anderson, benedict. comunidades imaginadas. reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo....

29
Introdução Talvez, sem C lUe tenha sido muito notada, esteja ocorrendo uma fundamental na história dO . narxismo e dos movi- mentos marxistas. Os sinais ma is visíveis são as gue rra s recentes entre o Vietnã, o Camboja e a China . ' ;-:,sas guerras são de impor- tância histórica mundial por serem as primeiras a acont ecer entre regimes com indep en dência e credenciais revoluci on árias inques- t io n áve is, e também p orque nenhum dos beligeran tes fez q ual quer tentativa que não fo sse ex tremamente superficial para justificar a carnificina nos termos de um a perspectiva teórica que se pu de sse recon hecer como marxista . Se ain da era pos sível interpre tar os con fl ito!> de front eira sino- soviéticos de 196 9 e as intervenções m ili ta res soviéticas na Alemanha (1953 ), Hungria (19 56 ), Che- coslováquia (1968) e Afeganistão (1 com o - dep enden do do gosto - "imperialismo sociausta", "defesa do social is mo" etc , ningu ém, imagino eu, acredita ser iamen te que esses te r mo s po s- :;am ler mui to cabime nt o diante do que ocorreu na Indoc hina. Se a invasão e a oc upa ção vietn amita do Ca mboja, em de ze mbro de 1978 e de 1979, repres e ntaram a primeira gu erra convencio- /li/ I em grande escala de um regime marxista revolucionár io co ntra o utr o ,' a investida da China no Vietnã, em fe verei ro , logo con fi r- mo u o precedente. Apenns alg uém muito cr édulo se atreveria a .lposta r que, nesses últimos anos do século xx, algu ma eclosão sig- nificativa de hostilidade entre Estados haverá de enco ntrar a Unjão Soviética e a Re públi ca Popular da C hina - sem falar dos estados socialistas m eno res - se apoiando ou luta nd o do m esmo lado . Qu em p od e ter certeza de qu e a Iugoslávia e a Albânia o irão se digladi ar al gum dia? Esses grupos heterogêneos qu e ped em a reti- radd dos acamp am entos do Exército Vermelho da Europa O ri en- ta i dever iam lembrar o quanto a presença esmagadora dessas forças v em , desde 1945, impedindo o conflito armado entre os regimes marxis tas da região. Essas observações serVC' D para ressaltar o fato de que, de:;de ,I Se gunda Guerra Mundial , todas as revoluções vitoriosas se defi- niram em termos nacionais - a República Popul ar da China, a República Socialista do Vi e tn ã e assim por diante - e, com isso, se firmaram solidamente num espaço territorial e social herdado 1. Es colhi essa formula( ,-ào ape na s para ressaltar a escala e o es til o do combate, e 11 , 10 para atribuir culp as . Para evitar possíveis mal-entendidos, cumpr e dizer que a in vasão de d é'l .e mbr o de 1978 res ultou de confrontos armados entre partidários dos do is movimentos revolucionários, possivelmente (k sde 1971. Depois de abril de 19 77, os ataques nas fr onteiras, iniciados pelos camb ojanos, mas rapida men - k ad otados pelos vi e tnamit as , aumentaram em tamanh o e o bj c' ti vo,c ulminando n.1 grande incursào do Vi et nã em dezembro de 19 77 . IV la s nenhum desses ataques rrt'k'ndia derrubar regim es inim igos ou ocupar gr and es territó ri os, <' o número de soldados envolvidos tampouco se comparava à quantid ade de tro pas utili za - das em dezembro de 19 7R. A co ntro rsi a sobre as causas da guerr a t' apresenta- da de forma muito ponderada em: Stephcn P. Heder, "Th c kampu chca n-vic lna- mese co nflicl", in David. W. P. Elli ott (org.), The thi rd lndo chil lll cullflirt, pp. 21-67; i\nl lwn )' Ba rnett, "lnt er-comm u nist conf1icts and VieLnam", Ru/l etin ofco17 cerned ; ";clIIs ch ol"rs, 11: 4 ( outub ro-dC"1.c mb ro 19 79),pp. 29; e Laura Summcrs," In mat- ln s of \var a nJsociali sm Anthon )' Barnett would shamt: and honour Kampuchea ton m uc h", ib id., pp. 10- 8. 26 27

Upload: marcelle-braga

Post on 23-May-2017

228 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

Introduccedilatildeo

Talvez sem ClUe tenha sido muito notada esteja ocorrendo uma

tr31~ sformaccedilatildeo fundamental na histoacuteria dO narxismo e dos movishy

mentos marxistas Os sinais mais visiacuteveis satildeo as guerras recentes

entre o Vietnatilde o Camboja e a China -sas guerras satildeo de imporshy

tacircncia histoacuterica mundial por serem as primeiras a acontecer entre

regimes com independecircncia e credenciais revolucionaacuterias inquesshy

tionaacuteve is e tambeacutem porque nenhum dos beligeran tes fez qual quer

tentativa que natildeo fosse extremamente superficial pa ra justificar a

carnificina nos termos de uma perspectiva teoacuterica que se pudesse

reco nhecer como marxista Se a inda era possiacutevel interpretar os

confl itogt de fronteira sino- sovieacuteticos de 1969 e as in tervenccedilotildees

m ili ta res sovieacuteticas na Alemanha (1953) Hu ngria (1956 ) Cheshy

coslovaacutequ ia (1968) e Afeganistatildeo (1 ~80) como - dep endendo

do gosto - imperialismo sociausta defesa do socialismo etc

ningueacutem imagino eu acredita seriamente que esses termos posshy

am ler mui to cabimento diante do q ue ocorreu na Indochina Se

a invasatildeo e a ocupaccedilatildeo vietnamita do Camboja em dezembro de

1978 e j an~iro de 1979 representaram a primeira guerra convencioshy

li I em grande escala de um regime marxista revolucionaacuterio contra

o utro a inves tida da China no Vietnatilde em fe vereiro logo confi rshy

mo u o precedente Apenns algueacutem muito creacutedulo se at reveria a

lpostar que nesses uacuteltimos anos do seacuteculo xx algu ma eclosatildeo sigshy

nificativa de hostilidade entre Estados haveraacute de encontrar a Unjatildeo

Sovieacutetica e a Re puacuteblica Popular da China - sem falar dos estados

socialistas menores - se apoiando ou luta ndo do mesmo lado

Quem pode ter cer teza de que a Iugoslaacutevia e a Albacircnia natildeo iratildeo se

digladiar algum dia Esses grupos heterogecircneos que pedem a retishy

radd dos acampam entos do Exeacutercito Vermelho da Europa O rienshy

tai deveriam lembrar o quanto a presenccedila esmagadora dessas forccedilas

vem desde 1945 impedindo o conflito armado entre os regimes

marxistas da regiatildeo

Essas observaccedilotildees serVCD para ressaltar o fato de que dede

I Segunda Guerra Mundial todas as revoluccedilotildees vitoriosas se defishy

niram em termos nacionais - a Repuacuteblica Popular da China a

Rep uacuteblica Socialista do Vietnatilde e assim por diante - e com isso

se firmaram solidamente num espaccedilo territorial e social herdado

1 Escolhi essa formula(-agraveo apenas para ressaltar a escala e o es tilo do combate e

11 10 para atribuir culpas Para evitar possiacuteveis mal-entendidos cumpre dizer que

a in vasatildeo de deacutelembro de 1978 res ultou de confrontos armados entre partidaacuterios

dos do is movimentos revolucionaacuterios possivelmente (ksde 1971 Depois de abril

de 1977 os ataques nas fronteiras iniciados pelos cambojanos mas rapidamen shy

k adotados pelos vietnamitas aumentaram em tamanho e objc tivoculminando

n1 grande incursagraveo do Viet natilde em dezembro de 1977 IVlas nenhum desses ataques

rrtkndia derrubar regim es inim igos ou ocupar grandes territoacuterios lt o nuacutemero

de soldados envolvidos tam pouco se comparava agrave quantidade de tro pas utiliza shy

das em deze mbro de 19 7R A controveacute rsia sobre as causas da guerra t apresentashy

da de forma muito ponderada em Stephcn P Heder Th c kampuchca n-vic lnashy

mese co nflicl in David W P Elliott (org) The third lndochil lll cullflirt pp 21-67

inl lwn ) Barnett lnter-comm u nist conf1icts and VieLnam Ruletin ofco17cerned

clIIsch olrs 114 (outubro-dC1cmb ro 1979) pp 29 e Laura Summcrs In mat shy

ln s of var anJsocialism Anthon) Barnett wo uld shamt and honour Kampuchea ton much ibid pp 10-8

26 27

Jo pasia do pre- revo lucionaacuterio Inversamente se a Un iatildeo Soshy

i eacuteli~(1 d ivide com o Reino Unido da Gratilde -Bretanha e Irl anda do

Norte a rara d is t inccedilatildeo de natildeo mencio nar nacion a l i dade ~ em seu

nnme isso sugere q ue ela eacute natildeo s6 a he rde ira d os estados dinaacutesti shy

cos p reacute- nacionai s m as ta mb eacutem a prec u rso ra de uma o rdem

internac ional ista no spculo XX I shy

-r ic Hobs baw m tem plena razatildeo ao afirmar que os movishy

mentos e estados m arxistas tecircm mostrado a tendecircncia de se to rnashy

rem nacionais natildeo soacute na fo rma m as tambeacutem no conteuacutedo ou seja

nacio nalistas Nada ~ ugere que essa corrente natildeo haveraacute d e contishy

nUM E essa tendecircncia natildeo se restringe ao mundo socialista As

Naccedilotildees Un idas admitem no vOs m em bros praticamente todos os

anos E muitas naccedilotildees antigas tidas co mo plenamente consoli shy

dadas vecircem-se desafiadas por sub-nacio nal ismos em seu p roacute shy

pr io territoacute rio - nacionalismos estes cla ro que son ham com

algum futuro fel iz livres dessa co ndi ccedilatildeo de sub A realid ade eacute

muito simples natildeo se enxerga nem remotamente o fim da era do

nacio nalismo que po r tanto tempo fo i profetizado Na verdade a

condi ccedilatildeo nac io nal [n at ion -ness] eacute o va lor de m aior legit imidade

un iversa l na vida poliacutetica dos nossos tem pos

Mas ~e 0 5 fatos satildeo cla ros a expl icaccedilatildeo deles contlnua sendo

objeto de LI ma longa d iscussatildeo Naccedilatildeo nacionalidade nac ionalis shy

mo- todos provaram ser de di fi ciacuteli ma definiccedilatildeo que di niacute de anaacuteshy

Iise Em contraste com a enorme in fl uecircncia do nacional i~mo sobre

o mundo moderno eacute no tiacutevel a escassez de teorias plau siacutevei lgt sobre

ele Hugh ~cto n -Watwn au tor do que ~ longe o melhor c o m ais

l Q uem tiver alguma duacutevidl sobre as prcte nlt1c do Re ino Un ido quanto a esa

ptriJclclc com a Uniuumlo Sovieacutelica que se peq Ul1 l q ual a rlac io ll 1 licl Joe dc~ i g nada

pelo Sl 1l110mcl Gratilde-Bri lo- lrIlocSa

3middot r ic I lolh bJwm middotome rdlecti l1 s on 1 h( brea k-up of BritJi n Ntmiddotw Lert UC middotimiddotw luS (gtdelllb ro -outub ro 1977 ) p 1 J

2iacutel

lbrangen te texto em liacutengua inglesa sobre nacionalismo e herdeiro

de urna vasta tradiccedilatildeo liberal de his toriognlfia e ciecircncias sociais

ob~( rva com pesa r Assim eu sou levado a co ncl uir que natildeo eacute posshy

slvcl elaborar nenhuma defi niccedilatildeo ci en tiacutefi ca de naccedilatildeo m as uuml fenocirc shy

meno exis tiu e con tinua a existir ~ Tom Nairn autor do inovador

ri( Break-up ofHritain c herdeiro de uma tradiccedilatildeo q uase tatildeo vasta

de his toriogra fia e ciecircncias sociais m arx istas d ecla ra com a maior

sinceridade A teoria do nacionalismo representa a grande falha

histoacute rica do m arxismo Mas m esmo esse reconhecimen to eacute um

tan to enganador pois pode-se entendecirc-lo como se estivesse refeshy

rindo-se ao deploraacutevel resultado de uma longa e deliberada busca

de clMeza teuacuterica Seria m ais correto di zer que o nacionalismo

del11o nstrou ser uma anomalia incocircmoda para a teu ria marxis ta e

justa mente por isso prefe riu-se evitaacute -lo em vez de en frentaacute -lo De

que outra maneira se explicaria por que Marx natildeo esclareceu o

prono me possessivo cruc ial na sua memoraacute vel formulaccedilatildeo de

lMS O proletariado de cada paiacutes d~ve natural mente ajustar

contas antes de mais nada com a sua proacutepria burguesia De que

outra ma neira tam beacutem se explicaria por que o concei to de burshy

gues ia naci o nal foi uti lizado por mais de um seacuteculo sem nenhuma

tentat iva seacuteria de justifi car teoricamente a pertinecircncia do adjetivo

Por q ue essasegmentaccedilatildeo da burguesia - LU11a classe m undIal na

med ida em q ue eacute d efi nida pelas relaccedilotilde es de p rodu ccedilatildeo - tem

imrnrtacircncia teoacuterica

Este livro pretende o terecer a tiacutetulo de ensaio algumas id eacuteias

middot1 Vr () livro NU l iom aIri srll l f p 5 Grifo meu

smiddot Vcr q art igo middot lhe motlnn )anus NII lefi rCI middotcw Y I (nllcm bro -Jczcmhro

1175) 1 -gt Este rmJ i fui incluiacutedo ~em all Naccedil)cs no li vrlt) lh e hllilk - Ip of 1rt(ll illCOIllO capiacutetulo l) lpp 329 oacute3j

( ~MI otar c l ried rich Engels n c Clt1111lI i t 1l lCI ll ifoacute t o in ltdedfrl V(Ir~ I p

-l Crif meu Im l( ulltluer exegese teoacute rica a palavra nal ural men le devcria

K(ndcr UIll luzinha ve rmelha OC ~L1c rra pa ra o rito r elllus i mldn

29

para uma interpretaccedilatildeo mais satisfa toacute ria da anomalia do nacioshy

nalismo A miJlha impressatildeo eacute que tanto a teoria marxista quanto

a liberal se es tiolaram num derrade iro esforccedilo ptolemaico de salshy

var os fenocircmenos Creio haver uma necessida de urgente de se reoshy

r ientar a perspectiva dentro de um espiacuterito por assim d izer copershy

nicano O meu pon to de part ida eacute q ue tan to a na cio nalidade - ou

como talvez se prefira dizer dev ido aos m uacuteltip los significados

desse termo a cond iccedilatildeo nacional [nation-ness]-qua nto o nacioshy

nalismo satildeo produ tos culturais especiacuteficos Para bem entendecirc-los

temos de considerar com cuidado suas origens histoacutericas de que

maneiras seus significados se transformaram ao longo do tempo

e por que dispotildeem nos dias de hoje de uma legitimidade emocioshy

nal tatildeo profunda Tentarei mostrar que a criaccedilatildeo desses produtos

no final do seacuteculo xVIII foi uma destilaccedilatildeo espontacircnea do cruzashy

mento complexo de d iferentes forccedilas histoacutericas No entanto

depois de criados esses produtos se tornaram modulares capashy

zes de serem transplantados com diversos graus de autoconsciecircnshy

cia para uma grande variedade de terrenos sociais para se incorshy

porarem e serem incorporados a uma variedade igualmente

grande de constelaccedilotildees poliacuteticas e ideoloacutegicas Tentarei mostrar

tamheacutem por que esses produtos culturais especiacuteficos despertaram

apegc tatildeo profundo

7middot Como nota Aira Kemilaincn os doispais fundadores dos estudos acadecircmicos

sobre o nacional ismo Ha ns Kohn e Carleton Haycs defenderam ess~ 0JtJCcedilUacuteO de

maneira muito convinccDte A m eu ver suas co nclusotildees natildeo chega ram a ser objeshy

to de seacuter ios debates a natildeo Ser por ideoacutelogos nacionalistas em determ inados paiacuteshy

se Kem il j int n tJm beacutem observa qLle o uso do termo nacionalismo gtneralishy

(olI-se no fi na l do seacuteculo XI X Nlo aparecia por exemplo em muitos dicionaacuterios

oitoccntist ClS correntes Se Adam Sm ith invocou a riqueza das naccedilotildees foi para se

refe ri r apenas a socieddes o u estados Aira Kel11ilainen Natiollulism pp lO 33 e 18-9

30

CONC E ITOS E DE H NICcedilOtildeE S

Antes de encaminhar as questotildees levantadas anteriormente

seria aconselhaacutevel avaliar rapidamente o conceito de naccedilatildeo e ofereshy

cer uma definiccedilatildeo operacional Eacute frequumlente a perplexjdade para natildeo

dizer irritaccedilatildeo dos teoacutericos do nacionalismo diante destes trecircs parashy

doxos (1) A modernidade ohjetiva das naccedilotildees aos olhos do historiashy

dor versus sua antiguumlidade subjetiva aos olhos dos nacionalistas (2) A

universalidade formal da nacionalidade como conceito sociocultural

- no mundo moderno todos podem devem e hatildeo de ter uma

nacionalidade assim como tecircm este ou aquele sexo - versus a parshy

ticularidade irremediaacutevel das suas manifestaccedilotildees concretas de modo

que a nacionalidade grega eacute por definiccedilatildeo sui generis (3) O poder

poliacutetico dos nacionalismos versus a sua pobreza e ateacute sua incoerecircnshy

cia filosoacutefica Em outras palavras O nacionalismo ao contraacuterio da

maioria dos outros ismos nunca gerou grandes pensadores proacuteshy

prios nenhum Hobbes Tocqueville Marx ou Veber Esse vazio cria

certa condescendecircncia entre os intelectuais cosmopolitas e poliglotas

Algueacutem pode logo concluir como Gertrude Stein diante de Oakland

que natildeo haacute nenhum ali ali [no there there] Eacute exemplar que ateacute um

estudioso tatildeo simpaacutetico ao nacionalismo quanto Tom Nairn possa

mesmo assim escrever que O nacionalismo eacute a patologia da histoacuteshy

ria do descnvolvimen to modern 0 tatildeo inevitaacutevcl quanto a neu rose no

indiviacuteduo e que guarda muito da mesm a ambiguumlidade de essecircncia da

tendecircncia interna de cair na loucura enraizada nos dilemas do

desamparo imposto agrave maior parte do mundo (o equivalente do infanshy

tilismo para as sociedades) sendo em larga medida incuraacutevel 8

A dificuldade em parte consiste na tendecircncia inconsciente

que as pessoas tecircm de hipostasia r a existecircncia do nacionalismoshy

com -N -maiuacutesculo (como se algueacutem pudesse ter umn Idade-comshy

8 TlII Imllk-up ofBrit aill p 359

31

I-nu i(Isculo) e en tatildeo de classifi caacute-1 0 como uma ideo logia

(NOla-~c ~lue se todos tecircm u ma cer ta id ade a ldade eacute apenas uma

expressatildeo ana lIacutelica ) Penso que valeria a pena tratar ta l conceito

do mesmo modo que se trata o paren tesco e a religiatildeo em vez

d e colocaacute- lo ao lado do liberalismo o u do fascism o

Assim dentro de um espiacuterito antropoloacutegico p ropo J1h o a seshy

guinte definiccedilatildeo de naccedilatildeo uma comunidade poliacute t ica im aginada shy

e imaginada como sendo intr insecamente limitada e ao mesmo

tempo soberana

Ela eacute imaginada po rq ue mesmo os membros da mais minuacutesshy

cula das naccedilotildees jamais conheceratildeo encontraratildeo ou sequer ouvishy

ratildeo falar da majoria de seus co mpanheiros embora todos tenham

em mente a imagem viva da comunhatildeo entre el es~ Era a essa imashy

gem que Renan se referia quando escreveu com seu jeito levemenshy

te irocircnico Or l essence dune nation est que tous les ind ividus

aient beaucoup de choses en comm un et aussi que tous aient

oublieacute bien des choses raquo lOra a cssecircncia de uma naccedilatildeo consiste em

qu e todos os ind iviacuted uos tenham m uitas co isas em comum e tamshy

beacutem que todos tenham esquecido muitas coisas] Gellner diza lgo

parecido quando decreta com certa feroc idade que O nacionashy

lismo natildeo eacute O despertar das naccedilotildees para a autoconsciecircncia ele

inventa naccedilotildees onde elas natildeo existemI Mas o inconveniente dessa

y C f 5eton-Watso n Ntll ions nd states p 5 A uacutenica coisa que posso di ze r eacute que

u ma naccedilatilde o ex is te quando pe~soas em nuacutem ero sign ifica tivo de uma comunidade

~ e consideram fo rmando uma naccedilatilde o o u se comportam como se formassem

uma Podemos traduzir sc co nsideram por se imaginam

10 Ernest Renan Q ucst-ce qu une nalion in Oel )res f Ollpletes 1 p 892 E

acrescenla tout ci to yen franccedilais doit avo ir o ublieacute la Saint -13a rtheacutelemy les masshy

sacres du M iJi a l1 Xllle siicle Il ny a pas en Francc dix familles qui pui sscnt fourshy

ni r la preuve d une o rigine fran q ue [todo cidadatildeo francecircs deve ter esquecid o a

ll(l ile de Satilde o Ba rloln llleu os massacrl~ S do Sul no sendo XIII Natildeo exis tem na

FrIf1 lt dez fam iacutelias que possam oferecer provas de uma o rigem franca ]

11 l rnesl Cd lntr rliouglll rtdchallge p 169 Grifo meu

form ulaccedilatildeo c que Gellncr estaacute tatildeo afli to para mostrar que O ndCJ(middot shy

nal ismu se mascara sob fa I sa~ aparecircnciasque ele identifi ca invenshy

ccedilagraveo com contrafaccedilatildeo e fa lsidade e natildeo co m imaginaatildeo e

criaccedilatildeo Ass im ele sugere im plic italllcntc qu e existem cOl11 unishy

dadesverdauc iras que num cotejo com as nclccedilotildecsse mostrar iam

melhores Na verdade q ualquer com unidade maio r que a aldeia

pr imord ial do conta to Cace a face (e talvez mesmo ela) eacute imaginashy

da As comunidades se disti nguem natildeo por sua falsiJ addautent ishy

cidade mas pelo estilo em que satildeo imaginadltls Os aldeatildees javaneshy

sessempre souberam que estatildeo ligados a pessoas que n unca viram

mas esses la-os eram () nl igame nte imaginados de maneira parl ishy

(ularista - como redes de parentesco c cl ientela COI11 pass iacuteveis de

txtensatildeo indckrminada Ateacute tcmpos bem recentes o idioma javashy

neacutes natildeo tinha n enh uma palavra que designasse a abstraccedilatildeo socieshy

dade H oje em dia podemos pensar na aristocrac ia francesa do

iJIl CiCIl reacuteg i ll c CO 1110 uma classe mas ccrtamen te ela soacute fo i imagishy

nada desta maneira em ~poca bas lan te adiantada Diante da pershy

gunta Quem eacute o conde de X a resposta normal natildeo ser ia um

mlmbro da aristocracia c sim o sen hor de X o tio da baronesa

de Y ou u m cliente do duque de Z

Imagina -se a naccedilatildeo limitada porque mesmo a maior delas

que agregue digamos um bilhatildeo de habita ntes poss ui frontciras

lin iacutetas a in da que elaacutest icas para aleacutem das quais existem o utras

llaccedilOcircts Nenh uma delas imagina ter a mesma extensatildeo da hu manishy

11de Nem os nacional i ~tas mais mess iacircnicos sonham co m o d ia

111 que to dos os mem h ros da es peacutecie huma na se un iratildeo a sua

12 ll hsbawfll por exemplo lI xJ n lli toc rlci3 com o cla s~l ao diz r qU tmiddot em

IiiN bull Ia o nsisti a em In a d~ lt100 mil Plt=SS(ht numa pop ul lccediluumlo de 23 milhuo

(Vcr ) ~eu li [(J Th e A~c o RrroltieJ p 7R [i rra das revohlccediloacuteS EIroll 789 ~middotIR 111 lt Terra 19771) Ma~ lmiddot~se quadro estlt lSlico da nobreza seria imaginaacuteve l

oh o ltlrf 1I reacutegll e

32 33

naccedilatildeo como por eXe mplo na eacutepoca cm q ue os cri taos pod iam

sonhar co m um planeta total mente cristatilde v bull

I magina -se a naccedilatildeo soberalltl porquc o conceito nasceu na

eacutepoca em que o Iluminismo c a Rcvo luccedilagraveo estavam destru indo a

Icgiuumlmidade do reino dinaacutest ico hieraacute rqu ico de ordem divina

Amad urecendo nllm a fase da histoacuteria humana em que mesmo os

adeptos mais fervorosos de qualquer religiatildeo universal se defronshy

tavam i nevitavel men te COI11 o pl1lra lismo vivo dessas rel igiotildees e

com o alomorfismo entre a~ pretensotildees ontoloacutegicas e a extensatildeo

terri to rial de cada credo as naccedilotildees son ham em ser livres - e

quando sob dominaccedilatildeo divina entatildeo d iretamente sob Sua eacutegide

A ga_ra ntia e o emblema dessa li berdade eacute o Estado Soberano

F por uacuteltimo ela eacute imaginada como urna comwlidade porshy

que independentemente da desigual dade e da exploraccedilatildeo efetivas

q ue possam existir dentro dela a naccedilatildeo sem pre eacute co ncebida corno

uma profunda camaradagem horizo ntal No fu ndo foi essa fratershy

nidade que tornou possiacutevel nestes dois uacuteltimos seacuteculos tantos

m ilhotildees de pessoas tenham-se natildeo tanto a matar mas sohretudo a

morrer por essas criaccedilotildees imaginaacuterias lim itadas

Essas mortes nos colocam bruscamen te diante do problema

central posto pelo nacionalismo o que faz com que as parcas criaccedilotildees

imaginativas da histoacuter ia recente (pouco mais de dois seacuteculos) gerem

sacrifiacutecios tatildeo de-comunais Creio que encontraremos os primeiros

contornos de u ma resposta nas raiacutezes culturais do nacionalismo

1 Raiacutezes culturais

Natildeo existecircITI siacutembolos mais impressionantes da cultura mo shy

dern a do nacionalismo do q ue os cenotaacutefios e tuacutemulos dos soldashy

dos desconhecidos O respeito a cerimocircnias puacutebl icas em que se reveshy

r~n ciam esses monumentos justamente porque estatildeo vazios o u

po rque ningueacutem sabe q uem jaz dentro deles natildeo encon tra

nenhum paralelo verdadeiro no passado Para sentir a forccedila dessa

modern idade basta im aginar a reaccedilatildeo geral di an te do suj ei to

in trometido que descobre o nome do soldado descon hecido ou

que ins iste em colocar algu ns o~sos de verdade den tro do cenot shy

fio Es tranho sac rileacutegio co n temporacircneo f no entanto esses

tuacute mul os sem almas imortais nem restos mortais identificaacuteveis

dentro dcles estatildeo carregados de imagens naciolais espectrais - (Eacute

1 (h gre~os ant igus tinham ceno l3Ji()s mas parl indiviacuted uos especiacuteficos d e idenshy

I idade conhec ida e cu jos cor pos por uma razatildeo ou o ut ra 11 10 puderam receher

Ll m~ nterro no rmal JJevoes ta informaccedil50 agrave minha colega Judith Herri n es tudio shy

sa de lIilagrave nmiddotio

~ Cn~idccedilrccedilm- se po r f xc mplo essas llotiIacutevc is expressotildees a Os irlllatildeos de armas

IUnLI no fa lta l-am_Se o fi l essem um milhatilde o de espect ros em verde-o i iva panio

34 35

por iSSl) que tantas naccedilotildees difcren tes tecircm esses tuacutem ul os sem senti r

nenhumt necessidade de c-pccificltlr a nacionalidade de seus ocushy

pantes auscntes O que mais potleriam ser 5(10 ak mdes ameri cashy

nos argen ti nos etc )

O sign ificado cul tural desses monumen tos Ii caniacute ainda mais

c1eacutel ro se tentarmos imagi nar por exemplo um luacutemulo do ma rx isshy

ta desconhecido ou um ccnolaacutefio para os liberais tombados em

combate Natildeo seria um abs urdo O m~lrx ismo e o li beralismo natildeo

se importam mu ito com a Inorte e a imortalidad bull Se o imagmaacuterio

nacionalista se importa tanto com elas isso sugere sua grande ~fishy

nidade com os imaginaacuterios religiosos Como essa afinidade nada

tem de fortu ito talvez val ha a pena inicia r uma ava liaccedilatildeo das ra iacuteshy

zes cullurais do nac ionalismo pela mo rte o uacutelt imo elemento ele

Ul11 cJ seacuterie de fatalidades

A maneira de um homem morrer geralmente parece arbit raacuteshy

ri el mas sua mo rtal idade eacute ine itaacutevel As vidas hu manas estatildeo

-heias dessas combi naccedilotildees entre acaso e necessidade Todos sabeshy

mos que nossa heranccedila geneacutetica pessoal nosso sexo a eacutepoca em

que vivemos nossas capacidades fiacutesicas liacute ngua materna e aampgtim

por diante satildeo fato res conlingentes e inelutaacuteveis O gra nde meacuterishy

lO das concerccedilotildee~ religiosas tradi ciona is (o tlual nalural mente

natildeo deve ser confu ndido com o papel delas na legitimaccedilatildeo de sis shy

d qli ma rrom llU l e cinja sr levan tariam d~ suas laacutep ides h rl ll CdS trovejando

ca plllvras 11iacutegidS Dew I honra piacutet rb b O mel Ju iacutew lsnhre o (l Idado

nlcriclno I e (armou 1111 a111 po dt batuacuteha haacute Ill u itus e lll 11i tllS allOS e llUIlCi1 se [1 lIhli fio li Lu li 1 11 cnt Jo com() o veio ago ra como ullla das ligu r JS mais nobres

I lll Undo 11 lt10 ~O como uma das pllsonal idades nl i li t J re~ mai sele tasl11 il ta mshy

hc m como uml da Il1d is imaculadtgt I~ ic I ri r fertc nccl h l~t(r ia I(l [ dar 11 rn dus ml iofCS eXlmp lo tIlt pat ri(lti ll1o vitll ri ()5P I~ i - ) Ek pcr lt ll ( l p(~ tcr i dlde

como il1otruto r de gc raccediluumlc futura nm prindpio da libl rdlde l indl [lc nJeacuten(ia

Lle p~ rtcn~e 10 l r l~e nlL d noacutes l1(lr ~lHh v i rtllde~ t rcali lik s Uouglas IIluto rlh ur Outy I IOIl lLlr (ollnt ry di(u fo) p cl ri a cldcm iJ IililJ r t merishy

~anol 1 [gt1111 I dc maio Ir 196 2 L11l sc lt so ltlier spclks pp JSI c 357

tC llhlSsptciacutefi cos de domi naccedilatildeo e exploraccedilatildeo ) eacute a SUltl preocupaccedilatildeo

com () homem-no-universo o homem enquanto espeacutecie e cont inshy

glncia da vida A ext rao rd inaacute ria sobrevivecircncia do budismo do

(ri~tiltlI1 is l1l o ou do islamismo ao longo de milecircnios e em dezenas

de formaccedilotildees sociais d ireren tes comprova li ma capacidade de resshy

posta imaginativa ao tremendo peso do sofrimento humano - a

doenccedila a mutilaccedilatildeo a dor a velhice a morte Por que nasci cego

Por que o meu mel hor amigo fi cou para liacute tico Por que a mi nha

irm eacute retardada As religiotildees ten tam expl icar O grande pon to

fllthO de todos os estil os de pensamento evolucionaacuteriosprogressi

vos in cluindo o marxismo eacute que eles respondem a essas pergunshy

tas COI11 um silecircncio impaciente Ao mesmo tel11po e de diversas

maneiras o pensamento religioso tamb~m daacute respostas sobre as

ohsclI ras insinuaccedilotildees de imortal idade geralmente transfo rmando

H fatali dade em contin uidade (kamUl pecado originnletc )Assim

a re ligiatildeo se interessa pelos viacutenc ulos entre os mortos e os ainda

natildeo-nascidos pelo misteacuterio da rc-generaccedilatildeo Quem vive a conccpshy

tatildeo l () nascime nto do se l proacuteprio filho sem apreender difll sa shy

mente lima mescla de ligaccedilatildeo acaso e necess iddde em linguagem

de continuidade (Aqui de novo a desvantagem do pensamenshy

1 Cf Rlgi~ lk bray lhrx i~m ltl nd I h ~ national question Nellmiddot lerr NClltIV J 05

(sckmhrll-outubro 1977) p 29 I )lIfantc deg I11 ~ U trabal ho de campo na Indoneacutesia

l1il deacuteltHl a d oacuteO fique i chocado (0111 a tranquuml ila llcgJ ti llt1 de muitos llluccedilulmJnu

~11 ll~il lt1 r IS ideacuteias de Darwin Nu co meccedilo interpretei essa negaI iJ C(l mo obs u

rlIlt l~ll1n Depois vi que cra lima hnlat ivl lo uvaacutevel de l1lJnlcr a ()crl ll cia a doushy

trina d) evoluccedilao era ~im p l sme n lc i n ~lm pa livd com os Lns inalllf ll liS do islatilde O tuc IMer )1l1 UI I1 ll1 a l criali ~mo cicnliacutelic que aCl ita formalmente 15 des(obn tas

d1iiacutesil1 ()h r~middot 1 mak ria rna~ que se ltmpcnha latildeo puu(O (111 vincular lai dcscohcr a~ li lU1 1d ICSbull I rcmiddotol uccedilagrave(l ou ao q ue lor ~cri que o ahismo enlre os proacutetons

r o Itolmiddotlnri1UacuteC) 11 10 oc ult1 ul11a cksconhecidu CO I1CCpccedilO metafiacutesica do hOl1l ell1

tIJ lmiddotjlIn-st os II1 tcrCSSJll llS textos Je ScbnSliollll1l m pan aru O II(tcritl iSJIl l

TItmiddot flLlld(1I ~ lp c a rcs po~tJ pondLradltl de Raymond Wi llium 1 eles em Timla 1110 111lkrillist dlllJ Icng bull ICII lcft IklJ middotW 109 (I11 Ji( -junl1o 1978) pp _~ - 1 7

37 36

to cvoluciomiacuterio p ro gressivo eacute sua aversatildeo quase heraclitialla a

qualquer ideacute ia de co ntin uidade)

Faccedilo essas observaccedilotildees talvez simploacuterias principalmente por shy

que () seacuteculo XV II I na Eu ropa Ocidcn la l marca llatildeooacute o amanhecer

Ja era 00 nac ionalismo m as tambeacutem o anoi tecer dos modos de

pensamentos religiosos () seacutecuJo do Il um inismo do secul arismo

racio nal ista t rou xe consigo suas proacuteprias t revas m od ernas A feacute

religiosa decl inou mas o sofrimento que ela ajudava a apaziguar

natildeo desapareceu A desintegraccedilatildeo do para iacuteso nada torna a fatalid a shy

de mais arbitraacuteria O absurdo da salvaccedilatildeo nada torna m ais necesshy

saacuterio um outro estilo de cont inuidade Entatildeo foi preciso q ue houshy

vesse uma transfo rmaccedilatildeo secular da fa talidad e em co ntinuidade

da contingecircncia em signi ficado Como veremos poucas coisas se

mostraram (se m ostram) mais adequadas a essa fi nalidade do que

a ideacuteia de naccedilatildeo Adm ite-se normalmente q ue os estados nacionais

satildeo novos e histoacutericos ao passo q ue as naccedilotildees a q ue eles datildeo

expressatildeo poliacutetica sempre assomam de um passado imemorial e

4 O falecido pre idcnte Suklrno sempre falou com toda a sil1cnidade sobre os

30 anos de coJonialismo a que a sua Indoneacutesia fo ra subm etida embora o proacuteshy

prio co nceito de Indoneacutesia seja uma invenccedilatildeo do seacutec ulo X e a maior parte do

que hoje eacute o paiacutes ten ha sido conquistada pelos holandeses apenas entre 1850 e

1910 O principal heroacutei nacional da Indon eacutesia con tempo racircnea eacute o priacutencipe java shy

nl-s Dipltlnegoro do comeccedilo do seacuteculo xlxembo[U as memoacuterias do priacutencipe mosmiddot

trtJn que ele pretendia co nqui~tJr Inatildeo libertar J 1(1a t natildeo expulsaros hola nshyd (~~l~ 11 verdade eacute evidentt que tk natildeo concebia os holltl1dccs como uma

(lllct iidlde Ver Harry ) Uencla t John A l arkin (o rg ) 117 lt 1Vorld ofSoll lumiddotast A51tl p 158 c Ann Kumar Diponcgoro ( I 771)~- 1 855) l ldolltsia 13 (abril de

I Yiacute2) p 103 Criro meu Analogamente Kcmal Atatuumlrk deu lOS slt us bancos esta

ta is os nomcs Ba nco Hitita I Ui Banka ) c Banco Sumeacuterio (Sc t(l n Watson Narivlls mui Siacutelllcs p 259 ) E SSeacuteS bancos satildeo proacutesperos e natildeo haacute razio para duvidar que

mu itos tl IlCOS e provavelmente o proacuteprio Kcmal acred itasst m slr iamcnte e

Jintla acreditem que 0 hit itds e os sumeacuterios satildeo seus antepassados tu rcos An tes de dar muitas risaJas se ria me lhor lembrarmos de Artm c Boad i~ea e refletir sobre o sucesso comercial das mi tog rafias de ro lkien

38

1 indd mais importante ~cguem rumo a um futuro il im itado 1 a

nlltlgia do nac ionalismo que converte o acaso em desti no Podem os

dic com Debray Si m eacute pu ro acaso que cu ten ha nascido fran cecircs

mJS a ti nai a h anccedila eacute eterna

Eacuteclaro que natildeo estou afirmando que o su rgimento do nacioshy

naligtl11o no fina l d o seacutecu lo Xl ur foi produzido pelo dcsgaste das

convicccedilotildee religiosas nem que ~sse proacuteprio desgas te natildeo requer

unhl explicaccedilatildeo complexa Tambeacutem natildeo estou sugeri ndo que o

l1aciol1a I ismo tenba de aJgu ma forma su bsti tu iacutedo histo rica shy

mente a religiatildeo O q uc es tou popondo eacute o entendimen to d o

nac ionalism o alinhando-o natildeo a ideologia- poliacuteticas conscien teshy

mente ado tadas mas aos grandes sistemas cu ltu rais qu e o prece shy

deram e a partir dos quais ele surgiu incl usive para combatecirc-los

Para nossas fi nal idades os do is sistemas cul turais per i nel1 te~

sagraveo a cOlllI zidade religiosa e o reino dinaacutestico Po is am bos no seu

apogeu fo ram est ruturas de referecircnc ia incontestes como oco rre

atualmente com a nac ionalidade Portanlo eacute fundame ntal analishy

sar o qu e cunfer iu uma plausibiJidade auto-evidente a esses sisteshy

mdS cul urais e ao mes mo tempo d estacar a lguns eJc m cntos shy

cbaw na decomposiccedilatildeo deles

1 C O IIUNIDADE RELI G IOS A

I Xlstem po ucas coisas ma is im pressionanles do que a vasta

extensatildeo ter r ito r ial do Ummah i ~lagravemic) desde o Marrocos ao

arquipd ago Sulu da cri slandade Jesde o Paraguai ao Ja patildeo e do

nlundo bu d ista desde o gt r i La nka agrave pen iacutensula coreana As grand es

1111turas acras (e para nossos objetivos pode-se incluir tambeacutem

o confucionism o ) incorporava m a ideacuteia de imensas comunidashy

des ~las a cristandadc o Um mah is lilmico e mesm o o Impeacuterio do

Ccnl ro - que hoje eacute considerado chinecircs mas antes imaginava-se

39

como cenLrd - eram imaginados pri ncipalmente pelo uso de

um a liacutengua e uma escrita sagradas Tomemos o exem plo do islatilde se

ul11 ll1aguindanaucnse encontrasse um btrbere em Meca um desshy

conhecendo o idioma do out ro incapazes de se comunica r oralshy

mente mesmo assi m entenderia m os seus caracteres p(Hque 0lt

textos sacros adotados por ambos exist iam apenas em aacuterabe claacutesshy

sico Nesse sentido o aacuterabe escrito fu ncionava como os ideograshy

mas ch ineses criando wna comunidade a partir dos signos c natildeo

dos so ns (Assi m hoje em dia a linguagem matemaacutetica daacute prosseshy

gu imento a uma velha trad iccedilatildeo Os romenos natildeo fazem ideacuteia de

como se diz + em tai landecircs e vice-versa mas ambos compreenshy

dem o siacutembolo) Todas as grandes comunidades claacutessicas se cOl1Sishy

deravam cosmicamente centrais at raveacutes de uma liacutengua sagrada

ligada a uma ordem ~upra terrena de poder Assi m o alcance do

lal im do paacute li do aacuterabe ou do chinecircs escritos era teoricamente ilishy

mitado (Na ve rd ade quanto mais morta eacute a liacutengua escri ta shy

qua nto ma is di-ta ntc da fala - melhor em princiacutepio todos tecircm

acesso a um mundo puro de signos )

Mas essas com Llnidade~ claacutess icas ligadas r or Jinguas sagradas

tinham um caraacuteter di fe re nte das comunidades imagi nadas das

naccedilotildees modern as Uma di ferenccedila fundamental era a confianccedila das

comunidades maIs an tigas no sacrarnenLalislllo l1nico de suas liacuten shy

guas e daiacute deri va m as iclcias que ti nllam sobre a admissatildeo de novos

membros O mandarins chineltcs viam com bons olhos os baacuterbashy

ros que aprendiam 3 duras penas a pin tar os ideogramas do

Impeacuterio do Cen tro Esses haacuterharm jaacute estavam ltl meio caminho da

plena aceitaccedilatildeo Meio-civil izado era muiliacutessimo melhor do que

baacuterba ro Essa atit ude certame nte natildeo foi excl usiva dos chi neses

nem se restringiu agrave Antiguumlidade Veja por exemplo a seguinte

5middot O l i 1 t rlIlqLiil iluumlde com que os mOIl (ois c manchus ~ il1 izadu s foram aceitos m rTIo 1-tIIrO$o ( 11

40

-

poliacute tica para os biIacute rbaros formulJua pelo liberal co lomhi ano

Ped ro rermiacuten de Vargas do comeccedilo do seacuteCll lo XIX

Pa ra am pliar a ll)SSa agricu ltura seri a preciso hi spaniza r 0S nossos

iacutendios A preguiccedila a fa lta de in ldigecircnci e a in dif~ rccedil nccedila dd es aos

t rabalhos normais levam a pensa r que d cs derivam de uma raccedila

degenerada que se ueteriora conforme ~e afasta da ua origem [ J

seria muito dese iaacutevel que os iacutendios se extinguissem atraveacutes d misshy

cigenaccedilatildeo com os brancos isentando-os de im postos e ou tros

encargos c concedendo-lhes a propr iedade privaoa da ter ra

I~ notaacutevel que esse liberal ain da proponha extinguir seus iacutendios

el1l parte isentando-os de impostos e concedendo-lhes a proshy

priedade privada da terra em vez de exterminaacute-los com armas de

fogo e microacutebios como logo depois comeccedilaram a fazer seus herdeishy

ros no Brasil Argenti na e Estados Unjdos Nota-se tambeacutem ao lado

desta crueldade com ares condescendentes o otimismo coacutesmico

Jtl fim eao cabo o iacutendio pode -er redimido - pela impregnaccedilatildeo do

stmen bran co civil izado e pelo acesso agrave propri edade privada

~OIlO todos os outros (Como eacute d iferente a atitude de Fermiacuten em

comparaccedilatildeo ao imperialista europeu posterior com a sua preferecircnshy

lia pelos malaios gurcas e hauacutessas autecircnticos em vez de mestishy

Ccedil()~ nativos semi- analfabetos wuacutegs e assim por diante

Mas se o meio de se imaginar as grandes com unidades gl shy

hltt is do passado eram as liacutenguas mudas sagradas essas apariccedilotildees

IJq lliriam realidade a pa rtir de uma ideacuteia btstante es tranha agrave

rn~nta l id ade ocidental contemporagravenea a natildeo-arb itrariedade do

signo Os ideogramas do ch i necirc~ do latim ou do aacuterabe erJm emashy

6 ) hll LYl1L h T cSpi11ish-AI1criCIII rIOllioIl5 1808-211 p 260 Grifo meu g krmo depreciat ivo -I lie na epoca do imperial ismo britimiacuteco designava o

ou ivo clJ iacutenJla da Africa do Norte e do O riente Meacutedio

41

naccedilotildees da real idad e e natildeo re presen taccedilotildees inventadas ao acaso

Co nhecemos a lo nga discussatildeo sobre a liacute ngua (l ati m ou vernaacutecushy

lo) ma is adequad a para a missa Na tradiccedilatildeo islacircmi ca ateacute bem

pouco tempo () Coratildeo era lite ralmente intracuzIacutevel (e portanto

in lrad uzido) porque o uacutenico ltI cesso agrave verdade de Alaacute era por meio

dos signos verdadeiros e illsubstitu iacuteveis d o aacuterabe escr ito Aqui natildeo

existe a ideacuteia de um mundo tatildeo des incuhd0 da liacutengua que todas

as liacutenguas vecircm a ser signos equumlid istanles (e porta nto in tercambiaacuteshy

vei s) dele Com efeito a realidade o ntoloacutegica soacutepo de se r apreendi shy

da por meio de um uacutenico sistema pr ivilegiado de re-presentaccedilatildeo

a liacutengua-verdade do latim eclesiaacutestico do aacuterabe coracirc n ico ou do

chinecircs do sistema de exames E como liacutenguas-verdade estavam

imbuiacutedas de um im pulso largamente estranho ao nacionalism o a

saber o impulso agraveco nversatildeo Por conversatildeo quero dizer natildeo tanto

a aceitaccedilatildeo de dctermi nltldos p r inciacutepios religiosos e sim uma

absorccedilatildeo alqu iacutem ica O baacuterbaro se torna Impeacuterio do Centro o

montanhecircs do Rif muccedilulmano e o ilongo cristatildeo Toda a natureshy

za ontoloacutegica do homem eacute maleaacutevcl ao sagrado (Compare o presshy

tiacutegio dessas antigas liacutenguas mundia is colocadas acima de todos os

vernaacuteculos com o esperanto ou o volapuk que jazem ignorados

entre essas duas esferas) Foi afinal essa possibilidade de convershy

satildeo atraveacutes da liacutengua sagrada que permitiu que um inglecircs se torshy

nasse papas e u m m anchuacute rio se to rnasse Filho do Ceacuteu

Mas se as liacutenguas sagradas permitiam que se imaginassem

co m u nidades tais como a cristandade nuumlo eacute poss iacutevel explicar o

verdadeiro alcance c a efetiva plausibil idade dessas co munidades

7 Atl que parect () grego cclc iaacutesti co natildeo atingiu o estatuto de uma liacutengua -verdashy

de Sao viIacuter ias as razotildees desse fracasso mas com certeza um fator fundamental

fo i que o grego continuou a ser uma liacutengua demoacutetica i lj (ao con traacute rio do latim)

cm grande parte do Impeacuterio do O rien te Devo essa suglts tagraveu a fudith Herrin

8 Nicholas Brakcspear ocupou o pontificado de 11 5middot1-59 com o nume de Adriano 1

arenas pelo texto sagrado os seus leitores afinal natildeo passavam de

min uacutesculos recife let rados em vastos oceano~ iletradosmiddot Para

urna expl icaccedilatildeo m ais completa temos de exami mlr a relaccedilatildeo entre

o~ letrados e suas sociedades Seria equ ivocado co nsideraacute-los uma

espeacutecie d e tecnocracia teoloacutegica As liacuten guas a que eles d avam

suporte por mais abst rusas qu e fo ssem natildeo possuiacuteam o caraacuteter

abstruso auloconstruiacutedo do jargatildeo dos advogados ou dos econoshy

mistas agravemargem da ideacute ia de realidade alimentada pela sociedade

Pelo contraacute rio os letrados eram grandes inic iados cam adas estrashy

teacutegiLas de uma hierarq uia cosmoloacutegica cujo aacutepice era divino 10 As

concepccedilotildees fundamentais so b re os grup os sociais eram mais

centriacutepetas e hieraacuterquicas do que horizontais e fron tei riccedilas O

poder assombroso do papado no seu auge soacute pode ser ent tnd ido

em termos de um clero transeuropeu com conhecimento do latim

esaito e tambeacutem de uma concepccedilatildeo de m undo partilhada p ratishy

ca mente po r todos e segundo a q ual a cam ada intelectual biliacutenguumle

ao media r o vernaacuteculo e o latim tam beacutem faz ia a mediaccedilatildeo en t re a

terra e o ceacuteu (O pavor da excomunhatildeo reflete essa cosmologia)

Apesar de toda a m agnitude e poderio das grandes com unishy

dades imagi nadas rel igiosamentesua coesatildeo inCONsciente fo i di mishy

nui11lio n u m ritmo cons tante apoacutes o fi nal da Idade Meacutedia Entre as

razotildees desse decliacutenio destaco apenas as d uas relacio nadas diretashy

mente agrave sacralizaccedilatildeo uacutenica dessas comunidades

Em primeiro lugar o decliacutenio res ultou d as exploraccedilotildees do

9middot lIJn Hloch nos lem hra que a m aio ria dos senho res e mui tos g ra nd tgt barotildees

111t pneu medieval Ie ra In admini strado res incapazecircgt dt examinar prssoalrnenshy

li Um n iJ toacuterio ou uma prestaccediluo de contas Feudn lSOciel) r p 81

111 Is~() nao sign ifica que os il e t r~d os natildeo lessem Mas o que e les liam nao eram

rltlIlvra~c im ( mundo visIacutecl middotAos olhos de todos os que eram capazes de refk shy

xlo o mlllldo mate r ial era po uco ma is do que uma espeacutecie de maacutescara po r tniacutes da

qUJI ltlerl r iam todas as coisas realmell te importanllt5 era com o se fosse tunbeacutem

lima liacutengua quc(xpressasse por sina is uma rea lidade mais profunda ibid p 83

42 43

m undn natildeo-eu ro peu as quais ampliaram violentam cn te o horishy

wntc cult ural-geograacutefico e simultanea men te os concei tos acershy

C l das poss iacuteveis formas de vida humana11 o q ue ocorrcu sobret-ushy

Jo mas natilde o excl u~ ivam cn te na Europa Esse processo joacute fica claro

no ma io r liv ro de viagem europeu Veja a surp resa co m que o bom

cristatildeo venezia no Marco Poacute lo desc reve Cubla i Catilde no final d o

seacuteculo 1 11 1

o gratilde-catilde tendo obtido essa ex traordinaacuteria vitoacuteria retornou com

grande pompa e triunfo para a ca pi ta l a cidlde de Ka nbalu Isso

aconteceu no mecircs de no vembro e ele continuou a morar laacuteduranshy

te os meses de revcreiro e marccedilo Inecircs este de Ilossa fe ~ la de Paacutescoa

Sabendo que esta era uma das 110ssJsprincipais solenidades ele

mandou q lIe tod os os cristatildeos fos sem ateacute ele e le vasse m o Livro

deles que conteacutem os quatro Evangelhos Depois de fa7cr com que

o incensassem vaacuterias vezes co m toda a cerimocircnia ele o beijou

devotamente e ordenou qu e todos os seus noh res ali presentes

fizessem o mesmo Este era o seu costu me em todas as principais

festividades cr istatildes como a Paacutescoa e o Na tal e ele observava o

mesmo nas fes tas dos sarracenos dos judeus e dos idoacutelatras Indashy

gado sobre o motivo dessl conduta ele disse Existem qua tro

grandes proCetas que satildeo nve renciados l adorados pelas difcnnshy

les cla~ses da h uman idade Os cristatildeos consideram Jes us Cris to

como a di in dade deles us Sd rraCtno~ Maomeacute os judeus Mo iseacutes

e os idoacutelat ras Sogomombar-kan o iacutedolo mais importante deles

Eu devo honrar c most rar respeito por todos os quatro e imocar

em meu auxiacutelio aquele que del re eles eacute na pcrrade supremo no

11 Erich Au crbadl MirllfS is p 2C ITrad ( it Mi ecirc isSatildeo Paulo Perspect iva 5

eJ 200middot1 p ~H6 ]

12 t rco Pnl1 ls 1 middot ja~C5 de li Ja1(() 1aacutelo 1 BrJsiliense 1954J pp 158-9 Grilo meu NO[l - lt porem que beijam lll ~S natildeo lecircem LI Fvangelho

cJII Ilas pela maneira co m que sua majestade agi u em relaccedilatildeo a

clei eacute ev idente que ele considerava a feacute do~ crisl agraveo~ a mai s ve rdashy

(leira e a mel hor

o gue essa passagem tem de notaacutevel natildeo eacute tanto o tranquuml ilo

relat ivismo religioso do grande d inas ta mongol (afi nal ainda eacute um

relativismo religioso) e sim a aLIacutelude e a linguagem d e Marco Poacutelo

Jamais lhe ocorre tratar C ublai como hipoacute crita ou idoacutelatra apesar

de es tar escrevendo para cristatildeos europeus como ele (Em par te

sem duacutevid a po rque quan to ao nuacutemero de suacuted itos e--lensatildeo d o

ttrritoacute rio c quantidade de riq uezas ele ul t rapassa qualquer sobeshy

rano que exist iu ateacute hoje no mundo) E no uso in consciente do

nossa (que se torna deles) e na q ualifi caccedilatildeo da feacute cristatilde cOmo

a mais verdadeira em vez de a verdadeira podemos detectar o s

pr imoacuterdios de uma territo ria li zaccedilatildeo dos credos um prCl1 uacutencio d a

linguagem de muitos nacionalistas (a nossa naccedilatildeo eacute a melhor

- num campo compamtilloe competi t ivo)

Q ue di ferenccedila reveladora temos no iniacutecio da carta do viajanshy

te persa Rica em Par is para o seu amigo Ibben em 17 12

o papa eacute o chefe dos cristatildeos E um elho iacutedolo que se incensa por

haacutebi lo Antigamente ele era temiacutevel aos proacuteprios priacutencipes pois de

() i depu nha com a mesma fa cilidade com que os nossos magniacuteficos

~u llotildees depocircem os reis de [rncrclia e da Geoacuterg ia Mas natildeo o te mem

ma i ~ l l e ~e d iz SUl lSSOr de um dos pri meiros cristatildeos que ~e clldma

5(0 Pedro e cert am ente eacute uma rica sucessatildeo pois ele tem teso uros

illlen so ~ e um grande territoacuterio sob o seu domiacutenio

11 nr 1fllIds o(Mnno Jv o p 1 5 ~ I ls viagcIl5 de Marco lOcirco Brasilicnsc 19541

11 Il enri tlt ) lontesquicu Perrln Lt-lIrrs p 81 As L fl rcs perswlts foram pubtishyL lei pela pri11tira t em [72

44 45

As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy

ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11

tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy

lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido

enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica

na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande

Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem

demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse

parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy

pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy

val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy

nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica

mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma

outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy

lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos

nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy

m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada

mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele

se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros

imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa

poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy

ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim

apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy

mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do

latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma

po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy

5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo

16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy

recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)

171bi p 32 1

men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy

lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma

figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade

Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy

lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o

inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy

g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em

larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no

con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy

16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy

decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire

( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a

qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major

nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se

um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio

do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy

des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy

dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando

o Rr l NO DI N AacuteS T I CO

I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um

mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy

11 Ibit p 330

19 1h iJ pp 33 1-2

20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais

lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy

port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro

~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e

Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro

M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356

46 47

tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy

lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy

ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de

um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da

ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra

terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um

territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo

onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram

porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy

m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade

com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter

seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas

veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy

Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy

cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy

tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias

Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy

2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com

essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy

meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os

p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I

iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot

te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy

naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico

ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy

nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias

2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno

tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante

discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar

(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha

O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido

4

tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este

l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o

Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um

ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -

Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia

Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc

arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia

duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy

illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta

e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz

e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy

b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen

marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy

ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da

marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc

Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto

comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e

capturas dos Ha bsburgo

Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy

cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de

concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy

gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er

aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas

111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy

21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1

lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha

atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst

111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do

4

co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando

LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy

mo~ de a tribuir aos Bo urbon

Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo

por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy

ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy

ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos

anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy

d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na

eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes

pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos

Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien

reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy

dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy

bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu

se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy

longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo

Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades

do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio

da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves

arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486

alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy

ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento

eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot

cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la

man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui

capaz de manter ( ibid p 125 )

25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o

fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy

ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught

llIul cllt1ligr p 136

26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot

ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l

nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy

duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria

~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy

monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy

parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da

Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF

Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema

poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy

te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma

~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade

minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande

(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os

JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute

eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst

tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)

PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S

Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas

lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades

~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~

hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270

lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama

I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92

~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil

hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m

sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao

pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr

dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy

do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m

l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85

50 51

religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy

nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy

do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o

m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao

Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos

agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos

c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res

ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy

ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy

na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde

Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy

di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy

no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo

de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com

os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia

muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de

um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era

maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma

universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy

dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta

peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em

latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio

cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para

as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy

pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy

saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue

assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre

os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy

sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a

cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils

~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas

11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a

VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy

I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a

mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma

cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees

I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy

SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a

segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo

pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na

noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do

~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos

colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os

homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais

llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy

ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa

Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de

con~ciecircncia

()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de

Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo

de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy

se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy

0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal

nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de

forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy

lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma

lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot

vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles

31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6

3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco

~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot

11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90

52 53

l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy

mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a

histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla

compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy

rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy

sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de

todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno

Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy

te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy

jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy

sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas

a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real

A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo

para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute

ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a

fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma

co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy

da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura

gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo

med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo

novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy

neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy

zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo

mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo

calendaacute r io H

n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo

bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]

-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy

nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~

n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo

importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se

w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy

gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o

ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy

am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy

ginada correspondente agrave naccedilatildeo

Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao

velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem

de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy

mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e

ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy

mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo

si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy

te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar

ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte

manetra

Tempo 11 III

4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda

num bar

r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em

casa com B

o joga bilhar tem um

pcsaddo

~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e

Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197

55 54

lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia

e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver

feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas

(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a

l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao

entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute

possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua

sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees

(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os

le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy

do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma

tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy

gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy

cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy

ca no espiacuterito de seus leitores

A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy

gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da

ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade

soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o

ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer

e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees

36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I

li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do

37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll

pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1

linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao

a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po

5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico

com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo

39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do

ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy

tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados

Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada

J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy

11 i1111 e simultacircnea dd~s

rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os

rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras

I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas

Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o

romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy

turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro

romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy

ra maravilhosa 11

Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy

mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de

jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy

Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy

~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros

la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a

1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o

gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy

ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl

Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy

nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua

~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave

rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy

l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm

pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y

Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard

1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1

11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I

IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy

Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru

56 57

infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila

n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de

bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no

problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade

necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy

saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo

O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague

Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma

manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos

ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha

mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a

Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o

nosso Governo

Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta

nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy

tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas

anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy

res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy

da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy

satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma

ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la

so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do

tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy

dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da

snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens

auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se

tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy

de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy

bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)

Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy

mente problem aacuteticas

Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy

(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a

IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy

d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy

toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy

lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa

ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy

C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy

men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia

medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo

ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy

lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa

muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao

viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente

algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter

UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy

co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy

oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy

dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para

Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue

Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy

mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria

middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy

11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a

di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy

t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy

Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy

11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15

58 59

comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por

meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a

metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy

lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata

em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica

alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos

passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo

Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy

peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela

mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas

Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy

tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou

di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos

poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto

Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten

45 lbid p 120

46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy

sis ca po I (A cicar de Odissc u)

~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1

IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II

COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy

IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg

I deus Albl nia re ino Jgora

Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel

l u teu udcnsnr llue Igor marIS

M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1

I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy

Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy

IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1

Oacutel

Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo

Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy

meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy

( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no

Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como

suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo

mostra a forma essencial desse romance naciona lista )

Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes

influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e

aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy

dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te

que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy

sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy

quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im

gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos

Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy

trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r

nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo

nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do

interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy

sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico

ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy

nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy

quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1

Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no

movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m

s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do

middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H

4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu

61

romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy

pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo

t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado

o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica

eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de

prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva

mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea

do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se

as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou

daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu

enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)

E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy

dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto

Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo

de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco

Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste

destino publicada em fasciacutecul os em 1924

Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy

vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva

50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura

e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais

51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy

do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros

campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova

Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110

llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot

tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente

li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26

capitulas 25 c 1)

52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu

na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas

l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa

P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy

do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy

gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy

pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas

ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy

nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy

lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se

o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o

cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches

)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea

diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz

dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste

Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim

Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy

nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml

in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que

ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo

inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado

PROSPI~RlLlAj)E

Lm andarilho mendigo passou mal

e morreu abandonado no acostamento da rua

n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o

I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to

Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si

Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy

1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto

(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas

62 63

qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo

de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a

gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy

te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy

liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas

pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy

cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes

gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca

eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz

Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo

confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy

vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da

referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos

seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy

cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je

Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy

ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma

on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que

Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy

dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis

hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor

cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a

raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )

Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela

du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo

encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy

josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy

nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde

)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy

fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a

d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida

pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo

SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto

dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente

licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy

mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu

tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um

lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil

raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos

eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um

mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo

inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os

outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)

Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy

ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado

[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy

le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A

dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a

principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy

gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy

te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem

sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por

I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento

que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os

MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl

LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy

tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco

12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer

1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te

64 65

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 2: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

Jo pasia do pre- revo lucionaacuterio Inversamente se a Un iatildeo Soshy

i eacuteli~(1 d ivide com o Reino Unido da Gratilde -Bretanha e Irl anda do

Norte a rara d is t inccedilatildeo de natildeo mencio nar nacion a l i dade ~ em seu

nnme isso sugere q ue ela eacute natildeo s6 a he rde ira d os estados dinaacutesti shy

cos p reacute- nacionai s m as ta mb eacutem a prec u rso ra de uma o rdem

internac ional ista no spculo XX I shy

-r ic Hobs baw m tem plena razatildeo ao afirmar que os movishy

mentos e estados m arxistas tecircm mostrado a tendecircncia de se to rnashy

rem nacionais natildeo soacute na fo rma m as tambeacutem no conteuacutedo ou seja

nacio nalistas Nada ~ ugere que essa corrente natildeo haveraacute d e contishy

nUM E essa tendecircncia natildeo se restringe ao mundo socialista As

Naccedilotildees Un idas admitem no vOs m em bros praticamente todos os

anos E muitas naccedilotildees antigas tidas co mo plenamente consoli shy

dadas vecircem-se desafiadas por sub-nacio nal ismos em seu p roacute shy

pr io territoacute rio - nacionalismos estes cla ro que son ham com

algum futuro fel iz livres dessa co ndi ccedilatildeo de sub A realid ade eacute

muito simples natildeo se enxerga nem remotamente o fim da era do

nacio nalismo que po r tanto tempo fo i profetizado Na verdade a

condi ccedilatildeo nac io nal [n at ion -ness] eacute o va lor de m aior legit imidade

un iversa l na vida poliacutetica dos nossos tem pos

Mas ~e 0 5 fatos satildeo cla ros a expl icaccedilatildeo deles contlnua sendo

objeto de LI ma longa d iscussatildeo Naccedilatildeo nacionalidade nac ionalis shy

mo- todos provaram ser de di fi ciacuteli ma definiccedilatildeo que di niacute de anaacuteshy

Iise Em contraste com a enorme in fl uecircncia do nacional i~mo sobre

o mundo moderno eacute no tiacutevel a escassez de teorias plau siacutevei lgt sobre

ele Hugh ~cto n -Watwn au tor do que ~ longe o melhor c o m ais

l Q uem tiver alguma duacutevidl sobre as prcte nlt1c do Re ino Un ido quanto a esa

ptriJclclc com a Uniuumlo Sovieacutelica que se peq Ul1 l q ual a rlac io ll 1 licl Joe dc~ i g nada

pelo Sl 1l110mcl Gratilde-Bri lo- lrIlocSa

3middot r ic I lolh bJwm middotome rdlecti l1 s on 1 h( brea k-up of BritJi n Ntmiddotw Lert UC middotimiddotw luS (gtdelllb ro -outub ro 1977 ) p 1 J

2iacutel

lbrangen te texto em liacutengua inglesa sobre nacionalismo e herdeiro

de urna vasta tradiccedilatildeo liberal de his toriognlfia e ciecircncias sociais

ob~( rva com pesa r Assim eu sou levado a co ncl uir que natildeo eacute posshy

slvcl elaborar nenhuma defi niccedilatildeo ci en tiacutefi ca de naccedilatildeo m as uuml fenocirc shy

meno exis tiu e con tinua a existir ~ Tom Nairn autor do inovador

ri( Break-up ofHritain c herdeiro de uma tradiccedilatildeo q uase tatildeo vasta

de his toriogra fia e ciecircncias sociais m arx istas d ecla ra com a maior

sinceridade A teoria do nacionalismo representa a grande falha

histoacute rica do m arxismo Mas m esmo esse reconhecimen to eacute um

tan to enganador pois pode-se entendecirc-lo como se estivesse refeshy

rindo-se ao deploraacutevel resultado de uma longa e deliberada busca

de clMeza teuacuterica Seria m ais correto di zer que o nacionalismo

del11o nstrou ser uma anomalia incocircmoda para a teu ria marxis ta e

justa mente por isso prefe riu-se evitaacute -lo em vez de en frentaacute -lo De

que outra maneira se explicaria por que Marx natildeo esclareceu o

prono me possessivo cruc ial na sua memoraacute vel formulaccedilatildeo de

lMS O proletariado de cada paiacutes d~ve natural mente ajustar

contas antes de mais nada com a sua proacutepria burguesia De que

outra ma neira tam beacutem se explicaria por que o concei to de burshy

gues ia naci o nal foi uti lizado por mais de um seacuteculo sem nenhuma

tentat iva seacuteria de justifi car teoricamente a pertinecircncia do adjetivo

Por q ue essasegmentaccedilatildeo da burguesia - LU11a classe m undIal na

med ida em q ue eacute d efi nida pelas relaccedilotilde es de p rodu ccedilatildeo - tem

imrnrtacircncia teoacuterica

Este livro pretende o terecer a tiacutetulo de ensaio algumas id eacuteias

middot1 Vr () livro NU l iom aIri srll l f p 5 Grifo meu

smiddot Vcr q art igo middot lhe motlnn )anus NII lefi rCI middotcw Y I (nllcm bro -Jczcmhro

1175) 1 -gt Este rmJ i fui incluiacutedo ~em all Naccedil)cs no li vrlt) lh e hllilk - Ip of 1rt(ll illCOIllO capiacutetulo l) lpp 329 oacute3j

( ~MI otar c l ried rich Engels n c Clt1111lI i t 1l lCI ll ifoacute t o in ltdedfrl V(Ir~ I p

-l Crif meu Im l( ulltluer exegese teoacute rica a palavra nal ural men le devcria

K(ndcr UIll luzinha ve rmelha OC ~L1c rra pa ra o rito r elllus i mldn

29

para uma interpretaccedilatildeo mais satisfa toacute ria da anomalia do nacioshy

nalismo A miJlha impressatildeo eacute que tanto a teoria marxista quanto

a liberal se es tiolaram num derrade iro esforccedilo ptolemaico de salshy

var os fenocircmenos Creio haver uma necessida de urgente de se reoshy

r ientar a perspectiva dentro de um espiacuterito por assim d izer copershy

nicano O meu pon to de part ida eacute q ue tan to a na cio nalidade - ou

como talvez se prefira dizer dev ido aos m uacuteltip los significados

desse termo a cond iccedilatildeo nacional [nation-ness]-qua nto o nacioshy

nalismo satildeo produ tos culturais especiacuteficos Para bem entendecirc-los

temos de considerar com cuidado suas origens histoacutericas de que

maneiras seus significados se transformaram ao longo do tempo

e por que dispotildeem nos dias de hoje de uma legitimidade emocioshy

nal tatildeo profunda Tentarei mostrar que a criaccedilatildeo desses produtos

no final do seacuteculo xVIII foi uma destilaccedilatildeo espontacircnea do cruzashy

mento complexo de d iferentes forccedilas histoacutericas No entanto

depois de criados esses produtos se tornaram modulares capashy

zes de serem transplantados com diversos graus de autoconsciecircnshy

cia para uma grande variedade de terrenos sociais para se incorshy

porarem e serem incorporados a uma variedade igualmente

grande de constelaccedilotildees poliacuteticas e ideoloacutegicas Tentarei mostrar

tamheacutem por que esses produtos culturais especiacuteficos despertaram

apegc tatildeo profundo

7middot Como nota Aira Kemilaincn os doispais fundadores dos estudos acadecircmicos

sobre o nacional ismo Ha ns Kohn e Carleton Haycs defenderam ess~ 0JtJCcedilUacuteO de

maneira muito convinccDte A m eu ver suas co nclusotildees natildeo chega ram a ser objeshy

to de seacuter ios debates a natildeo Ser por ideoacutelogos nacionalistas em determ inados paiacuteshy

se Kem il j int n tJm beacutem observa qLle o uso do termo nacionalismo gtneralishy

(olI-se no fi na l do seacuteculo XI X Nlo aparecia por exemplo em muitos dicionaacuterios

oitoccntist ClS correntes Se Adam Sm ith invocou a riqueza das naccedilotildees foi para se

refe ri r apenas a socieddes o u estados Aira Kel11ilainen Natiollulism pp lO 33 e 18-9

30

CONC E ITOS E DE H NICcedilOtildeE S

Antes de encaminhar as questotildees levantadas anteriormente

seria aconselhaacutevel avaliar rapidamente o conceito de naccedilatildeo e ofereshy

cer uma definiccedilatildeo operacional Eacute frequumlente a perplexjdade para natildeo

dizer irritaccedilatildeo dos teoacutericos do nacionalismo diante destes trecircs parashy

doxos (1) A modernidade ohjetiva das naccedilotildees aos olhos do historiashy

dor versus sua antiguumlidade subjetiva aos olhos dos nacionalistas (2) A

universalidade formal da nacionalidade como conceito sociocultural

- no mundo moderno todos podem devem e hatildeo de ter uma

nacionalidade assim como tecircm este ou aquele sexo - versus a parshy

ticularidade irremediaacutevel das suas manifestaccedilotildees concretas de modo

que a nacionalidade grega eacute por definiccedilatildeo sui generis (3) O poder

poliacutetico dos nacionalismos versus a sua pobreza e ateacute sua incoerecircnshy

cia filosoacutefica Em outras palavras O nacionalismo ao contraacuterio da

maioria dos outros ismos nunca gerou grandes pensadores proacuteshy

prios nenhum Hobbes Tocqueville Marx ou Veber Esse vazio cria

certa condescendecircncia entre os intelectuais cosmopolitas e poliglotas

Algueacutem pode logo concluir como Gertrude Stein diante de Oakland

que natildeo haacute nenhum ali ali [no there there] Eacute exemplar que ateacute um

estudioso tatildeo simpaacutetico ao nacionalismo quanto Tom Nairn possa

mesmo assim escrever que O nacionalismo eacute a patologia da histoacuteshy

ria do descnvolvimen to modern 0 tatildeo inevitaacutevcl quanto a neu rose no

indiviacuteduo e que guarda muito da mesm a ambiguumlidade de essecircncia da

tendecircncia interna de cair na loucura enraizada nos dilemas do

desamparo imposto agrave maior parte do mundo (o equivalente do infanshy

tilismo para as sociedades) sendo em larga medida incuraacutevel 8

A dificuldade em parte consiste na tendecircncia inconsciente

que as pessoas tecircm de hipostasia r a existecircncia do nacionalismoshy

com -N -maiuacutesculo (como se algueacutem pudesse ter umn Idade-comshy

8 TlII Imllk-up ofBrit aill p 359

31

I-nu i(Isculo) e en tatildeo de classifi caacute-1 0 como uma ideo logia

(NOla-~c ~lue se todos tecircm u ma cer ta id ade a ldade eacute apenas uma

expressatildeo ana lIacutelica ) Penso que valeria a pena tratar ta l conceito

do mesmo modo que se trata o paren tesco e a religiatildeo em vez

d e colocaacute- lo ao lado do liberalismo o u do fascism o

Assim dentro de um espiacuterito antropoloacutegico p ropo J1h o a seshy

guinte definiccedilatildeo de naccedilatildeo uma comunidade poliacute t ica im aginada shy

e imaginada como sendo intr insecamente limitada e ao mesmo

tempo soberana

Ela eacute imaginada po rq ue mesmo os membros da mais minuacutesshy

cula das naccedilotildees jamais conheceratildeo encontraratildeo ou sequer ouvishy

ratildeo falar da majoria de seus co mpanheiros embora todos tenham

em mente a imagem viva da comunhatildeo entre el es~ Era a essa imashy

gem que Renan se referia quando escreveu com seu jeito levemenshy

te irocircnico Or l essence dune nation est que tous les ind ividus

aient beaucoup de choses en comm un et aussi que tous aient

oublieacute bien des choses raquo lOra a cssecircncia de uma naccedilatildeo consiste em

qu e todos os ind iviacuted uos tenham m uitas co isas em comum e tamshy

beacutem que todos tenham esquecido muitas coisas] Gellner diza lgo

parecido quando decreta com certa feroc idade que O nacionashy

lismo natildeo eacute O despertar das naccedilotildees para a autoconsciecircncia ele

inventa naccedilotildees onde elas natildeo existemI Mas o inconveniente dessa

y C f 5eton-Watso n Ntll ions nd states p 5 A uacutenica coisa que posso di ze r eacute que

u ma naccedilatilde o ex is te quando pe~soas em nuacutem ero sign ifica tivo de uma comunidade

~ e consideram fo rmando uma naccedilatilde o o u se comportam como se formassem

uma Podemos traduzir sc co nsideram por se imaginam

10 Ernest Renan Q ucst-ce qu une nalion in Oel )res f Ollpletes 1 p 892 E

acrescenla tout ci to yen franccedilais doit avo ir o ublieacute la Saint -13a rtheacutelemy les masshy

sacres du M iJi a l1 Xllle siicle Il ny a pas en Francc dix familles qui pui sscnt fourshy

ni r la preuve d une o rigine fran q ue [todo cidadatildeo francecircs deve ter esquecid o a

ll(l ile de Satilde o Ba rloln llleu os massacrl~ S do Sul no sendo XIII Natildeo exis tem na

FrIf1 lt dez fam iacutelias que possam oferecer provas de uma o rigem franca ]

11 l rnesl Cd lntr rliouglll rtdchallge p 169 Grifo meu

form ulaccedilatildeo c que Gellncr estaacute tatildeo afli to para mostrar que O ndCJ(middot shy

nal ismu se mascara sob fa I sa~ aparecircnciasque ele identifi ca invenshy

ccedilagraveo com contrafaccedilatildeo e fa lsidade e natildeo co m imaginaatildeo e

criaccedilatildeo Ass im ele sugere im plic italllcntc qu e existem cOl11 unishy

dadesverdauc iras que num cotejo com as nclccedilotildecsse mostrar iam

melhores Na verdade q ualquer com unidade maio r que a aldeia

pr imord ial do conta to Cace a face (e talvez mesmo ela) eacute imaginashy

da As comunidades se disti nguem natildeo por sua falsiJ addautent ishy

cidade mas pelo estilo em que satildeo imaginadltls Os aldeatildees javaneshy

sessempre souberam que estatildeo ligados a pessoas que n unca viram

mas esses la-os eram () nl igame nte imaginados de maneira parl ishy

(ularista - como redes de parentesco c cl ientela COI11 pass iacuteveis de

txtensatildeo indckrminada Ateacute tcmpos bem recentes o idioma javashy

neacutes natildeo tinha n enh uma palavra que designasse a abstraccedilatildeo socieshy

dade H oje em dia podemos pensar na aristocrac ia francesa do

iJIl CiCIl reacuteg i ll c CO 1110 uma classe mas ccrtamen te ela soacute fo i imagishy

nada desta maneira em ~poca bas lan te adiantada Diante da pershy

gunta Quem eacute o conde de X a resposta normal natildeo ser ia um

mlmbro da aristocracia c sim o sen hor de X o tio da baronesa

de Y ou u m cliente do duque de Z

Imagina -se a naccedilatildeo limitada porque mesmo a maior delas

que agregue digamos um bilhatildeo de habita ntes poss ui frontciras

lin iacutetas a in da que elaacutest icas para aleacutem das quais existem o utras

llaccedilOcircts Nenh uma delas imagina ter a mesma extensatildeo da hu manishy

11de Nem os nacional i ~tas mais mess iacircnicos sonham co m o d ia

111 que to dos os mem h ros da es peacutecie huma na se un iratildeo a sua

12 ll hsbawfll por exemplo lI xJ n lli toc rlci3 com o cla s~l ao diz r qU tmiddot em

IiiN bull Ia o nsisti a em In a d~ lt100 mil Plt=SS(ht numa pop ul lccediluumlo de 23 milhuo

(Vcr ) ~eu li [(J Th e A~c o RrroltieJ p 7R [i rra das revohlccediloacuteS EIroll 789 ~middotIR 111 lt Terra 19771) Ma~ lmiddot~se quadro estlt lSlico da nobreza seria imaginaacuteve l

oh o ltlrf 1I reacutegll e

32 33

naccedilatildeo como por eXe mplo na eacutepoca cm q ue os cri taos pod iam

sonhar co m um planeta total mente cristatilde v bull

I magina -se a naccedilatildeo soberalltl porquc o conceito nasceu na

eacutepoca em que o Iluminismo c a Rcvo luccedilagraveo estavam destru indo a

Icgiuumlmidade do reino dinaacutest ico hieraacute rqu ico de ordem divina

Amad urecendo nllm a fase da histoacuteria humana em que mesmo os

adeptos mais fervorosos de qualquer religiatildeo universal se defronshy

tavam i nevitavel men te COI11 o pl1lra lismo vivo dessas rel igiotildees e

com o alomorfismo entre a~ pretensotildees ontoloacutegicas e a extensatildeo

terri to rial de cada credo as naccedilotildees son ham em ser livres - e

quando sob dominaccedilatildeo divina entatildeo d iretamente sob Sua eacutegide

A ga_ra ntia e o emblema dessa li berdade eacute o Estado Soberano

F por uacuteltimo ela eacute imaginada como urna comwlidade porshy

que independentemente da desigual dade e da exploraccedilatildeo efetivas

q ue possam existir dentro dela a naccedilatildeo sem pre eacute co ncebida corno

uma profunda camaradagem horizo ntal No fu ndo foi essa fratershy

nidade que tornou possiacutevel nestes dois uacuteltimos seacuteculos tantos

m ilhotildees de pessoas tenham-se natildeo tanto a matar mas sohretudo a

morrer por essas criaccedilotildees imaginaacuterias lim itadas

Essas mortes nos colocam bruscamen te diante do problema

central posto pelo nacionalismo o que faz com que as parcas criaccedilotildees

imaginativas da histoacuter ia recente (pouco mais de dois seacuteculos) gerem

sacrifiacutecios tatildeo de-comunais Creio que encontraremos os primeiros

contornos de u ma resposta nas raiacutezes culturais do nacionalismo

1 Raiacutezes culturais

Natildeo existecircITI siacutembolos mais impressionantes da cultura mo shy

dern a do nacionalismo do q ue os cenotaacutefios e tuacutemulos dos soldashy

dos desconhecidos O respeito a cerimocircnias puacutebl icas em que se reveshy

r~n ciam esses monumentos justamente porque estatildeo vazios o u

po rque ningueacutem sabe q uem jaz dentro deles natildeo encon tra

nenhum paralelo verdadeiro no passado Para sentir a forccedila dessa

modern idade basta im aginar a reaccedilatildeo geral di an te do suj ei to

in trometido que descobre o nome do soldado descon hecido ou

que ins iste em colocar algu ns o~sos de verdade den tro do cenot shy

fio Es tranho sac rileacutegio co n temporacircneo f no entanto esses

tuacute mul os sem almas imortais nem restos mortais identificaacuteveis

dentro dcles estatildeo carregados de imagens naciolais espectrais - (Eacute

1 (h gre~os ant igus tinham ceno l3Ji()s mas parl indiviacuted uos especiacuteficos d e idenshy

I idade conhec ida e cu jos cor pos por uma razatildeo ou o ut ra 11 10 puderam receher

Ll m~ nterro no rmal JJevoes ta informaccedil50 agrave minha colega Judith Herri n es tudio shy

sa de lIilagrave nmiddotio

~ Cn~idccedilrccedilm- se po r f xc mplo essas llotiIacutevc is expressotildees a Os irlllatildeos de armas

IUnLI no fa lta l-am_Se o fi l essem um milhatilde o de espect ros em verde-o i iva panio

34 35

por iSSl) que tantas naccedilotildees difcren tes tecircm esses tuacutem ul os sem senti r

nenhumt necessidade de c-pccificltlr a nacionalidade de seus ocushy

pantes auscntes O que mais potleriam ser 5(10 ak mdes ameri cashy

nos argen ti nos etc )

O sign ificado cul tural desses monumen tos Ii caniacute ainda mais

c1eacutel ro se tentarmos imagi nar por exemplo um luacutemulo do ma rx isshy

ta desconhecido ou um ccnolaacutefio para os liberais tombados em

combate Natildeo seria um abs urdo O m~lrx ismo e o li beralismo natildeo

se importam mu ito com a Inorte e a imortalidad bull Se o imagmaacuterio

nacionalista se importa tanto com elas isso sugere sua grande ~fishy

nidade com os imaginaacuterios religiosos Como essa afinidade nada

tem de fortu ito talvez val ha a pena inicia r uma ava liaccedilatildeo das ra iacuteshy

zes cullurais do nac ionalismo pela mo rte o uacutelt imo elemento ele

Ul11 cJ seacuterie de fatalidades

A maneira de um homem morrer geralmente parece arbit raacuteshy

ri el mas sua mo rtal idade eacute ine itaacutevel As vidas hu manas estatildeo

-heias dessas combi naccedilotildees entre acaso e necessidade Todos sabeshy

mos que nossa heranccedila geneacutetica pessoal nosso sexo a eacutepoca em

que vivemos nossas capacidades fiacutesicas liacute ngua materna e aampgtim

por diante satildeo fato res conlingentes e inelutaacuteveis O gra nde meacuterishy

lO das concerccedilotildee~ religiosas tradi ciona is (o tlual nalural mente

natildeo deve ser confu ndido com o papel delas na legitimaccedilatildeo de sis shy

d qli ma rrom llU l e cinja sr levan tariam d~ suas laacutep ides h rl ll CdS trovejando

ca plllvras 11iacutegidS Dew I honra piacutet rb b O mel Ju iacutew lsnhre o (l Idado

nlcriclno I e (armou 1111 a111 po dt batuacuteha haacute Ill u itus e lll 11i tllS allOS e llUIlCi1 se [1 lIhli fio li Lu li 1 11 cnt Jo com() o veio ago ra como ullla das ligu r JS mais nobres

I lll Undo 11 lt10 ~O como uma das pllsonal idades nl i li t J re~ mai sele tasl11 il ta mshy

hc m como uml da Il1d is imaculadtgt I~ ic I ri r fertc nccl h l~t(r ia I(l [ dar 11 rn dus ml iofCS eXlmp lo tIlt pat ri(lti ll1o vitll ri ()5P I~ i - ) Ek pcr lt ll ( l p(~ tcr i dlde

como il1otruto r de gc raccediluumlc futura nm prindpio da libl rdlde l indl [lc nJeacuten(ia

Lle p~ rtcn~e 10 l r l~e nlL d noacutes l1(lr ~lHh v i rtllde~ t rcali lik s Uouglas IIluto rlh ur Outy I IOIl lLlr (ollnt ry di(u fo) p cl ri a cldcm iJ IililJ r t merishy

~anol 1 [gt1111 I dc maio Ir 196 2 L11l sc lt so ltlier spclks pp JSI c 357

tC llhlSsptciacutefi cos de domi naccedilatildeo e exploraccedilatildeo ) eacute a SUltl preocupaccedilatildeo

com () homem-no-universo o homem enquanto espeacutecie e cont inshy

glncia da vida A ext rao rd inaacute ria sobrevivecircncia do budismo do

(ri~tiltlI1 is l1l o ou do islamismo ao longo de milecircnios e em dezenas

de formaccedilotildees sociais d ireren tes comprova li ma capacidade de resshy

posta imaginativa ao tremendo peso do sofrimento humano - a

doenccedila a mutilaccedilatildeo a dor a velhice a morte Por que nasci cego

Por que o meu mel hor amigo fi cou para liacute tico Por que a mi nha

irm eacute retardada As religiotildees ten tam expl icar O grande pon to

fllthO de todos os estil os de pensamento evolucionaacuteriosprogressi

vos in cluindo o marxismo eacute que eles respondem a essas pergunshy

tas COI11 um silecircncio impaciente Ao mesmo tel11po e de diversas

maneiras o pensamento religioso tamb~m daacute respostas sobre as

ohsclI ras insinuaccedilotildees de imortal idade geralmente transfo rmando

H fatali dade em contin uidade (kamUl pecado originnletc )Assim

a re ligiatildeo se interessa pelos viacutenc ulos entre os mortos e os ainda

natildeo-nascidos pelo misteacuterio da rc-generaccedilatildeo Quem vive a conccpshy

tatildeo l () nascime nto do se l proacuteprio filho sem apreender difll sa shy

mente lima mescla de ligaccedilatildeo acaso e necess iddde em linguagem

de continuidade (Aqui de novo a desvantagem do pensamenshy

1 Cf Rlgi~ lk bray lhrx i~m ltl nd I h ~ national question Nellmiddot lerr NClltIV J 05

(sckmhrll-outubro 1977) p 29 I )lIfantc deg I11 ~ U trabal ho de campo na Indoneacutesia

l1il deacuteltHl a d oacuteO fique i chocado (0111 a tranquuml ila llcgJ ti llt1 de muitos llluccedilulmJnu

~11 ll~il lt1 r IS ideacuteias de Darwin Nu co meccedilo interpretei essa negaI iJ C(l mo obs u

rlIlt l~ll1n Depois vi que cra lima hnlat ivl lo uvaacutevel de l1lJnlcr a ()crl ll cia a doushy

trina d) evoluccedilao era ~im p l sme n lc i n ~lm pa livd com os Lns inalllf ll liS do islatilde O tuc IMer )1l1 UI I1 ll1 a l criali ~mo cicnliacutelic que aCl ita formalmente 15 des(obn tas

d1iiacutesil1 ()h r~middot 1 mak ria rna~ que se ltmpcnha latildeo puu(O (111 vincular lai dcscohcr a~ li lU1 1d ICSbull I rcmiddotol uccedilagrave(l ou ao q ue lor ~cri que o ahismo enlre os proacutetons

r o Itolmiddotlnri1UacuteC) 11 10 oc ult1 ul11a cksconhecidu CO I1CCpccedilO metafiacutesica do hOl1l ell1

tIJ lmiddotjlIn-st os II1 tcrCSSJll llS textos Je ScbnSliollll1l m pan aru O II(tcritl iSJIl l

TItmiddot flLlld(1I ~ lp c a rcs po~tJ pondLradltl de Raymond Wi llium 1 eles em Timla 1110 111lkrillist dlllJ Icng bull ICII lcft IklJ middotW 109 (I11 Ji( -junl1o 1978) pp _~ - 1 7

37 36

to cvoluciomiacuterio p ro gressivo eacute sua aversatildeo quase heraclitialla a

qualquer ideacute ia de co ntin uidade)

Faccedilo essas observaccedilotildees talvez simploacuterias principalmente por shy

que () seacuteculo XV II I na Eu ropa Ocidcn la l marca llatildeooacute o amanhecer

Ja era 00 nac ionalismo m as tambeacutem o anoi tecer dos modos de

pensamentos religiosos () seacutecuJo do Il um inismo do secul arismo

racio nal ista t rou xe consigo suas proacuteprias t revas m od ernas A feacute

religiosa decl inou mas o sofrimento que ela ajudava a apaziguar

natildeo desapareceu A desintegraccedilatildeo do para iacuteso nada torna a fatalid a shy

de mais arbitraacuteria O absurdo da salvaccedilatildeo nada torna m ais necesshy

saacuterio um outro estilo de cont inuidade Entatildeo foi preciso q ue houshy

vesse uma transfo rmaccedilatildeo secular da fa talidad e em co ntinuidade

da contingecircncia em signi ficado Como veremos poucas coisas se

mostraram (se m ostram) mais adequadas a essa fi nalidade do que

a ideacuteia de naccedilatildeo Adm ite-se normalmente q ue os estados nacionais

satildeo novos e histoacutericos ao passo q ue as naccedilotildees a q ue eles datildeo

expressatildeo poliacutetica sempre assomam de um passado imemorial e

4 O falecido pre idcnte Suklrno sempre falou com toda a sil1cnidade sobre os

30 anos de coJonialismo a que a sua Indoneacutesia fo ra subm etida embora o proacuteshy

prio co nceito de Indoneacutesia seja uma invenccedilatildeo do seacutec ulo X e a maior parte do

que hoje eacute o paiacutes ten ha sido conquistada pelos holandeses apenas entre 1850 e

1910 O principal heroacutei nacional da Indon eacutesia con tempo racircnea eacute o priacutencipe java shy

nl-s Dipltlnegoro do comeccedilo do seacuteculo xlxembo[U as memoacuterias do priacutencipe mosmiddot

trtJn que ele pretendia co nqui~tJr Inatildeo libertar J 1(1a t natildeo expulsaros hola nshyd (~~l~ 11 verdade eacute evidentt que tk natildeo concebia os holltl1dccs como uma

(lllct iidlde Ver Harry ) Uencla t John A l arkin (o rg ) 117 lt 1Vorld ofSoll lumiddotast A51tl p 158 c Ann Kumar Diponcgoro ( I 771)~- 1 855) l ldolltsia 13 (abril de

I Yiacute2) p 103 Criro meu Analogamente Kcmal Atatuumlrk deu lOS slt us bancos esta

ta is os nomcs Ba nco Hitita I Ui Banka ) c Banco Sumeacuterio (Sc t(l n Watson Narivlls mui Siacutelllcs p 259 ) E SSeacuteS bancos satildeo proacutesperos e natildeo haacute razio para duvidar que

mu itos tl IlCOS e provavelmente o proacuteprio Kcmal acred itasst m slr iamcnte e

Jintla acreditem que 0 hit itds e os sumeacuterios satildeo seus antepassados tu rcos An tes de dar muitas risaJas se ria me lhor lembrarmos de Artm c Boad i~ea e refletir sobre o sucesso comercial das mi tog rafias de ro lkien

38

1 indd mais importante ~cguem rumo a um futuro il im itado 1 a

nlltlgia do nac ionalismo que converte o acaso em desti no Podem os

dic com Debray Si m eacute pu ro acaso que cu ten ha nascido fran cecircs

mJS a ti nai a h anccedila eacute eterna

Eacuteclaro que natildeo estou afirmando que o su rgimento do nacioshy

naligtl11o no fina l d o seacutecu lo Xl ur foi produzido pelo dcsgaste das

convicccedilotildee religiosas nem que ~sse proacuteprio desgas te natildeo requer

unhl explicaccedilatildeo complexa Tambeacutem natildeo estou sugeri ndo que o

l1aciol1a I ismo tenba de aJgu ma forma su bsti tu iacutedo histo rica shy

mente a religiatildeo O q uc es tou popondo eacute o entendimen to d o

nac ionalism o alinhando-o natildeo a ideologia- poliacuteticas conscien teshy

mente ado tadas mas aos grandes sistemas cu ltu rais qu e o prece shy

deram e a partir dos quais ele surgiu incl usive para combatecirc-los

Para nossas fi nal idades os do is sistemas cul turais per i nel1 te~

sagraveo a cOlllI zidade religiosa e o reino dinaacutestico Po is am bos no seu

apogeu fo ram est ruturas de referecircnc ia incontestes como oco rre

atualmente com a nac ionalidade Portanlo eacute fundame ntal analishy

sar o qu e cunfer iu uma plausibiJidade auto-evidente a esses sisteshy

mdS cul urais e ao mes mo tempo d estacar a lguns eJc m cntos shy

cbaw na decomposiccedilatildeo deles

1 C O IIUNIDADE RELI G IOS A

I Xlstem po ucas coisas ma is im pressionanles do que a vasta

extensatildeo ter r ito r ial do Ummah i ~lagravemic) desde o Marrocos ao

arquipd ago Sulu da cri slandade Jesde o Paraguai ao Ja patildeo e do

nlundo bu d ista desde o gt r i La nka agrave pen iacutensula coreana As grand es

1111turas acras (e para nossos objetivos pode-se incluir tambeacutem

o confucionism o ) incorporava m a ideacuteia de imensas comunidashy

des ~las a cristandadc o Um mah is lilmico e mesm o o Impeacuterio do

Ccnl ro - que hoje eacute considerado chinecircs mas antes imaginava-se

39

como cenLrd - eram imaginados pri ncipalmente pelo uso de

um a liacutengua e uma escrita sagradas Tomemos o exem plo do islatilde se

ul11 ll1aguindanaucnse encontrasse um btrbere em Meca um desshy

conhecendo o idioma do out ro incapazes de se comunica r oralshy

mente mesmo assi m entenderia m os seus caracteres p(Hque 0lt

textos sacros adotados por ambos exist iam apenas em aacuterabe claacutesshy

sico Nesse sentido o aacuterabe escrito fu ncionava como os ideograshy

mas ch ineses criando wna comunidade a partir dos signos c natildeo

dos so ns (Assi m hoje em dia a linguagem matemaacutetica daacute prosseshy

gu imento a uma velha trad iccedilatildeo Os romenos natildeo fazem ideacuteia de

como se diz + em tai landecircs e vice-versa mas ambos compreenshy

dem o siacutembolo) Todas as grandes comunidades claacutessicas se cOl1Sishy

deravam cosmicamente centrais at raveacutes de uma liacutengua sagrada

ligada a uma ordem ~upra terrena de poder Assi m o alcance do

lal im do paacute li do aacuterabe ou do chinecircs escritos era teoricamente ilishy

mitado (Na ve rd ade quanto mais morta eacute a liacutengua escri ta shy

qua nto ma is di-ta ntc da fala - melhor em princiacutepio todos tecircm

acesso a um mundo puro de signos )

Mas essas com Llnidade~ claacutess icas ligadas r or Jinguas sagradas

tinham um caraacuteter di fe re nte das comunidades imagi nadas das

naccedilotildees modern as Uma di ferenccedila fundamental era a confianccedila das

comunidades maIs an tigas no sacrarnenLalislllo l1nico de suas liacuten shy

guas e daiacute deri va m as iclcias que ti nllam sobre a admissatildeo de novos

membros O mandarins chineltcs viam com bons olhos os baacuterbashy

ros que aprendiam 3 duras penas a pin tar os ideogramas do

Impeacuterio do Cen tro Esses haacuterharm jaacute estavam ltl meio caminho da

plena aceitaccedilatildeo Meio-civil izado era muiliacutessimo melhor do que

baacuterba ro Essa atit ude certame nte natildeo foi excl usiva dos chi neses

nem se restringiu agrave Antiguumlidade Veja por exemplo a seguinte

5middot O l i 1 t rlIlqLiil iluumlde com que os mOIl (ois c manchus ~ il1 izadu s foram aceitos m rTIo 1-tIIrO$o ( 11

40

-

poliacute tica para os biIacute rbaros formulJua pelo liberal co lomhi ano

Ped ro rermiacuten de Vargas do comeccedilo do seacuteCll lo XIX

Pa ra am pliar a ll)SSa agricu ltura seri a preciso hi spaniza r 0S nossos

iacutendios A preguiccedila a fa lta de in ldigecircnci e a in dif~ rccedil nccedila dd es aos

t rabalhos normais levam a pensa r que d cs derivam de uma raccedila

degenerada que se ueteriora conforme ~e afasta da ua origem [ J

seria muito dese iaacutevel que os iacutendios se extinguissem atraveacutes d misshy

cigenaccedilatildeo com os brancos isentando-os de im postos e ou tros

encargos c concedendo-lhes a propr iedade privaoa da ter ra

I~ notaacutevel que esse liberal ain da proponha extinguir seus iacutendios

el1l parte isentando-os de impostos e concedendo-lhes a proshy

priedade privada da terra em vez de exterminaacute-los com armas de

fogo e microacutebios como logo depois comeccedilaram a fazer seus herdeishy

ros no Brasil Argenti na e Estados Unjdos Nota-se tambeacutem ao lado

desta crueldade com ares condescendentes o otimismo coacutesmico

Jtl fim eao cabo o iacutendio pode -er redimido - pela impregnaccedilatildeo do

stmen bran co civil izado e pelo acesso agrave propri edade privada

~OIlO todos os outros (Como eacute d iferente a atitude de Fermiacuten em

comparaccedilatildeo ao imperialista europeu posterior com a sua preferecircnshy

lia pelos malaios gurcas e hauacutessas autecircnticos em vez de mestishy

Ccedil()~ nativos semi- analfabetos wuacutegs e assim por diante

Mas se o meio de se imaginar as grandes com unidades gl shy

hltt is do passado eram as liacutenguas mudas sagradas essas apariccedilotildees

IJq lliriam realidade a pa rtir de uma ideacuteia btstante es tranha agrave

rn~nta l id ade ocidental contemporagravenea a natildeo-arb itrariedade do

signo Os ideogramas do ch i necirc~ do latim ou do aacuterabe erJm emashy

6 ) hll LYl1L h T cSpi11ish-AI1criCIII rIOllioIl5 1808-211 p 260 Grifo meu g krmo depreciat ivo -I lie na epoca do imperial ismo britimiacuteco designava o

ou ivo clJ iacutenJla da Africa do Norte e do O riente Meacutedio

41

naccedilotildees da real idad e e natildeo re presen taccedilotildees inventadas ao acaso

Co nhecemos a lo nga discussatildeo sobre a liacute ngua (l ati m ou vernaacutecushy

lo) ma is adequad a para a missa Na tradiccedilatildeo islacircmi ca ateacute bem

pouco tempo () Coratildeo era lite ralmente intracuzIacutevel (e portanto

in lrad uzido) porque o uacutenico ltI cesso agrave verdade de Alaacute era por meio

dos signos verdadeiros e illsubstitu iacuteveis d o aacuterabe escr ito Aqui natildeo

existe a ideacuteia de um mundo tatildeo des incuhd0 da liacutengua que todas

as liacutenguas vecircm a ser signos equumlid istanles (e porta nto in tercambiaacuteshy

vei s) dele Com efeito a realidade o ntoloacutegica soacutepo de se r apreendi shy

da por meio de um uacutenico sistema pr ivilegiado de re-presentaccedilatildeo

a liacutengua-verdade do latim eclesiaacutestico do aacuterabe coracirc n ico ou do

chinecircs do sistema de exames E como liacutenguas-verdade estavam

imbuiacutedas de um im pulso largamente estranho ao nacionalism o a

saber o impulso agraveco nversatildeo Por conversatildeo quero dizer natildeo tanto

a aceitaccedilatildeo de dctermi nltldos p r inciacutepios religiosos e sim uma

absorccedilatildeo alqu iacutem ica O baacuterbaro se torna Impeacuterio do Centro o

montanhecircs do Rif muccedilulmano e o ilongo cristatildeo Toda a natureshy

za ontoloacutegica do homem eacute maleaacutevcl ao sagrado (Compare o presshy

tiacutegio dessas antigas liacutenguas mundia is colocadas acima de todos os

vernaacuteculos com o esperanto ou o volapuk que jazem ignorados

entre essas duas esferas) Foi afinal essa possibilidade de convershy

satildeo atraveacutes da liacutengua sagrada que permitiu que um inglecircs se torshy

nasse papas e u m m anchuacute rio se to rnasse Filho do Ceacuteu

Mas se as liacutenguas sagradas permitiam que se imaginassem

co m u nidades tais como a cristandade nuumlo eacute poss iacutevel explicar o

verdadeiro alcance c a efetiva plausibil idade dessas co munidades

7 Atl que parect () grego cclc iaacutesti co natildeo atingiu o estatuto de uma liacutengua -verdashy

de Sao viIacuter ias as razotildees desse fracasso mas com certeza um fator fundamental

fo i que o grego continuou a ser uma liacutengua demoacutetica i lj (ao con traacute rio do latim)

cm grande parte do Impeacuterio do O rien te Devo essa suglts tagraveu a fudith Herrin

8 Nicholas Brakcspear ocupou o pontificado de 11 5middot1-59 com o nume de Adriano 1

arenas pelo texto sagrado os seus leitores afinal natildeo passavam de

min uacutesculos recife let rados em vastos oceano~ iletradosmiddot Para

urna expl icaccedilatildeo m ais completa temos de exami mlr a relaccedilatildeo entre

o~ letrados e suas sociedades Seria equ ivocado co nsideraacute-los uma

espeacutecie d e tecnocracia teoloacutegica As liacuten guas a que eles d avam

suporte por mais abst rusas qu e fo ssem natildeo possuiacuteam o caraacuteter

abstruso auloconstruiacutedo do jargatildeo dos advogados ou dos econoshy

mistas agravemargem da ideacute ia de realidade alimentada pela sociedade

Pelo contraacute rio os letrados eram grandes inic iados cam adas estrashy

teacutegiLas de uma hierarq uia cosmoloacutegica cujo aacutepice era divino 10 As

concepccedilotildees fundamentais so b re os grup os sociais eram mais

centriacutepetas e hieraacuterquicas do que horizontais e fron tei riccedilas O

poder assombroso do papado no seu auge soacute pode ser ent tnd ido

em termos de um clero transeuropeu com conhecimento do latim

esaito e tambeacutem de uma concepccedilatildeo de m undo partilhada p ratishy

ca mente po r todos e segundo a q ual a cam ada intelectual biliacutenguumle

ao media r o vernaacuteculo e o latim tam beacutem faz ia a mediaccedilatildeo en t re a

terra e o ceacuteu (O pavor da excomunhatildeo reflete essa cosmologia)

Apesar de toda a m agnitude e poderio das grandes com unishy

dades imagi nadas rel igiosamentesua coesatildeo inCONsciente fo i di mishy

nui11lio n u m ritmo cons tante apoacutes o fi nal da Idade Meacutedia Entre as

razotildees desse decliacutenio destaco apenas as d uas relacio nadas diretashy

mente agrave sacralizaccedilatildeo uacutenica dessas comunidades

Em primeiro lugar o decliacutenio res ultou d as exploraccedilotildees do

9middot lIJn Hloch nos lem hra que a m aio ria dos senho res e mui tos g ra nd tgt barotildees

111t pneu medieval Ie ra In admini strado res incapazecircgt dt examinar prssoalrnenshy

li Um n iJ toacuterio ou uma prestaccediluo de contas Feudn lSOciel) r p 81

111 Is~() nao sign ifica que os il e t r~d os natildeo lessem Mas o que e les liam nao eram

rltlIlvra~c im ( mundo visIacutecl middotAos olhos de todos os que eram capazes de refk shy

xlo o mlllldo mate r ial era po uco ma is do que uma espeacutecie de maacutescara po r tniacutes da

qUJI ltlerl r iam todas as coisas realmell te importanllt5 era com o se fosse tunbeacutem

lima liacutengua quc(xpressasse por sina is uma rea lidade mais profunda ibid p 83

42 43

m undn natildeo-eu ro peu as quais ampliaram violentam cn te o horishy

wntc cult ural-geograacutefico e simultanea men te os concei tos acershy

C l das poss iacuteveis formas de vida humana11 o q ue ocorrcu sobret-ushy

Jo mas natilde o excl u~ ivam cn te na Europa Esse processo joacute fica claro

no ma io r liv ro de viagem europeu Veja a surp resa co m que o bom

cristatildeo venezia no Marco Poacute lo desc reve Cubla i Catilde no final d o

seacuteculo 1 11 1

o gratilde-catilde tendo obtido essa ex traordinaacuteria vitoacuteria retornou com

grande pompa e triunfo para a ca pi ta l a cidlde de Ka nbalu Isso

aconteceu no mecircs de no vembro e ele continuou a morar laacuteduranshy

te os meses de revcreiro e marccedilo Inecircs este de Ilossa fe ~ la de Paacutescoa

Sabendo que esta era uma das 110ssJsprincipais solenidades ele

mandou q lIe tod os os cristatildeos fos sem ateacute ele e le vasse m o Livro

deles que conteacutem os quatro Evangelhos Depois de fa7cr com que

o incensassem vaacuterias vezes co m toda a cerimocircnia ele o beijou

devotamente e ordenou qu e todos os seus noh res ali presentes

fizessem o mesmo Este era o seu costu me em todas as principais

festividades cr istatildes como a Paacutescoa e o Na tal e ele observava o

mesmo nas fes tas dos sarracenos dos judeus e dos idoacutelatras Indashy

gado sobre o motivo dessl conduta ele disse Existem qua tro

grandes proCetas que satildeo nve renciados l adorados pelas difcnnshy

les cla~ses da h uman idade Os cristatildeos consideram Jes us Cris to

como a di in dade deles us Sd rraCtno~ Maomeacute os judeus Mo iseacutes

e os idoacutelat ras Sogomombar-kan o iacutedolo mais importante deles

Eu devo honrar c most rar respeito por todos os quatro e imocar

em meu auxiacutelio aquele que del re eles eacute na pcrrade supremo no

11 Erich Au crbadl MirllfS is p 2C ITrad ( it Mi ecirc isSatildeo Paulo Perspect iva 5

eJ 200middot1 p ~H6 ]

12 t rco Pnl1 ls 1 middot ja~C5 de li Ja1(() 1aacutelo 1 BrJsiliense 1954J pp 158-9 Grilo meu NO[l - lt porem que beijam lll ~S natildeo lecircem LI Fvangelho

cJII Ilas pela maneira co m que sua majestade agi u em relaccedilatildeo a

clei eacute ev idente que ele considerava a feacute do~ crisl agraveo~ a mai s ve rdashy

(leira e a mel hor

o gue essa passagem tem de notaacutevel natildeo eacute tanto o tranquuml ilo

relat ivismo religioso do grande d inas ta mongol (afi nal ainda eacute um

relativismo religioso) e sim a aLIacutelude e a linguagem d e Marco Poacutelo

Jamais lhe ocorre tratar C ublai como hipoacute crita ou idoacutelatra apesar

de es tar escrevendo para cristatildeos europeus como ele (Em par te

sem duacutevid a po rque quan to ao nuacutemero de suacuted itos e--lensatildeo d o

ttrritoacute rio c quantidade de riq uezas ele ul t rapassa qualquer sobeshy

rano que exist iu ateacute hoje no mundo) E no uso in consciente do

nossa (que se torna deles) e na q ualifi caccedilatildeo da feacute cristatilde cOmo

a mais verdadeira em vez de a verdadeira podemos detectar o s

pr imoacuterdios de uma territo ria li zaccedilatildeo dos credos um prCl1 uacutencio d a

linguagem de muitos nacionalistas (a nossa naccedilatildeo eacute a melhor

- num campo compamtilloe competi t ivo)

Q ue di ferenccedila reveladora temos no iniacutecio da carta do viajanshy

te persa Rica em Par is para o seu amigo Ibben em 17 12

o papa eacute o chefe dos cristatildeos E um elho iacutedolo que se incensa por

haacutebi lo Antigamente ele era temiacutevel aos proacuteprios priacutencipes pois de

() i depu nha com a mesma fa cilidade com que os nossos magniacuteficos

~u llotildees depocircem os reis de [rncrclia e da Geoacuterg ia Mas natildeo o te mem

ma i ~ l l e ~e d iz SUl lSSOr de um dos pri meiros cristatildeos que ~e clldma

5(0 Pedro e cert am ente eacute uma rica sucessatildeo pois ele tem teso uros

illlen so ~ e um grande territoacuterio sob o seu domiacutenio

11 nr 1fllIds o(Mnno Jv o p 1 5 ~ I ls viagcIl5 de Marco lOcirco Brasilicnsc 19541

11 Il enri tlt ) lontesquicu Perrln Lt-lIrrs p 81 As L fl rcs perswlts foram pubtishyL lei pela pri11tira t em [72

44 45

As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy

ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11

tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy

lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido

enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica

na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande

Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem

demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse

parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy

pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy

val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy

nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica

mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma

outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy

lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos

nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy

m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada

mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele

se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros

imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa

poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy

ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim

apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy

mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do

latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma

po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy

5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo

16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy

recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)

171bi p 32 1

men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy

lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma

figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade

Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy

lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o

inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy

g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em

larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no

con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy

16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy

decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire

( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a

qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major

nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se

um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio

do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy

des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy

dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando

o Rr l NO DI N AacuteS T I CO

I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um

mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy

11 Ibit p 330

19 1h iJ pp 33 1-2

20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais

lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy

port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro

~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e

Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro

M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356

46 47

tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy

lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy

ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de

um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da

ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra

terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um

territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo

onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram

porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy

m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade

com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter

seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas

veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy

Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy

cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy

tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias

Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy

2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com

essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy

meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os

p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I

iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot

te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy

naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico

ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy

nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias

2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno

tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante

discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar

(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha

O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido

4

tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este

l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o

Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um

ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -

Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia

Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc

arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia

duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy

illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta

e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz

e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy

b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen

marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy

ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da

marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc

Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto

comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e

capturas dos Ha bsburgo

Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy

cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de

concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy

gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er

aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas

111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy

21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1

lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha

atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst

111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do

4

co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando

LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy

mo~ de a tribuir aos Bo urbon

Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo

por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy

ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy

ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos

anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy

d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na

eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes

pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos

Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien

reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy

dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy

bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu

se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy

longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo

Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades

do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio

da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves

arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486

alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy

ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento

eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot

cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la

man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui

capaz de manter ( ibid p 125 )

25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o

fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy

ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught

llIul cllt1ligr p 136

26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot

ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l

nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy

duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria

~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy

monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy

parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da

Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF

Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema

poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy

te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma

~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade

minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande

(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os

JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute

eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst

tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)

PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S

Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas

lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades

~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~

hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270

lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama

I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92

~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil

hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m

sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao

pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr

dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy

do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m

l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85

50 51

religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy

nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy

do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o

m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao

Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos

agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos

c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res

ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy

ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy

na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde

Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy

di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy

no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo

de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com

os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia

muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de

um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era

maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma

universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy

dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta

peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em

latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio

cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para

as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy

pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy

saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue

assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre

os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy

sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a

cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils

~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas

11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a

VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy

I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a

mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma

cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees

I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy

SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a

segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo

pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na

noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do

~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos

colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os

homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais

llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy

ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa

Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de

con~ciecircncia

()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de

Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo

de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy

se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy

0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal

nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de

forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy

lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma

lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot

vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles

31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6

3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco

~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot

11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90

52 53

l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy

mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a

histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla

compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy

rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy

sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de

todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno

Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy

te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy

jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy

sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas

a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real

A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo

para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute

ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a

fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma

co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy

da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura

gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo

med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo

novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy

neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy

zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo

mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo

calendaacute r io H

n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo

bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]

-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy

nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~

n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo

importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se

w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy

gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o

ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy

am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy

ginada correspondente agrave naccedilatildeo

Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao

velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem

de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy

mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e

ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy

mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo

si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy

te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar

ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte

manetra

Tempo 11 III

4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda

num bar

r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em

casa com B

o joga bilhar tem um

pcsaddo

~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e

Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197

55 54

lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia

e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver

feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas

(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a

l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao

entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute

possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua

sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees

(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os

le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy

do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma

tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy

gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy

cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy

ca no espiacuterito de seus leitores

A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy

gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da

ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade

soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o

ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer

e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees

36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I

li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do

37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll

pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1

linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao

a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po

5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico

com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo

39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do

ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy

tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados

Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada

J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy

11 i1111 e simultacircnea dd~s

rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os

rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras

I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas

Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o

romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy

turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro

romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy

ra maravilhosa 11

Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy

mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de

jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy

Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy

~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros

la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a

1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o

gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy

ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl

Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy

nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua

~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave

rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy

l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm

pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y

Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard

1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1

11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I

IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy

Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru

56 57

infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila

n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de

bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no

problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade

necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy

saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo

O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague

Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma

manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos

ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha

mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a

Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o

nosso Governo

Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta

nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy

tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas

anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy

res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy

da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy

satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma

ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la

so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do

tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy

dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da

snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens

auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se

tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy

de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy

bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)

Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy

mente problem aacuteticas

Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy

(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a

IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy

d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy

toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy

lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa

ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy

C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy

men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia

medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo

ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy

lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa

muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao

viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente

algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter

UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy

co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy

oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy

dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para

Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue

Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy

mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria

middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy

11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a

di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy

t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy

Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy

11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15

58 59

comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por

meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a

metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy

lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata

em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica

alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos

passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo

Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy

peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela

mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas

Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy

tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou

di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos

poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto

Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten

45 lbid p 120

46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy

sis ca po I (A cicar de Odissc u)

~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1

IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II

COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy

IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg

I deus Albl nia re ino Jgora

Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel

l u teu udcnsnr llue Igor marIS

M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1

I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy

Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy

IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1

Oacutel

Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo

Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy

meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy

( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no

Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como

suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo

mostra a forma essencial desse romance naciona lista )

Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes

influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e

aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy

dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te

que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy

sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy

quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im

gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos

Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy

trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r

nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo

nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do

interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy

sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico

ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy

nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy

quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1

Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no

movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m

s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do

middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H

4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu

61

romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy

pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo

t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado

o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica

eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de

prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva

mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea

do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se

as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou

daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu

enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)

E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy

dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto

Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo

de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco

Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste

destino publicada em fasciacutecul os em 1924

Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy

vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva

50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura

e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais

51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy

do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros

campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova

Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110

llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot

tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente

li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26

capitulas 25 c 1)

52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu

na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas

l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa

P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy

do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy

gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy

pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas

ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy

nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy

lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se

o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o

cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches

)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea

diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz

dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste

Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim

Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy

nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml

in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que

ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo

inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado

PROSPI~RlLlAj)E

Lm andarilho mendigo passou mal

e morreu abandonado no acostamento da rua

n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o

I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to

Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si

Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy

1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto

(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas

62 63

qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo

de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a

gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy

te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy

liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas

pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy

cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes

gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca

eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz

Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo

confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy

vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da

referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos

seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy

cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je

Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy

ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma

on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que

Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy

dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis

hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor

cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a

raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )

Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela

du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo

encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy

josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy

nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde

)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy

fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a

d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida

pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo

SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto

dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente

licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy

mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu

tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um

lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil

raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos

eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um

mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo

inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os

outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)

Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy

ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado

[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy

le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A

dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a

principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy

gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy

te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem

sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por

I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento

que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os

MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl

LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy

tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco

12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer

1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te

64 65

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 3: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

para uma interpretaccedilatildeo mais satisfa toacute ria da anomalia do nacioshy

nalismo A miJlha impressatildeo eacute que tanto a teoria marxista quanto

a liberal se es tiolaram num derrade iro esforccedilo ptolemaico de salshy

var os fenocircmenos Creio haver uma necessida de urgente de se reoshy

r ientar a perspectiva dentro de um espiacuterito por assim d izer copershy

nicano O meu pon to de part ida eacute q ue tan to a na cio nalidade - ou

como talvez se prefira dizer dev ido aos m uacuteltip los significados

desse termo a cond iccedilatildeo nacional [nation-ness]-qua nto o nacioshy

nalismo satildeo produ tos culturais especiacuteficos Para bem entendecirc-los

temos de considerar com cuidado suas origens histoacutericas de que

maneiras seus significados se transformaram ao longo do tempo

e por que dispotildeem nos dias de hoje de uma legitimidade emocioshy

nal tatildeo profunda Tentarei mostrar que a criaccedilatildeo desses produtos

no final do seacuteculo xVIII foi uma destilaccedilatildeo espontacircnea do cruzashy

mento complexo de d iferentes forccedilas histoacutericas No entanto

depois de criados esses produtos se tornaram modulares capashy

zes de serem transplantados com diversos graus de autoconsciecircnshy

cia para uma grande variedade de terrenos sociais para se incorshy

porarem e serem incorporados a uma variedade igualmente

grande de constelaccedilotildees poliacuteticas e ideoloacutegicas Tentarei mostrar

tamheacutem por que esses produtos culturais especiacuteficos despertaram

apegc tatildeo profundo

7middot Como nota Aira Kemilaincn os doispais fundadores dos estudos acadecircmicos

sobre o nacional ismo Ha ns Kohn e Carleton Haycs defenderam ess~ 0JtJCcedilUacuteO de

maneira muito convinccDte A m eu ver suas co nclusotildees natildeo chega ram a ser objeshy

to de seacuter ios debates a natildeo Ser por ideoacutelogos nacionalistas em determ inados paiacuteshy

se Kem il j int n tJm beacutem observa qLle o uso do termo nacionalismo gtneralishy

(olI-se no fi na l do seacuteculo XI X Nlo aparecia por exemplo em muitos dicionaacuterios

oitoccntist ClS correntes Se Adam Sm ith invocou a riqueza das naccedilotildees foi para se

refe ri r apenas a socieddes o u estados Aira Kel11ilainen Natiollulism pp lO 33 e 18-9

30

CONC E ITOS E DE H NICcedilOtildeE S

Antes de encaminhar as questotildees levantadas anteriormente

seria aconselhaacutevel avaliar rapidamente o conceito de naccedilatildeo e ofereshy

cer uma definiccedilatildeo operacional Eacute frequumlente a perplexjdade para natildeo

dizer irritaccedilatildeo dos teoacutericos do nacionalismo diante destes trecircs parashy

doxos (1) A modernidade ohjetiva das naccedilotildees aos olhos do historiashy

dor versus sua antiguumlidade subjetiva aos olhos dos nacionalistas (2) A

universalidade formal da nacionalidade como conceito sociocultural

- no mundo moderno todos podem devem e hatildeo de ter uma

nacionalidade assim como tecircm este ou aquele sexo - versus a parshy

ticularidade irremediaacutevel das suas manifestaccedilotildees concretas de modo

que a nacionalidade grega eacute por definiccedilatildeo sui generis (3) O poder

poliacutetico dos nacionalismos versus a sua pobreza e ateacute sua incoerecircnshy

cia filosoacutefica Em outras palavras O nacionalismo ao contraacuterio da

maioria dos outros ismos nunca gerou grandes pensadores proacuteshy

prios nenhum Hobbes Tocqueville Marx ou Veber Esse vazio cria

certa condescendecircncia entre os intelectuais cosmopolitas e poliglotas

Algueacutem pode logo concluir como Gertrude Stein diante de Oakland

que natildeo haacute nenhum ali ali [no there there] Eacute exemplar que ateacute um

estudioso tatildeo simpaacutetico ao nacionalismo quanto Tom Nairn possa

mesmo assim escrever que O nacionalismo eacute a patologia da histoacuteshy

ria do descnvolvimen to modern 0 tatildeo inevitaacutevcl quanto a neu rose no

indiviacuteduo e que guarda muito da mesm a ambiguumlidade de essecircncia da

tendecircncia interna de cair na loucura enraizada nos dilemas do

desamparo imposto agrave maior parte do mundo (o equivalente do infanshy

tilismo para as sociedades) sendo em larga medida incuraacutevel 8

A dificuldade em parte consiste na tendecircncia inconsciente

que as pessoas tecircm de hipostasia r a existecircncia do nacionalismoshy

com -N -maiuacutesculo (como se algueacutem pudesse ter umn Idade-comshy

8 TlII Imllk-up ofBrit aill p 359

31

I-nu i(Isculo) e en tatildeo de classifi caacute-1 0 como uma ideo logia

(NOla-~c ~lue se todos tecircm u ma cer ta id ade a ldade eacute apenas uma

expressatildeo ana lIacutelica ) Penso que valeria a pena tratar ta l conceito

do mesmo modo que se trata o paren tesco e a religiatildeo em vez

d e colocaacute- lo ao lado do liberalismo o u do fascism o

Assim dentro de um espiacuterito antropoloacutegico p ropo J1h o a seshy

guinte definiccedilatildeo de naccedilatildeo uma comunidade poliacute t ica im aginada shy

e imaginada como sendo intr insecamente limitada e ao mesmo

tempo soberana

Ela eacute imaginada po rq ue mesmo os membros da mais minuacutesshy

cula das naccedilotildees jamais conheceratildeo encontraratildeo ou sequer ouvishy

ratildeo falar da majoria de seus co mpanheiros embora todos tenham

em mente a imagem viva da comunhatildeo entre el es~ Era a essa imashy

gem que Renan se referia quando escreveu com seu jeito levemenshy

te irocircnico Or l essence dune nation est que tous les ind ividus

aient beaucoup de choses en comm un et aussi que tous aient

oublieacute bien des choses raquo lOra a cssecircncia de uma naccedilatildeo consiste em

qu e todos os ind iviacuted uos tenham m uitas co isas em comum e tamshy

beacutem que todos tenham esquecido muitas coisas] Gellner diza lgo

parecido quando decreta com certa feroc idade que O nacionashy

lismo natildeo eacute O despertar das naccedilotildees para a autoconsciecircncia ele

inventa naccedilotildees onde elas natildeo existemI Mas o inconveniente dessa

y C f 5eton-Watso n Ntll ions nd states p 5 A uacutenica coisa que posso di ze r eacute que

u ma naccedilatilde o ex is te quando pe~soas em nuacutem ero sign ifica tivo de uma comunidade

~ e consideram fo rmando uma naccedilatilde o o u se comportam como se formassem

uma Podemos traduzir sc co nsideram por se imaginam

10 Ernest Renan Q ucst-ce qu une nalion in Oel )res f Ollpletes 1 p 892 E

acrescenla tout ci to yen franccedilais doit avo ir o ublieacute la Saint -13a rtheacutelemy les masshy

sacres du M iJi a l1 Xllle siicle Il ny a pas en Francc dix familles qui pui sscnt fourshy

ni r la preuve d une o rigine fran q ue [todo cidadatildeo francecircs deve ter esquecid o a

ll(l ile de Satilde o Ba rloln llleu os massacrl~ S do Sul no sendo XIII Natildeo exis tem na

FrIf1 lt dez fam iacutelias que possam oferecer provas de uma o rigem franca ]

11 l rnesl Cd lntr rliouglll rtdchallge p 169 Grifo meu

form ulaccedilatildeo c que Gellncr estaacute tatildeo afli to para mostrar que O ndCJ(middot shy

nal ismu se mascara sob fa I sa~ aparecircnciasque ele identifi ca invenshy

ccedilagraveo com contrafaccedilatildeo e fa lsidade e natildeo co m imaginaatildeo e

criaccedilatildeo Ass im ele sugere im plic italllcntc qu e existem cOl11 unishy

dadesverdauc iras que num cotejo com as nclccedilotildecsse mostrar iam

melhores Na verdade q ualquer com unidade maio r que a aldeia

pr imord ial do conta to Cace a face (e talvez mesmo ela) eacute imaginashy

da As comunidades se disti nguem natildeo por sua falsiJ addautent ishy

cidade mas pelo estilo em que satildeo imaginadltls Os aldeatildees javaneshy

sessempre souberam que estatildeo ligados a pessoas que n unca viram

mas esses la-os eram () nl igame nte imaginados de maneira parl ishy

(ularista - como redes de parentesco c cl ientela COI11 pass iacuteveis de

txtensatildeo indckrminada Ateacute tcmpos bem recentes o idioma javashy

neacutes natildeo tinha n enh uma palavra que designasse a abstraccedilatildeo socieshy

dade H oje em dia podemos pensar na aristocrac ia francesa do

iJIl CiCIl reacuteg i ll c CO 1110 uma classe mas ccrtamen te ela soacute fo i imagishy

nada desta maneira em ~poca bas lan te adiantada Diante da pershy

gunta Quem eacute o conde de X a resposta normal natildeo ser ia um

mlmbro da aristocracia c sim o sen hor de X o tio da baronesa

de Y ou u m cliente do duque de Z

Imagina -se a naccedilatildeo limitada porque mesmo a maior delas

que agregue digamos um bilhatildeo de habita ntes poss ui frontciras

lin iacutetas a in da que elaacutest icas para aleacutem das quais existem o utras

llaccedilOcircts Nenh uma delas imagina ter a mesma extensatildeo da hu manishy

11de Nem os nacional i ~tas mais mess iacircnicos sonham co m o d ia

111 que to dos os mem h ros da es peacutecie huma na se un iratildeo a sua

12 ll hsbawfll por exemplo lI xJ n lli toc rlci3 com o cla s~l ao diz r qU tmiddot em

IiiN bull Ia o nsisti a em In a d~ lt100 mil Plt=SS(ht numa pop ul lccediluumlo de 23 milhuo

(Vcr ) ~eu li [(J Th e A~c o RrroltieJ p 7R [i rra das revohlccediloacuteS EIroll 789 ~middotIR 111 lt Terra 19771) Ma~ lmiddot~se quadro estlt lSlico da nobreza seria imaginaacuteve l

oh o ltlrf 1I reacutegll e

32 33

naccedilatildeo como por eXe mplo na eacutepoca cm q ue os cri taos pod iam

sonhar co m um planeta total mente cristatilde v bull

I magina -se a naccedilatildeo soberalltl porquc o conceito nasceu na

eacutepoca em que o Iluminismo c a Rcvo luccedilagraveo estavam destru indo a

Icgiuumlmidade do reino dinaacutest ico hieraacute rqu ico de ordem divina

Amad urecendo nllm a fase da histoacuteria humana em que mesmo os

adeptos mais fervorosos de qualquer religiatildeo universal se defronshy

tavam i nevitavel men te COI11 o pl1lra lismo vivo dessas rel igiotildees e

com o alomorfismo entre a~ pretensotildees ontoloacutegicas e a extensatildeo

terri to rial de cada credo as naccedilotildees son ham em ser livres - e

quando sob dominaccedilatildeo divina entatildeo d iretamente sob Sua eacutegide

A ga_ra ntia e o emblema dessa li berdade eacute o Estado Soberano

F por uacuteltimo ela eacute imaginada como urna comwlidade porshy

que independentemente da desigual dade e da exploraccedilatildeo efetivas

q ue possam existir dentro dela a naccedilatildeo sem pre eacute co ncebida corno

uma profunda camaradagem horizo ntal No fu ndo foi essa fratershy

nidade que tornou possiacutevel nestes dois uacuteltimos seacuteculos tantos

m ilhotildees de pessoas tenham-se natildeo tanto a matar mas sohretudo a

morrer por essas criaccedilotildees imaginaacuterias lim itadas

Essas mortes nos colocam bruscamen te diante do problema

central posto pelo nacionalismo o que faz com que as parcas criaccedilotildees

imaginativas da histoacuter ia recente (pouco mais de dois seacuteculos) gerem

sacrifiacutecios tatildeo de-comunais Creio que encontraremos os primeiros

contornos de u ma resposta nas raiacutezes culturais do nacionalismo

1 Raiacutezes culturais

Natildeo existecircITI siacutembolos mais impressionantes da cultura mo shy

dern a do nacionalismo do q ue os cenotaacutefios e tuacutemulos dos soldashy

dos desconhecidos O respeito a cerimocircnias puacutebl icas em que se reveshy

r~n ciam esses monumentos justamente porque estatildeo vazios o u

po rque ningueacutem sabe q uem jaz dentro deles natildeo encon tra

nenhum paralelo verdadeiro no passado Para sentir a forccedila dessa

modern idade basta im aginar a reaccedilatildeo geral di an te do suj ei to

in trometido que descobre o nome do soldado descon hecido ou

que ins iste em colocar algu ns o~sos de verdade den tro do cenot shy

fio Es tranho sac rileacutegio co n temporacircneo f no entanto esses

tuacute mul os sem almas imortais nem restos mortais identificaacuteveis

dentro dcles estatildeo carregados de imagens naciolais espectrais - (Eacute

1 (h gre~os ant igus tinham ceno l3Ji()s mas parl indiviacuted uos especiacuteficos d e idenshy

I idade conhec ida e cu jos cor pos por uma razatildeo ou o ut ra 11 10 puderam receher

Ll m~ nterro no rmal JJevoes ta informaccedil50 agrave minha colega Judith Herri n es tudio shy

sa de lIilagrave nmiddotio

~ Cn~idccedilrccedilm- se po r f xc mplo essas llotiIacutevc is expressotildees a Os irlllatildeos de armas

IUnLI no fa lta l-am_Se o fi l essem um milhatilde o de espect ros em verde-o i iva panio

34 35

por iSSl) que tantas naccedilotildees difcren tes tecircm esses tuacutem ul os sem senti r

nenhumt necessidade de c-pccificltlr a nacionalidade de seus ocushy

pantes auscntes O que mais potleriam ser 5(10 ak mdes ameri cashy

nos argen ti nos etc )

O sign ificado cul tural desses monumen tos Ii caniacute ainda mais

c1eacutel ro se tentarmos imagi nar por exemplo um luacutemulo do ma rx isshy

ta desconhecido ou um ccnolaacutefio para os liberais tombados em

combate Natildeo seria um abs urdo O m~lrx ismo e o li beralismo natildeo

se importam mu ito com a Inorte e a imortalidad bull Se o imagmaacuterio

nacionalista se importa tanto com elas isso sugere sua grande ~fishy

nidade com os imaginaacuterios religiosos Como essa afinidade nada

tem de fortu ito talvez val ha a pena inicia r uma ava liaccedilatildeo das ra iacuteshy

zes cullurais do nac ionalismo pela mo rte o uacutelt imo elemento ele

Ul11 cJ seacuterie de fatalidades

A maneira de um homem morrer geralmente parece arbit raacuteshy

ri el mas sua mo rtal idade eacute ine itaacutevel As vidas hu manas estatildeo

-heias dessas combi naccedilotildees entre acaso e necessidade Todos sabeshy

mos que nossa heranccedila geneacutetica pessoal nosso sexo a eacutepoca em

que vivemos nossas capacidades fiacutesicas liacute ngua materna e aampgtim

por diante satildeo fato res conlingentes e inelutaacuteveis O gra nde meacuterishy

lO das concerccedilotildee~ religiosas tradi ciona is (o tlual nalural mente

natildeo deve ser confu ndido com o papel delas na legitimaccedilatildeo de sis shy

d qli ma rrom llU l e cinja sr levan tariam d~ suas laacutep ides h rl ll CdS trovejando

ca plllvras 11iacutegidS Dew I honra piacutet rb b O mel Ju iacutew lsnhre o (l Idado

nlcriclno I e (armou 1111 a111 po dt batuacuteha haacute Ill u itus e lll 11i tllS allOS e llUIlCi1 se [1 lIhli fio li Lu li 1 11 cnt Jo com() o veio ago ra como ullla das ligu r JS mais nobres

I lll Undo 11 lt10 ~O como uma das pllsonal idades nl i li t J re~ mai sele tasl11 il ta mshy

hc m como uml da Il1d is imaculadtgt I~ ic I ri r fertc nccl h l~t(r ia I(l [ dar 11 rn dus ml iofCS eXlmp lo tIlt pat ri(lti ll1o vitll ri ()5P I~ i - ) Ek pcr lt ll ( l p(~ tcr i dlde

como il1otruto r de gc raccediluumlc futura nm prindpio da libl rdlde l indl [lc nJeacuten(ia

Lle p~ rtcn~e 10 l r l~e nlL d noacutes l1(lr ~lHh v i rtllde~ t rcali lik s Uouglas IIluto rlh ur Outy I IOIl lLlr (ollnt ry di(u fo) p cl ri a cldcm iJ IililJ r t merishy

~anol 1 [gt1111 I dc maio Ir 196 2 L11l sc lt so ltlier spclks pp JSI c 357

tC llhlSsptciacutefi cos de domi naccedilatildeo e exploraccedilatildeo ) eacute a SUltl preocupaccedilatildeo

com () homem-no-universo o homem enquanto espeacutecie e cont inshy

glncia da vida A ext rao rd inaacute ria sobrevivecircncia do budismo do

(ri~tiltlI1 is l1l o ou do islamismo ao longo de milecircnios e em dezenas

de formaccedilotildees sociais d ireren tes comprova li ma capacidade de resshy

posta imaginativa ao tremendo peso do sofrimento humano - a

doenccedila a mutilaccedilatildeo a dor a velhice a morte Por que nasci cego

Por que o meu mel hor amigo fi cou para liacute tico Por que a mi nha

irm eacute retardada As religiotildees ten tam expl icar O grande pon to

fllthO de todos os estil os de pensamento evolucionaacuteriosprogressi

vos in cluindo o marxismo eacute que eles respondem a essas pergunshy

tas COI11 um silecircncio impaciente Ao mesmo tel11po e de diversas

maneiras o pensamento religioso tamb~m daacute respostas sobre as

ohsclI ras insinuaccedilotildees de imortal idade geralmente transfo rmando

H fatali dade em contin uidade (kamUl pecado originnletc )Assim

a re ligiatildeo se interessa pelos viacutenc ulos entre os mortos e os ainda

natildeo-nascidos pelo misteacuterio da rc-generaccedilatildeo Quem vive a conccpshy

tatildeo l () nascime nto do se l proacuteprio filho sem apreender difll sa shy

mente lima mescla de ligaccedilatildeo acaso e necess iddde em linguagem

de continuidade (Aqui de novo a desvantagem do pensamenshy

1 Cf Rlgi~ lk bray lhrx i~m ltl nd I h ~ national question Nellmiddot lerr NClltIV J 05

(sckmhrll-outubro 1977) p 29 I )lIfantc deg I11 ~ U trabal ho de campo na Indoneacutesia

l1il deacuteltHl a d oacuteO fique i chocado (0111 a tranquuml ila llcgJ ti llt1 de muitos llluccedilulmJnu

~11 ll~il lt1 r IS ideacuteias de Darwin Nu co meccedilo interpretei essa negaI iJ C(l mo obs u

rlIlt l~ll1n Depois vi que cra lima hnlat ivl lo uvaacutevel de l1lJnlcr a ()crl ll cia a doushy

trina d) evoluccedilao era ~im p l sme n lc i n ~lm pa livd com os Lns inalllf ll liS do islatilde O tuc IMer )1l1 UI I1 ll1 a l criali ~mo cicnliacutelic que aCl ita formalmente 15 des(obn tas

d1iiacutesil1 ()h r~middot 1 mak ria rna~ que se ltmpcnha latildeo puu(O (111 vincular lai dcscohcr a~ li lU1 1d ICSbull I rcmiddotol uccedilagrave(l ou ao q ue lor ~cri que o ahismo enlre os proacutetons

r o Itolmiddotlnri1UacuteC) 11 10 oc ult1 ul11a cksconhecidu CO I1CCpccedilO metafiacutesica do hOl1l ell1

tIJ lmiddotjlIn-st os II1 tcrCSSJll llS textos Je ScbnSliollll1l m pan aru O II(tcritl iSJIl l

TItmiddot flLlld(1I ~ lp c a rcs po~tJ pondLradltl de Raymond Wi llium 1 eles em Timla 1110 111lkrillist dlllJ Icng bull ICII lcft IklJ middotW 109 (I11 Ji( -junl1o 1978) pp _~ - 1 7

37 36

to cvoluciomiacuterio p ro gressivo eacute sua aversatildeo quase heraclitialla a

qualquer ideacute ia de co ntin uidade)

Faccedilo essas observaccedilotildees talvez simploacuterias principalmente por shy

que () seacuteculo XV II I na Eu ropa Ocidcn la l marca llatildeooacute o amanhecer

Ja era 00 nac ionalismo m as tambeacutem o anoi tecer dos modos de

pensamentos religiosos () seacutecuJo do Il um inismo do secul arismo

racio nal ista t rou xe consigo suas proacuteprias t revas m od ernas A feacute

religiosa decl inou mas o sofrimento que ela ajudava a apaziguar

natildeo desapareceu A desintegraccedilatildeo do para iacuteso nada torna a fatalid a shy

de mais arbitraacuteria O absurdo da salvaccedilatildeo nada torna m ais necesshy

saacuterio um outro estilo de cont inuidade Entatildeo foi preciso q ue houshy

vesse uma transfo rmaccedilatildeo secular da fa talidad e em co ntinuidade

da contingecircncia em signi ficado Como veremos poucas coisas se

mostraram (se m ostram) mais adequadas a essa fi nalidade do que

a ideacuteia de naccedilatildeo Adm ite-se normalmente q ue os estados nacionais

satildeo novos e histoacutericos ao passo q ue as naccedilotildees a q ue eles datildeo

expressatildeo poliacutetica sempre assomam de um passado imemorial e

4 O falecido pre idcnte Suklrno sempre falou com toda a sil1cnidade sobre os

30 anos de coJonialismo a que a sua Indoneacutesia fo ra subm etida embora o proacuteshy

prio co nceito de Indoneacutesia seja uma invenccedilatildeo do seacutec ulo X e a maior parte do

que hoje eacute o paiacutes ten ha sido conquistada pelos holandeses apenas entre 1850 e

1910 O principal heroacutei nacional da Indon eacutesia con tempo racircnea eacute o priacutencipe java shy

nl-s Dipltlnegoro do comeccedilo do seacuteculo xlxembo[U as memoacuterias do priacutencipe mosmiddot

trtJn que ele pretendia co nqui~tJr Inatildeo libertar J 1(1a t natildeo expulsaros hola nshyd (~~l~ 11 verdade eacute evidentt que tk natildeo concebia os holltl1dccs como uma

(lllct iidlde Ver Harry ) Uencla t John A l arkin (o rg ) 117 lt 1Vorld ofSoll lumiddotast A51tl p 158 c Ann Kumar Diponcgoro ( I 771)~- 1 855) l ldolltsia 13 (abril de

I Yiacute2) p 103 Criro meu Analogamente Kcmal Atatuumlrk deu lOS slt us bancos esta

ta is os nomcs Ba nco Hitita I Ui Banka ) c Banco Sumeacuterio (Sc t(l n Watson Narivlls mui Siacutelllcs p 259 ) E SSeacuteS bancos satildeo proacutesperos e natildeo haacute razio para duvidar que

mu itos tl IlCOS e provavelmente o proacuteprio Kcmal acred itasst m slr iamcnte e

Jintla acreditem que 0 hit itds e os sumeacuterios satildeo seus antepassados tu rcos An tes de dar muitas risaJas se ria me lhor lembrarmos de Artm c Boad i~ea e refletir sobre o sucesso comercial das mi tog rafias de ro lkien

38

1 indd mais importante ~cguem rumo a um futuro il im itado 1 a

nlltlgia do nac ionalismo que converte o acaso em desti no Podem os

dic com Debray Si m eacute pu ro acaso que cu ten ha nascido fran cecircs

mJS a ti nai a h anccedila eacute eterna

Eacuteclaro que natildeo estou afirmando que o su rgimento do nacioshy

naligtl11o no fina l d o seacutecu lo Xl ur foi produzido pelo dcsgaste das

convicccedilotildee religiosas nem que ~sse proacuteprio desgas te natildeo requer

unhl explicaccedilatildeo complexa Tambeacutem natildeo estou sugeri ndo que o

l1aciol1a I ismo tenba de aJgu ma forma su bsti tu iacutedo histo rica shy

mente a religiatildeo O q uc es tou popondo eacute o entendimen to d o

nac ionalism o alinhando-o natildeo a ideologia- poliacuteticas conscien teshy

mente ado tadas mas aos grandes sistemas cu ltu rais qu e o prece shy

deram e a partir dos quais ele surgiu incl usive para combatecirc-los

Para nossas fi nal idades os do is sistemas cul turais per i nel1 te~

sagraveo a cOlllI zidade religiosa e o reino dinaacutestico Po is am bos no seu

apogeu fo ram est ruturas de referecircnc ia incontestes como oco rre

atualmente com a nac ionalidade Portanlo eacute fundame ntal analishy

sar o qu e cunfer iu uma plausibiJidade auto-evidente a esses sisteshy

mdS cul urais e ao mes mo tempo d estacar a lguns eJc m cntos shy

cbaw na decomposiccedilatildeo deles

1 C O IIUNIDADE RELI G IOS A

I Xlstem po ucas coisas ma is im pressionanles do que a vasta

extensatildeo ter r ito r ial do Ummah i ~lagravemic) desde o Marrocos ao

arquipd ago Sulu da cri slandade Jesde o Paraguai ao Ja patildeo e do

nlundo bu d ista desde o gt r i La nka agrave pen iacutensula coreana As grand es

1111turas acras (e para nossos objetivos pode-se incluir tambeacutem

o confucionism o ) incorporava m a ideacuteia de imensas comunidashy

des ~las a cristandadc o Um mah is lilmico e mesm o o Impeacuterio do

Ccnl ro - que hoje eacute considerado chinecircs mas antes imaginava-se

39

como cenLrd - eram imaginados pri ncipalmente pelo uso de

um a liacutengua e uma escrita sagradas Tomemos o exem plo do islatilde se

ul11 ll1aguindanaucnse encontrasse um btrbere em Meca um desshy

conhecendo o idioma do out ro incapazes de se comunica r oralshy

mente mesmo assi m entenderia m os seus caracteres p(Hque 0lt

textos sacros adotados por ambos exist iam apenas em aacuterabe claacutesshy

sico Nesse sentido o aacuterabe escrito fu ncionava como os ideograshy

mas ch ineses criando wna comunidade a partir dos signos c natildeo

dos so ns (Assi m hoje em dia a linguagem matemaacutetica daacute prosseshy

gu imento a uma velha trad iccedilatildeo Os romenos natildeo fazem ideacuteia de

como se diz + em tai landecircs e vice-versa mas ambos compreenshy

dem o siacutembolo) Todas as grandes comunidades claacutessicas se cOl1Sishy

deravam cosmicamente centrais at raveacutes de uma liacutengua sagrada

ligada a uma ordem ~upra terrena de poder Assi m o alcance do

lal im do paacute li do aacuterabe ou do chinecircs escritos era teoricamente ilishy

mitado (Na ve rd ade quanto mais morta eacute a liacutengua escri ta shy

qua nto ma is di-ta ntc da fala - melhor em princiacutepio todos tecircm

acesso a um mundo puro de signos )

Mas essas com Llnidade~ claacutess icas ligadas r or Jinguas sagradas

tinham um caraacuteter di fe re nte das comunidades imagi nadas das

naccedilotildees modern as Uma di ferenccedila fundamental era a confianccedila das

comunidades maIs an tigas no sacrarnenLalislllo l1nico de suas liacuten shy

guas e daiacute deri va m as iclcias que ti nllam sobre a admissatildeo de novos

membros O mandarins chineltcs viam com bons olhos os baacuterbashy

ros que aprendiam 3 duras penas a pin tar os ideogramas do

Impeacuterio do Cen tro Esses haacuterharm jaacute estavam ltl meio caminho da

plena aceitaccedilatildeo Meio-civil izado era muiliacutessimo melhor do que

baacuterba ro Essa atit ude certame nte natildeo foi excl usiva dos chi neses

nem se restringiu agrave Antiguumlidade Veja por exemplo a seguinte

5middot O l i 1 t rlIlqLiil iluumlde com que os mOIl (ois c manchus ~ il1 izadu s foram aceitos m rTIo 1-tIIrO$o ( 11

40

-

poliacute tica para os biIacute rbaros formulJua pelo liberal co lomhi ano

Ped ro rermiacuten de Vargas do comeccedilo do seacuteCll lo XIX

Pa ra am pliar a ll)SSa agricu ltura seri a preciso hi spaniza r 0S nossos

iacutendios A preguiccedila a fa lta de in ldigecircnci e a in dif~ rccedil nccedila dd es aos

t rabalhos normais levam a pensa r que d cs derivam de uma raccedila

degenerada que se ueteriora conforme ~e afasta da ua origem [ J

seria muito dese iaacutevel que os iacutendios se extinguissem atraveacutes d misshy

cigenaccedilatildeo com os brancos isentando-os de im postos e ou tros

encargos c concedendo-lhes a propr iedade privaoa da ter ra

I~ notaacutevel que esse liberal ain da proponha extinguir seus iacutendios

el1l parte isentando-os de impostos e concedendo-lhes a proshy

priedade privada da terra em vez de exterminaacute-los com armas de

fogo e microacutebios como logo depois comeccedilaram a fazer seus herdeishy

ros no Brasil Argenti na e Estados Unjdos Nota-se tambeacutem ao lado

desta crueldade com ares condescendentes o otimismo coacutesmico

Jtl fim eao cabo o iacutendio pode -er redimido - pela impregnaccedilatildeo do

stmen bran co civil izado e pelo acesso agrave propri edade privada

~OIlO todos os outros (Como eacute d iferente a atitude de Fermiacuten em

comparaccedilatildeo ao imperialista europeu posterior com a sua preferecircnshy

lia pelos malaios gurcas e hauacutessas autecircnticos em vez de mestishy

Ccedil()~ nativos semi- analfabetos wuacutegs e assim por diante

Mas se o meio de se imaginar as grandes com unidades gl shy

hltt is do passado eram as liacutenguas mudas sagradas essas apariccedilotildees

IJq lliriam realidade a pa rtir de uma ideacuteia btstante es tranha agrave

rn~nta l id ade ocidental contemporagravenea a natildeo-arb itrariedade do

signo Os ideogramas do ch i necirc~ do latim ou do aacuterabe erJm emashy

6 ) hll LYl1L h T cSpi11ish-AI1criCIII rIOllioIl5 1808-211 p 260 Grifo meu g krmo depreciat ivo -I lie na epoca do imperial ismo britimiacuteco designava o

ou ivo clJ iacutenJla da Africa do Norte e do O riente Meacutedio

41

naccedilotildees da real idad e e natildeo re presen taccedilotildees inventadas ao acaso

Co nhecemos a lo nga discussatildeo sobre a liacute ngua (l ati m ou vernaacutecushy

lo) ma is adequad a para a missa Na tradiccedilatildeo islacircmi ca ateacute bem

pouco tempo () Coratildeo era lite ralmente intracuzIacutevel (e portanto

in lrad uzido) porque o uacutenico ltI cesso agrave verdade de Alaacute era por meio

dos signos verdadeiros e illsubstitu iacuteveis d o aacuterabe escr ito Aqui natildeo

existe a ideacuteia de um mundo tatildeo des incuhd0 da liacutengua que todas

as liacutenguas vecircm a ser signos equumlid istanles (e porta nto in tercambiaacuteshy

vei s) dele Com efeito a realidade o ntoloacutegica soacutepo de se r apreendi shy

da por meio de um uacutenico sistema pr ivilegiado de re-presentaccedilatildeo

a liacutengua-verdade do latim eclesiaacutestico do aacuterabe coracirc n ico ou do

chinecircs do sistema de exames E como liacutenguas-verdade estavam

imbuiacutedas de um im pulso largamente estranho ao nacionalism o a

saber o impulso agraveco nversatildeo Por conversatildeo quero dizer natildeo tanto

a aceitaccedilatildeo de dctermi nltldos p r inciacutepios religiosos e sim uma

absorccedilatildeo alqu iacutem ica O baacuterbaro se torna Impeacuterio do Centro o

montanhecircs do Rif muccedilulmano e o ilongo cristatildeo Toda a natureshy

za ontoloacutegica do homem eacute maleaacutevcl ao sagrado (Compare o presshy

tiacutegio dessas antigas liacutenguas mundia is colocadas acima de todos os

vernaacuteculos com o esperanto ou o volapuk que jazem ignorados

entre essas duas esferas) Foi afinal essa possibilidade de convershy

satildeo atraveacutes da liacutengua sagrada que permitiu que um inglecircs se torshy

nasse papas e u m m anchuacute rio se to rnasse Filho do Ceacuteu

Mas se as liacutenguas sagradas permitiam que se imaginassem

co m u nidades tais como a cristandade nuumlo eacute poss iacutevel explicar o

verdadeiro alcance c a efetiva plausibil idade dessas co munidades

7 Atl que parect () grego cclc iaacutesti co natildeo atingiu o estatuto de uma liacutengua -verdashy

de Sao viIacuter ias as razotildees desse fracasso mas com certeza um fator fundamental

fo i que o grego continuou a ser uma liacutengua demoacutetica i lj (ao con traacute rio do latim)

cm grande parte do Impeacuterio do O rien te Devo essa suglts tagraveu a fudith Herrin

8 Nicholas Brakcspear ocupou o pontificado de 11 5middot1-59 com o nume de Adriano 1

arenas pelo texto sagrado os seus leitores afinal natildeo passavam de

min uacutesculos recife let rados em vastos oceano~ iletradosmiddot Para

urna expl icaccedilatildeo m ais completa temos de exami mlr a relaccedilatildeo entre

o~ letrados e suas sociedades Seria equ ivocado co nsideraacute-los uma

espeacutecie d e tecnocracia teoloacutegica As liacuten guas a que eles d avam

suporte por mais abst rusas qu e fo ssem natildeo possuiacuteam o caraacuteter

abstruso auloconstruiacutedo do jargatildeo dos advogados ou dos econoshy

mistas agravemargem da ideacute ia de realidade alimentada pela sociedade

Pelo contraacute rio os letrados eram grandes inic iados cam adas estrashy

teacutegiLas de uma hierarq uia cosmoloacutegica cujo aacutepice era divino 10 As

concepccedilotildees fundamentais so b re os grup os sociais eram mais

centriacutepetas e hieraacuterquicas do que horizontais e fron tei riccedilas O

poder assombroso do papado no seu auge soacute pode ser ent tnd ido

em termos de um clero transeuropeu com conhecimento do latim

esaito e tambeacutem de uma concepccedilatildeo de m undo partilhada p ratishy

ca mente po r todos e segundo a q ual a cam ada intelectual biliacutenguumle

ao media r o vernaacuteculo e o latim tam beacutem faz ia a mediaccedilatildeo en t re a

terra e o ceacuteu (O pavor da excomunhatildeo reflete essa cosmologia)

Apesar de toda a m agnitude e poderio das grandes com unishy

dades imagi nadas rel igiosamentesua coesatildeo inCONsciente fo i di mishy

nui11lio n u m ritmo cons tante apoacutes o fi nal da Idade Meacutedia Entre as

razotildees desse decliacutenio destaco apenas as d uas relacio nadas diretashy

mente agrave sacralizaccedilatildeo uacutenica dessas comunidades

Em primeiro lugar o decliacutenio res ultou d as exploraccedilotildees do

9middot lIJn Hloch nos lem hra que a m aio ria dos senho res e mui tos g ra nd tgt barotildees

111t pneu medieval Ie ra In admini strado res incapazecircgt dt examinar prssoalrnenshy

li Um n iJ toacuterio ou uma prestaccediluo de contas Feudn lSOciel) r p 81

111 Is~() nao sign ifica que os il e t r~d os natildeo lessem Mas o que e les liam nao eram

rltlIlvra~c im ( mundo visIacutecl middotAos olhos de todos os que eram capazes de refk shy

xlo o mlllldo mate r ial era po uco ma is do que uma espeacutecie de maacutescara po r tniacutes da

qUJI ltlerl r iam todas as coisas realmell te importanllt5 era com o se fosse tunbeacutem

lima liacutengua quc(xpressasse por sina is uma rea lidade mais profunda ibid p 83

42 43

m undn natildeo-eu ro peu as quais ampliaram violentam cn te o horishy

wntc cult ural-geograacutefico e simultanea men te os concei tos acershy

C l das poss iacuteveis formas de vida humana11 o q ue ocorrcu sobret-ushy

Jo mas natilde o excl u~ ivam cn te na Europa Esse processo joacute fica claro

no ma io r liv ro de viagem europeu Veja a surp resa co m que o bom

cristatildeo venezia no Marco Poacute lo desc reve Cubla i Catilde no final d o

seacuteculo 1 11 1

o gratilde-catilde tendo obtido essa ex traordinaacuteria vitoacuteria retornou com

grande pompa e triunfo para a ca pi ta l a cidlde de Ka nbalu Isso

aconteceu no mecircs de no vembro e ele continuou a morar laacuteduranshy

te os meses de revcreiro e marccedilo Inecircs este de Ilossa fe ~ la de Paacutescoa

Sabendo que esta era uma das 110ssJsprincipais solenidades ele

mandou q lIe tod os os cristatildeos fos sem ateacute ele e le vasse m o Livro

deles que conteacutem os quatro Evangelhos Depois de fa7cr com que

o incensassem vaacuterias vezes co m toda a cerimocircnia ele o beijou

devotamente e ordenou qu e todos os seus noh res ali presentes

fizessem o mesmo Este era o seu costu me em todas as principais

festividades cr istatildes como a Paacutescoa e o Na tal e ele observava o

mesmo nas fes tas dos sarracenos dos judeus e dos idoacutelatras Indashy

gado sobre o motivo dessl conduta ele disse Existem qua tro

grandes proCetas que satildeo nve renciados l adorados pelas difcnnshy

les cla~ses da h uman idade Os cristatildeos consideram Jes us Cris to

como a di in dade deles us Sd rraCtno~ Maomeacute os judeus Mo iseacutes

e os idoacutelat ras Sogomombar-kan o iacutedolo mais importante deles

Eu devo honrar c most rar respeito por todos os quatro e imocar

em meu auxiacutelio aquele que del re eles eacute na pcrrade supremo no

11 Erich Au crbadl MirllfS is p 2C ITrad ( it Mi ecirc isSatildeo Paulo Perspect iva 5

eJ 200middot1 p ~H6 ]

12 t rco Pnl1 ls 1 middot ja~C5 de li Ja1(() 1aacutelo 1 BrJsiliense 1954J pp 158-9 Grilo meu NO[l - lt porem que beijam lll ~S natildeo lecircem LI Fvangelho

cJII Ilas pela maneira co m que sua majestade agi u em relaccedilatildeo a

clei eacute ev idente que ele considerava a feacute do~ crisl agraveo~ a mai s ve rdashy

(leira e a mel hor

o gue essa passagem tem de notaacutevel natildeo eacute tanto o tranquuml ilo

relat ivismo religioso do grande d inas ta mongol (afi nal ainda eacute um

relativismo religioso) e sim a aLIacutelude e a linguagem d e Marco Poacutelo

Jamais lhe ocorre tratar C ublai como hipoacute crita ou idoacutelatra apesar

de es tar escrevendo para cristatildeos europeus como ele (Em par te

sem duacutevid a po rque quan to ao nuacutemero de suacuted itos e--lensatildeo d o

ttrritoacute rio c quantidade de riq uezas ele ul t rapassa qualquer sobeshy

rano que exist iu ateacute hoje no mundo) E no uso in consciente do

nossa (que se torna deles) e na q ualifi caccedilatildeo da feacute cristatilde cOmo

a mais verdadeira em vez de a verdadeira podemos detectar o s

pr imoacuterdios de uma territo ria li zaccedilatildeo dos credos um prCl1 uacutencio d a

linguagem de muitos nacionalistas (a nossa naccedilatildeo eacute a melhor

- num campo compamtilloe competi t ivo)

Q ue di ferenccedila reveladora temos no iniacutecio da carta do viajanshy

te persa Rica em Par is para o seu amigo Ibben em 17 12

o papa eacute o chefe dos cristatildeos E um elho iacutedolo que se incensa por

haacutebi lo Antigamente ele era temiacutevel aos proacuteprios priacutencipes pois de

() i depu nha com a mesma fa cilidade com que os nossos magniacuteficos

~u llotildees depocircem os reis de [rncrclia e da Geoacuterg ia Mas natildeo o te mem

ma i ~ l l e ~e d iz SUl lSSOr de um dos pri meiros cristatildeos que ~e clldma

5(0 Pedro e cert am ente eacute uma rica sucessatildeo pois ele tem teso uros

illlen so ~ e um grande territoacuterio sob o seu domiacutenio

11 nr 1fllIds o(Mnno Jv o p 1 5 ~ I ls viagcIl5 de Marco lOcirco Brasilicnsc 19541

11 Il enri tlt ) lontesquicu Perrln Lt-lIrrs p 81 As L fl rcs perswlts foram pubtishyL lei pela pri11tira t em [72

44 45

As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy

ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11

tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy

lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido

enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica

na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande

Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem

demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse

parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy

pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy

val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy

nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica

mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma

outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy

lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos

nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy

m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada

mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele

se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros

imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa

poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy

ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim

apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy

mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do

latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma

po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy

5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo

16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy

recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)

171bi p 32 1

men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy

lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma

figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade

Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy

lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o

inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy

g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em

larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no

con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy

16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy

decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire

( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a

qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major

nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se

um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio

do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy

des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy

dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando

o Rr l NO DI N AacuteS T I CO

I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um

mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy

11 Ibit p 330

19 1h iJ pp 33 1-2

20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais

lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy

port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro

~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e

Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro

M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356

46 47

tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy

lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy

ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de

um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da

ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra

terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um

territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo

onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram

porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy

m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade

com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter

seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas

veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy

Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy

cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy

tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias

Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy

2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com

essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy

meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os

p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I

iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot

te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy

naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico

ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy

nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias

2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno

tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante

discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar

(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha

O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido

4

tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este

l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o

Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um

ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -

Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia

Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc

arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia

duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy

illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta

e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz

e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy

b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen

marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy

ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da

marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc

Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto

comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e

capturas dos Ha bsburgo

Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy

cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de

concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy

gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er

aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas

111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy

21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1

lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha

atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst

111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do

4

co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando

LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy

mo~ de a tribuir aos Bo urbon

Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo

por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy

ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy

ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos

anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy

d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na

eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes

pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos

Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien

reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy

dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy

bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu

se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy

longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo

Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades

do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio

da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves

arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486

alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy

ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento

eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot

cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la

man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui

capaz de manter ( ibid p 125 )

25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o

fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy

ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught

llIul cllt1ligr p 136

26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot

ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l

nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy

duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria

~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy

monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy

parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da

Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF

Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema

poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy

te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma

~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade

minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande

(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os

JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute

eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst

tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)

PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S

Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas

lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades

~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~

hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270

lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama

I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92

~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil

hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m

sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao

pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr

dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy

do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m

l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85

50 51

religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy

nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy

do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o

m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao

Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos

agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos

c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res

ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy

ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy

na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde

Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy

di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy

no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo

de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com

os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia

muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de

um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era

maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma

universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy

dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta

peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em

latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio

cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para

as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy

pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy

saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue

assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre

os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy

sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a

cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils

~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas

11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a

VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy

I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a

mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma

cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees

I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy

SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a

segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo

pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na

noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do

~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos

colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os

homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais

llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy

ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa

Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de

con~ciecircncia

()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de

Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo

de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy

se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy

0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal

nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de

forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy

lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma

lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot

vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles

31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6

3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco

~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot

11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90

52 53

l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy

mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a

histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla

compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy

rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy

sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de

todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno

Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy

te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy

jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy

sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas

a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real

A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo

para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute

ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a

fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma

co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy

da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura

gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo

med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo

novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy

neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy

zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo

mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo

calendaacute r io H

n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo

bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]

-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy

nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~

n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo

importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se

w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy

gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o

ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy

am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy

ginada correspondente agrave naccedilatildeo

Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao

velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem

de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy

mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e

ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy

mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo

si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy

te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar

ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte

manetra

Tempo 11 III

4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda

num bar

r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em

casa com B

o joga bilhar tem um

pcsaddo

~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e

Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197

55 54

lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia

e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver

feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas

(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a

l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao

entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute

possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua

sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees

(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os

le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy

do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma

tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy

gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy

cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy

ca no espiacuterito de seus leitores

A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy

gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da

ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade

soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o

ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer

e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees

36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I

li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do

37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll

pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1

linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao

a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po

5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico

com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo

39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do

ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy

tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados

Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada

J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy

11 i1111 e simultacircnea dd~s

rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os

rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras

I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas

Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o

romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy

turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro

romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy

ra maravilhosa 11

Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy

mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de

jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy

Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy

~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros

la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a

1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o

gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy

ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl

Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy

nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua

~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave

rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy

l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm

pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y

Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard

1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1

11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I

IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy

Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru

56 57

infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila

n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de

bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no

problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade

necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy

saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo

O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague

Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma

manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos

ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha

mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a

Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o

nosso Governo

Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta

nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy

tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas

anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy

res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy

da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy

satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma

ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la

so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do

tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy

dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da

snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens

auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se

tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy

de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy

bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)

Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy

mente problem aacuteticas

Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy

(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a

IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy

d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy

toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy

lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa

ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy

C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy

men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia

medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo

ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy

lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa

muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao

viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente

algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter

UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy

co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy

oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy

dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para

Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue

Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy

mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria

middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy

11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a

di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy

t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy

Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy

11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15

58 59

comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por

meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a

metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy

lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata

em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica

alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos

passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo

Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy

peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela

mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas

Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy

tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou

di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos

poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto

Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten

45 lbid p 120

46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy

sis ca po I (A cicar de Odissc u)

~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1

IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II

COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy

IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg

I deus Albl nia re ino Jgora

Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel

l u teu udcnsnr llue Igor marIS

M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1

I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy

Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy

IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1

Oacutel

Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo

Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy

meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy

( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no

Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como

suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo

mostra a forma essencial desse romance naciona lista )

Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes

influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e

aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy

dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te

que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy

sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy

quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im

gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos

Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy

trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r

nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo

nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do

interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy

sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico

ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy

nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy

quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1

Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no

movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m

s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do

middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H

4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu

61

romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy

pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo

t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado

o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica

eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de

prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva

mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea

do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se

as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou

daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu

enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)

E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy

dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto

Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo

de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco

Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste

destino publicada em fasciacutecul os em 1924

Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy

vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva

50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura

e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais

51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy

do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros

campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova

Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110

llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot

tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente

li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26

capitulas 25 c 1)

52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu

na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas

l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa

P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy

do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy

gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy

pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas

ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy

nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy

lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se

o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o

cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches

)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea

diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz

dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste

Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim

Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy

nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml

in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que

ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo

inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado

PROSPI~RlLlAj)E

Lm andarilho mendigo passou mal

e morreu abandonado no acostamento da rua

n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o

I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to

Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si

Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy

1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto

(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas

62 63

qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo

de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a

gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy

te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy

liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas

pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy

cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes

gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca

eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz

Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo

confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy

vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da

referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos

seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy

cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je

Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy

ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma

on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que

Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy

dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis

hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor

cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a

raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )

Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela

du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo

encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy

josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy

nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde

)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy

fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a

d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida

pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo

SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto

dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente

licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy

mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu

tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um

lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil

raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos

eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um

mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo

inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os

outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)

Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy

ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado

[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy

le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A

dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a

principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy

gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy

te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem

sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por

I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento

que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os

MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl

LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy

tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco

12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer

1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te

64 65

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 4: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

I-nu i(Isculo) e en tatildeo de classifi caacute-1 0 como uma ideo logia

(NOla-~c ~lue se todos tecircm u ma cer ta id ade a ldade eacute apenas uma

expressatildeo ana lIacutelica ) Penso que valeria a pena tratar ta l conceito

do mesmo modo que se trata o paren tesco e a religiatildeo em vez

d e colocaacute- lo ao lado do liberalismo o u do fascism o

Assim dentro de um espiacuterito antropoloacutegico p ropo J1h o a seshy

guinte definiccedilatildeo de naccedilatildeo uma comunidade poliacute t ica im aginada shy

e imaginada como sendo intr insecamente limitada e ao mesmo

tempo soberana

Ela eacute imaginada po rq ue mesmo os membros da mais minuacutesshy

cula das naccedilotildees jamais conheceratildeo encontraratildeo ou sequer ouvishy

ratildeo falar da majoria de seus co mpanheiros embora todos tenham

em mente a imagem viva da comunhatildeo entre el es~ Era a essa imashy

gem que Renan se referia quando escreveu com seu jeito levemenshy

te irocircnico Or l essence dune nation est que tous les ind ividus

aient beaucoup de choses en comm un et aussi que tous aient

oublieacute bien des choses raquo lOra a cssecircncia de uma naccedilatildeo consiste em

qu e todos os ind iviacuted uos tenham m uitas co isas em comum e tamshy

beacutem que todos tenham esquecido muitas coisas] Gellner diza lgo

parecido quando decreta com certa feroc idade que O nacionashy

lismo natildeo eacute O despertar das naccedilotildees para a autoconsciecircncia ele

inventa naccedilotildees onde elas natildeo existemI Mas o inconveniente dessa

y C f 5eton-Watso n Ntll ions nd states p 5 A uacutenica coisa que posso di ze r eacute que

u ma naccedilatilde o ex is te quando pe~soas em nuacutem ero sign ifica tivo de uma comunidade

~ e consideram fo rmando uma naccedilatilde o o u se comportam como se formassem

uma Podemos traduzir sc co nsideram por se imaginam

10 Ernest Renan Q ucst-ce qu une nalion in Oel )res f Ollpletes 1 p 892 E

acrescenla tout ci to yen franccedilais doit avo ir o ublieacute la Saint -13a rtheacutelemy les masshy

sacres du M iJi a l1 Xllle siicle Il ny a pas en Francc dix familles qui pui sscnt fourshy

ni r la preuve d une o rigine fran q ue [todo cidadatildeo francecircs deve ter esquecid o a

ll(l ile de Satilde o Ba rloln llleu os massacrl~ S do Sul no sendo XIII Natildeo exis tem na

FrIf1 lt dez fam iacutelias que possam oferecer provas de uma o rigem franca ]

11 l rnesl Cd lntr rliouglll rtdchallge p 169 Grifo meu

form ulaccedilatildeo c que Gellncr estaacute tatildeo afli to para mostrar que O ndCJ(middot shy

nal ismu se mascara sob fa I sa~ aparecircnciasque ele identifi ca invenshy

ccedilagraveo com contrafaccedilatildeo e fa lsidade e natildeo co m imaginaatildeo e

criaccedilatildeo Ass im ele sugere im plic italllcntc qu e existem cOl11 unishy

dadesverdauc iras que num cotejo com as nclccedilotildecsse mostrar iam

melhores Na verdade q ualquer com unidade maio r que a aldeia

pr imord ial do conta to Cace a face (e talvez mesmo ela) eacute imaginashy

da As comunidades se disti nguem natildeo por sua falsiJ addautent ishy

cidade mas pelo estilo em que satildeo imaginadltls Os aldeatildees javaneshy

sessempre souberam que estatildeo ligados a pessoas que n unca viram

mas esses la-os eram () nl igame nte imaginados de maneira parl ishy

(ularista - como redes de parentesco c cl ientela COI11 pass iacuteveis de

txtensatildeo indckrminada Ateacute tcmpos bem recentes o idioma javashy

neacutes natildeo tinha n enh uma palavra que designasse a abstraccedilatildeo socieshy

dade H oje em dia podemos pensar na aristocrac ia francesa do

iJIl CiCIl reacuteg i ll c CO 1110 uma classe mas ccrtamen te ela soacute fo i imagishy

nada desta maneira em ~poca bas lan te adiantada Diante da pershy

gunta Quem eacute o conde de X a resposta normal natildeo ser ia um

mlmbro da aristocracia c sim o sen hor de X o tio da baronesa

de Y ou u m cliente do duque de Z

Imagina -se a naccedilatildeo limitada porque mesmo a maior delas

que agregue digamos um bilhatildeo de habita ntes poss ui frontciras

lin iacutetas a in da que elaacutest icas para aleacutem das quais existem o utras

llaccedilOcircts Nenh uma delas imagina ter a mesma extensatildeo da hu manishy

11de Nem os nacional i ~tas mais mess iacircnicos sonham co m o d ia

111 que to dos os mem h ros da es peacutecie huma na se un iratildeo a sua

12 ll hsbawfll por exemplo lI xJ n lli toc rlci3 com o cla s~l ao diz r qU tmiddot em

IiiN bull Ia o nsisti a em In a d~ lt100 mil Plt=SS(ht numa pop ul lccediluumlo de 23 milhuo

(Vcr ) ~eu li [(J Th e A~c o RrroltieJ p 7R [i rra das revohlccediloacuteS EIroll 789 ~middotIR 111 lt Terra 19771) Ma~ lmiddot~se quadro estlt lSlico da nobreza seria imaginaacuteve l

oh o ltlrf 1I reacutegll e

32 33

naccedilatildeo como por eXe mplo na eacutepoca cm q ue os cri taos pod iam

sonhar co m um planeta total mente cristatilde v bull

I magina -se a naccedilatildeo soberalltl porquc o conceito nasceu na

eacutepoca em que o Iluminismo c a Rcvo luccedilagraveo estavam destru indo a

Icgiuumlmidade do reino dinaacutest ico hieraacute rqu ico de ordem divina

Amad urecendo nllm a fase da histoacuteria humana em que mesmo os

adeptos mais fervorosos de qualquer religiatildeo universal se defronshy

tavam i nevitavel men te COI11 o pl1lra lismo vivo dessas rel igiotildees e

com o alomorfismo entre a~ pretensotildees ontoloacutegicas e a extensatildeo

terri to rial de cada credo as naccedilotildees son ham em ser livres - e

quando sob dominaccedilatildeo divina entatildeo d iretamente sob Sua eacutegide

A ga_ra ntia e o emblema dessa li berdade eacute o Estado Soberano

F por uacuteltimo ela eacute imaginada como urna comwlidade porshy

que independentemente da desigual dade e da exploraccedilatildeo efetivas

q ue possam existir dentro dela a naccedilatildeo sem pre eacute co ncebida corno

uma profunda camaradagem horizo ntal No fu ndo foi essa fratershy

nidade que tornou possiacutevel nestes dois uacuteltimos seacuteculos tantos

m ilhotildees de pessoas tenham-se natildeo tanto a matar mas sohretudo a

morrer por essas criaccedilotildees imaginaacuterias lim itadas

Essas mortes nos colocam bruscamen te diante do problema

central posto pelo nacionalismo o que faz com que as parcas criaccedilotildees

imaginativas da histoacuter ia recente (pouco mais de dois seacuteculos) gerem

sacrifiacutecios tatildeo de-comunais Creio que encontraremos os primeiros

contornos de u ma resposta nas raiacutezes culturais do nacionalismo

1 Raiacutezes culturais

Natildeo existecircITI siacutembolos mais impressionantes da cultura mo shy

dern a do nacionalismo do q ue os cenotaacutefios e tuacutemulos dos soldashy

dos desconhecidos O respeito a cerimocircnias puacutebl icas em que se reveshy

r~n ciam esses monumentos justamente porque estatildeo vazios o u

po rque ningueacutem sabe q uem jaz dentro deles natildeo encon tra

nenhum paralelo verdadeiro no passado Para sentir a forccedila dessa

modern idade basta im aginar a reaccedilatildeo geral di an te do suj ei to

in trometido que descobre o nome do soldado descon hecido ou

que ins iste em colocar algu ns o~sos de verdade den tro do cenot shy

fio Es tranho sac rileacutegio co n temporacircneo f no entanto esses

tuacute mul os sem almas imortais nem restos mortais identificaacuteveis

dentro dcles estatildeo carregados de imagens naciolais espectrais - (Eacute

1 (h gre~os ant igus tinham ceno l3Ji()s mas parl indiviacuted uos especiacuteficos d e idenshy

I idade conhec ida e cu jos cor pos por uma razatildeo ou o ut ra 11 10 puderam receher

Ll m~ nterro no rmal JJevoes ta informaccedil50 agrave minha colega Judith Herri n es tudio shy

sa de lIilagrave nmiddotio

~ Cn~idccedilrccedilm- se po r f xc mplo essas llotiIacutevc is expressotildees a Os irlllatildeos de armas

IUnLI no fa lta l-am_Se o fi l essem um milhatilde o de espect ros em verde-o i iva panio

34 35

por iSSl) que tantas naccedilotildees difcren tes tecircm esses tuacutem ul os sem senti r

nenhumt necessidade de c-pccificltlr a nacionalidade de seus ocushy

pantes auscntes O que mais potleriam ser 5(10 ak mdes ameri cashy

nos argen ti nos etc )

O sign ificado cul tural desses monumen tos Ii caniacute ainda mais

c1eacutel ro se tentarmos imagi nar por exemplo um luacutemulo do ma rx isshy

ta desconhecido ou um ccnolaacutefio para os liberais tombados em

combate Natildeo seria um abs urdo O m~lrx ismo e o li beralismo natildeo

se importam mu ito com a Inorte e a imortalidad bull Se o imagmaacuterio

nacionalista se importa tanto com elas isso sugere sua grande ~fishy

nidade com os imaginaacuterios religiosos Como essa afinidade nada

tem de fortu ito talvez val ha a pena inicia r uma ava liaccedilatildeo das ra iacuteshy

zes cullurais do nac ionalismo pela mo rte o uacutelt imo elemento ele

Ul11 cJ seacuterie de fatalidades

A maneira de um homem morrer geralmente parece arbit raacuteshy

ri el mas sua mo rtal idade eacute ine itaacutevel As vidas hu manas estatildeo

-heias dessas combi naccedilotildees entre acaso e necessidade Todos sabeshy

mos que nossa heranccedila geneacutetica pessoal nosso sexo a eacutepoca em

que vivemos nossas capacidades fiacutesicas liacute ngua materna e aampgtim

por diante satildeo fato res conlingentes e inelutaacuteveis O gra nde meacuterishy

lO das concerccedilotildee~ religiosas tradi ciona is (o tlual nalural mente

natildeo deve ser confu ndido com o papel delas na legitimaccedilatildeo de sis shy

d qli ma rrom llU l e cinja sr levan tariam d~ suas laacutep ides h rl ll CdS trovejando

ca plllvras 11iacutegidS Dew I honra piacutet rb b O mel Ju iacutew lsnhre o (l Idado

nlcriclno I e (armou 1111 a111 po dt batuacuteha haacute Ill u itus e lll 11i tllS allOS e llUIlCi1 se [1 lIhli fio li Lu li 1 11 cnt Jo com() o veio ago ra como ullla das ligu r JS mais nobres

I lll Undo 11 lt10 ~O como uma das pllsonal idades nl i li t J re~ mai sele tasl11 il ta mshy

hc m como uml da Il1d is imaculadtgt I~ ic I ri r fertc nccl h l~t(r ia I(l [ dar 11 rn dus ml iofCS eXlmp lo tIlt pat ri(lti ll1o vitll ri ()5P I~ i - ) Ek pcr lt ll ( l p(~ tcr i dlde

como il1otruto r de gc raccediluumlc futura nm prindpio da libl rdlde l indl [lc nJeacuten(ia

Lle p~ rtcn~e 10 l r l~e nlL d noacutes l1(lr ~lHh v i rtllde~ t rcali lik s Uouglas IIluto rlh ur Outy I IOIl lLlr (ollnt ry di(u fo) p cl ri a cldcm iJ IililJ r t merishy

~anol 1 [gt1111 I dc maio Ir 196 2 L11l sc lt so ltlier spclks pp JSI c 357

tC llhlSsptciacutefi cos de domi naccedilatildeo e exploraccedilatildeo ) eacute a SUltl preocupaccedilatildeo

com () homem-no-universo o homem enquanto espeacutecie e cont inshy

glncia da vida A ext rao rd inaacute ria sobrevivecircncia do budismo do

(ri~tiltlI1 is l1l o ou do islamismo ao longo de milecircnios e em dezenas

de formaccedilotildees sociais d ireren tes comprova li ma capacidade de resshy

posta imaginativa ao tremendo peso do sofrimento humano - a

doenccedila a mutilaccedilatildeo a dor a velhice a morte Por que nasci cego

Por que o meu mel hor amigo fi cou para liacute tico Por que a mi nha

irm eacute retardada As religiotildees ten tam expl icar O grande pon to

fllthO de todos os estil os de pensamento evolucionaacuteriosprogressi

vos in cluindo o marxismo eacute que eles respondem a essas pergunshy

tas COI11 um silecircncio impaciente Ao mesmo tel11po e de diversas

maneiras o pensamento religioso tamb~m daacute respostas sobre as

ohsclI ras insinuaccedilotildees de imortal idade geralmente transfo rmando

H fatali dade em contin uidade (kamUl pecado originnletc )Assim

a re ligiatildeo se interessa pelos viacutenc ulos entre os mortos e os ainda

natildeo-nascidos pelo misteacuterio da rc-generaccedilatildeo Quem vive a conccpshy

tatildeo l () nascime nto do se l proacuteprio filho sem apreender difll sa shy

mente lima mescla de ligaccedilatildeo acaso e necess iddde em linguagem

de continuidade (Aqui de novo a desvantagem do pensamenshy

1 Cf Rlgi~ lk bray lhrx i~m ltl nd I h ~ national question Nellmiddot lerr NClltIV J 05

(sckmhrll-outubro 1977) p 29 I )lIfantc deg I11 ~ U trabal ho de campo na Indoneacutesia

l1il deacuteltHl a d oacuteO fique i chocado (0111 a tranquuml ila llcgJ ti llt1 de muitos llluccedilulmJnu

~11 ll~il lt1 r IS ideacuteias de Darwin Nu co meccedilo interpretei essa negaI iJ C(l mo obs u

rlIlt l~ll1n Depois vi que cra lima hnlat ivl lo uvaacutevel de l1lJnlcr a ()crl ll cia a doushy

trina d) evoluccedilao era ~im p l sme n lc i n ~lm pa livd com os Lns inalllf ll liS do islatilde O tuc IMer )1l1 UI I1 ll1 a l criali ~mo cicnliacutelic que aCl ita formalmente 15 des(obn tas

d1iiacutesil1 ()h r~middot 1 mak ria rna~ que se ltmpcnha latildeo puu(O (111 vincular lai dcscohcr a~ li lU1 1d ICSbull I rcmiddotol uccedilagrave(l ou ao q ue lor ~cri que o ahismo enlre os proacutetons

r o Itolmiddotlnri1UacuteC) 11 10 oc ult1 ul11a cksconhecidu CO I1CCpccedilO metafiacutesica do hOl1l ell1

tIJ lmiddotjlIn-st os II1 tcrCSSJll llS textos Je ScbnSliollll1l m pan aru O II(tcritl iSJIl l

TItmiddot flLlld(1I ~ lp c a rcs po~tJ pondLradltl de Raymond Wi llium 1 eles em Timla 1110 111lkrillist dlllJ Icng bull ICII lcft IklJ middotW 109 (I11 Ji( -junl1o 1978) pp _~ - 1 7

37 36

to cvoluciomiacuterio p ro gressivo eacute sua aversatildeo quase heraclitialla a

qualquer ideacute ia de co ntin uidade)

Faccedilo essas observaccedilotildees talvez simploacuterias principalmente por shy

que () seacuteculo XV II I na Eu ropa Ocidcn la l marca llatildeooacute o amanhecer

Ja era 00 nac ionalismo m as tambeacutem o anoi tecer dos modos de

pensamentos religiosos () seacutecuJo do Il um inismo do secul arismo

racio nal ista t rou xe consigo suas proacuteprias t revas m od ernas A feacute

religiosa decl inou mas o sofrimento que ela ajudava a apaziguar

natildeo desapareceu A desintegraccedilatildeo do para iacuteso nada torna a fatalid a shy

de mais arbitraacuteria O absurdo da salvaccedilatildeo nada torna m ais necesshy

saacuterio um outro estilo de cont inuidade Entatildeo foi preciso q ue houshy

vesse uma transfo rmaccedilatildeo secular da fa talidad e em co ntinuidade

da contingecircncia em signi ficado Como veremos poucas coisas se

mostraram (se m ostram) mais adequadas a essa fi nalidade do que

a ideacuteia de naccedilatildeo Adm ite-se normalmente q ue os estados nacionais

satildeo novos e histoacutericos ao passo q ue as naccedilotildees a q ue eles datildeo

expressatildeo poliacutetica sempre assomam de um passado imemorial e

4 O falecido pre idcnte Suklrno sempre falou com toda a sil1cnidade sobre os

30 anos de coJonialismo a que a sua Indoneacutesia fo ra subm etida embora o proacuteshy

prio co nceito de Indoneacutesia seja uma invenccedilatildeo do seacutec ulo X e a maior parte do

que hoje eacute o paiacutes ten ha sido conquistada pelos holandeses apenas entre 1850 e

1910 O principal heroacutei nacional da Indon eacutesia con tempo racircnea eacute o priacutencipe java shy

nl-s Dipltlnegoro do comeccedilo do seacuteculo xlxembo[U as memoacuterias do priacutencipe mosmiddot

trtJn que ele pretendia co nqui~tJr Inatildeo libertar J 1(1a t natildeo expulsaros hola nshyd (~~l~ 11 verdade eacute evidentt que tk natildeo concebia os holltl1dccs como uma

(lllct iidlde Ver Harry ) Uencla t John A l arkin (o rg ) 117 lt 1Vorld ofSoll lumiddotast A51tl p 158 c Ann Kumar Diponcgoro ( I 771)~- 1 855) l ldolltsia 13 (abril de

I Yiacute2) p 103 Criro meu Analogamente Kcmal Atatuumlrk deu lOS slt us bancos esta

ta is os nomcs Ba nco Hitita I Ui Banka ) c Banco Sumeacuterio (Sc t(l n Watson Narivlls mui Siacutelllcs p 259 ) E SSeacuteS bancos satildeo proacutesperos e natildeo haacute razio para duvidar que

mu itos tl IlCOS e provavelmente o proacuteprio Kcmal acred itasst m slr iamcnte e

Jintla acreditem que 0 hit itds e os sumeacuterios satildeo seus antepassados tu rcos An tes de dar muitas risaJas se ria me lhor lembrarmos de Artm c Boad i~ea e refletir sobre o sucesso comercial das mi tog rafias de ro lkien

38

1 indd mais importante ~cguem rumo a um futuro il im itado 1 a

nlltlgia do nac ionalismo que converte o acaso em desti no Podem os

dic com Debray Si m eacute pu ro acaso que cu ten ha nascido fran cecircs

mJS a ti nai a h anccedila eacute eterna

Eacuteclaro que natildeo estou afirmando que o su rgimento do nacioshy

naligtl11o no fina l d o seacutecu lo Xl ur foi produzido pelo dcsgaste das

convicccedilotildee religiosas nem que ~sse proacuteprio desgas te natildeo requer

unhl explicaccedilatildeo complexa Tambeacutem natildeo estou sugeri ndo que o

l1aciol1a I ismo tenba de aJgu ma forma su bsti tu iacutedo histo rica shy

mente a religiatildeo O q uc es tou popondo eacute o entendimen to d o

nac ionalism o alinhando-o natildeo a ideologia- poliacuteticas conscien teshy

mente ado tadas mas aos grandes sistemas cu ltu rais qu e o prece shy

deram e a partir dos quais ele surgiu incl usive para combatecirc-los

Para nossas fi nal idades os do is sistemas cul turais per i nel1 te~

sagraveo a cOlllI zidade religiosa e o reino dinaacutestico Po is am bos no seu

apogeu fo ram est ruturas de referecircnc ia incontestes como oco rre

atualmente com a nac ionalidade Portanlo eacute fundame ntal analishy

sar o qu e cunfer iu uma plausibiJidade auto-evidente a esses sisteshy

mdS cul urais e ao mes mo tempo d estacar a lguns eJc m cntos shy

cbaw na decomposiccedilatildeo deles

1 C O IIUNIDADE RELI G IOS A

I Xlstem po ucas coisas ma is im pressionanles do que a vasta

extensatildeo ter r ito r ial do Ummah i ~lagravemic) desde o Marrocos ao

arquipd ago Sulu da cri slandade Jesde o Paraguai ao Ja patildeo e do

nlundo bu d ista desde o gt r i La nka agrave pen iacutensula coreana As grand es

1111turas acras (e para nossos objetivos pode-se incluir tambeacutem

o confucionism o ) incorporava m a ideacuteia de imensas comunidashy

des ~las a cristandadc o Um mah is lilmico e mesm o o Impeacuterio do

Ccnl ro - que hoje eacute considerado chinecircs mas antes imaginava-se

39

como cenLrd - eram imaginados pri ncipalmente pelo uso de

um a liacutengua e uma escrita sagradas Tomemos o exem plo do islatilde se

ul11 ll1aguindanaucnse encontrasse um btrbere em Meca um desshy

conhecendo o idioma do out ro incapazes de se comunica r oralshy

mente mesmo assi m entenderia m os seus caracteres p(Hque 0lt

textos sacros adotados por ambos exist iam apenas em aacuterabe claacutesshy

sico Nesse sentido o aacuterabe escrito fu ncionava como os ideograshy

mas ch ineses criando wna comunidade a partir dos signos c natildeo

dos so ns (Assi m hoje em dia a linguagem matemaacutetica daacute prosseshy

gu imento a uma velha trad iccedilatildeo Os romenos natildeo fazem ideacuteia de

como se diz + em tai landecircs e vice-versa mas ambos compreenshy

dem o siacutembolo) Todas as grandes comunidades claacutessicas se cOl1Sishy

deravam cosmicamente centrais at raveacutes de uma liacutengua sagrada

ligada a uma ordem ~upra terrena de poder Assi m o alcance do

lal im do paacute li do aacuterabe ou do chinecircs escritos era teoricamente ilishy

mitado (Na ve rd ade quanto mais morta eacute a liacutengua escri ta shy

qua nto ma is di-ta ntc da fala - melhor em princiacutepio todos tecircm

acesso a um mundo puro de signos )

Mas essas com Llnidade~ claacutess icas ligadas r or Jinguas sagradas

tinham um caraacuteter di fe re nte das comunidades imagi nadas das

naccedilotildees modern as Uma di ferenccedila fundamental era a confianccedila das

comunidades maIs an tigas no sacrarnenLalislllo l1nico de suas liacuten shy

guas e daiacute deri va m as iclcias que ti nllam sobre a admissatildeo de novos

membros O mandarins chineltcs viam com bons olhos os baacuterbashy

ros que aprendiam 3 duras penas a pin tar os ideogramas do

Impeacuterio do Cen tro Esses haacuterharm jaacute estavam ltl meio caminho da

plena aceitaccedilatildeo Meio-civil izado era muiliacutessimo melhor do que

baacuterba ro Essa atit ude certame nte natildeo foi excl usiva dos chi neses

nem se restringiu agrave Antiguumlidade Veja por exemplo a seguinte

5middot O l i 1 t rlIlqLiil iluumlde com que os mOIl (ois c manchus ~ il1 izadu s foram aceitos m rTIo 1-tIIrO$o ( 11

40

-

poliacute tica para os biIacute rbaros formulJua pelo liberal co lomhi ano

Ped ro rermiacuten de Vargas do comeccedilo do seacuteCll lo XIX

Pa ra am pliar a ll)SSa agricu ltura seri a preciso hi spaniza r 0S nossos

iacutendios A preguiccedila a fa lta de in ldigecircnci e a in dif~ rccedil nccedila dd es aos

t rabalhos normais levam a pensa r que d cs derivam de uma raccedila

degenerada que se ueteriora conforme ~e afasta da ua origem [ J

seria muito dese iaacutevel que os iacutendios se extinguissem atraveacutes d misshy

cigenaccedilatildeo com os brancos isentando-os de im postos e ou tros

encargos c concedendo-lhes a propr iedade privaoa da ter ra

I~ notaacutevel que esse liberal ain da proponha extinguir seus iacutendios

el1l parte isentando-os de impostos e concedendo-lhes a proshy

priedade privada da terra em vez de exterminaacute-los com armas de

fogo e microacutebios como logo depois comeccedilaram a fazer seus herdeishy

ros no Brasil Argenti na e Estados Unjdos Nota-se tambeacutem ao lado

desta crueldade com ares condescendentes o otimismo coacutesmico

Jtl fim eao cabo o iacutendio pode -er redimido - pela impregnaccedilatildeo do

stmen bran co civil izado e pelo acesso agrave propri edade privada

~OIlO todos os outros (Como eacute d iferente a atitude de Fermiacuten em

comparaccedilatildeo ao imperialista europeu posterior com a sua preferecircnshy

lia pelos malaios gurcas e hauacutessas autecircnticos em vez de mestishy

Ccedil()~ nativos semi- analfabetos wuacutegs e assim por diante

Mas se o meio de se imaginar as grandes com unidades gl shy

hltt is do passado eram as liacutenguas mudas sagradas essas apariccedilotildees

IJq lliriam realidade a pa rtir de uma ideacuteia btstante es tranha agrave

rn~nta l id ade ocidental contemporagravenea a natildeo-arb itrariedade do

signo Os ideogramas do ch i necirc~ do latim ou do aacuterabe erJm emashy

6 ) hll LYl1L h T cSpi11ish-AI1criCIII rIOllioIl5 1808-211 p 260 Grifo meu g krmo depreciat ivo -I lie na epoca do imperial ismo britimiacuteco designava o

ou ivo clJ iacutenJla da Africa do Norte e do O riente Meacutedio

41

naccedilotildees da real idad e e natildeo re presen taccedilotildees inventadas ao acaso

Co nhecemos a lo nga discussatildeo sobre a liacute ngua (l ati m ou vernaacutecushy

lo) ma is adequad a para a missa Na tradiccedilatildeo islacircmi ca ateacute bem

pouco tempo () Coratildeo era lite ralmente intracuzIacutevel (e portanto

in lrad uzido) porque o uacutenico ltI cesso agrave verdade de Alaacute era por meio

dos signos verdadeiros e illsubstitu iacuteveis d o aacuterabe escr ito Aqui natildeo

existe a ideacuteia de um mundo tatildeo des incuhd0 da liacutengua que todas

as liacutenguas vecircm a ser signos equumlid istanles (e porta nto in tercambiaacuteshy

vei s) dele Com efeito a realidade o ntoloacutegica soacutepo de se r apreendi shy

da por meio de um uacutenico sistema pr ivilegiado de re-presentaccedilatildeo

a liacutengua-verdade do latim eclesiaacutestico do aacuterabe coracirc n ico ou do

chinecircs do sistema de exames E como liacutenguas-verdade estavam

imbuiacutedas de um im pulso largamente estranho ao nacionalism o a

saber o impulso agraveco nversatildeo Por conversatildeo quero dizer natildeo tanto

a aceitaccedilatildeo de dctermi nltldos p r inciacutepios religiosos e sim uma

absorccedilatildeo alqu iacutem ica O baacuterbaro se torna Impeacuterio do Centro o

montanhecircs do Rif muccedilulmano e o ilongo cristatildeo Toda a natureshy

za ontoloacutegica do homem eacute maleaacutevcl ao sagrado (Compare o presshy

tiacutegio dessas antigas liacutenguas mundia is colocadas acima de todos os

vernaacuteculos com o esperanto ou o volapuk que jazem ignorados

entre essas duas esferas) Foi afinal essa possibilidade de convershy

satildeo atraveacutes da liacutengua sagrada que permitiu que um inglecircs se torshy

nasse papas e u m m anchuacute rio se to rnasse Filho do Ceacuteu

Mas se as liacutenguas sagradas permitiam que se imaginassem

co m u nidades tais como a cristandade nuumlo eacute poss iacutevel explicar o

verdadeiro alcance c a efetiva plausibil idade dessas co munidades

7 Atl que parect () grego cclc iaacutesti co natildeo atingiu o estatuto de uma liacutengua -verdashy

de Sao viIacuter ias as razotildees desse fracasso mas com certeza um fator fundamental

fo i que o grego continuou a ser uma liacutengua demoacutetica i lj (ao con traacute rio do latim)

cm grande parte do Impeacuterio do O rien te Devo essa suglts tagraveu a fudith Herrin

8 Nicholas Brakcspear ocupou o pontificado de 11 5middot1-59 com o nume de Adriano 1

arenas pelo texto sagrado os seus leitores afinal natildeo passavam de

min uacutesculos recife let rados em vastos oceano~ iletradosmiddot Para

urna expl icaccedilatildeo m ais completa temos de exami mlr a relaccedilatildeo entre

o~ letrados e suas sociedades Seria equ ivocado co nsideraacute-los uma

espeacutecie d e tecnocracia teoloacutegica As liacuten guas a que eles d avam

suporte por mais abst rusas qu e fo ssem natildeo possuiacuteam o caraacuteter

abstruso auloconstruiacutedo do jargatildeo dos advogados ou dos econoshy

mistas agravemargem da ideacute ia de realidade alimentada pela sociedade

Pelo contraacute rio os letrados eram grandes inic iados cam adas estrashy

teacutegiLas de uma hierarq uia cosmoloacutegica cujo aacutepice era divino 10 As

concepccedilotildees fundamentais so b re os grup os sociais eram mais

centriacutepetas e hieraacuterquicas do que horizontais e fron tei riccedilas O

poder assombroso do papado no seu auge soacute pode ser ent tnd ido

em termos de um clero transeuropeu com conhecimento do latim

esaito e tambeacutem de uma concepccedilatildeo de m undo partilhada p ratishy

ca mente po r todos e segundo a q ual a cam ada intelectual biliacutenguumle

ao media r o vernaacuteculo e o latim tam beacutem faz ia a mediaccedilatildeo en t re a

terra e o ceacuteu (O pavor da excomunhatildeo reflete essa cosmologia)

Apesar de toda a m agnitude e poderio das grandes com unishy

dades imagi nadas rel igiosamentesua coesatildeo inCONsciente fo i di mishy

nui11lio n u m ritmo cons tante apoacutes o fi nal da Idade Meacutedia Entre as

razotildees desse decliacutenio destaco apenas as d uas relacio nadas diretashy

mente agrave sacralizaccedilatildeo uacutenica dessas comunidades

Em primeiro lugar o decliacutenio res ultou d as exploraccedilotildees do

9middot lIJn Hloch nos lem hra que a m aio ria dos senho res e mui tos g ra nd tgt barotildees

111t pneu medieval Ie ra In admini strado res incapazecircgt dt examinar prssoalrnenshy

li Um n iJ toacuterio ou uma prestaccediluo de contas Feudn lSOciel) r p 81

111 Is~() nao sign ifica que os il e t r~d os natildeo lessem Mas o que e les liam nao eram

rltlIlvra~c im ( mundo visIacutecl middotAos olhos de todos os que eram capazes de refk shy

xlo o mlllldo mate r ial era po uco ma is do que uma espeacutecie de maacutescara po r tniacutes da

qUJI ltlerl r iam todas as coisas realmell te importanllt5 era com o se fosse tunbeacutem

lima liacutengua quc(xpressasse por sina is uma rea lidade mais profunda ibid p 83

42 43

m undn natildeo-eu ro peu as quais ampliaram violentam cn te o horishy

wntc cult ural-geograacutefico e simultanea men te os concei tos acershy

C l das poss iacuteveis formas de vida humana11 o q ue ocorrcu sobret-ushy

Jo mas natilde o excl u~ ivam cn te na Europa Esse processo joacute fica claro

no ma io r liv ro de viagem europeu Veja a surp resa co m que o bom

cristatildeo venezia no Marco Poacute lo desc reve Cubla i Catilde no final d o

seacuteculo 1 11 1

o gratilde-catilde tendo obtido essa ex traordinaacuteria vitoacuteria retornou com

grande pompa e triunfo para a ca pi ta l a cidlde de Ka nbalu Isso

aconteceu no mecircs de no vembro e ele continuou a morar laacuteduranshy

te os meses de revcreiro e marccedilo Inecircs este de Ilossa fe ~ la de Paacutescoa

Sabendo que esta era uma das 110ssJsprincipais solenidades ele

mandou q lIe tod os os cristatildeos fos sem ateacute ele e le vasse m o Livro

deles que conteacutem os quatro Evangelhos Depois de fa7cr com que

o incensassem vaacuterias vezes co m toda a cerimocircnia ele o beijou

devotamente e ordenou qu e todos os seus noh res ali presentes

fizessem o mesmo Este era o seu costu me em todas as principais

festividades cr istatildes como a Paacutescoa e o Na tal e ele observava o

mesmo nas fes tas dos sarracenos dos judeus e dos idoacutelatras Indashy

gado sobre o motivo dessl conduta ele disse Existem qua tro

grandes proCetas que satildeo nve renciados l adorados pelas difcnnshy

les cla~ses da h uman idade Os cristatildeos consideram Jes us Cris to

como a di in dade deles us Sd rraCtno~ Maomeacute os judeus Mo iseacutes

e os idoacutelat ras Sogomombar-kan o iacutedolo mais importante deles

Eu devo honrar c most rar respeito por todos os quatro e imocar

em meu auxiacutelio aquele que del re eles eacute na pcrrade supremo no

11 Erich Au crbadl MirllfS is p 2C ITrad ( it Mi ecirc isSatildeo Paulo Perspect iva 5

eJ 200middot1 p ~H6 ]

12 t rco Pnl1 ls 1 middot ja~C5 de li Ja1(() 1aacutelo 1 BrJsiliense 1954J pp 158-9 Grilo meu NO[l - lt porem que beijam lll ~S natildeo lecircem LI Fvangelho

cJII Ilas pela maneira co m que sua majestade agi u em relaccedilatildeo a

clei eacute ev idente que ele considerava a feacute do~ crisl agraveo~ a mai s ve rdashy

(leira e a mel hor

o gue essa passagem tem de notaacutevel natildeo eacute tanto o tranquuml ilo

relat ivismo religioso do grande d inas ta mongol (afi nal ainda eacute um

relativismo religioso) e sim a aLIacutelude e a linguagem d e Marco Poacutelo

Jamais lhe ocorre tratar C ublai como hipoacute crita ou idoacutelatra apesar

de es tar escrevendo para cristatildeos europeus como ele (Em par te

sem duacutevid a po rque quan to ao nuacutemero de suacuted itos e--lensatildeo d o

ttrritoacute rio c quantidade de riq uezas ele ul t rapassa qualquer sobeshy

rano que exist iu ateacute hoje no mundo) E no uso in consciente do

nossa (que se torna deles) e na q ualifi caccedilatildeo da feacute cristatilde cOmo

a mais verdadeira em vez de a verdadeira podemos detectar o s

pr imoacuterdios de uma territo ria li zaccedilatildeo dos credos um prCl1 uacutencio d a

linguagem de muitos nacionalistas (a nossa naccedilatildeo eacute a melhor

- num campo compamtilloe competi t ivo)

Q ue di ferenccedila reveladora temos no iniacutecio da carta do viajanshy

te persa Rica em Par is para o seu amigo Ibben em 17 12

o papa eacute o chefe dos cristatildeos E um elho iacutedolo que se incensa por

haacutebi lo Antigamente ele era temiacutevel aos proacuteprios priacutencipes pois de

() i depu nha com a mesma fa cilidade com que os nossos magniacuteficos

~u llotildees depocircem os reis de [rncrclia e da Geoacuterg ia Mas natildeo o te mem

ma i ~ l l e ~e d iz SUl lSSOr de um dos pri meiros cristatildeos que ~e clldma

5(0 Pedro e cert am ente eacute uma rica sucessatildeo pois ele tem teso uros

illlen so ~ e um grande territoacuterio sob o seu domiacutenio

11 nr 1fllIds o(Mnno Jv o p 1 5 ~ I ls viagcIl5 de Marco lOcirco Brasilicnsc 19541

11 Il enri tlt ) lontesquicu Perrln Lt-lIrrs p 81 As L fl rcs perswlts foram pubtishyL lei pela pri11tira t em [72

44 45

As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy

ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11

tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy

lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido

enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica

na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande

Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem

demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse

parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy

pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy

val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy

nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica

mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma

outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy

lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos

nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy

m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada

mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele

se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros

imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa

poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy

ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim

apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy

mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do

latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma

po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy

5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo

16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy

recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)

171bi p 32 1

men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy

lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma

figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade

Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy

lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o

inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy

g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em

larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no

con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy

16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy

decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire

( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a

qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major

nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se

um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio

do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy

des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy

dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando

o Rr l NO DI N AacuteS T I CO

I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um

mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy

11 Ibit p 330

19 1h iJ pp 33 1-2

20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais

lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy

port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro

~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e

Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro

M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356

46 47

tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy

lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy

ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de

um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da

ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra

terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um

territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo

onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram

porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy

m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade

com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter

seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas

veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy

Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy

cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy

tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias

Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy

2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com

essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy

meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os

p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I

iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot

te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy

naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico

ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy

nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias

2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno

tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante

discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar

(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha

O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido

4

tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este

l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o

Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um

ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -

Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia

Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc

arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia

duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy

illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta

e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz

e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy

b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen

marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy

ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da

marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc

Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto

comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e

capturas dos Ha bsburgo

Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy

cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de

concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy

gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er

aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas

111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy

21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1

lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha

atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst

111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do

4

co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando

LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy

mo~ de a tribuir aos Bo urbon

Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo

por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy

ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy

ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos

anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy

d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na

eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes

pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos

Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien

reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy

dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy

bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu

se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy

longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo

Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades

do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio

da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves

arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486

alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy

ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento

eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot

cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la

man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui

capaz de manter ( ibid p 125 )

25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o

fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy

ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught

llIul cllt1ligr p 136

26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot

ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l

nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy

duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria

~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy

monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy

parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da

Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF

Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema

poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy

te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma

~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade

minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande

(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os

JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute

eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst

tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)

PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S

Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas

lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades

~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~

hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270

lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama

I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92

~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil

hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m

sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao

pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr

dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy

do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m

l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85

50 51

religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy

nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy

do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o

m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao

Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos

agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos

c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res

ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy

ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy

na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde

Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy

di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy

no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo

de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com

os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia

muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de

um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era

maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma

universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy

dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta

peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em

latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio

cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para

as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy

pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy

saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue

assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre

os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy

sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a

cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils

~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas

11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a

VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy

I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a

mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma

cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees

I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy

SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a

segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo

pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na

noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do

~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos

colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os

homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais

llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy

ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa

Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de

con~ciecircncia

()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de

Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo

de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy

se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy

0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal

nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de

forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy

lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma

lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot

vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles

31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6

3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco

~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot

11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90

52 53

l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy

mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a

histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla

compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy

rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy

sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de

todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno

Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy

te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy

jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy

sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas

a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real

A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo

para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute

ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a

fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma

co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy

da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura

gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo

med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo

novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy

neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy

zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo

mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo

calendaacute r io H

n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo

bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]

-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy

nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~

n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo

importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se

w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy

gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o

ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy

am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy

ginada correspondente agrave naccedilatildeo

Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao

velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem

de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy

mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e

ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy

mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo

si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy

te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar

ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte

manetra

Tempo 11 III

4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda

num bar

r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em

casa com B

o joga bilhar tem um

pcsaddo

~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e

Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197

55 54

lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia

e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver

feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas

(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a

l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao

entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute

possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua

sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees

(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os

le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy

do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma

tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy

gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy

cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy

ca no espiacuterito de seus leitores

A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy

gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da

ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade

soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o

ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer

e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees

36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I

li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do

37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll

pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1

linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao

a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po

5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico

com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo

39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do

ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy

tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados

Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada

J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy

11 i1111 e simultacircnea dd~s

rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os

rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras

I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas

Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o

romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy

turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro

romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy

ra maravilhosa 11

Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy

mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de

jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy

Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy

~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros

la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a

1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o

gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy

ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl

Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy

nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua

~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave

rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy

l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm

pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y

Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard

1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1

11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I

IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy

Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru

56 57

infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila

n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de

bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no

problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade

necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy

saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo

O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague

Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma

manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos

ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha

mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a

Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o

nosso Governo

Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta

nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy

tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas

anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy

res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy

da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy

satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma

ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la

so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do

tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy

dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da

snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens

auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se

tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy

de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy

bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)

Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy

mente problem aacuteticas

Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy

(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a

IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy

d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy

toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy

lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa

ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy

C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy

men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia

medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo

ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy

lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa

muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao

viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente

algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter

UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy

co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy

oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy

dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para

Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue

Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy

mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria

middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy

11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a

di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy

t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy

Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy

11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15

58 59

comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por

meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a

metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy

lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata

em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica

alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos

passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo

Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy

peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela

mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas

Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy

tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou

di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos

poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto

Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten

45 lbid p 120

46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy

sis ca po I (A cicar de Odissc u)

~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1

IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II

COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy

IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg

I deus Albl nia re ino Jgora

Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel

l u teu udcnsnr llue Igor marIS

M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1

I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy

Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy

IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1

Oacutel

Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo

Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy

meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy

( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no

Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como

suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo

mostra a forma essencial desse romance naciona lista )

Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes

influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e

aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy

dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te

que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy

sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy

quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im

gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos

Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy

trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r

nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo

nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do

interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy

sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico

ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy

nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy

quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1

Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no

movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m

s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do

middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H

4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu

61

romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy

pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo

t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado

o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica

eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de

prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva

mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea

do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se

as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou

daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu

enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)

E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy

dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto

Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo

de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco

Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste

destino publicada em fasciacutecul os em 1924

Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy

vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva

50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura

e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais

51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy

do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros

campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova

Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110

llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot

tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente

li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26

capitulas 25 c 1)

52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu

na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas

l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa

P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy

do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy

gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy

pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas

ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy

nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy

lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se

o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o

cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches

)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea

diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz

dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste

Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim

Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy

nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml

in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que

ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo

inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado

PROSPI~RlLlAj)E

Lm andarilho mendigo passou mal

e morreu abandonado no acostamento da rua

n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o

I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to

Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si

Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy

1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto

(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas

62 63

qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo

de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a

gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy

te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy

liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas

pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy

cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes

gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca

eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz

Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo

confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy

vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da

referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos

seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy

cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je

Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy

ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma

on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que

Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy

dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis

hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor

cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a

raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )

Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela

du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo

encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy

josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy

nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde

)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy

fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a

d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida

pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo

SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto

dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente

licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy

mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu

tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um

lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil

raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos

eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um

mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo

inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os

outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)

Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy

ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado

[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy

le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A

dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a

principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy

gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy

te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem

sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por

I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento

que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os

MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl

LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy

tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco

12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer

1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te

64 65

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 5: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

naccedilatildeo como por eXe mplo na eacutepoca cm q ue os cri taos pod iam

sonhar co m um planeta total mente cristatilde v bull

I magina -se a naccedilatildeo soberalltl porquc o conceito nasceu na

eacutepoca em que o Iluminismo c a Rcvo luccedilagraveo estavam destru indo a

Icgiuumlmidade do reino dinaacutest ico hieraacute rqu ico de ordem divina

Amad urecendo nllm a fase da histoacuteria humana em que mesmo os

adeptos mais fervorosos de qualquer religiatildeo universal se defronshy

tavam i nevitavel men te COI11 o pl1lra lismo vivo dessas rel igiotildees e

com o alomorfismo entre a~ pretensotildees ontoloacutegicas e a extensatildeo

terri to rial de cada credo as naccedilotildees son ham em ser livres - e

quando sob dominaccedilatildeo divina entatildeo d iretamente sob Sua eacutegide

A ga_ra ntia e o emblema dessa li berdade eacute o Estado Soberano

F por uacuteltimo ela eacute imaginada como urna comwlidade porshy

que independentemente da desigual dade e da exploraccedilatildeo efetivas

q ue possam existir dentro dela a naccedilatildeo sem pre eacute co ncebida corno

uma profunda camaradagem horizo ntal No fu ndo foi essa fratershy

nidade que tornou possiacutevel nestes dois uacuteltimos seacuteculos tantos

m ilhotildees de pessoas tenham-se natildeo tanto a matar mas sohretudo a

morrer por essas criaccedilotildees imaginaacuterias lim itadas

Essas mortes nos colocam bruscamen te diante do problema

central posto pelo nacionalismo o que faz com que as parcas criaccedilotildees

imaginativas da histoacuter ia recente (pouco mais de dois seacuteculos) gerem

sacrifiacutecios tatildeo de-comunais Creio que encontraremos os primeiros

contornos de u ma resposta nas raiacutezes culturais do nacionalismo

1 Raiacutezes culturais

Natildeo existecircITI siacutembolos mais impressionantes da cultura mo shy

dern a do nacionalismo do q ue os cenotaacutefios e tuacutemulos dos soldashy

dos desconhecidos O respeito a cerimocircnias puacutebl icas em que se reveshy

r~n ciam esses monumentos justamente porque estatildeo vazios o u

po rque ningueacutem sabe q uem jaz dentro deles natildeo encon tra

nenhum paralelo verdadeiro no passado Para sentir a forccedila dessa

modern idade basta im aginar a reaccedilatildeo geral di an te do suj ei to

in trometido que descobre o nome do soldado descon hecido ou

que ins iste em colocar algu ns o~sos de verdade den tro do cenot shy

fio Es tranho sac rileacutegio co n temporacircneo f no entanto esses

tuacute mul os sem almas imortais nem restos mortais identificaacuteveis

dentro dcles estatildeo carregados de imagens naciolais espectrais - (Eacute

1 (h gre~os ant igus tinham ceno l3Ji()s mas parl indiviacuted uos especiacuteficos d e idenshy

I idade conhec ida e cu jos cor pos por uma razatildeo ou o ut ra 11 10 puderam receher

Ll m~ nterro no rmal JJevoes ta informaccedil50 agrave minha colega Judith Herri n es tudio shy

sa de lIilagrave nmiddotio

~ Cn~idccedilrccedilm- se po r f xc mplo essas llotiIacutevc is expressotildees a Os irlllatildeos de armas

IUnLI no fa lta l-am_Se o fi l essem um milhatilde o de espect ros em verde-o i iva panio

34 35

por iSSl) que tantas naccedilotildees difcren tes tecircm esses tuacutem ul os sem senti r

nenhumt necessidade de c-pccificltlr a nacionalidade de seus ocushy

pantes auscntes O que mais potleriam ser 5(10 ak mdes ameri cashy

nos argen ti nos etc )

O sign ificado cul tural desses monumen tos Ii caniacute ainda mais

c1eacutel ro se tentarmos imagi nar por exemplo um luacutemulo do ma rx isshy

ta desconhecido ou um ccnolaacutefio para os liberais tombados em

combate Natildeo seria um abs urdo O m~lrx ismo e o li beralismo natildeo

se importam mu ito com a Inorte e a imortalidad bull Se o imagmaacuterio

nacionalista se importa tanto com elas isso sugere sua grande ~fishy

nidade com os imaginaacuterios religiosos Como essa afinidade nada

tem de fortu ito talvez val ha a pena inicia r uma ava liaccedilatildeo das ra iacuteshy

zes cullurais do nac ionalismo pela mo rte o uacutelt imo elemento ele

Ul11 cJ seacuterie de fatalidades

A maneira de um homem morrer geralmente parece arbit raacuteshy

ri el mas sua mo rtal idade eacute ine itaacutevel As vidas hu manas estatildeo

-heias dessas combi naccedilotildees entre acaso e necessidade Todos sabeshy

mos que nossa heranccedila geneacutetica pessoal nosso sexo a eacutepoca em

que vivemos nossas capacidades fiacutesicas liacute ngua materna e aampgtim

por diante satildeo fato res conlingentes e inelutaacuteveis O gra nde meacuterishy

lO das concerccedilotildee~ religiosas tradi ciona is (o tlual nalural mente

natildeo deve ser confu ndido com o papel delas na legitimaccedilatildeo de sis shy

d qli ma rrom llU l e cinja sr levan tariam d~ suas laacutep ides h rl ll CdS trovejando

ca plllvras 11iacutegidS Dew I honra piacutet rb b O mel Ju iacutew lsnhre o (l Idado

nlcriclno I e (armou 1111 a111 po dt batuacuteha haacute Ill u itus e lll 11i tllS allOS e llUIlCi1 se [1 lIhli fio li Lu li 1 11 cnt Jo com() o veio ago ra como ullla das ligu r JS mais nobres

I lll Undo 11 lt10 ~O como uma das pllsonal idades nl i li t J re~ mai sele tasl11 il ta mshy

hc m como uml da Il1d is imaculadtgt I~ ic I ri r fertc nccl h l~t(r ia I(l [ dar 11 rn dus ml iofCS eXlmp lo tIlt pat ri(lti ll1o vitll ri ()5P I~ i - ) Ek pcr lt ll ( l p(~ tcr i dlde

como il1otruto r de gc raccediluumlc futura nm prindpio da libl rdlde l indl [lc nJeacuten(ia

Lle p~ rtcn~e 10 l r l~e nlL d noacutes l1(lr ~lHh v i rtllde~ t rcali lik s Uouglas IIluto rlh ur Outy I IOIl lLlr (ollnt ry di(u fo) p cl ri a cldcm iJ IililJ r t merishy

~anol 1 [gt1111 I dc maio Ir 196 2 L11l sc lt so ltlier spclks pp JSI c 357

tC llhlSsptciacutefi cos de domi naccedilatildeo e exploraccedilatildeo ) eacute a SUltl preocupaccedilatildeo

com () homem-no-universo o homem enquanto espeacutecie e cont inshy

glncia da vida A ext rao rd inaacute ria sobrevivecircncia do budismo do

(ri~tiltlI1 is l1l o ou do islamismo ao longo de milecircnios e em dezenas

de formaccedilotildees sociais d ireren tes comprova li ma capacidade de resshy

posta imaginativa ao tremendo peso do sofrimento humano - a

doenccedila a mutilaccedilatildeo a dor a velhice a morte Por que nasci cego

Por que o meu mel hor amigo fi cou para liacute tico Por que a mi nha

irm eacute retardada As religiotildees ten tam expl icar O grande pon to

fllthO de todos os estil os de pensamento evolucionaacuteriosprogressi

vos in cluindo o marxismo eacute que eles respondem a essas pergunshy

tas COI11 um silecircncio impaciente Ao mesmo tel11po e de diversas

maneiras o pensamento religioso tamb~m daacute respostas sobre as

ohsclI ras insinuaccedilotildees de imortal idade geralmente transfo rmando

H fatali dade em contin uidade (kamUl pecado originnletc )Assim

a re ligiatildeo se interessa pelos viacutenc ulos entre os mortos e os ainda

natildeo-nascidos pelo misteacuterio da rc-generaccedilatildeo Quem vive a conccpshy

tatildeo l () nascime nto do se l proacuteprio filho sem apreender difll sa shy

mente lima mescla de ligaccedilatildeo acaso e necess iddde em linguagem

de continuidade (Aqui de novo a desvantagem do pensamenshy

1 Cf Rlgi~ lk bray lhrx i~m ltl nd I h ~ national question Nellmiddot lerr NClltIV J 05

(sckmhrll-outubro 1977) p 29 I )lIfantc deg I11 ~ U trabal ho de campo na Indoneacutesia

l1il deacuteltHl a d oacuteO fique i chocado (0111 a tranquuml ila llcgJ ti llt1 de muitos llluccedilulmJnu

~11 ll~il lt1 r IS ideacuteias de Darwin Nu co meccedilo interpretei essa negaI iJ C(l mo obs u

rlIlt l~ll1n Depois vi que cra lima hnlat ivl lo uvaacutevel de l1lJnlcr a ()crl ll cia a doushy

trina d) evoluccedilao era ~im p l sme n lc i n ~lm pa livd com os Lns inalllf ll liS do islatilde O tuc IMer )1l1 UI I1 ll1 a l criali ~mo cicnliacutelic que aCl ita formalmente 15 des(obn tas

d1iiacutesil1 ()h r~middot 1 mak ria rna~ que se ltmpcnha latildeo puu(O (111 vincular lai dcscohcr a~ li lU1 1d ICSbull I rcmiddotol uccedilagrave(l ou ao q ue lor ~cri que o ahismo enlre os proacutetons

r o Itolmiddotlnri1UacuteC) 11 10 oc ult1 ul11a cksconhecidu CO I1CCpccedilO metafiacutesica do hOl1l ell1

tIJ lmiddotjlIn-st os II1 tcrCSSJll llS textos Je ScbnSliollll1l m pan aru O II(tcritl iSJIl l

TItmiddot flLlld(1I ~ lp c a rcs po~tJ pondLradltl de Raymond Wi llium 1 eles em Timla 1110 111lkrillist dlllJ Icng bull ICII lcft IklJ middotW 109 (I11 Ji( -junl1o 1978) pp _~ - 1 7

37 36

to cvoluciomiacuterio p ro gressivo eacute sua aversatildeo quase heraclitialla a

qualquer ideacute ia de co ntin uidade)

Faccedilo essas observaccedilotildees talvez simploacuterias principalmente por shy

que () seacuteculo XV II I na Eu ropa Ocidcn la l marca llatildeooacute o amanhecer

Ja era 00 nac ionalismo m as tambeacutem o anoi tecer dos modos de

pensamentos religiosos () seacutecuJo do Il um inismo do secul arismo

racio nal ista t rou xe consigo suas proacuteprias t revas m od ernas A feacute

religiosa decl inou mas o sofrimento que ela ajudava a apaziguar

natildeo desapareceu A desintegraccedilatildeo do para iacuteso nada torna a fatalid a shy

de mais arbitraacuteria O absurdo da salvaccedilatildeo nada torna m ais necesshy

saacuterio um outro estilo de cont inuidade Entatildeo foi preciso q ue houshy

vesse uma transfo rmaccedilatildeo secular da fa talidad e em co ntinuidade

da contingecircncia em signi ficado Como veremos poucas coisas se

mostraram (se m ostram) mais adequadas a essa fi nalidade do que

a ideacuteia de naccedilatildeo Adm ite-se normalmente q ue os estados nacionais

satildeo novos e histoacutericos ao passo q ue as naccedilotildees a q ue eles datildeo

expressatildeo poliacutetica sempre assomam de um passado imemorial e

4 O falecido pre idcnte Suklrno sempre falou com toda a sil1cnidade sobre os

30 anos de coJonialismo a que a sua Indoneacutesia fo ra subm etida embora o proacuteshy

prio co nceito de Indoneacutesia seja uma invenccedilatildeo do seacutec ulo X e a maior parte do

que hoje eacute o paiacutes ten ha sido conquistada pelos holandeses apenas entre 1850 e

1910 O principal heroacutei nacional da Indon eacutesia con tempo racircnea eacute o priacutencipe java shy

nl-s Dipltlnegoro do comeccedilo do seacuteculo xlxembo[U as memoacuterias do priacutencipe mosmiddot

trtJn que ele pretendia co nqui~tJr Inatildeo libertar J 1(1a t natildeo expulsaros hola nshyd (~~l~ 11 verdade eacute evidentt que tk natildeo concebia os holltl1dccs como uma

(lllct iidlde Ver Harry ) Uencla t John A l arkin (o rg ) 117 lt 1Vorld ofSoll lumiddotast A51tl p 158 c Ann Kumar Diponcgoro ( I 771)~- 1 855) l ldolltsia 13 (abril de

I Yiacute2) p 103 Criro meu Analogamente Kcmal Atatuumlrk deu lOS slt us bancos esta

ta is os nomcs Ba nco Hitita I Ui Banka ) c Banco Sumeacuterio (Sc t(l n Watson Narivlls mui Siacutelllcs p 259 ) E SSeacuteS bancos satildeo proacutesperos e natildeo haacute razio para duvidar que

mu itos tl IlCOS e provavelmente o proacuteprio Kcmal acred itasst m slr iamcnte e

Jintla acreditem que 0 hit itds e os sumeacuterios satildeo seus antepassados tu rcos An tes de dar muitas risaJas se ria me lhor lembrarmos de Artm c Boad i~ea e refletir sobre o sucesso comercial das mi tog rafias de ro lkien

38

1 indd mais importante ~cguem rumo a um futuro il im itado 1 a

nlltlgia do nac ionalismo que converte o acaso em desti no Podem os

dic com Debray Si m eacute pu ro acaso que cu ten ha nascido fran cecircs

mJS a ti nai a h anccedila eacute eterna

Eacuteclaro que natildeo estou afirmando que o su rgimento do nacioshy

naligtl11o no fina l d o seacutecu lo Xl ur foi produzido pelo dcsgaste das

convicccedilotildee religiosas nem que ~sse proacuteprio desgas te natildeo requer

unhl explicaccedilatildeo complexa Tambeacutem natildeo estou sugeri ndo que o

l1aciol1a I ismo tenba de aJgu ma forma su bsti tu iacutedo histo rica shy

mente a religiatildeo O q uc es tou popondo eacute o entendimen to d o

nac ionalism o alinhando-o natildeo a ideologia- poliacuteticas conscien teshy

mente ado tadas mas aos grandes sistemas cu ltu rais qu e o prece shy

deram e a partir dos quais ele surgiu incl usive para combatecirc-los

Para nossas fi nal idades os do is sistemas cul turais per i nel1 te~

sagraveo a cOlllI zidade religiosa e o reino dinaacutestico Po is am bos no seu

apogeu fo ram est ruturas de referecircnc ia incontestes como oco rre

atualmente com a nac ionalidade Portanlo eacute fundame ntal analishy

sar o qu e cunfer iu uma plausibiJidade auto-evidente a esses sisteshy

mdS cul urais e ao mes mo tempo d estacar a lguns eJc m cntos shy

cbaw na decomposiccedilatildeo deles

1 C O IIUNIDADE RELI G IOS A

I Xlstem po ucas coisas ma is im pressionanles do que a vasta

extensatildeo ter r ito r ial do Ummah i ~lagravemic) desde o Marrocos ao

arquipd ago Sulu da cri slandade Jesde o Paraguai ao Ja patildeo e do

nlundo bu d ista desde o gt r i La nka agrave pen iacutensula coreana As grand es

1111turas acras (e para nossos objetivos pode-se incluir tambeacutem

o confucionism o ) incorporava m a ideacuteia de imensas comunidashy

des ~las a cristandadc o Um mah is lilmico e mesm o o Impeacuterio do

Ccnl ro - que hoje eacute considerado chinecircs mas antes imaginava-se

39

como cenLrd - eram imaginados pri ncipalmente pelo uso de

um a liacutengua e uma escrita sagradas Tomemos o exem plo do islatilde se

ul11 ll1aguindanaucnse encontrasse um btrbere em Meca um desshy

conhecendo o idioma do out ro incapazes de se comunica r oralshy

mente mesmo assi m entenderia m os seus caracteres p(Hque 0lt

textos sacros adotados por ambos exist iam apenas em aacuterabe claacutesshy

sico Nesse sentido o aacuterabe escrito fu ncionava como os ideograshy

mas ch ineses criando wna comunidade a partir dos signos c natildeo

dos so ns (Assi m hoje em dia a linguagem matemaacutetica daacute prosseshy

gu imento a uma velha trad iccedilatildeo Os romenos natildeo fazem ideacuteia de

como se diz + em tai landecircs e vice-versa mas ambos compreenshy

dem o siacutembolo) Todas as grandes comunidades claacutessicas se cOl1Sishy

deravam cosmicamente centrais at raveacutes de uma liacutengua sagrada

ligada a uma ordem ~upra terrena de poder Assi m o alcance do

lal im do paacute li do aacuterabe ou do chinecircs escritos era teoricamente ilishy

mitado (Na ve rd ade quanto mais morta eacute a liacutengua escri ta shy

qua nto ma is di-ta ntc da fala - melhor em princiacutepio todos tecircm

acesso a um mundo puro de signos )

Mas essas com Llnidade~ claacutess icas ligadas r or Jinguas sagradas

tinham um caraacuteter di fe re nte das comunidades imagi nadas das

naccedilotildees modern as Uma di ferenccedila fundamental era a confianccedila das

comunidades maIs an tigas no sacrarnenLalislllo l1nico de suas liacuten shy

guas e daiacute deri va m as iclcias que ti nllam sobre a admissatildeo de novos

membros O mandarins chineltcs viam com bons olhos os baacuterbashy

ros que aprendiam 3 duras penas a pin tar os ideogramas do

Impeacuterio do Cen tro Esses haacuterharm jaacute estavam ltl meio caminho da

plena aceitaccedilatildeo Meio-civil izado era muiliacutessimo melhor do que

baacuterba ro Essa atit ude certame nte natildeo foi excl usiva dos chi neses

nem se restringiu agrave Antiguumlidade Veja por exemplo a seguinte

5middot O l i 1 t rlIlqLiil iluumlde com que os mOIl (ois c manchus ~ il1 izadu s foram aceitos m rTIo 1-tIIrO$o ( 11

40

-

poliacute tica para os biIacute rbaros formulJua pelo liberal co lomhi ano

Ped ro rermiacuten de Vargas do comeccedilo do seacuteCll lo XIX

Pa ra am pliar a ll)SSa agricu ltura seri a preciso hi spaniza r 0S nossos

iacutendios A preguiccedila a fa lta de in ldigecircnci e a in dif~ rccedil nccedila dd es aos

t rabalhos normais levam a pensa r que d cs derivam de uma raccedila

degenerada que se ueteriora conforme ~e afasta da ua origem [ J

seria muito dese iaacutevel que os iacutendios se extinguissem atraveacutes d misshy

cigenaccedilatildeo com os brancos isentando-os de im postos e ou tros

encargos c concedendo-lhes a propr iedade privaoa da ter ra

I~ notaacutevel que esse liberal ain da proponha extinguir seus iacutendios

el1l parte isentando-os de impostos e concedendo-lhes a proshy

priedade privada da terra em vez de exterminaacute-los com armas de

fogo e microacutebios como logo depois comeccedilaram a fazer seus herdeishy

ros no Brasil Argenti na e Estados Unjdos Nota-se tambeacutem ao lado

desta crueldade com ares condescendentes o otimismo coacutesmico

Jtl fim eao cabo o iacutendio pode -er redimido - pela impregnaccedilatildeo do

stmen bran co civil izado e pelo acesso agrave propri edade privada

~OIlO todos os outros (Como eacute d iferente a atitude de Fermiacuten em

comparaccedilatildeo ao imperialista europeu posterior com a sua preferecircnshy

lia pelos malaios gurcas e hauacutessas autecircnticos em vez de mestishy

Ccedil()~ nativos semi- analfabetos wuacutegs e assim por diante

Mas se o meio de se imaginar as grandes com unidades gl shy

hltt is do passado eram as liacutenguas mudas sagradas essas apariccedilotildees

IJq lliriam realidade a pa rtir de uma ideacuteia btstante es tranha agrave

rn~nta l id ade ocidental contemporagravenea a natildeo-arb itrariedade do

signo Os ideogramas do ch i necirc~ do latim ou do aacuterabe erJm emashy

6 ) hll LYl1L h T cSpi11ish-AI1criCIII rIOllioIl5 1808-211 p 260 Grifo meu g krmo depreciat ivo -I lie na epoca do imperial ismo britimiacuteco designava o

ou ivo clJ iacutenJla da Africa do Norte e do O riente Meacutedio

41

naccedilotildees da real idad e e natildeo re presen taccedilotildees inventadas ao acaso

Co nhecemos a lo nga discussatildeo sobre a liacute ngua (l ati m ou vernaacutecushy

lo) ma is adequad a para a missa Na tradiccedilatildeo islacircmi ca ateacute bem

pouco tempo () Coratildeo era lite ralmente intracuzIacutevel (e portanto

in lrad uzido) porque o uacutenico ltI cesso agrave verdade de Alaacute era por meio

dos signos verdadeiros e illsubstitu iacuteveis d o aacuterabe escr ito Aqui natildeo

existe a ideacuteia de um mundo tatildeo des incuhd0 da liacutengua que todas

as liacutenguas vecircm a ser signos equumlid istanles (e porta nto in tercambiaacuteshy

vei s) dele Com efeito a realidade o ntoloacutegica soacutepo de se r apreendi shy

da por meio de um uacutenico sistema pr ivilegiado de re-presentaccedilatildeo

a liacutengua-verdade do latim eclesiaacutestico do aacuterabe coracirc n ico ou do

chinecircs do sistema de exames E como liacutenguas-verdade estavam

imbuiacutedas de um im pulso largamente estranho ao nacionalism o a

saber o impulso agraveco nversatildeo Por conversatildeo quero dizer natildeo tanto

a aceitaccedilatildeo de dctermi nltldos p r inciacutepios religiosos e sim uma

absorccedilatildeo alqu iacutem ica O baacuterbaro se torna Impeacuterio do Centro o

montanhecircs do Rif muccedilulmano e o ilongo cristatildeo Toda a natureshy

za ontoloacutegica do homem eacute maleaacutevcl ao sagrado (Compare o presshy

tiacutegio dessas antigas liacutenguas mundia is colocadas acima de todos os

vernaacuteculos com o esperanto ou o volapuk que jazem ignorados

entre essas duas esferas) Foi afinal essa possibilidade de convershy

satildeo atraveacutes da liacutengua sagrada que permitiu que um inglecircs se torshy

nasse papas e u m m anchuacute rio se to rnasse Filho do Ceacuteu

Mas se as liacutenguas sagradas permitiam que se imaginassem

co m u nidades tais como a cristandade nuumlo eacute poss iacutevel explicar o

verdadeiro alcance c a efetiva plausibil idade dessas co munidades

7 Atl que parect () grego cclc iaacutesti co natildeo atingiu o estatuto de uma liacutengua -verdashy

de Sao viIacuter ias as razotildees desse fracasso mas com certeza um fator fundamental

fo i que o grego continuou a ser uma liacutengua demoacutetica i lj (ao con traacute rio do latim)

cm grande parte do Impeacuterio do O rien te Devo essa suglts tagraveu a fudith Herrin

8 Nicholas Brakcspear ocupou o pontificado de 11 5middot1-59 com o nume de Adriano 1

arenas pelo texto sagrado os seus leitores afinal natildeo passavam de

min uacutesculos recife let rados em vastos oceano~ iletradosmiddot Para

urna expl icaccedilatildeo m ais completa temos de exami mlr a relaccedilatildeo entre

o~ letrados e suas sociedades Seria equ ivocado co nsideraacute-los uma

espeacutecie d e tecnocracia teoloacutegica As liacuten guas a que eles d avam

suporte por mais abst rusas qu e fo ssem natildeo possuiacuteam o caraacuteter

abstruso auloconstruiacutedo do jargatildeo dos advogados ou dos econoshy

mistas agravemargem da ideacute ia de realidade alimentada pela sociedade

Pelo contraacute rio os letrados eram grandes inic iados cam adas estrashy

teacutegiLas de uma hierarq uia cosmoloacutegica cujo aacutepice era divino 10 As

concepccedilotildees fundamentais so b re os grup os sociais eram mais

centriacutepetas e hieraacuterquicas do que horizontais e fron tei riccedilas O

poder assombroso do papado no seu auge soacute pode ser ent tnd ido

em termos de um clero transeuropeu com conhecimento do latim

esaito e tambeacutem de uma concepccedilatildeo de m undo partilhada p ratishy

ca mente po r todos e segundo a q ual a cam ada intelectual biliacutenguumle

ao media r o vernaacuteculo e o latim tam beacutem faz ia a mediaccedilatildeo en t re a

terra e o ceacuteu (O pavor da excomunhatildeo reflete essa cosmologia)

Apesar de toda a m agnitude e poderio das grandes com unishy

dades imagi nadas rel igiosamentesua coesatildeo inCONsciente fo i di mishy

nui11lio n u m ritmo cons tante apoacutes o fi nal da Idade Meacutedia Entre as

razotildees desse decliacutenio destaco apenas as d uas relacio nadas diretashy

mente agrave sacralizaccedilatildeo uacutenica dessas comunidades

Em primeiro lugar o decliacutenio res ultou d as exploraccedilotildees do

9middot lIJn Hloch nos lem hra que a m aio ria dos senho res e mui tos g ra nd tgt barotildees

111t pneu medieval Ie ra In admini strado res incapazecircgt dt examinar prssoalrnenshy

li Um n iJ toacuterio ou uma prestaccediluo de contas Feudn lSOciel) r p 81

111 Is~() nao sign ifica que os il e t r~d os natildeo lessem Mas o que e les liam nao eram

rltlIlvra~c im ( mundo visIacutecl middotAos olhos de todos os que eram capazes de refk shy

xlo o mlllldo mate r ial era po uco ma is do que uma espeacutecie de maacutescara po r tniacutes da

qUJI ltlerl r iam todas as coisas realmell te importanllt5 era com o se fosse tunbeacutem

lima liacutengua quc(xpressasse por sina is uma rea lidade mais profunda ibid p 83

42 43

m undn natildeo-eu ro peu as quais ampliaram violentam cn te o horishy

wntc cult ural-geograacutefico e simultanea men te os concei tos acershy

C l das poss iacuteveis formas de vida humana11 o q ue ocorrcu sobret-ushy

Jo mas natilde o excl u~ ivam cn te na Europa Esse processo joacute fica claro

no ma io r liv ro de viagem europeu Veja a surp resa co m que o bom

cristatildeo venezia no Marco Poacute lo desc reve Cubla i Catilde no final d o

seacuteculo 1 11 1

o gratilde-catilde tendo obtido essa ex traordinaacuteria vitoacuteria retornou com

grande pompa e triunfo para a ca pi ta l a cidlde de Ka nbalu Isso

aconteceu no mecircs de no vembro e ele continuou a morar laacuteduranshy

te os meses de revcreiro e marccedilo Inecircs este de Ilossa fe ~ la de Paacutescoa

Sabendo que esta era uma das 110ssJsprincipais solenidades ele

mandou q lIe tod os os cristatildeos fos sem ateacute ele e le vasse m o Livro

deles que conteacutem os quatro Evangelhos Depois de fa7cr com que

o incensassem vaacuterias vezes co m toda a cerimocircnia ele o beijou

devotamente e ordenou qu e todos os seus noh res ali presentes

fizessem o mesmo Este era o seu costu me em todas as principais

festividades cr istatildes como a Paacutescoa e o Na tal e ele observava o

mesmo nas fes tas dos sarracenos dos judeus e dos idoacutelatras Indashy

gado sobre o motivo dessl conduta ele disse Existem qua tro

grandes proCetas que satildeo nve renciados l adorados pelas difcnnshy

les cla~ses da h uman idade Os cristatildeos consideram Jes us Cris to

como a di in dade deles us Sd rraCtno~ Maomeacute os judeus Mo iseacutes

e os idoacutelat ras Sogomombar-kan o iacutedolo mais importante deles

Eu devo honrar c most rar respeito por todos os quatro e imocar

em meu auxiacutelio aquele que del re eles eacute na pcrrade supremo no

11 Erich Au crbadl MirllfS is p 2C ITrad ( it Mi ecirc isSatildeo Paulo Perspect iva 5

eJ 200middot1 p ~H6 ]

12 t rco Pnl1 ls 1 middot ja~C5 de li Ja1(() 1aacutelo 1 BrJsiliense 1954J pp 158-9 Grilo meu NO[l - lt porem que beijam lll ~S natildeo lecircem LI Fvangelho

cJII Ilas pela maneira co m que sua majestade agi u em relaccedilatildeo a

clei eacute ev idente que ele considerava a feacute do~ crisl agraveo~ a mai s ve rdashy

(leira e a mel hor

o gue essa passagem tem de notaacutevel natildeo eacute tanto o tranquuml ilo

relat ivismo religioso do grande d inas ta mongol (afi nal ainda eacute um

relativismo religioso) e sim a aLIacutelude e a linguagem d e Marco Poacutelo

Jamais lhe ocorre tratar C ublai como hipoacute crita ou idoacutelatra apesar

de es tar escrevendo para cristatildeos europeus como ele (Em par te

sem duacutevid a po rque quan to ao nuacutemero de suacuted itos e--lensatildeo d o

ttrritoacute rio c quantidade de riq uezas ele ul t rapassa qualquer sobeshy

rano que exist iu ateacute hoje no mundo) E no uso in consciente do

nossa (que se torna deles) e na q ualifi caccedilatildeo da feacute cristatilde cOmo

a mais verdadeira em vez de a verdadeira podemos detectar o s

pr imoacuterdios de uma territo ria li zaccedilatildeo dos credos um prCl1 uacutencio d a

linguagem de muitos nacionalistas (a nossa naccedilatildeo eacute a melhor

- num campo compamtilloe competi t ivo)

Q ue di ferenccedila reveladora temos no iniacutecio da carta do viajanshy

te persa Rica em Par is para o seu amigo Ibben em 17 12

o papa eacute o chefe dos cristatildeos E um elho iacutedolo que se incensa por

haacutebi lo Antigamente ele era temiacutevel aos proacuteprios priacutencipes pois de

() i depu nha com a mesma fa cilidade com que os nossos magniacuteficos

~u llotildees depocircem os reis de [rncrclia e da Geoacuterg ia Mas natildeo o te mem

ma i ~ l l e ~e d iz SUl lSSOr de um dos pri meiros cristatildeos que ~e clldma

5(0 Pedro e cert am ente eacute uma rica sucessatildeo pois ele tem teso uros

illlen so ~ e um grande territoacuterio sob o seu domiacutenio

11 nr 1fllIds o(Mnno Jv o p 1 5 ~ I ls viagcIl5 de Marco lOcirco Brasilicnsc 19541

11 Il enri tlt ) lontesquicu Perrln Lt-lIrrs p 81 As L fl rcs perswlts foram pubtishyL lei pela pri11tira t em [72

44 45

As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy

ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11

tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy

lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido

enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica

na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande

Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem

demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse

parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy

pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy

val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy

nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica

mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma

outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy

lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos

nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy

m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada

mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele

se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros

imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa

poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy

ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim

apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy

mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do

latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma

po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy

5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo

16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy

recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)

171bi p 32 1

men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy

lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma

figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade

Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy

lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o

inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy

g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em

larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no

con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy

16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy

decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire

( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a

qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major

nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se

um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio

do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy

des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy

dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando

o Rr l NO DI N AacuteS T I CO

I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um

mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy

11 Ibit p 330

19 1h iJ pp 33 1-2

20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais

lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy

port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro

~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e

Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro

M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356

46 47

tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy

lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy

ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de

um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da

ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra

terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um

territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo

onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram

porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy

m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade

com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter

seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas

veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy

Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy

cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy

tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias

Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy

2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com

essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy

meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os

p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I

iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot

te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy

naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico

ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy

nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias

2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno

tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante

discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar

(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha

O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido

4

tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este

l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o

Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um

ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -

Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia

Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc

arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia

duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy

illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta

e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz

e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy

b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen

marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy

ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da

marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc

Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto

comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e

capturas dos Ha bsburgo

Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy

cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de

concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy

gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er

aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas

111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy

21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1

lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha

atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst

111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do

4

co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando

LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy

mo~ de a tribuir aos Bo urbon

Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo

por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy

ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy

ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos

anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy

d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na

eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes

pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos

Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien

reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy

dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy

bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu

se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy

longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo

Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades

do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio

da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves

arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486

alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy

ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento

eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot

cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la

man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui

capaz de manter ( ibid p 125 )

25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o

fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy

ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught

llIul cllt1ligr p 136

26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot

ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l

nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy

duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria

~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy

monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy

parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da

Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF

Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema

poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy

te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma

~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade

minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande

(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os

JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute

eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst

tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)

PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S

Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas

lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades

~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~

hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270

lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama

I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92

~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil

hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m

sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao

pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr

dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy

do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m

l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85

50 51

religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy

nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy

do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o

m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao

Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos

agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos

c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res

ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy

ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy

na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde

Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy

di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy

no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo

de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com

os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia

muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de

um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era

maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma

universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy

dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta

peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em

latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio

cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para

as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy

pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy

saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue

assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre

os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy

sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a

cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils

~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas

11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a

VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy

I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a

mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma

cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees

I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy

SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a

segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo

pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na

noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do

~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos

colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os

homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais

llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy

ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa

Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de

con~ciecircncia

()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de

Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo

de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy

se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy

0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal

nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de

forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy

lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma

lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot

vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles

31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6

3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco

~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot

11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90

52 53

l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy

mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a

histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla

compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy

rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy

sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de

todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno

Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy

te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy

jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy

sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas

a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real

A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo

para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute

ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a

fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma

co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy

da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura

gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo

med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo

novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy

neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy

zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo

mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo

calendaacute r io H

n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo

bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]

-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy

nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~

n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo

importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se

w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy

gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o

ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy

am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy

ginada correspondente agrave naccedilatildeo

Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao

velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem

de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy

mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e

ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy

mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo

si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy

te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar

ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte

manetra

Tempo 11 III

4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda

num bar

r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em

casa com B

o joga bilhar tem um

pcsaddo

~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e

Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197

55 54

lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia

e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver

feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas

(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a

l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao

entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute

possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua

sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees

(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os

le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy

do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma

tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy

gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy

cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy

ca no espiacuterito de seus leitores

A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy

gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da

ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade

soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o

ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer

e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees

36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I

li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do

37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll

pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1

linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao

a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po

5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico

com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo

39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do

ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy

tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados

Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada

J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy

11 i1111 e simultacircnea dd~s

rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os

rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras

I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas

Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o

romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy

turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro

romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy

ra maravilhosa 11

Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy

mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de

jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy

Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy

~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros

la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a

1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o

gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy

ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl

Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy

nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua

~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave

rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy

l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm

pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y

Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard

1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1

11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I

IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy

Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru

56 57

infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila

n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de

bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no

problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade

necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy

saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo

O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague

Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma

manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos

ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha

mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a

Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o

nosso Governo

Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta

nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy

tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas

anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy

res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy

da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy

satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma

ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la

so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do

tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy

dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da

snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens

auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se

tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy

de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy

bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)

Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy

mente problem aacuteticas

Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy

(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a

IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy

d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy

toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy

lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa

ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy

C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy

men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia

medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo

ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy

lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa

muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao

viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente

algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter

UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy

co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy

oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy

dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para

Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue

Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy

mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria

middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy

11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a

di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy

t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy

Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy

11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15

58 59

comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por

meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a

metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy

lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata

em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica

alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos

passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo

Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy

peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela

mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas

Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy

tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou

di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos

poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto

Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten

45 lbid p 120

46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy

sis ca po I (A cicar de Odissc u)

~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1

IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II

COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy

IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg

I deus Albl nia re ino Jgora

Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel

l u teu udcnsnr llue Igor marIS

M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1

I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy

Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy

IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1

Oacutel

Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo

Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy

meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy

( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no

Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como

suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo

mostra a forma essencial desse romance naciona lista )

Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes

influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e

aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy

dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te

que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy

sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy

quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im

gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos

Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy

trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r

nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo

nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do

interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy

sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico

ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy

nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy

quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1

Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no

movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m

s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do

middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H

4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu

61

romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy

pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo

t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado

o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica

eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de

prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva

mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea

do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se

as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou

daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu

enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)

E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy

dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto

Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo

de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco

Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste

destino publicada em fasciacutecul os em 1924

Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy

vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva

50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura

e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais

51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy

do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros

campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova

Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110

llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot

tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente

li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26

capitulas 25 c 1)

52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu

na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas

l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa

P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy

do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy

gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy

pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas

ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy

nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy

lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se

o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o

cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches

)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea

diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz

dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste

Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim

Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy

nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml

in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que

ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo

inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado

PROSPI~RlLlAj)E

Lm andarilho mendigo passou mal

e morreu abandonado no acostamento da rua

n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o

I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to

Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si

Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy

1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto

(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas

62 63

qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo

de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a

gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy

te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy

liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas

pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy

cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes

gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca

eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz

Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo

confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy

vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da

referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos

seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy

cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je

Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy

ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma

on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que

Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy

dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis

hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor

cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a

raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )

Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela

du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo

encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy

josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy

nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde

)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy

fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a

d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida

pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo

SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto

dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente

licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy

mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu

tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um

lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil

raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos

eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um

mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo

inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os

outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)

Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy

ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado

[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy

le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A

dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a

principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy

gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy

te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem

sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por

I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento

que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os

MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl

LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy

tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco

12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer

1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te

64 65

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 6: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

por iSSl) que tantas naccedilotildees difcren tes tecircm esses tuacutem ul os sem senti r

nenhumt necessidade de c-pccificltlr a nacionalidade de seus ocushy

pantes auscntes O que mais potleriam ser 5(10 ak mdes ameri cashy

nos argen ti nos etc )

O sign ificado cul tural desses monumen tos Ii caniacute ainda mais

c1eacutel ro se tentarmos imagi nar por exemplo um luacutemulo do ma rx isshy

ta desconhecido ou um ccnolaacutefio para os liberais tombados em

combate Natildeo seria um abs urdo O m~lrx ismo e o li beralismo natildeo

se importam mu ito com a Inorte e a imortalidad bull Se o imagmaacuterio

nacionalista se importa tanto com elas isso sugere sua grande ~fishy

nidade com os imaginaacuterios religiosos Como essa afinidade nada

tem de fortu ito talvez val ha a pena inicia r uma ava liaccedilatildeo das ra iacuteshy

zes cullurais do nac ionalismo pela mo rte o uacutelt imo elemento ele

Ul11 cJ seacuterie de fatalidades

A maneira de um homem morrer geralmente parece arbit raacuteshy

ri el mas sua mo rtal idade eacute ine itaacutevel As vidas hu manas estatildeo

-heias dessas combi naccedilotildees entre acaso e necessidade Todos sabeshy

mos que nossa heranccedila geneacutetica pessoal nosso sexo a eacutepoca em

que vivemos nossas capacidades fiacutesicas liacute ngua materna e aampgtim

por diante satildeo fato res conlingentes e inelutaacuteveis O gra nde meacuterishy

lO das concerccedilotildee~ religiosas tradi ciona is (o tlual nalural mente

natildeo deve ser confu ndido com o papel delas na legitimaccedilatildeo de sis shy

d qli ma rrom llU l e cinja sr levan tariam d~ suas laacutep ides h rl ll CdS trovejando

ca plllvras 11iacutegidS Dew I honra piacutet rb b O mel Ju iacutew lsnhre o (l Idado

nlcriclno I e (armou 1111 a111 po dt batuacuteha haacute Ill u itus e lll 11i tllS allOS e llUIlCi1 se [1 lIhli fio li Lu li 1 11 cnt Jo com() o veio ago ra como ullla das ligu r JS mais nobres

I lll Undo 11 lt10 ~O como uma das pllsonal idades nl i li t J re~ mai sele tasl11 il ta mshy

hc m como uml da Il1d is imaculadtgt I~ ic I ri r fertc nccl h l~t(r ia I(l [ dar 11 rn dus ml iofCS eXlmp lo tIlt pat ri(lti ll1o vitll ri ()5P I~ i - ) Ek pcr lt ll ( l p(~ tcr i dlde

como il1otruto r de gc raccediluumlc futura nm prindpio da libl rdlde l indl [lc nJeacuten(ia

Lle p~ rtcn~e 10 l r l~e nlL d noacutes l1(lr ~lHh v i rtllde~ t rcali lik s Uouglas IIluto rlh ur Outy I IOIl lLlr (ollnt ry di(u fo) p cl ri a cldcm iJ IililJ r t merishy

~anol 1 [gt1111 I dc maio Ir 196 2 L11l sc lt so ltlier spclks pp JSI c 357

tC llhlSsptciacutefi cos de domi naccedilatildeo e exploraccedilatildeo ) eacute a SUltl preocupaccedilatildeo

com () homem-no-universo o homem enquanto espeacutecie e cont inshy

glncia da vida A ext rao rd inaacute ria sobrevivecircncia do budismo do

(ri~tiltlI1 is l1l o ou do islamismo ao longo de milecircnios e em dezenas

de formaccedilotildees sociais d ireren tes comprova li ma capacidade de resshy

posta imaginativa ao tremendo peso do sofrimento humano - a

doenccedila a mutilaccedilatildeo a dor a velhice a morte Por que nasci cego

Por que o meu mel hor amigo fi cou para liacute tico Por que a mi nha

irm eacute retardada As religiotildees ten tam expl icar O grande pon to

fllthO de todos os estil os de pensamento evolucionaacuteriosprogressi

vos in cluindo o marxismo eacute que eles respondem a essas pergunshy

tas COI11 um silecircncio impaciente Ao mesmo tel11po e de diversas

maneiras o pensamento religioso tamb~m daacute respostas sobre as

ohsclI ras insinuaccedilotildees de imortal idade geralmente transfo rmando

H fatali dade em contin uidade (kamUl pecado originnletc )Assim

a re ligiatildeo se interessa pelos viacutenc ulos entre os mortos e os ainda

natildeo-nascidos pelo misteacuterio da rc-generaccedilatildeo Quem vive a conccpshy

tatildeo l () nascime nto do se l proacuteprio filho sem apreender difll sa shy

mente lima mescla de ligaccedilatildeo acaso e necess iddde em linguagem

de continuidade (Aqui de novo a desvantagem do pensamenshy

1 Cf Rlgi~ lk bray lhrx i~m ltl nd I h ~ national question Nellmiddot lerr NClltIV J 05

(sckmhrll-outubro 1977) p 29 I )lIfantc deg I11 ~ U trabal ho de campo na Indoneacutesia

l1il deacuteltHl a d oacuteO fique i chocado (0111 a tranquuml ila llcgJ ti llt1 de muitos llluccedilulmJnu

~11 ll~il lt1 r IS ideacuteias de Darwin Nu co meccedilo interpretei essa negaI iJ C(l mo obs u

rlIlt l~ll1n Depois vi que cra lima hnlat ivl lo uvaacutevel de l1lJnlcr a ()crl ll cia a doushy

trina d) evoluccedilao era ~im p l sme n lc i n ~lm pa livd com os Lns inalllf ll liS do islatilde O tuc IMer )1l1 UI I1 ll1 a l criali ~mo cicnliacutelic que aCl ita formalmente 15 des(obn tas

d1iiacutesil1 ()h r~middot 1 mak ria rna~ que se ltmpcnha latildeo puu(O (111 vincular lai dcscohcr a~ li lU1 1d ICSbull I rcmiddotol uccedilagrave(l ou ao q ue lor ~cri que o ahismo enlre os proacutetons

r o Itolmiddotlnri1UacuteC) 11 10 oc ult1 ul11a cksconhecidu CO I1CCpccedilO metafiacutesica do hOl1l ell1

tIJ lmiddotjlIn-st os II1 tcrCSSJll llS textos Je ScbnSliollll1l m pan aru O II(tcritl iSJIl l

TItmiddot flLlld(1I ~ lp c a rcs po~tJ pondLradltl de Raymond Wi llium 1 eles em Timla 1110 111lkrillist dlllJ Icng bull ICII lcft IklJ middotW 109 (I11 Ji( -junl1o 1978) pp _~ - 1 7

37 36

to cvoluciomiacuterio p ro gressivo eacute sua aversatildeo quase heraclitialla a

qualquer ideacute ia de co ntin uidade)

Faccedilo essas observaccedilotildees talvez simploacuterias principalmente por shy

que () seacuteculo XV II I na Eu ropa Ocidcn la l marca llatildeooacute o amanhecer

Ja era 00 nac ionalismo m as tambeacutem o anoi tecer dos modos de

pensamentos religiosos () seacutecuJo do Il um inismo do secul arismo

racio nal ista t rou xe consigo suas proacuteprias t revas m od ernas A feacute

religiosa decl inou mas o sofrimento que ela ajudava a apaziguar

natildeo desapareceu A desintegraccedilatildeo do para iacuteso nada torna a fatalid a shy

de mais arbitraacuteria O absurdo da salvaccedilatildeo nada torna m ais necesshy

saacuterio um outro estilo de cont inuidade Entatildeo foi preciso q ue houshy

vesse uma transfo rmaccedilatildeo secular da fa talidad e em co ntinuidade

da contingecircncia em signi ficado Como veremos poucas coisas se

mostraram (se m ostram) mais adequadas a essa fi nalidade do que

a ideacuteia de naccedilatildeo Adm ite-se normalmente q ue os estados nacionais

satildeo novos e histoacutericos ao passo q ue as naccedilotildees a q ue eles datildeo

expressatildeo poliacutetica sempre assomam de um passado imemorial e

4 O falecido pre idcnte Suklrno sempre falou com toda a sil1cnidade sobre os

30 anos de coJonialismo a que a sua Indoneacutesia fo ra subm etida embora o proacuteshy

prio co nceito de Indoneacutesia seja uma invenccedilatildeo do seacutec ulo X e a maior parte do

que hoje eacute o paiacutes ten ha sido conquistada pelos holandeses apenas entre 1850 e

1910 O principal heroacutei nacional da Indon eacutesia con tempo racircnea eacute o priacutencipe java shy

nl-s Dipltlnegoro do comeccedilo do seacuteculo xlxembo[U as memoacuterias do priacutencipe mosmiddot

trtJn que ele pretendia co nqui~tJr Inatildeo libertar J 1(1a t natildeo expulsaros hola nshyd (~~l~ 11 verdade eacute evidentt que tk natildeo concebia os holltl1dccs como uma

(lllct iidlde Ver Harry ) Uencla t John A l arkin (o rg ) 117 lt 1Vorld ofSoll lumiddotast A51tl p 158 c Ann Kumar Diponcgoro ( I 771)~- 1 855) l ldolltsia 13 (abril de

I Yiacute2) p 103 Criro meu Analogamente Kcmal Atatuumlrk deu lOS slt us bancos esta

ta is os nomcs Ba nco Hitita I Ui Banka ) c Banco Sumeacuterio (Sc t(l n Watson Narivlls mui Siacutelllcs p 259 ) E SSeacuteS bancos satildeo proacutesperos e natildeo haacute razio para duvidar que

mu itos tl IlCOS e provavelmente o proacuteprio Kcmal acred itasst m slr iamcnte e

Jintla acreditem que 0 hit itds e os sumeacuterios satildeo seus antepassados tu rcos An tes de dar muitas risaJas se ria me lhor lembrarmos de Artm c Boad i~ea e refletir sobre o sucesso comercial das mi tog rafias de ro lkien

38

1 indd mais importante ~cguem rumo a um futuro il im itado 1 a

nlltlgia do nac ionalismo que converte o acaso em desti no Podem os

dic com Debray Si m eacute pu ro acaso que cu ten ha nascido fran cecircs

mJS a ti nai a h anccedila eacute eterna

Eacuteclaro que natildeo estou afirmando que o su rgimento do nacioshy

naligtl11o no fina l d o seacutecu lo Xl ur foi produzido pelo dcsgaste das

convicccedilotildee religiosas nem que ~sse proacuteprio desgas te natildeo requer

unhl explicaccedilatildeo complexa Tambeacutem natildeo estou sugeri ndo que o

l1aciol1a I ismo tenba de aJgu ma forma su bsti tu iacutedo histo rica shy

mente a religiatildeo O q uc es tou popondo eacute o entendimen to d o

nac ionalism o alinhando-o natildeo a ideologia- poliacuteticas conscien teshy

mente ado tadas mas aos grandes sistemas cu ltu rais qu e o prece shy

deram e a partir dos quais ele surgiu incl usive para combatecirc-los

Para nossas fi nal idades os do is sistemas cul turais per i nel1 te~

sagraveo a cOlllI zidade religiosa e o reino dinaacutestico Po is am bos no seu

apogeu fo ram est ruturas de referecircnc ia incontestes como oco rre

atualmente com a nac ionalidade Portanlo eacute fundame ntal analishy

sar o qu e cunfer iu uma plausibiJidade auto-evidente a esses sisteshy

mdS cul urais e ao mes mo tempo d estacar a lguns eJc m cntos shy

cbaw na decomposiccedilatildeo deles

1 C O IIUNIDADE RELI G IOS A

I Xlstem po ucas coisas ma is im pressionanles do que a vasta

extensatildeo ter r ito r ial do Ummah i ~lagravemic) desde o Marrocos ao

arquipd ago Sulu da cri slandade Jesde o Paraguai ao Ja patildeo e do

nlundo bu d ista desde o gt r i La nka agrave pen iacutensula coreana As grand es

1111turas acras (e para nossos objetivos pode-se incluir tambeacutem

o confucionism o ) incorporava m a ideacuteia de imensas comunidashy

des ~las a cristandadc o Um mah is lilmico e mesm o o Impeacuterio do

Ccnl ro - que hoje eacute considerado chinecircs mas antes imaginava-se

39

como cenLrd - eram imaginados pri ncipalmente pelo uso de

um a liacutengua e uma escrita sagradas Tomemos o exem plo do islatilde se

ul11 ll1aguindanaucnse encontrasse um btrbere em Meca um desshy

conhecendo o idioma do out ro incapazes de se comunica r oralshy

mente mesmo assi m entenderia m os seus caracteres p(Hque 0lt

textos sacros adotados por ambos exist iam apenas em aacuterabe claacutesshy

sico Nesse sentido o aacuterabe escrito fu ncionava como os ideograshy

mas ch ineses criando wna comunidade a partir dos signos c natildeo

dos so ns (Assi m hoje em dia a linguagem matemaacutetica daacute prosseshy

gu imento a uma velha trad iccedilatildeo Os romenos natildeo fazem ideacuteia de

como se diz + em tai landecircs e vice-versa mas ambos compreenshy

dem o siacutembolo) Todas as grandes comunidades claacutessicas se cOl1Sishy

deravam cosmicamente centrais at raveacutes de uma liacutengua sagrada

ligada a uma ordem ~upra terrena de poder Assi m o alcance do

lal im do paacute li do aacuterabe ou do chinecircs escritos era teoricamente ilishy

mitado (Na ve rd ade quanto mais morta eacute a liacutengua escri ta shy

qua nto ma is di-ta ntc da fala - melhor em princiacutepio todos tecircm

acesso a um mundo puro de signos )

Mas essas com Llnidade~ claacutess icas ligadas r or Jinguas sagradas

tinham um caraacuteter di fe re nte das comunidades imagi nadas das

naccedilotildees modern as Uma di ferenccedila fundamental era a confianccedila das

comunidades maIs an tigas no sacrarnenLalislllo l1nico de suas liacuten shy

guas e daiacute deri va m as iclcias que ti nllam sobre a admissatildeo de novos

membros O mandarins chineltcs viam com bons olhos os baacuterbashy

ros que aprendiam 3 duras penas a pin tar os ideogramas do

Impeacuterio do Cen tro Esses haacuterharm jaacute estavam ltl meio caminho da

plena aceitaccedilatildeo Meio-civil izado era muiliacutessimo melhor do que

baacuterba ro Essa atit ude certame nte natildeo foi excl usiva dos chi neses

nem se restringiu agrave Antiguumlidade Veja por exemplo a seguinte

5middot O l i 1 t rlIlqLiil iluumlde com que os mOIl (ois c manchus ~ il1 izadu s foram aceitos m rTIo 1-tIIrO$o ( 11

40

-

poliacute tica para os biIacute rbaros formulJua pelo liberal co lomhi ano

Ped ro rermiacuten de Vargas do comeccedilo do seacuteCll lo XIX

Pa ra am pliar a ll)SSa agricu ltura seri a preciso hi spaniza r 0S nossos

iacutendios A preguiccedila a fa lta de in ldigecircnci e a in dif~ rccedil nccedila dd es aos

t rabalhos normais levam a pensa r que d cs derivam de uma raccedila

degenerada que se ueteriora conforme ~e afasta da ua origem [ J

seria muito dese iaacutevel que os iacutendios se extinguissem atraveacutes d misshy

cigenaccedilatildeo com os brancos isentando-os de im postos e ou tros

encargos c concedendo-lhes a propr iedade privaoa da ter ra

I~ notaacutevel que esse liberal ain da proponha extinguir seus iacutendios

el1l parte isentando-os de impostos e concedendo-lhes a proshy

priedade privada da terra em vez de exterminaacute-los com armas de

fogo e microacutebios como logo depois comeccedilaram a fazer seus herdeishy

ros no Brasil Argenti na e Estados Unjdos Nota-se tambeacutem ao lado

desta crueldade com ares condescendentes o otimismo coacutesmico

Jtl fim eao cabo o iacutendio pode -er redimido - pela impregnaccedilatildeo do

stmen bran co civil izado e pelo acesso agrave propri edade privada

~OIlO todos os outros (Como eacute d iferente a atitude de Fermiacuten em

comparaccedilatildeo ao imperialista europeu posterior com a sua preferecircnshy

lia pelos malaios gurcas e hauacutessas autecircnticos em vez de mestishy

Ccedil()~ nativos semi- analfabetos wuacutegs e assim por diante

Mas se o meio de se imaginar as grandes com unidades gl shy

hltt is do passado eram as liacutenguas mudas sagradas essas apariccedilotildees

IJq lliriam realidade a pa rtir de uma ideacuteia btstante es tranha agrave

rn~nta l id ade ocidental contemporagravenea a natildeo-arb itrariedade do

signo Os ideogramas do ch i necirc~ do latim ou do aacuterabe erJm emashy

6 ) hll LYl1L h T cSpi11ish-AI1criCIII rIOllioIl5 1808-211 p 260 Grifo meu g krmo depreciat ivo -I lie na epoca do imperial ismo britimiacuteco designava o

ou ivo clJ iacutenJla da Africa do Norte e do O riente Meacutedio

41

naccedilotildees da real idad e e natildeo re presen taccedilotildees inventadas ao acaso

Co nhecemos a lo nga discussatildeo sobre a liacute ngua (l ati m ou vernaacutecushy

lo) ma is adequad a para a missa Na tradiccedilatildeo islacircmi ca ateacute bem

pouco tempo () Coratildeo era lite ralmente intracuzIacutevel (e portanto

in lrad uzido) porque o uacutenico ltI cesso agrave verdade de Alaacute era por meio

dos signos verdadeiros e illsubstitu iacuteveis d o aacuterabe escr ito Aqui natildeo

existe a ideacuteia de um mundo tatildeo des incuhd0 da liacutengua que todas

as liacutenguas vecircm a ser signos equumlid istanles (e porta nto in tercambiaacuteshy

vei s) dele Com efeito a realidade o ntoloacutegica soacutepo de se r apreendi shy

da por meio de um uacutenico sistema pr ivilegiado de re-presentaccedilatildeo

a liacutengua-verdade do latim eclesiaacutestico do aacuterabe coracirc n ico ou do

chinecircs do sistema de exames E como liacutenguas-verdade estavam

imbuiacutedas de um im pulso largamente estranho ao nacionalism o a

saber o impulso agraveco nversatildeo Por conversatildeo quero dizer natildeo tanto

a aceitaccedilatildeo de dctermi nltldos p r inciacutepios religiosos e sim uma

absorccedilatildeo alqu iacutem ica O baacuterbaro se torna Impeacuterio do Centro o

montanhecircs do Rif muccedilulmano e o ilongo cristatildeo Toda a natureshy

za ontoloacutegica do homem eacute maleaacutevcl ao sagrado (Compare o presshy

tiacutegio dessas antigas liacutenguas mundia is colocadas acima de todos os

vernaacuteculos com o esperanto ou o volapuk que jazem ignorados

entre essas duas esferas) Foi afinal essa possibilidade de convershy

satildeo atraveacutes da liacutengua sagrada que permitiu que um inglecircs se torshy

nasse papas e u m m anchuacute rio se to rnasse Filho do Ceacuteu

Mas se as liacutenguas sagradas permitiam que se imaginassem

co m u nidades tais como a cristandade nuumlo eacute poss iacutevel explicar o

verdadeiro alcance c a efetiva plausibil idade dessas co munidades

7 Atl que parect () grego cclc iaacutesti co natildeo atingiu o estatuto de uma liacutengua -verdashy

de Sao viIacuter ias as razotildees desse fracasso mas com certeza um fator fundamental

fo i que o grego continuou a ser uma liacutengua demoacutetica i lj (ao con traacute rio do latim)

cm grande parte do Impeacuterio do O rien te Devo essa suglts tagraveu a fudith Herrin

8 Nicholas Brakcspear ocupou o pontificado de 11 5middot1-59 com o nume de Adriano 1

arenas pelo texto sagrado os seus leitores afinal natildeo passavam de

min uacutesculos recife let rados em vastos oceano~ iletradosmiddot Para

urna expl icaccedilatildeo m ais completa temos de exami mlr a relaccedilatildeo entre

o~ letrados e suas sociedades Seria equ ivocado co nsideraacute-los uma

espeacutecie d e tecnocracia teoloacutegica As liacuten guas a que eles d avam

suporte por mais abst rusas qu e fo ssem natildeo possuiacuteam o caraacuteter

abstruso auloconstruiacutedo do jargatildeo dos advogados ou dos econoshy

mistas agravemargem da ideacute ia de realidade alimentada pela sociedade

Pelo contraacute rio os letrados eram grandes inic iados cam adas estrashy

teacutegiLas de uma hierarq uia cosmoloacutegica cujo aacutepice era divino 10 As

concepccedilotildees fundamentais so b re os grup os sociais eram mais

centriacutepetas e hieraacuterquicas do que horizontais e fron tei riccedilas O

poder assombroso do papado no seu auge soacute pode ser ent tnd ido

em termos de um clero transeuropeu com conhecimento do latim

esaito e tambeacutem de uma concepccedilatildeo de m undo partilhada p ratishy

ca mente po r todos e segundo a q ual a cam ada intelectual biliacutenguumle

ao media r o vernaacuteculo e o latim tam beacutem faz ia a mediaccedilatildeo en t re a

terra e o ceacuteu (O pavor da excomunhatildeo reflete essa cosmologia)

Apesar de toda a m agnitude e poderio das grandes com unishy

dades imagi nadas rel igiosamentesua coesatildeo inCONsciente fo i di mishy

nui11lio n u m ritmo cons tante apoacutes o fi nal da Idade Meacutedia Entre as

razotildees desse decliacutenio destaco apenas as d uas relacio nadas diretashy

mente agrave sacralizaccedilatildeo uacutenica dessas comunidades

Em primeiro lugar o decliacutenio res ultou d as exploraccedilotildees do

9middot lIJn Hloch nos lem hra que a m aio ria dos senho res e mui tos g ra nd tgt barotildees

111t pneu medieval Ie ra In admini strado res incapazecircgt dt examinar prssoalrnenshy

li Um n iJ toacuterio ou uma prestaccediluo de contas Feudn lSOciel) r p 81

111 Is~() nao sign ifica que os il e t r~d os natildeo lessem Mas o que e les liam nao eram

rltlIlvra~c im ( mundo visIacutecl middotAos olhos de todos os que eram capazes de refk shy

xlo o mlllldo mate r ial era po uco ma is do que uma espeacutecie de maacutescara po r tniacutes da

qUJI ltlerl r iam todas as coisas realmell te importanllt5 era com o se fosse tunbeacutem

lima liacutengua quc(xpressasse por sina is uma rea lidade mais profunda ibid p 83

42 43

m undn natildeo-eu ro peu as quais ampliaram violentam cn te o horishy

wntc cult ural-geograacutefico e simultanea men te os concei tos acershy

C l das poss iacuteveis formas de vida humana11 o q ue ocorrcu sobret-ushy

Jo mas natilde o excl u~ ivam cn te na Europa Esse processo joacute fica claro

no ma io r liv ro de viagem europeu Veja a surp resa co m que o bom

cristatildeo venezia no Marco Poacute lo desc reve Cubla i Catilde no final d o

seacuteculo 1 11 1

o gratilde-catilde tendo obtido essa ex traordinaacuteria vitoacuteria retornou com

grande pompa e triunfo para a ca pi ta l a cidlde de Ka nbalu Isso

aconteceu no mecircs de no vembro e ele continuou a morar laacuteduranshy

te os meses de revcreiro e marccedilo Inecircs este de Ilossa fe ~ la de Paacutescoa

Sabendo que esta era uma das 110ssJsprincipais solenidades ele

mandou q lIe tod os os cristatildeos fos sem ateacute ele e le vasse m o Livro

deles que conteacutem os quatro Evangelhos Depois de fa7cr com que

o incensassem vaacuterias vezes co m toda a cerimocircnia ele o beijou

devotamente e ordenou qu e todos os seus noh res ali presentes

fizessem o mesmo Este era o seu costu me em todas as principais

festividades cr istatildes como a Paacutescoa e o Na tal e ele observava o

mesmo nas fes tas dos sarracenos dos judeus e dos idoacutelatras Indashy

gado sobre o motivo dessl conduta ele disse Existem qua tro

grandes proCetas que satildeo nve renciados l adorados pelas difcnnshy

les cla~ses da h uman idade Os cristatildeos consideram Jes us Cris to

como a di in dade deles us Sd rraCtno~ Maomeacute os judeus Mo iseacutes

e os idoacutelat ras Sogomombar-kan o iacutedolo mais importante deles

Eu devo honrar c most rar respeito por todos os quatro e imocar

em meu auxiacutelio aquele que del re eles eacute na pcrrade supremo no

11 Erich Au crbadl MirllfS is p 2C ITrad ( it Mi ecirc isSatildeo Paulo Perspect iva 5

eJ 200middot1 p ~H6 ]

12 t rco Pnl1 ls 1 middot ja~C5 de li Ja1(() 1aacutelo 1 BrJsiliense 1954J pp 158-9 Grilo meu NO[l - lt porem que beijam lll ~S natildeo lecircem LI Fvangelho

cJII Ilas pela maneira co m que sua majestade agi u em relaccedilatildeo a

clei eacute ev idente que ele considerava a feacute do~ crisl agraveo~ a mai s ve rdashy

(leira e a mel hor

o gue essa passagem tem de notaacutevel natildeo eacute tanto o tranquuml ilo

relat ivismo religioso do grande d inas ta mongol (afi nal ainda eacute um

relativismo religioso) e sim a aLIacutelude e a linguagem d e Marco Poacutelo

Jamais lhe ocorre tratar C ublai como hipoacute crita ou idoacutelatra apesar

de es tar escrevendo para cristatildeos europeus como ele (Em par te

sem duacutevid a po rque quan to ao nuacutemero de suacuted itos e--lensatildeo d o

ttrritoacute rio c quantidade de riq uezas ele ul t rapassa qualquer sobeshy

rano que exist iu ateacute hoje no mundo) E no uso in consciente do

nossa (que se torna deles) e na q ualifi caccedilatildeo da feacute cristatilde cOmo

a mais verdadeira em vez de a verdadeira podemos detectar o s

pr imoacuterdios de uma territo ria li zaccedilatildeo dos credos um prCl1 uacutencio d a

linguagem de muitos nacionalistas (a nossa naccedilatildeo eacute a melhor

- num campo compamtilloe competi t ivo)

Q ue di ferenccedila reveladora temos no iniacutecio da carta do viajanshy

te persa Rica em Par is para o seu amigo Ibben em 17 12

o papa eacute o chefe dos cristatildeos E um elho iacutedolo que se incensa por

haacutebi lo Antigamente ele era temiacutevel aos proacuteprios priacutencipes pois de

() i depu nha com a mesma fa cilidade com que os nossos magniacuteficos

~u llotildees depocircem os reis de [rncrclia e da Geoacuterg ia Mas natildeo o te mem

ma i ~ l l e ~e d iz SUl lSSOr de um dos pri meiros cristatildeos que ~e clldma

5(0 Pedro e cert am ente eacute uma rica sucessatildeo pois ele tem teso uros

illlen so ~ e um grande territoacuterio sob o seu domiacutenio

11 nr 1fllIds o(Mnno Jv o p 1 5 ~ I ls viagcIl5 de Marco lOcirco Brasilicnsc 19541

11 Il enri tlt ) lontesquicu Perrln Lt-lIrrs p 81 As L fl rcs perswlts foram pubtishyL lei pela pri11tira t em [72

44 45

As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy

ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11

tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy

lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido

enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica

na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande

Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem

demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse

parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy

pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy

val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy

nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica

mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma

outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy

lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos

nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy

m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada

mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele

se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros

imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa

poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy

ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim

apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy

mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do

latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma

po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy

5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo

16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy

recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)

171bi p 32 1

men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy

lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma

figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade

Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy

lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o

inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy

g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em

larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no

con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy

16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy

decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire

( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a

qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major

nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se

um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio

do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy

des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy

dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando

o Rr l NO DI N AacuteS T I CO

I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um

mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy

11 Ibit p 330

19 1h iJ pp 33 1-2

20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais

lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy

port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro

~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e

Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro

M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356

46 47

tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy

lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy

ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de

um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da

ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra

terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um

territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo

onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram

porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy

m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade

com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter

seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas

veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy

Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy

cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy

tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias

Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy

2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com

essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy

meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os

p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I

iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot

te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy

naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico

ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy

nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias

2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno

tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante

discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar

(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha

O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido

4

tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este

l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o

Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um

ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -

Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia

Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc

arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia

duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy

illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta

e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz

e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy

b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen

marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy

ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da

marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc

Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto

comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e

capturas dos Ha bsburgo

Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy

cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de

concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy

gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er

aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas

111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy

21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1

lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha

atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst

111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do

4

co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando

LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy

mo~ de a tribuir aos Bo urbon

Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo

por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy

ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy

ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos

anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy

d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na

eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes

pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos

Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien

reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy

dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy

bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu

se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy

longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo

Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades

do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio

da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves

arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486

alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy

ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento

eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot

cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la

man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui

capaz de manter ( ibid p 125 )

25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o

fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy

ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught

llIul cllt1ligr p 136

26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot

ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l

nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy

duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria

~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy

monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy

parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da

Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF

Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema

poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy

te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma

~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade

minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande

(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os

JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute

eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst

tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)

PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S

Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas

lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades

~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~

hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270

lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama

I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92

~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil

hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m

sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao

pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr

dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy

do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m

l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85

50 51

religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy

nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy

do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o

m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao

Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos

agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos

c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res

ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy

ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy

na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde

Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy

di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy

no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo

de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com

os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia

muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de

um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era

maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma

universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy

dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta

peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em

latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio

cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para

as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy

pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy

saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue

assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre

os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy

sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a

cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils

~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas

11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a

VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy

I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a

mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma

cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees

I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy

SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a

segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo

pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na

noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do

~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos

colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os

homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais

llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy

ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa

Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de

con~ciecircncia

()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de

Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo

de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy

se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy

0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal

nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de

forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy

lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma

lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot

vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles

31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6

3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco

~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot

11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90

52 53

l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy

mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a

histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla

compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy

rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy

sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de

todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno

Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy

te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy

jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy

sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas

a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real

A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo

para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute

ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a

fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma

co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy

da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura

gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo

med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo

novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy

neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy

zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo

mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo

calendaacute r io H

n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo

bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]

-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy

nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~

n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo

importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se

w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy

gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o

ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy

am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy

ginada correspondente agrave naccedilatildeo

Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao

velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem

de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy

mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e

ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy

mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo

si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy

te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar

ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte

manetra

Tempo 11 III

4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda

num bar

r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em

casa com B

o joga bilhar tem um

pcsaddo

~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e

Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197

55 54

lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia

e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver

feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas

(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a

l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao

entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute

possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua

sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees

(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os

le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy

do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma

tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy

gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy

cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy

ca no espiacuterito de seus leitores

A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy

gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da

ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade

soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o

ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer

e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees

36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I

li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do

37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll

pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1

linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao

a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po

5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico

com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo

39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do

ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy

tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados

Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada

J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy

11 i1111 e simultacircnea dd~s

rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os

rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras

I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas

Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o

romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy

turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro

romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy

ra maravilhosa 11

Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy

mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de

jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy

Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy

~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros

la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a

1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o

gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy

ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl

Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy

nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua

~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave

rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy

l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm

pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y

Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard

1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1

11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I

IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy

Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru

56 57

infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila

n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de

bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no

problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade

necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy

saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo

O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague

Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma

manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos

ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha

mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a

Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o

nosso Governo

Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta

nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy

tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas

anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy

res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy

da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy

satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma

ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la

so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do

tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy

dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da

snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens

auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se

tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy

de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy

bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)

Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy

mente problem aacuteticas

Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy

(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a

IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy

d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy

toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy

lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa

ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy

C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy

men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia

medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo

ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy

lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa

muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao

viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente

algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter

UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy

co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy

oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy

dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para

Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue

Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy

mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria

middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy

11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a

di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy

t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy

Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy

11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15

58 59

comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por

meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a

metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy

lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata

em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica

alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos

passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo

Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy

peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela

mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas

Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy

tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou

di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos

poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto

Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten

45 lbid p 120

46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy

sis ca po I (A cicar de Odissc u)

~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1

IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II

COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy

IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg

I deus Albl nia re ino Jgora

Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel

l u teu udcnsnr llue Igor marIS

M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1

I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy

Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy

IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1

Oacutel

Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo

Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy

meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy

( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no

Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como

suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo

mostra a forma essencial desse romance naciona lista )

Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes

influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e

aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy

dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te

que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy

sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy

quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im

gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos

Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy

trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r

nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo

nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do

interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy

sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico

ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy

nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy

quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1

Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no

movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m

s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do

middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H

4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu

61

romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy

pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo

t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado

o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica

eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de

prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva

mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea

do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se

as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou

daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu

enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)

E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy

dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto

Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo

de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco

Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste

destino publicada em fasciacutecul os em 1924

Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy

vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva

50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura

e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais

51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy

do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros

campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova

Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110

llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot

tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente

li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26

capitulas 25 c 1)

52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu

na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas

l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa

P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy

do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy

gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy

pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas

ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy

nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy

lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se

o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o

cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches

)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea

diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz

dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste

Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim

Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy

nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml

in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que

ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo

inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado

PROSPI~RlLlAj)E

Lm andarilho mendigo passou mal

e morreu abandonado no acostamento da rua

n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o

I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to

Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si

Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy

1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto

(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas

62 63

qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo

de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a

gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy

te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy

liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas

pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy

cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes

gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca

eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz

Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo

confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy

vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da

referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos

seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy

cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je

Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy

ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma

on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que

Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy

dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis

hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor

cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a

raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )

Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela

du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo

encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy

josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy

nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde

)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy

fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a

d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida

pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo

SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto

dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente

licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy

mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu

tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um

lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil

raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos

eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um

mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo

inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os

outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)

Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy

ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado

[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy

le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A

dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a

principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy

gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy

te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem

sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por

I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento

que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os

MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl

LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy

tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco

12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer

1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te

64 65

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 7: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

to cvoluciomiacuterio p ro gressivo eacute sua aversatildeo quase heraclitialla a

qualquer ideacute ia de co ntin uidade)

Faccedilo essas observaccedilotildees talvez simploacuterias principalmente por shy

que () seacuteculo XV II I na Eu ropa Ocidcn la l marca llatildeooacute o amanhecer

Ja era 00 nac ionalismo m as tambeacutem o anoi tecer dos modos de

pensamentos religiosos () seacutecuJo do Il um inismo do secul arismo

racio nal ista t rou xe consigo suas proacuteprias t revas m od ernas A feacute

religiosa decl inou mas o sofrimento que ela ajudava a apaziguar

natildeo desapareceu A desintegraccedilatildeo do para iacuteso nada torna a fatalid a shy

de mais arbitraacuteria O absurdo da salvaccedilatildeo nada torna m ais necesshy

saacuterio um outro estilo de cont inuidade Entatildeo foi preciso q ue houshy

vesse uma transfo rmaccedilatildeo secular da fa talidad e em co ntinuidade

da contingecircncia em signi ficado Como veremos poucas coisas se

mostraram (se m ostram) mais adequadas a essa fi nalidade do que

a ideacuteia de naccedilatildeo Adm ite-se normalmente q ue os estados nacionais

satildeo novos e histoacutericos ao passo q ue as naccedilotildees a q ue eles datildeo

expressatildeo poliacutetica sempre assomam de um passado imemorial e

4 O falecido pre idcnte Suklrno sempre falou com toda a sil1cnidade sobre os

30 anos de coJonialismo a que a sua Indoneacutesia fo ra subm etida embora o proacuteshy

prio co nceito de Indoneacutesia seja uma invenccedilatildeo do seacutec ulo X e a maior parte do

que hoje eacute o paiacutes ten ha sido conquistada pelos holandeses apenas entre 1850 e

1910 O principal heroacutei nacional da Indon eacutesia con tempo racircnea eacute o priacutencipe java shy

nl-s Dipltlnegoro do comeccedilo do seacuteculo xlxembo[U as memoacuterias do priacutencipe mosmiddot

trtJn que ele pretendia co nqui~tJr Inatildeo libertar J 1(1a t natildeo expulsaros hola nshyd (~~l~ 11 verdade eacute evidentt que tk natildeo concebia os holltl1dccs como uma

(lllct iidlde Ver Harry ) Uencla t John A l arkin (o rg ) 117 lt 1Vorld ofSoll lumiddotast A51tl p 158 c Ann Kumar Diponcgoro ( I 771)~- 1 855) l ldolltsia 13 (abril de

I Yiacute2) p 103 Criro meu Analogamente Kcmal Atatuumlrk deu lOS slt us bancos esta

ta is os nomcs Ba nco Hitita I Ui Banka ) c Banco Sumeacuterio (Sc t(l n Watson Narivlls mui Siacutelllcs p 259 ) E SSeacuteS bancos satildeo proacutesperos e natildeo haacute razio para duvidar que

mu itos tl IlCOS e provavelmente o proacuteprio Kcmal acred itasst m slr iamcnte e

Jintla acreditem que 0 hit itds e os sumeacuterios satildeo seus antepassados tu rcos An tes de dar muitas risaJas se ria me lhor lembrarmos de Artm c Boad i~ea e refletir sobre o sucesso comercial das mi tog rafias de ro lkien

38

1 indd mais importante ~cguem rumo a um futuro il im itado 1 a

nlltlgia do nac ionalismo que converte o acaso em desti no Podem os

dic com Debray Si m eacute pu ro acaso que cu ten ha nascido fran cecircs

mJS a ti nai a h anccedila eacute eterna

Eacuteclaro que natildeo estou afirmando que o su rgimento do nacioshy

naligtl11o no fina l d o seacutecu lo Xl ur foi produzido pelo dcsgaste das

convicccedilotildee religiosas nem que ~sse proacuteprio desgas te natildeo requer

unhl explicaccedilatildeo complexa Tambeacutem natildeo estou sugeri ndo que o

l1aciol1a I ismo tenba de aJgu ma forma su bsti tu iacutedo histo rica shy

mente a religiatildeo O q uc es tou popondo eacute o entendimen to d o

nac ionalism o alinhando-o natildeo a ideologia- poliacuteticas conscien teshy

mente ado tadas mas aos grandes sistemas cu ltu rais qu e o prece shy

deram e a partir dos quais ele surgiu incl usive para combatecirc-los

Para nossas fi nal idades os do is sistemas cul turais per i nel1 te~

sagraveo a cOlllI zidade religiosa e o reino dinaacutestico Po is am bos no seu

apogeu fo ram est ruturas de referecircnc ia incontestes como oco rre

atualmente com a nac ionalidade Portanlo eacute fundame ntal analishy

sar o qu e cunfer iu uma plausibiJidade auto-evidente a esses sisteshy

mdS cul urais e ao mes mo tempo d estacar a lguns eJc m cntos shy

cbaw na decomposiccedilatildeo deles

1 C O IIUNIDADE RELI G IOS A

I Xlstem po ucas coisas ma is im pressionanles do que a vasta

extensatildeo ter r ito r ial do Ummah i ~lagravemic) desde o Marrocos ao

arquipd ago Sulu da cri slandade Jesde o Paraguai ao Ja patildeo e do

nlundo bu d ista desde o gt r i La nka agrave pen iacutensula coreana As grand es

1111turas acras (e para nossos objetivos pode-se incluir tambeacutem

o confucionism o ) incorporava m a ideacuteia de imensas comunidashy

des ~las a cristandadc o Um mah is lilmico e mesm o o Impeacuterio do

Ccnl ro - que hoje eacute considerado chinecircs mas antes imaginava-se

39

como cenLrd - eram imaginados pri ncipalmente pelo uso de

um a liacutengua e uma escrita sagradas Tomemos o exem plo do islatilde se

ul11 ll1aguindanaucnse encontrasse um btrbere em Meca um desshy

conhecendo o idioma do out ro incapazes de se comunica r oralshy

mente mesmo assi m entenderia m os seus caracteres p(Hque 0lt

textos sacros adotados por ambos exist iam apenas em aacuterabe claacutesshy

sico Nesse sentido o aacuterabe escrito fu ncionava como os ideograshy

mas ch ineses criando wna comunidade a partir dos signos c natildeo

dos so ns (Assi m hoje em dia a linguagem matemaacutetica daacute prosseshy

gu imento a uma velha trad iccedilatildeo Os romenos natildeo fazem ideacuteia de

como se diz + em tai landecircs e vice-versa mas ambos compreenshy

dem o siacutembolo) Todas as grandes comunidades claacutessicas se cOl1Sishy

deravam cosmicamente centrais at raveacutes de uma liacutengua sagrada

ligada a uma ordem ~upra terrena de poder Assi m o alcance do

lal im do paacute li do aacuterabe ou do chinecircs escritos era teoricamente ilishy

mitado (Na ve rd ade quanto mais morta eacute a liacutengua escri ta shy

qua nto ma is di-ta ntc da fala - melhor em princiacutepio todos tecircm

acesso a um mundo puro de signos )

Mas essas com Llnidade~ claacutess icas ligadas r or Jinguas sagradas

tinham um caraacuteter di fe re nte das comunidades imagi nadas das

naccedilotildees modern as Uma di ferenccedila fundamental era a confianccedila das

comunidades maIs an tigas no sacrarnenLalislllo l1nico de suas liacuten shy

guas e daiacute deri va m as iclcias que ti nllam sobre a admissatildeo de novos

membros O mandarins chineltcs viam com bons olhos os baacuterbashy

ros que aprendiam 3 duras penas a pin tar os ideogramas do

Impeacuterio do Cen tro Esses haacuterharm jaacute estavam ltl meio caminho da

plena aceitaccedilatildeo Meio-civil izado era muiliacutessimo melhor do que

baacuterba ro Essa atit ude certame nte natildeo foi excl usiva dos chi neses

nem se restringiu agrave Antiguumlidade Veja por exemplo a seguinte

5middot O l i 1 t rlIlqLiil iluumlde com que os mOIl (ois c manchus ~ il1 izadu s foram aceitos m rTIo 1-tIIrO$o ( 11

40

-

poliacute tica para os biIacute rbaros formulJua pelo liberal co lomhi ano

Ped ro rermiacuten de Vargas do comeccedilo do seacuteCll lo XIX

Pa ra am pliar a ll)SSa agricu ltura seri a preciso hi spaniza r 0S nossos

iacutendios A preguiccedila a fa lta de in ldigecircnci e a in dif~ rccedil nccedila dd es aos

t rabalhos normais levam a pensa r que d cs derivam de uma raccedila

degenerada que se ueteriora conforme ~e afasta da ua origem [ J

seria muito dese iaacutevel que os iacutendios se extinguissem atraveacutes d misshy

cigenaccedilatildeo com os brancos isentando-os de im postos e ou tros

encargos c concedendo-lhes a propr iedade privaoa da ter ra

I~ notaacutevel que esse liberal ain da proponha extinguir seus iacutendios

el1l parte isentando-os de impostos e concedendo-lhes a proshy

priedade privada da terra em vez de exterminaacute-los com armas de

fogo e microacutebios como logo depois comeccedilaram a fazer seus herdeishy

ros no Brasil Argenti na e Estados Unjdos Nota-se tambeacutem ao lado

desta crueldade com ares condescendentes o otimismo coacutesmico

Jtl fim eao cabo o iacutendio pode -er redimido - pela impregnaccedilatildeo do

stmen bran co civil izado e pelo acesso agrave propri edade privada

~OIlO todos os outros (Como eacute d iferente a atitude de Fermiacuten em

comparaccedilatildeo ao imperialista europeu posterior com a sua preferecircnshy

lia pelos malaios gurcas e hauacutessas autecircnticos em vez de mestishy

Ccedil()~ nativos semi- analfabetos wuacutegs e assim por diante

Mas se o meio de se imaginar as grandes com unidades gl shy

hltt is do passado eram as liacutenguas mudas sagradas essas apariccedilotildees

IJq lliriam realidade a pa rtir de uma ideacuteia btstante es tranha agrave

rn~nta l id ade ocidental contemporagravenea a natildeo-arb itrariedade do

signo Os ideogramas do ch i necirc~ do latim ou do aacuterabe erJm emashy

6 ) hll LYl1L h T cSpi11ish-AI1criCIII rIOllioIl5 1808-211 p 260 Grifo meu g krmo depreciat ivo -I lie na epoca do imperial ismo britimiacuteco designava o

ou ivo clJ iacutenJla da Africa do Norte e do O riente Meacutedio

41

naccedilotildees da real idad e e natildeo re presen taccedilotildees inventadas ao acaso

Co nhecemos a lo nga discussatildeo sobre a liacute ngua (l ati m ou vernaacutecushy

lo) ma is adequad a para a missa Na tradiccedilatildeo islacircmi ca ateacute bem

pouco tempo () Coratildeo era lite ralmente intracuzIacutevel (e portanto

in lrad uzido) porque o uacutenico ltI cesso agrave verdade de Alaacute era por meio

dos signos verdadeiros e illsubstitu iacuteveis d o aacuterabe escr ito Aqui natildeo

existe a ideacuteia de um mundo tatildeo des incuhd0 da liacutengua que todas

as liacutenguas vecircm a ser signos equumlid istanles (e porta nto in tercambiaacuteshy

vei s) dele Com efeito a realidade o ntoloacutegica soacutepo de se r apreendi shy

da por meio de um uacutenico sistema pr ivilegiado de re-presentaccedilatildeo

a liacutengua-verdade do latim eclesiaacutestico do aacuterabe coracirc n ico ou do

chinecircs do sistema de exames E como liacutenguas-verdade estavam

imbuiacutedas de um im pulso largamente estranho ao nacionalism o a

saber o impulso agraveco nversatildeo Por conversatildeo quero dizer natildeo tanto

a aceitaccedilatildeo de dctermi nltldos p r inciacutepios religiosos e sim uma

absorccedilatildeo alqu iacutem ica O baacuterbaro se torna Impeacuterio do Centro o

montanhecircs do Rif muccedilulmano e o ilongo cristatildeo Toda a natureshy

za ontoloacutegica do homem eacute maleaacutevcl ao sagrado (Compare o presshy

tiacutegio dessas antigas liacutenguas mundia is colocadas acima de todos os

vernaacuteculos com o esperanto ou o volapuk que jazem ignorados

entre essas duas esferas) Foi afinal essa possibilidade de convershy

satildeo atraveacutes da liacutengua sagrada que permitiu que um inglecircs se torshy

nasse papas e u m m anchuacute rio se to rnasse Filho do Ceacuteu

Mas se as liacutenguas sagradas permitiam que se imaginassem

co m u nidades tais como a cristandade nuumlo eacute poss iacutevel explicar o

verdadeiro alcance c a efetiva plausibil idade dessas co munidades

7 Atl que parect () grego cclc iaacutesti co natildeo atingiu o estatuto de uma liacutengua -verdashy

de Sao viIacuter ias as razotildees desse fracasso mas com certeza um fator fundamental

fo i que o grego continuou a ser uma liacutengua demoacutetica i lj (ao con traacute rio do latim)

cm grande parte do Impeacuterio do O rien te Devo essa suglts tagraveu a fudith Herrin

8 Nicholas Brakcspear ocupou o pontificado de 11 5middot1-59 com o nume de Adriano 1

arenas pelo texto sagrado os seus leitores afinal natildeo passavam de

min uacutesculos recife let rados em vastos oceano~ iletradosmiddot Para

urna expl icaccedilatildeo m ais completa temos de exami mlr a relaccedilatildeo entre

o~ letrados e suas sociedades Seria equ ivocado co nsideraacute-los uma

espeacutecie d e tecnocracia teoloacutegica As liacuten guas a que eles d avam

suporte por mais abst rusas qu e fo ssem natildeo possuiacuteam o caraacuteter

abstruso auloconstruiacutedo do jargatildeo dos advogados ou dos econoshy

mistas agravemargem da ideacute ia de realidade alimentada pela sociedade

Pelo contraacute rio os letrados eram grandes inic iados cam adas estrashy

teacutegiLas de uma hierarq uia cosmoloacutegica cujo aacutepice era divino 10 As

concepccedilotildees fundamentais so b re os grup os sociais eram mais

centriacutepetas e hieraacuterquicas do que horizontais e fron tei riccedilas O

poder assombroso do papado no seu auge soacute pode ser ent tnd ido

em termos de um clero transeuropeu com conhecimento do latim

esaito e tambeacutem de uma concepccedilatildeo de m undo partilhada p ratishy

ca mente po r todos e segundo a q ual a cam ada intelectual biliacutenguumle

ao media r o vernaacuteculo e o latim tam beacutem faz ia a mediaccedilatildeo en t re a

terra e o ceacuteu (O pavor da excomunhatildeo reflete essa cosmologia)

Apesar de toda a m agnitude e poderio das grandes com unishy

dades imagi nadas rel igiosamentesua coesatildeo inCONsciente fo i di mishy

nui11lio n u m ritmo cons tante apoacutes o fi nal da Idade Meacutedia Entre as

razotildees desse decliacutenio destaco apenas as d uas relacio nadas diretashy

mente agrave sacralizaccedilatildeo uacutenica dessas comunidades

Em primeiro lugar o decliacutenio res ultou d as exploraccedilotildees do

9middot lIJn Hloch nos lem hra que a m aio ria dos senho res e mui tos g ra nd tgt barotildees

111t pneu medieval Ie ra In admini strado res incapazecircgt dt examinar prssoalrnenshy

li Um n iJ toacuterio ou uma prestaccediluo de contas Feudn lSOciel) r p 81

111 Is~() nao sign ifica que os il e t r~d os natildeo lessem Mas o que e les liam nao eram

rltlIlvra~c im ( mundo visIacutecl middotAos olhos de todos os que eram capazes de refk shy

xlo o mlllldo mate r ial era po uco ma is do que uma espeacutecie de maacutescara po r tniacutes da

qUJI ltlerl r iam todas as coisas realmell te importanllt5 era com o se fosse tunbeacutem

lima liacutengua quc(xpressasse por sina is uma rea lidade mais profunda ibid p 83

42 43

m undn natildeo-eu ro peu as quais ampliaram violentam cn te o horishy

wntc cult ural-geograacutefico e simultanea men te os concei tos acershy

C l das poss iacuteveis formas de vida humana11 o q ue ocorrcu sobret-ushy

Jo mas natilde o excl u~ ivam cn te na Europa Esse processo joacute fica claro

no ma io r liv ro de viagem europeu Veja a surp resa co m que o bom

cristatildeo venezia no Marco Poacute lo desc reve Cubla i Catilde no final d o

seacuteculo 1 11 1

o gratilde-catilde tendo obtido essa ex traordinaacuteria vitoacuteria retornou com

grande pompa e triunfo para a ca pi ta l a cidlde de Ka nbalu Isso

aconteceu no mecircs de no vembro e ele continuou a morar laacuteduranshy

te os meses de revcreiro e marccedilo Inecircs este de Ilossa fe ~ la de Paacutescoa

Sabendo que esta era uma das 110ssJsprincipais solenidades ele

mandou q lIe tod os os cristatildeos fos sem ateacute ele e le vasse m o Livro

deles que conteacutem os quatro Evangelhos Depois de fa7cr com que

o incensassem vaacuterias vezes co m toda a cerimocircnia ele o beijou

devotamente e ordenou qu e todos os seus noh res ali presentes

fizessem o mesmo Este era o seu costu me em todas as principais

festividades cr istatildes como a Paacutescoa e o Na tal e ele observava o

mesmo nas fes tas dos sarracenos dos judeus e dos idoacutelatras Indashy

gado sobre o motivo dessl conduta ele disse Existem qua tro

grandes proCetas que satildeo nve renciados l adorados pelas difcnnshy

les cla~ses da h uman idade Os cristatildeos consideram Jes us Cris to

como a di in dade deles us Sd rraCtno~ Maomeacute os judeus Mo iseacutes

e os idoacutelat ras Sogomombar-kan o iacutedolo mais importante deles

Eu devo honrar c most rar respeito por todos os quatro e imocar

em meu auxiacutelio aquele que del re eles eacute na pcrrade supremo no

11 Erich Au crbadl MirllfS is p 2C ITrad ( it Mi ecirc isSatildeo Paulo Perspect iva 5

eJ 200middot1 p ~H6 ]

12 t rco Pnl1 ls 1 middot ja~C5 de li Ja1(() 1aacutelo 1 BrJsiliense 1954J pp 158-9 Grilo meu NO[l - lt porem que beijam lll ~S natildeo lecircem LI Fvangelho

cJII Ilas pela maneira co m que sua majestade agi u em relaccedilatildeo a

clei eacute ev idente que ele considerava a feacute do~ crisl agraveo~ a mai s ve rdashy

(leira e a mel hor

o gue essa passagem tem de notaacutevel natildeo eacute tanto o tranquuml ilo

relat ivismo religioso do grande d inas ta mongol (afi nal ainda eacute um

relativismo religioso) e sim a aLIacutelude e a linguagem d e Marco Poacutelo

Jamais lhe ocorre tratar C ublai como hipoacute crita ou idoacutelatra apesar

de es tar escrevendo para cristatildeos europeus como ele (Em par te

sem duacutevid a po rque quan to ao nuacutemero de suacuted itos e--lensatildeo d o

ttrritoacute rio c quantidade de riq uezas ele ul t rapassa qualquer sobeshy

rano que exist iu ateacute hoje no mundo) E no uso in consciente do

nossa (que se torna deles) e na q ualifi caccedilatildeo da feacute cristatilde cOmo

a mais verdadeira em vez de a verdadeira podemos detectar o s

pr imoacuterdios de uma territo ria li zaccedilatildeo dos credos um prCl1 uacutencio d a

linguagem de muitos nacionalistas (a nossa naccedilatildeo eacute a melhor

- num campo compamtilloe competi t ivo)

Q ue di ferenccedila reveladora temos no iniacutecio da carta do viajanshy

te persa Rica em Par is para o seu amigo Ibben em 17 12

o papa eacute o chefe dos cristatildeos E um elho iacutedolo que se incensa por

haacutebi lo Antigamente ele era temiacutevel aos proacuteprios priacutencipes pois de

() i depu nha com a mesma fa cilidade com que os nossos magniacuteficos

~u llotildees depocircem os reis de [rncrclia e da Geoacuterg ia Mas natildeo o te mem

ma i ~ l l e ~e d iz SUl lSSOr de um dos pri meiros cristatildeos que ~e clldma

5(0 Pedro e cert am ente eacute uma rica sucessatildeo pois ele tem teso uros

illlen so ~ e um grande territoacuterio sob o seu domiacutenio

11 nr 1fllIds o(Mnno Jv o p 1 5 ~ I ls viagcIl5 de Marco lOcirco Brasilicnsc 19541

11 Il enri tlt ) lontesquicu Perrln Lt-lIrrs p 81 As L fl rcs perswlts foram pubtishyL lei pela pri11tira t em [72

44 45

As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy

ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11

tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy

lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido

enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica

na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande

Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem

demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse

parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy

pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy

val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy

nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica

mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma

outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy

lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos

nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy

m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada

mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele

se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros

imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa

poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy

ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim

apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy

mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do

latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma

po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy

5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo

16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy

recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)

171bi p 32 1

men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy

lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma

figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade

Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy

lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o

inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy

g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em

larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no

con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy

16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy

decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire

( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a

qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major

nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se

um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio

do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy

des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy

dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando

o Rr l NO DI N AacuteS T I CO

I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um

mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy

11 Ibit p 330

19 1h iJ pp 33 1-2

20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais

lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy

port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro

~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e

Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro

M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356

46 47

tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy

lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy

ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de

um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da

ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra

terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um

territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo

onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram

porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy

m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade

com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter

seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas

veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy

Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy

cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy

tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias

Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy

2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com

essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy

meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os

p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I

iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot

te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy

naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico

ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy

nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias

2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno

tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante

discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar

(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha

O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido

4

tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este

l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o

Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um

ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -

Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia

Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc

arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia

duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy

illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta

e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz

e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy

b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen

marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy

ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da

marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc

Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto

comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e

capturas dos Ha bsburgo

Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy

cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de

concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy

gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er

aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas

111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy

21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1

lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha

atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst

111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do

4

co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando

LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy

mo~ de a tribuir aos Bo urbon

Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo

por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy

ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy

ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos

anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy

d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na

eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes

pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos

Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien

reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy

dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy

bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu

se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy

longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo

Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades

do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio

da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves

arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486

alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy

ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento

eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot

cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la

man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui

capaz de manter ( ibid p 125 )

25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o

fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy

ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught

llIul cllt1ligr p 136

26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot

ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l

nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy

duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria

~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy

monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy

parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da

Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF

Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema

poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy

te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma

~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade

minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande

(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os

JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute

eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst

tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)

PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S

Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas

lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades

~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~

hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270

lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama

I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92

~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil

hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m

sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao

pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr

dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy

do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m

l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85

50 51

religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy

nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy

do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o

m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao

Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos

agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos

c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res

ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy

ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy

na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde

Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy

di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy

no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo

de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com

os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia

muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de

um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era

maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma

universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy

dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta

peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em

latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio

cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para

as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy

pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy

saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue

assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre

os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy

sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a

cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils

~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas

11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a

VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy

I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a

mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma

cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees

I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy

SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a

segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo

pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na

noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do

~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos

colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os

homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais

llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy

ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa

Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de

con~ciecircncia

()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de

Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo

de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy

se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy

0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal

nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de

forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy

lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma

lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot

vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles

31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6

3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco

~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot

11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90

52 53

l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy

mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a

histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla

compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy

rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy

sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de

todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno

Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy

te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy

jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy

sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas

a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real

A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo

para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute

ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a

fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma

co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy

da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura

gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo

med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo

novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy

neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy

zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo

mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo

calendaacute r io H

n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo

bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]

-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy

nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~

n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo

importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se

w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy

gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o

ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy

am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy

ginada correspondente agrave naccedilatildeo

Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao

velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem

de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy

mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e

ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy

mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo

si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy

te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar

ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte

manetra

Tempo 11 III

4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda

num bar

r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em

casa com B

o joga bilhar tem um

pcsaddo

~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e

Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197

55 54

lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia

e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver

feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas

(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a

l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao

entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute

possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua

sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees

(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os

le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy

do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma

tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy

gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy

cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy

ca no espiacuterito de seus leitores

A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy

gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da

ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade

soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o

ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer

e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees

36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I

li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do

37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll

pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1

linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao

a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po

5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico

com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo

39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do

ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy

tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados

Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada

J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy

11 i1111 e simultacircnea dd~s

rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os

rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras

I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas

Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o

romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy

turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro

romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy

ra maravilhosa 11

Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy

mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de

jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy

Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy

~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros

la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a

1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o

gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy

ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl

Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy

nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua

~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave

rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy

l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm

pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y

Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard

1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1

11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I

IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy

Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru

56 57

infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila

n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de

bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no

problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade

necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy

saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo

O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague

Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma

manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos

ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha

mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a

Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o

nosso Governo

Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta

nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy

tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas

anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy

res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy

da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy

satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma

ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la

so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do

tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy

dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da

snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens

auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se

tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy

de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy

bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)

Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy

mente problem aacuteticas

Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy

(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a

IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy

d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy

toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy

lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa

ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy

C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy

men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia

medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo

ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy

lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa

muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao

viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente

algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter

UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy

co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy

oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy

dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para

Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue

Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy

mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria

middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy

11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a

di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy

t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy

Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy

11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15

58 59

comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por

meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a

metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy

lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata

em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica

alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos

passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo

Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy

peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela

mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas

Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy

tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou

di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos

poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto

Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten

45 lbid p 120

46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy

sis ca po I (A cicar de Odissc u)

~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1

IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II

COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy

IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg

I deus Albl nia re ino Jgora

Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel

l u teu udcnsnr llue Igor marIS

M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1

I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy

Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy

IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1

Oacutel

Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo

Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy

meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy

( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no

Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como

suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo

mostra a forma essencial desse romance naciona lista )

Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes

influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e

aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy

dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te

que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy

sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy

quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im

gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos

Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy

trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r

nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo

nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do

interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy

sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico

ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy

nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy

quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1

Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no

movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m

s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do

middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H

4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu

61

romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy

pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo

t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado

o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica

eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de

prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva

mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea

do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se

as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou

daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu

enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)

E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy

dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto

Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo

de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco

Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste

destino publicada em fasciacutecul os em 1924

Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy

vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva

50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura

e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais

51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy

do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros

campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova

Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110

llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot

tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente

li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26

capitulas 25 c 1)

52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu

na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas

l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa

P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy

do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy

gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy

pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas

ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy

nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy

lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se

o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o

cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches

)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea

diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz

dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste

Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim

Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy

nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml

in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que

ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo

inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado

PROSPI~RlLlAj)E

Lm andarilho mendigo passou mal

e morreu abandonado no acostamento da rua

n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o

I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to

Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si

Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy

1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto

(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas

62 63

qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo

de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a

gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy

te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy

liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas

pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy

cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes

gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca

eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz

Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo

confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy

vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da

referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos

seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy

cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je

Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy

ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma

on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que

Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy

dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis

hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor

cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a

raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )

Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela

du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo

encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy

josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy

nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde

)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy

fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a

d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida

pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo

SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto

dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente

licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy

mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu

tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um

lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil

raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos

eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um

mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo

inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os

outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)

Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy

ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado

[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy

le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A

dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a

principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy

gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy

te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem

sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por

I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento

que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os

MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl

LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy

tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco

12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer

1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te

64 65

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 8: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

como cenLrd - eram imaginados pri ncipalmente pelo uso de

um a liacutengua e uma escrita sagradas Tomemos o exem plo do islatilde se

ul11 ll1aguindanaucnse encontrasse um btrbere em Meca um desshy

conhecendo o idioma do out ro incapazes de se comunica r oralshy

mente mesmo assi m entenderia m os seus caracteres p(Hque 0lt

textos sacros adotados por ambos exist iam apenas em aacuterabe claacutesshy

sico Nesse sentido o aacuterabe escrito fu ncionava como os ideograshy

mas ch ineses criando wna comunidade a partir dos signos c natildeo

dos so ns (Assi m hoje em dia a linguagem matemaacutetica daacute prosseshy

gu imento a uma velha trad iccedilatildeo Os romenos natildeo fazem ideacuteia de

como se diz + em tai landecircs e vice-versa mas ambos compreenshy

dem o siacutembolo) Todas as grandes comunidades claacutessicas se cOl1Sishy

deravam cosmicamente centrais at raveacutes de uma liacutengua sagrada

ligada a uma ordem ~upra terrena de poder Assi m o alcance do

lal im do paacute li do aacuterabe ou do chinecircs escritos era teoricamente ilishy

mitado (Na ve rd ade quanto mais morta eacute a liacutengua escri ta shy

qua nto ma is di-ta ntc da fala - melhor em princiacutepio todos tecircm

acesso a um mundo puro de signos )

Mas essas com Llnidade~ claacutess icas ligadas r or Jinguas sagradas

tinham um caraacuteter di fe re nte das comunidades imagi nadas das

naccedilotildees modern as Uma di ferenccedila fundamental era a confianccedila das

comunidades maIs an tigas no sacrarnenLalislllo l1nico de suas liacuten shy

guas e daiacute deri va m as iclcias que ti nllam sobre a admissatildeo de novos

membros O mandarins chineltcs viam com bons olhos os baacuterbashy

ros que aprendiam 3 duras penas a pin tar os ideogramas do

Impeacuterio do Cen tro Esses haacuterharm jaacute estavam ltl meio caminho da

plena aceitaccedilatildeo Meio-civil izado era muiliacutessimo melhor do que

baacuterba ro Essa atit ude certame nte natildeo foi excl usiva dos chi neses

nem se restringiu agrave Antiguumlidade Veja por exemplo a seguinte

5middot O l i 1 t rlIlqLiil iluumlde com que os mOIl (ois c manchus ~ il1 izadu s foram aceitos m rTIo 1-tIIrO$o ( 11

40

-

poliacute tica para os biIacute rbaros formulJua pelo liberal co lomhi ano

Ped ro rermiacuten de Vargas do comeccedilo do seacuteCll lo XIX

Pa ra am pliar a ll)SSa agricu ltura seri a preciso hi spaniza r 0S nossos

iacutendios A preguiccedila a fa lta de in ldigecircnci e a in dif~ rccedil nccedila dd es aos

t rabalhos normais levam a pensa r que d cs derivam de uma raccedila

degenerada que se ueteriora conforme ~e afasta da ua origem [ J

seria muito dese iaacutevel que os iacutendios se extinguissem atraveacutes d misshy

cigenaccedilatildeo com os brancos isentando-os de im postos e ou tros

encargos c concedendo-lhes a propr iedade privaoa da ter ra

I~ notaacutevel que esse liberal ain da proponha extinguir seus iacutendios

el1l parte isentando-os de impostos e concedendo-lhes a proshy

priedade privada da terra em vez de exterminaacute-los com armas de

fogo e microacutebios como logo depois comeccedilaram a fazer seus herdeishy

ros no Brasil Argenti na e Estados Unjdos Nota-se tambeacutem ao lado

desta crueldade com ares condescendentes o otimismo coacutesmico

Jtl fim eao cabo o iacutendio pode -er redimido - pela impregnaccedilatildeo do

stmen bran co civil izado e pelo acesso agrave propri edade privada

~OIlO todos os outros (Como eacute d iferente a atitude de Fermiacuten em

comparaccedilatildeo ao imperialista europeu posterior com a sua preferecircnshy

lia pelos malaios gurcas e hauacutessas autecircnticos em vez de mestishy

Ccedil()~ nativos semi- analfabetos wuacutegs e assim por diante

Mas se o meio de se imaginar as grandes com unidades gl shy

hltt is do passado eram as liacutenguas mudas sagradas essas apariccedilotildees

IJq lliriam realidade a pa rtir de uma ideacuteia btstante es tranha agrave

rn~nta l id ade ocidental contemporagravenea a natildeo-arb itrariedade do

signo Os ideogramas do ch i necirc~ do latim ou do aacuterabe erJm emashy

6 ) hll LYl1L h T cSpi11ish-AI1criCIII rIOllioIl5 1808-211 p 260 Grifo meu g krmo depreciat ivo -I lie na epoca do imperial ismo britimiacuteco designava o

ou ivo clJ iacutenJla da Africa do Norte e do O riente Meacutedio

41

naccedilotildees da real idad e e natildeo re presen taccedilotildees inventadas ao acaso

Co nhecemos a lo nga discussatildeo sobre a liacute ngua (l ati m ou vernaacutecushy

lo) ma is adequad a para a missa Na tradiccedilatildeo islacircmi ca ateacute bem

pouco tempo () Coratildeo era lite ralmente intracuzIacutevel (e portanto

in lrad uzido) porque o uacutenico ltI cesso agrave verdade de Alaacute era por meio

dos signos verdadeiros e illsubstitu iacuteveis d o aacuterabe escr ito Aqui natildeo

existe a ideacuteia de um mundo tatildeo des incuhd0 da liacutengua que todas

as liacutenguas vecircm a ser signos equumlid istanles (e porta nto in tercambiaacuteshy

vei s) dele Com efeito a realidade o ntoloacutegica soacutepo de se r apreendi shy

da por meio de um uacutenico sistema pr ivilegiado de re-presentaccedilatildeo

a liacutengua-verdade do latim eclesiaacutestico do aacuterabe coracirc n ico ou do

chinecircs do sistema de exames E como liacutenguas-verdade estavam

imbuiacutedas de um im pulso largamente estranho ao nacionalism o a

saber o impulso agraveco nversatildeo Por conversatildeo quero dizer natildeo tanto

a aceitaccedilatildeo de dctermi nltldos p r inciacutepios religiosos e sim uma

absorccedilatildeo alqu iacutem ica O baacuterbaro se torna Impeacuterio do Centro o

montanhecircs do Rif muccedilulmano e o ilongo cristatildeo Toda a natureshy

za ontoloacutegica do homem eacute maleaacutevcl ao sagrado (Compare o presshy

tiacutegio dessas antigas liacutenguas mundia is colocadas acima de todos os

vernaacuteculos com o esperanto ou o volapuk que jazem ignorados

entre essas duas esferas) Foi afinal essa possibilidade de convershy

satildeo atraveacutes da liacutengua sagrada que permitiu que um inglecircs se torshy

nasse papas e u m m anchuacute rio se to rnasse Filho do Ceacuteu

Mas se as liacutenguas sagradas permitiam que se imaginassem

co m u nidades tais como a cristandade nuumlo eacute poss iacutevel explicar o

verdadeiro alcance c a efetiva plausibil idade dessas co munidades

7 Atl que parect () grego cclc iaacutesti co natildeo atingiu o estatuto de uma liacutengua -verdashy

de Sao viIacuter ias as razotildees desse fracasso mas com certeza um fator fundamental

fo i que o grego continuou a ser uma liacutengua demoacutetica i lj (ao con traacute rio do latim)

cm grande parte do Impeacuterio do O rien te Devo essa suglts tagraveu a fudith Herrin

8 Nicholas Brakcspear ocupou o pontificado de 11 5middot1-59 com o nume de Adriano 1

arenas pelo texto sagrado os seus leitores afinal natildeo passavam de

min uacutesculos recife let rados em vastos oceano~ iletradosmiddot Para

urna expl icaccedilatildeo m ais completa temos de exami mlr a relaccedilatildeo entre

o~ letrados e suas sociedades Seria equ ivocado co nsideraacute-los uma

espeacutecie d e tecnocracia teoloacutegica As liacuten guas a que eles d avam

suporte por mais abst rusas qu e fo ssem natildeo possuiacuteam o caraacuteter

abstruso auloconstruiacutedo do jargatildeo dos advogados ou dos econoshy

mistas agravemargem da ideacute ia de realidade alimentada pela sociedade

Pelo contraacute rio os letrados eram grandes inic iados cam adas estrashy

teacutegiLas de uma hierarq uia cosmoloacutegica cujo aacutepice era divino 10 As

concepccedilotildees fundamentais so b re os grup os sociais eram mais

centriacutepetas e hieraacuterquicas do que horizontais e fron tei riccedilas O

poder assombroso do papado no seu auge soacute pode ser ent tnd ido

em termos de um clero transeuropeu com conhecimento do latim

esaito e tambeacutem de uma concepccedilatildeo de m undo partilhada p ratishy

ca mente po r todos e segundo a q ual a cam ada intelectual biliacutenguumle

ao media r o vernaacuteculo e o latim tam beacutem faz ia a mediaccedilatildeo en t re a

terra e o ceacuteu (O pavor da excomunhatildeo reflete essa cosmologia)

Apesar de toda a m agnitude e poderio das grandes com unishy

dades imagi nadas rel igiosamentesua coesatildeo inCONsciente fo i di mishy

nui11lio n u m ritmo cons tante apoacutes o fi nal da Idade Meacutedia Entre as

razotildees desse decliacutenio destaco apenas as d uas relacio nadas diretashy

mente agrave sacralizaccedilatildeo uacutenica dessas comunidades

Em primeiro lugar o decliacutenio res ultou d as exploraccedilotildees do

9middot lIJn Hloch nos lem hra que a m aio ria dos senho res e mui tos g ra nd tgt barotildees

111t pneu medieval Ie ra In admini strado res incapazecircgt dt examinar prssoalrnenshy

li Um n iJ toacuterio ou uma prestaccediluo de contas Feudn lSOciel) r p 81

111 Is~() nao sign ifica que os il e t r~d os natildeo lessem Mas o que e les liam nao eram

rltlIlvra~c im ( mundo visIacutecl middotAos olhos de todos os que eram capazes de refk shy

xlo o mlllldo mate r ial era po uco ma is do que uma espeacutecie de maacutescara po r tniacutes da

qUJI ltlerl r iam todas as coisas realmell te importanllt5 era com o se fosse tunbeacutem

lima liacutengua quc(xpressasse por sina is uma rea lidade mais profunda ibid p 83

42 43

m undn natildeo-eu ro peu as quais ampliaram violentam cn te o horishy

wntc cult ural-geograacutefico e simultanea men te os concei tos acershy

C l das poss iacuteveis formas de vida humana11 o q ue ocorrcu sobret-ushy

Jo mas natilde o excl u~ ivam cn te na Europa Esse processo joacute fica claro

no ma io r liv ro de viagem europeu Veja a surp resa co m que o bom

cristatildeo venezia no Marco Poacute lo desc reve Cubla i Catilde no final d o

seacuteculo 1 11 1

o gratilde-catilde tendo obtido essa ex traordinaacuteria vitoacuteria retornou com

grande pompa e triunfo para a ca pi ta l a cidlde de Ka nbalu Isso

aconteceu no mecircs de no vembro e ele continuou a morar laacuteduranshy

te os meses de revcreiro e marccedilo Inecircs este de Ilossa fe ~ la de Paacutescoa

Sabendo que esta era uma das 110ssJsprincipais solenidades ele

mandou q lIe tod os os cristatildeos fos sem ateacute ele e le vasse m o Livro

deles que conteacutem os quatro Evangelhos Depois de fa7cr com que

o incensassem vaacuterias vezes co m toda a cerimocircnia ele o beijou

devotamente e ordenou qu e todos os seus noh res ali presentes

fizessem o mesmo Este era o seu costu me em todas as principais

festividades cr istatildes como a Paacutescoa e o Na tal e ele observava o

mesmo nas fes tas dos sarracenos dos judeus e dos idoacutelatras Indashy

gado sobre o motivo dessl conduta ele disse Existem qua tro

grandes proCetas que satildeo nve renciados l adorados pelas difcnnshy

les cla~ses da h uman idade Os cristatildeos consideram Jes us Cris to

como a di in dade deles us Sd rraCtno~ Maomeacute os judeus Mo iseacutes

e os idoacutelat ras Sogomombar-kan o iacutedolo mais importante deles

Eu devo honrar c most rar respeito por todos os quatro e imocar

em meu auxiacutelio aquele que del re eles eacute na pcrrade supremo no

11 Erich Au crbadl MirllfS is p 2C ITrad ( it Mi ecirc isSatildeo Paulo Perspect iva 5

eJ 200middot1 p ~H6 ]

12 t rco Pnl1 ls 1 middot ja~C5 de li Ja1(() 1aacutelo 1 BrJsiliense 1954J pp 158-9 Grilo meu NO[l - lt porem que beijam lll ~S natildeo lecircem LI Fvangelho

cJII Ilas pela maneira co m que sua majestade agi u em relaccedilatildeo a

clei eacute ev idente que ele considerava a feacute do~ crisl agraveo~ a mai s ve rdashy

(leira e a mel hor

o gue essa passagem tem de notaacutevel natildeo eacute tanto o tranquuml ilo

relat ivismo religioso do grande d inas ta mongol (afi nal ainda eacute um

relativismo religioso) e sim a aLIacutelude e a linguagem d e Marco Poacutelo

Jamais lhe ocorre tratar C ublai como hipoacute crita ou idoacutelatra apesar

de es tar escrevendo para cristatildeos europeus como ele (Em par te

sem duacutevid a po rque quan to ao nuacutemero de suacuted itos e--lensatildeo d o

ttrritoacute rio c quantidade de riq uezas ele ul t rapassa qualquer sobeshy

rano que exist iu ateacute hoje no mundo) E no uso in consciente do

nossa (que se torna deles) e na q ualifi caccedilatildeo da feacute cristatilde cOmo

a mais verdadeira em vez de a verdadeira podemos detectar o s

pr imoacuterdios de uma territo ria li zaccedilatildeo dos credos um prCl1 uacutencio d a

linguagem de muitos nacionalistas (a nossa naccedilatildeo eacute a melhor

- num campo compamtilloe competi t ivo)

Q ue di ferenccedila reveladora temos no iniacutecio da carta do viajanshy

te persa Rica em Par is para o seu amigo Ibben em 17 12

o papa eacute o chefe dos cristatildeos E um elho iacutedolo que se incensa por

haacutebi lo Antigamente ele era temiacutevel aos proacuteprios priacutencipes pois de

() i depu nha com a mesma fa cilidade com que os nossos magniacuteficos

~u llotildees depocircem os reis de [rncrclia e da Geoacuterg ia Mas natildeo o te mem

ma i ~ l l e ~e d iz SUl lSSOr de um dos pri meiros cristatildeos que ~e clldma

5(0 Pedro e cert am ente eacute uma rica sucessatildeo pois ele tem teso uros

illlen so ~ e um grande territoacuterio sob o seu domiacutenio

11 nr 1fllIds o(Mnno Jv o p 1 5 ~ I ls viagcIl5 de Marco lOcirco Brasilicnsc 19541

11 Il enri tlt ) lontesquicu Perrln Lt-lIrrs p 81 As L fl rcs perswlts foram pubtishyL lei pela pri11tira t em [72

44 45

As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy

ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11

tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy

lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido

enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica

na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande

Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem

demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse

parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy

pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy

val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy

nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica

mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma

outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy

lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos

nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy

m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada

mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele

se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros

imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa

poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy

ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim

apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy

mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do

latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma

po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy

5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo

16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy

recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)

171bi p 32 1

men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy

lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma

figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade

Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy

lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o

inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy

g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em

larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no

con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy

16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy

decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire

( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a

qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major

nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se

um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio

do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy

des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy

dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando

o Rr l NO DI N AacuteS T I CO

I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um

mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy

11 Ibit p 330

19 1h iJ pp 33 1-2

20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais

lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy

port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro

~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e

Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro

M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356

46 47

tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy

lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy

ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de

um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da

ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra

terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um

territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo

onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram

porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy

m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade

com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter

seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas

veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy

Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy

cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy

tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias

Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy

2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com

essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy

meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os

p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I

iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot

te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy

naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico

ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy

nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias

2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno

tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante

discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar

(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha

O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido

4

tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este

l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o

Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um

ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -

Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia

Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc

arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia

duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy

illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta

e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz

e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy

b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen

marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy

ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da

marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc

Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto

comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e

capturas dos Ha bsburgo

Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy

cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de

concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy

gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er

aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas

111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy

21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1

lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha

atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst

111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do

4

co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando

LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy

mo~ de a tribuir aos Bo urbon

Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo

por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy

ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy

ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos

anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy

d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na

eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes

pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos

Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien

reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy

dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy

bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu

se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy

longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo

Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades

do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio

da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves

arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486

alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy

ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento

eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot

cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la

man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui

capaz de manter ( ibid p 125 )

25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o

fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy

ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught

llIul cllt1ligr p 136

26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot

ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l

nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy

duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria

~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy

monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy

parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da

Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF

Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema

poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy

te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma

~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade

minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande

(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os

JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute

eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst

tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)

PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S

Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas

lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades

~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~

hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270

lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama

I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92

~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil

hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m

sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao

pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr

dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy

do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m

l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85

50 51

religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy

nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy

do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o

m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao

Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos

agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos

c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res

ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy

ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy

na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde

Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy

di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy

no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo

de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com

os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia

muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de

um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era

maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma

universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy

dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta

peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em

latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio

cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para

as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy

pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy

saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue

assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre

os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy

sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a

cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils

~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas

11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a

VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy

I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a

mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma

cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees

I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy

SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a

segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo

pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na

noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do

~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos

colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os

homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais

llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy

ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa

Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de

con~ciecircncia

()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de

Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo

de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy

se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy

0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal

nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de

forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy

lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma

lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot

vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles

31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6

3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco

~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot

11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90

52 53

l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy

mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a

histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla

compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy

rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy

sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de

todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno

Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy

te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy

jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy

sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas

a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real

A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo

para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute

ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a

fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma

co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy

da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura

gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo

med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo

novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy

neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy

zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo

mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo

calendaacute r io H

n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo

bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]

-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy

nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~

n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo

importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se

w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy

gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o

ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy

am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy

ginada correspondente agrave naccedilatildeo

Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao

velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem

de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy

mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e

ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy

mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo

si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy

te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar

ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte

manetra

Tempo 11 III

4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda

num bar

r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em

casa com B

o joga bilhar tem um

pcsaddo

~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e

Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197

55 54

lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia

e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver

feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas

(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a

l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao

entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute

possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua

sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees

(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os

le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy

do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma

tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy

gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy

cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy

ca no espiacuterito de seus leitores

A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy

gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da

ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade

soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o

ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer

e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees

36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I

li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do

37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll

pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1

linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao

a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po

5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico

com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo

39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do

ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy

tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados

Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada

J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy

11 i1111 e simultacircnea dd~s

rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os

rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras

I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas

Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o

romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy

turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro

romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy

ra maravilhosa 11

Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy

mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de

jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy

Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy

~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros

la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a

1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o

gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy

ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl

Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy

nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua

~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave

rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy

l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm

pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y

Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard

1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1

11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I

IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy

Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru

56 57

infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila

n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de

bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no

problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade

necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy

saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo

O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague

Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma

manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos

ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha

mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a

Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o

nosso Governo

Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta

nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy

tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas

anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy

res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy

da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy

satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma

ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la

so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do

tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy

dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da

snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens

auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se

tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy

de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy

bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)

Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy

mente problem aacuteticas

Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy

(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a

IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy

d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy

toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy

lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa

ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy

C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy

men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia

medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo

ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy

lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa

muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao

viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente

algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter

UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy

co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy

oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy

dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para

Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue

Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy

mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria

middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy

11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a

di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy

t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy

Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy

11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15

58 59

comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por

meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a

metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy

lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata

em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica

alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos

passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo

Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy

peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela

mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas

Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy

tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou

di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos

poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto

Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten

45 lbid p 120

46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy

sis ca po I (A cicar de Odissc u)

~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1

IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II

COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy

IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg

I deus Albl nia re ino Jgora

Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel

l u teu udcnsnr llue Igor marIS

M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1

I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy

Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy

IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1

Oacutel

Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo

Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy

meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy

( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no

Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como

suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo

mostra a forma essencial desse romance naciona lista )

Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes

influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e

aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy

dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te

que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy

sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy

quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im

gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos

Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy

trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r

nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo

nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do

interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy

sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico

ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy

nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy

quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1

Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no

movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m

s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do

middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H

4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu

61

romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy

pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo

t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado

o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica

eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de

prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva

mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea

do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se

as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou

daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu

enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)

E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy

dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto

Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo

de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco

Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste

destino publicada em fasciacutecul os em 1924

Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy

vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva

50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura

e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais

51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy

do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros

campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova

Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110

llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot

tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente

li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26

capitulas 25 c 1)

52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu

na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas

l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa

P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy

do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy

gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy

pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas

ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy

nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy

lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se

o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o

cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches

)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea

diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz

dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste

Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim

Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy

nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml

in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que

ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo

inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado

PROSPI~RlLlAj)E

Lm andarilho mendigo passou mal

e morreu abandonado no acostamento da rua

n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o

I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to

Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si

Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy

1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto

(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas

62 63

qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo

de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a

gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy

te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy

liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas

pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy

cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes

gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca

eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz

Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo

confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy

vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da

referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos

seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy

cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je

Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy

ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma

on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que

Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy

dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis

hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor

cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a

raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )

Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela

du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo

encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy

josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy

nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde

)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy

fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a

d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida

pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo

SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto

dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente

licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy

mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu

tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um

lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil

raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos

eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um

mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo

inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os

outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)

Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy

ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado

[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy

le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A

dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a

principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy

gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy

te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem

sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por

I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento

que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os

MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl

LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy

tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco

12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer

1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te

64 65

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 9: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

naccedilotildees da real idad e e natildeo re presen taccedilotildees inventadas ao acaso

Co nhecemos a lo nga discussatildeo sobre a liacute ngua (l ati m ou vernaacutecushy

lo) ma is adequad a para a missa Na tradiccedilatildeo islacircmi ca ateacute bem

pouco tempo () Coratildeo era lite ralmente intracuzIacutevel (e portanto

in lrad uzido) porque o uacutenico ltI cesso agrave verdade de Alaacute era por meio

dos signos verdadeiros e illsubstitu iacuteveis d o aacuterabe escr ito Aqui natildeo

existe a ideacuteia de um mundo tatildeo des incuhd0 da liacutengua que todas

as liacutenguas vecircm a ser signos equumlid istanles (e porta nto in tercambiaacuteshy

vei s) dele Com efeito a realidade o ntoloacutegica soacutepo de se r apreendi shy

da por meio de um uacutenico sistema pr ivilegiado de re-presentaccedilatildeo

a liacutengua-verdade do latim eclesiaacutestico do aacuterabe coracirc n ico ou do

chinecircs do sistema de exames E como liacutenguas-verdade estavam

imbuiacutedas de um im pulso largamente estranho ao nacionalism o a

saber o impulso agraveco nversatildeo Por conversatildeo quero dizer natildeo tanto

a aceitaccedilatildeo de dctermi nltldos p r inciacutepios religiosos e sim uma

absorccedilatildeo alqu iacutem ica O baacuterbaro se torna Impeacuterio do Centro o

montanhecircs do Rif muccedilulmano e o ilongo cristatildeo Toda a natureshy

za ontoloacutegica do homem eacute maleaacutevcl ao sagrado (Compare o presshy

tiacutegio dessas antigas liacutenguas mundia is colocadas acima de todos os

vernaacuteculos com o esperanto ou o volapuk que jazem ignorados

entre essas duas esferas) Foi afinal essa possibilidade de convershy

satildeo atraveacutes da liacutengua sagrada que permitiu que um inglecircs se torshy

nasse papas e u m m anchuacute rio se to rnasse Filho do Ceacuteu

Mas se as liacutenguas sagradas permitiam que se imaginassem

co m u nidades tais como a cristandade nuumlo eacute poss iacutevel explicar o

verdadeiro alcance c a efetiva plausibil idade dessas co munidades

7 Atl que parect () grego cclc iaacutesti co natildeo atingiu o estatuto de uma liacutengua -verdashy

de Sao viIacuter ias as razotildees desse fracasso mas com certeza um fator fundamental

fo i que o grego continuou a ser uma liacutengua demoacutetica i lj (ao con traacute rio do latim)

cm grande parte do Impeacuterio do O rien te Devo essa suglts tagraveu a fudith Herrin

8 Nicholas Brakcspear ocupou o pontificado de 11 5middot1-59 com o nume de Adriano 1

arenas pelo texto sagrado os seus leitores afinal natildeo passavam de

min uacutesculos recife let rados em vastos oceano~ iletradosmiddot Para

urna expl icaccedilatildeo m ais completa temos de exami mlr a relaccedilatildeo entre

o~ letrados e suas sociedades Seria equ ivocado co nsideraacute-los uma

espeacutecie d e tecnocracia teoloacutegica As liacuten guas a que eles d avam

suporte por mais abst rusas qu e fo ssem natildeo possuiacuteam o caraacuteter

abstruso auloconstruiacutedo do jargatildeo dos advogados ou dos econoshy

mistas agravemargem da ideacute ia de realidade alimentada pela sociedade

Pelo contraacute rio os letrados eram grandes inic iados cam adas estrashy

teacutegiLas de uma hierarq uia cosmoloacutegica cujo aacutepice era divino 10 As

concepccedilotildees fundamentais so b re os grup os sociais eram mais

centriacutepetas e hieraacuterquicas do que horizontais e fron tei riccedilas O

poder assombroso do papado no seu auge soacute pode ser ent tnd ido

em termos de um clero transeuropeu com conhecimento do latim

esaito e tambeacutem de uma concepccedilatildeo de m undo partilhada p ratishy

ca mente po r todos e segundo a q ual a cam ada intelectual biliacutenguumle

ao media r o vernaacuteculo e o latim tam beacutem faz ia a mediaccedilatildeo en t re a

terra e o ceacuteu (O pavor da excomunhatildeo reflete essa cosmologia)

Apesar de toda a m agnitude e poderio das grandes com unishy

dades imagi nadas rel igiosamentesua coesatildeo inCONsciente fo i di mishy

nui11lio n u m ritmo cons tante apoacutes o fi nal da Idade Meacutedia Entre as

razotildees desse decliacutenio destaco apenas as d uas relacio nadas diretashy

mente agrave sacralizaccedilatildeo uacutenica dessas comunidades

Em primeiro lugar o decliacutenio res ultou d as exploraccedilotildees do

9middot lIJn Hloch nos lem hra que a m aio ria dos senho res e mui tos g ra nd tgt barotildees

111t pneu medieval Ie ra In admini strado res incapazecircgt dt examinar prssoalrnenshy

li Um n iJ toacuterio ou uma prestaccediluo de contas Feudn lSOciel) r p 81

111 Is~() nao sign ifica que os il e t r~d os natildeo lessem Mas o que e les liam nao eram

rltlIlvra~c im ( mundo visIacutecl middotAos olhos de todos os que eram capazes de refk shy

xlo o mlllldo mate r ial era po uco ma is do que uma espeacutecie de maacutescara po r tniacutes da

qUJI ltlerl r iam todas as coisas realmell te importanllt5 era com o se fosse tunbeacutem

lima liacutengua quc(xpressasse por sina is uma rea lidade mais profunda ibid p 83

42 43

m undn natildeo-eu ro peu as quais ampliaram violentam cn te o horishy

wntc cult ural-geograacutefico e simultanea men te os concei tos acershy

C l das poss iacuteveis formas de vida humana11 o q ue ocorrcu sobret-ushy

Jo mas natilde o excl u~ ivam cn te na Europa Esse processo joacute fica claro

no ma io r liv ro de viagem europeu Veja a surp resa co m que o bom

cristatildeo venezia no Marco Poacute lo desc reve Cubla i Catilde no final d o

seacuteculo 1 11 1

o gratilde-catilde tendo obtido essa ex traordinaacuteria vitoacuteria retornou com

grande pompa e triunfo para a ca pi ta l a cidlde de Ka nbalu Isso

aconteceu no mecircs de no vembro e ele continuou a morar laacuteduranshy

te os meses de revcreiro e marccedilo Inecircs este de Ilossa fe ~ la de Paacutescoa

Sabendo que esta era uma das 110ssJsprincipais solenidades ele

mandou q lIe tod os os cristatildeos fos sem ateacute ele e le vasse m o Livro

deles que conteacutem os quatro Evangelhos Depois de fa7cr com que

o incensassem vaacuterias vezes co m toda a cerimocircnia ele o beijou

devotamente e ordenou qu e todos os seus noh res ali presentes

fizessem o mesmo Este era o seu costu me em todas as principais

festividades cr istatildes como a Paacutescoa e o Na tal e ele observava o

mesmo nas fes tas dos sarracenos dos judeus e dos idoacutelatras Indashy

gado sobre o motivo dessl conduta ele disse Existem qua tro

grandes proCetas que satildeo nve renciados l adorados pelas difcnnshy

les cla~ses da h uman idade Os cristatildeos consideram Jes us Cris to

como a di in dade deles us Sd rraCtno~ Maomeacute os judeus Mo iseacutes

e os idoacutelat ras Sogomombar-kan o iacutedolo mais importante deles

Eu devo honrar c most rar respeito por todos os quatro e imocar

em meu auxiacutelio aquele que del re eles eacute na pcrrade supremo no

11 Erich Au crbadl MirllfS is p 2C ITrad ( it Mi ecirc isSatildeo Paulo Perspect iva 5

eJ 200middot1 p ~H6 ]

12 t rco Pnl1 ls 1 middot ja~C5 de li Ja1(() 1aacutelo 1 BrJsiliense 1954J pp 158-9 Grilo meu NO[l - lt porem que beijam lll ~S natildeo lecircem LI Fvangelho

cJII Ilas pela maneira co m que sua majestade agi u em relaccedilatildeo a

clei eacute ev idente que ele considerava a feacute do~ crisl agraveo~ a mai s ve rdashy

(leira e a mel hor

o gue essa passagem tem de notaacutevel natildeo eacute tanto o tranquuml ilo

relat ivismo religioso do grande d inas ta mongol (afi nal ainda eacute um

relativismo religioso) e sim a aLIacutelude e a linguagem d e Marco Poacutelo

Jamais lhe ocorre tratar C ublai como hipoacute crita ou idoacutelatra apesar

de es tar escrevendo para cristatildeos europeus como ele (Em par te

sem duacutevid a po rque quan to ao nuacutemero de suacuted itos e--lensatildeo d o

ttrritoacute rio c quantidade de riq uezas ele ul t rapassa qualquer sobeshy

rano que exist iu ateacute hoje no mundo) E no uso in consciente do

nossa (que se torna deles) e na q ualifi caccedilatildeo da feacute cristatilde cOmo

a mais verdadeira em vez de a verdadeira podemos detectar o s

pr imoacuterdios de uma territo ria li zaccedilatildeo dos credos um prCl1 uacutencio d a

linguagem de muitos nacionalistas (a nossa naccedilatildeo eacute a melhor

- num campo compamtilloe competi t ivo)

Q ue di ferenccedila reveladora temos no iniacutecio da carta do viajanshy

te persa Rica em Par is para o seu amigo Ibben em 17 12

o papa eacute o chefe dos cristatildeos E um elho iacutedolo que se incensa por

haacutebi lo Antigamente ele era temiacutevel aos proacuteprios priacutencipes pois de

() i depu nha com a mesma fa cilidade com que os nossos magniacuteficos

~u llotildees depocircem os reis de [rncrclia e da Geoacuterg ia Mas natildeo o te mem

ma i ~ l l e ~e d iz SUl lSSOr de um dos pri meiros cristatildeos que ~e clldma

5(0 Pedro e cert am ente eacute uma rica sucessatildeo pois ele tem teso uros

illlen so ~ e um grande territoacuterio sob o seu domiacutenio

11 nr 1fllIds o(Mnno Jv o p 1 5 ~ I ls viagcIl5 de Marco lOcirco Brasilicnsc 19541

11 Il enri tlt ) lontesquicu Perrln Lt-lIrrs p 81 As L fl rcs perswlts foram pubtishyL lei pela pri11tira t em [72

44 45

As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy

ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11

tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy

lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido

enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica

na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande

Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem

demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse

parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy

pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy

val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy

nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica

mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma

outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy

lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos

nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy

m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada

mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele

se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros

imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa

poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy

ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim

apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy

mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do

latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma

po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy

5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo

16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy

recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)

171bi p 32 1

men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy

lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma

figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade

Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy

lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o

inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy

g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em

larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no

con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy

16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy

decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire

( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a

qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major

nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se

um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio

do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy

des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy

dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando

o Rr l NO DI N AacuteS T I CO

I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um

mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy

11 Ibit p 330

19 1h iJ pp 33 1-2

20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais

lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy

port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro

~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e

Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro

M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356

46 47

tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy

lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy

ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de

um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da

ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra

terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um

territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo

onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram

porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy

m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade

com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter

seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas

veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy

Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy

cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy

tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias

Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy

2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com

essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy

meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os

p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I

iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot

te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy

naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico

ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy

nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias

2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno

tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante

discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar

(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha

O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido

4

tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este

l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o

Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um

ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -

Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia

Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc

arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia

duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy

illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta

e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz

e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy

b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen

marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy

ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da

marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc

Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto

comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e

capturas dos Ha bsburgo

Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy

cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de

concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy

gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er

aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas

111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy

21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1

lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha

atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst

111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do

4

co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando

LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy

mo~ de a tribuir aos Bo urbon

Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo

por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy

ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy

ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos

anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy

d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na

eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes

pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos

Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien

reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy

dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy

bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu

se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy

longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo

Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades

do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio

da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves

arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486

alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy

ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento

eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot

cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la

man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui

capaz de manter ( ibid p 125 )

25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o

fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy

ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught

llIul cllt1ligr p 136

26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot

ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l

nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy

duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria

~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy

monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy

parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da

Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF

Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema

poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy

te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma

~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade

minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande

(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os

JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute

eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst

tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)

PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S

Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas

lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades

~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~

hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270

lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama

I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92

~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil

hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m

sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao

pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr

dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy

do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m

l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85

50 51

religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy

nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy

do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o

m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao

Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos

agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos

c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res

ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy

ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy

na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde

Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy

di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy

no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo

de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com

os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia

muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de

um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era

maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma

universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy

dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta

peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em

latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio

cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para

as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy

pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy

saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue

assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre

os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy

sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a

cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils

~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas

11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a

VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy

I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a

mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma

cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees

I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy

SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a

segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo

pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na

noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do

~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos

colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os

homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais

llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy

ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa

Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de

con~ciecircncia

()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de

Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo

de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy

se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy

0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal

nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de

forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy

lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma

lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot

vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles

31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6

3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco

~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot

11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90

52 53

l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy

mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a

histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla

compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy

rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy

sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de

todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno

Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy

te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy

jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy

sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas

a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real

A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo

para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute

ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a

fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma

co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy

da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura

gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo

med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo

novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy

neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy

zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo

mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo

calendaacute r io H

n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo

bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]

-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy

nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~

n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo

importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se

w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy

gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o

ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy

am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy

ginada correspondente agrave naccedilatildeo

Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao

velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem

de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy

mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e

ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy

mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo

si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy

te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar

ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte

manetra

Tempo 11 III

4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda

num bar

r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em

casa com B

o joga bilhar tem um

pcsaddo

~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e

Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197

55 54

lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia

e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver

feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas

(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a

l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao

entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute

possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua

sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees

(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os

le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy

do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma

tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy

gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy

cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy

ca no espiacuterito de seus leitores

A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy

gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da

ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade

soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o

ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer

e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees

36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I

li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do

37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll

pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1

linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao

a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po

5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico

com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo

39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do

ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy

tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados

Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada

J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy

11 i1111 e simultacircnea dd~s

rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os

rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras

I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas

Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o

romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy

turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro

romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy

ra maravilhosa 11

Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy

mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de

jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy

Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy

~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros

la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a

1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o

gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy

ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl

Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy

nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua

~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave

rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy

l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm

pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y

Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard

1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1

11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I

IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy

Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru

56 57

infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila

n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de

bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no

problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade

necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy

saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo

O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague

Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma

manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos

ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha

mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a

Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o

nosso Governo

Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta

nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy

tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas

anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy

res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy

da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy

satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma

ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la

so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do

tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy

dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da

snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens

auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se

tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy

de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy

bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)

Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy

mente problem aacuteticas

Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy

(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a

IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy

d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy

toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy

lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa

ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy

C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy

men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia

medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo

ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy

lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa

muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao

viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente

algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter

UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy

co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy

oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy

dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para

Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue

Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy

mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria

middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy

11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a

di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy

t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy

Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy

11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15

58 59

comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por

meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a

metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy

lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata

em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica

alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos

passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo

Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy

peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela

mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas

Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy

tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou

di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos

poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto

Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten

45 lbid p 120

46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy

sis ca po I (A cicar de Odissc u)

~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1

IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II

COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy

IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg

I deus Albl nia re ino Jgora

Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel

l u teu udcnsnr llue Igor marIS

M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1

I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy

Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy

IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1

Oacutel

Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo

Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy

meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy

( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no

Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como

suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo

mostra a forma essencial desse romance naciona lista )

Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes

influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e

aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy

dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te

que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy

sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy

quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im

gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos

Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy

trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r

nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo

nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do

interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy

sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico

ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy

nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy

quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1

Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no

movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m

s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do

middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H

4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu

61

romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy

pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo

t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado

o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica

eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de

prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva

mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea

do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se

as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou

daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu

enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)

E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy

dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto

Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo

de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco

Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste

destino publicada em fasciacutecul os em 1924

Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy

vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva

50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura

e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais

51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy

do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros

campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova

Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110

llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot

tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente

li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26

capitulas 25 c 1)

52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu

na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas

l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa

P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy

do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy

gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy

pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas

ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy

nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy

lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se

o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o

cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches

)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea

diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz

dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste

Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim

Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy

nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml

in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que

ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo

inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado

PROSPI~RlLlAj)E

Lm andarilho mendigo passou mal

e morreu abandonado no acostamento da rua

n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o

I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to

Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si

Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy

1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto

(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas

62 63

qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo

de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a

gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy

te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy

liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas

pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy

cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes

gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca

eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz

Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo

confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy

vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da

referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos

seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy

cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je

Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy

ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma

on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que

Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy

dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis

hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor

cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a

raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )

Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela

du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo

encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy

josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy

nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde

)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy

fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a

d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida

pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo

SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto

dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente

licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy

mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu

tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um

lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil

raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos

eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um

mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo

inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os

outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)

Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy

ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado

[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy

le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A

dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a

principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy

gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy

te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem

sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por

I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento

que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os

MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl

LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy

tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco

12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer

1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te

64 65

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 10: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

m undn natildeo-eu ro peu as quais ampliaram violentam cn te o horishy

wntc cult ural-geograacutefico e simultanea men te os concei tos acershy

C l das poss iacuteveis formas de vida humana11 o q ue ocorrcu sobret-ushy

Jo mas natilde o excl u~ ivam cn te na Europa Esse processo joacute fica claro

no ma io r liv ro de viagem europeu Veja a surp resa co m que o bom

cristatildeo venezia no Marco Poacute lo desc reve Cubla i Catilde no final d o

seacuteculo 1 11 1

o gratilde-catilde tendo obtido essa ex traordinaacuteria vitoacuteria retornou com

grande pompa e triunfo para a ca pi ta l a cidlde de Ka nbalu Isso

aconteceu no mecircs de no vembro e ele continuou a morar laacuteduranshy

te os meses de revcreiro e marccedilo Inecircs este de Ilossa fe ~ la de Paacutescoa

Sabendo que esta era uma das 110ssJsprincipais solenidades ele

mandou q lIe tod os os cristatildeos fos sem ateacute ele e le vasse m o Livro

deles que conteacutem os quatro Evangelhos Depois de fa7cr com que

o incensassem vaacuterias vezes co m toda a cerimocircnia ele o beijou

devotamente e ordenou qu e todos os seus noh res ali presentes

fizessem o mesmo Este era o seu costu me em todas as principais

festividades cr istatildes como a Paacutescoa e o Na tal e ele observava o

mesmo nas fes tas dos sarracenos dos judeus e dos idoacutelatras Indashy

gado sobre o motivo dessl conduta ele disse Existem qua tro

grandes proCetas que satildeo nve renciados l adorados pelas difcnnshy

les cla~ses da h uman idade Os cristatildeos consideram Jes us Cris to

como a di in dade deles us Sd rraCtno~ Maomeacute os judeus Mo iseacutes

e os idoacutelat ras Sogomombar-kan o iacutedolo mais importante deles

Eu devo honrar c most rar respeito por todos os quatro e imocar

em meu auxiacutelio aquele que del re eles eacute na pcrrade supremo no

11 Erich Au crbadl MirllfS is p 2C ITrad ( it Mi ecirc isSatildeo Paulo Perspect iva 5

eJ 200middot1 p ~H6 ]

12 t rco Pnl1 ls 1 middot ja~C5 de li Ja1(() 1aacutelo 1 BrJsiliense 1954J pp 158-9 Grilo meu NO[l - lt porem que beijam lll ~S natildeo lecircem LI Fvangelho

cJII Ilas pela maneira co m que sua majestade agi u em relaccedilatildeo a

clei eacute ev idente que ele considerava a feacute do~ crisl agraveo~ a mai s ve rdashy

(leira e a mel hor

o gue essa passagem tem de notaacutevel natildeo eacute tanto o tranquuml ilo

relat ivismo religioso do grande d inas ta mongol (afi nal ainda eacute um

relativismo religioso) e sim a aLIacutelude e a linguagem d e Marco Poacutelo

Jamais lhe ocorre tratar C ublai como hipoacute crita ou idoacutelatra apesar

de es tar escrevendo para cristatildeos europeus como ele (Em par te

sem duacutevid a po rque quan to ao nuacutemero de suacuted itos e--lensatildeo d o

ttrritoacute rio c quantidade de riq uezas ele ul t rapassa qualquer sobeshy

rano que exist iu ateacute hoje no mundo) E no uso in consciente do

nossa (que se torna deles) e na q ualifi caccedilatildeo da feacute cristatilde cOmo

a mais verdadeira em vez de a verdadeira podemos detectar o s

pr imoacuterdios de uma territo ria li zaccedilatildeo dos credos um prCl1 uacutencio d a

linguagem de muitos nacionalistas (a nossa naccedilatildeo eacute a melhor

- num campo compamtilloe competi t ivo)

Q ue di ferenccedila reveladora temos no iniacutecio da carta do viajanshy

te persa Rica em Par is para o seu amigo Ibben em 17 12

o papa eacute o chefe dos cristatildeos E um elho iacutedolo que se incensa por

haacutebi lo Antigamente ele era temiacutevel aos proacuteprios priacutencipes pois de

() i depu nha com a mesma fa cilidade com que os nossos magniacuteficos

~u llotildees depocircem os reis de [rncrclia e da Geoacuterg ia Mas natildeo o te mem

ma i ~ l l e ~e d iz SUl lSSOr de um dos pri meiros cristatildeos que ~e clldma

5(0 Pedro e cert am ente eacute uma rica sucessatildeo pois ele tem teso uros

illlen so ~ e um grande territoacuterio sob o seu domiacutenio

11 nr 1fllIds o(Mnno Jv o p 1 5 ~ I ls viagcIl5 de Marco lOcirco Brasilicnsc 19541

11 Il enri tlt ) lontesquicu Perrln Lt-lIrrs p 81 As L fl rcs perswlts foram pubtishyL lei pela pri11tira t em [72

44 45

As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy

ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11

tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy

lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido

enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica

na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande

Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem

demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse

parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy

pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy

val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy

nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica

mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma

outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy

lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos

nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy

m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada

mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele

se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros

imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa

poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy

ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim

apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy

mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do

latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma

po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy

5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo

16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy

recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)

171bi p 32 1

men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy

lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma

figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade

Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy

lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o

inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy

g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em

larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no

con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy

16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy

decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire

( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a

qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major

nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se

um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio

do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy

des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy

dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando

o Rr l NO DI N AacuteS T I CO

I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um

mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy

11 Ibit p 330

19 1h iJ pp 33 1-2

20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais

lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy

port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro

~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e

Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro

M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356

46 47

tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy

lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy

ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de

um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da

ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra

terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um

territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo

onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram

porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy

m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade

com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter

seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas

veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy

Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy

cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy

tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias

Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy

2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com

essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy

meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os

p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I

iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot

te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy

naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico

ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy

nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias

2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno

tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante

discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar

(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha

O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido

4

tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este

l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o

Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um

ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -

Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia

Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc

arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia

duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy

illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta

e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz

e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy

b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen

marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy

ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da

marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc

Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto

comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e

capturas dos Ha bsburgo

Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy

cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de

concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy

gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er

aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas

111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy

21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1

lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha

atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst

111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do

4

co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando

LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy

mo~ de a tribuir aos Bo urbon

Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo

por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy

ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy

ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos

anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy

d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na

eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes

pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos

Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien

reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy

dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy

bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu

se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy

longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo

Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades

do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio

da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves

arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486

alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy

ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento

eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot

cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la

man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui

capaz de manter ( ibid p 125 )

25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o

fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy

ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught

llIul cllt1ligr p 136

26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot

ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l

nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy

duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria

~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy

monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy

parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da

Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF

Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema

poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy

te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma

~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade

minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande

(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os

JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute

eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst

tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)

PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S

Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas

lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades

~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~

hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270

lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama

I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92

~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil

hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m

sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao

pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr

dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy

do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m

l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85

50 51

religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy

nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy

do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o

m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao

Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos

agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos

c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res

ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy

ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy

na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde

Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy

di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy

no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo

de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com

os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia

muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de

um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era

maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma

universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy

dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta

peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em

latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio

cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para

as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy

pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy

saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue

assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre

os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy

sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a

cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils

~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas

11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a

VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy

I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a

mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma

cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees

I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy

SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a

segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo

pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na

noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do

~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos

colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os

homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais

llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy

ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa

Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de

con~ciecircncia

()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de

Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo

de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy

se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy

0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal

nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de

forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy

lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma

lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot

vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles

31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6

3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco

~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot

11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90

52 53

l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy

mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a

histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla

compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy

rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy

sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de

todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno

Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy

te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy

jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy

sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas

a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real

A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo

para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute

ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a

fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma

co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy

da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura

gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo

med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo

novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy

neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy

zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo

mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo

calendaacute r io H

n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo

bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]

-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy

nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~

n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo

importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se

w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy

gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o

ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy

am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy

ginada correspondente agrave naccedilatildeo

Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao

velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem

de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy

mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e

ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy

mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo

si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy

te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar

ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte

manetra

Tempo 11 III

4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda

num bar

r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em

casa com B

o joga bilhar tem um

pcsaddo

~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e

Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197

55 54

lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia

e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver

feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas

(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a

l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao

entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute

possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua

sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees

(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os

le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy

do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma

tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy

gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy

cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy

ca no espiacuterito de seus leitores

A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy

gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da

ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade

soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o

ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer

e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees

36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I

li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do

37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll

pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1

linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao

a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po

5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico

com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo

39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do

ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy

tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados

Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada

J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy

11 i1111 e simultacircnea dd~s

rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os

rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras

I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas

Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o

romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy

turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro

romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy

ra maravilhosa 11

Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy

mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de

jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy

Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy

~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros

la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a

1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o

gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy

ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl

Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy

nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua

~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave

rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy

l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm

pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y

Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard

1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1

11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I

IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy

Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru

56 57

infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila

n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de

bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no

problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade

necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy

saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo

O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague

Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma

manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos

ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha

mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a

Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o

nosso Governo

Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta

nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy

tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas

anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy

res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy

da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy

satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma

ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la

so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do

tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy

dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da

snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens

auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se

tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy

de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy

bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)

Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy

mente problem aacuteticas

Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy

(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a

IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy

d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy

toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy

lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa

ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy

C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy

men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia

medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo

ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy

lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa

muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao

viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente

algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter

UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy

co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy

oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy

dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para

Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue

Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy

mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria

middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy

11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a

di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy

t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy

Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy

11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15

58 59

comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por

meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a

metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy

lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata

em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica

alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos

passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo

Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy

peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela

mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas

Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy

tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou

di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos

poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto

Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten

45 lbid p 120

46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy

sis ca po I (A cicar de Odissc u)

~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1

IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II

COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy

IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg

I deus Albl nia re ino Jgora

Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel

l u teu udcnsnr llue Igor marIS

M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1

I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy

Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy

IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1

Oacutel

Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo

Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy

meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy

( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no

Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como

suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo

mostra a forma essencial desse romance naciona lista )

Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes

influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e

aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy

dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te

que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy

sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy

quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im

gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos

Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy

trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r

nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo

nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do

interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy

sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico

ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy

nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy

quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1

Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no

movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m

s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do

middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H

4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu

61

romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy

pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo

t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado

o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica

eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de

prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva

mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea

do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se

as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou

daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu

enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)

E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy

dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto

Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo

de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco

Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste

destino publicada em fasciacutecul os em 1924

Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy

vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva

50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura

e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais

51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy

do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros

campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova

Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110

llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot

tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente

li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26

capitulas 25 c 1)

52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu

na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas

l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa

P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy

do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy

gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy

pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas

ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy

nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy

lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se

o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o

cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches

)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea

diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz

dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste

Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim

Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy

nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml

in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que

ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo

inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado

PROSPI~RlLlAj)E

Lm andarilho mendigo passou mal

e morreu abandonado no acostamento da rua

n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o

I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to

Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si

Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy

1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto

(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas

62 63

qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo

de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a

gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy

te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy

liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas

pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy

cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes

gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca

eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz

Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo

confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy

vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da

referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos

seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy

cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je

Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy

ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma

on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que

Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy

dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis

hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor

cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a

raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )

Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela

du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo

encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy

josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy

nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde

)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy

fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a

d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida

pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo

SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto

dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente

licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy

mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu

tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um

lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil

raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos

eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um

mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo

inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os

outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)

Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy

ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado

[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy

le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A

dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a

principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy

gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy

te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem

sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por

I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento

que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os

MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl

LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy

tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco

12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer

1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te

64 65

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 11: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

As invenccedilotildees deliberadas c sofisticadas do catoacutelico setecentis shy

ta esptl ham o realismo ingecircnuo do seu p redecessor do seacuteculo )1 11

tnJS agora a rela tivizaccedilatildeo e a territorializaccedilatildeo sao profunJcIshy

lTlcn te conscien tes e com i ntenccedilotildees poliacutet icas Seraacute descabido

enxergar um desdobramento paradoxal dessa tradiccedilatildeo dinacircmica

na identi ficaccedilatildeo feita pe() aiatolaacute Ruhollah Khome ini do Grande

Satatilde natildeo com uma heres ia tampouco com um personagem

demo n iacuteaco (o apagado Car ter dific ilmen te se encaixaria nesse

parei) e sim com uma naccedilatildeo Em segundo luga r ho uve um rebaixamento grad ual da proacute shy

pria liacutengua sagrada Escrevendo sobre a Europa O cidental medieshy

val Bloch observou que o lat im era natildeo soacute a Ungua em que se ensi shy

nava como tambeacutem a uacutenica liacutelgua ensinada (A palavra uacutenica

mostra mu ito clara mente o caraacuteter sacro do latim - nenhuma

outra liacutengua era considerada digna de ser ensinada) Mas no seacutecushy

lo XV[ tudo isso estava mudando rap ida mente N atildeo precisamos

nos deter aqui nas raz()es dessa m udanccedila a importacircncia fundashy

m ental do capitalism o tipograacutefico rprint-capitctlism1seraacute tratada

mais ad iante Basta lembrarmos a escala e a velocidade em que ele

se desenvolveu Febvre e Ma rtin calcu la m q ue 77 d os livros

imp ressos antes de 1500 ainda eram em lat im (o que significa

poreacutem que 23 deles jaacute eram em vernaacuteculo ) Se entre as 88 edishy

ccedilotildees impressas em Paris cm 1501 apenas oito natildeo eram em latim

apoacutes 1575 a maiori a era sempre em francecircs Apesar de uma reto shy

mada tempo raacute ria du ran te a Con t ra -Refo rma a hegem onia do

latim estava condenada E natildeo estamo~ falando a penas n u ma

po pul aridade ge ral Um po uco mais tarde e numa rap idez igualshy

5middot Bloch FiIIdl1 l sociel) I p 77 Cr ifo meo

16 Lucien Febvrc c I Icnri- Jea n i1arti n The COlling oflhe Rook pp 248-9 () lIpashy

recilncllto do livro Unesp - I luci tec 1992)

171bi p 32 1

men te estonteanteo la ti m deixou de se r a li ngua da al ta intelectuashy

lidade pan- europeacuteiaNo seacutecul o XV II Hobbes 0588- 1678) era uma

figura de renome co ntinenta l po r ter escrito na liacutengua- ve rdade

Shakespcare (1564-1 616 ) por ou tro lado escreve ndo em vernaacutecushy

lo era prat icamen te desconhecido do outro lado do Canal E se o

inglecircs natildeo ti vesse se tornado du zentos anos depois a p rincipa lliacutenshy

g U3 do im peria lismo mundi al seraacute que ele natildeo teria mantid o em

larga medida sua o bscu rid ade insula r original En tremen tes no

con tinenle e quase contemporanea men te a eles Descartes (1596shy

16S0) e Pascal (1623-62) redigiam a rnaior parte da sua corresponshy

decircnc ia em lat im ao passo que p raticamente toda a o bra de Volta ire

( [694 -1778) foi escrita em vernaacuteculo oDepois ele 1640 com a

qua ntidade cada vez menor de ed iccedilotildees em latim e cada vez major

nas liacutenguas vernaacutecu las a atividade editorial estava deixando de se

um empreendimento internacional [sic]20 Em suma O decliacutenio

do la tim il ustrava um processo mais amplo em que as comunidashy

des sagradas amalgamadas por antigas liacutenguas sacras vinham gra shy

dualmente se fragm entando pluralizando e territor ializando

o Rr l NO DI N AacuteS T I CO

I loje em dia talvez seja difiacutecil sentirmos empatia com um

mundo onde o reino dinaacutestico aparecia como o uacutenico sistema poliacuteshy

11 Ibit p 330

19 1h iJ pp 33 1-2

20 Jirl pp 232-3 O o rigina l fran cs eacute mJ is m odesto e histor ica mente mais

lXilttl Tandis que 1011 -d ite de l1o in s en moins oollvrages rl1 latin o c l une pro shy

port io ll tO lljo urs plus grande de textes tmiddot n langue nat-ionale le commcrce du livro

~c morc1 1 en Europe Inqua nto editam -se cada vez monos obras em lat im e

Ul1lltll rltlpo rccedilao sempre ma ior de tex tos em liacutengua naciona l o comercio do livro

M~ t1iv idc na Eu ro pa I LIppnri lioll du Livre p 356

46 47

tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy

lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy

ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de

um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da

ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra

terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um

territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo

onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram

porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy

m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade

com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter

seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas

veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy

Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy

cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy

tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias

Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy

2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com

essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy

meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os

p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I

iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot

te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy

naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico

ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy

nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias

2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno

tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante

discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar

(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha

O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido

4

tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este

l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o

Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um

ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -

Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia

Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc

arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia

duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy

illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta

e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz

e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy

b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen

marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy

ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da

marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc

Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto

comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e

capturas dos Ha bsburgo

Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy

cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de

concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy

gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er

aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas

111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy

21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1

lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha

atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst

111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do

4

co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando

LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy

mo~ de a tribuir aos Bo urbon

Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo

por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy

ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy

ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos

anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy

d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na

eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes

pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos

Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien

reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy

dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy

bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu

se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy

longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo

Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades

do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio

da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves

arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486

alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy

ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento

eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot

cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la

man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui

capaz de manter ( ibid p 125 )

25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o

fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy

ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught

llIul cllt1ligr p 136

26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot

ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l

nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy

duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria

~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy

monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy

parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da

Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF

Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema

poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy

te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma

~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade

minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande

(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os

JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute

eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst

tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)

PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S

Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas

lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades

~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~

hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270

lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama

I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92

~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil

hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m

sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao

pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr

dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy

do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m

l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85

50 51

religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy

nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy

do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o

m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao

Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos

agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos

c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res

ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy

ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy

na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde

Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy

di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy

no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo

de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com

os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia

muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de

um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era

maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma

universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy

dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta

peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em

latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio

cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para

as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy

pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy

saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue

assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre

os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy

sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a

cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils

~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas

11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a

VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy

I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a

mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma

cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees

I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy

SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a

segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo

pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na

noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do

~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos

colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os

homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais

llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy

ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa

Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de

con~ciecircncia

()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de

Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo

de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy

se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy

0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal

nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de

forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy

lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma

lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot

vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles

31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6

3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco

~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot

11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90

52 53

l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy

mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a

histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla

compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy

rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy

sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de

todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno

Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy

te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy

jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy

sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas

a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real

A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo

para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute

ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a

fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma

co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy

da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura

gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo

med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo

novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy

neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy

zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo

mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo

calendaacute r io H

n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo

bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]

-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy

nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~

n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo

importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se

w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy

gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o

ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy

am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy

ginada correspondente agrave naccedilatildeo

Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao

velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem

de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy

mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e

ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy

mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo

si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy

te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar

ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte

manetra

Tempo 11 III

4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda

num bar

r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em

casa com B

o joga bilhar tem um

pcsaddo

~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e

Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197

55 54

lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia

e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver

feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas

(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a

l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao

entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute

possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua

sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees

(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os

le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy

do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma

tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy

gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy

cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy

ca no espiacuterito de seus leitores

A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy

gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da

ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade

soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o

ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer

e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees

36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I

li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do

37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll

pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1

linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao

a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po

5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico

com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo

39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do

ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy

tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados

Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada

J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy

11 i1111 e simultacircnea dd~s

rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os

rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras

I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas

Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o

romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy

turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro

romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy

ra maravilhosa 11

Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy

mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de

jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy

Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy

~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros

la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a

1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o

gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy

ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl

Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy

nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua

~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave

rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy

l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm

pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y

Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard

1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1

11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I

IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy

Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru

56 57

infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila

n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de

bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no

problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade

necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy

saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo

O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague

Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma

manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos

ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha

mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a

Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o

nosso Governo

Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta

nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy

tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas

anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy

res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy

da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy

satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma

ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la

so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do

tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy

dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da

snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens

auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se

tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy

de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy

bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)

Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy

mente problem aacuteticas

Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy

(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a

IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy

d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy

toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy

lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa

ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy

C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy

men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia

medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo

ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy

lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa

muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao

viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente

algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter

UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy

co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy

oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy

dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para

Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue

Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy

mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria

middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy

11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a

di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy

t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy

Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy

11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15

58 59

comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por

meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a

metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy

lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata

em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica

alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos

passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo

Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy

peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela

mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas

Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy

tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou

di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos

poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto

Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten

45 lbid p 120

46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy

sis ca po I (A cicar de Odissc u)

~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1

IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II

COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy

IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg

I deus Albl nia re ino Jgora

Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel

l u teu udcnsnr llue Igor marIS

M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1

I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy

Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy

IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1

Oacutel

Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo

Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy

meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy

( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no

Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como

suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo

mostra a forma essencial desse romance naciona lista )

Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes

influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e

aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy

dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te

que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy

sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy

quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im

gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos

Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy

trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r

nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo

nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do

interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy

sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico

ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy

nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy

quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1

Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no

movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m

s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do

middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H

4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu

61

romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy

pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo

t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado

o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica

eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de

prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva

mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea

do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se

as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou

daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu

enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)

E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy

dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto

Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo

de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco

Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste

destino publicada em fasciacutecul os em 1924

Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy

vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva

50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura

e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais

51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy

do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros

campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova

Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110

llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot

tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente

li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26

capitulas 25 c 1)

52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu

na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas

l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa

P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy

do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy

gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy

pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas

ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy

nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy

lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se

o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o

cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches

)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea

diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz

dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste

Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim

Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy

nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml

in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que

ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo

inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado

PROSPI~RlLlAj)E

Lm andarilho mendigo passou mal

e morreu abandonado no acostamento da rua

n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o

I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to

Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si

Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy

1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto

(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas

62 63

qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo

de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a

gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy

te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy

liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas

pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy

cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes

gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca

eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz

Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo

confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy

vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da

referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos

seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy

cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je

Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy

ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma

on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que

Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy

dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis

hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor

cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a

raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )

Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela

du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo

encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy

josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy

nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde

)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy

fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a

d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida

pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo

SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto

dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente

licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy

mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu

tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um

lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil

raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos

eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um

mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo

inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os

outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)

Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy

ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado

[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy

le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A

dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a

principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy

gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy

te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem

sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por

I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento

que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os

MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl

LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy

tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco

12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer

1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te

64 65

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 12: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

tico imaginaacutevd para lt1 ml ioril das pessoas Pois sob alguns aspetshy

lOS fundamentais J monarquia seacuter ia co ntraria todas as concepshy

ccediliks mmlcrnas da vida poliacutetica Aacute realeza organiza ludoe l11 lorno de

um ccntro elevado Sua legitim idade deriva da divindade c natildeo da

ptJpulaccedilauuml q ue afinal eacute compo~ta de suacuted itos natildeo ue cidadacircos Na comepccedilao moderna a soberan ia do Estado npera de forma integra

terminante c homogecircnea sobre cada cenLim ctro quadrado de um

territoacuterio legalmente demarcado Mas no imaginaacuterio mais antigo

onde os Estados era m defi n idos por centros as fro nteiras eram

porosas e indisti n las e as ltoberan ias se esvaeciam imperceptivelshy

m en te uma dentro da out ra I Daiacute em certo parltl doxo a fa cilidade

com que os reinos e impeacuter ios preacute -m odernos conseguira m manter

seu domiacutenio sobre populaccedilotildees imensamente heterogecircneas e muitas

veies nem vizin has por longos periacuteodos de tem po -shy

Cabe tambeacutem lembrar que esses ant igo~ Estado~ m o naacuterq uishy

cos se expandiam natildeo soacute pela guerra m as tambeacutem por uma poliacute shy

tica sex ual - m uito diferen te da p ra ticada no~ nossos dias

Seguindo o princiacutepio geral da verticalidade os casamentos d inaacutesshy

2 1 Vci J-se o deslocamento no nomc dos gO Yl rnantes em correspondecircncia com

essa I rmsformaccedilJo As crian ccedilas em idade escolar lemhram os lll onaras pelo prishy

meiro n o m~ (q ual era mesmo o sobrenome d~ Cuilhermc o Co nquistadorl ) os

p r t~ i dmles pelo sobrenomc (qual era mesm o o no me de batismo de EbC rl I

iulll mund o de cidadatildeos lodos teoricamenle el egiacuteveis para o cargo dc presiden middot

te os nomes de batismo por sercml inIltado natilde0 satildeo adequados co mo dcsigshy

naacirco espcciacuteficd Mas nas I11 ltJfl u ql1ias onde u gove rno estciacute nas macircos de um uacutenico

ohrenome satildeo obrigatorid mc nte os nomes dc ba ti smo com llll meros Oll alc ushy

nhas que Comecc m as d istinccedilotildees neccs uumlrias

2~ ttllC-se Ic pltl ss a f~ t1I que Na irn certamcnte 1( 11 r azlo ao cl assificar a [i da t IUacuteO entre Inglatcrra c r scoacutecia de 1707 como LIma barganhl patriacutecia no seno

tido de que tJ ~ 1[ljuitdn da uniatildeo eram poliacuteticos a ristoc ratas ( Ver sua brilhante

discuw em Tlte Rmlk-lIp 4 Hlirlill p 136 S~) lks lllo a~si fll eacute difiacutecil ima~inar

(l 1l10 as MslocrlCias de duas rq Jllb licas chega ram a um acordo nessa barganha

O c1C ll1c nto med iador crucial qult pn ibilitoLl o acordo foi cguramm te o conshyceito clt um Reillo Unido

4

tico reuniam populaccedilotildees diferen tls sob novos veacute rt iccs Sob este

l~tc to eacute paradigmaacute tica a Casa dos Hab~b ll rgo Como dizia o

Ilt(rio Bela gerc11t oii t il felix AIs ria l1 ube Eis a tilulaccedilatildeo um

ta 1110 resumida dos uacutelt im os d inostas -

Tmperado r d a wl ri a rei da Hun gr iltl d) Bomil da Dalmaacute cia

Croaacutecia E~ l ovecircniu Galiacutecia Lodomeria e fliacute ria rei de JerusM m etc

arqlid uque da Austr ia [sicJ g ratildeo-duque da Toscana t Cracoacutevia

duqul de L(llaringia Salzburgo Ist iacuteria cariacutentia Carn iola e Bucovshy

illa gratildeo-d uque da lransilvlnia marqueacutes da Moraacutevia duque da Alta

e Ba iXiI Si leacutesia de Modena Panna Piaccnza c Guastella de Auschwitz

e Sato r de Tcschen FriuJi Ragusa e Za ra conde priacutencipe de Habsshy

b urgo e Tirol de Kyimrg Gbrzc Gradisca d uque de Trento e Brizen

marquecircs da Alta e Baixa Lausitz e iacutestria conde de I lohenembs Feldshy

ki nh Breg111ZSOnnenbergctc senhor de Tricste Cattaro e ac ima da

marca Vindisch gratildeo Yoivoda da Voivodina Seacutervi a etc

Tal era como bem o bserva Jaacuteszi natildeo sem um certo as pecto

comico ] a enumeraccedilatildeo das inco ntaacuteveis nuacutepcias barganhas e

capturas dos Ha bsburgo

Em re inos onde a po liginia tinha sanccedilatildeo relig iosa era essenshy

cial para a sua integraccedilatildeo que existissem si stemas complexos de

concuh ina tos sobrepos to~ Com efeito era freq uumlente que as linhashy

gens rea i procu rassem ga nhar prestiacutegio pa ra aleacutem de q ualqu er

aUra dc d ivindade ltl partir da diga mos m iscigcnaccedilatildeoi Pois essas

111 iSluras e ram siacutembolos dI uma posiccedilatildeO de ordem superio r f tiacutepi shy

21 ()~ar )is i Tiremiddotdisol riUacute I7 oj lhe l1ohslJl rg mOllO rch) p 3-1

lll [ai L~peci ficJm e ll l t na Asia preacute-moder na embora o mesmo princiacutepio lenha

atll1Jo tlIl1heacutem nJ Furopa cr ista monoglmica E1I1 1910 um (crto Otto I o rst

111lu (l cu Ah llctltld Se iner KiSt rlieell IlIId Kii ni~ lich e ll Hoheit Ie dchshy1111I-1IIgm em FricroiS FrcI1 Z Flrdi l r l7 d arrol a n ~lo 2047 antepasslclos do

4

co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando

LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy

mo~ de a tribuir aos Bo urbon

Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo

por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy

ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy

ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos

anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy

d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na

eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes

pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos

Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien

reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy

dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy

bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu

se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy

longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo

Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades

do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio

da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves

arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486

alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy

ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento

eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot

cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la

man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui

capaz de manter ( ibid p 125 )

25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o

fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy

ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught

llIul cllt1ligr p 136

26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot

ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l

nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy

duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria

~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy

monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy

parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da

Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF

Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema

poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy

te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma

~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade

minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande

(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os

JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute

eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst

tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)

PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S

Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas

lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades

~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~

hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270

lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama

I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92

~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil

hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m

sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao

pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr

dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy

do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m

l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85

50 51

religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy

nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy

do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o

m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao

Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos

agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos

c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res

ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy

ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy

na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde

Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy

di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy

no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo

de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com

os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia

muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de

um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era

maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma

universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy

dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta

peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em

latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio

cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para

as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy

pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy

saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue

assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre

os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy

sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a

cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils

~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas

11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a

VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy

I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a

mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma

cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees

I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy

SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a

segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo

pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na

noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do

~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos

colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os

homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais

llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy

ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa

Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de

con~ciecircncia

()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de

Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo

de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy

se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy

0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal

nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de

forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy

lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma

lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot

vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles

31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6

3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco

~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot

11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90

52 53

l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy

mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a

histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla

compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy

rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy

sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de

todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno

Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy

te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy

jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy

sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas

a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real

A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo

para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute

ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a

fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma

co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy

da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura

gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo

med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo

novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy

neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy

zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo

mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo

calendaacute r io H

n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo

bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]

-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy

nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~

n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo

importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se

w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy

gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o

ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy

am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy

ginada correspondente agrave naccedilatildeo

Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao

velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem

de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy

mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e

ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy

mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo

si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy

te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar

ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte

manetra

Tempo 11 III

4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda

num bar

r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em

casa com B

o joga bilhar tem um

pcsaddo

~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e

Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197

55 54

lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia

e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver

feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas

(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a

l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao

entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute

possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua

sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees

(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os

le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy

do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma

tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy

gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy

cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy

ca no espiacuterito de seus leitores

A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy

gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da

ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade

soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o

ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer

e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees

36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I

li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do

37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll

pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1

linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao

a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po

5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico

com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo

39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do

ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy

tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados

Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada

J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy

11 i1111 e simultacircnea dd~s

rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os

rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras

I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas

Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o

romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy

turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro

romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy

ra maravilhosa 11

Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy

mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de

jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy

Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy

~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros

la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a

1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o

gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy

ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl

Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy

nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua

~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave

rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy

l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm

pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y

Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard

1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1

11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I

IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy

Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru

56 57

infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila

n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de

bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no

problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade

necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy

saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo

O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague

Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma

manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos

ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha

mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a

Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o

nosso Governo

Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta

nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy

tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas

anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy

res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy

da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy

satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma

ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la

so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do

tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy

dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da

snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens

auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se

tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy

de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy

bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)

Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy

mente problem aacuteticas

Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy

(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a

IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy

d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy

toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy

lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa

ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy

C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy

men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia

medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo

ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy

lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa

muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao

viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente

algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter

UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy

co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy

oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy

dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para

Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue

Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy

mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria

middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy

11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a

di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy

t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy

Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy

11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15

58 59

comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por

meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a

metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy

lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata

em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica

alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos

passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo

Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy

peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela

mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas

Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy

tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou

di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos

poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto

Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten

45 lbid p 120

46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy

sis ca po I (A cicar de Odissc u)

~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1

IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II

COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy

IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg

I deus Albl nia re ino Jgora

Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel

l u teu udcnsnr llue Igor marIS

M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1

I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy

Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy

IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1

Oacutel

Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo

Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy

meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy

( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no

Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como

suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo

mostra a forma essencial desse romance naciona lista )

Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes

influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e

aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy

dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te

que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy

sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy

quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im

gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos

Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy

trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r

nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo

nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do

interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy

sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico

ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy

nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy

quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1

Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no

movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m

s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do

middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H

4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu

61

romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy

pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo

t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado

o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica

eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de

prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva

mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea

do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se

as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou

daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu

enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)

E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy

dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto

Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo

de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco

Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste

destino publicada em fasciacutecul os em 1924

Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy

vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva

50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura

e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais

51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy

do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros

campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova

Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110

llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot

tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente

li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26

capitulas 25 c 1)

52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu

na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas

l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa

P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy

do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy

gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy

pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas

ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy

nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy

lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se

o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o

cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches

)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea

diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz

dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste

Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim

Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy

nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml

in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que

ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo

inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado

PROSPI~RlLlAj)E

Lm andarilho mendigo passou mal

e morreu abandonado no acostamento da rua

n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o

I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to

Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si

Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy

1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto

(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas

62 63

qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo

de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a

gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy

te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy

liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas

pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy

cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes

gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca

eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz

Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo

confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy

vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da

referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos

seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy

cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je

Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy

ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma

on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que

Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy

dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis

hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor

cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a

raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )

Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela

du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo

encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy

josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy

nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde

)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy

fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a

d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida

pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo

SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto

dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente

licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy

mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu

tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um

lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil

raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos

eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um

mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo

inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os

outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)

Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy

ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado

[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy

le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A

dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a

principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy

gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy

te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem

sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por

I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento

que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os

MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl

LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy

tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco

12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer

1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te

64 65

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 13: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

co q ue natildeo lenha existido nen huma di nastia inglesa dominando

LondresJesdeo seacutecul o XI (se tanto) - e que nacionalidade havc shy

mo~ de a tribuir aos Bo urbon

Mas duran te o seacuteculo XVII - por ra7Otilde~S que natildeo nos deteratildeo

por ora - a kgi tim idade automaacutetica da monarquia sagrada comeshy

ccedilou a dlcl ina r lenta mente na Europa Ocident l Em 1649 Ca dos Stushy

ar t fo i decapitado na prim eira revoluccedilatildeo do m undo moderno e nos

anos 1650 um dos mais importantes Estados europeus fo i governashy

d o po r um protetor plebeu em lugar de um rei Todavia mesmo na

eacutepoca de Pope e de Addison Anne Stua rt ainda curava os doentes

pelo toque das m atildeos taumaturgia que ta mbeacutem era reali7ada pelos

Bourbon Lu iacutes xv e XVI na Franccedila iluminista ateacute o final do ancien

reacutegime Mas apoacutes 1789 foi preciso defendero princiacutepio dalegi timishy

dade de modo consciente e vigoroso e com isso a monarquia acashy

bou se tornando um modelo semipadronizado Tennocirc e filho do ceacuteu

se tornaram imperadores No longiacutenquo Siatildeo Ramn (Chulashy

longkorn) m andava seus filhos e sobrinhos para as cortes de Satildeo

Petersb urgo Londres e Berlim a fim de aprender as complexidades

do m odelu mundial Em 1887 ele instituiu o princiacutepio obrigatoacuterio

da sucessatildeo pela p rimogenitura legal alinhando assim o Siatildeo agraves

arquiduque assassinado pouco tempo depois Eram de ambos os sexos 1486

alematildees 124 franceses 196 italianos 89 espanhoacuteis 52 poloneses 47 dinamarqueshy

ses 20 ingleses aleacutem de qu atro o utras nacionalidades Esse curioso documento

eacute citado in ibid p 136 n I Aqlli natildeu resisto a cita r a admiraacutevel reaccedilatildeo de Franmiddot

cisco Joseacute agrave notiacutecia do assassinato do seu excecircntrico herdeiro legitimUacutelio ])lt5 la

man eira um poder superi o r restaurou a ordem que eu infeli zm e nle Ilatildeu fui

capaz de manter ( ibid p 125 )

25 Ci dlner detaca o caraacuteter fS lra ngeiro tiacutepico das dinast ias m as inter preta o

fen ocircmeno de maneira muito estre ita os aristocratas locais prefe rem um monarshy

ca ls trange ifgt porque es te natildeo tomaria partido nas rivalidades inlClI lJS Thuught

llIul cllt1ligr p 136

26 vI are Bloch [ () Rois Tlw ulllaturgts pp 390 e 398-9 [ O reis tauIIatll rgos v CClrlIacute middot

ter wlirclliacuteltural do votler rqio Franccedila ( Inglarerra Companhia das Letras 2005 l

nllgtnnrq tUacuteas civilizadas da Europa-7 O novo sistema em 1910 con shy

duzi u ao tr0no um homossexual excecircntrico que cer tamenle te ria

~id() preterido n uma eacutepoca anterior No entanto a aprovaccedilatildeo inter shy

monaacuterquica de sua entronizaccedilatildeo como Rama I foi selada pelo comshy

parecimento agrave sua cerim ocirc nia de Mo accedilatildeo d os principezinhos da

Gragrave-Bretanha Ruacutessia Greacutecia Sueacutecia Dinamarca -e JapatildeoF

Em 191 4 os Estados dinaacutest icos ainda eram m aioria no sistema

poliacutetico mundial m as como veremos detalhadamente mais adian shy

te m u itas d inastias vinham se esfo rccedilan do para conseguir uma

~ha ncel a nacional enquanto o velho princiacutepio da legitimidade

minguava silenciosamente Se os exeacutercitos de [ rederico o Grande

(r 1740-86) era m maciccedilamente com pos tos por estrangeiros os

JI seu so br inho-neto Frederico Guilherme 1lI ( r 1797 -1840) jaacute

eram em vir tude das reformas espetaculares de Scharnhorst

tneisenau e Clausewitz exclusivamente nacional-prussianos1)

PIRCE P CcedilOtildeE S T EM IgtOR AL S

Mas seria estreiteza pensar q ue as comunidades imaginadas

lbs naccedilotildees teriam simplesmente su rgido a parti r das com unidades

~7 Noel A Battye Th e milit ar) govcrn m ent i1 nd society in Sia11l 1868middot) 910~

hI d d outorado Uni ve rsidade de Cornell 197 1 p 270

lX gthphcn ( reene Thai govcrnmcnt and ltldministration in the Rcign oI Rama

I ( 9 1 0 -2~) le e de douI Llrltido Universidade de Londres I 971 p 92

~l Em 1801i na lista de oficiais do Exeacuterci to prussial10 J e um lOl al de 7 a tl mil

hOnl CIl mli s de mil eram estrange iro s Os prussianos de classe m eacutedil era m

sUlcroldos pelo nuacutemero de estrangeiros no seu proacuteprio ex~rcito is deu cor ao

pnveacutel bio de que a Pruacutessia nao era um paiacutes que tinha um exeacutercito lt ll im um cxr

dto 4u~ l inha um paiacutes Em 1798 os reformadores prussianos haviam reiv indica shy

do urna red uccedilatildeo pela metade do nuacutemero de es trangeiros que a inda somava m

l l llta de 00 dos soldados rasos Alfred agtsA hisor) olIlilitarisIl pp 64 c 85

50 51

religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy

nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy

do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o

m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao

Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos

agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos

c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res

ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy

ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy

na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde

Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy

di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy

no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo

de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com

os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia

muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de

um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era

maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma

universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy

dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta

peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em

latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio

cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para

as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy

pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy

saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue

assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre

os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy

sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a

cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils

~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas

11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a

VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy

I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a

mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma

cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees

I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy

SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a

segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo

pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na

noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do

~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos

colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os

homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais

llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy

ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa

Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de

con~ciecircncia

()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de

Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo

de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy

se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy

0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal

nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de

forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy

lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma

lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot

vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles

31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6

3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco

~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot

11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90

52 53

l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy

mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a

histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla

compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy

rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy

sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de

todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno

Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy

te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy

jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy

sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas

a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real

A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo

para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute

ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a

fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma

co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy

da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura

gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo

med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo

novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy

neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy

zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo

mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo

calendaacute r io H

n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo

bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]

-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy

nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~

n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo

importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se

w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy

gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o

ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy

am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy

ginada correspondente agrave naccedilatildeo

Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao

velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem

de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy

mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e

ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy

mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo

si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy

te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar

ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte

manetra

Tempo 11 III

4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda

num bar

r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em

casa com B

o joga bilhar tem um

pcsaddo

~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e

Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197

55 54

lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia

e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver

feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas

(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a

l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao

entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute

possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua

sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees

(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os

le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy

do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma

tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy

gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy

cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy

ca no espiacuterito de seus leitores

A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy

gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da

ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade

soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o

ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer

e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees

36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I

li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do

37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll

pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1

linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao

a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po

5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico

com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo

39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do

ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy

tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados

Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada

J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy

11 i1111 e simultacircnea dd~s

rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os

rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras

I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas

Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o

romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy

turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro

romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy

ra maravilhosa 11

Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy

mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de

jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy

Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy

~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros

la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a

1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o

gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy

ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl

Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy

nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua

~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave

rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy

l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm

pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y

Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard

1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1

11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I

IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy

Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru

56 57

infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila

n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de

bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no

problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade

necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy

saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo

O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague

Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma

manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos

ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha

mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a

Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o

nosso Governo

Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta

nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy

tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas

anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy

res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy

da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy

satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma

ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la

so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do

tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy

dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da

snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens

auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se

tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy

de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy

bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)

Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy

mente problem aacuteticas

Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy

(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a

IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy

d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy

toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy

lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa

ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy

C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy

men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia

medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo

ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy

lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa

muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao

viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente

algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter

UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy

co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy

oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy

dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para

Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue

Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy

mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria

middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy

11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a

di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy

t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy

Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy

11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15

58 59

comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por

meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a

metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy

lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata

em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica

alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos

passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo

Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy

peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela

mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas

Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy

tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou

di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos

poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto

Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten

45 lbid p 120

46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy

sis ca po I (A cicar de Odissc u)

~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1

IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II

COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy

IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg

I deus Albl nia re ino Jgora

Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel

l u teu udcnsnr llue Igor marIS

M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1

I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy

Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy

IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1

Oacutel

Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo

Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy

meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy

( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no

Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como

suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo

mostra a forma essencial desse romance naciona lista )

Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes

influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e

aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy

dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te

que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy

sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy

quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im

gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos

Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy

trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r

nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo

nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do

interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy

sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico

ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy

nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy

quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1

Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no

movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m

s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do

middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H

4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu

61

romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy

pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo

t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado

o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica

eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de

prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva

mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea

do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se

as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou

daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu

enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)

E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy

dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto

Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo

de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco

Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste

destino publicada em fasciacutecul os em 1924

Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy

vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva

50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura

e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais

51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy

do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros

campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova

Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110

llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot

tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente

li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26

capitulas 25 c 1)

52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu

na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas

l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa

P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy

do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy

gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy

pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas

ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy

nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy

lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se

o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o

cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches

)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea

diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz

dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste

Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim

Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy

nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml

in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que

ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo

inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado

PROSPI~RlLlAj)E

Lm andarilho mendigo passou mal

e morreu abandonado no acostamento da rua

n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o

I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to

Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si

Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy

1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto

(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas

62 63

qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo

de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a

gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy

te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy

liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas

pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy

cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes

gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca

eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz

Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo

confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy

vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da

referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos

seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy

cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je

Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy

ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma

on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que

Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy

dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis

hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor

cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a

raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )

Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela

du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo

encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy

josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy

nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde

)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy

fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a

d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida

pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo

SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto

dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente

licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy

mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu

tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um

lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil

raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos

eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um

mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo

inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os

outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)

Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy

ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado

[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy

le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A

dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a

principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy

gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy

te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem

sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por

I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento

que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os

MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl

LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy

tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco

12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer

1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te

64 65

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 14: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

religiosas e dos reinos dinls ticos substitu indo-as Por sob o decl iacuteshy

nio das com un idades liacutenguas c linhage ns sagradas estava ocorren shy

do uma transformaccedilao fun dame ntal nos modos de apreend er o

m u n do a qual m a is do que qualq uer outra coi sa possi bil i tou u )) shypC Il gtar a naccedilao

Para termos uma ideacuteia dessa mudanccedila seria uacutetil reco rrermos

agraves representaccedilotildees visuais das com unidades sagradas co mo relevos

c vitrais de ig rejas m edievais o u pinturas dos primeiros m est res

ital ia nos e fl amengos Um traccedilo caracte riacutest ico dessas re p resen tashy

ccedilotildees eacute algo enganosamente parecido co m uma roupagem modershy

na O~ pastores q ue segui ram a estrela ateacute a ma njedou ra onde

Cristo nasceu apresentam os traccedilos dos camponeses da I3urguacutenshy

di a AVirgcm ~ lar i a eacute pin tada como a filh de u ll1l11ercado r toscashy

no Em muitos quadros o patron o comitente em traje completo

de nobre Cl U de b urguecircs estaacute ali ajoel hadoem adoraccedilatildeojunto com

os pastores O que hoje pdrece incongruen te certa mente parecia

muito natural aos olh os dos devotos medievais Estamos d iante de

um mun d o o nde a rep resen taccedilatildeo da realidade imaginada era

maciccedilamente visual e audi t iva A crista ndade assumia a sua forma

universal med iante u ma mi riacuteade de especific idades e particulari shy

dades este relevo aquele vitral est e sermatildeo aq uela paraacutebola esta

peccedila de moral aquela reliacutequ ia Se o cl ero transeuropeu letrldo em

latim era um clemento essencial na est ru tu raccedilatildeo do im aginaacuterio

cristatildeo igualmente vita l era a transmissatildeo dessas concepccedilotildees para

as massas iletradas por meio de criaccedilotildees vis uais e aud itivas sem shy

pre pessoais e particu lares O humilde paacuteroco local cujos an te~middotldsshy

saJos e cujas fraquezas eram do conhecimen to de todos o ~ q ue

assis t iam agrave m issa era apesa r de tudo o intermed iaacuterio d ireto en tre

os paroq uianos e o d ivino Essa justaposi ccedilatildeo do coacutesm ico - univershy

sal e n111ndano - r articular significava que por maior que fo sse a

cristandade (( lssim era considerad a) cla se manifestava deforllils

~ riacutelld(s para as comu nidades suaacuteb ias ou andalu zas especiacute llcas

11110 reacute p licas d elas mes mas Saia inco ncebiacutevel represent ar a

VI rgem Maria com lraccedilos semiacutet icos ou roupas do seacutecul o I den shy

I ro do espiacute r ito de restaura ccedilatildeo da m useologia m od erna pois a

mentalidad e crist atilde m ed ieva l natildeo concebia a histoacuter ia como uma

cadil inte rm i naacutevel de (a usas e efeitos nem imagi nava separaccedilotildees

I adiuacutetis entre passado e presente iI Co mo observa Bloch as pesshy

SOl~ pensavam q ue o final dos tempos es lava p roacutex im o e que a

segunda vin d a de Cristo poderia ocorrer a qualq uer momento satildeo

pwl0 hav ia di to q ue o dia do Senh o r vem co mo um ladratildeo na

noite ssi m para o bispo O ltO de h eising o grand e cron ista do

~tCll lo XII era nat ural referir-se constantemente a noacutes que fomos

colocados no fim dos tempos Bloch conclui qu e qu ando os

homens medievais se entregavam agrave medi taccedilatildeo nada estava mais

llI1ge de seus pensamentos d o C] ue a pe rspectiva de um longo futu shy

ro para u m a h u manidade jovem c vigo rosa

Aucrbach ap resen ta um desenho inesq ueciacutevel dessa for ma de

con~ciecircncia

()wUl do por exemplo um acontecimento como o do sacrifiacutecio de

Isaac eacute interpretado como uma prefiguraccedilatildeo do sacrifiacutecio de Cristo

de maneira que no primeiro por assim dizer anuncia-se e prometeshy

se o segundo e o segundo cumpre o primeiro [ 1cria-se uma relashy

0 entre dois acontecimentos que natildeo estatildeo unidos nem temporal

nem causalmente - uma relaccedilatildeo impossiacutevel de ser estabelec ida de

forma rltldonalc numa di me nsatildeo horizolltal[ 1Soacute eacute possiacutevel estabcshy

lO JI 11 a id eacute id d t roupage m m oclco1a m elaacute Co ra para eS IJbeIeLL[ uma

lljlli Ilt n ia (nt rl passado e presente ( um recollhe iacutet11en to in dir~lll ela induI I middot

vd epHaccediljo lt 11 ll-c eles

31 Bluclt l-clIda l Ocii I ) 1 pp 84 -6

3~u( roach Mi111 nis p 64 lciLcel bras p 63 JGrifo meu Compare adescri acirco

~ lgo ~ l i n i JnJ do 1 11 ti)o Testamen to como a som bra do fU l Uro Iis to cq uede pro middot

11bullbull pa r1 t rb I Cit ill Bloch Feudal Socicly I p 90

52 53

l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy

mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a

histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla

compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy

rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy

sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de

todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno

Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy

te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy

jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy

sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas

a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real

A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo

para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute

ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a

fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma

co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy

da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura

gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo

med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo

novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy

neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy

zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo

mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo

calendaacute r io H

n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo

bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]

-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy

nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~

n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo

importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se

w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy

gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o

ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy

am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy

ginada correspondente agrave naccedilatildeo

Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao

velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem

de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy

mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e

ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy

mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo

si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy

te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar

ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte

manetra

Tempo 11 III

4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda

num bar

r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em

casa com B

o joga bilhar tem um

pcsaddo

~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e

Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197

55 54

lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia

e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver

feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas

(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a

l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao

entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute

possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua

sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees

(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os

le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy

do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma

tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy

gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy

cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy

ca no espiacuterito de seus leitores

A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy

gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da

ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade

soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o

ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer

e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees

36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I

li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do

37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll

pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1

linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao

a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po

5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico

com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo

39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do

ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy

tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados

Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada

J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy

11 i1111 e simultacircnea dd~s

rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os

rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras

I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas

Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o

romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy

turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro

romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy

ra maravilhosa 11

Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy

mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de

jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy

Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy

~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros

la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a

1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o

gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy

ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl

Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy

nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua

~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave

rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy

l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm

pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y

Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard

1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1

11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I

IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy

Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru

56 57

infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila

n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de

bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no

problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade

necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy

saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo

O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague

Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma

manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos

ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha

mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a

Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o

nosso Governo

Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta

nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy

tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas

anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy

res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy

da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy

satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma

ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la

so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do

tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy

dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da

snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens

auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se

tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy

de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy

bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)

Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy

mente problem aacuteticas

Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy

(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a

IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy

d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy

toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy

lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa

ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy

C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy

men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia

medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo

ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy

lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa

muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao

viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente

algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter

UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy

co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy

oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy

dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para

Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue

Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy

mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria

middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy

11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a

di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy

t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy

Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy

11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15

58 59

comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por

meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a

metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy

lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata

em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica

alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos

passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo

Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy

peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela

mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas

Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy

tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou

di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos

poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto

Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten

45 lbid p 120

46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy

sis ca po I (A cicar de Odissc u)

~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1

IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II

COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy

IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg

I deus Albl nia re ino Jgora

Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel

l u teu udcnsnr llue Igor marIS

M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1

I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy

Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy

IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1

Oacutel

Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo

Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy

meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy

( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no

Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como

suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo

mostra a forma essencial desse romance naciona lista )

Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes

influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e

aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy

dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te

que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy

sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy

quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im

gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos

Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy

trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r

nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo

nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do

interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy

sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico

ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy

nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy

quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1

Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no

movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m

s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do

middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H

4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu

61

romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy

pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo

t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado

o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica

eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de

prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva

mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea

do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se

as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou

daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu

enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)

E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy

dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto

Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo

de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco

Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste

destino publicada em fasciacutecul os em 1924

Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy

vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva

50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura

e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais

51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy

do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros

campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova

Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110

llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot

tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente

li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26

capitulas 25 c 1)

52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu

na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas

l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa

P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy

do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy

gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy

pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas

ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy

nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy

lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se

o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o

cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches

)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea

diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz

dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste

Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim

Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy

nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml

in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que

ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo

inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado

PROSPI~RlLlAj)E

Lm andarilho mendigo passou mal

e morreu abandonado no acostamento da rua

n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o

I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to

Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si

Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy

1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto

(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas

62 63

qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo

de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a

gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy

te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy

liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas

pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy

cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes

gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca

eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz

Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo

confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy

vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da

referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos

seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy

cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je

Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy

ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma

on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que

Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy

dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis

hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor

cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a

raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )

Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela

du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo

encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy

josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy

nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde

)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy

fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a

d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida

pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo

SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto

dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente

licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy

mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu

tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um

lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil

raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos

eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um

mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo

inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os

outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)

Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy

ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado

[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy

le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A

dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a

principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy

gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy

te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem

sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por

I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento

que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os

MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl

LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy

tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco

12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer

1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te

64 65

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 15: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

l~ca c~ta relaccedilatildeo quando se unem os dois acontecimentos verticalshy

mente com a providencia di vina que eacute a uacutenica que pode planejar a

histoacuteria desta maneira e a uacutenica q ue pode fornecer a chave pa ra a slla

compreensatildeo 1 1 o aqui c agora natildeo eacute mais elo de uma corrente tershy

rena mas ( simultanea mente algo que sempre fo i c algo que se conshy

sumaraacute no futuro E a belll di er aos olhos de Deus eacute algo eterno de

todos os temposjaacute consumado 110 rragmenuumlrio acontecer terreno

Ele frisa com razatildeo que tal ideacuteia de simultaneidade eacute totalmenshy

te alhciaa noacutes Ela concebe o tempo como algo proacuteximo ao que Benshy

jamin denomina tempo messiagravenico uma simultaneidade de passhy

sado e futuro em um presente ins tan tacircneo Nessa visatildeo das coisas

a palavra entrementes natildeo pode ter nenhum significado real

A nossa concepccedilatildeo de simultaneidade levou m uito tempo

para ser preparada e natildeo haacute duacutev ida de que o seu surgimento estaacute

ligado de maneiras que ainda precisam ser estudad as mais a

fund o ao desenvolvimento das ciecircncias seculares Mas eacute uma

co ncepccedilatildeo de im portacircncia tatildeo funda mental que se natildeo for levashy

da na devida conta teremos dificuldade em investigar a obscura

gecircnese do nacionalismo O que ocupou o luga r da con cepccedilatildeo

med ieval da simultaneidade-ao-Jongo-do-tempo eacute recorre ndo

novamente eacutel Benjamin uma ideacuteia de tem po vazio e hom ogecircshy

neo em que a simultaneidade eacute por assim di 7tr transversal crushy

zan do o tempo marcada natildeo peJ a prefiguraccedilatildeo e pela real izaccedilatildeo

mas sim pela coincidecircncia temporal e medida pelo reloacutegio e pelo

calendaacute r io H

n Walter Benia min IlIU 1 irullivns p 265 ITrad da epiacutegrafe extraiacuteda da ediccedilaacuteo

bra i1cirt Afagi e teacutecnica arre e poliJica trad ~eacutergio Paulo Rouanet 7 ed Satildeo lIulo 3rls ili ILSC 1994 p 225]

-1 IlJid p 2) ~ Essa nUVJ id ia ltstiacute tatildeo pro fundamente arraigada que poderiacuteashy

nlOS Jizr que tud~ s J S principais concepccedilotildees modernas se baseiam numa noccedilatildeo de (n I rCl11cn tes~

n tendcremos mel hor por que essa transformaccedilatildeo foi tatildeo

importan te para a gecircnese da comunidade im aginada da naccedilatildeo se

w nside rarmos a estru tu ra baacutesica de duas for mas de criaccedilatildeo imashy

gi naacuter ia que fl oresceram pela primeira vez n a Europa durante o

ieacuteculo XV[[ o romance e o jornal middotmiddot Po is essas formas proporcionashy

am meios teacutecnicos para laquore-presenta r o tipo de co mun idade imashy

ginada correspondente agrave naccedilatildeo

Consideremos em primeiro lugar a estrutura do romance ao

velho estilo tIacuteplCa natildeo soacute das obras-primas de BaJzac mas tambeacutem

de qualquer li teratu ra barata da eacutepoca Eacute claramente um mecanisshy

mo para apresentar a simultaneidade em um tempo vazio e

ho mogecircneo ou uma dissertaccedilatildeo com plexa sobre a palavra laquoentreshy

mentes Tomemos para fins ilus trativos u m trecho de um en redo

si mplesem que um homem (A) tem uma esposa (B) e uma amanshy

te (C) que por sua vez tem um amante (D ) Podemos imagi nar

ullla espeacutecie de esquema temporal para esse trecho da seguinte

manetra

Tempo 11 III

4ccJl1tecimentos A discute co m B A telefona para C O se embebeda

num bar

r c I) fazem amo r B ai agraves compras Ajtnta em

casa com B

o joga bilhar tem um

pcsaddo

~ l mhora a Princessc de Clc es seja de 1678 a eacutepoca de Richardsoll Dl foe e

Fiddingc o iniacutecio do seacutecu lo X 1l1 As origens do jornal modern o estatildeo nas gazetas hlJ landcsas do final do seacuteculo XII mas o jornal soacute Se tornou Lima (atego ria geral n mateacuteria impressa apoacutes 1700 r cbvrc c Martin Thc COlllillgoftw Book p 197

55 54

lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia

e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver

feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas

(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a

l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao

entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute

possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua

sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees

(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os

le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy

do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma

tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy

gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy

cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy

ca no espiacuterito de seus leitores

A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy

gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da

ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade

soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o

ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer

e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees

36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I

li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do

37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll

pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1

linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao

a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po

5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico

com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo

39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do

ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy

tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados

Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada

J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy

11 i1111 e simultacircnea dd~s

rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os

rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras

I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas

Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o

romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy

turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro

romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy

ra maravilhosa 11

Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy

mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de

jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy

Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy

~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros

la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a

1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o

gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy

ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl

Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy

nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua

~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave

rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy

l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm

pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y

Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard

1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1

11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I

IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy

Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru

56 57

infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila

n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de

bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no

problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade

necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy

saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo

O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague

Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma

manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos

ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha

mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a

Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o

nosso Governo

Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta

nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy

tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas

anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy

res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy

da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy

satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma

ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la

so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do

tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy

dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da

snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens

auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se

tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy

de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy

bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)

Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy

mente problem aacuteticas

Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy

(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a

IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy

d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy

toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy

lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa

ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy

C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy

men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia

medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo

ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy

lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa

muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao

viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente

algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter

UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy

co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy

oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy

dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para

Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue

Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy

mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria

middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy

11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a

di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy

t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy

Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy

11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15

58 59

comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por

meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a

metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy

lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata

em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica

alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos

passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo

Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy

peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela

mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas

Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy

tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou

di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos

poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto

Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten

45 lbid p 120

46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy

sis ca po I (A cicar de Odissc u)

~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1

IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II

COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy

IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg

I deus Albl nia re ino Jgora

Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel

l u teu udcnsnr llue Igor marIS

M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1

I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy

Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy

IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1

Oacutel

Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo

Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy

meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy

( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no

Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como

suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo

mostra a forma essencial desse romance naciona lista )

Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes

influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e

aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy

dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te

que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy

sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy

quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im

gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos

Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy

trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r

nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo

nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do

interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy

sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico

ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy

nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy

quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1

Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no

movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m

s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do

middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H

4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu

61

romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy

pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo

t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado

o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica

eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de

prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva

mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea

do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se

as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou

daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu

enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)

E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy

dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto

Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo

de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco

Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste

destino publicada em fasciacutecul os em 1924

Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy

vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva

50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura

e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais

51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy

do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros

campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova

Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110

llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot

tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente

li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26

capitulas 25 c 1)

52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu

na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas

l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa

P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy

do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy

gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy

pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas

ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy

nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy

lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se

o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o

cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches

)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea

diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz

dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste

Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim

Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy

nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml

in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que

ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo

inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado

PROSPI~RlLlAj)E

Lm andarilho mendigo passou mal

e morreu abandonado no acostamento da rua

n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o

I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to

Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si

Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy

1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto

(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas

62 63

qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo

de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a

gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy

te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy

liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas

pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy

cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes

gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca

eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz

Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo

confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy

vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da

referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos

seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy

cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je

Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy

ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma

on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que

Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy

dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis

hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor

cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a

raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )

Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela

du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo

encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy

josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy

nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde

)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy

fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a

d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida

pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo

SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto

dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente

licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy

mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu

tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um

lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil

raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos

eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um

mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo

inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os

outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)

Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy

ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado

[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy

le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A

dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a

principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy

gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy

te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem

sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por

I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento

que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os

MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl

LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy

tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco

12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer

1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te

64 65

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 16: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

lote que A e D n unca S~ e ncontram durante essa sequumlecircncia

e na verdade podem ateacute ignorar aexisLeacutencilt1 LI 111 Jo outro se C tiver

feito O seu jogo dire ito t Entatildeo o que realmen te I j~eacuteI A ltl D ~ D uas

(onuacutepccedilotildees complcmenteacutelres em pr im eiro lugar pertencem a

l)(ieddde~ (Wessex Luumlbeck Los Angelcs) Essas socicuadcs sao

entidades socio loacutegicas (k u ma real idade tatildeo soacutelida e estaacutevel que eacute

possiacutevel dleacute descrever o~ seus membros (A e D) se cruzando na r ua

sem nunca se conhecerem e meltm o assim mantendo ligaccedilotildees

(l1tre si Em segu ndo luga r A c D estatildeo p resentes no espiacuterito d os

le itores o niscien tes Apenas eles agrave mll1cira de Deus vecircem A uganshy

do para C B Cazfnd o compras e D jogan d o hi lhar todos ao l esma

tel7lpo1oda~ essas accedilotildees satildeo executadas ao mesmo tem po no reloacute shy

gio e no calendaacute l-io m as por agentes qu e natildeo p recisam se conhe shy

cer e esta eacute a novidade desse mundo im aginado que o auto r invoshy

ca no espiacuterito de seus leitores

A ideacuteia de um organism o socioloacutegico atravessando cro no lo shy

gicamente um tempo vazio e ho mogecircn eo eacute uma analogia exata da

ideacuteia de naccedilatildeo que lambeacutem eacute concebida como lima comunidade

soacutelida perco rrend o constan teme nte a histoacuteria seja em sentid o

ascend ente o u descendente Um america no nu nca va i conhecer

e nem seq ller s~lber o nome da imensa maior ia de seus 240 milhotildees

36 Na verdade a fo rccedila do enredo pode depellder de que A 13 L c D no s tempos I

li c 111 nao saibam o que os outros eSlatildeo fl zcn do

37middot I ~~j polifonia epa r) decidiJlI l1 mlC o rOmll1~e moderno aI Illls mo de Ulll

pnLIlrSO r tatildeo brilhantl co mo o Satv icol d Petrocircnio Sua narrati a scgul nUllllt1

linha uacutenica Se Encoacutelp io lamen ta ~ infidclid~ dt do Se u jocm ~ mante C ito nao

a P [(~ll na (ama laquo 111 As ilto alO mC~lIlo le l11 po

5B Nesse co r1llXIO eacute dc grande proveito com parar q lla lquer roma nce his toacuterico

com donl men to ou Illtlrrt ivas do periacuteodo abonhdo

39middot la da mostra melho r a imcrsao do romlI1 ce no tempo vaio c homognco do

ltl UC a ausecircncia daq ud as gc nea logia gt no COI1l ClJ do livrn ljue mu itdS vezes rcmo nshy

tam agrave origem do hOlntt11 e que satildeo tatildeo ca racter iacutesticas das antigas 1t l1das e croacute nishyCIS c dos 1 ivrm sagrados

Jc (nll1 r atriotas Fie nagraveo tem ideacuteia do q ue ocirctatildeo fazen do a cada

J11Pt11tnln Ivlas tem plcncl confianccedila na alividade constante allocircshy

11 i1111 e simultacircnea dd~s

rmiddots~a perspectiva lulve fique menos abstralac consu ltarm os

rapidamente quatro obra de fi cccedilatildeo de d iversas eacutepocas e cultu ras

I r(~ delas ind issociavcImen te Iigadas a movi mcntos nacinna Iislas

Llll 1887 Jos~ Rizal o pai do nacional ismo fi lI pino escreveu o

romance Noli I1e lulgere hoje considerado a maior obra dl litcrashy

turl filip ina mndernd Foi lclmbeacutem praticamente o primeiro

romance escrito por u 111 iacutendio In Eis como de comeccedila de maneishy

ra maravilhosa 11

Por vol ta do fina l uacutee olltuhro Don Sanllago de In Sa ntos popu larshy

mente co nhecido como capitatildeo Tiago estava dando umil resta de

jwtar Embora ao cont raacuterio do se u coslume normal ele soacute a lives shy

Se anundado naq uela tarde ela jaacute era o assunto de todas as convcrshy

~as em Binonuacuteo elll ou tro~ bairros da cidade c ateacute em IntraJ11 uros

la Iicladl in ta na m uradl] Ndq UCJcS d ias capitatildeo l iagn ti ll ha a

1lIna de ser um anfitriatildeo generoso Sabia-se lJue a ~ua laS como o

gtIU pab natildeo fechallgt portas d nld exceto ao comeacuter-i( ll a qualshy

ljlll l ideacutei a 10V1 ou uusadl

Assim a l10v idaJe perCtlrreu Cumo um choque eleacutet ri co t COI11Ushy

nidldc de para ~il as alroveitadorts e peneI rils qu I Deus l 1ll sua

~11 Rill ecnvCLl lsSC ruacutemancc l1a liacuten gua wllln it1 (lgtPIIlIIOII 4 Ul era ll iacutengliagrave

rI 1111 dls cI itcs(( nicnmcnlL difercntes e llr ll~i itiL l l1 ltiVI O hhlO do rO ll1a nshy

l LH~iutJmheacute ll pdl l rim ci r3 vez uma im prensa naciona lis ta I1 ltlO soacute tm

pHlhol 1111 e ll1 liacutengua eacutet nicas 101110 ltl tagrllg e iloI1 1 Ver LcopolJ Y

Ihe~ The 111011lt r 11 1it trlttJre oi lhe IhiliTpinc~n 11 87-301 in Pierrc- l3e rnard

1 fOllte J)cllr~ 1(1 mbn rd (orgs) Ii rteacute((fII rc WHtII[loraincs de 115 cli 511d [1

11 lo Ri oiacute 111( (1I1I~crC ~ 11 11 i la InstItu to Nacional de Historia 197- p I

IrahlJo ITlmha Ipa ra o i ngk~l Nagrave eacutepoca da pri mei ra ediccedilJl) de culIlIl irlClds 1l~illIltII) clIll atildeo JOlllin 111l o lspanhol ( rui involllnt ilt1menl k vaJo ltl ( 011shy

Iila 1111 IJduccedillo il1stru tivli11cn te ddurpaUj de Lco ll iilar ia Gurr ru

56 57

infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila

n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de

bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no

problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade

necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy

saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo

O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague

Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma

manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos

ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha

mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a

Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o

nosso Governo

Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta

nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy

tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas

anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy

res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy

da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy

satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma

ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la

so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do

tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy

dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da

snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens

auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se

tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy

de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy

bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)

Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy

mente problem aacuteticas

Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy

(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a

IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy

d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy

toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy

lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa

ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy

C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy

men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia

medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo

ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy

lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa

muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao

viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente

algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter

UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy

co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy

oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy

dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para

Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue

Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy

mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria

middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy

11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a

di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy

t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy

Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy

11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15

58 59

comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por

meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a

metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy

lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata

em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica

alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos

passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo

Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy

peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela

mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas

Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy

tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou

di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos

poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto

Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten

45 lbid p 120

46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy

sis ca po I (A cicar de Odissc u)

~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1

IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II

COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy

IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg

I deus Albl nia re ino Jgora

Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel

l u teu udcnsnr llue Igor marIS

M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1

I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy

Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy

IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1

Oacutel

Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo

Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy

meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy

( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no

Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como

suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo

mostra a forma essencial desse romance naciona lista )

Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes

influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e

aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy

dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te

que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy

sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy

quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im

gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos

Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy

trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r

nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo

nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do

interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy

sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico

ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy

nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy

quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1

Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no

movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m

s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do

middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H

4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu

61

romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy

pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo

t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado

o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica

eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de

prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva

mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea

do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se

as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou

daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu

enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)

E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy

dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto

Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo

de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco

Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste

destino publicada em fasciacutecul os em 1924

Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy

vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva

50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura

e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais

51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy

do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros

campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova

Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110

llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot

tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente

li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26

capitulas 25 c 1)

52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu

na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas

l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa

P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy

do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy

gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy

pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas

ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy

nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy

lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se

o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o

cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches

)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea

diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz

dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste

Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim

Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy

nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml

in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que

ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo

inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado

PROSPI~RlLlAj)E

Lm andarilho mendigo passou mal

e morreu abandonado no acostamento da rua

n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o

I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to

Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si

Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy

1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto

(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas

62 63

qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo

de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a

gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy

te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy

liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas

pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy

cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes

gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca

eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz

Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo

confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy

vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da

referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos

seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy

cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je

Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy

ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma

on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que

Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy

dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis

hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor

cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a

raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )

Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela

du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo

encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy

josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy

nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde

)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy

fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a

d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida

pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo

SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto

dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente

licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy

mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu

tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um

lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil

raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos

eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um

mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo

inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os

outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)

Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy

ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado

[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy

le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A

dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a

principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy

gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy

te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem

sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por

I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento

que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os

MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl

LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy

tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco

12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer

1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te

64 65

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 17: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

infinitil bomladc criou e CClm t3 nta ternura multiplica em Manila

n~ foram procurar g raxa para as botas outros foram atds de

bot otildees de colarinho e gravatas Mas todos cs tlt1 va m ocupados no

problema de como cumprimentar o an fit riatildeo com a familiaridade

necessaacuteria para dar a impressatildeo de u ma longa amiLadc ou se necesshy

saacuterio se descu lpar por natildeo terem chegado mais cedo

O jantar etava sendo oferecido nu ma casa na rU i) An loague

Como natildeo lembramos o nuacutemero dcla va mos desc revecirc-la de uma

manei rl que ainda possa ser recon hecida - isto eacute se os terremotos

ainda natildeo a deslruIacuteram Natildeo cremos que o seu proprietaacuterio tenha

mand lt1ltIo derr ubiacute - Ia visto qm t al obra geralmente eacute deixada a

Deus ou agrave Naturezil que aliaacutes ma nteacutem muitos contratos com o

nosso Governo

Certamente natildeo precisamos fazer longos comentaacuter ios Basta

nota r que desde () co meccedilo a imagem (total mente nova na li te ra shy

tura fili pina ) de um banquete discutido por centenas de pessoas

anocircn imas que natildeo lte conhecem en tre si nos mais var iados lugashy

res de Manila n um determinado mecircs de urna determinada deacuteca shy

da eVOca imedia tamente a com unidade imaginada E na expresshy

satildeo numa casa na rua Anloague q ue va mos de~crevecirc - Ia de uma

ma neira que a inda possa ser reconhecida quem iraacute reconhececirc-la

so mos noacutes-leitores-fil ip inos A insensiacutevel passagem dessa casa do

tem po jnk rno do romance para o tempo extern o da vida cot ishy

dia nJ do leitor [Ma nila] fornece uma con fi rmaccedilatildeo hipnoacutetica da

snlj dez de uma uacuten ica CCl l11un idade abra ngendo personagens

auto r c leito res e avanccedilando no tem po do calendaacuterio l No ta-se

tambeacutem o to m Embo ra Rizal natildeo faccedila a m enor ideacuteia da ident idashy

de individ ual de seus leitores ele lhes escreve com uma intim idashy

bullj2 Nll C por clltcmplo a pJ ssagcm su til de Riza l na mesma fra~ do passado cTio L (CTiiiJ pa ra o presente reJativo-a-todos-noacutes multiplica (11 I11ltipliCltl)

Je irocirc nica como se suas relaccedilotildees reciacuteprocas natildeo fossem minima shy

mente problem aacuteticas

Nada o ferece uma noccedilatildeo mais foucaultiana de bruscas des shy

(on tinuidddes da consciecircncia do que tI comparaccedilatildeo entre Nuli e a

IllJ is celebrada obra li teraacuter icl an ter iOr de um iacutendio a saber Pinagshy

d(a l1Il1g Bulza) li Flora 11 te at ni Lalra sa CllhariangAZbania [A his shy

toacuteria de Florante e Laura no Re ino da Albacircn ia ] de Francisco Bashy

lagtas (naltazar) cuja primeira ed iccedilatildeo data de 1861 embo ra possa

ler sido escr ita em 1838 Balagtas ainda vivia quand o Riza l nas shy

C~u ma~ o mundo da sua obra-pr ima em touos ogt aspectos fun dashy

men tais eacute estranho ao el e No ZiPassa-se num lugar - uma Albacircnia

medieval fabulosa -remotamente distante no tempo e no espaccedilo

ua nin ando dos a nos 1880 Os heroacute is - Floran te um nobre aLbashy

lecircs cr istatildeo e seu gra nde am igo Aladin um aristocrata pe rsa

muccedilulmano (mouro) - soacute fazem lembrar as Fil ipinas deviuo ao

viacutenculo cris tatildeo-mouro Enq uanto Rizal espalha deliberadamente

algumas palavras em tagalog na sua prosa em espanhol para obter

UIll efei to rea lis ta~ satiacuterico ou nacionalista Balagtas mistura inshy

co nsc ientemente algumas expressotildees em espanhol nas suas g ua shy

oras e m tagalog apenas para acen tuar a grandiosidade e a son or ishy

dade da el ocuccedilatildeo Noli era para ser lida Florante at Laura era para

Str declamada O mais imp rssio oante de tudo eacute o t ratamento q ue

Ba lagtas deu ao tem po Como observa Lum bera o desenvolvishy

mento do enredo natildeo segue uma orde m cro noloacutegica A histoacuteria

middotn () rvn so da obscuridade anocircnima dos leitores lteacute[ a~ a celebridade in stun tuacute shy

11) dq ~u tur Como veremos Otildes sa oLscuridadelcek bridadt tem tudo ave r co 111 a

di IL I~(l do capi tali smo editorial Jaacute t 111 J 593 dlf LlIlS dominicanos cheios ti l inishy

t iUi tinham publicado a Doctrina Chlisliallfle m lfa nila Mas o prelo fi co u sob n~id(l CO llt role eclesiaacutes tico durlIlte os seacuteculos segu intes A liberalizaccedilatildeo soacute comcshy

Illl nos anos I R60 Ver BiC llvcnido L Lumbera 7agravegu l(lg l0el r I 570-1 1)98 I mdishy

11011 tilti illtll c llces il l ir devclopmel1l pp 3593 +-1 I lid p 1 15

58 59

comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por

meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a

metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy

lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata

em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica

alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos

passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo

Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy

peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela

mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas

Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy

tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou

di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos

poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto

Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten

45 lbid p 120

46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy

sis ca po I (A cicar de Odissc u)

~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1

IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II

COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy

IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg

I deus Albl nia re ino Jgora

Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel

l u teu udcnsnr llue Igor marIS

M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1

I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy

Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy

IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1

Oacutel

Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo

Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy

meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy

( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no

Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como

suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo

mostra a forma essencial desse romance naciona lista )

Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes

influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e

aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy

dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te

que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy

sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy

quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im

gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos

Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy

trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r

nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo

nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do

interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy

sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico

ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy

nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy

quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1

Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no

movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m

s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do

middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H

4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu

61

romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy

pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo

t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado

o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica

eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de

prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva

mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea

do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se

as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou

daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu

enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)

E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy

dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto

Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo

de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco

Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste

destino publicada em fasciacutecul os em 1924

Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy

vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva

50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura

e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais

51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy

do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros

campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova

Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110

llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot

tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente

li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26

capitulas 25 c 1)

52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu

na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas

l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa

P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy

do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy

gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy

pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas

ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy

nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy

lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se

o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o

cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches

)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea

diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz

dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste

Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim

Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy

nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml

in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que

ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo

inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado

PROSPI~RlLlAj)E

Lm andarilho mendigo passou mal

e morreu abandonado no acostamento da rua

n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o

I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to

Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si

Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy

1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto

(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas

62 63

qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo

de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a

gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy

te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy

liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas

pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy

cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes

gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca

eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz

Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo

confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy

vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da

referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos

seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy

cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je

Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy

ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma

on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que

Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy

dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis

hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor

cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a

raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )

Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela

du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo

encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy

josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy

nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde

)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy

fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a

d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida

pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo

SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto

dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente

licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy

mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu

tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um

lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil

raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos

eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um

mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo

inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os

outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)

Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy

ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado

[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy

le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A

dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a

principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy

gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy

te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem

sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por

I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento

que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os

MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl

LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy

tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco

12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer

1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te

64 65

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 18: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

comeccedila ill nedin res de modo que a trama completa nos surge por

meio de li ma ~eacuter ie de ralas que servem de fla sh backsmiddot Quase a

metade das 399 quauras eacuteded icada agrave infacircn ciaaos anos deestudanshy

lt em Atenas e agraves proezas militares de Florante que o heroacute i relata

em suas conversas com AlaJ in lI O flasllback fa lado era a uacuten ica

alternativa de Balagtas agrave narra tiva lmear ~e ficamos sabendo dos

passadossimultaacuteneos de Hora ntee de Alaom eacute porque eles estatildeo

Iigados pela conversa quccslabclccem e natildeo pela estrutura da epo shy

peacuteia Como essa teacutecnica estaacute d istante da do roma nce Naquela

mesma primavera enquanto Florante ainda estuuava em Atenas

Aladi n Foi expulso da corte do seu soberano Com efeito Balag shy

tas nunca tenta situar seus protagonistas numa sociedauc ou

di sc uti-los co m o seu puacutebl ico E afo ra a flu ecircncia meliacutel1ua dos

poliss iacutelabos tagalogs ne m haacute muito de filipino em seu texto

Em 18J 6 setenta anos antes da criaccedilatildeo de No i Jos~ Joaquiacuten

45 lbid p 120

46 A tcn ica eacute semelhan te il k Il ometo tatildeo bem discutida por Auc rbac h JvfIllICshy

sis ca po I (A cicar de Odissc u)

~- Pll tl llII 1 ltllli l ll8 flll1llllIIIIJ)lIlIl1

IIg (Igtrl llld t Ii uacuteIIlIgi cail ll U1II

COlg tl lllgl rll lIO I ClSII IItlllg pilll ldy

IJII i 111 tll[ui fllIg pll lghihillrlJrllIg

I deus Albl nia re ino Jgora

Do mal dd eacuterucluldc da bru tali dad e c da fraLluel

l u teu udcnsnr llue Igor marIS

M~fl H h~ i ll1 bmClll lJ () de ~ i no lj Ut rcrai u gtoh r~ Li1

I liacute quem in krprek ts ta fam osa ( ~ lrole ~(1 I1 I( una d ~ I lrlccedilj( w lau do pJlr ioshy

Ib mo IlIipino mls Lumbcra mostra d aramente ljue tal in terprcraatildeo seria anJ shy

IIJI1Iacutell IlgltlI(1~ HUfr) p 125 i traduccedilacirco Ipara o Il1 gleacutesl eacute dr Lu mbcra Alterci lwnlct1 C() SCll lCxlO taga log ~lgUilldo lI flla ctllcyao do poema de 197J ba~agraveua l1il ed iccedilatildeo de 186 1

Oacutel

Fernan dezde Lizardi cscrevcu um romance chamado 11 Periquillo

Sarniclto 10 Periquito Sa rnentoj qu e fo i evidentemente a prishy

meira ob ra btino-am~r i cana IJO gecircnero Nas palavras de um criacutetishy

( O esse texto eacute urna condenaccedilatildeo feroz do governo espan hol no

Meacutexico a ignoracircncia a su persticcedilatildeo e a corru pccedilatildeo satildeo tidas como

suas caracteriacutesticas mab m arcantes Esse resumo do con teuacutedo

mostra a forma essencial desse romance naciona lista )

Desde o comeccedilo [o heroacutei oacute Periquito Sarnento] eacute exposto a maacutes

influecirc nci as -criadas igno rantes incu lcam su persticcedilotildees a m5e

aceit t os seus caprichos os professores natildeo tecircm vocaccedilagraveo ou capacishy

dade pll il di sciplinaacute-lo Embora o pu i seja um homem int eligen te

que quer que o filho ilprenda uma profissatildeo uacutet il em vez de engrosshy

sar as fil eiras dos advogados ~ pnreacutelsitas eacute a matildee extremosa de Perishy

quito qu e preva1cce manda o fil ho para a uJ1i versidade e ass im

gilrante que ele iraacute apenas apren der absurdos supers ticiosos

Periqui to continua incorrigivelmente igno rante apesar d~ encon shy

trar muita gente boa e sensala Ele natildeo quer trabalh ar nem leva r

nada a seacuter io e se torna sucessivamente padre jogad or ladratildeo

nprendiz de boticaacuterio meacutedico esc ri tu raacuterio numa cicladeLinha do

interior Esses episoacutedIOS pcmuacutetern no aulor descrever liospirnis prishy

sotildees IlIgarejos dis lantes mosteiros enquanto insiste em um uacutenico

ponto pri ncipa l - que () governo e o sistema educacional espashy

nhoacuteis c-t irnl1 Iam () paraSi lb l1l o e a prcguiccedila Js avcntllra~ de Pcri shy

quil() o levam vaacuterialgt vezes a estar en tre tnd ios e negros 1 1

Aqui vemos Je novo a imaginaccedilatildeo nacional atua ndo no

movi mento de UI11 he roacutei solitaacuterio percorrendo uma paisag~m

s()cioloacutelica de lima fi xidez que amalgameacutel o mundo il1terno do

middotIX Jem r rlnw Ali itllroduClioll(J Sflllli h lI7ICfi((n itcrfllr- p H

4lt) lllirl pp lS -n (jriti meu

61

romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy

pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo

t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado

o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica

eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de

prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva

mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea

do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se

as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou

daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu

enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)

E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy

dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto

Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo

de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco

Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste

destino publicada em fasciacutecul os em 1924

Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy

vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva

50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura

e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais

51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy

do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros

campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova

Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110

llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot

tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente

li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26

capitulas 25 c 1)

52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu

na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas

l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa

P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy

do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy

gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy

pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas

ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy

nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy

lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se

o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o

cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches

)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea

diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz

dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste

Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim

Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy

nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml

in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que

ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo

inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado

PROSPI~RlLlAj)E

Lm andarilho mendigo passou mal

e morreu abandonado no acostamento da rua

n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o

I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to

Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si

Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy

1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto

(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas

62 63

qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo

de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a

gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy

te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy

liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas

pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy

cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes

gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca

eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz

Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo

confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy

vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da

referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos

seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy

cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je

Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy

ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma

on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que

Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy

dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis

hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor

cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a

raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )

Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela

du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo

encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy

josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy

nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde

)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy

fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a

d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida

pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo

SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto

dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente

licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy

mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu

tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um

lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil

raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos

eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um

mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo

inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os

outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)

Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy

ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado

[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy

le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A

dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a

principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy

gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy

te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem

sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por

I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento

que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os

MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl

LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy

tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco

12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer

1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te

64 65

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 19: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

romance ao mundo externo Esse fOllr dhorison picaresco - hosshy

pi llis prisotildees lugarejos distantes mostei ros iacutendios negros - natildeo

t po reacutem um tour du mOlldeO horizon te eacute cl aramente delimitado

o Meacutex ico colonia l Oque mais nos garante essa solidez socioloacutegica

eacute a sucessatildeo de plurais Pois eles invocam um espaccedilo social cheio de

prisotildees parecidas nenhuma delas de importcinc ia uacutenica e exclusiva

mas todas represen tatIvas (na sua exisLecircncia separada e simul tacircnea

do caraacuteter opressivo des ta colocircnia em particu ld r ~ I (Co mparem-se

as prisotildees na Biacuteblia Nunca satildeo imaginadas ( orno tiacutepicas desta ou

daquela sociedade Cada uma como a em que Salo meacute se sentiu

enfeiticcedilada por Joatildeo Bat ista eacute magicamente uacutenica)

E por fim para afastar a possibilidade de que estejamos est u shy

dando estruturas de a lgum a forma europeacuteias visto que tanto

Rizal quanto Li za rdi escreveram em espanhol aqu i estaacute o co meccedilo

de SerlarangHitam [Semarang Negro] uma novela de Mas Marco

Kartodikromo jovem indoneacutesio comunista-nacionalista de triste

destino publicada em fasciacutecul os em 1924

Fram 7 horas noite de saacutebado os jovens em Semarang nunca ficashy

vam em casa nos saacutebados agrave noite Mas nesta noite ningueacutem estJva

50 hslt movimento de um heroacute i solitaacuterIacuteltl perco rrlt ndo uma la isag-m soc ial dura

e inl]cxIacutee eacute tiacutep ico de lll ui tos dos pri me iros romances (anti lco lo niais

51 Apoacutes uma curta e meteoacuterica carreira como jorna lista radica l Milrco fo i envia shy

do pelas autoridades co lo ni ais holandlsas ao Boven D i(u l um dos prim eiros

campos de concentrltlccedilao do ITIulldoe nt errad o nos pagraventanos do in terior da Nova

Guineacute ocidental Laacute l( morreu em 1932 de pois de c i 1OOS de con fin ullCl110

llcnri Cha rnhcrg-LoirMas l1arco Kartod ik ro mo (c 1890- 1932) ou l Iduclt] lion Politiqul p 208 in Litrrirtllllres COl l empOl(lUacute1f$ de IAsie du SlId-Eif Enconmiddot

tramas uma lXpu iccedilatildeo completa e bril ha nt e da trajettiacute ri a de MJ rco 110 recente

li TO de Takash i Sh ira ishi An (~C 11 l7I otion popular radicalism inm J912-26

capitulas 25 c 1)

52 fraduccedilatildeo de Paul Tickcll em seu Thrcc (arl) illdo llCSitll1 short storits by Mas Afa rco KUrutliJro mo (r J890- 19 2 I p 7 Grifo meu

na rua Como a forte chu varada do dia todo tinha deixado as ruas

l1lo1haJas e muito escorregad ias todos haviam fi cado em casa

P ra os que trabalhavam nas lojas e esc ri toacute rios a m anhatilde el o saacutebashy

do ra um periacuteodo de ex pectativa - ex pectativa dt) lazer e da aleshy

gr iltl Je passea r pe la cidade ~ no ite mas nesta no ite fi cariam desashy

pontados - gra ccedilas agrave le targia p rovocada pelo ma u tempo e pelas

ruas pcgajosJs nos kampungs As ruas principais geralmente apishy

nhldas de t raacutensito de toJos os tipos as calccediladas gera lmen te fervishy

lhando de gente estava m todas vaziJs De vez em quando ouvia-se

o e~tJ l o do chicote de um cocheiro apressando um cavalo - o u o

cli p-c1l1p dos cascos dos cavalos puxa ndo os coches

)em ara ng lslava desert a A lU das fi las de Iam piocirces a gaacutes caiacutea

diretamente sobn O asfalto brilhante da rua Vez por out ra a luz

dl ra dos lampiotildees smaecia com o sopro do ven to vindo do leste

Um rapaz eslava sentado numa longa espreguiccediladeira de rotim

Ilndo LI m jorml Ele es taVltl completamen te ltlbsorto Sua ra iva aI tershy

nlVl-se com alguns sorrisos dando most ras claras til seu profu nduuml

in teresse nltl h istoacuteria E le virava as paacuteginas do jornal pensando que

ta lCz pudesse encontrar algo que o fizesse parar de se sen tir tatildeo

inlCliz De repente se deparou com um artigo intitul ado

PROSPI~RlLlAj)E

Lm andarilho mendigo passou mal

e morreu abandonado no acostamento da rua

n 11J1lt11 ficou comovido com essa notiacutecia cu rta Pod ia imaginar o

I)fl ime nto da pobre alma enq uanto morria no acostamen to

Nltlll 1l1ol11Cnto ele sen tiu subir uma ra iva explosiva dentro de si

Ilt lllt ro moml ntlt) sentiu pena Ma~ em out ro SUl raiva diri gi ushy

1l (ontra () sis tema social que gerava t manha pob rezJ enquanto

(n ri lluec iltl um pequeno grupo de pessoas

62 63

qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo

de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a

gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy

te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy

liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas

pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy

cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes

gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca

eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz

Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo

confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy

vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da

referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos

seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy

cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je

Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy

ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma

on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que

Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy

dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis

hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor

cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a

raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )

Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela

du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo

encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy

josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy

nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde

)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy

fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a

d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida

pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo

SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto

dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente

licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy

mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu

tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um

lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil

raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos

eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um

mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo

inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os

outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)

Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy

ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado

[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy

le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A

dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a

principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy

gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy

te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem

sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por

I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento

que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os

MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl

LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy

tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco

12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer

1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te

64 65

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 20: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

qui como em f I Periqllillo Sllnticrllo estamos num mundo

de pl urais lojas escri toacute rios carruagens ka mpu ngs e lompiotildecs a

gaacutes Como em Noi noacutes- le ito res- indoneacutesios somos imediata menshy

te mcrgulhados no tem po do calendaacuterio e numa paisagem famishy

liar eacute bem possiacutevel que algun~ de noacutes tcn ha m percorrido essas ruas

pegajosas de ~emarongAqui tJmbeacutem um heroacutet solitaacuterio eacute coloshy

cado em uma soacutecio -paisagem desc rita em cuidadosos detalhes

gcrnisMasha tambeacutem lima novidade um heroacutei cujo llom~ nunca

eacute mencionado mas eacute frequentemente citado como o 1I05S0 rapaz

Ei ustamente a ingen uidade literaacuterta e o ca raacuteter canhestro cio texlo

confi rmam a sinceridade inconscien te desse pronome possessishy

vo Nem Marco nem seus leit ores tecircm duacutevidJ alguma o respeito da

referecircncio Se na fi cccedilatildeo sofist icadamen te jocosa da Europa dos

seacuteculos XV III e IX a figura o nosso heroacutei apenas ressalta l1 ma brinshy

cadeira do auto r com um leitor (qualq uer) o oosso rapal Je

Marco indusive peja sua novidade significa um rapaz que per ten shy

ce lt1 0 coletivo de le itores de il cloleacutesioe assim implic it amen te uma

on1unidade imaginada indo neacutesiacutea em embriatildeo Note-se que

Marco 11lt10 sente llenhuma necessidaue ul especifica r essa comu nishy

dade pelo nome ela jaacute estaacute ali (Mesmo que os ~enso res co lo ni Jis

hobndesls mu ltiliacutenguumles pudcssem faz~r pMte Jl) puacuteblico leitor

cks estatildeo excluiacutedos desse nosso como vemos pelo fato de q ue a

raiva do rapaz se dirige co ntra o e natildeo o no~so sbtema social )

Fina lmente a co muniuade imaginada eacute laquo)l1fi rrnad a pela

du plaleilura noacutes lemos que o ra pa7 e- tiacute lendo Nt verdade de natildeo

encontra o cadaacutever do mendigo no tdhtamento de urna rua pegashy

josa de Semarang - ele o imagina a partir de uma notiacutecia lO jorshy

nal - F tampouco ele se import minimamen t~ com ident idlde

)1 Em 1924 ulTIgmde dmigo c alildo polf t io d~ Iar-o puhlicou um rom mC~(hlshy

fl lld ll 1~t1sll Mml~tI IgtenttndO-sl Llvrl O Scn ti mnto J Liberdade] () heroacute i do romaIl Ce seglln J o Ch~mberl Ioir (quc aliaacutes dtrI bui erroneamente a obra a

d(lll1enJigo morto ele pensa no corpo represen tativo natildeo na vida

pe soa l Lvem muito a calhar qll~ ltI ra rea um jornal na obra de ficccedilatildeo

SCll(lIWlg HilOfll pois se tgora obs~rvltlrm()s o iortlll como produto

dllt ural fiLaremos improcircsionltIJos com te u caraacuteter profundamente

licClOI1tl Qual eacute a principa l col1venccedilatildeu literaacuteria do jornal Se olharshy

mos uma primeira paacutegina qUJlquerdo Ncw )iacuteJrk Times porexemplu

tercmos mateacuterias ~obre dissidentes sov ieacuteti(os a fome em lIali um

lssassinato medonho um golpe no rraque a descoberta de um [oacutessil

raro no Zimbaacutebue e um discurso de Miacute tterrand Por que esses f(tos

eslatildeo justapostos dessa maneira O que liga uns aos out ros~ Natildeo um

mero lapricho Mas eacute oacutebvio que a maioria dde) ocorre de modo

inJependenk sem que os agenles se conheccedilam ou saibam o que os

outros estlo fazendo A arhitra r iedade na inclusatildeo e ju stap()siccedilatilde~)

Jek~ (lima ediccedilatildeo posterior iniacute substituir Mitterrand por uma vitoacuteshy

ria nu beisehol) mostra que o viacutenc ulo entre eles eacute imaginado

[~seiacutenculo imaginaacuter io proveacutem de cluas fontes indirelltltnenshy

le relacionadas A primeira eacute a 5i mples coi ncidecircncia cronoloacutegicltl A

dala no t lto do jorna l II eu emble ma nHllgt importante fornece a

principllnnexatildeo -o (lanccedilo constante do tem po va7il) e homoshy

gecircnco I Den trltgt desse tempo o 111 U lido caminha inexoravelmenshy

te em frcllte O sinal disso se depois de dois dias de reportagem

sobre a rome Mali desaparece das paacuteginas do New York Times por

I11res il fio os leitores natildeo atildeo imaginar nem po r um momento

que l1t1i lel1h1 su mido ou que a fome tenha liquidado to d o~ os

MMlIIl middot ni ll1ll idlia do sentido da pallVr3 s0cial isl1lo memo as~i rn de sentl

LJllllrfllIld m ll-cs l lrdia I Jl~ d ~1 orglt1 llizaccedilaacuteo soeill que o ccrCJ c sentc a Il lccss idashy

tI~JI lml lil ru stli hnr i1-lt111 lcs alrJ0 dedoi s meacutetodos l ill ar t ler (Mas Marco

12011 rilu l1Jeu) (l ler iquito iarn C lltl se mudou p~ ra la e para o seacuteculo xx lt Imiddotr um iornal ( o rno kr um rom ance cujo auto r tcnhj desitido de qu alquer

1lthnccedilau de (lo reve r um tmt do coeren te

64 65

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 21: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

-cus habitantes O formato romanesco do jornal lhes garante que

lJ11 algum lugar laacute fo ra o personagem llaJ i con tin u ltl a existir em

silecircnc io esperando pela r ruacutexima Ipatildericcedilio no enredo

A segunda fon te do vincu lo imaginaacuterio consiste na relaccedilatildeo

entre o jornal CO tno uma formltI d e li vro e o mercado Calcula-se

q ue nos q uarenta e po ucos anos entre I publicaccedilatildeo da Biacutebliocirc de

u tenberge o fin al do seacuteculo V tenham sido impressos 11a Eu ropa

mais Je 20 milhotildees de volumesmiddot Entre 1500 e 1600 a quantidade

impressa a ti ngiu a lgo enlre 150 e 200 milhocirces de exem pla res

Desde o co meccedilo 1 bull 1as graacuteficas se p areciam mais co m o ficinas

modernas do que co m as salas de t raba lho mo naacutestiG1S da Idade

M eacutedia Em 1455 Fust e Scb oeffer jaacute tocavam um a fir m a voltada

para a p rodu ccedilatildeo padron izada e vin te a nos depois havia grandes

graacuteficas fu ncio nando por todas as partes em toda [sic 1a Eu ropa

N um sentido bem es peciacutefico o liv ro foi a primeira mercadoria

industrial com produccedilatildeo em seacuterie ao estilo moderno ~ Esse senti shy

do ficaraacute m ais claro se compararmos o livro com o utros produ tos

industria is daqueles tem pos como tec idos t ijolos o u accediluacutecar Po is

55 ~cbT c Ia rt in lhe COIIing lftllt B(lok p 186 Isso co rrespu ndia a nada

menos qllC5 mil cd i ~()e r LI Ulicad as e m nada menos que 236 cidad s jaacute em

1480 as li ~ografias se espa lhavam por mais de 110 LidaJ es endo cinqlienta na

atual Itaacutelia trinta lla Alema nha nove na Franccedila oito na Holanda e na bpJ nha

cinco nltl Heacutelgi(a c n1 S ui~ a ([ullro na In glaterra JUlS na Boem ia e uma na Polocirc shy

ni A part ir dcsSil J atJ podL-sc dicr t[ lIillto agrave Europu que o ItVnl im presso se

lornuu de li SO uniVLr~a I (p 182) 56 lbicl p 262 Os ilulun COlllentam que no s6ulo XVI os li vros estavam agrave J ismiddot

posiccedil1O imediata de qudquer um que oubtgtltostmiddot le r

~- groacutelnde ed itora de Ilant in na Antueacuterpi a no comeccedilo du s(cuh XI CIntr ola shy

va 2J gdti ~ ils (O rn mJis d ( cm trahaUlldorescada urn auacuteid p 125

~x ESk eacute um ron to li J t01cnte defendido por tvlarshtll tvk LlIh all no meio de S llil~ divilblOacutelS em Dll tCIlcrs g( a ) (p 1 2 ~ ) PodemO) olCrlSCcllt ar que se o

mercado td itori1 acabou diminui ndo com a prltssJo de mercados deo lltros uens

~1 l L onsumo mesmo assim seu papd s trat~gi co na d isstminuatildeo ele i deacute i a~ garan shytiu sua importagravencia tllndamelltal no desenvolv imento da Europa moderna

66

C~~lS me rcado rias sagraveo m edidas em quantid ades m atemaacutet icas

(Pcccedilts cargas ou Ub ras ) Uma lib ra de accediluacutecar eacute apenas uma quan shy

tIacuteLLldc u m volume p raacute ti co natildeo um objeto em si Jiacute o livro - e aqui

de frefigura os bens J uraacuteveis de nossa eacutepoca - eacute um objeto disshy

tinto contido em si mesmo reprod uzido fi elmente clll larga esca shy

la Uma li bro d e accediluacutecar escorre e se junta agrave libra seguinte caJ a

livro tem a sua auto- su fici~n c ia de anacore ta (Natildeo eacute de se admirar

que as bibliotecas coleccedilotildees pessoais de mercado rias prvd ulIacutedas

em seacuterie jaacute fossem um fenoacutemcno corrente 110 seacuteculo XV I em censhy

tros urbanos como Paris

Desse ponto de vista o jorna l eacute apenas uma forma extrema

do livro um livro vendido em escala colossal mas de popula ridashy

deerecircmcra Seraacute que podemos d iiacuteer best-sellerspor um ltl ia 01 Mas

a obsolescecircncia do jornal no dia seguin te agrave sua edi ccedilatildeo - eacute curioso

que Ullla das pr imeiras mercadorias de produccedilatildeo em seacuterie jaacute pre shy

nunciasse a obsolescecircncia intriacutenseca dos bens duraacuteveis modernos

-cria e justamente por essa mesma razatildeo uma extraordinaacuteria

cerimocircnia de massa o cons umo (a criaccedilatildeo de imagens) quase

5) Aqui o princiacutepio eacute mais importante do que a escala Iteacute o seacuteculo XIX as edishy

~oe~ ainda eram relatia mente pequenas Mesmo a Biacuteblia de Lutero best- seller extraordinuacute io kve uma ediccedilatildeo inicial de apenas 4 mil exem plares A primeira

ediccedil5u da firlcyclopeacutedie de Oiderot que foi excepcional para os padrotildees da poca

natildeu ultrJpassou 4250 rxemplarcs J tiragltm media no seacuteculo XVIII era inferior a

2 rni lcxcnlp lares Febvree Mart in TheComil1g o(Ihe 13ook pp 218-20Ao mesmo

l~mpoo li vro sem pre se dis tingui u dos outros bem de conSlllllO du rltl vc is pelo seu

Ill tlli1Jn int rinsecamente limitado Qualquer ressoa com dinheiro poJe comshy

prr carros tchecos mas apenas quem lecirc tchc(u compraraacute livros escritos nes te

id ipl11J Veremos mai~ adiante a importacircncia dessa dist inccedilatildeo

10 tleacutelll d i ~I) jaacute no final do seacutecu lo X o editor middotncuumlano Aldus foi pioneiro na ediccediliio d holso portaacutetil

ti l Como mostra o caso de Semamllg rfitlllll os dois tipos de be f-sdlersestavam ma is pnhimos do que hoje Oickens lambelll publicou capiacutet ulos de seus roma nshy IS plll ulres em JornaLS populares

67

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 22: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

lo ta lmcnte sim ul tuacuteneo do jornal -co mo- fi cccedilatildeo Sabemos q ue as

ediccedilocs matutina e vespert inas vatildeo ~er m aciccedilamente co nsum iuas

entlT esta e aquela hora apenas neste e natildeo naquele dia (Com shy

pare-se com o accediluacutecar que eacute usado n um Iluxo contiacutenuo e sem conshy

trole de horaacute rio ele pode em ped rar mas natildeo perde a validade) O

signifi cado dessa cerimbni de massa - Hegel observou que os

jo rnais satildeo para o homem moderno um mb~tituto das oraccedilotildees

matinais - eacute paradoxal Ela eacute realizada no silecircnc io da pri vacidade

nos escminhos do ceacuterebro r E no entanto cada participante dessa

cerimocirc nia tem clara consciecircncit de que ela estiacute sendo repetida

si multaneamente po r milhares (ou mi lhotildees) de pessoas cuja exisshy

tecircncia lhe eacute indubitaacutevel n1ltls cuja identidade lh e eacute totalmente desshy

conhecida Aleacutem disso essa cer imocircnia eacute incessan tem ente repet ida

a in te rval os diaacuter ios ou duas vezes po r dia ao longo de to do o

calendario Podemos -onceber uma figura mais cla ra da comunishy

dade im aginada secular histo r icamente regullda pelo reloacutegio

Ao mesmo tem poo leitor do jornalao ver reacutepl icas idecircnLicassendo

cons um idas no m ctrocirc no barbeiro ou lO bairro em q ue mora

reassegura-se con tinualllen te das raiacutezes visiacuteveis do mun do imagishy

nado na vida cotidia na Como em Nali liC In ngere lt1 ficccedilatildeo se infilshy

62 )s matcriuis imp ressos incentivavam uma 1 (e(1 silt-nciosa a lta usas CtlJos

le(cnsmes nJO ~c encontravam cm nell hu l1lloClt11 drtcTm inado YUt ~lt di rigiJ m

agrave di sl J ll cia a um puacutehlico invisiacutevel Elizabet h L Eisctlstein ltl m( conj~ l u rt

bo ut lhe irn plc t (Jr p ri nlillg pn Ics t rn ocit tY Jml thought f0110 I nMldcrII 1I51))1O 1 (mallt( 196Rl p middot12

6) rscrc(ndn ~nbrc a relaccediljo nt rc a ana rqu ia lOllc rclltl dJ socitdldc de clltlssl

meacutedia e u ml ordem pnlllica (1eIldo I bsl mIa Nlirn ohc IltIHe (I mecan ismo

lepreClllntivo converteu a desigualdade n lt11 dtO daslts no iguilliltl ismo lb~ t ratt

dt1 illdatildem O~ qt)iacuteSnlth in dividua is nllm] vonlade (I ItlivltI nnpcsn31 dq li i lLl

lt[U I dI lIt to muJo ~e r i J um CiillS nu 111 I1lWJ legi t imidade do Es tado rhdmnkshy11[ 4 firitI p 24 SC 1I1 dUacuteviJa MI n mCGl n imo represen tativo (15 elc lccedilties) li (ltlmo lm fniado In to A nleu wr1 glstJ~~() da vu ntltlde illl pl~soal se daacute na~ rullr idJcs di ir i a~ da id1 T ia nJIl image n

6R

Ir) Clnt iacutenua e silenciosa na rea lidade cr iando aquela ad miraacutevel

cOllfiHlccedila da co m unidade no anon imato que constitu i a marca

regislrada das naccediluumles modernas

Antes de discu tir as origens especiacuteficas do nac ional ismo talshy

v seja bom recapitula r as princ ipai s proposiccedilocirces expos tas ateacute

gnra Basicamente sustentei q ue a proacutepria possibil idade de imashy

~inr a naccedilatildeo soacute surgi u historicamenlc quando e onde trecircs con shy

cepccedilotildees culturais fund amentais todas muito antigas perderam uuml

domiacutenio axiomaacutetico sobre a mentalidade dos homens A primeira

dcla~ eacute a ideacuteia de que umltl dcterminadaliacutenguJ escrita ofereocirca um

lCCgt1l privilegiado agrave verdade ontoloacutegica justamen te por ser uma

paltt indissociltivcl dessa verdade Foi essa ideacuteia que g~rou os granshy

de irmandades transwn tinentais da cristandlt1d~ do Ummah islacircshy

111 ico c de outros A segunda eacute a crenccedila de que a ~oi(dade se orgashy

nizll na turalmente em torno e abaixo dt centros eleados shy

11onarcas agrave parle dos outros seres humanos que governavam por

llmJ csprcie de graccedila cosmoloacutegica (di ina) Os deveres de lealdashy

de -ram necessar iamente hieraacuterquico e centriacutepelos porque o

governa nte tal como a escrita sagrada constituiacutea um elo de acesso

lO sere era in tr iacutenseco a ele A te rceirl eacute uma concepccedilatildeo da temposhy

ralidade em que a cosmo lo~ia e a histoacuteria se confundem c as orishy

gens do mundo e dus IWl1lens satildeo essencialmente as mesmas Junshy

talt c~sas ideacuteias enraizavam profundamente a vida huma na na

Ir()pria na tu reza d1S co isa conferinuo um certo sentido agraves fata lishy

dades diaacuteria da existecircncia (sobretudo a morte a perda e a se rvishy

datildeo) ( o fcrecendo a redenccedilatildeo de maneiras variadas

O decliacuten io lenlo e ir regular dessas convicccedilotildees m utuamenle

clIlrelaccedilada prime iro na Europa Ocidental c depois em outros

luglIC ~ob o impacto da transformaccedilatildeo econocircm ica da descoshy

hClll (~OC i l i s e cicntiacutelicas) e do deenvolv imenlo de meios uc Wll1Llnlcaccedilatildeo cada vez mais VdO~~ levou acirc LIma brusca clivagem

6

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 23: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

ent re cosmolugi a e histoacuter ia Dess( modo natildeo adm ira que -e inishy

ciasse a busca por ass im dizer de uma nova man eira de un ir signishy

fi cil tivamente a fratern idade o poder e o tempo O d em ento que

tal ve7 mais ca taliso u e fez fru tificar essa busca fo i o capita J i ~lTIo

edi to rial que permi tiu que as pessoas em nuacutemeros sempre mJioshy

res viessem a pensar so bre si m esmas e a se relaci o nar co m as

demais de manei ras radicalmente novas

70

t

2 As origens da consciecircncia nacional

5e o desenvolvimen to da imp re nsa como mercadoria eacute a

chwc para a criaccedilatildeo de ideacutei as inteira men te novas sobre a simul tashy

neidade ainda estamos simplesmen te no po nto em que se to rnam

pnssiacutewis as comunidades de tipo horizontal-secular transtemshy

pltgtrai~ Por q ue a naccedilatildeo se torn o u tatildeo popular den tro desse 1ipo de

comun idade Eviden te lll ente o s falo rec satildeo muacuteltip los c com pleshy

xo~gt lTI1gt pod emos susten tar com fu ndadas razotildees que o prin ci pal

deles Co i o capitalis lTlv

Como ro i notado em 1500 jaacute hav iam sido im pressos pel

menos 20 m ilhotildees de liv ros assinalando o cu m eccedilo da era da

rtprod uccedilatildeo m ecacircn ica d e Benj amin Se o con hec imenlo pelos

manlls(r itos era um saber restrito c arcano o co nhec imenlo pela

letra impressa vivia da reprodu tib ilidade e da d issem inaccedilatildeo- )c

COllln crecircem f ebne e MJrtin em 1600 jaacute havia m sido cd itados

I popu lCatildeo das jlarll~ J Europa onde iaacute havia illlprensn gilIVa ( 111 torn o de i O) nlillligtlt de p t~sos Febvre eMnin f ite Comillg of lhe 1300k bull pp 2-18-9 1 1Xt111p llr eacute o Uacute1SO elas jltlgel l de Marw Poacutelo que crnm quase dCSCO ll hccid 1S

ltll e a Iril11ci r~ ld iagraveo em i 559 Pui o 7irwel5 p x iii

71

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 24: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

cerca de duzen lot milhuuml~s d e vu lumes natildeo ad m ira que francis

Bacon julgasse q ue a imrrensl Itllls fo rm ara o aspecto e a condishy

ccedilatildeo do 111U ndo

cndo lima 115 pri meirlt1gt t()rmas de empreenJ imento capishy

ta l ista () setor eJ i torid l l~vc de pruacutecederagrave busca incansaacutevel de mershy

cado como eacute proacutep rio ao ilri talisfl1o Os pri meiros eJitores esLashy

bdeceram ram ifi caccedilotildees por toda a tltropJ lss irn se criou uma

verdadeira in ternaronll oeediloraique ignora a m as fron teiras

naciona is [si c] E como os anos 1500- 50 foram um periacuteodo de

excepcional p rosperidade europecircid o setor editorial par t ic ipo u

desse IlOom geral Mais do q ue em qualquer mitra eacutepoca o selo r

era uma gran d e inJuumlstr ia ob o co ntrole de ca p italis las ricos

Nat uralmen te os livreiros esLavam in te ressados basicamente em

ter luc ro e ven d er produtos e portanto prouravam acima de

tudo obras que [osem do interesse do maio r nuacutemero pllsiacutevel de

scus contem poracircneos

mercado in icial era a Europa lelrJd a uma camada ampla

mas delgada de leito res d o latim A sa tu ra ccedilatildeo desse me rca do

levo u cerca de 150 a nos O fato dete rminante no la tim - afora a

su a sacralidade - e ra que consist ia num a liacutengua de b iliacuten guumles

Rela tiva mente poucos chcgavam a falar latim e - imagina-se

- menos a inda sonhavam cm latim No seacutecu lo X l a proporccedilatildeo

d e bil iacutenguumles na pop u la ccedilatildeo total da Europa era bem red uLida

3 Ci t illli~L Il l ci n Some ( JI1(((U rcs ~ p 56

4 r dw n l Ihlll ill Tile Cnlllilg O Ih Hook p 1~ lMas no texto origina l consta

peacute nIS plr-dcssu le frolllii rcs panl J leacutem dl~ fronl~ ira I ppJrilitll -l l84)

5 Jlrid p 187 O tcto m iginal d iz plSIIIII (pueacuteit ro)oI e Ilao ri CIlS l Apshy

flrilnll p 281 6 In r isso a in trod ua) (iJ lll prcIbd fo i ~(j b lts tC aspecto um dpa J o pcr~lI rso

alimiddot nossa tua l sociedade deconslI mo de 1ll1ssas Cdc padronizu io irid pp 259

60 (O lcX IO urigi nd d iz une ci i lisl tio n de Illasse el lk stundJrdi~a lio ll lU l ri a

mclhnradUir pori ililaao ele 111IS pltlclronizadJ Clppnritio rr p 39 1)

l11u ito provavelmente igual agrave pro po rccedilatildeo no m undo de hoje e shy

Ipesa r Jo internacionlismo proletaria - dos seacuteculos vindou shy

rmiddotm O grosso d a hu m a nidade seia an tes o u agora eacute monoglo ta

Assim a loacutegica do capitalismo dizia que saturado o m ercad o em

11 t i III pa ra a elite ser ia a vez dos mercados potencialmen te e no rshy

nltS d1S massas monoglotas Eacute ve rdad e q ue a Cont ra -Reforma

propiciou uma retomada temporaacuteria das ediccedilotildees em la tim mas

em meados d o seacutecu lo XV II esse movimen to comeccedilou a Jecai r e as

hibliotecas fervorosa m ente catoacutelicas es la a m repletas Nesse

iacutenterim uma escasez gera l de d in heiro na Europa levou os eelishy

toresa pensar cad a ez m ais na ve nd a am bulante de ed iccedilotildees bara shy

ta) em vernaacutecu lo

O revolucionaacute rio i mp u lso vernaculiza nte do capitali s m o

ganhou im peto ainda maior graccedilas a trecircs fatores ex ternos d ois dos

quais(ont rib uiacuteram diretame nte pa ra o su rgimento da consciecircncia

nJLjonal O primeiro e 11 0 fundo o menos import ante foi u m a

mucLll1ccedila no caraacute Ler do p roacuteprio latim Em virtude do trabal ho dos

humm ist as q ue ressuscitaram a vasta literatura da An tiguumlidade

pre-cr istJ e divulga ram -na atraveacutes do mercado ed itoria l a intelecshy

tual idade t ra nseuropeacuteia p ~ISSOU a nutrir um novo ap reccedilo p elas

sofisticadas real izaccedilotildees est iliacutesticas dos antigos O latim que agora

des queriam escrever era cada vez m ais cicero niano e aleacutem disso

cadl vel mais lt1fa~tado d a vid a ecles iaacutest ica e co tid iana Assim ele

adquiriu uma qu al idade eso teacuterica muito di fcren k d a do la tim

eclcsiaacuteti~() dos tem pos medkva is Po igt o latim an ter ior era arcano

natildeo por Clllsa do assunto ou do estilo m as pura c simplesmen te

porqu~ era esc rito ou seja g raccedilas agravesua cond iccedilatildeo d e texto Ago ra ele

se tornava arcemo por conta do que es tava escr ito po r conta dlt1 liacuten shy

gl1n-elll - ~i

() segundo foi o impacto J a Reforma 1 qual aliaacutes ve io a dewr

~ lI rd 11 195

72 73

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 25: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

grande par te do sucesso ao capitnlimo ed itor ial Antes da eacutepoca

do prelo Roma vencia fac il mente todas as guerras contra a heresia

na Europa O ciden tal porque sempre d ispocircs de linhns de comunishy

caccedilagraveo in ternet melhores do que as d ogt ldve rsaacuterios Mas quando

Ma rtinho Lutero afixo u suas teses na porta da igrejn em Vitten shy

berg em 151 7 elas fomlTI traduidas e impressas em al ematildeo e em

quinze dias Ijaacute t inham sido 1vistas em tod as as par tes do paiacutes ~

Entre 1520 c J 540 publicou-se na Alemanha o tr iplo do que havia

sido editado entre 1500 e 1520 t rans[omlaccedilagraveo assombrosa em que

Lutero desem penhou um papel ab solutamente cen t raL Nad a

menosdo que 13 de todosos livros em alematildeo vend idos entre 1518

e 1525 era obra sua Ent re 1522 e 1546 foram lanccediladas 430 ediccedilotildees

(integrais ou parc iais ) das suas t raduccedilotildees da Biacuteb lia Temos aqui

pela pr imeira vez um p uacuteblico lei to r real mente de massa e u ma liteshy

ratura popular ao alcance de todos) Com efeito Lutero se to rnou

o primeiro autor de best-sellers conhecido (amo tal Ou em outras

palav[Js o primeiro autor capaz de vender os seus novos li vros

pela fama do p roacute prio nome IO

Lutero abriu o camin ho e logo out ros se segui ram inaugushy

rando a gigantesca guerra de propaganda religiosa que se alastrou

pela Europa no -eacuteculo ~egu jnte Nessa titacircnica batalha pelo espiacuteshy

rito dos homens o protestantismo sempre m anteve a ofens iva

justamente po rque sab ia como ut ili7a r O mercado editor ial ve rnaacute shy

culo que esta va sendo cr iado e expandido pelo capitalism o

enquanto n Contra-Reforma defendia a cidadela do lat im Ern bleshy

maacutetico eacute o Jnaex Librorum Prohibitorllll do Va tica no - que natildeo

8 JJid pp 289-90

9middot Ibid p p 29 1middot 5

l O Daq ui to i JJl clla~ um p dSS O a teacute a s i tuaccedil~o da F ran ~ i1 s isu n tis ta e m q ue

Co rn eil k Moli i re e La [o nta in r podi am c nd er as suas t rag(d ias c comeacuted ias

m anusc ritas IOS cdilPrcs que a~ adqui riam co mo (xcct- nt (s investimen tosdevishy

do il fam a dos a u tore no lllc rcado l bid p 16 1

leve nenhuma con trapartida pro testan te - cataacutelogo ineacutedito que

~e laacute necessaacuterio devido agrave enorme quantidade ue material subver shy

sivo Impressu Natildeo haacute exem plo melhor dessa m entalid ade de cerco

Jll que a ki de J 535 de Francisco I proibi ndo por pacircnico a p ubli shy

caccedilI) de todo e quoq uer livro no rei no - sob pena de morte na

fonJ A razatildeo da pro ibiccedilatildeo m as tambeacutem da sua inaplicabi lidade

era que naquda eacutepoca as fronteiras orientais do reino estavam

cercadas de cidades e estados protes tantes produzindo uma quanshy

tiJadc maciccedila de materi al impresso que pod ia ser contraband ea shy

do Para citar somente a Genebra de Calvino ent re 1533-40foram

publicadas apenas 42 ed iccedilotildees mas os nuacutem eros salta ram para 527

entre 1550-64 sendo que nesll uacuteltimo ano havia nada menos q ue

quarent a gniacute fi cas diferen tes trabalhando em regime de h ura

extra I

A alianccedila entre o protestanti smo e o capitalismo edito rial

explorJndo ediccedilotildees popula res baratas logo criou novos e vastos

puacutehlicC)~ le ito res - entre eles de im port fmc ia nada pequena

comerciante e m ulheres que geralmente sabiam pouco ou nada

de lallm - ao mesmo tempo que os m obilizava para finalidades

poliacutetico- religiosas Inevitavel mcn te natildeo foi apenas a Igreja que se

viu abalada no seu proacuteprio cern e O mesmo terremolo gerou os

primeiros estados natildeo-d inaacutesticos europeus q ue natildeo eram cida shy

ues-cstado n1 repuacutebl ica holandesa e no Commomvealth dos purishy

tanos (O pacircnico de h anc isco I aleacutem de rel igioso era poliacutet ico)

O tercei ro fo i a d ifusatildeo lenta geograficamente irregular de

determ inados vernaacuteculos co mo instrumen tos de centralinccedilatildeo

admin i ~Lra tiva por obra d e certos monarcas bem posicio nados

com prdcllsotildees absolu tistas Aqui cabe le mbrar que a unive rsali shy

dl ue do [Ilim na Europa Ocidental medieval nunca correspomk u

a Um sistema poliacutetico un ive rsaL A esse respeito eacute instrut iva sua

II hi pp 310 5

74 75

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 26: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

diferenccedila com a Ch in a Im perial onde hav ia ullla grande coincishy

dincia entre a burocracia do mandarinato e o domiacutenio da caligrafia

de ideogramas Com efeito a fragmenttlccedilatildeo poliacutetica da Europa Ocishy

dental a poacutes a q ueda do Im peacuteriu do Ociden te significava que

nenhum soberano poderia monopoli7ar o latim e convertecirc-lo em

sua-e-exd usiva mente-sua liacutengua oficial e por isso a auto ridade

religiosa do la tim nunca teve um verdadeiro cquivalen te poliacute tico

O surgime nto dos vernaacuteculos ad ministrat ivos eacute anterior

tanto ao prelo quanto agrave revolta reLigiosa do seacuteculo XVI e por isso

deve ser abordado (pelo menos de iniacutecio ) como um fator indepenshy

dente no desgas te da comun idade imaginada sagrada Ao mesmo

tem po nada sugere que existi sse qualq uer profundo im pulso

ideoloacutegico e menos ainda proto nacional por traacutes dessa vernacushy

liza ccedilatildeo onde ela veio a ocorre r O caso da Inglaterra - na perishy

feri a n0roes te da Europ a la tina - eacute especia lmente elucidat ivo

Antes da conqu ista normanda a liacutengua da corte literaacuteria e admishy

nistrativa era o anglo -saxatildeo Nos 150 anos seguintes praticamen shy

te todos os docum entos reacutegios fo ram redigidos em latim En tre

1200 e 1350 esse latim oficial fo i substituiacutedo pelo franco- norman shy

do Entremen tes uma lenta fusatildeo entre esa liacutengua de uma classe

d ir igente es trangeira e o anglo-saxatildeo da populaccedilatildeo de suacuteditos

gerou o meacutedio -ingl ecircs [early english l Essa fu satildeo per mitiu que a

nova lin gua se tornasse apoacutes 1362 a liacutengua das cortes - e da sesshy

sagraveo ina ugural do Parlamen to Segue-se em 1382 a Btbl ia manuscrishy

ta de Wycl iffe em vltrn~cu lo - f essencial ter em mente q ue esta eacute

uma sequumlecircnci a de liacutenguas ofici a is nacirco na cio na is e que o

Estado co rresponden le abrangia vari ando no tem po natildeo soacute a

at udl Inglaterra e Gales mas tambeacutem partes da Irlandtl Escoacutecia e

Fra llccedila Evjden temen te uma imensa parcela dos suacutedilos natildeo

conhec ia nada o u quase nada de latim fran co-no rman do ou

l~ Seton -ll son Vtl lirlm and ~t l tmiddotS pp 2R-9 Blo(h FltlIdal Sltlc iclr I p 7~

IllCJ io- ingl ecircs Foi som ente depo is de cerca de cem anos de entro shy

nizlCcedilio poliacutet ica do meacuted io-inglecircs que o poder de Londres fo i varrishy

do dltl Franccedila

Jo Sena ocorreu um m ov imen to semelhante embora em

ritmo ma is lento Como ircllliacuteza Bloch o francecircs quer d i7e r uma

l iacuten~lla que era vista como mera corruptela do latim levou m uitos

seacutecu los para se alccedilar ateacute a di tnidade literaacute ria 11 soacute se tornou a liacutenshy

gua ofiLia l dos tribunais em 1539 quando Francisco I lanccedilo u o

FdilO de Villers- Cotterecircts Em outros reinos dinaacute sticos O lat im

sobreviveu po r muito mai Lempo - sob os Habsburgo ateacute anos

bem ava nccedilados do seacutec ulo XIX Em o utros ainda os vernaacutec ulos

cstrangeiros acabaram prevalecendo no seacuteculo XVjH as liacutenguas

da corte Romano eram o fra ncecircs e o alematildeo

Em todo caso a escolha da liacutengua aparece como fruto de um

dcsenvolvimento gradual inconsciente pragmaacutetico para natildeo di shy

zer aleatoacuterio Enquanto ta l ela se diferencia profundamente das

pa i iacutetica I mguumliacutesticas a utoconscientes dos dinastas o itocentistas

diante do crescim ento de nac ionalismos linguumliacutesticos pop ulares de

oposiccedilatildeo (Ver adiante cap iacutetulo 5 ) Um sinal claro dessa diferenccedila

c quc as antigas liacute nguas admin istrativas eram C1 penas isso l iacutenguas

lI sltl das pelo e para o funcionalismo e para a sua proacutepria conveshy

niecircncia i ntern a Natildeo havia a ideacuteia de impor sistematicamente a liacuten shy

gua agraves vaacuterias pop ul accedilotildees sob o dom iacutenio dinaacutest ico I Co ntudo a

1 -Jao dtnmos supor que a unificdccedilatildeo vernacu la r 3dmi n is l raliva tenha se rea

Ii Ido de im middotuJ ItO o u de iacuteorma in teg ral ( improvivcl q ue a C uiltlna governada a

partir Jt 1011d 1C~ (uumlsgtc admin is trad a primariamente c ll1l1ltdio -inglecircs

11middot 1I ll h Ewllll sooacutect) middot I p 9R

1lt ~ll(ln -Wahon Nfltions and s res p ltI R 16 Ihirl p ~3

17- 1 I fll Ullla Cltl n tirmaccedilao interessan te desse po nto co m Francisco I que co rno

l il110Pnlil1iu a illl prcSilo de todo e qualquer livro e m 1535 e ado tou o fra ncecircs

(1)11111 a lingUil da t o rte q uatro a nos de pois

77 76

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 27: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

a1gt(cllsacirco desses vernaacuteculos agrave co nu iccedilatildeo de liacuten guas oficia is onde

tIS C111 certo sent ido concorriam com o latim (o francecircs em Paris

o meacutedio-inglecircgt em Luuml ndres ) contribui u punI o decliacute n io da COtnU shy

uidlde im aginada d a cr istandade

No fun do eacute p rovaacutevel que nesse contexto a tsoterizaccedilatildeo do

lati m a Reformd e o d esenvolvimento aha toacuter io de ve rnaacutecu los

admin istrat ivogt te nham um significado bas icamen te negativo shy

a ~aber a sua cont r ibuiccedilatildeo pa ra destronar o la tim Eacute plenam tn tc

possiacutevel conceber o surgimento das novas com unidades naci onais

im aginadas sem li m desses fa tores ou m esm o sem n en hu m deles

O q ue torn o u possiacutevel imaginar as n w as com unidades num sen shy

tido positivo foi um a interaccedilatildeo m ais o u men os casual poreacutem

explosia ent re um m odo de prod uccedilatildeo e de relaccedilotildees de p rod uccedilatildeo

(o cap ita lismo ) u ma tecnologia de co mu nicaccedilatildeo (a imp rensa ) e a

fatal id ade da d iversidade linguumliacutestica hu m ana

O elemen to d a fatalid ade eacute esse n cial Po is por mais Cj u e o

capitalismo fosse capa de p roezas extraordinaacute r ias ele enfren tava

do is ad versaacuterios fer renhos na morte e ilas liacute ngLlas ~ As liacutenguas parshy

ticulares pod em m o rrer o u ser nter m inadas mas natildeo havia e natildeo

haacute nen huma possibil idade de uma unificnccedilatildeo linguuml iacutestica geral da

humanidade No e ntanto histo r icamente essa muacutetua incom un ishy

cab ilidade natildeo fo i de grande importacircncia ateacute o momento em que

o capitalismo e a imprensa cr iaram puacuteblicos leitores de massa e

l11o noglotas

18 Nw ro iu primeiro acaso d lS$~ tipo l-ebvrlt ( MJ rtin observa m que embora

jiacute ro~se visiacutevel] existecircncia lt1lt urnl burguesia na Europa no tin al do seacuteculo XIII o

l iSO generali7ldo do papcl soacute ocorreu no fi nal do seacuteculo XI middot Apenas a superflck

plJIlJ c lisa do papel poss ibilitaria I rcproduccedilAo em seacuterie de textos c fi guras-e isso soacute se ver ificou nCl S7 a nos seguintes ~ [as o pJpel l1J0 foi uma innccedilatildeo euroshy

peacuteia l1t ve i0 de uma ou tra histoacuteri a - da China - passando pelo mundo iacuteshi shymico [he w millg ofllIe book pp 12 30 ~ -15

19middot l indJ natildeo temos nen huma lTIultinacional gigal1te no mundo editoria l

78

Emhora seja fundam ental ter em mente a id eacuteia de fa talidade

tll) ~middotnti do de li l11a cond iccedilatildeo glm l de d iversidade lin guumliacutestica irrem eshy

dilvel seria um erro iden liCicar csa ideacuteia co m aque le elem en to

((J1l111 t11 atilde ideo logias nacional istas que insiste D a fatcl lidade prirnor shy

d iltd das liacute nguas f articlllnles e em sua ligaccedilatildeo com unidaJes terri to shy

ri1j~ ttmbeacute m partiCllllres O e~ltencicl l eacute d inlen l(ilo entre fata lidade

teo1(llngi1 e capita l i~mo Na Eu ropa anterior agrave im prensa c claro em

IOdo o resto do mu ndo a d ivcrsid~de das liacutenguas fa ladas aqudas

que rorneci am J trama e a urdid ura da vida de seus usuaacuterios e ra

imensa tatildeo imensa de fa to que seo capitalism o editorial t ivesse tenshy

lado ex plora r cada mercado vcrnacular em potencial teria adq ui rishy

dD dimensotildees m inuacutesculas Mas esses idioletos va riados podiam ser

montados den tro de cer tos lim ites como liacuteng uas im p ressas de

nuacutemero mui to mais redu zido Aproacutepria arbitrar iedade de qualquer

sistema de signos para os sons facili tava o processo de montagem ~

(Ao mesmo te m p o qua nto m ais ideograacutefico s os signos m aio r a

pnten(ial zona de montagem Aq ui podemos enxerga r u ma espeacutecie

de hierarquia decrescente desde a aacutelgebra passando pelo ch inecircs e

pelll ingJeacutes ateacute os silabaacuterios regulJres do francecircs o u do indoneacutesio )

Nada ~trv i u melhor pa ra montar vernaacuteculos aparentados do que

o capital ismo o q ual dentro dos lim ites impostos pela gramaacutetica e

pela sintaxe criava liacutenguas impressas rep roduzidas mecanicamenshy

te capales de se d isseminar a traeacutes do mercado I

bsalt liacutenguas impressas lanccedilaram as bases para a consciecircncia

nacional uc trecircs maneiras diferen leso Fm primeiro lugar e aci ma Jc

20 middot 111 u n 1 lo Jiscusacirco sob re e~t e PQ llto ve r S 11 Steinberg ri le IlIIltdrcri ycm oflrilll ilt capo 50 fato de o s i~ no ollgh ler di ferentes pronuacuten cils nas pala shy

Vra tlllhlltl~h bDlIglt lougli rOlgiz nlllgh c hic((IIgh most ra tlIlto a vHieda de

Iclill I11 de 0nde surgiu a pronLlIl cia padronizada do in glecircs quanto a ljualiJade IJcugrlflca d() produto fin al

li fol l digo nada crviu melhor r ]do que li cap italismo deli beradamente Tanto ~kil1lr l E fi q Jlnto lSenstelll qu ase teornor lzarn a lmprena em SI como o gel1lo

79

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 28: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

Iudu das criaram campos lInificado~ de intcrdmbio c comunica shy

ccedilatildeo abaixo do latim e ac ima dos vernaacuteculos falJdos Os falantes da

enorme diversidode de variantes francesas inglegtas e espanholas

que achariam difiacuteciJ ou mesmo im possiacutevel se entende r oralmente

puderam sc en tender atraveacutes do papel e da clra imp ressa CO lil isso

foram tomando consciecircncia gradual das centenas de mi lh ares e ateacute

mi lhotildees de pessoas dentro daquele campo linguumliacutestico part icu lar e

ao meS1110 tempo percebendo que npcllns CSll1SCentcnas de milhashy

res ou milhotildees pertenciam a tal campo Essescompan hci rogtdc leishy

tura aos quais estavam ligados atraveacutes da le tra impressa con~t ituiacuteshy

ram na sua invisibilidade visiacutevel secular e particular o embriatildeo da

comunid ade nacionalmente imaginada

111 segundo lugar o capitalismo tipograacutefico conferi li uma noshy

va fixidez agrave liacute ngua o que a longo prazo ajudou a construir aquela

imagem de antiguumlidade tatildeo essencial agrave ideacuteia subjetiva de naccedilatildeo

Como lembram Febv re e Martin o livro impresso guardava uma

for ma consta nte capaz de reproduccedilatildeo praticamente infinita no

tempo e no espaccedilo Ele natildeo estava mais sujeito aos haacuteb itos indivishy

duali zantes e inconsc ientementc Illodernizantes dos monges

copistas Assim se o fran cecircs usado por Villo n no seacuteculo xv era

mui to diferente do francecircs do seacuteculo Xli no seacuteculo XVI o ritmo da

mudanccedila havia dimin uiacutedo de forma marcante No seacuteculo XIf as

liacutenguas na Europa haviam assumido de modo geral suas formas

modernas li Em o utros termogt faz t recirc~ seacuteculos que essas liacute nguas

da hi stoacuteri ( moderna Fcb fI c Martin nunca esquecem que por traacutes da imprenshy

sa cxilc l1l graacutefi ecircas c cJitorls Nl~ le conl(xtn v~lk lembrar que a im ptensa foi ill nntad1J princiacutepi o na Chi na talvez l uinh cnlos lt1 nos lutes de dparecer na LurolJ ma natildeo teve nenhum irnpacto sign ificativo e mu ito lIlenos revolu cio shy

naacuterio - Jus lamente dltVido agrave in Lx islencia do capital islllO

22 lhe crminlo(th l book p 319 Cf uuml lppnritirl1 p477 Ali XI Ile siecle les lanshyg U($ nationales apparaissent un pcu parlout cristallieacute~s INo seculo VII as liacute nshyguas nac ionais aparecem crisla lizadas um pouco por toda partel

impressas vecircm ga nhando um vern iz rcs istente temos um a~es~o

mais direLo agraves palavras dos nossos anlcpassad05 do seacuteculo VII do

que Vil lon em rclaccedilatildeo aos seus antepassados do seacuteculo XII

Fm lercei ro Iugar o capilalismo tipograacutefico criou lt nguas 011shy

Clnis d irerentes dos vernaacuteculos adm i ni ~tra ti l()s anteriores Tnev ishy

tlmiddot ~middot ll1l cnte algu ns d ialetos estavam m ai proacutex imos da liacutengua

impressa c acabaram dominando suas f()fm as finais Os primos

Iwbrts que ainda podiam ser altsimi lados na Imgua impressa em

foacuterm llratildeo acabaram perde ndo posiccedilatildeo pr incipalmente porq ue

natildeo conseguiram (ou conseguiram apenas em parte) ter asua proacuteshy

pril form a impress a O alematildeo do noroeste tornou-se o P[all

DLIIrsch um alematildeo muilo fal ado e portanto um subpadratildeo de

hngua porque pocircde ser ass im ilado no id io ma impresso de uma

forma que natildeo foi possiacutevel para () tcheco falado da Boecircmia O al toshy

alematildeo () inglecircs do rei e mais tarele o tailandecircs central fo ram alccedila shy

dos a 1l llltlS alturas poliacutetico-culturai s (IJaiacute as lutas na Europa de

algUI11llt sub-nacionalidades no fin al do seacutec ulo xx para mudar

sua Lond iccedilatildeo subordinada entrando com forccedila na imprensa - c

no raacutedio

Restd apenas enfatizar qu e a fi xaccedilatildeo e a obtenccedilagraveo de um estashy

tuto difere nciado das liacutenguas im pressas foram em suas origens

processo~ inconscientes que resu ltara m da in te raccedilagraveo explosi va

entre o capital ismo a tecnologia e a diversidade li nguumliacutestica humashy

na ~las como tanfas outras coisas na histoacuteria do naciol1 1 lismo

lima Vez e~tando belas puderam se converter em modelos forshy

mai ltI gttrcm imitados e quando fosgte o caso co nscientemente

exp lorados num espiacuterito maquiavcJ ico Hoje o governo tailandecircs

desenloraja vivamen te as len tl tivas dos missionaacuterios eslrungei rogt

de rlrn~cc r gt i stema~ de transcr iccedilatildeo linguumliacutestica para d~ min ori as

lr ibai~ dh mo ntanhas e desenvolver publicaccedilotildees nas suas liacutenguas

naLlvas mas o me gt mo governo eacute indiferente ao que essas minorias

faacute I111 O destino dos povo~ de fala turCltl nas zonas incorporadas a

81 80

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83

Page 29: ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexoes sobre as origens e a difusão do nacionalismo. São Paulo companhia das letras, 200 (PT8

urquia Iratilde Iraq ue e Uniagraveo Sovieacutetica eacute especialmente ilust rativo

ma fa miacutelia de liacutenguas faladas que podiam ser m o ntadas numa

ortografia a raacutebica tornando -se assim comp reensiacuteveis ent re si

pe rde u essa unidade devido a m an ipula ccediluumles del iberadas Para

enaltecer a con~ciecircnci a nac ional da Turq u ia tuumlrqu ica em detri shy

mento de qualquer identificaccedilagraveo islacircmica mais profunda Atatuacute rk

impocircs uma roma nizaccedilatildeo obr igatoacuter ia ll As auto r idades sovieacuteticas

seguiram a m esma tr il ha primeiro com uma romanizaccedilatildeo comshy

pulsoacuteria antiuumllacircmica e antipe rsa e d epois nos anos 30 com Staacutelin

e sua cir il izaccedilatildeo russifican te obrigatoacuteria N

Podemos resumi r as conclusotilde es dos argumen tos apresentashy

dos ateacute ago ra d izendo que a convergecircncia do capitalismo e da tecshy

nologia de imprensa sobre a fatal d iversidade da Iinguagem huma shy

na criou a poss ibilidade de uma nova forma de co munidade

imaginada a qual em sua morfologia baacutesica m ontou o cenaacuterio

para a naccedilatildeo moderna A extensatildeo potencial dessas comunidades

era intrinsecamente limi tada e ao mesmo tempo natildeo ma nti nha

senatildeo a mais fortuita relaccedilatildeo com as fro nteiras poliacuteticas existentes

(que no geral correspo ndiam ao po nto culminante dos expansioshy

nismos J inaacutesticos)

Mas eacute evidente que embora quase todas as naccedilotildees - e tamshy

beacutem es tados nacionais - modernas que se concebem como ta is

atualm ente tenham liacutenguas impressas nacion ais muitas delas

compartilham uma mesm a liacutengua e em ou tros casos apenas uma

fraccedilatildeo minuacutescula da populaccedilatildeo usa a liacutengua nac ional na fala ou

na esc rita Os Est1d uumls nac ionais da Ameacuterica espanhola ou da

21 Il an~ Kohn ] le Ilgeo(llntio IlO li5l1l p 108 Ede se ac rescel1lJr q ue KemJ I dLssa

lllaneirJ tam beacutem esperava alinhar o nacionalismo turco agrave civ ilizaccedilatildeo romlnizashy

da moderna da Europa Ocidental

24- cton-Wabon NntvIs alld states p 317

1 2

1llniacutelia anglo-saxocircnica satilde o exem plos cb ros do pr imeiro caso

J11uitos rstado~ ex-colo niais pri ncipalmente na Africa satildeo exemshy

pl(l~ tlll ~egundo Em outras palav ras a formaccedilii o concreta dos

Est~J()S nacio nais con temporacircneos natildeo gua rda ne nhuma rellticcedilatildeo

i~1I111oacuterfica com o ca mpo de ab rangecircncia das liacuten glla~ impressas

lIedlic3s Pa ra lxplicar a d escon tin u idade c a inter- rcla~atildeo entre

h1nguas impressas a consc iecircncia nacional e os Estlt1dns nacionais

cumpre observar o grande conjunto de novas entidades poliacuteticas

que surgiram no hem isfeacute r io ocide ntal entre 1776 c 1 R38 lodas

dcfinindo-lte de modo autoconscien te com o naccedilotildees e co m a inteshy

rcs~ontt exceccedilatildeo do Brasil como repuacute bl k as (natildeo-d inaacutesticas) Pois

niio ~Oacute (o ram historicamente os primeiros Estad os nacionais a surshy

gir no cenaacuter io mundial portanto passando a fornecer inevitavelshy

l11enk os primeiros modelos reais do que deve riam parecer tais

btados como tambeacutem a quantidade c a eacutepoca de seu surgimen to

simultacircne(l oferecem um terreno fecllndo para a pesquisa compashy

rada

83