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Analisador gramatical por deslocamento e redução

como modelo psicolinguístico∗

Luiz Arthur Pagani†

18 de novembro de 2016

1 Introdução

Na história recente da Linguística, principalmente depois da distinção cunhada por Chomskyentre competência e desempenho, fenômenos desse último tipo têm recebido pouca aten-ção, já que geralmente para um gerativista:

o papel de nossa teoria, tal qual a concebemos, é descrever e explicar a com-petência linguística do falante, explicitando os mecanismos gramaticais quesubjazem a ela. Logicamente, a performance tem o seu papel nesse nossoestudo: como o físico deve observar os raios e trovões, o linguista tem queobservar as sentenças produzidas. Mas, sem dúvida, não pode se ater a elas.[17, p. 17]

Apesar desse tipo de observação servir para alegar que nossas capacidades linguísticasvão além da simples imitação (ou seja, que somos capazes de processar expressões quenunca tínhamos visto antes), isso pode ter colaborado para coibir a apreciação de umaparte sistematizável do desempenho.

Se fenômenos como a gagueira e a desatenção podem ser facilmente atribuídos adistúrbios psico-físicos sem nenhuma relação com os fenômenos linguísticos, um outrotipo de fenômeno relacionado ao desempenho parece estar fortemente ligado à estruturalinguística: as preferências de análise.

Ao lidar com sentenças que apresentam algum tipo de ambiguidade estrutural, osfalantes escolhem sistematicamente uma das possibilidades de análise. A partir dessetipo de constatação, muitos psicolinguistas têm tentado chegar a um modelo que expliqueesse tipo de comportamento sistemático, muitas vezes à margem da corrente principal daGramática Gerativa.

Além disso, depois de algum tempo de interação com a Ciência da Computação ecom as Ciências Cognitivas, a Linguística Computacional ofereceu um modelo dessas

∗Publicado em In Cognito, 1 (4): 33�55. Agradeço aos dois pareceristas anônimos da revista (umportuguês e outro brasileiro) pelos comentários que me permitiram corrigir alguns erros; mas tambémdevo pedir-lhes desculpas por persistir em outros. (Alguns erros da versão publicada foram corrigidosaqui.)†Departamento de Literatura e Linguística � Universidade Federal do Paraná ([email protected],

http://docs.ufpr.br/�arthur)

1

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preferências de análises através do analisador gramatical por deslocamento e redução(shift-reduce parser).

Assim, o objetivo do presente artigo é o de apresentar didaticamente esse tipo deabordagem (que envolve a Psicolinguística Experimental, por um lado, e a LinguísticaComputacional, por outro), já que o tipo de conhecimento necessário para a sua compre-ensão nem sempre está no domínio comum dos linguistas. Nesse sentido, a apresentaçãoestá propositalmente simpli�cada, de forma a permitir que os interessados nesse tipo dediscussão tenham um primeiro contato com ela, ainda que não dispusessem de todos ospressupostos para acompanhá-la.1 A ideia aqui é a de justamente começar a instrumentaresses interessados não iniciados, para incentivar essas pessoas a acompanhar discussõesmais especí�cas.

2 Psicolinguística computacional

O trabalho apresentado aqui pode ser classi�cado no que se tem chamado de Psicolin-guística Computacional (PLC). Apesar de ter recebido esse nome há pouco tempo [7], aárea não é nova: descontada a antiga comparação do funcionamento do ser humano como das máquinas (que na biologia levou a se cunhar termos como �sistema nervoso� e �sis-tema circulatório�), desde os primórdios das Ciências Cognitivas se explora a controversametáfora da mente como computador. No entanto, para a PLC, o termo �computador�deve ser entendido num sentido mais �etimológico� (ou seja, o de algo que coloca coisasjuntas, como no termo �máquina de Turing�), e não apenas como aqueles equipamentosdiante dos quais nós redigimos os nossos textos ou navegamos pela Internet.

Nesse sentido, a PLC se deve a uma antiga idéia de Bresnan [4]: a da hipóteseforte da competência (HFC). Segundo essa hipótese, os seres humanos não apresentamapenas o mesmo comportamento previsto pela teoria, mas empregam de alguma maneiraa própria teoria para chegar àquele comportamento; em outras palavras, essa hipóteseé apenas uma encarnação mais epistemologicamente isenta (já que não pressupõe umateoria em particular) da realidade psicológica pretendida pela Gramática Gerativa. Ou,invertendo a ordem, uma teoria gramatical que se pretenda psicologicamente real precisanão apenas prever os dados linguísticos e suas estruturas, mas o devem fazer re�etindoa maneira como isso acontece na mente dos falantes. Em termos computacionais, issosigni�ca que o modelo precisa ser adequado não apenas declarativamente, mas tambémprocedimentalmente.

Devido ao interesse pelo comportamento linguístico humano (CLH), a PLC está inva-riavelmente associada à Psicolinguística Experimental (PLE), já que aquela depende dosresultados experimentais desta para poder propor e avaliar seus modelos; ou seja, a PLEfunciona como fonte primária para a PLC. No entanto, elas diferem basicamente pelaforma como tratam a HFC: para a PLE, a hipótese é um princípio metodológico; para aPLC, a HFC é um princípio ontológico. Em outras palavras, enquanto a PLE empregaa HFC para elaborar a metodologia dos experimentos, a PLC tenta implementar com-putacionalmente essa mesma hipótese. Essa característica da PLE �ca clara na seguinteexplicação de Frazier ([10, p. 114]; apud [14, p. 51]): �o Encerramento Tardio é apenas

1Com isso, espero ter me justi�cado perante um dos pareceristas anônimos desta revista que recomen-dou �um confronto mais desenvolvido com abordagens diferentes� e �um alargamento a estruturas comambiguidades induzidas por outro tipo de fenômenos�. Continuo preferindo não fazer comparações entreabordagens diferentes nem alargar o escopo empírico, porque nesse momento uma apresentação didáticame parece mais proveitosa do que uma discussão epistemológica.

2

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parte da caracterização da primeira etapa do analisador gramatical; ele não precisa serde�nido como uma estratégia especí�ca.�

Assim, a PLC tem tentado apresentar soluções computacionais para modelar o CLH,o que acaba funcionando como uma espécie de contrapartida para a PLE, à medida queos modelos computacionais podem ajudar a fazer previsões que auxiliem na elaboraçãode experimentos.

Enquanto tributário da PLE, o principal domínio empírico da PLC tem sido as chama-das sentenças-labirinto (garden-path sentences), cujo processamento apresenta ambigui-dades locais para as quais a resolução preferida impede uma análise gramatical coerente.Em português, um dos melhores exemplos de sentença-labirinto talvez seja a sentença �Onavio angolano entrava no porto o navio brasileiro�;2 quando o processamento atinge apalavra �entrava�, quase que invariavelmente ela é analisada como a terceira pessoa dosingular do pretérito imperfeito do indicativo do verbo �entrar�; como, em sua forma maisfrequente, esse verbo é intransitivo (aceitando, no máximo, um complemento preposicio-nado locativo), quando o processamento atinge o sintagma nominal �o navio brasileiro�,a análise gramatical encontra uma incoerência: um verbo intransitivo seguido de umcomplemento direto. Di�cilmente os falantes do português conseguem ver, sem algumare�exão consciente, que �entrava� também pode ser a terceira pessoa do singular do pre-sente do indicativo do verbo �entravar�; esse sim um verbo transitivo direto. (Durantealgum tempo, achei que esse não era um exemplo assim tão bom de sentença-labirinto,porque ele parece estar ligado a fenômenos de frequência de uso, o que não parecia sero caso de exemplos em inglês, como �the horse raced past the barn fell �; no entanto, nãome recordo de nenhuma demonstração de que o passado simples do verbo �to race� nãoseja mais frequente do que seu particípio passado; assim, mesmo no exemplo em inglêspodemos estar diante de um efeito de frequência de uso.)

Dessa forma, antes de passarmos ao analisador gramatical por deslocamento e redu-ção, vamos rever dois princípios que foram postulados para a explicação das sentenças-labirinto.

3 Encerramento Tardio e Anexação Mínima

Os trabalhos de Frazier [10] e Frazier e Fodor [11] resumem as várias estratégias de análisegramatical propostas por Bever [3] e por Kimball [16] em apenas dois princípios gerais:o Encerramento Tardio (Late Closure) e a Anexação Mínima (Minimal Attachment).Naqueles dois textos, se apresenta ummodelo de análise gramatical serial, sarcasticamentechamado pelas próprias autoras de �máquina de fazer linguiça� (saussage machine). Nessemodelo, o processamento sentencial humano é simulado por um processador de duasetapas: inicialmente os itens lexicais são estruturados em sintagmas pelo empacotadorsintagmático preliminar (preliminar phrase packager � PPP), e depois esses sintagmassão reunidos num único marcador sintagmático pelo supervisor da estrutura da sentença(sentence structure supervisor � SSS).

Na formulação de Gorrell [14, p. 47], esses dois princípios são de�nidos da seguintemaneira:

2Essa sentença parece ter sido usada como manchete na Folha de São Paulo, segundo João Luís GarciaRosa, então professor de Engenharia da Computação na PUC de Campinas, agora professor do Institutode Ciências Matemáticas e de Computação, da USP, em São Carlos), em comunicação pessoal quandoainda fazíamos as disciplinas de doutoramento.

3

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(1) Encerramento Tardio: Quando possível, anexe o material de entrada na sentençaou no sintagma que estiver sendo analisado.

(2) Anexação Mínima: Anexe o material de entrada no marcador sintagmático queestiver sendo construído empregando a menor quantidade de nós consistente comas regras de boa formação da gramática.3

A motivação empírica para se postular esses dois princípios é a explicação de de-terminados efeitos na complexidade do processamento sintático causado pelas sentenças-labirinto. A mais famosa dessas sentenças-labirinto talvez seja a já mencionada �the horseraced past the barn fell �, na qual a palavra �raced � é analisada como um verbo no passadosimples até que �fell � (também um verbo no passado simples) é encontrado; nesse ponto,percebe-se que a escolha feita para �raced � não é adequada, mas como esta palavra podeser reanalisada como um particípio passado, o processamento sintático poderia ter seguidoesse outro caminho. No entanto, essa reanálise causa uma sobrecarga no processamento,que já foi exaustivamente medida por técnicas desde a simples decisão lexical [14] até a�xação ocular [12]. A explicação para a escolha do passado simples ao invés do particípiopassado como categoria de �raced � se deve ao princípio de Anexação Mínima: a opçãopelo passado simples exige uma estrutura bem mais simples (3) do que a do particípiopassado (4).

(3) S

SN

the horse

SV

raced past the barn

(4) S

SN

SN

the horse

S'

raced past the barn

SV

Como a máquina de fazer linguiça é serial,4 uma vez escolhida uma estrutura, asoutras possibilidades são descartadas; assim, quando a análise sintática de (3) é escolhidapara �the horse raced �, a opção de (4) é imediatamente descartada.

O princípio de Encerramento Tardio (1), por sua vez, explicaria a di�culdade deprocessamento de uma sentença como �While Mary was mending the sock fell �. Comoo verbo �to mend � pode ser usado tanto intransitiva quanto transitivamente, a análisede �the sock � como seu objeto direto seria preferida, já que ela retarda o encerramentodo sintagma verbal governado por aquele verbo. O princípio de Anexação Mínima (2)

3Nesta formulação, é possível perceber que este segundo princípio está subordinado ao outro, já quea restrição à quantidade de nós depende da expressão que ainda está sendo analisada.

4Sobre efeitos seriais ou paralelos no processamento sintático, concsulta [13].

4

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não se aplica aqui porque, quando �the sock � estiver para ser processado, a postulação deuma sentença matriz já foi antecipada pela subordinação introduzida por �while�; dessamaneira, a integração de �the sock � na estrutura em (5) exigiria a mesma quantidade denós, tanto se ele fosse anexado ao SV da subordinada, quanto se ele fosse anexado ao SNda matriz.

(5) S

S'

Comp

While

S

SN

Mary

SV

was mending

S

SN SV

No entanto, em exemplos como o de �Ian mailed the letter to Mary�, a aplicação dessesdois princípios parece fazer uma previsão contraditória. Considerando as duas possíveisposições estruturais para um SP nesse exemplo (ou como complemento do SV ou comoadjunto do SN), haveria duas possibilidades de análise, representadas nas estruturas (6)e (7). A estrutura de (6) desrespeita o princípio de Encerramento Tardio, já que seriapossível anexar o SP ainda dentro do domínio do objeto direto (como em (7)). Poroutro lado, a estrutura em (7) desrespeita o princípio de Anexação Mínima (pois em (7)o SN objeto é dobrado pela adjunção, o que resulta num nó a mais em relação a (6)).Dessa maneira, parece haver um con�ito entre a aplicação dos princípios de EncerramentoTardio e de Anexação Mínima, o que talvez nos �zesse esperar um efeito de sentença-labirinto (agora não pela escolha da resolução da ambiguidade local que leva a uma análisecontraditória, mas pela simples impossibilidade de resolução da ambiguidade local).

(6) S

SN

Ian

SV

V

mailed

SN

the letter

SP

to Mary

5

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(7) S

SN

Ian

SV

V

mailed

SN

SN

the letter

SP

to Mary

No entanto, não é isso o que acontece efetivamente: a estrutura de (6) é mais fácil deser processada pelos falantes do inglês do que a de (7).

Mas o problema é ainda pior porque a preferência dos falantes por estruturas comoem (6) só acontece com um SN simples; numa sentença como �Ian mailed the postcard,the note, the memo, and the letter to Mary�, a preferência é pela anexação do SP não nodomínio do SV, mas sim no do SN, como em (7).5 Para resolver esse problema, Frazierprecisa de uma nova estipulação (ainda segundo [14, p. 49]): �o PPP (devido a sualimitada janela de observação) não tem mais acesso ao verbo `mail '; o único local deanexação acessível é o SN.� Dessa maneira, a explicação para a mudança de preferênciaé atribuída a uma janela de observação limitada (limited viewing window).

Só que mesmo com a estipulação de que �o PPP tem uma janela de observação limitadade aproximadamente 7 ± 2 palavras� [14, p. 47],6 a di�culdade não é superada.7 Casoconsideremos o limite como sendo de cinco palavras (7 - 2), a estrutura esperada seria ade �[SN the postcard ] [SN the note] [SN [SN the memo] and [SN the letter ]]�, com os doisprimeiros SNs fora do domínio da conjunção porque não caberiam na janela de observação.Com o limite de sete palavras, teríamos um SN fora do escopo da conjunção: �[SN thepostcard ] [SN [SN the note] [SN the memo] and [SN the letter ]]�. No entanto, já com olimite de nove palavras (7 + 2), o objeto direto poderia ser integralmente processado:�[SN [SN the postcard ] [SN the note] [SN the memo] and [SN the letter ]]�; nesse caso, o PPPjá deveria poder passar para o SSS o objeto direto esperado depois que o verbo transitivofoi processado. Assim, nesse ponto, ainda continuaríamos encontrando o mesmo con�itoentre os princípios de Anexação Mínima e de Encerramento Tardio descritos logo acima.

No entanto, mais importante até do que essa discussão interna, é preciso lembrar queo exemplo invocado para justi�car a estipulação do tamanho da janela de observaçãoestá relacionado a um fenômeno que ainda não foi bem resolvido nem na GramáticaGerativa: a questão do deslocamento para a direita dos SNs mais extensos. Já desde osprimeiros anos, os gerativistas observaram que a maneira mais natural para se produziruma sentença na qual o SP �to Mary� estivesse fora do domínio do objeto direto seria�Ian mailed to Mary the postcard, the note, the memo, and the letter �. É curioso, masbastante elucidativo, o fato de que esse tipo de dado tenha desaparecido das discussões

5De onde essa discussão foi tirada [14, p. 49], não �ca claro se apenas no SN mais ancaixado �theletter� ou em todo o objeto direto �the postcard, the note, the memo, and the letter�, nem mesmo seessa diferença é relevante ou não.

6Nessa mesma página, há uma nota em que se observa que a unidade pode ser de�nida mais adequa-damente através de morfemas e não de palavras, mas aqui vamos continuar considerando a palavra comounidade.

7Ainda parece estranho que a janela de observação conte palavras ou morfemas, e não considere ossintagmas que já foram integrados; contudo, não nos aprofundaremos nesta discussão aqui.

6

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mais modernas, já que ele parece resistir às explicações encontradas pelos gerativistas,que normalmente tenderiam a classi�car esse fenômeno como da ordem do desempenho.

Antes de encerrarmos essa seção, ainda que especulativamente (pois não conheço dadosexperimentais desse tipo para a nossa língua), vejamos como esses princípios poderiamser aplicados ao português.

Para começar, é preciso observar que o exemplo mais clássico não tem como seradaptado para o português, já que ele é baseado numa ambiguidade entre o particípiopassado e o passado simples dos verbos em inglês, que não existe no português. Assim,não parece ser possível reproduzir em português a sentença-labirinto �the horse raced pastthe barn fell � que ilustrou o princípio de Anexação Mínima.

No entanto, a sentença �while Mary was mending the sock fell �, usada para exempli-�car o princípio de Encerramento Tardio, é ainda mais ambígua em português; contudo,ao contrário do que seria de se supor, essa ambiguidade ainda maior não aumenta os efei-tos de labirinto. Como o português é uma língua de sujeito nulo, a sentença �enquantoa Maria costurava a meia caiu� pode ser facilmente analisada como �[S [S′ enquanto [Sa Maria costurava a meia]] [S PRO caiu]]�, de forma que o SN �a meia� pode ser inici-almente anexado como objeto de �costurava� sem precisar depois ser reanalisado comosujeito de �caiu�. O problema aqui seria o de explicar a indexação da categoria vazia,cuja preferência parece ser a de �[S [S′ enquanto [S a Mariai costurava a meia]] [S PROi

caiu]]�, e não a de �[S [S′ enquanto [S a Mariai costurava a meia]] [S PROj caiu]]� (o quetambém não poderá ser feito aqui).

O exemplo de �Ian mailed the letter to Mary� seria facilmente traduzido para o por-tuguês como �João enviou a carta para Maria�, de forma que a versão com o objeto maisextenso, �João enviou o cartão-postal, as anotações, o memorando e a carta para Maria�,continuaria com o mesmo tipo de problema apontado para o inglês.

Outro exemplo clássico de sentença-labirinto, ainda não comentado aqui, é o de sen-tenças com adjuntos temporais como �Ian said Thomas left yesterday�, que poderia serfacilmente reproduzida em português como �João disse que Maria saiu ontem�. Em ambosos casos, o princípio de Encerramento Tardio faz prever que os adjuntos temporais sejamanexados à sentença subordinada porque, quando o processamento atinge o adjunto, aunidade que está sendo processada é a subordina, ainda que a principal também continueaberta. Aqui, o princípio de Anexação Mínima não é relevante porque as duas estruturasapresentariam a mesma complexidade: as árvores de cada uma delas envolveria a dupli-cação de um nó S, a diferença é que numa o S dobrado seria o da subordinada (em (8)),enquanto que na outra o S dobrado seria o da principal (em (9)).

(8) S

SN

João

SV

V

disse

S'

C

que

S

S

Maria saiu

Adv

ontem

7

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(9) S

S

SN

João

SV

V

disse

S'

C

que

S

Maria saiu

Adv

ontem

Passemos agora ao algoritmo de análise gramatical por deslocamento e redução.

4 Analisador gramatical por deslocamento e redução

Um analisador gramatical (parser) por deslocamento e redução (shift-reduce) é consti-tuído por dois dispositivos de armazenamento e dispõe de apenas duas operações (naproposta original [18], esse tipo de analisador gramatical ainda apresenta um compo-nente, chamado oráculo, para resolver con�itos entre as operações; como a versão empre-gada aqui é baseada numa implementação em Prolog [5, pp. 155-159] na qual o própriomecanismo inferencial do Prolog funciona como oráculo, esse componente não será con-siderado).

Para o armazenamento, é preciso uma �la (queue), onde a expressão a ser analisadaé armazenada, de forma que a informação acessível para o processamento seja sempre amais antiga (ou seja, a palavra mais à esquerda, pensando na ordem ortográ�ca); alémdessa �la, um segundo armazenador (agora de tipo pilha (stack), onde a informaçãomais acessível é a mais recente) recebe os resultados das operações de deslocamento eainda funciona como entrada e saída para as operações de redução, como uma espécie dememória de trabalho.

A operação de deslocamento consiste apenas em retirar a palavra acessível da �lada expressão a ser processada e colocá-la na pilha que serve de memória de trabalho.A operação de redução, por sua vez, incidirá apenas na pilha, simpli�cando-a de acordocom as regras sintagmáticas de�nidas pela gramática; o resultado dessa operação é que ascategorias e os itens lexicais que casarem com o lado direito de alguma regra sintagmática,segundo sua ordem de acessibilidade na pilha, serão substituídos na mesma pilha pelacategoria correspondente ao lado esquerdo da mesma regra sintagmática.

Para analisar uma sentença como �o menino comeu o bolo�, por exemplo, precisaríamosde uma gramática como:

(10) S → SN SV

(11) SN → Det Nc

(12) SV → Vi

(13) SV → Vtd SN

8

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(14) Det → {. . . , a, . . . , o, . . . }

(15) Nc → { . . . , bolo, . . . , carta, . . . , menino, . . . }

(16) Vi → { . . . , correu, . . . , saiu, . . . }

(17) Vtd → { . . . , comeu, . . . , enviou, . . . }

Já as operações do analisador gramatical por deslocamento e redução poderiam serrepresentadas pela tabela em (18).

(18)

Fila Pilha Operação1. o menino comeu o bolo Deslocamento2. menino comeu o bolo o Redução por (14)3. menino comeu o bolo Det Deslocamento4. comeu o bolo Det menino Redução por (15)5. comeu o bolo Det N Redução por (11)6. comeu o bolo SN Deslocamento7. o bolo SN comeu Redução por (17)8. o bolo SN Vtrans Deslocamento9. bolo SN Vtrans o Redução por (14)10. bolo SN Vtrans Det Deslocamento11. SN Vtrans Det bolo Redução por (15)12. SN Vtrans Det N Redução por (11)13. SN Vtrans SN Redução por (13)14. SN SV Redução por (10)15. S Fim

Na linha 1, o analisador começa com a pilha vazia e com toda a expressão a seranalisada; com a pilha vazia, a redução não se aplica e, por isso, a operação empregadaé o deslocamento de �o� para a pilha. O resultado dessa operação é visto na linha 2,onde �o� já não está mais na �la da expressão a ser analisada e já aparece na pilha damemória de trabalho; nesse estado, a redução pode ser aplicada (devido à regra (14)),resultando na pilha da linha 3. Agora nenhuma outra redução pode ocorrer, então maisum deslocamento é feito, cujo resultado pode ser visto na linha 4; nesse ponto, umaoutra redução (devido à regra (15)) pode ocorrer (linha 5). Depois dessa redução, a pilhaoferece condições para ser reduzida uma segunda vez, pois ela contém �Det� e �N�, que sãoexatamente as categorias do lado direito da regra (11); assim, a �la não é afetada e a pilhapassa a conter apenas �SN�, que é a categoria do lado esquerdo da regra empregada, comose pode ver na linha 6. A partir daí, até a linha 11, ocorre uma série de três deslocamentose reduções lexicais. Apenas na linha 12, com a �la já vazia, começamos a encontrar ascondições que permitirão as três reduções que resultarão na análise da expressão comouma sentença, como se vê na linha 15. A condição de término do analisador gramaticalpor deslocamento e redução é atingida quando a �la da expressão está completamentevazia e a pilha da memória de trabalho contém uma única categoria, o que equivale a dizerque a expressão é completamente conexa, exatamente como ocorre nessa linha 15 (estacaracterística acaba sendo uma vantagem desse tipo de analisador que, ao contrário dosanalisadores descendentes, não precisa saber de antemão qual a categoria da expressão aser analisada: ela é descoberta ao �nal da análise, caso a expressão seja conexa; quandoa expressão não é conexa, a pilha termina com mais de um símbolo categorial, mesmo

9

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com a �la da expressão já vazia, o que faz com que a análise simplesmente falhe por nãoter atingido a condição de término).

Contudo, as línguas naturais não são assim tão bem comportadas como o nosso exem-plo. Devido à sua complexidade gramatical, muitas vezes existe mais de uma possibili-dade de redução, ou então tanto uma redução quanto um deslocamento num determinadoponto, que levam a análises gramaticais consistentes. Vejamos como isso acontece.

5 Con�itos entre reduções ou entre deslocamento e re-

dução

Considere uma gramática mais robusta para analisar a sentença �João enviou a cartapara Maria�, que represente mais adequadamente a distinção de transitividade nos doisusos do verbo �enviar� e que ainda inclua a possibilidade de adjuntos de SV e de SN, quealém das regras (10)�(17) ainda dispõe das regras abaixo:

(19) SN → Np

(20) SN → SN SP

(21) SV → V' SP

(22) SV → SV SP

(23) V' → Vb SN

(24) SP → P SN

(25) Np → { . . . , João, . . . , Maria, . . . }

(26) Vb → { . . . , enviou, . . . }

(27) P → { . . . , para, . . . }

Uma análise gramatical por deslocamento e redução através desta gramática paraa sentença �João enviou a carta para Maria� encontra três resultados: um, quando seconsidera o verbo �enviou� como bitransitivo (na árvore em (28)); e outros dois, quandose considera o mesmo verbo como transitivo direto: com o SP funcionando como adjuntodo SV (na árvore em (29)), ou com o SP funcionando como adjunto do SN (na árvore em()).

(28) S

SN

Np

João

SV

V'

Vb

enviou

SN

Det

a

Nc

carta

SP

P

para

SN

Np

Maria

10

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(29) S

SN

Np

João

SV

SV

Vtd

enviou

SN

Det

a

Nc

carta

SP

P

para

SN

Np

Maria

(30) S

SN

Np

João

SV

Vtd

enviou

SN

SN

Det

a

Nc

carta

SP

P

para

SN

Np

Maria

Na representação em tabela da análise gramatical por deslocamento e redução, oprimeiro resultado se con�gura quando, na linha 5 da tabela em (31), abaixo, se opta porreduzir �enviou�, no topo da pilha, através da regra (26).

11

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(31)

Fila Pilha Operação1. João enviou a carta para Maria Deslocamento2. enviou a carta para Maria João Redução por (25)3. enviou a carta para Maria Np Redução por (19)4. enviou a carta para Maria SN Deslocamento5. a carta para Maria SN enviou Redução por (26)6. a carta para Maria SN Vb Deslocamento7. carta para Maria SN a Redução por (14)8. carta para Maria SN Vb Det Deslocamento9. para Maria SN Vb Det carta Redução por (15)10. para Maria SN Vb Det Nc Redução por (11)11. para Maria SN Vb SN Redução por (23)12. para Maria SN V' Deslocamento13. Maria SN V' para Redução por (27)14. Maria SN V' P Deslocamento15. SN V' P Maria Redução por (25)16. SN V' P Np Redução por (19)17. SN V' P SN Redução por (24)18. SN V' SP Redução por (21)19. SN SV Redução por (10)20. S Fim

A primeira alternativa para a análise anterior aparece ao se optar pela redução de�enviou�, no topo da pilha, através da regra (17) � na mesma linha 5, das duas próximastabelas ((32) e (33)). E cada uma das análises para o verbo transitivo direto se devem auma opção entre um deslocamento ou uma redução na linha 11 destas mesmas tabelas.

Na tabela (32), imediatamente abaixo (abreviada para não repetir a análise já feita natabela anterior, começando portanto a partir da mesma linha 5), a opção na linha 11 é pelaredução da pilha através da regra 13, eliminando a possibilidade de se analisar o SP comoadjunto do SN. A análise do SP como adjunto do SV aparece explicitamente na passagemda linha 18 para a linha 19. (No nosso exemplo, essa análise parece pouco plausível; masela não seria estranha no caso da sentença �João enviou a carta de Campinas�. Parecerazoável supor que esta outra sentença seria preferencialmente analisada com esta segundaestrutura, o que já nos permite antever a questão da plausibilidade a ser comentada naConclusão; mas ambas apresentam a mesma disposição super�cial: um SN, o verbo�enviou�, outro SN e um SP. Assim, �ca justi�cada esta segunda análise, apesar de suaimplausibilidade.)

12

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(32)

Fila Pilha Operação...

......

...5. a carta para Maria SN enviou Redução por (17)6. a carta para Maria SN Vtd Deslocamento7. carta para Maria SN Vtd a Redução por (14)8. carta para Maria SN Vtd Det Deslocamento9. para Maria SN Vtd Det carta Redução por (15)10. para Maria SN Vtd Det Nc Redução por (11)11. para Maria SN Vtd SN Redução por (13)12. para Maria SN SV Deslocamento13. Maria SN SV para Redução por (27)14. Maria SN SV P Deslocamento15. SN SV P Maria Redução por (25)16. SN SV P Np Redução por (19)17. SN SV P SN Redução por (24)18. SN SV SP Redução por (22)19. SN SV Redução por (10)20. S Fim

No terceiro resultado, apresentado na tabela (33), a seguir (também abreviada paranão apresentar a derivação já feita na tabela imediatamente anterior), a opção pelo des-locamento na linha 11, antes de fechar o SV, resulta na análise do SP como adjunto doSN (que acontece de�nitivamente na passagem da linha 17 para a linha 18).

(33)

Fila Pilha Operação...

......

...11. para Maria SN Vtd SN Deslocamento12. Maria SN Vtd SN para Redução por (27)13. Maria SN Vtd SN P Deslocamento14. SN Vtd SN P Maria Redução por (25)15. SN Vtd SN P Np Redução por (19)16. SN Vtd SN P SN Redução por (24)17. SN Vtd SN SP Redução por (20)18. SN Vtd SN Redução por (13)19. SN SV Redução por (10)20. S Fim

Acabamos de ver o que normalmente é chamado de con�ito redução-redução (quedistinguiu a primeira estrutura das outras duas) e de con�ito deslocamento-redução (quedeterminou a diferença entre as duas últimas estruturas), na área de Teoria de Com-piladores [2, 1]. Vejamos agora como as preferências estabelecidas pelos princípios deEncerramento Tardio (1) e de Anexação Mínima (2) podem ser explicitamente de�nidosatravés de um analisador gramatical por deslocamento e redução.

6 Preferência de análise e resolução de con�itos

Segundo Pereira [18, p. 313], as duas estratégias de preferência podem ser diretamenteassociadas à maneira de resolver os dois tipos de con�itos que acabamos de ver, daseguinte maneira:

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• O princípio de Encerramento Tardio corresponde à resolução do con�ito deslocamento-redução em favor do deslocamento.8

• O princípio da Anexação Mínima corresponde à resolução de todos os con�itosredução-redução em favor da operação de redução que consumir a maior quantidadede símbolos da pilha.

Para exempli�carmos essas simulações dos princípios de Encerramento Tardio e deAnexação Mínima através da resolução dos con�itos na análise gramatical por desloca-mento e redução, precisamos antes incluir na nossa gramática mais regras, além daquelasem (19)�(27), já que a sentença a ser analisada será �João disse que Maria saiu ontem�.Essas regras são apresentadas em (34)�(39), abaixo.

(34) SV → VS′ S'

(35) S' → C S

(36) S → S Adv

(37) VS′ → { . . . , disse, . . . }

(38) C → { . . . , que, . . . }

(39) Adv → { . . . , ontem, . . . }

Segundo os critérios mencionandos acima, a análise da sentença �João disse que Mariasaiu ontem� apresentaria a preferência do princípio de Encerramento Tardio da seguintemaneira: na tabela em (40), abaixo, podemos observar que, na linha 15, a �la contémapenas �ontem� e a pilha está com �SN VS′ C S�; nesse ponto, teríamos duas opções:deslocar �ontem� da �la para a pilha ou reduzir a pilha através da regra 35. No en-tanto, segundo o que foi estabelecido, os con�itos de tipo deslocamento-redução devemser resolvidos em favor do deslocamento; assim, a continuação para a análise seria a dodeslocamento de �ontem�, de forma que a pilha �caria com �SN VC C S ontem� (entre aslinhas 15 e 16). Tendo resolvido o con�ito em favor do deslocamento, ocorre a seguintesucessão de reduções na pilha: 1) �SN VC C S Adv� (da linha 16 para a 17)), 2) �SN VCC S� (da linha 17 para a 18), 3) �SN VC S�' (da linha 18 para a 19), 4) �SN SV� (da linha19 para a 20), e �nalmente 5) �S� (da linha 20 para a 21). Na primeira dessas reduções, oadvérbio é analisado como adjunto da sentença subordinada �Maria saiu�; caso tivéssemosoptado pela redução na linha 15, ao invés do deslocamento, o advérbio seria analisadocom adjunto adverbial da sentença principal. Ao aplicar o deslocamento, e não a redução,o analisador gramatical replicou o comportamento dos falantes de português que tendema preferir essa mesma análise (pelo menos em condições ditas neutras).9

8Na verdade, ao invés de mencionar o princípio de Encerramento Tardio, Pereira se refere à Associaçãoà Direita (Right Association); esta distinção é irrelevante para a presente discussão. Sobre essa questão,ver [9] e [20].

9Essa suposta preferência em condições neutras foi contestada por Crain e Steedman [6].

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(40)

Fila Pilha Operação1. João disse que Maria saiu ontem Deslocamento2. disse que Maria saiu ontem João Redução por (25)3. disse que Maria saiu ontem Np Redução por (19)4. disse que Maria saiu ontem SN Deslocamento5. que Maria saiu ontem SN disse Redução por (37)6. que Maria saiu ontem SN VS′ Deslocamento7. Maria saiu ontem SN VS′ que Redução por (38)8. Maria saiu ontem SN VS′ C Deslocamento9. saiu ontem SN VS′ C Maria Redução por (25)10. saiu ontem SN VS′ C Np Redução por (19)11. saiu ontem SN VS′ C SN Deslocamento12. ontem SN VS′ C SN saiu Redução por (16)13. ontem SN VS′ C SN Vi R. (12)14. ontem SN VS′ C SN SV Redução por (10)15. ontem SN VS′ C S Deslocamento16. SN VS′ C S ontem Redução por (39)17. SN VS′ C S Adv Redução por (36)18. SN VS′ C S Redução por (35)19. SN VS′ S' Redução por (34)20. SN SV Redução por (10)21. S Fim

Para exempli�car a preferência devida ao princípio de Anexação Mínima, normal-mente se usa a sentença �João enviou a carta para Maria�. No entanto, esse exemplo sófunciona se, ao contrário do que �zemos aqui, não subcategorizarmos os verbos. Assim,seguindo a preferência pelo deslocamento nos con�itos entre deslocamento e redução,em determinado ponto da derivação, o analisador gramatical teria no topo da pilha asseguintes categorias: �V SN SP� (depois de ter deslocado todas as palavras da �la daexpressão para a pilha de trabalho). Nesse ponto, ocorreria um con�ito entre duas pos-síveis reduções: a substituição de �V SN� por �SV� (cuja regra correspondente precisariaser �SV → V SN�, permitindo depois uma segunda redução de �SV SP� para �SV�, pelaregra �SV → SV SP�), ou então a redução de toda essa parte da pilha por �SV�, numaúnica operação (para a qual a regra correspondente precisaria ser �SV → V SN SP�).A escolha por essa última operação, que consome mais elementos da pilha, replica ocomportamento dos falantes do português, que parecem preferir a análise na qual o sin-tagma preposicionado corresponde ao objeto indireto (novamente sob as tais condiçõesneutras).10

Como optamos por uma gramática sintagmática na qual os verbos aparecem subca-tegorizados, o analisador gramatical não apresentaria a preferência devida ao princípiode Anexação Mínima, já que não ocorreria um con�ito de redução-redução. Para umagramática como esta, ao se deparar com o verbo �enviar�, o analisador teria que resolverum con�ito de ordem lexical para o qual ele não estaria equipado. Mas essa questão nãoserá explorada no presente texto.

10Não apresentaremos a tabela de deslocamentos e reduções para esta sentença, mas nesse ponto dotexto o leitor não deveria ter muita di�culdade em conseguir fazer isso por si só.

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7 Conclusões

É o próprio Pereira [18, p. 308] quem nos adverte que ele não está �propondo determinadosmecanismos como modelo do processamento sentencial humano�, mas sim �um ambientegenérico no qual modelos falsi�cáveis podem ser precisamente formulados�. Ou seja, aconclusão deve se restringir exclusivamente à observação de que o analisador gramaticalpor deslocamento e redução oferece um �campo de provas� no qual os princípios de pre-ferência que fazem com que certas estruturas sejam mais facilmente processadas podemser explicitamente de�nidos (ainda que Pereira tenha preferido uma maneira popperianade dizer isso); com essa restrição, evita-se a controvérsia sobre a realidade psicológicada análise gramatical por deslocamento e redução (se o analisador gramatical faz parteou não do processamento linguístico humano), da mesma maneira que não faz o menorsentido discutir, na Física, se os objetos arremessados apenas percorrem uma trajetóriaparabólica ou se eles efetivamente calculam uma parábola para percorrer o trajeto.

Outra vantagem dessa comparação entre os princípios de preferência e as resoluçõesdos con�itos, também notada por Pereira [18, p. 316], é que possíveis contradições entreo Encerramento Tardio e a Anexação Mínima (como a que foi apresentada acima, paraa sentença �Ian mailed the letter to Mary�) �estão automaticamente eliminadas porqueos dois princípios operam necessariamente em diferentes momentos da análise�. Como oEncerramento Tardio correponde à resolução do con�ito deslocamento-redução e a Ane-xação Mínima à resolução do con�ito redução-redução, e como esses con�itos não sesobrepõem (ou seja, nunca haverá um con�ito deslocamento-redução-redução), devido aopróprio funcionamento do analisador, a possibilidade de con�ito entre os princípios depreferência deixa de existir.

No nosso exemplo, a resolução do con�ito deslocamento-redução decorre do funciona-mento do analisador gramatical (na implementação em Prolog mencionada, isso signi�cade�nir o analisador gramatical invocando-se o deslocamento antes de se invocar a redu-ção, num esquema como o de �analisa(...) :- desloca(...), reduz(...), anali-sa(...).�). Numa das versões dessa implementação (mais próxima à proposta por Co-vington), o analisador chega à análise do SP como adjunto adverbial antes da análise comoadjunto adnominal; em outra implementação, contudo, na qual as operações são de�nidasem cascata (�analisa(...) :- desloca(...).�, �desloca(...) :- reduz(...).� e�reduz(...) :- regra(...), analisa(...).�), a prioridade entre essas análises comoadjunto é invertida (no entanto, ela apresenta uma redundância, chegando uma segundavez à mesma análise como complemento verbal na última possibilidade de análise).11

Já o con�ito redução-redução apareceu na ambiguidade argumental de um verbo eseria resolvido basicamente através de uma prioridade lexical dos verbos bitransitivos emrelação aos transitivos diretos. Essa pode não ser a solução mais adequada, porque eladeixa em aberto a possibilidade de con�itos redução-redução nas regras sintagmáticas nãolexicais. Mas para um con�ito redução-redução aparecer entre as regras sintagmáticas,seria preciso que duas regras sintagmáticas compartilhassem uma parte dos seus ladosdireitos, o que, com a adoção da Teoria X', parece �car mais difícil. De qualquer maneira,o caráter lexical do fenômeno que apareceu no nosso exemplo �ca claro não só na questãoda transitividade (da escolha entre o bitransitivo e o transitivo direto), mas também naseleção da preposição. Como foi rapidamente mencionado na discussão da análise dasentença �João enviou a carta para Maria�, se a preposição for trocada, como em �João

11Em breve, essas implementações estarão disponíveis na minha página de internet ; enquanto isso nãoacontece, elas podem ser obtidas através de uma solicitação por e-mail.

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enviou a carta de São Paulo�, a estrutura super�cial é exatamente a mesma, porém aestrutura subjacente mais fácil de processar seria aquela na qual o SP é adjunto do SV.

Esta discussão lexical ainda suscita uma outra questão: a da facilitação (priming)semântica e contextual. Essa questão é amplamente apresentada, tanto do ponto de vistaexperimental quanto computacional, por Crain e Steedman [6]. Segundo estes autores,não haveria estruturas mais fáceis de processar por si próprias; uma mesma estrutura podeser fácil de processar em determinados ambientes, mas difícil em outros (dependendo daestrutura temática, como foi mencionado, ou da acessibilidade discursiva dos referentes).Devido aos limites desse texto, porém, essa discussão não tem como ser feita aqui.

Finalmente, para fazer jus à minha formação no LAFAPE,12 não poderia terminaresse texto sem comentar o que sempre mais me incomodou nessas discussões: a ausênciada estrutura prosódica. Todos os exemplos discutidos na literatura mencionada parecempressupor uma espécie de contexto discursivo neutro que não parece ser plausível sequerpara a leitura de apresentações ortográ�cas: ler uma sequência de palavras na tela deum computador (que é como são realizados quase todos os experimentos mencionados),não é apenas comparar sinais grá�cos com padrões mentais para o reconhecimento dessessinais. Ao contrário, ler um texto adequadamente é projetar uma maneira de pronunciara sequência de palavras que o constitui. Assim, parecem pouco con�áveis as conclusõesobtidas a partir de sentenças como �while Mary was mending the sock fell �, já que elasó poderia ser gramaticalmente pronunciada com uma única estrutura prosódica: �[whileMary was mending ] [the sock fell ]�; a outra possibilidade seria simplesmente agramatical:�[while Mary was mending the sock ] [fell ]�. Em português o problema da desconsideraçãoda estrutura prosódica é ainda mais grave, porque ambas as estruturas são gramaticais:�[enquanto a Maria costurava] [a meia caiu]� e �[enquanto Maria costurava a meia] [caiu]�(que, como foi dito, é entendida como 'Maria caiu enquanto costurava a meia', cujadiscussão não pôde avançar exatamente pela falta da estrutura prosódica e de informaçõesde outros módulos além da Teoria X').

Dessa maneira, os próximos passos a serem naturalmente investigados a partir dasquestões abordadas aqui parecem exigir dois tipos de coisas: a inclusão da estruturaprosódica e da representação semântica na análise gramatical, e dos outros módulos dateoria sintática na Gramática. Por enquanto, apenas o primeiro deles está sendo tentadopor mim neste momento, através da investigação do acréscimo das informações semânticase prosódicas, como as discutidas por Kadmon [15], e da combinação direta entre as duasestruturas (sem nenhuma mediação sintática) possibilitada pela gramática categorial,como no trabalho de Steedman [19].

Referências

[1] Alfred Aho, Ravi Sethi, and Je�rey D. Ullman. CCompiler � Principles, Techniques,and Tools. Addison-Wesley, Reading, 1988.

[2] Alfred Aho and Je�rey D. Ullman. The Theory of Parsing, Translation, and Com-pilation � Vol1. 1: Parsing. Prentice Hall, Englewood Cli�s, 1972.

12Laboratório de Fonética Acústica e Psicolinguística Experimental, do Instituto de Estudos da Lin-guagem, na Universidade Estadual de Campinas.

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[3] T. Bever. The cognitive basis of linguistic structure. In John R. Hayes, editor,Cognition and the Development of Language, pages 279�362. John Wiley & Sons,New York, 1970.

[4] Joan Bresnan and John Kaplan. Introduction: Grammar as mental representationof language. In Joan Bresnan, editor, The Mental Representation of GrammaticalRelations. The MIT Press, Cambridge, 1982.

[5] Michael A. Covington. Natural Language Processing for Prolog Programmers. Pren-tice Hall, Englewood Cli�s, 1994.

[6] Stephen Crain and Mark Steedman. On not being led up the garden path: Theuse of context by the psychological syntax processor. In David R. Dowty, LauriKarttunen, and Arnold M. Zwicky, editors, Parsing Natural Language. CambridgeUniversity Press, Cambridge, 1985.

[7] Matthew Crocker. Computational Psycholinguistics: An Interdisciplinary Approachto the Study of Language. Kluwer, Dordrecht, 1996.

[8] David R. Dowty, Robert E. Wall, and Stanley Peters. Introduction to MontagueSemantics. Reidel, Dordrecht, 1981.

[9] Janet D. Fodor and Lyn Frazier. Is the human sentence parsing mechanism an ATN?Cognition, 8(4):417�459, 1980.

[10] Lyn Frazier. On Comprehending Sentence: Syntactic Parsing Strategies. PhD thesis,University of Connecticut, Connecticut, 1979. Reproduced by Indiana UniversityLinguistics Club.

[11] Lyn Frazier and Janet D. Fodor. The sausage machine: A new two-stage parsingmodel. Cognition, 6(4):291�325, 1978.

[12] Lyn Frazier and Keith Rayner. Making and correcting errors during sentence com-prehension: Eye movements in the analysis of structurally ambiguous sentences.Cognitive Psychology, 14(2):178�210, 1982.

[13] Paul Gorrell. Establishing the loci of serial and parallel e�ects in syntactic processing.Journal of Psycholinguistic Research, 18(1):61�74, 1989.

[14] Paul Gorrell. Syntax and Parsing. Cambridge University Press, Cambridge, 1995.

[15] Nirit Kadmon. Formal Pragmatics. Blackwell, Oxford, 2001.

[16] John P. Kimball. The Formal Theory of Grammar. Prentice Hall, Englewwod Cli�s,NJ, 1973.

[17] Carlos Mioto, Maria Cristina Figueiredo Silva, and Ruth Lopes. Novo Manual deSintaxe. Contexto, São Paulo, 2013.

[18] Fernando C. N. Pereira. A new characterization of attachment preferences. InDavid R. Dowty, Lauri Karttunen, and Arnold M. Zwicky, editors, Parsing NaturalLanguage, pages 307�319. Cambridge University Press, Cambridge, 1985.

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[19] Mark Steedman. The Syntactic Process. MIT Press, Cambridge, MA, 2000.

[20] E. Wanner. The ATN and the saussage machine: Which one is baloney? Cognition,8(2):209�225, 1980.

A O autor

Luiz Arthur Pagani foi professor de Linguística na Universidade Estadual de Londrinade 1992 a 2002. Em dezembro de 2001, se doutorou pelo programa de pós-graduação doInstituto de Estudos da Linguagem, na Universidade Estadual de Campinas, com umatese na qual implementava em Prolog os analisadores gramaticais do livro Introductionto Montague Semantics [8]. A partir de 2002, se transferiu para a Universidade Federaldo Paraná, onde ministra aulas de Semântica Formal, Gramática Categorial e Introduçãoà Lógica para Linguistas. Além disso coordenou o Laboratório de Linguística, Lógica eComputação (também na Universidade Federal do Paraná), que naquele momento estavatrabalhando na implementação em Prolog de um analisador gramatical para GramáticasCategoriais, em colaboração com o LAFAPE; logo depois, este laboratório desenvolveuum assistente de análise gramatical para Gramáticas Categoriais.

B Implementação em Prolog

Segue abaixo a listagem do programa em Prolog (testado no SWI-Prolog)13 que faz aanálise gramatical por deslocamento e redução dos exemplos apresentados no texto.

% des_red.pl

%%%%%%%%%%%%%%%%%% Inicializador %%%%%%%%%%%%%%%%%%

analisa(Expressão) :-tell('resultadotdr'),separador(46),nl,analisa(Expressão, [], _, [], Tabela),tab(4),write('FILA'),tab(27),write('PILHA'),tab(20),write('OPERAÇÃO'),nl, nl,apresenta(Tabela, _),nl,separador(46),nl, nl,

13O interpretador SWI-Prolog pode ser obtido gratuitamente na página http://www.swi-prolog.org.

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fail.analisa(_) :-

told,write('A(s) tabela(s) com a análise gramatical '),write('está(ão) gravada(s) no arquivo RESULTADO. TDR').

% Separador das tabelasseparador(0) :-

write('x').separador(X) :-

X > 0,write('x-'),Y is X - 1,separador(Y).

% Apresenta uma tabela linha por linhaapresenta([], 0).apresenta([Primeiro|Resto], X) :-

apresenta(Resto, Y),X is Y + 1,write(X)Primeiro.

% Escreve uma linha da tabelalinha(Expressão, Pilha, Operação) :-

nl,tab(4),desempilha(Expressão),nl,tab(45),desempilha(Pilha),nl,tab(70),write(Operação),nl.

desempilha([]).desempilha([Primeiro|Resto]) :-

write(Primeiro),write(' '),desempilha(Resto).

%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% Analisador gramatical %% por deslocamento e redução %% baseado em Covington (1994: 159) %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%

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% Analisador gramaticalanalisa([], [Resultado], _, Tab, NovaTab) :-

NovaTab = [linha([], [Res], fim)|Tab].analisa(Expr, Pilha, Resultado, Tab, NovaTab) :-

desloca(Expr, NovaExpr, Pilha, NovaPilha, Tab, MaisLinhas),reduz(NovaExpr, NovaPilha, PilhaRed, MaisLinhas, OutrasLinhas),analisa(NovaExpr, PilhaRed, Resultado, OutrasLinhas, NovaTab).

% Deslocamentodesloca(Expr, Resto, Pilha, [Pal|Pilha], Tab, NovaTab) :-

Expr = [Pal|Resto],inverte(Pilha, PilhaInv),NovaTab = [linha(Expr, PilhaInv, deslocamento)|Tab].

% Reduçãoreduz(NovaExpr, Pilha, PilhaRed, Tab, NovaTab) :-

regra(Regra, Pilha, NovaPilha),inverte(Pilha, PilhaInv),Linha = [linha(NovaExpr, PilhaInv, redução(Regra))|Tab],reduz(NovaExpr, NovaPilha, PilhaRed, Linha, NovaTab).

reduz(_, Pìlha, Pilha, Tabela, Tabela).

% Inverte pilhainverte([], []).inverte([Primeiro|Resto], Restulado) :-

inverte(Resto, RestoInv),append(RestoInv, [Primeiro], Restulado).

%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% Gramática de estrutura sintagmática %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%

% Inserção lexicalregra(Regra, [Palavra|Resto], [Categoria|Resto]) :-

palavra(Palavra, Categoria, Regra).% S --> SN SVregra('S --> SN SV', ['SV', 'SN'|Resto], ['S'|Resto]).% S --> S Advregra('S --> S Adv', ['Adv', 'S'|Resto], ['S'|Resto]).% Sbarra --> Comp Sregra('Sbarra --> Comp S', ['S', 'Comp'| Resto], ['Sbarra'|Resto]).% SN --> Det Ncregra('SN --> Det Nc', ['Nc', 'Det'|Resto], ['SN'|Resto]).% SN --> Npregra('SN --> Np', ['Np'|Resto], ['SN'|Resto]).% SN --> SN SPregra('SN --> SN SP', ['SP', 'SN'|Resto], ['SN'|Resto]).% SV --> Vi

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regra('SV --> Vi', ['Vi'|Resto], ['SV'|Resto]).% SV --> Vtd SNregra('SV --> Vtd SN', ['SN', 'Vtd'|Resto], ['SV'|Resto]).% SV Vc Sbarraregra('SV Vc Sbarra', ['Sbarra', 'Vc'|Resto], ['SV|Resto]).% SV --> Vbarra SPregra('SV --> Vbarra SP', ['SP', 'Vbarra'|Resto], ['SV'|Resto]).% SV --> SV SPregra('SV --> SV SP', ['SP', 'SV'|Resto], ['SV'|Resto]).% Vbarra --> Vb SNregra('Vbarra --> Vb SN', ['SN', 'Vb'|Resto], ['Vbarra'|Resto]).% SP --> P SNregra('SP --> P SN', ['SN', 'P'|Resto], ['SP'|Resto]).

%%%%%%%%%%% Léxico %%%%%%%%%%%

% Advérbiospalavra(ontem, 'Adv', 'Adv --> ontem').

% Complementizadorespalavra(que, 'Comp', 'Comp --> que').

% Determinantespalavra(a, 'Det', 'Det --> a').palavra(o, 'Det', 'Det --> o').

% Nomes comunspalavra(bola, 'Nc', 'Nc --> bola').palavra(bolo, 'Nc', 'Nc --> bolo').palavra(cachorro, 'Nc', 'Nc --> cachorro').palavra(carta, 'Nc', 'Nc --> carta').palavra(menina, 'Nc', 'Nc --> menina').palavra(menino, 'Nc', 'Nc --> menino').

% Nomes própriospalavra(joão, 'Np', 'Np --> João').palavra(maria, 'Np', 'Np --> Maria').

% Preposiçõespalavra(para, 'P', 'P --> para').palavra(com, 'P', 'P --> com').

% Verbos bitransitivospalavra(enviou, 'Vb', 'Vb --> enviou').

% Verbos intransitivos

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palavra(correu, 'Vi', 'Vi --> correu').palavra(saiu, 'Vi', 'Vi --> saiu').

% Verbos transitivos diretospalavra(comeu, 'Vtd', 'Vtd --> comeu').palavra(deu, 'Vtd', 'Vtd --> deu').palavra(enviou, 'Vtd', 'Vtd --> enviou').

% Verbos com complemento sentencialpalavra(disse, 'Vc', 'Vc --> disse').

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