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1 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil SIMPÓSIO - Literatura para crianças e jovens – pesquisas e práticas

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02 a 05 setembro 2013

Faculdade de Letras UFRJRio de Janeiro - Brasil

SIMPÓSIO - Literatura para crianças e jovens – pesquisas e práticas

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A viagem de um barquinho ao mundo Al Revés: um encontro entre Sylvia Orthof e María Elena Walsh Antonela Catinari

INDÍCE DE TRABALHOS(em ordem alfabética)

Arte literária na sala de aula Priscila Dionísio

Página 05

Arquivo Giroflê: poemas infantis ilustrados Armando Gens Página 07

Bordados tecidos de imagens e palavras em Sebastiana e Severina Ananília Meire Estevão da Silva e Márcia Tavares Silva Página 08

Na trilha dos vampiros: a ficção juvenil entre a convenção e a experimentação Raquel Cristina Souza e Souza Página 13

Palavras apre(e)ndidas contra guerras (in)esquecidas Flávia Alves Gomes Página 15

Incentivo à leitura de contos com uso de atividades de leitura e produção textual para alunos do 6º ano Luciana Silva de Oliveira Página 10

Página 04

África aqui: literatura na sala de aula Sônia Vinco Página 06

Página 09“Entrei no mundo das imagens”: lendo Manoel de Barros com alunos do 3º ano do Ensino MédioMaria Jahynne Dantas dos Santos

Página 11Literatura em círculos: ações para formação do leitor jovem Luciana Sacramento

Página 14O “indizível” na encenação descritiva verbo-visual de livros ilustrados para crianças Beatriz dos Santos Feres

Mito e rito mediados pela literatura: uma leitura de Oxalufã Cristiane Madanêlo Página 12

3

Rudyard Kipling e uma fábula politicamente incorreta Flávia Amparo Página 18

Um tigre, dois tigres, três tigres: um estudo de gênero literário, personagem e espaço na literatura juvenil de Colleen Houck Fabiana Valéria da Silva Tavare Página 19

Performance e oralidade: leitura de folhetos no Ensino Médio Hadoock Ezequiel Araújo de Medeiros e José Hélder Pinheiro Alves Página 17

O papel das imagens em o pequeno príncipe: a imagem que completa o texto Anna Carolina Batista Bayer Página 16

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Este trabalho tem como objetivo discutir leitura e literatura em sala de aula, analisando os Cadernos

Pedagógicos da Secretaria Municipal de Educação (SME-RJ) e propondo atividades voltadas para o

texto literário. Discutiremos o conceito de leitura como um acionamento de conhecimentos prévios

(KOCH & ELIAS< 2006; KLEIMAN, 1989), pois quem lê deve ser capaz de ir além do que está escrito,

ler nas entrelinhas, observar o uso de vocabulário e pressuposições (SILVA, 2005 [1998]), perceber

o contexto da comunicação e ampliar sua consciência sobre os fenômenos gramaticais e textuais-

discursivos. Também será discutido como o texto literário pode redimensionar as percepções do

sujeito e colaborar significativamente para com a sua formação de leitor, influindo nas suas formas de

pensar, e como é possível trabalhar o texto literário fazendo o aluno desenvolver ao mesmo tempo suas

habilidades linguísticas e seu gosto pela leitura literária (COELHO, 2000). Analisaremos os Cadernos

Pedagógicos do 7° ano de 2012 do Ensino Fundamental II da SME-RJ, observando a pertinência das

atividades propostas para textos literários como conto, crônica e poesia, destacando como elas se

relacionam aos textos, se contribuem para o adentramento no texto ou se ficam apenas na superfície,

se usam o texto como pretexto, se trabalham o aspecto literário e estético e se colaboram na formação

de leitores conscientes e críticos (SANTOS, CUBA RICHE, TEIXEIRA, 2012). Além disso, propomos

atividades para a crônica “A arte de ser feliz”, de Cecília Meireles, presente em um dos Cadernos

Pedagógicos. As atividades são sugestões aos professores para um trabalho voltado à leitura e à análise

linguística que faça o aluno passar da condição de aprendiz passivo a de alguém que constrói seu

próprio conhecimento, desenvolvendo suas competências linguísticas e tornando-se um leitor co-

construtor de sentido.

ARTE LITERÁRIA NA SALA DE AULA

Priscila Dionísio

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Em terras vizinhas, empregando idiomas distintos, sem se conhecerem, e praticamente durante

o mesmo período, duas escritoras, Sylvia Orthof (1932 - 1997) e María Elena Walsh (1930 – 2011),

produziram suas obras destinadas ao público infantil.

Nesta comunicação me proponho a estabelecer um encontro entre esses dois universos literários, uma

vez que seus textos apresentam vários pontos em comum e similitudes tanto em relação à temática

quanto à forma e aos recursos empregados, além da inquestionável qualidade estética que os destaca

dentro do panorama da literatura infantil latinoamericana.

A partir da contextualização histórico-social do espaço/tempo em que se deu a produção das autoras

brasileira e argentina, além do aporte de trechos de alguns seus livros, pretendo analisar as principais

características que os permeiam, destacando, entre outras, o uso irreverente da língua, a presença de

um humor desconcertante, a criação de um mundo paralelo governado pelo nonsense e a opção, em

um número significativo de publicações de ambas as autoras, pela criação de textos poéticos e teatrais.

Com trajetórias profissionais semelhantes em muitos aspectos, Orthof e Walsh elegeram a escrita de

uma literatura voltada para a infância a fim de, por meio da irreverência e do humor, estabelecerem

sérias críticas ao mundo em que se encontravam inseridas.

Acredito que a análise proposta aqui possa contribuir para o conhecimento e posterior estudo do

conjunto da produção literária para crianças de María Elena Walsh, escritora de primeira grandeza,

que, com sua obra inovadora e livre das amarras impostas pelo contexto escolar dos anos 60 do

século passado na Argentina, revolucionou e abriu caminho para mudanças significativas no campo

literário da escrita para os pequenos leitores daquele país. Um campo, infelizmente, ainda bastante

inexplorado por nós, leitores e educadores brasileiros. Tal análise também permite levantar alguns

questionamentos, entre eles os motivos que fizeram com que os livros de uma autora reconhecida tanto

em toda a América Latina quanto na Europa e nos Estados Unidos ainda não terem sido traduzidos no

Brasil, com a (gratificante) exceção de seu livro de limeriques, Zoo Louco.

A VIAGEM DE UM BARQUINHO AO MUNDO AL REVÉS: UM ENCONTRO ENTRE SYLVIA ORTHOF E MARÍA ELENA WALSH

Antonela Catinari

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O Colégio Pedro II é uma instituição federal de ensino fundamental e médio organizada num complexo

com diversos campi. O primeiro segmento, desde a sua fundação, em 1984, vem desenvolvendo um

trabalho sistemático de ensino de literatura, garantido na grade curricular e explicitado em seu Projeto

Político-Pedagógico. Dedicamos especial atenção ao trabalho com textos literários com o propósito de

preparar os alunos para se tornarem leitores também dessa modalidade textual.

A lei 10.639/2003 torna obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira em todas as

escolas brasileiras, do ensino fundamental ao médio. Antes mesmo da determinação legal, a equipe

de Literatura do campus São Cristóvão já discutia sobre a importância do trabalho com textos que

abordem o assunto, por acreditar que no contato com a literatura a criança pode travar importantes

diálogos com a diversidade cultural do contexto em que se encontra inserida. Afinal, uma das tarefas

da escola contemporânea é participar das discussões e dos processos de formação de identidades.

Considerando a fundamentalidade de destacarmos traços culturais dos povos africanos imiscuídos

na nossa formação, ao longo do ano letivo, apresentamos nas aulas também narrativas de temática

africana ou afro-brasileira. Sabores, danças, ritos, deuses, memórias, são traços de culturais que

chegaram até nós em forma de narrativas, e que convidamos as crianças a degustarem.

No texto literário, se reforçam a leitura plural, os múltiplos sentidos da escritura. Barthes afirma que

a escritura faz do saber uma festa e que a literatura perpassa todo e qualquer conhecimento em sua

peculiar teia produtiva. Justamente pelas múltiplas possibilidades de leitura (do texto e da imagem

artística) é possível investir na formação do olhar da criança, tanto para que se reconheça como sujeito

produtor de sentidos quanto para que possa respeitar diferenças.

A indústria editorial vem lançando, ano a ano, numerosos títulos de literatura infanto-juvenil em

que o negro é protagonista. Mas a diversidade de textos não é por si só suficiente: é preciso saber

avaliá-los e procurar fazer mediações que vão encontro de suas potencialidades. Para tanto, a troca

de impressões e conhecimentos é fundamental, e é esse trabalho de formação continuada que nossa

equipe de professores vem realizando cotidianamente. Compartilhando com outros educadores as

experiências pedagógicas que vimos acumulando nos anos de trabalho com o assunto, acreditamos

poder contribuir para o aprofundamento do debate.

ÁFRICA AQUI: LITERATURA NA SALA DE AULA

Sônia Vinco

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A relação entre imagem e texto é um tema pleno de controvérsias e contradições. Seja de que

perspectiva for –– literária, filosófica, psicológica, antropológica, retórica, plástica ou tipográfica ––

as perquirições irão acentuar prevalências e exclusões. Será, portanto, neste território minado que

este comunicação se localiza, porque se detém na análise de livros de poemas infantis ilustrados por

artistas. Tomando como ponto de partida obras da Editora Giroflê –– importante editora fundada nos

anos 60 do século passado,especializada em livros infantis, com uma identidade gráfica inconfundível

––propõe-se uma abordagem de dois objetos por ela produzidos––A Televisão da Bicharada (1962), de

Sidônio Muralha, com ilustrações de Fernando Lemos e Ou isto ou aquilo (1964), de Cecilia Meireles,

cujas ilustrações foram assinadas por Maria Bonomi. Isto posto, informa-se que oprimeiro objetivo da

comunicação,apoiado em pressupostos metodológicos para orientar o trabalho de leitura com poemas

infantis ilustrados,apontapara uma ação centrada na análise dos objetos já referenciadospreviamente,

com ênfase na dimensão material: papel, escala de cores, formato, diagramação, contrastes, textura,

volumes, técnicas de ilustração, livro artesanal,livro industrial, bem como avaliar o papel desempenhado

pela editora Giroflê tanto no âmbito da cultura infantil quanto no âmbito da formação de leitores. Já o

segundo objetivo concentra-seno estudo das relações entre poema e imagem, gêneros literários, leitura

e contemplação, no sentido de examinar a dimensão retórica para colocar em debate questões que

se descortinam no processo criativo de transposição do poema em imagem, a saber: corte, seleção,

perspectiva, delimitação e moldura –– um processo de grande complexidade que esbarra no conceito

de “détournement d’écriture” referido por Michel Thèvoz. Do ponto de vista teórico, cabe esclarecer

que BENJAMIN, LINDEN, OLIVEIRA, NICOLAJEVA e SCOTT dão respaldo auma perquirição

interdisciplinar, na qual as fronteiras entre literatura infantil, artes gráficas e artes plásticas esbatem-

se para dar lugar a objetos mistos e integrados, pois neles palavra e imagem não mais se relacionam de

forma hierarquizada.

ARQUIVO GIROFLÊ: POEMAS INFANTIS ILUSTRADOS

Armando Gens

6

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Assim como o desenho, outras formas divergentes das verbais também nos servem como meios de

expressão e produção de sentido – dança, música, cerimônias, jogos, arquitetura, criação artística,

dentre outros. Após a Revolução Industrial houve a difusão de outros meios (re)produtores de

linguagem como a TV, o rádio, a imprensa vindo desembocar nesta modernidade híbrida e líquida,

informatizada e invadida por imagens. À medida que o indivíduo representa o passado, ou melhor,

os fatos históricos, ele os está traduzindo, acrescentando-lhe novos sentidos e significações pautadas

na forma como essa informação é percebida pelo sujeito, pois fazer parte da história é transitar entre

passado, presente e futuro. Neste trabalho, propomo-nos a analisar o processo dialógico entre texto

e imagem na obra infanto-juvenil Sebastiana e Severina (2002), escrita e ilustrada por André Neves.

A obra se apresenta como uma ‘tela de reminiscência’ em que o escritor busca em suas memórias

as inspirações para o ato de escrever. Enfocaremos a passagem da linguagem escrita à visual, bem

como as representações da cultura popular presentes na mesma que, por meio dos personagens, seja

na ilustração ou no texto escrito, é retomada através da presença do cancioneiro popular, folguedos,

festejos religiosos, comidas típicas, rimas que compõem as falas dos personagens e do ritmo narrativo

que se aproxima do falar, ocasionando uma identificação entre o leitor e o texto. Ao final de nossos

estudos serão sugeridos alguns suportes metodológicos que possam auxiliar a abordagem de Sebastiana

e Severina em sala de aula. Tomaremos por base de nossa pesquisa a simbologia das cores como meio

pertinente à intensificação da aproximação texto/imagem/leitor infantil e os estudos de Amarilha

(2002), Amorim e Silva (apud PINHEIRO, 2004), Camargo (1995), Guimarães (2000), Plaza (2003),

Santaella (1983) e Walty et al (2001).

BORDADOS TECIDOS DE IMAGENS E PALAVRAS EM SEBASTIANA E SEVERINA

Ananília Meire Estevão da Silva e Márcia Tavares Silva

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Desde 1937, quando da publicação de seus Poemas concebidos sem pecado, o poeta Manoel de

Barros vem promovendo “casamentos incestuosos entre palavras”, escrevendo poesia no seu “idioleto

manoelês archaico”. Com uma poética marcada pelos neologismos, pelas diferentes temáticas e pela

prosa poética, sua obra vem ganhando cada vez mais espaço em meio à crítica especializada. O mito

da origem, a própria poesia ou o exercício do fazer poético, a infância, os seres e as coisas consideradas

“desimportantes”, a natureza, o olhar do “artista fotógrafo” são algumas das temáticas mais recorrentes

na obra do poeta mato-grossense. No entanto, a poesia de Barros ainda tem pouco espaço na sala de

aula, mesmo em livros didáticos é difícil encontrar referências ao poeta e à sua obra e, quando as

encontramos, geralmente, são bastante resumidas. A comunicação tem por objetivo apresentar um

relato de experiência com a leitura de poemas de Manoel de Barros. Nossos colaboradores foram os

alunos do 3º ano do ensino médio de uma escola pública localizada na cidade de Santa Luzia, interior

do estado da Paraíba. A partir dos pressupostos teóricos de Colomer (2007), Cosson (2009) e Pinheiro

(2007) acerca do trabalho com o texto literário em sala de aula, elaboramos uma sequência didática

cujo principal objetivo é a formação de leitores literários, levando em consideração o horizonte de

expectativas desses leitores, como propõem as teorias da recepção de Jauss e Iser (1979). Os resultados

do experimento indicam que quando se busca um trabalho com o poema em que se privilegia a

interação do leitor com o texto e não o ensinamento de um saber sobre a poesia e o poeta, os leitores

tendem a se aproximar do texto, a atentar para peculiaridades da linguagem e a fazer correspondências

entre os poemas e sua vivência cotidiana. Alfredo Bosi (2000), afirma que numa sociedade em que

predominam valores capitalistas e burgueses, os sujeitos são avaliados segundo sua posição dentro de

uma hierarquia social, na qual predominam os mecanismos de interesse; numa sociedade como esta,

pragmática e imediatista, pouco sobra espaço para a contemplação. Ainda assim, a poesia sobrevive

resistindo à manipulação da indústria cultural e abrindo espaço para o “fabular”, para o “mito”.

“ENTREI NO MUNDO DAS IMAGENS”: LENDO MANOEL DE BARROS COM ALUNOS DO 3º ANO DO ENSINO MÉDIO

Maria Jahynne Dantas dos Santos

10

É de conhecimento dos agentes envolvidos no processo educacional a importância da Lei 10.639/03

não apenas como forma de exigir o ensino da cultura africana e afro-brasileira em sala de aula,

mas também como reconhecimento da necessidade de debates dentro e fora da escola sobre temas

relacionados ao preconceito étnico e à afirmação da identidade de grupos historicamente excluídos da

educação. No campo da literatura, mais especificamente, no que se refere aos livros infantojuvenis que

trazem imagens da cultura africana e afro-brasileira, sabe-se que nem sempre eles chegam às mãos de

crianças e jovens, seja por falta de divulgação, seja por dificuldade de abordagem de temas ali presentes.

Encontrar a representação, desde a infância, das tradições afro-brasileiras na ficção infantojuvenil, seja

na construção narrativa que retoma enredos de tradição africana, seja na participação de personagens

protagonistas ou narradores negros torna-se um desafio em meio à predominância de obras que

silenciam essas vozes ao longo da história da literatura infantojuvenil. Segundo Marina Luiza Horta

ao falar sobre Heloisa Pires Lima no site literafro“[...] a produção infantil afro-brasileira ainda é muito

tímida e com pouca visibilidade no mercado editorial se comparada à literatura infantil brasileira

tradicional. Segundo pesquisa realizada por Eliane Debus, que mapeia a produção da literatura

infantil com a temática étnico-racial, a editora Companhia das Letrinhas, por exemplo, no ano de

2005, em seu catálogo de 332 títulos, apenas 13 traziam a presença do personagem negro.” (p.7). A

proposta deste trabalho é refletir a respeito da cultura africana e afro-brasileira presentes nas obras de

Rogério Andrade Barbosa, Heloisa Pires Lima e Júlio Emílio Braz, discutir a importância de inserção

dessas obras em sala de aula e propor caminhos de abordagem dos temas tratados por esses autores na

atividade pedagógica.

ESTUDO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA E SUA PRESENÇA NA LITERATURA INFANTOJUVENIL

Maria Carolina de Godoy

11

A leitura é uma atividade de produção de sentidos, por isso também colabora para a formação do

senso crítico e para desencadear o conhecimento de mundo adquirido previamente por cada indivíduo

(KOCH; ELIAS, 2006). À escola cabe a responsabilidade de formar leitores e é, geralmente, com a

ajuda do professor que o aluno irá se desenvolver e evoluir como leitor proficiente (LAJOLO,1993).

Porém, o desafio de incentivo à leitura não se esgota com as formas convencionais de uso do texto,

pois ensinar leitura não implica somente aplicar estratégias, mas criar uma atitude que faz da leitura

a procura da coerência e, além disso, sensibilizar ao leitor para os traços linguísticos que sinalizam a

coesão, de forma que o leitor interaja globalmente com o texto (KLEIMAN, 2004).

Nosso trabalho insere-se nessa abordagem interativa de leitura e visa a sugerir atividades que gerem

estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação (PCN, 1998). Para isso, confrontaremos

duas abordagens de leitura para um mesmo texto: o conto “O rei sapo e o fiel Henrique”, extraído do

livro O gato esperto (JANISCH, 2012), que reúne contos universais. Uma das abordagens encontra-

se no livro didático Todos os textos - 6º ano (CEREJA; MAGALHÃES, 2009); a outra será proposta

por nós. Nosso objetivo é confrontar as atividades de interpretação e produção textual, refletindo

sobre o incentivo à leitura e sobre a pertinência de oferecer ao aluno atividades críticas sobre o texto,

gerando reflexão e posicionamento. As atividades desenvolvidas serão embasadas nos objetivos e

direcionamentos propostos pelos PCN, a fim de que o aluno se torne um autor proficiente e que haja

produtividade nas aulas de leitura e produção textual.

INCENTIVO À LEITURA DE CONTOS COM USO DE ATIVIDADES DE LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL PARA ALUNOS DO 6º ANO

Luciana Silva de Oliveira

12

Esta pesquisa trata da formação do leitor jovem em espaços sócio-educativos não-formais, através

da experiência com a leitura de textos literários. O objetivo desta prática é promover uma leitura de

literatura mediada, visando a ampliação do acesso dos jovens leitores ao texto literário, ressignificando

suas relações com o mesmo. Para tanto, foram realizados círculos de leitura literária semanais nos

Centro de Referência e Assistência Social (CRAS) de Areia Branca e Itinga, bairros populares, com

alta vulnerabilidade social no município de Lauro de Freitas, pertencente a Região Metropolitana de

Salvador, na Bahia, entre agosto de 2011 a julho de 2012, com mais de quarenta jovens, cuja faixa etária

era de doze a dezoito anos. A metodologia desta pesquisa configura-se como a pesquisa ação, por seu

caráter intervencionista, e se pauta teoricamente nos referenciais de Thiollent (1986). Além deste, adota

a concepção de Cândido (2000) para discutir as relações entre Literatura e Sociedade, como também

para compreender a literatura como um patrimônio cultural e um direito de ser humano; de Aguiar

(1993) para tratar da formação do leitor; de Cosson (2006) para a discussão em torno do Letramento

Literário e de Yunes (1999) para a reflexão sobre experiência de leitura e metodologia de realização dos

círculos. A Sociologia da Leitura é a teoria que embasa a pesquisa. Os resultados parciais obtidos com

esta prática de pesquisa foram bastante satisfatórios, pois os jovens leitores demonstraram ter mudado

suas relações com a leitura literária, passando a compreendê-la como manancial de informações e

prazer; ampliaram a rede de vínculos; adotaram outras concepções de mundo; tornaram-se mais

confiantes em si mesmos, expressando-se com maior proficiência e tranquilidade e passaram a se

perceber como indivíduos, ao mesmo tempo, singulares e pertencentes a uma coletividade. Desta

forma, a discussão proposta nesta tese adéqua-se às discussões deste simpósio, pois, além de ser uma

prática bem-sucedida para a formação do leitor jovem, fomenta a ampliação de possibilidades de

intervenções na seara da leitura de literatura em espaços sócio-educativos (sejam eles formais ou não-

formais), contribuindo, assim, para uma reflexão mais aprofundada da importância do acesso ao texto

literário ser garantido como direito essencial de todo humano.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura. Literatura. Juventude. Mediação. Experiência.

LITERATURA EM CÍRCULOS: AÇÕES PARA FORMAÇÃO DO LEITOR JOVEM Luciana Sacramento

13

A partir da versão original da história criada pelo etnólogo francês Pierre Verger Fatumbi em Lendas

africanas dos orixás, os artistas plásticos Edsoleta Santos e Renato da Silveira recriam e ilustram

ricamente a narrativa do mito ligado ao rito das águas de Oxalá. Sob o título de Oxalufã (2010), essa

versão para crianças conta com rico projeto gráfico, papel de qualidade e ilustrações coloridas que

tanto aparecem em página inteira, quanto partilham espaço com a palavra escrita. Localizados no

espaço africano (berço da civilização) e situados “naqueles tempos antigos”, os pequenos leitores são

convidados a visitar um tempo mítico em que as personagens são os orixás da cultura iorubana.

Conta-se a história de Oxalufã, Oxalá de idade avançada, que resolve empreender uma viagem de seu

reino de Ifan ao reino de Oyó para visitar seu vizinho Xangô. Antes da partida, é feita uma consulta

ao babalorixá que não recomenda o deslocamento. Contrariando tal recomendação, Oxalufã sai para

realizar seu desejo, vivencia muitas provações além de uma situação de prisão injusta por sete anos,

antes de revoltar-se e o engano ser esclarecido. Ao longo da narrativa, são empregadas palavras de

matriz iorubana que não impedem a fluidez do enredo, uma vez que são incorporadas ao texto de

modo explicativo, muitas vezes através de apostos.

Vários rituais realizados em homenagem a Ofalufã/Oxalá, como vestir-se de branco às sextas-feiras e

o guardar de sete dias, antes da lavagem purificadora da cerimônia das águas de Oxalá, são explicados

através do mito narrado. Sem teor de divulgação religiosa, a obra é um bom material para se explorar

essa modalidade de conhecimento mítico que enfrenta, ainda hoje, muitos preconceitos dentro da

sociedade brasileira.

O objetivo deste trabalho é investigar se Oxalufã (2010) atende de forma plena as indicações da lei

11645/08 que institui a obrigatoriedade de abordagem de temáticas afro-brasileira e indígena em todas

as instituições de ensino do país. Para tanto, serão eixos norteadores a relação entre mito e rito, a

temática da viagem e o herói, além dos referenciais afro-brasileiros presentes na obra.

MITO E RITO MEDIADOS PELA LITERATURA: UMA LEITURA DE OXALUFÃ

Cristiane Madanêlo

14

A maldição do olhar (2008), de Jorge Miguel Marinho, narra a história de um vampiro adolescente,

solitário e angustiado, que tenta compreender o seu lugar no mundo contemporâneo, retratado como

hostil, fútil e refratário às diferenças. A princípio, este breve resumo, apesar da insinuação de um

ponto de vista crítico, pode sugerir que a temática do livro teria sido escolhida por conta do sucesso

atual, junto aos leitores adolescentes, dos vampiros que figuram como personagens em inúmeras obras

de êxito comercial. No entanto, a obra em questão é na verdade uma reescrita de outra narrativa

do autor, Sangue no espelho (1993). Com projeto gráfico bem diferenciado e importantes alterações

de conteúdo – como a mudança do nome do protagonista, além da modificação do próprio título,

que trazem interessantes implicações para a interpretação da narrativa –, A maldição do olhar é um

convite para refletirmos sobre a influência do mercado nas decisões editoriais e autorais. É possível

percebermos, no cotejamento das referidas edições, que as modificações nos paratextos (GENETTE,

2009) revelam uma maneira específica de conceber o jovem leitor ou de neste criar determinadas

expectativas de leitura. Já o resultado da reescrita do texto propriamente dito deixa-nos entrever uma

preocupação clara e consciente do autor com seu fazer literário, o que destaca sua narrativa entre

aquelas que atualmente repisam o mesmo tema. Ainda que possamos pensar na republicação da obra

como oportunista, o fato é que Jorge Miguel Marinho empreende um trabalho absolutamente original a

partir da ideia do vampiro como metáfora para a adolescência, costurando vários elementos correlatos,

como o espelho (que sintomaticamente não reflete a imagem dessas criaturas das sombras), para

tratar simbolicamente das questões próprias desta etapa da vida: a busca de uma identidade própria, o

embate contra a sociedade e a iniciação sexual. Vale ressaltar ainda que este mesmo espelho é gancho

para o estabelecimento de uma relação intertextual importantíssima para os sentidos da narrativa, já

que dentro dele mora a Alice de Lewis Carroll, com quem o protagonista iniciará um relacionamento

ambíguo, mas também inevitável e essencial. Afinal, se é Alice quem o jovem vampiro vê quando se

olha no espelho, e não a sua própria imagem, ela é o outro ou o mesmo? Por meio do nonsense – que,

aliás, é um recurso que contraria as convenções do mercado –, protagonista e leitor embarcam em

uma viagem interior, esperando, ao fim dela, estarem mais apaziguados consigo mesmos e abertos

para aceitarem as suas próprias diferenças. Assim, podemos adiantar como conclusão que A maldição

do olhar é um feliz exemplo de como a influência do mercado pôde interferir de forma positiva no

rendimento literário da obra, já que as alterações realizadas no texto e nos paratextos, visando ao

relançamento do livro mais de uma década depois, resultaram em um projeto gráfico mais instigante,

menos diretivo e que efetivamente dialoga com o projeto ficcional, também depurado, do autor.

NA TRILHA DOS VAMPIROS: A FICÇÃO JUVENIL ENTRE A CONVENÇÃO E A EXPERIMENTAÇÃO

Raquel Cristina Souza e Souza

15

Este trabalho, pautado na Teoria Semiolinguística de Análise do Discurso, tem como propósito

analisar processos de patemização (ou de desencadeamento de emoções) programados pela encenação

descritiva verbo-visual em livros ilustrados para crianças. Pressupõe-se que a patemização, de caráter

intencional, é acionada na interação texto-leitor em função de um planejamento discursivo manifesto

em representações (verbais e visuais) dotadas de uma valoração cultural propensa à emoção reativa.

A complementaridade observada entre palavra e imagem nos livros ilustrados não só permite uma

maior densidade significativa, mas também a exacerbação de qualidades e categorias nem sempre

“significáveis”, ou “dizíveis”. A simbolização por via analógica atualizada nas imagens (visuais, ou

metafóricas), ou na superposição de ambas, complexifica a significação, possibilitando-lhe não só efeitos

de sentido, mas também efeitos sentidos, suscitados pelos saberes de conhecimento e de crença nos

quais se fundam as representações, sejam elas configuradas verbal ou visualmente. Considera-se que o

propósito desse trabalho ajusta-se ao objetivo do simpósio Literatura para crianças e jovens – pesquisas

e práticas, por pretender não só um aprofundamento de ordem teórica acerca da complexidade do

livro ilustrado para crianças, como também contribuir para a compreensão do processo leitor e, por

desdobramento, para o fomento da leitura literária junto à infância, em espaço escolar, ou não. A verbo-

visualidade, tema de pesquisas em diversas áreas do conhecimento, tem suscitado questões acerca da

relação entre palavra e imagem nos mais variados gêneros discursivos socialmente partilhados, como

a potencialidade significativa da imagem em face da palavra, as idiossincrasias e semelhanças desses

meios semióticos, sua capacidade ideologizante, entre outros. Aqui, a abordagem dos modos pelos

quais são implicitados sentidos por meio da semiotização verbo-visual que se presta às descrições

por meio da palavra e da imagem tem a intenção de colaborar com a problematização da constituição

verbo-visual de textos, assim como com o aprofundamento daanálise qualitativa e críticados livros

ilustrados destinados (também) a leitores em início de formação.

O “INDIZÍVEL” NA ENCENAÇÃO DESCRITIVA VERBO-VISUAL DE LIVROS ILUSTRADOS PARA CRIANÇAS

Beatriz dos Santos Feres

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Primeira obra de literatura infantil de Ondjaki, Ynari: a menina das cinco tranças (2004), ilustrada por

Joana Lira, foi inspirada nas tantas estórias contadas em Luanda, cidade onde nasceu o autor. Iniciado

com uma dedicatória a crianças de todo o mundo e, em especial, a Angola, esse livro mostra através

da magia da literatura como os rastros das guerras não podem ser esquecidos, mas transformados

em algo positivo para todo e qualquer povo. Ondjaki conta em Ynari a história de uma menina que

conhece um “homem pequenino”, com quem partilha pensamentos, sonhos, saberes e com quem

aprende a importância que as palavras têm na vida de cada um. Após descobrir que era possível inventá-

las e destruí-las, decidiu acabar com a palavra “guerra”. Guerra esta que ocorria entre habitantes de

aldeias vizinhas, bem como aconteceu com aqueles que fizeram um dos maiores massacres da história

angolana. Angola viveu por muito tempo sob o domínio português (século XVI – século XX), todavia,

quando a conquista da sua independência teve êxito e todos pensavam que a paz enfim chegaria, outra

batalha teve princípio. Já não era uma luta entre colonizador e colonizado, mas sim uma disputa entre

os próprios angolanos para decidir que grupo nacionalista assumiria o controle do país (1975 – 2002),

deixando mutilado para sempre o coração de todos os angolanos.

Simbolizando traços da cultura tradicional africana, o autor nos mostra na obra que a “palavra” pode

transformar os valores de um povo. Assim, é através dela que a protagonista, conduzida pelos poderes

mágicos de suas tranças, consegue acabar com guerras sem sentido: a daqueles que não ouvem, a dos

que não falam, a dos que não veem, a dos que não cheiram e a dos que não saboreiam.

Objetiva-se, portanto, neste trabalho, investigar os artifícios de que se valeu Ondjaki para retratar os

desejos do povo angolano de que a guerra acabasse, entrelaçando fantasia e realidade. Pretende-se,

ainda, discutir a força que a “palavra” pode exercer sobre as relações entre os indivíduos e a importância

que o mais velho tem nessas relações.

Ficcionalizando a ferida de uma época que nunca será esquecida, a obra de Ondjaki possibilita que

o leitor passeie com Ynari por algumas aldeias africanas e presencie uma permuta de “palavras”, que

transmite ensinamentos e leva a amizade e a paz desejada por todos nos quatro cantos do mundo.

Considerando que através da literatura infantil e juvenil estamos formando leitores e contribuindo

para o diálogo em sociedade, entende-se que o presente trabalho adéqua-se ao simpósio Literatura

para crianças e jovens – pesquisas e práticas, pois o mesmo oportuniza que a sala de aula seja um

ambiente propício para discutir sobre o poder da palavra e sobre situações conflituosas como, por

exemplo, a guerra.

PALAVRAS APRE(E)NDIDAS CONTRA GUERRAS (IN)ESQUECIDAS

Flávia Alves Gomes

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O presente trabalho visa analisar o papel das ilustrações de Saint-Exupéry na aceitação pelo público

infantil do livro O Pequeno Príncipe. Este clássico foi publicado em 1943, nos Estados Unidos e em

1946 na França, completando 70 anos de seu lançamento. Este trabalho é considerado por muitos, uma

quebra na narratividade de Saint-Exupéry, conhecido, em sua pátria por romances sobre a aviação. E,

no entanto, mundialmente, reconhecido por O Pequeno Príncipe. Sabe-se que originalmente, a obra

produzida num período de guerra não contemplava o público infantil. Porém o livro é categorizado

como livro para crianças e estas compõem a faixa etária predominante de consumidores do clássico

que foi traduzido em mais de 257 línguas, sendo um dos livros mais vendidos em todo o mundo. Teria

a narratividade visual maior influência que a verbal? Ou há características intrínsecas a narrativa

verbal que tornam O Pequeno Príncipe uma fábula, tendo a imagem um papel secundário? Muitos dos

clássicos destinados às crianças nascem sem uma mensagem visual presente, o que não ocorre com

O Pequeno Príncipe, cujos esboços possuem o protagonista da história desenhado por Saint-Exupéry,

criador do texto e das imagens. Discutir o papel da ilustração na construção de uma mensagem se faz

necessário, principalmente num período, no qual, julga-se um livro muitas vezes e somente por sua

capa. Um ilustrador pode construir imagens que fascinem visualmente o leitor e simultaneamente

auxiliem à narrativa verbal na transmissão da informação. Como ferramentário metodológico foram

utilizados os estudos de base semiológica de Roland Barthes, Martine Joly e Umberto Eco, além dos

estudos sobre ilustração de Rui de Oliveira. Como resultado obtido, a análise semiológica de algumas

ilustrações da obra, mostrando que texto e imagem não se sobrepõem, e sim, se complementam na

transmissão de uma mensagem única.

Palavras-chave: O Pequeno Príncipe, ilustração, narratividade.

O PAPEL DAS IMAGENS EM O PEQUENO PRÍNCIPE: A IMAGEM QUE COMPLETA O TEXTO

Anna Carolina Batista Bayer

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No tocante ao ensino de literatura na sala de aula, alguns estudiosos afirmam que a poesia é um

dos gêneros menos favorecidos, principalmente, se ela vier do universo popular. No caso do cordel,

dificilmente é trabalhado em sala de aula, e quando é trabalhado, geralmente são explorados aspectos

linguísticos, folclóricos e históricos, deixando de lado o seu valor estético. A partir de leituras

compartilhadas com folhetos de cordéis em sala de aula do ensino básico, refletiremos sobre a

necessidade de pensar a importância da vivência com a literatura popular dentre as atividades de

formação de leitores. Apresentaremos nesta comunicação um recorte de nossa experiência de pesquisa

em desenvolvimento no Mestrado em Linguagem e Ensino – UFCG – PB, que consiste em estudar

a recepção de cordéis de temática social, do poeta popular mossoroense Antonio Francisco, por

jovens leitores de um primeiro ano do ensino médio de uma escola da rede pública. Nesse contexto,

abordamos a cultura popular como sendo uma forma de arte que pode compor juntamente com a

literatura erudita, um espaço de leitura na sala de aula. Nossa pesquisa busca compreender um ensino

de leitura literária em que o leitor seja elemento importante para a construção do texto. Nesse sentido,

adotamos metodologias de leituras orais e compartilhadas dos folhetos A casa que A Fome mora e

Um bairro Chamado Lagoa do Mato, de Antonio Francisco. Durante a experiência em sala de aula,

um dos aspectos observados foi que a recepção dos alunos se deu a partir da performance e leitura

oral dos cordéis e essa será a categoria enfatizada nesse artigo. Nos respaldamos nos estudos sobre

a oralidade realizados por Paul Zumthor (1997; 1993). Além disso, utilizaremos os pressupostos da

Estética da Recepção, baseados em Jauss (1979) e Iser (1979). No que diz respeito às metodologias de

ensino de literatura na sala de aula, lançamos mão das reflexões de Colomer (2007) e Pinheiro (2007;

2012). Diante das reflexões suscitadas, acreditamos que esse compartilhamento de experiências pode

contribuir para a prática de leitura literária na sala de aula.

PERFORMANCE E ORALIDADE: LEITURA DE FOLHETOS NO ENSINO MÉDIO

Hadoock Ezequiel Araújo de Medeiros e José Hélder Pinheiro Alves

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A fábula de Kipling “O filho do elefante” revela aos leitores o mundo sombrio dos dramas familiares a

partir do discurso da fábula. Como trabalhar na sala de aula, a partir do discurso literário, determinados

assuntos que são ainda difíceis de serem tratados com a criança? Kipling encontra na linguagem da

fábula, repleta de simbologias, um modo de refletir sobre as tensões da criança diante do desconhecido

e das relações de autoridade e autoritarismo existentes no universo adulto.

Palavras-chave: fábula, Kipling, literatura, criança.

RUDYARD KIPLING E UMA FÁBULA POLITICAMENTE INCORRETA

Flávia Amparo

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A literatura juvenil é no cenário atual, palco profícuo do lançamento dos mais diversos enredos

fantasiosos e, também, material combustível para aquecer não só o mercado editorial, mas o cenário

cinematográfico e televisivo. Exemplos disso são a saga Crepúsculo, de Stephanie Meyer; Jogos Vorazes,

de Suzanne Collins; Percy Jackson, de Rick Riordan; e Diários de Vampiro, de Lisa Jane Smith, dentre

outros – para não mencionar o óbvio, como Fronteiras do Universo, de Phillip Pullman; O Senhor

dos Anéis, de J.R.R. Tolkien; e Harry Potter, de J. K. Rowling. Se, nas décadas de 1980 e 1990 o cenário

nacional contou com a valiosa contribuição de autores brasileiros, o século XXI conta com uma vasta

coleção de autores internacionais que invadiram definitivamente o contexto por meio da abertura de

mercado, da popularização do uso da internet e, por fim, com a transformação de tais enredos em

filmes de bilheterias estrondosas.

Fato é que a fonte dessa gama de materiais altamente diversificados e propagados principalmente entre

adolescentes não é outra senão a fantasia, em que os limites entre o real e um mundo fantástico se

descortinam para um(a) protagonista cuja função é quebrar barreiras, enfrentar perigos e, em medidas

diversas, salvar o mundo do mal. O mercado formado por leitores ávidos pelo consumo imediato

desse material anseia pelo mesmo: a fantasia como válvula de escape e um lugar seguro no qual, por

algum tempo, é possível ser um sujeito capaz de alterar o sistema e sentir-se individualizado, em vez

de perder-se no meio de uma multidão de consumidores de uma literatura de massa cujo objetivo

último parece ser o capital.

Dentro deste cenário, propomos discutir como a construção dos livros até agora publicados da autora

Colleen Houck, lançados no Brasil pela editora Arqueiro, mistura fantasia e realidade num espaço

geográfico, histórico e cultural diferenciado, como a Índia, e de como a construção e a relação das

personagens principais Kelsey, Dihren e Kiran contribuem para formação da identidade do leitor. Para

tanto, destacaremos tais elementos do livro A maldição do tigre, primeiro volume de cinco da saga

homônima, e discutiremos, com base em artigos da teoria da literatura, em autores como Northrop

Frye (1957), Rosemary Jackson (1981), e Philip Stevick (org; 1967), como se dá a construção da obra

enquanto gênero de fantasia e em que medida uma literatura juvenil de massa como a apresentada

contribui para a formação identitária do leitor. Dito de outro modo, entendemos que, mesmo num

UM TIGRE, DOIS TIGRES, TRÊS TIGRES: UM ESTUDO DE GÊNERO LITERÁRIO, PERSONAGEM E ESPAÇO NA LITERATURA JUVENIL DE COLLEEN HOUCK

Fabiana Valéria da Silva Tavare

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material altamente utópico, há uma relação estabelecida com a realidade do leitor e que a bagagem

trazida do retorno desta leitura é mais do que mera fantasia: é de formação leitora e de identidade,

porquanto as relações estabelecidas entre personagens e espaço representam o movimento constante

entre o ir e vir da fantasia para a realidade e a formação do indivíduo decorrente das experiências

vividas.