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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA ESPECIALIZAÇÃO LATO SENSU EM NEUROPSICOLOGIA ALTERAÇÃO COGNITIVA NA PRESENÇA DE TUMOR CEREBRAL: CONTRIBUIÇÕES DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA ARLENE DE CASTRO BARROS Orientador: Sandra de Fátima Barboza Ferreira, Ms. Goiânia 2012

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

ESPECIALIZAÇÃO LATO SENSU EM NEUROPSICOLOGIA

ALTERAÇÃO COGNITIVA NA PRESENÇA DE TUMOR

CEREBRAL: CONTRIBUIÇÕES DA AVALIAÇÃO

NEUROPSICOLÓGICA

ARLENE DE CASTRO BARROS

Orientador: Sandra de Fátima

Barboza Ferreira, Ms.

Goiânia

2012

ARLENE DE CASTRO BARROS

ALTERAÇÃO COGNITIVA NA PRESENÇA DE TUMOR

CEREBRAL: CONTRIBUIÇÕES DA AVALIAÇÃO

NEUROPSICOLÓGICA

Trabalho de Conclusão do Curso de

Especialização Lato Sensu em

Neuropsicologia, apresentado à Pontifícia

Universidade Católica de Goiás, sob a

orientação da Professora Sandra de

Fátima Barboza Ferreira, Ms. Para

obtenção do título de especialista.

Goiânia

2012

ARLENE DE CASTRO BARROS

ALTERAÇÃO COGNITIVA NA PRESENÇA DE TUMOR

CEREBRAL: CONTRIBUIÇÕES DA AVALIAÇÃO

NEUROPSICOLÓGICA

Trabalho de Conclusão do Curso de

Especialização Lato Sensu em

Neuropsicologia, apresentado à Pontifícia

Universidade Católica de Goiás para

obtenção do título de especialista.

Banca examinadora

__________________________________________________ Orientadora: Sandra de Fátima Barboza Ferreira, Mestre, Pontifícia Universidade

Católica de Goiás - PUC

__________________________________________________ Marta Isabel da Silva Neto, Especialista, Associação Pestalozzi Unidade Renascer

__________________________________________________

Adriane Aires Cruvinel Machado, Especialista, Secretaria Municipal de Educação do Estado de Goiás

Goiânia, 28 de Junho de 2012

RESUMO

Os tumores cerebrais em adultos são de grande incidência, podendo acarretar

prejuízos cognitivos graves, alterações leves ou, ainda, ser assintomáticos. O

objetivo deste trabalho foi apresentar as contribuições da avaliação neuropsicológica

realizada em uma paciente com tumor cerebral - meningioma, não cirurgiado. A

participante deste estudo tem setenta e dois anos de idade, com diagnóstico de

meningioma há dez anos, porém assintomática até o início do ano de 2011, quando

começou a apresentar alterações da marcha, do equilíbrio corporal, da audição e

visão. Procedeu-se à avaliação neuropsicológica que se caracteriza pela junção de

informações obtidas através de observações clínicas, exames laboratoriais e testes

neuropsicológicos. Os resultados indicam heminegligência esquerda, prejuízo de

funções executivas, de memória imediata e remota. Discutiu-se que através da

avaliação neuropsicológica foi possível evidenciar a sintomatologia relacionada à

falta de equilíbrio corporal e alterações cognitivas.

Palavras-chave: tumor cerebral, alteração cognitiva, avaliação neuropsicológica.

ABSTRACT

Brain tumors in adults are of great impact, which may cause severe cognitive

impairment, mild changes, or even be asymptomatic. The objective of this study was

to present the contributions of the evaluation neuropsychological carried out in a

patient with brain tumors – meningioma, not surgery. The participant of this study is

seventy-two years old, diagnosed with meningioma ten years ago, but asymptomatic

til ll the year of 2011, when she began to make changes in the walking, in the body

balance, of hearing and vision. The neuropsychological evaluation was proceeded

which is characterized by the addition of information obtained through clinical

observations, laboratory tests and neuropsychological tests. The results indicate left

hemineglect, impaired executive function, immediate and remote memory. It has ben

argued that by neuropsychological evaluation was possible to demonstrate the

symptomatology related to the lack of body balance and cognitive changes.

Key-words: Brain tumor, Cognitive impairment, Neuropsychological assessment

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 6

1.1 Avaliação neuropsicológica do adulto 9

2. METODOLOGIA 11

2.1 Participante 11

2.2 Instrumentos 11

2.3 Procedimentos 13

3. RESULTADOS 14

3.1 Dados obtidos da entrevista 14

3.2 Dados clínicos obtidos de observações e atitude em tarefa 14

3.3 Exames laboratoriais 14

3.4 Dados obtidos de testes psicométricos 15

4. DISCUSSÃO 19

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 21

6

1. INTRODUÇÃO

A neuropsicologia é uma ciência que estuda a expressão do comportamento e

sua relação com disfunções cerebrais e apoia-se na avaliação de determinadas

manifestações do indivíduo para a investigação do funcionamento cerebral (LEZAK,

1995).

De acordo com Gil (2002) a neuropsicologia tem como objeto o estudo dos

distúrbios cognitivos e emocionais, o estudo dos distúrbios de personalidade

provocados por lesões do cérebro. Tem objetivos diagnósticos, terapêuticos e

cognitivos. Pode ser considerada como área multidisciplinar, valendo-se de

conhecimentos da neurologia, neuroanatomia, neurofisiologia, neuroquímica e as

ciências do comportamento.

Atualmente, com o auxílio de exames sofisticados de neuroimagem, a

neuropsicologia objetiva fornecer conhecimento acerca do funcionamento cognitivo

em diversas condições neurológicas (transtornos de humor, doenças degenerativas,

acidente vascular cerebral-AVC, traumatismo crânio-encefálico-TCE, tumor cerebral

etc), fornecendo informação acerca da personalidade, humor e habilidades,

objetivando o diagnóstico, o acompanhamento, a reabilitação e a pesquisa neste

campo de atuação (SOHLBERG & MATEER, 2008).

Neste trabalho destacar-se-á a aplicação da neuropsicologia ao conhecimento

dos tumores cerebrais (PRICE, GOETZ & LOVELL, 2006) que, são patologias

comuns que acometem indivíduos sem qualquer especificidade. São massas que

crescem dentro do crânio e surgem devido à multiplicação desordenada de células

que leva à compressão e lesão de células normais do cérebro (ANDRÉ, 1999). Eles

podem ser classificados em: tumores benignos (uma massa anormal, mas que não

degenera o tecido cerebral) e malignos sendo capazes de invadir e destruir o local

onde está instalado.

Segundo André (1999), apesar de serem denominados no geral como

tumores cerebrais, eles são subdivididos de maneira específica, de acordo com sua

localização, tipo celular histológico, e tipicamente classificados como primários ou

metastáticos.

Os tumores cerebrais primários têm sua origem dentro do próprio crânio,

dentre os mais comuns estão os gliomas (quando se origina da própria célula

cerebral) e os meningiomas (originados das meninges).

7

Os gliomas constituem cerca de 60% dos tumores cerebrais, surgem de

células do tecido glial, e são divididos em gliomas de baixo grau (tumores de

crescimento lento, visíveis a ressonância), gliomas anaplásticos (grau intermediário)

e glioblastoma multiforme (mais agressivo) (ANDRÉ, 1999).

Os meningiomas, tumores originados das meninges, constituem cerca de

15% dos tumores do Sistema Nervoso Central (SNC), tem crescimento lento e leve

predomínio no sexo feminino. São mais comuns a partir dos 50 anos, e geralmente

surgem nas regiões parassagital e da foice. Dessa forma é comum a paraparesia

(perda parcial das funções motoras dos membros inferiores), alterações do

comportamento, do controle esfincteriano, e hipertensão intracraniana (ANDRÉ,

1999).

Borin, Okada e Cruz (2008) especificam que o meningioma é um tumor

originário das células meningoteliais encontradas normalmente nas leptomeninges e

plexo coróide dos ventrículos, ocorrendo preferencialmente na região supratentorial.

Porém, qualquer região que apresente cobertura pelas leptomeninges é

potencialmente um sítio de origem para este tumor.

A maioria dos meningiomas é benigna e podem ser encontrados em qualquer

ponto do neuroeixo, sendo mais comum a localização intracraniana. Tem o

crescimento lento clássico, ou seja, cresce antes de causar sintomas. A principal

forma de tratamento é a cirurgia, sendo rara a necessidade de radioterapia ou

quimioterapia (DEMPSEY & ALDERSON, 2006).

Não se sabe a causa que leva a pessoa a desenvolver um tumor cerebral

primário. Apesar das pesquisas, ainda não foi encontrado nenhum fator de risco que

predisponha a pessoa a ter um tumor cerebral (MIRANDA, 2009).

Jones, Dempsey e Alderson (2006) apontam que os sintomas dos tumores

cerebrais geralmente ocorrem lentamente e de maneira progressiva, exceto quando

há convulsões, que podem ser focais ou generalizadas. Em um terço dos pacientes

as convulsões são o primeiro sintoma, elas são um sinal de disfunção cortical. Os

sinais iniciam-se quando o tecido cerebral é destruído ou quando a pressão no

cérebro aumenta.

Acrescentam os mesmos autores que os sintomas dependem do tamanho, do

crescimento e da localização do tumor, sendo assim surgem de forma variada como

cefaléia, diplopia horizontal (doença da vista que duplica as imagens dos objetos),

8

papiledema, náuseas ou vômitos, falta de equilíbrio e coordenação motora, febre

intermitente, um pulso e uma frequência respiratória anormalmente rápidos ou

anormalmente lentos.

A partir da sintomatologia característica e da história clínica apresentada pelo

paciente o médico suspeita da possibilidade de haver um tumor cerebral e inicia a

busca pela confirmação do diagnóstico. O exame neurológico e estudos de

neuroimagem são utilizados para confirmar o diagnóstico.

A ampla disponibilidade de Tomografias Computadorizadas-TCs e

Ressonâncias Magnéticas -RMs, fez com que o uso da testagem neuropsicológica

diminuísse para fins diagnósticos sobre a localização e a natureza dos tumores do

SNC. Atualmente ela é utilizada com maior freqüência na determinação da extensão

da disfunção cognitiva associada a um tumor, oferecendo uma medida pré-

operatória do funcionamento cognitivo basal ou da memória, servindo também para

monitorar a eficácia e o progresso da reabilitação cognitiva após o tratamento

(PRINCE, GOETZ & LOVELL, 2006).

Pacientes com tumor cerebral são encaminhados para uma avaliação

neuropsicológica na intenção de obter informações sobre a cognição, características

da personalidade, comportamento social, estado emocional, adaptação a limitações

do paciente, além de verificar suas forças e fraquezas, proporcionando base para o

planejamento do tratamento e aconselhamento tanto para o paciente quanto para

sua família. Nesse caso a avaliação neuropsicológica é fundamental para realizar a

comparação entre o estado atual do paciente e seu funcionamento pré-mórbido,

verificando através de entrevistas e testes psicológicos quais as funções mais

afetadas, proporcionando uma intervenção adequada (HOWIESON & LEZAK, 2006).

Os tumores do sistema nervoso central podem causar uma gama de

mudanças comportamentais e cognitivas. Muitas das funções cognitivas

compartilham de trajetos no complexo emaranhado de conexões neurais (RATEY,

2002), podendo afetar a natureza e a gravidade dos sintomas cognitivos, devido ao

tipo e crescimento de um tumor localizado no cérebro, porém não é considerado o

fator mais importante nesse aspecto.

Conforme Oliveira et al. (2005), cognição são ações mentais destinadas a

conhecer o mundo ou o próprio indivíduo, o que equivale a pensamento. É um

sistema dinâmico e complexo formado de partes que se relacionam entre si,

9

permitindo organizar e usar os conhecimentos, com o objetivo de funcionar dentro do

ambiente. O acompanhamento neuropsicológico pode proporcionar, em pacientes

com tumor cerebral, o melhor funcionamento possível da cognição através da

aplicação de técnicas específicas que, ensinam aos pacientes o melhor uso de suas

capacidades.

1.1 Avaliação neuropsicológica do adulto

A avaliação neuropsicológica é um tipo bastante complexo de avaliação

psicológica, porque exige do profissional não apenas uma sólida fundamentação em

psicologia clínica, conhecimento técnico e familiaridade com a psicometria, mas

também especialização e treinamento em contexto em que sejam fundamentais o

conhecimento do sistema nervoso central e suas patologias. Tem como objetivo

investigar as alterações no funcionamento cognitivo e suas conseqüências

comportamentais e sociais, bem como investigar o funcionamento da personalidade

(LEZAK, 1995).

Segundo Cunha (2000), inicialmente, a avaliação neuropsicológica pretendia

chegar à identificação e localização de lesões cerebrais focais. Atualmente, baseia-

se na localização dinâmica de funções, tendo por objetivo a investigação das

funções corticais superiores, como, por exemplo, a atenção, a memória, a

linguagem, entre outros.

A Avaliação Neuropsicológica é o estudo detalhado das funções cognitivas,

emocionais e comportamentais, utilizando-se de um conjunto de testes e

procedimentos padronizados, com objetivo diagnóstico, de pesquisa ou para auxiliar

no planejamento da reabilitação. As principais funções mentais e áreas avaliadas

incluem, mas não se limitam a: orientação, atenção, memória e aprendizagem,

linguagem e funções verbais, habilidades acadêmicas, organização e planejamento,

percepção, funções motoras, humor, comportamento e personalidade (GIL, 2002).

Inicialmente, cabe considerar o papel que os testes psicológicos tiveram no

âmbito da avaliação psicológica e neuropsicológica a ponto de serem entendidos

como sendo a própria avaliação, contudo essa visão foi aprimorada e hoje os testes

são vistos como parte do processo, não o processo em si (CUNHA, 2000).

Os testes são instrumentos objetivos e padronizados de investigação do

10

comportamento, que dão informações acerca da organização normal dos

comportamentos desencadeados pelos testes (por figuras, sons, formas espaciais,

etc.) ou de perturbações em condições patológicas. Visam assim avaliar e quantificar

comportamentos observáveis, por meio de técnicas e metodologias específicas,

embasadas cientificamente em constructos teóricos que norteiam a análise de seus

resultados (ALCHIERI, 2004).

Para Luria (1984) importa a qualificação dos sintomas. O profissional, não

deve se prender apenas aos dados quantitativos, mas estar atento a toda

informação que o paciente possa fornecer através de seu comportamento e do modo

como ele se organiza e realiza suas tarefas. È a triangulação de dados, que envolve

o histórico do paciente, a observação direta e a testagem, que levarão à

compreensão da performance deste.

A avaliação neuropsicológica contribui para o estabelecimento de um

diagnóstico diferencial. Assim, os instrumentos devem ser escolhidos da maneira

mais completa possível, a fim de que possam descrever todas as capacidades

cognitivas e comportamentais do paciente (ALCHIERI, 2004).

O objetivo principal desta avaliação é obter a inferência das características

estruturais e funcionais do cérebro e do comportamento em situações de estímulo e

de respostas definidas. No processo de avaliação, o profissional deve focar duas

grandes questões: quais são as funções comprometidas e que aspectos

comportamentais podem minimizar essa expressão psicopatológica (SANTOS,

2004).

Ainda, de acordo com Santos (2004), a avaliação não se limita ao diagnóstico.

Ao contrário, abrange a reabilitação de seu paciente, oferecendo a ele a

compreensão de como é a falha em seu desempenho, buscando devolver sua

autonomia em seu ambiente.

Com o resultado da avaliação, são feitos os devidos encaminhamentos:

devolutiva para o médico e familiares e esclarecimentos sobre a necessidade ou não

de um trabalho de reabilitação neuropsicológica e/ou indicações de

acompanhamento terapêutico.

O objetivo deste trabalho é apresentar as contribuições da avaliação

neuropsicológica realizada em uma paciente com diagnóstico de tumor cerebral -

meningioma, não cirurgiado.

11

2. METODOLOGIA

2.1 Participante

Ana (nome fictício), 72 anos, sexo feminino, destra, ensino médio completo,

viúva, mãe de filho único, médico, casado e que lhe dá assistência diariamente,

mora sozinha e tem como auxiliar uma secretária do lar.

Diagnosticada com tumor cerebral - meningioma, há 10 anos, sem tratamento

devido à ausência de alterações em sua qualidade de vida.

Avaliada por solicitação do filho e do médico neurocirurgião assistente do

caso, membro do Serviço de Neurologia de um Hospital da cidade de Goiânia, no

mês de junho de 2011, nas dependências do Centro de Pesquisas e Práticas

Psicológicas - CEPSI, do Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade

Católica de Goiás - PUC, apresentando déficits motores (equilíbrio e marcha) e

sensoriais (auditivo e visual).

Durante o período avaliativo mostrou-se de fácil contato interpessoal,

respondente, colaboradora, orientada, porém lenta. Refere-se a prejuízo funcional

no trabalho doméstico: dificuldade de varrer a casa e lavar as vasilhas.

2.2 Instrumentos

O Quadro 1 mostra os instrumentos (testes e técnicas) utilizados no processo

de avaliação neuropsicológica, com seus respectivos objetivos.

Quadro 1. Instrumentos utilizados na avaliação neuropsicológica

Instrumento Objetivo

Técnica

Psicológica

1) Entrevista semi-estruturada com a paciente e com o filho (SPREEN & STRAUSS, 1998)

Descreve e avalia aspectos pessoais, relacionais ou sistêmicos (indivíduo, casal, família, rede social).

Testes Psicométricos

2) Subteste Procurar Símbolos da Escala de Inteligência Wechsler para adultos – 3ª edição Wais-III (WECHSLER, 2002)

Fornece escores relacionados a rastreio, percepção e velocidade do processamento.

12

3) Teste de Memória Lógica (WECHSLER, 1987, APUD SPREEN & STRAUSS, 1998)

Fornece escore de memória lógica (capacidade de evocar fatos numa sucessão temporal)

4) Teste de Cancelamento dos Sinos (GAUTHIER et al., 1989, APUD SPREEN & STRAUSS, 1998)

Avalia percepção visual, praxia construtiva, disfunção do hemisfério direito com negligência à esquerda, planejamento e organização

5) Três figuras e Três palavras (MESULAN, 1985)

Avalia a memória visual e verbal, bem como a praxia construtiva

6) Teste Figuras Complexas de Rey (OLIVEIRA & RIGONI, 2008).

Avalia organização, planejamento, julgamento, organização perceptual, orientação visoespacial e função motora.

7) Teste de Trilhas Coloridas (RABELO et al, 2005)

Avalia atenção, acuidade visual, coordenação motora e rapidez de processamento

8) Cartela do Roubo dos Biscoitos da BDAE (GOODGLASS, KAPLAN & BARRESI, 2001, APUD SPREEN & STRAUSS, 1998)

Avalia a linguagem nos seus múltiplos aspectos: pragmáticos e sintáticos e gráficos

9) Teste de Nomeação Boston (GOODGLASS, KAPLAN & WEINTRAUB, 2001, APUD SPREEN & STRAUSS, 1998 )

Avalia a capacidade de nomeação

10) Rey Auditory Verbal Learning Test - RAVLT (REY, 1964/1998 APUD SPREEN & STRAUSS, 1998)

Avalia aprendizagem, memória auditiva verbal, memória imediata, memória de longo prazo, perseveração, intrusão, susceptibilidade à interferência, retenção após outra atividade, memória de reconhecimento, primazia e recência, curva por posição serial

11) Teste Fluência Verbal – F.A.S e Animais, (TOMBAUGH, KOZAK & REES, 1996, APUD SPREEN & STRAUSS, 1998)

Avalia planejamento, organização, julgamento, atenção sustentada e linguagem

12) Visuopacial Organization Test – VOT – Hooper (1958/2005) (SPREEN & STRAUSS, 1998)

Avalia a capacidade de organizar informações visuoespaciais

13) Clinical Dementia Rating Scale- CDR (HUGHES, 1982 APUD SPREEN & STRAUSS, 1998)

Avalia perdas cognitivas

13

2.3 Procedimento

A avaliação neuropsicológica caracterizada pelo uso de instrumentos clínicos

ocorreu durante o mês de junho de 2011, no Centro de Estudos, Pesquisas e

Práticas Psicológicas do Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade

Católica de Goiás-PUC. Ao todo foram sete sessões, com duração, em média, de

uma hora cada sessão.

Durante as sessões utilizaram-se testes (formais e informais), obedecendo às

regras de aplicações dos testes de acordo com as instruções contidas nos manuais

de cada instrumento.

Na primeira sessão procedeu-se à entrevista semi-estruturada com o filho e,

em seguida, com a paciente, sendo possível, então, estabelecer a bateria de testes

a ser utilizada.

Na segunda sessão foram aplicados: o subteste Procurar Símbolos e o teste

de Memória Lógica, da Escala de Inteligência Wechsler para Adultos. No encontro

seguinte aplicou-se o teste de Cancelamento dos Sinos, Três Figuras e Três

Palavras, e, Figuras Complexas de Rey. Na quarta sessão realizou-se o teste de

Nomeação Boston, a Cartela do Roubo dos Biscoitos e Trail Making part A e B. Na

quinta sessão foi aplicado o RAVLT e o teste de Fluência Verbal - F A S e Animais.

Na penúltima sessão encerrou-se a aplicação com o Visuopacial Organization Test –

VOT - Hooper e o Clinical Dementia Rating Scale - CDR.

O processo de avaliação foi concluído na sétima sessão em que se realizou a

entrevista devolutiva com a paciente e o filho, e, a entrega do relatório de avaliação

neuropsicológica.

14

3. RESULTADOS

Nesta seção relatar-se-á os resultados obtidos via entrevista, observação de

comportamento, exames laboratoriais e testes psicométricos que caracterizam o

processo de avaliação neuropsicológica.

3.1 Dados obtidos da entrevista

Ana mora sozinha, por opção, mas tem a ajuda de uma secretária do lar. Mãe

de um único filho (médico), há mais ou menos 10 anos atrás apresentou cefaléia

recorrente, mesmo com uso de analgésicos. Devido à preocupação e cuidados do

filho, vários exames foram realizados, sendo evidenciado um tumor cerebral -

meningioma, o qual não foi removido cirurgicamente, devido à baixa probabilidade

de crescimento, conforme relato do médico neurocirurgião, através do filho.

No início do ano de 2011 a paciente começou a apresentar marcha

descompassada, falta de equilíbrio corporal, dificuldade de audição e visão, o que

chamou a atenção do filho para novas investigações. O achado clínico evidenciou

leve aumento do tumor cerebral que, não ocasionaria tais alterações. Porém, iniciou-

se um processo de hidrocefalia que, na visão do neurocirurgião, também não

corrobora para a sintomatologia apresentada. Foi questionado, então, se Ana não

estaria apresentando um quadro demencial inicial. Assim, a partir da indefinição

diagnóstica foi solicitada a avaliação neuropsicológica.

3.2 Dados clínicos obtidos de observações e atitude em tarefa

Durante o período avaliativo Ana mostrou-se de fácil contato interpessoal,

respondente, colaboradora, orientada, porém lenta. Refere-se a prejuízo funcional

no trabalho doméstico: dificuldade de varrer a casa e lavar as vasilhas.

3.3 Exames laboratoriais

O filho apresentou somente exames de imagem: tomografia computadorizada

e ressonância magnética, e, relatou que os exames clínicos (sangue, fezes e urina)

15

não têm alterações.

3.4 Dados obtidos de testes psicométricos

A Tabela 1 registra o resultado obtido pela paciente no Teste de

cancelamento dos Sinos. Observa-se que a pontuação obtida está bem abaixo do

ponto de corte, apresentando dificuldade importante com produção sugestiva de

heminegligência.

Tabela 1. Teste de Cancelamento/Sinos

Obtido Ponto de Corte Interpretação

23 32 Dificuldade importante

Obs: Seletividade adequada. Dificuldades no rastreio visual. Produção sugestiva de heminegligência

A Tabela 2 mostra o resultado obtido pela paciente noTrail Making Test.

Observa-se que a pontuação obtida tanto na parte A que envolve atenção quanto na

parte B que envolve função executiva, encontra-se abaixo do ponto de corte para

seu grupo etário.

Tabela 2. Trail Making

Parte A: Tempo: 200’ Val. de Ref.: 41,3’ Ponto de corte: 56,3

Parte B: Tempo: 375’ Val. de Ref.: 111,4’ Ponto de corte: 183,6

Interpretação: alteração atenção, alternância, velocidade de processamento e função executiva.

A Tabela 3 apresenta a performance da paciente na prova de memória lógica.

Observa-se que a pontuação encontra-se bem abaixo do ponto de corte.

Tabela 3. Memória Lógica

Total A Total B Ponto de Corte ∑ A e B

3/25 5/25 19/50 8/50 Interpretação: Dificuldade importante

A Tabela 4 ilustra a produção da paciente nas provas de cópia, memória e

16

tempo no Teste de Reprodução de Memória de Figuras Complexas de Rey. Os

resultados indicam um desempenho inferior para seu grupo etário.

Tabela 4. Teste de Cópia e de Reprodução de Memória de Figuras Geométricas

Complexas de Rey: Forma-A

Rey Percentil Classificação

Cópia 12 < 10 Dificuldade Importante

Tempo da Cópia 5’10” < 25 Abaixo da média

Memória 0 < 10 Dificuldade importante Interpretação: Produção sugestiva de heminegligência a esquerda

A seguir, a Tabela 5 demonstra que o desempenho da paciente, no Teste

Verbal de Rey - RAVLT, está bem abaixo da média etária na parte de evocação

imediata, porém dentro da média na evocação tardia. Vê-se também que Ana

comete erros de associação semântica e fonética.

Tabela 5. RAVLT

Função Resultado Esperado Ponto

de Corte

Obtido Diagnóstico

Memória e aprendizagem de

palavras

Total 41,6 35 23 3DP dificuldade

importante

Evocação tardia 30’

13,6 11,6 14 Dentro da

média

Obs.: no reconhecimento cometeu erros de associação semântica em Flor (jardim)/ Professor(Escola) e erros de associação fonética em Escola(Estola)/ Peixe (Feixe)

A Figura 1 ilustra o desempenho de Ana e o que era esperado dela no Teste

Verbal de Rey - RAVLT. Nos testes que exigiam esforço da memória operacional, a

paciente se saiu abaixo da média etária. No entanto, após 30 minutos na lista de

reconhecimento, Ana obtém resultado dentro da média.

17

Figura 1. Gráfico RAVLT em cada teste e no reconhecimento

Os resultados do Teste de Nomeação Boston estão dispostos na Tabela 6.

Seu desempenho é normal na versão adaptada para a população brasileira, porém

apresenta uma dificuldade leve de nomeação na versão original.

Tabela 6. Boston Original (BOT) e Boston Adaptado (BAT)

Versão Pontos Ponto de

Corte Classificação

B0T 41 44 Dificuldade Leve

BAT 47 44 Normal

A Tabela 7 mostra o resultado no Teste de Fluência Verbal. Nota-se aqui a

dificuldade de planejamento e linguagem.

Tabela 7. Fluência Verbal –FAS

Obtido Média SD Ponto de Corte Interpretação

8 35,6 12,5 23,1 Dif. importante

A Tabela 8 demonstra como a capacidade de organização visuoespacial da

paciente encontra-se em déficit.

Tabela 8. Teste de Organização Visuoespacial – Vot – Hooper

Obtido Ponto Corte Interpretação

7 22,43 Dificuldade importante

18

Na Tabela 9 é visível a dificuldade de atenção e velocidade de

processamento, medidas através dos subtestes Procurar Símbolos e Códigos de

Cópia da WAIS-III.

Tabela 9. WAIS – III – PS – Código/Cópia

Subteste Acertos Omissões Erros Interpretação

Procurar Símbolos 6 13 3 Prejuízo Atencional

Código/copia 16 1 5 Lento

Funções que apresentam alterações: Atenção alternada, memória

operacional, memória auditivo-verbal, pictórica, percepção auditiva, memória

episódica, memória autobiográfica; destreza motora; planejamento, orientação do

comportamento em direção a metas, flexibilidade mental.

Funções íntegras: Emissão e recepção da linguagem; Atenção seletiva,

percepção visual, memória semântica, memória procedural, reconhecimento visual,

leitura, praxia ideomotora, ideatória, construtiva. (Observada preservação da função

com latência aumentada e velocidade do processamento diminuída).

Conclusão neuropsicológica: Heminegligência esquerda; prejuízo de

memória imediata e remota. Prejuízo de funções executivas. CDR-1

19

4. DISCUSSÃO

Conforme se destacou, o objetivo deste trabalho é apresentar as

contribuições da avaliação neuropsicológica realizada em uma paciente com

diagnóstico de tumor cerebral - meningioma, não cirurgiado.

Conforme revisão teórica os meningiomas, tumores originados das meninges,

constituem cerca de 15% dos tumores do Sistema Nervoso Central (SNC), tem

crescimento lento e leve predomínio no sexo feminino. São mais comuns a partir dos

50 anos, e geralmente surgem nas regiões parassagital e da foice. Dessa forma é

comum a paraparesia (perda parcial das funções motoras dos membros inferiores),

alterações do comportamento, do controle esfincteriano, e hipertensão intracraniana

(ANDRÉ, 1999) e ainda conforme Jones, Dempsey e Alderson (2006) são comuns a

cefaléia, diplopia horizontal (doença da vista que duplica as imagens dos objetos), o

papiledema, náuseas ou vômitos, falta de equilíbrio e coordenação motora, febre

intermitente, um pulso e uma frequência respiratória anormalmente rápidos ou

anormalmente lentos.

A avaliação neuropsicológica possibilitou evidenciar no caso clínico em

discussão a sintomatologia relacionada à falta de equilíbrio corporal, paraparesia, a

cefaléia e as alterações cognitivas. Embora, na presença de um quadro de

hidrocefalia não se relatou perda do controle esfincteriano nem hipertensão

intracraniana. A incidência do tumor nesta paciente corrobora os dados relativos à

prevalência no sexo feminino e aparecimento após os cinquenta anos.

De acordo com Lezak (1995), Gil 2002 e Howieson e Lezak (2006) a

avaliação neuropsicológica visa mapear funções cognitivas e evidenciar aspectos

idiossincráticos.

A Avaliação Neuropsicológica combina dados obtidos de entrevistas, exames

laboratoriais, observações naturalísticas, observação comportamental e de humor e

performance em testes psicométricos. Assim, é que não se reduz, portanto, ao

resultado quantitativo obtido em testes, mas interessa, principalmente, a atitude em

tarefa, bem como as estratégias adotadas e as variações de comportamento e

humor experimentadas pelo paciente ao longo do processo diagnóstico. No caso em

questão a avaliação contribuiu no aprofundamento da investigação das alterações

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cognitivas e apontou um conjunto de alterações secundárias ao tumor: alterações de

atenção, sobretudo no rastreio visual e heminegligência esquerda, corroborando

dados destacados por Price, Goetz e Lovell (2006).

Ainda foram evidenciadas alterações de memória operacional, episódica,

auditivo-verbal, pictórica e autobiográfica que não encontram respaldo na literatura

consultada como efeitos secundários de tumores cerebrais. Estes achados apoiam a

tese de um possível quadro demencial que merece monitoramento.

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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