mudança de carreira - na prática · de visitantes aqui e os acompanho, organizando roteiros...
Post on 03-Mar-2021
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ESPECIAL EDUC AÇÃO #3
Mudança de CarreiraEncontre a motivação necessária para mudar de rumo em 2016 com catorze histórias de quem trocou de carreira para começar um sonho do zero em busca de propósito e realização.
S abe aquele dia que você acorda e não quer ir trabalhar? Tudo bem, todo mundo já passou por um desses. Só que quando esse dia passa a ser duas vezes por semana, ou três, ou mais, é preciso
reconhecer que existe um problema
O Na Prática acredita que o trabalho nunca deve ser algo penoso, e sim fonte de satisfação e realização. Só assim você vai aproveitar o seu potencial e construir uma trajetória de alto impacto! Palavras como “tédio” e “desânimo” jamais devem fazer parte do seu vocabulário de carreira. Se a sua situação é essa, pode ser hora de pensar em mudar – de cargo, de empresa, de área, ou mesmo de profissão.
O desinteresse pelo trabalho muitas vezes é consequência de uma carreira desalinhada com o seu propósito de vida. Assim, qualquer mudança com a pretensão de solucionar esse problema deve começar com um profundo processo de autoconhecimento.
Mas, mesmo depois de refletir sobre as suas motivações e decidir que é hora de mudar, as chances são altas de que essa mudança fique no papel. Isso porque, para realizar uma transição de carreira, é necessário mais que vontade. É preciso dar o primeiro passo.
Foi para isso que nasceu esse ebook: mostrar que é possível mudar de carreira, e te inspirar a dar o primeiro passo. A seguir você vai encontrar diversas histórias de quem trocou uma carreira segura para começar um sonho do zero em busca de propósito e realização.
Do executivo de multinacional que hoje trabalha com turismo comunitário em uma ecovila na Bahia ao médico que mudou-se para Nova York perseguindo uma carreira no teatro, eles têm em comum a coragem de empreender mudanças e a paixão pelo que fazem atualmente. A vontade de não ir trabalhar sumiu. São, enfim, felizes.
De executivo de multinacional ao trabalho com turismo comunitário na Bahia
Emprego em uma das melhores empresas para se trabalhar no país, salário de executivo, viagens internacionais (com direito a passagem de primeira classe e hospedagem em hotéis cinco
estrelas) e uma vida cheia de luxo na maior metrópole do Brasil. O sonho de carreira de muitos se tornou uma realidade para o mineiro Marcelo Cavalcanti.
Marcelo Cavalcanti abriu mão do salário opulento e viagens de primeira classe e, aos 37 anos, mudou-se para uma ecovila escondida na Bahia em busca de uma vida com mais propósito
Mas, mesmo com tudo isso, ele logo percebeu que não era bem
o que queria. E resolveu recomeçar, por mais que fosse taxado
como louco. Mudou-se para uma ecovila escondida na Bahia
para trazer um verdadeiro sentido para sua vida. Hoje, com 44
anos, finalmente, consegue levar a vida que pretende: trabalha
com turismo de base comunitária em Serra Grande (também na
Bahia) e consegue levar a filha caminhando por uma trilha para
a escola — isso tudo depois de meditar no início do seu dia.
Para compreender como se deu essa transformação em sua
vida, que impulsionou uma mudança de carreira mas foi muito
além do âmbito profissional, vale entender um pouco mais a
fundo a sua história e suas decisões.
primeiros passos Antes de entrar na faculdade, Marcelo
Cavalcanti fez um intercâmbio na Dinamarca e considera
essa a primeira grande mudança de sua vida. Depois,
formou-se em Comércio Exterior e logo começou sua batalha
para crescer na carreira. Foi vendedor de enciclopédias e
trabalhou em uma empresa de pedras preciosas em Belo
Horizonte, e depois na empresa que fazia o desembaraço
aduaneiro para eles.
Mas o intercâmbio tinha deixado um desejo de, novamente,
viver fora do país. “Vendi cookies na faculdade, vendi roupas,
promovi festas temáticas para juntar dinheiro para voltar
para a Europa e fui morar na Bélgica. Lá eu trabalhei em dois
restaurantes e fiz uma pós em relações internacionais, mesmo
ainda não tendo concluído a faculdade”, lembra.
Na volta ao Brasil, acabou sendo selecionado para fazer um
estágio em uma empresa canadense do ramo de alimentação,
que o levou para viver por seis meses no Canadá. Na volta,
decidiu por mais uma mudança. Foi trabalhar em uma
empresa de turismo de familiares em Salvador. “Tive um dos
momentos mais felizes de minha vida nessa fase, levando
turistas para conhecer lugares incríveis e exóticos”, afirma.
Depois desse período em Salvador, voltou para a capital
mineira e, durante o Encontro das Américas, evento
internacional em que trabalhou, teve contato com diplomatas.
“Foi incrível, mas a convivência com os diplomatas me mostrou
que a vida deles não era exatamente o sonho que eu tinha,
pois eles declaravam ter pouca liberdade em suas vidas
pessoais”, conta.
De executivo de multinacional ao trabalho com turismo comunitário na Bahia
luxo e depressão Ser aprovado em processos seletivos
parecia uma rotina para Marcelo, e logo ele conseguiu ser
chamado para trabalhar na Nortel Networks, gigante das
telecomunicações. “Era a empresa dos sonhos, com sede em
um edifício incrível, super luxuoso. O primeiro dia de trabalho
foi na Flórida para conhecer a sede nos EUA e morar lá por
três meses, comotrainee. Fomos tratados como reis. Era café
da manhã com o presidente da empresa, viagens de primeira
classe, almoço com executivos e tudo o que você pode
imaginar”, descreve.
E Marcelo aproveitava tudo o que o emprego podia lhe oferecer.
“Eu gostava do status, do conforto. Tinha sessenta gravatas,
quinze ternos, não sei quantos pares de sapato e camisas
brancas. Ainda muito jovem eu já tinha comprado meu
primeiro apartamento e o meu primeiro carro”, conta.
Mas todo esse glamour tem seu preço. “Como era o boom
das telecomunicações, tínhamos prazos curtos e multas
altíssimas caso perdêssemos as datas acordadas. Assim sendo,
acabávamos trabalhando seis, sete dias por semana e muitas
horas extras diariamente. Tinha dia que eu chegava às 7h da
manhã e ficava até as 23hs no escritório. Mas sentia um grande
vazio e uma falta de propósito naquilo que fazia. Viajei bastante
nessa época, ainda queria mudar o mundo. Mas estava ocupado
demais para fazer isso e sempre ia adiando…”, pondera.
Foi diagnosticado com depressão e decidiu mudar seu estilo de
vida. “Vi que se eu morresse naquele dia [quando passou mal
durante uma aula de capoeira], não faria falta para ninguém…
E fui chorando, chorando por dias. Senti que precisava trazer
um significado maior para a minha vida. Fiz terapia, mas
dessa vez não seria mais suficiente. A consciência de que eu
estava mal foi o trampolim para a minha recuperação e, a
partir daquele momento, me comprometi a viver uma vida de
qualidade, com significado”.
Impacto social Passou a fazer trabalho voluntário no asilo
e na creche que a empresa apoiava e conheceu uma jovem
indígena que o levou para visitar aldeias. Em pouquíssimo
tempo já estava trabalhando para uma ONG alemã com o
tema indígena, para ganhar cerca de um quarto do salário
anterior, sem deixar de fazer seus trabalhos voluntários em
diversas entidades.
De executivo de multinacional ao trabalho com turismo comunitário na Bahia
“Quando sai da Nortel e comecei a trabalhar na área social, vi
que aquele CV glamoroso [para se ter uma ideia, ele fala cinco
idiomas com fluência] não servia para quase nada naquela nova
realidade. Sai em busca de cursos, de atuar como voluntário, de
correr atrás do prejuízo, pois sabia que era um caminho sem
volta, mas que eu tinha pouca experiência nele. Cheguei a ficar
nove meses sem receber nada, pagando para trabalhar. Muita
humildade, curiosidade, leituras e conversas”, explica.
A mudança gerou espanto, até mesmo nas pessoas mais
próximas. “Muita gente achou que eu estava ficando louco.
Minha mãe mesmo falava de mim como se eu estivesse
passando por uma fase, que eu já ia voltar ao normal…
Namorada e amigos questionavam na época, e daí, quando
acabou o dinheiro, até eu comecei a questionar a minha
sanidade. Foi aí que eu tive a oportunidade de participar do
Fórum Social Mundial em Porto Alegre. E me reencontrar.
Duzentos mil loucos como eu, de todas as partes do mundo, ali,
lutando por um mundo melhor”.
E seu trabalho na área social começou a aparecer, tanto é
que foi chamado para trabalhar na Artemísia, aceleradora
que já alavancou mais de 28 milhões de reais para projetos
de negócios de impacto social. Foram seis anos como diretor-
executivo da organização e muito aprendizado. “Foi muito
desafiador para mim começar isso tudo, era um ‘mauricinho
subindo o morro´ segundo uma jovem da periferia que se
tornou minha amiga. Com a Artemísia tive a oportunidade
de ser muito feliz, de me sentir útil, de me conectar com as
pessoas, de dar a minha contribuição ao mundo”.
Durante esse período, viajou o mundo — conhece mais de
40 países atualmente — e se sentiu feliz profissionalmente.
“Senti-me com propósito, viajei para vários países, interagi com
jovens do mundo inteiro. Fiz o que queria fazer quando escolhi
a profissão de Comércio Exterior. Fui para diversos locais
compartilhando sobre os nossos projetos, apoiando os jovens,
dando workshops e falas inspiradoras em conferências”, revela.
adeus cidade grande! O novo estilo de vida de Marcelo não
combinava mais com a cidade grande. Por isso, ao lado de
sua esposa Olívia (casaram-se nesse meio tempo!), passou a
procurar um local tranquilo para viver e acabou optando por
Piracanga (BA). Nessa época, tinha 37 anos de idade. “Nossa
De executivo de multinacional ao trabalho com turismo comunitário na Bahia
experiência nesse lugar lindo foi incrível e sentimos que
cumprimos com muitos de nossos anseios morando lá.
Cuidamos de nossa água, de nossa alimentação. Reciclamos
nossos resíduos, construímos nossa casa de forma ecológica,
com energia solar, paredes de adobe, esteios de aroeira
que haviam sido postes, captação de água de chuva,
círculos de bananeira como fossas e por aí vai. Ajudamos
a conduzir encontros para se tomar decisões coletivas
para esses cuidados e participamos ativamente desses
momentos”, relata. Lá nasceu sua filha, Clara Íris. “Pude
e posso ser um pai muito presente para ela, e me orgulho
muito disso”, afirma.
Depois dessa experiência, Marcelo sentiu necessidade de
compartilhar com o mundo tudo que aprendeu nessa ecovila
e mudou-se com sua família para Serra Grande, também na
Bahia. “Começamos a sentir um novo chamado para a ação,
para ir ainda mais fundo, colocando novamente no mundo
esses aprendizados em um lugar na natureza, com pessoas
lindas, mas que tem desafios grandes, de desigualdade social,
e várias das carências desse nosso Brasil, mas com um grande
potencial de mudança”, explica.
De executivo de multinacional ao trabalho com turismo comunitário na Bahia
Em Serra Grande, Marcelo trabalha na articulação de uma rede
de turismo de base comunitária. “Meus dias nunca são iguais.
Tenho reuniões, escrevo projetos, desenvolvo novas trilhas,
facilito processos, participo de diferentes conselhos aqui da
vila e faço pesquisas. Sou articulador do movimento
pelo turismo de base comunitária de Serra Grande, mas
também atuo com facilitação de encontros e eventos de
autoconhecimento de empresas e ONGs aqui na região.
Cada vez mais estou envolvido também em receber os grupos
de visitantes aqui e os acompanho, organizando roteiros
personalizados”, revela.
simplicidade e felicidade Depois que abandonou a vida
na cidade grande, Marcelo percebeu que precisa de muito
menos para ser feliz. “Quando sai da Nortel eu comecei a
entrar em um processo de reduzir, de simplificar a minha
vida e necessitar de menos para viver. Eu morava em um
apartamento de três quartos, piscina no Morumbi, em
São Paulo. Cada quarto tinha um armário cheio de roupas
minhas. Ao sair da empresa eu me dei conta que precisava
de menos de um terço daquilo que eu tinha e fui doando
minhas coisas. É o conceito da simplicidade voluntária,
De executivo de multinacional ao trabalho com turismo comunitário na Bahia
de ter menos, de precisar de menos coisas e ter mais
qualidade”, relata.
Ele ainda recebe convites para voltar à cidade grande, em
empregos e estilo de vida que ele parece não querer mais.
“Meus amigos que trabalharam comigo me ligavam para dizer
que tinham um trabalho para mim, uma nova oportunidade.
E eu agradecia, dizia que estava feliz. Daí a pessoa insistia,
dizia para mandar um currículo, que o trabalho era excelente,
muito bem pago, a minha cara… Daí eu tinha até que ser um
pouco grosso e dizer: ‘agradeço, mas NÃO estou buscando
um trabalho nesse momento’. Estou feliz, fazendo aquilo que
acredito”, diz.
Diante de tantas mudanças de rumo em sua vida, Marcelo
tem a convicção que as pessoas devem correr atrás de seus
sonhos. “Acredito que a gente merece seguir os nossos sonhos,
que a gente está aqui nesse mundo para ser feliz. Viver
como se fosse o último dia e sonhar como se não houvesse
nunca um fim. É preciso brilho no olho, é preciso se sacrificar
para bancar o sonho. Por que nem sempre é fácil. Tem que
perseverar, ter muita fé. E depois você vê que valeu a pena!
Sempre vale!”.
Formado em medicina, Fred Veloso encontrou sua vocação nos palcos
Osonho de muitos pais é que o filho ou filha se forme em medicina. Mas, e quando ele começa a faculdade e descobre que existe algo que lhe dá mais prazer na vida? Nesse
tipo de situação, a desconfiança da família tende a ser grande… Ainda assim, nada que tenha amedrontado o ator Fred Veloso, que percebeu que pode promover o bem-estar das pessoas para além dos hospitais — mais especificamente, em cima do palco.
Ser médico ou não ser, eis a questão. Durante a faculdade de medicina, o ator Fred Veloso se encontrou na atuação e hoje planeja a transição completa de carreira
Filho de um biomédico, Fred Veloso foi aprovado no concorrido
vestibular de medicina da UFPE (Universidade Federal de
Pernambuco). No quarto ano do curso, em 2006, participou
de um projeto de extensão do Diretório Acadêmico chamado
“O Caminho”, que promovia encontros entre estudantes
e pacientes do Hospital das Clínicas afim de humanizar o
atendimento hospitalar. Nesses encontros, passava muito
tempo com os pacientes e interagia com eles, promovendo
pequenos jogos ou sketches (atuações rápidas). Ali, ele
finalmente encontrou o que lhe deixava feliz.
“Quando eu comecei a fazer teatro para aqueles pacientes, eu
me senti feliz — pela primeira vez — diante de um ofício. É difícil
explicar, mas eu sempre busquei ser médico por um motivo
nobre, de ajudar o próximo, de fazer a diferença, mas eu nunca
havia pensado no que eu realmente queria”, afirma Veloso.
As coisas ficaram mais sérias e, ao lado de outros colegas,
decidiu sair daquele projeto para criar um grupo de teatro
amador chamado “Os Pelegos”. Nesse grupo, Fred teve contato
com o renomado ator Jorge de Paula, grande fonte de inspiração
para a mudança de carreira.
“Jorge de Paula foi o meu grande mentor e inspirador para
que eu mudasse de carreira. O grupo amador foi crescendo,
Jorge nos orientou para fazer uma peça infantil e, por meio de
conversas com ele, eu finalmente percebi que tinha que mudar
de carreira. Que, apesar de achar medicina muito legal, era de
atuação e do palco que eu gostava mais, o que eu amava fazer
e era feliz fazendo”, afirma o ator.
Com a nova paixão, Veloso decidiu abandonar a faculdade de
medicina, mas foi convencido pela mãe a terminar o curso.
Medicina e Teatro passaram a conviver até o fim da graduação,
mas ele sabia o que realmente queria. “Sempre estudei o dobro
do necessário para todos os meus trabalhos como médico. Eu
nunca queria ser chamado atenção por levar ‘uma vida dupla’,
de ser médico querendo ser ator”, explica.
A rotina na medicina, quase sempre ligada à área de
emergência, tinha alguns obstáculos. “O que mais me incomoda
é que o ambiente de trabalho é muito fechado. Os médicos
acham que tudo gira ao redor daquilo ali e que não há nada
lá fora. É um mundo fechado, onde as pessoas consideram
que ter mais técnica significa serem melhores médicos e
Formado em medicina, Fred Veloso encontrou sua vocação nos palcos
desconsideram que o mundo e os seres humanos têm outras
multitudes”, analisa.
Com todo seu talento atuando, a estreia como profissional
no teatro não demorou e veio em julho de 2007 com a peça
O Rififi no Picadeiro, com texto de Marco Camarotti, grande
pesquisador de teatro infantil. Já formado em medicina,
Fred Veloso decidiu estudar teatro fora do país. Fez um
curso de verão na tradicional Escola Guildhall, na Inglaterra,
e depois, em 2010, foi aprovado na escola Stella Adler, em
Nova York (EUA).
Assim, o jovem que descobriu o teatro durante o curso de
medicina ingressava na escola de atuação que formou atores
do porte de Marlon Brando, Robert De Niro, Warren Beatty,
Elaine Stritch e Candice Bergen.
autoconhecimento A vida fora do país não é nada
glamorosa, ao contrário do que muitos podem imaginar. Fred
credita um aprendizado enorme ao período morando nos
Estados Unidos. “Viver fora do Brasil me abriu os olhos para
entender muito mais sobre minha personalidade. Acho que
me ajudou a entender que sou eu que tenho que fazer as
coisas acontecerem. Aqui no Brasil a gente gosta muito de
estereótipos. Falo às pessoas que sou ator e fiz peça infantil,
então eles julgam uma peça de má qualidade com palhaços
esquisitos e gente gritando e cantando músicas no palco.
Eu falo que sou médico, então eles acham que sou Patch
Adams [médico que inspirou o filme estrelado por Robin
Willians]”, afirma.
Depois de graduado, voltou ao Rio de Janeiro e ainda concilia
a rotina de médico com os palcos. E, segundo ele, existem
habilidades comuns nos dois ramos. “Eu ainda trabalho como
médico, tenho que pagar o aluguel (risos)! Mas eu decoro textos
muito facilmente como ator, porque eu tinha milhares de
técnicas mnemónicas que tive que aprender fazendo medicina.
Decorar em medicina é como respirar. Logo, como ator, fica fácil
memorizar textos. Mesmo Shakespeare, que tive que encarar
mais de uma vez em inglês, foi bem tranquilo”, ressalta.
E os pacientes que são atendidos pelo médico Fred Veloso
ganham de brinde sonhos especiais. “Eu penso em teatro
todo dia, pratico textos todos os dias. Faço monólogos de
Formado em medicina, Fred Veloso encontrou sua vocação nos palcos
Formado em medicina, Fred Veloso encontrou sua vocação nos palcos
Shakespeare para meus pacientes dormindo —assim eles
não pensam que eu sou louco — e isso me deixa muito feliz.
Qualquer oportunidade para atuar é infinitamente bem-vinda.
Mesmo que seja um pequeno teste”, relata.
Para o futuro, Fred Veloso pretende se afirmar como ator e se
dedicar integralmente à nova carreira. “Ser ator não é fácil,
obviamente. Eu não me importo, eu sei o que me faz feliz e eu
vou buscar isso para sempre. Eu penso que, no futuro, estarei
fazendo muito teatro, filme, seriados, tv …Parece fantasioso e
talvez seja, mas eu não consigo visualizar outra pessoa daqui a
dez ou vinte anos”, finaliza.
Formado em medicina, Fred Veloso encontrou sua vocação nos palcos
Do mercado financeiro ao empreendedorismo em educação
Graduada em administração pela Fundação Getúlio Vargas, Danielle Brants tinha caminhos bem definidos a seguir. Seguindo a trilha dos estágios que realizou, saiu da faculdade direto
para o mercado financeiro, onde seu plano de carreira em Fusões e Aquisições também avançava de acordo com o planejado. “Eu nem questionava, só seguia. O sistema vai te promovendo e você passa a achar que é boa naquilo – mas não necessariamente é daquilo que você gosta”, analisa.
Depois de passar dez anos trabalhando no mercado financeiro, Danielle Brants realizou-se ao fundar uma startup de letramento adaptativo
Era outubro de 2007 quando um dos seus superiores saiu do
banco em que trabalhavam e a convidou para fundar uma
empresa de capital de risco. Danielle topou e, por um ano,
planejaram e prepararam o fundo de venture capital para
um road show para investidores, agendado para setembro de
2008. Fatidicamente, naquele mês o banco Lehman Brothers
quebrou, no estopim da crise de crédito nos Estados Unidos.
“Pela primeira vez, vi que o risco – de que tanto falávamos – se
materializava”, relembra. Seria impossível, naquele cenário
econômico, captar fundos para manter a empresa.
Resignada, voltou a trabalhar com Fusões e Aquisições em
uma boutique financeira. Promovida, virou sócia da empresa.
Ainda insatisfeita, porém, decidiu deixar de ser intermediária
e, em um passo completamente fora da curva, foi trabalhar
na General Electric, no setor de Desenvolvimento de Novos
Negócios. “Hoje, conhecendo quem eu sou, percebo que nunca
daria certo na GE. É uma empresa que tem 10 mil funcionários
no Brasil, uma matriz em que você responde a três chefes,
muitos relatórios, apresentações… Eu adorava o que estava
aprendendo – produtos tecnológicos, software, máquinas e
turbinas – mas não era pra mim”, reflete.
Danielle nunca conseguiu tocar dois projetos em paralelo
– muito focada, ela se dedica de corpo e alma à trilha que
escolheu seguir. E é por isso que a decisão que tomou ao sair
da GE foi tão importante: “Decidi parar. Tirar alguns meses
para entender o que gostava e o que queira fazer. As pessoas
achavam que estava louca quando pedi demissão, todos me
perguntavam onde eu ia trabalhar e eu respondia que não ia
para lugar nenhum”.
Seu período sabático de seis meses, porém, não seria de
descanso. Comprometeu-se a conhecer uma pessoa nova todos
os dias, ou, ao menos, a conversar com alguém que estivesse
fazendo algo novo. Entre essas conversas, entrou em contato
com Eduardo Bontempo, co-fundador da startup Geekie, com
quem tinha trabalhado durante a faculdade. “Conversamos
bastante sobre como era trabalhar com educação e ele me
aconselhou: ‘Dani, para fazer a transição, burn the bridge.
Queime a ponte com o seu passado, não olhe pra trás’.“
Ela queimou. Um curso em Harvard a ajudou a entender o
mercado e as perspectivas para quem desejava empreender na
área. “Percebi que as pessoas estavam trabalhando com ensino
Do mercado financeiro ao empreendedorismo em educação
Formado em medicina, Fred Veloso encontrou sua vocação nos palcosFormado em medicina, Fred Veloso encontrou sua vocação nos palcos
adaptativo em várias disciplinas ao mesmo tempo, e decidi que
queria ser mais específica, me dedicar exclusivamente a uma
competência: a leitura”. Danielle constatou que o letramento
ainda era feito de forma muito intuitiva, e que tecnologias
computacionais poderiam ajudar a criança a passar por este
processo, através da medição da complexidade de um texto e
mapeamento do aprendizado.
Decidiu desenvolver, então, o primeiro software do tipo em
língua portuguesa – nascia, com isso, a Guten Educação.
Voltando ao Brasil, Danielle pesquisou tudo o que pôde sobre
o assunto. “Uma coisa boa é que, como não sabia nada, tive
muita humildade para estudar e conversar com as pessoas
– fui descobrindo, no processo, do que precisava”, explica. Ao
procurar estudos sobre o tema, encontrou uma publicação
científica do grupo de pesquisa em Linguística Computacional
da USP de São Carlos. Fechou parceria com eles para o
desenvolvimento do software classificador e, paralelamente, já
começou a trabalhar em outros produtos complementares: um
aplicativo de notícias adaptadas à linguagem infantil e outro
mapeador de habilidades.
“Trazer parceiros foi um salto, e sou muito feliz com a escolha
que fiz”, afirma. A Guten já recebeu o aporte financeiro de
investidores-anjo, da Artemisia Ventures e, recentemente,
do fundo norte-americano Omidyar Network, focado em
empresas com alto impacto social. Em novembro de 2015,
Danielle foi escolhida pela MIT Technology Review como
um dos 10 brasileiros mais inovadores com menos de 35 anos,
e selecionada pela mesma publicação como o Inovador Social
de 2015.
Com dois produtos no mercado e o terceiro com lançamento
em 2016, ela sente que, finalmente, está investindo seus
talentos e seu esforço em algo em que se vê: “Toda vez que vejo
uma criança usando nosso software, e mostrando seu progresso
para os pais e para os professores, me pergunto por que não
mudei antes. Mas entendo que era uma trajetória necessária
para chegar mais madura a esse momento.”
Das aulas de química ao mundo do impacto social
Os testes são fundamentais para a comprovação científica de uma hipótese. E foi por meio de muitos testes e mudanças de rumos que o mineiro Aílton Cunha abandonou os
laboratórios do curso de Química para trabalhar mais próximo das pessoas. Depois da graduação, chegou a atuar como professor, mas logo percebeu que seu negócio é mesmo o empreendedorismo social.
“Trabalho mais, mas sinto que não estou trabalhando, e sim me divertindo. Para quem está nessa fase de não estar satisfeito, digo para experimentar”, aconselha Aílton Cunha
Natural de uma cidade do Sul de Minas chamada Campanha,
Aílton Cunha estava indeciso sobre qual curso escolher no
vestibular. Fez uma orientação vocacional e acabou optando
pela Química. “Sou muito curioso, quero saber e entender como
as coisas acontecem ao meu redor. A Química me levou por
isso”, explica.
Foi aprovado na Universidade Federal de Viçosa (MG) e, no
início do curso, começou a trabalhar em um projeto chamado
“Jovem Cientista”. “Sentia um grande interesse por trabalhar
com educação. Esse projeto existia para ajudar a molecada
de escolas públicas a entender a ciência no dia a dia. Foi uma
experiência muito boa”, lembra.
O projeto cresceu, mas Aílton queria mais. Um caminho natural
para que ele pudesse desenvolver seus projetos e sonhos dentro
da universidade estaria em uma empresa junior. Mas o seu
curso ainda não contava com uma. “Morava com um pessoal
que trabalhava em empresa junior e comecei a me interessar
pelo assunto. Como no meu curso ainda não tinha uma
empresa junior, resolvi fundar uma”, afirma. Ao lado de um
Das aulas de química ao mundo do impacto social
grupo de estudantes de Engenharia Química, fundou a empresa
junior e aprendeu muito nela.
“Trabalhar em uma empresa junior foi uma grande experiência,
pois tive contato com outros cursos e pude aprender muito sobre
gestão, trabalho em equipe e com pessoas diferentes. Isso acabou
me levando muito mais para gestão do que para a ciência. Não
me via voltando para um laboratório depois disso”, ressalta ele.
Aílton já sabia que não queria trabalhar com a Química e
um grande marco nessa mudança profissional estava no
TED Talk que assistiu chamado “Porque você vai falhar em
ter uma carreira brilhante”, de Larry Smith. “Esse TED foi um
marco para eu chutar o balde. Lá um cara dizia que temos
interesse por várias coisas, mas isso não significa que é o que
queremos fazer todos os dias no trabalho. Era assim com a
Química”, afirma.
Impacto socialAílton graduou-se em Química mas estava decidido a trabalhar
com impacto social. O Movimento Choice, da Artemisia, estava
Das aulas de química ao mundo do impacto social
no seu começo e parecia uma boa opção. O movimento reúne
uma rede de jovens engajados em transformar o jeito de
fazer negócios no Brasil e disseminar o conceito de negócios
sociais. “Fui da segunda turma da Choice. Antes eu queria
trabalhar, ganhar dinheiro e depois doar. A Choice foi uma
grande virada, pois aprendi o conceito de negócio social,
causar impacto com meu trabalho e ganhar dinheiro com
isso. Abriu minha cabeça”, conta.
Na mesma época participou do Laboratório da Fundação
Estudar e criou um blog sobre empreendedorismo social
chamado “Catálise Social”. Quando já conseguia algum dinheiro
dando treinamentos sobre negócios sociais pelo blog, surgiu
uma vaga para ser professor na Universidade Federal do Mato
Grosso. “Queria entender como funcionava o ensino, mas
agora estando do outro lado. Fiquei apenas seis meses como
professor, não tinha nada a ver com meu perfil dinâmico e
transformador. A rotina era mais lenta, com poucas mudanças
e isso me incomodava”, explica.
Até que surgiu uma oportunidade para trabalhar na Fundação
Estudar, organização que Aílton já conhecia e admirava desde
os tempos em que fez o Laboratório por lá. Hoje, ajuda a
organização a impactar milhares de jovens todos os anos
com programas inspiradores sobre liderança, propósito,
carreira e mercado. “A Estudar se parece muito comigo e
tinha um desejo grande de trabalhar aqui. Tem sido uma
experiência fantástica e tenho usado muito do meu curso
de graduação aqui. Na Química temos aquela visão
científica, de ter hipóteses, testar...Isso está no meu dia
a dia atualmente, sempre testando hipóteses e aprimorando
meus projetos”, compara.
Sobre as mudançasComo é possível perceber em sua trajetória, Aílton nunca
teve medo de alterar seus rumos profissionais e teve apoio
familiar para isso. “Consegui mudar ainda no início da minha
carreira. Isso facilitou. Se eu já tivesse família para sustentar,
filhos, teria uma insegurança maior. Levava uma vida de
estudantes e o risco era pequeno. Minha família sempre
me apoiou muito, meus pais, mesmo sem entender o que
eu estava fazendo, apoiavam e queriam que eu seguisse
uma carreira que fizesse sentido. Sempre tive muita liberdade
e isso facilita muito”, considera.
Das aulas de química ao mundo do impacto social
Na Fundação Estudar, ele tem liberdade para desenvolver seus
projetos e crescer junto deles. “Agora, tenho liberdade para
colocar ideias em prática, de maneira veloz. É importante
saber o que faz sentido para cada pessoa, o que nos energiza
e o que nos cansa também. Hoje tenho tolerância a não
saber como serão as coisas amanhã. Antes, cada passo era
planejado minuciosamente. Aqui não, estamos construindo
diariamente nossos projetos. Para mim, isso é muito mais
divertido: crescer com a startup e ver que meu trabalho foi
importante nesse crescimento”.
Para aqueles que almejam dar uma guinada profissional,
ele tem um bom conselho. “Sou incomparavelmente mais
feliz atualmente. Trabalho mais, mas sinto que não estou
trabalhando, e sim me divertindo. Para quem está nessa fase
de não estar satisfeito, digo para experimentar. Não precisa ser
em tempo integral, pode ser um projeto paralelo. Isso ajuda
a desenvolver sensibilidade para que você possa se entender,
conhecer outro ambiente. Sentir aquilo que você está querendo
mesmo para sua vida”, finaliza.
Das planilhas de Excel ao trabalho com cinema
Aos 30 anos, o carioca Pedro Salgueiro Telles é pragmático por natureza. Formou-se em Administração pela IBMEC-RJ em 2006, atraído pelas diversas opções de carreira
possíveis. Em 2012, percebeu que queria algo fora do leque econômico e parou para estudar as possibilidades. Cauteloso, planejou-se financeiramente por mais dois anos antes de apostar em uma área totalmente nova. Hoje, trabalha como assistente de direção freelancer.
“Meu caminho foi romper com a área anterior”, conta Pedro Salgueiro Telles. Até 2014, ele trabalhava como especialista em finanças e investimentos no Rio de Janeiro
“Sempre gostei de fotografia e cinema e fazia filmes de
brincadeira com meus amigos no colégio”, conta. “Mas
quando entrei na faculdade, pensei que era aquilo que eu
queria mesmo.” Bolsista da Fundação Estudar, tomou gosto
por macroeconomia e finanças, integrou a empresa júnior da
faculdade e começou a trabalhar. Passou por dois fundos de
investimento, uma empresa de shoppings e uma consultoria
antes de entrar na LLX, então capitaneada por Eike Batista.
Hoje Prumo Logística, a empresa é especializada em projetos
de infra-estrutura. Foi lá que Pedro passou dois anos como
especialista em investimentos e finanças, seu último posto
do tipo antes da guinada. Apesar de gostar dos temas e da
perspectiva de crescimento na carreira, admitiu que tinha
dificuldades em ver um futuro inspirador para si. “Quando eu
olhava para a rotina de diretores e executivos, via que eu ficaria
satisfeito com aquela vida só até a página dois”, explica.
Uma descoberta gradual“Eu já pensava em mudar há mais tempo, mas não sabia como
fazer”, conta. Foi descobrindo aos poucos o interesse por criação
e chegou a cogitar uma pós-graduação na área de marketing.
Das planilhas de Excel ao trabalho com cinema
Após uma entrevista em uma empresa de branding, no entanto,
viu que não era por ali. Foi quando deixou a paixão pela imagem
falar mais alto e começou a investigar o cinema nacional.
Como há de ser com um especialista em investimentos, Pedro
empregou uma estratégia. Conversou com amigos e conhecidos
para ter uma perspectiva realista do mercado, angariou
informações, traçou um plano e guardou dinheiro. Após pensar
em cinematografia e produção executiva, decidiu-se pela
direção. Deixou o emprego em novembro de 2014. “Há quem
consiga levar as atividades em paralelo, mas meu caminho foi
romper”, diz.
E aquele primeiro ano foi melhor do que ele imaginava: engatou
trabalhos em publicidades, clipes e na série Ribanceira, do
Canal Brasil. Terminou o ano como segundo assistente de
direção em seu primeiro longa metragem, Pendular, de Júlia
Murat. Olhando para trás, ele lembra com um sorriso que o
filme veio exatamente um ano após pedir demissão.
“O assistente de direção é quem pega todos os desejos do
diretor e vê, dentro das possibilidades, como fazer aquilo da
Das planilhas de Excel ao trabalho com cinema
melhor maneira possível”, resume Pedro, que fez um curso
intensivo com um diretor experiente em 2015 e aprendeu muito
na prática. Apesar de se ver nos primeiros estágios da transição
(e ser remunerado de acordo), ele encara sua experiência
profissional anterior como uma vantagem nesse novo mundo,
especialmente quando se trata das habilidades interpessoais.
Mas há também percalços. Entre seus maiores desafios atuais,
Pedro cita a instabilidade do trabalho freelancer e a natureza
de seu mercado, muito calcado em relacionamentos. “Não
existe anúncio de ‘procuras-se um assistente de direção’, por
exemplo.” Diz que teve sorte até agora, ao encontrar pessoas
felizes em ajudá-lo a entender esse novo universo, e aposta na
importância do networking para continuar crescendo.
No longo prazo, estão planos para dirigir os próprios filmes e
quem sabe até empregar seus conhecimentos financeiros para
criar novas maneiras de custear as produções. Questionado
sobre conselhos para quem está em cima de muro quanto a
mudar de área, ele não titubeia: quanto mais rápido você fizer o
que quer, melhor.
Para destacar a importância deste ponto, Pedro lembra que
fez a mudança em um ano difícil de crise econômica e mesmo
assim não mudou de opinião. “Era torturante viver na dúvida,
pensando sobre como seria se eu tivesse mudado de área há
um ou dois anos”, conta. “Saia da sua zona de conforto e faça!
É possível.”
Da carreira em turismo à vendas no Ben&Jerry’s
Nascida em Lavras, no interior de Minas Gerais, Emanuelle Spaggiari jamais imaginou que sua carreira a levaria a trabalhar com sorvetes, quanto mais em uma das maiores empresas
do país. Graduada em Turismo, com formigas nos pés e sem medo de se arriscar em novas experiências, sua trajetória envolveu diversas mudanças de cidade e atuação em diferentes setores.
Emanuelle Spaggiari explica como sua trajetória incomum a levou a trabalhar com a expansão da marca no Brasil
Seu primeiro emprego foi em uma empresa paulista de
eventos que possuía sede em Lavras. Responsável por toda
a operação de um evento específico da área de tecnologia,
tinha contato próximo com os patrocinadores, que eram,
entre outros, Microsoft e IBM e outra empresa de menor
porte com sede em Brasília – que será importante para o
desenrolar da história. Um ano depois de formada, mudou-se
para Angra dos Reis, onde foi trabalhar em um resort,
também no setor de eventos. Logo promovida a coordenadora
comercial na unidade, organizava a recepção de grupos
empresariais, negociava pacotes e gerenciava toda a
operação do espaço – de alocação de quartos a logística
de palestras e conferências.
Mais uma mudança de cidade a levou a mais um shift na
carreira: em Santo André, assumiu o cargo de coordenadora
de eventos sociais em um espaço de festas. “Na época, eu
sentia que estava dando passos para trás pois não era essa
a área em que queria atuar, mas hoje eu vejo que foi uma
experiência importante para mim”, ela reflete. Seis meses
depois, não hesitou em mudar-se novamente, desta vez
para Brasília.
Da carreira em turismo à vendas no Ben&Jerry’s
Chegando ao planalto central, lembrou-se da empresa que
atendera enquanto ainda trabalhava em Minas. “Depois de
seis anos eu mandei um email para o meu contato lá e ele
se lembrou de mim”, ela comenta. Foi convidada a trabalhar
nesta empresa mas acabou aceitando outra posição em uma
operadora de viagens, como responsável por um projeto
específico de atendimento ao Banco do Brasil. “Foi uma correria
muito grande, tive que organizar a logística de transporte
e acomodação para mais de mil pessoas, do presidente aos
funcionários que seriam premiados no evento. Mas isso me deu
habilidades que seriam muito importantes depois”, analisa.
Finalizado o projeto, mais uma mudança de emprego: a
empresa de TI novamente entrou em contato e a convidou
para uma vaga de Coordenadora de Marketing. Ela aceitou,
mesmo sem muita experiência anterior na função. “Isso só foi
possível porque se tratava de uma empresa de porte médio - eu
coordenava um time e precisei mais de habilidades de liderança
que de conhecimento técnico”. Depois de dois anos nesta
função, a formiga voltou a mexer no seu pé, e ela quis retornar
para o sudeste. Não precisou, porém, mudar de emprego – o
escritório de São Paulo estava com vagas abertas, e ela assumiu
Da carreira em turismo à vendas no Ben&Jerry’s
a Coordenação de Canais e Parcerias, sendo responsável,
majoritariamente, pelo relacionamento com os revendedores
do software produzido pela empresa.
Já em São Paulo, realizou um MBA em Gestão Estratégica
de Negócios na USP – segundo ela, fundamental para o seu
crescimento profissional em uma área que não era a sua de
formação. Foi durante o Imersão, programa de decisão de
carreira da Fundação Estudar, que ela conheceu seu atual líder
na Unilever. Ao saber de uma vaga aberta na equipe da Kibon,
escreveu-lhe solicitando o contato da consultoria de RH; ele,
atraído pelo seu currículo, no mínimo, diverso, convidou-a para
uma entrevista. “Conversamos por duas horas e meia, e eu não
passei”, ela ri.
Sua impressão, porém, ficou guardada: nove meses depois,
surgiu a oportunidade de expandir a marca Ben&Jerrys no
Brasil, e ela foi convidada para uma nova entrevista - desta
vez, com resultados positivos. Hoje, Emanuelle é responsável
por aplicar, na ponta, a estratégia vinda do marketing – faz
treinamentos com vendedores e ajuda em toda a estrutura de
vendas. “É uma marca totalmente conceitual e com propósitos
novos para a equipe toda de icecream. Por isso, eu tenho
autonomia em influenciar a mudança de vários processos
existentes em diversas áreas e caminhar com facilidade entre
estas áreas”, explica ela. De turismo, eventos, tecnologia para,
por fim, chegar em sorvetes, parece que a formiga do pé de
Emanuelle finalmente encontrou seu lugar.
Da pesquisa acadêmica em Bilogia ao empreendedorismo social
CCom graduação e mestrado em Biologia, Izadora Mattiello resolveu mudar de rumo, deixando a vida acadêmica de lado e buscando uma experiência mais alinhada a
seu propósito. Trocou os laboratórios pela incerteza do empreendedorismo, e hoje é feliz a frente do próprio negócio social, a pHomenta.
“Não é sua formação que importa, e sim o seu propósito de vida”, diz Izadora Mattiello. Formada em Biologia pela Unicamp e com mestrado na mesma área pela USP, ela trocou a trajetória acadêmica de sucesso por uma carreira mais alinhada com seu propósito
Izadora também é membro do Núcleo, a comunidade alumni
dos programas presenciais do Na Prática. A seguir, ela escreve
sobre as reflexões que viveu quando decidiu mudar de carreira,
e o que aprendeu sobre propósito ao longo desse processo:
De análises de DNA à separação do lixo nas praias, me formei
como bióloga na Unicamp. Desde o começo da faculdade tinha
certeza que seria uma cientista. Achava demais usar jaleco,
trabalhar em laboratório, estudar novas soluções, fazer projetos
e analisar dados.
Logo quando entrei na faculdade, no segundo mês, fui trabalhar
em uma empresa de genética, a EXACTGene. Lá aprendi de tudo
um pouco, desde fazer teste de paternidade até relação com
clientes e equipe interna. Mas meu sonho em ser uma cientista
nata me levou a fazer iniciação científica já no segundo ano.
No início foi difícil escolher a linha de pesquisa que queria
seguir. Estava na dúvida entre células tronco, biologia celular e a
ecologia marinha. Mas pelo contagiante ambiente do laboratório
e equipe, escolhi a ecologia marinha de crustáceos.
Foram 3 projetos científicos, um atrás do outro, cada hora
aparecia uma questão nova que queria descobrir. Eu estava
Da pesquisa acadêmica em Bilogia ao empreendedorismo social
estudando uma espécie de crustáceo que tinha cuidado
parental e estava sofrendo com a poluição de hidrocarbonetos
nos mares. Todo mês eu ia para o Centro de Biologia Marinha
da USP, em São Sebastião, fazia os mergulhos, coletas e
experimentos. O resto do tempo, analisava os dados no
laboratório em Campinas, na Unicamp.
No penúltimo ano, fiz um intercâmbio para o Chile, na
Universidad Católica del Norte, para trabalhar três meses
em um laboratório com as algas e animais marinhos da
Patagônia. Foi uma experiência indescritível. Além de conhecer
uma nova cultura e passar por diversos terremotos, o meu
orientador de lá era muito entusiasmado, então quando
voltei para o Brasil estava muito motivada para continuar na
carreira acadêmica.
Então, logo quando me formei, fui para a USP fazer mestrado
em um projeto interdisciplinar da Petrobras. Meu projeto de
pesquisa era propor um método inovador para detectar algas
marinhas vivas, muitas delas tóxicas, que vinham da água de
lastro de navios de diversos portos e que podiam prejudicar a
fauna local e a saúde humana.
Da pesquisa acadêmica em Bilogia ao empreendedorismo social
Foi um grande desafio, pois foi a primeira vez que trabalhei em
uma equipe de cientistas de diferentes formações. Uma parte
do mestrado fiz na Poli – Engenharia da USP, onde construímos
um dispositivo, que era praticamente um micro laboratório em
um chip!
Nesta época aprendi muito sobre inovação, fiz parcerias com
empresas incubadas e conheci diversas soluções de alta
tecnologia. No fim do mestrado, fui para a Holanda, fazer uma
visita técnica no NIOZ (Royal Netherlands Institute for Sea
Research), local de referência para minha pesquisa. A ideia
inicial era fazer o meu doutorado lá. Foi ótima a experiência,
mas aproveitei a viagem, que estava sozinha para refletir mais
ainda sobre minha carreira e aí que percebi que estava sentindo
um grande vazio.
Comecei a questionar minha vida profissional. Tudo estava do
jeito que eu sonhei, mas eu não estava feliz. Apesar de toda
a inovação, o ambiente acadêmico me fazia mal, era muito
competitivo e um pouco machista. Além disso, parecia que
o que eu estava fazendo no laboratório nunca iria atingir a
grande massa da sociedade. Tudo era muito burocrático e lento
para implantar as nossas soluções. E eu sentia que eu poderia
fazer muito mais, ajudar mais pessoas e de forma mais efetiva.
Quando terminei o mestrado, a minha única certeza é que
não iria fazer o doutorado naquele momento. Comecei a
ter uma ânsia por fazer algo maior. Foi um ano cheio de
incertezas e vergonha quando todos me perguntavam o que
eu ia fazer da vida e eu não sabia a resposta. Todos ficavam
indignados, como assim você estudou tanto e agora não sabe
o que vai fazer?
Durante um ano “sabático forçado”, mandava diversos
currículos, mas minha trajetória era extremamente acadêmica
e as empresas cobravam experiência na prática. Resolvi deixar
a angústia de lado e comecei a me envolver voluntariamente
em diversos projetos. Primeiro trabalhei de graça para uma
startup de tecnologia da informação. Lá eu tive muito contato
com marketing e experiência do usuário, além de conhecer
como funcionava investimento anjo, incubar empresas,
avaliação de empresas, etc. Fiz diversos cursos informais na
área comercial, gestão de projetos…e quase abri uma empresa
de cupcakes!
Da pesquisa acadêmica em Bilogia ao empreendedorismo social
Até que fiz o Catálise da Fundação Estudar! Foi lá que
realmente minha vida mudou! A pergunta que mais me
marcou foi qual era o meu propósito de vida. Como assim? Eu
não tinha noção de qual era o meu propósito de vida! Até então
meus objetivos de vida eram ter uma boa profissão, casar, ter
filhos, ou seja, o convencional. E foi lá que eu consegui refletir
nas minhas habilidades, meus verdadeiros gostos e o que me
faria feliz. Meu propósito? Ajudar pessoas. E foi aí que eu deixei
de sentir o peso de fazer algo diretamente ligado à minha
formação acadêmica.
Saí de lá com uma energia imbatível, parecia que tinha me
descoberto novamente. Na mesma semana resolvi procurar
trabalho voluntário em ONGs na minha cidade. Naquele
momento não importava mais para mim o dinheiro, mas sim
tentar fazer algo que tinha a ver com meu propósito. Achava
que iria dar aulas para as crianças, mas quando cheguei lá eles
precisavam de ajuda na captação de recursos, para escrever
projetos e prospectar editais e empresas. Bom, o que eu fiz
minha vida toda? Escrever projetos para pedir financiamento!
Eram projetos científicos, mas não importa, eram projetos! Aí
tudo estava começando a fazer sentido. Comecei a me dedicar
para resolver os problemas daquela ONG e vi que muito das
demandas deles não eram de voluntários para reformar a
escola ou brincar com as crianças, mas sim de ajuda na gestão!
Tinham dificuldades para melhorar o marketing, a identidade
visual, em ser mais comercial… Quando comecei a identificar
estas demandas eu só lembrava de amigos ou conhecidos que
eram muito bons nessas áreas e que com certeza topariam
ajudar com seu conhecimento.
Para encurtar a história, essa experiência na ONG, em
entender um pouco as demandas de gestão, financeiras e
de recursos humanos, juntou com a experiência em business
do meu sócio, que já captava recursos para uma startup, a
Geekie. Nosso desejo não era reinventar a roda, mas sim
apoiar as organizações que já estavam fazendo coisas boas,
somente potencializando com os nossos conhecimentos e
de outros voluntários.
Foi aí que em maio de 2015 meu sócio largou o emprego dele e
eu parei de mandar currículos para investirmos no nosso sonho
grande: empreender em um negócio social. E com certeza, a
Fundação Estudar fez toda a diferença nesta nossa decisão. Um
Da pesquisa acadêmica em Bilogia ao empreendedorismo social
pequeno detalhe: este meu sócio também é biólogo e meu sócio
de vida, casamos em 2014. Um casal que largou tudo e que
investiu todas as finanças para abrir um negócio social. Imagina
o susto que nossas famílias e amigos levaram!
A pHomenta é um negócio social que tem como objetivo
potencializar projetos sociais mobilizando recursos financeiro
e humanos. Nós fazemos toda o diagnóstico e curadoria de
ONGs e startups sociais para atacar nos pontos fracos de
cada organização. Hoje já temos 204 voluntários na nossa
rede, sendo que 184 vieram via Fundação Estudar. São jovens
brilhantes que estão contribuindo com seus conhecimentos
para potencializar causas sociais. Eles trabalham de forma
remota e para retribuí-los nós damos mentores de carreira para
eles, pessoas com alta experiência no mercado que abraçaram
nossa causa e fazem esse coaching voluntariamente.
A Fundação Estudar teve alto impacto nas minhas decisões.
Primeiro no Catálise, onde eu descobri que o nosso propósito
é muito maior que um diploma. E segundo no Núcleo. No
dia da apresentação do 1º ciclo do núcleo, eu me senti tão
motivada por estar perto de pessoas tão boas, empolgadas e
brilhantes que eu não senti mais medo para empreender. Sabia
que qualquer dúvida, qualquer apoio eu poderia encontrar
no núcleo, que as pessoas estavam dispostas a ajudar. Tanto
é que um dos membros, o Vitor Barbosa, já faz parte do
time pHomenta e muitos outros são voluntários. Hoje sou
extremamente feliz por ter encontrado meu propósito de vida.
E você? Já encontrou o seu?
De designer na maior empresa de comunicação do país a mestre cervejeiro
Quem frequenta os bares de São Paulo pode ter a sorte de encontrar no cardápio algumas cervejas da cervejaria Júpiter. O que esses apreciadores de uma “gelada” geralmente não
imaginam é a trajetória dos três irmãos Michelsohn, que são os responsáveis pela fundação dessa cervejaria. Um deles, David Michelsohn, batalhou bastante em outras áreas antes de perceber que a paixão por cervejas podia se transformar em sua profissão.
David Michelsohn transformou uma má notícia – a demissão de última hora – na oportunidade que precisava para empreender sua própria marca de cerveja, a Jupiter, hoje entre as mais premiadas de São Paulo
trajetória O trabalho faz parte da vida de David desde cedo.
“Aos 12 anos, nas férias de verão, trabalhava como contínuo na
empresa do meu tio. Com 18, trabalhava como extra em buffets
de festas corporativas. Morei fora duas vezes e trabalhei como
lavador de pratos, cozinheiro e até numa plantação de bananas.
Formei-me em Desenho Industrial e trabalhei alguns anos
como designer.” Aos 33, quando trabalhava na redação de uma
das grandes revistas do país, na Editora Globo, resolveu cursar
pós-graduação em Jornalismo.
Mesmo admirando a profissão de jornalista e investindo nela,
David foi surpreendido com uma demissão seis meses antes de
apresentar sua monografia na pós-graduação, no final de 2011.
“Eu era cervejeiro caseiro quando fui demitido. Já era apaixonado
por cerveja nessa época e estudava muito. Durante os meses
de dezembro, janeiro e fevereiro as contratações no mercado
editorial costumam ser fracas e resolvi me dedicar ao hobby.
Lendo sobre as histórias das cervejarias americanas tive a ideia
de começar a produzir sob contrato. Chamei meus irmãos e
montamos as planilhas financeiras da nova empresa (que só
existia em nossas cabeças). Em fevereiro de 2012 decidimos que
lançaríamos nossa cerveja comercialmente”, lembra.
De designer na maior empresa de comunicação do país a mestre cervejeiro
O sucesso que as cervejas caseiras produzidas por David faziam
entre os amigos foi importante para o início do negócio. “Meus
amigos já bebiam minha cerveja e adoravam, me deram muita
força. E os familiares apoiaram a iniciativa dos três irmãos.
Eu acredito que toda essa energia positiva me encheu de
autoconfiança, extremamente necessária quando se inicia uma
empreitada dessas”, ressalta.
Com todo esse apoio e com a qualidade do produto, a
Júpiter passou a conquistar seu espaço comercialmente e
já pode ser encontrada em mais de 350 estabelecimentos
somente em São Paulo, e outros espalhados por seis
estados do Brasil. Os prêmios vão se acumulando, mesmo
com pouco tempo de existência da marca, e a produção
comercial já chega a dez mil litros por mês. No início de
dezembro, David inaugurou a tão aguardada Chopperia
São Paulo. “Fazer esse projeto se tornar realidade foi um
processo longo, com uma curva de aprendizado bem
íngreme. Fiquei muito ansioso em diversos momentos,
especialmente na reta final. Mas me preparei de acordo,
escolhi parceiros com boa experiência no ramo e tudo
correu bem”, anima-se.
De designer na maior empresa de comunicação do país a mestre cervejeiro
preparação Obviamente, David é um apaixonado por cervejas,
mas só isso não era suficiente para que ele pudesse se dedicar
à produção dessa bebida. Ele fez diversos cursos na área,
participou da primeira turma de Administração dos Negócios
da Cerveja da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e, hoje, é jurado
reconhecido em concursos de cerveja. “Ainda não considero
minha formação completa. Todos os dias encontro pessoas que
sabem muito mais do que eu e penso que ainda preciso estudar
bastante para chegar perto de meus colegas de trabalho”, diz,
de maneira humilde.
Os conhecimentos dos tempos em que trabalhava com
comunicação ainda são bem úteis na nova rotina. “Uso muitas
habilidades das minhas antigas carreiras. Cuido com muita
atenção de toda a parte de comunicação. Crio os rótulos, pauto
a agência que cria conteúdo para o Facebook, escrevo releases,
falo com a imprensa. Mas também precisei aprender muito
sobre gestão, vendas e finanças, além, é claro, de aprender
muito sobre produção de cerveja”, revela o empreendedor.
propósito David não esconde o entusiasmo por, finalmente,
ter encontrado sua paixão profissional. Mas ele lembra que
também existe outro lado não tão atrativo nisso tudo. “Confesso
que no início fiquei deslumbrado. É muito bom trabalhar com
aquilo que você gosta. E as pessoas ficam muito felizes de
conhecer um cervejeiro. É o mais próximo que eu vou chegar
de ser um astro do rock (risos)! Mas tem o outro lado. Qualquer
pessoa que tem algum sucesso no trabalho tem sempre muito
trabalho para ser feito. São 12 a 16 horas de trabalho por dia,
seis, às vezes sete dias por semana. Parte do trabalho é muito
agradável mas carrego muitos barris e caixas de cerveja. É o
famoso glamour cervejeiro!”, brinca.
Para aqueles que não estão satisfeitos com o emprego atual,
ele tem conselhos. “Quando olho para trás vejo que há quatro
anos eu era um desempregado e hoje tenho muito trabalho para
fazer. Eu era feliz no meu trabalho anterior, então meu ponto
de vista é um pouco inusitado. Mas acho que se você está num
emprego que não agrada, o caminho mais seguro é estudar sobre
uma nova área, se aproximar de players do mercado e conhecer
em primeira pessoa como funciona o segmento que interessa.
Mesmo para dar o salto de cabeça, tem que se planejar.”
De redator publicitário à chefe de cozinha
Algumas mudanças de carreira são planejadas a longo prazo, com cursos preparatórios e muita pesquisa. Esse não é o caso de Lucas Ferreira, tanto é que ele foi fazer
uma entrevista procurando uma vaga para redator publicitário e acabou conseguindo um posto na cozinha de um restaurante em Portugal. E ele saiu feliz da vida com o novo emprego, optando por seguir a nova carreira como chefe de cozinha a partir desse momento. A seguir, veja como foi essa mudança de carreira:
“Quando resolvi me tornar um cozinheiro, eu não titubeei nem um segundo e as pessoas que estavam à minha volta sentiam essa energia em mim”, diz Lucas Ferreira
trajetória A publicidade foi um caminho natural para Lucas,
já que tanto seu pai quanto sua mãe trabalharam na área. “Sou
filho de redatores publicitários. Para mim, viver de escrever
sempre foi uma meta e, desde sempre, frequentava redações
de jornais e as salas de criação nas agências onde meu pai
trabalhava. Desta forma, quando entrei na faculdade, já tinha
um projeto bem claro traçado na minha cabeça. Apesar da
eterna crise em relação à publicidade e seus fins, que sempre
me acompanhou, eu gostava do meu trabalho como redator”,
explica ele, fazendo referência à polêmica sobre a relação entre
sua função e o consumismo.
A carreira seguia bem e, aos 24 anos, trabalhava em uma
grande agência de publicidade em São Paulo. Até que
resolveu mudar de ares e buscar sua sorte em Portugal. Lá,
por intermédio de um amigo, conseguiu uma entrevista de
emprego no Jornal Expresso que mudaria seu destino. “A
jornalista era a responsável pelo caderno de gastronomia
e ficamos quase três horas conversando sobre comida. Na
despedida ela falou que iria me arrumar um emprego, mas que
não seria no jornal. Três dias depois eu começava, mais uma
vez todo orgulhoso, na cozinha do restaurante Amo-te chiado.
De redator publicitário à chefe de cozinha
Sem experiência alguma, mas com muita motivação! Nunca
mais saí da cozinha!”, diz.
Trabalhando na cozinha, ele se encontrou profissionalmente,
mesmo diante das dificuldades e de um salário não tão alto fora
de sua terra natal. “O meu salário como aprendiz de cozinheiro
era suficiente para cobrir minhas despesas e pagar o aluguel
que eu dividia com outro cara. Comer eu comia no restaurante,
onde ficava desde as 8 ou 9 da manhã até 1 da madrugada. Eu
chegava da cozinha as duas da manhã e ficava contando para
meus amigos sonolentos curiosidades sobre como limpar uma
lula ou a técnica para se cortar uma cebola perfeitamente.
Os caras riam. Eu parecia um homem apaixonado, e era. As
dificuldades não conseguiam vencer minha vontade de me
tornar cozinheiro”, afirma.
Em Portugal conheceu Nicole, sua atual esposa e incentivadora.
Trabalharam juntos em Barcelona, na Espanha, e decidiram
retornar ao Brasil para abrir um restaurante com algumas
economias que fizeram. Mas não seria tão simples assim.
“Quando retornamos ao Brasil tínhamos ideia de abrir um
restaurante em uma praia mais ao Norte, mas, antes de colocar
De redator publicitário à chefe de cozinha
a ideia em prática fomos roubados. Toda a grana que tínhamos
trazido da Europa, que não era muita, estava dentro de um
violão. Entraram na nossa casa e levaram o danado. Ficamos
quase zerados”, lembra.
recomeço Depois do assalto e sem grana para montar o
próprio negócio, o casal teve de buscar recursos de outra
forma morando em Pipa, no Rio Grande do Norte. Nicole teve
a ideia de vender sanduíches na praia. “Esse obstáculo foi
determinante, pois os moradores mais antigos aqui na vila nos
conheceram de isopor na mão, porta em porta, dia após dia,
vendendo nossos sanduíches. Isso ajudou para que as pessoas
da comunidade valorizassem o nosso esforço. Muita gente deu
a maior força e somos gratos até hoje por isso”, ressalta ele.
Os sanduíches fizeram sucesso e levantaram a verba suficiente
para arbir o restaurante Tapas, que já tem mais de dez anos
de existência e um público cativo. “O Tapas começou sem
funcionários, só eu e a Nicole, numa área de vinte metros
quadrados, contando o banheiro e a cozinha. Hoje, ele tem
mais de uma década e fizemos um duro e sério trabalho por
aqui. Eu e minha esposa estamos lá todos os dias, ela no salão
e eu dentro da cozinha. E não tem glamour não! A rotina é
dura e sacrificante, mesmo estando a poucos metros de uma
piscina natural. Acordar cedo, falar com o peixeiro, contas,
fornecedores, problema na internet. Tudo isso tenho de lidar
por aqui”, descreve.
Quando perguntado se a criatividade de publicitário o ajuda
na criação dos pratos que serve no Tapas, Lucas é enfático.
“O trabalho em um restaurante é para quem gosta, porque
é duro em São Paulo ou na praia da Pipa. Isso não muda.
Muita gente pode fazer a associação entre a criatividade do
cozinheiro e diversas outras profissões que exigem ideias novas
constantemente. Mas vou te dizer uma coisa: se o cozinheiro
é um artista, ele pinta todos os dias as mesmas telas. Um
trabalho de repetição muito mais do que inspiração. O esforço é
de precisão”, conta.
Ao comentar a mudança de profissão, Lucas encara como
um processo natural. Como se o destino o tivesse guiado para
sua paixão, sem que ele tivesse planejado completamente a
guinada. “Quando resolvi me tornar um cozinheiro, eu não
titubeei nem um segundo e as pessoas que estavam à minha
De redator publicitário à chefe de cozinha
volta sentiam essa energia em mim. Além disso, todos que
me conheciam minimamente sabiam da minha paixão pela
cozinha. Ninguém estranhou. Meu pai soltou um famoso ‘eu
já sabia’. Foi tudo muito natural”, afirma.
Apesar dessa naturalidade, o chefe lembra que o caminho
de uma mudança pode se mostrar mais complicado
posteriormente. “Mudar de profissão é como parar de fumar.
Você decide, dá um passo para o lado e pronto. Mudou. Amanhã
não fuma mais. Mas é aí que as dificuldades começam. Como
eu disse antes, quem quer de verdade segue o caminho. Pelo
menos para mim foi assim”, finaliza.
De administradora de empresas à terapeuta holística e professora de Reike
Imagine só a seguinte situação: você chega para trabalhar todos os dias desanimado e pede a Deus um novo emprego. Você acaba conseguindo trocar de emprego, ganha mais, mas aquela sensação não
te abandona. No fundo, você sabe que não é aquilo que quer para a sua vida.
“Atualmente a minha remuneração não chega nem perto do salário que eu tinha no meu último emprego, mas hoje eu não dependo de uma empresa para ter um trabalho”, conta a terapeuta Lu Oliva
Durante alguns anos, essa foi a rotina de Lu Oliva, que resolveu
abandonar esse martírio matinal pelo qual passava em grandes
empresas para ser feliz como terapeuta holística e professora
de Reiki, técnica que consiste na captação e transmissão de
energia através das mãos. De alguém que estava perdida
profissionalmente no passado, hoje ela ajuda pessoas a se
conhecerem melhor durante as sessões de terapia. Entenda
como ocorreu essa mudança de carreira.
primeiros passos A vida profissional de Lu começou cedo,
antes mesmo de entrar na faculdade. Ela foi aprovada em
um concurso público e cursou Administração de Empresas
simultaneamente. Assim que se graduou, veio a primeira
grande mudança na sua carreira: abandonou a estabilidade e
pediu demissão do cargo público. “Lembro-me bem da cara do
meu superior quando pedi demissão. Ele achou muito estranho
alguém sair de um emprego público”, relembra.
A partir daí, passou por vários empregos em grandes empresas
privadas, e foi crescendo… Analista junior, analista pleno,
analista senior, consultora de cargos e salário, dentre outros.
Em comum, a mesma sensação: “O que eu mais me lembro
era sentir um vazio, a sensação de não estar no caminho certo.
Lembro que a volta de cada período de férias era uma tortura.
As manhãs eram uma tortura. Eu sempre rezava e pedia a Deus
um emprego que pudesse me fazer feliz. Mudava de emprego,
ganhava mais e a sensação desaparecia momentaneamente.
Por um tempo eu me sentia estimulada, mas logo a frustação
voltava ainda mais forte”, explica.
Quando o segundo filho nasceu, mais uma vez Lu resolveu
pedir demissão e começou a pintar como hobby. “Comecei a
pintar para aproveitar o tempo livre. Pintava camisetas e jeans.
Eu usava, as pessoas gostavam e encomendavam. Tornei-me
artesã e permaneci assim por três anos. Acho que a pintura
foi a ponte que eu precisava para a verdadeira mudança
profissional. Abriu a minha sensibilidade e aceitação para a
chegada de algo totalmente novo e desconhecido para mim, a
terapia holística”, ressalta.
Lu Oliva cita como grande marco para a mudança em sua
vida uma conversa que teve com uma senhora humilde. “Um
dia, uma senhora muito simples e sábia segurou a minha
mão e disse que eu tinha mãos que curam… Não entendi isto
De administradora de empresas à terapeuta holística e professora de Reike
De administradora de empresas à terapeuta holística e professora de Reike
na época e dentro da minha visão limitada resolvi fazer um
curso de massagem relaxante. Acho que foi aí que o Universo
resolveu me dar uma mãozinha (risos). Até hoje não entendo
como, ao invés de me matricular em um curso de massagem,
eu me matriculei em um curso de Reiki. Este foi o marco. O
meu primeiro curso de Reiki”.
Autoconhecimento O Reiki é um sistema natural de
harmonização e reposição energética que mantém ou
recupera a saúde, muito usado por pessoas estressadas
com o dia a dia. Com o Reiki, Lu Oliva passou a se conhecer
melhor. “Depois do meu primeiro curso de Reiki comecei a
me beneficiar da terapia vibracional. As sessões me ajudaram
a conhecer o equilíbrio vibracional, eliminando os meus
bloqueios e trazendo o autoconhecimento. A partir daí fiz
vários cursos me tornando mestre em diversas modalidades
de cura energética. E é este o meu trabalho atual. Sou t
erapeuta holística. Por meio de técnicas de cura vibracional
ajudo as pessoas a promoverem o autoconhecimento e o
equilíbrio emocional, mental e vibracional. De paciente
me tornei terapeuta”, explica.
Já são nove anos atendendo profissionalmente como terapeuta
holística e ela é responsável por quase tudo. “Não tenho
secretária, eu mesma faço os agendamentos, a maioria
solicitada por Whatsapp. Trabalho somente por indicação,
não faço propagandas e não tenho vocação para a área de
marketing. Um final de semana por mês, ministro cursos
de Reiki. Como extensão do meu trabalho, faço limpeza
energética em ambientes e pinto mandalas personalizadas sob
encomendas. Atualmente voltei a pintar camisetas e jeans,
depois de ter parado com a pintura por dez anos”, orgulha-se.
A nova rotina traz alguns benefícios difíceis de serem
imaginados nos antigos empregos. “A minha qualidade de vida
mudou muito. Hoje, eu faço os meus horários e isto para mim é
qualidade de vida. Não tenho que lidar com a pressão do mundo
corporativo. Não tenho que conviver com a competição e o
estresse desses ambientes. Tenho tempo para meus filhos e para
mim. Outra mudança valiosa é a minha evolução pessoal. Tenho
diariamente a oportunidade de aprender com cada pessoa que
eu atendo. Isto não tem preço! Toda manhã sou grata ao meu dia
de trabalho, bem ao contrário do que era antes”, afirma.
De administradora de empresas à terapeuta holística e professora de Reike
Sobre o aspecto financeiro, ela admite que ganhava mais nos
antigos cargos, mas a independência parece compensar. “Esta
estabilidade que o emprego oferece, considero ilusão. Você fica
preso a um modelo trabalhista limitado. Este modelo te torna
dependente, dificultando a descoberta de seus talentos mais
profundos. Atualmente a minha remuneração não chega nem
perto do salário que eu tinha no meu último emprego, mas hoje
eu não dependo de uma empresa para ter um trabalho. Eu sou
o meu trabalho… O meu talento é o meu trabalho. Sinto-me
segura em saber que eu sou um ser produtivo e não preciso que
alguém me diga o que fazer”, finaliza.
De publicitário a comediante de stand up
Não é raro termos contato com propagandas bem-humoradas e que nos arrancam boas risadas. Mas uma coisa é trabalhar como publicitário, outra é usar a criatividade em
um palco diante de uma plateia lotada. Bruno Costoli, um dos principais nomes do stand up comedy mineiro, nos mostra como é possível tomar um novo rumo profissional aproveitando antigas habilidades.
Bruno Costoli trocou uma rotina exaustiva pelos palcos, que fizeram dele um dos principais nomes do stand up comedy mineiro
Com 30 anos atualmente, ele formou-se em Comunicação
Social na UFMG, um dos cursos mais concorridos no vestibular.
Trabalhou por cinco anos com publicidade, passando por
algumas grandes agências como redator publicitário. “O
que mais me agradava na área era a possibilidade de criar
algo legal, ter uma ideia boa que fosse veiculada pela cidade.
Não acho que a decisão de estudar publicidade tenha sido
precipitada, acho que a faculdade só não mostra com muita
clareza como vai ser o mercado”, analisa.
E o mercado, muitas vezes, é mesmo cruel. “Quase todos os dias
ficava além do horário na agência. Uma das coisas que sempre
me incomodou era esse não cumprimento de horários. Eu não
conseguia marcar nenhum compromisso durante a semana
porque sempre poderia acontecer de precisar ficar até mais
tarde. E o que mais me indignava nisso (além das horas extras
não serem remuneradas e nem sequer banco de horas eu ter)
era o fato desse tempo extra ser muitas vezes culpa da falta de
planejamento e organização dentro da empresa”, revela.
A rotina desgastante também se traduzia na ausência de férias,
fator que acabou por ser fundamental para a grande guinada
profissional. “Quatro dos cinco anos na publicidade foram
sem tirar férias, porque muitas vezes eu era o único redator da
agência. Na primeira vez que tirei, passei um mês inteiro à toa
e tive certeza de que não queria mais aquilo (velha rotina) para
mim”, afirma.
Ele voltou do seu descanso e, por incrível que pareça, passou
a levar as apresentações de comédia que fazia mais a sério.
“Eu ainda era muito iniciante, mas era o momento em que a
comédia stand up começava a crescer em BH. Em poucos meses
na área comecei a ter resultados positivos e via um crescimento
legal no setor. A comédia se mostrava, a longo prazo, mais
interessante do que a publicidade. Quando percebi, já fazia
parte de um grupo de comédia e estava me apresentando toda
semana”, conta o comediante.
A rotina atualBruno se tornou uma das referências no stand up comedy na
capital mineira, com apresentações quase sempre lotadas e
palestras para diversas empresas. Mas ele se preparou para
esse caminho. “No início, era muito comum os comediantes se
apresentarem como convidados nos shows dos outros grupos.
De publicitário a comediante de stand up
De publicitário a comediante de stand up
Essa troca foi muito boa para o fortalecimento do mercado.
Comecei a ler alguns livros e textos sobre o assunto, ver
entrevistas de comediantes famosos, além de vídeos e filmes
sobre stand up e comédia em geral. Fiz ainda alguns anos de
teatro no Galpão e diversos cursos de improvisação teatral”,
relata.
Um dos diferenciais de Costoli é a presença das músicas nas
suas apresentações. Com seu violão, toca canções próprias
e paródias, como as sobre o Sertanejo Universitário (sucesso
de visualizações na internet). Entretanto, ele também aborda
assuntos mais sérios.
“A rotina de criação é intensa. Trabalho mais do que na época
que era publicitário (risos). Tenho tentado falar sobre assuntos
mais relevantes também. Acho que seria um desperdício não
usar a oportunidade que tenho de falar para tanta gente (no
palco e na internet) sobre algo que considero importante e que
possa mudar as pessoas. Fazer rir é bom e necessário, mas fazer
pensar também é”, analisa.
Costoli considera importante o período em que trabalhou como
publicitário para o sucesso na nova atividade. “Na publicidade
eles não se preocupam muito em otimização de trabalho, então,
às vezes, você cria o máximo possível. Ao mesmo tempo que
isso é um desperdício, para comédia isso é ótimo. Te faz achar
piadas que quem para na primeira ideia não vai achar. Isso me
mostrou que essa onda de ‘insight’, de esperar a ideia chegar,
é bobagem. Há uma glamourização da criatividade, mas é um
trabalho como qualquer outro. Sem falar que a publicidade usa
o humor de forma recorrente. Até alguns formatos publicitários
se parecem muito com o formato de piadas”, acredita.
LiberdadeComo pontos positivos na nova carreira, Costoli cita sua
autonomia (de horários, de criação e financeira). Agora, ele
ganha de acordo com o que produz, escolhe seu horário de
trabalho e é o responsável por definir o rumo de suas ideias.
“Na publicidade, independentemente de quanto eu trabalhasse,
meu salário era o mesmo. Na comédia, se eu consigo mais
trabalhos, eu ganho mais. Além disso, antes eu tinha que passar
minhas ideias pelo crivo de várias pessoas (chefes). Hoje, minhas
ideias passam pelo crivo de muito mais pessoas, mas são os
consumidores finais. E a resposta é imediata: riu ou não. Se for
ruim, a culpa é minha. Se for bom, o mérito é meu”, enfatiza.
De publicitário a comediante de stand up
Para quem olha com desconfiança para o novo ofício, ele
manda um recado: “Às vezes alguém fala que é só ´ir lá falar
umas bobagens´. Até gente da área, por incrível que pareça.
Tem muita gente que fala ‘meu amigo ia se dar bem nisso’,
como se fosse só chegar lá e fazer. Eu gostaria de ver essas
pessoas tentando... Porque uma coisa é fazer seus amigos
rirem num churrasco onde todos te conhecem. Outra coisa
é fazer rir um bando de gente que nunca te viu na vida e
ainda está pagando por isso”.
Do mundo das redações ao empreendedorismo
As demissões são um verdadeiro tormento para a maioria dos empregados. Receber a notícia de que você não trabalha mais naquela empresa pode ser complicado —
as contas para pagar não esperam no fim do mês — mas também pode ser a hora da virada. Esse é o caso de Mauricio Nadal, 28 anos, que aproveitou a saída forçada do seu emprego como jornalista para se tornar um empreendedor. E ele está fazendo barba, cabelo e bigode nessa nova carreira!
Mauricio Nadal foi surpreendido com uma demissão em massa, mas transformou a situação ruim no impulso que precisava para mudar de rumo e abrir a própria barbearia
Nadal formou-se em jornalismo pelo Mackenzie em 2009 e
logo começou a se envolver com a área esportiva. “Aceitei e
realizei vários sonhos no jornalismo esportivo. Cobri eventos
de vários esportes, entrevistei ídolos, viajei, entre outras
coisas bem legais. Virei jornalista pela paixão por esportes e
pelo gosto de conhecer e escrever histórias. A decisão foi mais
que certa”, conta.
Mas o atual momento do jornalismo, com seguidas demissões
e projetos descontinuados, começou a incomodá-lo. “Ver as
decisões e caminhos dos caciques dessa área me desanimava.
Precisava passar por tudo aquilo para crescer e almejar algo a
mais para a minha vida. Mas a ausência de plano de carreira, a
clara crise na profissão e o fator financeiro também contaram
demais para mudar de área. A sensação de impotência, das
mãos atadas, me consumia. Era um sinal”, relata.
A partir desse cenário, ele passou a pesquisar mais sobre o
empreendedorismo. “Participei de reuniões de empresas nas
áreas alimentícia, serviços e pets e chegamos muito perto de
colocar uma grana imensa em algo que não acreditávamos.
Foi aí que veio a grande ideia. Eu já frequentava e sabia da
tendência das barbearias. Pensei: ‘por que não fazer algo no
estilo esportivo?”.
E o incentivo decisivo para abrir sua própria barbearia foi a
demissão do portal de notícias em que trabalhava. “Estava no
fim das férias e recebi uma ligação de um editor dizendo que
eu estava demitido, em mais um corte trivial no jornalismo.
Era para apenas passar lá e pegar as minhas coisas. No primeiro
momento, foi um espanto, mas no mesmo dia já estava
tranquilo em casa e sabia bem o que deveria começar a
fazer”, lembra. Era o marco para a criação da Barbearia
Campeã, inaugurada em São Caetano (SP) com estilo
esportivo e novos conceitos.
Tratamento diferenciadoApós definir a área em que iria empreender, Nadal precisava
conhecer a fundo o universo das barbearias. “Pesquisei
muito sobre o mercado, comecei a frequentar ainda mais as
barbearias, para ver acertos e erros deles. Matriculei-me no
curso de barbeiro, não para trabalhar no dia a dia com o ofício,
mas para entender do assunto. Não só de máquinas, tesouras,
pentes e acessórios em geral, mas também do panorama de
Do mundo das redações ao empreendedorismo
Do mundo das redações ao empreendedorismo
mercado, produtos e profissionais. Essa foi a grande sacada,
pois pude entrar no mundo dos caras e ver como é difícil cortar
um cabelo ou fazer uma barba. Fica mais fácil de falar a língua
deles e entender dos problemas”, revela.
Quem frequenta a Barbearia Campeã encontra muito mais do
que um corte de cabelo ou da barba. Com um investimento
de R$ 110 mil, o espaço conta com uma área para a interação
entre os clientes, com mesa de sinuca, bar e televisão. Tudo isso
com muito papo sobre futebol, é claro! “Fico no bar da barbearia
conversando com os clientes ou com os acompanhantes
deles. Esse atendimento é muito importante e a pessoa se
sente respeitada e mais bem atendida ainda”, afirma ele, que
tenta sempre memorizar o nome e o time do coração dos
frequentadores. “Sou muito mais feliz atualmente. Sinto-me
bem naquele ambiente. Ficaria o dia inteiro lá dentro, sem
problemas. É muito cansativo, é claro. Mas a satisfação dos
clientes da barbearia é a certeza de um trabalho bem feito,
mesmo que ainda engatinhando”, afirma.
Sobre o futuro, Nadal espera que sua barbearia receba ainda
mais movimento com a realização dos Jogos Olímpicos de 2016.
Quando perguntado se voltaria ao jornalismo, ele é enfático.
“Voltar ao jornalismo, da forma como ele se apresentava,
seria um retrocesso. A veia empreendedora está pulsando em
mim. A noção de responsabilidade, em tomar decisões, é algo
fantástico. Quero arriscar, apostar, porque gera mais alegria
quando se conquista um objetivo. Reclamar da vida é a pura
bengala da preguiça ou falta de ânimo. Todos nós somos
protagonistas de nossas vidas e caminhos profissionais e
pessoais”, finaliza.
De consultoria estratégica ao setor público
Criticar o governo e os órgãos públicos é rotina para muitos. Mas será que essas pessoas já pensaram que poderiam contribuir para melhorar a realidade do setor público
do país? Esse foi o caminho escolhido por Joice Toyota, uma das criadoras do Vetor Brasil, que recruta e seleciona trainees para trabalhar no governo. Depois de estudar em escola pública, ela resolveu colocar todo seu talento para transformar a educação (e muitos outros setores) no país.
“Tenho um salário que corresponde a cerca de um quarto do que eu ganhava. Não faço isso pela questão financeira, mas para tentar criar algo importante”, diz Joice Toyota
Formada em Engenharia Elétrica na Escola Politécnica da
USP, Joice escolheu a área de exatas pela facilidade em lidar
com os números. “Desde muito pequena tinha facilidade em
matemática e lógica e também tive um professor que me
incentivou a cursar Engenharia. Fiz esse curso muito pela
curiosidade por saber como as coisas funcionavam. Conhecia
muito pouco o mercado de trabalho quando fiz essa opção e
nunca tive clareza do que eu queria fazer profissionalmente
mesmo”, lembra-se.
Na universidade teve contato com o universo das empresas
juniores e viu que, além dos números, também tinha talento
para lidar com pessoas. “Trabalhei e fui presidente da federação
estadual de empresas juniores e ajudei a criar a Brasil Junior,
entidade nacional. Percebi que gostava muito mais do lado de
gerenciar pessoas e projetos do que apenas números e isso foi
me chamando a atenção aos poucos”, afirma ela.
No momento em que pegou o seu diploma, já sabia que não
queria trabalhar com Engenharia e optou por ajudar a mudar
uma realidade que fazia parte de sua história. “Estudei em
escola pública no ensino fundamental e via as dificuldades do
ensino público no país. Sempre tive vontade de trabalhar com
educação para ajudar a transformar isso”, explica.
Assim como acontece com muitos engenheiros formados,
Joice acabou passando por duas consultorias, onde foi possível
se aproximar do sonho de trabalhar com educação em um
projeto no Estado do Amazonas. “A consultoria em que eu
estava trabalhando estava fazendo um projeto de educação
no Amazonas. Seria confortável, estaria com a estrutura da
consultoria e desenvolvendo um projeto nos moldes como
eu estava querendo, com educação. Passei um ano e meio
morando e trabalhando por lá e percebi que eu não sonhava
em trabalhar com consultoria, não era aquilo que eu queria”,
lembra.
Setor públicoDepois de retornar do Norte do país, Joice recebeu uma
proposta de trabalho na Secretaria de Educação do Estado de
Goiás. “Conhecia o Secretário de Educação e ele me fez uma
proposta para trabalhar lá, com um salário que era cerca de
um terço do que eu ganhava na consultoria. Aceitei e não
me arrependo. Trabalhar no Estado foi uma das decisões
De consultoria estratégica ao setor público
De consultoria estratégica ao setor público
mais acertadas na minha carreira. No setor público o seu
trabalho impacta muita gente, a responsabilidade é enorme.
Tive a oportunidade de fazer parte de uma grande reforma
educacional no Estado (entre 2012 a 2014), considerada uma
das mais bem-sucedidas do país”, afirma.
Mas esse período no setor público não se estenderia muito,
pois Joice foi aprovada para fazer mestrado na concorrida
Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, com bolsa
da Fundação Estudar. “Aprendi muitas coisas morando fora
do país. Estava estudando no Vale do Silício, convivendo
diariamente com toda aquela cultura empreendedora e aquilo
me empolgava. Percebi que havia uma oportunidade no
mercado na qual eu podia trabalhar: de um lado, havia muitas
pessoas que queriam trabalhar com impacto social em grande
escala e, do outro, havia muitas equipes que precisavam desses
profissionais e tinham dificuldades de encontrar. Havia uma
lacuna entre esses dois grupos e eu poderia ajudar a aproximá-
los com minha experiência profissional”.
Nesse momento, ao lado de José Frederico e Rafael Martines
(que também estudavam fora do país), Joice participou da
criação da Vetor Brasil, criada para selecionar jovens talentos e
alocá-los em governos, de forma a criar uma experiência única
de implementação de políticas públicas e de desenvolvimento
profissional e pessoal.
Nessa fase empreendedora, Joice diz estar realizada com o
trabalho na Vetor. “Sou muito mais feliz atualmente. Adorava
consultoria, conheci pessoas incríveis e gostava do trabalho.
Mas trabalhar com propósito é diferente. Agora, quando saio
às duas da manhã de uma reunião acho o máximo, pois estou
resolvendo algo importante e que eu me propus a fazer. Antes
não era bem assim. Trabalho muito com jovens e a energia
deles acaba me contagiando”, afirma.
Quem pensa que as mudanças profissionais na vida de
Joice são pautadas pelo dinheiro se engana. “Tenho um
salário que corresponde a cerca de um quarto do que eu
ganhava na consultoria. Na verdade, não tenho muita
perspectiva de aumentar o meu salário nesse momento.
Não faço isso pela questão financeira, mas por tentar criar
algo importante, fazer contatos e desenvolver habilidades.
Essa é uma decisão de família, resolvemos viver de um jeito
De consultoria estratégica ao setor público
mais simples. Meu marido topou essa decisão e somos felizes
dessa forma”.
Para aqueles que possuem medo de arriscar e mudar seus ares
profissionais, ela aconselha. “Acho um grande desperdício ver
pessoas infelizes no trabalho e, ao mesmo tempo, capacitadas.
Procuro sempre ser otimista. Digo para elas: ‘se der errado, você
começa novamente, tem um currículo legal e vai ser aceita no
mercado. Mas, pelo menos tente. Corra o risco de dar certo, não
de dar errado”, finaliza.
De publicitária a pet sitter empreendedora
Muitas pessoas têm um animal de estimação e o consideram parte da família. Mas, diante da rotina corrida e de muitas viagens, acabam não tendo tempo para cuidar
desses bichinhos. Percebendo essa situação, Fernanda Falci decidiu se tornar pet sitter e dar muito carinho a esses animais. Mas o caminho até chegar a essa profissão pouco difundida no Brasil não foi fácil, cheio de desconfianças e até problemas de saúde causados pelo stress na sua antiga ocupação.
“Não sei muito bem como fiz a opção pela publicidade, penso que escolher uma profissão aos 17 anos não é muito adequado”, diz Fernanda Falci
Fernanda Falci formou-se em Comunicação Social, com
habilitação em Publicidade e Propaganda, na Universidade
FUMEC, em Belo Horizonte (MG), muito nova, com 21 anos.
Quando perguntada o que a levou a esse curso, não tem
uma resposta exata. “Não sei dizer o que me motivou a ser
publicitária. Acho que o que mais se aproxima de uma resposta
é: a prima que eu mais admirava estudava publicidade. Mas
isto é muito pouco e não sei porque tomei esta decisão. Fiz
orientação vocacional, a minha aptidão era para humanas com
um lado artístico a ser considerado. Mas sinceramente, não
sei muito bem como fiz esta opção. Penso que escolher uma
profissão aos 17 anos não é muito adequado”, avalia.
Durante o curso, fez poucos estágios na área e, ao pegar seu
diploma, conheceu as dificuldades do mercado. “Formada,
passei um ano meio no ‘limbo’, sem emprego, sem rumo, e
só trabalhei em uma campanha política. No ano seguinte,
consegui meu primeiro trabalho fixo em uma empresa da
área, uma editora que produzia revistas e sites. Como em
quase todos meus empregos seguintes, trabalhei sem carteira
assinada. Acabei saindo poucos meses depois, pois o ambiente
era ruim e o salário pior ainda”, lembra-se.
Logo, apareceu uma oportunidade de trabalho em Santos (SP)
como produtora de um programa de comércio exterior veiculado
em uma grande emissora, projeto que durou menos de um ano.
Resolveu ir para São Paulo e, entre um freela e outro, conseguiu
um trabalho com carteira assinada, onde permaneceu por mais
dois anos. “Tive bons momentos atuando como publicitária
entre 2006 e 2012. Mas, fazendo uma reflexão profunda, não me
sentia realizada, plena. Muitas vezes eu me pegava criticando
os processos: injustiças que via, vaidades, ego, pessoas exaustas
e mal remuneradas, etc. É um sistema que não incentiva as
pessoas a terem um espírito colaborativo”, avalia.
O que antes era “apenas” uma insatisfação com a carreira
acabou se tornando um problema de saúde para Fernanda.
“Acabei a minha carreira como publicitária doente. Tive gastrite
e logo em seguida um problema grave de tireoide, que resultou
em hipotireoidismo, que não tem cura e me acompanha. Eu
tinha 28 anos e, após muitos exames e consultas, os médicos
concluíram que a causa da minha doença foi stress. A tireoide
é responsável por equilibrar o nosso organismo. A minha estava
descompensada, e dentre outras coisas, eu fiquei deprimida. A
empresa em que eu trabalhava me demitiu”.
De publicitária a pet sitter empreendedora
De publicitária a pet sitter empreendedora
RecomeçoSem emprego, com um problema de saúde considerável e
deprimida, Fernanda optou por voltar a Belo Horizonte. “Em
um primeiro momento, me senti desprezada, com a autoestima
abalada, mas em pouco tempo percebi que era aquilo mesmo
o que eu queria. Melhor, não queria. E aí, começou o meu
processo de virada: voltar para BH. Em um primeiro momento,
voltar soava como ‘derrota’, então foi preciso desenvolver um
longo trabalho interno de amor próprio e autoconhecimento.
Também busquei ajuda: fiz uma segunda orientação vocacional
e busquei auxílio espiritual em crenças com as quais me
identifico”, explica ela.
Fernanda já estava com uma viagem marcada para Nova
York (EUA), que abriu sua cabeça e proporcionou contato com
sua futura ocupação. “Estudei inglês e conheci muita gente
diferente lá. Pessoas com outras percepções do que é sucesso,
felicidade, realização, trabalho e vida. Abriu a minha cabeça.
O meu primeiro contato com algo relacionado ao mercado em
que atuo hoje, foi lá. Acompanhei um amigo que era dog walker.
Aqui no Brasil ainda não havia um mercado organizado neste
sentido. Aquilo foi uma semente”, ressalta.
Outro grande incentivo para mudar de carreira veio quando
Fernanda retornou de viagem e cuidou de uma tia que estava
com câncer durante três meses. “Cuidei de uma tia com
câncer e ela morreu no fim de 2012. Ela foi uma grande
incentivadora de minha busca pela realização profissional e
independência. Foi com ela que desenvolvi muitas conversas
até chegar à área de cuidados com animais. Sempre tive
facilidade e vontade de ‘cuidar’. Fiz isto em todos os meus
trabalhos, de alguma forma. Depois, foi a vez de cuidar de
uma pessoa doente. E a partir daí, vieram os animais”
diz com orgulho.
E essa tia, Cristina Falci, além de incentivadora para a
mudança de carreira, foi sua primeira cliente. “Ela me
pediu para eu cuidar do Billy, seu cachorrinho, enquanto
estava internada, já que não queria que ele ficasse no
hotelzinho”, afirma. A partir daí, percebeu que seu novo
caminho profissional estava traçado. “Eu já tinha visto
isso em Nova York e já tinha cuidado de diversos
bichinhos de amigos e parentes também. Era algo
que as pessoas precisavam e eu tinha habilidade
e interesse”, explica.
De publicitária a pet sitter empreendedora
Nova rotinaA partir do momento em que escolheu a nova carreira,
Fernanda teve de navegar por águas pouco desbravadas.
“Por ser uma área muito nova no Brasil, não há uma
formação reconhecida. O próprio mercado ainda está se
formando também, muitas pessoas não sabem que este
serviço existe e não entendem o conceito. Comecei a
trabalhar como pet sitter de forma muito orgânica e instintiva.
Fiz uma pesquisa na internet nos poucos sites de pet sitters
que encontrei na época, e agi de acordo com o que achava
necessário. Aos poucos, com a prática, fui ajustando as
minhas rotinas, tabela, valores”.
Depois de três anos atuando como pet sitter, Fernanda
conseguiu estabelecer uma rotina de atendimento
e tarefas oferecidas aos animais de estimação das
outras pessoas. “Cuido de alimentação, água, limpeza
de vasilhas, banheirinho, passeio, faço brincadeiras,
enriquecimento ambiental, carinho, escovo pelos,
limpo olhos, medico, molho plantas, etc. Alguns clientes
também me pedem para levar os animais às consultas
e exames”, enumera.
Sua agenda depende muito das necessidades dos clientes.
Assim, trabalhar em feriados e finais de semana é algo
corriqueiro. “Tenho períodos de pico, como feriados
prolongados, fim de ano, janeiro e épocas menos movimentadas
também. Sempre trabalho nos fins de semana, feriados e datas
comemorativas. Raramente coincide de não haver nenhum
atendimento durante um fim de semana inteiro. Além disso,
fico boa parte do tempo no trânsito, deslocando entre um
atendimento e outro”, relata.
Nada que tire o sorriso do rosto de Fernanda. “Eu me sinto
mais realizada atualmente. Todos os dias, vejo os benefícios
reais do meu trabalho: em mim, nos animais, nas famílias e
na comunidade da qual faço parte. Sinto-me útil, sei que estou
movimentando uma ótima energia diariamente, de amor,
cuidado, carinho. Tenho clientes, colegas, parceiros e protetores
que se tornaram bons amigos, o meu universo mudou bastante.
Sou convidada para participar de momentos importantes da
vida destas pessoas, como aniversário dos filhos, casamento,
ou para os momentos cotidianos como tomar um chá, uma
cerveja, almoçar. Isso tudo me deixa muito feliz. Eu cativo e sou
cativada”, afirma.
De publicitária a pet sitter empreendedora
Durante essa mudança de rumo profissional, Fernanda foi
apoiada por muitos, mas também encontrou desconfiança até
mesmo de alguns familiares, que desconheciam a função de
pet sitter. “Tive apoio de muitas pessoas que são importantes
para mim, que me ajudaram de diversas formas, mesmo sem
entender e/ou acreditar muito no que eu queria fazer. Mas
também percebi em alguns familiares um olhar ora crítico, ora
de pena ou descrença total no meu caminho. Isto mudou ao
longo do tempo, à medida em que eu divulgava meus vários
clientes peludos nas redes sociais, não tinha mais tempo para
os eventos da família, e comecei a aparecer na mídia. Não é
fácil ser a “ovelha negra da família”, percorrer um caminho
fora do padrão. Ao longo do tempo, os paradigmas foram se
quebrando e as pessoas que em um primeiro momento não
acreditaram, viram que aquela profissão que não existia, era
possível”, finaliza.
De designer de revista ao empreendedorismo com moda
Quem visita o site e adquire uma blusa ou um vestido da Malgosia pode perceber como a marca possui um estilo característico. Talvez pelo fato das peças possuírem em seu “DNA”
muito da trajetória da empresária Juliana Scapucin, que deixou a carreira de designer em portais e agências para abrir sua estamparia. Mais livre, ela encontrou no próprio negócio a oportunidade de mostrar o seu verdadeiro estilo.
“A parte boa é que sou eu quem define quando e como as coisas serão feitas, e esta liberdade é muito importante para mim. Pela primeira vez na vida me sinto realizada profissionalmente”, diz Juliana Scapucin
Juliana Scapucin formou-se em publicidade e propaganda pela
UFPR e fez pós-graduação em Design Gráfico pela Universidade
de Belas Artes de São Paulo. Assim que terminou a graduação,
mudou-se para São Paulo para trabalhar no maior mercado do
país. Foi web designer em alguns grandes portais e agências até
que, em 2004, teve a oportunidade de trabalhar na marca de
roupas “amp amulherdopadre”, onde tinha mais liberdade para
exercitar seu estilo próprio. De lá foi chamada para a equipe da
Revista Capricho, da Editora Abril.
“Minha rotina como designer era bem corrida, mas tinha
muito prazer em desenvolver os projetos. O que mais me
incomodava era a falta de liberdade para exercitar meu
estilo, pois quando você trabalha com comunicação, é
necessário se expressar com a alma do cliente, e não com
a sua. Mas não acredito em conhecimento em vão, tudo o
que aprendi está sendo usado no meu dia a dia e faz parte
do que sou hoje”, analisa ela.
Depois da experiência na Revista Capricho, resolveu colocar
em prática um sonho de infância: ter sua própria marca
de roupas. Ali nascia a Malgosia, marca de roupas de perfil
contemporâneo e urbano, que usa uma base de modelagem
simples e minimalista com estampas exclusivas criadas por
Juliana Scapucin. Os modelos estão disponíveis em uma loja
virtual na internet, onde os clientes fazem os pedidos que
chegam pelos correios.
“Decidi colocar esse projeto em prática em 2012, pois, desde
a infância, flertava com a área. Mas, por algum bloqueio, não
tinha tido coragem de encarar a vocação. Em todos os anos que
trabalhei como designer gráfica nunca fui realmente realizada,
sempre faltava alguma coisa. Na época em que trabalhei na
“amp amulherdopadre” tive contato com a área de estamparia
e vi que era mais meu perfil, de um trabalho mais solto, até
mais artístico, e sem tantas expectativas de comunicar uma
mensagem explícita”.
MultitarefasPara criar sua própria marca de roupas, Juliana necessitava
aprender mais sobre corte e costura. E foi à luta. “Em 2013 tirei
alguns meses para fazer vários cursos relacionados à área.
Fiz cursos de férias na Central Saint Martins, em Londres, em
diversas disciplinas que achei que me ajudariam (ilustração,
De designer de revista ao empreendedorismo com moda
De designer de revista ao empreendedorismo com moda
pintura, gravura, estamparia). De volta a São Paulo, cursei
um básico Corte e Costura e Modelagem no SENAC e depois
continuei estudando sozinha, com cursos online e livros. Ainda
estou evoluindo em todas as áreas, tenho um longo caminho
pela frente”, afirma.
O aprendizado é diário, acompanhado de muito trabalho
centralizado em suas mãos. “Eu montei e administro a loja
virtual, fotografo as peças, trato as imagens. Para desenvolver
as estampas eu uso os mesmos programas que usava quando
trabalhava como designer gráfica, então nisso não comecei
do zero. A parte mais complicada está sendo a que não tinha
conhecimento nenhum, de modelagem e costura, que ainda
estou evoluindo”, pondera.
O próximo desafio é contratar alguém que possa ajudar na
parte mais operacional do negócio, deixando sua mente livre
para criar os modelos. “Como ainda não tenho alguém fixo para
me ajudar, a cada dia vou resolvendo as tarefas de acordo com
sua urgência. Vai desde entregar as encomendas no correio a
criar a próxima série da Malgosia. O desafio agora é encontrar
alguém que possa me ajudar nas tarefas de produção para
que eu possa me dedicar mais à criação e à comunicação da
marca”, projeta a empresária.
Apesar da certeza de muitos obstáculos pela frente, ela se
sente feliz como nunca à frente de sua própria marca, onde
dita as regras e os caminhos. “A parte boa é que sou eu quem
define quando e como as coisas serão feitas, e esta liberdade é
muito importante para mim. Pela primeira vez na vida me sinto
realizada profissionalmente. Tenho tido orgulho de mostrar
meu trabalho e observar a sua evolução de tempos em tempos.
Tenho alguns amigos que já tiveram este tipo de negócio e já
fecharam. Não me influenciou, mas é óbvio que me dá uma
pontinha de medo. Mas, nessa etapa da vida, eu já entendi que
se você quer tentar realizar algo, você corre o risco do fracasso.
E o fracasso não me assusta mais, pois finalmente eu entendi
que ele, no mínimo, traz experiência de vida”, conclui.
texto
Ana Pinho
Frederico Machado
Izadora Matiello
Nathalia Bustamante
Rafael Carvalho
edição
Rafael Carvalho
designDanilo de Paulo
Marcos Torres
Renata Monteiro
fotosAcervo pessoal
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