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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ CENTRO DE TEOLOGIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ANA BEATRIZ RODRIGUES COSTA A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO DOCENTE NO ENSINO DA ÉTICA NA GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM CURITIBA 2006

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

CENTRO DE TEOLOGIA E CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

ANA BEATRIZ RODRIGUES COSTA

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO DOCENTE NO ENSINO DA ÉTICA NA

GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

CURITIBA

2006

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ANA BEATRIZ RODRIGUES COSTA

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO DOCENTE NO ENSINO DA ÉTICA NA

GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

Dissertação apresentada como requisito para obtenção do título de Mestre na Linha de Teoria e Prática da Educação. Programa de Mestrado em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Orientação: Profª Drª Marilda Aparecida Behrens.

CURITIBA

2006

AGRADECIMENTOS

A Profª Marilda Behrens por sua paciência, incentivo,competência, e principalmente

bom humor em todos os momentos da trajetória de construção desta pesquisa;

Ao meu marido Carlos André, pelo seu companheirismo nos momentos bons e

também nos ruins, incentivador constante, fonte de amor eterno;

Aos meus filhos Lívia minha fonte de inspiração, um amor profundo, Murilo e Vítor

que mesmo sem as suas presenças físicas, são os meus amores eternos;

A minha irmã Carla pela sua ajuda com a Lívia em todos os momentos da construção

desta pesquisa;

O MEU MUITO OBRIGADO!

RESUMO

A proposta desta pesquisa foi baseada em uma análise crítica e reflexiva a respeito do ensino da ética na graduação em enfermagem em uma universidade privada. Para isso realizou-se um estudo sobre a história da enfermagem, aspectos do cuidado, a superação da visão tecnicista do enfermeiro, partindo da proposta de Florence Nithingale e suas contribuições para a profissão, considerada como uma das precursoras da Enfermagem, incluindo uma breve análise do ensino da ética no Brasil e das diferentes abordagens pedagógicas utilizadas para o referido ensino. Esta reflexão acerca do ensino da ética foi pautada em uma perspectiva histórica do ensino da ética no Brasil, com uma análise etimológica dos termos ética e moral, bem como na fundamentação da visão ética como ponto fundamental para a formação de um enfermeiro comprometido com seu papel na sociedade. Inclue-se neste estudo as abordagens pedagógicas conservadoras e inovadoras, em especial, o paradigma da Complexidade e suas influências na formação dos profissionais. Esta pesquisa utilizou as contribuições de autores como Leonardo Boff, Marilda Aparecida Behrens, Paulo Freire, José Carlos Libâneo, Raimunda Medeiros Germano, Freitjof Capra, entre outros. Enfatizou-se principalmente a formação dos profissionais da área da saúde, além das mudanças indicadas pelo Projeto Pedagógico da universidade pesquisada, visto que é necessária uma prática pedagógica diferenciada como ferramenta para auxiliar a formação ética de um novo profissional para este milênio. Os sujeitos envolvidos neste estudo foram (51) cinqüenta e um alunos do 1º período, (27) vinte e sete alunos do 8º período e (10) dez egressos do curso, além do docente que ministra ética na graduação em enfermagem. Buscou-se realizar um levantamento dos conceitos e valores que envolvem a ética junto aos alunos no início e término da graduação em enfermagem, e dos egressos do curso com no máximo cinco (5) anos de formação. A pesquisa envolveu uma análise de sua prática profissional dentro da condição do ensino da ética oferecida na graduação, além do depoimento e de um levantamento dos conteúdos sobre ética com os quais os docentes trabalham, bem como, sobre as abordagens pedagógicas escolhidas por eles para este fim. A pesquisa qualitativa tipo descritiva possibilitou um levantamento das concepções destes alunos em relação à ética ofertada na graduação em enfermagem e as contribuições dos referidos participantes para uma nova forma de ensinar ética e as possibilidades pedagógicas viáveis a consolidação da proposta. A ética foi reconhecida pelos participantes como necessária e imprescindível na formação de um enfermeiro para que exerça sua função com autonomia, espírito crítico e reflexivo. Os resultados da pesquisa demonstram que os valores oriundos do ambiente familiar são um importante determinante da conduta profissional, além da necessidade de se repensar o ensino da ética na graduação em enfermagem, ultrapassando os aspectos da ética baseada somente na visão religiosa, ou seja, superar o posicionamento de simples cumpridor de deveres e de normas, para buscar uma formação ética com o princípio da justiça igualitária que promova enfermeiros coerentes, humanos e emancipados, assentada na mudança do perfil do profissional enfermeiro e de suas ações.

Palavras Chaves: Ética, Prática Pedagógica, Enfermagem

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................6 1.1 PROBLEMATIZAÇÃO.......................................................................................................8 1.2 OBJETIVO GERAL.............................................................................................................8 1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...............................................................................................8 1.4 JUSTIFICATIVA DO TEMA..............................................................................................9 2 FORMAÇÃO DA ENFERMAGEM NO CURSO DE GRADUAÇÃO..... .....................13 3 O PARADIGMA DA COMPLEXIDADE NA PRÁTICA PEDAGÓGICA EM ENFERMAGEM ....................................................................................................................24 3.1 PRÁTICA PEDAGÓGICA EM ENFERMAGEM............................................................35 4 A ÉTICA NA FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAG EM ................49 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ...............................................................59 5.1 A CONTRIBUIÇÃO DO DOCENTE SOBRE O PROGRAMA DE APRENDIZAGEM DE ÉTICA DA GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM...........................................................62 5.1.2 Conteúdos propostos no programa de aprendizagem de ética..................................62 5.1.3 Tempo de Docência na Ética ........................................................................................63 5.1.4 Indicação dos Conteúdos Propostos na Ética .............................................................63 5.1.5 Discussão sobre a Ética na Abordagem Pedagógica ..................................................64 5.1.6 Revisão dos Conteúdos de Ética...................................................................................65 5.1.7 A Docência da Ética no Curso......................................................................................65 5.1.8 Abordagem pedagógica no Ensino da Ética................................................................68 5.2 CONTRIBUIÇÃO DOS EGRESSOS DA GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM...........69 5.2.1 Percepção sobre o conteúdo de ética............................................................................69 5.2.2 Mudança de conceitos e valores ...................................................................................70 5.2.3 Introdução da ética e a abordagem pedagógica..........................................................71 5.2.4 Conteúdos utilizados como profissional ......................................................................72 5.2.5 A Ética na graduação e sua contribuição ....................................................................73 5.3 A CONTRIBUIÇÃO DOS ALUNOS DO 1º PERÍODO ..................................................74 5.4 CONTRIBUIÇÃO DOS ALUNOS DO 8º PERÍODO ......................................................78 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................85 REFERÊNCIAS .....................................................................................................................92 APÊNDICE A - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS DIRECIO NADO A DISCENTES DO 1ºE 8º PERÍODOS DO CURSO DE ENFERMAGEM........................97 APÊNDICE B - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS DIRECIO NADO AOS EGRESSOS DA GRADUACAO EM ENFERMAGEM DA PUCPR ...............................99 APÊNDICE C - ROTEIRO PARA ENTREVISTA GRAVADA DIRECI ONADA AOS DOCENTES DO CURSO DE ENFERMAGEM DA PUCPR..........................................100 APÊNDICE D - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARE CIDO..........102 APÊNDICE E - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARE CIDO..........103

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1 INTRODUÇÃO

As questões éticas tem sido uma constante preocupação para diversos segmentos da

sociedade atual, principalmente, na área da saúde. A observação diária dos meios de

comunicação confirma a necessidade de revisão dos aspectos éticos envolvidos na atividade

profissional de muitas categorias, inclusive na da área de saúde, em virtude do elevado

número de situações de desrespeito e descaso com a dignidade humana. A ética surgiu com

Sócrates, Platão e Aristóteles há 25 séculos como uma relação de valores e juízos,

determinando o que era certo ou errado, os direitos e os deveres, com o objetivo de direcionar

a ação da sociedade

Ética é a reflexão sobre a ação humana, para extrair dela o conjunto excelente de ações. É uma ciência (reflexão), que tem por objeto a moral e a lei (referencial da ação humana), e pretende aprimorar as atividades realizadoras de si desenvolvidas pelos indivíduos, pela busca do excelente. A excelência de uma ação é julgada em função do conteúdo de justiça a que pode dar oportunidade. Por isso, ética não impõe moral e lei, mas propõe rumos possíveis para o aperfeiçoamento de ambas.(SANTOS 2001, p.15)

Agir eticamente implica muitas vezes em decidir com bom senso, e outras vezes de

acordo com o código profissional da categoria envolvida.

Para Santos (2001,p.16)

Ética profissional é a reflexão sobre a atividade produtiva, para dali extrair o conjunto excelente de ações, relativas ao modo de produção. Atividade produtiva tem hábitos e costumes próprios; tem também acordos que asseguram a justiça mínima no decorrer de seu exercício, e que constituem ambos, o objeto da ética profissional.

Os inúmeros casos de desrespeito ao ser humano não se restringem somente à falhas

de ordem técnica, mas também em relação a questões de agressão ao direito de liberdade,

segurança, de informação e de privacidade dos clientes atendidos nas instituições de saúde.

O excessivo número de especializações e a valorização da técnica no trabalho dos

profissionais da área de saúde propiciaram um distanciamento e uma impessoalidade na

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relação do profissional de saúde e seus respectivos clientes. A enfermagem como uma

categoria profissional da área de saúde, envolvida diretamente com o cuidado diário aos

clientes, vivencia situações conflitivas, nas quais estão envolvidos valores pessoais, valores

profissionais, convicções do profissional e do cliente assistido, necessitando desta forma, de

uma profunda reflexão quanto ao preparo dos futuros enfermeiros, preparo este, que devem

ser iniciados na graduação.

Segundo (RIOS, 2001, p. 20): “O comportamento é o arranjo de diversos papéis que

desempenhamos em cada sociedade ‘modelos’, ‘scripts prontos’ para esses papéis,

entendendo-se ‘prontos’ como preparados pelos homens que compõem a sociedade”.

O desenvolvimento deste tema prende-se a consideração da ética como fundamental

na vida do indivíduo, e essencial no cuidado ao indivíduo enfermo. Além disto, como docente

do curso de enfermagem, acompanhando alunos em suas primeiras incursões no ambiente

hospitalar, no qual problemas éticos são vislumbrados a todo o momento, levaram a emergir

questionamentos sobre a formação do profissional enfermeiro, especialmente no que tange as

questões éticas que permeiam o trabalho da enfermagem e como deveria ser o enfrentamento

destas complexas questões. Foi a partir de experiências vivenciadas no decorrer de minha vida

profissional e da atuação como docente do curso de enfermagem, supervisionando alunos da

graduação em instituições de saúde, e também, refletindo sobre as diversas indagações feitas

por eles, em relação às atitudes e condutas de profissionais pertencentes à realidade

observada, que me levou a refletir sobre esta questão extremamente relevante.

É importante ressaltar que, o processo educativo envolve a transmissão de valores em

sua prática diária, apesar, de muitos educadores não possuírem consciência deste fato, pois,

quando ensinamos, revelamos os valores que sustentam a nossa prática profissional.

A estreita relação entre a enfermagem e o cuidado com o cliente assistido, fez com que

as complexidades desta relação revelassem diversas facetas tais como: situações de

descumprimento do dever profissional, ações negligentes, muitas vezes condutas impróprias,

de profissionais que saíram recentemente dos bancos escolares, onde na graduação de

enfermagem foram abordadas e discutidas questões éticas ao longo de sua formação.

Diante das questões acima descritas, refletiu-se sobre quais seriam as razões que

determinariam as diferentes condutas adotadas por alguns profissionais, diferenciando-os nas

atitudes tomadas em seu ambiente de trabalho, de modo geral, o comportamento ético de

alguns profissionais de enfermagem seria então, decorrente de uma prática pedagógica que

não supre as necessidades desta categoria profissional, de programas de aprendizagem que

não abrangem toda a dimensão humanista da atividade profissional, ou a formação de valores

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oriundos da família destes indivíduos. Afinal, o que determinaria a diferença de conduta e

atitudes do profissional em questão.

O desafio desta investigação é analisar os conteúdos e práticas pedagógicas utilizadas

nos programas de aprendizagem onde a ética é abordada ao longo da graduação em

enfermagem, e um levantamento dos valores dos formandos de acordo com o grau e a ordem

de importância fornecida pelos sujeitos envolvidos na pesquisa, buscando alicerçar uma

prática docente com uma proposta metodológica que vise à construção de um cidadão

sensível, competente e comprometido com a construção de uma sociedade justa e igualitária.

1.1 PROBLEMATIZAÇÃO

O comportamento ético inadequado dos profissionais de enfermagem, seria decorrente

de uma prática pedagógica inadequada, e de programas de aprendizagem que não abrange

toda a dimensão humanista da atividade profissional, ou a formação de valores oriundos da

família dos profissionais é que determinaria a diferença de conduta. Desse questionamento

optou-se por investigar o seguinte problema. Como propor uma formação ética que possa

buscar a humanização nas ações dos profissionais de enfermagem, possibilitando a

transformação de procedimentos frente à realidade de trabalho?

1.2 OBJETIVO GERAL

Elaborar pontos norteadores que sustentem uma formação para o ensino da ética na

graduação em enfermagem num paradigma inovador.

1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

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• Levantar os referenciais teórico-práticos envolvidos na abordagem pedagógica que

contemple a visão ética na formação de alunos de enfermagem.

• Analisar os conteúdos e práticas pedagógicas utilizadas nos Programas de

Aprendizagem na Graduação em Enfermagem que incluam a temática de ética em

suas propostas.

• Identificar qual é a visão dos alunos sobre a ética ofertada na graduação em

enfermagem no período final do Programa de Aprendizagem.

• Investigar no final do Curso os valores éticos dos alunos de acordo com o grau de

importância fornecido por eles.

1.4 JUSTIFICATIVA DO TEMA

As reflexões em torno da ética têm sido retomadas e amplamente debatidas nas

últimas décadas, em virtude das mudanças que a sociedade vive com transformações culturais

e sociais, sendo que esta problemática tem sido percebida em todos os âmbitos, quer seja no

trânsito, no supermercado, nas filas dos locais públicos, o desrespeito e a impunidade são

vistos e tratados com grande naturalidade.

De acordo com (ANGERAMI, 1997, p.28) “Refletir sobre a ética faz-se necessário na

medida em que a convivência humana passa por profundas modificações. Os critérios de tal

convivência perdem-se, daí sofrem distorções. Perde-se a noção do respeito ao outro, bem

como da dignidade humana”. Diante disto, a necessidade de uma discussão mais ampla sobre

a ética e suas implicações, tornou-se fundamental, tanto para a sociedade em geral, mas

principalmente para os profissionais que atuam na área da saúde, e que no dia-a-dia de seu

trabalho são expostos a situações graves e extremas de sofrimento humano, como: suicídio,

aborto, eutanásia, violência, entre outros.

Nesse sentido, cabe a reflexão de Rios (1998, p.120) quando alerta:

Falar em ética hoje, na sociedade brasileira, constitui um desafio porque, ao mesmo tempo em que vemos indivíduos se referirem a ela com freqüência, percebemos uma descrença em relação à possibilidade de sua interferência. Na medida em que por todo lado verificamos ações que rompem com a dignidade humana, parece não ter sentido reclamar a presença da ética.

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Outro aspecto importante, é que como todas as profissões, a enfermagem possui um

código de ética que norteia suas ações, determinando o que seria correto ou inadequado dentro

do exercício da profissão. A realidade do referido código, está focada somente nos aspectos

das normas comportamentais e nas implicações legais de uma prática inadequada, não

abordando em muitos aspectos o significado real da ética e sua dimensão.

Sobre esta ótica Angerami (1997, p. 28) afirma que:

Nos cursos universitários a disciplina “Ética Profissional” faz parte do currículo obrigatório e tem como objetivo uma reflexão acerca dos valores, bem como o conhecimento dos artigos do seu código de ética. Esta disciplina pretende levar o futuro profissional a atuar com base na sua ética. No cotidiano, entretanto, o comportamento ético muitas vezes não se faz mister. Parece até que se trata de duas éticas estanques: a pessoal e a profissional. A ética pessoal não vem sistematizada num código, faz parte da existência do ser como cidadão. Tem origem na família, prosseguimento na escola e, por fim, expande-se por toda a vida social do indivíduo.

Atualmente, as universidades precisam assumir um novo papel, que é o de ser um

local de encontro e convivência entre educadores e educandos, no qual devem ser propiciadas

situações favoráveis ao desenvolvimento dos aprendizes, seja na área do conhecimento, no

aspecto afetivo-emocional, nas habilidades, nas atitudes e nos valores.

Portanto, o grande desafio dos docentes é preparar adequadamente os referidos

profissionais para a realidade desta nova sociedade, repensando as práticas pedagógicas

oferecidas a estes alunos na graduação de enfermagem, buscando nesse processo prepará-los

para esta nova visão de mundo, onde a evolução técnico-científica é fundamental, porém, os

valores, sentimentos, coleguismo e a solidariedade humana, são imprescindíveis na formação

de um profissional ético, competente e consciente de seu papel na sociedade. Assim sendo, o

ensino da ética na graduação de enfermagem não pode vir desvinculado do contexto deste

novo mundo, requer um novo enfoque, necessitando de uma construção pautada no

comprometimento com a vida humana, com a autonomia e a justiça.

1.5 METODOLOGIA

Esta pesquisa pretende contribuir para o desenvolvimento de uma prática pedagógica

inovadora e crítica dos professores que formam profissionais de enfermagem em suas

atividades, ou seja, um direcionamento para os docentes quanto à formação de um enfermeiro

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ético e comprometido com o seu papel nesta nova sociedade. Em virtude disto, a escolha pela

pesquisa qualitativa, foi decorrente da problemática levantada, pois este tipo de pesquisa

possibilita a obtenção de dados descritivos, o contato direto e efetivo do pesquisador com a

realidade a ser pesquisada, e o favorecimento da construção de uma proposta metodológica a

partir de uma investigação intensiva do campo.

Segundo Ludke e André (1986, p. 44) a pesquisa qualitativa tem algumas

características básicas que merecem destaque:

São cinco as características básicas da pesquisa qualitativa, chamada, às vezes,

também de naturalística: a) A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como a

sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento; b) os

dados coletados são predominantemente descritivos; c) a preocupação com o

processo é muito maior do que com o produto; d) o significado que as pessoas dão

às coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador; e e) a análise

dos dados tende a seguir um processo indutivo.

É importante salientar que para o desenvolvimento desta pesquisa foi necessário

realizar um levantamento de teorias que direcionassem e sustentassem a construção desta

pesquisa, e para isto sucessivas leituras e reflexões foram feitas acerca dos temas que se inter-

relacionam com o objeto do estudo.

A pesquisa qualitativa auxilia neste estudo, visto que o pesquisador acompanha

diretamente a investigação ao longo de sua construção, dando ênfase no processo e não ao

produto.

Ainda de acordo com Ludke e André (1986, p. 12)

A justificativa para que o pesquisador mantenha um contato estreito e direto com a situação onde os fenômenos ocorrem naturalmente, é a de que estes são muito influenciados pelo seu contexto. Sendo assim, as circunstâncias particulares em que um determinado objeto se insere são essenciais para que se possa entendê-lo.

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Esta pesquisa constou de cinco (5) fases: Na primeira fase foi realizada uma

investigação do referencial teórico sobre ética e práticas pedagógicas para o ensino de

enfermagem.

Na segunda fase, foi feito um levantamento dos conteúdos dos programas de

aprendizagem onde a ética está inserida ao longo da graduação em enfermagem, e a respectiva

metodologia utilizada pelos docentes para a sua aplicação.

Na terceira fase, foram construídos três instrumentos de coleta de dados, sendo dois

questionários e um roteiro para entrevista. O primeiro instrumento (APÊNDICE A) foi

direcionado aos alunos da graduação, o segundo (APÊNDICE B) para alunos egressos

recentemente do curso e que estejam atuando em instituições de saúde e a entrevista

(APÊNDICE C) aos docentes do curso. Após a construção dos instrumentos, os mesmos

foram encaminhados anexados ao projeto para o Comitê de Ética da instituição para sua

aprovação preliminar.

O primeiro instrumento (questionário) foi entregue aos alunos do 1º e 8º períodos do

curso respectivamente, e constou de um esclarecimento no início do instrumento sobre o

objetivo da pesquisa, além de um termo de consentimento (APÊNDICE D) para ser assinado

por eles, autorizando a utilização de suas informações. Este instrumento apresentou questões

abertas sobre a visão deles em relação à ética ofertada na graduação em enfermagem, além de

um levantamento dos valores de acordo com o grau de importância fornecido por eles,

objetivando descobrir suas concepções a respeito de temas como ética, moral, dignidade, entre

outros, tanto no início de sua graduação como no final dela, com prazo estipulado para sua

devolução.

Também foi utilizado um instrumento (entrevista) direcionado aos docentes do curso,

utilizando-se de gravação direta para o registro de todas as informações no momento da

entrevista, sendo garantido o sigilo absoluto dos dados obtidos, utilizando-se também do

termo de consentimento (APÊNDICE E), buscando levantar os conteúdos e as metodologias

utilizadas por eles para o ensino da ética nos diferentes períodos do curso.

.Na quarta fase, foi feita a aplicação de um questionário a dez (10) alunos egressos do

curso, e como critério para a escolha dos profissionais, é que os mesmos estejam atuando

como enfermeiros em instituições de saúde.

E finalmente a quinta fase, envolveu a construção de uma proposta com pontos

norteadores para o ensino da ética nos diferentes programas de aprendizagem do curso em

enfermagem, com uma visão pedagógica diferenciada, e que abranja a dimensão da

importância do seu ensino.

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Os sujeitos envolvidos nesta pesquisa foram os alunos do 1º e 8º períodos

respectivamente, docentes do curso de enfermagem, além de 10 alunos egressos da mesma

universidade.

A pesquisa foi realizada em uma universidade particular de grande porte da capital do

Estado do Paraná, que agrega cinco (5) centros universitários, e optou-se por desenvolver o

estudo no Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, especificamente no curso de

enfermagem, além de instituições de saúde da mesma cidade.

A análise dos dados foi realizada por meio da transcrição do conteúdo gravado nas

entrevistas, uma classificação dos dados fornecidos pelos questionários, buscando categorizar

as informações por semelhança, facilitando desta forma a organização dos referidos dados.

Para o desenvolvimento da pesquisa, optou-se em dividir o trabalho em capítulos

sendo constituído de um levantamento bibliográfico sobre o ensino da enfermagem buscando

uma correlação com a formação da enfermagem dentro do curso de graduação da

universidade escolhida para a pesquisa, descrever a proposta de um paradigma educacional,

sendo escolhido o paradigma da complexidade, e seu reflexo na formação de alunos e na

prática pedagógica dos docentes. A partir disto, trazer um levantamento bibliográfico sobre

ética e sua relação na formação dos profissionais de enfermagem, além de uma análise crítica

sobre o conteúdo de ética ofertado na graduação através da representação de docentes e

alunos envolvidos na pesquisa..

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2-A FORMAÇÃO DA ENFERMAGEM NO CURSO DE GRADUAÇÃO

A investigação sobre a enfermagem exige que se faça uma retrospectiva sobre o

surgimento desta profissão no Brasil e no mundo para que possamos compreender sua

história, suas dificuldades e aspectos, ou seja, o caminho percorrido até o momento.

A questão do cuidado aos enfermos é antiga, pois este cuidado foi atribuído

primeiramente as mães como (OGUISSO 2005, p. 122) relata: “Historicamente, o ato de

cuidar, considerado um atributo feminino, iniciou-se com a difusão do cristianismo em Roma,

fato que levou muitas mulheres da nobreza romana a se dedicarem aos pobres e enfermos e a

transformarem seus palácios em hospitais”.

Com algumas ressalvas poderia se dizer que a enfermagem surgiu mais

especificamente na França, em virtude do processo de mudança dos hospitais desencadeado

por Louis Pasteur (1882-1895), que revolucionou os costumes em relação à higiene e

assepsia, porque comprovou a existência de micróbios e a relação de contágio. Em

decorrência disto, as religiosas que na época eram responsáveis pelos cuidados aos enfermos,

não aceitaram as modificações e estratégias idealizadas para deter este problema, e

abandonaram as suas funções. Para substituir estas religiosas foi iniciado um processo de

recrutamento de pessoas leigas e com perfil de submissão para auxiliar no cuidado aos

enfermos, justificando em grande parte o modelo que persegue os profissionais de

enfermagem até os tempos atuais.

É importante salientar, que como as atividades do cuidado aos doentes eram bastante

simples e focadas somente em tarefas básicas, não se exigia nenhum nível de escolaridade aos

interessados na função, ou seja, a enfermagem era exercida de forma empírica sem bases

científicas que amparassem seu exercício.

O aspecto religioso sempre esteve próximo da enfermagem mesmo depois de tantos

anos, sendo atribuído este aspecto ao comando que os religiosos desempenharam desde o

início da profissão, pois desde a organização das primeiras comunidades cristãs, os pobres e

enfermos foram objeto de especial atenção por parte da igreja, e mesmo depois do surgimento

das primeiras escolas de enfermagem, ainda se ouve nos discursos dos profissionais o aspecto

religioso sendo citado.

No Brasil, mais especificamente no período colonial vários jesuítas aportaram no país

com o objetivo de catequizar índios brasileiros, com isto trouxeram costumes diferentes como

o uso de roupas, costume este, que foi imposto aos índios visando a moralização da aldeia de

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acordo com a idéia religiosa da época, além é claro do interesse econômico no Brasil por trás

do objetivo religioso.(GERMANO, 1993)

Os novos costumes trouxeram aumento da mortalidade infantil, o aparecimento de

doenças, inclusive a disseminação das epidemias, e como conseqüência disto, os próprios

índios se ocuparam dos cuidados aos companheiros de tribo, nas figuras dos feiticeiros, pajés

e curandeiros.

No Brasil por volta do ano de 1543, as Santas Casa de Misericórdia foram as

responsáveis pelo atendimento aos enfermos, principalmente os miseráveis, embora

atendessem outros doentes inclusive soldados, pois nesta época não existiam hospitais

pertencentes ao governo (PAIXÃO, 1979).

Como as Santas Casa é que assumiram a função acima, vários religiosos chegaram ao

Brasil para serem responsáveis pela manutenção destes locais, além do cuidado aos enfermos,

com isto, o espírito religioso novamente entra em contato com a profissão, ligando os

profissionais de enfermagem a questões como a benevolência, e a humildade

Enfatiza-se que a enfermagem no Brasil é pontuada ao longo dos anos por grandes

dificuldades, mas sempre refletindo o contexto histórico do país, sendo que a enfermagem

moderna nasceu ligada à guerra, visto que Ana Néri (1814 – 1880) que deu nome a primeira

escola de enfermagem, considerada símbolo da enfermagem brasileira se projetou durante a

guerra do Paraguai, e Florence Nightingale (1820 – 1910) considerada precursora da

enfermagem moderna durante a guerra da Criméia,, em que Inglaterra e França defenderam a

integridade do Império Otomano contra a invasão russa (GERMANO, 1985).

Ana Néri era viúva de um oficial do exército com o qual teve três filhos, dos quais

dois médicos militares e um oficial, que foram recrutados para atuar na guerra do Paraguai em

1865, além de mais dois irmãos seus, fator desencadeante para que ela oferecesse seus

serviços ao exército brasileiro, como forma de permanecer ao lado dos familiares. Vale

ressaltar, que Ana Néri não possuía nenhuma formação em enfermagem, somente à vontade

de servir ao próximo e ao país, sendo concedida a ela o título de Mãe dos Brasileiros

(PAIXÃO, 1979).

Outra figura importante para a enfermagem que contribuiu para a evolução da

profissão como citado acima, foi Florence Nightingale, sendo importante fazer um retrospecto

de sua vida e formação. Florence era filha de pais ingleses, ricos, e sua cultura estava acima

do padrão entre as moças de sua época, pois dominava diversas línguas como o grego, latim,

artes, estatística, filosofia, história, além da matemática (PAIXÃO,1979).

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Sua vocação profissional manifestou-se na infância quando ajudava crianças e animais

doentes, somente aos 24 anos solicitou permissão à mãe para atuar em hospitais, pedido este

rejeitado em decorrência das condições dos hospitais na Inglaterra.

Na época, o pessoal que atendia aos doentes era composto de religiosas católicas anglicanas e

de pessoas sem educação e moral, sendo que a maioria deles vivia embriagada. Apesar disto,

Florence conseguiu romper a resistência dos pais e iniciou suas atividades em um hospital de

100 leitos, mostrando uma visão ampla dos problemas ali encontrados e qualidades

excepcional no trabalho, além da sugestão de preparar as enfermeiras com bases científicas,

sugestão que para o ano de 1851 era considerada inovadora (PAIXÃO, 1979). Durante a

guerra da Criméia, Florence organizou um Departamento de Enfermagem nos hospitais onde

atuou, dedicando-se a eliminar problemas de saneamento, de infecção, frio, infestação de

piolhos e outras doenças que acometiam os soldados ingleses (OGUISSO, 2005).

Outro ponto relevante da contribuição de Florence, foi à abertura de vagas nas escolas

de enfermagem para moças cultas e educadas da sociedade, revelando que esta era uma opção

profissional digna e honrosa e que poderia trazer satisfação a quem a desempenhasse. Porém,

a reforma de enfermagem idealizada por Florence previa dois tipos de formação profissional:

o das supervisoras de serviço e o das enfermeiras que executavam o cuidado direto aos

pacientes, sendo consideradas duas categorias distintas , vindo a primeira exigir maior nível

de cultura com alguns estudos das ciências médicas, embora realizados muito

superficialmente. O Sistema Nightingale foi difundido pelo mundo afora, tendo defensores

fervorosos, e profissionais que o condenam, porém, não podemos negar a contribuição de

Florence para a evolução da enfermagem (GERMANO, 1985).

Em relação à questão do surgimento da enfermagem ligado a guerra Oguisso (2005, p.

122) comenta:

Além da contribuição que as mencionadas guerras deram ao desenvolvimento da enfermagem, a profissionalização foi também amplamente impulsionada quando os enfermeiros, desenvolvendo uma consciência de classe, organizaram-se em associações, em nível local ou nacional, principalmente no fim do século XIX e início de século XX. Unindo as vozes e os interesses maiores da profissão, enfermeiros puderam ser reconhecidos e valorizados. Essa união, do mesmo modo, ajudou a criar uma entidade internacional: o Conselho Internacional de Enfermeiras.Fundado no ano de 1899, em Londres, tornou-se a organização internacional de profissionais de saúde mais antiga do mundo, atualmente sediada em Genebra, na Suíça.

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Vale salientar que de forma resumida o “legado de Florence Nithingale para o mundo

foi sua dedicação à causa dos doentes e feridos, a transformação que promoveu nos hospitais

no intuito de priorizar a saúde dos pacientes e o benefício daqueles que lhes prestavam

cuidados e não a estética arquitetônica” (OGUISSO 2005, p. 82).

Anos mais tarde, como conseqüência desta divisão da categoria de enfermagem

prevista pelo modelo denominado “Nithingale” , aliado ao crescente progresso da profissão, e

de estudos que indicavam a necessidade de competência e responsabilidade para atender aos

doentes, levaram muitos profissionais da área a pensarem na formação de um grupo auxiliar,

que seria formado em um tempo reduzido para desempenhar tarefas mais elementares, criando

a categoria dos denominados auxiliares de enfermagem.

Em relação à questão do ensino da enfermagem, surge no Brasil em 1923 no Rio de

Janeiro a Escola de Enfermagem Ana Néri, comandada por enfermeiras, quase um século

depois de articulado e organizado o ensino médico no país, o que demonstra que o ensino da

enfermagem demorou a se organizar e se estabelecer, sendo que o enfoque do aprendizado era

baseado na formação com visão geral dos problemas de saúde para o desenvolvimento de

ações de saúde pública (GERMANO, 1985).

Esta escola foi organizada por enfermeiras americanas que também ministravam as

aulas, e a habilidade das enfermeiras para o cuidado aos doentes era adquirida através da

repetição excessiva de um mesmo procedimento técnico, e a exigência para o ingresso na

referida escola era a apresentação de diploma de curso

No ano de 1953 é fundado o Curso de Enfermagem da Pontifícia Universidade

Católica do Paraná, segundo relato oficial, no dia 25 (vinte e cinco) do mês de maio sob a

presidência da Irmã Maria Suzana, provincial das Irmãs de São José que viria mais tarde a

transformar-se no atual curso de enfermagem da PUCPR (ALVES, 2001).

Para o curso de formação do profissional enfermeiro, era exigido para a admissão, a

conclusão do ensino secundário, e “uma nova era parece marcar o ensino de campo,

substituindo o enfoque dado, anteriormente, à aquisição de habilidades, através de repetições

excessivas de um mesmo procedimento técnico, por uma atuação diferenciada ao paciente,

considerado como ser integral” (SAUPE, 1998, p. 41).

Especificamente no curso de enfermagem da PUCPR o inicio do curso foi composto

somente por 7 alunas em razão de 3 desistências, sendo que a segunda turma foi iniciada com

um número maior de candidatas, em torno de 11 alunas inscritas (ALVES 2001, p.78).

No ano de 1968 tem-se registro da primeira reforma na universidade com o objetivo de

criar departamentos e evitar a duplicidade de assuntos dentro dos programas. Porém, ficou

18

evidente pelo conteúdo da ata da reunião da época, o caráter reducionista e tecnicista que seria

empregado no ensino da enfermagem (ALVES, 2001).

Desta forma é pertinente descrever as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de

Graduação em Enfermagem do Ministério da Educação (2001) que orientam as instituições de

ensino superior e conseqüentemente os docentes sobre a forma de garantir um ensino de

qualidade para que os profissionais tenham capacidade para o enfrentamento do mercado de

trabalho e também das necessidades desta sociedade.

Nesse sentido, pontuamos somente alguns itens destas diretrizes conforme a

correlação com o assunto desta pesquisa e que são pertinentes para o ensino da ética na

graduação em enfermagem a luz das Diretrizes (2001, p.37-38).

No Art.3º diz que o Curso de Graduação em Enfermagem tem como perfil do formado/egresso/profissional os seguintes aspectos: 1 – Enfermeiro, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva. Profissional qualificado para o exercício de Enfermagem com base no rigor científico e intelectual e pautado em princípios éticos. Capaz de conhecer e intervir sobre os problemas/situações de saúde-doença mais prevalentes no perfil epidemiológico nacional com ênfase na sua região de atuação, identificando as dimensões bio-psico-sociais dos seus determinantes. Capacitado a atuar, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor de saúde integral do ser humano; Art. 4º A formação do enfermeiro tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades gerais: 1 – Atenção à saúde: os profissionais de saúde, dentro de seu âmbito profissional, devem estar aptos a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual como coletivo. Cada profissional deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada e contínua com as demais instâncias do sistema de saúde, sendo capaz de pensar criticamente, de analisar os problemas da sociedade e de procurar soluções para os mesmos. Os profissionais devem realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da ética/bioética, tendo em conta que a responsabilidade de atenção à saúde não se encerra com o ato técnico, mas sim, com a resolução do problema de saúde, tanto em nível individual como coletivo; Art. 5º A formação do enfermeiro tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades específicas: I -atuar profissionalmente, compreendendo a natureza humana em suas dimensões, em suas expressões e fases evolutivas; II- incorporar a ciência/arte do cuidar como instrumento de interpretação profissional; III- estabelecer novas relações com o contexto social, reconhecendo a estrutura e as formas de organização social, suas transformações e expressões; XIV- promover estilos de vida saudáveis, conciliando as necessidades tanto dos seus clientes/pacientes quanto às de sua comunidade, atuando como agente de transformação social; XXIII- gerenciar o processo de trabalho em enfermagem com princípios de Ética e de Bioética, com resolutividade tanto em nível individual como coletivo em todos os âmbitos de atuação profissional; XXVI- desenvolver, participar e aplicar pesquisas e/ou outras formas de produção de conhecimento que objetivem a qualificação da prática profissional; XXVII- respeitar os princípios éticos, legais e humanísticos da profissão;

19

XXXIII- reconhecer o papel social do enfermeiro para atuar em atividades de política e planejamento em saúde; Parágrafo Único. A formação do enfermeiro deve atender as necessidades sociais da saúde, com ênfase no Sistema Único de Saúde (SUS) e assegurar a integralidade da atenção e a qualidade e humanização do atendimento. Art. 6º Os conteúdos essenciais para o Curso de Graduação em Enfermagem devem estar relacionados com todo o processo saúde-doença do cidadão, da família e da comunidade, integrado à realidade epidemiológica e profissional, proporcionando a integralidade das ações do cuidar em enfermagem. Os conteúdos devem contemplar: II- Ciências Humanas e Sociais – incluem-se os conteúdos referentes às diversas dimensões da relação indivíduo/sociedade, contribuindo para a compreensão dos determinantes sociais, culturais, comportamentais, psicológicos, ecológicos, éticos e legais, nos níveis individual e coletivo, do processo saúde-doença; I- Ciências da Enfermagem – neste tópico de estudo, incluem-se: b) Assistência de Enfermagem: os conteúdos (teóricos e práticos) que compõem a assistência de Enfermagem em nível individual e coletivo prestada à criança, ao adolescente, ao adulto, à mulher e ao idoso, considerando os determinantes sócio-culturais, econômicos e ecológicos do processo saúde-doença, bem como os princípios éticos, legais e humanísticos inerentes ao cuidado de Enfermagem; Art. 14 A estrutura do Curso de Graduação em Enfermagem deverá assegurar: I- a articulação entre o ensino, pesquisa e extensão/assistência, garantindo um ensino crítico, reflexivo e criativo, que leve a construção do perfil almejado, estimulando a realização de experimentos e/ou projetos de pesquisa; socializando o conhecimento produzido, levando em conta a evolução epistemológica dos modelos explicativos do processo saúde-doença; I-as atividades teóricas e práticas presentes desde o início do curso, permeando toda a formação do Enfermeiro, de forma integrada e interdisciplinar; I- a visão do educar para a cidadania e a participação plena na sociedade; I- a implementação de metodologia no processo ensinar-aprender que estimule o aluno a refletir sobre a realidade social e aprenda a prender; III- a definição de estratégias pedagógicas que articulem o saber; o saber fazer e o saber conviver, visando desenvolver o aprender a aprender, o aprender a ser, o aprender a fazer, o aprender a viver juntos e o aprender a conhecer que constitui indispensáveis à formação do Enfermeiro; IV- o estímulo às dinâmicas de trabalho em grupos,por favorecerem a discussão coletiva e as relações interpessoais; V- a valorização das dimensões éticas e humanísticas, desenvolvendo no aluno e no enfermeiro atitudes e valores orientados para a cidadania e para a solidariedade.

As diretrizes trazem um novo conceito para a formação dos profissionais de

enfermagem, elas propõem uma formação generalista e humana, com enfoque no

desenvolvimento da crítica e da reflexão do enfermeiro, aliado ao aprimoramento de

habilidades como o trabalho com qualidade baseada em ideais éticos, que são imprescindíveis

no cuidado/assistência aos indivíduos.

A ética está contemplada em vários momentos das diretrizes curriculares, o que

demonstra a preocupação com a formação dos profissionais amparada em uma conduta ética

que vislumbre uma sociedade mais justa e baseada em princípios igualitários.

Ressalta-se que as instituições de ensino superior devem propiciar condições em seus

cursos de graduação para que estas competências sejam trabalhadas e desenvolvidas nos

20

alunos ao longo do curso de graduação, permitindo o desenvolvimento e a construção de

indivíduos com capacidade de atuar como agente transformador desta sociedade.

Em virtude da história da profissão de enfermagem, estes profissionais lutam até hoje

para serem reconhecidos como uma profissão que atua com bases científicas sólidas, salários

dignos e compatíveis com a carga de trabalho e estresse a que são submetidos, se comparados

a outros profissionais da área de saúde. Em virtude disto, predomina até os dias atuais o

modelo com enfoque na morbidade em detrimento do cuidado, este modelo se projeta de

forma hegemônica nos hospitais, onde a assistência está baseada na fragmentação dos órgãos

e na divisão dos clientes em números.

Com isto a prática da enfermagem se reflete em alguns casos uma prática impessoal,

racional, e desumana, contrapondo-se a prática humanizada, onde neste contexto não existe

prazer no cuidado a outros seres humanos, impedindo desta forma do trabalhador da área da

saúde de ter uma visão clara sobre seu processo de trabalho, ficando restrito as rotinas e

normas da instituição, impedido de refletir sobre sua prática, gerando assim uma prática

basicamente utilitária.

Este pensamento de reconhecimento profissional e de valorização, é freqüentemente

utilizado por discentes de enfermagem que questionam a obrigatoriedade de realizar algumas

tarefas que para eles podem vir a comprometer a superioridade da profissão, tais como a

higiene e alimentação.

É pertinente o comentário de Machado e Figueiredo (apud CAPRA 1992, p.2):

Essas tarefas de status e valor mais baixo, caracterizadas pelo trabalho feito repetidamente e sem deixar um impacto duradouro, em nossa sociedade, com em todas as culturas industriais, são denominadas de trabalho entrópico. Por isso, a esse tipo de trabalho são atribuídos o mais baixo status e os menores salários, sendo geralmente confiados a grupos minoritários e mulheres. Curiosamente, essa hierarquia de trabalho é exatamente inversa nas tradições espirituais, onde o trabalho entrópico é altamente apreciado e desempenha papel significativo nos rituais espirituais. Os monges budistas, por exemplo, consideram a jardinagem, a culinária e o asseio com a casa como parte de suas atividades meditativas., enquanto frades e freiras cristãos tem longa tradição na agricultura, na enfermagem e em outros serviços. Portanto, parece que os altos valores espirituais atribuídos ao trabalho entrópico nessas tradições provêm de uma profunda consciência ecológica.

Aliado a isto, a profissão ainda não tem uma organização política com bases muito

sólidas, e também um contingente profissional predominantemente feminino, contingente que

ainda é discriminado pela sociedade atual, visto que em nossa sociedade o número de

mulheres no mercado de trabalho é maior que do sexo masculino, mas presenciamos ainda

21

mulheres que desempenham a mesma função, porém, recebem salários inferiores a seus

colegas de trabalho do sexo masculino.

Em relação ainda à questão do surgimento da enfermagem ligado a guerra Oguisso

(2005, p. 122) comenta:

Além da contribuição que as mencionadas guerras deram ao desenvolvimento da enfermagem, a profissionalização foi também amplamente impulsionada quando os enfermeiros, desenvolvendo uma consciência de classe, organizaram-se em associações, em nível local ou nacional, principalmente no fim do século XIX e início de século XX. Unindo as vozes e os interesses maiores da profissão, enfermeiros puderam ser reconhecidos e valorizados. Essa união, do mesmo modo, ajudou a criar uma entidade internacional: o Conselho Internacional de Enfermeiras.Fundado no ano de 1899, em Londres, tornou-se a organização internacional de profissionais de saúde mais antiga do mundo, atualmente sediada em Genebra, na Suíça.

Em relação aos enfermeiros no Brasil, este contingente era insuficiente, em virtude

disto, verificou-se a necessidade de uma nova categoria de profissionais de enfermagem, que

atuassem entre os cuidados de enfermagem mais elementares e as funções de supervisão de

unidades e chefias de serviço, criando assim os Técnicos de Enfermagem. Percebe-se então,

que a enfermagem foi se repartindo em várias categorias com funções divididas de acordo

com o grau de escolaridade, com salários diferenciados, favorecendo o aparecimento de

conflitos entre as categorias, e o distanciamento do enfermeiro de algumas atividades

Verifica-se então, que a evolução de enfermagem foi norteada pelo modelo sócio-

político-econômico do país, e que os enfermeiros ao longo da história foram formados com

base em um modelo que tinha como princípio básico o “fazer pelo fazer”, sem bases

científicas sólidas.

Na década de 50 a enfermagem começa a preocupar-se com a organização dos

serviços de saúde e com a melhoria do ensino de acordo com os princípios científicos da

administração (GERMANO, 1985). Neste período a enfermagem inicia a procura pelas

especializações com foco na área curativa e administrativa, aumentando a distância com o

paciente, assumindo cargos de chefia e gerenciando as ações de enfermagem, o que favoreceu

os conflitos entre a equipe de enfermagem, visto que para os demais membros da equipe, o

enfermeiro passava muito tempo distante da assistência direta o que dificultaria na visão deles

o gerenciamento das ações.

22

A evolução da enfermagem como já foi citado anteriormente, é pautada pelo

desenvolvimento sócio-político e econômico do Brasil, que inicialmente priorizava o cuidado

de enfermagem direcionado à saúde pública com uma visão individualista e de caráter

assistencialista, com um caminhar para a assistência individual/hospitalar e com foco

curativista, e posteriormente o domínio da tecnologia e a procura pelas especializações, como

afirma Saupe, (1998, p. 37) quando diz:

A evolução do currículo para o preparo de enfermeiros inicia-se com um enfoque generalista e comunitário e vai se adaptando às políticas de saúde emergentes e ao modelo de privatização dos serviços de saúde, levando à valorização da especialização precoce e ao domínio de tecnologia, nem sempre adequadas à nossa realidade.

É importante ressaltar, que os enfermeiros ainda são formados com base em um

modelo biomédico onde o ensino reforça a dicotomia entre a prevenção e a cura, salientando a

distância dos profissionais com a realidade e a necessidade da atual sociedade.

Para Morin (2000, p.17):

os conhecimentos fragmentados só servem para usos técnicos. Nos tempos atuais, os cidadãos acabaram tornando-se como já foi dito especialistas em suas próprias áreas, porém com uma grande dificuldade de discutir ou mesmo apresentar uma visão crítica de um determinado assunto, levando assim, à perda do conhecimento, à regressão e a incompetência global..

Atualmente, os docentes de enfermagem têm refletido sobre como conduzir o

aprendizado dos alunos, em virtude da necessidade da superação da visão técnica, da

valorização da habilidade psicomotora por parte dos alunos em detrimento do cuidado

humano, do resgate da solidariedade e do real significado do cuidado a outro ser humano. Em

relação a esta questão, (MORIN, 2000, p.50) diz, “enquanto, na vida quotidiana, somos quase

indiferentes às misérias físicas e morais, sentimos a comiseração, a piedade e a bondade, ao

ler um romance ou ver um filme.”.

São estas constatações que levam a pensar se não houve uma regressão dos seres

humanos, apesar de todo o progresso científico e tecnológico, onde os sentimentos, e a

compreensão humana, baseiam-se numa visão estreita, quase simplista.

Assim, torna-se importante destacar que os enfermeiros necessitam refletir

profundamente sobre sua formação, objetivando a reorientação e/ou a construção de novas

bases de conduta profissional, do padrão ético da categoria, do compromisso social, com

23

vistas a atender esta nova sociedade, e principalmente preocupada com a formação de novos

profissionais de enfermagem.

Diante de todas esta questões, a enfermagem enquanto prática social necessita como

foi citado anteriormente rever sua trajetória e seu papel nesta sociedade, sendo preciso

desenvolver uma visão crítica de sua ação, formar profissionais que rompam com os antigos

padrões e que busquem um novo caminho para a profissão. Para que isto aconteça, será

necessária uma mudança profunda de atitude por parte dos profissionais e docentes

responsáveis pela formação dos novos profissionais através da educação, romper com o antigo

requer coragem, conhecimento e perseverança.

A mudança de modelos (paradigmas) é sempre difícil, porém são necessárias quando o

padrão antigo não traz resultados satisfatórios, desta forma uma destas possibilidades será

abordada a seguir.

24

3 O PARADIGMA DA COMPLEXIDADE NA PRÁTICA PEDAGÓGICA EM ENFERMAGEM

A importância de uma prática pedagógica relevante destinada aos alunos, tem

provocado reflexões e discussões entre os profissionais da educação, reflexões estas, no

sentido de melhorar a formação oferecida aos alunos, visto que todas as ações do docente são

orientadas de acordo com a forma que ele vê o mundo, e também pela sua idéia sobre

aprendizagem.

Vale ressaltar, que toda a ação docente esta calcada em uma teoria da educação que

permite solidez ao trabalho do profissional mesmo que muitas vezes o docente não consiga

definir a teoria com a qual trabalha, porém, a utiliza em virtude de exemplos positivos de

professores de sua vida como estudante.

Sobre este assunto Libanêo (1986, p. 19) comenta:

25

Uma boa parte dos professores, provavelmente a maioria, baseia sua prática em prescrições pedagógicas que viraram senso comum, incorporadas quando sua passagem pela escola ou transmitidas pelos colegas mais velhos; entretanto, essa prática contém pressupostos teóricos implícitos. Por outro lado, há professores interessados num trabalho docente mais conseqüente, professores capazes de perceber o sentido mais amplo de sua prática e de explicitar suas convicções. Inclusive há aqueles que se apegam à última tendência da moda, sem maiores cuidados em refletir se essa escolha trará, de fato, as respostas que procuram.

Em virtude disto, tem-se questionado a prática pedagógica dos docentes muitas delas

assentadas no paradigma newtoniano-cartesiano que separa a mente da matéria e propõe a

divisão do conhecimento, objetivando uma maior eficácia. Este pensamento também é

definido como newtoniano, em decorrência da idéia de Isaac Newton que apresentou o

universo e o ser humano como uma máquina, dividindo o ser humano em partes, sendo

somente compreendido pela razão. “A influência da proposição de Isaac Newton foi

significativa na ciência moderna, pois, com a obra ‘Princípios matemáticos da filosofia

natural”, propôs a mais completa sistematização matemática da concepção mecanicista da

natureza” (Behrens, 2000).

É importante esclarecer o significado do termo “paradigma”, quer dizer modelo ou

padrão, esta palavra tem origem grega “parádeigma” e tem por uso estabelecer limites ou

regulamentos para obter sucesso na solução de um determinado problema, funciona como

filtro, selecionando o que é certo. (Vasconcellos, 2002) Na sua origem o termo foi usado mais

especificamente na lingüística para determinar em gramática um exemplo tipo, e só mais tarde

é que foi introduzido como conceito de ciência.

Outra definição de paradigma que ajuda no entendimento tem a seguinte colocação:

Paradigma é uma forma de ver o mundo, um sistema de organização da ciência, uma forma de abordagem, uma concepção da realidade compartilhada por toda a comunidade científica. A mudança de paradigma implica numa outra apreensão da realidade, de modo que se constrói outra maneira de ver as coisas, é como se criasse um novo mundo, onde as formas de percepção da realidade tornam-se diferentes (TEIXEIRA E TAVARES, 1997, p. 273).

Em virtude da transição do paradigma da ciência mecanicista, a questão da revisão dos

valores, a crise dos sistemas econômicos, a globalização, fez emergir na enfermagem como

26

profissão, uma crise de identidade apontando a necessidade de buscar um novo paradigma

dentro de uma perspectiva coletiva, que uma a ciência e a arte, a ética e a estética.

A enfermagem acadêmica também tem se movimentado no sentido de vislumbrar um

novo paradigma para a profissão, este movimento tem dado origem a novas teorias

denominadas holísticas, ecológicas, quânticas, humanistas entre outras. No Brasil este

movimento tem base na teoria Sistêmica e Ecológica de Paim (TEIXEIRA E TAVARES,

1997).

Uma destas propostas de mudança paradigmática que busca o todo e a integração de

todas as partes, é denominada paradigma da complexidade, esta proposta favorece a o

conjunto. Por isso torna-se necessário definir o termo complexidade, com isto utilizo o

pensamento de Morin (2000, p.38)

O conhecimento pertinente deve enfrentar a complexidade. Complexus significa o que foi tecido junto; de fato, há complexidade quando elementos diferentes são inseparáveis constitutivos do todo ( como o econômico, o político, o sociológico, o psicológico, o afetivo, o mitológico), e há um tecido interdependente, interativo e inter-retroativo entre o objeto de conhecimento e seu contexto, as partes e o todo, o todo e as partes, as partes entre si.

Neste sentido, cabe a contribuição de Brandão (1991, p. 15) que ajuda nesta reflexão:

Uma revolução científica é, antes de tudo, uma revolução de paradigma. Quando uma geração de cientistas produz uma nova síntese, a antiga geração se extingue e dá lugar a uma nova geração, que adere ao novo paradigma. Alguns teimam em se agarrar a alguns aspectos ultrapassados do antigo paradigma; são fatalmente erradicados do novo meio ou da nova comunidade científica, e, às vezes se agrupam para constituir grupos “ortodoxos”. A respeitabilidade de um cientista é uma conseqüência direta de sua adesão ao novo paradigma.

O século XX também continuou sendo influenciado pelo paradigma newtoniano-

cartesiano como no século anterior, visto que este pensamento levou os cientistas a uma visão

reducionista, fragmentada e com alteração dos valores como a ética, solidariedade e dos

sentimentos, esta visão do mundo como uma máquina deu origem ao mecanicismo,

possibilitando trabalhar o raciocínio pela indução e dedução.

É pertinente o comentário de (BEHRENS, 2000, p.21) quando alerta: “Com essa visão

fragmentada, no século XIX, a universidade se reorganiza e, com uma forte influência

27

positivista, passa a credenciar como legítimo o conhecimento científico comprovável, racional

e objetivo”. As universidades assumem e aceitam o paradigma mecanicista e ocupam um

papel fundamental na reprodução da atividade científica.

E complementa: (BEHRENS, 2000, p.19 apud MORAES, 1997):

O paradigma cartesiano teve sua origem histórica em Galileu Galilei, que introduziu a descrição matemática da natureza reconhecendo a relevância das propriedades quantificáveis (forma, tamanho, número, posição e quantidade do movimento). Contaminado por esses estudos, Descartes (1596-1650) propôs o discurso do método com os seguintes pressupostos: Jamais acolher alguma coisa como verdade, sem evidência concreta; dividir cada um dos conceitos mais simples, para os mais complexos, para conduzir, degrau a degrau, o conhecimento e buscar em toda a parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que provocassem a certeza de nada omitir.

Na área da educação o paradigma newtoniano-cartesiano também é conhecido como

tradicional, porque a atividade do ensino é centrada no professor, que expõe e interpreta o

conteúdo a ser trabalhado normalmente através da palavra, sendo o estudante um mero

receptor passivo deste conteúdo, porque a autoridade esta centrada no professor. Neste

paradigma, a concepção é que o aluno só irá conhecer o mundo por meio das informações

repassadas pelo professor, através da assimilação e repetição do conteúdo.

Os últimos cinqüenta anos foram caracterizados por um progresso científico e

tecnológico enormes, propiciando vantagens em relação à comunicação, com a explosão de

informações, sendo estas informações geradas a uma velocidade sem igual, com aumento do

consumismo pela sociedade, mas vale dizer, com grandes perdas para a humanidade, visto

que o homem tornou-se mais competitivo, individualista, centrado em seu próprio mundo,

destruindo inclusive o seu próprio espaço com guerras e violência.

Diante desta problemática, a comunidade científica vem refletindo sobre a crise deste

paradigma que permitiu a divisão, separação e a visão mecanicista do mundo, sendo

pertinente o comentário de Brandão (1991, p.16) que alerta:

Nosso mundo está em crise, provocada por lacunas e falhas do paradigma reinante e suas extrapolações. A felicidade prometida pelas aplicações indiscriminadas da ciência moderna sob forma de tecnologia está se transformando no seu contrário; de um lado, temos a falta elementar de alimento e conforto, que traz fome e miséria psicológica que acompanha o excesso de alimento e conforto dos países desenvolvidos, onde crescem a solidão , a indiferença, a violência sob toas as suas

28

formas; o conforto não trouxe a felicidade, qualquer que seja o regime político reinante.

Com a evolução da ciência e a necessidade de se repensar as mudanças da sociedade e

da educação e a tentativa de ultrapassar a visão reducionista do pensamento newtoniano-

cartesiano, levaram profissionais de todas as áreas do conhecimento a questionarem a

mudança para um novo paradigma, voltado para o todo integrado que busque a construção do

conhecimento com uma proposta de união de todas as partes.

Diante disto no início do século XX, os paradigmas inovadores foram surgindo em

virtude das necessidades desta nova sociedade, revolução da informação e a exigência da

produção do conhecimento com denominações como: Paradigma Inovador, Sistêmico,

Holístico e Emergente, sendo que todos possuem características como a superação.da

reprodução para a construção do conhecimento, visão da totalidade e integração e inter-

relação do todo, levando a educação a refletir sobre seu caminho, como Behrens (2000, p.59)

comenta:

O desafio dos cientistas e intelectuais no sentido da retomada do todo contamina a educação e instiga os professores a buscarem uma prática pedagógica que supere a fragmentação e a reprodução do conhecimento. O ensino como produção do conhecimento propõe enfaticamente o envolvimento do aluno no processo educativo. A exigência de tornar o sujeito cognoscente valoriza a reflexão, a ação, a curiosidade, o espírito crítico, a incerteza, a provisoriedade, o questionamento, e exige reconstruir a prática educativa proposta em sala de aula.

Outra contribuição significativa para uma nova perspectiva de educação é ressaltada

por Cardoso (1995, p. 47) quando diz:

A atual abordagem holística da educação não pretende ser uma nova verdade que detenha a chave única das respostas para os problemas da humanidade. Ela é essencialmente uma abertura incondicional e permanente para o novo, para as infinitas possibilidades de realização do ser humano.

Uma questão que deve ser ressaltada diz respeito à mudança paradigmática, pois

somente a transição de um modelo para outro não seria suficiente para resolver todas as

questões, como menciona Teixeira e Tavares (1997, p. 275):

29

Considero também que as transições são constantes na natureza e na vida humana e que uma mudança paradigmática não levará a um estado paradisíaco, mas a transformações que instrumentalizam o nosso saber e o nosso imaginário frente às insuficiências das atuais práticas de saúde.

Salienta-se que com a chegada do novo milênio, inúmeras modificações foram trazidas

à sociedade, hoje esta nova sociedade exige indivíduos criativos, participativos e

principalmente conscientes de seu papel neste mundo, sendo de conhecimento público que, a

única forma de atingir este objetivo é através da educação.

Atualmente, a dificuldade de todo o cidadão deste novo milênio que deseja estar

integrado com o mundo, é como ter acesso a todas as informações em tempo real, saber

depurar, processar e utilizar todos os dados de forma adequada., no que se refere à educação a

dificuldade é ampla, visto que o conhecimento se altera em uma velocidade sem igual, e o

conhecimento muitas vezes está dividido em partes, fragmentado.

Nesta ótica utilizo a contribuição de Morin, (2000, p.36)

A esse problema universal confronta-se a educação do futuro, pois existe inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre, de um lado, os saberes desunidos, divididos, compartimentados e, de outro, as realidades ou problemas cada vez mais multidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais e planetários.

Em virtude disto, a sociedade hoje requer indivíduos comprometidos com a

transformação social, com capacidade crítica e de reflexão. Neste sentido a educação assume

um papel diferenciado, pois é através dela que construímos um panorama mais favorável e um

terreno mais fértil para esta mudança, onde os cidadãos tenham capacidade de discernimento

para buscar a emancipação.

Nessa direção Silva, Keim e Bertoncini,(2003, p. 424) comentam:

A educação na perspectiva da mudança social faz com que a sociedade mude diante da capacidade das pessoas se modificarem em comunhão com os demais. Assim, ninguém educa ninguém, mas a comunidade se educa na medida em que todos aprendem e ensinam, discutindo os inúmeros saberes construídos e consolidados no debate franco e fraterno contextualizado nas dores e alegrias das vivências de todos os envolvidos.

30

Então a resposta para este desafio não é tão simples, será preciso uma grande

modificação no processo pedagógico utilizado pelas instituições de ensino, que ainda

trabalham com o conhecimento reprodutivo, e uma profunda reflexão sobre o papel do

professor. Sabe-se, que a dificuldade de mudança do papel do professor não está restrita

somente à vontade desta referida categoria, mas também de sementes plantadas anteriormente

em sua formação, que não permitia inovações e tentativas desafiadoras que buscassem uma

nova forma de aprendizado.

O papel do professor que esta nova sociedade necessita, é o professor que constrói

projetos pedagógicos inovadores, formas de ensino diferenciadas, trabalhando junto à

pesquisa, e com a participação efetiva dos alunos em todas as etapas do processo, objetivando

superar a antiga forma de ensino, e preparando estes alunos para enfrentar esta nova

sociedade.

Neste sentido (BEHRENS,1996, p.64) reflete: “O objetivo prioritário do professor é

orientar os estudantes sobre onde colher a informação, como tratar esta informação e como

utiliza-la.”

Assim cabe salientar que o professor necessita trabalhar este conhecimento, gerá-lo,

não esquecendo de atuar junto a tecnologias disponíveis, que devem fazer parte do processo

pedagógico, sendo úteis para auxiliar o docente em sua prática. Este mesmo professor, precisa

estar preparado para ser mediador, ativo e flexível, além é claro de trabalhar como

pesquisador, estimulando seus alunos a praticar esta forma de aprendizado.

Outra questão relevante que merece ser citada, é que atualmente o ensino de maneira

geral, não vem atendendo aos anseios da sociedade, o que impulsiona os responsáveis pelo

ensino, a buscarem formas modernas de alterar este cenário. Apesar disto, algumas escolas já

utilizam os recursos tecnológicos que a modernidade nos trouxe, porém, são tentativas

isoladas e insuficientes ainda para a transformação ampla que o ensino requer.

O fato de salas de aula possuir computadores, não faz com que o aprendizado deixe de

ser reprodutivo e transforme-se em inovador, será preciso que o professor instigue seus alunos

a refletirem sobre seus conhecimentos.

Com a chegada do novo milênio, cabe dizer que as escolas não são mais detentoras do

ensino e do saber, sendo difícil para muitas docentes aceitarem esta nova realidade, sendo

necessário uma mudança na forma da metodologia do trabalho pedagógico.

Hoje, a educação perdeu a característica de fim, sabe-se que o aprendizado nas

universidades não é suficiente para que o indivíduo tenha sucesso e competência na área que

31

escolheu, será necessário que a busca do conhecimento seja diário, e a atualização contínua, e

que o profissional exercite o dueto “aprender a aprender” durante toda a sua vida.

Entende-se por aprender a aprender como um novo caminho para ultrapassar a

reprodução do conhecimento, a repetição ou a cópia nos meios acadêmicos. Esta proposta foi

desenvolvida por Pedro Demo como uma forma de construir novas possibilidades de

metodologias no trabalho docente, sendo que segundo (BEHRENS apud DEMO, 1996, p. 01)

ainda esclarece: “A proposição do aprender a aprender abre a visão de que a educação não

tem fim, renova-se dia a dia e avança rapidamente para uma sociedade moderna, provocando

um processo ininterrupto de atualização”

Outra característica importante desta mudança de panorama educativo, que o professor

necessita participar efetivamente da construção desta nova proposta pedagógica, com o

objetivo de propiciar um trabalho de qualidade, com interação absoluta entre alunos e

docentes, além do entendimento da importância da educação para transformação da realidade.

Com a globalização, a educação perdeu de certa forma sua relevância, deixou de ser

um direito do cidadão, aumentando a distância entre ricos e pobres, tornando-se um produto

de acesso a poucos. É de conhecimento que a mudança desta sociedade implica e repercute na

educação, fazendo com que a educação fique a mercê de mudanças na economia,

prejudicando o trabalho dos docentes.

Nos tempos atuais como foi citado anteriormente, o professor necessita ajustar-se a

esta sociedade da comunicação e informação, pois as pessoas são cada vez mais induzidas a

utilizar tecnologias em seu dia a dia, desde cedo as crianças habituam-se a brincar com

computadores , televisões, vídeos, sendo importante salientar que estas tecnologias trazem

benefícios, mas também prejuízos, pois sabemos que o acesso a estas tecnologias é para uma

minoria.

A descrição das transformações da sociedade são relatadas por Libâneo (1998, p.15):

È verdade que o mundo contemporâneo neste momento da história denominado ora de sociedade pós- moderna, pós-industrial ou pós-mercantil, ora de modernidade tardia, está marcada pelos avanços na comunicação e na informática e por outras tantas transformações tecnológicas e científicas.Estas transformações intervêm nas várias esferas da vida social, provocando mudanças econômicas, sociais, políticas, culturais, afetando também as escolas e o exercício profissional da docência.

32

Desta forma, o professor torna-se elemento essencial neste novo panorama de

aprendizagem, sendo o mediador e articulador do conhecimento.

É importante dizer, que o professor deverá possuir a habilidade de investigação, ou

seja, ser capaz de “aprender a aprender”, pois sem esta habilidade ficará difícil o docente

ensinar seus alunos a utilizar esta prática pedagógica.

É preciso então que os docentes modifiquem suas atitudes diante destes recursos

tecnológicos, que invistam na capacitação contínua, e que reconheçam que seus alunos

possuem diferentes formas de aprendizado, em virtude de suas origens sociais, situação

familiar e pessoal, e que isto tem profunda influência em seu aprendizado.

Diante disto, tem-se refletido que a educação precisa melhorar a qualidade do ensino,

que tem ofertado à comunidade. Neste sentido objetiva-se a superação das desigualdades

sociais da população, alcançando um maior número de pessoas, e não uma minoria de

privilegiados. Estes esforços seriam no sentido de preparar as escolas para atender as

necessidades do mundo do trabalho, preparando seus alunos para o enfrentamento desta nova

realidade, com a formação de cidadãos críticos e com capacidade de transformação da

realidade, a preparação dos indivíduos para participarem de movimentos sociais, e também a

formação de valores éticos.

Neste aspecto da educação voltada para o resgate de valores Paschoal, Mantovani e

Polak (2004, p.4) afirmam:

A educação fundamentada na estética da sensibilidade deverá organizar seus currículos de acordo com valores que fomentem a criatividade, a iniciativa e a liberdade de expressão, abrindo espaços para a incorporação de atributos como a leveza, a multiplicidade e o respeito pela vida e intuição. Currículos inspirados na estética da sensibilidade são ,ais prováveis de contribuir para a formação de profissionais que, além de tecnicamente competentes, percebam na realização de seu trabalho uma forma concreta de cidadania.

Outra questão que merece ser citada, é que era comum ouvir histórias de professores

que utilizavam formas de punir alunos inquietos e pouco participativos nas aulas, ou mesmo

histórias de alunos que simplesmente decoravam a matéria que o professor expunha no

quadro, matéria esta , que era na forma de reprodução de conhecimento, onde estes alunos

conseguiam tirar boas notas nas avaliações porém, algum tempo depois, sequer lembravam do

que se tratava aquela referida matéria.

33

Constata-se que, este tipo de prática pedagógica acima, é considerada inconcebível nos

tempos atuais, mas romper com esta prática e este passado, é uma tarefa árdua, e depende de

mudança de referenciais, reflexões sobre a prática docente, capacitação dos professores, entre

outros aspectos.

Desafiar o sistema, alterar a prática docente, empenhar-se na transformação tem-se apresentado como tarefa inglória nos meios acadêmicos.Os próprios alunos habituados a práticas pedagógicas reprodutivas, muitas vezes reagem à possibilidade de participar de uma ação docente calcada no trabalho coletivo e produtivo. Os meios de avaliação sistemáticos e burocratizados colocam muitas vezes a perder todo o processo de construção coletiva do conhecimento proposto como metodologia do trabalho docente junto aos alunos.(BEHRENS, 1996, p.32)

Sem dúvida a sociedade mudou, os desafios que esta sociedade nos impõe, obriga a

comunidade a buscar novas formas de condução do aprendizado, tendo a escola uma função

social, responsável pela formação de cidadãos críticos, reflexivos e com capacidade de

transformação da realidade, hoje, sabidamente uma forma de transformar países como o

Brasil, com tanta desigualdade e injustiças sociais.

Atualmente, os alunos são muito diferentes de alguns anos atrás, possuem um grau de

exigência maior, entram em contato com vários tipos de informação diariamente, portanto,

necessitam de formas de aprendizado diferenciadas. Outro fator que merece uma ressalva, é

que o professor precisa aceitar que seus alunos são heterogêneos, sendo necessário buscar

conhecê-los, apontando para o trabalho coletivo, com a participação ativa destes sujeitos,

permitindo que as potencialidades e talentos aflorem dentro das salas de aula.

Outro fator significativo, é a relação professor/aluno, ela deve ser conjunta como foi

dito anteriormente, de total interação, onde o papel do professor é o de mediador, condutor do

trabalho, mas, jamais o de detentor do poder, dono do saber, desmistificando o papel de

autoritário e punitivo, o aluno deve ser o agente de sua aprendizagem, aprende por suas

próprias ações sobre a sua visão de mundo.

Com relação a esta nova visão cabe comentar sobre os estudos do professor e

psicólogo Howard Gardner da Harvard University, que após diversos anos de pesquisa sobre

o cérebro humano, descobriu que existem áreas no cérebro que expressam formas diferentes

de inteligência, que foram classificadas segundo ele, de forma subjetiva, como oito

inteligências, sendo chamadas de inteligências múltiplas. São elas, a inteligência lingüística

ou verbal, a lógico-matemática, a musical,a cinestésica corporal, espacial, a intrapessoal,

interpessoal e finalmente a naturalista.(DRYDEN, e VOS, 1986)

34

Com esses dados é possível explicar, porque algumas pessoas possuem excelente

memória numérica, porém, apresentam dificuldade no quesito memória verbal, ou outras que

tem uma capacidade cinestésica corporal desenvolvida como os jogadores de futebol, porém,

apresentam grande dificuldade em expressar-se verbalmente.

Em decorrência destes estudos, o mito de que alguns alunos possuem dificuldade de

aprendizado, sendo importante o professor ter em mente que, será necessário estimula-los

individualmente e de formas diferenciadas, objetivando desenvolver seus potenciais.

Neste sentido Dryden e Vos (1996, p. 89) propõe:

Atualmente os pesquisadores afirmam que existem pelo menos três preferências principais de estilo de aprendizagem: Aprendizes hápticos:, cujo significado é derivado de uma palavra grega que quer dizer “avançar”: pessoas que aprendem melhor quando estão envolvidas, em atividade, experienciando e vivenciando; são também chamados aprendizes táteis-cinestésicos. Aprendizes visuais, que aprendem melhor quando podem ver ilustrações sobre o que estão estudando, com uma porcentagem menor daqueles que são “orientados pela palavra impressa” e podem aprender através da leitura. Aprendizes auditivos, que aprendem melhor por meio de som: através da música e

da conversa.

Desta forma, será necessário um trabalho conjunto entre professores e alunos,

buscando a renovação, a transformação de papéis, a mudança de realidade, junto a políticas

públicas que auxiliem na inserção de novos projetos pedagógicos, com o objetivo de

construção de indivíduos conscientes de seu papel na nova sociedade.

Sendo assim, fica clara a necessidade de reflexão dos docentes no sentido de

desenvolver uma docência de qualidade, sendo necessário além das competências citadas

acima, compromisso com o social, amor pelo ofício, e pensamento voltado para a

coletividade.

Com referência a questão da coletividade Morin (2000, 46) comenta:

Trata-se de entender o pensamento que separa e que reduz, no lugar do pensamento que distingue e une. Não se trata de abandonar o conhecimento das totalidades, nem da análise pela síntese; é preciso conjuga-las. Existem desafios da complexidade com os quais os desenvolvimentos próprios de nossa era planetária nos confrontam inelutavelmente.

35

Diante disto o papel da educação em todo este processo torna-se imprescindível, a

aprendizagem não pode ser restrita a um repasse de conhecimentos fechados, ou seja, dividido

em partes sem buscar a visão global, a interação de todos os elementos que permeiam o tema,

despertando o ser humano para o raciocínio lógico, a construção do conhecimento, a crítica

utilizando a reflexão, pois o aprendizado não tem fim, ele é contínuo, buscando sempre a

transformação do pensamento. Além da necessidade do conhecimento ser trabalhado como

processo e contribuir para a emancipação social, política, e intelectual do aluno, propiciando a

transformação deste aluno em cidadão, com independência para ser um agente de mudança na

sociedade atual.

3.1 PRÁTICA PEDAGÓGICA EM ENFERMAGEM

Atualmente um dos grandes desafios da educação é trabalhar com a fragmentação do

conhecimento e com sua descontextualização com a realidade desta nova sociedade. Os

estudos e reflexões sobre a interdisciplinariedade, a transdisciplinariedade vem apresentando

o professor como mediador do processo de ensino-aprendizagem e não como um transmissor

do conhecimento pronto e acabado, vem tentando resgatar o conhecimento interligado com a

realidade, com o contexto histórico e cultural, com a ciência sendo útil aos seres humanos.

A questão da fragmentação do conhecimento tem sua origem como citado

anteriormente na influência de paradigma tradicional e da idéia reducionista de Descartes, esta

idéia atingiu as ciências da saúde como salienta (TEIXEIRA E TAVARES apud

FOUCAULT, 1997, p. 276) quando afirmam:

Vale recordar que essa forma de racionalidade científica teve sua gênese nos séculos XVI e XVII e que tomou grande força no movimento iluminista no século XVIII e no cientificismo do século XIX. Nesse aspecto, a taxionomia da biologia influenciou na classificação das doenças, de modo que produziu uma generalização técnica e científica sobre os sujeitos, tentando eliminar as singularidades, criando assim conceitos universais para os sujeitos, baseados na anatomia e na fisiologia. Assim, o discurso do sujeito passou a ser um subsídio apenas para o diagnóstico médico no campo da saúde alopática.

É fundamental que a universidade ofereça condições de um aprendizado com uma

formação científica sólida, com uma revisão dos currículos, de forma a torná-los atualizados e

36

que atendam as necessidades desta sociedade denominada “sociedade do conhecimento”, e

que, além disto, estimule o desenvolvimento das potencialidades intelectuais dos alunos.

Diante disto, esta investigação objetivou pesquisar uma prática pedagógica inovadora

para o ensino da ética, e sua influência na formação dos alunos. Assim torna-se importante

defini-la como o referencial que ampara o docente em seu trabalho e a metodologia utilizada

por ele para a busca da produção do conhecimento, da aprendizagem significativa tanto do

professor como do aluno, aliada a transformação do aluno em cidadão competente e

consciente de seu papel na sociedade. Em relação à prática pedagógica inovadora Behrens

(2000, p.70) comenta:

Com a visão do homem como um todo, o professor que se propõe buscar uma prática pedagógica renovada e compatível com as exigências do paradigma emergente precisa pensar em contemplar sua ação docente com uma visão sistêmica. Os docentes universitários, ao optarem por uma visão holística, deverão ser capazes de atuar com paixão e buscar a grandeza que se encontra dentro de cada aluno. Não se trata de ser romântico, mas de ser extremamente preocupado com homem que se pretende formar.

Vale salientar que este século XXI trouxe grandes modificações para a sociedade

como citado anteriormente, inclusive a discussão sobre novos paradigmas (modelos) na

educação, e a necessidade dos educadores repensarem as suas práticas pedagógicas. Pois o

modelo tradicional da educação criou um senso comum baseado na supremacia da regulação

do ser humano sobre a emancipação, sendo que a sociedade atual é extremamente reguladora

e nada emancipatória, visto que esta emancipação não ocorreu em decorrência de questões

econômicas, de mercado, entre outras.

Ainda em relação à mudança de paradigma, Behrens (2000, p. 123) comenta:

O Paradigma Emergente busca provocar uma prática pedagógica que ultrapasse a visão uniforme e que desencadeie a visão de rede, de teia, de interdependência, procurando interconectar vários interferentes que levem o aluno a uma aprendizagem significativa, com autonomia, de maneira contínua, com um processo de aprender a aprender para toda a vida.

Portanto, para educar os alunos neste novo século é necessário repensar a prática

pedagógica utilizada, principalmente no que se refere à disciplina de Ética em Enfermagem,

visto que para suprir as necessidades desta nova sociedade, requer dos docentes uma postura

37

diferenciada, além de uma reflexão profunda sobre o compromisso ético do profissional

enfermeiro.

O ensino da ética deve preparar os futuros profissionais para atuarem com senso de

justiça, autonomia, responsabilidade e acima de tudo com humanismo, sendo que estes

aspectos são referendados no Parecer 16/99, (1999) que diz:

A ética deve permear e influenciar permanentemente as condutas dos alunos para fazer deles defensores do valor da competência, do mérito e da capacidade de tudo fazer bem feito, contra favoritismos de qualquer espécie, e levando em conta a importância da recompensa pelo trabalho bem executado, que inclui o respeito, o reconhecimento e a remuneração condigna.

Como já foi dito anteriormente, é de suma importância a influência dada pelo docente

ao aluno, que pode ser positiva ou negativa. Assim, a responsabilidade do professor é enorme,

nem sempre o docente se dá conta desta realidade, a natureza de sua prática é extremamente

formadora, daí a importância do exemplo ser efetivo, baseado na luta pela defesa dos direitos,

pela seriedade, e coerência.

Baseado nesta questão da formação do aluno Freire (1996, p.72) diz:

As qualidades ou virtudes são construídas por nós no esforço que nos impomos para diminuir a distância entre o que dizemos e o que fazemos. Este esforço, o de diminuir a distância entre o discurso e a prática, é já uma dessas virtudes indispensáveis – a da coerência. Como, na verdade, posso eu continuar falando no respeito à dignidade do educando se ironizo, se o discrimino, se o inibo com a minha ignorância. Como posso continuar falando em meu respeito ao educando se o testemunho que a ele dou é o da irresponsabilidade, o de quem não cumpre seu dever, o de quem não se prepara ou se organiza para a sua prática, o de quem não luta por seus direitos e não protesta contra as injustiças?

Com esta idéia de um pensamento ético (DALAI LAMA, 2000, p.176) diz: “Acredito

que cada um de nossos atos tem uma dimensão universal. Por causa disso, a disciplina de

ética, a conduta íntegra e um discernimento cuidadoso são elementos decisivos para uma vida

feliz e significativa”.

Portanto, o profissional de enfermagem deve ter competência para atuar com base no

conhecimento e com autonomia, buscando uma ação efetiva em sua prática diária:

38

Ser competente é ser capaz de mobilizar conhecimentos, informações e até mesmo hábitos, para aplicá-los, com capacidade de julgamento, em situações reais e concretas, individualmente e com sua equipe de trabalho. Sem capacidade de julgar, considerar, discernir e prever os resultados de distintas alternativas, eleger e tomar decisões, não há competência. Sem os valores da sensibilidade e da igualdade não há julgamentos ou escolhas autônomas que produzam práticas profissionais para a democracia e a melhoria da vida.(PARECER 16/99, 1999)

Porém, a realidade não de forma generalizada, aponta para um aluno de enfermagem

centrado ainda na doença, com dificuldade de discernimento, com uma formação tecnicista,

enaltecendo os aspectos físicos em detrimento dos aspectos psicossociais, com uma dicotomia

clara entre a teoria e a prática, valorizando a habilidade psicomotora e tecnológica, e

desvalorizando as relações humanas.

Neste sentido cabe a contribuição de (TEIXEIRA E TAVARES apud LUNARDI

1997, p. 277): “acredito que a falta de clareza do objeto de trabalho da enfermagem tem

gerado crises de identidade profissional do enfermeiro e descompassos entre o ensino e a

prática. As condições desta desvaloriza o enfermeiro devido, aos salários baixos, às altas

jornadas, à evasão e ao absenteísmo”. E complementa:

O saber em enfermagem produzido na academia ainda não tem uma ação efetiva sobre

a realidade do trabalho da enfermagem, somente está presente na idéia dos professores, alunos

e enfermeiros.(TEIXEIRA E TAVARES, 1997)

Diante de situações vivenciadas como docente do curso de enfermagem e com uma

reflexão constante sobre como oferecer uma nova forma de abordagem pedagógica para o

ensino da ética, procurei fundamentação teórica e prática, com o intuito de conhecer outras

propostas, bem como possibilidades e recursos visando a melhoria do aprendizado dos

referidos alunos.

Desse modo faz-se importante fazer uma breve análise do ensino da ética nos cursos

de enfermagem, e também dos programas de ensino utilizados por algumas universidades no

Brasil.

A questão do ensino da ética nos cursos de enfermagem evoluiu junto à própria

evolução da enfermagem como profissão, sempre pautada pelas lutas ideológicas da profissão,

bem como com as mudanças da sociedade através dos tempos. A criação da primeira escola

para o ensino da enfermagem foi baseada no Decreto de n. 791/1890 publicado na imprensa

oficial como nos periódicos da época, e definia os requisitos básicos para o seu

funcionamento como formas de ingresso, tempo para a conclusão, período entre outras

questões. Descrevo as diretrizes do referido curso:

39

Art. 1º Fica instituída no Hospício Nacional de Alienados uma escola destinada a preparar enfermeiros e enfermeiras para os hospícios e hospitais civis e militares.

Art. 2º O curso constará: 1. de noções práticas de propedêutica clínica; 2. de noções gerais de anatomia, fisiologia, higiene hospitalar, curativos, pequena cirurgia, cuidados especiais a certas categorias de enfermos e aplicações balneoterápicas; 3. de administração interna e escrituração do serviço sanitário e econômico das enfermarias; Art. 3º Os cursos teóricos se efetuarão três vezes por semana em seguida à visita às enfermarias e serão dirigidos pelos internos e inspetoras, sob fiscalização do médico e superintendência do diretor geral. Art. 4º Para ser admitido à matrícula, o pretendente deverá: 1. ter 18 anos, pelo menos, de idade; 2-saber ler e escrever corretamente e conhecer aritmética elementar; 2. apresentar atestações de bons costumes. Parágrafo único. Poderão ser admitidos ao curso alunos internos e externos; os primeiros, que não poderão exceder 30, além de aposento e alimentação, terão direito à gratificação, no primeiro ano de 20$ mensais e no segundo, depois da primeira aprendizagem, de 25$, devendo, porém, coadjuvar os empregados do estabelecimento no serviço que lhes for designado .Art. 5º Aos alunos que se distinguirem nos exames, serão conferidos prêmios de até 50$, e aos enfermeiros diplomados e alunos que em qualquer tempo se invalidarem no exercício da profissão em hospitais mantidos pelo estado, por efeito dos deveres a ela inerentes, se abonará uma pensão proporcional ao ordenado que perceberem. Art. 6º No fim do curso, que poderá ser feito em dois anos no mínimo, será conferido ao aluno um diploma passado pelo diretor da Assistência Médico-Legal de Alienados. Art. 7º O diploma dará preferência aos empregos nos hospitais a que se refere o art.5º, e o exercício profissional durante 25 anos dará direito à aposentadoria na forma das leis vigentes. Art. 8º Enquanto permanecerem no estabelecimento, ficarão os alunos sujeitos às penas disciplinares impostas nas instruções do serviço interno aos respectivos empregados (HOSPÍCIO, 1890) (OGUISSO, 2005, p.109).

É importante salientar que esta escola hoje é denominada Escola de Enfermagem

Alfredo Pinto, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), e sua criação

tinha como objetivo dar oportunidade de emprego aos funcionários daquele estabelecimento

hospitalar, principalmente a mulheres e órfãs que não tinham como sobreviver após os 18

anos quando saiam dos orfanatos da época. (OGUISSO, 2005)

Vale ressaltar, que o ensino da ética na enfermagem iniciou-se com a criação do

primeiro curso de enfermagem, que foi na Escola Ana Néri na cidade do Rio de Janeiro no

ano de 1923. (GERMANO, 1985).

Neste sentido o ensino da ética no curso foi baseado por caminhos conservadores e

religiosos, sendo que as características destacadas por este ensino eram da obediência à

hierarquia, humildade, espírito de servir, sempre associando a profissão a questões religiosas.

Outro aspecto importante do conteúdo ensinado, era que os textos os quais o ensino se

fundamentava, eram textos de caráter religioso, que possuíam uma grande identidade com a

40

ética cristã, ligação esta que acompanha o ensino da ética na enfermagem até os tempos

atuais, sendo que a ética ensinada era essencialmente um formulário de deveres do

enfermeiro. (GERMANO, 1985).

Ainda em relação ao aspecto religiosos do ensino da ética Germano (1993, p.17)

comenta:

Outrossim, é importante destacar que, embora tenha sido sempre marcante a preocupação com a ética quanto à formação do enfermeiro, a orientação tem-se pautado, conforme salientamos antes, em uma direção por demais conservadora, fundamentada nos princípios de obediência e de forte sentimento de religiosidade. A título apenas de ilustração, no congresso de 1952, realizado em São Paulo, quando se aprova o programa de ética para o curso de enfermagem, recomenda-se: “Deve-se basear-se nos princípios da liberdade humana, da existência de Deus e da imortalidade da alma”(Turkiewicz,1965). Dez anos mais tarde (1962), inspirada no tema oficial do II Congresso Latino-Americano de Enfermagem, realizado no Rio de Janeiro (1961), ‘O sentido cristão de servir e a enfermagem’.

Outro aspecto a ser ressaltado, diz respeito ao período de decadência da enfermagem

onde ocorreu a transição do feudalismo para o capitalismo com uma clara diminuição do

espírito religioso, época que muitas religiosas que se dedicavam ao cuidado aos enfermos

foram expulsas dos hospitais e substituídas por pessoas sem preparo, prostitutas e alcoólatras,

sendo a maioria de mulheres, daí a preocupação intensa da profissão com a questão da

moralidade. (PAIXÃO,1979)

Para. Teixeira e Tavares (1997, p. 278) o ensino de enfermagem ainda está baseado

nas necessidades fisiológicas e nas patologias de seus clientes:

A minha experiência no ensino de enfermagem clínica tem mostrado, tanto em termos teóricos quanto no estágio teórico-prático, a insuficiência do ensino fracionado. O ensino constituído dessa maneira não permite entender a subjetividade, aos processos sociais e psicológicos envolvidos com a enfermidade, à participação do cliente no cuidado com a saúde e à relação professor e aluno.Tais aspectos tem conduzido-me a uma reformulação de nossos conteúdos e estratégias de ensino, buscando mais proximidade com os sujeitos que são cuidados, tais como trabalho em grupo, reflexão de textos, a inserção do aluno no centro de saúde e trabalhos em educação e saúde, de modo a contextualizá-los com a realidade social, que favorece a possibilidade de expressão para os clientes no que se refere ao cuidado com o corpo.

A necessidade de repensar e buscar um novo paradigma para o ensino da ética se faz

necessária quando acompanhamos inúmeras situações as quais o enfermeiro atua ainda

41

influenciado por uma visão cartesiana, onde ele separa o corpo da alma, fragmenta o cuidado

em diversas etapas, pois planeja e gerencia o cuidado, mas a execução fica a cargo de outros

profissionais da equipe como auxiliares e técnicos de enfermagem, além de amparar-se em

um modelo biomédico de assistência, preocupado com os sintomas e com a doença.

Cabe destacar que a ética é considerada um instrumento básico para a orientação do

trabalho do enfermeiro, sendo que em vários cursos de graduação a destacam desta forma,

dando a ela uma relevância e reconhecimento dentro dos programas, porém, o estigma do

autoritarismo aliado ao conservadorismo da profissão acaba desestimulando e desinteressando

muitas vezes os alunos a discutirem conteúdos de ética, visto que as bibliografias adotadas

nos cursos são em sua grande maioria de cunho conservador.

Um exemplo de uma nova abordagem para o ensino da ética ocorre na Universidade

da Cidade de Fortaleza, onde se tem desenvolvido um trabalho dentro de uma visão crítico-

reflexiva, procurando fazer uma integração entre professores e alunos com um ensino

participativo e a interdisciplinariedade sendo utilizada para a formação do aluno, com uma

tentativa de integração entre outras universidades da cidade, com propostas de debates e

seminários possibilitando amplas discussões sobre as questões éticas que permeiam o trabalho

da enfermagem.

Por fim, entenderam que o próprio convívio em si foi experiência valiosa. O ponto forte dos seminários, além da integração, foi o entendimento dos discentes acerca da verdadeira aprendizagem, quando afirmam que os temas foram ‘quebrados’ em diferentes formas de apresentação, havendo, ao final, uma ampla discussão acerca do trabalho como um todo. Dessa forma, pode-se considerar a atividade didático-pedagógica desenvolvida neste trabalho uma ensinagem, na qual o ensinar e o aprender são processos distintos. (GERMANO, 2004, p.70):

Em relação ao ensino especificamente da ética, a maioria dos docentes enaltece o

ensino da ética, considera-o fundamental para a formação do profissional, porém o discurso

não corresponde à realidade como Germano (1993, p.70) salienta:

Particularizando mais especificamente o campo do ensino da ética na enfermagem, a grande maioria dos docentes considera esse estudo fundamental, prioritário, enfim, básico para a orientação da prática ou exercício profissional, pela oportunidade de reflexão que proporciona. Apesar disso, e dos reconhecimentos dos inegáveis avanços, a partir mesmo do deslocamento do eixo de discussão em torno da ética, em que o enfoque tradicional passa a ser questionado, na prática ainda prepondera

42

uma vertente muito conservadora. Analisando, os programas postos em prática pelas escolas, podemos inferir, em primeiro lugar, que existe uma contradição entre o discurso de valorização da ética e o tratamento dispensado a essa disciplina no cômputo total do currículo do curso de enfermagem; em algumas escolas é exatamente aquela de menor carga horária, embora reconheçamos que nas diferentes disciplinas os professores também transmitem uma ética que enforma a ação do estudante e se projeta posteriormente no exercício da profissão.

Outra perspectiva pesquisada para o ensino da ética foi realizada com professores que

ministram ética no Estado de Santa Catarina baseada numa perspectiva de educação em Paulo

Freire, esta pesquisa tinha como objetivo levantar a opinião destes professores sobre os

modelos utilizados para o ensino da ética, metodologias, o preparo específico destes docentes

para o ensino. Com o levantamento da contribuição dos docentes em relação à metodologia

utilizada para o ensino, os relatos foram os mais variados, utilizando desde a aula dialogada,

às discussões sobre a ética, dramatizações, filmes, pesquisas, mesas redondas, trabalhos em

grupo, e seminários. Quanto ao referencial bibliográfico destes professores, os autores citados

foram Landmann, Foucault, Germano, Vasquez, Queiroz,e outros (GELAIN, 1998).

Em relação à opinião dos professores sobre como deveria ser o ensino de ética, utilizo

a íntegra do comentário:

Problematizar questões importantes surgidas no cotidiano discutindo, também concepções teóricas; Integrar efetivamente, o ensino da ética com os demais currículos; Criar ou intensificar discussões sobre assuntos éticos entre os professores; Discutir assuntos éticos com os alunos, somente a partir das fases profissionalizantes; Criar ou estimular a formação continuada da ética; Criar ou estimular o preparo dos professores de ética. (GELAIN, 1998, p. 72)

Diante desta questão e com uma proposta de construção do conhecimento e também

por influência da Lei 9394/96 (DIRETRIZES PARA O ENSINO DE GRADUAÇÃO

PROJETO PEDAGÓGICO PUCPR, 2000), a Pontifícia Universidade Católica do Paraná

iniciou a partir do ano de 1998 e 1999 uma reestruturação e o desenvolvimento de uma nova

proposta pedagógica para os cursos de graduação de sua universidade, esta proposta originou

a elaboração de um projeto pedagógico que forneceu subsídios para o trabalho dos docentes.

A lei acima, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional deu início a um movimento de

análise crítica e reflexiva sobre o processo de ensino-aprendizagem da universidade em

43

questão, objetivando o desenvolvimento de habilidades do educando tais como: “aprender a

conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver, e aprender a ser”.(DIRETRIZES PARA

O ENSINO DE GRADUAÇÃO PROJETO PEDAGÓGICO PUCPR, 2000, p. 13)

A idéia de construção deste projeto pedagógico além do que foi citada acima, era de

uma construção coletiva, mas principalmente que estivesse em sintonia com a identidade da

instituição.

O projeto pedagógico do Curso de Enfermagem diz:

As exigências oficiais (por exemplo: as normas e diretrizes curriculares do governo) e a ‘cultura’ existente no meio universitário e na instituição precisam ser ‘traduzidas’, adaptadas ou alteradas para permitir o desenvolvimento de todos no trabalho de consecução de um projeto pedagógico da PUCPR que seja uma efetiva contribuição social e de alto valor científico e educacional (PUCPR PROJETO PEDAGÓGICO, 2000).

Outra questão que merece ser citada no projeto pedagógico da PUCPR está na questão

da função da educação, “educação precisa formar cidadãos competentes e comprometidos

com os ideais de justiça e paz, e principalmente que os conhecimentos construídos sejam úteis

para a sociedade”, como descrito no documento.(PUCPR PROJETO PEDAGÓGICO, 2000,

p. 18):

Outra questão pertinente e que vem ao encontro da idéia do projeto pedagógico da

universidade,em virtude de utilizar este embasamento para o seu projeto, é a Lei de Diretrizes

e Bases da Educação, que adota o trabalho com competências como eixo de estruturação dos

cursos de graduação, e este está expresso nas diretrizes curriculares nacionais de formação de

enfermeiros. Assim segundo Manou (2003, p. 349).

Tais exigências se expressam nos mercados de trabalho, com características diversas, e, em alguma medida, não podem ser desconsiderados pela formação. Contudo, elas podem e devem ser criticadas levando em conta a necessidade de recuperação das responsabilidades sociais da educação/educação superior (e, especificamente, da enfermagem) – em prol da formação de cidadãos, do resgate da integralidade do ser humano, da construção de sujeitos, da confrontação dos individualismos e exclusões diversas, da valorização da ação política e participação coletiva.

Há expectativa de que a Educação possa constituir a grande condição para fazer com

que se concretizem os ideais de paz, justiça, solidariedade, equilíbrio nas relações sociais e o

ideal de liberdade. As expectativas, no ensino superior, quase se tornam esperança, na medida

44

em que as universidades são as instituições mais apropriadas para capacitar as pessoas a

lidarem com a sociedade.

Outra proposta pedagógica diferenciada para a educação com foco na área da saúde e

voltada para a graduação em enfermagem, e a da Universidade Regional de Blumenau

(FURB), que utiliza uma metodologia baseada na Transdisciplinariedade, com adoção de um

currículo integrado apoiado em Princípios Essenciais, em Fundamentos Cognitivos, e em

temas relevantes, que objetiva privilegiar as diferenças de forma a respeitá-las e não eliminá-

las. (Silva, Keim. e Bertoncini, 2003)

No caso desta metodologia da trans, inter e disciplinar ela pode ser utilizada desde que

sejam feitos ajustes dentro da instituição de ensino, e que o planejamento pedagógico

favoreça esta opção de forma que os docentes de diferentes disciplinas possam discutir e criar

atividades de ensino-aprendizagem de forma coletiva e interligada. Nesta referida proposta os

horários e utilização dos espaços físicos devem viabilizar as ações conjuntas. (SILVA, KEIM

E BERTONCINI, 2003)

Com esta proposta de ensino a construção está baseada em uma proposta pedagógica

coletiva conforme o comentário descrito:

Entendemos que o docente ao implementar esta metodologia, está optando por sofisticar e aprimorar o planejamento de suas atividades de docência, de tal forma que diferentes disciplinas se adequem às mudanças e formas de condução da docência proposta pelo grupo. Nesta proposta o professor se caracteriza como um dodiscente e o estudante como um didoscente, de tal forma que professores e estudantes estejam o tempo todo ensinando e aprendendo, pelo fato de tudo ser inacabado e inconcluso.

Outra questão a salientar, que neste processo educativo da transdisciplinariedade na

área da educação que o planejamento não cabe exclusivamente ao docente, é uma discussão

coletiva onde são levados em conta os diversos interesses do grupo envolvido.

Nesta proposta educativa o planejamento pedagógico-didático, devem contar com uma discussão que possibilite listar os interesses e inquietações que sejam motivadores da dinâmica educativa pretendida. Não cabe ao professor estabelecer o programa do que será desenvolvido na atividade educativa, mas ao grupo determinar as grandes temáticas a serem tratadas. A partir destes interesses e motivações cabe ao professor atender a estes aspectos com o acervo do conhecimento que possui de forma diferente da convencional, na qual dissertaria e discorreria seus saberes para um público que os absorveria. Nesta proposta a aula conteudista conhecida como aula magna, se apresenta como algo secundário que deve ser adotada apenas ocasionalmente A postura do docente na condição de dodiscente deve a de animar,

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motivar e estimular seus estudantes para significarem e ressignificarem os conhecimentos que já possuem a fim de que decodifiquem as circunstâncias mutáveis e dinâmicas na qual vivem e passem a formular novas questões que deverão constituir novos conhecimentos e novas relações. (SILVA, KEIM E BERTONCINI 2003, p. 426)

No caso da referida metodologia da Transdisciplinariedade, é sugerido um roteiro para

apoio pedagógico aos docentes que porventura utilizem esta abordagem, possibilitando

ultrapassar a formalidade das especificidades de cada disciplina.

Diante disto, utilizo na íntegra o texto dos autores, para que dados específicos da

abordagem pedagógica não sejam perdidos ou mesmo tenham interpretações diferentes.

Este roteiro a partir da concepção de Silva, Keim e Bertoncini (2003) comporta nove

passos a serem desenvolvidos pelo professor, segue abaixo a sugestão e suas características:

1-Tema da aula e identificação Aqui deve ser indicado o tema que será tratado pelo conjunto de professores do grupo de trabalho. Como identificação, deve constar o nome dos discentes docente e das disciplinas que participam do processo, a série e turma a que se destina o roteiro, bem como a instituição. Deve conter a data de início e conclusão da atividade. Isto demonstra a importância do trabalho conjunto dos docentes buscando a interdisciplinariedade para o desenvolvimento de uma prática pedagógica mais efetiva.

2- Palavras-chave e Pesquisa Preliminares São indicadas algumas palavras que sintetizam o assunto a ser estudado,

para que os estudantes recuperem pré-requisitos básicos e fundamentais de postura e conhecimento necessários para o estudo em questão debatendo de forma preliminar o tema a ser estudado. Como motivação para a discussão pode-se apresentar um pequeno texto, um filme ou uma música que utilize palavras ou os assuntos mais relevantes para o tema em estudo. Dentre estas palavras é importante que sejam indicadas aquelas que situem: Contexto geográfico, histórico, social, econômico, político e cultural do tema. Segue-se um debate sobre as pesquisas referentes às palavras chaves, para contextualizar a temática em estudo e fazer a leitura de mundo e da história de vida dos alunos, onde se insere o tema em estudo. 3- Vivências de contato e animação Neste item ocorre a sensibilização dos estudantes para as dificuldades que a temática em estudo apresenta. O roteiro deverá sugerir atividades que coloquem os estudantes frente a frente com a temática em estudo para que sejam elaborados questões ou comentários que gerem um clima de envolvimento dos estudantes com a temática e para perceberem como os conhecimentos não podem ser construídos isoladamente. Os debates devem conduzir para a necessidade de incorporar conhecimentos de diferentes áreas para a resolução de um dado problema. Estas questões, ao serem debatidas, com os conhecimentos trazidos das etapas anteriores, darão conta de boa parte dos conteúdos anotados e previstos no planejamento. 4- Informações básicas Neste item os professores individualmente ou em grupo deverão apresentar informações que não foram citadas na atividade do item anterior. É a aula Magistral e de conteúdos específicos. Neste item podem ser desenvolvidos temas relevantes para as disciplinas isoladamente. 5- Propostas de atividades laboratoriais e demais recursos Se for o caso, o professor poderá propor atividades de pesquisa de campo ou em algum laboratório ou mesmo na biblioteca para ampliar os conhecimentos

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desenvolvidos nos itens anteriores. Este item é muito importante como proposta para desenvolver autonomia e a continuidade dos estudos. 6- Indicação de leitura obrigatória O conjunto de professores das disciplinas organizadoras do Roteiro indicam um texto de leitura obrigatória e cada grupo de alunos deve prepara uma síntese que será debatida em sala de aula em atividade com formato de seminário, no qual trarão mais informações e novas conclusões pela incorporação de texto com as atividades executadas nas tarefas propostas pelo Roteiro. 7-Vivência de aplicação Neste item os estudantes são convidados a executarem alguma atividade que coloque em prática o que foi discutido e aprendido diante de novas situações e novas circunstâncias. 8- Construção de problemas Um ponto fundamental nesta dinâmica educativa é a capacidade dos alunos enunciarem novos problemas. Este item nos remete a A. Einstein que disse que a verdadeira ciência está na capacidade de enunciar problemas pois a resolução pode depender de meras habilidades e capacidades físicas ou intelectuais. Assim, este item consiste em solicitar que os estudantes enunciem novos problemas decorrentes de todo o processo desenvolvido no Roteiro. Cabe esclarecer que os professores não têm a obrigação de responder às questões propostas pelos estudantes, mas é importante que sejam registrados e arquivados.

9- Construção de um relatório

Como o último item deste Roteiro os estudantes deverão preencher um relatório onde deverá analisar todo o aprendizado desenvolvido no roteiro. Este poderá ser um importante instrumento de avaliação para atribuir os conceitos avaliativos. Não existe a obrigatoriedade de atender a todos os itens propostos para o Roteiro.

Na perspectiva de (Silva, Keim, e Bertoncini 2003,p.427-428) educação trans e

interdisciplinar a avaliação é diferenciada sendo que todas as atividades desenvolvidas pelos

estudantes podem ser de alguma forma consideradas como material a ser avaliado.

Um aspecto importante deste processo tem relação com o empenho dos estudantes,

pois este empenho é considerado grande, e muitas vezes os conceitos são naturalmente mais

elevados do que na educação tradicional, mas um aspecto que deve ser mencionado é o fato

de que cada um dos estudantes ser avaliado de acordo com suas possibilidade e

potencialidades.

Fazendo um paralelo com o curso de enfermagem da instituição privada de grande

porte, a mudança na prática pedagógica tornou-se realidade, em virtude do esforço dos

docentes do curso terem assimilado rapidamente a importância da mudança do perfil do

profissional para a sociedade atual. A construção do Projeto Pedagógico do Curso de

Enfermagem da instituição privada citada acima, iniciou-se em 1998 e resultou em um

documento intitulado Projeto Pedagógico do curso em questão, que tinha como finalidade

propiciar sólida formação geral e humanista, incorporando as dimensões técnica, científico-

profissional, ético-político-social, educativa e de liderança.

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Outro fator que merece ser citado, é que as disciplinas foram substituídas por

Programas de Aprendizagem, ultrapassando a visão cartesiana da divisão do conhecimento,

procurando a integração dos docentes como descrito por Behrens (2000, p. 90):

A mudança do foco do ensino para a aprendizagem permite refletir e sugerir que as disciplinas passem a ser denominadas programas de aprendizagem (...) A sociedade do conhecimento acompanha um paradigma de inter-relacionamento. Não se trata de mudar a denominação de disciplinas, mas de criar um novo processo pedagógico. A partir desta concepção, passa-se a analisar e discutir as disciplinas ou os outros programas de aprendizagem a serem elaborados, de preferência, reunindo os professores por períodos para que possam conhecer todos os programas propostos na semestre e, posteriormente dos cursos em geral.

Apesar de todas estas particularidades citadas anteriormente em relação ao ensino de

enfermagem, existe um movimento de mudança de paradigma voltado para o ensino da ética

na enfermagem no Brasil, em virtude das discussões nas universidades e artigos publicados a

respeito do assunto em revistas científicas da área, porém, são movimentos isolados, mas

apontando para uma tendência.

Diante disto, fica evidente a necessidade de rever os conteúdos sobre ética utilizados

na graduação, as possibilidades são inúmeras, porém, deve-se elencar alguns pontos para

nortear o caminho e também para facilitar a organização e o planejamento deste programas.

Para (PASCHOAL, MANTOVANI e POLAK 2004, p. 5) o estudo da ética deve

vislumbrar alguns aspectos, tais como:

Educar para a responsabilidade; o indivíduo deve arcar com as conseqüências de seus atos; Educar para o senso crítico; o indivíduo deve criticar o que não conhece e não se deixar massificar; Educar para aguçar o sentido da justiça social; Educar para a partilha com disponibilidade; o indivíduo deve lutar contra o dar tudo; Educar para o esforço, lutando pela verdade e pela saúde; Educar para se personalizar

Neste momento a enfermagem tem a oportunidade de transformar o ensino da ética

nos cursos de enfermagem e conseqüentemente a sua prática, através de uma abordagem

pedagógica e de uma adequação de conteúdos e que fundamentalmente atenda as reais

necessidades da sociedade.

Aliado a este movimento de repensar e refletir sobre o ensino da ética oferecido na

graduação, agrega-se um outro grande desafio aos docentes de enfermagem, o resgate da

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valorização da profissão, do orgulho e da dignidade pela atividade que exercem, desenvolver

dentro dos alunos o fortalecimento destes sentimentos, buscando alcançar o desenvolvimento

da profissão e a transformação da prática profissional.

Estes conceitos devem obrigatoriamente fazer parte do pensamento dos docentes, e

para isto, devem acreditar primeiramente nesta possibilidade, pois como dito anteriormente, o

docente transmite valores e conseqüentemente nesta relação influencia os alunos com suas

idéias e julgamentos.

A enfermagem para exercê-la, necessita de prazer e não sofrimento, pois o prazer está

presente em situações positivas da vida, tais como: o gosto de viver, o prazer de tocar, de

sentir, de cantar, de desenhar, de relacionar-se com outros seres humanos e de trocar

experiências, estas simples ações fazem de nós seres humanos, criaturas diferenciadas e de

grandes potencialidades.

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4 A ÉTICA NA FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAG EM

Atualmente a questão ética tem sido foco das discussões e reflexões de várias camadas

da sociedade e comunidades científicas, em virtude do panorama destruidor que a humanidade

vem trilhando. Temos assistido situações de guerra entre os povos, medida de força entre

fortes e fracos, miséria, fome, descaso com a vida humana, todas estas questões sendo

justificadas em nome do progresso com sério risco de comprometimento da espécie e

destruição do mundo, com uma constatação inegável da crise ética e moral que a humanidade

vivencia. (Boff, 2003).

Como esta pesquisa aborda questões que envolvem o ser humano, seus valores, seu

ambiente, sua ética, o cuidado e suas interfaces, práticas pedagógicas no ensino da

enfermagem, além da mudança de paradigma, faz-se necessário o detalhamento de seus

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conceitos. O ser humano é um ser provido de sentimentos, desejos, com capacidade de

raciocínio, discernimento, e que se relaciona com outros em um ambiente. De acordo com

(CARRARO,1997, p. 26) Ser Humano “é um ser singular, integral, indivisível, insubstituível,

pleno na sua concepção de interagir com o mundo, interage com o meio ambiente, onde são

expressos crenças e valores que permeiam suas ações”.

Neste sentido Fortes (1998, p.14) amplia este pensamento com o comentário sobre esta

crise ética:

Na atualidade, vivenciamos uma sociedade pluralista onde coexistem diferente compreensões e interpretações sobre princípios e valores ético-sociais e não se aceita a existência de deveres e princípios absolutos como outrora.O revigoramento da reflexão ética também é resultado do fim das grandes utopias modernas e de projetos coletivistas. A sociedade manifesta descrédito com a perspectiva de que o progresso científico e tecnológico possa resolver problemas sociais crônicos, pois este progresso vem sendo acompanhado da ampliação do desemprego, do aprofundamento das desigualdades sociais e de graves atentados ao meio ambiente.

É necessário refletir sobre as mudanças que este novo século trouxe a humanidade,

uma crise moral refletida nas posturas e comportamentos dos seres humanos, sendo de suma

importância repensar o compromisso ético, visto que a ética não é algo acabado, mas que é

sempre refeita, construída e cuidada como uma morada humana. Para isto, faz-se necessário

discutir e debater estas questões, objetivando conhecê-las, gerar discussões, problematizar

para que surjam possibilidades de enfrentamento deste grande desafio. Nesse sentido Oguisso

(2005, p. 162) esclarece:

As normas éticas, assim como as leis sofrem efeitos das transformações sociais e históricas. Daí a necessidade de se acompanhar a evolução da reflexão ética e moral ao longo dos tempos, pois o modus vivendi, os valores e a própria cultura vão adquirindo novos enfoques, de acordo com as vivências e os interesses humanos em diferentes momentos da vida.

Ao longo do tempo uma situação nos chama a atenção: que apesar de todo o avanço

tecnológico, o progresso alcançado pela ciência, as grandes conquistas do homem, isto tudo

acabou levando os seres humanos a esquecerem o principal, que são as relações humanas, o

convívio em sociedade, a sua própria identidade, situação esta que levou ao individualismo e

ao retrocesso.

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Neste sentido da reflexão acima cabe o comentário de Boff (2004, p.13):

Estimativas otimistas estabelecem como data-limite para esta decisão o ano de 2030. A partir daí a sustentabilidade do sistema Terra não estaria mais garantida. E aí iríamos ao encontro de uma crise cujo desfecho é imponderável. A Carta da Terra, aquele documento produzido pela nova consciência ecológica e de ética mundial, e já assumido pela Unesco, adverte em sua introdução: “As bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis. A escolha é nossa: ou formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e da diversidade da vida”.

Mas por que chegamos a este nível de insensatez mundial já que a idéia de progresso

era a de melhorar o mundo, dar conforto as pessoas e aumentar a expectativa de vida dos seres

humanos, sendo fato que o desenvolvimento ético e moral não acompanhou o desenrolar do

progresso.

Sabe-se que um dos efeitos da globalização e do neoliberalismo, foi à idéia de

competividade, lucro, mercado, e o coletivo sendo substituído pelo unilateral em nome da

sobrevivência, com pensamento único para os problemas individuais. (BOFF, 2003).

Aliado às questões acima, o progresso tecnológico com o advento da comunicação e a

entrada da internet na vida das pessoas, resultou também no isolamento social, visto que hoje

não é mais necessário sair de casa para realizar tarefas básicas como fazer compras no

supermercado, pagar contas, trabalhar e até mesmo conhecer outros países, pois fazemos tudo

isto em frente ao computador.

Neste momento cabe refletir sobre estas questões, é importante voltarmos à origem da

palavra ética e moral, pois elas se interelacionam e produzem concepções diferentes quando

utilizadas. Sabemos que não existe um conceito único sobre o que é ética e moral, pois

existem diferentes entendimentos sobre o seus significados.

Como este estudo discute questões éticas e morais no trabalho dos profissionais de

enfermagem, é necessário discorrer sobre seus conceitos, pois a origem do termo ética provém

do vocábulo grego ethos que significava caráter, modo de pensar. A ética antes de tudo é uma

opção individual, ou seja, requer adesão íntima do indivíduo para a sua prática (SANTOS,

1997).

Em contrapartida a moral, são hábitos e costumes experienciados e vivenciados no

âmbito familiar e que acompanham o indivíduo por toda a sua vida, e diferem de uma cultura

para outra. Em regiões distintas o que é considerado adequado para um grupo, pode ser

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inadequado para outro, o que caracteriza a interferência da cultura, dos costumes, e da criação

de cada ser humano.

É importante comentar que existe uma inter-relação dos conceitos de ética e moral, em

virtude de suas origens, o que faz com que estes conceitos sejam utilizados muitas vezes de

forma incorreta. Ainda segundo Santos (2001, p.11) .

Moral é o conjunto de hábitos e costumes, efetivamente vivenciados por um grupo humano. Nas culturas dos grupos humanos estão presentes hábitos e costumes considerados válidos, porque bons; bons, porque justos; justos, porque contribuem para a realização dos indivíduos”.

Fazendo novamente uma volta a origem grega, ethos era uma derivação da palavra

ética, e se escrevia de duas formas diferentes, ethos com épsilon (o e longo), que significava a

morada humana, e também caráter e modo de ser, e com eta ,(o e curto) que quer dizer usos,

hábitos e tradições (BOFF, 2003).

Para definirmos melhor ainda as suas raízes, cabe o comentário de Boff (1999, p.37):

A ética é parte da filosofia. Considera concepções de fundo acerca da vida, do universo, dos ser humano e de seu destino, estatui princípios e valores que orientam pessoas e sociedades. Uma pessoa é ética quando se orienta por princípios e convicções. Dizemos, então, que tem caráter e boa índole. A moral é parte da vida concreta. Trata da prática real das pessoas que se expressam por costumes, hábitos e valores culturalmente estabelecidos. Uma pessoa é moral quando age em conformidade com os costumes e valores consagrados. Estes podem, eventualmente, ser questionados pela ética. uma pessoa pode ser moral (segue os costumes até por conveniência) mas não necessariamente ética (obedece a convicções e princípios).

Na concepção de (RIOS, 2000, p. 10) ética e moral são termos usados de forma

independente: “Os conceitos de ética tem sido utilizados indistintamente. Vale fazer a

distinção, apontando a moral como o conjunto de princípios, valores, regras que orientam a

conduta dos indivíduos em sociedade e a ética como a reflexão crítica sobre a moral”, E

complementa: “A ética enquanto atitude crítica, indagará sobre a consistência e a coerência

dos valores que orientam as ações, buscará seus fundamentos”.

Portanto, esta questão merece uma atenção especial, visto que estes termos e seus

respectivos conceitos causam uma certa ambigüidade quando relacionados.

Utilizo ainda esta citação como reforço para esta reflexão:

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Só é possível falar em comportamento moral quando o sujeito que assim se comporta é responsável pelos seus atos, o que envolve, por sua vez, o pressuposto de que pode escolher entre duas ou mais alternativas e agir de acordo com a decisão tomada. (OGUISSO apud VASQUEZ 2005, p. 163).

Tem-se conhecimento por intermédio de (BOFF, 2003) que o responsável pela criação

do primeiro código de ética teria sido o rei da Mesopotâmia chamado Hamurabi, que por falta

de limites de seu povo, em virtude do número de estupros, roubos, entre outras situações de

desrespeito da ordem, resolveu criar um código de comportamento ético o qual o seu povo

deveria seguir e que tinha como lema “Olho por olho, dente por dente”. Outra questão que

merece ser citada é que se existe a necessidade de criar-se um código de ética, Porque em

algumas situações o comportamento ético não se faz presente, além disto, a ética só pode ser

exercida pelos seres humanos, e estes devem ter liberdade de pensamento e de ação, sem

nenhum tipo de coação interna ou externa.

Portanto para (OGUISSO apud REALE 2005, p. 162) “toda norma ética expressa um

juízo de valor, ao qual se liga uma obrigação. Isso decorre de uma necessidade social de

garantir a conduta que é declarada permitida, determinada ou proibida”.

Atualmente como já foi dito anteriormente, convivemos com situações de desrespeito

com a vida humana fazendo com que a sociedade como um todo e o mundo repensem que

caminho escolher para que não entremos em um colapso. Neste sentido utilizo o comentário

de Angerami (1997, p.175-176):

Vivemos um tempo em que o trânsito da história da civilização humana parece passar por uma imensa convulsão, na qual os valores referenciais que funcionam como balizadores das estruturas de equilíbrio sociocultural estão caindo ou sendo severamente questionados. Instituições basilares como os modelos políticos, as religiões, os modelos econômicos e a própria estruturação familiar passam por profundos processos de revisão/transformação. Muitos dos paradigmas que fundamentaram esses modelos e que vigoraram como referenciais de um sem-número de processos relacionais não encontram mais sustentação, o que tem levado o homem a uma espécie de limbo no que tange a seus recursos simbólicos de representação dos elementos norteadores de condutas e relações. Nesse sentido, a ética das e nas relações interpessoais, sejam elas formais ou informais, vem sofrendo forte abalo, criando uma enorme lacuna nos sentidos profundos de interação, dando assim margem para o aparecimento de posturas e condutas que beiram a atrocidade.

Vale ressaltar, que a educação também passa por grandes mudanças, em face como foi

dito anteriormente das mudanças do mundo, necessitando romper posturas tradicionais, com o

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intuito de formar profissionais éticos e comprometidos. E ainda em relação à educação (RIOS,

2001, p.70) ressalta: “é um processo de socialização da cultura, no qual se constroem, se

mantêm e se transformam o conhecimento e os valores”, e complementa:

É preciso pensar criticamente no valor efetivo desses conceitos para a inserção criativa dos sujeitos na sociedade. Não basta ser criativo, é preciso exercer sua criatividade na construção do bem estar coletivo. Não basta se comprometer politicamente, é preciso verificar o alcance desse compromisso, verificar se ele efetivamente dirige a ação no sentido de uma vida digna e solidária. (2001, p. 108-109).

Portanto, se a educação é a socialização da cultura, o professor transmite valores

independente do nível que ela acontece, então é necessário que estes valores sejam firmes

pautados em uma ética responsável, reconhecendo a importância dos valores humanos como

prioritários sobre os valores econômicos, buscando a reflexão da ação e suas conseqüências.

Neste processo de reflexão sobre a questão da educação Rios (2000, p.9) ainda propõe:

A moralidade é uma das dimensões do comportamento humano em sociedade.Fazendo parte de um contexto social, o indivíduo tem seu comportamento orientado por princípios, regras, valores. Nas diversas instâncias da sociedade, ele desempenha seus papéis tendo como referência essa orientação, mais ou menos explícita conforme a natureza da instituição. A formação moral se dá, portanto, no processo de socialização, no qual se constitui a identidade dos indivíduos.

No sentido desta reflexão acima, a escola então precisa proporcionar condições para o

exercício da cidadania, propiciar ações que tenham foco no bem coletivo, objetivando a busca

da justiça, solidariedade, respeito mútuo, que são básicos na construção de indivíduos éticos.

Para complementar esta questão Boff (1999, p.22) comenta:

Outros pensam: precisamos de mais educação, de mais formação e de mais informação. Obviamente, importa socializar os conhecimentos, aumentar a massa crítica da humanidade e democratizar os processos de empoderamento dos cidadãos. Certamente o saber é imprescindível. Sem ele não debelamos os figadais inimigos da humanidade como a fome, a doença e a incomunicação. O saber nos confere poder. O saber e o poder nos levaram à Lua e já para fora do sistema solar. Ma a serviço de que projeto de ser humano, de sociedade e de mundo utilizamos o poder da ciência e da técnica? Exige uma filosofia do ser uma reflexão espiritual que nos fale do Sentido de todos os sentidos e que saiba organizar a convivência humana sob a inspiração da lei mais fundamental do universo: a sinergia, a cooperação de todos com todos e a solidariedade cósmica.

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Para isso, as escolas devem ser um lugar de enriquecimento das relações humanas que

facilitem tanto o desenvolvimento intelectual como também o humano, emocional, espiritual,

propiciando a formação de indivíduos comprometidos com a sociedade e com o planeta,

estimulando a mente, favorecendo o dom de cada ser humano, além de permitir que a

curiosidade do aluno seja sua aliada no seu desenvolvimento intelectual e moral. “Uma das

funções da educação é ajudar a compreender que tudo na vida está conectado com todo resto.

Em todas as grandes tradições do mundo, a ética desta tomada de consciência se expressa

com: “O que faço aos demais, faço a mim mesmo”.(GATE, 2000, Uma perspectiva

holística), nesta ótica utilizo a reflexão de Savater (1997, p.49):

Como se transmitem os valores morais ou cidadãos sem recorrer a informações históricas, sem dar conta das leis vigentes e do sistema de governo estabelecido, sem falar de outras culturas e países, sem fazer reflexões tão elementares como se queiram a psicologia e a fisiologia humanas ou sem empregar algumas noções de informação filosófica? E como pode instruir-se alguém em conhecimentos científicos sem inculcar-lhe respeito por valores tão humanos com a verdade, a exatidão, a curiosidade? Pode alguém aprender as técnicas ou as artes sem formar-se ao mesmo tempo no que a convivência social supõe e no que os homens desejam ou temem?

É claro que a escola não pode ser a única responsável pela construção de um mundo

melhor, porém se a ética estiver inserida e privilegiada em várias etapas da construção do

conhecimento, o aluno terá a possibilidade de uma análise crítica e capacidade de reflexão dos

problemas, com uma educação amparada em valores.

Com esta idéia apropria-se o pensamento de Rios ( 2000, p.11):

Para que o indivíduo seja capaz de exercer seus direitos, ele tem necessidade de estar preparado. Preparar para a cidadania, de maneira responsável e comprometida, significa proporcionar a ampliação das potencialidades dos indivíduos, colocar ao seu alcance os bens culturais, desenvolver o espírito crítico, que permite intervir e transformar a comunidade de que se faz parte.

A partir desta idéia agrega-se o pensamento de Fortes (1998, p. 12), que diz:

Os atos éticos devem ser livres, voluntários e conscientes. Para serem julgados eticamente é preciso que se caracterizem por afetar pessoas, o meio ambiente e/ou à coletividade. É também necessário que existam alternativas de ação diferenciadas, incompatíveis entre si, e sustentadas por argumentação racional.

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Para complementar esta reflexão utilizo o comentário de (OGUISSO apud REALE,

2005, p. 163) que diz :

ele defende a tese do chamado mínimo ético, que consiste em dizer que o direito representa apenas o mínimo da moral declarado obrigatório, para que a sociedade possa sobreviver. Dessa maneira, entende esse autor que as normas morais devem ser cumpridas espontaneamente, haja visto que não impõe sanção (pena) a quem não as obedece. Já as normas éticas v revestem-se da coercibilidade, ou seja, da obrigatoriedade do cumprimento. Por isso se diz que a moral para concretizar-se, autenticamente, precisa de adesão dos obrigados. O mesmo não ocorre com a norma legal, em que o destinatário da norma é obrigado a obedecê-la.

Nas ciências da saúde a questão ética tem sido bastante discutida, visto que os avanços

tecnológicos e descobertas científicas são enaltecidos em detrimento das questões humanas

abandonando-se os preceitos éticos. A enfermagem como uma profissão da área da saúde não

foge a essa situação, pois os enfermeiros estão centrados na prática no cuidado aos doentes,

preocupados com a tecnologia, centrados na técnica, muitas vezes esquecendo de olhar o ser

humano. Como foi descrita anteriormente a prática da enfermagem requer um preparo

adequado de seus profissionais, tanto no nível técnico como no humanístico e necessita então

de uma definição de seu trabalho e dimensão de sua atuação, visto que enfermagem é uma

profissão que atua junto a indivíduos enfermos, fornecendo assistência integral a estes,

aliando conhecimentos teóricos e práticos para o seu desenvolvimento, sendo imprescindível

que estes profissionais estejam comprometidos com a vida humana.

De acordo com o pensamento de Carraro (1997, p. 28):

Enfermagem é uma profissão que articula ciência e arte. Ciência porque reúne conhecimentos teóricos e práticos organizados e validados; arte face a usar a criatividade, habilidade, imaginação e sensibilidade e outros recursos ao aplicar a ciência na sua prática assistencial.

Assim sendo os profissionais de enfermagem necessitam de uma formação adequada,

pautada em pilares firmes, propiciando uma aprendizagem efetiva com foco em um ensino de

qualidade, responsabilidade e comprometimento com a dignidade e justiça.

Outro fator que interfere na conduta dos seres humanos é o ambiente no qual ele vive,

ou seja, o ambiente é um dos fatores que pode influenciar as ações destes indivíduos, podendo

ser uma influência negativa ou positiva em sua formação. O “meio ambiente é o contexto que

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permeia e afeta a vida do ser humano e sua família. Envolve condições e influências internas e

externas e apresenta infinita diversidade” (CARRARO,1997, p. 26).

A respeito deste assunto o comentário de Fortes (1998, p. 16) reforça esta idéia:

As profissões e ciências médico-biológicas ampliam seu descrédito perante a sociedade, pois sua falibilidade e imperfeição estão cada vez mais evidentes, apesar da constante evolução técnico-científica de nossos tempos. A exarcebada especialização e tecnificação do trabalho de assistência à saúde acaba num progressivo afastamento do profissional de saúde de seus pacientes, tornando a relação entre eles cada vez mais distante, impessoal e despersonalizada. A incorporação tecnológica de modo a não contemplar as subjetividades resultou na fragmentação dos pacientes, que são divididos em patologias, em órgãos, repartidos por diversos profissionais, diluindo-se a responsabilidade pela assistência às necessidades globais de sua saúde.

A ética na enfermagem vem sendo construída ao longo da profissão, muito mais

centrada nos deveres da profissão, ou seja, está mais relacionada ao código de ética da

profissão, do que propriamente na reflexão e na análise crítica de suas ações, portanto o

enfermeiro necessita ter clareza dos aspectos éticos que estão relacionados com suas

atividades profissionais, e também os que estejam interligados com a sociedade, e ter

consciência que uma postura ética depende exclusivamente de sua vontade pessoal.

Na sociedade de forma geral, todos precisam conhecer as leis como forma de regular a

conduta dos indivíduos e permitir uma convivência pacífica. Na enfermagem especificamente

é de suma importância que todos os profissionais de enfermagem conheçam as leis, tanto as

que regem a sociedade, como as da profissão, objetivando uma assistência efetiva sem danos

ou prejuízos a seus clientes.

O primeiro código de Ética em Enfermagem foi elaborado pela Associação Brasileira

de Enfermagem em 1950, posteriormente em 1975 foi aprovado o Código de Deontologia em

Enfermagem que foi reformulado com a denominação de Código de Ética dos Profissionais de

Enfermagem nos anos de 1993 e em 2000, sendo que o ensino da ética profissional sempre

esteve presente nas escolas de enfermagem do Brasil.(Oguisso,2005)

Para melhor clareza das questões acima e a distinção entre ética e deontologia, utilizo

o comentário de Fortes (1998, p. 29) que diz:

Também se faz necessária à distinção entre Ética e a Deontologia. Esta última á a ciência dos deveres. Constitui um conjunto de normas que indicam como devem se

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comportar indivíduos na qualidade de membros de determinado corpo sócio-profissional. É denominada habitualmente de ética profissional.

Em relação ao código de ética de enfermagem, este mostra somente regras de bom

comportamento, fugindo de uma reflexão ética profunda acerca dos problemas com os quais

este profissional poderá se deparar em seu cotidiano, e o seu conteúdo não esgotam e nem

exprime os dilemas éticos desta referida atividade profissional.

Dentro desta perspectiva Paschoal, Mantovani e Polak (2004, p. 2) comentam:

No ensino da enfermagem a ética faz parte do currículo como disciplina, com conteúdos que devem permitir a criação de espaços para a reflexão, com característica de fazer ‘parar para pensar’, objetivando fazer raciocinar adequadamente bem para conduzir com competência, comprometimento e responsabilidade a profissão. A ética pode ser definida como saber que agrega e integra as várias disciplinas do currículo de enfermagem, para que todos tenham linguagem comum, relacionada aos princípios éticos que norteiam nossa profissão.

Na enfermagem exista a necessidade eminente de rever o processo educativo para o

ensino da ética, além também da idéia do cuidado reducionista e fragmentado, visto que a

enfermagem tem como foco principal de suas atividades o cuidado ao indivíduo, cuidado este

que deve ser integral, buscando ultrapassar o discurso de uma ética alienada rumando para

uma prática calcada na igualdade, na liberdade e no prazer do exercício da profissão.

Baseado nesta perspectiva (BOFF, 2000, p. 99) comenta: “O resgate do cuidado não

se faz às custas do trabalho e sim mediante uma forma diferente de entender e de realizar o

trabalho. Para isso o ser humano precisa voltar-se sobre si mesmo e descobrir seu-modo-de-

ser-cuidado”. E complementa:

Há algo nos seres humanos que não se encontra nas máquinas, surgido há milhões de anos no processo evolutivo quando emergiram os mamíferos, dentro de cuja espécie nos inscrevemos: o sentimento, a capacidade de emocionar-se, de envolver-se, de afetar e de sentir-se afetado. Só nós humanos podemos sentar-nos à mesa com o amigo frustrado, colocar-lhe a mão no ombro, tomar com ele um copo de cerveja e trazer-lhe consolação e esperança. Construímos o mundo a partir de laços afetivos. Esses laços tornam as pessoas e as situações preciosas, portadoras de valor. Preocupamo-nos com elas. Tomamos tempo para dedicar-nos a elas. Sentimos responsabilidade pelo laço que cresceu entre nós e os outros. A categoria cuidado recolhe todo esse modo de ser. Mostra como funcionamos enquanto seres humanos.

59

A enfermagem como uma profissão que atua fundamentalmente junto a outros

indivíduos, necessita preparar adequadamente os seus profissionais, visto que o discurso ético

do profissional não corresponde às atitudes em seu cotidiano, pois muitas vezes o enfermeiro

discrimina os pacientes conforme suas origens sociais, assume uma atitude autoritária perante

a sua equipe e também em relação ao paciente, além de algumas vezes impor condições piores

de assistência aos mais humildes.

A questão ética é muita séria, principalmente na área da saúde que atua junto a seres

humanos, portanto necessita ser enfrentada com compreensão da realidade social, pois

repercute na atividade profissional, refletir junto aos educadores de enfermagem abordagens

pedagógicas que dêem suporte aos profissionais para atuarem junto a situações difíceis, e que

ultrapasse o discurso vazio para uma ação efetivamente ética e comprometida com a

sociedade e com os seus semelhantes.

Assim sendo os profissionais de enfermagem necessitam de uma formação adequada,

pautada em pilares firmes, propiciando uma aprendizagem efetiva com foco em um ensino de

qualidade, responsabilidade e comprometimento com a dignidade e justiça.

O entendimento de que os profissionais de enfermagem têm uma missão como seres

humanos, que é cuidar da vida, quando cuidamos de alguém com esmero, competência, e

qualidade, crescemos interiormente, e reproduzimos este sentimento em nosso ambiente, seja

este ambiente profissional ou pessoal, conseqüentemente, contribuímos para um mundo com

mais perspectiva de harmonia e de resgate dos valores esquecidos.

60

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

A pesquisa qualitativa foi eleita como a mais adequada para a construção desta

pesquisa, pois propicia ao pesquisador trabalhar uma infinidade de dados, fonte de grande

valia para o resultado da pesquisa. Assim torna-se possível ao pesquisador durante o processo

de construção reavaliar seu direcionamento e foco do trabalho.

Analisar os dados qualitativos significa “trabalhar” todo o material obtido durante a pesquisa, ou seja, os relatos de observação, as transcrições de entrevista, as análises de documentos e as demais informações disponíveis. A tarefa de análise implica, num primeiro momento, a organização de todo o material, dividindo-o em partes, relacionando essas partes e procurando identificar nele tendências e padrões relevantes. Num segundo momento essas tendências e padrões são reavaliados, buscando-se relações e inferências num nível de abstração mais elevado (LUDKE E MENGA 1986, p.45).

Diante da dimensão ética e de sua importância para a formação do enfermeiro e

mesmo de qualquer outro profissional e também para a condução da pesquisa, foi necessário

definir os períodos do curso, os docentes, bem como os programas de aprendizagem e os seus

respectivos conteúdos onde a ética era trabalhada na graduação em enfermagem.

Desse modo e com a finalidade de levantar estes referidos programas, surgiram as

primeiras dificuldades, pois foi feito um levantamento em uma reunião geral do curso onde

estavam também presentes docentes de outras áreas e que ministram aulas no curso, sobre

quais programas de aprendizagem a ética era contemplada. A resposta foi que vários docentes

trabalhavam conteúdos sobre ética em seus programas, porém, estes conteúdos não estavam

descritos em seus referidos programas, e sim, eram momentos que de alguma forma a ética

era mencionada, pois era pertinente ao conteúdo naquele momento, porém, estes conteúdos

estavam fragmentados em vários programas e os demais docentes não tinham conhecimento

sobre. estes conteúdos.

Outra questão que merece ser citada, reside que na universidade em questão, a ética

com bases filosóficas faz parte do currículo, e é considerada uma disciplina institucional, ou

seja, é obrigatória para todos os cursos de graduação, sendo que no curso de enfermagem

especificamente ela possui uma carga horária de 36 horas e é ministrada por um docente com

formação em filosofia.

61

Outro dado que merece ser citado, é que as primeiras noções sobre ética na graduação

são iniciadas no 1º período do curso, com um conteúdo baseado na discussão sobre o

significado dos termos ética e moral e com uma introdução sobre o código de ética de

enfermagem, sendo que este conteúdo está dentro de um programa de aprendizagem

denominada “Bases Instrumentais para o Cuidado”, com carga horária de 36 horas.

Assim sendo como foi comentado anteriormente, a idéia inicial era convidar todos os

docentes do curso de enfermagem para participarem da pesquisa Ao realizar a investigação

documental nos Programas de Aprendizagem definiu-se que seria mantida somente a

participação do docente que ministra o programa de ética institucional, pois a pesquisa

permitiu perceber que os conteúdos de ética utilizados pelos demais docentes não estavam

descritos em seus referidos programas de aprendizagem, somente eram abordados em

conseqüência de outros assuntos e de certa forma necessitava uma incursão pelo universo da

ética. Em relação à participação dos alunos do 1º período, ela foi expressiva, pois obtivemos

uma colaboração de quase a totalidade dos alunos, em contrapartida, dos alunos do último

período a participação foi menor, porém, não menos significativa, este menor número de

participantes foi em virtude da turma de alunos ser menor e também do alto do número de

faltosos no dia agendado para a coleta dos dados.

Para a construção desta pesquisa, foram necessárias cinco (5) fases como citado

anteriormente, na primeira fase foi feito um levantamento do referencial teórico disponível

sobre a ética e as práticas pedagógicas para o ensino na graduação em enfermagem.

A segunda fase constou de um levantamento documental dos conteúdos dos programas

de aprendizagem do curso de graduação onde a ética está inserida, e a metodologia utilizada

pelos docentes. A 3ª fase da pesquisa foi destinada a construção dos instrumentos de coleta de

dados direcionados aos alunos do 1º e 8º períodos do curso, e também realizado o

levantamento de dados com auxílio deste instrumento, com o objetivo de analisar as

concepções destes alunos em relação à ética ofertada na graduação. A proposta foi de avaliar

tanto a questão da ética ofertada, bem como os valores que estes alunos tinham no início e no

término do curso de enfermagem, e se estes valores foram modificados em virtude do

conteúdo sobre ética que foi oferecido na graduação.

Para realizar esta etapa foi utilizado um questionário (anexo 1) com perguntas abertas

para os alunos que ingressaram neste ano de 2006 e para os alunos do último período que

ingressaram no ano de 2003. Do universo de alunos do 1º período que são de um total de (62)

sessenta e dois, responderam a pesquisa 51 alunos. Em relação aos alunos do 8º período,

foram preenchidos. 27 questionários de um universo de (52) cinqüenta e dois, este número

62

mais baixo de alunos como citado anteriormente,se deve ao elevado número de faltosos ao

encontro agendado com os professores responsáveis pelo período.

Vale ressaltar que para preservar o anonimato dos alunos, foram utilizados números

com a finalidade de não identificar o sujeito e a referida resposta, e em virtude do volume de

respostas, foram escolhidos os depoimentos mais significativos para a pesquisa.

Em relação ao levantamento de dados dos docentes do curso, foi realizada a entrevista

gravada somente com o docente que ministra a disciplina de ética, embora tenhamos vinte e

cinco (25) docentes no curso de enfermagem, e muitos deles trabalhem conteúdos sobre ética

em seus programas de aprendizagem.

A quarta fase foi destinada a aplicação de um questionário a dez (10) egressos do

curso, e na quinta (5) fase foi elaborada a construção de uma proposta para o ensino da ética

na graduação baseada em uma abordagem pedagógica diferenciada.

Das contribuições obtidas dos participantes destacamos inicialmente as do docente que

ministra o programa de aprendizagem de ética:

5.1 A CONTRIBUIÇÃO DO DOCENTE SOBRE O PROGRAMA DE APRENDIZAGEM DE ÉTICA DA GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

5.1.2 Conteúdos propostos no programa de aprendizagem de ética

Com a finalidade de investigar sobre o conteúdo com o qual trabalha o docente que

ministra ética , foi proposto o seguinte questionamento: O conteúdo sobre ética com o qual

trabalha está inserido em que PA do Curso de Enfermagem, e qual período você atua?

A colocação do docente foi a seguinte:

“Normalmente o PA de ética que eu trabalho no curso de enfermagem é um PA institucional, então ele existe para todos os cursos de graduação da universidade juntamente com PA de Processos do Conhecer, de Filosofia, de Cultura Religiosa e de Ética, então na verdade o PA de ética não está inserido, ele não pertence ao curso de enfermagem, ele é um programa da instituição, da universidade para os cursos de graduação. Normalmente ele é trabalhado no 5º período, mas já trabalhei no 3º período e no 4º período”.

63

Fica claro que o programa de aprendizagem de ética, considerado pela universidade

como programa de aprendizagem institucional, o seu conteúdo é generalizado, destinado a

todos os cursos de graduação, não sendo este PA construído em conjunto com os demais

docentes do curso e muito menos com foco nos profissionais daquela área em questão.

5.1.3 Tempo de Docência na Ética

Em relação ao tempo que trabalha com conteúdos sobre ética, foi feita a seguinte

indagação: Há quanto tempo você leciona ética na graduação em enfermagem? “Há

quatro anos”.

Uma questão bastante discutida na área de enfermagem diz respeito ao preparo dos

docentes para ministrar ética aos alunos. É pertinente dizer ser importante que este docente

tenha vivência de prática profissional, pois facilita a reflexão e discussão de questões éticas

relacionadas à prática diária do profissional, mas também seria importante que este docente

agregue outras potencialidades, como curso de extensão onde a ética seria o foco das

atividades, pós-graduação em ética , entre outros.

5.1.4 Indicação dos Conteúdos Propostos na Ética

Outro questionamento relevante feito ao docente foi sobre o conteúdo de ética com o

qual trabalha no curso de enfermagem, utilizando a seguinte indagação: Qual o conteúdo que

você trabalha?

“O conteúdo de ética em enfermagem é dividido em duas partes: A 1ª parte do conteúdo é uma abordagem teórica sobre a ética do ponto de vista da história da filosofia, então por exemplo; desde a fundação da ética pelos gregos, a determinação das ações éticas feitas pelo Aristóteles, a ética do ponto de vista da filosofia moderna do Kant, até a ética contemporânea na história da filosofia. Depois que a gente discute os fundamentos teóricos da ética, nós fazemos uma abordagem a respeito de temas éticos que são daí do interesse da enfermagem, como por exemplo: eutanásia, distanásia, relações de trabalho, programas de saúde, então o programa está dividido nestas duas relações uma parte teórica, os fundamentos teóricos da ética na história da filosofia, em um segundo momento, uma abordagem de questões específicas da ética”.

64

É pertinente comentar, ser de grande valia para o profissional de enfermagem conhecer

a ética do ponto de vista da filosofia, discutir seus fundamentos e concepções, aliado é claro

com os assuntos relacionados à profissão, como citado pelo docente, pois são de extrema

importância para o trabalho do profissional, visto que são temas vivenciados com muita

freqüência e que requer do profissional preparo adequado e valores bem fundamentados.

5.1.5 Discussão sobre a Ética na Abordagem Pedagógica

Do mesmo modo da pergunta anterior, foi feito um questionamento sobre a integração

entre os programas de aprendizagem e os referidos professores responsáveis, bem como sobre

as abordagens pedagógicas utilizadas,com o seguinte questionamento: Em algum momento

você discutiu com outros docentes o conteúdo do seu PA e a abordagem pedagógica

utilizada?

“Sim, o programa de aprendizagem de ética é discutido internamente com os professores que trabalham este PA em outros cursos, eu participei de algumas reuniões de sistematização no curso de enfermagem, foram poucas, mas eu participei. Por problemas de incompatibilidade de horário, o fato também do programa de aprendizagem ser institucional, aparentemente é um PA de fora, então para o curso as coisas acabam se resolvendo um pouco fora, o que não é bom, ser fora do curso de enfermagem, o ideal é discutir o PA de ética do curso de enfermagem com o curso de enfermagem, isto não tem sido feito muito, mas é um trabalho que precisa ser realizado”.

A questão da integração entre os programas de aprendizagem e seus respectivos

docentes, ainda requer grandes esforços por parte da coordenação do curso de graduação em

enfermagem, e também por parte dos docentes, visto que esta integração ainda não ocorre de

forma efetiva, em virtude de diversos aspectos, sendo inclusive alguns citados pelo docente.

Porém, esta integração é necessária para que os programas de aprendizagem tenham uma

seqüência lógica dentro da graduação, possibilitar a contribuição e/ou sugestão sobre aspectos

do programa por parte de outros docentes, discussão dos conteúdos, integração entre outros

programas de aprendizagem, entre outros.

Questionado novamente sobre a estruturação do programa de aprendizagem de ética e

sua integração com o curso de enfermagem, visto que os docentes do curso de filosofia são os

responsáveis pela definição do programa, o docente esclarece:

65

“O que eu sempre procuro fazer é levar o programa de aprendizagem para a coordenação do curso, mostrar o PA para a coordenação, solicito sugestões de modificação do PA, do contrato didático, e para que essas sugestões dêem conta dos interesses do curso de enfermagem, então o que a gente mantêm que parece estrangeiro, estranho ao curso de enfermagem, são os fundamentos teóricos, dados típicos da filosofia. Mas, a segunda parte que são as últimas nove semanas de aula, são 18, são discussões pontuais do interesse do curso de enfermagem, da formação em enfermagem”.

Solicitado novamente para esclarecer a carga horária do programa e sua divisão, o

referido docente explicou que são 18 (dezoito) horas de fundamentos teóricos, e as outras 18

(dezoito) horas, de discussões sobre questões de bioética e ética profissional.

5.1.6 Revisão dos Conteúdos de Ética

Outra questão importante que tem relação com a integração dos programas de

aprendizagem e sua construção, é a atualização de seus conteúdos, como é feita a seleção

destes conteúdos pelo docente e a periodicidade das mudanças, desta forma utilizamos a

seguinte pergunta: Com que freqüência você revê e/ou modifica o conteúdo do PA que

você trabalha na graduação?

“Anualmente o programa de aprendizagem é modificado, todo ano, na verdade ele é semestral, mas tem sido mantido assim, o PA que eu começo no 1º semestre, quando há uma segunda turma no segundo semestre do ano o PA se mantêm. Normalmente ele é modificado, algumas alterações são revistas na passagem de um ano para outro. O que muda são por exemplo textos, bibliografias e atualização, então por exemplo, nas questões de ética profissional e da bioética, é sempre importante trabalhar com casos que a própria sociedade sugere, que são divulgados pela imprensa, que são discutidos em artigos científicos. Então é sempre importante uma atualização desta bibliografia, e isso é feito com certa freqüência”.

A questão da atualização dos programas de aprendizagem e seus referidos conteúdos e

conseqüentemente bibliografias, textos, entre outros, é imprescindível, requer do docente um

exercício constante de renovação, de busca, de novas metodologias que auxiliem o docente na

construção da reflexão dos alunos por intermédio da teoria aliada à prática, da consciência

crítica a respeito dos assuntos trabalhados, oportunizando a estes alunos uma formação mais

condizente com a realidade da sociedade, preparando-os para atuarem com coerência.

5.1.7 A Docência da Ética no Curso

66

Uma das preocupações do Projeto Pedagógico da universidade sempre foi à integração

entre os docentes, e isto incluía o conhecimento dos programas de aprendizagem e seus

respectivos conteúdos. Desta forma era imprescindível questionar se esta integração acontece

dentro do curso de enfermagem. Com o objetivo de levantar esta questão, foi utilizada a

seguinte indagação: Você possue conhecimento de quais docentes lecionam ética e os

respectivos conteúdos? O docente esclarece:

“Então, eu sei que o curso de enfermagem a disciplina de ética de enfermagem não é um programa de aprendizagem de um único professor, com exceção desta ética institucional, ela é distribuída entre vários programas de aprendizagem não é isso? Então pessoalmente, eu acho como uma atitude dos professores de sempre discutir questões éticas, acho que isto é necessário, não precisa ser uma determinação, todo o professor além de transmitir conhecimento, ele transmite valores. Então está de certa maneira discutindo ética. Agora eu acho, uma opinião pessoal, seria importante ter um PA de ética profissional, com um programa, com um professor, ter uma cadeira de ética profissional, que o ensino de ética não fosse fragmentado”.

O conteúdo de ética dentro do curso de enfermagem está fragmentado em vários

programas de aprendizagem, sendo difícil determinar os conteúdos e o local onde estão

inseridos dentro de cada programa, sendo que estes conteúdos muitas vezes não estão

claramente definidos dentro dos respectivos programas. Outra questão que merece ser citada,

é que não existe uma seqüência lógica da ética dentro da graduação, muitas vezes os docentes

repetem os conteúdos em diferentes períodos, não levando em conta as necessidades dos

alunos naquele referido momento, permitindo desta forma que assuntos relevantes para aquele

período da graduação fiquem deslocados, ou até mesmo não sejam abordados, mostrando

claramente que os docentes ainda possuem dificuldade em integrarem suas disciplinas.

O docente ainda afirma a importância da ética profissional ser ministrada por um

docente da área, como relata abaixo:

“Com certeza, ética profissional tem que ser dada por um profissional da área, afinal de contas é o profissional da área quem lida com os problemas da área. Eu acho fundamental ter na discussão da ética profissional alguém especificamente da área, por exemplo o que ocorre muitas vezes em alguns cursos chamar um jurista para trabalhar ética profissional. Ética profissional não se resume a um conjunto de leis que regulamenta a profissão, é muito mais que isto. Não é a visão jurídica, ela é um dos elementos que compõem a ética profissional. Então, é fundamental ter um profissional da área, se não o processo já começa falível, porque vai falar dos problemas, mas quem não vivencia os problemas e não tem contato direto com eles fica difícil, então a análise começa a ser feita pela metade, uma análise com olhar estrangeiro”.

Em relação à ética profissional como foi citado acima pelo docente, é de fundamental

importância que ela seja ministrada por um docente da área de enfermagem, em virtude da

possibilidade ampla de discussão e vivencia da profissão. Na graduação, esta ética é

67

trabalhada por um enfermeiro, porém, ela acontece em momentos que não estão bem claros

para os docentes do curso, necessitando assim defini-los por seu grau de importância e

relevância para o profissional.

Foi feito outro questionamento quanto à divisão dos conteúdos, e se deveria manter a

ética relacionada à filosofia ministrada por um filósofo e a ética profissional por um

enfermeiro, o docente complementa:

“Eu acho que sim, aí tem duas coisas interessantes que são importantes para debater, primeira a ética geral, esta ética institucional a idéia não é discutir a formação do enfermeiro e as implicações éticas da formação do enfermeiro, mas é discutir a relação da pessoa humana com os princípios e valores morais, por isso que ela é para toda a universidade. Então ela tem uma finalidade diferente da ética profissional, então é discutir a própria formação do universitário, as implicações de responsabilidade na formação da vida universitária, da realização da ciência, dos compromissos por exemplo que nós temos como indivíduos, como cidadãos, então tem uma diferença. Aliado a isso tem alguns problemas que também são pertinentes para a enfermagem, a relação com a vida e a morte, a ética profissional deve ser dada por um profissional de enfermagem, porque aí a gente está entrando num campo onde o que conta é a melhor análise dos problemas, é conhecer as especificidades da área. Então por exemplo: um dos assuntos fundamentais da ética profissional ela se refere as relações internas de trabalho, a ética profissional trata dos compromissos, dos deveres do profissional bom com a sociedade, ou a própria profissão e com os colegas de trabalho. Bom, quem conhece a realidade dos trabalhadores de enfermagem é que tem essa formação, é quem trabalha na área. Então quem tem condições de reconhecer quais são os problemas mais prementes, é o próprio profissional de enfermagem. Se você aliar o discurso exterior do filósofo com a análise específica do enfermeiro, o que você consegue: dois discursos que são ao mesmo tempo objetivos e que são especializados na área a qual eles naturalmente entendem, eu acho que isto que é importante”.

Esta contribuição do docente aponta para uma postura coerente, pois o docente com

formação em enfermagem e que ministra a ética profissional, propicia ao aluno uma visão

ampla dos problemas da área, já que os vivencia freqüentemente. Outra questão fundamental,

é que o enfermeiro se relaciona com diversos profissionais da área da saúde, gerencia as

relações de trabalho em várias estâncias, lida com momentos de vida e de morte, portanto,

necessita de um preparo adequado para lidar com estas questões, questões estas que quando

refletidas, permite ao profissional um salto qualitativo em suas ações.

Na mesma perspectiva do pensamento acima, da importância da ética para os futuros

profissionais, e a necessidade de um preparo adequado e formação direcionada de ética e

bioética para os docentes responsáveis por este programa, foi responsável pela elaboração do

seguinte questionamento ao docente: Você possue alguma outra qualificação (ex: pós-

graduação em ética ou cursos de extensão) em que a ética foi o foco dos estudos?

Obtivemos o seguinte esclarecimento do docente:

68

“O meu mestrado foi feito em Filosofia e Metodologia das Ciências, e discutido fundamentalmente o uso de abordagens, as relações que estão implicadas na prática da ciência fundamentalmente com a realização de valores”.

5.1.8 Abordagem pedagógica no Ensino da Ética

Portanto se este ensino é um elemento básico na formação do enfermeiro e da

enfermagem, consideramos importante à opinião do docente sobre a melhor forma e a

abordagem pedagógica mais efetiva para o ensino da ética na graduação, pois esta reflexão

fornece bases para as discussões que proporciona. Desta forma indagamos sobre esta questão

importante com a seguinte pergunta: Qual a sua sugestão para o ensino da ética na

graduação em enfermagem, e qual seria a melhor abordagem pedagógica?

“A primeira que tem que manter o ensino da ética aliado aos fundamentos teóricos da filosofia, e eu sou plenamente favorável a uma disciplina de ética profissional ministrada por um professor de enfermagem, um profissional formado em enfermagem. A melhor abordagem é entender o que é ética profissional, começar a significar isto de uma maneira bem clara para os alunos e para o próprio docente. Determinar qual é o campo de atuação do enfermeiro e quais as questões que envolvem a ética profissional, construir este ensino a partir dos problemas, isto é importante, dos problemas interiores ao exercício da profissão, das relações do enfermeiro com a sociedade e a questão de saúde do Brasil”.

Fica evidente a necessidade de se repensar a prática pedagógica utilizada para o ensino

da ética, em virtude das mudanças que a sociedade vive, sendo que um aprendizado com um

ensino baseado na problematização das questões, com discussões reflexivas, aproximam os

alunos da realidade, favorece a correlação da teoria com a prática, possibilita a formação de

profissionais mais atuantes, comprometidos com seu papel na sociedade, e principalmente

contribui para uma melhor formação destes respectivos profissionais.

Aliado a isto, a abordagem pedagógica deve incorporar outros atributos para serem

trabalhados com os alunos em seus programas de aprendizagem, como o resgate da

capacidade do ser humano de relacionar-se, pois as relações humanas são poderosas e vitais

para os indivíduos, o respeito pelo outro e pela vida, a sensibilidade e a espiritualidade.

69

5.2 CONTRIBUIÇÃO DOS EGRESSOS DA GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

Quanto ao levantamento de dados dos egressos do curso, é importante salientar que

estes participantes foram selecionados dentro das instituições hospitalares conveniadas a

universidade, com um total de (10) dez ex-alunos, e como requisito básico, eles deveriam ter

no máximo (05) anos de conclusão da graduação em enfermagem, visto que quanto maior o

tempo de formação mais difícil seria a obtenção de dados fidedignos com a realidade. Desta

forma utilizaremos números visando à identificação dos sujeitos e a preservação do

anonimato, buscando selecionar as respostas mais relevantes para a pesquisa.

5.2.1 Percepção sobre o conteúdo de ética

O questionamento utilizado para realizar o levantamento desta questão foi o seguinte:

Qual a sua percepção sobre o conteúdo de ética ofertado na Graduação em

Enfermagem? A grande maioria dos sujeitos relatou que a ética ofertada na graduação foi

extremamente teórica, insuficiente e fragmentada, com poucas incursões pela prática, não

sendo suficiente para embasar o exercício profissional do enfermeiro, sendo de pouca

utilidade para a profissão. Dentro dos relatos, destaco as contribuições:

“Para minha turma o conteúdo foi muito teórico” (Sujeito 1). “Disciplina teórica, maçante e que fazia apenas memorização de regras e leis” (Sujeito 5). “Em nossa profissão somos cerceados pela ética, mas vejo que o conteúdo da graduação é muito teórico, pois várias questões poderiam ser enfatizadas para nossa vivência prática” (Sujeito7). “Acho abrangente, embora é vista só na teoria, pois poderemos por em prática só quando estamos atuando; pois quando somos acadêmicas não temos responsabilidades diretas como na atuação” (Sujeito 3). “O conteúdo que foi ofertado durante a graduação, foi insuficiente e fragmentado. Não foi suficiente para promover uma reflexão crítico-reflexiva” (Sujeito 2). “O conteúdo ofertado na graduação em enfermagem aborda vários temas. Na minha percepção eles não são aprofundados, eles são discutidos, exposto... para termos um conhecimento, mas não me levou a refletir para mudar minha idéia, opinião. Os temas apresentados relembraram algo; aprendi pouca coisa, faço parte de uma família onde estas questões sempre são discutidas; minha mãe é enfermeira; meu pai é militar; minha irmã nutricionista; eu antes de fazer graduação era auxiliar, trabalhava no OS e estava lidando diretamente com estes assuntos (morte, cuidados); no tempo que eu fiz o curso de auxiliar alguns temas foram abordados, e eu não conhecia, aí sim tive mudança em minha opinião e meus conceitos. Na graduação os assuntos também foram abordados, mas já tinha meus conceitos definidos , talvez para aqueles alunos que entraram na universidade sem estes conhecimentos tiveram mudança em seus conceitos” (sujeito 4). “Deficitário, sou sincera em dizer que não tive conteúdo ético com qualidade na graduação” (Sujeito 6).

70

“Poderia haver uma abordagem mais atualizada, enfatizando as questões atuais que envolvem a enfermagem, como relacionamento interpessoal (entre enfermeiro e equipe, enfermeiro e demais profissionais), células tronco, eutanásia, etc...”. (Sujeito 9). “Na graduação recebi conceitos gerais de ética, bioética e ética profissional, os professores abordaram os conteúdos de forma abrangente, porém, apenas ficamos com conteúdos subjetivos e alheios à prática profissional e pessoal” (Sujeito 10)

Os depoimentos dos sujeitos enfatizam que a ética ofertada na graduação foi baseada

principalmente em regras e normas que regulamentam o exercício profissional, conteúdo este

necessário para a formação do enfermeiro, porém, não abordou as questões prioritárias e

importantes para o profissional. Além disto, não favoreceu a reflexão sobre temas críticos da

prática profissional, como o relacionamento interpessoal entre a equipe, limite entre a vida e

morte, entre outras, apontando de acordo com a maioria dos depoimentos para a fragilidade

dos conteúdos de ética da graduação, confirmando que no aspecto da ética esta formação foi

deficitária. Com essa visão os alunos esperam que o seu professor apresente como relata

Behrens (1996, p.68):

O domínio do conteúdo da disciplina e da metodologia; o bom relacionamento com os alunos; a clareza nas explicações; a experiência profissional, a paciência, a compreensão e a dedicação; a capacidade de realizar aproximações da realidade do mundo atual com o conhecimento proposto; a pontualidade e assiduidade.

5.2.2 Mudança de conceitos e valores

Em relação à comparação da mudança de conceitos e valores em virtude de ter cursado

a graduação, foi solicitado aos egressos o seguinte posicionamento: Houve mudanças em

seus conceitos sobre algumas questões éticas discutidas ao longo da graduação (ex.

morte, eutanásia, moral, cuidado, saúde) em relação ao período que cursava a

graduação? Se houve, quais foram?

De forma geral a grande maioria dos sujeitos envolvidos afirmou que seus conceitos

foram modificados em virtude de discussões feitas na disciplina de ética ou de conteúdos

71

trabalhados dentro de programas de aprendizagem, porém, relatam que apesar das discussões,

estas não eram conclusivas, sendo que dois sujeitos relataram que não houve crescimento ou

modificações em seus valores. Destaco os depoimentos relevantes:

“Sim, acredito que houve aprimoramento dos conceitos e valores”. (Sujeito1) “Sim houve poucos acréscimos com relação à questões éticas, com relação a cuidado de enfermagem, sigilo de informações, relação interpessoal” (Sujeito 2). “Sim sobre o cuidado, hoje percebo que a dimensão é muito maior do que supunha”. (Sujeito 8). “Sim , em relação a morte (através de um livro do professor Maranhão), consegui fazer uma trajetória sobre os rituais que envolvem o processo adoecer e morrer, principalmente na velhice, doenças crônicas. Hoje em dia com os avanços tecnológicos, a morte se tornou mecânica” (Sujeito 10) Na análise das respostas dos depoimentos acima, possibilita verificar que o

crescimento e a mudança de valores para os sujeitos está associado principalmente a aquisição

de conhecimentos a respeito das normas, deveres e punições do código de ética profissional,

demonstrando que estes valores não estão claros para os referidos profissionais, sendo que

esclarecem também que as discussões oportunizadas na graduação, em momentos de reflexão

sobre questões éticas , não permitiram a conclusão das idéias, deixando uma lacuna

importante em suas formações, demonstrando em alguns depoimentos a confusão na

interpretação dos conteúdos oferecidos.

5.2.3 Introdução da ética e a abordagem pedagógica

Considerando que a ética é imprescindível na formação do enfermeiro e requer a

oportunidade de reflexão de seus atos, e que aliado a isso o interesse do aluno aumenta

quando é oportunizada sua participação ativa, fica evidente a necessidade de buscar novas

formas de condução deste aprendizado. Da análise das contribuições em relação à abordagem

pedagógica para o ensino da ética, fica evidenciado que através da teoria aliada a uma prática

mais real, voltada para a discussão de casos do cotidiano da profissão, o ensino seria mais

efetivo e contribuiria para uma capacitação mais adequada dos alunos. Das colocações dos

referidos alunos destaca-se:

“Acho que se deve discutir muito mais o código de ética da enfermagem, inclusive o professor deveria ser um enfermeiro, que além da parte teórica sobre o assunto, pudesse trazer exemplos práticos para a profissão, que muitas vezes depois de formados não sabemos como enfrentar” (Sujeito9). “Teoria da problematização” (Sujeito8).

72

“Leitura, discussão de casos reais e as condutas tomadas nestes casos, busca prática de assuntos e soluções que estas equipes tomariam diante destes assuntos” (Sujeito 6). “Poderia ser abordado na forma de discussões entre os alunos de acordo com sua experiência e seu pré-conceito, onde cada um defendesse sua questão, pois a maneira que eu vejo, não é a maneira que o outro. E essa troca poderia influenciar nas questões, e o professor entrando de forma a dar suporte” (Sujeito 4). “Deve ser em pequenas aproximações ao tema, poderia ser contínuo de início ao fim. Discussões de casos reais, discussão e reflexão sobre o código de ética, definições e realidade”. (Sujeito 2) “Deve ser mais enfática e relacionando com a realidade e a vivência profissional” “A utilização de estudo de caso é uma maneira prática e objetiva sobre esse assunto” (Sujeito7). “Por meio de discussões, na vivência nos estágios e estudos de caso, onde o aluno não só vê apenas o professor atuar, mas também a ética envolvida em cada caso.” (Sujeito 5). “Através de estudos de casos, situações que vivenciará após a faculdade. O objetivo principal do estudo da ética não é julgar, e sim demonstrar os prós e contras de uma determinada situação, fazendo com que o aluno tome uma decisão ética” (Sujeito 10)

5.2.4 Conteúdos utilizados como profissional

Frente às questões relacionadas à utilização de conteúdos sobre ética adquiridos na

graduação e utilizados em sua vida como profissional, verificou-se uma tendência da maioria

dos sujeitos em elencar o relacionamento interpessoal com a sua equipe e com os demais

profissionais, e questões relacionadas à morte como conteúdos que foram úteis neste

processo. Desta forma elegeu-se os seguintes depoimentos:

“Princípios fundamentais autonomia, direitos, educação continuada, deveres, agir, atuar sem discriminação, proteção contra imperícia, imprudência, negligência, tratar a equipe com respeito, orientação familiar sobre o estado do cliente e se tratamento”(Sujeito 8). “Muitos doa conteúdos que utilizo agora além de adquiridos na graduação, foram através de leituras, literaturas e discussão com os demais profissionais. Dentre os mais freqüentes que utilizo é com relação a relacionamento com equipe (advertências, condutas dos funcionários, atos de indisciplinas), pacientes (sigilo de informações), e na forma de abordar o paciente” (Sujeito2). “Comentários sobre outros colegas de trabalho, respeito aos familiares no cuidado e morte do seu familiar” (Sujeito6). “A morte está em nosso dia a dia, questões como eutanásia, conversas banais entre a equipe enquanto atende o paciente, forma agressiva de tratar o paciente, saber separar a assistência e valores morais” (Sujeito 9). Vários, eutanásia, aborto, distanásia, transplante de órgãos, transfusão em testemunhas de Jeová” (Sujeito7). “Eutanásia, morte encefálica, hemotransfusão e aspectos religiosos, condutas éticas com a equipe” (Sujeito 5). “ Sigilo profissional, morte, bioética (estudos com pacientes)” (Sujeito 10)

73

5.2.5 A Ética na graduação e sua contribuição

Em relação à contribuição da ética ofertada na graduação em enfermagem e a sua

contribuição para o aprimoramento das ações destes sujeitos, ficou evidenciado que somente

alguns sujeitos relatam embasar suas ações baseados na ética oferecida na graduação, porém,

os demais depoimentos são contrários a esta tendência colocando que a ética em nada

contribuiu para a melhoria de suas ações, além de pouco significativa em relação a sua

dimensão, evidenciando a necessidade imediata de reestruturação do programa de

aprendizagem de sua condução.

Destaco as contribuições que afirmam que obtiveram a melhoria das ações como

profissional de enfermagem:

“Sim, garantindo a todos os pacientes cuidado individualizado, vendo-o como ser bio-psico-espiritual”. Procuro agir com autonomia, ainda que outros profissionais tentem intimidar. Incentivo à educação continuada para aperfeiçoamento da equipe, e incentivo individual. Estar em contato com a família dando informações sobre o estado do cliente e procedimentos que serão realizados, esclarecendo suas dúvidas. Devido a supervisão direta procuro proteger os clientes dos danos causados por imprudência, negligência ou imperícia. Trato a equipe com respeito sem discriminação ou protegendo alguns membros, jamais deixo de assinalar suas faltas, mas sempre buscando soluções” (Sujeito 8). “Contribuiu me preparando para enfrentar algumas situações, mas mesmo assim acho que ainda é insuficiente” (Sujeito 9). “Fortalecendo minhas opiniões em questionamentos anteriormente não tinha uma opinião formada, mas acho que deveria ser melhor discutido em sala de aula, pois a prática de enfermagem exige muito, e temos que tomar decisões muito rapidamente e às vezes esquecemos da ética” (Sujeito 7). “Sim avaliando melhor nossas atuações frente a alguns dilemas. Porém, acredito que se fosse exposto de forma prática (estudo de caso e estágio) teria sido melhor, pois assimilaríamos melhor o conteúdo” (Sujeito 1). “Sim, pois me fornece atributos para poder atuar, embora ache que sejam poucas horas” (Sujeito3). “Sim, como citei anteriormente, o conteúdo abordado nos faz refletir sobre as nossas ações enquanto profissional e ser humano. A medida que evoluímos passamos por diversas situações que nos fazem refletir sobre qual seria a ação correta naquele momento. Na minha opinião, o exercício diário de uma conduta ética é o auto policiamento de nossas ações durante o dia” (Sujeito 10).

Um ponto importante apontado pelos sujeitos, foi que o profissional de enfermagem é

constantemente envolvido por situações onde a ética está envolvida, porém as contribuições

ressaltadas mostram a necessidade de reavaliar a carga horária destinada ao ensino da ética,

pois com um tempo maior, as reflexões e as discussões poderiam ser ampliadas, utilizando

uma abordagem pedagógica que possibilite a discussão de problemas da realidade da

sociedade e da prática profissional, auxiliando na formação dos referidos profissionais,

74

5.3 A Contribuição dos Alunos do 1º Período

Para entendermos a concepção dos alunos que ingressam na graduação em

enfermagem sobre alguns aspectos como a motivação de sua opção profissional, sua

concepção sobre determinados conceitos, fatores considerados importantes para este grupo de

alunos, definiu-se sobre a aplicação do mesmo instrumento de coleta de dados entregue aos

alunos do último período da graduação, objetivando a comparação das idéias entre os

respectivos grupos, bem como identificar a escala de valores dos respectivos alunos.Para isto

questionou-se o entendimento do aluno sobre o termo ética. Ressalto as seguintes respostas:

“É saber se comportar diante da sociedade” (Sujeito 12). “Entendo por ética, o modo de ser e agir de um indivíduo perante a sociedade” (Sujeito 28). “É um processo de atitudes e posturas tomadas diante de situações vigentes, como o ato de respeitar os direitos dos outros” (Sujeito 50). “É tudo aquilo que se faz nas normas da sociedade. Ética seriam regras, algo para seguir, para poder ser reconhecido e respeitado profissionalmente e também como ser humano” (sujeito 41). “É ter uma postura correta em relação ao próximo e a sociedade, agindo conforme o aprendizado da universidade e ao longo da vida, visando sempre o bem estar físico e mental do cliente e família” (Sujeito 38). “Conjunto de normas e regras estabelecidas que devem ser cumpridas, caso contrário haverá punição penalidades pré-estabelecidas” (Sujeito 44).

Nos depoimentos acima, houve interpretações diferentes em relação ao entendimento

sobre o que ética, pois metade das respostas foi baseada no modo de agir em sociedade, com

regras de regulação da conduta para o bem estar de um grupo específico, o que demonstra que

no grupo de alunos estas interpretações estão adequadas, em virtude de estarem baseadas no

respeito ao próximo como forma de agir em sociedade.

As demais contribuições estão direcionadas a questão da ética no âmbito profissional,

como as regras que regem a profissão de enfermagem, onde foram colocadas questões como

respeito aos colegas de profissão, o comportamento mais adequado dentro do campo de

trabalho, as obrigações e punições se estas normas forem infringidas, demonstrando que para

alguns a ética só foi ressaltada no aspecto profissional.

Acho importante salientar, que talvez estes depoimentos tenham sido direcionados

somente para a área profissional, em virtude de terem acontecido em uma sala de aula da

graduação em enfermagem, o que propiciou este paralelo.

Em relação ao(s) motivo(s) que levaram estes alunos a optarem pelo curso de

enfermagem, em sua grande maioria as respostas estão vinculadas a oportunidade de exercer o

75

cuidado a outro indivíduo, estar sendo útil à sociedade, estar em contato com outros seres

humanos. Principalmente no sentido de ajudar os mais necessitados, características como a

caridade e a benevolência também fazem parte das contribuições, pois estão sempre presentes

no perfil dos indivíduos que optam pela profissão.

Dentro deste pensamento sobre a história da enfermagem, cabe a reflexão de Paixão

(1979, p.17) quando afirma:

Há no trabalho da enfermeira três elementos principais, considerados básicos em nossos dias: espírito de serviço (ou ideal), habilidade (arte) e ciência.O mais importante é, evidentemente, o espírito de serviço, essa inclinação natural do homem, ser social por excelência. Esse espírito precisa atingir elevado grau naquelas que se propõem ao cuidado dos doentes e à preservação da saúde. Foi ele o primeiro em ordem cronológica e é o primeiro na importância. Quando não havia ciência, era o espírito de serviço que realizava, já embrionariamente, aquilo que ainda hoje constitui alguns dos objetivos da enfermagem: dar conforto físico e moral ao doente, afastar dele os perigos, ajuda-lo a alcançar a cura. A arte foi se formando em seguida, de mistura com supertições e conhecimentos empíricos.Só mais tarde veio a verdadeira ciência.

Os outros depoimentos mostram que a opção foi em decorrência de já atuarem na área

de enfermagem como auxiliares e técnicos, e mesmo por influência familiar. Destaco as

contribuições significativas:

“Porque eu sempre gostei da área da saúde, qualquer coisa que envolvesse o cuidar humano” (Sujeito

13).

“O contato humano, o poder ajudar aquele que precisa” (Sujeito 16). “Sempre gostei da área da saúde, e o curso de enfermagem possibilita um contato maior com o paciente. E esse contato é o que julgo mais importante, e que torna a profissão mais gratificante” (Sujeito 17). “Gosto de ajudar as pessoas de alguma maneira, atua há mais de 15 anos na área, e me identifico com a profissão.Estou fazendo o curso para adquirir mais conhecimento” (Sujeito 25). “Por gostar de cuidar do outro, de ser necessária para ajudar ou até recuperar o próximo, nas horas mais dificieis ou não. Poder ser útil” (Sujeito 27). “Foi uma maneira de ajudar e estar próximo daquele que necessita. A vontade de atender as necessidades humanas. O amor pela profissão” (Sujeito 33). “Sempre admirei esta profissão e me identifico muito com ela, todo o ser humano necessita de cuidado, e eu gostaria muito de ajuda-los. Acho que para ser um bom profissional, é necessário ter dom, e acho que tenho o dom de enfermeira, por isto fiz a opção” (Sujeito 45). “Escolhi enfermagem pois acho que é uma profissão que me atrai por saber ajudar a acolher o próximo em um momento difícil” (Sujeito 40). “Estou cursando enfermagem porque me identifico com o ato de cuidar, desde criança tenho esse dom de cuidar das pessoas” (Sujeito 50). “O primeiro e principal motivo é de estar ajudando ao próximo, mesmo que não tenha reconhecimento, ajudar quem necessita de cuidados e de atenção” (Sujeito 52)

76

Acho relevante descrever alguns depoimentos de alunos que apontam que a

enfermagem não foi sua opção profissional inicial, pois inequivocamente confundem a função

do médico com a da enfermagem, considerando a enfermagem como uma opção secundária.

Estas colocações surgiram em virtude de uma das indagações do questionário ser sobre o(s)

motivo (os) da escolha do curso, ou seja, as respostas demonstram o pouco conhecimento em

relação à atividade profissional do enfermeiro e sua diferenciação em relação ao curso de

medicina.

Destaco as colocações dos referidos alunos:

“Não poder fazer medicina por hora e ser um futuro médico mais sensível, eu tenha tido contato direto e integral com as pacientes” (Sujeito 15). “Eu não escolhi exatamente enfermagem, Entrei no curso apenas porque não passei em medicina, mas ao ler artigos de enfermagem estou começando a gostar do curso pelo fato do contato humano ser mais sincero do que em medicina. Como enfermeira não tenho apenas pacientes, e sim ‘amigos’eternos” (Sujeito 3). “Eu amo a área da saúde , a minha primeira opção era ser médica, na verdade futuramente ainda é, mas o que está mais perto do meu alcance, tanto financeiros como também de ter passado no vestibular para enfermagem. E é por isso que estou aqui, pois eu tenho acima d tudo amor pela área da saúde” (Sujeito29).

Outra questão importante era conhecer a concepção destes alunos sobre o que é ser

enfermeiro, pois estão no 1º período do curso e seria pertinente verificar o grau de

conhecimento sobre a profissão escolhida. Desta forma destaco as contribuições:

“Ser um líder, que compreenda sua equipe, mas sempre procurando ensinar, discutir questões em busca de melhorias, tenha técnica e competência para tratar do paciente, e acima de tudo ser humano, capaz de entender as diferenças, sem deixar- se levar pelo preconceito” (Sujeito3). “Enfermeiro na minha concepção, é aquele profissional de saúde que deve estar sempre disposto a cuidar do físico e do emocional do paciente, sempre que for solicitado” (Sujeito 21). “É uma pessoa que se dispõe a se doar ao outro, auxiliando na prevenção e recuperação e reabilitação dos que dele necessitam” (Sujeito 43). “O enfermeiro tem que ser prestativo, atencioso, ajudar, agüentar algumas barras que ás vezes não é fácil, entre outras coisas, tem que gostar de ser enfermeiro. Amor à profissão” (Sujeito 37). “Ser um bom cuidador” (Sujeito 50). “Cuidar de outro ser humano com profissionalismo, porém sem esquecer o afeto, dedicação, etc...” (Sujeito 44). “No meu caso é me empenhar ao máximo para cuidar e aliviar mesmo que em parte a dor e o desconforto físico, psíquico e emocional do próximo. Claro fazer isto com amor” (Sujeito51).

A concepção de ser enfermeiro dos alunos, fica bastante clara a questão da doação ao

próximo, da dedicação irrestrita, e do amor pela profissão, características que fazem parte da

história da profissão, e que apesar da passagem dos anos, ainda estão presentes na fala dos

alunos e profissionais de enfermagem. A ideologia da enfermagem sempre foi marcada desde

77

o início de suas raízes com conceitos como abnegação, obediência, subserviência, e

dedicação, e isto de certa forma marcou profundamente a profissão de enfermagem, como se

todo enfermeiro tivesse como requisito básico para atuar na profissão ser obediente e servil,

pois se acreditava que não possuíam visão crítica da sociedade, porém, deveriam atender e

amparar os clientes necessitados.

Para auxiliar nesta afirmação utilizo o comentário de Oguisso (2005, p.62):

Para substituir as religiosas, os médicos necessitavam de auxiliares com qualidades de devotamento, submissão e rigor na ordem e limpeza, como eram as religiosas, mas sem caráter confessional de determinada religião. Queriam uma espécie de religiosa leiga, que aceitasse submeter-se a eles. Para isso queriam recrutar jovens de origem modesta a quem iriam ensinar os princípios de higiene, que lhes dariam competência na limpeza hospitalar. Essa atitude de caráter manual mostrava o papel dessa auxiliar do médico a quem deveria se submeter sem jamais querer substituí-lo e ao mesmo tempo executar o trabalho de limpeza e higiene, que foram alçados ao status de técnica asséptica, que seguia um ritual sagrado dentro dos hospitais, especialmente nas salas de cirurgia.

Outra questão importante, é que para alguns alunos o enfermeiro deve estar pronto

para atuar em qualquer nível de necessidade de seu cliente, seja ela psicológica, física ou

espiritual, evidenciando que a imagem de enfermeiro não está clara para a grande maioria

destes alunos.

Desta forma foi feita uma outra indagação a respeito dos atributos necessários a um

enfermeiro, destaco as contribuições mais relevantes:

“Responsabilidade, conhecimento técnico, autoridade, afeto, amor pela profissão” (Sujeito 5). “Responsabilidade, o cuidado com o ser humano, e tem que estar satisfeito com a sua profissão, fazendo realmente o que gosta” (Sujeito 13). “Conhecimento, responsabilidade, amor pelo que faz” (Sujeito 16). “Observação, responsabilidade, compaixão, carinho e amor pela profissão” (Sujeito 21). Amor pelo que faz, ser humano, ter cuidado com quem precisa” (Sujeito 26). “Postura, dignidade, competência, amor pela profissão, coragem para apontar ou assumir erros, mostrando o correto” (Sujeito 3). “Ter conhecimento teórico e prático, possuir sensibilidade, ser observador, profissional, solidário” (Sujeito39). “Responsabilidade, profissionalismo, ética, sensibilidade e dedicação” (Sujeito45). “Principalmente vocação, a habilidade e a arte de cuidar bem do próximo” (Sujeito 41). Uma pessoa que tem que ter além do conhecimento técnico, tem que ter amor a aquilo que faz, e fazer tudo com amor, respeito e dedicação” (Sujeito 43).

Os atributos mais citados pelos alunos como necessários a um enfermeiro foi o amor a

profissão, característica ressaltada em vários depoimentos, além do conhecimento científico

78

também descrito como fundamental para um bom profissional. Percebe-se entre os alunos que

estão iniciando a graduação, aspectos como o amor e a dedicação à profissão,sendo bastante

privilegiados e respeitados entre o grupo.

O questionamento sobre a “Moral é”, trouxe os seguintes posicionamentos:

“É tudo aquilo que adquirimos ao longo de nossa vida, se é honesto a pessoa tem moral” (Sujeito 25). “Moral é aquilo em que acredito, são os meus conceitos, objetivos de vida, uma conduta que se constrói a cada dia” (Sujeito 39). “Saber lidar com todos da mesma maneira, ter sua própria idéia fixa sobre as coisas e não mudar, saber seus princípios” (Sujeito 48). “Defender os valores éticos e segui-los, refletindo nas atividades diárias.Exercer a ética” (Sujeito 53). “Fazer o certo e o errado para ter respeito” (Sujeito 46). “Padrões estabelecidos pela sociedade, o qual o indivíduo tem que seguir” (Sujeito 17). “Um padrão imposto pela sociedade” (Sujeito 34). “Fazer coisas certas para ter a razão de corrigir os outros” (Sujeito 26). “Saber se comportar diante da sociedade, não ter problemas com ninguém” (Sujeito 12).

Na questão do entendimento dos alunos em relação ao significado de moral, fica

evidenciada a dificuldade dos mesmos em refletir e definir este conceito, sendo que a grande

parte dos depoimentos não pode ser aproveitada em virtude da confusão das idéias,

inviabilizando a utilização de seus relatos.

Os depoimentos relevantes fazem uma conexão de moral com a construção de valores

e princípios ao longo da vida do indivíduo, é ter claro o que é certo ou errado, saber

comportar-se em sociedade para obter respeito de seus semelhantes.

E finalmente no questionamento feito aos alunos sobre o grau de importância em suas

vidas de alguns conceitos como família, profissionalismo, caráter entre outros, ficou

evidenciado que a família dentro da maioria dos depoimentos é colocada no mais alto posto

dentre todos os outros, sendo que o caráter e a dignidade obtiveram também boas colocações.

Percebe-se também uma dificuldade dos sujeitos em diferenciarem alguns conceitos,

talvez porque eles se interelacionem, configurando em conceitos parecidos. Este

questionamento talvez tenha que ser revisto, em virtude da elaboração desta indagação, e dos

poucos subsídios fornecidos para a conclusão da referida pergunta.

5.4 CONTRIBUIÇÃO DOS ALUNOS DO 8º PERÍODO

79

A questão do entendimento da ética como um atributo indispensável para a formação

do enfermeiro é uma questão incondicional, para isso faz-se necessário compreender sua

importância e o seu significado como profissional de enfermagem. Desta forma foi feito um

questionamento aos alunos do último período da graduação sobre o significado da palavra

ética, visto que estes alunos tiveram conteúdos sobre ética ao longo do curso. A grande

maioria das contribuições, estava baseada em normas ou diretrizes que estabelecem formas de

convivência em sociedade, sendo que os demais depoimentos estavam vinculados a prática

profissional, postura frente aos demais profissionais, regras e normas determinadas pelo

código de ética da profissão, tais como: o sigilo profissional, respeito ao cliente entre outros.

As respostas mais relevantes são descritas abaixo:

“São princípios adquiridos por um indivíduo na sociedade, conhecimentos e valores que o tornam capaz de conviver na vida social e profissional”. (Sujeito 9) “Ética são padrões e posturas exigidos pela sociedade que regem um grupo de pessoas ou comunidade”. (Sujeito 7) “Conjunto de normas e regras estabelecidas e acordadas entre um grupo, que visa o funcionamento do ser humano e da sociedade, tem um caráter pessoal”. (Sujeito 3) “Valores e conceitos determinados para viver na sociedade atual”. (Sujeito 10) “Normas estabelecidas para viver em sociedade”. (Sujeito 11) “Ética é o conjunto de conceitos e valores agregados que nos dão diretrizes para que possamos viver em sociedade”. (Sujeito 2) “Preceitos que normatizam o agir em sociedade” (Sujeito 8)

Outra questão importante para a pesquisa, foi identificar os motivos da opção destes

sujeitos em cursar enfermagem, visto que quando gostamos da atividade a qual nos dedicamos

e optamos profissionalmente, a possibilidade das ações serem mais efetivas e bem realizadas é

muito maior. Para isto utilizamos o seguinte questionamento: Justifique o (s) motivo (os) de

sua opção em cursar enfermagem.

Das respostas destacamos as seguintes contribuições:

“É um curso que visa o cuidado, área a qual me sinto a vontade para trabalhar e tentar propiciar conforto e melhorar o próximo” (Sujeito 10). “Eu me identifico com a área da saúde, ajudar o próximo e garantir sua qualidade de vida” (Sujeito 5). “Por gostar da profissão e entender o meu papel de auxílio à sociedade” (Sujeito 3). “Me identifico com a profissão, gosto do cuidado” (Sujeito 6). “Auto-realização, poder auxiliar o próximo, minimizando o sofrimento” (Sujeito 7). “É um curso que oferecia a oportunidade de trabalhar ajudando as pessoas, conceito que nos dias de hoje está esquecido” (Sujeito 2). “Sempre tive empatia em cuidar dos outros e principalmente ajudar quando possível” (Sujeito 17).

80

“Identificação com a área, essência de ser enfermeiro, faz com que me sinta mais responsável, não só com o paciente, mas com todas as pessoas a minha volta” (Sujeito 14). “Sempre gostei da área da saúde. Optei por enfermagem porque imaginava ser a profissão que mais tinha contato com o paciente e que passava a maior parte do tempo ao seu lado prestando assistência” (Sujeito 13).

Os demais depoimentos mostram que a opção profissional foi baseada na oportunidade

que a enfermagem oferece em termos de campo de trabalho, inclusão facilitada no mercado de

trabalho após a formação, e por já atuarem na área da enfermagem nas demais categorias de

enfermagem, como auxiliares e técnicos, e também alguns depoimentos que relatam que foi

por influências familiares, e até daqueles que não sabiam ao certo o que era ser enfermeiro

quando iniciaram a graduação.

Diante disto foi necessário fazer uma outra indagação referente à idéia de ser

enfermeiro, em virtude de estarem no último período do curso, e poderem a princípio definir

este papel com maior clareza. Ressaltamos as seguintes respostas:

“Ser enfermeiro é ser responsável pelos seus atos e pelos atos do que estão sob sua supervisão, atos estes que estão diretamente relacionados com a qualidade de vida das pessoas” (Sujeito 26). “Deve exercer liderança servidora junto a sua equipe, deve ser competente, dedicado, responsável e ser capaz e liderar” (Sujeito 8). “Profissional que atua com seres humanos (direta ou indiretamente). É um modificador na saúde das pessoas. É um direcionador na equipe de saúde tanto da enfermagem quanto dos outros profissionais de saúde” (Sujeito 27). “Atuar para o bem de um ser humano que tem alguma fragilidade, com também com a equipe que necessita de direcionamento e apoio” (sujeito 4).

Os depoimentos dos alunos apontam para a concepção de um enfermeiro que tem a

preocupação com o cuidado, profissional que passa maior tempo ao lado do cliente em relação

a outros profissionais da área de saúde, que visa o bem estar do cliente e dos demais, e

também é responsável pelo cuidado sistematizado. Aliado a isto, os alunos colocam que o

papel do enfermeiro é ser um líder em potencial, assim deve preocupar-se com o trabalho e

motivação de sua equipe, ter capacidade de influenciar e modificar o comportamento dos

indivíduos a sua volta.

Outra questão importante é que alguns participantes pontuaram aspectos como a

dedicação, benevolência, a questão do servir, fazendo uma relação com a história de nossa

profissão.

81

Em decorrência destes aspectos que estão sempre presentes nos discursos dos

profissionais de enfermagem, foi feita uma indagação em relação aos atributos necessários a

um enfermeiro utilizando a seguinte indagação: Que atributos você acha que são

imprescindíveis a um enfermeiro? Selecionamos as respostas mais relevantes:

“Conhecimento sobre tudo que envolve o corpo humano de maneira profunda. Prática para a realização de procedimentos. Humano com as pessoas. Saber trabalhar em equipe” (Sujeito 27). “Responsabilidade, flexibilidade, competência, postura profissional, liderança, conhecimento” (Sujeito 26). “Liderança com relação à equipe de enfermagem, observação, organização” (Sujeito 21). “Ser líder, humano, equilibrado, conhecimento” (Sujeito 11). “Pontualidade, flexibilidade, ética na convivência e para resolver os assuntos; conhecimento científico, controle emocional frente aos problemas diários como também diversas situações como a morte; Rigor” (Sujeito 4). “Conhecimento, amor à profissão e aos pacientes, ética e postura” (Sujeito 13). “Empatia, paciência, saber ouvir e ter conhecimento para garantir seu espaço” (Sujeito 10). “Pontualidade, humanidade, conhecimento científico, ético, religioso e técnico” (Sujeito 17). “Conhecimento, técnica, ética” (Sujeito 15). “Liderança, conhecimento técnico-científico, responsável, competente” (Sujeito8). “Pontualidade, humanidade, conhecimento científico, ético religioso e técnico” (Sujeito 17).

Os atributos mais citados pelos alunos foram o conhecimento científico, e a liderança,

além da habilidade de trabalhar em equipe, sendo que a ética foi citada somente em oito (8)

depoimentos, entretanto, a moral não foi citada em nenhuma das respostas, demonstrando que

estes aspectos não são considerados fundamentais dentro da formação profissional pelos

referidos sujeitos. Outra questão pertinente dentro dos depoimentos, foi à valorização da

técnica em realizar procedimentos, aspecto considerado importante pelos alunos dentro de sua

respectiva formação

Desta forma foi importante questionar os alunos sobre o entendimento dos mesmos em

relação ao termo moral, sendo assim selecionamos as seguintes respostas:

“A herança que vem com você, sua educação, cultura e princípios de vida” (Sujeito 17). “Aquilo que é imposto pela sociedade e que tem sua base dentro de casa, depois na escola, trabalho. Moral é individual, só diz respeito a si próprio” (Sujeito 15). “O que construímos a partir da base familiar” (Sujeito 14). “Princípios adquiridos com sua história familiar, e o meio cultural em que ela vive” (Sujeito 19). “Conduta cultural que já vem como herança da família ou história de vida do meio que você provêm” (Sujeito 7). “São valores que o indivíduo adquire no seu meio familiar e serve como referência para a sua vida” (Sujeito 9). “A concepção que cada indivíduo faz acerca de determinado assunto, os valores que ele cria conforme a vivência, podendo ser herdado do meio” (Sujeito 4). “Valores embutidos no indivíduo, referência familiar e experiências de vida, que orienta a forma de pensar” (Sujeito 1).

82

A grande maioria dos depoimentos condicionou o significado de moral a costumes

adquiridos no meio familiar, valores herdados pelo indivíduo que servem como referência

para regular a sua conduta, sendo que alguns sujeitos relataram que são regras impostas pela

sociedade onde está inserido, e que garantem a convivência social, em virtude do

estabelecimento de limites a ação de cada ser humano.

Os depoimentos dos alunos demonstram uma idéia de que a moral é necessária para

estabelecer uma conduta de vida, favorecendo uma relação de ordem, de respeito, prioritárias

em qualquer meio onde exista a presença de seres humanos.

A questão do entendimento da ética como um atributo indispensável para a formação

do enfermeiro é uma questão incondicional, para isso faz-se necessário compreender sua

importância e o seu significado como profissional de enfermagem. Desta forma foi feito um

questionamento aos alunos sobre o significado da palavra ética, visto que estes alunos tiveram

conteúdos sobre ética ao longo da graduação. A grande maioria das respostas, foi baseada em

normas ou diretrizes que estabelecem formas de convivência em sociedade, sendo que as

demais respostas estavam vinculadas a prática profissional, postura frente aos demais

profissionais, regras e normas determinadas pelo código de ética da profissão, tais como: o

sigilo profissional, respeito ao cliente entre outros. As contribuições mais relevantes são

descritas abaixo:

“São princípios adquiridos por um indivíduo na sociedade, conhecimentos e valores que o tornam capaz de conviver na vida social e profissional”. (Sujeito 9) “Ética são padrões e posturas exigidos pela sociedade que regem um grupo de pessoas ou comunidade”. (Sujeito 7) “Conjunto de normas e regras estabelecidas e acordadas entre um grupo, que visa o funcionamento do ser humano e da sociedade, tem um caráter pessoal”. (Sujeito 3) “Valores e conceitos determinados para viver na sociedade atual”. (Sujeito 10) “Normas estabelecidas para viver em sociedade”. (Sujeito 11) “Ética é o conjunto de conceitos e valores agregados que nos dão diretrizes para que possamos viver em sociedade”. (Sujeito 2) “Preceitos que normatizam o agir em sociedade” (Sujeito 8)

Outra questão importante para a pesquisa, era identificar os motivos da opção destes

sujeitos em cursar enfermagem, visto que quando gostamos da atividade a qual nos dedicamos

e optamos profissionalmente, a possibilidade das ações serem mais efetivas e bem realizadas é

muito maior. Para isto utilizamos o seguinte questionamento: Justifique o (s) motivo (os) de

sua opção em cursar enfermagem. Destacamos os seguintes depoimentos:

83

“É um curso que visa o cuidado, área a qual me sinto a vontade para trabalhar e tentar propiciar conforto e melhorar o próximo” (Sujeito 10). “Eu me identifico com a área da saúde, ajudar o próximo e garantir sua qualidade de vida” (Sujeito 5). “Por gostar da profissão e entender o meu papel de auxílio à sociedade” (Sujeito 3). “Me identifico com a profissão, gosto do cuidado” (Sujeito 6). “Auto-realização, poder auxiliar o próximo, minimizando o sofrimento” (Sujeito 7). “É um curso que oferecia a oportunidade de trabalhar ajudando as pessoas, conceito que nos dias de hoje está esquecido” (Sujeito 2). “Sempre tive empatia em cuidar dos outros e principalmente ajudar quando possível” (Sujeito 17). “Identificação com a área, essência de ser enfermeiro, faz com que me sinta mais responsável, não só com o paciente, mas com todas as pessoas a minha volta” (Sujeito 14). “Sempre gostei da área da saúde. Optei por enfermagem porque imaginava ser a profissão que mais tinha contato com o paciente e que passava a maior parte do tempo ao seu lado prestando assistência” (Sujeito 13).

Os demais depoimentos mostram que a opção profissional foi baseada na oportunidade

que a enfermagem oferece em termos de campo de trabalho, inclusão facilitada no mercado de

trabalho após a formação, e por já atuarem na área da enfermagem nas demais categorias de

enfermagem, como auxiliares e técnicos, e também alguns depoimentos que relatavam que foi

por influências familiares, e até daqueles que não sabiam ao certo o que era ser enfermeiro

quando iniciaram a graduação.

Diante disto foi necessário fazer uma outra indagação referente à idéia de se

enfermeiro, em virtude de estarem no último período do curso, e poderem a princípio definir

este papel com maior clareza. Ressaltamos as seguintes contribuições:

“Ser enfermeiro é ser responsável pelos seus atos e pelos atos do que estão sob sua supervisão, atos estes que estão diretamente relacionados com a qualidade de vida das pessoas” (Sujeito 26). “Deve exercer liderança servidora junto a sua equipe, deve ser competente, dedicado, responsável e ser capaz de liderar” (Sujeito 8). “Profissional que atua com seres humanos (direta ou indiretamente). É um modificador na saúde das pessoas. É um direcionador na equipe de saúde tanto da enfermagem quanto dos outros profissionais de saúde” (Sujeito 27). “Atuar para o bem de um ser humano que tem alguma fragilidade, com também com a euipe que necessita de direcionamento e apoio” (sujeito 4).

Em relação à última indagação feita aos alunos para que numerassem de acordo com o

grau de importância em suas vidas alguns conceitos como ética, caráter, família,

profissionalismo, percebe-se claramente que a família ocupa um lugar de grande importância

para eles, visto que para 18 alunos, o item família permaneceu entre o 1º e o 3º lugar pela

numeração fornecida, sendo que a ética e a moral ocuparam os espaços entre o 5º e o 8º lugar,

sobrepondo-se a questão do profissionalismo. Este resultado demonstra que a questão afetiva

84

é mais importante que o profissional, o que na minha análise está adequado, visto que se não

temos uma base sólida de afeto e amor, não conseguimos transmitir estes sentimentos em

nenhuma ação que desenvolvemos. Para os alunos as questões da ética e dos valores não

possuem um status de acordo com a sua significação e grandeza, pois estes conceitos

permeiam nossas vidas em todos os momentos, quer seja no aspecto familiar, profissional,

social e acadêmico.

85

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A questão desde o início desta pesquisa era verificar se o comportamento ético

inadequado dos profissionais de enfermagem, estaria relacionado a um ensino da ética e

conseqüente metodologia insuficiente, ou a formação dos valores oriundos da família destes

profissionais faria a diferença de conduta no âmbito profissional.

Esta questão originou o problema desta pesquisa, que era refletir sobre uma prática

pedagógica inovadora para uma formação ética destes profissionais, e se a referida prática

pedagógica possibilitaria a transformação de suas ações em sua prática profissional diária.

Diante disto, foi definido como objetivo geral desta pesquisa, elaborar questões

norteadoras que sustentassem uma formação para o ensino da ética na graduação em

enfermagem dentro de um paradigma inovador. A escolha do paradigma recaiu sobre o

paradigma da complexidade, em virtude dele propiciar a inter-relação de todas as coisas,

buscar a emancipação do indivíduo através da reflexão e da capacidade de elaboração da

crítica, e do reconhecimento dos valores e das ações humanas.

É possível dizer que na caminhada de construção desta pesquisa, a colaboração dos

alunos e docentes foi de grande valia para atingir o objetivo inicial, visto que o resultado

auxiliaria em um novo repensar para o ensino da ética e uma formação mais adequada do

profissional de enfermagem.

As considerações acima em relação à ética na formação dos futuros profissionais,

tiveram origem no meu trabalho como docente na graduação em enfermagem acompanhando

alunos nas instituições de saúde, e também no período em que atuei como profissional da área

de enfermagem. Neste período, foi possível perceber que as decisões e conseqüentemente a

postura ética adotada como profissional e como docente do curso de enfermagem foram

baseadas nas orientações recebidas em meu ambiente familiar, levando-me a refletir se a

construção de um profissional de enfermagem ético se constitui da mesma forma.

Durante o processo de construção da pesquisa o pensamento inicial era colher dados

de todos os docentes que trabalhavam com a temática da postura ética em seus programas de

aprendizagem, porém, esta possibilidade ficou restrita em virtude dos docentes não terem a

ética contemplada em seus programas, portanto mantivemos o foco somente em dói

programas de aprendizagem.

Com a realização desta pesquisa foi possível constatar a importância da ética na

formação do enfermeiro e a influência de uma prática pedagógica adequada como forma de

86

auxiliar o embasamento teórico do processo ensino-aprendizagem da ética na graduação em

enfermagem.

A investigação permitiu levantar pontos norteadores para formação ética do discente

de enfermagem, um ponto importante que merece ser retomado, trata da mudança de um

paradigma para outro, que não é suficiente para resolver e transformar situações inadequadas.

Torna-se necessário um movimento coletivo e uma junção ética, política, e ecológica para dar

conta de resolver as questões sociais e culturais do próximo milênio.

Portanto, a educação e a abordagem pedagógica utilizada na graduação em

enfermagem, assumem um papel fundamental neste processo, e em virtude disto foi escolhido

o paradigma da complexidade (emergente) para auxiliar nesta proposta de formação dos

novos profissionais de enfermagem baseados em uma ética efetiva , em valores bem

fundamentados, e que atenda os anseios da sociedade.

Enfim, o Paradigma Emergente busca provocar uma prática pedagógica que ultrapasse a visão uniforme e que desencadeie a visão de rede, de teia, de interdependência, procurando interconectar vários interferentes que levem o aluno a uma aprendizagem significativa, com autonomia, de maneira contínua, como um processo de aprender a aprender para toda a vida (BEHRENS, 2000, p.123).

Com a construção do referencial teórico para esta pesquisa, foi necessário fazer uma

retrospectiva histórica da profissão de enfermagem, identificar as precursoras da enfermagem

moderna e suas referidas contribuições para a profissão, e a influência deste legado para os

profissionais da área, além do perfil destes profissionais nos tempos atuais.

Outra ponto abordado foi à influência do modelo biomédico adotado pelos

profissionais de enfermagem em sua prática profissional e a influência deste modelo em suas

ações. Para complementar este comentário, utilizo a reflexão de Teixeira e Tavares (1997,

P.281):

Apesar da enfermagem ter nascido aderida à racionalidade médica, a mesma não está conseguindo sustentar-se nessa configuração. Esta tendência na enfermagem aponta a necessidade que há em criar uma singularidade de território de atuação, que não seja aquele referendado pelo modelo biomédico racionalista que situa a enfermagem como a prática de esteio médico. A crise vivenciada na ciência nos conduz a busca de novos significados para a enfermagem pós-moderna e novas estratégias para a prática, haja vista que realiza muitas ações que são vitais para o ser humano e que não são valorizadas pelo atual modelo.

87

Também foi feita uma descrição de alguns aspectos do Projeto Pedagógico implantado

na Pontifícia Universidade Católica do Paraná no ano de 2000, e a história do Curso de

Enfermagem e suas modificações neste processo.

Desta forma foi possível conhecer como o conteúdo de ética é distribuído dentro da

graduação em enfermagem, as práticas pedagógicas desenvolvidas pelos docentes, e a

necessidade de repensa-las como forma de transformar o profissional de enfermagem.

Possibilitou também conhecer novas formas para o ensino da ética em enfermagem, a

retrospectiva deste ensino e as interferências deste na prática diária do profissional.

Percebe-se o ensino da ética na graduação em enfermagem dividido em uma ética com

bases filosóficas, que busca trabalhar com a fundamentação teórica da ética e a história da

filosofia, e a outra parte com questões relacionadas à ética profissional.

É importante comentar, que esta divisão se mantém também no que se refere à

integração de conteúdos e docentes, visto que os referidos conteúdos são trabalhados

isoladamente em programas de aprendizagem diferenciados, não permitindo oferecer um

conteúdo sobre ética aos alunos com uma seqüência lógica e de acordo com a necessidade e

complexidade do período da graduação.

Nesta perspectiva ficou evidente que o ensino da ética ainda é centrado no

cumprimento de normas e deveres, com uma vinculação com os aspectos religiosos da

profissão em virtude da história desta categoria, com uma ética onde não existe o

questionamento, que não corresponde aos anseios dos alunos para esta nova sociedade, e que

mostra uma contradição entre o discurso e a prática profissional.

Do trabalho de pesquisa qualitativa de caráter descritivo realizado com professores,

alunos e também egressos da graduação em enfermagem, ficou evidenciado a justificativa

para o desenvolvimento desta pesquisa, visto que o ensino da ética não propicia um preparo

adequado para o enfrentamento desta nova sociedade.

Outro ponto relevante verificado, foi que os alunos do 1º período de Enfermagem não

possuem uma noção clara sobre ética e moral, apresentaram dificuldade em conceituar estes

termos , porém, a questão da opção profissional aponta em sua grande maioria para a

perspectiva do cuidado a outro ser humano como uma possibilidade que os impulsionou para

seguir esta carreira. Esta perspectiva é apresentada também por Silva (2004, p. 15) quando

esclarece:

A tarefa de cuidar é um dever humano, e não um dever exclusivo de uma classe profissional. Se os pais não cuidam dos filhos, estes dificilmente se tornam maduros e autônomos; se um esportista não cuida de sua alimentação, dificilmente supera as

88

próprias marcas. Cuidamos todos porque também queremos ser mais felizes, mais plenos. Sabemos que para alcançar a felicidade é fundamental que cuidemos bem de nós mesmos e dos outros. A condição humana é tão frágil como efêmera, requer equilíbrio e constantes cuidados pessoais, sociais e ambientais.

Percebe-se também que do universo investigado um pequeno número de alunos de

Enfermagem que entraram na universidade e estão cursando somente por ser uma graduação

que faz parte da área da saúde, especialmente em virtude de não terem passado em outros

cursos, caracterizando a falta de conhecimento em relação à profissão e sua diferenciação em

relação a outros cursos da área da saúde.

Quanto aos alunos do último período do curso, a questão da significação da ética e

respectivamente da moral, mostra um amadurecimento em suas análises em comparação aos

alunos do 1º período, porém, no aspecto da contribuição da ética em suas formações, a grande

maioria relata que a contribuição foi pequena e que poderia haver uma ênfase maior sobre

questões importantes que permeiam a profissão de enfermagem, além da utilização de

metodologias que favorecessem a discussão e reflexão dos problemas atuais, seminários,

discussões mais reflexivas, pesquisas, trabalhos em grupo, entre outros.

Outra ponto pertinente levantado com os depoimentos foi à questão da carga horária

destinada ao ensino da ética, questão esta contemplada no relato do docente que ministra a

ética institucional, pois não existe um programa de aprendizagem específico para o ensino da

ética, ele vem atrelado a outros programas e com uma carga horária insignificante no que se

refere a sua importância e dimensão.

No âmbito da opção profissional pela enfermagem, o resultado se divide entre alunos

que já atuavam na área de enfermagem, e portanto buscaram ampliar seus conhecimentos

partindo para a graduação, a possibilidade ampla e mais facilitada de inclusão no mercado de

trabalho, e também daqueles alunos que incluem o cuidado aos clientes como uma perspectiva

agradável e realizadora.

Da análise dos dados levantados dos egressos da graduação em enfermagem, a opção

foi definir que o término de conclusão do curso não deveria ultrapassar cinco (05) anos de

formação, para que a obtenção de dados não ficasse comprometida, possibilitando uma

contribuição maior do referidos sujeitos.

Quanto à análise das contribuições em relação ao ensino da ética em suas práticas

diárias como profissional enfermeiro, obtivemos como resultado, que o ensino da ética não foi

satisfatório, necessitando de reformulação, e que este ensino tivesse foco nas questões atuais

desta sociedade, que utilizasse a problematização como uma das opções para o seu ensino, ou

mesmo outras abordagens pedagógicas que promovessem uma nova forma de ensinar, e que

89

as discussões fossem alvo de reflexão sobre temas críticos para a profissão, como : eutanásia,

aborto, utilização de células tronco, entre outros.

Dentre alguns referenciais sobre problematização, utilizo este comentário:

A problematização, por sua vez, inclui o conhecimento, a consciência e um horizonte alcançar. Para tanto, usa a consciência crítica para questionar as situações que agridem sua liberdade, seu crescimento, sua possibilidade de conquista. A problematização, recria criticamente o seu mundo. Dá ao ser humano condições de re-existenciar criticamente as palavras do seu mundo para poder dizer a sua palavra.(GELAIN, 1998, p.70)

É importante comentar que o interesse dos alunos pelo ensino da ética é grande, tanto

dos alunos que estão cursando a graduação, quanto pelos egressos do curso, apesar das

problemáticas levantadas da realidade atual.

Os dados apontam que questões éticas e morais quando bem consolidadas no ambiente

familiar, dão consistência para que o ser humano possa aprimora-las em seu transcurso vital,

sobremaneira em suas posições relacionais com as instituições. O que nos permite pensar que

para o desenvolvimento de uma boa prática pedagógica devemos considerar também a efetiva

influência do ambiente familiar.

O ambiente familiar mostra-se como um importante agente modulador ético, ele pode

determinar a diferença de atitudes éticas de um indivíduo para outro; isto passa ser um

instrumento a mais ao educador para possibilitar ao aluno um bom direcionamento

pedagógico ético.

Faz-se importante lembrar, que de alguma forma um educador bem preparado, traga

para consciência através de atos e palavras bons exemplos éticos, para a partir daí tentar fazer

exposições cabíveis em ambientes institucionais e sociais, sabendo inclusive separar o que é

de verdade própria, do que é de contexto social, além do que, o professor precisa estar

disposto a promover uma intensa escuta para respeitar os princípios básicos comportamentais

de seus alunos.

Outra questão que merece ser citada, refere-se à necessidade de trazer o estudo da ética

para uma visão mais atual como foi dito anteriormente, com práticas pedagógicas que

propiciem ao aluno a reflexão sobre suas ações, que discuta casos reais, que os programas de

aprendizagem incluam questões cruciais para a profissão, que rompam com os padrões

tradicionais.

Para a enfermagem a formação ética é fundamental, não só para os profissionais de

enfermagem, como também para os demais profissionais da área de saúde, e tem sido alvo de

90

constante preocupação, hoje este ensino tem sido questionado em virtude dos modelos éticos

transmitidos, bem como pelas exigências provocadas pelo progresso científico que faz

emergir estas questões éticas (GELAIN, 1998).

Diante das situações levantadas emergem interrogações, questionamentos sobre a

prática atual para o ensino da ética na graduação em enfermagem, apontando par um repensar

deste ensino, numa visão social capaz de educar e orientar os alunos e profissionais de

enfermagem em sua prática profissional, possibilitando uma mudança de postura da categoria,

com bases éticas fundamentadas, e não apenas para remediar as situações críticas da prática.

Portanto, a educação tem um papel essencial neste processo, propiciando a formação

mais humana do profissional, voltada para a construção de cidadãos conscientes, críticos e

reflexivos, com uma visão de mundo visando à coletividade, despertando nesta categoria

profissional para a possibilidade de uma prática mais humanizada, objetivando esforços para

uma transformação social.

Neste aspecto de uma visão diferenciada de cuidado humanizado na enfermagem Silva

(2004, p. 140) destaca:

Às vezes, nos preocupamos tanto com o que temos de fazer depois que deixamos de fazer o bonito agora. Se Klimt tivesse tido pressa enquanto pintava, não teria criado aqueles tapetes; no lugar de mármore, teria deixado as paredes com massa corrida; em vez de arbustos, teria pintado um matinho verde...Nosso dia-a-dia poderá ser assim, improvisado, descuidado, se não prestarmos atenção em como é importante deixar as pessoas bem, no final de nossos encontros.Talvez no imaginemos incapazes de produzir uma obra de arte. Lembre-se: realizamos alguma coisa, sabemos que podemos realiza-la. Se não a realizamos, significa tão somente que ainda não a realizamos; não significa que não podemos realiza-la. A arte é uma tradução da vida, não é? Então, se colocarmos atenção e elegância nos curativos que fazemos, se aplicarmos as bandagens como se elas fossem uma obra de arte, se arrumarmos a cama como se ali fosse ditar nosso grande amor, se encararmos o ato de dar a medicação como a pincelada de Klimt na flor do arbusto, se conseguirmos esse grau de consciência em cada pincelada no nosso dia-a-dia do hospital...faremos da nossa vida uma verdadeira obra de arte.

Esta pesquisa não se esgota neste momento, mas necessita novas reflexões e

contribuições de toda a comunidade acadêmica e de outros interessados pelo assunto, é

necessário um esforço conjunto de reflexão dos docentes responsáveis por este processo de

ensino-aprendizagem da ética, buscando novos rumos a serem trilhados.

O caminho é longo, porém a construção de uma ação profissional diferenciada, capaz

de transformar realidades desiguais, mesmo com condições de trabalho desfavoráveis,

buscando uma nova postura desta categoria profissional, ultrapassando a postura conservadora

91

do enfermeiro, com vistas a um profissional de enfermagem com capacidade de dialogar, com

condições de debater e criticar, baseado em um modelo amparado nos aspectos humanos, com

sensibilidade e liderança.

Estas reflexões nos permitem sonhar acordados com um mundo melhor, compreender

que é possível, basta que acreditemos e que o desejo seja maior que os percalços, pois cuidar

de vidas é um presente divino e o servir é uma alegria, acreditemos nesta possibilidade.

92

REFERÊNCIAS

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97

APÊNDICE A - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS DIRECIO NADO A DISCENTES DO 1ºE 8º PERÍODOS DO CURSO DE ENFERMAGEM

1- O que você entende por ética?

2- Justifique o (s) motivo (os) de sua opção em cursar enfermagem.

3- Qual a sua concepção em ser enfermeiro?

4- Que atributos você acha que são imprescindíveis a um enfermeiro?

5-Moral

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

98

6-Coloque por ordem de importância (1º-2º-3º e assim por diante) os conceitos que você acha

que são mais importantes dentro de sua perspectiva:

• Moral ( )

• Ética ( )

• Honestidade ( )

• Caráter ( )

• Dignidade ( )

• Profissionalismo ( )

• Família ( )

99

APÊNDICE B - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS DIRECIO NADO AOS EGRESSOS DA GRADUACAO EM ENFERMAGEM DA PUCPR

1- Qual a sua percepção sobre o conteúdo de ética ofertado na Graduação em Enfermagem?

2- Houve mudanças em seus conceitos sobre algumas questões éticas discutidas ao longo da

graduação (ex. morte, eutanásia, moral, cuidado, saúde) em relação ao período que cursava a

graduação? Se houve, quais foram?

3- Qual a sua idéia sobre como introduzir ética ao aluno de enfermagem e a respectiva forma

de abordá-la?

4- Quais os conteúdos sobre ética que você já utilizou agora que atua como profissional de

enfermagem?

5-A ética na graduação em enfermagem contribuiu para a melhoria de suas ações como

profissional? Se sim, de que forma?

100

APÊNDICE C - ROTEIRO PARA ENTREVISTA GRAVADA DIRECI ONADA AOS DOCENTES DO CURSO DE ENFERMAGEM DA PUCPR

NOME DO DOCENTE: ____________________________________________________-

TITULAÇÃO ATUAL______________________________________________________

TEMPO DE TRABALHO NA PUCPR_________________________________________

1-O conteúdo sobre ética com o qual trabalha está inserido em que PA do Curso de

Enfermagem, e qual período você atua?

2-Há quanto tempo você leciona ética na graduação em enfermagem?

3-Qual o conteúdo que você trabalha?

4-Em algum momento você discutiu com outros docentes o conteúdo do seu PA e a

abordagem pedagógica utilizada?

5-Com que freqüência você revê e/ou modifica o conteúdo do PA que você trabalha na

graduação?

101

6-Você possue conhecimento de quais docentes lecionam ética e os respectivos conteúdos?

7-Você possue alguma outra qualificação (ex: pós-graduação em ética ou cursos de extensão)

em que a ética foi o foco dos estudos?

8-Qual a sua sugestão para o ensino da ética na graduação em enfermagem, e qual seria a

melhor abordagem pedagógica?

102

APÊNDICE D - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARE CIDO

Eu ________________________________________ concordo em participar de

pesquisa realizada pela mestranda Ana Beatriz Rodrigues Costa, aluna do Mestrado em

Educação da PUCPR sobre A Prática Pedagógica do Ensino da Ética na Graduação em

Enfermagem, sabendo que a qualquer momento e por qualquer motivo que julgar justo,

posso desistir da mesma. Esta pesquisa tem como objetivo realizar um levantamento do

conteúdo dos programas de aprendizagem onde a ética está inserida ao longo da graduação

em enfermagem e a abordagem pedagógica utilizada, e propor sugestões para a melhoria do

ensino da ética na graduação em enfermagem. Portanto, sua contribuição será de grande valia

neste processo de construção.

Estou ciente que esta pesquisa será discutida e divulgada no meio acadêmico, sendo

contudo mantido anonimato.

Assino o termo de consentimento após ter discutido a proposta de pesquisa, o método

e esclarecido minhas dúvidas, e estou de acordo em participar voluntariamente da pesquisa.

_______________________________________

Assinatura do entrevistado

Mestranda: Ana Beatriz Rodrigues Costa

Rua: Guilherme Pugsley nº 1320 ap. 52

Curitiba –Paraná

E-mail: [email protected]

Fone: 3016-5012 / 9201-2791

103

APÊNDICE E - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARE CIDO

Eu ________________________________________ concordo em participar de

pesquisa realizada pela mestranda Ana Beatriz Rodrigues Costa, aluna do Mestrado em

Educação da PUCPR sobre A Prática Pedagógica do Ensino da Ética na Graduação em

Enfermagem, sabendo que a qualquer momento e por qualquer motivo que julgar justo,

posso desistir da mesma. Esta pesquisa tem como objetivo realizar um levantamento do

conteúdo dos programas de aprendizagem onde a ética está inserida ao longo da graduação

em enfermagem e a abordagem pedagógica utilizada, e propor sugestões para a melhoria do

ensino da ética na graduação em enfermagem. Portanto, sua contribuição será de grande valia

neste processo de construção.

Estou ciente que durante e entre será utilizado o gravador e que esta pesquisa será

discutida e divulgada no meio acadêmico, sendo contudo mantido anonimato.

Assino o termo de consentimento após ter discutido a proposta de pesquisa, o método

e esclarecido minhas dúvidas, e estou de acordo em participar voluntariamente da pesquisa.

______________________________________

Assinatura do entrevistado

Mestranda: Ana Beatriz Rodrigues Costa

Rua: Guilherme Pugsley nº 1320 ap. 52

Curitiba-Paraná

Fone: 3016-5012 / 9201-2791

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