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AGRONEGÓCIO, A CADEIA PRODUTIVA DA SOJA - UMA ANÁLISE SOBRE A ÓTICA DO SISTEMA AGROINDUSTRIAL E REFLEXÕES EM RELAÇÃO À INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS Ronald Tavares Pires da Silva (UNISINOS) [email protected] Sirlei Ana Falchetti (UNISINOS) [email protected] O presente artigo refere-se a estudo sobre a Cadeia Produtiva da Soja no mundo, com referência específica ao Brasil, verificando indicadores da cultura do grão no Agronegócio no contexto mundial e nacional, fazendo breve descrição sobre as análises na ótica do Sistema Agroindustrial (SAG) com reflexões sobre a internacionalização desta importante commodity da economia brasileira. Tem como objetivos verificar o desenvolvimento do cultivo da soja em grãos (seu histórico e importância econômica), seus produtos e subprodutos em termos de índices de produtividade, de consumo, áreas de plantio e armazenagem (estoque), dentro de estudos que discutem viés econômico em áreas públicas e privadas. O estudo tem também como objetivo analisar razões para o crescimento exponencial da produção da soja mundialmente e o crescimento do seu uso para consumo humano, e respectivo interrelacionamento com mercados globais. Para o quadro teórico do estudo, inicialmente levanta-se alguns conceitos e teorias sobre estudos que relatam a origem histórica da soja no convívio humano como base alimentar, uso medicinal, chegando ao posto de “grão sagrado” para efeitos religiosos na região asiática, entre outros indícios. Na sequencia relata-se de forma breve a chegada e as primeiras iniciativas agrícolas de cultivo da soja no Brasil, sua evolução comercial ao longo do século XX, algumas características da Cadeia Produtiva e o modelo “T” no Sistema Agroindustrial (SAG), repassando elementos básicos sobre a Cadeia Global de Valor e suas relações. Buscaram-se verificar em termos de literatura nacional, modelos e tipificações para a Cadeia Produtiva da Soja brasileira, base em indicadores do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e respectivas projeções para a soja. Verificaram-se aspectos de biotecnologia que influenciam no contexto da Cadeia Produtiva em sentidos jusante e montante. Ainda, a interrelação com o processo de internacionalização das empresas, por autores que fazem essa referência no Brasil e no mercado internacional, sob forma de pesquisas empíricas que instigam formas de internacionalizar XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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AGRONEGÓCIO, A CADEIA

PRODUTIVA DA SOJA - UMA ANÁLISE

SOBRE A ÓTICA DO SISTEMA

AGROINDUSTRIAL E REFLEXÕES EM

RELAÇÃO À INTERNACIONALIZAÇÃO

DE EMPRESAS

Ronald Tavares Pires da Silva (UNISINOS)

[email protected]

Sirlei Ana Falchetti (UNISINOS)

[email protected]

O presente artigo refere-se a estudo sobre a Cadeia Produtiva da Soja

no mundo, com referência específica ao Brasil, verificando indicadores

da cultura do grão no Agronegócio no contexto mundial e nacional,

fazendo breve descrição sobre as análises na ótica do Sistema

Agroindustrial (SAG) com reflexões sobre a internacionalização desta

importante commodity da economia brasileira. Tem como objetivos

verificar o desenvolvimento do cultivo da soja em grãos (seu histórico

e importância econômica), seus produtos e subprodutos em termos de

índices de produtividade, de consumo, áreas de plantio e armazenagem

(estoque), dentro de estudos que discutem viés econômico em áreas

públicas e privadas. O estudo tem também como objetivo analisar

razões para o crescimento exponencial da produção da soja

mundialmente e o crescimento do seu uso para consumo humano, e

respectivo interrelacionamento com mercados globais. Para o quadro

teórico do estudo, inicialmente levanta-se alguns conceitos e teorias

sobre estudos que relatam a origem histórica da soja no convívio

humano como base alimentar, uso medicinal, chegando ao posto de

“grão sagrado” para efeitos religiosos na região asiática, entre outros

indícios. Na sequencia relata-se de forma breve a chegada e as

primeiras iniciativas agrícolas de cultivo da soja no Brasil, sua

evolução comercial ao longo do século XX, algumas características da

Cadeia Produtiva e o modelo “T” no Sistema Agroindustrial (SAG),

repassando elementos básicos sobre a Cadeia Global de Valor e suas

relações. Buscaram-se verificar em termos de literatura nacional,

modelos e tipificações para a Cadeia Produtiva da Soja brasileira,

base em indicadores do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento) e respectivas projeções para a soja. Verificaram-se

aspectos de biotecnologia que influenciam no contexto da Cadeia

Produtiva em sentidos jusante e montante. Ainda, a interrelação com o

processo de internacionalização das empresas, por autores que fazem

essa referência no Brasil e no mercado internacional, sob forma de

pesquisas empíricas que instigam formas de internacionalizar

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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mercados, suas razões, motivadores, relações interorganizacionais no

segmento e respectivas consequências em mercados globalizados,

verificando o desempenho estratégico das empresas em diferentes

indústrias. Como método optou-se por um estudo bibliográfico em

diferentes fontes, estabelecendo cruzamento de conceitos e teorias que

permitam a reflexão sobre a temática para fomentar trocas de

informações com outras investigações e estudos sobre práticas

nacionais e mundiais na produção da soja. Finalizando, o es

Palavras-chaves: Agronegócio, Internacionalização, Soja, Sistema

Agroindustrial

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1. Introdução

O presente estudo contempla um breve relato sobre a Cadeia Produtiva da Soja no mundo,

com referência específica ao Brasil, verificando indicadores da cultura do grão no

Agronegócio no contexto mundial e nacional. Visa verificar o desenvolvimento do cultivo da

soja em grãos, seus produtos e subprodutos em termos de índices de produtividade, de

consumo, áreas de plantio e armazenagem. Estes últimos estudos discutidos pelas economias

públicas e privados. Também objetiva-se analisar razões do crescimento exponencial da

produção da soja mundialmente e o crescimento do seu uso para consumo humano.

Para a Cadeia Produtiva tomou-se o modelo proposto e analisado por Zylbersztajn et. al.

(1997), conhecido na literatura por SAG (Sistema Agroindustrial), adotado por diversas

projeções do Agronegócio no Brasil, como no Resumo Executivo e Projeções 2017/2018,

organizado e editado pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) de

2008, cujo foco está na divisão da Cadeia Produtiva da Soja por segmentos, nas quais ocorrem

transações chamadas de “T”, entre agentes e ambientes, que celebram questões das funções

contratuais nas relações agroindustriais.

Por fim, realizou-se uma breve análise sobre o processo de internacionalização das empresas,

a luz de autores nacionais e internacionais que pesquisam sobre formas, razões, motivações,

relações interorganizacionais e consequências de tal processo, dentro das economias

globalizadas e do desempenho estratégico das empresas em diferentes indústrias.

O proposto estudo desenvolve reflexões sobre a temática, não com a pretensão de plena

exploração, porém trazer ponderações iniciais que possibilitem aprofundamentos posteriores

sobre a Cadeia Produtiva da Soja e suas perspectivas além de fomentar possíveis trocas de

informações com outros pesquisadores, uma vez que diversas nações do mundo vêm

intensificando sua produção e seu consumo, em especial o Brasil, que já desponta como líder

nesse segmento.

2. Histórico da soja

O estudo sobre a procedência da soja apresenta diferentes versões sobre a origem, o que gera

divergências entre autores e pesquisadores. De maneira mais incisiva, parece ser a oleaginosa

oriunda da Ásia, especial na China, a mais aceitável pelas coincidências encontradas nos

registros. No entanto, quanto a sua introdução no mundo ocidental as divergências são

grandes e pouco conclusivas.

Para Hymowitz e Shurtleff (2005), a literatura histórica da soja e sua origem são repletas de

erros sobre fatos, datas e locais, pois as publicações que existem em sites na maioria não são

documentadas. Para tanto, os autores, fazem um resgate sobre o histórico da soja dividido em

“sete mitos/lendas” a considerar, resumidamente: Mito 1 - Em 1765, Samuel Bowen apresenta

“ervilhaca Chinês” (de soja) na Colônia de Geórgia. Ele obteve sementes do grão na China

(tese essa apresentada em pesquisa anterior realizada também por Hymowitz e Harlan, em

1983); Mito 2 – Em 1804, um veleiro Yankee Clipper Ship trás em seus porões algumas sacas

de soja, como suprimento reserva da costa da China, primeiro registro de ingresso do grão nos

Estados Unidos; Mito 3 – Benjamin Franklin, na França, como embaixador e membro da

academia de Ciências, envia para os Estados Unidos (1770) ao amigo John Bartram, na

Filadélfia, algumas sementes secas de soja que ele chamou de “Caravances chinês”; Mito 4 –

George Washington Carver (1901 e 1937) faz duas publicações falando sobre a soja e seu

cultivo, porém com vários equívocos e confusões relacionadas ao cultivo do feijão, talvez a

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teoria da origem mais desastrosa; Mito 5 – William J. Morse pesquisou sobre a soja na USDA

(United States Department of Agriculture) de 1907 até 1949, suas pesquisas mostram que a

soja é cultivada há mais de 5.000 anos em países como China e Japão, porém se contrapõe aos

estudos do Prof. Dr. Ping Ho (China) que estimou o cultivo da soja desde o século XI (a.C);

Mito 6 – Segundo Morse e Cartter (1937), sugeriram que a soja é uma das primeiras plantas

cultivadas pelo homem. Porém estudos posteriores revelaram que existe mais de 30 culturas

que são anteriores ao cultivo da soja, como arroz, milheto, trigo, feijão comum, abóbora, fava,

Pimenta do Chile, entre outras; Mito 7 – Morse publicou no ano de 1950 estudos que

apontavam que o imperador Shennong (China), 2.838 a. C. foi o primeiro a descrever a soja

como planta medicinal em seus escritos e receituários. Ele ficou conhecido como pai da

Agricultura, pois ensinou seus súditos e semear a planta. No entanto, estudos arqueológicos

na China podem desmentir essa tese (HYMOWITZ e SHURTLEFF, 2005, p. 475).

A soja, ou Glycine Max Merr (nome cientifico. GÓES - FAVONI et al, 2004), segundo

registros teve sua origem na costa leste da Ásia, ao longo do Rio Amarelo na China. Para a

antiga civilização Chinesa consistia em importante dieta alimentar chegando a ser considerada

como “grão sagrado”, com direito a rituais específicos no plantio e colheita. Explorada no

Oriente há mais de cinco mil anos, porém no Ocidente somente teve cultivo a partir da

segunda década do século XX, iniciada pelos Estados Unidos no ano de 1940 (EMBRAPA,

2003; FERNÁNDEZ, 2007; KLAUS, 2005).

Já no século XVII, o grão se espalha para países como Japão, Malásia, Índia. Nesses países,

sua utilização se voltava para alimentação humana. Como forrageira, nos Estados Unidos

atinge seu auge em 1940, chegando à marca de dois milhões de hectares plantados

(FERNÁNDEZ, 2007).

3. Soja no Brasil

A soja chegou ao Brasil vindo dos Estados Unidos, no início do século XX, através das

pesquisas do professor Gustavo Dutra (1892) da Escola de Agronomia da Bahia.

Posteriormente à sua pesquisa, o Instituto Agronômico de Campinas (SP) realizou outras

adaptações e aprofundamentos da pesquisa do professor Dutra. Inicialmente o uso no Brasil

foi direcionado exclusivamente para forragens e consumo de animais, nessa época ainda

distante do uso industrial. Por volta de 1930, imigrantes japoneses vindos para o Brasil

trouxeram sementes na bagagem e iniciaram o cultivo no interior de São Paulo. Porém o

primeiro registro de cultivo intenso da soja foi na região Sul, no Estado do Rio Grande do Sul,

município de Santa Rosa, pela similaridade climática com a origem na região sul dos Estados

Unidos (HASSE, 1996; EMBRAPA, 2003).

Segundo Christensen (2004), o cultivo da soja intensificou-se no interior do Rio Grande do

Sul, onde o comerciante Frederico Orteman, de Santo Ângelo, exportou em 1938 três mil

sacos de soja para a Alemanha, despertando o interesse de exportadores e industriários.

Apesar não haver relatos oficiais talvez essa tenha sido a primeira operação de

internacionalização da soja no Brasil. Observa-se, pelas pesquisas apresentadas, que já

naquela época existiam ações empreendedoras para a internacionalização de negócios, em

especial a soja, que anos depois veio a ser destaque nesse segmento.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, intensificaram-se no Brasil as industrializações e

exportações. Cresce o consumo de óleo vegetal o que aumenta o cultivo da soja. O Rio

Grande do Sul, por exemplo, passou de 650 hectares nos anos 40 para 600 mil hectares na

década de 70 (CHRISTENSEN, 2004).

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A soja consolidou-se como cultura no Agronegócio brasileiro a partir dos anos 70, passando

de 1,5 milhões de toneladas no ano de 1970 para mais de 15 milhões de toneladas em 1979

(EMBRAPA, 2003). Esse crescimento foi associado a dois fatores, não somente aumento da

área cultivada (1,3 para 8,8 milhões de hectares), mas também crescimento de produtividade

(1,14 para 1,73 t/ha), devido a novas tecnologias disponibilizadas aos produtores pela

pesquisa brasileira. Destaca-se mais de 80% continuava até os anos 80 concentrada nos

estados da região Sul. A partir dos anos 90 a produção do centro oeste brasileiro atingiu 20%

do montante nacional e em 2000 atingiu mais de 60%. Em especial o Estado de Mato Grosso,

líder no Brasil atualmente (EMBRAPA, 2003; IBGE, 2010).

4. Panorama de Comercialização da Soja no Mundo e no Brasil

Com o propósito de verificar a realidade atual e projetar expectativas do Agronegócio

brasileiro, o MAPA organizou em 2008, em parceria com diversas instituições nacionais e

internacionais, um Resumo Executivo e um Relatório de Projeções do Agronegócio Mundial e

no Brasil 2006/2007 a 2017/2018. Tal documento teve finalidade de projetar tecnicamente o

crescimento das atividades do Agronegócio, para ajudar o desenvolvimento das atividades

deste segmento, junto a entidades públicas e privadas auxiliando na geração de emprego e

renda e na solução de problemas sobre a alimentação humana e sustentabilidade.

O documento adota o modelo da cadeia Produtiva da Soja como importante atividade do

Agronegócio brasileiro, definida por Zylbersztajn e Farina (1997) como SAG (Sistema

Agroindustrial), desde a fabricação de insumos, passando pela produção agropecuária,

transformação e até o consumo final. A estrutura da cadeia produtiva e suas

transformações/evoluções estão descritas no presente estudo.

Podem-se observar, na Tabela 1, os indicadores de produção, consumo e armazenagem

(estoque) da soja a nível mundial. Nesse período, o cenário Mundial do Agronegócio sofreu

mudanças significativas em termos de regimes econômicos, mudanças culturais, sociais,

inovações tecnológicas de produção, como a Biotecnologia (processo tecnológico que permite

a utilização de material biológico de plantas e animais para fins industriais. ALTIERI, 2002).

Ainda mudanças em hábitos de consumo, com impactos nos Sistemas Agroindustriais

Brasileiros (ZYLBERSZTAJN, LAZZARINI E FILHO, 1997), e observados também os

períodos mais recentes pesquisados (2005/2006 e 2007/2008) por ser base para as projeções

(2017/2018). Consideraram-se os totais da tabela original (MAPA, 2008) quanto às taxas de

crescimento anual em percentual (%), importantes nessa análise.

Na relação produção mundial, consumo mundial e armazenagem (estoque mundial), as

culturas do algodão e soja apresentam crescimento na taxa anual: 4.43% - algodão e 4.46%,

4.80%, 5.15% - soja, para produção mundial. Em relação ao consumo mundial, observa-se

4.61% algodão, 4.63%, 4.65% e 5.31% - soja e armazenagem mundial 1.60% – algodão, 8,5%

soja grão e – 0.01 – soja farelo e – 1.52% óleo. É importante destacar que os valores da

armazenagem mundial são negativos. No caso do milho e arroz, o crescimento da produção

anual mundial, em termos percentuais, não é tão expressivo (Milho 3.33% e Arroz 0.67%)

sendo que a relação com o consumo mundial se mantém relativamente proporcional (Milho

3.06% e Arroz 0.76%). Porém quanto à armazenagem (estoque) essas culturas apresentam os

maiores déficits no estudo (Milho – 6.88% e Arroz – 9.97%), também valores negativos.

A produção brasileira agrícola e pecuária aumentará nos próximos 10 anos, segundo projeções

do MAPA, até 25%. Foram analisadas 18 commodities. Como conclusão existe um maior

potencial de crescimento para a realidade do Brasil que está ligada as culturas da soja, trigo,

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milho, carne bovina, frango, etanol de soja e leite. A produção de grãos irá se expandir em 40

milhões de toneladas métricas. Dos 140 em 2007/2008 para 180 em 2018/2019, um aumento

de 29%. A produção animal vai saltar dos 12,5 milhões de toneladas métricas para 37, com

aumento de 52%. Tais projeções levaram em consideração os reflexos da crise financeira

mundial vivida em 2008/2009, oriunda dos Estados Unidos (USDA/FAO 2008).

Produção Mundial – Em Milhões de Toneladas

Produtos Selecionados

Ano/Período Algodão

Puma

Arroz Milho Soja

Grão

Farelo

Soja

Óleo

Soja

Trigo

1999/2000 19.1 408.8 607.5 160.6 107.0 24.5 588.8

2002/2003 19.3 377.5 603.0 196.8 130.4 30.6 567.8

2005/2006 26.1 401.0 714.8 215.7 138.7 32.5 628.0

2007/2008 25.2 420.8 777.1 222.1 160.4 37.6 612.3

Taxa

Crescimento

Anual (%)

4.43 0.67 3.33 4.46 4.80 5.15 0.79

Consumo Mundial – Em Milhões de Toneladas

1999/2000 19.8 398.0 604.9 159.6 108.8 24.0 585.0

2002/2003 21.4 407.3 627.7 191.6 130.5 30.2 603.7

2005/2006 25.3 415.8 704.1 215.0 145.7 33.6 624.5

2007/2008 27.7 424.4 769.7 234.2 159.4 37.6 619.9

Taxa

Crescimento

Anual (%)

4.61 0.76 3.06 4.63 4.65 5.31 0.91

Estoque Mundial de Grãos – Em Milhões de Toneladas

1999/2000 10.9 145.1 192.9 30.9 5.4 2.7 208.9

2002/2003 9.9 103.6 125.6 43.6 5.5 2.7 165.7

2005/2006 12.6 77.3 122.8 54.0 5.1 2.9 149.2

2007/2008 11.1 72.0 108.4 51.9 5.4 2.3 116.6

Taxa

Crescimento

Anual (%)

1.60 -9.97 -6.88 8.5 -0.01 -1.52 -7.32

Fonte: CONAB – MAPA. Assessoria de Gestão Estratégica, 2008, p.6.

NOTA: Adaptado da Projeção 2017/2018 (MAPA/CONAB 2008 – IBGE), envolvendo projeções realizadas no

período 1999/2008, onde se considerou os períodos iniciais (1999/2000 e 2002/2003)

Tabela 1 - Produção Mundial de Soja em Milhões de Toneladas

Há previsões que apontam que o Brasil deverá reforçar sua liderança como exportadora

mundial agrícola. A exportação da carne bovina deverá crescer 93%. O país terá um grande

aumento no consumo doméstico em grãos previsto de 20%, com significância ao consumo

alimentar humano (USDA/FAO 2008). Uma das dificuldades do Brasil em relação a essa

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grande expansão projetada, em particular para produção de grãos, estará ligada ao

desenvolvimento da Biotecnologia, em consequência necessidade de maior rigor quanto à

infra-estrutura para classificação e separação de grandes volumes, isto é, capacidade de

armazenagem (ZYLBERSZTAJN, LAZZARINI E FILHO 1997).

No Brasil, o PIB (Produto Interno Bruto), vem recebendo incrementos expressivos por parte

do Agronegócio, este estimado em R$ 102,4 bilhões ano, participando com 7,8% do PIB, isto

é, a cada R$1,00 gerado dentro da porteira das propriedades agropecuárias, existe um efeito

multiplicador de R$ 2,50 de renda nos demais setores da economia, indústria de insumos,

processamento de produtos, entre outros serviços. Para se ter uma ideia, em 1995, na região

centro-oeste, somava-se 242.436 estabelecimentos em atividades agropecuárias. Em 2006

atingiram 319.954, com uma área referente à 100.071.723 hectares, segundo Censo

Agropecuário do IBGE/2006.

Retirado do documento Resumo Executivo (MAPA, 2008), a Figura 1 mostra visão

prospectiva do Agronegócio Mundial e Brasil, com Distribuição da Produção Mundial de soja

em percentuais, das safras 2007/2008 e a projeção 2017 e 2018.

Fonte: Resumo Executivo – Projeções Agronegócio (MAPA, Janeiro 2008, p. 1).

Figura 1. Projeções Agronegócio Mundial 2007/2018

Observando a Figura 1, em 2007/2008 a Produção de Brasil e Argentina somados (26.8%

Brasil + 19.4% Argentina) perfaziam um total em toneladas produzidas igual a 46.2%. Os

Estados Unidos totalizam 35% para mesmo período. Pela projeção 2017/2018 somente o

Brasil já totalizará 33.1% (da produção mundial da soja), isto é, praticamente três pontos

percentuais acima dos Estados Unidos. E se for somado o total de produção da Argentina,

esse total será 52.2% da produção da soja, concentrado na América do Sul.

5. Cadeia Produtiva da Soja no Brasil – Modelo SAG - Zylbersztajn, Lazzarini e Filho

No contexto das atividades econômicas alguns fatores podem influenciar o processo da cadeia

produtiva. O presente item traz algumas considerações sobre a Cadeia Produtiva da Soja, em

especial o modelo de SGA (Sistema Agroindustrial) desenvolvido por Zylbersztajn, Lazzarini

e Filho (1997), em seu artigo: “Perspectives of the application of Biotechnology on the

Brazilian Agroindustrial System: The case of Round up Ready Soya” – Perspectivas e

aplicações da Biotecnologia no Sistema Agroindustrial Brasileiro: a volta por cima da soja.

Argentina

19.4%

Outros 10.7%

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Ainda, relacionar com algumas reflexões de autores que estudam a internacionalização das

empresas.

Como discussão inicial foi estabelecido alguns entendimentos sobre os conceitos de Cadeias

Globais de Valor (GVC), ligadas aos padrões de Governança (centra-se na estrutura de

governança e o quadro institucional no qual a produção e vendas globais são internacionais.

Governança, no GVC, é definida como determinadas empresas medem e fazem cumprir as

normas, segundo as quais os outros vão operar ao longo da cadeia. GEREFFI et al., 2005).

Tudo isso inspirado em três vertentes da literatura: custos de transação, redes de produção e

capacidade tecnológica e de aprendizagem, para determinar as variáveis que regem as

mudanças nas cadeias globais: 1. Complexidade das operações; 2. Capacidade de codificar as

transações; 3. Capacidade base de oferta. Essa teoria gera cinco tipos de governança na cadeia

global de valor: hierarquia, cativeiro, relacional, modular e de mercado, que apresentam

diferentes níveis de coordenação e poder, segundo Gereffi et. al. (2005). Os autores comentam

que para o mercado internacional a organização industrial necessita estar contida na noção de

“cadeia de valor acrescentada”, centradas sobre as estratégias empresariais e de países na

economia global. “Cadeia de Valor Acrescentada” combina tecnologia, materiais e insumos

de trabalho e insumos que são transformados, montados, comercializados e distribuídos, isto

é, uma única empresa pode ser linck (estar relacionada) nesse processo, ou estar verticalmente

integrada (KOGUT, citado por GEREFFI et. al, 2005). A questão principal é definir quais

atividades e tecnologias uma empresa mantém em casa (doméstico) ou deve terceirizar para

outras empresas.

Para a Cadeia Produtiva da Soja, percebe-se que a condição de Cadeia de Valor Global

(GVC) estudada por Gereffi está ligada a aplicação no SAG. No modelo SAG de

Zylbersztajn, Lazzarini e Filho (1997), que são interligadas pelas relações entre agentes,

atores, áreas de tecnologias, materiais, distribuição e relações econômicas, que do ponto de

vista da (GVC) é citada quanto aos processos e necessidades de P&D (Pesquisa e

Desenvolvimento), biotecnologia, direitos de propriedades de produtos diferentes entre outras

questões de abrangência dos ambientes interno e externo ao longo do SAG.

Seguindo exemplos de Estados Unidos, China e Argentina entre os maiores produtores

mundiais de soja, o Brasil tem no Agronegócio uma das maiores expansões econômicas nas

últimas décadas. Evidentemente que dominado por empresas transnacionais Souza (2007

p.56), diz: “Apenas dez transnacionais têm o controle do monopólico das principais atividades

agrícolas do país. São elas: Bunge, Cargill, Monsanto, Nestlé, Danone, Basf, ADM, Bayer,

Sygenta e Norvartis”. Esse registro remete a observar a realidade de modelos das cadeias

produtivas de soja instaladas no Brasil, na sua maioria, no domínio de países estrangeiros, traz

razões culturais, econômicas e sociais diferentes, que devem prevalecer na condição de

liderança bem como em características próprias de (GVC).

A estrutura do Sistema Agroindustrial (SAG) - Cadeia Produtiva da Soja no Brasil no modelo

de Zylbersztajn, Lazzarini e Filho (1997) foi dividida em segmentos: a) Indústria de insumos

agrícolas; b) Produção; c) Cedentes/Originadores; d) Trituradores/Esmagadoras/Refinamento;

e) Indústria de produtores de derivados de petróleo; f) Distribuição e g) Consumidor Final.

Nesse estudo apresenta-se cada um dos segmentos e respectiva estrutura, indicando suas

transações pela letra “T”, conforme sugerido pelos autores, para indicar movimentos e

mudanças ao longo da cadeia:

a) Indústria de insumos agrícolas – produz mercadorias para uma mesma indústria que

produzirá para diferentes sistemas produtivos. Indústrias de fertilizantes, pesticidas,

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maquinário, indústrias de sementes que tem impacto pela biotecnologia que é diretamente

relacionada com a produção agrícola;

b) Produção (processo agrícola) – segmento agrícola propriamente dito visto para “trás”

(indústria de insumos) e para “frente” (indústria de esmagamento), incluindo as tradings

(agentes de comercialização independentes), cooperativas, e outros intermediários como

corretores e armazenamento;

c) Cedentes/Originadores – composta por tradings (T3), cooperativas (T4), corretoras e

armazenadores (T5), contato direto com os produtores no processo de aquisição,

armazenagem e distribuição da soja como matéria prima. Na maioria dos casos trata-se de

fase vertical e integrada ao Esmagamento (T8), com empresas privadas atuando, conforme

observado na Figura 1. Envolve Mercado Externo (T9); Ainda podem retornar aos cedentes

pelas indústrias de esmagamentos e Cooperativas (T7) e (T6) em forma de vendas

internacionais. Muitas dessas organizações através dos Corretores/Armazenadores atuam

com contratos (relações contratuais formais e acordos de cooperação informais de longo prazo

se estabelecem entre os agricultores, os fornecedores de insumos, os traders, as firmas

processadoras, e ainda com os supermercados e sistema de distribuição de produtos), e

subcontratos para indústrias de esmagamento ou tradings, que são originários do segmento de

Produção para venda (T5), ilustrados na Figura 2; Importante observar que na representação

da Figura 1, considera regiões do Brasil tradicionais, como Sul e Sudeste e também o

processo para novas regiões em expansão como, região Centro Oeste, maior produtor de Soja

no país em 2008 (ZYLBERSZTAJN, LAZZARINI E FILHO, 1997; Censo Agropecuário

IBGE);

d) Trituradores/Esmagadoras/Refinamento – segmento concentra atividades de processamento

da soja em seus principais produtos. Cada tonelada de soja produz aproximadamente 0.78 t

(780 Kg) de farelo de soja e 0.19 t (190 Kg) de óleo; Parte do farelo é exportada via tradings

(T17), ou por seus departamentos comerciais internos. O modelo de transação (T11) indicado

na Figura 2 demonstra importação de soja no regime draw back (restituição de impostos

aduaneiros pagos sobre a importação de matérias-primas no momento da exportação dos

produtos que elas serviram para fabricar). O restante é vendido para a indústria de alimentos

de origem animal (T12), muitas vezes integradas com a indústria de carnes e em certos casos

volta para indústria de processamento de soja; O óleo é processado nas fases de esmagamento,

extração de goma e refino, este pode ser transformado por hidrogenação em produtos como:

margarina, maionese e gorduras vegetais que são mais elaborados, geralmente esses com o

óleo refinado destinam-se mais ao mercado interno, via distribuidores (T17);

e) Indústria de Produtores e derivados de petróleo – as empresas podem estar presentes em

todas as etapas já apresentadas, assim a transação (T10), indicada na Figura1, ocorre de forma

interna (integração vertical), podendo direcionar os produtos para transformação em outras

indústrias (exemplo Leticina de Soja - obtidos a partir de fosfolipídios de óleo - para o

chocolate, margarina, biscoitos, suplementos alimentares) (T15), destaca-se indústria de

alimentos, química e ou farmacêuticas;

f) Distribuição – atacadistas e varejistas que operam com outros produtos que utilizam

mesmos canais de distribuição; Fazem uma ligação entre a indústria de esmagamento de soja

e derivados (T17) e consumidores finais (T18), indiretamente, recebendo outros produtos de

soja por meio da alimentação animal/indústria de carnes (T14) e indústrias em geral (T16);

g) Consumidor Final – inclui compradores industriais nas vendas externas de tradings e

indústrias de processamento;

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Importante destacar que no SAG, para Zylbersztajn, Lazzarini e Filho (1997), entender que

materiais modificados pela Biotecnologia, que objetivam aumentar produtividade agrícola não

estão voltados a diferenciação da soja através de atributos qualitativos somente, mesmo

considerando aspectos ligados a esse particular, apesar de garantirem a origem do produto,

apesar de restrições de alguns consumidores. Nesse estudo não se aprofundou tal discussão,

porém é evidente sua influencia no processo da SAG e consequentemente GVC.

Importante verificar o Controle/Coordenação no SAG, interrelacionados com GVC. Os

autores afirmam que o correto controle poderá garantir adequação de investimentos em P&D

por empresas de Biotecnologia ao longo da SAG. As transformações T3, T4 e T5 (Figura 2),

para corretores, cooperativas e Tradings relacionadas com a transação T2, envolvem

produtores agrícolas (processo de produção) aos trituradores/esmagadores, e ainda as relações

em T9 (mercado internacional), são cruciais para questões de Controles, pois envolvem no T9

mercado estrangeiro em dois sentidos com dois segmentos diferentes do SAG, porém

diretamente ligados, podendo até comprometer o processo da (SAG) como um todo (observar

T9 e T11 na Figura 2).

Processo de Produção (T2)

Indústria

de Insumos

Agrícolas Cedentes

(Originador) Trituradores

Refinadores

Indústria

Petróleo e

derivados

Distribuição

Sementes

Fertilizantes

Pesticidas

Maquinas

Outros

(T1)

Regiões

Tradicionais

(Sul/Sudeste)

Regiões

Novas

Armazenagem,

(T5)

Corretores

(T4)

Cooperativa

(T3)

Tradings

(T6)

- Esmagadoras

(T8) e

Refinarias

- Empresas

Privadas

- Cooperativas

(T7)

(T10)

(T9)

(T15)

(T11)

(T13)

Indústria

De Carnes

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Fonte: Adaptado de Lazzarini, S.G. & Nunes, R. Competitividade do Sistema Agroindustrial da Soja

(Competitiveness of the agroindustrial Soy System). IPEA/PENSA - USP, 1998.

Figura 2. Estrutura SGA (Sistema Agroindustrial Brasileiro)

6. Internacionalização

Internacionalização vem sendo discutida por pesquisadores das organizações devido ao

cenário competitivo e necessidade de sobrevivência para empresas em diferentes segmentos

econômicos, independente do porte da organização. Uma empresa deverá buscar suas

vantagens comparativas (Teoria das Vantagens Comparativas define que os países devem

especializar-se na produção daqueles bens com maior eficiência. DAVID RICARDO, 1817,

citado por PORTER, 1999), e suas praticas de exportação podem estar relacionadas em

diferentes intensidades e modelos de internacionalizar seus negócios (NEGRI, 2003).

Fernandez e Nieto (2005), citados por Dal Corso, Fumagalli e Silva (2009), comentam que a

internacionalização é um processo estratégico complexo de adoção pela empresa. É também

buscar por mercados internacionais repletos com fatores internos, externos e competitivos,

que podem gerar incentivos ou inibição, cuja iniciativa deve partir da alta direção da empresa.

A internacionalização consiste na discussão do desenvolvimento das empresas, dentro do

contexto da importância destas para economia mundial nas questões econômicas e sociais, a

partir de pressupostos de que primeiro elas desenvolvem-se nos seus mercados domésticos e a

internacionalização é consequencia de decisões incrementais. Destaca-se que os obstáculos de

maior importância são a falta de conhecimento e de recursos. Existe também um ponto de

vista de que as empresas começam a vender no exterior inicialmente por meio de

representantes independentes, com menores investimentos de recursos do que estabelecer

filiais de vendas ou plantas de produção (JOHANSON e PAUL, 1975, p. 306).

Johanson e Paul (1975) identificam quatro estágios para o desenvolvimento de operações

estrangeiras: atividades e exportação regulares; exportação via representantes independentes;

filial de vendas e planta de produção. Estabelecendo-se uma relação entre o estudo sobre a

Cadeia Produtiva da Soja no Brasil e os quatro estágios propostos por Johanson e Paul (1975),

observa-se a falta de conhecimento e recursos, a complexidade do processo internacional e

aspectos internos de mercado e do ambiente externo para o desenvolvimento de atividades

estrangeiras.

Vale ressaltar o trabalho de Rocha (2002), sobre a “Internacionalização das empresas

brasileiras: estudo de gestão internacional” e a pesquisa Survey: “Estratégias Competitivas e

Competências Essenciais – perspectiva para a Internacionalização da indústria no Brasil” de

Fleury e Fleury (2003). O estudo de Rocha discute sobre por que as empresas brasileiras não

internacionalizam seus negócios, apontando algumas causas ligadas a questões da economia e

política do Brasil e sua evolução histórica. Considera três fatores principais para tais

dificuldades: Geográficos, Ambientais Culturais e Motivacionais. Para o autor as questões

Geográficas, entre outros se relaciona a questões dimensionais do Brasil, país continental em

seu território, muita distância dos centros comerciais mundiais e aos principais escoamentos

de produção (Europa, Ásia e Costa do Pacifico), isolamento lingüístico, língua Portuguesa.

- Atacadista

- Varejo

(T17)

- Interação

com mercado

(relacionamento)

(T14)

(T16) (T16)

Mercado

Externo

(T12)

Indústria

Alimentícia

Outras

Indústrias:

Alimentos

Química

Farmacêutica

Consumidor

(T18)

Interno

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Somado a poucas linhas áreas e marítimas que são ofertadas no Brasil, que poderiam fazer

ligações a centros maiores mercantis de âmbito Global (ROCHA, 2002, 2004).

Como fatores ambientais, Rocha diz que os empresários brasileiros são abertos a propostas de

internacionalização. O processo de multinacionalização das empresas se intensificou no Brasil

a partir dos anos 90; existe certa resistência pelas empresas em trocar mercados cativos já

conhecidos pelos estrangeiros; a história empresarial brasileira revela que somente em alguns

momentos políticos e econômicos ouve clima favorável para exportações; a influência de

fatores culturais, distâncias psicológicas entre brasileiros em relação a outros povos do

mundo.

Para os fatores motivacionais, Rocha elege cinco categorias sobre os empresários: conquistar

novos mercados, consolidar clientes no exterior, sobrevivência da empresa, novas

oportunidades e intenções estratégicas. Salienta que em todos eles prevalece a vontade

pessoal, iniciativa e interesse do empresário, atrelada a ideia de exportar, influência

governamental que facilite ou estimula o processo. E ainda toda a questão dos fatores

Geográficos e Ambientais combinada ou isoladamente.

Ressaltando as literaturas até aqui analisadas, em nível internacional, os fatores para

internacionalização (ligados a ambiente das empresas, questões geográficos e motivacionais e

recursos) são bastante similares, se comparados as carências das empresas no Brasil. Porém

nossa realidade possui peculiaridades que merecem estudos aprofundados em diversos

segmentos da economia inclusive se comparados a estruturação das empresas no modelo

SAG. Rocha (2002), informa que o volume das transações das empresas brasileiras com

estrangeiras tem volume de 70% das exportações, concentrado em 2% das empresas somente,

em sua maioria empresas de grande porte.

A pesquisa de Fleury e Fleury (2003) teve foco nas perspectivas de internacionalização das

empresas no Brasil, em função de estratégias competitivas e competências essenciais.

Utilizando-se do método Survey, foram pesquisadas indústrias brasileiras em relação ao seu

contexto de internacionalização e relações interorganizacionais, discutindo-se processo de

internacionalização, modelos adotados, articulação de subsidiárias em redes internacionais,

competitividade das empresas, competências organizacionais para internacionalizar seus

negócios. O estudo foi realizado com 1600 questionários em 1999, com 470 respostas

qualificadas, permitindo medir panorama da articulação da indústria local no contexto

internacional, além de perceber a indústria globalizada com foco no Brasil (FLEURY e

FLEURY, 2003, p. 138).

Resumidamente, com base nos resultados obtidos, pode-se ponderar que existe processo

dinâmico de reestruturação das empresas no Brasil (já acontecendo em vários setores – o

modelo SAG), onde existe potencial para internacionalizar negócios em redes internacionais

de empresas, porém com registro de carência de aperfeiçoar competências e necessidade de

compreender processos de reestruturação do tecido industrial brasileiro para adequar-se a

modelos internacionais. Esse poderá ser um desafio tendo vista razões culturais, econômicas

sociais que são peculiares as nossas empresas ainda em parte nos modelos familiares de

gestão (FLEURY e FLEURY, 2003, p. 143).

Para Dal Corso, Fumagalli e Silva (2009, p.306) citando Vernon (1966), a expansão

internacional trata-se de processo gradual que se fundamenta no ciclo de vida internacional de

produto. O modelo de Vernon ressalta o papel da internacionalização com importância a

redução de custos e no atendimento de demandas globais mitigadas. Este parecer de Vernon

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demonstra a necessidade de entender e controlar as transações e mudanças das organizações

no SAG, no modelo de Zylbersztajn, Lazzarini e Filho (1997).

Cabe ressaltar que a internacionalização das empresas no Brasil, conforme citam Hilal e

Hemais (2003), deve-se a conceitos seminais do Modelo da Escola Nórdica, conhecida como

Escola de Uppsala de Hörnell, Vahlne e Wiedersheim-Paul (1973), Johanson e Wiedersheim-

Paul (1974), Johanson e Vahlne (1977, 1990), os quais realizaram estudos sobre

internacionalização de indústrias suecas manufatureiras, usando como referência estudos de

Cyert e March (1963), de Aharoni (1966) e de Penrose (1995). Carlson (1975) também citado

por Hilal e Hemais, afirmava que tal processo ocorria (por exportações ou investimentos

diretos - FDI) como consequência de seu crescimento. Segundo os autores, quando o mercado

doméstico (interno) começa a saturar, ou seja, há maior oferta que demanda, as oportunidades

da empresa auferir lucros se reduzem e se realmente quer manter seu crescimento, precisa

buscar novos nichos e uma probabilidade de expandir, quando a vertical não é mais possível,

ou está comprometida, é a expansão geográfica. Dessa maneira, dizem os autores, a

internacionalização é uma sequência natural, não planejada, para o crescimento da

organização.

7. Considerações Finais

Este estudo destaca algumas breves alternativas a respeito da complexidade que o

Agronegócio e a Cadeia Produtiva da Soja assumiram no cenário econômico mundial e,

especificamente no Brasil, nas últimas décadas. Como no exemplo apresentado do modelo

SAG (Sistema Agroindustrial) brasileiro, mostrou-se compatível e utilizável em relação aos

aspectos da Cadeia Global de Valor (GVC), apesar da necessidade de observarem-se

diferenças existentes nas empresas quanto a questões culturais, ambientais e socioeconômicas.

O Brasil na condição de emergente maior produtor da soja no mundo necessita desenvolver

rapidamente suas competências, vantagens comparativas e competitivas no mercado

doméstico de forma imediata, através de investimentos, desenvolvimento de novos estudos e

pesquisas, e diríamos contribuir significativamente para a formação de profissionais

qualificados voltados ao Agronegócio, bem como não distanciar-se das tendências,

adaptações e conhecimentos dos mercados internacionais e suas realidades. Isso somado a um

compromisso entre entidades governamentais, privadas, sem fins lucrativos e instituições

produtoras de conhecimento.

Também se percebe que o processo de internacionalização das empresas, nos países

desenvolvidos tem essa temática já estudada e pesquisada, de forma pragmática e constante,

onde modelos e teorias têm sua comprovação estabelecida. No caso da realidade das empresas

no Brasil, que almejam esse modelo de negociação existe um grande potencial e uma lacuna

para futuros estudos e pesquisas que permitam adequações da realidade e condições

socioeconômicas brasileiras, num contexto globalizado de produzir, comercializar e consumir

a soja e seus subprodutos, que ainda são incipientes em nossa economia, apesar do grande

volume de produção na forma de commodity.

O estudo constitui-se como um ensaio teórico, no qual se fez uma breve investigação de

teorias sobre a comercialização e a Cadeia Produtiva da Soja e seu contexto em mercados

globalizados, o qual requer maiores aprofundamentos, por meio de pesquisas e estudos que

contribuam com adequação a realidade das organizações do Brasil com o mundo.

Referências Bibliográficas

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