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CONSTRUMETAL – CONGRESSO LATINO-AMERICANO DA CONSTRUÇÃO METÁLICA São Paulo – Brasil – 31 de agosto a 02 de setembro 2010
AEROPORTO USIMINAS:
PROPOSTA PARA O TERMINAL DE PASSAGEIROS E SERVIÇOS
OLIVEIRA, Luiza Baptista de. Arquiteta e Urbanista. Email: [email protected]
(O) TIBÚRCIO, Túlio Márcio de Salles. Professor adjunto do Departamento de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal / Arquiteto e Urbanista pela Universidade Federal de
Doutor pela University of Reading - Inglaterra. Email: [email protected]
(CO) VERÍSSIMO, Gustavo de Souza. Professor adjunto do Departamento de Engenharia
Civil da Universidade Federal de Viçosa. Engenheiro Civil pela Universidade Federal de
Viçosa e Doutor pela Universidade Federal de Minas Gerais, em conjunto com a
Universidade do Minho, em Portugal. Email: [email protected]
Apresentação
Este estudo foi desenvolvido como pré-requisito para obtenção do grau de Arquiteto e
Urbanista da Universidade Federal de Viçosa. Seu conteúdo pode ser dividido em duas partes
subseqüentes. A primeira trata-se do levantamento de informações para dar subsídios à
intervenção arquitetônica no Aeroporto Usiminas; e a segunda diz respeito à proposta de
intervenção arquitetônica propriamente dita no Terminal de Passageiros e Serviços deste
Aeroporto.
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Definição do problema
O desenvolvimento deste trabalho se deve aos potenciais impactos causados na infra-
estrutura da região do Vale do Aço causados pela expansão anunciada pela Usiminas, prevista
para ser iniciada em 2009. De acordo com a empresa, a ampliação da sua capacidade
produtiva foi estimada em 2,2 milhões de toneladas de aço líquido por ano, o que demandaria
investimentos de R$ 9 bilhões, gerando assim entre 10 mil e 15 mil postos de trabalho durante
as obras e mais de 5 mil empregos diretos e indiretos na fase de operação.
Este estudo enfatiza a potencialidade do Aeroporto USIMINAS dado seu significativo
valor funcional e sua vocação plástica, valendo-se do uso da arquitetura como uma ferramenta
capaz de explorar a adaptação dos espaços físicos e influenciar o contexto, os usuários e todo
o meio no qual o Aeroporto encontra-se inserido.
Para tanto, foi necessário identificar o modo pelo qual a adaptação do Aeroporto
USIMINAS deveria ocorrer para atender tanto a sua nova demanda, quanto manifestar
esteticamente sua importância, além de proporcionar aos usuários melhor ambientação dos
espaços e dos serviços oferecidos.
Objetivos
Objetivo geral
Investigar as adaptações que o Aeroporto USIMINAS deveria sofrer a fim de atender
sua futura demanda e oferecer melhor ambientação e serviços aos usuários.
Objetivos específicos
Compreender o processo histórico, principais conceitos e tendências relacionadas à
aviação civil.
Levantar as características relacionadas ao funcionamento do Aeroporto USIMINAS.
Investigar informações acerca dos condicionantes quantitativos que relacionados à
expansão do aeroporto USIMINAS.
Identificar os condicionantes técnicos relacionados ao projeto arquitetônico de um
aeroporto de porte industrial.
Estudar as tendências tecnológicas e estruturais da arquitetura aeroportuária.
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Metodologia
A fim de se obter abrangência na descrição, explicação e compreensão do objeto de
estudo, foi adotada a seguinte metodologia:
Revisão bibliográfica que incluísse os condicionantes técnico-formais relacionados ao
tema.
Entrevistas com profissionais envolvidos diretamente com a aviação civil, e com a
gerência do atual Aeroporto USIMINAS.
Estudos de caso que abordassem diferentes aspectos arquitetônicos, de aeroportos
contemporâneos.
Tendências da arquitetura aeroportuária
Vale ressaltar a previsão de crescimento da aviação em todo o mundo. O tráfego aéreo
mundial deve crescer 5 % ao ano até 2010. A taxa prevista para a América Latina é de 7,9 %
ao ano, superada apenas pela da China (PORFÍRIO, 2006). Neste contexto é possível observar
o uso recorrente da concepção arquitetônica aeroportuária com pretensão de ser reconhecida
como referência plástica no que diz respeito a design e técnicas construtivas, como é o caso
do Terminal 5, no aeroporto de Heathrow, em Londres.
Os aeroportos também têm sido vistos como centros regionais de negócios, como é o
caso dos Aeroportos Internacionais de Guararapes, em Recife e o Presidente Juscelino
Kubitschek, em Brasília. Na produção arquitetônica de modo geral, podem ser destacadas
ainda, diversas correntes que se manifestam a partir da utilização de alta tecnologia
construtiva com o emprego do aço. (RENA, 2003). Segundo Maringoni (2004), o importante
é que o projeto de estrutura em aço já comece a ser pensado com o conceito do material. Tal
preocupação têm sido visível em alguns aeroportos contemporâneos, como é o caso do Lion
Airport Station, na França, projetado por Santiago Calatrava em 1994.
Condicionantes Técnicos
Horonjeff (1966) define e apresenta os critérios de definição da implantação, do
número de pavimentos, das atividades e fluxos relacionados ao projeto da Estação de
Passageiros do Terminal Aeroportuário.
Implantação: Uma estação centralizada oferece muitas vantagens, sem os inconvenientes da
transferência de passageiros e bagagens de um edifício para o outro. Por isso é importante
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planejar as estações de tal maneira que elas possam ser ampliadas à medida que o tráfego
aumenta.
Número de pavimentos: Qualquer que seja a solução adotada é importante a maior
flexibilidade no planejamento, para permitir que uma provável expansão venha a interferir o
mínimo possível nas instalações originais.
Atividades localizadas nas estações de passageiros: As estações devem acomodar empresas
de aviação, instalações para conveniência de passageiros, escritórios da administração doa
aeroporto e órgãos federais.
Circulação dos passageiros e bagagens: O planejamento de uma estação deve considerar a
separação entre os passageiros de embarque e desembarque, a otimização de distâncias e
indicação clara de trajetos, e a não interferência entre serviços e circulação de passageiros.
Como condicionante técnico foi também considerado o Anexo 14 da Convenção de
Aviação Civil Internacional, cujas recomendações estão baseadas em princípio numa
classificação dimensional que identifica a categoria do aeroporto segundo o comprimento de
sua pista e das dimensões das aeronaves que a utilizarão.
Para as instalações terminais foi ainda considerada a regulamentação geral para edifícios,
prevista no Código de Obras do município, além da NBR 14273: Acessibilidade da pessoa
portadora de deficiência no transporte aéreo comercial.
Diagnóstico
Em abril de 2008 foi realizada uma visita técnica ao Terminal de Passageiros do
Aeroporto USIMINAS, a fim de levantar as características que apresentavam relação direta
com o pleno funcionamento aeroportuário. São elas:
Ausência de um marco visual que indicasse a direção do aeroporto a partir da BR 458.
Entorno marcado pela presença de edificações de uso industrial.
Vagas de estacionamento ocupadas em sua totalidade.
Partido arquitetônico do Terminal de Passageiros considerado como não condizente
funcional e esteticamente com o atual e principalmente futuro cenário de desenvolvimento
econômico da região.
Estudos de Caso
Aeroporto Internacional Guararapes – Recife. Através do estudo deste aeroporto foi
possível identificar exemplos práticos da relação complementar entre sistema estrutural e
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projeto arquitetônico. Neste caso, foram observados elementos estruturais esbeltos, que
associados, proporcionam grandes vãos, que por sua vez conferem leveza e amplitude ao
ambiente.
Aeroporto Internacional Tancredo Neves – Belo Horizonte. Este estudo de caso foi
útil para indicação de um vasto programa de necessidades e da setorização utilizada. O
levantamento dos fluxos apontou soluções adotadas para atender às diversas trajetórias que
ocorrem em um TPS. As informações obtidas forneceram maior embasamento para a
compreensão do funcionamento de um aeroporto onde ocorre uma diversidade considerável
de atividades.
A proposta
A proposta em questão diz respeito ao projeto arquitetônico para um novo Terminal de
Passageiros e Serviços do Aeroporto Usiminas, com capacidade para 500.000 pax/ano, com
6.945,00 m² de área total e 610 vagas para estacionamento.
Conceito: Deve-se considerar a inclusão no projeto do conceito de aeroshopping, cujo
objetivo foi criar áreas destinadas a compras e lazer que oferecessem aos usuários uma melhor
ambientação e comodidade, e ao mesmo tempo pudessem fazer com que a receita gerada
garantisse uma maior autonomia do aeroporto em relação às empresas aéreas. Como solução
para agregar tais considerações e ainda estabelecer uma identidade visual para o Aeroporto,
foi adotada uma forma estética, que através de sua expressividade plástica é capaz de refletir a
potencialidade da associação entre o aço e o projeto arquitetônico desde sua concepção. O
partido arquitetônico adotado foi inspirado na liberdade plástica e desafio estrutural presentes
nas esculturas de Tomie Othake, em especial, na escultura encomendada pela Usiminas e
implantada frente ao Escritório Central dessa empresa em Ipatinga, Minas Gerais. (Fig. 1)
Figura 1: Escultura de Tomie Otake localizada na Av. Pedro Linhares em Ipatinga - MG
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Setorização e fluxos: A funcionalidade foi um fator determinante na definição do
fluxograma e setorização do TPS. A setorização foi definida a partir da concentração dos
fluxos de entrada e saída do Terminal dentro de uma área que fosse de uso comum a todos os
outros setores, para favorecer a interligação entre eles, chamada de Setor de Uso Comum.
Nesse espaço foram implantados treze pontos comerciais fixos e ambientes que pudessem
favorecer o convívio não só para os usuários, mas também para os acompanhantes e
visitantes. O Setor de Embarque visou-se minimizar o desconforto causado pela espera
característica das salas de embarque. O Setor de Desembarque teve como premissa a fluidez
necessária ao escoamento rápido de passageiros e bagagens. Por fim, o Setor de
Administração foi pensado a partir de uma recepção que interliga o TPS aos sub-setores
administrativos divididos em pavimentos, sendo um destinado à administração do aeroporto
propriamente dita (térreo) e outro às salas dos órgãos públicos (1º pavimento).
Soluções Bioclimáticas: A definição das diretrizes e soluções utilizadas nesse projeto
foi embasada nos fatores e elementos climáticos locais. A partir dela, foi possível formular
uma matriz de diretrizes, onde cada diretriz é citada e avaliada a partir de dois critérios. O
primeiro é a importância da diretriz em relação ao clima como um todo. O segundo critério
avalia a importância da diretriz em relação ao projeto específico. Foram atribuídos valores a
estes dois critérios segundo a forma apontada pelas tabelas 1 e 2.
Figura 2: Setorização e Fluxograma do TPS
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O uso das tabelas de diretrizes e soluções bioclimáticas propiciou uma orientação
coerente no que se refere à adaptação da edificação ao clima no qual ela está inserida. As
soluções apresentadas (Fig. 3) levam em consideração modelos da arquitetura contemporânea,
(que possuem decisões de projeto claramente identificadas com o conforto ambiental do
usuário) e se beneficiam, sobretudo, da viabilidade de ser aplicado.
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Solução Estrutural. O sistema estrutural foi pensado para exercer grande influência na
composição volumétrica da edificação. Para tanto, foi proposta a combinação de cinco
elementos principais (Fig. 4), que juntos criam um módulo a ser repetido ao longo do eixo
longitudinal da edificação. Ao todo são 27 módulos posicionados com espaçamento de 7,50m
entre eles.
Figura 3: Corte esquemático da aplicação prática dos princípios da bioclimática.
Figura 4: Elementos principais do conjunto estrutural
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Dada a favorável compatibilização de diferentes sistemas construtivos em aço, foram
utilizadas soluções complementares em setores diferentes, de modo a usufruir do melhor
desempenho de cada sistema, conforme indicado nas Figs. 5, 6 e 7.
Por fim, o sistema estrutural adotado para o conjunto de cascas que compõe a volumetria
(Figs. 7 e 10) consiste na associação entre:
• Treliças planas – utilizadas nas extremidades de cada módulo
• Cabos de aço e estrutura tubular em ‘K’– aplicados nos banzos das treliças planas com
objetivo de garantir o contraventamento em cada casca.
Figura 5: Associação de diferentes sistemas construtivos em aço
Figura 6: Respectivamente Associação 2 - Aplicada no setor de Uso Comum e no setor de Operações de Embarque e Associação 1 - Aplicada no setor administrativo.
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Volumetria. A composição volumétrica final é reflexo da intenção apresentada
inicialmente de fazer com que a forma plástica do Terminal de Passageiros e Serviços do
Aeroporto Usiminas conferisse identidade visual ao sítio aeroportuário e ainda fosse
considerado um marco para a cidade e seu entorno. Em sua concepção, foi de extrema
importância, o uso da liberdade plástica como ferramenta para experimentação de uma forma
que não estivesse embasada nos padrões convencionais, mas sim no anseio em se materializar
um conceito de inovação e contemporaneidade (Figs 8 e 9).
A predominância da forma segundo o eixo longitudinal está relacionada ao espaço
disponível para locação do TPS na implantação do aeroporto. Sua volumetria é marcada pelo
ritmo das estruturas de aço, que por sua vez é quebrada pela composição do conjunto
volumétrico formado pelas cascas que apresentam formato livre e irregular. A estrutura de aço
está representada de modo marcante na volumetria principal, por se tratar de um aeroporto
Figura 7: Malha externa utilizada para fixação das placas de Alucobond
Figura 8: Volumetria do TPS
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que embora seja de uso público, é de propriedade da siderúrgica USIMINAS. As peças de aço
seguem formatos não padronizados, mas passíveis de fabricação, inclusive dentro do próprio
Sistema Usiminas. São peças brutas por apresentarem grandes dimensões, e ao mesmo tempo
leves dado o seu livre partido plástico e sua cor branca.
A escolha dos revestimentos está relacionada à intenção em se adotar materiais que
garantissem o aspecto de leveza e modernidade ao projeto e que fossem passíveis de serem
aplicados. Foi adotado um número mínimo de materiais, posto que o projeto apresenta uma
dimensão significativa, que por sí só já causa grande impacto visual. Os principais
revestimentos de composição da fachada são, a própria estrutura, em forma livre e cor branca;
os vidros laminados termo acústicos; e as placas de Alucobond, que compõe as cascas, que
também são da cor branca.
Figura 9: Pátio de aeronaves, desembarque e embarque
Figura 10: Cascas vistas pela entrada do TPS e vista no conjunto.
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