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Universidade Federal do Rio de Janeiro Análise da expressão de antígenos neurais e do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 em células mononucleadas da medula óssea de ratos adultos e do sangue de cordão umbilical humano Leda Maria Neumann Keim 2006 Rio de Janeiro

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Análise da expressão de antígenos neurais e do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 em células mononucleadas da medula óssea de ratos adultos e do sangue de cordão umbilical humano

Leda Maria Neumann Keim

2006 Rio de Janeiro

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Leda Maria Neumann Keim

Análise da expressão de antígenos neurais e do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 em células mononucleadas da medula óssea de ratos adultos e do sangue de cordão umbilical humano

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas (Fisiologia) do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas (Fisiologia).

Orientadora: Rosalia Mendez Otero

Rio de Janeiro Maio de 2006

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Neumann Keim, Leda Maria Análise da expressão de antígenos neurais e do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 em células mononucleadas da medula óssea de ratos adultos e do sangue de cordão umbilical humano/ Leda Maria Neumann Keim. Rio de Janeiro: UFRJ, IBCCF, 2006. xiv, 120f.:il; 31cm. Orientadora: Rosalia Mendez Otero. Dissertação (mestrado) – UFRJ/ IBCCF/ Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas (Fisiologia), 2006. Referências Bibliográficas: f 109-120. 1. diferenciação neuronal. 2. Células mononucleadas de sangue de cordão umbilical. 3. Células mononucleadas de medula óssea. 4. gangliosídeo 9-O-acetil GD3. I. Mendez-Otero, Rosalia II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas (Fisiologia). III. Título.

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Leda Maria Neumann Keim Análise da expressão de antígenos neurais e do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 em células mononucleadas da medula óssea de ratos

adultos e do sangue de cordão umbilical humano

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas (Fisiologia), Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Mestre em Ciências Biológicas (Fisiologia).

Rio de Janeiro, 29 de Maio de 2006.

Rosalia Mendez Otero

orientadora professora titular do IBCCF, UFRJ

Marcelo Marcos Morales,

professor adjunto do IBCCF, UFRJ

Regina Coeli dos Santos Goldenberg professora titular do IBCCF, UFRJ

Fernando Costa e Silva Filho professor titular do IBCCF, UFRJ

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O presente trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Neurobiologia Celular e

Molecular do programa de Bioengenharia e Biotecnologia Animal do Instituto de

Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob a

orientação da Dra. Rosalia Mendez Otero e na vigência de auxílios concedidos pelo

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação

Universitária José Bonifácio (FUJB), Fundação Carlos Chaga Filho de Amparo à

Pesquisa do Rio de Janeiro (FAPERJ) e Instituto do Milênio de Bioengenharia

Tecidual (IMBT).

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“Um prazer desfeito em pó, pois era meio inventado, como muito bem o sabia; inventada aquela aventura (...); fabricada, como se fabrica a melhor parte da vida”

Virginia Woolf em Mrs. Dalloway

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Agradecimentos

A todos os colegas com quem convivi no Laboratório de Neurobiologia Celular e Molecular no período de julho de 2002 até hoje, pela amizade, pelo apoio, pelos inúmeros favores, pelos ensinamentos e pelas opiniões.

A Vanessa, Fábio Fortes, professora Regina Goldenberg e ao professor Antônio Carlos (IBCCF); a Maria do Carmo e ao professor Juan Clinton Llerena Júnior (Laboratório de Genética do Instituto Fernandes Figueira) pelas colaborações com material e troca de informações.

A professora Cerli Gatass, pelo uso da citocentrifuga. Aos amigos, por me distraírem quando necessário e por compreenderem

quando eu não podia acompanhá-los. Aos meus pais, que sempre incondicionalmente me apoiaram e se

empolgaram com cada uma das minhas pequenas conquistas. Às minhas irmãs, cunhados, tios e avós, por sempre terem se mostrado

interessados com meus trabalhos, por se preocuparem comigo e por me fazerem companhia sempre que possível.

A minha irmã Carolina por, junto a vários professores da graduação, ter ajudado a despertar o meu interesse pela pesquisa, por ter me apoiado desde o início, ou simplesmente por termos tido muitas conversas intrigantes.

A professora Regina Goldenberg, pelas valiosas sugestões na revisão da tese.

A professora Rosalia Mendez Otero pela forma ponderada com que conduziu a orientação.

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Resumo ANÁLISE DA EXPRESSÃO DE ANTÍGENOS NEURAIS E DO GANGLIOSÍDEO 9-O-ACETIL GD3 EM CÉLULAS MONONUCLEADAS DA MEDULA ÓSSEA DE RATOS ADULTOS E DO SANGUE DE CORDÃO UMBILICAL HUMANO Leda Maria Neumann Keim Orientadora: Rosalia Mendez Otero Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas (Fisiologia), Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas (Fisiologia). A possibilidade de células provenientes da medula óssea (MO) e do sangue de cordão umbilical (UCB) adentrarem o sistema nervoso central e se diferenciarem em células da linhagem neural tem sido objeto de um número crescente de estudos na atualidade. Em cultura, células tronco mesenquimais de MO expressam espontaneamente vários genes característicos de diversas linhagens celulares, e células tronco hematopoiéticas ex vivo expressam vários marcadores neurais. No presente trabalho, as células mononucleadas (CMN) da medula óssea de ratos adultos e do sangue de cordão umbilical humano foram analisadas, logo após serem isoladas, quanto à expressão de antígenos neurais. Além disto, analisamos também a expressão do gangliosídeo 9-O-Acetil-GD3 nestas mesmas populações de células. A expressão deste gangliosídeo está relacionada à migração neuronal e à extensão axonal no sistema nervoso em desenvolvimento e a áreas de neurogênese no sistema nervoso central adulto, sugerindo que o mesmo possa ser utilizado como marcador de células tronco e/ou progenitores neurais. Nas CMN de medula óssea de ratos observamos que 58% expressavam S-100, 47% vimentina, 59% β-III-tubulina, 46% NSE e 79% NF-200. As CMN de UCB também apresentaram estes antígenos. Estes resultados demonstram que a expressão desses antígenos deve ser usada com cautela no estudo da diferenciação neural de células da medula óssea e do sangue de cordão umbilical. Nestas mesmas células, o gangliosídeo 9-O-Acetil-GD3 estava expresso em 30% das CMN da MO de ratos e em 12% das CMN de sangue de cordão umbilical humano. Células CD34+ da medula óssea de ratos (um marcador de células tronco hematopoiéticas) também eram positivas para este gangliosídeo, sugerindo que o mesmo possa ser utilizado para purificar e enriquecer sub-populações celulares da medula óssea e de sangue de cordão umbilical, uma vez que é um marcador de superfície celular. Palavras-chave: 1. diferenciação neuronal. 2. sangue de cordão umbilical. 3. medula óssea. 4. gangliosídeo 9-O-acetil GD3. Rio de Janeiro Maio/2006

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Abstract

The possibility of bone marrow cells and umbilical cord blood cells to enter the central nervous system and differentiate in neuronal cells has been the issue of a growing number of studies nowadays. In culture, bone marrow mesenchymal stem cells spontaneously express a large amount of genes characteristic of diverse cell lineages, and hematopoietic stem cells ex vivo express several neural markers. In the present work, the bone marrow mononucleated cells of adult rats and of human umbilical cord blood were analyzed, once have been isolated, for the expression of neuronal antigens. In addition, we also analysed the expression of the ganglioside 9-O-acetyl GD3 in the same cell populations. The expression of this ganglioside is related with neuronal migration and axonal outgrowth in the developing nervous system and whith neurogenic areas in the adult nervous system, suggesting that this can be used as a neural stem cell and/or progenitor cell marker. In the rat bone marrow, we noticed that 58% of the mononucleated cells expressed S-100, 47% expressed vimentin, 59% expressed β-III-tubulin, 46% expressed NSE and 79% expressed NF-200. The umbilical cord blood mononucleated cells also expressed these antigens. These results demonstrate that the expression of these antigens should be used with special caution in studies of neuronal differentiation of bone marrow and umbilical cord blood cells. The ganglioside 9-O-acetyl GD3 was expressed in 30% of the bone marrow mononucleated cells of rats and in 12% of the human umbilical cord blood mononucleated cells. Rat bone marrow CD34+ cells (a hematopoietic stem cell marker) already expressed this ganglioside, suggesting that this can be used to purify or enrich sub-populations of cells from bone marrow or umbilical cord blood, since this is a cell surface marker.

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Lista de Abreviaturas α-MEM – Minimum Essential Medium α BDNF – Brain Derived Neurotrofic Factor bFGF – Basic Fibroblast Growth Factor BME – β-Mercaptoetanol BrdU – 5-bromo-2’-deoxiuridina CD – Cluster Differentiation CFC – Colony-Forming Cells CFU – Colony-Forming Units CFU-E – Colony-Forming Units – Erythroid CFU-F – Colony-Forming Units Fibroblasts CFU-G/M – Colony-Forming Units – Granulocytic/Monocytic CFU-MIX – Colony-Forming Units – Multipotent CMN – Células Mononucleadas Cy3 – Indocarbocianina DAPI – 4’,6-Diamino-2-Fenilindol dbcAMP – Dibutiril AMP Cíclico DMEM – Dulbecco’s Modified Eagle’s Médium DMSO - Dimetilsulfóxido EGF – Epidermal Growth Factor ESC – Embrionic Stem Cell FACS – Fluorescence Activated Cell Sorting FCS – Fetal Calf Serum FITC - Fluorescein Isothiocyanate FN – Fibronectina GAD65 – Ácido Glutâmico Descarboxilase GalC – Galactocerebroside G-CSF – Granulocytic Colony-Stimulating Factor GDNF – Glial Cell Line–Derived Neurotrophic Factor GFAP – Glial Fibrilar Acidic Protein HSC – Hematopoietic Stem Cell HPC – Hematopoietic Progenitor Cell IBMX – Isobutilmetilxantina LIF – Leukemia Inhibitory Factor Lin- - Células negativas para linhagens hematopoiéticas Mab – Monoclonal antibody MAP1B – Proteína Associada de Microtúbulo 1B MAP2 – Proteína Associada de Microtúbulo 2 MAPC – Células Progenitoras Adultas Multipotentes MBP – Myelin Basic Protein MO – Medula Óssea MOSP – Proteína de Mielina Específica de Oligodendrócito MSC – Mesenchimal Stem Cell NF – Neurofilamento NF-200 – Neurofilamento de 200kDa NGF – Nerve Growth Factor NGS – Normal Goat Serum NOD-SCID –Non-Obese Diabetic/Severe Compromised Immune Deficient NSE – Neuron Specific Enolase

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Neu-N – Neuron-specific neuronal protein PBS – Phosphated Bufered Saline PCR – Polymerase Chain Reaction PDGF-BB – Platelet Derived Growth Factor PPD - Paraphenylenediamine RT-PCR – Reverse Transcription-Polymerase Chain Reaction SC – Stem Cell SP – Sangue Periférico SN – Sistema Nervoso SNC – Sistema Nervoso Central SNP – Sistema Nervoso Periférico SSEA-1 – Stage-Specific Antigen 1 TA – Temperatura ambiente TH – Tirosina Hidroxilase Tuj-1 – Neuronspecific Tubulin UCB – Umbilical Cord Blood WB – Western Blot

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Sumário

Resumo ................................................................................................................. viii Abstract ................................................................................................................ ix Lista de abreviaturas ............................................................................................ x 1. Introdução

1.1. As células tronco ......................................................................................... 14 1.2. A medula óssea e o sangue de cordão umbilical ....................................... 17 1.2.1. A célula tronco hematopoiética .............................................................. 17 1.2.2. A célula tronco hematopoiética na circulação ...................................... 18 1.2.3. Células tronco e progenitoras hematopoiéticas no sangue de cordão

umbilical .................................................................................................................. 19 1.2.4. A célula tronco mesenquimal ou estromal ............................................. 20

1.3. Multipotencialidade, microquimerismo, fusão e potencial terapêutico das células do sistema hematopoiético ....................................................................... 21

1.3.1. Multipotencialidade das células tronco do sistema hematopoiético in vitro ................................................................................................................................. 21

1.3.2. Microquimerismo de células do sistema hematopoiético em outros tecidos .................................................................................................................... 25

1.3.3. Fusão das células do sistema hematopoiético com células de outros tecidos .................................................................................................................... 33

1.3.4. Potencial terapêutico das células do sistema hematopoiético para outros sistemas .................................................................................................................. 35

1.4. Expressão de genes de tecidos derivados dos três folhetos embrionários em células do sistema hematopoiético ......................................................................... 38

1.4.1. Expressão de genes de tecidos derivados dos três folhetos embrionários em células do estroma de medula óssea (MO) em cultura ................................... 38

1.4.2. Expressão de genes de tecido nervoso em células de sangue de cordão umbilical in vitro ..................................................................................................... 47

1.4.3. Expressão de genes de tecido nervoso em MO, sangue periférico (SP) e UCB ex vivo ........................................................................................................... 49

1.5. O gangliosídeo 9-O-acetil GD3 ................................................................... 54

2. Objetivos ........................................................................................................... 58 3. Materiais e Métodos

3.1. Animais utilizados ...................................................................................... 60 3.2. Extração de medula óssea ........................................................................ 60 3.3. Amostras de sangue de cordão umbilical ................................................... 60 3.4. Separação das células mononucleadas .................................................... 61 3.5. Imunocitoquímica ....................................................................................... 63 3.5.1. Identificação de gangliosídeos 9-O-acetilados em células vivas em

suspensão ............................................................................................................... 63 3.5.2. Identificação de gangliosídeos 9-O-acetilados e do antígeno de superfície

CD34 em células fixadas em suspensão ................................................................ 64 3.5.3. Identificação de proteínas intracelulares consideradas específicas de

tecido nervoso em células fixadas citocentrifugadas .............................................. 65

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3.5.4. Identificação de proteínas intracelulares consideradas específicas de tecido nervoso em células fixadas em suspensão .................................................. 66

4. Resultados

4.1. Amostras .................................................................................................... 67 4.2. Expressão de antígenos usados como marcadores de tecido nervoso em

CMN de medula óssea de ratos adultos ............................................................ 67 4.3. Expressão de antígenos usados como marcadores de tecido nervoso em

CMN de sangue de cordão umbilical humano ................................................... 77 4.4. Expressão do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 em CMN de medula óssea de

ratos adultos e de sangue de cordão umbilical humano .................................... 83 4.5. Expressão do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 em CMN de medula óssea de ratos adultos que expressam o antígeno CD34, marcador de células tronco e progenitores hematopoiéticos ............................................................................ 89

5. Discussão

5.1. Expressão de antígenos usados como marcadores de tecido nervoso em CMN de medula óssea de ratos adultos e de sangue de cordão umbilical humano................................................................................................................ 91 5.2. Expressão do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 em CMN de medula óssea de

ratos adultos e de sangue de cordão umbilical humano .................................... 96 5.3. Implicações da expressão espontânea de antígenos neurais em células da

medula óssea e do sangue de cordão umbilical para as terapias celulares ............................................................................................................................ 100 5.4. Implicações clínicas: níveis séricos de proteínas de tecido nervoso no

sangue de recém nascidos são usadas na detecção e avaliação de lesões do SNC ................................................................................................................... 104

6. Conclusões ………….........................................................................................108

Referências Bibliográficas ................................................................................ 109

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1. Introdução

A terapia celular foi usada pela primeira vez em 1951, por Lorenz e

colaboradores, ao demonstrarem que a infusão intravenosa de medula óssea

singenêica prevenia a morte após doses letais de irradiação em roedores. Após um

longo período de uso das células da medula óssea (Ball E.D. et al., 2000) e mais

tarde, do sangue de cordão umbilical (Gluckman E., et al., 1989; Gluckman E. et al.,

1997) para recomposição do sistema hematopoiético, evidências apontaram para a

possibilidade de tratamento de patologias de outros sistemas com essa mesma

abordagem (Kopen G.C. et al., 1999; Jiang Y., Jahagirdar B.N. et al., 2002; Munoz

J.R. et al., 2005). Neste sentido, vários estudos clínicos foram realizados com

sucesso (Strauer B.E. et al., 2002; Escolar M.L. et al., 2005). No entanto, a

caracterização destas células ainda apresenta várias lacunas, constituindo uma

questão fundamental para a progressão do estudo das terapias celulares.

1.1. As células tronco

As células tronco são definidas como células indiferenciadas com alta

capacidade de auto-renovação e que podem dar origem a um ou mais tipos

celulares especializados. As células tronco estão no topo hierárquico da linhagem

celular de um determinado tecido. Na maior parte dos casos, entre as células tronco

e sua progenia terminalmente diferenciada existe uma população intermediária de

progenitores comprometidos, com capacidade proliferativa limitada e potencial de

diferenciação mais restrito (figura 1) (Mayani H., 2003).

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Figura 1. Esquema proposto de diferenciação celular a partir de uma célula tronco (Mayani, H., 2003).

Durante o desenvolvimento, as células tronco são classificadas de acordo

com sua plasticidade. O óvulo fertilizado ou zigoto, é classificado como uma célula

tronco totipotente capaz de produzir todas as diferentes células de um animal,

inclusive aquelas que não vão fazer parte do embrião, mas sim dos folhetos extra-

embrionários como as células da placenta. No estágio de mórula, cada célula

produzida é idêntica às demais e todas são consideradas células tronco

totipotentes. Mais adiante no desenvolvimento, no estágio de blastocisto, cada

célula que forma a massa celular interna é capaz de produzir todas as células do

embrião, mas não as estruturas extra-embrionárias. Estas células tronco

embrionárias (ESC, de Embryonic Stem Cells), sob condições específicas de

cultura, podem ser induzidas a proliferar indefinidamente e a manterem-se

indiferenciadas (Mayani H., 2003). Destas células, duas diferentes células tronco

são derivadas: aquela que dá origem à linhagem germinal, que mais tarde irá dar

origem aos gametas, e aquela que produz todas as células somáticas. As células

que irão dar origem aos tecidos ectodermais, mesodermais e endodermais são, por

sua vez, derivadas desta última (figura 2).

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Figura 2. Classificação das células tronco (SC) durante o desenvolvimento. (Mayani, H., 2003).

Inicialmente era atribuída às células tronco somáticas apenas a capacidade

de diferenciação restrita a seu tecido de origem. Algumas células eram bem

conhecidas pela capacidade de regenerar lesões nos tecidos em que residiam,

como os tecidos muscular (Berne R.M. & Levy M.N. 1993), epitelial (Slack J.M.W.

2000) e sangüíneo (Till J.E. & McCulloch E.A., 1980). Contudo, há atualmente

evidências de que a alteração experimental dos fatores microambientais pode levar

uma célula tronco adulta a adquirir fenótipos diferentes da linhagem que lhe era

anteriormente atribuída. A clonagem de um mamífero acentuou a discussão de que

o estado diferenciado de uma célula requer contínua regulação para manter-se e

que genes silenciados podem ser ativados num núcleo adulto sob condições

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citoplasmáticas adequadas (Wilmut I. et al., 1997).

1.2 A medula óssea e o sangue de cordão umbilical

1.2.1 A célula tronco hematopoiética

As células tronco hematopoiéticas (HSC, do inglês Hematopoietic Stem Cell)

são definidas como células primitivas, indiferenciadas e capazes de auto-renovação

e de diferenciação em todos os tipos celulares sangüíneos (Szilvassy S. & Hoffman

R., 1995). A vasta maioria das HSCs residem na medula óssea, na qual

representam 0.005% do total de células deste tecido (Szilvassy S. & Hoffman R.,

1995). Estas células podem ser identificadas e quantificadas usando ensaios in vivo

em que sua capacidade para repovoar o sistema hematopoiético de um

camundongo NOD-SCID (non-obese diabetic/severe compromised immune

deficient) é avaliada. Sua progenia imediata, denominada células progenitoras

hematopoiéticas (HPC, do inglês Hematopoietic Progenitor Cell) compreende

células com uma limitada capacidade de auto-renovação e com a habilidade de

formar colônias hematopoiéticas em culturas semi-sólidas (desta forma, são

também conhecidas como Células formadoras de colônias – CFC, do inglês Colony-

Forming Cells ou CFU, do inglês Colony-Forming Units). HPCs representam 0.1%

do total de células da medula óssea e neste grupo estão incluídas células

multipotentes e células comprometidas com linhagens individuais (Mayani H et al.,

2003).

A maioria das HSCs e HPCs expressam o antígeno CD34, uma glicoproteína

de membrana plasmática de 90-120kD que funciona como um regulador da adesão

das células hematopoiéticas às células estromais do microambiente hematopoiético.

Os antígenos CD90, CD117 e o CD133 também são expressos pelas HSCs. De

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acordo com sua imaturidade, as HSCs não expressam CD38, CD45RA, CD71,

HLA-DR ou qualquer outro antígeno específico de linhagem. Desta forma elas são

referidas como células negativas para linhagens (células Lin-) (Mayani H et al.,

2003). Alguns artigos (Bathia M. et al., 1998; Zanjani E.D. et al., 1998) relataram

que uma pequena proporção de HSCs não expressam o antígeno CD34, sendo

conhecidas como células CD34- CD38- Lin-. Além disso, há evidências de que estas

células dão origem às HSCs que expressam CD34 (Zanjani E.D. et al., 1998).

1.2.2. A célula tronco hematopoiética na circulação:

A medula óssea é distribuída por todo o esqueleto, o qual, em humanos,

compreende mais de 200 ossos. No adulto, o montante total de medula óssea ativa

corresponde a aproximadamente 2,6Kg, com aproximadamente 123x1010 células e

tem uma taxa de renovação de 188x106 células/Kg/h (Fliedner T.M. et al.,1976).

Curiosamente, a despeito do tecido hematopoiético encontrar-se distribuído por

muitas cavidades ósseas, seu funcionamento é como o de um órgão único. Isto é

possível devido a migração de HSCs através do sangue periférico (SP). A migração

das HSCs pelos sítios de medula óssea faz com que a produção de células

sangüíneas e os níveis locais de HSCs e HPCs mantenham-se adequados, o que é

pré-requisito para a regulação humoral (Mayani H. et al., 2003).

Durante a vida pré-natal os padrões de migração celular correspondem ao

desenvolvimento da medula óssea. A matriz estromal está estabelecida na clavícula

entre a sexta e oitava semana de gestação. Contudo, são necessárias quinze a

dezoito semanas para a medula óssea se distribuir por todo o esqueleto. Durante as

semanas dez e onze da gestação o sangue contém aproximadamente 134CFC/mL.

Na décima oitava semana de gestação, quando os ossos de todas as partes do

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corpo estão prontos para receber as células tronco, as HSCs e HPCs atingem a

densidade máxima, chegando até 65.000 CFC/mL. Ao nascimento, quando todos os

sítios de medula óssea já foram colonizados com HSCs e HPCs, a densidade no

sangue periférico é de aproximadamente 10.000 CFC/mL. Em adultos, em

condições normais, a freqüência de células progenitoras é baixa. Um mililitro de

sangue periférico contém, em média, 4x103 células CD34+, o que corresponde a

0,06% das células nucleadas (Mayani H. et al., 2003).

1.2.3 Células tronco e progenitoras hematopoiéticas no sangue de cordão

umbilical

Um mililitro de sangue de cordão umbilical (UCB) contém entre 1.000 e

10.000 progenitores multipotentes (CFU-MIX), 8.000 CFU-E (Colony-Forming Units

– Erythroid) e entre 5.000 e 14.000 progenitores mielóides (CFU-G/M, do inglês

Colony-Forming Units – Granulocytic/Monocytic). Desta forma, o número total de

CFC é aproximadamente 23.000 por mililitro. Quando comparados os números

relativos de células tronco e progenitoras no UCB e na medula óssea conclui-se que

não há grandes diferenças entre o valor total de CFCs. Contudo, importantes

diferenças na freqüência de tipos particulares de HPCs têm sido observadas, sendo

que, enquanto os níveis de progenitores relativamente maduros são similares entre

as duas fontes, a freqüência de progenitores primitivos, incluindo os multipotentes,

os eritróides e os bipotentes granulo-mielóides, é significantemente maior em UCB

que na medula óssea (Mayani H. et al., 2003).

Morfologicamente, as células CD34+ presentes na circulação periférica

adulta e fetal têm aspecto linfóide, de tamanho pequeno a intermediário, com

morfologia de blasto, uma razão núcleo/citoplasma alta e citoplasma basofílico e

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agranular. A maioria destas células expressam CD38, CD44 e HLA-DR, além dos

antígenos relacionados a mielócitos CD33 e CD133 (Mayani H. et al., 2003).

1.2.4 A célula tronco mesenquimal ou estromal

A forma usada para identificar e quantificar as células tronco mesenquimais

(MSC) da medula óssea é o ensaio in vitro em que a capacidade para originar

colônias de fibroblastos é testada (Colony-Forming Units Fibroblasts/CFU-F assay).

Estas MSC têm a capacidade de dar origem, in vitro, sob condições apropriadas, à

osteócitos produtores de matriz mineralizada, adipócitos que apresentam vacúolos

contendo lipídeos e condrócitos produtores de matriz cartilaginosa (Otto W.R. & Rao

J., 2004; Tondreau T. et al., 2004a).

Usando o ensaio de CFU-F, Wexler S.A. e colaboradores (2003) encontraram

uma freqüência de uma MSC por 3-4x104 células de medula óssea. No entanto, nas

condições utilizadas naquele estudo, não foram encontradas MSC em amostras de

UCB de bebês nascidos a termo, nem de SP humano adulto. De acordo com o

método empregado por aqueles autores, 107 células foram cultivadas em 10ml de

DMEM (Dulbecco’s Modified Eagle’s Médium) suplementado com 10% de soro fetal

bovino (FCS, do inglês fetal calf serum), em placas de 25cm2. A cada semana

metade do meio era trocado até que fosse atingida a confluência. A seguir a placa

foi tratada com tripsina e as células resultantes foram semeadas numa densidade

de 1x106 CMN por placa.

Em outro estudo, Erices A. e colaboradores (2002) encontraram

predominância de células multinucleadas, semelhantes a osteoclastos, positivas

para CD45, em 75% das culturas aderentes obtidas de UCB. Estas culturas eram

quiescentes e não resistiam à primeira passagem. Apenas 25% das amostras de

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UCB originaram culturas mesenquimais, sendo a maior parte delas provenientes de

UCB pré-termo.

Yu M. e colaboradores (2004) encontraram células com características de

MSC em sangue de fetos humanos de 16 a 26 semanas de idade, mas não em

UCB de bebês nascidos a termo. As células mononucleadas das amostras de

sangue eram separadas através de gradiente de densidade e cultivadas em α-MEM

(do inglês, Minimum Essential Medium α) suplementado com 15% de FCS, em uma

concentração de 5x105 células/cm2. Após 48 horas o meio era trocado e as células

não aderentes eram removidas; ao ser atingida 80% de confluência, cada cultura

era tripsinizada e recultivada em três placas. As células aderentes obtidas do UCB

pós-natal não sobreviviam a mais de uma passagem em cultura e eram CD45+,

duas características incompatíveis com MSC. Ao contrário, as culturas obtidas a

partir de sangue fetal eram CD45-, CD34-, sobreviviam às passagens e podiam ser

mantidas in vitro por mais de 4 meses; ao serem induzidas à diferenciação em

tecido ósseo ou adiposo, produziam respectivamente matriz mineralizada ou

apresentavam vacúolos lipídicos.

1.3 Multipotencialidade, microquimerismo, fusão e potencial terapêutico das

células do sistema hematopoiético

1.3.1 Multipotencialidade das células tronco do sistema hematopoiético in

vitro

Vários autores têm demonstrado a plasticidade das células da medula óssea.

Dentre eles, Woodbury D. et al. (2000) atribuíram às MSC da MO de ratos e de

humanos a capacidade de diferenciarem-se em neurônios in vitro. As células eram

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cultivadas por 20 passagens em DMEM suplementado com 20% de FCS. A seguir,

eram tratadas com meio de cultura DMEM adicionado de 10ng/ml de bFGF (do

inglês: basic fibroblast growth factor) e depois 1-10mM β-Mercaptoetanol (BME), 2%

Dimetilsulfóxido (DMSO) e 200µM hidroxianisole butilado (BHA). Após apenas 5

horas de exposição a estas condições de cultura, 80% das células expressavam os

marcadores neuronais Neu-N e NF-M e Tau, com dramática modificação

morfológica com retração dos corpos celulares e aparecimento de prolongamentos

finos, semelhantes a cones de crescimento e filopódios.

Neste mesmo ano, Sanchez-Ramos J. e colaboradores (2000) submeteram

MSCs humanas e de camundongos à cultura na presença de EGF (Epidermal

Growth Factor) ou BDNF (Brain Derived Neurotrofic Factor) e conseguiram

resultados semelhantes, com expressão de GFAP (do inglês: glial fibrilar acidic

protein) e Neu-N e surgimento de células em formato de fuso com prolongamentos,

após 7 a 14 dias in vitro.

Em consonância com os trabalhos anteriores, Deng W. et al. (2001)

cultivaram MSC humanas por duas passagens em α-MEM com 20% FCS e depois

as trataram com meio adicionado de 0.5mM de isobutilmetilxantina (IBMX) e 1mM

Dibutiril AMP Cíclico (dbcAMP) por 6 dias, uma condição capaz de aumentar os

níveis intracelulares de AMPc. Cerca de 25% das células da cultura apresentaram

morfologia típica de neurônio, com aumento da expressão de vimentina e NSE

(neuron specific enolase). No entanto, a cultura não tratada também expressava

marcadores neuronais, como MAP1B (microtubule-associated protein 1B), NSE,

Tuj-1 (neuronspecific tubulin) e vimentina.

Em contraste com os resultados descritos acima, Lu e colaboradores (2004)

recentemente demonstraram que DMSO, BME e BHA não causam diferenciação

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neuronal, mas sim modificação morfológica por toxicidade celular, constituindo-se

em um artefato. Neste estudo, a análise por microscopia em tempo intervalado

(figura 3) indicava que a exposição química das MSC não causava crescimento de

neuritos, mas sim retração da maioria das expansões celulares, resultando em

poucos e finos prolongamentos parecidos com neuritos. Inclusive, a exposição

celular a outros estressantes celulares, incluindo detergentes, alta molaridade de

cloreto de sódio e extremos de pH gerava resultados semelhantes, principalmente

no que se refere aos detergentes (figura 4). Além disto, o bloqueio da síntese de

proteínas com ciclohexamida interrompeu a proliferação celular, mas não impediu

que as células adotassem a ‘morfologia de neurônios’ após a exposição a estes

agentes.

Neuhuber e colaboradores (2004), também reavaliando o protocolo de

diferenciação através de DMSO, concluíram que as alterações morfológicas

encontradas eram causadas por rápida desconstituição do citoesqueleto de actina.

A retração do citoplasma originava longos prolongamentos semelhantes a neuritos,

mas que em observações microscópicas em tempo intervalado não apresentavam

motilidade. Prolongamentos semelhantes a neuritos também foram obtidos através

de tratamentos com agentes despolimerizantes de filamentos de actina.

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Figura 3. Microscopia em tempo intervalado demonstrando modificações morfológicas induzidas quimicamente com DMSO/BHA em MSC. A: MSCs com morfologia plana e espalhada em cultura; B: Retração celular pode ser observada tão cedo quanto 15’ após o início da incubação com DMSO/BHA; C–E: A MSCs retraídas adquirem uma morfologia semelhante a de neurônios com corpo celular condensado e prolongamentos finos após apenas 45’; F–H: Exposição continuada das MSC a DMSO/BHA resulta em maior retração do corpo celular e perda de alguns dos prolongamentos celulares (cabeça de seta); o tamanho celular original é indicado por setas verticais (13µm). Lu, P. et al. ( 2004).

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Figura 4. Modificações morfológicas após exposição de MSC a estresse químico. A, B: MSCs adotam uma morfologia semelhante a de neurônios após exposição aos detergentes Tween 20 (A) e Triton X-100 (B) por 5h. Lu P. et al. (2004).

1.3.2 Microquimerismo de células do sistema hematopoiético em outros

tecidos

Outra característica das células do Sistema Hematopoiético é sua capacidade de formar quimeras em outros tecidos. Neste contexto, Bianchi D.W. et al. (1996) verificaram que células progenitoras masculinas persistem no sangue materno até mesmo após 27 anos do nascimento de um menino. Neste estudo, amostras de sangue periférico foram recolhidas de mulheres grávidas ou que tinham tido filhos homens 6 meses a 27 anos antes. As CMN foram separadas por FACS utilizando anticorpos para linfócitos B (CD19 ou 23), linfócitos T (CD3, 4 ou 5), HSC (CD34) e progenitores comprometidos com as linhagens mielóide ou linfóide (CD34 e CD38). Nestas frações foram rastreadas seqüências do cromossomo Y através de PCR. Em 13 das 19 mulheres grávidas de fetos do sexo masculino foi encontrado DNA masculino. Em 6, das 8 mulheres que tinham filhos homens, foi encontrado DNA masculino na fração CD34+CD38+, inclusive em uma mulher que havia tido um filho 27 anos antes da coleta da amostra de sangue.

Em um estudo semelhante, Khosrotehrani K. et al. (2004) investigaram a

existência de células epiteliais, hepáticas e hematopoiéticas derivadas de células

fetais em mulheres que haviam tido filhos homens. Usou-se hibridização in situ para

detectar o cromossomo Y e imunocitoquímica para identificar citoqueratina em

células epiteliais (AE1/AE3), CD45 em leucócitos e heppar-1 em hepatócitos. Em

média, havia 227(+/- 128) células microquiméricas masculinas (XY) por 106 células

maternas (total de 701 células, em dez mulheres). Nos tecidos epiteliais (tireóide,

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cérvix, intestino e vesícula biliar) 14 a 60% das células XY expressavam

citoqueratina. Nos tecidos hematopoiéticos (baço e linfonodos) 90% das células XY

expressavam CD45. De duas amostras hepáticas analisadas, ambas apresentavam

células XY, sendo que em uma delas 4% das células XY expressavam heppar-1.

Estas percentagens devem ser consideradas com precaução, já que o estudo foi

realizado propositalmente com mulheres que já se sabia, por um trabalho anterior,

possuírem grande número de células microquiméricas.

Particularmente no sistema nervoso central (SNC) o tráfego de leucócitos é,

em situações normais, restrito, devido à barreira hemato-encefálica. Basicamente,

são encontrados no SNC intacto apenas linfócitos T, B e células

macrofágicas/monocíticas. Linfócitos T precisam estar ativados para adentrarem o

SNC, independente de o antígeno ser encontrado neste sistema ou não. No

entanto, estes linfócitos só permanecem no SNC se o antígeno puder ser

reconhecido localmente. Linfócitos B, de forma semelhante, transitam pelo SNC,

mas só permanecem no local se puderem reconhecer seu antígeno nesta região.

Células Natural Killer (NK) e neutrófilos entram apenas durante os processos

inflamatórios no SNC. As células derivadas da família macrofágica-monocítica no

SNC intacto ou lesionado incluem as células microgliais, as células perivasculares

macrofágicas ou microgliais, os macrófagos meníngeos, os macrófagos do plexo

coróide, as células do epiplexo e os macrófagos fagocíticos padrão ou células de

Gitter, encontrados em áreas de lesão tecidual. As células microgliais parenquimais

aparentemente invadem o encéfalo e aí se tornam residentes através de um único e

maciço influxo durante a vida fetal. Durante a vida adulta estas células são repostas

numa taxa de poucos pontos percentuais por ano. Outros elementos monocíticos

são substituídos rapidamente durante toda a vida, como os macrófagos meningeais,

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as células perivasculares e os macrófagos do plexo coróide (Hickey W.F., 1999;

Hickey W.F., 2001).

Aprofundando os estudos sobre a migração das células do sistema

hematopoiético para o SNC, Eglitis M.A. & Mezey E. (1997) investigaram se as

células da glia são derivadas apenas de células presentes no encéfalo desde o

período fetal ou se o aporte de células provenientes do sistema hematopoiético

durante a vida adulta também contribui com células para a microglia. Para verificar

esta hipótese, os autores transplantaram em camundongos fêmeas MO de machos

ou MO geneticamente marcada. Usando hibridização in situ e imunohistoquímica,

foi identificado um fluxo contínuo de células hematopoiéticas para dentro do

encéfalo. Células derivadas de MO no encéfalo foram identificadas após três dias

do transplante, e a quantidade aumentou com o passar das semanas (sendo a

análise feita até a décima semana). Estas células estavam largamente distribuídas

através do encéfalo, incluindo cerebelo, córtex cerebral, hipocampo, tálamo e tronco

encefálico. Quando a hibridização in situ foi combinada com imunohistoquímica

usando marcadores de linhagem, algumas células derivadas de MO apresentaram

imunorreatividade para o marcador de microglia F4/80. Outras células,

surpreendentemente, apresentaram imunorreatividade para o marcador astroglial

GFAP. Os autores concluíram que estes resultados indicavam que algumas células

da microglia e astroglia eram derivadas de precursores presentes na medula óssea

adulta.

Corroborando com os dados anteriores, Brazelton T.R. et al. (2000) extraíram

medula óssea de camundongos adultos que expressavam constitutivamente GFP

(Green Fluorescent Protein) e a transplantaram para camundongos C57BL/6

irradiados sub-letalmente. Nos encéfalos processados meses após o transplante,

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podia-se encontrar células GFP no bulbo olfatório, hipocampo, áreas corticais e

cerebelo. A análise por citometria de fluxo realizada com células extraídas dos

encéfalos dos animais hospedeiros revelou que 20% das células GFP encontradas

não expressavam o marcador pan-leucócito CD45 nem o marcador de células

mielo-monocíticas e microglia CD11b. Podia-se observar células derivadas da

medula óssea expressando os marcadores de neurônio imaturos TuJ-1, e β-III-

tubulina e os marcadores de neurônios maduros Neu-N e NF-200 (neurofilamento

de 200kD) e pCREB (CREB fosforilado). Não foram encontradas células derivadas

da medula óssea expressando o marcador de astrócitos GFAP. Algumas células

estavam tão integradas ao tecido hospedeiro que não podiam ser distinguidas dos

neurônios vizinhos exceto pela visualização da GFP.

Em outro estudo, Mezey E. et al. (2000) observaram células Neu-N+ e NSE+

derivadas de medula óssea em encéfalos de camundongos. Após 24 horas do

nascimento camundongos fêmeas PU.1Null recebiam injeções intraperitoneais de

medula óssea proveniente de camundongos selvagens machos. Os encéfalos eram

analisados 1 a 4 meses depois, procurando-se células portadoras do Cromossomo

Y e que expressassem Neu-N. Entre 2,3 e 4,6% de todas as células nucleadas,

incluindo as da vasculatura, eram positivas para o Cromossomo Y. Células Y+/Neu-

N+ eram encontradas principalmente no córtex cerebral e também no hipotálamo,

hipocampo, amígdala, substância cinzenta periaquedutal e striatum.

Em 2003, o mesmo grupo (Mezey E et al., 2003) observou em humanos

células Neu-N+ ou KV2.1+ (canal de potássio dependente de voltagem específico de

neurônios) derivadas de medula óssea no encéfalo. Estes pesquisadores

analisaram encéfalos pós-mortem de indivíduos do sexo feminino que tinham

recebido transplante de medula óssea de doadores masculinos um a nove meses

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antes do óbito para tratamento de doenças hematológicas. O neocórtex, o striatum

e a parede ventricular, o hipocampo e o cerebelo foram analisados. Células

duplamente positivas para os marcadores neuronais e para o cromossomo Y foram

encontradas principalmente no neocórtex e no hipocampo. Células Y/KV2.1+ foram

encontradas em todas as áreas corticais e no hipocampo. Células Y+ negativas

para os marcadores neuronais foram encontradas na substância branca, junto aos

vasos sangüíneos e nas paredes endoteliais. No entanto, estas células duplamente

marcadas eram em um número muito pequeno.

Em contraste com os estudos acima, Castro R.F. et al. (2002) não

encontraram células neurais derivadas de medula óssea em camundongos. Animais

sub-letalmente irradiados recebiam transplante de 2x103 células side population

(células tronco detectadas por extrusão de corante) de camundongos ROSA26,

cujas células expressam LacZ. Quatro meses depois, apesar de 80 a 95% das

células sangüíneas serem positivas para LacZ as únicas células LacZ+ encontradas

nos encéfalos e na medula espinhal eram perivasculares (cinco células em 106

células analisadas por encéfalo). A adição a este protocolo de uma lesão no tecido

nervoso não foi capaz de produzir resultados diferentes, nem o transplante de

medula óssea não fracionada.

De forma semelhante, Wagers A.J. et al. (2002) concluíram que eventos de

transdiferenciação de células circulantes no sangue em linhagens não

hematopoiéticas é um fenômeno muito raro, pelo menos em condições fisiológicas.

Este grupo produziu quimeras através do transplante de uma única célula tronco

hematopoiética GFP+ em camundongos não transgênicos letalmente irradiados e 4

a 9 meses depois procurou células GFP+ que apresentassem antígenos tecido-

específicos, mas não o antígeno pan-leucócito CD45 e com morfologia distinta,

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indicativa de célula diferenciada não hematopoiética. Apesar de ser eficiente em

reconstituir o sistema hematopoiético, o transplante não foi capaz de contribuir de

forma apreciável para outros tecidos, incluindo encéfalo, rins, fígado e músculos. A

vasta maioria das células GFP+ encontradas nos tecidos eram CD45+ e não

marcavam para os antígenos tecido-específicos α-actinina e distrofina no músculo

esquelético, pan-citoqueratina no intestino, lectina aglutinina de gérmen de trigo

(WGA) no rim, ou MAP2 no encéfalo. As únicas células GFP+ não hematopoiéticas

encontradas foram uma célula de Purkinje no cerebelo e alguns hepatócitos. Usou-

se, então, camundongos parabióticos, em que uma circulação anastomosada

comum foi desenvolvida através de cirurgia e mantida por 6 a 7 meses, sendo um

animal GFP e o outro não transgênico. Neste estudo também não foram

encontradas células GFP+ não hematopoiéticas no animal não transgênico, apesar

de o quimerismo hematopoiético ter atingido o equilíbrio após 8 a 10 dias.

Nesta mesma abordagem, Vallières L. & Sawchenko P.E. (2003) injetaram

células de medula óssea de camundongos GFP na circulação sistêmica de

camundongos não transgênicos sub-letalmente irradiados. Centenas de células

GFP+ foram encontradas nos encéfalos dos animais hospedeiros sacrificados 1-12

meses depois, mas nenhuma apresentava fenótipo neuronal, macroglial ou

endotelial, mesmo após a injúria. No córtex cerebral, 99,7% destas células eram

macrófagos perivasculares. Nenhuma célula GFP+ expressava o marcador glial

GFAP ou os marcadores neurais Neu-N e Tuj-1 e todas elas eram positivas para o

marcador pan-leucócito CD45.

Um estudo polêmico publicado pelo grupo de Catherine Verfaille (Jiang Y.,

Jahagirdar B.N. et al., 2002) produziu, através do implante de células derivadas da

medula óssea em blastocistos, dados contrastantes com os descritos acima, obtidos

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em animais adultos. Neste estudo os autores concluíram que células purificadas de

MSC, denominadas MAPCs (multipotent adult progenitor cells) diferenciam-se in

vivo em células com características mesodermais, neuroectodermais e

endodermais. As MAPCs quando injetadas em um blastocisto, contribuíam para a

maioria, talvez todos os tipos celulares somáticos com exceção de células da

linhagem germinativa. MAPCs eram obtidas de medula óssea humana isolando

células negativas para CD45 e Glicoforina-A a partir da porção mononucleada de

medula óssea e cultivadas com 0,2% de FCS, 10 ng/mL de EGF (epidermal growth

factor) e 10 ng/mL PDGF-BB (platelet derived growth factor). MAPCs foram isoladas

de camundongos através do cultivo das células da porção mononucleada da

medula óssea em Fibronectina (FN) com 10 ng/mL EGF, 10 ng/mL PDGF-BB e 10

ng/mL de LIF (Leukemia Inhibitory Factor). As células obtidas eram negativas para

CD3, Gr-1, Mac-1, CD19, CD34, CD44, CD45, cKit, MHC classe-I e classe-II;

expressavam baixos níveis de Flk-1 e Sca-1 e altos níveis de CD13 e SSEA-1

(Stage-Specific Antigen 1). O fenótipo das MAPCs na medula óssea fresca é

desconhecido. A morfologia e o fenótipo mantinham-se após 30 até 120 duplicações

da população. Aproximadamente 1% dos poços semeados com 10 células CD45-

/TER119- da porção mononucleada da medula óssea eram capazes de originar

culturas que cresciam continuamente, sugerindo que uma em 1.000 células CD45-

/TER119- cultivadas a partir de células mononucleadas eram capazes de iniciar

culturas de MAPCs. Cultivadas por 14 dias em FN, sem PDGF-BB nem EGF, mas

com bFGF (basic Fibroblast Growth Factor) cerca de 15% das células adquiriram

morfologia e fenótipo de astrócitos (GFAP), 12% de oligodendrócitos (GalC –

Galactocerebroside) e 69% de neurônios (NF-200). NF-200, GalC e GFAP nunca

eram encontradas na mesma célula. Quando introduzidas em blastocistos de 3,5

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dias, um nível variável de quimerismo podia ser encontrado em 80% dos filhotes.

Células derivadas das MAPCs contribuíam para o encéfalo, retina, pulmão,

miocárdio, músculo esquelético, intestino, rins, fígado, medula óssea e sangue

(figura 5).

Figura 5. Quimerismo detectado através de marcação de X-Gal em animais gerados de blastocistos microinjetados com uma única célula MAPC. A, imagem de uma secção de um animal não quimérico; B, animal 45% quimérico. Adaptado de Jiang Y. et al. (2002).

1.3.3 Fusão das células do sistema hematopoiético com células de

outros tecidos

Outro fenômeno que pode explicar pelo menos parte dos fenômenos de

adoção de fenótipo de células de linhagens não usuais pelas células tronco é a

fusão. Esta questão foi apresentada por Ying Q.L. et al. (2002) ao demonstrarem a

fusão celular entre células tronco embrionárias e células tronco neurais em cultura e

ao mesmo tempo por Terada N. et al. (2002), que usaram células tronco

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embrionárias e células mononucleadas de medula óssea. No entanto, a fusão

espontânea in vitro foi considerada um fenômeno raro, ocorrendo 2 a 11 vezes para

cada 106 células mononucleadas de medula óssea ou uma vez a cada 104 a 105

células tronco neurais plaqueadas.

Duas publicações simultâneas demonstraram fusão in vivo. Através de

transplantes de medula óssea usando doadores e hospedeiros geneticamente

distintos Wang X. et al. (2003) e Vassilopoulos G. et al. (2003) observaram

hepatócitos derivados de medula óssea originados por fusão celular entre células

doadas e células do hospedeiro.

Resultados semelhantes foram obtidos por Alvarez-Dolado M. et al. (2003).

Estes autores demonstraram que a fusão era o principal mecanismo pelo qual

células hematopoiéticas podiam originar cardiomiócitos, neurônios de Purkinge e

hepatócitos in vivo. As demais células derivadas da medula óssea encontradas no

encéfalo, sem envolvimento com fusão, faziam parte da microglia, e no coração,

eram macrófagos. Não foi encontrada evidência de fusão com células da medula

óssea na musculatura esquelética, nos intestinos, rins ou pulmões.

Camargo F.D. et al. (2003) acharam fortes indícios que as células

musculares esqueléticas derivadas de células do sistema hematopoiético

esporadicamente encontradas são originadas apenas a partir de fusão de células

mielóides, após processos inflamatórios em que ocorre infiltração dessas células.

No desenho experimental utilizado, células CD45- não foram capazes de originar

células musculares: 5x105 células de medula óssea CD45- MLacZ+ e 1x105 células

não marcadas de medula óssea total foram injetadas em camundongos irradiados

letalmente 24 horas antes; duas semanas depois os músculos tibiais anteriores

foram processados para imunohistoquímica e não foram encontradas células

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MLacZ+ (marcação com X-Gal). Animais LysM-Cre/ROSA flox/STOP, em que apenas

as células da linhagem mielóide expressam β-galactosidase e que tiveram um

músculo tibial anterior lesionado com cardiotoxina apresentavam células

musculares marcadas com X-Gal.

Doyonnas R. et al. (2004) encontraram resultados diferentes, de que tanto o

transplante de células tronco hematopoiéticas, quanto o de precursores mielóides

gera miócitos em músculo esquelético lesionado. Neste estudo diversas frações de

células da medula óssea eram capazes de invadir o músculo lesado com notexina

(NTX), sendo que a maior parte das células contribuía na forma de macrófagos para

as ações de fagocitose das células danificadas do tecido hospedeiro e somente as

frações que continham células tronco hematopoiéticas (lin- ckit+ Sca1+ e lin- ckit+)

e as que continham precursores mielóides (ckit+ Sca1-, lin- ckit+ Sca1- e lin- ckit+

CD31+) pareciam contribuir para a restauração da lesão, através de fusão celular

ou transdiferenciação.

1.3.4. Potencial terapêutico das células do sistema hematopoiético no sistema

nervoso

Chen J. et al. (2001) administraram células CD34+ de UCB em ratos

submetidos à isquemia cerebral focal e investigaram o quanto estas células

adentravam o encéfalo, sobreviviam, se diferenciavam e melhoravam as

deficiências funcionais resultantes da isquemia. Num dos grupos, 3x106 células de

UCB enriquecidas em células CD34+ (77,2 a 95%) foram transplantadas na veia da

cauda 24 horas após os animais serem submetidos a oclusão transitória da artéria

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cerebral média direita. Estes animais foram sacrificados 14 dias depois para análise

dos tecidos. Outro grupo de animais recebeu o transplante 7 dias após a oclusão e

foram sacrificados 35 dias depois da oclusão. O transplante 24 horas após a

isquemia foi mais efetivo em melhorar as deficiências funcionais em relação à

infusão feita 7 dias após a isquemia, havendo diferença significante do primeiro

grupo para o grupo controle (animais que não receberam células). Não houve

redução significativa na área de infarto em nenhum dos grupos tratados, em relação

ao controle. Significantemente mais células transplantadas foram encontradas no

hemisfério cerebral da lesão do que no contralateral. Destas células, 2 a 8%

expressavam proteínas fenotípicas de astrócitos, neurônios ou endoteliais (GFAP,

Neu-N, Map-2 e vWF).

Estudos similares foram realizados por Li Y. et al. (2002) nos quais testaram

os efeitos de MSC humanas sobre as deficiências funcionais causadas por acidente

vascular encefálico (AVE) em ratos. Para isso, ratos adultos foram submetidos à

oclusão transitória da artéria cerebral média direita e após 24 horas foram

transplantados com 3x106 MSC humanas através da veia da cauda. O desempenho

funcional dos animais foi medido antes do AVE experimental e 1, 7 e 14 dias

depois, com significativa melhora quando comparados a animais isquêmicos que

não receberam MSC. Os níveis de BDNF e NGF medidos 7 dias após o transplante

eram maiores nos animais isquêmicos que haviam recebido MSC do que em

animais que receberam transplante de fibroblastos hepáticos ou que não receberam

transplante, como controles. Não houve redução significativa no volume da lesão

isquêmica 14 dias depois da oclusão nos animais tratados com MSC, mas o número

de células apoptóticas diminuiu na borda da lesão isquêmica. Cerca de 124x103 ±

46x103 células humanas eram encontradas por cérebro. Cerca de 60% deste total

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localizava-se na zona isquêmica. Apenas 1 a 5% das células humanas encontradas

expressavam proteínas fenotípicas de astrócitos, neurônios ou endotélio (GFAP,

Neu-N, Map-2 e vWF) após 14 dias do transplante. Além disto, a quantidade de

células proliferativas aumentou na zona subventricular dos animais isquêmicos que

receberam o transplante.

Uma pesquisa do mesmo grupo, (Chen J. et al., 2003) usando um protocolo que diferia do anterior apenas pelo fato de usar MSC de ratos em ratas e não usar transplante de fibroblastos como controle, obteve resultados semelhantes, acrescido do dado de que a promoção da expressão de bFGF endógena na área de penumbra isquêmica pode ser mais um dos possíveis mecanismos responsáveis pela recuperação funcional obtida com a infusão de MSC.

Em outra série de estudos, Munoz J.R. et al. (2005) demonstraram que a

implantação estereotáxica de MSC humanas no giro denteado do hipocampo de

camundongos aumentava a proliferação endógena dos neurônios daquela região.

Os animais recebiam 5 x 104 ou 105 células e eram sacrificados 7 ou 30 dias após o

transplante. Após 1 a 3 dias do implante houve aumento significativo da proliferação

endógena no giro denteado, quando comparada à mesma área no hemisfério

contralateral. As células que haviam proliferado eram positivas para Sox-2, um

marcador de célula tronco neural. Sete dias após o transplante, estas células eram

positivas para doublecortin, um marcador de célula neuronal migratória e haviam

migrado para a camada celular CA1 e para o stratum oriens do hipocampo. Neste

estágio, algumas das células eram positivas para o marcador de célula tronco

nestina e para NG-2, marcador de progenitores de oligodendrócitos. Após 30 dias,

diferentemente de após 7 dias, algumas das novas células expressavam

marcadores de neurônios adultos. As MSC aumentaram a expressão dos fatores de

sobrevivência neuronal NGF, VEGF, CNTF, FGF-2 e BMI-1 nas áreas próxima ao

implante, o que não ocorreu nas mesmas áreas no hemisfério contralateral, nem

nos controles, que receberam infusão apenas do veículo. A maior expressão de

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NGF e NT-4/5 foi encontrada aos 7 dias, mas a diferença de expressão entre os

animais que receberam células e os controles desaparecia aos 30 dias.

Borlongan C.V. et al. (2004) analisaram se em um modelo de AVE isquêmico

agudo o efeito de neuroproteção obtido através da infusão sistêmica de CMN de

UCB é dependente da entrada destas células no SNC. Para isto uma dose baixa de

CMN de UCB (2 x 105 células) foi infundida intravenosamente em camundongos

enquanto estes eram submetidos à oclusão transitória da artéria cerebral média

direita. Três dias depois não podiam ser detectadas células provenientes do

transplante nos encéfalos, mesmo quando imediatamente após o transplante os

animais eram tratados com manitol, um permeabilizante da barreira hemato-

encefálica. No terceiro dia após a isquemia a infusão de CMN de UCB sem o

permeabilizante, assim como o tratamento com apenas manitol, não trazia

benefícios na avaliação comportamental dos animais, na redução da área de infarto,

ou na concentração encefálica de neurotrofinas. Por outro lado, o tratamento com

CMN de UCB seguido imediatamente pelo tratamento permeabilizante causava

melhoras significativas, reduzia a área de infarto e aumentava a concentração

tecidual de GDNF, em relação aos controles. Estes efeitos eram nulos se as CMN

de UCB eram expostas antes do transplante a anticorpos neutralizadores das

neurotrofinas GDNF (glial cell line–derived neurotrophic factor), NGF, e BDNF

indicando que estas eram as responsáveis pelos efeitos terapêuticos observados

neste grupo de animais. Os níveis sangüíneos de GDNF, NGF e BDNF

encontravam-se aumentados no terceiro dia nos animais tratados com as células

seguido de manitol.

1.4 Expressão de genes de tecidos derivados dos três folhetos embrionários

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em células do sistema hematopoiético

1.4.1 Expressão de genes de tecidos derivados dos três folhetos embrionários

em células do estroma de medula óssea (MO) em cultura

Seshi et al. (2000) demonstraram que células não hematopoiéticas (células

estromais) obtidas de medula óssea humana adulta, quando cultivadas pelo sistema

de Dexter, (Dexter T. M. et al. 1977 e Greenberger J. S. 1978) expressavam

homogeneamente marcadores específicos para múltiplas linhagens celulares

mesenquimais. Neste estudo, após punção, as células estromais foram separadas

das demais células da medula óssea através do sistema de cultura de Dexter.

Neste sistema, as células mononucleadas são cultivadas em placas com meio de

cultura em que foi adicionado soro de cavalo e hidrocortisona e na presença das

células hematopoiéticas, que permanecem flutuantes, por quatro semanas (em

duas passagens). As células mesenquimais (ou estromais) aderem à placa,

juntamente com os macrófagos, que são eliminados com L-leucina metil éster.

Como controle deste experimento foram usadas células mononucleadas (CMN) de

medula óssea separadas por gradiente de Ficoll e não cultivadas. A análise por

northern blotting, RT-PCR (do inglês Reverse Transcriptase Polymerase Chain

Reaction) e imunocitoquímica revelou que todas as células não hematopoiéticas da

cultura aderente expressavam marcadores de adipócitos (Oil Red e Oil Red O), um

marcador de osteoblasto (fosfatase alcalina) e marcadores de fibroblasto

(fibronectina e prolil-4-hidroxilase). Observaram ainda que mais de 80% destas

células também eram positivas para o marcador muscular actina. Por outro lado,

estas células eram negativas para CD34, que é um marcador de célula tronco

hematopoiética. Nas células mononucleadas de medula óssea não cultivada de

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todos os marcadores citados acima, havia marcação apenas para o marcador de

adipócitos adipsina.

Outros estudos usando RT-PCR mostraram que células de estroma de

medula óssea em cultura expressam genes das linhagens germinal, ectodermal,

endodermal e mesodermal. Neste caso, células tronco mesenquimais de medula

óssea de ratos adultos foram mantidas em cultura em meio DMEM suplementado

com 20% de soro fetal bovino por 15 a 20 passagens. Estas células expressavam

genes ectodermais tais como: receptor NMDA, aldolase C, proteína precursora

amilóide, subunidade de ligação de glutamato de NMDA, sintaxina, proteína acídica

fibrilar glial – GFAP e NeuroD. Além destes, estas células expressavam genes da

linhagem endodermal tais como: lanoesterol-14a-demetilase, IPP isomerase e

ceruloplasmina; genes da linhagem mesodermal: leptina, cadeia pesada de miosina,

SM22α e da linhagem germinal como a protamina 2. A exposição por 48 horas

destas culturas a um meio de indução neural (NIM, de neuronal induction media,

constituído de 100 µM BHA, 10 µM de forskolin, 2% DMSO, 5 U/ml de heparina, 5

nM K252a, 25 mM KCl, 2 mM de ácido valpróico, suplemento N2 na concentração

indicada pelo fabricante [Life Technologies], 10 ng/ml de bFGF, 10 ng/ml PDGF [de

platelet-derived growth factor], tendo DMEM como base) causou dramática

modificação morfológica, com retração dos corpos celulares e aparecimento de

prolongamentos finos, semelhantes a neuritos. A expressão do gene germinal

protamina 2 foi reduzida a níveis indetectáveis e o do gene endodermal

ceruloplasmina foi reduzido dramaticamente. Inesperadamente, alguns genes

neurais também tiveram os níveis de RNAm reduzidos, como a subunidade de

ligação de glutamato de NMDA, a aldolase C, o GFAP (marcador de astrócitos), o

NeuroD (fator de transcrição expresso transitoriamente por precursores neuronais)

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e a Sintaxina 13. Por outro lado, marcadores de neurônios como Tau e NF-M que

não tinham expressão detectável nas células mesenquimais, apareceram após a

exposição ao meio de indução neural (Woodburry D. et al., 2002).

A expressão de proteínas específicas de tecido neuronal em cultura de

células mesenquimais derivadas de medula óssea humana, mesmo sem passarem

por qualquer processo de diferenciação foi também descrita por Tondreau T. et al.

(2004). Neste estudo, proteínas gliais e neuronais tais como nestina, βIII tubulina,

Tuj-1, tirosina hidroxilase (TH), proteína associada de microtúbulo 2 (MAP-2) e

GFAP tiveram sua expressão detectada por imunocitoquímica, western blots e RT-

PCR em células mesenquimais humanas separadas por aderência ao plástico ou

por depleção negativa com anticorpos específicos. Na separação por aderência ao

plástico, as células mononucleadas eram colocadas em placas de cultura com α-

MEM e este era trocado após 48 horas, eliminando as células não aderentes, que

são hematopoiéticas (Cultura de Friedenstein, Friedenstein A.J. et al., 1976). Na

separação por depleção negativa as células negativas para CD45 e para glicoforina

A eram utilizadas. Em ambos os casos as células eram cultivadas por duas

passagens com tripsinização. Desta forma a cultura não mais continha macrófagos,

porque estes apesar de aderirem ao plástico juntamente com as células

mesenquimais, não são descolados da placa na tripsinização e são assim

descartados. Foi observado que nestina e Tuj-1, que são proteínas de neurônios

imaturos, são expressas constitutivamente em mais de 80% destas células após

cultura por duas passagens, enquanto proteínas de neurônios mais maduros como

MAP-2 e TH (tiroxina hidroxilase) ou de astrócitos como a GFAP são expressas

após mais de cinco passagens. Após exposição a um meio de indução neural

ocorria um aumento na expressão de proteínas neurais ou gliais mais maduras (TH,

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MAP-2 e GFAP) e diminuição na expressão de Tuj-1, sem diminuição significante

na expressão de nestina ou de marcadores mesenquimais, como SH2 e SH3.

Células mononucleadas separadas por gradiente de densidade, usadas como

controle, expressavam βIII tubulina, mas não nestina, nem MAP-2, o que foi

evidenciado por western blots e RT-PCR. Como as células mesenquimais

cultivadas expressavam espontaneamente antígenos neuronais e gliais, maduros e

imaturos concomitantemente, os autores concluíram que a funcionalidade das

células submetidas às condições indutoras deve ser demonstrada para que se

possa inferir que essas células têm realmente a capacidade de se diferenciarem em

neurônios.

Em outro estudo, a análise por microarray feita com material genético de uma

única célula permitiu demonstrar que uma mesma célula mesenquimal humana de

medula óssea em cultura expressa concomitantemente genes de múltiplas

linhagens. Neste estudo, as células estromais foram separadas das demais células

da medula óssea através do sistema de cultura de Dexter como explicado em

parágrafos anteriores. Uma única célula mesenquimal aderida à placa era retirada

da cultura através de laser-capture microdisection (LCM), tinha o RNA extraído,

amplificado e processado para microarray analysis (total de 10 células). Os

resultados demonstraram que células analisadas isoladamente expressavam

simultaneamente uma grande quantidade de transcritos característicos de

diferenciação em osteoblastos, fibroblastos, miócitos, adipócitos, epitélio, endotélio,

neurônios e glia confirmando estudos anteriores com outras técnicas (tabela 1 e 2).

(Seshi B. et al., 2003).

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Genes relacionados a células neurais, neuroendócrinas ou associados a desordens neurológicas ativos em uma célula estromal de medula óssea humana

Sumário/exemplos representativos: Enolase específica de neurônios (gama), proteínas associadas ao receptor de GABA, NCAM, N-caderina, presenilina 1, proteína interativa com huntingtina, adrenomedulina, axotrofina, BDNF (brain-derived neurotrophic factor), proteína ligadora de sintaxina 1, proteína de mielina periférica 22, anquirina 3 (nodo de Ranvier, anquirina G), fator de maturação glial, etc.

ID da sonda

Nome do gene

ID no banco de genes

Breve descrição

34394_at ADNP AB018327 Neuroprotetor dependente de atividade 34777_at ADM D14874 adrenomedulina 41136_s_at APP Y00264 Proteína precursora beta amilóide (A4) (protease

nexina-II, doença de Alzheimer). Doença de Alzheimer 1, relacionada à APP; Amiloidose, cerebroarterial, tipo Dutch; Esquizofrenia, crônica.

36965_at ANK3 U13616 anquirina 3, nodo de Ranvier (anquirina G). Proteínas conhecidas como moléculas ligadoras da membrana plasmática ao citoesqueleto no SNP.

34817_s_at A2LP U70671 Proteína relacionada à ataxina 2 35268_at AXOT AL050171 axotrofina 32607_at BASP1 AF039656 Abundante no encéfalo; proteína sinalizadora ligada na

membrana 1; 32606_at BASP1 AA135683 Abundante no encéfalo; proteína sinalizadora ligada na

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membrana 1; 37945_at BACH U91316 Hidrolase acetil-Co-A do encéfalo 37958_at BCMP1 AL049257 Proteína de membrana celular no encéfalo 1 40023_at BDNF X60201 BDNF (brain-derived neurotrophic factor) 2053_at CDH2 M34064 caderina 2, tipo 1, N-caderina (neuronal) 36190_at CDR2 M63256 Proteína relacionada à degeneração cerebelar (62kD) 38657_s_at CLTA M20471 Clatrina, polipeptídeo leve (Lca), seqüências de

inserção específicas do encéfalo. 40936_at CRIM1 AI651806 neurônios motores ricos em cisteína 32824_at CLN2 AF039704 Deficiente em lipofucinose cerosa neuronal infantil

tardia; gene da pepstatina lisossomal insensível à protease de homo sapiens (CLN2). Lipofucinose cerosa, neuronal 2, classicamente tardia na infância.

37692_at DBI AI557240 Inibidor de ligação de diazepam (modulador do receptor de GABA, proteína ligadora de acil-Coenzima A)

39542_at ENC1 AF059611 Córtex, ectodermal-neural (com domínio BTB-like) / associados com p110(RB). Seletores OMIM: fortemente expresso no encéfalo.

33817_at D10S102 S63912 FBRNP; homólogo heterogêneo de ribonucleoproteína; 41091_at FALZ U05237 Antígeno fetal de Alzheimer. Seletores OMIM:

anormalmente expresso no encéfalo fetal. O anticorpo correspondente ALZ50 reconhece uma patologia neurofibrilar associada com a doença de Alzheimer.

37298_at GABARAP AF044671 Proteína associada ao receptor de GABA(A)

35785_at GABARAPL1 W28281 Proteína associada ao receptor de GABA(A) like 1

Tabela 1, primeira parte. Genes de célula neural ou neuroendócrina ou associados a desordens neurológicas encontrados em uma célula estromal de medula óssea. OMIM: Online Mendelian Inheritance in Man. Adaptado de Seshi B. et al. (2003), material suplementar. ID da sonda

Nome do gene

ID no banco de genes

Breve descrição

35767_at GABARAPL2 AI565760 Proteína associada ao receptor de GABA(A) like 2

763_at GMFB AB001106 Fator de maturação de glia, beta 39793_at GBAS AF029786 Seqüência amplificada de glioblastoma 38233_at HOMER-3 AF093265 Gene precoce imediato neuronal, homer, 3 40193_at ENO2 X51956 Gene para enolase específica de neurônio (gama)

humana ENO2. 216_at PTGDS M98539 Gene para a prostaglandina D2 sintase humana, exon

7, encéfalo. 40121_at HIP2 U58522 proteína interativa com huntingtina 2 35973_at HYPH AB023163 proteína interativa com huntingtina H 39687_at E46L AI524873 Proteína de encéfalo de camundongo like E46 39686_g_at E46L AL050282 Proteína de encéfalo de camundongo like E46 39685_at E46L AL050282 Proteína de encéfalo de camundongo like E46 1452_at LMO4 U24576 Domínio único LIM 4. Seletores OMIM: é fortemente

expresso nas células da crista neural cranial, somitos, botão mesenquimal da borda dorsal, neurônios motores, progenitores de células de Schwann e na linhagem de linfócitos T.

39072_at MXI1 L07648 Proteína interativa MAX 1. Neurofibrosarcoma; suscetibilidade a câncer de próstata; fator de transcrição; formas heterodiméricas com a proteína

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Max.

654_at MXI1 L07648 Proteína interativa MAX 1. Neurofibrosarcoma; suscetibilidade a câncer de próstata; fator de transcrição; formas heterodiméricas com a proteína Max.

33769_at MPZL1 AF087020 Proteína de mielina zero-like 1 39356_at NEDD4L AB007899 Expressa em precursores neurais, regulada pelo

desenvolvimento 4-like 40281_at NEDD5 D63878 Expressa em precursores neurais, regulada pelo

desenvolvimento 5 1695_at NEDD8 D23662 Expressa em precursores neurais, regulada pelo

desenvolvimento 8 37005_at NBL1 D28124 neuroblastoma, supressão de tumorigenicidade 1 31896_at NAG AL050281 Proteína amplificada de neuroblastoma 37286_at NRCAM AB002341 Molécula de adesão celular neuronal 36933_at NDRG1 D87953 Gene regulador diminutivo N-myc 1. Neuropatia,

neuropatia hereditária motora e sensitiva tipo Lom. 38653_at PMP22 D11428 Proteína de mielina periférica 22. Doença de Charcot-

Marie-Tooth com surdez; neuropatia de Charcot-Marie-Tooth 1A; Doença de Dejerine-Sottas; Neuropatia recorrente.

41221_at PGAM1 J04173 Fosfoglicerato mutase 1 (encéfalo) 36667_at PYGB U47025 Fosforilase, glicogênio; encéfalo. 38291_at PENK J00123 Preproencefalina (gene da encefalina humana: exon 3 e

flanco 3'). Tabela 1, segunda parte. Genes de célula neural ou neuroendócrina ou associados a desordens neurológicas encontrados em uma célula estromal de medula óssea. OMIM: Online Mendelian Inheritance in Man. Adaptado de Seshi B. et al. (2003), material suplementar.

ID da sonda

Nome do gene

ID no banco de genes

Breve descrição

641_at PSEN1 L76517 presenilina 1 (doença de Alzheimer 3). Doença de Alzheimer, familiar, com paraparesia espástica e placas incomuns; Doença de Alzheimer 3.

38406_f_at PTGDS AI207842 prostaglandina D2 sintase (21kD, encéfalo) 38841_at GDBR1 AF068195 Relacionado à diferenciação celular em glioblastoma 1659_s_at RHEB2 D78132 Homólogo de Ras fortemente presente no encéfalo 2 34265_at SGNE1 Y00757 Grânulo secretório, proteína neuroendócrina 1 (proteína

7B2) 38818_at SPTLC1 Y08685 Serina palmitiltransferase, subunidade de base de

cadeia longa 1. Neuropatia, hereditária sensorial e autonômica, tipo 1.

36609_at SLC1A3 D26443 Família carreadora de soluto 1 (transportador glial de alta afinidade por glutamato), membro 3

34166_at SLC6A7 S80071 Família carreadora de soluto 6 (transportador de neurotransmissor, L-prolina), membro 7

32102_at SACS AB018273 Ataxia espástica de Charlevoix-Saguenay (SACSIN)/ Ataxia espástica, tipo Charlevoix-Saguenay.

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36142_at SCA1 X79204 Ataxia espinocerebelar 1 (ataxia olivopontocerebelar 1, autossômica dominante, ataxina 1)

36998_s_at SCA2 Y08262 Ataxia espinocerebelar 2 (ataxia olivopontocerebelar 2, autossômica dominante, ataxina 2). Ataxia espinocerebelar 2.

38040_at SPF30 AF107463 splicing factor 30, relacionado à sobrevivência de neurônio motor

38800_at STMN2 D45352 stathmin-like 2. Seletores OMIM: proteína associada ao crescimento neuronal SCG10.

40467_at SDHD AB006202 Complexo succinato desidrogenase, subunidade D, proteína integral de membrana. Paragangliomas, familiar, sistema nervoso central; Paragangliomas, acromatina familiar, 1, com e sem surdez; Feocromocitoma.

33942_s_at STXBP1 AF004563 Proteína ligadora de sintaxina 1 / implicação no tráfego de vesículas e liberação de neurotransmissores.

36990_at UCHL1 X04741 Ubiquitina carboxil-terminal esterase L1 (ubiquitina tiolesterase), específico neuronal. Doença de Parkinson, familiar. Seletores OMIM: altamente específico de neurônios e do sistema neuroendócrino e dos seus tumores.

1058_at WASF3 S69790 Família de proteínas WAS, membro 3 35681_r_at ZFHX1B AB011141 zinc finger homeobox 1b. Síndrome de retardo mental da

doença de Hirschsprung; Síndrome de retardo mental da doença de Hirschsprung na ausência da doença de Hirschsprung. Seletores OMIM: proteína interativa de SMAD 1 (SMADIP1) aparentemente essencial ao desenvolvimento neural embriônico e da crista neural.

40140_at ZFP103 D76444 Proteína homóloga zinc finger 103 (camundongo). Seletores OMIM: título alternativo KF1, expresso no cerebelo normal e no córtex cerebral na Doença de Alzheimer, mas não no córtex cerebral normal.

Tabela 1, terceira parte. Genes de célula neural ou neuroendócrina ou associados a desordens neurológicas encontrados em uma célula estromal de medula óssea. OMIM: Online Mendelian Inheritance in Man. Adaptado de Seshi B. et al. (2003), material suplementar. Linhagem celular Exemplos de genes representativos associados às linhagens A. Osteoblastos Caderina 11 (tipo 2, OB-caderina, osteoblasto), osteonectina,

osteopontina, fator específico de osteoblasto 2 (fasciclina I-like), condroitina sulfato proteoglicano 2 (versican), biglican, bamacan, colágeno tipo I, α2 (osteogênese imperfeita).

B. Músculo Vários tipos de miosina, tropomiosina 1 e 2, transgelina, transgelina 2, caldesmon 1, distrofina, distroglican 1, distrofia muscular congênita tipo Fukuyama (fukutina), ATPase (transporte de Ca2+, músculo cardíaco, contração lenta 2/ doença de Darier), filamento de actina, linha Z muscular (α2 e β).

C. Fibroblasto Prolil 4-hidroxilase, fibronectina, fibrillina 1, fibroglicano, gene de alfa-1 colágeno tipo IV, fator de crescimento de fibroblasto 7 (fator de crescimento de queratinócito) e proteína de fibroblasto de ligamento periodontal.

D. Adipócito Proteína relacionada à diferenciação de adipócito (adipofilina), adipsina, lipídio desaturase, proteína ECM 2 (adipócito específica), vigilina, necdina e perilipina.

E. Carcinoma e célula epitelial Citoqueratina 10, queratina (cabelo, básica, 6, monilethrix), proteína de membrana epitelial 1, proteína de membrana epitelial 2, antígeno bullous pemphigoid 1, milk fat globule-EGF factor 8 protein (lactaderina), antígeno associado à mucina epitelial

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mamária, protimosina α e timosina β4 β10. F. Célula endotelial, vasculogênese e angiogênese

Angiopoietina, VEGF, VCAM1, gene associado ao fator VIII, EDF1 (endothelial differentiation-related factor 1) e EDG2 (endothelial differentiation, G-protein-coupled receptor 2).

G. Célula neural Enolase específica de neurônio, proteínas associadas ao receptor de GABA, NCAM, N-caderina, presenilina 1, proteína interativa com Huntingtinian, adrenomedulina, axotrofina, BDNF (brain-derived neurotrophic factor), proteína ligada a sintaxina 1, proteína de mielina periférica 22, anquirina 3 (nodo de Ranvier, anquirina G), fator de maturação glial.

H. Célula mielóide/leucemia mielóide

MLLT2 (mixed-lineage leukemia trithorax homolog, Drosophila), CBFB (core-binding factor, β-subunit), ABL proto-oncogene, MCL1 (myeloid cell leukemia sequence 1), e oncogene DEK.

I. Célula T, célula NK e leucemia

CD4, proteína ligadoraTAX1 1, seqüência de reconhecimento de tumor de natural killer, RAP1, estimulador de associação 1 GTP-GDP.

J. Célula B e neoplasmas de célula B

Proteína associada à tirosina cinase de Bruton, 135 kDa (BAP135), inibidor de tirosina cinase de Bruton, fator de transcrição de leucemia de célula pré-B 3 (PBX3), proteína associada de RAG de célula B, ciclina D1, BCL6, TCF 3 (E12/E47), CALLA (CD10), (CD79A, COPEB [core promoter element binding protein, expressão limitada a células B CD19+ e testículos]), proteína tirosina fosfatase, tipo receptor, F (similar a CD45, que é PTPRC), restina (expressa em células de Reed-Sternberg no linfoma de Hodgkin, conhecido como um tipo de linfoma de célula B).

Tabela 2. Lista de genes associados a diversas linhagens celulares encontrados em células estromais de medula óssea. Adaptado de Seshi B. et al. (2003).

1.4.2 Expressão de genes de tecido nervoso em células de sangue de cordão

umbilical in vitro

Foi demonstrado recentemente que células de UCB (do inglês Umbilical Cord

Blood) em cultura expressam marcadores característicos de células neurais

(Sanchez-Ramos J.R. et al., 2001). Neste estudo, células mononucleares (CMN)

obtidas de UCB humano foram cultivadas em DMEM por 24 a 72 horas e foi

demonstrado que estas células expressam a proteína musashi-1 relacionada ao

desenvolvimento neural (1,5% das células), β-tubulina-III (8,0% das células),

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pleiotropina (neurite-outgrowth-promoting protein), GFAP (34% das células), e Neu-

N (neuron-specific protein). Após cultivo por mais 24 a 48 horas em meio acrescido

de ácido retinóico e NGF (Nerve Growth Factor) ocorreu um aumento na expressão

de musashi-1, β-tubulina-III, pleiotropina e de Neu-N, mas não de GFAP na

avaliação através de Western Blot. Além disto, a imunocitoquímica revelou que,

além da quantidade de proteínas, a proporção de células que expressava os

antígenos musashi-1, β-tubulina-III e GFAP também aumentou após este

tratamento. A análise por DNA Microarray demonstrou aumentos significantes na

expressão de 322 genes de um total de 12.600 genes analisados. Destes, 20

podiam ser considerados produtos de neurônios, glia ou células neurais imaturas

(Tabela 3).

Aumento da expressão de genes associados a neurônios, glia ou a células neurais imaturas após tratamento com RA e NGF

Transcritos de genes Fator de

multiplicação Breve descrição

Proteína promotora de expansão de neuritos (pleiotrofina)

44 Proteína associada à matriz extracelular que aumenta o crescimento axonal em neurônios cerebrais perinatais.

Glipican-4 4,9 Glipican-4 é expresso em células imunorreativas para nestina e para o antígeno D1.1, marcadores de precursores neurais; sua expressão não é detectável em neurônios pós-mitóticos recentes ou terminalmente diferenciados.

GFAP (Glial acidic fibrillary protein)

3,2

Pentraxina neuronal II (NPTX2)

2,3 Membro de uma nova família de proteínas identificadas através da interação com a toxina

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pressináptica de veneno de cobra taipoxina; pode ter função durante a formação sináptica e remodelamento.

Proteína de crescimento neuronal 43 (GAP-43)

2,7 Identifica neurônios, mas também células musculares em desenvolvimento.

PAS1 neuronal (NPAS1) 2,3 Fatores de transcrição seletivamente expressos no sistema nervoso central.

BMP-1 (bone morphogenetic protein 1)

2 BMP-1 é encontrado na placa neural e na transição ectodermal; a expressão é mantida na crista neural pré-migratória e transitoriamente nas células migratórias da crista neural cefálica.

trkC 2 Receptor para neurotrofina 3 (NT3) PAS2 neuronal (NPAS2) 1,7 Fatores de transcrição seletivamente expressos no

sistema nervoso central. MAP-2 (Microtubule-associated protein 2)

1,6

Transportador vesicular de acetilcolina

1,6

Subunidade M de neurofilamento (NF-M)

1,5

Subunidade L de neurofilamento (NF-L)

1,5

Musashi-1

1,5 Proteína ligadora de RNA encontrada no sistema nervosa central em desenvolvimento e adulto de rãs, pássaros roedores e humanos.

BMP11 (bone morphogenetic protein 11)

1,5 BMP-11 é expressa no sistema nervoso em desenvolvimento.

Tabela 3. Expressão de genes associados a neurônios, glia ou a células neurais imaturas em células de sangue de cordão umbilical cultivadas antes e após indução de diferenciação neural através de tratamento das culturas com ácido retinóico (RA) e NGF. Os autores observaram que após a indução a quantidade de transcritos de genes relacionados ao SN aumenta. Adaptado de Sanchez-Ramos J.R. et al. (2001).

1.4.3 Expressão de genes de tecido nervoso em MO, sangue periférico (SP) e

UCB ex vivo

Marty M.C. et al. (2002) demonstraram que proteínas básicas de mielina

(MBP, do inglês Myelin Basic Protein) são expressas nas células CD34 da medula

óssea, em uma vasta maioria dos linfócitos T e B do timo, linfonodos e baço, nas

células de linhagem mielóide – macrófagos, células dendríticas e granulócitos –

assim como em eritroblastos e megacariócitos. Neste trabalho, os timos de

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camundongos adultos foram mecanicamente dissociados gerando uma população

de células T imaturas 96% puras. Western blots feitos com esta população de

células demonstrou MBPs na região de 26 a 28kDa. Nas imunocitoquímicas, a

maior parte das células estava marcada para estas proteínas. Células T maduras

extraídas dos linfonodos e do baço apresentavam transcritos para MBP nos

experimentos com RT-PCR. Análises imunocitoquímicas realizadas nestas células

vivas não apresentaram nenhuma marcação, demonstrando que o epítopo

reconhecido pelo anticorpo não se encontrava na superfície das células. Uma

investigação ultraestrutural demonstrou que pedaços de membrana plasmática e

membranas intracelulares eram claramente imunorreativas para este marcador e o

citoplasma possuía marcação difusa, mas não o núcleo, semelhante à marcação

clássica de MBPs encontrada em oligodendrócitos e células de Schwann. Análise

por RT-PCR realizada com células B positivas para CD19 demonstrou a expressão

de MBPs nestas células e a análise por imunocitoquímica revelou positividade em

uma vasta maioria destas células, mas não em todas. Adicionalmente, análises por

imunocitoquímica foram realizadas em macrófagos (F4/80+) ou células dendríticas

(NLDC 145+) isoladas de vários tecidos para demonstrar a expressão de MBPs

também na linhagem mielóide. Nesta população, foi também observado que a maior

parte das células era positiva para MBPs. Na análise por western blots foram

identificadas proteínas com peso molecular de 26-28 kDa, como esperado, e o RT-

PCR demonstrou que as MBPs eram expressas em níveis altos nestas células.

Granulócitos e células mielóides, extraídos da medula óssea e do sangue periférico,

também apresentaram marcação na maioria das células. A maioria dos eritroblastos

(TER119+) e megacariócitos (CD41+) eram positivos para MBPs, mas nenhuma

marcação foi encontrada em eritrócitos adultos (células TER119+ de 6 micrômetros

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de diâmetro). Utilizando anticorpos para o antígeno CD34 para distinguir as células

tronco hematopoiéticas, pôde-se demonstrar que as MBPs estavam presentes na

vasta maioria destas células, com forte expressão dos transcritos.

Em uma série de outros estudos, Goolsby J. et al., (2003) também

concluíram que progenitores hematopoiéticos cultivados e não cultivados

expressam genes neurais. Neste estudo, a medula óssea de camundongos foi

extraída e cultivada em meio suplementado com IL-3, IL-6 e 2-mercaptoetanol,

sendo apenas as células flutuantes aproveitadas nas passagens, num total de 6

semanas a 4 meses de cultivo. Foi utilizada também medula óssea de

camundongos adultos fixada com paraformaldeído imediatamente após a extração

(medula óssea total, ex vivo), que foi processada para imunocitoquímica. Cerca de

1,5% das células de medula óssea adulta não cultivada expressavam o fator de

transcrição neurogênico PAX-6 e as 4 proteínas neuronais examinadas

(neurofilamento H, Neu-N, HuC/HuD [neuronal RNA-binding protein] e a enzima

responsável pela síntese de GABA, a ácido glutâmico descarboxilase [GAD65]).

Imunocitoquímicas duplas demonstraram que Pax-6 e neurofilamento H estavam

presentes em uma mesma célula. Nenhuma marcação foi encontrada para a GFAP,

um marcador de astrócitos (tabela 4). Aproximadamente 20% das células positivas

para CD34, um marcador de células tronco hematopoiéticas de medula óssea, eram

positivas também para neurofilamento H, Neu-N, HuC/HuD e GAD65. No entanto,

após 4-5 semanas de cultivo, todas as células flutuantes expressavam CD34, Sca-1

e cKit (expressos em células tronco e progenitores hematopoiéticos), CD45

(marcador geral de células hematopoiéticas), PAX-6 (fator de transcrição

neurogênico), HuC/HuD, Neu-N, GAD65 e neurofilamento H (marcadores de

diferenciação neuronal), CNPase, proteína de mielina específica de oligodendrócito

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(MOSP), galactocerebrosidase e proteoglicano condroitina sulfato NG2

(marcadores de oligodendrócitos). Estas células não expressavam neurofilamentos

M e L, tirosina hidroxilase, receptor muscarínico de acetilcolina M2, filamento

intermediário de astrócitos (GFAP) e nem o marcador de oligodendrócitos O4.

Estes resultados foram obtidos utilizando imunocitoquímica, RT-PCR e western blot.

Para testar a funcionalidade destas células, as mesmas foram marcadas com Cell

Trace Orange (Molecular Probes) e injetadas estereotaxicamente no hipocampo e

no striatum de camundongos adultos. Os cérebros foram processados para

imunohistoquímica após 1 a 14 meses de sobrevida, sem que qualquer alteração de

comportamento tivesse sido notada nos animais injetados. Aproximadamente 40%

das células injetadas sobreviveram e após 1-2 meses do transplante parte das

células continuavam a expressar CD34. No entanto, 6 meses após o transplante a

percentagem de células que expressavam Neurofilamento H, Neu-N e CNPase,

diminuiu de 100% para 40%, e de 40% e 30%, respectivamente. Além disto, 30%

das células passaram a expressar GFAP, o que não ocorria em cultura. Reações

imunocitoquímicas com dupla marcação demonstraram que as células que

expressavam neurofilamento H ou Neu-N não expressavam CNPase ou GFAP e

CNPase não era encontrada em células que expressavam GFAP. Isto significa que,

enquanto em cultura estas células expressavam concomitantemente moléculas de

astrócitos, neurônios e oligodendrócitos, no ambiente encefálico esta expressão

gênica foi segregada em populações distintas, pelo menos no que diz respeito às

moléculas analisadas.

Percentagem de células positivas Marcador Ex vivo dia 21 in

vitro Dias 56 e 110 in vitro

Fatores de transcrição neuronal Pax-6 1,5 92 100 Oct-4 1,5 92 100

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Neurônios HuC/HuD 1,5 92 100 Neurofilamento-H 1,5 92 100*† NeuN 1,5 91 100* Ácido glutâmico descarboxilase GAD65 1,5 ND 100 Tirosina hidroxilase ND ND 0 Receptor muscarínico de acetilcolina M2

ND ND 0

Astroglia GFAP 0 0 0* Oligodendrócitos CNPase 1,5 92 100*† MOSP ND ND 100* HMBP/MBP2 100 ND 100*† Galactocerebrosidase ND ND 100* NG2 condroitina sulfato proteoglicano ND ND 100* O4 0 0 0

Tabela 4. Marcadores de células neurais em células CD34+ ex vivo e in vitro. HMBP/MBP2, hemopoietic myelin basic protein e myelin basic protein 2. ND, não determinado. *Determinado por análise de Western blot. † Determinado por análise de PCR. Adaptado de Goolsby J. et al., 2003.

Ratajczak M.Z. et al. (2004) compararam a expressão de antígenos tecido-

específicos em CMN extraídas de medula óssea e de sangue periférico (SP) após

recrutamento das células da medula óssea para a periferia com agentes

farmacológicos (G-CSF, do inglês granulocite-colony stimulating factor), em

humanos e em camundongos adultos. Nos camundongos, as CMN foram isoladas

através de gradiente de densidade Ficoll-Paque, da medula óssea, do sangue

periférico normal ou do sangue periférico de animais que receberam G-CSF. Destas

frações foram separadas as células Sca-1 positivas, através de anticorpos

associados à mini-contas paramagnéticas. Em humanos, células mononucleadas de

baixa densidade de medula óssea foram coletadas e depletadas de células

aderentes e de linfócitos T. Sangue periférico de humanos adultos que receberam

ou não G-CSF foi também coletado. As frações humanas foram enriquecidas em

células tronco através de seleção por imunoafinidade com contas paramagnéticas

conjugadas a anticorpos para AC133 e CD34. A análise por RT-PCR revelou que

havia expressão de marcadores musculares precoces (Myf-5, Myo-D e miogenina),

neurais (GFAP e nestina) e hepático (CK19 e fetoproteína) em CMN de sangue

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periférico de camundongo e de humanos adultos. A expressão de mRNA para todos

estes marcadores era muito maior nas células provenientes de amostras de sangue

em que se tinha usado G-CSF. A expressão de mRNA para estes marcadores em

diferentes subgrupos de células isoladas da medula óssea de camundongos e de

humanos foi analisada por RT-PCR (Real Time –PCR). Esta expressão era muito

maior – até mais de 400 vezes – nas células mononucleadas não aderentes que

nas células mononucleadas aderentes de medula óssea (células tronco

mesenquimais e macrófagos) humanas e de camundongo. Estes marcadores

também eram muito mais freqüentes nas células humanas CD34 ou AC133 quando

comparadas à medula total, às células CD34 negativas e às células AC133

negativas. Em camundongos, a expressão dos marcadores musculares precoces,

neurais e hepáticos era muito maior nas células de medula óssea SCA-1 positivas

que nas negativas.

Em outro estudo, Ha Y. et al. (2003) demonstraram que monócitos de sangue

de cordão umbilical humano expressam nestina. Nestina é uma molécula da classe

de filamentos intermediários expressos em células tronco neurais que são

convertidos em proteínas de citoesqueleto maduro, como GFAP e neurofilamentos.

Neste estudo, monócitos umbilicais humanos foram isolados de sangue venoso

umbilical através de gradiente de Ficoll 1077 e cultivados por 2 horas em lamínulas.

Análises imunocitoquímicas para o filamento intermediário nestina e para o

marcador de célula tronco hematopoiética CD133 revelaram que cerca de 4,2 %

das células aderidas expressavam nestina e 5,8% expressavam CD133. Cerca de

60% das células positivas para CD133 co-expressavam nestina e 92% das células

que expressavam nestina co-expressavam CD133. A análise por RT-PCR

confirmou tanto a expressão de nestina quanto de CD133 nos monócitos umbilicais

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humanos. Monócitos de sangue de adultos foram usados como controles, não

sendo encontrados produtos de amplificação de genes de Nestina nem de CD133.

1.5. O gangliosídeo 9-O-acetil GD3

Gangliosídeos formam um extenso grupo de glicoesfingolipídeos contendo

ácido siálico e são largamente expressos nos tecidos dos mamíferos e

particularmente abundantes no sistema nervoso. O gangliosídeo 9-O-acetil GD3 é

uma modificação do gangliosídeo GD3 em que uma O-acetilação está localizada na

posição nove do resíduo de ácido siálico (Blum A.S. & Barnstable C.J. 1987).

O gangliosídeo 9-O-acetil GD3 está localizado na membrana de neurônios e

células gliais e sua distribuição é temporalmente e espacialmente correlacionada

com migração neuronal e extensão de neuritos no SN (Mendez-Otero R. et al.,

1988). Esta molécula é reconhecida pelo anticorpo monoclonal denominado Jones

(Constantine-Paton M. et al. 1986). O epítopo reconhecido por este anticorpo

depende do grupo acetil na posição nove do ácido siálico (Blum A.S. & Barnstable

C.J. 1987). No SN em desenvolvimento de ratos a expressão do gangliosídeo 9-O-

acetil GD3 está correlacionada particularmente com períodos de migração celular

na retina, colículo superior, cerebelo e telencéfalo e em regiões nas quais ocorra

extensão de neuritos, como o trato óptico em desenvolvimento, a substância branca

do cerebelo, os gânglios das raízes dorsais, o sistema trigeminal e o nervo olfatório

(Constantine-Paton M. et al. 1986; Mello L.E.A.M. & Mendez-Otero R. 1996;

Mendez-Otero R. et al. 1988; Mendez-Otero R. et al. 1992; Mendez-Otero R. &

Santiago M.F. 2001; Mendez-Otero R. & Ramon-Cueto A. 1994; Schlosshauer B. et

al. 1988).

A molécula reconhecida pelo anticorpo Jones apresenta um gradiente

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dorsiventral pronunciado na retina do embrião do rato durante o período em que os

axônios das células ganglionares da retina estão formando projeções

topograficamente organizadas dentro do sistema nervoso central. Este gradiente

deve ter função semelhante ao de outros gradientes espaciais de moléculas

presentes no encéfalo em desenvolvimento, isto é, a função de controlar a

deposição de neurônios e prolongamentos neuronais. A primeira aparição do

antígeno do Jones na retina, no 12º - 13º dia embrionário coincide com o início do

período em que os primeiros axônios das células ganglionares da retina deixam o

olho (Constantine-Paton M. et al. 1986).

No adulto é encontrada imunorreatividade para o gangliosídeo 9-O-acetil

GD3 na zona subventricular do ventrículo lateral e na cadeia migratória rostral. A

marcação pode ser observada em células individuais com morfologia similar à de

neurônios migratórios. A zona subventricular é uma das áreas de neurogênese no

adulto e a expressão deste gangliosídeo deve estar correlacionada à migração dos

interneurônios ali formados (Mendez-Otero R. & Cavalcante L.A. 2003; Mendez-

Otero R et al., 2005).

O gangliosídeo 9-O-acetil GD3 é re-expresso no SNP adulto em situações de

regeneração. Por exemplo, durante a regeneração do nervo ciático submetido a

esmagamento ocorre um aumento da expressão deste gangliosídeo cinco dias

após, atingindo o máximo de expressão no dia 7 e retornando aos níveis basais no

décimo dia (Ribeiro-Resende V.T., et al. 2006).

O papel funcional do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 foi estudado através do

seu imunobloqueio. Cadeias migratórias obtidas a partir de explantes de zona

subventricular de ratos neonatos expressam o gangliosídeo 9-O-acetil GD3 e seu

imunobloqueio interrompe a migração neuronal (Miyakoshi L. et al., 2001). A

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migração neuronal também pôde ser bloqueada, de maneira dose-dependente, na

camada celular do cerebelo em desenvolvimento, in vitro (Santiago M.F. et al.,

2001). Através da administração crônica intracerebroventricular do anticorpo

monoclonal Jones pôde-se observar a perturbação da migração in vivo em ratos

neonatos. Células pós-mitóticas identificadas através de marcação com 5-bromo-2’-

deoxiuridina (BrdU) acumulavam-se na camada granular externa do cerebelo e

apenas um pequeno número delas alcançavam as camadas internas (Santiago M.F.

et al., 2004).

Em gânglios da raiz dorsal o gangliosídeo 9-O-acetil GD3 está colocalizado

com vinculina e β1 integrina nos cones de crescimento. Estas proteínas identificam

os pontos de contato da membrana plasmática com a matriz extracelular, sugerindo

um possível papel do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 na modulação destes contatos

durante a extensão neurítica (Negreiros E.M.A., et al. 2003).

O gangliosídeo 9-O-acetil GD3 também é encontrado no Sistema

Imunológico, sendo o antígeno denominado CDw60. No sangue periférico humano

a maior concentração de CDw60 extra ou intracelular, por célula, é encontrada em

granulócitos e linfócitos T, enquanto em linfócitos B e em monócitos as

concentrações são consideravelmente menores (Kniep B. et al., 1993). No entanto,

na superfície celular de células de sangue periférico este antígeno só foi encontrado

em linfócitos T (Lünsdorf H. et al., 2000) ou em linfócitos B ativados (Vater M. et al.,

1997), concluindo-se que em monócitos e granulócitos o antígeno tem localização

intracelular. No sangue periférico humano, 20 a 40% dos linfócitos CD8+ e 40% dos

linfócitos CD4 expressam CDw60. Toda a população de CD8+ T helper expressa

CDw60 na superfície, de forma que este antígeno pode ser usado para diferenciar

estas células daquelas CD8+ com atividades citotóxicas ou supressoras (Rieber

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P.E. & Rank G., 1994). A função do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 nas células do

Sistema Imune pode estar relacionada a contatos de adesão entre células vizinhas

(Vater M. et al., 1997).

O gangliosídeo 9-O-acetil GD3 também é comum em diversos tipos de

tumores (Gocht A. et al., 2000).

Uma vez que a expressão do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 está relacionada

ao desenvolvimento do SN e à neurogênese no adulto, têm-se sugerido que o

mesmo possa ser utilizado como marcador de células tronco e/ou progenitores. Em

nenhum dos estudos citados acima sobre o sistema imunológico células tronco ou

progenitoras foram analisadas quanto à expressão do gangliosídeo 9-O-acetil GD3.

No sistema hematopoiético este gangliosídeo poderia ter alguma função na

migração celular e na modulação dos contatos da membrana plasmática com o

substrato.

2. Objetivos

Vários autores têm utilizado a expressão de antígenos considerados restritos

a linhagens para demonstrar fenômenos de transdiferenciação in vitro (Woodbury et

al., 2000; Sanchez-Ramos et al , 2000; Deng et al., 2001) e in vivo (Eglitis & Mezey ,

1997; Brazelton et al., 2000; Mezey et al., 2000; Mezey et al., 2003; Khosrotehrani

et al., 2004). Antígenos teoricamente marcadores restritos a algum outro tecido são

também expressos por MSC cultivadas (Seshi et al., 2003), mas pouco se sabe

sobre a expressão dos mesmos em MSC não cultivadas e nas demais células do

sistema hematopoiético. Em função destas observações, um dos objetivos deste

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trabalho foi:

1) Verificar e quantificar a expressão de antígenos marcadores de glia (S-

100, vimentina e GFAP), de neurônios imaturos (ß-III-tubulina) e maduros

(NSE, NF-200 e MAP-2) em células mononucleadas de sangue de cordão

umbilical humano e de medula óssea de ratos adultos.

A fração mononucleada foi considerada apropriada para este objetivo, por ser

um conjunto de células comumente usado para transplante em terapias celulares.

Além disso, vários tipos celulares contidos na fração mononucleada são capazes de

adentrar o SNC (Hickey, 1999; Hickey, 2001) e células da linhagem mielóide têm um

especial tropismo por tecidos lesados (Doyonnas et al., 2004). Estas células podem

ser confundidas com células transdiferenciadas se a expressão de antígenos do

tecido hospedeiro for o único critério utilizado para essa avaliação.

Um dos antígenos que estudamos nas células da fração mononucleada foi o

gangliosídeo 9-O-acetil GD3. O interesse nesta molécula se deve ao fato de que a

mesma foi descrita em células do sistema nervoso e do sistema hematopoiético. No

sistema nervoso este antígeno tem sido descrito em células tronco e/ou progenitores

neurais e sua função tem sido associada a fenômenos de migração celular. No

sistema hematopoiético a expressão deste antígeno é restrita a uma sub-população

celular e sua função tem sido associada à modulação dos contatos da membrana

plasmática com o substrato. A expressão do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 em células

tronco ou progenitoras do sistema hematopoiético não foi ainda investigada.

Portanto, dois outros objetivos deste trabalho foram:

2) caracterizar e quantificar a expressão do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 em

CMN de sangue de cordão umbilical humano e de medula óssea de ratos

adultos.

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3) Verificar a expressão do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 em células tronco e

progenitoras da medula óssea de ratos adultos, identificadas pela

expressão do antígeno CD34.

3. Materiais e Métodos

3.1. Animais utilizados

Utilizamos 6 ratos adultos de 3 a 12 meses de idade da variedade Lister com

livre acesso a água e comida. Esses animais foram fornecidos pelo Biotério de

Roedores do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF) e utilizados em

conformidade com o Comitê de Uso de Animais da instituição.

3.2. Extração de medula óssea

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Os ratos foram anestesiados por inalação de éter e, em seguida, sacrificados

por deslocamento cervical. As patas traseiras foram removidas sem a pele e

transferidas para uma placa de Petri, contendo salina tamponada com fosfato (PBS)

10mM pH 7,4. Os ossos longos foram dissecados e transferidos para outra placa

contendo PBS.

A medula óssea foi retirada do canal medular após a remoção das epífises

dos ossos. Uma seringa contendo 5ml de PBS 10mM pH 7,4 foi utilizada para

expulsar a medula do interior do canal através de pequenos jatos. Após a remoção,

as células da medula foram dissociadas mecanicamente em um tubo de plástico de

15ml, utilizando-se uma pipeta Pasteur. Em seguida as células dissociadas foram

centrifugadas a 100xg por 10 minutos. O sobrenadante foi desprezado e o

precipitado foi ressuspendido em 3ml de PBS 10mM pH 7,4.

3.3. Amostras de sangue de cordão umbilical

As amostras foram obtidas do Instituto Fernandes Figueira ou do Instituto

Nacional do Câncer (INCA), de acordo com os requerimentos éticos dos comitês

locais. O sangue de cordão umbilical (n=15; idade gestacional de 35 a 40 semanas)

era coletado da veia umbilical da placenta, logo após o parto, em seringas contendo

heparina sódica sem conservantes (10µl/ml de sangue; Beckton, Dickinson &

Company) ou em bolsas contendo citrato fosfato dextrose adenina (citrato de sódio

[2,63g/100ml], ácido cítrico [0,299g/100ml], sódio bifosfato [0,222g/100ml], adenina

[0,0275g/100ml] e dextrose [3,19g/100ml]; BD-Boin Blood Bag, Beckton, Dickinson &

Company). Em ambos os casos as amostras eram utilizadas até 48 horas depois do

nascimento.

As amostras eram diluídas com PBS 10mM pH 7,4 na proporção 1:1 para

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então ser procedida a separação da fração mononucleada, descrita a seguir.

3.4. Separação das células mononucleadas

As células mononucleadas foram separadas utilizando-se como gradiente de

densidade a solução isotônica de metrizoato de sódio com densidade d=1,077g/mL

Ficoll-PaqueTM Plus 1077 (Amersham Biosciences). Em um tubo de 15ml adicionou-

se 3ml de Ficoll em temperatura ambiente. Lentamente adicionou-se 4ml do PBS

10mM pH 7,4 contendo as células da medula óssea ou o sangue diluído sobre o

Ficoll, formando duas fases distintas. O tubo foi centrifugado por 20 minutos a

400xg, sem frenagem, entre 18 e 25o C. Após a centrifugação recolheu-se o halo

branco, que contém as células mononucleadas, localizado na interface Ficoll-PBS.

Nas amostras de UCB, após a retirada da fase de CMN, a fase superior, constituída

por plasma e PBS, era recolhida e guardada a –20o C. As células foram lavadas

duas vezes com PBS 10mM pH 7,4 para retirada do resíduo de Ficoll.

Após a última lavagem as células foram suspendidas em 1ml de PBS 10mM

pH 7,4 para contagem. Uma alíquota de 10µL foi retirada da suspensão de células e

o seu volume foi completado para 100µL e em seguida adicionou-se igual volume de

azul de tripan. Células mortas, que incorporaram o azul de tripan foram descartadas

da contagem. Para a contagem foi utilizada uma câmara de Neubauer (Improved

Bright Line, Boeco Germany), na qual foi adicionada a amostra da suspensão de

células num volume suficiente para seu preenchimento. A média aritmética do

número de células encontrado em dois campos da praça da câmara, contendo 16

quadrados cada um, foi multiplicado por 2x106, para obtenção do número de células

contido no volume total da suspensão

Parte das células mononucleadas foi então fixada com 4ml de solução de

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paraformaldeído 1% em tampão fosfato e guardada a 4o C até a utilização.

Para a realização das reações imunocitoquímicas parte das amostras de

células mononucleadas fixadas foram distribuídas por citocentrifugação em lâminas

gelatinizadas. Para isso a densidade celular da suspensão foi alterada para 5x105

células/ml e 200µL eram utilizados para a preparação de cada lâmina. As células

eram então citocentrifugadas entre 540 e 600rpm por 3 minutos numa citocentrífuga

Cito Spin (Incibras). As lâminas com células eram guardadas em freezer a –20oC até

a sua utilização.

Uma parte das amostras de CMN de sangue de cordão umbilical foi

congelada, para a realização de imunocitoquímica nas células vivas. Para isso, após

o término da separação da fração mononucleada, as células eram suspensas em

soro fetal bovino contendo 10% de dimetilsulfóxido (DMSO). Para serem resfriadas

lentamente até o congelamento, os criofrascos contendo a suspensão de células

eram acondicionados em uma câmara contendo álcool absoluto, que estava dentro

de dentro de outra câmara contendo nitrogênio líquido. O sistema era agitado por 20

minutos e então os criofrascos eram guardados em nitrogênio líquido.

3.5. Imunocitoquímica

3.5.1. Identificação de gangliosídeos 9-O-acetilados em células vivas em

suspensão

As amostras de CMN de sangue de cordão umbilical (n=2) foram

descongeladas em banho a 37ºC, centrifugadas a 100xg por 10 minutos para

retirada da solução de congelamento e suspendidas para lavagem em PBS 10mM

pH 7.4, adicionado de 5% de plasma humano (recolhido na separação das CMN,

conforme registrado na sessão acima).

As células foram centrifugadas e suspendidas em solução de bloqueio

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contendo 5% de soro normal de cabra (NGS; Sigma), sendo incubadas por 10

minutos, para bloqueio das reações inespecíficas. A seguir, foram incubadas com

solução do anticorpo primário monoclonal (Mab) anti-gangliosídeos 9-O-acetilados –

Jones – (IgM 1:200, Sigma) à temperatura ambiente (TA) por 30 minutos ou com

PBS 10mM pH 7.4, para controle do anticorpo secundário.

Após duas lavagens com 6mL de PBS 10mM pH 7.4 adicionado de 5% de

plasma humano, as células foram incubadas com solução do anticorpo secundário

cabra anti-camundongo específico para IgM (µ-chain), conjugado ao cromógeno

fluorescente Indocarbocianina (Cy3, 1:800, Jackson), por 1h à TA. As células foram

novamente lavadas duas vezes com PBS.

As lâminas foram montadas na forma de esfregaço, e as células foram

observadas e fotografadas imediatamente com câmera digital (Axiocam, Zeiss)

acoplada a um microscópio óptico de fluorescência (Axiovert 135 Zeiss).

3.5.2. Identificação de gangliosídeos 9-O-acetilados e do antígeno de superfície

CD34 em células fixadas em suspensão

Após três lavagens de 5 minutos de duração com PBS 10mM pH 7.4, as

células foram incubadas em câmara úmida com solução a 5% de NGS por 30

minutos, para bloqueio das reações inespecíficas. A seguir, foram incubados com

solução do anticorpo primário Jones (1:200) ou do Mab anti-CD34 (IgG 1:100, Santa

Cruz Biotechnology) ou com PBS 10mM pH 7.4, para controle do anticorpo

secundário, à TA por 1h ou durante a noite a 4oC.

Após três lavagens com PBS, as células foram incubadas com solução do

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anticorpo secundário cabra anti-camundongo específico para IgM (µ-chain, 1:800),

ou com o anticorpo secundário cabra anti-camundongo γ-chain, (1:1000, Jackson)

conjugados a Cy3 (ambos da Jackson), por 2h à TA.

Para a realização da dupla marcação as células foram incubadas com os

anticorpos primários conjuntamente e foi utilizado o anticorpo secundário anti-

camundongo específico para IgM (µ-chain, 1:200) Alexa 488 (Molecular Probes), em

lugar do anticorpo anti-camundongo específico para IgM (µ-chain) conjugado a Cy-3.

Ao término das incubações com anticorpos secundários as células foram

lavadas três vezes por 5 minutos com PBS 10mM pH 7.4. Os núcleos foram corados

com DAPI (4’,6-Diamino-2-Fenilindol, Sigma) e as lâminas foram montadas com

solução de PPD (paraphenylenediamine) ou Glicerol Gelatin (Sigma), na forma de

esfregaço.

As reações foram fotografadas com câmera digital (Axiocam, Zeiss) acoplada

a um microscópio óptico de fluorescência (Axiovert 135, Zeiss).

3.5.3. Identificação de proteínas intracelulares consideradas específicas de

tecido nervoso em células fixadas citocentrifugadas

Para facilitar a contagem das células positivas para moléculas intracelulares

consideradas específicas de tecido nervoso parte das imunocitoquímicas foram

realizadas em células distribuídas em lâminas por citocentrifugação.

Após duas lavagens de 5 minutos de duração com PBS 10mM pH 7.4, e uma

com PBS acrescido com 0,1% Triton X-100 (Sigma), as lâminas com células foram

incubadas em câmara úmida com solução de bloqueio das reações inespecíficas,

contendo 5% de NGS, por 30 minutos.

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As incubações com as soluções dos anticorpos primários MAb anti-ß-III-

tubulina (IgG, 1:40, Sigma), MAb anti-MAP-2 (IgG, 1:50, Chemicon), MAb anti-

vimentina (IgG, 1:40, Invitrogen), MAb anti-GFAP (IgG, 1:100, Biomedical

Tecnologies), policlonal anti-NF-200 (IgG, 1:50, Sigma), policlonal anti-S100 (IgG,

1:80, Sigma), policlonal anti-NSE (Igs, 1:100, Dako), policlonal anti-GFAP (1:400,

Dako) foram feitas em câmara úmida, por 2h à TA ou durante a noite a 4ºC. O

controle do anticorpo secundário foi realizado pela incubação de algumas lâminas

com PBS no lugar da solução de anticorpo primário.

Após três lavagens com PBS, para revelar a reação dos anticorpos

monoclonais, as lâminas foram incubadas com solução do anticorpo secundário

cabra anti-camundongo γ-chain conjugado com Cy3 (1:1000, Jackson) e, para

revelar os anticorpos policlonais, foi utilizado solução do anticorpo secundário cabra

anti-coelho, conjugado com Cy3 (1:800, Jackson). A incubação com os anticorpos

secundários ocorreu por 2h à TA.

Ao término das incubações com anticorpos secundários as lâminas foram

lavadas três vezes por 5 minutos com PBS 10mM pH 7.4. Os núcleos foram corados

rapidamente com DAPI e as lâminas foram montadas com solução de PPD.

Para a análise das reações estas foram observadas e fotografadas com

câmera digital (Axiocam ou Axiocam MRm, Zeiss) acoplada a um microscópio óptico

de fluorescência (Axiovert 135 ou Axiovert 200M, Zeiss).

3.5.4. Identificação de proteínas intracelulares consideradas específicas de

tecido nervoso em células fixadas em suspensão

Para melhor visualização das características da marcação das moléculas

intracelulares consideradas específicas de tecido nervoso parte das

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imunocitoquímicas foi realizada nas células em suspensão.

Após 2 lavagens de 5 minutos de duração com PBS 10mM pH 7.4, e uma

com PBS acrescido com 0,1% Triton X-100 as células foram incubadas em solução

a 5% de NGS por 30 minutos, para bloqueio das reações inespecíficas e, a seguir,

com solução dos anticorpos primários (conforme item 5.3 acima) ou com PBS 10mM

pH 7.4, para controle do anticorpo secundário, à TA por 1h ou durante à noite a 4oC.

Após três lavagens com PBS, as células foram incubadas com solução do

anticorpo secundário cabra anti-camundongo γ-chain, conjugado com Cy3 (1:1000,

Jackson) ou cabra anti-camundongo específico para IgG (γ chain), conjugado a FITC

(fluorescein isothiocyanate, 1:100, Cappel), ou cabra anti-coelho, conjugado com

Cy3 (1:800, Jackson), de acordo com o anticorpo primário utilizado, por 2h à TA.

As células foram novamente lavadas três vezes com PBS. Os núcleos foram

corados rapidamente com DAPI e as lâminas foram montadas com solução de PPD

ou Glicerol Gelatin, na forma de esfregaço. As células foram fotografadas com

câmera digital (Axiocam, Zeiss) acoplada a um microscópio óptico de fluorescência

(Axiovert 135, Zeiss).

4. Resultados

4.1. Amostras

Para comparar o rendimento do procedimento de separação da fração

mononucleada em nosso trabalho com aquele descrito na literatura, as células

destra fração eram examinadas ao microscópio óptico. Após a separação por

gradiente de densidade Ficoll-Paque Plus, polimorfonucleados ou eritrócitos eram

encontrados apenas esporadicamente na maior parte das amostras de MO ou UCB.

O gradiente de densidade Ficoll-Paque Plus separa as células mononucleadas da

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MO ou do sangue, eliminando a grande maioria de eritrócitos e granulócitos. Como

rendimento típico deste procedimento em amostras de sangue periférico tem-se que

95 ± 5% das células da fração são mononucleares, 3 ± 2% são granulócitos e 5 ±

2% são eritrócitos (Ficoll-Paque Plus instructions; Amersham Biosciences web page,

2002).

Vale ressaltar que as amostras de células mononucleadas de UCB

necessitaram da adição de 5% de plasma humano nas soluções de lavagem para a

manutenção da viabilidade no manejo das células vivas. A adição de 5% de

albumina de soro bovino (BSA, Life Sciences) não se mostrou eficiente neste

sentido. Estas células necessitaram também de comedimento extra nos movimentos

de ressuspensão, evitando excessiva agitação que resultava em morte e agregação

de uma grande quantidade de células.

4.2. Expressão de antígenos usados como marcadores de tecido nervoso em

CMN de medula óssea de ratos adultos.

Neste trabalho um de nossos objetivos foi verificar e quantificar a expressão

de antígenos marcadores de glia (S-100, vimentina e GFAP), de neurônios imaturos

(ß-III-tubulina) e maduros (NSE, NF-200 e MAP-2) em células mononucleadas de

medula óssea de ratos adultos. A análise em microscopia de fluorescência das

reações imunocitoquímicas revelou que S100, vimentina, ß-III-tubulina, NSE e

NF200 são expressos em CMN de medula óssea de ratos adultos (figuras 6 a 10).

Na figura 6 vemos núcleos marcados com DAPI, em azul, em A e D, a

proteína de astrócitos e células de Schwann S-100, em vermelho (CY-3) em B e E e

a sobreposição das imagens em C e F. Observamos que não há um padrão único

de marcação para este antígeno para as células positivas dentro de uma mesma

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amostra. Em A, B e C a marcação se apresenta na forma de um aro fino e distante

do núcleo, mas forte, enquanto em D, E e F, a marcação aparece mais difusa no

citoplasma e ao redor do núcleo. A intensidade da marcação também é variável

entre as células de uma mesma amostra (não representado).

Na figura 7 observamos núcleos marcados com DAPI, em azul, em A e D, o

filamento intermediário de células de origem mesenquimal vimentina, em vermelho

(CY-3) em B e E e a sobreposição das imagens em C e F. O padrão de marcação

encontrado foi o mesmo descrito na literatura, de concentração ao redor do núcleo

(Bohn W. et al., 1992), para todas as amostras positivas para este antígeno.

Na figura 8 vemos núcleos marcados com DAPI, em azul, em A e D, a

proteína constituinte de microtúbulos de neurônios imaturos ß-III-tubulina, em

vermelho (CY-3) em B e E e a sobreposição das imagens em C e F. A intensidade

da marcação para este antígeno é diferente entre as amostras. A amostra Rato 3

teve todas as células consideradas positivas para ß-III-tubulina (figura 8, D, E e F),

mas com marcações fracas, enquanto as amostras Rato 4 (figura 8, A, B e C) e Rato

5 (não representada) tinham marcações relativamente mais fortes.

As amostras negativas para ß-III-tubulina (Rato 1 e Rato 6) apresentavam nas

reações ligeira diferença em relação ao controle (background), em grande proporção

das células.

Na figura 9 investigamos a presença do marcador de neurônios maduros

enolase específica de neurônios. Podemos observar nesta figura núcleos marcados

com DAPI, em azul; em A e D, a marcação para enolase específica de neurônios,

em vermelho (CY-3) em B e E; e a sobreposição das imagens em C e F. A amostra

Rato 5 teve muitas células consideradas positivas para NSE, mas a marcação

estava fraca (figura 9 A, B e C), em comparação com as amostras Rato 4 (D, E e F),

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Rato 3 e Rato 6 (não ilustradas). A amostra negativa para NSE (Rato 1) apresentava

na reação ligeira diferença em relação ao controle (background), em grande

proporção das células.

Na figura 10 investigamos a presença do neurofilamento de 200kDa (NF-200)

característico de neurônios maduros. Nesta figura observamos núcleos marcados

com DAPI, em azul, em A e D; o neurofilamento de 200kDa, em vermelho (CY-3) em

B e E e a sobreposição das imagens em C e F. As duas amostras representadas

apresentaram diferentes intensidades de marcação para este antígeno. A amostra

Rato 3 teve muitas células consideradas positivas para NF-200 (figura 10 A, B e C),

mas com intensidade fraca. A amostra Rato 4 (D, E e F) teve marcação mais forte

que todas as outras amostras de medula óssea de rato para este antígeno. No

entanto, em nenhuma das amostras o padrão de marcação encontrado foi

filamentoso, como é típico em neurônios.

Nenhuma das amostras testadas apresentou qualquer imunorreatividade para

a proteína típica de astrócitos GFAP ou de neurônios maduros MAP-2 embora estes

anticorpos sejam de uso corriqueiro no nosso laboratório e demonstrem

imunorreatividade em cortes histológicos de cérebro (tabela 5).

As reações controle dos anticorpos secundários, em que não foram utilizados

anticorpos primários, não apresentaram qualquer imunomarcação excluindo a

possibilidade de uma marcação inespecífica (resultados não representados).

A percentagem de células positivas variou muito entre as amostras para todos

os antígenos neurais estudados nesta etapa do trabalho (tabela 5 e gráfico 1).

A quantificação de cerca de 2000 células por reação imunocitoquímica

demonstrou que 58,38 ± 36,10% das CMN expressavam S-100, 47,79 ± 27,81%

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expressavam vimentina, 59,05 ± 53,92% expressavam β-III-tubulina, 46,09 ± 27,80

expressavam NSE e 79,63 ± 37,79 expressavam NF-200 (tabela 5 e gráfico 1).

A amostra Rato 1 não apresentou qualquer marcação para vimentina, em dois

experimentos (tabela 5). Apesar de esta amostra apresentar quantidades muito

menores de células positivas ou completa negatividade para todos os marcadores de

tecido neural testados (tabela 5), a possibilidade de degradação da amostra foi

descartada devido às proporções de células CD34+ e Jones+ serem semelhantes às

demais amostras (tabela 7, na sessão 4.4).

Dada a grande proporção (freqüentemente mais de 50%) de células positivas

para cada um dos marcadores (tabela 5), fica evidente que antígenos característicos

de tipos celulares diferentes são expressos de forma concomitante em muitas

células: antígenos de neurônios imaturos (ß-III-tubulina) e maduros (NF200 e NSE)

com antígenos de glia (S100 e vimentina).

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Figura 6: expressão de S-100 em CMN de medula óssea de ratos adultos. Amostra 5 (A, B e C) e 4 (D, E e F). Fotomicrografia em microscopia de fluorescência convencional usando o microscópio Axiovert 135; núcleos corados com DAPI (A e D); S-100 em vermelho (Cy-3) (B e E); sobreposição das imagens (C e F); barra de calibração: 10µm.

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Figura 7: expressão de vimentina em CMN de medula óssea de ratos adultos. Amostra 4 (A, B e C) e 3 (D, E e F). Fotomicrografia em microscopia de fluorescência convencional (microscópio Axiovert 200M); núcleos corados com DAPI (A e D); vimentina em vermelho (Cy-3) (B e E); sobreposição das imagens (C e F); barra de calibração: 10µm.

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Figura 8: expressão de β-III-tubulina em CMN de medula óssea de ratos adultos. Amostra 4 (A, B e C) e 3 (D, E e F). Observe a baixa imunorreatividade da amostra 3 em (E) e (F); Fotomicrografia em microscopia de fluorescência convencional (microscópio Axiovert 200M); núcleos corados com DAPI (A e D); β-III-tubulina em vermelho (Cy-3) (B e E); sobreposição das imagens (C e F); barra de calibração: 10µm.

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Figura 9: expressão de NSE em CMN de medula óssea de ratos adultos. Amostra 5 (A, B e C) e 4 (D, E e F). Observe a baixa imunorreatividade da amostra 5 em (B) e (C); Fotomicrografia em microscopia de fluorescência convencional usando o microscópio Axiovert 135; núcleos corados com DAPI (A e D); NSE em vermelho (Cy-3) (B e E); sobreposição das imagens (C e F); barra de calibração: 10µm.

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Figura 10: expressão de NF200 em CMN de medula óssea de ratos adultos. Amostra 3 (A, B e C) e 4 (D, E e F). Observe a baixa imunorreatividade da amostra 3 em (B) e (C); Fotomicrografia em microscopia de fluorescência convencional usando o microscópio Axiovert 135; núcleos corados com DAPI (A e D); NF-200 em vermelho (Cy-3) (B e E); sobreposição das imagens (C e F); barra de calibração: 10µm.

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Tabela 5: Percentagem de CMNMO de ratos (R) adultos positivas para antígenos neurais. A quantidade de células positivas para os marcadores neurais teve grande variação entre as amostras. Foram contados cerca de 2000 eventos em cada reação imunocitoquímica para cálculo da percentagem. *anticorpo monoclonal; **desvio padrão; ***dois experimentos; ND não determinado.

S-100 Vimentina GFAP β-III-tubulina NSE NF-200 MAP 20

25

50

75

100

célu

las

posi

tivas

(%)

Gráfico 1: Expressão de antígenos neurais na fração mononuclear de medula óssea de ratos adultos. Gráfico construído a partir dos valores da tabela 5.

Tabela 5: Percentagem de CMNMO de ratos adultos positivas para antígenos neurais S100 Vimentina GFAP* β-III-tubulina NSE NF200 MAP 2

R 1 4,19 0*** 0 0 0 12,09 0 R 3 59,20 48,40 0 100 48,45 97,18 ND R 4 47,27 68,35 0 96,88 55,29 98,50 0 R 5 96,70 65,11 0 98,39 51,49 96,72 0 R 6 84,56 57,10 ND 0 75,22 93,66 0

Média 58,38 47,79 0 59,05 46,09 79,63 0 DP** 36,10 27,81 0 53,92 27,80 37,79 0

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4.3. Expressão de antígenos usados como marcadores de tecido nervoso em

CMN de sangue de cordão umbilical humano.

Neste trabalho um de nossos objetivos foi verificar e quantificar a expressão

de antígenos marcadores de glia (S-100, vimentina e GFAP) e de neurônios

imaturos (ß-III-tubulina) e maduros (NSE, NF-200 e MAP-2) em células

mononucleadas de sangue de cordão umbilical humano. A análise em microscopia

de fluorescência das reações imunocitoquímicas revelou que marcadores da

linhagem neural tais como: S100, vimentina, ß-III-tubulina, NSE e NF200 são

expressos em CMN de UCB (figuras 11 a 13).

Na figura 11, em A, B e C podemos observar o padrão de marcação para S-

100 que é geralmente utilizada como marcador de astrócitos e células de Schwann.

Podemos observar nesta figura a marcação para S-100 (em vermelho, CY-3, em B)

na amostra UCB 12. Os núcleos estão marcados com DAPI (em azul) em A e a

sobreposição das imagens é vista em C. As três amostras de sangue de cordão

umbilical analisadas apresentaram a mesma distribuição difusa da marcação.

Na figura 11, em D, E e F vemos a reação para identificar o filamento

intermediário de células de origem mesenquimal vimentina (em verde, Alexa 488, em

B) na amostra UCB 14. Os núcleos estão marcados com DAPI (em azul) em A e a

sobreposição das imagens é vista em C. As duas amostras analisadas apresentaram

a marcação descrita na literatura, concentrada ao redor do núcleo (Bohn W. et al.,

1992).

Na figura 12, em A, B e C vemos a reação para identificar a proteína

constituinte de microtúbulos de neurônios imaturos ß-III-tubulina (em vermelho, CY-

3, em B) na amostra UCB 15. Os núcleos estão marcados com DAPI (em azul) em A

e a sobreposição das imagens é vista em C. A amostra UCB 15 teve 75,57% das

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células consideradas positivas para ß-III-tubulina, apesar da marcação fraca. A

amostra UCB 14 apresentava na reação para ß-III-tubulina apenas ligeira diferença

em relação ao controle (background), sendo considerada negativa, em dois

experimentos (tabela 6).

Na figura 12, em D, E e F vemos a reação para identificar o filamento

intermediário de neurônios maduros NF-200 (em vermelho, CY-3, em E) na amostra

UCB 14. Os núcleos estão marcados com DAPI (em azul) em D e a sobreposição

das imagens é vista em F. A amostra UCB 14 teve todas as células consideradas

positivas para NF-200, mas a marcação estava fraca. A marcação se apresentava

como um fino aro junto à membrana plasmática nas duas amostras analisadas. Em

nenhuma das amostras o padrão de marcação encontrado foi filamentoso, como é

típico em neurônios.

Na figura 13 vemos núcleos marcados com DAPI em azul em A e D, a enzima

de neurônios maduros NSE, em vermelho (CY-3) em B e E e a sobreposição das

imagens em C e F. A amostra UCB 15 apresentou marcação nas células nucleadas

(figura 13 A, B e C). Todas as células mononucleadas da amostra UCB 12 (figura 13

D, E e F) eram negativas para NSE. No entanto, os eritrócitos, identificados como

células anucleadas menores que 06 micrômetros e presentes nesta amostra como

um resquício da separação por gradiente de densidade, apresentavam

imunorreatividade fraca para este antígeno (figura 13 D, E e F, cabeças de seta,

próximas aos núcleos das células mononucleadas). Não foram encontrados

eritrócitos nas demais amostras. A amostra UCB 14 não apresentava qualquer

marcação para este antígeno (resultado não representado).

Nenhuma das amostras testadas apresentou qualquer imunorreatividade para

a proteína típica de astrócitos GFAP (anticorpo monoclonal IgG ou policlonal) ou de

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neurônios maduros MAP-2 (anticorpo monoclonal IgG) (tabela 6). Estes três

anticorpos são usados regularmente em nosso laboratório, sabendo-se, assim, que

sua eficácia não está comprometida. Desta forma estes anticorpos podem ser

considerados controles negativos para os demais anticorpos primários monoclonais

IgG ou policlonais utilizados neste trabalho.

A percentagem de células positivas variou muito entre as amostras de UCB

para todos os antígenos neurais estudados (tabela 6), exceto para NF-200. Como

para este antígeno foram analisadas apenas duas amostras, não se pode descartar

a possibilidade de esta variabilidade existir.

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Figura 11: expressão de S-100 e vimentina em CMN de sangue de cordão umbilical (UCB). Amostras 12 (A, B e C) e 14 (D, E e F). Fotomicrografia em microscopia de fluorescência convencional usando o microscópio Axiovert 135; núcleos corados com DAPI (A e D); S-100 em vermelho (Cy-3) em B e C; vimentina em verde (FITC) em E e F; sobreposição das imagens (C e F); barra de calibração: 10µm.

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Figura 12: expressão de β-III-tubulina e NF-200 em CMN de sangue de cordão umbilical (UCB). Em vermelho (Cy-3), β-III-tubulina em B e C e NF-200 em E e F. Amostras 15 (A, B e C) e 14 (D, E e F). Observe baixa imunorreatividade de ambas as reações. Fotomicrografia em microscopia de fluorescência convencional usando o microscópio Axiovert 200M (A, B e C) ou Axiovert 135 (D, E e F); núcleos corados com DAPI (A e D); sobreposição das imagens (C e F); barra de calibração: 10µm.

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Figura 13: expressão de NSE em CMN e em eritrócitos de sangue de cordão umbilical (UCB). Em A até C amostra 15 com CMN imunorreativas para NSE; em D até F amostra 12 com CMN negativas para NSE, mas com eritrócitos imunorreativos (cabeças de seta). Fotomicrografia em microscopia de fluorescência convencional usando o microscópio Axiovert 135; núcleos corados com DAPI (A e D); NSE em vermelho (Cy-3) em B, C, E e F; sobreposição das imagens (C e F); barra de calibração: 10µm.

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Tabela 6: Percentagem de CMN de UCB positivas para antígenos neurais

S-100 Vimentina GFAP β-III-tubulina NSE NF-200 MAP-2ucb 9 ND ND 0** ND ND ND ND ucb 12 2,88 18,75 0** ND 0**** ND ND ucb 14 1,81 43,54 0* 0*** 0 100 0* ucb 15 91,87 ND 0* 75,57 90,38 93,92 0*

Tabela 6: Percentagem de CMN de UCB positivas para antígenos neurais. A quantidade de células positivas para os dos marcadores teve grande variação entre as amostras. Foram contados cerca de 2000 eventos em cada reação imunocitoquímica para cálculo da percentagem. *anticorpo monoclonal; **anticorpo policlonal; ***dois experimentos; ****eritrócitos positivos; ND não determinado. 4.4. Expressão do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 em CMN de medula óssea de

ratos adultos e de sangue de cordão umbilical humano.

Uma vez que a expressão do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 está relacionado

no sistema nervoso a fenômenos de migração celular e no sistema hematopoiético à

modulação dos contatos da membrana plasmática com o substrato, nós

investigamos a expressão deste gangliosídeo em CMN de medula óssea de ratos

adultos e de sangue de cordão umbilical humano.

Em estudos preliminares do presente trabalho a realização de

imunocitoquímica para a identificação do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 ou CD34 em

citospin mostrou-se pouco adequada para a quantificação e identificação destes

antígenos. Provavelmente tenha ocorrido algum grau de perda de conformação das

células na citocentrifugação, relacionada à aceleração centrífuga excessiva.

Provavelmente o motivo de a visualização destes antígenos ser mais prejudicada

que a dos demais estudados aqui seja a pequena quantidade de ambos e o fato de

estarem localizados na membrana plasmática. A imunocitoquímica realizada nas

células em suspensão permitiu que se observasse o padrão de marcação destes

antígenos.

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A imunomarcação com o anticorpo monoclonal (Mab) Jones, que reconhece

especificamente gangliosídeos 9-O-acetilados, em CMN de medula óssea de ratos

adultos e de UCB, é similar. Em ambos os tecidos, o padrão de distribuição

predominante é o pontual (Figuras 14 e 15), com grande variação na intensidade e

distribuição da marcação entre as células de uma mesma amostra.

A figura 14 apresenta células mononucleadas de medula óssea de ratos

adultos. Os núcleos estão marcados com DAPI, em azul, em A e D, o gangliosídeo

9-O-acetil GD3 está em vermelho (CY-3) em B e em verde (Alexa 488) em E. Em C

e F as imagens estão sobrepostas. Em A, B e C é possível observar o padrão

pontual da marcação dos gangliosídeos 9-O-acetilados uniformemente distribuídos

na superfície da célula. Em D, E e F pode-se observar um outro tipo de distribuição

da marcação, bastante comum nestas células: a concentração dos gangliosídeos 9-

O-acetil GD3 em um pólo da célula (cabeças de seta, em F), na forma de placa.

A figura 15 apresenta células mononucleadas de sangue de cordão umbilical

humano. Em A, B e C são apresentadas três células fixadas marcadas para o

gangliosídeo 9-O-acetil GD3. Os núcleos estão marcados com DAPI, em azul e o

gangliosídeo 9-O-acetil GD3 está em vermelho (CY-3), em imagens sobrepostas.

Nas fotos D, E e F estão representadas três células em que a reação

imunocitoquímica foi realizada nas células vivas. Na reação com o Mab Jones em

células vivas o antígeno reconhecido está no lado externo da membrana

citoplasmática (Constantine-Paton, M. et al. 1986).

Na figura 15 A, B, C, D e F é possível observar o padrão pontual da

distribuição dos gangliosídeos 9-O-acetilados na presumível superfície da célula.

A forma de distribuição mais comum da marcação com o Mab Jones está

representada na figura 15 A, com pontos e esporadicamente pequenas placas

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distribuídas aleatoriamente na superfície de uma célula com razão núcleo/citoplasma

alta. A marcação concentrada em apenas um lado da célula pode apresentar-se em

padrão pontual (figura 15 F), além da forma de placa já descrita anteriormente. A

marcação em forma de placas pode estar uniformemente distribuída (figura 15 E).

Algumas células apresentam uma grande intensidade de marcação em forma de

raios contínuos, envolvendo toda a célula, num padrão semelhante a meridianos

contorcidos (não representado).

Não foi evidenciada qualquer diferença no padrão de marcação nas

imunocitoquímicas realizadas nas células fixadas ou vivas (figura 15), a despeito de

nas células fixadas o anticorpo ter acesso a antígenos localizados no interior da

célula (Lünsdorf H., et al 2000).

Na figura 15 também pode ser observado que as células mononucleadas de

sangue de cordão umbilical humano, separadas pela solução isotônica de metrizoato

de sódio com densidade d=1,077g/mL (Ficoll-PaqueTM Plus 1077, Amersham

Biosciences), são pequenas, freqüentemente menores que 10 micrômetros e

apresentam um núcleo muito grande em relação ao citoplasma (figura 15 A, B e C).

As células tronco e progenitoras do sistema hematopoiético apresentam esta

configuração (Morrison S.J. et al., 1995).

A quantificação das reações imunocitoquímicas demonstrou que 11,85% ±

4,96 das CMN de UCB (n=3) e 30,10 ± 6,37 das CMN de MO de ratos adultos (n=3)

expressavam gangliosídeos 9-O-acetilados reconhecidos pelo Mab Jones (tabelas 7

e 8).

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Figura 14: expressão do Gangliosídeo 9-O-Acetil GD3 em CMN de medula óssea de ratos adultos. Marcação característica puntiforme em grande aumento (B e C); marcação concentrada em apenas um lado da célula (cabeças de seta, em F); fotomicrografia em microscopia de fluorescência convencional (microscópio Axiovert 135); imunocitoquímica de células fixadas montada como esfregaço; Jones em vermelho (Cy-3) em B e C e em verde (Alexa 488) em E e F; núcleos corados com DAPI (azul) em A, C, D e F; sobreposição das imagens (C e F); barra de calibração: 10µm.

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Figura 15: marcação característica puntiforme para o Gangliosídeo 9-O-Acetil GD3 em CMN de UCB. Imunocitoquímica em células fixadas (A, B e C) e em células vivas (D, E e F), esta última indicando que o antígeno reconhecido pelo MAb Jones está do lado externo da membrana citoplasmática. Freqüentemente a marcação é concentrada em apenas um lado da célula (F), mas a distribuição pontual uniforme também é encontrada (B, D e E). Observe o pequeno tamanho das células e seu aspecto linfóide, representado pela grande razão núcleo-citoplasma (A, B e C). Fotomicrografia em microscopia de fluorescência convencional (microscópio Axiovert 135); imunocitoquímica montada como esfregaço; Jones em vermelho (Cy-3); núcleos corados com DAPI (azul) em A, B e C; barra de calibração: 10µm.

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Tabela 7: Percentagem de CMNMO de ratos adultos positivas para Jones e CD34. Foram contados cerca de 2000 eventos em cada reação imunocitoquímica para cálculo da percentagem; **desvio padrão; ND não determinado. Tabela 8: Percentagem de CMN de UCB positivas para o Mab Jones. *Desvio Padrão.

Tabela 7: Percentagem de CMNMO de ratos adultos positivas para

Jones e CD34 Jones CD34

Rato 1 22,73 0,41 Rato 2 ND 0,52 Rato 4 33,85 0,54 Rato 5 33,71 0,66 Média 30,10 0,54 DP** 6,37 0,10

Tabela 8: Percentagem de CMN de UCB positivas para

o Mab Jones amostra percentagem

ucb 2 14,05 ucb 3 6,17 ucb 5 15,35 Média 11,85 DP* 4,96

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4.5. Expressão do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 em CMN de medula óssea de

ratos adultos que expressam o antígeno CD34, marcador de células tronco e

progenitores hematopoiéticos.

A quantificação das reações imunocitoquímicas para o marcador de células

tronco e progenitoras hematopoiéticas CD34 demonstrou que 0,54 ± 0,12% das

CMN de MO de ratos adultos expressam este antígeno (n=4, tabela 7). Diferente do

que ocorreu com os antígenos neurais testados, a freqüência de células CD34+ na

medula óssea dos ratos não apresentou grande variabilidade.

Reações imunocitoquímicas duplas para identificar a expressão de CD34

concomitantemente ao gangliosídeo 9-O-acetil GD3 em CMN demonstraram que há

células tronco ou progenitoras na medula óssea de ratos adultos que expressam o

gangliosídeo 9-O-acetil GD3 (n=2). A figura 16 representa este resultado. Em A os

núcleos estão marcados com DAPI, em azul; em B, o gangliosídeo 9-O-acetil GD3

está identificado por Alexa 488, em verde; em C, CD34 está identificado por Cy3, em

vermelho; em D está apresentada a sobreposição das imagens, mostrando uma

célula duplamente marcada.

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Figura 16: expressão concomitante de gangliosídeos 9-O-Acetil GD3 e CD34 em CMN de medula óssea de ratos adultos; núcleos corados com DAPI (azul) em A; Jones em verde (Alexa 488) em B; CD34 em vermelho (Cy-3) em C; sobreposição das imagens em D; fotomicrografia em microscopia de fluorescência convencional (microscópio Axiovert 135); imunocitoquímica de células fixadas montada como esfregaço; barra de calibração: 10µm.

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5. Discussão

5.1. Expressão de antígenos usados como marcadores de tecido

nervoso em CMN de medula óssea de ratos adultos e de sangue de cordão

umbilical humano

A proteína S-100 pertence a um grupo de proteínas ligadoras de cálcio, de

baixo peso molecular (10 a 12kD) que está largamente distribuída em vários tecidos

e que se apresenta como dímeros de subunidades homólogas ou diferentes (α e β).

No SN, existem os dímeros ββ (S-100b) e αβ (S-100a), sendo o monômero β o mais

freqüente no encéfalo (80 a 90%). A localização intracelular da S-100 é

principalmente restrita ao compartimento citoplasmático glial (astrócitos para o SNC

e células de Schwann no SNP), com uma pequena fração nas membranas. A S-

100a está presente nos rins e músculos e em pequena proporção no SNC (5%)

(Fanò G. et al. 1995). A S-100ao (dímero αα) é encontrada em neurônios, células

musculares lisas, cardiomiócitos, monócitos e em células dendríticas (Bobryshev

Y.V. & Lord R.S.A., 1995; Stent G. et al., 2002).

Os resultados do nosso trabalho quanto às células que expressam S-100 têm

que ser analisados levando em conta que o anticorpo policlonal utilizado reconhece

tanto a subunidade β, que caracteriza a S-100 encontrada mais frequentemente no

SN (dímeros ββ e βα) quanto à subunidade α, o que não nos possibilitou diferenciar

o dímero αα presente também nos rins e músculos e muito menos freqüente no

SNC (apenas 5%).

A vimentina é um filamento intermediário do tipo III, de 52kDa, característico

de células de origem mesenquimal. O padrão típico de marcação para os filamentos

de actina é sua forte concentração ao redor do núcleo (Bohn W. et al., 1992). No

nosso trabalho, as CMN de medula óssea de rato e de sangue de cordão umbilical

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humano quando reagidas com anticorpo para vimentina apresentaram a marcação

concentrada próximo ao núcleo celular.

As enolases (hidrolase 2-fosfo-D-glicerato) são isoenzimas glicolíticas homo-

ou heterodiméricas, que catalisam a interconversão de 2-fosfoglicerato e

fosfoenolpituvato. Três subunidades, α (46 kDa), β (44 kDa) e γ (46kDa), constituem

as unidades de construção das moléculas de enolase e cinco formas (αα, ββ, γγ, αβ

e αγ) da enzima foram identificadas em ratos e em humanos. A forma αα é

encontrada nas células gliais e hepáticas, as formas ββ e αβ são encontradas nos

músculos esquelético e cardíaco e a forma γγ é encontrada principalmente em

neurônios e células neuroendócrinas. A enolase γγ é denominada enolase

específica de neurônio (NSE, de neuron-specific enolase) e também é conhecida

como proteína 14-3-2. A NSE pode ser encontrada no núcleo, no citoplasma e nos

prolongamentos dos neurônios do SN central e periférico (Soler Federsppiel B.S. et

al., 1987).

A imunoreatividade para S-100, NSE e vimentina foi testada por Shin S.S. et

al. (1992) em fatias congeladas ou fixadas de medula óssea normal humana. A

maior parte das células não era reativa para S-100. Apenas três amostras

apresentaram reatividade espaçada. A marcação para NSE foi notada em poucos

casos e era fraca, com marcação de fundo moderada. Na maior parte dos casos, a

negatividade era completa. Contudo, em três amostras 20% a 30% das células

apresentavam marcação fraca. A vimentina apresentou marcação em todas as

amostras, em células endoteliais ou outras células estromais. Os autores

caracterizaram o tecido de 21 doadores, usando uma coleção de anticorpos. CD19

e CD2, marcadores confiáveis e sensíveis para linfócitos T e B, identificaram 5% e

9% das células medulares, respectivamente, nos tecidos congelados. O marcador

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pan-leucocitário CD45 marcou entre 15% a 45% das células, com média de 31%. O

antígeno associado a células de linhagem mielóide CD13 marcou em média 15,5%

das células. Nos tecidos fixados, 5% a 30% das células marcavam para CD45, com

média de 14%. Apenas 1% a 5% (em média 3%) das células eram marcadas com

CD20, que é um marcador de linfócitos B. Entre 10% e 70% (em média 33%) das

células marcaram com BM1, um marcador de células mielóides. CD68, marcador de

monócitos, macrófagos e precursores mielóides marcou em média 59% das células.

Uma semelhança dos resultados deste grupo para os encontrados no nosso

trabalho com medula óssea de ratos e sangue de cordão umbilical, é que havia

grande variabilidade na presença de NSE e S-100 entre as amostras.

Talvez a grande variabilidade de marcadores neurais encontrada pelo grupo

de Shin S.S. e colaboradores reflita a também grande variabilidade encontrada nos

marcadores hematopoiéticos. É possível sugerir que exista uma correlação entre as

freqüências das populações hematopoiéticas e a expressão dos antígenos neurais.

Provavelmente uma forma de começar a esclarecer tamanha variação seja

estudando os tipos celulares do sistema hematopoiético separadamente quanto à

expressão dos antígenos neurais.

Uma observação curiosa é a presença de imuno-reatividade em níveis

reativamente altos para NSE em eritrócitos. Embora este não fosse o objetivo de

nosso estudo, em uma das amostras de sangue de cordão umbilical, uma

quantidade razoável de eritrócitos se manteve perceptível mesmo após a reação

imunocitoquímica em suspensão. Nesta amostra observamos marcação forte para

NSE nestas células um resultado semelhante ao descrito por Brown et al. (1980) em

eritrócitos humanos. Esta imuno-reatividade era específica uma vez que não

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observamos qualquer marcação na lâmina usada como controle do anticorpo

secundário.

A tubulina é um heterodímero composto de subunidades α e β de 50kDa

cada uma, sendo a principal proteína constituinte de microtúbulos. Existem seis

isotipos de tubulinas α e sete isotipos de tubulina β. As diferentes funções

desempenhadas pelos microtúbulos podem estar relacionadas às diferentes

combinações de isotipos α e β. No encéfalo dos mamíferos existem cinco isotipos α

e cinco isotipos β. O isotipo III da β tubulina representa 25% das β-tubulinas do

encéfalo e foi considerada inteiramente restrita ao encéfalo (Banerjee A. et al.,

1990).

Tondreau T. et al. (2004), no entanto, verificaram que células mononucleadas

de medula óssea humana separadas por gradiente de densidade expressam β-III-

tubulina, mas não MAP-2, o que foi evidenciado por western blots e RT-PCR. Esta

técnica não estabeleceu, contudo, qual proporção de células expressava este

antígeno. Em nosso trabalho, duas de cinco amostras de medula óssea de ratos

não apresentavam expressão de β-III-tubulina, mas as outras três amostras

apresentavam entre 96 e 100% das células positivas para esse antígeno.

Neurofilamentos são filamentos intermediários específicos de neurônios,

sendo nestas células o principal elemento do citoesqueleto. São muito mais

abundantes nos axônios, principalmente nos mais calibrosos. São produzidos nos

corpos neurônios e transportados para os axônios. São três os principais

neurofilamentos: de 68kDa, de 160kDa e de 200kDa, sendo este último denominado

NF-200 ou NF-H. A marcação de NF-200 tem padrão fibroso, nos corpos dos

neurônios, nos dendritos e nos axônios (Gotow T. 2000).

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No nosso trabalho, NF-200 não apresentou, nas células do sistema

hematopoiético, o padrão de marcação filamentoso que ocorre nas células neurais.

Goolsby J. et al. (2003) verificaram que 1,5% das células da medula óssea de

camundongos adultos não cultivadas expressavam NF-200. Não foi encontrada

nenhuma marcação para GFAP nestas células. Estes pesquisadores demonstraram

que 20% das células tronco ou progenitoras da medula óssea, identificadas pela

expressão de CD34, expressavam todas as quatro proteínas neuronais examinadas

(NF-200, Neu-N, HuC/HuD e GAD65) e o fator de transcrição neurogênico PAX-6.

De todas as células da medula óssea (a fração mononuclear não foi isolada), 1,5%

expressavam estes antígenos. Imunocitoquímicas duplas demonstraram que Pax-6

e NF-200 estavam presentes nas mesmas células. Não foi informada a

percentagem de células CD34+ encontrada.

Diferente do grupo de Goolsby J., as percentagens de células positivas para

NF-200 no nosso trabalho são muito altas, descartando a possibilidade de que a

expressão observada esteja concentrada em células tronco. No nosso trabalho,

apenas 0.54% das células era CD34+, percentagem compatível com o encontrado

por outros autores (Hao et al., 1995). Os antígenos neurais expressos apresentaram

médias de freqüência maiores que 46% em CMN de medula óssea de ratos. Pelo

menos uma porção das células expressava concomitantemente os antígenos, já que

a expressão passava de 50% para vários antígenos em uma mesma amostra. Mas

como houve variabilidade entre a expressão dos antígenos numa mesma amostra,

pode-se concluir que estes antígenos não estavam expressos numa mesma

população de células.

Analisando nos parágrafos do início desta sessão as características e

funções das moléculas pesquisadas neste trabalho, percebe-se que não é uma idéia

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razoável acreditar que única molécula com suas características ou funções, sozinha,

defina um tipo celular e, ao mesmo tempo, seja exclusiva deste tipo celular.

Exemplificando, não se pode dizer que um neurônio é uma célula que expressa

NSE, apesar de muitos neurônios terem esta característica, por que esta molécula

não é responsável por uma função que define um neurônio, e ao mesmo tempo, a

função desempenhada por esta molécula não é exclusiva de neurônios.

O uso de antígenos específicos é largamente usado para distinguir células

dentro do tecido em que estes antígenos estão classicamente presentes (distinguir

neurônios de astrócitos dentro do parênquima cerebral, por exemplo). Mas nosso

trabalho colabora para a idéia de que o uso destes antígenos em tecidos em que

eles não foram ainda suficientemente estudados deve se cercar de mais cuidados.

5.2. Expressão do Gangliosídeo 9-O-acetil GD3 em CMN de medula

óssea de ratos adultos e de sangue de cordão umbilical humano

Não há dados de outros autores sobre a freqüência do gangliosídeo 9-O-

acetil GD3 em células mononucleadas de medula óssea de ratos e de sangue de

cordão umbilical humano. No nosso trabalho o gangliosídeo 9-O-Acetil-GD3 estava

expresso em 30 ± 6,37% das CMN da MO de ratos e em 12 ± 4,96% das CMN de

sangue de cordão umbilical humano. No entanto, essa freqüência foi medida em

células fixadas e assim, a localização intra e extracelular não pôde ser distinguida.

Em sangue periférico humano a expressão do gangliosídeo 9-O-acetil GD3

foi investigada em populações celulares específicas: granulócitos, monócitos,

linfócitos B ou T, sendo encontrada em linfócitos T helper e em linfócitos B ativados,

mas a expressão desse gangliosídeo em células tronco hematopoiéticas não foi

abordada (Kniep B. et al., 1993; Vater M. et al., 1997). Neste sistema, o grupamento

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9-O-acetil foi denominado antígeno CD60b (Mason et al., 2001). No nosso trabalho,

encontramos células da medula óssea de ratos que expressam concomitantemente

o marcador de células tronco CD34 e o gangliosídeo 9-O-acetil GD3.

A CD34 é uma glicoproteína transmembrana altamente glicosilada de 105-

120 kDa, expressa nas células progenitoras hematopoiéticas, nas células

endoteliais e em alguns fibroblastos. A sua expressão é específica do estágio

indiferenciado das células tronco e progenitoras hematopoiéticas e decresce com a

maturação até a extinção nas células terminalmente diferenciadas. As células

CD34+ da medula óssea humana incluem as unidades formadoras de colônias

(CFU), as células iniciadoras de cultura de longa duração, os progenitores

multipotentes (formadores de colônias mistas mielóides e eritróides) e os

progenitores comprometidos (CFU-granulócito-macrófago, burst-forming unit-

erythroid [BFU-E], e CFU-megacariócito). O transplante de células CD34+ permite a

reconstituição a longo prazo do compartimento hematopoiético (Krause D.S. et

al.,1994). Alguns estudos sugerem que a CD34 pode ter alguma função na

transdução de sinais e na adesividade das células tronco hematopoiéticas e pode

ter também uma função na adesão de alguns antígenos ao endotélio (Majdic O. et

al., 1994).

A expressão do gangliosídeo 9-O-acetil GD3 está relacionada à migração

neuronal e à extensão axonal no SN em desenvolvimento e em áreas de

neurogênese no sistema nervoso central adulto, o que tem sugerido que o mesmo

possa ser utilizado como marcador de células tronco e/ou progenitores neurais

(Mendez-Otero R. et al., 2005).

Esses dados indicam que seria interessante quantificar e separar as células

que expressam concomitantemente o marcador de células tronco CD34 e o

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gangliosídeo 9-O-acetil GD3, através de FACS (fluorescence activated cell sorting),

o que permitiria utilizar o gangliosídeo 9-O-acetil GD3 para purificar e enriquecer

sub-populações celulares a partir de medula óssea e de sangue de cordão umbilical,

uma vez que é esta molécula é expressa na superfície celular.

No nosso trabalho, um dos padrões encontrados de distribuição do

gangliosídeo 9-O-acetil GD3 foi sua concentração em apenas um lado das células, o

que pode estar relacionado a fenômenos de polarização celular. Polarização celular

é o conjunto de modificações espaciais que ocorre em uma célula para uma

determinada função. Na migração por diapedese, por exemplo, para que ocorra a

adesão do pólo anterior da célula e o descolamento do pólo posterior ao substrato,

várias moléculas especializadas da membrana citoplasmática se concentram em um

pólo da célula, causando subseqüentes modificações no citoesqueleto (Gómez-

Moutón C. et al., 2001).

As membranas plasmáticas de muitas células contêm domínios ricos em

colesterol e esfingolipídeos, que são denominados rafts lipídicos. Nos linfócitos, os

rafts formam estruturas firmemente emalhadas, insolúveis em detergentes a baixas

temperaturas, sendo por este motivo denominadas membranas resistentes a

detergentes. Na polarização celular os rafts podem ser redistribuídos na membrana

do linfócito, concentrando-se num pólo da célula (Giurisato E. et al., 2003).

Os domínios de membrana com rafts ricos em gangliosídeos GM1 e GM3

sofrem redistribuição assimétrica, formando pólos opostos, em linfócitos T que

adquirem fenótipo migratório. A redistribuição destes rafts é conjunta à redistribuição

das proteínas de membrana especificamente associadas a cada raft (Gómez-

Moutón C. et al., 2001).

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Muitas proteínas envolvidas na transdução de sinais têm sido encontradas

nestes domínios de membranas resistentes a detergentes de linfócitos T e muitas

outras evidências apontam para o envolvimento dos rafts lipídicas na transdução de

sinais (Giurisato E. et al., 2003).

A polarização e o recrutamento de rafts lipídicos em células imunes têm sido

demonstrados em resposta à ligação de receptores e à estimulação por citoquinas e

quimioatratores. A formação de uma sinapse imunológica entre uma célula

apresentadora de antígenos e uma célula T causa significante redistribuição de

lipídeos e proteínas na membrana da célula T, para regiões específicas da zona de

contato (Nguyen D.H. et al., 2005).

Sinapses imunológicas são também observadas nas interações das células

NK. A sinalização através dessas áreas de contato é conhecida pela transmissão

direta dos sinais de uma célula para a outra, que podem causar ativação ou

inativação celular ou citólise. A redistribuição dos rafts lipídicos nas sinapses

imunológicas são reconhecidamente críticas para a transmissão de sinais, por

proverem plataformas estáveis para a acumulação de moléculas sinalizadoras

intracelulares e serem sítios para organização do citoesqueleto. A polarização de

rafts lipídicos pode ser causada em células imunes por gradientes de

quimioatratores (Nguyen D.H. et al., 2005).

Nosso trabalho demonstrou que o gangliosídeo 9-O-acetil GD3 pode se

apresentar concentrado em um pólo de uma célula mononucleada de sangue de

cordão umbilical humano e de medula óssea de ratos. Desta forma, este

gangliosídeo pode estar relacionado à migração celular e à transmissão de sinais

nessas células.

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5.3. Implicações da expressão espontânea de antígenos neurais em

células da medula óssea e do sangue de cordão umbilical para as terapias

celulares

Após AVC experimental em roedores, alguma recuperação funcional pode ser

induzida pelo transplante estereotáxico no cérebro (Li Y. et al., 2000) ou transplante

na circulação sistêmica (Chen J. et al., 2001; Li Y. et al., 2002; Chen J. et al., 2003;

Borlongan C.V. et al., 2004) de células da medula óssea ou do sangue de cordão

umbilical. Os mecanismos pelos quais essa recuperação se dá não são claros.

Como esta recuperação ocorre mesmo quando o número de células transplantadas

que passam a expressar marcadores neuronais no encéfalo do hospedeiro é muito

baixo e a morfologia permanece indiferenciada (Chen J. et al., 2001), acredita-se

que a melhora das deficiências não se dá devido à transdiferenciação destas células

em células neurais. Há resultados que indicam que um dos fatores causadores da

melhora é a redução da área de infarto (Borlongan C.V. et al., 2004), mas outros

trabalhos encontram melhora significativa do quadro sem redução dessa área (Chen

J. et al., 2001; Li Y. et al., 2002). Uma hipótese que vem sendo levantada sugere

que a produção de fatores tróficos pelas células transplantadas poderia auxiliar na

recuperação funcional através de neuroproteção (Chen J. et al., 2003; Borlongan

C.V. et al., 2004) ou da proliferação endógena de células tronco neurais (Munoz J.R.

et al., 2005).

Também está claro que o transplante de células tronco neurais, células

neuronais derivadas de linhagens imortalizadas ou transplantes de células ou tecido

neuronal fetal diminuem as deficiências funcionais causadas por um AVC (Wechsler

L.R. & Kondziolka D. 2003). Nestes casos, os meios pelos quais a recuperação

funcional ocorre também ainda não estão esclarecidos. Há indícios de que a

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reposição neuronal tem uma participação maior nestes tipos de transplante do que

nos transplantes de células da medula óssea e do sangue de cordão umbilical.

Supõe-se que células neuronais transplantadas podem preservar as células e

conexões sinápticas do hospedeiro através da secreção de fatores tróficos,

estabelecimento de novas conexões que aumentem a atividade sináptica, ou

funcionem como suporte estrutural para regeneração axonal do hospedeiro ou

mesmo reponham elementos celulares (Wechsler L.R. & Kondziolka D. 2003). Entre

os indícios da participação da reposição celular estão os resultados de Sorensen

J.C. et al. (1996) em que enxertos corticais fetais implantados no neocórtex adulto

após isquemia produziram conexões com os neurônios hospedeiros. Nestes animais

ocorreu melhora comportamental quando houve exposição a um ambiente

enriquecido. Células neuronais derivadas de uma linhagem celular de

teratocarcinoma humano (células NT2), implantadas no striatum após infarto,

sobreviveram, se integraram no cérebro do animal hospedeiro, e produziram

axônios e sinapses (Kleppner S.R. et al., 1995). Neste caso, os déficits neurológicos

foram revertidos apenas quando uma quantidade suficiente de células foi

implantada, indicando que os benefícios estavam relacionados à reposição celular.

Estes trabalhos reforçam a idéia de que as causas da melhora das

deficiências funcionais são diferentes em transplantes de células que efetivamente

se diferenciam em células neuronais (células tronco neurais, células neuronais

derivadas de linhagens imortalizadas ou células ou tecido neuronal fetal) e em

transplantes de células da medula óssea e do sangue de cordão umbilical.

Não há uma conclusão a respeito da transdiferenciação em modelos de

transplante de células da medula óssea e do sangue de cordão umbilical no SNC.

Vários artigos encontram a quase totalidade das células derivadas do doador com

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aspecto de blastos, com localização perivascular (Castro R.F., 2002) e expressando

o marcador pan-leucócito CD45 (Wagers A.J. et al., 2002; Vallières L. & Sawchenko

P.E., 2003), indicando que as células destas fontes só contribuem para o SNC com

microglia e células macrofágicas. Vários outros artigos, no entanto, encontram

células completamente integradas ao tecido hospedeiro, muitas vezes

indistinguíveis das células hospedeiras vizinhas, expressando antígenos de tecido

nervoso e numa quantidade maior do que se supõe ser a freqüência de fusão

celular, resultados compatíveis com fenômenos de transdiferenciação (Eglitis M.A. &

Mezey E., 1997; Kopen G.C. et al., 1999; Brazelton T.R. et al. 2000; Mezey E. et al.,

2003; Crain B.J. et al., 2005).

O presente trabalho contribui para a idéia de que a melhora em transplante

de células da medula óssea e do sangue de cordão umbilical não ocorre por

transdiferenciação destas células em células neuronais, porque a expressão prévia

de antígenos considerados específicos do tecido nervoso pode estar sendo

confundida com transdiferenciação. A hipótese da transdiferenciação deve ser mais

bem avaliada, incluindo a possibilidade de fusão destas células com uma célula do

hospedeiro (Ying Q.L. et al., 2002; Terada N. et al., 2002; Wang X. et al., 2003;

Vassilopoulos G. et al., 2003). A análise prévia da expressão dos antígenos usados

para avaliar a transdiferenciação nas células que serão transplantadas ou induzidas

à transdiferenciação in vitro pode evitar conclusões errôneas.

Nosso trabalho indica que em estudos de diferenciação de células

mononucleadas de MO de ratos e de sangue de cordão umbilical é aconselhável

que a expressão de NF-200, NSE, vimentina, β-III-tubulina ou S-100 só seja usada

de forma comparativa com a expressão basal em CMN, mas que GFAP e MAP-2

são marcadores confiáveis. Essa verificação deve ser feita, inclusive, com cada

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amostra a ser transplantada, visto que nossos resultados mostram uma grande

variabilidade entre as amostras na expressão dos antígenos avaliados.

Ao fazer uma análise prévia da expressão dos antígenos usados para avaliar

a transdiferenciação Mezey E. et al. (2000) verificaram que células da medula óssea

de camundongos não expressavam Neu-N, nem O4 (marcador de oligodendrócitos),

nem NG2 (presente em células de Schwann). Após o transplante, estas células

expressavam Neu-N no encéfalo, mas NG2 e O4 não foram verificados. No entanto,

a expressão de NSE foi verificada após o transplante, mas sua expressão prévia não

foi testada. Goolsby J. et al. (2003) observou que depois de implantadas no encéfalo

células CD34+ de MO de camundongos deixavam de expressar concomitantemente

os antígenos de neurônio NF-200 e Neu-N e o antígeno de oligodendrócitos

CNPase, segregando em populações distintas. GFAP, que não era expresso nas

células antes do implante, passava a ser expresso, também de forma segregada.

Outros autores também encontraram expressão de GFAP em células derivadas do

sistema hematopoiético integradas no parênquima cerebral (Eglitis M.A. & Mezey E.,

1997; Kopen G.C. et al., 1999).

Woodburry D. et al. (2002), no entanto, verificaram em cultura de células

mesenquimais de medula óssea de ratos adultos que, após indução de

diferenciação neural por exposição a meio suplementado com DMSO, bFGF e

PDGF, ocorria diminuição na expressão tanto de marcadores de tecidos não neurais,

quanto de vários antígenos neurais (subunidade de ligação de glutamato de NMDA,

aldolase C, GFAP, NeuroD e Sintaxina 13) o que constituía uma incongruência com

a hipótese de transdiferenciação.

A revisão de publicações anteriores mostra que cuidado muito maior deve ser

tomado com células mesenquimais de medula óssea cultivadas, visto que estas

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expressam uma infinidade de antígenos teoricamente marcadores restritos a algum

outro tecido (Seshi B. et al., 2003; Seshi B. et al., 2000).

Provavelmente, a forma mais coerente de se verificar a transdiferenciação,

seria através da avaliação funcional (Tondreau T. et al., 2004), como as provas

eletrofisiológicas para os neurônios. A expressão de um conjunto de antígenos

correlacionados para uma mesma função e não de um antígeno isolado também

seria uma avaliação mais fidedigna dos fenômenos de transdiferenciação.

5.4. Implicações Clínicas: níveis séricos de proteínas de tecido nervoso

no sangue de recém nascidos são usadas na detecção e avaliação de lesões

do SNC.

Usa-se o aumento dos níveis séricos de proteínas de tecido nervoso no

sangue de recém nascidos para diagnosticar e definir prognóstico de lesão perinatal

do SNC. Gazzolo, D. et al. (2002), encontraram correlação entre os níveis séricos

de S-100 e o grau de impedimento do fluxo sangüíneo feto-placental em fetos

humanos de 28 a 39 semanas com retardo do crescimento. Çeltik, C. et al. (2004)

avaliaram as concentrações séricas de NSE como um marcador de severidade de

encefalopatia hipóxica-isquêmica em recém nascidos. Concluíram que as taxas de

NSE tinham sensibilidade e especificidade moderadamente altas para a avaliação

do diagnóstico e de prognóstico ruim em encefalopatia hipóxica-isquêmica, mas os

valores preditivos positivos e negativos eram relativamente baixos. Tekgul et al.

(2004) tiraram conclusões diferentes quando procuraram definir os valores

preditivos das concentrações sérica e liquórica de NSE para prognóstico em

crianças com asfixia perinatal. As crianças (n=21) foram monitoradas até a idade de

dois anos quanto à avaliação neurológica e do desenvolvimento. Não havia

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diferença significativa nos níveis séricos de NSE medidos entre 24 e 72 horas após

o nascimento entre crianças com graus de encefalopatia hipóxica-isquêmica severo

e mínimo, mas a concentração de NSE no líquor medida no mesmo período tinha

correlação com o grau de encefalopatia e o prognóstico após dois anos.

O uso do aumento dos níveis séricos de proteínas de tecido nervoso no

sangue de recém nascidos para diagnosticar e definir prognóstico de lesão perinatal

do SNC tem sido questionado devido à constatação da presença de NSE e S-100,

as proteínas mais comumente usadas para este fim, no parênquima da placenta e

do cordão umbilical. Wijnberger, L.D.E. et al. (2002) encontraram imuno-reatividade

para as subunidades α e β de S-100 na placenta e no cordão umbilical, em células

musculares lisas da parede vascular, em miofibroblastos, no epitélio amniótico, nos

macrófagos e no sinciciotrofoblasto. Imuno-reatividade para NSE foi encontrada nas

mesmas estruturas citadas acima e no endotélio. Não foi encontrada qualquer

imuno-reatividade para GFAP e B-50. Desta forma, os níveis aumentados de S-100

e NSE encontrados em bebês com lesão encefálica perinatal podem estar

relacionados, na verdade, à lesão da placenta ou cordão umbilical e ter uma relação

mais indireta que direta com a lesão neurológica.

Wirds J.W. et al. (2003) mediram as concentrações de S-100 sérica em UCB

de 81 neonatos saudáveis nascidos de parto normal ou cesárea. As isoformas αβ e

ββ foram encontradas em todas as amostras, numa concentração média de 1.62

µg/l de sangue arterial e 1.36 µg/l de sangue venoso. Bebês nascidos através de

parto normal apresentavam níveis significativamente mais altos que os nascidos

através de cesárea. Os autores questionaram a confiabilidade de se usar a

concentração de uma proteína que existe no sangue de bebês saudáveis para

diagnosticar ou avaliar a gravidade de lesão perinatal do SNC. Os autores

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ponderaram que a lógica deste uso era frágil, por conter muitas variáveis. Para que

uma lesão encefálica causasse o surgimento de S-100 (ou qualquer outro antígeno

considerado específico de tecido nervoso) no soro deviam ocorrer os fatos narrados

a seguir: a proteína proveniente do interior de uma célula que morreu devia ser

lançada na matriz extracelular e daí alcançaria o líquido cérebro-espinhal; a proteína

então atingiria o sangue se ultrapassasse a barreira hemato-encefálica. Quanto à

necessidade de a barreira hemato-encefálica ser ultrapassada, postula-se que em

recém nascidos sua permeabilidade é maior que em adultos, que não apresentam

S-100 no soro normal. Para a questão de os bebês saudáveis apresentarem a

proteína no soro foram apontadas as seguintes soluções: ou a matriz extracelular do

SNC de neonatos apresenta quantidades maiores de S-100 que em adultos, ou a

fonte da proteína não é o SNC. A placenta foi apontada como uma possível fonte

para a proteína S-100 encontrada no soro, mas esta resposta não pareceu

suficiente, porque as suas concentrações arteriais eram maiores que as venosas.

Se as fontes de S-100 e de NSE no soro de recém nascidos normais são,

além da placenta e do cordão umbilical, as células sanguíneas, a presença e a

concentração dessas proteínas no soro sofrerão variação sob influência da variação

dessas proteínas nessas células. Com a grande variação encontrada no nosso

trabalho na presença e freqüência de células de UCB que expressam NSE ou S-

100, seria difícil determinar uma concentração basal considerada normal e

diferenciá-la de concentrações consideradas indicativas de lesão no SNC, podendo

ser esta uma das explicações para os resultados controversos de Çeltik, C. et al.

(2004), Tekgul et al. (2004) e Wirds J.W. et al. (2003).

A extrapolação dos resultados indica que seria interessante verificar se as

células do sangue periférico adulto também contêm alguma imuno-reatividade para

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estes antígenos, já que a quantificação dos níveis séricos destes antígenos também

é usada para a avaliação de lesão neurológica em adultos (Persson L. et al. 1987;

Aurell A. et al. 1991).

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6. Conclusões

1. Uma grande proporção das células mononucleadas da medula óssea de

ratos adultos e do sangue de cordão umbilical humano expressa antígenos

marcadores de células da linhagem neural tais como: células de glia (S-100 e

vimentina), neurônios imaturos (ß-III-tubulina) e maduros (NSE e NF-200). Estes

resultados sugerem que a expressão desses antígenos deve ser usada com cautela

no estudo da diferenciação neural destas populações.

2. O gangliosídeo 9-O-Acetil-GD3 é expresso em 30% das CMN da MO de

ratos e em 12% das CMN de sangue de cordão umbilical humano.

3. O gangliosídeo 9-O-Acetil GD3 pode se distribuir de forma assimétrica na

superfície de células mononucleadas da medula óssea de ratos adultos e do sangue

de cordão umbilical humano o que indica que ele poderá estar relacionado a

fenômenos de polarização celular.

4. A presença do gangliosídeo 9-O-Acetil GD3 em células tronco

hematopoéticas e/ou progenitoras da medula óssea de ratos adultos sugere que

este antígeno possa ser utilizado para purificar e enriquecer sub-populações

celulares da medula óssea.

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