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(83) 3322.3222 [email protected] www.coprecis.com.br A TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA A LIBRAS: OS DESAFIOS DE UM FAZER PRÁTICO Autor (1) Margarida Rodrigues de Andrade Borges Co-autor: Sílvio César Lopes da Silva CINTEP-IFPB- [email protected] UFRN PPGED - Bolsista CAPES [email protected] Resumo O presente artigo apresenta um relato de experiência referente a um trabalho, de Tradução/Interpretação da Língua Portuguesa para a Língua Brasileira de Sinais Libras, da peça Romeu e Julieta do grupo Galpão, realizado no Instituto Federal de educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB campus Campina Grande-PB, solicitado pela coordenação do Núcleo de Apoio as Pessoas com Necessidades Especiais NAPNE. Sua finalidade é contribuir com o processo de inclusão de alunos Surdos na rede regular de ensino, bem como também com o trabalho do professor e do profissional Tradutor Intérprete de Libras em sala no momento de atuação. Levamos em consideração trabalhos realizados por ouvintes e surdos que desenvolveram pesquisas e relatos no tocante ao processo da tradução intersemiótica. Nessa perspectiva nos baseamos em autores como JAKOBSON (2007) que trata dos tipos de tradução e SEGALA (2010) que apresenta de forma específica a tradução intersemiótica como também outros autores que abordam questões alusivas ao processo de tradução intersemiótica. Porém, cremos que é de suma importância trazer ao debate a intersemiótica nesse contexto inclusivo, fazendo reflexões que ajudem ainda mais as questões da inclusão de pessoas surdas, dando-lhes condições mínimas e dignas de um processo que lhe é assegurado e garantido por lei, mas que na maioria das vezes, nos diversos contextos sociais lhes é negado. Entendemos que a produção desse trabalho contribuirá sobremaneira para a equipe atual e as vindouras, sabendo que a atual conjuntura política vem desenvolvendo políticas públicas no intuito de incluir pessoas com deficiência na sociedade. Palavras-chave: Educação Inclusiva. Língua Portuguesa. Tradução intersemiótica. Introdução Este trabalho surge de nossa experiência como tradutor/intérprete de Libras no IFPB a partido de um desafio proposto pela coordenação do Núcleo de Apoio as Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais NAPNE. Fomos interpelados a traduzir/interpretar os materiais didáticos adotados pelo NAPNE e utilizados pelo professor de artes, tais como: vídeos, livros, peças teatrais e etc., para darmos um sentido maior aos mesmos. E fazer com que os alunos viessem participar mais ativamente das aulas. Como toda tarefa tem seu desafio, o nosso a principio foi traduzir e interpretar para Libras a obra “Romeu e Julieta”. Esse foi o ponta-pé inicial para percebermos o quanto a intersemiótica da língua portuguesa é importante e nos

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A TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA

A LIBRAS: OS DESAFIOS DE UM FAZER PRÁTICO

Autor (1) Margarida Rodrigues de Andrade Borges

Co-autor: Sílvio César Lopes da Silva

CINTEP-IFPB- [email protected]

UFRN –PPGED - Bolsista CAPES [email protected]

Resumo O presente artigo apresenta um relato de experiência referente a um trabalho, de

Tradução/Interpretação da Língua Portuguesa para a Língua Brasileira de Sinais – Libras, da peça

Romeu e Julieta do grupo Galpão, realizado no Instituto Federal de educação, Ciência e Tecnologia da

Paraíba - IFPB campus Campina Grande-PB, solicitado pela coordenação do Núcleo de Apoio as

Pessoas com Necessidades Especiais – NAPNE. Sua finalidade é contribuir com o processo de

inclusão de alunos Surdos na rede regular de ensino, bem como também com o trabalho do professor e

do profissional Tradutor Intérprete de Libras em sala no momento de atuação. Levamos em

consideração trabalhos realizados por ouvintes e surdos que desenvolveram pesquisas e relatos no

tocante ao processo da tradução intersemiótica. Nessa perspectiva nos baseamos em autores como

JAKOBSON (2007) que trata dos tipos de tradução e SEGALA (2010) que apresenta de forma

específica a tradução intersemiótica como também outros autores que abordam questões alusivas ao

processo de tradução intersemiótica. Porém, cremos que é de suma importância trazer ao debate a

intersemiótica nesse contexto inclusivo, fazendo reflexões que ajudem ainda mais as questões da

inclusão de pessoas surdas, dando-lhes condições mínimas e dignas de um processo que lhe é

assegurado e garantido por lei, mas que na maioria das vezes, nos diversos contextos sociais lhes é

negado. Entendemos que a produção desse trabalho contribuirá sobremaneira para a equipe atual e as

vindouras, sabendo que a atual conjuntura política vem desenvolvendo políticas públicas no intuito de

incluir pessoas com deficiência na sociedade.

Palavras-chave: Educação Inclusiva. Língua Portuguesa. Tradução intersemiótica.

Introdução

Este trabalho surge de nossa experiência como tradutor/intérprete de Libras no IFPB

a partido de um desafio proposto pela coordenação do Núcleo de Apoio as Pessoas com

Necessidades Educacionais Especiais – NAPNE. Fomos interpelados a traduzir/interpretar os

materiais didáticos adotados pelo NAPNE e utilizados pelo professor de artes, tais como:

vídeos, livros, peças teatrais e etc., para darmos um sentido maior aos mesmos. E fazer com

que os alunos viessem participar mais ativamente das aulas.

Como toda tarefa tem seu desafio, o nosso a principio foi traduzir e interpretar para

Libras a obra “Romeu e Julieta”. Esse foi o ponta-pé inicial para percebermos o quanto a

intersemiótica da língua portuguesa é importante e nos

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auxilia enquanto prática a significar cada vez mais nosso trabalho junto a comunidade surda.

Dessa forma, surge a necessidade de pensarmos o papel do tradutor/intérprete na sala de aula,

este como garantia de direito para a comunidade surda. Porém, mais que presença, a este

compete uma série de competências as quais tornam a Libras uma íngua viva. Isso nos leva a

perceber o quanto a intersemiótica nesse percurso de significados é importante, tanto para o

interprete quanto para a comunidade surda.

Olhando pelo prisma, no qual a tradução se torna uma necessidade atual de todo ser

humano, uma vez que este tem uma percepção de mundo e de tudo o que circunda, aquilo

que é captado passa ser traduzido ao chegar a sua mente. Aqui a intersemiose passa a ser

tudo o que diz respeito ou mais de uma semiose. E a tradução intersemiótica é uma

tradução/recriação ainda mais ousada e completa desse processo.

Partindo deste e de outros e de outros pressupostos é que pensamos neste artigo,

tendo-o não só como um relato de experiência refletindo sobre os desafios pelos quais o

tradutor/interprete enfrenta para desenvolver sua prática diária junto a comunidade acadêmica,

mas também uma revisão bibliográfica a qual nos faz entender e refletir ainda mais sobre o

que propomos.

Percurso metodológico

Partindo de nossa prática junto ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia

da Paraíba – IFPB, campus Campina Grande – PB, fomos refletindo as ações do

Tradutor/Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – Libras / Língua Portuguesa, doravante o

trabalho da TILSP junto aos alunos Surdos do referido Instituto.

Este trabalho busca apresentar parte do relato de experiência da realidade, vivenciada

por estes profissionais que atuam no processo tradutório, vertendo da Língua Portuguesa

(língua-fonte) para a Libras (língua-alvo). Com o propósito de visar melhorias e qualidades no

trabalho de interpretação desenvolvido em sala de aula, a coordenação lançou a proposta para

uma equipe composta por três profissionais TILSP, traduzir/interpretar parte dos materiais

didáticos utilizados pelo professor, materiais estes como: filmes e peças teatrais apresentados

nas aulas de Arte.

Além das reflexões aqui sinalizadas como relatos de experiência e revisão,

bibliográfica, esse estudo respalda a ação do Tradutor/Intérprete no que diz respeito a sua

prática visando despertar na comunidade acadêmica o olhar crítico para a importância da

atuação destes nos mais diferentes espaços.

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Uma tarefa desafiadora

O trabalho do intérprete mesmo sendo algo que envolve dedicação, estudo e paciência,

nunca é um trabalho isolado ou sozinho. E esse acontece junto aos seus pares e na relação

comunicativa do intérprete com o que se interpreta, para alguém que se está a interpretar.

Assim, pensando na execução de nosso projeto, o envolvimento da equipe foi de suma

importância, em traduzir/interpretar para Libras a obra “Romeu & Julieta” de William

Shakespeare apresentada em forma de peça teatral pelo grupo Galpão. Para desenvolvermos

esse trabalho, nós, um grupo composto por três profissionais TILS, começamos assistindo a

peça na íntegra, para conhecermos melhor a história e entendermos seu contexto. Sentimos

imensa dificuldade no processo tradutório e sabemos que o ato de transpor de um dado idioma

para outro envolve técnicas extremamente difíceis, no entanto, a peça a qual a equipe se

propôs a traduzir apresenta um grau ainda mais elevado de dificuldade por apresentar uma

linguagem poética recheada de metáforas.

Devido à complexidade na fala dos personagens, pois eles apresentam o espetáculo

carregado de uma linguagem poética, em muitas das vezes não reconhecemos o

significado/conceito das palavras pronunciadas, decidimos ir transcrevendo as falas e em

seguida realizarmos a tradução “intralingual”, (ver Jakobson) com o auxílio de dicionários e

da internet, de forma que chegássemos ao entendimento do diálogo, sempre procurando

preservar seu sentido original, e exercer nosso papel de neutros no discurso.

O próximo passo foi escrever as falas utilizando as palavras da Língua Portuguesa, no

entanto, na estrutura sintática da Libras, visto que esta dispõe de uma estrutura gramatical

própria, as línguas de sinais diferenciam-se das línguas orais por estas e por outras razões,

como no fato de seus usuários utilizarem um meio visual/espacial e não oral/auditivo, assim

Quadros & Karnopp (2004) dizem que “no espaço em que são executados os sinais, o

estabelecimento nominal e o uso do sistema pronominal são fundamentais para as relações

sintáticas.” Espaço esse denominado de espaço de enunciação ainda de acordo com os autores

acima citados “é uma área que contém todos os pontos dentro do raio de alcance das mãos em

que os sinais são articulados”. É relevante salientar ainda nesse mesmo espaço a importância

de recursos como as Expressões não-nanuais (ENM) englobando assim, movimento da face,

dos olhos, da cabeça e/ou do tronco do sinalizador se articulam e se organizam de maneira

simultânea objetivando a transmissão da informação.

Quando partimos para as gravações não dispomos de um Estúdio profissional

equipado, pelo contrário, a câmera simples e a

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iluminação artesanal/adaptada foram barreiras que precisamos transpor, iniciamos os testes

com relação a iluminação e a roupa, ou seja, devido a tonalidade da pele da intérprete foi feito

duas tentativas com tipos de blusas diferentes, a primeira blusa tinha decote o que dificultava

a visualização no vídeo, pois as mãos não contrastavam, a segunda serviu visto que era de

mangas compridas e gola alta.

Mesmo com todos esses cuidados as primeiras imagens não serviram, pois foram

realizadas em um cantinho improvisado dentro da sala do NAPNE, sendo este um espaço

inadequado, por ser muito movimentado e depender da ação natural do ambiente como a

posição em que o sol se encontra em decorrência do horário do dia ou até mesmo se o dia está

chuvoso ou nublado, fatores estes que influenciaram e os vídeos ficaram com a iluminação

muito escura ou muito clara, ou seja, não serviram e tivemos que regravar todos.

Solicitamos uma sala mais reservada e foi necessário pensar em uma iluminação

uniforme/artificial que não apresente diferenças de tonalidades nas imagens após a gravação.

Tudo pronto! Iniciamos as gravações e essas eram realizadas por partes, assim deveríamos

estar bastante atentos visto que faz-se necessário conservar a mesma maquiagem o mesmo

cabelo, usar a mesma roupa, o mesmo zoom da câmera o mesmo enquadramento para não

aparecer diferenças na edição. Os vídeos com falhas eram excluídos e os corretos enviados

para a pessoa responsável pela edição.

Precisamos entender que os profissionais tradutores e intérpretes de Libras permitem o

acesso ao pensamento e a ideia entre os sujeitos que não compartilham da mesma língua.

Dessa forma, fomos aos poucos dando vida aos pensamentos dos personagens a partir

do que íamos captando por intermédio de suas falas, expressões e dos sinais que mais

marcavam sua atuação. É o caso, por exemplo, das imagens abaixo relacionadas.

Imagem 1: Cena em que Romeu conversa com seu amigo e expressa suas angústias.(Fonte:

Borges, 2016)

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Imagem 2: O primeiro encontro de Romeu e Julieta.(Fonte: BORGES, 2016)

No que se refere ao desenvolvimento do trabalho, sentimos muitas dificuldades, pois

os personagens usam uma linguagem bastante poética e consequentemente metafórica, como

também movimentavam-se demasiadamente no palco e em alguns momentos esses

movimentos dificultam a atuação do intérprete, visto que nessa hora não poderíamos virar as

costas para as câmeras e sim localizar os personagens no espaço de maneira a transmitir os

movimentos sem interferir em seu sentido real, assim utilizamos o Role-Play, recurso da

Língua de Sinais que favorece ao sinalizador, através de mudanças de posição corporal, a

transmissão do diálogo em questão com o mínimo de perda possível de informações e

permitindo a incorporação de diferentes personagens presentes em uma única narrativa ou

não, contribui para um entendimento claro dos fatos apresentados no decorrer do diálogo.

Stumpf (2005) relata sobre e busca nos trazer uma compreensão mais alargada desta

técnica que consideramos de suma importância no desenvolvimento de uma narrativa, nas

línguas de sinais de todo o mundo, segundo ela “o corpo pode permanecer parado ou se

deslocar no momento da sinalização para direita ou para a esquerda. (Letras Libras UFPB

apud STUMPF, 2005, p. 19)

Outro ponto a ser considerado com relação a esse recurso é que o mesmo permite a

criação de um cenário/imaginário no espaço de enunciação, em que o sinalizador posiciona os

referentes nesse espaço e a partir dessa construção é possível se dirigir a esses quantas vezes

for necessário apenas com o movimento corporal ou até mesmo apontação, assim essa técnica

exige do tradutor intérprete bastante concentração para que faça relação aos referentes

corretamente estabelecidos contribuindo para que o surdo entenda o enunciado com clareza.

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O tradutor intérprete e suas competências

De acordo com (Cruz, 2016 p. 04) “Os surdos passaram por grandes lutas culturais,

sociais e linguísticas, ao longo dos séculos”. Essas lutas objetivavam e trouxeram melhorias

para comunidade, portanto uma delas vencida através da lei 10.436/02, reconhecida como

meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros

recursos de expressão a ela associados. A partir dessa conquista as pessoas surdas adentram

em espaços sociais causando assim a necessidade da difusão desse idioma.

Nesse contexto, conforme esses iam galgando seus espaços, os intérpretes de Libras

que os acompanhavam, sendo que esses profissionais eram desprovidos no tocante a

legislação que regulamentasse sua profissão.

Ao longo das últimas décadas notamos a presença e atuação de intérpretes de Libras

nos mais diversos espaços e a maioria desses trabalhadores oriundos da área religiosa,

sabemos que a presença do intérprete de Libras é imprescindível visto que é quem possibilita

a comunicação entre surdos e ouvintes.

A partir da Lei N°10.319 sancionada em 1° de setembro de 2010 regulamentando a

profissão de Tradutor Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – Libras, trazendo consigo

diversos benefícios para esses profissionais tais como incentivo a formação profissional,

definição das atribuições, e competências explícito no seu Art. 2° reza que o “tradutor e

intérprete terá competência para realizar interpretação das 2 (duas) línguas de maneira

simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua

Portuguesa”. Analisando esse pressuposto, esse profissional atua acessibilidade nos diversos

contextos e conversações entre ouvintes, sendo assim essa desse avanço fortalecendo o

profissional intérprete de Libras.

Roberts (1992 apud Quadros, 2003: 73-4) pesquisou e apresentou uma sequência

composta por seis competências capaz de analisar o processo de interpretações realizadas

durante a atuação de um profissional tradutor-intérprete:

1- Competência linguística – habilidade de entender o objeto da linguagem

usada em todas as suas nuanças e expressá-las corretamente, fluentemente e

claramente a mesma informação na língua alvo, ter habilidade para distinguir

as ideias secundárias e determinar os elos que determinam a coesão do

discurso.

2- Competência para transferência – Essa competência envolve habilidade

para compreender a articulação do significado no discurso da língua fonte,

habilidade para interpretar o significado da língua fonte para a língua alvo,

sem distorções, adições ou

omissão, sem influência da

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língua fonte para a língua alvo.

3- Competência metodológica – habilidade em usar diferentes modos de

interpretação, para encontrar o item lexical e a terminologia adequada

avaliando e usando-os com bom senso e para recordar itens lexicais e

terminológicas.

4- Competência na área- conhecimento requerido para compreender o

conteúdo de uma mensagem que está sendo interpretada.

5- Competência bicultural- conhecimento das crenças, valores, experiências e

comportamentos dos utentes da língua fonte e da língua alvo.

6- Competência técnica – habilidade para posicionar-se apropriadamente para

interpretar.

Os tipos de competências acima citadas são analisadas no ato tradutório

desempenhadas por tradutores intérpretes na transmissão de enunciados na língua alvo, assim

essas habilidades são primordiais para tais profissionais no tocante ao ramo da tradução, uma

vez que necessitam dominar todos esses recursos para uma atuação de qualidade.

O tradutor intérprete de língua de sinais irá ouvir o enunciado na língua fonte,

processar, entender e em seguida fazer escolhas lexicais adequadas e coerente posteriormente

organizar a sentença na língua alvo. Para cumprir sua tarefa com maestria o profissional

tradutor intérprete deve buscar formação continuada e envolver-se em suas práticas essas

habilidades, visto que alcançará alto nível de proficiência na língua de sinais a qual se está

envolvido.

A Tradução Intersemiótica e sua importância

Pesquisas apontam de modo geral que a tradução, sempre em constante expansão, tem

atribuição de extrema importância atualmente no mundo globalizado, uma vez que algumas

línguas regem áreas importantes tais como área dos negócios, da diplomacia e da ciência, de

mesmo modo essas mesmas pesquisas nos revelam que esse tipo de atividade não é

descoberta recente, ou seja, existe provavelmente desde a antiguidade ou desde que existe a

comunicação.

Nesse universo em que existem vários tipos de tradução, utilizaremos três: a tradução

interlingual apresentada por Jakobson como “tradução entre idiomas diferentes” em nosso

caso estamos trabalhando com duas línguas distintas a Língua Portuguesa e a Libras e a

tradução intersemiótica apresentada pelo mesmo autor como “a tradução inter-semiótica ou

transmutação consiste na interpretação dos signos verbais por meio de signos não verbais” e

nesse ponto exemplo não falta, temos um leque de oportunidades, a exemplo dessa temos,

tradução de histórias em quadrinhos para filme ou peça teatral, da Língua Portuguesa escrita

ou oral para Libras, de outra Língua de Sinais para a

Libras entre outros. E a tradução/interpretação

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intermodal proposta por Segalla (2010) pelo fato de “envolver duas línguas de modalidades

diferentes visto que a Língua Portuguesa utiliza o canal oral-auditivo, e a Libras que utiliza o

canal cinésico/visual ou visual/espacial”.

No processo de tradução e desenvolvimento deste trabalho enfatizaremos a tradução

intersemiótica, uma das ramificações favoráveis a Libras por valorizar questões visuais

contribuindo assim para a comunidade surda polo acesso às mais variadas informações ser

através da língua visual.

Nessa perspectiva não devemos traduzir de forma literal seguindo a estrutura da

Língua Portuguesa, ou seja, palavra/sinal, pois agindo assim a mensagem não fará sentido na

língua de chegada, assim é necessário o tradutor conhecer a cultura da língua alvo para que

faça escolhas coerentes e execute as entonações necessárias de acordo com o texto sendo fiel

ao sentido da mensagem para que haja entendimento na língua de chegada, como diz Rónai

(1976, p. 2) tradução intersemiótica é “aquela a que nos entregamos ao procurarmos

interpretar o significado de uma expressão fisionômica, um gesto, um ato simbólico mesmo

acompanhado de palavras.” Dessa forma o tradutor intérprete precisa garantir aspectos da

língua de chegada que precisam ser respeitadas por esse motivo Lacerda diz “o processo de

tradução/interpretação não pode está focalizado apenas no nível linguístico, mas precisa levar

em conta aspectos culturais e situacionais” é por essa razão a relevância deve ser a passagem

da essência, ou seja, passar o sentido do enunciado.

Para Júlio Plaza (2010, p. 71):

Na tradução Intersemiótica como na transcriação de formas o que se visa é

penetrar pelas entranhas dos diferentes signos, buscando iluminar suas

relações estruturais, pois são essas relações que mais interessam quando se

trata de focalizar os procedimentos que regem a tradução. Traduzir

criativamente é, sobretudo, interligar estruturas que visam à transformação

de formas.

Ainda de acordo com Plaza 2010 p. 30 “numa tradução intersemiótica, os signos

empregados teem tendências a formar novos objetos imediatos e novas estruturas que, pela

sua própria característica diferencial tende a ser desvinculada do original”. o autor enfatizar a

tradução intersemiótica como um processo de reprodução a partir de algo que já existe. No

caso de nosso trabalho o material existente é uma peça teatral gravada e traduzida para a

Libras produzindo assim uma nova possibilidade, ou seja, o entendimento pleno por parte de

pessoa surda.

A inclusão de pessoas surdas e a dificuldade no

processo inclusivo

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Quando pensamos em educação, de modo geral, sabemos que é um processo oferecido

de forma precursora pela Constituição Federal de 1988 garantindo assim a criação de novas

diretrizes e políticas educacionais e assegurando a todos os indivíduos o acesso à educação,

independente de classe social, raça, religião e/ou deficiência, uma vez que a educação é quem

promove crescimento e desenvolvimento social, pessoal e profissional.

A inclusão de pessoas com deficiência nas escolas da rede regular de ensino é uma

realidade atual. A Declaração de Salamanca, foi um marco na história que preconiza esse tipo

de atividade, nele podemos encontrar inúmeros artigos no que tange à temática abordada. A

fragilidade das propostas de inclusão é apresentar um programa educacional as

potencialidades e particularidades de diferentes alunos.

Nessa perspectiva a inclusão de alunos surdos é uma realidade que requer da escola o

desenvolvimento de um procedimento adequado, De acordo com o documento a cima citado

“as escolas se devem ajustar a todas as crianças, independentemente das suas condições

físicas, sociais, linguísticas ou outras.” em que professores, pedagogos e colaboradores

atendam esses alunos de maneira pertinente, no entanto, pesquisas apontam que a realidade

atual é bem diferente do que é proposto ou considerado ideal.

No contexto mundial, o princípio da inclusão passa então a ser defendido

como uma proposta da aplicação prática ao campo da educação de um

movimento mundial, denominado inclusão social, que implicaria a

construção de um processo bilateral no qual as pessoas excluídas e a

sociedade buscam, em parceria, efetivar a equiparação de oportunidades para

todos, construindo uma sociedade democrática na qual todos conquistariam

sua cidadania, na qual a diversidade seria respeitada e haveria aceitação e

reconhecimento político das diferenças. (MENDES, 2006 p. 395)

O modelo educacional inclusivo, desde seu advento sustenta um argumento no tocante

ao respeito mútuo as diferenças individuais, nesse contexto é primordial o convívio com as

diferenças. Nesse sentido muitos são os “entraves” relacionados a execução dessa proposta

pois, ao passo que o paradigma da inclusão torna-se pauta de discussões presente entre

documentos oficiais em nosso país, as instituições preparam-se para receber e oferecer aos

alunos considerados com necessidades educacionais especiais uma educação de qualidade

para prestar atendimento a esse público pressupõe-se que, os profissionais envolvidos tenham

formação adequada seja ela adquirida ao longo de sua formação ou estejam buscando-a por

meio de cursos de nivelamento ou trabalhados promovidos pela instituição qual façam parte.

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Resultados e discussões

Cremos que toda reflexão que paute a inclusão tende a revelar as dificuldade de um

fazer necessário que acontece no CEI da própria sociedade. E no nosso caso esse não foi

diferente, pois dificuldades surgiram ao longo do processo as quais apontaram caminhos

possíveis e saídas até então inimagináveis. Como dar sentido a uma linguagem poética de um

texto clássico, trazendo para a realidade do aluno surdo e fazendo o mesmo captar as

metáforas presentes no texto? O gesto, o movimento no palco, os olhares e os sentimentos,

são características singulares os quais nos levou a recorrer aos recursos disponíveis, como o

Role-Play, recurso da Língua de Sinais que favorece ao sinalizador, por meio deste foi

possível dar-se conta das mudanças de posição corporal, a transmissão do diálogo em questão

com o mínimo de perda possível de informações,

O resultado os esforços aqui descritos, revelam o quanto é necessário atentar as

necessidades do outro e fazer com os mesmos participem ativamente conosco de um processo

que é mais que inclusivo, é humano. A partir do que conseguimos captar e refletir fica-nos o

legado que a pessoa surda é um ser que sente, pensa e se expressa. E nós, sociedade em geral,

não temos o direito de privar-lhe deste direito. Daí a necessidade latente de a todo instante

convidarmos e envolvermos a todos a juntos pensarmos o modelo de inclusão que temos? O

modelo de inclusão que queremos? E juntos buscarmos alternativas que viabilizem esse

processo. Pois, o primeiro passo já demos, a tradução intersemiótica da língua portuguesa

para a libras: os desafios de um fazer prática.

Considerações finais

Sabemos que a inclusão de pessoas com deficiência nas escolas regulares de ensino

vem gerando grandes “desafios” para o sistema educacional de nosso país. Nessa perspectiva

juntamos esforços com o objetivo de difundir e ampliar o conhecimento a quem possa

interessar quando se trata de educação de alunos Surdos no âmbito da educação inclusiva e

suas práticas de atuação em sala de aula.

O presente estudo nos proporcionou uma ampla reflexão no tocante ao processo de

tradução/interpretação da Língua Portuguesa para a Língua Brasileira de Sinais – Libras, com

foco na tradução intersemiótica, uma vez que esse modelo tradutório é indispensável em

função da modalidade da Libras, ou seja, viso-espacial e por entendermos que o fruto da

tradução intersemiótica contribui significativamente

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para o desenvolvimento do sujeito surdo enquanto minoria linguístico, ser social, acadêmico,

profissional entre outros, como também melhorias na atuação dos profissionais professores e

intérpretes de Libras em sala de aula.

Nos baseamos em autores que abordaram a temática fazendo uma ponte com a

realidade durante todo o processo de desenvolvimento do trabalho, sabendo que a realização

deste trabalho alcançara muitos, principalmente o aluno Surdo, visto que é usuário nato da

Libras, língua que colegas e professores, em sua grande maioria, desconhecem ou não

dominam.

Assim, o futuro da inclusão nas instituições educacionais de ensino carece de esforços

coletivos “forçando” análises e consequentemente ações entre os envolvidos neste processo,

tais como: Pesquisadores (Surdos e ouvintes), professores, diretores e familiares que passam

ou passaram pela experiência de ter alunos/filhos com deficiência em seu convívio, para

juntos discutirmos uma educação igualitária para todos independente da condição humana

vivenciada.

Referências Bibliográficas

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Especial. Lei 10.436/2002. Dispõe

sobre a Língua Brasileira de Sinais e dá outras providências.

BRASIL. Constituição da República Federativa. 1988.

CRUZ, R; MOTA, H. Conflitos Éticos na Atuação do Tradutor Intérprete de Libras.

Disponível em: <http://editora-arara-

azul.com.br/site/admin/ckfinder/userfiles/files/4%C2%BA%20Artigo%20REVISTA%2017%

20Raquece%20Mota%20Hon%C3%B3rio%20Cruz.pdf> Acesso em 24 junho 2017.

FARIA, E. M. B; CAVALCANTE, M. C. B. Língua Portuguesa e LIBRAS: teorias e práticas 3.

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