibil idade dessas co munidades
7 Atl que parect () grego cclc iaacutesti co natildeo atingiu o estatuto de uma liacutengua -verdashy
de Sao viIacuter ias as razotildees desse fracasso mas com certeza um fator fundamental
fo i que o grego continuou a ser uma liacutengua demoacutetica i lj (ao con traacute rio do latim)
cm grande parte do Impeacuterio do O rien te Devo essa suglts tagraveu a fudith Herrin
8 Nicholas Brakcspear ocupou o pontificado de 11 5middot1-59 com o nume de Adriano 1
arenas pelo texto sagrado os seus leitores afinal natildeo passavam de
min uacutesculos recife let rados em vastos oceano~ iletradosmiddot Para
urna expl icaccedilatildeo m ais completa temos de exami mlr a relaccedilatildeo entre
o~ letrados e suas sociedades Seria equ ivocado co nsideraacute-los uma
espeacutecie d e tecnocracia teoloacutegica As liacuten guas a que eles d avam
suporte por mais abst rusas qu e fo ssem natildeo possuiacuteam o caraacuteter
abstruso auloconstruiacutedo do jargatildeo dos advogados ou dos econoshy
mistas agravemargem da ideacute ia de realidade alimentada pela sociedade
Pelo contraacute rio os letrados eram grandes inic iados cam adas estrashy
teacutegiLas de uma hierarq uia cosmoloacutegica cujo aacutepice era divino 10 As
concepccedilotildees fundamentais so b re os grup os sociais eram mais
centriacutepetas e hieraacuterquicas do que horizontais e fron tei riccedilas O
poder assombroso do papado no seu auge soacute pode ser ent tnd ido
em termos de um clero transeuropeu com conhecimento do latim
esaito e tambeacutem de uma concepccedilatildeo de m undo partilhada p ratishy
ca mente po r todos e segundo a q ual a cam ada intelectual biliacutenguumle
ao media r o vernaacuteculo e o latim tam beacutem faz ia a mediaccedilatildeo en t re a
terra e o ceacuteu (O pavor da excomunhatildeo reflete essa cosmologia)
Apesar de toda a m agnitude e poderio das grandes com unishy
dades imagi nadas rel igiosamentesua coesatildeo inCONsciente fo i di mishy
nui11lio n u m ritmo cons tante apoacutes o fi nal da Idade Meacutedia Entre as
razotildees desse decliacutenio destaco apenas as d uas relacio nadas diretashy
mente agrave sacralizaccedilatildeo uacutenica dessas comunidades
Em primeiro lugar o decliacutenio res ultou d as exploraccedilotildees do
9middot lIJn Hloch nos lem hra que a m aio ria dos senho res e mui tos g ra nd tgt barotildees
111t pneu medieval Ie ra In admini strado res incapazecircgt dt examinar prssoalrnenshy
li Um n iJ toacuterio ou uma prestaccediluo de contas Feudn lSOciel) r p 81
111 Is~() nao sign ifica que os il e t r~d os natildeo lessem Mas o que e les liam nao eram
rltlIlvra~c im ( mundo visIacutecl middotAos olhos de todos os que eram capazes de refk shy
xlo o mlllldo mate r ial era po uco ma is do que uma espeacutecie de maacutescara po r tniacutes da
qUJI ltlerl r iam todas as coisas realmell te importanllt5 era com o se fosse tunbeacutem
lima liacutengua quc(xpressasse por sina is uma rea lidade mais profunda ibid p 83
42 43
m undn natildeo-eu ro peu as quais ampliaram violentam cn te o horishy
wntc cult ural-geograacutefico e simultanea men te os concei tos acershy
C l das poss iacuteveis formas de vida humana11 o q ue ocorrcu sobret-ushy
Jo mas natilde o excl u~ ivam cn te na Europa Esse processo joacute fica claro
no ma io r liv ro de viagem europeu Veja a surp resa co m que o bom
cristatildeo venezia no Marco Poacute lo desc reve Cubla i Catilde no final d o
seacuteculo 1 11 1
o gratilde-catilde tendo obtido essa ex traordinaacuteria vitoacuteria retornou com
grande pompa e triunfo para a ca pi ta l a cidlde de Ka nbalu Isso
aconteceu no mecircs de no vembro e ele continuou a morar laacuteduranshy
te os meses de revcreiro e marccedilo Inecircs este de Ilossa fe ~ la de Paacutescoa
Sabendo que esta era uma das 110ssJsprincipais solenidades ele
mandou q lIe tod os os cristatildeos fos sem ateacute ele e le vasse m o Livro
deles que conteacutem os quatro Evangelhos Depois de fa7cr com que
o incensassem vaacuterias vezes co m toda a cerimocircnia ele o beijou
devotamente e ordenou qu e todos os seus noh res ali presentes
fizessem o mesmo Este era o seu costu me em todas as principais
festividades cr istatildes como a Paacutescoa e o Na tal e ele observava o
mesmo nas fes tas dos sarracenos dos judeus e dos idoacutelatras Indashy
gado sobre o motivo dessl conduta ele disse Existem qua tro
grandes proCetas que satildeo nve renciados l adorados pelas difcnnshy
les cla~ses da h uman idade Os cristatildeos consideram Jes us Cris to
como a di in dade deles us Sd rraCtno~ Maomeacute os judeus Mo iseacutes
e os idoacutelat ras Sogomombar-kan o iacutedolo mais importante deles
Eu devo honrar c most rar respeito por todos os quatro e imocar
em meu auxiacutelio aquele que del re eles eacute na pcrrade supremo no
11 Erich Au crbadl MirllfS is p 2C ITrad ( it Mi ecirc isSatildeo Paulo Perspect iva 5
eJ 200middot1 p ~H6 ]
12 t rco Pnl1 ls 1 middot ja~C5 de li Ja1(() 1aacutelo 1 BrJsiliense 1954J pp 158-9 Grilo meu NO[l - lt porem que beijam lll ~S natildeo lecircem LI Fvangelho
cJII Ilas pela maneira co m que sua majestade agi u em relaccedilatildeo a
clei eacute ev idente que ele considerava a feacute do~ crisl agraveo~ a mai s ve rdashy
(leira e a mel hor
o gue essa passagem tem de notaacutevel natildeo eacute tanto o tranquuml ilo
relat ivismo religioso do grande d inas ta mongol (afi nal ainda eacute um
relativismo religioso) e sim a aLIacutelude e a linguagem d e Marco Poacutelo
Jamais lhe ocorre tratar C ublai como hipoacute crita ou idoacutelatra apesar
de es tar escrevendo para cristatildeos europeus como ele (Em par te
sem duacutevid a po rque quan to ao nuacutemero de suacuted itos e--lensatildeo d o
ttrritoacute rio c quantidade de riq uezas ele ul t rapassa qualquer sobeshy
rano que exist iu ateacute hoje no mundo) E no uso in consciente do
nossa (que se torna deles) e na q ualifi caccedilatildeo da feacute cristatilde cOmo
a mais verdadeira em vez de a verdadeira podemos detectar o s
pr imoacuterdios de uma territo ria li zaccedilatildeo dos credos um prCl1 uacutencio d a
linguagem de muitos nacionalistas (a nossa naccedilatildeo eacute a melhor
- num campo compamtilloe competi t ivo)
Q ue di ferenccedila reveladora temos no iniacutecio da carta do viajanshy
te persa Rica em Par is para o seu amigo Ibben em 17 12
o papa eacute o chefe dos cristatildeos E um elho iacutedolo que se incensa por
haacutebi lo Antigamente ele era temiacutevel aos proacuteprios priacutencipes pois de
() i depu nha com a mesma fa cilidade com que os nossos magniacuteficos
~u llotildees depocircem os reis de [rncrclia e da Geoacuterg ia Mas natildeo o te mem
ma i ~ l l e ~e d iz SUl lSSOr de um dos pri meiros cristatildeos que ~e clldma
5(0 Pedro e cert am ente eacute uma rica sucessatildeo pois ele tem teso uros
illlen so ~ e um grande territoacuterio sob o seu domiacutenio
11 nr 1fllIds o(Mnno Jv o p 1 5 ~ I ls viagcIl5 de Marco lOcirco Brasilicnsc 19541
11 Il enri tlt ) lontesquicu Perrln Lt-lIrrs p 81 As L fl rcs perswlts foram pubtishyL lei pela pri11tira t em [72
44 45
As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy
ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11
tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy
lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido
enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica
na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande
Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem
demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse
parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy
pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy
val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy
nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica
mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma
outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy
lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos
nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy
m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada
mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele
se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros
imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa
poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy
ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim
apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy
mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do
latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma
po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy
5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo
16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy
recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)
171bi p 32 1
men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy
lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma
figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade
Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy
lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o
inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy
g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em
larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no
con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy
16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy
decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire
( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a
qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major
nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se
um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio
do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy
des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy
dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando
o Rr l NO DI N AacuteS T I CO
I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um
mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy
11 Ibit p 330
19 1h iJ pp 33 1-2
20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais
lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy
port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro
~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e
Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro
M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356
46 47
tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy
lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy
ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de
um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da
ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra
terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um
territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo
onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram
porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy
m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade
com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter
seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas
veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy
Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy
cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy
tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias
Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy
2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com
essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy
meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os
p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I
iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot
te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy
naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico
ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy
nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias
2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno
tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante
discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar
(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha
O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido
4
tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este
l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o
Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um
ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -
Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia
Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc
arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia
duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy
illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta
e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz
e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy
b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen
marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy
ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da
marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc
Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto
comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e
capturas dos Ha bsburgo
Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy
cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de
concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy
gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er
aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas
111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy
21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1
lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha
atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst
111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do
4
co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando
LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy
mo~ de a tribuir aos Bo urbon
Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo
por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy
ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy
ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos
anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy
d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na
eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes
pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos
Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien
reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy
dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy
bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu
se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy
longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo
Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades
do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio
da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves
arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486
alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy
ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento
eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot
cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la
man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui
capaz de manter ( ibid p 125 )
25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o
fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy
ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught
llIul cllt1ligr p 136
26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot
ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l
nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy
duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria
~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy
monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy
parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da
Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF
Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema
poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy
te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma
~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade
minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande
(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os
JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute
eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst
tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)
PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S
Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas
lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades
~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~
hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270
lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama
I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92
~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil
hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m
sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao
pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr
dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy
do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m
l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85
50 51
religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy
nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy
do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o
m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao
Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos
agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos
c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res
ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy
ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy
na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde
Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy
di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy
no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo
de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com
os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia
muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de
um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era
maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma
universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy
dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta
peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em
latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio
cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para
as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy
pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy
saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue
assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre
os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy
sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a
cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils
~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas
11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a
VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy
I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a
mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma
cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees
I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy
SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a
segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo
pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na
noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do
~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos
colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os
homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais
llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy
ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa
Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de
con~ciecircncia
()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de
Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo
de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy
se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy
0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal
nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de
forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy
lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma
lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot
vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles
31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6
3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco
~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot
11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90
52 53
l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy
mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a
histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla
compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy
rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy
sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de
todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno
Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy
te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy
jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy
sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas
a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real
A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo
para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute
ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a
fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma
co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy
da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura
gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo
med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo
novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy
neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy
zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo
mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo
calendaacute r io H
n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo
bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]
-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy
nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~
n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo
importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se
w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy
gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o
ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy
am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy
ginada correspondente agrave naccedilatildeo
Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao
velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem
de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy
mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e
ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy
mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo
si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy
te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar
ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte
manetra
Tempo 11 III
4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda
num bar
r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em
casa com B
o joga bilhar tem um
pcsaddo
~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e
Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197
55 54
lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia
e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver
feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas
(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a
l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao
entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute
possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua
sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees
(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os
le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy
do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma
tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy
gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy
cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy
ca no espiacuterito de seus leitores
A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy
gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da
ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade
soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o
ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer
e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees
36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I
li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do
37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll
pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1
linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao
a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po
5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico
com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo
39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do
ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy
tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados
Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada
J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy
11 i1111 e simultacircnea dd~s
rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os
rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras
I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas
Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o
romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy
turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro
romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy
ra maravilhosa 11
Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy
mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de
jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy
Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy
~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros
la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a
1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o
gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy
ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl
Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy
nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua
~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave
rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy
l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm
pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y
Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard
1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1
11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I
IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy
Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru
56 57
infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila
n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de
bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no
problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade
necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy
saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo
O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague
Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma
manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos
ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha
mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a
Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o
nosso Governo
Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta
nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy
tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas
anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy
res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy
da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy
satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma
ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la
so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do
tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy
dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da
snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens
auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se
tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy
de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy
bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)
Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy
mente problem aacuteticas
Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy
(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a
IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy
d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy
toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy
lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa
ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy
C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy
men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia
medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo
ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy
lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa
muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao
viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente
algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter
UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy
co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy
oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy
dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para
Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue
Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy
mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria
middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy
11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a
di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy
t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy
Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy
11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15
58 59
comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por
meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a
metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy
lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata
em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica
alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos
passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo
Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy
peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela
mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas
Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy
tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou
di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos
poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto
Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten
45 lbid p 120
46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy
sis ca po I (A cicar de Odissc u)
~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1
IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II
COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy
IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg
I deus Albl nia re ino Jgora
Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel
l u teu udcnsnr llue Igor marIS
M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1
I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy
Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy
IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1
Oacutel
Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo
Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy
meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy
( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no
Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como
suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo
mostra a forma essencial desse romance naciona lista )
Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes
influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e
aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy
dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te
que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy
sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy
quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im
gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos
Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy
trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r
nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo
nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do
interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy
sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico
ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy
nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy
quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1
Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no
movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m
s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do
middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H
4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu
61
romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy
pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo
t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado
o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica
eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de
prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva
mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea
do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se
as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou
daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu
enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)
E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy
dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto
Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo
de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco
Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste
destino publicada em fasciacutecul os em 1924
Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy
vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva
50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura
e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais
51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy
do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros
campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova
Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110
llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot
tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente
li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26
capitulas 25 c 1)
52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu
na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas
l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa
P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy
do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy
gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy
pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas
ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy
nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy
lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se
o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o
cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches
)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea
diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz
dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste
Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim
Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy
nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml
in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que
ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo
inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado
PROSPI~RlLlAj)E
Lm andarilho mendigo passou mal
e morreu abandonado no acostamento da rua
n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o
I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to
Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si
Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy
1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto
(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas
62 63
qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo
de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a
gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy
te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy
liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas
pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy
cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes
gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca
eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz
Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo
confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy
vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da
referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos
seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy
cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je
Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy
ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma
on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que
Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy
dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis
hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor
cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a
raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )
Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela
du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo
encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy
josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy
nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde
)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy
fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a
d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida
pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo
SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto
dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente
licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy
mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu
tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um
lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil
raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos
eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um
mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo
inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os
outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)
Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy
ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado
[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy
le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A
dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a
principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy
gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy
te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem
sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por
I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento
que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os
MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl
LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy
tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco
12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer
1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te
64 65
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
como cenLrd - eram imaginados pri ncipalmente pelo uso de
um a liacutengua e uma escrita sagradas Tomemos o exem plo do islatilde se
ul11 ll1aguindanaucnse encontrasse um btrbere em Meca um desshy
conhecendo o idioma do out ro incapazes de se comunica r oralshy
mente mesmo assi m entenderia m os seus caracteres p(Hque 0lt
textos sacros adotados por ambos exist iam apenas em aacuterabe claacutesshy
sico Nesse sentido o aacuterabe escrito fu ncionava como os ideograshy
mas ch ineses criando wna comunidade a partir dos signos c natildeo
dos so ns (Assi m hoje em dia a linguagem matemaacutetica daacute prosseshy
gu imento a uma velha trad iccedilatildeo Os romenos natildeo fazem ideacuteia de
como se diz + em tai landecircs e vice-versa mas ambos compreenshy
dem o siacutembolo) Todas as grandes comunidades claacutessicas se cOl1Sishy
deravam cosmicamente centrais at raveacutes de uma liacutengua sagrada
ligada a uma ordem ~upra terrena de poder Assi m o alcance do
lal im do paacute li do aacuterabe ou do chinecircs escritos era teoricamente ilishy
mitado (Na ve rd ade quanto mais morta eacute a liacutengua escri ta shy
qua nto ma is di-ta ntc da fala - melhor em princiacutepio todos tecircm
acesso a um mundo puro de signos )
Mas essas com Llnidade~ claacutess icas ligadas r or Jinguas sagradas
tinham um caraacuteter di fe re nte das comunidades imagi nadas das
naccedilotildees modern as Uma di ferenccedila fundamental era a confianccedila das
comunidades maIs an tigas no sacrarnenLalislllo l1nico de suas liacuten shy
guas e daiacute deri va m as iclcias que ti nllam sobre a admissatildeo de novos
membros O mandarins chineltcs viam com bons olhos os baacuterbashy
ros que aprendiam 3 duras penas a pin tar os ideogramas do
Impeacuterio do Cen tro Esses haacuterharm jaacute estavam ltl meio caminho da
plena aceitaccedilatildeo Meio-civil izado era muiliacutessimo melhor do que
baacuterba ro Essa atit ude certame nte natildeo foi excl usiva dos chi neses
nem se restringiu agrave Antiguumlidade Veja por exemplo a seguinte
5middot O l i 1 t rlIlqLiil iluumlde com que os mOIl (ois c manchus ~ il1 izadu s foram aceitos m rTIo 1-tIIrO$o ( 11
40
-
poliacute tica para os biIacute rbaros formulJua pelo liberal co lomhi ano
Ped ro rermiacuten de Vargas do comeccedilo do seacuteCll lo XIX
Pa ra am pliar a ll)SSa agricu ltura seri a preciso hi spaniza r 0S nossos
iacutendios A preguiccedila a fa lta de in ldigecircnci e a in dif~ rccedil nccedila dd es aos
t rabalhos normais levam a pensa r que d cs derivam de uma raccedila
degenerada que se ueteriora conforme ~e afasta da ua origem [ J
seria muito dese iaacutevel que os iacutendios se extinguissem atraveacutes d misshy
cigenaccedilatildeo com os brancos isentando-os de im postos e ou tros
encargos c concedendo-lhes a propr iedade privaoa da ter ra
I~ notaacutevel que esse liberal ain da proponha extinguir seus iacutendios
el1l parte isentando-os de impostos e concedendo-lhes a proshy
priedade privada da terra em vez de exterminaacute-los com armas de
fogo e microacutebios como logo depois comeccedilaram a fazer seus herdeishy
ros no Brasil Argenti na e Estados Unjdos Nota-se tambeacutem ao lado
desta crueldade com ares condescendentes o otimismo coacutesmico
Jtl fim eao cabo o iacutendio pode -er redimido - pela impregnaccedilatildeo do
stmen bran co civil izado e pelo acesso agrave propri edade privada
~OIlO todos os outros (Como eacute d iferente a atitude de Fermiacuten em
comparaccedilatildeo ao imperialista europeu posterior com a sua preferecircnshy
lia pelos malaios gurcas e hauacutessas autecircnticos em vez de mestishy
Ccedil()~ nativos semi- analfabetos wuacutegs e assim por diante
Mas se o meio de se imaginar as grandes com unidades gl shy
hltt is do passado eram as liacutenguas mudas sagradas essas apariccedilotildees
IJq lliriam realidade a pa rtir de uma ideacuteia btstante es tranha agrave
rn~nta l id ade ocidental contemporagravenea a natildeo-arb itrariedade do
signo Os ideogramas do ch i necirc~ do latim ou do aacuterabe erJm emashy
6 ) hll LYl1L h T cSpi11ish-AI1criCIII rIOllioIl5 1808-211 p 260 Grifo meu g krmo depreciat ivo -I lie na epoca do imperial ismo britimiacuteco designava o
ou ivo clJ iacutenJla da Africa do Norte e do O riente Meacutedio
41
naccedilotildees da real idad e e natildeo re presen taccedilotildees inventadas ao acaso
Co nhecemos a lo nga discussatildeo sobre a liacute ngua (l ati m ou vernaacutecushy
lo) ma is adequad a para a missa Na tradiccedilatildeo islacircmi ca ateacute bem
pouco tempo () Coratildeo era lite ralmente intracuzIacutevel (e portanto
in lrad uzido) porque o uacutenico ltI cesso agrave verdade de Alaacute era por meio
dos signos verdadeiros e illsubstitu iacuteveis d o aacuterabe escr ito Aqui natildeo
existe a ideacuteia de um mundo tatildeo des incuhd0 da liacutengua que todas
as liacutenguas vecircm a ser signos equumlid istanles (e porta nto in tercambiaacuteshy
vei s) dele Com efeito a realidade o ntoloacutegica soacutepo de se r apreendi shy
da por meio de um uacutenico sistema pr ivilegiado de re-presentaccedilatildeo
a liacutengua-verdade do latim eclesiaacutestico do aacuterabe coracirc n ico ou do
chinecircs do sistema de exames E como liacutenguas-verdade estavam
imbuiacutedas de um im pulso largamente estranho ao nacionalism o a
saber o impulso agraveco nversatildeo Por conversatildeo quero dizer natildeo tanto
a aceitaccedilatildeo de dctermi nltldos p r inciacutepios religiosos e sim uma
absorccedilatildeo alqu iacutem ica O baacuterbaro se torna Impeacuterio do Centro o
montanhecircs do Rif muccedilulmano e o ilongo cristatildeo Toda a natureshy
za ontoloacutegica do homem eacute maleaacutevcl ao sagrado (Compare o presshy
tiacutegio dessas antigas liacutenguas mundia is colocadas acima de todos os
vernaacuteculos com o esperanto ou o volapuk que jazem ignorados
entre essas duas esferas) Foi afinal essa possibilidade de convershy
satildeo atraveacutes da liacutengua sagrada que permitiu que um inglecircs se torshy
nasse papas e u m m anchuacute rio se to rnasse Filho do Ceacuteu
Mas se as liacutenguas sagradas permitiam que se imaginassem
co m u nidades tais como a cristandade nuumlo eacute poss iacutevel explicar o
verdadeiro alcance c a efetiva plausibil idade dessas co munidades
7 Atl que parect () grego cclc iaacutesti co natildeo atingiu o estatuto de uma liacutengua -verdashy
de Sao viIacuter ias as razotildees desse fracasso mas com certeza um fator fundamental
fo i que o grego continuou a ser uma liacutengua demoacutetica i lj (ao con traacute rio do latim)
cm grande parte do Impeacuterio do O rien te Devo essa suglts tagraveu a fudith Herrin
8 Nicholas Brakcspear ocupou o pontificado de 11 5middot1-59 com o nume de Adriano 1
arenas pelo texto sagrado os seus leitores afinal natildeo passavam de
min uacutesculos recife let rados em vastos oceano~ iletradosmiddot Para
urna expl icaccedilatildeo m ais completa temos de exami mlr a relaccedilatildeo entre
o~ letrados e suas sociedades Seria equ ivocado co nsideraacute-los uma
espeacutecie d e tecnocracia teoloacutegica As liacuten guas a que eles d avam
suporte por mais abst rusas qu e fo ssem natildeo possuiacuteam o caraacuteter
abstruso auloconstruiacutedo do jargatildeo dos advogados ou dos econoshy
mistas agravemargem da ideacute ia de realidade alimentada pela sociedade
Pelo contraacute rio os letrados eram grandes inic iados cam adas estrashy
teacutegiLas de uma hierarq uia cosmoloacutegica cujo aacutepice era divino 10 As
concepccedilotildees fundamentais so b re os grup os sociais eram mais
centriacutepetas e hieraacuterquicas do que horizontais e fron tei riccedilas O
poder assombroso do papado no seu auge soacute pode ser ent tnd ido
em termos de um clero transeuropeu com conhecimento do latim
esaito e tambeacutem de uma concepccedilatildeo de m undo partilhada p ratishy
ca mente po r todos e segundo a q ual a cam ada intelectual biliacutenguumle
ao media r o vernaacuteculo e o latim tam beacutem faz ia a mediaccedilatildeo en t re a
terra e o ceacuteu (O pavor da excomunhatildeo reflete essa cosmologia)
Apesar de toda a m agnitude e poderio das grandes com unishy
dades imagi nadas rel igiosamentesua coesatildeo inCONsciente fo i di mishy
nui11lio n u m ritmo cons tante apoacutes o fi nal da Idade Meacutedia Entre as
razotildees desse decliacutenio destaco apenas as d uas relacio nadas diretashy
mente agrave sacralizaccedilatildeo uacutenica dessas comunidades
Em primeiro lugar o decliacutenio res ultou d as exploraccedilotildees do
9middot lIJn Hloch nos lem hra que a m aio ria dos senho res e mui tos g ra nd tgt barotildees
111t pneu medieval Ie ra In admini strado res incapazecircgt dt examinar prssoalrnenshy
li Um n iJ toacuterio ou uma prestaccediluo de contas Feudn lSOciel) r p 81
111 Is~() nao sign ifica que os il e t r~d os natildeo lessem Mas o que e les liam nao eram
rltlIlvra~c im ( mundo visIacutecl middotAos olhos de todos os que eram capazes de refk shy
xlo o mlllldo mate r ial era po uco ma is do que uma espeacutecie de maacutescara po r tniacutes da
qUJI ltlerl r iam todas as coisas realmell te importanllt5 era com o se fosse tunbeacutem
lima liacutengua quc(xpressasse por sina is uma rea lidade mais profunda ibid p 83
42 43
m undn natildeo-eu ro peu as quais ampliaram violentam cn te o horishy
wntc cult ural-geograacutefico e simultanea men te os concei tos acershy
C l das poss iacuteveis formas de vida humana11 o q ue ocorrcu sobret-ushy
Jo mas natilde o excl u~ ivam cn te na Europa Esse processo joacute fica claro
no ma io r liv ro de viagem europeu Veja a surp resa co m que o bom
cristatildeo venezia no Marco Poacute lo desc reve Cubla i Catilde no final d o
seacuteculo 1 11 1
o gratilde-catilde tendo obtido essa ex traordinaacuteria vitoacuteria retornou com
grande pompa e triunfo para a ca pi ta l a cidlde de Ka nbalu Isso
aconteceu no mecircs de no vembro e ele continuou a morar laacuteduranshy
te os meses de revcreiro e marccedilo Inecircs este de Ilossa fe ~ la de Paacutescoa
Sabendo que esta era uma das 110ssJsprincipais solenidades ele
mandou q lIe tod os os cristatildeos fos sem ateacute ele e le vasse m o Livro
deles que conteacutem os quatro Evangelhos Depois de fa7cr com que
o incensassem vaacuterias vezes co m toda a cerimocircnia ele o beijou
devotamente e ordenou qu e todos os seus noh res ali presentes
fizessem o mesmo Este era o seu costu me em todas as principais
festividades cr istatildes como a Paacutescoa e o Na tal e ele observava o
mesmo nas fes tas dos sarracenos dos judeus e dos idoacutelatras Indashy
gado sobre o motivo dessl conduta ele disse Existem qua tro
grandes proCetas que satildeo nve renciados l adorados pelas difcnnshy
les cla~ses da h uman idade Os cristatildeos consideram Jes us Cris to
como a di in dade deles us Sd rraCtno~ Maomeacute os judeus Mo iseacutes
e os idoacutelat ras Sogomombar-kan o iacutedolo mais importante deles
Eu devo honrar c most rar respeito por todos os quatro e imocar
em meu auxiacutelio aquele que del re eles eacute na pcrrade supremo no
11 Erich Au crbadl MirllfS is p 2C ITrad ( it Mi ecirc isSatildeo Paulo Perspect iva 5
eJ 200middot1 p ~H6 ]
12 t rco Pnl1 ls 1 middot ja~C5 de li Ja1(() 1aacutelo 1 BrJsiliense 1954J pp 158-9 Grilo meu NO[l - lt porem que beijam lll ~S natildeo lecircem LI Fvangelho
cJII Ilas pela maneira co m que sua majestade agi u em relaccedilatildeo a
clei eacute ev idente que ele considerava a feacute do~ crisl agraveo~ a mai s ve rdashy
(leira e a mel hor
o gue essa passagem tem de notaacutevel natildeo eacute tanto o tranquuml ilo
relat ivismo religioso do grande d inas ta mongol (afi nal ainda eacute um
relativismo religioso) e sim a aLIacutelude e a linguagem d e Marco Poacutelo
Jamais lhe ocorre tratar C ublai como hipoacute crita ou idoacutelatra apesar
de es tar escrevendo para cristatildeos europeus como ele (Em par te
sem duacutevid a po rque quan to ao nuacutemero de suacuted itos e--lensatildeo d o
ttrritoacute rio c quantidade de riq uezas ele ul t rapassa qualquer sobeshy
rano que exist iu ateacute hoje no mundo) E no uso in consciente do
nossa (que se torna deles) e na q ualifi caccedilatildeo da feacute cristatilde cOmo
a mais verdadeira em vez de a verdadeira podemos detectar o s
pr imoacuterdios de uma territo ria li zaccedilatildeo dos credos um prCl1 uacutencio d a
linguagem de muitos nacionalistas (a nossa naccedilatildeo eacute a melhor
- num campo compamtilloe competi t ivo)
Q ue di ferenccedila reveladora temos no iniacutecio da carta do viajanshy
te persa Rica em Par is para o seu amigo Ibben em 17 12
o papa eacute o chefe dos cristatildeos E um elho iacutedolo que se incensa por
haacutebi lo Antigamente ele era temiacutevel aos proacuteprios priacutencipes pois de
() i depu nha com a mesma fa cilidade com que os nossos magniacuteficos
~u llotildees depocircem os reis de [rncrclia e da Geoacuterg ia Mas natildeo o te mem
ma i ~ l l e ~e d iz SUl lSSOr de um dos pri meiros cristatildeos que ~e clldma
5(0 Pedro e cert am ente eacute uma rica sucessatildeo pois ele tem teso uros
illlen so ~ e um grande territoacuterio sob o seu domiacutenio
11 nr 1fllIds o(Mnno Jv o p 1 5 ~ I ls viagcIl5 de Marco lOcirco Brasilicnsc 19541
11 Il enri tlt ) lontesquicu Perrln Lt-lIrrs p 81 As L fl rcs perswlts foram pubtishyL lei pela pri11tira t em [72
44 45
As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy
ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11
tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy
lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido
enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica
na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande
Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem
demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse
parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy
pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy
val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy
nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica
mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma
outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy
lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos
nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy
m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada
mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele
se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros
imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa
poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy
ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim
apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy
mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do
latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma
po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy
5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo
16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy
recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)
171bi p 32 1
men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy
lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma
figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade
Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy
lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o
inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy
g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em
larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no
con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy
16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy
decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire
( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a
qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major
nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se
um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio
do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy
des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy
dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando
o Rr l NO DI N AacuteS T I CO
I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um
mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy
11 Ibit p 330
19 1h iJ pp 33 1-2
20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais
lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy
port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro
~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e
Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro
M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356
46 47
tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy
lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy
ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de
um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da
ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra
terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um
territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo
onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram
porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy
m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade
com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter
seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas
veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy
Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy
cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy
tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias
Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy
2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com
essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy
meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os
p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I
iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot
te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy
naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico
ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy
nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias
2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno
tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante
discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar
(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha
O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido
4
tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este
l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o
Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um
ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -
Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia
Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc
arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia
duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy
illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta
e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz
e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy
b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen
marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy
ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da
marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc
Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto
comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e
capturas dos Ha bsburgo
Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy
cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de
concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy
gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er
aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas
111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy
21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1
lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha
atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst
111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do
4
co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando
LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy
mo~ de a tribuir aos Bo urbon
Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo
por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy
ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy
ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos
anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy
d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na
eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes
pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos
Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien
reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy
dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy
bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu
se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy
longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo
Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades
do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio
da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves
arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486
alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy
ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento
eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot
cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la
man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui
capaz de manter ( ibid p 125 )
25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o
fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy
ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught
llIul cllt1ligr p 136
26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot
ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l
nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy
duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria
~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy
monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy
parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da
Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF
Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema
poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy
te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma
~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade
minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande
(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os
JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute
eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst
tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)
PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S
Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas
lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades
~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~
hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270
lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama
I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92
~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil
hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m
sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao
pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr
dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy
do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m
l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85
50 51
religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy
nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy
do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o
m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao
Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos
agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos
c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res
ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy
ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy
na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde
Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy
di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy
no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo
de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com
os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia
muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de
um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era
maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma
universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy
dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta
peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em
latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio
cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para
as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy
pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy
saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue
assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre
os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy
sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a
cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils
~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas
11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a
VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy
I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a
mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma
cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees
I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy
SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a
segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo
pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na
noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do
~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos
colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os
homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais
llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy
ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa
Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de
con~ciecircncia
()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de
Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo
de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy
se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy
0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal
nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de
forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy
lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma
lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot
vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles
31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6
3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco
~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot
11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90
52 53
l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy
mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a
histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla
compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy
rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy
sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de
todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno
Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy
te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy
jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy
sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas
a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real
A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo
para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute
ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a
fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma
co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy
da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura
gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo
med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo
novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy
neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy
zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo
mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo
calendaacute r io H
n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo
bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]
-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy
nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~
n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo
importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se
w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy
gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o
ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy
am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy
ginada correspondente agrave naccedilatildeo
Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao
velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem
de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy
mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e
ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy
mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo
si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy
te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar
ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte
manetra
Tempo 11 III
4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda
num bar
r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em
casa com B
o joga bilhar tem um
pcsaddo
~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e
Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197
55 54
lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia
e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver
feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas
(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a
l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao
entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute
possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua
sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees
(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os
le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy
do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma
tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy
gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy
cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy
ca no espiacuterito de seus leitores
A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy
gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da
ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade
soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o
ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer
e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees
36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I
li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do
37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll
pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1
linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao
a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po
5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico
com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo
39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do
ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy
tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados
Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada
J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy
11 i1111 e simultacircnea dd~s
rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os
rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras
I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas
Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o
romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy
turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro
romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy
ra maravilhosa 11
Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy
mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de
jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy
Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy
~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros
la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a
1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o
gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy
ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl
Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy
nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua
~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave
rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy
l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm
pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y
Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard
1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1
11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I
IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy
Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru
56 57
infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila
n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de
bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no
problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade
necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy
saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo
O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague
Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma
manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos
ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha
mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a
Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o
nosso Governo
Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta
nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy
tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas
anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy
res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy
da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy
satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma
ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la
so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do
tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy
dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da
snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens
auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se
tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy
de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy
bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)
Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy
mente problem aacuteticas
Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy
(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a
IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy
d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy
toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy
lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa
ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy
C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy
men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia
medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo
ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy
lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa
muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao
viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente
algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter
UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy
co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy
oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy
dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para
Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue
Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy
mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria
middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy
11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a
di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy
t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy
Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy
11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15
58 59
comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por
meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a
metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy
lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata
em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica
alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos
passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo
Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy
peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela
mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas
Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy
tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou
di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos
poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto
Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten
45 lbid p 120
46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy
sis ca po I (A cicar de Odissc u)
~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1
IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II
COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy
IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg
I deus Albl nia re ino Jgora
Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel
l u teu udcnsnr llue Igor marIS
M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1
I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy
Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy
IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1
Oacutel
Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo
Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy
meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy
( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no
Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como
suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo
mostra a forma essencial desse romance naciona lista )
Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes
influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e
aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy
dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te
que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy
sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy
quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im
gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos
Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy
trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r
nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo
nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do
interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy
sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico
ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy
nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy
quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1
Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no
movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m
s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do
middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H
4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu
61
romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy
pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo
t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado
o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica
eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de
prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva
mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea
do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se
as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou
daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu
enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)
E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy
dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto
Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo
de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco
Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste
destino publicada em fasciacutecul os em 1924
Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy
vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva
50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura
e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais
51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy
do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros
campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova
Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110
llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot
tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente
li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26
capitulas 25 c 1)
52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu
na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas
l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa
P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy
do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy
gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy
pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas
ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy
nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy
lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se
o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o
cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches
)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea
diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz
dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste
Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim
Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy
nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml
in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que
ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo
inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado
PROSPI~RlLlAj)E
Lm andarilho mendigo passou mal
e morreu abandonado no acostamento da rua
n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o
I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to
Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si
Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy
1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto
(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas
62 63
qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo
de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a
gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy
te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy
liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas
pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy
cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes
gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca
eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz
Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo
confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy
vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da
referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos
seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy
cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je
Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy
ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma
on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que
Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy
dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis
hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor
cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a
raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )
Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela
du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo
encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy
josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy
nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde
)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy
fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a
d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida
pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo
SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto
dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente
licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy
mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu
tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um
lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil
raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos
eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um
mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo
inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os
outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)
Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy
ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado
[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy
le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A
dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a
principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy
gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy
te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem
sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por
I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento
que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os
MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl
LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy
tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco
12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer
1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te
64 65
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
naccedilotildees da real idad e e natildeo re presen taccedilotildees inventadas ao acaso
Co nhecemos a lo nga discussatildeo sobre a liacute ngua (l ati m ou vernaacutecushy
lo) ma is adequad a para a missa Na tradiccedilatildeo islacircmi ca ateacute bem
pouco tempo () Coratildeo era lite ralmente intracuzIacutevel (e portanto
in lrad uzido) porque o uacutenico ltI cesso agrave verdade de Alaacute era por meio
dos signos verdadeiros e illsubstitu iacuteveis d o aacuterabe escr ito Aqui natildeo
existe a ideacuteia de um mundo tatildeo des incuhd0 da liacutengua que todas
as liacutenguas vecircm a ser signos equumlid istanles (e porta nto in tercambiaacuteshy
vei s) dele Com efeito a realidade o ntoloacutegica soacutepo de se r apreendi shy
da por meio de um uacutenico sistema pr ivilegiado de re-presentaccedilatildeo
a liacutengua-verdade do latim eclesiaacutestico do aacuterabe coracirc n ico ou do
chinecircs do sistema de exames E como liacutenguas-verdade estavam
imbuiacutedas de um im pulso largamente estranho ao nacionalism o a
saber o impulso agraveco nversatildeo Por conversatildeo quero dizer natildeo tanto
a aceitaccedilatildeo de dctermi nltldos p r inciacutepios religiosos e sim uma
absorccedilatildeo alqu iacutem ica O baacuterbaro se torna Impeacuterio do Centro o
montanhecircs do Rif muccedilulmano e o ilongo cristatildeo Toda a natureshy
za ontoloacutegica do homem eacute maleaacutevcl ao sagrado (Compare o presshy
tiacutegio dessas antigas liacutenguas mundia is colocadas acima de todos os
vernaacuteculos com o esperanto ou o volapuk que jazem ignorados
entre essas duas esferas) Foi afinal essa possibilidade de convershy
satildeo atraveacutes da liacutengua sagrada que permitiu que um inglecircs se torshy
nasse papas e u m m anchuacute rio se to rnasse Filho do Ceacuteu
Mas se as liacutenguas sagradas permitiam que se imaginassem
co m u nidades tais como a cristandade nuumlo eacute poss iacutevel explicar o
verdadeiro alcance c a efetiva plausibil idade dessas co munidades
7 Atl que parect () grego cclc iaacutesti co natildeo atingiu o estatuto de uma liacutengua -verdashy
de Sao viIacuter ias as razotildees desse fracasso mas com certeza um fator fundamental
fo i que o grego continuou a ser uma liacutengua demoacutetica i lj (ao con traacute rio do latim)
cm grande parte do Impeacuterio do O rien te Devo essa suglts tagraveu a fudith Herrin
8 Nicholas Brakcspear ocupou o pontificado de 11 5middot1-59 com o nume de Adriano 1
arenas pelo texto sagrado os seus leitores afinal natildeo passavam de
min uacutesculos recife let rados em vastos oceano~ iletradosmiddot Para
urna expl icaccedilatildeo m ais completa temos de exami mlr a relaccedilatildeo entre
o~ letrados e suas sociedades Seria equ ivocado co nsideraacute-los uma
espeacutecie d e tecnocracia teoloacutegica As liacuten guas a que eles d avam
suporte por mais abst rusas qu e fo ssem natildeo possuiacuteam o caraacuteter
abstruso auloconstruiacutedo do jargatildeo dos advogados ou dos econoshy
mistas agravemargem da ideacute ia de realidade alimentada pela sociedade
Pelo contraacute rio os letrados eram grandes inic iados cam adas estrashy
teacutegiLas de uma hierarq uia cosmoloacutegica cujo aacutepice era divino 10 As
concepccedilotildees fundamentais so b re os grup os sociais eram mais
centriacutepetas e hieraacuterquicas do que horizontais e fron tei riccedilas O
poder assombroso do papado no seu auge soacute pode ser ent tnd ido
em termos de um clero transeuropeu com conhecimento do latim
esaito e tambeacutem de uma concepccedilatildeo de m undo partilhada p ratishy
ca mente po r todos e segundo a q ual a cam ada intelectual biliacutenguumle
ao media r o vernaacuteculo e o latim tam beacutem faz ia a mediaccedilatildeo en t re a
terra e o ceacuteu (O pavor da excomunhatildeo reflete essa cosmologia)
Apesar de toda a m agnitude e poderio das grandes com unishy
dades imagi nadas rel igiosamentesua coesatildeo inCONsciente fo i di mishy
nui11lio n u m ritmo cons tante apoacutes o fi nal da Idade Meacutedia Entre as
razotildees desse decliacutenio destaco apenas as d uas relacio nadas diretashy
mente agrave sacralizaccedilatildeo uacutenica dessas comunidades
Em primeiro lugar o decliacutenio res ultou d as exploraccedilotildees do
9middot lIJn Hloch nos lem hra que a m aio ria dos senho res e mui tos g ra nd tgt barotildees
111t pneu medieval Ie ra In admini strado res incapazecircgt dt examinar prssoalrnenshy
li Um n iJ toacuterio ou uma prestaccediluo de contas Feudn lSOciel) r p 81
111 Is~() nao sign ifica que os il e t r~d os natildeo lessem Mas o que e les liam nao eram
rltlIlvra~c im ( mundo visIacutecl middotAos olhos de todos os que eram capazes de refk shy
xlo o mlllldo mate r ial era po uco ma is do que uma espeacutecie de maacutescara po r tniacutes da
qUJI ltlerl r iam todas as coisas realmell te importanllt5 era com o se fosse tunbeacutem
lima liacutengua quc(xpressasse por sina is uma rea lidade mais profunda ibid p 83
42 43
m undn natildeo-eu ro peu as quais ampliaram violentam cn te o horishy
wntc cult ural-geograacutefico e simultanea men te os concei tos acershy
C l das poss iacuteveis formas de vida humana11 o q ue ocorrcu sobret-ushy
Jo mas natilde o excl u~ ivam cn te na Europa Esse processo joacute fica claro
no ma io r liv ro de viagem europeu Veja a surp resa co m que o bom
cristatildeo venezia no Marco Poacute lo desc reve Cubla i Catilde no final d o
seacuteculo 1 11 1
o gratilde-catilde tendo obtido essa ex traordinaacuteria vitoacuteria retornou com
grande pompa e triunfo para a ca pi ta l a cidlde de Ka nbalu Isso
aconteceu no mecircs de no vembro e ele continuou a morar laacuteduranshy
te os meses de revcreiro e marccedilo Inecircs este de Ilossa fe ~ la de Paacutescoa
Sabendo que esta era uma das 110ssJsprincipais solenidades ele
mandou q lIe tod os os cristatildeos fos sem ateacute ele e le vasse m o Livro
deles que conteacutem os quatro Evangelhos Depois de fa7cr com que
o incensassem vaacuterias vezes co m toda a cerimocircnia ele o beijou
devotamente e ordenou qu e todos os seus noh res ali presentes
fizessem o mesmo Este era o seu costu me em todas as principais
festividades cr istatildes como a Paacutescoa e o Na tal e ele observava o
mesmo nas fes tas dos sarracenos dos judeus e dos idoacutelatras Indashy
gado sobre o motivo dessl conduta ele disse Existem qua tro
grandes proCetas que satildeo nve renciados l adorados pelas difcnnshy
les cla~ses da h uman idade Os cristatildeos consideram Jes us Cris to
como a di in dade deles us Sd rraCtno~ Maomeacute os judeus Mo iseacutes
e os idoacutelat ras Sogomombar-kan o iacutedolo mais importante deles
Eu devo honrar c most rar respeito por todos os quatro e imocar
em meu auxiacutelio aquele que del re eles eacute na pcrrade supremo no
11 Erich Au crbadl MirllfS is p 2C ITrad ( it Mi ecirc isSatildeo Paulo Perspect iva 5
eJ 200middot1 p ~H6 ]
12 t rco Pnl1 ls 1 middot ja~C5 de li Ja1(() 1aacutelo 1 BrJsiliense 1954J pp 158-9 Grilo meu NO[l - lt porem que beijam lll ~S natildeo lecircem LI Fvangelho
cJII Ilas pela maneira co m que sua majestade agi u em relaccedilatildeo a
clei eacute ev idente que ele considerava a feacute do~ crisl agraveo~ a mai s ve rdashy
(leira e a mel hor
o gue essa passagem tem de notaacutevel natildeo eacute tanto o tranquuml ilo
relat ivismo religioso do grande d inas ta mongol (afi nal ainda eacute um
relativismo religioso) e sim a aLIacutelude e a linguagem d e Marco Poacutelo
Jamais lhe ocorre tratar C ublai como hipoacute crita ou idoacutelatra apesar
de es tar escrevendo para cristatildeos europeus como ele (Em par te
sem duacutevid a po rque quan to ao nuacutemero de suacuted itos e--lensatildeo d o
ttrritoacute rio c quantidade de riq uezas ele ul t rapassa qualquer sobeshy
rano que exist iu ateacute hoje no mundo) E no uso in consciente do
nossa (que se torna deles) e na q ualifi caccedilatildeo da feacute cristatilde cOmo
a mais verdadeira em vez de a verdadeira podemos detectar o s
pr imoacuterdios de uma territo ria li zaccedilatildeo dos credos um prCl1 uacutencio d a
linguagem de muitos nacionalistas (a nossa naccedilatildeo eacute a melhor
- num campo compamtilloe competi t ivo)
Q ue di ferenccedila reveladora temos no iniacutecio da carta do viajanshy
te persa Rica em Par is para o seu amigo Ibben em 17 12
o papa eacute o chefe dos cristatildeos E um elho iacutedolo que se incensa por
haacutebi lo Antigamente ele era temiacutevel aos proacuteprios priacutencipes pois de
() i depu nha com a mesma fa cilidade com que os nossos magniacuteficos
~u llotildees depocircem os reis de [rncrclia e da Geoacuterg ia Mas natildeo o te mem
ma i ~ l l e ~e d iz SUl lSSOr de um dos pri meiros cristatildeos que ~e clldma
5(0 Pedro e cert am ente eacute uma rica sucessatildeo pois ele tem teso uros
illlen so ~ e um grande territoacuterio sob o seu domiacutenio
11 nr 1fllIds o(Mnno Jv o p 1 5 ~ I ls viagcIl5 de Marco lOcirco Brasilicnsc 19541
11 Il enri tlt ) lontesquicu Perrln Lt-lIrrs p 81 As L fl rcs perswlts foram pubtishyL lei pela pri11tira t em [72
44 45
As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy
ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11
tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy
lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido
enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica
na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande
Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem
demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse
parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy
pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy
val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy
nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica
mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma
outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy
lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos
nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy
m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada
mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele
se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros
imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa
poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy
ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim
apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy
mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do
latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma
po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy
5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo
16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy
recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)
171bi p 32 1
men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy
lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma
figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade
Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy
lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o
inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy
g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em
larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no
con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy
16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy
decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire
( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a
qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major
nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se
um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio
do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy
des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy
dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando
o Rr l NO DI N AacuteS T I CO
I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um
mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy
11 Ibit p 330
19 1h iJ pp 33 1-2
20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais
lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy
port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro
~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e
Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro
M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356
46 47
tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy
lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy
ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de
um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da
ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra
terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um
territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo
onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram
porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy
m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade
com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter
seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas
veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy
Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy
cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy
tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias
Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy
2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com
essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy
meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os
p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I
iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot
te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy
naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico
ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy
nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias
2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno
tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante
discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar
(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha
O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido
4
tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este
l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o
Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um
ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -
Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia
Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc
arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia
duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy
illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta
e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz
e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy
b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen
marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy
ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da
marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc
Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto
comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e
capturas dos Ha bsburgo
Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy
cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de
concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy
gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er
aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas
111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy
21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1
lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha
atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst
111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do
4
co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando
LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy
mo~ de a tribuir aos Bo urbon
Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo
por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy
ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy
ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos
anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy
d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na
eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes
pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos
Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien
reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy
dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy
bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu
se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy
longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo
Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades
do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio
da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves
arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486
alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy
ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento
eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot
cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la
man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui
capaz de manter ( ibid p 125 )
25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o
fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy
ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught
llIul cllt1ligr p 136
26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot
ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l
nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy
duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria
~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy
monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy
parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da
Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF
Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema
poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy
te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma
~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade
minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande
(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os
JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute
eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst
tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)
PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S
Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas
lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades
~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~
hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270
lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama
I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92
~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil
hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m
sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao
pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr
dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy
do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m
l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85
50 51
religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy
nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy
do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o
m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao
Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos
agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos
c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res
ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy
ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy
na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde
Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy
di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy
no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo
de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com
os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia
muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de
um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era
maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma
universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy
dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta
peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em
latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio
cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para
as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy
pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy
saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue
assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre
os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy
sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a
cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils
~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas
11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a
VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy
I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a
mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma
cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees
I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy
SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a
segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo
pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na
noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do
~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos
colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os
homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais
llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy
ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa
Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de
con~ciecircncia
()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de
Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo
de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy
se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy
0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal
nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de
forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy
lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma
lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot
vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles
31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6
3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco
~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot
11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90
52 53
l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy
mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a
histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla
compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy
rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy
sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de
todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno
Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy
te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy
jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy
sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas
a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real
A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo
para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute
ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a
fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma
co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy
da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura
gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo
med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo
novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy
neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy
zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo
mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo
calendaacute r io H
n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo
bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]
-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy
nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~
n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo
importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se
w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy
gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o
ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy
am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy
ginada correspondente agrave naccedilatildeo
Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao
velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem
de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy
mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e
ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy
mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo
si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy
te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar
ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte
manetra
Tempo 11 III
4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda
num bar
r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em
casa com B
o joga bilhar tem um
pcsaddo
~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e
Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197
55 54
lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia
e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver
feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas
(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a
l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao
entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute
possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua
sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees
(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os
le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy
do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma
tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy
gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy
cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy
ca no espiacuterito de seus leitores
A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy
gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da
ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade
soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o
ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer
e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees
36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I
li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do
37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll
pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1
linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao
a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po
5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico
com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo
39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do
ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy
tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados
Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada
J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy
11 i1111 e simultacircnea dd~s
rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os
rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras
I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas
Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o
romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy
turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro
romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy
ra maravilhosa 11
Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy
mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de
jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy
Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy
~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros
la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a
1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o
gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy
ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl
Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy
nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua
~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave
rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy
l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm
pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y
Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard
1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1
11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I
IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy
Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru
56 57
infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila
n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de
bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no
problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade
necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy
saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo
O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague
Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma
manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos
ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha
mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a
Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o
nosso Governo
Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta
nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy
tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas
anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy
res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy
da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy
satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma
ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la
so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do
tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy
dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da
snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens
auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se
tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy
de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy
bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)
Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy
mente problem aacuteticas
Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy
(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a
IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy
d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy
toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy
lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa
ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy
C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy
men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia
medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo
ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy
lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa
muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao
viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente
algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter
UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy
co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy
oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy
dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para
Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue
Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy
mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria
middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy
11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a
di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy
t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy
Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy
11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15
58 59
comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por
meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a
metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy
lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata
em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica
alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos
passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo
Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy
peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela
mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas
Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy
tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou
di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos
poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto
Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten
45 lbid p 120
46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy
sis ca po I (A cicar de Odissc u)
~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1
IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II
COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy
IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg
I deus Albl nia re ino Jgora
Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel
l u teu udcnsnr llue Igor marIS
M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1
I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy
Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy
IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1
Oacutel
Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo
Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy
meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy
( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no
Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como
suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo
mostra a forma essencial desse romance naciona lista )
Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes
influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e
aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy
dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te
que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy
sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy
quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im
gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos
Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy
trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r
nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo
nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do
interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy
sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico
ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy
nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy
quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1
Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no
movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m
s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do
middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H
4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu
61
romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy
pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo
t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado
o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica
eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de
prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva
mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea
do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se
as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou
daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu
enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)
E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy
dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto
Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo
de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco
Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste
destino publicada em fasciacutecul os em 1924
Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy
vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva
50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura
e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais
51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy
do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros
campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova
Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110
llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot
tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente
li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26
capitulas 25 c 1)
52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu
na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas
l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa
P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy
do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy
gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy
pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas
ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy
nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy
lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se
o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o
cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches
)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea
diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz
dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste
Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim
Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy
nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml
in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que
ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo
inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado
PROSPI~RlLlAj)E
Lm andarilho mendigo passou mal
e morreu abandonado no acostamento da rua
n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o
I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to
Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si
Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy
1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto
(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas
62 63
qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo
de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a
gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy
te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy
liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas
pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy
cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes
gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca
eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz
Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo
confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy
vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da
referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos
seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy
cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je
Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy
ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma
on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que
Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy
dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis
hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor
cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a
raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )
Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela
du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo
encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy
josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy
nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde
)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy
fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a
d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida
pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo
SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto
dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente
licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy
mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu
tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um
lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil
raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos
eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um
mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo
inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os
outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)
Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy
ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado
[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy
le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A
dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a
principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy
gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy
te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem
sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por
I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento
que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os
MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl
LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy
tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco
12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer
1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te
64 65
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
m undn natildeo-eu ro peu as quais ampliaram violentam cn te o horishy
wntc cult ural-geograacutefico e simultanea men te os concei tos acershy
C l das poss iacuteveis formas de vida humana11 o q ue ocorrcu sobret-ushy
Jo mas natilde o excl u~ ivam cn te na Europa Esse processo joacute fica claro
no ma io r liv ro de viagem europeu Veja a surp resa co m que o bom
cristatildeo venezia no Marco Poacute lo desc reve Cubla i Catilde no final d o
seacuteculo 1 11 1
o gratilde-catilde tendo obtido essa ex traordinaacuteria vitoacuteria retornou com
grande pompa e triunfo para a ca pi ta l a cidlde de Ka nbalu Isso
aconteceu no mecircs de no vembro e ele continuou a morar laacuteduranshy
te os meses de revcreiro e marccedilo Inecircs este de Ilossa fe ~ la de Paacutescoa
Sabendo que esta era uma das 110ssJsprincipais solenidades ele
mandou q lIe tod os os cristatildeos fos sem ateacute ele e le vasse m o Livro
deles que conteacutem os quatro Evangelhos Depois de fa7cr com que
o incensassem vaacuterias vezes co m toda a cerimocircnia ele o beijou
devotamente e ordenou qu e todos os seus noh res ali presentes
fizessem o mesmo Este era o seu costu me em todas as principais
festividades cr istatildes como a Paacutescoa e o Na tal e ele observava o
mesmo nas fes tas dos sarracenos dos judeus e dos idoacutelatras Indashy
gado sobre o motivo dessl conduta ele disse Existem qua tro
grandes proCetas que satildeo nve renciados l adorados pelas difcnnshy
les cla~ses da h uman idade Os cristatildeos consideram Jes us Cris to
como a di in dade deles us Sd rraCtno~ Maomeacute os judeus Mo iseacutes
e os idoacutelat ras Sogomombar-kan o iacutedolo mais importante deles
Eu devo honrar c most rar respeito por todos os quatro e imocar
em meu auxiacutelio aquele que del re eles eacute na pcrrade supremo no
11 Erich Au crbadl MirllfS is p 2C ITrad ( it Mi ecirc isSatildeo Paulo Perspect iva 5
eJ 200middot1 p ~H6 ]
12 t rco Pnl1 ls 1 middot ja~C5 de li Ja1(() 1aacutelo 1 BrJsiliense 1954J pp 158-9 Grilo meu NO[l - lt porem que beijam lll ~S natildeo lecircem LI Fvangelho
cJII Ilas pela maneira co m que sua majestade agi u em relaccedilatildeo a
clei eacute ev idente que ele considerava a feacute do~ crisl agraveo~ a mai s ve rdashy
(leira e a mel hor
o gue essa passagem tem de notaacutevel natildeo eacute tanto o tranquuml ilo
relat ivismo religioso do grande d inas ta mongol (afi nal ainda eacute um
relativismo religioso) e sim a aLIacutelude e a linguagem d e Marco Poacutelo
Jamais lhe ocorre tratar C ublai como hipoacute crita ou idoacutelatra apesar
de es tar escrevendo para cristatildeos europeus como ele (Em par te
sem duacutevid a po rque quan to ao nuacutemero de suacuted itos e--lensatildeo d o
ttrritoacute rio c quantidade de riq uezas ele ul t rapassa qualquer sobeshy
rano que exist iu ateacute hoje no mundo) E no uso in consciente do
nossa (que se torna deles) e na q ualifi caccedilatildeo da feacute cristatilde cOmo
a mais verdadeira em vez de a verdadeira podemos detectar o s
pr imoacuterdios de uma territo ria li zaccedilatildeo dos credos um prCl1 uacutencio d a
linguagem de muitos nacionalistas (a nossa naccedilatildeo eacute a melhor
- num campo compamtilloe competi t ivo)
Q ue di ferenccedila reveladora temos no iniacutecio da carta do viajanshy
te persa Rica em Par is para o seu amigo Ibben em 17 12
o papa eacute o chefe dos cristatildeos E um elho iacutedolo que se incensa por
haacutebi lo Antigamente ele era temiacutevel aos proacuteprios priacutencipes pois de
() i depu nha com a mesma fa cilidade com que os nossos magniacuteficos
~u llotildees depocircem os reis de [rncrclia e da Geoacuterg ia Mas natildeo o te mem
ma i ~ l l e ~e d iz SUl lSSOr de um dos pri meiros cristatildeos que ~e clldma
5(0 Pedro e cert am ente eacute uma rica sucessatildeo pois ele tem teso uros
illlen so ~ e um grande territoacuterio sob o seu domiacutenio
11 nr 1fllIds o(Mnno Jv o p 1 5 ~ I ls viagcIl5 de Marco lOcirco Brasilicnsc 19541
11 Il enri tlt ) lontesquicu Perrln Lt-lIrrs p 81 As L fl rcs perswlts foram pubtishyL lei pela pri11tira t em [72
44 45
As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy
ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11
tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy
lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido
enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica
na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande
Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem
demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse
parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy
pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy
val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy
nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica
mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma
outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy
lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos
nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy
m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada
mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele
se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros
imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa
poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy
ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim
apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy
mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do
latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma
po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy
5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo
16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy
recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)
171bi p 32 1
men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy
lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma
figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade
Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy
lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o
inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy
g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em
larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no
con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy
16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy
decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire
( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a
qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major
nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se
um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio
do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy
des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy
dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando
o Rr l NO DI N AacuteS T I CO
I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um
mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy
11 Ibit p 330
19 1h iJ pp 33 1-2
20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais
lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy
port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro
~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e
Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro
M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356
46 47
tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy
lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy
ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de
um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da
ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra
terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um
territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo
onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram
porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy
m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade
com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter
seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas
veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy
Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy
cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy
tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias
Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy
2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com
essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy
meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os
p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I
iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot
te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy
naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico
ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy
nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias
2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno
tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante
discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar
(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha
O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido
4
tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este
l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o
Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um
ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -
Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia
Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc
arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia
duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy
illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta
e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz
e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy
b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen
marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy
ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da
marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc
Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto
comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e
capturas dos Ha bsburgo
Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy
cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de
concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy
gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er
aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas
111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy
21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1
lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha
atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst
111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do
4
co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando
LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy
mo~ de a tribuir aos Bo urbon
Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo
por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy
ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy
ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos
anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy
d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na
eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes
pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos
Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien
reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy
dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy
bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu
se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy
longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo
Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades
do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio
da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves
arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486
alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy
ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento
eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot
cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la
man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui
capaz de manter ( ibid p 125 )
25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o
fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy
ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught
llIul cllt1ligr p 136
26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot
ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l
nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy
duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria
~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy
monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy
parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da
Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF
Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema
poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy
te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma
~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade
minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande
(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os
JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute
eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst
tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)
PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S
Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas
lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades
~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~
hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270
lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama
I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92
~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil
hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m
sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao
pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr
dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy
do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m
l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85
50 51
religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy
nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy
do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o
m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao
Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos
agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos
c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res
ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy
ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy
na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde
Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy
di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy
no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo
de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com
os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia
muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de
um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era
maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma
universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy
dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta
peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em
latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio
cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para
as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy
pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy
saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue
assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre
os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy
sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a
cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils
~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas
11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a
VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy
I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a
mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma
cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees
I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy
SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a
segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo
pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na
noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do
~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos
colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os
homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais
llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy
ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa
Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de
con~ciecircncia
()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de
Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo
de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy
se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy
0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal
nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de
forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy
lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma
lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot
vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles
31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6
3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco
~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot
11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90
52 53
l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy
mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a
histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla
compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy
rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy
sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de
todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno
Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy
te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy
jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy
sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas
a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real
A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo
para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute
ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a
fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma
co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy
da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura
gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo
med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo
novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy
neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy
zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo
mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo
calendaacute r io H
n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo
bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]
-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy
nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~
n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo
importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se
w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy
gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o
ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy
am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy
ginada correspondente agrave naccedilatildeo
Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao
velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem
de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy
mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e
ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy
mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo
si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy
te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar
ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte
manetra
Tempo 11 III
4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda
num bar
r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em
casa com B
o joga bilhar tem um
pcsaddo
~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e
Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197
55 54
lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia
e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver
feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas
(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a
l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao
entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute
possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua
sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees
(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os
le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy
do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma
tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy
gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy
cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy
ca no espiacuterito de seus leitores
A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy
gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da
ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade
soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o
ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer
e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees
36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I
li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do
37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll
pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1
linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao
a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po
5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico
com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo
39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do
ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy
tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados
Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada
J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy
11 i1111 e simultacircnea dd~s
rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os
rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras
I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas
Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o
romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy
turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro
romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy
ra maravilhosa 11
Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy
mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de
jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy
Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy
~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros
la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a
1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o
gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy
ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl
Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy
nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua
~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave
rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy
l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm
pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y
Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard
1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1
11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I
IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy
Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru
56 57
infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila
n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de
bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no
problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade
necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy
saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo
O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague
Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma
manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos
ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha
mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a
Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o
nosso Governo
Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta
nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy
tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas
anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy
res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy
da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy
satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma
ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la
so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do
tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy
dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da
snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens
auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se
tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy
de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy
bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)
Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy
mente problem aacuteticas
Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy
(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a
IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy
d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy
toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy
lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa
ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy
C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy
men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia
medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo
ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy
lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa
muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao
viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente
algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter
UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy
co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy
oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy
dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para
Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue
Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy
mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria
middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy
11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a
di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy
t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy
Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy
11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15
58 59
comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por
meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a
metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy
lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata
em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica
alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos
passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo
Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy
peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela
mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas
Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy
tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou
di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos
poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto
Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten
45 lbid p 120
46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy
sis ca po I (A cicar de Odissc u)
~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1
IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II
COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy
IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg
I deus Albl nia re ino Jgora
Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel
l u teu udcnsnr llue Igor marIS
M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1
I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy
Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy
IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1
Oacutel
Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo
Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy
meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy
( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no
Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como
suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo
mostra a forma essencial desse romance naciona lista )
Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes
influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e
aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy
dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te
que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy
sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy
quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im
gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos
Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy
trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r
nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo
nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do
interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy
sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico
ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy
nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy
quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1
Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no
movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m
s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do
middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H
4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu
61
romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy
pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo
t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado
o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica
eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de
prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva
mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea
do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se
as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou
daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu
enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)
E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy
dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto
Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo
de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco
Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste
destino publicada em fasciacutecul os em 1924
Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy
vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva
50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura
e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais
51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy
do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros
campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova
Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110
llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot
tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente
li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26
capitulas 25 c 1)
52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu
na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas
l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa
P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy
do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy
gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy
pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas
ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy
nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy
lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se
o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o
cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches
)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea
diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz
dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste
Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim
Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy
nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml
in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que
ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo
inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado
PROSPI~RlLlAj)E
Lm andarilho mendigo passou mal
e morreu abandonado no acostamento da rua
n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o
I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to
Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si
Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy
1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto
(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas
62 63
qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo
de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a
gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy
te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy
liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas
pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy
cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes
gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca
eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz
Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo
confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy
vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da
referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos
seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy
cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je
Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy
ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma
on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que
Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy
dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis
hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor
cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a
raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )
Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela
du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo
encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy
josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy
nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde
)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy
fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a
d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida
pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo
SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto
dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente
licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy
mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu
tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um
lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil
raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos
eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um
mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo
inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os
outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)
Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy
ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado
[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy
le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A
dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a
principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy
gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy
te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem
sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por
I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento
que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os
MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl
LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy
tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco
12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer
1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te
64 65
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy
ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11
tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy
lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido
enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica
na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande
Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem
demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse
parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy
pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy
val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy
nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica
mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma
outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy
lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos
nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy
m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada
mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele
se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros
imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa
poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy
ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim
apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy
mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do
latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma
po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy
5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo
16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy
recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)
171bi p 32 1
men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy
lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma
figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade
Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy
lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o
inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy
g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em
larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no
con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy
16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy
decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire
( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a
qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major
nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se
um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio
do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy
des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy
dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando
o Rr l NO DI N AacuteS T I CO
I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um
mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy
11 Ibit p 330
19 1h iJ pp 33 1-2
20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais
lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy
port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro
~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e
Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro
M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356
46 47
tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy
lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy
ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de
um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da
ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra
terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um
territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo
onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram
porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy
m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade
com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter
seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas
veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy
Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy
cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy
tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias
Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy
2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com
essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy
meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os
p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I
iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot
te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy
naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico
ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy
nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias
2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno
tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante
discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar
(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha
O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido
4
tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este
l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o
Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um
ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -
Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia
Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc
arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia
duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy
illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta
e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz
e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy
b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen
marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy
ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da
marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc
Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto
comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e
capturas dos Ha bsburgo
Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy
cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de
concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy
gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er
aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas
111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy
21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1
lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha
atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst
111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do
4
co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando
LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy
mo~ de a tribuir aos Bo urbon
Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo
por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy
ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy
ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos
anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy
d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na
eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes
pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos
Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien
reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy
dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy
bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu
se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy
longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo
Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades
do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio
da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves
arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486
alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy
ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento
eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot
cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la
man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui
capaz de manter ( ibid p 125 )
25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o
fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy
ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught
llIul cllt1ligr p 136
26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot
ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l
nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy
duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria
~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy
monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy
parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da
Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF
Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema
poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy
te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma
~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade
minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande
(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os
JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute
eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst
tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)
PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S
Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas
lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades
~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~
hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270
lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama
I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92
~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil
hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m
sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao
pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr
dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy
do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m
l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85
50 51
religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy
nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy
do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o
m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao
Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos
agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos
c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res
ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy
ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy
na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde
Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy
di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy
no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo
de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com
os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia
muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de
um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era
maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma
universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy
dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta
peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em
latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio
cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para
as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy
pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy
saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue
assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre
os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy
sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a
cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils
~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas
11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a
VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy
I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a
mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma
cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees
I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy
SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a
segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo
pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na
noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do
~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos
colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os
homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais
llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy
ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa
Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de
con~ciecircncia
()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de
Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo
de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy
se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy
0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal
nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de
forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy
lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma
lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot
vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles
31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6
3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco
~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot
11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90
52 53
l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy
mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a
histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla
compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy
rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy
sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de
todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno
Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy
te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy
jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy
sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas
a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real
A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo
para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute
ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a
fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma
co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy
da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura
gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo
med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo
novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy
neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy
zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo
mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo
calendaacute r io H
n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo
bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]
-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy
nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~
n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo
importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se
w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy
gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o
ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy
am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy
ginada correspondente agrave naccedilatildeo
Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao
velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem
de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy
mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e
ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy
mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo
si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy
te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar
ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte
manetra
Tempo 11 III
4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda
num bar
r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em
casa com B
o joga bilhar tem um
pcsaddo
~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e
Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197
55 54
lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia
e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver
feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas
(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a
l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao
entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute
possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua
sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees
(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os
le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy
do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma
tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy
gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy
cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy
ca no espiacuterito de seus leitores
A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy
gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da
ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade
soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o
ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer
e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees
36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I
li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do
37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll
pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1
linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao
a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po
5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico
com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo
39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do
ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy
tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados
Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada
J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy
11 i1111 e simultacircnea dd~s
rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os
rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras
I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas
Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o
romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy
turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro
romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy
ra maravilhosa 11
Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy
mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de
jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy
Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy
~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros
la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a
1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o
gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy
ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl
Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy
nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua
~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave
rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy
l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm
pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y
Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard
1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1
11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I
IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy
Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru
56 57
infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila
n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de
bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no
problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade
necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy
saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo
O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague
Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma
manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos
ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha
mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a
Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o
nosso Governo
Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta
nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy
tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas
anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy
res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy
da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy
satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma
ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la
so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do
tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy
dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da
snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens
auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se
tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy
de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy
bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)
Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy
mente problem aacuteticas
Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy
(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a
IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy
d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy
toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy
lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa
ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy
C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy
men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia
medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo
ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy
lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa
muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao
viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente
algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter
UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy
co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy
oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy
dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para
Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue
Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy
mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria
middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy
11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a
di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy
t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy
Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy
11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15
58 59
comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por
meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a
metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy
lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata
em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica
alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos
passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo
Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy
peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela
mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas
Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy
tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou
di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos
poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto
Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten
45 lbid p 120
46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy
sis ca po I (A cicar de Odissc u)
~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1
IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II
COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy
IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg
I deus Albl nia re ino Jgora
Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel
l u teu udcnsnr llue Igor marIS
M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1
I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy
Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy
IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1
Oacutel
Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo
Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy
meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy
( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no
Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como
suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo
mostra a forma essencial desse romance naciona lista )
Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes
influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e
aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy
dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te
que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy
sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy
quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im
gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos
Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy
trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r
nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo
nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do
interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy
sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico
ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy
nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy
quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1
Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no
movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m
s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do
middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H
4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu
61
romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy
pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo
t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado
o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica
eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de
prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva
mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea
do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se
as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou
daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu
enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)
E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy
dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto
Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo
de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco
Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste
destino publicada em fasciacutecul os em 1924
Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy
vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva
50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura
e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais
51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy
do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros
campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova
Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110
llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot
tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente
li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26
capitulas 25 c 1)
52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu
na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas
l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa
P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy
do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy
gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy
pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas
ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy
nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy
lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se
o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o
cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches
)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea
diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz
dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste
Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim
Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy
nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml
in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que
ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo
inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado
PROSPI~RlLlAj)E
Lm andarilho mendigo passou mal
e morreu abandonado no acostamento da rua
n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o
I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to
Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si
Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy
1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto
(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas
62 63
qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo
de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a
gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy
te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy
liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas
pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy
cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes
gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca
eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz
Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo
confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy
vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da
referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos
seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy
cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je
Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy
ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma
on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que
Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy
dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis
hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor
cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a
raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )
Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela
du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo
encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy
josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy
nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde
)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy
fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a
d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida
pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo
SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto
dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente
licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy
mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu
tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um
lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil
raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos
eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um
mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo
inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os
outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)
Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy
ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado
[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy
le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A
dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a
principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy
gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy
te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem
sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por
I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento
que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os
MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl
LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy
tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco
12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer
1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te
64 65
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy
lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy
ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de
um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da
ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra
terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um
territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo
onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram
porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy
m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade
com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter
seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas
veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy
Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy
cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy
tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias
Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy
2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com
essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy
meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os
p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I
iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot
te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy
naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico
ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy
nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias
2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno
tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante
discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar
(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha
O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido
4
tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este
l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o
Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um
ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -
Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia
Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc
arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia
duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy
illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta
e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz
e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy
b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen
marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy
ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da
marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc
Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto
comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e
capturas dos Ha bsburgo
Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy
cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de
concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy
gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er
aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas
111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy
21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1
lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha
atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst
111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do
4
co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando
LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy
mo~ de a tribuir aos Bo urbon
Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo
por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy
ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy
ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos
anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy
d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na
eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes
pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos
Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien
reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy
dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy
bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu
se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy
longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo
Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades
do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio
da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves
arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486
alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy
ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento
eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot
cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la
man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui
capaz de manter ( ibid p 125 )
25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o
fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy
ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught
llIul cllt1ligr p 136
26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot
ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l
nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy
duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria
~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy
monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy
parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da
Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF
Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema
poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy
te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma
~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade
minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande
(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os
JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute
eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst
tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)
PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S
Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas
lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades
~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~
hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270
lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama
I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92
~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil
hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m
sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao
pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr
dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy
do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m
l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85
50 51
religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy
nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy
do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o
m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao
Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos
agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos
c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res
ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy
ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy
na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde
Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy
di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy
no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo
de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com
os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia
muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de
um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era
maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma
universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy
dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta
peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em
latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio
cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para
as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy
pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy
saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue
assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre
os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy
sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a
cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils
~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas
11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a
VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy
I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a
mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma
cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees
I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy
SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a
segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo
pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na
noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do
~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos
colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os
homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais
llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy
ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa
Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de
con~ciecircncia
()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de
Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo
de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy
se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy
0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal
nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de
forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy
lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma
lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot
vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles
31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6
3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco
~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot
11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90
52 53
l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy
mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a
histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla
compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy
rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy
sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de
todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno
Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy
te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy
jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy
sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas
a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real
A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo
para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute
ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a
fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma
co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy
da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura
gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo
med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo
novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy
neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy
zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo
mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo
calendaacute r io H
n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo
bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]
-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy
nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~
n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo
importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se
w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy
gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o
ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy
am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy
ginada correspondente agrave naccedilatildeo
Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao
velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem
de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy
mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e
ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy
mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo
si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy
te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar
ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte
manetra
Tempo 11 III
4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda
num bar
r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em
casa com B
o joga bilhar tem um
pcsaddo
~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e
Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197
55 54
lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia
e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver
feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas
(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a
l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao
entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute
possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua
sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees
(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os
le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy
do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma
tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy
gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy
cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy
ca no espiacuterito de seus leitores
A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy
gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da
ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade
soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o
ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer
e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees
36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I
li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do
37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll
pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1
linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao
a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po
5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico
com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo
39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do
ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy
tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados
Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada
J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy
11 i1111 e simultacircnea dd~s
rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os
rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras
I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas
Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o
romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy
turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro
romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy
ra maravilhosa 11
Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy
mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de
jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy
Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy
~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros
la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a
1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o
gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy
ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl
Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy
nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua
~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave
rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy
l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm
pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y
Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard
1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1
11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I
IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy
Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru
56 57
infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila
n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de
bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no
problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade
necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy
saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo
O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague
Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma
manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos
ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha
mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a
Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o
nosso Governo
Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta
nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy
tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas
anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy
res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy
da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy
satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma
ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la
so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do
tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy
dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da
snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens
auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se
tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy
de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy
bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)
Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy
mente problem aacuteticas
Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy
(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a
IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy
d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy
toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy
lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa
ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy
C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy
men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia
medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo
ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy
lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa
muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao
viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente
algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter
UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy
co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy
oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy
dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para
Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue
Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy
mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria
middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy
11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a
di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy
t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy
Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy
11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15
58 59
comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por
meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a
metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy
lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata
em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica
alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos
passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo
Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy
peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela
mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas
Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy
tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou
di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos
poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto
Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten
45 lbid p 120
46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy
sis ca po I (A cicar de Odissc u)
~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1
IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II
COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy
IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg
I deus Albl nia re ino Jgora
Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel
l u teu udcnsnr llue Igor marIS
M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1
I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy
Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy
IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1
Oacutel
Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo
Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy
meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy
( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no
Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como
suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo
mostra a forma essencial desse romance naciona lista )
Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes
influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e
aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy
dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te
que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy
sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy
quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im
gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos
Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy
trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r
nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo
nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do
interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy
sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico
ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy
nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy
quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1
Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no
movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m
s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do
middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H
4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu
61
romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy
pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo
t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado
o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica
eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de
prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva
mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea
do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se
as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou
daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu
enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)
E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy
dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto
Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo
de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco
Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste
destino publicada em fasciacutecul os em 1924
Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy
vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva
50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura
e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais
51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy
do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros
campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova
Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110
llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot
tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente
li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26
capitulas 25 c 1)
52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu
na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas
l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa
P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy
do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy
gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy
pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas
ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy
nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy
lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se
o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o
cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches
)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea
diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz
dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste
Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim
Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy
nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml
in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que
ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo
inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado
PROSPI~RlLlAj)E
Lm andarilho mendigo passou mal
e morreu abandonado no acostamento da rua
n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o
I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to
Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si
Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy
1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto
(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas
62 63
qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo
de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a
gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy
te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy
liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas
pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy
cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes
gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca
eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz
Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo
confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy
vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da
referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos
seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy
cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je
Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy
ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma
on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que
Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy
dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis
hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor
cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a
raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )
Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela
du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo
encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy
josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy
nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde
)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy
fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a
d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida
pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo
SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto
dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente
licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy
mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu
tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um
lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil
raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos
eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um
mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo
inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os
outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)
Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy
ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado
[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy
le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A
dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a
principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy
gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy
te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem
sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por
I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento
que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os
MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl
LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy
tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco
12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer
1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te
64 65
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando
LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy
mo~ de a tribuir aos Bo urbon
Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo
por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy
ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy
ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos
anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy
d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na
eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes
pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos
Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien
reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy
dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy
bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu
se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy
longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo
Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades
do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio
da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves
arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486
alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy
ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento
eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot
cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la
man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui
capaz de manter ( ibid p 125 )
25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o
fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy
ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught
llIul cllt1ligr p 136
26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot
ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l
nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy
duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria
~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy
monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy
parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da
Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF
Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema
poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy
te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma
~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade
minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande
(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os
JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute
eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst
tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)
PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S
Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas
lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades
~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~
hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270
lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama
I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92
~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil
hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m
sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao
pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr
dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy
do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m
l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85
50 51
religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy
nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy
do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o
m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao
Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos
agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos
c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res
ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy
ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy
na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde
Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy
di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy
no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo
de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com
os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia
muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de
um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era
maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma
universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy
dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta
peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em
latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio
cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para
as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy
pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy
saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue
assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre
os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy
sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a
cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils
~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas
11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a
VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy
I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a
mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma
cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees
I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy
SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a
segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo
pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na
noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do
~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos
colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os
homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais
llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy
ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa
Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de
con~ciecircncia
()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de
Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo
de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy
se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy
0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal
nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de
forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy
lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma
lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot
vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles
31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6
3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco
~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot
11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90
52 53
l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy
mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a
histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla
compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy
rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy
sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de
todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno
Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy
te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy
jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy
sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas
a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real
A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo
para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute
ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a
fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma
co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy
da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura
gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo
med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo
novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy
neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy
zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo
mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo
calendaacute r io H
n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo
bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]
-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy
nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~
n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo
importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se
w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy
gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o
ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy
am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy
ginada correspondente agrave naccedilatildeo
Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao
velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem
de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy
mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e
ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy
mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo
si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy
te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar
ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte
manetra
Tempo 11 III
4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda
num bar
r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em
casa com B
o joga bilhar tem um
pcsaddo
~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e
Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197
55 54
lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia
e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver
feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas
(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a
l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao
entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute
possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua
sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees
(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os
le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy
do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma
tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy
gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy
cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy
ca no espiacuterito de seus leitores
A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy
gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da
ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade
soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o
ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer
e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees
36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I
li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do
37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll
pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1
linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao
a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po
5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico
com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo
39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do
ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy
tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados
Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada
J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy
11 i1111 e simultacircnea dd~s
rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os
rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras
I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas
Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o
romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy
turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro
romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy
ra maravilhosa 11
Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy
mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de
jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy
Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy
~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros
la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a
1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o
gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy
ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl
Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy
nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua
~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave
rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy
l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm
pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y
Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard
1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1
11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I
IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy
Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru
56 57
infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila
n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de
bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no
problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade
necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy
saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo
O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague
Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma
manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos
ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha
mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a
Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o
nosso Governo
Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta
nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy
tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas
anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy
res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy
da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy
satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma
ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la
so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do
tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy
dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da
snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens
auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se
tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy
de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy
bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)
Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy
mente problem aacuteticas
Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy
(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a
IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy
d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy
toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy
lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa
ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy
C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy
men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia
medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo
ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy
lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa
muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao
viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente
algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter
UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy
co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy
oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy
dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para
Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue
Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy
mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria
middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy
11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a
di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy
t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy
Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy
11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15
58 59
comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por
meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a
metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy
lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata
em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica
alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos
passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo
Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy
peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela
mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas
Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy
tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou
di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos
poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto
Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten
45 lbid p 120
46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy
sis ca po I (A cicar de Odissc u)
~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1
IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II
COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy
IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg
I deus Albl nia re ino Jgora
Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel
l u teu udcnsnr llue Igor marIS
M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1
I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy
Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy
IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1
Oacutel
Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo
Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy
meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy
( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no
Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como
suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo
mostra a forma essencial desse romance naciona lista )
Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes
influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e
aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy
dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te
que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy
sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy
quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im
gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos
Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy
trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r
nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo
nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do
interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy
sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico
ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy
nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy
quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1
Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no
movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m
s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do
middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H
4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu
61
romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy
pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo
t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado
o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica
eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de
prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva
mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea
do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se
as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou
daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu
enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)
E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy
dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto
Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo
de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco
Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste
destino publicada em fasciacutecul os em 1924
Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy
vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva
50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura
e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais
51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy
do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros
campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova
Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110
llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot
tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente
li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26
capitulas 25 c 1)
52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu
na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas
l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa
P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy
do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy
gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy
pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas
ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy
nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy
lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se
o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o
cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches
)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea
diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz
dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste
Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim
Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy
nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml
in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que
ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo
inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado
PROSPI~RlLlAj)E
Lm andarilho mendigo passou mal
e morreu abandonado no acostamento da rua
n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o
I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to
Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si
Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy
1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto
(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas
62 63
qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo
de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a
gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy
te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy
liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas
pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy
cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes
gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca
eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz
Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo
confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy
vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da
referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos
seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy
cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je
Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy
ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma
on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que
Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy
dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis
hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor
cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a
raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )
Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela
du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo
encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy
josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy
nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde
)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy
fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a
d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida
pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo
SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto
dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente
licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy
mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu
tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um
lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil
raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos
eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um
mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo
inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os
outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)
Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy
ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado
[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy
le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A
dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a
principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy
gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy
te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem
sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por
I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento
que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os
MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl
LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy
tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco
12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer
1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te
64 65
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy
nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy
do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o
m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao
Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos
agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos
c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res
ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy
ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy
na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde
Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy
di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy
no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo
de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com
os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia
muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de
um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era
maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma
universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy
dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta
peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em
latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio
cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para
as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy
pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy
saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue
assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre
os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy
sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a
cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils
~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas
11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a
VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy
I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a
mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma
cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees
I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy
SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a
segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo
pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na
noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do
~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos
colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os
homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais
llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy
ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa
Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de
con~ciecircncia
()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de
Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo
de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy
se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy
0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal
nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de
forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy
lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma
lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot
vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles
31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6
3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco
~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot
11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90
52 53
l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy
mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a
histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla
compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy
rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy
sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de
todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno
Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy
te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy
jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy
sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas
a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real
A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo
para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute
ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a
fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma
co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy
da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura
gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo
med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo
novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy
neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy
zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo
mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo
calendaacute r io H
n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo
bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]
-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy
nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~
n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo
importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se
w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy
gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o
ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy
am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy
ginada correspondente agrave naccedilatildeo
Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao
velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem
de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy
mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e
ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy
mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo
si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy
te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar
ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte
manetra
Tempo 11 III
4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda
num bar
r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em
casa com B
o joga bilhar tem um
pcsaddo
~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e
Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197
55 54
lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia
e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver
feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas
(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a
l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao
entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute
possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua
sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees
(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os
le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy
do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma
tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy
gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy
cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy
ca no espiacuterito de seus leitores
A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy
gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da
ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade
soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o
ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer
e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees
36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I
li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do
37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll
pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1
linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao
a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po
5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico
com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo
39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do
ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy
tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados
Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada
J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy
11 i1111 e simultacircnea dd~s
rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os
rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras
I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas
Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o
romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy
turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro
romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy
ra maravilhosa 11
Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy
mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de
jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy
Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy
~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros
la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a
1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o
gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy
ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl
Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy
nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua
~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave
rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy
l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm
pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y
Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard
1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1
11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I
IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy
Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru
56 57
infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila
n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de
bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no
problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade
necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy
saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo
O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague
Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma
manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos
ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha
mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a
Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o
nosso Governo
Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta
nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy
tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas
anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy
res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy
da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy
satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma
ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la
so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do
tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy
dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da
snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens
auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se
tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy
de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy
bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)
Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy
mente problem aacuteticas
Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy
(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a
IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy
d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy
toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy
lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa
ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy
C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy
men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia
medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo
ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy
lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa
muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao
viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente
algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter
UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy
co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy
oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy
dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para
Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue
Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy
mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria
middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy
11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a
di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy
t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy
Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy
11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15
58 59
comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por
meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a
metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy
lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata
em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica
alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos
passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo
Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy
peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela
mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas
Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy
tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou
di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos
poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto
Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten
45 lbid p 120
46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy
sis ca po I (A cicar de Odissc u)
~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1
IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II
COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy
IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg
I deus Albl nia re ino Jgora
Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel
l u teu udcnsnr llue Igor marIS
M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1
I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy
Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy
IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1
Oacutel
Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo
Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy
meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy
( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no
Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como
suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo
mostra a forma essencial desse romance naciona lista )
Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes
influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e
aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy
dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te
que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy
sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy
quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im
gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos
Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy
trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r
nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo
nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do
interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy
sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico
ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy
nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy
quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1
Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no
movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m
s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do
middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H
4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu
61
romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy
pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo
t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado
o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica
eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de
prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva
mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea
do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se
as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou
daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu
enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)
E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy
dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto
Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo
de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco
Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste
destino publicada em fasciacutecul os em 1924
Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy
vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva
50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura
e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais
51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy
do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros
campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova
Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110
llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot
tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente
li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26
capitulas 25 c 1)
52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu
na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas
l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa
P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy
do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy
gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy
pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas
ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy
nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy
lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se
o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o
cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches
)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea
diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz
dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste
Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim
Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy
nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml
in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que
ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo
inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado
PROSPI~RlLlAj)E
Lm andarilho mendigo passou mal
e morreu abandonado no acostamento da rua
n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o
I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to
Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si
Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy
1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto
(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas
62 63
qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo
de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a
gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy
te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy
liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas
pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy
cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes
gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca
eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz
Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo
confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy
vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da
referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos
seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy
cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je
Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy
ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma
on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que
Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy
dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis
hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor
cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a
raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )
Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela
du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo
encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy
josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy
nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde
)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy
fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a
d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida
pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo
SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto
dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente
licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy
mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu
tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um
lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil
raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos
eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um
mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo
inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os
outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)
Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy
ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado
[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy
le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A
dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a
principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy
gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy
te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem
sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por
I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento
que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os
MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl
LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy
tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco
12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer
1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te
64 65
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy
mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a
histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla
compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy
rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy
sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de
todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno
Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy
te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy
jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy
sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas
a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real
A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo
para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute
ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a
fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma
co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy
da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura
gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo
med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo
novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy
neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy
zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo
mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo
calendaacute r io H
n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo
bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]
-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy
nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~
n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo
importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se
w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy
gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o
ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy
am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy
ginada correspondente agrave naccedilatildeo
Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao
velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem
de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy
mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e
ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy
mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo
si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy
te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar
ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte
manetra
Tempo 11 III
4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda
num bar
r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em
casa com B
o joga bilhar tem um
pcsaddo
~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e
Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197
55 54
lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia
e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver
feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas
(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a
l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao
entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute
possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua
sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees
(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os
le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy
do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma
tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy
gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy
cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy
ca no espiacuterito de seus leitores
A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy
gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da
ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade
soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o
ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer
e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees
36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I
li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do
37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll
pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1
linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao
a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po
5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico
com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo
39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do
ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy
tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados
Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada
J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy
11 i1111 e simultacircnea dd~s
rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os
rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras
I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas
Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o
romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy
turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro
romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy
ra maravilhosa 11
Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy
mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de
jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy
Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy
~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros
la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a
1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o
gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy
ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl
Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy
nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua
~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave
rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy
l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm
pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y
Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard
1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1
11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I
IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy
Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru
56 57
infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila
n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de
bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no
problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade
necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy
saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo
O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague
Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma
manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos
ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha
mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a
Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o
nosso Governo
Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta
nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy
tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas
anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy
res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy
da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy
satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma
ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la
so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do
tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy
dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da
snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens
auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se
tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy
de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy
bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)
Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy
mente problem aacuteticas
Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy
(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a
IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy
d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy
toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy
lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa
ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy
C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy
men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia
medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo
ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy
lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa
muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao
viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente
algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter
UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy
co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy
oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy
dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para
Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue
Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy
mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria
middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy
11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a
di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy
t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy
Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy
11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15
58 59
comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por
meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a
metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy
lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata
em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica
alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos
passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo
Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy
peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela
mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas
Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy
tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou
di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos
poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto
Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten
45 lbid p 120
46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy
sis ca po I (A cicar de Odissc u)
~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1
IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II
COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy
IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg
I deus Albl nia re ino Jgora
Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel
l u teu udcnsnr llue Igor marIS
M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1
I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy
Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy
IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1
Oacutel
Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo
Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy
meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy
( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no
Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como
suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo
mostra a forma essencial desse romance naciona lista )
Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes
influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e
aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy
dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te
que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy
sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy
quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im
gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos
Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy
trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r
nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo
nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do
interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy
sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico
ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy
nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy
quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1
Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no
movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m
s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do
middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H
4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu
61
romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy
pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo
t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado
o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica
eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de
prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva
mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea
do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se
as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou
daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu
enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)
E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy
dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto
Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo
de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco
Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste
destino publicada em fasciacutecul os em 1924
Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy
vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva
50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura
e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais
51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy
do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros
campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova
Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110
llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot
tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente
li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26
capitulas 25 c 1)
52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu
na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas
l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa
P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy
do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy
gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy
pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas
ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy
nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy
lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se
o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o
cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches
)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea
diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz
dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste
Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim
Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy
nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml
in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que
ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo
inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado
PROSPI~RlLlAj)E
Lm andarilho mendigo passou mal
e morreu abandonado no acostamento da rua
n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o
I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to
Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si
Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy
1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto
(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas
62 63
qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo
de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a
gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy
te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy
liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas
pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy
cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes
gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca
eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz
Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo
confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy
vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da
referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos
seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy
cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je
Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy
ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma
on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que
Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy
dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis
hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor
cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a
raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )
Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela
du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo
encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy
josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy
nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde
)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy
fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a
d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida
pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo
SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto
dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente
licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy
mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu
tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um
lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil
raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos
eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um
mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo
inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os
outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)
Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy
ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado
[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy
le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A
dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a
principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy
gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy
te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem
sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por
I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento
que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os
MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl
LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy
tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco
12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer
1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te
64 65
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia
e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver
feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas
(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a
l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao
entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute
possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua
sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees
(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os
le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy
do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma
tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy
gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy
cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy
ca no espiacuterito de seus leitores
A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy
gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da
ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade
soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o
ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer
e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees
36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I
li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do
37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll
pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1
linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao
a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po
5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico
com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo
39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do
ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy
tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados
Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada
J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy
11 i1111 e simultacircnea dd~s
rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os
rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras
I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas
Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o
romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy
turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro
romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy
ra maravilhosa 11
Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy
mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de
jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy
Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy
~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros
la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a
1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o
gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy
ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl
Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy
nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua
~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave
rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy
l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm
pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y
Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard
1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1
11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I
IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy
Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru
56 57
infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila
n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de
bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no
problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade
necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy
saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo
O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague
Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma
manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos
ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha
mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a
Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o
nosso Governo
Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta
nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy
tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas
anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy
res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy
da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy
satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma
ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la
so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do
tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy
dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da
snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens
auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se
tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy
de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy
bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)
Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy
mente problem aacuteticas
Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy
(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a
IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy
d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy
toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy
lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa
ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy
C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy
men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia
medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo
ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy
lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa
muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao
viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente
algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter
UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy
co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy
oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy
dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para
Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue
Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy
mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria
middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy
11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a
di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy
t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy
Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy
11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15
58 59
comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por
meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a
metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy
lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata
em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica
alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos
passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo
Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy
peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela
mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas
Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy
tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou
di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos
poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto
Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten
45 lbid p 120
46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy
sis ca po I (A cicar de Odissc u)
~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1
IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II
COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy
IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg
I deus Albl nia re ino Jgora
Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel
l u teu udcnsnr llue Igor marIS
M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1
I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy
Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy
IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1
Oacutel
Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo
Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy
meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy
( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no
Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como
suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo
mostra a forma essencial desse romance naciona lista )
Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes
influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e
aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy
dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te
que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy
sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy
quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im
gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos
Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy
trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r
nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo
nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do
interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy
sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico
ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy
nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy
quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1
Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no
movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m
s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do
middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H
4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu
61
romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy
pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo
t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado
o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica
eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de
prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva
mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea
do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se
as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou
daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu
enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)
E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy
dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto
Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo
de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco
Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste
destino publicada em fasciacutecul os em 1924
Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy
vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva
50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura
e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais
51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy
do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros
campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova
Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110
llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot
tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente
li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26
capitulas 25 c 1)
52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu
na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas
l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa
P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy
do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy
gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy
pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas
ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy
nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy
lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se
o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o
cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches
)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea
diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz
dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste
Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim
Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy
nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml
in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que
ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo
inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado
PROSPI~RlLlAj)E
Lm andarilho mendigo passou mal
e morreu abandonado no acostamento da rua
n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o
I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to
Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si
Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy
1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto
(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas
62 63
qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo
de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a
gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy
te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy
liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas
pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy
cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes
gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca
eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz
Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo
confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy
vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da
referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos
seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy
cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je
Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy
ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma
on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que
Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy
dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis
hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor
cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a
raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )
Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela
du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo
encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy
josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy
nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde
)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy
fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a
d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida
pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo
SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto
dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente
licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy
mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu
tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um
lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil
raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos
eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um
mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo
inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os
outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)
Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy
ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado
[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy
le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A
dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a
principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy
gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy
te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem
sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por
I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento
que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os
MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl
LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy
tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco
12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer
1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te
64 65
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila
n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de
bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no
problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade
necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy
saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo
O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague
Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma
manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos
ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha
mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a
Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o
nosso Governo
Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta
nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy
tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas
anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy
res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy
da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy
satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma
ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la
so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do
tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy
dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da
snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens
auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se
tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy
de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy
bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)
Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy
mente problem aacuteticas
Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy
(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a
IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy
d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy
toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy
lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa
ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy
C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy
men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia
medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo
ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy
lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa
muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao
viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente
algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter
UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy
co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy
oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy
dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para
Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue
Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy
mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria
middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy
11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a
di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy
t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy
Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy
11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15
58 59
comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por
meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a
metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy
lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata
em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica
alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos
passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo
Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy
peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela
mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas
Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy
tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou
di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos
poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto
Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten
45 lbid p 120
46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy
sis ca po I (A cicar de Odissc u)
~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1
IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II
COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy
IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg
I deus Albl nia re ino Jgora
Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel
l u teu udcnsnr llue Igor marIS
M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1
I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy
Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy
IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1
Oacutel
Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo
Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy
meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy
( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no
Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como
suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo
mostra a forma essencial desse romance naciona lista )
Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes
influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e
aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy
dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te
que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy
sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy
quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im
gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos
Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy
trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r
nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo
nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do
interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy
sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico
ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy
nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy
quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1
Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no
movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m
s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do
middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H
4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu
61
romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy
pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo
t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado
o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica
eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de
prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva
mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea
do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se
as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou
daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu
enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)
E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy
dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto
Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo
de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco
Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste
destino publicada em fasciacutecul os em 1924
Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy
vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva
50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura
e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais
51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy
do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros
campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova
Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110
llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot
tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente
li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26
capitulas 25 c 1)
52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu
na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas
l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa
P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy
do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy
gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy
pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas
ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy
nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy
lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se
o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o
cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches
)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea
diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz
dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste
Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim
Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy
nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml
in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que
ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo
inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado
PROSPI~RlLlAj)E
Lm andarilho mendigo passou mal
e morreu abandonado no acostamento da rua
n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o
I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to
Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si
Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy
1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto
(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas
62 63
qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo
de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a
gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy
te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy
liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas
pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy
cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes
gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca
eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz
Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo
confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy
vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da
referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos
seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy
cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je
Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy
ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma
on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que
Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy
dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis
hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor
cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a
raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )
Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela
du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo
encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy
josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy
nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde
)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy
fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a
d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida
pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo
SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto
dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente
licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy
mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu
tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um
lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil
raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos
eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um
mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo
inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os
outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)
Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy
ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado
[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy
le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A
dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a
principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy
gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy
te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem
sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por
I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento
que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os
MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl
LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy
tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco
12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer
1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te
64 65
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por
meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a
metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy
lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata
em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica
alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos
passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo
Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy
peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela
mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas
Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy
tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou
di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos
poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto
Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten
45 lbid p 120
46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy
sis ca po I (A cicar de Odissc u)
~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1
IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II
COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy
IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg
I deus Albl nia re ino Jgora
Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel
l u teu udcnsnr llue Igor marIS
M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1
I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy
Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy
IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1
Oacutel
Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo
Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy
meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy
( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no
Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como
suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo
mostra a forma essencial desse romance naciona lista )
Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes
influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e
aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy
dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te
que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy
sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy
quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im
gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos
Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy
trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r
nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo
nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do
interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy
sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico
ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy
nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy
quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1
Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no
movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m
s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do
middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H
4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu
61
romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy
pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo
t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado
o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica
eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de
prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva
mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea
do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se
as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou
daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu
enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)
E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy
dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto
Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo
de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco
Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste
destino publicada em fasciacutecul os em 1924
Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy
vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva
50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura
e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais
51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy
do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros
campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova
Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110
llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot
tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente
li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26
capitulas 25 c 1)
52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu
na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas
l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa
P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy
do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy
gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy
pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas
ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy
nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy
lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se
o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o
cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches
)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea
diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz
dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste
Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim
Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy
nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml
in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que
ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo
inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado
PROSPI~RlLlAj)E
Lm andarilho mendigo passou mal
e morreu abandonado no acostamento da rua
n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o
I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to
Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si
Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy
1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto
(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas
62 63
qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo
de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a
gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy
te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy
liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas
pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy
cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes
gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca
eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz
Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo
confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy
vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da
referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos
seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy
cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je
Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy
ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma
on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que
Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy
dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis
hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor
cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a
raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )
Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela
du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo
encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy
josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy
nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde
)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy
fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a
d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida
pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo
SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto
dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente
licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy
mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu
tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um
lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil
raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos
eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um
mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo
inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os
outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)
Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy
ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado
[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy
le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A
dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a
principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy
gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy
te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem
sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por
I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento
que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os
MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl
LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy
tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco
12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer
1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te
64 65
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy
pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo
t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado
o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica
eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de
prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva
mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea
do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se
as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou
daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu
enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)
E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy
dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto
Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo
de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco
Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste
destino publicada em fasciacutecul os em 1924
Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy
vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva
50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura
e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais
51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy
do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros
campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova
Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110
llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot
tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente
li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26
capitulas 25 c 1)
52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu
na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas
l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa
P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy
do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy
gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy
pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas
ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy
nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy
lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se
o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o
cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches
)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea
diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz
dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste
Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim
Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy
nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml
in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que
ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo
inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado
PROSPI~RlLlAj)E
Lm andarilho mendigo passou mal
e morreu abandonado no acostamento da rua
n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o
I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to
Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si
Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy
1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto
(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas
62 63
qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo
de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a
gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy
te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy
liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas
pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy
cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes
gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca
eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz
Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo
confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy
vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da
referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos
seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy
cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je
Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy
ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma
on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que
Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy
dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis
hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor
cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a
raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )
Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela
du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo
encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy
josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy
nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde
)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy
fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a
d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida
pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo
SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto
dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente
licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy
mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu
tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um
lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil
raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos
eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um
mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo
inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os
outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)
Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy
ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado
[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy
le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A
dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a
principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy
gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy
te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem
sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por
I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento
que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os
MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl
LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy
tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco
12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer
1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te
64 65
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo
de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a
gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy
te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy
liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas
pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy
cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes
gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca
eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz
Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo
confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy
vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da
referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos
seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy
cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je
Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy
ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma
on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que
Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy
dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis
hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor
cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a
raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )
Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela
du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo
encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy
josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy
nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde
)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy
fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a
d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida
pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo
SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto
dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente
licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy
mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu
tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um
lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil
raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos
eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um
mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo
inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os
outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)
Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy
ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado
[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy
le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A
dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a
principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy
gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy
te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem
sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por
I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento
que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os
MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl
LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy
tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco
12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer
1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te
64 65
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que
lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em
silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo
A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo
entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se
q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de
u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa
mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade
impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res
Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas
modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade
M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada
para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes
graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa
N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria
industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy
do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos
industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is
55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada
menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em
1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na
atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha
cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy
ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se
lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot
posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r
~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy
va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125
~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o
mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens
~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna
66
C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas
(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy
tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui
de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy
tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy
la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a
livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar
que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas
em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy
tros urbanos como Paris
Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema
do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy
deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas
a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso
que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy
nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos
-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria
cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase
5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy
~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira
ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca
natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a
2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo
l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu
Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy
prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te
id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo
10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil
ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares
67
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as
ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas
entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy
pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy
trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O
signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os
jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees
matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade
nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa
cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida
si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy
tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy
conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida
a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o
calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy
dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio
Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo
cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora
reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy
nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy
62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos
le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m
agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt
bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12
6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl
meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo
lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt
dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl
lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n
6R
Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel
cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca
regislrada das naccediluumles modernas
Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy
v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute
gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy
~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy
cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml
domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira
dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um
lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma
paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy
de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy
111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy
nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy
11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por
llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy
de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o
governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso
lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy
ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy
gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy
talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na
Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy
dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy
datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas
O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle
clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros
luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy
hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem
6
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy
ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy
fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que
tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo
edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy
res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as
demais de manei ras radicalmente novas
70
t
2 As origens da consciecircncia nacional
5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a
chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy
neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam
pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy
pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de
comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy
xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal
deles Co i o capitalis lTlv
Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel
menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da
rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos
manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela
letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c
COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados
I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S
ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii
71
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis
Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy
ccedilatildeo do 111U ndo
cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy
ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy
cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy
bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma
verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras
naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de
excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u
desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r
era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos
Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em
ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de
tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de
scus contem poracircneos
mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla
mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do
levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a
su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles
Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se
- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo
d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida
3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56
4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta
peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)
5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy
flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso
alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259
60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a
mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)
l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy
Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy
rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta
Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em
11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy
nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma
propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas
em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as
hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse
iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy
toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy
ta) em vernaacutecu lo
O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o
ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos
quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia
nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a
mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos
humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade
pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy
tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas
sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora
des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso
cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele
adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim
eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano
natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te
porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele
se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy
gl1n-elll - ~i
() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr
~ lI rd 11 195
72 73
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca
do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia
na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy
caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando
Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy
berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em
quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~
Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia
sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que
Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a
menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518
e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees
(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui
pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy
ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou
o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras
palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros
pela fama do p roacute prio nome IO
Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy
rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou
pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy
rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva
justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy
culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o
enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy
maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo
8 JJid pp 289-90
9middot Ibid p p 29 1middot 5
l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue
Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias
m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy
do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1
leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que
~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy
sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco
Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy
caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na
fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade
era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam
cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy
tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy
do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram
publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527
entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue
quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura
extra I
A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial
explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos
puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena
comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada
de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades
poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se
viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os
primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy
ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy
tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)
O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de
determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo
admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados
com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy
dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u
a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua
II hi pp 310 5
74 75
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy
dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia
de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy
dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que
nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em
sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade
religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico
O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior
tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso
deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy
dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo
tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso
ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy
liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy
feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo
Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy
nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy
te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre
1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy
do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe
d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos
gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a
nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy
sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy
ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute
uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o
Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a
at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e
Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo
conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou
l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~
IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy
nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy
do dltl Franccedila
Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em
ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma
l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos
seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy
gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o
FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im
sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos
bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos
cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas
da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo
Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um
dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy
zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das
pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas
diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de
oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila
c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas
lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy
niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy
gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a
1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea
Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a
partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs
11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R
1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3
17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno
l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs
(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois
77 76
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde
tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris
o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy
uidlde im aginada d a cr istandade
No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do
lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los
admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy
a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc
possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais
im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles
O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy
tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem
explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo
(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a
fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana
O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o
capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava
do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy
ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo
haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da
humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy
cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que
o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e
l11o noglotas
18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora
jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o
l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck
plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy
peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15
19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l
78
Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade
tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy
dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to
((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy
d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy
ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade
teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em
IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas
que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra
imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy
lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy
dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser
montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de
nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer
sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~
(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a
pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie
de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e
pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )
Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que
o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e
pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy
te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I
bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia
nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc
20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy
Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de
Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al
li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo
79
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy
ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da
enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas
que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente
puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso
foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute
mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e
ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy
res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy
tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy
ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da
comunid ade nacionalmente imaginada
111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy
va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela
imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo
Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma
for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no
tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy
duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges
copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era
mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da
mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as
liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas
modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas
da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy
sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy
naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO
22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel
impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o
mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do
que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII
Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy
Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy
tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua
impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos
Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em
foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue
natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy
pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all
DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de
hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma
forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy
alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy
dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de
algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar
sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c
no raacutedio
Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy
tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens
processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va
entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy
na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo
lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy
mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente
exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs
desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt
de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as
lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas
naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias
faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a
81 80
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83
urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo
ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa
ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si
pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para
enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy
mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk
impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas
seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy
pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin
e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N
Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy
dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy
nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy
na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade
imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio
para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades
era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha
senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes
(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy
nismos J inaacutesticos)
Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy
beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is
atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas
compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma
fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou
na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da
21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa
lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy
da moderna da Europa Ocidental
24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317
1 2
1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso
J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy
pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos
Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo
i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas
lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre
h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais
cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas
que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas
dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy
rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois
niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy
gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy
l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais
btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to
simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy
rada
83