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  • SEBASTIO AUGUSTO CORRA JOS RICARDO DE MELO MENEZES

    ESTRESSE E TRABALHO

    SOCIEDADE UNIVERSITRIA ESTCIO DE S ASSOCIAO MDICA DE MATO GROSSO DO SUL

    1o CURSO DE ESPECIALIZAO EM MEDICINA DO TRABALHO

    CAMPO GRANDE, MS, MARO DE 2002

  • SEBASTIO AUGUSTO CORRA JOS RICARDO DE MELO MENEZES

    ESTRESSE E TRABALHO

    Monografia apresentada como requisito parcial concluso do curso de ps-graduao em Medicina do Trabalho, para obteno do ttulo de especialista em Medicina do Trabalho, no curso de ps-graduao em Medicina do Trabalho, Faculdade Estcio de S Santa Catarina. Orientadora: Frida Maciel Pagliosa.

    SOCIEDADE UNIVERSITRIA ESTCIO DE S ASSOCIAO MDICA DE MATO GROSSO DO SUL

    1o CURSO DE ESPECIALIZAO EM MEDICINA DO TRABALHO

    CAMPO GRANDE, MS, MARO DE 2002

  • CORRA, Sebastio Augusto; MENEZES, Jos Ricardo de Melo. Estresse e trabalho. Campo Grande, MS, 2002.

    60p.

    Monografia apresentada como requisito parcial concluso do curso de ps-

    graduao em Medicina do Trabalho, para obteno do ttulo de especialista em Medicina do Trabalho, no curso de ps-graduao em Medicina do Trabalho, Faculdade Estcio de S Santa Catarina.

    1. Medicina do trabalho. 2. Competncia. 3. Sentimento

  • SEBASTIO AUGUSTO CORRA JOS RICARDO DE MELO MENEZES

    ESTRESSE E TRABALHO

    CAMPO GRANDE, MS, MARO DE 2002

    PARECER: ___________________________________________________________________

    ___________________________________________________________________

    ___________________________________________________________________

    ___________________________________________________________________

    ___________________________________________________________________

    ___________________________________________________________________

    ___________________________________________________________________

    ___________________________________________________________________

    CONCEITO: ______________________ __________________________ __________________________ Sebastio Ivone Vieira Ivo Medeiros Reis

    Presidente Membro __________________________ __________________________ Frida Maciel Pagliosa Jorge da Rocha Gomes

    Membro Membro

  • DEDICATRIA

    A minha esposa Ftima, meus filhos Fabiana, Marcelo e Fbio e aos meus

    netos Luiz Carlos e Jos Augusto.

    Sebastio

  • DEDICATRIA

    A minha esposa Maria Cristina, pelo amor, carinho e compreenso das

    longas horas ausentes em detrimento de uma maior convivncia entre ns.

    Aos meus filhos Jos e Juliana, por reviverem a cada dia a alegria em meu

    corao.

    Ao meu pai Jos de Azevedo Menezes (in memorian), mdico, por ter me

    ensinado o respeito, a dedicao para com o ser humano e os limites a serem

    respeitados por mim e por todos.

    A minha me Maria Luiza, por me ensinar a viver, no apenas existir.

    Jos Ricardo

  • AGRADECIMENTOS

    A minha esposa e secretria Ftima, pelo estmulo nas pesquisas e que

    digitou e redigitou o texto, inmeras vezes, sem reclamar do acrscimo no trabalho e

    sem fazer greve de carinho e ternura.

    Aos professores da Faculdade de Pedagogia de Costa Rica, pela

    consultoria, sugestes e crticas construtivas.

    Aos colegas do curso, em especial Jos Ricardo de Melo Menezes, parceiro

    de trabalho, que com muito companheirismo suportou a minha presena no decorrer

    desta monografia.

    A Deus, fonte infinita de perdo e amor, que mantm a chama viva da F

    em meu corao.

    Sebastio

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus, voz da minha conscincia, por me dar coragem e determinao

    para concluir mais uma etapa em minha vida.

    Aos professores, pela oportunidade dada ao meu crescimento pessoal e

    profissional.

    Aos colegas do curso, pelos momentos de convivncia em harmonia, e, em

    especial, ao Sebastio, companheiro deste trabalho.

    Jos Ricardo

  • Muitos acreditam que o oposto do medo a coragem. Eu acredito e prego que o oposto do medo a F. Esta mesma F que me faz vencer obstculos e as adversidades da minha vida.

    Sebastio Augusto Corra

  • ESTRESSE E TRABALHO

    RESUMO

    Esta Monografia trata do estresse negativo ou distresse, discutindo alguns aspectos referentes a essa sndrome. Com essa finalidade, so abordados a conceituao do estresse, sua incidncia, fisiopatologia, fatores ligados organizao social, relao com outras enfermidades. Enfatizando o ambiente laboral, destacam-se as relaes entre o estresse e o trabalho, tais como: as relaes empresa-pessoa, os fatores estressantes no ambiente de trabalho, ligaes com a atividade profissional, o tratamento e preveno do estresse no trabalho. Estresse um padro de resposta definido, claro e eletroqumico no corpo humano, de ordem fsica ou emocional, a agentes estressores que quebram a homeostase interna do organismo, exigindo alguma adaptao. Os sintomas acarretados pela seqncia de alteraes qumicas so distribudos nas fases de alerta, de resistncia e de exausto. O estresse vem afetando um nmero crescente de trabalhadores em todo o mundo. uma sndrome com grande diversidade de fatores causais, muitos deles associados vida moderna, de difcil diagnstico e tratamento, mas com mltiplas formas de preveno, as quais dependem da aplicao efetiva da legislao em vigor, alm de mudanas efetivas no estilo de vida, evitando-se a sobrecarga de trabalho, a vida sedentria e determinados hbitos de consumo. Trata-se de uma reviso bibliogrfica, cujos dados e informaes foram obtidos em livros e artigos cientficos publicados em revistas da rea e consultados em bibliotecas e via Internet.

    Palavras-chave: competncia, trabalho, sentimento, estresse, distresse, doena

    ocupacional.

  • STRESS AND WORK

    ABSTRACT

    This monograph is about the negative stress or distress, discussing some aspects concerning this syndrome. On this purpose the conception of the stress, its incidence, phisiopatology, factors related to social organization, relationship with otherillnesses are approached. Emphasizing the working atmosphere, the relationships between stress and work stand out such as: the relationship company-person, the stressful factors at working environment, connections with the professional activity, the treatment and prevention of the stress at work. Stress is a clear and electrochemical defined pattern answer in the human body, from physical or emotional order, to stressing agents which break the internal homeostasis of the organism, demanding some adaptation. The symptoms brought on by the sequence of chemistry alterations are distributed in the phases of readiness, resistance and exhaustion. The stress is affecting a growing number of workers all over the world. It is a syndrome with great diversity of causal factors, many of them associated to modern life. It's a difficult diagnosis and treatment, but with multiple prevention forms, which depend on the effective application of the actual legislation, in addiction to effective changes in lifestyle, avoiding excessive work, the sedentary life and certain consuming habits. This is a bibliographical revision, which data and information were gotten from books and scientific articles published in magazines concerning this subject and consulted at libraries and on the Internet.

    Word-key: competence, work, feeling, stress, distress, occupational disease

  • SUMRIO

    INTRODUO........................................................................................................... 1 REVISO DE LITERATURA....................................................................................... 3

    1 CONCEITO........................................................................................................ 3 2 INCIDNCIA...................................................................................................... 5 3 FISIOPATOLOGIA DO ESTRESSE .................................................................. 7 4 ESTRESSE E SOCIEDADE ............................................................................ 15 5 RELAO ENTRE ESTRESSE E DOENAS ................................................ 18

    5.1 ALTERAES NO SISTEMA IMUNOLGICO....................................... 19 5.2 DOENAS DIGESTIVAS ........................................................................ 21 5.3 CNCER ................................................................................................. 22 5.4 DEPAUPERAO DAS GLNDULAS SUPRA-RENAIS........................ 23 5.5 DOENAS CARDACAS ......................................................................... 24 5.6 INFECES............................................................................................ 25 5.7 OUTRAS DOENAS............................................................................... 26

    6 RELAO ENTRE O ESTRESSE E O TRABALHO ....................................... 27 6.1 AS RELAES EMPRESA-PESSOA..................................................... 27 6.2 FATORES ESTRESSANTES NO AMBIENTE OCUPACIONAL ............. 29 6.3 ESTRESSE E ATIVIDADE PROFISSIONAL........................................... 32

    7 TRATAMENTO E PREVENO DO ESTRESSE NO TRABALHO ................ 35 7.1 TRATAMENTO........................................................................................ 35 7.2 ASPECTOS PREVENTIVOS................................................................... 37

    7.2.1 ATENO INDIVIDUAL................................................................. 38 7.2.2 MEDIDAS ORGANIZACIONAIS .................................................... 39

    7.3 A LEGISLAO DE CONTROLE E PREVENO DO ESTRESSE NO TRABALHO ............................................................................................... 39

    CONCLUSES E RECOMENDAES ................................................................... 55 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.......................................................................... 57 ANEXO - Teste de auto-avaliao sobre reao aguda ao estresse........................ 60

  • LISTA DE ILUSTRAES

    FIGURAS FIGURA 1 Esquema da reao fisiolgica do organismo humano ao estresse. ................................................................................................ 8 FIGURA 2 - Distribuio percentual dos diversos tipos de desajustamento como causa do estresse. ...................................................................... 17 QUADROS QUADRO 1 Reaes causadas pelo estresse baixo, ideal e alto............................ 5 QUADRO 2 - Exemplos de distrbios psicossomticos............................................ 15

  • LISTA DE SIGLAS

    ACTH............... Hormnio adrenocorticotrpico CAT ................. Comunicao de Acidentes do Trabalho CIPA ................ Comisso Interna de Preveno de Acidentes CLT .................. Consolidao das Leis do Trabalho CRF.................... Fator estimulador da liberao da corticotrofina EPI ................... Equipamento de Proteo Individual NR.................... Norma Regulamentadora ONU................. Organizao das Naes Unidas OMS................. Organizao Mundial de Sade PCMSO............ Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional PPRA ............... Programa de Preveno de Riscos Ambientais SEESMT .......... Servios Especializados de Segurana e Medicina do Trabalho SUS ................. Sistema nico de Sade

  • INTRODUO

    Estresse um conjunto de reaes do corpo e da mente, em resposta a

    variados estmulos de ordem fsica ou emocional. Ainda que atualmente esta

    expresso j faa parte do vocabulrio de uso comum pela populao, com um

    significado adverso para a sade, o estresse no implica necessariamente em

    morbidez, podendo at ter valor teraputico, como no caso do esporte, por exemplo.

    No trabalho, possvel at que um certo nvel de estresse permita o melhor

    funcionamento das organizaes, desafiando e mobilizando os trabalhadores. Esse

    o estresse positivo ou eustresse.

    Esta Monografia trata do estresse negativo ou distresse, que, nesse sentido

    e em estgios mais avanados, reconhecido como doena pela Organizao

    Mundial de Sade (OMS).

    O estresse negativo tem afetado um nmero crescente de trabalhadores em

    todo o mundo, causando, alm de sofrimento fsico e mental, prejuzos financeiros

    tambm crescentes s empresas e ao sistema de previdncia e seguridade social.

    Estudos mdicos vm confirmando a importncia do estresse nas doenas do

    corao, de pele, gastrintestinais, neurolgicas e em distrbios ligados ao sistema

    imunolgico e emocional. Por outro lado, segundo aponta MASCI (1997), o custo

    direto e indireto desse estresse negativo estimado em 200 a 300 bilhes de

    dlares ao ano nos Estados Unidos; no Reino Unido, algo em torno de 30 milhes

    de dias de trabalho so perdidos por conta do estresse, o equivalente a 17 % de

    todas as faltas no trabalho; no Japo ocorrem em torno de 10 mil mortes por ano

    pelo excesso de trabalho.

    Nesta Monografia, so discutidos alguns aspectos relacionados com essa

    importante sndrome. Com essa finalidade, foram levantados, na literatura

    especializada, os principais aspectos relacionados com conceituao do estresse,

  • 2

    sua incidncia, fisiopatologia, fatores ligados organizao social, relao com

    outras enfermidades. Enfatizando o ambiente laboral, so abordados alguns

    aspectos considerados importantes das relaes entre o estresse e o trabalho, tais

    como: as relaes empresa-pessoa, os fatores estressantes no ambiente de

    trabalho, ligaes com a atividade profissional, o tratamento e preveno do

    estresse no trabalho.

  • 3

    REVISO DE LITERATURA

    1 CONCEITO

    Estresse , de acordo com VIEIRA (informao verbal)1,

    Um estado em que ocorre um desgaste emocional da mquina humana e/ou comprometimento da habilidade do indivduo, basicamente decorrente de uma incapacidade crnica do organismo de tolerar, superar, ou se adaptar s exigncias de natureza psicolgica existentes em seu ambiente de vida.

    A palavra estresse origina-se do termo ingls stressors. Na rea da sade,

    conforme registra LIPP (1996), foi o endocrinologista austraco Hans Selye2 que a

    utilizou pela primeira vez, em 1936, com base em observaes que vinha fazendo

    desde a dcada de vinte, quando passou a identificar sintomas semelhantes

    hipertenso, falta de apetite, desnimo e fadiga em pacientes que sofriam de

    diferentes doenas, sintomas estes que no decorriam de tais doenas, e que

    muitas vezes apareciam em pessoas que no estavam doentes. Isto chamou a

    ateno de Selye, que denominou tais sintomas de sndrome de estar enfermo

    (VILLALOBOS, 1999).

    Selye considerou que vrias enfermidades desconhecidas, como as

    cardacas, a hipertenso arterial e os transtornos emocionais ou mentais eram

    1VIEIRA, Sebastio Ivone. Reforo do suporte psquico. 2001. (Contedo ministrado no 1 Curso de Especializao de Medicina do Trabalho, em Campo Grande, MS). 2Hans Selye graduou-se como mdico e posteriormente fez doutorado em qumica orgnica. Transferiu-se para a Universidade John Hopkins em Baltimore, EUA, para realizar ps-doutorado cuja segunda metade foi realizada em Montreal, Canad, na Escola de Medicina da Universidade McGill, onde desenvolveu seus famosos experimentos de exerccio fsico extenuante, com ratas de laboratrio que confirmaram a elevao dos hormnios suprarrenais (ACTH, adrenalina e noradrenalina), a atrofia do sistema linftico e a presena de lceras gstricas. Ao conjunto dessas alteraes orgnicas, o Dr.Selye denominou "estresse biolgico" (VILLALOBOS,1990).

  • 4

    resultantes de mudanas fisiolgicas decorrentes e um estresse prolongado nos

    rgos, cujas alteraes poderiam estar predeterminadas gentica ou

    constitucionalmente. Ao continuar com suas investigaes, verificou que no

    somente os agentes fsicos nocivos atuando diretamente sobre o organismo animal

    so produtores de estresse. Alm destes, no caso do homem, as demandas de

    carter social e as ameaas do ambiente do indivduo que requerem capacidade de

    adaptao provocam o transtorno do estresse. A partir da, o estresse tem envolvido

    em seu estudo a participao de vrias disciplinas mdicas, biolgicas e

    psicolgicas com a aplicao de tecnologias diversas e avanadas.

    Estresse no doena em seu conceito clssico, porque no mostra sinais

    nem sintomas, e o prprio indivduo, na maioria das vezes, no sabe que sua sade

    est abalada (SANTOS, 1995). Trata-se, como afirma LIPP (1998, p.10-20), de

    um desgaste geral do organismo [...] causado pelas alteraes psicofisiolgicas que ocorrem quando a pessoa se v forada a enfrentar uma situao que, de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite ou confunda, ou mesmo a faa imensamente feliz.

    Segundo CABRAL et al. (1997), qualquer estmulo capaz de provocar o

    aparecimento de um conjunto de respostas orgnicas, mentais, psicolgicas e/ou

    comportamentais, relacionadas com mudanas fisiolgicas, padres estereotipados,

    que acabam resultando em hiperfuno da glndula supra-renal e do sistema

    nervoso autnomo simptico, chama-se estressor. Essas respostas em princpio tm

    como objetivo adaptar o indivduo nova situao, gerada pelo estmulo estressor, e

    o conjunto delas, assumindo um tempo considervel, chamado de estresse. O

    estado de estresse est ento relacionado com a resposta de adaptao.

    LIPP (1996) classifica os agentes estressores em: biognicos ou

    automaticamente estressantes (frio, fome, dor); psicossociais, que adquirem a

    capacidade de estressar uma pessoa em decorrncia de sua histria de vida;

    externos, que resultam de eventos ou condies externas que afetam o organismo e

    independem, muitas vezes, do mundo interno da pessoa; internos, que so

    determinados completamente pelo prprio indivduo.

  • 5

    O Quadro 1 apresenta as reaes desencadeadas pelo estresse, segundo

    MASCI (2001). Observa-se que, em doses adequadas, o estresse um fator de

    motivao. Quando abaixo de um certo nvel provoca tdio e disperso. Quando

    acima de certos nveis, provoca ansiedade e cansao. E quando em doses ideais, a

    sensao de se sentir desafiado, com "garra".

    QUADRO 1 Reaes causadas pelo estresse baixo, ideal e alto.

    Discriminao Baixo estresse Estresse ideal

    (eustresse) Alto estresse

    (distresse)

    Ateno dispersa alta forada

    Motivao baixssima alta flutuante

    Realizao pessoal baixa alta baixa

    Sentimentos tdio desafio ansiedade/depresso

    Esforo grande pequeno grande

    FONTE: MASCI, Cyro. A hora da virada: enfrentando os desafios da vida com equilbrio e serenidade. So Paulo: Saraiva, 2001.

    2 INCIDNCIA

    As primeiras constataes do estresse emocional foram relatadas em 1943,

    quando ento se comprovou um aumento da excreo urinria dos hormnios da

    supra-renal em pilotos e instrutores aeronuticos em vos simulados. Alguns anos

    antes essas alteraes j haviam sido suspeitadas em competidores de natao

    momentos antes das provas (BALLONE, 2001).

    Segundo MASCI (2001), o estresse e os transtornos de ansiedade so

    extraordinariamente freqentes, estimando-se que 25% de toda a populao

    experimenta seus sintomas pelo menos uma vez na vida. No Estado de So Paulo,

    estima-se que os transtornos de ansiedade afetem algo em torno de 18% da

    populao.

    O mesmo autor informa que nos Estados Unidos, aproximadamente 90 %

    das pessoas adultas j experimentaram altos nveis de estresse, sendo que quase

    metade dessas afirmam enfrentarem os altos nveis de estresse pelo menos uma a

  • 6

    duas vezes por semana. Estima-se tambm que 60% a 80 % dos acidentes de

    trabalho, nesse pas, esto relacionados com o estresse. Segundo observado em

    ESTRESSE... (1997), nos Estados Unidos, grande parte das doenas que levam

    morte originada no estresse. Com o acelerado processo de urbanizao que vem

    ocorrendo no Brasil nos ltimos anos, razovel supor que o pas esteja trilhando

    caminho semelhante.

    A incidncia do estresse no limitada pela idade, raa, sexo e situao

    socioeconmica. Todavia, so menos vulnerveis as pessoas que se abrem a

    mudanas, as mais tolerantes e aquelas que esto sempre muito envolvidas com o

    que fazem, de acordo com LIPP (1998).

    ALBRECHT (1990, p.11) adverte para o fato de que o estresse

    tem-se expandido ininterruptamente e afeta um nmero cada vez maior de pessoas, com conseqncias cada vez mais graves. Est atingindo propores epidmicas, apesar de no ser transmitida por qualquer bactria ou outro microrganismo conhecido. A gama dos sintomas to ampla que deixa perplexo o observador leigo e faz voltar aos livros os mdicos. Os sintomas vo desde os ligeiros incmodos at a morte, desde as dores de cabea at os ataques cardacos, da indigesto ao colapso, da fadiga alta presso arterial e o colapso dos rgos, da dermatite s lceras hemorrgicas. Essa doena est tendo um elevado custo em termos de sade e bem-estar emocional humanos.

    No Brasil, de acordo com LIPP (1996), diversos estudos tm revelado um

    alto nvel de estresse em determinadas camadas da populao, tais como policiais

    militares, professores e bancrios. A mesma autora revela ainda que um

    levantamento realizado no Centro Psicolgico de Controle do Stress de Campinas

    mostrou que cerca de 70% dos que procuram atendimento, seja tratamento ou

    profilaxia, fazem parte da classe gerencial. Em relao a esse fato, ela adverte

    (LIPP, op. cit., p.301):

    Este dado pode refletir uma maior incidncia de stress nessa populao, mas tambm pode estar relacionado a uma maior conscientizao da problemtica por parte de indivduos que tm amplo contato com o exterior e adquiriram uma maior familiaridade

  • 7

    com o conceito do stress. De um modo ou de outro, ateno deve ser dispensada a essa classe ocupacional.

    A elevada incidncia do estresse em todo o mundo, segundo informa

    MASCI (2001), levou a ONU, em 1992, a chamar o estresse de "a doena do sculo

    20". Recentemente, a OMS descreveu o estresse como a maior epidemia mundial

    dos ltimos cem anos.

    3 FISIOPATOLOGIA DO ESTRESSE

    O estresse produz certas modificaes na estrutura e na composio

    qumica do corpo, que podem ser avaliadas. Algumas dessas modificaes so

    manifestaes das reaes de adaptao do corpo, seu mecanismo de defesa

    contra o estressor; outras j so sintomas de leso.

    Segundo observa MASCI (2001), todas as vezes que se enfrentam desafios,

    que o crebro, independentemente da vontade do indivduo, encara a situao como

    potencialmente perigosa, o organismo se prepara para lutar ou fugir da situao.

    ALBRECHT (1990) chama a ateno para o fato de que o estresse se refere

    a um padro de resposta definido, claro e eletroqumico no corpo humano, aos

    agentes estressores. Estes quebram a homeostase interna do organismo, exigindo

    alguma adaptao.

    A Figura 1 apresenta esquematicamente as reaes fisiolgicas ao

    estresse, segundo SABBATINI (1998).

    Segundo BALLONE (2001), o hipotlamo, contguo com a hipfise, secreta

    substncias conhecidas por neuro-hormnios, como o caso, entre outros, da

    dopamina, da norepinefrina e do fator liberador da corticotrofina (CRF), stio cerebral

    responsvel pelo conjunto de respostas orgnicas aos agentes estressores. Uma

    das principais aes da hipfise durante o estresse se faz sentir nas glndulas

    supra-renais.

  • 8

    FIGURA 1 Esquema da reao fisiolgica do organismo humano ao estresse.

    FONTE: SABBATINI, Renato M. E. O estresse: o que e como combat-lo? Palestra ministrada na EMBRAPA/ CNPTIA, out., 1998. Disponvel em: Acesso em: 12 set. 2001.

    O hipotlamo, produzindo o CRF, estimula a hipfise para aumentar a

    produo do (ACTH), o qual, por sua vez, promove o aumento na liberao dos

    hormnios da supra-renal, que so os corticides e as catecolaminas. Estes so de

    fundamental importncia na resposta fisiolgica ao estresse. O aumento na

    produo desses hormnios pelas supra-renais o principal indicador biolgico da

    resposta ao estresse.

    Os nveis aumentados de corticides influenciam o sistema imunolgico

    inibindo a resposta inflamatria, afetando essencialmente a funo das clulas T.

    Temporariamente esta inibio da imunologia parece ser benfica, tendo em vista

    diminuir a intensidade das reaes inflamatrias aos agentes de estresse.

    Alm dos corticides (cortisona) e catecolaminas (adrenalina) das supra-

    renais, outros hormnios participam da revoluo orgnica do estresse. O ACTH, a

    vasopressina, a prolactina, o hormnio somatotrfico (GH), o hormnio estimulador

    da tireide (TSH), que so hipofisrios, tambm atuam sobre o sistema imunolgico

  • 9

    por meio de receptores especficos nas clulas linfides. Para compreender melhor

    os mecanismos hormonais do estresse, importante saber que esses hormnios

    so tambm produzidos, em pequenas quantidades, por linfcitos.

    Outras substncias produzidas por linfcitos e que participam ativamente

    das reaes de estresse so as linfocinas e monocinas. Tais substncias so

    secretadas por clulas linfides e macrfagos, e so dotadas da capacidade de

    amplificar a inflamao produzida pelas reaes imunolgicas. Algumas dessas

    linfocinas e monocinas podem influenciar glndulas na liberao de alguns

    hormnios, como o caso da Interleucina 1, que volta a estimular a hipfise na

    liberao de ACTH.

    Diversos outros produtos inflamatrios, como prostaglandinas, leucotrienos,

    tromboxanes, e outros, produzidos nas mais variadas clulas, linfides ou no,

    desempenham alguma influncia sobre o sistema imunolgico. Eles atuam sobre os

    linfcitos T e macrfagos, estimulando-os ou inibindo-os na reao ao estresse.

    Alm desses hormnios e neuro-hormnios produzidos pelas supra-renais,

    linfcitos e hipotlamo, acredita-se, atualmente, no importante papel dos

    neuropeptdeos na regulao, transmisso e execuo das aes do sistema

    nervoso. So protenas liberadas a partir de terminaes nervosas em diversos

    rgos, incluindo o hipotlamo, e tambm por clulas linfides.

    Alguns desses peptdeos, como a betaendorfina, a encefalinametionina, a

    substncia P, o peptdeo intestinal vasoativo e a somatomedina, dependendo de

    determinadas condies, parecem inibir ou estimular clulas linfides diversas,

    participantes do processo de resposta ao estresse.

    A par das atribuies dos hormnios, neuro-hormnio e neuropeptdeos no

    desenvolvimento das reaes de adaptao do estresse, ressalta-se a capital

    importncia do Sistema Nervoso Autnomo (Simptico e Parassimptico) sobre o

    sistema imunolgico. Um dos indicadores dessa atuao a contrao da cpsula

    do bao (Sistema Nervoso Simptico) durante o estresse.

    Observou-se tambm um aumento de liberao do ACTH pela hipfise,

    como resultado da ao de hormnios tmicos (timosina, timopoietina, timopentina).

    Em timos de ratos detectou-se a presena de CRF, fator este que age sobre a

  • 10

    hipfise estimulando-a para a secreo de ACTH. Este ACTH, por sua vez,

    essencial na resposta ao estresse por atuar sobre as glndulas supra-renais.

    Esse longo processo bioqumico manifesta-se, inicialmente, de modo

    semelhante nos diferentes indivduos, com o aparecimento de taquicardia, sudorese

    excessiva, tenso muscular, boca seca e a sensao de estar alerta. S depois as

    reaes se diferenciam, conforme a predisposio gentica de cada um, e os

    acidentes ou doenas de que foi vtima (LIPP,1998).

    Tradicionalmente, os sintomas acarretados pela seqncia de alteraes

    qumicas so distribudos em trs fases: a fase de alerta, a fase de resistncia e a

    fase de exausto (ALBRECHT, 1990).

    ? Fase de alerta ou alarme

    Inicia-se com o contato da pessoa com o agente estressor, quando

    experimenta diversas sensaes que s vezes no so identificadas como estresse.

    o momento em que o organismo se prepara para a luta ou fuga, ocorrendo,

    conseqentemente, a quebra da homeostase.

    Com essa finalidade, a ativao do Sistema Nervoso Simptico (SNS)

    produz reaes muito teis: os msculos ficam mais irrigados, reforando o tnus e

    tornando a sua ao mais imediata e eficiente; o fgado transforma glicognio em

    glicose, necessria em maior quantidade; a respirao fica mais rpida e intensa,

    aumentando a quantidade de oxignio no sangue, para que msculos e crebro

    possam queimar a glicose; o corao bate com mais fora e mais depressa,

    enviando uma grande quantidade de sangue para as partes do corpo que dele

    precisam; a cabea passa a receber uma maior quantidade de sangue e a atividade

    eltrica do crebro aumenta medida que ele vai otimizando seu processo de

    controle consciente dos atos do corpo; agua-se a audio; as pupilas dilatam-se,

    tornando a viso mais sensvel. Em suma, resume ALBRECHT (op.cit., p.58):

    A reao de estresse uma mobilizao qumica coordenada de todo o corpo humano para atender s exigncias da luta de vida ou morte ou de uma rpida fuga da situao. A intensidade da reao de estresse depende da percepo, pelo crebro, da gravidade da situao.

  • 11

    A principal ao do estresse um desequilbrio interno que ocorre em

    decorrncia da ao exacerbada do Sistema Nervoso Simptico e da desacelerao

    do Sistema Nervoso Parassimptico (SNP) nos momentos de tenso. LIPP e

    ROCHA (1996) resumem dizendo que esse perodo se caracteriza por grande

    atividade do sistema nervoso simptico, onde h uma hiperventilao, taquicardia e

    um aumento da presso arterial.

    Isto faz com que a pessoa entre no estado de prontido ou alerta, a fim de

    que possa lidar com essa situao; uma defesa necessria e automtica do corpo.

    Nesse momento, o organismo passa a perder seu equilbrio interno, na medida em

    que se prepara para enfrentar situaes em relao s quais necessita se adaptar.

    As sensaes experimentadas so desagradveis, porm so necessrias para que

    o organismo possa reagir, o que de fundamental importncia para a sobrevivncia

    do indivduo.

    Essa sndrome de reao um processo completamente normal do corpo.

    Todas as pessoas j passaram por esta fase. comum que elas a experimentem

    todos os dias, no se constituindo em motivo para preocupao, pois o organismo

    est preparado para lidar com tal emergncia, desde que no ultrapasse as suas

    habilidades de adaptaes. Para lidar com o estresse, de grande importncia

    saber usar a fora gerada por ele a favor do prprio organismo. Contudo,

    fundamental reconhecer quando o estresse se torna excessivo, para que se possa

    lutar ou fugir da fonte que o desencadeia no dia-a-dia. Quando o estresse tem

    durao curta, a adrenalina eliminada com a finalidade de produzir um equilbrio

    da homeostase. Nesse caso, a pessoa sai da fase de alerta sem complicaes para

    o seu bem-estar.

    Os sintomas iniciais do estresse so fceis de serem identificados: mos

    suadas, taquicardia, acidez do estmago, falta de apetite ou dor de cabea. No

    entanto, LIPP e ROCHA (op. cit.) alertam para o fato de que alguns sintomas so to

    sutis que passam despercebidos, como, o desinteresse por atividades cotidianas, o

    relacionamento difcil com as outras pessoas, a sensao de isolamento emocional e

    a de estar doente sem que haja algum distrbio fsico.

    Em resumo, como refere SANTOS (1995), a fase de alarme ou alerta um

    perodo muito rpido de orientao e identificao do perigo, no qual o corpo est se

    preparando para a reao propriamente dita, isto , para a prxima fase.

  • 12

    O mesmo autor apresenta um teste de auto-avaliao sobre a reao aguda

    ao estresse em sua primeira fase (Anexo, p. 60). Trata-se de uma lista onde se inclui

    uma srie de sintomas absolutamente normais. O problema s acontece quando

    esses sintomas tm forte intensidade e no so facilmente explicveis, como os

    sintomas que se relacionam diretamente com algum acontecimento traumtico,

    como um assalto ou tentativa de estupro.

    ? Fase de resistncia

    Ocorre quando o indivduo tenta se adaptar situao em que vive,

    procurando restabelecer um equilbrio interno e, assim, recuperar-se do desequilbrio

    sofrido na fase de alarme ou alerta. Alguns dos sintomas iniciais desaparecem. Essa

    fase de adaptao, o organismo requer muita energia para ser utilizada em outras

    funes vitais. Surgem, ento, sinais desgastantes, como cansao excessivo e

    esquecimentos freqentes. A maioria das pessoas passa por esses sintomas.

    Quando o indivduo consegue resistir, adaptando-se situao ou eliminando os

    agentes estressores, o organismo se reequilibra e ocorre a recuperao. Porm,

    quando o indivduo no consegue resistir, no atingindo uma harmonia interna para

    equilibrar as foras, o processo ento pode resultar no incio da terceira fase.

    Segundo LIPP e ROCHA (op. cit.), essa fase ocorre quando o estressor se

    prolonga por perodos longos ou quando sua dimenso muito grande. Em questo

    de minutos pode-se passar da fase de alarme ou alerta para a fase de resistncia. O

    indivduo tenta se adaptar instintivamente ao que passa por meio de reservas de

    energia adaptativas que possui. Se elas forem suficientes, os sintomas da fase de

    alarme ou alerta desaparecem e o indivduo volta ao normal. Pode ser uma iluso,

    porque se o estressor continuar presente, as reservas utilizadas podem acabar, pois

    a energia adaptativa limitada.

    Cada indivduo possui uma quantidade especfica de energia adaptativa,

    uma fora em cada momento. Esta energia limitada pode ser reposta ou refeita com

    o uso de tcnicas de controle do estresse, ou com o passar do tempo; se no o for,

    chegar ao fim.

    Existem trs sintomas que demonstram quando as reservas de energia

    adaptativa da pessoa esto praticamente no fim: falta de memria, sensao

    generalizada de mal-estar e dvidas quanto a si prprio. Durante um perodo de

  • 13

    estresse muito intenso ou prolongado, o indivduo pode no perceber todos os

    sintomas usuais; porm, a identificao de um dos trs sintomas mencionados, deve

    sempre levar desconfiana de que se esteja na fase adiantada do estresse, a fase

    de resistncia. O indivduo torna-se mais propenso a doenas, podendo aparecer

    herpes, constantes resfriados e muitas infeces.

    Conforme adverte SANTOS (op. cit.), esta fase pode durar anos, com a

    adaptao do organismo nova situao.

    Existem, segundo MASCI (2001), quatro tipos de alarme, todos

    representando mudanas no modo habitual de viver de cada um e que em geral

    indicam que j se est na segunda fase do estresse. Normalmente, todos so

    acionados, mas um deles em geral destaca-se mais. So eles: reaes emocionais;

    mudanas de comportamento; distrbios da concentrao e raciocnio; alteraes

    fisiolgicas psicossomticas.

    No alarme das reaes emocionais, as mudanas emocionais podem ser de

    dois gneros: para o lado da agitao ou para o lado da apatia. A agitao se

    manifesta por uma certa irritao e eventualmente maior cinismo. Parece preocupar-

    se demais e por pequenos motivos a pessoa fica nervosa, explode com facilidade, a

    pacincia vai a zero. A ansiedade (expectativa de que algo de ruim vai acontecer)

    freqente e afeta especialmente o sono.

    Ou ento o indivduo comea a se sentir incapaz, um intil na vida. A

    tristeza passa a ser dominante no seu humor, podendo ocorrer vrios episdios de

    choro por um motivo pequeno, ou mesmo sem motivo algum. Costuma haver

    diminuio do apetite sexual, com fracassos de desempenho que geram mais

    ansiedade e depresso. O cansao parece vir com mais facilidade. A pessoa

    procura no falar com outras, mesmo porque parece que no tem o que falar. Sente-

    se cada vez mais desiludida.

    Na maioria das vezes h uma mistura da agitao e da apatia, quando o

    estado de esprito, ora se apresenta com euforia e um excesso de energia, ora com

    tristeza e melancolia. O alarme das mudanas de comportamento o

    correspondente externo das emoes. Pode ser que o indivduo no esteja sentindo

    mais apatia ou mais agitao, mas pessoas de sua confiana vo lhe mostrar sua

    alterao de comportamento. Para o lado da apatia, parece haver uma lentificao

  • 14

    dos movimentos, a coordenao motora fica comprometida e pequenos acidentes,

    como tropear na escada ou derrubar objetos, podem se tornar freqentes.

    A maior parte das pessoas parece ficar com um nvel de atividade mais

    acelerado, falando abruptamente e num tom mais alto, com movimentos globais

    mais rpidos. Tambm freqente a mudana de certos hbitos, como os de

    alimentao, em geral para o lado do excesso, inclusive de bebidas alcolicas.

    No um tipo de comportamento isolado que aponta o estresse. O que

    importa so mudanas no padro de comportamento. essa mudana que constitui

    o alarme de que algo pode no estar bem.

    No alarme de distrbios de concentrao e raciocnio, s vezes a

    produtividade pode aumentar. Parece que o raciocnio e a concentrao ficam

    melhores. a fase eustresse, o estresse positivo. A presso e o desafio parecem

    funcionar como oxignio puro no motor combusto. O que mais perturba so as

    alteraes que pioram a produtividade. O raciocnio s vezes parece estar

    acelerado, s vezes fica lento, mas em geral parece ficar confuso. A lgica parece

    desaparecer, havendo tendncia a adiar decises. H tambm dificuldade em

    estabelecer prioridades. A memria costuma ficar diminuda, com esquecimentos

    freqentes. No para algum fato desagradvel da vida, que seria normal e saudvel,

    mas fatos do cotidiano comuns, como nmeros de telefone, datas, compromissos.

    No alarme das alteraes fisiolgicas, h dois grupos principais de

    sintomas: os musculares e os vegetativos. Os sintomas musculares incluem tenso

    muscular que mantm os dentes cerrados ou rangendo, dores nas costas

    (especialmente nos ombros e nuca), dores de cabea (em geral como um capacete),

    sensao de peso nas pernas e braos.

    J os sintomas vegetativos incluem episdios de diarria, suores frios,

    sensao de calor intercalada com frio, mos geladas, transpirao abundante,

    aumento do nmero de batimentos cardacos, respirao rpida e curta, m

    digesto. Em outras palavras, comea-se a ter crises mais freqentes dos sintomas

    da primeira fase.

    ? Fase de exausto

    Depois de utilizada toda a energia adaptativa, o indivduo entra na fase de

    exausto, onde alguns dos sintomas iniciais reaparecem e outros comeam a se

  • 15

    desenvolver. Esta fase torna-se problemtica, pois o estresse se torna intenso e no

    possui mais reservas de energia adaptativa. Trata-se de uma fase perigosa,

    segundo LIPP e NOVAES (1998), porque alguns dos sintomas da primeira fase

    aparecem mais agravados, alm de um maior comprometimento fsico na forma de

    doenas.

    De acordo com MASCI (2001), na terceira fase do estresse, a resistncia do

    organismo costuma estar bastante baixa e so comuns infeces repetitivas. Alm

    disso, podem ocorrer as doenas psicossomticas. O Quadro 2 apresenta uma

    relao desses distrbios.

    QUADRO 2 - Exemplos de distrbios psicossomticos.

    Sistema Enfermidades

    Pele Eczemas, psorase, urticria, acne

    Msculos Contrao crnica, cefalia tensional

    Cardiovascular Hipertenso arterial, arteriosclerose, infarto

    Respiratrio Asma brnquica, dispnia ansiosa

    Gastrointestinal Gastrite, lcera, diarria, constipao

    Emocional Ansiedade, depresso e equivalentes FONTE: MASCI, Cyro. A hora da virada: enfrentando os desafios da vida com equilbrio e serenidade. So Paulo: Saraiva, 2001.

    4 ESTRESSE E SOCIEDADE

    O processo cultural formado pelas prticas e significados partilhados nos

    grupos sociais, e que permanecem no tempo. Uma cultura adquire conformao e

    carter especficos graas coerncia de suas instituies sociais, as quais

    garantem sua continuidade. Por meio da cultura, a realidade vai sendo construda e

    reconstruda.

    Porm, o homem no apenas o produtor da cultura. Esta interfere no

    biolgico, produzindo respostas psicossomticas, as quais sofrem influncias

    diferentes em cada cultura. Os processos psicossociais so constitudos, em parte,

    por percepes e atitudes dos indivduos e, em parte, por elementos culturais que

  • 16

    direcionam os vnculos. Por exemplo, os critrios especficos sobre sade, doena,

    trabalho so constitudos pela cultura e transformados pelos indivduos. A cultura

    edificada a partir do meio ambiente, que corresponde ao mundo externo e

    realidade imediata. Tal realidade decorrente da vida cotidiana e subjetivamente

    dotada de sentido para os homens, na medida em que forma um mundo coerente.

    Assim, as caractersticas da cultura representam potencialidades adaptativas e

    estressoras.

    Como exemplos de aspectos culturais estressantes, incluem-se o uso

    acentuado de tabus, a saturao de valores, a instabilidade de modelos culturais, a

    privao de vida social e a rigidez de normas. As pessoas julgam ter livre arbtrio

    para suas escolhas e se esquecem do controle que a cultura imprime sobre seus

    comportamentos. Tal controle muitas vezes j est to introjetado que passa

    imperceptvel em algumas situaes. E o estresse ocorre sem que o indivduo

    perceba a sua gnese cultural.

    O estresse est estreitamente relacionado com o modo como a sociedade

    est organizada, cabendo a cada um se controlar, pela reduo do nmero de

    exposies agresso (PAULA, 2000). A sociedade ocidental, caracterizada pela

    industrializao, pelo consumo e pela concorrncia, especifica os tipos de relaes

    que sero mantidas e as exigncias que devero ser cumpridas, gerando condies

    mais ou menos estressantes de trabalho, das estruturas familiar e social.

    O estresse surge quando a pessoa julga no estar sendo capaz de cumprir

    as exigncias sociais, sentindo que seu papel social est ameaado. Ento, o

    organismo reage de modo a dominar as exigncias que lhe so impostas.

    Entretanto, no mundo moderno, no socialmente aceitvel que o estresse cumpra

    sua funo natural de preparar o indivduo para a fuga ou para a luta. Tal reao

    seria considerada inadequada do ponto de vista da adaptao dos seres humanos

    ante um mundo cheio de conflitos e de pseudo-harmonia. Portanto, o homem, ao

    confrontar-se com um estmulo estressor no trabalho, impedido de manifestar

    reao, ficando prisioneiro da agresso ou do medo, e obrigado a aparentar um

    comportamento emocional ou motor incongruente com sua real situao

    neuroendcrina. Se durar tempo suficiente essa situao de discrepncia entre a

    reao apresentada e o estado fisiolgico real, ocorrer um elevado desgaste do

    organismo, o que pode conduzir a doenas.

  • 17

    Assim, o estresse vincula-se com os desajustamentos do indivduo em

    relao ao grupo social, famlia, ao trabalho e consigo mesmo. Como mostrada

    na Figura 2, a distribuio percentual desses desajustamentos como causa do

    desencadeamento do estresse so: desajustamento social 29,4%; desajustamento

    consigo mesmo 28,4%; desajustamento familiar 25,7% e desajustamento com o

    trabalho 15%.

    Confirmando a capacidade dos estmulos psicossociais caractersticos da

    vida moderna de desencadear o estresse, observou-se na urina o aumento da

    secreo de catecolaminas durante o perodo de exames de estudantes nas

    universidades.

    FIGURA 2 - Distribuio percentual dos diversos tipos de desajustamento como causa do estresse.

    Fonte: VIEIRA, Sebastio Ivone. Reforo do suporte psquico. 2001. (Contedo ministrado no 1 Curso de Especializao de Medicina do Trabalho, em Campo Grande, MS).

    O desenvolvimento acelerado nas reas de tecnologia um produtor de

    estresse potencial de grande monta. O fenmeno do consumo atinge todas as

    classes econmicas nunca visto na histria humana. A fim de manter o poder

    aquisitivo para o consumo, o ser humano muitas vezes extrapola na competio e na

    25,7%28,4%

    29,4%1,5%

    15%Desajustamentosocial

    Desajustamentoconsigo mesmo

    Desajustamentofamiliar

    Desajustamento como trabalho

    Outros

  • 18

    tentativa de mais ganhar e possuir mais. Assim, a qualidade de vida confundida

    com a quantidade. Esse processo tem repercusses para a qualidade de vida do ser

    humano, pois aspectos importantes da sade e do viver so relegados categoria

    de baixa prioridade.

    O modo de perceber e reagir aos acontecimentos que determina a reao

    final do indivduo nas situaes de vida. Isto sugere que no a situao em si que

    leva ao estresse, mas a reao que se tem a ela e o modo de perceb-la. Portanto,

    difcil manter o equilbrio no mundo atual, e o bem-estar do organismo fica de lado

    diante das aspiraes de crescimento individual, que acaba sendo absorvido pelo

    trabalho.

    5 RELAO ENTRE ESTRESSE E DOENAS

    O estresse no apenas uma manifestao psicolgica; produz alteraes

    no organismo. Nos Estados Unidos, as estatsticas mostram que, no mnimo, 70%

    das pessoas que procuram atendimento mdico tm problemas de estresse.

    LIPP e ROCHA (op. cit.) destacam que, aps ultrapassar as reservas

    adaptativas que a pessoa possui, e ela entrar na fase de exausto, h uma quebra

    do organismo com um grande desequilbrio; a partir da associa-se uma srie de

    doenas (Quadro 2), como: hipertenso arterial, psorase, lceras, gengivites,

    depresso, ansiedade, problemas sexuais, infarto e at morte sbita.

    Quando atinge esse nvel de estresse, muito difcil sair dele sozinho,

    havendo geralmente necessidade de um tratamento especializado, que dura

    normalmente seis meses ou mais tempo, incluindo uma combinao mdica e

    psicolgica, de especialistas em estresse. Como nessa fase existe um

    comprometimento fsico, preciso ajuda mdica, pois h necessidade de a pessoa

    aprender a lidar com o estresse que possui, e como se prevenir contra sua

    reincidncia.

  • 19

    5.1 ALTERAES NO SISTEMA IMUNOLGICO

    Segundo registra BALLONE (2001), entre 1970 e 1990 foram muito

    expressivos os experimentos de laboratrio que tentavam comprovar a relao entre

    Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Imunolgico. Nessas duas dcadas

    chegou-se a constatar o despovoamento celular do timo em ratos, por induo de

    leses no hipotlamo. Tambm se demonstrou que leses destrutivas no hipotlamo

    dorsal levavam supresso da resposta de anticorpos. Isso tudo sugeria que o

    hipotlamo seria uma espcie de base de integrao entre os sistemas nervoso e

    imunolgico na resposta ao estresse.

    A partir de 1990 constatou-se tambm que alteraes ocorridas na hipfise

    poderiam determinar modificaes imunolgicas, visto que a extirpao dessa

    glndula ou mesmo seu bloqueio farmacolgico impedia a resposta imunolgica no

    animal de laboratrio.

    A resposta imune ao estresse d-se por uma ao conjunta entre o sistema

    nervoso, sistema endcrino e sistema imunolgico. Por excesso de intensidade ou

    durao do estresse pode surgir alguma doena atrelada a qualquer desses

    sistemas.

    Uma alterao precoce que se observa durante o estresse o aumento nos

    nveis dos hormnios corticoesterides (cortisona) secretados pelas supra-renais.

    Parece que esses nveis se acham em proporo inversa eficcia dos mecanismos

    de adaptao, isto , nos casos com mecanismos adaptativos adequados os nveis

    no so muito elevados, mas, no caso de pessoas deprimidas, com severas

    dificuldades adaptativas, esses nveis so maiores.

    A glndula supra-renal parece ter um desempenho mais ou menos seletivo

    no estresse. Em estados de agresso, enquanto a crtex secreta cortisona, a

    medula da glndula tambm participa, liberando norepinefrina (noradrenalina). Nas

    situaes estressoras de tenso e ansiedade, a liberao medular privilegia a

    epinefrina (adrenalina).

    Experimentos em 1976 constataram em macacos submetidos a estresse um

    aumento dos nveis de 17 hidroxicorticides, catecolaminas (epinefrina e

    norepinefrina), hormnio estimulador da tireide e hormnio do crescimento,

  • 20

    enquanto se observava um decrscimo dos hormnios sexuais, invertendo-se essa

    situao medida que o animal se recuperava.

    As catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) afetam as reaes

    imunolgicas, seja por reao fisiolgica, como a contrao do bao, seja por

    estmulo celular por meio de receptores especficos (adrenrgicos) na membrana

    celular. O certo que o aumento das catecolaminas inibe as respostas de

    anticorpos.

    As catecolaminas podem ter sua liberao condicionada a fatores

    neuropsicolgicos. Num estudo clssico, desenvolveu-se experimentalmente a

    supresso da funo imunolgica pelo uso de imunossupressor (ciclofosfamida),

    associado a uma bebida contendo substncia de gosto muito particular e forte

    (sacarina). Essa supresso podia repetir-se quando era administrada apenas a

    bebida com sacarina, caracterizando, portanto, uma supresso imunolgica por meio

    de condicionamento biolgico, j que a sacarina no imunossupressora.

    Assim, as clulas do sistema imunolgico encontram-se sob uma complexa

    rede de influncia dos sistemas nervoso e endcrino. Seus mediadores

    (neurotransmissores e hormnios diversos) atuam sinergicamente com outros

    produtos linfocitrios, de macrfagos e molculas de produtos inflamatrios na

    regulao de suas aes.

    Experincias dessa natureza, segundo BALLONE (2001), sugerem grande

    variedade de hipteses sobre a influncia das emoes na imunidade. Pergunta ele:

    Ser a crena no remdio to importante quanto o prprio remdio? Ser que isso ajuda a explicar o efeito dos placebos e da medicina alternativa? Seriam essas hipteses, capazes de estabelecer relaes entre os estados de nimo positivos e o aumento da sobrevida de pacientes portadores de AIDS, ou de cncer?

    O sistema imunolgico parece explicar as interaes entre os fenmenos

    psicossociais aos quais as pessoas esto submetidas e importantssimas reas de

    patologia humana como, por exemplo, as doenas de auto-imunes (auto-agresso),

    infecciosas e neoplsicas.

  • 21

    Ao prolongar-se, de acordo com LIPP (1998), o estresse afeta o sistema

    imunolgico, porque as glndulas linfticas do timo (glndula situada na parte

    inferior do pescoo e que participa ativamente do sistema imunolgico) so

    prejudicadas, assim como as clulas dos gnglios linfticos. Em conseqncia, as

    clulas brancas diminuem seu nmero e o organismo sujeita-se a vrias infeces e

    doenas.

    5.2 DOENAS DIGESTIVAS

    CABRAL et al. (1997) lembram que o sistema gastrintestinal

    especialmente sensvel ao estresse. A perda de apetite um dos seus primeiros

    sintomas, por causa da paralisao do trato gastrintestinal sob ao simptica, e

    pode ser seguido por vmitos, constipao e diarria, no caso de bloqueios

    emocionais. Sinais de irritao e perturbao dos rgos digestivos podem ocorrer

    em qualquer tipo de estresse emocional.

    Sabe-se que as lceras gstricas so registradas com maior freqncia em

    pessoas que so desajustadas em seu trabalho e que sofrem de tenso e frustrao

    constantes. J foi demonstrado, de acordo com os autores mencionados, que

    pacientes sob estresse secretam uma quantidade considervel de hormnios

    digestivos ppticos na sua urina, o que indica que os hormnios do estresse

    aumentam a produo de enzimas ppticas, isto , a lcera parece ser produzida

    com o aumento do fluxo dos sucos cidos, causado pelas tenses emocionais, no

    estmago, que se encontra desprotegido do muco protetor secretado em estado de

    homeostase, sob ao do sistema nervoso autnomo parassimptico. A conexo

    entre distrbio emocional, secreo gstrica e lceras est bem documentada.

    CABRAL et al. (op. cit.) registram, ainda, que estudos de lceras em

    macacos mostraram que, aparentemente, tenso emocional provoca lceras se seu

    perodo coincide com algum ritmo natural do sistema gastrintestinal, na sua fase de

    bloqueio. O experimento realizado colocava dois macacos em "cadeiras restritivas"

    individuais e tentava-se condicion-los a evitar um choque eltrico pressionando

    uma alavanca. Somente o macaco "executivo" poderia evitar que ele e o outro

    macaco "controle" no recebessem choque eltrico. O macaco "controle" diante de

  • 22

    uma alavanca falsa no apresentou nenhum sinal de lcera, j o macaco "executivo"

    depois de certo tempo de experimento morreu, tendo a autpsia revelado grandes

    lceras no duodeno. Este macaco era o nico que estava sob tenso emocional

    diante da alavanca que poderia evitar os choques eltricos. O ritmo mais eficiente

    para produzir lcera foi o de seis horas.

    5.3 CNCER

    Conforme registrado por CABRAL et al. (op. cit.), o cncer surge como uma

    indicao de problemas em outras reas da vida da pessoa, agravados ou

    compostos de uma srie de estresses que surgem de seis a dezoito meses antes de

    aparecer a doena. Foi observado que as pessoas reagiram a esses estresses com

    um sentimento de falta de esperana, desespero, desistindo de lutar por uma vida

    melhor. Acredita-se que essa reao emocional dispara um conjunto de reaes

    fisiolgicas que suprimem as defesas naturais do corpo, tornando-o suscetvel

    produo de clulas anormais, por causa de um desequilbrio profundo mental,

    hormonal, orgnico e psicolgico. Hoje est comprovada uma ligao evidente entre

    estresse e cncer, ligao to forte que possvel predizer a doena baseando-se

    na quantidade de estresse sofrida pelas pessoas na vida cotidiana.

    Descobertas recentes sugerem, segundo os autores mencionados, que

    efeitos do estresse emocional, ao deprimir o sistema imunolgico, abalam as

    defesas naturais contra o cncer e outras enfermidades.

    Foi desenvolvida uma lista com valores numricos de todos os

    acontecimentos estressantes da vida de uma pessoa, chegando-se, assim,

    quantidade de estresse que ela estaria sofrendo. Ao se observar esta lista, notam-se

    itens que todos acham estressantes, mas percebe-se tambm, curiosamente,

    sucessos pessoais excepcionais, normalmente considerados como sendo

    experincias agradveis.

    Foi observado que essas experincias, aparentemente agradveis, so as

    que implicam em mudanas de hbitos, na maneira de as pessoas se relacionarem

    entre si e em suas auto-imagens. Mesmo sendo experincias positivas, podem exigir

  • 23

    um grau profundo de introspeco, podendo causar o aparecimento de conflitos

    emocionais no solucionados. O ponto principal , portanto, a necessidade de

    adaptao mudana, seja ela positiva ou negativa.

    Estresse tambm varia de pessoa para pessoa. Cada um vai agir de uma

    forma diferente diante das situaes. Assim, fica claro que fatores de natureza

    psicossocial podem modificar a resistncia a um nmero de doenas infecciosas e

    cancerosas. Muitas pessoas no ficam doentes mesmo quando recebem grandes

    cargas de estresse. necessrio examinar a reao especfica de cada pessoa ao

    fator estressante.

    Torna-se claro que nveis elevados de estresse emocional aumentam a

    suscetibilidade a doenas. O estresse crnico resulta na supresso do sistema

    imunolgico, o que por sua vez cria uma maior suscetibilidade doena,

    especialmente o cncer. O estresse emocional realimenta o desequilbrio emocional.

    Esse desequilbrio pode vir a aumentar a produo de clulas anormais no momento

    em que o corpo se encontra menos capacitado a destru-las.

    A personalidade individual tambm um forte diferenciador entre as

    pessoas que tm maior ou menor suscetibilidade a doenas. A maneira como cada

    pessoa reage s tenses dirias origina-se de hbitos e ditada pelas suas

    convices ntimas sobre quem , quem deveria ser e a maneira como o mundo e as

    outras pessoas deveriam ser. Existem indcios de que diferentes tomadas de

    posio em relao vida, em geral, podem estar associadas com certas doenas.

    5.4 DEPAUPERAO DAS GLNDULAS SUPRA-RENAIS

    Segundo LIPP (1998), se o estresse for muito severo, acarretar o aumento

    do crtex das glndulas supra-renais. Em decorrncia, elas comeam a produzir

    corticosterides em excesso, principalmente a cortisona, os hormnios responsveis

    pela reao do estresse. Produzindo corticosterides, as glndulas utilizam uma

    grande quantidade de lipdios (essenciais aos hormnios corticosterides),

    depauperando-se. Quando o estresse aumenta, aumenta tambm o crtex das

    glndulas supra-renais, aumentando, conseqentemente, a depauperao dessas

  • 24

    glndulas, o que contribui para o envelhecimento precoce da pessoa, pois elas so

    imprescindveis para a homeostase do corpo, isto , um equilbrio para que haja um

    bom funcionamento no nosso organismo.

    5.5 DOENAS CARDACAS

    WARREN e TOLL (1998) referem que diversas pesquisas realizadas tm

    relacionado o estresse com as doenas cardacas. Mesmo no sendo a nica causa,

    o estresse pode diminuir a resistncia de forma que o indivduo fique mais

    vulnervel.

    Para BERNIK (2001), o estresse pode ser um matador silencioso, por

    atingir, principalmente, as coronrias. Se ocorrerem ativaes repetidas e crnicas

    do sistema nervoso autnomo, numa pessoa que tenha problemas de leso da

    camada interna das artrias coronrias (arteriosclerose), provocadas por fumo, m

    alimentao, obesidade ou colesterol elevado, e outros, podem ocorrer muitos

    problemas, tais como:

    a) uma diminuio do fluxo sangneo adequado para manter a

    oxigenao dos tecidos musculares cardacos (miocrdio), levando a

    uma isquemia do miocrdio. A adrenalina causada pelo estresse agrava

    o problema de quem j possui dimetros reduzidos por placas,

    resultando em morte, que acompanha as pessoas em um estresse

    agudo;

    b) outros como a ruptura da parede dos vasos enfraquecidos pela placa

    arteriosclertica e a trombose. Se a pessoa possui um pequeno

    cogulo, pode desencadear-se uma coagulao, levando morte. Com

    um nvel elevado de adrenalina, ocorrem alteraes irregulares no ritmo

    cardaco, as chamadas arritmias (batedeiras), diminuindo o fluxo de

    sangue no sistema cardiovascular, provocado pelos cogulos (trombas);

    com o aumento desse fluxo sangneo causado pela adrenalina, os

    cogulos podem desencadear uma trombose (obstruo completa dos

    vasos coronarianos).

  • 25

    H evidncias de possveis efeitos do estresse na presso arterial elevada,

    isto tanto no normotenso quanto nas pessoas com hipertenso arterial,

    principalmente quando interage com outros fatores de risco para a hipertenso.

    COOPER (1990) e LIPP e ROCHA (1996) enfatizam esse fator como um dos que

    afetam a presso arterial da pessoa sujeita hipertenso arterial. Essa relao j

    est hoje evidenciada por vrias pesquisas realizadas, as quais indicam que existe

    uma conexo inequvoca entre estresse e hipertenso. Considera-se o estresse hoje

    como um fator de risco real para a enfermidade.

    Conforme j mencionado, o Sistema Nervoso Simptico o responsvel

    pelo preparo do organismo para entrar em ao em momentos de estresse, quando

    ele aumenta a presso arterial para tornar possvel ao corpo lidar com aquilo que

    dele se exige. O estresse um dos fatores que podem causar a hipertenso porque

    ele estimula o SNS, produzindo uma constrio dos vasos sangneos e

    aumentando, portanto, a resistncia perifrica. O estresse no seu mecanismo tende

    a afetar tambm o ritmo cardaco e a quantidade de sangue expelido pelo corao a

    cada batimento (dbito cardaco). A variao no dbito cardaco ou resistncia

    perifrica suficiente para alterar a presso arterial. Isso tudo acontece por causa

    da necessidade do sistema circulatrio enviar maior quantidade de sangue para o

    crebro e msculos, quando h necessidade de o organismo reagir nas situaes

    estressantes.

    5.6 INFECES

    Conforme lembra BALLONE (2001), uma das mais importantes funes do

    equilbrio do organismo (homeostasia) proteg-lo das agresses infecciosas, isto

    , impedir a multiplicao de agentes infecciosos e a formao de colnias em seu

    interior, bem como proporcionar resistncia s infeces.

    Como mecanismos inespecficos desse sistema de defesa existem as

    barreiras naturais, compostas de pele e clios, presena de cidos nas superfcies,

    substncias inibidoras da proliferao dos germes nos humores e outros. Os

    mecanismos especficos das defesas esto representados por um combate muito

    mais eficaz conduzido pelo sistema imunolgico.

  • 26

    Os anticorpos do sistema imunolgico, por exemplo, facilitam extremamente

    a atrao, a aderncia e a fagocitose dos germes invasores pelas clulas brancas e

    pelos macrfagos, participando tambm da neutralizao de partculas virais

    circulantes. Graas participao celular da resposta imunolgica, as clulas

    infectadas por vrus ou por outros parasitas intracelulares podem ser destrudas e

    isso se d s custas das clulas chamadas linfcitos.

    O estresse desempenha importante papel no sistema imunolgico, inibindo

    ou estimulando seus componentes, isto , aumentando a morbidade e mortalidade,

    por excesso ou por falta desses mecanismos.

    5.7 OUTRAS DOENAS

    BERNIK (2001) relaciona os seguintes distrbios neurovegetativos

    decorrentes do estresse: quadro de astenia (fraqueza ou fadiga); tenses

    musculares elevadas seguidas de cibras; formao de fibralgias musculares, com o

    aparecimento de ndulos dolorosos, principalmente nos msculos dos ombros e das

    costas; tremores; sudorese excessiva; cefalias tensionais, provocadas por tenses

    psquicas; enxaqueca; lombalgias e braquialgias (dores nas costas, ombros e

    braos); hipertenso arterial; palpitaes e batedeiras; colopatias (distrbios da

    absoro e da contrao do intestino grosso) e dores urinrias sem sinais de

    infeco.

    Com a intensa ativao patolgica do estresse, h um aumento da

    concentrao do sangue e do contedo de plaquetas (clulas responsveis pela

    coagulao sangnea), alterao do nvel de cortisol, das catecolaminas urinrias e

    dos hormnios hipofisrios e sexuais; h tambm um aumento da glicemia (acar

    no sangue) e do colesterol.

    O estresse pode tambm causar alguns sintomas na forma de reaes

    psicolgicas e psiquitricas, como irritabilidade, fraqueza, nervosismo, medos,

    ruminao de idias, exacerbao dos atos falhos e obsessivos, alm dos rituais

    compulsivos, com aumento da sensibilidade e da angstia. Sendo assim, as

    provocaes e discusses so mais freqentes. Na depresso, pode haver com

  • 27

    muita freqncia uma queda ou aumento do apetite, alteraes do sono,

    irritabilidade, apatia, torpor afetivo, perda do interesse e do desempenho sexual.

    6 RELAO ENTRE O ESTRESSE E O TRABALHO

    O estresse ocupacional o conjunto de fenmenos que se sucedem no

    organismo do trabalhador com a participao dos agentes estressantes lesivos

    derivados diretamente do trabalho ou por motivo deste, e que podem afetar a sade

    do trabalhador (VILLALOBOS, 1999).

    6.1 AS RELAES EMPRESA-PESSOA

    Toda empresa um conjunto sociocultural organizado para a realizao de

    servios e implica num sistema de redes, status e papis. A coordenao das

    atividades possibilitada pela diviso do trabalho, hierarquia, autoridade e

    responsabilidade. Tais atividades visam satisfao das necessidades

    organizacionais, mas dependem da eficincia dos indivduos.

    Na cultura empresarial, o indivduo visto de forma incompleta, apenas com

    habilidades especficas para a realizao de tarefas. Assim, durante a relao

    indivduo-empresa, h uma ciso do comportamento: de um lado a fora de trabalho

    com subordinao s regras da empresa; de outro, o vivenciar, as emoes, a vida

    individual.

    O processo de firmar contrato de trabalho caracteriza-se por acatar as

    normas, valores e procedimentos comuns e coletivamente aceitos naquela

    organizao. "O homem organizacional", no dizer de VILLALOBOS (op. cit.) leva

    toda sua potencialidade psquica, fsica, social, mental, bem como suas

    caractersticas anatmicas, fisiolgicas e sensitivas, para o espao da empresa.

    O contrato psicolgico de trabalho caracteriza-se por um conjunto de

    expectativas que se estabelecem entre o indivduo e a empresa a respeito das

    responsabilidades, remunerao, benefcios e outros. Este um fator decisivo no

  • 28

    processo de adaptao do indivduo na empresa e que, no entanto, geralmente

    proposto por esta em forma de modelos estatsticos e limitados, visando a um

    enquadramento homogneo ao cargo ou funo. Tais expectativas e proposies

    informais ficam encobertas e s emergem em momentos de crise ou intervenes

    especficas, em programas de mudana organizacional, referentes s respostas

    psicossomticas. A empresa tradicional no pretende adaptar o trabalho para o

    homem e sim este para o trabalho, criando-se um hiato cada vez maior entre eles no

    exigente mundo contemporneo.

    O grupo de trabalho gera redes de influncias derivadas da cooperao,

    competio e outras e redes de afetos entre as pessoas com as quais se convive.

    Para a estabilidade dinmica do grupo deve haver equilbrio. Deve existir

    reciprocidade no grupo. uma expectativa constante. Se a regra de trabalho na

    empresa no parar a produo, quando ocorre essa quebra em funo de doena,

    estabelece-se uma suspenso da reciprocidade. Portanto, a relao empresa-

    pessoa ser mais ou menos conflituosa quanto maiores forem as diferenas de

    expectativas rgidas entre a empresa e o empregado.

    Mesmo diante desses dados, o aparecimento de problemas no indivduo

    ainda pouco previsto antes do vnculo empregatcio. A vida moderna, as condies

    atuais do trabalho, a cobrana da produtividade e qualidade total tornam o trabalho

    cada vez mais estressante e insensvel s condies humanas. A maioria das

    empresas coloca a produo como o mais importante, como o objetivo que deve ser

    cumprido a qualquer preo. Os trabalhadores sacrificam finais de semana, feriados e

    fazem hora-extra para conseguir concluir a demanda das empresas, sem

    recompensa adequada. Isto gera um nvel muito grande de ansiedade no

    trabalhador, pois ele se v privado de seu lazer, de sua vida familiar, de seu

    descanso, para dar conta do trabalho. Como conseqncia h um aumento no

    ndice de doenas psicossomticas relacionadas com o trabalho.

    O homem no pode ser colocado no mesmo patamar que as mquinas para

    execuo do trabalho. O lazer e o descanso so primordiais para a manuteno da

    qualidade de vida e da sade.

  • 29

    6.2 FATORES ESTRESSANTES NO AMBIENTE OCUPACIONAL

    Segundo VILLALOBOS (1999), os fatores psicossociais no trabalho

    representam o conjunto de percepes e experincias do trabalhador, alguns de

    carter individual, outros se referindo a expectativas econmicas ou de

    desenvolvimento pessoal e outros s relaes humanas e seus aspectos

    emocionais.

    As atuais tendncias na promoo da seguridade e higiene no trabalho

    incluem no somente os riscos fsicos, qumicos e biolgicos dos ambientes laborais,

    mas tambm os diversos e mltiplos fatores psicossociais inerentes empresa e a

    maneira como influem no bem-estar fsico e mental do trabalhador.

    Por um lado, tais fatores consistem em interaes entre o trabalho, seu

    meio ambiente laboral, a satisfao laboral e as condies da organizao e, por

    outro lado, as caractersticas pessoais do trabalhador, suas necessidades, sua

    cultura, suas experincias e sua percepo de mundo.

    Os principais fatores psicossociais geradores de estresse presentes no meio

    ambiente do trabalho envolvem aspectos de organizao, administrao e sistemas

    de trabalho e a qualidade das relaes humanas. Por isso, o clima organizacional de

    uma empresa vincula-se no somente a sua estrutura e s condies de vida da

    coletividade do trabalho, como tambm a seu contexto histrico com seu conjunto de

    problemas demogrficos, econmicos e sociais. Assim, o crescimento econmico da

    empresa, o progresso tcnico, o aumento da produtividade e a estabilidade da

    organizao dependem tambm dos meios de produo, das condies de trabalho,

    dos estilos de vida, do nvel de sade e bem-estar de seus trabalhadores.

    Na atualidade, produzem-se aceleradas mudanas tecnolgicas nas formas

    de produo que afetam, conseqentemente, os trabalhadores em suas rotinas de

    trabalho, modificando seu entorno laboral e aumentando o aparecimento ou o

    desenvolvimento de enfermidades crnicas pelo estresse.

    Outros fatores externos ao local de trabalho, porm que guardam estreita

    relao com as preocupaes do trabalhador, derivam-se de suas circunstncias

    familiares ou de sua vida privada, de seus elementos culturais, sua nutrio, suas

    facilidades de transporte, a moradia, a sade e a segurana no emprego.

  • 30

    VILLALOBOS (op. cit.) relaciona como mais freqentes os seguintes fatores

    psicossociais condicionantes da presena de estresse laboral:

    a) desempenho profissional:

    - trabalho de alto grau de dificuldade;

    - trabalho com grande demanda de ateno;

    - atividades de grande responsabilidade;

    - funes contraditrias;

    - criatividade e iniciativa restringidas;

    - exigncia de decises complexas;

    - mudanas tecnolgicas intempestivas;

    - ausncia de plano de vida laboral;

    - ameaa de demandas laborais;

    b) direo:

    - liderana inadequada;

    - m utilizao das habilidades do trabalhador;

    - m delegao de responsabilidades;

    - relaes laborais ambivalentes;

    - manipulao e coao do trabalhador;

    - motivao deficiente;

    - falta de capacitao e desenvolvimento do pessoal;

    - carncia de reconhecimento;

    - ausncia de incentivos;

    - remunerao no eqitativa;

    - promoes laborais aleatrias;

    c) organizao e funo:

    - prticas administrativas inapropriadas;

  • 31

    - atribuies ambguas;

    - desinformao e rumores;

    - conflito de autoridade;

    - trabalho burocrtico;

    - planejamento deficiente;

    - superviso punitiva;

    d) tarefas e atividades:

    - cargas de trabalho excessivas;

    - autonomia laboral deficiente;

    - ritmo de trabalho apressado;

    - exigncias excessivas de desempenho;

    - atividades laborais mltiplas;

    - rotinas de trabalho obsessivo;

    - competio excessiva, desleal ou destrutiva;

    - trabalho montono ou rotineiro;

    - pouca satisfao laboral;

    e) meio ambiente de trabalho:

    - condies fsicas laborais inadequadas;

    - espao fsico restringido;

    - exposio a risco fsico constante;

    - ambiente laboral conflitivo;

    - trabalho no solidrio;

    - menosprezo ou desprezo ao trabalhador;

    f) jornada laboral:

    - rotao de turnos;

    - jornadas de trabalho excessivas;

    - durao indefinida da jornada;

    - atividade fsica corporal excessiva;

  • 32

    g) empresa e contexto social:

    - polticas instveis da empresa;

    - ausncia de corporativismo;

    - falta de suporte jurdico pela empresa;

    - interveno e ao sindical;

    - salrio insuficiente;

    - falta de segurana no emprego;

    - subemprego ou desemprego na comunidade;

    - opes de emprego e mercado laboral.

    6.3 ESTRESSE E ATIVIDADE PROFISSIONAL

    Na prtica mdica, ao observar a incidncia das enfermidades derivadas do

    estresse, evidente a associao entre algumas profisses em particular e o grau

    de estresse que de maneira geral apresentam grupos de trabalhadores de

    determinado tipo de ocupao, como:

    a) trabalho apressado: operrios em linhas de produo mecanizadas;

    cirurgies; artesos;

    b) perigo constante: policiais, mineradores, soldados, bombeiros; alpinistas,

    pra-quedistas, boxeadores, toureiros;

    c) risco de vida: pessoal de aeronavegao civil e militar; motoristas

    urbanos;

    d) confinamento: trabalhadores petroleiros em plataformas marinhas;

    marinheiros; vigilantes, guardas; pessoal de centros nucleares ou de

    investigao; mdicos, enfermeiros;

    e) alta responsabilidade: mdicos; polticos; outros;

    f) risco econmico: gerentes; contadores; agentes de bolsa de valores;

    executivos financeiros.

  • 33

    Segundo EROSA (2001), so condies estressantes no ambiente laboral:

    sobrecarga de trabalho; excesso ou falta de trabalho; rapidez em realizar a tarefa;

    necessidade de tomar decises; fadiga, por esforo fsico importante (viagens longas

    e numerosas); excessivo nmero de horas de trabalho e mudanas no trabalho.

    A sobrecarga de trabalho, tanto em termos das dificuldades da tarefa, como

    no que se refere ao trabalho excessivo, tem relacionado diretamente as horas de

    trabalho e a morte causada por enfermidade coronria. A sobrecarga de trabalho

    tambm est relacionada, significativamente, com uma srie de sintomas de

    estresse: consumo de lcool, absentismo laboral, baixa motivao no trabalho, baixa

    auto-estima, tenso no trabalho, percepo de ameaa, alto nvel de colesterol,

    incremento da taxa cardaca e aumento de consumo de cigarros.

    O estresse pode ser desencadeado tambm quando no se dispe de uma

    adequada informao laboral, responsabilidade ou falta de clareza sobre os

    objetivos associados ao posto de trabalho. Tambm pode acontecer que exista uma

    demanda de responsabilidade por parte dos companheiros, sem haver-se facultado

    para tal ou, pelo contrrio, que exista essa faculdade e no se desempenhe. Esta

    situao representa para o trabalhador menor satisfao no trabalho, maior tenso e

    baixa auto-estima. Por outro lado, os trabalhadores com responsabilidade sobre

    outras pessoas tm um maior nmero de interaes de estresse, como o caso de

    diretores que com certa freqncia tm de assistir reunies ou devem cumprir

    demasiados compromissos de trabalho. Essas pessoas encontram-se relacionadas

    com a conduta do fumar, podem ter maior presso diastlica e altos nveis de

    colesterol.

    Existem outros estressores relacionados com as funes do trabalhador que

    podem gerar estresse, afetando fundamentalmente os nveis intermedirios, como:

    indivduo que conta com insuficiente responsabilidade; falta de participao na

    tomada de decises; falta de apoio por parte da direo e mudanas tecnolgicas s

    quais tem de se adaptar.

    Merece ainda destaque o estresse produzido por inadequadas relaes

    interpessoais. Quando existem relaes pobres e h pouca confiana, produzem-se

    freqentemente, comunicaes insuficientes que originam tenses psicolgicas e

    sentimentos de insatisfao no trabalho. Nesse sentido, ao considerar as relaes

    com os superiores pode haver favoritismos que provocam uma tenso e presso no

  • 34

    trabalho. Pelo contrrio, as relaes com os subordinados so com freqncia

    fontes de estresse para os diretores, ao tratar de conseguir maior produtividade. As

    relaes entre companheiros podem trazer diversas situaes estressantes:

    rivalidades, falta de apoio em situaes difceis, atribuio de culpas por erros ou

    problemas, inclusive uma total falta de relaes.

    Quanto ao desenvolvimento da carreira profissional, h tambm vrias

    situaes causadoras de estresse. Geralmente, o trabalhador espera ir ascendendo

    nos diversos postos que existem em sua organizao, isto , tende a melhorar no

    s no aspecto econmico, mas tambm aspirando a postos de maior

    responsabilidade ou qualificao, desenvolvendo uma carreira profissional. por

    isso que quando as expectativas so frustradas, aparecem tenses ou fatores

    estressantes, como: falta de segurana no trabalho; incongruncia ou falta de

    eqidade na promoo insuficiente ou excessiva; conscincia de haver alcanado o

    prprio teto.

    Quando um executivo de meia idade experimenta que est alcanando seu

    prprio teto e pode ser substitudo por outros companheiros mais jovens e com mais

    preparo, aparecem tenses, conflitos, ansiedades, insatisfaes e temores em

    relao ao seu status profissional.

    O estresse produzido pela estrutura e clima organizacional est relacionado

    com as seguintes situaes: falta de participao nos processos de tomada de

    decises; sentir-se estranho na prpria organizao; inadequada poltica de direo;

    falta de autonomia no trabalho e estreita superviso do trabalho.

    O estresse produzido pela prpria organizao apresenta os seguintes

    fatores de risco para a sade: consumo de lcool, como forma de escape, nimo

    deprimido, baixa auto-estima, pouca satisfao no trabalho, inteno de abandonar

    o trabalho e absentismo laboral. Assim tambm em numerosos estudos realizados, a

    falta de participao produz insatisfao no trabalho e incrementos de riscos de

    enfermidade fsica e mental.

    No contexto laboral experimentam-se outros sintomas estressantes que

    no so de carter quantitativo nem qualitativo; mas ocorrem quando as habilidades

    da pessoa so incongruentes, com a tarefa ou o entorno laboral. No obstante,

    deve-se ter em conta que em situaes similares as pessoas reagem de forma

  • 35

    diferente. Assim, quando se produz uma tenso de sobrecarga de trabalho,

    enquanto que uma pessoa pode reorganizar eficazmente a tarefa, aprender novas

    formas, buscar ajuda, outra, incapaz de superar tal tenso, pode responder em

    longo prazo com enfermidades coronrias, depressivas e outras.

    7 TRATAMENTO E PREVENO DO ESTRESSE NO TRABALHO

    7.1 TRATAMENTO

    O diagnstico do estresse baseia-se nas seguintes etapas:

    a) anamnese;

    b) questionrio dos fatores de contexto;

    c) identificao e vulnerabilidade;

    d) anlise das estatsticas do servio de sade ocupacional (absentismo

    geral, absentismo por doena, por acidente do trabalho e atendimento no

    ambulatrio mdico).

    O estresse pode ser medido pelas variaes da freqncia cardaca,

    monitoramento da presso sangnea ou da freqncia respiratria, avaliao do

    gasto energtico, medio da produtividade, registro estatstico da fadiga,

    eletroencefalograma e medio dos nveis sangneos de catecolaminas, assim

    como por meio da quantificao de outros neurotransmissores por

    espectrofotometria, fluorometria, cromatografia, radioistopos ou procedimentos

    enzimticos.

    Segundo VILLALOBOS (1997), seria quase impossvel, e alm disso muito

    custoso, medir o estresse laboral nos trabalhadores utilizando determinaes

    qumicas quantitativas de laboratrio ou de avaliaes clnicas do dano orgnico

    produzido pelo estresse, por isso se empregam outros tipos de instrumento mais

    viveis cuja validade e confiabilidade tm sido devidamente comprovadas. Tais

    tcnicas de medio do estresse incluem diversas escalas, como a auditoria do

  • 36

    estresse de Boston, o inventrio de estados de angstia de Spielberg Gorsuch e

    Lushene, o questionrio LES de T. H. Holmes e R. H. Rahe, a valorao do estresse

    de Adam e outros instrumentos similares que tornam possvel a quantificao do

    estresse e seus efeitos sobre os trabalhadores.

    MASCI (2001) apresenta uma relao de recomendaes de tratamento

    para cada uma das fases de desenvolvimento do estresse.

    ? Fase de alarme

    Fazer pequenas pausas no trabalho, com um pequeno exerccio de

    relaxamento a cada 60 ou, no mximo, 90 minutos.

    Exemplo de exerccio de relaxamento: respirar profunda e lentamente,

    inspirando somente pelo nariz, segurando o ar por 5 a 7 segundos, e soltando o ar o

    mais lentamente que conseguir pela boca. Repetir por trs vezes. Na seqncia,

    contrair os msculos do corpo, mantendo contrado por cinco segundos, e soltando

    abruptamente. Repetir por mais trs vezes.

    Na impossibilidade de frias regulares, procurar reservar algumas horas do

    dia para diverso, longe de preocupaes.

    Procurar algum para conversar e desabafar. No guardar todos os

    problemas para si prprio.

    Diminuir o perfeccionismo, evitando falar consigo mesmo em termos de

    devo fazer isso ou aquilo. Preferir a expresso eu prefiro, ou eu quero fazer isso

    ou aquilo.

    No ficar muito tempo sem comer. Nunca sair de casa sem um caf da

    manh no mnimo razovel.

    Comear um programa de atividade fsica imediatamente.

    Procurar organizar o prprio dia com no mnimo uma lista de coisas a fazer

    (e telefonemas a dar) que dever ser revista pela manh e no final da tarde.

    Reservar alguns minutos do dia para introspeco.

    Ajudar algum (atividades filantrpicas so comprovadamente um fator de

    aumento de auto-estima e diminuio do estresse).

  • 37

    Evitar estimulantes como cafena (caf e bebidas com cola), assim como

    energticos rpidos (bebidas para atletas).

    ? Fase de resistncia

    Utilizar todas as sugestes da primeira fase, mas idealmente procurar

    auxlio profissional. muito provvel que seja necessrio um programa de

    recuperao.

    ? Fase de exausto

    Procurar auxlio profissional. Dever ser um programa que contemple todos

    os aspectos do estresse (e no apenas os sintomas). em geral um programa lento

    e gradual, mas os resultados costumam compensar.

    7.2 ASPECTOS PREVENTIVOS

    VILLALOBOS (1999) recomenda que o tratamento das enfermidades por

    causa do estresse laboral dever sempre se dirigir a erradic-lo por meio do controle

    dos fatores ou de suas foras causais. O critrio geral que pretende curar a

    enfermidade de maneira isolada mediante tratamento paliativo das alteraes

    emocionais ou reparao das leses orgnicas sumamente simplista, limitado e

    pouco racional. Assim, o tratamento contra o estresse dever ser preventivo e

    conseguido por aes necessrias para modificar os processos causais.

    A preveno e ateno do estresse laboral constituem um grande desafio,

    os critrios para combat-lo devero ser organizacionais e pessoais. Os mdicos do

    trabalho e profissionais afins devem vigiar seus pacientes e quando for possvel a

    toda a organizao com o objetivo de manejar o estresse de forma efetiva, ainda

    que a participao da equipe de sade para efetuar mudanas substanciais com

    freqncia mais difcil, pois os gerentes e empregadores geralmente buscam

    resolver o problema dos trabalhadores de forma individual, porm recusam a

    interveno na origem do problema quando isso implica a necessidade de

    mudanas no local de trabalho, pela possvel separao entre o lucro econmico e o

    bem-estar dos trabalhadores.

  • 38

    O mdico deve buscar antecipar a situao e aplicar medidas profilticas

    efetivas. A preveno primria um objetivo primordial. As aes eficazes tm

    demonstrado xito econmico nas empresas, ao melhorar o estado de nimo e o

    bem-estar dos trabalhadores, diminuindo as enfermidades, reduzindo o

    absentesmo, elevando a produtividade e melhorando substancialmente o

    desempenho e a qualidade do trabalho.

    7.2.1 ATENO INDIVIDUAL

    Para VILLALOBOS (1999), os programas de ateno individual nos locais

    de trabalho contemplam a difuso de informaes sobre o estresse, suas causas e a

    forma de controle, por meio da educao para a sade dos trabalhadores, para que

    eles desenvolvam habilidades pessoais que lhes permitam reduzir o problema. Se

    emplea la distribucin de trpticos, carteles, conferencias, videos, etc.

    A idia principal consiste em identificar os agentes causais do estresse e

    deles conscientizar ao trabalhador, mostrar a este as possibilidades de soluo da

    situao, ou o manejo inteligente do estresse para poder atuar em conseqncia e

    combat-lo.

    importante melhorar os hbitos do trabalhador, a alimentao adequada,

    exerccio fsico moderado, gradual e progressivo, ritmos de sono adequados,

    propiciar as atividades recreativas, diminuir as adies e evitar a vida sedentria.

    Alm disso, so de grande utilidade as chamadas tcnicas de ateno que

    consistem de mtodos para ajudar os trabalhadores a resolver suas reaes

    fisiolgicas e psicolgicas, com estratgias para reduzir o estresse no ambiente

    laboral. Consistem de exerccios de relaxamento, autotreinamento,

    biorretroestimulao, exerccios respiratrios, auto-estima, meditao e ioga.

    Complementarmente, ensina-se o uso de estratgias para a administrao

    do tempo, priorizao de problemas, desenvolvimento da capacidade de

    planejamento, tcnicas de negociao; assim como exercitar habilidades para a

    tomada de decises, soluo de conflitos, conduta assertiva, manejo do tempo e em

    geral o desenvolvimento de melhores relaes humanas.

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    7.2.2 MEDIDAS ORGANIZACIONAIS

    VILLALOBOS (1999) afirma que no manejo coletivo dos fatores causais do

    estresse, o critrio predominante consiste em reduzir ao mximo as situaes

    geradoras de situaes tensionais dentro da empresa ou organizao. As aes

    especficas dirigem-se para as caractersticas de estrutura da organizao, estilos de

    comunicao, processos de formulao de decises, cultura corporativa, funes de

    trabalho, ambiente fsico e mtodos de seleo e capacitao do pessoal.

    importante considerar as melhoras fsicas, ergonmicas, de segurana e

    de higiene do entorno laboral nos centros de trabalho, pois tm particular relevncia

    para os trabalhadores ao representar a preocupao real e o esforo patente da

    empresa por melhorar o bem-estar de seus empregados.

    As medidas de mudana da organizao perseguem a reestruturao dos

    processos e tarefas, que permita desenvolver as capacidades do trabalha